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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE HUMANIDADES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO PROFISSIOONAL EM LETRAS FERNANDA MARIA DA SERRA COSTA A PRODUÇÃO ESCRITA DE CRÔNICAS EM SALA DE AULA DO 9º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL FORTALEZA - CE 2018

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE HUMANIDADES … · A Deus, que me pôs a realizar sonhos, permitindo-me o devido aperfeiçoamento para que pudesse executar melhor a tarefa

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Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE HUMANIDADES … · A Deus, que me pôs a realizar sonhos, permitindo-me o devido aperfeiçoamento para que pudesse executar melhor a tarefa

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARAacute

CENTRO DE HUMANIDADES

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO PROFISSIOONAL EM LETRAS

FERNANDA MARIA DA SERRA COSTA

A PRODUCcedilAtildeO ESCRITA DE CROcircNICAS EM SALA DE AULA DO 9ordm ANO DO

ENSINO FUNDAMENTAL

FORTALEZA - CE

2018

FERNANDA MARIA DA SERRA COSTA

A PRODUCcedilAtildeO ESCRITA DE CROcircNICAS EM SALA DE AULA DO 9ordm ANO DO ENSINO

FUNDAMENTAL

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-

Graduaccedilatildeo Profissional em Letras da

Universidade Federal do Cearaacute como requisito

parcial agrave obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em

Letras

Aacuterea de concentraccedilatildeo Linguagens e

Letramentos

Orientadora Profordf Drordf Aurea Suely Zavam

FORTALEZA - CE

2018

Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo

Universidade Federal do Cearaacute

Biblioteca Universitaacuteria

Gerada automaticamente pelo moacutedulo Catalog mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

C872p Costa Fernanda Maria da Serra

A produccedilatildeo escrita de crocircnicas em sala de aula do 9ordm ano do ensino fundamental Fernanda Maria

da Serra Costa ndash 2018

192 f il color

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Universidade Federal do Cearaacute Centro de Humanidades Programa de

Poacutes-Graduaccedilatildeo Profissional em Letras Fortaleza 2018

Aacuterea de concentraccedilatildeo Linguagens e letramentos

Orientaccedilatildeo Profa Dra Aacuteurea Suely Zavam

1 Produccedilatildeo escrita 2 Escrita como processo 3 Gecircnero textual 4 Crocircnicas 5 Sequecircncia de

atividades I Tiacutetulo

CDD 410

FERNANDA MARIA DA SERRA COSTA

A PRODUCcedilAtildeO ESCRITA DE CROcircNICAS EM SALA DE AULA DO 9ordm ANO DO ENSINO

FUNDAMENTAL

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-

Graduaccedilatildeo Profissional em Letras da

Universidade Federal do Cearaacute como requisito

parcial agrave obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em

Letras Aacuterea de concentraccedilatildeo Linguagens e

Letramentos

Aprovado em ____ ____ _______

BANCA EXAMINADORA

________________________________________

Profordf Drordf Aacuteurea Suely Zavam (Orientadora)

Universidade Federal do Cearaacute (UFC)

_________________________________________

Profordf Drordf Pollyane Bicalho Ribeiro

Universidade Federal do Cearaacute (UFC)

_________________________________________

Prof Drordf Sarah Diva da Silva Ipiranga

Universidade Estadual do Cearaacute (UECE)

A Deus

Aos meus pais Olilia e Arnold

Aos meus filhotes Felipe e Miguel

A Maria Morena e Bilaacute in memorian

AGRADECIMENTOS

A Deus que me pocircs a realizar sonhos permitindo-me o devido aperfeiccediloamento

para que pudesse executar melhor a tarefa de contribuir para o mundo

Aos meus pais Olilia e Arnold por todo o apoio incondicional e sem esperar em

troca a vida toda e mais ainda durante o mestrado

Aos meus filhos Felipe e Miguel pela compreensatildeo da distacircncia mesmo que

passageira pela paciecircncia e pelo apoio

Agrave Prof Dr Aurea Zavam pelo carinho acolhimento e orientaccedilatildeo

Aos professores participantes da banca examinadora Pollyane Bicalho Ribeiro e

Sarah Diva da Silva Ipiranga pelo tempo pelas valiosas colaboraccedilotildees e sugestotildees

Aos colegas da 3ordf turma de mestrado ProfLetrasUFC pelas reflexotildees criacuteticas e

sugestotildees recebidas

Agraves damas do fuaacute porque satildeo as melhores amigas que se pode ter Raquel Ive

Carolina Edvania Eacuterica e Flaacutevia

A Aline pela amizade e carinho imensos essa natural forccedila que a vida lhe deu e

que tatildeo generosamente partilha

A Carla amiga de forccedila pela sensatez e ombro amigo generosidade e atenccedilatildeo

A Robson do fundo do coraccedilatildeo de quem digo que palavras natildeo descrevem essa

amizade que a gente tem

Agrave querida Nady por sua boniacutessima vontade em passar suas ldquolentes de catar pulgardquo

em minhas linhas

Ao meu tio Raimundo e a dona Gilda pela compreensatildeo e disposiccedilatildeo em ajudar a

cuidar da minha turma aqui

Agrave Semed-Satildeo Luiacutes por acreditar na figura do professor que busca capacitaccedilatildeo

profissional

Agrave coordenaccedilatildeo do Mestrado Profissional em LetrasUFC pelo incentivo aos

mestrandos

Aos nossos professores do Mestrado que em muito contribuiacuteram em nossa jornada

Agrave nossa diretora da escola Maria de Jesus Dijeacute pelo apoio e disponibilidade e por

sempre acreditar nos projetos como uma forma de acrescentar ao aperfeiccediloamento dos alunos

da escola

Aos professores e funcionaacuterios que apoiaram e colaboraram com o projeto

Aos pais e familiares que apoiaram e consentiram na participaccedilatildeo dos alunos

Aos alunos do 9ordm ano turma 91 de 2017 que integraram o projeto acreditaram em

si mesmos e agora veem seus escritos circularem socialmente

A todos os amigos colegas de trabalho alunos ex-alunos e demais pessoas que

cruzaram meu caminho deixando contribuiccedilotildees alertas liccedilotildees posso natildeo nominar um por um

aqui mas agradeccedilo sua importacircncia

Agrave CAPES pelo apoio financeiro com a manutenccedilatildeo da bolsa de auxiacutelio

ldquoSe vocecirc quiser melhorar de vida Marcie

sempre vai ter que atravessar um oceano ou um

deserto ou uma montanha Mas se de repente

vocecirc atravessar uma sala cheia de gente toda a

sua vida pode mudarrdquo (Peppermint Patty)

RESUMO

O presente trabalho versa sobre o desenvolvimento da competecircncia escrita de alunos do 9ordm ano

do Ensino Fundamental por meio de uma sequecircncia didaacutetica aplicada ao gecircnero crocircnica

visando proporcionar avanccedilos no processo de redigir Para o aporte teoacuterico daacute-se preferecircncia

agraves abordagens de gecircnero na perspectiva de Bakhtin (2011) Bazerman (2009) Bazerman e

Miller (2011) e Marcuschi (2015) A metodologia envolve uma pesquisa-accedilatildeo conforme

elucidaccedilotildees de Gil (2008) O procedimento se daacute pela aplicaccedilatildeo de uma sequecircncia didaacutetica

inspirada em contribuiccedilotildees de Dolz Noverraz e Schneuwly ([2004] 2013) Swiderski e Costa-

Huumlbes (2009) Lopes-Rossi (2011) Vieira (2005) e Serafini (2003) com vista ao aprendizado

de produccedilatildeo de texto do gecircnero crocircnica sob a oacutetica da escrita como processo Por meio das

atividades de leitura e escrita de crocircnicas percebe-se que os alunos refletiram sobre os

procedimentos de escritor sensibilizaram mais o seu olhar para o cotidiano e ampliaram o

conhecimento de sua competecircncia linguiacutestica Acredita-se que propiciar situaccedilotildees de

aprendizagem apresentando-as natildeo como um fardo mas com a graccedila ndash apesar do necessaacuterio

investimento pedagoacutegico ndash que a escrita pode vir a ter garante assim que os alunos concluam

o Ensino Fundamental tendo a oportunidade de elaborar textos consoantes ao seu direito de

serem proficientes em sua liacutengua materna

Palavras-chave Produccedilatildeo escrita Gecircneros textuais Sequecircncia didaacutetica Crocircnicas

ABSTRACT

The present work deals with the development of written competence of students of the 9th grade

of elementary school through a didactic sequence applied to the genre chronicles aiming to

provide advances in the writing process For the theoretical contribution genre approaches are

preferred from the perspective of Bakhtin (2011) Bazerman (2009) Bazerman e Miller (2011)

e Marcuschi (2015) The methodology involves an action research according to Gils (2008)

elucidations The procedure is based on the application of a didactic sequence inspired by

contributions of Dolz Noverraz and Schneuwly ([2004] 2013) Swiderski and Costa-Huumlbes

(2009) Lopes-Rossi (2011) Vieira (2005) e Serafini (2003) with a view to learning text

production of the genre chronicle under the point of view of writing as a process Through the

activities of reading and writing of chronicles it is noticed that the students have reflected on

the procedures of writer they have sensitized more their look at the quotidian and have extended

the knowledge of their linguistic competence It is believed that providing learning situations

by presenting them not as a burden but with the grace - despite all the necessary pedagogical

investment - that writing can have thus ensuring that students finish elementary school having

the opportunity to prepare texts according to their right to be proficient in their mother language

Keywords Written production Genres Didactic sequence Chronicles

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Esquema baacutesico de sequecircncia didaacutetica 31

Figura 2 - Esquema da SD adaptada por Costa-Huumlbes 36

Figura 3 - Esquema da SD adaptada por Costa-Huumlbes 38

Figura 4 - Proposiccedilatildeo de sequecircncia didaacutetica para o projeto de escrita 77

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 ndash Resultados IDEB 2015 70

Graacutefico 2 ndash Desempenho da escola nas ediccedilotildees da Prova Brasil 70

Graacutefico 3 ndash Distribuiccedilatildeo percentual dos alunos do 9ordm Ano do EF por niacutevel de

proficiecircncia - Liacutengua Portuguesa

71

Graacutefico 4 ndash Nuacutemero de alunos do 9ordm ano 88

Graacutefico 5 ndash Participaccedilatildeo nas produccedilotildees 89

Graacutefico 6 ndash Alunos presentes por encontro 90

Graacutefico 7 ndash Avaliaccedilatildeo das crocircnicas A 122

Graacutefico 8 ndash Avaliaccedilatildeo das crocircnicas B 136

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 ndash Siacutentese das etapas de desenvolvimento de projetos pedagoacutegicos que visam agrave

produccedilatildeo escrita de gecircneros discursivos

38

Quadro 2 ndash Motivaccedilatildeo e envolvimento na produccedilatildeo escrita 54

Quadro 3 ndash Como organizar as ideias em paraacutegrafos 63

Quadro 4 ndash Moacutedulos desenvolvidos na sequecircncia de atividades (SA) 80

Quadro 5 ndash Quadro autoavaliativo 91

Quadro 6 ndash Identificaccedilatildeo dos textos dos alunos

Quadro 7 ndash Produccedilatildeo inicial Ana ndash Tiacutetulo Ser chato ou natildeo ser eis a questatildeo

Quadro 8 ndash Produccedilatildeo final Ana ndash Tiacutetulo Ser chato ou natildeo ser eis a questatildeo

Quadro 9 ndash Produccedilatildeo inicial Rodrigo ndash Tiacutetulo Pare de se criticar

Quadro 10 ndash Produccedilatildeo final Rodrigo ndash Tiacutetulo

Quadro 11 ndash Produccedilatildeo inicial Eduardo ndashTiacutetulo O amigo muito e muito chato

Quadro 12 ndash Produccedilatildeo final Eduardo ndashTiacutetulo Ser legal natildeo eacute ser chato

Quadro 13 ndash Produccedilatildeo inicial Estela ndash Tiacutetulo Os chatos de antematildeo

Quadro 14 ndash Produccedilatildeo final Estela ndashTiacutetulo O tio chato de galocha

Quadro 15 ndash Produccedilatildeo inicial Ceacutelia ndashTiacutetulo Chata sim ou natildeo

Quadro 16 ndash Produccedilatildeo final Ceacutelia ndash Tiacutetulo Chata sim ou natildeo

Quadro 17 ndash Produccedilatildeo inicial Arlindo ndash Tiacutetulo Chato e natildeo eacute chato

Quadro 18 ndash Produccedilatildeo final Arlindo ndash Tiacutetulo Chato e natildeo eacute chato

Quadro 19 ndash Produccedilatildeo inicial Juacutelia ndash Tiacutetulo Ser chato ou ser legal

Quadro 20 ndash Produccedilatildeo final Juacutelia ndash Tiacutetulo Pessoas chatas e pessoas legais

Quadro 21 ndash Produccedilatildeo inicial Vicente ndash Tiacutetulo A pergunta eacute se eu bloquearia uma

pessoa chata

Quadro 22 ndash Produccedilatildeo final Vicente ndash Tiacutetulo

Quadro 23 ndash Produccedilatildeo inicial Graccedila ndash Tiacutetulo Rafaelly chata

Quadro 24 ndash Produccedilatildeo final Graccedila ndash Tiacutetulo Chata ela ou EU

Quadro 25 ndash Produccedilatildeo inicial Lilian ndash Tiacutetulo Meus amigos chatos e Eu

Quadro 26 ndash Produccedilatildeo final Lilian ndash Tiacutetulo Pessoas legais e chatas

Quadro 27 ndash Produccedilatildeo inicial Heloiacutesa ndash Tiacutetulo ldquoChato mais eacute muito legalrdquo

Quadro 28 ndash Produccedilatildeo final Heloiacutesa ndash Tiacutetulo ldquoO melhor chatordquo

Quadro 29 ndash Produccedilatildeo inicial Eliane ndash Tiacutetulo Um pouco de tudo

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Quadro 30 ndash Produccedilatildeo final Eliane ndash Tiacutetulo O que e chato e o que e legal

Quadro 31 ndash Produccedilatildeo inicial Joana ndash Tiacutetulo Pessoas chatas e outras legal

Quadro 32 ndash Produccedilatildeo final Joana ndash Tiacutetulo Pessoas oacutetimas

Quadro 33 ndash Tiacutetulos das produccedilotildees para circulaccedilatildeo social

Quadro 34 ndash PIB Ana

Quadro 35 ndash PFB Ana ndash Tiacutetulo PROIBIDA DE ACHAR GRACcedilA

Quadro 36 ndash PIB Rodrigo ndash Tiacutetulo Vida de preguiccediloso

Quadro 37 ndash PFB Rodrigo ndash Tiacutetulo VIDA DE PREGUICcedilOSO

Quadro 38 ndash PIB Eduardo ndash Tiacutetulo

Quadro 39 ndash PFB Eduardo ndash INFAcircNCIA FELIZ

Quadro 40 ndash PIB Estela ndash Tiacutetulo ldquoDown= bullyingrdquo

Quadro 41 ndash PFB Estela ndashTiacutetulo DOWN= BULLYING

Quadro 42 ndash PFA2 Ana ndash Tiacutetulo O que eacute ser chato

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BNCC Base Nacional Comum Curricular

ENEM Exame Nacional do Ensino Meacutedio

FP Folha de Produccedilatildeo

IDEB Iacutendice de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

LDB Lei de Diretrizes e Bases

PCN Paracircmetros Curriculares Nacionais

PF Produccedilatildeo final

PF-A Produccedilatildeo final para a o trabalho em sala

PF-B Produccedilatildeo final para circulaccedilatildeo social dos textos com audiecircncia real

PI Produccedilatildeo Inicial

PI-A Produccedilatildeo inicial para o trabalho em sala

PI-B Produccedilatildeo inicial para circulaccedilatildeo social dos textos com audiecircncia real

SD Sequecircncia Didaacutetica

SEMED Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo

TDIC Tecnologias Digitais da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 16

2 OS GEcircNEROS E O TRABALHO EM SALA DE AULA 23

21 Demarcando o conceito de gecircnero 23

211 Gecircnero como tipo relativamente estaacutevel de enunciado 23

212 Gecircnero como accedilatildeo social 26

213 Gecircnero como fenocircmeno histoacuterico 30

22 Conhecendo a sequecircncia didaacutetica 31

221 Conceito de sequecircncia didaacutetica 32

222 Propostas de adaptaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica 35

2221 Moacutedulo de reconhecimento 36

2222 Moacutedulo de divulgaccedilatildeo ao puacuteblico 37

2223 Abordagem imitativa da redaccedilatildeo 39

23 Definindo o gecircnero textual crocircnica 41

231 A crocircnica brasileira 42

232 Caracteriacutesticas da crocircnica 44

2321 Crocircnica um gecircnero jornaliacutestico 45

2322 Crocircnica um gecircnero literaacuterio 46

3 LEITURA E ESCRITA NOS ANOS FINAIS DO ENSINO

FUNDAMENTAL

49

31 Habilidades de leitura e escrita para que ler e escrever 49

32 Escrita e motivaccedilatildeo 53

33 Escrita como processo 56

34 Escrita na escola 61

35 Letramento literaacuterio 66

4 NATUREZA E PROCEDIMENTOS DA PESQUISA 69

41 Contexto da pesquisa 69

42 Participantes 72

43 Materiais 73

44 Procedimentos 74

441 Primeira etapa da apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo agrave produccedilatildeo inicial 77

442 Segunda etapa desenvolvimento dos moacutedulos 79

443 Terceira etapa produccedilatildeo final 85

444 Quarta etapa circulaccedilatildeo social dos textos 86

5 ANAacuteLISE DA SEQUEcircNCIA REFLEXOtildeES 87

51 Participaccedilatildeo dos alunos na pesquisa 88

52 Anaacutelise da apropriaccedilatildeo de caracteriacutesticas do gecircnero crocircnica literaacuteria 90

53 Os textos dos alunos 92

531 Produccedilotildees A textos apenas para o trabalho em sala de aula 92

532 Produccedilotildees B textos para circulaccedilatildeo social 123

533 Uma nova reescrita 136

6 CONCLUSAtildeO 139

REFEREcircNCIAS 144

APEcircNDICE A ndash ATIVIDADES PROPOSTAS PARA A SEQUEcircNCIA

DIDAacuteTICA

148

ANEXO A ndash DISTRIBUICcedilAtildeO POR NIacuteVEL DE PROFICIEcircNCIA 162

ANEXO B ndash DISTRIBUICcedilAtildeO DE TEXTOS FALADOS E ESCRITOS

NO CONTIacuteNUO GENEacuteRICO

165

ANEXO C ndash PRODUCcedilOtildeES DOS ALUNOS 166

16

1 INTRODUCcedilAtildeO

A proposta deste trabalho parte de uma motivaccedilatildeo de cunho pessoal fruto das

dificuldades que como professora enfrentamos todos os dias como se pode conduzir o

trabalho em sala de aula de modo eficaz para que os alunos independentemente de sua idade

ou seacuterie possam terminar o ano letivo escrevendo textos claros

Para levar o aluno a desenvolver suas habilidades de escrita um passo importante

seria planejar sequecircncias que abordem as caracteriacutesticas do gecircnero a ser trabalhado permitindo-

lhe pocircr em aproximaccedilatildeo eou contraste seus saberes com os conhecimentos a serem construiacutedos

Para noacutes professores esse passo tem se revelado ainda bastante difiacutecil visto que nossa cultura

escolar ainda natildeo se firmou apropriadamente na visatildeo de que escrita eacute processo e que seu

produto pode ndash deve aliaacutes ndash alcanccedilar a sociedade permitindo ao aluno o exerciacutecio da cidadania

Pensamos entatildeo na elaboraccedilatildeo de uma sequecircncia de aulas que trabalhe a produccedilatildeo

escrita abordando o seu processo Para tanto escolhemos a oacutetica de Vieira (2005) que traz

importante contribuiccedilatildeo para o trabalho do professor ao abordar o processo de produccedilatildeo do

texto considerando-o mais importante no ambiente pedagoacutegico do que o texto pronto Sua

justificativa parte da inquietaccedilatildeo de por que eacute difiacutecil aprender a redigir

Ao longo de sua obra a autora traz reflexotildees a partir de pesquisas sobre os aspectos

comunicativos cognitivos e psicoloacutegicos do processo de redigir conhecimento que ela constata

fornecerem subsiacutedios para fundamentar a didaacutetica da escrita orientando as escolhas

metodoloacutegicas dos professores (VIEIRA 2005 p79) Ainda na abordagem da produccedilatildeo escrita

como processo contamos com Serafini (2003) que tambeacutem traz valiosa orientaccedilatildeo tanto para

o aluno como para o professor

Para trabalharmos esse processo com os alunos o gecircnero escolhido para a criaccedilatildeo

e aplicaccedilatildeo de nossa sequecircncia de aulas eacute a crocircnica literaacuteria que vem ganhando destaque no

cenaacuterio nacional atual de estudos na educaccedilatildeo baacutesica desde a proposta da Olimpiacuteada de Liacutengua

Portuguesa Escrevendo o Futuro (CENPEC 2016) Por seu formato fluido e por se apresentar

de tal modo que a fala pessoal se associa agrave fala coletiva a crocircnica parece integrar espaccedilos

iacutentimos a puacuteblicos construindo dessa maneira uma relaccedilatildeo de proximidade entre o autor e o

leitor

Por percebermos que haacute vaacuterios alunos que produzem seus textos sem recorrer agrave

etapa do planejamento a da revisatildeo e a da reescrita visamos entatildeo nesta pesquisa devido agrave

ausecircncia de tais procedimentos responder agraves seguintes questotildees-problema desdobradas a partir

17

da questatildeo baacutesica como ensinar a produccedilatildeo escrita no 9ordm ano do Ensino Fundamental enfocando

o ato de redigir como um processo visto que haacute estudantes deste niacutevel que normalmente natildeo

tecircm o haacutebito de planejar seus textos A partir desse questionamento nos perguntamos

a) que atividades pedagoacutegicas possibilitam aos alunos a consciecircncia de que eacute

preciso desenvolver estrateacutegias proacuteprias (recorrer agrave etapa do planejamento da

revisatildeo e da reescrita) para produzir seus textos

b) de que forma o conhecimento sobre a estrutura composicional de um gecircnero

pode ajudar a superar as dificuldades

c) a comparaccedilatildeo das produccedilotildees inicial e final permitiraacute associar a melhoria do

desempenho da competecircncia escrita e a apropriaccedilatildeo do gecircnero crocircnica literaacuteria

ao desenvolvimento da sequecircncia de atividades

Apoacutes as oficinas a anaacutelise deteacutem-se nos objetivos elencados com dados

comparativos entre produccedilatildeo inicial e produccedilatildeo final a fim de constatarmos a relevacircncia da

hipoacutetese baacutesica os alunos do 9ordm ano produziram textos na etapa final das oficinas utilizando-

se das caracteriacutesticas do gecircnero textual crocircnica literaacuteria compreendendo que escrita eacute interaccedilatildeo

valorizando o uso social da escrita de acordo com a proposta teoacuterica de gecircnero preparando

seus textos pautados nas etapas do processo de redigir conforme as orientaccedilotildees dadas em sala

de aula Desdobradas em mais trecircs hipoacuteteses secundaacuterias pensamos

a) eacute possiacutevel motivar os alunos a escrever ao desenvolver com eles atividades

voltadas para os diferentes subprocessos e habilidades envolvidos no ato de

redigir

b) o ensino da composiccedilatildeo do gecircnero crocircnica literaacuteria contribuiraacute para minimizar

dificuldades observadas nos textos dos alunos do 9ordm ano como nos planos

morfossintaacutetico e semacircntico aleacutem de lhes propiciar o desenvolvimento da

competecircncia em textos escritos

c) apoacutes a realizaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica proposta ao compararmos as produccedilotildees

inicial e final dos alunos verificaremos um desempenho mais satisfatoacuterio em

relaccedilatildeo agrave competecircncia discursiva realizada no gecircnero crocircnica

Utilizamos a sequecircncia didaacutetica ferramenta teoacuterico-metodoloacutegica proposta por

Dolz Noverraz e Schneuwly ([2004]2013) para facilitar a criaccedilatildeo de nossa sequecircncia

refletindo sobre as atividades iniciais como um diagnoacutestico e a partir daiacute compondo os

moacutedulos que julgamos necessaacuterios dentro do tempo disponiacutevel para o aperfeiccediloamento da

praacutetica de escrita dos alunos

18

Sem esquecer que o produto desta sequecircncia precisa ter relevacircncia e circulaccedilatildeo

social fizemos o estudo do conceito de gecircnero a partir de autores como Bakhtin (2011)

Bazerman (2009) Bazerman Miller (2011) e Marcuschi (2015) autores cujas contribuiccedilotildees

teoacutericas nos permitem compreender que os textos verbais ou orais dependem do contexto em

que satildeo criados considerando seu momento histoacuterico e caracteriacutesticas culturais e sociais

fazendo portanto sentido somente se se destinarem a uma audiecircncia real com papeis sociais

reais

O gecircnero eleito para o trabalho de produccedilatildeo escrita eacute como dissemos a crocircnica

literaacuteria A escolha da tipologia narrativa e do gecircnero crocircnica deu-se por alguns motivos

a) as narrativas possuem um papel fundamental na formaccedilatildeo dos indiviacuteduos Desde

a infacircncia a crianccedila tem contato com a narraccedilatildeo Ela mesma narra como forma

de organizar suas ideias E em sociedade as narrativas ajudaram a construir a

identidade dos povos prolongando ramos e aprofundando raiacutezes

b) a crocircnica eacute um gecircnero que se identifica com a realidade dos alunos pela leveza

da linguagem associando a oralidade e coloquialidade e facilidade de

identificaccedilatildeo de elementos coletivos e individuais presentes em seu cotidiano

os quais podem vir a se tornar objeto de reflexatildeo de bom humor ou mesmo de

criacutetica e sobre tais elementos pode-se motivar os alunos a escrever

c) considerando o papel social da escola que deve ser de integrar o aluno como

cidadatildeo em sociedade eacute uma excelente oportunidade de ensinar os

procedimentos concernentes ao processo de escrita com um texto com

caracteriacutesticas literaacuterias visto que daiacute por diante entrando no ensino meacutedio

predominam as praacuteticas de trabalho com os textos argumentativos cuja

recorrecircncia se deve a serem os mais cobrados em avaliaccedilotildees diagnoacutesticas e de

acesso ao niacutevel superior tais como ENEM vestibulares seleccedilotildees e concursos

sendo um pouco esquecidas as narrativas e os processos de escrita criativa

Esta pesquisa se valeu tambeacutem de trabalhos acadecircmicos que trataram de produccedilatildeo

escrita na escola do gecircnero crocircnica de sequecircncias didaacuteticas e do estudo dos gecircneros textuais

relacionados ao trabalho em sala de aula dentre os quais destacamos

Santos (2008) em sua pesquisa sobre o gecircnero textual crocircnica narrativa no ensino

meacutedio percebeu alguns avanccedilos discretos apoacutes a aplicaccedilatildeo de uma sequecircncia didaacutetica Embora

muitos textos tenham apresentado as caracteriacutesticas do gecircnero explorado em sala de aula

alguns se apresentaram ainda como narrativas tipicamente escolares O pesquisador encontrou

19

dificuldades durante sua pesquisa com produccedilatildeo textual porque afirma na escola o objeto

central de ensino da liacutengua portuguesa ainda eacute a gramaacutetica que disputa espaccedilo diretamente com

a literatura sendo a produccedilatildeo relegada a apenas uma aula sem enfoque no processo de reescrita

dos textos com as devidas reflexotildees

Swiderski e Costa-Huumlbes (2009) analisam o formato baacutesico da sequecircncia didaacutetica

proposta pelo grupo de Genebra e propotildeem a inserccedilatildeo de um moacutedulo novo chamado de moacutedulo

de reconhecimento anterior agrave produccedilatildeo inicial de modo a permitir aos alunos o contato com

textos do gecircnero antes de partir diretamente para a escrita do primeiro texto propiciando

oportunidade de pesquisa leitura e anaacutelise linguiacutestica contemplando os outros eixos do

trabalho com liacutengua portuguesa aleacutem da escrita eou oralidade

Lopes-Rossi (2011) tambeacutem trata da sequecircncia didaacutetica e propotildee para o final da

SD uma culminacircncia a que ela chama de divulgaccedilatildeo ao puacuteblico ou seja um momento para

colocar em circulaccedilatildeo social os textos que os alunos produzem ao longo do trabalho

sistematizado permitindo-lhes compreender o sentido real dos textos do gecircnero que estudam

Colombo (2013) faz uma avaliaccedilatildeo das produccedilotildees vencedoras das ediccedilotildees da

Olimpiacuteada de Liacutengua Portuguesa Escrevendo o Futuro na categoria Crocircnicas Sua criacutetica

principal ao processo estaacute natildeo nas oficinas realizadas pois em muito ajudam os alunos a

conhecer os diversos tons que os textos das crocircnicas trazem a partir das mais diferentes

temaacuteticas mas na artificialidade do interlocutor para quem os alunos escreveram (uma banca

examinadora) e as redaccedilotildees escolhidas por essa banca (um criteacuterio mais pessoal que objetivo)

Colombo (2013) critica tambeacutem a incoerecircncia entre o material de avaliaccedilatildeo

produzido pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Educaccedilatildeo Cultura e Accedilatildeo Comunitaacuteria ndash

CENPEC em 2011 com uma coletacircnea de excertos de textos natildeo vencedores de ediccedilotildees

passadas que aponta no capiacutetulo dedicado agraves crocircnicas exemplos de distanciamentos da

tipologia narrativa proacutepria do gecircnero em textos que abordaram mazelas locais com

predominacircncia da descriccedilatildeo e da criacutetica Para ela essas mesmas caracteriacutesticas ressurgiram nos

textos vencedores do ano de 2012 Dentre outras criacuteticas a mais incisiva de suas consideraccedilotildees

eacute a de que a crocircnica eacute um texto para ser lido na escola sendo no entanto impossiacutevel ensinar os

alunos a escrever crocircnicas pois para a autora natildeo devem ser produzidas sob a pressatildeo de um

concurso que escolheraacute qual a melhor

Correia (2015) em sua pesquisa centrada em uma sala de aula de 7ordm ano do Ensino

Fundamental priorizou a praacutetica de leitura do gecircnero crocircnica e associou ao trabalho com esta

mais dois gecircneros a entrevista e o documentaacuterio audiovisual abordando um aspecto

20

multimodal em sua produccedilatildeo final Sua intenccedilatildeo parece-nos foi usar a temaacutetica das crocircnicas

para despertar nos alunos uma apropriaccedilatildeo da realidade em que estatildeo inseridos e em suas

consideraccedilotildees acredita que no momento de produccedilatildeo escrita dentro das possibilidades de

alunos de 12 anos de idade logrou sucesso ao levar os alunos ao reconhecimento das

caracteriacutesticas do gecircnero

Paiva (2015) realizou um trabalho que contribuiu diretamente para o

desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita atraveacutes do ensino da produccedilatildeo de textos

argumentativos no gecircnero carta de reclamaccedilatildeo Por meio de uma sequecircncia didaacutetica que

priorizava como em nosso caso de pesquisa o processo de produccedilatildeo em vez de considerar

apenas o produto a pesquisadora logrou ecircxito ao identificar progressos nos textos dos alunos

dentro das possibilidades de trabalho que executou

Feitosa (2016) abordou o ensino de liacutengua portuguesa na perspectiva dos gecircneros

realizando uma sequecircncia didaacutetica com o gecircnero panfleto colocando o produto final em

circulaccedilatildeo social como em nosso caso de pesquisa com a distribuiccedilatildeo dos panfletos pelos

alunos no ambiente escolar e na comunidade em que a escola estaacute inserida Fazendo isso ela

possibilitou a atribuiccedilatildeo da significaccedilatildeo proacutepria do gecircnero agrave produccedilatildeo textual dos alunos fator

importante para estimulaacute-los a interagir em sociedade por meio de seus textos

Os Paracircmetros Curriculares Nacionais (PCN 1997) reconhecem que o ensino de liacutengua

portuguesa na educaccedilatildeo baacutesica eacute pautado em uma prioridade de estudos de aspectos normativos

ou gramaticais da liacutengua o que o torna limitado e insuficiente e sugerem redirecionar o foco

para a praacutetica de leitura e ndash aspecto muito importante ndash o exerciacutecio da escrita de textos nos mais

variados gecircneros textuais existentes na sociedade possibilitando o estudo da liacutengua em

contextos reais de uso natildeo apenas como um conjunto de normas1

Para tanto aprender a pensar e falar sobre a proacutepria linguagem realizar uma

atividade de natureza reflexiva uma atividade de anaacutelise linguiacutestica supotildee duas situaccedilotildees

planejar situaccedilotildees didaacuteticas que possibilitem a reflexatildeo natildeo somente sobre os diferentes

recursos expressivos utilizados pelo autor do texto mas tambeacutem sobre a forma pela qual a

seleccedilatildeo de tais recursos reflete as condiccedilotildees de produccedilatildeo do discurso e as restriccedilotildees impostas

1 Os Paracircmetros Curriculares Nacionais (PCN 1997) reconhecem que o ensino de liacutengua portuguesa na educaccedilatildeo

baacutesica eacute pautado em uma prioridade de estudos de aspectos normativos ou gramaticais da liacutengua o que o torna

limitado e insuficiente e sugerem redirecionar o foco para a praacutetica de leitura e ndash aspecto muito importante ndash o

exerciacutecio da escrita de textos nos mais variados gecircneros textuais existentes na sociedade possibilitando o estudo

da liacutengua em contextos reais de uso natildeo apenas como um conjunto de normas

21

pelo gecircnero e pelo suporte e tomar como objeto de reflexatildeo os procedimentos de planejamento

de elaboraccedilatildeo e de refacccedilatildeo dos textos (BRASIL 1997 p 8)

Esses gecircneros a que se referem os paracircmetros satildeo conceituados por Bakhtin autor

em que se fundamenta a proposta dos PCN Compreendendo que o conhecimento de tais

gecircneros traz liberdade ao usuaacuterio da liacutengua o filoacutesofo afirma que quanto melhor dominamos os

gecircneros tanto mais livremente os empregamos tanto mais plena e nitidamente descobrimos

neles a nossa individualidade (onde isso eacute possiacutevel e necessaacuterio) refletimos de modo mais

flexiacutevel e sutil a situaccedilatildeo singular da comunicaccedilatildeo em suma realizamos de modo mais acabado

o nosso livre projeto de discurso (BAKHTIN 2011 p 285)

Os PCN para o 3ordm e o 4ordm ciclos do Ensino Fundamental orientam aleacutem da ampliaccedilatildeo

da variedade de textos e gecircneros que o trabalho com os alunos leve a ldquoconhecer caracteriacutesticas

fundamentais do Brasil nas dimensotildees sociais materiais e culturais como meio para construir

progressivamente a noccedilatildeo de identidade nacional e pessoal e o sentimento de pertinecircncia ao

paiacutesrdquo (BRASIL 1997 p 7)

Assim produzir textos requer dessa forma estudar os diferentes modos de

expressatildeo abrindo-se aiacute para o aluno uma gama de possibilidades de manifestaccedilatildeo de ideias

atraveacutes do conhecimento de sua liacutengua nas relaccedilotildees de interaccedilatildeo pessoal

No entanto para que essa produccedilatildeo seja efetiva haacute que se ter em mente que

qualquer tarefa de escrita bem-sucedida requer o exerciacutecio da escrita e da reescrita pois se

considera que nesse processo de aperfeiccediloamento as aulas tomadas entre o iniacutecio e o teacutermino

de uma sequecircncia de atividades ou seja entre a produccedilatildeo inicial e a produccedilatildeo final sejam

vaacuterias e variadas com planejamento para conhecer as necessidades de cunho geral da turma

como as caracteriacutesticas de um gecircnero bem como as de cunho individual do aluno como as

limitaccedilotildees no reconhecimento do gecircnero textual na construccedilatildeo de argumentos na progressatildeo

narrativa nas convenccedilotildees da escrita culta

Com o objetivo de orientar o leitor apresentamos a forma de organizaccedilatildeo desta

pesquisa que se encontra disposta em mais cinco seccedilotildees primaacuterias aleacutem desta Introduccedilatildeo

Na seccedilatildeo 2 denominada ldquoOs gecircneros e o trabalho em sala de aulardquo discorremos

sobre o conceito de gecircnero apoiando-nos na oacutetica de Bahktin de gecircnero como tipo

relativamente estaacutevel de enunciado na oacutetica da sociorretoacuterica do gecircnero como accedilatildeo social

principalmente com Bazerman e Miller e do gecircnero como fenocircmeno histoacuterico como nos fala

Marcuschi Aleacutem disso tratamos do conceito de sequecircncia didaacutetica proposta teoacuterico-

metodoloacutegica de Dolz Noverraz e Schneuwly e de propostas complementares agrave SD com as

22

contribuiccedilotildees de Costa-Huumlbes e Lopes-Rossi Ainda nesta seccedilatildeo tratamos da definiccedilatildeo do

gecircnero textual crocircnica e suas caracteriacutesticas desenvolvidas no Brasil tanto no campo

jornaliacutestico quanto no literaacuterio pelas oacuteticas de Beltratildeo Coutinho e Cacircndido

Na seccedilatildeo 3 denominada ldquoLeitura e escrita no ensino fundamental anos finaisrdquo

discorremos sobre escrita resgatando um pouco do percurso histoacuterico das habilidades de leitura

e escrita na escola e na sociedade tratamos do aspecto da motivaccedilatildeo para a escrita da escrita

como um processo da escrita na escola e do letramento literaacuterio que julgamos interessante

ressaltar visto que leitura e escrita precisam ser instrumentalizadas

Na seccedilatildeo 4 denominada ldquoNatureza e procedimentos da pesquisardquo discorremos

sobre nossa pesquisa propriamente dita o contexto da pesquisa os sujeitos os materiais e os

procedimentos mostrando o desenvolvimento da sequecircncia de atividades e procedimentos de

coleta de dados

Na seccedilatildeo 5 denominada ldquoAnaacutelise da sequecircncia de atividades reflexotildeesrdquo

discorremos sobre nossa sequecircncia didaacutetica mostrando a participaccedilatildeo dos alunos na pesquisa

apresentando a anaacutelise da apropriaccedilatildeo de caracteriacutesticas do gecircnero crocircnica literaacuteria nos textos

dos alunos bem como os textos produzidos para circulaccedilatildeo social

E por fim na Conclusatildeo apresentamos reflexotildees acerca da experiecircncia com a

pesquisa e dos resultados obtidos bem como sugestotildees para o avanccedilo de trabalhos que possam

contribuir para a competecircncia escrita dos alunos do ensino fundamental e a continuidade de

estudos na aacuterea

Acreditamos que a pesquisa-accedilatildeo desenvolvida que se inscreve no escopo da

Linguiacutestica Aplicada pode aleacutem de ofertar contribuiccedilotildees no acircmbito acadecircmico encorajar os

alunos participantes da pesquisa no sentido de se permitirem evoluir como produtores de texto

em sua liacutengua materna direito que lhes cabe desde o momento em que satildeo reconhecidos

cidadatildeos que ingressam nas escolas brasileiras

23

2 OS GEcircNEROS E O TRABALHO EM SALA DE AULA

Os pressupostos que embasam esta pesquisa perpassam a necessidade de se

compreender o que satildeo os gecircneros textuais em distinccedilatildeo de tipos textuais e como trabalhaacute-los

em atividades sequenciadas destacando-se inclusive como estas podem melhorarauxiliar o

trabalho do professor da educaccedilatildeo baacutesica Aleacutem disso tentaremos delinear ainda que

reconheccedilamos a natildeo consensualidade de definiccedilotildees o que vem a ser a crocircnica a partir das

escolhas dos textos que integram o corpus exemplo para os alunos

21 Demarcando o conceito de gecircnero

Iniciamos nosso percurso teoacuterico a partir da compreensatildeo do que eacute o gecircnero

Concordamos com Bezerra (2017 p 11) quando ele diz que o conceito de gecircnero eacute tomado

como ldquouma categoria mediadora entre o texto e o discurso capaz de colocar em xeque velhas

concepccedilotildees dicotocircmicas como a que trata o texto como uma mera lsquomaterializaccedilatildeorsquo de um

discurso consequentemente lsquoimaterialrsquordquo

Para Bezerra (2017) a partir do gecircnero tanto o texto como o discurso podem ser

relacionados produtivamente com o seu contexto cognitivo e social o que viabiliza o estudo

teoacuterico e sua aplicaccedilatildeo pedagoacutegica

No panorama teoacuterico referencial buscaremos compreensatildeo do que eacute o gecircnero

atraveacutes da conceituaccedilatildeo de Bakhtin (2011) Bazerman (2009) Miller (2011) e Marcuschi

(2015) e sua importacircncia para o trabalho de pesquisa-accedilatildeo com produccedilatildeo textual no 9ordm ano do

ensino fundamental

211 Gecircnero como tipo relativamente estaacutevel de enunciado

De iniacutecio veremos a abordagem enunciativo-discursiva de Bakhtin (2011) que se

refere ao processo de interaccedilatildeo verbal e ao enunciado Para o filoacutesofo russo as interaccedilotildees

podem ocorrer de maneira mais geral face a face mas tambeacutem se concretizar atraveacutes dos textos

escritos Nesse processo o leitor tem um papel ativo na compreensatildeo das informaccedilotildees quando

com elas interage aceitando reformulando contrapondo e complementando conforme seu

arcabouccedilo de conhecimentos e experiecircncias e o faz reportando-se a diferentes vozes de textos

24

previamente lidos e ouvidos Essas interaccedilotildees efetivam-se por meio de enunciados chamados

de gecircneros

A compreensatildeo baacutesica do que satildeo os gecircneros textuais ou usando o termo adotado

por Bakhtin os gecircneros do discurso eacute definida como ldquotipos relativamente estaacuteveis de

enunciadosrdquo (2011 p 262) elaborados pelas diferentes esferas de utilizaccedilatildeo da liacutengua Cada

esfera de uso da linguagem traz consigo uma concepccedilatildeo padratildeo de destinataacuterio a quem se dirige

o locutor e esse destinataacuterio sempre adota uma atitude responsiva ativa diante da totalidade

acabada do gecircnero Digamos que segundo o autor essas esferas permitem-nos situar e prever

o que o interlocutor emitiraacute evitando prejuiacutezos na eficaacutecia da comunicaccedilatildeo

Aprendemos a moldar nossa fala agraves formas do gecircnero e ao ouvir a fala do outro

sabemos de imediato bem nas primeiras palavras pressentir-lhe o gecircnero Se natildeo

existissem os gecircneros do discurso e se natildeo os dominaacutessemos se tiveacutessemos de criaacute-

los pela primeira vez no processo da fala se tiveacutessemos de construir cada um de

nossos enunciados a comunicaccedilatildeo verbal seria quase impossiacutevel (BAKHTIN 2011

p 302)

Dessa forma compreendemos que os enunciados tecircm relativa estabilidade

apresentando formas tiacutepicas que se adaptam agraves muacuteltiplas situaccedilotildees tanto orais quanto escritas

sendo essas formas variaacuteveis portanto Satildeo caracteriacutesticas dos gecircneros o dialogismo e a

polifonia

No dialogismo compreendemos que um texto tem relaccedilotildees com o contexto social

com os textos jaacute lidos pelo leitor e suas experiecircncias de vida e as ligaccedilotildees feitas com as diversas

aacutereas de conhecimento natildeo sendo nunca um produto fechado em si mesmo e uacutenico O discurso

dessa forma estabelece intercacircmbios socioculturais fruto de processos cognitivos e

conhecimentos acumulados historicamente que atendem a essa atitude responsiva ativa Essa

caracteriacutestica estaacute relacionada ao processo de leitura e ao de produccedilatildeo de textos pois o leitor

ou o escritor estabelece um diaacutelogo com o texto em ambos os processos

Na polifonia entendemos que o texto natildeo eacute constituiacutedo apenas da voz do escritor

mas por outras vozes por dizeres de outrem e satildeo vozes que se cruzam concordam ou

discordam entre si

Nas condiccedilotildees de produccedilatildeo dos enunciados e dos gecircneros discursivos estatildeo

inseridas as intenccedilotildees comunicativas e as necessidades sociointerativas dos sujeitos nas esferas

de atividade em que o papel e o lugar de cada sujeito satildeo determinados socialmente Para o

autor trecircs elementos baacutesicos configurariam um gecircnero discursivo o conteuacutedo temaacutetico o estilo

e a forma composicional

25

O conteuacutedo temaacutetico do gecircnero eacute definido pelo enunciador e depende diretamente

das situaccedilotildees das condiccedilotildees de produccedilatildeo e das necessidades da proacutepria enunciaccedilatildeo A escolha

desse conteuacutedo se daacute conforme a intencionalidade do enunciador estando de acordo com as

suas necessidades

O estilo do enunciador pode ser observado na adequaccedilatildeo da linguagem empregada

na escolha dos vocaacutebulos conforme a finalidade e a proacutepria estrutura do enunciado do gecircnero

escolhido voltados para seu interlocutor Nas palavras de Bakhtin (2011 p 284)

O estilo eacute indissociavelmente vinculado a unidades temaacuteticas determinadas e o que eacute

particularmente importante a unidades composicionais tipo de estruturaccedilatildeo e de

conclusatildeo de um todo tipo de relaccedilatildeo entre o locutor e os outros parceiros da

comunicaccedilatildeo verbal (relaccedilatildeo com o ouvinte ou com o leitor com o interlocutor com

o discurso do outro etc) (BAKHTIN 2011 p 284)

Assim para o autor ldquoo enunciado - oral e escrito primaacuterio e secundaacuterio em

qualquer esfera da comunicaccedilatildeo verbal - eacute individual e por isso pode refletir a individualidade

de quem fala (ou escreve)rdquo (BAKHTIN 2011 p 283) Ou seja o estilo eacute individual poreacutem eacute

definido pelo outro e pelo gecircnero ldquodepende do modo que locutor percebe e compreende seu

destinataacuterio e do modo que ele presume uma compreensatildeo responsiva ativardquo (BRAIT 2016 p

95)

A estrutura composicional do gecircnero eacute um elemento que segue padrotildees definidos

pela sociedade Cada enunciado deve inserir-se no padratildeo que eacute convencionado pelo gecircnero a

fim de ser reconhecido e consequentemente compreendido

Essa breve exposiccedilatildeo das trecircs caracteriacutesticas dos gecircneros vem mostrar que elas

dependeratildeo em grande parte das condiccedilotildees de produccedilatildeo de cada enunciado uma vez que

[] o discurso se molda sempre agrave forma do enunciado que pertence a um sujeito

falante e natildeo pode existir fora dessa forma Quaisquer que sejam o volume o

conteuacutedo a composiccedilatildeo os enunciados sempre possuem como unidades da

comunicaccedilatildeo verbal caracteriacutesticas estruturais que lhe satildeo comuns e acima de tudo

fronteiras claramente delimitadas (BAKHTIN 2011 p 293)

Essas caracteriacutesticas ocorrem simultaneamente em uma enunciaccedilatildeo concreta pois

eacute no momento da enunciaccedilatildeo que se definiraacute como essas caracteriacutesticas seratildeo empregadas

A partir dessa compreensatildeo de Bakhtin diversos outros autores conceituaram o que

eacute gecircnero Dentre as grandes Escolas do Gecircnero2 nosso trabalho considerou os conceitos baacutesicos

2 Dentre as grandes Escolas de Gecircnero destacam-se a Escola de Sidney a Norte-americana e a de Genebra

26

adotados pela Escola norte-americana representada por Miller (2011) e Bazerman (2009) Por

fim no Brasil veremos Marcuschi (2015) Traremos ainda para a proacutexima seccedilatildeo autores que

desenvolvem e aplicam os conceitos de gecircnero textual na praacutetica por meio de sequecircncias de

atividades como Dolz Noverraz e Schneuwly ([2004]2013) atraveacutes da Sequecircncia Didaacutetica e

Vieira (2005) com a Abordagem imitativa da redaccedilatildeo trabalhando com formatos e gecircneros

212 Gecircnero como accedilatildeo social

A noccedilatildeo de gecircnero como accedilatildeo social foi desenvolvida inicialmente por Carolyn

Miller A elaboraccedilatildeo de uma teoria de gecircnero ocorreu com mais dois pesquisadores John

Swales e Charles Bazerman Todos satildeo membros do grupo que compotildee a escola de estudos de

gecircneros norte-americana cuja caracteriacutestica eacute o interesse pela natureza social do discurso

(CARVALHO 2005) Veremos aqui mais especificamente os expoentes Miller e Bazerman

A noccedilatildeo de gecircneros natildeo eacute recente e remonta agrave Retoacuterica Claacutessica Por volta dos anos

1980 Miller voltou-se aos estudos das determinaccedilotildees retoacutericas de Aristoacuteteles O filoacutesofo grego

postulou a primeira classificaccedilatildeo dos discursos em trecircs tipos o judiciaacuterio o deliberativo e o

epidiacutetico Carvalho (2016) nos diz que para Aristoacuteteles autor da classificaccedilatildeo essa distinccedilatildeo

dos discursos eacute necessaacuteria porque existem trecircs tipos de auditoacuterio e eacute preciso adaptar-se a eles

conferindo traccedilos especiacuteficos a cada gecircnero pois a escolha entre um deles se daacute mediante a

necessidade que o orador tem de se adaptar ao puacuteblico Aleacutem de classificar Aristoacuteteles

apresenta as caracteriacutesticas de cada um desses tipos de discurso Segundo Carvalho (2016 p

35)

O pensador grego entende que esses trecircs gecircneros se remetem a um tempo especiacutefico

indicam atos expressam valores e apresentam formas especiacuteficas de argumentaccedilatildeo

Assim sendo pondera que o gecircnero judiciaacuterio se dirige a um auditoacuterio especializado

versa sobre leis recorre a silogismos e se refere a acontecimentos do passado para

acusar ou defender O deliberativo trata-se de um gecircnero que se relaciona a um puacuteblico

culto faz uso de argumentos atraveacutes de exemplos e expressa atitudes que poderatildeo

acontecer no futuro O epiacutedictico por sua vez eacute caracterizado como um gecircnero no

qual o orador exalta ou despreza caracteriacutesticas de determinados indiviacuteduos no exato

momento da enunciaccedilatildeo (CARVALHO 2016 p 35)

Nessa abordagem claacutessica apesar de a classificaccedilatildeo de Aristoacuteteles ter reduzido os

discursos a apenas trecircs tipos jaacute se compreendia que a variedade dos gecircneros eacute dependente da

variedade de auditoacuterios e por essa razatildeo natildeo podem ser concebidos desvinculados de seus

interlocutores sendo formas de agir em sociedade de diferentes maneiras Nas palavras de

Carvalho (2016 p34) ldquopor esse acircngulo podemos dizer ainda hoje que lanccedilar um olhar sobre

27

os gecircneros que contemple suas dimensotildees retoacutericas eacute antes de tudo atentar para a natureza

social e argumentativa inerente a cada tipo de discurso e concebecirc-los como formas de

(inter)accedilatildeordquo

Por sua vez Bazerman (2009) na introduccedilatildeo de seu livro Gecircneros textuais

tipificaccedilatildeo e interaccedilatildeo fala da necessidade de se entender as variedades da escrita numa

abordagem que comeccedila com as circunstacircncias em que as pessoas produzem e usam os textos

questionando sobre os motivos e accedilotildees tiacutepicos associados com a escrita e leitura desses textos

Em deacutecadas recentes o ensino da escrita foi transformado pelo amplo reconhecimento

de vaacuterios princiacutepios Primeiro o escrever bem requer mais do que a produccedilatildeo de

sentenccedilas corretas tambeacutem envolve a comunicaccedilatildeo bem-sucedida de mensagens

significantes para outros Segundo a escrita eacute um processo que leva tempo e incorpora

muitas diferentes atividades Terceiro o ensino da escrita que ajuda alunos a

alcanccedilarem o sucesso acadecircmico precisa atender a todos os tipos de escrita que satildeo

necessaacuterios natildeo somente para o estudo da linguagem ou da literatura mas tambeacutem

para as disciplinas de histoacuteria ciecircncia filosofia e poliacutetica Quarto os alunos ao

terminarem seus estudos precisam estar aptos a produzir muitas diferentes formas da

escrita Embora todas as formas da escrita que os alunos poderiam precisar sejam

impossiacuteveis de antecipar os alunos precisam de habilidade e flexibilidade suficientes

para se adaptar agraves situaccedilotildees variantes da escrita (BAZERMAN 2009 p 16)

Bazerman (2009) afirma que se pode chegar a uma compreensatildeo mais profunda de

gecircneros se os compreendermos como ldquofenocircmenos de reconhecimento psicossocial que satildeo parte

de processos de atividades socialmente organizadasrdquo (Bazerman 2009 p31) Na concepccedilatildeo do

pesquisador gecircneros satildeo os tipos que as pessoas reconhecem como sendo usados por elas

proacuteprias e pelos outros ou seja ldquosatildeo fatos sociais sobre os tipos de atos de fala que as pessoas

podem realizar e sobre os modos como elas os realizamrdquo (Bazerman 2009 p 31) Desse modo

os gecircneros emergem nos processos sociais na medida em que as pessoas tentam compreender

umas agraves outras de tal maneira que consigam coordenar atividades e compartilhar significados

com vistas a seus propoacutesitos praacuteticos

Para Miller e Bazerman (2011) definir o gecircnero como ldquogecircnero textualrdquo ou apenas

gecircnero ou ainda ldquogecircnero discursivordquo eacute uma questatildeo de necessidade apenas em contextos em

que se precise fazer algum tipo de distinccedilatildeo ou esclarecimento conceitual como uma espeacutecie

de contraste Nessa obra constituiacuteda como um ldquobate papordquo com perguntas e respostas os

professores a seu turno datildeo suas visotildees sobre essas distinccedilotildees quando perguntados ldquocomo vocecirc

define o conceito de gecircnerordquo Miller responde

Bom eu mantenho a minha definiccedilatildeo jaacute conhecida Eu natildeo distinguiria gecircnero textual

de gecircnero Eu o defino amplamente ou seja o gecircnero eacute uma accedilatildeo retoacuterica tipificada

baseada numa situaccedilatildeo retoacuterica recorrente [] Diria apenas que essa definiccedilatildeo tende

28

a se concentrar mais na produccedilatildeo na pessoa que desenvolve a accedilatildeo do que na

recepccedilatildeo Mas creio que eacute possiacutevel direcionaacute-la para pensar sobre o modo como

algueacutem realiza uma accedilatildeo e responde a ela Acho que tanto a produccedilatildeo como a recepccedilatildeo

satildeo importantes para se pensar no gecircnero como accedilatildeo (BAZERMAN MILLER 2011

p 16)

A mesma questatildeo dirigida a Bazerman eacute respondida da seguinte forma

Eu gostaria de acrescentar algumas coisas Percebo que em portuguecircs eacute necessaacuterio

distinguir gecircneros textuais (textual genre) de gecircnero (gender) Poreacutem em inglecircs o uso

do termo ldquogecircnero de textordquo se opotildee a gecircneros orais ou gecircneros em outros meios

Certamente os gecircneros textuais possuem caracteriacutesticas que os distinguem dos

gecircneros da pintura por exemplo mas todos satildeo formas de gecircnero O que realmente

estaacute em discussatildeo portanto satildeo as possibilidades (affordances) especiacuteficas da

textualidade versus artes graacuteficas por exemplo (BAZERMAN MILLER 2011 p

22)

Para os estudiosos da sociorretoacuterica os gecircneros pertencem agraves atividades humanas

e as refletem de forma que agrave medida que a linguagem muda mudam consigo os gecircneros natildeo

sendo o mais importante classificar ou nomear um gecircnero mas saber como ele funciona

O conceito de gecircnero de Miller tem como noccedilotildees-chave a recorrecircncia e a accedilatildeo

retoacuterica como se pode entender a partir da definiccedilatildeo dada pela proacutepria autora quando diz que

ldquoo gecircnero eacute uma accedilatildeo retoacuterica tipificada baseada numa situaccedilatildeo retoacuterica recorrenterdquo

(BAZERMAN MILLER 2011 p 22) Sua linha de trabalho define que o gecircnero espelha a

experiecircncia de seus usuaacuterios sendo o texto a forma materializada dessa experiecircncia por meio

da accedilatildeo ali levada a cabo de sua forma e de sua substacircncia (CARVALHO 2005 p 133)

Eacute atraveacutes do processo de tipificaccedilatildeo que satildeo construiacutedas as condiccedilotildees de

recorrecircncia analogias e similaridades necessaacuterias para a compreensatildeo do gecircnero em uma dada

cultura Nesse processo eacute importante o papel do sujeito cognitivo visto que ele capta a

recorrecircncia social de uma determinada comunicaccedilatildeo o que sinaliza padrotildees socialmente

perceptiacuteveis e socialmente determinados moldando-se a eles (BAZERMAN MILLER 2011

p 32)

Para caracterizar como os gecircneros se configuram e se enquadram em organizaccedilotildees

papeis e atividades mais amplas Bazerman (2009) propotildee vaacuterios conceitos que se sobrepotildeem

cada um envolvendo um aspecto diferente dessa configuraccedilatildeo conjunto de gecircneros sistema de

gecircneros e sistema de atividades

Segundo o autor um conjunto de gecircneros eacute ldquoa coleccedilatildeo de tipos de textos que uma

pessoa num determinado papel tende a produzirrdquo (2009 p 32) Compreendemos a partir da

explicaccedilatildeo do autor que eacute exemplificada com os profissionais da engenharia e da educaccedilatildeo que

29

ao identificar todas as formas de escrita com as quais devem trabalhar consegue-se ter acesso

agraves competecircncias habilidades e conhecimentos que lhe satildeo requeridos para que atue com bom

domiacutenio em sua aacuterea

Prosseguindo o autor conceitua um sistema de gecircneros

Um sistema de gecircneros compreende os diversos conjuntos de gecircneros organizados por

pessoas que trabalham juntas de uma forma organizada e tambeacutem as relaccedilotildees

padronizadas que se estabelecem na produccedilatildeo circulaccedilatildeo e uso desses documentos

Um sistema de gecircneros captura as sequecircncias regulares com que um gecircnero segue

outro gecircnero dentro de um fluxo comunicativo tiacutepico de um grupo de pessoas

(BAZERMAN 2009 p 32-33)

Esse aspecto se refere agrave integraccedilatildeo dos conjuntos de gecircneros que satildeo usados por

todos os participantes de uma determinada accedilatildeo social Como exemplo podemos pensar nas

provas de uma disciplina o professor elabora as provas e os alunos fazem as provas Ao analisar

o sistema de gecircneros observa-se a sequecircncia dos gecircneros e torna-se possiacutevel esclarecer quais

accedilotildees sociais as pessoas fazem e a forma pela qual os gecircneros datildeo ferramentas para essas accedilotildees

Por fim Bazerman (2009 p 33) conceitua sistema de atividades relacionando-o

ainda ao sistema de gecircneros ldquoEsse sistema de gecircneros eacute tambeacutem parte do sistema de atividades

da sala de aula Ao definir o sistema de gecircneros em que as pessoas estatildeo envolvidas vocecirc

identifica tambeacutem um frame que organiza o seu trabalho sua atenccedilatildeo e suas realizaccedilotildeesrdquo A

palavra frame eacute compreendida como moldura ou quadro No acircmbito educacional podemos

compreender a expressatildeo como o enquadramento que direciona o trabalho que compete a cada

pessoa imersa na accedilatildeo social

Pensando no exemplo da aacuterea educacional um aluno lida com um conjunto de

gecircneros como as provas os seminaacuterios os apontamentos e dentro do sistema de gecircneros

utilizados seu padratildeo como aluno consiste em estudar para os seminaacuterios tomar apontamentos

e responder agraves questotildees das provas sendo que dentro do sistema de atividades em que se

encontra natildeo pode deixar de atender agrave ordem que o frame lhe impotildee pois se lhe eacute determinado

que faccedila sua prova por escrito natildeo lhe eacute permitido por mais que estivesse respondendo tudo

corretamente utilizar-se de um gecircnero oral para que obtenha a nota ndash o que corrobora com a

afirmaccedilatildeo do autor quando este diz que ldquolevar em consideraccedilatildeo o sistema de atividades junto

com o sistema de gecircneros eacute focalizar o que as pessoas fazem e como os textos ajudam as pessoas

a fazecirc-lo em vez de focalizar os textos como fins em si mesmordquo (BAZERMAN 2009 p 33-

34)

30

Apoacutes essa caracterizaccedilatildeo de como os gecircneros se configuram e se enquadram em

organizaccedilotildees papeis e atividades mais amplas nessa abordagem que comeccedila com as

circunstacircncias em que as pessoas produzem e usam os textos questionando sobre os motivos e

accedilotildees tiacutepicos associados com a escrita e leitura desses textos veremos na seccedilatildeo seguinte a

concepccedilatildeo de gecircneros textuais como fenocircmenos histoacutericos profundamente vinculados agrave vida

cultural e social sob a oacutetica de Marcuschi

213 Gecircnero como fenocircmeno histoacuterico

No Brasil Marcuschi (2015) trabalhou a produccedilatildeo textual sob um enfoque

sociointerativo de gecircneros textuais no contiacutenuo de fala-escrita buscando esclarecer os

processos de compreensatildeo textual e de produccedilatildeo de sentido Coadunando com os conceitos jaacute

expostos de Bakhtin (2011) sobre as interaccedilotildees entendemos que elas se datildeo em domiacutenios

discursivos ou seja esferas da vida social ou institucional (por exemplo religiosa juriacutedica

jornaliacutestica pedagoacutegica poliacutetica industrial militar familiar luacutedica etc) nas quais se datildeo

praacuteticas que organizam formas de comunicaccedilatildeo e respectivas estrateacutegias de compreensatildeo (p

194)

Deste modo para Marcuschi os domiacutenios discursivos produzem ldquomodelos de accedilatildeo

comunicativa que se estabilizam e se transmitem de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo com propoacutesitos e

efeitos definidos e clarosrdquo (2015 p 194) que resultam em formas de accedilatildeo reflexatildeo e avaliaccedilatildeo

social que ldquodeterminam formatos textuais que em uacuteltima instacircncia desembocam na

estabilizaccedilatildeo de gecircneros textuaisrdquo (2015 p 194) tambeacutem organizando as relaccedilotildees de poder

Na concepccedilatildeo de Marcuschi (2015) os gecircneros textuais satildeo entatildeo fenocircmenos

histoacutericos profundamente vinculados agrave vida cultural e social O autor afirma que quando

dominamos um gecircnero textual natildeo dominamos uma forma linguiacutestica mas sim uma forma de

realizar linguisticamente objetivos especiacuteficos em situaccedilotildees sociais particulares (p 31) Isso

equivaleria a dizer que os gecircneros textuais operam em certos contextos como formas de

legitimaccedilatildeo discursiva por se situarem numa relaccedilatildeo soacutecio-histoacuterica com fontes de produccedilatildeo

que lhes datildeo sustentaccedilatildeo

Essa relaccedilatildeo soacutecio-histoacuterica a que se refere o autor trata da construccedilatildeo coletiva que

ordena e estabiliza as atividades comunicativas do dia a dia convergindo com o pensamento de

Bakhtin isto eacute como os gecircneros independem de decisotildees individuais e natildeo satildeo facilmente

manipulaacuteveis eles operam como geradores de expectativas de compreensatildeo muacutetua Nas

31

palavras de Marcuschi (2015 p 189) ldquoos gecircneros textuais natildeo satildeo fruto de invenccedilotildees

individuais mas formas socialmente maturadas em praacuteticas comunicativas na accedilatildeo

linguageirardquo

Em uma tentativa de distribuiccedilatildeo dos gecircneros da oralidade e escrita Marcuschi

(2015) cria um quadro geral3 que mostra que muitos gecircneros satildeo comuns a vaacuterios domiacutenios

figurando a crocircnica gecircnero eleito para a realizaccedilatildeo de nossa pesquisa-accedilatildeo de processo de

produccedilatildeo escrita em forma de sequecircncia didaacutetica nos domiacutenios discursivos ficcional e

jornaliacutestico Na distribuiccedilatildeo do contiacutenuo de fala-escrita que ensaia desenhar Marcuschi mostra

a crocircnica deslizando entre o domiacutenio das conversaccedilotildees na conversa espontacircnea seguindo para

as apresentaccedilotildees e reportagens com as narrativas

Desse modo caminha-se para uma compreensatildeo do que eacute a crocircnica aquele texto

escrito leve e espontacircneo que parece por vezes conversar com seu leitor narrando uma coisa

ou outra do dia a dia podendo conduzi-lo a reflexotildees ou possibilitando-lhe um dia mais bem-

humorado ou mesmo poeacutetico Direcionado para nossa investigaccedilatildeo julgamos esses conceitos

bastante importantes para elucidar para os alunos em que contexto satildeo produzidas as crocircnicas

de onde partem a quem pretendem alcanccedilar

Nesse sentido a partir do exposto concluiacutemos que um gecircnero seria uma resposta

usada pelos usuaacuterios de uma liacutengua em situaccedilotildees especiacuteficas constituiacutedo por caracteriacutesticas

gerais relativamente estaacuteveis Dessa forma aleacutem da intenccedilatildeo da comunicaccedilatildeo existe um

conhecimento comum pelo qual os falantes se orientam em suas decisotildees linguiacutesticas ao

construir o gecircnero de texto que estatildeo produzindo ou que devem produzir em cada contexto

comunicativo Esses gecircneros natildeo surgem naturalmente mas se constroem na interaccedilatildeo

comunicativa e satildeo fenocircmenos sociointerativos

22 Conhecendo a sequecircncia didaacutetica

Com vistas a ajudar o trabalho do professor tem sido muito discutido na uacuteltima

deacutecada o emprego das sequecircncias didaacuteticas especialmente na educaccedilatildeo baacutesica Sua

caracteriacutestica consiste em ser um conjunto de atividades ligadas entre si planejadas para ensinar

um conteuacutedo etapa por etapa Ao organizaacute-la de acordo com os objetivos que pretende alcanccedilar

para seus alunos o professor desenvolve atividades de aprendizagem e de avaliaccedilatildeo

3 Cf Anexo A

32

Para o trabalho em nossa aacuterea Liacutengua Portuguesa nossa pesquisa-accedilatildeo vai se

utilizar do procedimento baacutesico da sequecircncia didaacutetica para o ensino da escrita do gecircnero textual

crocircnica literaacuteria para o 9ordm ano do ensino fundamental inspirada no referencial teoacuterico-

metodoloacutegico de Dolz Noverraz e Schneuwly (2013) na proposta de adaptaccedilatildeo da sequecircncia

didaacutetica conduzida por Swiderski e Costa-Huumlbes (2009) na proposta de circulaccedilatildeo social do

gecircnero discursivo produzido em sequecircncias didaacuteticas de projetos pedagoacutegicos de Lopes-Rossi

(2011) e nas sugestotildees didaacuteticas da praacutetica de sala de aula de Vieira (2005) e de Serafini (2003)

221 Conceito de sequecircncia didaacutetica

Dolz Noverraz e Schneuwly (2013 p 83) reconhecem que os textos escritos ou

orais que produzimos diferenciam-se uns dos outros porque satildeo produzidos em condiccedilotildees

diferentes Apesar dessa diversidade satildeo constatadas regularidades de modo que em situaccedilotildees

semelhantes produzimos textos com caracteriacutesticas semelhantes que os autores chamam de

gecircneros de textos conhecidos de e reconhecidos por todos e que por isso mesmo facilitam a

comunicaccedilatildeo a conversa em famiacutelia ou a negociaccedilatildeo no mercado por exemplo

O conceito baacutesico de sequecircncia didaacutetica segundo os autores (2013 p 83) eacute que

esta eacute um conjunto de atividades escolares organizadas de maneira sistemaacutetica em torno de

um gecircnero textual oral ou escrito e que tem precisamente a finalidade de ajudar os alunos a

dominar melhor um gecircnero de texto o que lhes permitiraacute falar ou escrever de maneira mais

adequada a cada situaccedilatildeo comunicativa

Para o desenvolvimento de nossa pesquisa escolhemos o gecircnero crocircnica literaacuteria

visando o desenvolvimento da competecircncia discursiva dos alunos posto que ainda natildeo

dominam adequadamente a produccedilatildeo de um texto nesse gecircnero Assim como preveem Dolz

Noverraz e Schneuwly (2013 p 83) ldquoo trabalho escolar seraacute realizado evidentemente sobre

gecircneros que o aluno natildeo domina ou o faz de maneira insuficiente sobre aqueles dificilmente

acessiacuteveis espontaneamente pela maioria dos alunos e sobre gecircneros puacuteblicos e natildeo privadosrdquo

De acordo com os autores uma sequecircncia didaacutetica pode ser flexiacutevel no sentido de

que se houver necessidade o professor poderaacute por vezes criar outras atividades ou modificar

os textos de referecircncia utilizados Essa flexibilidade precisa tambeacutem considerar os fenocircmenos

de desencorajamento que poderatildeo manifestar-se durante o tempo consagrado agrave sequecircncia como

por exemplo no aluno o sentimento de que jamais conseguiraacute melhorar seu texto por causa das

dificuldades proacuteprias da escrita no professor nos momentos em que os alunos parecem

33

desconectar-se da proposta projetada perdendo o interesse pela atividade proposta no dia Para

minimizar situaccedilotildees assim eacute que deve ser deixado um espaccedilo para as atividades mais informais

e menos exigentes em termos de tempo (DOLZ NOVERRAZ SCHNEUWLY 2013 p 108)

Percebemos dessa forma que um professor natildeo eacute obrigado a realizar todas as

atividades predeterminadas de uma sequecircncia didaacutetica na sua integralidade Sob pena do rigor

por cumprir aquele planejamento e somente ele no decorrer do processo de aprendizagem

ambos professor e aluno podem sentir que a experiecircncia natildeo foi vaacutelida terminando por realizar

as aulas de modo tradicional natildeo ocorrendo assim o acesso dos alunos a praacuteticas de linguagem

novas ou dificilmente dominaacuteveis

Por ser de caraacuteter progressivo a cada etapa de uma sequecircncia didaacutetica o professor

pode ndash e deve ndash fazer uma reflexatildeo associando o microcosmo que eacute a sala de aula onde

trabalha com um macro que seria o mundo em que estamos inseridos com todo o seu contexto

que pode servir como suporte para que o docente se integre a uma (ou a vaacuterias) teorias que

possa vir a aplicar

Com a reflexatildeo sobre a(s) teoria(s) e construindo seu arcabouccedilo teoacuterico conforme

observa sua praacutetica o professor ndash incluiacutemo-nos aqui ndash como sugere Bortoni-Ricardo (2008)

torna-se pesquisador podendo aprimorar sua postura pedagoacutegica de modo a obter assim

resultados mais satisfatoacuterios junto aos discentes

Dando prosseguimento expomos aqui o os quatro componentes da estrutura baacutesica

de uma sequecircncia didaacutetica segundo Dolz Noverraz Schneuwly (2013) que serve como

inspiraccedilatildeo para as atividades que planejamos para esta pesquisa-accedilatildeo

Figura 1 - Esquema baacutesico de sequecircncia didaacutetica

Fonte Adaptado de DOLZ NOVERRAZ SCHNEUWLY (2013 p 83)

Para Dolz Noverraz e Schneuwly (2013) eacute necessaacuterio que o professor informe os

alunos e conscientize-os da importacircncia dos conteuacutedos a serem trabalhados em sala de aula

Para isso o professor deve claramente definir o problema de comunicaccedilatildeo que devem resolver

Apresentaccedilatildeo da

Situaccedilatildeo

PRODUCcedilAtildeO

INICIAL

PRODUCcedilAtildeO

FINAL

Moacuted

ulo 1

Moacuted

ulo 2

Moacuted

ulo n

34

produzindo um texto e os conteuacutedos com os quais trabalharatildeo no texto que seraacute produzido

Assim na fase inicial de apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo satildeo fornecidas aos alunos as informaccedilotildees

necessaacuterias para conhecerem o ldquoprojeto comunicativo visado e a aprendizagem de linguagem a

que estaacute relacionadordquo (2013 p 85)

Depois dessa contextualizaccedilatildeo com os alunos eles passam agrave primeira produccedilatildeo

tentando elaborar um texto escrito Ora embora os alunos ainda natildeo tenham verdadeiramente

tido o contato aprofundado com o gecircnero esse encaminhamento natildeo necessariamente os potildee

numa situaccedilatildeo de insucesso Ao contraacuterio do que se pode pensar produzir um texto adequado

agrave situaccedilatildeo proposta embora os alunos nesse primeiro momento natildeo atendam a todas as

caracteriacutesticas do gecircnero solicitado permite-lhes descobrir o que jaacute sabem fazer e ganhar

consciecircncia das dificuldades que possuem e ao professor avaliar natildeo somente as dificuldades

apresentadas pelos alunos na produccedilatildeo inicial mas tambeacutem que se apresentarem durante o

processo de produccedilatildeo Desse modo a produccedilatildeo inicial eacute caracterizada como ldquoo primeiro lugar

de aprendizagem da sequecircnciardquo (DOLZ NOVERRAZ SCHNEUWLY 2013 p 87 Grifo dos

autores)

A etapa seguinte se constitui dos moacutedulos isto eacute a decomposiccedilatildeo dos problemas

detectados na primeira produccedilatildeo com consequente fornecimento de instrumentalizaccedilatildeo para a

superaccedilatildeo das dificuldades Esse processo que vai da produccedilatildeo inicial aos moacutedulos os autores

denominaram de ldquomovimento geral da sequecircncia didaacuteticardquo (2013 p 88) partindo do acircmbito

mais complexo que eacute a produccedilatildeo inicial para o mais simples que satildeo os moacutedulos os quais

trabalham as capacidades necessaacuterias ao domiacutenio do gecircnero No fim o movimento da sequecircncia

didaacutetica vai para o complexo novamente que eacute a produccedilatildeo final No processo de elaboraccedilatildeo de

cada moacutedulo os autores levantam trecircs questionamentos 1) Que dificuldades da expressatildeo oral

e escrita abordar 2) Como construir um moacutedulo para trabalhar um problema particular 3)

Como capitalizar o que eacute adquirido nos moacutedulos (2013 p 88)

Para responder a cada uma dessas indagaccedilotildees Dolz Noverraz e Schneuwly (2013

p 88) consideram trecircs dimensotildees no processo de construccedilatildeo dos moacutedulos que satildeo trabalhar

problemas de niacuteveis diferentes variar atividades e exerciacutecios e capitalizar as aquisiccedilotildees

A primeira etapa trabalhar problemas de niacuteveis diferentes baseada na psicologia

da linguagem eacute constituiacuteda por quatro niacuteveis principais na produccedilatildeo de textos a saber

representaccedilatildeo da situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo em que o aluno deveraacute aprender com clareza a fazer

uma imagem ldquodo destinataacuterio do texto da finalidade visada da sua posiccedilatildeo como autor ou

locutor e do gecircnero visadordquo (p 88) elaboraccedilatildeo dos conteuacutedos em que o aluno ldquodeveraacute conhecer

35

as teacutecnicas para buscar elaborar ou criar conteuacutedosrdquo (p 88) planejamento do texto em que o

aluno deveraacute estruturar seu texto de acordo com um plano que depende da finalidade que se

deseja atingir considerando que cada gecircnero se caracteriza por uma estrutura evocando a

compreensatildeo de Bakhtin (2011) ldquorelativamente estaacutevelrdquo realizaccedilatildeo do texto em que o aluno

deveraacute escrever seu texto escolhendo os meios de linguagem mais eficazes para a finalidade

que pretende alcanccedilar

Em relaccedilatildeo agrave segunda etapa variar as atividades e exerciacutecios os autores definem

que ldquoo princiacutepio essencial de elaboraccedilatildeo de um moacutedulo que trate de um problema de produccedilatildeo

textual eacute o de variar os modos de trabalhordquo (p 89) Afirmando que existem variadas categorias

de atividades e exerciacutecios (atividades de observaccedilatildeo e de anaacutelise de textos tarefas simplificadas

de produccedilatildeo de textos e a elaboraccedilatildeo de uma linguagem comum) (p 89) sugerem assim que

cada moacutedulo tenha atividades diversificadas com o objetivo de proporcionar ao aluno diferentes

meios de apropriaccedilatildeo dos conteuacutedos necessaacuterios ao seu sucesso na produccedilatildeo final

A terceira etapa capitalizar as aquisiccedilotildees consiste em aprender a falar sobre o

gecircnero abordado atraveacutes da aquisiccedilatildeo de vocabulaacuterio teacutecnico comum agrave classe e ao professor

A partir dessa construccedilatildeo progressiva dos conhecimentos de linguagem e de regras seraacute

possiacutevel ao professor estimular os alunos a refletir sobre o que foi aprendido nos moacutedulos e

juntos fazerem uma siacutentese na forma de como sugerem os autores lista de constataccedilotildees ou de

lembrete ou glossaacuterio (p 90)

A etapa final da sequecircncia didaacutetica corresponde agrave produccedilatildeo final momento em que

o aluno colocaraacute em praacutetica as noccedilotildees e os instrumentos que foram elaborados e aplicados

durante os moacutedulos sendo o momento para o professor avaliar o aprendizado do aluno Essa

avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo final tem caraacuteter somativo e eacute pautada na construccedilatildeo de uma grade (2013

p 90) de criteacuterios que explicitam aos alunos o que seraacute avaliado permitindo a objetividade ao

pautar-se nos conteuacutedos trabalhados em aula Isso tornaraacute possiacutevel ao professor a observaccedilatildeo

das aprendizagens efetuadas planejar a continuaccedilatildeo do trabalho e se necessaacuterio retornar a

pontos mal assimilados

222 Propostas de adaptaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica

Com vistas a justificar como compusemos a SD aplicada vamos nessa seccedilatildeo

mostrar o aparato teoacuterico de pesquisadoras que contribuiacuteram com propostas de adaptaccedilatildeo e

36

complementaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica do grupo de Genebra buscando propiciar ao professor

um trabalho mais amplo

2221 Moacutedulo de reconhecimento

Baseados na proposta teoacuterico-metodoloacutegica da SD produzida para o contexto

sociocultural dos pesquisadores de Genebra os integrantes de um grupo de estudos em Liacutengua

Portuguesa da regiatildeo Oeste do Paranaacute criaram uma proposta de ensino da LP para as seacuteries

iniciais contendo uma adaptaccedilatildeo (SWIDERSKI COSTA-HUumlBES 2009) que consiste na

inserccedilatildeo de um moacutedulo de reconhecimento do gecircnero antes da etapa de produccedilatildeo inicial em

atividades e exerciacutecios que contemplem a leitura a pesquisa e a anaacutelise linguiacutestica com textos

do gecircnero Para melhor entendimento observemos a figura a seguir

Figura 2 - Esquema da SD adaptada por Costa-Huumlbes

Fonte Adaptado de SWIDERSKI E COSTA-HUumlBES (2009)

Esse moacutedulo inserido antes da produccedilatildeo inicial como proposto pelas autoras serve

segundo elas ao reconhecimento dos aspectos do gecircnero a ser trabalhado na SD em atividades

e exerciacutecios que contemplem a leitura a pesquisa e a anaacutelise linguiacutestica com textos do gecircnero

Na SD ldquoas condiccedilotildees de praacuteticas de leituras envolvem natildeo apenas o contexto de produccedilatildeo e a

relaccedilatildeo autor-texto A esses aspectos somam-se o conhecimento do leitor e o contexto de uso

que conforme Orlandi (1996) satildeo fatores determinantes na produccedilatildeo de sentidosrdquo

(SWIDERSKI COSTA-HUumlBES 2009 p 121)

Diante disso ao avaliarem a proposta da SD as autoras entendem que antes de se

chegar agrave produccedilatildeo inicial o professor pode criar para o estudante vaacuterias situaccedilotildees que envolvam

a praacutetica de leitura de textos do gecircnero selecionado que circulam na sociedade oportunizando

nesse contato com esses textos a mobilizaccedilatildeo de estrateacutegias diferentes frente aos diversos

37

objetivos que implicam o ato de ler e enfatizam que trabalhar com a leitura natildeo exclui o

trabalho com os outros eixos do processo ensino-aprendizagem de LP

As autoras acrescentam ainda sobre o trabalho de reconhecimento do gecircnero

Outro detalhe que salientamos sobre o trabalho de reconhecimento do gecircnero refere-

se ao fato de que as informaccedilotildees sobre o gecircnero natildeo satildeo dadas gratuitamente jaacute que

o mesmo natildeo eacute tratado como uma forma pronta e acabada mas como um instrumento

relativamente estaacutevel Entendido assim a praacutetica de ensino-aprendizagem precisa

incentivar o processo de pesquisa Nessa perspectiva o estudante tem dois problemas

a resolver antes de iniciar sua produccedilatildeo um abarca a pesquisa para conhecer os

elementos que determinam num dado contexto soacutecio-histoacuterico e cultural a produccedilatildeo

e a circulaccedilatildeo das amostras do gecircnero a ser abordado didaticamente e em segundo

a leitura e a anaacutelise dessas amostras novamente buscando reforccedilar o conhecimento

acerca dos elementos que as constituem (SWIDERSKI COSTA-HUumlBES 2009 p

121)

Vemos entatildeo que as leituras para reconhecimento do gecircnero como uma etapa

anterior ao momento da produccedilatildeo inicial servem como base ao trabalho a ser desenvolvido

Inclusive entendemos no tocante a servir como exemplo e modelo que fornecem traccedilos para

possiacuteveis comparaccedilotildees ao longo do desenvolvimento dos moacutedulos como poderemos perceber

na seccedilatildeo correspondente ao nosso trabalho

2222 Moacutedulo de divulgaccedilatildeo ao puacuteblico

Como forma de consolidar para o aluno a visatildeo do uso real de um gecircnero textual

Lopes-Rossi (2011) propotildee a divulgaccedilatildeo das produccedilotildees dos alunos apoacutes a realizaccedilatildeo das tarefas

dos moacutedulos

Deste modo o professor pode entatildeo criar com eficiecircncia projetos pedagoacutegicos

que visem segundo a autora ldquoao conhecimento agrave leitura agrave discussatildeo sobre o uso e as funccedilotildees

sociais dos gecircneros escolhidos e quando pertinente a sua produccedilatildeo escrita e circulaccedilatildeo socialrdquo

(LOPES-ROSSI 2011 p 71)

O quadro a seguir proposto por Lopes-Rossi (2011) reflete os fundamentos sobre

o trabalho com projetos pedagoacutegicos e sintetiza as etapas de desenvolvimento de projetos

pedagoacutegicos que visam agrave produccedilatildeo escrita de gecircneros discursivos incluindo o moacutedulo de

divulgaccedilatildeo ao puacuteblico de acordo com a forma tiacutepica de circulaccedilatildeo de cada gecircnero

38

Quadro 1 ndash Siacutentese das etapas de desenvolvimento de projetos pedagoacutegicos que visam agrave produccedilatildeo escrita de

gecircneros discursivos

Moacutedulos didaacuteticos Sequecircncias didaacuteticas

Leitura para apropriaccedilatildeo das

caracteriacutesticas tiacutepicas do

gecircnero discursivo

rarr Seacuterie de atividades de leitura comentaacuterios e

discussotildees de vaacuterios exemplos do gecircnero para

conhecimento de suas caracteriacutesticas discursivas

temaacuteticas e composicionais (aspectos verbais e natildeo

verbais)

Produccedilatildeo escrita do gecircnero

de acordo com suas

condiccedilotildees de produccedilatildeo

tiacutepicas

rarr Seacuterie de atividades de produccedilatildeo

- planejamento da produccedilatildeo (assunto esboccedilo geral

forma de obtenccedilatildeo de informaccedilotildees recursos

necessaacuterios)

- coleta de informaccedilotildees

- produccedilatildeo da primeira versatildeo

- revisatildeo colaborativa do texto

- produccedilatildeo da segunda versatildeo

- revisatildeo colaborativa do texto

- produccedilatildeo da versatildeo final incluindo o suporte para a

circulaccedilatildeo do texto

Divulgaccedilatildeo ao puacuteblico de

acordo com a forma tiacutepica de

circulaccedilatildeo do gecircnero

rarr Seacuterie de providecircncias para efetivar a circulaccedilatildeo da

produccedilatildeo dos alunos fora da sala de aula e mesmo da

escola de acordo com as necessidades de cada evento

de divulgaccedilatildeo e das caracteriacutesticas de circulaccedilatildeo do

gecircnero Fonte Adaptado de LOPES-ROSSI (2011 p 72)

Se adaptarmos o quadro em forma de esquema a fim de facilitar a visualizaccedilatildeo

teremos

Figura 3 Esquema das etapas de desenvolvimento de projetos pedagoacutegicos visando agrave produccedilatildeo escrita de gecircneros

discursivos

Fonte Adaptado de LOPES-ROSSI (2011)

Segundo a autora a proposta de trabalho pedagoacutegico com gecircneros discursivos pela

oacutetica dos pesquisadores do grupo de Genebra proporciona de fato o desenvolvimento da

Produccedilatildeo

escrita

Divulgaccedilatildeo ao

puacuteblico

Leitura para

apropriaccedilatildeo

39

autonomia do aluno no processo de leitura e produccedilatildeo textual sendo uma consequecircncia do

domiacutenio do funcionamento da linguagem em situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo visto que eacute por meio

dos gecircneros discursivos que as praacuteticas de linguagem incorporam-se agraves atividades dos alunos

Sua oacutetica inclui um moacutedulo de leitura para apropriaccedilatildeo das caracteriacutesticas tiacutepicas

do gecircnero que se pretende trabalhar como jaacute descrito no quadro e que coaduna com a proposta

de Swidesrki e Costa-Huumlbes (2009) O moacutedulo de produccedilatildeo escrita de Lopes-Rossi (2009) trata

de planejamento da produccedilatildeo coleta de informaccedilotildees produccedilatildeo da primeira versatildeo revisatildeo

colaborativa do texto produccedilatildeo da segunda versatildeo revisatildeo colaborativa do texto produccedilatildeo da

versatildeo final incluindo o suporte para a circulaccedilatildeo do texto

Para noacutes eacute interessante considerar o moacutedulo de divulgaccedilatildeo ao puacuteblico pois

somando-se a esse trabalho de desenvolvimento da autonomia a circulaccedilatildeo da produccedilatildeo viraacute

corroborar entatildeo a funccedilatildeo social do texto divulgado no suporte adequado nas condiccedilotildees

apropriadas

2223 Abordagem imitativa da redaccedilatildeo

No capiacutetulo Abordagem imitativa da redaccedilatildeo trabalhando com formatos e gecircneros

que integra a obra Escrita para que te quero Vieira (2005 p 159-171) elenca passos para o

trabalho do professor com os alunos na construccedilatildeo de um texto como se fosse um guia o que

pode ser bastante uacutetil para o trabalho com formatos e gecircneros Seguem os passos

1ordm Dar exemplos do tipo de escrita esperado que em poucas palavras consiste em

oferecer modelos de textos relativamente faacuteceis de ler evidenciando sua estrutura

2ordm Ensinar as regras que consiste em explicitar o caminho para atingir as metas

Se necessaacuterio for diz a autora transmite-se um conhecimento analiacutetico ldquouse esquemas ou

diagramas para ilustrar Leve seus alunos a aprenderem mais a partir de modelos direcionando

a instruccedilatildeo para um alvordquo (VIEIRA 2005 p 159)

3ordm Apresentar uma ldquoreceitardquo passo a passo do gecircnero pretendido o que deixa claro

o que se quer que os alunos produzam e tambeacutem serve de guia para as tarefas de casa quando

estiverem trabalhando sozinhos A receita seraacute tatildeo melhor para os alunos se elaborada

diretamente pelo professor ou pelos proacuteprios alunos Tambeacutem eacute possiacutevel diz a autora adaptar

instruccedilotildees de manuais e usar a proacutepria experiecircncia de redator

40

4ordm Demonstrar a ldquoreceitardquo que eacute um momento em que os alunos percebem o

trabalho na praacutetica com o professor executando alguns ou todos os passos da ldquoreceitardquo

demonstrando como se escreve Os alunos colaboram na criaccedilatildeo conjunta de um texto

5ordm Ser autecircntico no processo que eacute dividir com os estudantes os problemas que

surgem na produccedilatildeo de qualquer texto mostrando como solucionar dialogando com os alunos

trabalhando de forma colaborativa

6ordm Dar tarefas curtas e planejadas com cuidado o que atribui ao trabalho do aluno

mais qualidade Normalmente para impressionar o professor a aluno escreve textos longos

repetitivos e sem atratividade As atividades com limite de extensatildeo favorecem segundo a

autora a motivaccedilatildeo o alcance e a variedade de audiecircncias o feedback do professor a

possibilidade de repeticcedilatildeo da tarefa o que Vieira considera um passo fundamental para se

dominar um conhecimento

7ordm Propiciar feedback uacutetil e especiacutefico Neste aspecto a autora natildeo estimula o

ldquoretoquerdquo dos textos dos alunos feito pelo professor Pelo contraacuterio incentiva criacuteticas justas

que visem a evoluccedilatildeo construindo com o aluno atraveacutes das sugestotildees e questotildees adequadas a

reformulaccedilatildeo de seus textos Vieira acrescenta ainda que este feedback natildeo deveria vir somente

do professor mas de uma variedade de leitores como seus pares e a famiacutelia para evitar a falsa

ideia de que a escrita eacute algo direcionado somente ao professor

8ordm Repetir a tarefa Ningueacutem se torna bom em algo logo na primeira tentativa

Portanto para desenvolver as habilidades eacute importante a repeticcedilatildeo para dominar um

conhecimento

Apoacutes elencar a autora sugere tarefas de aplicaccedilatildeo para o professor de forma bem

praacutetica para criar uma ldquoreceitardquo de escrita com os alunos (2005 p 162) de modo que noacutes

professores nos apropriemos dos diferentes gecircneros textuais conhecendo de antematildeo as

caracteriacutesticas destes e mesmo as dificuldades partindo de textos autecircnticos listando

procedimentos e etapas necessaacuterios para redigir textos semelhantes e refletindo sobre a

instruccedilatildeo que devemos criar estabelecendo um propoacutesito para que o aluno escreva e exercite

apropriadamente o modelo de gecircnero

A partir desse roteiro teoacuterico-metodoloacutegico que traccedilamos ao longo desta seccedilatildeo

inspiramo-nos para criar para o trabalho com o gecircnero crocircnica assunto da proacutexima seccedilatildeo em

nossa pesquisa-accedilatildeo a sequecircncia didaacutetica com foco na produccedilatildeo escrita de crocircnicas literaacuterias

acrescida das etapas de reconhecimento do gecircnero e da divulgaccedilatildeo ao puacuteblico dado o desejo

41

de extrapolar o acircmbito da sala de aula fazendo com que os textos dos alunos tivessem

circulaccedilatildeo social

23 Definindo o gecircnero textual crocircnica

A palavra ldquocrocircnicardquo tem origem no grego antigo khroacutenos e significa tempo Naquela

sociedade o gecircnero ganhou esse nome inicialmente por trazer em seu corpo o relato em ordem

cronoloacutegica dos fatos ou acontecimentos de uma eacutepoca

Um dos pioneiros a estudar o texto literaacuterio segundo Ferreira (2011 p 65) foi o

pensador grego Aristoacuteteles Sua perspectiva formulava o conceito de mimese que seria a obra

literaacuteria como representaccedilatildeo ou imitaccedilatildeo do mundo Considerando essa oacutetica a crocircnica em sua

origem tomava a forma de registro histoacuterico de um povo Aleacutem disso compreende-se que mais

do que apenas encadear a sequecircncia de fatos sucessivos interessava a forma como isso se dava

mostrando o cuidado com a arte literaacuteria

Aproximadamente no seacuteculo XII a crocircnica ressurge em uso na Europa medieval e

tem seu conceito atualizado pela perspectiva grega ora se encarrega de registrar os fatos

fidedignamente o que lhe confere caraacuteter histoacuterico ora relata-os fazendo uso de recursos

linguiacutesticos tanto denotativos quanto conotativos conferindo-lhe caraacuteter de ficccedilatildeo literaacuteria A

esse respeito nos fala Borges (2008 p 205)

A preocupaccedilatildeo com a descriccedilatildeo da histoacuteria de uma vida teve seu iniacutecio no mundo

grego antigo ao mesmo tempo em que surgiu a Histoacuteria como forma de

conhecimento essa era uma Histoacuteria poliacutetica com sua diferenciaccedilatildeoimbricaccedilatildeo com

a memoacuteria Ao longo de mais ou menos dois milecircnios autores acharam que contar a

histoacuteria da vida de algueacutem era algo distinto de uma Histoacuteria (que narrava fatos

coletivos e contava a verdade) as histoacuterias das vidas (termo usado entatildeo pelos

autores) serviam desde o mundo greco-romano para dar exemplos morais negativos

ou positivos - muitas vezes constituindo os panegiacutericos Essa chamada biografia

claacutessica punha um acento muito maior no caraacuteter poliacutetico moral ou religioso do

biografado do que em sua pessoa em sua singularidade No mundo medieval a ideia

dos exempla prolongou-se configurando-se na hagiografia e nas croacutenicas

Esses textos chamados de crocircnicas como caracterizadas acima por Borges (2008)

confundiam-se com outros gecircneros da eacutepoca ndash o que era muito comum ndash por tomarem um

caraacuteter biograacutefico sendo sinocircnimas por exemplo da hagiografia cuja intencionalidade ditava

o estilo do escritor concretizando ao longo da sucessatildeo cronoloacutegica dos fatos uma visatildeo

parcial beirando o excessivamente elogioso

42

A crocircnica percorreu longo curso ateacute ganhar a forma que conhecemos hoje no Brasil

Para Coutinho (2008) a origem de nossa atual crocircnica brasileira estaria no ensaio inglecircs do

seacuteculo XVI O autor a compara ao ensaio informal (informal essay ou familiar essay) que

consiste em seu sentido primitivo numa tentativa numa experimentaccedilatildeo de interpretaccedilatildeo

pessoal dos fatos sem obedecer a uma estrutura predeterminada poreacutem com forte marca da

prosa oral colocada na escrita

A essecircncia do ensaio (nesse sentido original) estaacute em sua relaccedilatildeo com a palavra falada

e com a elocuccedilatildeo oral como se depreende do estudo estiliacutestico dos grandes ensaiacutestas

estilo muito proacuteximo da maneira oral ou do pensamento que eacute captado no proacuteprio ato

e momento de pensar (COUTINHO 2008 p 100)

A respeito do conceito de crocircnica temos a visatildeo de Coutinho (2008) cujos criteacuterios

de classificaccedilatildeo dos gecircneros literaacuterios adotados em sua obra apontam para ldquoum grupo de formas

literaacuterias que resultam de uma explanaccedilatildeo direta dos pontos de vista do autor dirigindo-se em

seu proacuteprio nome ao leitor ou ouvinte sem qualquer artifiacutecio intermediaacuteriordquo (2008 p 99)

Segundo ele o autor vale-se de meacutetodo direto ao inveacutes de indireto em gecircneros ensaiacutesticos ou

discursivos cujos exemplos dados satildeo o ensaio a crocircnica o discurso e o sermatildeo a carta as

memoacuterias o diaacuterio as maacuteximas Outra aproximaccedilatildeo da crocircnica ao ensaio para o autor eacute que

ambos satildeo escritos em linguagem coloquial discorrendo sobre diversos assuntos tais como os

proacuteprios seres humanos os fatos ocorridos com eles as cenas da natureza entre outros

Poreacutem na mesma obra Coutinho (2008) afirma que modernamente a palavra

ensaio veio perdendo seu caraacuteter inicial e etimoloacutegico de tentativa de experimentaccedilatildeo

passando a se confundir com ldquoestudordquo ldquoou o que os ingleses chamam de julgamento isto eacute

que oferecem conclusotildees sobre os assuntos apoacutes discussatildeo argumentaccedilatildeo anaacutelise avaliaccedilatildeordquo

231 A crocircnica brasileira

No seacuteculo XIX a sociedade desenvolve-se industrialmente permitindo o advento

da imprensa Para vaacuterios autores como Barbier (2008 apud FERREIRA 2011) Coutinho

(2008) Cacircndido (1992) Castello (1999) o folhetim eacute a gecircnese da crocircnica moderna sendo o

jornal o suporte em que a crocircnica vai ganhar definitivamente seu espaccedilo Sobre essa relaccedilatildeo na

eacutepoca entre o suporte para o gecircnero e o gosto pelo gecircnero Barbier (2008) fala

Sabe-se hoje que os gecircneros literaacuterios estatildeo intimamente relacionados agraves condiccedilotildees

sociais e histoacutericas que determinam a formaccedilatildeo do puacuteblico leitor com seus gostos e

sensibilidades e que por outro lado eles tambeacutem se alteram com a mudanccedila do

43

suporte material dos textos como o demonstra a Histoacuteria dos manuscritos dos

impressos e das recentes experimentaccedilotildees digitais (BARBIER 2008 apud

FERREIRA 2011 p 73)

Das palavras de Barbier (2008) captamos a importacircncia que passa a ter a imprensa

para a divulgaccedilatildeo dos textos por seu alcance por sua frequecircncia bem como por seu poder de

molde sobre o puacuteblico leitor que se formava na eacutepoca

Antocircnio Candido (1992 p 15) no belo texto A vida ao reacutes-do-chatildeo explica que

ldquoantes de ser crocircnica propriamente dita foi lsquofolhetimrsquo ou seja um artigo de rodapeacute sobre as

questotildees do dia ndash poliacuteticas sociais artiacutesticas literaacuteriasrdquo E completa o autor afirmando que a

crocircnica ldquonatildeo nasceu propriamente com o jornal mas soacute quando este se tornou quotidiano de

tiragem relativamente grande e teor acessiacutevel isto eacute haacute pouco mais de um seacuteculo e meiordquo

(CAcircNDIDO 1992 p 15)

Esse folhetim em geral ficava no rodapeacute da primeira paacutegina do jornal e era

destinado ao entretenimento do leitor Esse espaccedilo com o tempo passou a acolher a ficccedilatildeo

literaacuteria Autores publicavam aiacute seus textos treinando a narrativa Tal foi a receptividade do

formato que ganhou espaccedilo proacuteprio semanalmente Nas palavras de Castello (1999) aquele

texto que veio depois a ser a crocircnica complementaria a funccedilatildeo da imprensa diaacuteria

A partir dos anos [19]20 acentua-se a contribuiccedilatildeo de cronistas e memorialistas Mas

o primeiro gecircnero mais do que o segundo eacute continuidade e amadurecimento de uma

tradiccedilatildeo proveniente do Romantismo quando o ldquofolhetimrdquo semanal eacute definido por

Joseacute de Alencar e enriquecido por Machado de Assis mestre de cronistas que vieram

depois Conta-se ainda a contribuiccedilatildeo da prosa poeacutetica de Raul Pompeia e logo a

seguir de Olavo Bilac Finalmente nos nossos dias seja atividade complementar seja

agraves vezes principal e mesmo uacutenica de vaacuterios escritores a crocircnica se afirma como gecircnero

da preferecircncia de numeroso puacuteblico Contribuiu sempre para difundi-la desde seus

momentos iniciais datados do Romantismo a divulgaccedilatildeo em primeira matildeo pelos

principais jornais e revistas do paiacutes Complementava mesmo pelo seacuteculo XIX a

funccedilatildeo de nossa imprensa diaacuteria tradicionalmente marcada pela colaboraccedilatildeo dos

escritores do momento Surgia como um misto de notiacutecia vaacuteria reflexatildeo invenccedilatildeo e

ateacute mesmo de criacutetica ou impressotildees literaacuterias (CASTELLO 1999 p 377-378)

A crocircnica complementava a imprensa por em seu bojo tratar de assuntos mais

amenos diferindo dos que motivavam as notiacutecias e as reportagens sem no entanto como nos

mostra Cacircndido (1992) deixar de lado o que toca a alma humana

Ora a crocircnica estaacute sempre ajudando a estabelecer ou restabelecer a dimensatildeo das

coisas e das pessoas Em lugar de oferecer um cenaacuterio excelso numa revoada de

adjetivos e periacuteodos candentes pega o miuacutedo e mostra nele uma grandeza uma beleza

ou uma singularidade insuspeitada Ela eacute amiga da verdade e da poesia nas suas

formas mais diretas e tambeacutem nas suas formas mais fantaacutesticas - sobretudo porque

quase sempre utiliza o humor (CAcircNDIDO 1992 p 14)

44

Amenos sim poreacutem as crocircnicas de um ou outro modo conduziam o leitor mesmo

que por caminhos suaves de ldquoar despreocupado de quem estaacute falando de coisas sem maior

consequecircnciardquo (CAcircNDIDO 1992 p 17) agrave criacutetica social agrave reflexatildeo sobre o significado das

accedilotildees e dos sentimentos do homem

Segundo Coutinho (2008 p 106) o caminho que conduziria agrave crocircnica brasileira

comeccedila com Francisco Otaviano no Jornal do Commercio no Rio de Janeiro em 2 de

dezembro de 1852 Nessa data eacute inaugurada a seccedilatildeo ldquoA semanardquo em que seriam publicados os

folhetins literaacuterios do Romantismo

O folhetim seccedilatildeo ao final da paacutegina apresentou caracteriacutesticas que se agrupadas

conforme a frequecircncia do teor das publicaccedilotildees seriam de variedades e de romances O primeiro

grupo o de variedades abordava assuntos diversos da eacutepoca tratando de tudo um pouco e

ocupava a primeira paacutegina do jornal O segundo por sua vez destinava-se a textos de ficccedilatildeo

Esse espaccedilo passou a publicar romances de autores da eacutepoca distribuiacutedos em histoacuterias seriadas

ou capiacutetulos provocando no puacuteblico leitor a curiosidade pelo que viria a seguir tornando-se

um sucesso permitindo ldquoalavancar as vendas aumentar as assinaturas e por conseguinte

ampliar as vantagens financeiras dos jornaisrdquo (SANTOS 2008 p 68)

Essa iniciativa abriu espaccedilo para publicaccedilotildees de romances de autores brasileiros O

guarani de Joseacute de Alencar por exemplo foi desenvolvido a princiacutepio para o folhetim Em 1ordm

de janeiro de 1857 saiu o capiacutetulo inicial do romance no Diaacuterio do Rio de Janeiro Ao final

daquele ano foi publicado como livro com alteraccedilotildees miacutenimas em relaccedilatildeo ao que fora

publicado em folhetim

A evoluccedilatildeo da sociedade industrial refletiu sua setorizaccedilatildeo no modo de organizaccedilatildeo

dos jornais O folhetim para variedades teve sua alteraccedilatildeo quando foram criadas seccedilotildees

especiacuteficas para assuntos especiacuteficos de maneira a organizar o jornal Para o folhetim restaram

assuntos mais corriqueiros de cunho mais descompromissado com a veracidade dos fatos ndash

estes ficariam para as notiacutecias A esses textos mais leves cujo caraacuteter era efecircmero com a mera

funccedilatildeo de distrair o leitor passou-se a dar o nome de crocircnica

232 Caracteriacutesticas da crocircnica

Apesar da filiaccedilatildeo ao jornal as caracteriacutesticas atuais do gecircnero crocircnica vatildeo aleacutem do

desenvolvimento da imprensa Como bem nos resume Amaral (2008) tambeacutem estatildeo

intimamente relacionadas agraves transformaccedilotildees sociais e agrave valorizaccedilatildeo da histoacuteria social isto eacute da

45

histoacuteria que considera importantes os movimentos de todas as classes sociais e natildeo soacute os das

grandes figuras poliacuteticas ou militares Em suas palavras no ldquoregistro da histoacuteria social assim

como na escrita das crocircnicas um dos objetivos eacute mostrar a grandiosidade e a singularidade dos

acontecimentos miuacutedos do cotidianordquo (2008 p 12)

Eacute efecircmera simples e dinacircmica em sua linguagem como nos fala Cacircndido (1992 p

14)

Isto acontece porque natildeo tem pretensotildees a durar uma vez que eacute filha do jornal e da

era da maacutequina onde tudo acaba tatildeo depressa Ela natildeo foi feita originalmente para o

livro mas para essa publicaccedilatildeo efecircmera que se compra num dia e no dia seguinte eacute

usada para embrulhar um par de sapatos ou forrar o chatildeo da cozinha Por se abrigar

nesse veiacuteculo transitoacuterio o seu intuito natildeo eacute o dos escritores que pensam em ldquoficarrdquo

isto eacute permanecer na lembranccedila e na admiraccedilatildeo da posteridade e a sua perspectiva

natildeo eacute a dos que escrevem do alto da montanha mas do simples reacutes-do-chatildeo

(CAcircNDIDO 1992 p 14)

As crocircnicas contemporacircneas organizam sua narrativa em primeira ou terceira

pessoa quase sempre como quem conta um caso em tom intimista Ao narrar os autores

inserem em seu texto trechos de diaacutelogos permeados por expressotildees cotidianas escrevendo

como quem conversa com seus leitores como se estivessem muito proacuteximos Como temaacutetica

os cronistas tratam de reflexotildees sobre a vida social poliacutetica econocircmica por vezes de forma

humoriacutestica outras de modo mais seacuterio outras com um jeito poeacutetico que indica o pertencimento

do gecircnero agrave esfera literaacuteria

Assim uma forte caracteriacutestica do gecircnero eacute ter uma linguagem que mescla aspectos

da escrita com outros da oralidade E por causa do uso de linguagem coloquial e da proximidade

com os fatos cotidianos a crocircnica por vezes eacute vista como literatura ldquomenorrdquo Essa suposta

classificaccedilatildeo como gecircnero literaacuterio menor natildeo diminui sua importacircncia Por ser breve leve de

faacutecil acesso envolvente ela possibilita momentos de fruiccedilatildeo a muitos leitores que nem sempre

tecircm acesso ndash ou natildeo gostam devido agrave extensatildeo ndash aos romances Para compreendermos as

caracteriacutesticas da crocircnica precisamos conhecer como ela se manifesta como texto jornaliacutestico

e tambeacutem como texto literaacuterio

2321 Crocircnica um gecircnero jornaliacutestico

Para termos uma ideia de como eacute vista a crocircnica na esfera jornaliacutestica valemo-nos

da classificaccedilatildeo do pioneiro na aacuterea Luiacutes Beltratildeo (1980 p 67 Grifos do autor)

O primeiro aspecto eacute quanto agrave natureza do tema Deste modo ele apresenta trecircs

46

espeacutecies

a) crocircnica geral tambeacutem chamada de coluna ou seccedilatildeo especial que aborda

assuntos variados ldquosob uma epiacutegrafe geralrdquo ou localizada em paacutegina fixa no

jornal

b) crocircnica local tambeacutem chama de urbana ou da cidade divulgada sob a mesma

epiacutegrafe que fala da vida cotidiana da cidade recebendo e orientando a opiniatildeo

puacuteblica da comunidade onde circula o jornal

c) crocircnica especializada tambeacutem chamada de comentaacuterio integra uma paacutegina ou

seccedilatildeo do jornal determinada destacando-se graficamente das demais mateacuterias

ali publicadas trata de assuntos referentes a uma aacuterea especiacutefica de atividade

cujo autor eacute um expert como nos casos de poliacutetica esportes ou economia

O segundo aspecto eacute o tratamento dado ao tema Beltratildeo (1980 p68) apresenta

mais trecircs classificaccedilotildees

a) crocircnica analiacutetica em que o cronista expotildee os fatos com brevidade e os analisa

com objetividade dirigindo-se ldquomais agrave inteligecircncia que ao coraccedilatildeordquo com

linguagem soacutebria e elegante poreacutem dotada de capricho e graccedila

b) crocircnica sentimental em que o cronista apela para a sensibilidade de seu leitor

retirando-se dos fatos e explorando aspectos liacutericos pitorescos ou eacutepicos de

modo a comovecirc-lo e influenciaacute-lo agrave accedilatildeo com linguagem vivaz ritmo aacutegil sem

dar profundidade ao tema

c) crocircnica satiacuterico-humoriacutestica em que o objetivo do cronista eacute criticar fatos accedilotildees

personagens ou pronunciamentos comentados ndash amplamente conhecidos do

puacuteblico ndash ridicularizando-os ou ironizando-os buscando o entretenimento do

leitor utilizando linguagem com linguagem figurada com duplo sentido

palavras aspeadas e verbos no futuro do preteacuterito Para Beltratildeo (1980) a esse tipo

de crocircnica se assemelham as charges dos jornais

2322 Crocircnica um gecircnero literaacuterio

A crocircnica como vimos previamente surgiu no espaccedilo do jornal Embora o

utilizasse como suporte e a partir dele tenha se firmado desenvolveu caracteriacutesticas proacuteprias

indo para aleacutem da esfera jornaliacutestica alcanccedilando assim a esfera literaacuteria Nas palavras de

Eduardo Portela (apud Coutinho 2008 p 107)

47

O fundamental na crocircnica eacute a superaccedilatildeo de sua base jornaliacutestica e urbana em busca de

transcendecircncia seja construindo ldquouma vida aleacutem da notiacuteciardquo Seja enriquecendo a

notiacutecia ldquocom elementos de tipo psicoloacutegico metafiacutesicordquo ou com o humour seja

fazendo ldquoo subjetivismo do artistardquo ldquoo seu universo internordquo sobrepor-se ldquoagrave

preocupaccedilatildeo objetiva do cronistardquo (PORTELA apud COUTINHO 2008 p 107)

Como se vecirc essa base jornaliacutestica que atrelava a crocircnica agrave notiacutecia foi

gradativamente superada Natildeo soacute em jornais mas tambeacutem em revistas ela passou a ser

publicada ainda trazendo em si o aspecto da brevidade Poreacutem as que alcanccedilaram a

transcendecircncia de que nos fala o autor passaram a tambeacutem ser publicadas em livros reunidas

em coletacircneas organizadas por autores e editoras chegando mesmo a serem inseridas nos livros

didaacuteticos do ensino baacutesico

Para aleacutem dessa caracteriacutestica da crocircnica literaacuteria impressa temos agora tambeacutem

no seacuteculo XX a crocircnica cujo suporte eacute o meio online divulgada amplamente por meio das redes

sociais sites ou blogs Nesses meios tambeacutem haacute crocircnicas ligadas a notiacutecias sim No entanto a

dinacircmica da vida a capacidade de observaccedilatildeo e a vontade crescente na sociedade de expressatildeo

permite que o subjetivo emerja externalizando o universo dos autores modernos tocando os

leitores igualmente modernos tornando puacuteblico o que poderia ser antes apenas privado natildeo

priorizando apenas a objetividade histoacuterica que buscaram os cronistas incipientes

Considerando todas essas formas de tornar puacuteblica a crocircnica vejamos algumas de

suas caracteriacutesticas mais expressivas Afracircnio Coutinho (2008 p 107 Grifos nossos) fala sobre

os diversos tipos da crocircnica na literatura brasileira afirmando ser possiacutevel classificaacute-los pela

natureza do assunto ou pelo movimento interno Satildeo eles

a) a crocircnica narrativa que se aproxima do conto por ter seu eixo em uma histoacuteria

b) a crocircnica metafiacutesica que se constitui de aura de reflexotildees mais ou menos

filosoacuteficas sobre os acontecimentos ou os homens

c) a crocircnica-poema em prosa que traz em si conteuacutedo liacuterico resultante de mero

extravasamento da alma do artista ante o espetaacuteculo da vida das paisagens ou

episoacutedios para ele significativos

d) a crocircnica-comentaacuterio que trata das variedades dos acontecimentos e que tem

ldquono dizer de Eugecircnio Gomes o aspecto de um lsquobazar asiaacuteticorsquo acumulando

muita coisa diferente ou diacutesparrdquo

Antocircnio Cacircndido (1992 p 21) sugere sem pretensatildeo de categorizar uma

classificaccedilatildeo das crocircnicas Poderiacuteamos agrupar conforme seus exemplos da seguinte forma

48

a) crocircnicas que satildeo diaacutelogos e que nelas podemos perceber que o cronista e seu

leitor ideal se revezam nos pontos de vista e nas informaccedilotildees

b) crocircnicas que marcham rumo ao conto ldquoagrave narrativa mais espraiada com certa

estrutura de ficccedilatildeordquo

c) crocircnicas que parecem anedotas desdobradas

d) crocircnicas que se aproximam da exposiccedilatildeo poeacutetica ou de certo tipo de biografia

liacuterica construiacutedas por enumeraccedilatildeo parecendo uma divagaccedilatildeo livre ldquouma

cadeia de associaccedilotildees totalmente sem necessidade que deveria resultar em

simples acuacutemulo de palavrasrdquo mas que resulta em ldquoum sistema expressivo tatildeo

perfeitordquo

Nos tempos em que vivemos e para nosso projeto escolhemos crocircnicas que se

apresentaram para noacutes tatildeo efecircmeras quanto as do jornal impresso as de meio virtual online

Bem certo que natildeo foram todas mas vaacuterias que nossos alunos leram encaixam-se nesse perfil

O advento da internet permite que acessemos textos dos mais variados gecircneros Em nosso caso

crocircnicas de autores de diversos pontos do Paiacutes Usamos famosos e outros cuja fama no meio

literaacuterio ainda estaacute se nacionalizando porquanto alguns jaacute estejam bem consolidados no meio

em seus estados

Como nosso objetivo maior nesta pesquisa-accedilatildeo eacute contribuir para o

desenvolvimento da competecircncia escrita dos alunos neste caso os do 9ordm ano do Ensino

fundamental ano divisor de aacuteguas prestes a entrar para o ensino meacutedio quando lhes seraacute

cobrado um conhecimento que muitos natildeo chegam a alcanccedilar que eacute o de ter boa escrita boa

produccedilatildeo textual propiciar-lhes-emos conhecer as etapas especiacuteficas do processo atraveacutes de

nossa SD o que lhes seraacute fundamental natildeo somente para os niacuteveis escolares seguintes mas

tambeacutem para as praacuteticas sociais nas quais estatildeo inseridos

A escolha do gecircnero natildeo poderia ter sido mais oportuna Nas palavras de Cacircndido

(1992 p 16) sobre a crocircnica ldquoo seu grande prestiacutegio atual eacute um bom sintoma do progresso de

busca da oralidade na escrita isto eacute na quebra do artifiacutecio e aproximaccedilatildeo com o que haacute de mais

natural no modo de ser do nosso tempo E isto eacute humanizaccedilatildeo da melhorrdquo

49

3 LEITURA E ESCRITA NOS ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Nesta seccedilatildeo tratamos da questatildeo da escrita no ensino fundamental nos anos finais

refletindo sobre o que ensinar em Liacutengua Portuguesa como os professores trabalham como

veem a importacircncia das aulas de escrita

31 Habilidades de leitura e escrita para que ler e escrever

No iniacutecio do seacuteculo XX pensava-se nas aulas de liacutengua materna como o momento

de se transmitir a norma culta da liacutengua portuguesa para os estudantes oriundos da classe social

alta A linguagem era vista como a expressatildeo do pensamento e a capacidade de escrever seria

portanto uma consequecircncia do pensar Na escola os textos literaacuterios eram valorizados e os

regionalismos ignorados Tambeacutem era descartada a ideia de se ler na escola jornais ou

quaisquer textos de nuances coloquiais

A partir da segunda metade do seacuteculo XIX comeccedilaram a surgir no Paiacutes ainda que

alguns fossem impressos na Europa livros de leitura destinados especificamente agraves seacuteries

iniciais da escolarizaccedilatildeo Segundo Galvatildeo e Batista (sd) autores como Abiacutelio Ceacutesar Borges e

Felisberto de Carvalho editaram livros considerados inovadores para a eacutepoca por terem caraacuteter

enciclopeacutedico trazendo conteuacutedos de vaacuterias aacutereas do conhecimento sendo de cunho instrutivo

e moral Essas obras destinadas ao aprendizado inicial da leitura e da escrita visavam substituir

as cartilhas grosseiras ou os materiais manuscritos que no entanto na maior parte do paiacutes

continuaram sendo usados

No iniacutecio do seacuteculo XX foram publicados livros cujo formato comeccedilou a modificar

o conceito de livro usado nas escolas Atraveacutes do Brasil de Olavo Bilac e Manuel Bonfim e

Narizinho arrebitado de Monteiro Lobato marcaram a histoacuteria

Movidos pelo nacionalismo que caracterizava aquele momento brasileiro os autores

construiacuteram um livro que traz uma narrativa contiacutenua ao longo dos capiacutetulos contando

a histoacuteria de trecircs meninos viajando atraveacutes do paiacutes No prefaacutecio os autores afirmam

que atraveacutes da histoacuteria narrada o professor teria material para desenvolver os diversos

assuntos necessaacuterios agrave instruccedilatildeo das crianccedilas Aleacutem disso e talvez sobretudo os

autores tecircm uma preocupaccedilatildeo com a educaccedilatildeo moral dos meninos e meninas Em

1921 outro livro marcaria a histoacuteria dos livros de leitura Narizinho Arrebitado de

Monteiro Lobato Um dos grandes sucessos da literatura infantil brasileira nasceu

como 2o livro de leitura para as escolas E com ele uma grande inovaccedilatildeo Segundo

a criacutetica da eacutepoca o livro se diferenciava de toda a literatura didaacutetica produzida no

Brasil na medida em que trazia para a escola um aspecto ateacute entatildeo ignorado pela

instituiccedilatildeo provocar o prazer na leitura (GALVAtildeO BATISTA sd)

50

Da deacutecada de 20 ateacute meados da de 50 inuacutemeros livros de leitura foram produzidos

e algumas editoras especializaram-se na produccedilatildeo de livros didaacuteticos Nesse momento vaacuterias

reformas de ensino foram empreendidas por diversos Estados

Nos anos 1970 a linguagem passou a ser vista como um instrumento de

comunicaccedilatildeo como nos fala Raupp (2005)

A concepccedilatildeo agora eacute a de linguagem como instrumento de comunicaccedilatildeo e os

objetivos de ensino satildeo pragmaacuteticos e utilitaacuterios natildeo se trata mais de promover o conhecimento

do sistema linguiacutestico ndash o saber a respeito da liacutengua ndash mas do desenvolvimento das habilidades

de expressatildeo e compreensatildeo de mensagens ndash o uso instrumental e comunicativo da liacutengua A

escola abre-se para a pluralidade de linguagens e culturas

Segundo a autora ensinar a liacutengua nas escolas era priorizar o ensino de gramaacutetica

Poreacutem no iniacutecio dos anos 70 a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo nordm 569271

provocou mudanccedilas natildeo somente na disciplina de Liacutengua Portuguesa mas em todas as demais

disciplinas curriculares A liacutengua no contexto ideoloacutegico do movimento militar poacutes-64 eacute

considerada instrumento a serviccedilo do desenvolvimento Assim a disciplina ldquoPortuguecircsrdquo passa

a ser denominada de Comunicaccedilatildeo e Expressatildeo (nas seacuteries iniciais) Comunicaccedilatildeo em Liacutengua

Portuguesa (nas seacuteries finais) e no 2deg grau Liacutengua Portuguesa e Literatura Brasileira O aluno

deveria respeitar modelos para construir textos e transmitir mensagens Os gecircneros natildeo

literaacuterios foram incorporados agraves aulas

Chegando agrave deacutecada de 1980 foi sendo revista refletida e ampliada a concepccedilatildeo de

linguagem como um instrumento de comunicaccedilatildeo passando a influenciar o ensino e mostrando

que o foco deve estar na interaccedilatildeo entre as pessoas Poreacutem apesar dos novos estudos mesmo

entrando na deacutecada de 1990 professores ainda reproduziam mesmo que inconscientemente o

mesmo sistema de transposiccedilatildeo didaacutetica de conteuacutedos e a mesma atribuiccedilatildeo de valor e

importacircncia ao ensino prescritivo e normativo com que construiacuteram sua formaccedilatildeo tanto pessoal

quanto pedagoacutegica

Questionava-se para que serve a escola E trazendo para nossa aacuterea de interesse

para que serve a disciplina Liacutengua Portuguesa Para alguns a escola era e ainda eacute vista como

preparatoacuteria de alunos para o vestibular tanto mais se aproximava do ensino meacutedio No entanto

se a escola se detiver apenas a esses exames perderaacute completamente seu papel social que como

sabemos eacute muito mais abrangente que fazer uma prova cuja finalidade eacute especiacutefica objetiva e

limitada por um tempo e por uma seacuterie de outras determinaccedilotildees teacutecnicas

51

Nesse sentido a escola natildeo tem por finalidade maior garantir o preparo de alunos

para concursos pois natildeo cumpriria seu papel de promover a inclusatildeo social dos cidadatildeos Para

aleacutem da escola haacute a vida e toda sua abrangecircncia social e poliacutetica Entatildeo para de fato promover

a inclusatildeo de cada aluno nada mais importante do que incluiacute-los no mundo da leitura e da

escrita da anaacutelise e da reflexatildeo criacutetica estimulando-os agrave criaccedilatildeo

Valemo-nos das palavras de Antunes (2007 p110) a respeito do conflito sobre o

que ensinar nas aulas de Liacutengua Portuguesa quando questiona o que leva ainda algumas pessoas

a defenderem a prioridade de um ensino concentrado em ldquoanalisar frases para identificar

substantivos adjetivos verbos sublinhar diacutegrafos distinguir objeto preposicionado de objeto

direto pleonaacutestico classificar oraccedilotildees e outras categorias metalinguiacutesticasrdquo Por que falantes da

liacutengua materna natildeo tecircm familiaridade com a liacutengua em sua modalidade escrita em sua forma

espontacircnea de uso Raupp (2005 p 53) apresenta-nos uma resposta

A verdade eacute que por mais que se tenham alterado meacutetodos e teacutecnicas pressupostos e

concepccedilotildees no ensino de Liacutengua Portuguesa uma premissa permaneceu inalterada a

necessidade de se ensinaraprender a leitura e a escrita E apesar de inuacutemeras

alteraccedilotildees didaacutetico-metodoloacutegicas ocorridas ao longo do percurso o ler e o escrever

permanecem gerenciadores de todo o processo de inserccedilatildeo do sujeito na escola e fora

dela A esse respeito menciona Britto (1997 p100) ldquoo aprendizado efetivo da escrita

(e aqui eu acrescentaria e da leitura) natildeo decorre de um processo de treinamento mas

da inserccedilatildeo do sujeito no mundo da relaccedilatildeo que estabelece entre o que aprende e seu

universo soacutecio-histoacutericordquo e a inserccedilatildeo do sujeito no mundo inegavelmente ocorre

por meio da leitura deste mundo (RAUPP 2005 p 53)

De certa maneira a tradiccedilatildeo dos meacutetodos de ensino da liacutengua materna na escola

ainda contribui no sentido de natildeo se estimular os aprendizes a fluir na leitura e na escrita

(BEZERRA 2014 LOPES-ROSSI 2012)

Com o intuito de superar meacutetodos tatildeo tradicionais quanto ineficientes no ensino da

competecircncia discursiva e sensiacuteveis agraves transformaccedilotildees gestadas nos centros de conhecimento

no ano de 1996 foi promulgada apoacutes longos debates e discussotildees a Lei de Diretrizes e Bases

que rege a educaccedilatildeo brasileira com vistas agraves novas formas do pensar e agir docente de modo

a implementar a transformaccedilatildeo do olhar das instituiccedilotildees que formam professores bem como

auxiliar os docentes jaacute em exerciacutecio atraveacutes das instituiccedilotildees que lhes propiciam a formaccedilatildeo

continuada

Assim os Paracircmetros Curriculares Nacionais (1997) reconhecem que o ensino da

liacutengua portuguesa pautado em uma prioridade de estudos de aspectos normativos ou gramaticais

da liacutengua eacute limitado e insuficiente e sugerem redirecionar o foco para a praacutetica de leitura e ndash

aspecto muito importante ndash o exerciacutecio da escrita de textos nos mais variados gecircneros textuais

52

existentes na sociedade possibilitando o estudo da liacutengua em contextos reais de uso natildeo apenas

como um conjunto de normas

A importacircncia e o valor dos usos da linguagem satildeo determinados historicamente

segundo as demandas sociais de cada momento Atualmente exigem-se niacuteveis de leitura e de

escrita diferentes dos que satisfizeram as demandas sociais ateacute haacute bem pouco tempo e tudo

indica que essa exigecircncia tende a ser crescente A necessidade de atender a essa demanda

obriga agrave revisatildeo substantiva dos meacutetodos de ensino e agrave constituiccedilatildeo de praacuteticas que possibilitem

ao aluno ampliar sua competecircncia discursiva na interlocuccedilatildeo (BRASIL 1998 p 23)

Nesse sentido os PCN (1997) orientam o trabalho em sala em direccedilatildeo agrave ampliaccedilatildeo

do uso da liacutengua aos contextos natildeo podendo ficar reduzida apenas ao trabalho sistemaacutetico com

a mateacuteria gramatical visto que aprender a pensar e falar sobre a proacutepria linguagem realizar

uma atividade de natureza reflexiva uma atividade de anaacutelise linguiacutestica supotildee duas situaccedilotildees

planejar situaccedilotildees didaacuteticas que possibilitem a reflexatildeo natildeo somente sobre os diferentes

recursos expressivos utilizados pelo autor do texto mas tambeacutem sobre a forma pela qual a

seleccedilatildeo de tais recursos reflete as condiccedilotildees de produccedilatildeo do discurso e as restriccedilotildees impostas

pelo gecircnero e pelo suporte e tomar como objeto de reflexatildeo os procedimentos de planejamento

de elaboraccedilatildeo e de refacccedilatildeo dos textos (BRASIL 1997 p 8 Grifo nosso)

Produzir textos requer dessa forma estudar os diferentes modos de expressatildeo

abrindo-se aiacute para o aluno uma gama de possibilidades de manifestaccedilatildeo de ideias atraveacutes do

conhecimento de sua liacutengua quando de seu uso nas relaccedilotildees de interaccedilatildeo pessoal No entanto

para que essa produccedilatildeo seja efetiva haacute que se ter em mente que qualquer atividade de produccedilatildeo

textual bem-sucedida requer o exerciacutecio da escrita e da reescrita pois se considera que nesse

processo de aperfeiccediloamento as aulas tomadas entre o iniacutecio e o teacutermino de uma sequecircncia ou

seja entre a produccedilatildeo inicial e a produccedilatildeo final sejam vaacuterias e variadas com planejamento para

conhecer as necessidades de cunho geral da turma como as caracteriacutesticas de um gecircnero bem

como as de cunho individual do aluno como as limitaccedilotildees no reconhecimento do gecircnero

textual na construccedilatildeo de argumentos nas convenccedilotildees da escrita culta

Para boa parte das crianccedilas e dos jovens brasileiros a escola eacute o uacutenico espaccedilo que

pode proporcionar acesso a textos escritos textos estes que se converteratildeo inevitavelmente em

modelos para a produccedilatildeo Se eacute de esperar que o escritor iniciante redija seus textos usando como

referecircncia estrateacutegias de organizaccedilatildeo tiacutepicas da oralidade a possibilidade de que venha a

construir uma representaccedilatildeo do que seja a escrita soacute estaraacute colocada se as atividades escolares

53

lhe oferecerem uma rica convivecircncia com a diversidade de textos que caracterizam as praacuteticas

sociais (BRASIL 1998 p 25-26)

Para levar o aluno a desenvolver suas habilidades de escrita um passo eacute planejar

sequecircncias que abordem as caracteriacutesticas do gecircnero a ser trabalhado permitindo-lhe pocircr em

aproximaccedilatildeo eou contraste seus saberes com os conhecimentos a serem construiacutedos algo que

tem se revelado bastante difiacutecil

Para o trabalho com a escrita em Liacutengua Portuguesa pode-se partir da questatildeo

essencial o que se deve ensinar para os alunos Para a resposta eacute importante entendermos a

escrita como processo quais satildeo as etapas Quais as estrateacutegias de escrita Qual o papel do

professor neste processo Para fundamentar a didaacutetica da escrita eacute importante conhecer os

processos de redigir e tambeacutem considerar como motivar os alunos a escrever Vamos para este

estudo nortearmo-nos em Serafini (2003) Koch e Elias (2009) e Vieira (2005)

32 Escrita e motivaccedilatildeo

Vieira (2005 p 71) traz agrave tona uma reflexatildeo sobre a necessidade de motivar a

escrita pois essa praacutetica permeia todas as nossas atividades cotidianas e eacute cada vez mais

indispensaacutevel Em sua anaacutelise entende que os atos de escrita que acontecem na escola

apresentam uma defasagem entre a realidade do mundo da palavra e a palavra do mundo

escolar Por vezes os alunos escrevem textos sem instruccedilotildees claras e sem um destinataacuterio

concreto aleacutem do professor cujo papel consiste em corrigir os erros de gramaacutetica e ortografia

Uma criacutetica pertinente da autora eacute que nossas escolas ainda estatildeo em sua maioria

com um atraso pedagoacutegico quanto ao trabalho com a escrita seus usos sociais e os processos

do redator Apesar de muitas abordagens e contribuiccedilotildees pedagoacutegicas que trabalham esses usos

sociais e o ato de redigir em funccedilatildeo de uma audiecircncia para o texto ou de um propoacutesito

comunicativo terem despontado essas ideias permanecem distantes da realidade do ensino Em

sua contribuiccedilatildeo para o tema motivaccedilatildeo Vieira (2005 p 70) afirma ldquoSe o impulso

comunicativo para escrever eacute determinante de escolhas temaacuteticas estruturais estiliacutesticas e

pragmaacuteticas no texto em composiccedilatildeo de partida isso jaacute deveria implicar num cuidado muito

maior em relaccedilatildeo ao quecirc e como satildeo propostos os atos de escrita na escolardquo

Essas proposiccedilotildees de que trata a autora atentam para que consideremos que estamos

na era digital em que a tecnologia absorve bastante a atenccedilatildeo dos alunos o que atribui novas

funccedilotildees para a escrita Para motivaacute-los as atividades precisam entatildeo levaacute-los a se sentirem

54

capazes de se envolver e de completar a tarefa isto eacute de ter competecircncia e controle sobre ela

controle sobre seus textos e sobre a situaccedilatildeo de escrita Essa autopercepccedilatildeo de competecircncia e

controle cuja recompensa eacute a autogratificaccedilatildeo eacute conceituada como motivaccedilatildeo intriacutenseca

concebida do ponto de vista cognitivista em oposiccedilatildeo ao conceito behaviorista de motivaccedilatildeo

cujo foco estaacute em recompensas externas chamado de motivaccedilatildeo extriacutenseca

Para o ensino segundo Vieira (2005) a percepccedilatildeo de competecircncia eacute muito

importante no que tange ao engajamento em tarefas Se o aluno natildeo se percebe competente

numa aacuterea maior sua necessidade de assistecircncia externa para se desincumbir de uma tarefa

Desse modo Vieira (2005 p 73) diz que

A ideia eacute que quando os estudantes se apropriam de sua escrita seu niacutevel de

engajamento seraacute mais alto Assim todo redator do principiante ao profissional deve

ser encorajado a apropriar-se de seu texto usando a escrita para expressar sua

compreensatildeo pessoal dos assuntos e para buscar seus proacuteprios propoacutesitos acadecircmicos

e sociais (VIEIRA 2005 p 73)

Visando entatildeo propiciar uma maior motivaccedilatildeo para redigir Vieira (2005) lista em

um quadro algumas atitudes de intervenccedilatildeo possiacuteveis cujos princiacutepios e praacuteticas aceitamos

como norte em nossa pesquisa de acordo com as possibilidades e dificuldades verificadas na

turma considerando a SD que foi aplicada Vejamos a seguir

Quadro 2 ndash Motivaccedilatildeo e envolvimento na produccedilatildeo escrita

ELEMENTOS BAacuteSICOS PRINCIacutePIOS E PRAacuteTICAS EFEITOS GERADOS

a) Competecircncia + assistecircncia

b) Controle (textosituaccedilatildeo de

escrita)

Encorajar a apropriaccedilatildeo do

texto

Compartilhar e demonstrar atos

de escrita ao aluno (o prazer e as

dificuldades)

Oportunidades para

autorregulaccedilatildeo

Engajamento mais alto

na leitura (a) e na escrita

(b) gt maior

competecircncia controle

Tempo

Concentrar periacuteodos para

escrever instituindo a

regularidade

Maior competecircncia e

controle

Propriedade (ownership)

Controlar a situaccedilatildeo de escrita e

a tarefa dentro do gecircnero e

formato

- variar temasassuntos

- focalizar uma audiecircncia

- encontrar a proacutepria ldquovozrdquo

expressando significados e

opiniotildees

- lerredigir textos autecircnticos

criando propoacutesitos

Domiacutenio sobre o texto e

maior prazer na escrita

55

comunicativos e situaccedilotildees reais

de escrita

Resposta (retorno reacuteplica)

Lerouvircompartilhar textos

Trabalhar em pequenos grupos

antes de trabalhar de forma

independente

Oportunidades de trocar

e comentar textos com

os colegas obtendo

respostas especiacuteficas

Complexidade da tarefa ndash usar

habilidades e conhecimentos

preacutevios propor tarefas que

possam ser executadas com

ecircxito (Bereiter e Scardamalia

1982)

Propor tarefas que dosem

- conteuacutedo (assunto)

- forma (gecircnero formato)

- funccedilatildeo (propoacutesito do texto)

Ex assunto novo + formato de

texto conhecido + funccedilatildeo

conhecida

Confianccedila reforccedilada

pela possibilidade de

sucesso de dar conta da

tarefa estimulando a

percepccedilatildeo da

competecircncia

Percepccedilatildeo abrangente do

processo de redigir (similar em

liacutengua materna e liacutengua

estrangeira ndash dominar o coacutedigo

linguiacutestico natildeo eacute o maior

problema)

Focalizar em separado

processos de

composiccedilatildeotranscriccedilatildeo

(gerarorganizar ideias x

ortografia e gramaacutetica)

Reforccedilo da experiecircncia

de sucesso gt niacutevel mais

alto de competecircncia

percebida gt

engajamento com tarefas

semelhantes Fonte Adaptado de VIEIRA (2005)

Aleacutem desses elementos a autora aponta outros aspectos praacuteticos que podem ampliar

a motivaccedilatildeo para escrever Satildeo eles

a) trabalhar a leitura e a escrita de forma complementar explorando textos

variados observando padrotildees ortograacuteficos e construccedilotildees sintaacuteticas explorando

o potencial da internet e os acervos disponiacuteveis pois a leitura contribui para a

escrita mais que o proacuteprio ato de redigir

b) integrar a escrita agrave matildeo com a escrita digital transitando do papel agrave tela do

computador exercitando em cada uma das modalidades de escrita os aspectos

que melhor favorecem

c) recriar situaccedilotildees comunicativas autecircnticas e propoacutesitos para escrever como

anuacutencios manchetes oraccedilotildees bilhetes cartas notiacutecias entre outros indo dos

mais simples aos mais complexos e

d) buscar audiecircncias verdadeiras para escrever e interlocutores para comentar os

textos redigidos criando situaccedilotildees de modo que os estudantes possam comentar

e criticar o que foi produzido

Diante do exposto procuramos ao longo das aulas dos moacutedulos contemplar nas

atividades os aspectos que podem motivar o aluno a escrever dominando pouco a pouco seu

texto propiciando-lhe a construccedilatildeo de experiecircncias positivas ainda mais porque estaacute em jogo

o despertar da consciecircncia de que a escrita eacute um processo como veremos na seccedilatildeo a seguir

56

33 Escrita como processo

Iniciando com questionamentos como por que eacute difiacutecil aprender a redigir quais satildeo

as maiores dificuldades envolvidas na produccedilatildeo de um texto como as crianccedilas escrevem e se

desenvolvem como redatoras quais os comportamentos caracteriacutesticos dos bons e dos maus

redatores entre outros que foram propostos por Vieira (2005 p 80) para saber mais sobre o

processo de produccedilatildeo de textos na escola

Em cada exerciacutecio de linguagem escrita praticado na escola eacute fundamental prever

para quem se vai escrever As redaccedilotildees escritas ldquopara ningueacutemrdquo que segundo Antunes (2009)

desconsideram o outro sujeito que integra a atividade comunicativa soacute podem resultar no

desinteresse e na ineficiecircncia dos meacutetodos de que somos testemunhas haacute vaacuterias deacutecadas Essa

produccedilatildeo textual ldquopara ningueacutemrdquo de que trata a autora reflete-se nas inseguranccedilas

manifestadas pelos alunos Quando estes escrevem eacute unicamente para o professor porque

visam merecer uma nota e passar de ano Ora se a escrita tem tantas funccedilotildees na sociedade

sendo de ordem praacutetica natildeo faz sentido cristalizaacute-la em fins puramente escolares

A escrita segundo Koch e Elias (2009) pode ter vaacuterios focos De acordo com as

autoras haacute correntes de produccedilatildeo textual que colocam o foco da escrita na liacutengua outras que

focam no escritor e por uacuteltimo na interaccedilatildeo

Com o foco da escrita na liacutengua bastaria tanto ao escritor como ao leitor ter

conhecimento do coacutedigo utilizado no texto sem espaccedilo para implicitudes havendo centraccedilatildeo

na linearidade de modo transparente

Com o foco da escrita no escritor o texto eacute visto como produto loacutegico do

pensamento (representaccedilatildeo mental) do escritor ou seja uma expressatildeo do pensamento e das

intenccedilotildees do autor mas que natildeo leva em conta as experiecircncias e os conhecimentos do leitor

pois natildeo considera a interaccedilatildeo que haacute no processo (KOCH ELIAS 2009 p 33)

No entanto natildeo se deve considerar segundo as autoras o foco apenas no coacutedigo

ou apenas no escritor mas na interaccedilatildeo

Essa eacute a diferenccedila em relaccedilatildeo agraves concepccedilotildees anteriormente descritas visto que a

escrita natildeo eacute compreendida em relaccedilatildeo apenas agrave apropriaccedilatildeo das regras da liacutengua nem

tampouco ao pensamento e intenccedilotildees do escritor mas sim em relaccedilatildeo agrave interaccedilatildeo escritor-

leitor levando em conta eacute verdade as intenccedilotildees daquele que faz uso da liacutengua para atingir o

seu intento sem contudo ignorar que o leitor com seus conhecimentos eacute parte constitutiva desse

processo (KOCH ELIAS 2009 p 34)

57

Desse modo a primeira condiccedilatildeo necessaacuteria ao professor que ensina a redigir eacute que

tenha em mente que a escrita eacute uma atividade comunicativa e que desempenha funccedilotildees cada

vez mais diversificadas no dia a dia de uma sociedade letradardquo (VIEIRA 2005 p 80) Escrever

eacute um ato que requer sentido afinal comunicar-se eacute um ato de interaccedilatildeo social eacute praacutetica eacute

vivecircncia

Os processos psicoloacutegicos ou mentais acionados durante a produccedilatildeo de um texto

natildeo acontecem necessariamente numa ordem loacutegica Podem vir simultaneamente o que pode

levar o redator a sentir que tem conflitos e consequentemente estancar diante dessa dificuldade

inicial

Logo para produzir um texto eacute preciso ter determinados os pontos que indicam

exatamente o que fazer o que facilita o trabalho de qualquer escritor Vieira (2005) considera

que para despertar o prazer de escrever haacute que se levar em conta os seguintes argumentos um

eacute a funcionalidade da escrita jaacute falada anteriormente outro diz respeito agrave proacutepria natureza da

escrita tatildeo distinta da fala

Embora a escrita em papel seja um ato solitaacuterio em que natildeo se conta com a reaccedilatildeo

do interlocutor por causa da proacutepria distacircncia espacial que separa autor e leitor a consciecircncia

da audiecircncia eacute o que impulsiona o texto que estaacute sendo produzido Em outras palavras no ato

de redigir jaacute estaacute inscrito o virtual leitor do texto E eacute essa consciecircncia aparentemente

contraditoacuteria entre ausecircncia e presenccedila do destinataacuterio da mensagem que vai moldar os

procedimentos do redator (VIEIRA 2005 p 82)

Concordamos com Serafini (2003 p17) quando afirma que escrever um texto ldquonatildeo

significa criar por inspiraccedilatildeo divina Eacute um trabalho E para realizar a contento um trabalho eacute

preciso conhecer as regras do jogordquo As regras que a autora propotildee satildeo as seguintes ter um

plano ordenar as ideias organizar o texto corrigir Essa distribuiccedilatildeo das etapas do trabalho

permite que se trabalhe melhor Da mesma forma Koch e Elias (2009 p 37) evidenciam que

[] em sua atividade o escritor recorre a conhecimentos armazenados na memoacuteria

relacionados agrave liacutengua ao saber enciclopeacutedico a praacuteticas interacionais Esses

conhecimentos resultado de inuacutemeras atividades em que nos envolvemos ao longo de

nossa vida deixam entrever a intriacutenseca relaccedilatildeo entre linguagemmundopraacuteticas

sociais (KOCH ELIAS 2009 p 37)

Para Koch e Elias (2009 p 34) a escrita eacute uma atividade que demanda esforccedilo e

as estrateacutegias a seguir

58

a) ativaccedilatildeo de conhecimentos sobre os componentes da situaccedilatildeo comunicativa

(interlocutores toacutepico a ser desenvolvido e configuraccedilatildeo textual adequada agrave

interaccedilatildeo em foco)

b) seleccedilatildeo organizaccedilatildeo e desenvolvimento das ideias de modo a garantir a

continuidade do tema e sua progressatildeo

c) ldquobalanceamentordquo entre informaccedilotildees expliacutecitas e impliacutecitas entre informaccedilotildees

ldquonovasrdquo e ldquodadasrdquo levando em conta o compartilhamento de informaccedilotildees com

o leitor e o objetivo da escrita

d) revisatildeo da escrita ao longo de todo o processo guiada pelo objetivo da produccedilatildeo

e pela interaccedilatildeo que o escritor pretende estabelecer com o leitor

Haacute muitas maneiras de percebermos os subprocessos e as habilidades implicadas

na produccedilatildeo de um texto como mostram Serafini (2003) Koch e Elias (2009) Vieira (2005

p84) tambeacutem menciona em sua obra modelos do tipo ldquoensaio esboccedilo ediccedilatildeo e revisatildeordquo

ldquoensaiar escrever e passar a limpordquo ldquoextrapolar e resumirrdquo ldquocoletar e conectarrdquo ldquodesenvoltura

coerecircncia e precisatildeordquo ldquogerarorganizar ideias produzir texto e revisarrdquo ldquoelaboraccedilatildeo expressatildeo

e revisatildeordquo ldquoplanificaccedilatildeo textualizaccedilatildeo revisatildeordquo

Nessa visatildeo processual do ensino da escrita todas essas maneiras convergem para

o consenso de que haacute operaccedilotildees mentais de natureza diferente e conflitante e para fins

pedagoacutegicos eacute interessante separar as atividades de composiccedilatildeo e de transcriccedilatildeo segundo o

conceito de Smith apud Vieira (2005 p 84) ldquoSegundo ele a atividade de compor diz respeito

agrave geraccedilatildeo seleccedilatildeo organizaccedilatildeo de ideias e sua traduccedilatildeo em linguagem Jaacute a atividade de

transcrever refere-se ao ato fiacutesico de registrar as palavrasrdquo

Na praacutetica compor e transcrever satildeo aspectos concorrentes e para a autora a

soluccedilatildeo pedagoacutegica seria separar as duas atividades da seguinte forma

[] primeiro levar o aluno a compor sem se preocupar com a transcriccedilatildeo depois

orientaacute-lo para revisar e reescrever o texto (fazendo-o compreender que a atividade de

revisatildeo faz parte do processo de redigir um texto) Estas colocaccedilotildees jaacute nos permitem

rever os criteacuterios de avaliaccedilatildeo de redaccedilotildees mostrando-nos como estamos equivocados

quando elegemos a correccedilatildeo gramatical e a ortografia como metas principais para a

habilidade de redigir (VIEIRA 2005 p 85)

Assim como ensinar a redigir sob a oacutetica da escrita como processo De iniacutecio tendo

em mente que as operaccedilotildees e habilidades necessaacuterias agrave elaboraccedilatildeo do texto tecircm valor No

entanto o exerciacutecio das habilidades de escrita em separado pode ter a desvantagem de levar o

59

aluno a achar que o processo eacute uma atividade fragmentada Para entatildeo evitar essa percepccedilatildeo

eacute preciso aleacutem dos exerciacutecios redigir textos completos

De jaacute temos consciecircncia de que nenhuma abordagem para o ensino da escrita eacute

absoluta Nas palavras de Vieira (2005 p 87)

A redaccedilatildeo requer meacutetodo muacuteltiplo jaacute que envolve diferentes tipos de capacidades e

habilidades E nada substitui o bom senso do professor Assim por exemplo se ele

julgar necessaacuterio reforccedilar determinados padrotildees de texto recorrendo agrave abordagem

imitativa estaraacute procedendo de forma adequada Da mesma maneira poderaacute usar

estrateacutegias de liberaccedilatildeo da linguagem na fase de geraccedilatildeo de ideias ou reforccedilar os

recursos de interaccedilatildeo verbal professor-aluno ou aluno-aluno nas atividades de revisatildeo

de texto (VIEIRA 2005 p 87)

Vieira (2005) sintetiza os pontos importantes para o desenvolvimento da habilidade

de redigir a partir de investigaccedilotildees de Krashen (1984 apud Vieira 2005) na aacuterea

O primeiro ponto eacute a frequecircncia com que se redige Independentemente da

disciplina escrever exige treino constante concentrando o tempo disponiacutevel e em horaacuterio

regular posto que ldquosaber com antecedecircncia quando vamos redigir cria prontidatildeo para a

atividade que comeccedila interiormente bem antes de colocarmos as palavras no papelrdquo (VIEIRA

2005 p 88)

O segundo ponto eacute a correlaccedilatildeo entre leitura e escrita A habilidade de ler

compreensivamente permite que quanto mais se leia mais se observe a composiccedilatildeo dos textos

aprendendo-se a lidar com seus padrotildees de organizaccedilatildeo com as intenccedilotildees do autor e percebendo

como se executam diferentes modalidades de usos da escrita

O terceiro ponto eacute a frequecircncia em ler x a frequecircncia em escrever Vieira (2005)

afirma que estudos que comparam a frequecircncia em ler e a frequecircncia em escrever revelam que

a leitura tem efeito mais forte sobre o desenvolvimento da escrita que a proacutepria frequecircncia com

que se escreve

O quarto ponto eacute a instruccedilatildeo escolar para o ensino da escrita Mais do que qualquer

outra habilidade diz a autora a escrita precisa ser demonstrada Assim as instruccedilotildees que o

professor faz ao texto do aluno durante o processo contribuem para que este faccedila os devidos

ajustes melhorando assim sua habilidade de produzir textos

O quinto ponto eacute o feedback do professor Este ponto ressalta o papel fundamental

do professor nas muacuteltiplas reescrituras por que passa um texto ldquoO ideal eacute que sejam feitos

vaacuterios rascunhos com o professor presente comentando cada estaacutegio intermediaacuteriordquo (VIEIRA

2005 p 89) Suas correccedilotildees precisam ser feitas sobre um aspecto de cada vez especificando

as alteraccedilotildees necessaacuterias nos aspectos de composiccedilatildeo e de transcriccedilatildeo

60

O sexto ponto eacute a instrumentaccedilatildeo gramatical e o desenvolvimento da escrita e trata

do que muito se tem discutido na atual sociedade instruccedilatildeo gramatical desvinculada do uso

praacutetico da linguagem natildeo garante a ningueacutem uma escrita melhor

O seacutetimo e uacuteltimo ponto satildeo os processos de composiccedilatildeo de bons e maus redatores

e diferencia em pelo menos quatro aspectos os que escrevem bem do que os que o fazem mal

Satildeo eles

a) planejamento quem redige bem planeja mais Esse planejamento pode ser

gastando mais tempo pensando tomando notas antes de escreverem

flexibilizando os planos e revisando os esquemas agrave medida que surgem novas

ideias e argumentos Apenas alguns redatores experientes seguem uma ordem

linear planejando primeiro em seguida esboccedilando o texto num rascunho e

enfim revisando ldquoPara a maioria deles o processo de redigir eacute recursivo isto eacute

sujeito a retomadas e alteraccedilotildees em diferentes pontos da produccedilatildeo do textordquo

(VIEIRA 2005 p 91)

b) releitura durante a elaboraccedilatildeo do texto as pausas na escrita para a releitura

permitem manter o senso de totalidade da composiccedilatildeo planejando o que

escrever em seguida e tambeacutem relembrando o que jaacute foi registrado fazendo com

que o texto avance

c) revisatildeo a diferenccedila entre os escritores experientes dos inexperientes eacute a revisatildeo

frequentemente confundida com editoraccedilatildeo A revisatildeo pelos experientes eacute uma

focalizaccedilatildeo do significado servindo para ldquoinventar acrescentar mudanccedilas de

conteuacutedo e para reorganizar longos trechos da composiccedilatildeordquo (VIEIRA 2005 p

94) ao passo que a editoraccedilatildeo normalmente a preocupaccedilatildeo dos inexperientes eacute

a correccedilatildeo gramatical a ortograacutefica e a pontuaccedilatildeo que se feita antes do tempo

quebra o ritmo da escrita deixando de conduzir o fio do pensamento e

d) consciecircncia da audiecircncia fundamental considerando o foco da escrita como

anteriormente dito na interaccedilatildeo Levar em conta o leitor como ele poderaacute

receber as palavras e ideias do texto os conhecimentos que ele precisaraacute ter para

compreender o texto e os interesses que ele tem eacute marca dos escritores que

redigem bem ao contraacuterio dos demais que ldquotendem a ficar presos ao assunto do

texto e a gastar menos tempo pensando no leitor por natildeo terem consciecircncia da

audiecircncia ou por natildeo serem capazes de consideraacute-la na escritardquo (VIEIRA 2005

p 95)

61

Essas etapas apresentadas nesta seccedilatildeo foram fundamentais para o processo

conduzido em nossa SD visto permitir aos alunos tomar consciecircncia dos processos que satildeo

ativados antes e durante a escrita bem como nas etapas de leitura releitura e reescrita sendo

cerne da elaboraccedilatildeo das propostas de produccedilatildeo conforme veremos nas seccedilotildees correspondentes

aos moacutedulos aos encontros e agraves atividades desenvolvidas Para a seccedilatildeo seguinte veremos como

pode ser trabalhada a escrita na escola

34 Escrita na escola

Para antes do iniacutecio do trabalho de escrita no acircmbito escolar o ideal eacute que o

professor tenha em mente para definir com clareza junto aos seus alunos na tarefa que deveraacute

ser desenvolvida os seguintes pontos segundo Serafini (2003) destinataacuterio objetivo do texto

gecircnero do texto papel do redator objeto da redaccedilatildeo comprimento da redaccedilatildeo criteacuterios de

avaliaccedilatildeo Desse modo

a) o destinataacuterio eacute a pessoa para a qual se escreve ou seja o leitor Como as

produccedilotildees satildeo feitas no contexto escolar para que o aluno-escritor natildeo dirija seu

texto somente ao professor eacute importante nos comandos de produccedilatildeo esclarecer

qual eacute ou deve ser o perfil de leitor para quem se escreve

b) o objetivo de um texto precisa ser claro pois a ele se atrela a avaliaccedilatildeo do

mesmo no caso do contexto escolar Aliaacutes um texto pode ter mais de um

objetivo e isso precisa ser ponto claro entre o professor e o aluno

c) a escolha do gecircnero eacute entatildeo essencial para o desenvolvimento do texto por

permitir a realizaccedilatildeo deste com um estilo muito marcante O gecircnero permite

inclusive compreender qual eacute o papel do redator na produccedilatildeo para assim

inserir-se ou retirar-se no texto

d) o objeto da redaccedilatildeo para a autora deveria ser deduzido do tiacutetulo da redaccedilatildeo (que

entendemos atualmente como o direcionamento do tema) e explica que assim

como haacute comandos que expotildeem detalhadamente o objeto da redaccedilatildeo haacute tambeacutem

os que pouco oferecem explicaccedilotildees e que conveacutem em casos como esse que o

aluno explique ldquonuma introduccedilatildeo como seratildeo interpretados os termos do

problema propostordquo (SERAFINI 2003 p 28)

e) a extensatildeo do texto depende essencialmente do objetivo da disponibilidade de

tempo da capacidade e da rapidez de quem escreve Entendemos aqui que haacute

62

gecircneros que permitem maior extensatildeo que outros No contexto escolar

normalmente noacutes professores por razotildees de ordem praacutetica do dia a dia pedimos

textos com limite de linhas ou paraacutegrafos

f) finalmente os criteacuterios de avaliaccedilatildeo do professor ajudam o aluno a ldquocanalizar a

proacutepria energia na direccedilatildeo certardquo (SERAFINI 2003 p 29) Como parte do

trabalho com sequecircncia didaacutetica haacute o partilhamento dos criteacuterios trabalhados

do vocabulaacuterio teacutecnico e das caracteriacutesticas a serem encontradas nos textos

produzidos facilitando a vida do aluno quanto ao que colocar no texto e

clareando para o professor o que ele pode esperar desse texto

Desse modo para o escritor que se vecirc diante do papel em branco

independentemente do que vaacute escrever eacute preciso antes empenhar seu tempo e esforccedilo em duas

etapas fundamentais a criaccedilatildeo de ideias para assim passar agrave produccedilatildeo do texto

A separaccedilatildeo consiste em primeiramente levar o aluno a compor sem a

preocupaccedilatildeo com a transcriccedilatildeo Em seguida orientaacute-lo para que faccedila a revisatildeo e a reescrita do

texto colocando-lhe de modo expliacutecito que a revisatildeo eacute parte do processo de redigir um texto

A etapa de criaccedilatildeo das ideias eacute aquela em que o autor pode ldquoatirarrdquo palavras-chave

protoacutetipos de paraacutegrafos de personagens de ambientes de sequecircncias de acontecimentos sem

o fantasma da censura agrave criatividade Aliaacutes eacute nesse momento que pode surgir uma ldquogrande

sacadardquo cujo valor do registro possa vir a ser recompensador Nas palavras de Serafini (2003

p 31) a ldquofolha de papel na qual listamos os dados recolhidos cumpre a funccedilatildeo de prolongamento

da memoacuteria no mundo visiacutevel eacute mais faacutecil escolher num elenco fisicamente visiacutevel que num

iacutendice feito mentalmenterdquo

A coleta das ideias que surgiram ao ser terminada pede a decisatildeo do que e como

usar no texto Para os textos literaacuterios que satildeo objeto de nossa pesquisa um passo necessaacuterio

na estruturaccedilatildeo de Serafini (2003) eacute a identificaccedilatildeo do ponto de vista

Os textos descritivo-narrativos natildeo apresentam ideias predominantes mas contam

fatos e descrevem lugares e pessoas A estrutura desses textos natildeo eacute mais dada por uma ideia

a tese mas pelo ponto de vista isto eacute pelo acircngulo de perspectiva do qual satildeo mostrados fatos

e objetos Nas histoacuterias complexas e nos romances o ponto de vista pode tambeacutem mudar

(SERAFINI 2003 p 45)

Nas palavras da autora ldquo[] para fazer uma boa descriccedilatildeo de um objeto ou lugar

devemos escolher um ponto de vista fica por conta de nossa sensibilidade selecionar um ponto

de vista interessante eficaz e quem sabe originalrdquo (SERAFINI 2003 p47) Entatildeo para um

63

texto narrativo que conta uma histoacuteria natildeo existe um modo objetivo de narrar mas um acircngulo

de perspectiva Completando o pensamento de Serafini Koch e Elias declaram que o como

dizer o que se quer dizer eacute revelador de que a escrita eacute um processo que envolve escolha de um

gecircnero textual em consonacircncia com as praacuteticas sociais seleccedilatildeo organizaccedilatildeo e revisatildeo das ideias

para os ajustesreajustes necessaacuterios tendo em vista a eficiecircncia e a eficaacutecia da comunicaccedilatildeo

(KOCH ELIAS 2009 p 36)

Apoacutes a seleccedilatildeo das ideias de sua organizaccedilatildeo e da escolha do ponto de vista o

escritor pode efetivamente passar agrave produccedilatildeo Tudo o que foi feito para despertar coloquemos

assim o escritor para o labor com seu texto eacute uma hipoacutetese do trabalho final visto que ao

comeccedilar a escrever novas ideias vatildeo surgindo E como nos lembra Serafini (2003 p 54) ldquo[]

quem se propotildee a ensinar a escrever na escola brasileira atual geralmente encontra problemas

porque natildeo tem agrave disposiccedilatildeo um modelo uacutenico de liacutengua nem uma tradiccedilatildeo de didaacutetica da

redaccedilatildeo que privilegie um dos diversos estilos possiacuteveisrdquo Frases longas ou curtas discurso

direto ou indireto ou mesmo o indireto livre tudo satildeo escolhas com as quais o aluno-escritor

vai se familiarizar ao longo de sua jornada escolar pouco a pouco conforme suas experiecircncias

de leitura e praacutetica com a escrita progredindo do paraacutegrafo mais simples ao mais complexo A

autora assim define o que eacute paraacutegrafo

O paraacutegrafo eacute uma quantidade de texto delimitada por um ponto final o texto continua

a se desenvolver na outra linha afastado da margem Ele pode conter vaacuterios periacuteodos

separados por pontos e por viacutergulas O que importa eacute garantir que a cada paraacutegrafo

corresponda uma uacutenica ideia de roteiro Esta colocaccedilatildeo tiacutepica do mundo anglo-saxatildeo

e americano pode parecer excessivamente mecanicista e simplista Com efeito eacute

justificada soacute no niacutevel didaacutetico para aqueles estudantes que tecircm grandes dificuldades

para escrever Este meacutetodo aliaacutes deve ser assumido como hipoacutetese de trabalho mas

deve ser revisto agrave medida que se adquire familiaridade com a liacutengua Em nome de

uma melhor organizaccedilatildeo do texto eacute possiacutevel por exemplo reagrupar mais de uma

ideia do roteiro num uacutenico paraacutegrafo ou associar agrave mesma ideia mais paraacutegrafos

(SERAFINI 2003 p 55)

Desse modo se fizermos um pequeno quadro com a finalidade de melhor visualizar

as possibilidades de organizaccedilatildeo do texto em paraacutegrafos o que pode ajudar os alunos temos

Quadro 3 ndash Como organizar as ideias em paraacutegrafos

1 ideia 1 paraacutegrafo

2 ou mais ideias 1 paraacutegrafo

1 ideia 2 ou mais paraacutegrafos

Fonte adaptado de SERAFINI (2003)

64

Por razotildees didaacuteticas Serafini (2003) classifica trecircs principais tipos de paraacutegrafo

com caracteriacutesticas especiacuteficas o paraacutegrafo narrativo que eacute constituiacutedo por uma sequecircncia de

afirmaccedilotildees-informaccedilotildees que natildeo precisam de garantia4 e eacute onde os fatos satildeo expostos em ordem

cronoloacutegica o paraacutegrafo descritivo que conteacutem objetos lugares e pessoas geralmente

constituiacutedo soacute pela afirmaccedilatildeo e pela informaccedilatildeo dispensando a garantia e finalmente o

paraacutegrafo expositivo-argumentativo mais complexo que os anteriores apresenta em geral todas

as caracteriacutesticas do modelo de Toulmin (cf nota 8) e que apresenta uma tese com os dados e

as observaccedilotildees que podem ser uacuteteis para convencer o leitor de sua validade

Ainda na classificaccedilatildeo do paraacutegrafo narrativo tambeacutem chamado de cronoloacutegico

Serafini nos mostra um caso particular de apresentaccedilatildeo de uma sequecircncia de fatos o que inclui

o flash-back que eacute a interrupccedilatildeo na sequecircncia cronoloacutegica ldquointroduzindo fatos anteriores uacuteteis

agrave compreensatildeo da narrativa Embora natildeo seja tatildeo natural eacute possiacutevel interromper uma sequecircncia

temporal para incluir fatos que aconteceratildeo depoisrdquo (SERAFINI 2003 p 58)

Um outro caso de paraacutegrafo narrativo ou cronoloacutegico eacute o que apresenta um

procedimento Procedimentos ldquosatildeo todas as sequecircncias de accedilotildees que devem ser cumpridas para

se obter certo resultadordquo (SERAFINI 2003 p 59) por exemplo a enumeraccedilatildeo das etapas

necessaacuterias ao preparo de uma torta A descriccedilatildeo correta do procedimento requer que natildeo se

inverta a ordem de suas operaccedilotildees elementares

O paraacutegrafo descritivo segundo a autora eacute importante ldquo[] para envolver o leitor

na histoacuteria convencecirc-lo da tese ou tornar-lhe a leitura mais concreta e vivardquo (SERAFINI 2003

p 58) Dessa forma eacute interessante que os personagens ambientes e objetos natildeo sejam apenas

mencionados mas apresentados com riqueza de detalhes A generalizaccedilatildeo pode deixar o leitor

indiferente ao passo que descriccedilotildees detalhadas podem vir a interessar envolver e mesmo

emocionar

Frequentemente quem natildeo tem grande experiecircncia de escrita considera as

descriccedilotildees oacutebvias e as abandona porque tende a atribuir ao leitor os seus proacuteprios

conhecimentos e experiecircncias As crianccedilas em geral se aborrecem ao ler as descriccedilotildees e agraves vezes

pulam o trecho descritivo porque satildeo mais pela trama do que pela apresentaccedilatildeo dos ambientes

e das caracteriacutesticas fiacutesicas e psicoloacutegicas dos protagonistas Entretanto agrave medida que

4 Serafini (2003 p 56-57) apresenta o modelo de Toulmin que examina quais satildeo as caracteriacutesticas de um

paraacutegrafo que o tornam convincente isto eacute que levem o leitor a compartilhar da mesma tese Satildeo elas a afirmaccedilatildeo

que apresenta a ideia principal do paraacutegrafo a informaccedilatildeo que conteacutem os dados que apoiam a afirmaccedilatildeo e a

garantia que eacute a ligaccedilatildeo entre a afirmaccedilatildeo e a informaccedilatildeo e mostra a importacircncia da informaccedilatildeo para apoiar a

asserccedilatildeo Ex Artur estaacute nervoso sua e ri sem parar Afirmaccedilatildeo Artur estaacute nervoso Informaccedilatildeo sua e ri sem

parar Garantia (subentendida) suar e rir sem parar satildeo sinais tiacutepicos de nervosismo

65

estimulam a sensibilidade em relaccedilatildeo aos textos elas vatildeo se dando conta de que natildeo eacute soacute a accedilatildeo

que torna interessante a histoacuteria Eacute tarefa do professor desenvolver essa sensibilidade e esse

gosto em vez de se fixar apenas nos aspectos narrativos de um texto (SERAFINI 2003 p 63)

Serafini (2003) tambeacutem trata da importacircncia dos paraacutegrafos que conduzem as

introduccedilotildees nos textos A autora classifica as introduccedilotildees em introduccedilatildeo-enquadramento e

introduccedilatildeo para chamar a atenccedilatildeo

A introduccedilatildeo-enquadramento enquadra o tema proposto na instruccedilatildeo para a

produccedilatildeo textual realccedilando sua importacircncia e agraves vezes ateacute antecipando o que seraacute

desenvolvido no corpo do texto ldquoUma introduccedilatildeo muito comum eacute aquela em que o estudante

coloca questotildees agraves quais pretende responder agrave medida que vai desenvolvendo o textordquo

(SERAFINI 2003 p 72) Normalmente utilizada entre os estudantes segundo a autora eacute

caracteriacutestica de quem natildeo faz planejamento e comeccedila a escrever seu texto sem saber o que vai

colocar em seu desenvolvimento mas tambeacutem por quem pretende reelaborar e expandir o

tiacutetulo5

A introduccedilatildeo para chamar a atenccedilatildeo segundo a autora pretende atrair a atenccedilatildeo e

o interesse do leitor utilizando frases de efeito citaccedilotildees informaccedilotildees curiosas exemplos

concretos que antecipam problemaacuteticas a serem desenvolvidas no corpo do texto e envolvem

emocionalmente o leitor exemplificaccedilotildees em primeira pessoa pois ldquoos problemas concretos

narrados na primeira pessoa atraem mais a curiosidade do que aqueles apresentados de modo

abstratordquo (SERAFINI 2003 p 74)

Ao final de sua primeira versatildeo de texto o alunoescritor tende a fazer uma raacutepida

releitura normalmente pouco criacutetica O ideal eacute que seu texto possa ser apreciado pelos colegas

de sala para que sejam feitas sugestotildees Quando a revisatildeo for desenvolvida pelo proacuteprio autor

5 Os tiacutetulos poderiam ser classificados segundo Serafini (2003) em trecircs grandes categorias o tiacutetulo-frase-de-

efeito o tiacutetulo-estiacutemulo-aberto e o tiacutetulo-roteiro O tiacutetulo-frase-de-efeito ldquoeacute geralmente agradaacutevel arguto suscita

a admiraccedilatildeo do leitor pode ser provocativo mas natildeo necessariamente profundordquo (p100) trazendo geralmente

citaccedilotildees de personagens importantes ou as afirmaccedilotildees categoacutericas do professor Por exemplo ldquoJaacute natildeo haacute matildeos

dadas no mundordquo (Drummond - Unesp) ou ldquoQuando vocecirc for martelo lembre-se que jaacute foi pregordquo (pichaccedilatildeo de

parede utilizada na Unesp) Os tiacutetulos-estiacutemulo-aberto ldquopropotildeem um tema de modo muito geneacuterico e neutro e datildeo

mais liberdade ao estudanterdquo (p101) Por exemplo ldquoViver hojerdquo (Santa Casa-SP) ldquoA televisatildeordquo (Poli-USP)

Finalmente os tiacutetulos-roteiro ldquonatildeo soacute propotildeem um tema como no grupo precedente mas tambeacutem oferecem uma

seacuterie de pontos de vista de problemas que devem ser analisados fornecendo jaacute a pauta do desenvolvimentordquo

(p101) A autora explica que enquanto um tiacutetulo-estiacutemulo-aberto seria ldquoA televisatildeordquo o tiacutetulo-roteiro solicitaria

ldquoDescreva os efeitos positivos e negativos que a televisatildeo causa sobre os jovens da sua geraccedilatildeo Cite especialmente

os programas mais interessantes e os mais aborrecidos de que vocecirc se recorda procurando explicar os efeitos

positivos ou negativos que cada um teve no seu desenvolvimentordquo (p101-102) O que chamamos ao longo de

nosso texto de instruccedilatildeo se aproximaria mais do que Serafini chama de tiacutetulo-roteiro por jaacute determinar que

informaccedilotildees a produccedilatildeo textual deve conter poreacutem noacutes atribuiacutemos mais caracteriacutesticas ao que eacute pedido aos alunos

a cada produccedilatildeo como os comandos que determinam que gecircnero textual seraacute trabalhado a extensatildeo do texto a

audiecircncia o objetivo a temaacutetica e outros itens que devem estar presentes na produccedilatildeo conforme a aula e o moacutedulo

66

eacute interessante haver um hiato de tempo entre a primeira escrita e a revisatildeo para que as ideias

se clareiem e possam ser postas na forma apropriada

Trabalhar a abordagem da escrita como processo lanccedila luz sobre as operaccedilotildees e as

habilidades necessaacuterias agrave elaboraccedilatildeo do texto priorizando-as mais do que ao produto final

obtido o que simplifica a escrita para fins de ensino por tratar dos componentes do processo

isoladamente treinando-os separadamente

Na verdade nenhuma abordagem para o ensino da escrita eacute exclusiva A redaccedilatildeo

requer meacutetodo muacuteltiplo jaacute que envolve diferentes tipos de capacidades e habilidades E nada

substitui o bom senso do professor Assim por exemplo se ele julgar necessaacuterio reforccedilar

determinados padrotildees de texto recorrendo agrave abordagem imitativa estaraacute procedendo de forma

adequada Da mesma maneira poderaacute usar estrateacutegias de liberaccedilatildeo da linguagem na fase de

geraccedilatildeo de ideias ou reforccedilar os recursos de interaccedilatildeo verbal professor-aluno ou aluno-aluno

nas atividades de revisatildeo de textos (VIEIRA 2005 p 87)

No entanto para Vieira (2005) esse exerciacutecio em separado das habilidades da

escrita natildeo dispensa a redaccedilatildeo de textos completos devendo o professor cuidar para que o

processo de escrita natildeo perca seu caraacuteter integral devido agraves atividades fragmentadas

35 Letramento literaacuterio

Acreditamos que para o desenvolvimento de nosso trabalho eacute importante ter em

mente que para escrever melhor para saber o que inserir em seu texto o aluno deve aguccedilar seu

olhar para o que vai nos textos de outrem ndash em nosso caso os que foram escolhidos para compor

a sequecircncia ndash e como foram ditas as coisas que laacute estatildeo inseridas Dessa forma desenvolvemos

em nossos moacutedulos praacuteticas que abordam aleacutem da praacutetica da escrita como processo o

letramento literaacuterio posto que a visatildeo que o inclui extrapola as simples leituras e anaacutelises das

palavras discutindo conceitos que compotildeem o acervo cultural dos alunos a partir das ideias

presentes nos textos

Para Cosson (2016 p23) ldquoa literatura natildeo estaacute sendo ensinada para garantir a

funccedilatildeo essencial de construir e reconstruir a palavra que nos humanizardquo O autor afirma que se

pode trazer ao aluno uma experiecircncia de leitura a ser compartilhada ampliando-a com

informaccedilotildees especiacuteficas do campo literaacuterio e ateacute fora dele A maneira de ensinar precisa ser

organizada segundo os objetivos da formaccedilatildeo do aluno evidentemente mas sem o abandono

do prazer de ler Compreende assim que o letramento literaacuterio eacute uma praacutetica social e como

67

tal responsabilidade da escola que deve cumpri-la sem descaracterizaacute-la sem negar mas

confirmando o poder de humanizaccedilatildeo da literatura

Para promover o letramento literaacuterio Cosson nos conduz a questionar e

desconstruir pressuposiccedilotildees sobre leitura e literatura enraizadas no senso comum A primeira eacute

que os livros falam por si mesmos ao leitor Ora ldquoos livros como os fatos jamais falam por si

mesmos O que os fazem falar satildeo os mecanismos de interpretaccedilatildeo que usamos e grande parte

deles satildeo aprendidos na escolardquo (2016 p 26) Ensinar a explorar o texto natildeo eacute criar uma barreira

entre elas e o leitor mas ajudar o leitor a manipular os textos dominando o discurso literaacuterio

Outra pressuposiccedilatildeo eacute que ler eacute um ato solitaacuterio Para o autor mais que o

movimento individual dos olhos ler implica uma troca de sentidos o que envolve escritor

leitor e sociedade em que ambos estatildeo localizados ldquopois os sentidos satildeo resultado de

compartilhamentos de visotildees do mundo entre os homens no tempo e no espaccedilordquo (2016 p 27)

Quando compreender isto o leitor alcanccedilaraacute um real significado na leitura

Tambeacutem uma pressuposiccedilatildeo eacute a ideia de que eacute impossiacutevel expressar o que sentimos

na leitura dos textos literaacuterios Esse eacute outro equiacutevoco que trata a leitura literaacuteria como uma

atividade tatildeo individual que natildeo poderia ser compartilhada Pelo contraacuterio conforme o autor o

efeito de proximidade que o texto literaacuterio traz eacute resultado do diaacutelogo que travamos com o

mundo e com os outros inseridos que estamos em uma sociedade O que levamos ao texto eacute

mais uacutenico do que o que ele nos oferece o que explica as diferentes leituras que fazemos do

mesmo texto em diferentes etapas de nossas vidas

A uacuteltima pressuposiccedilatildeo de que trata o autor eacute que ldquoa leitura literaacuteria praticada na

escola tambeacutem chamada anaacutelise literaacuteria destruiria a magia e a beleza da obra ao revelar seus

mecanismos de construccedilatildeordquo (COSSON 2016 p 28) Para Cosson a literatura mantida ldquoem

adoraccedilatildeordquo torna-se estranha ao leitor ao passo que a leitura literaacuteria que lhe fornece ferramentas

para exploraccedilatildeo do texto o convida agrave interaccedilatildeo como um processo de comunicaccedilatildeo

O autor conclui que se quisermos formar leitores capazes de experienciar toda a

forccedila humanizadora da literatura natildeo basta apenas ler com vistas a criar um haacutebito de leitura

mas fornecer-lhes ldquoos instrumentos necessaacuterios para conhecer e articular com proficiecircncia o

mundo feito linguagemrdquo (COSSON 2016 p 30)

Nossa seleccedilatildeo de textos para a SD foi inspirada em temas que os alunos costumam

observar na vida diaacuteria Tivemos preferecircncia por textos que circulam em meio eletrocircnico

extraiacutedos de sites blogs e de redes sociais ou seja contemporacircneos e com temas atuais Cosson

(2016 p34) distingue os dois termos que normalmente satildeo usados como sinocircnimos na

68

adjetivaccedilatildeo da produccedilatildeo literaacuteria da seguinte forma ldquo[] obras contemporacircneas satildeo aquelas

escritas e publicadas em meu tempo e obras atuais satildeo aquelas que tecircm significado para mim

em meu tempo independentemente da eacutepoca de sua escrita ou publicaccedilatildeordquo

Fizemos uma seleccedilatildeo preacutevia dos textos mas agrave medida em que as aulas avanccedilavam

abrimos a perspectiva para assuntos que eram mencionados em sala e trouxemos outros textos

inclusive publicados em livros variando as autorias poreacutem mantendo ainda o dinamismo e a

contemporaneidade Esse material se encontra na seccedilatildeo correspondente

69

4 NATUREZA E PROCEDIMENTOS DA PESQUISA

Apresentaremos nas seccedilotildees seguintes a metodologia e os procedimentos adotados

em nossa pesquisa realizada em uma escola puacuteblica municipal de Satildeo Luiacutes Maranhatildeo

41 Contexto da pesquisa

A pesquisa foi desenvolvida em uma das turmas de 9ordm ano de uma unidade de

educaccedilatildeo baacutesica municipal de ensino fundamental de 1ordm a 9ordm anos A escola tem um anexo

proacuteximo onde funcionam turmas de 1ordm ano (3 salas) Situa-se na aacuterea Itaqui-Bacanga em um

bairro considerado de difiacutecil acesso por sua pouca oferta de ocircnibus no municiacutepio de Satildeo Luiacutes

capital do Maranhatildeo ilha de Upaon-Accedilu

Antes pouco populoso o bairro tem aumentado de tamanho pela chegada de

moradores alguns oriundos de diversas cidades do interior mas tambeacutem vindos de outros

bairros pois algumas melhorias para a valorizaccedilatildeo da aacuterea tecircm acontecido como a construccedilatildeo

da escola e recentemente a quadra de esportes em sua aacuterea do posto de sauacutede da associaccedilatildeo

onde ocorre a conhecida Festa da Macaxeira e mais recentemente a criaccedilatildeo de um conjunto

residencial do programa do governo federal Minha Casa Minha Vida

No turno matutino nesta escola funciona o ensino fundamental (EF) ndash anos iniciais

(1ordm ao 5ordm ano) e no vespertino o EF ndash anos finais (6ordm ao 9ordm ano) sendo 2 turmas de 6ordm ano 2

turmas de 7ordm ano 2 turmas de 8ordm ano e 1 turma de 9ordm ano

Segundo os indicadores contextuais da Prova Brasil o niacutevel socioeconocircmico da

escola estaacute em meacutedio baixo O indicador de adequaccedilatildeo da formaccedilatildeo docente6 que analisa a

formaccedilatildeo dos docentes que lecionam nos finais do EF na escola eacute 85 Observando as meacutedias

de proficiecircncia em relaccedilatildeo agraves meacutedias das escolas do Brasil do Maranhatildeo e de Satildeo Luiacutes

comparando-as agrave nossa escola temos

6 Apresenta o percentual de disciplinas em cada etapa que satildeo ministradas por professores com formaccedilatildeo superior

de Licenciatura (ou Bacharelado com complementaccedilatildeo pedagoacutegica) na mesma disciplina que leciona Fonte e site

para consulta

httpsistemasprovabrasilinepgovbrprovaBrasilResultadosviewboletimDesempenhoboletimDesempenhosea

m Acesso em 3 de janeiro de 2018

70

Graacutefico 1 ndash Resultados IDEB 2015

Fonte INEP (2018))

O graacutefico acima mostra que o desempenho da escola ficou abaixo das meacutedias de

proficiecircncia em Liacutengua Portuguesa em leitura do Paiacutes em 2015 No entanto estaacute acima das

meacutedias do estado e do municiacutepio ludovicense que apresentaram indicadores 23093 e 23915

respectivamente A escola obteve 24034 ou seja pouco mais de um ponto acima o que natildeo

deixa de ser uma conquista para a gestatildeo e o corpo docente visto todos os entraves no processo

educacional Aleacutem do que se observarmos os indicadores de proficiecircncia em LP no 9ordm ano na

escola ao longo das trecircs uacuteltimas ediccedilotildees da Prova Brasil veremos que tem havido um progresso

como constatamos a seguir

Graacutefico 2 ndash Desempenho da escola nas ediccedilotildees da Prova Brasil

Fonte INEP (2018)

215

220

225

230

235

240

245

2011 2013 2015

Desempenho da escola nas ediccedilotildees da Prova Brasil

220

225

230

235

240

245

250

255

Brasil Maranhatildeo Satildeo Luiacutes Nossa escola

Resultados IDEB 2015

71

Os niacuteveis de proficiecircncia em Liacutengua Portuguesa classificados pela Prova Brasil

satildeo 9 (nove) e avaliam a capacidade de leitura dos alunos O desempenho por niacutevel de

proficiecircncia7 da turma de 9ordm ano no IDEB8 a seguir eacute referente ao ano de 2015

Graacutefico 3 ndash Distribuiccedilatildeo percentual dos alunos do 9ordm Ano do EF por niacutevel de proficiecircncia - Liacutengua Portuguesa

Fonte INEP (2018)

Para a aplicaccedilatildeo da SD foi escolhida a turma do 9ordm ano do ano letivo de 2017 que

contava com 46 alunos no iniacutecio do ano no turno vespertino Ao longo do ano alguns alunos

trancaram matriacutecula eou foram transferidos resultando no nuacutemero de 43 alunos frequentes ao

final do ano letivo O puacuteblico tem entre 14 e 15 anos em sua maior parte Por ser uma turma

que antecede o ingresso no ensino meacutedio eacute-lhe dispensada atenccedilatildeo especial no que tange a

projetos e preparaccedilatildeo para a seleccedilatildeo na etapa posterior da Educaccedilatildeo Baacutesica

A carga horaacuteria da disciplina Liacutengua Portuguesa eacute de 5 horas-aula por semana sem

divisatildeo formal interna de assuntos havendo flexibilidade para o trabalho com leitura produccedilatildeo

textual gramaacutetica e projetos tanto internos agrave escola como parcerias externas com essa

7 Os niacuteveis de proficiecircncia descritos pelo Inep encontram-se nos anexos deste trabalho 8 IDEB eacute o Iacutendice de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica criado pelo Inep em 2007 cuja escala vai de zero a

dez O indicador eacute calculado a partir dos dados sobre aprovaccedilatildeo escolar obtidos no Censo Escolar e meacutedias de

desempenho nas avaliaccedilotildees do Inep o Saeb e a Prova Brasil A fonte e o site oficial para consulta estatildeo disponiacuteveis

em lt httpportalinepgovbrwebportal-idebgt

000

500

1000

1500

2000

2500

3000

Niacutevel 0 Niacutevel 1 Niacutevel 2 Niacutevel 3 Niacutevel 4 Niacutevel 5 Niacutevel 6 Niacutevel 7 Niacutevel 8

Distribuiccedilatildeo percentual dos alunos do 9ordm Ano do EF por niacutevel de

proficiecircncia em 2015- Liacutengua Portuguesa

Nossa escola Escolas Similares

72

A opccedilatildeo por trabalhar a pesquisa nessa turma deu-se por ser a seacuterie que se prepara

para avanccedilar para o ensino meacutedio podendo assim ter um reforccedilo em sua competecircncia

discursiva atraveacutes da praacutetica da leitura e da produccedilatildeo escrita como processo

Ao mesmo tempo eacute importante que os alunos se interessem mais e mais por leitura

e sabendo que este puacuteblico natildeo aprecia leituras longas como as dos romances por exemplo a

crocircnica literaacuteria eacute uma excelente sugestatildeo por suas temaacuteticas que em vaacuterios exemplos eacute

proacutexima da realidade do aluno aleacutem de contar com textos breves e dinacircmicos

Por fim era de interesse da escola que os alunos dessa turma saiacutessem do ensino

fundamental com seguranccedila no que se refere a produzir textos escritos em gecircneros especiacuteficos

de uso cotidiano acionando assim conhecimentos que foram aprofundados e consolidados nas

aulas de anos anteriores

42 Participantes

Os sujeitos participantes da pesquisa satildeo alunos que frequentam a turma do 9ordm ano

no turno vespertino do ano letivo de 2017 na escola da rede puacuteblica municipal de ensino de

Satildeo Luiacutes no Maranhatildeo Em sua maioria residem na aacuterea que abrange o Argola e Tambor o

Gapara a Cidade Nova e adjacecircncias A maioria dos alunos tendo em vista sua idade apenas

estuda e mora com os pais eou responsaacuteveis

Ao longo do ano letivo a turma teve algumas alteraccedilotildees em seu puacuteblico com dois

estudantes que pediram transferecircncia de escola e outro que trancou a matriacutecula Assim

frequentando efetivamente as aulas foram 43 (quarenta e trecircs) alunos No entanto dentre esses

apenas uma meacutedia de 20 (vinte) alunos se interessou em participar do projeto de escrita

A turma em si eacute caracterizada pelos proacuteprios alunos bem como por professores

como composta por um puacuteblico cuja falta de interesse e de motivaccedilatildeo de vaacuterios estudantes

prejudica aqueles que desejam realmente se dedicar A sala eacute muito cheia e devido agrave natural

predisposiccedilatildeo que tecircm os adolescentes para a distraccedilatildeo e a conversa em vaacuterios momentos eacute um

desafio para se conseguir sua atenccedilatildeo e envolvimento nas atividades Percebemos nos contatos

iniciais com a turma completa que satildeo poucos infelizmente que demonstram real empenho

em participar

73

Os alunos que optaram por integrar o projeto desenvolveram as atividades propostas

em cinco moacutedulos realizadas em 11 (onze) encontros de 2 (duas) horas-aula cada9 durante os

meses de outubro a dezembro conforme cronograma previsto

43 Materiais

O material analisado na pesquisa eacute constituiacutedo pelos textos produzidos pelos alunos

que participaram de todas as atividades desta sequecircncia Portanto para a anaacutelise consideramos

apenas 13 (treze) alunos no total

Para a composiccedilatildeo do trabalho denominamos os textos produzidos nesta SD da

seguinte forma

a) produccedilatildeo inicial A (PI-A) realizada apoacutes 3 (trecircs) encontros com um total de 4

(quatro) horasaula constando atividades de leitura de crocircnicas que serviram

como norte para a primeira escrita dos alunos fazendo uma breve sensibilizaccedilatildeo

de caracteriacutesticas do gecircnero

b) produccedilatildeo final A (PF-A) realizada apoacutes o segundo moacutedulo da sequecircncia

reescrevendo a PI-A texto sem circulaccedilatildeo social mas com o intuito de

desenvolver a competecircncia comunicativa do aluno

c) produccedilatildeo inicial B (PI-B) realizada apoacutes os moacutedulos 3 (trecircs) e 4 (quatro) jaacute

visando a circulaccedilatildeo social do texto

d) produccedilatildeo final B (PF-B) realizada apoacutes o moacutedulo 5 (cinco) quando os alunos

tivessem aperfeiccediloado sua competecircncia comunicativa escrita e se apropriado do

gecircnero estudado cumprindo o propoacutesito comunicativo da proposta de produccedilatildeo

visando a divulgaccedilatildeo do texto

Para a realizaccedilatildeo da produccedilatildeo inicial utilizamos coacutepias de uma crocircnica

acompanhada de uma proposta de produccedilatildeo elaborada de acordo com a temaacutetica do texto e

associada agrave realidade dos alunos contextualizando uma possibilidade de ligar o mundo real ao

mundo virtual e uma coacutepia da folha de produccedilatildeo textual a ser utilizada em nosso projeto

Durante o desenvolvimento dos moacutedulos da SD utilizamos coacutepias dos textos e

atividades propostas distribuiacutedas individualmente Tambeacutem foi feito o uso do quadro branco

9 Agrave exceccedilatildeo dos dois primeiros encontros de 1 horaaula cada um

74

incel e apagador e de algumas imagens impressas em folha sulfite para ilustrar o conteuacutedo de

algumas crocircnicas de acordo com o planejamento de cada encontro

Para que houvesse a etapa poacutes sequecircncia didaacutetica que corresponde agrave circulaccedilatildeo

social do texto no gecircnero produzido os alunos que desejaram realmente publicar seus escritos

dentro do gecircnero crocircnica literaacuteria produziram um material especiacutefico para tal (PF-B) a partir

da escolha de temaacuteticas que agradaram a cada um individualmente Esse material que tambeacutem

constaraacute de nossa pesquisa corresponde aos textos de 4 (quatro) alunos apenas e

apresentaremos na seccedilatildeo destinada as produccedilotildees iniciais (PI-B) uma primeira reescrita e por

fim as produccedilotildees finais (PF-B)

44 Procedimentos

Antes de aplicarmos a SD com os alunos realizamos momentos de socializaccedilatildeo da

seguinte forma explicamos a importacircncia do projeto agrave direccedilatildeo da escola aos professores e aos

pais dos alunos da turma escolhida para a execuccedilatildeo do projeto visando o fortalecimento da

proposta Com os professores foi feito um momento de reuniatildeo uma semana antes do iniacutecio do

projeto Com os pais realizamos uma reuniatildeo para a socializaccedilatildeo e igualmente para pedir seu

apoio no incentivo agrave participaccedilatildeo dos alunos Infelizmente foram poucos os pais responsaacuteveis

que compareceram agrave reuniatildeo situaccedilatildeo que ocorre normalmente quando se datildeo as reuniotildees de

pais e mestres na escola

Foram realizados 11 (onze) encontros de duas horas-aula (de cinquenta minutos

cada uma) que ocorreram entre os meses de setembro e novembro de 2017 Entre a primeira

fase que compreende a socializaccedilatildeo do projeto e a busca pela adesatildeo as primeiras leituras e a

produccedilatildeo inicial A totalizando 3 (trecircs) encontros num total de 4 horasaula e o iniacutecio da

segunda fase que compreende os moacutedulos propriamente ditos do processo de escrita ateacute a

produccedilatildeo final A num total de 3 (trecircs) encontros houve um intervalo de aproximadamente 1

(um) mecircs tempo destinado agrave apreciaccedilatildeo da PI-A anaacutelise e elaboraccedilatildeo dos moacutedulos da

sequecircncia de atividades Para a posterior culminacircncia que coloca os textos em circulaccedilatildeo social

houve mais 5 (cinco) encontros agora com um puacuteblico mais reduzido que realmente desejava

publicar suas produccedilotildees

Destinamos dois horaacuterios agraves terccedilas-feiras que estavam ociosos para os alunos pois

correspondiam aos horaacuterios das disciplinas de Arte e Ensino religioso cuja professora estava

75

afastada em virtude de uma licenccedila de sauacutede para o desenvolvimento do projeto sem alterar a

rotina das aulas de Liacutengua Portuguesa

Como primeira atividade lemos o texto Prova falsa de Stanislaw Ponte Preta (cf

Apecircndice A) com a turma completa Fizemos o exerciacutecio de interpretaccedilatildeo do texto e breve

leitura de Abandono de Animais eacute crime e precisa ser denunciado (cf Apecircndice B) uma

reportagem para que os alunos percebessem diferenccedilas entre os gecircneros (2 horasaula)

O encontro seguinte teve a leitura do texto O chato da vez de Anaximandro

Amorim (cf Apecircndice C) e atividades de interpretaccedilatildeo Dentre as questotildees havia a instruccedilatildeo

que propunha os comandos para a criaccedilatildeo de um texto em forma de crocircnica ndash com o que os

alunos puderam perceber a respeito do gecircnero durante os encontros - e a partir disso nestas 2

(duas) horasaula os alunos fizeram sua produccedilatildeo inicial10 Esses textos compotildeem a produccedilatildeo

inicial dos integrantes do projeto

Os moacutedulos elaborados para o trabalho que visavam melhorar os aspectos da escrita

dos alunos considerando o processo bem como os procedimentos de escritor compreenderam

atividades de leitura exerciacutecios de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo dos textos e de produccedilatildeo de

textos escritos mediados pela professora pesquisadora dentro do gecircnero crocircnica literaacuteria

discussotildees sobre os temas presentes nas crocircnicas aproximando-os da realidade dos alunos com

o objetivo de desenvolver nestes sua capacidade de observaccedilatildeo e reflexatildeo para a produccedilatildeo

textual

Foram apresentadas agrave turma de maneira coletiva as principais dificuldades

diagnosticadas na produccedilatildeo inicial Procuramos natildeo focalizar de iniacutecio a editoraccedilatildeo11 do texto

na folha de produccedilatildeo No entanto natildeo deixamos de trabalhar em sala elementos como o cuidado

com a pontuaccedilatildeo a paragrafaccedilatildeo e a ortografia O conteuacutedo das aulas de cada moacutedulo estaacute

descrito na seccedilatildeo correspondente

No decorrer dos moacutedulos os alunos realizaram atividades de revisatildeo e reescrita dos

seus textos observando tanto a estrutura do gecircnero quanto o seu conteuacutedo orientados pela

professora pesquisadora e tambeacutem recebendo ideias e sugestotildees dos colegas em um feedback

colaborativo Dessa forma chegaram ao seu texto final aplicando na medida de sua

10 Obs o 4ordm horaacuterio que foi escolhido para ser o momento da produccedilatildeo inicial foi prejudicado por dois fatores

O primeiro foi que o professor de educaccedilatildeo fiacutesica da escola convidou os alunos para antecipar sua praacutetica e vaacuterios

natildeo voltaram do recreio para a aula do projeto O segundo fator foi que nesse dia aconteceu uma briga com agressatildeo

fiacutesica entre uma aluna da sala e outra aluna de outra turma o que deixou a escola inteira agitada Os 20 (vinte)

alunos que permaneceram em sala para a produccedilatildeo felizmente mostraram-se interessados embora vaacuterios dissessem

que natildeo levavam jeito para escrever Apenas alguns alunos passaram a limpo seus textos 11 Ver seccedilatildeo Escrita como processo

76

conscientizaccedilatildeo os conhecimentos adquiridos e as duacutevidas esclarecidas durante a sequecircncia de

atividades

Nossa proposta incluiu a circulaccedilatildeo social dos textos para uma audiecircncia real o que

consistiu em uma culminacircncia do projeto de escrita O acordo feito com os alunos foi a

publicaccedilatildeo interna de uma versatildeo artesanalmente produzida de um livro de crocircnicas para que

pudessem marcar o momento e guardar um livro fiacutesico como recordaccedilatildeo e a publicaccedilatildeo em

suas paacuteginas pessoais na rede social Facebook plataforma que os alunos apreciam utilizar com

certa frequecircncia posto que nosso trabalho teve como material para leitura textos retirados da

internet como o proacuteprio Facebook blogs sites Para esta etapa somente cinco alunos

frequentaram assiduamente (alguns outros esporadicamente) sendo que apenas quatro

produziram um texto individual que passou pelo mesmo processo de reescrita e que teve sua

publicaccedilatildeo na plataforma e tambeacutem em um formato artesanal impresso para que suas famiacutelias

e comunidade escolar possam prestigiar o momento na tarde de autoacutegrafos

As produccedilotildees finais seratildeo analisadas no capiacutetulo a seguir em relaccedilatildeo agrave apropriaccedilatildeo

das caracteriacutesticas do gecircnero estudado bem como de sua estrutura composicional com o

objetivo de avaliar se os alunos conseguiram desenvolvecirc-la satisfatoriamente e se a estrutura e

a aplicaccedilatildeo da sequecircncia de atividades favoreceu o desenvolvimento da competecircncia textual e

discursiva dos estudantes que integraram a pesquisa de acordo com o que foi observado em

suas produccedilotildees iniciais examinando seu desempenho em ambas as produccedilotildees

Para o desenvolvimento de nossas atividades do projeto planejamos os encontros

com base nos estudos realizados a respeito do procedimento Sequecircncia Didaacutetica de Dolz

Noverraz e Schneuwly (2013) como estrateacutegia de ensino dos gecircneros textuais na proposta de

adaptaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica conduzida por Swiderski e Costa-Huumlbes (2009) na proposta

de circulaccedilatildeo social do gecircnero discursivo produzido em sequecircncias didaacuteticas de projetos

pedagoacutegicos de Lopes-Rossi (2011) e dos procedimentos das etapas de escrita como

planejamento ediccedilatildeo revisatildeo e reescrita do texto segundo Vieira (2005) e Serafini (2003)

O planejamento de nossa SD abrange 12 (doze) etapas conforme mostra a figura a

seguir

77

Figura 4 - Proposiccedilatildeo de sequecircncia didaacutetica para o projeto de escrita

Fonte Elaborado pela autora adaptado de DOLZ NOVERRAZ SCHNEUWLY (2013) SWIDERSKI COSTA-

HUumlBES (2009) LOPES-ROSSI (2011)

Nossa sequecircncia foi pensada para 2 (duas) etapas distintas Na primeira etapa A

uma produccedilatildeo textual para trabalho em sala com o mesmo tema com a expectativa de serem

colocados nos textos elementos que respondessem ao enunciado instrucional da atividade que

segue a crocircnica lida no dia na segunda etapa B uma produccedilatildeo que jaacute seria composta visando

a circulaccedilatildeo social com tema livre agrave escolha dos alunos a partir das discussotildees sobre o que

pode ser tema de uma crocircnica

Pela necessidade de uma SD mais completa inserimos ao modo de Swiderski e

Costa-Huumlbes entre a apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e a produccedilatildeo inicial um moacutedulo

de reconhecimento do gecircnero E apoacutes o teacutermino de nossa SD inserimos ao modo de Lopes-

Rossi um moacutedulo para a divulgaccedilatildeo social dos textos

441 Primeira etapa da apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo agrave produccedilatildeo inicial

Entre a apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo e a produccedilatildeo inicial (PI) utilizamos 4 (quatro)

horas-aula No primeiro encontro fizemos no 1ordm (primeiro) horaacuterio a socializaccedilatildeo do projeto

com os alunos e incentivamos a adesatildeo expondo as vantagens de trabalharmos o aprendizado

de um gecircnero como a crocircnica em forma de sequecircncia de aulas e atividades Natildeo houve

manifestaccedilatildeo de unanimidade de interesse em participar do projeto Na realidade apenas

metade da sala pareceu desejar integrar o projeto Quando perguntados sobre o motivo que natildeo

os animava vaacuterios responderam ldquopreguiccedila de ler professora preguiccedila de escrever professora

ah eu natildeo gosto de ler muito natildeo Leio porque sou obrigada e natildeo vale nem nota mesmordquo

Apresentaccedilatildeo

da Situaccedilatildeo

Produccedilatildeo

Inicial A

Produccedilatildeo

Final A

Moacuted

ulo 1

Moacuted

ulo 2

Moacuted

ulo 3

Circulaccedilatildeo social

das produccedilotildees B Moacuted

ulo 4 Produccedilatildeo

Inicial B

Moacuted

ulo 5 Produccedilatildeo

Final B

Moacutedulo de

reconheci

mento

78

Apesar da inicial resistecircncia de boa parte da sala colocamos aos alunos as

vantagens de sua participaccedilatildeo visto que a principal finalidade da sequecircncia de atividades seria

o desenvolvimento de sua competecircncia escrita por meio da aprimoraccedilatildeo de suas habilidades

leitoras oportunidade de ampliaccedilatildeo da criatividade e desenvolvimento das habilidades e

procedimentos de escritor como o planejamento das ideias a releitura a revisatildeo a reescrita ndash

que sabemos natildeo fazem parte da rotina dos alunos salvo raras exceccedilotildees ndash utilizando como

base o estudo das caracteriacutesticas do gecircnero textual crocircnica literaacuteria

No horaacuterio seguinte com a turma completa iniciamos o moacutedulo de reconhecimento

realizando a leitura do texto Prova falsa de Stanislaw Ponte Preta Leitura silenciosa seguida

de leitura em voz alta por parte da professora-pesquisadora poreacutem sem realizar a atividade que

acompanhava o texto Comeccedilamos a trabalhar com a turma algumas caracteriacutesticas que a

sensibilizariam para o gecircnero como a presenccedila de um tiacutetulo interessante para a criaccedilatildeo de um

texto a partir de uma situaccedilatildeo do cotidiano e que o cronista resolveu contar ao leitor ao bom

humor e agrave leveza das palavras trazidas no texto

No segundo encontro com 1 hora-aula na semana seguinte fizemos a continuaccedilatildeo

da aula anterior no primeiro horaacuterio realizando o exerciacutecio de interpretaccedilatildeo do texto Prova

Falsa No horaacuterio seguinte realizamos breve leitura do texto Abandono de Animais eacute crime e

precisa ser denunciado para que os alunos percebessem a diferenccedila entre a crocircnica e a

reportagem embora ambas falassem cada uma a seu modo de criaccedilatildeo de animais de estimaccedilatildeo

Chegamos aos terceiro encontro com 2 (duas) hora-aula e realizamos a leitura do

texto O chato da vez de Anaximandro Amorim (cf Anexo D) No 1ordm horaacuterio destinado a nossas

aulas tudo transcorreu relativamente normal com a turma completa lendo e realizando parte

das atividades Poreacutem nossa Produccedilatildeo Inicial deveria acontecer apoacutes o recreio pois a

organizaccedilatildeo da grade de horaacuterios compreendia 1 hora-aula antes do recreio e a 1 hora-aula

seguinte apoacutes o recreio

Esse horaacuterio que foi escolhido para ser o momento da PI foi prejudicado por dois

fatores O primeiro foi que o professor de educaccedilatildeo fiacutesica12 da escola convidou os alunos para

antecipar sua praacutetica e vaacuterios natildeo voltaram do recreio para a aula do projeto O segundo fator

foi que nesse dia aconteceu uma briga com agressatildeo fiacutesica entre uma aluna da sala e outra aluna

de outra turma o que deixou a escola inteira agitada Os 20 (vinte) alunos que permaneceram

12 O professor de educaccedilatildeo fiacutesica natildeo estava presente na reuniatildeo de socializaccedilatildeo do projeto com os professores e

por isso natildeo sabia que a professora-pesquisadora ocuparia aquele horaacuterio que estava ocioso para os alunos

79

em sala para a produccedilatildeo felizmente mostraram-se interessados embora vaacuterios dissessem que

natildeo levavam jeito para escrever

Demos prosseguimento agrave atividade que acompanha o texto O chato da vez

realizando a instruccedilatildeo de produccedilatildeo do quesito 7 (sete) Os alunos receberam uma folha de

produccedilatildeo e foram orientados a primeiro escrever seu rascunho em folha agrave parte e somente

quando terminassem passar seu texto para a folha de produccedilatildeo A maioria escreveu diretamente

na FP Apenas alguns alunos fizeram um breve rascunho e depois passaram a limpo seus textos

O que buscamos detectar nessas primeiras produccedilotildees (PI-A) sem o devido

aprofundamento das caracteriacutesticas da crocircnica literaacuteria apenas com as leituras e as atividades

de sensibilizaccedilatildeo no moacutedulo de reconhecimento do gecircnero a partir da instruccedilatildeo de produccedilatildeo

foram os itens a seguir

i) quantos textos jaacute deram sinais de que os alunos entenderam o que eacute a ldquoconversa

com o leitorrdquo e a expressaram em marcas linguiacutesticas

ii) quantos atenderam ao perfil da audiecircncia solicitada na instruccedilatildeo

iii) quantos se mantiveram no tema discutido

iv) quantos partiram de uma situaccedilatildeo vividaobservada para compor seu texto

v) quantos narraram essa situaccedilatildeo de forma clara para que o leitor pudesse

acompanhar

vi) quantos atenderam agrave instruccedilatildeo quanto agrave presenccedila de tiacutetulo e ao nuacutemero de

paraacutegrafos

Trataremos em seccedilatildeo posterior correspondente agrave anaacutelise sobre estes resultados

442 Segunda etapa desenvolvimento dos moacutedulos

Aproximadamente 1 (um) mecircs apoacutes a apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo e a produccedilatildeo inicial

que foram realizadas em 4 (quatro) encontros o desenvolvimento dos moacutedulos foi iniciado A

partir de entatildeo foram realizados 8 (oito) encontros de 2 (duas) horas-aula cada um Foram

cinco moacutedulos com atividades diversas que trabalharam fundamentalmente o planejamento

das ideias a organizaccedilatildeo e a revisatildeo do texto aleacutem da reescrita que eacute a ponte para a produccedilatildeo

final O trabalho desenvolvido nos moacutedulos estaacute sintetizado no quadro a seguir e seratildeo

detalhados os procedimentos das aulas nos toacutepicos seguintes

80

Quadro 4 ndash Moacutedulos desenvolvidos na sequecircncia didaacutetica (SD)

MOacuteDULOS TEMA FINALIDADE ATIVIDADE NUacuteMERO

DE AULAS

Moacutedulo 1 A mateacuteria da

crocircnica

Abstrair a partir da

leitura a situaccedilatildeo que

pode ter gerado as

crocircnicas

Leitura dos textos

Realizaccedilatildeo das atividades de

interpretaccedilatildeo

Identificaccedilatildeo das situaccedilotildees

que geraram as crocircnicas

Observaccedilatildeo da construccedilatildeo da

narraccedilatildeo

4 horas-aula

Moacutedulo 2

Releitura e

reescrita da PI-

A

Revisar o conteuacutedo e a

estrutura das crocircnicas

produzidas (PI-A) a fim

de reescrevecirc-las fazendo

as modificaccedilotildees

necessaacuterias eou sugeridas

adequando-as agrave instruccedilatildeo

Conversa sobre as

dificuldades observadas nas

primeiras produccedilotildees Releitura

das produccedilotildees iniciais

individualmente e em duplas

para feedback colaborativo

Reescrita da crocircnica

2 horas-aula

Moacutedulo 3

A opiniatildeo e a

descriccedilatildeo na

crocircnica

Observar a realidade do

seu entorno e tambeacutem de

ouvir as opiniotildees das

pessoas que habitam esse

ambiente

Leitura do texto

Realizaccedilatildeo das atividades de

interpretaccedilatildeo

Atividade de coleta de

impressotildees de algueacutem

proacuteximo Confronto ou

associaccedilatildeo com suas proacuteprias

opiniotildees Observaccedilatildeo de

elementos e situaccedilotildees do

proacuteprio cotidiano

Uso criativo das palavras

reflexatildeo sobre linguagem

conotativa

Elaboraccedilatildeo de um pequeno

texto

2 horas-aula

Moacutedulo 4

A linguagem

criativa e a

verossimilhanccedila

na crocircnica

Produccedilatildeo

inicial do texto

para publicaccedilatildeo

ndash PI-B

Observar as formas

criativas de narrar o

cotidiano

Leitura do texto

Realizaccedilatildeo das atividades de

interpretaccedilatildeo Discussatildeo sobre

verossimilhanccedila

2 horas-aula

Moacutedulo 5

Revisatildeo e

reescrita do

texto para

publicaccedilatildeo ndash

PI-B

Observar os elementos

estudados ao longo dos

moacutedulos na PI-B

Leitura dos textos Feedback

colaborativo Releitura da PI-

B Exerciacutecio de topicalizaccedilatildeo

4 horasaula

Fonte Elaborado pela autora

Nos itens a seguir apresentamos o relato da aplicaccedilatildeo dos moacutedulos bem como as

atividades correspondentes a cada um em uma turma de 9ordm ano de uma escola puacuteblica municipal

em Satildeo Luiacutes no 4ordm (quarto) bimestre do ano letivo de 2017

a) Moacutedulo 1 ndash quarto e quinto encontros ndash 4 (quatro) horas-aula

81

A partir da leitura dos textos Manias e Pacto apoacutes morte natildeo podia ver faca (cf

Anexo E) os alunos praticaram o exerciacutecio de observaccedilatildeo e abstraccedilatildeo da situaccedilatildeo que pode ter

gerado essas crocircnicas

Neste dia foi feita a leitura da crocircnica Manias Os alunos puderam refletir a partir

das questotildees de interpretaccedilatildeo e anaacutelise do texto sobre o que satildeo manias e viram tambeacutem que

elas natildeo satildeo exclusividade de pessoas idosas Na verdade concluiacuteram que basta o ser humano

estar vivo independentemente da idade que tenha para comeccedilar a calcar camadas e mais

camadas de comportamentos que mais adiante se tornaratildeo manias Natildeo houve tempo

disponiacutevel para os alunos comporem um texto a respeito da mateacuteria manias e os alunos pediram

para fazer em casa No entanto na aula seguinte ningueacutem apresentou o texto

Para o encontro seguinte que correspondia ao dia das bruxas a crocircnica escolhida

para leitura que tomou o primeiro horaacuterio foi Pacto poacutes-morte natildeo podia ver faca de Nonato

Reis por ser de gosto dos alunos dessa faixa etaacuteria histoacuterias de fantasmas misteacuterios e lendas

Nossa atividade foi bastante interessante pois todos que estavam na sala entraram no ritmo

daqueles causos contados em prosa pelo jornalista Nonato Reis O segundo horaacuterio foi

direcionado agrave atividade de leitura e interpretaccedilatildeo da crocircnica em que os alunos puderam

observar o ponto de vista do narrador as situaccedilotildees que deram origem e suporte agrave construccedilatildeo da

crocircnica aprenderam vocaacutebulos novos e ainda puderam soltar um pouco da imaginaccedilatildeo e

criatividade pensando em como eles mesmos fariam seus pactos com algueacutem ndash e constatamos

que vaacuterios querem mais eacute que seus contratantes se assustem em vida caso os alunos partam

primeiro

Ao final da leitura ainda exercitamos uma breve retextualizaccedilatildeo se fosse para

compor uma manchete de jornal como eles poderiam criar uma frase de impacto para o leitor

que tivesse relaccedilatildeo com o texto Um dos alunos sugeriu ldquoHomem faz pacto e menino vem

buscarrdquo

b) Moacutedulo 2 ndash sexto encontro ndash 2 (duas) horas-aula

Este encontro foi destinado para releitura da primeira produccedilatildeo feita (PI-A) O

procedimento inicial foi a tempestade de ideias sobre o que eacute ser chato e o que eacute ser legal cujo

registro dessas caracteriacutesticas noacutes construiacutemos na lousa sendo a professora-pesquisadora como

escriba Em seguida entregamos aos participantes do projeto seus textos

De iniacutecio vaacuterios disseram gostar do proacuteprio texto poreacutem quando a professora-

pesquisadora passou de carteira em carteira pedindo que lessem em voz meacutedia de modo a

apenas o proacuteprio aluno e a professora poderem escutar ele mesmo se dava conta de que havia

82

algo a consertar Em alguns casos faltava o diaacutelogo com o leitor noutros uma situaccedilatildeo que

explicasse o porquecirc de algueacutem ser considerado chato ou legal Eacute a tal situaccedilatildeo do leitor na

histoacuteria Natildeo daacute pra jogar em cima dele soacute o resultado Tem que mostrar de onde partiram as

conclusotildees Assim demos uma folha sulfite em branco para que os alunos registrassem seus

rascunhos suas ideias por mais que as considerassem absurdas e daiacute pudessem extrair o que

iria compor o novo texto Fomos bem claras ao falar da importacircncia de tomar notas elas servem

como um prolongamento da memoacuteria (SERAFINI 2003)

Apoacutes esse registro os alunos tiveram a liberdade de escolher sentar em dupla ou

trio e foram lendo seus proacuteprios textos e o dos colegas para se inspirar ou dar sugestotildees uns

aos outros num feedback colaborativo enquanto a professora-pesquisadora permanecia dando

assistecircncia de um por um Infelizmente natildeo conseguimos sentar com todos para dar o devido

retorno individual sendo alguns apenas por orientaccedilatildeo coletiva e outros por bilhetinho com

questotildees gerais

Entatildeo pegamos o texto O chato da vez fizemos mais uma leitura e de novo

revimos a questatildeo 7 que eacute a instruccedilatildeo da produccedilatildeo Entatildeo os alunos receberam a folha de

produccedilatildeo e assim fizeram a reescrita (PF-A)

c) Moacutedulo 3 ndash seacutetimo encontro ndash 2 (duas) horas-aula

A partir da leitura da crocircnica A cara da rua (cf Apecircndice F) os alunos fizeram o

exerciacutecio praacutetico de observar a realidade do seu entorno sensibilizando-se a partir do uso da

descriccedilatildeo na crocircnica literaacuteria e tambeacutem de ouvir as opiniotildees das pessoas que habitam esse

ambiente

Houve uma alteraccedilatildeo no quadro do horaacuterio da escola o que colocou os encontros

do projeto para o 4ordm e o 5ordm horaacuterios As aulas passaram assim a natildeo ter uma quebra em seu

ritmo visto que anteriormente eram dois horaacuterios sendo um antes do recreio e o outro depois

A dificuldade enfrentada na aplicaccedilatildeo deste dia foi que alguns dos alunos que

integram o projeto se atrasaram visto que foi um dia atiacutepico na programaccedilatildeo da escola

Correspondeu este dia agrave visitaccedilatildeo da 11ordf FeLiS a Feira do livro de Satildeo Luiacutes realizada no

centro histoacuterico da cidade na Praia Grande Portanto neste dia natildeo fizemos uma releitura dos

textos que jaacute comeccedilaram a ser reescritos

Fizemos a leitura do texto A cara da rua de Marcelo Xavier discutimos as questotildees

e com os alunos (mesmo os que chegaram atrasados) foi feito o acordo da realizaccedilatildeo da uacuteltima

questatildeo que eacute fazer a leitura do texto para algueacutem em casa e anotar as impressotildees que a pessoa

teve ao ouvir a crocircnica

83

O objetivo desta atividade foi despertar nos alunos a consciecircncia de que uma

crocircnica bem escrita causa alguma reaccedilatildeo em seu leitor uma reflexatildeo uma emoccedilatildeo Aleacutem disso

eles observaram o modo de descrever empregado pelo autor ao longo dos paraacutegrafos usados na

caracterizaccedilatildeo da rua Utilizamos como material para essa aula figuras impressas da moda que

mostravam ao longo das deacutecadas as mudanccedilas citadas no texto

Neste dia tambeacutem os alunos anotaram os fundamentos que devem estar presentes

no texto que eles escrevem uma espeacutecie de quadro autoavaliativo13 criado a partir das

caracteriacutesticas dos textos estudados

d) Moacutedulo 4 ndash oitavo encontro ndash 2 (duas) horas-aula

O encontro comeccedilou retomando a atividade da aula anterior que era fazer a leitura

do texto para algueacutem em casa e anotar as impressotildees que a pessoa teve ao ouvir a crocircnica

Apenas uma aluna realizou a atividade poreacutem foi interessante visto que a opiniatildeo coletada deu

espaccedilo para a discussatildeo sobre a liberdade de expressatildeo fosse no vestuaacuterio no comportamento

ou mesmo no vocabulaacuterio das pessoas que integram a cara da rua

A aula do dia foi direcionada a conhecer mais algumas crocircnicas Amor de Macumba

e Sr Google Pacheco (cf Apecircndice G) para que os alunos pudessem observar e compreender

melhor de que situaccedilotildees observadasvivenciadas partiram os textos podendo ser inesperadas

eou ateacute pitorescas Apoacutes a escuta dos textos cuja leitura foi realizada pela professora-

pesquisadora foram trabalhadas oralmente as questotildees de compreensatildeo e identificadas as

situaccedilotildees geradoras das crocircnicas em questatildeo (independentemente de serem reais ou natildeo)

compreendendo melhor o que eacute verossimilhanccedila

Ao final desse momento os alunos falaram de vaacuterios assuntos que poderiam se

tornar temas de textos Copiamos no quadro e eles nos cadernos Eram temas do cotidiano

como assalto relaccedilotildees sociais vida de youtuber bullying fome cujas situaccedilotildees jaacute

observadasvivenciadas poderiam render uma reflexatildeo

Aparentemente a dificuldade maior dos alunos estava em expressar essa situaccedilatildeo

sem que parecesse um diaacuterio iacutentimo como diaacuterio ou memoacuterias pois a natural disposiccedilatildeo de

seus textos traz uma sequecircncia narrativa um relato de emoccedilotildees pessoais poreacutem natildeo

necessariamente conduzia o leitor a uma reflexatildeo embora por vezes pausasse a narraccedilatildeo e

interagisse com o leitor por meio de perguntas ndash conforme mostrado nas crocircnicas lidas ao longo

do projeto

13 Cf seccedilatildeo de Anaacutelises

84

O foco foi entatildeo ajudar os alunos a desprender-se da aura de criacutetica ou de diaacuterio

iacutentimo em seus textos permitindo-lhes atribuir um ar de narrar os fatos podendo aumentar as

situaccedilotildees conduzindo seu leitor sem sobrecarregaacute-lo com queixumes lamentos criacuteticas ferinas

ou aquele ldquoar de moral da histoacuteriardquo

Como a discussatildeo havia tomado bastante tempo da aula os alunos pediram para

trazer o texto depois Resolvemos propor entatildeo o envio por um meio digital O escolhido foi

o Whatsapp e a produccedilatildeo seria impressa e entregue entre os colegas para leitura coletiva e

apreciaccedilatildeo etapa fundamental para o moacutedulo seguinte

e) Moacutedulo 5 ndash nono encontro ndash 2 (duas) horas-aula

Quatro alunos me mandaram seus textos (Ana Rodrigo Eduardo Estela) A

expectativa da aula do dia era que os alunos lessem as proacuteprias produccedilotildees e as colocassem para

apreciaccedilatildeo dos colegas relessem lessem juntos encontrassem os erros aceitassem as

sugestotildees O trabalho da professora pesquisadora foi inicialmente ir de dupla em dupla para

orientar E assim fizemos o trabalho

Utilizamos como material para essa aula os textos enviados impressos e um tablet

para visualizaccedilatildeo e se desejassem atualizaccedilatildeo de algum trecho do texto Cada aluno autor teve

seu momento de visualizaccedilatildeo na tela e de certo modo foi um choque ver no tablet os erros

ortograacuteficos e as sugestotildees de pontuaccedilatildeo que o aplicativo Word sugeria O aluno Eduardo foi o

mais surpreso pois em seu texto soacute de ortografia e pontuaccedilatildeo havia 22 erros fora as sugestotildees

que o Word corrigia Apesar disso o aluno natildeo desanimou aceitando sugestotildees do aplicativo e

tambeacutem dos colegas e da professora-pesquisadora

Houve o momento da leitura em conjunto e este foi fundamental para trabalharmos

a paragrafaccedilatildeo A professora-pesquisadora lia em voz alta para os alunos eles acompanhavam

o pensamento criando a imagem mental dos fatos corridos e quando havia quebra na

sequecircncia eles mesmos estranhavam e identificavam fazendo sugestotildees de alteraccedilatildeo Isso foi

feito com cada texto

Os temas para a produccedilatildeo do texto publicado foram escolhidos pelos proacuteprios

alunos Diferentemente da PI-A que foi induzida pela instruccedilatildeo aqueles que se dedicaram a

escrever por prazer desenvolveram mais o gosto por entender e reler o proacuteprio texto dando

valor tambeacutem agrave apreciaccedilatildeo dos colegas natildeo apenas da professora

Os quatro alunos que produziram texto para o livro disseram que passaram a prestar

mais atenccedilatildeo a ortografia e acentuaccedilatildeo embora reconheccedilam que natildeo dominam adequadamente

85

ainda Nesse momento consideramos fundamental conscientizar-lhes que esse domiacutenio eacute um

processo e pode durar a vida inteira

f) Moacutedulo 6 ndash deacutecimo encontro ndash 2 (duas) horas-aula

A aula do dia foi dedicada agrave revisatildeo e discussatildeo final dos textos de Ana Rodrigo

Eduardo e Estela Apoacutes a leitura individual e novas sugestotildees sentamos em ciacuterculo e

registramos em voz alta no celular durante uns 20 minutos uma pequena avaliaccedilatildeo do projeto

e avaliaccedilatildeo pessoal em forma de grupo focal Apenas uma aluna dentre os seis que estavam

presentes se recusou a falar Ela mesma afirmou ldquoprofessora eu nunca falo eu natildeo gosto de

falarrdquo A pauta foi a seguinte

i) Uma breve avaliaccedilatildeo do projeto

- vocecirc gostou das aulas

- o que foi um ponto positivo

- e um desafio

- o que vocecirc sugere para um proacuteximo projeto

ii) Uma breve avaliaccedilatildeo pessoal

- vocecirc aprendeu algo que natildeo sabia antes

- mudou alguma coisa nos seus procedimentos em relaccedilatildeo agrave leitura e agrave escrita

- fale um pouco sobre isso

A opiniatildeo dos alunos seraacute tratada na seccedilatildeo seguinte ao longo da avaliaccedilatildeo do

projeto

443 Terceira etapa produccedilatildeo final

Neste dia relemos as primeiras produccedilotildees que os alunos fizeram de maneira

coletiva Foi unacircnime o descontentamento com os textos pois concluiacuteram que estava tudo

muito longe de ter caracteriacutesticas de crocircnica Aproveitamos tambeacutem para ler o texto de um

aluno e fazer um exerciacutecio de topicalizaccedilatildeo a fim de instrumentalizaacute-los com uma uacutetil

ferramenta de anaacutelise das partes do texto detectando as ideias que o compotildeem comparando ao

comando de produccedilatildeo que foi dado naquele momento da PI e percebendo que ideias faltam para

completar a instruccedilatildeo pedida Fora isso os alunos perceberam que havia muitos erros

ortograacuteficos e disseram que achavam interessante se pudessem para todos os textos escrever

em aplicativos de celular ou programas de ediccedilatildeo de texto como o Word para que as correccedilotildees

mais baacutesicas jaacute fossem automaticamente realizadas

86

444 Quarta etapa circulaccedilatildeo social dos textos

A circulaccedilatildeo social dos textos eacute parte de nossa proposta para a sequecircncia didaacutetica

Como o objetivo maior foi o de contribuir para o aperfeiccediloamento das habilidades de escrita

desenvolvendo procedimentos de escritor fugindo agrave praacutetica que os alunos normalmente tecircm

que eacute de fazer um texto sem os devidos cuidados apenas visando nota para entregar ao

professor contamos que essas produccedilotildees foram de grande valia aos que permaneceram ateacute o

final de nosso projeto

O livro artesanal foi produzido e no dia da cerimocircnia de formatura dos alunos do

9ordm ano foi tornado puacuteblico mostrado aos outros alunos familiares e comunidade escolar

presente O livro conteacutem as produccedilotildees dos 4 (quatro) alunos e mais as crocircnicas lidas ao longo

das aulas Aleacutem disso cada um publicou seu texto em sua paacutegina do Facebook

87

5 ANAacuteLISE DA SEQUEcircNCIA REFLEXOtildeES

Este capiacutetulo eacute destinado a discussatildeo e anaacutelise dos dados coletados quando de antes

da aplicaccedilatildeo dos moacutedulos (produccedilatildeo inicial) e depois do desenvolvimento destes (produccedilatildeo

final) a fim de verificarmos o desempenho dos alunos e certificar que o desenvolvimento de

nossa SD proposta para o desenvolvimento da competecircncia escrita dos alunos do 9ordm ano do

ensino fundamental pode propiciar-lhes progressos nas habilidades de produccedilatildeo de seus textos

Apresentamos aqui os principais dados da pesquisa como nuacutemero de alunos

participantes em cada etapa de produccedilatildeo nuacutemero de estudantes que participaram de todas as

atividades e principais dificuldades quanto aos elementos constitutivos do gecircnero trabalhado

Para a anaacutelise das versotildees produzidas pelos alunos que participaram de todos os encontros

fazendo o comparativo entre a PI e a PF partimos das categorias do gecircnero crocircnica literaacuteria

trabalhadas durante a SD Deste modo veremos as seccedilotildees destinadas a analisar os elementos

constitutivos presentes nos textos

A anaacutelise dos dados considerou as hipoacuteteses levantadas no iniacutecio da pesquisa que

recapitulamos

a) eacute possiacutevel motivar os alunos a escrever ao desenvolver com eles atividades

voltadas para os diferentes subprocessos e habilidades envolvidos no ato de

redigir

b) o ensino da composiccedilatildeo do gecircnero crocircnica literaacuteria contribuiraacute para minimizar

dificuldades observadas nos textos dos alunos do 9ordm ano como nos planos

morfossintaacutetico e semacircntico aleacutem de lhes propiciar o desenvolvimento da

competecircncia escrita em textos escritos

c) apoacutes a realizaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica proposta ao compararmos as produccedilotildees

inicial e final dos alunos verificaremos um desempenho mais satisfatoacuterio em

relaccedilatildeo agrave competecircncia discursiva realizada no gecircnero crocircnica

Da primeira hipoacutetese consideramos para a elaboraccedilatildeo das atividades e o

planejamento dos encontros trabalhar os subprocessos da escrita geraccedilatildeo e organizaccedilatildeo de

ideias planejamento do texto rascunho escrita releitura revisatildeo reescrita ateacute o passo da

publicaccedilatildeo agrave audiecircncia pretendida Esses passos auxiliaram os alunos a desenvolver melhor

seus textos apoacutes a revisatildeo quando os comparamos aos seus primeiros textos conforme a anaacutelise

dos dados Inclui tambeacutem este momento a motivaccedilatildeo de modo que quanto maior o domiacutenio

das habilidades mais confiantes os alunos ficavam e consequentemente mais motivados

88

Buscamos identificar nos textos dos alunos os avanccedilos referentes agrave apropriaccedilatildeo do

gecircnero crocircnica literaacuteria a partir dos textos escolhidos para servir-lhes de modelo para a

produccedilatildeo Relatamos aqui tambeacutem as dificuldades trabalhadas com eles durante os moacutedulos e

que foram aperfeiccediloadas Aleacutem das dificuldades composicionais relatamos ao longo do

capiacutetulo as dificuldades quanto agrave participaccedilatildeo no projeto aplicado

51 Participaccedilatildeo dos alunos na pesquisa

A sala de aula escolhida para aplicaccedilatildeo do projeto de produccedilatildeo escrita de crocircnicas

literaacuterias foi uma turma de 9ordm ano vespertino em uma escola puacuteblica do municiacutepio de Satildeo Luiacutes

Maranhatildeo Os alunos frequentes totalizavam no ano letivo de 2017 43 (quarenta e trecircs) No

entanto ao final de nosso projeto tivemos um resultado de produccedilotildees que visavam agrave circulaccedilatildeo

social do texto no gecircnero que corresponde a menos de 10 (dez por cento) do total da classe

Graacutefico 4 ndash Nuacutemero de alunos do 9ordm ano

Fonte Produzido pela autora

Podemos dizer que a SD teve duas partes no tocante agrave participaccedilatildeo dos alunos No

primeiro 19 (dezenove) alunos produziram a PI-A havendo oscilaccedilatildeo da presenccedila nas

atividades ateacute a reescrita a PF-A No entanto selecionamos as produccedilotildees apenas dos que

participaram de todos os encontros que foram 13 (treze) alunos e que produziram a PF-A

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

Nuacutemero de alunos

Nuacutemero de alunos no 9ordm ano

Alunos regularmente frequentes

Alunos que produziram o texto para a professora-pesquisadora como audiecircncia

Alunos que produziram texto para circulaccedilatildeo social com audiecircncia real

89

No segundo momento visando a publicaccedilatildeo dos textos o nuacutemero de alunos

presentes caiu vertiginosamente finalizando o projeto de aplicaccedilatildeo da SD com 6 alunos

frequentes sendo que apenas 4 (quatro) produziram o texto para circulaccedilatildeo social constando a

PI-B e a PF-B Segundo os alunos da turma o fato de natildeo valer nota associado ao item do

termo de compromisso que diz que a qualquer momento o aluno poderia deixar de participar

sem qualquer prejuiacutezo fez com que alguns alunos deixassem de querer frequentar ldquoporque eu

natildeo gosto de escrever professorardquo acabando por ldquocontagiarrdquo outros alunos a querer sair mais

cedo da sala de aula abandonando assim o projeto aplicado ldquomas pelo menos a senhora jaacute tem

um texto natildeo eacuterdquo

Dessa forma totalizamos 26 (vinte e seis) textos analisados 2 (dois) de cada

participante na primeira parte e 4 (quatro) dos quatro alunos que tiveram seus textos publicados

no livro artesanal e na plataforma online

Graacutefico 5 ndash Participaccedilatildeo nas produccedilotildees

Fonte Produzido pela autora

Como vimos 13 (treze) alunos realizaram a PF-A e 4 (quatro) a PF-B Nosso

projeto de produccedilatildeo escrita de crocircnicas literaacuterias contou com 11 (onze) encontros efetivos num

total de 20 (vinte) horasaula A participaccedilatildeo da turma ocorreu da seguinte forma

0

5

10

15

20

PI-A PF-A PI-B PF-B

Participaccedilatildeo nas produccedilotildees

Produccedilatildeo a partir de instruccedilatildeo Produccedilatildeo para publicaccedilatildeo

90

Graacutefico 6 ndash Alunos presentes por encontro

Fonte Produzido pela autora

Quanto agrave participaccedilatildeo nos encontros nos quais desenvolvemos os moacutedulos a maior

participaccedilatildeo ocorreu no 1ordm (primeiro) e no 4ordm (quarto) encontros No 9ordm (nono) encontro tivemos

a menor quantidade de alunos O uacuteltimo encontro contou com 7 (sete) alunos

52 Anaacutelise da apropriaccedilatildeo de caracteriacutesticas do gecircnero crocircnica literaacuteria

Nosso objetivo com esta pesquisa foi de contribuir para o desenvolvimento da

competecircncia escrita dos alunos de 9ordm ano a partir da proposta da aplicaccedilatildeo de uma sequecircncia

didaacutetica para a produccedilatildeo de textos escritos em uma turma deste niacutevel utilizando para tal o

gecircnero crocircnica literaacuteria A sequecircncia foi desenvolvida no 2ordm semestre do ano letivo de 2017

Para verificar o desempenho dos alunos nos textos escritos antes e apoacutes a aplicaccedilatildeo

da SD buscando comprovar sua eficiecircncia como uma proposta para o ensino de produccedilatildeo de

textos e o desenvolvimento da competecircncia escrita dos alunos procedemos a anaacutelise do corpus

de produccedilotildees a fim de verificar se a construccedilatildeo do texto de alunos do 9ordm ano corresponde de

algum modo aos exemplos de crocircnicas apresentados na primeira parte da sequecircncia didaacutetica

Essa produccedilatildeo A corresponde ao trabalho com 13 alunos (como jaacute informado na

seccedilatildeo 4411) em 3 (trecircs) encontros com duraccedilatildeo de 6 (seis) horasaula e leitura de duas

crocircnicas ineacuteditas para os alunos (Manias e Pacto apoacutes morte) e atividades correspondentes e

mais a releitura de O chato da vez releitura da instruccedilatildeo e releitura das PI-A

0

5

10

15

20

25

30

35

40

Alunos presentes por encontro

Nordm de alunos

91

Nossa primeira parte da sequecircncia em que preparamos os alunos para a produccedilatildeo

do primeiro texto do gecircnero com um miacutenimo de caracteriacutesticas tratou de mostrar exemplos do

que se pode esperar em uma crocircnica fornecendo um miacutenimo de elementos para que atraveacutes de

uma abordagem imitativa os alunos fizessem o seu texto PI-A

Para a reescrita ou PF-A a fim de auxiliar nossos alunos fomos construindo ao

longo do periacuteodo de aplicaccedilatildeo das aulas um quadro autoavaliativo que resultou nos itens

expostos no quadro a seguir

Quadro 5 ndash Quadro autoavaliativo

Seu texto Sim Natildeo

Partiu de uma situaccedilatildeo observadavivida

Conversa com o leitor

Possui o foco narrativo bem determinado (narrador personagem ou

narrador observador)

Leva o leitor a refletir

Causa impressotildees no leitor como riso choro reflexatildeo emoccedilatildeo

satisfaccedilatildeo

Possui um final interessante

Mostra discretamente ao leitor seu ponto de vista a respeito da situaccedilatildeo

Possui alguma descriccedilatildeo de lugarobjetopersonagem

Possui um tiacutetulo

Apresenta os acontecimentos de forma clara

Emprega adequadamente os sinais de pontuaccedilatildeo

Evita repeticcedilatildeo desnecessaacuteria de palavras

Possui paraacutegrafos bem organizados

Fonte Elaborado pela autora

O quadro nasceu da observaccedilatildeo das caracteriacutesticas constantemente presentes em

produccedilotildees de alunos com os quais trabalhamos A proposta era que os integrantes do projeto

avaliassem os proacuteprios textos atentando para estes aspectos mais baacutesicos

Desta forma vamos proceder a anaacutelise com a observaccedilatildeo da apropriaccedilatildeo das

caracteriacutesticas trabalhadas do gecircnero crocircnica literaacuteria sob uma oacutetica do processo de produccedilatildeo

oferecendo uma abordagem imitativa de produccedilatildeo de textos nas produccedilotildees iniciais e finais A

de 13 (treze) alunos cuja identificaccedilatildeo estaacute no quadro a seguir

Quadro 6 ndash Identificaccedilatildeo dos textos A dos alunos

Identificaccedilatildeo textoautor Tiacutetulo PI Tiacutetulo PF

Ana Ser chato ou natildeo ser eis a

questatildeo

Ser chato ou natildeo ser eis a

questatildeo

92

Rodrigo Pare de se criticar

Eduardo O amigo muito e muito chato Ser legal natildeo eacute ser chato

Estela Os chatos de antematildeo O tio chato de galocha

Ceacutelia Chata sim ou natildeo Chata sim ou natildeo

Arlindo Chato e natildeo eacute chato Chato e natildeo eacute chato

Juacutelia Ser chato ou ser legal Pessoas chatas e pessoas

legais

Vicente Aacute pergunta eacute se eu

bloquearia uma pessoa chata

Graccedila Rafaelly chata Chata ela ou EU

Lilian Meus amigos chatos e Eu Pessoas legais e chatas

Heloiacutesa ldquoChato mais eacute muito legalrdquo ldquoO melhor chatordquo

Eliane Um pouco de tudo O que e chato e o que e legal

Joana Pessoas chatas e outras legal Pessoas otimas Fonte Produzido pela autora

Esses textos foram produzidos em sala na folha de produccedilatildeo textual proacutepria

elaborada para a SD de forma manuscrita e os originais A encontram-se nos anexos Na seccedilatildeo

a seguir mostraremos o panorama das anaacutelises

53 Os textos dos alunos

Esta seccedilatildeo traz os textos dos alunos produzidos em dois momentos O primeiro que

chamamos de texto A composto de produccedilatildeo inicial A e produccedilatildeo final A foi o texto produzido

na primeira parte de nossa sequecircncia didaacutetica que vai ateacute o moacutedulo 2 (dois) e que ficou restrito

apenas ao trabalho em sala de aula O segundo foi o texto B com produccedilatildeo inicial B e produccedilatildeo

final B cuja produccedilatildeo jaacute visava agrave circulaccedilatildeo social das produccedilotildees

531 Produccedilotildees A textos apenas para o trabalho em sala de aula

Quadro 7 ndash Produccedilatildeo inicial Ana ndash Tiacutetulo Ser chato ou natildeo ser eis a questatildeo

1 O ldquochato da vezrdquo esse texto fez eu refletir bastante

2 sobre esse negocio de chatisse sabe eu natildeo acho que

3 ser chato seja um defeito ou muito menos uma qua-

4 lidade de sabe de uma coisa Eu nem ao menos sei o

5 que eacute ser chato mas se algueacutem me perguntar diria que

6 ser chato eacute apenas falar de um assunto pode ser sobre ele

7 ou sobre mim mas se for falado isso pra mim muitas ve-

8 zes isso pra mim eacute pura chatice mas sabe eu natildeo tiraria

9 nem evitaria ningueacutem mesmo sendo aquela amiga que so

93

10 sabe falar que ta doente e reclamar de noites mal dormi-

11 das sempre ateacute porque eacute o jeito dela e cada um oferece o

12 que tem para oferecer eu natildeo fico puxando o saco delas

13 mas evito elas sempre que posso Ateacute porque seria uma

14 chatice evita-la ou qualquer um outro chato Fonte Dados da pesquisa

O texto foi composto por um paraacutegrafo apenas Percebe-se que Ana o criou

atendendo ao que a instruccedilatildeo da atividade requer criar um texto que possa inspirar reflexatildeo

Poreacutem a aluna natildeo exatamente conduz seu leitor a refletir Ela jaacute parte de uma constataccedilatildeo sobre

a qual ela mesma refletiu e expotildee no texto suas conclusotildees Natildeo narra uma situaccedilatildeo

vividaobservada mas elenca o que lhe parecem procederes chatos ldquomesmo sendo aquela amiga

que so sabe falar que ta doente e reclamar de noites mal dormidas semprerdquo (linhas 9 a 11) A

aluna natildeo usou a estrateacutegia de inserir personagens que transparecessem seu ponto de vista ao

leitor Construiu seu texto em primeira pessoa ao modo de ldquoO chato da vezrdquo e demonstrou que

tinha consciecircncia de que seu texto seria lido por uma audiecircncia visto que lanccedila perguntas para

confirmaccedilatildeo ldquosaberdquo (linha 1) ldquosabe de uma coisardquo (linha 4) embora essa audiecircncia natildeo

coadune com a instruccedilatildeo

Quadro 8 ndash Produccedilatildeo final Ana ndash Tiacutetulo Ser chato ou natildeo ser eis a questatildeo

1 ldquoO chato da vezrdquo Um texto muito interessante

2 que fez eu refletir sobre esse negocio de chatisse um

3 assunto que eu ja tinha pensado bastante mas cheguei a

4 conclusatildeo de que natildeo deve ser considerado um defeito nem

5 uma qualidade chato quero dizer mas deve ser um a

6 coisa que vocecirc deve ser controlada sabe as vezes eacute ne-

7 cessario ter um pouco de chatisse

8

9 Ser chato na minha opiniatildeo natildeo teria um signi-

10 ficado especifico seria vaacuterias coisas como falar apenas de

11 um assunto coisas repetitivas sabe natildeo saber aceitar o jeito

12 das pessoas ao seu redor ser chato eacute natildeo saber relevar e ser

13 legal eacute o oposto pois se eu falasse se eu falasse ago-

14 ra as caracteriacutesticas das pesso legal esse texto ficaria cha-

15 to ca entre nos Fonte Dados da pesquisa

O texto reescrito agora compotildee-se de dois paraacutegrafos embora no trabalho de

discussatildeo e reapresentaccedilatildeo da mesma proposta a instruccedilatildeo indique entre 3 (trecircs) e 6 (seis)

paraacutegrafos

94

Mais uma vez a aluna elaborou seu texto visando ao que a instruccedilatildeo da atividade

requer um texto que possa inspirar reflexatildeo sem conduzir exatamente seu leitor a refletir mas

expondo uma constataccedilatildeo sobre a qual ela mesma refletiu

O primeiro paraacutegrafo inicia com frases que lembram o gecircnero resenha ldquoO chato da

vezrdquo Um texto muito interessante que fez eu refletir sobre esse negocio de chatisse (linhas 1 e

2)

O segundo paraacutegrafo que ela inicia nos daacute a pista de que ela retorna ao quesito de

letra a da atividade 7 que tem por funccedilatildeo sensibilizar e conduzir o aluno a compreender a

instruccedilatildeo que vai se apresentar definitivamente a partir do quesito de letra c e perde de vista

que seu texto deve ser composto dentro das caracteriacutesticas do gecircnero crocircnica Em lugar disso

ela o compotildee expondo sua opiniatildeo o que tange um outro gecircnero

O texto possui tiacutetulo como na PI e faz uma referecircncia intertextual agrave famosa frase

de William Shakespeare Ser ou natildeo ser eis a questatildeo

Ainda como na PI a aluna natildeo narra uma situaccedilatildeo vividaobservada elencando

em vez disso o que foi considerado chato nas discussotildees que a turma fez para tentar definir o

que era ser legal e ser chato como falar apenas de um assunto coisas repetitivas sabe natildeo

saber aceitar o jeito das pessoas ao seu redor ser chato eacute natildeo saber relevar (linhas 10 a 12)

Mais uma vez a aluna natildeo usou a estrateacutegia de inserir personagens que

transparecessem seu ponto de vista ao leitor Construiu seu texto em primeira pessoa ao modo

de ldquoO chato da vezrdquo mas frases como sabe (linha 11) e ca entre nos (linha 15) mostram que

houve sim uma preocupaccedilatildeo em conversar com o leitor transparecendo sua percepccedilatildeo de uma

audiecircncia como presente no texto da instruccedilatildeo bem como ao longo das crocircnicas lidas foram

ressaltadas foacutermulas de conversas com o leitor

A autora desenvolveu pouco seu texto e ainda buscou abreviaacute-lo visto que ldquose eu

falasse agora as caracteriacutesticas das pesso legal esse texto ficaria chato ca entre nosrdquo (linhas

14 e 15)

Natildeo houve para antes da reescrita um texto na folha de rascunho Foi feita a

refacccedilatildeo do texto diretamente na folha de produccedilatildeo havendo ainda problemas com a ortografia

e a pontuaccedilatildeo

No entanto Ana depois de seguir com o projeto e apurar um pouco mais o olhar

segundo ela mesma pediu para que deacutessemos nova oportunidade de leitura pois ela havia feito

uma nova reescrita ao final dos moacutedulos Essa reescrita de Ana estaacute na seccedilatildeo seguinte apoacutes o

teacutermino de todos os moacutedulos

95

Quadro 9 ndash Produccedilatildeo inicial Rodrigo ndash Tiacutetulo Pare de se criticar

1 Bom pessoal primeiro quero que vocecircs entendatildeo o

2 verdadeiro significado de ser chato e ser legal

3 antes de tudo Natildeo levem nada pro lado pessoal apenas

4 entenda Vamos comeccedilar

5

6 Uma pessoa chata por exemplo ela eacute cheia de

7 nheacute nheacute nheacute mas nem todo mundo eacute chato depende

8 de quem te acha chato concerteza ela tambeacutem natildeo eacute

9 a pessoa mais legal triloca ou radical do mundo Se

10 ela te acha chato foudaci o que importa eacute vocecirc se

11 acha legal Ai Deus quem dera tivesse um

12 botatildeo pra silenciar pessoas chatas leitor estaacute me ente-

13 ndendo uma pessoa chata ela pode ser chata

14 pra vocecirc mas pra mim natildeo entatildeo vai lagar de se

15 achar chato Cara vocecirc eacute mocirc legal pra muitas

16 pessoas deixa de se alto criticar

17

18 Voltando ao assunto se vocecirc tivesse um

19 botatildeo pra bloquear uma pessoa que tipo de pessoa

20 vocecirc bloquearia eu particularmente bloquearia

21 essas pessoas chatas que natildeo saien do meu peacute

22 entatildeo era soacute isso Seja mais legal consigo

23 mesmo Fui

24

25 Fim

26 Joinha

27 LIKE Fonte Dados da pesquisa

Construiacutedo em 3 (trecircs) paraacutegrafos de efetivo conteuacutedo entre as linhas 1 e 23 o texto

desse aluno busca fortemente o contato com sua audiecircncia como se vecirc em diversos exemplos

ldquoBom pessoalrdquo (linha 1) ldquoquero que vocecircs entendatildeordquo [sic] (linha 1) ldquoleitorrdquo (linha 12) ldquoestaacute

me entendendordquo (linhas 12-13) ldquoCara vocecirc eacute mocirc legalrdquo (linha 15) se vocecirc tivesse um botatildeo

(linhas 18-19) Seja mais legal consigo mesmo (linhas 22-23) Esse contato eacute influenciado pelos

diaacutelogos mais proacuteximos da oralidade que se apresenta nos textos usados para sensibilizar e

inspirar a produccedilatildeo inicial e que eacute uma caracteriacutestica do gecircnero trabalhado

No entanto seu texto natildeo se caracteriza como gecircnero crocircnica Percebemos que

lembra muito um roteiro de fala para viacutedeo do youtube ndash e sim o aluno autor do texto eacute youtuber

e tem um canal O aluno termina seu texto com claras referecircncias agrave esfera do discurso online

em que se tem interaccedilatildeo direta com o leitor Joinha LIKE (linhas 26 e 27) bem como um

96

elemento visual associado a essa multimodalidade que a internet permite que eacute a matildeo com

polegar para cima (linha 25) conhecido como thumbs up ou no Brasil joinha usado para

expressar contentamento com o conteuacutedo escrito o que corresponde ao perfil de audiecircncia dado

na instruccedilatildeo

Rodrigo faz muito uso da palavra chato o que pode sobrecarregar o texto Poreacutem

e como veremos a seguir na produccedilatildeo B do mesmo aluno a repeticcedilatildeo segundo ele eacute

caracteriacutestica sua para ldquoreforccedilar que a pessoa eacute chata professorardquo Apesar disso natildeo houve

uma definiccedilatildeo mais bem detalhada do que eacute o chato como os que ldquonatildeo saien do meu peacuterdquo (linha

21)

Haacute uma referecircncia no texto agrave primeira leitura feita em sala antes da PI que foi o

texto Prova Falsa Nas linhas 6-7 pode-se ler ldquonheacute nheacute nheacuterdquo como definiccedilatildeo do que eacute uma

pessoa chata e que no texto do Stanislaw Ponte Preta aparece como ldquoDesses cachorrinhos de

raccedila cheio de nheacutem-nheacutem-nheacutem que comem comidinha especial precisam de muitos

cuidados enfim um chato de galochardquo Por natildeo portar o texto em matildeos na hora da produccedilatildeo

entendemos entatildeo que o aluno Rodrigo fixou o vocaacutebulo corrente na oralidade (nheacutem-nheacutem-

nheacutem) ao conceito (muito chato chato de galocha) causando um saldo positivo em sua escolha

Quadro 10 ndash Produccedilatildeo final Rodrigo ndash Tiacutetulo

1 bom dia boa tarde e boa noite depende

2 da hora em que estiver lendo isso

3 Hoje eu vou falar um pouco sobre pessoas

4 chatas e pessoas legais se estiver pronto vamos laacute

5

6 Primeiro reflita uma coisa vocecirc leitor se

7 considera chato Antes de dizer vocecirc precisa saber

8 a diferenccedila entre ser legal e ser chato vou explicar

9

10 Uma pessoa legal eacute aquela que sabe te

11 ouvir dar sua opiniatildeo na hora certa e saber

12 reconhecer seus erros mas chega um devido ponto

13 que vocecirc tenta ser tatildeo legal que chega a ser chata

14 mas existe uma diferenccedila entre essas duas coisas

15 estaacute entendendo leitor Suponhamos que exista

16 um botatildeo de bloquear pessoas igual aquele do

17 Whatsapp quem vocecirc bloquearia seus amigos

18 Seus familiares Seus colegas Ou as pessoas chatas

19 Hahahahaha jaacute sei a resposta entatildeo isso facilitaria

20 muito sua vida neacute

21

22 bom espero ter ajudado a saber a

97

23 diferenccedila entre essas duas coisas en em breve

24 farei outro texto para explicar um pouco

25 melhor valeu falou e fui

26

27 Fonte Dados da pesquisa

Nessa versatildeo de reescrita do texto vimos que o aluno natildeo colocou o tiacutetulo

Acreditamos que ele natildeo tenha lembrado visto que na PI foi atribuiacutedo um tiacutetulo a seu texto

Natildeo houve para antes da reescrita um texto na folha de rascunho O aluno afirmou

que gostava de desenhar e permitimos que ele fizesse o que lhe fosse mais confortaacutevel para

liberar a criatividade apoacutes a conversa com a turma em busca da compreensatildeo do que eacute ser legal

ou ser chato A refacccedilatildeo do texto foi feita diretamente na folha de produccedilatildeo havendo ainda

alguns problemas com a ortografia e a pontuaccedilatildeo poreacutem com bom uso das interrogaccedilotildees para

conduzir o leitor por seus questionamentos o autor buscou uma aprovaccedilatildeo para o tema que

expotildee

Natildeo houve neste texto a presenccedila da narraccedilatildeo de uma situaccedilatildeo vividaobservada

Rodrigo mencionou algumas situaccedilotildees discutidas na sala antes da reescrita que falavam sobre

o que eacute ser chato e o que eacute ser legal Na linha 19 houve uma quebra e expectativa pois o trecho

ldquoHahahahaha jaacute sei a respostardquo natildeo deixa claro realmente qual a resposta

Percebemos tambeacutem a utilizaccedilatildeo de siacutembolos em seu texto ao final Esse recurso

multimodal eacute caracteriacutestico da forma de interaccedilatildeo existente nas redes sociais e o aluno por

entender na instruccedilatildeo que o texto eacute direcionado a um leitor de sua idade e que lecirc e faz postagens

e comentaacuterios com frequecircncia empregou iacutecones de maneira natural em seu texto Entendemos

aqui que ele considerou a audiecircncia determinada na instruccedilatildeo

Quadro 11 ndash Produccedilatildeo inicial Eduardo ndashTiacutetulo O amigo muito e muito chato

1 Nossa meus amigos satildeo chatos

2 ou seraacute que eacute eu mesmo que sou

3 completamente chato Natildeo sei mas se

4 sou o que eu faccedilo de errado pra ser chato

5

6 Tive uma amizade que era muito

7 bacana uma convivencia boa para se

8 viver mas passando alguns tempo

9

10 Ficou absurdamente chato ficou

11 muito muito muito chata vivia na

98

12 minha casa Iria conpletamente na minha

13 casa nas horas enproprias era chato

14

15 Mas um dia fiquei dando indiretas

16 para ele dizendo ldquoQue mamatildee mandou arruma

17 a casardquo essa coisas assim

18

19 Um dia disse para ele ldquoTou meio

20 oculpadordquo ai ele disse ldquoVocecirc eacute muito chatordquo

21 e saiu de casa sem olhar para traacutes

22

23 Mas ai ele foi que ficou mais chato

24 ainda Tocava a campainha de casa e

25 saia correndo

26

27 Se desse de broqueiar ele na vida

28 real eu broqueiava Vocecirc faria o mesmo

29 leitor Fonte Dados da pesquisa

A PI apresenta o ponto de vista do autor sobre o que eacute ser chato ldquovivia na minha

casa Iria completamente na minha casa nas horas enproprias era chatordquo (linhas 11-13) poreacutem

natildeo explicita o que eacute ser legal deixando essa lacuna para o leitor Apesar disso EDUARDO

parte de uma situaccedilatildeo vividaobservada que era essa relaccedilatildeo com seu amigo

O texto estaacute organizado em 7 (sete) paraacutegrafos No entanto o 2ordm e o 3ordm paraacutegrafos

poderiam estar unidos pela temaacutetica14 assim como o 5ordm e o 6ordm paraacutegrafos O uso do conectivo

mas foi inadequadamente empregado no 4ordm paraacutegrafo (Mas um dia fiquei dando indiretas para

ele) (linhas 15-16) A repeticcedilatildeo da expressatildeo temporal um dia no iniacutecio do 4ordm e do 5ordm paraacutegrafos

sucessivamente natildeo permite claramente ao leitor saber se as situaccedilotildees aconteceram no mesmo

dia ou em dias distintos

Percebemos o emprego da 1ordf pessoa como a voz que fala no texto um narrador-

personagem que se comunica tanto com outro personagem por meio de discurso indireto livre

(ai ele disse ldquoVocecirc eacute muito chatordquo) (linha 20) quanto com o leitor ldquoVocecirc faria o mesmo leitorrdquo

(linhas 28-29) demonstrando consciecircncia de que existe uma audiecircncia e embora natildeo mostre

claros exemplos ainda assim atende agrave instruccedilatildeo de que essa mesma audiecircncia deve ser um

puacuteblico que estaacute antenado nas redes sociais ldquoSe desse de broqueiar ele na vida real eu

broqueiavardquo (linhas 27-28)

14 Cf seccedilatildeo Escrita na escola

99

Quadro 12 ndash Produccedilatildeo final Eduardo ndashTiacutetulo Ser legal natildeo eacute ser chato

1 Ser legal eacute oacutetimo mas vocecirc

2 pode esta achando que taacute sendo

3 muito legal mas a pessoa

4 que vocecirc ta sendo legal natildeo

5 pode ta achando vocecirc muito legal

6 mas sim chato

7

8 Vocecirc indo na casa do seu

9 amigo toda hora pode ser legal

10 para ele mas para seu amigo natildeo

11

12 Coisas demais natildeo eacute tatildeo

13 legal E vocecirc leitor tem alguma

14 coisa engual a isso

15

16 LEGAL X CHATO

Fonte Dados da pesquisa

Nessa reescrita do texto apoacutes as sugestotildees percebemos que o aluno fez natildeo uma

nova versatildeo do primeiro texto mas uma resposta agraves discussotildees realizadas na sala antes do

momento de escrita Pedimos ao grupo como um todo que levasse em conta o que eacute ser legal

e o que eacute ser chato e desses exemplos praacuteticos partindo de situaccedilotildees vividasobservadas

Enquanto a professora-pesquisadora atendia outros alunos que natildeo haviam compreendido

claramente as sugestotildees dadas agraves suas PI o aluno Estela elaborou 3 (trecircs) paraacutegrafos que

condensam sua situaccedilatildeo descrita na PI natildeo utilizando diaacutelogos nem personagens apesar de

ainda se dirigir ao leitor (ldquoE vocecirc leitorrdquo) (linha 13) Houve uma perda da qualidade do texto

por causa de uma provaacutevel falta de compreensatildeo da tarefa a ser realizada na sala

Quadro 13 ndash Produccedilatildeo inicial Estela ndash Tiacutetulo Os chatos de antematildeo

1 Certo dia observei dois amigos conversando

2 Marcelo e Camila quase todos os dias Marcelo

3 e Camila quase todos os dias eles ldquobrigavamrdquo

4 ficavam de ldquomalrdquo como os jovens de hoje falam

5

6 O motivo dessas brigas era apenas pelo fato

7 de Marcelo dizer a Camila que ela era uma

8 chata e ela como todos os ldquochatosrdquo natildeo

100

9 admitiam ser chatos neacute

10

11 E vocecirc se por acaso algueacutem chamaacute-lo de chato

12 O que vocecirc faria

13

14 Eu natildeo era muito ldquoamigardquo deles mas na real

15 dava uma vontade de chegar e dizer-lhes ldquo

16 Por favor natildeo sejam tatildeo ridiacuteculos os dois

17 satildeo uns chatosrdquo

18

19 Mas como eacute errado intrometer-se nas conversas

20 dos outros resolvi natildeo dizer nada

21

22 Passaram-se semanas e eles sempre continuavam

23 com isso

24

25 Entatildeo resolvi fazer algo para que evitasse

26 essas ldquobrigasrdquo cotidianas

27

28 Natildeo falei nada pessoalmente mas sim por uma

29 rede social e mandei a seguinte mensagem

30

31 ldquoDesculpe-me por intrometer-me na amizade

32 entre vocecirc e Marcelo mas essa chatice que

33 haacute entre vocecirc e seu amigo estaacute me incomoda-

34 do aacute dias Pelo fato de vocecirc e seu amigo

35 ficarem pegando no peacute um do outro na

36 minha opiniatildeo vocecircs deveriam conversar

37 civilizadamente e aceitarem uns aos outros

38 da maneira que vocecircs satildeo E soacute issordquo

39

40 Dias depois dessa conversa observei-os aten-

41 tamente e percebi que havia uma grande diferenccedila

42 entre eles na qual eles estavam interagindo

43 se entendendo se aceitando

44

45 E entatildeo os dois aproximaram-se de mim e

46 agradeceram pelo conselho

47

48 Fiquei super feliz de tecirc-los ajudados

49 Na minha opiniatildeo chatice eacute algo que a

50 pessoa tem de natureza um certo

51 estado de espiacuterito

52

53 E se isso natildeo resolvesse tentaria bloqueaacute-

54 -los tentaria parar de dar atenccedilatildeo graccedilas

55 a Deus eles pararam

56

101

57 Ufa Pelo menos no final eles foram legais uns com os outros

58

59 Fim Fonte Dados da pesquisa

Apresentando-se como a mais extensa das produccedilotildees iniciais esta PI possui 14

(quatorze) paraacutegrafos Alguns poderiam ser condensados de modo a deixar as ideias agrupadas

(o 4ordm e o 5ordm o 6ordm o 7ordm e o 8ordm) Ou entatildeo poderia ter havido nova reescrita de alguns periacuteodos de

modo a condensar as informaccedilotildees Poreacutem para tal lembramos Serafini (2003) que afirma que

para escritores inexperientes essa estrateacutegia de periacuteodos mais curtos ajuda melhor a organizar

o pensamento Essa aluna produziu um rascunho antes de passar a limpo para a folha de

produccedilatildeo textual oficial

Demonstrando certo domiacutenio no uso dos pronomes pessoais obliacutequos como se pode

ver em diversos exemplos ao longo do texto ldquochamaacute-lordquo (linha11) ldquoe dizer-lhesrdquo (linha 15)

ldquoeacute errado intrometer-serdquo (linha 19) fez um emprego inadequado quando usou de pronome

relativo (na qual) (linha 42) possivelmente tentando o registro culto da liacutengua

Nesse texto se percebe o uso do discurso indireto (ldquoE entatildeo os dois aproximaram-

se de mim e agradeceram pelo conselhordquo) (linhas 45-46) As marcas de conversa com o leitor

podem ser vista em ldquoneacuterdquo (linha 9) e ldquoE vocecirc se por acaso algueacutem chamaacute-lo de chato O que

vocecirc fariardquo (linhas 11-12 A autora assume um ponto de vista e narra para uma audiecircncia

correspondendo ao requisitado na instruccedilatildeo

Como a instruccedilatildeo de produccedilatildeo determina o perfil do leitor como sendo um

adolescente que acessa redes sociais a autora coloca como soluccedilatildeo ao conflito de constantes

brigas entre o casal de amigos adolescente o envio de uma mensagem por rede social falando

inclusive que os bloquearia caso continuassem chatos O texto assemelha-se a um conto

inclusive pela forma como a autora encerra seu texto ldquoFimrdquo (linha 59) Quanto a despertar no

leitor uma reflexatildeo podemos dizer que A4 estaacute no caminho e que um trabalho mais detido

sobre esse texto poderia melhorar a qualidade dessa reflexatildeo

Quadro 14 ndash Produccedilatildeo final Estela ndashTiacutetulo O tio chato de galocha

1 As feacuterias chegaram e como em todas as feacuteria-

2 s eu partia em uma ldquoincriacutevel aventurardquo (pra

3 natildeo dizer o contraacuterio) a casa dos meus

4 tios na qual eacute um verdadeiro desastre

5 Ter que acordar com o ldquocantar dos galosrdquo

6 como dizem os mais velhos em clima de

102

7 discussatildeo affseacute uma verdadeira cha-

8 tice eu odiava ter que estragar minhas

9 maravilhosas feacuterias convivendo com eles

10 Eles discutiam ateacute pelo simples fato de cair

11 farelos de comida no chatildeo eu odiavaaa

12 E vocecirc leitor aguentaria toda essa chatice

13

14 O que vocecirc faria em relaccedilatildeo a essa situaccedilatildeo

15

16 Jaacute haviam se passado mais da metade das

17 feacuterias eu estava orando agrave Deus para que

18 esses dias infernais ao lado dos meus ti-

19 os acabassem e tambeacutem que titio Luiacutes

20 parasse de reclamar por eu comer muito

21 e parar de ficar assistindo programas

22 ateacute tarde da noite eu achava um exagero

23 eacute oacutebvio pois eram ldquofeacuteriasrdquo e nas feacuterias

24 acostumamos ficar distantes de tarefas

25 escolares de tudo que nos lembrar a

26 escola (rsrsrs)

27

28 O meu tio tambeacutem dizia que eu precisa-

29 va de educaccedilatildeo que os meus pais natildeo

30 me educaram adequadamentee eu natildeo

31 podia resmungar porque se meus pais

32 soubessem que me comportei mau eu iria

33 ficar ferrado E entatildeo mais dias infernais

34 se passaram e graccedilas a Deus as feacuterias

35 terminaram e natildeo tive mas que ver

36 presenciar aquele meu chato e insupor-

37 taacutevel tio

38

39 Pra mim ser chato e ser legal eacute

40 Ser legal Ser chato

41 Saber ouvir Criticar os outros

42 Dar comida Reclamar de tudo

43 Ser sincera Daacute importacircncia demais ao que dizem

44 Ter bom coraccedilatildeo Ser falso

45 Ajudar as pessoas Ser preconceituoso

46 Aceitar diferenccedilas

47

48 E o que vocecircs leitores acham o que

49 eacute ser ou natildeo legal Fonte Dados da pesquisa

Concentrada em 6 (seis) paraacutegrafos a reescrita ganhou alguns pontos mais

interessantes para se aproximar da crocircnica literaacuteria Partiu de uma situaccedilatildeo vivenciada

103

conduziu o leitor a compreender seu ponto de vista sobre o que era ser chato No entanto o

texto se distanciou da proposta da instruccedilatildeo no sentido de falar tambeacutem o que eacute legal natildeo

somente chato e lembrar do botatildeo de bloqueio da vida real

O 5ordm paraacutegrafo se tornou uma enumeraccedilatildeo das caracteriacutesticas do ser legal e ser chato

e deixou de narrar ou descrever uma situaccedilatildeo ou personagem

Uma caracteriacutestica da linguagem coloquial encontrada foi o uso da expressatildeo ldquoTer

que acordar com o lsquocantar dos galosrsquo como dizem os mais velhosrdquo (linhas 5-6) atribuindo a

frase agrave sabedoria popular Outras marcas tiacutepicas de coloquialidade utilizadas inclusive em meio

digital nos bate-papos foram a escrita de expressotildees com notaccedilotildees como ldquoaffsrdquo (linha 7)

para demonstrar aborrecimento ldquoodiavaaardquo (linha 11) estendendo as vogais para mostrar a

insatisfaccedilatildeo prolongada o frequente uso de aspas para indicar ironia ldquoeu partia em uma lsquoincriacutevel

aventurarsquordquo seguido de uma explicaccedilatildeo entre parecircnteses

Nessa produccedilatildeo a aluna tambeacutem natildeo empregou adequadamente o pronome relativo

ldquona qual eacute um verdadeiro desastrerdquo como se vecirc na linha 4

Quadro 15 ndash Produccedilatildeo inicial Ceacutelia ndashTiacutetulo Chata sim ou natildeo

1 Um dia uma amiga minha me pergun-

2 tou ndash Eu sou chata Responde ndash Sim as vezes

3 Mas o problema foi que ela natildeo aceitou a

4 verdade e saiu furiosa comigo

5

6 Mas me responde leitor se algueacutem viesse

7 te pergunta se ela eram chata o que vocecirc

8 responderia O problema e que nem todos

9 gostam de escuta a verdade

10

11 Aconteceu que um dia um colega disse

12 que eu era chata no comeccedilo fiquei com

13 um pouco de raiva Mas passou por que

14 parei eacute pensei e verdade sou chata Mas

15 mesmo assim sedo chata sim ou natildeo

16 a reciacuteproca era verdadeira

17

18 Chata sim ou natildeo uma pergunta que

19 eu mesmo me fiz vou acabar por aqui

20 antes que eu comece a fica chata de

21 vez Fonte Dados da pesquisa

104

O texto foi composto em 4 (quatro) paraacutegrafos atendendo agrave instruccedilatildeo A voz que

narra estaacute em 1ordf pessoa e dialoga diretamente com um personagem (linhas 1 e 2) Haacute um contato

direto com o leitor atraveacutes de frases como ldquoMas me responde leitorrdquo (linha 6) e ldquoO que vocecirc

responderiardquo (linhas 7-8)

A autora parte de uma situaccedilatildeo vividaobservada ndash na verdade haacute mais de uma

situaccedilatildeo ndash como vemos em ldquoUm dia uma amiga minha me perguntourdquo (linhas 1-2) e ldquoAconteceu

que um dia um colega disse que eu era chatardquo (linhas 11-12) No entanto natildeo segue a proposta

da instruccedilatildeo que eacute falar sobre o que eacute ser legal e ser chato Natildeo haacute exemplificaccedilotildees para que o

leitor entenda o ponto de vista da autora apenas situaccedilotildees em que disseram que ela e chata ou

sua amiga eacute chata Natildeo haacute tambeacutem menccedilatildeo ao ldquobloqueiordquo da vida real aos que satildeo chatos

Haacute alguns problemas quanto agrave ortografia e tambeacutem confusatildeo quanto ao emprego

dos sinais de pontuaccedilatildeo adequados

Quadro 16 ndash Produccedilatildeo final Ceacutelia ndash Tiacutetulo Chata sim ou natildeo

1 Um dia uma amiga minha me per-

2 guntou ndash Eu sou muito chata Responde ndash Sim

3 as vezes Mas o problema foi que ela natildeo

4 gostou de sabe em saiu furiosa comigo e

5 natildeo deixo eu termina de falar

6

7 Mas outro dia ela veio para me pedi des-

8 culpas eacute eu disse ndash natildeo precisa eacute como eu dizia

9 vocecirc e chata mais as vezes quando vocecirc natildeo

10 falando demais ou falando coisas se graccedila Eacute

11 ela disse ndash Eacute mesmo eacute sorriu

12

13 Mas me responde leitor se algueacutem viesse te

14 pergunta se ela era chata o que vocecircs respon-

15 deria O problema eacute que nem todos gostam de es-

16 cuta a verdade

17

18 Aconteceu que um dia um colega disse

19 que eu era chata no comeccedilo fiquei com um

20 pouco de raiva Mas passou porque parei eacute

21 pensei e verdade sou chata Mais mesmo assim

22 sedo chata sim ou natildeo a reciacuteproca era

23 verdadeira

24

25 Chata sim ou natildeo uma pergunta que

26 eu mesmo me fiz bom vou parar por aqui

27 antes que eu comece a fica chata de vez Fonte Dados da pesquisa

105

O texto reescrito foi composto em 5 (cinco) paraacutegrafos o que estaacute dentro do

previsto pela instruccedilatildeo Alguns problemas quanto agrave ortografia e tambeacutem confusatildeo quanto ao

emprego dos sinais de pontuaccedilatildeo adequados permaneceram como em ldquoUm dia minha amiga

me perguntou ndash Eu sou muito chatardquo em que foi feito uso de exclamaccedilatildeo em vez de

interrogaccedilatildeo

Foi mantida a voz que narra (1ordf pessoa) e o diaacutelogo com um personagem ndash a amiga

(linhas 1 e 2) se faz em forma de discurso direto embora natildeo devidamente paragrafado poreacutem

fazendo uso de travessotildees o que eacute um avanccedilo

O segundo paraacutegrafo (linhas 7 a 11) foi inserido a partir da sugestatildeo que fizemos

para a aluna Era interessante que ela acrescentasse em seu texto algo que exemplificasse o que

ela considera como ser legal e ser chato Atendendo agrave sugestatildeo a aluna mostra discretamente

seu ponto de vista na frase ldquovocecirc e chata mais as vezes quando vocecirc natildeo falando demais ou

falando coisas se graccedilardquo (linhas 9-10)

O contato direto com o leitor permanece como na PI atraveacutes de frases como ldquoMas

me responde leitorrdquo (linha 13) ndash cuja pontuaccedilatildeo nessa reescrita foi melhorada pela sugestatildeo ndash

e ldquoO que vocecirc responderiardquo (linhas 14-15) Natildeo foi atendida a instruccedilatildeo no tocante ao botatildeo

de bloqueio na vida real

A autora emprega em seu texto a frase ldquobom vou parar por aquirdquo (linha 26)

caracteriacutestica de uma conversa informal Esse uso da oralidade como em conversas eacute marca do

gecircnero crocircnica

Quadro 17 ndash Produccedilatildeo inicial Arlindo ndash Tiacutetulo Chato e natildeo eacute chato

1 Eu natildeo gosto daquela pessoa que

2 jaacute chegada pensando que jaacute pode falar

3 todo que pensa pra mim as pessoas

4 que pega celular para falar besteira nas

5 redes sociais essas pessoas eu natildeo gosto

6

7 agora aquelas pessoas que satildeo bem

8 calmas nas redes sociais ai eu gosto

9 por que sabem conversar saber puxar

10 intimidade fazem a gente rir e noacutes nos

11 trazem conforto e nos fazem saber que

12 a pessoa com quem a gente conversar

13 natildeo eacute uma maacute pessoa Eacute muito

14 bem amigo nos faz feliz

15

106

16 agora as pessoas que eu bloqueio

17 satildeo aquelas pessoas que natildeo sabem

18 conversar falatildeo de qualquer jeito

19 puxa assunto que eu natildeo gosto

20 por isso eu bloqueio essas pessoas

21 redes sociais eacute pra procurar

22 amigo e ais vezes eacute pra respeitar Fonte Dados da pesquisa

Ao ler o texto de Arlindo vemos que ele trata do assunto pedido na instruccedilatildeo e tem

em mente a audiecircncia pretendida que acessa redes sociais No entanto natildeo alcanccedila o leitor

envolvendo-o na conversa narrando-lhe as situaccedilotildees apenas elenca as situaccedilotildees que lhe satildeo de

agrado e desagrado mostrando o que para ele eacute ser chato e ser legal

Os trecircs paraacutegrafos que compotildeem o texto se organizam de modo a mostrar o que o

autor natildeo gosta o que gosta e o porquecirc de bloquear pessoas ndash mas na rede social natildeo fazendo

o comparativo com a vida real

Quadro 18 ndash Produccedilatildeo final Arlindo ndash Tiacutetulo Chato e natildeo eacute chato

1 Chato eacute uma pessoa botar besteira

2 no Facebook Por que isso eacute muito chato e

3 horriacutevel todo mundo ver vai laacute e comentar

4 mal do video ser legal eacute aquela pessoa que

5 vai laacute na casa da pessoa te daacute presente

6 sem vocecirc pedir nada sem vocecirc falar nada

7 no final soacute agradecer e ser feliz com o presente e

8 depois no outro dia soacute retribuir

9

10 Meu caro amigo legal e chato eacute

11 ser como uma pedra ajuda a parar o

12 tracircnsito e depois eacute chato porque as

13 pessoas tropeccedilam nelas e meus irmatildeos

14 legal e chato satildeo quase a mesma coisa

15 soacute que satildeo meios diferentes eu vou te

16 explicar

17 Ser chato eacute coisa possiacutevel e ser legal eacute

18 coisa quase impossiacutevel Fonte Dados da pesquisa

O aluno Arlindo manteve seu tiacutetulo e percebemos que a explicaccedilatildeo para o mesmo

seria transmitir a ideia de ldquochato e natildeo chatordquo ndash ou legal O verbo ser que aparece no tiacutetulo

como eacute deveria ter sido empregado de outra maneira como quando sugerimos ldquoEacute chato e natildeo

107

eacute chatordquo ou ldquoO que eacute chato e o que natildeo eacute chatordquo ou ldquoChato e legalrdquo No rascunho que Arlindo

fez ele empregou como tiacutetulo provisoacuterio ldquoO que eacute chato e o que eacute legalrdquo Poreacutem na hora de

passar a limpo e entregar permaneceu o tiacutetulo original

O autor Arlindo manteve seu foco nas redes sociais como indica a instruccedilatildeo e

amplia um pouco as ideias a partir das discussotildees que aconteceram na aula durante a

tempestade de ideias a fim de redespertar o olhar dos alunos para partirem de situaccedilotildees

vividasobservadas Nas linhas de 10 a 13 ele faz uma comparaccedilatildeo com a pedra fruto da

discussatildeo preacutevia Dependendo do ponto de vista a pedra pode ajudar bem como pode

atrapalhar Poreacutem nas linhas 15 e 16 Arlindo fica de explicar o porquecirc de ser chato e ser legal

serem quase a mesma coisa e termina o texto abruptamente sem desenvolver suas ideias

Houve uma evoluccedilatildeo no tocante agrave conversa com o leitor Embora Arlindo natildeo tenha

claro se sua audiecircncia eacute uma pessoa soacute (linha 10 Meu caro amigo) ou um grupo de pessoas

(linha 13 e meus irmatildeos linhas 15 e 16 eu vou te explicar) ele jaacute a chama a prestar atenccedilatildeo

no que estaacute se propondo a dizer em seu texto

Quadro 19 ndash Produccedilatildeo inicial Juacutelia ndash Tiacutetulo Ser chato ou ser legal

1 Ai meu Deus tou de saco cheio de tantos amigos

2 chatos eles ficam com chatice toda hora

3 se na vida tivesse um botatildeo para bloquear

4 as pessoas chatas seria otimo pelomenos

5

6 Eu ficaria com menos pessoas chatas ao

7 meu redor Ai soacute ficaria as pessoas

8 legais

9

10 Eu chamo meus amigos de chatos mais

11 eu gosto deles assim mesmo Eu chamo

12 meus amigos de chatos e eles me chamam

13 de chata tambeacutem e se existisse o botatildeo

14 de bloquear Eu ia ser bloqueada tambeacutem

15 Mesmo se existisse o botatildeo muitas pessoas

16 iam mudar de comportamento eles iriam

17 querer ser legais para natildeo serem bloque-

18 ados Eu mesma ia mudar de atitudes

19 com meus amigos Eu natildeo ia mais

20 ser chata como vaacuterias pessoas me

21 chama Fonte Dados da pesquisa

108

Na linha 1 vemos que a aluna utilizou a expressatildeo Ai meu Deus retirada do texto

trabalhado e que daacute suporte agrave instruccedilatildeo A aluna faz uso da linguagem coloquial na mesma linha

(tou de saco cheio) caracteriacutestica permitida na abordagem de nossas crocircnicas literaacuterias

Eacute interessante perceber que Juacutelia apoacutes se avaliar como chata faz uma reflexatildeo

(linhas 13-14 ldquoe se existisse o botatildeo de bloquear Eu ia ser bloqueada tambeacutemrdquo) E trata da

questatildeo falando de possiacuteveis alteraccedilotildees no comportamento das pessoas incluindo o seu proacuteprio

No entanto apesar de ela levantar essa reflexatildeo natildeo a direciona diretamente ao leitor poreacutem

tem em mente mesmo que superficialmente que sua audiecircncia estaacute nos paracircmetros indicados

pela instruccedilatildeo visto que menciona o botatildeo de bloquear caracteriacutestico de ambientes virtuais

sendo conhecido portanto de pessoas que tecircm acesso ao mundo digital

Quadro 20 ndash Produccedilatildeo final Juacutelia ndash Tiacutetulo Pessoas chatas e pessoas legais

1 Como existem pessoas chatas que ficam

2 dando bola para o que as pessoas falam

3 fica reclamando da vida e tambeacutem quer tudo

4 do seu jeito Natildeo daacute certo ser amiga desse

5 tipo de pessoa

6

7 Prefiro aqueles amigos que sabe lidar

8 comigo que datildeo carinho e que natildeo fique

9 reclamando de tudo e que natildeo sabe relevar

10 os problemas como se nada tivesse acontecendo

11

12 Eu gosto daquelas pessoas que chamam os

13 amigos para um passeio isso sim eacute ser

14 legal tem alguns tipos de amigos que fazem

15 de tudo pra ver seus amigos felizes

16

17 existem alguns amigos que falam

18 com vocecirc uma hora e depois taacute falando

19 mal de vocecirc esse tipo de pessoa faz isso

20 porque eacute falso e tem inveja soacute porque

21 vocecirc eacute feliz com seus amigos e ele (a)

22 natildeo

23

24 e vocecirc leitor Vocecirc eacute chato ou legal

25 Eu tenho poucos amigos mas os que

26 tenho satildeo os melhores

27

28 as pessoas gostam de vocecirc como

29 vocecirc eacute ou natildeo

30

31 Existem ateacute aquele tipo de pessoa

109

32 que humilha as pessoas nas redes

33 sociais pessoas que fazem bullying

34 com outras pessoas esse tipo de pessoa

35 satildeo muito chatas Fonte Dados da pesquisa

A aluna produziu sua nova versatildeo de texto sobre as discussotildees em sala de aula que

antecederam esse momento da reescrita Os alunos determinaram exemplos do que seria ser

legal e ser chato e ela os aproveitou na enumeraccedilatildeo em seu texto No entanto de alguma forma

Juacutelia imprimiu sua reflexatildeo pessoal sobre o que eacute legal e o que eacute chato Nas linhas 1-5 ela afirma

o quatildeo difiacutecil eacute ser amiga de pessoas que atribuem muita importacircncia ao que outras pessoas

dizem que ficam reclamando da vida e tambeacutem querem tudo do seu jeito Nas linhas 7-10 e

12-15 ela explicita suas preferecircncias por pessoas que considera legais e exemplifica Nas linhas

17-22 Juacutelia diz que tipo de pessoas satildeo chatas novamente

Poreacutem o que parece ter acontecido eacute que Juacutelia natildeo teria ainda compreendido que

era para partir de uma experiecircncia vivida ou observada aprofundando-se um pouco mais na

narrativa

Ao todo o texto comporta agora 7 paraacutegrafos que poderiam ter sido mais bem

organizados Nas linhas 24-29 A7 aborda sua audiecircncia diretamente tratando-a por vocecirc

lanccedilando-lhe perguntas Esse seria o momento em que o texto acabaria poreacutem convidada a

reler mais uma vez a autora percebeu que natildeo abordou a proposta da instruccedilatildeo que era bloquear

os chatos da vida real nem havia tambeacutem abordado questotildees tocantes agraves redes sociais

finalizando portanto com um paraacutegrafo que fizesse o resgate ainda a tempo mesmo que

perdendo um pouco do ritmo do texto

Quadro 21 ndash Produccedilatildeo inicial Vicente ndash Tiacutetulo A pergunta eacute se eu bloquearia uma pessoa chata

1 Bom gente vocecirc bloquearia uma pessoa

2 chata que bertuba-se voccedilecirc nas redes

3 sociais

4

5 A pergunta eacute se eu bloquearia uma pess-

6 oa chata ovio que sim por que Por que

7 se eu natildeo bloqueaccedile essa pessoa ia ficar

8 mim perturbandando ai eu ia ficar com

9 muita raiva ai eu ia falar aquelas coisas

10 maeducada como xingar fala coisas que natildeo

11 pode falar porisso eu bloquei essa pessoa

12 ai ateacute que foi bom bloquear essa pessoa

110

13 por que ela natildeo ia ficar mim perturbando natildeo

14 ia ficar falando como tomar certas liberdades

15 mas chegou uma hora que natildeo deu bloquei o

16 sujeito Estava chato demais Xxxx

17

18 Uma pessoa chata eu sou uma pessoa

19 chata por que quando eu estou no whats

20 natildeo tem nenhuma pessoa olaine eu fico man-

21 dando mensagens pra essas pessoa ai essa pes-

22 soas natildeo gosta e fala que eu sou chato triste

23 neacute kkkk Fonte Dados da pesquisa

Parece-nos que Vicente tem por meacutetodo iniciar a escrita de seu texto respondendo

diretamente agrave pergunta que foi feita na instruccedilatildeo e fazendo disso seu tiacutetulo inclusive Serafini

(2003 p 71) chama a esse tipo de paraacutegrafo de introduccedilatildeo-enquadramento (cf na seccedilatildeo sobre

escrita) O texto inteiro possui 3 (trecircs) paraacutegrafos

Nas linhas 14 a 16 vemos que houve coacutepia de excertos do texto motivador O chato

da vez (ldquotomar certas liberdadesrdquo ldquomas chegou uma hora que natildeo deurdquo ldquobloquei o sujeito

Estava chato demaisrdquo)

No iniacutecio do texto logo nas linhas 1-2 Vicente tem em mente uma audiecircncia como

vemos em ldquoBom gente vocecirc bloquearia uma pessoa chata que bertuba-se voccedilecirc nas redes

sociaisrdquo Poreacutem o aluno natildeo define se vai falar a um grupo (gente) ou a uma pessoa soacute (vocecirc)

Para atender agrave instruccedilatildeo Vicente trata de situaccedilotildees vividas em ambiente online quando se

refere ao aplicativo de interaccedilatildeo (linha 19 ldquoquando eu estou no whatsrdquo) fala do envio de

mensagens e traz um elemento multimodal ao final de seu texto (linha 23 ldquokkkkrdquo) que

caracteriza a gargalhada frequentemente usada em conversas online

Quadro 22 ndash Produccedilatildeo final Vicente ndash Tiacutetulo

1 Bom uma pessoa legal eacute ter paciensia

2 criativa uma pessoa legal animada inteligente

3 adoraveu feliz simpatica bom humor natildeo ser

4 groseiro com as pessoas simpatica conversar com

5 as pessoas legal

6

7 Ser chato Eacute uma pessoa que faz varias

8 perguntas como quando onde que horas etc

9 ser chato e pegar no peacute de varias pessoas e ser

10 ensorportavel pessoas chatas deveriam refletir

11 sobre a paciecircncias das outras pessoas uma

111

12 pessoa que tem pouca paciecircncia e bem

13 difiacutecil conviver com uma pessoa chata

14

15 Um chato ser legal e muito estranho

16 para queacutem conhece uma pessoa chata e bem

17 dificil ele ser legal soacute se acontecer aguma

18 coisa para ele ser legal um dia uma meni-

19 na ficou fazendo vaacuterias perguntas sobre a minha

20 vida natildeo gostava das perguntas que ela fazia

21 e falei coisa que natildeo devia no outro dia eu notei

22 o comportamento dela estava estranho tipo compor-

23 tada legal uma pessoal de bom humor natildeo parecia

24 com ela estava estranha e foi indo assim

25 e ela veio falar com migo e nunca mais per aquelas

26 perguntas hoje ela eacute legal gostei dela ter

27 mudado natildeo soacute eu mas muitas pessoas Fonte Dados da pesquisa

Vicente iniciou seu texto reescrito apoacutes as discussotildees em sala retirando a pergunta

direta que fazia para inspirar-se para comeccedilar e passando a uma conclusatildeo direta (linha 1

ldquoBomrdquo) sobre as caracteriacutesticas de uma pessoa legal seguindo a isso um paraacutegrafo do que eacute ser

chato Apesar de o texto ter perdido em atratividade em seu iniacutecio Vicente atendeu agrave sugestatildeo

que fizemos quando pedimos que ele mencionasse uma situaccedilatildeo que tivesse

vivenciadoobservado

No entanto perdeu de vista a instruccedilatildeo uma audiecircncia que acesse as redes sociais

a questatildeo do bloquear na vida real o contato direcionado ao leitor

Quadro 23 ndash Produccedilatildeo inicial Graccedila ndash Tiacutetulo Rafaelly chata

1 Eu quero bloqueia essa

2 pessoa porque primeiramente

3 ela natildeo tem nem celula

4 entatildeo neste caso natildeo da pra bloqueia

5 ela As vezes essa pessoa ela e

6 um pouco chata fresca e sem

7 graccedila com todo respeito Algumas

8 vezes ela fala um pouco de

9 besteira e isso torna ela uma

10 pessoa chata Eu conheci essa

11 pessoa na escola so que agora

12 ela natildeo tem a mesma idade

13 que eu tenho a uacutenica rede social

14 que ela tem e o Facebook

15

112

16 Mais mi responde leitor o que

17 vocecirc acha sobre as pessoas

18 chatas

19

20 Pensando bem ela e uma

21 pessoa muito legal toda doidi-

22 nha amigaacutevel e amorosa etc

23 O que eu gosto mais nela

24 e que ela e sincera e indireta

25 e eacute bom de dar conselhos por

26 isso que eu amo a chatice

27 dela e ela se chama Rafaelly Fonte Dados da pesquisa

Neste texto a autora faz uma reflexatildeo sobre a amiga partindo de uma ideia inicial

que eacute a chatice da Rafaelly para a consideraccedilatildeo dos pontos positivos que a mesma Rafaelly tem

(ldquoPensando bemrdquo)

Houve uma maacute interpretaccedilatildeo da instruccedilatildeo quanto ao entendimento do que seria

bloquear uma pessoa na vida real como comprovamos nas linhas 2-5 ldquoprimeiramente ela natildeo

tem nem ceacutelula entatildeo neste caso natildeo da pra bloqueia elardquo

Nas linhas 16-18 A9 tem em mente uma audiecircncia como vemos em ldquoMais mi

responde leitor o que vocecirc acha sobre as pessoas chatasrdquo

Quadro 24 ndash Produccedilatildeo final Graccedila ndash Tiacutetulo Chata ela ou EU

1 Mi responde leitor o que

2 vocecirc acha sobre as pessoas cha-

3 tas

4

5 E vocecirc leitor Vocecirc e chato

6

7 Certo dia uma amiga veio

8 falar um monte de bobagens coisa-

9 s que natildeo tinha nada haver

10 ou seja coisas sem graccedilas Eacute eu

11 disse vocecirc e muito chata sabia

12 Ela falou ndash vocecirc tambeacutem fiquei

13 brava

14

15 Logo seguinte eu queria

16 bloquea ela porque tinha mi

17 chamado de chata mas tinha

18 um problema era que primeira-

19 mente ela natildeo tinha nem

113

20 celular entatildeo neste caso natildeo da-

21 va para bloquea o unico lugar

22 que dava pra bloquea ela era

23 no Facebook

24

25 Mais pensando bem ela

26 e uma pessoa muito legal to-

27 da doida amigavel e amorosa etc

28 O que eu acho legal nela e a sinceridade dela ajuda as

29 pessoa sabe releva os problemas

30

31 Natildeo vou nega que tambeacutem

32 sou uma pessoa chata Fonte Dados da pesquisa

Nas linhas 1-3 e linha 5 Graccedila teve em vista uma audiecircncia como vemos em ldquoMi

responde leitor o que vocecirc acha sobre as pessoas chatasrdquo e ldquoE vocecirc leitor Vocecirc e chatordquo Em

sua reescrita a aluna se comunica com o leitor de forma expliacutecita inspirada no modelo do texto

O chato da vez

Percebemos que ela atendeu a sugestatildeo de partir de uma situaccedilatildeo vividaobservada

para compor sua crocircnica (linha 7 ldquoCerto dia uma amiga []rdquo) desenvolvendo seu texto no

sentido de apresentar a seu leitor sua ideia do que eacute ser chato e ser legal a partir do que expotildee

e conduz seu fio tocando na instruccedilatildeo que sugere a inspiraccedilatildeo de bloquear uma pessoa na vida

real Poreacutem percebemos que ela natildeo extrapolou os limites do ambiente virtual criando uma

situaccedilatildeo de botatildeo de bloqueio da vida real para evitar as pessoas que ela considera chatas mas

condicionando o bloqueio meramente agraves redes sociais

Quadro 25 ndash Produccedilatildeo inicial Lilian ndash Tiacutetulo Meus amigos chatos e Eu

1 Eu tenho um amigo muito chato ele

2 fica o tempo todo pegando no

3 meu peacute as vezes eu comeccedilo

4 a chamar ele de chato ai ele

5 fica uns dias estranho comigo

6 mas depois agente comeccedila

7 se falar de novo

8

9 Eu queria pra existir um

10 botatildeo pra bloquear meus amigos

11 chatos porque eles pegam muito

12 no meu peacute eu chama eles

13 de chatos mas eu tambeacutem sou

14 chata e muito chata se existisse

114

15 o botatildeo pra bloquear as pessoas

16 chatas eu tambeacutem ia ser bloqueada

17 porque eu sou muito chata eu

18 natildeo queria ser chata eu queria

19 ser legal eu sou chata porque

20 quando eu comeccedilo falar eu natildeo

21 quero parar ai minhas amigas

22 ficam dizendo que eu sou muito

23 chata mais mesmo assim sou

24 feliz Fonte Dados da pesquisa

Lilian parte de uma situaccedilatildeo vivenciada (linhas 1-7) em que fala de um amigo

muito chato e usa a expressatildeo ldquopegar no peacuterdquo como em O chato da vez Nas linhas 17 a 24

Lilian tambeacutem diz porque ela seria uma pessoa chata ndash comeccedila a falar e natildeo quer parar Por

isso ela desejaria o botatildeo de bloquear na vida real como dito na questatildeo 7 que traz a instruccedilatildeo

de produccedilatildeo No entanto as situaccedilotildees natildeo estatildeo bem desenvolvidas e natildeo prendem o leitor que

aliaacutes natildeo eacute inserido no texto na ldquoconversa com o leitorrdquo Natildeo observamos uma percepccedilatildeo clara

da ideia de redes sociais

Quadro 26 ndash Produccedilatildeo final Lilian ndash Tiacutetulo Pessoas legais e chatas

1 Existem pessoas chatas e

2 outras legais conheccedilo alguns amigos que

3 satildeo um pouco chatos porque eles

4 ficam reclamando da vida eles ficam

5 dando importacircncia para os que os

6 outros falam desse jeito natildeo daacute

7

8 Mais eu tenho alguns amigos

9 que vivem fazendo piadas para seus

10 amigos Gosto do jeito que eles tratam

11 seus amigos eles levam eles pra

12 um passeio levam para o cinema

13 datildeo carinho sabem relevar os problemas

14 mas eu conheccedilo uns que falam comigo

15 mas depois tatildeo falando mal de mim

16 pela minha costa

17

18 Eu me acho uma pessoa

19 muito chata porque eu gosto

20 de tudo do meu jeito reclamo de

21 tudo dou importacircncia pra tudo

22 que as pessoas falam mais

115

23 as vezes eu soacute um pouco legal

24 com minhas amigas E vocecirc leitor

25 eacute chato ou legal as pessoas gostam

26 de vocecirc Fonte Dados da pesquisa

Apoacutes a tempestade de ideias da aula destinada agrave reescrita Lilian produziu 3 (trecircs)

paraacutegrafos e dedicou um a mostrar o que eacute ser chato e o seguinte ao que eacute ser legal em sua

opiniatildeo Na reescrita a aluna jaacute considera a audiecircncia conversando com o leitor (linhas 24-26)

poreacutem se distancia do que consta na instruccedilatildeo que eacute o bloqueio na vida real imitando as redes

sociais Ainda percebemos repeticcedilotildees de palavras que poderiam se tivesse havido uma nova

leitura ter sido evitadas

Podemos dizer que Lilian nos permite refletir sobre o comportamento humano

quando diz ldquomas eu conheccedilo uns que falam comigo mas depois tatildeo falando mal de mim pela

minha costardquo (linhas 14-16) poreacutem ela natildeo desenvolve a ideia apropriadamente no paraacutegrafo

seguinte como ela mesma havia dito em sala que falam mal dela porque ela tem o gecircnio difiacutecil

como ela descreveria em ldquoeu gosto de tudo do meu jeitordquo (linhas 19-20) De algum modo

podemos dizer que esse desdobramento de paraacutegrafos jaacute eacute uma evoluccedilatildeo na escrita de Lilian

Quadro 27 ndash Produccedilatildeo inicial Heloiacutesa ndash Tiacutetulo ldquoChato mais eacute muito legalrdquo

1 Tenho um amigo que ele eacute legal

2 mas tambeacutem eacute chato ao mesmo

3 tempo mais gosto da companhia

4 dele Mais quando chega a chatice

5 natildeo da pra aguentar ele comeccedila

6 a fala fala e fala eacute senpre o

7 mesmo assunto algo que natildeo

8 gosto ldquojogordquo

9

10 Taacute toda hora mandando mensage-

11 m daacute raiva mas neacute

12 Somos muito amigo nas

13 redes sociais posta fotos toda

14 hora Mas eacute muito legal sempre

15 faz brincadeiras pelo zapp

16

17 Eu poderia bloquialo mais

18 eacute muito legal telo como amigo

19

20 Gosta de pegar no meu peacute

21 quando o assunto eacute estudo mim

116

22 da sempre vaacuterios concelhos

23

24 Por mais que seja meu amigo vocecirc

25 eacute muito chatooo Fonte Dados da pesquisa

O texto foi escrito em 5 (cinco) paraacutegrafos Natildeo traz marcas explicitas de conversa

com o leitor e haacute um tangenciamento do que pede a instruccedilatildeo visto que a autora falou de

bloqueio No entanto natildeo houve real compreensatildeo do botatildeo de bloqueio da vida real visto que

ela se refere a um bloqueio nas redes sociais Percebemos o uso do coraccedilatildeo ao fim do penuacuteltimo

paraacutegrafo (linha 22) como sendo um recurso multimodal utilizado em meio virtual para

demonstrar agrado agrave ideia (curti)

Houve neste texto uma mudanccedila de interlocutor Inicialmente voltado para uma

audiecircncia mesmo que natildeo se dirigisse diretamente ao leitor o texto passou a ser direcionado

para o amigo chato de Heloiacutesa

Haacute a frequente repeticcedilatildeo do termo mas poreacutem sem uma forma consolidada de uso

visto que Heloiacutesa emprega mas e mais alternadamente

Quadro 28 ndash Produccedilatildeo final Heloiacutesa ndash Tiacutetulo ldquoO melhor chatordquo

1 Vol falar um pouco do meu

2 amigo

3

4 Ele se chama Daniel ele eacute uma

5 boa pessoa estaacute sempre mi

6 ajudando eacute um bom amigo e mim

7 da sempre forccedila pra tudo gosto

8 muito da conpanhia dele

9

10 E vocecirc leitor Vocecirc eacute chato

11

12 Somos chatos tenho 15 anos e sei

13 que chatise eacute estado de espirito

14

15 Ele eacute chato em vez enquando

16 ele eacute muito quando ele me

17 ajuda em algo ele mim trata

18 surper bem ele mim dar muito

19 carinho ele mim oferece cumida

20 quando estou na casa dele

21 natildeo gosta de criticar as pessoas

22

117

23 Ele eacute chato quando reclama

24 de tudo quer tudo do seu jeito

25 que ele conbina da ouvidos a

26 tudo o que falam ele fala demais Fonte Dados da pesquisa

Essa aluna se valeu do que discutimos em sala no dia em que propusemos a reescrita

sobre o que poderiam ser atitudes de uma pessoa legal A turma presente enumerou accedilotildees como

dar carinho oferecer comida ouvir as pessoas atenciosamente tratar bem natildeo criticar as

pessoas como sendo de pessoas legais ao passo que reclamar de tudo soacute querer as coisa do seu

jeito dar ouvidos a fofocas e falar demais como sendo atitudes de pessoas chatas Mencionar

um amigo e descrever atitudes dele eacute um princiacutepio do que conversamos sobre fornecer a

descriccedilatildeo de alguma pessoa e narrar uma situaccedilatildeo No entanto a aluna natildeo aprofundou a

descriccedilatildeo das caracteriacutesticas do amigo ndash apenas nomeou ndash e nem narrou a situaccedilatildeo sugerida

A reescrita foi feita em 6 (seis) paraacutegrafos dentro do que sugere a instruccedilatildeo O seu

primeiro traz uma introduccedilatildeo que chama a atenccedilatildeo preparando o leitor para o que vem a seguir

no texto Consideramos um avanccedilo no sentido de que Heloiacutesa jaacute parece ter feito um plano

melhor de escrita o que pode se consolidar em propostas futuras O segundo paraacutegrafo foi clara

paraacutefrase do texto motivador ldquoO chato da vezrdquo (linhas ldquosei que chatise eacute estado de espiritordquo)

Percebemos diminuiccedilatildeo nas repeticcedilotildees desnecessaacuterias

Na PF a aluna manteve o foco narrando o que lhe acontece descrevendo seu

amigo sem deixar o leitor para conversar com este amigo

Quadro 29 ndash Produccedilatildeo inicial Eliane ndash Tiacutetulo Um pouco de tudo

1 Ai gente nesse mundo agrave

2 muitas pessoas chatas

3 pois eu conheci pessoas

4 chatas e legais

5

6 Na adolecircncia conhecemos

7 pessoas numa pat-papo com

8 os amigos conheci uma

9 amiga pois conversamos e

10 ali natildeo parou mais de

11 falar

12

13 Num sentido e que ela

14 era muito cheia de

15 nheacutem-nheacutem de papo nada

16 ver O egrave o meu pensamento

118

17 que mim engana Mais eu

18 natildeo acho ela chata

19

20 De um tempo pra caacute nos

21 damos muito bem parti-

22 cularmente nos casos eu e ela

23 descordamos de tudo que

24 falamos mas eu acho que

25 duas chatas se dam muito

26 bem Na vida real parece um

27 mundo digital nos natildeo

28 paramos para pensamos nos

29 casos da vida social pessoas

30 postam coisas invalida na

31 rede sociais Fonte Dados da pesquisa

Para a produccedilatildeo inicial Eliane buscou elementos dos textos que lemos em sala De

Prova Falsa percebemos o uso da expressatildeo ldquoera muito cheia de nheacutem-nheacutemrdquo (linhas 14-15)

quando quis falar da amiga com comportamentos chatos De O chato da vez a partiacutecula ldquoAirdquo

como em ldquoAi genterdquo (linha 1) logo no iniacutecio mostra que o texto tem ares coloquiais com

linguagem despojada

Atraveacutes da coloquialidade Eliane se dirige ao leitor poreacutem ficou confuso o

desenvolvimento do tema na conversa proposta na instruccedilatildeo que seria o bloqueio das pessoas

na vida real No tocante ao assunto abordado na instruccedilatildeo Eliane fala de ser chato e ser legal

e menciona as redes sociais poreacutem seu texto entre as linhas 26 e 31 (ldquoNa vida real parece um

mundo digital nos natildeo paramos para pensamos nos casos da vida social pessoas postam coisas

invalida na rede sociaisrdquo) natildeo teve desenvolvimento quebrando assim a coerecircncia

Quadro 30 ndash Produccedilatildeo final Eliane ndash Tiacutetulo O que e chato e o que e legal

1 Ai gente eu sou muito chata

2 Afirmou uma amiga em um bate-papo

3 com os colegas Eu natildeo te acho chata

4 vc e uma pessoa carinhosa aceitar

5 as diferenccedilas dos outros

6

7 Pois eacute muitas pessoas tem suas referen-

8 ccedilas mas isso natildeo quer dizer que

9 todos que estatildeo aqui satildeo chatos

10 Adriana ela e companheira Delci e

11 carinhosa

119

12

13 Mais alguns tem outro estorico de

14 pensamento por exemplo O Luis reclamar

15 demais Rosi e falza Eu particularmente

16 faccedilo de tudo pra natildeo ser chata

17 tento conversar da maneira possiacutevel

18 ajudar as pessoas em tudo quer

19 posso

20

21 Por isso tem um sentido de tudo

22 seja o que vc eacute natildeo o que as

23 pessoas queram o que vc sejam

24 mas que seja uma pessoa dignar Fonte Dados da pesquisa

A PF de Eliane possui tiacutetulo agora mais direcionado agrave instruccedilatildeo visto que a aluna

considerou falar a respeito do que para ela eacute ser chato e o que eacute ser legal O primeiro paraacutegrafo

do texto (linhas 1-5) eacute uma paraacutefrase do paraacutegrafo inicial do texto motivador poreacutem conteacutem o

teor da tempestade de ideias realizada antes da produccedilatildeo

O paraacutegrafo seguinte eacute interessante porque traz em si a ideia de ponto de vista e

toleracircncia afinal todos tecircm defeitos (ldquomas isso natildeo quer dizer que todos que estatildeo aqui satildeo

chatosrdquo linhas 8-9) mas qualidades tambeacutem (ldquoAdriana ela e companheira Delci e carinhosardquo

linhas 10-11) Houve uma evoluccedilatildeo na organizaccedilatildeo dos paraacutegrafos

Houve emprego adequado dos sinais de pontuaccedilatildeo dois-pontos e a viacutergula como

em ldquopor exemplo O Luis reclamar demais Rosi e falzardquo (linhas 14-15)

Eliane em sua reescrita atendeu agrave sugestatildeo de utilizar exemplos podendo colocar

personagens no seu texto No entanto percebemos que ela ainda natildeo compreendeu que para

tanto seria necessaacuterio mais que apenas nominar pessoas e adjetivaacute-las mas realmente fazer um

exerciacutecio de descriccedilatildeo mais detalhado fazendo seu leitor compreender por que ldquoO Luis

reclamar demaisrdquo (linhas 14-15) e a ldquoRosi e falzardquo (linha 15) por exemplo

Quanto agrave audiecircncia Eliane entende que conversa com um leitor como vemos por

exemplo em ldquoseja o que vc eacute natildeo o que as pessoas queram o que vc sejamrdquo (linhas 22-23)

poreacutem natildeo manteacutem o foco visto que mistura a audiecircncia com o personagem ldquoEu natildeo te acho

chata vc e uma pessoa carinhosardquo (linhas 3-4)

O texto natildeo atende agrave proposta de considerar o botatildeo de bloqueio na vida real como

consta da instruccedilatildeo

120

Quadro 31 ndash Produccedilatildeo inicial Joana ndash Tiacutetulo Pessoas chatas e outras legal

1 Pessoas chatas tem muitas pessoas que diz

2 que a outra e chata tem pessoas chata satildeo

3 aquelas que fazem muitas perguntas que saber

4 da vida do outro essas pessoas se torna muito chata

5

6 Muitas pessoas no Facebook que eu natildeo gosto de aceita

7 porque jaacute cei que ela e muito chato jaacute bloquei

8 muitas pessoas nesse caso de se chato deacute mas

9 porque fica mandando mensagem sem noccedilatildeo que

10 rendo saber da sua vida isso que eacute chato

11 pra mim pessoas que tu natildeo suporta se fose

12 eu bloquairia case todo mundo

13

14 Pra mim pessoas legal e aquelas que teu

15 jaacute persebe pelo jeito dessa pessoa eu tenho

16 uma amizade muito legal pra mim eu sou

17 uma menina que faso amizade muito raacutepdo

18 mas as mizades que eu fasso eu percebo logo

19 se essa amizade vai ser boa ou natildeo tenho mui

20 tas pessoas no face que eu acho legal que satildeo

21 boa de se se conversa natildeo faiz ldquomuitas perguntasrdquo

22 e muito bom ter uma amizade legal

23 pessoas legais satildeo oacutetimas de conversa natildeo tir inte

24 ronper quando tu taacute falando essa que satildeo pra

25 mim pessoas legais eu acho que tenho

26 muitas pessoas legal Fonte Dados da pesquisa

Podemos dizer que Joana criou seu texto em trecircs paraacutegrafos apesar de natildeo haver

um ponto para demonstrar se era realmente o final ou se ela desejava continuar escrevendo

Aliaacutes seus paraacutegrafos natildeo trazem pontuaccedilatildeo mostrando que o fluxo das ideias foi contiacutenuo

natildeo havendo o procedimento de elaboraccedilatildeo do rascunho para a seguir passar a limpo

concatenando melhor as ideias

Seu tiacutetulo natildeo foi atrativo poreacutem foi relativo ao assunto da instruccedilatildeo Em se

tratando do desenvolvimento do tema a aluna tem em mente o que eacute ser chato e o que eacute ser

legal poreacutem natildeo extrapola na compreensatildeo visto que desenvolve um paraacutegrafo descrevendo

seu procedimento na rede social natildeo fazendo a analogia com a vida real e o botatildeo de bloqueio

Natildeo houve a consideraccedilatildeo da audiecircncia nem a conversa com o leitor pedida na

instruccedilatildeo

121

Quadro 32 ndash Produccedilatildeo final Joana ndash Tiacutetulo Pessoas otimas

1 Ser legal e vocecirc tendo humildade com

2 uma pessoa ajuda ela em tudo que vocecirc

3 porde ter um pouco de paciecircncia com essa

4 pessoa vocecirc tecircm que ter amor por ela eacute com-

5 sidera ela como sua amiga ou irmatildeo tecircm

6 varias coisas pra vocecirc ser torna uma otima

7 pessoa Pra mim ser legal com migo eacute min

8 trata bem o que eu perdi tem que min da

9 e se min dar todo dia uma caixa de bombo

10 Garoto esse se torna oacutetimo pra mim

11

12 pessoas chatas e aquela que critica muito

13 as pessoas natildeo sabendo da vida dela sair

14 falando dela pra todo mundo chato e

15 aquela que quer saber de mais da sua

16 vida se torna iguinorante ETC temos que

17 ter mas um pouco de humo com essas

18 eu natildeo suporto pessoas chata se puder

19 nem fala com migo seria melhor ainda Fonte Dados da pesquisa

Apoacutes a tempestade de ideias da aula destinada agrave reescrita Joana reescreveu seu

texto em dois paraacutegrafos dedicando um a mostrar o que eacute ser chato e o seguinte ao que eacute ser

legal em sua opiniatildeo No entanto natildeo parece ter compreendido que natildeo bastava elencar

situaccedilotildees do que eacute ser chato e ser legal mas contar narrar situaccedilotildees vivenciadas ou observadas

a fim de entreter seu leitor

Na reescrita a aluna natildeo considera a audiecircncia visto que seu texto parece mais

trazer em si opiniotildees sem incitar reflexotildees Joana se distancia do que consta na instruccedilatildeo que

eacute o bloqueio na vida real imitando as redes sociais apenas afirma nas linhas 18-19 que ldquoeu

natildeo suporto pessoas chata se puder nem fala com migo seria melhor aindardquo Seu tiacutetulo soacute tratou

agora de um lado do comportamento humano (ldquoPessoas otimasrdquo) e deve ter sido colocado apoacutes

a finalizaccedilatildeo do texto quando foi verificar se havia tiacutetulo

Assim apoacutes a anaacutelise dos textos A dos alunos percebemos a evoluccedilatildeo dos itens

presentes e os distribuiacutemos no quadro autoavaliativo

Durante a produccedilatildeo dos textos observamos os alunos presentes procurando

perceber algo sobre seu processo de planejamento de escrita O que foi detectado nas primeiras

produccedilotildees poucos deles fizeram um rascunho antes de escreverem na folha de produccedilatildeo

recebida alguns textos jaacute deram sinais de que alguns alunos entenderam o que eacute a ldquoconversa

122

com o leitorrdquo alguns partiram de uma situaccedilatildeo vividaobservada para compor seu texto no

entanto mais parecendo um relato pessoal ou um diaacuterio pessoal do que uma abordagem de

crocircnica poucos narraram essa situaccedilatildeo de forma clara para que o leitor pudesse acompanhar

poucos posicionaram o foco narrativo de maneira adequada vaacuterios apenas tangenciaram a

proposta de produccedilatildeo Essas dificuldades constituiacuteram o cerne a ser explorado nas atividades

dos moacutedulos aplicados nos encontros da sequecircncia

Podemos estabelecer um graacutefico para melhor visualizaccedilatildeo dos resultados ateacute essa

etapa

Graacutefico 7 ndash Avaliaccedilatildeo das crocircnicas A

Fonte Dados da pesquisa

Como vemos houve na maioria dos itens avaliados uma sensiacutevel melhora apesar

das dificuldades ainda apresentadas Percebemos que vaacuterios alunos ainda focam em apenas

alguns aspectos do texto que conteacutem a instruccedilatildeo de produccedilatildeo deixando de contemplar o todo

como por exemplo o botatildeo de bloquear na vida real ndash diversos alunos natildeo atingiram esse

objetivo no texto acreditamos que porque lhes faltou uma releitura direcionada para verificaccedilatildeo

de tudo o que havia sido pedido Isso nos mostra que os alunos ao tomarem contato com seus

textos de uma primeira produccedilatildeo escrita se orientados a ter um pouco mais de paciecircncia sem

a urgecircncia de entregar logo a tarefa e se incentivados a reler se autoavaliar e a ouvir sugestotildees

0

2

4

6

8

10

12

14

Avaliaccedilatildeo das crocircnicas A

PI PF

123

podem sim progredir no sentido de se tornarem escritores mais haacutebeis enquanto conscientes

das etapas que regem o processo de escrita de textos

532 Produccedilotildees B textos para circulaccedilatildeo social

A produccedilatildeo para circulaccedilatildeo social foi chamada de produccedilatildeo B e corresponde ao

trabalho com um puacuteblico que variou entre 4 (quatro) a 8 (oito) alunos frequentes dentre os

quais apenas 4 (quatro) produziram o texto para fins de circulaccedilatildeo social real Nesta etapa

foram realizados 5 (cinco) encontros com duraccedilatildeo de 10 (dez) horasaula e leitura de quatro

crocircnicas ineacuteditas para os alunos (A cara da rua A carta de punho Amor de Macumba e Sr

Google Pacheco) e atividades correspondentes

A leitura desses textos foi produtiva para a classe no sentido de compreender que

cada crocircnica traz em si o resultado da reflexatildeo que o cronista consegue realizar das situaccedilotildees

que vivencia ou observa Identificar as situaccedilotildees geradoras das crocircnicas lidas ao longo dos

moacutedulos fez parte do trabalho que conduziu os alunos a falar de vaacuterios assuntos que poderiam

tornar-se temas de textos Copiamos no quadro e eles nos cadernos Eram temas do cotidiano

como assalto relaccedilotildees sociais vida de youtuber bullying fome cujas situaccedilotildees jaacute

observadasvivenciadas por eles mesmos poderiam render uma reflexatildeo

Aparentemente a dificuldade maior dos alunos eacute em expressar essa situaccedilatildeo sem

que ora pareccedila um relato iacutentimo como diaacuterio ou memoacuterias pois a natural disposiccedilatildeo de seus

textos traz uma sequecircncia narrativa um relato de emoccedilotildees pessoais poreacutem natildeo necessariamente

conduz o leitor a uma reflexatildeo ora por vezes pause a narraccedilatildeo e interaja com o leitor por meio

de perguntas ou ainda faccedila um texto com forccedila injuntiva ou com moral da histoacuteria

Para a escrita e a reescrita do texto desta etapa a PF-B incentivamos nossos alunos

a utilizar o quadro autoavaliativo tocando nos pontos mais sensiacuteveis identificados desde a PI-

A Natildeo foi estipulado um nuacutemero de paraacutegrafos deixando os alunos agrave vontade para produzir

Consideramos como audiecircncia um puacuteblico leitor que tivesse sua idade aproximadamente que

entendesse seus problemas dilemas alegrias que fizesse parte de seu mundo frequentando a

escola tendo amigos observando qualidades boas do ser humano ou mazelas da vida podendo

esse puacuteblico acessar redes sociais ou natildeo De toda forma o ideal seria conversar com o leitor

sobre questotildees cotidianas situando-o no tempo e no espaccedilo da crocircnica O texto B foi

integralmente produzido em meio digital a pedido dos proacuteprios alunos por celular ou

computador conforme o material que tivessem disponiacutevel em matildeos e nenhum foi produzido

124

em sala limitado pelo horaacuterio de aula No entanto foi feito o acordo dos prazos de entrega de

cada texto a fim de podermos imprimir e levar para trabalho de leitura releitura feedback da

professora-pesquisadora feedback dos colegas permitindo a cada autor reflexatildeo sobre o texto

e possibilitando a reescrita

Os alunos que se engajaram na produccedilatildeo da crocircnica para circulaccedilatildeo social foram os

alunos Ana Rodrigo Eduardo e Estela Os tiacutetulos das produccedilotildees inicial e final estatildeo no quadro

a seguir

Quadro 33 ndash Tiacutetulos das produccedilotildees para circulaccedilatildeo social

Tiacutetulo PI-B PF-B

Ana PROIBIDA DE ACHAR

GRACcedilA

Rodrigo Vida de preguiccediloso VIDA DE PREGUICcedilOSO

Eduardo INFAcircNCIA FELIZ

Estela ldquoDown= bullyingrdquo DOWN= BULLYING

Fonte Dados da pesquisa

Esses textos diferentemente das produccedilotildees A foram escritos utilizando aparelhos

de celular O acordo foi feito com os alunos em virtude da preferecircncia destes em gostarem de

escrever utilizando-se da tecnologia facilitando o registro a releitura e a reescrita segundo eles

mesmos visto que o meio virtual tambeacutem atenderia a ideia da circulaccedilatildeo dos textos A anaacutelise

das produccedilotildees B estaacute descrita ao longo desta seccedilatildeo

Quadro 34 ndash PIB Ana

1

2

3

Que situaccedilatildeo Eacute o que penso ateacute hoje Pude presenciar um niacutevel de babaquice

e de falta do que fazer de uma garota da minha escola que pra ser sincera eu nem ao

menos sei o nome dela

4

5

6

7

8

Tava eu junto com mais quatro amigos na cantina da minha escola no

finalzinho do recreio estaacutevamos rindo e conversando como sempre Chegaram duas

meninas de outra sala que eu nunca falei nem sabia de onde saiacuteram natildeo sabia nada

sobre ela poreacutem sei que sabiam sobre mim coisas do tipo novata do 9 ano meio

doida duvido se natildeo sabiam ate meu nome Bem nem tava prestando atenccedilatildeo nelas

125

9

10

11

12

13

14

15

16

17

Quando meu amigo brincou eguas de novo Sorriu e depois pediu

desculpas logo que percebeu o tamanho das meninas e todo mundo riu quando ele

brincou EU JURO que fiquei seacuteria mas natildeo aguentei quando ele pediu desculpas

com medo de levar uns supapos Foi entatildeo que comecei a rir e umas das meninas olhou

pra mim com uma cara super ameaccediladora dizendo tu ta rindo do que Ta achando

graccedila eacute Cara tinha quatro pessoas aleacutem de mim QUATRO seacuterio que ela

enchergou soacute a mim ali Eacute ser muito babaca pra chegar em um ponto desse minha

uacutenica reaccedilatildeo foi natildeo pera ela taacute falando comigo serio isso Gente Qual o nome

dela algueacutem aqui a conhece SOCORRO

18

19

Ate hoje me pergunto qual o problema dela Mas prefiro nem chegar perto

Vai que essa doenccedila pega

Fonte Dados da pesquisa

O texto de Ana foi composto de 4 (quatro) paraacutegrafos Sua conversa com o leitor

natildeo eacute com elementos expliacutecitos como na instruccedilatildeo sugerida na produccedilatildeo A mas percebe-se que

ela se importa com uma audiecircncia visto que narra para uma pessoa explicando a situaccedilatildeo

vivenciada contando ao seu leitor suas impressotildees mostrando as falas que ocorreram dando a

perceber os outros personagens que entraram na histoacuteria

As notaccedilotildees linguiacutesticas para indicar intensidade surpresa e algumas viacutergulas estatildeo

razoavelmente bem empregadas como vemos em ldquoeguas de novordquo (linha 9) que separa a

expressatildeo de surpresa ldquoeacuteguasrdquo com uma viacutergula e finaliza a frase com interrogaccedilatildeo

acompanhada de exclamaccedilatildeo atribuindo maior intensidade agrave fala

Quadro 35 ndash PFB Ana ndash Tiacutetulo PROIBIDA DE ACHAR GRACcedilA

1

2

3

E que situaccedilatildeo Eacute o que eu penso ateacute hoje Pude presenciar um niacutevel de babaquice

e de falta do que fazer de uma garota da minha escola que pra ser sincera eu nem ao

menos sei o nome dela

4

5

6

7

8

9

Estava eu junto com mais quatro amigos na cantina da minha escola no

finalzinho do recreio Estaacutevamos rindo e botando conversa fora de boa na paz Entatildeo

duas meninas que eu natildeo conheccedilo ndash jaacute tinha ateacute visto as duas mas nunca tinha falado

com elas nem ao menos sabia o nome delas mas sei que elas sabiam de mim certeza

Aquele pessoal fala demais ndash chegaram e estavam repetindo o lanche Ateacute entatildeo nem

tava reparando na presenccedila delas

126

10

11

12

13

14

15

16

17

18

Foi quando meu amigo brincou nossa vatildeo repetir de novo Eu olhei entendi

e nem dei importacircncia nem quis rir pra natildeo arrumar confusatildeo Elas olharam pra ele

com uma cara bem ameaccediladora e ele se arrependeu e pediu desculpas Nessa hora eu

natildeo aguentei e ri poreacutem dele Pensei eita macho ficou com medo de levar uns

sopapos Todo mundo rindo Foi entatildeo que uma delas olhou pra mim me batendo

verbalmente tu taacute rindo de quecirc Taacute achando graccedila eacute Mano do ceacuteu essa menina

tem problema soacute pode Foi minha uacutenica reaccedilatildeo Com quatro pessoas aleacutem de mim ali

sorrindo e ela pergunta soacute pra mim Eacute ser muito babaca pra chegar a esse ponto seacuterio

isso Perguntei pros meus amigos ldquogente qual o nome dela Ela taacute falando pra mim

mesmo SOCORRO

19

20

Ainda bem que meus amigos estavam ali senatildeo eu tava ferradinha Ateacute hoje

me pergunto qual o problema dela Mas prefiro nem chegar perto Vai que isso pega

Fonte Dados da pesquisa

Os quatro paraacutegrafos tiveram uma reelaboraccedilatildeo mas mantiveram-se em mesmo

nuacutemero na PFB de Ana Seu tiacutetulo permaneceu o mesmo e tem a ver com o teor da crocircnica

Quanto ao uso da pontuaccedilatildeo houve inclusive utilizaccedilatildeo de novo recurso o entre

travessotildees a partir de uma sugestatildeo dada pela professora-pesquisadora que indica um adendo

de informaccedilotildees agrave ldquoconversardquo que a narradora conduziu

Pudemos perceber uma melhor descriccedilatildeo da ambientaccedilatildeo onde a situaccedilatildeo

vivenciada se passou consolidando o tempo do finalzinho do recreio situaccedilatildeo que durou muito

pouco mas que para a autora durou com intensidade

O final foi interessante e ateacute cocircmico trazendo questotildees a se pensar como a amizade

e o companheirismo versus a implicacircncia de pessoas desconhecidas (podemos ver seu aliacutevio

em ldquoAinda bem que meus amigos estavam ali senatildeo eu tava lsquoferradinharsquordquo na linha 19) e o

quanto eacute raacutepido - e tolo - para nascer um conflito

Quadro 36 ndash PIB Rodrigo ndash Tiacutetulo Vida De preguiccediloso

1

2

Vocecirc tem preguiccedila Tem preguiccedila de ter preguiccedila perdeu alguma coisa por

causa de preguiccedila

3

4

5

Natildeo eacute muito certo ter preguiccedila de tudo dizem que eacute pegado mas natildeo vejo mal

nem um em ter preguiccedila oacutebvio que nem todo tempo vou ter preguiccedila mas a maior parte

127

6 do tempo sim sou tatildeo preguiccediloso que dormi com fome pra natildeo ir ateacute a geladeira parece

um pouco absurdo mas eacute verdade

7

8

9

10

Natildeo sei vocecirc mas eu jaacute dormi no sofaacute com preguiccedila de ir pra cama certo que

vida de preguiccediloso natildeo eacute la essas mil maravilhas principalmente se vocecirc mora sozinho(a)

eacute muito bom passar o dia deitado mexendo no celular ou PC e com um lanchinho do

lado

11

12

Mas o simples fato de eu pensar que vou ter que tecirc uma famiacutelia um emprego

meu carro minha empresa meu cachorro

13

14

Jaacute da ateacute preguiccedila de sair da cama mas vocecirc jaacute pensou como seria bom se natildeo

existisse nada disso pra se preocupar

15 Seria muito bom natildeo eacute

16

17

A preguiccedila jaacute se tornou parte do cotidiano tenho quase certeza que nesse

momento vocecirc estaacute com preguiccedila natildeo eacute

18

19

20

Muito bom passar o dia sem fazer nada Poreacutem um pouco cansado pela falta

de exerciacutecio fiacutesico mas nada quecirc um bom lanche natildeo resolva vida de preguiccediloso natildeo

leva a lugar nem um falo isso por mera experiecircncia

21 Mas eacute assim mesmo logo logo a preguiccedila passa pelo menos eu acho

Fonte Dados da pesquisa

O texto de Rodrigo partiu de uma situaccedilatildeo observadavivida Conversa com o leitor

(ldquovocecirc jaacute pensou como seria bom serdquo linha 12) sobre o tema preguiccedila A repeticcedilatildeo do termo

preguiccedila foi objeto de questionamento na aula ao que o aluno respondeu que utilizou-se da

estrateacutegia para reforccedilar a situaccedilatildeo e provocar no leitor a preguiccedila de ler ao que os colegas

aprovaram achando inclusive engraccedilado O narrador eacute personagem e coloca para seu leitor as

impressotildees de como eacute viver com o miacutenimo de disposiccedilatildeo poreacutem com a consciecircncia de que natildeo

eacute o ideal para a vida O final natildeo eacute interessante ou surpreendente poreacutem se adequa ao

desenvolvimento do texto Possui tiacutetulo apropriado

Quadro 37 ndash PFB Rodrigo ndash Tiacutetulo VIDA DE PREGUICcedilOSO

1

2

Vocecirc tem preguiccedila Tem preguiccedila de ter preguiccedila Perdeu alguma coisa por

causa de preguiccedila

3

4

Natildeo eacute muito certo ter preguiccedila de tudo dizem que eacute pecado mas natildeo vejo mal

nenhum em ter preguiccedila Oacutebvio que nem todo tempo vou ter preguiccedila mas na hora de

128

5

6

7

8

jogar aquela bola ningueacutem tem preguiccedila mas agora fala em arrumar a cama A preguiccedila

sai de baixo da cama pra vocecirc Eu tenho preguiccedila a maior parte do tempo Sou tatildeo

preguiccediloso que dormi com fome para natildeo ter de ir ateacute a geladeira pegar comida Parece

um pouco absurdo mas eacute verdade

9

10

11

12

13

14

Aiacute vocecirc acorda e vai ateacute a sala daiacute vocecirc se deita no sofaacute e esquece o controle

em cima da mesa do computador ou da estante aiacute daacute aquele grito ldquoocirc manhecircecircecircecircecircecircecircecircrdquo

Logo ela vem correndo saber o que aconteceu e vocecirc na maior cara de pau diz pega

o controle pra mim Na hora que vocecirc diz isso vocecirc desperta todos os capirotos do

mundo ela ainda fala aquela frase que toda matildee diz o QUEcirc menino Isso serve pra

tudo que vocecirc pede pra sua matildee fazer pra vocecirc ateacute mesmo apagar a luz

15

16

17

Quando eu estiver em um relacionamento minha namorada natildeo vai precisar

se preocupar com traiccedilatildeo Tenho preguiccedila de ir bem aiacute na esquina comprar o patildeo

imagine sair para trair ela Mas eacute muita melodia

18

19

20

21

A vida de um preguiccediloso em si ela eacute uma grande sobrevivecircncia Natildeo muita

mas vocecirc vai ter de lutar para conseguir comida enfrentar o Vingador da Caverna do

Dragatildeo o quarto do furacatildeo e a cama do pavor Preguiccediloso pode vencer tudo isso mas

nunca conseguiraacute vencer a preguiccedila ndash pelo menos eu nunca consegui

22

23

24

25

Era tatildeo lindo quando eu dormia no sofaacute e acordava na cama graccedilas a meus

pais Mas os tempos mudaram vocecirc dorme no chatildeo e acorda no chatildeo Deixar pra fazer

amanhatilde o que pode fazer hoje isso sim eacute tiacutepico de um preguiccediloso mas agraves vezes nem

fazemos

26

27

28

Todos noacutes temos aquela cadeira que na hora de dormir sempre colocamos

todas as coisas de cima da cama em cima dela soacute por preguiccedila de arrumar tudo em seu

devido lugar

29

30

31

32

33

34

35

Um celular PC tablet televisatildeo tudo isso com internet uma tomada tudo do

seu lado tem como natildeo ter preguiccedila ateacute de procurar aquela seacuterie na Netflix Certo que

o celular ou o PC tem comando de voz soacute pra falar o nome da seacuterie que vocecirc quer assistir

e tecnologicamente ir direto pra seacuterie mas daacute uma preguiccedila de falar e ainda com um

lanche do lado ateacute imagino o quatildeo seria top passar o dia assim Mas tem que estudar

fazer comida dar banho do cachorro limpar a casa e lavar a louccedila Ai ai daacute preguiccedila

soacute de pensar nisso Um dia vou perder essa preguiccedila pelo menos assim espero

Fonte Dados da pesquisa

129

O uso de expressotildees coloquiais como em ldquoMas eacute muita melodiardquo (linha 17) para

mostrar o quanto daacute trabalho trair a namorada e a corrente entre os jovens ldquoo quatildeo seria top

passar o dia assimrdquo (linha 33) deu colorido agrave crocircnica

O uso de notaccedilotildees linguiacutesticas para realccedilar o texto como em ldquoocirc manhecircecircecircecircecircecircecircecircrdquo

(linha 10) que mostra prolongamento da voz o QUEcirc meninordquo (linha 13) que indica tom

de voz mais alto e forte aleacutem da pontuaccedilatildeo que exclama a pergunta O uso do travessatildeo como

forma de colocar uma explicaccedilatildeo em evidecircncia foi adotado por sugestatildeo nossa como em ldquondash

pelo menos eu nunca conseguirdquo (linha 21) tambeacutem enriqueceu o texto

Ainda houve repeticcedilatildeo de termos sem intenccedilatildeo como em ldquomas na hora de jogar

aquela bola ningueacutem tem preguiccedila mas agora fala em arrumar a camardquo (linhas 4-5)

O final foi interessante levando a audiecircncia a refletir e a se divertir tambeacutem com a

descriccedilatildeo das situaccedilotildees ndash algumas ateacute inusitadas ndash de preguiccedila mas que acontecem em algum

grau com os leitores jovens

Quadro 38 ndash PIB Eduardo ndash Tiacutetulo

1

2

3

4

5

Eu gosto muito de comida principalmente uma lasanha Porque eacute gostoso

mata a fome e deixa a gente feliz Bons tempos quando agente era crianccedila tomava aquele

belo leite antes de domir acordava de manhatilde bem cedinho com o cherinho do cafeacute na

mesa mas o tempos mudou E hoje em dia as crianccedilas dorme tarde natildeo se alimentatildeo

direito so querem comer besteras prejudicando a sauacutede

6 Era engraccedilado quando minha matildee dizia

7

8

Come a salada do prato se vocecirc comer tudinho mamatildee te dar um doccedile de

leite e agente comia

9

10

11

E quando noacutes tinha dor de barriga a matildee ja vinha com o chaacute de bodo para dar

pra noacutes tomar E quando jogava bola e noacutes se arranhava a matildee ja tava nas matildeos o

merthiolate para passa na gente

12

13

14

15

16

17

E quando o pessoal ia jogar bola reunia a galera e ia chamar a turma todinha

para jogar nosso campo era em um local de pissarra com muro em volta e quando a

bola cailha na casa da quela vizinha chata um de noacutes tiamos que pega o mas corajoso

se arricar a buscar e esse corajoso era eu lembro que uma vez eu chutei a bola para laacute

e machuquei um das plantas dela e vizinha fofocou para minha matildee e mamatildee colocou

eu de cartigo

130

18

19

Agora as crianccedilas so querem ficar trancada dentro do quarto mechendo no seu

celular PC em geral

20

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22

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25

26

27

28

Percebi que a infacircncia de hoje natildeo eacute mas a mesma de antigamente Hoje em

dia tamos rodiado de tecnologia crianccedilas jovens tem celulares internet computadores

mas antigamente natildeo era assim natildeo tou querendo criticar a tecnologias pois eu vivo na

tecnologia hoje Nesse tempo de hoje das tecnologia se vocecirc quer ouvir uma muacutesica eacute

soacute ir no YouTube ou fazer o download quer conversar com um amigo eacute soacute entra no

Whatsapp e conversar Mas quando era antigamente se quissemos ouvir uma

muacutesica tiamos que esperar passar no raacutedio ou comprar um CD bem ali na banca se

quisesse conversar com um amigo distante teria que ir na casa dele ou enviar uma carta

para ele

29

30

E quando era natal ano novo famiacutelia toda reunida mesa cheia de comida

deliciosas isso era muito bom

31

32 SO SEI QUE A INFACIA QUE EU TIVE FOI MUITA OTIMA lt3

Fonte Dados da pesquisa

Composto por 9 (nove) paraacutegrafos o texto de Eduardo partiu de uma situaccedilatildeo

vivida em que ele observa a passagem do tempo e as mudanccedilas de haacutebitos com uma certa

nostalgia buscando a atenccedilatildeo do leitor atraveacutes da reflexatildeo sobre a imersatildeo na tecnologia Seu

texto comeccedila com uma associaccedilatildeo da comida que ele gosta e que ldquopuxardquo outras questotildees que

perpassam a alimentaccedilatildeo o sono as brincadeiras narrando inclusive desventuras vividas

Ao final nas linhas 29-30 o paraacutegrafo parece desconexo visto que natildeo evolui e

nem se liga ao anterior

A ortografia e a pontuaccedilatildeo nesse momento natildeo haviam sido a prioridade embora

os alunos jaacute estivessem de posse do quadro autoavaliativo Eduardo foi um dos alunos que mais

se surpreendeu com a releitura do texto no tablet como haviacuteamos descrito na seccedilatildeo sobre os

procedimentos posto que os erros e sugestotildees satildeo apontados pelo aplicativo editor de textos

Ele afirmou que foi bastante uacutetil para que ele observasse os erros visto que natildeo tinha

consciecircncia dos mesmos

131

Quadro 39 ndash PFB Eduardo ndash INFAcircNCIA FELIZ

1

2

3

4

5

Eu gosto muito de comida principalmente uma lasanha Porque eacute gostoso

mata a fome e deixa a gente feliz Bons tempos quando a gente era crianccedila tomava

aquele belo leite antes de dormir acordava de manhatilde bem cedinho com o cheirinho do

cafeacute na mesa mas os tempos mudaram Hoje em dia as crianccedilas dormem tarde natildeo se

alimentam direito soacute querem comer besteiras prejudicando a sauacutede

6

7

Era engraccedilado quando minha matildee dizia Come a salada do prato se vocecirc

comer tudinho mamatildee te daacute um doce de leite e a gente comia

8

9

10

E quando noacutes tiacutenhamos dor de barriga a matildee jaacute vinha com o chaacute de boldo para

dar pra tomar E quando jogaacutevamos bola e nos arranhaacutevamos a matildee jaacute estava com o

mertiolate nas matildeos para passar na gente

11

12

13

14

15

16

17

E quando o pessoal ia jogar bola reunia a galera e ia chamar a turma todinha

para jogar nosso campo era em um local de piccedilarra com muro em volta e quando a bola

caiacutea na casa da aquela vizinha chata um de noacutes tinha que pegar o mais corajoso se

arriscar a buscar e esse corajoso era eu Lembro que uma vez eu chutei a bola para laacute e

machuquei um das plantas dela e a vizinha fofocou para minha matildee e mamatildee colocou

eu de castigo Quem nunca morreu de medo de voltar para casa com aquela roupa cheia

de barro e levar uma bronca

18

19

Vocecirc pode ateacute achar que eu jaacute acabei a minha infacircncia mas ainda tocirc nela pois

a infacircncia que eu era mais novo natildeo eacute mas a mesma do que a de hoje

20

21

Agora as crianccedilas soacute querem ficar trancadas dentro do quarto mexendo no seu

celular PC em geral

22

23

24

25

26

27

28

29

Percebi que a infacircncia de hoje natildeo eacute mas a mesma de antigamente Hoje em

dia estamos rodeados de tecnologia Crianccedilas jovens tem celulares internet

computadores mas antigamente natildeo era assim Natildeo estou querendo criticar a tecnologia

pois eu vivo na tecnologia hoje Nesse tempo de hoje se vocecirc quer ouvir uma muacutesica eacute

soacute ir no YouTube ou fazer o download Quer conversar com um amigo eacute soacute entrar no

WhatsApp e conversar Mas quando era antigamente se quiseacutessemos ouvir uma muacutesica

tiacutenhamos que esperar passar no raacutedio ou comprar um CD bem ali na banca Se quisesse

conversar com um amigo distante teria que ir na casa dele ou enviar uma carta para ele

30

31

32

Pois agora as crianccedilas jaacute respondem com ignoracircncia para seus pais Se eu

resmungasse para minha matildee pelo menos um Taacute bom taacute bom mamatildee jaacute me batia Ela

ainda me colocava de joelho no chatildeo e eu morrendo de chorar mamatildee dizia Engole o

132

33

34

35

choro mas eu natildeo sabia engolir o choro Seraacute que tinha que pegar um copo para

colocar as minhas laacutegrimas do meu choro Natildeo sei mas eu acho que eacute melhor natildeo

arriscar de me levantar e apanhar mais ainda

36 O mais engraccedilado eacute que chinela de matildee sempre acerta [

37 Mesmo apanhando

38 SOacute SEI QUE A INFAcircNCIA QUE EU TIVE FOI MUITO OacuteTIMA lt3

Fonte Dados da pesquisa

O texto teve uma ampliaccedilatildeo e o aluno pediu ajuda agrave professora-pesquisadora para

a correccedilatildeo da pontuaccedilatildeo e tambeacutem da ortografia para ldquoevitar aquela coisa toda vermelha

professorardquo que seria rever no tablet o editor mostrando os erros Bastante empenhado Eduardo

colocou suas impressotildees lado bom e ruim para que seu leitor pudesse acompanhar o que seria

uma infacircncia adequada Nas linhas 18-19 em ldquoVocecirc pode ateacute achar que eu jaacute acabei a minha

infacircncia mas ainda tocirc nela pois a lsquoinfacircncia que eu era mais novorsquo natildeo eacute mas a mesma do que

a de hojerdquo Valeu a discussatildeo com os colegas e com a professora-pesquisadora a respeito dessa

nostalgia visto que o autor ainda eacute um adolescente de 15 anos

O final convenhamos embora natildeo seja muito paciacutefico natildeo deixa de causar o riso

no leitor visto que em ldquoMesmo apanhandordquo (linha 37) as reticecircncias deixam o pensamento

em aberto e o leitor conclui pelo exposto que ainda assim valia a pena a infacircncia menos

tecnoloacutegica e mais fora de casa

Quadro 40 ndash PIB Estela ndash Tiacutetulo ldquoDown= bullyingrdquo

1

2

Antigamente eu natildeo me importava tanto mas hoje penso bastante sobre o

assunto por que as pessoas praticam o bullying

3

4

5

Na minha opiniatildeo a praacutetica de bullying eacute desnecessaacuteria pois noacutes natildeo

ganhamos nada em humilharmenosprezar o proacuteximo natildeo eacute mesmo eacute bem melhor ser

gentil ser solidaacuterio aceitar os defeitos do proacuteximo

6

7

8

9

10

11

Conheccedilo uma garota chamada Beatriz jovem de dezenove anos(19) que tinha

siacutendrome de Down ela era uma garota bem extrovertida amigaacutevel carinhosa etc

Muitos a criticavam por conter essa siacutendrome por ser diferente Ela tinha seu tinha seu

lado carinhoso mas tambeacutem tinha o seu lado revoltadobravo e todos criticavam-na por

ser diferente por ter esse seu lado ldquobipolarrdquo pelo fato dela mudar de humor tatildeo

facilmente

133

12

13

14

15

Muitos faziam o possiacutevel para evitar sua presenccedila por perto eles a eles

simplesmente natildeo aceitavam o fato dela ter aquela siacutendrome pra eles ela natildeo era ldquoigualrdquo

a eles eles deveriam aceitaacute-la da maneira que ela nasceu da maneira em que ela foi

gerada

16

17

18

Chamavam-na por apelidos maldosos e preconceituosos como por exemplo

doida (pelo simples fato dela ter siacutendrome de Down que a diferenciava das demais

pessoas) de retardada de doente chamavam-na de feia ridiacuteculaetc

19

20

21

22

23

24

25

Ao sofrer esses preconceitos ela sempre revidavasempre reagia com agressotildees

e xingamentos terriacuteveis o que agravava cada vez mais a situaccedilatildeo Acho que por ela

conter essa doenccedila ela natildeo levava muito a seacuterios esse preconceito essa indiferenccedila

acho que pelo fato de ela conter essa doenccedila desde a formaccedilatildeo de seu feto deve ter

ocorrido algumas alteraccedilotildees em seu ceacuterebro na parte mentalo que prejudica muito a

crianccedila em questotildees de aprendizado de se socializar e que a levava a considerar essas

praacuteticas de bullying como uma brincadeira

26

27

28

29

E tambeacutem sua matildee natildeo era aquele tipo de matildee que se interessava como foi o

dia na escola se as aulas foram boas essas coisas que normalmente as matildees fazem E

ela tambeacutem natildeo morava junto a seu pai pois creio que era divorciado de sua matildee

moravam somente ela sua matildee e sua irmatilde mais nova de dezessete anos (17)

30

31

Atualmente a situaccedilatildeo ainda se repete por falta de atenccedilatildeo dos pais e da

proacutepria viacutetima do bullying

32

33

(Na minha opiniatildeo ela soacute precisa de um pouco mais de atenccedilatildeo e compreensatildeo

dos pais e tenho certeza que esse problema jaacute haveria sido resolvido)

34

35

E vocecirc leitor o que faria se vocecirc fosse viacutetima de bullying denunciaria ou

preferiria guardar pra si

36

37

38

39

40

(Isso natildeo eacute um texto qualquer eacute tambeacutem um alerta uma ldquocampanhardquo pra vocecirc

vitima ou praticante do bullying pense no proacuteximo alerte-se muitas vezes essas piadas

brincadeiras esses preconceitos passam dos limites e acabam se tornando grandes

ofensas o que levam as viacutetimas a profundas depressotildees e ateacute mesmo ao suiciacutedio vamos

acabar com isso)

41 chega de bullying

Fonte Dados da pesquisa

134

Estela comeccedila seu texto com um paraacutegrafo que faz uma introduccedilatildeo-enquadramento

lanccedilando um questionamento ao seu leitor surgido de uma situaccedilatildeo observadavivida que ela

narra ao longo dos 12 (doze) paraacutegrafos No 10ordm a autora conversa com explicitamente com o

leitor como no modelo apresentado para a produccedilatildeo A O foco narrativo eacute mantido como

narrador observador do que acontece poreacutem levando o leitor a refletir sobre o problema real do

bullying com a intenccedilatildeo de causar impressotildees no leitor como empatia reflexatildeo e ateacute emoccedilatildeo

O final natildeo parece caracterizar-se como o de uma crocircnica literaacuteria lembrando o

penuacuteltimo paraacutegrafo uma sequecircncia injuntiva com a intenccedilatildeo de levar o leitor a modificar seu

comportamento mostrando um ponto de vista criacutetico a respeito da situaccedilatildeo Possui

personagens descrevendo a menina Beatriz e seu comportamento sua matildee e menciona pai e

irmatilde Possui um tiacutetulo interessante pelo trocadilho se podemos assim dizer com a palavra

down Down eacute a siacutendrome mencionada no texto e de iniacutecio o sinal de igual indica que ter

siacutendrome de Down eacute de se esperar de algum modo que a pessoa sofra bullying Poreacutem a aluna

sabe que down em inglecircs quer dizer ldquoabaixordquo o que resultaria numa livre traduccedilatildeo ldquoabaixo

o bullyingrdquo Estela emprega em diversos momentos os sinais de pontuaccedilatildeo adequadamente e

no geral os paraacutegrafos estatildeo bem organizados embora tenha havido repeticcedilatildeo desnecessaacuteria de

palavras no 4ordm paraacutegrafo

Quadro 41 ndash PFB Estela ndashTiacutetulo DOWN= BULLYING

1

2

Antigamente eu natildeo me importava tanto mas hoje penso bastante sobre o

assunto por que as pessoas praticam o bullying

3

4

5

A praacutetica de bullying eacute desnecessaacuteria pois noacutes natildeo ganhamos nada em

humilhar o proacuteximo natildeo eacute mesmo Eacute bem melhor ser gentil ser solidaacuterio aceitar os

defeitos do proacuteximo

6

7

8

9

10

Conheci uma garota chamada Beatriz jovem de dezenove anos que era

portadora da siacutendrome de Down Era uma garota bem extrovertida amigaacutevel carinhosa

etc Ela tinha seu tinha seu lado carinhoso mas tambeacutem tinha o seu lado revoltado e

todos criticavam-na por ser diferente por ter esse seu lado ldquobipolarrdquo pelo fato dela mudar

de humor tatildeo facilmente

11

12

13

Muitos faziam o possiacutevel para evitar sua presenccedila por perto Simplesmente

natildeo aceitavam o fato dela natildeo ser ldquoigualrdquo a eles enquanto que deveriam aceitaacute-la da

maneira que ela nasceu da maneira em que ela foi gerada

135

14

15

16

Chamavam-na por apelidos maldosos e preconceituosos como por exemplo

doida (pelo simples fato dela ser portadora de Down que a diferenciava das demais

pessoas) de retardada de doente chamavam-na de feia ridiacuteculaetc

17

18

19

20

21

Ao sofrer esse preconceito ela revidava Sempre reagia com agressotildees e

xingamentos terriacuteveis o que agravava cada vez mais a situaccedilatildeo Acho que pelo fato de

ela ter Down desde a formaccedilatildeo de seu feto deve ter ocorrido algumas alteraccedilotildees em seu

ceacuterebroo que prejudica muito a crianccedila em questotildees de aprendizado de se socializar

poreacutem isso natildeo a impedia de considerar essas praacuteticas de bullying como algo tatildeo seacuterio

22

23

24

25

26

Atualmente a situaccedilatildeo ainda se repete por falta de atenccedilatildeo dos pais Sua matildee

natildeo era aquele tipo de matildee que se interessava como foi o dia na escola se as aulas foram

boas essas coisas que normalmente as matildees fazem Ela soacute precisa de um pouco mais de

atenccedilatildeo e compreensatildeo dos pais e tenho certeza que esse problema jaacute teria sido

resolvido

27 E vocecirc leitor como agiria se fosse viacutetima de algum tipo de bullying

28

29

30

31

32

Pare e pense na situaccedilatildeo que ocorrera com essa garota Pense Como agiria se

fosse viacutetima ou tivesse observado uma situaccedilatildeo como essa Tambeacutem imagine se vocecirc

se sentiria bem se sofresse certos preconceitos certas ofensas E tambeacutem peccedilo-lhe

venha pensar antes de ldquotentarrdquo praticar esses atos infracionais contra algueacutem Se ponha

no lugar da viacutetima

33 chega de bullying

Fonte Dados da pesquisa

O tiacutetulo foi mantido Os paraacutegrafos em geral ficaram bem organizados Houve

evoluccedilatildeo no emprego dos sinais de pontuaccedilatildeo Evitou a repeticcedilatildeo desnecessaacuteria de palavras e

buscou definir visto que estava em duacutevida segundo ela mesma sobre quais termos usar

Partiu como jaacute haviacuteamos identificado de uma situaccedilatildeo observadavivida Conversa

com o leitor como no exemplo ldquonatildeo eacute mesmordquo (linha 4) ou em ldquoE vocecirc leitorrdquo (linha 27)

buscando leva-lo a refletir sobre a situaccedilatildeo O final eacute interessante muito embora natildeo o

reconheccedilamos como caracteriacutestico de uma crocircnica literaacuteria Mostra discretamente ao leitor seu

ponto de vista a respeito da situaccedilatildeo buscando proporcionar-lhe um momento de reflexatildeo

Descreve bem a Beatriz e superficialmente a matildee poreacutem com caracteriacutesticas

adequadas agrave situaccedilatildeo Apoacutes a anaacutelise dos textos B dos alunos estabelecemos um graacutefico a

respeito de sua evoluccedilatildeo para melhor visualizaccedilatildeo dos resultados nessa etapa Vejamos a seguir

136

Graacutefico 8 ndash Avaliaccedilatildeo das crocircnicas B

Fonte dados da pesquisa

A partir da anaacutelise dos textos dos alunos que frequentaram todas as aulas e se

engajaram nas atividades da SD percebemos que houve na maioria dos itens avaliados uma

sensiacutevel melhora corroborando com o anteriormente dito que os alunos ao tomarem contato

com seus textos de uma primeira produccedilatildeo escrita se orientados e incentivados a reler se

autoavaliar e a ouvir sugestotildees podem sim progredir no sentido de se tornarem escritores mais

haacutebeis e conscientes das etapas que regem o processo de escrita de textos E esse processo se

feito com frequecircncia comeccedila a se automatizar e facilita o aprendizado de qualquer gecircnero que

se venha trabalhar

533 Uma nova reescrita

Retomando seu texto A PI e PF a aluna Ana pediu a oportunidade de reescrevecirc-lo

visto que em sua releitura afirmou que natildeo havia feito apropriadamente e que ao final de todas

as atividades ela percebia o quanto natildeo tinha desenvolvido ainda os procedimentos adequados

para a produccedilatildeo de um texto o que inclui as etapas de releitura autocriacutetica reflexatildeo

reelaboraccedilatildeo e reescrita Segue assim o texto de Ana que chamaremos PFA2

0

05

1

15

2

25

3

35

4

Avaliaccedilatildeo das crocircnicas B

PI-B PF-B

137

Quadro 42 ndash PFA2 Ana ndash Tiacutetulo O que eacute ser chato

1 Como saber quando vocecirc estar sendo chato

2 Bom depois de ler um dos textos maravilhosos do Anaximandro Amorim

3 o chato da vez despertou uma vontade em mim de me aprofundar no assunto

4

5 Eacute muito difiacutecil dizer o que de fato eacute ser chato ou melhor listar tudo o que eacute pura

6 chatice demoraria horas e horas Vocecirc se considera chato

7 Sabe quando vocecirc estar sendo chato Olha muito cuidado um chato nunca

8 se acha chato digo isso com toda convicccedilatildeo

9

10 Conheccedilo uma menina ela eacute da minha escola graccedilas

11 a Deus natildeo eacute da minha sala Ameacutem

12 Ela tem uma mente aberta uns gosto legais mas cara

13 ela desconhece a palavra limites isso a torna very chata

14 uma mina linda de opiniotildees legais que natildeo sabe ver quando natildeo a querem

15 por perto quando ela estar atrapalhando e natildeo entende

16 quando o papo ja ta chato e a pessoa ta fugindo dela mas mesmo assim

17 acha que a pessoa ta super interessada e ela se engana e

18 acaba se tornando uma chata eu a considero minha amiga

19 ela me apoia e me sempre da uma levantada na minha auto-estima

20 uma garota interessante agraves vezes e por tempos curtos ela eacute

21 daquele tipo de pessoas que a gente passa comprimenta e

22 natildeo para pra conversar so quando ela chama e as vezes ainda invento desculpas

23 pra natildeo ir e se vou quando passa de cinco minutos eu jaacute

24 fico SU-FO-CA-DA parece que ela estraga o papo

25

26 Enfim ser chato eacute natildeo saber quando vocecirc ta forccedilando a barra

27 eacute natildeo reconhecer quando vocecirc estar sendo chato

28 ser chato eacute natildeo ter limites afinal tudo tem Natildeo eacute mesmo Fonte Dados da pesquisa

Por fim Ana reescreveu seu texto colocando-o em 5 (cinco paraacutegrafos) e o elaborou

visando ao que a instruccedilatildeo da atividade requer um texto que possa inspirar reflexatildeo sobre o

que eacute ser chato e o que eacute ser legal poreacutem sem colocar a questatildeo do botatildeo de bloqueio da vida

real Atraveacutes dos exemplos Ana conduziu seu leitor a refletir atendendo aos criteacuterios de partir

de uma situaccedilatildeo vividaobservada como vemos nas linhas 10-24 e conversando com o leitor

como percebemos nas marcas linguiacutesticas em ldquoComo saber quando vocecirc estar sendo chatordquo

(linha 1) ldquoVocecirc se considera chatordquo (linha 6) ldquoSabe quando vocecirc estar sendo chatordquo (linha

7) e ldquoNatildeo eacute mesmordquo (linha 28) e descreve uma personagem ldquouma menina ela eacute da minha

escolardquo (linha 10) que inseriu em seu texto para ilustrar a situaccedilatildeo

Apesar de Ana ainda deixar a desejar em outros aspectos tanto textuais quanto

formais de convenccedilotildees da escrita percebemos que ela evoluiu no criteacuterio organizaccedilatildeo de

138

paraacutegrafos e emprego dos sinais de pontuaccedilatildeo Em ldquograccedilas a Deus natildeo eacute da minha sala

Ameacutemrdquo ela separa o termo Ameacutem do resto da frase com a viacutergula entendendo que eacute uma

expressatildeo que merecia realce e usa o ponto de exclamaccedilatildeo para expressar seu aliacutevio Ana

demonstra conhecer que o uso de marcas linguiacutesticas como o uso de maiuacutesculas e a separaccedilatildeo

silaacutebica podem dar forccedila a uma palavra fazendo-a ganhar maior expressividade como em ldquoSU-

FO-CA-DArdquo na linha 24 Ao longo de seu texto Ana emprega muitas palavras do cotidiano

giacuterias inclusive e marcas da oralidade ndash o que natildeo necessariamente eacute um problema em uma

crocircnica literaacuteria poreacutem conveacutem relembrar a questatildeo da experiecircncia e habilidade no uso de tais

de modo a natildeo cansar o leitor

Sua estrateacutegia para iniciar o texto foi partir da intertextualidade (ldquoBom depois de

ler um dos textos maravilhosos do Anaximandro Amorim lsquoo chato da vezrsquo despertou uma

vontade em mim de me aprofundar no assuntordquo linhas 1-3) Desse modo Ana fez uso da

informaccedilatildeo de uma de nossas aulas de quando trabalhamos com a crocircnica ldquoCarta de punhordquo

cuja leitura em sala e atividade de exploraccedilatildeo do texto mostrava que o autor cronista com

publicaccedilotildees frequentes no jornal buscava nas proacuteprias produccedilotildees retomar seus assuntos

passados Uma curiosidade que foi despertada em Ana para o momento havia sido ldquoe pode

isso professorardquo ao que respondemos afirmativamente poreacutem o sucesso da estrateacutegia viria

com o tempo e a experiecircncia de cada autor da intimidade que esse tivesse com a liacutengua materna

e com a situaccedilatildeo de produccedilatildeo tudo dentro do contexto

Consideramos assim que o uso da estrateacutegia pela aluna foi um ponto positivo em

sua participaccedilatildeo posto que caracteriza envolvimento com o projeto e as aulas Ademais desejar

fazer mais uma reescrita quando natildeo havia mais a exigecircncia pois como dissemos jaacute haviacuteamos

encerrado os moacutedulos e estaacutevamos reescrevendo o texto para circulaccedilatildeo social eacute um ponto

bastante positivo no tocante aos procedimentos de escritor apoacutes algum tempo ela releu seu

texto achou-o inadequado ou insuficiente para as caracteriacutesticas do que se estava estudando e

produzindo e tomou a iniciativa de refazecirc-lo

139

6 CONCLUSAtildeO

O foco principal de nosso trabalho foi o desenvolvimento da competecircncia

comunicativa escrita Para tanto consideramos o processo tendo como produto o texto cujo

valor real foi-lhe atribuiacutedo valor social com direito a circulaccedilatildeo levado a puacuteblico

O gecircnero escolhido foi a crocircnica literaacuteria Poderia ter sido outro visto que o trabalho

com o processo de escrita dentro de uma sequecircncia didaacutetica comporta qualquer gecircnero textual

Poreacutem como dissemos na introduccedilatildeo a escolha do gecircnero partiu de uma motivaccedilatildeo pessoal

Passado todo o processo da escolha de como trabalhar ateacute a publicaccedilatildeo dos textos

julgamos oportuno avaliar todos os acircmbitos

Por percebermos ao longo dos anos de experiecircncia que vaacuterios alunos produzem

seus textos sem recorrer agrave etapa do planejamento a da revisatildeo e a da reescrita visamos entatildeo

nesta pesquisa devido agrave ausecircncia de tais procedimentos responder agraves seguintes questotildees-

problema desdobradas a partir da questatildeo baacutesica como ensinar a produccedilatildeo escrita no 9ordm ano do

Ensino Fundamental enfocando o ato de redigir como um processo visto que haacute estudantes

deste niacutevel que normalmente natildeo tecircm o haacutebito de planejar seus textos

A partir desse questionamento nos perguntamos

a) que atividades pedagoacutegicas possibilitam aos alunos a consciecircncia de que eacute

preciso desenvolver estrateacutegias proacuteprias (recorrer agrave etapa do planejamento da

revisatildeo e da reescrita) para produzir seus textos

b) de que forma o conhecimento sobre a estrutura composicional de um gecircnero

pode ajudar a superar as dificuldades

c) a comparaccedilatildeo das produccedilotildees inicial e final permitiraacute associar a melhoria do

desempenho da competecircncia escrita e a apropriaccedilatildeo do gecircnero crocircnica literaacuteria ao

desenvolvimento da sequecircncia de atividades

Buscando encontrar uma praacutetica que resultasse em textos melhores fizemos uso

em nossa sequecircncia de atividades de teorias que norteassem o trabalho com a escrita como

processo com a sequecircncia didaacutetica com gecircnero textual e com o gecircnero crocircnica narrativa A

importacircncia desse aparato teoacuterico para o professor que visa minimizar as dificuldades dos

alunos e diminuir a praacutetica da escrita improvisada permite-lhe compreender como se daacute o

processo cognitivo durante a produccedilatildeo de um texto o que o leva a considerar para seu trabalho

com os alunos aspectos como audiecircncia e circulaccedilatildeo social reais como praacuteticas de uma

140

sociedade letrada o que vai aleacutem da preocupaccedilatildeo com a gramaacutetica e a ortografia apenas de

um texto produzido somente para o professor e a nota

Ao longo da aplicaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica confirmamos o que a experiecircncia de

sala ao longo dos anos apontava o conhecimento sobre a estrutura composicional de um gecircnero

pode ajudar a superar as dificuldades de escrita por mostrar ao aluno o que precisa estar contido

em seu texto Os exemplos que o professor venha a trabalhar em sala com a turma mostram

modelos de gecircneros com aspectos que podem sim ser imitados de iniacutecio ateacute que quando o

aluno ganhe experiecircncia possa manejar melhor as palavras e as ideias que deseje colocar para

seu leitor assumindo assim um estilo proacuteprio de escrita

Como professora realizar a pesquisa nos permitiu refletir sobre a nossa proacutepria

praacutetica posto que superar as proacuteprias deficiecircncias no ensino da produccedilatildeo textual foi uma grande

inquietaccedilatildeo Reconhecer as praacuteticas nos foi importante para saber em que aspectos ainda temos

desafios a superar e para reforccedilar e desenvolver aspectos positivos em noacutes Ter clareza de como

se situam os iacutendices de avaliaccedilatildeo na turma na escola no municiacutepio no estado e no paiacutes tambeacutem

foi bastante importante Normalmente a tendecircncia coletiva estaacute em descrer na educaccedilatildeo poreacutem

mesmo que muito lentamente observamos progresso histoacuterico na concepccedilatildeo de aprendizado da

liacutengua materna no valor que eacute dado agrave leitura e agrave escrita

Apoacutes as oficinas a anaacutelise dos objetivos elencados ao iniacutecio de todo o processo

com dados comparativos entre produccedilatildeo inicial e produccedilatildeo final constatamos a relevacircncia da

hipoacutetese baacutesica os alunos do 9ordm ano produziram textos na etapa final das oficinas utilizando-

se das caracteriacutesticas do gecircnero textual crocircnica literaacuteria compreendendo que escrita eacute interaccedilatildeo

valorizando o uso social da escrita de acordo com a proposta teoacuterica de gecircnero preparando

seus textos pautados nas etapas do processo de redigir conforme as orientaccedilotildees dadas em sala

de aula

Sobre nossas hipoacuteteses secundaacuterias pensamos que eacute possiacutevel sim motivar os

alunos a escrever ao desenvolver com eles atividades voltadas para os diferentes subprocessos

e habilidades envolvidos no ato de redigir Poreacutem para haver o engajamento e resultar em uma

turma que escreva textos compatiacuteveis com o grau de desenvolvimento de habilidades esperadas

para o ano que cursam enfrentamos desafios como o aspecto do imediatismo e da recompensa

A natildeo adesatildeo de vaacuterios alunos ao projeto se deu por este natildeo valer nota Portanto

sem uma recompensa imediata natildeo houve o engajamento Nossos alunos infelizmente natildeo

estatildeo habituados a pensar a longo prazo a planejar alcanccedilar metas nem integrar atividades que

lhes facilitem a vida estudantil no futuro Talvez ndash pensamos ndash nem a cultura escolar abranja

141

ainda um trabalho soacutelido e constante nesse sentido Apesar disso haacute professores que se

empenham em fazer um trabalho constante de leitura e na medida do possiacutevel de escrita ao

qual fizemos nossa contribuiccedilatildeo

Por uacuteltimo apoacutes a realizaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica proposta ao contrastarmos as

produccedilotildees inicial e final dos alunos principalmente no que concerne agrave produccedilatildeo realizada para

fins de circulaccedilatildeo social real considerando uma audiecircncia real verificamos um desempenho

mais satisfatoacuterio em relaccedilatildeo agrave competecircncia discursiva realizada no gecircnero crocircnica literaacuteria

visto que os processos de escrita foram considerados no ato da produccedilatildeo de suas proacuteprias

crocircnicas

Para que essa produccedilatildeo fosse efetiva houve que se ter em mente na elaboraccedilatildeo dos

moacutedulos que qualquer tarefa de escrita bem-sucedida requer o exerciacutecio da escrita e da reescrita

Esse processo de aperfeiccediloamento dos textos demanda da parte do professor planejamento

para conhecer as necessidades de natureza geral da turma para trabalhar as caracteriacutesticas de

um gecircnero bem como as de natureza individual do aluno como as limitaccedilotildees no

reconhecimento do gecircnero textual na progressatildeo narrativa nas convenccedilotildees da escrita culta

Pensamos que poderia ser interessante para o aperfeiccediloamento desta SD ampliar e

diversificar mais os textos que compotildeem o moacutedulo de reconhecimento para antes da primeira

produccedilatildeo dos alunos visando oferecer uma visatildeo mais ampla do gecircnero Aleacutem disso

percebemos que tambeacutem eacute preciso que enquanto professores trabalhemos recorrentemente a

instruccedilatildeo da produccedilatildeo com os alunos no sentido de que eles compreendam que natildeo apenas um

aspecto seja escolhido para ser trabalhado mas todos os que nela estatildeo contidos

Aplicar uma SD eacute um trabalho que exige bastante do professor pois se trata de

conhecer o perfil de cada turma em que se decide aplicar um projeto de escrita diagnosticar

planejar os moacutedulos e pensar que o produto pode e deve ter circulaccedilatildeo no meio social Para

tanto eacute importante frisar que a rede de ensino acolha e apoie o professor motivando-o e

possibilitando-lhe as condiccedilotildees necessaacuterias e adequadas para o desenvolvimento de projetos de

escrita dentre as quais podemos mencionar formaccedilatildeo continuada que incentive os projetos de

escrita reforccedilo agraves condiccedilotildees dos materiais das escolas manter o nuacutemero de alunos adequado

nas salas evitando a superlotaccedilatildeo

No tocante aos alunos especialmente os que integraram todos os encontros de todos

os moacutedulos notamos que estes afirmaram que amadureceram ao longo do processo aprendendo

gradualmente a ter controle de sua escrita relendo quando necessaacuterio refletindo buscando

142

clareza Tambeacutem apreciaram muito poder opinar sobre os textos dos colegas visto que estavam

se apropriando das caracteriacutesticas do gecircnero estudado e sentiram seguranccedila para colaborar

Quanto ao trabalho com nuacutemero reduzido de alunos ao permanecerem no projeto

apenas aqueles que se interessaram em melhorar seu desempenho pessoal em leitura e produccedilatildeo

conforme eles mesmos disseram o grupo menor ficou mais coeso e permitiu-lhes liberdade

para trabalhar fosse com discussotildees sugestotildees ou mesmo para dar apoio ateacute mesmo na hora

de ler em voz alta para todos Foi um progresso coletivo e reafirmou a amizade entre o grupo e

tambeacutem conosco por ver que a colaboraccedilatildeo era acompanhada de afetividade

A produccedilatildeo dos textos para circulaccedilatildeo social escrevendo no celular foi produtiva

visto que oportunizou aos alunos o uso da tecnologia que eles afirmam preferir permitindo

agravequeles que natildeo gostam muito de produzir textos com os recursos tradicionais (folha de

produccedilatildeo e caneta) participarem ativamente do processo de produccedilatildeo textual Essa tecnologia

pode ser considerada para futuros trabalhos com alunos do ensino fundamental

Gostariacuteamos de mencionar que este trabalho do iniacutecio ao fim tratou com questotildees

de motivaccedilatildeo e inquietaccedilotildees reais e pessoais A queda abrupta do nuacutemero de participantes

desde o momento da adesatildeo ateacute o da produccedilatildeo para a circulaccedilatildeo eacute reflexo dos desafios que

qualquer professor enfrenta em sua sala cotidianamente No entanto as aulas regulares

diferentemente da proposta da aplicaccedilatildeo do projeto tecircm consigo uma carga de obrigatoriedade

ao exigir a frequecircncia a assiduidade a entrega de tarefas e as avaliaccedilotildees ndash itens que compotildeem

a nota para a aprovaccedilatildeo anual

Em decorrecircncia dessa obrigatoriedade se contrastarmos o desempenho dos alunos

no projeto ao seu desempenho regular na sala de aula de qualquer disciplina natildeo apenas na

liacutengua portuguesa veremos estudantes sem uma motivaccedilatildeo que os conecte ao desenvolvimento

das aulas natildeo permitindo o amadurecimento de suas capacidades e habilidades Como

professora da turma que aplicou o projeto sem exigecircncia de notas percebi que os alunos em

sua maioria natildeo gostariam de estar na escola Muitos natildeo veem ainda sentido em estar presentes

uma tarde inteira 20 (vinte) horas semanais sentados copiando tendo preguiccedila de elaborar

reflexotildees

Esse comportamento desmotivado que se generaliza em escolas de diversos pontos

do Paiacutes desanima tambeacutem os professores gerando a consequecircncia de ao inveacutes de buscarem

novas estrateacutegias para as aulas acabarem mantendo a praacutetica e ainda se conformando com o

senso comum de que ldquoesses alunos natildeo querem nadardquo fora a conjuntura social e econocircmica que

143

por si soacute eacute desanimadora ao limitar recursos e investimentos em educaccedilatildeo desvalorizando a

figura do professor

Gostariacuteamos de acrescentar que sim eles querem Mas ainda natildeo sabem ao certo o

que querem E talvez o que eles possam vir a querer ainda natildeo esteja sendo claramente

apresentado pois atividades tradicionais natildeo os atraem a querer conhecer mais e aprender mais

sobre determinados assuntos que podem acrescentar-lhes agrave vida diaacuteria Ficaria aiacute um desafio ao

professor ao projeto poliacutetico pedagoacutegico da escola e agraves redes de educaccedilatildeo baacutesica repensar o

curriacuteculo para os estudantes deste seacuteculo

Como pudemos observar este trabalho teve sim lacunas que podem ser sanadas

com outras pesquisas Apesar disso acreditamos que a pesquisa-accedilatildeo que realizamos pocircde

aleacutem de ofertar contribuiccedilotildees no acircmbito acadecircmico ao evidenciar vitoacuterias e expor os desafios

encorajar os alunos participantes da pesquisa principalmente os que tiveram a compreensatildeo de

que sua participaccedilatildeo lhes valeria para aleacutem de integrar pontos para uma nota no sentido de que

se permitiram evoluir como produtores de texto em sua liacutengua materna direito que lhes cabe

desde o momento em que satildeo reconhecidos cidadatildeos e que ingressam nas escolas brasileiras

144

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VIEIRA Iuacuteta Lerche Ensinando a redigir do processo ao produto In VIEIRA Iuacuteta Lerche

Escrita para que te quero Fortaleza Ediccedilotildees Demoacutecrito Rocha UECE 2005 Coleccedilatildeo

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VIEIRA Iuacuteta Lerche Escrita para que te quero In VIEIRA Iuacuteta Lerche Escrita para que

te quero Fortaleza Ediccedilotildees Demoacutecrito Rocha UECE 2005 Coleccedilatildeo Magister p 13-14

VIEIRA Iuacuteta Lerche Abordagem imitativa da redaccedilatildeo trabalhando com formatos e gecircneros

In VIEIRA Iuacuteta Lerche Escrita para que te quero Fortaleza Ediccedilotildees Demoacutecrito Rocha

UECE 2005 Coleccedilatildeo Magister p159-171

148

APEcircNDICE A ndash ATIVIDADES PROPOSTAS PARA A SEQUEcircNCIA DIDAacuteTICA

Para compor o momento da apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo da sequecircncia de atividades

sensibilizamos os alunos com as caracteriacutesticas baacutesicas das crocircnicas contemporacircneas que foram

descritas na seccedilatildeo correspondente e resgatadas agora organizaccedilatildeo de sua narrativa em primeira

ou terceira pessoa quase sempre como quem conta um caso em tom intimista uma narraccedilatildeo

em que o autor insere em seu texto trechos de diaacutelogos permeados por expressotildees cotidianas

escrevendo como quem conversa com seus leitores como se estivessem muito proacuteximos uso

de temaacuteticas que tratam de reflexotildees sobre a vida social poliacutetica econocircmica por vezes de forma

humoriacutestica outras de modo mais seacuterio outras com jeito poeacutetico permitindo o pertencimento

do gecircnero agrave esfera literaacuteria emprego de linguagem que mescla aspectos da escrita com outros

da oralidade preferecircncia pela brevidade leveza faacutecil acesso e envolvimento Esperamos que

ao final da atividade que aleacutem de respondida por escrito mas principalmente oralmente os

alunos atentem para essas caracteriacutesticas e possam ter um norte quando chegar o momento de

sua primeira produccedilatildeo

Atividade nordm 1

Prova Falsa

Seacutergio Porto (Stanislaw Ponte Preta)

Quem teve a ideia foi o padrinho da caccedilula ndash ele me conta Trouxe o cachorro de

presente e logo a famiacutelia inteira se apaixonou pelo bicho Ele ateacute que natildeo eacute contra isso de se ter

um animalzinho em casa desde que seja obediente e com um miacutenimo de educaccedilatildeo

mdash Mas o cachorro era um chato mdash desabafou

Desses cachorrinhos de raccedila cheio de nheacutem-nheacutem-nheacutem que comem comidinha

especial precisam de muitos cuidados enfim um chato de galocha E como se isto natildeo

bastasse implicava com o dono da casa

mdash Vivia de rabo abanando para todo mundo mas quando eu entrava em casa vinha

logo com aquele latido fininho e antipaacutetico de cachorro de francesa

Ainda por cima era puxa-saco Lembrava certos poliacuteticos da oposiccedilatildeo que

espinafram o ministro mas quando estatildeo com o ministro ficam mais por baixo que tapete de

poratildeo Quando cruzavam num corredor ou qualquer outra dependecircncia da casa o desgraccedilado

rosnava ameaccedilador mas quando a patroa estava perto abanava o rabinho fingindo-se seu

amigo

mdash Quando eu reclamava dizendo que o cachorro era um ciacutenico minha mulher

brigava comigo dizendo que nunca houve cachorro fingido e eu eacute que implicava com o

ldquopobrezinhordquo

Num raacutepido balanccedilo poderia assinalar o cachorro comeu oito meias suas roeu a

manga de um paletoacute de casimira inglesa rasgara diversos livros natildeo podia ver um peacute de sapato

que arrastava para locais incriacuteveis A vida laacute em sua casa estava se tornando insuportaacutevel

Estava vendo a hora em que se desquitava por causa daquele bicho cretino Tentou mandaacute-lo

embora umas vinte vezes e era uma choradeira das crianccedilas e uma espinafraccedilatildeo da mulher

mdash Vocecirc eacute um desalmado mdash disse ela uma vez

Venceu a guerra fria com o cachorro graccedilas agrave maacute educaccedilatildeo do adversaacuterio O

catildeozinho comeccedilou a fazer pipi onde natildeo devia Vaacuterias vezes exemplado prosseguiu no feio

viacutecio Fez diversas vezes no tapete da sala Fez duas na boneca da filha maior Quatro ou cinco

vezes fez nos brinquedos da caccedilula E tudo culminou com o pipi que fez em cima do vestido

novo de sua mulher

149

mdash Aiacute mandaram o cachorro embora mdash perguntei

mdash Mandaram Mas eu fiz questatildeo de daacute-lo de presente a um amigo que adora

cachorros Ele estaacute levando um vidatildeo em sua nova residecircncia

mdash Ueacutehellip mas vocecirc natildeo o detestava Como eacute que arranjou essa sopa pra ele

mdash Problema da consciecircncia mdash explicou mdash O pipi natildeo era dele

E suspirou cheio de remorso

(Disponiacutevel em httpcontobrasileirocombrprova-falsa-cronica-de-sergio-porto-stanislaw-ponte-preta Acesso

em 2612017)

Questotildees

1 Quantos personagens aparecem na histoacuteria Quais vocecirc diria que satildeo os principais

2 Quem teve a ideia foi o padrinho da caccedilula ndash ele me conta

A frase ele me conta eacute um recurso que mostra que a conversa de dois amigos eacute

repassada a uma terceira pessoa Quem eacute ela

3 Que recursos linguiacutesticos mostram a fala do marido e dono da casa onde estava o

cachorro

4 E quais identificam a fala do amigo

5 Onde o marido e seu amigo parecem conversar

6 A partir da fala do marido e das explicaccedilotildees do amigo quais eram as caracteriacutesticas do

cachorro

7 () e eu eacute que implicava com o ldquopobrezinhordquo

Por que pobrezinho estaacute entre aspas

8 Quando aconteceu a histoacuteria

9 Qual foi o problema da histoacuteria

10 Como foi resolvido

11 O destino dado ao cachorro surpreendeu ao amigo Por quecirc

12 Afinal quem era culpado na histoacuteria

13 Que tom predominantemente foi dado a esse texto Humor ironia criacutetica reflexatildeo

lirismo

14 Qual foi o tema principal do texto Vocecirc apontaria outros temas que aparecem na

leitura

15 Que comparaccedilotildees o autor faz com o cachorro Haacute alguma criacutetica Explique

16 Vocecirc conhece o significado das palavrasexpressotildees a seguir Veja

nheacutem-nheacutem-nheacutem chato de galocha puxa-saco

espinafrar espinafraccedilatildeo desquitava guerra fria

vidatildeo sopa

17 Que palavras satildeo usadas no texto para se referir agrave esposa

18 E suspirou cheio de remorso

Explique o valor dessa frase para o contexto da histoacuteria

Atividade nordm 2

Abandono de animais eacute crime e precisa ser denunciado

Por Canal do Pet | 26072016

150

Aleacutem do abandono de animais praacuteticas como bater negar aacutegua ou alimento tambeacutem

satildeo consideradas crime saiba como denunciar

Infelizmente o abandono de animais estaacute cada dia mais presente nos noticiaacuterios

Mesmo com tantas campanhas contra a praacutetica muita gente ainda comete esse crime -

principalmente quando eacute eacutepoca de feacuterias mesmo natildeo havendo um nuacutemero exato as estatiacutesticas

dos institutos de pesquisa afirmam que nos periacuteodos de feacuterias haacute um pico no abandono de

animais Existem muitos relatos de donos que deixam os cachorros em pet shops veterinaacuterios

e hoteacuteis para cachorro e simplesmente nunca mais voltam para buscaacute-los Esse problema pode

estar atrelado a decisatildeo precipitada de ter um animal de estimaccedilatildeo

A Lei 960598 (Lei de Crimes Ambientais) prevecirc os maus-tratos como crime O

decreto 2464534 (Decreto de Getuacutelio Vargas) determina quais atitudes podem ser consideradas

como maus-tratos Qualquer pessoa que for testemunha de um abandono de

animais domeacutesticos ou exoacuteticos pode ir agrave delegacia mais proacutexima A Promotora de Justiccedila

permite a denuacutencia anocircnima Mas para que a denuacutencia seja realizada vocecirc precisa ter certeza

do crime pois uma acusaccedilatildeo falsa eacute outro crime Aleacutem disso no momento da denuacutencia na

delegacia eacute preciso passar o maior nuacutemero de informaccedilotildees possiacuteveis em relaccedilatildeo ao infrator

como seu endereccedilo residencial ou comercial

Caso o animal esteja abandonado em um terreno baldio ou propriedade particular

por exemplo natildeo hesite em invadir o local para salvar o bichinho a sua accedilatildeo seraacute amparada

pela lei O decreto de lei nuacutemero 284840 artigo 24 considera a invasatildeo para salvamento de

um animal em perigo uma atitude de necessidade e portanto natildeo haveraacute nenhum tipo de

puniccedilatildeo

Aleacutem do abandono outras praacuteticas satildeo consideradas crimes pela lei Uma delas eacute o

atropelamento de um animal sem que haja a prestaccedilatildeo de assistecircncia por parte do condutor do

veiacuteculo tambeacutem eacute ilegal Se presenciar essa situaccedilatildeo anote a placa do carro hora e local Outra

eacute a ameaccedila de envenenamento Bater espancar prender por correntes recusar aacutegua e comida e

obrigar ao trabalho excessivo tambeacutem satildeo praacuteticas proibidas

Algumas pessoas preferem natildeo denunciar pelo fato do infrator ser algueacutem proacuteximo

um amigo ou familiar por exemplo Mas lembre-se de que eacute possiacutevel efetuar a denuacutencia de

maus tratos ou abando de animais de forma anocircnima Por isso ao presenciar qualquer situaccedilatildeo

que possa colocar um animal em risco tire foto grave um viacutedeo tenha provas concretas do

acorrido e denuncie Vocecirc seraacute apenas a testemunha o Estado faraacute o restante

Disponiacutevel em httpcanaldopetigcombrcuidados2016-07-26abandono-de-animaishtml Acesso em 22 de

agosto de 2017

Atividade nordm 3

O chato da vez Anaximandro Amorim

Ai meu Deus eu sou muito chato afirmou um amigo em uma conversa informal

Engraccedilado Eu natildeo o acho chato muito pelo contraacuterio Gosto da companhia dele Seraacute que ele

natildeo estaria sendo muito duro consigo mesmo Ou seraacute que eu sou tatildeo chato quanto ele

E vocecirc leitor Vocecirc eacute chato Todo mundo eacute chato ningueacutem eacute chato Do alto desses

meus quase quarenta anos de vida percebi que chatice natildeo eacute qualidade eacute estado de espiacuterito

Dependo de quem quando e onde E sem menos perceber vocecirc leitor pode ser o chato da

vez Cuidado

Foi o que me aconteceu esses dias Um colega insinuou que eu estava sendo chato

Foi num arroubo de fuacuteria o cidadatildeo estava tendo um ataque de nervos Dizem que eacute assim que

151

as verdades vecircm agrave tona Engraccedilado sempre achei que o havia tratado com distinccedilatildeo Talvez

essa fosse tal ldquochaticerdquo ser educado com as pessoas num mundo cada vez mais carente disso

Bom melhor ser chato do que grosso neacute

Particularmente faccedilo tudo para natildeo ser chato Tento ser discreto falar o menos

possiacutevel ouccedilo mais pergunto quase nada sobre a vida particular das pessoas Acho chato

quando fazem isso comigo Natildeo gosto de pegar no peacute A reciacuteproca eacute verdadeira Mas acho que

agraves vezes por medo da chatice acabo chateando algumas pessoas Haacute uma linha muito tecircnue

nesse negoacutecio todo Chato eacute natildeo saber a hora de ultrapassaacute-la E no fundo todo mundo a

ultrapassa

Esses dias aliaacutes fui agrave forra Havia um chato que me chateava haacute uns dois anos

Chato de rede social Daqueles que veem a gente uma duas vezes no maacuteximo e jaacute acham que

podem tomar certas liberdades Meu pavio eacute ateacute meio longo mas chegou uma hora que natildeo

deu Bloqueei o sujeito Estava chato demais Eacute uma pena que na vida real a gente natildeo tenha

esse botatildeo Ia ter tanta gente para bloquear

Em todo caso discordo desse meu amigo Acho que dois chatos natildeo se datildeo Ou ele

estava chato ou era eu Ou na posiccedilatildeo em que estaacutevamos natildeo dava para saber Se bem que

chato que eacute chato natildeo se acha chato Os outros eacute que acham Assim melhor terminar esta

crocircnica que estaacute uma grande chatice por aqui Antes que algueacutem ache definitivamente que o

chato da vez sou eu

Disponiacutevel em httpanaximandroamorimcombrAbreEmDIV]ajaxasplink=amateriaampid=127 Acesso em

24 mai 2017

Questotildees

1 Vamos falar de marcas de autoria

a) De quem eacute a voz que fala no texto Que idade tem essa voz Essa voz fala com algueacutem

Com quem Mostre alguma(s) passagem que indique isso

b) Onde a situaccedilatildeo se passa Haacute algum lugar especiacutefico

c) Esse texto estaacute no passado no presente ou no futuro

d) Do que trata a situaccedilatildeo Ela surgiu de alguma ocasiatildeo especiacutefica Se sim qual

2 O que o autor nos leva a entender que eacute ldquoser chatordquo

3 Que sensaccedilotildees esse texto despertou em vocecirc Explique

4 Vocecirc se considera um(a) chato(a) Por quecirc Em que ocasiotildees

5 Quando o assunto eacute redes sociais

a) Vocecirc tem alguma Qual

b) Com que frequecircncia vocecirc acessa

c) Vocecirc costuma escrever e postar Que tipo de material (textos fotos viacutedeos)

d) Vocecirc tem haacutebito de acompanhar postagens de algueacutem Que tipo de posts vocecirc

acompanha Costuma interagir por meio de comentaacuterios de expressatildeo de opiniatildeo

6 Vamos ver se vocecirc conhece o significado das palavrasexpressotildees a seguir

com distinccedilatildeo pegar no peacute

linha muito tecircnue fui agrave forra

7 Leia o trecho abaixo

Meu pavio eacute ateacute meio longo mas chegou uma hora que natildeo deu Bloqueei o sujeito

Estava chato demais Eacute uma pena que na vida real a gente natildeo tenha esse botatildeo Ia ter tanta

gente para bloquear

a) Qual eacute sua opiniatildeo sobre o pensamento que o autor expressa no trecho acima

b) Vocecirc tambeacutem teria gente para bloquear Por que razotildees

152

c) Agora vamos produzir Inspirado(a) nessa temaacutetica do trecho acima produza um texto

em forma de crocircnica que converse com seu leitor sobre o que eacute ser legal e ser chato a

partir de situaccedilotildees que vocecirc tenha vivenciado e ou observado Vamos determinar quem

seraacute esse leitor

bull Tem a sua idade

bull Acessa redes sociais

bull Lecirc e posta com frequecircncia

bull Interage com as postagens que estatildeo na rede seja de amigos pessoais ou apenas de

outros usuaacuterios

Antes de comeccedilar pense que sensaccedilotildees eu quer causar no meu leitor

Quero fazecirc-lo rir Se emocionar Refletir Que outras sensaccedilotildees seriam possiacuteveis

Faccedila entre 3 e 6 paraacutegrafos Vocecirc pode usar personagens que conversem e

expliquem o assunto (como em Prova Falsa) ou falar diretamente com seu leitor (como

em O chato da vez) Releia Reescreva o que natildeo estiver bem ao seu gosto Ao terminar

seu texto decirc-lhe um tiacutetulo coerente e passe a limpo na folha de produccedilatildeo Bom trabalho

Atividade nordm 4

Manias Ana Mello

Dos vaacuterios significados que meu amigo Aureacutelio apresenta o melhor diz que mania

eacute uma ideia fixa obsessatildeo Mau costume tambeacutem eacute bem significativo Ou extravagacircncia

esquisitice

Dizem por aiacute que vamos ficando velhos e as manias aumentam e se consolidam Eacute

verdade eu observo nos mais velhos do que eu Poucos conseguem controlar aquele impulso

profundo de dar sua opiniatildeo Essa eacute uma mania das mais chatas Repeti-la muitas vezes entatildeo

eacute maccedilante

Jaacute descobri tambeacutem que eacute quase inevitaacutevel ter manias na velhice muitas vecircm da

juventude mesmo condenamos e depois de um tempo fazemos igual sem cerimocircnia alguma

Uma amiga me enviou uma oraccedilatildeo sob o tiacutetulo ldquoOraccedilatildeo para ser uma velhinha

legalrdquo Vou fazer todos os dias e envio coacutepia a quem precisar Separei algumas frases as mais

interessantes

Livrai-me Senhor da tolice de achar que devo dizer algo em toda e qualquer

ocasiatildeo Deste desejo enorme que tenho de querer pocircr em ordem a vida dos outros Da tolice

de querer contar tudo com detalhes e minuacutecias e daacute-me asas para voar diretamente ao ponto que

interessa Jaacute descobri que pessoas que acertam sempre satildeo maccedilantes e desagradaacuteveis Livrai-

me de ser santa Eacute difiacutecil conviver com Santos Mas uma velha rabugenta Senhor eacute obra prima

do diabo

Acho que a oraccedilatildeo pode ser feita por pessoas jovens tambeacutem pois essas manias natildeo

satildeo exclusivas das velhinhas

Fiquei agora com uma duacutevida seraacute que escrever crocircnicas semanais e mandar para

todos os amigos eacute mania Se for azar o de vocecircs amigo eacute para isso mesmo

Enviado por Ana Mello em 02112007

Coacutedigo do texto T720831

Disponiacutevel em httpwwwrecantodasletrascombrcronicas720831

153

Acessado em 23102017

1 Quem eacute ldquomeu amigo Aureacuteliordquo

2 Que exemplos de manias a autora nos apresenta em seu texto

3 Que impressotildees esse texto causou em vocecirc

4 Segundo essa crocircnica quem tem manias Vocecirc concorda Por quecirc

5 Liste aqui manias que vocecirc sabe que tem Apoacutes terminar pense vocecirc as considera

boas ou maacutes manias Por quecirc

6 Vamos fazer um exerciacutecio de escrita Escreva uma crocircnica em que vocecirc fale de suas

manias Converse com o leitor conte a ele suas experiecircncias Faccedila comparaccedilotildees com

pessoas que vocecirc conhece Vocecirc pode inclusive comparar-se hoje a vocecirc daqui a uns

quarenta anos Como seraacute que suas manias vatildeo ser Vatildeo parecer com as das pessoas

mais velhas que vocecirc conhece e convive mas cujas manias vocecirc tanto critica Seratildeo

manias diferentes Seratildeo melhores ou piores

Obs coloque um tiacutetulo interessante e que chame a atenccedilatildeo de seu leitor

Pense que seu texto poderia ser publicado num blog ou mesmo numa paacutegina de rede

social ndash sendo assim que tipo de leitor vai ler o seu texto Ao terminar releia arrume

as ideias e passe a limpo para a folha de produccedilatildeo textual

Atividade nordm 5

Pacto apoacutes morte natildeo podia ver faca Nonato Reis

Essa histoacuteria de prometer retornar ao mundo dos vivos apoacutes o desenlace soa

esquisito e jaacute colocou muita gente em maus lenccediloacuteis A morte pelo misteacuterio que carrega incute

a curiosidade de tentar desvendaacute-la e saber o que de fato existe por traacutes dela Eacute uma questatildeo

que permaneceraacute insoluacutevel ateacute que a ciecircncia elucide-a se eacute que isso algum dia ocorreraacute

Enquanto natildeo atingimos esse estaacutegio temos que ficar com o relato daqueles que se dizem

viacutetimas ou privilegiados de experiecircncias poacutes-tuacutemulo

No Ibacazinho na Palmela no Muricituba e no Marimar era comum as pessoas

fazerem promessas agrave semelhanccedila do pacto selado entre Alvinho e Pau Ferro Na maioria das

vezes o defunto natildeo conseguia voltar deixando frustrados ou aliviados aqueles com quem fez

o acordo Foi o caso de Rui um primo meu que ldquose acertourdquo com Ponina aquela tia-avoacute

descrita em uma de minhas crocircnicas

Rui era um dos poucos que natildeo tinham medo da Tapera de Maria Fernandes Tanto

que decidiu erguer casa justo ali naquele retacircngulo amaldiccediloado e por muito tempo antes de

se casar foi morador solitaacuterio do lugar sem nunca jamais ter visto qualquer coisa fora do

universo dos vivos

Os dois combinaram que aquele que morresse primeiro viria dar sinal ao outro na

noite posterior ao sepultamento Ponina que devia ser uns 50 anos mais velha do que ele tinha

a maior probabilidade de ficar com a obrigaccedilatildeo de cumprir o trato e foi o que aconteceu Poreacutem

os dias e as noites passaram apoacutes o falecimento dela sem que a finada desse qualquer sinal da

sua presenccedila para Rui

Eu tambeacutem caiacute nessa besteira de fazer uma promessa com uma menina do primeiro

ano meacutedio e vivi uma situaccedilatildeo constrangedora Rosa era baixinha corpo bem feito cabelos no

estilo pigmaleatildeo excelente aluna fera em Matemaacutetica e Fiacutesica Nossa aproximaccedilatildeo se deu por

estrateacutegia de aprendizado

154

Eu tinha facilidade em Portuguecircs e Redaccedilatildeo uacutenicas mateacuterias que ela natildeo dominava

e precisava de reforccedilo em Fiacutesica e Matemaacutetica Selamos um pacto de ajuda muacutetua nessas

disciplinas que depois se estendeu para depois da vida ldquoSe eu morrer primeiro eu apareccedilo

para ti em plena Rua Grande apinhada de gente e se tu fores primeiro do que eu tu me surges

agrave noite no meu quartordquo

Eu natildeo entendi o porquecirc da escolha do local da minha apariccedilatildeo mas aceitei Os

anos se passaram eu entrara para a universidade perdi o contato com ela Um dia caminhando

pela Rua Grande veacutespera de Natal gente feito formiga dei de cara com aquela menina

tampinha cabelos no mesmo estilo de antes que diante de mim abriu um enorme sorriso e abriu

os braccedilos para me acolher Eu caiacute das nuvens mas antes que ela me alcanccedilasse danei a correr

feito louco fazendo zigue-zague entre as pessoas ateacute esbarrar num orelhatildeo e me estatelar no

chatildeo o rosto sangrando Assustada Rosa ajoelhou-se diante de mim e quis saber o motivo

daquela reaccedilatildeo ldquoCara o que eacute isso Tu viu fantasmardquo Eu baixei a cabeccedila o coraccedilatildeo prestes a

explodir e natildeo consegui dizer nada

Situaccedilatildeo pior viveu o professor Auriacutelio Vieira de Andrade que fizera um pacto

desses com um primo ainda menino Ele cresceu veio estudar em Satildeo Luiacutes e levou anos para

retornar ao interior Um belo dia em feacuterias na casa paterna Auriacutelio conversava com a matildee em

volta do fogatildeo de lenha quando do nada surgiu o menino da promessa e o pegou pelo braccedilo

dizendo ldquoVamos eu vim te buscarrdquo

Ele natildeo se lembrava mais da estoacuteria nem do menino Pensou que se tratava de uma

brincadeira e reagiu com naturalidade ldquoCalma para onde vocecirc quer me levarrdquo O menino

respondeu ldquopara o aleacutemrdquo Auriacutelio sorriu ldquomas eu ainda natildeo quero ir para o aleacutemrdquo O menino

natildeo se deu por vencido ldquoNatildeo importa a tua vontade vocecirc fez um pacto comigo e eu vim te

buscarrdquo

Foi entatildeo que o caso ressurgiu liacutempido na memoacuteria de Auriacutelio e ele viu que a coisa

era seacuteria A matildee percebendo a gravidade da situaccedilatildeo poreacutem sem avistar o menino tratou de

ajudar o filho segurando-o pelo braccedilo mas notou que havia uma energia ali muito maior que a

resistecircncia de ambos e apelou aos ceacuteus pedindo socorro divino

Auriacutelio jaacute desaparecia na porta da rua quase que levado aos trambolhotildees

Desesperada a matildee comeccedilou a rezar o Pai Nosso e o Credo e soacute assim conseguiu ter o filho de

volta Auriacutelio poreacutem viveu dias amargos ldquoPassei quase um mecircs deprimido Soacute pensava em

suiciacutedio Natildeo podia ver faca perto de mimrdquo

Crocircnica escrita em janeiro de 2017

Questotildees

Parte I ndash Vocabulaacuterio

a) Vocecirc conhece estas palavras

Desenlace Incute

Insoluacutevel Tapera

Pigmaleatildeo Apinhada

b) Vocecirc observa marcas de oralidade no texto Vamos destacar algumas

c) Que outras palavras ou expressotildees satildeo muito correntes no vocabulaacuterio do Maranhatildeo

Parte II ndash Compreensatildeo

1 Do que trata a histoacuteria

2 Qual eacute o foco narrativo

155

3 Que personagens aparecem na histoacuteria

4 O que eacute um pacto poacutes-morte Vocecirc sabe de algueacutem que tenha feito algum

5 Vocecirc acredita nessas histoacuterias Fale um pouco a respeito

6 No trecho ldquoSe eu morrer primeiro eu apareccedilo para ti em plena Rua Grande apinhada

de gente e se tu fores primeiro do que eu tu me surges agrave noite no meu quartordquo

Qual seria a vantagem para cada um nos locais das apariccedilotildees E as desvantagens

7 Como seria feito o seu pacto caso um dia vocecirc resolvesse fazecirc-lo

8 No que esse texto que vocecirc leu se assemelha com uma histoacuteria de terror E no que ela

se diferencia

9 Se esse texto fosse uma notiacutecia de jornal seria escrito da mesma forma Qual seria a

diferenccedila da linguagem

10 No uacuteltimo paraacutegrafo haacute a frase

ldquoFoi entatildeo que o caso ressurgiu liacutempido na memoacuteria de Auriacutelio e ele viu que a coisa

era seacuteriardquo

Se vocecirc fosse o Auriacutelio como resolveria a situaccedilatildeo

Atividade nordm 6

A cara da rua Marcelo Xavier

A rua sempre traduz a imagem de determinada eacutepoca Por isso eacute tatildeo interessante

Em cenas urbanas do seacuteculo XVIII XIX vemos carruagens mulheres de vestidos longos e

homens de terno e chapeacuteu No comeccedilo do seacuteculo XX automoacuteveis pretos mulheres de vestidos

mais curtos e homens ainda de terno e chapeacuteu Nos anos 1960 e 1970 automoacuteveis coloridos

mulheres de minissaia e homens sem terno e sem chapeacuteu

E agora na segunda deacutecada do seacuteculo XXI qual eacute a cara da rua Talvez vocecirc natildeo

saiba responder Eacute que ela passa todos os dias diante do seu nariz e vocecirc natildeo a vecirc Ou vocecirc

apenas vecirc algumas partes ldquomais atraentesrdquo do corpo dela A cara da rua continua invisiacutevel Vale o esforccedilo encare-a Como a um espelho Eacute divertido eacute necessaacuterio Esqueccedila o colesterol de

carros que entopem as vias mire os humanos

Repare bem as mulheres estatildeo de vestidos de todos os comprimentos de calccedilas

coladas se equilibrando em agulhas altiacutessimas carregadas de adereccedilos Normal

Os homens ah Os homens deram um salto esteacutetico rumo agrave libertaccedilatildeo Lembra

aqueles cavalheiros sisudos das ruas antigas com ternos de cores soacutebrias e chapeacuteus iguais

Esquece

Os novos machos estatildeo de brincos colares vistosos boneacutes e tecircnis coloridos

camisetas de todo tipo ebermudas

Natildeo as antigas que natildeo passavam de calccedilas curtas discretas As de hoje satildeo

espalhafatosas se expressam Multicoloridas exibem uma diversidade visual que beira o

infinito Geomeacutetricas abstratas figurativas iacutedolos super-heroacuteis paisagens flores ondas do

156

mar nuvens paacutessaros animais palavras de ordem apologias Combinam texturas

inimaginaacuteveis demarcam aacutereas visuais em recortes absurdamente livres ndash numa perna listras

diagonais na outra xadrez Um tsunami criativo que sai arrastando os antigos princiacutepios de

harmonia do universo da moda E o que eacute intrigante natildeo se repetem

Esse surto visual atinge seu aacutepice quando as bermudas-alucinoacutegenas se juntam a

camisetas estampadas tecircnis astronaacuteuticos boneacutes cheios de atitude e tatuagens ndash nos braccedilos nas

panturrilhas no pescoccedilo laacute estatildeo dragotildees coroas de espinho mulheres folhas de maconha

juras de amor

Vocecirc pode natildeo gostar do que vecirc natildeo se reconhecer na imagem que estaacute no espelho

mas essa eacute a cara da rua do seu tempo De certa forma a sua cara

XAVIER Marcelo A cara da rua e outras crocircnicas Satildeo Paulo Saraiva 2013

Vamos refletir sobre o texto

1 A partir da leitura vocecirc consegue deduzir de que situaccedilatildeo observada no cotidiano o autor

partiu para escrever essa crocircnica

2 O autor fez a construccedilatildeo do seu texto de forma simples poreacutem criativa por meio de

comparaccedilotildees para mostrar a cara da rua ao longo do tempo Vamos identificaacute-las

No meio urbano Seacutec XVIII

XIX

Comeccedilo do

seacutec XX

Anos 19601970 do

seacutec XX

2ordf deacutecada do

seacutec XXI

Vestuaacuterio

feminino

Vestuaacuterio

masculino

3 Dessas comparaccedilotildees do visual que foram feitas ao longo do texto vocecirc encontra alguma

na rua onde mora Qual

4 E o que eacute diferente na rua onde vocecirc mora que natildeo foi citado no texto

5 Preste atenccedilatildeo aos trechos a seguir

A rua sempre traduz a imagem de determinada eacutepoca Por isso eacute tatildeo interessante

[]

Vocecirc pode natildeo gostar do que vecirc natildeo se reconhecer na imagem que estaacute no espelho

mas essa eacute a cara da rua do seu tempo De certa forma a sua cara

6 A partir da leitura do texto vocecirc consegue dizer se o autor gosta ou natildeo gosta da cara da

rua que ele descreve Explique sua resposta

7 Que palavras ou expressotildees no texto mostram que o autor conversa com seu leitor ao longo do texto Sublinhe-as

8 Para que puacuteblico vocecirc acha que essa crocircnica estaacute direcionada Explique sua resposta

9 Vocecirc faraacute a seguir a seguinte atividade leia essa crocircnica de Marcelo Xavier para uma

pessoa em casa Apoacutes a leitura anote as impressotildees e opiniotildees dela sobre a atual cara

da rua sejam positivas ou negativas Ao final pergunte a essa pessoa para quem vocecirc

leu se o texto provocou uma impressatildeo boa ou ruim se ela o achou bem ou mal escrito

se a fez refletir sobre a vida e a mudanccedila dos tempos e qual a conclusatildeo a que ela chegou

depois dessa reflexatildeo

Ao final dessa atividade passe a limpo seu registro e traga para a aula

seguinte para discussatildeo coletiva

157

Atividade nordm 7

A Carta de punho

Demitri Tulio

DAS ANTIGAS 23102016

Algumas pessoas ainda escrevem cartas E bom que ainda o fazem Missivas

escritas agrave matildeo e a tinta preta da caneta dando vida agrave vontade de chegar perto do outro

Ou de ser escutado como se pensasse alto querendo ser ouvido das lonjuras que a

vida vai criando entre ex-amores amigos que deixaram de se ter de filho e matildee separados por

asas

Particularmente antes de agora laacute longe quando fui mais menino queria ter escrito

muitas cartas Devo ter rabiscado umas duas e nunca as mandei agrave destinataacuteria

Primeiro porque tinha vergonha de natildeo saber ortografia Achava difiacutecil (ainda

acho) a gramaacutetica brasileira e me amuava em vergonha de grafar ou concordar alguma coisa

ldquoerradardquo para quem eu queria dizer de mim

Entatildeo ficava horas e dias tentando

rascunhar correto e catando palavras peludas

trechos do dicionaacuterio frase de escritores que eu

queria ser Um paraacutegrafo dois e rasgava a folha

do caderno Serei levado a pagode

E por mais que eu lesse Graciliano

para Heloiacutesa os labirintos e as encruzilhadas da Clarice e os retratos de dona Leopoldina sobre

o Brasil e seu desenxabido Pedro I natildeo conseguia nem copiaacute-los

Loacutegico carta eacute um ser entranhado do remetente Eacute quase um pulmatildeo um rim um

coraccedilatildeo Eacute parte do corpo que se doa no instante em que a esferograacutefica vai sendo guiada pelo

papel

E natildeo era meu o afeto de Graciliano Natildeo eram minhas as inquietaccedilotildees de Clarice

E era de dona Leopoldina aquele incocircmodo de calor a saudade das oacuteperas da Aacuteustria as caccediladas

de animais do Brasil ldquoprimitivordquo

Pois bem queria ter escrito recebido e respondido mais cartas Hoje mando emails

Eacute bom mas carta tinha uma espera que natildeo sei dizer

Semana passada depois de mais de 30 anos sem algueacutem me endereccedilar uma carta

de papel e caneta eis que recebo Natildeo foi de pretendente Sempre esperei por uma dessas mas

talvez a falta de boniteza tenha me privado de

Foi de um leitor da Coluna Um moccedilo de mais de 92 anos que teve a gentileza de

tirar um tempo e me enviar um envelope pelos Correios Carimbado dois selos e o trato por

ldquoIlmo Srrdquo

ldquoCaro (posso) Sr Demitri Sauacutede Sou assinante drsquo O Povo haacute deacutecadas e portanto

seu leitor antigo Natildeo soacute leitor mas tambeacutem admirador pela defesa da natureza (paacutessaros do

Cocoacute) e pelo seu estilo diferente (neologismos bem lsquocolocadosrsquo) e assuntos (temas) originais

para suas crocircnicas

Criei coragem para lhe escrever apoacutes ler sua crocircnica (artigo) lsquoEntatildeo Venha

comigorsquo excelente para quem como eu jaacute passou dos 92 e concorda com suas colocaccedilotildees

sobre a velhice

Aceite meus cumprimentos e votos de muitos anos de lsquoescrevinhaccedilatildeorsquo

Cordialmente (ex-cordis) Santos Rochardquo

158

E ainda escreve um paraacutegrafo derradeiro apoacutes as despedida e a assinatura ldquoPS Natildeo

eacute que eu queira lsquosubir aleacutem da chinelarsquo mas me parece que no penuacuteltimo paraacutegrafo de sua

crocircnica deveria ter escrito lsquose casariarsquo em vez de lsquocasaria-sersquo Discurperdquo

O envelope branco com um carimbo de uma agecircncia dos Correios do bairro

Meireles trazia ainda um texto datilografado (Ser Jovem do general Douglas Mac-Arthur) e

um recorte de jornal com um sermatildeo de Santo Agostinho

Pois fico agradecido pela decisatildeo de escrever a carta do tempo dedicado Pelos

minutos pensando em o que escrever Por cada palavra casada com cada frase Pela respiraccedilatildeo

para pensar em quem nem se conhece

Pela caneta preta identificando o remetente

Pela ida aos Correios ou por se dar ao trabalho de pedir algueacutem que fosse

Pela gentileza de ler a Das Antigas

Como o senhor mandou dizer ldquoNatildeo eacute por ter vivido um certo nuacutemero de anos que

envelhecemos envelhecemos porque abandonamos o nosso idealrdquo

Sem mais fico por aqui

Acesso em 31 ago 2017

httpwww20opovocombrappcolunasdasantigas20161022noticiasdasantigas3665372a-carta-de-

punhoshtml

Vocabulaacuterio

Desenxabido Adjetivo 1desprovido de gosto de sabor insiacutepido insosso2a que

falta interesse particular ou graccedila marcado pela repeticcedilatildeo aborrecido monoacutetono

Ex abundantia cordis Da abundacircncia do coraccedilatildeo Com sinceridade

Curiosidade

Pedro nasceu na manhatilde de 12 de outubro de 1798 no Palaacutecio Real de Queluz

Portugal Ele foi nomeado em homenagem a Satildeo Pedro de Alcacircntara e seu nome completo era

Pedro de Alcacircntara Francisco Antoacutenio Joatildeo Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael

Joaquim Joseacute Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim Desde seu nascimento recebeu o prefixo

honoriacutefico de Dom

Atividade

Vamos observar a crocircnica Marque o que acha adequado

Sim Natildeo

Partiu de uma situaccedilatildeo observadavivida

Conversa com o leitor

Possui o foco narrativo bem determinado (narrador personagem ou

narrador observador ou narrador onisciente)

Leva o leitor a refletir

Causa impressotildees no leitor como riso choro reflexatildeo emoccedilatildeo

Possui um final interessante

Mostra discretamente ao leitor seu ponto de vista a respeito da situaccedilatildeo

Possui alguma descriccedilatildeo de lugarobjetopersonagem

Possui um tiacutetulo

Emprega adequadamente os sinais de pontuaccedilatildeo

Evita repeticcedilatildeo desnecessaacuteria de palavras

Possui paraacutegrafos bem organizados

159

Atividade nordm 8

Amor de macumba Fabriacutecio Carpinejar

Quando algum amigo diz que recebeu macumba da ex fico com ciuacuteme Com dor

de cotovelo

Isso que eacute amor grandioso Amor de verdade

Sempre olho na minha esquina para ver se natildeo tem nenhuma encomenda para mim

Mas nunca chega esse sedex do amor

Macumba eacute sedex 10 do amor

Eacute muita paixatildeo odiar algueacutem com tanto zelo Eacute muito capricho gastar seu tempo e

fazer um trabalhinho para prender a pessoa ao seu coraccedilatildeo

Eacute muita disposiccedilatildeo

Eacute muita energia

Eacute muito querer

Eacute muito desejo

Eacute a superaccedilatildeo de todos os incocircmodos de todos os vexames de todos os medos

Eacute muito luxo ter uma amada pagando para os santos mexerem com vocecirc pagando

a parcela antecipada da eternidade

Isso que eacute amor aleacutem da vida

Isso que eacute vontade de permanecer junto

Eu aceitaria qualquer prova de doaccedilatildeo amarraccedilatildeo vodu letras de macarratildeo

pipoca

Nem precisa roubar minha cueca daria a melhor da minha gaveta

Ai que inveja

No lugar da galinha preta poderia oferecer o chester que sempre recebo no final do

ano

Estaacute aqui parado no congelador Sem uso

E as velas na minha esquina ainda ajudariam a iluminaccedilatildeo puacuteblica

Amor de macumba eacute amor para sempre

Disponiacutevel em httpcarpinejarblogspotcombr201402amor-de-macumbahtml

Acesso em 2 de agosto de 2017

Vamos refletir sobre o texto

1 A partir da leitura vocecirc consegue deduzir de que situaccedilatildeo observada no cotidiano o autor

partiu para escrever essa crocircnica

2 Qual parece ser a opiniatildeo do autor a respeito do tema Utilize trechos do texto que

justifique a sua resposta

3 Que reflexotildees se pode perceber na leitura desse texto

4 Que impressotildees essa crocircnica causa no leitor (riso choro reflexatildeo emoccedilatildeo alguma

outra)

160

Atividade nordm 9

Sr Google Pacheco

SR GOOGLE PACHECO

27 outubro 2012 Juliano Martinz

Quando chegavam ao escritoacuterio pela manhatilde o senhor Google Pacheco sempre

estava laacute Sentado a sua mesa ou correndo de um lado para outro mantinha-se no seu

memoraacutevel ritmo agitado produccedilatildeo beirando o frenesi Os funcionaacuterios o admiravam Era

sempre o primeiro a chegar e o uacuteltimo a sair (embora ningueacutem tenha testemunhado qualquer

um destes acontecimentos)

ndash Acho que ele dorme no escritoacuterio ndash alguns arriscavam

Outros jaacute apelavam pro exagero

ndash Dizem que ele nunca dorme

Sr Google Pacheco O chefe do departamento de marketing Baixo e gordinho

Feiccedilatildeo inocente quase boba Chamava a atenccedilatildeo pelas roupas sempre de cores viacutevidas

cintilantes Geralmente boneacute azul camiseta vermelha calccedilas amarelas e tecircnis verde Agraves vezes

invertia as cores mas nunca as abandonava Roupas estranhas para um homem de nome

estranho A personagem perfeita para textos humoriacutesticos

Quando era novo na empresa ainda apenas um singelo desconhecido causava

confusatildeo com seu nome Liam o crachaacute e diziam

ndash Bom dia sr Goacutegle

Ele corrigia sempre sorridente e simpaacutetico

ndash Natildeo natildeo Pronuncia-se Guacutegou

ndash Guacutegou

ndash Eacute a centeacutesima potecircncia do nuacutemero 10

ndash Uau

Ateacute o nome carregava seu estigma de gecircnio absoluto O Sr Google era uma

enciclopeacutedia ambulante Parecia ser senhor de todo o conhecimento Portador de soluccedilatildeo para

os mais variados problemas na ponta da liacutengua Para cada desafio proposto no dia a dia da

empresa vertia um turbilhatildeo de soluccedilotildees precisas e automaacuteticas

Com sua eficiecircncia derramada a cada suspiro de auxiliar no departamento de

marketing chegou agrave chefia em poucos meses Com o passar dos dias e semanas a experiecircncia

acumulando-se nas veias parecia saber o que as pessoas queriam antes de terminarem de falar

ndash Seu Google o senhor sabe que horashellip

ndash hellip seraacute a reuniatildeo do conselho

ndash Isso Isso mesmo

ndash 16 horas

Era um gecircnio Disposiccedilatildeo tamanha natildeo demorou muito e comeccedilaram a abordar

assuntos mais pessoais

ndash Sr Google preciso de sua ajuda Como faccedilo para conhellip

ndash Conquistar sua melhor amiga

ndash Uau Como o senhor sabe

E derramava soluccedilotildees Como se natildeo bastasse a prontidatildeo comeccedilou a oferecer

vaacuterias opccedilotildees

ndash Sr Google chocolate daacutehellip

ndash Espinha Celulite Coacutelica no bebecirc

ndash Eacuteeacuteeacuteeacutehellip

161

ndash Sono Dor de cabeccedila Azia

ndash Euhellip

ndash Enxaqueca Energia Gases

ndash Isso ndash disse ruborizada ndash Gases

ndash Ahaacute Vocecirc estaacute com sorte menina

Ateacute o poderoso e inacessiacutevel dono da empresa cuja agenda diaacuteria se resumia a

constantes viagens de negoacutecio pela Europa comeccedilou a passar mais tempo no Brasil E quase

todos os dias ia na empresa Mas nem entrava em sua sala Jaacute ia direto para a sala do senhor

Google Os curiosos e fofoqueiros discutiam o teor das conversas atraacutes daquelas portas Uns

diziam que falavam apenas sobre bolsa de valores Acontecimentos mundiais tendecircncias

econocircmicas essas coisas Outros achavam que a conversa soacute passeava pela arena dos assuntos

pessoais

Independentemente do conteuacutedo destes encontros a portas fechadas a empresa soacute

crescia E os funcionaacuterios eram unacircnimes em admitir depois da chegada do Sr Google a vida

de todos eles se tornou mais completa e intensa

Certo dia o Sr Google natildeo apareceu para trabalhar A princiacutepio pairou uma tensatildeo

camuflada no ar Agrave medida que as horas foram passando e o Sr Google natildeo aparecia fez-se

um clima de desespero Comeccedilaram a ligar para o seu celular mas dava como nuacutemero

inexistente Algueacutem tem o telefone da casa dele O resultado foi o mesmo nuacutemero inexistente

Onde ele morava mesmo Ningueacutem sabia O desespero instalou-se no preacutedio Ningueacutem

conseguia fazer nada Ficavam andando de um lado para outro perdidos Nem a dona Gertrudes

conseguiu fazer o cafeacute

Durante dias ningueacutem trabalhou Duacutevidas sobre o andamento da empresa ndash diziam

que accedilotildees da empresa estavam tendo quedas vertiginosas Os funcionaacuterios sentiam-se curvados

ante o peso dos problemas pessoais que natildeo conseguiam resolver sem a ajuda e os conselhos

do Sr Google

Duas semanas depois e metade deles natildeo mais aparecia na empresa Dois ou trecircs

mergulharam de cabeccedila no alcoolismo Outro se jogou da ponte E o poderoso dono da empresa

quem diria foi flagrado diversas vezes em prantos cambaleando pelos corredores

fantasmagoacutericos e mal iluminados da empresa que veio agrave falecircncia dias depois

Quanto ao sr Google nunca mais foi visto Dizem por aiacute que montou um site e

ficou milionaacuterio Mas comprovar mesmo ningueacutem nunca comprovou

Acesso em 2 de agosto de 2017

Disponiacutevel em httpcorrosivacombrcronicas-engracadascronica-humoristica-google-

pacheco

Atividade

1 Vocecirc conhece o vocabulaacuterio a seguir

Memoraacutevel

Frenesi

Singelo

Vertia

Turbilhatildeo

Vertiginosas

2 O texto trata de maneira bem humorada de uma situaccedilatildeo cotidiana Qual

3 O texto traz em si alguma reflexatildeo Qual

162

ANEXO A ndash DISTRIBUICcedilAtildeO POR NIacuteVEL DE PROFICIEcircNCIA

Liacutengua Portuguesa do 9ordm Ano do Ensino Fundamental

Distribuiccedilatildeo por Niacutevel de Proficiecircncia - Liacutengua Portuguesa do 9ordm Ano do Ensino

Fundamental

Niacutevel Descriccedilatildeo do Niacutevel - O estudante provavelmente eacute capaz de

Niacutevel 0

Desempenho menor

que 200

Niacutevel 1

Desempenho maior

ou igual a 200 e

menor que 225

Os estudantes provavelmente satildeo capazes de Reconhecer

expressotildees caracteriacutesticas da linguagem (cientiacutefica jornaliacutestica etc)

e a relaccedilatildeo entre expressatildeo e seu referente em reportagens e artigos

de opiniatildeo Inferir o efeito de sentido de expressatildeo e opiniatildeo em

crocircnicas e reportagens

Niacutevel 2

Desempenho maior

ou igual a 225 e

menor que 250

Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes

provavelmente satildeo capazes de Localizar informaccedilotildees expliacutecitas em

fragmentos de romances e crocircnicas Identificar tema e assunto em

poemas e charges relacionando elementos verbais e natildeo verbais

Reconhecer o sentido estabelecido pelo uso de expressotildees de

pontuaccedilatildeo de conjunccedilotildees em poemas charges e fragmentos de

romances Reconhecer relaccedilotildees de causa e consequecircncia e

caracteriacutesticas de personagens em lendas e faacutebulas Reconhecer

recurso argumentativo em artigos de opiniatildeo Inferir efeito de

sentido de repeticcedilatildeo de expressotildees em crocircnicas

Niacutevel 3

Desempenho maior

ou igual a 250 e

menor que 275

Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes

provavelmente satildeo capazes de Localizar informaccedilotildees expliacutecitas em

crocircnicas e faacutebulas Identificar os elementos da narrativa em letras de

muacutesica e faacutebulas Reconhecer a finalidade de abaixo-assinado e

verbetes Reconhecer relaccedilatildeo entre pronomes e seus referentes e

relaccedilotildees de causa e consequecircncia em fragmentos de romances

diaacuterios crocircnicas reportagens e maacuteximas (proveacuterbios) Interpretar o

sentido de conjunccedilotildees de adveacuterbios e as relaccedilotildees entre elementos

verbais e natildeo verbais em tirinhas fragmentos de romances

reportagens e crocircnicas Comparar textos de gecircneros diferentes que

abordem o mesmo tema Inferir tema e ideia principal em notiacutecias

crocircnicas e poemas Inferir o sentido de palavra ou expressatildeo em

histoacuteria em quadrinhos poemas e fragmentos de romances

Niacutevel 4

Desempenho maior

Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes

provavelmente satildeo capazes de Localizar informaccedilotildees expliacutecitas em

artigos de opiniatildeo e crocircnicas Identificar finalidade e elementos da

163

ou igual a 275 e

menor que 300

narrativa em faacutebulas e contos Reconhecer opiniotildees distintas sobre o

mesmo assunto em reportagens contos e enquetes Reconhecer

relaccedilotildees de causa e consequecircncia e relaccedilotildees entre pronomes e seus

referentes em fragmentos de romances faacutebulas crocircnicas artigos de

opiniatildeo e reportagens Reconhecer o sentido de expressatildeo e de

variantes linguiacutesticas em letras de muacutesica tirinhas poemas e

fragmentos de romances Inferir tema tese e ideia principal em

contos letras de muacutesica editoriais reportagens crocircnicas e artigos

Inferir o efeito de sentido de linguagem verbal e natildeo verbal em

charges e histoacuteria em quadrinhos Inferir informaccedilotildees em

fragmentos de romance Inferir o efeito de sentido da pontuaccedilatildeo e da

polissemia como recurso para estabelecer humor ou ironia em

tirinhas anedotas e contos

Niacutevel 5

Desempenho maior

ou igual a 300 e

menor que 325

Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes

provavelmente satildeo capazes de Localizar a informaccedilatildeo principal em

reportagens Identificar ideia principal e finalidade em notiacutecias

reportagens e resenhas Reconhecer caracteriacutesticas da linguagem

(cientiacutefica jornaliacutestica etc) em reportagens Reconhecer elementos

da narrativa em crocircnicas Reconhecer argumentos e opiniotildees em

notiacutecias artigos de opiniatildeo e fragmentos de romances Diferenciar

abordagem do mesmo tema em textos de gecircneros distintos Inferir

informaccedilatildeo em contos crocircnicas notiacutecias e charges Inferir sentido

de palavras da repeticcedilatildeo de palavras de expressotildees de linguagem

verbal e natildeo verbal e de pontuaccedilatildeo em charges tirinhas contos

crocircnicas e fragmentos de romances

Niacutevel 6

Desempenho maior

ou igual a 325 e

menor que 350

Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes

provavelmente satildeo capazes de Identificar ideia principal e

elementos da narrativa em reportagens e crocircnicas Identificar

argumento em reportagens e crocircnicas Reconhecer o efeito de

sentido da repeticcedilatildeo de expressotildees e palavras do uso de pontuaccedilatildeo

de variantes linguiacutesticas e de figuras de linguagem em poemas

contos e fragmentos de romances Reconhecer a relaccedilatildeo de causa e

consequecircncia em contos Reconhecer diferentes opiniotildees entre

cartas de leitor que abordam o mesmo tema Reconhecer a relaccedilatildeo

de sentido estabelecida por conjunccedilotildees em crocircnicas contos e

cordeacuteis Reconhecer o tema comum entre textos de gecircneros

distintos Reconhecer o efeito de sentido decorrente do uso de

figuras de linguagem e de recursos graacuteficos em poemas e

fragmentos de romances Diferenciar fato de opiniatildeo em artigos e

reportagens Inferir o efeito de sentido de linguagem verbal e natildeo

verbal em tirinhas

Niacutevel 7

Desempenho maior

Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes

provavelmente satildeo capazes de Localizar informaccedilotildees expliacutecitas

ideia principal e expressatildeo que causa humor em contos crocircnicas e

164

ou igual a 350 e

menor que 375

artigos de opiniatildeo Identificar variantes linguiacutesticas em letras de

muacutesica Reconhecer a finalidade e a relaccedilatildeo de sentido estabelecida

por conjunccedilotildees em lendas e crocircnicas

Niacutevel 8

Desempenho maior

ou igual a 375

Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes

provavelmente satildeo capazes de Localizar ideia principal em

manuais reportagens artigos e teses Identificar os elementos da

narrativa em contos e crocircnicas Diferenciar fatos de opiniotildees e

opiniotildees diferentes em artigos e notiacutecias Inferir o sentido de

palavras em poemas

Fonte INEP (2018)

165

ANEXO B ndash DISTRIBUICcedilAtildeO DE TEXTOS FALADOS E ESCRITOS NO CONTIacuteNUO

GENEacuteRICO

Distribuiccedilatildeo dos textos de uso falados e escritos no contiacutenuo geneacuterico

Fonte MARCUSCHI (2015 p 195-196)

166

ANEXO C ndash PRODUCcedilOtildeES DOS ALUNOS

Produccedilatildeo Inicial de Ana

Produccedilatildeo Final de Ana

167

Produccedilatildeo Inicial de Rodrigo

168

Produccedilatildeo final de Rodrigo

169

Produccedilatildeo Inicial de Eduardo

170

Produccedilatildeo final de Eduardo

171

Produccedilatildeo inicial de Estela

172

Produccedilatildeo final de Estela

173

174

175

Produccedilatildeo Inicial de Celia

176

Produccedilatildeo final de Celia

177

Produccedilatildeo Inicial de Arlindo

178

Produccedilatildeo final de Arlindo

179

Produccedilatildeo Inicial de Juacutelia

180

Produccedilatildeo final de Juacutelia

181

Produccedilatildeo Inicial de Vicente

182

Produccedilatildeo final de Vicente

183

Produccedilatildeo Inicial de Graccedila

184

Produccedilatildeo final de Graccedila

185

Produccedilatildeo Inicial de Lilian

186

Produccedilatildeo final de Lilian

187

Produccedilatildeo Inicial de Heloiacutesa

188

Produccedilatildeo final de Heloisa

189

Produccedilatildeo Inicial de Eliane

190

Produccedilatildeo final de Eliane

191

Produccedilatildeo Inicial de Joana

Fonte dados da pesquisa

192

Figura 31 ndash Produccedilatildeo final de Joana

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE HUMANIDADES … · A Deus, que me pôs a realizar sonhos, permitindo-me o devido aperfeiçoamento para que pudesse executar melhor a tarefa

FERNANDA MARIA DA SERRA COSTA

A PRODUCcedilAtildeO ESCRITA DE CROcircNICAS EM SALA DE AULA DO 9ordm ANO DO ENSINO

FUNDAMENTAL

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-

Graduaccedilatildeo Profissional em Letras da

Universidade Federal do Cearaacute como requisito

parcial agrave obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em

Letras

Aacuterea de concentraccedilatildeo Linguagens e

Letramentos

Orientadora Profordf Drordf Aurea Suely Zavam

FORTALEZA - CE

2018

Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo

Universidade Federal do Cearaacute

Biblioteca Universitaacuteria

Gerada automaticamente pelo moacutedulo Catalog mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

C872p Costa Fernanda Maria da Serra

A produccedilatildeo escrita de crocircnicas em sala de aula do 9ordm ano do ensino fundamental Fernanda Maria

da Serra Costa ndash 2018

192 f il color

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Universidade Federal do Cearaacute Centro de Humanidades Programa de

Poacutes-Graduaccedilatildeo Profissional em Letras Fortaleza 2018

Aacuterea de concentraccedilatildeo Linguagens e letramentos

Orientaccedilatildeo Profa Dra Aacuteurea Suely Zavam

1 Produccedilatildeo escrita 2 Escrita como processo 3 Gecircnero textual 4 Crocircnicas 5 Sequecircncia de

atividades I Tiacutetulo

CDD 410

FERNANDA MARIA DA SERRA COSTA

A PRODUCcedilAtildeO ESCRITA DE CROcircNICAS EM SALA DE AULA DO 9ordm ANO DO ENSINO

FUNDAMENTAL

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-

Graduaccedilatildeo Profissional em Letras da

Universidade Federal do Cearaacute como requisito

parcial agrave obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em

Letras Aacuterea de concentraccedilatildeo Linguagens e

Letramentos

Aprovado em ____ ____ _______

BANCA EXAMINADORA

________________________________________

Profordf Drordf Aacuteurea Suely Zavam (Orientadora)

Universidade Federal do Cearaacute (UFC)

_________________________________________

Profordf Drordf Pollyane Bicalho Ribeiro

Universidade Federal do Cearaacute (UFC)

_________________________________________

Prof Drordf Sarah Diva da Silva Ipiranga

Universidade Estadual do Cearaacute (UECE)

A Deus

Aos meus pais Olilia e Arnold

Aos meus filhotes Felipe e Miguel

A Maria Morena e Bilaacute in memorian

AGRADECIMENTOS

A Deus que me pocircs a realizar sonhos permitindo-me o devido aperfeiccediloamento

para que pudesse executar melhor a tarefa de contribuir para o mundo

Aos meus pais Olilia e Arnold por todo o apoio incondicional e sem esperar em

troca a vida toda e mais ainda durante o mestrado

Aos meus filhos Felipe e Miguel pela compreensatildeo da distacircncia mesmo que

passageira pela paciecircncia e pelo apoio

Agrave Prof Dr Aurea Zavam pelo carinho acolhimento e orientaccedilatildeo

Aos professores participantes da banca examinadora Pollyane Bicalho Ribeiro e

Sarah Diva da Silva Ipiranga pelo tempo pelas valiosas colaboraccedilotildees e sugestotildees

Aos colegas da 3ordf turma de mestrado ProfLetrasUFC pelas reflexotildees criacuteticas e

sugestotildees recebidas

Agraves damas do fuaacute porque satildeo as melhores amigas que se pode ter Raquel Ive

Carolina Edvania Eacuterica e Flaacutevia

A Aline pela amizade e carinho imensos essa natural forccedila que a vida lhe deu e

que tatildeo generosamente partilha

A Carla amiga de forccedila pela sensatez e ombro amigo generosidade e atenccedilatildeo

A Robson do fundo do coraccedilatildeo de quem digo que palavras natildeo descrevem essa

amizade que a gente tem

Agrave querida Nady por sua boniacutessima vontade em passar suas ldquolentes de catar pulgardquo

em minhas linhas

Ao meu tio Raimundo e a dona Gilda pela compreensatildeo e disposiccedilatildeo em ajudar a

cuidar da minha turma aqui

Agrave Semed-Satildeo Luiacutes por acreditar na figura do professor que busca capacitaccedilatildeo

profissional

Agrave coordenaccedilatildeo do Mestrado Profissional em LetrasUFC pelo incentivo aos

mestrandos

Aos nossos professores do Mestrado que em muito contribuiacuteram em nossa jornada

Agrave nossa diretora da escola Maria de Jesus Dijeacute pelo apoio e disponibilidade e por

sempre acreditar nos projetos como uma forma de acrescentar ao aperfeiccediloamento dos alunos

da escola

Aos professores e funcionaacuterios que apoiaram e colaboraram com o projeto

Aos pais e familiares que apoiaram e consentiram na participaccedilatildeo dos alunos

Aos alunos do 9ordm ano turma 91 de 2017 que integraram o projeto acreditaram em

si mesmos e agora veem seus escritos circularem socialmente

A todos os amigos colegas de trabalho alunos ex-alunos e demais pessoas que

cruzaram meu caminho deixando contribuiccedilotildees alertas liccedilotildees posso natildeo nominar um por um

aqui mas agradeccedilo sua importacircncia

Agrave CAPES pelo apoio financeiro com a manutenccedilatildeo da bolsa de auxiacutelio

ldquoSe vocecirc quiser melhorar de vida Marcie

sempre vai ter que atravessar um oceano ou um

deserto ou uma montanha Mas se de repente

vocecirc atravessar uma sala cheia de gente toda a

sua vida pode mudarrdquo (Peppermint Patty)

RESUMO

O presente trabalho versa sobre o desenvolvimento da competecircncia escrita de alunos do 9ordm ano

do Ensino Fundamental por meio de uma sequecircncia didaacutetica aplicada ao gecircnero crocircnica

visando proporcionar avanccedilos no processo de redigir Para o aporte teoacuterico daacute-se preferecircncia

agraves abordagens de gecircnero na perspectiva de Bakhtin (2011) Bazerman (2009) Bazerman e

Miller (2011) e Marcuschi (2015) A metodologia envolve uma pesquisa-accedilatildeo conforme

elucidaccedilotildees de Gil (2008) O procedimento se daacute pela aplicaccedilatildeo de uma sequecircncia didaacutetica

inspirada em contribuiccedilotildees de Dolz Noverraz e Schneuwly ([2004] 2013) Swiderski e Costa-

Huumlbes (2009) Lopes-Rossi (2011) Vieira (2005) e Serafini (2003) com vista ao aprendizado

de produccedilatildeo de texto do gecircnero crocircnica sob a oacutetica da escrita como processo Por meio das

atividades de leitura e escrita de crocircnicas percebe-se que os alunos refletiram sobre os

procedimentos de escritor sensibilizaram mais o seu olhar para o cotidiano e ampliaram o

conhecimento de sua competecircncia linguiacutestica Acredita-se que propiciar situaccedilotildees de

aprendizagem apresentando-as natildeo como um fardo mas com a graccedila ndash apesar do necessaacuterio

investimento pedagoacutegico ndash que a escrita pode vir a ter garante assim que os alunos concluam

o Ensino Fundamental tendo a oportunidade de elaborar textos consoantes ao seu direito de

serem proficientes em sua liacutengua materna

Palavras-chave Produccedilatildeo escrita Gecircneros textuais Sequecircncia didaacutetica Crocircnicas

ABSTRACT

The present work deals with the development of written competence of students of the 9th grade

of elementary school through a didactic sequence applied to the genre chronicles aiming to

provide advances in the writing process For the theoretical contribution genre approaches are

preferred from the perspective of Bakhtin (2011) Bazerman (2009) Bazerman e Miller (2011)

e Marcuschi (2015) The methodology involves an action research according to Gils (2008)

elucidations The procedure is based on the application of a didactic sequence inspired by

contributions of Dolz Noverraz and Schneuwly ([2004] 2013) Swiderski and Costa-Huumlbes

(2009) Lopes-Rossi (2011) Vieira (2005) e Serafini (2003) with a view to learning text

production of the genre chronicle under the point of view of writing as a process Through the

activities of reading and writing of chronicles it is noticed that the students have reflected on

the procedures of writer they have sensitized more their look at the quotidian and have extended

the knowledge of their linguistic competence It is believed that providing learning situations

by presenting them not as a burden but with the grace - despite all the necessary pedagogical

investment - that writing can have thus ensuring that students finish elementary school having

the opportunity to prepare texts according to their right to be proficient in their mother language

Keywords Written production Genres Didactic sequence Chronicles

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Esquema baacutesico de sequecircncia didaacutetica 31

Figura 2 - Esquema da SD adaptada por Costa-Huumlbes 36

Figura 3 - Esquema da SD adaptada por Costa-Huumlbes 38

Figura 4 - Proposiccedilatildeo de sequecircncia didaacutetica para o projeto de escrita 77

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 ndash Resultados IDEB 2015 70

Graacutefico 2 ndash Desempenho da escola nas ediccedilotildees da Prova Brasil 70

Graacutefico 3 ndash Distribuiccedilatildeo percentual dos alunos do 9ordm Ano do EF por niacutevel de

proficiecircncia - Liacutengua Portuguesa

71

Graacutefico 4 ndash Nuacutemero de alunos do 9ordm ano 88

Graacutefico 5 ndash Participaccedilatildeo nas produccedilotildees 89

Graacutefico 6 ndash Alunos presentes por encontro 90

Graacutefico 7 ndash Avaliaccedilatildeo das crocircnicas A 122

Graacutefico 8 ndash Avaliaccedilatildeo das crocircnicas B 136

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 ndash Siacutentese das etapas de desenvolvimento de projetos pedagoacutegicos que visam agrave

produccedilatildeo escrita de gecircneros discursivos

38

Quadro 2 ndash Motivaccedilatildeo e envolvimento na produccedilatildeo escrita 54

Quadro 3 ndash Como organizar as ideias em paraacutegrafos 63

Quadro 4 ndash Moacutedulos desenvolvidos na sequecircncia de atividades (SA) 80

Quadro 5 ndash Quadro autoavaliativo 91

Quadro 6 ndash Identificaccedilatildeo dos textos dos alunos

Quadro 7 ndash Produccedilatildeo inicial Ana ndash Tiacutetulo Ser chato ou natildeo ser eis a questatildeo

Quadro 8 ndash Produccedilatildeo final Ana ndash Tiacutetulo Ser chato ou natildeo ser eis a questatildeo

Quadro 9 ndash Produccedilatildeo inicial Rodrigo ndash Tiacutetulo Pare de se criticar

Quadro 10 ndash Produccedilatildeo final Rodrigo ndash Tiacutetulo

Quadro 11 ndash Produccedilatildeo inicial Eduardo ndashTiacutetulo O amigo muito e muito chato

Quadro 12 ndash Produccedilatildeo final Eduardo ndashTiacutetulo Ser legal natildeo eacute ser chato

Quadro 13 ndash Produccedilatildeo inicial Estela ndash Tiacutetulo Os chatos de antematildeo

Quadro 14 ndash Produccedilatildeo final Estela ndashTiacutetulo O tio chato de galocha

Quadro 15 ndash Produccedilatildeo inicial Ceacutelia ndashTiacutetulo Chata sim ou natildeo

Quadro 16 ndash Produccedilatildeo final Ceacutelia ndash Tiacutetulo Chata sim ou natildeo

Quadro 17 ndash Produccedilatildeo inicial Arlindo ndash Tiacutetulo Chato e natildeo eacute chato

Quadro 18 ndash Produccedilatildeo final Arlindo ndash Tiacutetulo Chato e natildeo eacute chato

Quadro 19 ndash Produccedilatildeo inicial Juacutelia ndash Tiacutetulo Ser chato ou ser legal

Quadro 20 ndash Produccedilatildeo final Juacutelia ndash Tiacutetulo Pessoas chatas e pessoas legais

Quadro 21 ndash Produccedilatildeo inicial Vicente ndash Tiacutetulo A pergunta eacute se eu bloquearia uma

pessoa chata

Quadro 22 ndash Produccedilatildeo final Vicente ndash Tiacutetulo

Quadro 23 ndash Produccedilatildeo inicial Graccedila ndash Tiacutetulo Rafaelly chata

Quadro 24 ndash Produccedilatildeo final Graccedila ndash Tiacutetulo Chata ela ou EU

Quadro 25 ndash Produccedilatildeo inicial Lilian ndash Tiacutetulo Meus amigos chatos e Eu

Quadro 26 ndash Produccedilatildeo final Lilian ndash Tiacutetulo Pessoas legais e chatas

Quadro 27 ndash Produccedilatildeo inicial Heloiacutesa ndash Tiacutetulo ldquoChato mais eacute muito legalrdquo

Quadro 28 ndash Produccedilatildeo final Heloiacutesa ndash Tiacutetulo ldquoO melhor chatordquo

Quadro 29 ndash Produccedilatildeo inicial Eliane ndash Tiacutetulo Um pouco de tudo

91

92

93

95

96

97

99

99

101

103

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105

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116

117

Quadro 30 ndash Produccedilatildeo final Eliane ndash Tiacutetulo O que e chato e o que e legal

Quadro 31 ndash Produccedilatildeo inicial Joana ndash Tiacutetulo Pessoas chatas e outras legal

Quadro 32 ndash Produccedilatildeo final Joana ndash Tiacutetulo Pessoas oacutetimas

Quadro 33 ndash Tiacutetulos das produccedilotildees para circulaccedilatildeo social

Quadro 34 ndash PIB Ana

Quadro 35 ndash PFB Ana ndash Tiacutetulo PROIBIDA DE ACHAR GRACcedilA

Quadro 36 ndash PIB Rodrigo ndash Tiacutetulo Vida de preguiccediloso

Quadro 37 ndash PFB Rodrigo ndash Tiacutetulo VIDA DE PREGUICcedilOSO

Quadro 38 ndash PIB Eduardo ndash Tiacutetulo

Quadro 39 ndash PFB Eduardo ndash INFAcircNCIA FELIZ

Quadro 40 ndash PIB Estela ndash Tiacutetulo ldquoDown= bullyingrdquo

Quadro 41 ndash PFB Estela ndashTiacutetulo DOWN= BULLYING

Quadro 42 ndash PFA2 Ana ndash Tiacutetulo O que eacute ser chato

118

120

121

124

124

125

126

127

129

131

132

134

137

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BNCC Base Nacional Comum Curricular

ENEM Exame Nacional do Ensino Meacutedio

FP Folha de Produccedilatildeo

IDEB Iacutendice de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

LDB Lei de Diretrizes e Bases

PCN Paracircmetros Curriculares Nacionais

PF Produccedilatildeo final

PF-A Produccedilatildeo final para a o trabalho em sala

PF-B Produccedilatildeo final para circulaccedilatildeo social dos textos com audiecircncia real

PI Produccedilatildeo Inicial

PI-A Produccedilatildeo inicial para o trabalho em sala

PI-B Produccedilatildeo inicial para circulaccedilatildeo social dos textos com audiecircncia real

SD Sequecircncia Didaacutetica

SEMED Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo

TDIC Tecnologias Digitais da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 16

2 OS GEcircNEROS E O TRABALHO EM SALA DE AULA 23

21 Demarcando o conceito de gecircnero 23

211 Gecircnero como tipo relativamente estaacutevel de enunciado 23

212 Gecircnero como accedilatildeo social 26

213 Gecircnero como fenocircmeno histoacuterico 30

22 Conhecendo a sequecircncia didaacutetica 31

221 Conceito de sequecircncia didaacutetica 32

222 Propostas de adaptaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica 35

2221 Moacutedulo de reconhecimento 36

2222 Moacutedulo de divulgaccedilatildeo ao puacuteblico 37

2223 Abordagem imitativa da redaccedilatildeo 39

23 Definindo o gecircnero textual crocircnica 41

231 A crocircnica brasileira 42

232 Caracteriacutesticas da crocircnica 44

2321 Crocircnica um gecircnero jornaliacutestico 45

2322 Crocircnica um gecircnero literaacuterio 46

3 LEITURA E ESCRITA NOS ANOS FINAIS DO ENSINO

FUNDAMENTAL

49

31 Habilidades de leitura e escrita para que ler e escrever 49

32 Escrita e motivaccedilatildeo 53

33 Escrita como processo 56

34 Escrita na escola 61

35 Letramento literaacuterio 66

4 NATUREZA E PROCEDIMENTOS DA PESQUISA 69

41 Contexto da pesquisa 69

42 Participantes 72

43 Materiais 73

44 Procedimentos 74

441 Primeira etapa da apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo agrave produccedilatildeo inicial 77

442 Segunda etapa desenvolvimento dos moacutedulos 79

443 Terceira etapa produccedilatildeo final 85

444 Quarta etapa circulaccedilatildeo social dos textos 86

5 ANAacuteLISE DA SEQUEcircNCIA REFLEXOtildeES 87

51 Participaccedilatildeo dos alunos na pesquisa 88

52 Anaacutelise da apropriaccedilatildeo de caracteriacutesticas do gecircnero crocircnica literaacuteria 90

53 Os textos dos alunos 92

531 Produccedilotildees A textos apenas para o trabalho em sala de aula 92

532 Produccedilotildees B textos para circulaccedilatildeo social 123

533 Uma nova reescrita 136

6 CONCLUSAtildeO 139

REFEREcircNCIAS 144

APEcircNDICE A ndash ATIVIDADES PROPOSTAS PARA A SEQUEcircNCIA

DIDAacuteTICA

148

ANEXO A ndash DISTRIBUICcedilAtildeO POR NIacuteVEL DE PROFICIEcircNCIA 162

ANEXO B ndash DISTRIBUICcedilAtildeO DE TEXTOS FALADOS E ESCRITOS

NO CONTIacuteNUO GENEacuteRICO

165

ANEXO C ndash PRODUCcedilOtildeES DOS ALUNOS 166

16

1 INTRODUCcedilAtildeO

A proposta deste trabalho parte de uma motivaccedilatildeo de cunho pessoal fruto das

dificuldades que como professora enfrentamos todos os dias como se pode conduzir o

trabalho em sala de aula de modo eficaz para que os alunos independentemente de sua idade

ou seacuterie possam terminar o ano letivo escrevendo textos claros

Para levar o aluno a desenvolver suas habilidades de escrita um passo importante

seria planejar sequecircncias que abordem as caracteriacutesticas do gecircnero a ser trabalhado permitindo-

lhe pocircr em aproximaccedilatildeo eou contraste seus saberes com os conhecimentos a serem construiacutedos

Para noacutes professores esse passo tem se revelado ainda bastante difiacutecil visto que nossa cultura

escolar ainda natildeo se firmou apropriadamente na visatildeo de que escrita eacute processo e que seu

produto pode ndash deve aliaacutes ndash alcanccedilar a sociedade permitindo ao aluno o exerciacutecio da cidadania

Pensamos entatildeo na elaboraccedilatildeo de uma sequecircncia de aulas que trabalhe a produccedilatildeo

escrita abordando o seu processo Para tanto escolhemos a oacutetica de Vieira (2005) que traz

importante contribuiccedilatildeo para o trabalho do professor ao abordar o processo de produccedilatildeo do

texto considerando-o mais importante no ambiente pedagoacutegico do que o texto pronto Sua

justificativa parte da inquietaccedilatildeo de por que eacute difiacutecil aprender a redigir

Ao longo de sua obra a autora traz reflexotildees a partir de pesquisas sobre os aspectos

comunicativos cognitivos e psicoloacutegicos do processo de redigir conhecimento que ela constata

fornecerem subsiacutedios para fundamentar a didaacutetica da escrita orientando as escolhas

metodoloacutegicas dos professores (VIEIRA 2005 p79) Ainda na abordagem da produccedilatildeo escrita

como processo contamos com Serafini (2003) que tambeacutem traz valiosa orientaccedilatildeo tanto para

o aluno como para o professor

Para trabalharmos esse processo com os alunos o gecircnero escolhido para a criaccedilatildeo

e aplicaccedilatildeo de nossa sequecircncia de aulas eacute a crocircnica literaacuteria que vem ganhando destaque no

cenaacuterio nacional atual de estudos na educaccedilatildeo baacutesica desde a proposta da Olimpiacuteada de Liacutengua

Portuguesa Escrevendo o Futuro (CENPEC 2016) Por seu formato fluido e por se apresentar

de tal modo que a fala pessoal se associa agrave fala coletiva a crocircnica parece integrar espaccedilos

iacutentimos a puacuteblicos construindo dessa maneira uma relaccedilatildeo de proximidade entre o autor e o

leitor

Por percebermos que haacute vaacuterios alunos que produzem seus textos sem recorrer agrave

etapa do planejamento a da revisatildeo e a da reescrita visamos entatildeo nesta pesquisa devido agrave

ausecircncia de tais procedimentos responder agraves seguintes questotildees-problema desdobradas a partir

17

da questatildeo baacutesica como ensinar a produccedilatildeo escrita no 9ordm ano do Ensino Fundamental enfocando

o ato de redigir como um processo visto que haacute estudantes deste niacutevel que normalmente natildeo

tecircm o haacutebito de planejar seus textos A partir desse questionamento nos perguntamos

a) que atividades pedagoacutegicas possibilitam aos alunos a consciecircncia de que eacute

preciso desenvolver estrateacutegias proacuteprias (recorrer agrave etapa do planejamento da

revisatildeo e da reescrita) para produzir seus textos

b) de que forma o conhecimento sobre a estrutura composicional de um gecircnero

pode ajudar a superar as dificuldades

c) a comparaccedilatildeo das produccedilotildees inicial e final permitiraacute associar a melhoria do

desempenho da competecircncia escrita e a apropriaccedilatildeo do gecircnero crocircnica literaacuteria

ao desenvolvimento da sequecircncia de atividades

Apoacutes as oficinas a anaacutelise deteacutem-se nos objetivos elencados com dados

comparativos entre produccedilatildeo inicial e produccedilatildeo final a fim de constatarmos a relevacircncia da

hipoacutetese baacutesica os alunos do 9ordm ano produziram textos na etapa final das oficinas utilizando-

se das caracteriacutesticas do gecircnero textual crocircnica literaacuteria compreendendo que escrita eacute interaccedilatildeo

valorizando o uso social da escrita de acordo com a proposta teoacuterica de gecircnero preparando

seus textos pautados nas etapas do processo de redigir conforme as orientaccedilotildees dadas em sala

de aula Desdobradas em mais trecircs hipoacuteteses secundaacuterias pensamos

a) eacute possiacutevel motivar os alunos a escrever ao desenvolver com eles atividades

voltadas para os diferentes subprocessos e habilidades envolvidos no ato de

redigir

b) o ensino da composiccedilatildeo do gecircnero crocircnica literaacuteria contribuiraacute para minimizar

dificuldades observadas nos textos dos alunos do 9ordm ano como nos planos

morfossintaacutetico e semacircntico aleacutem de lhes propiciar o desenvolvimento da

competecircncia em textos escritos

c) apoacutes a realizaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica proposta ao compararmos as produccedilotildees

inicial e final dos alunos verificaremos um desempenho mais satisfatoacuterio em

relaccedilatildeo agrave competecircncia discursiva realizada no gecircnero crocircnica

Utilizamos a sequecircncia didaacutetica ferramenta teoacuterico-metodoloacutegica proposta por

Dolz Noverraz e Schneuwly ([2004]2013) para facilitar a criaccedilatildeo de nossa sequecircncia

refletindo sobre as atividades iniciais como um diagnoacutestico e a partir daiacute compondo os

moacutedulos que julgamos necessaacuterios dentro do tempo disponiacutevel para o aperfeiccediloamento da

praacutetica de escrita dos alunos

18

Sem esquecer que o produto desta sequecircncia precisa ter relevacircncia e circulaccedilatildeo

social fizemos o estudo do conceito de gecircnero a partir de autores como Bakhtin (2011)

Bazerman (2009) Bazerman Miller (2011) e Marcuschi (2015) autores cujas contribuiccedilotildees

teoacutericas nos permitem compreender que os textos verbais ou orais dependem do contexto em

que satildeo criados considerando seu momento histoacuterico e caracteriacutesticas culturais e sociais

fazendo portanto sentido somente se se destinarem a uma audiecircncia real com papeis sociais

reais

O gecircnero eleito para o trabalho de produccedilatildeo escrita eacute como dissemos a crocircnica

literaacuteria A escolha da tipologia narrativa e do gecircnero crocircnica deu-se por alguns motivos

a) as narrativas possuem um papel fundamental na formaccedilatildeo dos indiviacuteduos Desde

a infacircncia a crianccedila tem contato com a narraccedilatildeo Ela mesma narra como forma

de organizar suas ideias E em sociedade as narrativas ajudaram a construir a

identidade dos povos prolongando ramos e aprofundando raiacutezes

b) a crocircnica eacute um gecircnero que se identifica com a realidade dos alunos pela leveza

da linguagem associando a oralidade e coloquialidade e facilidade de

identificaccedilatildeo de elementos coletivos e individuais presentes em seu cotidiano

os quais podem vir a se tornar objeto de reflexatildeo de bom humor ou mesmo de

criacutetica e sobre tais elementos pode-se motivar os alunos a escrever

c) considerando o papel social da escola que deve ser de integrar o aluno como

cidadatildeo em sociedade eacute uma excelente oportunidade de ensinar os

procedimentos concernentes ao processo de escrita com um texto com

caracteriacutesticas literaacuterias visto que daiacute por diante entrando no ensino meacutedio

predominam as praacuteticas de trabalho com os textos argumentativos cuja

recorrecircncia se deve a serem os mais cobrados em avaliaccedilotildees diagnoacutesticas e de

acesso ao niacutevel superior tais como ENEM vestibulares seleccedilotildees e concursos

sendo um pouco esquecidas as narrativas e os processos de escrita criativa

Esta pesquisa se valeu tambeacutem de trabalhos acadecircmicos que trataram de produccedilatildeo

escrita na escola do gecircnero crocircnica de sequecircncias didaacuteticas e do estudo dos gecircneros textuais

relacionados ao trabalho em sala de aula dentre os quais destacamos

Santos (2008) em sua pesquisa sobre o gecircnero textual crocircnica narrativa no ensino

meacutedio percebeu alguns avanccedilos discretos apoacutes a aplicaccedilatildeo de uma sequecircncia didaacutetica Embora

muitos textos tenham apresentado as caracteriacutesticas do gecircnero explorado em sala de aula

alguns se apresentaram ainda como narrativas tipicamente escolares O pesquisador encontrou

19

dificuldades durante sua pesquisa com produccedilatildeo textual porque afirma na escola o objeto

central de ensino da liacutengua portuguesa ainda eacute a gramaacutetica que disputa espaccedilo diretamente com

a literatura sendo a produccedilatildeo relegada a apenas uma aula sem enfoque no processo de reescrita

dos textos com as devidas reflexotildees

Swiderski e Costa-Huumlbes (2009) analisam o formato baacutesico da sequecircncia didaacutetica

proposta pelo grupo de Genebra e propotildeem a inserccedilatildeo de um moacutedulo novo chamado de moacutedulo

de reconhecimento anterior agrave produccedilatildeo inicial de modo a permitir aos alunos o contato com

textos do gecircnero antes de partir diretamente para a escrita do primeiro texto propiciando

oportunidade de pesquisa leitura e anaacutelise linguiacutestica contemplando os outros eixos do

trabalho com liacutengua portuguesa aleacutem da escrita eou oralidade

Lopes-Rossi (2011) tambeacutem trata da sequecircncia didaacutetica e propotildee para o final da

SD uma culminacircncia a que ela chama de divulgaccedilatildeo ao puacuteblico ou seja um momento para

colocar em circulaccedilatildeo social os textos que os alunos produzem ao longo do trabalho

sistematizado permitindo-lhes compreender o sentido real dos textos do gecircnero que estudam

Colombo (2013) faz uma avaliaccedilatildeo das produccedilotildees vencedoras das ediccedilotildees da

Olimpiacuteada de Liacutengua Portuguesa Escrevendo o Futuro na categoria Crocircnicas Sua criacutetica

principal ao processo estaacute natildeo nas oficinas realizadas pois em muito ajudam os alunos a

conhecer os diversos tons que os textos das crocircnicas trazem a partir das mais diferentes

temaacuteticas mas na artificialidade do interlocutor para quem os alunos escreveram (uma banca

examinadora) e as redaccedilotildees escolhidas por essa banca (um criteacuterio mais pessoal que objetivo)

Colombo (2013) critica tambeacutem a incoerecircncia entre o material de avaliaccedilatildeo

produzido pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Educaccedilatildeo Cultura e Accedilatildeo Comunitaacuteria ndash

CENPEC em 2011 com uma coletacircnea de excertos de textos natildeo vencedores de ediccedilotildees

passadas que aponta no capiacutetulo dedicado agraves crocircnicas exemplos de distanciamentos da

tipologia narrativa proacutepria do gecircnero em textos que abordaram mazelas locais com

predominacircncia da descriccedilatildeo e da criacutetica Para ela essas mesmas caracteriacutesticas ressurgiram nos

textos vencedores do ano de 2012 Dentre outras criacuteticas a mais incisiva de suas consideraccedilotildees

eacute a de que a crocircnica eacute um texto para ser lido na escola sendo no entanto impossiacutevel ensinar os

alunos a escrever crocircnicas pois para a autora natildeo devem ser produzidas sob a pressatildeo de um

concurso que escolheraacute qual a melhor

Correia (2015) em sua pesquisa centrada em uma sala de aula de 7ordm ano do Ensino

Fundamental priorizou a praacutetica de leitura do gecircnero crocircnica e associou ao trabalho com esta

mais dois gecircneros a entrevista e o documentaacuterio audiovisual abordando um aspecto

20

multimodal em sua produccedilatildeo final Sua intenccedilatildeo parece-nos foi usar a temaacutetica das crocircnicas

para despertar nos alunos uma apropriaccedilatildeo da realidade em que estatildeo inseridos e em suas

consideraccedilotildees acredita que no momento de produccedilatildeo escrita dentro das possibilidades de

alunos de 12 anos de idade logrou sucesso ao levar os alunos ao reconhecimento das

caracteriacutesticas do gecircnero

Paiva (2015) realizou um trabalho que contribuiu diretamente para o

desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita atraveacutes do ensino da produccedilatildeo de textos

argumentativos no gecircnero carta de reclamaccedilatildeo Por meio de uma sequecircncia didaacutetica que

priorizava como em nosso caso de pesquisa o processo de produccedilatildeo em vez de considerar

apenas o produto a pesquisadora logrou ecircxito ao identificar progressos nos textos dos alunos

dentro das possibilidades de trabalho que executou

Feitosa (2016) abordou o ensino de liacutengua portuguesa na perspectiva dos gecircneros

realizando uma sequecircncia didaacutetica com o gecircnero panfleto colocando o produto final em

circulaccedilatildeo social como em nosso caso de pesquisa com a distribuiccedilatildeo dos panfletos pelos

alunos no ambiente escolar e na comunidade em que a escola estaacute inserida Fazendo isso ela

possibilitou a atribuiccedilatildeo da significaccedilatildeo proacutepria do gecircnero agrave produccedilatildeo textual dos alunos fator

importante para estimulaacute-los a interagir em sociedade por meio de seus textos

Os Paracircmetros Curriculares Nacionais (PCN 1997) reconhecem que o ensino de liacutengua

portuguesa na educaccedilatildeo baacutesica eacute pautado em uma prioridade de estudos de aspectos normativos

ou gramaticais da liacutengua o que o torna limitado e insuficiente e sugerem redirecionar o foco

para a praacutetica de leitura e ndash aspecto muito importante ndash o exerciacutecio da escrita de textos nos mais

variados gecircneros textuais existentes na sociedade possibilitando o estudo da liacutengua em

contextos reais de uso natildeo apenas como um conjunto de normas1

Para tanto aprender a pensar e falar sobre a proacutepria linguagem realizar uma

atividade de natureza reflexiva uma atividade de anaacutelise linguiacutestica supotildee duas situaccedilotildees

planejar situaccedilotildees didaacuteticas que possibilitem a reflexatildeo natildeo somente sobre os diferentes

recursos expressivos utilizados pelo autor do texto mas tambeacutem sobre a forma pela qual a

seleccedilatildeo de tais recursos reflete as condiccedilotildees de produccedilatildeo do discurso e as restriccedilotildees impostas

1 Os Paracircmetros Curriculares Nacionais (PCN 1997) reconhecem que o ensino de liacutengua portuguesa na educaccedilatildeo

baacutesica eacute pautado em uma prioridade de estudos de aspectos normativos ou gramaticais da liacutengua o que o torna

limitado e insuficiente e sugerem redirecionar o foco para a praacutetica de leitura e ndash aspecto muito importante ndash o

exerciacutecio da escrita de textos nos mais variados gecircneros textuais existentes na sociedade possibilitando o estudo

da liacutengua em contextos reais de uso natildeo apenas como um conjunto de normas

21

pelo gecircnero e pelo suporte e tomar como objeto de reflexatildeo os procedimentos de planejamento

de elaboraccedilatildeo e de refacccedilatildeo dos textos (BRASIL 1997 p 8)

Esses gecircneros a que se referem os paracircmetros satildeo conceituados por Bakhtin autor

em que se fundamenta a proposta dos PCN Compreendendo que o conhecimento de tais

gecircneros traz liberdade ao usuaacuterio da liacutengua o filoacutesofo afirma que quanto melhor dominamos os

gecircneros tanto mais livremente os empregamos tanto mais plena e nitidamente descobrimos

neles a nossa individualidade (onde isso eacute possiacutevel e necessaacuterio) refletimos de modo mais

flexiacutevel e sutil a situaccedilatildeo singular da comunicaccedilatildeo em suma realizamos de modo mais acabado

o nosso livre projeto de discurso (BAKHTIN 2011 p 285)

Os PCN para o 3ordm e o 4ordm ciclos do Ensino Fundamental orientam aleacutem da ampliaccedilatildeo

da variedade de textos e gecircneros que o trabalho com os alunos leve a ldquoconhecer caracteriacutesticas

fundamentais do Brasil nas dimensotildees sociais materiais e culturais como meio para construir

progressivamente a noccedilatildeo de identidade nacional e pessoal e o sentimento de pertinecircncia ao

paiacutesrdquo (BRASIL 1997 p 7)

Assim produzir textos requer dessa forma estudar os diferentes modos de

expressatildeo abrindo-se aiacute para o aluno uma gama de possibilidades de manifestaccedilatildeo de ideias

atraveacutes do conhecimento de sua liacutengua nas relaccedilotildees de interaccedilatildeo pessoal

No entanto para que essa produccedilatildeo seja efetiva haacute que se ter em mente que

qualquer tarefa de escrita bem-sucedida requer o exerciacutecio da escrita e da reescrita pois se

considera que nesse processo de aperfeiccediloamento as aulas tomadas entre o iniacutecio e o teacutermino

de uma sequecircncia de atividades ou seja entre a produccedilatildeo inicial e a produccedilatildeo final sejam

vaacuterias e variadas com planejamento para conhecer as necessidades de cunho geral da turma

como as caracteriacutesticas de um gecircnero bem como as de cunho individual do aluno como as

limitaccedilotildees no reconhecimento do gecircnero textual na construccedilatildeo de argumentos na progressatildeo

narrativa nas convenccedilotildees da escrita culta

Com o objetivo de orientar o leitor apresentamos a forma de organizaccedilatildeo desta

pesquisa que se encontra disposta em mais cinco seccedilotildees primaacuterias aleacutem desta Introduccedilatildeo

Na seccedilatildeo 2 denominada ldquoOs gecircneros e o trabalho em sala de aulardquo discorremos

sobre o conceito de gecircnero apoiando-nos na oacutetica de Bahktin de gecircnero como tipo

relativamente estaacutevel de enunciado na oacutetica da sociorretoacuterica do gecircnero como accedilatildeo social

principalmente com Bazerman e Miller e do gecircnero como fenocircmeno histoacuterico como nos fala

Marcuschi Aleacutem disso tratamos do conceito de sequecircncia didaacutetica proposta teoacuterico-

metodoloacutegica de Dolz Noverraz e Schneuwly e de propostas complementares agrave SD com as

22

contribuiccedilotildees de Costa-Huumlbes e Lopes-Rossi Ainda nesta seccedilatildeo tratamos da definiccedilatildeo do

gecircnero textual crocircnica e suas caracteriacutesticas desenvolvidas no Brasil tanto no campo

jornaliacutestico quanto no literaacuterio pelas oacuteticas de Beltratildeo Coutinho e Cacircndido

Na seccedilatildeo 3 denominada ldquoLeitura e escrita no ensino fundamental anos finaisrdquo

discorremos sobre escrita resgatando um pouco do percurso histoacuterico das habilidades de leitura

e escrita na escola e na sociedade tratamos do aspecto da motivaccedilatildeo para a escrita da escrita

como um processo da escrita na escola e do letramento literaacuterio que julgamos interessante

ressaltar visto que leitura e escrita precisam ser instrumentalizadas

Na seccedilatildeo 4 denominada ldquoNatureza e procedimentos da pesquisardquo discorremos

sobre nossa pesquisa propriamente dita o contexto da pesquisa os sujeitos os materiais e os

procedimentos mostrando o desenvolvimento da sequecircncia de atividades e procedimentos de

coleta de dados

Na seccedilatildeo 5 denominada ldquoAnaacutelise da sequecircncia de atividades reflexotildeesrdquo

discorremos sobre nossa sequecircncia didaacutetica mostrando a participaccedilatildeo dos alunos na pesquisa

apresentando a anaacutelise da apropriaccedilatildeo de caracteriacutesticas do gecircnero crocircnica literaacuteria nos textos

dos alunos bem como os textos produzidos para circulaccedilatildeo social

E por fim na Conclusatildeo apresentamos reflexotildees acerca da experiecircncia com a

pesquisa e dos resultados obtidos bem como sugestotildees para o avanccedilo de trabalhos que possam

contribuir para a competecircncia escrita dos alunos do ensino fundamental e a continuidade de

estudos na aacuterea

Acreditamos que a pesquisa-accedilatildeo desenvolvida que se inscreve no escopo da

Linguiacutestica Aplicada pode aleacutem de ofertar contribuiccedilotildees no acircmbito acadecircmico encorajar os

alunos participantes da pesquisa no sentido de se permitirem evoluir como produtores de texto

em sua liacutengua materna direito que lhes cabe desde o momento em que satildeo reconhecidos

cidadatildeos que ingressam nas escolas brasileiras

23

2 OS GEcircNEROS E O TRABALHO EM SALA DE AULA

Os pressupostos que embasam esta pesquisa perpassam a necessidade de se

compreender o que satildeo os gecircneros textuais em distinccedilatildeo de tipos textuais e como trabalhaacute-los

em atividades sequenciadas destacando-se inclusive como estas podem melhorarauxiliar o

trabalho do professor da educaccedilatildeo baacutesica Aleacutem disso tentaremos delinear ainda que

reconheccedilamos a natildeo consensualidade de definiccedilotildees o que vem a ser a crocircnica a partir das

escolhas dos textos que integram o corpus exemplo para os alunos

21 Demarcando o conceito de gecircnero

Iniciamos nosso percurso teoacuterico a partir da compreensatildeo do que eacute o gecircnero

Concordamos com Bezerra (2017 p 11) quando ele diz que o conceito de gecircnero eacute tomado

como ldquouma categoria mediadora entre o texto e o discurso capaz de colocar em xeque velhas

concepccedilotildees dicotocircmicas como a que trata o texto como uma mera lsquomaterializaccedilatildeorsquo de um

discurso consequentemente lsquoimaterialrsquordquo

Para Bezerra (2017) a partir do gecircnero tanto o texto como o discurso podem ser

relacionados produtivamente com o seu contexto cognitivo e social o que viabiliza o estudo

teoacuterico e sua aplicaccedilatildeo pedagoacutegica

No panorama teoacuterico referencial buscaremos compreensatildeo do que eacute o gecircnero

atraveacutes da conceituaccedilatildeo de Bakhtin (2011) Bazerman (2009) Miller (2011) e Marcuschi

(2015) e sua importacircncia para o trabalho de pesquisa-accedilatildeo com produccedilatildeo textual no 9ordm ano do

ensino fundamental

211 Gecircnero como tipo relativamente estaacutevel de enunciado

De iniacutecio veremos a abordagem enunciativo-discursiva de Bakhtin (2011) que se

refere ao processo de interaccedilatildeo verbal e ao enunciado Para o filoacutesofo russo as interaccedilotildees

podem ocorrer de maneira mais geral face a face mas tambeacutem se concretizar atraveacutes dos textos

escritos Nesse processo o leitor tem um papel ativo na compreensatildeo das informaccedilotildees quando

com elas interage aceitando reformulando contrapondo e complementando conforme seu

arcabouccedilo de conhecimentos e experiecircncias e o faz reportando-se a diferentes vozes de textos

24

previamente lidos e ouvidos Essas interaccedilotildees efetivam-se por meio de enunciados chamados

de gecircneros

A compreensatildeo baacutesica do que satildeo os gecircneros textuais ou usando o termo adotado

por Bakhtin os gecircneros do discurso eacute definida como ldquotipos relativamente estaacuteveis de

enunciadosrdquo (2011 p 262) elaborados pelas diferentes esferas de utilizaccedilatildeo da liacutengua Cada

esfera de uso da linguagem traz consigo uma concepccedilatildeo padratildeo de destinataacuterio a quem se dirige

o locutor e esse destinataacuterio sempre adota uma atitude responsiva ativa diante da totalidade

acabada do gecircnero Digamos que segundo o autor essas esferas permitem-nos situar e prever

o que o interlocutor emitiraacute evitando prejuiacutezos na eficaacutecia da comunicaccedilatildeo

Aprendemos a moldar nossa fala agraves formas do gecircnero e ao ouvir a fala do outro

sabemos de imediato bem nas primeiras palavras pressentir-lhe o gecircnero Se natildeo

existissem os gecircneros do discurso e se natildeo os dominaacutessemos se tiveacutessemos de criaacute-

los pela primeira vez no processo da fala se tiveacutessemos de construir cada um de

nossos enunciados a comunicaccedilatildeo verbal seria quase impossiacutevel (BAKHTIN 2011

p 302)

Dessa forma compreendemos que os enunciados tecircm relativa estabilidade

apresentando formas tiacutepicas que se adaptam agraves muacuteltiplas situaccedilotildees tanto orais quanto escritas

sendo essas formas variaacuteveis portanto Satildeo caracteriacutesticas dos gecircneros o dialogismo e a

polifonia

No dialogismo compreendemos que um texto tem relaccedilotildees com o contexto social

com os textos jaacute lidos pelo leitor e suas experiecircncias de vida e as ligaccedilotildees feitas com as diversas

aacutereas de conhecimento natildeo sendo nunca um produto fechado em si mesmo e uacutenico O discurso

dessa forma estabelece intercacircmbios socioculturais fruto de processos cognitivos e

conhecimentos acumulados historicamente que atendem a essa atitude responsiva ativa Essa

caracteriacutestica estaacute relacionada ao processo de leitura e ao de produccedilatildeo de textos pois o leitor

ou o escritor estabelece um diaacutelogo com o texto em ambos os processos

Na polifonia entendemos que o texto natildeo eacute constituiacutedo apenas da voz do escritor

mas por outras vozes por dizeres de outrem e satildeo vozes que se cruzam concordam ou

discordam entre si

Nas condiccedilotildees de produccedilatildeo dos enunciados e dos gecircneros discursivos estatildeo

inseridas as intenccedilotildees comunicativas e as necessidades sociointerativas dos sujeitos nas esferas

de atividade em que o papel e o lugar de cada sujeito satildeo determinados socialmente Para o

autor trecircs elementos baacutesicos configurariam um gecircnero discursivo o conteuacutedo temaacutetico o estilo

e a forma composicional

25

O conteuacutedo temaacutetico do gecircnero eacute definido pelo enunciador e depende diretamente

das situaccedilotildees das condiccedilotildees de produccedilatildeo e das necessidades da proacutepria enunciaccedilatildeo A escolha

desse conteuacutedo se daacute conforme a intencionalidade do enunciador estando de acordo com as

suas necessidades

O estilo do enunciador pode ser observado na adequaccedilatildeo da linguagem empregada

na escolha dos vocaacutebulos conforme a finalidade e a proacutepria estrutura do enunciado do gecircnero

escolhido voltados para seu interlocutor Nas palavras de Bakhtin (2011 p 284)

O estilo eacute indissociavelmente vinculado a unidades temaacuteticas determinadas e o que eacute

particularmente importante a unidades composicionais tipo de estruturaccedilatildeo e de

conclusatildeo de um todo tipo de relaccedilatildeo entre o locutor e os outros parceiros da

comunicaccedilatildeo verbal (relaccedilatildeo com o ouvinte ou com o leitor com o interlocutor com

o discurso do outro etc) (BAKHTIN 2011 p 284)

Assim para o autor ldquoo enunciado - oral e escrito primaacuterio e secundaacuterio em

qualquer esfera da comunicaccedilatildeo verbal - eacute individual e por isso pode refletir a individualidade

de quem fala (ou escreve)rdquo (BAKHTIN 2011 p 283) Ou seja o estilo eacute individual poreacutem eacute

definido pelo outro e pelo gecircnero ldquodepende do modo que locutor percebe e compreende seu

destinataacuterio e do modo que ele presume uma compreensatildeo responsiva ativardquo (BRAIT 2016 p

95)

A estrutura composicional do gecircnero eacute um elemento que segue padrotildees definidos

pela sociedade Cada enunciado deve inserir-se no padratildeo que eacute convencionado pelo gecircnero a

fim de ser reconhecido e consequentemente compreendido

Essa breve exposiccedilatildeo das trecircs caracteriacutesticas dos gecircneros vem mostrar que elas

dependeratildeo em grande parte das condiccedilotildees de produccedilatildeo de cada enunciado uma vez que

[] o discurso se molda sempre agrave forma do enunciado que pertence a um sujeito

falante e natildeo pode existir fora dessa forma Quaisquer que sejam o volume o

conteuacutedo a composiccedilatildeo os enunciados sempre possuem como unidades da

comunicaccedilatildeo verbal caracteriacutesticas estruturais que lhe satildeo comuns e acima de tudo

fronteiras claramente delimitadas (BAKHTIN 2011 p 293)

Essas caracteriacutesticas ocorrem simultaneamente em uma enunciaccedilatildeo concreta pois

eacute no momento da enunciaccedilatildeo que se definiraacute como essas caracteriacutesticas seratildeo empregadas

A partir dessa compreensatildeo de Bakhtin diversos outros autores conceituaram o que

eacute gecircnero Dentre as grandes Escolas do Gecircnero2 nosso trabalho considerou os conceitos baacutesicos

2 Dentre as grandes Escolas de Gecircnero destacam-se a Escola de Sidney a Norte-americana e a de Genebra

26

adotados pela Escola norte-americana representada por Miller (2011) e Bazerman (2009) Por

fim no Brasil veremos Marcuschi (2015) Traremos ainda para a proacutexima seccedilatildeo autores que

desenvolvem e aplicam os conceitos de gecircnero textual na praacutetica por meio de sequecircncias de

atividades como Dolz Noverraz e Schneuwly ([2004]2013) atraveacutes da Sequecircncia Didaacutetica e

Vieira (2005) com a Abordagem imitativa da redaccedilatildeo trabalhando com formatos e gecircneros

212 Gecircnero como accedilatildeo social

A noccedilatildeo de gecircnero como accedilatildeo social foi desenvolvida inicialmente por Carolyn

Miller A elaboraccedilatildeo de uma teoria de gecircnero ocorreu com mais dois pesquisadores John

Swales e Charles Bazerman Todos satildeo membros do grupo que compotildee a escola de estudos de

gecircneros norte-americana cuja caracteriacutestica eacute o interesse pela natureza social do discurso

(CARVALHO 2005) Veremos aqui mais especificamente os expoentes Miller e Bazerman

A noccedilatildeo de gecircneros natildeo eacute recente e remonta agrave Retoacuterica Claacutessica Por volta dos anos

1980 Miller voltou-se aos estudos das determinaccedilotildees retoacutericas de Aristoacuteteles O filoacutesofo grego

postulou a primeira classificaccedilatildeo dos discursos em trecircs tipos o judiciaacuterio o deliberativo e o

epidiacutetico Carvalho (2016) nos diz que para Aristoacuteteles autor da classificaccedilatildeo essa distinccedilatildeo

dos discursos eacute necessaacuteria porque existem trecircs tipos de auditoacuterio e eacute preciso adaptar-se a eles

conferindo traccedilos especiacuteficos a cada gecircnero pois a escolha entre um deles se daacute mediante a

necessidade que o orador tem de se adaptar ao puacuteblico Aleacutem de classificar Aristoacuteteles

apresenta as caracteriacutesticas de cada um desses tipos de discurso Segundo Carvalho (2016 p

35)

O pensador grego entende que esses trecircs gecircneros se remetem a um tempo especiacutefico

indicam atos expressam valores e apresentam formas especiacuteficas de argumentaccedilatildeo

Assim sendo pondera que o gecircnero judiciaacuterio se dirige a um auditoacuterio especializado

versa sobre leis recorre a silogismos e se refere a acontecimentos do passado para

acusar ou defender O deliberativo trata-se de um gecircnero que se relaciona a um puacuteblico

culto faz uso de argumentos atraveacutes de exemplos e expressa atitudes que poderatildeo

acontecer no futuro O epiacutedictico por sua vez eacute caracterizado como um gecircnero no

qual o orador exalta ou despreza caracteriacutesticas de determinados indiviacuteduos no exato

momento da enunciaccedilatildeo (CARVALHO 2016 p 35)

Nessa abordagem claacutessica apesar de a classificaccedilatildeo de Aristoacuteteles ter reduzido os

discursos a apenas trecircs tipos jaacute se compreendia que a variedade dos gecircneros eacute dependente da

variedade de auditoacuterios e por essa razatildeo natildeo podem ser concebidos desvinculados de seus

interlocutores sendo formas de agir em sociedade de diferentes maneiras Nas palavras de

Carvalho (2016 p34) ldquopor esse acircngulo podemos dizer ainda hoje que lanccedilar um olhar sobre

27

os gecircneros que contemple suas dimensotildees retoacutericas eacute antes de tudo atentar para a natureza

social e argumentativa inerente a cada tipo de discurso e concebecirc-los como formas de

(inter)accedilatildeordquo

Por sua vez Bazerman (2009) na introduccedilatildeo de seu livro Gecircneros textuais

tipificaccedilatildeo e interaccedilatildeo fala da necessidade de se entender as variedades da escrita numa

abordagem que comeccedila com as circunstacircncias em que as pessoas produzem e usam os textos

questionando sobre os motivos e accedilotildees tiacutepicos associados com a escrita e leitura desses textos

Em deacutecadas recentes o ensino da escrita foi transformado pelo amplo reconhecimento

de vaacuterios princiacutepios Primeiro o escrever bem requer mais do que a produccedilatildeo de

sentenccedilas corretas tambeacutem envolve a comunicaccedilatildeo bem-sucedida de mensagens

significantes para outros Segundo a escrita eacute um processo que leva tempo e incorpora

muitas diferentes atividades Terceiro o ensino da escrita que ajuda alunos a

alcanccedilarem o sucesso acadecircmico precisa atender a todos os tipos de escrita que satildeo

necessaacuterios natildeo somente para o estudo da linguagem ou da literatura mas tambeacutem

para as disciplinas de histoacuteria ciecircncia filosofia e poliacutetica Quarto os alunos ao

terminarem seus estudos precisam estar aptos a produzir muitas diferentes formas da

escrita Embora todas as formas da escrita que os alunos poderiam precisar sejam

impossiacuteveis de antecipar os alunos precisam de habilidade e flexibilidade suficientes

para se adaptar agraves situaccedilotildees variantes da escrita (BAZERMAN 2009 p 16)

Bazerman (2009) afirma que se pode chegar a uma compreensatildeo mais profunda de

gecircneros se os compreendermos como ldquofenocircmenos de reconhecimento psicossocial que satildeo parte

de processos de atividades socialmente organizadasrdquo (Bazerman 2009 p31) Na concepccedilatildeo do

pesquisador gecircneros satildeo os tipos que as pessoas reconhecem como sendo usados por elas

proacuteprias e pelos outros ou seja ldquosatildeo fatos sociais sobre os tipos de atos de fala que as pessoas

podem realizar e sobre os modos como elas os realizamrdquo (Bazerman 2009 p 31) Desse modo

os gecircneros emergem nos processos sociais na medida em que as pessoas tentam compreender

umas agraves outras de tal maneira que consigam coordenar atividades e compartilhar significados

com vistas a seus propoacutesitos praacuteticos

Para Miller e Bazerman (2011) definir o gecircnero como ldquogecircnero textualrdquo ou apenas

gecircnero ou ainda ldquogecircnero discursivordquo eacute uma questatildeo de necessidade apenas em contextos em

que se precise fazer algum tipo de distinccedilatildeo ou esclarecimento conceitual como uma espeacutecie

de contraste Nessa obra constituiacuteda como um ldquobate papordquo com perguntas e respostas os

professores a seu turno datildeo suas visotildees sobre essas distinccedilotildees quando perguntados ldquocomo vocecirc

define o conceito de gecircnerordquo Miller responde

Bom eu mantenho a minha definiccedilatildeo jaacute conhecida Eu natildeo distinguiria gecircnero textual

de gecircnero Eu o defino amplamente ou seja o gecircnero eacute uma accedilatildeo retoacuterica tipificada

baseada numa situaccedilatildeo retoacuterica recorrente [] Diria apenas que essa definiccedilatildeo tende

28

a se concentrar mais na produccedilatildeo na pessoa que desenvolve a accedilatildeo do que na

recepccedilatildeo Mas creio que eacute possiacutevel direcionaacute-la para pensar sobre o modo como

algueacutem realiza uma accedilatildeo e responde a ela Acho que tanto a produccedilatildeo como a recepccedilatildeo

satildeo importantes para se pensar no gecircnero como accedilatildeo (BAZERMAN MILLER 2011

p 16)

A mesma questatildeo dirigida a Bazerman eacute respondida da seguinte forma

Eu gostaria de acrescentar algumas coisas Percebo que em portuguecircs eacute necessaacuterio

distinguir gecircneros textuais (textual genre) de gecircnero (gender) Poreacutem em inglecircs o uso

do termo ldquogecircnero de textordquo se opotildee a gecircneros orais ou gecircneros em outros meios

Certamente os gecircneros textuais possuem caracteriacutesticas que os distinguem dos

gecircneros da pintura por exemplo mas todos satildeo formas de gecircnero O que realmente

estaacute em discussatildeo portanto satildeo as possibilidades (affordances) especiacuteficas da

textualidade versus artes graacuteficas por exemplo (BAZERMAN MILLER 2011 p

22)

Para os estudiosos da sociorretoacuterica os gecircneros pertencem agraves atividades humanas

e as refletem de forma que agrave medida que a linguagem muda mudam consigo os gecircneros natildeo

sendo o mais importante classificar ou nomear um gecircnero mas saber como ele funciona

O conceito de gecircnero de Miller tem como noccedilotildees-chave a recorrecircncia e a accedilatildeo

retoacuterica como se pode entender a partir da definiccedilatildeo dada pela proacutepria autora quando diz que

ldquoo gecircnero eacute uma accedilatildeo retoacuterica tipificada baseada numa situaccedilatildeo retoacuterica recorrenterdquo

(BAZERMAN MILLER 2011 p 22) Sua linha de trabalho define que o gecircnero espelha a

experiecircncia de seus usuaacuterios sendo o texto a forma materializada dessa experiecircncia por meio

da accedilatildeo ali levada a cabo de sua forma e de sua substacircncia (CARVALHO 2005 p 133)

Eacute atraveacutes do processo de tipificaccedilatildeo que satildeo construiacutedas as condiccedilotildees de

recorrecircncia analogias e similaridades necessaacuterias para a compreensatildeo do gecircnero em uma dada

cultura Nesse processo eacute importante o papel do sujeito cognitivo visto que ele capta a

recorrecircncia social de uma determinada comunicaccedilatildeo o que sinaliza padrotildees socialmente

perceptiacuteveis e socialmente determinados moldando-se a eles (BAZERMAN MILLER 2011

p 32)

Para caracterizar como os gecircneros se configuram e se enquadram em organizaccedilotildees

papeis e atividades mais amplas Bazerman (2009) propotildee vaacuterios conceitos que se sobrepotildeem

cada um envolvendo um aspecto diferente dessa configuraccedilatildeo conjunto de gecircneros sistema de

gecircneros e sistema de atividades

Segundo o autor um conjunto de gecircneros eacute ldquoa coleccedilatildeo de tipos de textos que uma

pessoa num determinado papel tende a produzirrdquo (2009 p 32) Compreendemos a partir da

explicaccedilatildeo do autor que eacute exemplificada com os profissionais da engenharia e da educaccedilatildeo que

29

ao identificar todas as formas de escrita com as quais devem trabalhar consegue-se ter acesso

agraves competecircncias habilidades e conhecimentos que lhe satildeo requeridos para que atue com bom

domiacutenio em sua aacuterea

Prosseguindo o autor conceitua um sistema de gecircneros

Um sistema de gecircneros compreende os diversos conjuntos de gecircneros organizados por

pessoas que trabalham juntas de uma forma organizada e tambeacutem as relaccedilotildees

padronizadas que se estabelecem na produccedilatildeo circulaccedilatildeo e uso desses documentos

Um sistema de gecircneros captura as sequecircncias regulares com que um gecircnero segue

outro gecircnero dentro de um fluxo comunicativo tiacutepico de um grupo de pessoas

(BAZERMAN 2009 p 32-33)

Esse aspecto se refere agrave integraccedilatildeo dos conjuntos de gecircneros que satildeo usados por

todos os participantes de uma determinada accedilatildeo social Como exemplo podemos pensar nas

provas de uma disciplina o professor elabora as provas e os alunos fazem as provas Ao analisar

o sistema de gecircneros observa-se a sequecircncia dos gecircneros e torna-se possiacutevel esclarecer quais

accedilotildees sociais as pessoas fazem e a forma pela qual os gecircneros datildeo ferramentas para essas accedilotildees

Por fim Bazerman (2009 p 33) conceitua sistema de atividades relacionando-o

ainda ao sistema de gecircneros ldquoEsse sistema de gecircneros eacute tambeacutem parte do sistema de atividades

da sala de aula Ao definir o sistema de gecircneros em que as pessoas estatildeo envolvidas vocecirc

identifica tambeacutem um frame que organiza o seu trabalho sua atenccedilatildeo e suas realizaccedilotildeesrdquo A

palavra frame eacute compreendida como moldura ou quadro No acircmbito educacional podemos

compreender a expressatildeo como o enquadramento que direciona o trabalho que compete a cada

pessoa imersa na accedilatildeo social

Pensando no exemplo da aacuterea educacional um aluno lida com um conjunto de

gecircneros como as provas os seminaacuterios os apontamentos e dentro do sistema de gecircneros

utilizados seu padratildeo como aluno consiste em estudar para os seminaacuterios tomar apontamentos

e responder agraves questotildees das provas sendo que dentro do sistema de atividades em que se

encontra natildeo pode deixar de atender agrave ordem que o frame lhe impotildee pois se lhe eacute determinado

que faccedila sua prova por escrito natildeo lhe eacute permitido por mais que estivesse respondendo tudo

corretamente utilizar-se de um gecircnero oral para que obtenha a nota ndash o que corrobora com a

afirmaccedilatildeo do autor quando este diz que ldquolevar em consideraccedilatildeo o sistema de atividades junto

com o sistema de gecircneros eacute focalizar o que as pessoas fazem e como os textos ajudam as pessoas

a fazecirc-lo em vez de focalizar os textos como fins em si mesmordquo (BAZERMAN 2009 p 33-

34)

30

Apoacutes essa caracterizaccedilatildeo de como os gecircneros se configuram e se enquadram em

organizaccedilotildees papeis e atividades mais amplas nessa abordagem que comeccedila com as

circunstacircncias em que as pessoas produzem e usam os textos questionando sobre os motivos e

accedilotildees tiacutepicos associados com a escrita e leitura desses textos veremos na seccedilatildeo seguinte a

concepccedilatildeo de gecircneros textuais como fenocircmenos histoacutericos profundamente vinculados agrave vida

cultural e social sob a oacutetica de Marcuschi

213 Gecircnero como fenocircmeno histoacuterico

No Brasil Marcuschi (2015) trabalhou a produccedilatildeo textual sob um enfoque

sociointerativo de gecircneros textuais no contiacutenuo de fala-escrita buscando esclarecer os

processos de compreensatildeo textual e de produccedilatildeo de sentido Coadunando com os conceitos jaacute

expostos de Bakhtin (2011) sobre as interaccedilotildees entendemos que elas se datildeo em domiacutenios

discursivos ou seja esferas da vida social ou institucional (por exemplo religiosa juriacutedica

jornaliacutestica pedagoacutegica poliacutetica industrial militar familiar luacutedica etc) nas quais se datildeo

praacuteticas que organizam formas de comunicaccedilatildeo e respectivas estrateacutegias de compreensatildeo (p

194)

Deste modo para Marcuschi os domiacutenios discursivos produzem ldquomodelos de accedilatildeo

comunicativa que se estabilizam e se transmitem de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo com propoacutesitos e

efeitos definidos e clarosrdquo (2015 p 194) que resultam em formas de accedilatildeo reflexatildeo e avaliaccedilatildeo

social que ldquodeterminam formatos textuais que em uacuteltima instacircncia desembocam na

estabilizaccedilatildeo de gecircneros textuaisrdquo (2015 p 194) tambeacutem organizando as relaccedilotildees de poder

Na concepccedilatildeo de Marcuschi (2015) os gecircneros textuais satildeo entatildeo fenocircmenos

histoacutericos profundamente vinculados agrave vida cultural e social O autor afirma que quando

dominamos um gecircnero textual natildeo dominamos uma forma linguiacutestica mas sim uma forma de

realizar linguisticamente objetivos especiacuteficos em situaccedilotildees sociais particulares (p 31) Isso

equivaleria a dizer que os gecircneros textuais operam em certos contextos como formas de

legitimaccedilatildeo discursiva por se situarem numa relaccedilatildeo soacutecio-histoacuterica com fontes de produccedilatildeo

que lhes datildeo sustentaccedilatildeo

Essa relaccedilatildeo soacutecio-histoacuterica a que se refere o autor trata da construccedilatildeo coletiva que

ordena e estabiliza as atividades comunicativas do dia a dia convergindo com o pensamento de

Bakhtin isto eacute como os gecircneros independem de decisotildees individuais e natildeo satildeo facilmente

manipulaacuteveis eles operam como geradores de expectativas de compreensatildeo muacutetua Nas

31

palavras de Marcuschi (2015 p 189) ldquoos gecircneros textuais natildeo satildeo fruto de invenccedilotildees

individuais mas formas socialmente maturadas em praacuteticas comunicativas na accedilatildeo

linguageirardquo

Em uma tentativa de distribuiccedilatildeo dos gecircneros da oralidade e escrita Marcuschi

(2015) cria um quadro geral3 que mostra que muitos gecircneros satildeo comuns a vaacuterios domiacutenios

figurando a crocircnica gecircnero eleito para a realizaccedilatildeo de nossa pesquisa-accedilatildeo de processo de

produccedilatildeo escrita em forma de sequecircncia didaacutetica nos domiacutenios discursivos ficcional e

jornaliacutestico Na distribuiccedilatildeo do contiacutenuo de fala-escrita que ensaia desenhar Marcuschi mostra

a crocircnica deslizando entre o domiacutenio das conversaccedilotildees na conversa espontacircnea seguindo para

as apresentaccedilotildees e reportagens com as narrativas

Desse modo caminha-se para uma compreensatildeo do que eacute a crocircnica aquele texto

escrito leve e espontacircneo que parece por vezes conversar com seu leitor narrando uma coisa

ou outra do dia a dia podendo conduzi-lo a reflexotildees ou possibilitando-lhe um dia mais bem-

humorado ou mesmo poeacutetico Direcionado para nossa investigaccedilatildeo julgamos esses conceitos

bastante importantes para elucidar para os alunos em que contexto satildeo produzidas as crocircnicas

de onde partem a quem pretendem alcanccedilar

Nesse sentido a partir do exposto concluiacutemos que um gecircnero seria uma resposta

usada pelos usuaacuterios de uma liacutengua em situaccedilotildees especiacuteficas constituiacutedo por caracteriacutesticas

gerais relativamente estaacuteveis Dessa forma aleacutem da intenccedilatildeo da comunicaccedilatildeo existe um

conhecimento comum pelo qual os falantes se orientam em suas decisotildees linguiacutesticas ao

construir o gecircnero de texto que estatildeo produzindo ou que devem produzir em cada contexto

comunicativo Esses gecircneros natildeo surgem naturalmente mas se constroem na interaccedilatildeo

comunicativa e satildeo fenocircmenos sociointerativos

22 Conhecendo a sequecircncia didaacutetica

Com vistas a ajudar o trabalho do professor tem sido muito discutido na uacuteltima

deacutecada o emprego das sequecircncias didaacuteticas especialmente na educaccedilatildeo baacutesica Sua

caracteriacutestica consiste em ser um conjunto de atividades ligadas entre si planejadas para ensinar

um conteuacutedo etapa por etapa Ao organizaacute-la de acordo com os objetivos que pretende alcanccedilar

para seus alunos o professor desenvolve atividades de aprendizagem e de avaliaccedilatildeo

3 Cf Anexo A

32

Para o trabalho em nossa aacuterea Liacutengua Portuguesa nossa pesquisa-accedilatildeo vai se

utilizar do procedimento baacutesico da sequecircncia didaacutetica para o ensino da escrita do gecircnero textual

crocircnica literaacuteria para o 9ordm ano do ensino fundamental inspirada no referencial teoacuterico-

metodoloacutegico de Dolz Noverraz e Schneuwly (2013) na proposta de adaptaccedilatildeo da sequecircncia

didaacutetica conduzida por Swiderski e Costa-Huumlbes (2009) na proposta de circulaccedilatildeo social do

gecircnero discursivo produzido em sequecircncias didaacuteticas de projetos pedagoacutegicos de Lopes-Rossi

(2011) e nas sugestotildees didaacuteticas da praacutetica de sala de aula de Vieira (2005) e de Serafini (2003)

221 Conceito de sequecircncia didaacutetica

Dolz Noverraz e Schneuwly (2013 p 83) reconhecem que os textos escritos ou

orais que produzimos diferenciam-se uns dos outros porque satildeo produzidos em condiccedilotildees

diferentes Apesar dessa diversidade satildeo constatadas regularidades de modo que em situaccedilotildees

semelhantes produzimos textos com caracteriacutesticas semelhantes que os autores chamam de

gecircneros de textos conhecidos de e reconhecidos por todos e que por isso mesmo facilitam a

comunicaccedilatildeo a conversa em famiacutelia ou a negociaccedilatildeo no mercado por exemplo

O conceito baacutesico de sequecircncia didaacutetica segundo os autores (2013 p 83) eacute que

esta eacute um conjunto de atividades escolares organizadas de maneira sistemaacutetica em torno de

um gecircnero textual oral ou escrito e que tem precisamente a finalidade de ajudar os alunos a

dominar melhor um gecircnero de texto o que lhes permitiraacute falar ou escrever de maneira mais

adequada a cada situaccedilatildeo comunicativa

Para o desenvolvimento de nossa pesquisa escolhemos o gecircnero crocircnica literaacuteria

visando o desenvolvimento da competecircncia discursiva dos alunos posto que ainda natildeo

dominam adequadamente a produccedilatildeo de um texto nesse gecircnero Assim como preveem Dolz

Noverraz e Schneuwly (2013 p 83) ldquoo trabalho escolar seraacute realizado evidentemente sobre

gecircneros que o aluno natildeo domina ou o faz de maneira insuficiente sobre aqueles dificilmente

acessiacuteveis espontaneamente pela maioria dos alunos e sobre gecircneros puacuteblicos e natildeo privadosrdquo

De acordo com os autores uma sequecircncia didaacutetica pode ser flexiacutevel no sentido de

que se houver necessidade o professor poderaacute por vezes criar outras atividades ou modificar

os textos de referecircncia utilizados Essa flexibilidade precisa tambeacutem considerar os fenocircmenos

de desencorajamento que poderatildeo manifestar-se durante o tempo consagrado agrave sequecircncia como

por exemplo no aluno o sentimento de que jamais conseguiraacute melhorar seu texto por causa das

dificuldades proacuteprias da escrita no professor nos momentos em que os alunos parecem

33

desconectar-se da proposta projetada perdendo o interesse pela atividade proposta no dia Para

minimizar situaccedilotildees assim eacute que deve ser deixado um espaccedilo para as atividades mais informais

e menos exigentes em termos de tempo (DOLZ NOVERRAZ SCHNEUWLY 2013 p 108)

Percebemos dessa forma que um professor natildeo eacute obrigado a realizar todas as

atividades predeterminadas de uma sequecircncia didaacutetica na sua integralidade Sob pena do rigor

por cumprir aquele planejamento e somente ele no decorrer do processo de aprendizagem

ambos professor e aluno podem sentir que a experiecircncia natildeo foi vaacutelida terminando por realizar

as aulas de modo tradicional natildeo ocorrendo assim o acesso dos alunos a praacuteticas de linguagem

novas ou dificilmente dominaacuteveis

Por ser de caraacuteter progressivo a cada etapa de uma sequecircncia didaacutetica o professor

pode ndash e deve ndash fazer uma reflexatildeo associando o microcosmo que eacute a sala de aula onde

trabalha com um macro que seria o mundo em que estamos inseridos com todo o seu contexto

que pode servir como suporte para que o docente se integre a uma (ou a vaacuterias) teorias que

possa vir a aplicar

Com a reflexatildeo sobre a(s) teoria(s) e construindo seu arcabouccedilo teoacuterico conforme

observa sua praacutetica o professor ndash incluiacutemo-nos aqui ndash como sugere Bortoni-Ricardo (2008)

torna-se pesquisador podendo aprimorar sua postura pedagoacutegica de modo a obter assim

resultados mais satisfatoacuterios junto aos discentes

Dando prosseguimento expomos aqui o os quatro componentes da estrutura baacutesica

de uma sequecircncia didaacutetica segundo Dolz Noverraz Schneuwly (2013) que serve como

inspiraccedilatildeo para as atividades que planejamos para esta pesquisa-accedilatildeo

Figura 1 - Esquema baacutesico de sequecircncia didaacutetica

Fonte Adaptado de DOLZ NOVERRAZ SCHNEUWLY (2013 p 83)

Para Dolz Noverraz e Schneuwly (2013) eacute necessaacuterio que o professor informe os

alunos e conscientize-os da importacircncia dos conteuacutedos a serem trabalhados em sala de aula

Para isso o professor deve claramente definir o problema de comunicaccedilatildeo que devem resolver

Apresentaccedilatildeo da

Situaccedilatildeo

PRODUCcedilAtildeO

INICIAL

PRODUCcedilAtildeO

FINAL

Moacuted

ulo 1

Moacuted

ulo 2

Moacuted

ulo n

34

produzindo um texto e os conteuacutedos com os quais trabalharatildeo no texto que seraacute produzido

Assim na fase inicial de apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo satildeo fornecidas aos alunos as informaccedilotildees

necessaacuterias para conhecerem o ldquoprojeto comunicativo visado e a aprendizagem de linguagem a

que estaacute relacionadordquo (2013 p 85)

Depois dessa contextualizaccedilatildeo com os alunos eles passam agrave primeira produccedilatildeo

tentando elaborar um texto escrito Ora embora os alunos ainda natildeo tenham verdadeiramente

tido o contato aprofundado com o gecircnero esse encaminhamento natildeo necessariamente os potildee

numa situaccedilatildeo de insucesso Ao contraacuterio do que se pode pensar produzir um texto adequado

agrave situaccedilatildeo proposta embora os alunos nesse primeiro momento natildeo atendam a todas as

caracteriacutesticas do gecircnero solicitado permite-lhes descobrir o que jaacute sabem fazer e ganhar

consciecircncia das dificuldades que possuem e ao professor avaliar natildeo somente as dificuldades

apresentadas pelos alunos na produccedilatildeo inicial mas tambeacutem que se apresentarem durante o

processo de produccedilatildeo Desse modo a produccedilatildeo inicial eacute caracterizada como ldquoo primeiro lugar

de aprendizagem da sequecircnciardquo (DOLZ NOVERRAZ SCHNEUWLY 2013 p 87 Grifo dos

autores)

A etapa seguinte se constitui dos moacutedulos isto eacute a decomposiccedilatildeo dos problemas

detectados na primeira produccedilatildeo com consequente fornecimento de instrumentalizaccedilatildeo para a

superaccedilatildeo das dificuldades Esse processo que vai da produccedilatildeo inicial aos moacutedulos os autores

denominaram de ldquomovimento geral da sequecircncia didaacuteticardquo (2013 p 88) partindo do acircmbito

mais complexo que eacute a produccedilatildeo inicial para o mais simples que satildeo os moacutedulos os quais

trabalham as capacidades necessaacuterias ao domiacutenio do gecircnero No fim o movimento da sequecircncia

didaacutetica vai para o complexo novamente que eacute a produccedilatildeo final No processo de elaboraccedilatildeo de

cada moacutedulo os autores levantam trecircs questionamentos 1) Que dificuldades da expressatildeo oral

e escrita abordar 2) Como construir um moacutedulo para trabalhar um problema particular 3)

Como capitalizar o que eacute adquirido nos moacutedulos (2013 p 88)

Para responder a cada uma dessas indagaccedilotildees Dolz Noverraz e Schneuwly (2013

p 88) consideram trecircs dimensotildees no processo de construccedilatildeo dos moacutedulos que satildeo trabalhar

problemas de niacuteveis diferentes variar atividades e exerciacutecios e capitalizar as aquisiccedilotildees

A primeira etapa trabalhar problemas de niacuteveis diferentes baseada na psicologia

da linguagem eacute constituiacuteda por quatro niacuteveis principais na produccedilatildeo de textos a saber

representaccedilatildeo da situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo em que o aluno deveraacute aprender com clareza a fazer

uma imagem ldquodo destinataacuterio do texto da finalidade visada da sua posiccedilatildeo como autor ou

locutor e do gecircnero visadordquo (p 88) elaboraccedilatildeo dos conteuacutedos em que o aluno ldquodeveraacute conhecer

35

as teacutecnicas para buscar elaborar ou criar conteuacutedosrdquo (p 88) planejamento do texto em que o

aluno deveraacute estruturar seu texto de acordo com um plano que depende da finalidade que se

deseja atingir considerando que cada gecircnero se caracteriza por uma estrutura evocando a

compreensatildeo de Bakhtin (2011) ldquorelativamente estaacutevelrdquo realizaccedilatildeo do texto em que o aluno

deveraacute escrever seu texto escolhendo os meios de linguagem mais eficazes para a finalidade

que pretende alcanccedilar

Em relaccedilatildeo agrave segunda etapa variar as atividades e exerciacutecios os autores definem

que ldquoo princiacutepio essencial de elaboraccedilatildeo de um moacutedulo que trate de um problema de produccedilatildeo

textual eacute o de variar os modos de trabalhordquo (p 89) Afirmando que existem variadas categorias

de atividades e exerciacutecios (atividades de observaccedilatildeo e de anaacutelise de textos tarefas simplificadas

de produccedilatildeo de textos e a elaboraccedilatildeo de uma linguagem comum) (p 89) sugerem assim que

cada moacutedulo tenha atividades diversificadas com o objetivo de proporcionar ao aluno diferentes

meios de apropriaccedilatildeo dos conteuacutedos necessaacuterios ao seu sucesso na produccedilatildeo final

A terceira etapa capitalizar as aquisiccedilotildees consiste em aprender a falar sobre o

gecircnero abordado atraveacutes da aquisiccedilatildeo de vocabulaacuterio teacutecnico comum agrave classe e ao professor

A partir dessa construccedilatildeo progressiva dos conhecimentos de linguagem e de regras seraacute

possiacutevel ao professor estimular os alunos a refletir sobre o que foi aprendido nos moacutedulos e

juntos fazerem uma siacutentese na forma de como sugerem os autores lista de constataccedilotildees ou de

lembrete ou glossaacuterio (p 90)

A etapa final da sequecircncia didaacutetica corresponde agrave produccedilatildeo final momento em que

o aluno colocaraacute em praacutetica as noccedilotildees e os instrumentos que foram elaborados e aplicados

durante os moacutedulos sendo o momento para o professor avaliar o aprendizado do aluno Essa

avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo final tem caraacuteter somativo e eacute pautada na construccedilatildeo de uma grade (2013

p 90) de criteacuterios que explicitam aos alunos o que seraacute avaliado permitindo a objetividade ao

pautar-se nos conteuacutedos trabalhados em aula Isso tornaraacute possiacutevel ao professor a observaccedilatildeo

das aprendizagens efetuadas planejar a continuaccedilatildeo do trabalho e se necessaacuterio retornar a

pontos mal assimilados

222 Propostas de adaptaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica

Com vistas a justificar como compusemos a SD aplicada vamos nessa seccedilatildeo

mostrar o aparato teoacuterico de pesquisadoras que contribuiacuteram com propostas de adaptaccedilatildeo e

36

complementaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica do grupo de Genebra buscando propiciar ao professor

um trabalho mais amplo

2221 Moacutedulo de reconhecimento

Baseados na proposta teoacuterico-metodoloacutegica da SD produzida para o contexto

sociocultural dos pesquisadores de Genebra os integrantes de um grupo de estudos em Liacutengua

Portuguesa da regiatildeo Oeste do Paranaacute criaram uma proposta de ensino da LP para as seacuteries

iniciais contendo uma adaptaccedilatildeo (SWIDERSKI COSTA-HUumlBES 2009) que consiste na

inserccedilatildeo de um moacutedulo de reconhecimento do gecircnero antes da etapa de produccedilatildeo inicial em

atividades e exerciacutecios que contemplem a leitura a pesquisa e a anaacutelise linguiacutestica com textos

do gecircnero Para melhor entendimento observemos a figura a seguir

Figura 2 - Esquema da SD adaptada por Costa-Huumlbes

Fonte Adaptado de SWIDERSKI E COSTA-HUumlBES (2009)

Esse moacutedulo inserido antes da produccedilatildeo inicial como proposto pelas autoras serve

segundo elas ao reconhecimento dos aspectos do gecircnero a ser trabalhado na SD em atividades

e exerciacutecios que contemplem a leitura a pesquisa e a anaacutelise linguiacutestica com textos do gecircnero

Na SD ldquoas condiccedilotildees de praacuteticas de leituras envolvem natildeo apenas o contexto de produccedilatildeo e a

relaccedilatildeo autor-texto A esses aspectos somam-se o conhecimento do leitor e o contexto de uso

que conforme Orlandi (1996) satildeo fatores determinantes na produccedilatildeo de sentidosrdquo

(SWIDERSKI COSTA-HUumlBES 2009 p 121)

Diante disso ao avaliarem a proposta da SD as autoras entendem que antes de se

chegar agrave produccedilatildeo inicial o professor pode criar para o estudante vaacuterias situaccedilotildees que envolvam

a praacutetica de leitura de textos do gecircnero selecionado que circulam na sociedade oportunizando

nesse contato com esses textos a mobilizaccedilatildeo de estrateacutegias diferentes frente aos diversos

37

objetivos que implicam o ato de ler e enfatizam que trabalhar com a leitura natildeo exclui o

trabalho com os outros eixos do processo ensino-aprendizagem de LP

As autoras acrescentam ainda sobre o trabalho de reconhecimento do gecircnero

Outro detalhe que salientamos sobre o trabalho de reconhecimento do gecircnero refere-

se ao fato de que as informaccedilotildees sobre o gecircnero natildeo satildeo dadas gratuitamente jaacute que

o mesmo natildeo eacute tratado como uma forma pronta e acabada mas como um instrumento

relativamente estaacutevel Entendido assim a praacutetica de ensino-aprendizagem precisa

incentivar o processo de pesquisa Nessa perspectiva o estudante tem dois problemas

a resolver antes de iniciar sua produccedilatildeo um abarca a pesquisa para conhecer os

elementos que determinam num dado contexto soacutecio-histoacuterico e cultural a produccedilatildeo

e a circulaccedilatildeo das amostras do gecircnero a ser abordado didaticamente e em segundo

a leitura e a anaacutelise dessas amostras novamente buscando reforccedilar o conhecimento

acerca dos elementos que as constituem (SWIDERSKI COSTA-HUumlBES 2009 p

121)

Vemos entatildeo que as leituras para reconhecimento do gecircnero como uma etapa

anterior ao momento da produccedilatildeo inicial servem como base ao trabalho a ser desenvolvido

Inclusive entendemos no tocante a servir como exemplo e modelo que fornecem traccedilos para

possiacuteveis comparaccedilotildees ao longo do desenvolvimento dos moacutedulos como poderemos perceber

na seccedilatildeo correspondente ao nosso trabalho

2222 Moacutedulo de divulgaccedilatildeo ao puacuteblico

Como forma de consolidar para o aluno a visatildeo do uso real de um gecircnero textual

Lopes-Rossi (2011) propotildee a divulgaccedilatildeo das produccedilotildees dos alunos apoacutes a realizaccedilatildeo das tarefas

dos moacutedulos

Deste modo o professor pode entatildeo criar com eficiecircncia projetos pedagoacutegicos

que visem segundo a autora ldquoao conhecimento agrave leitura agrave discussatildeo sobre o uso e as funccedilotildees

sociais dos gecircneros escolhidos e quando pertinente a sua produccedilatildeo escrita e circulaccedilatildeo socialrdquo

(LOPES-ROSSI 2011 p 71)

O quadro a seguir proposto por Lopes-Rossi (2011) reflete os fundamentos sobre

o trabalho com projetos pedagoacutegicos e sintetiza as etapas de desenvolvimento de projetos

pedagoacutegicos que visam agrave produccedilatildeo escrita de gecircneros discursivos incluindo o moacutedulo de

divulgaccedilatildeo ao puacuteblico de acordo com a forma tiacutepica de circulaccedilatildeo de cada gecircnero

38

Quadro 1 ndash Siacutentese das etapas de desenvolvimento de projetos pedagoacutegicos que visam agrave produccedilatildeo escrita de

gecircneros discursivos

Moacutedulos didaacuteticos Sequecircncias didaacuteticas

Leitura para apropriaccedilatildeo das

caracteriacutesticas tiacutepicas do

gecircnero discursivo

rarr Seacuterie de atividades de leitura comentaacuterios e

discussotildees de vaacuterios exemplos do gecircnero para

conhecimento de suas caracteriacutesticas discursivas

temaacuteticas e composicionais (aspectos verbais e natildeo

verbais)

Produccedilatildeo escrita do gecircnero

de acordo com suas

condiccedilotildees de produccedilatildeo

tiacutepicas

rarr Seacuterie de atividades de produccedilatildeo

- planejamento da produccedilatildeo (assunto esboccedilo geral

forma de obtenccedilatildeo de informaccedilotildees recursos

necessaacuterios)

- coleta de informaccedilotildees

- produccedilatildeo da primeira versatildeo

- revisatildeo colaborativa do texto

- produccedilatildeo da segunda versatildeo

- revisatildeo colaborativa do texto

- produccedilatildeo da versatildeo final incluindo o suporte para a

circulaccedilatildeo do texto

Divulgaccedilatildeo ao puacuteblico de

acordo com a forma tiacutepica de

circulaccedilatildeo do gecircnero

rarr Seacuterie de providecircncias para efetivar a circulaccedilatildeo da

produccedilatildeo dos alunos fora da sala de aula e mesmo da

escola de acordo com as necessidades de cada evento

de divulgaccedilatildeo e das caracteriacutesticas de circulaccedilatildeo do

gecircnero Fonte Adaptado de LOPES-ROSSI (2011 p 72)

Se adaptarmos o quadro em forma de esquema a fim de facilitar a visualizaccedilatildeo

teremos

Figura 3 Esquema das etapas de desenvolvimento de projetos pedagoacutegicos visando agrave produccedilatildeo escrita de gecircneros

discursivos

Fonte Adaptado de LOPES-ROSSI (2011)

Segundo a autora a proposta de trabalho pedagoacutegico com gecircneros discursivos pela

oacutetica dos pesquisadores do grupo de Genebra proporciona de fato o desenvolvimento da

Produccedilatildeo

escrita

Divulgaccedilatildeo ao

puacuteblico

Leitura para

apropriaccedilatildeo

39

autonomia do aluno no processo de leitura e produccedilatildeo textual sendo uma consequecircncia do

domiacutenio do funcionamento da linguagem em situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo visto que eacute por meio

dos gecircneros discursivos que as praacuteticas de linguagem incorporam-se agraves atividades dos alunos

Sua oacutetica inclui um moacutedulo de leitura para apropriaccedilatildeo das caracteriacutesticas tiacutepicas

do gecircnero que se pretende trabalhar como jaacute descrito no quadro e que coaduna com a proposta

de Swidesrki e Costa-Huumlbes (2009) O moacutedulo de produccedilatildeo escrita de Lopes-Rossi (2009) trata

de planejamento da produccedilatildeo coleta de informaccedilotildees produccedilatildeo da primeira versatildeo revisatildeo

colaborativa do texto produccedilatildeo da segunda versatildeo revisatildeo colaborativa do texto produccedilatildeo da

versatildeo final incluindo o suporte para a circulaccedilatildeo do texto

Para noacutes eacute interessante considerar o moacutedulo de divulgaccedilatildeo ao puacuteblico pois

somando-se a esse trabalho de desenvolvimento da autonomia a circulaccedilatildeo da produccedilatildeo viraacute

corroborar entatildeo a funccedilatildeo social do texto divulgado no suporte adequado nas condiccedilotildees

apropriadas

2223 Abordagem imitativa da redaccedilatildeo

No capiacutetulo Abordagem imitativa da redaccedilatildeo trabalhando com formatos e gecircneros

que integra a obra Escrita para que te quero Vieira (2005 p 159-171) elenca passos para o

trabalho do professor com os alunos na construccedilatildeo de um texto como se fosse um guia o que

pode ser bastante uacutetil para o trabalho com formatos e gecircneros Seguem os passos

1ordm Dar exemplos do tipo de escrita esperado que em poucas palavras consiste em

oferecer modelos de textos relativamente faacuteceis de ler evidenciando sua estrutura

2ordm Ensinar as regras que consiste em explicitar o caminho para atingir as metas

Se necessaacuterio for diz a autora transmite-se um conhecimento analiacutetico ldquouse esquemas ou

diagramas para ilustrar Leve seus alunos a aprenderem mais a partir de modelos direcionando

a instruccedilatildeo para um alvordquo (VIEIRA 2005 p 159)

3ordm Apresentar uma ldquoreceitardquo passo a passo do gecircnero pretendido o que deixa claro

o que se quer que os alunos produzam e tambeacutem serve de guia para as tarefas de casa quando

estiverem trabalhando sozinhos A receita seraacute tatildeo melhor para os alunos se elaborada

diretamente pelo professor ou pelos proacuteprios alunos Tambeacutem eacute possiacutevel diz a autora adaptar

instruccedilotildees de manuais e usar a proacutepria experiecircncia de redator

40

4ordm Demonstrar a ldquoreceitardquo que eacute um momento em que os alunos percebem o

trabalho na praacutetica com o professor executando alguns ou todos os passos da ldquoreceitardquo

demonstrando como se escreve Os alunos colaboram na criaccedilatildeo conjunta de um texto

5ordm Ser autecircntico no processo que eacute dividir com os estudantes os problemas que

surgem na produccedilatildeo de qualquer texto mostrando como solucionar dialogando com os alunos

trabalhando de forma colaborativa

6ordm Dar tarefas curtas e planejadas com cuidado o que atribui ao trabalho do aluno

mais qualidade Normalmente para impressionar o professor a aluno escreve textos longos

repetitivos e sem atratividade As atividades com limite de extensatildeo favorecem segundo a

autora a motivaccedilatildeo o alcance e a variedade de audiecircncias o feedback do professor a

possibilidade de repeticcedilatildeo da tarefa o que Vieira considera um passo fundamental para se

dominar um conhecimento

7ordm Propiciar feedback uacutetil e especiacutefico Neste aspecto a autora natildeo estimula o

ldquoretoquerdquo dos textos dos alunos feito pelo professor Pelo contraacuterio incentiva criacuteticas justas

que visem a evoluccedilatildeo construindo com o aluno atraveacutes das sugestotildees e questotildees adequadas a

reformulaccedilatildeo de seus textos Vieira acrescenta ainda que este feedback natildeo deveria vir somente

do professor mas de uma variedade de leitores como seus pares e a famiacutelia para evitar a falsa

ideia de que a escrita eacute algo direcionado somente ao professor

8ordm Repetir a tarefa Ningueacutem se torna bom em algo logo na primeira tentativa

Portanto para desenvolver as habilidades eacute importante a repeticcedilatildeo para dominar um

conhecimento

Apoacutes elencar a autora sugere tarefas de aplicaccedilatildeo para o professor de forma bem

praacutetica para criar uma ldquoreceitardquo de escrita com os alunos (2005 p 162) de modo que noacutes

professores nos apropriemos dos diferentes gecircneros textuais conhecendo de antematildeo as

caracteriacutesticas destes e mesmo as dificuldades partindo de textos autecircnticos listando

procedimentos e etapas necessaacuterios para redigir textos semelhantes e refletindo sobre a

instruccedilatildeo que devemos criar estabelecendo um propoacutesito para que o aluno escreva e exercite

apropriadamente o modelo de gecircnero

A partir desse roteiro teoacuterico-metodoloacutegico que traccedilamos ao longo desta seccedilatildeo

inspiramo-nos para criar para o trabalho com o gecircnero crocircnica assunto da proacutexima seccedilatildeo em

nossa pesquisa-accedilatildeo a sequecircncia didaacutetica com foco na produccedilatildeo escrita de crocircnicas literaacuterias

acrescida das etapas de reconhecimento do gecircnero e da divulgaccedilatildeo ao puacuteblico dado o desejo

41

de extrapolar o acircmbito da sala de aula fazendo com que os textos dos alunos tivessem

circulaccedilatildeo social

23 Definindo o gecircnero textual crocircnica

A palavra ldquocrocircnicardquo tem origem no grego antigo khroacutenos e significa tempo Naquela

sociedade o gecircnero ganhou esse nome inicialmente por trazer em seu corpo o relato em ordem

cronoloacutegica dos fatos ou acontecimentos de uma eacutepoca

Um dos pioneiros a estudar o texto literaacuterio segundo Ferreira (2011 p 65) foi o

pensador grego Aristoacuteteles Sua perspectiva formulava o conceito de mimese que seria a obra

literaacuteria como representaccedilatildeo ou imitaccedilatildeo do mundo Considerando essa oacutetica a crocircnica em sua

origem tomava a forma de registro histoacuterico de um povo Aleacutem disso compreende-se que mais

do que apenas encadear a sequecircncia de fatos sucessivos interessava a forma como isso se dava

mostrando o cuidado com a arte literaacuteria

Aproximadamente no seacuteculo XII a crocircnica ressurge em uso na Europa medieval e

tem seu conceito atualizado pela perspectiva grega ora se encarrega de registrar os fatos

fidedignamente o que lhe confere caraacuteter histoacuterico ora relata-os fazendo uso de recursos

linguiacutesticos tanto denotativos quanto conotativos conferindo-lhe caraacuteter de ficccedilatildeo literaacuteria A

esse respeito nos fala Borges (2008 p 205)

A preocupaccedilatildeo com a descriccedilatildeo da histoacuteria de uma vida teve seu iniacutecio no mundo

grego antigo ao mesmo tempo em que surgiu a Histoacuteria como forma de

conhecimento essa era uma Histoacuteria poliacutetica com sua diferenciaccedilatildeoimbricaccedilatildeo com

a memoacuteria Ao longo de mais ou menos dois milecircnios autores acharam que contar a

histoacuteria da vida de algueacutem era algo distinto de uma Histoacuteria (que narrava fatos

coletivos e contava a verdade) as histoacuterias das vidas (termo usado entatildeo pelos

autores) serviam desde o mundo greco-romano para dar exemplos morais negativos

ou positivos - muitas vezes constituindo os panegiacutericos Essa chamada biografia

claacutessica punha um acento muito maior no caraacuteter poliacutetico moral ou religioso do

biografado do que em sua pessoa em sua singularidade No mundo medieval a ideia

dos exempla prolongou-se configurando-se na hagiografia e nas croacutenicas

Esses textos chamados de crocircnicas como caracterizadas acima por Borges (2008)

confundiam-se com outros gecircneros da eacutepoca ndash o que era muito comum ndash por tomarem um

caraacuteter biograacutefico sendo sinocircnimas por exemplo da hagiografia cuja intencionalidade ditava

o estilo do escritor concretizando ao longo da sucessatildeo cronoloacutegica dos fatos uma visatildeo

parcial beirando o excessivamente elogioso

42

A crocircnica percorreu longo curso ateacute ganhar a forma que conhecemos hoje no Brasil

Para Coutinho (2008) a origem de nossa atual crocircnica brasileira estaria no ensaio inglecircs do

seacuteculo XVI O autor a compara ao ensaio informal (informal essay ou familiar essay) que

consiste em seu sentido primitivo numa tentativa numa experimentaccedilatildeo de interpretaccedilatildeo

pessoal dos fatos sem obedecer a uma estrutura predeterminada poreacutem com forte marca da

prosa oral colocada na escrita

A essecircncia do ensaio (nesse sentido original) estaacute em sua relaccedilatildeo com a palavra falada

e com a elocuccedilatildeo oral como se depreende do estudo estiliacutestico dos grandes ensaiacutestas

estilo muito proacuteximo da maneira oral ou do pensamento que eacute captado no proacuteprio ato

e momento de pensar (COUTINHO 2008 p 100)

A respeito do conceito de crocircnica temos a visatildeo de Coutinho (2008) cujos criteacuterios

de classificaccedilatildeo dos gecircneros literaacuterios adotados em sua obra apontam para ldquoum grupo de formas

literaacuterias que resultam de uma explanaccedilatildeo direta dos pontos de vista do autor dirigindo-se em

seu proacuteprio nome ao leitor ou ouvinte sem qualquer artifiacutecio intermediaacuteriordquo (2008 p 99)

Segundo ele o autor vale-se de meacutetodo direto ao inveacutes de indireto em gecircneros ensaiacutesticos ou

discursivos cujos exemplos dados satildeo o ensaio a crocircnica o discurso e o sermatildeo a carta as

memoacuterias o diaacuterio as maacuteximas Outra aproximaccedilatildeo da crocircnica ao ensaio para o autor eacute que

ambos satildeo escritos em linguagem coloquial discorrendo sobre diversos assuntos tais como os

proacuteprios seres humanos os fatos ocorridos com eles as cenas da natureza entre outros

Poreacutem na mesma obra Coutinho (2008) afirma que modernamente a palavra

ensaio veio perdendo seu caraacuteter inicial e etimoloacutegico de tentativa de experimentaccedilatildeo

passando a se confundir com ldquoestudordquo ldquoou o que os ingleses chamam de julgamento isto eacute

que oferecem conclusotildees sobre os assuntos apoacutes discussatildeo argumentaccedilatildeo anaacutelise avaliaccedilatildeordquo

231 A crocircnica brasileira

No seacuteculo XIX a sociedade desenvolve-se industrialmente permitindo o advento

da imprensa Para vaacuterios autores como Barbier (2008 apud FERREIRA 2011) Coutinho

(2008) Cacircndido (1992) Castello (1999) o folhetim eacute a gecircnese da crocircnica moderna sendo o

jornal o suporte em que a crocircnica vai ganhar definitivamente seu espaccedilo Sobre essa relaccedilatildeo na

eacutepoca entre o suporte para o gecircnero e o gosto pelo gecircnero Barbier (2008) fala

Sabe-se hoje que os gecircneros literaacuterios estatildeo intimamente relacionados agraves condiccedilotildees

sociais e histoacutericas que determinam a formaccedilatildeo do puacuteblico leitor com seus gostos e

sensibilidades e que por outro lado eles tambeacutem se alteram com a mudanccedila do

43

suporte material dos textos como o demonstra a Histoacuteria dos manuscritos dos

impressos e das recentes experimentaccedilotildees digitais (BARBIER 2008 apud

FERREIRA 2011 p 73)

Das palavras de Barbier (2008) captamos a importacircncia que passa a ter a imprensa

para a divulgaccedilatildeo dos textos por seu alcance por sua frequecircncia bem como por seu poder de

molde sobre o puacuteblico leitor que se formava na eacutepoca

Antocircnio Candido (1992 p 15) no belo texto A vida ao reacutes-do-chatildeo explica que

ldquoantes de ser crocircnica propriamente dita foi lsquofolhetimrsquo ou seja um artigo de rodapeacute sobre as

questotildees do dia ndash poliacuteticas sociais artiacutesticas literaacuteriasrdquo E completa o autor afirmando que a

crocircnica ldquonatildeo nasceu propriamente com o jornal mas soacute quando este se tornou quotidiano de

tiragem relativamente grande e teor acessiacutevel isto eacute haacute pouco mais de um seacuteculo e meiordquo

(CAcircNDIDO 1992 p 15)

Esse folhetim em geral ficava no rodapeacute da primeira paacutegina do jornal e era

destinado ao entretenimento do leitor Esse espaccedilo com o tempo passou a acolher a ficccedilatildeo

literaacuteria Autores publicavam aiacute seus textos treinando a narrativa Tal foi a receptividade do

formato que ganhou espaccedilo proacuteprio semanalmente Nas palavras de Castello (1999) aquele

texto que veio depois a ser a crocircnica complementaria a funccedilatildeo da imprensa diaacuteria

A partir dos anos [19]20 acentua-se a contribuiccedilatildeo de cronistas e memorialistas Mas

o primeiro gecircnero mais do que o segundo eacute continuidade e amadurecimento de uma

tradiccedilatildeo proveniente do Romantismo quando o ldquofolhetimrdquo semanal eacute definido por

Joseacute de Alencar e enriquecido por Machado de Assis mestre de cronistas que vieram

depois Conta-se ainda a contribuiccedilatildeo da prosa poeacutetica de Raul Pompeia e logo a

seguir de Olavo Bilac Finalmente nos nossos dias seja atividade complementar seja

agraves vezes principal e mesmo uacutenica de vaacuterios escritores a crocircnica se afirma como gecircnero

da preferecircncia de numeroso puacuteblico Contribuiu sempre para difundi-la desde seus

momentos iniciais datados do Romantismo a divulgaccedilatildeo em primeira matildeo pelos

principais jornais e revistas do paiacutes Complementava mesmo pelo seacuteculo XIX a

funccedilatildeo de nossa imprensa diaacuteria tradicionalmente marcada pela colaboraccedilatildeo dos

escritores do momento Surgia como um misto de notiacutecia vaacuteria reflexatildeo invenccedilatildeo e

ateacute mesmo de criacutetica ou impressotildees literaacuterias (CASTELLO 1999 p 377-378)

A crocircnica complementava a imprensa por em seu bojo tratar de assuntos mais

amenos diferindo dos que motivavam as notiacutecias e as reportagens sem no entanto como nos

mostra Cacircndido (1992) deixar de lado o que toca a alma humana

Ora a crocircnica estaacute sempre ajudando a estabelecer ou restabelecer a dimensatildeo das

coisas e das pessoas Em lugar de oferecer um cenaacuterio excelso numa revoada de

adjetivos e periacuteodos candentes pega o miuacutedo e mostra nele uma grandeza uma beleza

ou uma singularidade insuspeitada Ela eacute amiga da verdade e da poesia nas suas

formas mais diretas e tambeacutem nas suas formas mais fantaacutesticas - sobretudo porque

quase sempre utiliza o humor (CAcircNDIDO 1992 p 14)

44

Amenos sim poreacutem as crocircnicas de um ou outro modo conduziam o leitor mesmo

que por caminhos suaves de ldquoar despreocupado de quem estaacute falando de coisas sem maior

consequecircnciardquo (CAcircNDIDO 1992 p 17) agrave criacutetica social agrave reflexatildeo sobre o significado das

accedilotildees e dos sentimentos do homem

Segundo Coutinho (2008 p 106) o caminho que conduziria agrave crocircnica brasileira

comeccedila com Francisco Otaviano no Jornal do Commercio no Rio de Janeiro em 2 de

dezembro de 1852 Nessa data eacute inaugurada a seccedilatildeo ldquoA semanardquo em que seriam publicados os

folhetins literaacuterios do Romantismo

O folhetim seccedilatildeo ao final da paacutegina apresentou caracteriacutesticas que se agrupadas

conforme a frequecircncia do teor das publicaccedilotildees seriam de variedades e de romances O primeiro

grupo o de variedades abordava assuntos diversos da eacutepoca tratando de tudo um pouco e

ocupava a primeira paacutegina do jornal O segundo por sua vez destinava-se a textos de ficccedilatildeo

Esse espaccedilo passou a publicar romances de autores da eacutepoca distribuiacutedos em histoacuterias seriadas

ou capiacutetulos provocando no puacuteblico leitor a curiosidade pelo que viria a seguir tornando-se

um sucesso permitindo ldquoalavancar as vendas aumentar as assinaturas e por conseguinte

ampliar as vantagens financeiras dos jornaisrdquo (SANTOS 2008 p 68)

Essa iniciativa abriu espaccedilo para publicaccedilotildees de romances de autores brasileiros O

guarani de Joseacute de Alencar por exemplo foi desenvolvido a princiacutepio para o folhetim Em 1ordm

de janeiro de 1857 saiu o capiacutetulo inicial do romance no Diaacuterio do Rio de Janeiro Ao final

daquele ano foi publicado como livro com alteraccedilotildees miacutenimas em relaccedilatildeo ao que fora

publicado em folhetim

A evoluccedilatildeo da sociedade industrial refletiu sua setorizaccedilatildeo no modo de organizaccedilatildeo

dos jornais O folhetim para variedades teve sua alteraccedilatildeo quando foram criadas seccedilotildees

especiacuteficas para assuntos especiacuteficos de maneira a organizar o jornal Para o folhetim restaram

assuntos mais corriqueiros de cunho mais descompromissado com a veracidade dos fatos ndash

estes ficariam para as notiacutecias A esses textos mais leves cujo caraacuteter era efecircmero com a mera

funccedilatildeo de distrair o leitor passou-se a dar o nome de crocircnica

232 Caracteriacutesticas da crocircnica

Apesar da filiaccedilatildeo ao jornal as caracteriacutesticas atuais do gecircnero crocircnica vatildeo aleacutem do

desenvolvimento da imprensa Como bem nos resume Amaral (2008) tambeacutem estatildeo

intimamente relacionadas agraves transformaccedilotildees sociais e agrave valorizaccedilatildeo da histoacuteria social isto eacute da

45

histoacuteria que considera importantes os movimentos de todas as classes sociais e natildeo soacute os das

grandes figuras poliacuteticas ou militares Em suas palavras no ldquoregistro da histoacuteria social assim

como na escrita das crocircnicas um dos objetivos eacute mostrar a grandiosidade e a singularidade dos

acontecimentos miuacutedos do cotidianordquo (2008 p 12)

Eacute efecircmera simples e dinacircmica em sua linguagem como nos fala Cacircndido (1992 p

14)

Isto acontece porque natildeo tem pretensotildees a durar uma vez que eacute filha do jornal e da

era da maacutequina onde tudo acaba tatildeo depressa Ela natildeo foi feita originalmente para o

livro mas para essa publicaccedilatildeo efecircmera que se compra num dia e no dia seguinte eacute

usada para embrulhar um par de sapatos ou forrar o chatildeo da cozinha Por se abrigar

nesse veiacuteculo transitoacuterio o seu intuito natildeo eacute o dos escritores que pensam em ldquoficarrdquo

isto eacute permanecer na lembranccedila e na admiraccedilatildeo da posteridade e a sua perspectiva

natildeo eacute a dos que escrevem do alto da montanha mas do simples reacutes-do-chatildeo

(CAcircNDIDO 1992 p 14)

As crocircnicas contemporacircneas organizam sua narrativa em primeira ou terceira

pessoa quase sempre como quem conta um caso em tom intimista Ao narrar os autores

inserem em seu texto trechos de diaacutelogos permeados por expressotildees cotidianas escrevendo

como quem conversa com seus leitores como se estivessem muito proacuteximos Como temaacutetica

os cronistas tratam de reflexotildees sobre a vida social poliacutetica econocircmica por vezes de forma

humoriacutestica outras de modo mais seacuterio outras com um jeito poeacutetico que indica o pertencimento

do gecircnero agrave esfera literaacuteria

Assim uma forte caracteriacutestica do gecircnero eacute ter uma linguagem que mescla aspectos

da escrita com outros da oralidade E por causa do uso de linguagem coloquial e da proximidade

com os fatos cotidianos a crocircnica por vezes eacute vista como literatura ldquomenorrdquo Essa suposta

classificaccedilatildeo como gecircnero literaacuterio menor natildeo diminui sua importacircncia Por ser breve leve de

faacutecil acesso envolvente ela possibilita momentos de fruiccedilatildeo a muitos leitores que nem sempre

tecircm acesso ndash ou natildeo gostam devido agrave extensatildeo ndash aos romances Para compreendermos as

caracteriacutesticas da crocircnica precisamos conhecer como ela se manifesta como texto jornaliacutestico

e tambeacutem como texto literaacuterio

2321 Crocircnica um gecircnero jornaliacutestico

Para termos uma ideia de como eacute vista a crocircnica na esfera jornaliacutestica valemo-nos

da classificaccedilatildeo do pioneiro na aacuterea Luiacutes Beltratildeo (1980 p 67 Grifos do autor)

O primeiro aspecto eacute quanto agrave natureza do tema Deste modo ele apresenta trecircs

46

espeacutecies

a) crocircnica geral tambeacutem chamada de coluna ou seccedilatildeo especial que aborda

assuntos variados ldquosob uma epiacutegrafe geralrdquo ou localizada em paacutegina fixa no

jornal

b) crocircnica local tambeacutem chama de urbana ou da cidade divulgada sob a mesma

epiacutegrafe que fala da vida cotidiana da cidade recebendo e orientando a opiniatildeo

puacuteblica da comunidade onde circula o jornal

c) crocircnica especializada tambeacutem chamada de comentaacuterio integra uma paacutegina ou

seccedilatildeo do jornal determinada destacando-se graficamente das demais mateacuterias

ali publicadas trata de assuntos referentes a uma aacuterea especiacutefica de atividade

cujo autor eacute um expert como nos casos de poliacutetica esportes ou economia

O segundo aspecto eacute o tratamento dado ao tema Beltratildeo (1980 p68) apresenta

mais trecircs classificaccedilotildees

a) crocircnica analiacutetica em que o cronista expotildee os fatos com brevidade e os analisa

com objetividade dirigindo-se ldquomais agrave inteligecircncia que ao coraccedilatildeordquo com

linguagem soacutebria e elegante poreacutem dotada de capricho e graccedila

b) crocircnica sentimental em que o cronista apela para a sensibilidade de seu leitor

retirando-se dos fatos e explorando aspectos liacutericos pitorescos ou eacutepicos de

modo a comovecirc-lo e influenciaacute-lo agrave accedilatildeo com linguagem vivaz ritmo aacutegil sem

dar profundidade ao tema

c) crocircnica satiacuterico-humoriacutestica em que o objetivo do cronista eacute criticar fatos accedilotildees

personagens ou pronunciamentos comentados ndash amplamente conhecidos do

puacuteblico ndash ridicularizando-os ou ironizando-os buscando o entretenimento do

leitor utilizando linguagem com linguagem figurada com duplo sentido

palavras aspeadas e verbos no futuro do preteacuterito Para Beltratildeo (1980) a esse tipo

de crocircnica se assemelham as charges dos jornais

2322 Crocircnica um gecircnero literaacuterio

A crocircnica como vimos previamente surgiu no espaccedilo do jornal Embora o

utilizasse como suporte e a partir dele tenha se firmado desenvolveu caracteriacutesticas proacuteprias

indo para aleacutem da esfera jornaliacutestica alcanccedilando assim a esfera literaacuteria Nas palavras de

Eduardo Portela (apud Coutinho 2008 p 107)

47

O fundamental na crocircnica eacute a superaccedilatildeo de sua base jornaliacutestica e urbana em busca de

transcendecircncia seja construindo ldquouma vida aleacutem da notiacuteciardquo Seja enriquecendo a

notiacutecia ldquocom elementos de tipo psicoloacutegico metafiacutesicordquo ou com o humour seja

fazendo ldquoo subjetivismo do artistardquo ldquoo seu universo internordquo sobrepor-se ldquoagrave

preocupaccedilatildeo objetiva do cronistardquo (PORTELA apud COUTINHO 2008 p 107)

Como se vecirc essa base jornaliacutestica que atrelava a crocircnica agrave notiacutecia foi

gradativamente superada Natildeo soacute em jornais mas tambeacutem em revistas ela passou a ser

publicada ainda trazendo em si o aspecto da brevidade Poreacutem as que alcanccedilaram a

transcendecircncia de que nos fala o autor passaram a tambeacutem ser publicadas em livros reunidas

em coletacircneas organizadas por autores e editoras chegando mesmo a serem inseridas nos livros

didaacuteticos do ensino baacutesico

Para aleacutem dessa caracteriacutestica da crocircnica literaacuteria impressa temos agora tambeacutem

no seacuteculo XX a crocircnica cujo suporte eacute o meio online divulgada amplamente por meio das redes

sociais sites ou blogs Nesses meios tambeacutem haacute crocircnicas ligadas a notiacutecias sim No entanto a

dinacircmica da vida a capacidade de observaccedilatildeo e a vontade crescente na sociedade de expressatildeo

permite que o subjetivo emerja externalizando o universo dos autores modernos tocando os

leitores igualmente modernos tornando puacuteblico o que poderia ser antes apenas privado natildeo

priorizando apenas a objetividade histoacuterica que buscaram os cronistas incipientes

Considerando todas essas formas de tornar puacuteblica a crocircnica vejamos algumas de

suas caracteriacutesticas mais expressivas Afracircnio Coutinho (2008 p 107 Grifos nossos) fala sobre

os diversos tipos da crocircnica na literatura brasileira afirmando ser possiacutevel classificaacute-los pela

natureza do assunto ou pelo movimento interno Satildeo eles

a) a crocircnica narrativa que se aproxima do conto por ter seu eixo em uma histoacuteria

b) a crocircnica metafiacutesica que se constitui de aura de reflexotildees mais ou menos

filosoacuteficas sobre os acontecimentos ou os homens

c) a crocircnica-poema em prosa que traz em si conteuacutedo liacuterico resultante de mero

extravasamento da alma do artista ante o espetaacuteculo da vida das paisagens ou

episoacutedios para ele significativos

d) a crocircnica-comentaacuterio que trata das variedades dos acontecimentos e que tem

ldquono dizer de Eugecircnio Gomes o aspecto de um lsquobazar asiaacuteticorsquo acumulando

muita coisa diferente ou diacutesparrdquo

Antocircnio Cacircndido (1992 p 21) sugere sem pretensatildeo de categorizar uma

classificaccedilatildeo das crocircnicas Poderiacuteamos agrupar conforme seus exemplos da seguinte forma

48

a) crocircnicas que satildeo diaacutelogos e que nelas podemos perceber que o cronista e seu

leitor ideal se revezam nos pontos de vista e nas informaccedilotildees

b) crocircnicas que marcham rumo ao conto ldquoagrave narrativa mais espraiada com certa

estrutura de ficccedilatildeordquo

c) crocircnicas que parecem anedotas desdobradas

d) crocircnicas que se aproximam da exposiccedilatildeo poeacutetica ou de certo tipo de biografia

liacuterica construiacutedas por enumeraccedilatildeo parecendo uma divagaccedilatildeo livre ldquouma

cadeia de associaccedilotildees totalmente sem necessidade que deveria resultar em

simples acuacutemulo de palavrasrdquo mas que resulta em ldquoum sistema expressivo tatildeo

perfeitordquo

Nos tempos em que vivemos e para nosso projeto escolhemos crocircnicas que se

apresentaram para noacutes tatildeo efecircmeras quanto as do jornal impresso as de meio virtual online

Bem certo que natildeo foram todas mas vaacuterias que nossos alunos leram encaixam-se nesse perfil

O advento da internet permite que acessemos textos dos mais variados gecircneros Em nosso caso

crocircnicas de autores de diversos pontos do Paiacutes Usamos famosos e outros cuja fama no meio

literaacuterio ainda estaacute se nacionalizando porquanto alguns jaacute estejam bem consolidados no meio

em seus estados

Como nosso objetivo maior nesta pesquisa-accedilatildeo eacute contribuir para o

desenvolvimento da competecircncia escrita dos alunos neste caso os do 9ordm ano do Ensino

fundamental ano divisor de aacuteguas prestes a entrar para o ensino meacutedio quando lhes seraacute

cobrado um conhecimento que muitos natildeo chegam a alcanccedilar que eacute o de ter boa escrita boa

produccedilatildeo textual propiciar-lhes-emos conhecer as etapas especiacuteficas do processo atraveacutes de

nossa SD o que lhes seraacute fundamental natildeo somente para os niacuteveis escolares seguintes mas

tambeacutem para as praacuteticas sociais nas quais estatildeo inseridos

A escolha do gecircnero natildeo poderia ter sido mais oportuna Nas palavras de Cacircndido

(1992 p 16) sobre a crocircnica ldquoo seu grande prestiacutegio atual eacute um bom sintoma do progresso de

busca da oralidade na escrita isto eacute na quebra do artifiacutecio e aproximaccedilatildeo com o que haacute de mais

natural no modo de ser do nosso tempo E isto eacute humanizaccedilatildeo da melhorrdquo

49

3 LEITURA E ESCRITA NOS ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Nesta seccedilatildeo tratamos da questatildeo da escrita no ensino fundamental nos anos finais

refletindo sobre o que ensinar em Liacutengua Portuguesa como os professores trabalham como

veem a importacircncia das aulas de escrita

31 Habilidades de leitura e escrita para que ler e escrever

No iniacutecio do seacuteculo XX pensava-se nas aulas de liacutengua materna como o momento

de se transmitir a norma culta da liacutengua portuguesa para os estudantes oriundos da classe social

alta A linguagem era vista como a expressatildeo do pensamento e a capacidade de escrever seria

portanto uma consequecircncia do pensar Na escola os textos literaacuterios eram valorizados e os

regionalismos ignorados Tambeacutem era descartada a ideia de se ler na escola jornais ou

quaisquer textos de nuances coloquiais

A partir da segunda metade do seacuteculo XIX comeccedilaram a surgir no Paiacutes ainda que

alguns fossem impressos na Europa livros de leitura destinados especificamente agraves seacuteries

iniciais da escolarizaccedilatildeo Segundo Galvatildeo e Batista (sd) autores como Abiacutelio Ceacutesar Borges e

Felisberto de Carvalho editaram livros considerados inovadores para a eacutepoca por terem caraacuteter

enciclopeacutedico trazendo conteuacutedos de vaacuterias aacutereas do conhecimento sendo de cunho instrutivo

e moral Essas obras destinadas ao aprendizado inicial da leitura e da escrita visavam substituir

as cartilhas grosseiras ou os materiais manuscritos que no entanto na maior parte do paiacutes

continuaram sendo usados

No iniacutecio do seacuteculo XX foram publicados livros cujo formato comeccedilou a modificar

o conceito de livro usado nas escolas Atraveacutes do Brasil de Olavo Bilac e Manuel Bonfim e

Narizinho arrebitado de Monteiro Lobato marcaram a histoacuteria

Movidos pelo nacionalismo que caracterizava aquele momento brasileiro os autores

construiacuteram um livro que traz uma narrativa contiacutenua ao longo dos capiacutetulos contando

a histoacuteria de trecircs meninos viajando atraveacutes do paiacutes No prefaacutecio os autores afirmam

que atraveacutes da histoacuteria narrada o professor teria material para desenvolver os diversos

assuntos necessaacuterios agrave instruccedilatildeo das crianccedilas Aleacutem disso e talvez sobretudo os

autores tecircm uma preocupaccedilatildeo com a educaccedilatildeo moral dos meninos e meninas Em

1921 outro livro marcaria a histoacuteria dos livros de leitura Narizinho Arrebitado de

Monteiro Lobato Um dos grandes sucessos da literatura infantil brasileira nasceu

como 2o livro de leitura para as escolas E com ele uma grande inovaccedilatildeo Segundo

a criacutetica da eacutepoca o livro se diferenciava de toda a literatura didaacutetica produzida no

Brasil na medida em que trazia para a escola um aspecto ateacute entatildeo ignorado pela

instituiccedilatildeo provocar o prazer na leitura (GALVAtildeO BATISTA sd)

50

Da deacutecada de 20 ateacute meados da de 50 inuacutemeros livros de leitura foram produzidos

e algumas editoras especializaram-se na produccedilatildeo de livros didaacuteticos Nesse momento vaacuterias

reformas de ensino foram empreendidas por diversos Estados

Nos anos 1970 a linguagem passou a ser vista como um instrumento de

comunicaccedilatildeo como nos fala Raupp (2005)

A concepccedilatildeo agora eacute a de linguagem como instrumento de comunicaccedilatildeo e os

objetivos de ensino satildeo pragmaacuteticos e utilitaacuterios natildeo se trata mais de promover o conhecimento

do sistema linguiacutestico ndash o saber a respeito da liacutengua ndash mas do desenvolvimento das habilidades

de expressatildeo e compreensatildeo de mensagens ndash o uso instrumental e comunicativo da liacutengua A

escola abre-se para a pluralidade de linguagens e culturas

Segundo a autora ensinar a liacutengua nas escolas era priorizar o ensino de gramaacutetica

Poreacutem no iniacutecio dos anos 70 a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo nordm 569271

provocou mudanccedilas natildeo somente na disciplina de Liacutengua Portuguesa mas em todas as demais

disciplinas curriculares A liacutengua no contexto ideoloacutegico do movimento militar poacutes-64 eacute

considerada instrumento a serviccedilo do desenvolvimento Assim a disciplina ldquoPortuguecircsrdquo passa

a ser denominada de Comunicaccedilatildeo e Expressatildeo (nas seacuteries iniciais) Comunicaccedilatildeo em Liacutengua

Portuguesa (nas seacuteries finais) e no 2deg grau Liacutengua Portuguesa e Literatura Brasileira O aluno

deveria respeitar modelos para construir textos e transmitir mensagens Os gecircneros natildeo

literaacuterios foram incorporados agraves aulas

Chegando agrave deacutecada de 1980 foi sendo revista refletida e ampliada a concepccedilatildeo de

linguagem como um instrumento de comunicaccedilatildeo passando a influenciar o ensino e mostrando

que o foco deve estar na interaccedilatildeo entre as pessoas Poreacutem apesar dos novos estudos mesmo

entrando na deacutecada de 1990 professores ainda reproduziam mesmo que inconscientemente o

mesmo sistema de transposiccedilatildeo didaacutetica de conteuacutedos e a mesma atribuiccedilatildeo de valor e

importacircncia ao ensino prescritivo e normativo com que construiacuteram sua formaccedilatildeo tanto pessoal

quanto pedagoacutegica

Questionava-se para que serve a escola E trazendo para nossa aacuterea de interesse

para que serve a disciplina Liacutengua Portuguesa Para alguns a escola era e ainda eacute vista como

preparatoacuteria de alunos para o vestibular tanto mais se aproximava do ensino meacutedio No entanto

se a escola se detiver apenas a esses exames perderaacute completamente seu papel social que como

sabemos eacute muito mais abrangente que fazer uma prova cuja finalidade eacute especiacutefica objetiva e

limitada por um tempo e por uma seacuterie de outras determinaccedilotildees teacutecnicas

51

Nesse sentido a escola natildeo tem por finalidade maior garantir o preparo de alunos

para concursos pois natildeo cumpriria seu papel de promover a inclusatildeo social dos cidadatildeos Para

aleacutem da escola haacute a vida e toda sua abrangecircncia social e poliacutetica Entatildeo para de fato promover

a inclusatildeo de cada aluno nada mais importante do que incluiacute-los no mundo da leitura e da

escrita da anaacutelise e da reflexatildeo criacutetica estimulando-os agrave criaccedilatildeo

Valemo-nos das palavras de Antunes (2007 p110) a respeito do conflito sobre o

que ensinar nas aulas de Liacutengua Portuguesa quando questiona o que leva ainda algumas pessoas

a defenderem a prioridade de um ensino concentrado em ldquoanalisar frases para identificar

substantivos adjetivos verbos sublinhar diacutegrafos distinguir objeto preposicionado de objeto

direto pleonaacutestico classificar oraccedilotildees e outras categorias metalinguiacutesticasrdquo Por que falantes da

liacutengua materna natildeo tecircm familiaridade com a liacutengua em sua modalidade escrita em sua forma

espontacircnea de uso Raupp (2005 p 53) apresenta-nos uma resposta

A verdade eacute que por mais que se tenham alterado meacutetodos e teacutecnicas pressupostos e

concepccedilotildees no ensino de Liacutengua Portuguesa uma premissa permaneceu inalterada a

necessidade de se ensinaraprender a leitura e a escrita E apesar de inuacutemeras

alteraccedilotildees didaacutetico-metodoloacutegicas ocorridas ao longo do percurso o ler e o escrever

permanecem gerenciadores de todo o processo de inserccedilatildeo do sujeito na escola e fora

dela A esse respeito menciona Britto (1997 p100) ldquoo aprendizado efetivo da escrita

(e aqui eu acrescentaria e da leitura) natildeo decorre de um processo de treinamento mas

da inserccedilatildeo do sujeito no mundo da relaccedilatildeo que estabelece entre o que aprende e seu

universo soacutecio-histoacutericordquo e a inserccedilatildeo do sujeito no mundo inegavelmente ocorre

por meio da leitura deste mundo (RAUPP 2005 p 53)

De certa maneira a tradiccedilatildeo dos meacutetodos de ensino da liacutengua materna na escola

ainda contribui no sentido de natildeo se estimular os aprendizes a fluir na leitura e na escrita

(BEZERRA 2014 LOPES-ROSSI 2012)

Com o intuito de superar meacutetodos tatildeo tradicionais quanto ineficientes no ensino da

competecircncia discursiva e sensiacuteveis agraves transformaccedilotildees gestadas nos centros de conhecimento

no ano de 1996 foi promulgada apoacutes longos debates e discussotildees a Lei de Diretrizes e Bases

que rege a educaccedilatildeo brasileira com vistas agraves novas formas do pensar e agir docente de modo

a implementar a transformaccedilatildeo do olhar das instituiccedilotildees que formam professores bem como

auxiliar os docentes jaacute em exerciacutecio atraveacutes das instituiccedilotildees que lhes propiciam a formaccedilatildeo

continuada

Assim os Paracircmetros Curriculares Nacionais (1997) reconhecem que o ensino da

liacutengua portuguesa pautado em uma prioridade de estudos de aspectos normativos ou gramaticais

da liacutengua eacute limitado e insuficiente e sugerem redirecionar o foco para a praacutetica de leitura e ndash

aspecto muito importante ndash o exerciacutecio da escrita de textos nos mais variados gecircneros textuais

52

existentes na sociedade possibilitando o estudo da liacutengua em contextos reais de uso natildeo apenas

como um conjunto de normas

A importacircncia e o valor dos usos da linguagem satildeo determinados historicamente

segundo as demandas sociais de cada momento Atualmente exigem-se niacuteveis de leitura e de

escrita diferentes dos que satisfizeram as demandas sociais ateacute haacute bem pouco tempo e tudo

indica que essa exigecircncia tende a ser crescente A necessidade de atender a essa demanda

obriga agrave revisatildeo substantiva dos meacutetodos de ensino e agrave constituiccedilatildeo de praacuteticas que possibilitem

ao aluno ampliar sua competecircncia discursiva na interlocuccedilatildeo (BRASIL 1998 p 23)

Nesse sentido os PCN (1997) orientam o trabalho em sala em direccedilatildeo agrave ampliaccedilatildeo

do uso da liacutengua aos contextos natildeo podendo ficar reduzida apenas ao trabalho sistemaacutetico com

a mateacuteria gramatical visto que aprender a pensar e falar sobre a proacutepria linguagem realizar

uma atividade de natureza reflexiva uma atividade de anaacutelise linguiacutestica supotildee duas situaccedilotildees

planejar situaccedilotildees didaacuteticas que possibilitem a reflexatildeo natildeo somente sobre os diferentes

recursos expressivos utilizados pelo autor do texto mas tambeacutem sobre a forma pela qual a

seleccedilatildeo de tais recursos reflete as condiccedilotildees de produccedilatildeo do discurso e as restriccedilotildees impostas

pelo gecircnero e pelo suporte e tomar como objeto de reflexatildeo os procedimentos de planejamento

de elaboraccedilatildeo e de refacccedilatildeo dos textos (BRASIL 1997 p 8 Grifo nosso)

Produzir textos requer dessa forma estudar os diferentes modos de expressatildeo

abrindo-se aiacute para o aluno uma gama de possibilidades de manifestaccedilatildeo de ideias atraveacutes do

conhecimento de sua liacutengua quando de seu uso nas relaccedilotildees de interaccedilatildeo pessoal No entanto

para que essa produccedilatildeo seja efetiva haacute que se ter em mente que qualquer atividade de produccedilatildeo

textual bem-sucedida requer o exerciacutecio da escrita e da reescrita pois se considera que nesse

processo de aperfeiccediloamento as aulas tomadas entre o iniacutecio e o teacutermino de uma sequecircncia ou

seja entre a produccedilatildeo inicial e a produccedilatildeo final sejam vaacuterias e variadas com planejamento para

conhecer as necessidades de cunho geral da turma como as caracteriacutesticas de um gecircnero bem

como as de cunho individual do aluno como as limitaccedilotildees no reconhecimento do gecircnero

textual na construccedilatildeo de argumentos nas convenccedilotildees da escrita culta

Para boa parte das crianccedilas e dos jovens brasileiros a escola eacute o uacutenico espaccedilo que

pode proporcionar acesso a textos escritos textos estes que se converteratildeo inevitavelmente em

modelos para a produccedilatildeo Se eacute de esperar que o escritor iniciante redija seus textos usando como

referecircncia estrateacutegias de organizaccedilatildeo tiacutepicas da oralidade a possibilidade de que venha a

construir uma representaccedilatildeo do que seja a escrita soacute estaraacute colocada se as atividades escolares

53

lhe oferecerem uma rica convivecircncia com a diversidade de textos que caracterizam as praacuteticas

sociais (BRASIL 1998 p 25-26)

Para levar o aluno a desenvolver suas habilidades de escrita um passo eacute planejar

sequecircncias que abordem as caracteriacutesticas do gecircnero a ser trabalhado permitindo-lhe pocircr em

aproximaccedilatildeo eou contraste seus saberes com os conhecimentos a serem construiacutedos algo que

tem se revelado bastante difiacutecil

Para o trabalho com a escrita em Liacutengua Portuguesa pode-se partir da questatildeo

essencial o que se deve ensinar para os alunos Para a resposta eacute importante entendermos a

escrita como processo quais satildeo as etapas Quais as estrateacutegias de escrita Qual o papel do

professor neste processo Para fundamentar a didaacutetica da escrita eacute importante conhecer os

processos de redigir e tambeacutem considerar como motivar os alunos a escrever Vamos para este

estudo nortearmo-nos em Serafini (2003) Koch e Elias (2009) e Vieira (2005)

32 Escrita e motivaccedilatildeo

Vieira (2005 p 71) traz agrave tona uma reflexatildeo sobre a necessidade de motivar a

escrita pois essa praacutetica permeia todas as nossas atividades cotidianas e eacute cada vez mais

indispensaacutevel Em sua anaacutelise entende que os atos de escrita que acontecem na escola

apresentam uma defasagem entre a realidade do mundo da palavra e a palavra do mundo

escolar Por vezes os alunos escrevem textos sem instruccedilotildees claras e sem um destinataacuterio

concreto aleacutem do professor cujo papel consiste em corrigir os erros de gramaacutetica e ortografia

Uma criacutetica pertinente da autora eacute que nossas escolas ainda estatildeo em sua maioria

com um atraso pedagoacutegico quanto ao trabalho com a escrita seus usos sociais e os processos

do redator Apesar de muitas abordagens e contribuiccedilotildees pedagoacutegicas que trabalham esses usos

sociais e o ato de redigir em funccedilatildeo de uma audiecircncia para o texto ou de um propoacutesito

comunicativo terem despontado essas ideias permanecem distantes da realidade do ensino Em

sua contribuiccedilatildeo para o tema motivaccedilatildeo Vieira (2005 p 70) afirma ldquoSe o impulso

comunicativo para escrever eacute determinante de escolhas temaacuteticas estruturais estiliacutesticas e

pragmaacuteticas no texto em composiccedilatildeo de partida isso jaacute deveria implicar num cuidado muito

maior em relaccedilatildeo ao quecirc e como satildeo propostos os atos de escrita na escolardquo

Essas proposiccedilotildees de que trata a autora atentam para que consideremos que estamos

na era digital em que a tecnologia absorve bastante a atenccedilatildeo dos alunos o que atribui novas

funccedilotildees para a escrita Para motivaacute-los as atividades precisam entatildeo levaacute-los a se sentirem

54

capazes de se envolver e de completar a tarefa isto eacute de ter competecircncia e controle sobre ela

controle sobre seus textos e sobre a situaccedilatildeo de escrita Essa autopercepccedilatildeo de competecircncia e

controle cuja recompensa eacute a autogratificaccedilatildeo eacute conceituada como motivaccedilatildeo intriacutenseca

concebida do ponto de vista cognitivista em oposiccedilatildeo ao conceito behaviorista de motivaccedilatildeo

cujo foco estaacute em recompensas externas chamado de motivaccedilatildeo extriacutenseca

Para o ensino segundo Vieira (2005) a percepccedilatildeo de competecircncia eacute muito

importante no que tange ao engajamento em tarefas Se o aluno natildeo se percebe competente

numa aacuterea maior sua necessidade de assistecircncia externa para se desincumbir de uma tarefa

Desse modo Vieira (2005 p 73) diz que

A ideia eacute que quando os estudantes se apropriam de sua escrita seu niacutevel de

engajamento seraacute mais alto Assim todo redator do principiante ao profissional deve

ser encorajado a apropriar-se de seu texto usando a escrita para expressar sua

compreensatildeo pessoal dos assuntos e para buscar seus proacuteprios propoacutesitos acadecircmicos

e sociais (VIEIRA 2005 p 73)

Visando entatildeo propiciar uma maior motivaccedilatildeo para redigir Vieira (2005) lista em

um quadro algumas atitudes de intervenccedilatildeo possiacuteveis cujos princiacutepios e praacuteticas aceitamos

como norte em nossa pesquisa de acordo com as possibilidades e dificuldades verificadas na

turma considerando a SD que foi aplicada Vejamos a seguir

Quadro 2 ndash Motivaccedilatildeo e envolvimento na produccedilatildeo escrita

ELEMENTOS BAacuteSICOS PRINCIacutePIOS E PRAacuteTICAS EFEITOS GERADOS

a) Competecircncia + assistecircncia

b) Controle (textosituaccedilatildeo de

escrita)

Encorajar a apropriaccedilatildeo do

texto

Compartilhar e demonstrar atos

de escrita ao aluno (o prazer e as

dificuldades)

Oportunidades para

autorregulaccedilatildeo

Engajamento mais alto

na leitura (a) e na escrita

(b) gt maior

competecircncia controle

Tempo

Concentrar periacuteodos para

escrever instituindo a

regularidade

Maior competecircncia e

controle

Propriedade (ownership)

Controlar a situaccedilatildeo de escrita e

a tarefa dentro do gecircnero e

formato

- variar temasassuntos

- focalizar uma audiecircncia

- encontrar a proacutepria ldquovozrdquo

expressando significados e

opiniotildees

- lerredigir textos autecircnticos

criando propoacutesitos

Domiacutenio sobre o texto e

maior prazer na escrita

55

comunicativos e situaccedilotildees reais

de escrita

Resposta (retorno reacuteplica)

Lerouvircompartilhar textos

Trabalhar em pequenos grupos

antes de trabalhar de forma

independente

Oportunidades de trocar

e comentar textos com

os colegas obtendo

respostas especiacuteficas

Complexidade da tarefa ndash usar

habilidades e conhecimentos

preacutevios propor tarefas que

possam ser executadas com

ecircxito (Bereiter e Scardamalia

1982)

Propor tarefas que dosem

- conteuacutedo (assunto)

- forma (gecircnero formato)

- funccedilatildeo (propoacutesito do texto)

Ex assunto novo + formato de

texto conhecido + funccedilatildeo

conhecida

Confianccedila reforccedilada

pela possibilidade de

sucesso de dar conta da

tarefa estimulando a

percepccedilatildeo da

competecircncia

Percepccedilatildeo abrangente do

processo de redigir (similar em

liacutengua materna e liacutengua

estrangeira ndash dominar o coacutedigo

linguiacutestico natildeo eacute o maior

problema)

Focalizar em separado

processos de

composiccedilatildeotranscriccedilatildeo

(gerarorganizar ideias x

ortografia e gramaacutetica)

Reforccedilo da experiecircncia

de sucesso gt niacutevel mais

alto de competecircncia

percebida gt

engajamento com tarefas

semelhantes Fonte Adaptado de VIEIRA (2005)

Aleacutem desses elementos a autora aponta outros aspectos praacuteticos que podem ampliar

a motivaccedilatildeo para escrever Satildeo eles

a) trabalhar a leitura e a escrita de forma complementar explorando textos

variados observando padrotildees ortograacuteficos e construccedilotildees sintaacuteticas explorando

o potencial da internet e os acervos disponiacuteveis pois a leitura contribui para a

escrita mais que o proacuteprio ato de redigir

b) integrar a escrita agrave matildeo com a escrita digital transitando do papel agrave tela do

computador exercitando em cada uma das modalidades de escrita os aspectos

que melhor favorecem

c) recriar situaccedilotildees comunicativas autecircnticas e propoacutesitos para escrever como

anuacutencios manchetes oraccedilotildees bilhetes cartas notiacutecias entre outros indo dos

mais simples aos mais complexos e

d) buscar audiecircncias verdadeiras para escrever e interlocutores para comentar os

textos redigidos criando situaccedilotildees de modo que os estudantes possam comentar

e criticar o que foi produzido

Diante do exposto procuramos ao longo das aulas dos moacutedulos contemplar nas

atividades os aspectos que podem motivar o aluno a escrever dominando pouco a pouco seu

texto propiciando-lhe a construccedilatildeo de experiecircncias positivas ainda mais porque estaacute em jogo

o despertar da consciecircncia de que a escrita eacute um processo como veremos na seccedilatildeo a seguir

56

33 Escrita como processo

Iniciando com questionamentos como por que eacute difiacutecil aprender a redigir quais satildeo

as maiores dificuldades envolvidas na produccedilatildeo de um texto como as crianccedilas escrevem e se

desenvolvem como redatoras quais os comportamentos caracteriacutesticos dos bons e dos maus

redatores entre outros que foram propostos por Vieira (2005 p 80) para saber mais sobre o

processo de produccedilatildeo de textos na escola

Em cada exerciacutecio de linguagem escrita praticado na escola eacute fundamental prever

para quem se vai escrever As redaccedilotildees escritas ldquopara ningueacutemrdquo que segundo Antunes (2009)

desconsideram o outro sujeito que integra a atividade comunicativa soacute podem resultar no

desinteresse e na ineficiecircncia dos meacutetodos de que somos testemunhas haacute vaacuterias deacutecadas Essa

produccedilatildeo textual ldquopara ningueacutemrdquo de que trata a autora reflete-se nas inseguranccedilas

manifestadas pelos alunos Quando estes escrevem eacute unicamente para o professor porque

visam merecer uma nota e passar de ano Ora se a escrita tem tantas funccedilotildees na sociedade

sendo de ordem praacutetica natildeo faz sentido cristalizaacute-la em fins puramente escolares

A escrita segundo Koch e Elias (2009) pode ter vaacuterios focos De acordo com as

autoras haacute correntes de produccedilatildeo textual que colocam o foco da escrita na liacutengua outras que

focam no escritor e por uacuteltimo na interaccedilatildeo

Com o foco da escrita na liacutengua bastaria tanto ao escritor como ao leitor ter

conhecimento do coacutedigo utilizado no texto sem espaccedilo para implicitudes havendo centraccedilatildeo

na linearidade de modo transparente

Com o foco da escrita no escritor o texto eacute visto como produto loacutegico do

pensamento (representaccedilatildeo mental) do escritor ou seja uma expressatildeo do pensamento e das

intenccedilotildees do autor mas que natildeo leva em conta as experiecircncias e os conhecimentos do leitor

pois natildeo considera a interaccedilatildeo que haacute no processo (KOCH ELIAS 2009 p 33)

No entanto natildeo se deve considerar segundo as autoras o foco apenas no coacutedigo

ou apenas no escritor mas na interaccedilatildeo

Essa eacute a diferenccedila em relaccedilatildeo agraves concepccedilotildees anteriormente descritas visto que a

escrita natildeo eacute compreendida em relaccedilatildeo apenas agrave apropriaccedilatildeo das regras da liacutengua nem

tampouco ao pensamento e intenccedilotildees do escritor mas sim em relaccedilatildeo agrave interaccedilatildeo escritor-

leitor levando em conta eacute verdade as intenccedilotildees daquele que faz uso da liacutengua para atingir o

seu intento sem contudo ignorar que o leitor com seus conhecimentos eacute parte constitutiva desse

processo (KOCH ELIAS 2009 p 34)

57

Desse modo a primeira condiccedilatildeo necessaacuteria ao professor que ensina a redigir eacute que

tenha em mente que a escrita eacute uma atividade comunicativa e que desempenha funccedilotildees cada

vez mais diversificadas no dia a dia de uma sociedade letradardquo (VIEIRA 2005 p 80) Escrever

eacute um ato que requer sentido afinal comunicar-se eacute um ato de interaccedilatildeo social eacute praacutetica eacute

vivecircncia

Os processos psicoloacutegicos ou mentais acionados durante a produccedilatildeo de um texto

natildeo acontecem necessariamente numa ordem loacutegica Podem vir simultaneamente o que pode

levar o redator a sentir que tem conflitos e consequentemente estancar diante dessa dificuldade

inicial

Logo para produzir um texto eacute preciso ter determinados os pontos que indicam

exatamente o que fazer o que facilita o trabalho de qualquer escritor Vieira (2005) considera

que para despertar o prazer de escrever haacute que se levar em conta os seguintes argumentos um

eacute a funcionalidade da escrita jaacute falada anteriormente outro diz respeito agrave proacutepria natureza da

escrita tatildeo distinta da fala

Embora a escrita em papel seja um ato solitaacuterio em que natildeo se conta com a reaccedilatildeo

do interlocutor por causa da proacutepria distacircncia espacial que separa autor e leitor a consciecircncia

da audiecircncia eacute o que impulsiona o texto que estaacute sendo produzido Em outras palavras no ato

de redigir jaacute estaacute inscrito o virtual leitor do texto E eacute essa consciecircncia aparentemente

contraditoacuteria entre ausecircncia e presenccedila do destinataacuterio da mensagem que vai moldar os

procedimentos do redator (VIEIRA 2005 p 82)

Concordamos com Serafini (2003 p17) quando afirma que escrever um texto ldquonatildeo

significa criar por inspiraccedilatildeo divina Eacute um trabalho E para realizar a contento um trabalho eacute

preciso conhecer as regras do jogordquo As regras que a autora propotildee satildeo as seguintes ter um

plano ordenar as ideias organizar o texto corrigir Essa distribuiccedilatildeo das etapas do trabalho

permite que se trabalhe melhor Da mesma forma Koch e Elias (2009 p 37) evidenciam que

[] em sua atividade o escritor recorre a conhecimentos armazenados na memoacuteria

relacionados agrave liacutengua ao saber enciclopeacutedico a praacuteticas interacionais Esses

conhecimentos resultado de inuacutemeras atividades em que nos envolvemos ao longo de

nossa vida deixam entrever a intriacutenseca relaccedilatildeo entre linguagemmundopraacuteticas

sociais (KOCH ELIAS 2009 p 37)

Para Koch e Elias (2009 p 34) a escrita eacute uma atividade que demanda esforccedilo e

as estrateacutegias a seguir

58

a) ativaccedilatildeo de conhecimentos sobre os componentes da situaccedilatildeo comunicativa

(interlocutores toacutepico a ser desenvolvido e configuraccedilatildeo textual adequada agrave

interaccedilatildeo em foco)

b) seleccedilatildeo organizaccedilatildeo e desenvolvimento das ideias de modo a garantir a

continuidade do tema e sua progressatildeo

c) ldquobalanceamentordquo entre informaccedilotildees expliacutecitas e impliacutecitas entre informaccedilotildees

ldquonovasrdquo e ldquodadasrdquo levando em conta o compartilhamento de informaccedilotildees com

o leitor e o objetivo da escrita

d) revisatildeo da escrita ao longo de todo o processo guiada pelo objetivo da produccedilatildeo

e pela interaccedilatildeo que o escritor pretende estabelecer com o leitor

Haacute muitas maneiras de percebermos os subprocessos e as habilidades implicadas

na produccedilatildeo de um texto como mostram Serafini (2003) Koch e Elias (2009) Vieira (2005

p84) tambeacutem menciona em sua obra modelos do tipo ldquoensaio esboccedilo ediccedilatildeo e revisatildeordquo

ldquoensaiar escrever e passar a limpordquo ldquoextrapolar e resumirrdquo ldquocoletar e conectarrdquo ldquodesenvoltura

coerecircncia e precisatildeordquo ldquogerarorganizar ideias produzir texto e revisarrdquo ldquoelaboraccedilatildeo expressatildeo

e revisatildeordquo ldquoplanificaccedilatildeo textualizaccedilatildeo revisatildeordquo

Nessa visatildeo processual do ensino da escrita todas essas maneiras convergem para

o consenso de que haacute operaccedilotildees mentais de natureza diferente e conflitante e para fins

pedagoacutegicos eacute interessante separar as atividades de composiccedilatildeo e de transcriccedilatildeo segundo o

conceito de Smith apud Vieira (2005 p 84) ldquoSegundo ele a atividade de compor diz respeito

agrave geraccedilatildeo seleccedilatildeo organizaccedilatildeo de ideias e sua traduccedilatildeo em linguagem Jaacute a atividade de

transcrever refere-se ao ato fiacutesico de registrar as palavrasrdquo

Na praacutetica compor e transcrever satildeo aspectos concorrentes e para a autora a

soluccedilatildeo pedagoacutegica seria separar as duas atividades da seguinte forma

[] primeiro levar o aluno a compor sem se preocupar com a transcriccedilatildeo depois

orientaacute-lo para revisar e reescrever o texto (fazendo-o compreender que a atividade de

revisatildeo faz parte do processo de redigir um texto) Estas colocaccedilotildees jaacute nos permitem

rever os criteacuterios de avaliaccedilatildeo de redaccedilotildees mostrando-nos como estamos equivocados

quando elegemos a correccedilatildeo gramatical e a ortografia como metas principais para a

habilidade de redigir (VIEIRA 2005 p 85)

Assim como ensinar a redigir sob a oacutetica da escrita como processo De iniacutecio tendo

em mente que as operaccedilotildees e habilidades necessaacuterias agrave elaboraccedilatildeo do texto tecircm valor No

entanto o exerciacutecio das habilidades de escrita em separado pode ter a desvantagem de levar o

59

aluno a achar que o processo eacute uma atividade fragmentada Para entatildeo evitar essa percepccedilatildeo

eacute preciso aleacutem dos exerciacutecios redigir textos completos

De jaacute temos consciecircncia de que nenhuma abordagem para o ensino da escrita eacute

absoluta Nas palavras de Vieira (2005 p 87)

A redaccedilatildeo requer meacutetodo muacuteltiplo jaacute que envolve diferentes tipos de capacidades e

habilidades E nada substitui o bom senso do professor Assim por exemplo se ele

julgar necessaacuterio reforccedilar determinados padrotildees de texto recorrendo agrave abordagem

imitativa estaraacute procedendo de forma adequada Da mesma maneira poderaacute usar

estrateacutegias de liberaccedilatildeo da linguagem na fase de geraccedilatildeo de ideias ou reforccedilar os

recursos de interaccedilatildeo verbal professor-aluno ou aluno-aluno nas atividades de revisatildeo

de texto (VIEIRA 2005 p 87)

Vieira (2005) sintetiza os pontos importantes para o desenvolvimento da habilidade

de redigir a partir de investigaccedilotildees de Krashen (1984 apud Vieira 2005) na aacuterea

O primeiro ponto eacute a frequecircncia com que se redige Independentemente da

disciplina escrever exige treino constante concentrando o tempo disponiacutevel e em horaacuterio

regular posto que ldquosaber com antecedecircncia quando vamos redigir cria prontidatildeo para a

atividade que comeccedila interiormente bem antes de colocarmos as palavras no papelrdquo (VIEIRA

2005 p 88)

O segundo ponto eacute a correlaccedilatildeo entre leitura e escrita A habilidade de ler

compreensivamente permite que quanto mais se leia mais se observe a composiccedilatildeo dos textos

aprendendo-se a lidar com seus padrotildees de organizaccedilatildeo com as intenccedilotildees do autor e percebendo

como se executam diferentes modalidades de usos da escrita

O terceiro ponto eacute a frequecircncia em ler x a frequecircncia em escrever Vieira (2005)

afirma que estudos que comparam a frequecircncia em ler e a frequecircncia em escrever revelam que

a leitura tem efeito mais forte sobre o desenvolvimento da escrita que a proacutepria frequecircncia com

que se escreve

O quarto ponto eacute a instruccedilatildeo escolar para o ensino da escrita Mais do que qualquer

outra habilidade diz a autora a escrita precisa ser demonstrada Assim as instruccedilotildees que o

professor faz ao texto do aluno durante o processo contribuem para que este faccedila os devidos

ajustes melhorando assim sua habilidade de produzir textos

O quinto ponto eacute o feedback do professor Este ponto ressalta o papel fundamental

do professor nas muacuteltiplas reescrituras por que passa um texto ldquoO ideal eacute que sejam feitos

vaacuterios rascunhos com o professor presente comentando cada estaacutegio intermediaacuteriordquo (VIEIRA

2005 p 89) Suas correccedilotildees precisam ser feitas sobre um aspecto de cada vez especificando

as alteraccedilotildees necessaacuterias nos aspectos de composiccedilatildeo e de transcriccedilatildeo

60

O sexto ponto eacute a instrumentaccedilatildeo gramatical e o desenvolvimento da escrita e trata

do que muito se tem discutido na atual sociedade instruccedilatildeo gramatical desvinculada do uso

praacutetico da linguagem natildeo garante a ningueacutem uma escrita melhor

O seacutetimo e uacuteltimo ponto satildeo os processos de composiccedilatildeo de bons e maus redatores

e diferencia em pelo menos quatro aspectos os que escrevem bem do que os que o fazem mal

Satildeo eles

a) planejamento quem redige bem planeja mais Esse planejamento pode ser

gastando mais tempo pensando tomando notas antes de escreverem

flexibilizando os planos e revisando os esquemas agrave medida que surgem novas

ideias e argumentos Apenas alguns redatores experientes seguem uma ordem

linear planejando primeiro em seguida esboccedilando o texto num rascunho e

enfim revisando ldquoPara a maioria deles o processo de redigir eacute recursivo isto eacute

sujeito a retomadas e alteraccedilotildees em diferentes pontos da produccedilatildeo do textordquo

(VIEIRA 2005 p 91)

b) releitura durante a elaboraccedilatildeo do texto as pausas na escrita para a releitura

permitem manter o senso de totalidade da composiccedilatildeo planejando o que

escrever em seguida e tambeacutem relembrando o que jaacute foi registrado fazendo com

que o texto avance

c) revisatildeo a diferenccedila entre os escritores experientes dos inexperientes eacute a revisatildeo

frequentemente confundida com editoraccedilatildeo A revisatildeo pelos experientes eacute uma

focalizaccedilatildeo do significado servindo para ldquoinventar acrescentar mudanccedilas de

conteuacutedo e para reorganizar longos trechos da composiccedilatildeordquo (VIEIRA 2005 p

94) ao passo que a editoraccedilatildeo normalmente a preocupaccedilatildeo dos inexperientes eacute

a correccedilatildeo gramatical a ortograacutefica e a pontuaccedilatildeo que se feita antes do tempo

quebra o ritmo da escrita deixando de conduzir o fio do pensamento e

d) consciecircncia da audiecircncia fundamental considerando o foco da escrita como

anteriormente dito na interaccedilatildeo Levar em conta o leitor como ele poderaacute

receber as palavras e ideias do texto os conhecimentos que ele precisaraacute ter para

compreender o texto e os interesses que ele tem eacute marca dos escritores que

redigem bem ao contraacuterio dos demais que ldquotendem a ficar presos ao assunto do

texto e a gastar menos tempo pensando no leitor por natildeo terem consciecircncia da

audiecircncia ou por natildeo serem capazes de consideraacute-la na escritardquo (VIEIRA 2005

p 95)

61

Essas etapas apresentadas nesta seccedilatildeo foram fundamentais para o processo

conduzido em nossa SD visto permitir aos alunos tomar consciecircncia dos processos que satildeo

ativados antes e durante a escrita bem como nas etapas de leitura releitura e reescrita sendo

cerne da elaboraccedilatildeo das propostas de produccedilatildeo conforme veremos nas seccedilotildees correspondentes

aos moacutedulos aos encontros e agraves atividades desenvolvidas Para a seccedilatildeo seguinte veremos como

pode ser trabalhada a escrita na escola

34 Escrita na escola

Para antes do iniacutecio do trabalho de escrita no acircmbito escolar o ideal eacute que o

professor tenha em mente para definir com clareza junto aos seus alunos na tarefa que deveraacute

ser desenvolvida os seguintes pontos segundo Serafini (2003) destinataacuterio objetivo do texto

gecircnero do texto papel do redator objeto da redaccedilatildeo comprimento da redaccedilatildeo criteacuterios de

avaliaccedilatildeo Desse modo

a) o destinataacuterio eacute a pessoa para a qual se escreve ou seja o leitor Como as

produccedilotildees satildeo feitas no contexto escolar para que o aluno-escritor natildeo dirija seu

texto somente ao professor eacute importante nos comandos de produccedilatildeo esclarecer

qual eacute ou deve ser o perfil de leitor para quem se escreve

b) o objetivo de um texto precisa ser claro pois a ele se atrela a avaliaccedilatildeo do

mesmo no caso do contexto escolar Aliaacutes um texto pode ter mais de um

objetivo e isso precisa ser ponto claro entre o professor e o aluno

c) a escolha do gecircnero eacute entatildeo essencial para o desenvolvimento do texto por

permitir a realizaccedilatildeo deste com um estilo muito marcante O gecircnero permite

inclusive compreender qual eacute o papel do redator na produccedilatildeo para assim

inserir-se ou retirar-se no texto

d) o objeto da redaccedilatildeo para a autora deveria ser deduzido do tiacutetulo da redaccedilatildeo (que

entendemos atualmente como o direcionamento do tema) e explica que assim

como haacute comandos que expotildeem detalhadamente o objeto da redaccedilatildeo haacute tambeacutem

os que pouco oferecem explicaccedilotildees e que conveacutem em casos como esse que o

aluno explique ldquonuma introduccedilatildeo como seratildeo interpretados os termos do

problema propostordquo (SERAFINI 2003 p 28)

e) a extensatildeo do texto depende essencialmente do objetivo da disponibilidade de

tempo da capacidade e da rapidez de quem escreve Entendemos aqui que haacute

62

gecircneros que permitem maior extensatildeo que outros No contexto escolar

normalmente noacutes professores por razotildees de ordem praacutetica do dia a dia pedimos

textos com limite de linhas ou paraacutegrafos

f) finalmente os criteacuterios de avaliaccedilatildeo do professor ajudam o aluno a ldquocanalizar a

proacutepria energia na direccedilatildeo certardquo (SERAFINI 2003 p 29) Como parte do

trabalho com sequecircncia didaacutetica haacute o partilhamento dos criteacuterios trabalhados

do vocabulaacuterio teacutecnico e das caracteriacutesticas a serem encontradas nos textos

produzidos facilitando a vida do aluno quanto ao que colocar no texto e

clareando para o professor o que ele pode esperar desse texto

Desse modo para o escritor que se vecirc diante do papel em branco

independentemente do que vaacute escrever eacute preciso antes empenhar seu tempo e esforccedilo em duas

etapas fundamentais a criaccedilatildeo de ideias para assim passar agrave produccedilatildeo do texto

A separaccedilatildeo consiste em primeiramente levar o aluno a compor sem a

preocupaccedilatildeo com a transcriccedilatildeo Em seguida orientaacute-lo para que faccedila a revisatildeo e a reescrita do

texto colocando-lhe de modo expliacutecito que a revisatildeo eacute parte do processo de redigir um texto

A etapa de criaccedilatildeo das ideias eacute aquela em que o autor pode ldquoatirarrdquo palavras-chave

protoacutetipos de paraacutegrafos de personagens de ambientes de sequecircncias de acontecimentos sem

o fantasma da censura agrave criatividade Aliaacutes eacute nesse momento que pode surgir uma ldquogrande

sacadardquo cujo valor do registro possa vir a ser recompensador Nas palavras de Serafini (2003

p 31) a ldquofolha de papel na qual listamos os dados recolhidos cumpre a funccedilatildeo de prolongamento

da memoacuteria no mundo visiacutevel eacute mais faacutecil escolher num elenco fisicamente visiacutevel que num

iacutendice feito mentalmenterdquo

A coleta das ideias que surgiram ao ser terminada pede a decisatildeo do que e como

usar no texto Para os textos literaacuterios que satildeo objeto de nossa pesquisa um passo necessaacuterio

na estruturaccedilatildeo de Serafini (2003) eacute a identificaccedilatildeo do ponto de vista

Os textos descritivo-narrativos natildeo apresentam ideias predominantes mas contam

fatos e descrevem lugares e pessoas A estrutura desses textos natildeo eacute mais dada por uma ideia

a tese mas pelo ponto de vista isto eacute pelo acircngulo de perspectiva do qual satildeo mostrados fatos

e objetos Nas histoacuterias complexas e nos romances o ponto de vista pode tambeacutem mudar

(SERAFINI 2003 p 45)

Nas palavras da autora ldquo[] para fazer uma boa descriccedilatildeo de um objeto ou lugar

devemos escolher um ponto de vista fica por conta de nossa sensibilidade selecionar um ponto

de vista interessante eficaz e quem sabe originalrdquo (SERAFINI 2003 p47) Entatildeo para um

63

texto narrativo que conta uma histoacuteria natildeo existe um modo objetivo de narrar mas um acircngulo

de perspectiva Completando o pensamento de Serafini Koch e Elias declaram que o como

dizer o que se quer dizer eacute revelador de que a escrita eacute um processo que envolve escolha de um

gecircnero textual em consonacircncia com as praacuteticas sociais seleccedilatildeo organizaccedilatildeo e revisatildeo das ideias

para os ajustesreajustes necessaacuterios tendo em vista a eficiecircncia e a eficaacutecia da comunicaccedilatildeo

(KOCH ELIAS 2009 p 36)

Apoacutes a seleccedilatildeo das ideias de sua organizaccedilatildeo e da escolha do ponto de vista o

escritor pode efetivamente passar agrave produccedilatildeo Tudo o que foi feito para despertar coloquemos

assim o escritor para o labor com seu texto eacute uma hipoacutetese do trabalho final visto que ao

comeccedilar a escrever novas ideias vatildeo surgindo E como nos lembra Serafini (2003 p 54) ldquo[]

quem se propotildee a ensinar a escrever na escola brasileira atual geralmente encontra problemas

porque natildeo tem agrave disposiccedilatildeo um modelo uacutenico de liacutengua nem uma tradiccedilatildeo de didaacutetica da

redaccedilatildeo que privilegie um dos diversos estilos possiacuteveisrdquo Frases longas ou curtas discurso

direto ou indireto ou mesmo o indireto livre tudo satildeo escolhas com as quais o aluno-escritor

vai se familiarizar ao longo de sua jornada escolar pouco a pouco conforme suas experiecircncias

de leitura e praacutetica com a escrita progredindo do paraacutegrafo mais simples ao mais complexo A

autora assim define o que eacute paraacutegrafo

O paraacutegrafo eacute uma quantidade de texto delimitada por um ponto final o texto continua

a se desenvolver na outra linha afastado da margem Ele pode conter vaacuterios periacuteodos

separados por pontos e por viacutergulas O que importa eacute garantir que a cada paraacutegrafo

corresponda uma uacutenica ideia de roteiro Esta colocaccedilatildeo tiacutepica do mundo anglo-saxatildeo

e americano pode parecer excessivamente mecanicista e simplista Com efeito eacute

justificada soacute no niacutevel didaacutetico para aqueles estudantes que tecircm grandes dificuldades

para escrever Este meacutetodo aliaacutes deve ser assumido como hipoacutetese de trabalho mas

deve ser revisto agrave medida que se adquire familiaridade com a liacutengua Em nome de

uma melhor organizaccedilatildeo do texto eacute possiacutevel por exemplo reagrupar mais de uma

ideia do roteiro num uacutenico paraacutegrafo ou associar agrave mesma ideia mais paraacutegrafos

(SERAFINI 2003 p 55)

Desse modo se fizermos um pequeno quadro com a finalidade de melhor visualizar

as possibilidades de organizaccedilatildeo do texto em paraacutegrafos o que pode ajudar os alunos temos

Quadro 3 ndash Como organizar as ideias em paraacutegrafos

1 ideia 1 paraacutegrafo

2 ou mais ideias 1 paraacutegrafo

1 ideia 2 ou mais paraacutegrafos

Fonte adaptado de SERAFINI (2003)

64

Por razotildees didaacuteticas Serafini (2003) classifica trecircs principais tipos de paraacutegrafo

com caracteriacutesticas especiacuteficas o paraacutegrafo narrativo que eacute constituiacutedo por uma sequecircncia de

afirmaccedilotildees-informaccedilotildees que natildeo precisam de garantia4 e eacute onde os fatos satildeo expostos em ordem

cronoloacutegica o paraacutegrafo descritivo que conteacutem objetos lugares e pessoas geralmente

constituiacutedo soacute pela afirmaccedilatildeo e pela informaccedilatildeo dispensando a garantia e finalmente o

paraacutegrafo expositivo-argumentativo mais complexo que os anteriores apresenta em geral todas

as caracteriacutesticas do modelo de Toulmin (cf nota 8) e que apresenta uma tese com os dados e

as observaccedilotildees que podem ser uacuteteis para convencer o leitor de sua validade

Ainda na classificaccedilatildeo do paraacutegrafo narrativo tambeacutem chamado de cronoloacutegico

Serafini nos mostra um caso particular de apresentaccedilatildeo de uma sequecircncia de fatos o que inclui

o flash-back que eacute a interrupccedilatildeo na sequecircncia cronoloacutegica ldquointroduzindo fatos anteriores uacuteteis

agrave compreensatildeo da narrativa Embora natildeo seja tatildeo natural eacute possiacutevel interromper uma sequecircncia

temporal para incluir fatos que aconteceratildeo depoisrdquo (SERAFINI 2003 p 58)

Um outro caso de paraacutegrafo narrativo ou cronoloacutegico eacute o que apresenta um

procedimento Procedimentos ldquosatildeo todas as sequecircncias de accedilotildees que devem ser cumpridas para

se obter certo resultadordquo (SERAFINI 2003 p 59) por exemplo a enumeraccedilatildeo das etapas

necessaacuterias ao preparo de uma torta A descriccedilatildeo correta do procedimento requer que natildeo se

inverta a ordem de suas operaccedilotildees elementares

O paraacutegrafo descritivo segundo a autora eacute importante ldquo[] para envolver o leitor

na histoacuteria convencecirc-lo da tese ou tornar-lhe a leitura mais concreta e vivardquo (SERAFINI 2003

p 58) Dessa forma eacute interessante que os personagens ambientes e objetos natildeo sejam apenas

mencionados mas apresentados com riqueza de detalhes A generalizaccedilatildeo pode deixar o leitor

indiferente ao passo que descriccedilotildees detalhadas podem vir a interessar envolver e mesmo

emocionar

Frequentemente quem natildeo tem grande experiecircncia de escrita considera as

descriccedilotildees oacutebvias e as abandona porque tende a atribuir ao leitor os seus proacuteprios

conhecimentos e experiecircncias As crianccedilas em geral se aborrecem ao ler as descriccedilotildees e agraves vezes

pulam o trecho descritivo porque satildeo mais pela trama do que pela apresentaccedilatildeo dos ambientes

e das caracteriacutesticas fiacutesicas e psicoloacutegicas dos protagonistas Entretanto agrave medida que

4 Serafini (2003 p 56-57) apresenta o modelo de Toulmin que examina quais satildeo as caracteriacutesticas de um

paraacutegrafo que o tornam convincente isto eacute que levem o leitor a compartilhar da mesma tese Satildeo elas a afirmaccedilatildeo

que apresenta a ideia principal do paraacutegrafo a informaccedilatildeo que conteacutem os dados que apoiam a afirmaccedilatildeo e a

garantia que eacute a ligaccedilatildeo entre a afirmaccedilatildeo e a informaccedilatildeo e mostra a importacircncia da informaccedilatildeo para apoiar a

asserccedilatildeo Ex Artur estaacute nervoso sua e ri sem parar Afirmaccedilatildeo Artur estaacute nervoso Informaccedilatildeo sua e ri sem

parar Garantia (subentendida) suar e rir sem parar satildeo sinais tiacutepicos de nervosismo

65

estimulam a sensibilidade em relaccedilatildeo aos textos elas vatildeo se dando conta de que natildeo eacute soacute a accedilatildeo

que torna interessante a histoacuteria Eacute tarefa do professor desenvolver essa sensibilidade e esse

gosto em vez de se fixar apenas nos aspectos narrativos de um texto (SERAFINI 2003 p 63)

Serafini (2003) tambeacutem trata da importacircncia dos paraacutegrafos que conduzem as

introduccedilotildees nos textos A autora classifica as introduccedilotildees em introduccedilatildeo-enquadramento e

introduccedilatildeo para chamar a atenccedilatildeo

A introduccedilatildeo-enquadramento enquadra o tema proposto na instruccedilatildeo para a

produccedilatildeo textual realccedilando sua importacircncia e agraves vezes ateacute antecipando o que seraacute

desenvolvido no corpo do texto ldquoUma introduccedilatildeo muito comum eacute aquela em que o estudante

coloca questotildees agraves quais pretende responder agrave medida que vai desenvolvendo o textordquo

(SERAFINI 2003 p 72) Normalmente utilizada entre os estudantes segundo a autora eacute

caracteriacutestica de quem natildeo faz planejamento e comeccedila a escrever seu texto sem saber o que vai

colocar em seu desenvolvimento mas tambeacutem por quem pretende reelaborar e expandir o

tiacutetulo5

A introduccedilatildeo para chamar a atenccedilatildeo segundo a autora pretende atrair a atenccedilatildeo e

o interesse do leitor utilizando frases de efeito citaccedilotildees informaccedilotildees curiosas exemplos

concretos que antecipam problemaacuteticas a serem desenvolvidas no corpo do texto e envolvem

emocionalmente o leitor exemplificaccedilotildees em primeira pessoa pois ldquoos problemas concretos

narrados na primeira pessoa atraem mais a curiosidade do que aqueles apresentados de modo

abstratordquo (SERAFINI 2003 p 74)

Ao final de sua primeira versatildeo de texto o alunoescritor tende a fazer uma raacutepida

releitura normalmente pouco criacutetica O ideal eacute que seu texto possa ser apreciado pelos colegas

de sala para que sejam feitas sugestotildees Quando a revisatildeo for desenvolvida pelo proacuteprio autor

5 Os tiacutetulos poderiam ser classificados segundo Serafini (2003) em trecircs grandes categorias o tiacutetulo-frase-de-

efeito o tiacutetulo-estiacutemulo-aberto e o tiacutetulo-roteiro O tiacutetulo-frase-de-efeito ldquoeacute geralmente agradaacutevel arguto suscita

a admiraccedilatildeo do leitor pode ser provocativo mas natildeo necessariamente profundordquo (p100) trazendo geralmente

citaccedilotildees de personagens importantes ou as afirmaccedilotildees categoacutericas do professor Por exemplo ldquoJaacute natildeo haacute matildeos

dadas no mundordquo (Drummond - Unesp) ou ldquoQuando vocecirc for martelo lembre-se que jaacute foi pregordquo (pichaccedilatildeo de

parede utilizada na Unesp) Os tiacutetulos-estiacutemulo-aberto ldquopropotildeem um tema de modo muito geneacuterico e neutro e datildeo

mais liberdade ao estudanterdquo (p101) Por exemplo ldquoViver hojerdquo (Santa Casa-SP) ldquoA televisatildeordquo (Poli-USP)

Finalmente os tiacutetulos-roteiro ldquonatildeo soacute propotildeem um tema como no grupo precedente mas tambeacutem oferecem uma

seacuterie de pontos de vista de problemas que devem ser analisados fornecendo jaacute a pauta do desenvolvimentordquo

(p101) A autora explica que enquanto um tiacutetulo-estiacutemulo-aberto seria ldquoA televisatildeordquo o tiacutetulo-roteiro solicitaria

ldquoDescreva os efeitos positivos e negativos que a televisatildeo causa sobre os jovens da sua geraccedilatildeo Cite especialmente

os programas mais interessantes e os mais aborrecidos de que vocecirc se recorda procurando explicar os efeitos

positivos ou negativos que cada um teve no seu desenvolvimentordquo (p101-102) O que chamamos ao longo de

nosso texto de instruccedilatildeo se aproximaria mais do que Serafini chama de tiacutetulo-roteiro por jaacute determinar que

informaccedilotildees a produccedilatildeo textual deve conter poreacutem noacutes atribuiacutemos mais caracteriacutesticas ao que eacute pedido aos alunos

a cada produccedilatildeo como os comandos que determinam que gecircnero textual seraacute trabalhado a extensatildeo do texto a

audiecircncia o objetivo a temaacutetica e outros itens que devem estar presentes na produccedilatildeo conforme a aula e o moacutedulo

66

eacute interessante haver um hiato de tempo entre a primeira escrita e a revisatildeo para que as ideias

se clareiem e possam ser postas na forma apropriada

Trabalhar a abordagem da escrita como processo lanccedila luz sobre as operaccedilotildees e as

habilidades necessaacuterias agrave elaboraccedilatildeo do texto priorizando-as mais do que ao produto final

obtido o que simplifica a escrita para fins de ensino por tratar dos componentes do processo

isoladamente treinando-os separadamente

Na verdade nenhuma abordagem para o ensino da escrita eacute exclusiva A redaccedilatildeo

requer meacutetodo muacuteltiplo jaacute que envolve diferentes tipos de capacidades e habilidades E nada

substitui o bom senso do professor Assim por exemplo se ele julgar necessaacuterio reforccedilar

determinados padrotildees de texto recorrendo agrave abordagem imitativa estaraacute procedendo de forma

adequada Da mesma maneira poderaacute usar estrateacutegias de liberaccedilatildeo da linguagem na fase de

geraccedilatildeo de ideias ou reforccedilar os recursos de interaccedilatildeo verbal professor-aluno ou aluno-aluno

nas atividades de revisatildeo de textos (VIEIRA 2005 p 87)

No entanto para Vieira (2005) esse exerciacutecio em separado das habilidades da

escrita natildeo dispensa a redaccedilatildeo de textos completos devendo o professor cuidar para que o

processo de escrita natildeo perca seu caraacuteter integral devido agraves atividades fragmentadas

35 Letramento literaacuterio

Acreditamos que para o desenvolvimento de nosso trabalho eacute importante ter em

mente que para escrever melhor para saber o que inserir em seu texto o aluno deve aguccedilar seu

olhar para o que vai nos textos de outrem ndash em nosso caso os que foram escolhidos para compor

a sequecircncia ndash e como foram ditas as coisas que laacute estatildeo inseridas Dessa forma desenvolvemos

em nossos moacutedulos praacuteticas que abordam aleacutem da praacutetica da escrita como processo o

letramento literaacuterio posto que a visatildeo que o inclui extrapola as simples leituras e anaacutelises das

palavras discutindo conceitos que compotildeem o acervo cultural dos alunos a partir das ideias

presentes nos textos

Para Cosson (2016 p23) ldquoa literatura natildeo estaacute sendo ensinada para garantir a

funccedilatildeo essencial de construir e reconstruir a palavra que nos humanizardquo O autor afirma que se

pode trazer ao aluno uma experiecircncia de leitura a ser compartilhada ampliando-a com

informaccedilotildees especiacuteficas do campo literaacuterio e ateacute fora dele A maneira de ensinar precisa ser

organizada segundo os objetivos da formaccedilatildeo do aluno evidentemente mas sem o abandono

do prazer de ler Compreende assim que o letramento literaacuterio eacute uma praacutetica social e como

67

tal responsabilidade da escola que deve cumpri-la sem descaracterizaacute-la sem negar mas

confirmando o poder de humanizaccedilatildeo da literatura

Para promover o letramento literaacuterio Cosson nos conduz a questionar e

desconstruir pressuposiccedilotildees sobre leitura e literatura enraizadas no senso comum A primeira eacute

que os livros falam por si mesmos ao leitor Ora ldquoos livros como os fatos jamais falam por si

mesmos O que os fazem falar satildeo os mecanismos de interpretaccedilatildeo que usamos e grande parte

deles satildeo aprendidos na escolardquo (2016 p 26) Ensinar a explorar o texto natildeo eacute criar uma barreira

entre elas e o leitor mas ajudar o leitor a manipular os textos dominando o discurso literaacuterio

Outra pressuposiccedilatildeo eacute que ler eacute um ato solitaacuterio Para o autor mais que o

movimento individual dos olhos ler implica uma troca de sentidos o que envolve escritor

leitor e sociedade em que ambos estatildeo localizados ldquopois os sentidos satildeo resultado de

compartilhamentos de visotildees do mundo entre os homens no tempo e no espaccedilordquo (2016 p 27)

Quando compreender isto o leitor alcanccedilaraacute um real significado na leitura

Tambeacutem uma pressuposiccedilatildeo eacute a ideia de que eacute impossiacutevel expressar o que sentimos

na leitura dos textos literaacuterios Esse eacute outro equiacutevoco que trata a leitura literaacuteria como uma

atividade tatildeo individual que natildeo poderia ser compartilhada Pelo contraacuterio conforme o autor o

efeito de proximidade que o texto literaacuterio traz eacute resultado do diaacutelogo que travamos com o

mundo e com os outros inseridos que estamos em uma sociedade O que levamos ao texto eacute

mais uacutenico do que o que ele nos oferece o que explica as diferentes leituras que fazemos do

mesmo texto em diferentes etapas de nossas vidas

A uacuteltima pressuposiccedilatildeo de que trata o autor eacute que ldquoa leitura literaacuteria praticada na

escola tambeacutem chamada anaacutelise literaacuteria destruiria a magia e a beleza da obra ao revelar seus

mecanismos de construccedilatildeordquo (COSSON 2016 p 28) Para Cosson a literatura mantida ldquoem

adoraccedilatildeordquo torna-se estranha ao leitor ao passo que a leitura literaacuteria que lhe fornece ferramentas

para exploraccedilatildeo do texto o convida agrave interaccedilatildeo como um processo de comunicaccedilatildeo

O autor conclui que se quisermos formar leitores capazes de experienciar toda a

forccedila humanizadora da literatura natildeo basta apenas ler com vistas a criar um haacutebito de leitura

mas fornecer-lhes ldquoos instrumentos necessaacuterios para conhecer e articular com proficiecircncia o

mundo feito linguagemrdquo (COSSON 2016 p 30)

Nossa seleccedilatildeo de textos para a SD foi inspirada em temas que os alunos costumam

observar na vida diaacuteria Tivemos preferecircncia por textos que circulam em meio eletrocircnico

extraiacutedos de sites blogs e de redes sociais ou seja contemporacircneos e com temas atuais Cosson

(2016 p34) distingue os dois termos que normalmente satildeo usados como sinocircnimos na

68

adjetivaccedilatildeo da produccedilatildeo literaacuteria da seguinte forma ldquo[] obras contemporacircneas satildeo aquelas

escritas e publicadas em meu tempo e obras atuais satildeo aquelas que tecircm significado para mim

em meu tempo independentemente da eacutepoca de sua escrita ou publicaccedilatildeordquo

Fizemos uma seleccedilatildeo preacutevia dos textos mas agrave medida em que as aulas avanccedilavam

abrimos a perspectiva para assuntos que eram mencionados em sala e trouxemos outros textos

inclusive publicados em livros variando as autorias poreacutem mantendo ainda o dinamismo e a

contemporaneidade Esse material se encontra na seccedilatildeo correspondente

69

4 NATUREZA E PROCEDIMENTOS DA PESQUISA

Apresentaremos nas seccedilotildees seguintes a metodologia e os procedimentos adotados

em nossa pesquisa realizada em uma escola puacuteblica municipal de Satildeo Luiacutes Maranhatildeo

41 Contexto da pesquisa

A pesquisa foi desenvolvida em uma das turmas de 9ordm ano de uma unidade de

educaccedilatildeo baacutesica municipal de ensino fundamental de 1ordm a 9ordm anos A escola tem um anexo

proacuteximo onde funcionam turmas de 1ordm ano (3 salas) Situa-se na aacuterea Itaqui-Bacanga em um

bairro considerado de difiacutecil acesso por sua pouca oferta de ocircnibus no municiacutepio de Satildeo Luiacutes

capital do Maranhatildeo ilha de Upaon-Accedilu

Antes pouco populoso o bairro tem aumentado de tamanho pela chegada de

moradores alguns oriundos de diversas cidades do interior mas tambeacutem vindos de outros

bairros pois algumas melhorias para a valorizaccedilatildeo da aacuterea tecircm acontecido como a construccedilatildeo

da escola e recentemente a quadra de esportes em sua aacuterea do posto de sauacutede da associaccedilatildeo

onde ocorre a conhecida Festa da Macaxeira e mais recentemente a criaccedilatildeo de um conjunto

residencial do programa do governo federal Minha Casa Minha Vida

No turno matutino nesta escola funciona o ensino fundamental (EF) ndash anos iniciais

(1ordm ao 5ordm ano) e no vespertino o EF ndash anos finais (6ordm ao 9ordm ano) sendo 2 turmas de 6ordm ano 2

turmas de 7ordm ano 2 turmas de 8ordm ano e 1 turma de 9ordm ano

Segundo os indicadores contextuais da Prova Brasil o niacutevel socioeconocircmico da

escola estaacute em meacutedio baixo O indicador de adequaccedilatildeo da formaccedilatildeo docente6 que analisa a

formaccedilatildeo dos docentes que lecionam nos finais do EF na escola eacute 85 Observando as meacutedias

de proficiecircncia em relaccedilatildeo agraves meacutedias das escolas do Brasil do Maranhatildeo e de Satildeo Luiacutes

comparando-as agrave nossa escola temos

6 Apresenta o percentual de disciplinas em cada etapa que satildeo ministradas por professores com formaccedilatildeo superior

de Licenciatura (ou Bacharelado com complementaccedilatildeo pedagoacutegica) na mesma disciplina que leciona Fonte e site

para consulta

httpsistemasprovabrasilinepgovbrprovaBrasilResultadosviewboletimDesempenhoboletimDesempenhosea

m Acesso em 3 de janeiro de 2018

70

Graacutefico 1 ndash Resultados IDEB 2015

Fonte INEP (2018))

O graacutefico acima mostra que o desempenho da escola ficou abaixo das meacutedias de

proficiecircncia em Liacutengua Portuguesa em leitura do Paiacutes em 2015 No entanto estaacute acima das

meacutedias do estado e do municiacutepio ludovicense que apresentaram indicadores 23093 e 23915

respectivamente A escola obteve 24034 ou seja pouco mais de um ponto acima o que natildeo

deixa de ser uma conquista para a gestatildeo e o corpo docente visto todos os entraves no processo

educacional Aleacutem do que se observarmos os indicadores de proficiecircncia em LP no 9ordm ano na

escola ao longo das trecircs uacuteltimas ediccedilotildees da Prova Brasil veremos que tem havido um progresso

como constatamos a seguir

Graacutefico 2 ndash Desempenho da escola nas ediccedilotildees da Prova Brasil

Fonte INEP (2018)

215

220

225

230

235

240

245

2011 2013 2015

Desempenho da escola nas ediccedilotildees da Prova Brasil

220

225

230

235

240

245

250

255

Brasil Maranhatildeo Satildeo Luiacutes Nossa escola

Resultados IDEB 2015

71

Os niacuteveis de proficiecircncia em Liacutengua Portuguesa classificados pela Prova Brasil

satildeo 9 (nove) e avaliam a capacidade de leitura dos alunos O desempenho por niacutevel de

proficiecircncia7 da turma de 9ordm ano no IDEB8 a seguir eacute referente ao ano de 2015

Graacutefico 3 ndash Distribuiccedilatildeo percentual dos alunos do 9ordm Ano do EF por niacutevel de proficiecircncia - Liacutengua Portuguesa

Fonte INEP (2018)

Para a aplicaccedilatildeo da SD foi escolhida a turma do 9ordm ano do ano letivo de 2017 que

contava com 46 alunos no iniacutecio do ano no turno vespertino Ao longo do ano alguns alunos

trancaram matriacutecula eou foram transferidos resultando no nuacutemero de 43 alunos frequentes ao

final do ano letivo O puacuteblico tem entre 14 e 15 anos em sua maior parte Por ser uma turma

que antecede o ingresso no ensino meacutedio eacute-lhe dispensada atenccedilatildeo especial no que tange a

projetos e preparaccedilatildeo para a seleccedilatildeo na etapa posterior da Educaccedilatildeo Baacutesica

A carga horaacuteria da disciplina Liacutengua Portuguesa eacute de 5 horas-aula por semana sem

divisatildeo formal interna de assuntos havendo flexibilidade para o trabalho com leitura produccedilatildeo

textual gramaacutetica e projetos tanto internos agrave escola como parcerias externas com essa

7 Os niacuteveis de proficiecircncia descritos pelo Inep encontram-se nos anexos deste trabalho 8 IDEB eacute o Iacutendice de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica criado pelo Inep em 2007 cuja escala vai de zero a

dez O indicador eacute calculado a partir dos dados sobre aprovaccedilatildeo escolar obtidos no Censo Escolar e meacutedias de

desempenho nas avaliaccedilotildees do Inep o Saeb e a Prova Brasil A fonte e o site oficial para consulta estatildeo disponiacuteveis

em lt httpportalinepgovbrwebportal-idebgt

000

500

1000

1500

2000

2500

3000

Niacutevel 0 Niacutevel 1 Niacutevel 2 Niacutevel 3 Niacutevel 4 Niacutevel 5 Niacutevel 6 Niacutevel 7 Niacutevel 8

Distribuiccedilatildeo percentual dos alunos do 9ordm Ano do EF por niacutevel de

proficiecircncia em 2015- Liacutengua Portuguesa

Nossa escola Escolas Similares

72

A opccedilatildeo por trabalhar a pesquisa nessa turma deu-se por ser a seacuterie que se prepara

para avanccedilar para o ensino meacutedio podendo assim ter um reforccedilo em sua competecircncia

discursiva atraveacutes da praacutetica da leitura e da produccedilatildeo escrita como processo

Ao mesmo tempo eacute importante que os alunos se interessem mais e mais por leitura

e sabendo que este puacuteblico natildeo aprecia leituras longas como as dos romances por exemplo a

crocircnica literaacuteria eacute uma excelente sugestatildeo por suas temaacuteticas que em vaacuterios exemplos eacute

proacutexima da realidade do aluno aleacutem de contar com textos breves e dinacircmicos

Por fim era de interesse da escola que os alunos dessa turma saiacutessem do ensino

fundamental com seguranccedila no que se refere a produzir textos escritos em gecircneros especiacuteficos

de uso cotidiano acionando assim conhecimentos que foram aprofundados e consolidados nas

aulas de anos anteriores

42 Participantes

Os sujeitos participantes da pesquisa satildeo alunos que frequentam a turma do 9ordm ano

no turno vespertino do ano letivo de 2017 na escola da rede puacuteblica municipal de ensino de

Satildeo Luiacutes no Maranhatildeo Em sua maioria residem na aacuterea que abrange o Argola e Tambor o

Gapara a Cidade Nova e adjacecircncias A maioria dos alunos tendo em vista sua idade apenas

estuda e mora com os pais eou responsaacuteveis

Ao longo do ano letivo a turma teve algumas alteraccedilotildees em seu puacuteblico com dois

estudantes que pediram transferecircncia de escola e outro que trancou a matriacutecula Assim

frequentando efetivamente as aulas foram 43 (quarenta e trecircs) alunos No entanto dentre esses

apenas uma meacutedia de 20 (vinte) alunos se interessou em participar do projeto de escrita

A turma em si eacute caracterizada pelos proacuteprios alunos bem como por professores

como composta por um puacuteblico cuja falta de interesse e de motivaccedilatildeo de vaacuterios estudantes

prejudica aqueles que desejam realmente se dedicar A sala eacute muito cheia e devido agrave natural

predisposiccedilatildeo que tecircm os adolescentes para a distraccedilatildeo e a conversa em vaacuterios momentos eacute um

desafio para se conseguir sua atenccedilatildeo e envolvimento nas atividades Percebemos nos contatos

iniciais com a turma completa que satildeo poucos infelizmente que demonstram real empenho

em participar

73

Os alunos que optaram por integrar o projeto desenvolveram as atividades propostas

em cinco moacutedulos realizadas em 11 (onze) encontros de 2 (duas) horas-aula cada9 durante os

meses de outubro a dezembro conforme cronograma previsto

43 Materiais

O material analisado na pesquisa eacute constituiacutedo pelos textos produzidos pelos alunos

que participaram de todas as atividades desta sequecircncia Portanto para a anaacutelise consideramos

apenas 13 (treze) alunos no total

Para a composiccedilatildeo do trabalho denominamos os textos produzidos nesta SD da

seguinte forma

a) produccedilatildeo inicial A (PI-A) realizada apoacutes 3 (trecircs) encontros com um total de 4

(quatro) horasaula constando atividades de leitura de crocircnicas que serviram

como norte para a primeira escrita dos alunos fazendo uma breve sensibilizaccedilatildeo

de caracteriacutesticas do gecircnero

b) produccedilatildeo final A (PF-A) realizada apoacutes o segundo moacutedulo da sequecircncia

reescrevendo a PI-A texto sem circulaccedilatildeo social mas com o intuito de

desenvolver a competecircncia comunicativa do aluno

c) produccedilatildeo inicial B (PI-B) realizada apoacutes os moacutedulos 3 (trecircs) e 4 (quatro) jaacute

visando a circulaccedilatildeo social do texto

d) produccedilatildeo final B (PF-B) realizada apoacutes o moacutedulo 5 (cinco) quando os alunos

tivessem aperfeiccediloado sua competecircncia comunicativa escrita e se apropriado do

gecircnero estudado cumprindo o propoacutesito comunicativo da proposta de produccedilatildeo

visando a divulgaccedilatildeo do texto

Para a realizaccedilatildeo da produccedilatildeo inicial utilizamos coacutepias de uma crocircnica

acompanhada de uma proposta de produccedilatildeo elaborada de acordo com a temaacutetica do texto e

associada agrave realidade dos alunos contextualizando uma possibilidade de ligar o mundo real ao

mundo virtual e uma coacutepia da folha de produccedilatildeo textual a ser utilizada em nosso projeto

Durante o desenvolvimento dos moacutedulos da SD utilizamos coacutepias dos textos e

atividades propostas distribuiacutedas individualmente Tambeacutem foi feito o uso do quadro branco

9 Agrave exceccedilatildeo dos dois primeiros encontros de 1 horaaula cada um

74

incel e apagador e de algumas imagens impressas em folha sulfite para ilustrar o conteuacutedo de

algumas crocircnicas de acordo com o planejamento de cada encontro

Para que houvesse a etapa poacutes sequecircncia didaacutetica que corresponde agrave circulaccedilatildeo

social do texto no gecircnero produzido os alunos que desejaram realmente publicar seus escritos

dentro do gecircnero crocircnica literaacuteria produziram um material especiacutefico para tal (PF-B) a partir

da escolha de temaacuteticas que agradaram a cada um individualmente Esse material que tambeacutem

constaraacute de nossa pesquisa corresponde aos textos de 4 (quatro) alunos apenas e

apresentaremos na seccedilatildeo destinada as produccedilotildees iniciais (PI-B) uma primeira reescrita e por

fim as produccedilotildees finais (PF-B)

44 Procedimentos

Antes de aplicarmos a SD com os alunos realizamos momentos de socializaccedilatildeo da

seguinte forma explicamos a importacircncia do projeto agrave direccedilatildeo da escola aos professores e aos

pais dos alunos da turma escolhida para a execuccedilatildeo do projeto visando o fortalecimento da

proposta Com os professores foi feito um momento de reuniatildeo uma semana antes do iniacutecio do

projeto Com os pais realizamos uma reuniatildeo para a socializaccedilatildeo e igualmente para pedir seu

apoio no incentivo agrave participaccedilatildeo dos alunos Infelizmente foram poucos os pais responsaacuteveis

que compareceram agrave reuniatildeo situaccedilatildeo que ocorre normalmente quando se datildeo as reuniotildees de

pais e mestres na escola

Foram realizados 11 (onze) encontros de duas horas-aula (de cinquenta minutos

cada uma) que ocorreram entre os meses de setembro e novembro de 2017 Entre a primeira

fase que compreende a socializaccedilatildeo do projeto e a busca pela adesatildeo as primeiras leituras e a

produccedilatildeo inicial A totalizando 3 (trecircs) encontros num total de 4 horasaula e o iniacutecio da

segunda fase que compreende os moacutedulos propriamente ditos do processo de escrita ateacute a

produccedilatildeo final A num total de 3 (trecircs) encontros houve um intervalo de aproximadamente 1

(um) mecircs tempo destinado agrave apreciaccedilatildeo da PI-A anaacutelise e elaboraccedilatildeo dos moacutedulos da

sequecircncia de atividades Para a posterior culminacircncia que coloca os textos em circulaccedilatildeo social

houve mais 5 (cinco) encontros agora com um puacuteblico mais reduzido que realmente desejava

publicar suas produccedilotildees

Destinamos dois horaacuterios agraves terccedilas-feiras que estavam ociosos para os alunos pois

correspondiam aos horaacuterios das disciplinas de Arte e Ensino religioso cuja professora estava

75

afastada em virtude de uma licenccedila de sauacutede para o desenvolvimento do projeto sem alterar a

rotina das aulas de Liacutengua Portuguesa

Como primeira atividade lemos o texto Prova falsa de Stanislaw Ponte Preta (cf

Apecircndice A) com a turma completa Fizemos o exerciacutecio de interpretaccedilatildeo do texto e breve

leitura de Abandono de Animais eacute crime e precisa ser denunciado (cf Apecircndice B) uma

reportagem para que os alunos percebessem diferenccedilas entre os gecircneros (2 horasaula)

O encontro seguinte teve a leitura do texto O chato da vez de Anaximandro

Amorim (cf Apecircndice C) e atividades de interpretaccedilatildeo Dentre as questotildees havia a instruccedilatildeo

que propunha os comandos para a criaccedilatildeo de um texto em forma de crocircnica ndash com o que os

alunos puderam perceber a respeito do gecircnero durante os encontros - e a partir disso nestas 2

(duas) horasaula os alunos fizeram sua produccedilatildeo inicial10 Esses textos compotildeem a produccedilatildeo

inicial dos integrantes do projeto

Os moacutedulos elaborados para o trabalho que visavam melhorar os aspectos da escrita

dos alunos considerando o processo bem como os procedimentos de escritor compreenderam

atividades de leitura exerciacutecios de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo dos textos e de produccedilatildeo de

textos escritos mediados pela professora pesquisadora dentro do gecircnero crocircnica literaacuteria

discussotildees sobre os temas presentes nas crocircnicas aproximando-os da realidade dos alunos com

o objetivo de desenvolver nestes sua capacidade de observaccedilatildeo e reflexatildeo para a produccedilatildeo

textual

Foram apresentadas agrave turma de maneira coletiva as principais dificuldades

diagnosticadas na produccedilatildeo inicial Procuramos natildeo focalizar de iniacutecio a editoraccedilatildeo11 do texto

na folha de produccedilatildeo No entanto natildeo deixamos de trabalhar em sala elementos como o cuidado

com a pontuaccedilatildeo a paragrafaccedilatildeo e a ortografia O conteuacutedo das aulas de cada moacutedulo estaacute

descrito na seccedilatildeo correspondente

No decorrer dos moacutedulos os alunos realizaram atividades de revisatildeo e reescrita dos

seus textos observando tanto a estrutura do gecircnero quanto o seu conteuacutedo orientados pela

professora pesquisadora e tambeacutem recebendo ideias e sugestotildees dos colegas em um feedback

colaborativo Dessa forma chegaram ao seu texto final aplicando na medida de sua

10 Obs o 4ordm horaacuterio que foi escolhido para ser o momento da produccedilatildeo inicial foi prejudicado por dois fatores

O primeiro foi que o professor de educaccedilatildeo fiacutesica da escola convidou os alunos para antecipar sua praacutetica e vaacuterios

natildeo voltaram do recreio para a aula do projeto O segundo fator foi que nesse dia aconteceu uma briga com agressatildeo

fiacutesica entre uma aluna da sala e outra aluna de outra turma o que deixou a escola inteira agitada Os 20 (vinte)

alunos que permaneceram em sala para a produccedilatildeo felizmente mostraram-se interessados embora vaacuterios dissessem

que natildeo levavam jeito para escrever Apenas alguns alunos passaram a limpo seus textos 11 Ver seccedilatildeo Escrita como processo

76

conscientizaccedilatildeo os conhecimentos adquiridos e as duacutevidas esclarecidas durante a sequecircncia de

atividades

Nossa proposta incluiu a circulaccedilatildeo social dos textos para uma audiecircncia real o que

consistiu em uma culminacircncia do projeto de escrita O acordo feito com os alunos foi a

publicaccedilatildeo interna de uma versatildeo artesanalmente produzida de um livro de crocircnicas para que

pudessem marcar o momento e guardar um livro fiacutesico como recordaccedilatildeo e a publicaccedilatildeo em

suas paacuteginas pessoais na rede social Facebook plataforma que os alunos apreciam utilizar com

certa frequecircncia posto que nosso trabalho teve como material para leitura textos retirados da

internet como o proacuteprio Facebook blogs sites Para esta etapa somente cinco alunos

frequentaram assiduamente (alguns outros esporadicamente) sendo que apenas quatro

produziram um texto individual que passou pelo mesmo processo de reescrita e que teve sua

publicaccedilatildeo na plataforma e tambeacutem em um formato artesanal impresso para que suas famiacutelias

e comunidade escolar possam prestigiar o momento na tarde de autoacutegrafos

As produccedilotildees finais seratildeo analisadas no capiacutetulo a seguir em relaccedilatildeo agrave apropriaccedilatildeo

das caracteriacutesticas do gecircnero estudado bem como de sua estrutura composicional com o

objetivo de avaliar se os alunos conseguiram desenvolvecirc-la satisfatoriamente e se a estrutura e

a aplicaccedilatildeo da sequecircncia de atividades favoreceu o desenvolvimento da competecircncia textual e

discursiva dos estudantes que integraram a pesquisa de acordo com o que foi observado em

suas produccedilotildees iniciais examinando seu desempenho em ambas as produccedilotildees

Para o desenvolvimento de nossas atividades do projeto planejamos os encontros

com base nos estudos realizados a respeito do procedimento Sequecircncia Didaacutetica de Dolz

Noverraz e Schneuwly (2013) como estrateacutegia de ensino dos gecircneros textuais na proposta de

adaptaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica conduzida por Swiderski e Costa-Huumlbes (2009) na proposta

de circulaccedilatildeo social do gecircnero discursivo produzido em sequecircncias didaacuteticas de projetos

pedagoacutegicos de Lopes-Rossi (2011) e dos procedimentos das etapas de escrita como

planejamento ediccedilatildeo revisatildeo e reescrita do texto segundo Vieira (2005) e Serafini (2003)

O planejamento de nossa SD abrange 12 (doze) etapas conforme mostra a figura a

seguir

77

Figura 4 - Proposiccedilatildeo de sequecircncia didaacutetica para o projeto de escrita

Fonte Elaborado pela autora adaptado de DOLZ NOVERRAZ SCHNEUWLY (2013) SWIDERSKI COSTA-

HUumlBES (2009) LOPES-ROSSI (2011)

Nossa sequecircncia foi pensada para 2 (duas) etapas distintas Na primeira etapa A

uma produccedilatildeo textual para trabalho em sala com o mesmo tema com a expectativa de serem

colocados nos textos elementos que respondessem ao enunciado instrucional da atividade que

segue a crocircnica lida no dia na segunda etapa B uma produccedilatildeo que jaacute seria composta visando

a circulaccedilatildeo social com tema livre agrave escolha dos alunos a partir das discussotildees sobre o que

pode ser tema de uma crocircnica

Pela necessidade de uma SD mais completa inserimos ao modo de Swiderski e

Costa-Huumlbes entre a apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e a produccedilatildeo inicial um moacutedulo

de reconhecimento do gecircnero E apoacutes o teacutermino de nossa SD inserimos ao modo de Lopes-

Rossi um moacutedulo para a divulgaccedilatildeo social dos textos

441 Primeira etapa da apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo agrave produccedilatildeo inicial

Entre a apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo e a produccedilatildeo inicial (PI) utilizamos 4 (quatro)

horas-aula No primeiro encontro fizemos no 1ordm (primeiro) horaacuterio a socializaccedilatildeo do projeto

com os alunos e incentivamos a adesatildeo expondo as vantagens de trabalharmos o aprendizado

de um gecircnero como a crocircnica em forma de sequecircncia de aulas e atividades Natildeo houve

manifestaccedilatildeo de unanimidade de interesse em participar do projeto Na realidade apenas

metade da sala pareceu desejar integrar o projeto Quando perguntados sobre o motivo que natildeo

os animava vaacuterios responderam ldquopreguiccedila de ler professora preguiccedila de escrever professora

ah eu natildeo gosto de ler muito natildeo Leio porque sou obrigada e natildeo vale nem nota mesmordquo

Apresentaccedilatildeo

da Situaccedilatildeo

Produccedilatildeo

Inicial A

Produccedilatildeo

Final A

Moacuted

ulo 1

Moacuted

ulo 2

Moacuted

ulo 3

Circulaccedilatildeo social

das produccedilotildees B Moacuted

ulo 4 Produccedilatildeo

Inicial B

Moacuted

ulo 5 Produccedilatildeo

Final B

Moacutedulo de

reconheci

mento

78

Apesar da inicial resistecircncia de boa parte da sala colocamos aos alunos as

vantagens de sua participaccedilatildeo visto que a principal finalidade da sequecircncia de atividades seria

o desenvolvimento de sua competecircncia escrita por meio da aprimoraccedilatildeo de suas habilidades

leitoras oportunidade de ampliaccedilatildeo da criatividade e desenvolvimento das habilidades e

procedimentos de escritor como o planejamento das ideias a releitura a revisatildeo a reescrita ndash

que sabemos natildeo fazem parte da rotina dos alunos salvo raras exceccedilotildees ndash utilizando como

base o estudo das caracteriacutesticas do gecircnero textual crocircnica literaacuteria

No horaacuterio seguinte com a turma completa iniciamos o moacutedulo de reconhecimento

realizando a leitura do texto Prova falsa de Stanislaw Ponte Preta Leitura silenciosa seguida

de leitura em voz alta por parte da professora-pesquisadora poreacutem sem realizar a atividade que

acompanhava o texto Comeccedilamos a trabalhar com a turma algumas caracteriacutesticas que a

sensibilizariam para o gecircnero como a presenccedila de um tiacutetulo interessante para a criaccedilatildeo de um

texto a partir de uma situaccedilatildeo do cotidiano e que o cronista resolveu contar ao leitor ao bom

humor e agrave leveza das palavras trazidas no texto

No segundo encontro com 1 hora-aula na semana seguinte fizemos a continuaccedilatildeo

da aula anterior no primeiro horaacuterio realizando o exerciacutecio de interpretaccedilatildeo do texto Prova

Falsa No horaacuterio seguinte realizamos breve leitura do texto Abandono de Animais eacute crime e

precisa ser denunciado para que os alunos percebessem a diferenccedila entre a crocircnica e a

reportagem embora ambas falassem cada uma a seu modo de criaccedilatildeo de animais de estimaccedilatildeo

Chegamos aos terceiro encontro com 2 (duas) hora-aula e realizamos a leitura do

texto O chato da vez de Anaximandro Amorim (cf Anexo D) No 1ordm horaacuterio destinado a nossas

aulas tudo transcorreu relativamente normal com a turma completa lendo e realizando parte

das atividades Poreacutem nossa Produccedilatildeo Inicial deveria acontecer apoacutes o recreio pois a

organizaccedilatildeo da grade de horaacuterios compreendia 1 hora-aula antes do recreio e a 1 hora-aula

seguinte apoacutes o recreio

Esse horaacuterio que foi escolhido para ser o momento da PI foi prejudicado por dois

fatores O primeiro foi que o professor de educaccedilatildeo fiacutesica12 da escola convidou os alunos para

antecipar sua praacutetica e vaacuterios natildeo voltaram do recreio para a aula do projeto O segundo fator

foi que nesse dia aconteceu uma briga com agressatildeo fiacutesica entre uma aluna da sala e outra aluna

de outra turma o que deixou a escola inteira agitada Os 20 (vinte) alunos que permaneceram

12 O professor de educaccedilatildeo fiacutesica natildeo estava presente na reuniatildeo de socializaccedilatildeo do projeto com os professores e

por isso natildeo sabia que a professora-pesquisadora ocuparia aquele horaacuterio que estava ocioso para os alunos

79

em sala para a produccedilatildeo felizmente mostraram-se interessados embora vaacuterios dissessem que

natildeo levavam jeito para escrever

Demos prosseguimento agrave atividade que acompanha o texto O chato da vez

realizando a instruccedilatildeo de produccedilatildeo do quesito 7 (sete) Os alunos receberam uma folha de

produccedilatildeo e foram orientados a primeiro escrever seu rascunho em folha agrave parte e somente

quando terminassem passar seu texto para a folha de produccedilatildeo A maioria escreveu diretamente

na FP Apenas alguns alunos fizeram um breve rascunho e depois passaram a limpo seus textos

O que buscamos detectar nessas primeiras produccedilotildees (PI-A) sem o devido

aprofundamento das caracteriacutesticas da crocircnica literaacuteria apenas com as leituras e as atividades

de sensibilizaccedilatildeo no moacutedulo de reconhecimento do gecircnero a partir da instruccedilatildeo de produccedilatildeo

foram os itens a seguir

i) quantos textos jaacute deram sinais de que os alunos entenderam o que eacute a ldquoconversa

com o leitorrdquo e a expressaram em marcas linguiacutesticas

ii) quantos atenderam ao perfil da audiecircncia solicitada na instruccedilatildeo

iii) quantos se mantiveram no tema discutido

iv) quantos partiram de uma situaccedilatildeo vividaobservada para compor seu texto

v) quantos narraram essa situaccedilatildeo de forma clara para que o leitor pudesse

acompanhar

vi) quantos atenderam agrave instruccedilatildeo quanto agrave presenccedila de tiacutetulo e ao nuacutemero de

paraacutegrafos

Trataremos em seccedilatildeo posterior correspondente agrave anaacutelise sobre estes resultados

442 Segunda etapa desenvolvimento dos moacutedulos

Aproximadamente 1 (um) mecircs apoacutes a apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo e a produccedilatildeo inicial

que foram realizadas em 4 (quatro) encontros o desenvolvimento dos moacutedulos foi iniciado A

partir de entatildeo foram realizados 8 (oito) encontros de 2 (duas) horas-aula cada um Foram

cinco moacutedulos com atividades diversas que trabalharam fundamentalmente o planejamento

das ideias a organizaccedilatildeo e a revisatildeo do texto aleacutem da reescrita que eacute a ponte para a produccedilatildeo

final O trabalho desenvolvido nos moacutedulos estaacute sintetizado no quadro a seguir e seratildeo

detalhados os procedimentos das aulas nos toacutepicos seguintes

80

Quadro 4 ndash Moacutedulos desenvolvidos na sequecircncia didaacutetica (SD)

MOacuteDULOS TEMA FINALIDADE ATIVIDADE NUacuteMERO

DE AULAS

Moacutedulo 1 A mateacuteria da

crocircnica

Abstrair a partir da

leitura a situaccedilatildeo que

pode ter gerado as

crocircnicas

Leitura dos textos

Realizaccedilatildeo das atividades de

interpretaccedilatildeo

Identificaccedilatildeo das situaccedilotildees

que geraram as crocircnicas

Observaccedilatildeo da construccedilatildeo da

narraccedilatildeo

4 horas-aula

Moacutedulo 2

Releitura e

reescrita da PI-

A

Revisar o conteuacutedo e a

estrutura das crocircnicas

produzidas (PI-A) a fim

de reescrevecirc-las fazendo

as modificaccedilotildees

necessaacuterias eou sugeridas

adequando-as agrave instruccedilatildeo

Conversa sobre as

dificuldades observadas nas

primeiras produccedilotildees Releitura

das produccedilotildees iniciais

individualmente e em duplas

para feedback colaborativo

Reescrita da crocircnica

2 horas-aula

Moacutedulo 3

A opiniatildeo e a

descriccedilatildeo na

crocircnica

Observar a realidade do

seu entorno e tambeacutem de

ouvir as opiniotildees das

pessoas que habitam esse

ambiente

Leitura do texto

Realizaccedilatildeo das atividades de

interpretaccedilatildeo

Atividade de coleta de

impressotildees de algueacutem

proacuteximo Confronto ou

associaccedilatildeo com suas proacuteprias

opiniotildees Observaccedilatildeo de

elementos e situaccedilotildees do

proacuteprio cotidiano

Uso criativo das palavras

reflexatildeo sobre linguagem

conotativa

Elaboraccedilatildeo de um pequeno

texto

2 horas-aula

Moacutedulo 4

A linguagem

criativa e a

verossimilhanccedila

na crocircnica

Produccedilatildeo

inicial do texto

para publicaccedilatildeo

ndash PI-B

Observar as formas

criativas de narrar o

cotidiano

Leitura do texto

Realizaccedilatildeo das atividades de

interpretaccedilatildeo Discussatildeo sobre

verossimilhanccedila

2 horas-aula

Moacutedulo 5

Revisatildeo e

reescrita do

texto para

publicaccedilatildeo ndash

PI-B

Observar os elementos

estudados ao longo dos

moacutedulos na PI-B

Leitura dos textos Feedback

colaborativo Releitura da PI-

B Exerciacutecio de topicalizaccedilatildeo

4 horasaula

Fonte Elaborado pela autora

Nos itens a seguir apresentamos o relato da aplicaccedilatildeo dos moacutedulos bem como as

atividades correspondentes a cada um em uma turma de 9ordm ano de uma escola puacuteblica municipal

em Satildeo Luiacutes no 4ordm (quarto) bimestre do ano letivo de 2017

a) Moacutedulo 1 ndash quarto e quinto encontros ndash 4 (quatro) horas-aula

81

A partir da leitura dos textos Manias e Pacto apoacutes morte natildeo podia ver faca (cf

Anexo E) os alunos praticaram o exerciacutecio de observaccedilatildeo e abstraccedilatildeo da situaccedilatildeo que pode ter

gerado essas crocircnicas

Neste dia foi feita a leitura da crocircnica Manias Os alunos puderam refletir a partir

das questotildees de interpretaccedilatildeo e anaacutelise do texto sobre o que satildeo manias e viram tambeacutem que

elas natildeo satildeo exclusividade de pessoas idosas Na verdade concluiacuteram que basta o ser humano

estar vivo independentemente da idade que tenha para comeccedilar a calcar camadas e mais

camadas de comportamentos que mais adiante se tornaratildeo manias Natildeo houve tempo

disponiacutevel para os alunos comporem um texto a respeito da mateacuteria manias e os alunos pediram

para fazer em casa No entanto na aula seguinte ningueacutem apresentou o texto

Para o encontro seguinte que correspondia ao dia das bruxas a crocircnica escolhida

para leitura que tomou o primeiro horaacuterio foi Pacto poacutes-morte natildeo podia ver faca de Nonato

Reis por ser de gosto dos alunos dessa faixa etaacuteria histoacuterias de fantasmas misteacuterios e lendas

Nossa atividade foi bastante interessante pois todos que estavam na sala entraram no ritmo

daqueles causos contados em prosa pelo jornalista Nonato Reis O segundo horaacuterio foi

direcionado agrave atividade de leitura e interpretaccedilatildeo da crocircnica em que os alunos puderam

observar o ponto de vista do narrador as situaccedilotildees que deram origem e suporte agrave construccedilatildeo da

crocircnica aprenderam vocaacutebulos novos e ainda puderam soltar um pouco da imaginaccedilatildeo e

criatividade pensando em como eles mesmos fariam seus pactos com algueacutem ndash e constatamos

que vaacuterios querem mais eacute que seus contratantes se assustem em vida caso os alunos partam

primeiro

Ao final da leitura ainda exercitamos uma breve retextualizaccedilatildeo se fosse para

compor uma manchete de jornal como eles poderiam criar uma frase de impacto para o leitor

que tivesse relaccedilatildeo com o texto Um dos alunos sugeriu ldquoHomem faz pacto e menino vem

buscarrdquo

b) Moacutedulo 2 ndash sexto encontro ndash 2 (duas) horas-aula

Este encontro foi destinado para releitura da primeira produccedilatildeo feita (PI-A) O

procedimento inicial foi a tempestade de ideias sobre o que eacute ser chato e o que eacute ser legal cujo

registro dessas caracteriacutesticas noacutes construiacutemos na lousa sendo a professora-pesquisadora como

escriba Em seguida entregamos aos participantes do projeto seus textos

De iniacutecio vaacuterios disseram gostar do proacuteprio texto poreacutem quando a professora-

pesquisadora passou de carteira em carteira pedindo que lessem em voz meacutedia de modo a

apenas o proacuteprio aluno e a professora poderem escutar ele mesmo se dava conta de que havia

82

algo a consertar Em alguns casos faltava o diaacutelogo com o leitor noutros uma situaccedilatildeo que

explicasse o porquecirc de algueacutem ser considerado chato ou legal Eacute a tal situaccedilatildeo do leitor na

histoacuteria Natildeo daacute pra jogar em cima dele soacute o resultado Tem que mostrar de onde partiram as

conclusotildees Assim demos uma folha sulfite em branco para que os alunos registrassem seus

rascunhos suas ideias por mais que as considerassem absurdas e daiacute pudessem extrair o que

iria compor o novo texto Fomos bem claras ao falar da importacircncia de tomar notas elas servem

como um prolongamento da memoacuteria (SERAFINI 2003)

Apoacutes esse registro os alunos tiveram a liberdade de escolher sentar em dupla ou

trio e foram lendo seus proacuteprios textos e o dos colegas para se inspirar ou dar sugestotildees uns

aos outros num feedback colaborativo enquanto a professora-pesquisadora permanecia dando

assistecircncia de um por um Infelizmente natildeo conseguimos sentar com todos para dar o devido

retorno individual sendo alguns apenas por orientaccedilatildeo coletiva e outros por bilhetinho com

questotildees gerais

Entatildeo pegamos o texto O chato da vez fizemos mais uma leitura e de novo

revimos a questatildeo 7 que eacute a instruccedilatildeo da produccedilatildeo Entatildeo os alunos receberam a folha de

produccedilatildeo e assim fizeram a reescrita (PF-A)

c) Moacutedulo 3 ndash seacutetimo encontro ndash 2 (duas) horas-aula

A partir da leitura da crocircnica A cara da rua (cf Apecircndice F) os alunos fizeram o

exerciacutecio praacutetico de observar a realidade do seu entorno sensibilizando-se a partir do uso da

descriccedilatildeo na crocircnica literaacuteria e tambeacutem de ouvir as opiniotildees das pessoas que habitam esse

ambiente

Houve uma alteraccedilatildeo no quadro do horaacuterio da escola o que colocou os encontros

do projeto para o 4ordm e o 5ordm horaacuterios As aulas passaram assim a natildeo ter uma quebra em seu

ritmo visto que anteriormente eram dois horaacuterios sendo um antes do recreio e o outro depois

A dificuldade enfrentada na aplicaccedilatildeo deste dia foi que alguns dos alunos que

integram o projeto se atrasaram visto que foi um dia atiacutepico na programaccedilatildeo da escola

Correspondeu este dia agrave visitaccedilatildeo da 11ordf FeLiS a Feira do livro de Satildeo Luiacutes realizada no

centro histoacuterico da cidade na Praia Grande Portanto neste dia natildeo fizemos uma releitura dos

textos que jaacute comeccedilaram a ser reescritos

Fizemos a leitura do texto A cara da rua de Marcelo Xavier discutimos as questotildees

e com os alunos (mesmo os que chegaram atrasados) foi feito o acordo da realizaccedilatildeo da uacuteltima

questatildeo que eacute fazer a leitura do texto para algueacutem em casa e anotar as impressotildees que a pessoa

teve ao ouvir a crocircnica

83

O objetivo desta atividade foi despertar nos alunos a consciecircncia de que uma

crocircnica bem escrita causa alguma reaccedilatildeo em seu leitor uma reflexatildeo uma emoccedilatildeo Aleacutem disso

eles observaram o modo de descrever empregado pelo autor ao longo dos paraacutegrafos usados na

caracterizaccedilatildeo da rua Utilizamos como material para essa aula figuras impressas da moda que

mostravam ao longo das deacutecadas as mudanccedilas citadas no texto

Neste dia tambeacutem os alunos anotaram os fundamentos que devem estar presentes

no texto que eles escrevem uma espeacutecie de quadro autoavaliativo13 criado a partir das

caracteriacutesticas dos textos estudados

d) Moacutedulo 4 ndash oitavo encontro ndash 2 (duas) horas-aula

O encontro comeccedilou retomando a atividade da aula anterior que era fazer a leitura

do texto para algueacutem em casa e anotar as impressotildees que a pessoa teve ao ouvir a crocircnica

Apenas uma aluna realizou a atividade poreacutem foi interessante visto que a opiniatildeo coletada deu

espaccedilo para a discussatildeo sobre a liberdade de expressatildeo fosse no vestuaacuterio no comportamento

ou mesmo no vocabulaacuterio das pessoas que integram a cara da rua

A aula do dia foi direcionada a conhecer mais algumas crocircnicas Amor de Macumba

e Sr Google Pacheco (cf Apecircndice G) para que os alunos pudessem observar e compreender

melhor de que situaccedilotildees observadasvivenciadas partiram os textos podendo ser inesperadas

eou ateacute pitorescas Apoacutes a escuta dos textos cuja leitura foi realizada pela professora-

pesquisadora foram trabalhadas oralmente as questotildees de compreensatildeo e identificadas as

situaccedilotildees geradoras das crocircnicas em questatildeo (independentemente de serem reais ou natildeo)

compreendendo melhor o que eacute verossimilhanccedila

Ao final desse momento os alunos falaram de vaacuterios assuntos que poderiam se

tornar temas de textos Copiamos no quadro e eles nos cadernos Eram temas do cotidiano

como assalto relaccedilotildees sociais vida de youtuber bullying fome cujas situaccedilotildees jaacute

observadasvivenciadas poderiam render uma reflexatildeo

Aparentemente a dificuldade maior dos alunos estava em expressar essa situaccedilatildeo

sem que parecesse um diaacuterio iacutentimo como diaacuterio ou memoacuterias pois a natural disposiccedilatildeo de

seus textos traz uma sequecircncia narrativa um relato de emoccedilotildees pessoais poreacutem natildeo

necessariamente conduzia o leitor a uma reflexatildeo embora por vezes pausasse a narraccedilatildeo e

interagisse com o leitor por meio de perguntas ndash conforme mostrado nas crocircnicas lidas ao longo

do projeto

13 Cf seccedilatildeo de Anaacutelises

84

O foco foi entatildeo ajudar os alunos a desprender-se da aura de criacutetica ou de diaacuterio

iacutentimo em seus textos permitindo-lhes atribuir um ar de narrar os fatos podendo aumentar as

situaccedilotildees conduzindo seu leitor sem sobrecarregaacute-lo com queixumes lamentos criacuteticas ferinas

ou aquele ldquoar de moral da histoacuteriardquo

Como a discussatildeo havia tomado bastante tempo da aula os alunos pediram para

trazer o texto depois Resolvemos propor entatildeo o envio por um meio digital O escolhido foi

o Whatsapp e a produccedilatildeo seria impressa e entregue entre os colegas para leitura coletiva e

apreciaccedilatildeo etapa fundamental para o moacutedulo seguinte

e) Moacutedulo 5 ndash nono encontro ndash 2 (duas) horas-aula

Quatro alunos me mandaram seus textos (Ana Rodrigo Eduardo Estela) A

expectativa da aula do dia era que os alunos lessem as proacuteprias produccedilotildees e as colocassem para

apreciaccedilatildeo dos colegas relessem lessem juntos encontrassem os erros aceitassem as

sugestotildees O trabalho da professora pesquisadora foi inicialmente ir de dupla em dupla para

orientar E assim fizemos o trabalho

Utilizamos como material para essa aula os textos enviados impressos e um tablet

para visualizaccedilatildeo e se desejassem atualizaccedilatildeo de algum trecho do texto Cada aluno autor teve

seu momento de visualizaccedilatildeo na tela e de certo modo foi um choque ver no tablet os erros

ortograacuteficos e as sugestotildees de pontuaccedilatildeo que o aplicativo Word sugeria O aluno Eduardo foi o

mais surpreso pois em seu texto soacute de ortografia e pontuaccedilatildeo havia 22 erros fora as sugestotildees

que o Word corrigia Apesar disso o aluno natildeo desanimou aceitando sugestotildees do aplicativo e

tambeacutem dos colegas e da professora-pesquisadora

Houve o momento da leitura em conjunto e este foi fundamental para trabalharmos

a paragrafaccedilatildeo A professora-pesquisadora lia em voz alta para os alunos eles acompanhavam

o pensamento criando a imagem mental dos fatos corridos e quando havia quebra na

sequecircncia eles mesmos estranhavam e identificavam fazendo sugestotildees de alteraccedilatildeo Isso foi

feito com cada texto

Os temas para a produccedilatildeo do texto publicado foram escolhidos pelos proacuteprios

alunos Diferentemente da PI-A que foi induzida pela instruccedilatildeo aqueles que se dedicaram a

escrever por prazer desenvolveram mais o gosto por entender e reler o proacuteprio texto dando

valor tambeacutem agrave apreciaccedilatildeo dos colegas natildeo apenas da professora

Os quatro alunos que produziram texto para o livro disseram que passaram a prestar

mais atenccedilatildeo a ortografia e acentuaccedilatildeo embora reconheccedilam que natildeo dominam adequadamente

85

ainda Nesse momento consideramos fundamental conscientizar-lhes que esse domiacutenio eacute um

processo e pode durar a vida inteira

f) Moacutedulo 6 ndash deacutecimo encontro ndash 2 (duas) horas-aula

A aula do dia foi dedicada agrave revisatildeo e discussatildeo final dos textos de Ana Rodrigo

Eduardo e Estela Apoacutes a leitura individual e novas sugestotildees sentamos em ciacuterculo e

registramos em voz alta no celular durante uns 20 minutos uma pequena avaliaccedilatildeo do projeto

e avaliaccedilatildeo pessoal em forma de grupo focal Apenas uma aluna dentre os seis que estavam

presentes se recusou a falar Ela mesma afirmou ldquoprofessora eu nunca falo eu natildeo gosto de

falarrdquo A pauta foi a seguinte

i) Uma breve avaliaccedilatildeo do projeto

- vocecirc gostou das aulas

- o que foi um ponto positivo

- e um desafio

- o que vocecirc sugere para um proacuteximo projeto

ii) Uma breve avaliaccedilatildeo pessoal

- vocecirc aprendeu algo que natildeo sabia antes

- mudou alguma coisa nos seus procedimentos em relaccedilatildeo agrave leitura e agrave escrita

- fale um pouco sobre isso

A opiniatildeo dos alunos seraacute tratada na seccedilatildeo seguinte ao longo da avaliaccedilatildeo do

projeto

443 Terceira etapa produccedilatildeo final

Neste dia relemos as primeiras produccedilotildees que os alunos fizeram de maneira

coletiva Foi unacircnime o descontentamento com os textos pois concluiacuteram que estava tudo

muito longe de ter caracteriacutesticas de crocircnica Aproveitamos tambeacutem para ler o texto de um

aluno e fazer um exerciacutecio de topicalizaccedilatildeo a fim de instrumentalizaacute-los com uma uacutetil

ferramenta de anaacutelise das partes do texto detectando as ideias que o compotildeem comparando ao

comando de produccedilatildeo que foi dado naquele momento da PI e percebendo que ideias faltam para

completar a instruccedilatildeo pedida Fora isso os alunos perceberam que havia muitos erros

ortograacuteficos e disseram que achavam interessante se pudessem para todos os textos escrever

em aplicativos de celular ou programas de ediccedilatildeo de texto como o Word para que as correccedilotildees

mais baacutesicas jaacute fossem automaticamente realizadas

86

444 Quarta etapa circulaccedilatildeo social dos textos

A circulaccedilatildeo social dos textos eacute parte de nossa proposta para a sequecircncia didaacutetica

Como o objetivo maior foi o de contribuir para o aperfeiccediloamento das habilidades de escrita

desenvolvendo procedimentos de escritor fugindo agrave praacutetica que os alunos normalmente tecircm

que eacute de fazer um texto sem os devidos cuidados apenas visando nota para entregar ao

professor contamos que essas produccedilotildees foram de grande valia aos que permaneceram ateacute o

final de nosso projeto

O livro artesanal foi produzido e no dia da cerimocircnia de formatura dos alunos do

9ordm ano foi tornado puacuteblico mostrado aos outros alunos familiares e comunidade escolar

presente O livro conteacutem as produccedilotildees dos 4 (quatro) alunos e mais as crocircnicas lidas ao longo

das aulas Aleacutem disso cada um publicou seu texto em sua paacutegina do Facebook

87

5 ANAacuteLISE DA SEQUEcircNCIA REFLEXOtildeES

Este capiacutetulo eacute destinado a discussatildeo e anaacutelise dos dados coletados quando de antes

da aplicaccedilatildeo dos moacutedulos (produccedilatildeo inicial) e depois do desenvolvimento destes (produccedilatildeo

final) a fim de verificarmos o desempenho dos alunos e certificar que o desenvolvimento de

nossa SD proposta para o desenvolvimento da competecircncia escrita dos alunos do 9ordm ano do

ensino fundamental pode propiciar-lhes progressos nas habilidades de produccedilatildeo de seus textos

Apresentamos aqui os principais dados da pesquisa como nuacutemero de alunos

participantes em cada etapa de produccedilatildeo nuacutemero de estudantes que participaram de todas as

atividades e principais dificuldades quanto aos elementos constitutivos do gecircnero trabalhado

Para a anaacutelise das versotildees produzidas pelos alunos que participaram de todos os encontros

fazendo o comparativo entre a PI e a PF partimos das categorias do gecircnero crocircnica literaacuteria

trabalhadas durante a SD Deste modo veremos as seccedilotildees destinadas a analisar os elementos

constitutivos presentes nos textos

A anaacutelise dos dados considerou as hipoacuteteses levantadas no iniacutecio da pesquisa que

recapitulamos

a) eacute possiacutevel motivar os alunos a escrever ao desenvolver com eles atividades

voltadas para os diferentes subprocessos e habilidades envolvidos no ato de

redigir

b) o ensino da composiccedilatildeo do gecircnero crocircnica literaacuteria contribuiraacute para minimizar

dificuldades observadas nos textos dos alunos do 9ordm ano como nos planos

morfossintaacutetico e semacircntico aleacutem de lhes propiciar o desenvolvimento da

competecircncia escrita em textos escritos

c) apoacutes a realizaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica proposta ao compararmos as produccedilotildees

inicial e final dos alunos verificaremos um desempenho mais satisfatoacuterio em

relaccedilatildeo agrave competecircncia discursiva realizada no gecircnero crocircnica

Da primeira hipoacutetese consideramos para a elaboraccedilatildeo das atividades e o

planejamento dos encontros trabalhar os subprocessos da escrita geraccedilatildeo e organizaccedilatildeo de

ideias planejamento do texto rascunho escrita releitura revisatildeo reescrita ateacute o passo da

publicaccedilatildeo agrave audiecircncia pretendida Esses passos auxiliaram os alunos a desenvolver melhor

seus textos apoacutes a revisatildeo quando os comparamos aos seus primeiros textos conforme a anaacutelise

dos dados Inclui tambeacutem este momento a motivaccedilatildeo de modo que quanto maior o domiacutenio

das habilidades mais confiantes os alunos ficavam e consequentemente mais motivados

88

Buscamos identificar nos textos dos alunos os avanccedilos referentes agrave apropriaccedilatildeo do

gecircnero crocircnica literaacuteria a partir dos textos escolhidos para servir-lhes de modelo para a

produccedilatildeo Relatamos aqui tambeacutem as dificuldades trabalhadas com eles durante os moacutedulos e

que foram aperfeiccediloadas Aleacutem das dificuldades composicionais relatamos ao longo do

capiacutetulo as dificuldades quanto agrave participaccedilatildeo no projeto aplicado

51 Participaccedilatildeo dos alunos na pesquisa

A sala de aula escolhida para aplicaccedilatildeo do projeto de produccedilatildeo escrita de crocircnicas

literaacuterias foi uma turma de 9ordm ano vespertino em uma escola puacuteblica do municiacutepio de Satildeo Luiacutes

Maranhatildeo Os alunos frequentes totalizavam no ano letivo de 2017 43 (quarenta e trecircs) No

entanto ao final de nosso projeto tivemos um resultado de produccedilotildees que visavam agrave circulaccedilatildeo

social do texto no gecircnero que corresponde a menos de 10 (dez por cento) do total da classe

Graacutefico 4 ndash Nuacutemero de alunos do 9ordm ano

Fonte Produzido pela autora

Podemos dizer que a SD teve duas partes no tocante agrave participaccedilatildeo dos alunos No

primeiro 19 (dezenove) alunos produziram a PI-A havendo oscilaccedilatildeo da presenccedila nas

atividades ateacute a reescrita a PF-A No entanto selecionamos as produccedilotildees apenas dos que

participaram de todos os encontros que foram 13 (treze) alunos e que produziram a PF-A

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

Nuacutemero de alunos

Nuacutemero de alunos no 9ordm ano

Alunos regularmente frequentes

Alunos que produziram o texto para a professora-pesquisadora como audiecircncia

Alunos que produziram texto para circulaccedilatildeo social com audiecircncia real

89

No segundo momento visando a publicaccedilatildeo dos textos o nuacutemero de alunos

presentes caiu vertiginosamente finalizando o projeto de aplicaccedilatildeo da SD com 6 alunos

frequentes sendo que apenas 4 (quatro) produziram o texto para circulaccedilatildeo social constando a

PI-B e a PF-B Segundo os alunos da turma o fato de natildeo valer nota associado ao item do

termo de compromisso que diz que a qualquer momento o aluno poderia deixar de participar

sem qualquer prejuiacutezo fez com que alguns alunos deixassem de querer frequentar ldquoporque eu

natildeo gosto de escrever professorardquo acabando por ldquocontagiarrdquo outros alunos a querer sair mais

cedo da sala de aula abandonando assim o projeto aplicado ldquomas pelo menos a senhora jaacute tem

um texto natildeo eacuterdquo

Dessa forma totalizamos 26 (vinte e seis) textos analisados 2 (dois) de cada

participante na primeira parte e 4 (quatro) dos quatro alunos que tiveram seus textos publicados

no livro artesanal e na plataforma online

Graacutefico 5 ndash Participaccedilatildeo nas produccedilotildees

Fonte Produzido pela autora

Como vimos 13 (treze) alunos realizaram a PF-A e 4 (quatro) a PF-B Nosso

projeto de produccedilatildeo escrita de crocircnicas literaacuterias contou com 11 (onze) encontros efetivos num

total de 20 (vinte) horasaula A participaccedilatildeo da turma ocorreu da seguinte forma

0

5

10

15

20

PI-A PF-A PI-B PF-B

Participaccedilatildeo nas produccedilotildees

Produccedilatildeo a partir de instruccedilatildeo Produccedilatildeo para publicaccedilatildeo

90

Graacutefico 6 ndash Alunos presentes por encontro

Fonte Produzido pela autora

Quanto agrave participaccedilatildeo nos encontros nos quais desenvolvemos os moacutedulos a maior

participaccedilatildeo ocorreu no 1ordm (primeiro) e no 4ordm (quarto) encontros No 9ordm (nono) encontro tivemos

a menor quantidade de alunos O uacuteltimo encontro contou com 7 (sete) alunos

52 Anaacutelise da apropriaccedilatildeo de caracteriacutesticas do gecircnero crocircnica literaacuteria

Nosso objetivo com esta pesquisa foi de contribuir para o desenvolvimento da

competecircncia escrita dos alunos de 9ordm ano a partir da proposta da aplicaccedilatildeo de uma sequecircncia

didaacutetica para a produccedilatildeo de textos escritos em uma turma deste niacutevel utilizando para tal o

gecircnero crocircnica literaacuteria A sequecircncia foi desenvolvida no 2ordm semestre do ano letivo de 2017

Para verificar o desempenho dos alunos nos textos escritos antes e apoacutes a aplicaccedilatildeo

da SD buscando comprovar sua eficiecircncia como uma proposta para o ensino de produccedilatildeo de

textos e o desenvolvimento da competecircncia escrita dos alunos procedemos a anaacutelise do corpus

de produccedilotildees a fim de verificar se a construccedilatildeo do texto de alunos do 9ordm ano corresponde de

algum modo aos exemplos de crocircnicas apresentados na primeira parte da sequecircncia didaacutetica

Essa produccedilatildeo A corresponde ao trabalho com 13 alunos (como jaacute informado na

seccedilatildeo 4411) em 3 (trecircs) encontros com duraccedilatildeo de 6 (seis) horasaula e leitura de duas

crocircnicas ineacuteditas para os alunos (Manias e Pacto apoacutes morte) e atividades correspondentes e

mais a releitura de O chato da vez releitura da instruccedilatildeo e releitura das PI-A

0

5

10

15

20

25

30

35

40

Alunos presentes por encontro

Nordm de alunos

91

Nossa primeira parte da sequecircncia em que preparamos os alunos para a produccedilatildeo

do primeiro texto do gecircnero com um miacutenimo de caracteriacutesticas tratou de mostrar exemplos do

que se pode esperar em uma crocircnica fornecendo um miacutenimo de elementos para que atraveacutes de

uma abordagem imitativa os alunos fizessem o seu texto PI-A

Para a reescrita ou PF-A a fim de auxiliar nossos alunos fomos construindo ao

longo do periacuteodo de aplicaccedilatildeo das aulas um quadro autoavaliativo que resultou nos itens

expostos no quadro a seguir

Quadro 5 ndash Quadro autoavaliativo

Seu texto Sim Natildeo

Partiu de uma situaccedilatildeo observadavivida

Conversa com o leitor

Possui o foco narrativo bem determinado (narrador personagem ou

narrador observador)

Leva o leitor a refletir

Causa impressotildees no leitor como riso choro reflexatildeo emoccedilatildeo

satisfaccedilatildeo

Possui um final interessante

Mostra discretamente ao leitor seu ponto de vista a respeito da situaccedilatildeo

Possui alguma descriccedilatildeo de lugarobjetopersonagem

Possui um tiacutetulo

Apresenta os acontecimentos de forma clara

Emprega adequadamente os sinais de pontuaccedilatildeo

Evita repeticcedilatildeo desnecessaacuteria de palavras

Possui paraacutegrafos bem organizados

Fonte Elaborado pela autora

O quadro nasceu da observaccedilatildeo das caracteriacutesticas constantemente presentes em

produccedilotildees de alunos com os quais trabalhamos A proposta era que os integrantes do projeto

avaliassem os proacuteprios textos atentando para estes aspectos mais baacutesicos

Desta forma vamos proceder a anaacutelise com a observaccedilatildeo da apropriaccedilatildeo das

caracteriacutesticas trabalhadas do gecircnero crocircnica literaacuteria sob uma oacutetica do processo de produccedilatildeo

oferecendo uma abordagem imitativa de produccedilatildeo de textos nas produccedilotildees iniciais e finais A

de 13 (treze) alunos cuja identificaccedilatildeo estaacute no quadro a seguir

Quadro 6 ndash Identificaccedilatildeo dos textos A dos alunos

Identificaccedilatildeo textoautor Tiacutetulo PI Tiacutetulo PF

Ana Ser chato ou natildeo ser eis a

questatildeo

Ser chato ou natildeo ser eis a

questatildeo

92

Rodrigo Pare de se criticar

Eduardo O amigo muito e muito chato Ser legal natildeo eacute ser chato

Estela Os chatos de antematildeo O tio chato de galocha

Ceacutelia Chata sim ou natildeo Chata sim ou natildeo

Arlindo Chato e natildeo eacute chato Chato e natildeo eacute chato

Juacutelia Ser chato ou ser legal Pessoas chatas e pessoas

legais

Vicente Aacute pergunta eacute se eu

bloquearia uma pessoa chata

Graccedila Rafaelly chata Chata ela ou EU

Lilian Meus amigos chatos e Eu Pessoas legais e chatas

Heloiacutesa ldquoChato mais eacute muito legalrdquo ldquoO melhor chatordquo

Eliane Um pouco de tudo O que e chato e o que e legal

Joana Pessoas chatas e outras legal Pessoas otimas Fonte Produzido pela autora

Esses textos foram produzidos em sala na folha de produccedilatildeo textual proacutepria

elaborada para a SD de forma manuscrita e os originais A encontram-se nos anexos Na seccedilatildeo

a seguir mostraremos o panorama das anaacutelises

53 Os textos dos alunos

Esta seccedilatildeo traz os textos dos alunos produzidos em dois momentos O primeiro que

chamamos de texto A composto de produccedilatildeo inicial A e produccedilatildeo final A foi o texto produzido

na primeira parte de nossa sequecircncia didaacutetica que vai ateacute o moacutedulo 2 (dois) e que ficou restrito

apenas ao trabalho em sala de aula O segundo foi o texto B com produccedilatildeo inicial B e produccedilatildeo

final B cuja produccedilatildeo jaacute visava agrave circulaccedilatildeo social das produccedilotildees

531 Produccedilotildees A textos apenas para o trabalho em sala de aula

Quadro 7 ndash Produccedilatildeo inicial Ana ndash Tiacutetulo Ser chato ou natildeo ser eis a questatildeo

1 O ldquochato da vezrdquo esse texto fez eu refletir bastante

2 sobre esse negocio de chatisse sabe eu natildeo acho que

3 ser chato seja um defeito ou muito menos uma qua-

4 lidade de sabe de uma coisa Eu nem ao menos sei o

5 que eacute ser chato mas se algueacutem me perguntar diria que

6 ser chato eacute apenas falar de um assunto pode ser sobre ele

7 ou sobre mim mas se for falado isso pra mim muitas ve-

8 zes isso pra mim eacute pura chatice mas sabe eu natildeo tiraria

9 nem evitaria ningueacutem mesmo sendo aquela amiga que so

93

10 sabe falar que ta doente e reclamar de noites mal dormi-

11 das sempre ateacute porque eacute o jeito dela e cada um oferece o

12 que tem para oferecer eu natildeo fico puxando o saco delas

13 mas evito elas sempre que posso Ateacute porque seria uma

14 chatice evita-la ou qualquer um outro chato Fonte Dados da pesquisa

O texto foi composto por um paraacutegrafo apenas Percebe-se que Ana o criou

atendendo ao que a instruccedilatildeo da atividade requer criar um texto que possa inspirar reflexatildeo

Poreacutem a aluna natildeo exatamente conduz seu leitor a refletir Ela jaacute parte de uma constataccedilatildeo sobre

a qual ela mesma refletiu e expotildee no texto suas conclusotildees Natildeo narra uma situaccedilatildeo

vividaobservada mas elenca o que lhe parecem procederes chatos ldquomesmo sendo aquela amiga

que so sabe falar que ta doente e reclamar de noites mal dormidas semprerdquo (linhas 9 a 11) A

aluna natildeo usou a estrateacutegia de inserir personagens que transparecessem seu ponto de vista ao

leitor Construiu seu texto em primeira pessoa ao modo de ldquoO chato da vezrdquo e demonstrou que

tinha consciecircncia de que seu texto seria lido por uma audiecircncia visto que lanccedila perguntas para

confirmaccedilatildeo ldquosaberdquo (linha 1) ldquosabe de uma coisardquo (linha 4) embora essa audiecircncia natildeo

coadune com a instruccedilatildeo

Quadro 8 ndash Produccedilatildeo final Ana ndash Tiacutetulo Ser chato ou natildeo ser eis a questatildeo

1 ldquoO chato da vezrdquo Um texto muito interessante

2 que fez eu refletir sobre esse negocio de chatisse um

3 assunto que eu ja tinha pensado bastante mas cheguei a

4 conclusatildeo de que natildeo deve ser considerado um defeito nem

5 uma qualidade chato quero dizer mas deve ser um a

6 coisa que vocecirc deve ser controlada sabe as vezes eacute ne-

7 cessario ter um pouco de chatisse

8

9 Ser chato na minha opiniatildeo natildeo teria um signi-

10 ficado especifico seria vaacuterias coisas como falar apenas de

11 um assunto coisas repetitivas sabe natildeo saber aceitar o jeito

12 das pessoas ao seu redor ser chato eacute natildeo saber relevar e ser

13 legal eacute o oposto pois se eu falasse se eu falasse ago-

14 ra as caracteriacutesticas das pesso legal esse texto ficaria cha-

15 to ca entre nos Fonte Dados da pesquisa

O texto reescrito agora compotildee-se de dois paraacutegrafos embora no trabalho de

discussatildeo e reapresentaccedilatildeo da mesma proposta a instruccedilatildeo indique entre 3 (trecircs) e 6 (seis)

paraacutegrafos

94

Mais uma vez a aluna elaborou seu texto visando ao que a instruccedilatildeo da atividade

requer um texto que possa inspirar reflexatildeo sem conduzir exatamente seu leitor a refletir mas

expondo uma constataccedilatildeo sobre a qual ela mesma refletiu

O primeiro paraacutegrafo inicia com frases que lembram o gecircnero resenha ldquoO chato da

vezrdquo Um texto muito interessante que fez eu refletir sobre esse negocio de chatisse (linhas 1 e

2)

O segundo paraacutegrafo que ela inicia nos daacute a pista de que ela retorna ao quesito de

letra a da atividade 7 que tem por funccedilatildeo sensibilizar e conduzir o aluno a compreender a

instruccedilatildeo que vai se apresentar definitivamente a partir do quesito de letra c e perde de vista

que seu texto deve ser composto dentro das caracteriacutesticas do gecircnero crocircnica Em lugar disso

ela o compotildee expondo sua opiniatildeo o que tange um outro gecircnero

O texto possui tiacutetulo como na PI e faz uma referecircncia intertextual agrave famosa frase

de William Shakespeare Ser ou natildeo ser eis a questatildeo

Ainda como na PI a aluna natildeo narra uma situaccedilatildeo vividaobservada elencando

em vez disso o que foi considerado chato nas discussotildees que a turma fez para tentar definir o

que era ser legal e ser chato como falar apenas de um assunto coisas repetitivas sabe natildeo

saber aceitar o jeito das pessoas ao seu redor ser chato eacute natildeo saber relevar (linhas 10 a 12)

Mais uma vez a aluna natildeo usou a estrateacutegia de inserir personagens que

transparecessem seu ponto de vista ao leitor Construiu seu texto em primeira pessoa ao modo

de ldquoO chato da vezrdquo mas frases como sabe (linha 11) e ca entre nos (linha 15) mostram que

houve sim uma preocupaccedilatildeo em conversar com o leitor transparecendo sua percepccedilatildeo de uma

audiecircncia como presente no texto da instruccedilatildeo bem como ao longo das crocircnicas lidas foram

ressaltadas foacutermulas de conversas com o leitor

A autora desenvolveu pouco seu texto e ainda buscou abreviaacute-lo visto que ldquose eu

falasse agora as caracteriacutesticas das pesso legal esse texto ficaria chato ca entre nosrdquo (linhas

14 e 15)

Natildeo houve para antes da reescrita um texto na folha de rascunho Foi feita a

refacccedilatildeo do texto diretamente na folha de produccedilatildeo havendo ainda problemas com a ortografia

e a pontuaccedilatildeo

No entanto Ana depois de seguir com o projeto e apurar um pouco mais o olhar

segundo ela mesma pediu para que deacutessemos nova oportunidade de leitura pois ela havia feito

uma nova reescrita ao final dos moacutedulos Essa reescrita de Ana estaacute na seccedilatildeo seguinte apoacutes o

teacutermino de todos os moacutedulos

95

Quadro 9 ndash Produccedilatildeo inicial Rodrigo ndash Tiacutetulo Pare de se criticar

1 Bom pessoal primeiro quero que vocecircs entendatildeo o

2 verdadeiro significado de ser chato e ser legal

3 antes de tudo Natildeo levem nada pro lado pessoal apenas

4 entenda Vamos comeccedilar

5

6 Uma pessoa chata por exemplo ela eacute cheia de

7 nheacute nheacute nheacute mas nem todo mundo eacute chato depende

8 de quem te acha chato concerteza ela tambeacutem natildeo eacute

9 a pessoa mais legal triloca ou radical do mundo Se

10 ela te acha chato foudaci o que importa eacute vocecirc se

11 acha legal Ai Deus quem dera tivesse um

12 botatildeo pra silenciar pessoas chatas leitor estaacute me ente-

13 ndendo uma pessoa chata ela pode ser chata

14 pra vocecirc mas pra mim natildeo entatildeo vai lagar de se

15 achar chato Cara vocecirc eacute mocirc legal pra muitas

16 pessoas deixa de se alto criticar

17

18 Voltando ao assunto se vocecirc tivesse um

19 botatildeo pra bloquear uma pessoa que tipo de pessoa

20 vocecirc bloquearia eu particularmente bloquearia

21 essas pessoas chatas que natildeo saien do meu peacute

22 entatildeo era soacute isso Seja mais legal consigo

23 mesmo Fui

24

25 Fim

26 Joinha

27 LIKE Fonte Dados da pesquisa

Construiacutedo em 3 (trecircs) paraacutegrafos de efetivo conteuacutedo entre as linhas 1 e 23 o texto

desse aluno busca fortemente o contato com sua audiecircncia como se vecirc em diversos exemplos

ldquoBom pessoalrdquo (linha 1) ldquoquero que vocecircs entendatildeordquo [sic] (linha 1) ldquoleitorrdquo (linha 12) ldquoestaacute

me entendendordquo (linhas 12-13) ldquoCara vocecirc eacute mocirc legalrdquo (linha 15) se vocecirc tivesse um botatildeo

(linhas 18-19) Seja mais legal consigo mesmo (linhas 22-23) Esse contato eacute influenciado pelos

diaacutelogos mais proacuteximos da oralidade que se apresenta nos textos usados para sensibilizar e

inspirar a produccedilatildeo inicial e que eacute uma caracteriacutestica do gecircnero trabalhado

No entanto seu texto natildeo se caracteriza como gecircnero crocircnica Percebemos que

lembra muito um roteiro de fala para viacutedeo do youtube ndash e sim o aluno autor do texto eacute youtuber

e tem um canal O aluno termina seu texto com claras referecircncias agrave esfera do discurso online

em que se tem interaccedilatildeo direta com o leitor Joinha LIKE (linhas 26 e 27) bem como um

96

elemento visual associado a essa multimodalidade que a internet permite que eacute a matildeo com

polegar para cima (linha 25) conhecido como thumbs up ou no Brasil joinha usado para

expressar contentamento com o conteuacutedo escrito o que corresponde ao perfil de audiecircncia dado

na instruccedilatildeo

Rodrigo faz muito uso da palavra chato o que pode sobrecarregar o texto Poreacutem

e como veremos a seguir na produccedilatildeo B do mesmo aluno a repeticcedilatildeo segundo ele eacute

caracteriacutestica sua para ldquoreforccedilar que a pessoa eacute chata professorardquo Apesar disso natildeo houve

uma definiccedilatildeo mais bem detalhada do que eacute o chato como os que ldquonatildeo saien do meu peacuterdquo (linha

21)

Haacute uma referecircncia no texto agrave primeira leitura feita em sala antes da PI que foi o

texto Prova Falsa Nas linhas 6-7 pode-se ler ldquonheacute nheacute nheacuterdquo como definiccedilatildeo do que eacute uma

pessoa chata e que no texto do Stanislaw Ponte Preta aparece como ldquoDesses cachorrinhos de

raccedila cheio de nheacutem-nheacutem-nheacutem que comem comidinha especial precisam de muitos

cuidados enfim um chato de galochardquo Por natildeo portar o texto em matildeos na hora da produccedilatildeo

entendemos entatildeo que o aluno Rodrigo fixou o vocaacutebulo corrente na oralidade (nheacutem-nheacutem-

nheacutem) ao conceito (muito chato chato de galocha) causando um saldo positivo em sua escolha

Quadro 10 ndash Produccedilatildeo final Rodrigo ndash Tiacutetulo

1 bom dia boa tarde e boa noite depende

2 da hora em que estiver lendo isso

3 Hoje eu vou falar um pouco sobre pessoas

4 chatas e pessoas legais se estiver pronto vamos laacute

5

6 Primeiro reflita uma coisa vocecirc leitor se

7 considera chato Antes de dizer vocecirc precisa saber

8 a diferenccedila entre ser legal e ser chato vou explicar

9

10 Uma pessoa legal eacute aquela que sabe te

11 ouvir dar sua opiniatildeo na hora certa e saber

12 reconhecer seus erros mas chega um devido ponto

13 que vocecirc tenta ser tatildeo legal que chega a ser chata

14 mas existe uma diferenccedila entre essas duas coisas

15 estaacute entendendo leitor Suponhamos que exista

16 um botatildeo de bloquear pessoas igual aquele do

17 Whatsapp quem vocecirc bloquearia seus amigos

18 Seus familiares Seus colegas Ou as pessoas chatas

19 Hahahahaha jaacute sei a resposta entatildeo isso facilitaria

20 muito sua vida neacute

21

22 bom espero ter ajudado a saber a

97

23 diferenccedila entre essas duas coisas en em breve

24 farei outro texto para explicar um pouco

25 melhor valeu falou e fui

26

27 Fonte Dados da pesquisa

Nessa versatildeo de reescrita do texto vimos que o aluno natildeo colocou o tiacutetulo

Acreditamos que ele natildeo tenha lembrado visto que na PI foi atribuiacutedo um tiacutetulo a seu texto

Natildeo houve para antes da reescrita um texto na folha de rascunho O aluno afirmou

que gostava de desenhar e permitimos que ele fizesse o que lhe fosse mais confortaacutevel para

liberar a criatividade apoacutes a conversa com a turma em busca da compreensatildeo do que eacute ser legal

ou ser chato A refacccedilatildeo do texto foi feita diretamente na folha de produccedilatildeo havendo ainda

alguns problemas com a ortografia e a pontuaccedilatildeo poreacutem com bom uso das interrogaccedilotildees para

conduzir o leitor por seus questionamentos o autor buscou uma aprovaccedilatildeo para o tema que

expotildee

Natildeo houve neste texto a presenccedila da narraccedilatildeo de uma situaccedilatildeo vividaobservada

Rodrigo mencionou algumas situaccedilotildees discutidas na sala antes da reescrita que falavam sobre

o que eacute ser chato e o que eacute ser legal Na linha 19 houve uma quebra e expectativa pois o trecho

ldquoHahahahaha jaacute sei a respostardquo natildeo deixa claro realmente qual a resposta

Percebemos tambeacutem a utilizaccedilatildeo de siacutembolos em seu texto ao final Esse recurso

multimodal eacute caracteriacutestico da forma de interaccedilatildeo existente nas redes sociais e o aluno por

entender na instruccedilatildeo que o texto eacute direcionado a um leitor de sua idade e que lecirc e faz postagens

e comentaacuterios com frequecircncia empregou iacutecones de maneira natural em seu texto Entendemos

aqui que ele considerou a audiecircncia determinada na instruccedilatildeo

Quadro 11 ndash Produccedilatildeo inicial Eduardo ndashTiacutetulo O amigo muito e muito chato

1 Nossa meus amigos satildeo chatos

2 ou seraacute que eacute eu mesmo que sou

3 completamente chato Natildeo sei mas se

4 sou o que eu faccedilo de errado pra ser chato

5

6 Tive uma amizade que era muito

7 bacana uma convivencia boa para se

8 viver mas passando alguns tempo

9

10 Ficou absurdamente chato ficou

11 muito muito muito chata vivia na

98

12 minha casa Iria conpletamente na minha

13 casa nas horas enproprias era chato

14

15 Mas um dia fiquei dando indiretas

16 para ele dizendo ldquoQue mamatildee mandou arruma

17 a casardquo essa coisas assim

18

19 Um dia disse para ele ldquoTou meio

20 oculpadordquo ai ele disse ldquoVocecirc eacute muito chatordquo

21 e saiu de casa sem olhar para traacutes

22

23 Mas ai ele foi que ficou mais chato

24 ainda Tocava a campainha de casa e

25 saia correndo

26

27 Se desse de broqueiar ele na vida

28 real eu broqueiava Vocecirc faria o mesmo

29 leitor Fonte Dados da pesquisa

A PI apresenta o ponto de vista do autor sobre o que eacute ser chato ldquovivia na minha

casa Iria completamente na minha casa nas horas enproprias era chatordquo (linhas 11-13) poreacutem

natildeo explicita o que eacute ser legal deixando essa lacuna para o leitor Apesar disso EDUARDO

parte de uma situaccedilatildeo vividaobservada que era essa relaccedilatildeo com seu amigo

O texto estaacute organizado em 7 (sete) paraacutegrafos No entanto o 2ordm e o 3ordm paraacutegrafos

poderiam estar unidos pela temaacutetica14 assim como o 5ordm e o 6ordm paraacutegrafos O uso do conectivo

mas foi inadequadamente empregado no 4ordm paraacutegrafo (Mas um dia fiquei dando indiretas para

ele) (linhas 15-16) A repeticcedilatildeo da expressatildeo temporal um dia no iniacutecio do 4ordm e do 5ordm paraacutegrafos

sucessivamente natildeo permite claramente ao leitor saber se as situaccedilotildees aconteceram no mesmo

dia ou em dias distintos

Percebemos o emprego da 1ordf pessoa como a voz que fala no texto um narrador-

personagem que se comunica tanto com outro personagem por meio de discurso indireto livre

(ai ele disse ldquoVocecirc eacute muito chatordquo) (linha 20) quanto com o leitor ldquoVocecirc faria o mesmo leitorrdquo

(linhas 28-29) demonstrando consciecircncia de que existe uma audiecircncia e embora natildeo mostre

claros exemplos ainda assim atende agrave instruccedilatildeo de que essa mesma audiecircncia deve ser um

puacuteblico que estaacute antenado nas redes sociais ldquoSe desse de broqueiar ele na vida real eu

broqueiavardquo (linhas 27-28)

14 Cf seccedilatildeo Escrita na escola

99

Quadro 12 ndash Produccedilatildeo final Eduardo ndashTiacutetulo Ser legal natildeo eacute ser chato

1 Ser legal eacute oacutetimo mas vocecirc

2 pode esta achando que taacute sendo

3 muito legal mas a pessoa

4 que vocecirc ta sendo legal natildeo

5 pode ta achando vocecirc muito legal

6 mas sim chato

7

8 Vocecirc indo na casa do seu

9 amigo toda hora pode ser legal

10 para ele mas para seu amigo natildeo

11

12 Coisas demais natildeo eacute tatildeo

13 legal E vocecirc leitor tem alguma

14 coisa engual a isso

15

16 LEGAL X CHATO

Fonte Dados da pesquisa

Nessa reescrita do texto apoacutes as sugestotildees percebemos que o aluno fez natildeo uma

nova versatildeo do primeiro texto mas uma resposta agraves discussotildees realizadas na sala antes do

momento de escrita Pedimos ao grupo como um todo que levasse em conta o que eacute ser legal

e o que eacute ser chato e desses exemplos praacuteticos partindo de situaccedilotildees vividasobservadas

Enquanto a professora-pesquisadora atendia outros alunos que natildeo haviam compreendido

claramente as sugestotildees dadas agraves suas PI o aluno Estela elaborou 3 (trecircs) paraacutegrafos que

condensam sua situaccedilatildeo descrita na PI natildeo utilizando diaacutelogos nem personagens apesar de

ainda se dirigir ao leitor (ldquoE vocecirc leitorrdquo) (linha 13) Houve uma perda da qualidade do texto

por causa de uma provaacutevel falta de compreensatildeo da tarefa a ser realizada na sala

Quadro 13 ndash Produccedilatildeo inicial Estela ndash Tiacutetulo Os chatos de antematildeo

1 Certo dia observei dois amigos conversando

2 Marcelo e Camila quase todos os dias Marcelo

3 e Camila quase todos os dias eles ldquobrigavamrdquo

4 ficavam de ldquomalrdquo como os jovens de hoje falam

5

6 O motivo dessas brigas era apenas pelo fato

7 de Marcelo dizer a Camila que ela era uma

8 chata e ela como todos os ldquochatosrdquo natildeo

100

9 admitiam ser chatos neacute

10

11 E vocecirc se por acaso algueacutem chamaacute-lo de chato

12 O que vocecirc faria

13

14 Eu natildeo era muito ldquoamigardquo deles mas na real

15 dava uma vontade de chegar e dizer-lhes ldquo

16 Por favor natildeo sejam tatildeo ridiacuteculos os dois

17 satildeo uns chatosrdquo

18

19 Mas como eacute errado intrometer-se nas conversas

20 dos outros resolvi natildeo dizer nada

21

22 Passaram-se semanas e eles sempre continuavam

23 com isso

24

25 Entatildeo resolvi fazer algo para que evitasse

26 essas ldquobrigasrdquo cotidianas

27

28 Natildeo falei nada pessoalmente mas sim por uma

29 rede social e mandei a seguinte mensagem

30

31 ldquoDesculpe-me por intrometer-me na amizade

32 entre vocecirc e Marcelo mas essa chatice que

33 haacute entre vocecirc e seu amigo estaacute me incomoda-

34 do aacute dias Pelo fato de vocecirc e seu amigo

35 ficarem pegando no peacute um do outro na

36 minha opiniatildeo vocecircs deveriam conversar

37 civilizadamente e aceitarem uns aos outros

38 da maneira que vocecircs satildeo E soacute issordquo

39

40 Dias depois dessa conversa observei-os aten-

41 tamente e percebi que havia uma grande diferenccedila

42 entre eles na qual eles estavam interagindo

43 se entendendo se aceitando

44

45 E entatildeo os dois aproximaram-se de mim e

46 agradeceram pelo conselho

47

48 Fiquei super feliz de tecirc-los ajudados

49 Na minha opiniatildeo chatice eacute algo que a

50 pessoa tem de natureza um certo

51 estado de espiacuterito

52

53 E se isso natildeo resolvesse tentaria bloqueaacute-

54 -los tentaria parar de dar atenccedilatildeo graccedilas

55 a Deus eles pararam

56

101

57 Ufa Pelo menos no final eles foram legais uns com os outros

58

59 Fim Fonte Dados da pesquisa

Apresentando-se como a mais extensa das produccedilotildees iniciais esta PI possui 14

(quatorze) paraacutegrafos Alguns poderiam ser condensados de modo a deixar as ideias agrupadas

(o 4ordm e o 5ordm o 6ordm o 7ordm e o 8ordm) Ou entatildeo poderia ter havido nova reescrita de alguns periacuteodos de

modo a condensar as informaccedilotildees Poreacutem para tal lembramos Serafini (2003) que afirma que

para escritores inexperientes essa estrateacutegia de periacuteodos mais curtos ajuda melhor a organizar

o pensamento Essa aluna produziu um rascunho antes de passar a limpo para a folha de

produccedilatildeo textual oficial

Demonstrando certo domiacutenio no uso dos pronomes pessoais obliacutequos como se pode

ver em diversos exemplos ao longo do texto ldquochamaacute-lordquo (linha11) ldquoe dizer-lhesrdquo (linha 15)

ldquoeacute errado intrometer-serdquo (linha 19) fez um emprego inadequado quando usou de pronome

relativo (na qual) (linha 42) possivelmente tentando o registro culto da liacutengua

Nesse texto se percebe o uso do discurso indireto (ldquoE entatildeo os dois aproximaram-

se de mim e agradeceram pelo conselhordquo) (linhas 45-46) As marcas de conversa com o leitor

podem ser vista em ldquoneacuterdquo (linha 9) e ldquoE vocecirc se por acaso algueacutem chamaacute-lo de chato O que

vocecirc fariardquo (linhas 11-12 A autora assume um ponto de vista e narra para uma audiecircncia

correspondendo ao requisitado na instruccedilatildeo

Como a instruccedilatildeo de produccedilatildeo determina o perfil do leitor como sendo um

adolescente que acessa redes sociais a autora coloca como soluccedilatildeo ao conflito de constantes

brigas entre o casal de amigos adolescente o envio de uma mensagem por rede social falando

inclusive que os bloquearia caso continuassem chatos O texto assemelha-se a um conto

inclusive pela forma como a autora encerra seu texto ldquoFimrdquo (linha 59) Quanto a despertar no

leitor uma reflexatildeo podemos dizer que A4 estaacute no caminho e que um trabalho mais detido

sobre esse texto poderia melhorar a qualidade dessa reflexatildeo

Quadro 14 ndash Produccedilatildeo final Estela ndashTiacutetulo O tio chato de galocha

1 As feacuterias chegaram e como em todas as feacuteria-

2 s eu partia em uma ldquoincriacutevel aventurardquo (pra

3 natildeo dizer o contraacuterio) a casa dos meus

4 tios na qual eacute um verdadeiro desastre

5 Ter que acordar com o ldquocantar dos galosrdquo

6 como dizem os mais velhos em clima de

102

7 discussatildeo affseacute uma verdadeira cha-

8 tice eu odiava ter que estragar minhas

9 maravilhosas feacuterias convivendo com eles

10 Eles discutiam ateacute pelo simples fato de cair

11 farelos de comida no chatildeo eu odiavaaa

12 E vocecirc leitor aguentaria toda essa chatice

13

14 O que vocecirc faria em relaccedilatildeo a essa situaccedilatildeo

15

16 Jaacute haviam se passado mais da metade das

17 feacuterias eu estava orando agrave Deus para que

18 esses dias infernais ao lado dos meus ti-

19 os acabassem e tambeacutem que titio Luiacutes

20 parasse de reclamar por eu comer muito

21 e parar de ficar assistindo programas

22 ateacute tarde da noite eu achava um exagero

23 eacute oacutebvio pois eram ldquofeacuteriasrdquo e nas feacuterias

24 acostumamos ficar distantes de tarefas

25 escolares de tudo que nos lembrar a

26 escola (rsrsrs)

27

28 O meu tio tambeacutem dizia que eu precisa-

29 va de educaccedilatildeo que os meus pais natildeo

30 me educaram adequadamentee eu natildeo

31 podia resmungar porque se meus pais

32 soubessem que me comportei mau eu iria

33 ficar ferrado E entatildeo mais dias infernais

34 se passaram e graccedilas a Deus as feacuterias

35 terminaram e natildeo tive mas que ver

36 presenciar aquele meu chato e insupor-

37 taacutevel tio

38

39 Pra mim ser chato e ser legal eacute

40 Ser legal Ser chato

41 Saber ouvir Criticar os outros

42 Dar comida Reclamar de tudo

43 Ser sincera Daacute importacircncia demais ao que dizem

44 Ter bom coraccedilatildeo Ser falso

45 Ajudar as pessoas Ser preconceituoso

46 Aceitar diferenccedilas

47

48 E o que vocecircs leitores acham o que

49 eacute ser ou natildeo legal Fonte Dados da pesquisa

Concentrada em 6 (seis) paraacutegrafos a reescrita ganhou alguns pontos mais

interessantes para se aproximar da crocircnica literaacuteria Partiu de uma situaccedilatildeo vivenciada

103

conduziu o leitor a compreender seu ponto de vista sobre o que era ser chato No entanto o

texto se distanciou da proposta da instruccedilatildeo no sentido de falar tambeacutem o que eacute legal natildeo

somente chato e lembrar do botatildeo de bloqueio da vida real

O 5ordm paraacutegrafo se tornou uma enumeraccedilatildeo das caracteriacutesticas do ser legal e ser chato

e deixou de narrar ou descrever uma situaccedilatildeo ou personagem

Uma caracteriacutestica da linguagem coloquial encontrada foi o uso da expressatildeo ldquoTer

que acordar com o lsquocantar dos galosrsquo como dizem os mais velhosrdquo (linhas 5-6) atribuindo a

frase agrave sabedoria popular Outras marcas tiacutepicas de coloquialidade utilizadas inclusive em meio

digital nos bate-papos foram a escrita de expressotildees com notaccedilotildees como ldquoaffsrdquo (linha 7)

para demonstrar aborrecimento ldquoodiavaaardquo (linha 11) estendendo as vogais para mostrar a

insatisfaccedilatildeo prolongada o frequente uso de aspas para indicar ironia ldquoeu partia em uma lsquoincriacutevel

aventurarsquordquo seguido de uma explicaccedilatildeo entre parecircnteses

Nessa produccedilatildeo a aluna tambeacutem natildeo empregou adequadamente o pronome relativo

ldquona qual eacute um verdadeiro desastrerdquo como se vecirc na linha 4

Quadro 15 ndash Produccedilatildeo inicial Ceacutelia ndashTiacutetulo Chata sim ou natildeo

1 Um dia uma amiga minha me pergun-

2 tou ndash Eu sou chata Responde ndash Sim as vezes

3 Mas o problema foi que ela natildeo aceitou a

4 verdade e saiu furiosa comigo

5

6 Mas me responde leitor se algueacutem viesse

7 te pergunta se ela eram chata o que vocecirc

8 responderia O problema e que nem todos

9 gostam de escuta a verdade

10

11 Aconteceu que um dia um colega disse

12 que eu era chata no comeccedilo fiquei com

13 um pouco de raiva Mas passou por que

14 parei eacute pensei e verdade sou chata Mas

15 mesmo assim sedo chata sim ou natildeo

16 a reciacuteproca era verdadeira

17

18 Chata sim ou natildeo uma pergunta que

19 eu mesmo me fiz vou acabar por aqui

20 antes que eu comece a fica chata de

21 vez Fonte Dados da pesquisa

104

O texto foi composto em 4 (quatro) paraacutegrafos atendendo agrave instruccedilatildeo A voz que

narra estaacute em 1ordf pessoa e dialoga diretamente com um personagem (linhas 1 e 2) Haacute um contato

direto com o leitor atraveacutes de frases como ldquoMas me responde leitorrdquo (linha 6) e ldquoO que vocecirc

responderiardquo (linhas 7-8)

A autora parte de uma situaccedilatildeo vividaobservada ndash na verdade haacute mais de uma

situaccedilatildeo ndash como vemos em ldquoUm dia uma amiga minha me perguntourdquo (linhas 1-2) e ldquoAconteceu

que um dia um colega disse que eu era chatardquo (linhas 11-12) No entanto natildeo segue a proposta

da instruccedilatildeo que eacute falar sobre o que eacute ser legal e ser chato Natildeo haacute exemplificaccedilotildees para que o

leitor entenda o ponto de vista da autora apenas situaccedilotildees em que disseram que ela e chata ou

sua amiga eacute chata Natildeo haacute tambeacutem menccedilatildeo ao ldquobloqueiordquo da vida real aos que satildeo chatos

Haacute alguns problemas quanto agrave ortografia e tambeacutem confusatildeo quanto ao emprego

dos sinais de pontuaccedilatildeo adequados

Quadro 16 ndash Produccedilatildeo final Ceacutelia ndash Tiacutetulo Chata sim ou natildeo

1 Um dia uma amiga minha me per-

2 guntou ndash Eu sou muito chata Responde ndash Sim

3 as vezes Mas o problema foi que ela natildeo

4 gostou de sabe em saiu furiosa comigo e

5 natildeo deixo eu termina de falar

6

7 Mas outro dia ela veio para me pedi des-

8 culpas eacute eu disse ndash natildeo precisa eacute como eu dizia

9 vocecirc e chata mais as vezes quando vocecirc natildeo

10 falando demais ou falando coisas se graccedila Eacute

11 ela disse ndash Eacute mesmo eacute sorriu

12

13 Mas me responde leitor se algueacutem viesse te

14 pergunta se ela era chata o que vocecircs respon-

15 deria O problema eacute que nem todos gostam de es-

16 cuta a verdade

17

18 Aconteceu que um dia um colega disse

19 que eu era chata no comeccedilo fiquei com um

20 pouco de raiva Mas passou porque parei eacute

21 pensei e verdade sou chata Mais mesmo assim

22 sedo chata sim ou natildeo a reciacuteproca era

23 verdadeira

24

25 Chata sim ou natildeo uma pergunta que

26 eu mesmo me fiz bom vou parar por aqui

27 antes que eu comece a fica chata de vez Fonte Dados da pesquisa

105

O texto reescrito foi composto em 5 (cinco) paraacutegrafos o que estaacute dentro do

previsto pela instruccedilatildeo Alguns problemas quanto agrave ortografia e tambeacutem confusatildeo quanto ao

emprego dos sinais de pontuaccedilatildeo adequados permaneceram como em ldquoUm dia minha amiga

me perguntou ndash Eu sou muito chatardquo em que foi feito uso de exclamaccedilatildeo em vez de

interrogaccedilatildeo

Foi mantida a voz que narra (1ordf pessoa) e o diaacutelogo com um personagem ndash a amiga

(linhas 1 e 2) se faz em forma de discurso direto embora natildeo devidamente paragrafado poreacutem

fazendo uso de travessotildees o que eacute um avanccedilo

O segundo paraacutegrafo (linhas 7 a 11) foi inserido a partir da sugestatildeo que fizemos

para a aluna Era interessante que ela acrescentasse em seu texto algo que exemplificasse o que

ela considera como ser legal e ser chato Atendendo agrave sugestatildeo a aluna mostra discretamente

seu ponto de vista na frase ldquovocecirc e chata mais as vezes quando vocecirc natildeo falando demais ou

falando coisas se graccedilardquo (linhas 9-10)

O contato direto com o leitor permanece como na PI atraveacutes de frases como ldquoMas

me responde leitorrdquo (linha 13) ndash cuja pontuaccedilatildeo nessa reescrita foi melhorada pela sugestatildeo ndash

e ldquoO que vocecirc responderiardquo (linhas 14-15) Natildeo foi atendida a instruccedilatildeo no tocante ao botatildeo

de bloqueio na vida real

A autora emprega em seu texto a frase ldquobom vou parar por aquirdquo (linha 26)

caracteriacutestica de uma conversa informal Esse uso da oralidade como em conversas eacute marca do

gecircnero crocircnica

Quadro 17 ndash Produccedilatildeo inicial Arlindo ndash Tiacutetulo Chato e natildeo eacute chato

1 Eu natildeo gosto daquela pessoa que

2 jaacute chegada pensando que jaacute pode falar

3 todo que pensa pra mim as pessoas

4 que pega celular para falar besteira nas

5 redes sociais essas pessoas eu natildeo gosto

6

7 agora aquelas pessoas que satildeo bem

8 calmas nas redes sociais ai eu gosto

9 por que sabem conversar saber puxar

10 intimidade fazem a gente rir e noacutes nos

11 trazem conforto e nos fazem saber que

12 a pessoa com quem a gente conversar

13 natildeo eacute uma maacute pessoa Eacute muito

14 bem amigo nos faz feliz

15

106

16 agora as pessoas que eu bloqueio

17 satildeo aquelas pessoas que natildeo sabem

18 conversar falatildeo de qualquer jeito

19 puxa assunto que eu natildeo gosto

20 por isso eu bloqueio essas pessoas

21 redes sociais eacute pra procurar

22 amigo e ais vezes eacute pra respeitar Fonte Dados da pesquisa

Ao ler o texto de Arlindo vemos que ele trata do assunto pedido na instruccedilatildeo e tem

em mente a audiecircncia pretendida que acessa redes sociais No entanto natildeo alcanccedila o leitor

envolvendo-o na conversa narrando-lhe as situaccedilotildees apenas elenca as situaccedilotildees que lhe satildeo de

agrado e desagrado mostrando o que para ele eacute ser chato e ser legal

Os trecircs paraacutegrafos que compotildeem o texto se organizam de modo a mostrar o que o

autor natildeo gosta o que gosta e o porquecirc de bloquear pessoas ndash mas na rede social natildeo fazendo

o comparativo com a vida real

Quadro 18 ndash Produccedilatildeo final Arlindo ndash Tiacutetulo Chato e natildeo eacute chato

1 Chato eacute uma pessoa botar besteira

2 no Facebook Por que isso eacute muito chato e

3 horriacutevel todo mundo ver vai laacute e comentar

4 mal do video ser legal eacute aquela pessoa que

5 vai laacute na casa da pessoa te daacute presente

6 sem vocecirc pedir nada sem vocecirc falar nada

7 no final soacute agradecer e ser feliz com o presente e

8 depois no outro dia soacute retribuir

9

10 Meu caro amigo legal e chato eacute

11 ser como uma pedra ajuda a parar o

12 tracircnsito e depois eacute chato porque as

13 pessoas tropeccedilam nelas e meus irmatildeos

14 legal e chato satildeo quase a mesma coisa

15 soacute que satildeo meios diferentes eu vou te

16 explicar

17 Ser chato eacute coisa possiacutevel e ser legal eacute

18 coisa quase impossiacutevel Fonte Dados da pesquisa

O aluno Arlindo manteve seu tiacutetulo e percebemos que a explicaccedilatildeo para o mesmo

seria transmitir a ideia de ldquochato e natildeo chatordquo ndash ou legal O verbo ser que aparece no tiacutetulo

como eacute deveria ter sido empregado de outra maneira como quando sugerimos ldquoEacute chato e natildeo

107

eacute chatordquo ou ldquoO que eacute chato e o que natildeo eacute chatordquo ou ldquoChato e legalrdquo No rascunho que Arlindo

fez ele empregou como tiacutetulo provisoacuterio ldquoO que eacute chato e o que eacute legalrdquo Poreacutem na hora de

passar a limpo e entregar permaneceu o tiacutetulo original

O autor Arlindo manteve seu foco nas redes sociais como indica a instruccedilatildeo e

amplia um pouco as ideias a partir das discussotildees que aconteceram na aula durante a

tempestade de ideias a fim de redespertar o olhar dos alunos para partirem de situaccedilotildees

vividasobservadas Nas linhas de 10 a 13 ele faz uma comparaccedilatildeo com a pedra fruto da

discussatildeo preacutevia Dependendo do ponto de vista a pedra pode ajudar bem como pode

atrapalhar Poreacutem nas linhas 15 e 16 Arlindo fica de explicar o porquecirc de ser chato e ser legal

serem quase a mesma coisa e termina o texto abruptamente sem desenvolver suas ideias

Houve uma evoluccedilatildeo no tocante agrave conversa com o leitor Embora Arlindo natildeo tenha

claro se sua audiecircncia eacute uma pessoa soacute (linha 10 Meu caro amigo) ou um grupo de pessoas

(linha 13 e meus irmatildeos linhas 15 e 16 eu vou te explicar) ele jaacute a chama a prestar atenccedilatildeo

no que estaacute se propondo a dizer em seu texto

Quadro 19 ndash Produccedilatildeo inicial Juacutelia ndash Tiacutetulo Ser chato ou ser legal

1 Ai meu Deus tou de saco cheio de tantos amigos

2 chatos eles ficam com chatice toda hora

3 se na vida tivesse um botatildeo para bloquear

4 as pessoas chatas seria otimo pelomenos

5

6 Eu ficaria com menos pessoas chatas ao

7 meu redor Ai soacute ficaria as pessoas

8 legais

9

10 Eu chamo meus amigos de chatos mais

11 eu gosto deles assim mesmo Eu chamo

12 meus amigos de chatos e eles me chamam

13 de chata tambeacutem e se existisse o botatildeo

14 de bloquear Eu ia ser bloqueada tambeacutem

15 Mesmo se existisse o botatildeo muitas pessoas

16 iam mudar de comportamento eles iriam

17 querer ser legais para natildeo serem bloque-

18 ados Eu mesma ia mudar de atitudes

19 com meus amigos Eu natildeo ia mais

20 ser chata como vaacuterias pessoas me

21 chama Fonte Dados da pesquisa

108

Na linha 1 vemos que a aluna utilizou a expressatildeo Ai meu Deus retirada do texto

trabalhado e que daacute suporte agrave instruccedilatildeo A aluna faz uso da linguagem coloquial na mesma linha

(tou de saco cheio) caracteriacutestica permitida na abordagem de nossas crocircnicas literaacuterias

Eacute interessante perceber que Juacutelia apoacutes se avaliar como chata faz uma reflexatildeo

(linhas 13-14 ldquoe se existisse o botatildeo de bloquear Eu ia ser bloqueada tambeacutemrdquo) E trata da

questatildeo falando de possiacuteveis alteraccedilotildees no comportamento das pessoas incluindo o seu proacuteprio

No entanto apesar de ela levantar essa reflexatildeo natildeo a direciona diretamente ao leitor poreacutem

tem em mente mesmo que superficialmente que sua audiecircncia estaacute nos paracircmetros indicados

pela instruccedilatildeo visto que menciona o botatildeo de bloquear caracteriacutestico de ambientes virtuais

sendo conhecido portanto de pessoas que tecircm acesso ao mundo digital

Quadro 20 ndash Produccedilatildeo final Juacutelia ndash Tiacutetulo Pessoas chatas e pessoas legais

1 Como existem pessoas chatas que ficam

2 dando bola para o que as pessoas falam

3 fica reclamando da vida e tambeacutem quer tudo

4 do seu jeito Natildeo daacute certo ser amiga desse

5 tipo de pessoa

6

7 Prefiro aqueles amigos que sabe lidar

8 comigo que datildeo carinho e que natildeo fique

9 reclamando de tudo e que natildeo sabe relevar

10 os problemas como se nada tivesse acontecendo

11

12 Eu gosto daquelas pessoas que chamam os

13 amigos para um passeio isso sim eacute ser

14 legal tem alguns tipos de amigos que fazem

15 de tudo pra ver seus amigos felizes

16

17 existem alguns amigos que falam

18 com vocecirc uma hora e depois taacute falando

19 mal de vocecirc esse tipo de pessoa faz isso

20 porque eacute falso e tem inveja soacute porque

21 vocecirc eacute feliz com seus amigos e ele (a)

22 natildeo

23

24 e vocecirc leitor Vocecirc eacute chato ou legal

25 Eu tenho poucos amigos mas os que

26 tenho satildeo os melhores

27

28 as pessoas gostam de vocecirc como

29 vocecirc eacute ou natildeo

30

31 Existem ateacute aquele tipo de pessoa

109

32 que humilha as pessoas nas redes

33 sociais pessoas que fazem bullying

34 com outras pessoas esse tipo de pessoa

35 satildeo muito chatas Fonte Dados da pesquisa

A aluna produziu sua nova versatildeo de texto sobre as discussotildees em sala de aula que

antecederam esse momento da reescrita Os alunos determinaram exemplos do que seria ser

legal e ser chato e ela os aproveitou na enumeraccedilatildeo em seu texto No entanto de alguma forma

Juacutelia imprimiu sua reflexatildeo pessoal sobre o que eacute legal e o que eacute chato Nas linhas 1-5 ela afirma

o quatildeo difiacutecil eacute ser amiga de pessoas que atribuem muita importacircncia ao que outras pessoas

dizem que ficam reclamando da vida e tambeacutem querem tudo do seu jeito Nas linhas 7-10 e

12-15 ela explicita suas preferecircncias por pessoas que considera legais e exemplifica Nas linhas

17-22 Juacutelia diz que tipo de pessoas satildeo chatas novamente

Poreacutem o que parece ter acontecido eacute que Juacutelia natildeo teria ainda compreendido que

era para partir de uma experiecircncia vivida ou observada aprofundando-se um pouco mais na

narrativa

Ao todo o texto comporta agora 7 paraacutegrafos que poderiam ter sido mais bem

organizados Nas linhas 24-29 A7 aborda sua audiecircncia diretamente tratando-a por vocecirc

lanccedilando-lhe perguntas Esse seria o momento em que o texto acabaria poreacutem convidada a

reler mais uma vez a autora percebeu que natildeo abordou a proposta da instruccedilatildeo que era bloquear

os chatos da vida real nem havia tambeacutem abordado questotildees tocantes agraves redes sociais

finalizando portanto com um paraacutegrafo que fizesse o resgate ainda a tempo mesmo que

perdendo um pouco do ritmo do texto

Quadro 21 ndash Produccedilatildeo inicial Vicente ndash Tiacutetulo A pergunta eacute se eu bloquearia uma pessoa chata

1 Bom gente vocecirc bloquearia uma pessoa

2 chata que bertuba-se voccedilecirc nas redes

3 sociais

4

5 A pergunta eacute se eu bloquearia uma pess-

6 oa chata ovio que sim por que Por que

7 se eu natildeo bloqueaccedile essa pessoa ia ficar

8 mim perturbandando ai eu ia ficar com

9 muita raiva ai eu ia falar aquelas coisas

10 maeducada como xingar fala coisas que natildeo

11 pode falar porisso eu bloquei essa pessoa

12 ai ateacute que foi bom bloquear essa pessoa

110

13 por que ela natildeo ia ficar mim perturbando natildeo

14 ia ficar falando como tomar certas liberdades

15 mas chegou uma hora que natildeo deu bloquei o

16 sujeito Estava chato demais Xxxx

17

18 Uma pessoa chata eu sou uma pessoa

19 chata por que quando eu estou no whats

20 natildeo tem nenhuma pessoa olaine eu fico man-

21 dando mensagens pra essas pessoa ai essa pes-

22 soas natildeo gosta e fala que eu sou chato triste

23 neacute kkkk Fonte Dados da pesquisa

Parece-nos que Vicente tem por meacutetodo iniciar a escrita de seu texto respondendo

diretamente agrave pergunta que foi feita na instruccedilatildeo e fazendo disso seu tiacutetulo inclusive Serafini

(2003 p 71) chama a esse tipo de paraacutegrafo de introduccedilatildeo-enquadramento (cf na seccedilatildeo sobre

escrita) O texto inteiro possui 3 (trecircs) paraacutegrafos

Nas linhas 14 a 16 vemos que houve coacutepia de excertos do texto motivador O chato

da vez (ldquotomar certas liberdadesrdquo ldquomas chegou uma hora que natildeo deurdquo ldquobloquei o sujeito

Estava chato demaisrdquo)

No iniacutecio do texto logo nas linhas 1-2 Vicente tem em mente uma audiecircncia como

vemos em ldquoBom gente vocecirc bloquearia uma pessoa chata que bertuba-se voccedilecirc nas redes

sociaisrdquo Poreacutem o aluno natildeo define se vai falar a um grupo (gente) ou a uma pessoa soacute (vocecirc)

Para atender agrave instruccedilatildeo Vicente trata de situaccedilotildees vividas em ambiente online quando se

refere ao aplicativo de interaccedilatildeo (linha 19 ldquoquando eu estou no whatsrdquo) fala do envio de

mensagens e traz um elemento multimodal ao final de seu texto (linha 23 ldquokkkkrdquo) que

caracteriza a gargalhada frequentemente usada em conversas online

Quadro 22 ndash Produccedilatildeo final Vicente ndash Tiacutetulo

1 Bom uma pessoa legal eacute ter paciensia

2 criativa uma pessoa legal animada inteligente

3 adoraveu feliz simpatica bom humor natildeo ser

4 groseiro com as pessoas simpatica conversar com

5 as pessoas legal

6

7 Ser chato Eacute uma pessoa que faz varias

8 perguntas como quando onde que horas etc

9 ser chato e pegar no peacute de varias pessoas e ser

10 ensorportavel pessoas chatas deveriam refletir

11 sobre a paciecircncias das outras pessoas uma

111

12 pessoa que tem pouca paciecircncia e bem

13 difiacutecil conviver com uma pessoa chata

14

15 Um chato ser legal e muito estranho

16 para queacutem conhece uma pessoa chata e bem

17 dificil ele ser legal soacute se acontecer aguma

18 coisa para ele ser legal um dia uma meni-

19 na ficou fazendo vaacuterias perguntas sobre a minha

20 vida natildeo gostava das perguntas que ela fazia

21 e falei coisa que natildeo devia no outro dia eu notei

22 o comportamento dela estava estranho tipo compor-

23 tada legal uma pessoal de bom humor natildeo parecia

24 com ela estava estranha e foi indo assim

25 e ela veio falar com migo e nunca mais per aquelas

26 perguntas hoje ela eacute legal gostei dela ter

27 mudado natildeo soacute eu mas muitas pessoas Fonte Dados da pesquisa

Vicente iniciou seu texto reescrito apoacutes as discussotildees em sala retirando a pergunta

direta que fazia para inspirar-se para comeccedilar e passando a uma conclusatildeo direta (linha 1

ldquoBomrdquo) sobre as caracteriacutesticas de uma pessoa legal seguindo a isso um paraacutegrafo do que eacute ser

chato Apesar de o texto ter perdido em atratividade em seu iniacutecio Vicente atendeu agrave sugestatildeo

que fizemos quando pedimos que ele mencionasse uma situaccedilatildeo que tivesse

vivenciadoobservado

No entanto perdeu de vista a instruccedilatildeo uma audiecircncia que acesse as redes sociais

a questatildeo do bloquear na vida real o contato direcionado ao leitor

Quadro 23 ndash Produccedilatildeo inicial Graccedila ndash Tiacutetulo Rafaelly chata

1 Eu quero bloqueia essa

2 pessoa porque primeiramente

3 ela natildeo tem nem celula

4 entatildeo neste caso natildeo da pra bloqueia

5 ela As vezes essa pessoa ela e

6 um pouco chata fresca e sem

7 graccedila com todo respeito Algumas

8 vezes ela fala um pouco de

9 besteira e isso torna ela uma

10 pessoa chata Eu conheci essa

11 pessoa na escola so que agora

12 ela natildeo tem a mesma idade

13 que eu tenho a uacutenica rede social

14 que ela tem e o Facebook

15

112

16 Mais mi responde leitor o que

17 vocecirc acha sobre as pessoas

18 chatas

19

20 Pensando bem ela e uma

21 pessoa muito legal toda doidi-

22 nha amigaacutevel e amorosa etc

23 O que eu gosto mais nela

24 e que ela e sincera e indireta

25 e eacute bom de dar conselhos por

26 isso que eu amo a chatice

27 dela e ela se chama Rafaelly Fonte Dados da pesquisa

Neste texto a autora faz uma reflexatildeo sobre a amiga partindo de uma ideia inicial

que eacute a chatice da Rafaelly para a consideraccedilatildeo dos pontos positivos que a mesma Rafaelly tem

(ldquoPensando bemrdquo)

Houve uma maacute interpretaccedilatildeo da instruccedilatildeo quanto ao entendimento do que seria

bloquear uma pessoa na vida real como comprovamos nas linhas 2-5 ldquoprimeiramente ela natildeo

tem nem ceacutelula entatildeo neste caso natildeo da pra bloqueia elardquo

Nas linhas 16-18 A9 tem em mente uma audiecircncia como vemos em ldquoMais mi

responde leitor o que vocecirc acha sobre as pessoas chatasrdquo

Quadro 24 ndash Produccedilatildeo final Graccedila ndash Tiacutetulo Chata ela ou EU

1 Mi responde leitor o que

2 vocecirc acha sobre as pessoas cha-

3 tas

4

5 E vocecirc leitor Vocecirc e chato

6

7 Certo dia uma amiga veio

8 falar um monte de bobagens coisa-

9 s que natildeo tinha nada haver

10 ou seja coisas sem graccedilas Eacute eu

11 disse vocecirc e muito chata sabia

12 Ela falou ndash vocecirc tambeacutem fiquei

13 brava

14

15 Logo seguinte eu queria

16 bloquea ela porque tinha mi

17 chamado de chata mas tinha

18 um problema era que primeira-

19 mente ela natildeo tinha nem

113

20 celular entatildeo neste caso natildeo da-

21 va para bloquea o unico lugar

22 que dava pra bloquea ela era

23 no Facebook

24

25 Mais pensando bem ela

26 e uma pessoa muito legal to-

27 da doida amigavel e amorosa etc

28 O que eu acho legal nela e a sinceridade dela ajuda as

29 pessoa sabe releva os problemas

30

31 Natildeo vou nega que tambeacutem

32 sou uma pessoa chata Fonte Dados da pesquisa

Nas linhas 1-3 e linha 5 Graccedila teve em vista uma audiecircncia como vemos em ldquoMi

responde leitor o que vocecirc acha sobre as pessoas chatasrdquo e ldquoE vocecirc leitor Vocecirc e chatordquo Em

sua reescrita a aluna se comunica com o leitor de forma expliacutecita inspirada no modelo do texto

O chato da vez

Percebemos que ela atendeu a sugestatildeo de partir de uma situaccedilatildeo vividaobservada

para compor sua crocircnica (linha 7 ldquoCerto dia uma amiga []rdquo) desenvolvendo seu texto no

sentido de apresentar a seu leitor sua ideia do que eacute ser chato e ser legal a partir do que expotildee

e conduz seu fio tocando na instruccedilatildeo que sugere a inspiraccedilatildeo de bloquear uma pessoa na vida

real Poreacutem percebemos que ela natildeo extrapolou os limites do ambiente virtual criando uma

situaccedilatildeo de botatildeo de bloqueio da vida real para evitar as pessoas que ela considera chatas mas

condicionando o bloqueio meramente agraves redes sociais

Quadro 25 ndash Produccedilatildeo inicial Lilian ndash Tiacutetulo Meus amigos chatos e Eu

1 Eu tenho um amigo muito chato ele

2 fica o tempo todo pegando no

3 meu peacute as vezes eu comeccedilo

4 a chamar ele de chato ai ele

5 fica uns dias estranho comigo

6 mas depois agente comeccedila

7 se falar de novo

8

9 Eu queria pra existir um

10 botatildeo pra bloquear meus amigos

11 chatos porque eles pegam muito

12 no meu peacute eu chama eles

13 de chatos mas eu tambeacutem sou

14 chata e muito chata se existisse

114

15 o botatildeo pra bloquear as pessoas

16 chatas eu tambeacutem ia ser bloqueada

17 porque eu sou muito chata eu

18 natildeo queria ser chata eu queria

19 ser legal eu sou chata porque

20 quando eu comeccedilo falar eu natildeo

21 quero parar ai minhas amigas

22 ficam dizendo que eu sou muito

23 chata mais mesmo assim sou

24 feliz Fonte Dados da pesquisa

Lilian parte de uma situaccedilatildeo vivenciada (linhas 1-7) em que fala de um amigo

muito chato e usa a expressatildeo ldquopegar no peacuterdquo como em O chato da vez Nas linhas 17 a 24

Lilian tambeacutem diz porque ela seria uma pessoa chata ndash comeccedila a falar e natildeo quer parar Por

isso ela desejaria o botatildeo de bloquear na vida real como dito na questatildeo 7 que traz a instruccedilatildeo

de produccedilatildeo No entanto as situaccedilotildees natildeo estatildeo bem desenvolvidas e natildeo prendem o leitor que

aliaacutes natildeo eacute inserido no texto na ldquoconversa com o leitorrdquo Natildeo observamos uma percepccedilatildeo clara

da ideia de redes sociais

Quadro 26 ndash Produccedilatildeo final Lilian ndash Tiacutetulo Pessoas legais e chatas

1 Existem pessoas chatas e

2 outras legais conheccedilo alguns amigos que

3 satildeo um pouco chatos porque eles

4 ficam reclamando da vida eles ficam

5 dando importacircncia para os que os

6 outros falam desse jeito natildeo daacute

7

8 Mais eu tenho alguns amigos

9 que vivem fazendo piadas para seus

10 amigos Gosto do jeito que eles tratam

11 seus amigos eles levam eles pra

12 um passeio levam para o cinema

13 datildeo carinho sabem relevar os problemas

14 mas eu conheccedilo uns que falam comigo

15 mas depois tatildeo falando mal de mim

16 pela minha costa

17

18 Eu me acho uma pessoa

19 muito chata porque eu gosto

20 de tudo do meu jeito reclamo de

21 tudo dou importacircncia pra tudo

22 que as pessoas falam mais

115

23 as vezes eu soacute um pouco legal

24 com minhas amigas E vocecirc leitor

25 eacute chato ou legal as pessoas gostam

26 de vocecirc Fonte Dados da pesquisa

Apoacutes a tempestade de ideias da aula destinada agrave reescrita Lilian produziu 3 (trecircs)

paraacutegrafos e dedicou um a mostrar o que eacute ser chato e o seguinte ao que eacute ser legal em sua

opiniatildeo Na reescrita a aluna jaacute considera a audiecircncia conversando com o leitor (linhas 24-26)

poreacutem se distancia do que consta na instruccedilatildeo que eacute o bloqueio na vida real imitando as redes

sociais Ainda percebemos repeticcedilotildees de palavras que poderiam se tivesse havido uma nova

leitura ter sido evitadas

Podemos dizer que Lilian nos permite refletir sobre o comportamento humano

quando diz ldquomas eu conheccedilo uns que falam comigo mas depois tatildeo falando mal de mim pela

minha costardquo (linhas 14-16) poreacutem ela natildeo desenvolve a ideia apropriadamente no paraacutegrafo

seguinte como ela mesma havia dito em sala que falam mal dela porque ela tem o gecircnio difiacutecil

como ela descreveria em ldquoeu gosto de tudo do meu jeitordquo (linhas 19-20) De algum modo

podemos dizer que esse desdobramento de paraacutegrafos jaacute eacute uma evoluccedilatildeo na escrita de Lilian

Quadro 27 ndash Produccedilatildeo inicial Heloiacutesa ndash Tiacutetulo ldquoChato mais eacute muito legalrdquo

1 Tenho um amigo que ele eacute legal

2 mas tambeacutem eacute chato ao mesmo

3 tempo mais gosto da companhia

4 dele Mais quando chega a chatice

5 natildeo da pra aguentar ele comeccedila

6 a fala fala e fala eacute senpre o

7 mesmo assunto algo que natildeo

8 gosto ldquojogordquo

9

10 Taacute toda hora mandando mensage-

11 m daacute raiva mas neacute

12 Somos muito amigo nas

13 redes sociais posta fotos toda

14 hora Mas eacute muito legal sempre

15 faz brincadeiras pelo zapp

16

17 Eu poderia bloquialo mais

18 eacute muito legal telo como amigo

19

20 Gosta de pegar no meu peacute

21 quando o assunto eacute estudo mim

116

22 da sempre vaacuterios concelhos

23

24 Por mais que seja meu amigo vocecirc

25 eacute muito chatooo Fonte Dados da pesquisa

O texto foi escrito em 5 (cinco) paraacutegrafos Natildeo traz marcas explicitas de conversa

com o leitor e haacute um tangenciamento do que pede a instruccedilatildeo visto que a autora falou de

bloqueio No entanto natildeo houve real compreensatildeo do botatildeo de bloqueio da vida real visto que

ela se refere a um bloqueio nas redes sociais Percebemos o uso do coraccedilatildeo ao fim do penuacuteltimo

paraacutegrafo (linha 22) como sendo um recurso multimodal utilizado em meio virtual para

demonstrar agrado agrave ideia (curti)

Houve neste texto uma mudanccedila de interlocutor Inicialmente voltado para uma

audiecircncia mesmo que natildeo se dirigisse diretamente ao leitor o texto passou a ser direcionado

para o amigo chato de Heloiacutesa

Haacute a frequente repeticcedilatildeo do termo mas poreacutem sem uma forma consolidada de uso

visto que Heloiacutesa emprega mas e mais alternadamente

Quadro 28 ndash Produccedilatildeo final Heloiacutesa ndash Tiacutetulo ldquoO melhor chatordquo

1 Vol falar um pouco do meu

2 amigo

3

4 Ele se chama Daniel ele eacute uma

5 boa pessoa estaacute sempre mi

6 ajudando eacute um bom amigo e mim

7 da sempre forccedila pra tudo gosto

8 muito da conpanhia dele

9

10 E vocecirc leitor Vocecirc eacute chato

11

12 Somos chatos tenho 15 anos e sei

13 que chatise eacute estado de espirito

14

15 Ele eacute chato em vez enquando

16 ele eacute muito quando ele me

17 ajuda em algo ele mim trata

18 surper bem ele mim dar muito

19 carinho ele mim oferece cumida

20 quando estou na casa dele

21 natildeo gosta de criticar as pessoas

22

117

23 Ele eacute chato quando reclama

24 de tudo quer tudo do seu jeito

25 que ele conbina da ouvidos a

26 tudo o que falam ele fala demais Fonte Dados da pesquisa

Essa aluna se valeu do que discutimos em sala no dia em que propusemos a reescrita

sobre o que poderiam ser atitudes de uma pessoa legal A turma presente enumerou accedilotildees como

dar carinho oferecer comida ouvir as pessoas atenciosamente tratar bem natildeo criticar as

pessoas como sendo de pessoas legais ao passo que reclamar de tudo soacute querer as coisa do seu

jeito dar ouvidos a fofocas e falar demais como sendo atitudes de pessoas chatas Mencionar

um amigo e descrever atitudes dele eacute um princiacutepio do que conversamos sobre fornecer a

descriccedilatildeo de alguma pessoa e narrar uma situaccedilatildeo No entanto a aluna natildeo aprofundou a

descriccedilatildeo das caracteriacutesticas do amigo ndash apenas nomeou ndash e nem narrou a situaccedilatildeo sugerida

A reescrita foi feita em 6 (seis) paraacutegrafos dentro do que sugere a instruccedilatildeo O seu

primeiro traz uma introduccedilatildeo que chama a atenccedilatildeo preparando o leitor para o que vem a seguir

no texto Consideramos um avanccedilo no sentido de que Heloiacutesa jaacute parece ter feito um plano

melhor de escrita o que pode se consolidar em propostas futuras O segundo paraacutegrafo foi clara

paraacutefrase do texto motivador ldquoO chato da vezrdquo (linhas ldquosei que chatise eacute estado de espiritordquo)

Percebemos diminuiccedilatildeo nas repeticcedilotildees desnecessaacuterias

Na PF a aluna manteve o foco narrando o que lhe acontece descrevendo seu

amigo sem deixar o leitor para conversar com este amigo

Quadro 29 ndash Produccedilatildeo inicial Eliane ndash Tiacutetulo Um pouco de tudo

1 Ai gente nesse mundo agrave

2 muitas pessoas chatas

3 pois eu conheci pessoas

4 chatas e legais

5

6 Na adolecircncia conhecemos

7 pessoas numa pat-papo com

8 os amigos conheci uma

9 amiga pois conversamos e

10 ali natildeo parou mais de

11 falar

12

13 Num sentido e que ela

14 era muito cheia de

15 nheacutem-nheacutem de papo nada

16 ver O egrave o meu pensamento

118

17 que mim engana Mais eu

18 natildeo acho ela chata

19

20 De um tempo pra caacute nos

21 damos muito bem parti-

22 cularmente nos casos eu e ela

23 descordamos de tudo que

24 falamos mas eu acho que

25 duas chatas se dam muito

26 bem Na vida real parece um

27 mundo digital nos natildeo

28 paramos para pensamos nos

29 casos da vida social pessoas

30 postam coisas invalida na

31 rede sociais Fonte Dados da pesquisa

Para a produccedilatildeo inicial Eliane buscou elementos dos textos que lemos em sala De

Prova Falsa percebemos o uso da expressatildeo ldquoera muito cheia de nheacutem-nheacutemrdquo (linhas 14-15)

quando quis falar da amiga com comportamentos chatos De O chato da vez a partiacutecula ldquoAirdquo

como em ldquoAi genterdquo (linha 1) logo no iniacutecio mostra que o texto tem ares coloquiais com

linguagem despojada

Atraveacutes da coloquialidade Eliane se dirige ao leitor poreacutem ficou confuso o

desenvolvimento do tema na conversa proposta na instruccedilatildeo que seria o bloqueio das pessoas

na vida real No tocante ao assunto abordado na instruccedilatildeo Eliane fala de ser chato e ser legal

e menciona as redes sociais poreacutem seu texto entre as linhas 26 e 31 (ldquoNa vida real parece um

mundo digital nos natildeo paramos para pensamos nos casos da vida social pessoas postam coisas

invalida na rede sociaisrdquo) natildeo teve desenvolvimento quebrando assim a coerecircncia

Quadro 30 ndash Produccedilatildeo final Eliane ndash Tiacutetulo O que e chato e o que e legal

1 Ai gente eu sou muito chata

2 Afirmou uma amiga em um bate-papo

3 com os colegas Eu natildeo te acho chata

4 vc e uma pessoa carinhosa aceitar

5 as diferenccedilas dos outros

6

7 Pois eacute muitas pessoas tem suas referen-

8 ccedilas mas isso natildeo quer dizer que

9 todos que estatildeo aqui satildeo chatos

10 Adriana ela e companheira Delci e

11 carinhosa

119

12

13 Mais alguns tem outro estorico de

14 pensamento por exemplo O Luis reclamar

15 demais Rosi e falza Eu particularmente

16 faccedilo de tudo pra natildeo ser chata

17 tento conversar da maneira possiacutevel

18 ajudar as pessoas em tudo quer

19 posso

20

21 Por isso tem um sentido de tudo

22 seja o que vc eacute natildeo o que as

23 pessoas queram o que vc sejam

24 mas que seja uma pessoa dignar Fonte Dados da pesquisa

A PF de Eliane possui tiacutetulo agora mais direcionado agrave instruccedilatildeo visto que a aluna

considerou falar a respeito do que para ela eacute ser chato e o que eacute ser legal O primeiro paraacutegrafo

do texto (linhas 1-5) eacute uma paraacutefrase do paraacutegrafo inicial do texto motivador poreacutem conteacutem o

teor da tempestade de ideias realizada antes da produccedilatildeo

O paraacutegrafo seguinte eacute interessante porque traz em si a ideia de ponto de vista e

toleracircncia afinal todos tecircm defeitos (ldquomas isso natildeo quer dizer que todos que estatildeo aqui satildeo

chatosrdquo linhas 8-9) mas qualidades tambeacutem (ldquoAdriana ela e companheira Delci e carinhosardquo

linhas 10-11) Houve uma evoluccedilatildeo na organizaccedilatildeo dos paraacutegrafos

Houve emprego adequado dos sinais de pontuaccedilatildeo dois-pontos e a viacutergula como

em ldquopor exemplo O Luis reclamar demais Rosi e falzardquo (linhas 14-15)

Eliane em sua reescrita atendeu agrave sugestatildeo de utilizar exemplos podendo colocar

personagens no seu texto No entanto percebemos que ela ainda natildeo compreendeu que para

tanto seria necessaacuterio mais que apenas nominar pessoas e adjetivaacute-las mas realmente fazer um

exerciacutecio de descriccedilatildeo mais detalhado fazendo seu leitor compreender por que ldquoO Luis

reclamar demaisrdquo (linhas 14-15) e a ldquoRosi e falzardquo (linha 15) por exemplo

Quanto agrave audiecircncia Eliane entende que conversa com um leitor como vemos por

exemplo em ldquoseja o que vc eacute natildeo o que as pessoas queram o que vc sejamrdquo (linhas 22-23)

poreacutem natildeo manteacutem o foco visto que mistura a audiecircncia com o personagem ldquoEu natildeo te acho

chata vc e uma pessoa carinhosardquo (linhas 3-4)

O texto natildeo atende agrave proposta de considerar o botatildeo de bloqueio na vida real como

consta da instruccedilatildeo

120

Quadro 31 ndash Produccedilatildeo inicial Joana ndash Tiacutetulo Pessoas chatas e outras legal

1 Pessoas chatas tem muitas pessoas que diz

2 que a outra e chata tem pessoas chata satildeo

3 aquelas que fazem muitas perguntas que saber

4 da vida do outro essas pessoas se torna muito chata

5

6 Muitas pessoas no Facebook que eu natildeo gosto de aceita

7 porque jaacute cei que ela e muito chato jaacute bloquei

8 muitas pessoas nesse caso de se chato deacute mas

9 porque fica mandando mensagem sem noccedilatildeo que

10 rendo saber da sua vida isso que eacute chato

11 pra mim pessoas que tu natildeo suporta se fose

12 eu bloquairia case todo mundo

13

14 Pra mim pessoas legal e aquelas que teu

15 jaacute persebe pelo jeito dessa pessoa eu tenho

16 uma amizade muito legal pra mim eu sou

17 uma menina que faso amizade muito raacutepdo

18 mas as mizades que eu fasso eu percebo logo

19 se essa amizade vai ser boa ou natildeo tenho mui

20 tas pessoas no face que eu acho legal que satildeo

21 boa de se se conversa natildeo faiz ldquomuitas perguntasrdquo

22 e muito bom ter uma amizade legal

23 pessoas legais satildeo oacutetimas de conversa natildeo tir inte

24 ronper quando tu taacute falando essa que satildeo pra

25 mim pessoas legais eu acho que tenho

26 muitas pessoas legal Fonte Dados da pesquisa

Podemos dizer que Joana criou seu texto em trecircs paraacutegrafos apesar de natildeo haver

um ponto para demonstrar se era realmente o final ou se ela desejava continuar escrevendo

Aliaacutes seus paraacutegrafos natildeo trazem pontuaccedilatildeo mostrando que o fluxo das ideias foi contiacutenuo

natildeo havendo o procedimento de elaboraccedilatildeo do rascunho para a seguir passar a limpo

concatenando melhor as ideias

Seu tiacutetulo natildeo foi atrativo poreacutem foi relativo ao assunto da instruccedilatildeo Em se

tratando do desenvolvimento do tema a aluna tem em mente o que eacute ser chato e o que eacute ser

legal poreacutem natildeo extrapola na compreensatildeo visto que desenvolve um paraacutegrafo descrevendo

seu procedimento na rede social natildeo fazendo a analogia com a vida real e o botatildeo de bloqueio

Natildeo houve a consideraccedilatildeo da audiecircncia nem a conversa com o leitor pedida na

instruccedilatildeo

121

Quadro 32 ndash Produccedilatildeo final Joana ndash Tiacutetulo Pessoas otimas

1 Ser legal e vocecirc tendo humildade com

2 uma pessoa ajuda ela em tudo que vocecirc

3 porde ter um pouco de paciecircncia com essa

4 pessoa vocecirc tecircm que ter amor por ela eacute com-

5 sidera ela como sua amiga ou irmatildeo tecircm

6 varias coisas pra vocecirc ser torna uma otima

7 pessoa Pra mim ser legal com migo eacute min

8 trata bem o que eu perdi tem que min da

9 e se min dar todo dia uma caixa de bombo

10 Garoto esse se torna oacutetimo pra mim

11

12 pessoas chatas e aquela que critica muito

13 as pessoas natildeo sabendo da vida dela sair

14 falando dela pra todo mundo chato e

15 aquela que quer saber de mais da sua

16 vida se torna iguinorante ETC temos que

17 ter mas um pouco de humo com essas

18 eu natildeo suporto pessoas chata se puder

19 nem fala com migo seria melhor ainda Fonte Dados da pesquisa

Apoacutes a tempestade de ideias da aula destinada agrave reescrita Joana reescreveu seu

texto em dois paraacutegrafos dedicando um a mostrar o que eacute ser chato e o seguinte ao que eacute ser

legal em sua opiniatildeo No entanto natildeo parece ter compreendido que natildeo bastava elencar

situaccedilotildees do que eacute ser chato e ser legal mas contar narrar situaccedilotildees vivenciadas ou observadas

a fim de entreter seu leitor

Na reescrita a aluna natildeo considera a audiecircncia visto que seu texto parece mais

trazer em si opiniotildees sem incitar reflexotildees Joana se distancia do que consta na instruccedilatildeo que

eacute o bloqueio na vida real imitando as redes sociais apenas afirma nas linhas 18-19 que ldquoeu

natildeo suporto pessoas chata se puder nem fala com migo seria melhor aindardquo Seu tiacutetulo soacute tratou

agora de um lado do comportamento humano (ldquoPessoas otimasrdquo) e deve ter sido colocado apoacutes

a finalizaccedilatildeo do texto quando foi verificar se havia tiacutetulo

Assim apoacutes a anaacutelise dos textos A dos alunos percebemos a evoluccedilatildeo dos itens

presentes e os distribuiacutemos no quadro autoavaliativo

Durante a produccedilatildeo dos textos observamos os alunos presentes procurando

perceber algo sobre seu processo de planejamento de escrita O que foi detectado nas primeiras

produccedilotildees poucos deles fizeram um rascunho antes de escreverem na folha de produccedilatildeo

recebida alguns textos jaacute deram sinais de que alguns alunos entenderam o que eacute a ldquoconversa

122

com o leitorrdquo alguns partiram de uma situaccedilatildeo vividaobservada para compor seu texto no

entanto mais parecendo um relato pessoal ou um diaacuterio pessoal do que uma abordagem de

crocircnica poucos narraram essa situaccedilatildeo de forma clara para que o leitor pudesse acompanhar

poucos posicionaram o foco narrativo de maneira adequada vaacuterios apenas tangenciaram a

proposta de produccedilatildeo Essas dificuldades constituiacuteram o cerne a ser explorado nas atividades

dos moacutedulos aplicados nos encontros da sequecircncia

Podemos estabelecer um graacutefico para melhor visualizaccedilatildeo dos resultados ateacute essa

etapa

Graacutefico 7 ndash Avaliaccedilatildeo das crocircnicas A

Fonte Dados da pesquisa

Como vemos houve na maioria dos itens avaliados uma sensiacutevel melhora apesar

das dificuldades ainda apresentadas Percebemos que vaacuterios alunos ainda focam em apenas

alguns aspectos do texto que conteacutem a instruccedilatildeo de produccedilatildeo deixando de contemplar o todo

como por exemplo o botatildeo de bloquear na vida real ndash diversos alunos natildeo atingiram esse

objetivo no texto acreditamos que porque lhes faltou uma releitura direcionada para verificaccedilatildeo

de tudo o que havia sido pedido Isso nos mostra que os alunos ao tomarem contato com seus

textos de uma primeira produccedilatildeo escrita se orientados a ter um pouco mais de paciecircncia sem

a urgecircncia de entregar logo a tarefa e se incentivados a reler se autoavaliar e a ouvir sugestotildees

0

2

4

6

8

10

12

14

Avaliaccedilatildeo das crocircnicas A

PI PF

123

podem sim progredir no sentido de se tornarem escritores mais haacutebeis enquanto conscientes

das etapas que regem o processo de escrita de textos

532 Produccedilotildees B textos para circulaccedilatildeo social

A produccedilatildeo para circulaccedilatildeo social foi chamada de produccedilatildeo B e corresponde ao

trabalho com um puacuteblico que variou entre 4 (quatro) a 8 (oito) alunos frequentes dentre os

quais apenas 4 (quatro) produziram o texto para fins de circulaccedilatildeo social real Nesta etapa

foram realizados 5 (cinco) encontros com duraccedilatildeo de 10 (dez) horasaula e leitura de quatro

crocircnicas ineacuteditas para os alunos (A cara da rua A carta de punho Amor de Macumba e Sr

Google Pacheco) e atividades correspondentes

A leitura desses textos foi produtiva para a classe no sentido de compreender que

cada crocircnica traz em si o resultado da reflexatildeo que o cronista consegue realizar das situaccedilotildees

que vivencia ou observa Identificar as situaccedilotildees geradoras das crocircnicas lidas ao longo dos

moacutedulos fez parte do trabalho que conduziu os alunos a falar de vaacuterios assuntos que poderiam

tornar-se temas de textos Copiamos no quadro e eles nos cadernos Eram temas do cotidiano

como assalto relaccedilotildees sociais vida de youtuber bullying fome cujas situaccedilotildees jaacute

observadasvivenciadas por eles mesmos poderiam render uma reflexatildeo

Aparentemente a dificuldade maior dos alunos eacute em expressar essa situaccedilatildeo sem

que ora pareccedila um relato iacutentimo como diaacuterio ou memoacuterias pois a natural disposiccedilatildeo de seus

textos traz uma sequecircncia narrativa um relato de emoccedilotildees pessoais poreacutem natildeo necessariamente

conduz o leitor a uma reflexatildeo ora por vezes pause a narraccedilatildeo e interaja com o leitor por meio

de perguntas ou ainda faccedila um texto com forccedila injuntiva ou com moral da histoacuteria

Para a escrita e a reescrita do texto desta etapa a PF-B incentivamos nossos alunos

a utilizar o quadro autoavaliativo tocando nos pontos mais sensiacuteveis identificados desde a PI-

A Natildeo foi estipulado um nuacutemero de paraacutegrafos deixando os alunos agrave vontade para produzir

Consideramos como audiecircncia um puacuteblico leitor que tivesse sua idade aproximadamente que

entendesse seus problemas dilemas alegrias que fizesse parte de seu mundo frequentando a

escola tendo amigos observando qualidades boas do ser humano ou mazelas da vida podendo

esse puacuteblico acessar redes sociais ou natildeo De toda forma o ideal seria conversar com o leitor

sobre questotildees cotidianas situando-o no tempo e no espaccedilo da crocircnica O texto B foi

integralmente produzido em meio digital a pedido dos proacuteprios alunos por celular ou

computador conforme o material que tivessem disponiacutevel em matildeos e nenhum foi produzido

124

em sala limitado pelo horaacuterio de aula No entanto foi feito o acordo dos prazos de entrega de

cada texto a fim de podermos imprimir e levar para trabalho de leitura releitura feedback da

professora-pesquisadora feedback dos colegas permitindo a cada autor reflexatildeo sobre o texto

e possibilitando a reescrita

Os alunos que se engajaram na produccedilatildeo da crocircnica para circulaccedilatildeo social foram os

alunos Ana Rodrigo Eduardo e Estela Os tiacutetulos das produccedilotildees inicial e final estatildeo no quadro

a seguir

Quadro 33 ndash Tiacutetulos das produccedilotildees para circulaccedilatildeo social

Tiacutetulo PI-B PF-B

Ana PROIBIDA DE ACHAR

GRACcedilA

Rodrigo Vida de preguiccediloso VIDA DE PREGUICcedilOSO

Eduardo INFAcircNCIA FELIZ

Estela ldquoDown= bullyingrdquo DOWN= BULLYING

Fonte Dados da pesquisa

Esses textos diferentemente das produccedilotildees A foram escritos utilizando aparelhos

de celular O acordo foi feito com os alunos em virtude da preferecircncia destes em gostarem de

escrever utilizando-se da tecnologia facilitando o registro a releitura e a reescrita segundo eles

mesmos visto que o meio virtual tambeacutem atenderia a ideia da circulaccedilatildeo dos textos A anaacutelise

das produccedilotildees B estaacute descrita ao longo desta seccedilatildeo

Quadro 34 ndash PIB Ana

1

2

3

Que situaccedilatildeo Eacute o que penso ateacute hoje Pude presenciar um niacutevel de babaquice

e de falta do que fazer de uma garota da minha escola que pra ser sincera eu nem ao

menos sei o nome dela

4

5

6

7

8

Tava eu junto com mais quatro amigos na cantina da minha escola no

finalzinho do recreio estaacutevamos rindo e conversando como sempre Chegaram duas

meninas de outra sala que eu nunca falei nem sabia de onde saiacuteram natildeo sabia nada

sobre ela poreacutem sei que sabiam sobre mim coisas do tipo novata do 9 ano meio

doida duvido se natildeo sabiam ate meu nome Bem nem tava prestando atenccedilatildeo nelas

125

9

10

11

12

13

14

15

16

17

Quando meu amigo brincou eguas de novo Sorriu e depois pediu

desculpas logo que percebeu o tamanho das meninas e todo mundo riu quando ele

brincou EU JURO que fiquei seacuteria mas natildeo aguentei quando ele pediu desculpas

com medo de levar uns supapos Foi entatildeo que comecei a rir e umas das meninas olhou

pra mim com uma cara super ameaccediladora dizendo tu ta rindo do que Ta achando

graccedila eacute Cara tinha quatro pessoas aleacutem de mim QUATRO seacuterio que ela

enchergou soacute a mim ali Eacute ser muito babaca pra chegar em um ponto desse minha

uacutenica reaccedilatildeo foi natildeo pera ela taacute falando comigo serio isso Gente Qual o nome

dela algueacutem aqui a conhece SOCORRO

18

19

Ate hoje me pergunto qual o problema dela Mas prefiro nem chegar perto

Vai que essa doenccedila pega

Fonte Dados da pesquisa

O texto de Ana foi composto de 4 (quatro) paraacutegrafos Sua conversa com o leitor

natildeo eacute com elementos expliacutecitos como na instruccedilatildeo sugerida na produccedilatildeo A mas percebe-se que

ela se importa com uma audiecircncia visto que narra para uma pessoa explicando a situaccedilatildeo

vivenciada contando ao seu leitor suas impressotildees mostrando as falas que ocorreram dando a

perceber os outros personagens que entraram na histoacuteria

As notaccedilotildees linguiacutesticas para indicar intensidade surpresa e algumas viacutergulas estatildeo

razoavelmente bem empregadas como vemos em ldquoeguas de novordquo (linha 9) que separa a

expressatildeo de surpresa ldquoeacuteguasrdquo com uma viacutergula e finaliza a frase com interrogaccedilatildeo

acompanhada de exclamaccedilatildeo atribuindo maior intensidade agrave fala

Quadro 35 ndash PFB Ana ndash Tiacutetulo PROIBIDA DE ACHAR GRACcedilA

1

2

3

E que situaccedilatildeo Eacute o que eu penso ateacute hoje Pude presenciar um niacutevel de babaquice

e de falta do que fazer de uma garota da minha escola que pra ser sincera eu nem ao

menos sei o nome dela

4

5

6

7

8

9

Estava eu junto com mais quatro amigos na cantina da minha escola no

finalzinho do recreio Estaacutevamos rindo e botando conversa fora de boa na paz Entatildeo

duas meninas que eu natildeo conheccedilo ndash jaacute tinha ateacute visto as duas mas nunca tinha falado

com elas nem ao menos sabia o nome delas mas sei que elas sabiam de mim certeza

Aquele pessoal fala demais ndash chegaram e estavam repetindo o lanche Ateacute entatildeo nem

tava reparando na presenccedila delas

126

10

11

12

13

14

15

16

17

18

Foi quando meu amigo brincou nossa vatildeo repetir de novo Eu olhei entendi

e nem dei importacircncia nem quis rir pra natildeo arrumar confusatildeo Elas olharam pra ele

com uma cara bem ameaccediladora e ele se arrependeu e pediu desculpas Nessa hora eu

natildeo aguentei e ri poreacutem dele Pensei eita macho ficou com medo de levar uns

sopapos Todo mundo rindo Foi entatildeo que uma delas olhou pra mim me batendo

verbalmente tu taacute rindo de quecirc Taacute achando graccedila eacute Mano do ceacuteu essa menina

tem problema soacute pode Foi minha uacutenica reaccedilatildeo Com quatro pessoas aleacutem de mim ali

sorrindo e ela pergunta soacute pra mim Eacute ser muito babaca pra chegar a esse ponto seacuterio

isso Perguntei pros meus amigos ldquogente qual o nome dela Ela taacute falando pra mim

mesmo SOCORRO

19

20

Ainda bem que meus amigos estavam ali senatildeo eu tava ferradinha Ateacute hoje

me pergunto qual o problema dela Mas prefiro nem chegar perto Vai que isso pega

Fonte Dados da pesquisa

Os quatro paraacutegrafos tiveram uma reelaboraccedilatildeo mas mantiveram-se em mesmo

nuacutemero na PFB de Ana Seu tiacutetulo permaneceu o mesmo e tem a ver com o teor da crocircnica

Quanto ao uso da pontuaccedilatildeo houve inclusive utilizaccedilatildeo de novo recurso o entre

travessotildees a partir de uma sugestatildeo dada pela professora-pesquisadora que indica um adendo

de informaccedilotildees agrave ldquoconversardquo que a narradora conduziu

Pudemos perceber uma melhor descriccedilatildeo da ambientaccedilatildeo onde a situaccedilatildeo

vivenciada se passou consolidando o tempo do finalzinho do recreio situaccedilatildeo que durou muito

pouco mas que para a autora durou com intensidade

O final foi interessante e ateacute cocircmico trazendo questotildees a se pensar como a amizade

e o companheirismo versus a implicacircncia de pessoas desconhecidas (podemos ver seu aliacutevio

em ldquoAinda bem que meus amigos estavam ali senatildeo eu tava lsquoferradinharsquordquo na linha 19) e o

quanto eacute raacutepido - e tolo - para nascer um conflito

Quadro 36 ndash PIB Rodrigo ndash Tiacutetulo Vida De preguiccediloso

1

2

Vocecirc tem preguiccedila Tem preguiccedila de ter preguiccedila perdeu alguma coisa por

causa de preguiccedila

3

4

5

Natildeo eacute muito certo ter preguiccedila de tudo dizem que eacute pegado mas natildeo vejo mal

nem um em ter preguiccedila oacutebvio que nem todo tempo vou ter preguiccedila mas a maior parte

127

6 do tempo sim sou tatildeo preguiccediloso que dormi com fome pra natildeo ir ateacute a geladeira parece

um pouco absurdo mas eacute verdade

7

8

9

10

Natildeo sei vocecirc mas eu jaacute dormi no sofaacute com preguiccedila de ir pra cama certo que

vida de preguiccediloso natildeo eacute la essas mil maravilhas principalmente se vocecirc mora sozinho(a)

eacute muito bom passar o dia deitado mexendo no celular ou PC e com um lanchinho do

lado

11

12

Mas o simples fato de eu pensar que vou ter que tecirc uma famiacutelia um emprego

meu carro minha empresa meu cachorro

13

14

Jaacute da ateacute preguiccedila de sair da cama mas vocecirc jaacute pensou como seria bom se natildeo

existisse nada disso pra se preocupar

15 Seria muito bom natildeo eacute

16

17

A preguiccedila jaacute se tornou parte do cotidiano tenho quase certeza que nesse

momento vocecirc estaacute com preguiccedila natildeo eacute

18

19

20

Muito bom passar o dia sem fazer nada Poreacutem um pouco cansado pela falta

de exerciacutecio fiacutesico mas nada quecirc um bom lanche natildeo resolva vida de preguiccediloso natildeo

leva a lugar nem um falo isso por mera experiecircncia

21 Mas eacute assim mesmo logo logo a preguiccedila passa pelo menos eu acho

Fonte Dados da pesquisa

O texto de Rodrigo partiu de uma situaccedilatildeo observadavivida Conversa com o leitor

(ldquovocecirc jaacute pensou como seria bom serdquo linha 12) sobre o tema preguiccedila A repeticcedilatildeo do termo

preguiccedila foi objeto de questionamento na aula ao que o aluno respondeu que utilizou-se da

estrateacutegia para reforccedilar a situaccedilatildeo e provocar no leitor a preguiccedila de ler ao que os colegas

aprovaram achando inclusive engraccedilado O narrador eacute personagem e coloca para seu leitor as

impressotildees de como eacute viver com o miacutenimo de disposiccedilatildeo poreacutem com a consciecircncia de que natildeo

eacute o ideal para a vida O final natildeo eacute interessante ou surpreendente poreacutem se adequa ao

desenvolvimento do texto Possui tiacutetulo apropriado

Quadro 37 ndash PFB Rodrigo ndash Tiacutetulo VIDA DE PREGUICcedilOSO

1

2

Vocecirc tem preguiccedila Tem preguiccedila de ter preguiccedila Perdeu alguma coisa por

causa de preguiccedila

3

4

Natildeo eacute muito certo ter preguiccedila de tudo dizem que eacute pecado mas natildeo vejo mal

nenhum em ter preguiccedila Oacutebvio que nem todo tempo vou ter preguiccedila mas na hora de

128

5

6

7

8

jogar aquela bola ningueacutem tem preguiccedila mas agora fala em arrumar a cama A preguiccedila

sai de baixo da cama pra vocecirc Eu tenho preguiccedila a maior parte do tempo Sou tatildeo

preguiccediloso que dormi com fome para natildeo ter de ir ateacute a geladeira pegar comida Parece

um pouco absurdo mas eacute verdade

9

10

11

12

13

14

Aiacute vocecirc acorda e vai ateacute a sala daiacute vocecirc se deita no sofaacute e esquece o controle

em cima da mesa do computador ou da estante aiacute daacute aquele grito ldquoocirc manhecircecircecircecircecircecircecircecircrdquo

Logo ela vem correndo saber o que aconteceu e vocecirc na maior cara de pau diz pega

o controle pra mim Na hora que vocecirc diz isso vocecirc desperta todos os capirotos do

mundo ela ainda fala aquela frase que toda matildee diz o QUEcirc menino Isso serve pra

tudo que vocecirc pede pra sua matildee fazer pra vocecirc ateacute mesmo apagar a luz

15

16

17

Quando eu estiver em um relacionamento minha namorada natildeo vai precisar

se preocupar com traiccedilatildeo Tenho preguiccedila de ir bem aiacute na esquina comprar o patildeo

imagine sair para trair ela Mas eacute muita melodia

18

19

20

21

A vida de um preguiccediloso em si ela eacute uma grande sobrevivecircncia Natildeo muita

mas vocecirc vai ter de lutar para conseguir comida enfrentar o Vingador da Caverna do

Dragatildeo o quarto do furacatildeo e a cama do pavor Preguiccediloso pode vencer tudo isso mas

nunca conseguiraacute vencer a preguiccedila ndash pelo menos eu nunca consegui

22

23

24

25

Era tatildeo lindo quando eu dormia no sofaacute e acordava na cama graccedilas a meus

pais Mas os tempos mudaram vocecirc dorme no chatildeo e acorda no chatildeo Deixar pra fazer

amanhatilde o que pode fazer hoje isso sim eacute tiacutepico de um preguiccediloso mas agraves vezes nem

fazemos

26

27

28

Todos noacutes temos aquela cadeira que na hora de dormir sempre colocamos

todas as coisas de cima da cama em cima dela soacute por preguiccedila de arrumar tudo em seu

devido lugar

29

30

31

32

33

34

35

Um celular PC tablet televisatildeo tudo isso com internet uma tomada tudo do

seu lado tem como natildeo ter preguiccedila ateacute de procurar aquela seacuterie na Netflix Certo que

o celular ou o PC tem comando de voz soacute pra falar o nome da seacuterie que vocecirc quer assistir

e tecnologicamente ir direto pra seacuterie mas daacute uma preguiccedila de falar e ainda com um

lanche do lado ateacute imagino o quatildeo seria top passar o dia assim Mas tem que estudar

fazer comida dar banho do cachorro limpar a casa e lavar a louccedila Ai ai daacute preguiccedila

soacute de pensar nisso Um dia vou perder essa preguiccedila pelo menos assim espero

Fonte Dados da pesquisa

129

O uso de expressotildees coloquiais como em ldquoMas eacute muita melodiardquo (linha 17) para

mostrar o quanto daacute trabalho trair a namorada e a corrente entre os jovens ldquoo quatildeo seria top

passar o dia assimrdquo (linha 33) deu colorido agrave crocircnica

O uso de notaccedilotildees linguiacutesticas para realccedilar o texto como em ldquoocirc manhecircecircecircecircecircecircecircecircrdquo

(linha 10) que mostra prolongamento da voz o QUEcirc meninordquo (linha 13) que indica tom

de voz mais alto e forte aleacutem da pontuaccedilatildeo que exclama a pergunta O uso do travessatildeo como

forma de colocar uma explicaccedilatildeo em evidecircncia foi adotado por sugestatildeo nossa como em ldquondash

pelo menos eu nunca conseguirdquo (linha 21) tambeacutem enriqueceu o texto

Ainda houve repeticcedilatildeo de termos sem intenccedilatildeo como em ldquomas na hora de jogar

aquela bola ningueacutem tem preguiccedila mas agora fala em arrumar a camardquo (linhas 4-5)

O final foi interessante levando a audiecircncia a refletir e a se divertir tambeacutem com a

descriccedilatildeo das situaccedilotildees ndash algumas ateacute inusitadas ndash de preguiccedila mas que acontecem em algum

grau com os leitores jovens

Quadro 38 ndash PIB Eduardo ndash Tiacutetulo

1

2

3

4

5

Eu gosto muito de comida principalmente uma lasanha Porque eacute gostoso

mata a fome e deixa a gente feliz Bons tempos quando agente era crianccedila tomava aquele

belo leite antes de domir acordava de manhatilde bem cedinho com o cherinho do cafeacute na

mesa mas o tempos mudou E hoje em dia as crianccedilas dorme tarde natildeo se alimentatildeo

direito so querem comer besteras prejudicando a sauacutede

6 Era engraccedilado quando minha matildee dizia

7

8

Come a salada do prato se vocecirc comer tudinho mamatildee te dar um doccedile de

leite e agente comia

9

10

11

E quando noacutes tinha dor de barriga a matildee ja vinha com o chaacute de bodo para dar

pra noacutes tomar E quando jogava bola e noacutes se arranhava a matildee ja tava nas matildeos o

merthiolate para passa na gente

12

13

14

15

16

17

E quando o pessoal ia jogar bola reunia a galera e ia chamar a turma todinha

para jogar nosso campo era em um local de pissarra com muro em volta e quando a

bola cailha na casa da quela vizinha chata um de noacutes tiamos que pega o mas corajoso

se arricar a buscar e esse corajoso era eu lembro que uma vez eu chutei a bola para laacute

e machuquei um das plantas dela e vizinha fofocou para minha matildee e mamatildee colocou

eu de cartigo

130

18

19

Agora as crianccedilas so querem ficar trancada dentro do quarto mechendo no seu

celular PC em geral

20

21

22

23

24

25

26

27

28

Percebi que a infacircncia de hoje natildeo eacute mas a mesma de antigamente Hoje em

dia tamos rodiado de tecnologia crianccedilas jovens tem celulares internet computadores

mas antigamente natildeo era assim natildeo tou querendo criticar a tecnologias pois eu vivo na

tecnologia hoje Nesse tempo de hoje das tecnologia se vocecirc quer ouvir uma muacutesica eacute

soacute ir no YouTube ou fazer o download quer conversar com um amigo eacute soacute entra no

Whatsapp e conversar Mas quando era antigamente se quissemos ouvir uma

muacutesica tiamos que esperar passar no raacutedio ou comprar um CD bem ali na banca se

quisesse conversar com um amigo distante teria que ir na casa dele ou enviar uma carta

para ele

29

30

E quando era natal ano novo famiacutelia toda reunida mesa cheia de comida

deliciosas isso era muito bom

31

32 SO SEI QUE A INFACIA QUE EU TIVE FOI MUITA OTIMA lt3

Fonte Dados da pesquisa

Composto por 9 (nove) paraacutegrafos o texto de Eduardo partiu de uma situaccedilatildeo

vivida em que ele observa a passagem do tempo e as mudanccedilas de haacutebitos com uma certa

nostalgia buscando a atenccedilatildeo do leitor atraveacutes da reflexatildeo sobre a imersatildeo na tecnologia Seu

texto comeccedila com uma associaccedilatildeo da comida que ele gosta e que ldquopuxardquo outras questotildees que

perpassam a alimentaccedilatildeo o sono as brincadeiras narrando inclusive desventuras vividas

Ao final nas linhas 29-30 o paraacutegrafo parece desconexo visto que natildeo evolui e

nem se liga ao anterior

A ortografia e a pontuaccedilatildeo nesse momento natildeo haviam sido a prioridade embora

os alunos jaacute estivessem de posse do quadro autoavaliativo Eduardo foi um dos alunos que mais

se surpreendeu com a releitura do texto no tablet como haviacuteamos descrito na seccedilatildeo sobre os

procedimentos posto que os erros e sugestotildees satildeo apontados pelo aplicativo editor de textos

Ele afirmou que foi bastante uacutetil para que ele observasse os erros visto que natildeo tinha

consciecircncia dos mesmos

131

Quadro 39 ndash PFB Eduardo ndash INFAcircNCIA FELIZ

1

2

3

4

5

Eu gosto muito de comida principalmente uma lasanha Porque eacute gostoso

mata a fome e deixa a gente feliz Bons tempos quando a gente era crianccedila tomava

aquele belo leite antes de dormir acordava de manhatilde bem cedinho com o cheirinho do

cafeacute na mesa mas os tempos mudaram Hoje em dia as crianccedilas dormem tarde natildeo se

alimentam direito soacute querem comer besteiras prejudicando a sauacutede

6

7

Era engraccedilado quando minha matildee dizia Come a salada do prato se vocecirc

comer tudinho mamatildee te daacute um doce de leite e a gente comia

8

9

10

E quando noacutes tiacutenhamos dor de barriga a matildee jaacute vinha com o chaacute de boldo para

dar pra tomar E quando jogaacutevamos bola e nos arranhaacutevamos a matildee jaacute estava com o

mertiolate nas matildeos para passar na gente

11

12

13

14

15

16

17

E quando o pessoal ia jogar bola reunia a galera e ia chamar a turma todinha

para jogar nosso campo era em um local de piccedilarra com muro em volta e quando a bola

caiacutea na casa da aquela vizinha chata um de noacutes tinha que pegar o mais corajoso se

arriscar a buscar e esse corajoso era eu Lembro que uma vez eu chutei a bola para laacute e

machuquei um das plantas dela e a vizinha fofocou para minha matildee e mamatildee colocou

eu de castigo Quem nunca morreu de medo de voltar para casa com aquela roupa cheia

de barro e levar uma bronca

18

19

Vocecirc pode ateacute achar que eu jaacute acabei a minha infacircncia mas ainda tocirc nela pois

a infacircncia que eu era mais novo natildeo eacute mas a mesma do que a de hoje

20

21

Agora as crianccedilas soacute querem ficar trancadas dentro do quarto mexendo no seu

celular PC em geral

22

23

24

25

26

27

28

29

Percebi que a infacircncia de hoje natildeo eacute mas a mesma de antigamente Hoje em

dia estamos rodeados de tecnologia Crianccedilas jovens tem celulares internet

computadores mas antigamente natildeo era assim Natildeo estou querendo criticar a tecnologia

pois eu vivo na tecnologia hoje Nesse tempo de hoje se vocecirc quer ouvir uma muacutesica eacute

soacute ir no YouTube ou fazer o download Quer conversar com um amigo eacute soacute entrar no

WhatsApp e conversar Mas quando era antigamente se quiseacutessemos ouvir uma muacutesica

tiacutenhamos que esperar passar no raacutedio ou comprar um CD bem ali na banca Se quisesse

conversar com um amigo distante teria que ir na casa dele ou enviar uma carta para ele

30

31

32

Pois agora as crianccedilas jaacute respondem com ignoracircncia para seus pais Se eu

resmungasse para minha matildee pelo menos um Taacute bom taacute bom mamatildee jaacute me batia Ela

ainda me colocava de joelho no chatildeo e eu morrendo de chorar mamatildee dizia Engole o

132

33

34

35

choro mas eu natildeo sabia engolir o choro Seraacute que tinha que pegar um copo para

colocar as minhas laacutegrimas do meu choro Natildeo sei mas eu acho que eacute melhor natildeo

arriscar de me levantar e apanhar mais ainda

36 O mais engraccedilado eacute que chinela de matildee sempre acerta [

37 Mesmo apanhando

38 SOacute SEI QUE A INFAcircNCIA QUE EU TIVE FOI MUITO OacuteTIMA lt3

Fonte Dados da pesquisa

O texto teve uma ampliaccedilatildeo e o aluno pediu ajuda agrave professora-pesquisadora para

a correccedilatildeo da pontuaccedilatildeo e tambeacutem da ortografia para ldquoevitar aquela coisa toda vermelha

professorardquo que seria rever no tablet o editor mostrando os erros Bastante empenhado Eduardo

colocou suas impressotildees lado bom e ruim para que seu leitor pudesse acompanhar o que seria

uma infacircncia adequada Nas linhas 18-19 em ldquoVocecirc pode ateacute achar que eu jaacute acabei a minha

infacircncia mas ainda tocirc nela pois a lsquoinfacircncia que eu era mais novorsquo natildeo eacute mas a mesma do que

a de hojerdquo Valeu a discussatildeo com os colegas e com a professora-pesquisadora a respeito dessa

nostalgia visto que o autor ainda eacute um adolescente de 15 anos

O final convenhamos embora natildeo seja muito paciacutefico natildeo deixa de causar o riso

no leitor visto que em ldquoMesmo apanhandordquo (linha 37) as reticecircncias deixam o pensamento

em aberto e o leitor conclui pelo exposto que ainda assim valia a pena a infacircncia menos

tecnoloacutegica e mais fora de casa

Quadro 40 ndash PIB Estela ndash Tiacutetulo ldquoDown= bullyingrdquo

1

2

Antigamente eu natildeo me importava tanto mas hoje penso bastante sobre o

assunto por que as pessoas praticam o bullying

3

4

5

Na minha opiniatildeo a praacutetica de bullying eacute desnecessaacuteria pois noacutes natildeo

ganhamos nada em humilharmenosprezar o proacuteximo natildeo eacute mesmo eacute bem melhor ser

gentil ser solidaacuterio aceitar os defeitos do proacuteximo

6

7

8

9

10

11

Conheccedilo uma garota chamada Beatriz jovem de dezenove anos(19) que tinha

siacutendrome de Down ela era uma garota bem extrovertida amigaacutevel carinhosa etc

Muitos a criticavam por conter essa siacutendrome por ser diferente Ela tinha seu tinha seu

lado carinhoso mas tambeacutem tinha o seu lado revoltadobravo e todos criticavam-na por

ser diferente por ter esse seu lado ldquobipolarrdquo pelo fato dela mudar de humor tatildeo

facilmente

133

12

13

14

15

Muitos faziam o possiacutevel para evitar sua presenccedila por perto eles a eles

simplesmente natildeo aceitavam o fato dela ter aquela siacutendrome pra eles ela natildeo era ldquoigualrdquo

a eles eles deveriam aceitaacute-la da maneira que ela nasceu da maneira em que ela foi

gerada

16

17

18

Chamavam-na por apelidos maldosos e preconceituosos como por exemplo

doida (pelo simples fato dela ter siacutendrome de Down que a diferenciava das demais

pessoas) de retardada de doente chamavam-na de feia ridiacuteculaetc

19

20

21

22

23

24

25

Ao sofrer esses preconceitos ela sempre revidavasempre reagia com agressotildees

e xingamentos terriacuteveis o que agravava cada vez mais a situaccedilatildeo Acho que por ela

conter essa doenccedila ela natildeo levava muito a seacuterios esse preconceito essa indiferenccedila

acho que pelo fato de ela conter essa doenccedila desde a formaccedilatildeo de seu feto deve ter

ocorrido algumas alteraccedilotildees em seu ceacuterebro na parte mentalo que prejudica muito a

crianccedila em questotildees de aprendizado de se socializar e que a levava a considerar essas

praacuteticas de bullying como uma brincadeira

26

27

28

29

E tambeacutem sua matildee natildeo era aquele tipo de matildee que se interessava como foi o

dia na escola se as aulas foram boas essas coisas que normalmente as matildees fazem E

ela tambeacutem natildeo morava junto a seu pai pois creio que era divorciado de sua matildee

moravam somente ela sua matildee e sua irmatilde mais nova de dezessete anos (17)

30

31

Atualmente a situaccedilatildeo ainda se repete por falta de atenccedilatildeo dos pais e da

proacutepria viacutetima do bullying

32

33

(Na minha opiniatildeo ela soacute precisa de um pouco mais de atenccedilatildeo e compreensatildeo

dos pais e tenho certeza que esse problema jaacute haveria sido resolvido)

34

35

E vocecirc leitor o que faria se vocecirc fosse viacutetima de bullying denunciaria ou

preferiria guardar pra si

36

37

38

39

40

(Isso natildeo eacute um texto qualquer eacute tambeacutem um alerta uma ldquocampanhardquo pra vocecirc

vitima ou praticante do bullying pense no proacuteximo alerte-se muitas vezes essas piadas

brincadeiras esses preconceitos passam dos limites e acabam se tornando grandes

ofensas o que levam as viacutetimas a profundas depressotildees e ateacute mesmo ao suiciacutedio vamos

acabar com isso)

41 chega de bullying

Fonte Dados da pesquisa

134

Estela comeccedila seu texto com um paraacutegrafo que faz uma introduccedilatildeo-enquadramento

lanccedilando um questionamento ao seu leitor surgido de uma situaccedilatildeo observadavivida que ela

narra ao longo dos 12 (doze) paraacutegrafos No 10ordm a autora conversa com explicitamente com o

leitor como no modelo apresentado para a produccedilatildeo A O foco narrativo eacute mantido como

narrador observador do que acontece poreacutem levando o leitor a refletir sobre o problema real do

bullying com a intenccedilatildeo de causar impressotildees no leitor como empatia reflexatildeo e ateacute emoccedilatildeo

O final natildeo parece caracterizar-se como o de uma crocircnica literaacuteria lembrando o

penuacuteltimo paraacutegrafo uma sequecircncia injuntiva com a intenccedilatildeo de levar o leitor a modificar seu

comportamento mostrando um ponto de vista criacutetico a respeito da situaccedilatildeo Possui

personagens descrevendo a menina Beatriz e seu comportamento sua matildee e menciona pai e

irmatilde Possui um tiacutetulo interessante pelo trocadilho se podemos assim dizer com a palavra

down Down eacute a siacutendrome mencionada no texto e de iniacutecio o sinal de igual indica que ter

siacutendrome de Down eacute de se esperar de algum modo que a pessoa sofra bullying Poreacutem a aluna

sabe que down em inglecircs quer dizer ldquoabaixordquo o que resultaria numa livre traduccedilatildeo ldquoabaixo

o bullyingrdquo Estela emprega em diversos momentos os sinais de pontuaccedilatildeo adequadamente e

no geral os paraacutegrafos estatildeo bem organizados embora tenha havido repeticcedilatildeo desnecessaacuteria de

palavras no 4ordm paraacutegrafo

Quadro 41 ndash PFB Estela ndashTiacutetulo DOWN= BULLYING

1

2

Antigamente eu natildeo me importava tanto mas hoje penso bastante sobre o

assunto por que as pessoas praticam o bullying

3

4

5

A praacutetica de bullying eacute desnecessaacuteria pois noacutes natildeo ganhamos nada em

humilhar o proacuteximo natildeo eacute mesmo Eacute bem melhor ser gentil ser solidaacuterio aceitar os

defeitos do proacuteximo

6

7

8

9

10

Conheci uma garota chamada Beatriz jovem de dezenove anos que era

portadora da siacutendrome de Down Era uma garota bem extrovertida amigaacutevel carinhosa

etc Ela tinha seu tinha seu lado carinhoso mas tambeacutem tinha o seu lado revoltado e

todos criticavam-na por ser diferente por ter esse seu lado ldquobipolarrdquo pelo fato dela mudar

de humor tatildeo facilmente

11

12

13

Muitos faziam o possiacutevel para evitar sua presenccedila por perto Simplesmente

natildeo aceitavam o fato dela natildeo ser ldquoigualrdquo a eles enquanto que deveriam aceitaacute-la da

maneira que ela nasceu da maneira em que ela foi gerada

135

14

15

16

Chamavam-na por apelidos maldosos e preconceituosos como por exemplo

doida (pelo simples fato dela ser portadora de Down que a diferenciava das demais

pessoas) de retardada de doente chamavam-na de feia ridiacuteculaetc

17

18

19

20

21

Ao sofrer esse preconceito ela revidava Sempre reagia com agressotildees e

xingamentos terriacuteveis o que agravava cada vez mais a situaccedilatildeo Acho que pelo fato de

ela ter Down desde a formaccedilatildeo de seu feto deve ter ocorrido algumas alteraccedilotildees em seu

ceacuterebroo que prejudica muito a crianccedila em questotildees de aprendizado de se socializar

poreacutem isso natildeo a impedia de considerar essas praacuteticas de bullying como algo tatildeo seacuterio

22

23

24

25

26

Atualmente a situaccedilatildeo ainda se repete por falta de atenccedilatildeo dos pais Sua matildee

natildeo era aquele tipo de matildee que se interessava como foi o dia na escola se as aulas foram

boas essas coisas que normalmente as matildees fazem Ela soacute precisa de um pouco mais de

atenccedilatildeo e compreensatildeo dos pais e tenho certeza que esse problema jaacute teria sido

resolvido

27 E vocecirc leitor como agiria se fosse viacutetima de algum tipo de bullying

28

29

30

31

32

Pare e pense na situaccedilatildeo que ocorrera com essa garota Pense Como agiria se

fosse viacutetima ou tivesse observado uma situaccedilatildeo como essa Tambeacutem imagine se vocecirc

se sentiria bem se sofresse certos preconceitos certas ofensas E tambeacutem peccedilo-lhe

venha pensar antes de ldquotentarrdquo praticar esses atos infracionais contra algueacutem Se ponha

no lugar da viacutetima

33 chega de bullying

Fonte Dados da pesquisa

O tiacutetulo foi mantido Os paraacutegrafos em geral ficaram bem organizados Houve

evoluccedilatildeo no emprego dos sinais de pontuaccedilatildeo Evitou a repeticcedilatildeo desnecessaacuteria de palavras e

buscou definir visto que estava em duacutevida segundo ela mesma sobre quais termos usar

Partiu como jaacute haviacuteamos identificado de uma situaccedilatildeo observadavivida Conversa

com o leitor como no exemplo ldquonatildeo eacute mesmordquo (linha 4) ou em ldquoE vocecirc leitorrdquo (linha 27)

buscando leva-lo a refletir sobre a situaccedilatildeo O final eacute interessante muito embora natildeo o

reconheccedilamos como caracteriacutestico de uma crocircnica literaacuteria Mostra discretamente ao leitor seu

ponto de vista a respeito da situaccedilatildeo buscando proporcionar-lhe um momento de reflexatildeo

Descreve bem a Beatriz e superficialmente a matildee poreacutem com caracteriacutesticas

adequadas agrave situaccedilatildeo Apoacutes a anaacutelise dos textos B dos alunos estabelecemos um graacutefico a

respeito de sua evoluccedilatildeo para melhor visualizaccedilatildeo dos resultados nessa etapa Vejamos a seguir

136

Graacutefico 8 ndash Avaliaccedilatildeo das crocircnicas B

Fonte dados da pesquisa

A partir da anaacutelise dos textos dos alunos que frequentaram todas as aulas e se

engajaram nas atividades da SD percebemos que houve na maioria dos itens avaliados uma

sensiacutevel melhora corroborando com o anteriormente dito que os alunos ao tomarem contato

com seus textos de uma primeira produccedilatildeo escrita se orientados e incentivados a reler se

autoavaliar e a ouvir sugestotildees podem sim progredir no sentido de se tornarem escritores mais

haacutebeis e conscientes das etapas que regem o processo de escrita de textos E esse processo se

feito com frequecircncia comeccedila a se automatizar e facilita o aprendizado de qualquer gecircnero que

se venha trabalhar

533 Uma nova reescrita

Retomando seu texto A PI e PF a aluna Ana pediu a oportunidade de reescrevecirc-lo

visto que em sua releitura afirmou que natildeo havia feito apropriadamente e que ao final de todas

as atividades ela percebia o quanto natildeo tinha desenvolvido ainda os procedimentos adequados

para a produccedilatildeo de um texto o que inclui as etapas de releitura autocriacutetica reflexatildeo

reelaboraccedilatildeo e reescrita Segue assim o texto de Ana que chamaremos PFA2

0

05

1

15

2

25

3

35

4

Avaliaccedilatildeo das crocircnicas B

PI-B PF-B

137

Quadro 42 ndash PFA2 Ana ndash Tiacutetulo O que eacute ser chato

1 Como saber quando vocecirc estar sendo chato

2 Bom depois de ler um dos textos maravilhosos do Anaximandro Amorim

3 o chato da vez despertou uma vontade em mim de me aprofundar no assunto

4

5 Eacute muito difiacutecil dizer o que de fato eacute ser chato ou melhor listar tudo o que eacute pura

6 chatice demoraria horas e horas Vocecirc se considera chato

7 Sabe quando vocecirc estar sendo chato Olha muito cuidado um chato nunca

8 se acha chato digo isso com toda convicccedilatildeo

9

10 Conheccedilo uma menina ela eacute da minha escola graccedilas

11 a Deus natildeo eacute da minha sala Ameacutem

12 Ela tem uma mente aberta uns gosto legais mas cara

13 ela desconhece a palavra limites isso a torna very chata

14 uma mina linda de opiniotildees legais que natildeo sabe ver quando natildeo a querem

15 por perto quando ela estar atrapalhando e natildeo entende

16 quando o papo ja ta chato e a pessoa ta fugindo dela mas mesmo assim

17 acha que a pessoa ta super interessada e ela se engana e

18 acaba se tornando uma chata eu a considero minha amiga

19 ela me apoia e me sempre da uma levantada na minha auto-estima

20 uma garota interessante agraves vezes e por tempos curtos ela eacute

21 daquele tipo de pessoas que a gente passa comprimenta e

22 natildeo para pra conversar so quando ela chama e as vezes ainda invento desculpas

23 pra natildeo ir e se vou quando passa de cinco minutos eu jaacute

24 fico SU-FO-CA-DA parece que ela estraga o papo

25

26 Enfim ser chato eacute natildeo saber quando vocecirc ta forccedilando a barra

27 eacute natildeo reconhecer quando vocecirc estar sendo chato

28 ser chato eacute natildeo ter limites afinal tudo tem Natildeo eacute mesmo Fonte Dados da pesquisa

Por fim Ana reescreveu seu texto colocando-o em 5 (cinco paraacutegrafos) e o elaborou

visando ao que a instruccedilatildeo da atividade requer um texto que possa inspirar reflexatildeo sobre o

que eacute ser chato e o que eacute ser legal poreacutem sem colocar a questatildeo do botatildeo de bloqueio da vida

real Atraveacutes dos exemplos Ana conduziu seu leitor a refletir atendendo aos criteacuterios de partir

de uma situaccedilatildeo vividaobservada como vemos nas linhas 10-24 e conversando com o leitor

como percebemos nas marcas linguiacutesticas em ldquoComo saber quando vocecirc estar sendo chatordquo

(linha 1) ldquoVocecirc se considera chatordquo (linha 6) ldquoSabe quando vocecirc estar sendo chatordquo (linha

7) e ldquoNatildeo eacute mesmordquo (linha 28) e descreve uma personagem ldquouma menina ela eacute da minha

escolardquo (linha 10) que inseriu em seu texto para ilustrar a situaccedilatildeo

Apesar de Ana ainda deixar a desejar em outros aspectos tanto textuais quanto

formais de convenccedilotildees da escrita percebemos que ela evoluiu no criteacuterio organizaccedilatildeo de

138

paraacutegrafos e emprego dos sinais de pontuaccedilatildeo Em ldquograccedilas a Deus natildeo eacute da minha sala

Ameacutemrdquo ela separa o termo Ameacutem do resto da frase com a viacutergula entendendo que eacute uma

expressatildeo que merecia realce e usa o ponto de exclamaccedilatildeo para expressar seu aliacutevio Ana

demonstra conhecer que o uso de marcas linguiacutesticas como o uso de maiuacutesculas e a separaccedilatildeo

silaacutebica podem dar forccedila a uma palavra fazendo-a ganhar maior expressividade como em ldquoSU-

FO-CA-DArdquo na linha 24 Ao longo de seu texto Ana emprega muitas palavras do cotidiano

giacuterias inclusive e marcas da oralidade ndash o que natildeo necessariamente eacute um problema em uma

crocircnica literaacuteria poreacutem conveacutem relembrar a questatildeo da experiecircncia e habilidade no uso de tais

de modo a natildeo cansar o leitor

Sua estrateacutegia para iniciar o texto foi partir da intertextualidade (ldquoBom depois de

ler um dos textos maravilhosos do Anaximandro Amorim lsquoo chato da vezrsquo despertou uma

vontade em mim de me aprofundar no assuntordquo linhas 1-3) Desse modo Ana fez uso da

informaccedilatildeo de uma de nossas aulas de quando trabalhamos com a crocircnica ldquoCarta de punhordquo

cuja leitura em sala e atividade de exploraccedilatildeo do texto mostrava que o autor cronista com

publicaccedilotildees frequentes no jornal buscava nas proacuteprias produccedilotildees retomar seus assuntos

passados Uma curiosidade que foi despertada em Ana para o momento havia sido ldquoe pode

isso professorardquo ao que respondemos afirmativamente poreacutem o sucesso da estrateacutegia viria

com o tempo e a experiecircncia de cada autor da intimidade que esse tivesse com a liacutengua materna

e com a situaccedilatildeo de produccedilatildeo tudo dentro do contexto

Consideramos assim que o uso da estrateacutegia pela aluna foi um ponto positivo em

sua participaccedilatildeo posto que caracteriza envolvimento com o projeto e as aulas Ademais desejar

fazer mais uma reescrita quando natildeo havia mais a exigecircncia pois como dissemos jaacute haviacuteamos

encerrado os moacutedulos e estaacutevamos reescrevendo o texto para circulaccedilatildeo social eacute um ponto

bastante positivo no tocante aos procedimentos de escritor apoacutes algum tempo ela releu seu

texto achou-o inadequado ou insuficiente para as caracteriacutesticas do que se estava estudando e

produzindo e tomou a iniciativa de refazecirc-lo

139

6 CONCLUSAtildeO

O foco principal de nosso trabalho foi o desenvolvimento da competecircncia

comunicativa escrita Para tanto consideramos o processo tendo como produto o texto cujo

valor real foi-lhe atribuiacutedo valor social com direito a circulaccedilatildeo levado a puacuteblico

O gecircnero escolhido foi a crocircnica literaacuteria Poderia ter sido outro visto que o trabalho

com o processo de escrita dentro de uma sequecircncia didaacutetica comporta qualquer gecircnero textual

Poreacutem como dissemos na introduccedilatildeo a escolha do gecircnero partiu de uma motivaccedilatildeo pessoal

Passado todo o processo da escolha de como trabalhar ateacute a publicaccedilatildeo dos textos

julgamos oportuno avaliar todos os acircmbitos

Por percebermos ao longo dos anos de experiecircncia que vaacuterios alunos produzem

seus textos sem recorrer agrave etapa do planejamento a da revisatildeo e a da reescrita visamos entatildeo

nesta pesquisa devido agrave ausecircncia de tais procedimentos responder agraves seguintes questotildees-

problema desdobradas a partir da questatildeo baacutesica como ensinar a produccedilatildeo escrita no 9ordm ano do

Ensino Fundamental enfocando o ato de redigir como um processo visto que haacute estudantes

deste niacutevel que normalmente natildeo tecircm o haacutebito de planejar seus textos

A partir desse questionamento nos perguntamos

a) que atividades pedagoacutegicas possibilitam aos alunos a consciecircncia de que eacute

preciso desenvolver estrateacutegias proacuteprias (recorrer agrave etapa do planejamento da

revisatildeo e da reescrita) para produzir seus textos

b) de que forma o conhecimento sobre a estrutura composicional de um gecircnero

pode ajudar a superar as dificuldades

c) a comparaccedilatildeo das produccedilotildees inicial e final permitiraacute associar a melhoria do

desempenho da competecircncia escrita e a apropriaccedilatildeo do gecircnero crocircnica literaacuteria ao

desenvolvimento da sequecircncia de atividades

Buscando encontrar uma praacutetica que resultasse em textos melhores fizemos uso

em nossa sequecircncia de atividades de teorias que norteassem o trabalho com a escrita como

processo com a sequecircncia didaacutetica com gecircnero textual e com o gecircnero crocircnica narrativa A

importacircncia desse aparato teoacuterico para o professor que visa minimizar as dificuldades dos

alunos e diminuir a praacutetica da escrita improvisada permite-lhe compreender como se daacute o

processo cognitivo durante a produccedilatildeo de um texto o que o leva a considerar para seu trabalho

com os alunos aspectos como audiecircncia e circulaccedilatildeo social reais como praacuteticas de uma

140

sociedade letrada o que vai aleacutem da preocupaccedilatildeo com a gramaacutetica e a ortografia apenas de

um texto produzido somente para o professor e a nota

Ao longo da aplicaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica confirmamos o que a experiecircncia de

sala ao longo dos anos apontava o conhecimento sobre a estrutura composicional de um gecircnero

pode ajudar a superar as dificuldades de escrita por mostrar ao aluno o que precisa estar contido

em seu texto Os exemplos que o professor venha a trabalhar em sala com a turma mostram

modelos de gecircneros com aspectos que podem sim ser imitados de iniacutecio ateacute que quando o

aluno ganhe experiecircncia possa manejar melhor as palavras e as ideias que deseje colocar para

seu leitor assumindo assim um estilo proacuteprio de escrita

Como professora realizar a pesquisa nos permitiu refletir sobre a nossa proacutepria

praacutetica posto que superar as proacuteprias deficiecircncias no ensino da produccedilatildeo textual foi uma grande

inquietaccedilatildeo Reconhecer as praacuteticas nos foi importante para saber em que aspectos ainda temos

desafios a superar e para reforccedilar e desenvolver aspectos positivos em noacutes Ter clareza de como

se situam os iacutendices de avaliaccedilatildeo na turma na escola no municiacutepio no estado e no paiacutes tambeacutem

foi bastante importante Normalmente a tendecircncia coletiva estaacute em descrer na educaccedilatildeo poreacutem

mesmo que muito lentamente observamos progresso histoacuterico na concepccedilatildeo de aprendizado da

liacutengua materna no valor que eacute dado agrave leitura e agrave escrita

Apoacutes as oficinas a anaacutelise dos objetivos elencados ao iniacutecio de todo o processo

com dados comparativos entre produccedilatildeo inicial e produccedilatildeo final constatamos a relevacircncia da

hipoacutetese baacutesica os alunos do 9ordm ano produziram textos na etapa final das oficinas utilizando-

se das caracteriacutesticas do gecircnero textual crocircnica literaacuteria compreendendo que escrita eacute interaccedilatildeo

valorizando o uso social da escrita de acordo com a proposta teoacuterica de gecircnero preparando

seus textos pautados nas etapas do processo de redigir conforme as orientaccedilotildees dadas em sala

de aula

Sobre nossas hipoacuteteses secundaacuterias pensamos que eacute possiacutevel sim motivar os

alunos a escrever ao desenvolver com eles atividades voltadas para os diferentes subprocessos

e habilidades envolvidos no ato de redigir Poreacutem para haver o engajamento e resultar em uma

turma que escreva textos compatiacuteveis com o grau de desenvolvimento de habilidades esperadas

para o ano que cursam enfrentamos desafios como o aspecto do imediatismo e da recompensa

A natildeo adesatildeo de vaacuterios alunos ao projeto se deu por este natildeo valer nota Portanto

sem uma recompensa imediata natildeo houve o engajamento Nossos alunos infelizmente natildeo

estatildeo habituados a pensar a longo prazo a planejar alcanccedilar metas nem integrar atividades que

lhes facilitem a vida estudantil no futuro Talvez ndash pensamos ndash nem a cultura escolar abranja

141

ainda um trabalho soacutelido e constante nesse sentido Apesar disso haacute professores que se

empenham em fazer um trabalho constante de leitura e na medida do possiacutevel de escrita ao

qual fizemos nossa contribuiccedilatildeo

Por uacuteltimo apoacutes a realizaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica proposta ao contrastarmos as

produccedilotildees inicial e final dos alunos principalmente no que concerne agrave produccedilatildeo realizada para

fins de circulaccedilatildeo social real considerando uma audiecircncia real verificamos um desempenho

mais satisfatoacuterio em relaccedilatildeo agrave competecircncia discursiva realizada no gecircnero crocircnica literaacuteria

visto que os processos de escrita foram considerados no ato da produccedilatildeo de suas proacuteprias

crocircnicas

Para que essa produccedilatildeo fosse efetiva houve que se ter em mente na elaboraccedilatildeo dos

moacutedulos que qualquer tarefa de escrita bem-sucedida requer o exerciacutecio da escrita e da reescrita

Esse processo de aperfeiccediloamento dos textos demanda da parte do professor planejamento

para conhecer as necessidades de natureza geral da turma para trabalhar as caracteriacutesticas de

um gecircnero bem como as de natureza individual do aluno como as limitaccedilotildees no

reconhecimento do gecircnero textual na progressatildeo narrativa nas convenccedilotildees da escrita culta

Pensamos que poderia ser interessante para o aperfeiccediloamento desta SD ampliar e

diversificar mais os textos que compotildeem o moacutedulo de reconhecimento para antes da primeira

produccedilatildeo dos alunos visando oferecer uma visatildeo mais ampla do gecircnero Aleacutem disso

percebemos que tambeacutem eacute preciso que enquanto professores trabalhemos recorrentemente a

instruccedilatildeo da produccedilatildeo com os alunos no sentido de que eles compreendam que natildeo apenas um

aspecto seja escolhido para ser trabalhado mas todos os que nela estatildeo contidos

Aplicar uma SD eacute um trabalho que exige bastante do professor pois se trata de

conhecer o perfil de cada turma em que se decide aplicar um projeto de escrita diagnosticar

planejar os moacutedulos e pensar que o produto pode e deve ter circulaccedilatildeo no meio social Para

tanto eacute importante frisar que a rede de ensino acolha e apoie o professor motivando-o e

possibilitando-lhe as condiccedilotildees necessaacuterias e adequadas para o desenvolvimento de projetos de

escrita dentre as quais podemos mencionar formaccedilatildeo continuada que incentive os projetos de

escrita reforccedilo agraves condiccedilotildees dos materiais das escolas manter o nuacutemero de alunos adequado

nas salas evitando a superlotaccedilatildeo

No tocante aos alunos especialmente os que integraram todos os encontros de todos

os moacutedulos notamos que estes afirmaram que amadureceram ao longo do processo aprendendo

gradualmente a ter controle de sua escrita relendo quando necessaacuterio refletindo buscando

142

clareza Tambeacutem apreciaram muito poder opinar sobre os textos dos colegas visto que estavam

se apropriando das caracteriacutesticas do gecircnero estudado e sentiram seguranccedila para colaborar

Quanto ao trabalho com nuacutemero reduzido de alunos ao permanecerem no projeto

apenas aqueles que se interessaram em melhorar seu desempenho pessoal em leitura e produccedilatildeo

conforme eles mesmos disseram o grupo menor ficou mais coeso e permitiu-lhes liberdade

para trabalhar fosse com discussotildees sugestotildees ou mesmo para dar apoio ateacute mesmo na hora

de ler em voz alta para todos Foi um progresso coletivo e reafirmou a amizade entre o grupo e

tambeacutem conosco por ver que a colaboraccedilatildeo era acompanhada de afetividade

A produccedilatildeo dos textos para circulaccedilatildeo social escrevendo no celular foi produtiva

visto que oportunizou aos alunos o uso da tecnologia que eles afirmam preferir permitindo

agravequeles que natildeo gostam muito de produzir textos com os recursos tradicionais (folha de

produccedilatildeo e caneta) participarem ativamente do processo de produccedilatildeo textual Essa tecnologia

pode ser considerada para futuros trabalhos com alunos do ensino fundamental

Gostariacuteamos de mencionar que este trabalho do iniacutecio ao fim tratou com questotildees

de motivaccedilatildeo e inquietaccedilotildees reais e pessoais A queda abrupta do nuacutemero de participantes

desde o momento da adesatildeo ateacute o da produccedilatildeo para a circulaccedilatildeo eacute reflexo dos desafios que

qualquer professor enfrenta em sua sala cotidianamente No entanto as aulas regulares

diferentemente da proposta da aplicaccedilatildeo do projeto tecircm consigo uma carga de obrigatoriedade

ao exigir a frequecircncia a assiduidade a entrega de tarefas e as avaliaccedilotildees ndash itens que compotildeem

a nota para a aprovaccedilatildeo anual

Em decorrecircncia dessa obrigatoriedade se contrastarmos o desempenho dos alunos

no projeto ao seu desempenho regular na sala de aula de qualquer disciplina natildeo apenas na

liacutengua portuguesa veremos estudantes sem uma motivaccedilatildeo que os conecte ao desenvolvimento

das aulas natildeo permitindo o amadurecimento de suas capacidades e habilidades Como

professora da turma que aplicou o projeto sem exigecircncia de notas percebi que os alunos em

sua maioria natildeo gostariam de estar na escola Muitos natildeo veem ainda sentido em estar presentes

uma tarde inteira 20 (vinte) horas semanais sentados copiando tendo preguiccedila de elaborar

reflexotildees

Esse comportamento desmotivado que se generaliza em escolas de diversos pontos

do Paiacutes desanima tambeacutem os professores gerando a consequecircncia de ao inveacutes de buscarem

novas estrateacutegias para as aulas acabarem mantendo a praacutetica e ainda se conformando com o

senso comum de que ldquoesses alunos natildeo querem nadardquo fora a conjuntura social e econocircmica que

143

por si soacute eacute desanimadora ao limitar recursos e investimentos em educaccedilatildeo desvalorizando a

figura do professor

Gostariacuteamos de acrescentar que sim eles querem Mas ainda natildeo sabem ao certo o

que querem E talvez o que eles possam vir a querer ainda natildeo esteja sendo claramente

apresentado pois atividades tradicionais natildeo os atraem a querer conhecer mais e aprender mais

sobre determinados assuntos que podem acrescentar-lhes agrave vida diaacuteria Ficaria aiacute um desafio ao

professor ao projeto poliacutetico pedagoacutegico da escola e agraves redes de educaccedilatildeo baacutesica repensar o

curriacuteculo para os estudantes deste seacuteculo

Como pudemos observar este trabalho teve sim lacunas que podem ser sanadas

com outras pesquisas Apesar disso acreditamos que a pesquisa-accedilatildeo que realizamos pocircde

aleacutem de ofertar contribuiccedilotildees no acircmbito acadecircmico ao evidenciar vitoacuterias e expor os desafios

encorajar os alunos participantes da pesquisa principalmente os que tiveram a compreensatildeo de

que sua participaccedilatildeo lhes valeria para aleacutem de integrar pontos para uma nota no sentido de que

se permitiram evoluir como produtores de texto em sua liacutengua materna direito que lhes cabe

desde o momento em que satildeo reconhecidos cidadatildeos e que ingressam nas escolas brasileiras

144

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UECE 2005 Coleccedilatildeo Magister p159-171

148

APEcircNDICE A ndash ATIVIDADES PROPOSTAS PARA A SEQUEcircNCIA DIDAacuteTICA

Para compor o momento da apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo da sequecircncia de atividades

sensibilizamos os alunos com as caracteriacutesticas baacutesicas das crocircnicas contemporacircneas que foram

descritas na seccedilatildeo correspondente e resgatadas agora organizaccedilatildeo de sua narrativa em primeira

ou terceira pessoa quase sempre como quem conta um caso em tom intimista uma narraccedilatildeo

em que o autor insere em seu texto trechos de diaacutelogos permeados por expressotildees cotidianas

escrevendo como quem conversa com seus leitores como se estivessem muito proacuteximos uso

de temaacuteticas que tratam de reflexotildees sobre a vida social poliacutetica econocircmica por vezes de forma

humoriacutestica outras de modo mais seacuterio outras com jeito poeacutetico permitindo o pertencimento

do gecircnero agrave esfera literaacuteria emprego de linguagem que mescla aspectos da escrita com outros

da oralidade preferecircncia pela brevidade leveza faacutecil acesso e envolvimento Esperamos que

ao final da atividade que aleacutem de respondida por escrito mas principalmente oralmente os

alunos atentem para essas caracteriacutesticas e possam ter um norte quando chegar o momento de

sua primeira produccedilatildeo

Atividade nordm 1

Prova Falsa

Seacutergio Porto (Stanislaw Ponte Preta)

Quem teve a ideia foi o padrinho da caccedilula ndash ele me conta Trouxe o cachorro de

presente e logo a famiacutelia inteira se apaixonou pelo bicho Ele ateacute que natildeo eacute contra isso de se ter

um animalzinho em casa desde que seja obediente e com um miacutenimo de educaccedilatildeo

mdash Mas o cachorro era um chato mdash desabafou

Desses cachorrinhos de raccedila cheio de nheacutem-nheacutem-nheacutem que comem comidinha

especial precisam de muitos cuidados enfim um chato de galocha E como se isto natildeo

bastasse implicava com o dono da casa

mdash Vivia de rabo abanando para todo mundo mas quando eu entrava em casa vinha

logo com aquele latido fininho e antipaacutetico de cachorro de francesa

Ainda por cima era puxa-saco Lembrava certos poliacuteticos da oposiccedilatildeo que

espinafram o ministro mas quando estatildeo com o ministro ficam mais por baixo que tapete de

poratildeo Quando cruzavam num corredor ou qualquer outra dependecircncia da casa o desgraccedilado

rosnava ameaccedilador mas quando a patroa estava perto abanava o rabinho fingindo-se seu

amigo

mdash Quando eu reclamava dizendo que o cachorro era um ciacutenico minha mulher

brigava comigo dizendo que nunca houve cachorro fingido e eu eacute que implicava com o

ldquopobrezinhordquo

Num raacutepido balanccedilo poderia assinalar o cachorro comeu oito meias suas roeu a

manga de um paletoacute de casimira inglesa rasgara diversos livros natildeo podia ver um peacute de sapato

que arrastava para locais incriacuteveis A vida laacute em sua casa estava se tornando insuportaacutevel

Estava vendo a hora em que se desquitava por causa daquele bicho cretino Tentou mandaacute-lo

embora umas vinte vezes e era uma choradeira das crianccedilas e uma espinafraccedilatildeo da mulher

mdash Vocecirc eacute um desalmado mdash disse ela uma vez

Venceu a guerra fria com o cachorro graccedilas agrave maacute educaccedilatildeo do adversaacuterio O

catildeozinho comeccedilou a fazer pipi onde natildeo devia Vaacuterias vezes exemplado prosseguiu no feio

viacutecio Fez diversas vezes no tapete da sala Fez duas na boneca da filha maior Quatro ou cinco

vezes fez nos brinquedos da caccedilula E tudo culminou com o pipi que fez em cima do vestido

novo de sua mulher

149

mdash Aiacute mandaram o cachorro embora mdash perguntei

mdash Mandaram Mas eu fiz questatildeo de daacute-lo de presente a um amigo que adora

cachorros Ele estaacute levando um vidatildeo em sua nova residecircncia

mdash Ueacutehellip mas vocecirc natildeo o detestava Como eacute que arranjou essa sopa pra ele

mdash Problema da consciecircncia mdash explicou mdash O pipi natildeo era dele

E suspirou cheio de remorso

(Disponiacutevel em httpcontobrasileirocombrprova-falsa-cronica-de-sergio-porto-stanislaw-ponte-preta Acesso

em 2612017)

Questotildees

1 Quantos personagens aparecem na histoacuteria Quais vocecirc diria que satildeo os principais

2 Quem teve a ideia foi o padrinho da caccedilula ndash ele me conta

A frase ele me conta eacute um recurso que mostra que a conversa de dois amigos eacute

repassada a uma terceira pessoa Quem eacute ela

3 Que recursos linguiacutesticos mostram a fala do marido e dono da casa onde estava o

cachorro

4 E quais identificam a fala do amigo

5 Onde o marido e seu amigo parecem conversar

6 A partir da fala do marido e das explicaccedilotildees do amigo quais eram as caracteriacutesticas do

cachorro

7 () e eu eacute que implicava com o ldquopobrezinhordquo

Por que pobrezinho estaacute entre aspas

8 Quando aconteceu a histoacuteria

9 Qual foi o problema da histoacuteria

10 Como foi resolvido

11 O destino dado ao cachorro surpreendeu ao amigo Por quecirc

12 Afinal quem era culpado na histoacuteria

13 Que tom predominantemente foi dado a esse texto Humor ironia criacutetica reflexatildeo

lirismo

14 Qual foi o tema principal do texto Vocecirc apontaria outros temas que aparecem na

leitura

15 Que comparaccedilotildees o autor faz com o cachorro Haacute alguma criacutetica Explique

16 Vocecirc conhece o significado das palavrasexpressotildees a seguir Veja

nheacutem-nheacutem-nheacutem chato de galocha puxa-saco

espinafrar espinafraccedilatildeo desquitava guerra fria

vidatildeo sopa

17 Que palavras satildeo usadas no texto para se referir agrave esposa

18 E suspirou cheio de remorso

Explique o valor dessa frase para o contexto da histoacuteria

Atividade nordm 2

Abandono de animais eacute crime e precisa ser denunciado

Por Canal do Pet | 26072016

150

Aleacutem do abandono de animais praacuteticas como bater negar aacutegua ou alimento tambeacutem

satildeo consideradas crime saiba como denunciar

Infelizmente o abandono de animais estaacute cada dia mais presente nos noticiaacuterios

Mesmo com tantas campanhas contra a praacutetica muita gente ainda comete esse crime -

principalmente quando eacute eacutepoca de feacuterias mesmo natildeo havendo um nuacutemero exato as estatiacutesticas

dos institutos de pesquisa afirmam que nos periacuteodos de feacuterias haacute um pico no abandono de

animais Existem muitos relatos de donos que deixam os cachorros em pet shops veterinaacuterios

e hoteacuteis para cachorro e simplesmente nunca mais voltam para buscaacute-los Esse problema pode

estar atrelado a decisatildeo precipitada de ter um animal de estimaccedilatildeo

A Lei 960598 (Lei de Crimes Ambientais) prevecirc os maus-tratos como crime O

decreto 2464534 (Decreto de Getuacutelio Vargas) determina quais atitudes podem ser consideradas

como maus-tratos Qualquer pessoa que for testemunha de um abandono de

animais domeacutesticos ou exoacuteticos pode ir agrave delegacia mais proacutexima A Promotora de Justiccedila

permite a denuacutencia anocircnima Mas para que a denuacutencia seja realizada vocecirc precisa ter certeza

do crime pois uma acusaccedilatildeo falsa eacute outro crime Aleacutem disso no momento da denuacutencia na

delegacia eacute preciso passar o maior nuacutemero de informaccedilotildees possiacuteveis em relaccedilatildeo ao infrator

como seu endereccedilo residencial ou comercial

Caso o animal esteja abandonado em um terreno baldio ou propriedade particular

por exemplo natildeo hesite em invadir o local para salvar o bichinho a sua accedilatildeo seraacute amparada

pela lei O decreto de lei nuacutemero 284840 artigo 24 considera a invasatildeo para salvamento de

um animal em perigo uma atitude de necessidade e portanto natildeo haveraacute nenhum tipo de

puniccedilatildeo

Aleacutem do abandono outras praacuteticas satildeo consideradas crimes pela lei Uma delas eacute o

atropelamento de um animal sem que haja a prestaccedilatildeo de assistecircncia por parte do condutor do

veiacuteculo tambeacutem eacute ilegal Se presenciar essa situaccedilatildeo anote a placa do carro hora e local Outra

eacute a ameaccedila de envenenamento Bater espancar prender por correntes recusar aacutegua e comida e

obrigar ao trabalho excessivo tambeacutem satildeo praacuteticas proibidas

Algumas pessoas preferem natildeo denunciar pelo fato do infrator ser algueacutem proacuteximo

um amigo ou familiar por exemplo Mas lembre-se de que eacute possiacutevel efetuar a denuacutencia de

maus tratos ou abando de animais de forma anocircnima Por isso ao presenciar qualquer situaccedilatildeo

que possa colocar um animal em risco tire foto grave um viacutedeo tenha provas concretas do

acorrido e denuncie Vocecirc seraacute apenas a testemunha o Estado faraacute o restante

Disponiacutevel em httpcanaldopetigcombrcuidados2016-07-26abandono-de-animaishtml Acesso em 22 de

agosto de 2017

Atividade nordm 3

O chato da vez Anaximandro Amorim

Ai meu Deus eu sou muito chato afirmou um amigo em uma conversa informal

Engraccedilado Eu natildeo o acho chato muito pelo contraacuterio Gosto da companhia dele Seraacute que ele

natildeo estaria sendo muito duro consigo mesmo Ou seraacute que eu sou tatildeo chato quanto ele

E vocecirc leitor Vocecirc eacute chato Todo mundo eacute chato ningueacutem eacute chato Do alto desses

meus quase quarenta anos de vida percebi que chatice natildeo eacute qualidade eacute estado de espiacuterito

Dependo de quem quando e onde E sem menos perceber vocecirc leitor pode ser o chato da

vez Cuidado

Foi o que me aconteceu esses dias Um colega insinuou que eu estava sendo chato

Foi num arroubo de fuacuteria o cidadatildeo estava tendo um ataque de nervos Dizem que eacute assim que

151

as verdades vecircm agrave tona Engraccedilado sempre achei que o havia tratado com distinccedilatildeo Talvez

essa fosse tal ldquochaticerdquo ser educado com as pessoas num mundo cada vez mais carente disso

Bom melhor ser chato do que grosso neacute

Particularmente faccedilo tudo para natildeo ser chato Tento ser discreto falar o menos

possiacutevel ouccedilo mais pergunto quase nada sobre a vida particular das pessoas Acho chato

quando fazem isso comigo Natildeo gosto de pegar no peacute A reciacuteproca eacute verdadeira Mas acho que

agraves vezes por medo da chatice acabo chateando algumas pessoas Haacute uma linha muito tecircnue

nesse negoacutecio todo Chato eacute natildeo saber a hora de ultrapassaacute-la E no fundo todo mundo a

ultrapassa

Esses dias aliaacutes fui agrave forra Havia um chato que me chateava haacute uns dois anos

Chato de rede social Daqueles que veem a gente uma duas vezes no maacuteximo e jaacute acham que

podem tomar certas liberdades Meu pavio eacute ateacute meio longo mas chegou uma hora que natildeo

deu Bloqueei o sujeito Estava chato demais Eacute uma pena que na vida real a gente natildeo tenha

esse botatildeo Ia ter tanta gente para bloquear

Em todo caso discordo desse meu amigo Acho que dois chatos natildeo se datildeo Ou ele

estava chato ou era eu Ou na posiccedilatildeo em que estaacutevamos natildeo dava para saber Se bem que

chato que eacute chato natildeo se acha chato Os outros eacute que acham Assim melhor terminar esta

crocircnica que estaacute uma grande chatice por aqui Antes que algueacutem ache definitivamente que o

chato da vez sou eu

Disponiacutevel em httpanaximandroamorimcombrAbreEmDIV]ajaxasplink=amateriaampid=127 Acesso em

24 mai 2017

Questotildees

1 Vamos falar de marcas de autoria

a) De quem eacute a voz que fala no texto Que idade tem essa voz Essa voz fala com algueacutem

Com quem Mostre alguma(s) passagem que indique isso

b) Onde a situaccedilatildeo se passa Haacute algum lugar especiacutefico

c) Esse texto estaacute no passado no presente ou no futuro

d) Do que trata a situaccedilatildeo Ela surgiu de alguma ocasiatildeo especiacutefica Se sim qual

2 O que o autor nos leva a entender que eacute ldquoser chatordquo

3 Que sensaccedilotildees esse texto despertou em vocecirc Explique

4 Vocecirc se considera um(a) chato(a) Por quecirc Em que ocasiotildees

5 Quando o assunto eacute redes sociais

a) Vocecirc tem alguma Qual

b) Com que frequecircncia vocecirc acessa

c) Vocecirc costuma escrever e postar Que tipo de material (textos fotos viacutedeos)

d) Vocecirc tem haacutebito de acompanhar postagens de algueacutem Que tipo de posts vocecirc

acompanha Costuma interagir por meio de comentaacuterios de expressatildeo de opiniatildeo

6 Vamos ver se vocecirc conhece o significado das palavrasexpressotildees a seguir

com distinccedilatildeo pegar no peacute

linha muito tecircnue fui agrave forra

7 Leia o trecho abaixo

Meu pavio eacute ateacute meio longo mas chegou uma hora que natildeo deu Bloqueei o sujeito

Estava chato demais Eacute uma pena que na vida real a gente natildeo tenha esse botatildeo Ia ter tanta

gente para bloquear

a) Qual eacute sua opiniatildeo sobre o pensamento que o autor expressa no trecho acima

b) Vocecirc tambeacutem teria gente para bloquear Por que razotildees

152

c) Agora vamos produzir Inspirado(a) nessa temaacutetica do trecho acima produza um texto

em forma de crocircnica que converse com seu leitor sobre o que eacute ser legal e ser chato a

partir de situaccedilotildees que vocecirc tenha vivenciado e ou observado Vamos determinar quem

seraacute esse leitor

bull Tem a sua idade

bull Acessa redes sociais

bull Lecirc e posta com frequecircncia

bull Interage com as postagens que estatildeo na rede seja de amigos pessoais ou apenas de

outros usuaacuterios

Antes de comeccedilar pense que sensaccedilotildees eu quer causar no meu leitor

Quero fazecirc-lo rir Se emocionar Refletir Que outras sensaccedilotildees seriam possiacuteveis

Faccedila entre 3 e 6 paraacutegrafos Vocecirc pode usar personagens que conversem e

expliquem o assunto (como em Prova Falsa) ou falar diretamente com seu leitor (como

em O chato da vez) Releia Reescreva o que natildeo estiver bem ao seu gosto Ao terminar

seu texto decirc-lhe um tiacutetulo coerente e passe a limpo na folha de produccedilatildeo Bom trabalho

Atividade nordm 4

Manias Ana Mello

Dos vaacuterios significados que meu amigo Aureacutelio apresenta o melhor diz que mania

eacute uma ideia fixa obsessatildeo Mau costume tambeacutem eacute bem significativo Ou extravagacircncia

esquisitice

Dizem por aiacute que vamos ficando velhos e as manias aumentam e se consolidam Eacute

verdade eu observo nos mais velhos do que eu Poucos conseguem controlar aquele impulso

profundo de dar sua opiniatildeo Essa eacute uma mania das mais chatas Repeti-la muitas vezes entatildeo

eacute maccedilante

Jaacute descobri tambeacutem que eacute quase inevitaacutevel ter manias na velhice muitas vecircm da

juventude mesmo condenamos e depois de um tempo fazemos igual sem cerimocircnia alguma

Uma amiga me enviou uma oraccedilatildeo sob o tiacutetulo ldquoOraccedilatildeo para ser uma velhinha

legalrdquo Vou fazer todos os dias e envio coacutepia a quem precisar Separei algumas frases as mais

interessantes

Livrai-me Senhor da tolice de achar que devo dizer algo em toda e qualquer

ocasiatildeo Deste desejo enorme que tenho de querer pocircr em ordem a vida dos outros Da tolice

de querer contar tudo com detalhes e minuacutecias e daacute-me asas para voar diretamente ao ponto que

interessa Jaacute descobri que pessoas que acertam sempre satildeo maccedilantes e desagradaacuteveis Livrai-

me de ser santa Eacute difiacutecil conviver com Santos Mas uma velha rabugenta Senhor eacute obra prima

do diabo

Acho que a oraccedilatildeo pode ser feita por pessoas jovens tambeacutem pois essas manias natildeo

satildeo exclusivas das velhinhas

Fiquei agora com uma duacutevida seraacute que escrever crocircnicas semanais e mandar para

todos os amigos eacute mania Se for azar o de vocecircs amigo eacute para isso mesmo

Enviado por Ana Mello em 02112007

Coacutedigo do texto T720831

Disponiacutevel em httpwwwrecantodasletrascombrcronicas720831

153

Acessado em 23102017

1 Quem eacute ldquomeu amigo Aureacuteliordquo

2 Que exemplos de manias a autora nos apresenta em seu texto

3 Que impressotildees esse texto causou em vocecirc

4 Segundo essa crocircnica quem tem manias Vocecirc concorda Por quecirc

5 Liste aqui manias que vocecirc sabe que tem Apoacutes terminar pense vocecirc as considera

boas ou maacutes manias Por quecirc

6 Vamos fazer um exerciacutecio de escrita Escreva uma crocircnica em que vocecirc fale de suas

manias Converse com o leitor conte a ele suas experiecircncias Faccedila comparaccedilotildees com

pessoas que vocecirc conhece Vocecirc pode inclusive comparar-se hoje a vocecirc daqui a uns

quarenta anos Como seraacute que suas manias vatildeo ser Vatildeo parecer com as das pessoas

mais velhas que vocecirc conhece e convive mas cujas manias vocecirc tanto critica Seratildeo

manias diferentes Seratildeo melhores ou piores

Obs coloque um tiacutetulo interessante e que chame a atenccedilatildeo de seu leitor

Pense que seu texto poderia ser publicado num blog ou mesmo numa paacutegina de rede

social ndash sendo assim que tipo de leitor vai ler o seu texto Ao terminar releia arrume

as ideias e passe a limpo para a folha de produccedilatildeo textual

Atividade nordm 5

Pacto apoacutes morte natildeo podia ver faca Nonato Reis

Essa histoacuteria de prometer retornar ao mundo dos vivos apoacutes o desenlace soa

esquisito e jaacute colocou muita gente em maus lenccediloacuteis A morte pelo misteacuterio que carrega incute

a curiosidade de tentar desvendaacute-la e saber o que de fato existe por traacutes dela Eacute uma questatildeo

que permaneceraacute insoluacutevel ateacute que a ciecircncia elucide-a se eacute que isso algum dia ocorreraacute

Enquanto natildeo atingimos esse estaacutegio temos que ficar com o relato daqueles que se dizem

viacutetimas ou privilegiados de experiecircncias poacutes-tuacutemulo

No Ibacazinho na Palmela no Muricituba e no Marimar era comum as pessoas

fazerem promessas agrave semelhanccedila do pacto selado entre Alvinho e Pau Ferro Na maioria das

vezes o defunto natildeo conseguia voltar deixando frustrados ou aliviados aqueles com quem fez

o acordo Foi o caso de Rui um primo meu que ldquose acertourdquo com Ponina aquela tia-avoacute

descrita em uma de minhas crocircnicas

Rui era um dos poucos que natildeo tinham medo da Tapera de Maria Fernandes Tanto

que decidiu erguer casa justo ali naquele retacircngulo amaldiccediloado e por muito tempo antes de

se casar foi morador solitaacuterio do lugar sem nunca jamais ter visto qualquer coisa fora do

universo dos vivos

Os dois combinaram que aquele que morresse primeiro viria dar sinal ao outro na

noite posterior ao sepultamento Ponina que devia ser uns 50 anos mais velha do que ele tinha

a maior probabilidade de ficar com a obrigaccedilatildeo de cumprir o trato e foi o que aconteceu Poreacutem

os dias e as noites passaram apoacutes o falecimento dela sem que a finada desse qualquer sinal da

sua presenccedila para Rui

Eu tambeacutem caiacute nessa besteira de fazer uma promessa com uma menina do primeiro

ano meacutedio e vivi uma situaccedilatildeo constrangedora Rosa era baixinha corpo bem feito cabelos no

estilo pigmaleatildeo excelente aluna fera em Matemaacutetica e Fiacutesica Nossa aproximaccedilatildeo se deu por

estrateacutegia de aprendizado

154

Eu tinha facilidade em Portuguecircs e Redaccedilatildeo uacutenicas mateacuterias que ela natildeo dominava

e precisava de reforccedilo em Fiacutesica e Matemaacutetica Selamos um pacto de ajuda muacutetua nessas

disciplinas que depois se estendeu para depois da vida ldquoSe eu morrer primeiro eu apareccedilo

para ti em plena Rua Grande apinhada de gente e se tu fores primeiro do que eu tu me surges

agrave noite no meu quartordquo

Eu natildeo entendi o porquecirc da escolha do local da minha apariccedilatildeo mas aceitei Os

anos se passaram eu entrara para a universidade perdi o contato com ela Um dia caminhando

pela Rua Grande veacutespera de Natal gente feito formiga dei de cara com aquela menina

tampinha cabelos no mesmo estilo de antes que diante de mim abriu um enorme sorriso e abriu

os braccedilos para me acolher Eu caiacute das nuvens mas antes que ela me alcanccedilasse danei a correr

feito louco fazendo zigue-zague entre as pessoas ateacute esbarrar num orelhatildeo e me estatelar no

chatildeo o rosto sangrando Assustada Rosa ajoelhou-se diante de mim e quis saber o motivo

daquela reaccedilatildeo ldquoCara o que eacute isso Tu viu fantasmardquo Eu baixei a cabeccedila o coraccedilatildeo prestes a

explodir e natildeo consegui dizer nada

Situaccedilatildeo pior viveu o professor Auriacutelio Vieira de Andrade que fizera um pacto

desses com um primo ainda menino Ele cresceu veio estudar em Satildeo Luiacutes e levou anos para

retornar ao interior Um belo dia em feacuterias na casa paterna Auriacutelio conversava com a matildee em

volta do fogatildeo de lenha quando do nada surgiu o menino da promessa e o pegou pelo braccedilo

dizendo ldquoVamos eu vim te buscarrdquo

Ele natildeo se lembrava mais da estoacuteria nem do menino Pensou que se tratava de uma

brincadeira e reagiu com naturalidade ldquoCalma para onde vocecirc quer me levarrdquo O menino

respondeu ldquopara o aleacutemrdquo Auriacutelio sorriu ldquomas eu ainda natildeo quero ir para o aleacutemrdquo O menino

natildeo se deu por vencido ldquoNatildeo importa a tua vontade vocecirc fez um pacto comigo e eu vim te

buscarrdquo

Foi entatildeo que o caso ressurgiu liacutempido na memoacuteria de Auriacutelio e ele viu que a coisa

era seacuteria A matildee percebendo a gravidade da situaccedilatildeo poreacutem sem avistar o menino tratou de

ajudar o filho segurando-o pelo braccedilo mas notou que havia uma energia ali muito maior que a

resistecircncia de ambos e apelou aos ceacuteus pedindo socorro divino

Auriacutelio jaacute desaparecia na porta da rua quase que levado aos trambolhotildees

Desesperada a matildee comeccedilou a rezar o Pai Nosso e o Credo e soacute assim conseguiu ter o filho de

volta Auriacutelio poreacutem viveu dias amargos ldquoPassei quase um mecircs deprimido Soacute pensava em

suiciacutedio Natildeo podia ver faca perto de mimrdquo

Crocircnica escrita em janeiro de 2017

Questotildees

Parte I ndash Vocabulaacuterio

a) Vocecirc conhece estas palavras

Desenlace Incute

Insoluacutevel Tapera

Pigmaleatildeo Apinhada

b) Vocecirc observa marcas de oralidade no texto Vamos destacar algumas

c) Que outras palavras ou expressotildees satildeo muito correntes no vocabulaacuterio do Maranhatildeo

Parte II ndash Compreensatildeo

1 Do que trata a histoacuteria

2 Qual eacute o foco narrativo

155

3 Que personagens aparecem na histoacuteria

4 O que eacute um pacto poacutes-morte Vocecirc sabe de algueacutem que tenha feito algum

5 Vocecirc acredita nessas histoacuterias Fale um pouco a respeito

6 No trecho ldquoSe eu morrer primeiro eu apareccedilo para ti em plena Rua Grande apinhada

de gente e se tu fores primeiro do que eu tu me surges agrave noite no meu quartordquo

Qual seria a vantagem para cada um nos locais das apariccedilotildees E as desvantagens

7 Como seria feito o seu pacto caso um dia vocecirc resolvesse fazecirc-lo

8 No que esse texto que vocecirc leu se assemelha com uma histoacuteria de terror E no que ela

se diferencia

9 Se esse texto fosse uma notiacutecia de jornal seria escrito da mesma forma Qual seria a

diferenccedila da linguagem

10 No uacuteltimo paraacutegrafo haacute a frase

ldquoFoi entatildeo que o caso ressurgiu liacutempido na memoacuteria de Auriacutelio e ele viu que a coisa

era seacuteriardquo

Se vocecirc fosse o Auriacutelio como resolveria a situaccedilatildeo

Atividade nordm 6

A cara da rua Marcelo Xavier

A rua sempre traduz a imagem de determinada eacutepoca Por isso eacute tatildeo interessante

Em cenas urbanas do seacuteculo XVIII XIX vemos carruagens mulheres de vestidos longos e

homens de terno e chapeacuteu No comeccedilo do seacuteculo XX automoacuteveis pretos mulheres de vestidos

mais curtos e homens ainda de terno e chapeacuteu Nos anos 1960 e 1970 automoacuteveis coloridos

mulheres de minissaia e homens sem terno e sem chapeacuteu

E agora na segunda deacutecada do seacuteculo XXI qual eacute a cara da rua Talvez vocecirc natildeo

saiba responder Eacute que ela passa todos os dias diante do seu nariz e vocecirc natildeo a vecirc Ou vocecirc

apenas vecirc algumas partes ldquomais atraentesrdquo do corpo dela A cara da rua continua invisiacutevel Vale o esforccedilo encare-a Como a um espelho Eacute divertido eacute necessaacuterio Esqueccedila o colesterol de

carros que entopem as vias mire os humanos

Repare bem as mulheres estatildeo de vestidos de todos os comprimentos de calccedilas

coladas se equilibrando em agulhas altiacutessimas carregadas de adereccedilos Normal

Os homens ah Os homens deram um salto esteacutetico rumo agrave libertaccedilatildeo Lembra

aqueles cavalheiros sisudos das ruas antigas com ternos de cores soacutebrias e chapeacuteus iguais

Esquece

Os novos machos estatildeo de brincos colares vistosos boneacutes e tecircnis coloridos

camisetas de todo tipo ebermudas

Natildeo as antigas que natildeo passavam de calccedilas curtas discretas As de hoje satildeo

espalhafatosas se expressam Multicoloridas exibem uma diversidade visual que beira o

infinito Geomeacutetricas abstratas figurativas iacutedolos super-heroacuteis paisagens flores ondas do

156

mar nuvens paacutessaros animais palavras de ordem apologias Combinam texturas

inimaginaacuteveis demarcam aacutereas visuais em recortes absurdamente livres ndash numa perna listras

diagonais na outra xadrez Um tsunami criativo que sai arrastando os antigos princiacutepios de

harmonia do universo da moda E o que eacute intrigante natildeo se repetem

Esse surto visual atinge seu aacutepice quando as bermudas-alucinoacutegenas se juntam a

camisetas estampadas tecircnis astronaacuteuticos boneacutes cheios de atitude e tatuagens ndash nos braccedilos nas

panturrilhas no pescoccedilo laacute estatildeo dragotildees coroas de espinho mulheres folhas de maconha

juras de amor

Vocecirc pode natildeo gostar do que vecirc natildeo se reconhecer na imagem que estaacute no espelho

mas essa eacute a cara da rua do seu tempo De certa forma a sua cara

XAVIER Marcelo A cara da rua e outras crocircnicas Satildeo Paulo Saraiva 2013

Vamos refletir sobre o texto

1 A partir da leitura vocecirc consegue deduzir de que situaccedilatildeo observada no cotidiano o autor

partiu para escrever essa crocircnica

2 O autor fez a construccedilatildeo do seu texto de forma simples poreacutem criativa por meio de

comparaccedilotildees para mostrar a cara da rua ao longo do tempo Vamos identificaacute-las

No meio urbano Seacutec XVIII

XIX

Comeccedilo do

seacutec XX

Anos 19601970 do

seacutec XX

2ordf deacutecada do

seacutec XXI

Vestuaacuterio

feminino

Vestuaacuterio

masculino

3 Dessas comparaccedilotildees do visual que foram feitas ao longo do texto vocecirc encontra alguma

na rua onde mora Qual

4 E o que eacute diferente na rua onde vocecirc mora que natildeo foi citado no texto

5 Preste atenccedilatildeo aos trechos a seguir

A rua sempre traduz a imagem de determinada eacutepoca Por isso eacute tatildeo interessante

[]

Vocecirc pode natildeo gostar do que vecirc natildeo se reconhecer na imagem que estaacute no espelho

mas essa eacute a cara da rua do seu tempo De certa forma a sua cara

6 A partir da leitura do texto vocecirc consegue dizer se o autor gosta ou natildeo gosta da cara da

rua que ele descreve Explique sua resposta

7 Que palavras ou expressotildees no texto mostram que o autor conversa com seu leitor ao longo do texto Sublinhe-as

8 Para que puacuteblico vocecirc acha que essa crocircnica estaacute direcionada Explique sua resposta

9 Vocecirc faraacute a seguir a seguinte atividade leia essa crocircnica de Marcelo Xavier para uma

pessoa em casa Apoacutes a leitura anote as impressotildees e opiniotildees dela sobre a atual cara

da rua sejam positivas ou negativas Ao final pergunte a essa pessoa para quem vocecirc

leu se o texto provocou uma impressatildeo boa ou ruim se ela o achou bem ou mal escrito

se a fez refletir sobre a vida e a mudanccedila dos tempos e qual a conclusatildeo a que ela chegou

depois dessa reflexatildeo

Ao final dessa atividade passe a limpo seu registro e traga para a aula

seguinte para discussatildeo coletiva

157

Atividade nordm 7

A Carta de punho

Demitri Tulio

DAS ANTIGAS 23102016

Algumas pessoas ainda escrevem cartas E bom que ainda o fazem Missivas

escritas agrave matildeo e a tinta preta da caneta dando vida agrave vontade de chegar perto do outro

Ou de ser escutado como se pensasse alto querendo ser ouvido das lonjuras que a

vida vai criando entre ex-amores amigos que deixaram de se ter de filho e matildee separados por

asas

Particularmente antes de agora laacute longe quando fui mais menino queria ter escrito

muitas cartas Devo ter rabiscado umas duas e nunca as mandei agrave destinataacuteria

Primeiro porque tinha vergonha de natildeo saber ortografia Achava difiacutecil (ainda

acho) a gramaacutetica brasileira e me amuava em vergonha de grafar ou concordar alguma coisa

ldquoerradardquo para quem eu queria dizer de mim

Entatildeo ficava horas e dias tentando

rascunhar correto e catando palavras peludas

trechos do dicionaacuterio frase de escritores que eu

queria ser Um paraacutegrafo dois e rasgava a folha

do caderno Serei levado a pagode

E por mais que eu lesse Graciliano

para Heloiacutesa os labirintos e as encruzilhadas da Clarice e os retratos de dona Leopoldina sobre

o Brasil e seu desenxabido Pedro I natildeo conseguia nem copiaacute-los

Loacutegico carta eacute um ser entranhado do remetente Eacute quase um pulmatildeo um rim um

coraccedilatildeo Eacute parte do corpo que se doa no instante em que a esferograacutefica vai sendo guiada pelo

papel

E natildeo era meu o afeto de Graciliano Natildeo eram minhas as inquietaccedilotildees de Clarice

E era de dona Leopoldina aquele incocircmodo de calor a saudade das oacuteperas da Aacuteustria as caccediladas

de animais do Brasil ldquoprimitivordquo

Pois bem queria ter escrito recebido e respondido mais cartas Hoje mando emails

Eacute bom mas carta tinha uma espera que natildeo sei dizer

Semana passada depois de mais de 30 anos sem algueacutem me endereccedilar uma carta

de papel e caneta eis que recebo Natildeo foi de pretendente Sempre esperei por uma dessas mas

talvez a falta de boniteza tenha me privado de

Foi de um leitor da Coluna Um moccedilo de mais de 92 anos que teve a gentileza de

tirar um tempo e me enviar um envelope pelos Correios Carimbado dois selos e o trato por

ldquoIlmo Srrdquo

ldquoCaro (posso) Sr Demitri Sauacutede Sou assinante drsquo O Povo haacute deacutecadas e portanto

seu leitor antigo Natildeo soacute leitor mas tambeacutem admirador pela defesa da natureza (paacutessaros do

Cocoacute) e pelo seu estilo diferente (neologismos bem lsquocolocadosrsquo) e assuntos (temas) originais

para suas crocircnicas

Criei coragem para lhe escrever apoacutes ler sua crocircnica (artigo) lsquoEntatildeo Venha

comigorsquo excelente para quem como eu jaacute passou dos 92 e concorda com suas colocaccedilotildees

sobre a velhice

Aceite meus cumprimentos e votos de muitos anos de lsquoescrevinhaccedilatildeorsquo

Cordialmente (ex-cordis) Santos Rochardquo

158

E ainda escreve um paraacutegrafo derradeiro apoacutes as despedida e a assinatura ldquoPS Natildeo

eacute que eu queira lsquosubir aleacutem da chinelarsquo mas me parece que no penuacuteltimo paraacutegrafo de sua

crocircnica deveria ter escrito lsquose casariarsquo em vez de lsquocasaria-sersquo Discurperdquo

O envelope branco com um carimbo de uma agecircncia dos Correios do bairro

Meireles trazia ainda um texto datilografado (Ser Jovem do general Douglas Mac-Arthur) e

um recorte de jornal com um sermatildeo de Santo Agostinho

Pois fico agradecido pela decisatildeo de escrever a carta do tempo dedicado Pelos

minutos pensando em o que escrever Por cada palavra casada com cada frase Pela respiraccedilatildeo

para pensar em quem nem se conhece

Pela caneta preta identificando o remetente

Pela ida aos Correios ou por se dar ao trabalho de pedir algueacutem que fosse

Pela gentileza de ler a Das Antigas

Como o senhor mandou dizer ldquoNatildeo eacute por ter vivido um certo nuacutemero de anos que

envelhecemos envelhecemos porque abandonamos o nosso idealrdquo

Sem mais fico por aqui

Acesso em 31 ago 2017

httpwww20opovocombrappcolunasdasantigas20161022noticiasdasantigas3665372a-carta-de-

punhoshtml

Vocabulaacuterio

Desenxabido Adjetivo 1desprovido de gosto de sabor insiacutepido insosso2a que

falta interesse particular ou graccedila marcado pela repeticcedilatildeo aborrecido monoacutetono

Ex abundantia cordis Da abundacircncia do coraccedilatildeo Com sinceridade

Curiosidade

Pedro nasceu na manhatilde de 12 de outubro de 1798 no Palaacutecio Real de Queluz

Portugal Ele foi nomeado em homenagem a Satildeo Pedro de Alcacircntara e seu nome completo era

Pedro de Alcacircntara Francisco Antoacutenio Joatildeo Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael

Joaquim Joseacute Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim Desde seu nascimento recebeu o prefixo

honoriacutefico de Dom

Atividade

Vamos observar a crocircnica Marque o que acha adequado

Sim Natildeo

Partiu de uma situaccedilatildeo observadavivida

Conversa com o leitor

Possui o foco narrativo bem determinado (narrador personagem ou

narrador observador ou narrador onisciente)

Leva o leitor a refletir

Causa impressotildees no leitor como riso choro reflexatildeo emoccedilatildeo

Possui um final interessante

Mostra discretamente ao leitor seu ponto de vista a respeito da situaccedilatildeo

Possui alguma descriccedilatildeo de lugarobjetopersonagem

Possui um tiacutetulo

Emprega adequadamente os sinais de pontuaccedilatildeo

Evita repeticcedilatildeo desnecessaacuteria de palavras

Possui paraacutegrafos bem organizados

159

Atividade nordm 8

Amor de macumba Fabriacutecio Carpinejar

Quando algum amigo diz que recebeu macumba da ex fico com ciuacuteme Com dor

de cotovelo

Isso que eacute amor grandioso Amor de verdade

Sempre olho na minha esquina para ver se natildeo tem nenhuma encomenda para mim

Mas nunca chega esse sedex do amor

Macumba eacute sedex 10 do amor

Eacute muita paixatildeo odiar algueacutem com tanto zelo Eacute muito capricho gastar seu tempo e

fazer um trabalhinho para prender a pessoa ao seu coraccedilatildeo

Eacute muita disposiccedilatildeo

Eacute muita energia

Eacute muito querer

Eacute muito desejo

Eacute a superaccedilatildeo de todos os incocircmodos de todos os vexames de todos os medos

Eacute muito luxo ter uma amada pagando para os santos mexerem com vocecirc pagando

a parcela antecipada da eternidade

Isso que eacute amor aleacutem da vida

Isso que eacute vontade de permanecer junto

Eu aceitaria qualquer prova de doaccedilatildeo amarraccedilatildeo vodu letras de macarratildeo

pipoca

Nem precisa roubar minha cueca daria a melhor da minha gaveta

Ai que inveja

No lugar da galinha preta poderia oferecer o chester que sempre recebo no final do

ano

Estaacute aqui parado no congelador Sem uso

E as velas na minha esquina ainda ajudariam a iluminaccedilatildeo puacuteblica

Amor de macumba eacute amor para sempre

Disponiacutevel em httpcarpinejarblogspotcombr201402amor-de-macumbahtml

Acesso em 2 de agosto de 2017

Vamos refletir sobre o texto

1 A partir da leitura vocecirc consegue deduzir de que situaccedilatildeo observada no cotidiano o autor

partiu para escrever essa crocircnica

2 Qual parece ser a opiniatildeo do autor a respeito do tema Utilize trechos do texto que

justifique a sua resposta

3 Que reflexotildees se pode perceber na leitura desse texto

4 Que impressotildees essa crocircnica causa no leitor (riso choro reflexatildeo emoccedilatildeo alguma

outra)

160

Atividade nordm 9

Sr Google Pacheco

SR GOOGLE PACHECO

27 outubro 2012 Juliano Martinz

Quando chegavam ao escritoacuterio pela manhatilde o senhor Google Pacheco sempre

estava laacute Sentado a sua mesa ou correndo de um lado para outro mantinha-se no seu

memoraacutevel ritmo agitado produccedilatildeo beirando o frenesi Os funcionaacuterios o admiravam Era

sempre o primeiro a chegar e o uacuteltimo a sair (embora ningueacutem tenha testemunhado qualquer

um destes acontecimentos)

ndash Acho que ele dorme no escritoacuterio ndash alguns arriscavam

Outros jaacute apelavam pro exagero

ndash Dizem que ele nunca dorme

Sr Google Pacheco O chefe do departamento de marketing Baixo e gordinho

Feiccedilatildeo inocente quase boba Chamava a atenccedilatildeo pelas roupas sempre de cores viacutevidas

cintilantes Geralmente boneacute azul camiseta vermelha calccedilas amarelas e tecircnis verde Agraves vezes

invertia as cores mas nunca as abandonava Roupas estranhas para um homem de nome

estranho A personagem perfeita para textos humoriacutesticos

Quando era novo na empresa ainda apenas um singelo desconhecido causava

confusatildeo com seu nome Liam o crachaacute e diziam

ndash Bom dia sr Goacutegle

Ele corrigia sempre sorridente e simpaacutetico

ndash Natildeo natildeo Pronuncia-se Guacutegou

ndash Guacutegou

ndash Eacute a centeacutesima potecircncia do nuacutemero 10

ndash Uau

Ateacute o nome carregava seu estigma de gecircnio absoluto O Sr Google era uma

enciclopeacutedia ambulante Parecia ser senhor de todo o conhecimento Portador de soluccedilatildeo para

os mais variados problemas na ponta da liacutengua Para cada desafio proposto no dia a dia da

empresa vertia um turbilhatildeo de soluccedilotildees precisas e automaacuteticas

Com sua eficiecircncia derramada a cada suspiro de auxiliar no departamento de

marketing chegou agrave chefia em poucos meses Com o passar dos dias e semanas a experiecircncia

acumulando-se nas veias parecia saber o que as pessoas queriam antes de terminarem de falar

ndash Seu Google o senhor sabe que horashellip

ndash hellip seraacute a reuniatildeo do conselho

ndash Isso Isso mesmo

ndash 16 horas

Era um gecircnio Disposiccedilatildeo tamanha natildeo demorou muito e comeccedilaram a abordar

assuntos mais pessoais

ndash Sr Google preciso de sua ajuda Como faccedilo para conhellip

ndash Conquistar sua melhor amiga

ndash Uau Como o senhor sabe

E derramava soluccedilotildees Como se natildeo bastasse a prontidatildeo comeccedilou a oferecer

vaacuterias opccedilotildees

ndash Sr Google chocolate daacutehellip

ndash Espinha Celulite Coacutelica no bebecirc

ndash Eacuteeacuteeacuteeacutehellip

161

ndash Sono Dor de cabeccedila Azia

ndash Euhellip

ndash Enxaqueca Energia Gases

ndash Isso ndash disse ruborizada ndash Gases

ndash Ahaacute Vocecirc estaacute com sorte menina

Ateacute o poderoso e inacessiacutevel dono da empresa cuja agenda diaacuteria se resumia a

constantes viagens de negoacutecio pela Europa comeccedilou a passar mais tempo no Brasil E quase

todos os dias ia na empresa Mas nem entrava em sua sala Jaacute ia direto para a sala do senhor

Google Os curiosos e fofoqueiros discutiam o teor das conversas atraacutes daquelas portas Uns

diziam que falavam apenas sobre bolsa de valores Acontecimentos mundiais tendecircncias

econocircmicas essas coisas Outros achavam que a conversa soacute passeava pela arena dos assuntos

pessoais

Independentemente do conteuacutedo destes encontros a portas fechadas a empresa soacute

crescia E os funcionaacuterios eram unacircnimes em admitir depois da chegada do Sr Google a vida

de todos eles se tornou mais completa e intensa

Certo dia o Sr Google natildeo apareceu para trabalhar A princiacutepio pairou uma tensatildeo

camuflada no ar Agrave medida que as horas foram passando e o Sr Google natildeo aparecia fez-se

um clima de desespero Comeccedilaram a ligar para o seu celular mas dava como nuacutemero

inexistente Algueacutem tem o telefone da casa dele O resultado foi o mesmo nuacutemero inexistente

Onde ele morava mesmo Ningueacutem sabia O desespero instalou-se no preacutedio Ningueacutem

conseguia fazer nada Ficavam andando de um lado para outro perdidos Nem a dona Gertrudes

conseguiu fazer o cafeacute

Durante dias ningueacutem trabalhou Duacutevidas sobre o andamento da empresa ndash diziam

que accedilotildees da empresa estavam tendo quedas vertiginosas Os funcionaacuterios sentiam-se curvados

ante o peso dos problemas pessoais que natildeo conseguiam resolver sem a ajuda e os conselhos

do Sr Google

Duas semanas depois e metade deles natildeo mais aparecia na empresa Dois ou trecircs

mergulharam de cabeccedila no alcoolismo Outro se jogou da ponte E o poderoso dono da empresa

quem diria foi flagrado diversas vezes em prantos cambaleando pelos corredores

fantasmagoacutericos e mal iluminados da empresa que veio agrave falecircncia dias depois

Quanto ao sr Google nunca mais foi visto Dizem por aiacute que montou um site e

ficou milionaacuterio Mas comprovar mesmo ningueacutem nunca comprovou

Acesso em 2 de agosto de 2017

Disponiacutevel em httpcorrosivacombrcronicas-engracadascronica-humoristica-google-

pacheco

Atividade

1 Vocecirc conhece o vocabulaacuterio a seguir

Memoraacutevel

Frenesi

Singelo

Vertia

Turbilhatildeo

Vertiginosas

2 O texto trata de maneira bem humorada de uma situaccedilatildeo cotidiana Qual

3 O texto traz em si alguma reflexatildeo Qual

162

ANEXO A ndash DISTRIBUICcedilAtildeO POR NIacuteVEL DE PROFICIEcircNCIA

Liacutengua Portuguesa do 9ordm Ano do Ensino Fundamental

Distribuiccedilatildeo por Niacutevel de Proficiecircncia - Liacutengua Portuguesa do 9ordm Ano do Ensino

Fundamental

Niacutevel Descriccedilatildeo do Niacutevel - O estudante provavelmente eacute capaz de

Niacutevel 0

Desempenho menor

que 200

Niacutevel 1

Desempenho maior

ou igual a 200 e

menor que 225

Os estudantes provavelmente satildeo capazes de Reconhecer

expressotildees caracteriacutesticas da linguagem (cientiacutefica jornaliacutestica etc)

e a relaccedilatildeo entre expressatildeo e seu referente em reportagens e artigos

de opiniatildeo Inferir o efeito de sentido de expressatildeo e opiniatildeo em

crocircnicas e reportagens

Niacutevel 2

Desempenho maior

ou igual a 225 e

menor que 250

Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes

provavelmente satildeo capazes de Localizar informaccedilotildees expliacutecitas em

fragmentos de romances e crocircnicas Identificar tema e assunto em

poemas e charges relacionando elementos verbais e natildeo verbais

Reconhecer o sentido estabelecido pelo uso de expressotildees de

pontuaccedilatildeo de conjunccedilotildees em poemas charges e fragmentos de

romances Reconhecer relaccedilotildees de causa e consequecircncia e

caracteriacutesticas de personagens em lendas e faacutebulas Reconhecer

recurso argumentativo em artigos de opiniatildeo Inferir efeito de

sentido de repeticcedilatildeo de expressotildees em crocircnicas

Niacutevel 3

Desempenho maior

ou igual a 250 e

menor que 275

Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes

provavelmente satildeo capazes de Localizar informaccedilotildees expliacutecitas em

crocircnicas e faacutebulas Identificar os elementos da narrativa em letras de

muacutesica e faacutebulas Reconhecer a finalidade de abaixo-assinado e

verbetes Reconhecer relaccedilatildeo entre pronomes e seus referentes e

relaccedilotildees de causa e consequecircncia em fragmentos de romances

diaacuterios crocircnicas reportagens e maacuteximas (proveacuterbios) Interpretar o

sentido de conjunccedilotildees de adveacuterbios e as relaccedilotildees entre elementos

verbais e natildeo verbais em tirinhas fragmentos de romances

reportagens e crocircnicas Comparar textos de gecircneros diferentes que

abordem o mesmo tema Inferir tema e ideia principal em notiacutecias

crocircnicas e poemas Inferir o sentido de palavra ou expressatildeo em

histoacuteria em quadrinhos poemas e fragmentos de romances

Niacutevel 4

Desempenho maior

Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes

provavelmente satildeo capazes de Localizar informaccedilotildees expliacutecitas em

artigos de opiniatildeo e crocircnicas Identificar finalidade e elementos da

163

ou igual a 275 e

menor que 300

narrativa em faacutebulas e contos Reconhecer opiniotildees distintas sobre o

mesmo assunto em reportagens contos e enquetes Reconhecer

relaccedilotildees de causa e consequecircncia e relaccedilotildees entre pronomes e seus

referentes em fragmentos de romances faacutebulas crocircnicas artigos de

opiniatildeo e reportagens Reconhecer o sentido de expressatildeo e de

variantes linguiacutesticas em letras de muacutesica tirinhas poemas e

fragmentos de romances Inferir tema tese e ideia principal em

contos letras de muacutesica editoriais reportagens crocircnicas e artigos

Inferir o efeito de sentido de linguagem verbal e natildeo verbal em

charges e histoacuteria em quadrinhos Inferir informaccedilotildees em

fragmentos de romance Inferir o efeito de sentido da pontuaccedilatildeo e da

polissemia como recurso para estabelecer humor ou ironia em

tirinhas anedotas e contos

Niacutevel 5

Desempenho maior

ou igual a 300 e

menor que 325

Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes

provavelmente satildeo capazes de Localizar a informaccedilatildeo principal em

reportagens Identificar ideia principal e finalidade em notiacutecias

reportagens e resenhas Reconhecer caracteriacutesticas da linguagem

(cientiacutefica jornaliacutestica etc) em reportagens Reconhecer elementos

da narrativa em crocircnicas Reconhecer argumentos e opiniotildees em

notiacutecias artigos de opiniatildeo e fragmentos de romances Diferenciar

abordagem do mesmo tema em textos de gecircneros distintos Inferir

informaccedilatildeo em contos crocircnicas notiacutecias e charges Inferir sentido

de palavras da repeticcedilatildeo de palavras de expressotildees de linguagem

verbal e natildeo verbal e de pontuaccedilatildeo em charges tirinhas contos

crocircnicas e fragmentos de romances

Niacutevel 6

Desempenho maior

ou igual a 325 e

menor que 350

Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes

provavelmente satildeo capazes de Identificar ideia principal e

elementos da narrativa em reportagens e crocircnicas Identificar

argumento em reportagens e crocircnicas Reconhecer o efeito de

sentido da repeticcedilatildeo de expressotildees e palavras do uso de pontuaccedilatildeo

de variantes linguiacutesticas e de figuras de linguagem em poemas

contos e fragmentos de romances Reconhecer a relaccedilatildeo de causa e

consequecircncia em contos Reconhecer diferentes opiniotildees entre

cartas de leitor que abordam o mesmo tema Reconhecer a relaccedilatildeo

de sentido estabelecida por conjunccedilotildees em crocircnicas contos e

cordeacuteis Reconhecer o tema comum entre textos de gecircneros

distintos Reconhecer o efeito de sentido decorrente do uso de

figuras de linguagem e de recursos graacuteficos em poemas e

fragmentos de romances Diferenciar fato de opiniatildeo em artigos e

reportagens Inferir o efeito de sentido de linguagem verbal e natildeo

verbal em tirinhas

Niacutevel 7

Desempenho maior

Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes

provavelmente satildeo capazes de Localizar informaccedilotildees expliacutecitas

ideia principal e expressatildeo que causa humor em contos crocircnicas e

164

ou igual a 350 e

menor que 375

artigos de opiniatildeo Identificar variantes linguiacutesticas em letras de

muacutesica Reconhecer a finalidade e a relaccedilatildeo de sentido estabelecida

por conjunccedilotildees em lendas e crocircnicas

Niacutevel 8

Desempenho maior

ou igual a 375

Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes

provavelmente satildeo capazes de Localizar ideia principal em

manuais reportagens artigos e teses Identificar os elementos da

narrativa em contos e crocircnicas Diferenciar fatos de opiniotildees e

opiniotildees diferentes em artigos e notiacutecias Inferir o sentido de

palavras em poemas

Fonte INEP (2018)

165

ANEXO B ndash DISTRIBUICcedilAtildeO DE TEXTOS FALADOS E ESCRITOS NO CONTIacuteNUO

GENEacuteRICO

Distribuiccedilatildeo dos textos de uso falados e escritos no contiacutenuo geneacuterico

Fonte MARCUSCHI (2015 p 195-196)

166

ANEXO C ndash PRODUCcedilOtildeES DOS ALUNOS

Produccedilatildeo Inicial de Ana

Produccedilatildeo Final de Ana

167

Produccedilatildeo Inicial de Rodrigo

168

Produccedilatildeo final de Rodrigo

169

Produccedilatildeo Inicial de Eduardo

170

Produccedilatildeo final de Eduardo

171

Produccedilatildeo inicial de Estela

172

Produccedilatildeo final de Estela

173

174

175

Produccedilatildeo Inicial de Celia

176

Produccedilatildeo final de Celia

177

Produccedilatildeo Inicial de Arlindo

178

Produccedilatildeo final de Arlindo

179

Produccedilatildeo Inicial de Juacutelia

180

Produccedilatildeo final de Juacutelia

181

Produccedilatildeo Inicial de Vicente

182

Produccedilatildeo final de Vicente

183

Produccedilatildeo Inicial de Graccedila

184

Produccedilatildeo final de Graccedila

185

Produccedilatildeo Inicial de Lilian

186

Produccedilatildeo final de Lilian

187

Produccedilatildeo Inicial de Heloiacutesa

188

Produccedilatildeo final de Heloisa

189

Produccedilatildeo Inicial de Eliane

190

Produccedilatildeo final de Eliane

191

Produccedilatildeo Inicial de Joana

Fonte dados da pesquisa

192

Figura 31 ndash Produccedilatildeo final de Joana

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE HUMANIDADES … · A Deus, que me pôs a realizar sonhos, permitindo-me o devido aperfeiçoamento para que pudesse executar melhor a tarefa

Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo

Universidade Federal do Cearaacute

Biblioteca Universitaacuteria

Gerada automaticamente pelo moacutedulo Catalog mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

C872p Costa Fernanda Maria da Serra

A produccedilatildeo escrita de crocircnicas em sala de aula do 9ordm ano do ensino fundamental Fernanda Maria

da Serra Costa ndash 2018

192 f il color

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Universidade Federal do Cearaacute Centro de Humanidades Programa de

Poacutes-Graduaccedilatildeo Profissional em Letras Fortaleza 2018

Aacuterea de concentraccedilatildeo Linguagens e letramentos

Orientaccedilatildeo Profa Dra Aacuteurea Suely Zavam

1 Produccedilatildeo escrita 2 Escrita como processo 3 Gecircnero textual 4 Crocircnicas 5 Sequecircncia de

atividades I Tiacutetulo

CDD 410

FERNANDA MARIA DA SERRA COSTA

A PRODUCcedilAtildeO ESCRITA DE CROcircNICAS EM SALA DE AULA DO 9ordm ANO DO ENSINO

FUNDAMENTAL

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-

Graduaccedilatildeo Profissional em Letras da

Universidade Federal do Cearaacute como requisito

parcial agrave obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em

Letras Aacuterea de concentraccedilatildeo Linguagens e

Letramentos

Aprovado em ____ ____ _______

BANCA EXAMINADORA

________________________________________

Profordf Drordf Aacuteurea Suely Zavam (Orientadora)

Universidade Federal do Cearaacute (UFC)

_________________________________________

Profordf Drordf Pollyane Bicalho Ribeiro

Universidade Federal do Cearaacute (UFC)

_________________________________________

Prof Drordf Sarah Diva da Silva Ipiranga

Universidade Estadual do Cearaacute (UECE)

A Deus

Aos meus pais Olilia e Arnold

Aos meus filhotes Felipe e Miguel

A Maria Morena e Bilaacute in memorian

AGRADECIMENTOS

A Deus que me pocircs a realizar sonhos permitindo-me o devido aperfeiccediloamento

para que pudesse executar melhor a tarefa de contribuir para o mundo

Aos meus pais Olilia e Arnold por todo o apoio incondicional e sem esperar em

troca a vida toda e mais ainda durante o mestrado

Aos meus filhos Felipe e Miguel pela compreensatildeo da distacircncia mesmo que

passageira pela paciecircncia e pelo apoio

Agrave Prof Dr Aurea Zavam pelo carinho acolhimento e orientaccedilatildeo

Aos professores participantes da banca examinadora Pollyane Bicalho Ribeiro e

Sarah Diva da Silva Ipiranga pelo tempo pelas valiosas colaboraccedilotildees e sugestotildees

Aos colegas da 3ordf turma de mestrado ProfLetrasUFC pelas reflexotildees criacuteticas e

sugestotildees recebidas

Agraves damas do fuaacute porque satildeo as melhores amigas que se pode ter Raquel Ive

Carolina Edvania Eacuterica e Flaacutevia

A Aline pela amizade e carinho imensos essa natural forccedila que a vida lhe deu e

que tatildeo generosamente partilha

A Carla amiga de forccedila pela sensatez e ombro amigo generosidade e atenccedilatildeo

A Robson do fundo do coraccedilatildeo de quem digo que palavras natildeo descrevem essa

amizade que a gente tem

Agrave querida Nady por sua boniacutessima vontade em passar suas ldquolentes de catar pulgardquo

em minhas linhas

Ao meu tio Raimundo e a dona Gilda pela compreensatildeo e disposiccedilatildeo em ajudar a

cuidar da minha turma aqui

Agrave Semed-Satildeo Luiacutes por acreditar na figura do professor que busca capacitaccedilatildeo

profissional

Agrave coordenaccedilatildeo do Mestrado Profissional em LetrasUFC pelo incentivo aos

mestrandos

Aos nossos professores do Mestrado que em muito contribuiacuteram em nossa jornada

Agrave nossa diretora da escola Maria de Jesus Dijeacute pelo apoio e disponibilidade e por

sempre acreditar nos projetos como uma forma de acrescentar ao aperfeiccediloamento dos alunos

da escola

Aos professores e funcionaacuterios que apoiaram e colaboraram com o projeto

Aos pais e familiares que apoiaram e consentiram na participaccedilatildeo dos alunos

Aos alunos do 9ordm ano turma 91 de 2017 que integraram o projeto acreditaram em

si mesmos e agora veem seus escritos circularem socialmente

A todos os amigos colegas de trabalho alunos ex-alunos e demais pessoas que

cruzaram meu caminho deixando contribuiccedilotildees alertas liccedilotildees posso natildeo nominar um por um

aqui mas agradeccedilo sua importacircncia

Agrave CAPES pelo apoio financeiro com a manutenccedilatildeo da bolsa de auxiacutelio

ldquoSe vocecirc quiser melhorar de vida Marcie

sempre vai ter que atravessar um oceano ou um

deserto ou uma montanha Mas se de repente

vocecirc atravessar uma sala cheia de gente toda a

sua vida pode mudarrdquo (Peppermint Patty)

RESUMO

O presente trabalho versa sobre o desenvolvimento da competecircncia escrita de alunos do 9ordm ano

do Ensino Fundamental por meio de uma sequecircncia didaacutetica aplicada ao gecircnero crocircnica

visando proporcionar avanccedilos no processo de redigir Para o aporte teoacuterico daacute-se preferecircncia

agraves abordagens de gecircnero na perspectiva de Bakhtin (2011) Bazerman (2009) Bazerman e

Miller (2011) e Marcuschi (2015) A metodologia envolve uma pesquisa-accedilatildeo conforme

elucidaccedilotildees de Gil (2008) O procedimento se daacute pela aplicaccedilatildeo de uma sequecircncia didaacutetica

inspirada em contribuiccedilotildees de Dolz Noverraz e Schneuwly ([2004] 2013) Swiderski e Costa-

Huumlbes (2009) Lopes-Rossi (2011) Vieira (2005) e Serafini (2003) com vista ao aprendizado

de produccedilatildeo de texto do gecircnero crocircnica sob a oacutetica da escrita como processo Por meio das

atividades de leitura e escrita de crocircnicas percebe-se que os alunos refletiram sobre os

procedimentos de escritor sensibilizaram mais o seu olhar para o cotidiano e ampliaram o

conhecimento de sua competecircncia linguiacutestica Acredita-se que propiciar situaccedilotildees de

aprendizagem apresentando-as natildeo como um fardo mas com a graccedila ndash apesar do necessaacuterio

investimento pedagoacutegico ndash que a escrita pode vir a ter garante assim que os alunos concluam

o Ensino Fundamental tendo a oportunidade de elaborar textos consoantes ao seu direito de

serem proficientes em sua liacutengua materna

Palavras-chave Produccedilatildeo escrita Gecircneros textuais Sequecircncia didaacutetica Crocircnicas

ABSTRACT

The present work deals with the development of written competence of students of the 9th grade

of elementary school through a didactic sequence applied to the genre chronicles aiming to

provide advances in the writing process For the theoretical contribution genre approaches are

preferred from the perspective of Bakhtin (2011) Bazerman (2009) Bazerman e Miller (2011)

e Marcuschi (2015) The methodology involves an action research according to Gils (2008)

elucidations The procedure is based on the application of a didactic sequence inspired by

contributions of Dolz Noverraz and Schneuwly ([2004] 2013) Swiderski and Costa-Huumlbes

(2009) Lopes-Rossi (2011) Vieira (2005) e Serafini (2003) with a view to learning text

production of the genre chronicle under the point of view of writing as a process Through the

activities of reading and writing of chronicles it is noticed that the students have reflected on

the procedures of writer they have sensitized more their look at the quotidian and have extended

the knowledge of their linguistic competence It is believed that providing learning situations

by presenting them not as a burden but with the grace - despite all the necessary pedagogical

investment - that writing can have thus ensuring that students finish elementary school having

the opportunity to prepare texts according to their right to be proficient in their mother language

Keywords Written production Genres Didactic sequence Chronicles

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Esquema baacutesico de sequecircncia didaacutetica 31

Figura 2 - Esquema da SD adaptada por Costa-Huumlbes 36

Figura 3 - Esquema da SD adaptada por Costa-Huumlbes 38

Figura 4 - Proposiccedilatildeo de sequecircncia didaacutetica para o projeto de escrita 77

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 ndash Resultados IDEB 2015 70

Graacutefico 2 ndash Desempenho da escola nas ediccedilotildees da Prova Brasil 70

Graacutefico 3 ndash Distribuiccedilatildeo percentual dos alunos do 9ordm Ano do EF por niacutevel de

proficiecircncia - Liacutengua Portuguesa

71

Graacutefico 4 ndash Nuacutemero de alunos do 9ordm ano 88

Graacutefico 5 ndash Participaccedilatildeo nas produccedilotildees 89

Graacutefico 6 ndash Alunos presentes por encontro 90

Graacutefico 7 ndash Avaliaccedilatildeo das crocircnicas A 122

Graacutefico 8 ndash Avaliaccedilatildeo das crocircnicas B 136

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 ndash Siacutentese das etapas de desenvolvimento de projetos pedagoacutegicos que visam agrave

produccedilatildeo escrita de gecircneros discursivos

38

Quadro 2 ndash Motivaccedilatildeo e envolvimento na produccedilatildeo escrita 54

Quadro 3 ndash Como organizar as ideias em paraacutegrafos 63

Quadro 4 ndash Moacutedulos desenvolvidos na sequecircncia de atividades (SA) 80

Quadro 5 ndash Quadro autoavaliativo 91

Quadro 6 ndash Identificaccedilatildeo dos textos dos alunos

Quadro 7 ndash Produccedilatildeo inicial Ana ndash Tiacutetulo Ser chato ou natildeo ser eis a questatildeo

Quadro 8 ndash Produccedilatildeo final Ana ndash Tiacutetulo Ser chato ou natildeo ser eis a questatildeo

Quadro 9 ndash Produccedilatildeo inicial Rodrigo ndash Tiacutetulo Pare de se criticar

Quadro 10 ndash Produccedilatildeo final Rodrigo ndash Tiacutetulo

Quadro 11 ndash Produccedilatildeo inicial Eduardo ndashTiacutetulo O amigo muito e muito chato

Quadro 12 ndash Produccedilatildeo final Eduardo ndashTiacutetulo Ser legal natildeo eacute ser chato

Quadro 13 ndash Produccedilatildeo inicial Estela ndash Tiacutetulo Os chatos de antematildeo

Quadro 14 ndash Produccedilatildeo final Estela ndashTiacutetulo O tio chato de galocha

Quadro 15 ndash Produccedilatildeo inicial Ceacutelia ndashTiacutetulo Chata sim ou natildeo

Quadro 16 ndash Produccedilatildeo final Ceacutelia ndash Tiacutetulo Chata sim ou natildeo

Quadro 17 ndash Produccedilatildeo inicial Arlindo ndash Tiacutetulo Chato e natildeo eacute chato

Quadro 18 ndash Produccedilatildeo final Arlindo ndash Tiacutetulo Chato e natildeo eacute chato

Quadro 19 ndash Produccedilatildeo inicial Juacutelia ndash Tiacutetulo Ser chato ou ser legal

Quadro 20 ndash Produccedilatildeo final Juacutelia ndash Tiacutetulo Pessoas chatas e pessoas legais

Quadro 21 ndash Produccedilatildeo inicial Vicente ndash Tiacutetulo A pergunta eacute se eu bloquearia uma

pessoa chata

Quadro 22 ndash Produccedilatildeo final Vicente ndash Tiacutetulo

Quadro 23 ndash Produccedilatildeo inicial Graccedila ndash Tiacutetulo Rafaelly chata

Quadro 24 ndash Produccedilatildeo final Graccedila ndash Tiacutetulo Chata ela ou EU

Quadro 25 ndash Produccedilatildeo inicial Lilian ndash Tiacutetulo Meus amigos chatos e Eu

Quadro 26 ndash Produccedilatildeo final Lilian ndash Tiacutetulo Pessoas legais e chatas

Quadro 27 ndash Produccedilatildeo inicial Heloiacutesa ndash Tiacutetulo ldquoChato mais eacute muito legalrdquo

Quadro 28 ndash Produccedilatildeo final Heloiacutesa ndash Tiacutetulo ldquoO melhor chatordquo

Quadro 29 ndash Produccedilatildeo inicial Eliane ndash Tiacutetulo Um pouco de tudo

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Quadro 30 ndash Produccedilatildeo final Eliane ndash Tiacutetulo O que e chato e o que e legal

Quadro 31 ndash Produccedilatildeo inicial Joana ndash Tiacutetulo Pessoas chatas e outras legal

Quadro 32 ndash Produccedilatildeo final Joana ndash Tiacutetulo Pessoas oacutetimas

Quadro 33 ndash Tiacutetulos das produccedilotildees para circulaccedilatildeo social

Quadro 34 ndash PIB Ana

Quadro 35 ndash PFB Ana ndash Tiacutetulo PROIBIDA DE ACHAR GRACcedilA

Quadro 36 ndash PIB Rodrigo ndash Tiacutetulo Vida de preguiccediloso

Quadro 37 ndash PFB Rodrigo ndash Tiacutetulo VIDA DE PREGUICcedilOSO

Quadro 38 ndash PIB Eduardo ndash Tiacutetulo

Quadro 39 ndash PFB Eduardo ndash INFAcircNCIA FELIZ

Quadro 40 ndash PIB Estela ndash Tiacutetulo ldquoDown= bullyingrdquo

Quadro 41 ndash PFB Estela ndashTiacutetulo DOWN= BULLYING

Quadro 42 ndash PFA2 Ana ndash Tiacutetulo O que eacute ser chato

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137

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BNCC Base Nacional Comum Curricular

ENEM Exame Nacional do Ensino Meacutedio

FP Folha de Produccedilatildeo

IDEB Iacutendice de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

LDB Lei de Diretrizes e Bases

PCN Paracircmetros Curriculares Nacionais

PF Produccedilatildeo final

PF-A Produccedilatildeo final para a o trabalho em sala

PF-B Produccedilatildeo final para circulaccedilatildeo social dos textos com audiecircncia real

PI Produccedilatildeo Inicial

PI-A Produccedilatildeo inicial para o trabalho em sala

PI-B Produccedilatildeo inicial para circulaccedilatildeo social dos textos com audiecircncia real

SD Sequecircncia Didaacutetica

SEMED Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo

TDIC Tecnologias Digitais da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 16

2 OS GEcircNEROS E O TRABALHO EM SALA DE AULA 23

21 Demarcando o conceito de gecircnero 23

211 Gecircnero como tipo relativamente estaacutevel de enunciado 23

212 Gecircnero como accedilatildeo social 26

213 Gecircnero como fenocircmeno histoacuterico 30

22 Conhecendo a sequecircncia didaacutetica 31

221 Conceito de sequecircncia didaacutetica 32

222 Propostas de adaptaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica 35

2221 Moacutedulo de reconhecimento 36

2222 Moacutedulo de divulgaccedilatildeo ao puacuteblico 37

2223 Abordagem imitativa da redaccedilatildeo 39

23 Definindo o gecircnero textual crocircnica 41

231 A crocircnica brasileira 42

232 Caracteriacutesticas da crocircnica 44

2321 Crocircnica um gecircnero jornaliacutestico 45

2322 Crocircnica um gecircnero literaacuterio 46

3 LEITURA E ESCRITA NOS ANOS FINAIS DO ENSINO

FUNDAMENTAL

49

31 Habilidades de leitura e escrita para que ler e escrever 49

32 Escrita e motivaccedilatildeo 53

33 Escrita como processo 56

34 Escrita na escola 61

35 Letramento literaacuterio 66

4 NATUREZA E PROCEDIMENTOS DA PESQUISA 69

41 Contexto da pesquisa 69

42 Participantes 72

43 Materiais 73

44 Procedimentos 74

441 Primeira etapa da apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo agrave produccedilatildeo inicial 77

442 Segunda etapa desenvolvimento dos moacutedulos 79

443 Terceira etapa produccedilatildeo final 85

444 Quarta etapa circulaccedilatildeo social dos textos 86

5 ANAacuteLISE DA SEQUEcircNCIA REFLEXOtildeES 87

51 Participaccedilatildeo dos alunos na pesquisa 88

52 Anaacutelise da apropriaccedilatildeo de caracteriacutesticas do gecircnero crocircnica literaacuteria 90

53 Os textos dos alunos 92

531 Produccedilotildees A textos apenas para o trabalho em sala de aula 92

532 Produccedilotildees B textos para circulaccedilatildeo social 123

533 Uma nova reescrita 136

6 CONCLUSAtildeO 139

REFEREcircNCIAS 144

APEcircNDICE A ndash ATIVIDADES PROPOSTAS PARA A SEQUEcircNCIA

DIDAacuteTICA

148

ANEXO A ndash DISTRIBUICcedilAtildeO POR NIacuteVEL DE PROFICIEcircNCIA 162

ANEXO B ndash DISTRIBUICcedilAtildeO DE TEXTOS FALADOS E ESCRITOS

NO CONTIacuteNUO GENEacuteRICO

165

ANEXO C ndash PRODUCcedilOtildeES DOS ALUNOS 166

16

1 INTRODUCcedilAtildeO

A proposta deste trabalho parte de uma motivaccedilatildeo de cunho pessoal fruto das

dificuldades que como professora enfrentamos todos os dias como se pode conduzir o

trabalho em sala de aula de modo eficaz para que os alunos independentemente de sua idade

ou seacuterie possam terminar o ano letivo escrevendo textos claros

Para levar o aluno a desenvolver suas habilidades de escrita um passo importante

seria planejar sequecircncias que abordem as caracteriacutesticas do gecircnero a ser trabalhado permitindo-

lhe pocircr em aproximaccedilatildeo eou contraste seus saberes com os conhecimentos a serem construiacutedos

Para noacutes professores esse passo tem se revelado ainda bastante difiacutecil visto que nossa cultura

escolar ainda natildeo se firmou apropriadamente na visatildeo de que escrita eacute processo e que seu

produto pode ndash deve aliaacutes ndash alcanccedilar a sociedade permitindo ao aluno o exerciacutecio da cidadania

Pensamos entatildeo na elaboraccedilatildeo de uma sequecircncia de aulas que trabalhe a produccedilatildeo

escrita abordando o seu processo Para tanto escolhemos a oacutetica de Vieira (2005) que traz

importante contribuiccedilatildeo para o trabalho do professor ao abordar o processo de produccedilatildeo do

texto considerando-o mais importante no ambiente pedagoacutegico do que o texto pronto Sua

justificativa parte da inquietaccedilatildeo de por que eacute difiacutecil aprender a redigir

Ao longo de sua obra a autora traz reflexotildees a partir de pesquisas sobre os aspectos

comunicativos cognitivos e psicoloacutegicos do processo de redigir conhecimento que ela constata

fornecerem subsiacutedios para fundamentar a didaacutetica da escrita orientando as escolhas

metodoloacutegicas dos professores (VIEIRA 2005 p79) Ainda na abordagem da produccedilatildeo escrita

como processo contamos com Serafini (2003) que tambeacutem traz valiosa orientaccedilatildeo tanto para

o aluno como para o professor

Para trabalharmos esse processo com os alunos o gecircnero escolhido para a criaccedilatildeo

e aplicaccedilatildeo de nossa sequecircncia de aulas eacute a crocircnica literaacuteria que vem ganhando destaque no

cenaacuterio nacional atual de estudos na educaccedilatildeo baacutesica desde a proposta da Olimpiacuteada de Liacutengua

Portuguesa Escrevendo o Futuro (CENPEC 2016) Por seu formato fluido e por se apresentar

de tal modo que a fala pessoal se associa agrave fala coletiva a crocircnica parece integrar espaccedilos

iacutentimos a puacuteblicos construindo dessa maneira uma relaccedilatildeo de proximidade entre o autor e o

leitor

Por percebermos que haacute vaacuterios alunos que produzem seus textos sem recorrer agrave

etapa do planejamento a da revisatildeo e a da reescrita visamos entatildeo nesta pesquisa devido agrave

ausecircncia de tais procedimentos responder agraves seguintes questotildees-problema desdobradas a partir

17

da questatildeo baacutesica como ensinar a produccedilatildeo escrita no 9ordm ano do Ensino Fundamental enfocando

o ato de redigir como um processo visto que haacute estudantes deste niacutevel que normalmente natildeo

tecircm o haacutebito de planejar seus textos A partir desse questionamento nos perguntamos

a) que atividades pedagoacutegicas possibilitam aos alunos a consciecircncia de que eacute

preciso desenvolver estrateacutegias proacuteprias (recorrer agrave etapa do planejamento da

revisatildeo e da reescrita) para produzir seus textos

b) de que forma o conhecimento sobre a estrutura composicional de um gecircnero

pode ajudar a superar as dificuldades

c) a comparaccedilatildeo das produccedilotildees inicial e final permitiraacute associar a melhoria do

desempenho da competecircncia escrita e a apropriaccedilatildeo do gecircnero crocircnica literaacuteria

ao desenvolvimento da sequecircncia de atividades

Apoacutes as oficinas a anaacutelise deteacutem-se nos objetivos elencados com dados

comparativos entre produccedilatildeo inicial e produccedilatildeo final a fim de constatarmos a relevacircncia da

hipoacutetese baacutesica os alunos do 9ordm ano produziram textos na etapa final das oficinas utilizando-

se das caracteriacutesticas do gecircnero textual crocircnica literaacuteria compreendendo que escrita eacute interaccedilatildeo

valorizando o uso social da escrita de acordo com a proposta teoacuterica de gecircnero preparando

seus textos pautados nas etapas do processo de redigir conforme as orientaccedilotildees dadas em sala

de aula Desdobradas em mais trecircs hipoacuteteses secundaacuterias pensamos

a) eacute possiacutevel motivar os alunos a escrever ao desenvolver com eles atividades

voltadas para os diferentes subprocessos e habilidades envolvidos no ato de

redigir

b) o ensino da composiccedilatildeo do gecircnero crocircnica literaacuteria contribuiraacute para minimizar

dificuldades observadas nos textos dos alunos do 9ordm ano como nos planos

morfossintaacutetico e semacircntico aleacutem de lhes propiciar o desenvolvimento da

competecircncia em textos escritos

c) apoacutes a realizaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica proposta ao compararmos as produccedilotildees

inicial e final dos alunos verificaremos um desempenho mais satisfatoacuterio em

relaccedilatildeo agrave competecircncia discursiva realizada no gecircnero crocircnica

Utilizamos a sequecircncia didaacutetica ferramenta teoacuterico-metodoloacutegica proposta por

Dolz Noverraz e Schneuwly ([2004]2013) para facilitar a criaccedilatildeo de nossa sequecircncia

refletindo sobre as atividades iniciais como um diagnoacutestico e a partir daiacute compondo os

moacutedulos que julgamos necessaacuterios dentro do tempo disponiacutevel para o aperfeiccediloamento da

praacutetica de escrita dos alunos

18

Sem esquecer que o produto desta sequecircncia precisa ter relevacircncia e circulaccedilatildeo

social fizemos o estudo do conceito de gecircnero a partir de autores como Bakhtin (2011)

Bazerman (2009) Bazerman Miller (2011) e Marcuschi (2015) autores cujas contribuiccedilotildees

teoacutericas nos permitem compreender que os textos verbais ou orais dependem do contexto em

que satildeo criados considerando seu momento histoacuterico e caracteriacutesticas culturais e sociais

fazendo portanto sentido somente se se destinarem a uma audiecircncia real com papeis sociais

reais

O gecircnero eleito para o trabalho de produccedilatildeo escrita eacute como dissemos a crocircnica

literaacuteria A escolha da tipologia narrativa e do gecircnero crocircnica deu-se por alguns motivos

a) as narrativas possuem um papel fundamental na formaccedilatildeo dos indiviacuteduos Desde

a infacircncia a crianccedila tem contato com a narraccedilatildeo Ela mesma narra como forma

de organizar suas ideias E em sociedade as narrativas ajudaram a construir a

identidade dos povos prolongando ramos e aprofundando raiacutezes

b) a crocircnica eacute um gecircnero que se identifica com a realidade dos alunos pela leveza

da linguagem associando a oralidade e coloquialidade e facilidade de

identificaccedilatildeo de elementos coletivos e individuais presentes em seu cotidiano

os quais podem vir a se tornar objeto de reflexatildeo de bom humor ou mesmo de

criacutetica e sobre tais elementos pode-se motivar os alunos a escrever

c) considerando o papel social da escola que deve ser de integrar o aluno como

cidadatildeo em sociedade eacute uma excelente oportunidade de ensinar os

procedimentos concernentes ao processo de escrita com um texto com

caracteriacutesticas literaacuterias visto que daiacute por diante entrando no ensino meacutedio

predominam as praacuteticas de trabalho com os textos argumentativos cuja

recorrecircncia se deve a serem os mais cobrados em avaliaccedilotildees diagnoacutesticas e de

acesso ao niacutevel superior tais como ENEM vestibulares seleccedilotildees e concursos

sendo um pouco esquecidas as narrativas e os processos de escrita criativa

Esta pesquisa se valeu tambeacutem de trabalhos acadecircmicos que trataram de produccedilatildeo

escrita na escola do gecircnero crocircnica de sequecircncias didaacuteticas e do estudo dos gecircneros textuais

relacionados ao trabalho em sala de aula dentre os quais destacamos

Santos (2008) em sua pesquisa sobre o gecircnero textual crocircnica narrativa no ensino

meacutedio percebeu alguns avanccedilos discretos apoacutes a aplicaccedilatildeo de uma sequecircncia didaacutetica Embora

muitos textos tenham apresentado as caracteriacutesticas do gecircnero explorado em sala de aula

alguns se apresentaram ainda como narrativas tipicamente escolares O pesquisador encontrou

19

dificuldades durante sua pesquisa com produccedilatildeo textual porque afirma na escola o objeto

central de ensino da liacutengua portuguesa ainda eacute a gramaacutetica que disputa espaccedilo diretamente com

a literatura sendo a produccedilatildeo relegada a apenas uma aula sem enfoque no processo de reescrita

dos textos com as devidas reflexotildees

Swiderski e Costa-Huumlbes (2009) analisam o formato baacutesico da sequecircncia didaacutetica

proposta pelo grupo de Genebra e propotildeem a inserccedilatildeo de um moacutedulo novo chamado de moacutedulo

de reconhecimento anterior agrave produccedilatildeo inicial de modo a permitir aos alunos o contato com

textos do gecircnero antes de partir diretamente para a escrita do primeiro texto propiciando

oportunidade de pesquisa leitura e anaacutelise linguiacutestica contemplando os outros eixos do

trabalho com liacutengua portuguesa aleacutem da escrita eou oralidade

Lopes-Rossi (2011) tambeacutem trata da sequecircncia didaacutetica e propotildee para o final da

SD uma culminacircncia a que ela chama de divulgaccedilatildeo ao puacuteblico ou seja um momento para

colocar em circulaccedilatildeo social os textos que os alunos produzem ao longo do trabalho

sistematizado permitindo-lhes compreender o sentido real dos textos do gecircnero que estudam

Colombo (2013) faz uma avaliaccedilatildeo das produccedilotildees vencedoras das ediccedilotildees da

Olimpiacuteada de Liacutengua Portuguesa Escrevendo o Futuro na categoria Crocircnicas Sua criacutetica

principal ao processo estaacute natildeo nas oficinas realizadas pois em muito ajudam os alunos a

conhecer os diversos tons que os textos das crocircnicas trazem a partir das mais diferentes

temaacuteticas mas na artificialidade do interlocutor para quem os alunos escreveram (uma banca

examinadora) e as redaccedilotildees escolhidas por essa banca (um criteacuterio mais pessoal que objetivo)

Colombo (2013) critica tambeacutem a incoerecircncia entre o material de avaliaccedilatildeo

produzido pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Educaccedilatildeo Cultura e Accedilatildeo Comunitaacuteria ndash

CENPEC em 2011 com uma coletacircnea de excertos de textos natildeo vencedores de ediccedilotildees

passadas que aponta no capiacutetulo dedicado agraves crocircnicas exemplos de distanciamentos da

tipologia narrativa proacutepria do gecircnero em textos que abordaram mazelas locais com

predominacircncia da descriccedilatildeo e da criacutetica Para ela essas mesmas caracteriacutesticas ressurgiram nos

textos vencedores do ano de 2012 Dentre outras criacuteticas a mais incisiva de suas consideraccedilotildees

eacute a de que a crocircnica eacute um texto para ser lido na escola sendo no entanto impossiacutevel ensinar os

alunos a escrever crocircnicas pois para a autora natildeo devem ser produzidas sob a pressatildeo de um

concurso que escolheraacute qual a melhor

Correia (2015) em sua pesquisa centrada em uma sala de aula de 7ordm ano do Ensino

Fundamental priorizou a praacutetica de leitura do gecircnero crocircnica e associou ao trabalho com esta

mais dois gecircneros a entrevista e o documentaacuterio audiovisual abordando um aspecto

20

multimodal em sua produccedilatildeo final Sua intenccedilatildeo parece-nos foi usar a temaacutetica das crocircnicas

para despertar nos alunos uma apropriaccedilatildeo da realidade em que estatildeo inseridos e em suas

consideraccedilotildees acredita que no momento de produccedilatildeo escrita dentro das possibilidades de

alunos de 12 anos de idade logrou sucesso ao levar os alunos ao reconhecimento das

caracteriacutesticas do gecircnero

Paiva (2015) realizou um trabalho que contribuiu diretamente para o

desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita atraveacutes do ensino da produccedilatildeo de textos

argumentativos no gecircnero carta de reclamaccedilatildeo Por meio de uma sequecircncia didaacutetica que

priorizava como em nosso caso de pesquisa o processo de produccedilatildeo em vez de considerar

apenas o produto a pesquisadora logrou ecircxito ao identificar progressos nos textos dos alunos

dentro das possibilidades de trabalho que executou

Feitosa (2016) abordou o ensino de liacutengua portuguesa na perspectiva dos gecircneros

realizando uma sequecircncia didaacutetica com o gecircnero panfleto colocando o produto final em

circulaccedilatildeo social como em nosso caso de pesquisa com a distribuiccedilatildeo dos panfletos pelos

alunos no ambiente escolar e na comunidade em que a escola estaacute inserida Fazendo isso ela

possibilitou a atribuiccedilatildeo da significaccedilatildeo proacutepria do gecircnero agrave produccedilatildeo textual dos alunos fator

importante para estimulaacute-los a interagir em sociedade por meio de seus textos

Os Paracircmetros Curriculares Nacionais (PCN 1997) reconhecem que o ensino de liacutengua

portuguesa na educaccedilatildeo baacutesica eacute pautado em uma prioridade de estudos de aspectos normativos

ou gramaticais da liacutengua o que o torna limitado e insuficiente e sugerem redirecionar o foco

para a praacutetica de leitura e ndash aspecto muito importante ndash o exerciacutecio da escrita de textos nos mais

variados gecircneros textuais existentes na sociedade possibilitando o estudo da liacutengua em

contextos reais de uso natildeo apenas como um conjunto de normas1

Para tanto aprender a pensar e falar sobre a proacutepria linguagem realizar uma

atividade de natureza reflexiva uma atividade de anaacutelise linguiacutestica supotildee duas situaccedilotildees

planejar situaccedilotildees didaacuteticas que possibilitem a reflexatildeo natildeo somente sobre os diferentes

recursos expressivos utilizados pelo autor do texto mas tambeacutem sobre a forma pela qual a

seleccedilatildeo de tais recursos reflete as condiccedilotildees de produccedilatildeo do discurso e as restriccedilotildees impostas

1 Os Paracircmetros Curriculares Nacionais (PCN 1997) reconhecem que o ensino de liacutengua portuguesa na educaccedilatildeo

baacutesica eacute pautado em uma prioridade de estudos de aspectos normativos ou gramaticais da liacutengua o que o torna

limitado e insuficiente e sugerem redirecionar o foco para a praacutetica de leitura e ndash aspecto muito importante ndash o

exerciacutecio da escrita de textos nos mais variados gecircneros textuais existentes na sociedade possibilitando o estudo

da liacutengua em contextos reais de uso natildeo apenas como um conjunto de normas

21

pelo gecircnero e pelo suporte e tomar como objeto de reflexatildeo os procedimentos de planejamento

de elaboraccedilatildeo e de refacccedilatildeo dos textos (BRASIL 1997 p 8)

Esses gecircneros a que se referem os paracircmetros satildeo conceituados por Bakhtin autor

em que se fundamenta a proposta dos PCN Compreendendo que o conhecimento de tais

gecircneros traz liberdade ao usuaacuterio da liacutengua o filoacutesofo afirma que quanto melhor dominamos os

gecircneros tanto mais livremente os empregamos tanto mais plena e nitidamente descobrimos

neles a nossa individualidade (onde isso eacute possiacutevel e necessaacuterio) refletimos de modo mais

flexiacutevel e sutil a situaccedilatildeo singular da comunicaccedilatildeo em suma realizamos de modo mais acabado

o nosso livre projeto de discurso (BAKHTIN 2011 p 285)

Os PCN para o 3ordm e o 4ordm ciclos do Ensino Fundamental orientam aleacutem da ampliaccedilatildeo

da variedade de textos e gecircneros que o trabalho com os alunos leve a ldquoconhecer caracteriacutesticas

fundamentais do Brasil nas dimensotildees sociais materiais e culturais como meio para construir

progressivamente a noccedilatildeo de identidade nacional e pessoal e o sentimento de pertinecircncia ao

paiacutesrdquo (BRASIL 1997 p 7)

Assim produzir textos requer dessa forma estudar os diferentes modos de

expressatildeo abrindo-se aiacute para o aluno uma gama de possibilidades de manifestaccedilatildeo de ideias

atraveacutes do conhecimento de sua liacutengua nas relaccedilotildees de interaccedilatildeo pessoal

No entanto para que essa produccedilatildeo seja efetiva haacute que se ter em mente que

qualquer tarefa de escrita bem-sucedida requer o exerciacutecio da escrita e da reescrita pois se

considera que nesse processo de aperfeiccediloamento as aulas tomadas entre o iniacutecio e o teacutermino

de uma sequecircncia de atividades ou seja entre a produccedilatildeo inicial e a produccedilatildeo final sejam

vaacuterias e variadas com planejamento para conhecer as necessidades de cunho geral da turma

como as caracteriacutesticas de um gecircnero bem como as de cunho individual do aluno como as

limitaccedilotildees no reconhecimento do gecircnero textual na construccedilatildeo de argumentos na progressatildeo

narrativa nas convenccedilotildees da escrita culta

Com o objetivo de orientar o leitor apresentamos a forma de organizaccedilatildeo desta

pesquisa que se encontra disposta em mais cinco seccedilotildees primaacuterias aleacutem desta Introduccedilatildeo

Na seccedilatildeo 2 denominada ldquoOs gecircneros e o trabalho em sala de aulardquo discorremos

sobre o conceito de gecircnero apoiando-nos na oacutetica de Bahktin de gecircnero como tipo

relativamente estaacutevel de enunciado na oacutetica da sociorretoacuterica do gecircnero como accedilatildeo social

principalmente com Bazerman e Miller e do gecircnero como fenocircmeno histoacuterico como nos fala

Marcuschi Aleacutem disso tratamos do conceito de sequecircncia didaacutetica proposta teoacuterico-

metodoloacutegica de Dolz Noverraz e Schneuwly e de propostas complementares agrave SD com as

22

contribuiccedilotildees de Costa-Huumlbes e Lopes-Rossi Ainda nesta seccedilatildeo tratamos da definiccedilatildeo do

gecircnero textual crocircnica e suas caracteriacutesticas desenvolvidas no Brasil tanto no campo

jornaliacutestico quanto no literaacuterio pelas oacuteticas de Beltratildeo Coutinho e Cacircndido

Na seccedilatildeo 3 denominada ldquoLeitura e escrita no ensino fundamental anos finaisrdquo

discorremos sobre escrita resgatando um pouco do percurso histoacuterico das habilidades de leitura

e escrita na escola e na sociedade tratamos do aspecto da motivaccedilatildeo para a escrita da escrita

como um processo da escrita na escola e do letramento literaacuterio que julgamos interessante

ressaltar visto que leitura e escrita precisam ser instrumentalizadas

Na seccedilatildeo 4 denominada ldquoNatureza e procedimentos da pesquisardquo discorremos

sobre nossa pesquisa propriamente dita o contexto da pesquisa os sujeitos os materiais e os

procedimentos mostrando o desenvolvimento da sequecircncia de atividades e procedimentos de

coleta de dados

Na seccedilatildeo 5 denominada ldquoAnaacutelise da sequecircncia de atividades reflexotildeesrdquo

discorremos sobre nossa sequecircncia didaacutetica mostrando a participaccedilatildeo dos alunos na pesquisa

apresentando a anaacutelise da apropriaccedilatildeo de caracteriacutesticas do gecircnero crocircnica literaacuteria nos textos

dos alunos bem como os textos produzidos para circulaccedilatildeo social

E por fim na Conclusatildeo apresentamos reflexotildees acerca da experiecircncia com a

pesquisa e dos resultados obtidos bem como sugestotildees para o avanccedilo de trabalhos que possam

contribuir para a competecircncia escrita dos alunos do ensino fundamental e a continuidade de

estudos na aacuterea

Acreditamos que a pesquisa-accedilatildeo desenvolvida que se inscreve no escopo da

Linguiacutestica Aplicada pode aleacutem de ofertar contribuiccedilotildees no acircmbito acadecircmico encorajar os

alunos participantes da pesquisa no sentido de se permitirem evoluir como produtores de texto

em sua liacutengua materna direito que lhes cabe desde o momento em que satildeo reconhecidos

cidadatildeos que ingressam nas escolas brasileiras

23

2 OS GEcircNEROS E O TRABALHO EM SALA DE AULA

Os pressupostos que embasam esta pesquisa perpassam a necessidade de se

compreender o que satildeo os gecircneros textuais em distinccedilatildeo de tipos textuais e como trabalhaacute-los

em atividades sequenciadas destacando-se inclusive como estas podem melhorarauxiliar o

trabalho do professor da educaccedilatildeo baacutesica Aleacutem disso tentaremos delinear ainda que

reconheccedilamos a natildeo consensualidade de definiccedilotildees o que vem a ser a crocircnica a partir das

escolhas dos textos que integram o corpus exemplo para os alunos

21 Demarcando o conceito de gecircnero

Iniciamos nosso percurso teoacuterico a partir da compreensatildeo do que eacute o gecircnero

Concordamos com Bezerra (2017 p 11) quando ele diz que o conceito de gecircnero eacute tomado

como ldquouma categoria mediadora entre o texto e o discurso capaz de colocar em xeque velhas

concepccedilotildees dicotocircmicas como a que trata o texto como uma mera lsquomaterializaccedilatildeorsquo de um

discurso consequentemente lsquoimaterialrsquordquo

Para Bezerra (2017) a partir do gecircnero tanto o texto como o discurso podem ser

relacionados produtivamente com o seu contexto cognitivo e social o que viabiliza o estudo

teoacuterico e sua aplicaccedilatildeo pedagoacutegica

No panorama teoacuterico referencial buscaremos compreensatildeo do que eacute o gecircnero

atraveacutes da conceituaccedilatildeo de Bakhtin (2011) Bazerman (2009) Miller (2011) e Marcuschi

(2015) e sua importacircncia para o trabalho de pesquisa-accedilatildeo com produccedilatildeo textual no 9ordm ano do

ensino fundamental

211 Gecircnero como tipo relativamente estaacutevel de enunciado

De iniacutecio veremos a abordagem enunciativo-discursiva de Bakhtin (2011) que se

refere ao processo de interaccedilatildeo verbal e ao enunciado Para o filoacutesofo russo as interaccedilotildees

podem ocorrer de maneira mais geral face a face mas tambeacutem se concretizar atraveacutes dos textos

escritos Nesse processo o leitor tem um papel ativo na compreensatildeo das informaccedilotildees quando

com elas interage aceitando reformulando contrapondo e complementando conforme seu

arcabouccedilo de conhecimentos e experiecircncias e o faz reportando-se a diferentes vozes de textos

24

previamente lidos e ouvidos Essas interaccedilotildees efetivam-se por meio de enunciados chamados

de gecircneros

A compreensatildeo baacutesica do que satildeo os gecircneros textuais ou usando o termo adotado

por Bakhtin os gecircneros do discurso eacute definida como ldquotipos relativamente estaacuteveis de

enunciadosrdquo (2011 p 262) elaborados pelas diferentes esferas de utilizaccedilatildeo da liacutengua Cada

esfera de uso da linguagem traz consigo uma concepccedilatildeo padratildeo de destinataacuterio a quem se dirige

o locutor e esse destinataacuterio sempre adota uma atitude responsiva ativa diante da totalidade

acabada do gecircnero Digamos que segundo o autor essas esferas permitem-nos situar e prever

o que o interlocutor emitiraacute evitando prejuiacutezos na eficaacutecia da comunicaccedilatildeo

Aprendemos a moldar nossa fala agraves formas do gecircnero e ao ouvir a fala do outro

sabemos de imediato bem nas primeiras palavras pressentir-lhe o gecircnero Se natildeo

existissem os gecircneros do discurso e se natildeo os dominaacutessemos se tiveacutessemos de criaacute-

los pela primeira vez no processo da fala se tiveacutessemos de construir cada um de

nossos enunciados a comunicaccedilatildeo verbal seria quase impossiacutevel (BAKHTIN 2011

p 302)

Dessa forma compreendemos que os enunciados tecircm relativa estabilidade

apresentando formas tiacutepicas que se adaptam agraves muacuteltiplas situaccedilotildees tanto orais quanto escritas

sendo essas formas variaacuteveis portanto Satildeo caracteriacutesticas dos gecircneros o dialogismo e a

polifonia

No dialogismo compreendemos que um texto tem relaccedilotildees com o contexto social

com os textos jaacute lidos pelo leitor e suas experiecircncias de vida e as ligaccedilotildees feitas com as diversas

aacutereas de conhecimento natildeo sendo nunca um produto fechado em si mesmo e uacutenico O discurso

dessa forma estabelece intercacircmbios socioculturais fruto de processos cognitivos e

conhecimentos acumulados historicamente que atendem a essa atitude responsiva ativa Essa

caracteriacutestica estaacute relacionada ao processo de leitura e ao de produccedilatildeo de textos pois o leitor

ou o escritor estabelece um diaacutelogo com o texto em ambos os processos

Na polifonia entendemos que o texto natildeo eacute constituiacutedo apenas da voz do escritor

mas por outras vozes por dizeres de outrem e satildeo vozes que se cruzam concordam ou

discordam entre si

Nas condiccedilotildees de produccedilatildeo dos enunciados e dos gecircneros discursivos estatildeo

inseridas as intenccedilotildees comunicativas e as necessidades sociointerativas dos sujeitos nas esferas

de atividade em que o papel e o lugar de cada sujeito satildeo determinados socialmente Para o

autor trecircs elementos baacutesicos configurariam um gecircnero discursivo o conteuacutedo temaacutetico o estilo

e a forma composicional

25

O conteuacutedo temaacutetico do gecircnero eacute definido pelo enunciador e depende diretamente

das situaccedilotildees das condiccedilotildees de produccedilatildeo e das necessidades da proacutepria enunciaccedilatildeo A escolha

desse conteuacutedo se daacute conforme a intencionalidade do enunciador estando de acordo com as

suas necessidades

O estilo do enunciador pode ser observado na adequaccedilatildeo da linguagem empregada

na escolha dos vocaacutebulos conforme a finalidade e a proacutepria estrutura do enunciado do gecircnero

escolhido voltados para seu interlocutor Nas palavras de Bakhtin (2011 p 284)

O estilo eacute indissociavelmente vinculado a unidades temaacuteticas determinadas e o que eacute

particularmente importante a unidades composicionais tipo de estruturaccedilatildeo e de

conclusatildeo de um todo tipo de relaccedilatildeo entre o locutor e os outros parceiros da

comunicaccedilatildeo verbal (relaccedilatildeo com o ouvinte ou com o leitor com o interlocutor com

o discurso do outro etc) (BAKHTIN 2011 p 284)

Assim para o autor ldquoo enunciado - oral e escrito primaacuterio e secundaacuterio em

qualquer esfera da comunicaccedilatildeo verbal - eacute individual e por isso pode refletir a individualidade

de quem fala (ou escreve)rdquo (BAKHTIN 2011 p 283) Ou seja o estilo eacute individual poreacutem eacute

definido pelo outro e pelo gecircnero ldquodepende do modo que locutor percebe e compreende seu

destinataacuterio e do modo que ele presume uma compreensatildeo responsiva ativardquo (BRAIT 2016 p

95)

A estrutura composicional do gecircnero eacute um elemento que segue padrotildees definidos

pela sociedade Cada enunciado deve inserir-se no padratildeo que eacute convencionado pelo gecircnero a

fim de ser reconhecido e consequentemente compreendido

Essa breve exposiccedilatildeo das trecircs caracteriacutesticas dos gecircneros vem mostrar que elas

dependeratildeo em grande parte das condiccedilotildees de produccedilatildeo de cada enunciado uma vez que

[] o discurso se molda sempre agrave forma do enunciado que pertence a um sujeito

falante e natildeo pode existir fora dessa forma Quaisquer que sejam o volume o

conteuacutedo a composiccedilatildeo os enunciados sempre possuem como unidades da

comunicaccedilatildeo verbal caracteriacutesticas estruturais que lhe satildeo comuns e acima de tudo

fronteiras claramente delimitadas (BAKHTIN 2011 p 293)

Essas caracteriacutesticas ocorrem simultaneamente em uma enunciaccedilatildeo concreta pois

eacute no momento da enunciaccedilatildeo que se definiraacute como essas caracteriacutesticas seratildeo empregadas

A partir dessa compreensatildeo de Bakhtin diversos outros autores conceituaram o que

eacute gecircnero Dentre as grandes Escolas do Gecircnero2 nosso trabalho considerou os conceitos baacutesicos

2 Dentre as grandes Escolas de Gecircnero destacam-se a Escola de Sidney a Norte-americana e a de Genebra

26

adotados pela Escola norte-americana representada por Miller (2011) e Bazerman (2009) Por

fim no Brasil veremos Marcuschi (2015) Traremos ainda para a proacutexima seccedilatildeo autores que

desenvolvem e aplicam os conceitos de gecircnero textual na praacutetica por meio de sequecircncias de

atividades como Dolz Noverraz e Schneuwly ([2004]2013) atraveacutes da Sequecircncia Didaacutetica e

Vieira (2005) com a Abordagem imitativa da redaccedilatildeo trabalhando com formatos e gecircneros

212 Gecircnero como accedilatildeo social

A noccedilatildeo de gecircnero como accedilatildeo social foi desenvolvida inicialmente por Carolyn

Miller A elaboraccedilatildeo de uma teoria de gecircnero ocorreu com mais dois pesquisadores John

Swales e Charles Bazerman Todos satildeo membros do grupo que compotildee a escola de estudos de

gecircneros norte-americana cuja caracteriacutestica eacute o interesse pela natureza social do discurso

(CARVALHO 2005) Veremos aqui mais especificamente os expoentes Miller e Bazerman

A noccedilatildeo de gecircneros natildeo eacute recente e remonta agrave Retoacuterica Claacutessica Por volta dos anos

1980 Miller voltou-se aos estudos das determinaccedilotildees retoacutericas de Aristoacuteteles O filoacutesofo grego

postulou a primeira classificaccedilatildeo dos discursos em trecircs tipos o judiciaacuterio o deliberativo e o

epidiacutetico Carvalho (2016) nos diz que para Aristoacuteteles autor da classificaccedilatildeo essa distinccedilatildeo

dos discursos eacute necessaacuteria porque existem trecircs tipos de auditoacuterio e eacute preciso adaptar-se a eles

conferindo traccedilos especiacuteficos a cada gecircnero pois a escolha entre um deles se daacute mediante a

necessidade que o orador tem de se adaptar ao puacuteblico Aleacutem de classificar Aristoacuteteles

apresenta as caracteriacutesticas de cada um desses tipos de discurso Segundo Carvalho (2016 p

35)

O pensador grego entende que esses trecircs gecircneros se remetem a um tempo especiacutefico

indicam atos expressam valores e apresentam formas especiacuteficas de argumentaccedilatildeo

Assim sendo pondera que o gecircnero judiciaacuterio se dirige a um auditoacuterio especializado

versa sobre leis recorre a silogismos e se refere a acontecimentos do passado para

acusar ou defender O deliberativo trata-se de um gecircnero que se relaciona a um puacuteblico

culto faz uso de argumentos atraveacutes de exemplos e expressa atitudes que poderatildeo

acontecer no futuro O epiacutedictico por sua vez eacute caracterizado como um gecircnero no

qual o orador exalta ou despreza caracteriacutesticas de determinados indiviacuteduos no exato

momento da enunciaccedilatildeo (CARVALHO 2016 p 35)

Nessa abordagem claacutessica apesar de a classificaccedilatildeo de Aristoacuteteles ter reduzido os

discursos a apenas trecircs tipos jaacute se compreendia que a variedade dos gecircneros eacute dependente da

variedade de auditoacuterios e por essa razatildeo natildeo podem ser concebidos desvinculados de seus

interlocutores sendo formas de agir em sociedade de diferentes maneiras Nas palavras de

Carvalho (2016 p34) ldquopor esse acircngulo podemos dizer ainda hoje que lanccedilar um olhar sobre

27

os gecircneros que contemple suas dimensotildees retoacutericas eacute antes de tudo atentar para a natureza

social e argumentativa inerente a cada tipo de discurso e concebecirc-los como formas de

(inter)accedilatildeordquo

Por sua vez Bazerman (2009) na introduccedilatildeo de seu livro Gecircneros textuais

tipificaccedilatildeo e interaccedilatildeo fala da necessidade de se entender as variedades da escrita numa

abordagem que comeccedila com as circunstacircncias em que as pessoas produzem e usam os textos

questionando sobre os motivos e accedilotildees tiacutepicos associados com a escrita e leitura desses textos

Em deacutecadas recentes o ensino da escrita foi transformado pelo amplo reconhecimento

de vaacuterios princiacutepios Primeiro o escrever bem requer mais do que a produccedilatildeo de

sentenccedilas corretas tambeacutem envolve a comunicaccedilatildeo bem-sucedida de mensagens

significantes para outros Segundo a escrita eacute um processo que leva tempo e incorpora

muitas diferentes atividades Terceiro o ensino da escrita que ajuda alunos a

alcanccedilarem o sucesso acadecircmico precisa atender a todos os tipos de escrita que satildeo

necessaacuterios natildeo somente para o estudo da linguagem ou da literatura mas tambeacutem

para as disciplinas de histoacuteria ciecircncia filosofia e poliacutetica Quarto os alunos ao

terminarem seus estudos precisam estar aptos a produzir muitas diferentes formas da

escrita Embora todas as formas da escrita que os alunos poderiam precisar sejam

impossiacuteveis de antecipar os alunos precisam de habilidade e flexibilidade suficientes

para se adaptar agraves situaccedilotildees variantes da escrita (BAZERMAN 2009 p 16)

Bazerman (2009) afirma que se pode chegar a uma compreensatildeo mais profunda de

gecircneros se os compreendermos como ldquofenocircmenos de reconhecimento psicossocial que satildeo parte

de processos de atividades socialmente organizadasrdquo (Bazerman 2009 p31) Na concepccedilatildeo do

pesquisador gecircneros satildeo os tipos que as pessoas reconhecem como sendo usados por elas

proacuteprias e pelos outros ou seja ldquosatildeo fatos sociais sobre os tipos de atos de fala que as pessoas

podem realizar e sobre os modos como elas os realizamrdquo (Bazerman 2009 p 31) Desse modo

os gecircneros emergem nos processos sociais na medida em que as pessoas tentam compreender

umas agraves outras de tal maneira que consigam coordenar atividades e compartilhar significados

com vistas a seus propoacutesitos praacuteticos

Para Miller e Bazerman (2011) definir o gecircnero como ldquogecircnero textualrdquo ou apenas

gecircnero ou ainda ldquogecircnero discursivordquo eacute uma questatildeo de necessidade apenas em contextos em

que se precise fazer algum tipo de distinccedilatildeo ou esclarecimento conceitual como uma espeacutecie

de contraste Nessa obra constituiacuteda como um ldquobate papordquo com perguntas e respostas os

professores a seu turno datildeo suas visotildees sobre essas distinccedilotildees quando perguntados ldquocomo vocecirc

define o conceito de gecircnerordquo Miller responde

Bom eu mantenho a minha definiccedilatildeo jaacute conhecida Eu natildeo distinguiria gecircnero textual

de gecircnero Eu o defino amplamente ou seja o gecircnero eacute uma accedilatildeo retoacuterica tipificada

baseada numa situaccedilatildeo retoacuterica recorrente [] Diria apenas que essa definiccedilatildeo tende

28

a se concentrar mais na produccedilatildeo na pessoa que desenvolve a accedilatildeo do que na

recepccedilatildeo Mas creio que eacute possiacutevel direcionaacute-la para pensar sobre o modo como

algueacutem realiza uma accedilatildeo e responde a ela Acho que tanto a produccedilatildeo como a recepccedilatildeo

satildeo importantes para se pensar no gecircnero como accedilatildeo (BAZERMAN MILLER 2011

p 16)

A mesma questatildeo dirigida a Bazerman eacute respondida da seguinte forma

Eu gostaria de acrescentar algumas coisas Percebo que em portuguecircs eacute necessaacuterio

distinguir gecircneros textuais (textual genre) de gecircnero (gender) Poreacutem em inglecircs o uso

do termo ldquogecircnero de textordquo se opotildee a gecircneros orais ou gecircneros em outros meios

Certamente os gecircneros textuais possuem caracteriacutesticas que os distinguem dos

gecircneros da pintura por exemplo mas todos satildeo formas de gecircnero O que realmente

estaacute em discussatildeo portanto satildeo as possibilidades (affordances) especiacuteficas da

textualidade versus artes graacuteficas por exemplo (BAZERMAN MILLER 2011 p

22)

Para os estudiosos da sociorretoacuterica os gecircneros pertencem agraves atividades humanas

e as refletem de forma que agrave medida que a linguagem muda mudam consigo os gecircneros natildeo

sendo o mais importante classificar ou nomear um gecircnero mas saber como ele funciona

O conceito de gecircnero de Miller tem como noccedilotildees-chave a recorrecircncia e a accedilatildeo

retoacuterica como se pode entender a partir da definiccedilatildeo dada pela proacutepria autora quando diz que

ldquoo gecircnero eacute uma accedilatildeo retoacuterica tipificada baseada numa situaccedilatildeo retoacuterica recorrenterdquo

(BAZERMAN MILLER 2011 p 22) Sua linha de trabalho define que o gecircnero espelha a

experiecircncia de seus usuaacuterios sendo o texto a forma materializada dessa experiecircncia por meio

da accedilatildeo ali levada a cabo de sua forma e de sua substacircncia (CARVALHO 2005 p 133)

Eacute atraveacutes do processo de tipificaccedilatildeo que satildeo construiacutedas as condiccedilotildees de

recorrecircncia analogias e similaridades necessaacuterias para a compreensatildeo do gecircnero em uma dada

cultura Nesse processo eacute importante o papel do sujeito cognitivo visto que ele capta a

recorrecircncia social de uma determinada comunicaccedilatildeo o que sinaliza padrotildees socialmente

perceptiacuteveis e socialmente determinados moldando-se a eles (BAZERMAN MILLER 2011

p 32)

Para caracterizar como os gecircneros se configuram e se enquadram em organizaccedilotildees

papeis e atividades mais amplas Bazerman (2009) propotildee vaacuterios conceitos que se sobrepotildeem

cada um envolvendo um aspecto diferente dessa configuraccedilatildeo conjunto de gecircneros sistema de

gecircneros e sistema de atividades

Segundo o autor um conjunto de gecircneros eacute ldquoa coleccedilatildeo de tipos de textos que uma

pessoa num determinado papel tende a produzirrdquo (2009 p 32) Compreendemos a partir da

explicaccedilatildeo do autor que eacute exemplificada com os profissionais da engenharia e da educaccedilatildeo que

29

ao identificar todas as formas de escrita com as quais devem trabalhar consegue-se ter acesso

agraves competecircncias habilidades e conhecimentos que lhe satildeo requeridos para que atue com bom

domiacutenio em sua aacuterea

Prosseguindo o autor conceitua um sistema de gecircneros

Um sistema de gecircneros compreende os diversos conjuntos de gecircneros organizados por

pessoas que trabalham juntas de uma forma organizada e tambeacutem as relaccedilotildees

padronizadas que se estabelecem na produccedilatildeo circulaccedilatildeo e uso desses documentos

Um sistema de gecircneros captura as sequecircncias regulares com que um gecircnero segue

outro gecircnero dentro de um fluxo comunicativo tiacutepico de um grupo de pessoas

(BAZERMAN 2009 p 32-33)

Esse aspecto se refere agrave integraccedilatildeo dos conjuntos de gecircneros que satildeo usados por

todos os participantes de uma determinada accedilatildeo social Como exemplo podemos pensar nas

provas de uma disciplina o professor elabora as provas e os alunos fazem as provas Ao analisar

o sistema de gecircneros observa-se a sequecircncia dos gecircneros e torna-se possiacutevel esclarecer quais

accedilotildees sociais as pessoas fazem e a forma pela qual os gecircneros datildeo ferramentas para essas accedilotildees

Por fim Bazerman (2009 p 33) conceitua sistema de atividades relacionando-o

ainda ao sistema de gecircneros ldquoEsse sistema de gecircneros eacute tambeacutem parte do sistema de atividades

da sala de aula Ao definir o sistema de gecircneros em que as pessoas estatildeo envolvidas vocecirc

identifica tambeacutem um frame que organiza o seu trabalho sua atenccedilatildeo e suas realizaccedilotildeesrdquo A

palavra frame eacute compreendida como moldura ou quadro No acircmbito educacional podemos

compreender a expressatildeo como o enquadramento que direciona o trabalho que compete a cada

pessoa imersa na accedilatildeo social

Pensando no exemplo da aacuterea educacional um aluno lida com um conjunto de

gecircneros como as provas os seminaacuterios os apontamentos e dentro do sistema de gecircneros

utilizados seu padratildeo como aluno consiste em estudar para os seminaacuterios tomar apontamentos

e responder agraves questotildees das provas sendo que dentro do sistema de atividades em que se

encontra natildeo pode deixar de atender agrave ordem que o frame lhe impotildee pois se lhe eacute determinado

que faccedila sua prova por escrito natildeo lhe eacute permitido por mais que estivesse respondendo tudo

corretamente utilizar-se de um gecircnero oral para que obtenha a nota ndash o que corrobora com a

afirmaccedilatildeo do autor quando este diz que ldquolevar em consideraccedilatildeo o sistema de atividades junto

com o sistema de gecircneros eacute focalizar o que as pessoas fazem e como os textos ajudam as pessoas

a fazecirc-lo em vez de focalizar os textos como fins em si mesmordquo (BAZERMAN 2009 p 33-

34)

30

Apoacutes essa caracterizaccedilatildeo de como os gecircneros se configuram e se enquadram em

organizaccedilotildees papeis e atividades mais amplas nessa abordagem que comeccedila com as

circunstacircncias em que as pessoas produzem e usam os textos questionando sobre os motivos e

accedilotildees tiacutepicos associados com a escrita e leitura desses textos veremos na seccedilatildeo seguinte a

concepccedilatildeo de gecircneros textuais como fenocircmenos histoacutericos profundamente vinculados agrave vida

cultural e social sob a oacutetica de Marcuschi

213 Gecircnero como fenocircmeno histoacuterico

No Brasil Marcuschi (2015) trabalhou a produccedilatildeo textual sob um enfoque

sociointerativo de gecircneros textuais no contiacutenuo de fala-escrita buscando esclarecer os

processos de compreensatildeo textual e de produccedilatildeo de sentido Coadunando com os conceitos jaacute

expostos de Bakhtin (2011) sobre as interaccedilotildees entendemos que elas se datildeo em domiacutenios

discursivos ou seja esferas da vida social ou institucional (por exemplo religiosa juriacutedica

jornaliacutestica pedagoacutegica poliacutetica industrial militar familiar luacutedica etc) nas quais se datildeo

praacuteticas que organizam formas de comunicaccedilatildeo e respectivas estrateacutegias de compreensatildeo (p

194)

Deste modo para Marcuschi os domiacutenios discursivos produzem ldquomodelos de accedilatildeo

comunicativa que se estabilizam e se transmitem de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo com propoacutesitos e

efeitos definidos e clarosrdquo (2015 p 194) que resultam em formas de accedilatildeo reflexatildeo e avaliaccedilatildeo

social que ldquodeterminam formatos textuais que em uacuteltima instacircncia desembocam na

estabilizaccedilatildeo de gecircneros textuaisrdquo (2015 p 194) tambeacutem organizando as relaccedilotildees de poder

Na concepccedilatildeo de Marcuschi (2015) os gecircneros textuais satildeo entatildeo fenocircmenos

histoacutericos profundamente vinculados agrave vida cultural e social O autor afirma que quando

dominamos um gecircnero textual natildeo dominamos uma forma linguiacutestica mas sim uma forma de

realizar linguisticamente objetivos especiacuteficos em situaccedilotildees sociais particulares (p 31) Isso

equivaleria a dizer que os gecircneros textuais operam em certos contextos como formas de

legitimaccedilatildeo discursiva por se situarem numa relaccedilatildeo soacutecio-histoacuterica com fontes de produccedilatildeo

que lhes datildeo sustentaccedilatildeo

Essa relaccedilatildeo soacutecio-histoacuterica a que se refere o autor trata da construccedilatildeo coletiva que

ordena e estabiliza as atividades comunicativas do dia a dia convergindo com o pensamento de

Bakhtin isto eacute como os gecircneros independem de decisotildees individuais e natildeo satildeo facilmente

manipulaacuteveis eles operam como geradores de expectativas de compreensatildeo muacutetua Nas

31

palavras de Marcuschi (2015 p 189) ldquoos gecircneros textuais natildeo satildeo fruto de invenccedilotildees

individuais mas formas socialmente maturadas em praacuteticas comunicativas na accedilatildeo

linguageirardquo

Em uma tentativa de distribuiccedilatildeo dos gecircneros da oralidade e escrita Marcuschi

(2015) cria um quadro geral3 que mostra que muitos gecircneros satildeo comuns a vaacuterios domiacutenios

figurando a crocircnica gecircnero eleito para a realizaccedilatildeo de nossa pesquisa-accedilatildeo de processo de

produccedilatildeo escrita em forma de sequecircncia didaacutetica nos domiacutenios discursivos ficcional e

jornaliacutestico Na distribuiccedilatildeo do contiacutenuo de fala-escrita que ensaia desenhar Marcuschi mostra

a crocircnica deslizando entre o domiacutenio das conversaccedilotildees na conversa espontacircnea seguindo para

as apresentaccedilotildees e reportagens com as narrativas

Desse modo caminha-se para uma compreensatildeo do que eacute a crocircnica aquele texto

escrito leve e espontacircneo que parece por vezes conversar com seu leitor narrando uma coisa

ou outra do dia a dia podendo conduzi-lo a reflexotildees ou possibilitando-lhe um dia mais bem-

humorado ou mesmo poeacutetico Direcionado para nossa investigaccedilatildeo julgamos esses conceitos

bastante importantes para elucidar para os alunos em que contexto satildeo produzidas as crocircnicas

de onde partem a quem pretendem alcanccedilar

Nesse sentido a partir do exposto concluiacutemos que um gecircnero seria uma resposta

usada pelos usuaacuterios de uma liacutengua em situaccedilotildees especiacuteficas constituiacutedo por caracteriacutesticas

gerais relativamente estaacuteveis Dessa forma aleacutem da intenccedilatildeo da comunicaccedilatildeo existe um

conhecimento comum pelo qual os falantes se orientam em suas decisotildees linguiacutesticas ao

construir o gecircnero de texto que estatildeo produzindo ou que devem produzir em cada contexto

comunicativo Esses gecircneros natildeo surgem naturalmente mas se constroem na interaccedilatildeo

comunicativa e satildeo fenocircmenos sociointerativos

22 Conhecendo a sequecircncia didaacutetica

Com vistas a ajudar o trabalho do professor tem sido muito discutido na uacuteltima

deacutecada o emprego das sequecircncias didaacuteticas especialmente na educaccedilatildeo baacutesica Sua

caracteriacutestica consiste em ser um conjunto de atividades ligadas entre si planejadas para ensinar

um conteuacutedo etapa por etapa Ao organizaacute-la de acordo com os objetivos que pretende alcanccedilar

para seus alunos o professor desenvolve atividades de aprendizagem e de avaliaccedilatildeo

3 Cf Anexo A

32

Para o trabalho em nossa aacuterea Liacutengua Portuguesa nossa pesquisa-accedilatildeo vai se

utilizar do procedimento baacutesico da sequecircncia didaacutetica para o ensino da escrita do gecircnero textual

crocircnica literaacuteria para o 9ordm ano do ensino fundamental inspirada no referencial teoacuterico-

metodoloacutegico de Dolz Noverraz e Schneuwly (2013) na proposta de adaptaccedilatildeo da sequecircncia

didaacutetica conduzida por Swiderski e Costa-Huumlbes (2009) na proposta de circulaccedilatildeo social do

gecircnero discursivo produzido em sequecircncias didaacuteticas de projetos pedagoacutegicos de Lopes-Rossi

(2011) e nas sugestotildees didaacuteticas da praacutetica de sala de aula de Vieira (2005) e de Serafini (2003)

221 Conceito de sequecircncia didaacutetica

Dolz Noverraz e Schneuwly (2013 p 83) reconhecem que os textos escritos ou

orais que produzimos diferenciam-se uns dos outros porque satildeo produzidos em condiccedilotildees

diferentes Apesar dessa diversidade satildeo constatadas regularidades de modo que em situaccedilotildees

semelhantes produzimos textos com caracteriacutesticas semelhantes que os autores chamam de

gecircneros de textos conhecidos de e reconhecidos por todos e que por isso mesmo facilitam a

comunicaccedilatildeo a conversa em famiacutelia ou a negociaccedilatildeo no mercado por exemplo

O conceito baacutesico de sequecircncia didaacutetica segundo os autores (2013 p 83) eacute que

esta eacute um conjunto de atividades escolares organizadas de maneira sistemaacutetica em torno de

um gecircnero textual oral ou escrito e que tem precisamente a finalidade de ajudar os alunos a

dominar melhor um gecircnero de texto o que lhes permitiraacute falar ou escrever de maneira mais

adequada a cada situaccedilatildeo comunicativa

Para o desenvolvimento de nossa pesquisa escolhemos o gecircnero crocircnica literaacuteria

visando o desenvolvimento da competecircncia discursiva dos alunos posto que ainda natildeo

dominam adequadamente a produccedilatildeo de um texto nesse gecircnero Assim como preveem Dolz

Noverraz e Schneuwly (2013 p 83) ldquoo trabalho escolar seraacute realizado evidentemente sobre

gecircneros que o aluno natildeo domina ou o faz de maneira insuficiente sobre aqueles dificilmente

acessiacuteveis espontaneamente pela maioria dos alunos e sobre gecircneros puacuteblicos e natildeo privadosrdquo

De acordo com os autores uma sequecircncia didaacutetica pode ser flexiacutevel no sentido de

que se houver necessidade o professor poderaacute por vezes criar outras atividades ou modificar

os textos de referecircncia utilizados Essa flexibilidade precisa tambeacutem considerar os fenocircmenos

de desencorajamento que poderatildeo manifestar-se durante o tempo consagrado agrave sequecircncia como

por exemplo no aluno o sentimento de que jamais conseguiraacute melhorar seu texto por causa das

dificuldades proacuteprias da escrita no professor nos momentos em que os alunos parecem

33

desconectar-se da proposta projetada perdendo o interesse pela atividade proposta no dia Para

minimizar situaccedilotildees assim eacute que deve ser deixado um espaccedilo para as atividades mais informais

e menos exigentes em termos de tempo (DOLZ NOVERRAZ SCHNEUWLY 2013 p 108)

Percebemos dessa forma que um professor natildeo eacute obrigado a realizar todas as

atividades predeterminadas de uma sequecircncia didaacutetica na sua integralidade Sob pena do rigor

por cumprir aquele planejamento e somente ele no decorrer do processo de aprendizagem

ambos professor e aluno podem sentir que a experiecircncia natildeo foi vaacutelida terminando por realizar

as aulas de modo tradicional natildeo ocorrendo assim o acesso dos alunos a praacuteticas de linguagem

novas ou dificilmente dominaacuteveis

Por ser de caraacuteter progressivo a cada etapa de uma sequecircncia didaacutetica o professor

pode ndash e deve ndash fazer uma reflexatildeo associando o microcosmo que eacute a sala de aula onde

trabalha com um macro que seria o mundo em que estamos inseridos com todo o seu contexto

que pode servir como suporte para que o docente se integre a uma (ou a vaacuterias) teorias que

possa vir a aplicar

Com a reflexatildeo sobre a(s) teoria(s) e construindo seu arcabouccedilo teoacuterico conforme

observa sua praacutetica o professor ndash incluiacutemo-nos aqui ndash como sugere Bortoni-Ricardo (2008)

torna-se pesquisador podendo aprimorar sua postura pedagoacutegica de modo a obter assim

resultados mais satisfatoacuterios junto aos discentes

Dando prosseguimento expomos aqui o os quatro componentes da estrutura baacutesica

de uma sequecircncia didaacutetica segundo Dolz Noverraz Schneuwly (2013) que serve como

inspiraccedilatildeo para as atividades que planejamos para esta pesquisa-accedilatildeo

Figura 1 - Esquema baacutesico de sequecircncia didaacutetica

Fonte Adaptado de DOLZ NOVERRAZ SCHNEUWLY (2013 p 83)

Para Dolz Noverraz e Schneuwly (2013) eacute necessaacuterio que o professor informe os

alunos e conscientize-os da importacircncia dos conteuacutedos a serem trabalhados em sala de aula

Para isso o professor deve claramente definir o problema de comunicaccedilatildeo que devem resolver

Apresentaccedilatildeo da

Situaccedilatildeo

PRODUCcedilAtildeO

INICIAL

PRODUCcedilAtildeO

FINAL

Moacuted

ulo 1

Moacuted

ulo 2

Moacuted

ulo n

34

produzindo um texto e os conteuacutedos com os quais trabalharatildeo no texto que seraacute produzido

Assim na fase inicial de apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo satildeo fornecidas aos alunos as informaccedilotildees

necessaacuterias para conhecerem o ldquoprojeto comunicativo visado e a aprendizagem de linguagem a

que estaacute relacionadordquo (2013 p 85)

Depois dessa contextualizaccedilatildeo com os alunos eles passam agrave primeira produccedilatildeo

tentando elaborar um texto escrito Ora embora os alunos ainda natildeo tenham verdadeiramente

tido o contato aprofundado com o gecircnero esse encaminhamento natildeo necessariamente os potildee

numa situaccedilatildeo de insucesso Ao contraacuterio do que se pode pensar produzir um texto adequado

agrave situaccedilatildeo proposta embora os alunos nesse primeiro momento natildeo atendam a todas as

caracteriacutesticas do gecircnero solicitado permite-lhes descobrir o que jaacute sabem fazer e ganhar

consciecircncia das dificuldades que possuem e ao professor avaliar natildeo somente as dificuldades

apresentadas pelos alunos na produccedilatildeo inicial mas tambeacutem que se apresentarem durante o

processo de produccedilatildeo Desse modo a produccedilatildeo inicial eacute caracterizada como ldquoo primeiro lugar

de aprendizagem da sequecircnciardquo (DOLZ NOVERRAZ SCHNEUWLY 2013 p 87 Grifo dos

autores)

A etapa seguinte se constitui dos moacutedulos isto eacute a decomposiccedilatildeo dos problemas

detectados na primeira produccedilatildeo com consequente fornecimento de instrumentalizaccedilatildeo para a

superaccedilatildeo das dificuldades Esse processo que vai da produccedilatildeo inicial aos moacutedulos os autores

denominaram de ldquomovimento geral da sequecircncia didaacuteticardquo (2013 p 88) partindo do acircmbito

mais complexo que eacute a produccedilatildeo inicial para o mais simples que satildeo os moacutedulos os quais

trabalham as capacidades necessaacuterias ao domiacutenio do gecircnero No fim o movimento da sequecircncia

didaacutetica vai para o complexo novamente que eacute a produccedilatildeo final No processo de elaboraccedilatildeo de

cada moacutedulo os autores levantam trecircs questionamentos 1) Que dificuldades da expressatildeo oral

e escrita abordar 2) Como construir um moacutedulo para trabalhar um problema particular 3)

Como capitalizar o que eacute adquirido nos moacutedulos (2013 p 88)

Para responder a cada uma dessas indagaccedilotildees Dolz Noverraz e Schneuwly (2013

p 88) consideram trecircs dimensotildees no processo de construccedilatildeo dos moacutedulos que satildeo trabalhar

problemas de niacuteveis diferentes variar atividades e exerciacutecios e capitalizar as aquisiccedilotildees

A primeira etapa trabalhar problemas de niacuteveis diferentes baseada na psicologia

da linguagem eacute constituiacuteda por quatro niacuteveis principais na produccedilatildeo de textos a saber

representaccedilatildeo da situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo em que o aluno deveraacute aprender com clareza a fazer

uma imagem ldquodo destinataacuterio do texto da finalidade visada da sua posiccedilatildeo como autor ou

locutor e do gecircnero visadordquo (p 88) elaboraccedilatildeo dos conteuacutedos em que o aluno ldquodeveraacute conhecer

35

as teacutecnicas para buscar elaborar ou criar conteuacutedosrdquo (p 88) planejamento do texto em que o

aluno deveraacute estruturar seu texto de acordo com um plano que depende da finalidade que se

deseja atingir considerando que cada gecircnero se caracteriza por uma estrutura evocando a

compreensatildeo de Bakhtin (2011) ldquorelativamente estaacutevelrdquo realizaccedilatildeo do texto em que o aluno

deveraacute escrever seu texto escolhendo os meios de linguagem mais eficazes para a finalidade

que pretende alcanccedilar

Em relaccedilatildeo agrave segunda etapa variar as atividades e exerciacutecios os autores definem

que ldquoo princiacutepio essencial de elaboraccedilatildeo de um moacutedulo que trate de um problema de produccedilatildeo

textual eacute o de variar os modos de trabalhordquo (p 89) Afirmando que existem variadas categorias

de atividades e exerciacutecios (atividades de observaccedilatildeo e de anaacutelise de textos tarefas simplificadas

de produccedilatildeo de textos e a elaboraccedilatildeo de uma linguagem comum) (p 89) sugerem assim que

cada moacutedulo tenha atividades diversificadas com o objetivo de proporcionar ao aluno diferentes

meios de apropriaccedilatildeo dos conteuacutedos necessaacuterios ao seu sucesso na produccedilatildeo final

A terceira etapa capitalizar as aquisiccedilotildees consiste em aprender a falar sobre o

gecircnero abordado atraveacutes da aquisiccedilatildeo de vocabulaacuterio teacutecnico comum agrave classe e ao professor

A partir dessa construccedilatildeo progressiva dos conhecimentos de linguagem e de regras seraacute

possiacutevel ao professor estimular os alunos a refletir sobre o que foi aprendido nos moacutedulos e

juntos fazerem uma siacutentese na forma de como sugerem os autores lista de constataccedilotildees ou de

lembrete ou glossaacuterio (p 90)

A etapa final da sequecircncia didaacutetica corresponde agrave produccedilatildeo final momento em que

o aluno colocaraacute em praacutetica as noccedilotildees e os instrumentos que foram elaborados e aplicados

durante os moacutedulos sendo o momento para o professor avaliar o aprendizado do aluno Essa

avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo final tem caraacuteter somativo e eacute pautada na construccedilatildeo de uma grade (2013

p 90) de criteacuterios que explicitam aos alunos o que seraacute avaliado permitindo a objetividade ao

pautar-se nos conteuacutedos trabalhados em aula Isso tornaraacute possiacutevel ao professor a observaccedilatildeo

das aprendizagens efetuadas planejar a continuaccedilatildeo do trabalho e se necessaacuterio retornar a

pontos mal assimilados

222 Propostas de adaptaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica

Com vistas a justificar como compusemos a SD aplicada vamos nessa seccedilatildeo

mostrar o aparato teoacuterico de pesquisadoras que contribuiacuteram com propostas de adaptaccedilatildeo e

36

complementaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica do grupo de Genebra buscando propiciar ao professor

um trabalho mais amplo

2221 Moacutedulo de reconhecimento

Baseados na proposta teoacuterico-metodoloacutegica da SD produzida para o contexto

sociocultural dos pesquisadores de Genebra os integrantes de um grupo de estudos em Liacutengua

Portuguesa da regiatildeo Oeste do Paranaacute criaram uma proposta de ensino da LP para as seacuteries

iniciais contendo uma adaptaccedilatildeo (SWIDERSKI COSTA-HUumlBES 2009) que consiste na

inserccedilatildeo de um moacutedulo de reconhecimento do gecircnero antes da etapa de produccedilatildeo inicial em

atividades e exerciacutecios que contemplem a leitura a pesquisa e a anaacutelise linguiacutestica com textos

do gecircnero Para melhor entendimento observemos a figura a seguir

Figura 2 - Esquema da SD adaptada por Costa-Huumlbes

Fonte Adaptado de SWIDERSKI E COSTA-HUumlBES (2009)

Esse moacutedulo inserido antes da produccedilatildeo inicial como proposto pelas autoras serve

segundo elas ao reconhecimento dos aspectos do gecircnero a ser trabalhado na SD em atividades

e exerciacutecios que contemplem a leitura a pesquisa e a anaacutelise linguiacutestica com textos do gecircnero

Na SD ldquoas condiccedilotildees de praacuteticas de leituras envolvem natildeo apenas o contexto de produccedilatildeo e a

relaccedilatildeo autor-texto A esses aspectos somam-se o conhecimento do leitor e o contexto de uso

que conforme Orlandi (1996) satildeo fatores determinantes na produccedilatildeo de sentidosrdquo

(SWIDERSKI COSTA-HUumlBES 2009 p 121)

Diante disso ao avaliarem a proposta da SD as autoras entendem que antes de se

chegar agrave produccedilatildeo inicial o professor pode criar para o estudante vaacuterias situaccedilotildees que envolvam

a praacutetica de leitura de textos do gecircnero selecionado que circulam na sociedade oportunizando

nesse contato com esses textos a mobilizaccedilatildeo de estrateacutegias diferentes frente aos diversos

37

objetivos que implicam o ato de ler e enfatizam que trabalhar com a leitura natildeo exclui o

trabalho com os outros eixos do processo ensino-aprendizagem de LP

As autoras acrescentam ainda sobre o trabalho de reconhecimento do gecircnero

Outro detalhe que salientamos sobre o trabalho de reconhecimento do gecircnero refere-

se ao fato de que as informaccedilotildees sobre o gecircnero natildeo satildeo dadas gratuitamente jaacute que

o mesmo natildeo eacute tratado como uma forma pronta e acabada mas como um instrumento

relativamente estaacutevel Entendido assim a praacutetica de ensino-aprendizagem precisa

incentivar o processo de pesquisa Nessa perspectiva o estudante tem dois problemas

a resolver antes de iniciar sua produccedilatildeo um abarca a pesquisa para conhecer os

elementos que determinam num dado contexto soacutecio-histoacuterico e cultural a produccedilatildeo

e a circulaccedilatildeo das amostras do gecircnero a ser abordado didaticamente e em segundo

a leitura e a anaacutelise dessas amostras novamente buscando reforccedilar o conhecimento

acerca dos elementos que as constituem (SWIDERSKI COSTA-HUumlBES 2009 p

121)

Vemos entatildeo que as leituras para reconhecimento do gecircnero como uma etapa

anterior ao momento da produccedilatildeo inicial servem como base ao trabalho a ser desenvolvido

Inclusive entendemos no tocante a servir como exemplo e modelo que fornecem traccedilos para

possiacuteveis comparaccedilotildees ao longo do desenvolvimento dos moacutedulos como poderemos perceber

na seccedilatildeo correspondente ao nosso trabalho

2222 Moacutedulo de divulgaccedilatildeo ao puacuteblico

Como forma de consolidar para o aluno a visatildeo do uso real de um gecircnero textual

Lopes-Rossi (2011) propotildee a divulgaccedilatildeo das produccedilotildees dos alunos apoacutes a realizaccedilatildeo das tarefas

dos moacutedulos

Deste modo o professor pode entatildeo criar com eficiecircncia projetos pedagoacutegicos

que visem segundo a autora ldquoao conhecimento agrave leitura agrave discussatildeo sobre o uso e as funccedilotildees

sociais dos gecircneros escolhidos e quando pertinente a sua produccedilatildeo escrita e circulaccedilatildeo socialrdquo

(LOPES-ROSSI 2011 p 71)

O quadro a seguir proposto por Lopes-Rossi (2011) reflete os fundamentos sobre

o trabalho com projetos pedagoacutegicos e sintetiza as etapas de desenvolvimento de projetos

pedagoacutegicos que visam agrave produccedilatildeo escrita de gecircneros discursivos incluindo o moacutedulo de

divulgaccedilatildeo ao puacuteblico de acordo com a forma tiacutepica de circulaccedilatildeo de cada gecircnero

38

Quadro 1 ndash Siacutentese das etapas de desenvolvimento de projetos pedagoacutegicos que visam agrave produccedilatildeo escrita de

gecircneros discursivos

Moacutedulos didaacuteticos Sequecircncias didaacuteticas

Leitura para apropriaccedilatildeo das

caracteriacutesticas tiacutepicas do

gecircnero discursivo

rarr Seacuterie de atividades de leitura comentaacuterios e

discussotildees de vaacuterios exemplos do gecircnero para

conhecimento de suas caracteriacutesticas discursivas

temaacuteticas e composicionais (aspectos verbais e natildeo

verbais)

Produccedilatildeo escrita do gecircnero

de acordo com suas

condiccedilotildees de produccedilatildeo

tiacutepicas

rarr Seacuterie de atividades de produccedilatildeo

- planejamento da produccedilatildeo (assunto esboccedilo geral

forma de obtenccedilatildeo de informaccedilotildees recursos

necessaacuterios)

- coleta de informaccedilotildees

- produccedilatildeo da primeira versatildeo

- revisatildeo colaborativa do texto

- produccedilatildeo da segunda versatildeo

- revisatildeo colaborativa do texto

- produccedilatildeo da versatildeo final incluindo o suporte para a

circulaccedilatildeo do texto

Divulgaccedilatildeo ao puacuteblico de

acordo com a forma tiacutepica de

circulaccedilatildeo do gecircnero

rarr Seacuterie de providecircncias para efetivar a circulaccedilatildeo da

produccedilatildeo dos alunos fora da sala de aula e mesmo da

escola de acordo com as necessidades de cada evento

de divulgaccedilatildeo e das caracteriacutesticas de circulaccedilatildeo do

gecircnero Fonte Adaptado de LOPES-ROSSI (2011 p 72)

Se adaptarmos o quadro em forma de esquema a fim de facilitar a visualizaccedilatildeo

teremos

Figura 3 Esquema das etapas de desenvolvimento de projetos pedagoacutegicos visando agrave produccedilatildeo escrita de gecircneros

discursivos

Fonte Adaptado de LOPES-ROSSI (2011)

Segundo a autora a proposta de trabalho pedagoacutegico com gecircneros discursivos pela

oacutetica dos pesquisadores do grupo de Genebra proporciona de fato o desenvolvimento da

Produccedilatildeo

escrita

Divulgaccedilatildeo ao

puacuteblico

Leitura para

apropriaccedilatildeo

39

autonomia do aluno no processo de leitura e produccedilatildeo textual sendo uma consequecircncia do

domiacutenio do funcionamento da linguagem em situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo visto que eacute por meio

dos gecircneros discursivos que as praacuteticas de linguagem incorporam-se agraves atividades dos alunos

Sua oacutetica inclui um moacutedulo de leitura para apropriaccedilatildeo das caracteriacutesticas tiacutepicas

do gecircnero que se pretende trabalhar como jaacute descrito no quadro e que coaduna com a proposta

de Swidesrki e Costa-Huumlbes (2009) O moacutedulo de produccedilatildeo escrita de Lopes-Rossi (2009) trata

de planejamento da produccedilatildeo coleta de informaccedilotildees produccedilatildeo da primeira versatildeo revisatildeo

colaborativa do texto produccedilatildeo da segunda versatildeo revisatildeo colaborativa do texto produccedilatildeo da

versatildeo final incluindo o suporte para a circulaccedilatildeo do texto

Para noacutes eacute interessante considerar o moacutedulo de divulgaccedilatildeo ao puacuteblico pois

somando-se a esse trabalho de desenvolvimento da autonomia a circulaccedilatildeo da produccedilatildeo viraacute

corroborar entatildeo a funccedilatildeo social do texto divulgado no suporte adequado nas condiccedilotildees

apropriadas

2223 Abordagem imitativa da redaccedilatildeo

No capiacutetulo Abordagem imitativa da redaccedilatildeo trabalhando com formatos e gecircneros

que integra a obra Escrita para que te quero Vieira (2005 p 159-171) elenca passos para o

trabalho do professor com os alunos na construccedilatildeo de um texto como se fosse um guia o que

pode ser bastante uacutetil para o trabalho com formatos e gecircneros Seguem os passos

1ordm Dar exemplos do tipo de escrita esperado que em poucas palavras consiste em

oferecer modelos de textos relativamente faacuteceis de ler evidenciando sua estrutura

2ordm Ensinar as regras que consiste em explicitar o caminho para atingir as metas

Se necessaacuterio for diz a autora transmite-se um conhecimento analiacutetico ldquouse esquemas ou

diagramas para ilustrar Leve seus alunos a aprenderem mais a partir de modelos direcionando

a instruccedilatildeo para um alvordquo (VIEIRA 2005 p 159)

3ordm Apresentar uma ldquoreceitardquo passo a passo do gecircnero pretendido o que deixa claro

o que se quer que os alunos produzam e tambeacutem serve de guia para as tarefas de casa quando

estiverem trabalhando sozinhos A receita seraacute tatildeo melhor para os alunos se elaborada

diretamente pelo professor ou pelos proacuteprios alunos Tambeacutem eacute possiacutevel diz a autora adaptar

instruccedilotildees de manuais e usar a proacutepria experiecircncia de redator

40

4ordm Demonstrar a ldquoreceitardquo que eacute um momento em que os alunos percebem o

trabalho na praacutetica com o professor executando alguns ou todos os passos da ldquoreceitardquo

demonstrando como se escreve Os alunos colaboram na criaccedilatildeo conjunta de um texto

5ordm Ser autecircntico no processo que eacute dividir com os estudantes os problemas que

surgem na produccedilatildeo de qualquer texto mostrando como solucionar dialogando com os alunos

trabalhando de forma colaborativa

6ordm Dar tarefas curtas e planejadas com cuidado o que atribui ao trabalho do aluno

mais qualidade Normalmente para impressionar o professor a aluno escreve textos longos

repetitivos e sem atratividade As atividades com limite de extensatildeo favorecem segundo a

autora a motivaccedilatildeo o alcance e a variedade de audiecircncias o feedback do professor a

possibilidade de repeticcedilatildeo da tarefa o que Vieira considera um passo fundamental para se

dominar um conhecimento

7ordm Propiciar feedback uacutetil e especiacutefico Neste aspecto a autora natildeo estimula o

ldquoretoquerdquo dos textos dos alunos feito pelo professor Pelo contraacuterio incentiva criacuteticas justas

que visem a evoluccedilatildeo construindo com o aluno atraveacutes das sugestotildees e questotildees adequadas a

reformulaccedilatildeo de seus textos Vieira acrescenta ainda que este feedback natildeo deveria vir somente

do professor mas de uma variedade de leitores como seus pares e a famiacutelia para evitar a falsa

ideia de que a escrita eacute algo direcionado somente ao professor

8ordm Repetir a tarefa Ningueacutem se torna bom em algo logo na primeira tentativa

Portanto para desenvolver as habilidades eacute importante a repeticcedilatildeo para dominar um

conhecimento

Apoacutes elencar a autora sugere tarefas de aplicaccedilatildeo para o professor de forma bem

praacutetica para criar uma ldquoreceitardquo de escrita com os alunos (2005 p 162) de modo que noacutes

professores nos apropriemos dos diferentes gecircneros textuais conhecendo de antematildeo as

caracteriacutesticas destes e mesmo as dificuldades partindo de textos autecircnticos listando

procedimentos e etapas necessaacuterios para redigir textos semelhantes e refletindo sobre a

instruccedilatildeo que devemos criar estabelecendo um propoacutesito para que o aluno escreva e exercite

apropriadamente o modelo de gecircnero

A partir desse roteiro teoacuterico-metodoloacutegico que traccedilamos ao longo desta seccedilatildeo

inspiramo-nos para criar para o trabalho com o gecircnero crocircnica assunto da proacutexima seccedilatildeo em

nossa pesquisa-accedilatildeo a sequecircncia didaacutetica com foco na produccedilatildeo escrita de crocircnicas literaacuterias

acrescida das etapas de reconhecimento do gecircnero e da divulgaccedilatildeo ao puacuteblico dado o desejo

41

de extrapolar o acircmbito da sala de aula fazendo com que os textos dos alunos tivessem

circulaccedilatildeo social

23 Definindo o gecircnero textual crocircnica

A palavra ldquocrocircnicardquo tem origem no grego antigo khroacutenos e significa tempo Naquela

sociedade o gecircnero ganhou esse nome inicialmente por trazer em seu corpo o relato em ordem

cronoloacutegica dos fatos ou acontecimentos de uma eacutepoca

Um dos pioneiros a estudar o texto literaacuterio segundo Ferreira (2011 p 65) foi o

pensador grego Aristoacuteteles Sua perspectiva formulava o conceito de mimese que seria a obra

literaacuteria como representaccedilatildeo ou imitaccedilatildeo do mundo Considerando essa oacutetica a crocircnica em sua

origem tomava a forma de registro histoacuterico de um povo Aleacutem disso compreende-se que mais

do que apenas encadear a sequecircncia de fatos sucessivos interessava a forma como isso se dava

mostrando o cuidado com a arte literaacuteria

Aproximadamente no seacuteculo XII a crocircnica ressurge em uso na Europa medieval e

tem seu conceito atualizado pela perspectiva grega ora se encarrega de registrar os fatos

fidedignamente o que lhe confere caraacuteter histoacuterico ora relata-os fazendo uso de recursos

linguiacutesticos tanto denotativos quanto conotativos conferindo-lhe caraacuteter de ficccedilatildeo literaacuteria A

esse respeito nos fala Borges (2008 p 205)

A preocupaccedilatildeo com a descriccedilatildeo da histoacuteria de uma vida teve seu iniacutecio no mundo

grego antigo ao mesmo tempo em que surgiu a Histoacuteria como forma de

conhecimento essa era uma Histoacuteria poliacutetica com sua diferenciaccedilatildeoimbricaccedilatildeo com

a memoacuteria Ao longo de mais ou menos dois milecircnios autores acharam que contar a

histoacuteria da vida de algueacutem era algo distinto de uma Histoacuteria (que narrava fatos

coletivos e contava a verdade) as histoacuterias das vidas (termo usado entatildeo pelos

autores) serviam desde o mundo greco-romano para dar exemplos morais negativos

ou positivos - muitas vezes constituindo os panegiacutericos Essa chamada biografia

claacutessica punha um acento muito maior no caraacuteter poliacutetico moral ou religioso do

biografado do que em sua pessoa em sua singularidade No mundo medieval a ideia

dos exempla prolongou-se configurando-se na hagiografia e nas croacutenicas

Esses textos chamados de crocircnicas como caracterizadas acima por Borges (2008)

confundiam-se com outros gecircneros da eacutepoca ndash o que era muito comum ndash por tomarem um

caraacuteter biograacutefico sendo sinocircnimas por exemplo da hagiografia cuja intencionalidade ditava

o estilo do escritor concretizando ao longo da sucessatildeo cronoloacutegica dos fatos uma visatildeo

parcial beirando o excessivamente elogioso

42

A crocircnica percorreu longo curso ateacute ganhar a forma que conhecemos hoje no Brasil

Para Coutinho (2008) a origem de nossa atual crocircnica brasileira estaria no ensaio inglecircs do

seacuteculo XVI O autor a compara ao ensaio informal (informal essay ou familiar essay) que

consiste em seu sentido primitivo numa tentativa numa experimentaccedilatildeo de interpretaccedilatildeo

pessoal dos fatos sem obedecer a uma estrutura predeterminada poreacutem com forte marca da

prosa oral colocada na escrita

A essecircncia do ensaio (nesse sentido original) estaacute em sua relaccedilatildeo com a palavra falada

e com a elocuccedilatildeo oral como se depreende do estudo estiliacutestico dos grandes ensaiacutestas

estilo muito proacuteximo da maneira oral ou do pensamento que eacute captado no proacuteprio ato

e momento de pensar (COUTINHO 2008 p 100)

A respeito do conceito de crocircnica temos a visatildeo de Coutinho (2008) cujos criteacuterios

de classificaccedilatildeo dos gecircneros literaacuterios adotados em sua obra apontam para ldquoum grupo de formas

literaacuterias que resultam de uma explanaccedilatildeo direta dos pontos de vista do autor dirigindo-se em

seu proacuteprio nome ao leitor ou ouvinte sem qualquer artifiacutecio intermediaacuteriordquo (2008 p 99)

Segundo ele o autor vale-se de meacutetodo direto ao inveacutes de indireto em gecircneros ensaiacutesticos ou

discursivos cujos exemplos dados satildeo o ensaio a crocircnica o discurso e o sermatildeo a carta as

memoacuterias o diaacuterio as maacuteximas Outra aproximaccedilatildeo da crocircnica ao ensaio para o autor eacute que

ambos satildeo escritos em linguagem coloquial discorrendo sobre diversos assuntos tais como os

proacuteprios seres humanos os fatos ocorridos com eles as cenas da natureza entre outros

Poreacutem na mesma obra Coutinho (2008) afirma que modernamente a palavra

ensaio veio perdendo seu caraacuteter inicial e etimoloacutegico de tentativa de experimentaccedilatildeo

passando a se confundir com ldquoestudordquo ldquoou o que os ingleses chamam de julgamento isto eacute

que oferecem conclusotildees sobre os assuntos apoacutes discussatildeo argumentaccedilatildeo anaacutelise avaliaccedilatildeordquo

231 A crocircnica brasileira

No seacuteculo XIX a sociedade desenvolve-se industrialmente permitindo o advento

da imprensa Para vaacuterios autores como Barbier (2008 apud FERREIRA 2011) Coutinho

(2008) Cacircndido (1992) Castello (1999) o folhetim eacute a gecircnese da crocircnica moderna sendo o

jornal o suporte em que a crocircnica vai ganhar definitivamente seu espaccedilo Sobre essa relaccedilatildeo na

eacutepoca entre o suporte para o gecircnero e o gosto pelo gecircnero Barbier (2008) fala

Sabe-se hoje que os gecircneros literaacuterios estatildeo intimamente relacionados agraves condiccedilotildees

sociais e histoacutericas que determinam a formaccedilatildeo do puacuteblico leitor com seus gostos e

sensibilidades e que por outro lado eles tambeacutem se alteram com a mudanccedila do

43

suporte material dos textos como o demonstra a Histoacuteria dos manuscritos dos

impressos e das recentes experimentaccedilotildees digitais (BARBIER 2008 apud

FERREIRA 2011 p 73)

Das palavras de Barbier (2008) captamos a importacircncia que passa a ter a imprensa

para a divulgaccedilatildeo dos textos por seu alcance por sua frequecircncia bem como por seu poder de

molde sobre o puacuteblico leitor que se formava na eacutepoca

Antocircnio Candido (1992 p 15) no belo texto A vida ao reacutes-do-chatildeo explica que

ldquoantes de ser crocircnica propriamente dita foi lsquofolhetimrsquo ou seja um artigo de rodapeacute sobre as

questotildees do dia ndash poliacuteticas sociais artiacutesticas literaacuteriasrdquo E completa o autor afirmando que a

crocircnica ldquonatildeo nasceu propriamente com o jornal mas soacute quando este se tornou quotidiano de

tiragem relativamente grande e teor acessiacutevel isto eacute haacute pouco mais de um seacuteculo e meiordquo

(CAcircNDIDO 1992 p 15)

Esse folhetim em geral ficava no rodapeacute da primeira paacutegina do jornal e era

destinado ao entretenimento do leitor Esse espaccedilo com o tempo passou a acolher a ficccedilatildeo

literaacuteria Autores publicavam aiacute seus textos treinando a narrativa Tal foi a receptividade do

formato que ganhou espaccedilo proacuteprio semanalmente Nas palavras de Castello (1999) aquele

texto que veio depois a ser a crocircnica complementaria a funccedilatildeo da imprensa diaacuteria

A partir dos anos [19]20 acentua-se a contribuiccedilatildeo de cronistas e memorialistas Mas

o primeiro gecircnero mais do que o segundo eacute continuidade e amadurecimento de uma

tradiccedilatildeo proveniente do Romantismo quando o ldquofolhetimrdquo semanal eacute definido por

Joseacute de Alencar e enriquecido por Machado de Assis mestre de cronistas que vieram

depois Conta-se ainda a contribuiccedilatildeo da prosa poeacutetica de Raul Pompeia e logo a

seguir de Olavo Bilac Finalmente nos nossos dias seja atividade complementar seja

agraves vezes principal e mesmo uacutenica de vaacuterios escritores a crocircnica se afirma como gecircnero

da preferecircncia de numeroso puacuteblico Contribuiu sempre para difundi-la desde seus

momentos iniciais datados do Romantismo a divulgaccedilatildeo em primeira matildeo pelos

principais jornais e revistas do paiacutes Complementava mesmo pelo seacuteculo XIX a

funccedilatildeo de nossa imprensa diaacuteria tradicionalmente marcada pela colaboraccedilatildeo dos

escritores do momento Surgia como um misto de notiacutecia vaacuteria reflexatildeo invenccedilatildeo e

ateacute mesmo de criacutetica ou impressotildees literaacuterias (CASTELLO 1999 p 377-378)

A crocircnica complementava a imprensa por em seu bojo tratar de assuntos mais

amenos diferindo dos que motivavam as notiacutecias e as reportagens sem no entanto como nos

mostra Cacircndido (1992) deixar de lado o que toca a alma humana

Ora a crocircnica estaacute sempre ajudando a estabelecer ou restabelecer a dimensatildeo das

coisas e das pessoas Em lugar de oferecer um cenaacuterio excelso numa revoada de

adjetivos e periacuteodos candentes pega o miuacutedo e mostra nele uma grandeza uma beleza

ou uma singularidade insuspeitada Ela eacute amiga da verdade e da poesia nas suas

formas mais diretas e tambeacutem nas suas formas mais fantaacutesticas - sobretudo porque

quase sempre utiliza o humor (CAcircNDIDO 1992 p 14)

44

Amenos sim poreacutem as crocircnicas de um ou outro modo conduziam o leitor mesmo

que por caminhos suaves de ldquoar despreocupado de quem estaacute falando de coisas sem maior

consequecircnciardquo (CAcircNDIDO 1992 p 17) agrave criacutetica social agrave reflexatildeo sobre o significado das

accedilotildees e dos sentimentos do homem

Segundo Coutinho (2008 p 106) o caminho que conduziria agrave crocircnica brasileira

comeccedila com Francisco Otaviano no Jornal do Commercio no Rio de Janeiro em 2 de

dezembro de 1852 Nessa data eacute inaugurada a seccedilatildeo ldquoA semanardquo em que seriam publicados os

folhetins literaacuterios do Romantismo

O folhetim seccedilatildeo ao final da paacutegina apresentou caracteriacutesticas que se agrupadas

conforme a frequecircncia do teor das publicaccedilotildees seriam de variedades e de romances O primeiro

grupo o de variedades abordava assuntos diversos da eacutepoca tratando de tudo um pouco e

ocupava a primeira paacutegina do jornal O segundo por sua vez destinava-se a textos de ficccedilatildeo

Esse espaccedilo passou a publicar romances de autores da eacutepoca distribuiacutedos em histoacuterias seriadas

ou capiacutetulos provocando no puacuteblico leitor a curiosidade pelo que viria a seguir tornando-se

um sucesso permitindo ldquoalavancar as vendas aumentar as assinaturas e por conseguinte

ampliar as vantagens financeiras dos jornaisrdquo (SANTOS 2008 p 68)

Essa iniciativa abriu espaccedilo para publicaccedilotildees de romances de autores brasileiros O

guarani de Joseacute de Alencar por exemplo foi desenvolvido a princiacutepio para o folhetim Em 1ordm

de janeiro de 1857 saiu o capiacutetulo inicial do romance no Diaacuterio do Rio de Janeiro Ao final

daquele ano foi publicado como livro com alteraccedilotildees miacutenimas em relaccedilatildeo ao que fora

publicado em folhetim

A evoluccedilatildeo da sociedade industrial refletiu sua setorizaccedilatildeo no modo de organizaccedilatildeo

dos jornais O folhetim para variedades teve sua alteraccedilatildeo quando foram criadas seccedilotildees

especiacuteficas para assuntos especiacuteficos de maneira a organizar o jornal Para o folhetim restaram

assuntos mais corriqueiros de cunho mais descompromissado com a veracidade dos fatos ndash

estes ficariam para as notiacutecias A esses textos mais leves cujo caraacuteter era efecircmero com a mera

funccedilatildeo de distrair o leitor passou-se a dar o nome de crocircnica

232 Caracteriacutesticas da crocircnica

Apesar da filiaccedilatildeo ao jornal as caracteriacutesticas atuais do gecircnero crocircnica vatildeo aleacutem do

desenvolvimento da imprensa Como bem nos resume Amaral (2008) tambeacutem estatildeo

intimamente relacionadas agraves transformaccedilotildees sociais e agrave valorizaccedilatildeo da histoacuteria social isto eacute da

45

histoacuteria que considera importantes os movimentos de todas as classes sociais e natildeo soacute os das

grandes figuras poliacuteticas ou militares Em suas palavras no ldquoregistro da histoacuteria social assim

como na escrita das crocircnicas um dos objetivos eacute mostrar a grandiosidade e a singularidade dos

acontecimentos miuacutedos do cotidianordquo (2008 p 12)

Eacute efecircmera simples e dinacircmica em sua linguagem como nos fala Cacircndido (1992 p

14)

Isto acontece porque natildeo tem pretensotildees a durar uma vez que eacute filha do jornal e da

era da maacutequina onde tudo acaba tatildeo depressa Ela natildeo foi feita originalmente para o

livro mas para essa publicaccedilatildeo efecircmera que se compra num dia e no dia seguinte eacute

usada para embrulhar um par de sapatos ou forrar o chatildeo da cozinha Por se abrigar

nesse veiacuteculo transitoacuterio o seu intuito natildeo eacute o dos escritores que pensam em ldquoficarrdquo

isto eacute permanecer na lembranccedila e na admiraccedilatildeo da posteridade e a sua perspectiva

natildeo eacute a dos que escrevem do alto da montanha mas do simples reacutes-do-chatildeo

(CAcircNDIDO 1992 p 14)

As crocircnicas contemporacircneas organizam sua narrativa em primeira ou terceira

pessoa quase sempre como quem conta um caso em tom intimista Ao narrar os autores

inserem em seu texto trechos de diaacutelogos permeados por expressotildees cotidianas escrevendo

como quem conversa com seus leitores como se estivessem muito proacuteximos Como temaacutetica

os cronistas tratam de reflexotildees sobre a vida social poliacutetica econocircmica por vezes de forma

humoriacutestica outras de modo mais seacuterio outras com um jeito poeacutetico que indica o pertencimento

do gecircnero agrave esfera literaacuteria

Assim uma forte caracteriacutestica do gecircnero eacute ter uma linguagem que mescla aspectos

da escrita com outros da oralidade E por causa do uso de linguagem coloquial e da proximidade

com os fatos cotidianos a crocircnica por vezes eacute vista como literatura ldquomenorrdquo Essa suposta

classificaccedilatildeo como gecircnero literaacuterio menor natildeo diminui sua importacircncia Por ser breve leve de

faacutecil acesso envolvente ela possibilita momentos de fruiccedilatildeo a muitos leitores que nem sempre

tecircm acesso ndash ou natildeo gostam devido agrave extensatildeo ndash aos romances Para compreendermos as

caracteriacutesticas da crocircnica precisamos conhecer como ela se manifesta como texto jornaliacutestico

e tambeacutem como texto literaacuterio

2321 Crocircnica um gecircnero jornaliacutestico

Para termos uma ideia de como eacute vista a crocircnica na esfera jornaliacutestica valemo-nos

da classificaccedilatildeo do pioneiro na aacuterea Luiacutes Beltratildeo (1980 p 67 Grifos do autor)

O primeiro aspecto eacute quanto agrave natureza do tema Deste modo ele apresenta trecircs

46

espeacutecies

a) crocircnica geral tambeacutem chamada de coluna ou seccedilatildeo especial que aborda

assuntos variados ldquosob uma epiacutegrafe geralrdquo ou localizada em paacutegina fixa no

jornal

b) crocircnica local tambeacutem chama de urbana ou da cidade divulgada sob a mesma

epiacutegrafe que fala da vida cotidiana da cidade recebendo e orientando a opiniatildeo

puacuteblica da comunidade onde circula o jornal

c) crocircnica especializada tambeacutem chamada de comentaacuterio integra uma paacutegina ou

seccedilatildeo do jornal determinada destacando-se graficamente das demais mateacuterias

ali publicadas trata de assuntos referentes a uma aacuterea especiacutefica de atividade

cujo autor eacute um expert como nos casos de poliacutetica esportes ou economia

O segundo aspecto eacute o tratamento dado ao tema Beltratildeo (1980 p68) apresenta

mais trecircs classificaccedilotildees

a) crocircnica analiacutetica em que o cronista expotildee os fatos com brevidade e os analisa

com objetividade dirigindo-se ldquomais agrave inteligecircncia que ao coraccedilatildeordquo com

linguagem soacutebria e elegante poreacutem dotada de capricho e graccedila

b) crocircnica sentimental em que o cronista apela para a sensibilidade de seu leitor

retirando-se dos fatos e explorando aspectos liacutericos pitorescos ou eacutepicos de

modo a comovecirc-lo e influenciaacute-lo agrave accedilatildeo com linguagem vivaz ritmo aacutegil sem

dar profundidade ao tema

c) crocircnica satiacuterico-humoriacutestica em que o objetivo do cronista eacute criticar fatos accedilotildees

personagens ou pronunciamentos comentados ndash amplamente conhecidos do

puacuteblico ndash ridicularizando-os ou ironizando-os buscando o entretenimento do

leitor utilizando linguagem com linguagem figurada com duplo sentido

palavras aspeadas e verbos no futuro do preteacuterito Para Beltratildeo (1980) a esse tipo

de crocircnica se assemelham as charges dos jornais

2322 Crocircnica um gecircnero literaacuterio

A crocircnica como vimos previamente surgiu no espaccedilo do jornal Embora o

utilizasse como suporte e a partir dele tenha se firmado desenvolveu caracteriacutesticas proacuteprias

indo para aleacutem da esfera jornaliacutestica alcanccedilando assim a esfera literaacuteria Nas palavras de

Eduardo Portela (apud Coutinho 2008 p 107)

47

O fundamental na crocircnica eacute a superaccedilatildeo de sua base jornaliacutestica e urbana em busca de

transcendecircncia seja construindo ldquouma vida aleacutem da notiacuteciardquo Seja enriquecendo a

notiacutecia ldquocom elementos de tipo psicoloacutegico metafiacutesicordquo ou com o humour seja

fazendo ldquoo subjetivismo do artistardquo ldquoo seu universo internordquo sobrepor-se ldquoagrave

preocupaccedilatildeo objetiva do cronistardquo (PORTELA apud COUTINHO 2008 p 107)

Como se vecirc essa base jornaliacutestica que atrelava a crocircnica agrave notiacutecia foi

gradativamente superada Natildeo soacute em jornais mas tambeacutem em revistas ela passou a ser

publicada ainda trazendo em si o aspecto da brevidade Poreacutem as que alcanccedilaram a

transcendecircncia de que nos fala o autor passaram a tambeacutem ser publicadas em livros reunidas

em coletacircneas organizadas por autores e editoras chegando mesmo a serem inseridas nos livros

didaacuteticos do ensino baacutesico

Para aleacutem dessa caracteriacutestica da crocircnica literaacuteria impressa temos agora tambeacutem

no seacuteculo XX a crocircnica cujo suporte eacute o meio online divulgada amplamente por meio das redes

sociais sites ou blogs Nesses meios tambeacutem haacute crocircnicas ligadas a notiacutecias sim No entanto a

dinacircmica da vida a capacidade de observaccedilatildeo e a vontade crescente na sociedade de expressatildeo

permite que o subjetivo emerja externalizando o universo dos autores modernos tocando os

leitores igualmente modernos tornando puacuteblico o que poderia ser antes apenas privado natildeo

priorizando apenas a objetividade histoacuterica que buscaram os cronistas incipientes

Considerando todas essas formas de tornar puacuteblica a crocircnica vejamos algumas de

suas caracteriacutesticas mais expressivas Afracircnio Coutinho (2008 p 107 Grifos nossos) fala sobre

os diversos tipos da crocircnica na literatura brasileira afirmando ser possiacutevel classificaacute-los pela

natureza do assunto ou pelo movimento interno Satildeo eles

a) a crocircnica narrativa que se aproxima do conto por ter seu eixo em uma histoacuteria

b) a crocircnica metafiacutesica que se constitui de aura de reflexotildees mais ou menos

filosoacuteficas sobre os acontecimentos ou os homens

c) a crocircnica-poema em prosa que traz em si conteuacutedo liacuterico resultante de mero

extravasamento da alma do artista ante o espetaacuteculo da vida das paisagens ou

episoacutedios para ele significativos

d) a crocircnica-comentaacuterio que trata das variedades dos acontecimentos e que tem

ldquono dizer de Eugecircnio Gomes o aspecto de um lsquobazar asiaacuteticorsquo acumulando

muita coisa diferente ou diacutesparrdquo

Antocircnio Cacircndido (1992 p 21) sugere sem pretensatildeo de categorizar uma

classificaccedilatildeo das crocircnicas Poderiacuteamos agrupar conforme seus exemplos da seguinte forma

48

a) crocircnicas que satildeo diaacutelogos e que nelas podemos perceber que o cronista e seu

leitor ideal se revezam nos pontos de vista e nas informaccedilotildees

b) crocircnicas que marcham rumo ao conto ldquoagrave narrativa mais espraiada com certa

estrutura de ficccedilatildeordquo

c) crocircnicas que parecem anedotas desdobradas

d) crocircnicas que se aproximam da exposiccedilatildeo poeacutetica ou de certo tipo de biografia

liacuterica construiacutedas por enumeraccedilatildeo parecendo uma divagaccedilatildeo livre ldquouma

cadeia de associaccedilotildees totalmente sem necessidade que deveria resultar em

simples acuacutemulo de palavrasrdquo mas que resulta em ldquoum sistema expressivo tatildeo

perfeitordquo

Nos tempos em que vivemos e para nosso projeto escolhemos crocircnicas que se

apresentaram para noacutes tatildeo efecircmeras quanto as do jornal impresso as de meio virtual online

Bem certo que natildeo foram todas mas vaacuterias que nossos alunos leram encaixam-se nesse perfil

O advento da internet permite que acessemos textos dos mais variados gecircneros Em nosso caso

crocircnicas de autores de diversos pontos do Paiacutes Usamos famosos e outros cuja fama no meio

literaacuterio ainda estaacute se nacionalizando porquanto alguns jaacute estejam bem consolidados no meio

em seus estados

Como nosso objetivo maior nesta pesquisa-accedilatildeo eacute contribuir para o

desenvolvimento da competecircncia escrita dos alunos neste caso os do 9ordm ano do Ensino

fundamental ano divisor de aacuteguas prestes a entrar para o ensino meacutedio quando lhes seraacute

cobrado um conhecimento que muitos natildeo chegam a alcanccedilar que eacute o de ter boa escrita boa

produccedilatildeo textual propiciar-lhes-emos conhecer as etapas especiacuteficas do processo atraveacutes de

nossa SD o que lhes seraacute fundamental natildeo somente para os niacuteveis escolares seguintes mas

tambeacutem para as praacuteticas sociais nas quais estatildeo inseridos

A escolha do gecircnero natildeo poderia ter sido mais oportuna Nas palavras de Cacircndido

(1992 p 16) sobre a crocircnica ldquoo seu grande prestiacutegio atual eacute um bom sintoma do progresso de

busca da oralidade na escrita isto eacute na quebra do artifiacutecio e aproximaccedilatildeo com o que haacute de mais

natural no modo de ser do nosso tempo E isto eacute humanizaccedilatildeo da melhorrdquo

49

3 LEITURA E ESCRITA NOS ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Nesta seccedilatildeo tratamos da questatildeo da escrita no ensino fundamental nos anos finais

refletindo sobre o que ensinar em Liacutengua Portuguesa como os professores trabalham como

veem a importacircncia das aulas de escrita

31 Habilidades de leitura e escrita para que ler e escrever

No iniacutecio do seacuteculo XX pensava-se nas aulas de liacutengua materna como o momento

de se transmitir a norma culta da liacutengua portuguesa para os estudantes oriundos da classe social

alta A linguagem era vista como a expressatildeo do pensamento e a capacidade de escrever seria

portanto uma consequecircncia do pensar Na escola os textos literaacuterios eram valorizados e os

regionalismos ignorados Tambeacutem era descartada a ideia de se ler na escola jornais ou

quaisquer textos de nuances coloquiais

A partir da segunda metade do seacuteculo XIX comeccedilaram a surgir no Paiacutes ainda que

alguns fossem impressos na Europa livros de leitura destinados especificamente agraves seacuteries

iniciais da escolarizaccedilatildeo Segundo Galvatildeo e Batista (sd) autores como Abiacutelio Ceacutesar Borges e

Felisberto de Carvalho editaram livros considerados inovadores para a eacutepoca por terem caraacuteter

enciclopeacutedico trazendo conteuacutedos de vaacuterias aacutereas do conhecimento sendo de cunho instrutivo

e moral Essas obras destinadas ao aprendizado inicial da leitura e da escrita visavam substituir

as cartilhas grosseiras ou os materiais manuscritos que no entanto na maior parte do paiacutes

continuaram sendo usados

No iniacutecio do seacuteculo XX foram publicados livros cujo formato comeccedilou a modificar

o conceito de livro usado nas escolas Atraveacutes do Brasil de Olavo Bilac e Manuel Bonfim e

Narizinho arrebitado de Monteiro Lobato marcaram a histoacuteria

Movidos pelo nacionalismo que caracterizava aquele momento brasileiro os autores

construiacuteram um livro que traz uma narrativa contiacutenua ao longo dos capiacutetulos contando

a histoacuteria de trecircs meninos viajando atraveacutes do paiacutes No prefaacutecio os autores afirmam

que atraveacutes da histoacuteria narrada o professor teria material para desenvolver os diversos

assuntos necessaacuterios agrave instruccedilatildeo das crianccedilas Aleacutem disso e talvez sobretudo os

autores tecircm uma preocupaccedilatildeo com a educaccedilatildeo moral dos meninos e meninas Em

1921 outro livro marcaria a histoacuteria dos livros de leitura Narizinho Arrebitado de

Monteiro Lobato Um dos grandes sucessos da literatura infantil brasileira nasceu

como 2o livro de leitura para as escolas E com ele uma grande inovaccedilatildeo Segundo

a criacutetica da eacutepoca o livro se diferenciava de toda a literatura didaacutetica produzida no

Brasil na medida em que trazia para a escola um aspecto ateacute entatildeo ignorado pela

instituiccedilatildeo provocar o prazer na leitura (GALVAtildeO BATISTA sd)

50

Da deacutecada de 20 ateacute meados da de 50 inuacutemeros livros de leitura foram produzidos

e algumas editoras especializaram-se na produccedilatildeo de livros didaacuteticos Nesse momento vaacuterias

reformas de ensino foram empreendidas por diversos Estados

Nos anos 1970 a linguagem passou a ser vista como um instrumento de

comunicaccedilatildeo como nos fala Raupp (2005)

A concepccedilatildeo agora eacute a de linguagem como instrumento de comunicaccedilatildeo e os

objetivos de ensino satildeo pragmaacuteticos e utilitaacuterios natildeo se trata mais de promover o conhecimento

do sistema linguiacutestico ndash o saber a respeito da liacutengua ndash mas do desenvolvimento das habilidades

de expressatildeo e compreensatildeo de mensagens ndash o uso instrumental e comunicativo da liacutengua A

escola abre-se para a pluralidade de linguagens e culturas

Segundo a autora ensinar a liacutengua nas escolas era priorizar o ensino de gramaacutetica

Poreacutem no iniacutecio dos anos 70 a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo nordm 569271

provocou mudanccedilas natildeo somente na disciplina de Liacutengua Portuguesa mas em todas as demais

disciplinas curriculares A liacutengua no contexto ideoloacutegico do movimento militar poacutes-64 eacute

considerada instrumento a serviccedilo do desenvolvimento Assim a disciplina ldquoPortuguecircsrdquo passa

a ser denominada de Comunicaccedilatildeo e Expressatildeo (nas seacuteries iniciais) Comunicaccedilatildeo em Liacutengua

Portuguesa (nas seacuteries finais) e no 2deg grau Liacutengua Portuguesa e Literatura Brasileira O aluno

deveria respeitar modelos para construir textos e transmitir mensagens Os gecircneros natildeo

literaacuterios foram incorporados agraves aulas

Chegando agrave deacutecada de 1980 foi sendo revista refletida e ampliada a concepccedilatildeo de

linguagem como um instrumento de comunicaccedilatildeo passando a influenciar o ensino e mostrando

que o foco deve estar na interaccedilatildeo entre as pessoas Poreacutem apesar dos novos estudos mesmo

entrando na deacutecada de 1990 professores ainda reproduziam mesmo que inconscientemente o

mesmo sistema de transposiccedilatildeo didaacutetica de conteuacutedos e a mesma atribuiccedilatildeo de valor e

importacircncia ao ensino prescritivo e normativo com que construiacuteram sua formaccedilatildeo tanto pessoal

quanto pedagoacutegica

Questionava-se para que serve a escola E trazendo para nossa aacuterea de interesse

para que serve a disciplina Liacutengua Portuguesa Para alguns a escola era e ainda eacute vista como

preparatoacuteria de alunos para o vestibular tanto mais se aproximava do ensino meacutedio No entanto

se a escola se detiver apenas a esses exames perderaacute completamente seu papel social que como

sabemos eacute muito mais abrangente que fazer uma prova cuja finalidade eacute especiacutefica objetiva e

limitada por um tempo e por uma seacuterie de outras determinaccedilotildees teacutecnicas

51

Nesse sentido a escola natildeo tem por finalidade maior garantir o preparo de alunos

para concursos pois natildeo cumpriria seu papel de promover a inclusatildeo social dos cidadatildeos Para

aleacutem da escola haacute a vida e toda sua abrangecircncia social e poliacutetica Entatildeo para de fato promover

a inclusatildeo de cada aluno nada mais importante do que incluiacute-los no mundo da leitura e da

escrita da anaacutelise e da reflexatildeo criacutetica estimulando-os agrave criaccedilatildeo

Valemo-nos das palavras de Antunes (2007 p110) a respeito do conflito sobre o

que ensinar nas aulas de Liacutengua Portuguesa quando questiona o que leva ainda algumas pessoas

a defenderem a prioridade de um ensino concentrado em ldquoanalisar frases para identificar

substantivos adjetivos verbos sublinhar diacutegrafos distinguir objeto preposicionado de objeto

direto pleonaacutestico classificar oraccedilotildees e outras categorias metalinguiacutesticasrdquo Por que falantes da

liacutengua materna natildeo tecircm familiaridade com a liacutengua em sua modalidade escrita em sua forma

espontacircnea de uso Raupp (2005 p 53) apresenta-nos uma resposta

A verdade eacute que por mais que se tenham alterado meacutetodos e teacutecnicas pressupostos e

concepccedilotildees no ensino de Liacutengua Portuguesa uma premissa permaneceu inalterada a

necessidade de se ensinaraprender a leitura e a escrita E apesar de inuacutemeras

alteraccedilotildees didaacutetico-metodoloacutegicas ocorridas ao longo do percurso o ler e o escrever

permanecem gerenciadores de todo o processo de inserccedilatildeo do sujeito na escola e fora

dela A esse respeito menciona Britto (1997 p100) ldquoo aprendizado efetivo da escrita

(e aqui eu acrescentaria e da leitura) natildeo decorre de um processo de treinamento mas

da inserccedilatildeo do sujeito no mundo da relaccedilatildeo que estabelece entre o que aprende e seu

universo soacutecio-histoacutericordquo e a inserccedilatildeo do sujeito no mundo inegavelmente ocorre

por meio da leitura deste mundo (RAUPP 2005 p 53)

De certa maneira a tradiccedilatildeo dos meacutetodos de ensino da liacutengua materna na escola

ainda contribui no sentido de natildeo se estimular os aprendizes a fluir na leitura e na escrita

(BEZERRA 2014 LOPES-ROSSI 2012)

Com o intuito de superar meacutetodos tatildeo tradicionais quanto ineficientes no ensino da

competecircncia discursiva e sensiacuteveis agraves transformaccedilotildees gestadas nos centros de conhecimento

no ano de 1996 foi promulgada apoacutes longos debates e discussotildees a Lei de Diretrizes e Bases

que rege a educaccedilatildeo brasileira com vistas agraves novas formas do pensar e agir docente de modo

a implementar a transformaccedilatildeo do olhar das instituiccedilotildees que formam professores bem como

auxiliar os docentes jaacute em exerciacutecio atraveacutes das instituiccedilotildees que lhes propiciam a formaccedilatildeo

continuada

Assim os Paracircmetros Curriculares Nacionais (1997) reconhecem que o ensino da

liacutengua portuguesa pautado em uma prioridade de estudos de aspectos normativos ou gramaticais

da liacutengua eacute limitado e insuficiente e sugerem redirecionar o foco para a praacutetica de leitura e ndash

aspecto muito importante ndash o exerciacutecio da escrita de textos nos mais variados gecircneros textuais

52

existentes na sociedade possibilitando o estudo da liacutengua em contextos reais de uso natildeo apenas

como um conjunto de normas

A importacircncia e o valor dos usos da linguagem satildeo determinados historicamente

segundo as demandas sociais de cada momento Atualmente exigem-se niacuteveis de leitura e de

escrita diferentes dos que satisfizeram as demandas sociais ateacute haacute bem pouco tempo e tudo

indica que essa exigecircncia tende a ser crescente A necessidade de atender a essa demanda

obriga agrave revisatildeo substantiva dos meacutetodos de ensino e agrave constituiccedilatildeo de praacuteticas que possibilitem

ao aluno ampliar sua competecircncia discursiva na interlocuccedilatildeo (BRASIL 1998 p 23)

Nesse sentido os PCN (1997) orientam o trabalho em sala em direccedilatildeo agrave ampliaccedilatildeo

do uso da liacutengua aos contextos natildeo podendo ficar reduzida apenas ao trabalho sistemaacutetico com

a mateacuteria gramatical visto que aprender a pensar e falar sobre a proacutepria linguagem realizar

uma atividade de natureza reflexiva uma atividade de anaacutelise linguiacutestica supotildee duas situaccedilotildees

planejar situaccedilotildees didaacuteticas que possibilitem a reflexatildeo natildeo somente sobre os diferentes

recursos expressivos utilizados pelo autor do texto mas tambeacutem sobre a forma pela qual a

seleccedilatildeo de tais recursos reflete as condiccedilotildees de produccedilatildeo do discurso e as restriccedilotildees impostas

pelo gecircnero e pelo suporte e tomar como objeto de reflexatildeo os procedimentos de planejamento

de elaboraccedilatildeo e de refacccedilatildeo dos textos (BRASIL 1997 p 8 Grifo nosso)

Produzir textos requer dessa forma estudar os diferentes modos de expressatildeo

abrindo-se aiacute para o aluno uma gama de possibilidades de manifestaccedilatildeo de ideias atraveacutes do

conhecimento de sua liacutengua quando de seu uso nas relaccedilotildees de interaccedilatildeo pessoal No entanto

para que essa produccedilatildeo seja efetiva haacute que se ter em mente que qualquer atividade de produccedilatildeo

textual bem-sucedida requer o exerciacutecio da escrita e da reescrita pois se considera que nesse

processo de aperfeiccediloamento as aulas tomadas entre o iniacutecio e o teacutermino de uma sequecircncia ou

seja entre a produccedilatildeo inicial e a produccedilatildeo final sejam vaacuterias e variadas com planejamento para

conhecer as necessidades de cunho geral da turma como as caracteriacutesticas de um gecircnero bem

como as de cunho individual do aluno como as limitaccedilotildees no reconhecimento do gecircnero

textual na construccedilatildeo de argumentos nas convenccedilotildees da escrita culta

Para boa parte das crianccedilas e dos jovens brasileiros a escola eacute o uacutenico espaccedilo que

pode proporcionar acesso a textos escritos textos estes que se converteratildeo inevitavelmente em

modelos para a produccedilatildeo Se eacute de esperar que o escritor iniciante redija seus textos usando como

referecircncia estrateacutegias de organizaccedilatildeo tiacutepicas da oralidade a possibilidade de que venha a

construir uma representaccedilatildeo do que seja a escrita soacute estaraacute colocada se as atividades escolares

53

lhe oferecerem uma rica convivecircncia com a diversidade de textos que caracterizam as praacuteticas

sociais (BRASIL 1998 p 25-26)

Para levar o aluno a desenvolver suas habilidades de escrita um passo eacute planejar

sequecircncias que abordem as caracteriacutesticas do gecircnero a ser trabalhado permitindo-lhe pocircr em

aproximaccedilatildeo eou contraste seus saberes com os conhecimentos a serem construiacutedos algo que

tem se revelado bastante difiacutecil

Para o trabalho com a escrita em Liacutengua Portuguesa pode-se partir da questatildeo

essencial o que se deve ensinar para os alunos Para a resposta eacute importante entendermos a

escrita como processo quais satildeo as etapas Quais as estrateacutegias de escrita Qual o papel do

professor neste processo Para fundamentar a didaacutetica da escrita eacute importante conhecer os

processos de redigir e tambeacutem considerar como motivar os alunos a escrever Vamos para este

estudo nortearmo-nos em Serafini (2003) Koch e Elias (2009) e Vieira (2005)

32 Escrita e motivaccedilatildeo

Vieira (2005 p 71) traz agrave tona uma reflexatildeo sobre a necessidade de motivar a

escrita pois essa praacutetica permeia todas as nossas atividades cotidianas e eacute cada vez mais

indispensaacutevel Em sua anaacutelise entende que os atos de escrita que acontecem na escola

apresentam uma defasagem entre a realidade do mundo da palavra e a palavra do mundo

escolar Por vezes os alunos escrevem textos sem instruccedilotildees claras e sem um destinataacuterio

concreto aleacutem do professor cujo papel consiste em corrigir os erros de gramaacutetica e ortografia

Uma criacutetica pertinente da autora eacute que nossas escolas ainda estatildeo em sua maioria

com um atraso pedagoacutegico quanto ao trabalho com a escrita seus usos sociais e os processos

do redator Apesar de muitas abordagens e contribuiccedilotildees pedagoacutegicas que trabalham esses usos

sociais e o ato de redigir em funccedilatildeo de uma audiecircncia para o texto ou de um propoacutesito

comunicativo terem despontado essas ideias permanecem distantes da realidade do ensino Em

sua contribuiccedilatildeo para o tema motivaccedilatildeo Vieira (2005 p 70) afirma ldquoSe o impulso

comunicativo para escrever eacute determinante de escolhas temaacuteticas estruturais estiliacutesticas e

pragmaacuteticas no texto em composiccedilatildeo de partida isso jaacute deveria implicar num cuidado muito

maior em relaccedilatildeo ao quecirc e como satildeo propostos os atos de escrita na escolardquo

Essas proposiccedilotildees de que trata a autora atentam para que consideremos que estamos

na era digital em que a tecnologia absorve bastante a atenccedilatildeo dos alunos o que atribui novas

funccedilotildees para a escrita Para motivaacute-los as atividades precisam entatildeo levaacute-los a se sentirem

54

capazes de se envolver e de completar a tarefa isto eacute de ter competecircncia e controle sobre ela

controle sobre seus textos e sobre a situaccedilatildeo de escrita Essa autopercepccedilatildeo de competecircncia e

controle cuja recompensa eacute a autogratificaccedilatildeo eacute conceituada como motivaccedilatildeo intriacutenseca

concebida do ponto de vista cognitivista em oposiccedilatildeo ao conceito behaviorista de motivaccedilatildeo

cujo foco estaacute em recompensas externas chamado de motivaccedilatildeo extriacutenseca

Para o ensino segundo Vieira (2005) a percepccedilatildeo de competecircncia eacute muito

importante no que tange ao engajamento em tarefas Se o aluno natildeo se percebe competente

numa aacuterea maior sua necessidade de assistecircncia externa para se desincumbir de uma tarefa

Desse modo Vieira (2005 p 73) diz que

A ideia eacute que quando os estudantes se apropriam de sua escrita seu niacutevel de

engajamento seraacute mais alto Assim todo redator do principiante ao profissional deve

ser encorajado a apropriar-se de seu texto usando a escrita para expressar sua

compreensatildeo pessoal dos assuntos e para buscar seus proacuteprios propoacutesitos acadecircmicos

e sociais (VIEIRA 2005 p 73)

Visando entatildeo propiciar uma maior motivaccedilatildeo para redigir Vieira (2005) lista em

um quadro algumas atitudes de intervenccedilatildeo possiacuteveis cujos princiacutepios e praacuteticas aceitamos

como norte em nossa pesquisa de acordo com as possibilidades e dificuldades verificadas na

turma considerando a SD que foi aplicada Vejamos a seguir

Quadro 2 ndash Motivaccedilatildeo e envolvimento na produccedilatildeo escrita

ELEMENTOS BAacuteSICOS PRINCIacutePIOS E PRAacuteTICAS EFEITOS GERADOS

a) Competecircncia + assistecircncia

b) Controle (textosituaccedilatildeo de

escrita)

Encorajar a apropriaccedilatildeo do

texto

Compartilhar e demonstrar atos

de escrita ao aluno (o prazer e as

dificuldades)

Oportunidades para

autorregulaccedilatildeo

Engajamento mais alto

na leitura (a) e na escrita

(b) gt maior

competecircncia controle

Tempo

Concentrar periacuteodos para

escrever instituindo a

regularidade

Maior competecircncia e

controle

Propriedade (ownership)

Controlar a situaccedilatildeo de escrita e

a tarefa dentro do gecircnero e

formato

- variar temasassuntos

- focalizar uma audiecircncia

- encontrar a proacutepria ldquovozrdquo

expressando significados e

opiniotildees

- lerredigir textos autecircnticos

criando propoacutesitos

Domiacutenio sobre o texto e

maior prazer na escrita

55

comunicativos e situaccedilotildees reais

de escrita

Resposta (retorno reacuteplica)

Lerouvircompartilhar textos

Trabalhar em pequenos grupos

antes de trabalhar de forma

independente

Oportunidades de trocar

e comentar textos com

os colegas obtendo

respostas especiacuteficas

Complexidade da tarefa ndash usar

habilidades e conhecimentos

preacutevios propor tarefas que

possam ser executadas com

ecircxito (Bereiter e Scardamalia

1982)

Propor tarefas que dosem

- conteuacutedo (assunto)

- forma (gecircnero formato)

- funccedilatildeo (propoacutesito do texto)

Ex assunto novo + formato de

texto conhecido + funccedilatildeo

conhecida

Confianccedila reforccedilada

pela possibilidade de

sucesso de dar conta da

tarefa estimulando a

percepccedilatildeo da

competecircncia

Percepccedilatildeo abrangente do

processo de redigir (similar em

liacutengua materna e liacutengua

estrangeira ndash dominar o coacutedigo

linguiacutestico natildeo eacute o maior

problema)

Focalizar em separado

processos de

composiccedilatildeotranscriccedilatildeo

(gerarorganizar ideias x

ortografia e gramaacutetica)

Reforccedilo da experiecircncia

de sucesso gt niacutevel mais

alto de competecircncia

percebida gt

engajamento com tarefas

semelhantes Fonte Adaptado de VIEIRA (2005)

Aleacutem desses elementos a autora aponta outros aspectos praacuteticos que podem ampliar

a motivaccedilatildeo para escrever Satildeo eles

a) trabalhar a leitura e a escrita de forma complementar explorando textos

variados observando padrotildees ortograacuteficos e construccedilotildees sintaacuteticas explorando

o potencial da internet e os acervos disponiacuteveis pois a leitura contribui para a

escrita mais que o proacuteprio ato de redigir

b) integrar a escrita agrave matildeo com a escrita digital transitando do papel agrave tela do

computador exercitando em cada uma das modalidades de escrita os aspectos

que melhor favorecem

c) recriar situaccedilotildees comunicativas autecircnticas e propoacutesitos para escrever como

anuacutencios manchetes oraccedilotildees bilhetes cartas notiacutecias entre outros indo dos

mais simples aos mais complexos e

d) buscar audiecircncias verdadeiras para escrever e interlocutores para comentar os

textos redigidos criando situaccedilotildees de modo que os estudantes possam comentar

e criticar o que foi produzido

Diante do exposto procuramos ao longo das aulas dos moacutedulos contemplar nas

atividades os aspectos que podem motivar o aluno a escrever dominando pouco a pouco seu

texto propiciando-lhe a construccedilatildeo de experiecircncias positivas ainda mais porque estaacute em jogo

o despertar da consciecircncia de que a escrita eacute um processo como veremos na seccedilatildeo a seguir

56

33 Escrita como processo

Iniciando com questionamentos como por que eacute difiacutecil aprender a redigir quais satildeo

as maiores dificuldades envolvidas na produccedilatildeo de um texto como as crianccedilas escrevem e se

desenvolvem como redatoras quais os comportamentos caracteriacutesticos dos bons e dos maus

redatores entre outros que foram propostos por Vieira (2005 p 80) para saber mais sobre o

processo de produccedilatildeo de textos na escola

Em cada exerciacutecio de linguagem escrita praticado na escola eacute fundamental prever

para quem se vai escrever As redaccedilotildees escritas ldquopara ningueacutemrdquo que segundo Antunes (2009)

desconsideram o outro sujeito que integra a atividade comunicativa soacute podem resultar no

desinteresse e na ineficiecircncia dos meacutetodos de que somos testemunhas haacute vaacuterias deacutecadas Essa

produccedilatildeo textual ldquopara ningueacutemrdquo de que trata a autora reflete-se nas inseguranccedilas

manifestadas pelos alunos Quando estes escrevem eacute unicamente para o professor porque

visam merecer uma nota e passar de ano Ora se a escrita tem tantas funccedilotildees na sociedade

sendo de ordem praacutetica natildeo faz sentido cristalizaacute-la em fins puramente escolares

A escrita segundo Koch e Elias (2009) pode ter vaacuterios focos De acordo com as

autoras haacute correntes de produccedilatildeo textual que colocam o foco da escrita na liacutengua outras que

focam no escritor e por uacuteltimo na interaccedilatildeo

Com o foco da escrita na liacutengua bastaria tanto ao escritor como ao leitor ter

conhecimento do coacutedigo utilizado no texto sem espaccedilo para implicitudes havendo centraccedilatildeo

na linearidade de modo transparente

Com o foco da escrita no escritor o texto eacute visto como produto loacutegico do

pensamento (representaccedilatildeo mental) do escritor ou seja uma expressatildeo do pensamento e das

intenccedilotildees do autor mas que natildeo leva em conta as experiecircncias e os conhecimentos do leitor

pois natildeo considera a interaccedilatildeo que haacute no processo (KOCH ELIAS 2009 p 33)

No entanto natildeo se deve considerar segundo as autoras o foco apenas no coacutedigo

ou apenas no escritor mas na interaccedilatildeo

Essa eacute a diferenccedila em relaccedilatildeo agraves concepccedilotildees anteriormente descritas visto que a

escrita natildeo eacute compreendida em relaccedilatildeo apenas agrave apropriaccedilatildeo das regras da liacutengua nem

tampouco ao pensamento e intenccedilotildees do escritor mas sim em relaccedilatildeo agrave interaccedilatildeo escritor-

leitor levando em conta eacute verdade as intenccedilotildees daquele que faz uso da liacutengua para atingir o

seu intento sem contudo ignorar que o leitor com seus conhecimentos eacute parte constitutiva desse

processo (KOCH ELIAS 2009 p 34)

57

Desse modo a primeira condiccedilatildeo necessaacuteria ao professor que ensina a redigir eacute que

tenha em mente que a escrita eacute uma atividade comunicativa e que desempenha funccedilotildees cada

vez mais diversificadas no dia a dia de uma sociedade letradardquo (VIEIRA 2005 p 80) Escrever

eacute um ato que requer sentido afinal comunicar-se eacute um ato de interaccedilatildeo social eacute praacutetica eacute

vivecircncia

Os processos psicoloacutegicos ou mentais acionados durante a produccedilatildeo de um texto

natildeo acontecem necessariamente numa ordem loacutegica Podem vir simultaneamente o que pode

levar o redator a sentir que tem conflitos e consequentemente estancar diante dessa dificuldade

inicial

Logo para produzir um texto eacute preciso ter determinados os pontos que indicam

exatamente o que fazer o que facilita o trabalho de qualquer escritor Vieira (2005) considera

que para despertar o prazer de escrever haacute que se levar em conta os seguintes argumentos um

eacute a funcionalidade da escrita jaacute falada anteriormente outro diz respeito agrave proacutepria natureza da

escrita tatildeo distinta da fala

Embora a escrita em papel seja um ato solitaacuterio em que natildeo se conta com a reaccedilatildeo

do interlocutor por causa da proacutepria distacircncia espacial que separa autor e leitor a consciecircncia

da audiecircncia eacute o que impulsiona o texto que estaacute sendo produzido Em outras palavras no ato

de redigir jaacute estaacute inscrito o virtual leitor do texto E eacute essa consciecircncia aparentemente

contraditoacuteria entre ausecircncia e presenccedila do destinataacuterio da mensagem que vai moldar os

procedimentos do redator (VIEIRA 2005 p 82)

Concordamos com Serafini (2003 p17) quando afirma que escrever um texto ldquonatildeo

significa criar por inspiraccedilatildeo divina Eacute um trabalho E para realizar a contento um trabalho eacute

preciso conhecer as regras do jogordquo As regras que a autora propotildee satildeo as seguintes ter um

plano ordenar as ideias organizar o texto corrigir Essa distribuiccedilatildeo das etapas do trabalho

permite que se trabalhe melhor Da mesma forma Koch e Elias (2009 p 37) evidenciam que

[] em sua atividade o escritor recorre a conhecimentos armazenados na memoacuteria

relacionados agrave liacutengua ao saber enciclopeacutedico a praacuteticas interacionais Esses

conhecimentos resultado de inuacutemeras atividades em que nos envolvemos ao longo de

nossa vida deixam entrever a intriacutenseca relaccedilatildeo entre linguagemmundopraacuteticas

sociais (KOCH ELIAS 2009 p 37)

Para Koch e Elias (2009 p 34) a escrita eacute uma atividade que demanda esforccedilo e

as estrateacutegias a seguir

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a) ativaccedilatildeo de conhecimentos sobre os componentes da situaccedilatildeo comunicativa

(interlocutores toacutepico a ser desenvolvido e configuraccedilatildeo textual adequada agrave

interaccedilatildeo em foco)

b) seleccedilatildeo organizaccedilatildeo e desenvolvimento das ideias de modo a garantir a

continuidade do tema e sua progressatildeo

c) ldquobalanceamentordquo entre informaccedilotildees expliacutecitas e impliacutecitas entre informaccedilotildees

ldquonovasrdquo e ldquodadasrdquo levando em conta o compartilhamento de informaccedilotildees com

o leitor e o objetivo da escrita

d) revisatildeo da escrita ao longo de todo o processo guiada pelo objetivo da produccedilatildeo

e pela interaccedilatildeo que o escritor pretende estabelecer com o leitor

Haacute muitas maneiras de percebermos os subprocessos e as habilidades implicadas

na produccedilatildeo de um texto como mostram Serafini (2003) Koch e Elias (2009) Vieira (2005

p84) tambeacutem menciona em sua obra modelos do tipo ldquoensaio esboccedilo ediccedilatildeo e revisatildeordquo

ldquoensaiar escrever e passar a limpordquo ldquoextrapolar e resumirrdquo ldquocoletar e conectarrdquo ldquodesenvoltura

coerecircncia e precisatildeordquo ldquogerarorganizar ideias produzir texto e revisarrdquo ldquoelaboraccedilatildeo expressatildeo

e revisatildeordquo ldquoplanificaccedilatildeo textualizaccedilatildeo revisatildeordquo

Nessa visatildeo processual do ensino da escrita todas essas maneiras convergem para

o consenso de que haacute operaccedilotildees mentais de natureza diferente e conflitante e para fins

pedagoacutegicos eacute interessante separar as atividades de composiccedilatildeo e de transcriccedilatildeo segundo o

conceito de Smith apud Vieira (2005 p 84) ldquoSegundo ele a atividade de compor diz respeito

agrave geraccedilatildeo seleccedilatildeo organizaccedilatildeo de ideias e sua traduccedilatildeo em linguagem Jaacute a atividade de

transcrever refere-se ao ato fiacutesico de registrar as palavrasrdquo

Na praacutetica compor e transcrever satildeo aspectos concorrentes e para a autora a

soluccedilatildeo pedagoacutegica seria separar as duas atividades da seguinte forma

[] primeiro levar o aluno a compor sem se preocupar com a transcriccedilatildeo depois

orientaacute-lo para revisar e reescrever o texto (fazendo-o compreender que a atividade de

revisatildeo faz parte do processo de redigir um texto) Estas colocaccedilotildees jaacute nos permitem

rever os criteacuterios de avaliaccedilatildeo de redaccedilotildees mostrando-nos como estamos equivocados

quando elegemos a correccedilatildeo gramatical e a ortografia como metas principais para a

habilidade de redigir (VIEIRA 2005 p 85)

Assim como ensinar a redigir sob a oacutetica da escrita como processo De iniacutecio tendo

em mente que as operaccedilotildees e habilidades necessaacuterias agrave elaboraccedilatildeo do texto tecircm valor No

entanto o exerciacutecio das habilidades de escrita em separado pode ter a desvantagem de levar o

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aluno a achar que o processo eacute uma atividade fragmentada Para entatildeo evitar essa percepccedilatildeo

eacute preciso aleacutem dos exerciacutecios redigir textos completos

De jaacute temos consciecircncia de que nenhuma abordagem para o ensino da escrita eacute

absoluta Nas palavras de Vieira (2005 p 87)

A redaccedilatildeo requer meacutetodo muacuteltiplo jaacute que envolve diferentes tipos de capacidades e

habilidades E nada substitui o bom senso do professor Assim por exemplo se ele

julgar necessaacuterio reforccedilar determinados padrotildees de texto recorrendo agrave abordagem

imitativa estaraacute procedendo de forma adequada Da mesma maneira poderaacute usar

estrateacutegias de liberaccedilatildeo da linguagem na fase de geraccedilatildeo de ideias ou reforccedilar os

recursos de interaccedilatildeo verbal professor-aluno ou aluno-aluno nas atividades de revisatildeo

de texto (VIEIRA 2005 p 87)

Vieira (2005) sintetiza os pontos importantes para o desenvolvimento da habilidade

de redigir a partir de investigaccedilotildees de Krashen (1984 apud Vieira 2005) na aacuterea

O primeiro ponto eacute a frequecircncia com que se redige Independentemente da

disciplina escrever exige treino constante concentrando o tempo disponiacutevel e em horaacuterio

regular posto que ldquosaber com antecedecircncia quando vamos redigir cria prontidatildeo para a

atividade que comeccedila interiormente bem antes de colocarmos as palavras no papelrdquo (VIEIRA

2005 p 88)

O segundo ponto eacute a correlaccedilatildeo entre leitura e escrita A habilidade de ler

compreensivamente permite que quanto mais se leia mais se observe a composiccedilatildeo dos textos

aprendendo-se a lidar com seus padrotildees de organizaccedilatildeo com as intenccedilotildees do autor e percebendo

como se executam diferentes modalidades de usos da escrita

O terceiro ponto eacute a frequecircncia em ler x a frequecircncia em escrever Vieira (2005)

afirma que estudos que comparam a frequecircncia em ler e a frequecircncia em escrever revelam que

a leitura tem efeito mais forte sobre o desenvolvimento da escrita que a proacutepria frequecircncia com

que se escreve

O quarto ponto eacute a instruccedilatildeo escolar para o ensino da escrita Mais do que qualquer

outra habilidade diz a autora a escrita precisa ser demonstrada Assim as instruccedilotildees que o

professor faz ao texto do aluno durante o processo contribuem para que este faccedila os devidos

ajustes melhorando assim sua habilidade de produzir textos

O quinto ponto eacute o feedback do professor Este ponto ressalta o papel fundamental

do professor nas muacuteltiplas reescrituras por que passa um texto ldquoO ideal eacute que sejam feitos

vaacuterios rascunhos com o professor presente comentando cada estaacutegio intermediaacuteriordquo (VIEIRA

2005 p 89) Suas correccedilotildees precisam ser feitas sobre um aspecto de cada vez especificando

as alteraccedilotildees necessaacuterias nos aspectos de composiccedilatildeo e de transcriccedilatildeo

60

O sexto ponto eacute a instrumentaccedilatildeo gramatical e o desenvolvimento da escrita e trata

do que muito se tem discutido na atual sociedade instruccedilatildeo gramatical desvinculada do uso

praacutetico da linguagem natildeo garante a ningueacutem uma escrita melhor

O seacutetimo e uacuteltimo ponto satildeo os processos de composiccedilatildeo de bons e maus redatores

e diferencia em pelo menos quatro aspectos os que escrevem bem do que os que o fazem mal

Satildeo eles

a) planejamento quem redige bem planeja mais Esse planejamento pode ser

gastando mais tempo pensando tomando notas antes de escreverem

flexibilizando os planos e revisando os esquemas agrave medida que surgem novas

ideias e argumentos Apenas alguns redatores experientes seguem uma ordem

linear planejando primeiro em seguida esboccedilando o texto num rascunho e

enfim revisando ldquoPara a maioria deles o processo de redigir eacute recursivo isto eacute

sujeito a retomadas e alteraccedilotildees em diferentes pontos da produccedilatildeo do textordquo

(VIEIRA 2005 p 91)

b) releitura durante a elaboraccedilatildeo do texto as pausas na escrita para a releitura

permitem manter o senso de totalidade da composiccedilatildeo planejando o que

escrever em seguida e tambeacutem relembrando o que jaacute foi registrado fazendo com

que o texto avance

c) revisatildeo a diferenccedila entre os escritores experientes dos inexperientes eacute a revisatildeo

frequentemente confundida com editoraccedilatildeo A revisatildeo pelos experientes eacute uma

focalizaccedilatildeo do significado servindo para ldquoinventar acrescentar mudanccedilas de

conteuacutedo e para reorganizar longos trechos da composiccedilatildeordquo (VIEIRA 2005 p

94) ao passo que a editoraccedilatildeo normalmente a preocupaccedilatildeo dos inexperientes eacute

a correccedilatildeo gramatical a ortograacutefica e a pontuaccedilatildeo que se feita antes do tempo

quebra o ritmo da escrita deixando de conduzir o fio do pensamento e

d) consciecircncia da audiecircncia fundamental considerando o foco da escrita como

anteriormente dito na interaccedilatildeo Levar em conta o leitor como ele poderaacute

receber as palavras e ideias do texto os conhecimentos que ele precisaraacute ter para

compreender o texto e os interesses que ele tem eacute marca dos escritores que

redigem bem ao contraacuterio dos demais que ldquotendem a ficar presos ao assunto do

texto e a gastar menos tempo pensando no leitor por natildeo terem consciecircncia da

audiecircncia ou por natildeo serem capazes de consideraacute-la na escritardquo (VIEIRA 2005

p 95)

61

Essas etapas apresentadas nesta seccedilatildeo foram fundamentais para o processo

conduzido em nossa SD visto permitir aos alunos tomar consciecircncia dos processos que satildeo

ativados antes e durante a escrita bem como nas etapas de leitura releitura e reescrita sendo

cerne da elaboraccedilatildeo das propostas de produccedilatildeo conforme veremos nas seccedilotildees correspondentes

aos moacutedulos aos encontros e agraves atividades desenvolvidas Para a seccedilatildeo seguinte veremos como

pode ser trabalhada a escrita na escola

34 Escrita na escola

Para antes do iniacutecio do trabalho de escrita no acircmbito escolar o ideal eacute que o

professor tenha em mente para definir com clareza junto aos seus alunos na tarefa que deveraacute

ser desenvolvida os seguintes pontos segundo Serafini (2003) destinataacuterio objetivo do texto

gecircnero do texto papel do redator objeto da redaccedilatildeo comprimento da redaccedilatildeo criteacuterios de

avaliaccedilatildeo Desse modo

a) o destinataacuterio eacute a pessoa para a qual se escreve ou seja o leitor Como as

produccedilotildees satildeo feitas no contexto escolar para que o aluno-escritor natildeo dirija seu

texto somente ao professor eacute importante nos comandos de produccedilatildeo esclarecer

qual eacute ou deve ser o perfil de leitor para quem se escreve

b) o objetivo de um texto precisa ser claro pois a ele se atrela a avaliaccedilatildeo do

mesmo no caso do contexto escolar Aliaacutes um texto pode ter mais de um

objetivo e isso precisa ser ponto claro entre o professor e o aluno

c) a escolha do gecircnero eacute entatildeo essencial para o desenvolvimento do texto por

permitir a realizaccedilatildeo deste com um estilo muito marcante O gecircnero permite

inclusive compreender qual eacute o papel do redator na produccedilatildeo para assim

inserir-se ou retirar-se no texto

d) o objeto da redaccedilatildeo para a autora deveria ser deduzido do tiacutetulo da redaccedilatildeo (que

entendemos atualmente como o direcionamento do tema) e explica que assim

como haacute comandos que expotildeem detalhadamente o objeto da redaccedilatildeo haacute tambeacutem

os que pouco oferecem explicaccedilotildees e que conveacutem em casos como esse que o

aluno explique ldquonuma introduccedilatildeo como seratildeo interpretados os termos do

problema propostordquo (SERAFINI 2003 p 28)

e) a extensatildeo do texto depende essencialmente do objetivo da disponibilidade de

tempo da capacidade e da rapidez de quem escreve Entendemos aqui que haacute

62

gecircneros que permitem maior extensatildeo que outros No contexto escolar

normalmente noacutes professores por razotildees de ordem praacutetica do dia a dia pedimos

textos com limite de linhas ou paraacutegrafos

f) finalmente os criteacuterios de avaliaccedilatildeo do professor ajudam o aluno a ldquocanalizar a

proacutepria energia na direccedilatildeo certardquo (SERAFINI 2003 p 29) Como parte do

trabalho com sequecircncia didaacutetica haacute o partilhamento dos criteacuterios trabalhados

do vocabulaacuterio teacutecnico e das caracteriacutesticas a serem encontradas nos textos

produzidos facilitando a vida do aluno quanto ao que colocar no texto e

clareando para o professor o que ele pode esperar desse texto

Desse modo para o escritor que se vecirc diante do papel em branco

independentemente do que vaacute escrever eacute preciso antes empenhar seu tempo e esforccedilo em duas

etapas fundamentais a criaccedilatildeo de ideias para assim passar agrave produccedilatildeo do texto

A separaccedilatildeo consiste em primeiramente levar o aluno a compor sem a

preocupaccedilatildeo com a transcriccedilatildeo Em seguida orientaacute-lo para que faccedila a revisatildeo e a reescrita do

texto colocando-lhe de modo expliacutecito que a revisatildeo eacute parte do processo de redigir um texto

A etapa de criaccedilatildeo das ideias eacute aquela em que o autor pode ldquoatirarrdquo palavras-chave

protoacutetipos de paraacutegrafos de personagens de ambientes de sequecircncias de acontecimentos sem

o fantasma da censura agrave criatividade Aliaacutes eacute nesse momento que pode surgir uma ldquogrande

sacadardquo cujo valor do registro possa vir a ser recompensador Nas palavras de Serafini (2003

p 31) a ldquofolha de papel na qual listamos os dados recolhidos cumpre a funccedilatildeo de prolongamento

da memoacuteria no mundo visiacutevel eacute mais faacutecil escolher num elenco fisicamente visiacutevel que num

iacutendice feito mentalmenterdquo

A coleta das ideias que surgiram ao ser terminada pede a decisatildeo do que e como

usar no texto Para os textos literaacuterios que satildeo objeto de nossa pesquisa um passo necessaacuterio

na estruturaccedilatildeo de Serafini (2003) eacute a identificaccedilatildeo do ponto de vista

Os textos descritivo-narrativos natildeo apresentam ideias predominantes mas contam

fatos e descrevem lugares e pessoas A estrutura desses textos natildeo eacute mais dada por uma ideia

a tese mas pelo ponto de vista isto eacute pelo acircngulo de perspectiva do qual satildeo mostrados fatos

e objetos Nas histoacuterias complexas e nos romances o ponto de vista pode tambeacutem mudar

(SERAFINI 2003 p 45)

Nas palavras da autora ldquo[] para fazer uma boa descriccedilatildeo de um objeto ou lugar

devemos escolher um ponto de vista fica por conta de nossa sensibilidade selecionar um ponto

de vista interessante eficaz e quem sabe originalrdquo (SERAFINI 2003 p47) Entatildeo para um

63

texto narrativo que conta uma histoacuteria natildeo existe um modo objetivo de narrar mas um acircngulo

de perspectiva Completando o pensamento de Serafini Koch e Elias declaram que o como

dizer o que se quer dizer eacute revelador de que a escrita eacute um processo que envolve escolha de um

gecircnero textual em consonacircncia com as praacuteticas sociais seleccedilatildeo organizaccedilatildeo e revisatildeo das ideias

para os ajustesreajustes necessaacuterios tendo em vista a eficiecircncia e a eficaacutecia da comunicaccedilatildeo

(KOCH ELIAS 2009 p 36)

Apoacutes a seleccedilatildeo das ideias de sua organizaccedilatildeo e da escolha do ponto de vista o

escritor pode efetivamente passar agrave produccedilatildeo Tudo o que foi feito para despertar coloquemos

assim o escritor para o labor com seu texto eacute uma hipoacutetese do trabalho final visto que ao

comeccedilar a escrever novas ideias vatildeo surgindo E como nos lembra Serafini (2003 p 54) ldquo[]

quem se propotildee a ensinar a escrever na escola brasileira atual geralmente encontra problemas

porque natildeo tem agrave disposiccedilatildeo um modelo uacutenico de liacutengua nem uma tradiccedilatildeo de didaacutetica da

redaccedilatildeo que privilegie um dos diversos estilos possiacuteveisrdquo Frases longas ou curtas discurso

direto ou indireto ou mesmo o indireto livre tudo satildeo escolhas com as quais o aluno-escritor

vai se familiarizar ao longo de sua jornada escolar pouco a pouco conforme suas experiecircncias

de leitura e praacutetica com a escrita progredindo do paraacutegrafo mais simples ao mais complexo A

autora assim define o que eacute paraacutegrafo

O paraacutegrafo eacute uma quantidade de texto delimitada por um ponto final o texto continua

a se desenvolver na outra linha afastado da margem Ele pode conter vaacuterios periacuteodos

separados por pontos e por viacutergulas O que importa eacute garantir que a cada paraacutegrafo

corresponda uma uacutenica ideia de roteiro Esta colocaccedilatildeo tiacutepica do mundo anglo-saxatildeo

e americano pode parecer excessivamente mecanicista e simplista Com efeito eacute

justificada soacute no niacutevel didaacutetico para aqueles estudantes que tecircm grandes dificuldades

para escrever Este meacutetodo aliaacutes deve ser assumido como hipoacutetese de trabalho mas

deve ser revisto agrave medida que se adquire familiaridade com a liacutengua Em nome de

uma melhor organizaccedilatildeo do texto eacute possiacutevel por exemplo reagrupar mais de uma

ideia do roteiro num uacutenico paraacutegrafo ou associar agrave mesma ideia mais paraacutegrafos

(SERAFINI 2003 p 55)

Desse modo se fizermos um pequeno quadro com a finalidade de melhor visualizar

as possibilidades de organizaccedilatildeo do texto em paraacutegrafos o que pode ajudar os alunos temos

Quadro 3 ndash Como organizar as ideias em paraacutegrafos

1 ideia 1 paraacutegrafo

2 ou mais ideias 1 paraacutegrafo

1 ideia 2 ou mais paraacutegrafos

Fonte adaptado de SERAFINI (2003)

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Por razotildees didaacuteticas Serafini (2003) classifica trecircs principais tipos de paraacutegrafo

com caracteriacutesticas especiacuteficas o paraacutegrafo narrativo que eacute constituiacutedo por uma sequecircncia de

afirmaccedilotildees-informaccedilotildees que natildeo precisam de garantia4 e eacute onde os fatos satildeo expostos em ordem

cronoloacutegica o paraacutegrafo descritivo que conteacutem objetos lugares e pessoas geralmente

constituiacutedo soacute pela afirmaccedilatildeo e pela informaccedilatildeo dispensando a garantia e finalmente o

paraacutegrafo expositivo-argumentativo mais complexo que os anteriores apresenta em geral todas

as caracteriacutesticas do modelo de Toulmin (cf nota 8) e que apresenta uma tese com os dados e

as observaccedilotildees que podem ser uacuteteis para convencer o leitor de sua validade

Ainda na classificaccedilatildeo do paraacutegrafo narrativo tambeacutem chamado de cronoloacutegico

Serafini nos mostra um caso particular de apresentaccedilatildeo de uma sequecircncia de fatos o que inclui

o flash-back que eacute a interrupccedilatildeo na sequecircncia cronoloacutegica ldquointroduzindo fatos anteriores uacuteteis

agrave compreensatildeo da narrativa Embora natildeo seja tatildeo natural eacute possiacutevel interromper uma sequecircncia

temporal para incluir fatos que aconteceratildeo depoisrdquo (SERAFINI 2003 p 58)

Um outro caso de paraacutegrafo narrativo ou cronoloacutegico eacute o que apresenta um

procedimento Procedimentos ldquosatildeo todas as sequecircncias de accedilotildees que devem ser cumpridas para

se obter certo resultadordquo (SERAFINI 2003 p 59) por exemplo a enumeraccedilatildeo das etapas

necessaacuterias ao preparo de uma torta A descriccedilatildeo correta do procedimento requer que natildeo se

inverta a ordem de suas operaccedilotildees elementares

O paraacutegrafo descritivo segundo a autora eacute importante ldquo[] para envolver o leitor

na histoacuteria convencecirc-lo da tese ou tornar-lhe a leitura mais concreta e vivardquo (SERAFINI 2003

p 58) Dessa forma eacute interessante que os personagens ambientes e objetos natildeo sejam apenas

mencionados mas apresentados com riqueza de detalhes A generalizaccedilatildeo pode deixar o leitor

indiferente ao passo que descriccedilotildees detalhadas podem vir a interessar envolver e mesmo

emocionar

Frequentemente quem natildeo tem grande experiecircncia de escrita considera as

descriccedilotildees oacutebvias e as abandona porque tende a atribuir ao leitor os seus proacuteprios

conhecimentos e experiecircncias As crianccedilas em geral se aborrecem ao ler as descriccedilotildees e agraves vezes

pulam o trecho descritivo porque satildeo mais pela trama do que pela apresentaccedilatildeo dos ambientes

e das caracteriacutesticas fiacutesicas e psicoloacutegicas dos protagonistas Entretanto agrave medida que

4 Serafini (2003 p 56-57) apresenta o modelo de Toulmin que examina quais satildeo as caracteriacutesticas de um

paraacutegrafo que o tornam convincente isto eacute que levem o leitor a compartilhar da mesma tese Satildeo elas a afirmaccedilatildeo

que apresenta a ideia principal do paraacutegrafo a informaccedilatildeo que conteacutem os dados que apoiam a afirmaccedilatildeo e a

garantia que eacute a ligaccedilatildeo entre a afirmaccedilatildeo e a informaccedilatildeo e mostra a importacircncia da informaccedilatildeo para apoiar a

asserccedilatildeo Ex Artur estaacute nervoso sua e ri sem parar Afirmaccedilatildeo Artur estaacute nervoso Informaccedilatildeo sua e ri sem

parar Garantia (subentendida) suar e rir sem parar satildeo sinais tiacutepicos de nervosismo

65

estimulam a sensibilidade em relaccedilatildeo aos textos elas vatildeo se dando conta de que natildeo eacute soacute a accedilatildeo

que torna interessante a histoacuteria Eacute tarefa do professor desenvolver essa sensibilidade e esse

gosto em vez de se fixar apenas nos aspectos narrativos de um texto (SERAFINI 2003 p 63)

Serafini (2003) tambeacutem trata da importacircncia dos paraacutegrafos que conduzem as

introduccedilotildees nos textos A autora classifica as introduccedilotildees em introduccedilatildeo-enquadramento e

introduccedilatildeo para chamar a atenccedilatildeo

A introduccedilatildeo-enquadramento enquadra o tema proposto na instruccedilatildeo para a

produccedilatildeo textual realccedilando sua importacircncia e agraves vezes ateacute antecipando o que seraacute

desenvolvido no corpo do texto ldquoUma introduccedilatildeo muito comum eacute aquela em que o estudante

coloca questotildees agraves quais pretende responder agrave medida que vai desenvolvendo o textordquo

(SERAFINI 2003 p 72) Normalmente utilizada entre os estudantes segundo a autora eacute

caracteriacutestica de quem natildeo faz planejamento e comeccedila a escrever seu texto sem saber o que vai

colocar em seu desenvolvimento mas tambeacutem por quem pretende reelaborar e expandir o

tiacutetulo5

A introduccedilatildeo para chamar a atenccedilatildeo segundo a autora pretende atrair a atenccedilatildeo e

o interesse do leitor utilizando frases de efeito citaccedilotildees informaccedilotildees curiosas exemplos

concretos que antecipam problemaacuteticas a serem desenvolvidas no corpo do texto e envolvem

emocionalmente o leitor exemplificaccedilotildees em primeira pessoa pois ldquoos problemas concretos

narrados na primeira pessoa atraem mais a curiosidade do que aqueles apresentados de modo

abstratordquo (SERAFINI 2003 p 74)

Ao final de sua primeira versatildeo de texto o alunoescritor tende a fazer uma raacutepida

releitura normalmente pouco criacutetica O ideal eacute que seu texto possa ser apreciado pelos colegas

de sala para que sejam feitas sugestotildees Quando a revisatildeo for desenvolvida pelo proacuteprio autor

5 Os tiacutetulos poderiam ser classificados segundo Serafini (2003) em trecircs grandes categorias o tiacutetulo-frase-de-

efeito o tiacutetulo-estiacutemulo-aberto e o tiacutetulo-roteiro O tiacutetulo-frase-de-efeito ldquoeacute geralmente agradaacutevel arguto suscita

a admiraccedilatildeo do leitor pode ser provocativo mas natildeo necessariamente profundordquo (p100) trazendo geralmente

citaccedilotildees de personagens importantes ou as afirmaccedilotildees categoacutericas do professor Por exemplo ldquoJaacute natildeo haacute matildeos

dadas no mundordquo (Drummond - Unesp) ou ldquoQuando vocecirc for martelo lembre-se que jaacute foi pregordquo (pichaccedilatildeo de

parede utilizada na Unesp) Os tiacutetulos-estiacutemulo-aberto ldquopropotildeem um tema de modo muito geneacuterico e neutro e datildeo

mais liberdade ao estudanterdquo (p101) Por exemplo ldquoViver hojerdquo (Santa Casa-SP) ldquoA televisatildeordquo (Poli-USP)

Finalmente os tiacutetulos-roteiro ldquonatildeo soacute propotildeem um tema como no grupo precedente mas tambeacutem oferecem uma

seacuterie de pontos de vista de problemas que devem ser analisados fornecendo jaacute a pauta do desenvolvimentordquo

(p101) A autora explica que enquanto um tiacutetulo-estiacutemulo-aberto seria ldquoA televisatildeordquo o tiacutetulo-roteiro solicitaria

ldquoDescreva os efeitos positivos e negativos que a televisatildeo causa sobre os jovens da sua geraccedilatildeo Cite especialmente

os programas mais interessantes e os mais aborrecidos de que vocecirc se recorda procurando explicar os efeitos

positivos ou negativos que cada um teve no seu desenvolvimentordquo (p101-102) O que chamamos ao longo de

nosso texto de instruccedilatildeo se aproximaria mais do que Serafini chama de tiacutetulo-roteiro por jaacute determinar que

informaccedilotildees a produccedilatildeo textual deve conter poreacutem noacutes atribuiacutemos mais caracteriacutesticas ao que eacute pedido aos alunos

a cada produccedilatildeo como os comandos que determinam que gecircnero textual seraacute trabalhado a extensatildeo do texto a

audiecircncia o objetivo a temaacutetica e outros itens que devem estar presentes na produccedilatildeo conforme a aula e o moacutedulo

66

eacute interessante haver um hiato de tempo entre a primeira escrita e a revisatildeo para que as ideias

se clareiem e possam ser postas na forma apropriada

Trabalhar a abordagem da escrita como processo lanccedila luz sobre as operaccedilotildees e as

habilidades necessaacuterias agrave elaboraccedilatildeo do texto priorizando-as mais do que ao produto final

obtido o que simplifica a escrita para fins de ensino por tratar dos componentes do processo

isoladamente treinando-os separadamente

Na verdade nenhuma abordagem para o ensino da escrita eacute exclusiva A redaccedilatildeo

requer meacutetodo muacuteltiplo jaacute que envolve diferentes tipos de capacidades e habilidades E nada

substitui o bom senso do professor Assim por exemplo se ele julgar necessaacuterio reforccedilar

determinados padrotildees de texto recorrendo agrave abordagem imitativa estaraacute procedendo de forma

adequada Da mesma maneira poderaacute usar estrateacutegias de liberaccedilatildeo da linguagem na fase de

geraccedilatildeo de ideias ou reforccedilar os recursos de interaccedilatildeo verbal professor-aluno ou aluno-aluno

nas atividades de revisatildeo de textos (VIEIRA 2005 p 87)

No entanto para Vieira (2005) esse exerciacutecio em separado das habilidades da

escrita natildeo dispensa a redaccedilatildeo de textos completos devendo o professor cuidar para que o

processo de escrita natildeo perca seu caraacuteter integral devido agraves atividades fragmentadas

35 Letramento literaacuterio

Acreditamos que para o desenvolvimento de nosso trabalho eacute importante ter em

mente que para escrever melhor para saber o que inserir em seu texto o aluno deve aguccedilar seu

olhar para o que vai nos textos de outrem ndash em nosso caso os que foram escolhidos para compor

a sequecircncia ndash e como foram ditas as coisas que laacute estatildeo inseridas Dessa forma desenvolvemos

em nossos moacutedulos praacuteticas que abordam aleacutem da praacutetica da escrita como processo o

letramento literaacuterio posto que a visatildeo que o inclui extrapola as simples leituras e anaacutelises das

palavras discutindo conceitos que compotildeem o acervo cultural dos alunos a partir das ideias

presentes nos textos

Para Cosson (2016 p23) ldquoa literatura natildeo estaacute sendo ensinada para garantir a

funccedilatildeo essencial de construir e reconstruir a palavra que nos humanizardquo O autor afirma que se

pode trazer ao aluno uma experiecircncia de leitura a ser compartilhada ampliando-a com

informaccedilotildees especiacuteficas do campo literaacuterio e ateacute fora dele A maneira de ensinar precisa ser

organizada segundo os objetivos da formaccedilatildeo do aluno evidentemente mas sem o abandono

do prazer de ler Compreende assim que o letramento literaacuterio eacute uma praacutetica social e como

67

tal responsabilidade da escola que deve cumpri-la sem descaracterizaacute-la sem negar mas

confirmando o poder de humanizaccedilatildeo da literatura

Para promover o letramento literaacuterio Cosson nos conduz a questionar e

desconstruir pressuposiccedilotildees sobre leitura e literatura enraizadas no senso comum A primeira eacute

que os livros falam por si mesmos ao leitor Ora ldquoos livros como os fatos jamais falam por si

mesmos O que os fazem falar satildeo os mecanismos de interpretaccedilatildeo que usamos e grande parte

deles satildeo aprendidos na escolardquo (2016 p 26) Ensinar a explorar o texto natildeo eacute criar uma barreira

entre elas e o leitor mas ajudar o leitor a manipular os textos dominando o discurso literaacuterio

Outra pressuposiccedilatildeo eacute que ler eacute um ato solitaacuterio Para o autor mais que o

movimento individual dos olhos ler implica uma troca de sentidos o que envolve escritor

leitor e sociedade em que ambos estatildeo localizados ldquopois os sentidos satildeo resultado de

compartilhamentos de visotildees do mundo entre os homens no tempo e no espaccedilordquo (2016 p 27)

Quando compreender isto o leitor alcanccedilaraacute um real significado na leitura

Tambeacutem uma pressuposiccedilatildeo eacute a ideia de que eacute impossiacutevel expressar o que sentimos

na leitura dos textos literaacuterios Esse eacute outro equiacutevoco que trata a leitura literaacuteria como uma

atividade tatildeo individual que natildeo poderia ser compartilhada Pelo contraacuterio conforme o autor o

efeito de proximidade que o texto literaacuterio traz eacute resultado do diaacutelogo que travamos com o

mundo e com os outros inseridos que estamos em uma sociedade O que levamos ao texto eacute

mais uacutenico do que o que ele nos oferece o que explica as diferentes leituras que fazemos do

mesmo texto em diferentes etapas de nossas vidas

A uacuteltima pressuposiccedilatildeo de que trata o autor eacute que ldquoa leitura literaacuteria praticada na

escola tambeacutem chamada anaacutelise literaacuteria destruiria a magia e a beleza da obra ao revelar seus

mecanismos de construccedilatildeordquo (COSSON 2016 p 28) Para Cosson a literatura mantida ldquoem

adoraccedilatildeordquo torna-se estranha ao leitor ao passo que a leitura literaacuteria que lhe fornece ferramentas

para exploraccedilatildeo do texto o convida agrave interaccedilatildeo como um processo de comunicaccedilatildeo

O autor conclui que se quisermos formar leitores capazes de experienciar toda a

forccedila humanizadora da literatura natildeo basta apenas ler com vistas a criar um haacutebito de leitura

mas fornecer-lhes ldquoos instrumentos necessaacuterios para conhecer e articular com proficiecircncia o

mundo feito linguagemrdquo (COSSON 2016 p 30)

Nossa seleccedilatildeo de textos para a SD foi inspirada em temas que os alunos costumam

observar na vida diaacuteria Tivemos preferecircncia por textos que circulam em meio eletrocircnico

extraiacutedos de sites blogs e de redes sociais ou seja contemporacircneos e com temas atuais Cosson

(2016 p34) distingue os dois termos que normalmente satildeo usados como sinocircnimos na

68

adjetivaccedilatildeo da produccedilatildeo literaacuteria da seguinte forma ldquo[] obras contemporacircneas satildeo aquelas

escritas e publicadas em meu tempo e obras atuais satildeo aquelas que tecircm significado para mim

em meu tempo independentemente da eacutepoca de sua escrita ou publicaccedilatildeordquo

Fizemos uma seleccedilatildeo preacutevia dos textos mas agrave medida em que as aulas avanccedilavam

abrimos a perspectiva para assuntos que eram mencionados em sala e trouxemos outros textos

inclusive publicados em livros variando as autorias poreacutem mantendo ainda o dinamismo e a

contemporaneidade Esse material se encontra na seccedilatildeo correspondente

69

4 NATUREZA E PROCEDIMENTOS DA PESQUISA

Apresentaremos nas seccedilotildees seguintes a metodologia e os procedimentos adotados

em nossa pesquisa realizada em uma escola puacuteblica municipal de Satildeo Luiacutes Maranhatildeo

41 Contexto da pesquisa

A pesquisa foi desenvolvida em uma das turmas de 9ordm ano de uma unidade de

educaccedilatildeo baacutesica municipal de ensino fundamental de 1ordm a 9ordm anos A escola tem um anexo

proacuteximo onde funcionam turmas de 1ordm ano (3 salas) Situa-se na aacuterea Itaqui-Bacanga em um

bairro considerado de difiacutecil acesso por sua pouca oferta de ocircnibus no municiacutepio de Satildeo Luiacutes

capital do Maranhatildeo ilha de Upaon-Accedilu

Antes pouco populoso o bairro tem aumentado de tamanho pela chegada de

moradores alguns oriundos de diversas cidades do interior mas tambeacutem vindos de outros

bairros pois algumas melhorias para a valorizaccedilatildeo da aacuterea tecircm acontecido como a construccedilatildeo

da escola e recentemente a quadra de esportes em sua aacuterea do posto de sauacutede da associaccedilatildeo

onde ocorre a conhecida Festa da Macaxeira e mais recentemente a criaccedilatildeo de um conjunto

residencial do programa do governo federal Minha Casa Minha Vida

No turno matutino nesta escola funciona o ensino fundamental (EF) ndash anos iniciais

(1ordm ao 5ordm ano) e no vespertino o EF ndash anos finais (6ordm ao 9ordm ano) sendo 2 turmas de 6ordm ano 2

turmas de 7ordm ano 2 turmas de 8ordm ano e 1 turma de 9ordm ano

Segundo os indicadores contextuais da Prova Brasil o niacutevel socioeconocircmico da

escola estaacute em meacutedio baixo O indicador de adequaccedilatildeo da formaccedilatildeo docente6 que analisa a

formaccedilatildeo dos docentes que lecionam nos finais do EF na escola eacute 85 Observando as meacutedias

de proficiecircncia em relaccedilatildeo agraves meacutedias das escolas do Brasil do Maranhatildeo e de Satildeo Luiacutes

comparando-as agrave nossa escola temos

6 Apresenta o percentual de disciplinas em cada etapa que satildeo ministradas por professores com formaccedilatildeo superior

de Licenciatura (ou Bacharelado com complementaccedilatildeo pedagoacutegica) na mesma disciplina que leciona Fonte e site

para consulta

httpsistemasprovabrasilinepgovbrprovaBrasilResultadosviewboletimDesempenhoboletimDesempenhosea

m Acesso em 3 de janeiro de 2018

70

Graacutefico 1 ndash Resultados IDEB 2015

Fonte INEP (2018))

O graacutefico acima mostra que o desempenho da escola ficou abaixo das meacutedias de

proficiecircncia em Liacutengua Portuguesa em leitura do Paiacutes em 2015 No entanto estaacute acima das

meacutedias do estado e do municiacutepio ludovicense que apresentaram indicadores 23093 e 23915

respectivamente A escola obteve 24034 ou seja pouco mais de um ponto acima o que natildeo

deixa de ser uma conquista para a gestatildeo e o corpo docente visto todos os entraves no processo

educacional Aleacutem do que se observarmos os indicadores de proficiecircncia em LP no 9ordm ano na

escola ao longo das trecircs uacuteltimas ediccedilotildees da Prova Brasil veremos que tem havido um progresso

como constatamos a seguir

Graacutefico 2 ndash Desempenho da escola nas ediccedilotildees da Prova Brasil

Fonte INEP (2018)

215

220

225

230

235

240

245

2011 2013 2015

Desempenho da escola nas ediccedilotildees da Prova Brasil

220

225

230

235

240

245

250

255

Brasil Maranhatildeo Satildeo Luiacutes Nossa escola

Resultados IDEB 2015

71

Os niacuteveis de proficiecircncia em Liacutengua Portuguesa classificados pela Prova Brasil

satildeo 9 (nove) e avaliam a capacidade de leitura dos alunos O desempenho por niacutevel de

proficiecircncia7 da turma de 9ordm ano no IDEB8 a seguir eacute referente ao ano de 2015

Graacutefico 3 ndash Distribuiccedilatildeo percentual dos alunos do 9ordm Ano do EF por niacutevel de proficiecircncia - Liacutengua Portuguesa

Fonte INEP (2018)

Para a aplicaccedilatildeo da SD foi escolhida a turma do 9ordm ano do ano letivo de 2017 que

contava com 46 alunos no iniacutecio do ano no turno vespertino Ao longo do ano alguns alunos

trancaram matriacutecula eou foram transferidos resultando no nuacutemero de 43 alunos frequentes ao

final do ano letivo O puacuteblico tem entre 14 e 15 anos em sua maior parte Por ser uma turma

que antecede o ingresso no ensino meacutedio eacute-lhe dispensada atenccedilatildeo especial no que tange a

projetos e preparaccedilatildeo para a seleccedilatildeo na etapa posterior da Educaccedilatildeo Baacutesica

A carga horaacuteria da disciplina Liacutengua Portuguesa eacute de 5 horas-aula por semana sem

divisatildeo formal interna de assuntos havendo flexibilidade para o trabalho com leitura produccedilatildeo

textual gramaacutetica e projetos tanto internos agrave escola como parcerias externas com essa

7 Os niacuteveis de proficiecircncia descritos pelo Inep encontram-se nos anexos deste trabalho 8 IDEB eacute o Iacutendice de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica criado pelo Inep em 2007 cuja escala vai de zero a

dez O indicador eacute calculado a partir dos dados sobre aprovaccedilatildeo escolar obtidos no Censo Escolar e meacutedias de

desempenho nas avaliaccedilotildees do Inep o Saeb e a Prova Brasil A fonte e o site oficial para consulta estatildeo disponiacuteveis

em lt httpportalinepgovbrwebportal-idebgt

000

500

1000

1500

2000

2500

3000

Niacutevel 0 Niacutevel 1 Niacutevel 2 Niacutevel 3 Niacutevel 4 Niacutevel 5 Niacutevel 6 Niacutevel 7 Niacutevel 8

Distribuiccedilatildeo percentual dos alunos do 9ordm Ano do EF por niacutevel de

proficiecircncia em 2015- Liacutengua Portuguesa

Nossa escola Escolas Similares

72

A opccedilatildeo por trabalhar a pesquisa nessa turma deu-se por ser a seacuterie que se prepara

para avanccedilar para o ensino meacutedio podendo assim ter um reforccedilo em sua competecircncia

discursiva atraveacutes da praacutetica da leitura e da produccedilatildeo escrita como processo

Ao mesmo tempo eacute importante que os alunos se interessem mais e mais por leitura

e sabendo que este puacuteblico natildeo aprecia leituras longas como as dos romances por exemplo a

crocircnica literaacuteria eacute uma excelente sugestatildeo por suas temaacuteticas que em vaacuterios exemplos eacute

proacutexima da realidade do aluno aleacutem de contar com textos breves e dinacircmicos

Por fim era de interesse da escola que os alunos dessa turma saiacutessem do ensino

fundamental com seguranccedila no que se refere a produzir textos escritos em gecircneros especiacuteficos

de uso cotidiano acionando assim conhecimentos que foram aprofundados e consolidados nas

aulas de anos anteriores

42 Participantes

Os sujeitos participantes da pesquisa satildeo alunos que frequentam a turma do 9ordm ano

no turno vespertino do ano letivo de 2017 na escola da rede puacuteblica municipal de ensino de

Satildeo Luiacutes no Maranhatildeo Em sua maioria residem na aacuterea que abrange o Argola e Tambor o

Gapara a Cidade Nova e adjacecircncias A maioria dos alunos tendo em vista sua idade apenas

estuda e mora com os pais eou responsaacuteveis

Ao longo do ano letivo a turma teve algumas alteraccedilotildees em seu puacuteblico com dois

estudantes que pediram transferecircncia de escola e outro que trancou a matriacutecula Assim

frequentando efetivamente as aulas foram 43 (quarenta e trecircs) alunos No entanto dentre esses

apenas uma meacutedia de 20 (vinte) alunos se interessou em participar do projeto de escrita

A turma em si eacute caracterizada pelos proacuteprios alunos bem como por professores

como composta por um puacuteblico cuja falta de interesse e de motivaccedilatildeo de vaacuterios estudantes

prejudica aqueles que desejam realmente se dedicar A sala eacute muito cheia e devido agrave natural

predisposiccedilatildeo que tecircm os adolescentes para a distraccedilatildeo e a conversa em vaacuterios momentos eacute um

desafio para se conseguir sua atenccedilatildeo e envolvimento nas atividades Percebemos nos contatos

iniciais com a turma completa que satildeo poucos infelizmente que demonstram real empenho

em participar

73

Os alunos que optaram por integrar o projeto desenvolveram as atividades propostas

em cinco moacutedulos realizadas em 11 (onze) encontros de 2 (duas) horas-aula cada9 durante os

meses de outubro a dezembro conforme cronograma previsto

43 Materiais

O material analisado na pesquisa eacute constituiacutedo pelos textos produzidos pelos alunos

que participaram de todas as atividades desta sequecircncia Portanto para a anaacutelise consideramos

apenas 13 (treze) alunos no total

Para a composiccedilatildeo do trabalho denominamos os textos produzidos nesta SD da

seguinte forma

a) produccedilatildeo inicial A (PI-A) realizada apoacutes 3 (trecircs) encontros com um total de 4

(quatro) horasaula constando atividades de leitura de crocircnicas que serviram

como norte para a primeira escrita dos alunos fazendo uma breve sensibilizaccedilatildeo

de caracteriacutesticas do gecircnero

b) produccedilatildeo final A (PF-A) realizada apoacutes o segundo moacutedulo da sequecircncia

reescrevendo a PI-A texto sem circulaccedilatildeo social mas com o intuito de

desenvolver a competecircncia comunicativa do aluno

c) produccedilatildeo inicial B (PI-B) realizada apoacutes os moacutedulos 3 (trecircs) e 4 (quatro) jaacute

visando a circulaccedilatildeo social do texto

d) produccedilatildeo final B (PF-B) realizada apoacutes o moacutedulo 5 (cinco) quando os alunos

tivessem aperfeiccediloado sua competecircncia comunicativa escrita e se apropriado do

gecircnero estudado cumprindo o propoacutesito comunicativo da proposta de produccedilatildeo

visando a divulgaccedilatildeo do texto

Para a realizaccedilatildeo da produccedilatildeo inicial utilizamos coacutepias de uma crocircnica

acompanhada de uma proposta de produccedilatildeo elaborada de acordo com a temaacutetica do texto e

associada agrave realidade dos alunos contextualizando uma possibilidade de ligar o mundo real ao

mundo virtual e uma coacutepia da folha de produccedilatildeo textual a ser utilizada em nosso projeto

Durante o desenvolvimento dos moacutedulos da SD utilizamos coacutepias dos textos e

atividades propostas distribuiacutedas individualmente Tambeacutem foi feito o uso do quadro branco

9 Agrave exceccedilatildeo dos dois primeiros encontros de 1 horaaula cada um

74

incel e apagador e de algumas imagens impressas em folha sulfite para ilustrar o conteuacutedo de

algumas crocircnicas de acordo com o planejamento de cada encontro

Para que houvesse a etapa poacutes sequecircncia didaacutetica que corresponde agrave circulaccedilatildeo

social do texto no gecircnero produzido os alunos que desejaram realmente publicar seus escritos

dentro do gecircnero crocircnica literaacuteria produziram um material especiacutefico para tal (PF-B) a partir

da escolha de temaacuteticas que agradaram a cada um individualmente Esse material que tambeacutem

constaraacute de nossa pesquisa corresponde aos textos de 4 (quatro) alunos apenas e

apresentaremos na seccedilatildeo destinada as produccedilotildees iniciais (PI-B) uma primeira reescrita e por

fim as produccedilotildees finais (PF-B)

44 Procedimentos

Antes de aplicarmos a SD com os alunos realizamos momentos de socializaccedilatildeo da

seguinte forma explicamos a importacircncia do projeto agrave direccedilatildeo da escola aos professores e aos

pais dos alunos da turma escolhida para a execuccedilatildeo do projeto visando o fortalecimento da

proposta Com os professores foi feito um momento de reuniatildeo uma semana antes do iniacutecio do

projeto Com os pais realizamos uma reuniatildeo para a socializaccedilatildeo e igualmente para pedir seu

apoio no incentivo agrave participaccedilatildeo dos alunos Infelizmente foram poucos os pais responsaacuteveis

que compareceram agrave reuniatildeo situaccedilatildeo que ocorre normalmente quando se datildeo as reuniotildees de

pais e mestres na escola

Foram realizados 11 (onze) encontros de duas horas-aula (de cinquenta minutos

cada uma) que ocorreram entre os meses de setembro e novembro de 2017 Entre a primeira

fase que compreende a socializaccedilatildeo do projeto e a busca pela adesatildeo as primeiras leituras e a

produccedilatildeo inicial A totalizando 3 (trecircs) encontros num total de 4 horasaula e o iniacutecio da

segunda fase que compreende os moacutedulos propriamente ditos do processo de escrita ateacute a

produccedilatildeo final A num total de 3 (trecircs) encontros houve um intervalo de aproximadamente 1

(um) mecircs tempo destinado agrave apreciaccedilatildeo da PI-A anaacutelise e elaboraccedilatildeo dos moacutedulos da

sequecircncia de atividades Para a posterior culminacircncia que coloca os textos em circulaccedilatildeo social

houve mais 5 (cinco) encontros agora com um puacuteblico mais reduzido que realmente desejava

publicar suas produccedilotildees

Destinamos dois horaacuterios agraves terccedilas-feiras que estavam ociosos para os alunos pois

correspondiam aos horaacuterios das disciplinas de Arte e Ensino religioso cuja professora estava

75

afastada em virtude de uma licenccedila de sauacutede para o desenvolvimento do projeto sem alterar a

rotina das aulas de Liacutengua Portuguesa

Como primeira atividade lemos o texto Prova falsa de Stanislaw Ponte Preta (cf

Apecircndice A) com a turma completa Fizemos o exerciacutecio de interpretaccedilatildeo do texto e breve

leitura de Abandono de Animais eacute crime e precisa ser denunciado (cf Apecircndice B) uma

reportagem para que os alunos percebessem diferenccedilas entre os gecircneros (2 horasaula)

O encontro seguinte teve a leitura do texto O chato da vez de Anaximandro

Amorim (cf Apecircndice C) e atividades de interpretaccedilatildeo Dentre as questotildees havia a instruccedilatildeo

que propunha os comandos para a criaccedilatildeo de um texto em forma de crocircnica ndash com o que os

alunos puderam perceber a respeito do gecircnero durante os encontros - e a partir disso nestas 2

(duas) horasaula os alunos fizeram sua produccedilatildeo inicial10 Esses textos compotildeem a produccedilatildeo

inicial dos integrantes do projeto

Os moacutedulos elaborados para o trabalho que visavam melhorar os aspectos da escrita

dos alunos considerando o processo bem como os procedimentos de escritor compreenderam

atividades de leitura exerciacutecios de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo dos textos e de produccedilatildeo de

textos escritos mediados pela professora pesquisadora dentro do gecircnero crocircnica literaacuteria

discussotildees sobre os temas presentes nas crocircnicas aproximando-os da realidade dos alunos com

o objetivo de desenvolver nestes sua capacidade de observaccedilatildeo e reflexatildeo para a produccedilatildeo

textual

Foram apresentadas agrave turma de maneira coletiva as principais dificuldades

diagnosticadas na produccedilatildeo inicial Procuramos natildeo focalizar de iniacutecio a editoraccedilatildeo11 do texto

na folha de produccedilatildeo No entanto natildeo deixamos de trabalhar em sala elementos como o cuidado

com a pontuaccedilatildeo a paragrafaccedilatildeo e a ortografia O conteuacutedo das aulas de cada moacutedulo estaacute

descrito na seccedilatildeo correspondente

No decorrer dos moacutedulos os alunos realizaram atividades de revisatildeo e reescrita dos

seus textos observando tanto a estrutura do gecircnero quanto o seu conteuacutedo orientados pela

professora pesquisadora e tambeacutem recebendo ideias e sugestotildees dos colegas em um feedback

colaborativo Dessa forma chegaram ao seu texto final aplicando na medida de sua

10 Obs o 4ordm horaacuterio que foi escolhido para ser o momento da produccedilatildeo inicial foi prejudicado por dois fatores

O primeiro foi que o professor de educaccedilatildeo fiacutesica da escola convidou os alunos para antecipar sua praacutetica e vaacuterios

natildeo voltaram do recreio para a aula do projeto O segundo fator foi que nesse dia aconteceu uma briga com agressatildeo

fiacutesica entre uma aluna da sala e outra aluna de outra turma o que deixou a escola inteira agitada Os 20 (vinte)

alunos que permaneceram em sala para a produccedilatildeo felizmente mostraram-se interessados embora vaacuterios dissessem

que natildeo levavam jeito para escrever Apenas alguns alunos passaram a limpo seus textos 11 Ver seccedilatildeo Escrita como processo

76

conscientizaccedilatildeo os conhecimentos adquiridos e as duacutevidas esclarecidas durante a sequecircncia de

atividades

Nossa proposta incluiu a circulaccedilatildeo social dos textos para uma audiecircncia real o que

consistiu em uma culminacircncia do projeto de escrita O acordo feito com os alunos foi a

publicaccedilatildeo interna de uma versatildeo artesanalmente produzida de um livro de crocircnicas para que

pudessem marcar o momento e guardar um livro fiacutesico como recordaccedilatildeo e a publicaccedilatildeo em

suas paacuteginas pessoais na rede social Facebook plataforma que os alunos apreciam utilizar com

certa frequecircncia posto que nosso trabalho teve como material para leitura textos retirados da

internet como o proacuteprio Facebook blogs sites Para esta etapa somente cinco alunos

frequentaram assiduamente (alguns outros esporadicamente) sendo que apenas quatro

produziram um texto individual que passou pelo mesmo processo de reescrita e que teve sua

publicaccedilatildeo na plataforma e tambeacutem em um formato artesanal impresso para que suas famiacutelias

e comunidade escolar possam prestigiar o momento na tarde de autoacutegrafos

As produccedilotildees finais seratildeo analisadas no capiacutetulo a seguir em relaccedilatildeo agrave apropriaccedilatildeo

das caracteriacutesticas do gecircnero estudado bem como de sua estrutura composicional com o

objetivo de avaliar se os alunos conseguiram desenvolvecirc-la satisfatoriamente e se a estrutura e

a aplicaccedilatildeo da sequecircncia de atividades favoreceu o desenvolvimento da competecircncia textual e

discursiva dos estudantes que integraram a pesquisa de acordo com o que foi observado em

suas produccedilotildees iniciais examinando seu desempenho em ambas as produccedilotildees

Para o desenvolvimento de nossas atividades do projeto planejamos os encontros

com base nos estudos realizados a respeito do procedimento Sequecircncia Didaacutetica de Dolz

Noverraz e Schneuwly (2013) como estrateacutegia de ensino dos gecircneros textuais na proposta de

adaptaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica conduzida por Swiderski e Costa-Huumlbes (2009) na proposta

de circulaccedilatildeo social do gecircnero discursivo produzido em sequecircncias didaacuteticas de projetos

pedagoacutegicos de Lopes-Rossi (2011) e dos procedimentos das etapas de escrita como

planejamento ediccedilatildeo revisatildeo e reescrita do texto segundo Vieira (2005) e Serafini (2003)

O planejamento de nossa SD abrange 12 (doze) etapas conforme mostra a figura a

seguir

77

Figura 4 - Proposiccedilatildeo de sequecircncia didaacutetica para o projeto de escrita

Fonte Elaborado pela autora adaptado de DOLZ NOVERRAZ SCHNEUWLY (2013) SWIDERSKI COSTA-

HUumlBES (2009) LOPES-ROSSI (2011)

Nossa sequecircncia foi pensada para 2 (duas) etapas distintas Na primeira etapa A

uma produccedilatildeo textual para trabalho em sala com o mesmo tema com a expectativa de serem

colocados nos textos elementos que respondessem ao enunciado instrucional da atividade que

segue a crocircnica lida no dia na segunda etapa B uma produccedilatildeo que jaacute seria composta visando

a circulaccedilatildeo social com tema livre agrave escolha dos alunos a partir das discussotildees sobre o que

pode ser tema de uma crocircnica

Pela necessidade de uma SD mais completa inserimos ao modo de Swiderski e

Costa-Huumlbes entre a apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e a produccedilatildeo inicial um moacutedulo

de reconhecimento do gecircnero E apoacutes o teacutermino de nossa SD inserimos ao modo de Lopes-

Rossi um moacutedulo para a divulgaccedilatildeo social dos textos

441 Primeira etapa da apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo agrave produccedilatildeo inicial

Entre a apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo e a produccedilatildeo inicial (PI) utilizamos 4 (quatro)

horas-aula No primeiro encontro fizemos no 1ordm (primeiro) horaacuterio a socializaccedilatildeo do projeto

com os alunos e incentivamos a adesatildeo expondo as vantagens de trabalharmos o aprendizado

de um gecircnero como a crocircnica em forma de sequecircncia de aulas e atividades Natildeo houve

manifestaccedilatildeo de unanimidade de interesse em participar do projeto Na realidade apenas

metade da sala pareceu desejar integrar o projeto Quando perguntados sobre o motivo que natildeo

os animava vaacuterios responderam ldquopreguiccedila de ler professora preguiccedila de escrever professora

ah eu natildeo gosto de ler muito natildeo Leio porque sou obrigada e natildeo vale nem nota mesmordquo

Apresentaccedilatildeo

da Situaccedilatildeo

Produccedilatildeo

Inicial A

Produccedilatildeo

Final A

Moacuted

ulo 1

Moacuted

ulo 2

Moacuted

ulo 3

Circulaccedilatildeo social

das produccedilotildees B Moacuted

ulo 4 Produccedilatildeo

Inicial B

Moacuted

ulo 5 Produccedilatildeo

Final B

Moacutedulo de

reconheci

mento

78

Apesar da inicial resistecircncia de boa parte da sala colocamos aos alunos as

vantagens de sua participaccedilatildeo visto que a principal finalidade da sequecircncia de atividades seria

o desenvolvimento de sua competecircncia escrita por meio da aprimoraccedilatildeo de suas habilidades

leitoras oportunidade de ampliaccedilatildeo da criatividade e desenvolvimento das habilidades e

procedimentos de escritor como o planejamento das ideias a releitura a revisatildeo a reescrita ndash

que sabemos natildeo fazem parte da rotina dos alunos salvo raras exceccedilotildees ndash utilizando como

base o estudo das caracteriacutesticas do gecircnero textual crocircnica literaacuteria

No horaacuterio seguinte com a turma completa iniciamos o moacutedulo de reconhecimento

realizando a leitura do texto Prova falsa de Stanislaw Ponte Preta Leitura silenciosa seguida

de leitura em voz alta por parte da professora-pesquisadora poreacutem sem realizar a atividade que

acompanhava o texto Comeccedilamos a trabalhar com a turma algumas caracteriacutesticas que a

sensibilizariam para o gecircnero como a presenccedila de um tiacutetulo interessante para a criaccedilatildeo de um

texto a partir de uma situaccedilatildeo do cotidiano e que o cronista resolveu contar ao leitor ao bom

humor e agrave leveza das palavras trazidas no texto

No segundo encontro com 1 hora-aula na semana seguinte fizemos a continuaccedilatildeo

da aula anterior no primeiro horaacuterio realizando o exerciacutecio de interpretaccedilatildeo do texto Prova

Falsa No horaacuterio seguinte realizamos breve leitura do texto Abandono de Animais eacute crime e

precisa ser denunciado para que os alunos percebessem a diferenccedila entre a crocircnica e a

reportagem embora ambas falassem cada uma a seu modo de criaccedilatildeo de animais de estimaccedilatildeo

Chegamos aos terceiro encontro com 2 (duas) hora-aula e realizamos a leitura do

texto O chato da vez de Anaximandro Amorim (cf Anexo D) No 1ordm horaacuterio destinado a nossas

aulas tudo transcorreu relativamente normal com a turma completa lendo e realizando parte

das atividades Poreacutem nossa Produccedilatildeo Inicial deveria acontecer apoacutes o recreio pois a

organizaccedilatildeo da grade de horaacuterios compreendia 1 hora-aula antes do recreio e a 1 hora-aula

seguinte apoacutes o recreio

Esse horaacuterio que foi escolhido para ser o momento da PI foi prejudicado por dois

fatores O primeiro foi que o professor de educaccedilatildeo fiacutesica12 da escola convidou os alunos para

antecipar sua praacutetica e vaacuterios natildeo voltaram do recreio para a aula do projeto O segundo fator

foi que nesse dia aconteceu uma briga com agressatildeo fiacutesica entre uma aluna da sala e outra aluna

de outra turma o que deixou a escola inteira agitada Os 20 (vinte) alunos que permaneceram

12 O professor de educaccedilatildeo fiacutesica natildeo estava presente na reuniatildeo de socializaccedilatildeo do projeto com os professores e

por isso natildeo sabia que a professora-pesquisadora ocuparia aquele horaacuterio que estava ocioso para os alunos

79

em sala para a produccedilatildeo felizmente mostraram-se interessados embora vaacuterios dissessem que

natildeo levavam jeito para escrever

Demos prosseguimento agrave atividade que acompanha o texto O chato da vez

realizando a instruccedilatildeo de produccedilatildeo do quesito 7 (sete) Os alunos receberam uma folha de

produccedilatildeo e foram orientados a primeiro escrever seu rascunho em folha agrave parte e somente

quando terminassem passar seu texto para a folha de produccedilatildeo A maioria escreveu diretamente

na FP Apenas alguns alunos fizeram um breve rascunho e depois passaram a limpo seus textos

O que buscamos detectar nessas primeiras produccedilotildees (PI-A) sem o devido

aprofundamento das caracteriacutesticas da crocircnica literaacuteria apenas com as leituras e as atividades

de sensibilizaccedilatildeo no moacutedulo de reconhecimento do gecircnero a partir da instruccedilatildeo de produccedilatildeo

foram os itens a seguir

i) quantos textos jaacute deram sinais de que os alunos entenderam o que eacute a ldquoconversa

com o leitorrdquo e a expressaram em marcas linguiacutesticas

ii) quantos atenderam ao perfil da audiecircncia solicitada na instruccedilatildeo

iii) quantos se mantiveram no tema discutido

iv) quantos partiram de uma situaccedilatildeo vividaobservada para compor seu texto

v) quantos narraram essa situaccedilatildeo de forma clara para que o leitor pudesse

acompanhar

vi) quantos atenderam agrave instruccedilatildeo quanto agrave presenccedila de tiacutetulo e ao nuacutemero de

paraacutegrafos

Trataremos em seccedilatildeo posterior correspondente agrave anaacutelise sobre estes resultados

442 Segunda etapa desenvolvimento dos moacutedulos

Aproximadamente 1 (um) mecircs apoacutes a apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo e a produccedilatildeo inicial

que foram realizadas em 4 (quatro) encontros o desenvolvimento dos moacutedulos foi iniciado A

partir de entatildeo foram realizados 8 (oito) encontros de 2 (duas) horas-aula cada um Foram

cinco moacutedulos com atividades diversas que trabalharam fundamentalmente o planejamento

das ideias a organizaccedilatildeo e a revisatildeo do texto aleacutem da reescrita que eacute a ponte para a produccedilatildeo

final O trabalho desenvolvido nos moacutedulos estaacute sintetizado no quadro a seguir e seratildeo

detalhados os procedimentos das aulas nos toacutepicos seguintes

80

Quadro 4 ndash Moacutedulos desenvolvidos na sequecircncia didaacutetica (SD)

MOacuteDULOS TEMA FINALIDADE ATIVIDADE NUacuteMERO

DE AULAS

Moacutedulo 1 A mateacuteria da

crocircnica

Abstrair a partir da

leitura a situaccedilatildeo que

pode ter gerado as

crocircnicas

Leitura dos textos

Realizaccedilatildeo das atividades de

interpretaccedilatildeo

Identificaccedilatildeo das situaccedilotildees

que geraram as crocircnicas

Observaccedilatildeo da construccedilatildeo da

narraccedilatildeo

4 horas-aula

Moacutedulo 2

Releitura e

reescrita da PI-

A

Revisar o conteuacutedo e a

estrutura das crocircnicas

produzidas (PI-A) a fim

de reescrevecirc-las fazendo

as modificaccedilotildees

necessaacuterias eou sugeridas

adequando-as agrave instruccedilatildeo

Conversa sobre as

dificuldades observadas nas

primeiras produccedilotildees Releitura

das produccedilotildees iniciais

individualmente e em duplas

para feedback colaborativo

Reescrita da crocircnica

2 horas-aula

Moacutedulo 3

A opiniatildeo e a

descriccedilatildeo na

crocircnica

Observar a realidade do

seu entorno e tambeacutem de

ouvir as opiniotildees das

pessoas que habitam esse

ambiente

Leitura do texto

Realizaccedilatildeo das atividades de

interpretaccedilatildeo

Atividade de coleta de

impressotildees de algueacutem

proacuteximo Confronto ou

associaccedilatildeo com suas proacuteprias

opiniotildees Observaccedilatildeo de

elementos e situaccedilotildees do

proacuteprio cotidiano

Uso criativo das palavras

reflexatildeo sobre linguagem

conotativa

Elaboraccedilatildeo de um pequeno

texto

2 horas-aula

Moacutedulo 4

A linguagem

criativa e a

verossimilhanccedila

na crocircnica

Produccedilatildeo

inicial do texto

para publicaccedilatildeo

ndash PI-B

Observar as formas

criativas de narrar o

cotidiano

Leitura do texto

Realizaccedilatildeo das atividades de

interpretaccedilatildeo Discussatildeo sobre

verossimilhanccedila

2 horas-aula

Moacutedulo 5

Revisatildeo e

reescrita do

texto para

publicaccedilatildeo ndash

PI-B

Observar os elementos

estudados ao longo dos

moacutedulos na PI-B

Leitura dos textos Feedback

colaborativo Releitura da PI-

B Exerciacutecio de topicalizaccedilatildeo

4 horasaula

Fonte Elaborado pela autora

Nos itens a seguir apresentamos o relato da aplicaccedilatildeo dos moacutedulos bem como as

atividades correspondentes a cada um em uma turma de 9ordm ano de uma escola puacuteblica municipal

em Satildeo Luiacutes no 4ordm (quarto) bimestre do ano letivo de 2017

a) Moacutedulo 1 ndash quarto e quinto encontros ndash 4 (quatro) horas-aula

81

A partir da leitura dos textos Manias e Pacto apoacutes morte natildeo podia ver faca (cf

Anexo E) os alunos praticaram o exerciacutecio de observaccedilatildeo e abstraccedilatildeo da situaccedilatildeo que pode ter

gerado essas crocircnicas

Neste dia foi feita a leitura da crocircnica Manias Os alunos puderam refletir a partir

das questotildees de interpretaccedilatildeo e anaacutelise do texto sobre o que satildeo manias e viram tambeacutem que

elas natildeo satildeo exclusividade de pessoas idosas Na verdade concluiacuteram que basta o ser humano

estar vivo independentemente da idade que tenha para comeccedilar a calcar camadas e mais

camadas de comportamentos que mais adiante se tornaratildeo manias Natildeo houve tempo

disponiacutevel para os alunos comporem um texto a respeito da mateacuteria manias e os alunos pediram

para fazer em casa No entanto na aula seguinte ningueacutem apresentou o texto

Para o encontro seguinte que correspondia ao dia das bruxas a crocircnica escolhida

para leitura que tomou o primeiro horaacuterio foi Pacto poacutes-morte natildeo podia ver faca de Nonato

Reis por ser de gosto dos alunos dessa faixa etaacuteria histoacuterias de fantasmas misteacuterios e lendas

Nossa atividade foi bastante interessante pois todos que estavam na sala entraram no ritmo

daqueles causos contados em prosa pelo jornalista Nonato Reis O segundo horaacuterio foi

direcionado agrave atividade de leitura e interpretaccedilatildeo da crocircnica em que os alunos puderam

observar o ponto de vista do narrador as situaccedilotildees que deram origem e suporte agrave construccedilatildeo da

crocircnica aprenderam vocaacutebulos novos e ainda puderam soltar um pouco da imaginaccedilatildeo e

criatividade pensando em como eles mesmos fariam seus pactos com algueacutem ndash e constatamos

que vaacuterios querem mais eacute que seus contratantes se assustem em vida caso os alunos partam

primeiro

Ao final da leitura ainda exercitamos uma breve retextualizaccedilatildeo se fosse para

compor uma manchete de jornal como eles poderiam criar uma frase de impacto para o leitor

que tivesse relaccedilatildeo com o texto Um dos alunos sugeriu ldquoHomem faz pacto e menino vem

buscarrdquo

b) Moacutedulo 2 ndash sexto encontro ndash 2 (duas) horas-aula

Este encontro foi destinado para releitura da primeira produccedilatildeo feita (PI-A) O

procedimento inicial foi a tempestade de ideias sobre o que eacute ser chato e o que eacute ser legal cujo

registro dessas caracteriacutesticas noacutes construiacutemos na lousa sendo a professora-pesquisadora como

escriba Em seguida entregamos aos participantes do projeto seus textos

De iniacutecio vaacuterios disseram gostar do proacuteprio texto poreacutem quando a professora-

pesquisadora passou de carteira em carteira pedindo que lessem em voz meacutedia de modo a

apenas o proacuteprio aluno e a professora poderem escutar ele mesmo se dava conta de que havia

82

algo a consertar Em alguns casos faltava o diaacutelogo com o leitor noutros uma situaccedilatildeo que

explicasse o porquecirc de algueacutem ser considerado chato ou legal Eacute a tal situaccedilatildeo do leitor na

histoacuteria Natildeo daacute pra jogar em cima dele soacute o resultado Tem que mostrar de onde partiram as

conclusotildees Assim demos uma folha sulfite em branco para que os alunos registrassem seus

rascunhos suas ideias por mais que as considerassem absurdas e daiacute pudessem extrair o que

iria compor o novo texto Fomos bem claras ao falar da importacircncia de tomar notas elas servem

como um prolongamento da memoacuteria (SERAFINI 2003)

Apoacutes esse registro os alunos tiveram a liberdade de escolher sentar em dupla ou

trio e foram lendo seus proacuteprios textos e o dos colegas para se inspirar ou dar sugestotildees uns

aos outros num feedback colaborativo enquanto a professora-pesquisadora permanecia dando

assistecircncia de um por um Infelizmente natildeo conseguimos sentar com todos para dar o devido

retorno individual sendo alguns apenas por orientaccedilatildeo coletiva e outros por bilhetinho com

questotildees gerais

Entatildeo pegamos o texto O chato da vez fizemos mais uma leitura e de novo

revimos a questatildeo 7 que eacute a instruccedilatildeo da produccedilatildeo Entatildeo os alunos receberam a folha de

produccedilatildeo e assim fizeram a reescrita (PF-A)

c) Moacutedulo 3 ndash seacutetimo encontro ndash 2 (duas) horas-aula

A partir da leitura da crocircnica A cara da rua (cf Apecircndice F) os alunos fizeram o

exerciacutecio praacutetico de observar a realidade do seu entorno sensibilizando-se a partir do uso da

descriccedilatildeo na crocircnica literaacuteria e tambeacutem de ouvir as opiniotildees das pessoas que habitam esse

ambiente

Houve uma alteraccedilatildeo no quadro do horaacuterio da escola o que colocou os encontros

do projeto para o 4ordm e o 5ordm horaacuterios As aulas passaram assim a natildeo ter uma quebra em seu

ritmo visto que anteriormente eram dois horaacuterios sendo um antes do recreio e o outro depois

A dificuldade enfrentada na aplicaccedilatildeo deste dia foi que alguns dos alunos que

integram o projeto se atrasaram visto que foi um dia atiacutepico na programaccedilatildeo da escola

Correspondeu este dia agrave visitaccedilatildeo da 11ordf FeLiS a Feira do livro de Satildeo Luiacutes realizada no

centro histoacuterico da cidade na Praia Grande Portanto neste dia natildeo fizemos uma releitura dos

textos que jaacute comeccedilaram a ser reescritos

Fizemos a leitura do texto A cara da rua de Marcelo Xavier discutimos as questotildees

e com os alunos (mesmo os que chegaram atrasados) foi feito o acordo da realizaccedilatildeo da uacuteltima

questatildeo que eacute fazer a leitura do texto para algueacutem em casa e anotar as impressotildees que a pessoa

teve ao ouvir a crocircnica

83

O objetivo desta atividade foi despertar nos alunos a consciecircncia de que uma

crocircnica bem escrita causa alguma reaccedilatildeo em seu leitor uma reflexatildeo uma emoccedilatildeo Aleacutem disso

eles observaram o modo de descrever empregado pelo autor ao longo dos paraacutegrafos usados na

caracterizaccedilatildeo da rua Utilizamos como material para essa aula figuras impressas da moda que

mostravam ao longo das deacutecadas as mudanccedilas citadas no texto

Neste dia tambeacutem os alunos anotaram os fundamentos que devem estar presentes

no texto que eles escrevem uma espeacutecie de quadro autoavaliativo13 criado a partir das

caracteriacutesticas dos textos estudados

d) Moacutedulo 4 ndash oitavo encontro ndash 2 (duas) horas-aula

O encontro comeccedilou retomando a atividade da aula anterior que era fazer a leitura

do texto para algueacutem em casa e anotar as impressotildees que a pessoa teve ao ouvir a crocircnica

Apenas uma aluna realizou a atividade poreacutem foi interessante visto que a opiniatildeo coletada deu

espaccedilo para a discussatildeo sobre a liberdade de expressatildeo fosse no vestuaacuterio no comportamento

ou mesmo no vocabulaacuterio das pessoas que integram a cara da rua

A aula do dia foi direcionada a conhecer mais algumas crocircnicas Amor de Macumba

e Sr Google Pacheco (cf Apecircndice G) para que os alunos pudessem observar e compreender

melhor de que situaccedilotildees observadasvivenciadas partiram os textos podendo ser inesperadas

eou ateacute pitorescas Apoacutes a escuta dos textos cuja leitura foi realizada pela professora-

pesquisadora foram trabalhadas oralmente as questotildees de compreensatildeo e identificadas as

situaccedilotildees geradoras das crocircnicas em questatildeo (independentemente de serem reais ou natildeo)

compreendendo melhor o que eacute verossimilhanccedila

Ao final desse momento os alunos falaram de vaacuterios assuntos que poderiam se

tornar temas de textos Copiamos no quadro e eles nos cadernos Eram temas do cotidiano

como assalto relaccedilotildees sociais vida de youtuber bullying fome cujas situaccedilotildees jaacute

observadasvivenciadas poderiam render uma reflexatildeo

Aparentemente a dificuldade maior dos alunos estava em expressar essa situaccedilatildeo

sem que parecesse um diaacuterio iacutentimo como diaacuterio ou memoacuterias pois a natural disposiccedilatildeo de

seus textos traz uma sequecircncia narrativa um relato de emoccedilotildees pessoais poreacutem natildeo

necessariamente conduzia o leitor a uma reflexatildeo embora por vezes pausasse a narraccedilatildeo e

interagisse com o leitor por meio de perguntas ndash conforme mostrado nas crocircnicas lidas ao longo

do projeto

13 Cf seccedilatildeo de Anaacutelises

84

O foco foi entatildeo ajudar os alunos a desprender-se da aura de criacutetica ou de diaacuterio

iacutentimo em seus textos permitindo-lhes atribuir um ar de narrar os fatos podendo aumentar as

situaccedilotildees conduzindo seu leitor sem sobrecarregaacute-lo com queixumes lamentos criacuteticas ferinas

ou aquele ldquoar de moral da histoacuteriardquo

Como a discussatildeo havia tomado bastante tempo da aula os alunos pediram para

trazer o texto depois Resolvemos propor entatildeo o envio por um meio digital O escolhido foi

o Whatsapp e a produccedilatildeo seria impressa e entregue entre os colegas para leitura coletiva e

apreciaccedilatildeo etapa fundamental para o moacutedulo seguinte

e) Moacutedulo 5 ndash nono encontro ndash 2 (duas) horas-aula

Quatro alunos me mandaram seus textos (Ana Rodrigo Eduardo Estela) A

expectativa da aula do dia era que os alunos lessem as proacuteprias produccedilotildees e as colocassem para

apreciaccedilatildeo dos colegas relessem lessem juntos encontrassem os erros aceitassem as

sugestotildees O trabalho da professora pesquisadora foi inicialmente ir de dupla em dupla para

orientar E assim fizemos o trabalho

Utilizamos como material para essa aula os textos enviados impressos e um tablet

para visualizaccedilatildeo e se desejassem atualizaccedilatildeo de algum trecho do texto Cada aluno autor teve

seu momento de visualizaccedilatildeo na tela e de certo modo foi um choque ver no tablet os erros

ortograacuteficos e as sugestotildees de pontuaccedilatildeo que o aplicativo Word sugeria O aluno Eduardo foi o

mais surpreso pois em seu texto soacute de ortografia e pontuaccedilatildeo havia 22 erros fora as sugestotildees

que o Word corrigia Apesar disso o aluno natildeo desanimou aceitando sugestotildees do aplicativo e

tambeacutem dos colegas e da professora-pesquisadora

Houve o momento da leitura em conjunto e este foi fundamental para trabalharmos

a paragrafaccedilatildeo A professora-pesquisadora lia em voz alta para os alunos eles acompanhavam

o pensamento criando a imagem mental dos fatos corridos e quando havia quebra na

sequecircncia eles mesmos estranhavam e identificavam fazendo sugestotildees de alteraccedilatildeo Isso foi

feito com cada texto

Os temas para a produccedilatildeo do texto publicado foram escolhidos pelos proacuteprios

alunos Diferentemente da PI-A que foi induzida pela instruccedilatildeo aqueles que se dedicaram a

escrever por prazer desenvolveram mais o gosto por entender e reler o proacuteprio texto dando

valor tambeacutem agrave apreciaccedilatildeo dos colegas natildeo apenas da professora

Os quatro alunos que produziram texto para o livro disseram que passaram a prestar

mais atenccedilatildeo a ortografia e acentuaccedilatildeo embora reconheccedilam que natildeo dominam adequadamente

85

ainda Nesse momento consideramos fundamental conscientizar-lhes que esse domiacutenio eacute um

processo e pode durar a vida inteira

f) Moacutedulo 6 ndash deacutecimo encontro ndash 2 (duas) horas-aula

A aula do dia foi dedicada agrave revisatildeo e discussatildeo final dos textos de Ana Rodrigo

Eduardo e Estela Apoacutes a leitura individual e novas sugestotildees sentamos em ciacuterculo e

registramos em voz alta no celular durante uns 20 minutos uma pequena avaliaccedilatildeo do projeto

e avaliaccedilatildeo pessoal em forma de grupo focal Apenas uma aluna dentre os seis que estavam

presentes se recusou a falar Ela mesma afirmou ldquoprofessora eu nunca falo eu natildeo gosto de

falarrdquo A pauta foi a seguinte

i) Uma breve avaliaccedilatildeo do projeto

- vocecirc gostou das aulas

- o que foi um ponto positivo

- e um desafio

- o que vocecirc sugere para um proacuteximo projeto

ii) Uma breve avaliaccedilatildeo pessoal

- vocecirc aprendeu algo que natildeo sabia antes

- mudou alguma coisa nos seus procedimentos em relaccedilatildeo agrave leitura e agrave escrita

- fale um pouco sobre isso

A opiniatildeo dos alunos seraacute tratada na seccedilatildeo seguinte ao longo da avaliaccedilatildeo do

projeto

443 Terceira etapa produccedilatildeo final

Neste dia relemos as primeiras produccedilotildees que os alunos fizeram de maneira

coletiva Foi unacircnime o descontentamento com os textos pois concluiacuteram que estava tudo

muito longe de ter caracteriacutesticas de crocircnica Aproveitamos tambeacutem para ler o texto de um

aluno e fazer um exerciacutecio de topicalizaccedilatildeo a fim de instrumentalizaacute-los com uma uacutetil

ferramenta de anaacutelise das partes do texto detectando as ideias que o compotildeem comparando ao

comando de produccedilatildeo que foi dado naquele momento da PI e percebendo que ideias faltam para

completar a instruccedilatildeo pedida Fora isso os alunos perceberam que havia muitos erros

ortograacuteficos e disseram que achavam interessante se pudessem para todos os textos escrever

em aplicativos de celular ou programas de ediccedilatildeo de texto como o Word para que as correccedilotildees

mais baacutesicas jaacute fossem automaticamente realizadas

86

444 Quarta etapa circulaccedilatildeo social dos textos

A circulaccedilatildeo social dos textos eacute parte de nossa proposta para a sequecircncia didaacutetica

Como o objetivo maior foi o de contribuir para o aperfeiccediloamento das habilidades de escrita

desenvolvendo procedimentos de escritor fugindo agrave praacutetica que os alunos normalmente tecircm

que eacute de fazer um texto sem os devidos cuidados apenas visando nota para entregar ao

professor contamos que essas produccedilotildees foram de grande valia aos que permaneceram ateacute o

final de nosso projeto

O livro artesanal foi produzido e no dia da cerimocircnia de formatura dos alunos do

9ordm ano foi tornado puacuteblico mostrado aos outros alunos familiares e comunidade escolar

presente O livro conteacutem as produccedilotildees dos 4 (quatro) alunos e mais as crocircnicas lidas ao longo

das aulas Aleacutem disso cada um publicou seu texto em sua paacutegina do Facebook

87

5 ANAacuteLISE DA SEQUEcircNCIA REFLEXOtildeES

Este capiacutetulo eacute destinado a discussatildeo e anaacutelise dos dados coletados quando de antes

da aplicaccedilatildeo dos moacutedulos (produccedilatildeo inicial) e depois do desenvolvimento destes (produccedilatildeo

final) a fim de verificarmos o desempenho dos alunos e certificar que o desenvolvimento de

nossa SD proposta para o desenvolvimento da competecircncia escrita dos alunos do 9ordm ano do

ensino fundamental pode propiciar-lhes progressos nas habilidades de produccedilatildeo de seus textos

Apresentamos aqui os principais dados da pesquisa como nuacutemero de alunos

participantes em cada etapa de produccedilatildeo nuacutemero de estudantes que participaram de todas as

atividades e principais dificuldades quanto aos elementos constitutivos do gecircnero trabalhado

Para a anaacutelise das versotildees produzidas pelos alunos que participaram de todos os encontros

fazendo o comparativo entre a PI e a PF partimos das categorias do gecircnero crocircnica literaacuteria

trabalhadas durante a SD Deste modo veremos as seccedilotildees destinadas a analisar os elementos

constitutivos presentes nos textos

A anaacutelise dos dados considerou as hipoacuteteses levantadas no iniacutecio da pesquisa que

recapitulamos

a) eacute possiacutevel motivar os alunos a escrever ao desenvolver com eles atividades

voltadas para os diferentes subprocessos e habilidades envolvidos no ato de

redigir

b) o ensino da composiccedilatildeo do gecircnero crocircnica literaacuteria contribuiraacute para minimizar

dificuldades observadas nos textos dos alunos do 9ordm ano como nos planos

morfossintaacutetico e semacircntico aleacutem de lhes propiciar o desenvolvimento da

competecircncia escrita em textos escritos

c) apoacutes a realizaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica proposta ao compararmos as produccedilotildees

inicial e final dos alunos verificaremos um desempenho mais satisfatoacuterio em

relaccedilatildeo agrave competecircncia discursiva realizada no gecircnero crocircnica

Da primeira hipoacutetese consideramos para a elaboraccedilatildeo das atividades e o

planejamento dos encontros trabalhar os subprocessos da escrita geraccedilatildeo e organizaccedilatildeo de

ideias planejamento do texto rascunho escrita releitura revisatildeo reescrita ateacute o passo da

publicaccedilatildeo agrave audiecircncia pretendida Esses passos auxiliaram os alunos a desenvolver melhor

seus textos apoacutes a revisatildeo quando os comparamos aos seus primeiros textos conforme a anaacutelise

dos dados Inclui tambeacutem este momento a motivaccedilatildeo de modo que quanto maior o domiacutenio

das habilidades mais confiantes os alunos ficavam e consequentemente mais motivados

88

Buscamos identificar nos textos dos alunos os avanccedilos referentes agrave apropriaccedilatildeo do

gecircnero crocircnica literaacuteria a partir dos textos escolhidos para servir-lhes de modelo para a

produccedilatildeo Relatamos aqui tambeacutem as dificuldades trabalhadas com eles durante os moacutedulos e

que foram aperfeiccediloadas Aleacutem das dificuldades composicionais relatamos ao longo do

capiacutetulo as dificuldades quanto agrave participaccedilatildeo no projeto aplicado

51 Participaccedilatildeo dos alunos na pesquisa

A sala de aula escolhida para aplicaccedilatildeo do projeto de produccedilatildeo escrita de crocircnicas

literaacuterias foi uma turma de 9ordm ano vespertino em uma escola puacuteblica do municiacutepio de Satildeo Luiacutes

Maranhatildeo Os alunos frequentes totalizavam no ano letivo de 2017 43 (quarenta e trecircs) No

entanto ao final de nosso projeto tivemos um resultado de produccedilotildees que visavam agrave circulaccedilatildeo

social do texto no gecircnero que corresponde a menos de 10 (dez por cento) do total da classe

Graacutefico 4 ndash Nuacutemero de alunos do 9ordm ano

Fonte Produzido pela autora

Podemos dizer que a SD teve duas partes no tocante agrave participaccedilatildeo dos alunos No

primeiro 19 (dezenove) alunos produziram a PI-A havendo oscilaccedilatildeo da presenccedila nas

atividades ateacute a reescrita a PF-A No entanto selecionamos as produccedilotildees apenas dos que

participaram de todos os encontros que foram 13 (treze) alunos e que produziram a PF-A

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

Nuacutemero de alunos

Nuacutemero de alunos no 9ordm ano

Alunos regularmente frequentes

Alunos que produziram o texto para a professora-pesquisadora como audiecircncia

Alunos que produziram texto para circulaccedilatildeo social com audiecircncia real

89

No segundo momento visando a publicaccedilatildeo dos textos o nuacutemero de alunos

presentes caiu vertiginosamente finalizando o projeto de aplicaccedilatildeo da SD com 6 alunos

frequentes sendo que apenas 4 (quatro) produziram o texto para circulaccedilatildeo social constando a

PI-B e a PF-B Segundo os alunos da turma o fato de natildeo valer nota associado ao item do

termo de compromisso que diz que a qualquer momento o aluno poderia deixar de participar

sem qualquer prejuiacutezo fez com que alguns alunos deixassem de querer frequentar ldquoporque eu

natildeo gosto de escrever professorardquo acabando por ldquocontagiarrdquo outros alunos a querer sair mais

cedo da sala de aula abandonando assim o projeto aplicado ldquomas pelo menos a senhora jaacute tem

um texto natildeo eacuterdquo

Dessa forma totalizamos 26 (vinte e seis) textos analisados 2 (dois) de cada

participante na primeira parte e 4 (quatro) dos quatro alunos que tiveram seus textos publicados

no livro artesanal e na plataforma online

Graacutefico 5 ndash Participaccedilatildeo nas produccedilotildees

Fonte Produzido pela autora

Como vimos 13 (treze) alunos realizaram a PF-A e 4 (quatro) a PF-B Nosso

projeto de produccedilatildeo escrita de crocircnicas literaacuterias contou com 11 (onze) encontros efetivos num

total de 20 (vinte) horasaula A participaccedilatildeo da turma ocorreu da seguinte forma

0

5

10

15

20

PI-A PF-A PI-B PF-B

Participaccedilatildeo nas produccedilotildees

Produccedilatildeo a partir de instruccedilatildeo Produccedilatildeo para publicaccedilatildeo

90

Graacutefico 6 ndash Alunos presentes por encontro

Fonte Produzido pela autora

Quanto agrave participaccedilatildeo nos encontros nos quais desenvolvemos os moacutedulos a maior

participaccedilatildeo ocorreu no 1ordm (primeiro) e no 4ordm (quarto) encontros No 9ordm (nono) encontro tivemos

a menor quantidade de alunos O uacuteltimo encontro contou com 7 (sete) alunos

52 Anaacutelise da apropriaccedilatildeo de caracteriacutesticas do gecircnero crocircnica literaacuteria

Nosso objetivo com esta pesquisa foi de contribuir para o desenvolvimento da

competecircncia escrita dos alunos de 9ordm ano a partir da proposta da aplicaccedilatildeo de uma sequecircncia

didaacutetica para a produccedilatildeo de textos escritos em uma turma deste niacutevel utilizando para tal o

gecircnero crocircnica literaacuteria A sequecircncia foi desenvolvida no 2ordm semestre do ano letivo de 2017

Para verificar o desempenho dos alunos nos textos escritos antes e apoacutes a aplicaccedilatildeo

da SD buscando comprovar sua eficiecircncia como uma proposta para o ensino de produccedilatildeo de

textos e o desenvolvimento da competecircncia escrita dos alunos procedemos a anaacutelise do corpus

de produccedilotildees a fim de verificar se a construccedilatildeo do texto de alunos do 9ordm ano corresponde de

algum modo aos exemplos de crocircnicas apresentados na primeira parte da sequecircncia didaacutetica

Essa produccedilatildeo A corresponde ao trabalho com 13 alunos (como jaacute informado na

seccedilatildeo 4411) em 3 (trecircs) encontros com duraccedilatildeo de 6 (seis) horasaula e leitura de duas

crocircnicas ineacuteditas para os alunos (Manias e Pacto apoacutes morte) e atividades correspondentes e

mais a releitura de O chato da vez releitura da instruccedilatildeo e releitura das PI-A

0

5

10

15

20

25

30

35

40

Alunos presentes por encontro

Nordm de alunos

91

Nossa primeira parte da sequecircncia em que preparamos os alunos para a produccedilatildeo

do primeiro texto do gecircnero com um miacutenimo de caracteriacutesticas tratou de mostrar exemplos do

que se pode esperar em uma crocircnica fornecendo um miacutenimo de elementos para que atraveacutes de

uma abordagem imitativa os alunos fizessem o seu texto PI-A

Para a reescrita ou PF-A a fim de auxiliar nossos alunos fomos construindo ao

longo do periacuteodo de aplicaccedilatildeo das aulas um quadro autoavaliativo que resultou nos itens

expostos no quadro a seguir

Quadro 5 ndash Quadro autoavaliativo

Seu texto Sim Natildeo

Partiu de uma situaccedilatildeo observadavivida

Conversa com o leitor

Possui o foco narrativo bem determinado (narrador personagem ou

narrador observador)

Leva o leitor a refletir

Causa impressotildees no leitor como riso choro reflexatildeo emoccedilatildeo

satisfaccedilatildeo

Possui um final interessante

Mostra discretamente ao leitor seu ponto de vista a respeito da situaccedilatildeo

Possui alguma descriccedilatildeo de lugarobjetopersonagem

Possui um tiacutetulo

Apresenta os acontecimentos de forma clara

Emprega adequadamente os sinais de pontuaccedilatildeo

Evita repeticcedilatildeo desnecessaacuteria de palavras

Possui paraacutegrafos bem organizados

Fonte Elaborado pela autora

O quadro nasceu da observaccedilatildeo das caracteriacutesticas constantemente presentes em

produccedilotildees de alunos com os quais trabalhamos A proposta era que os integrantes do projeto

avaliassem os proacuteprios textos atentando para estes aspectos mais baacutesicos

Desta forma vamos proceder a anaacutelise com a observaccedilatildeo da apropriaccedilatildeo das

caracteriacutesticas trabalhadas do gecircnero crocircnica literaacuteria sob uma oacutetica do processo de produccedilatildeo

oferecendo uma abordagem imitativa de produccedilatildeo de textos nas produccedilotildees iniciais e finais A

de 13 (treze) alunos cuja identificaccedilatildeo estaacute no quadro a seguir

Quadro 6 ndash Identificaccedilatildeo dos textos A dos alunos

Identificaccedilatildeo textoautor Tiacutetulo PI Tiacutetulo PF

Ana Ser chato ou natildeo ser eis a

questatildeo

Ser chato ou natildeo ser eis a

questatildeo

92

Rodrigo Pare de se criticar

Eduardo O amigo muito e muito chato Ser legal natildeo eacute ser chato

Estela Os chatos de antematildeo O tio chato de galocha

Ceacutelia Chata sim ou natildeo Chata sim ou natildeo

Arlindo Chato e natildeo eacute chato Chato e natildeo eacute chato

Juacutelia Ser chato ou ser legal Pessoas chatas e pessoas

legais

Vicente Aacute pergunta eacute se eu

bloquearia uma pessoa chata

Graccedila Rafaelly chata Chata ela ou EU

Lilian Meus amigos chatos e Eu Pessoas legais e chatas

Heloiacutesa ldquoChato mais eacute muito legalrdquo ldquoO melhor chatordquo

Eliane Um pouco de tudo O que e chato e o que e legal

Joana Pessoas chatas e outras legal Pessoas otimas Fonte Produzido pela autora

Esses textos foram produzidos em sala na folha de produccedilatildeo textual proacutepria

elaborada para a SD de forma manuscrita e os originais A encontram-se nos anexos Na seccedilatildeo

a seguir mostraremos o panorama das anaacutelises

53 Os textos dos alunos

Esta seccedilatildeo traz os textos dos alunos produzidos em dois momentos O primeiro que

chamamos de texto A composto de produccedilatildeo inicial A e produccedilatildeo final A foi o texto produzido

na primeira parte de nossa sequecircncia didaacutetica que vai ateacute o moacutedulo 2 (dois) e que ficou restrito

apenas ao trabalho em sala de aula O segundo foi o texto B com produccedilatildeo inicial B e produccedilatildeo

final B cuja produccedilatildeo jaacute visava agrave circulaccedilatildeo social das produccedilotildees

531 Produccedilotildees A textos apenas para o trabalho em sala de aula

Quadro 7 ndash Produccedilatildeo inicial Ana ndash Tiacutetulo Ser chato ou natildeo ser eis a questatildeo

1 O ldquochato da vezrdquo esse texto fez eu refletir bastante

2 sobre esse negocio de chatisse sabe eu natildeo acho que

3 ser chato seja um defeito ou muito menos uma qua-

4 lidade de sabe de uma coisa Eu nem ao menos sei o

5 que eacute ser chato mas se algueacutem me perguntar diria que

6 ser chato eacute apenas falar de um assunto pode ser sobre ele

7 ou sobre mim mas se for falado isso pra mim muitas ve-

8 zes isso pra mim eacute pura chatice mas sabe eu natildeo tiraria

9 nem evitaria ningueacutem mesmo sendo aquela amiga que so

93

10 sabe falar que ta doente e reclamar de noites mal dormi-

11 das sempre ateacute porque eacute o jeito dela e cada um oferece o

12 que tem para oferecer eu natildeo fico puxando o saco delas

13 mas evito elas sempre que posso Ateacute porque seria uma

14 chatice evita-la ou qualquer um outro chato Fonte Dados da pesquisa

O texto foi composto por um paraacutegrafo apenas Percebe-se que Ana o criou

atendendo ao que a instruccedilatildeo da atividade requer criar um texto que possa inspirar reflexatildeo

Poreacutem a aluna natildeo exatamente conduz seu leitor a refletir Ela jaacute parte de uma constataccedilatildeo sobre

a qual ela mesma refletiu e expotildee no texto suas conclusotildees Natildeo narra uma situaccedilatildeo

vividaobservada mas elenca o que lhe parecem procederes chatos ldquomesmo sendo aquela amiga

que so sabe falar que ta doente e reclamar de noites mal dormidas semprerdquo (linhas 9 a 11) A

aluna natildeo usou a estrateacutegia de inserir personagens que transparecessem seu ponto de vista ao

leitor Construiu seu texto em primeira pessoa ao modo de ldquoO chato da vezrdquo e demonstrou que

tinha consciecircncia de que seu texto seria lido por uma audiecircncia visto que lanccedila perguntas para

confirmaccedilatildeo ldquosaberdquo (linha 1) ldquosabe de uma coisardquo (linha 4) embora essa audiecircncia natildeo

coadune com a instruccedilatildeo

Quadro 8 ndash Produccedilatildeo final Ana ndash Tiacutetulo Ser chato ou natildeo ser eis a questatildeo

1 ldquoO chato da vezrdquo Um texto muito interessante

2 que fez eu refletir sobre esse negocio de chatisse um

3 assunto que eu ja tinha pensado bastante mas cheguei a

4 conclusatildeo de que natildeo deve ser considerado um defeito nem

5 uma qualidade chato quero dizer mas deve ser um a

6 coisa que vocecirc deve ser controlada sabe as vezes eacute ne-

7 cessario ter um pouco de chatisse

8

9 Ser chato na minha opiniatildeo natildeo teria um signi-

10 ficado especifico seria vaacuterias coisas como falar apenas de

11 um assunto coisas repetitivas sabe natildeo saber aceitar o jeito

12 das pessoas ao seu redor ser chato eacute natildeo saber relevar e ser

13 legal eacute o oposto pois se eu falasse se eu falasse ago-

14 ra as caracteriacutesticas das pesso legal esse texto ficaria cha-

15 to ca entre nos Fonte Dados da pesquisa

O texto reescrito agora compotildee-se de dois paraacutegrafos embora no trabalho de

discussatildeo e reapresentaccedilatildeo da mesma proposta a instruccedilatildeo indique entre 3 (trecircs) e 6 (seis)

paraacutegrafos

94

Mais uma vez a aluna elaborou seu texto visando ao que a instruccedilatildeo da atividade

requer um texto que possa inspirar reflexatildeo sem conduzir exatamente seu leitor a refletir mas

expondo uma constataccedilatildeo sobre a qual ela mesma refletiu

O primeiro paraacutegrafo inicia com frases que lembram o gecircnero resenha ldquoO chato da

vezrdquo Um texto muito interessante que fez eu refletir sobre esse negocio de chatisse (linhas 1 e

2)

O segundo paraacutegrafo que ela inicia nos daacute a pista de que ela retorna ao quesito de

letra a da atividade 7 que tem por funccedilatildeo sensibilizar e conduzir o aluno a compreender a

instruccedilatildeo que vai se apresentar definitivamente a partir do quesito de letra c e perde de vista

que seu texto deve ser composto dentro das caracteriacutesticas do gecircnero crocircnica Em lugar disso

ela o compotildee expondo sua opiniatildeo o que tange um outro gecircnero

O texto possui tiacutetulo como na PI e faz uma referecircncia intertextual agrave famosa frase

de William Shakespeare Ser ou natildeo ser eis a questatildeo

Ainda como na PI a aluna natildeo narra uma situaccedilatildeo vividaobservada elencando

em vez disso o que foi considerado chato nas discussotildees que a turma fez para tentar definir o

que era ser legal e ser chato como falar apenas de um assunto coisas repetitivas sabe natildeo

saber aceitar o jeito das pessoas ao seu redor ser chato eacute natildeo saber relevar (linhas 10 a 12)

Mais uma vez a aluna natildeo usou a estrateacutegia de inserir personagens que

transparecessem seu ponto de vista ao leitor Construiu seu texto em primeira pessoa ao modo

de ldquoO chato da vezrdquo mas frases como sabe (linha 11) e ca entre nos (linha 15) mostram que

houve sim uma preocupaccedilatildeo em conversar com o leitor transparecendo sua percepccedilatildeo de uma

audiecircncia como presente no texto da instruccedilatildeo bem como ao longo das crocircnicas lidas foram

ressaltadas foacutermulas de conversas com o leitor

A autora desenvolveu pouco seu texto e ainda buscou abreviaacute-lo visto que ldquose eu

falasse agora as caracteriacutesticas das pesso legal esse texto ficaria chato ca entre nosrdquo (linhas

14 e 15)

Natildeo houve para antes da reescrita um texto na folha de rascunho Foi feita a

refacccedilatildeo do texto diretamente na folha de produccedilatildeo havendo ainda problemas com a ortografia

e a pontuaccedilatildeo

No entanto Ana depois de seguir com o projeto e apurar um pouco mais o olhar

segundo ela mesma pediu para que deacutessemos nova oportunidade de leitura pois ela havia feito

uma nova reescrita ao final dos moacutedulos Essa reescrita de Ana estaacute na seccedilatildeo seguinte apoacutes o

teacutermino de todos os moacutedulos

95

Quadro 9 ndash Produccedilatildeo inicial Rodrigo ndash Tiacutetulo Pare de se criticar

1 Bom pessoal primeiro quero que vocecircs entendatildeo o

2 verdadeiro significado de ser chato e ser legal

3 antes de tudo Natildeo levem nada pro lado pessoal apenas

4 entenda Vamos comeccedilar

5

6 Uma pessoa chata por exemplo ela eacute cheia de

7 nheacute nheacute nheacute mas nem todo mundo eacute chato depende

8 de quem te acha chato concerteza ela tambeacutem natildeo eacute

9 a pessoa mais legal triloca ou radical do mundo Se

10 ela te acha chato foudaci o que importa eacute vocecirc se

11 acha legal Ai Deus quem dera tivesse um

12 botatildeo pra silenciar pessoas chatas leitor estaacute me ente-

13 ndendo uma pessoa chata ela pode ser chata

14 pra vocecirc mas pra mim natildeo entatildeo vai lagar de se

15 achar chato Cara vocecirc eacute mocirc legal pra muitas

16 pessoas deixa de se alto criticar

17

18 Voltando ao assunto se vocecirc tivesse um

19 botatildeo pra bloquear uma pessoa que tipo de pessoa

20 vocecirc bloquearia eu particularmente bloquearia

21 essas pessoas chatas que natildeo saien do meu peacute

22 entatildeo era soacute isso Seja mais legal consigo

23 mesmo Fui

24

25 Fim

26 Joinha

27 LIKE Fonte Dados da pesquisa

Construiacutedo em 3 (trecircs) paraacutegrafos de efetivo conteuacutedo entre as linhas 1 e 23 o texto

desse aluno busca fortemente o contato com sua audiecircncia como se vecirc em diversos exemplos

ldquoBom pessoalrdquo (linha 1) ldquoquero que vocecircs entendatildeordquo [sic] (linha 1) ldquoleitorrdquo (linha 12) ldquoestaacute

me entendendordquo (linhas 12-13) ldquoCara vocecirc eacute mocirc legalrdquo (linha 15) se vocecirc tivesse um botatildeo

(linhas 18-19) Seja mais legal consigo mesmo (linhas 22-23) Esse contato eacute influenciado pelos

diaacutelogos mais proacuteximos da oralidade que se apresenta nos textos usados para sensibilizar e

inspirar a produccedilatildeo inicial e que eacute uma caracteriacutestica do gecircnero trabalhado

No entanto seu texto natildeo se caracteriza como gecircnero crocircnica Percebemos que

lembra muito um roteiro de fala para viacutedeo do youtube ndash e sim o aluno autor do texto eacute youtuber

e tem um canal O aluno termina seu texto com claras referecircncias agrave esfera do discurso online

em que se tem interaccedilatildeo direta com o leitor Joinha LIKE (linhas 26 e 27) bem como um

96

elemento visual associado a essa multimodalidade que a internet permite que eacute a matildeo com

polegar para cima (linha 25) conhecido como thumbs up ou no Brasil joinha usado para

expressar contentamento com o conteuacutedo escrito o que corresponde ao perfil de audiecircncia dado

na instruccedilatildeo

Rodrigo faz muito uso da palavra chato o que pode sobrecarregar o texto Poreacutem

e como veremos a seguir na produccedilatildeo B do mesmo aluno a repeticcedilatildeo segundo ele eacute

caracteriacutestica sua para ldquoreforccedilar que a pessoa eacute chata professorardquo Apesar disso natildeo houve

uma definiccedilatildeo mais bem detalhada do que eacute o chato como os que ldquonatildeo saien do meu peacuterdquo (linha

21)

Haacute uma referecircncia no texto agrave primeira leitura feita em sala antes da PI que foi o

texto Prova Falsa Nas linhas 6-7 pode-se ler ldquonheacute nheacute nheacuterdquo como definiccedilatildeo do que eacute uma

pessoa chata e que no texto do Stanislaw Ponte Preta aparece como ldquoDesses cachorrinhos de

raccedila cheio de nheacutem-nheacutem-nheacutem que comem comidinha especial precisam de muitos

cuidados enfim um chato de galochardquo Por natildeo portar o texto em matildeos na hora da produccedilatildeo

entendemos entatildeo que o aluno Rodrigo fixou o vocaacutebulo corrente na oralidade (nheacutem-nheacutem-

nheacutem) ao conceito (muito chato chato de galocha) causando um saldo positivo em sua escolha

Quadro 10 ndash Produccedilatildeo final Rodrigo ndash Tiacutetulo

1 bom dia boa tarde e boa noite depende

2 da hora em que estiver lendo isso

3 Hoje eu vou falar um pouco sobre pessoas

4 chatas e pessoas legais se estiver pronto vamos laacute

5

6 Primeiro reflita uma coisa vocecirc leitor se

7 considera chato Antes de dizer vocecirc precisa saber

8 a diferenccedila entre ser legal e ser chato vou explicar

9

10 Uma pessoa legal eacute aquela que sabe te

11 ouvir dar sua opiniatildeo na hora certa e saber

12 reconhecer seus erros mas chega um devido ponto

13 que vocecirc tenta ser tatildeo legal que chega a ser chata

14 mas existe uma diferenccedila entre essas duas coisas

15 estaacute entendendo leitor Suponhamos que exista

16 um botatildeo de bloquear pessoas igual aquele do

17 Whatsapp quem vocecirc bloquearia seus amigos

18 Seus familiares Seus colegas Ou as pessoas chatas

19 Hahahahaha jaacute sei a resposta entatildeo isso facilitaria

20 muito sua vida neacute

21

22 bom espero ter ajudado a saber a

97

23 diferenccedila entre essas duas coisas en em breve

24 farei outro texto para explicar um pouco

25 melhor valeu falou e fui

26

27 Fonte Dados da pesquisa

Nessa versatildeo de reescrita do texto vimos que o aluno natildeo colocou o tiacutetulo

Acreditamos que ele natildeo tenha lembrado visto que na PI foi atribuiacutedo um tiacutetulo a seu texto

Natildeo houve para antes da reescrita um texto na folha de rascunho O aluno afirmou

que gostava de desenhar e permitimos que ele fizesse o que lhe fosse mais confortaacutevel para

liberar a criatividade apoacutes a conversa com a turma em busca da compreensatildeo do que eacute ser legal

ou ser chato A refacccedilatildeo do texto foi feita diretamente na folha de produccedilatildeo havendo ainda

alguns problemas com a ortografia e a pontuaccedilatildeo poreacutem com bom uso das interrogaccedilotildees para

conduzir o leitor por seus questionamentos o autor buscou uma aprovaccedilatildeo para o tema que

expotildee

Natildeo houve neste texto a presenccedila da narraccedilatildeo de uma situaccedilatildeo vividaobservada

Rodrigo mencionou algumas situaccedilotildees discutidas na sala antes da reescrita que falavam sobre

o que eacute ser chato e o que eacute ser legal Na linha 19 houve uma quebra e expectativa pois o trecho

ldquoHahahahaha jaacute sei a respostardquo natildeo deixa claro realmente qual a resposta

Percebemos tambeacutem a utilizaccedilatildeo de siacutembolos em seu texto ao final Esse recurso

multimodal eacute caracteriacutestico da forma de interaccedilatildeo existente nas redes sociais e o aluno por

entender na instruccedilatildeo que o texto eacute direcionado a um leitor de sua idade e que lecirc e faz postagens

e comentaacuterios com frequecircncia empregou iacutecones de maneira natural em seu texto Entendemos

aqui que ele considerou a audiecircncia determinada na instruccedilatildeo

Quadro 11 ndash Produccedilatildeo inicial Eduardo ndashTiacutetulo O amigo muito e muito chato

1 Nossa meus amigos satildeo chatos

2 ou seraacute que eacute eu mesmo que sou

3 completamente chato Natildeo sei mas se

4 sou o que eu faccedilo de errado pra ser chato

5

6 Tive uma amizade que era muito

7 bacana uma convivencia boa para se

8 viver mas passando alguns tempo

9

10 Ficou absurdamente chato ficou

11 muito muito muito chata vivia na

98

12 minha casa Iria conpletamente na minha

13 casa nas horas enproprias era chato

14

15 Mas um dia fiquei dando indiretas

16 para ele dizendo ldquoQue mamatildee mandou arruma

17 a casardquo essa coisas assim

18

19 Um dia disse para ele ldquoTou meio

20 oculpadordquo ai ele disse ldquoVocecirc eacute muito chatordquo

21 e saiu de casa sem olhar para traacutes

22

23 Mas ai ele foi que ficou mais chato

24 ainda Tocava a campainha de casa e

25 saia correndo

26

27 Se desse de broqueiar ele na vida

28 real eu broqueiava Vocecirc faria o mesmo

29 leitor Fonte Dados da pesquisa

A PI apresenta o ponto de vista do autor sobre o que eacute ser chato ldquovivia na minha

casa Iria completamente na minha casa nas horas enproprias era chatordquo (linhas 11-13) poreacutem

natildeo explicita o que eacute ser legal deixando essa lacuna para o leitor Apesar disso EDUARDO

parte de uma situaccedilatildeo vividaobservada que era essa relaccedilatildeo com seu amigo

O texto estaacute organizado em 7 (sete) paraacutegrafos No entanto o 2ordm e o 3ordm paraacutegrafos

poderiam estar unidos pela temaacutetica14 assim como o 5ordm e o 6ordm paraacutegrafos O uso do conectivo

mas foi inadequadamente empregado no 4ordm paraacutegrafo (Mas um dia fiquei dando indiretas para

ele) (linhas 15-16) A repeticcedilatildeo da expressatildeo temporal um dia no iniacutecio do 4ordm e do 5ordm paraacutegrafos

sucessivamente natildeo permite claramente ao leitor saber se as situaccedilotildees aconteceram no mesmo

dia ou em dias distintos

Percebemos o emprego da 1ordf pessoa como a voz que fala no texto um narrador-

personagem que se comunica tanto com outro personagem por meio de discurso indireto livre

(ai ele disse ldquoVocecirc eacute muito chatordquo) (linha 20) quanto com o leitor ldquoVocecirc faria o mesmo leitorrdquo

(linhas 28-29) demonstrando consciecircncia de que existe uma audiecircncia e embora natildeo mostre

claros exemplos ainda assim atende agrave instruccedilatildeo de que essa mesma audiecircncia deve ser um

puacuteblico que estaacute antenado nas redes sociais ldquoSe desse de broqueiar ele na vida real eu

broqueiavardquo (linhas 27-28)

14 Cf seccedilatildeo Escrita na escola

99

Quadro 12 ndash Produccedilatildeo final Eduardo ndashTiacutetulo Ser legal natildeo eacute ser chato

1 Ser legal eacute oacutetimo mas vocecirc

2 pode esta achando que taacute sendo

3 muito legal mas a pessoa

4 que vocecirc ta sendo legal natildeo

5 pode ta achando vocecirc muito legal

6 mas sim chato

7

8 Vocecirc indo na casa do seu

9 amigo toda hora pode ser legal

10 para ele mas para seu amigo natildeo

11

12 Coisas demais natildeo eacute tatildeo

13 legal E vocecirc leitor tem alguma

14 coisa engual a isso

15

16 LEGAL X CHATO

Fonte Dados da pesquisa

Nessa reescrita do texto apoacutes as sugestotildees percebemos que o aluno fez natildeo uma

nova versatildeo do primeiro texto mas uma resposta agraves discussotildees realizadas na sala antes do

momento de escrita Pedimos ao grupo como um todo que levasse em conta o que eacute ser legal

e o que eacute ser chato e desses exemplos praacuteticos partindo de situaccedilotildees vividasobservadas

Enquanto a professora-pesquisadora atendia outros alunos que natildeo haviam compreendido

claramente as sugestotildees dadas agraves suas PI o aluno Estela elaborou 3 (trecircs) paraacutegrafos que

condensam sua situaccedilatildeo descrita na PI natildeo utilizando diaacutelogos nem personagens apesar de

ainda se dirigir ao leitor (ldquoE vocecirc leitorrdquo) (linha 13) Houve uma perda da qualidade do texto

por causa de uma provaacutevel falta de compreensatildeo da tarefa a ser realizada na sala

Quadro 13 ndash Produccedilatildeo inicial Estela ndash Tiacutetulo Os chatos de antematildeo

1 Certo dia observei dois amigos conversando

2 Marcelo e Camila quase todos os dias Marcelo

3 e Camila quase todos os dias eles ldquobrigavamrdquo

4 ficavam de ldquomalrdquo como os jovens de hoje falam

5

6 O motivo dessas brigas era apenas pelo fato

7 de Marcelo dizer a Camila que ela era uma

8 chata e ela como todos os ldquochatosrdquo natildeo

100

9 admitiam ser chatos neacute

10

11 E vocecirc se por acaso algueacutem chamaacute-lo de chato

12 O que vocecirc faria

13

14 Eu natildeo era muito ldquoamigardquo deles mas na real

15 dava uma vontade de chegar e dizer-lhes ldquo

16 Por favor natildeo sejam tatildeo ridiacuteculos os dois

17 satildeo uns chatosrdquo

18

19 Mas como eacute errado intrometer-se nas conversas

20 dos outros resolvi natildeo dizer nada

21

22 Passaram-se semanas e eles sempre continuavam

23 com isso

24

25 Entatildeo resolvi fazer algo para que evitasse

26 essas ldquobrigasrdquo cotidianas

27

28 Natildeo falei nada pessoalmente mas sim por uma

29 rede social e mandei a seguinte mensagem

30

31 ldquoDesculpe-me por intrometer-me na amizade

32 entre vocecirc e Marcelo mas essa chatice que

33 haacute entre vocecirc e seu amigo estaacute me incomoda-

34 do aacute dias Pelo fato de vocecirc e seu amigo

35 ficarem pegando no peacute um do outro na

36 minha opiniatildeo vocecircs deveriam conversar

37 civilizadamente e aceitarem uns aos outros

38 da maneira que vocecircs satildeo E soacute issordquo

39

40 Dias depois dessa conversa observei-os aten-

41 tamente e percebi que havia uma grande diferenccedila

42 entre eles na qual eles estavam interagindo

43 se entendendo se aceitando

44

45 E entatildeo os dois aproximaram-se de mim e

46 agradeceram pelo conselho

47

48 Fiquei super feliz de tecirc-los ajudados

49 Na minha opiniatildeo chatice eacute algo que a

50 pessoa tem de natureza um certo

51 estado de espiacuterito

52

53 E se isso natildeo resolvesse tentaria bloqueaacute-

54 -los tentaria parar de dar atenccedilatildeo graccedilas

55 a Deus eles pararam

56

101

57 Ufa Pelo menos no final eles foram legais uns com os outros

58

59 Fim Fonte Dados da pesquisa

Apresentando-se como a mais extensa das produccedilotildees iniciais esta PI possui 14

(quatorze) paraacutegrafos Alguns poderiam ser condensados de modo a deixar as ideias agrupadas

(o 4ordm e o 5ordm o 6ordm o 7ordm e o 8ordm) Ou entatildeo poderia ter havido nova reescrita de alguns periacuteodos de

modo a condensar as informaccedilotildees Poreacutem para tal lembramos Serafini (2003) que afirma que

para escritores inexperientes essa estrateacutegia de periacuteodos mais curtos ajuda melhor a organizar

o pensamento Essa aluna produziu um rascunho antes de passar a limpo para a folha de

produccedilatildeo textual oficial

Demonstrando certo domiacutenio no uso dos pronomes pessoais obliacutequos como se pode

ver em diversos exemplos ao longo do texto ldquochamaacute-lordquo (linha11) ldquoe dizer-lhesrdquo (linha 15)

ldquoeacute errado intrometer-serdquo (linha 19) fez um emprego inadequado quando usou de pronome

relativo (na qual) (linha 42) possivelmente tentando o registro culto da liacutengua

Nesse texto se percebe o uso do discurso indireto (ldquoE entatildeo os dois aproximaram-

se de mim e agradeceram pelo conselhordquo) (linhas 45-46) As marcas de conversa com o leitor

podem ser vista em ldquoneacuterdquo (linha 9) e ldquoE vocecirc se por acaso algueacutem chamaacute-lo de chato O que

vocecirc fariardquo (linhas 11-12 A autora assume um ponto de vista e narra para uma audiecircncia

correspondendo ao requisitado na instruccedilatildeo

Como a instruccedilatildeo de produccedilatildeo determina o perfil do leitor como sendo um

adolescente que acessa redes sociais a autora coloca como soluccedilatildeo ao conflito de constantes

brigas entre o casal de amigos adolescente o envio de uma mensagem por rede social falando

inclusive que os bloquearia caso continuassem chatos O texto assemelha-se a um conto

inclusive pela forma como a autora encerra seu texto ldquoFimrdquo (linha 59) Quanto a despertar no

leitor uma reflexatildeo podemos dizer que A4 estaacute no caminho e que um trabalho mais detido

sobre esse texto poderia melhorar a qualidade dessa reflexatildeo

Quadro 14 ndash Produccedilatildeo final Estela ndashTiacutetulo O tio chato de galocha

1 As feacuterias chegaram e como em todas as feacuteria-

2 s eu partia em uma ldquoincriacutevel aventurardquo (pra

3 natildeo dizer o contraacuterio) a casa dos meus

4 tios na qual eacute um verdadeiro desastre

5 Ter que acordar com o ldquocantar dos galosrdquo

6 como dizem os mais velhos em clima de

102

7 discussatildeo affseacute uma verdadeira cha-

8 tice eu odiava ter que estragar minhas

9 maravilhosas feacuterias convivendo com eles

10 Eles discutiam ateacute pelo simples fato de cair

11 farelos de comida no chatildeo eu odiavaaa

12 E vocecirc leitor aguentaria toda essa chatice

13

14 O que vocecirc faria em relaccedilatildeo a essa situaccedilatildeo

15

16 Jaacute haviam se passado mais da metade das

17 feacuterias eu estava orando agrave Deus para que

18 esses dias infernais ao lado dos meus ti-

19 os acabassem e tambeacutem que titio Luiacutes

20 parasse de reclamar por eu comer muito

21 e parar de ficar assistindo programas

22 ateacute tarde da noite eu achava um exagero

23 eacute oacutebvio pois eram ldquofeacuteriasrdquo e nas feacuterias

24 acostumamos ficar distantes de tarefas

25 escolares de tudo que nos lembrar a

26 escola (rsrsrs)

27

28 O meu tio tambeacutem dizia que eu precisa-

29 va de educaccedilatildeo que os meus pais natildeo

30 me educaram adequadamentee eu natildeo

31 podia resmungar porque se meus pais

32 soubessem que me comportei mau eu iria

33 ficar ferrado E entatildeo mais dias infernais

34 se passaram e graccedilas a Deus as feacuterias

35 terminaram e natildeo tive mas que ver

36 presenciar aquele meu chato e insupor-

37 taacutevel tio

38

39 Pra mim ser chato e ser legal eacute

40 Ser legal Ser chato

41 Saber ouvir Criticar os outros

42 Dar comida Reclamar de tudo

43 Ser sincera Daacute importacircncia demais ao que dizem

44 Ter bom coraccedilatildeo Ser falso

45 Ajudar as pessoas Ser preconceituoso

46 Aceitar diferenccedilas

47

48 E o que vocecircs leitores acham o que

49 eacute ser ou natildeo legal Fonte Dados da pesquisa

Concentrada em 6 (seis) paraacutegrafos a reescrita ganhou alguns pontos mais

interessantes para se aproximar da crocircnica literaacuteria Partiu de uma situaccedilatildeo vivenciada

103

conduziu o leitor a compreender seu ponto de vista sobre o que era ser chato No entanto o

texto se distanciou da proposta da instruccedilatildeo no sentido de falar tambeacutem o que eacute legal natildeo

somente chato e lembrar do botatildeo de bloqueio da vida real

O 5ordm paraacutegrafo se tornou uma enumeraccedilatildeo das caracteriacutesticas do ser legal e ser chato

e deixou de narrar ou descrever uma situaccedilatildeo ou personagem

Uma caracteriacutestica da linguagem coloquial encontrada foi o uso da expressatildeo ldquoTer

que acordar com o lsquocantar dos galosrsquo como dizem os mais velhosrdquo (linhas 5-6) atribuindo a

frase agrave sabedoria popular Outras marcas tiacutepicas de coloquialidade utilizadas inclusive em meio

digital nos bate-papos foram a escrita de expressotildees com notaccedilotildees como ldquoaffsrdquo (linha 7)

para demonstrar aborrecimento ldquoodiavaaardquo (linha 11) estendendo as vogais para mostrar a

insatisfaccedilatildeo prolongada o frequente uso de aspas para indicar ironia ldquoeu partia em uma lsquoincriacutevel

aventurarsquordquo seguido de uma explicaccedilatildeo entre parecircnteses

Nessa produccedilatildeo a aluna tambeacutem natildeo empregou adequadamente o pronome relativo

ldquona qual eacute um verdadeiro desastrerdquo como se vecirc na linha 4

Quadro 15 ndash Produccedilatildeo inicial Ceacutelia ndashTiacutetulo Chata sim ou natildeo

1 Um dia uma amiga minha me pergun-

2 tou ndash Eu sou chata Responde ndash Sim as vezes

3 Mas o problema foi que ela natildeo aceitou a

4 verdade e saiu furiosa comigo

5

6 Mas me responde leitor se algueacutem viesse

7 te pergunta se ela eram chata o que vocecirc

8 responderia O problema e que nem todos

9 gostam de escuta a verdade

10

11 Aconteceu que um dia um colega disse

12 que eu era chata no comeccedilo fiquei com

13 um pouco de raiva Mas passou por que

14 parei eacute pensei e verdade sou chata Mas

15 mesmo assim sedo chata sim ou natildeo

16 a reciacuteproca era verdadeira

17

18 Chata sim ou natildeo uma pergunta que

19 eu mesmo me fiz vou acabar por aqui

20 antes que eu comece a fica chata de

21 vez Fonte Dados da pesquisa

104

O texto foi composto em 4 (quatro) paraacutegrafos atendendo agrave instruccedilatildeo A voz que

narra estaacute em 1ordf pessoa e dialoga diretamente com um personagem (linhas 1 e 2) Haacute um contato

direto com o leitor atraveacutes de frases como ldquoMas me responde leitorrdquo (linha 6) e ldquoO que vocecirc

responderiardquo (linhas 7-8)

A autora parte de uma situaccedilatildeo vividaobservada ndash na verdade haacute mais de uma

situaccedilatildeo ndash como vemos em ldquoUm dia uma amiga minha me perguntourdquo (linhas 1-2) e ldquoAconteceu

que um dia um colega disse que eu era chatardquo (linhas 11-12) No entanto natildeo segue a proposta

da instruccedilatildeo que eacute falar sobre o que eacute ser legal e ser chato Natildeo haacute exemplificaccedilotildees para que o

leitor entenda o ponto de vista da autora apenas situaccedilotildees em que disseram que ela e chata ou

sua amiga eacute chata Natildeo haacute tambeacutem menccedilatildeo ao ldquobloqueiordquo da vida real aos que satildeo chatos

Haacute alguns problemas quanto agrave ortografia e tambeacutem confusatildeo quanto ao emprego

dos sinais de pontuaccedilatildeo adequados

Quadro 16 ndash Produccedilatildeo final Ceacutelia ndash Tiacutetulo Chata sim ou natildeo

1 Um dia uma amiga minha me per-

2 guntou ndash Eu sou muito chata Responde ndash Sim

3 as vezes Mas o problema foi que ela natildeo

4 gostou de sabe em saiu furiosa comigo e

5 natildeo deixo eu termina de falar

6

7 Mas outro dia ela veio para me pedi des-

8 culpas eacute eu disse ndash natildeo precisa eacute como eu dizia

9 vocecirc e chata mais as vezes quando vocecirc natildeo

10 falando demais ou falando coisas se graccedila Eacute

11 ela disse ndash Eacute mesmo eacute sorriu

12

13 Mas me responde leitor se algueacutem viesse te

14 pergunta se ela era chata o que vocecircs respon-

15 deria O problema eacute que nem todos gostam de es-

16 cuta a verdade

17

18 Aconteceu que um dia um colega disse

19 que eu era chata no comeccedilo fiquei com um

20 pouco de raiva Mas passou porque parei eacute

21 pensei e verdade sou chata Mais mesmo assim

22 sedo chata sim ou natildeo a reciacuteproca era

23 verdadeira

24

25 Chata sim ou natildeo uma pergunta que

26 eu mesmo me fiz bom vou parar por aqui

27 antes que eu comece a fica chata de vez Fonte Dados da pesquisa

105

O texto reescrito foi composto em 5 (cinco) paraacutegrafos o que estaacute dentro do

previsto pela instruccedilatildeo Alguns problemas quanto agrave ortografia e tambeacutem confusatildeo quanto ao

emprego dos sinais de pontuaccedilatildeo adequados permaneceram como em ldquoUm dia minha amiga

me perguntou ndash Eu sou muito chatardquo em que foi feito uso de exclamaccedilatildeo em vez de

interrogaccedilatildeo

Foi mantida a voz que narra (1ordf pessoa) e o diaacutelogo com um personagem ndash a amiga

(linhas 1 e 2) se faz em forma de discurso direto embora natildeo devidamente paragrafado poreacutem

fazendo uso de travessotildees o que eacute um avanccedilo

O segundo paraacutegrafo (linhas 7 a 11) foi inserido a partir da sugestatildeo que fizemos

para a aluna Era interessante que ela acrescentasse em seu texto algo que exemplificasse o que

ela considera como ser legal e ser chato Atendendo agrave sugestatildeo a aluna mostra discretamente

seu ponto de vista na frase ldquovocecirc e chata mais as vezes quando vocecirc natildeo falando demais ou

falando coisas se graccedilardquo (linhas 9-10)

O contato direto com o leitor permanece como na PI atraveacutes de frases como ldquoMas

me responde leitorrdquo (linha 13) ndash cuja pontuaccedilatildeo nessa reescrita foi melhorada pela sugestatildeo ndash

e ldquoO que vocecirc responderiardquo (linhas 14-15) Natildeo foi atendida a instruccedilatildeo no tocante ao botatildeo

de bloqueio na vida real

A autora emprega em seu texto a frase ldquobom vou parar por aquirdquo (linha 26)

caracteriacutestica de uma conversa informal Esse uso da oralidade como em conversas eacute marca do

gecircnero crocircnica

Quadro 17 ndash Produccedilatildeo inicial Arlindo ndash Tiacutetulo Chato e natildeo eacute chato

1 Eu natildeo gosto daquela pessoa que

2 jaacute chegada pensando que jaacute pode falar

3 todo que pensa pra mim as pessoas

4 que pega celular para falar besteira nas

5 redes sociais essas pessoas eu natildeo gosto

6

7 agora aquelas pessoas que satildeo bem

8 calmas nas redes sociais ai eu gosto

9 por que sabem conversar saber puxar

10 intimidade fazem a gente rir e noacutes nos

11 trazem conforto e nos fazem saber que

12 a pessoa com quem a gente conversar

13 natildeo eacute uma maacute pessoa Eacute muito

14 bem amigo nos faz feliz

15

106

16 agora as pessoas que eu bloqueio

17 satildeo aquelas pessoas que natildeo sabem

18 conversar falatildeo de qualquer jeito

19 puxa assunto que eu natildeo gosto

20 por isso eu bloqueio essas pessoas

21 redes sociais eacute pra procurar

22 amigo e ais vezes eacute pra respeitar Fonte Dados da pesquisa

Ao ler o texto de Arlindo vemos que ele trata do assunto pedido na instruccedilatildeo e tem

em mente a audiecircncia pretendida que acessa redes sociais No entanto natildeo alcanccedila o leitor

envolvendo-o na conversa narrando-lhe as situaccedilotildees apenas elenca as situaccedilotildees que lhe satildeo de

agrado e desagrado mostrando o que para ele eacute ser chato e ser legal

Os trecircs paraacutegrafos que compotildeem o texto se organizam de modo a mostrar o que o

autor natildeo gosta o que gosta e o porquecirc de bloquear pessoas ndash mas na rede social natildeo fazendo

o comparativo com a vida real

Quadro 18 ndash Produccedilatildeo final Arlindo ndash Tiacutetulo Chato e natildeo eacute chato

1 Chato eacute uma pessoa botar besteira

2 no Facebook Por que isso eacute muito chato e

3 horriacutevel todo mundo ver vai laacute e comentar

4 mal do video ser legal eacute aquela pessoa que

5 vai laacute na casa da pessoa te daacute presente

6 sem vocecirc pedir nada sem vocecirc falar nada

7 no final soacute agradecer e ser feliz com o presente e

8 depois no outro dia soacute retribuir

9

10 Meu caro amigo legal e chato eacute

11 ser como uma pedra ajuda a parar o

12 tracircnsito e depois eacute chato porque as

13 pessoas tropeccedilam nelas e meus irmatildeos

14 legal e chato satildeo quase a mesma coisa

15 soacute que satildeo meios diferentes eu vou te

16 explicar

17 Ser chato eacute coisa possiacutevel e ser legal eacute

18 coisa quase impossiacutevel Fonte Dados da pesquisa

O aluno Arlindo manteve seu tiacutetulo e percebemos que a explicaccedilatildeo para o mesmo

seria transmitir a ideia de ldquochato e natildeo chatordquo ndash ou legal O verbo ser que aparece no tiacutetulo

como eacute deveria ter sido empregado de outra maneira como quando sugerimos ldquoEacute chato e natildeo

107

eacute chatordquo ou ldquoO que eacute chato e o que natildeo eacute chatordquo ou ldquoChato e legalrdquo No rascunho que Arlindo

fez ele empregou como tiacutetulo provisoacuterio ldquoO que eacute chato e o que eacute legalrdquo Poreacutem na hora de

passar a limpo e entregar permaneceu o tiacutetulo original

O autor Arlindo manteve seu foco nas redes sociais como indica a instruccedilatildeo e

amplia um pouco as ideias a partir das discussotildees que aconteceram na aula durante a

tempestade de ideias a fim de redespertar o olhar dos alunos para partirem de situaccedilotildees

vividasobservadas Nas linhas de 10 a 13 ele faz uma comparaccedilatildeo com a pedra fruto da

discussatildeo preacutevia Dependendo do ponto de vista a pedra pode ajudar bem como pode

atrapalhar Poreacutem nas linhas 15 e 16 Arlindo fica de explicar o porquecirc de ser chato e ser legal

serem quase a mesma coisa e termina o texto abruptamente sem desenvolver suas ideias

Houve uma evoluccedilatildeo no tocante agrave conversa com o leitor Embora Arlindo natildeo tenha

claro se sua audiecircncia eacute uma pessoa soacute (linha 10 Meu caro amigo) ou um grupo de pessoas

(linha 13 e meus irmatildeos linhas 15 e 16 eu vou te explicar) ele jaacute a chama a prestar atenccedilatildeo

no que estaacute se propondo a dizer em seu texto

Quadro 19 ndash Produccedilatildeo inicial Juacutelia ndash Tiacutetulo Ser chato ou ser legal

1 Ai meu Deus tou de saco cheio de tantos amigos

2 chatos eles ficam com chatice toda hora

3 se na vida tivesse um botatildeo para bloquear

4 as pessoas chatas seria otimo pelomenos

5

6 Eu ficaria com menos pessoas chatas ao

7 meu redor Ai soacute ficaria as pessoas

8 legais

9

10 Eu chamo meus amigos de chatos mais

11 eu gosto deles assim mesmo Eu chamo

12 meus amigos de chatos e eles me chamam

13 de chata tambeacutem e se existisse o botatildeo

14 de bloquear Eu ia ser bloqueada tambeacutem

15 Mesmo se existisse o botatildeo muitas pessoas

16 iam mudar de comportamento eles iriam

17 querer ser legais para natildeo serem bloque-

18 ados Eu mesma ia mudar de atitudes

19 com meus amigos Eu natildeo ia mais

20 ser chata como vaacuterias pessoas me

21 chama Fonte Dados da pesquisa

108

Na linha 1 vemos que a aluna utilizou a expressatildeo Ai meu Deus retirada do texto

trabalhado e que daacute suporte agrave instruccedilatildeo A aluna faz uso da linguagem coloquial na mesma linha

(tou de saco cheio) caracteriacutestica permitida na abordagem de nossas crocircnicas literaacuterias

Eacute interessante perceber que Juacutelia apoacutes se avaliar como chata faz uma reflexatildeo

(linhas 13-14 ldquoe se existisse o botatildeo de bloquear Eu ia ser bloqueada tambeacutemrdquo) E trata da

questatildeo falando de possiacuteveis alteraccedilotildees no comportamento das pessoas incluindo o seu proacuteprio

No entanto apesar de ela levantar essa reflexatildeo natildeo a direciona diretamente ao leitor poreacutem

tem em mente mesmo que superficialmente que sua audiecircncia estaacute nos paracircmetros indicados

pela instruccedilatildeo visto que menciona o botatildeo de bloquear caracteriacutestico de ambientes virtuais

sendo conhecido portanto de pessoas que tecircm acesso ao mundo digital

Quadro 20 ndash Produccedilatildeo final Juacutelia ndash Tiacutetulo Pessoas chatas e pessoas legais

1 Como existem pessoas chatas que ficam

2 dando bola para o que as pessoas falam

3 fica reclamando da vida e tambeacutem quer tudo

4 do seu jeito Natildeo daacute certo ser amiga desse

5 tipo de pessoa

6

7 Prefiro aqueles amigos que sabe lidar

8 comigo que datildeo carinho e que natildeo fique

9 reclamando de tudo e que natildeo sabe relevar

10 os problemas como se nada tivesse acontecendo

11

12 Eu gosto daquelas pessoas que chamam os

13 amigos para um passeio isso sim eacute ser

14 legal tem alguns tipos de amigos que fazem

15 de tudo pra ver seus amigos felizes

16

17 existem alguns amigos que falam

18 com vocecirc uma hora e depois taacute falando

19 mal de vocecirc esse tipo de pessoa faz isso

20 porque eacute falso e tem inveja soacute porque

21 vocecirc eacute feliz com seus amigos e ele (a)

22 natildeo

23

24 e vocecirc leitor Vocecirc eacute chato ou legal

25 Eu tenho poucos amigos mas os que

26 tenho satildeo os melhores

27

28 as pessoas gostam de vocecirc como

29 vocecirc eacute ou natildeo

30

31 Existem ateacute aquele tipo de pessoa

109

32 que humilha as pessoas nas redes

33 sociais pessoas que fazem bullying

34 com outras pessoas esse tipo de pessoa

35 satildeo muito chatas Fonte Dados da pesquisa

A aluna produziu sua nova versatildeo de texto sobre as discussotildees em sala de aula que

antecederam esse momento da reescrita Os alunos determinaram exemplos do que seria ser

legal e ser chato e ela os aproveitou na enumeraccedilatildeo em seu texto No entanto de alguma forma

Juacutelia imprimiu sua reflexatildeo pessoal sobre o que eacute legal e o que eacute chato Nas linhas 1-5 ela afirma

o quatildeo difiacutecil eacute ser amiga de pessoas que atribuem muita importacircncia ao que outras pessoas

dizem que ficam reclamando da vida e tambeacutem querem tudo do seu jeito Nas linhas 7-10 e

12-15 ela explicita suas preferecircncias por pessoas que considera legais e exemplifica Nas linhas

17-22 Juacutelia diz que tipo de pessoas satildeo chatas novamente

Poreacutem o que parece ter acontecido eacute que Juacutelia natildeo teria ainda compreendido que

era para partir de uma experiecircncia vivida ou observada aprofundando-se um pouco mais na

narrativa

Ao todo o texto comporta agora 7 paraacutegrafos que poderiam ter sido mais bem

organizados Nas linhas 24-29 A7 aborda sua audiecircncia diretamente tratando-a por vocecirc

lanccedilando-lhe perguntas Esse seria o momento em que o texto acabaria poreacutem convidada a

reler mais uma vez a autora percebeu que natildeo abordou a proposta da instruccedilatildeo que era bloquear

os chatos da vida real nem havia tambeacutem abordado questotildees tocantes agraves redes sociais

finalizando portanto com um paraacutegrafo que fizesse o resgate ainda a tempo mesmo que

perdendo um pouco do ritmo do texto

Quadro 21 ndash Produccedilatildeo inicial Vicente ndash Tiacutetulo A pergunta eacute se eu bloquearia uma pessoa chata

1 Bom gente vocecirc bloquearia uma pessoa

2 chata que bertuba-se voccedilecirc nas redes

3 sociais

4

5 A pergunta eacute se eu bloquearia uma pess-

6 oa chata ovio que sim por que Por que

7 se eu natildeo bloqueaccedile essa pessoa ia ficar

8 mim perturbandando ai eu ia ficar com

9 muita raiva ai eu ia falar aquelas coisas

10 maeducada como xingar fala coisas que natildeo

11 pode falar porisso eu bloquei essa pessoa

12 ai ateacute que foi bom bloquear essa pessoa

110

13 por que ela natildeo ia ficar mim perturbando natildeo

14 ia ficar falando como tomar certas liberdades

15 mas chegou uma hora que natildeo deu bloquei o

16 sujeito Estava chato demais Xxxx

17

18 Uma pessoa chata eu sou uma pessoa

19 chata por que quando eu estou no whats

20 natildeo tem nenhuma pessoa olaine eu fico man-

21 dando mensagens pra essas pessoa ai essa pes-

22 soas natildeo gosta e fala que eu sou chato triste

23 neacute kkkk Fonte Dados da pesquisa

Parece-nos que Vicente tem por meacutetodo iniciar a escrita de seu texto respondendo

diretamente agrave pergunta que foi feita na instruccedilatildeo e fazendo disso seu tiacutetulo inclusive Serafini

(2003 p 71) chama a esse tipo de paraacutegrafo de introduccedilatildeo-enquadramento (cf na seccedilatildeo sobre

escrita) O texto inteiro possui 3 (trecircs) paraacutegrafos

Nas linhas 14 a 16 vemos que houve coacutepia de excertos do texto motivador O chato

da vez (ldquotomar certas liberdadesrdquo ldquomas chegou uma hora que natildeo deurdquo ldquobloquei o sujeito

Estava chato demaisrdquo)

No iniacutecio do texto logo nas linhas 1-2 Vicente tem em mente uma audiecircncia como

vemos em ldquoBom gente vocecirc bloquearia uma pessoa chata que bertuba-se voccedilecirc nas redes

sociaisrdquo Poreacutem o aluno natildeo define se vai falar a um grupo (gente) ou a uma pessoa soacute (vocecirc)

Para atender agrave instruccedilatildeo Vicente trata de situaccedilotildees vividas em ambiente online quando se

refere ao aplicativo de interaccedilatildeo (linha 19 ldquoquando eu estou no whatsrdquo) fala do envio de

mensagens e traz um elemento multimodal ao final de seu texto (linha 23 ldquokkkkrdquo) que

caracteriza a gargalhada frequentemente usada em conversas online

Quadro 22 ndash Produccedilatildeo final Vicente ndash Tiacutetulo

1 Bom uma pessoa legal eacute ter paciensia

2 criativa uma pessoa legal animada inteligente

3 adoraveu feliz simpatica bom humor natildeo ser

4 groseiro com as pessoas simpatica conversar com

5 as pessoas legal

6

7 Ser chato Eacute uma pessoa que faz varias

8 perguntas como quando onde que horas etc

9 ser chato e pegar no peacute de varias pessoas e ser

10 ensorportavel pessoas chatas deveriam refletir

11 sobre a paciecircncias das outras pessoas uma

111

12 pessoa que tem pouca paciecircncia e bem

13 difiacutecil conviver com uma pessoa chata

14

15 Um chato ser legal e muito estranho

16 para queacutem conhece uma pessoa chata e bem

17 dificil ele ser legal soacute se acontecer aguma

18 coisa para ele ser legal um dia uma meni-

19 na ficou fazendo vaacuterias perguntas sobre a minha

20 vida natildeo gostava das perguntas que ela fazia

21 e falei coisa que natildeo devia no outro dia eu notei

22 o comportamento dela estava estranho tipo compor-

23 tada legal uma pessoal de bom humor natildeo parecia

24 com ela estava estranha e foi indo assim

25 e ela veio falar com migo e nunca mais per aquelas

26 perguntas hoje ela eacute legal gostei dela ter

27 mudado natildeo soacute eu mas muitas pessoas Fonte Dados da pesquisa

Vicente iniciou seu texto reescrito apoacutes as discussotildees em sala retirando a pergunta

direta que fazia para inspirar-se para comeccedilar e passando a uma conclusatildeo direta (linha 1

ldquoBomrdquo) sobre as caracteriacutesticas de uma pessoa legal seguindo a isso um paraacutegrafo do que eacute ser

chato Apesar de o texto ter perdido em atratividade em seu iniacutecio Vicente atendeu agrave sugestatildeo

que fizemos quando pedimos que ele mencionasse uma situaccedilatildeo que tivesse

vivenciadoobservado

No entanto perdeu de vista a instruccedilatildeo uma audiecircncia que acesse as redes sociais

a questatildeo do bloquear na vida real o contato direcionado ao leitor

Quadro 23 ndash Produccedilatildeo inicial Graccedila ndash Tiacutetulo Rafaelly chata

1 Eu quero bloqueia essa

2 pessoa porque primeiramente

3 ela natildeo tem nem celula

4 entatildeo neste caso natildeo da pra bloqueia

5 ela As vezes essa pessoa ela e

6 um pouco chata fresca e sem

7 graccedila com todo respeito Algumas

8 vezes ela fala um pouco de

9 besteira e isso torna ela uma

10 pessoa chata Eu conheci essa

11 pessoa na escola so que agora

12 ela natildeo tem a mesma idade

13 que eu tenho a uacutenica rede social

14 que ela tem e o Facebook

15

112

16 Mais mi responde leitor o que

17 vocecirc acha sobre as pessoas

18 chatas

19

20 Pensando bem ela e uma

21 pessoa muito legal toda doidi-

22 nha amigaacutevel e amorosa etc

23 O que eu gosto mais nela

24 e que ela e sincera e indireta

25 e eacute bom de dar conselhos por

26 isso que eu amo a chatice

27 dela e ela se chama Rafaelly Fonte Dados da pesquisa

Neste texto a autora faz uma reflexatildeo sobre a amiga partindo de uma ideia inicial

que eacute a chatice da Rafaelly para a consideraccedilatildeo dos pontos positivos que a mesma Rafaelly tem

(ldquoPensando bemrdquo)

Houve uma maacute interpretaccedilatildeo da instruccedilatildeo quanto ao entendimento do que seria

bloquear uma pessoa na vida real como comprovamos nas linhas 2-5 ldquoprimeiramente ela natildeo

tem nem ceacutelula entatildeo neste caso natildeo da pra bloqueia elardquo

Nas linhas 16-18 A9 tem em mente uma audiecircncia como vemos em ldquoMais mi

responde leitor o que vocecirc acha sobre as pessoas chatasrdquo

Quadro 24 ndash Produccedilatildeo final Graccedila ndash Tiacutetulo Chata ela ou EU

1 Mi responde leitor o que

2 vocecirc acha sobre as pessoas cha-

3 tas

4

5 E vocecirc leitor Vocecirc e chato

6

7 Certo dia uma amiga veio

8 falar um monte de bobagens coisa-

9 s que natildeo tinha nada haver

10 ou seja coisas sem graccedilas Eacute eu

11 disse vocecirc e muito chata sabia

12 Ela falou ndash vocecirc tambeacutem fiquei

13 brava

14

15 Logo seguinte eu queria

16 bloquea ela porque tinha mi

17 chamado de chata mas tinha

18 um problema era que primeira-

19 mente ela natildeo tinha nem

113

20 celular entatildeo neste caso natildeo da-

21 va para bloquea o unico lugar

22 que dava pra bloquea ela era

23 no Facebook

24

25 Mais pensando bem ela

26 e uma pessoa muito legal to-

27 da doida amigavel e amorosa etc

28 O que eu acho legal nela e a sinceridade dela ajuda as

29 pessoa sabe releva os problemas

30

31 Natildeo vou nega que tambeacutem

32 sou uma pessoa chata Fonte Dados da pesquisa

Nas linhas 1-3 e linha 5 Graccedila teve em vista uma audiecircncia como vemos em ldquoMi

responde leitor o que vocecirc acha sobre as pessoas chatasrdquo e ldquoE vocecirc leitor Vocecirc e chatordquo Em

sua reescrita a aluna se comunica com o leitor de forma expliacutecita inspirada no modelo do texto

O chato da vez

Percebemos que ela atendeu a sugestatildeo de partir de uma situaccedilatildeo vividaobservada

para compor sua crocircnica (linha 7 ldquoCerto dia uma amiga []rdquo) desenvolvendo seu texto no

sentido de apresentar a seu leitor sua ideia do que eacute ser chato e ser legal a partir do que expotildee

e conduz seu fio tocando na instruccedilatildeo que sugere a inspiraccedilatildeo de bloquear uma pessoa na vida

real Poreacutem percebemos que ela natildeo extrapolou os limites do ambiente virtual criando uma

situaccedilatildeo de botatildeo de bloqueio da vida real para evitar as pessoas que ela considera chatas mas

condicionando o bloqueio meramente agraves redes sociais

Quadro 25 ndash Produccedilatildeo inicial Lilian ndash Tiacutetulo Meus amigos chatos e Eu

1 Eu tenho um amigo muito chato ele

2 fica o tempo todo pegando no

3 meu peacute as vezes eu comeccedilo

4 a chamar ele de chato ai ele

5 fica uns dias estranho comigo

6 mas depois agente comeccedila

7 se falar de novo

8

9 Eu queria pra existir um

10 botatildeo pra bloquear meus amigos

11 chatos porque eles pegam muito

12 no meu peacute eu chama eles

13 de chatos mas eu tambeacutem sou

14 chata e muito chata se existisse

114

15 o botatildeo pra bloquear as pessoas

16 chatas eu tambeacutem ia ser bloqueada

17 porque eu sou muito chata eu

18 natildeo queria ser chata eu queria

19 ser legal eu sou chata porque

20 quando eu comeccedilo falar eu natildeo

21 quero parar ai minhas amigas

22 ficam dizendo que eu sou muito

23 chata mais mesmo assim sou

24 feliz Fonte Dados da pesquisa

Lilian parte de uma situaccedilatildeo vivenciada (linhas 1-7) em que fala de um amigo

muito chato e usa a expressatildeo ldquopegar no peacuterdquo como em O chato da vez Nas linhas 17 a 24

Lilian tambeacutem diz porque ela seria uma pessoa chata ndash comeccedila a falar e natildeo quer parar Por

isso ela desejaria o botatildeo de bloquear na vida real como dito na questatildeo 7 que traz a instruccedilatildeo

de produccedilatildeo No entanto as situaccedilotildees natildeo estatildeo bem desenvolvidas e natildeo prendem o leitor que

aliaacutes natildeo eacute inserido no texto na ldquoconversa com o leitorrdquo Natildeo observamos uma percepccedilatildeo clara

da ideia de redes sociais

Quadro 26 ndash Produccedilatildeo final Lilian ndash Tiacutetulo Pessoas legais e chatas

1 Existem pessoas chatas e

2 outras legais conheccedilo alguns amigos que

3 satildeo um pouco chatos porque eles

4 ficam reclamando da vida eles ficam

5 dando importacircncia para os que os

6 outros falam desse jeito natildeo daacute

7

8 Mais eu tenho alguns amigos

9 que vivem fazendo piadas para seus

10 amigos Gosto do jeito que eles tratam

11 seus amigos eles levam eles pra

12 um passeio levam para o cinema

13 datildeo carinho sabem relevar os problemas

14 mas eu conheccedilo uns que falam comigo

15 mas depois tatildeo falando mal de mim

16 pela minha costa

17

18 Eu me acho uma pessoa

19 muito chata porque eu gosto

20 de tudo do meu jeito reclamo de

21 tudo dou importacircncia pra tudo

22 que as pessoas falam mais

115

23 as vezes eu soacute um pouco legal

24 com minhas amigas E vocecirc leitor

25 eacute chato ou legal as pessoas gostam

26 de vocecirc Fonte Dados da pesquisa

Apoacutes a tempestade de ideias da aula destinada agrave reescrita Lilian produziu 3 (trecircs)

paraacutegrafos e dedicou um a mostrar o que eacute ser chato e o seguinte ao que eacute ser legal em sua

opiniatildeo Na reescrita a aluna jaacute considera a audiecircncia conversando com o leitor (linhas 24-26)

poreacutem se distancia do que consta na instruccedilatildeo que eacute o bloqueio na vida real imitando as redes

sociais Ainda percebemos repeticcedilotildees de palavras que poderiam se tivesse havido uma nova

leitura ter sido evitadas

Podemos dizer que Lilian nos permite refletir sobre o comportamento humano

quando diz ldquomas eu conheccedilo uns que falam comigo mas depois tatildeo falando mal de mim pela

minha costardquo (linhas 14-16) poreacutem ela natildeo desenvolve a ideia apropriadamente no paraacutegrafo

seguinte como ela mesma havia dito em sala que falam mal dela porque ela tem o gecircnio difiacutecil

como ela descreveria em ldquoeu gosto de tudo do meu jeitordquo (linhas 19-20) De algum modo

podemos dizer que esse desdobramento de paraacutegrafos jaacute eacute uma evoluccedilatildeo na escrita de Lilian

Quadro 27 ndash Produccedilatildeo inicial Heloiacutesa ndash Tiacutetulo ldquoChato mais eacute muito legalrdquo

1 Tenho um amigo que ele eacute legal

2 mas tambeacutem eacute chato ao mesmo

3 tempo mais gosto da companhia

4 dele Mais quando chega a chatice

5 natildeo da pra aguentar ele comeccedila

6 a fala fala e fala eacute senpre o

7 mesmo assunto algo que natildeo

8 gosto ldquojogordquo

9

10 Taacute toda hora mandando mensage-

11 m daacute raiva mas neacute

12 Somos muito amigo nas

13 redes sociais posta fotos toda

14 hora Mas eacute muito legal sempre

15 faz brincadeiras pelo zapp

16

17 Eu poderia bloquialo mais

18 eacute muito legal telo como amigo

19

20 Gosta de pegar no meu peacute

21 quando o assunto eacute estudo mim

116

22 da sempre vaacuterios concelhos

23

24 Por mais que seja meu amigo vocecirc

25 eacute muito chatooo Fonte Dados da pesquisa

O texto foi escrito em 5 (cinco) paraacutegrafos Natildeo traz marcas explicitas de conversa

com o leitor e haacute um tangenciamento do que pede a instruccedilatildeo visto que a autora falou de

bloqueio No entanto natildeo houve real compreensatildeo do botatildeo de bloqueio da vida real visto que

ela se refere a um bloqueio nas redes sociais Percebemos o uso do coraccedilatildeo ao fim do penuacuteltimo

paraacutegrafo (linha 22) como sendo um recurso multimodal utilizado em meio virtual para

demonstrar agrado agrave ideia (curti)

Houve neste texto uma mudanccedila de interlocutor Inicialmente voltado para uma

audiecircncia mesmo que natildeo se dirigisse diretamente ao leitor o texto passou a ser direcionado

para o amigo chato de Heloiacutesa

Haacute a frequente repeticcedilatildeo do termo mas poreacutem sem uma forma consolidada de uso

visto que Heloiacutesa emprega mas e mais alternadamente

Quadro 28 ndash Produccedilatildeo final Heloiacutesa ndash Tiacutetulo ldquoO melhor chatordquo

1 Vol falar um pouco do meu

2 amigo

3

4 Ele se chama Daniel ele eacute uma

5 boa pessoa estaacute sempre mi

6 ajudando eacute um bom amigo e mim

7 da sempre forccedila pra tudo gosto

8 muito da conpanhia dele

9

10 E vocecirc leitor Vocecirc eacute chato

11

12 Somos chatos tenho 15 anos e sei

13 que chatise eacute estado de espirito

14

15 Ele eacute chato em vez enquando

16 ele eacute muito quando ele me

17 ajuda em algo ele mim trata

18 surper bem ele mim dar muito

19 carinho ele mim oferece cumida

20 quando estou na casa dele

21 natildeo gosta de criticar as pessoas

22

117

23 Ele eacute chato quando reclama

24 de tudo quer tudo do seu jeito

25 que ele conbina da ouvidos a

26 tudo o que falam ele fala demais Fonte Dados da pesquisa

Essa aluna se valeu do que discutimos em sala no dia em que propusemos a reescrita

sobre o que poderiam ser atitudes de uma pessoa legal A turma presente enumerou accedilotildees como

dar carinho oferecer comida ouvir as pessoas atenciosamente tratar bem natildeo criticar as

pessoas como sendo de pessoas legais ao passo que reclamar de tudo soacute querer as coisa do seu

jeito dar ouvidos a fofocas e falar demais como sendo atitudes de pessoas chatas Mencionar

um amigo e descrever atitudes dele eacute um princiacutepio do que conversamos sobre fornecer a

descriccedilatildeo de alguma pessoa e narrar uma situaccedilatildeo No entanto a aluna natildeo aprofundou a

descriccedilatildeo das caracteriacutesticas do amigo ndash apenas nomeou ndash e nem narrou a situaccedilatildeo sugerida

A reescrita foi feita em 6 (seis) paraacutegrafos dentro do que sugere a instruccedilatildeo O seu

primeiro traz uma introduccedilatildeo que chama a atenccedilatildeo preparando o leitor para o que vem a seguir

no texto Consideramos um avanccedilo no sentido de que Heloiacutesa jaacute parece ter feito um plano

melhor de escrita o que pode se consolidar em propostas futuras O segundo paraacutegrafo foi clara

paraacutefrase do texto motivador ldquoO chato da vezrdquo (linhas ldquosei que chatise eacute estado de espiritordquo)

Percebemos diminuiccedilatildeo nas repeticcedilotildees desnecessaacuterias

Na PF a aluna manteve o foco narrando o que lhe acontece descrevendo seu

amigo sem deixar o leitor para conversar com este amigo

Quadro 29 ndash Produccedilatildeo inicial Eliane ndash Tiacutetulo Um pouco de tudo

1 Ai gente nesse mundo agrave

2 muitas pessoas chatas

3 pois eu conheci pessoas

4 chatas e legais

5

6 Na adolecircncia conhecemos

7 pessoas numa pat-papo com

8 os amigos conheci uma

9 amiga pois conversamos e

10 ali natildeo parou mais de

11 falar

12

13 Num sentido e que ela

14 era muito cheia de

15 nheacutem-nheacutem de papo nada

16 ver O egrave o meu pensamento

118

17 que mim engana Mais eu

18 natildeo acho ela chata

19

20 De um tempo pra caacute nos

21 damos muito bem parti-

22 cularmente nos casos eu e ela

23 descordamos de tudo que

24 falamos mas eu acho que

25 duas chatas se dam muito

26 bem Na vida real parece um

27 mundo digital nos natildeo

28 paramos para pensamos nos

29 casos da vida social pessoas

30 postam coisas invalida na

31 rede sociais Fonte Dados da pesquisa

Para a produccedilatildeo inicial Eliane buscou elementos dos textos que lemos em sala De

Prova Falsa percebemos o uso da expressatildeo ldquoera muito cheia de nheacutem-nheacutemrdquo (linhas 14-15)

quando quis falar da amiga com comportamentos chatos De O chato da vez a partiacutecula ldquoAirdquo

como em ldquoAi genterdquo (linha 1) logo no iniacutecio mostra que o texto tem ares coloquiais com

linguagem despojada

Atraveacutes da coloquialidade Eliane se dirige ao leitor poreacutem ficou confuso o

desenvolvimento do tema na conversa proposta na instruccedilatildeo que seria o bloqueio das pessoas

na vida real No tocante ao assunto abordado na instruccedilatildeo Eliane fala de ser chato e ser legal

e menciona as redes sociais poreacutem seu texto entre as linhas 26 e 31 (ldquoNa vida real parece um

mundo digital nos natildeo paramos para pensamos nos casos da vida social pessoas postam coisas

invalida na rede sociaisrdquo) natildeo teve desenvolvimento quebrando assim a coerecircncia

Quadro 30 ndash Produccedilatildeo final Eliane ndash Tiacutetulo O que e chato e o que e legal

1 Ai gente eu sou muito chata

2 Afirmou uma amiga em um bate-papo

3 com os colegas Eu natildeo te acho chata

4 vc e uma pessoa carinhosa aceitar

5 as diferenccedilas dos outros

6

7 Pois eacute muitas pessoas tem suas referen-

8 ccedilas mas isso natildeo quer dizer que

9 todos que estatildeo aqui satildeo chatos

10 Adriana ela e companheira Delci e

11 carinhosa

119

12

13 Mais alguns tem outro estorico de

14 pensamento por exemplo O Luis reclamar

15 demais Rosi e falza Eu particularmente

16 faccedilo de tudo pra natildeo ser chata

17 tento conversar da maneira possiacutevel

18 ajudar as pessoas em tudo quer

19 posso

20

21 Por isso tem um sentido de tudo

22 seja o que vc eacute natildeo o que as

23 pessoas queram o que vc sejam

24 mas que seja uma pessoa dignar Fonte Dados da pesquisa

A PF de Eliane possui tiacutetulo agora mais direcionado agrave instruccedilatildeo visto que a aluna

considerou falar a respeito do que para ela eacute ser chato e o que eacute ser legal O primeiro paraacutegrafo

do texto (linhas 1-5) eacute uma paraacutefrase do paraacutegrafo inicial do texto motivador poreacutem conteacutem o

teor da tempestade de ideias realizada antes da produccedilatildeo

O paraacutegrafo seguinte eacute interessante porque traz em si a ideia de ponto de vista e

toleracircncia afinal todos tecircm defeitos (ldquomas isso natildeo quer dizer que todos que estatildeo aqui satildeo

chatosrdquo linhas 8-9) mas qualidades tambeacutem (ldquoAdriana ela e companheira Delci e carinhosardquo

linhas 10-11) Houve uma evoluccedilatildeo na organizaccedilatildeo dos paraacutegrafos

Houve emprego adequado dos sinais de pontuaccedilatildeo dois-pontos e a viacutergula como

em ldquopor exemplo O Luis reclamar demais Rosi e falzardquo (linhas 14-15)

Eliane em sua reescrita atendeu agrave sugestatildeo de utilizar exemplos podendo colocar

personagens no seu texto No entanto percebemos que ela ainda natildeo compreendeu que para

tanto seria necessaacuterio mais que apenas nominar pessoas e adjetivaacute-las mas realmente fazer um

exerciacutecio de descriccedilatildeo mais detalhado fazendo seu leitor compreender por que ldquoO Luis

reclamar demaisrdquo (linhas 14-15) e a ldquoRosi e falzardquo (linha 15) por exemplo

Quanto agrave audiecircncia Eliane entende que conversa com um leitor como vemos por

exemplo em ldquoseja o que vc eacute natildeo o que as pessoas queram o que vc sejamrdquo (linhas 22-23)

poreacutem natildeo manteacutem o foco visto que mistura a audiecircncia com o personagem ldquoEu natildeo te acho

chata vc e uma pessoa carinhosardquo (linhas 3-4)

O texto natildeo atende agrave proposta de considerar o botatildeo de bloqueio na vida real como

consta da instruccedilatildeo

120

Quadro 31 ndash Produccedilatildeo inicial Joana ndash Tiacutetulo Pessoas chatas e outras legal

1 Pessoas chatas tem muitas pessoas que diz

2 que a outra e chata tem pessoas chata satildeo

3 aquelas que fazem muitas perguntas que saber

4 da vida do outro essas pessoas se torna muito chata

5

6 Muitas pessoas no Facebook que eu natildeo gosto de aceita

7 porque jaacute cei que ela e muito chato jaacute bloquei

8 muitas pessoas nesse caso de se chato deacute mas

9 porque fica mandando mensagem sem noccedilatildeo que

10 rendo saber da sua vida isso que eacute chato

11 pra mim pessoas que tu natildeo suporta se fose

12 eu bloquairia case todo mundo

13

14 Pra mim pessoas legal e aquelas que teu

15 jaacute persebe pelo jeito dessa pessoa eu tenho

16 uma amizade muito legal pra mim eu sou

17 uma menina que faso amizade muito raacutepdo

18 mas as mizades que eu fasso eu percebo logo

19 se essa amizade vai ser boa ou natildeo tenho mui

20 tas pessoas no face que eu acho legal que satildeo

21 boa de se se conversa natildeo faiz ldquomuitas perguntasrdquo

22 e muito bom ter uma amizade legal

23 pessoas legais satildeo oacutetimas de conversa natildeo tir inte

24 ronper quando tu taacute falando essa que satildeo pra

25 mim pessoas legais eu acho que tenho

26 muitas pessoas legal Fonte Dados da pesquisa

Podemos dizer que Joana criou seu texto em trecircs paraacutegrafos apesar de natildeo haver

um ponto para demonstrar se era realmente o final ou se ela desejava continuar escrevendo

Aliaacutes seus paraacutegrafos natildeo trazem pontuaccedilatildeo mostrando que o fluxo das ideias foi contiacutenuo

natildeo havendo o procedimento de elaboraccedilatildeo do rascunho para a seguir passar a limpo

concatenando melhor as ideias

Seu tiacutetulo natildeo foi atrativo poreacutem foi relativo ao assunto da instruccedilatildeo Em se

tratando do desenvolvimento do tema a aluna tem em mente o que eacute ser chato e o que eacute ser

legal poreacutem natildeo extrapola na compreensatildeo visto que desenvolve um paraacutegrafo descrevendo

seu procedimento na rede social natildeo fazendo a analogia com a vida real e o botatildeo de bloqueio

Natildeo houve a consideraccedilatildeo da audiecircncia nem a conversa com o leitor pedida na

instruccedilatildeo

121

Quadro 32 ndash Produccedilatildeo final Joana ndash Tiacutetulo Pessoas otimas

1 Ser legal e vocecirc tendo humildade com

2 uma pessoa ajuda ela em tudo que vocecirc

3 porde ter um pouco de paciecircncia com essa

4 pessoa vocecirc tecircm que ter amor por ela eacute com-

5 sidera ela como sua amiga ou irmatildeo tecircm

6 varias coisas pra vocecirc ser torna uma otima

7 pessoa Pra mim ser legal com migo eacute min

8 trata bem o que eu perdi tem que min da

9 e se min dar todo dia uma caixa de bombo

10 Garoto esse se torna oacutetimo pra mim

11

12 pessoas chatas e aquela que critica muito

13 as pessoas natildeo sabendo da vida dela sair

14 falando dela pra todo mundo chato e

15 aquela que quer saber de mais da sua

16 vida se torna iguinorante ETC temos que

17 ter mas um pouco de humo com essas

18 eu natildeo suporto pessoas chata se puder

19 nem fala com migo seria melhor ainda Fonte Dados da pesquisa

Apoacutes a tempestade de ideias da aula destinada agrave reescrita Joana reescreveu seu

texto em dois paraacutegrafos dedicando um a mostrar o que eacute ser chato e o seguinte ao que eacute ser

legal em sua opiniatildeo No entanto natildeo parece ter compreendido que natildeo bastava elencar

situaccedilotildees do que eacute ser chato e ser legal mas contar narrar situaccedilotildees vivenciadas ou observadas

a fim de entreter seu leitor

Na reescrita a aluna natildeo considera a audiecircncia visto que seu texto parece mais

trazer em si opiniotildees sem incitar reflexotildees Joana se distancia do que consta na instruccedilatildeo que

eacute o bloqueio na vida real imitando as redes sociais apenas afirma nas linhas 18-19 que ldquoeu

natildeo suporto pessoas chata se puder nem fala com migo seria melhor aindardquo Seu tiacutetulo soacute tratou

agora de um lado do comportamento humano (ldquoPessoas otimasrdquo) e deve ter sido colocado apoacutes

a finalizaccedilatildeo do texto quando foi verificar se havia tiacutetulo

Assim apoacutes a anaacutelise dos textos A dos alunos percebemos a evoluccedilatildeo dos itens

presentes e os distribuiacutemos no quadro autoavaliativo

Durante a produccedilatildeo dos textos observamos os alunos presentes procurando

perceber algo sobre seu processo de planejamento de escrita O que foi detectado nas primeiras

produccedilotildees poucos deles fizeram um rascunho antes de escreverem na folha de produccedilatildeo

recebida alguns textos jaacute deram sinais de que alguns alunos entenderam o que eacute a ldquoconversa

122

com o leitorrdquo alguns partiram de uma situaccedilatildeo vividaobservada para compor seu texto no

entanto mais parecendo um relato pessoal ou um diaacuterio pessoal do que uma abordagem de

crocircnica poucos narraram essa situaccedilatildeo de forma clara para que o leitor pudesse acompanhar

poucos posicionaram o foco narrativo de maneira adequada vaacuterios apenas tangenciaram a

proposta de produccedilatildeo Essas dificuldades constituiacuteram o cerne a ser explorado nas atividades

dos moacutedulos aplicados nos encontros da sequecircncia

Podemos estabelecer um graacutefico para melhor visualizaccedilatildeo dos resultados ateacute essa

etapa

Graacutefico 7 ndash Avaliaccedilatildeo das crocircnicas A

Fonte Dados da pesquisa

Como vemos houve na maioria dos itens avaliados uma sensiacutevel melhora apesar

das dificuldades ainda apresentadas Percebemos que vaacuterios alunos ainda focam em apenas

alguns aspectos do texto que conteacutem a instruccedilatildeo de produccedilatildeo deixando de contemplar o todo

como por exemplo o botatildeo de bloquear na vida real ndash diversos alunos natildeo atingiram esse

objetivo no texto acreditamos que porque lhes faltou uma releitura direcionada para verificaccedilatildeo

de tudo o que havia sido pedido Isso nos mostra que os alunos ao tomarem contato com seus

textos de uma primeira produccedilatildeo escrita se orientados a ter um pouco mais de paciecircncia sem

a urgecircncia de entregar logo a tarefa e se incentivados a reler se autoavaliar e a ouvir sugestotildees

0

2

4

6

8

10

12

14

Avaliaccedilatildeo das crocircnicas A

PI PF

123

podem sim progredir no sentido de se tornarem escritores mais haacutebeis enquanto conscientes

das etapas que regem o processo de escrita de textos

532 Produccedilotildees B textos para circulaccedilatildeo social

A produccedilatildeo para circulaccedilatildeo social foi chamada de produccedilatildeo B e corresponde ao

trabalho com um puacuteblico que variou entre 4 (quatro) a 8 (oito) alunos frequentes dentre os

quais apenas 4 (quatro) produziram o texto para fins de circulaccedilatildeo social real Nesta etapa

foram realizados 5 (cinco) encontros com duraccedilatildeo de 10 (dez) horasaula e leitura de quatro

crocircnicas ineacuteditas para os alunos (A cara da rua A carta de punho Amor de Macumba e Sr

Google Pacheco) e atividades correspondentes

A leitura desses textos foi produtiva para a classe no sentido de compreender que

cada crocircnica traz em si o resultado da reflexatildeo que o cronista consegue realizar das situaccedilotildees

que vivencia ou observa Identificar as situaccedilotildees geradoras das crocircnicas lidas ao longo dos

moacutedulos fez parte do trabalho que conduziu os alunos a falar de vaacuterios assuntos que poderiam

tornar-se temas de textos Copiamos no quadro e eles nos cadernos Eram temas do cotidiano

como assalto relaccedilotildees sociais vida de youtuber bullying fome cujas situaccedilotildees jaacute

observadasvivenciadas por eles mesmos poderiam render uma reflexatildeo

Aparentemente a dificuldade maior dos alunos eacute em expressar essa situaccedilatildeo sem

que ora pareccedila um relato iacutentimo como diaacuterio ou memoacuterias pois a natural disposiccedilatildeo de seus

textos traz uma sequecircncia narrativa um relato de emoccedilotildees pessoais poreacutem natildeo necessariamente

conduz o leitor a uma reflexatildeo ora por vezes pause a narraccedilatildeo e interaja com o leitor por meio

de perguntas ou ainda faccedila um texto com forccedila injuntiva ou com moral da histoacuteria

Para a escrita e a reescrita do texto desta etapa a PF-B incentivamos nossos alunos

a utilizar o quadro autoavaliativo tocando nos pontos mais sensiacuteveis identificados desde a PI-

A Natildeo foi estipulado um nuacutemero de paraacutegrafos deixando os alunos agrave vontade para produzir

Consideramos como audiecircncia um puacuteblico leitor que tivesse sua idade aproximadamente que

entendesse seus problemas dilemas alegrias que fizesse parte de seu mundo frequentando a

escola tendo amigos observando qualidades boas do ser humano ou mazelas da vida podendo

esse puacuteblico acessar redes sociais ou natildeo De toda forma o ideal seria conversar com o leitor

sobre questotildees cotidianas situando-o no tempo e no espaccedilo da crocircnica O texto B foi

integralmente produzido em meio digital a pedido dos proacuteprios alunos por celular ou

computador conforme o material que tivessem disponiacutevel em matildeos e nenhum foi produzido

124

em sala limitado pelo horaacuterio de aula No entanto foi feito o acordo dos prazos de entrega de

cada texto a fim de podermos imprimir e levar para trabalho de leitura releitura feedback da

professora-pesquisadora feedback dos colegas permitindo a cada autor reflexatildeo sobre o texto

e possibilitando a reescrita

Os alunos que se engajaram na produccedilatildeo da crocircnica para circulaccedilatildeo social foram os

alunos Ana Rodrigo Eduardo e Estela Os tiacutetulos das produccedilotildees inicial e final estatildeo no quadro

a seguir

Quadro 33 ndash Tiacutetulos das produccedilotildees para circulaccedilatildeo social

Tiacutetulo PI-B PF-B

Ana PROIBIDA DE ACHAR

GRACcedilA

Rodrigo Vida de preguiccediloso VIDA DE PREGUICcedilOSO

Eduardo INFAcircNCIA FELIZ

Estela ldquoDown= bullyingrdquo DOWN= BULLYING

Fonte Dados da pesquisa

Esses textos diferentemente das produccedilotildees A foram escritos utilizando aparelhos

de celular O acordo foi feito com os alunos em virtude da preferecircncia destes em gostarem de

escrever utilizando-se da tecnologia facilitando o registro a releitura e a reescrita segundo eles

mesmos visto que o meio virtual tambeacutem atenderia a ideia da circulaccedilatildeo dos textos A anaacutelise

das produccedilotildees B estaacute descrita ao longo desta seccedilatildeo

Quadro 34 ndash PIB Ana

1

2

3

Que situaccedilatildeo Eacute o que penso ateacute hoje Pude presenciar um niacutevel de babaquice

e de falta do que fazer de uma garota da minha escola que pra ser sincera eu nem ao

menos sei o nome dela

4

5

6

7

8

Tava eu junto com mais quatro amigos na cantina da minha escola no

finalzinho do recreio estaacutevamos rindo e conversando como sempre Chegaram duas

meninas de outra sala que eu nunca falei nem sabia de onde saiacuteram natildeo sabia nada

sobre ela poreacutem sei que sabiam sobre mim coisas do tipo novata do 9 ano meio

doida duvido se natildeo sabiam ate meu nome Bem nem tava prestando atenccedilatildeo nelas

125

9

10

11

12

13

14

15

16

17

Quando meu amigo brincou eguas de novo Sorriu e depois pediu

desculpas logo que percebeu o tamanho das meninas e todo mundo riu quando ele

brincou EU JURO que fiquei seacuteria mas natildeo aguentei quando ele pediu desculpas

com medo de levar uns supapos Foi entatildeo que comecei a rir e umas das meninas olhou

pra mim com uma cara super ameaccediladora dizendo tu ta rindo do que Ta achando

graccedila eacute Cara tinha quatro pessoas aleacutem de mim QUATRO seacuterio que ela

enchergou soacute a mim ali Eacute ser muito babaca pra chegar em um ponto desse minha

uacutenica reaccedilatildeo foi natildeo pera ela taacute falando comigo serio isso Gente Qual o nome

dela algueacutem aqui a conhece SOCORRO

18

19

Ate hoje me pergunto qual o problema dela Mas prefiro nem chegar perto

Vai que essa doenccedila pega

Fonte Dados da pesquisa

O texto de Ana foi composto de 4 (quatro) paraacutegrafos Sua conversa com o leitor

natildeo eacute com elementos expliacutecitos como na instruccedilatildeo sugerida na produccedilatildeo A mas percebe-se que

ela se importa com uma audiecircncia visto que narra para uma pessoa explicando a situaccedilatildeo

vivenciada contando ao seu leitor suas impressotildees mostrando as falas que ocorreram dando a

perceber os outros personagens que entraram na histoacuteria

As notaccedilotildees linguiacutesticas para indicar intensidade surpresa e algumas viacutergulas estatildeo

razoavelmente bem empregadas como vemos em ldquoeguas de novordquo (linha 9) que separa a

expressatildeo de surpresa ldquoeacuteguasrdquo com uma viacutergula e finaliza a frase com interrogaccedilatildeo

acompanhada de exclamaccedilatildeo atribuindo maior intensidade agrave fala

Quadro 35 ndash PFB Ana ndash Tiacutetulo PROIBIDA DE ACHAR GRACcedilA

1

2

3

E que situaccedilatildeo Eacute o que eu penso ateacute hoje Pude presenciar um niacutevel de babaquice

e de falta do que fazer de uma garota da minha escola que pra ser sincera eu nem ao

menos sei o nome dela

4

5

6

7

8

9

Estava eu junto com mais quatro amigos na cantina da minha escola no

finalzinho do recreio Estaacutevamos rindo e botando conversa fora de boa na paz Entatildeo

duas meninas que eu natildeo conheccedilo ndash jaacute tinha ateacute visto as duas mas nunca tinha falado

com elas nem ao menos sabia o nome delas mas sei que elas sabiam de mim certeza

Aquele pessoal fala demais ndash chegaram e estavam repetindo o lanche Ateacute entatildeo nem

tava reparando na presenccedila delas

126

10

11

12

13

14

15

16

17

18

Foi quando meu amigo brincou nossa vatildeo repetir de novo Eu olhei entendi

e nem dei importacircncia nem quis rir pra natildeo arrumar confusatildeo Elas olharam pra ele

com uma cara bem ameaccediladora e ele se arrependeu e pediu desculpas Nessa hora eu

natildeo aguentei e ri poreacutem dele Pensei eita macho ficou com medo de levar uns

sopapos Todo mundo rindo Foi entatildeo que uma delas olhou pra mim me batendo

verbalmente tu taacute rindo de quecirc Taacute achando graccedila eacute Mano do ceacuteu essa menina

tem problema soacute pode Foi minha uacutenica reaccedilatildeo Com quatro pessoas aleacutem de mim ali

sorrindo e ela pergunta soacute pra mim Eacute ser muito babaca pra chegar a esse ponto seacuterio

isso Perguntei pros meus amigos ldquogente qual o nome dela Ela taacute falando pra mim

mesmo SOCORRO

19

20

Ainda bem que meus amigos estavam ali senatildeo eu tava ferradinha Ateacute hoje

me pergunto qual o problema dela Mas prefiro nem chegar perto Vai que isso pega

Fonte Dados da pesquisa

Os quatro paraacutegrafos tiveram uma reelaboraccedilatildeo mas mantiveram-se em mesmo

nuacutemero na PFB de Ana Seu tiacutetulo permaneceu o mesmo e tem a ver com o teor da crocircnica

Quanto ao uso da pontuaccedilatildeo houve inclusive utilizaccedilatildeo de novo recurso o entre

travessotildees a partir de uma sugestatildeo dada pela professora-pesquisadora que indica um adendo

de informaccedilotildees agrave ldquoconversardquo que a narradora conduziu

Pudemos perceber uma melhor descriccedilatildeo da ambientaccedilatildeo onde a situaccedilatildeo

vivenciada se passou consolidando o tempo do finalzinho do recreio situaccedilatildeo que durou muito

pouco mas que para a autora durou com intensidade

O final foi interessante e ateacute cocircmico trazendo questotildees a se pensar como a amizade

e o companheirismo versus a implicacircncia de pessoas desconhecidas (podemos ver seu aliacutevio

em ldquoAinda bem que meus amigos estavam ali senatildeo eu tava lsquoferradinharsquordquo na linha 19) e o

quanto eacute raacutepido - e tolo - para nascer um conflito

Quadro 36 ndash PIB Rodrigo ndash Tiacutetulo Vida De preguiccediloso

1

2

Vocecirc tem preguiccedila Tem preguiccedila de ter preguiccedila perdeu alguma coisa por

causa de preguiccedila

3

4

5

Natildeo eacute muito certo ter preguiccedila de tudo dizem que eacute pegado mas natildeo vejo mal

nem um em ter preguiccedila oacutebvio que nem todo tempo vou ter preguiccedila mas a maior parte

127

6 do tempo sim sou tatildeo preguiccediloso que dormi com fome pra natildeo ir ateacute a geladeira parece

um pouco absurdo mas eacute verdade

7

8

9

10

Natildeo sei vocecirc mas eu jaacute dormi no sofaacute com preguiccedila de ir pra cama certo que

vida de preguiccediloso natildeo eacute la essas mil maravilhas principalmente se vocecirc mora sozinho(a)

eacute muito bom passar o dia deitado mexendo no celular ou PC e com um lanchinho do

lado

11

12

Mas o simples fato de eu pensar que vou ter que tecirc uma famiacutelia um emprego

meu carro minha empresa meu cachorro

13

14

Jaacute da ateacute preguiccedila de sair da cama mas vocecirc jaacute pensou como seria bom se natildeo

existisse nada disso pra se preocupar

15 Seria muito bom natildeo eacute

16

17

A preguiccedila jaacute se tornou parte do cotidiano tenho quase certeza que nesse

momento vocecirc estaacute com preguiccedila natildeo eacute

18

19

20

Muito bom passar o dia sem fazer nada Poreacutem um pouco cansado pela falta

de exerciacutecio fiacutesico mas nada quecirc um bom lanche natildeo resolva vida de preguiccediloso natildeo

leva a lugar nem um falo isso por mera experiecircncia

21 Mas eacute assim mesmo logo logo a preguiccedila passa pelo menos eu acho

Fonte Dados da pesquisa

O texto de Rodrigo partiu de uma situaccedilatildeo observadavivida Conversa com o leitor

(ldquovocecirc jaacute pensou como seria bom serdquo linha 12) sobre o tema preguiccedila A repeticcedilatildeo do termo

preguiccedila foi objeto de questionamento na aula ao que o aluno respondeu que utilizou-se da

estrateacutegia para reforccedilar a situaccedilatildeo e provocar no leitor a preguiccedila de ler ao que os colegas

aprovaram achando inclusive engraccedilado O narrador eacute personagem e coloca para seu leitor as

impressotildees de como eacute viver com o miacutenimo de disposiccedilatildeo poreacutem com a consciecircncia de que natildeo

eacute o ideal para a vida O final natildeo eacute interessante ou surpreendente poreacutem se adequa ao

desenvolvimento do texto Possui tiacutetulo apropriado

Quadro 37 ndash PFB Rodrigo ndash Tiacutetulo VIDA DE PREGUICcedilOSO

1

2

Vocecirc tem preguiccedila Tem preguiccedila de ter preguiccedila Perdeu alguma coisa por

causa de preguiccedila

3

4

Natildeo eacute muito certo ter preguiccedila de tudo dizem que eacute pecado mas natildeo vejo mal

nenhum em ter preguiccedila Oacutebvio que nem todo tempo vou ter preguiccedila mas na hora de

128

5

6

7

8

jogar aquela bola ningueacutem tem preguiccedila mas agora fala em arrumar a cama A preguiccedila

sai de baixo da cama pra vocecirc Eu tenho preguiccedila a maior parte do tempo Sou tatildeo

preguiccediloso que dormi com fome para natildeo ter de ir ateacute a geladeira pegar comida Parece

um pouco absurdo mas eacute verdade

9

10

11

12

13

14

Aiacute vocecirc acorda e vai ateacute a sala daiacute vocecirc se deita no sofaacute e esquece o controle

em cima da mesa do computador ou da estante aiacute daacute aquele grito ldquoocirc manhecircecircecircecircecircecircecircecircrdquo

Logo ela vem correndo saber o que aconteceu e vocecirc na maior cara de pau diz pega

o controle pra mim Na hora que vocecirc diz isso vocecirc desperta todos os capirotos do

mundo ela ainda fala aquela frase que toda matildee diz o QUEcirc menino Isso serve pra

tudo que vocecirc pede pra sua matildee fazer pra vocecirc ateacute mesmo apagar a luz

15

16

17

Quando eu estiver em um relacionamento minha namorada natildeo vai precisar

se preocupar com traiccedilatildeo Tenho preguiccedila de ir bem aiacute na esquina comprar o patildeo

imagine sair para trair ela Mas eacute muita melodia

18

19

20

21

A vida de um preguiccediloso em si ela eacute uma grande sobrevivecircncia Natildeo muita

mas vocecirc vai ter de lutar para conseguir comida enfrentar o Vingador da Caverna do

Dragatildeo o quarto do furacatildeo e a cama do pavor Preguiccediloso pode vencer tudo isso mas

nunca conseguiraacute vencer a preguiccedila ndash pelo menos eu nunca consegui

22

23

24

25

Era tatildeo lindo quando eu dormia no sofaacute e acordava na cama graccedilas a meus

pais Mas os tempos mudaram vocecirc dorme no chatildeo e acorda no chatildeo Deixar pra fazer

amanhatilde o que pode fazer hoje isso sim eacute tiacutepico de um preguiccediloso mas agraves vezes nem

fazemos

26

27

28

Todos noacutes temos aquela cadeira que na hora de dormir sempre colocamos

todas as coisas de cima da cama em cima dela soacute por preguiccedila de arrumar tudo em seu

devido lugar

29

30

31

32

33

34

35

Um celular PC tablet televisatildeo tudo isso com internet uma tomada tudo do

seu lado tem como natildeo ter preguiccedila ateacute de procurar aquela seacuterie na Netflix Certo que

o celular ou o PC tem comando de voz soacute pra falar o nome da seacuterie que vocecirc quer assistir

e tecnologicamente ir direto pra seacuterie mas daacute uma preguiccedila de falar e ainda com um

lanche do lado ateacute imagino o quatildeo seria top passar o dia assim Mas tem que estudar

fazer comida dar banho do cachorro limpar a casa e lavar a louccedila Ai ai daacute preguiccedila

soacute de pensar nisso Um dia vou perder essa preguiccedila pelo menos assim espero

Fonte Dados da pesquisa

129

O uso de expressotildees coloquiais como em ldquoMas eacute muita melodiardquo (linha 17) para

mostrar o quanto daacute trabalho trair a namorada e a corrente entre os jovens ldquoo quatildeo seria top

passar o dia assimrdquo (linha 33) deu colorido agrave crocircnica

O uso de notaccedilotildees linguiacutesticas para realccedilar o texto como em ldquoocirc manhecircecircecircecircecircecircecircecircrdquo

(linha 10) que mostra prolongamento da voz o QUEcirc meninordquo (linha 13) que indica tom

de voz mais alto e forte aleacutem da pontuaccedilatildeo que exclama a pergunta O uso do travessatildeo como

forma de colocar uma explicaccedilatildeo em evidecircncia foi adotado por sugestatildeo nossa como em ldquondash

pelo menos eu nunca conseguirdquo (linha 21) tambeacutem enriqueceu o texto

Ainda houve repeticcedilatildeo de termos sem intenccedilatildeo como em ldquomas na hora de jogar

aquela bola ningueacutem tem preguiccedila mas agora fala em arrumar a camardquo (linhas 4-5)

O final foi interessante levando a audiecircncia a refletir e a se divertir tambeacutem com a

descriccedilatildeo das situaccedilotildees ndash algumas ateacute inusitadas ndash de preguiccedila mas que acontecem em algum

grau com os leitores jovens

Quadro 38 ndash PIB Eduardo ndash Tiacutetulo

1

2

3

4

5

Eu gosto muito de comida principalmente uma lasanha Porque eacute gostoso

mata a fome e deixa a gente feliz Bons tempos quando agente era crianccedila tomava aquele

belo leite antes de domir acordava de manhatilde bem cedinho com o cherinho do cafeacute na

mesa mas o tempos mudou E hoje em dia as crianccedilas dorme tarde natildeo se alimentatildeo

direito so querem comer besteras prejudicando a sauacutede

6 Era engraccedilado quando minha matildee dizia

7

8

Come a salada do prato se vocecirc comer tudinho mamatildee te dar um doccedile de

leite e agente comia

9

10

11

E quando noacutes tinha dor de barriga a matildee ja vinha com o chaacute de bodo para dar

pra noacutes tomar E quando jogava bola e noacutes se arranhava a matildee ja tava nas matildeos o

merthiolate para passa na gente

12

13

14

15

16

17

E quando o pessoal ia jogar bola reunia a galera e ia chamar a turma todinha

para jogar nosso campo era em um local de pissarra com muro em volta e quando a

bola cailha na casa da quela vizinha chata um de noacutes tiamos que pega o mas corajoso

se arricar a buscar e esse corajoso era eu lembro que uma vez eu chutei a bola para laacute

e machuquei um das plantas dela e vizinha fofocou para minha matildee e mamatildee colocou

eu de cartigo

130

18

19

Agora as crianccedilas so querem ficar trancada dentro do quarto mechendo no seu

celular PC em geral

20

21

22

23

24

25

26

27

28

Percebi que a infacircncia de hoje natildeo eacute mas a mesma de antigamente Hoje em

dia tamos rodiado de tecnologia crianccedilas jovens tem celulares internet computadores

mas antigamente natildeo era assim natildeo tou querendo criticar a tecnologias pois eu vivo na

tecnologia hoje Nesse tempo de hoje das tecnologia se vocecirc quer ouvir uma muacutesica eacute

soacute ir no YouTube ou fazer o download quer conversar com um amigo eacute soacute entra no

Whatsapp e conversar Mas quando era antigamente se quissemos ouvir uma

muacutesica tiamos que esperar passar no raacutedio ou comprar um CD bem ali na banca se

quisesse conversar com um amigo distante teria que ir na casa dele ou enviar uma carta

para ele

29

30

E quando era natal ano novo famiacutelia toda reunida mesa cheia de comida

deliciosas isso era muito bom

31

32 SO SEI QUE A INFACIA QUE EU TIVE FOI MUITA OTIMA lt3

Fonte Dados da pesquisa

Composto por 9 (nove) paraacutegrafos o texto de Eduardo partiu de uma situaccedilatildeo

vivida em que ele observa a passagem do tempo e as mudanccedilas de haacutebitos com uma certa

nostalgia buscando a atenccedilatildeo do leitor atraveacutes da reflexatildeo sobre a imersatildeo na tecnologia Seu

texto comeccedila com uma associaccedilatildeo da comida que ele gosta e que ldquopuxardquo outras questotildees que

perpassam a alimentaccedilatildeo o sono as brincadeiras narrando inclusive desventuras vividas

Ao final nas linhas 29-30 o paraacutegrafo parece desconexo visto que natildeo evolui e

nem se liga ao anterior

A ortografia e a pontuaccedilatildeo nesse momento natildeo haviam sido a prioridade embora

os alunos jaacute estivessem de posse do quadro autoavaliativo Eduardo foi um dos alunos que mais

se surpreendeu com a releitura do texto no tablet como haviacuteamos descrito na seccedilatildeo sobre os

procedimentos posto que os erros e sugestotildees satildeo apontados pelo aplicativo editor de textos

Ele afirmou que foi bastante uacutetil para que ele observasse os erros visto que natildeo tinha

consciecircncia dos mesmos

131

Quadro 39 ndash PFB Eduardo ndash INFAcircNCIA FELIZ

1

2

3

4

5

Eu gosto muito de comida principalmente uma lasanha Porque eacute gostoso

mata a fome e deixa a gente feliz Bons tempos quando a gente era crianccedila tomava

aquele belo leite antes de dormir acordava de manhatilde bem cedinho com o cheirinho do

cafeacute na mesa mas os tempos mudaram Hoje em dia as crianccedilas dormem tarde natildeo se

alimentam direito soacute querem comer besteiras prejudicando a sauacutede

6

7

Era engraccedilado quando minha matildee dizia Come a salada do prato se vocecirc

comer tudinho mamatildee te daacute um doce de leite e a gente comia

8

9

10

E quando noacutes tiacutenhamos dor de barriga a matildee jaacute vinha com o chaacute de boldo para

dar pra tomar E quando jogaacutevamos bola e nos arranhaacutevamos a matildee jaacute estava com o

mertiolate nas matildeos para passar na gente

11

12

13

14

15

16

17

E quando o pessoal ia jogar bola reunia a galera e ia chamar a turma todinha

para jogar nosso campo era em um local de piccedilarra com muro em volta e quando a bola

caiacutea na casa da aquela vizinha chata um de noacutes tinha que pegar o mais corajoso se

arriscar a buscar e esse corajoso era eu Lembro que uma vez eu chutei a bola para laacute e

machuquei um das plantas dela e a vizinha fofocou para minha matildee e mamatildee colocou

eu de castigo Quem nunca morreu de medo de voltar para casa com aquela roupa cheia

de barro e levar uma bronca

18

19

Vocecirc pode ateacute achar que eu jaacute acabei a minha infacircncia mas ainda tocirc nela pois

a infacircncia que eu era mais novo natildeo eacute mas a mesma do que a de hoje

20

21

Agora as crianccedilas soacute querem ficar trancadas dentro do quarto mexendo no seu

celular PC em geral

22

23

24

25

26

27

28

29

Percebi que a infacircncia de hoje natildeo eacute mas a mesma de antigamente Hoje em

dia estamos rodeados de tecnologia Crianccedilas jovens tem celulares internet

computadores mas antigamente natildeo era assim Natildeo estou querendo criticar a tecnologia

pois eu vivo na tecnologia hoje Nesse tempo de hoje se vocecirc quer ouvir uma muacutesica eacute

soacute ir no YouTube ou fazer o download Quer conversar com um amigo eacute soacute entrar no

WhatsApp e conversar Mas quando era antigamente se quiseacutessemos ouvir uma muacutesica

tiacutenhamos que esperar passar no raacutedio ou comprar um CD bem ali na banca Se quisesse

conversar com um amigo distante teria que ir na casa dele ou enviar uma carta para ele

30

31

32

Pois agora as crianccedilas jaacute respondem com ignoracircncia para seus pais Se eu

resmungasse para minha matildee pelo menos um Taacute bom taacute bom mamatildee jaacute me batia Ela

ainda me colocava de joelho no chatildeo e eu morrendo de chorar mamatildee dizia Engole o

132

33

34

35

choro mas eu natildeo sabia engolir o choro Seraacute que tinha que pegar um copo para

colocar as minhas laacutegrimas do meu choro Natildeo sei mas eu acho que eacute melhor natildeo

arriscar de me levantar e apanhar mais ainda

36 O mais engraccedilado eacute que chinela de matildee sempre acerta [

37 Mesmo apanhando

38 SOacute SEI QUE A INFAcircNCIA QUE EU TIVE FOI MUITO OacuteTIMA lt3

Fonte Dados da pesquisa

O texto teve uma ampliaccedilatildeo e o aluno pediu ajuda agrave professora-pesquisadora para

a correccedilatildeo da pontuaccedilatildeo e tambeacutem da ortografia para ldquoevitar aquela coisa toda vermelha

professorardquo que seria rever no tablet o editor mostrando os erros Bastante empenhado Eduardo

colocou suas impressotildees lado bom e ruim para que seu leitor pudesse acompanhar o que seria

uma infacircncia adequada Nas linhas 18-19 em ldquoVocecirc pode ateacute achar que eu jaacute acabei a minha

infacircncia mas ainda tocirc nela pois a lsquoinfacircncia que eu era mais novorsquo natildeo eacute mas a mesma do que

a de hojerdquo Valeu a discussatildeo com os colegas e com a professora-pesquisadora a respeito dessa

nostalgia visto que o autor ainda eacute um adolescente de 15 anos

O final convenhamos embora natildeo seja muito paciacutefico natildeo deixa de causar o riso

no leitor visto que em ldquoMesmo apanhandordquo (linha 37) as reticecircncias deixam o pensamento

em aberto e o leitor conclui pelo exposto que ainda assim valia a pena a infacircncia menos

tecnoloacutegica e mais fora de casa

Quadro 40 ndash PIB Estela ndash Tiacutetulo ldquoDown= bullyingrdquo

1

2

Antigamente eu natildeo me importava tanto mas hoje penso bastante sobre o

assunto por que as pessoas praticam o bullying

3

4

5

Na minha opiniatildeo a praacutetica de bullying eacute desnecessaacuteria pois noacutes natildeo

ganhamos nada em humilharmenosprezar o proacuteximo natildeo eacute mesmo eacute bem melhor ser

gentil ser solidaacuterio aceitar os defeitos do proacuteximo

6

7

8

9

10

11

Conheccedilo uma garota chamada Beatriz jovem de dezenove anos(19) que tinha

siacutendrome de Down ela era uma garota bem extrovertida amigaacutevel carinhosa etc

Muitos a criticavam por conter essa siacutendrome por ser diferente Ela tinha seu tinha seu

lado carinhoso mas tambeacutem tinha o seu lado revoltadobravo e todos criticavam-na por

ser diferente por ter esse seu lado ldquobipolarrdquo pelo fato dela mudar de humor tatildeo

facilmente

133

12

13

14

15

Muitos faziam o possiacutevel para evitar sua presenccedila por perto eles a eles

simplesmente natildeo aceitavam o fato dela ter aquela siacutendrome pra eles ela natildeo era ldquoigualrdquo

a eles eles deveriam aceitaacute-la da maneira que ela nasceu da maneira em que ela foi

gerada

16

17

18

Chamavam-na por apelidos maldosos e preconceituosos como por exemplo

doida (pelo simples fato dela ter siacutendrome de Down que a diferenciava das demais

pessoas) de retardada de doente chamavam-na de feia ridiacuteculaetc

19

20

21

22

23

24

25

Ao sofrer esses preconceitos ela sempre revidavasempre reagia com agressotildees

e xingamentos terriacuteveis o que agravava cada vez mais a situaccedilatildeo Acho que por ela

conter essa doenccedila ela natildeo levava muito a seacuterios esse preconceito essa indiferenccedila

acho que pelo fato de ela conter essa doenccedila desde a formaccedilatildeo de seu feto deve ter

ocorrido algumas alteraccedilotildees em seu ceacuterebro na parte mentalo que prejudica muito a

crianccedila em questotildees de aprendizado de se socializar e que a levava a considerar essas

praacuteticas de bullying como uma brincadeira

26

27

28

29

E tambeacutem sua matildee natildeo era aquele tipo de matildee que se interessava como foi o

dia na escola se as aulas foram boas essas coisas que normalmente as matildees fazem E

ela tambeacutem natildeo morava junto a seu pai pois creio que era divorciado de sua matildee

moravam somente ela sua matildee e sua irmatilde mais nova de dezessete anos (17)

30

31

Atualmente a situaccedilatildeo ainda se repete por falta de atenccedilatildeo dos pais e da

proacutepria viacutetima do bullying

32

33

(Na minha opiniatildeo ela soacute precisa de um pouco mais de atenccedilatildeo e compreensatildeo

dos pais e tenho certeza que esse problema jaacute haveria sido resolvido)

34

35

E vocecirc leitor o que faria se vocecirc fosse viacutetima de bullying denunciaria ou

preferiria guardar pra si

36

37

38

39

40

(Isso natildeo eacute um texto qualquer eacute tambeacutem um alerta uma ldquocampanhardquo pra vocecirc

vitima ou praticante do bullying pense no proacuteximo alerte-se muitas vezes essas piadas

brincadeiras esses preconceitos passam dos limites e acabam se tornando grandes

ofensas o que levam as viacutetimas a profundas depressotildees e ateacute mesmo ao suiciacutedio vamos

acabar com isso)

41 chega de bullying

Fonte Dados da pesquisa

134

Estela comeccedila seu texto com um paraacutegrafo que faz uma introduccedilatildeo-enquadramento

lanccedilando um questionamento ao seu leitor surgido de uma situaccedilatildeo observadavivida que ela

narra ao longo dos 12 (doze) paraacutegrafos No 10ordm a autora conversa com explicitamente com o

leitor como no modelo apresentado para a produccedilatildeo A O foco narrativo eacute mantido como

narrador observador do que acontece poreacutem levando o leitor a refletir sobre o problema real do

bullying com a intenccedilatildeo de causar impressotildees no leitor como empatia reflexatildeo e ateacute emoccedilatildeo

O final natildeo parece caracterizar-se como o de uma crocircnica literaacuteria lembrando o

penuacuteltimo paraacutegrafo uma sequecircncia injuntiva com a intenccedilatildeo de levar o leitor a modificar seu

comportamento mostrando um ponto de vista criacutetico a respeito da situaccedilatildeo Possui

personagens descrevendo a menina Beatriz e seu comportamento sua matildee e menciona pai e

irmatilde Possui um tiacutetulo interessante pelo trocadilho se podemos assim dizer com a palavra

down Down eacute a siacutendrome mencionada no texto e de iniacutecio o sinal de igual indica que ter

siacutendrome de Down eacute de se esperar de algum modo que a pessoa sofra bullying Poreacutem a aluna

sabe que down em inglecircs quer dizer ldquoabaixordquo o que resultaria numa livre traduccedilatildeo ldquoabaixo

o bullyingrdquo Estela emprega em diversos momentos os sinais de pontuaccedilatildeo adequadamente e

no geral os paraacutegrafos estatildeo bem organizados embora tenha havido repeticcedilatildeo desnecessaacuteria de

palavras no 4ordm paraacutegrafo

Quadro 41 ndash PFB Estela ndashTiacutetulo DOWN= BULLYING

1

2

Antigamente eu natildeo me importava tanto mas hoje penso bastante sobre o

assunto por que as pessoas praticam o bullying

3

4

5

A praacutetica de bullying eacute desnecessaacuteria pois noacutes natildeo ganhamos nada em

humilhar o proacuteximo natildeo eacute mesmo Eacute bem melhor ser gentil ser solidaacuterio aceitar os

defeitos do proacuteximo

6

7

8

9

10

Conheci uma garota chamada Beatriz jovem de dezenove anos que era

portadora da siacutendrome de Down Era uma garota bem extrovertida amigaacutevel carinhosa

etc Ela tinha seu tinha seu lado carinhoso mas tambeacutem tinha o seu lado revoltado e

todos criticavam-na por ser diferente por ter esse seu lado ldquobipolarrdquo pelo fato dela mudar

de humor tatildeo facilmente

11

12

13

Muitos faziam o possiacutevel para evitar sua presenccedila por perto Simplesmente

natildeo aceitavam o fato dela natildeo ser ldquoigualrdquo a eles enquanto que deveriam aceitaacute-la da

maneira que ela nasceu da maneira em que ela foi gerada

135

14

15

16

Chamavam-na por apelidos maldosos e preconceituosos como por exemplo

doida (pelo simples fato dela ser portadora de Down que a diferenciava das demais

pessoas) de retardada de doente chamavam-na de feia ridiacuteculaetc

17

18

19

20

21

Ao sofrer esse preconceito ela revidava Sempre reagia com agressotildees e

xingamentos terriacuteveis o que agravava cada vez mais a situaccedilatildeo Acho que pelo fato de

ela ter Down desde a formaccedilatildeo de seu feto deve ter ocorrido algumas alteraccedilotildees em seu

ceacuterebroo que prejudica muito a crianccedila em questotildees de aprendizado de se socializar

poreacutem isso natildeo a impedia de considerar essas praacuteticas de bullying como algo tatildeo seacuterio

22

23

24

25

26

Atualmente a situaccedilatildeo ainda se repete por falta de atenccedilatildeo dos pais Sua matildee

natildeo era aquele tipo de matildee que se interessava como foi o dia na escola se as aulas foram

boas essas coisas que normalmente as matildees fazem Ela soacute precisa de um pouco mais de

atenccedilatildeo e compreensatildeo dos pais e tenho certeza que esse problema jaacute teria sido

resolvido

27 E vocecirc leitor como agiria se fosse viacutetima de algum tipo de bullying

28

29

30

31

32

Pare e pense na situaccedilatildeo que ocorrera com essa garota Pense Como agiria se

fosse viacutetima ou tivesse observado uma situaccedilatildeo como essa Tambeacutem imagine se vocecirc

se sentiria bem se sofresse certos preconceitos certas ofensas E tambeacutem peccedilo-lhe

venha pensar antes de ldquotentarrdquo praticar esses atos infracionais contra algueacutem Se ponha

no lugar da viacutetima

33 chega de bullying

Fonte Dados da pesquisa

O tiacutetulo foi mantido Os paraacutegrafos em geral ficaram bem organizados Houve

evoluccedilatildeo no emprego dos sinais de pontuaccedilatildeo Evitou a repeticcedilatildeo desnecessaacuteria de palavras e

buscou definir visto que estava em duacutevida segundo ela mesma sobre quais termos usar

Partiu como jaacute haviacuteamos identificado de uma situaccedilatildeo observadavivida Conversa

com o leitor como no exemplo ldquonatildeo eacute mesmordquo (linha 4) ou em ldquoE vocecirc leitorrdquo (linha 27)

buscando leva-lo a refletir sobre a situaccedilatildeo O final eacute interessante muito embora natildeo o

reconheccedilamos como caracteriacutestico de uma crocircnica literaacuteria Mostra discretamente ao leitor seu

ponto de vista a respeito da situaccedilatildeo buscando proporcionar-lhe um momento de reflexatildeo

Descreve bem a Beatriz e superficialmente a matildee poreacutem com caracteriacutesticas

adequadas agrave situaccedilatildeo Apoacutes a anaacutelise dos textos B dos alunos estabelecemos um graacutefico a

respeito de sua evoluccedilatildeo para melhor visualizaccedilatildeo dos resultados nessa etapa Vejamos a seguir

136

Graacutefico 8 ndash Avaliaccedilatildeo das crocircnicas B

Fonte dados da pesquisa

A partir da anaacutelise dos textos dos alunos que frequentaram todas as aulas e se

engajaram nas atividades da SD percebemos que houve na maioria dos itens avaliados uma

sensiacutevel melhora corroborando com o anteriormente dito que os alunos ao tomarem contato

com seus textos de uma primeira produccedilatildeo escrita se orientados e incentivados a reler se

autoavaliar e a ouvir sugestotildees podem sim progredir no sentido de se tornarem escritores mais

haacutebeis e conscientes das etapas que regem o processo de escrita de textos E esse processo se

feito com frequecircncia comeccedila a se automatizar e facilita o aprendizado de qualquer gecircnero que

se venha trabalhar

533 Uma nova reescrita

Retomando seu texto A PI e PF a aluna Ana pediu a oportunidade de reescrevecirc-lo

visto que em sua releitura afirmou que natildeo havia feito apropriadamente e que ao final de todas

as atividades ela percebia o quanto natildeo tinha desenvolvido ainda os procedimentos adequados

para a produccedilatildeo de um texto o que inclui as etapas de releitura autocriacutetica reflexatildeo

reelaboraccedilatildeo e reescrita Segue assim o texto de Ana que chamaremos PFA2

0

05

1

15

2

25

3

35

4

Avaliaccedilatildeo das crocircnicas B

PI-B PF-B

137

Quadro 42 ndash PFA2 Ana ndash Tiacutetulo O que eacute ser chato

1 Como saber quando vocecirc estar sendo chato

2 Bom depois de ler um dos textos maravilhosos do Anaximandro Amorim

3 o chato da vez despertou uma vontade em mim de me aprofundar no assunto

4

5 Eacute muito difiacutecil dizer o que de fato eacute ser chato ou melhor listar tudo o que eacute pura

6 chatice demoraria horas e horas Vocecirc se considera chato

7 Sabe quando vocecirc estar sendo chato Olha muito cuidado um chato nunca

8 se acha chato digo isso com toda convicccedilatildeo

9

10 Conheccedilo uma menina ela eacute da minha escola graccedilas

11 a Deus natildeo eacute da minha sala Ameacutem

12 Ela tem uma mente aberta uns gosto legais mas cara

13 ela desconhece a palavra limites isso a torna very chata

14 uma mina linda de opiniotildees legais que natildeo sabe ver quando natildeo a querem

15 por perto quando ela estar atrapalhando e natildeo entende

16 quando o papo ja ta chato e a pessoa ta fugindo dela mas mesmo assim

17 acha que a pessoa ta super interessada e ela se engana e

18 acaba se tornando uma chata eu a considero minha amiga

19 ela me apoia e me sempre da uma levantada na minha auto-estima

20 uma garota interessante agraves vezes e por tempos curtos ela eacute

21 daquele tipo de pessoas que a gente passa comprimenta e

22 natildeo para pra conversar so quando ela chama e as vezes ainda invento desculpas

23 pra natildeo ir e se vou quando passa de cinco minutos eu jaacute

24 fico SU-FO-CA-DA parece que ela estraga o papo

25

26 Enfim ser chato eacute natildeo saber quando vocecirc ta forccedilando a barra

27 eacute natildeo reconhecer quando vocecirc estar sendo chato

28 ser chato eacute natildeo ter limites afinal tudo tem Natildeo eacute mesmo Fonte Dados da pesquisa

Por fim Ana reescreveu seu texto colocando-o em 5 (cinco paraacutegrafos) e o elaborou

visando ao que a instruccedilatildeo da atividade requer um texto que possa inspirar reflexatildeo sobre o

que eacute ser chato e o que eacute ser legal poreacutem sem colocar a questatildeo do botatildeo de bloqueio da vida

real Atraveacutes dos exemplos Ana conduziu seu leitor a refletir atendendo aos criteacuterios de partir

de uma situaccedilatildeo vividaobservada como vemos nas linhas 10-24 e conversando com o leitor

como percebemos nas marcas linguiacutesticas em ldquoComo saber quando vocecirc estar sendo chatordquo

(linha 1) ldquoVocecirc se considera chatordquo (linha 6) ldquoSabe quando vocecirc estar sendo chatordquo (linha

7) e ldquoNatildeo eacute mesmordquo (linha 28) e descreve uma personagem ldquouma menina ela eacute da minha

escolardquo (linha 10) que inseriu em seu texto para ilustrar a situaccedilatildeo

Apesar de Ana ainda deixar a desejar em outros aspectos tanto textuais quanto

formais de convenccedilotildees da escrita percebemos que ela evoluiu no criteacuterio organizaccedilatildeo de

138

paraacutegrafos e emprego dos sinais de pontuaccedilatildeo Em ldquograccedilas a Deus natildeo eacute da minha sala

Ameacutemrdquo ela separa o termo Ameacutem do resto da frase com a viacutergula entendendo que eacute uma

expressatildeo que merecia realce e usa o ponto de exclamaccedilatildeo para expressar seu aliacutevio Ana

demonstra conhecer que o uso de marcas linguiacutesticas como o uso de maiuacutesculas e a separaccedilatildeo

silaacutebica podem dar forccedila a uma palavra fazendo-a ganhar maior expressividade como em ldquoSU-

FO-CA-DArdquo na linha 24 Ao longo de seu texto Ana emprega muitas palavras do cotidiano

giacuterias inclusive e marcas da oralidade ndash o que natildeo necessariamente eacute um problema em uma

crocircnica literaacuteria poreacutem conveacutem relembrar a questatildeo da experiecircncia e habilidade no uso de tais

de modo a natildeo cansar o leitor

Sua estrateacutegia para iniciar o texto foi partir da intertextualidade (ldquoBom depois de

ler um dos textos maravilhosos do Anaximandro Amorim lsquoo chato da vezrsquo despertou uma

vontade em mim de me aprofundar no assuntordquo linhas 1-3) Desse modo Ana fez uso da

informaccedilatildeo de uma de nossas aulas de quando trabalhamos com a crocircnica ldquoCarta de punhordquo

cuja leitura em sala e atividade de exploraccedilatildeo do texto mostrava que o autor cronista com

publicaccedilotildees frequentes no jornal buscava nas proacuteprias produccedilotildees retomar seus assuntos

passados Uma curiosidade que foi despertada em Ana para o momento havia sido ldquoe pode

isso professorardquo ao que respondemos afirmativamente poreacutem o sucesso da estrateacutegia viria

com o tempo e a experiecircncia de cada autor da intimidade que esse tivesse com a liacutengua materna

e com a situaccedilatildeo de produccedilatildeo tudo dentro do contexto

Consideramos assim que o uso da estrateacutegia pela aluna foi um ponto positivo em

sua participaccedilatildeo posto que caracteriza envolvimento com o projeto e as aulas Ademais desejar

fazer mais uma reescrita quando natildeo havia mais a exigecircncia pois como dissemos jaacute haviacuteamos

encerrado os moacutedulos e estaacutevamos reescrevendo o texto para circulaccedilatildeo social eacute um ponto

bastante positivo no tocante aos procedimentos de escritor apoacutes algum tempo ela releu seu

texto achou-o inadequado ou insuficiente para as caracteriacutesticas do que se estava estudando e

produzindo e tomou a iniciativa de refazecirc-lo

139

6 CONCLUSAtildeO

O foco principal de nosso trabalho foi o desenvolvimento da competecircncia

comunicativa escrita Para tanto consideramos o processo tendo como produto o texto cujo

valor real foi-lhe atribuiacutedo valor social com direito a circulaccedilatildeo levado a puacuteblico

O gecircnero escolhido foi a crocircnica literaacuteria Poderia ter sido outro visto que o trabalho

com o processo de escrita dentro de uma sequecircncia didaacutetica comporta qualquer gecircnero textual

Poreacutem como dissemos na introduccedilatildeo a escolha do gecircnero partiu de uma motivaccedilatildeo pessoal

Passado todo o processo da escolha de como trabalhar ateacute a publicaccedilatildeo dos textos

julgamos oportuno avaliar todos os acircmbitos

Por percebermos ao longo dos anos de experiecircncia que vaacuterios alunos produzem

seus textos sem recorrer agrave etapa do planejamento a da revisatildeo e a da reescrita visamos entatildeo

nesta pesquisa devido agrave ausecircncia de tais procedimentos responder agraves seguintes questotildees-

problema desdobradas a partir da questatildeo baacutesica como ensinar a produccedilatildeo escrita no 9ordm ano do

Ensino Fundamental enfocando o ato de redigir como um processo visto que haacute estudantes

deste niacutevel que normalmente natildeo tecircm o haacutebito de planejar seus textos

A partir desse questionamento nos perguntamos

a) que atividades pedagoacutegicas possibilitam aos alunos a consciecircncia de que eacute

preciso desenvolver estrateacutegias proacuteprias (recorrer agrave etapa do planejamento da

revisatildeo e da reescrita) para produzir seus textos

b) de que forma o conhecimento sobre a estrutura composicional de um gecircnero

pode ajudar a superar as dificuldades

c) a comparaccedilatildeo das produccedilotildees inicial e final permitiraacute associar a melhoria do

desempenho da competecircncia escrita e a apropriaccedilatildeo do gecircnero crocircnica literaacuteria ao

desenvolvimento da sequecircncia de atividades

Buscando encontrar uma praacutetica que resultasse em textos melhores fizemos uso

em nossa sequecircncia de atividades de teorias que norteassem o trabalho com a escrita como

processo com a sequecircncia didaacutetica com gecircnero textual e com o gecircnero crocircnica narrativa A

importacircncia desse aparato teoacuterico para o professor que visa minimizar as dificuldades dos

alunos e diminuir a praacutetica da escrita improvisada permite-lhe compreender como se daacute o

processo cognitivo durante a produccedilatildeo de um texto o que o leva a considerar para seu trabalho

com os alunos aspectos como audiecircncia e circulaccedilatildeo social reais como praacuteticas de uma

140

sociedade letrada o que vai aleacutem da preocupaccedilatildeo com a gramaacutetica e a ortografia apenas de

um texto produzido somente para o professor e a nota

Ao longo da aplicaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica confirmamos o que a experiecircncia de

sala ao longo dos anos apontava o conhecimento sobre a estrutura composicional de um gecircnero

pode ajudar a superar as dificuldades de escrita por mostrar ao aluno o que precisa estar contido

em seu texto Os exemplos que o professor venha a trabalhar em sala com a turma mostram

modelos de gecircneros com aspectos que podem sim ser imitados de iniacutecio ateacute que quando o

aluno ganhe experiecircncia possa manejar melhor as palavras e as ideias que deseje colocar para

seu leitor assumindo assim um estilo proacuteprio de escrita

Como professora realizar a pesquisa nos permitiu refletir sobre a nossa proacutepria

praacutetica posto que superar as proacuteprias deficiecircncias no ensino da produccedilatildeo textual foi uma grande

inquietaccedilatildeo Reconhecer as praacuteticas nos foi importante para saber em que aspectos ainda temos

desafios a superar e para reforccedilar e desenvolver aspectos positivos em noacutes Ter clareza de como

se situam os iacutendices de avaliaccedilatildeo na turma na escola no municiacutepio no estado e no paiacutes tambeacutem

foi bastante importante Normalmente a tendecircncia coletiva estaacute em descrer na educaccedilatildeo poreacutem

mesmo que muito lentamente observamos progresso histoacuterico na concepccedilatildeo de aprendizado da

liacutengua materna no valor que eacute dado agrave leitura e agrave escrita

Apoacutes as oficinas a anaacutelise dos objetivos elencados ao iniacutecio de todo o processo

com dados comparativos entre produccedilatildeo inicial e produccedilatildeo final constatamos a relevacircncia da

hipoacutetese baacutesica os alunos do 9ordm ano produziram textos na etapa final das oficinas utilizando-

se das caracteriacutesticas do gecircnero textual crocircnica literaacuteria compreendendo que escrita eacute interaccedilatildeo

valorizando o uso social da escrita de acordo com a proposta teoacuterica de gecircnero preparando

seus textos pautados nas etapas do processo de redigir conforme as orientaccedilotildees dadas em sala

de aula

Sobre nossas hipoacuteteses secundaacuterias pensamos que eacute possiacutevel sim motivar os

alunos a escrever ao desenvolver com eles atividades voltadas para os diferentes subprocessos

e habilidades envolvidos no ato de redigir Poreacutem para haver o engajamento e resultar em uma

turma que escreva textos compatiacuteveis com o grau de desenvolvimento de habilidades esperadas

para o ano que cursam enfrentamos desafios como o aspecto do imediatismo e da recompensa

A natildeo adesatildeo de vaacuterios alunos ao projeto se deu por este natildeo valer nota Portanto

sem uma recompensa imediata natildeo houve o engajamento Nossos alunos infelizmente natildeo

estatildeo habituados a pensar a longo prazo a planejar alcanccedilar metas nem integrar atividades que

lhes facilitem a vida estudantil no futuro Talvez ndash pensamos ndash nem a cultura escolar abranja

141

ainda um trabalho soacutelido e constante nesse sentido Apesar disso haacute professores que se

empenham em fazer um trabalho constante de leitura e na medida do possiacutevel de escrita ao

qual fizemos nossa contribuiccedilatildeo

Por uacuteltimo apoacutes a realizaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica proposta ao contrastarmos as

produccedilotildees inicial e final dos alunos principalmente no que concerne agrave produccedilatildeo realizada para

fins de circulaccedilatildeo social real considerando uma audiecircncia real verificamos um desempenho

mais satisfatoacuterio em relaccedilatildeo agrave competecircncia discursiva realizada no gecircnero crocircnica literaacuteria

visto que os processos de escrita foram considerados no ato da produccedilatildeo de suas proacuteprias

crocircnicas

Para que essa produccedilatildeo fosse efetiva houve que se ter em mente na elaboraccedilatildeo dos

moacutedulos que qualquer tarefa de escrita bem-sucedida requer o exerciacutecio da escrita e da reescrita

Esse processo de aperfeiccediloamento dos textos demanda da parte do professor planejamento

para conhecer as necessidades de natureza geral da turma para trabalhar as caracteriacutesticas de

um gecircnero bem como as de natureza individual do aluno como as limitaccedilotildees no

reconhecimento do gecircnero textual na progressatildeo narrativa nas convenccedilotildees da escrita culta

Pensamos que poderia ser interessante para o aperfeiccediloamento desta SD ampliar e

diversificar mais os textos que compotildeem o moacutedulo de reconhecimento para antes da primeira

produccedilatildeo dos alunos visando oferecer uma visatildeo mais ampla do gecircnero Aleacutem disso

percebemos que tambeacutem eacute preciso que enquanto professores trabalhemos recorrentemente a

instruccedilatildeo da produccedilatildeo com os alunos no sentido de que eles compreendam que natildeo apenas um

aspecto seja escolhido para ser trabalhado mas todos os que nela estatildeo contidos

Aplicar uma SD eacute um trabalho que exige bastante do professor pois se trata de

conhecer o perfil de cada turma em que se decide aplicar um projeto de escrita diagnosticar

planejar os moacutedulos e pensar que o produto pode e deve ter circulaccedilatildeo no meio social Para

tanto eacute importante frisar que a rede de ensino acolha e apoie o professor motivando-o e

possibilitando-lhe as condiccedilotildees necessaacuterias e adequadas para o desenvolvimento de projetos de

escrita dentre as quais podemos mencionar formaccedilatildeo continuada que incentive os projetos de

escrita reforccedilo agraves condiccedilotildees dos materiais das escolas manter o nuacutemero de alunos adequado

nas salas evitando a superlotaccedilatildeo

No tocante aos alunos especialmente os que integraram todos os encontros de todos

os moacutedulos notamos que estes afirmaram que amadureceram ao longo do processo aprendendo

gradualmente a ter controle de sua escrita relendo quando necessaacuterio refletindo buscando

142

clareza Tambeacutem apreciaram muito poder opinar sobre os textos dos colegas visto que estavam

se apropriando das caracteriacutesticas do gecircnero estudado e sentiram seguranccedila para colaborar

Quanto ao trabalho com nuacutemero reduzido de alunos ao permanecerem no projeto

apenas aqueles que se interessaram em melhorar seu desempenho pessoal em leitura e produccedilatildeo

conforme eles mesmos disseram o grupo menor ficou mais coeso e permitiu-lhes liberdade

para trabalhar fosse com discussotildees sugestotildees ou mesmo para dar apoio ateacute mesmo na hora

de ler em voz alta para todos Foi um progresso coletivo e reafirmou a amizade entre o grupo e

tambeacutem conosco por ver que a colaboraccedilatildeo era acompanhada de afetividade

A produccedilatildeo dos textos para circulaccedilatildeo social escrevendo no celular foi produtiva

visto que oportunizou aos alunos o uso da tecnologia que eles afirmam preferir permitindo

agravequeles que natildeo gostam muito de produzir textos com os recursos tradicionais (folha de

produccedilatildeo e caneta) participarem ativamente do processo de produccedilatildeo textual Essa tecnologia

pode ser considerada para futuros trabalhos com alunos do ensino fundamental

Gostariacuteamos de mencionar que este trabalho do iniacutecio ao fim tratou com questotildees

de motivaccedilatildeo e inquietaccedilotildees reais e pessoais A queda abrupta do nuacutemero de participantes

desde o momento da adesatildeo ateacute o da produccedilatildeo para a circulaccedilatildeo eacute reflexo dos desafios que

qualquer professor enfrenta em sua sala cotidianamente No entanto as aulas regulares

diferentemente da proposta da aplicaccedilatildeo do projeto tecircm consigo uma carga de obrigatoriedade

ao exigir a frequecircncia a assiduidade a entrega de tarefas e as avaliaccedilotildees ndash itens que compotildeem

a nota para a aprovaccedilatildeo anual

Em decorrecircncia dessa obrigatoriedade se contrastarmos o desempenho dos alunos

no projeto ao seu desempenho regular na sala de aula de qualquer disciplina natildeo apenas na

liacutengua portuguesa veremos estudantes sem uma motivaccedilatildeo que os conecte ao desenvolvimento

das aulas natildeo permitindo o amadurecimento de suas capacidades e habilidades Como

professora da turma que aplicou o projeto sem exigecircncia de notas percebi que os alunos em

sua maioria natildeo gostariam de estar na escola Muitos natildeo veem ainda sentido em estar presentes

uma tarde inteira 20 (vinte) horas semanais sentados copiando tendo preguiccedila de elaborar

reflexotildees

Esse comportamento desmotivado que se generaliza em escolas de diversos pontos

do Paiacutes desanima tambeacutem os professores gerando a consequecircncia de ao inveacutes de buscarem

novas estrateacutegias para as aulas acabarem mantendo a praacutetica e ainda se conformando com o

senso comum de que ldquoesses alunos natildeo querem nadardquo fora a conjuntura social e econocircmica que

143

por si soacute eacute desanimadora ao limitar recursos e investimentos em educaccedilatildeo desvalorizando a

figura do professor

Gostariacuteamos de acrescentar que sim eles querem Mas ainda natildeo sabem ao certo o

que querem E talvez o que eles possam vir a querer ainda natildeo esteja sendo claramente

apresentado pois atividades tradicionais natildeo os atraem a querer conhecer mais e aprender mais

sobre determinados assuntos que podem acrescentar-lhes agrave vida diaacuteria Ficaria aiacute um desafio ao

professor ao projeto poliacutetico pedagoacutegico da escola e agraves redes de educaccedilatildeo baacutesica repensar o

curriacuteculo para os estudantes deste seacuteculo

Como pudemos observar este trabalho teve sim lacunas que podem ser sanadas

com outras pesquisas Apesar disso acreditamos que a pesquisa-accedilatildeo que realizamos pocircde

aleacutem de ofertar contribuiccedilotildees no acircmbito acadecircmico ao evidenciar vitoacuterias e expor os desafios

encorajar os alunos participantes da pesquisa principalmente os que tiveram a compreensatildeo de

que sua participaccedilatildeo lhes valeria para aleacutem de integrar pontos para uma nota no sentido de que

se permitiram evoluir como produtores de texto em sua liacutengua materna direito que lhes cabe

desde o momento em que satildeo reconhecidos cidadatildeos e que ingressam nas escolas brasileiras

144

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148

APEcircNDICE A ndash ATIVIDADES PROPOSTAS PARA A SEQUEcircNCIA DIDAacuteTICA

Para compor o momento da apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo da sequecircncia de atividades

sensibilizamos os alunos com as caracteriacutesticas baacutesicas das crocircnicas contemporacircneas que foram

descritas na seccedilatildeo correspondente e resgatadas agora organizaccedilatildeo de sua narrativa em primeira

ou terceira pessoa quase sempre como quem conta um caso em tom intimista uma narraccedilatildeo

em que o autor insere em seu texto trechos de diaacutelogos permeados por expressotildees cotidianas

escrevendo como quem conversa com seus leitores como se estivessem muito proacuteximos uso

de temaacuteticas que tratam de reflexotildees sobre a vida social poliacutetica econocircmica por vezes de forma

humoriacutestica outras de modo mais seacuterio outras com jeito poeacutetico permitindo o pertencimento

do gecircnero agrave esfera literaacuteria emprego de linguagem que mescla aspectos da escrita com outros

da oralidade preferecircncia pela brevidade leveza faacutecil acesso e envolvimento Esperamos que

ao final da atividade que aleacutem de respondida por escrito mas principalmente oralmente os

alunos atentem para essas caracteriacutesticas e possam ter um norte quando chegar o momento de

sua primeira produccedilatildeo

Atividade nordm 1

Prova Falsa

Seacutergio Porto (Stanislaw Ponte Preta)

Quem teve a ideia foi o padrinho da caccedilula ndash ele me conta Trouxe o cachorro de

presente e logo a famiacutelia inteira se apaixonou pelo bicho Ele ateacute que natildeo eacute contra isso de se ter

um animalzinho em casa desde que seja obediente e com um miacutenimo de educaccedilatildeo

mdash Mas o cachorro era um chato mdash desabafou

Desses cachorrinhos de raccedila cheio de nheacutem-nheacutem-nheacutem que comem comidinha

especial precisam de muitos cuidados enfim um chato de galocha E como se isto natildeo

bastasse implicava com o dono da casa

mdash Vivia de rabo abanando para todo mundo mas quando eu entrava em casa vinha

logo com aquele latido fininho e antipaacutetico de cachorro de francesa

Ainda por cima era puxa-saco Lembrava certos poliacuteticos da oposiccedilatildeo que

espinafram o ministro mas quando estatildeo com o ministro ficam mais por baixo que tapete de

poratildeo Quando cruzavam num corredor ou qualquer outra dependecircncia da casa o desgraccedilado

rosnava ameaccedilador mas quando a patroa estava perto abanava o rabinho fingindo-se seu

amigo

mdash Quando eu reclamava dizendo que o cachorro era um ciacutenico minha mulher

brigava comigo dizendo que nunca houve cachorro fingido e eu eacute que implicava com o

ldquopobrezinhordquo

Num raacutepido balanccedilo poderia assinalar o cachorro comeu oito meias suas roeu a

manga de um paletoacute de casimira inglesa rasgara diversos livros natildeo podia ver um peacute de sapato

que arrastava para locais incriacuteveis A vida laacute em sua casa estava se tornando insuportaacutevel

Estava vendo a hora em que se desquitava por causa daquele bicho cretino Tentou mandaacute-lo

embora umas vinte vezes e era uma choradeira das crianccedilas e uma espinafraccedilatildeo da mulher

mdash Vocecirc eacute um desalmado mdash disse ela uma vez

Venceu a guerra fria com o cachorro graccedilas agrave maacute educaccedilatildeo do adversaacuterio O

catildeozinho comeccedilou a fazer pipi onde natildeo devia Vaacuterias vezes exemplado prosseguiu no feio

viacutecio Fez diversas vezes no tapete da sala Fez duas na boneca da filha maior Quatro ou cinco

vezes fez nos brinquedos da caccedilula E tudo culminou com o pipi que fez em cima do vestido

novo de sua mulher

149

mdash Aiacute mandaram o cachorro embora mdash perguntei

mdash Mandaram Mas eu fiz questatildeo de daacute-lo de presente a um amigo que adora

cachorros Ele estaacute levando um vidatildeo em sua nova residecircncia

mdash Ueacutehellip mas vocecirc natildeo o detestava Como eacute que arranjou essa sopa pra ele

mdash Problema da consciecircncia mdash explicou mdash O pipi natildeo era dele

E suspirou cheio de remorso

(Disponiacutevel em httpcontobrasileirocombrprova-falsa-cronica-de-sergio-porto-stanislaw-ponte-preta Acesso

em 2612017)

Questotildees

1 Quantos personagens aparecem na histoacuteria Quais vocecirc diria que satildeo os principais

2 Quem teve a ideia foi o padrinho da caccedilula ndash ele me conta

A frase ele me conta eacute um recurso que mostra que a conversa de dois amigos eacute

repassada a uma terceira pessoa Quem eacute ela

3 Que recursos linguiacutesticos mostram a fala do marido e dono da casa onde estava o

cachorro

4 E quais identificam a fala do amigo

5 Onde o marido e seu amigo parecem conversar

6 A partir da fala do marido e das explicaccedilotildees do amigo quais eram as caracteriacutesticas do

cachorro

7 () e eu eacute que implicava com o ldquopobrezinhordquo

Por que pobrezinho estaacute entre aspas

8 Quando aconteceu a histoacuteria

9 Qual foi o problema da histoacuteria

10 Como foi resolvido

11 O destino dado ao cachorro surpreendeu ao amigo Por quecirc

12 Afinal quem era culpado na histoacuteria

13 Que tom predominantemente foi dado a esse texto Humor ironia criacutetica reflexatildeo

lirismo

14 Qual foi o tema principal do texto Vocecirc apontaria outros temas que aparecem na

leitura

15 Que comparaccedilotildees o autor faz com o cachorro Haacute alguma criacutetica Explique

16 Vocecirc conhece o significado das palavrasexpressotildees a seguir Veja

nheacutem-nheacutem-nheacutem chato de galocha puxa-saco

espinafrar espinafraccedilatildeo desquitava guerra fria

vidatildeo sopa

17 Que palavras satildeo usadas no texto para se referir agrave esposa

18 E suspirou cheio de remorso

Explique o valor dessa frase para o contexto da histoacuteria

Atividade nordm 2

Abandono de animais eacute crime e precisa ser denunciado

Por Canal do Pet | 26072016

150

Aleacutem do abandono de animais praacuteticas como bater negar aacutegua ou alimento tambeacutem

satildeo consideradas crime saiba como denunciar

Infelizmente o abandono de animais estaacute cada dia mais presente nos noticiaacuterios

Mesmo com tantas campanhas contra a praacutetica muita gente ainda comete esse crime -

principalmente quando eacute eacutepoca de feacuterias mesmo natildeo havendo um nuacutemero exato as estatiacutesticas

dos institutos de pesquisa afirmam que nos periacuteodos de feacuterias haacute um pico no abandono de

animais Existem muitos relatos de donos que deixam os cachorros em pet shops veterinaacuterios

e hoteacuteis para cachorro e simplesmente nunca mais voltam para buscaacute-los Esse problema pode

estar atrelado a decisatildeo precipitada de ter um animal de estimaccedilatildeo

A Lei 960598 (Lei de Crimes Ambientais) prevecirc os maus-tratos como crime O

decreto 2464534 (Decreto de Getuacutelio Vargas) determina quais atitudes podem ser consideradas

como maus-tratos Qualquer pessoa que for testemunha de um abandono de

animais domeacutesticos ou exoacuteticos pode ir agrave delegacia mais proacutexima A Promotora de Justiccedila

permite a denuacutencia anocircnima Mas para que a denuacutencia seja realizada vocecirc precisa ter certeza

do crime pois uma acusaccedilatildeo falsa eacute outro crime Aleacutem disso no momento da denuacutencia na

delegacia eacute preciso passar o maior nuacutemero de informaccedilotildees possiacuteveis em relaccedilatildeo ao infrator

como seu endereccedilo residencial ou comercial

Caso o animal esteja abandonado em um terreno baldio ou propriedade particular

por exemplo natildeo hesite em invadir o local para salvar o bichinho a sua accedilatildeo seraacute amparada

pela lei O decreto de lei nuacutemero 284840 artigo 24 considera a invasatildeo para salvamento de

um animal em perigo uma atitude de necessidade e portanto natildeo haveraacute nenhum tipo de

puniccedilatildeo

Aleacutem do abandono outras praacuteticas satildeo consideradas crimes pela lei Uma delas eacute o

atropelamento de um animal sem que haja a prestaccedilatildeo de assistecircncia por parte do condutor do

veiacuteculo tambeacutem eacute ilegal Se presenciar essa situaccedilatildeo anote a placa do carro hora e local Outra

eacute a ameaccedila de envenenamento Bater espancar prender por correntes recusar aacutegua e comida e

obrigar ao trabalho excessivo tambeacutem satildeo praacuteticas proibidas

Algumas pessoas preferem natildeo denunciar pelo fato do infrator ser algueacutem proacuteximo

um amigo ou familiar por exemplo Mas lembre-se de que eacute possiacutevel efetuar a denuacutencia de

maus tratos ou abando de animais de forma anocircnima Por isso ao presenciar qualquer situaccedilatildeo

que possa colocar um animal em risco tire foto grave um viacutedeo tenha provas concretas do

acorrido e denuncie Vocecirc seraacute apenas a testemunha o Estado faraacute o restante

Disponiacutevel em httpcanaldopetigcombrcuidados2016-07-26abandono-de-animaishtml Acesso em 22 de

agosto de 2017

Atividade nordm 3

O chato da vez Anaximandro Amorim

Ai meu Deus eu sou muito chato afirmou um amigo em uma conversa informal

Engraccedilado Eu natildeo o acho chato muito pelo contraacuterio Gosto da companhia dele Seraacute que ele

natildeo estaria sendo muito duro consigo mesmo Ou seraacute que eu sou tatildeo chato quanto ele

E vocecirc leitor Vocecirc eacute chato Todo mundo eacute chato ningueacutem eacute chato Do alto desses

meus quase quarenta anos de vida percebi que chatice natildeo eacute qualidade eacute estado de espiacuterito

Dependo de quem quando e onde E sem menos perceber vocecirc leitor pode ser o chato da

vez Cuidado

Foi o que me aconteceu esses dias Um colega insinuou que eu estava sendo chato

Foi num arroubo de fuacuteria o cidadatildeo estava tendo um ataque de nervos Dizem que eacute assim que

151

as verdades vecircm agrave tona Engraccedilado sempre achei que o havia tratado com distinccedilatildeo Talvez

essa fosse tal ldquochaticerdquo ser educado com as pessoas num mundo cada vez mais carente disso

Bom melhor ser chato do que grosso neacute

Particularmente faccedilo tudo para natildeo ser chato Tento ser discreto falar o menos

possiacutevel ouccedilo mais pergunto quase nada sobre a vida particular das pessoas Acho chato

quando fazem isso comigo Natildeo gosto de pegar no peacute A reciacuteproca eacute verdadeira Mas acho que

agraves vezes por medo da chatice acabo chateando algumas pessoas Haacute uma linha muito tecircnue

nesse negoacutecio todo Chato eacute natildeo saber a hora de ultrapassaacute-la E no fundo todo mundo a

ultrapassa

Esses dias aliaacutes fui agrave forra Havia um chato que me chateava haacute uns dois anos

Chato de rede social Daqueles que veem a gente uma duas vezes no maacuteximo e jaacute acham que

podem tomar certas liberdades Meu pavio eacute ateacute meio longo mas chegou uma hora que natildeo

deu Bloqueei o sujeito Estava chato demais Eacute uma pena que na vida real a gente natildeo tenha

esse botatildeo Ia ter tanta gente para bloquear

Em todo caso discordo desse meu amigo Acho que dois chatos natildeo se datildeo Ou ele

estava chato ou era eu Ou na posiccedilatildeo em que estaacutevamos natildeo dava para saber Se bem que

chato que eacute chato natildeo se acha chato Os outros eacute que acham Assim melhor terminar esta

crocircnica que estaacute uma grande chatice por aqui Antes que algueacutem ache definitivamente que o

chato da vez sou eu

Disponiacutevel em httpanaximandroamorimcombrAbreEmDIV]ajaxasplink=amateriaampid=127 Acesso em

24 mai 2017

Questotildees

1 Vamos falar de marcas de autoria

a) De quem eacute a voz que fala no texto Que idade tem essa voz Essa voz fala com algueacutem

Com quem Mostre alguma(s) passagem que indique isso

b) Onde a situaccedilatildeo se passa Haacute algum lugar especiacutefico

c) Esse texto estaacute no passado no presente ou no futuro

d) Do que trata a situaccedilatildeo Ela surgiu de alguma ocasiatildeo especiacutefica Se sim qual

2 O que o autor nos leva a entender que eacute ldquoser chatordquo

3 Que sensaccedilotildees esse texto despertou em vocecirc Explique

4 Vocecirc se considera um(a) chato(a) Por quecirc Em que ocasiotildees

5 Quando o assunto eacute redes sociais

a) Vocecirc tem alguma Qual

b) Com que frequecircncia vocecirc acessa

c) Vocecirc costuma escrever e postar Que tipo de material (textos fotos viacutedeos)

d) Vocecirc tem haacutebito de acompanhar postagens de algueacutem Que tipo de posts vocecirc

acompanha Costuma interagir por meio de comentaacuterios de expressatildeo de opiniatildeo

6 Vamos ver se vocecirc conhece o significado das palavrasexpressotildees a seguir

com distinccedilatildeo pegar no peacute

linha muito tecircnue fui agrave forra

7 Leia o trecho abaixo

Meu pavio eacute ateacute meio longo mas chegou uma hora que natildeo deu Bloqueei o sujeito

Estava chato demais Eacute uma pena que na vida real a gente natildeo tenha esse botatildeo Ia ter tanta

gente para bloquear

a) Qual eacute sua opiniatildeo sobre o pensamento que o autor expressa no trecho acima

b) Vocecirc tambeacutem teria gente para bloquear Por que razotildees

152

c) Agora vamos produzir Inspirado(a) nessa temaacutetica do trecho acima produza um texto

em forma de crocircnica que converse com seu leitor sobre o que eacute ser legal e ser chato a

partir de situaccedilotildees que vocecirc tenha vivenciado e ou observado Vamos determinar quem

seraacute esse leitor

bull Tem a sua idade

bull Acessa redes sociais

bull Lecirc e posta com frequecircncia

bull Interage com as postagens que estatildeo na rede seja de amigos pessoais ou apenas de

outros usuaacuterios

Antes de comeccedilar pense que sensaccedilotildees eu quer causar no meu leitor

Quero fazecirc-lo rir Se emocionar Refletir Que outras sensaccedilotildees seriam possiacuteveis

Faccedila entre 3 e 6 paraacutegrafos Vocecirc pode usar personagens que conversem e

expliquem o assunto (como em Prova Falsa) ou falar diretamente com seu leitor (como

em O chato da vez) Releia Reescreva o que natildeo estiver bem ao seu gosto Ao terminar

seu texto decirc-lhe um tiacutetulo coerente e passe a limpo na folha de produccedilatildeo Bom trabalho

Atividade nordm 4

Manias Ana Mello

Dos vaacuterios significados que meu amigo Aureacutelio apresenta o melhor diz que mania

eacute uma ideia fixa obsessatildeo Mau costume tambeacutem eacute bem significativo Ou extravagacircncia

esquisitice

Dizem por aiacute que vamos ficando velhos e as manias aumentam e se consolidam Eacute

verdade eu observo nos mais velhos do que eu Poucos conseguem controlar aquele impulso

profundo de dar sua opiniatildeo Essa eacute uma mania das mais chatas Repeti-la muitas vezes entatildeo

eacute maccedilante

Jaacute descobri tambeacutem que eacute quase inevitaacutevel ter manias na velhice muitas vecircm da

juventude mesmo condenamos e depois de um tempo fazemos igual sem cerimocircnia alguma

Uma amiga me enviou uma oraccedilatildeo sob o tiacutetulo ldquoOraccedilatildeo para ser uma velhinha

legalrdquo Vou fazer todos os dias e envio coacutepia a quem precisar Separei algumas frases as mais

interessantes

Livrai-me Senhor da tolice de achar que devo dizer algo em toda e qualquer

ocasiatildeo Deste desejo enorme que tenho de querer pocircr em ordem a vida dos outros Da tolice

de querer contar tudo com detalhes e minuacutecias e daacute-me asas para voar diretamente ao ponto que

interessa Jaacute descobri que pessoas que acertam sempre satildeo maccedilantes e desagradaacuteveis Livrai-

me de ser santa Eacute difiacutecil conviver com Santos Mas uma velha rabugenta Senhor eacute obra prima

do diabo

Acho que a oraccedilatildeo pode ser feita por pessoas jovens tambeacutem pois essas manias natildeo

satildeo exclusivas das velhinhas

Fiquei agora com uma duacutevida seraacute que escrever crocircnicas semanais e mandar para

todos os amigos eacute mania Se for azar o de vocecircs amigo eacute para isso mesmo

Enviado por Ana Mello em 02112007

Coacutedigo do texto T720831

Disponiacutevel em httpwwwrecantodasletrascombrcronicas720831

153

Acessado em 23102017

1 Quem eacute ldquomeu amigo Aureacuteliordquo

2 Que exemplos de manias a autora nos apresenta em seu texto

3 Que impressotildees esse texto causou em vocecirc

4 Segundo essa crocircnica quem tem manias Vocecirc concorda Por quecirc

5 Liste aqui manias que vocecirc sabe que tem Apoacutes terminar pense vocecirc as considera

boas ou maacutes manias Por quecirc

6 Vamos fazer um exerciacutecio de escrita Escreva uma crocircnica em que vocecirc fale de suas

manias Converse com o leitor conte a ele suas experiecircncias Faccedila comparaccedilotildees com

pessoas que vocecirc conhece Vocecirc pode inclusive comparar-se hoje a vocecirc daqui a uns

quarenta anos Como seraacute que suas manias vatildeo ser Vatildeo parecer com as das pessoas

mais velhas que vocecirc conhece e convive mas cujas manias vocecirc tanto critica Seratildeo

manias diferentes Seratildeo melhores ou piores

Obs coloque um tiacutetulo interessante e que chame a atenccedilatildeo de seu leitor

Pense que seu texto poderia ser publicado num blog ou mesmo numa paacutegina de rede

social ndash sendo assim que tipo de leitor vai ler o seu texto Ao terminar releia arrume

as ideias e passe a limpo para a folha de produccedilatildeo textual

Atividade nordm 5

Pacto apoacutes morte natildeo podia ver faca Nonato Reis

Essa histoacuteria de prometer retornar ao mundo dos vivos apoacutes o desenlace soa

esquisito e jaacute colocou muita gente em maus lenccediloacuteis A morte pelo misteacuterio que carrega incute

a curiosidade de tentar desvendaacute-la e saber o que de fato existe por traacutes dela Eacute uma questatildeo

que permaneceraacute insoluacutevel ateacute que a ciecircncia elucide-a se eacute que isso algum dia ocorreraacute

Enquanto natildeo atingimos esse estaacutegio temos que ficar com o relato daqueles que se dizem

viacutetimas ou privilegiados de experiecircncias poacutes-tuacutemulo

No Ibacazinho na Palmela no Muricituba e no Marimar era comum as pessoas

fazerem promessas agrave semelhanccedila do pacto selado entre Alvinho e Pau Ferro Na maioria das

vezes o defunto natildeo conseguia voltar deixando frustrados ou aliviados aqueles com quem fez

o acordo Foi o caso de Rui um primo meu que ldquose acertourdquo com Ponina aquela tia-avoacute

descrita em uma de minhas crocircnicas

Rui era um dos poucos que natildeo tinham medo da Tapera de Maria Fernandes Tanto

que decidiu erguer casa justo ali naquele retacircngulo amaldiccediloado e por muito tempo antes de

se casar foi morador solitaacuterio do lugar sem nunca jamais ter visto qualquer coisa fora do

universo dos vivos

Os dois combinaram que aquele que morresse primeiro viria dar sinal ao outro na

noite posterior ao sepultamento Ponina que devia ser uns 50 anos mais velha do que ele tinha

a maior probabilidade de ficar com a obrigaccedilatildeo de cumprir o trato e foi o que aconteceu Poreacutem

os dias e as noites passaram apoacutes o falecimento dela sem que a finada desse qualquer sinal da

sua presenccedila para Rui

Eu tambeacutem caiacute nessa besteira de fazer uma promessa com uma menina do primeiro

ano meacutedio e vivi uma situaccedilatildeo constrangedora Rosa era baixinha corpo bem feito cabelos no

estilo pigmaleatildeo excelente aluna fera em Matemaacutetica e Fiacutesica Nossa aproximaccedilatildeo se deu por

estrateacutegia de aprendizado

154

Eu tinha facilidade em Portuguecircs e Redaccedilatildeo uacutenicas mateacuterias que ela natildeo dominava

e precisava de reforccedilo em Fiacutesica e Matemaacutetica Selamos um pacto de ajuda muacutetua nessas

disciplinas que depois se estendeu para depois da vida ldquoSe eu morrer primeiro eu apareccedilo

para ti em plena Rua Grande apinhada de gente e se tu fores primeiro do que eu tu me surges

agrave noite no meu quartordquo

Eu natildeo entendi o porquecirc da escolha do local da minha apariccedilatildeo mas aceitei Os

anos se passaram eu entrara para a universidade perdi o contato com ela Um dia caminhando

pela Rua Grande veacutespera de Natal gente feito formiga dei de cara com aquela menina

tampinha cabelos no mesmo estilo de antes que diante de mim abriu um enorme sorriso e abriu

os braccedilos para me acolher Eu caiacute das nuvens mas antes que ela me alcanccedilasse danei a correr

feito louco fazendo zigue-zague entre as pessoas ateacute esbarrar num orelhatildeo e me estatelar no

chatildeo o rosto sangrando Assustada Rosa ajoelhou-se diante de mim e quis saber o motivo

daquela reaccedilatildeo ldquoCara o que eacute isso Tu viu fantasmardquo Eu baixei a cabeccedila o coraccedilatildeo prestes a

explodir e natildeo consegui dizer nada

Situaccedilatildeo pior viveu o professor Auriacutelio Vieira de Andrade que fizera um pacto

desses com um primo ainda menino Ele cresceu veio estudar em Satildeo Luiacutes e levou anos para

retornar ao interior Um belo dia em feacuterias na casa paterna Auriacutelio conversava com a matildee em

volta do fogatildeo de lenha quando do nada surgiu o menino da promessa e o pegou pelo braccedilo

dizendo ldquoVamos eu vim te buscarrdquo

Ele natildeo se lembrava mais da estoacuteria nem do menino Pensou que se tratava de uma

brincadeira e reagiu com naturalidade ldquoCalma para onde vocecirc quer me levarrdquo O menino

respondeu ldquopara o aleacutemrdquo Auriacutelio sorriu ldquomas eu ainda natildeo quero ir para o aleacutemrdquo O menino

natildeo se deu por vencido ldquoNatildeo importa a tua vontade vocecirc fez um pacto comigo e eu vim te

buscarrdquo

Foi entatildeo que o caso ressurgiu liacutempido na memoacuteria de Auriacutelio e ele viu que a coisa

era seacuteria A matildee percebendo a gravidade da situaccedilatildeo poreacutem sem avistar o menino tratou de

ajudar o filho segurando-o pelo braccedilo mas notou que havia uma energia ali muito maior que a

resistecircncia de ambos e apelou aos ceacuteus pedindo socorro divino

Auriacutelio jaacute desaparecia na porta da rua quase que levado aos trambolhotildees

Desesperada a matildee comeccedilou a rezar o Pai Nosso e o Credo e soacute assim conseguiu ter o filho de

volta Auriacutelio poreacutem viveu dias amargos ldquoPassei quase um mecircs deprimido Soacute pensava em

suiciacutedio Natildeo podia ver faca perto de mimrdquo

Crocircnica escrita em janeiro de 2017

Questotildees

Parte I ndash Vocabulaacuterio

a) Vocecirc conhece estas palavras

Desenlace Incute

Insoluacutevel Tapera

Pigmaleatildeo Apinhada

b) Vocecirc observa marcas de oralidade no texto Vamos destacar algumas

c) Que outras palavras ou expressotildees satildeo muito correntes no vocabulaacuterio do Maranhatildeo

Parte II ndash Compreensatildeo

1 Do que trata a histoacuteria

2 Qual eacute o foco narrativo

155

3 Que personagens aparecem na histoacuteria

4 O que eacute um pacto poacutes-morte Vocecirc sabe de algueacutem que tenha feito algum

5 Vocecirc acredita nessas histoacuterias Fale um pouco a respeito

6 No trecho ldquoSe eu morrer primeiro eu apareccedilo para ti em plena Rua Grande apinhada

de gente e se tu fores primeiro do que eu tu me surges agrave noite no meu quartordquo

Qual seria a vantagem para cada um nos locais das apariccedilotildees E as desvantagens

7 Como seria feito o seu pacto caso um dia vocecirc resolvesse fazecirc-lo

8 No que esse texto que vocecirc leu se assemelha com uma histoacuteria de terror E no que ela

se diferencia

9 Se esse texto fosse uma notiacutecia de jornal seria escrito da mesma forma Qual seria a

diferenccedila da linguagem

10 No uacuteltimo paraacutegrafo haacute a frase

ldquoFoi entatildeo que o caso ressurgiu liacutempido na memoacuteria de Auriacutelio e ele viu que a coisa

era seacuteriardquo

Se vocecirc fosse o Auriacutelio como resolveria a situaccedilatildeo

Atividade nordm 6

A cara da rua Marcelo Xavier

A rua sempre traduz a imagem de determinada eacutepoca Por isso eacute tatildeo interessante

Em cenas urbanas do seacuteculo XVIII XIX vemos carruagens mulheres de vestidos longos e

homens de terno e chapeacuteu No comeccedilo do seacuteculo XX automoacuteveis pretos mulheres de vestidos

mais curtos e homens ainda de terno e chapeacuteu Nos anos 1960 e 1970 automoacuteveis coloridos

mulheres de minissaia e homens sem terno e sem chapeacuteu

E agora na segunda deacutecada do seacuteculo XXI qual eacute a cara da rua Talvez vocecirc natildeo

saiba responder Eacute que ela passa todos os dias diante do seu nariz e vocecirc natildeo a vecirc Ou vocecirc

apenas vecirc algumas partes ldquomais atraentesrdquo do corpo dela A cara da rua continua invisiacutevel Vale o esforccedilo encare-a Como a um espelho Eacute divertido eacute necessaacuterio Esqueccedila o colesterol de

carros que entopem as vias mire os humanos

Repare bem as mulheres estatildeo de vestidos de todos os comprimentos de calccedilas

coladas se equilibrando em agulhas altiacutessimas carregadas de adereccedilos Normal

Os homens ah Os homens deram um salto esteacutetico rumo agrave libertaccedilatildeo Lembra

aqueles cavalheiros sisudos das ruas antigas com ternos de cores soacutebrias e chapeacuteus iguais

Esquece

Os novos machos estatildeo de brincos colares vistosos boneacutes e tecircnis coloridos

camisetas de todo tipo ebermudas

Natildeo as antigas que natildeo passavam de calccedilas curtas discretas As de hoje satildeo

espalhafatosas se expressam Multicoloridas exibem uma diversidade visual que beira o

infinito Geomeacutetricas abstratas figurativas iacutedolos super-heroacuteis paisagens flores ondas do

156

mar nuvens paacutessaros animais palavras de ordem apologias Combinam texturas

inimaginaacuteveis demarcam aacutereas visuais em recortes absurdamente livres ndash numa perna listras

diagonais na outra xadrez Um tsunami criativo que sai arrastando os antigos princiacutepios de

harmonia do universo da moda E o que eacute intrigante natildeo se repetem

Esse surto visual atinge seu aacutepice quando as bermudas-alucinoacutegenas se juntam a

camisetas estampadas tecircnis astronaacuteuticos boneacutes cheios de atitude e tatuagens ndash nos braccedilos nas

panturrilhas no pescoccedilo laacute estatildeo dragotildees coroas de espinho mulheres folhas de maconha

juras de amor

Vocecirc pode natildeo gostar do que vecirc natildeo se reconhecer na imagem que estaacute no espelho

mas essa eacute a cara da rua do seu tempo De certa forma a sua cara

XAVIER Marcelo A cara da rua e outras crocircnicas Satildeo Paulo Saraiva 2013

Vamos refletir sobre o texto

1 A partir da leitura vocecirc consegue deduzir de que situaccedilatildeo observada no cotidiano o autor

partiu para escrever essa crocircnica

2 O autor fez a construccedilatildeo do seu texto de forma simples poreacutem criativa por meio de

comparaccedilotildees para mostrar a cara da rua ao longo do tempo Vamos identificaacute-las

No meio urbano Seacutec XVIII

XIX

Comeccedilo do

seacutec XX

Anos 19601970 do

seacutec XX

2ordf deacutecada do

seacutec XXI

Vestuaacuterio

feminino

Vestuaacuterio

masculino

3 Dessas comparaccedilotildees do visual que foram feitas ao longo do texto vocecirc encontra alguma

na rua onde mora Qual

4 E o que eacute diferente na rua onde vocecirc mora que natildeo foi citado no texto

5 Preste atenccedilatildeo aos trechos a seguir

A rua sempre traduz a imagem de determinada eacutepoca Por isso eacute tatildeo interessante

[]

Vocecirc pode natildeo gostar do que vecirc natildeo se reconhecer na imagem que estaacute no espelho

mas essa eacute a cara da rua do seu tempo De certa forma a sua cara

6 A partir da leitura do texto vocecirc consegue dizer se o autor gosta ou natildeo gosta da cara da

rua que ele descreve Explique sua resposta

7 Que palavras ou expressotildees no texto mostram que o autor conversa com seu leitor ao longo do texto Sublinhe-as

8 Para que puacuteblico vocecirc acha que essa crocircnica estaacute direcionada Explique sua resposta

9 Vocecirc faraacute a seguir a seguinte atividade leia essa crocircnica de Marcelo Xavier para uma

pessoa em casa Apoacutes a leitura anote as impressotildees e opiniotildees dela sobre a atual cara

da rua sejam positivas ou negativas Ao final pergunte a essa pessoa para quem vocecirc

leu se o texto provocou uma impressatildeo boa ou ruim se ela o achou bem ou mal escrito

se a fez refletir sobre a vida e a mudanccedila dos tempos e qual a conclusatildeo a que ela chegou

depois dessa reflexatildeo

Ao final dessa atividade passe a limpo seu registro e traga para a aula

seguinte para discussatildeo coletiva

157

Atividade nordm 7

A Carta de punho

Demitri Tulio

DAS ANTIGAS 23102016

Algumas pessoas ainda escrevem cartas E bom que ainda o fazem Missivas

escritas agrave matildeo e a tinta preta da caneta dando vida agrave vontade de chegar perto do outro

Ou de ser escutado como se pensasse alto querendo ser ouvido das lonjuras que a

vida vai criando entre ex-amores amigos que deixaram de se ter de filho e matildee separados por

asas

Particularmente antes de agora laacute longe quando fui mais menino queria ter escrito

muitas cartas Devo ter rabiscado umas duas e nunca as mandei agrave destinataacuteria

Primeiro porque tinha vergonha de natildeo saber ortografia Achava difiacutecil (ainda

acho) a gramaacutetica brasileira e me amuava em vergonha de grafar ou concordar alguma coisa

ldquoerradardquo para quem eu queria dizer de mim

Entatildeo ficava horas e dias tentando

rascunhar correto e catando palavras peludas

trechos do dicionaacuterio frase de escritores que eu

queria ser Um paraacutegrafo dois e rasgava a folha

do caderno Serei levado a pagode

E por mais que eu lesse Graciliano

para Heloiacutesa os labirintos e as encruzilhadas da Clarice e os retratos de dona Leopoldina sobre

o Brasil e seu desenxabido Pedro I natildeo conseguia nem copiaacute-los

Loacutegico carta eacute um ser entranhado do remetente Eacute quase um pulmatildeo um rim um

coraccedilatildeo Eacute parte do corpo que se doa no instante em que a esferograacutefica vai sendo guiada pelo

papel

E natildeo era meu o afeto de Graciliano Natildeo eram minhas as inquietaccedilotildees de Clarice

E era de dona Leopoldina aquele incocircmodo de calor a saudade das oacuteperas da Aacuteustria as caccediladas

de animais do Brasil ldquoprimitivordquo

Pois bem queria ter escrito recebido e respondido mais cartas Hoje mando emails

Eacute bom mas carta tinha uma espera que natildeo sei dizer

Semana passada depois de mais de 30 anos sem algueacutem me endereccedilar uma carta

de papel e caneta eis que recebo Natildeo foi de pretendente Sempre esperei por uma dessas mas

talvez a falta de boniteza tenha me privado de

Foi de um leitor da Coluna Um moccedilo de mais de 92 anos que teve a gentileza de

tirar um tempo e me enviar um envelope pelos Correios Carimbado dois selos e o trato por

ldquoIlmo Srrdquo

ldquoCaro (posso) Sr Demitri Sauacutede Sou assinante drsquo O Povo haacute deacutecadas e portanto

seu leitor antigo Natildeo soacute leitor mas tambeacutem admirador pela defesa da natureza (paacutessaros do

Cocoacute) e pelo seu estilo diferente (neologismos bem lsquocolocadosrsquo) e assuntos (temas) originais

para suas crocircnicas

Criei coragem para lhe escrever apoacutes ler sua crocircnica (artigo) lsquoEntatildeo Venha

comigorsquo excelente para quem como eu jaacute passou dos 92 e concorda com suas colocaccedilotildees

sobre a velhice

Aceite meus cumprimentos e votos de muitos anos de lsquoescrevinhaccedilatildeorsquo

Cordialmente (ex-cordis) Santos Rochardquo

158

E ainda escreve um paraacutegrafo derradeiro apoacutes as despedida e a assinatura ldquoPS Natildeo

eacute que eu queira lsquosubir aleacutem da chinelarsquo mas me parece que no penuacuteltimo paraacutegrafo de sua

crocircnica deveria ter escrito lsquose casariarsquo em vez de lsquocasaria-sersquo Discurperdquo

O envelope branco com um carimbo de uma agecircncia dos Correios do bairro

Meireles trazia ainda um texto datilografado (Ser Jovem do general Douglas Mac-Arthur) e

um recorte de jornal com um sermatildeo de Santo Agostinho

Pois fico agradecido pela decisatildeo de escrever a carta do tempo dedicado Pelos

minutos pensando em o que escrever Por cada palavra casada com cada frase Pela respiraccedilatildeo

para pensar em quem nem se conhece

Pela caneta preta identificando o remetente

Pela ida aos Correios ou por se dar ao trabalho de pedir algueacutem que fosse

Pela gentileza de ler a Das Antigas

Como o senhor mandou dizer ldquoNatildeo eacute por ter vivido um certo nuacutemero de anos que

envelhecemos envelhecemos porque abandonamos o nosso idealrdquo

Sem mais fico por aqui

Acesso em 31 ago 2017

httpwww20opovocombrappcolunasdasantigas20161022noticiasdasantigas3665372a-carta-de-

punhoshtml

Vocabulaacuterio

Desenxabido Adjetivo 1desprovido de gosto de sabor insiacutepido insosso2a que

falta interesse particular ou graccedila marcado pela repeticcedilatildeo aborrecido monoacutetono

Ex abundantia cordis Da abundacircncia do coraccedilatildeo Com sinceridade

Curiosidade

Pedro nasceu na manhatilde de 12 de outubro de 1798 no Palaacutecio Real de Queluz

Portugal Ele foi nomeado em homenagem a Satildeo Pedro de Alcacircntara e seu nome completo era

Pedro de Alcacircntara Francisco Antoacutenio Joatildeo Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael

Joaquim Joseacute Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim Desde seu nascimento recebeu o prefixo

honoriacutefico de Dom

Atividade

Vamos observar a crocircnica Marque o que acha adequado

Sim Natildeo

Partiu de uma situaccedilatildeo observadavivida

Conversa com o leitor

Possui o foco narrativo bem determinado (narrador personagem ou

narrador observador ou narrador onisciente)

Leva o leitor a refletir

Causa impressotildees no leitor como riso choro reflexatildeo emoccedilatildeo

Possui um final interessante

Mostra discretamente ao leitor seu ponto de vista a respeito da situaccedilatildeo

Possui alguma descriccedilatildeo de lugarobjetopersonagem

Possui um tiacutetulo

Emprega adequadamente os sinais de pontuaccedilatildeo

Evita repeticcedilatildeo desnecessaacuteria de palavras

Possui paraacutegrafos bem organizados

159

Atividade nordm 8

Amor de macumba Fabriacutecio Carpinejar

Quando algum amigo diz que recebeu macumba da ex fico com ciuacuteme Com dor

de cotovelo

Isso que eacute amor grandioso Amor de verdade

Sempre olho na minha esquina para ver se natildeo tem nenhuma encomenda para mim

Mas nunca chega esse sedex do amor

Macumba eacute sedex 10 do amor

Eacute muita paixatildeo odiar algueacutem com tanto zelo Eacute muito capricho gastar seu tempo e

fazer um trabalhinho para prender a pessoa ao seu coraccedilatildeo

Eacute muita disposiccedilatildeo

Eacute muita energia

Eacute muito querer

Eacute muito desejo

Eacute a superaccedilatildeo de todos os incocircmodos de todos os vexames de todos os medos

Eacute muito luxo ter uma amada pagando para os santos mexerem com vocecirc pagando

a parcela antecipada da eternidade

Isso que eacute amor aleacutem da vida

Isso que eacute vontade de permanecer junto

Eu aceitaria qualquer prova de doaccedilatildeo amarraccedilatildeo vodu letras de macarratildeo

pipoca

Nem precisa roubar minha cueca daria a melhor da minha gaveta

Ai que inveja

No lugar da galinha preta poderia oferecer o chester que sempre recebo no final do

ano

Estaacute aqui parado no congelador Sem uso

E as velas na minha esquina ainda ajudariam a iluminaccedilatildeo puacuteblica

Amor de macumba eacute amor para sempre

Disponiacutevel em httpcarpinejarblogspotcombr201402amor-de-macumbahtml

Acesso em 2 de agosto de 2017

Vamos refletir sobre o texto

1 A partir da leitura vocecirc consegue deduzir de que situaccedilatildeo observada no cotidiano o autor

partiu para escrever essa crocircnica

2 Qual parece ser a opiniatildeo do autor a respeito do tema Utilize trechos do texto que

justifique a sua resposta

3 Que reflexotildees se pode perceber na leitura desse texto

4 Que impressotildees essa crocircnica causa no leitor (riso choro reflexatildeo emoccedilatildeo alguma

outra)

160

Atividade nordm 9

Sr Google Pacheco

SR GOOGLE PACHECO

27 outubro 2012 Juliano Martinz

Quando chegavam ao escritoacuterio pela manhatilde o senhor Google Pacheco sempre

estava laacute Sentado a sua mesa ou correndo de um lado para outro mantinha-se no seu

memoraacutevel ritmo agitado produccedilatildeo beirando o frenesi Os funcionaacuterios o admiravam Era

sempre o primeiro a chegar e o uacuteltimo a sair (embora ningueacutem tenha testemunhado qualquer

um destes acontecimentos)

ndash Acho que ele dorme no escritoacuterio ndash alguns arriscavam

Outros jaacute apelavam pro exagero

ndash Dizem que ele nunca dorme

Sr Google Pacheco O chefe do departamento de marketing Baixo e gordinho

Feiccedilatildeo inocente quase boba Chamava a atenccedilatildeo pelas roupas sempre de cores viacutevidas

cintilantes Geralmente boneacute azul camiseta vermelha calccedilas amarelas e tecircnis verde Agraves vezes

invertia as cores mas nunca as abandonava Roupas estranhas para um homem de nome

estranho A personagem perfeita para textos humoriacutesticos

Quando era novo na empresa ainda apenas um singelo desconhecido causava

confusatildeo com seu nome Liam o crachaacute e diziam

ndash Bom dia sr Goacutegle

Ele corrigia sempre sorridente e simpaacutetico

ndash Natildeo natildeo Pronuncia-se Guacutegou

ndash Guacutegou

ndash Eacute a centeacutesima potecircncia do nuacutemero 10

ndash Uau

Ateacute o nome carregava seu estigma de gecircnio absoluto O Sr Google era uma

enciclopeacutedia ambulante Parecia ser senhor de todo o conhecimento Portador de soluccedilatildeo para

os mais variados problemas na ponta da liacutengua Para cada desafio proposto no dia a dia da

empresa vertia um turbilhatildeo de soluccedilotildees precisas e automaacuteticas

Com sua eficiecircncia derramada a cada suspiro de auxiliar no departamento de

marketing chegou agrave chefia em poucos meses Com o passar dos dias e semanas a experiecircncia

acumulando-se nas veias parecia saber o que as pessoas queriam antes de terminarem de falar

ndash Seu Google o senhor sabe que horashellip

ndash hellip seraacute a reuniatildeo do conselho

ndash Isso Isso mesmo

ndash 16 horas

Era um gecircnio Disposiccedilatildeo tamanha natildeo demorou muito e comeccedilaram a abordar

assuntos mais pessoais

ndash Sr Google preciso de sua ajuda Como faccedilo para conhellip

ndash Conquistar sua melhor amiga

ndash Uau Como o senhor sabe

E derramava soluccedilotildees Como se natildeo bastasse a prontidatildeo comeccedilou a oferecer

vaacuterias opccedilotildees

ndash Sr Google chocolate daacutehellip

ndash Espinha Celulite Coacutelica no bebecirc

ndash Eacuteeacuteeacuteeacutehellip

161

ndash Sono Dor de cabeccedila Azia

ndash Euhellip

ndash Enxaqueca Energia Gases

ndash Isso ndash disse ruborizada ndash Gases

ndash Ahaacute Vocecirc estaacute com sorte menina

Ateacute o poderoso e inacessiacutevel dono da empresa cuja agenda diaacuteria se resumia a

constantes viagens de negoacutecio pela Europa comeccedilou a passar mais tempo no Brasil E quase

todos os dias ia na empresa Mas nem entrava em sua sala Jaacute ia direto para a sala do senhor

Google Os curiosos e fofoqueiros discutiam o teor das conversas atraacutes daquelas portas Uns

diziam que falavam apenas sobre bolsa de valores Acontecimentos mundiais tendecircncias

econocircmicas essas coisas Outros achavam que a conversa soacute passeava pela arena dos assuntos

pessoais

Independentemente do conteuacutedo destes encontros a portas fechadas a empresa soacute

crescia E os funcionaacuterios eram unacircnimes em admitir depois da chegada do Sr Google a vida

de todos eles se tornou mais completa e intensa

Certo dia o Sr Google natildeo apareceu para trabalhar A princiacutepio pairou uma tensatildeo

camuflada no ar Agrave medida que as horas foram passando e o Sr Google natildeo aparecia fez-se

um clima de desespero Comeccedilaram a ligar para o seu celular mas dava como nuacutemero

inexistente Algueacutem tem o telefone da casa dele O resultado foi o mesmo nuacutemero inexistente

Onde ele morava mesmo Ningueacutem sabia O desespero instalou-se no preacutedio Ningueacutem

conseguia fazer nada Ficavam andando de um lado para outro perdidos Nem a dona Gertrudes

conseguiu fazer o cafeacute

Durante dias ningueacutem trabalhou Duacutevidas sobre o andamento da empresa ndash diziam

que accedilotildees da empresa estavam tendo quedas vertiginosas Os funcionaacuterios sentiam-se curvados

ante o peso dos problemas pessoais que natildeo conseguiam resolver sem a ajuda e os conselhos

do Sr Google

Duas semanas depois e metade deles natildeo mais aparecia na empresa Dois ou trecircs

mergulharam de cabeccedila no alcoolismo Outro se jogou da ponte E o poderoso dono da empresa

quem diria foi flagrado diversas vezes em prantos cambaleando pelos corredores

fantasmagoacutericos e mal iluminados da empresa que veio agrave falecircncia dias depois

Quanto ao sr Google nunca mais foi visto Dizem por aiacute que montou um site e

ficou milionaacuterio Mas comprovar mesmo ningueacutem nunca comprovou

Acesso em 2 de agosto de 2017

Disponiacutevel em httpcorrosivacombrcronicas-engracadascronica-humoristica-google-

pacheco

Atividade

1 Vocecirc conhece o vocabulaacuterio a seguir

Memoraacutevel

Frenesi

Singelo

Vertia

Turbilhatildeo

Vertiginosas

2 O texto trata de maneira bem humorada de uma situaccedilatildeo cotidiana Qual

3 O texto traz em si alguma reflexatildeo Qual

162

ANEXO A ndash DISTRIBUICcedilAtildeO POR NIacuteVEL DE PROFICIEcircNCIA

Liacutengua Portuguesa do 9ordm Ano do Ensino Fundamental

Distribuiccedilatildeo por Niacutevel de Proficiecircncia - Liacutengua Portuguesa do 9ordm Ano do Ensino

Fundamental

Niacutevel Descriccedilatildeo do Niacutevel - O estudante provavelmente eacute capaz de

Niacutevel 0

Desempenho menor

que 200

Niacutevel 1

Desempenho maior

ou igual a 200 e

menor que 225

Os estudantes provavelmente satildeo capazes de Reconhecer

expressotildees caracteriacutesticas da linguagem (cientiacutefica jornaliacutestica etc)

e a relaccedilatildeo entre expressatildeo e seu referente em reportagens e artigos

de opiniatildeo Inferir o efeito de sentido de expressatildeo e opiniatildeo em

crocircnicas e reportagens

Niacutevel 2

Desempenho maior

ou igual a 225 e

menor que 250

Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes

provavelmente satildeo capazes de Localizar informaccedilotildees expliacutecitas em

fragmentos de romances e crocircnicas Identificar tema e assunto em

poemas e charges relacionando elementos verbais e natildeo verbais

Reconhecer o sentido estabelecido pelo uso de expressotildees de

pontuaccedilatildeo de conjunccedilotildees em poemas charges e fragmentos de

romances Reconhecer relaccedilotildees de causa e consequecircncia e

caracteriacutesticas de personagens em lendas e faacutebulas Reconhecer

recurso argumentativo em artigos de opiniatildeo Inferir efeito de

sentido de repeticcedilatildeo de expressotildees em crocircnicas

Niacutevel 3

Desempenho maior

ou igual a 250 e

menor que 275

Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes

provavelmente satildeo capazes de Localizar informaccedilotildees expliacutecitas em

crocircnicas e faacutebulas Identificar os elementos da narrativa em letras de

muacutesica e faacutebulas Reconhecer a finalidade de abaixo-assinado e

verbetes Reconhecer relaccedilatildeo entre pronomes e seus referentes e

relaccedilotildees de causa e consequecircncia em fragmentos de romances

diaacuterios crocircnicas reportagens e maacuteximas (proveacuterbios) Interpretar o

sentido de conjunccedilotildees de adveacuterbios e as relaccedilotildees entre elementos

verbais e natildeo verbais em tirinhas fragmentos de romances

reportagens e crocircnicas Comparar textos de gecircneros diferentes que

abordem o mesmo tema Inferir tema e ideia principal em notiacutecias

crocircnicas e poemas Inferir o sentido de palavra ou expressatildeo em

histoacuteria em quadrinhos poemas e fragmentos de romances

Niacutevel 4

Desempenho maior

Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes

provavelmente satildeo capazes de Localizar informaccedilotildees expliacutecitas em

artigos de opiniatildeo e crocircnicas Identificar finalidade e elementos da

163

ou igual a 275 e

menor que 300

narrativa em faacutebulas e contos Reconhecer opiniotildees distintas sobre o

mesmo assunto em reportagens contos e enquetes Reconhecer

relaccedilotildees de causa e consequecircncia e relaccedilotildees entre pronomes e seus

referentes em fragmentos de romances faacutebulas crocircnicas artigos de

opiniatildeo e reportagens Reconhecer o sentido de expressatildeo e de

variantes linguiacutesticas em letras de muacutesica tirinhas poemas e

fragmentos de romances Inferir tema tese e ideia principal em

contos letras de muacutesica editoriais reportagens crocircnicas e artigos

Inferir o efeito de sentido de linguagem verbal e natildeo verbal em

charges e histoacuteria em quadrinhos Inferir informaccedilotildees em

fragmentos de romance Inferir o efeito de sentido da pontuaccedilatildeo e da

polissemia como recurso para estabelecer humor ou ironia em

tirinhas anedotas e contos

Niacutevel 5

Desempenho maior

ou igual a 300 e

menor que 325

Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes

provavelmente satildeo capazes de Localizar a informaccedilatildeo principal em

reportagens Identificar ideia principal e finalidade em notiacutecias

reportagens e resenhas Reconhecer caracteriacutesticas da linguagem

(cientiacutefica jornaliacutestica etc) em reportagens Reconhecer elementos

da narrativa em crocircnicas Reconhecer argumentos e opiniotildees em

notiacutecias artigos de opiniatildeo e fragmentos de romances Diferenciar

abordagem do mesmo tema em textos de gecircneros distintos Inferir

informaccedilatildeo em contos crocircnicas notiacutecias e charges Inferir sentido

de palavras da repeticcedilatildeo de palavras de expressotildees de linguagem

verbal e natildeo verbal e de pontuaccedilatildeo em charges tirinhas contos

crocircnicas e fragmentos de romances

Niacutevel 6

Desempenho maior

ou igual a 325 e

menor que 350

Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes

provavelmente satildeo capazes de Identificar ideia principal e

elementos da narrativa em reportagens e crocircnicas Identificar

argumento em reportagens e crocircnicas Reconhecer o efeito de

sentido da repeticcedilatildeo de expressotildees e palavras do uso de pontuaccedilatildeo

de variantes linguiacutesticas e de figuras de linguagem em poemas

contos e fragmentos de romances Reconhecer a relaccedilatildeo de causa e

consequecircncia em contos Reconhecer diferentes opiniotildees entre

cartas de leitor que abordam o mesmo tema Reconhecer a relaccedilatildeo

de sentido estabelecida por conjunccedilotildees em crocircnicas contos e

cordeacuteis Reconhecer o tema comum entre textos de gecircneros

distintos Reconhecer o efeito de sentido decorrente do uso de

figuras de linguagem e de recursos graacuteficos em poemas e

fragmentos de romances Diferenciar fato de opiniatildeo em artigos e

reportagens Inferir o efeito de sentido de linguagem verbal e natildeo

verbal em tirinhas

Niacutevel 7

Desempenho maior

Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes

provavelmente satildeo capazes de Localizar informaccedilotildees expliacutecitas

ideia principal e expressatildeo que causa humor em contos crocircnicas e

164

ou igual a 350 e

menor que 375

artigos de opiniatildeo Identificar variantes linguiacutesticas em letras de

muacutesica Reconhecer a finalidade e a relaccedilatildeo de sentido estabelecida

por conjunccedilotildees em lendas e crocircnicas

Niacutevel 8

Desempenho maior

ou igual a 375

Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes

provavelmente satildeo capazes de Localizar ideia principal em

manuais reportagens artigos e teses Identificar os elementos da

narrativa em contos e crocircnicas Diferenciar fatos de opiniotildees e

opiniotildees diferentes em artigos e notiacutecias Inferir o sentido de

palavras em poemas

Fonte INEP (2018)

165

ANEXO B ndash DISTRIBUICcedilAtildeO DE TEXTOS FALADOS E ESCRITOS NO CONTIacuteNUO

GENEacuteRICO

Distribuiccedilatildeo dos textos de uso falados e escritos no contiacutenuo geneacuterico

Fonte MARCUSCHI (2015 p 195-196)

166

ANEXO C ndash PRODUCcedilOtildeES DOS ALUNOS

Produccedilatildeo Inicial de Ana

Produccedilatildeo Final de Ana

167

Produccedilatildeo Inicial de Rodrigo

168

Produccedilatildeo final de Rodrigo

169

Produccedilatildeo Inicial de Eduardo

170

Produccedilatildeo final de Eduardo

171

Produccedilatildeo inicial de Estela

172

Produccedilatildeo final de Estela

173

174

175

Produccedilatildeo Inicial de Celia

176

Produccedilatildeo final de Celia

177

Produccedilatildeo Inicial de Arlindo

178

Produccedilatildeo final de Arlindo

179

Produccedilatildeo Inicial de Juacutelia

180

Produccedilatildeo final de Juacutelia

181

Produccedilatildeo Inicial de Vicente

182

Produccedilatildeo final de Vicente

183

Produccedilatildeo Inicial de Graccedila

184

Produccedilatildeo final de Graccedila

185

Produccedilatildeo Inicial de Lilian

186

Produccedilatildeo final de Lilian

187

Produccedilatildeo Inicial de Heloiacutesa

188

Produccedilatildeo final de Heloisa

189

Produccedilatildeo Inicial de Eliane

190

Produccedilatildeo final de Eliane

191

Produccedilatildeo Inicial de Joana

Fonte dados da pesquisa

192

Figura 31 ndash Produccedilatildeo final de Joana

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE HUMANIDADES … · A Deus, que me pôs a realizar sonhos, permitindo-me o devido aperfeiçoamento para que pudesse executar melhor a tarefa

FERNANDA MARIA DA SERRA COSTA

A PRODUCcedilAtildeO ESCRITA DE CROcircNICAS EM SALA DE AULA DO 9ordm ANO DO ENSINO

FUNDAMENTAL

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-

Graduaccedilatildeo Profissional em Letras da

Universidade Federal do Cearaacute como requisito

parcial agrave obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em

Letras Aacuterea de concentraccedilatildeo Linguagens e

Letramentos

Aprovado em ____ ____ _______

BANCA EXAMINADORA

________________________________________

Profordf Drordf Aacuteurea Suely Zavam (Orientadora)

Universidade Federal do Cearaacute (UFC)

_________________________________________

Profordf Drordf Pollyane Bicalho Ribeiro

Universidade Federal do Cearaacute (UFC)

_________________________________________

Prof Drordf Sarah Diva da Silva Ipiranga

Universidade Estadual do Cearaacute (UECE)

A Deus

Aos meus pais Olilia e Arnold

Aos meus filhotes Felipe e Miguel

A Maria Morena e Bilaacute in memorian

AGRADECIMENTOS

A Deus que me pocircs a realizar sonhos permitindo-me o devido aperfeiccediloamento

para que pudesse executar melhor a tarefa de contribuir para o mundo

Aos meus pais Olilia e Arnold por todo o apoio incondicional e sem esperar em

troca a vida toda e mais ainda durante o mestrado

Aos meus filhos Felipe e Miguel pela compreensatildeo da distacircncia mesmo que

passageira pela paciecircncia e pelo apoio

Agrave Prof Dr Aurea Zavam pelo carinho acolhimento e orientaccedilatildeo

Aos professores participantes da banca examinadora Pollyane Bicalho Ribeiro e

Sarah Diva da Silva Ipiranga pelo tempo pelas valiosas colaboraccedilotildees e sugestotildees

Aos colegas da 3ordf turma de mestrado ProfLetrasUFC pelas reflexotildees criacuteticas e

sugestotildees recebidas

Agraves damas do fuaacute porque satildeo as melhores amigas que se pode ter Raquel Ive

Carolina Edvania Eacuterica e Flaacutevia

A Aline pela amizade e carinho imensos essa natural forccedila que a vida lhe deu e

que tatildeo generosamente partilha

A Carla amiga de forccedila pela sensatez e ombro amigo generosidade e atenccedilatildeo

A Robson do fundo do coraccedilatildeo de quem digo que palavras natildeo descrevem essa

amizade que a gente tem

Agrave querida Nady por sua boniacutessima vontade em passar suas ldquolentes de catar pulgardquo

em minhas linhas

Ao meu tio Raimundo e a dona Gilda pela compreensatildeo e disposiccedilatildeo em ajudar a

cuidar da minha turma aqui

Agrave Semed-Satildeo Luiacutes por acreditar na figura do professor que busca capacitaccedilatildeo

profissional

Agrave coordenaccedilatildeo do Mestrado Profissional em LetrasUFC pelo incentivo aos

mestrandos

Aos nossos professores do Mestrado que em muito contribuiacuteram em nossa jornada

Agrave nossa diretora da escola Maria de Jesus Dijeacute pelo apoio e disponibilidade e por

sempre acreditar nos projetos como uma forma de acrescentar ao aperfeiccediloamento dos alunos

da escola

Aos professores e funcionaacuterios que apoiaram e colaboraram com o projeto

Aos pais e familiares que apoiaram e consentiram na participaccedilatildeo dos alunos

Aos alunos do 9ordm ano turma 91 de 2017 que integraram o projeto acreditaram em

si mesmos e agora veem seus escritos circularem socialmente

A todos os amigos colegas de trabalho alunos ex-alunos e demais pessoas que

cruzaram meu caminho deixando contribuiccedilotildees alertas liccedilotildees posso natildeo nominar um por um

aqui mas agradeccedilo sua importacircncia

Agrave CAPES pelo apoio financeiro com a manutenccedilatildeo da bolsa de auxiacutelio

ldquoSe vocecirc quiser melhorar de vida Marcie

sempre vai ter que atravessar um oceano ou um

deserto ou uma montanha Mas se de repente

vocecirc atravessar uma sala cheia de gente toda a

sua vida pode mudarrdquo (Peppermint Patty)

RESUMO

O presente trabalho versa sobre o desenvolvimento da competecircncia escrita de alunos do 9ordm ano

do Ensino Fundamental por meio de uma sequecircncia didaacutetica aplicada ao gecircnero crocircnica

visando proporcionar avanccedilos no processo de redigir Para o aporte teoacuterico daacute-se preferecircncia

agraves abordagens de gecircnero na perspectiva de Bakhtin (2011) Bazerman (2009) Bazerman e

Miller (2011) e Marcuschi (2015) A metodologia envolve uma pesquisa-accedilatildeo conforme

elucidaccedilotildees de Gil (2008) O procedimento se daacute pela aplicaccedilatildeo de uma sequecircncia didaacutetica

inspirada em contribuiccedilotildees de Dolz Noverraz e Schneuwly ([2004] 2013) Swiderski e Costa-

Huumlbes (2009) Lopes-Rossi (2011) Vieira (2005) e Serafini (2003) com vista ao aprendizado

de produccedilatildeo de texto do gecircnero crocircnica sob a oacutetica da escrita como processo Por meio das

atividades de leitura e escrita de crocircnicas percebe-se que os alunos refletiram sobre os

procedimentos de escritor sensibilizaram mais o seu olhar para o cotidiano e ampliaram o

conhecimento de sua competecircncia linguiacutestica Acredita-se que propiciar situaccedilotildees de

aprendizagem apresentando-as natildeo como um fardo mas com a graccedila ndash apesar do necessaacuterio

investimento pedagoacutegico ndash que a escrita pode vir a ter garante assim que os alunos concluam

o Ensino Fundamental tendo a oportunidade de elaborar textos consoantes ao seu direito de

serem proficientes em sua liacutengua materna

Palavras-chave Produccedilatildeo escrita Gecircneros textuais Sequecircncia didaacutetica Crocircnicas

ABSTRACT

The present work deals with the development of written competence of students of the 9th grade

of elementary school through a didactic sequence applied to the genre chronicles aiming to

provide advances in the writing process For the theoretical contribution genre approaches are

preferred from the perspective of Bakhtin (2011) Bazerman (2009) Bazerman e Miller (2011)

e Marcuschi (2015) The methodology involves an action research according to Gils (2008)

elucidations The procedure is based on the application of a didactic sequence inspired by

contributions of Dolz Noverraz and Schneuwly ([2004] 2013) Swiderski and Costa-Huumlbes

(2009) Lopes-Rossi (2011) Vieira (2005) e Serafini (2003) with a view to learning text

production of the genre chronicle under the point of view of writing as a process Through the

activities of reading and writing of chronicles it is noticed that the students have reflected on

the procedures of writer they have sensitized more their look at the quotidian and have extended

the knowledge of their linguistic competence It is believed that providing learning situations

by presenting them not as a burden but with the grace - despite all the necessary pedagogical

investment - that writing can have thus ensuring that students finish elementary school having

the opportunity to prepare texts according to their right to be proficient in their mother language

Keywords Written production Genres Didactic sequence Chronicles

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Esquema baacutesico de sequecircncia didaacutetica 31

Figura 2 - Esquema da SD adaptada por Costa-Huumlbes 36

Figura 3 - Esquema da SD adaptada por Costa-Huumlbes 38

Figura 4 - Proposiccedilatildeo de sequecircncia didaacutetica para o projeto de escrita 77

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 ndash Resultados IDEB 2015 70

Graacutefico 2 ndash Desempenho da escola nas ediccedilotildees da Prova Brasil 70

Graacutefico 3 ndash Distribuiccedilatildeo percentual dos alunos do 9ordm Ano do EF por niacutevel de

proficiecircncia - Liacutengua Portuguesa

71

Graacutefico 4 ndash Nuacutemero de alunos do 9ordm ano 88

Graacutefico 5 ndash Participaccedilatildeo nas produccedilotildees 89

Graacutefico 6 ndash Alunos presentes por encontro 90

Graacutefico 7 ndash Avaliaccedilatildeo das crocircnicas A 122

Graacutefico 8 ndash Avaliaccedilatildeo das crocircnicas B 136

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 ndash Siacutentese das etapas de desenvolvimento de projetos pedagoacutegicos que visam agrave

produccedilatildeo escrita de gecircneros discursivos

38

Quadro 2 ndash Motivaccedilatildeo e envolvimento na produccedilatildeo escrita 54

Quadro 3 ndash Como organizar as ideias em paraacutegrafos 63

Quadro 4 ndash Moacutedulos desenvolvidos na sequecircncia de atividades (SA) 80

Quadro 5 ndash Quadro autoavaliativo 91

Quadro 6 ndash Identificaccedilatildeo dos textos dos alunos

Quadro 7 ndash Produccedilatildeo inicial Ana ndash Tiacutetulo Ser chato ou natildeo ser eis a questatildeo

Quadro 8 ndash Produccedilatildeo final Ana ndash Tiacutetulo Ser chato ou natildeo ser eis a questatildeo

Quadro 9 ndash Produccedilatildeo inicial Rodrigo ndash Tiacutetulo Pare de se criticar

Quadro 10 ndash Produccedilatildeo final Rodrigo ndash Tiacutetulo

Quadro 11 ndash Produccedilatildeo inicial Eduardo ndashTiacutetulo O amigo muito e muito chato

Quadro 12 ndash Produccedilatildeo final Eduardo ndashTiacutetulo Ser legal natildeo eacute ser chato

Quadro 13 ndash Produccedilatildeo inicial Estela ndash Tiacutetulo Os chatos de antematildeo

Quadro 14 ndash Produccedilatildeo final Estela ndashTiacutetulo O tio chato de galocha

Quadro 15 ndash Produccedilatildeo inicial Ceacutelia ndashTiacutetulo Chata sim ou natildeo

Quadro 16 ndash Produccedilatildeo final Ceacutelia ndash Tiacutetulo Chata sim ou natildeo

Quadro 17 ndash Produccedilatildeo inicial Arlindo ndash Tiacutetulo Chato e natildeo eacute chato

Quadro 18 ndash Produccedilatildeo final Arlindo ndash Tiacutetulo Chato e natildeo eacute chato

Quadro 19 ndash Produccedilatildeo inicial Juacutelia ndash Tiacutetulo Ser chato ou ser legal

Quadro 20 ndash Produccedilatildeo final Juacutelia ndash Tiacutetulo Pessoas chatas e pessoas legais

Quadro 21 ndash Produccedilatildeo inicial Vicente ndash Tiacutetulo A pergunta eacute se eu bloquearia uma

pessoa chata

Quadro 22 ndash Produccedilatildeo final Vicente ndash Tiacutetulo

Quadro 23 ndash Produccedilatildeo inicial Graccedila ndash Tiacutetulo Rafaelly chata

Quadro 24 ndash Produccedilatildeo final Graccedila ndash Tiacutetulo Chata ela ou EU

Quadro 25 ndash Produccedilatildeo inicial Lilian ndash Tiacutetulo Meus amigos chatos e Eu

Quadro 26 ndash Produccedilatildeo final Lilian ndash Tiacutetulo Pessoas legais e chatas

Quadro 27 ndash Produccedilatildeo inicial Heloiacutesa ndash Tiacutetulo ldquoChato mais eacute muito legalrdquo

Quadro 28 ndash Produccedilatildeo final Heloiacutesa ndash Tiacutetulo ldquoO melhor chatordquo

Quadro 29 ndash Produccedilatildeo inicial Eliane ndash Tiacutetulo Um pouco de tudo

91

92

93

95

96

97

99

99

101

103

104

105

106

107

108

109

110

111

112

113

114

115

116

117

Quadro 30 ndash Produccedilatildeo final Eliane ndash Tiacutetulo O que e chato e o que e legal

Quadro 31 ndash Produccedilatildeo inicial Joana ndash Tiacutetulo Pessoas chatas e outras legal

Quadro 32 ndash Produccedilatildeo final Joana ndash Tiacutetulo Pessoas oacutetimas

Quadro 33 ndash Tiacutetulos das produccedilotildees para circulaccedilatildeo social

Quadro 34 ndash PIB Ana

Quadro 35 ndash PFB Ana ndash Tiacutetulo PROIBIDA DE ACHAR GRACcedilA

Quadro 36 ndash PIB Rodrigo ndash Tiacutetulo Vida de preguiccediloso

Quadro 37 ndash PFB Rodrigo ndash Tiacutetulo VIDA DE PREGUICcedilOSO

Quadro 38 ndash PIB Eduardo ndash Tiacutetulo

Quadro 39 ndash PFB Eduardo ndash INFAcircNCIA FELIZ

Quadro 40 ndash PIB Estela ndash Tiacutetulo ldquoDown= bullyingrdquo

Quadro 41 ndash PFB Estela ndashTiacutetulo DOWN= BULLYING

Quadro 42 ndash PFA2 Ana ndash Tiacutetulo O que eacute ser chato

118

120

121

124

124

125

126

127

129

131

132

134

137

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BNCC Base Nacional Comum Curricular

ENEM Exame Nacional do Ensino Meacutedio

FP Folha de Produccedilatildeo

IDEB Iacutendice de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

LDB Lei de Diretrizes e Bases

PCN Paracircmetros Curriculares Nacionais

PF Produccedilatildeo final

PF-A Produccedilatildeo final para a o trabalho em sala

PF-B Produccedilatildeo final para circulaccedilatildeo social dos textos com audiecircncia real

PI Produccedilatildeo Inicial

PI-A Produccedilatildeo inicial para o trabalho em sala

PI-B Produccedilatildeo inicial para circulaccedilatildeo social dos textos com audiecircncia real

SD Sequecircncia Didaacutetica

SEMED Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo

TDIC Tecnologias Digitais da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 16

2 OS GEcircNEROS E O TRABALHO EM SALA DE AULA 23

21 Demarcando o conceito de gecircnero 23

211 Gecircnero como tipo relativamente estaacutevel de enunciado 23

212 Gecircnero como accedilatildeo social 26

213 Gecircnero como fenocircmeno histoacuterico 30

22 Conhecendo a sequecircncia didaacutetica 31

221 Conceito de sequecircncia didaacutetica 32

222 Propostas de adaptaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica 35

2221 Moacutedulo de reconhecimento 36

2222 Moacutedulo de divulgaccedilatildeo ao puacuteblico 37

2223 Abordagem imitativa da redaccedilatildeo 39

23 Definindo o gecircnero textual crocircnica 41

231 A crocircnica brasileira 42

232 Caracteriacutesticas da crocircnica 44

2321 Crocircnica um gecircnero jornaliacutestico 45

2322 Crocircnica um gecircnero literaacuterio 46

3 LEITURA E ESCRITA NOS ANOS FINAIS DO ENSINO

FUNDAMENTAL

49

31 Habilidades de leitura e escrita para que ler e escrever 49

32 Escrita e motivaccedilatildeo 53

33 Escrita como processo 56

34 Escrita na escola 61

35 Letramento literaacuterio 66

4 NATUREZA E PROCEDIMENTOS DA PESQUISA 69

41 Contexto da pesquisa 69

42 Participantes 72

43 Materiais 73

44 Procedimentos 74

441 Primeira etapa da apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo agrave produccedilatildeo inicial 77

442 Segunda etapa desenvolvimento dos moacutedulos 79

443 Terceira etapa produccedilatildeo final 85

444 Quarta etapa circulaccedilatildeo social dos textos 86

5 ANAacuteLISE DA SEQUEcircNCIA REFLEXOtildeES 87

51 Participaccedilatildeo dos alunos na pesquisa 88

52 Anaacutelise da apropriaccedilatildeo de caracteriacutesticas do gecircnero crocircnica literaacuteria 90

53 Os textos dos alunos 92

531 Produccedilotildees A textos apenas para o trabalho em sala de aula 92

532 Produccedilotildees B textos para circulaccedilatildeo social 123

533 Uma nova reescrita 136

6 CONCLUSAtildeO 139

REFEREcircNCIAS 144

APEcircNDICE A ndash ATIVIDADES PROPOSTAS PARA A SEQUEcircNCIA

DIDAacuteTICA

148

ANEXO A ndash DISTRIBUICcedilAtildeO POR NIacuteVEL DE PROFICIEcircNCIA 162

ANEXO B ndash DISTRIBUICcedilAtildeO DE TEXTOS FALADOS E ESCRITOS

NO CONTIacuteNUO GENEacuteRICO

165

ANEXO C ndash PRODUCcedilOtildeES DOS ALUNOS 166

16

1 INTRODUCcedilAtildeO

A proposta deste trabalho parte de uma motivaccedilatildeo de cunho pessoal fruto das

dificuldades que como professora enfrentamos todos os dias como se pode conduzir o

trabalho em sala de aula de modo eficaz para que os alunos independentemente de sua idade

ou seacuterie possam terminar o ano letivo escrevendo textos claros

Para levar o aluno a desenvolver suas habilidades de escrita um passo importante

seria planejar sequecircncias que abordem as caracteriacutesticas do gecircnero a ser trabalhado permitindo-

lhe pocircr em aproximaccedilatildeo eou contraste seus saberes com os conhecimentos a serem construiacutedos

Para noacutes professores esse passo tem se revelado ainda bastante difiacutecil visto que nossa cultura

escolar ainda natildeo se firmou apropriadamente na visatildeo de que escrita eacute processo e que seu

produto pode ndash deve aliaacutes ndash alcanccedilar a sociedade permitindo ao aluno o exerciacutecio da cidadania

Pensamos entatildeo na elaboraccedilatildeo de uma sequecircncia de aulas que trabalhe a produccedilatildeo

escrita abordando o seu processo Para tanto escolhemos a oacutetica de Vieira (2005) que traz

importante contribuiccedilatildeo para o trabalho do professor ao abordar o processo de produccedilatildeo do

texto considerando-o mais importante no ambiente pedagoacutegico do que o texto pronto Sua

justificativa parte da inquietaccedilatildeo de por que eacute difiacutecil aprender a redigir

Ao longo de sua obra a autora traz reflexotildees a partir de pesquisas sobre os aspectos

comunicativos cognitivos e psicoloacutegicos do processo de redigir conhecimento que ela constata

fornecerem subsiacutedios para fundamentar a didaacutetica da escrita orientando as escolhas

metodoloacutegicas dos professores (VIEIRA 2005 p79) Ainda na abordagem da produccedilatildeo escrita

como processo contamos com Serafini (2003) que tambeacutem traz valiosa orientaccedilatildeo tanto para

o aluno como para o professor

Para trabalharmos esse processo com os alunos o gecircnero escolhido para a criaccedilatildeo

e aplicaccedilatildeo de nossa sequecircncia de aulas eacute a crocircnica literaacuteria que vem ganhando destaque no

cenaacuterio nacional atual de estudos na educaccedilatildeo baacutesica desde a proposta da Olimpiacuteada de Liacutengua

Portuguesa Escrevendo o Futuro (CENPEC 2016) Por seu formato fluido e por se apresentar

de tal modo que a fala pessoal se associa agrave fala coletiva a crocircnica parece integrar espaccedilos

iacutentimos a puacuteblicos construindo dessa maneira uma relaccedilatildeo de proximidade entre o autor e o

leitor

Por percebermos que haacute vaacuterios alunos que produzem seus textos sem recorrer agrave

etapa do planejamento a da revisatildeo e a da reescrita visamos entatildeo nesta pesquisa devido agrave

ausecircncia de tais procedimentos responder agraves seguintes questotildees-problema desdobradas a partir

17

da questatildeo baacutesica como ensinar a produccedilatildeo escrita no 9ordm ano do Ensino Fundamental enfocando

o ato de redigir como um processo visto que haacute estudantes deste niacutevel que normalmente natildeo

tecircm o haacutebito de planejar seus textos A partir desse questionamento nos perguntamos

a) que atividades pedagoacutegicas possibilitam aos alunos a consciecircncia de que eacute

preciso desenvolver estrateacutegias proacuteprias (recorrer agrave etapa do planejamento da

revisatildeo e da reescrita) para produzir seus textos

b) de que forma o conhecimento sobre a estrutura composicional de um gecircnero

pode ajudar a superar as dificuldades

c) a comparaccedilatildeo das produccedilotildees inicial e final permitiraacute associar a melhoria do

desempenho da competecircncia escrita e a apropriaccedilatildeo do gecircnero crocircnica literaacuteria

ao desenvolvimento da sequecircncia de atividades

Apoacutes as oficinas a anaacutelise deteacutem-se nos objetivos elencados com dados

comparativos entre produccedilatildeo inicial e produccedilatildeo final a fim de constatarmos a relevacircncia da

hipoacutetese baacutesica os alunos do 9ordm ano produziram textos na etapa final das oficinas utilizando-

se das caracteriacutesticas do gecircnero textual crocircnica literaacuteria compreendendo que escrita eacute interaccedilatildeo

valorizando o uso social da escrita de acordo com a proposta teoacuterica de gecircnero preparando

seus textos pautados nas etapas do processo de redigir conforme as orientaccedilotildees dadas em sala

de aula Desdobradas em mais trecircs hipoacuteteses secundaacuterias pensamos

a) eacute possiacutevel motivar os alunos a escrever ao desenvolver com eles atividades

voltadas para os diferentes subprocessos e habilidades envolvidos no ato de

redigir

b) o ensino da composiccedilatildeo do gecircnero crocircnica literaacuteria contribuiraacute para minimizar

dificuldades observadas nos textos dos alunos do 9ordm ano como nos planos

morfossintaacutetico e semacircntico aleacutem de lhes propiciar o desenvolvimento da

competecircncia em textos escritos

c) apoacutes a realizaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica proposta ao compararmos as produccedilotildees

inicial e final dos alunos verificaremos um desempenho mais satisfatoacuterio em

relaccedilatildeo agrave competecircncia discursiva realizada no gecircnero crocircnica

Utilizamos a sequecircncia didaacutetica ferramenta teoacuterico-metodoloacutegica proposta por

Dolz Noverraz e Schneuwly ([2004]2013) para facilitar a criaccedilatildeo de nossa sequecircncia

refletindo sobre as atividades iniciais como um diagnoacutestico e a partir daiacute compondo os

moacutedulos que julgamos necessaacuterios dentro do tempo disponiacutevel para o aperfeiccediloamento da

praacutetica de escrita dos alunos

18

Sem esquecer que o produto desta sequecircncia precisa ter relevacircncia e circulaccedilatildeo

social fizemos o estudo do conceito de gecircnero a partir de autores como Bakhtin (2011)

Bazerman (2009) Bazerman Miller (2011) e Marcuschi (2015) autores cujas contribuiccedilotildees

teoacutericas nos permitem compreender que os textos verbais ou orais dependem do contexto em

que satildeo criados considerando seu momento histoacuterico e caracteriacutesticas culturais e sociais

fazendo portanto sentido somente se se destinarem a uma audiecircncia real com papeis sociais

reais

O gecircnero eleito para o trabalho de produccedilatildeo escrita eacute como dissemos a crocircnica

literaacuteria A escolha da tipologia narrativa e do gecircnero crocircnica deu-se por alguns motivos

a) as narrativas possuem um papel fundamental na formaccedilatildeo dos indiviacuteduos Desde

a infacircncia a crianccedila tem contato com a narraccedilatildeo Ela mesma narra como forma

de organizar suas ideias E em sociedade as narrativas ajudaram a construir a

identidade dos povos prolongando ramos e aprofundando raiacutezes

b) a crocircnica eacute um gecircnero que se identifica com a realidade dos alunos pela leveza

da linguagem associando a oralidade e coloquialidade e facilidade de

identificaccedilatildeo de elementos coletivos e individuais presentes em seu cotidiano

os quais podem vir a se tornar objeto de reflexatildeo de bom humor ou mesmo de

criacutetica e sobre tais elementos pode-se motivar os alunos a escrever

c) considerando o papel social da escola que deve ser de integrar o aluno como

cidadatildeo em sociedade eacute uma excelente oportunidade de ensinar os

procedimentos concernentes ao processo de escrita com um texto com

caracteriacutesticas literaacuterias visto que daiacute por diante entrando no ensino meacutedio

predominam as praacuteticas de trabalho com os textos argumentativos cuja

recorrecircncia se deve a serem os mais cobrados em avaliaccedilotildees diagnoacutesticas e de

acesso ao niacutevel superior tais como ENEM vestibulares seleccedilotildees e concursos

sendo um pouco esquecidas as narrativas e os processos de escrita criativa

Esta pesquisa se valeu tambeacutem de trabalhos acadecircmicos que trataram de produccedilatildeo

escrita na escola do gecircnero crocircnica de sequecircncias didaacuteticas e do estudo dos gecircneros textuais

relacionados ao trabalho em sala de aula dentre os quais destacamos

Santos (2008) em sua pesquisa sobre o gecircnero textual crocircnica narrativa no ensino

meacutedio percebeu alguns avanccedilos discretos apoacutes a aplicaccedilatildeo de uma sequecircncia didaacutetica Embora

muitos textos tenham apresentado as caracteriacutesticas do gecircnero explorado em sala de aula

alguns se apresentaram ainda como narrativas tipicamente escolares O pesquisador encontrou

19

dificuldades durante sua pesquisa com produccedilatildeo textual porque afirma na escola o objeto

central de ensino da liacutengua portuguesa ainda eacute a gramaacutetica que disputa espaccedilo diretamente com

a literatura sendo a produccedilatildeo relegada a apenas uma aula sem enfoque no processo de reescrita

dos textos com as devidas reflexotildees

Swiderski e Costa-Huumlbes (2009) analisam o formato baacutesico da sequecircncia didaacutetica

proposta pelo grupo de Genebra e propotildeem a inserccedilatildeo de um moacutedulo novo chamado de moacutedulo

de reconhecimento anterior agrave produccedilatildeo inicial de modo a permitir aos alunos o contato com

textos do gecircnero antes de partir diretamente para a escrita do primeiro texto propiciando

oportunidade de pesquisa leitura e anaacutelise linguiacutestica contemplando os outros eixos do

trabalho com liacutengua portuguesa aleacutem da escrita eou oralidade

Lopes-Rossi (2011) tambeacutem trata da sequecircncia didaacutetica e propotildee para o final da

SD uma culminacircncia a que ela chama de divulgaccedilatildeo ao puacuteblico ou seja um momento para

colocar em circulaccedilatildeo social os textos que os alunos produzem ao longo do trabalho

sistematizado permitindo-lhes compreender o sentido real dos textos do gecircnero que estudam

Colombo (2013) faz uma avaliaccedilatildeo das produccedilotildees vencedoras das ediccedilotildees da

Olimpiacuteada de Liacutengua Portuguesa Escrevendo o Futuro na categoria Crocircnicas Sua criacutetica

principal ao processo estaacute natildeo nas oficinas realizadas pois em muito ajudam os alunos a

conhecer os diversos tons que os textos das crocircnicas trazem a partir das mais diferentes

temaacuteticas mas na artificialidade do interlocutor para quem os alunos escreveram (uma banca

examinadora) e as redaccedilotildees escolhidas por essa banca (um criteacuterio mais pessoal que objetivo)

Colombo (2013) critica tambeacutem a incoerecircncia entre o material de avaliaccedilatildeo

produzido pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Educaccedilatildeo Cultura e Accedilatildeo Comunitaacuteria ndash

CENPEC em 2011 com uma coletacircnea de excertos de textos natildeo vencedores de ediccedilotildees

passadas que aponta no capiacutetulo dedicado agraves crocircnicas exemplos de distanciamentos da

tipologia narrativa proacutepria do gecircnero em textos que abordaram mazelas locais com

predominacircncia da descriccedilatildeo e da criacutetica Para ela essas mesmas caracteriacutesticas ressurgiram nos

textos vencedores do ano de 2012 Dentre outras criacuteticas a mais incisiva de suas consideraccedilotildees

eacute a de que a crocircnica eacute um texto para ser lido na escola sendo no entanto impossiacutevel ensinar os

alunos a escrever crocircnicas pois para a autora natildeo devem ser produzidas sob a pressatildeo de um

concurso que escolheraacute qual a melhor

Correia (2015) em sua pesquisa centrada em uma sala de aula de 7ordm ano do Ensino

Fundamental priorizou a praacutetica de leitura do gecircnero crocircnica e associou ao trabalho com esta

mais dois gecircneros a entrevista e o documentaacuterio audiovisual abordando um aspecto

20

multimodal em sua produccedilatildeo final Sua intenccedilatildeo parece-nos foi usar a temaacutetica das crocircnicas

para despertar nos alunos uma apropriaccedilatildeo da realidade em que estatildeo inseridos e em suas

consideraccedilotildees acredita que no momento de produccedilatildeo escrita dentro das possibilidades de

alunos de 12 anos de idade logrou sucesso ao levar os alunos ao reconhecimento das

caracteriacutesticas do gecircnero

Paiva (2015) realizou um trabalho que contribuiu diretamente para o

desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita atraveacutes do ensino da produccedilatildeo de textos

argumentativos no gecircnero carta de reclamaccedilatildeo Por meio de uma sequecircncia didaacutetica que

priorizava como em nosso caso de pesquisa o processo de produccedilatildeo em vez de considerar

apenas o produto a pesquisadora logrou ecircxito ao identificar progressos nos textos dos alunos

dentro das possibilidades de trabalho que executou

Feitosa (2016) abordou o ensino de liacutengua portuguesa na perspectiva dos gecircneros

realizando uma sequecircncia didaacutetica com o gecircnero panfleto colocando o produto final em

circulaccedilatildeo social como em nosso caso de pesquisa com a distribuiccedilatildeo dos panfletos pelos

alunos no ambiente escolar e na comunidade em que a escola estaacute inserida Fazendo isso ela

possibilitou a atribuiccedilatildeo da significaccedilatildeo proacutepria do gecircnero agrave produccedilatildeo textual dos alunos fator

importante para estimulaacute-los a interagir em sociedade por meio de seus textos

Os Paracircmetros Curriculares Nacionais (PCN 1997) reconhecem que o ensino de liacutengua

portuguesa na educaccedilatildeo baacutesica eacute pautado em uma prioridade de estudos de aspectos normativos

ou gramaticais da liacutengua o que o torna limitado e insuficiente e sugerem redirecionar o foco

para a praacutetica de leitura e ndash aspecto muito importante ndash o exerciacutecio da escrita de textos nos mais

variados gecircneros textuais existentes na sociedade possibilitando o estudo da liacutengua em

contextos reais de uso natildeo apenas como um conjunto de normas1

Para tanto aprender a pensar e falar sobre a proacutepria linguagem realizar uma

atividade de natureza reflexiva uma atividade de anaacutelise linguiacutestica supotildee duas situaccedilotildees

planejar situaccedilotildees didaacuteticas que possibilitem a reflexatildeo natildeo somente sobre os diferentes

recursos expressivos utilizados pelo autor do texto mas tambeacutem sobre a forma pela qual a

seleccedilatildeo de tais recursos reflete as condiccedilotildees de produccedilatildeo do discurso e as restriccedilotildees impostas

1 Os Paracircmetros Curriculares Nacionais (PCN 1997) reconhecem que o ensino de liacutengua portuguesa na educaccedilatildeo

baacutesica eacute pautado em uma prioridade de estudos de aspectos normativos ou gramaticais da liacutengua o que o torna

limitado e insuficiente e sugerem redirecionar o foco para a praacutetica de leitura e ndash aspecto muito importante ndash o

exerciacutecio da escrita de textos nos mais variados gecircneros textuais existentes na sociedade possibilitando o estudo

da liacutengua em contextos reais de uso natildeo apenas como um conjunto de normas

21

pelo gecircnero e pelo suporte e tomar como objeto de reflexatildeo os procedimentos de planejamento

de elaboraccedilatildeo e de refacccedilatildeo dos textos (BRASIL 1997 p 8)

Esses gecircneros a que se referem os paracircmetros satildeo conceituados por Bakhtin autor

em que se fundamenta a proposta dos PCN Compreendendo que o conhecimento de tais

gecircneros traz liberdade ao usuaacuterio da liacutengua o filoacutesofo afirma que quanto melhor dominamos os

gecircneros tanto mais livremente os empregamos tanto mais plena e nitidamente descobrimos

neles a nossa individualidade (onde isso eacute possiacutevel e necessaacuterio) refletimos de modo mais

flexiacutevel e sutil a situaccedilatildeo singular da comunicaccedilatildeo em suma realizamos de modo mais acabado

o nosso livre projeto de discurso (BAKHTIN 2011 p 285)

Os PCN para o 3ordm e o 4ordm ciclos do Ensino Fundamental orientam aleacutem da ampliaccedilatildeo

da variedade de textos e gecircneros que o trabalho com os alunos leve a ldquoconhecer caracteriacutesticas

fundamentais do Brasil nas dimensotildees sociais materiais e culturais como meio para construir

progressivamente a noccedilatildeo de identidade nacional e pessoal e o sentimento de pertinecircncia ao

paiacutesrdquo (BRASIL 1997 p 7)

Assim produzir textos requer dessa forma estudar os diferentes modos de

expressatildeo abrindo-se aiacute para o aluno uma gama de possibilidades de manifestaccedilatildeo de ideias

atraveacutes do conhecimento de sua liacutengua nas relaccedilotildees de interaccedilatildeo pessoal

No entanto para que essa produccedilatildeo seja efetiva haacute que se ter em mente que

qualquer tarefa de escrita bem-sucedida requer o exerciacutecio da escrita e da reescrita pois se

considera que nesse processo de aperfeiccediloamento as aulas tomadas entre o iniacutecio e o teacutermino

de uma sequecircncia de atividades ou seja entre a produccedilatildeo inicial e a produccedilatildeo final sejam

vaacuterias e variadas com planejamento para conhecer as necessidades de cunho geral da turma

como as caracteriacutesticas de um gecircnero bem como as de cunho individual do aluno como as

limitaccedilotildees no reconhecimento do gecircnero textual na construccedilatildeo de argumentos na progressatildeo

narrativa nas convenccedilotildees da escrita culta

Com o objetivo de orientar o leitor apresentamos a forma de organizaccedilatildeo desta

pesquisa que se encontra disposta em mais cinco seccedilotildees primaacuterias aleacutem desta Introduccedilatildeo

Na seccedilatildeo 2 denominada ldquoOs gecircneros e o trabalho em sala de aulardquo discorremos

sobre o conceito de gecircnero apoiando-nos na oacutetica de Bahktin de gecircnero como tipo

relativamente estaacutevel de enunciado na oacutetica da sociorretoacuterica do gecircnero como accedilatildeo social

principalmente com Bazerman e Miller e do gecircnero como fenocircmeno histoacuterico como nos fala

Marcuschi Aleacutem disso tratamos do conceito de sequecircncia didaacutetica proposta teoacuterico-

metodoloacutegica de Dolz Noverraz e Schneuwly e de propostas complementares agrave SD com as

22

contribuiccedilotildees de Costa-Huumlbes e Lopes-Rossi Ainda nesta seccedilatildeo tratamos da definiccedilatildeo do

gecircnero textual crocircnica e suas caracteriacutesticas desenvolvidas no Brasil tanto no campo

jornaliacutestico quanto no literaacuterio pelas oacuteticas de Beltratildeo Coutinho e Cacircndido

Na seccedilatildeo 3 denominada ldquoLeitura e escrita no ensino fundamental anos finaisrdquo

discorremos sobre escrita resgatando um pouco do percurso histoacuterico das habilidades de leitura

e escrita na escola e na sociedade tratamos do aspecto da motivaccedilatildeo para a escrita da escrita

como um processo da escrita na escola e do letramento literaacuterio que julgamos interessante

ressaltar visto que leitura e escrita precisam ser instrumentalizadas

Na seccedilatildeo 4 denominada ldquoNatureza e procedimentos da pesquisardquo discorremos

sobre nossa pesquisa propriamente dita o contexto da pesquisa os sujeitos os materiais e os

procedimentos mostrando o desenvolvimento da sequecircncia de atividades e procedimentos de

coleta de dados

Na seccedilatildeo 5 denominada ldquoAnaacutelise da sequecircncia de atividades reflexotildeesrdquo

discorremos sobre nossa sequecircncia didaacutetica mostrando a participaccedilatildeo dos alunos na pesquisa

apresentando a anaacutelise da apropriaccedilatildeo de caracteriacutesticas do gecircnero crocircnica literaacuteria nos textos

dos alunos bem como os textos produzidos para circulaccedilatildeo social

E por fim na Conclusatildeo apresentamos reflexotildees acerca da experiecircncia com a

pesquisa e dos resultados obtidos bem como sugestotildees para o avanccedilo de trabalhos que possam

contribuir para a competecircncia escrita dos alunos do ensino fundamental e a continuidade de

estudos na aacuterea

Acreditamos que a pesquisa-accedilatildeo desenvolvida que se inscreve no escopo da

Linguiacutestica Aplicada pode aleacutem de ofertar contribuiccedilotildees no acircmbito acadecircmico encorajar os

alunos participantes da pesquisa no sentido de se permitirem evoluir como produtores de texto

em sua liacutengua materna direito que lhes cabe desde o momento em que satildeo reconhecidos

cidadatildeos que ingressam nas escolas brasileiras

23

2 OS GEcircNEROS E O TRABALHO EM SALA DE AULA

Os pressupostos que embasam esta pesquisa perpassam a necessidade de se

compreender o que satildeo os gecircneros textuais em distinccedilatildeo de tipos textuais e como trabalhaacute-los

em atividades sequenciadas destacando-se inclusive como estas podem melhorarauxiliar o

trabalho do professor da educaccedilatildeo baacutesica Aleacutem disso tentaremos delinear ainda que

reconheccedilamos a natildeo consensualidade de definiccedilotildees o que vem a ser a crocircnica a partir das

escolhas dos textos que integram o corpus exemplo para os alunos

21 Demarcando o conceito de gecircnero

Iniciamos nosso percurso teoacuterico a partir da compreensatildeo do que eacute o gecircnero

Concordamos com Bezerra (2017 p 11) quando ele diz que o conceito de gecircnero eacute tomado

como ldquouma categoria mediadora entre o texto e o discurso capaz de colocar em xeque velhas

concepccedilotildees dicotocircmicas como a que trata o texto como uma mera lsquomaterializaccedilatildeorsquo de um

discurso consequentemente lsquoimaterialrsquordquo

Para Bezerra (2017) a partir do gecircnero tanto o texto como o discurso podem ser

relacionados produtivamente com o seu contexto cognitivo e social o que viabiliza o estudo

teoacuterico e sua aplicaccedilatildeo pedagoacutegica

No panorama teoacuterico referencial buscaremos compreensatildeo do que eacute o gecircnero

atraveacutes da conceituaccedilatildeo de Bakhtin (2011) Bazerman (2009) Miller (2011) e Marcuschi

(2015) e sua importacircncia para o trabalho de pesquisa-accedilatildeo com produccedilatildeo textual no 9ordm ano do

ensino fundamental

211 Gecircnero como tipo relativamente estaacutevel de enunciado

De iniacutecio veremos a abordagem enunciativo-discursiva de Bakhtin (2011) que se

refere ao processo de interaccedilatildeo verbal e ao enunciado Para o filoacutesofo russo as interaccedilotildees

podem ocorrer de maneira mais geral face a face mas tambeacutem se concretizar atraveacutes dos textos

escritos Nesse processo o leitor tem um papel ativo na compreensatildeo das informaccedilotildees quando

com elas interage aceitando reformulando contrapondo e complementando conforme seu

arcabouccedilo de conhecimentos e experiecircncias e o faz reportando-se a diferentes vozes de textos

24

previamente lidos e ouvidos Essas interaccedilotildees efetivam-se por meio de enunciados chamados

de gecircneros

A compreensatildeo baacutesica do que satildeo os gecircneros textuais ou usando o termo adotado

por Bakhtin os gecircneros do discurso eacute definida como ldquotipos relativamente estaacuteveis de

enunciadosrdquo (2011 p 262) elaborados pelas diferentes esferas de utilizaccedilatildeo da liacutengua Cada

esfera de uso da linguagem traz consigo uma concepccedilatildeo padratildeo de destinataacuterio a quem se dirige

o locutor e esse destinataacuterio sempre adota uma atitude responsiva ativa diante da totalidade

acabada do gecircnero Digamos que segundo o autor essas esferas permitem-nos situar e prever

o que o interlocutor emitiraacute evitando prejuiacutezos na eficaacutecia da comunicaccedilatildeo

Aprendemos a moldar nossa fala agraves formas do gecircnero e ao ouvir a fala do outro

sabemos de imediato bem nas primeiras palavras pressentir-lhe o gecircnero Se natildeo

existissem os gecircneros do discurso e se natildeo os dominaacutessemos se tiveacutessemos de criaacute-

los pela primeira vez no processo da fala se tiveacutessemos de construir cada um de

nossos enunciados a comunicaccedilatildeo verbal seria quase impossiacutevel (BAKHTIN 2011

p 302)

Dessa forma compreendemos que os enunciados tecircm relativa estabilidade

apresentando formas tiacutepicas que se adaptam agraves muacuteltiplas situaccedilotildees tanto orais quanto escritas

sendo essas formas variaacuteveis portanto Satildeo caracteriacutesticas dos gecircneros o dialogismo e a

polifonia

No dialogismo compreendemos que um texto tem relaccedilotildees com o contexto social

com os textos jaacute lidos pelo leitor e suas experiecircncias de vida e as ligaccedilotildees feitas com as diversas

aacutereas de conhecimento natildeo sendo nunca um produto fechado em si mesmo e uacutenico O discurso

dessa forma estabelece intercacircmbios socioculturais fruto de processos cognitivos e

conhecimentos acumulados historicamente que atendem a essa atitude responsiva ativa Essa

caracteriacutestica estaacute relacionada ao processo de leitura e ao de produccedilatildeo de textos pois o leitor

ou o escritor estabelece um diaacutelogo com o texto em ambos os processos

Na polifonia entendemos que o texto natildeo eacute constituiacutedo apenas da voz do escritor

mas por outras vozes por dizeres de outrem e satildeo vozes que se cruzam concordam ou

discordam entre si

Nas condiccedilotildees de produccedilatildeo dos enunciados e dos gecircneros discursivos estatildeo

inseridas as intenccedilotildees comunicativas e as necessidades sociointerativas dos sujeitos nas esferas

de atividade em que o papel e o lugar de cada sujeito satildeo determinados socialmente Para o

autor trecircs elementos baacutesicos configurariam um gecircnero discursivo o conteuacutedo temaacutetico o estilo

e a forma composicional

25

O conteuacutedo temaacutetico do gecircnero eacute definido pelo enunciador e depende diretamente

das situaccedilotildees das condiccedilotildees de produccedilatildeo e das necessidades da proacutepria enunciaccedilatildeo A escolha

desse conteuacutedo se daacute conforme a intencionalidade do enunciador estando de acordo com as

suas necessidades

O estilo do enunciador pode ser observado na adequaccedilatildeo da linguagem empregada

na escolha dos vocaacutebulos conforme a finalidade e a proacutepria estrutura do enunciado do gecircnero

escolhido voltados para seu interlocutor Nas palavras de Bakhtin (2011 p 284)

O estilo eacute indissociavelmente vinculado a unidades temaacuteticas determinadas e o que eacute

particularmente importante a unidades composicionais tipo de estruturaccedilatildeo e de

conclusatildeo de um todo tipo de relaccedilatildeo entre o locutor e os outros parceiros da

comunicaccedilatildeo verbal (relaccedilatildeo com o ouvinte ou com o leitor com o interlocutor com

o discurso do outro etc) (BAKHTIN 2011 p 284)

Assim para o autor ldquoo enunciado - oral e escrito primaacuterio e secundaacuterio em

qualquer esfera da comunicaccedilatildeo verbal - eacute individual e por isso pode refletir a individualidade

de quem fala (ou escreve)rdquo (BAKHTIN 2011 p 283) Ou seja o estilo eacute individual poreacutem eacute

definido pelo outro e pelo gecircnero ldquodepende do modo que locutor percebe e compreende seu

destinataacuterio e do modo que ele presume uma compreensatildeo responsiva ativardquo (BRAIT 2016 p

95)

A estrutura composicional do gecircnero eacute um elemento que segue padrotildees definidos

pela sociedade Cada enunciado deve inserir-se no padratildeo que eacute convencionado pelo gecircnero a

fim de ser reconhecido e consequentemente compreendido

Essa breve exposiccedilatildeo das trecircs caracteriacutesticas dos gecircneros vem mostrar que elas

dependeratildeo em grande parte das condiccedilotildees de produccedilatildeo de cada enunciado uma vez que

[] o discurso se molda sempre agrave forma do enunciado que pertence a um sujeito

falante e natildeo pode existir fora dessa forma Quaisquer que sejam o volume o

conteuacutedo a composiccedilatildeo os enunciados sempre possuem como unidades da

comunicaccedilatildeo verbal caracteriacutesticas estruturais que lhe satildeo comuns e acima de tudo

fronteiras claramente delimitadas (BAKHTIN 2011 p 293)

Essas caracteriacutesticas ocorrem simultaneamente em uma enunciaccedilatildeo concreta pois

eacute no momento da enunciaccedilatildeo que se definiraacute como essas caracteriacutesticas seratildeo empregadas

A partir dessa compreensatildeo de Bakhtin diversos outros autores conceituaram o que

eacute gecircnero Dentre as grandes Escolas do Gecircnero2 nosso trabalho considerou os conceitos baacutesicos

2 Dentre as grandes Escolas de Gecircnero destacam-se a Escola de Sidney a Norte-americana e a de Genebra

26

adotados pela Escola norte-americana representada por Miller (2011) e Bazerman (2009) Por

fim no Brasil veremos Marcuschi (2015) Traremos ainda para a proacutexima seccedilatildeo autores que

desenvolvem e aplicam os conceitos de gecircnero textual na praacutetica por meio de sequecircncias de

atividades como Dolz Noverraz e Schneuwly ([2004]2013) atraveacutes da Sequecircncia Didaacutetica e

Vieira (2005) com a Abordagem imitativa da redaccedilatildeo trabalhando com formatos e gecircneros

212 Gecircnero como accedilatildeo social

A noccedilatildeo de gecircnero como accedilatildeo social foi desenvolvida inicialmente por Carolyn

Miller A elaboraccedilatildeo de uma teoria de gecircnero ocorreu com mais dois pesquisadores John

Swales e Charles Bazerman Todos satildeo membros do grupo que compotildee a escola de estudos de

gecircneros norte-americana cuja caracteriacutestica eacute o interesse pela natureza social do discurso

(CARVALHO 2005) Veremos aqui mais especificamente os expoentes Miller e Bazerman

A noccedilatildeo de gecircneros natildeo eacute recente e remonta agrave Retoacuterica Claacutessica Por volta dos anos

1980 Miller voltou-se aos estudos das determinaccedilotildees retoacutericas de Aristoacuteteles O filoacutesofo grego

postulou a primeira classificaccedilatildeo dos discursos em trecircs tipos o judiciaacuterio o deliberativo e o

epidiacutetico Carvalho (2016) nos diz que para Aristoacuteteles autor da classificaccedilatildeo essa distinccedilatildeo

dos discursos eacute necessaacuteria porque existem trecircs tipos de auditoacuterio e eacute preciso adaptar-se a eles

conferindo traccedilos especiacuteficos a cada gecircnero pois a escolha entre um deles se daacute mediante a

necessidade que o orador tem de se adaptar ao puacuteblico Aleacutem de classificar Aristoacuteteles

apresenta as caracteriacutesticas de cada um desses tipos de discurso Segundo Carvalho (2016 p

35)

O pensador grego entende que esses trecircs gecircneros se remetem a um tempo especiacutefico

indicam atos expressam valores e apresentam formas especiacuteficas de argumentaccedilatildeo

Assim sendo pondera que o gecircnero judiciaacuterio se dirige a um auditoacuterio especializado

versa sobre leis recorre a silogismos e se refere a acontecimentos do passado para

acusar ou defender O deliberativo trata-se de um gecircnero que se relaciona a um puacuteblico

culto faz uso de argumentos atraveacutes de exemplos e expressa atitudes que poderatildeo

acontecer no futuro O epiacutedictico por sua vez eacute caracterizado como um gecircnero no

qual o orador exalta ou despreza caracteriacutesticas de determinados indiviacuteduos no exato

momento da enunciaccedilatildeo (CARVALHO 2016 p 35)

Nessa abordagem claacutessica apesar de a classificaccedilatildeo de Aristoacuteteles ter reduzido os

discursos a apenas trecircs tipos jaacute se compreendia que a variedade dos gecircneros eacute dependente da

variedade de auditoacuterios e por essa razatildeo natildeo podem ser concebidos desvinculados de seus

interlocutores sendo formas de agir em sociedade de diferentes maneiras Nas palavras de

Carvalho (2016 p34) ldquopor esse acircngulo podemos dizer ainda hoje que lanccedilar um olhar sobre

27

os gecircneros que contemple suas dimensotildees retoacutericas eacute antes de tudo atentar para a natureza

social e argumentativa inerente a cada tipo de discurso e concebecirc-los como formas de

(inter)accedilatildeordquo

Por sua vez Bazerman (2009) na introduccedilatildeo de seu livro Gecircneros textuais

tipificaccedilatildeo e interaccedilatildeo fala da necessidade de se entender as variedades da escrita numa

abordagem que comeccedila com as circunstacircncias em que as pessoas produzem e usam os textos

questionando sobre os motivos e accedilotildees tiacutepicos associados com a escrita e leitura desses textos

Em deacutecadas recentes o ensino da escrita foi transformado pelo amplo reconhecimento

de vaacuterios princiacutepios Primeiro o escrever bem requer mais do que a produccedilatildeo de

sentenccedilas corretas tambeacutem envolve a comunicaccedilatildeo bem-sucedida de mensagens

significantes para outros Segundo a escrita eacute um processo que leva tempo e incorpora

muitas diferentes atividades Terceiro o ensino da escrita que ajuda alunos a

alcanccedilarem o sucesso acadecircmico precisa atender a todos os tipos de escrita que satildeo

necessaacuterios natildeo somente para o estudo da linguagem ou da literatura mas tambeacutem

para as disciplinas de histoacuteria ciecircncia filosofia e poliacutetica Quarto os alunos ao

terminarem seus estudos precisam estar aptos a produzir muitas diferentes formas da

escrita Embora todas as formas da escrita que os alunos poderiam precisar sejam

impossiacuteveis de antecipar os alunos precisam de habilidade e flexibilidade suficientes

para se adaptar agraves situaccedilotildees variantes da escrita (BAZERMAN 2009 p 16)

Bazerman (2009) afirma que se pode chegar a uma compreensatildeo mais profunda de

gecircneros se os compreendermos como ldquofenocircmenos de reconhecimento psicossocial que satildeo parte

de processos de atividades socialmente organizadasrdquo (Bazerman 2009 p31) Na concepccedilatildeo do

pesquisador gecircneros satildeo os tipos que as pessoas reconhecem como sendo usados por elas

proacuteprias e pelos outros ou seja ldquosatildeo fatos sociais sobre os tipos de atos de fala que as pessoas

podem realizar e sobre os modos como elas os realizamrdquo (Bazerman 2009 p 31) Desse modo

os gecircneros emergem nos processos sociais na medida em que as pessoas tentam compreender

umas agraves outras de tal maneira que consigam coordenar atividades e compartilhar significados

com vistas a seus propoacutesitos praacuteticos

Para Miller e Bazerman (2011) definir o gecircnero como ldquogecircnero textualrdquo ou apenas

gecircnero ou ainda ldquogecircnero discursivordquo eacute uma questatildeo de necessidade apenas em contextos em

que se precise fazer algum tipo de distinccedilatildeo ou esclarecimento conceitual como uma espeacutecie

de contraste Nessa obra constituiacuteda como um ldquobate papordquo com perguntas e respostas os

professores a seu turno datildeo suas visotildees sobre essas distinccedilotildees quando perguntados ldquocomo vocecirc

define o conceito de gecircnerordquo Miller responde

Bom eu mantenho a minha definiccedilatildeo jaacute conhecida Eu natildeo distinguiria gecircnero textual

de gecircnero Eu o defino amplamente ou seja o gecircnero eacute uma accedilatildeo retoacuterica tipificada

baseada numa situaccedilatildeo retoacuterica recorrente [] Diria apenas que essa definiccedilatildeo tende

28

a se concentrar mais na produccedilatildeo na pessoa que desenvolve a accedilatildeo do que na

recepccedilatildeo Mas creio que eacute possiacutevel direcionaacute-la para pensar sobre o modo como

algueacutem realiza uma accedilatildeo e responde a ela Acho que tanto a produccedilatildeo como a recepccedilatildeo

satildeo importantes para se pensar no gecircnero como accedilatildeo (BAZERMAN MILLER 2011

p 16)

A mesma questatildeo dirigida a Bazerman eacute respondida da seguinte forma

Eu gostaria de acrescentar algumas coisas Percebo que em portuguecircs eacute necessaacuterio

distinguir gecircneros textuais (textual genre) de gecircnero (gender) Poreacutem em inglecircs o uso

do termo ldquogecircnero de textordquo se opotildee a gecircneros orais ou gecircneros em outros meios

Certamente os gecircneros textuais possuem caracteriacutesticas que os distinguem dos

gecircneros da pintura por exemplo mas todos satildeo formas de gecircnero O que realmente

estaacute em discussatildeo portanto satildeo as possibilidades (affordances) especiacuteficas da

textualidade versus artes graacuteficas por exemplo (BAZERMAN MILLER 2011 p

22)

Para os estudiosos da sociorretoacuterica os gecircneros pertencem agraves atividades humanas

e as refletem de forma que agrave medida que a linguagem muda mudam consigo os gecircneros natildeo

sendo o mais importante classificar ou nomear um gecircnero mas saber como ele funciona

O conceito de gecircnero de Miller tem como noccedilotildees-chave a recorrecircncia e a accedilatildeo

retoacuterica como se pode entender a partir da definiccedilatildeo dada pela proacutepria autora quando diz que

ldquoo gecircnero eacute uma accedilatildeo retoacuterica tipificada baseada numa situaccedilatildeo retoacuterica recorrenterdquo

(BAZERMAN MILLER 2011 p 22) Sua linha de trabalho define que o gecircnero espelha a

experiecircncia de seus usuaacuterios sendo o texto a forma materializada dessa experiecircncia por meio

da accedilatildeo ali levada a cabo de sua forma e de sua substacircncia (CARVALHO 2005 p 133)

Eacute atraveacutes do processo de tipificaccedilatildeo que satildeo construiacutedas as condiccedilotildees de

recorrecircncia analogias e similaridades necessaacuterias para a compreensatildeo do gecircnero em uma dada

cultura Nesse processo eacute importante o papel do sujeito cognitivo visto que ele capta a

recorrecircncia social de uma determinada comunicaccedilatildeo o que sinaliza padrotildees socialmente

perceptiacuteveis e socialmente determinados moldando-se a eles (BAZERMAN MILLER 2011

p 32)

Para caracterizar como os gecircneros se configuram e se enquadram em organizaccedilotildees

papeis e atividades mais amplas Bazerman (2009) propotildee vaacuterios conceitos que se sobrepotildeem

cada um envolvendo um aspecto diferente dessa configuraccedilatildeo conjunto de gecircneros sistema de

gecircneros e sistema de atividades

Segundo o autor um conjunto de gecircneros eacute ldquoa coleccedilatildeo de tipos de textos que uma

pessoa num determinado papel tende a produzirrdquo (2009 p 32) Compreendemos a partir da

explicaccedilatildeo do autor que eacute exemplificada com os profissionais da engenharia e da educaccedilatildeo que

29

ao identificar todas as formas de escrita com as quais devem trabalhar consegue-se ter acesso

agraves competecircncias habilidades e conhecimentos que lhe satildeo requeridos para que atue com bom

domiacutenio em sua aacuterea

Prosseguindo o autor conceitua um sistema de gecircneros

Um sistema de gecircneros compreende os diversos conjuntos de gecircneros organizados por

pessoas que trabalham juntas de uma forma organizada e tambeacutem as relaccedilotildees

padronizadas que se estabelecem na produccedilatildeo circulaccedilatildeo e uso desses documentos

Um sistema de gecircneros captura as sequecircncias regulares com que um gecircnero segue

outro gecircnero dentro de um fluxo comunicativo tiacutepico de um grupo de pessoas

(BAZERMAN 2009 p 32-33)

Esse aspecto se refere agrave integraccedilatildeo dos conjuntos de gecircneros que satildeo usados por

todos os participantes de uma determinada accedilatildeo social Como exemplo podemos pensar nas

provas de uma disciplina o professor elabora as provas e os alunos fazem as provas Ao analisar

o sistema de gecircneros observa-se a sequecircncia dos gecircneros e torna-se possiacutevel esclarecer quais

accedilotildees sociais as pessoas fazem e a forma pela qual os gecircneros datildeo ferramentas para essas accedilotildees

Por fim Bazerman (2009 p 33) conceitua sistema de atividades relacionando-o

ainda ao sistema de gecircneros ldquoEsse sistema de gecircneros eacute tambeacutem parte do sistema de atividades

da sala de aula Ao definir o sistema de gecircneros em que as pessoas estatildeo envolvidas vocecirc

identifica tambeacutem um frame que organiza o seu trabalho sua atenccedilatildeo e suas realizaccedilotildeesrdquo A

palavra frame eacute compreendida como moldura ou quadro No acircmbito educacional podemos

compreender a expressatildeo como o enquadramento que direciona o trabalho que compete a cada

pessoa imersa na accedilatildeo social

Pensando no exemplo da aacuterea educacional um aluno lida com um conjunto de

gecircneros como as provas os seminaacuterios os apontamentos e dentro do sistema de gecircneros

utilizados seu padratildeo como aluno consiste em estudar para os seminaacuterios tomar apontamentos

e responder agraves questotildees das provas sendo que dentro do sistema de atividades em que se

encontra natildeo pode deixar de atender agrave ordem que o frame lhe impotildee pois se lhe eacute determinado

que faccedila sua prova por escrito natildeo lhe eacute permitido por mais que estivesse respondendo tudo

corretamente utilizar-se de um gecircnero oral para que obtenha a nota ndash o que corrobora com a

afirmaccedilatildeo do autor quando este diz que ldquolevar em consideraccedilatildeo o sistema de atividades junto

com o sistema de gecircneros eacute focalizar o que as pessoas fazem e como os textos ajudam as pessoas

a fazecirc-lo em vez de focalizar os textos como fins em si mesmordquo (BAZERMAN 2009 p 33-

34)

30

Apoacutes essa caracterizaccedilatildeo de como os gecircneros se configuram e se enquadram em

organizaccedilotildees papeis e atividades mais amplas nessa abordagem que comeccedila com as

circunstacircncias em que as pessoas produzem e usam os textos questionando sobre os motivos e

accedilotildees tiacutepicos associados com a escrita e leitura desses textos veremos na seccedilatildeo seguinte a

concepccedilatildeo de gecircneros textuais como fenocircmenos histoacutericos profundamente vinculados agrave vida

cultural e social sob a oacutetica de Marcuschi

213 Gecircnero como fenocircmeno histoacuterico

No Brasil Marcuschi (2015) trabalhou a produccedilatildeo textual sob um enfoque

sociointerativo de gecircneros textuais no contiacutenuo de fala-escrita buscando esclarecer os

processos de compreensatildeo textual e de produccedilatildeo de sentido Coadunando com os conceitos jaacute

expostos de Bakhtin (2011) sobre as interaccedilotildees entendemos que elas se datildeo em domiacutenios

discursivos ou seja esferas da vida social ou institucional (por exemplo religiosa juriacutedica

jornaliacutestica pedagoacutegica poliacutetica industrial militar familiar luacutedica etc) nas quais se datildeo

praacuteticas que organizam formas de comunicaccedilatildeo e respectivas estrateacutegias de compreensatildeo (p

194)

Deste modo para Marcuschi os domiacutenios discursivos produzem ldquomodelos de accedilatildeo

comunicativa que se estabilizam e se transmitem de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo com propoacutesitos e

efeitos definidos e clarosrdquo (2015 p 194) que resultam em formas de accedilatildeo reflexatildeo e avaliaccedilatildeo

social que ldquodeterminam formatos textuais que em uacuteltima instacircncia desembocam na

estabilizaccedilatildeo de gecircneros textuaisrdquo (2015 p 194) tambeacutem organizando as relaccedilotildees de poder

Na concepccedilatildeo de Marcuschi (2015) os gecircneros textuais satildeo entatildeo fenocircmenos

histoacutericos profundamente vinculados agrave vida cultural e social O autor afirma que quando

dominamos um gecircnero textual natildeo dominamos uma forma linguiacutestica mas sim uma forma de

realizar linguisticamente objetivos especiacuteficos em situaccedilotildees sociais particulares (p 31) Isso

equivaleria a dizer que os gecircneros textuais operam em certos contextos como formas de

legitimaccedilatildeo discursiva por se situarem numa relaccedilatildeo soacutecio-histoacuterica com fontes de produccedilatildeo

que lhes datildeo sustentaccedilatildeo

Essa relaccedilatildeo soacutecio-histoacuterica a que se refere o autor trata da construccedilatildeo coletiva que

ordena e estabiliza as atividades comunicativas do dia a dia convergindo com o pensamento de

Bakhtin isto eacute como os gecircneros independem de decisotildees individuais e natildeo satildeo facilmente

manipulaacuteveis eles operam como geradores de expectativas de compreensatildeo muacutetua Nas

31

palavras de Marcuschi (2015 p 189) ldquoos gecircneros textuais natildeo satildeo fruto de invenccedilotildees

individuais mas formas socialmente maturadas em praacuteticas comunicativas na accedilatildeo

linguageirardquo

Em uma tentativa de distribuiccedilatildeo dos gecircneros da oralidade e escrita Marcuschi

(2015) cria um quadro geral3 que mostra que muitos gecircneros satildeo comuns a vaacuterios domiacutenios

figurando a crocircnica gecircnero eleito para a realizaccedilatildeo de nossa pesquisa-accedilatildeo de processo de

produccedilatildeo escrita em forma de sequecircncia didaacutetica nos domiacutenios discursivos ficcional e

jornaliacutestico Na distribuiccedilatildeo do contiacutenuo de fala-escrita que ensaia desenhar Marcuschi mostra

a crocircnica deslizando entre o domiacutenio das conversaccedilotildees na conversa espontacircnea seguindo para

as apresentaccedilotildees e reportagens com as narrativas

Desse modo caminha-se para uma compreensatildeo do que eacute a crocircnica aquele texto

escrito leve e espontacircneo que parece por vezes conversar com seu leitor narrando uma coisa

ou outra do dia a dia podendo conduzi-lo a reflexotildees ou possibilitando-lhe um dia mais bem-

humorado ou mesmo poeacutetico Direcionado para nossa investigaccedilatildeo julgamos esses conceitos

bastante importantes para elucidar para os alunos em que contexto satildeo produzidas as crocircnicas

de onde partem a quem pretendem alcanccedilar

Nesse sentido a partir do exposto concluiacutemos que um gecircnero seria uma resposta

usada pelos usuaacuterios de uma liacutengua em situaccedilotildees especiacuteficas constituiacutedo por caracteriacutesticas

gerais relativamente estaacuteveis Dessa forma aleacutem da intenccedilatildeo da comunicaccedilatildeo existe um

conhecimento comum pelo qual os falantes se orientam em suas decisotildees linguiacutesticas ao

construir o gecircnero de texto que estatildeo produzindo ou que devem produzir em cada contexto

comunicativo Esses gecircneros natildeo surgem naturalmente mas se constroem na interaccedilatildeo

comunicativa e satildeo fenocircmenos sociointerativos

22 Conhecendo a sequecircncia didaacutetica

Com vistas a ajudar o trabalho do professor tem sido muito discutido na uacuteltima

deacutecada o emprego das sequecircncias didaacuteticas especialmente na educaccedilatildeo baacutesica Sua

caracteriacutestica consiste em ser um conjunto de atividades ligadas entre si planejadas para ensinar

um conteuacutedo etapa por etapa Ao organizaacute-la de acordo com os objetivos que pretende alcanccedilar

para seus alunos o professor desenvolve atividades de aprendizagem e de avaliaccedilatildeo

3 Cf Anexo A

32

Para o trabalho em nossa aacuterea Liacutengua Portuguesa nossa pesquisa-accedilatildeo vai se

utilizar do procedimento baacutesico da sequecircncia didaacutetica para o ensino da escrita do gecircnero textual

crocircnica literaacuteria para o 9ordm ano do ensino fundamental inspirada no referencial teoacuterico-

metodoloacutegico de Dolz Noverraz e Schneuwly (2013) na proposta de adaptaccedilatildeo da sequecircncia

didaacutetica conduzida por Swiderski e Costa-Huumlbes (2009) na proposta de circulaccedilatildeo social do

gecircnero discursivo produzido em sequecircncias didaacuteticas de projetos pedagoacutegicos de Lopes-Rossi

(2011) e nas sugestotildees didaacuteticas da praacutetica de sala de aula de Vieira (2005) e de Serafini (2003)

221 Conceito de sequecircncia didaacutetica

Dolz Noverraz e Schneuwly (2013 p 83) reconhecem que os textos escritos ou

orais que produzimos diferenciam-se uns dos outros porque satildeo produzidos em condiccedilotildees

diferentes Apesar dessa diversidade satildeo constatadas regularidades de modo que em situaccedilotildees

semelhantes produzimos textos com caracteriacutesticas semelhantes que os autores chamam de

gecircneros de textos conhecidos de e reconhecidos por todos e que por isso mesmo facilitam a

comunicaccedilatildeo a conversa em famiacutelia ou a negociaccedilatildeo no mercado por exemplo

O conceito baacutesico de sequecircncia didaacutetica segundo os autores (2013 p 83) eacute que

esta eacute um conjunto de atividades escolares organizadas de maneira sistemaacutetica em torno de

um gecircnero textual oral ou escrito e que tem precisamente a finalidade de ajudar os alunos a

dominar melhor um gecircnero de texto o que lhes permitiraacute falar ou escrever de maneira mais

adequada a cada situaccedilatildeo comunicativa

Para o desenvolvimento de nossa pesquisa escolhemos o gecircnero crocircnica literaacuteria

visando o desenvolvimento da competecircncia discursiva dos alunos posto que ainda natildeo

dominam adequadamente a produccedilatildeo de um texto nesse gecircnero Assim como preveem Dolz

Noverraz e Schneuwly (2013 p 83) ldquoo trabalho escolar seraacute realizado evidentemente sobre

gecircneros que o aluno natildeo domina ou o faz de maneira insuficiente sobre aqueles dificilmente

acessiacuteveis espontaneamente pela maioria dos alunos e sobre gecircneros puacuteblicos e natildeo privadosrdquo

De acordo com os autores uma sequecircncia didaacutetica pode ser flexiacutevel no sentido de

que se houver necessidade o professor poderaacute por vezes criar outras atividades ou modificar

os textos de referecircncia utilizados Essa flexibilidade precisa tambeacutem considerar os fenocircmenos

de desencorajamento que poderatildeo manifestar-se durante o tempo consagrado agrave sequecircncia como

por exemplo no aluno o sentimento de que jamais conseguiraacute melhorar seu texto por causa das

dificuldades proacuteprias da escrita no professor nos momentos em que os alunos parecem

33

desconectar-se da proposta projetada perdendo o interesse pela atividade proposta no dia Para

minimizar situaccedilotildees assim eacute que deve ser deixado um espaccedilo para as atividades mais informais

e menos exigentes em termos de tempo (DOLZ NOVERRAZ SCHNEUWLY 2013 p 108)

Percebemos dessa forma que um professor natildeo eacute obrigado a realizar todas as

atividades predeterminadas de uma sequecircncia didaacutetica na sua integralidade Sob pena do rigor

por cumprir aquele planejamento e somente ele no decorrer do processo de aprendizagem

ambos professor e aluno podem sentir que a experiecircncia natildeo foi vaacutelida terminando por realizar

as aulas de modo tradicional natildeo ocorrendo assim o acesso dos alunos a praacuteticas de linguagem

novas ou dificilmente dominaacuteveis

Por ser de caraacuteter progressivo a cada etapa de uma sequecircncia didaacutetica o professor

pode ndash e deve ndash fazer uma reflexatildeo associando o microcosmo que eacute a sala de aula onde

trabalha com um macro que seria o mundo em que estamos inseridos com todo o seu contexto

que pode servir como suporte para que o docente se integre a uma (ou a vaacuterias) teorias que

possa vir a aplicar

Com a reflexatildeo sobre a(s) teoria(s) e construindo seu arcabouccedilo teoacuterico conforme

observa sua praacutetica o professor ndash incluiacutemo-nos aqui ndash como sugere Bortoni-Ricardo (2008)

torna-se pesquisador podendo aprimorar sua postura pedagoacutegica de modo a obter assim

resultados mais satisfatoacuterios junto aos discentes

Dando prosseguimento expomos aqui o os quatro componentes da estrutura baacutesica

de uma sequecircncia didaacutetica segundo Dolz Noverraz Schneuwly (2013) que serve como

inspiraccedilatildeo para as atividades que planejamos para esta pesquisa-accedilatildeo

Figura 1 - Esquema baacutesico de sequecircncia didaacutetica

Fonte Adaptado de DOLZ NOVERRAZ SCHNEUWLY (2013 p 83)

Para Dolz Noverraz e Schneuwly (2013) eacute necessaacuterio que o professor informe os

alunos e conscientize-os da importacircncia dos conteuacutedos a serem trabalhados em sala de aula

Para isso o professor deve claramente definir o problema de comunicaccedilatildeo que devem resolver

Apresentaccedilatildeo da

Situaccedilatildeo

PRODUCcedilAtildeO

INICIAL

PRODUCcedilAtildeO

FINAL

Moacuted

ulo 1

Moacuted

ulo 2

Moacuted

ulo n

34

produzindo um texto e os conteuacutedos com os quais trabalharatildeo no texto que seraacute produzido

Assim na fase inicial de apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo satildeo fornecidas aos alunos as informaccedilotildees

necessaacuterias para conhecerem o ldquoprojeto comunicativo visado e a aprendizagem de linguagem a

que estaacute relacionadordquo (2013 p 85)

Depois dessa contextualizaccedilatildeo com os alunos eles passam agrave primeira produccedilatildeo

tentando elaborar um texto escrito Ora embora os alunos ainda natildeo tenham verdadeiramente

tido o contato aprofundado com o gecircnero esse encaminhamento natildeo necessariamente os potildee

numa situaccedilatildeo de insucesso Ao contraacuterio do que se pode pensar produzir um texto adequado

agrave situaccedilatildeo proposta embora os alunos nesse primeiro momento natildeo atendam a todas as

caracteriacutesticas do gecircnero solicitado permite-lhes descobrir o que jaacute sabem fazer e ganhar

consciecircncia das dificuldades que possuem e ao professor avaliar natildeo somente as dificuldades

apresentadas pelos alunos na produccedilatildeo inicial mas tambeacutem que se apresentarem durante o

processo de produccedilatildeo Desse modo a produccedilatildeo inicial eacute caracterizada como ldquoo primeiro lugar

de aprendizagem da sequecircnciardquo (DOLZ NOVERRAZ SCHNEUWLY 2013 p 87 Grifo dos

autores)

A etapa seguinte se constitui dos moacutedulos isto eacute a decomposiccedilatildeo dos problemas

detectados na primeira produccedilatildeo com consequente fornecimento de instrumentalizaccedilatildeo para a

superaccedilatildeo das dificuldades Esse processo que vai da produccedilatildeo inicial aos moacutedulos os autores

denominaram de ldquomovimento geral da sequecircncia didaacuteticardquo (2013 p 88) partindo do acircmbito

mais complexo que eacute a produccedilatildeo inicial para o mais simples que satildeo os moacutedulos os quais

trabalham as capacidades necessaacuterias ao domiacutenio do gecircnero No fim o movimento da sequecircncia

didaacutetica vai para o complexo novamente que eacute a produccedilatildeo final No processo de elaboraccedilatildeo de

cada moacutedulo os autores levantam trecircs questionamentos 1) Que dificuldades da expressatildeo oral

e escrita abordar 2) Como construir um moacutedulo para trabalhar um problema particular 3)

Como capitalizar o que eacute adquirido nos moacutedulos (2013 p 88)

Para responder a cada uma dessas indagaccedilotildees Dolz Noverraz e Schneuwly (2013

p 88) consideram trecircs dimensotildees no processo de construccedilatildeo dos moacutedulos que satildeo trabalhar

problemas de niacuteveis diferentes variar atividades e exerciacutecios e capitalizar as aquisiccedilotildees

A primeira etapa trabalhar problemas de niacuteveis diferentes baseada na psicologia

da linguagem eacute constituiacuteda por quatro niacuteveis principais na produccedilatildeo de textos a saber

representaccedilatildeo da situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo em que o aluno deveraacute aprender com clareza a fazer

uma imagem ldquodo destinataacuterio do texto da finalidade visada da sua posiccedilatildeo como autor ou

locutor e do gecircnero visadordquo (p 88) elaboraccedilatildeo dos conteuacutedos em que o aluno ldquodeveraacute conhecer

35

as teacutecnicas para buscar elaborar ou criar conteuacutedosrdquo (p 88) planejamento do texto em que o

aluno deveraacute estruturar seu texto de acordo com um plano que depende da finalidade que se

deseja atingir considerando que cada gecircnero se caracteriza por uma estrutura evocando a

compreensatildeo de Bakhtin (2011) ldquorelativamente estaacutevelrdquo realizaccedilatildeo do texto em que o aluno

deveraacute escrever seu texto escolhendo os meios de linguagem mais eficazes para a finalidade

que pretende alcanccedilar

Em relaccedilatildeo agrave segunda etapa variar as atividades e exerciacutecios os autores definem

que ldquoo princiacutepio essencial de elaboraccedilatildeo de um moacutedulo que trate de um problema de produccedilatildeo

textual eacute o de variar os modos de trabalhordquo (p 89) Afirmando que existem variadas categorias

de atividades e exerciacutecios (atividades de observaccedilatildeo e de anaacutelise de textos tarefas simplificadas

de produccedilatildeo de textos e a elaboraccedilatildeo de uma linguagem comum) (p 89) sugerem assim que

cada moacutedulo tenha atividades diversificadas com o objetivo de proporcionar ao aluno diferentes

meios de apropriaccedilatildeo dos conteuacutedos necessaacuterios ao seu sucesso na produccedilatildeo final

A terceira etapa capitalizar as aquisiccedilotildees consiste em aprender a falar sobre o

gecircnero abordado atraveacutes da aquisiccedilatildeo de vocabulaacuterio teacutecnico comum agrave classe e ao professor

A partir dessa construccedilatildeo progressiva dos conhecimentos de linguagem e de regras seraacute

possiacutevel ao professor estimular os alunos a refletir sobre o que foi aprendido nos moacutedulos e

juntos fazerem uma siacutentese na forma de como sugerem os autores lista de constataccedilotildees ou de

lembrete ou glossaacuterio (p 90)

A etapa final da sequecircncia didaacutetica corresponde agrave produccedilatildeo final momento em que

o aluno colocaraacute em praacutetica as noccedilotildees e os instrumentos que foram elaborados e aplicados

durante os moacutedulos sendo o momento para o professor avaliar o aprendizado do aluno Essa

avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo final tem caraacuteter somativo e eacute pautada na construccedilatildeo de uma grade (2013

p 90) de criteacuterios que explicitam aos alunos o que seraacute avaliado permitindo a objetividade ao

pautar-se nos conteuacutedos trabalhados em aula Isso tornaraacute possiacutevel ao professor a observaccedilatildeo

das aprendizagens efetuadas planejar a continuaccedilatildeo do trabalho e se necessaacuterio retornar a

pontos mal assimilados

222 Propostas de adaptaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica

Com vistas a justificar como compusemos a SD aplicada vamos nessa seccedilatildeo

mostrar o aparato teoacuterico de pesquisadoras que contribuiacuteram com propostas de adaptaccedilatildeo e

36

complementaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica do grupo de Genebra buscando propiciar ao professor

um trabalho mais amplo

2221 Moacutedulo de reconhecimento

Baseados na proposta teoacuterico-metodoloacutegica da SD produzida para o contexto

sociocultural dos pesquisadores de Genebra os integrantes de um grupo de estudos em Liacutengua

Portuguesa da regiatildeo Oeste do Paranaacute criaram uma proposta de ensino da LP para as seacuteries

iniciais contendo uma adaptaccedilatildeo (SWIDERSKI COSTA-HUumlBES 2009) que consiste na

inserccedilatildeo de um moacutedulo de reconhecimento do gecircnero antes da etapa de produccedilatildeo inicial em

atividades e exerciacutecios que contemplem a leitura a pesquisa e a anaacutelise linguiacutestica com textos

do gecircnero Para melhor entendimento observemos a figura a seguir

Figura 2 - Esquema da SD adaptada por Costa-Huumlbes

Fonte Adaptado de SWIDERSKI E COSTA-HUumlBES (2009)

Esse moacutedulo inserido antes da produccedilatildeo inicial como proposto pelas autoras serve

segundo elas ao reconhecimento dos aspectos do gecircnero a ser trabalhado na SD em atividades

e exerciacutecios que contemplem a leitura a pesquisa e a anaacutelise linguiacutestica com textos do gecircnero

Na SD ldquoas condiccedilotildees de praacuteticas de leituras envolvem natildeo apenas o contexto de produccedilatildeo e a

relaccedilatildeo autor-texto A esses aspectos somam-se o conhecimento do leitor e o contexto de uso

que conforme Orlandi (1996) satildeo fatores determinantes na produccedilatildeo de sentidosrdquo

(SWIDERSKI COSTA-HUumlBES 2009 p 121)

Diante disso ao avaliarem a proposta da SD as autoras entendem que antes de se

chegar agrave produccedilatildeo inicial o professor pode criar para o estudante vaacuterias situaccedilotildees que envolvam

a praacutetica de leitura de textos do gecircnero selecionado que circulam na sociedade oportunizando

nesse contato com esses textos a mobilizaccedilatildeo de estrateacutegias diferentes frente aos diversos

37

objetivos que implicam o ato de ler e enfatizam que trabalhar com a leitura natildeo exclui o

trabalho com os outros eixos do processo ensino-aprendizagem de LP

As autoras acrescentam ainda sobre o trabalho de reconhecimento do gecircnero

Outro detalhe que salientamos sobre o trabalho de reconhecimento do gecircnero refere-

se ao fato de que as informaccedilotildees sobre o gecircnero natildeo satildeo dadas gratuitamente jaacute que

o mesmo natildeo eacute tratado como uma forma pronta e acabada mas como um instrumento

relativamente estaacutevel Entendido assim a praacutetica de ensino-aprendizagem precisa

incentivar o processo de pesquisa Nessa perspectiva o estudante tem dois problemas

a resolver antes de iniciar sua produccedilatildeo um abarca a pesquisa para conhecer os

elementos que determinam num dado contexto soacutecio-histoacuterico e cultural a produccedilatildeo

e a circulaccedilatildeo das amostras do gecircnero a ser abordado didaticamente e em segundo

a leitura e a anaacutelise dessas amostras novamente buscando reforccedilar o conhecimento

acerca dos elementos que as constituem (SWIDERSKI COSTA-HUumlBES 2009 p

121)

Vemos entatildeo que as leituras para reconhecimento do gecircnero como uma etapa

anterior ao momento da produccedilatildeo inicial servem como base ao trabalho a ser desenvolvido

Inclusive entendemos no tocante a servir como exemplo e modelo que fornecem traccedilos para

possiacuteveis comparaccedilotildees ao longo do desenvolvimento dos moacutedulos como poderemos perceber

na seccedilatildeo correspondente ao nosso trabalho

2222 Moacutedulo de divulgaccedilatildeo ao puacuteblico

Como forma de consolidar para o aluno a visatildeo do uso real de um gecircnero textual

Lopes-Rossi (2011) propotildee a divulgaccedilatildeo das produccedilotildees dos alunos apoacutes a realizaccedilatildeo das tarefas

dos moacutedulos

Deste modo o professor pode entatildeo criar com eficiecircncia projetos pedagoacutegicos

que visem segundo a autora ldquoao conhecimento agrave leitura agrave discussatildeo sobre o uso e as funccedilotildees

sociais dos gecircneros escolhidos e quando pertinente a sua produccedilatildeo escrita e circulaccedilatildeo socialrdquo

(LOPES-ROSSI 2011 p 71)

O quadro a seguir proposto por Lopes-Rossi (2011) reflete os fundamentos sobre

o trabalho com projetos pedagoacutegicos e sintetiza as etapas de desenvolvimento de projetos

pedagoacutegicos que visam agrave produccedilatildeo escrita de gecircneros discursivos incluindo o moacutedulo de

divulgaccedilatildeo ao puacuteblico de acordo com a forma tiacutepica de circulaccedilatildeo de cada gecircnero

38

Quadro 1 ndash Siacutentese das etapas de desenvolvimento de projetos pedagoacutegicos que visam agrave produccedilatildeo escrita de

gecircneros discursivos

Moacutedulos didaacuteticos Sequecircncias didaacuteticas

Leitura para apropriaccedilatildeo das

caracteriacutesticas tiacutepicas do

gecircnero discursivo

rarr Seacuterie de atividades de leitura comentaacuterios e

discussotildees de vaacuterios exemplos do gecircnero para

conhecimento de suas caracteriacutesticas discursivas

temaacuteticas e composicionais (aspectos verbais e natildeo

verbais)

Produccedilatildeo escrita do gecircnero

de acordo com suas

condiccedilotildees de produccedilatildeo

tiacutepicas

rarr Seacuterie de atividades de produccedilatildeo

- planejamento da produccedilatildeo (assunto esboccedilo geral

forma de obtenccedilatildeo de informaccedilotildees recursos

necessaacuterios)

- coleta de informaccedilotildees

- produccedilatildeo da primeira versatildeo

- revisatildeo colaborativa do texto

- produccedilatildeo da segunda versatildeo

- revisatildeo colaborativa do texto

- produccedilatildeo da versatildeo final incluindo o suporte para a

circulaccedilatildeo do texto

Divulgaccedilatildeo ao puacuteblico de

acordo com a forma tiacutepica de

circulaccedilatildeo do gecircnero

rarr Seacuterie de providecircncias para efetivar a circulaccedilatildeo da

produccedilatildeo dos alunos fora da sala de aula e mesmo da

escola de acordo com as necessidades de cada evento

de divulgaccedilatildeo e das caracteriacutesticas de circulaccedilatildeo do

gecircnero Fonte Adaptado de LOPES-ROSSI (2011 p 72)

Se adaptarmos o quadro em forma de esquema a fim de facilitar a visualizaccedilatildeo

teremos

Figura 3 Esquema das etapas de desenvolvimento de projetos pedagoacutegicos visando agrave produccedilatildeo escrita de gecircneros

discursivos

Fonte Adaptado de LOPES-ROSSI (2011)

Segundo a autora a proposta de trabalho pedagoacutegico com gecircneros discursivos pela

oacutetica dos pesquisadores do grupo de Genebra proporciona de fato o desenvolvimento da

Produccedilatildeo

escrita

Divulgaccedilatildeo ao

puacuteblico

Leitura para

apropriaccedilatildeo

39

autonomia do aluno no processo de leitura e produccedilatildeo textual sendo uma consequecircncia do

domiacutenio do funcionamento da linguagem em situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo visto que eacute por meio

dos gecircneros discursivos que as praacuteticas de linguagem incorporam-se agraves atividades dos alunos

Sua oacutetica inclui um moacutedulo de leitura para apropriaccedilatildeo das caracteriacutesticas tiacutepicas

do gecircnero que se pretende trabalhar como jaacute descrito no quadro e que coaduna com a proposta

de Swidesrki e Costa-Huumlbes (2009) O moacutedulo de produccedilatildeo escrita de Lopes-Rossi (2009) trata

de planejamento da produccedilatildeo coleta de informaccedilotildees produccedilatildeo da primeira versatildeo revisatildeo

colaborativa do texto produccedilatildeo da segunda versatildeo revisatildeo colaborativa do texto produccedilatildeo da

versatildeo final incluindo o suporte para a circulaccedilatildeo do texto

Para noacutes eacute interessante considerar o moacutedulo de divulgaccedilatildeo ao puacuteblico pois

somando-se a esse trabalho de desenvolvimento da autonomia a circulaccedilatildeo da produccedilatildeo viraacute

corroborar entatildeo a funccedilatildeo social do texto divulgado no suporte adequado nas condiccedilotildees

apropriadas

2223 Abordagem imitativa da redaccedilatildeo

No capiacutetulo Abordagem imitativa da redaccedilatildeo trabalhando com formatos e gecircneros

que integra a obra Escrita para que te quero Vieira (2005 p 159-171) elenca passos para o

trabalho do professor com os alunos na construccedilatildeo de um texto como se fosse um guia o que

pode ser bastante uacutetil para o trabalho com formatos e gecircneros Seguem os passos

1ordm Dar exemplos do tipo de escrita esperado que em poucas palavras consiste em

oferecer modelos de textos relativamente faacuteceis de ler evidenciando sua estrutura

2ordm Ensinar as regras que consiste em explicitar o caminho para atingir as metas

Se necessaacuterio for diz a autora transmite-se um conhecimento analiacutetico ldquouse esquemas ou

diagramas para ilustrar Leve seus alunos a aprenderem mais a partir de modelos direcionando

a instruccedilatildeo para um alvordquo (VIEIRA 2005 p 159)

3ordm Apresentar uma ldquoreceitardquo passo a passo do gecircnero pretendido o que deixa claro

o que se quer que os alunos produzam e tambeacutem serve de guia para as tarefas de casa quando

estiverem trabalhando sozinhos A receita seraacute tatildeo melhor para os alunos se elaborada

diretamente pelo professor ou pelos proacuteprios alunos Tambeacutem eacute possiacutevel diz a autora adaptar

instruccedilotildees de manuais e usar a proacutepria experiecircncia de redator

40

4ordm Demonstrar a ldquoreceitardquo que eacute um momento em que os alunos percebem o

trabalho na praacutetica com o professor executando alguns ou todos os passos da ldquoreceitardquo

demonstrando como se escreve Os alunos colaboram na criaccedilatildeo conjunta de um texto

5ordm Ser autecircntico no processo que eacute dividir com os estudantes os problemas que

surgem na produccedilatildeo de qualquer texto mostrando como solucionar dialogando com os alunos

trabalhando de forma colaborativa

6ordm Dar tarefas curtas e planejadas com cuidado o que atribui ao trabalho do aluno

mais qualidade Normalmente para impressionar o professor a aluno escreve textos longos

repetitivos e sem atratividade As atividades com limite de extensatildeo favorecem segundo a

autora a motivaccedilatildeo o alcance e a variedade de audiecircncias o feedback do professor a

possibilidade de repeticcedilatildeo da tarefa o que Vieira considera um passo fundamental para se

dominar um conhecimento

7ordm Propiciar feedback uacutetil e especiacutefico Neste aspecto a autora natildeo estimula o

ldquoretoquerdquo dos textos dos alunos feito pelo professor Pelo contraacuterio incentiva criacuteticas justas

que visem a evoluccedilatildeo construindo com o aluno atraveacutes das sugestotildees e questotildees adequadas a

reformulaccedilatildeo de seus textos Vieira acrescenta ainda que este feedback natildeo deveria vir somente

do professor mas de uma variedade de leitores como seus pares e a famiacutelia para evitar a falsa

ideia de que a escrita eacute algo direcionado somente ao professor

8ordm Repetir a tarefa Ningueacutem se torna bom em algo logo na primeira tentativa

Portanto para desenvolver as habilidades eacute importante a repeticcedilatildeo para dominar um

conhecimento

Apoacutes elencar a autora sugere tarefas de aplicaccedilatildeo para o professor de forma bem

praacutetica para criar uma ldquoreceitardquo de escrita com os alunos (2005 p 162) de modo que noacutes

professores nos apropriemos dos diferentes gecircneros textuais conhecendo de antematildeo as

caracteriacutesticas destes e mesmo as dificuldades partindo de textos autecircnticos listando

procedimentos e etapas necessaacuterios para redigir textos semelhantes e refletindo sobre a

instruccedilatildeo que devemos criar estabelecendo um propoacutesito para que o aluno escreva e exercite

apropriadamente o modelo de gecircnero

A partir desse roteiro teoacuterico-metodoloacutegico que traccedilamos ao longo desta seccedilatildeo

inspiramo-nos para criar para o trabalho com o gecircnero crocircnica assunto da proacutexima seccedilatildeo em

nossa pesquisa-accedilatildeo a sequecircncia didaacutetica com foco na produccedilatildeo escrita de crocircnicas literaacuterias

acrescida das etapas de reconhecimento do gecircnero e da divulgaccedilatildeo ao puacuteblico dado o desejo

41

de extrapolar o acircmbito da sala de aula fazendo com que os textos dos alunos tivessem

circulaccedilatildeo social

23 Definindo o gecircnero textual crocircnica

A palavra ldquocrocircnicardquo tem origem no grego antigo khroacutenos e significa tempo Naquela

sociedade o gecircnero ganhou esse nome inicialmente por trazer em seu corpo o relato em ordem

cronoloacutegica dos fatos ou acontecimentos de uma eacutepoca

Um dos pioneiros a estudar o texto literaacuterio segundo Ferreira (2011 p 65) foi o

pensador grego Aristoacuteteles Sua perspectiva formulava o conceito de mimese que seria a obra

literaacuteria como representaccedilatildeo ou imitaccedilatildeo do mundo Considerando essa oacutetica a crocircnica em sua

origem tomava a forma de registro histoacuterico de um povo Aleacutem disso compreende-se que mais

do que apenas encadear a sequecircncia de fatos sucessivos interessava a forma como isso se dava

mostrando o cuidado com a arte literaacuteria

Aproximadamente no seacuteculo XII a crocircnica ressurge em uso na Europa medieval e

tem seu conceito atualizado pela perspectiva grega ora se encarrega de registrar os fatos

fidedignamente o que lhe confere caraacuteter histoacuterico ora relata-os fazendo uso de recursos

linguiacutesticos tanto denotativos quanto conotativos conferindo-lhe caraacuteter de ficccedilatildeo literaacuteria A

esse respeito nos fala Borges (2008 p 205)

A preocupaccedilatildeo com a descriccedilatildeo da histoacuteria de uma vida teve seu iniacutecio no mundo

grego antigo ao mesmo tempo em que surgiu a Histoacuteria como forma de

conhecimento essa era uma Histoacuteria poliacutetica com sua diferenciaccedilatildeoimbricaccedilatildeo com

a memoacuteria Ao longo de mais ou menos dois milecircnios autores acharam que contar a

histoacuteria da vida de algueacutem era algo distinto de uma Histoacuteria (que narrava fatos

coletivos e contava a verdade) as histoacuterias das vidas (termo usado entatildeo pelos

autores) serviam desde o mundo greco-romano para dar exemplos morais negativos

ou positivos - muitas vezes constituindo os panegiacutericos Essa chamada biografia

claacutessica punha um acento muito maior no caraacuteter poliacutetico moral ou religioso do

biografado do que em sua pessoa em sua singularidade No mundo medieval a ideia

dos exempla prolongou-se configurando-se na hagiografia e nas croacutenicas

Esses textos chamados de crocircnicas como caracterizadas acima por Borges (2008)

confundiam-se com outros gecircneros da eacutepoca ndash o que era muito comum ndash por tomarem um

caraacuteter biograacutefico sendo sinocircnimas por exemplo da hagiografia cuja intencionalidade ditava

o estilo do escritor concretizando ao longo da sucessatildeo cronoloacutegica dos fatos uma visatildeo

parcial beirando o excessivamente elogioso

42

A crocircnica percorreu longo curso ateacute ganhar a forma que conhecemos hoje no Brasil

Para Coutinho (2008) a origem de nossa atual crocircnica brasileira estaria no ensaio inglecircs do

seacuteculo XVI O autor a compara ao ensaio informal (informal essay ou familiar essay) que

consiste em seu sentido primitivo numa tentativa numa experimentaccedilatildeo de interpretaccedilatildeo

pessoal dos fatos sem obedecer a uma estrutura predeterminada poreacutem com forte marca da

prosa oral colocada na escrita

A essecircncia do ensaio (nesse sentido original) estaacute em sua relaccedilatildeo com a palavra falada

e com a elocuccedilatildeo oral como se depreende do estudo estiliacutestico dos grandes ensaiacutestas

estilo muito proacuteximo da maneira oral ou do pensamento que eacute captado no proacuteprio ato

e momento de pensar (COUTINHO 2008 p 100)

A respeito do conceito de crocircnica temos a visatildeo de Coutinho (2008) cujos criteacuterios

de classificaccedilatildeo dos gecircneros literaacuterios adotados em sua obra apontam para ldquoum grupo de formas

literaacuterias que resultam de uma explanaccedilatildeo direta dos pontos de vista do autor dirigindo-se em

seu proacuteprio nome ao leitor ou ouvinte sem qualquer artifiacutecio intermediaacuteriordquo (2008 p 99)

Segundo ele o autor vale-se de meacutetodo direto ao inveacutes de indireto em gecircneros ensaiacutesticos ou

discursivos cujos exemplos dados satildeo o ensaio a crocircnica o discurso e o sermatildeo a carta as

memoacuterias o diaacuterio as maacuteximas Outra aproximaccedilatildeo da crocircnica ao ensaio para o autor eacute que

ambos satildeo escritos em linguagem coloquial discorrendo sobre diversos assuntos tais como os

proacuteprios seres humanos os fatos ocorridos com eles as cenas da natureza entre outros

Poreacutem na mesma obra Coutinho (2008) afirma que modernamente a palavra

ensaio veio perdendo seu caraacuteter inicial e etimoloacutegico de tentativa de experimentaccedilatildeo

passando a se confundir com ldquoestudordquo ldquoou o que os ingleses chamam de julgamento isto eacute

que oferecem conclusotildees sobre os assuntos apoacutes discussatildeo argumentaccedilatildeo anaacutelise avaliaccedilatildeordquo

231 A crocircnica brasileira

No seacuteculo XIX a sociedade desenvolve-se industrialmente permitindo o advento

da imprensa Para vaacuterios autores como Barbier (2008 apud FERREIRA 2011) Coutinho

(2008) Cacircndido (1992) Castello (1999) o folhetim eacute a gecircnese da crocircnica moderna sendo o

jornal o suporte em que a crocircnica vai ganhar definitivamente seu espaccedilo Sobre essa relaccedilatildeo na

eacutepoca entre o suporte para o gecircnero e o gosto pelo gecircnero Barbier (2008) fala

Sabe-se hoje que os gecircneros literaacuterios estatildeo intimamente relacionados agraves condiccedilotildees

sociais e histoacutericas que determinam a formaccedilatildeo do puacuteblico leitor com seus gostos e

sensibilidades e que por outro lado eles tambeacutem se alteram com a mudanccedila do

43

suporte material dos textos como o demonstra a Histoacuteria dos manuscritos dos

impressos e das recentes experimentaccedilotildees digitais (BARBIER 2008 apud

FERREIRA 2011 p 73)

Das palavras de Barbier (2008) captamos a importacircncia que passa a ter a imprensa

para a divulgaccedilatildeo dos textos por seu alcance por sua frequecircncia bem como por seu poder de

molde sobre o puacuteblico leitor que se formava na eacutepoca

Antocircnio Candido (1992 p 15) no belo texto A vida ao reacutes-do-chatildeo explica que

ldquoantes de ser crocircnica propriamente dita foi lsquofolhetimrsquo ou seja um artigo de rodapeacute sobre as

questotildees do dia ndash poliacuteticas sociais artiacutesticas literaacuteriasrdquo E completa o autor afirmando que a

crocircnica ldquonatildeo nasceu propriamente com o jornal mas soacute quando este se tornou quotidiano de

tiragem relativamente grande e teor acessiacutevel isto eacute haacute pouco mais de um seacuteculo e meiordquo

(CAcircNDIDO 1992 p 15)

Esse folhetim em geral ficava no rodapeacute da primeira paacutegina do jornal e era

destinado ao entretenimento do leitor Esse espaccedilo com o tempo passou a acolher a ficccedilatildeo

literaacuteria Autores publicavam aiacute seus textos treinando a narrativa Tal foi a receptividade do

formato que ganhou espaccedilo proacuteprio semanalmente Nas palavras de Castello (1999) aquele

texto que veio depois a ser a crocircnica complementaria a funccedilatildeo da imprensa diaacuteria

A partir dos anos [19]20 acentua-se a contribuiccedilatildeo de cronistas e memorialistas Mas

o primeiro gecircnero mais do que o segundo eacute continuidade e amadurecimento de uma

tradiccedilatildeo proveniente do Romantismo quando o ldquofolhetimrdquo semanal eacute definido por

Joseacute de Alencar e enriquecido por Machado de Assis mestre de cronistas que vieram

depois Conta-se ainda a contribuiccedilatildeo da prosa poeacutetica de Raul Pompeia e logo a

seguir de Olavo Bilac Finalmente nos nossos dias seja atividade complementar seja

agraves vezes principal e mesmo uacutenica de vaacuterios escritores a crocircnica se afirma como gecircnero

da preferecircncia de numeroso puacuteblico Contribuiu sempre para difundi-la desde seus

momentos iniciais datados do Romantismo a divulgaccedilatildeo em primeira matildeo pelos

principais jornais e revistas do paiacutes Complementava mesmo pelo seacuteculo XIX a

funccedilatildeo de nossa imprensa diaacuteria tradicionalmente marcada pela colaboraccedilatildeo dos

escritores do momento Surgia como um misto de notiacutecia vaacuteria reflexatildeo invenccedilatildeo e

ateacute mesmo de criacutetica ou impressotildees literaacuterias (CASTELLO 1999 p 377-378)

A crocircnica complementava a imprensa por em seu bojo tratar de assuntos mais

amenos diferindo dos que motivavam as notiacutecias e as reportagens sem no entanto como nos

mostra Cacircndido (1992) deixar de lado o que toca a alma humana

Ora a crocircnica estaacute sempre ajudando a estabelecer ou restabelecer a dimensatildeo das

coisas e das pessoas Em lugar de oferecer um cenaacuterio excelso numa revoada de

adjetivos e periacuteodos candentes pega o miuacutedo e mostra nele uma grandeza uma beleza

ou uma singularidade insuspeitada Ela eacute amiga da verdade e da poesia nas suas

formas mais diretas e tambeacutem nas suas formas mais fantaacutesticas - sobretudo porque

quase sempre utiliza o humor (CAcircNDIDO 1992 p 14)

44

Amenos sim poreacutem as crocircnicas de um ou outro modo conduziam o leitor mesmo

que por caminhos suaves de ldquoar despreocupado de quem estaacute falando de coisas sem maior

consequecircnciardquo (CAcircNDIDO 1992 p 17) agrave criacutetica social agrave reflexatildeo sobre o significado das

accedilotildees e dos sentimentos do homem

Segundo Coutinho (2008 p 106) o caminho que conduziria agrave crocircnica brasileira

comeccedila com Francisco Otaviano no Jornal do Commercio no Rio de Janeiro em 2 de

dezembro de 1852 Nessa data eacute inaugurada a seccedilatildeo ldquoA semanardquo em que seriam publicados os

folhetins literaacuterios do Romantismo

O folhetim seccedilatildeo ao final da paacutegina apresentou caracteriacutesticas que se agrupadas

conforme a frequecircncia do teor das publicaccedilotildees seriam de variedades e de romances O primeiro

grupo o de variedades abordava assuntos diversos da eacutepoca tratando de tudo um pouco e

ocupava a primeira paacutegina do jornal O segundo por sua vez destinava-se a textos de ficccedilatildeo

Esse espaccedilo passou a publicar romances de autores da eacutepoca distribuiacutedos em histoacuterias seriadas

ou capiacutetulos provocando no puacuteblico leitor a curiosidade pelo que viria a seguir tornando-se

um sucesso permitindo ldquoalavancar as vendas aumentar as assinaturas e por conseguinte

ampliar as vantagens financeiras dos jornaisrdquo (SANTOS 2008 p 68)

Essa iniciativa abriu espaccedilo para publicaccedilotildees de romances de autores brasileiros O

guarani de Joseacute de Alencar por exemplo foi desenvolvido a princiacutepio para o folhetim Em 1ordm

de janeiro de 1857 saiu o capiacutetulo inicial do romance no Diaacuterio do Rio de Janeiro Ao final

daquele ano foi publicado como livro com alteraccedilotildees miacutenimas em relaccedilatildeo ao que fora

publicado em folhetim

A evoluccedilatildeo da sociedade industrial refletiu sua setorizaccedilatildeo no modo de organizaccedilatildeo

dos jornais O folhetim para variedades teve sua alteraccedilatildeo quando foram criadas seccedilotildees

especiacuteficas para assuntos especiacuteficos de maneira a organizar o jornal Para o folhetim restaram

assuntos mais corriqueiros de cunho mais descompromissado com a veracidade dos fatos ndash

estes ficariam para as notiacutecias A esses textos mais leves cujo caraacuteter era efecircmero com a mera

funccedilatildeo de distrair o leitor passou-se a dar o nome de crocircnica

232 Caracteriacutesticas da crocircnica

Apesar da filiaccedilatildeo ao jornal as caracteriacutesticas atuais do gecircnero crocircnica vatildeo aleacutem do

desenvolvimento da imprensa Como bem nos resume Amaral (2008) tambeacutem estatildeo

intimamente relacionadas agraves transformaccedilotildees sociais e agrave valorizaccedilatildeo da histoacuteria social isto eacute da

45

histoacuteria que considera importantes os movimentos de todas as classes sociais e natildeo soacute os das

grandes figuras poliacuteticas ou militares Em suas palavras no ldquoregistro da histoacuteria social assim

como na escrita das crocircnicas um dos objetivos eacute mostrar a grandiosidade e a singularidade dos

acontecimentos miuacutedos do cotidianordquo (2008 p 12)

Eacute efecircmera simples e dinacircmica em sua linguagem como nos fala Cacircndido (1992 p

14)

Isto acontece porque natildeo tem pretensotildees a durar uma vez que eacute filha do jornal e da

era da maacutequina onde tudo acaba tatildeo depressa Ela natildeo foi feita originalmente para o

livro mas para essa publicaccedilatildeo efecircmera que se compra num dia e no dia seguinte eacute

usada para embrulhar um par de sapatos ou forrar o chatildeo da cozinha Por se abrigar

nesse veiacuteculo transitoacuterio o seu intuito natildeo eacute o dos escritores que pensam em ldquoficarrdquo

isto eacute permanecer na lembranccedila e na admiraccedilatildeo da posteridade e a sua perspectiva

natildeo eacute a dos que escrevem do alto da montanha mas do simples reacutes-do-chatildeo

(CAcircNDIDO 1992 p 14)

As crocircnicas contemporacircneas organizam sua narrativa em primeira ou terceira

pessoa quase sempre como quem conta um caso em tom intimista Ao narrar os autores

inserem em seu texto trechos de diaacutelogos permeados por expressotildees cotidianas escrevendo

como quem conversa com seus leitores como se estivessem muito proacuteximos Como temaacutetica

os cronistas tratam de reflexotildees sobre a vida social poliacutetica econocircmica por vezes de forma

humoriacutestica outras de modo mais seacuterio outras com um jeito poeacutetico que indica o pertencimento

do gecircnero agrave esfera literaacuteria

Assim uma forte caracteriacutestica do gecircnero eacute ter uma linguagem que mescla aspectos

da escrita com outros da oralidade E por causa do uso de linguagem coloquial e da proximidade

com os fatos cotidianos a crocircnica por vezes eacute vista como literatura ldquomenorrdquo Essa suposta

classificaccedilatildeo como gecircnero literaacuterio menor natildeo diminui sua importacircncia Por ser breve leve de

faacutecil acesso envolvente ela possibilita momentos de fruiccedilatildeo a muitos leitores que nem sempre

tecircm acesso ndash ou natildeo gostam devido agrave extensatildeo ndash aos romances Para compreendermos as

caracteriacutesticas da crocircnica precisamos conhecer como ela se manifesta como texto jornaliacutestico

e tambeacutem como texto literaacuterio

2321 Crocircnica um gecircnero jornaliacutestico

Para termos uma ideia de como eacute vista a crocircnica na esfera jornaliacutestica valemo-nos

da classificaccedilatildeo do pioneiro na aacuterea Luiacutes Beltratildeo (1980 p 67 Grifos do autor)

O primeiro aspecto eacute quanto agrave natureza do tema Deste modo ele apresenta trecircs

46

espeacutecies

a) crocircnica geral tambeacutem chamada de coluna ou seccedilatildeo especial que aborda

assuntos variados ldquosob uma epiacutegrafe geralrdquo ou localizada em paacutegina fixa no

jornal

b) crocircnica local tambeacutem chama de urbana ou da cidade divulgada sob a mesma

epiacutegrafe que fala da vida cotidiana da cidade recebendo e orientando a opiniatildeo

puacuteblica da comunidade onde circula o jornal

c) crocircnica especializada tambeacutem chamada de comentaacuterio integra uma paacutegina ou

seccedilatildeo do jornal determinada destacando-se graficamente das demais mateacuterias

ali publicadas trata de assuntos referentes a uma aacuterea especiacutefica de atividade

cujo autor eacute um expert como nos casos de poliacutetica esportes ou economia

O segundo aspecto eacute o tratamento dado ao tema Beltratildeo (1980 p68) apresenta

mais trecircs classificaccedilotildees

a) crocircnica analiacutetica em que o cronista expotildee os fatos com brevidade e os analisa

com objetividade dirigindo-se ldquomais agrave inteligecircncia que ao coraccedilatildeordquo com

linguagem soacutebria e elegante poreacutem dotada de capricho e graccedila

b) crocircnica sentimental em que o cronista apela para a sensibilidade de seu leitor

retirando-se dos fatos e explorando aspectos liacutericos pitorescos ou eacutepicos de

modo a comovecirc-lo e influenciaacute-lo agrave accedilatildeo com linguagem vivaz ritmo aacutegil sem

dar profundidade ao tema

c) crocircnica satiacuterico-humoriacutestica em que o objetivo do cronista eacute criticar fatos accedilotildees

personagens ou pronunciamentos comentados ndash amplamente conhecidos do

puacuteblico ndash ridicularizando-os ou ironizando-os buscando o entretenimento do

leitor utilizando linguagem com linguagem figurada com duplo sentido

palavras aspeadas e verbos no futuro do preteacuterito Para Beltratildeo (1980) a esse tipo

de crocircnica se assemelham as charges dos jornais

2322 Crocircnica um gecircnero literaacuterio

A crocircnica como vimos previamente surgiu no espaccedilo do jornal Embora o

utilizasse como suporte e a partir dele tenha se firmado desenvolveu caracteriacutesticas proacuteprias

indo para aleacutem da esfera jornaliacutestica alcanccedilando assim a esfera literaacuteria Nas palavras de

Eduardo Portela (apud Coutinho 2008 p 107)

47

O fundamental na crocircnica eacute a superaccedilatildeo de sua base jornaliacutestica e urbana em busca de

transcendecircncia seja construindo ldquouma vida aleacutem da notiacuteciardquo Seja enriquecendo a

notiacutecia ldquocom elementos de tipo psicoloacutegico metafiacutesicordquo ou com o humour seja

fazendo ldquoo subjetivismo do artistardquo ldquoo seu universo internordquo sobrepor-se ldquoagrave

preocupaccedilatildeo objetiva do cronistardquo (PORTELA apud COUTINHO 2008 p 107)

Como se vecirc essa base jornaliacutestica que atrelava a crocircnica agrave notiacutecia foi

gradativamente superada Natildeo soacute em jornais mas tambeacutem em revistas ela passou a ser

publicada ainda trazendo em si o aspecto da brevidade Poreacutem as que alcanccedilaram a

transcendecircncia de que nos fala o autor passaram a tambeacutem ser publicadas em livros reunidas

em coletacircneas organizadas por autores e editoras chegando mesmo a serem inseridas nos livros

didaacuteticos do ensino baacutesico

Para aleacutem dessa caracteriacutestica da crocircnica literaacuteria impressa temos agora tambeacutem

no seacuteculo XX a crocircnica cujo suporte eacute o meio online divulgada amplamente por meio das redes

sociais sites ou blogs Nesses meios tambeacutem haacute crocircnicas ligadas a notiacutecias sim No entanto a

dinacircmica da vida a capacidade de observaccedilatildeo e a vontade crescente na sociedade de expressatildeo

permite que o subjetivo emerja externalizando o universo dos autores modernos tocando os

leitores igualmente modernos tornando puacuteblico o que poderia ser antes apenas privado natildeo

priorizando apenas a objetividade histoacuterica que buscaram os cronistas incipientes

Considerando todas essas formas de tornar puacuteblica a crocircnica vejamos algumas de

suas caracteriacutesticas mais expressivas Afracircnio Coutinho (2008 p 107 Grifos nossos) fala sobre

os diversos tipos da crocircnica na literatura brasileira afirmando ser possiacutevel classificaacute-los pela

natureza do assunto ou pelo movimento interno Satildeo eles

a) a crocircnica narrativa que se aproxima do conto por ter seu eixo em uma histoacuteria

b) a crocircnica metafiacutesica que se constitui de aura de reflexotildees mais ou menos

filosoacuteficas sobre os acontecimentos ou os homens

c) a crocircnica-poema em prosa que traz em si conteuacutedo liacuterico resultante de mero

extravasamento da alma do artista ante o espetaacuteculo da vida das paisagens ou

episoacutedios para ele significativos

d) a crocircnica-comentaacuterio que trata das variedades dos acontecimentos e que tem

ldquono dizer de Eugecircnio Gomes o aspecto de um lsquobazar asiaacuteticorsquo acumulando

muita coisa diferente ou diacutesparrdquo

Antocircnio Cacircndido (1992 p 21) sugere sem pretensatildeo de categorizar uma

classificaccedilatildeo das crocircnicas Poderiacuteamos agrupar conforme seus exemplos da seguinte forma

48

a) crocircnicas que satildeo diaacutelogos e que nelas podemos perceber que o cronista e seu

leitor ideal se revezam nos pontos de vista e nas informaccedilotildees

b) crocircnicas que marcham rumo ao conto ldquoagrave narrativa mais espraiada com certa

estrutura de ficccedilatildeordquo

c) crocircnicas que parecem anedotas desdobradas

d) crocircnicas que se aproximam da exposiccedilatildeo poeacutetica ou de certo tipo de biografia

liacuterica construiacutedas por enumeraccedilatildeo parecendo uma divagaccedilatildeo livre ldquouma

cadeia de associaccedilotildees totalmente sem necessidade que deveria resultar em

simples acuacutemulo de palavrasrdquo mas que resulta em ldquoum sistema expressivo tatildeo

perfeitordquo

Nos tempos em que vivemos e para nosso projeto escolhemos crocircnicas que se

apresentaram para noacutes tatildeo efecircmeras quanto as do jornal impresso as de meio virtual online

Bem certo que natildeo foram todas mas vaacuterias que nossos alunos leram encaixam-se nesse perfil

O advento da internet permite que acessemos textos dos mais variados gecircneros Em nosso caso

crocircnicas de autores de diversos pontos do Paiacutes Usamos famosos e outros cuja fama no meio

literaacuterio ainda estaacute se nacionalizando porquanto alguns jaacute estejam bem consolidados no meio

em seus estados

Como nosso objetivo maior nesta pesquisa-accedilatildeo eacute contribuir para o

desenvolvimento da competecircncia escrita dos alunos neste caso os do 9ordm ano do Ensino

fundamental ano divisor de aacuteguas prestes a entrar para o ensino meacutedio quando lhes seraacute

cobrado um conhecimento que muitos natildeo chegam a alcanccedilar que eacute o de ter boa escrita boa

produccedilatildeo textual propiciar-lhes-emos conhecer as etapas especiacuteficas do processo atraveacutes de

nossa SD o que lhes seraacute fundamental natildeo somente para os niacuteveis escolares seguintes mas

tambeacutem para as praacuteticas sociais nas quais estatildeo inseridos

A escolha do gecircnero natildeo poderia ter sido mais oportuna Nas palavras de Cacircndido

(1992 p 16) sobre a crocircnica ldquoo seu grande prestiacutegio atual eacute um bom sintoma do progresso de

busca da oralidade na escrita isto eacute na quebra do artifiacutecio e aproximaccedilatildeo com o que haacute de mais

natural no modo de ser do nosso tempo E isto eacute humanizaccedilatildeo da melhorrdquo

49

3 LEITURA E ESCRITA NOS ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Nesta seccedilatildeo tratamos da questatildeo da escrita no ensino fundamental nos anos finais

refletindo sobre o que ensinar em Liacutengua Portuguesa como os professores trabalham como

veem a importacircncia das aulas de escrita

31 Habilidades de leitura e escrita para que ler e escrever

No iniacutecio do seacuteculo XX pensava-se nas aulas de liacutengua materna como o momento

de se transmitir a norma culta da liacutengua portuguesa para os estudantes oriundos da classe social

alta A linguagem era vista como a expressatildeo do pensamento e a capacidade de escrever seria

portanto uma consequecircncia do pensar Na escola os textos literaacuterios eram valorizados e os

regionalismos ignorados Tambeacutem era descartada a ideia de se ler na escola jornais ou

quaisquer textos de nuances coloquiais

A partir da segunda metade do seacuteculo XIX comeccedilaram a surgir no Paiacutes ainda que

alguns fossem impressos na Europa livros de leitura destinados especificamente agraves seacuteries

iniciais da escolarizaccedilatildeo Segundo Galvatildeo e Batista (sd) autores como Abiacutelio Ceacutesar Borges e

Felisberto de Carvalho editaram livros considerados inovadores para a eacutepoca por terem caraacuteter

enciclopeacutedico trazendo conteuacutedos de vaacuterias aacutereas do conhecimento sendo de cunho instrutivo

e moral Essas obras destinadas ao aprendizado inicial da leitura e da escrita visavam substituir

as cartilhas grosseiras ou os materiais manuscritos que no entanto na maior parte do paiacutes

continuaram sendo usados

No iniacutecio do seacuteculo XX foram publicados livros cujo formato comeccedilou a modificar

o conceito de livro usado nas escolas Atraveacutes do Brasil de Olavo Bilac e Manuel Bonfim e

Narizinho arrebitado de Monteiro Lobato marcaram a histoacuteria

Movidos pelo nacionalismo que caracterizava aquele momento brasileiro os autores

construiacuteram um livro que traz uma narrativa contiacutenua ao longo dos capiacutetulos contando

a histoacuteria de trecircs meninos viajando atraveacutes do paiacutes No prefaacutecio os autores afirmam

que atraveacutes da histoacuteria narrada o professor teria material para desenvolver os diversos

assuntos necessaacuterios agrave instruccedilatildeo das crianccedilas Aleacutem disso e talvez sobretudo os

autores tecircm uma preocupaccedilatildeo com a educaccedilatildeo moral dos meninos e meninas Em

1921 outro livro marcaria a histoacuteria dos livros de leitura Narizinho Arrebitado de

Monteiro Lobato Um dos grandes sucessos da literatura infantil brasileira nasceu

como 2o livro de leitura para as escolas E com ele uma grande inovaccedilatildeo Segundo

a criacutetica da eacutepoca o livro se diferenciava de toda a literatura didaacutetica produzida no

Brasil na medida em que trazia para a escola um aspecto ateacute entatildeo ignorado pela

instituiccedilatildeo provocar o prazer na leitura (GALVAtildeO BATISTA sd)

50

Da deacutecada de 20 ateacute meados da de 50 inuacutemeros livros de leitura foram produzidos

e algumas editoras especializaram-se na produccedilatildeo de livros didaacuteticos Nesse momento vaacuterias

reformas de ensino foram empreendidas por diversos Estados

Nos anos 1970 a linguagem passou a ser vista como um instrumento de

comunicaccedilatildeo como nos fala Raupp (2005)

A concepccedilatildeo agora eacute a de linguagem como instrumento de comunicaccedilatildeo e os

objetivos de ensino satildeo pragmaacuteticos e utilitaacuterios natildeo se trata mais de promover o conhecimento

do sistema linguiacutestico ndash o saber a respeito da liacutengua ndash mas do desenvolvimento das habilidades

de expressatildeo e compreensatildeo de mensagens ndash o uso instrumental e comunicativo da liacutengua A

escola abre-se para a pluralidade de linguagens e culturas

Segundo a autora ensinar a liacutengua nas escolas era priorizar o ensino de gramaacutetica

Poreacutem no iniacutecio dos anos 70 a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo nordm 569271

provocou mudanccedilas natildeo somente na disciplina de Liacutengua Portuguesa mas em todas as demais

disciplinas curriculares A liacutengua no contexto ideoloacutegico do movimento militar poacutes-64 eacute

considerada instrumento a serviccedilo do desenvolvimento Assim a disciplina ldquoPortuguecircsrdquo passa

a ser denominada de Comunicaccedilatildeo e Expressatildeo (nas seacuteries iniciais) Comunicaccedilatildeo em Liacutengua

Portuguesa (nas seacuteries finais) e no 2deg grau Liacutengua Portuguesa e Literatura Brasileira O aluno

deveria respeitar modelos para construir textos e transmitir mensagens Os gecircneros natildeo

literaacuterios foram incorporados agraves aulas

Chegando agrave deacutecada de 1980 foi sendo revista refletida e ampliada a concepccedilatildeo de

linguagem como um instrumento de comunicaccedilatildeo passando a influenciar o ensino e mostrando

que o foco deve estar na interaccedilatildeo entre as pessoas Poreacutem apesar dos novos estudos mesmo

entrando na deacutecada de 1990 professores ainda reproduziam mesmo que inconscientemente o

mesmo sistema de transposiccedilatildeo didaacutetica de conteuacutedos e a mesma atribuiccedilatildeo de valor e

importacircncia ao ensino prescritivo e normativo com que construiacuteram sua formaccedilatildeo tanto pessoal

quanto pedagoacutegica

Questionava-se para que serve a escola E trazendo para nossa aacuterea de interesse

para que serve a disciplina Liacutengua Portuguesa Para alguns a escola era e ainda eacute vista como

preparatoacuteria de alunos para o vestibular tanto mais se aproximava do ensino meacutedio No entanto

se a escola se detiver apenas a esses exames perderaacute completamente seu papel social que como

sabemos eacute muito mais abrangente que fazer uma prova cuja finalidade eacute especiacutefica objetiva e

limitada por um tempo e por uma seacuterie de outras determinaccedilotildees teacutecnicas

51

Nesse sentido a escola natildeo tem por finalidade maior garantir o preparo de alunos

para concursos pois natildeo cumpriria seu papel de promover a inclusatildeo social dos cidadatildeos Para

aleacutem da escola haacute a vida e toda sua abrangecircncia social e poliacutetica Entatildeo para de fato promover

a inclusatildeo de cada aluno nada mais importante do que incluiacute-los no mundo da leitura e da

escrita da anaacutelise e da reflexatildeo criacutetica estimulando-os agrave criaccedilatildeo

Valemo-nos das palavras de Antunes (2007 p110) a respeito do conflito sobre o

que ensinar nas aulas de Liacutengua Portuguesa quando questiona o que leva ainda algumas pessoas

a defenderem a prioridade de um ensino concentrado em ldquoanalisar frases para identificar

substantivos adjetivos verbos sublinhar diacutegrafos distinguir objeto preposicionado de objeto

direto pleonaacutestico classificar oraccedilotildees e outras categorias metalinguiacutesticasrdquo Por que falantes da

liacutengua materna natildeo tecircm familiaridade com a liacutengua em sua modalidade escrita em sua forma

espontacircnea de uso Raupp (2005 p 53) apresenta-nos uma resposta

A verdade eacute que por mais que se tenham alterado meacutetodos e teacutecnicas pressupostos e

concepccedilotildees no ensino de Liacutengua Portuguesa uma premissa permaneceu inalterada a

necessidade de se ensinaraprender a leitura e a escrita E apesar de inuacutemeras

alteraccedilotildees didaacutetico-metodoloacutegicas ocorridas ao longo do percurso o ler e o escrever

permanecem gerenciadores de todo o processo de inserccedilatildeo do sujeito na escola e fora

dela A esse respeito menciona Britto (1997 p100) ldquoo aprendizado efetivo da escrita

(e aqui eu acrescentaria e da leitura) natildeo decorre de um processo de treinamento mas

da inserccedilatildeo do sujeito no mundo da relaccedilatildeo que estabelece entre o que aprende e seu

universo soacutecio-histoacutericordquo e a inserccedilatildeo do sujeito no mundo inegavelmente ocorre

por meio da leitura deste mundo (RAUPP 2005 p 53)

De certa maneira a tradiccedilatildeo dos meacutetodos de ensino da liacutengua materna na escola

ainda contribui no sentido de natildeo se estimular os aprendizes a fluir na leitura e na escrita

(BEZERRA 2014 LOPES-ROSSI 2012)

Com o intuito de superar meacutetodos tatildeo tradicionais quanto ineficientes no ensino da

competecircncia discursiva e sensiacuteveis agraves transformaccedilotildees gestadas nos centros de conhecimento

no ano de 1996 foi promulgada apoacutes longos debates e discussotildees a Lei de Diretrizes e Bases

que rege a educaccedilatildeo brasileira com vistas agraves novas formas do pensar e agir docente de modo

a implementar a transformaccedilatildeo do olhar das instituiccedilotildees que formam professores bem como

auxiliar os docentes jaacute em exerciacutecio atraveacutes das instituiccedilotildees que lhes propiciam a formaccedilatildeo

continuada

Assim os Paracircmetros Curriculares Nacionais (1997) reconhecem que o ensino da

liacutengua portuguesa pautado em uma prioridade de estudos de aspectos normativos ou gramaticais

da liacutengua eacute limitado e insuficiente e sugerem redirecionar o foco para a praacutetica de leitura e ndash

aspecto muito importante ndash o exerciacutecio da escrita de textos nos mais variados gecircneros textuais

52

existentes na sociedade possibilitando o estudo da liacutengua em contextos reais de uso natildeo apenas

como um conjunto de normas

A importacircncia e o valor dos usos da linguagem satildeo determinados historicamente

segundo as demandas sociais de cada momento Atualmente exigem-se niacuteveis de leitura e de

escrita diferentes dos que satisfizeram as demandas sociais ateacute haacute bem pouco tempo e tudo

indica que essa exigecircncia tende a ser crescente A necessidade de atender a essa demanda

obriga agrave revisatildeo substantiva dos meacutetodos de ensino e agrave constituiccedilatildeo de praacuteticas que possibilitem

ao aluno ampliar sua competecircncia discursiva na interlocuccedilatildeo (BRASIL 1998 p 23)

Nesse sentido os PCN (1997) orientam o trabalho em sala em direccedilatildeo agrave ampliaccedilatildeo

do uso da liacutengua aos contextos natildeo podendo ficar reduzida apenas ao trabalho sistemaacutetico com

a mateacuteria gramatical visto que aprender a pensar e falar sobre a proacutepria linguagem realizar

uma atividade de natureza reflexiva uma atividade de anaacutelise linguiacutestica supotildee duas situaccedilotildees

planejar situaccedilotildees didaacuteticas que possibilitem a reflexatildeo natildeo somente sobre os diferentes

recursos expressivos utilizados pelo autor do texto mas tambeacutem sobre a forma pela qual a

seleccedilatildeo de tais recursos reflete as condiccedilotildees de produccedilatildeo do discurso e as restriccedilotildees impostas

pelo gecircnero e pelo suporte e tomar como objeto de reflexatildeo os procedimentos de planejamento

de elaboraccedilatildeo e de refacccedilatildeo dos textos (BRASIL 1997 p 8 Grifo nosso)

Produzir textos requer dessa forma estudar os diferentes modos de expressatildeo

abrindo-se aiacute para o aluno uma gama de possibilidades de manifestaccedilatildeo de ideias atraveacutes do

conhecimento de sua liacutengua quando de seu uso nas relaccedilotildees de interaccedilatildeo pessoal No entanto

para que essa produccedilatildeo seja efetiva haacute que se ter em mente que qualquer atividade de produccedilatildeo

textual bem-sucedida requer o exerciacutecio da escrita e da reescrita pois se considera que nesse

processo de aperfeiccediloamento as aulas tomadas entre o iniacutecio e o teacutermino de uma sequecircncia ou

seja entre a produccedilatildeo inicial e a produccedilatildeo final sejam vaacuterias e variadas com planejamento para

conhecer as necessidades de cunho geral da turma como as caracteriacutesticas de um gecircnero bem

como as de cunho individual do aluno como as limitaccedilotildees no reconhecimento do gecircnero

textual na construccedilatildeo de argumentos nas convenccedilotildees da escrita culta

Para boa parte das crianccedilas e dos jovens brasileiros a escola eacute o uacutenico espaccedilo que

pode proporcionar acesso a textos escritos textos estes que se converteratildeo inevitavelmente em

modelos para a produccedilatildeo Se eacute de esperar que o escritor iniciante redija seus textos usando como

referecircncia estrateacutegias de organizaccedilatildeo tiacutepicas da oralidade a possibilidade de que venha a

construir uma representaccedilatildeo do que seja a escrita soacute estaraacute colocada se as atividades escolares

53

lhe oferecerem uma rica convivecircncia com a diversidade de textos que caracterizam as praacuteticas

sociais (BRASIL 1998 p 25-26)

Para levar o aluno a desenvolver suas habilidades de escrita um passo eacute planejar

sequecircncias que abordem as caracteriacutesticas do gecircnero a ser trabalhado permitindo-lhe pocircr em

aproximaccedilatildeo eou contraste seus saberes com os conhecimentos a serem construiacutedos algo que

tem se revelado bastante difiacutecil

Para o trabalho com a escrita em Liacutengua Portuguesa pode-se partir da questatildeo

essencial o que se deve ensinar para os alunos Para a resposta eacute importante entendermos a

escrita como processo quais satildeo as etapas Quais as estrateacutegias de escrita Qual o papel do

professor neste processo Para fundamentar a didaacutetica da escrita eacute importante conhecer os

processos de redigir e tambeacutem considerar como motivar os alunos a escrever Vamos para este

estudo nortearmo-nos em Serafini (2003) Koch e Elias (2009) e Vieira (2005)

32 Escrita e motivaccedilatildeo

Vieira (2005 p 71) traz agrave tona uma reflexatildeo sobre a necessidade de motivar a

escrita pois essa praacutetica permeia todas as nossas atividades cotidianas e eacute cada vez mais

indispensaacutevel Em sua anaacutelise entende que os atos de escrita que acontecem na escola

apresentam uma defasagem entre a realidade do mundo da palavra e a palavra do mundo

escolar Por vezes os alunos escrevem textos sem instruccedilotildees claras e sem um destinataacuterio

concreto aleacutem do professor cujo papel consiste em corrigir os erros de gramaacutetica e ortografia

Uma criacutetica pertinente da autora eacute que nossas escolas ainda estatildeo em sua maioria

com um atraso pedagoacutegico quanto ao trabalho com a escrita seus usos sociais e os processos

do redator Apesar de muitas abordagens e contribuiccedilotildees pedagoacutegicas que trabalham esses usos

sociais e o ato de redigir em funccedilatildeo de uma audiecircncia para o texto ou de um propoacutesito

comunicativo terem despontado essas ideias permanecem distantes da realidade do ensino Em

sua contribuiccedilatildeo para o tema motivaccedilatildeo Vieira (2005 p 70) afirma ldquoSe o impulso

comunicativo para escrever eacute determinante de escolhas temaacuteticas estruturais estiliacutesticas e

pragmaacuteticas no texto em composiccedilatildeo de partida isso jaacute deveria implicar num cuidado muito

maior em relaccedilatildeo ao quecirc e como satildeo propostos os atos de escrita na escolardquo

Essas proposiccedilotildees de que trata a autora atentam para que consideremos que estamos

na era digital em que a tecnologia absorve bastante a atenccedilatildeo dos alunos o que atribui novas

funccedilotildees para a escrita Para motivaacute-los as atividades precisam entatildeo levaacute-los a se sentirem

54

capazes de se envolver e de completar a tarefa isto eacute de ter competecircncia e controle sobre ela

controle sobre seus textos e sobre a situaccedilatildeo de escrita Essa autopercepccedilatildeo de competecircncia e

controle cuja recompensa eacute a autogratificaccedilatildeo eacute conceituada como motivaccedilatildeo intriacutenseca

concebida do ponto de vista cognitivista em oposiccedilatildeo ao conceito behaviorista de motivaccedilatildeo

cujo foco estaacute em recompensas externas chamado de motivaccedilatildeo extriacutenseca

Para o ensino segundo Vieira (2005) a percepccedilatildeo de competecircncia eacute muito

importante no que tange ao engajamento em tarefas Se o aluno natildeo se percebe competente

numa aacuterea maior sua necessidade de assistecircncia externa para se desincumbir de uma tarefa

Desse modo Vieira (2005 p 73) diz que

A ideia eacute que quando os estudantes se apropriam de sua escrita seu niacutevel de

engajamento seraacute mais alto Assim todo redator do principiante ao profissional deve

ser encorajado a apropriar-se de seu texto usando a escrita para expressar sua

compreensatildeo pessoal dos assuntos e para buscar seus proacuteprios propoacutesitos acadecircmicos

e sociais (VIEIRA 2005 p 73)

Visando entatildeo propiciar uma maior motivaccedilatildeo para redigir Vieira (2005) lista em

um quadro algumas atitudes de intervenccedilatildeo possiacuteveis cujos princiacutepios e praacuteticas aceitamos

como norte em nossa pesquisa de acordo com as possibilidades e dificuldades verificadas na

turma considerando a SD que foi aplicada Vejamos a seguir

Quadro 2 ndash Motivaccedilatildeo e envolvimento na produccedilatildeo escrita

ELEMENTOS BAacuteSICOS PRINCIacutePIOS E PRAacuteTICAS EFEITOS GERADOS

a) Competecircncia + assistecircncia

b) Controle (textosituaccedilatildeo de

escrita)

Encorajar a apropriaccedilatildeo do

texto

Compartilhar e demonstrar atos

de escrita ao aluno (o prazer e as

dificuldades)

Oportunidades para

autorregulaccedilatildeo

Engajamento mais alto

na leitura (a) e na escrita

(b) gt maior

competecircncia controle

Tempo

Concentrar periacuteodos para

escrever instituindo a

regularidade

Maior competecircncia e

controle

Propriedade (ownership)

Controlar a situaccedilatildeo de escrita e

a tarefa dentro do gecircnero e

formato

- variar temasassuntos

- focalizar uma audiecircncia

- encontrar a proacutepria ldquovozrdquo

expressando significados e

opiniotildees

- lerredigir textos autecircnticos

criando propoacutesitos

Domiacutenio sobre o texto e

maior prazer na escrita

55

comunicativos e situaccedilotildees reais

de escrita

Resposta (retorno reacuteplica)

Lerouvircompartilhar textos

Trabalhar em pequenos grupos

antes de trabalhar de forma

independente

Oportunidades de trocar

e comentar textos com

os colegas obtendo

respostas especiacuteficas

Complexidade da tarefa ndash usar

habilidades e conhecimentos

preacutevios propor tarefas que

possam ser executadas com

ecircxito (Bereiter e Scardamalia

1982)

Propor tarefas que dosem

- conteuacutedo (assunto)

- forma (gecircnero formato)

- funccedilatildeo (propoacutesito do texto)

Ex assunto novo + formato de

texto conhecido + funccedilatildeo

conhecida

Confianccedila reforccedilada

pela possibilidade de

sucesso de dar conta da

tarefa estimulando a

percepccedilatildeo da

competecircncia

Percepccedilatildeo abrangente do

processo de redigir (similar em

liacutengua materna e liacutengua

estrangeira ndash dominar o coacutedigo

linguiacutestico natildeo eacute o maior

problema)

Focalizar em separado

processos de

composiccedilatildeotranscriccedilatildeo

(gerarorganizar ideias x

ortografia e gramaacutetica)

Reforccedilo da experiecircncia

de sucesso gt niacutevel mais

alto de competecircncia

percebida gt

engajamento com tarefas

semelhantes Fonte Adaptado de VIEIRA (2005)

Aleacutem desses elementos a autora aponta outros aspectos praacuteticos que podem ampliar

a motivaccedilatildeo para escrever Satildeo eles

a) trabalhar a leitura e a escrita de forma complementar explorando textos

variados observando padrotildees ortograacuteficos e construccedilotildees sintaacuteticas explorando

o potencial da internet e os acervos disponiacuteveis pois a leitura contribui para a

escrita mais que o proacuteprio ato de redigir

b) integrar a escrita agrave matildeo com a escrita digital transitando do papel agrave tela do

computador exercitando em cada uma das modalidades de escrita os aspectos

que melhor favorecem

c) recriar situaccedilotildees comunicativas autecircnticas e propoacutesitos para escrever como

anuacutencios manchetes oraccedilotildees bilhetes cartas notiacutecias entre outros indo dos

mais simples aos mais complexos e

d) buscar audiecircncias verdadeiras para escrever e interlocutores para comentar os

textos redigidos criando situaccedilotildees de modo que os estudantes possam comentar

e criticar o que foi produzido

Diante do exposto procuramos ao longo das aulas dos moacutedulos contemplar nas

atividades os aspectos que podem motivar o aluno a escrever dominando pouco a pouco seu

texto propiciando-lhe a construccedilatildeo de experiecircncias positivas ainda mais porque estaacute em jogo

o despertar da consciecircncia de que a escrita eacute um processo como veremos na seccedilatildeo a seguir

56

33 Escrita como processo

Iniciando com questionamentos como por que eacute difiacutecil aprender a redigir quais satildeo

as maiores dificuldades envolvidas na produccedilatildeo de um texto como as crianccedilas escrevem e se

desenvolvem como redatoras quais os comportamentos caracteriacutesticos dos bons e dos maus

redatores entre outros que foram propostos por Vieira (2005 p 80) para saber mais sobre o

processo de produccedilatildeo de textos na escola

Em cada exerciacutecio de linguagem escrita praticado na escola eacute fundamental prever

para quem se vai escrever As redaccedilotildees escritas ldquopara ningueacutemrdquo que segundo Antunes (2009)

desconsideram o outro sujeito que integra a atividade comunicativa soacute podem resultar no

desinteresse e na ineficiecircncia dos meacutetodos de que somos testemunhas haacute vaacuterias deacutecadas Essa

produccedilatildeo textual ldquopara ningueacutemrdquo de que trata a autora reflete-se nas inseguranccedilas

manifestadas pelos alunos Quando estes escrevem eacute unicamente para o professor porque

visam merecer uma nota e passar de ano Ora se a escrita tem tantas funccedilotildees na sociedade

sendo de ordem praacutetica natildeo faz sentido cristalizaacute-la em fins puramente escolares

A escrita segundo Koch e Elias (2009) pode ter vaacuterios focos De acordo com as

autoras haacute correntes de produccedilatildeo textual que colocam o foco da escrita na liacutengua outras que

focam no escritor e por uacuteltimo na interaccedilatildeo

Com o foco da escrita na liacutengua bastaria tanto ao escritor como ao leitor ter

conhecimento do coacutedigo utilizado no texto sem espaccedilo para implicitudes havendo centraccedilatildeo

na linearidade de modo transparente

Com o foco da escrita no escritor o texto eacute visto como produto loacutegico do

pensamento (representaccedilatildeo mental) do escritor ou seja uma expressatildeo do pensamento e das

intenccedilotildees do autor mas que natildeo leva em conta as experiecircncias e os conhecimentos do leitor

pois natildeo considera a interaccedilatildeo que haacute no processo (KOCH ELIAS 2009 p 33)

No entanto natildeo se deve considerar segundo as autoras o foco apenas no coacutedigo

ou apenas no escritor mas na interaccedilatildeo

Essa eacute a diferenccedila em relaccedilatildeo agraves concepccedilotildees anteriormente descritas visto que a

escrita natildeo eacute compreendida em relaccedilatildeo apenas agrave apropriaccedilatildeo das regras da liacutengua nem

tampouco ao pensamento e intenccedilotildees do escritor mas sim em relaccedilatildeo agrave interaccedilatildeo escritor-

leitor levando em conta eacute verdade as intenccedilotildees daquele que faz uso da liacutengua para atingir o

seu intento sem contudo ignorar que o leitor com seus conhecimentos eacute parte constitutiva desse

processo (KOCH ELIAS 2009 p 34)

57

Desse modo a primeira condiccedilatildeo necessaacuteria ao professor que ensina a redigir eacute que

tenha em mente que a escrita eacute uma atividade comunicativa e que desempenha funccedilotildees cada

vez mais diversificadas no dia a dia de uma sociedade letradardquo (VIEIRA 2005 p 80) Escrever

eacute um ato que requer sentido afinal comunicar-se eacute um ato de interaccedilatildeo social eacute praacutetica eacute

vivecircncia

Os processos psicoloacutegicos ou mentais acionados durante a produccedilatildeo de um texto

natildeo acontecem necessariamente numa ordem loacutegica Podem vir simultaneamente o que pode

levar o redator a sentir que tem conflitos e consequentemente estancar diante dessa dificuldade

inicial

Logo para produzir um texto eacute preciso ter determinados os pontos que indicam

exatamente o que fazer o que facilita o trabalho de qualquer escritor Vieira (2005) considera

que para despertar o prazer de escrever haacute que se levar em conta os seguintes argumentos um

eacute a funcionalidade da escrita jaacute falada anteriormente outro diz respeito agrave proacutepria natureza da

escrita tatildeo distinta da fala

Embora a escrita em papel seja um ato solitaacuterio em que natildeo se conta com a reaccedilatildeo

do interlocutor por causa da proacutepria distacircncia espacial que separa autor e leitor a consciecircncia

da audiecircncia eacute o que impulsiona o texto que estaacute sendo produzido Em outras palavras no ato

de redigir jaacute estaacute inscrito o virtual leitor do texto E eacute essa consciecircncia aparentemente

contraditoacuteria entre ausecircncia e presenccedila do destinataacuterio da mensagem que vai moldar os

procedimentos do redator (VIEIRA 2005 p 82)

Concordamos com Serafini (2003 p17) quando afirma que escrever um texto ldquonatildeo

significa criar por inspiraccedilatildeo divina Eacute um trabalho E para realizar a contento um trabalho eacute

preciso conhecer as regras do jogordquo As regras que a autora propotildee satildeo as seguintes ter um

plano ordenar as ideias organizar o texto corrigir Essa distribuiccedilatildeo das etapas do trabalho

permite que se trabalhe melhor Da mesma forma Koch e Elias (2009 p 37) evidenciam que

[] em sua atividade o escritor recorre a conhecimentos armazenados na memoacuteria

relacionados agrave liacutengua ao saber enciclopeacutedico a praacuteticas interacionais Esses

conhecimentos resultado de inuacutemeras atividades em que nos envolvemos ao longo de

nossa vida deixam entrever a intriacutenseca relaccedilatildeo entre linguagemmundopraacuteticas

sociais (KOCH ELIAS 2009 p 37)

Para Koch e Elias (2009 p 34) a escrita eacute uma atividade que demanda esforccedilo e

as estrateacutegias a seguir

58

a) ativaccedilatildeo de conhecimentos sobre os componentes da situaccedilatildeo comunicativa

(interlocutores toacutepico a ser desenvolvido e configuraccedilatildeo textual adequada agrave

interaccedilatildeo em foco)

b) seleccedilatildeo organizaccedilatildeo e desenvolvimento das ideias de modo a garantir a

continuidade do tema e sua progressatildeo

c) ldquobalanceamentordquo entre informaccedilotildees expliacutecitas e impliacutecitas entre informaccedilotildees

ldquonovasrdquo e ldquodadasrdquo levando em conta o compartilhamento de informaccedilotildees com

o leitor e o objetivo da escrita

d) revisatildeo da escrita ao longo de todo o processo guiada pelo objetivo da produccedilatildeo

e pela interaccedilatildeo que o escritor pretende estabelecer com o leitor

Haacute muitas maneiras de percebermos os subprocessos e as habilidades implicadas

na produccedilatildeo de um texto como mostram Serafini (2003) Koch e Elias (2009) Vieira (2005

p84) tambeacutem menciona em sua obra modelos do tipo ldquoensaio esboccedilo ediccedilatildeo e revisatildeordquo

ldquoensaiar escrever e passar a limpordquo ldquoextrapolar e resumirrdquo ldquocoletar e conectarrdquo ldquodesenvoltura

coerecircncia e precisatildeordquo ldquogerarorganizar ideias produzir texto e revisarrdquo ldquoelaboraccedilatildeo expressatildeo

e revisatildeordquo ldquoplanificaccedilatildeo textualizaccedilatildeo revisatildeordquo

Nessa visatildeo processual do ensino da escrita todas essas maneiras convergem para

o consenso de que haacute operaccedilotildees mentais de natureza diferente e conflitante e para fins

pedagoacutegicos eacute interessante separar as atividades de composiccedilatildeo e de transcriccedilatildeo segundo o

conceito de Smith apud Vieira (2005 p 84) ldquoSegundo ele a atividade de compor diz respeito

agrave geraccedilatildeo seleccedilatildeo organizaccedilatildeo de ideias e sua traduccedilatildeo em linguagem Jaacute a atividade de

transcrever refere-se ao ato fiacutesico de registrar as palavrasrdquo

Na praacutetica compor e transcrever satildeo aspectos concorrentes e para a autora a

soluccedilatildeo pedagoacutegica seria separar as duas atividades da seguinte forma

[] primeiro levar o aluno a compor sem se preocupar com a transcriccedilatildeo depois

orientaacute-lo para revisar e reescrever o texto (fazendo-o compreender que a atividade de

revisatildeo faz parte do processo de redigir um texto) Estas colocaccedilotildees jaacute nos permitem

rever os criteacuterios de avaliaccedilatildeo de redaccedilotildees mostrando-nos como estamos equivocados

quando elegemos a correccedilatildeo gramatical e a ortografia como metas principais para a

habilidade de redigir (VIEIRA 2005 p 85)

Assim como ensinar a redigir sob a oacutetica da escrita como processo De iniacutecio tendo

em mente que as operaccedilotildees e habilidades necessaacuterias agrave elaboraccedilatildeo do texto tecircm valor No

entanto o exerciacutecio das habilidades de escrita em separado pode ter a desvantagem de levar o

59

aluno a achar que o processo eacute uma atividade fragmentada Para entatildeo evitar essa percepccedilatildeo

eacute preciso aleacutem dos exerciacutecios redigir textos completos

De jaacute temos consciecircncia de que nenhuma abordagem para o ensino da escrita eacute

absoluta Nas palavras de Vieira (2005 p 87)

A redaccedilatildeo requer meacutetodo muacuteltiplo jaacute que envolve diferentes tipos de capacidades e

habilidades E nada substitui o bom senso do professor Assim por exemplo se ele

julgar necessaacuterio reforccedilar determinados padrotildees de texto recorrendo agrave abordagem

imitativa estaraacute procedendo de forma adequada Da mesma maneira poderaacute usar

estrateacutegias de liberaccedilatildeo da linguagem na fase de geraccedilatildeo de ideias ou reforccedilar os

recursos de interaccedilatildeo verbal professor-aluno ou aluno-aluno nas atividades de revisatildeo

de texto (VIEIRA 2005 p 87)

Vieira (2005) sintetiza os pontos importantes para o desenvolvimento da habilidade

de redigir a partir de investigaccedilotildees de Krashen (1984 apud Vieira 2005) na aacuterea

O primeiro ponto eacute a frequecircncia com que se redige Independentemente da

disciplina escrever exige treino constante concentrando o tempo disponiacutevel e em horaacuterio

regular posto que ldquosaber com antecedecircncia quando vamos redigir cria prontidatildeo para a

atividade que comeccedila interiormente bem antes de colocarmos as palavras no papelrdquo (VIEIRA

2005 p 88)

O segundo ponto eacute a correlaccedilatildeo entre leitura e escrita A habilidade de ler

compreensivamente permite que quanto mais se leia mais se observe a composiccedilatildeo dos textos

aprendendo-se a lidar com seus padrotildees de organizaccedilatildeo com as intenccedilotildees do autor e percebendo

como se executam diferentes modalidades de usos da escrita

O terceiro ponto eacute a frequecircncia em ler x a frequecircncia em escrever Vieira (2005)

afirma que estudos que comparam a frequecircncia em ler e a frequecircncia em escrever revelam que

a leitura tem efeito mais forte sobre o desenvolvimento da escrita que a proacutepria frequecircncia com

que se escreve

O quarto ponto eacute a instruccedilatildeo escolar para o ensino da escrita Mais do que qualquer

outra habilidade diz a autora a escrita precisa ser demonstrada Assim as instruccedilotildees que o

professor faz ao texto do aluno durante o processo contribuem para que este faccedila os devidos

ajustes melhorando assim sua habilidade de produzir textos

O quinto ponto eacute o feedback do professor Este ponto ressalta o papel fundamental

do professor nas muacuteltiplas reescrituras por que passa um texto ldquoO ideal eacute que sejam feitos

vaacuterios rascunhos com o professor presente comentando cada estaacutegio intermediaacuteriordquo (VIEIRA

2005 p 89) Suas correccedilotildees precisam ser feitas sobre um aspecto de cada vez especificando

as alteraccedilotildees necessaacuterias nos aspectos de composiccedilatildeo e de transcriccedilatildeo

60

O sexto ponto eacute a instrumentaccedilatildeo gramatical e o desenvolvimento da escrita e trata

do que muito se tem discutido na atual sociedade instruccedilatildeo gramatical desvinculada do uso

praacutetico da linguagem natildeo garante a ningueacutem uma escrita melhor

O seacutetimo e uacuteltimo ponto satildeo os processos de composiccedilatildeo de bons e maus redatores

e diferencia em pelo menos quatro aspectos os que escrevem bem do que os que o fazem mal

Satildeo eles

a) planejamento quem redige bem planeja mais Esse planejamento pode ser

gastando mais tempo pensando tomando notas antes de escreverem

flexibilizando os planos e revisando os esquemas agrave medida que surgem novas

ideias e argumentos Apenas alguns redatores experientes seguem uma ordem

linear planejando primeiro em seguida esboccedilando o texto num rascunho e

enfim revisando ldquoPara a maioria deles o processo de redigir eacute recursivo isto eacute

sujeito a retomadas e alteraccedilotildees em diferentes pontos da produccedilatildeo do textordquo

(VIEIRA 2005 p 91)

b) releitura durante a elaboraccedilatildeo do texto as pausas na escrita para a releitura

permitem manter o senso de totalidade da composiccedilatildeo planejando o que

escrever em seguida e tambeacutem relembrando o que jaacute foi registrado fazendo com

que o texto avance

c) revisatildeo a diferenccedila entre os escritores experientes dos inexperientes eacute a revisatildeo

frequentemente confundida com editoraccedilatildeo A revisatildeo pelos experientes eacute uma

focalizaccedilatildeo do significado servindo para ldquoinventar acrescentar mudanccedilas de

conteuacutedo e para reorganizar longos trechos da composiccedilatildeordquo (VIEIRA 2005 p

94) ao passo que a editoraccedilatildeo normalmente a preocupaccedilatildeo dos inexperientes eacute

a correccedilatildeo gramatical a ortograacutefica e a pontuaccedilatildeo que se feita antes do tempo

quebra o ritmo da escrita deixando de conduzir o fio do pensamento e

d) consciecircncia da audiecircncia fundamental considerando o foco da escrita como

anteriormente dito na interaccedilatildeo Levar em conta o leitor como ele poderaacute

receber as palavras e ideias do texto os conhecimentos que ele precisaraacute ter para

compreender o texto e os interesses que ele tem eacute marca dos escritores que

redigem bem ao contraacuterio dos demais que ldquotendem a ficar presos ao assunto do

texto e a gastar menos tempo pensando no leitor por natildeo terem consciecircncia da

audiecircncia ou por natildeo serem capazes de consideraacute-la na escritardquo (VIEIRA 2005

p 95)

61

Essas etapas apresentadas nesta seccedilatildeo foram fundamentais para o processo

conduzido em nossa SD visto permitir aos alunos tomar consciecircncia dos processos que satildeo

ativados antes e durante a escrita bem como nas etapas de leitura releitura e reescrita sendo

cerne da elaboraccedilatildeo das propostas de produccedilatildeo conforme veremos nas seccedilotildees correspondentes

aos moacutedulos aos encontros e agraves atividades desenvolvidas Para a seccedilatildeo seguinte veremos como

pode ser trabalhada a escrita na escola

34 Escrita na escola

Para antes do iniacutecio do trabalho de escrita no acircmbito escolar o ideal eacute que o

professor tenha em mente para definir com clareza junto aos seus alunos na tarefa que deveraacute

ser desenvolvida os seguintes pontos segundo Serafini (2003) destinataacuterio objetivo do texto

gecircnero do texto papel do redator objeto da redaccedilatildeo comprimento da redaccedilatildeo criteacuterios de

avaliaccedilatildeo Desse modo

a) o destinataacuterio eacute a pessoa para a qual se escreve ou seja o leitor Como as

produccedilotildees satildeo feitas no contexto escolar para que o aluno-escritor natildeo dirija seu

texto somente ao professor eacute importante nos comandos de produccedilatildeo esclarecer

qual eacute ou deve ser o perfil de leitor para quem se escreve

b) o objetivo de um texto precisa ser claro pois a ele se atrela a avaliaccedilatildeo do

mesmo no caso do contexto escolar Aliaacutes um texto pode ter mais de um

objetivo e isso precisa ser ponto claro entre o professor e o aluno

c) a escolha do gecircnero eacute entatildeo essencial para o desenvolvimento do texto por

permitir a realizaccedilatildeo deste com um estilo muito marcante O gecircnero permite

inclusive compreender qual eacute o papel do redator na produccedilatildeo para assim

inserir-se ou retirar-se no texto

d) o objeto da redaccedilatildeo para a autora deveria ser deduzido do tiacutetulo da redaccedilatildeo (que

entendemos atualmente como o direcionamento do tema) e explica que assim

como haacute comandos que expotildeem detalhadamente o objeto da redaccedilatildeo haacute tambeacutem

os que pouco oferecem explicaccedilotildees e que conveacutem em casos como esse que o

aluno explique ldquonuma introduccedilatildeo como seratildeo interpretados os termos do

problema propostordquo (SERAFINI 2003 p 28)

e) a extensatildeo do texto depende essencialmente do objetivo da disponibilidade de

tempo da capacidade e da rapidez de quem escreve Entendemos aqui que haacute

62

gecircneros que permitem maior extensatildeo que outros No contexto escolar

normalmente noacutes professores por razotildees de ordem praacutetica do dia a dia pedimos

textos com limite de linhas ou paraacutegrafos

f) finalmente os criteacuterios de avaliaccedilatildeo do professor ajudam o aluno a ldquocanalizar a

proacutepria energia na direccedilatildeo certardquo (SERAFINI 2003 p 29) Como parte do

trabalho com sequecircncia didaacutetica haacute o partilhamento dos criteacuterios trabalhados

do vocabulaacuterio teacutecnico e das caracteriacutesticas a serem encontradas nos textos

produzidos facilitando a vida do aluno quanto ao que colocar no texto e

clareando para o professor o que ele pode esperar desse texto

Desse modo para o escritor que se vecirc diante do papel em branco

independentemente do que vaacute escrever eacute preciso antes empenhar seu tempo e esforccedilo em duas

etapas fundamentais a criaccedilatildeo de ideias para assim passar agrave produccedilatildeo do texto

A separaccedilatildeo consiste em primeiramente levar o aluno a compor sem a

preocupaccedilatildeo com a transcriccedilatildeo Em seguida orientaacute-lo para que faccedila a revisatildeo e a reescrita do

texto colocando-lhe de modo expliacutecito que a revisatildeo eacute parte do processo de redigir um texto

A etapa de criaccedilatildeo das ideias eacute aquela em que o autor pode ldquoatirarrdquo palavras-chave

protoacutetipos de paraacutegrafos de personagens de ambientes de sequecircncias de acontecimentos sem

o fantasma da censura agrave criatividade Aliaacutes eacute nesse momento que pode surgir uma ldquogrande

sacadardquo cujo valor do registro possa vir a ser recompensador Nas palavras de Serafini (2003

p 31) a ldquofolha de papel na qual listamos os dados recolhidos cumpre a funccedilatildeo de prolongamento

da memoacuteria no mundo visiacutevel eacute mais faacutecil escolher num elenco fisicamente visiacutevel que num

iacutendice feito mentalmenterdquo

A coleta das ideias que surgiram ao ser terminada pede a decisatildeo do que e como

usar no texto Para os textos literaacuterios que satildeo objeto de nossa pesquisa um passo necessaacuterio

na estruturaccedilatildeo de Serafini (2003) eacute a identificaccedilatildeo do ponto de vista

Os textos descritivo-narrativos natildeo apresentam ideias predominantes mas contam

fatos e descrevem lugares e pessoas A estrutura desses textos natildeo eacute mais dada por uma ideia

a tese mas pelo ponto de vista isto eacute pelo acircngulo de perspectiva do qual satildeo mostrados fatos

e objetos Nas histoacuterias complexas e nos romances o ponto de vista pode tambeacutem mudar

(SERAFINI 2003 p 45)

Nas palavras da autora ldquo[] para fazer uma boa descriccedilatildeo de um objeto ou lugar

devemos escolher um ponto de vista fica por conta de nossa sensibilidade selecionar um ponto

de vista interessante eficaz e quem sabe originalrdquo (SERAFINI 2003 p47) Entatildeo para um

63

texto narrativo que conta uma histoacuteria natildeo existe um modo objetivo de narrar mas um acircngulo

de perspectiva Completando o pensamento de Serafini Koch e Elias declaram que o como

dizer o que se quer dizer eacute revelador de que a escrita eacute um processo que envolve escolha de um

gecircnero textual em consonacircncia com as praacuteticas sociais seleccedilatildeo organizaccedilatildeo e revisatildeo das ideias

para os ajustesreajustes necessaacuterios tendo em vista a eficiecircncia e a eficaacutecia da comunicaccedilatildeo

(KOCH ELIAS 2009 p 36)

Apoacutes a seleccedilatildeo das ideias de sua organizaccedilatildeo e da escolha do ponto de vista o

escritor pode efetivamente passar agrave produccedilatildeo Tudo o que foi feito para despertar coloquemos

assim o escritor para o labor com seu texto eacute uma hipoacutetese do trabalho final visto que ao

comeccedilar a escrever novas ideias vatildeo surgindo E como nos lembra Serafini (2003 p 54) ldquo[]

quem se propotildee a ensinar a escrever na escola brasileira atual geralmente encontra problemas

porque natildeo tem agrave disposiccedilatildeo um modelo uacutenico de liacutengua nem uma tradiccedilatildeo de didaacutetica da

redaccedilatildeo que privilegie um dos diversos estilos possiacuteveisrdquo Frases longas ou curtas discurso

direto ou indireto ou mesmo o indireto livre tudo satildeo escolhas com as quais o aluno-escritor

vai se familiarizar ao longo de sua jornada escolar pouco a pouco conforme suas experiecircncias

de leitura e praacutetica com a escrita progredindo do paraacutegrafo mais simples ao mais complexo A

autora assim define o que eacute paraacutegrafo

O paraacutegrafo eacute uma quantidade de texto delimitada por um ponto final o texto continua

a se desenvolver na outra linha afastado da margem Ele pode conter vaacuterios periacuteodos

separados por pontos e por viacutergulas O que importa eacute garantir que a cada paraacutegrafo

corresponda uma uacutenica ideia de roteiro Esta colocaccedilatildeo tiacutepica do mundo anglo-saxatildeo

e americano pode parecer excessivamente mecanicista e simplista Com efeito eacute

justificada soacute no niacutevel didaacutetico para aqueles estudantes que tecircm grandes dificuldades

para escrever Este meacutetodo aliaacutes deve ser assumido como hipoacutetese de trabalho mas

deve ser revisto agrave medida que se adquire familiaridade com a liacutengua Em nome de

uma melhor organizaccedilatildeo do texto eacute possiacutevel por exemplo reagrupar mais de uma

ideia do roteiro num uacutenico paraacutegrafo ou associar agrave mesma ideia mais paraacutegrafos

(SERAFINI 2003 p 55)

Desse modo se fizermos um pequeno quadro com a finalidade de melhor visualizar

as possibilidades de organizaccedilatildeo do texto em paraacutegrafos o que pode ajudar os alunos temos

Quadro 3 ndash Como organizar as ideias em paraacutegrafos

1 ideia 1 paraacutegrafo

2 ou mais ideias 1 paraacutegrafo

1 ideia 2 ou mais paraacutegrafos

Fonte adaptado de SERAFINI (2003)

64

Por razotildees didaacuteticas Serafini (2003) classifica trecircs principais tipos de paraacutegrafo

com caracteriacutesticas especiacuteficas o paraacutegrafo narrativo que eacute constituiacutedo por uma sequecircncia de

afirmaccedilotildees-informaccedilotildees que natildeo precisam de garantia4 e eacute onde os fatos satildeo expostos em ordem

cronoloacutegica o paraacutegrafo descritivo que conteacutem objetos lugares e pessoas geralmente

constituiacutedo soacute pela afirmaccedilatildeo e pela informaccedilatildeo dispensando a garantia e finalmente o

paraacutegrafo expositivo-argumentativo mais complexo que os anteriores apresenta em geral todas

as caracteriacutesticas do modelo de Toulmin (cf nota 8) e que apresenta uma tese com os dados e

as observaccedilotildees que podem ser uacuteteis para convencer o leitor de sua validade

Ainda na classificaccedilatildeo do paraacutegrafo narrativo tambeacutem chamado de cronoloacutegico

Serafini nos mostra um caso particular de apresentaccedilatildeo de uma sequecircncia de fatos o que inclui

o flash-back que eacute a interrupccedilatildeo na sequecircncia cronoloacutegica ldquointroduzindo fatos anteriores uacuteteis

agrave compreensatildeo da narrativa Embora natildeo seja tatildeo natural eacute possiacutevel interromper uma sequecircncia

temporal para incluir fatos que aconteceratildeo depoisrdquo (SERAFINI 2003 p 58)

Um outro caso de paraacutegrafo narrativo ou cronoloacutegico eacute o que apresenta um

procedimento Procedimentos ldquosatildeo todas as sequecircncias de accedilotildees que devem ser cumpridas para

se obter certo resultadordquo (SERAFINI 2003 p 59) por exemplo a enumeraccedilatildeo das etapas

necessaacuterias ao preparo de uma torta A descriccedilatildeo correta do procedimento requer que natildeo se

inverta a ordem de suas operaccedilotildees elementares

O paraacutegrafo descritivo segundo a autora eacute importante ldquo[] para envolver o leitor

na histoacuteria convencecirc-lo da tese ou tornar-lhe a leitura mais concreta e vivardquo (SERAFINI 2003

p 58) Dessa forma eacute interessante que os personagens ambientes e objetos natildeo sejam apenas

mencionados mas apresentados com riqueza de detalhes A generalizaccedilatildeo pode deixar o leitor

indiferente ao passo que descriccedilotildees detalhadas podem vir a interessar envolver e mesmo

emocionar

Frequentemente quem natildeo tem grande experiecircncia de escrita considera as

descriccedilotildees oacutebvias e as abandona porque tende a atribuir ao leitor os seus proacuteprios

conhecimentos e experiecircncias As crianccedilas em geral se aborrecem ao ler as descriccedilotildees e agraves vezes

pulam o trecho descritivo porque satildeo mais pela trama do que pela apresentaccedilatildeo dos ambientes

e das caracteriacutesticas fiacutesicas e psicoloacutegicas dos protagonistas Entretanto agrave medida que

4 Serafini (2003 p 56-57) apresenta o modelo de Toulmin que examina quais satildeo as caracteriacutesticas de um

paraacutegrafo que o tornam convincente isto eacute que levem o leitor a compartilhar da mesma tese Satildeo elas a afirmaccedilatildeo

que apresenta a ideia principal do paraacutegrafo a informaccedilatildeo que conteacutem os dados que apoiam a afirmaccedilatildeo e a

garantia que eacute a ligaccedilatildeo entre a afirmaccedilatildeo e a informaccedilatildeo e mostra a importacircncia da informaccedilatildeo para apoiar a

asserccedilatildeo Ex Artur estaacute nervoso sua e ri sem parar Afirmaccedilatildeo Artur estaacute nervoso Informaccedilatildeo sua e ri sem

parar Garantia (subentendida) suar e rir sem parar satildeo sinais tiacutepicos de nervosismo

65

estimulam a sensibilidade em relaccedilatildeo aos textos elas vatildeo se dando conta de que natildeo eacute soacute a accedilatildeo

que torna interessante a histoacuteria Eacute tarefa do professor desenvolver essa sensibilidade e esse

gosto em vez de se fixar apenas nos aspectos narrativos de um texto (SERAFINI 2003 p 63)

Serafini (2003) tambeacutem trata da importacircncia dos paraacutegrafos que conduzem as

introduccedilotildees nos textos A autora classifica as introduccedilotildees em introduccedilatildeo-enquadramento e

introduccedilatildeo para chamar a atenccedilatildeo

A introduccedilatildeo-enquadramento enquadra o tema proposto na instruccedilatildeo para a

produccedilatildeo textual realccedilando sua importacircncia e agraves vezes ateacute antecipando o que seraacute

desenvolvido no corpo do texto ldquoUma introduccedilatildeo muito comum eacute aquela em que o estudante

coloca questotildees agraves quais pretende responder agrave medida que vai desenvolvendo o textordquo

(SERAFINI 2003 p 72) Normalmente utilizada entre os estudantes segundo a autora eacute

caracteriacutestica de quem natildeo faz planejamento e comeccedila a escrever seu texto sem saber o que vai

colocar em seu desenvolvimento mas tambeacutem por quem pretende reelaborar e expandir o

tiacutetulo5

A introduccedilatildeo para chamar a atenccedilatildeo segundo a autora pretende atrair a atenccedilatildeo e

o interesse do leitor utilizando frases de efeito citaccedilotildees informaccedilotildees curiosas exemplos

concretos que antecipam problemaacuteticas a serem desenvolvidas no corpo do texto e envolvem

emocionalmente o leitor exemplificaccedilotildees em primeira pessoa pois ldquoos problemas concretos

narrados na primeira pessoa atraem mais a curiosidade do que aqueles apresentados de modo

abstratordquo (SERAFINI 2003 p 74)

Ao final de sua primeira versatildeo de texto o alunoescritor tende a fazer uma raacutepida

releitura normalmente pouco criacutetica O ideal eacute que seu texto possa ser apreciado pelos colegas

de sala para que sejam feitas sugestotildees Quando a revisatildeo for desenvolvida pelo proacuteprio autor

5 Os tiacutetulos poderiam ser classificados segundo Serafini (2003) em trecircs grandes categorias o tiacutetulo-frase-de-

efeito o tiacutetulo-estiacutemulo-aberto e o tiacutetulo-roteiro O tiacutetulo-frase-de-efeito ldquoeacute geralmente agradaacutevel arguto suscita

a admiraccedilatildeo do leitor pode ser provocativo mas natildeo necessariamente profundordquo (p100) trazendo geralmente

citaccedilotildees de personagens importantes ou as afirmaccedilotildees categoacutericas do professor Por exemplo ldquoJaacute natildeo haacute matildeos

dadas no mundordquo (Drummond - Unesp) ou ldquoQuando vocecirc for martelo lembre-se que jaacute foi pregordquo (pichaccedilatildeo de

parede utilizada na Unesp) Os tiacutetulos-estiacutemulo-aberto ldquopropotildeem um tema de modo muito geneacuterico e neutro e datildeo

mais liberdade ao estudanterdquo (p101) Por exemplo ldquoViver hojerdquo (Santa Casa-SP) ldquoA televisatildeordquo (Poli-USP)

Finalmente os tiacutetulos-roteiro ldquonatildeo soacute propotildeem um tema como no grupo precedente mas tambeacutem oferecem uma

seacuterie de pontos de vista de problemas que devem ser analisados fornecendo jaacute a pauta do desenvolvimentordquo

(p101) A autora explica que enquanto um tiacutetulo-estiacutemulo-aberto seria ldquoA televisatildeordquo o tiacutetulo-roteiro solicitaria

ldquoDescreva os efeitos positivos e negativos que a televisatildeo causa sobre os jovens da sua geraccedilatildeo Cite especialmente

os programas mais interessantes e os mais aborrecidos de que vocecirc se recorda procurando explicar os efeitos

positivos ou negativos que cada um teve no seu desenvolvimentordquo (p101-102) O que chamamos ao longo de

nosso texto de instruccedilatildeo se aproximaria mais do que Serafini chama de tiacutetulo-roteiro por jaacute determinar que

informaccedilotildees a produccedilatildeo textual deve conter poreacutem noacutes atribuiacutemos mais caracteriacutesticas ao que eacute pedido aos alunos

a cada produccedilatildeo como os comandos que determinam que gecircnero textual seraacute trabalhado a extensatildeo do texto a

audiecircncia o objetivo a temaacutetica e outros itens que devem estar presentes na produccedilatildeo conforme a aula e o moacutedulo

66

eacute interessante haver um hiato de tempo entre a primeira escrita e a revisatildeo para que as ideias

se clareiem e possam ser postas na forma apropriada

Trabalhar a abordagem da escrita como processo lanccedila luz sobre as operaccedilotildees e as

habilidades necessaacuterias agrave elaboraccedilatildeo do texto priorizando-as mais do que ao produto final

obtido o que simplifica a escrita para fins de ensino por tratar dos componentes do processo

isoladamente treinando-os separadamente

Na verdade nenhuma abordagem para o ensino da escrita eacute exclusiva A redaccedilatildeo

requer meacutetodo muacuteltiplo jaacute que envolve diferentes tipos de capacidades e habilidades E nada

substitui o bom senso do professor Assim por exemplo se ele julgar necessaacuterio reforccedilar

determinados padrotildees de texto recorrendo agrave abordagem imitativa estaraacute procedendo de forma

adequada Da mesma maneira poderaacute usar estrateacutegias de liberaccedilatildeo da linguagem na fase de

geraccedilatildeo de ideias ou reforccedilar os recursos de interaccedilatildeo verbal professor-aluno ou aluno-aluno

nas atividades de revisatildeo de textos (VIEIRA 2005 p 87)

No entanto para Vieira (2005) esse exerciacutecio em separado das habilidades da

escrita natildeo dispensa a redaccedilatildeo de textos completos devendo o professor cuidar para que o

processo de escrita natildeo perca seu caraacuteter integral devido agraves atividades fragmentadas

35 Letramento literaacuterio

Acreditamos que para o desenvolvimento de nosso trabalho eacute importante ter em

mente que para escrever melhor para saber o que inserir em seu texto o aluno deve aguccedilar seu

olhar para o que vai nos textos de outrem ndash em nosso caso os que foram escolhidos para compor

a sequecircncia ndash e como foram ditas as coisas que laacute estatildeo inseridas Dessa forma desenvolvemos

em nossos moacutedulos praacuteticas que abordam aleacutem da praacutetica da escrita como processo o

letramento literaacuterio posto que a visatildeo que o inclui extrapola as simples leituras e anaacutelises das

palavras discutindo conceitos que compotildeem o acervo cultural dos alunos a partir das ideias

presentes nos textos

Para Cosson (2016 p23) ldquoa literatura natildeo estaacute sendo ensinada para garantir a

funccedilatildeo essencial de construir e reconstruir a palavra que nos humanizardquo O autor afirma que se

pode trazer ao aluno uma experiecircncia de leitura a ser compartilhada ampliando-a com

informaccedilotildees especiacuteficas do campo literaacuterio e ateacute fora dele A maneira de ensinar precisa ser

organizada segundo os objetivos da formaccedilatildeo do aluno evidentemente mas sem o abandono

do prazer de ler Compreende assim que o letramento literaacuterio eacute uma praacutetica social e como

67

tal responsabilidade da escola que deve cumpri-la sem descaracterizaacute-la sem negar mas

confirmando o poder de humanizaccedilatildeo da literatura

Para promover o letramento literaacuterio Cosson nos conduz a questionar e

desconstruir pressuposiccedilotildees sobre leitura e literatura enraizadas no senso comum A primeira eacute

que os livros falam por si mesmos ao leitor Ora ldquoos livros como os fatos jamais falam por si

mesmos O que os fazem falar satildeo os mecanismos de interpretaccedilatildeo que usamos e grande parte

deles satildeo aprendidos na escolardquo (2016 p 26) Ensinar a explorar o texto natildeo eacute criar uma barreira

entre elas e o leitor mas ajudar o leitor a manipular os textos dominando o discurso literaacuterio

Outra pressuposiccedilatildeo eacute que ler eacute um ato solitaacuterio Para o autor mais que o

movimento individual dos olhos ler implica uma troca de sentidos o que envolve escritor

leitor e sociedade em que ambos estatildeo localizados ldquopois os sentidos satildeo resultado de

compartilhamentos de visotildees do mundo entre os homens no tempo e no espaccedilordquo (2016 p 27)

Quando compreender isto o leitor alcanccedilaraacute um real significado na leitura

Tambeacutem uma pressuposiccedilatildeo eacute a ideia de que eacute impossiacutevel expressar o que sentimos

na leitura dos textos literaacuterios Esse eacute outro equiacutevoco que trata a leitura literaacuteria como uma

atividade tatildeo individual que natildeo poderia ser compartilhada Pelo contraacuterio conforme o autor o

efeito de proximidade que o texto literaacuterio traz eacute resultado do diaacutelogo que travamos com o

mundo e com os outros inseridos que estamos em uma sociedade O que levamos ao texto eacute

mais uacutenico do que o que ele nos oferece o que explica as diferentes leituras que fazemos do

mesmo texto em diferentes etapas de nossas vidas

A uacuteltima pressuposiccedilatildeo de que trata o autor eacute que ldquoa leitura literaacuteria praticada na

escola tambeacutem chamada anaacutelise literaacuteria destruiria a magia e a beleza da obra ao revelar seus

mecanismos de construccedilatildeordquo (COSSON 2016 p 28) Para Cosson a literatura mantida ldquoem

adoraccedilatildeordquo torna-se estranha ao leitor ao passo que a leitura literaacuteria que lhe fornece ferramentas

para exploraccedilatildeo do texto o convida agrave interaccedilatildeo como um processo de comunicaccedilatildeo

O autor conclui que se quisermos formar leitores capazes de experienciar toda a

forccedila humanizadora da literatura natildeo basta apenas ler com vistas a criar um haacutebito de leitura

mas fornecer-lhes ldquoos instrumentos necessaacuterios para conhecer e articular com proficiecircncia o

mundo feito linguagemrdquo (COSSON 2016 p 30)

Nossa seleccedilatildeo de textos para a SD foi inspirada em temas que os alunos costumam

observar na vida diaacuteria Tivemos preferecircncia por textos que circulam em meio eletrocircnico

extraiacutedos de sites blogs e de redes sociais ou seja contemporacircneos e com temas atuais Cosson

(2016 p34) distingue os dois termos que normalmente satildeo usados como sinocircnimos na

68

adjetivaccedilatildeo da produccedilatildeo literaacuteria da seguinte forma ldquo[] obras contemporacircneas satildeo aquelas

escritas e publicadas em meu tempo e obras atuais satildeo aquelas que tecircm significado para mim

em meu tempo independentemente da eacutepoca de sua escrita ou publicaccedilatildeordquo

Fizemos uma seleccedilatildeo preacutevia dos textos mas agrave medida em que as aulas avanccedilavam

abrimos a perspectiva para assuntos que eram mencionados em sala e trouxemos outros textos

inclusive publicados em livros variando as autorias poreacutem mantendo ainda o dinamismo e a

contemporaneidade Esse material se encontra na seccedilatildeo correspondente

69

4 NATUREZA E PROCEDIMENTOS DA PESQUISA

Apresentaremos nas seccedilotildees seguintes a metodologia e os procedimentos adotados

em nossa pesquisa realizada em uma escola puacuteblica municipal de Satildeo Luiacutes Maranhatildeo

41 Contexto da pesquisa

A pesquisa foi desenvolvida em uma das turmas de 9ordm ano de uma unidade de

educaccedilatildeo baacutesica municipal de ensino fundamental de 1ordm a 9ordm anos A escola tem um anexo

proacuteximo onde funcionam turmas de 1ordm ano (3 salas) Situa-se na aacuterea Itaqui-Bacanga em um

bairro considerado de difiacutecil acesso por sua pouca oferta de ocircnibus no municiacutepio de Satildeo Luiacutes

capital do Maranhatildeo ilha de Upaon-Accedilu

Antes pouco populoso o bairro tem aumentado de tamanho pela chegada de

moradores alguns oriundos de diversas cidades do interior mas tambeacutem vindos de outros

bairros pois algumas melhorias para a valorizaccedilatildeo da aacuterea tecircm acontecido como a construccedilatildeo

da escola e recentemente a quadra de esportes em sua aacuterea do posto de sauacutede da associaccedilatildeo

onde ocorre a conhecida Festa da Macaxeira e mais recentemente a criaccedilatildeo de um conjunto

residencial do programa do governo federal Minha Casa Minha Vida

No turno matutino nesta escola funciona o ensino fundamental (EF) ndash anos iniciais

(1ordm ao 5ordm ano) e no vespertino o EF ndash anos finais (6ordm ao 9ordm ano) sendo 2 turmas de 6ordm ano 2

turmas de 7ordm ano 2 turmas de 8ordm ano e 1 turma de 9ordm ano

Segundo os indicadores contextuais da Prova Brasil o niacutevel socioeconocircmico da

escola estaacute em meacutedio baixo O indicador de adequaccedilatildeo da formaccedilatildeo docente6 que analisa a

formaccedilatildeo dos docentes que lecionam nos finais do EF na escola eacute 85 Observando as meacutedias

de proficiecircncia em relaccedilatildeo agraves meacutedias das escolas do Brasil do Maranhatildeo e de Satildeo Luiacutes

comparando-as agrave nossa escola temos

6 Apresenta o percentual de disciplinas em cada etapa que satildeo ministradas por professores com formaccedilatildeo superior

de Licenciatura (ou Bacharelado com complementaccedilatildeo pedagoacutegica) na mesma disciplina que leciona Fonte e site

para consulta

httpsistemasprovabrasilinepgovbrprovaBrasilResultadosviewboletimDesempenhoboletimDesempenhosea

m Acesso em 3 de janeiro de 2018

70

Graacutefico 1 ndash Resultados IDEB 2015

Fonte INEP (2018))

O graacutefico acima mostra que o desempenho da escola ficou abaixo das meacutedias de

proficiecircncia em Liacutengua Portuguesa em leitura do Paiacutes em 2015 No entanto estaacute acima das

meacutedias do estado e do municiacutepio ludovicense que apresentaram indicadores 23093 e 23915

respectivamente A escola obteve 24034 ou seja pouco mais de um ponto acima o que natildeo

deixa de ser uma conquista para a gestatildeo e o corpo docente visto todos os entraves no processo

educacional Aleacutem do que se observarmos os indicadores de proficiecircncia em LP no 9ordm ano na

escola ao longo das trecircs uacuteltimas ediccedilotildees da Prova Brasil veremos que tem havido um progresso

como constatamos a seguir

Graacutefico 2 ndash Desempenho da escola nas ediccedilotildees da Prova Brasil

Fonte INEP (2018)

215

220

225

230

235

240

245

2011 2013 2015

Desempenho da escola nas ediccedilotildees da Prova Brasil

220

225

230

235

240

245

250

255

Brasil Maranhatildeo Satildeo Luiacutes Nossa escola

Resultados IDEB 2015

71

Os niacuteveis de proficiecircncia em Liacutengua Portuguesa classificados pela Prova Brasil

satildeo 9 (nove) e avaliam a capacidade de leitura dos alunos O desempenho por niacutevel de

proficiecircncia7 da turma de 9ordm ano no IDEB8 a seguir eacute referente ao ano de 2015

Graacutefico 3 ndash Distribuiccedilatildeo percentual dos alunos do 9ordm Ano do EF por niacutevel de proficiecircncia - Liacutengua Portuguesa

Fonte INEP (2018)

Para a aplicaccedilatildeo da SD foi escolhida a turma do 9ordm ano do ano letivo de 2017 que

contava com 46 alunos no iniacutecio do ano no turno vespertino Ao longo do ano alguns alunos

trancaram matriacutecula eou foram transferidos resultando no nuacutemero de 43 alunos frequentes ao

final do ano letivo O puacuteblico tem entre 14 e 15 anos em sua maior parte Por ser uma turma

que antecede o ingresso no ensino meacutedio eacute-lhe dispensada atenccedilatildeo especial no que tange a

projetos e preparaccedilatildeo para a seleccedilatildeo na etapa posterior da Educaccedilatildeo Baacutesica

A carga horaacuteria da disciplina Liacutengua Portuguesa eacute de 5 horas-aula por semana sem

divisatildeo formal interna de assuntos havendo flexibilidade para o trabalho com leitura produccedilatildeo

textual gramaacutetica e projetos tanto internos agrave escola como parcerias externas com essa

7 Os niacuteveis de proficiecircncia descritos pelo Inep encontram-se nos anexos deste trabalho 8 IDEB eacute o Iacutendice de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica criado pelo Inep em 2007 cuja escala vai de zero a

dez O indicador eacute calculado a partir dos dados sobre aprovaccedilatildeo escolar obtidos no Censo Escolar e meacutedias de

desempenho nas avaliaccedilotildees do Inep o Saeb e a Prova Brasil A fonte e o site oficial para consulta estatildeo disponiacuteveis

em lt httpportalinepgovbrwebportal-idebgt

000

500

1000

1500

2000

2500

3000

Niacutevel 0 Niacutevel 1 Niacutevel 2 Niacutevel 3 Niacutevel 4 Niacutevel 5 Niacutevel 6 Niacutevel 7 Niacutevel 8

Distribuiccedilatildeo percentual dos alunos do 9ordm Ano do EF por niacutevel de

proficiecircncia em 2015- Liacutengua Portuguesa

Nossa escola Escolas Similares

72

A opccedilatildeo por trabalhar a pesquisa nessa turma deu-se por ser a seacuterie que se prepara

para avanccedilar para o ensino meacutedio podendo assim ter um reforccedilo em sua competecircncia

discursiva atraveacutes da praacutetica da leitura e da produccedilatildeo escrita como processo

Ao mesmo tempo eacute importante que os alunos se interessem mais e mais por leitura

e sabendo que este puacuteblico natildeo aprecia leituras longas como as dos romances por exemplo a

crocircnica literaacuteria eacute uma excelente sugestatildeo por suas temaacuteticas que em vaacuterios exemplos eacute

proacutexima da realidade do aluno aleacutem de contar com textos breves e dinacircmicos

Por fim era de interesse da escola que os alunos dessa turma saiacutessem do ensino

fundamental com seguranccedila no que se refere a produzir textos escritos em gecircneros especiacuteficos

de uso cotidiano acionando assim conhecimentos que foram aprofundados e consolidados nas

aulas de anos anteriores

42 Participantes

Os sujeitos participantes da pesquisa satildeo alunos que frequentam a turma do 9ordm ano

no turno vespertino do ano letivo de 2017 na escola da rede puacuteblica municipal de ensino de

Satildeo Luiacutes no Maranhatildeo Em sua maioria residem na aacuterea que abrange o Argola e Tambor o

Gapara a Cidade Nova e adjacecircncias A maioria dos alunos tendo em vista sua idade apenas

estuda e mora com os pais eou responsaacuteveis

Ao longo do ano letivo a turma teve algumas alteraccedilotildees em seu puacuteblico com dois

estudantes que pediram transferecircncia de escola e outro que trancou a matriacutecula Assim

frequentando efetivamente as aulas foram 43 (quarenta e trecircs) alunos No entanto dentre esses

apenas uma meacutedia de 20 (vinte) alunos se interessou em participar do projeto de escrita

A turma em si eacute caracterizada pelos proacuteprios alunos bem como por professores

como composta por um puacuteblico cuja falta de interesse e de motivaccedilatildeo de vaacuterios estudantes

prejudica aqueles que desejam realmente se dedicar A sala eacute muito cheia e devido agrave natural

predisposiccedilatildeo que tecircm os adolescentes para a distraccedilatildeo e a conversa em vaacuterios momentos eacute um

desafio para se conseguir sua atenccedilatildeo e envolvimento nas atividades Percebemos nos contatos

iniciais com a turma completa que satildeo poucos infelizmente que demonstram real empenho

em participar

73

Os alunos que optaram por integrar o projeto desenvolveram as atividades propostas

em cinco moacutedulos realizadas em 11 (onze) encontros de 2 (duas) horas-aula cada9 durante os

meses de outubro a dezembro conforme cronograma previsto

43 Materiais

O material analisado na pesquisa eacute constituiacutedo pelos textos produzidos pelos alunos

que participaram de todas as atividades desta sequecircncia Portanto para a anaacutelise consideramos

apenas 13 (treze) alunos no total

Para a composiccedilatildeo do trabalho denominamos os textos produzidos nesta SD da

seguinte forma

a) produccedilatildeo inicial A (PI-A) realizada apoacutes 3 (trecircs) encontros com um total de 4

(quatro) horasaula constando atividades de leitura de crocircnicas que serviram

como norte para a primeira escrita dos alunos fazendo uma breve sensibilizaccedilatildeo

de caracteriacutesticas do gecircnero

b) produccedilatildeo final A (PF-A) realizada apoacutes o segundo moacutedulo da sequecircncia

reescrevendo a PI-A texto sem circulaccedilatildeo social mas com o intuito de

desenvolver a competecircncia comunicativa do aluno

c) produccedilatildeo inicial B (PI-B) realizada apoacutes os moacutedulos 3 (trecircs) e 4 (quatro) jaacute

visando a circulaccedilatildeo social do texto

d) produccedilatildeo final B (PF-B) realizada apoacutes o moacutedulo 5 (cinco) quando os alunos

tivessem aperfeiccediloado sua competecircncia comunicativa escrita e se apropriado do

gecircnero estudado cumprindo o propoacutesito comunicativo da proposta de produccedilatildeo

visando a divulgaccedilatildeo do texto

Para a realizaccedilatildeo da produccedilatildeo inicial utilizamos coacutepias de uma crocircnica

acompanhada de uma proposta de produccedilatildeo elaborada de acordo com a temaacutetica do texto e

associada agrave realidade dos alunos contextualizando uma possibilidade de ligar o mundo real ao

mundo virtual e uma coacutepia da folha de produccedilatildeo textual a ser utilizada em nosso projeto

Durante o desenvolvimento dos moacutedulos da SD utilizamos coacutepias dos textos e

atividades propostas distribuiacutedas individualmente Tambeacutem foi feito o uso do quadro branco

9 Agrave exceccedilatildeo dos dois primeiros encontros de 1 horaaula cada um

74

incel e apagador e de algumas imagens impressas em folha sulfite para ilustrar o conteuacutedo de

algumas crocircnicas de acordo com o planejamento de cada encontro

Para que houvesse a etapa poacutes sequecircncia didaacutetica que corresponde agrave circulaccedilatildeo

social do texto no gecircnero produzido os alunos que desejaram realmente publicar seus escritos

dentro do gecircnero crocircnica literaacuteria produziram um material especiacutefico para tal (PF-B) a partir

da escolha de temaacuteticas que agradaram a cada um individualmente Esse material que tambeacutem

constaraacute de nossa pesquisa corresponde aos textos de 4 (quatro) alunos apenas e

apresentaremos na seccedilatildeo destinada as produccedilotildees iniciais (PI-B) uma primeira reescrita e por

fim as produccedilotildees finais (PF-B)

44 Procedimentos

Antes de aplicarmos a SD com os alunos realizamos momentos de socializaccedilatildeo da

seguinte forma explicamos a importacircncia do projeto agrave direccedilatildeo da escola aos professores e aos

pais dos alunos da turma escolhida para a execuccedilatildeo do projeto visando o fortalecimento da

proposta Com os professores foi feito um momento de reuniatildeo uma semana antes do iniacutecio do

projeto Com os pais realizamos uma reuniatildeo para a socializaccedilatildeo e igualmente para pedir seu

apoio no incentivo agrave participaccedilatildeo dos alunos Infelizmente foram poucos os pais responsaacuteveis

que compareceram agrave reuniatildeo situaccedilatildeo que ocorre normalmente quando se datildeo as reuniotildees de

pais e mestres na escola

Foram realizados 11 (onze) encontros de duas horas-aula (de cinquenta minutos

cada uma) que ocorreram entre os meses de setembro e novembro de 2017 Entre a primeira

fase que compreende a socializaccedilatildeo do projeto e a busca pela adesatildeo as primeiras leituras e a

produccedilatildeo inicial A totalizando 3 (trecircs) encontros num total de 4 horasaula e o iniacutecio da

segunda fase que compreende os moacutedulos propriamente ditos do processo de escrita ateacute a

produccedilatildeo final A num total de 3 (trecircs) encontros houve um intervalo de aproximadamente 1

(um) mecircs tempo destinado agrave apreciaccedilatildeo da PI-A anaacutelise e elaboraccedilatildeo dos moacutedulos da

sequecircncia de atividades Para a posterior culminacircncia que coloca os textos em circulaccedilatildeo social

houve mais 5 (cinco) encontros agora com um puacuteblico mais reduzido que realmente desejava

publicar suas produccedilotildees

Destinamos dois horaacuterios agraves terccedilas-feiras que estavam ociosos para os alunos pois

correspondiam aos horaacuterios das disciplinas de Arte e Ensino religioso cuja professora estava

75

afastada em virtude de uma licenccedila de sauacutede para o desenvolvimento do projeto sem alterar a

rotina das aulas de Liacutengua Portuguesa

Como primeira atividade lemos o texto Prova falsa de Stanislaw Ponte Preta (cf

Apecircndice A) com a turma completa Fizemos o exerciacutecio de interpretaccedilatildeo do texto e breve

leitura de Abandono de Animais eacute crime e precisa ser denunciado (cf Apecircndice B) uma

reportagem para que os alunos percebessem diferenccedilas entre os gecircneros (2 horasaula)

O encontro seguinte teve a leitura do texto O chato da vez de Anaximandro

Amorim (cf Apecircndice C) e atividades de interpretaccedilatildeo Dentre as questotildees havia a instruccedilatildeo

que propunha os comandos para a criaccedilatildeo de um texto em forma de crocircnica ndash com o que os

alunos puderam perceber a respeito do gecircnero durante os encontros - e a partir disso nestas 2

(duas) horasaula os alunos fizeram sua produccedilatildeo inicial10 Esses textos compotildeem a produccedilatildeo

inicial dos integrantes do projeto

Os moacutedulos elaborados para o trabalho que visavam melhorar os aspectos da escrita

dos alunos considerando o processo bem como os procedimentos de escritor compreenderam

atividades de leitura exerciacutecios de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo dos textos e de produccedilatildeo de

textos escritos mediados pela professora pesquisadora dentro do gecircnero crocircnica literaacuteria

discussotildees sobre os temas presentes nas crocircnicas aproximando-os da realidade dos alunos com

o objetivo de desenvolver nestes sua capacidade de observaccedilatildeo e reflexatildeo para a produccedilatildeo

textual

Foram apresentadas agrave turma de maneira coletiva as principais dificuldades

diagnosticadas na produccedilatildeo inicial Procuramos natildeo focalizar de iniacutecio a editoraccedilatildeo11 do texto

na folha de produccedilatildeo No entanto natildeo deixamos de trabalhar em sala elementos como o cuidado

com a pontuaccedilatildeo a paragrafaccedilatildeo e a ortografia O conteuacutedo das aulas de cada moacutedulo estaacute

descrito na seccedilatildeo correspondente

No decorrer dos moacutedulos os alunos realizaram atividades de revisatildeo e reescrita dos

seus textos observando tanto a estrutura do gecircnero quanto o seu conteuacutedo orientados pela

professora pesquisadora e tambeacutem recebendo ideias e sugestotildees dos colegas em um feedback

colaborativo Dessa forma chegaram ao seu texto final aplicando na medida de sua

10 Obs o 4ordm horaacuterio que foi escolhido para ser o momento da produccedilatildeo inicial foi prejudicado por dois fatores

O primeiro foi que o professor de educaccedilatildeo fiacutesica da escola convidou os alunos para antecipar sua praacutetica e vaacuterios

natildeo voltaram do recreio para a aula do projeto O segundo fator foi que nesse dia aconteceu uma briga com agressatildeo

fiacutesica entre uma aluna da sala e outra aluna de outra turma o que deixou a escola inteira agitada Os 20 (vinte)

alunos que permaneceram em sala para a produccedilatildeo felizmente mostraram-se interessados embora vaacuterios dissessem

que natildeo levavam jeito para escrever Apenas alguns alunos passaram a limpo seus textos 11 Ver seccedilatildeo Escrita como processo

76

conscientizaccedilatildeo os conhecimentos adquiridos e as duacutevidas esclarecidas durante a sequecircncia de

atividades

Nossa proposta incluiu a circulaccedilatildeo social dos textos para uma audiecircncia real o que

consistiu em uma culminacircncia do projeto de escrita O acordo feito com os alunos foi a

publicaccedilatildeo interna de uma versatildeo artesanalmente produzida de um livro de crocircnicas para que

pudessem marcar o momento e guardar um livro fiacutesico como recordaccedilatildeo e a publicaccedilatildeo em

suas paacuteginas pessoais na rede social Facebook plataforma que os alunos apreciam utilizar com

certa frequecircncia posto que nosso trabalho teve como material para leitura textos retirados da

internet como o proacuteprio Facebook blogs sites Para esta etapa somente cinco alunos

frequentaram assiduamente (alguns outros esporadicamente) sendo que apenas quatro

produziram um texto individual que passou pelo mesmo processo de reescrita e que teve sua

publicaccedilatildeo na plataforma e tambeacutem em um formato artesanal impresso para que suas famiacutelias

e comunidade escolar possam prestigiar o momento na tarde de autoacutegrafos

As produccedilotildees finais seratildeo analisadas no capiacutetulo a seguir em relaccedilatildeo agrave apropriaccedilatildeo

das caracteriacutesticas do gecircnero estudado bem como de sua estrutura composicional com o

objetivo de avaliar se os alunos conseguiram desenvolvecirc-la satisfatoriamente e se a estrutura e

a aplicaccedilatildeo da sequecircncia de atividades favoreceu o desenvolvimento da competecircncia textual e

discursiva dos estudantes que integraram a pesquisa de acordo com o que foi observado em

suas produccedilotildees iniciais examinando seu desempenho em ambas as produccedilotildees

Para o desenvolvimento de nossas atividades do projeto planejamos os encontros

com base nos estudos realizados a respeito do procedimento Sequecircncia Didaacutetica de Dolz

Noverraz e Schneuwly (2013) como estrateacutegia de ensino dos gecircneros textuais na proposta de

adaptaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica conduzida por Swiderski e Costa-Huumlbes (2009) na proposta

de circulaccedilatildeo social do gecircnero discursivo produzido em sequecircncias didaacuteticas de projetos

pedagoacutegicos de Lopes-Rossi (2011) e dos procedimentos das etapas de escrita como

planejamento ediccedilatildeo revisatildeo e reescrita do texto segundo Vieira (2005) e Serafini (2003)

O planejamento de nossa SD abrange 12 (doze) etapas conforme mostra a figura a

seguir

77

Figura 4 - Proposiccedilatildeo de sequecircncia didaacutetica para o projeto de escrita

Fonte Elaborado pela autora adaptado de DOLZ NOVERRAZ SCHNEUWLY (2013) SWIDERSKI COSTA-

HUumlBES (2009) LOPES-ROSSI (2011)

Nossa sequecircncia foi pensada para 2 (duas) etapas distintas Na primeira etapa A

uma produccedilatildeo textual para trabalho em sala com o mesmo tema com a expectativa de serem

colocados nos textos elementos que respondessem ao enunciado instrucional da atividade que

segue a crocircnica lida no dia na segunda etapa B uma produccedilatildeo que jaacute seria composta visando

a circulaccedilatildeo social com tema livre agrave escolha dos alunos a partir das discussotildees sobre o que

pode ser tema de uma crocircnica

Pela necessidade de uma SD mais completa inserimos ao modo de Swiderski e

Costa-Huumlbes entre a apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e a produccedilatildeo inicial um moacutedulo

de reconhecimento do gecircnero E apoacutes o teacutermino de nossa SD inserimos ao modo de Lopes-

Rossi um moacutedulo para a divulgaccedilatildeo social dos textos

441 Primeira etapa da apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo agrave produccedilatildeo inicial

Entre a apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo e a produccedilatildeo inicial (PI) utilizamos 4 (quatro)

horas-aula No primeiro encontro fizemos no 1ordm (primeiro) horaacuterio a socializaccedilatildeo do projeto

com os alunos e incentivamos a adesatildeo expondo as vantagens de trabalharmos o aprendizado

de um gecircnero como a crocircnica em forma de sequecircncia de aulas e atividades Natildeo houve

manifestaccedilatildeo de unanimidade de interesse em participar do projeto Na realidade apenas

metade da sala pareceu desejar integrar o projeto Quando perguntados sobre o motivo que natildeo

os animava vaacuterios responderam ldquopreguiccedila de ler professora preguiccedila de escrever professora

ah eu natildeo gosto de ler muito natildeo Leio porque sou obrigada e natildeo vale nem nota mesmordquo

Apresentaccedilatildeo

da Situaccedilatildeo

Produccedilatildeo

Inicial A

Produccedilatildeo

Final A

Moacuted

ulo 1

Moacuted

ulo 2

Moacuted

ulo 3

Circulaccedilatildeo social

das produccedilotildees B Moacuted

ulo 4 Produccedilatildeo

Inicial B

Moacuted

ulo 5 Produccedilatildeo

Final B

Moacutedulo de

reconheci

mento

78

Apesar da inicial resistecircncia de boa parte da sala colocamos aos alunos as

vantagens de sua participaccedilatildeo visto que a principal finalidade da sequecircncia de atividades seria

o desenvolvimento de sua competecircncia escrita por meio da aprimoraccedilatildeo de suas habilidades

leitoras oportunidade de ampliaccedilatildeo da criatividade e desenvolvimento das habilidades e

procedimentos de escritor como o planejamento das ideias a releitura a revisatildeo a reescrita ndash

que sabemos natildeo fazem parte da rotina dos alunos salvo raras exceccedilotildees ndash utilizando como

base o estudo das caracteriacutesticas do gecircnero textual crocircnica literaacuteria

No horaacuterio seguinte com a turma completa iniciamos o moacutedulo de reconhecimento

realizando a leitura do texto Prova falsa de Stanislaw Ponte Preta Leitura silenciosa seguida

de leitura em voz alta por parte da professora-pesquisadora poreacutem sem realizar a atividade que

acompanhava o texto Comeccedilamos a trabalhar com a turma algumas caracteriacutesticas que a

sensibilizariam para o gecircnero como a presenccedila de um tiacutetulo interessante para a criaccedilatildeo de um

texto a partir de uma situaccedilatildeo do cotidiano e que o cronista resolveu contar ao leitor ao bom

humor e agrave leveza das palavras trazidas no texto

No segundo encontro com 1 hora-aula na semana seguinte fizemos a continuaccedilatildeo

da aula anterior no primeiro horaacuterio realizando o exerciacutecio de interpretaccedilatildeo do texto Prova

Falsa No horaacuterio seguinte realizamos breve leitura do texto Abandono de Animais eacute crime e

precisa ser denunciado para que os alunos percebessem a diferenccedila entre a crocircnica e a

reportagem embora ambas falassem cada uma a seu modo de criaccedilatildeo de animais de estimaccedilatildeo

Chegamos aos terceiro encontro com 2 (duas) hora-aula e realizamos a leitura do

texto O chato da vez de Anaximandro Amorim (cf Anexo D) No 1ordm horaacuterio destinado a nossas

aulas tudo transcorreu relativamente normal com a turma completa lendo e realizando parte

das atividades Poreacutem nossa Produccedilatildeo Inicial deveria acontecer apoacutes o recreio pois a

organizaccedilatildeo da grade de horaacuterios compreendia 1 hora-aula antes do recreio e a 1 hora-aula

seguinte apoacutes o recreio

Esse horaacuterio que foi escolhido para ser o momento da PI foi prejudicado por dois

fatores O primeiro foi que o professor de educaccedilatildeo fiacutesica12 da escola convidou os alunos para

antecipar sua praacutetica e vaacuterios natildeo voltaram do recreio para a aula do projeto O segundo fator

foi que nesse dia aconteceu uma briga com agressatildeo fiacutesica entre uma aluna da sala e outra aluna

de outra turma o que deixou a escola inteira agitada Os 20 (vinte) alunos que permaneceram

12 O professor de educaccedilatildeo fiacutesica natildeo estava presente na reuniatildeo de socializaccedilatildeo do projeto com os professores e

por isso natildeo sabia que a professora-pesquisadora ocuparia aquele horaacuterio que estava ocioso para os alunos

79

em sala para a produccedilatildeo felizmente mostraram-se interessados embora vaacuterios dissessem que

natildeo levavam jeito para escrever

Demos prosseguimento agrave atividade que acompanha o texto O chato da vez

realizando a instruccedilatildeo de produccedilatildeo do quesito 7 (sete) Os alunos receberam uma folha de

produccedilatildeo e foram orientados a primeiro escrever seu rascunho em folha agrave parte e somente

quando terminassem passar seu texto para a folha de produccedilatildeo A maioria escreveu diretamente

na FP Apenas alguns alunos fizeram um breve rascunho e depois passaram a limpo seus textos

O que buscamos detectar nessas primeiras produccedilotildees (PI-A) sem o devido

aprofundamento das caracteriacutesticas da crocircnica literaacuteria apenas com as leituras e as atividades

de sensibilizaccedilatildeo no moacutedulo de reconhecimento do gecircnero a partir da instruccedilatildeo de produccedilatildeo

foram os itens a seguir

i) quantos textos jaacute deram sinais de que os alunos entenderam o que eacute a ldquoconversa

com o leitorrdquo e a expressaram em marcas linguiacutesticas

ii) quantos atenderam ao perfil da audiecircncia solicitada na instruccedilatildeo

iii) quantos se mantiveram no tema discutido

iv) quantos partiram de uma situaccedilatildeo vividaobservada para compor seu texto

v) quantos narraram essa situaccedilatildeo de forma clara para que o leitor pudesse

acompanhar

vi) quantos atenderam agrave instruccedilatildeo quanto agrave presenccedila de tiacutetulo e ao nuacutemero de

paraacutegrafos

Trataremos em seccedilatildeo posterior correspondente agrave anaacutelise sobre estes resultados

442 Segunda etapa desenvolvimento dos moacutedulos

Aproximadamente 1 (um) mecircs apoacutes a apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo e a produccedilatildeo inicial

que foram realizadas em 4 (quatro) encontros o desenvolvimento dos moacutedulos foi iniciado A

partir de entatildeo foram realizados 8 (oito) encontros de 2 (duas) horas-aula cada um Foram

cinco moacutedulos com atividades diversas que trabalharam fundamentalmente o planejamento

das ideias a organizaccedilatildeo e a revisatildeo do texto aleacutem da reescrita que eacute a ponte para a produccedilatildeo

final O trabalho desenvolvido nos moacutedulos estaacute sintetizado no quadro a seguir e seratildeo

detalhados os procedimentos das aulas nos toacutepicos seguintes

80

Quadro 4 ndash Moacutedulos desenvolvidos na sequecircncia didaacutetica (SD)

MOacuteDULOS TEMA FINALIDADE ATIVIDADE NUacuteMERO

DE AULAS

Moacutedulo 1 A mateacuteria da

crocircnica

Abstrair a partir da

leitura a situaccedilatildeo que

pode ter gerado as

crocircnicas

Leitura dos textos

Realizaccedilatildeo das atividades de

interpretaccedilatildeo

Identificaccedilatildeo das situaccedilotildees

que geraram as crocircnicas

Observaccedilatildeo da construccedilatildeo da

narraccedilatildeo

4 horas-aula

Moacutedulo 2

Releitura e

reescrita da PI-

A

Revisar o conteuacutedo e a

estrutura das crocircnicas

produzidas (PI-A) a fim

de reescrevecirc-las fazendo

as modificaccedilotildees

necessaacuterias eou sugeridas

adequando-as agrave instruccedilatildeo

Conversa sobre as

dificuldades observadas nas

primeiras produccedilotildees Releitura

das produccedilotildees iniciais

individualmente e em duplas

para feedback colaborativo

Reescrita da crocircnica

2 horas-aula

Moacutedulo 3

A opiniatildeo e a

descriccedilatildeo na

crocircnica

Observar a realidade do

seu entorno e tambeacutem de

ouvir as opiniotildees das

pessoas que habitam esse

ambiente

Leitura do texto

Realizaccedilatildeo das atividades de

interpretaccedilatildeo

Atividade de coleta de

impressotildees de algueacutem

proacuteximo Confronto ou

associaccedilatildeo com suas proacuteprias

opiniotildees Observaccedilatildeo de

elementos e situaccedilotildees do

proacuteprio cotidiano

Uso criativo das palavras

reflexatildeo sobre linguagem

conotativa

Elaboraccedilatildeo de um pequeno

texto

2 horas-aula

Moacutedulo 4

A linguagem

criativa e a

verossimilhanccedila

na crocircnica

Produccedilatildeo

inicial do texto

para publicaccedilatildeo

ndash PI-B

Observar as formas

criativas de narrar o

cotidiano

Leitura do texto

Realizaccedilatildeo das atividades de

interpretaccedilatildeo Discussatildeo sobre

verossimilhanccedila

2 horas-aula

Moacutedulo 5

Revisatildeo e

reescrita do

texto para

publicaccedilatildeo ndash

PI-B

Observar os elementos

estudados ao longo dos

moacutedulos na PI-B

Leitura dos textos Feedback

colaborativo Releitura da PI-

B Exerciacutecio de topicalizaccedilatildeo

4 horasaula

Fonte Elaborado pela autora

Nos itens a seguir apresentamos o relato da aplicaccedilatildeo dos moacutedulos bem como as

atividades correspondentes a cada um em uma turma de 9ordm ano de uma escola puacuteblica municipal

em Satildeo Luiacutes no 4ordm (quarto) bimestre do ano letivo de 2017

a) Moacutedulo 1 ndash quarto e quinto encontros ndash 4 (quatro) horas-aula

81

A partir da leitura dos textos Manias e Pacto apoacutes morte natildeo podia ver faca (cf

Anexo E) os alunos praticaram o exerciacutecio de observaccedilatildeo e abstraccedilatildeo da situaccedilatildeo que pode ter

gerado essas crocircnicas

Neste dia foi feita a leitura da crocircnica Manias Os alunos puderam refletir a partir

das questotildees de interpretaccedilatildeo e anaacutelise do texto sobre o que satildeo manias e viram tambeacutem que

elas natildeo satildeo exclusividade de pessoas idosas Na verdade concluiacuteram que basta o ser humano

estar vivo independentemente da idade que tenha para comeccedilar a calcar camadas e mais

camadas de comportamentos que mais adiante se tornaratildeo manias Natildeo houve tempo

disponiacutevel para os alunos comporem um texto a respeito da mateacuteria manias e os alunos pediram

para fazer em casa No entanto na aula seguinte ningueacutem apresentou o texto

Para o encontro seguinte que correspondia ao dia das bruxas a crocircnica escolhida

para leitura que tomou o primeiro horaacuterio foi Pacto poacutes-morte natildeo podia ver faca de Nonato

Reis por ser de gosto dos alunos dessa faixa etaacuteria histoacuterias de fantasmas misteacuterios e lendas

Nossa atividade foi bastante interessante pois todos que estavam na sala entraram no ritmo

daqueles causos contados em prosa pelo jornalista Nonato Reis O segundo horaacuterio foi

direcionado agrave atividade de leitura e interpretaccedilatildeo da crocircnica em que os alunos puderam

observar o ponto de vista do narrador as situaccedilotildees que deram origem e suporte agrave construccedilatildeo da

crocircnica aprenderam vocaacutebulos novos e ainda puderam soltar um pouco da imaginaccedilatildeo e

criatividade pensando em como eles mesmos fariam seus pactos com algueacutem ndash e constatamos

que vaacuterios querem mais eacute que seus contratantes se assustem em vida caso os alunos partam

primeiro

Ao final da leitura ainda exercitamos uma breve retextualizaccedilatildeo se fosse para

compor uma manchete de jornal como eles poderiam criar uma frase de impacto para o leitor

que tivesse relaccedilatildeo com o texto Um dos alunos sugeriu ldquoHomem faz pacto e menino vem

buscarrdquo

b) Moacutedulo 2 ndash sexto encontro ndash 2 (duas) horas-aula

Este encontro foi destinado para releitura da primeira produccedilatildeo feita (PI-A) O

procedimento inicial foi a tempestade de ideias sobre o que eacute ser chato e o que eacute ser legal cujo

registro dessas caracteriacutesticas noacutes construiacutemos na lousa sendo a professora-pesquisadora como

escriba Em seguida entregamos aos participantes do projeto seus textos

De iniacutecio vaacuterios disseram gostar do proacuteprio texto poreacutem quando a professora-

pesquisadora passou de carteira em carteira pedindo que lessem em voz meacutedia de modo a

apenas o proacuteprio aluno e a professora poderem escutar ele mesmo se dava conta de que havia

82

algo a consertar Em alguns casos faltava o diaacutelogo com o leitor noutros uma situaccedilatildeo que

explicasse o porquecirc de algueacutem ser considerado chato ou legal Eacute a tal situaccedilatildeo do leitor na

histoacuteria Natildeo daacute pra jogar em cima dele soacute o resultado Tem que mostrar de onde partiram as

conclusotildees Assim demos uma folha sulfite em branco para que os alunos registrassem seus

rascunhos suas ideias por mais que as considerassem absurdas e daiacute pudessem extrair o que

iria compor o novo texto Fomos bem claras ao falar da importacircncia de tomar notas elas servem

como um prolongamento da memoacuteria (SERAFINI 2003)

Apoacutes esse registro os alunos tiveram a liberdade de escolher sentar em dupla ou

trio e foram lendo seus proacuteprios textos e o dos colegas para se inspirar ou dar sugestotildees uns

aos outros num feedback colaborativo enquanto a professora-pesquisadora permanecia dando

assistecircncia de um por um Infelizmente natildeo conseguimos sentar com todos para dar o devido

retorno individual sendo alguns apenas por orientaccedilatildeo coletiva e outros por bilhetinho com

questotildees gerais

Entatildeo pegamos o texto O chato da vez fizemos mais uma leitura e de novo

revimos a questatildeo 7 que eacute a instruccedilatildeo da produccedilatildeo Entatildeo os alunos receberam a folha de

produccedilatildeo e assim fizeram a reescrita (PF-A)

c) Moacutedulo 3 ndash seacutetimo encontro ndash 2 (duas) horas-aula

A partir da leitura da crocircnica A cara da rua (cf Apecircndice F) os alunos fizeram o

exerciacutecio praacutetico de observar a realidade do seu entorno sensibilizando-se a partir do uso da

descriccedilatildeo na crocircnica literaacuteria e tambeacutem de ouvir as opiniotildees das pessoas que habitam esse

ambiente

Houve uma alteraccedilatildeo no quadro do horaacuterio da escola o que colocou os encontros

do projeto para o 4ordm e o 5ordm horaacuterios As aulas passaram assim a natildeo ter uma quebra em seu

ritmo visto que anteriormente eram dois horaacuterios sendo um antes do recreio e o outro depois

A dificuldade enfrentada na aplicaccedilatildeo deste dia foi que alguns dos alunos que

integram o projeto se atrasaram visto que foi um dia atiacutepico na programaccedilatildeo da escola

Correspondeu este dia agrave visitaccedilatildeo da 11ordf FeLiS a Feira do livro de Satildeo Luiacutes realizada no

centro histoacuterico da cidade na Praia Grande Portanto neste dia natildeo fizemos uma releitura dos

textos que jaacute comeccedilaram a ser reescritos

Fizemos a leitura do texto A cara da rua de Marcelo Xavier discutimos as questotildees

e com os alunos (mesmo os que chegaram atrasados) foi feito o acordo da realizaccedilatildeo da uacuteltima

questatildeo que eacute fazer a leitura do texto para algueacutem em casa e anotar as impressotildees que a pessoa

teve ao ouvir a crocircnica

83

O objetivo desta atividade foi despertar nos alunos a consciecircncia de que uma

crocircnica bem escrita causa alguma reaccedilatildeo em seu leitor uma reflexatildeo uma emoccedilatildeo Aleacutem disso

eles observaram o modo de descrever empregado pelo autor ao longo dos paraacutegrafos usados na

caracterizaccedilatildeo da rua Utilizamos como material para essa aula figuras impressas da moda que

mostravam ao longo das deacutecadas as mudanccedilas citadas no texto

Neste dia tambeacutem os alunos anotaram os fundamentos que devem estar presentes

no texto que eles escrevem uma espeacutecie de quadro autoavaliativo13 criado a partir das

caracteriacutesticas dos textos estudados

d) Moacutedulo 4 ndash oitavo encontro ndash 2 (duas) horas-aula

O encontro comeccedilou retomando a atividade da aula anterior que era fazer a leitura

do texto para algueacutem em casa e anotar as impressotildees que a pessoa teve ao ouvir a crocircnica

Apenas uma aluna realizou a atividade poreacutem foi interessante visto que a opiniatildeo coletada deu

espaccedilo para a discussatildeo sobre a liberdade de expressatildeo fosse no vestuaacuterio no comportamento

ou mesmo no vocabulaacuterio das pessoas que integram a cara da rua

A aula do dia foi direcionada a conhecer mais algumas crocircnicas Amor de Macumba

e Sr Google Pacheco (cf Apecircndice G) para que os alunos pudessem observar e compreender

melhor de que situaccedilotildees observadasvivenciadas partiram os textos podendo ser inesperadas

eou ateacute pitorescas Apoacutes a escuta dos textos cuja leitura foi realizada pela professora-

pesquisadora foram trabalhadas oralmente as questotildees de compreensatildeo e identificadas as

situaccedilotildees geradoras das crocircnicas em questatildeo (independentemente de serem reais ou natildeo)

compreendendo melhor o que eacute verossimilhanccedila

Ao final desse momento os alunos falaram de vaacuterios assuntos que poderiam se

tornar temas de textos Copiamos no quadro e eles nos cadernos Eram temas do cotidiano

como assalto relaccedilotildees sociais vida de youtuber bullying fome cujas situaccedilotildees jaacute

observadasvivenciadas poderiam render uma reflexatildeo

Aparentemente a dificuldade maior dos alunos estava em expressar essa situaccedilatildeo

sem que parecesse um diaacuterio iacutentimo como diaacuterio ou memoacuterias pois a natural disposiccedilatildeo de

seus textos traz uma sequecircncia narrativa um relato de emoccedilotildees pessoais poreacutem natildeo

necessariamente conduzia o leitor a uma reflexatildeo embora por vezes pausasse a narraccedilatildeo e

interagisse com o leitor por meio de perguntas ndash conforme mostrado nas crocircnicas lidas ao longo

do projeto

13 Cf seccedilatildeo de Anaacutelises

84

O foco foi entatildeo ajudar os alunos a desprender-se da aura de criacutetica ou de diaacuterio

iacutentimo em seus textos permitindo-lhes atribuir um ar de narrar os fatos podendo aumentar as

situaccedilotildees conduzindo seu leitor sem sobrecarregaacute-lo com queixumes lamentos criacuteticas ferinas

ou aquele ldquoar de moral da histoacuteriardquo

Como a discussatildeo havia tomado bastante tempo da aula os alunos pediram para

trazer o texto depois Resolvemos propor entatildeo o envio por um meio digital O escolhido foi

o Whatsapp e a produccedilatildeo seria impressa e entregue entre os colegas para leitura coletiva e

apreciaccedilatildeo etapa fundamental para o moacutedulo seguinte

e) Moacutedulo 5 ndash nono encontro ndash 2 (duas) horas-aula

Quatro alunos me mandaram seus textos (Ana Rodrigo Eduardo Estela) A

expectativa da aula do dia era que os alunos lessem as proacuteprias produccedilotildees e as colocassem para

apreciaccedilatildeo dos colegas relessem lessem juntos encontrassem os erros aceitassem as

sugestotildees O trabalho da professora pesquisadora foi inicialmente ir de dupla em dupla para

orientar E assim fizemos o trabalho

Utilizamos como material para essa aula os textos enviados impressos e um tablet

para visualizaccedilatildeo e se desejassem atualizaccedilatildeo de algum trecho do texto Cada aluno autor teve

seu momento de visualizaccedilatildeo na tela e de certo modo foi um choque ver no tablet os erros

ortograacuteficos e as sugestotildees de pontuaccedilatildeo que o aplicativo Word sugeria O aluno Eduardo foi o

mais surpreso pois em seu texto soacute de ortografia e pontuaccedilatildeo havia 22 erros fora as sugestotildees

que o Word corrigia Apesar disso o aluno natildeo desanimou aceitando sugestotildees do aplicativo e

tambeacutem dos colegas e da professora-pesquisadora

Houve o momento da leitura em conjunto e este foi fundamental para trabalharmos

a paragrafaccedilatildeo A professora-pesquisadora lia em voz alta para os alunos eles acompanhavam

o pensamento criando a imagem mental dos fatos corridos e quando havia quebra na

sequecircncia eles mesmos estranhavam e identificavam fazendo sugestotildees de alteraccedilatildeo Isso foi

feito com cada texto

Os temas para a produccedilatildeo do texto publicado foram escolhidos pelos proacuteprios

alunos Diferentemente da PI-A que foi induzida pela instruccedilatildeo aqueles que se dedicaram a

escrever por prazer desenvolveram mais o gosto por entender e reler o proacuteprio texto dando

valor tambeacutem agrave apreciaccedilatildeo dos colegas natildeo apenas da professora

Os quatro alunos que produziram texto para o livro disseram que passaram a prestar

mais atenccedilatildeo a ortografia e acentuaccedilatildeo embora reconheccedilam que natildeo dominam adequadamente

85

ainda Nesse momento consideramos fundamental conscientizar-lhes que esse domiacutenio eacute um

processo e pode durar a vida inteira

f) Moacutedulo 6 ndash deacutecimo encontro ndash 2 (duas) horas-aula

A aula do dia foi dedicada agrave revisatildeo e discussatildeo final dos textos de Ana Rodrigo

Eduardo e Estela Apoacutes a leitura individual e novas sugestotildees sentamos em ciacuterculo e

registramos em voz alta no celular durante uns 20 minutos uma pequena avaliaccedilatildeo do projeto

e avaliaccedilatildeo pessoal em forma de grupo focal Apenas uma aluna dentre os seis que estavam

presentes se recusou a falar Ela mesma afirmou ldquoprofessora eu nunca falo eu natildeo gosto de

falarrdquo A pauta foi a seguinte

i) Uma breve avaliaccedilatildeo do projeto

- vocecirc gostou das aulas

- o que foi um ponto positivo

- e um desafio

- o que vocecirc sugere para um proacuteximo projeto

ii) Uma breve avaliaccedilatildeo pessoal

- vocecirc aprendeu algo que natildeo sabia antes

- mudou alguma coisa nos seus procedimentos em relaccedilatildeo agrave leitura e agrave escrita

- fale um pouco sobre isso

A opiniatildeo dos alunos seraacute tratada na seccedilatildeo seguinte ao longo da avaliaccedilatildeo do

projeto

443 Terceira etapa produccedilatildeo final

Neste dia relemos as primeiras produccedilotildees que os alunos fizeram de maneira

coletiva Foi unacircnime o descontentamento com os textos pois concluiacuteram que estava tudo

muito longe de ter caracteriacutesticas de crocircnica Aproveitamos tambeacutem para ler o texto de um

aluno e fazer um exerciacutecio de topicalizaccedilatildeo a fim de instrumentalizaacute-los com uma uacutetil

ferramenta de anaacutelise das partes do texto detectando as ideias que o compotildeem comparando ao

comando de produccedilatildeo que foi dado naquele momento da PI e percebendo que ideias faltam para

completar a instruccedilatildeo pedida Fora isso os alunos perceberam que havia muitos erros

ortograacuteficos e disseram que achavam interessante se pudessem para todos os textos escrever

em aplicativos de celular ou programas de ediccedilatildeo de texto como o Word para que as correccedilotildees

mais baacutesicas jaacute fossem automaticamente realizadas

86

444 Quarta etapa circulaccedilatildeo social dos textos

A circulaccedilatildeo social dos textos eacute parte de nossa proposta para a sequecircncia didaacutetica

Como o objetivo maior foi o de contribuir para o aperfeiccediloamento das habilidades de escrita

desenvolvendo procedimentos de escritor fugindo agrave praacutetica que os alunos normalmente tecircm

que eacute de fazer um texto sem os devidos cuidados apenas visando nota para entregar ao

professor contamos que essas produccedilotildees foram de grande valia aos que permaneceram ateacute o

final de nosso projeto

O livro artesanal foi produzido e no dia da cerimocircnia de formatura dos alunos do

9ordm ano foi tornado puacuteblico mostrado aos outros alunos familiares e comunidade escolar

presente O livro conteacutem as produccedilotildees dos 4 (quatro) alunos e mais as crocircnicas lidas ao longo

das aulas Aleacutem disso cada um publicou seu texto em sua paacutegina do Facebook

87

5 ANAacuteLISE DA SEQUEcircNCIA REFLEXOtildeES

Este capiacutetulo eacute destinado a discussatildeo e anaacutelise dos dados coletados quando de antes

da aplicaccedilatildeo dos moacutedulos (produccedilatildeo inicial) e depois do desenvolvimento destes (produccedilatildeo

final) a fim de verificarmos o desempenho dos alunos e certificar que o desenvolvimento de

nossa SD proposta para o desenvolvimento da competecircncia escrita dos alunos do 9ordm ano do

ensino fundamental pode propiciar-lhes progressos nas habilidades de produccedilatildeo de seus textos

Apresentamos aqui os principais dados da pesquisa como nuacutemero de alunos

participantes em cada etapa de produccedilatildeo nuacutemero de estudantes que participaram de todas as

atividades e principais dificuldades quanto aos elementos constitutivos do gecircnero trabalhado

Para a anaacutelise das versotildees produzidas pelos alunos que participaram de todos os encontros

fazendo o comparativo entre a PI e a PF partimos das categorias do gecircnero crocircnica literaacuteria

trabalhadas durante a SD Deste modo veremos as seccedilotildees destinadas a analisar os elementos

constitutivos presentes nos textos

A anaacutelise dos dados considerou as hipoacuteteses levantadas no iniacutecio da pesquisa que

recapitulamos

a) eacute possiacutevel motivar os alunos a escrever ao desenvolver com eles atividades

voltadas para os diferentes subprocessos e habilidades envolvidos no ato de

redigir

b) o ensino da composiccedilatildeo do gecircnero crocircnica literaacuteria contribuiraacute para minimizar

dificuldades observadas nos textos dos alunos do 9ordm ano como nos planos

morfossintaacutetico e semacircntico aleacutem de lhes propiciar o desenvolvimento da

competecircncia escrita em textos escritos

c) apoacutes a realizaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica proposta ao compararmos as produccedilotildees

inicial e final dos alunos verificaremos um desempenho mais satisfatoacuterio em

relaccedilatildeo agrave competecircncia discursiva realizada no gecircnero crocircnica

Da primeira hipoacutetese consideramos para a elaboraccedilatildeo das atividades e o

planejamento dos encontros trabalhar os subprocessos da escrita geraccedilatildeo e organizaccedilatildeo de

ideias planejamento do texto rascunho escrita releitura revisatildeo reescrita ateacute o passo da

publicaccedilatildeo agrave audiecircncia pretendida Esses passos auxiliaram os alunos a desenvolver melhor

seus textos apoacutes a revisatildeo quando os comparamos aos seus primeiros textos conforme a anaacutelise

dos dados Inclui tambeacutem este momento a motivaccedilatildeo de modo que quanto maior o domiacutenio

das habilidades mais confiantes os alunos ficavam e consequentemente mais motivados

88

Buscamos identificar nos textos dos alunos os avanccedilos referentes agrave apropriaccedilatildeo do

gecircnero crocircnica literaacuteria a partir dos textos escolhidos para servir-lhes de modelo para a

produccedilatildeo Relatamos aqui tambeacutem as dificuldades trabalhadas com eles durante os moacutedulos e

que foram aperfeiccediloadas Aleacutem das dificuldades composicionais relatamos ao longo do

capiacutetulo as dificuldades quanto agrave participaccedilatildeo no projeto aplicado

51 Participaccedilatildeo dos alunos na pesquisa

A sala de aula escolhida para aplicaccedilatildeo do projeto de produccedilatildeo escrita de crocircnicas

literaacuterias foi uma turma de 9ordm ano vespertino em uma escola puacuteblica do municiacutepio de Satildeo Luiacutes

Maranhatildeo Os alunos frequentes totalizavam no ano letivo de 2017 43 (quarenta e trecircs) No

entanto ao final de nosso projeto tivemos um resultado de produccedilotildees que visavam agrave circulaccedilatildeo

social do texto no gecircnero que corresponde a menos de 10 (dez por cento) do total da classe

Graacutefico 4 ndash Nuacutemero de alunos do 9ordm ano

Fonte Produzido pela autora

Podemos dizer que a SD teve duas partes no tocante agrave participaccedilatildeo dos alunos No

primeiro 19 (dezenove) alunos produziram a PI-A havendo oscilaccedilatildeo da presenccedila nas

atividades ateacute a reescrita a PF-A No entanto selecionamos as produccedilotildees apenas dos que

participaram de todos os encontros que foram 13 (treze) alunos e que produziram a PF-A

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

Nuacutemero de alunos

Nuacutemero de alunos no 9ordm ano

Alunos regularmente frequentes

Alunos que produziram o texto para a professora-pesquisadora como audiecircncia

Alunos que produziram texto para circulaccedilatildeo social com audiecircncia real

89

No segundo momento visando a publicaccedilatildeo dos textos o nuacutemero de alunos

presentes caiu vertiginosamente finalizando o projeto de aplicaccedilatildeo da SD com 6 alunos

frequentes sendo que apenas 4 (quatro) produziram o texto para circulaccedilatildeo social constando a

PI-B e a PF-B Segundo os alunos da turma o fato de natildeo valer nota associado ao item do

termo de compromisso que diz que a qualquer momento o aluno poderia deixar de participar

sem qualquer prejuiacutezo fez com que alguns alunos deixassem de querer frequentar ldquoporque eu

natildeo gosto de escrever professorardquo acabando por ldquocontagiarrdquo outros alunos a querer sair mais

cedo da sala de aula abandonando assim o projeto aplicado ldquomas pelo menos a senhora jaacute tem

um texto natildeo eacuterdquo

Dessa forma totalizamos 26 (vinte e seis) textos analisados 2 (dois) de cada

participante na primeira parte e 4 (quatro) dos quatro alunos que tiveram seus textos publicados

no livro artesanal e na plataforma online

Graacutefico 5 ndash Participaccedilatildeo nas produccedilotildees

Fonte Produzido pela autora

Como vimos 13 (treze) alunos realizaram a PF-A e 4 (quatro) a PF-B Nosso

projeto de produccedilatildeo escrita de crocircnicas literaacuterias contou com 11 (onze) encontros efetivos num

total de 20 (vinte) horasaula A participaccedilatildeo da turma ocorreu da seguinte forma

0

5

10

15

20

PI-A PF-A PI-B PF-B

Participaccedilatildeo nas produccedilotildees

Produccedilatildeo a partir de instruccedilatildeo Produccedilatildeo para publicaccedilatildeo

90

Graacutefico 6 ndash Alunos presentes por encontro

Fonte Produzido pela autora

Quanto agrave participaccedilatildeo nos encontros nos quais desenvolvemos os moacutedulos a maior

participaccedilatildeo ocorreu no 1ordm (primeiro) e no 4ordm (quarto) encontros No 9ordm (nono) encontro tivemos

a menor quantidade de alunos O uacuteltimo encontro contou com 7 (sete) alunos

52 Anaacutelise da apropriaccedilatildeo de caracteriacutesticas do gecircnero crocircnica literaacuteria

Nosso objetivo com esta pesquisa foi de contribuir para o desenvolvimento da

competecircncia escrita dos alunos de 9ordm ano a partir da proposta da aplicaccedilatildeo de uma sequecircncia

didaacutetica para a produccedilatildeo de textos escritos em uma turma deste niacutevel utilizando para tal o

gecircnero crocircnica literaacuteria A sequecircncia foi desenvolvida no 2ordm semestre do ano letivo de 2017

Para verificar o desempenho dos alunos nos textos escritos antes e apoacutes a aplicaccedilatildeo

da SD buscando comprovar sua eficiecircncia como uma proposta para o ensino de produccedilatildeo de

textos e o desenvolvimento da competecircncia escrita dos alunos procedemos a anaacutelise do corpus

de produccedilotildees a fim de verificar se a construccedilatildeo do texto de alunos do 9ordm ano corresponde de

algum modo aos exemplos de crocircnicas apresentados na primeira parte da sequecircncia didaacutetica

Essa produccedilatildeo A corresponde ao trabalho com 13 alunos (como jaacute informado na

seccedilatildeo 4411) em 3 (trecircs) encontros com duraccedilatildeo de 6 (seis) horasaula e leitura de duas

crocircnicas ineacuteditas para os alunos (Manias e Pacto apoacutes morte) e atividades correspondentes e

mais a releitura de O chato da vez releitura da instruccedilatildeo e releitura das PI-A

0

5

10

15

20

25

30

35

40

Alunos presentes por encontro

Nordm de alunos

91

Nossa primeira parte da sequecircncia em que preparamos os alunos para a produccedilatildeo

do primeiro texto do gecircnero com um miacutenimo de caracteriacutesticas tratou de mostrar exemplos do

que se pode esperar em uma crocircnica fornecendo um miacutenimo de elementos para que atraveacutes de

uma abordagem imitativa os alunos fizessem o seu texto PI-A

Para a reescrita ou PF-A a fim de auxiliar nossos alunos fomos construindo ao

longo do periacuteodo de aplicaccedilatildeo das aulas um quadro autoavaliativo que resultou nos itens

expostos no quadro a seguir

Quadro 5 ndash Quadro autoavaliativo

Seu texto Sim Natildeo

Partiu de uma situaccedilatildeo observadavivida

Conversa com o leitor

Possui o foco narrativo bem determinado (narrador personagem ou

narrador observador)

Leva o leitor a refletir

Causa impressotildees no leitor como riso choro reflexatildeo emoccedilatildeo

satisfaccedilatildeo

Possui um final interessante

Mostra discretamente ao leitor seu ponto de vista a respeito da situaccedilatildeo

Possui alguma descriccedilatildeo de lugarobjetopersonagem

Possui um tiacutetulo

Apresenta os acontecimentos de forma clara

Emprega adequadamente os sinais de pontuaccedilatildeo

Evita repeticcedilatildeo desnecessaacuteria de palavras

Possui paraacutegrafos bem organizados

Fonte Elaborado pela autora

O quadro nasceu da observaccedilatildeo das caracteriacutesticas constantemente presentes em

produccedilotildees de alunos com os quais trabalhamos A proposta era que os integrantes do projeto

avaliassem os proacuteprios textos atentando para estes aspectos mais baacutesicos

Desta forma vamos proceder a anaacutelise com a observaccedilatildeo da apropriaccedilatildeo das

caracteriacutesticas trabalhadas do gecircnero crocircnica literaacuteria sob uma oacutetica do processo de produccedilatildeo

oferecendo uma abordagem imitativa de produccedilatildeo de textos nas produccedilotildees iniciais e finais A

de 13 (treze) alunos cuja identificaccedilatildeo estaacute no quadro a seguir

Quadro 6 ndash Identificaccedilatildeo dos textos A dos alunos

Identificaccedilatildeo textoautor Tiacutetulo PI Tiacutetulo PF

Ana Ser chato ou natildeo ser eis a

questatildeo

Ser chato ou natildeo ser eis a

questatildeo

92

Rodrigo Pare de se criticar

Eduardo O amigo muito e muito chato Ser legal natildeo eacute ser chato

Estela Os chatos de antematildeo O tio chato de galocha

Ceacutelia Chata sim ou natildeo Chata sim ou natildeo

Arlindo Chato e natildeo eacute chato Chato e natildeo eacute chato

Juacutelia Ser chato ou ser legal Pessoas chatas e pessoas

legais

Vicente Aacute pergunta eacute se eu

bloquearia uma pessoa chata

Graccedila Rafaelly chata Chata ela ou EU

Lilian Meus amigos chatos e Eu Pessoas legais e chatas

Heloiacutesa ldquoChato mais eacute muito legalrdquo ldquoO melhor chatordquo

Eliane Um pouco de tudo O que e chato e o que e legal

Joana Pessoas chatas e outras legal Pessoas otimas Fonte Produzido pela autora

Esses textos foram produzidos em sala na folha de produccedilatildeo textual proacutepria

elaborada para a SD de forma manuscrita e os originais A encontram-se nos anexos Na seccedilatildeo

a seguir mostraremos o panorama das anaacutelises

53 Os textos dos alunos

Esta seccedilatildeo traz os textos dos alunos produzidos em dois momentos O primeiro que

chamamos de texto A composto de produccedilatildeo inicial A e produccedilatildeo final A foi o texto produzido

na primeira parte de nossa sequecircncia didaacutetica que vai ateacute o moacutedulo 2 (dois) e que ficou restrito

apenas ao trabalho em sala de aula O segundo foi o texto B com produccedilatildeo inicial B e produccedilatildeo

final B cuja produccedilatildeo jaacute visava agrave circulaccedilatildeo social das produccedilotildees

531 Produccedilotildees A textos apenas para o trabalho em sala de aula

Quadro 7 ndash Produccedilatildeo inicial Ana ndash Tiacutetulo Ser chato ou natildeo ser eis a questatildeo

1 O ldquochato da vezrdquo esse texto fez eu refletir bastante

2 sobre esse negocio de chatisse sabe eu natildeo acho que

3 ser chato seja um defeito ou muito menos uma qua-

4 lidade de sabe de uma coisa Eu nem ao menos sei o

5 que eacute ser chato mas se algueacutem me perguntar diria que

6 ser chato eacute apenas falar de um assunto pode ser sobre ele

7 ou sobre mim mas se for falado isso pra mim muitas ve-

8 zes isso pra mim eacute pura chatice mas sabe eu natildeo tiraria

9 nem evitaria ningueacutem mesmo sendo aquela amiga que so

93

10 sabe falar que ta doente e reclamar de noites mal dormi-

11 das sempre ateacute porque eacute o jeito dela e cada um oferece o

12 que tem para oferecer eu natildeo fico puxando o saco delas

13 mas evito elas sempre que posso Ateacute porque seria uma

14 chatice evita-la ou qualquer um outro chato Fonte Dados da pesquisa

O texto foi composto por um paraacutegrafo apenas Percebe-se que Ana o criou

atendendo ao que a instruccedilatildeo da atividade requer criar um texto que possa inspirar reflexatildeo

Poreacutem a aluna natildeo exatamente conduz seu leitor a refletir Ela jaacute parte de uma constataccedilatildeo sobre

a qual ela mesma refletiu e expotildee no texto suas conclusotildees Natildeo narra uma situaccedilatildeo

vividaobservada mas elenca o que lhe parecem procederes chatos ldquomesmo sendo aquela amiga

que so sabe falar que ta doente e reclamar de noites mal dormidas semprerdquo (linhas 9 a 11) A

aluna natildeo usou a estrateacutegia de inserir personagens que transparecessem seu ponto de vista ao

leitor Construiu seu texto em primeira pessoa ao modo de ldquoO chato da vezrdquo e demonstrou que

tinha consciecircncia de que seu texto seria lido por uma audiecircncia visto que lanccedila perguntas para

confirmaccedilatildeo ldquosaberdquo (linha 1) ldquosabe de uma coisardquo (linha 4) embora essa audiecircncia natildeo

coadune com a instruccedilatildeo

Quadro 8 ndash Produccedilatildeo final Ana ndash Tiacutetulo Ser chato ou natildeo ser eis a questatildeo

1 ldquoO chato da vezrdquo Um texto muito interessante

2 que fez eu refletir sobre esse negocio de chatisse um

3 assunto que eu ja tinha pensado bastante mas cheguei a

4 conclusatildeo de que natildeo deve ser considerado um defeito nem

5 uma qualidade chato quero dizer mas deve ser um a

6 coisa que vocecirc deve ser controlada sabe as vezes eacute ne-

7 cessario ter um pouco de chatisse

8

9 Ser chato na minha opiniatildeo natildeo teria um signi-

10 ficado especifico seria vaacuterias coisas como falar apenas de

11 um assunto coisas repetitivas sabe natildeo saber aceitar o jeito

12 das pessoas ao seu redor ser chato eacute natildeo saber relevar e ser

13 legal eacute o oposto pois se eu falasse se eu falasse ago-

14 ra as caracteriacutesticas das pesso legal esse texto ficaria cha-

15 to ca entre nos Fonte Dados da pesquisa

O texto reescrito agora compotildee-se de dois paraacutegrafos embora no trabalho de

discussatildeo e reapresentaccedilatildeo da mesma proposta a instruccedilatildeo indique entre 3 (trecircs) e 6 (seis)

paraacutegrafos

94

Mais uma vez a aluna elaborou seu texto visando ao que a instruccedilatildeo da atividade

requer um texto que possa inspirar reflexatildeo sem conduzir exatamente seu leitor a refletir mas

expondo uma constataccedilatildeo sobre a qual ela mesma refletiu

O primeiro paraacutegrafo inicia com frases que lembram o gecircnero resenha ldquoO chato da

vezrdquo Um texto muito interessante que fez eu refletir sobre esse negocio de chatisse (linhas 1 e

2)

O segundo paraacutegrafo que ela inicia nos daacute a pista de que ela retorna ao quesito de

letra a da atividade 7 que tem por funccedilatildeo sensibilizar e conduzir o aluno a compreender a

instruccedilatildeo que vai se apresentar definitivamente a partir do quesito de letra c e perde de vista

que seu texto deve ser composto dentro das caracteriacutesticas do gecircnero crocircnica Em lugar disso

ela o compotildee expondo sua opiniatildeo o que tange um outro gecircnero

O texto possui tiacutetulo como na PI e faz uma referecircncia intertextual agrave famosa frase

de William Shakespeare Ser ou natildeo ser eis a questatildeo

Ainda como na PI a aluna natildeo narra uma situaccedilatildeo vividaobservada elencando

em vez disso o que foi considerado chato nas discussotildees que a turma fez para tentar definir o

que era ser legal e ser chato como falar apenas de um assunto coisas repetitivas sabe natildeo

saber aceitar o jeito das pessoas ao seu redor ser chato eacute natildeo saber relevar (linhas 10 a 12)

Mais uma vez a aluna natildeo usou a estrateacutegia de inserir personagens que

transparecessem seu ponto de vista ao leitor Construiu seu texto em primeira pessoa ao modo

de ldquoO chato da vezrdquo mas frases como sabe (linha 11) e ca entre nos (linha 15) mostram que

houve sim uma preocupaccedilatildeo em conversar com o leitor transparecendo sua percepccedilatildeo de uma

audiecircncia como presente no texto da instruccedilatildeo bem como ao longo das crocircnicas lidas foram

ressaltadas foacutermulas de conversas com o leitor

A autora desenvolveu pouco seu texto e ainda buscou abreviaacute-lo visto que ldquose eu

falasse agora as caracteriacutesticas das pesso legal esse texto ficaria chato ca entre nosrdquo (linhas

14 e 15)

Natildeo houve para antes da reescrita um texto na folha de rascunho Foi feita a

refacccedilatildeo do texto diretamente na folha de produccedilatildeo havendo ainda problemas com a ortografia

e a pontuaccedilatildeo

No entanto Ana depois de seguir com o projeto e apurar um pouco mais o olhar

segundo ela mesma pediu para que deacutessemos nova oportunidade de leitura pois ela havia feito

uma nova reescrita ao final dos moacutedulos Essa reescrita de Ana estaacute na seccedilatildeo seguinte apoacutes o

teacutermino de todos os moacutedulos

95

Quadro 9 ndash Produccedilatildeo inicial Rodrigo ndash Tiacutetulo Pare de se criticar

1 Bom pessoal primeiro quero que vocecircs entendatildeo o

2 verdadeiro significado de ser chato e ser legal

3 antes de tudo Natildeo levem nada pro lado pessoal apenas

4 entenda Vamos comeccedilar

5

6 Uma pessoa chata por exemplo ela eacute cheia de

7 nheacute nheacute nheacute mas nem todo mundo eacute chato depende

8 de quem te acha chato concerteza ela tambeacutem natildeo eacute

9 a pessoa mais legal triloca ou radical do mundo Se

10 ela te acha chato foudaci o que importa eacute vocecirc se

11 acha legal Ai Deus quem dera tivesse um

12 botatildeo pra silenciar pessoas chatas leitor estaacute me ente-

13 ndendo uma pessoa chata ela pode ser chata

14 pra vocecirc mas pra mim natildeo entatildeo vai lagar de se

15 achar chato Cara vocecirc eacute mocirc legal pra muitas

16 pessoas deixa de se alto criticar

17

18 Voltando ao assunto se vocecirc tivesse um

19 botatildeo pra bloquear uma pessoa que tipo de pessoa

20 vocecirc bloquearia eu particularmente bloquearia

21 essas pessoas chatas que natildeo saien do meu peacute

22 entatildeo era soacute isso Seja mais legal consigo

23 mesmo Fui

24

25 Fim

26 Joinha

27 LIKE Fonte Dados da pesquisa

Construiacutedo em 3 (trecircs) paraacutegrafos de efetivo conteuacutedo entre as linhas 1 e 23 o texto

desse aluno busca fortemente o contato com sua audiecircncia como se vecirc em diversos exemplos

ldquoBom pessoalrdquo (linha 1) ldquoquero que vocecircs entendatildeordquo [sic] (linha 1) ldquoleitorrdquo (linha 12) ldquoestaacute

me entendendordquo (linhas 12-13) ldquoCara vocecirc eacute mocirc legalrdquo (linha 15) se vocecirc tivesse um botatildeo

(linhas 18-19) Seja mais legal consigo mesmo (linhas 22-23) Esse contato eacute influenciado pelos

diaacutelogos mais proacuteximos da oralidade que se apresenta nos textos usados para sensibilizar e

inspirar a produccedilatildeo inicial e que eacute uma caracteriacutestica do gecircnero trabalhado

No entanto seu texto natildeo se caracteriza como gecircnero crocircnica Percebemos que

lembra muito um roteiro de fala para viacutedeo do youtube ndash e sim o aluno autor do texto eacute youtuber

e tem um canal O aluno termina seu texto com claras referecircncias agrave esfera do discurso online

em que se tem interaccedilatildeo direta com o leitor Joinha LIKE (linhas 26 e 27) bem como um

96

elemento visual associado a essa multimodalidade que a internet permite que eacute a matildeo com

polegar para cima (linha 25) conhecido como thumbs up ou no Brasil joinha usado para

expressar contentamento com o conteuacutedo escrito o que corresponde ao perfil de audiecircncia dado

na instruccedilatildeo

Rodrigo faz muito uso da palavra chato o que pode sobrecarregar o texto Poreacutem

e como veremos a seguir na produccedilatildeo B do mesmo aluno a repeticcedilatildeo segundo ele eacute

caracteriacutestica sua para ldquoreforccedilar que a pessoa eacute chata professorardquo Apesar disso natildeo houve

uma definiccedilatildeo mais bem detalhada do que eacute o chato como os que ldquonatildeo saien do meu peacuterdquo (linha

21)

Haacute uma referecircncia no texto agrave primeira leitura feita em sala antes da PI que foi o

texto Prova Falsa Nas linhas 6-7 pode-se ler ldquonheacute nheacute nheacuterdquo como definiccedilatildeo do que eacute uma

pessoa chata e que no texto do Stanislaw Ponte Preta aparece como ldquoDesses cachorrinhos de

raccedila cheio de nheacutem-nheacutem-nheacutem que comem comidinha especial precisam de muitos

cuidados enfim um chato de galochardquo Por natildeo portar o texto em matildeos na hora da produccedilatildeo

entendemos entatildeo que o aluno Rodrigo fixou o vocaacutebulo corrente na oralidade (nheacutem-nheacutem-

nheacutem) ao conceito (muito chato chato de galocha) causando um saldo positivo em sua escolha

Quadro 10 ndash Produccedilatildeo final Rodrigo ndash Tiacutetulo

1 bom dia boa tarde e boa noite depende

2 da hora em que estiver lendo isso

3 Hoje eu vou falar um pouco sobre pessoas

4 chatas e pessoas legais se estiver pronto vamos laacute

5

6 Primeiro reflita uma coisa vocecirc leitor se

7 considera chato Antes de dizer vocecirc precisa saber

8 a diferenccedila entre ser legal e ser chato vou explicar

9

10 Uma pessoa legal eacute aquela que sabe te

11 ouvir dar sua opiniatildeo na hora certa e saber

12 reconhecer seus erros mas chega um devido ponto

13 que vocecirc tenta ser tatildeo legal que chega a ser chata

14 mas existe uma diferenccedila entre essas duas coisas

15 estaacute entendendo leitor Suponhamos que exista

16 um botatildeo de bloquear pessoas igual aquele do

17 Whatsapp quem vocecirc bloquearia seus amigos

18 Seus familiares Seus colegas Ou as pessoas chatas

19 Hahahahaha jaacute sei a resposta entatildeo isso facilitaria

20 muito sua vida neacute

21

22 bom espero ter ajudado a saber a

97

23 diferenccedila entre essas duas coisas en em breve

24 farei outro texto para explicar um pouco

25 melhor valeu falou e fui

26

27 Fonte Dados da pesquisa

Nessa versatildeo de reescrita do texto vimos que o aluno natildeo colocou o tiacutetulo

Acreditamos que ele natildeo tenha lembrado visto que na PI foi atribuiacutedo um tiacutetulo a seu texto

Natildeo houve para antes da reescrita um texto na folha de rascunho O aluno afirmou

que gostava de desenhar e permitimos que ele fizesse o que lhe fosse mais confortaacutevel para

liberar a criatividade apoacutes a conversa com a turma em busca da compreensatildeo do que eacute ser legal

ou ser chato A refacccedilatildeo do texto foi feita diretamente na folha de produccedilatildeo havendo ainda

alguns problemas com a ortografia e a pontuaccedilatildeo poreacutem com bom uso das interrogaccedilotildees para

conduzir o leitor por seus questionamentos o autor buscou uma aprovaccedilatildeo para o tema que

expotildee

Natildeo houve neste texto a presenccedila da narraccedilatildeo de uma situaccedilatildeo vividaobservada

Rodrigo mencionou algumas situaccedilotildees discutidas na sala antes da reescrita que falavam sobre

o que eacute ser chato e o que eacute ser legal Na linha 19 houve uma quebra e expectativa pois o trecho

ldquoHahahahaha jaacute sei a respostardquo natildeo deixa claro realmente qual a resposta

Percebemos tambeacutem a utilizaccedilatildeo de siacutembolos em seu texto ao final Esse recurso

multimodal eacute caracteriacutestico da forma de interaccedilatildeo existente nas redes sociais e o aluno por

entender na instruccedilatildeo que o texto eacute direcionado a um leitor de sua idade e que lecirc e faz postagens

e comentaacuterios com frequecircncia empregou iacutecones de maneira natural em seu texto Entendemos

aqui que ele considerou a audiecircncia determinada na instruccedilatildeo

Quadro 11 ndash Produccedilatildeo inicial Eduardo ndashTiacutetulo O amigo muito e muito chato

1 Nossa meus amigos satildeo chatos

2 ou seraacute que eacute eu mesmo que sou

3 completamente chato Natildeo sei mas se

4 sou o que eu faccedilo de errado pra ser chato

5

6 Tive uma amizade que era muito

7 bacana uma convivencia boa para se

8 viver mas passando alguns tempo

9

10 Ficou absurdamente chato ficou

11 muito muito muito chata vivia na

98

12 minha casa Iria conpletamente na minha

13 casa nas horas enproprias era chato

14

15 Mas um dia fiquei dando indiretas

16 para ele dizendo ldquoQue mamatildee mandou arruma

17 a casardquo essa coisas assim

18

19 Um dia disse para ele ldquoTou meio

20 oculpadordquo ai ele disse ldquoVocecirc eacute muito chatordquo

21 e saiu de casa sem olhar para traacutes

22

23 Mas ai ele foi que ficou mais chato

24 ainda Tocava a campainha de casa e

25 saia correndo

26

27 Se desse de broqueiar ele na vida

28 real eu broqueiava Vocecirc faria o mesmo

29 leitor Fonte Dados da pesquisa

A PI apresenta o ponto de vista do autor sobre o que eacute ser chato ldquovivia na minha

casa Iria completamente na minha casa nas horas enproprias era chatordquo (linhas 11-13) poreacutem

natildeo explicita o que eacute ser legal deixando essa lacuna para o leitor Apesar disso EDUARDO

parte de uma situaccedilatildeo vividaobservada que era essa relaccedilatildeo com seu amigo

O texto estaacute organizado em 7 (sete) paraacutegrafos No entanto o 2ordm e o 3ordm paraacutegrafos

poderiam estar unidos pela temaacutetica14 assim como o 5ordm e o 6ordm paraacutegrafos O uso do conectivo

mas foi inadequadamente empregado no 4ordm paraacutegrafo (Mas um dia fiquei dando indiretas para

ele) (linhas 15-16) A repeticcedilatildeo da expressatildeo temporal um dia no iniacutecio do 4ordm e do 5ordm paraacutegrafos

sucessivamente natildeo permite claramente ao leitor saber se as situaccedilotildees aconteceram no mesmo

dia ou em dias distintos

Percebemos o emprego da 1ordf pessoa como a voz que fala no texto um narrador-

personagem que se comunica tanto com outro personagem por meio de discurso indireto livre

(ai ele disse ldquoVocecirc eacute muito chatordquo) (linha 20) quanto com o leitor ldquoVocecirc faria o mesmo leitorrdquo

(linhas 28-29) demonstrando consciecircncia de que existe uma audiecircncia e embora natildeo mostre

claros exemplos ainda assim atende agrave instruccedilatildeo de que essa mesma audiecircncia deve ser um

puacuteblico que estaacute antenado nas redes sociais ldquoSe desse de broqueiar ele na vida real eu

broqueiavardquo (linhas 27-28)

14 Cf seccedilatildeo Escrita na escola

99

Quadro 12 ndash Produccedilatildeo final Eduardo ndashTiacutetulo Ser legal natildeo eacute ser chato

1 Ser legal eacute oacutetimo mas vocecirc

2 pode esta achando que taacute sendo

3 muito legal mas a pessoa

4 que vocecirc ta sendo legal natildeo

5 pode ta achando vocecirc muito legal

6 mas sim chato

7

8 Vocecirc indo na casa do seu

9 amigo toda hora pode ser legal

10 para ele mas para seu amigo natildeo

11

12 Coisas demais natildeo eacute tatildeo

13 legal E vocecirc leitor tem alguma

14 coisa engual a isso

15

16 LEGAL X CHATO

Fonte Dados da pesquisa

Nessa reescrita do texto apoacutes as sugestotildees percebemos que o aluno fez natildeo uma

nova versatildeo do primeiro texto mas uma resposta agraves discussotildees realizadas na sala antes do

momento de escrita Pedimos ao grupo como um todo que levasse em conta o que eacute ser legal

e o que eacute ser chato e desses exemplos praacuteticos partindo de situaccedilotildees vividasobservadas

Enquanto a professora-pesquisadora atendia outros alunos que natildeo haviam compreendido

claramente as sugestotildees dadas agraves suas PI o aluno Estela elaborou 3 (trecircs) paraacutegrafos que

condensam sua situaccedilatildeo descrita na PI natildeo utilizando diaacutelogos nem personagens apesar de

ainda se dirigir ao leitor (ldquoE vocecirc leitorrdquo) (linha 13) Houve uma perda da qualidade do texto

por causa de uma provaacutevel falta de compreensatildeo da tarefa a ser realizada na sala

Quadro 13 ndash Produccedilatildeo inicial Estela ndash Tiacutetulo Os chatos de antematildeo

1 Certo dia observei dois amigos conversando

2 Marcelo e Camila quase todos os dias Marcelo

3 e Camila quase todos os dias eles ldquobrigavamrdquo

4 ficavam de ldquomalrdquo como os jovens de hoje falam

5

6 O motivo dessas brigas era apenas pelo fato

7 de Marcelo dizer a Camila que ela era uma

8 chata e ela como todos os ldquochatosrdquo natildeo

100

9 admitiam ser chatos neacute

10

11 E vocecirc se por acaso algueacutem chamaacute-lo de chato

12 O que vocecirc faria

13

14 Eu natildeo era muito ldquoamigardquo deles mas na real

15 dava uma vontade de chegar e dizer-lhes ldquo

16 Por favor natildeo sejam tatildeo ridiacuteculos os dois

17 satildeo uns chatosrdquo

18

19 Mas como eacute errado intrometer-se nas conversas

20 dos outros resolvi natildeo dizer nada

21

22 Passaram-se semanas e eles sempre continuavam

23 com isso

24

25 Entatildeo resolvi fazer algo para que evitasse

26 essas ldquobrigasrdquo cotidianas

27

28 Natildeo falei nada pessoalmente mas sim por uma

29 rede social e mandei a seguinte mensagem

30

31 ldquoDesculpe-me por intrometer-me na amizade

32 entre vocecirc e Marcelo mas essa chatice que

33 haacute entre vocecirc e seu amigo estaacute me incomoda-

34 do aacute dias Pelo fato de vocecirc e seu amigo

35 ficarem pegando no peacute um do outro na

36 minha opiniatildeo vocecircs deveriam conversar

37 civilizadamente e aceitarem uns aos outros

38 da maneira que vocecircs satildeo E soacute issordquo

39

40 Dias depois dessa conversa observei-os aten-

41 tamente e percebi que havia uma grande diferenccedila

42 entre eles na qual eles estavam interagindo

43 se entendendo se aceitando

44

45 E entatildeo os dois aproximaram-se de mim e

46 agradeceram pelo conselho

47

48 Fiquei super feliz de tecirc-los ajudados

49 Na minha opiniatildeo chatice eacute algo que a

50 pessoa tem de natureza um certo

51 estado de espiacuterito

52

53 E se isso natildeo resolvesse tentaria bloqueaacute-

54 -los tentaria parar de dar atenccedilatildeo graccedilas

55 a Deus eles pararam

56

101

57 Ufa Pelo menos no final eles foram legais uns com os outros

58

59 Fim Fonte Dados da pesquisa

Apresentando-se como a mais extensa das produccedilotildees iniciais esta PI possui 14

(quatorze) paraacutegrafos Alguns poderiam ser condensados de modo a deixar as ideias agrupadas

(o 4ordm e o 5ordm o 6ordm o 7ordm e o 8ordm) Ou entatildeo poderia ter havido nova reescrita de alguns periacuteodos de

modo a condensar as informaccedilotildees Poreacutem para tal lembramos Serafini (2003) que afirma que

para escritores inexperientes essa estrateacutegia de periacuteodos mais curtos ajuda melhor a organizar

o pensamento Essa aluna produziu um rascunho antes de passar a limpo para a folha de

produccedilatildeo textual oficial

Demonstrando certo domiacutenio no uso dos pronomes pessoais obliacutequos como se pode

ver em diversos exemplos ao longo do texto ldquochamaacute-lordquo (linha11) ldquoe dizer-lhesrdquo (linha 15)

ldquoeacute errado intrometer-serdquo (linha 19) fez um emprego inadequado quando usou de pronome

relativo (na qual) (linha 42) possivelmente tentando o registro culto da liacutengua

Nesse texto se percebe o uso do discurso indireto (ldquoE entatildeo os dois aproximaram-

se de mim e agradeceram pelo conselhordquo) (linhas 45-46) As marcas de conversa com o leitor

podem ser vista em ldquoneacuterdquo (linha 9) e ldquoE vocecirc se por acaso algueacutem chamaacute-lo de chato O que

vocecirc fariardquo (linhas 11-12 A autora assume um ponto de vista e narra para uma audiecircncia

correspondendo ao requisitado na instruccedilatildeo

Como a instruccedilatildeo de produccedilatildeo determina o perfil do leitor como sendo um

adolescente que acessa redes sociais a autora coloca como soluccedilatildeo ao conflito de constantes

brigas entre o casal de amigos adolescente o envio de uma mensagem por rede social falando

inclusive que os bloquearia caso continuassem chatos O texto assemelha-se a um conto

inclusive pela forma como a autora encerra seu texto ldquoFimrdquo (linha 59) Quanto a despertar no

leitor uma reflexatildeo podemos dizer que A4 estaacute no caminho e que um trabalho mais detido

sobre esse texto poderia melhorar a qualidade dessa reflexatildeo

Quadro 14 ndash Produccedilatildeo final Estela ndashTiacutetulo O tio chato de galocha

1 As feacuterias chegaram e como em todas as feacuteria-

2 s eu partia em uma ldquoincriacutevel aventurardquo (pra

3 natildeo dizer o contraacuterio) a casa dos meus

4 tios na qual eacute um verdadeiro desastre

5 Ter que acordar com o ldquocantar dos galosrdquo

6 como dizem os mais velhos em clima de

102

7 discussatildeo affseacute uma verdadeira cha-

8 tice eu odiava ter que estragar minhas

9 maravilhosas feacuterias convivendo com eles

10 Eles discutiam ateacute pelo simples fato de cair

11 farelos de comida no chatildeo eu odiavaaa

12 E vocecirc leitor aguentaria toda essa chatice

13

14 O que vocecirc faria em relaccedilatildeo a essa situaccedilatildeo

15

16 Jaacute haviam se passado mais da metade das

17 feacuterias eu estava orando agrave Deus para que

18 esses dias infernais ao lado dos meus ti-

19 os acabassem e tambeacutem que titio Luiacutes

20 parasse de reclamar por eu comer muito

21 e parar de ficar assistindo programas

22 ateacute tarde da noite eu achava um exagero

23 eacute oacutebvio pois eram ldquofeacuteriasrdquo e nas feacuterias

24 acostumamos ficar distantes de tarefas

25 escolares de tudo que nos lembrar a

26 escola (rsrsrs)

27

28 O meu tio tambeacutem dizia que eu precisa-

29 va de educaccedilatildeo que os meus pais natildeo

30 me educaram adequadamentee eu natildeo

31 podia resmungar porque se meus pais

32 soubessem que me comportei mau eu iria

33 ficar ferrado E entatildeo mais dias infernais

34 se passaram e graccedilas a Deus as feacuterias

35 terminaram e natildeo tive mas que ver

36 presenciar aquele meu chato e insupor-

37 taacutevel tio

38

39 Pra mim ser chato e ser legal eacute

40 Ser legal Ser chato

41 Saber ouvir Criticar os outros

42 Dar comida Reclamar de tudo

43 Ser sincera Daacute importacircncia demais ao que dizem

44 Ter bom coraccedilatildeo Ser falso

45 Ajudar as pessoas Ser preconceituoso

46 Aceitar diferenccedilas

47

48 E o que vocecircs leitores acham o que

49 eacute ser ou natildeo legal Fonte Dados da pesquisa

Concentrada em 6 (seis) paraacutegrafos a reescrita ganhou alguns pontos mais

interessantes para se aproximar da crocircnica literaacuteria Partiu de uma situaccedilatildeo vivenciada

103

conduziu o leitor a compreender seu ponto de vista sobre o que era ser chato No entanto o

texto se distanciou da proposta da instruccedilatildeo no sentido de falar tambeacutem o que eacute legal natildeo

somente chato e lembrar do botatildeo de bloqueio da vida real

O 5ordm paraacutegrafo se tornou uma enumeraccedilatildeo das caracteriacutesticas do ser legal e ser chato

e deixou de narrar ou descrever uma situaccedilatildeo ou personagem

Uma caracteriacutestica da linguagem coloquial encontrada foi o uso da expressatildeo ldquoTer

que acordar com o lsquocantar dos galosrsquo como dizem os mais velhosrdquo (linhas 5-6) atribuindo a

frase agrave sabedoria popular Outras marcas tiacutepicas de coloquialidade utilizadas inclusive em meio

digital nos bate-papos foram a escrita de expressotildees com notaccedilotildees como ldquoaffsrdquo (linha 7)

para demonstrar aborrecimento ldquoodiavaaardquo (linha 11) estendendo as vogais para mostrar a

insatisfaccedilatildeo prolongada o frequente uso de aspas para indicar ironia ldquoeu partia em uma lsquoincriacutevel

aventurarsquordquo seguido de uma explicaccedilatildeo entre parecircnteses

Nessa produccedilatildeo a aluna tambeacutem natildeo empregou adequadamente o pronome relativo

ldquona qual eacute um verdadeiro desastrerdquo como se vecirc na linha 4

Quadro 15 ndash Produccedilatildeo inicial Ceacutelia ndashTiacutetulo Chata sim ou natildeo

1 Um dia uma amiga minha me pergun-

2 tou ndash Eu sou chata Responde ndash Sim as vezes

3 Mas o problema foi que ela natildeo aceitou a

4 verdade e saiu furiosa comigo

5

6 Mas me responde leitor se algueacutem viesse

7 te pergunta se ela eram chata o que vocecirc

8 responderia O problema e que nem todos

9 gostam de escuta a verdade

10

11 Aconteceu que um dia um colega disse

12 que eu era chata no comeccedilo fiquei com

13 um pouco de raiva Mas passou por que

14 parei eacute pensei e verdade sou chata Mas

15 mesmo assim sedo chata sim ou natildeo

16 a reciacuteproca era verdadeira

17

18 Chata sim ou natildeo uma pergunta que

19 eu mesmo me fiz vou acabar por aqui

20 antes que eu comece a fica chata de

21 vez Fonte Dados da pesquisa

104

O texto foi composto em 4 (quatro) paraacutegrafos atendendo agrave instruccedilatildeo A voz que

narra estaacute em 1ordf pessoa e dialoga diretamente com um personagem (linhas 1 e 2) Haacute um contato

direto com o leitor atraveacutes de frases como ldquoMas me responde leitorrdquo (linha 6) e ldquoO que vocecirc

responderiardquo (linhas 7-8)

A autora parte de uma situaccedilatildeo vividaobservada ndash na verdade haacute mais de uma

situaccedilatildeo ndash como vemos em ldquoUm dia uma amiga minha me perguntourdquo (linhas 1-2) e ldquoAconteceu

que um dia um colega disse que eu era chatardquo (linhas 11-12) No entanto natildeo segue a proposta

da instruccedilatildeo que eacute falar sobre o que eacute ser legal e ser chato Natildeo haacute exemplificaccedilotildees para que o

leitor entenda o ponto de vista da autora apenas situaccedilotildees em que disseram que ela e chata ou

sua amiga eacute chata Natildeo haacute tambeacutem menccedilatildeo ao ldquobloqueiordquo da vida real aos que satildeo chatos

Haacute alguns problemas quanto agrave ortografia e tambeacutem confusatildeo quanto ao emprego

dos sinais de pontuaccedilatildeo adequados

Quadro 16 ndash Produccedilatildeo final Ceacutelia ndash Tiacutetulo Chata sim ou natildeo

1 Um dia uma amiga minha me per-

2 guntou ndash Eu sou muito chata Responde ndash Sim

3 as vezes Mas o problema foi que ela natildeo

4 gostou de sabe em saiu furiosa comigo e

5 natildeo deixo eu termina de falar

6

7 Mas outro dia ela veio para me pedi des-

8 culpas eacute eu disse ndash natildeo precisa eacute como eu dizia

9 vocecirc e chata mais as vezes quando vocecirc natildeo

10 falando demais ou falando coisas se graccedila Eacute

11 ela disse ndash Eacute mesmo eacute sorriu

12

13 Mas me responde leitor se algueacutem viesse te

14 pergunta se ela era chata o que vocecircs respon-

15 deria O problema eacute que nem todos gostam de es-

16 cuta a verdade

17

18 Aconteceu que um dia um colega disse

19 que eu era chata no comeccedilo fiquei com um

20 pouco de raiva Mas passou porque parei eacute

21 pensei e verdade sou chata Mais mesmo assim

22 sedo chata sim ou natildeo a reciacuteproca era

23 verdadeira

24

25 Chata sim ou natildeo uma pergunta que

26 eu mesmo me fiz bom vou parar por aqui

27 antes que eu comece a fica chata de vez Fonte Dados da pesquisa

105

O texto reescrito foi composto em 5 (cinco) paraacutegrafos o que estaacute dentro do

previsto pela instruccedilatildeo Alguns problemas quanto agrave ortografia e tambeacutem confusatildeo quanto ao

emprego dos sinais de pontuaccedilatildeo adequados permaneceram como em ldquoUm dia minha amiga

me perguntou ndash Eu sou muito chatardquo em que foi feito uso de exclamaccedilatildeo em vez de

interrogaccedilatildeo

Foi mantida a voz que narra (1ordf pessoa) e o diaacutelogo com um personagem ndash a amiga

(linhas 1 e 2) se faz em forma de discurso direto embora natildeo devidamente paragrafado poreacutem

fazendo uso de travessotildees o que eacute um avanccedilo

O segundo paraacutegrafo (linhas 7 a 11) foi inserido a partir da sugestatildeo que fizemos

para a aluna Era interessante que ela acrescentasse em seu texto algo que exemplificasse o que

ela considera como ser legal e ser chato Atendendo agrave sugestatildeo a aluna mostra discretamente

seu ponto de vista na frase ldquovocecirc e chata mais as vezes quando vocecirc natildeo falando demais ou

falando coisas se graccedilardquo (linhas 9-10)

O contato direto com o leitor permanece como na PI atraveacutes de frases como ldquoMas

me responde leitorrdquo (linha 13) ndash cuja pontuaccedilatildeo nessa reescrita foi melhorada pela sugestatildeo ndash

e ldquoO que vocecirc responderiardquo (linhas 14-15) Natildeo foi atendida a instruccedilatildeo no tocante ao botatildeo

de bloqueio na vida real

A autora emprega em seu texto a frase ldquobom vou parar por aquirdquo (linha 26)

caracteriacutestica de uma conversa informal Esse uso da oralidade como em conversas eacute marca do

gecircnero crocircnica

Quadro 17 ndash Produccedilatildeo inicial Arlindo ndash Tiacutetulo Chato e natildeo eacute chato

1 Eu natildeo gosto daquela pessoa que

2 jaacute chegada pensando que jaacute pode falar

3 todo que pensa pra mim as pessoas

4 que pega celular para falar besteira nas

5 redes sociais essas pessoas eu natildeo gosto

6

7 agora aquelas pessoas que satildeo bem

8 calmas nas redes sociais ai eu gosto

9 por que sabem conversar saber puxar

10 intimidade fazem a gente rir e noacutes nos

11 trazem conforto e nos fazem saber que

12 a pessoa com quem a gente conversar

13 natildeo eacute uma maacute pessoa Eacute muito

14 bem amigo nos faz feliz

15

106

16 agora as pessoas que eu bloqueio

17 satildeo aquelas pessoas que natildeo sabem

18 conversar falatildeo de qualquer jeito

19 puxa assunto que eu natildeo gosto

20 por isso eu bloqueio essas pessoas

21 redes sociais eacute pra procurar

22 amigo e ais vezes eacute pra respeitar Fonte Dados da pesquisa

Ao ler o texto de Arlindo vemos que ele trata do assunto pedido na instruccedilatildeo e tem

em mente a audiecircncia pretendida que acessa redes sociais No entanto natildeo alcanccedila o leitor

envolvendo-o na conversa narrando-lhe as situaccedilotildees apenas elenca as situaccedilotildees que lhe satildeo de

agrado e desagrado mostrando o que para ele eacute ser chato e ser legal

Os trecircs paraacutegrafos que compotildeem o texto se organizam de modo a mostrar o que o

autor natildeo gosta o que gosta e o porquecirc de bloquear pessoas ndash mas na rede social natildeo fazendo

o comparativo com a vida real

Quadro 18 ndash Produccedilatildeo final Arlindo ndash Tiacutetulo Chato e natildeo eacute chato

1 Chato eacute uma pessoa botar besteira

2 no Facebook Por que isso eacute muito chato e

3 horriacutevel todo mundo ver vai laacute e comentar

4 mal do video ser legal eacute aquela pessoa que

5 vai laacute na casa da pessoa te daacute presente

6 sem vocecirc pedir nada sem vocecirc falar nada

7 no final soacute agradecer e ser feliz com o presente e

8 depois no outro dia soacute retribuir

9

10 Meu caro amigo legal e chato eacute

11 ser como uma pedra ajuda a parar o

12 tracircnsito e depois eacute chato porque as

13 pessoas tropeccedilam nelas e meus irmatildeos

14 legal e chato satildeo quase a mesma coisa

15 soacute que satildeo meios diferentes eu vou te

16 explicar

17 Ser chato eacute coisa possiacutevel e ser legal eacute

18 coisa quase impossiacutevel Fonte Dados da pesquisa

O aluno Arlindo manteve seu tiacutetulo e percebemos que a explicaccedilatildeo para o mesmo

seria transmitir a ideia de ldquochato e natildeo chatordquo ndash ou legal O verbo ser que aparece no tiacutetulo

como eacute deveria ter sido empregado de outra maneira como quando sugerimos ldquoEacute chato e natildeo

107

eacute chatordquo ou ldquoO que eacute chato e o que natildeo eacute chatordquo ou ldquoChato e legalrdquo No rascunho que Arlindo

fez ele empregou como tiacutetulo provisoacuterio ldquoO que eacute chato e o que eacute legalrdquo Poreacutem na hora de

passar a limpo e entregar permaneceu o tiacutetulo original

O autor Arlindo manteve seu foco nas redes sociais como indica a instruccedilatildeo e

amplia um pouco as ideias a partir das discussotildees que aconteceram na aula durante a

tempestade de ideias a fim de redespertar o olhar dos alunos para partirem de situaccedilotildees

vividasobservadas Nas linhas de 10 a 13 ele faz uma comparaccedilatildeo com a pedra fruto da

discussatildeo preacutevia Dependendo do ponto de vista a pedra pode ajudar bem como pode

atrapalhar Poreacutem nas linhas 15 e 16 Arlindo fica de explicar o porquecirc de ser chato e ser legal

serem quase a mesma coisa e termina o texto abruptamente sem desenvolver suas ideias

Houve uma evoluccedilatildeo no tocante agrave conversa com o leitor Embora Arlindo natildeo tenha

claro se sua audiecircncia eacute uma pessoa soacute (linha 10 Meu caro amigo) ou um grupo de pessoas

(linha 13 e meus irmatildeos linhas 15 e 16 eu vou te explicar) ele jaacute a chama a prestar atenccedilatildeo

no que estaacute se propondo a dizer em seu texto

Quadro 19 ndash Produccedilatildeo inicial Juacutelia ndash Tiacutetulo Ser chato ou ser legal

1 Ai meu Deus tou de saco cheio de tantos amigos

2 chatos eles ficam com chatice toda hora

3 se na vida tivesse um botatildeo para bloquear

4 as pessoas chatas seria otimo pelomenos

5

6 Eu ficaria com menos pessoas chatas ao

7 meu redor Ai soacute ficaria as pessoas

8 legais

9

10 Eu chamo meus amigos de chatos mais

11 eu gosto deles assim mesmo Eu chamo

12 meus amigos de chatos e eles me chamam

13 de chata tambeacutem e se existisse o botatildeo

14 de bloquear Eu ia ser bloqueada tambeacutem

15 Mesmo se existisse o botatildeo muitas pessoas

16 iam mudar de comportamento eles iriam

17 querer ser legais para natildeo serem bloque-

18 ados Eu mesma ia mudar de atitudes

19 com meus amigos Eu natildeo ia mais

20 ser chata como vaacuterias pessoas me

21 chama Fonte Dados da pesquisa

108

Na linha 1 vemos que a aluna utilizou a expressatildeo Ai meu Deus retirada do texto

trabalhado e que daacute suporte agrave instruccedilatildeo A aluna faz uso da linguagem coloquial na mesma linha

(tou de saco cheio) caracteriacutestica permitida na abordagem de nossas crocircnicas literaacuterias

Eacute interessante perceber que Juacutelia apoacutes se avaliar como chata faz uma reflexatildeo

(linhas 13-14 ldquoe se existisse o botatildeo de bloquear Eu ia ser bloqueada tambeacutemrdquo) E trata da

questatildeo falando de possiacuteveis alteraccedilotildees no comportamento das pessoas incluindo o seu proacuteprio

No entanto apesar de ela levantar essa reflexatildeo natildeo a direciona diretamente ao leitor poreacutem

tem em mente mesmo que superficialmente que sua audiecircncia estaacute nos paracircmetros indicados

pela instruccedilatildeo visto que menciona o botatildeo de bloquear caracteriacutestico de ambientes virtuais

sendo conhecido portanto de pessoas que tecircm acesso ao mundo digital

Quadro 20 ndash Produccedilatildeo final Juacutelia ndash Tiacutetulo Pessoas chatas e pessoas legais

1 Como existem pessoas chatas que ficam

2 dando bola para o que as pessoas falam

3 fica reclamando da vida e tambeacutem quer tudo

4 do seu jeito Natildeo daacute certo ser amiga desse

5 tipo de pessoa

6

7 Prefiro aqueles amigos que sabe lidar

8 comigo que datildeo carinho e que natildeo fique

9 reclamando de tudo e que natildeo sabe relevar

10 os problemas como se nada tivesse acontecendo

11

12 Eu gosto daquelas pessoas que chamam os

13 amigos para um passeio isso sim eacute ser

14 legal tem alguns tipos de amigos que fazem

15 de tudo pra ver seus amigos felizes

16

17 existem alguns amigos que falam

18 com vocecirc uma hora e depois taacute falando

19 mal de vocecirc esse tipo de pessoa faz isso

20 porque eacute falso e tem inveja soacute porque

21 vocecirc eacute feliz com seus amigos e ele (a)

22 natildeo

23

24 e vocecirc leitor Vocecirc eacute chato ou legal

25 Eu tenho poucos amigos mas os que

26 tenho satildeo os melhores

27

28 as pessoas gostam de vocecirc como

29 vocecirc eacute ou natildeo

30

31 Existem ateacute aquele tipo de pessoa

109

32 que humilha as pessoas nas redes

33 sociais pessoas que fazem bullying

34 com outras pessoas esse tipo de pessoa

35 satildeo muito chatas Fonte Dados da pesquisa

A aluna produziu sua nova versatildeo de texto sobre as discussotildees em sala de aula que

antecederam esse momento da reescrita Os alunos determinaram exemplos do que seria ser

legal e ser chato e ela os aproveitou na enumeraccedilatildeo em seu texto No entanto de alguma forma

Juacutelia imprimiu sua reflexatildeo pessoal sobre o que eacute legal e o que eacute chato Nas linhas 1-5 ela afirma

o quatildeo difiacutecil eacute ser amiga de pessoas que atribuem muita importacircncia ao que outras pessoas

dizem que ficam reclamando da vida e tambeacutem querem tudo do seu jeito Nas linhas 7-10 e

12-15 ela explicita suas preferecircncias por pessoas que considera legais e exemplifica Nas linhas

17-22 Juacutelia diz que tipo de pessoas satildeo chatas novamente

Poreacutem o que parece ter acontecido eacute que Juacutelia natildeo teria ainda compreendido que

era para partir de uma experiecircncia vivida ou observada aprofundando-se um pouco mais na

narrativa

Ao todo o texto comporta agora 7 paraacutegrafos que poderiam ter sido mais bem

organizados Nas linhas 24-29 A7 aborda sua audiecircncia diretamente tratando-a por vocecirc

lanccedilando-lhe perguntas Esse seria o momento em que o texto acabaria poreacutem convidada a

reler mais uma vez a autora percebeu que natildeo abordou a proposta da instruccedilatildeo que era bloquear

os chatos da vida real nem havia tambeacutem abordado questotildees tocantes agraves redes sociais

finalizando portanto com um paraacutegrafo que fizesse o resgate ainda a tempo mesmo que

perdendo um pouco do ritmo do texto

Quadro 21 ndash Produccedilatildeo inicial Vicente ndash Tiacutetulo A pergunta eacute se eu bloquearia uma pessoa chata

1 Bom gente vocecirc bloquearia uma pessoa

2 chata que bertuba-se voccedilecirc nas redes

3 sociais

4

5 A pergunta eacute se eu bloquearia uma pess-

6 oa chata ovio que sim por que Por que

7 se eu natildeo bloqueaccedile essa pessoa ia ficar

8 mim perturbandando ai eu ia ficar com

9 muita raiva ai eu ia falar aquelas coisas

10 maeducada como xingar fala coisas que natildeo

11 pode falar porisso eu bloquei essa pessoa

12 ai ateacute que foi bom bloquear essa pessoa

110

13 por que ela natildeo ia ficar mim perturbando natildeo

14 ia ficar falando como tomar certas liberdades

15 mas chegou uma hora que natildeo deu bloquei o

16 sujeito Estava chato demais Xxxx

17

18 Uma pessoa chata eu sou uma pessoa

19 chata por que quando eu estou no whats

20 natildeo tem nenhuma pessoa olaine eu fico man-

21 dando mensagens pra essas pessoa ai essa pes-

22 soas natildeo gosta e fala que eu sou chato triste

23 neacute kkkk Fonte Dados da pesquisa

Parece-nos que Vicente tem por meacutetodo iniciar a escrita de seu texto respondendo

diretamente agrave pergunta que foi feita na instruccedilatildeo e fazendo disso seu tiacutetulo inclusive Serafini

(2003 p 71) chama a esse tipo de paraacutegrafo de introduccedilatildeo-enquadramento (cf na seccedilatildeo sobre

escrita) O texto inteiro possui 3 (trecircs) paraacutegrafos

Nas linhas 14 a 16 vemos que houve coacutepia de excertos do texto motivador O chato

da vez (ldquotomar certas liberdadesrdquo ldquomas chegou uma hora que natildeo deurdquo ldquobloquei o sujeito

Estava chato demaisrdquo)

No iniacutecio do texto logo nas linhas 1-2 Vicente tem em mente uma audiecircncia como

vemos em ldquoBom gente vocecirc bloquearia uma pessoa chata que bertuba-se voccedilecirc nas redes

sociaisrdquo Poreacutem o aluno natildeo define se vai falar a um grupo (gente) ou a uma pessoa soacute (vocecirc)

Para atender agrave instruccedilatildeo Vicente trata de situaccedilotildees vividas em ambiente online quando se

refere ao aplicativo de interaccedilatildeo (linha 19 ldquoquando eu estou no whatsrdquo) fala do envio de

mensagens e traz um elemento multimodal ao final de seu texto (linha 23 ldquokkkkrdquo) que

caracteriza a gargalhada frequentemente usada em conversas online

Quadro 22 ndash Produccedilatildeo final Vicente ndash Tiacutetulo

1 Bom uma pessoa legal eacute ter paciensia

2 criativa uma pessoa legal animada inteligente

3 adoraveu feliz simpatica bom humor natildeo ser

4 groseiro com as pessoas simpatica conversar com

5 as pessoas legal

6

7 Ser chato Eacute uma pessoa que faz varias

8 perguntas como quando onde que horas etc

9 ser chato e pegar no peacute de varias pessoas e ser

10 ensorportavel pessoas chatas deveriam refletir

11 sobre a paciecircncias das outras pessoas uma

111

12 pessoa que tem pouca paciecircncia e bem

13 difiacutecil conviver com uma pessoa chata

14

15 Um chato ser legal e muito estranho

16 para queacutem conhece uma pessoa chata e bem

17 dificil ele ser legal soacute se acontecer aguma

18 coisa para ele ser legal um dia uma meni-

19 na ficou fazendo vaacuterias perguntas sobre a minha

20 vida natildeo gostava das perguntas que ela fazia

21 e falei coisa que natildeo devia no outro dia eu notei

22 o comportamento dela estava estranho tipo compor-

23 tada legal uma pessoal de bom humor natildeo parecia

24 com ela estava estranha e foi indo assim

25 e ela veio falar com migo e nunca mais per aquelas

26 perguntas hoje ela eacute legal gostei dela ter

27 mudado natildeo soacute eu mas muitas pessoas Fonte Dados da pesquisa

Vicente iniciou seu texto reescrito apoacutes as discussotildees em sala retirando a pergunta

direta que fazia para inspirar-se para comeccedilar e passando a uma conclusatildeo direta (linha 1

ldquoBomrdquo) sobre as caracteriacutesticas de uma pessoa legal seguindo a isso um paraacutegrafo do que eacute ser

chato Apesar de o texto ter perdido em atratividade em seu iniacutecio Vicente atendeu agrave sugestatildeo

que fizemos quando pedimos que ele mencionasse uma situaccedilatildeo que tivesse

vivenciadoobservado

No entanto perdeu de vista a instruccedilatildeo uma audiecircncia que acesse as redes sociais

a questatildeo do bloquear na vida real o contato direcionado ao leitor

Quadro 23 ndash Produccedilatildeo inicial Graccedila ndash Tiacutetulo Rafaelly chata

1 Eu quero bloqueia essa

2 pessoa porque primeiramente

3 ela natildeo tem nem celula

4 entatildeo neste caso natildeo da pra bloqueia

5 ela As vezes essa pessoa ela e

6 um pouco chata fresca e sem

7 graccedila com todo respeito Algumas

8 vezes ela fala um pouco de

9 besteira e isso torna ela uma

10 pessoa chata Eu conheci essa

11 pessoa na escola so que agora

12 ela natildeo tem a mesma idade

13 que eu tenho a uacutenica rede social

14 que ela tem e o Facebook

15

112

16 Mais mi responde leitor o que

17 vocecirc acha sobre as pessoas

18 chatas

19

20 Pensando bem ela e uma

21 pessoa muito legal toda doidi-

22 nha amigaacutevel e amorosa etc

23 O que eu gosto mais nela

24 e que ela e sincera e indireta

25 e eacute bom de dar conselhos por

26 isso que eu amo a chatice

27 dela e ela se chama Rafaelly Fonte Dados da pesquisa

Neste texto a autora faz uma reflexatildeo sobre a amiga partindo de uma ideia inicial

que eacute a chatice da Rafaelly para a consideraccedilatildeo dos pontos positivos que a mesma Rafaelly tem

(ldquoPensando bemrdquo)

Houve uma maacute interpretaccedilatildeo da instruccedilatildeo quanto ao entendimento do que seria

bloquear uma pessoa na vida real como comprovamos nas linhas 2-5 ldquoprimeiramente ela natildeo

tem nem ceacutelula entatildeo neste caso natildeo da pra bloqueia elardquo

Nas linhas 16-18 A9 tem em mente uma audiecircncia como vemos em ldquoMais mi

responde leitor o que vocecirc acha sobre as pessoas chatasrdquo

Quadro 24 ndash Produccedilatildeo final Graccedila ndash Tiacutetulo Chata ela ou EU

1 Mi responde leitor o que

2 vocecirc acha sobre as pessoas cha-

3 tas

4

5 E vocecirc leitor Vocecirc e chato

6

7 Certo dia uma amiga veio

8 falar um monte de bobagens coisa-

9 s que natildeo tinha nada haver

10 ou seja coisas sem graccedilas Eacute eu

11 disse vocecirc e muito chata sabia

12 Ela falou ndash vocecirc tambeacutem fiquei

13 brava

14

15 Logo seguinte eu queria

16 bloquea ela porque tinha mi

17 chamado de chata mas tinha

18 um problema era que primeira-

19 mente ela natildeo tinha nem

113

20 celular entatildeo neste caso natildeo da-

21 va para bloquea o unico lugar

22 que dava pra bloquea ela era

23 no Facebook

24

25 Mais pensando bem ela

26 e uma pessoa muito legal to-

27 da doida amigavel e amorosa etc

28 O que eu acho legal nela e a sinceridade dela ajuda as

29 pessoa sabe releva os problemas

30

31 Natildeo vou nega que tambeacutem

32 sou uma pessoa chata Fonte Dados da pesquisa

Nas linhas 1-3 e linha 5 Graccedila teve em vista uma audiecircncia como vemos em ldquoMi

responde leitor o que vocecirc acha sobre as pessoas chatasrdquo e ldquoE vocecirc leitor Vocecirc e chatordquo Em

sua reescrita a aluna se comunica com o leitor de forma expliacutecita inspirada no modelo do texto

O chato da vez

Percebemos que ela atendeu a sugestatildeo de partir de uma situaccedilatildeo vividaobservada

para compor sua crocircnica (linha 7 ldquoCerto dia uma amiga []rdquo) desenvolvendo seu texto no

sentido de apresentar a seu leitor sua ideia do que eacute ser chato e ser legal a partir do que expotildee

e conduz seu fio tocando na instruccedilatildeo que sugere a inspiraccedilatildeo de bloquear uma pessoa na vida

real Poreacutem percebemos que ela natildeo extrapolou os limites do ambiente virtual criando uma

situaccedilatildeo de botatildeo de bloqueio da vida real para evitar as pessoas que ela considera chatas mas

condicionando o bloqueio meramente agraves redes sociais

Quadro 25 ndash Produccedilatildeo inicial Lilian ndash Tiacutetulo Meus amigos chatos e Eu

1 Eu tenho um amigo muito chato ele

2 fica o tempo todo pegando no

3 meu peacute as vezes eu comeccedilo

4 a chamar ele de chato ai ele

5 fica uns dias estranho comigo

6 mas depois agente comeccedila

7 se falar de novo

8

9 Eu queria pra existir um

10 botatildeo pra bloquear meus amigos

11 chatos porque eles pegam muito

12 no meu peacute eu chama eles

13 de chatos mas eu tambeacutem sou

14 chata e muito chata se existisse

114

15 o botatildeo pra bloquear as pessoas

16 chatas eu tambeacutem ia ser bloqueada

17 porque eu sou muito chata eu

18 natildeo queria ser chata eu queria

19 ser legal eu sou chata porque

20 quando eu comeccedilo falar eu natildeo

21 quero parar ai minhas amigas

22 ficam dizendo que eu sou muito

23 chata mais mesmo assim sou

24 feliz Fonte Dados da pesquisa

Lilian parte de uma situaccedilatildeo vivenciada (linhas 1-7) em que fala de um amigo

muito chato e usa a expressatildeo ldquopegar no peacuterdquo como em O chato da vez Nas linhas 17 a 24

Lilian tambeacutem diz porque ela seria uma pessoa chata ndash comeccedila a falar e natildeo quer parar Por

isso ela desejaria o botatildeo de bloquear na vida real como dito na questatildeo 7 que traz a instruccedilatildeo

de produccedilatildeo No entanto as situaccedilotildees natildeo estatildeo bem desenvolvidas e natildeo prendem o leitor que

aliaacutes natildeo eacute inserido no texto na ldquoconversa com o leitorrdquo Natildeo observamos uma percepccedilatildeo clara

da ideia de redes sociais

Quadro 26 ndash Produccedilatildeo final Lilian ndash Tiacutetulo Pessoas legais e chatas

1 Existem pessoas chatas e

2 outras legais conheccedilo alguns amigos que

3 satildeo um pouco chatos porque eles

4 ficam reclamando da vida eles ficam

5 dando importacircncia para os que os

6 outros falam desse jeito natildeo daacute

7

8 Mais eu tenho alguns amigos

9 que vivem fazendo piadas para seus

10 amigos Gosto do jeito que eles tratam

11 seus amigos eles levam eles pra

12 um passeio levam para o cinema

13 datildeo carinho sabem relevar os problemas

14 mas eu conheccedilo uns que falam comigo

15 mas depois tatildeo falando mal de mim

16 pela minha costa

17

18 Eu me acho uma pessoa

19 muito chata porque eu gosto

20 de tudo do meu jeito reclamo de

21 tudo dou importacircncia pra tudo

22 que as pessoas falam mais

115

23 as vezes eu soacute um pouco legal

24 com minhas amigas E vocecirc leitor

25 eacute chato ou legal as pessoas gostam

26 de vocecirc Fonte Dados da pesquisa

Apoacutes a tempestade de ideias da aula destinada agrave reescrita Lilian produziu 3 (trecircs)

paraacutegrafos e dedicou um a mostrar o que eacute ser chato e o seguinte ao que eacute ser legal em sua

opiniatildeo Na reescrita a aluna jaacute considera a audiecircncia conversando com o leitor (linhas 24-26)

poreacutem se distancia do que consta na instruccedilatildeo que eacute o bloqueio na vida real imitando as redes

sociais Ainda percebemos repeticcedilotildees de palavras que poderiam se tivesse havido uma nova

leitura ter sido evitadas

Podemos dizer que Lilian nos permite refletir sobre o comportamento humano

quando diz ldquomas eu conheccedilo uns que falam comigo mas depois tatildeo falando mal de mim pela

minha costardquo (linhas 14-16) poreacutem ela natildeo desenvolve a ideia apropriadamente no paraacutegrafo

seguinte como ela mesma havia dito em sala que falam mal dela porque ela tem o gecircnio difiacutecil

como ela descreveria em ldquoeu gosto de tudo do meu jeitordquo (linhas 19-20) De algum modo

podemos dizer que esse desdobramento de paraacutegrafos jaacute eacute uma evoluccedilatildeo na escrita de Lilian

Quadro 27 ndash Produccedilatildeo inicial Heloiacutesa ndash Tiacutetulo ldquoChato mais eacute muito legalrdquo

1 Tenho um amigo que ele eacute legal

2 mas tambeacutem eacute chato ao mesmo

3 tempo mais gosto da companhia

4 dele Mais quando chega a chatice

5 natildeo da pra aguentar ele comeccedila

6 a fala fala e fala eacute senpre o

7 mesmo assunto algo que natildeo

8 gosto ldquojogordquo

9

10 Taacute toda hora mandando mensage-

11 m daacute raiva mas neacute

12 Somos muito amigo nas

13 redes sociais posta fotos toda

14 hora Mas eacute muito legal sempre

15 faz brincadeiras pelo zapp

16

17 Eu poderia bloquialo mais

18 eacute muito legal telo como amigo

19

20 Gosta de pegar no meu peacute

21 quando o assunto eacute estudo mim

116

22 da sempre vaacuterios concelhos

23

24 Por mais que seja meu amigo vocecirc

25 eacute muito chatooo Fonte Dados da pesquisa

O texto foi escrito em 5 (cinco) paraacutegrafos Natildeo traz marcas explicitas de conversa

com o leitor e haacute um tangenciamento do que pede a instruccedilatildeo visto que a autora falou de

bloqueio No entanto natildeo houve real compreensatildeo do botatildeo de bloqueio da vida real visto que

ela se refere a um bloqueio nas redes sociais Percebemos o uso do coraccedilatildeo ao fim do penuacuteltimo

paraacutegrafo (linha 22) como sendo um recurso multimodal utilizado em meio virtual para

demonstrar agrado agrave ideia (curti)

Houve neste texto uma mudanccedila de interlocutor Inicialmente voltado para uma

audiecircncia mesmo que natildeo se dirigisse diretamente ao leitor o texto passou a ser direcionado

para o amigo chato de Heloiacutesa

Haacute a frequente repeticcedilatildeo do termo mas poreacutem sem uma forma consolidada de uso

visto que Heloiacutesa emprega mas e mais alternadamente

Quadro 28 ndash Produccedilatildeo final Heloiacutesa ndash Tiacutetulo ldquoO melhor chatordquo

1 Vol falar um pouco do meu

2 amigo

3

4 Ele se chama Daniel ele eacute uma

5 boa pessoa estaacute sempre mi

6 ajudando eacute um bom amigo e mim

7 da sempre forccedila pra tudo gosto

8 muito da conpanhia dele

9

10 E vocecirc leitor Vocecirc eacute chato

11

12 Somos chatos tenho 15 anos e sei

13 que chatise eacute estado de espirito

14

15 Ele eacute chato em vez enquando

16 ele eacute muito quando ele me

17 ajuda em algo ele mim trata

18 surper bem ele mim dar muito

19 carinho ele mim oferece cumida

20 quando estou na casa dele

21 natildeo gosta de criticar as pessoas

22

117

23 Ele eacute chato quando reclama

24 de tudo quer tudo do seu jeito

25 que ele conbina da ouvidos a

26 tudo o que falam ele fala demais Fonte Dados da pesquisa

Essa aluna se valeu do que discutimos em sala no dia em que propusemos a reescrita

sobre o que poderiam ser atitudes de uma pessoa legal A turma presente enumerou accedilotildees como

dar carinho oferecer comida ouvir as pessoas atenciosamente tratar bem natildeo criticar as

pessoas como sendo de pessoas legais ao passo que reclamar de tudo soacute querer as coisa do seu

jeito dar ouvidos a fofocas e falar demais como sendo atitudes de pessoas chatas Mencionar

um amigo e descrever atitudes dele eacute um princiacutepio do que conversamos sobre fornecer a

descriccedilatildeo de alguma pessoa e narrar uma situaccedilatildeo No entanto a aluna natildeo aprofundou a

descriccedilatildeo das caracteriacutesticas do amigo ndash apenas nomeou ndash e nem narrou a situaccedilatildeo sugerida

A reescrita foi feita em 6 (seis) paraacutegrafos dentro do que sugere a instruccedilatildeo O seu

primeiro traz uma introduccedilatildeo que chama a atenccedilatildeo preparando o leitor para o que vem a seguir

no texto Consideramos um avanccedilo no sentido de que Heloiacutesa jaacute parece ter feito um plano

melhor de escrita o que pode se consolidar em propostas futuras O segundo paraacutegrafo foi clara

paraacutefrase do texto motivador ldquoO chato da vezrdquo (linhas ldquosei que chatise eacute estado de espiritordquo)

Percebemos diminuiccedilatildeo nas repeticcedilotildees desnecessaacuterias

Na PF a aluna manteve o foco narrando o que lhe acontece descrevendo seu

amigo sem deixar o leitor para conversar com este amigo

Quadro 29 ndash Produccedilatildeo inicial Eliane ndash Tiacutetulo Um pouco de tudo

1 Ai gente nesse mundo agrave

2 muitas pessoas chatas

3 pois eu conheci pessoas

4 chatas e legais

5

6 Na adolecircncia conhecemos

7 pessoas numa pat-papo com

8 os amigos conheci uma

9 amiga pois conversamos e

10 ali natildeo parou mais de

11 falar

12

13 Num sentido e que ela

14 era muito cheia de

15 nheacutem-nheacutem de papo nada

16 ver O egrave o meu pensamento

118

17 que mim engana Mais eu

18 natildeo acho ela chata

19

20 De um tempo pra caacute nos

21 damos muito bem parti-

22 cularmente nos casos eu e ela

23 descordamos de tudo que

24 falamos mas eu acho que

25 duas chatas se dam muito

26 bem Na vida real parece um

27 mundo digital nos natildeo

28 paramos para pensamos nos

29 casos da vida social pessoas

30 postam coisas invalida na

31 rede sociais Fonte Dados da pesquisa

Para a produccedilatildeo inicial Eliane buscou elementos dos textos que lemos em sala De

Prova Falsa percebemos o uso da expressatildeo ldquoera muito cheia de nheacutem-nheacutemrdquo (linhas 14-15)

quando quis falar da amiga com comportamentos chatos De O chato da vez a partiacutecula ldquoAirdquo

como em ldquoAi genterdquo (linha 1) logo no iniacutecio mostra que o texto tem ares coloquiais com

linguagem despojada

Atraveacutes da coloquialidade Eliane se dirige ao leitor poreacutem ficou confuso o

desenvolvimento do tema na conversa proposta na instruccedilatildeo que seria o bloqueio das pessoas

na vida real No tocante ao assunto abordado na instruccedilatildeo Eliane fala de ser chato e ser legal

e menciona as redes sociais poreacutem seu texto entre as linhas 26 e 31 (ldquoNa vida real parece um

mundo digital nos natildeo paramos para pensamos nos casos da vida social pessoas postam coisas

invalida na rede sociaisrdquo) natildeo teve desenvolvimento quebrando assim a coerecircncia

Quadro 30 ndash Produccedilatildeo final Eliane ndash Tiacutetulo O que e chato e o que e legal

1 Ai gente eu sou muito chata

2 Afirmou uma amiga em um bate-papo

3 com os colegas Eu natildeo te acho chata

4 vc e uma pessoa carinhosa aceitar

5 as diferenccedilas dos outros

6

7 Pois eacute muitas pessoas tem suas referen-

8 ccedilas mas isso natildeo quer dizer que

9 todos que estatildeo aqui satildeo chatos

10 Adriana ela e companheira Delci e

11 carinhosa

119

12

13 Mais alguns tem outro estorico de

14 pensamento por exemplo O Luis reclamar

15 demais Rosi e falza Eu particularmente

16 faccedilo de tudo pra natildeo ser chata

17 tento conversar da maneira possiacutevel

18 ajudar as pessoas em tudo quer

19 posso

20

21 Por isso tem um sentido de tudo

22 seja o que vc eacute natildeo o que as

23 pessoas queram o que vc sejam

24 mas que seja uma pessoa dignar Fonte Dados da pesquisa

A PF de Eliane possui tiacutetulo agora mais direcionado agrave instruccedilatildeo visto que a aluna

considerou falar a respeito do que para ela eacute ser chato e o que eacute ser legal O primeiro paraacutegrafo

do texto (linhas 1-5) eacute uma paraacutefrase do paraacutegrafo inicial do texto motivador poreacutem conteacutem o

teor da tempestade de ideias realizada antes da produccedilatildeo

O paraacutegrafo seguinte eacute interessante porque traz em si a ideia de ponto de vista e

toleracircncia afinal todos tecircm defeitos (ldquomas isso natildeo quer dizer que todos que estatildeo aqui satildeo

chatosrdquo linhas 8-9) mas qualidades tambeacutem (ldquoAdriana ela e companheira Delci e carinhosardquo

linhas 10-11) Houve uma evoluccedilatildeo na organizaccedilatildeo dos paraacutegrafos

Houve emprego adequado dos sinais de pontuaccedilatildeo dois-pontos e a viacutergula como

em ldquopor exemplo O Luis reclamar demais Rosi e falzardquo (linhas 14-15)

Eliane em sua reescrita atendeu agrave sugestatildeo de utilizar exemplos podendo colocar

personagens no seu texto No entanto percebemos que ela ainda natildeo compreendeu que para

tanto seria necessaacuterio mais que apenas nominar pessoas e adjetivaacute-las mas realmente fazer um

exerciacutecio de descriccedilatildeo mais detalhado fazendo seu leitor compreender por que ldquoO Luis

reclamar demaisrdquo (linhas 14-15) e a ldquoRosi e falzardquo (linha 15) por exemplo

Quanto agrave audiecircncia Eliane entende que conversa com um leitor como vemos por

exemplo em ldquoseja o que vc eacute natildeo o que as pessoas queram o que vc sejamrdquo (linhas 22-23)

poreacutem natildeo manteacutem o foco visto que mistura a audiecircncia com o personagem ldquoEu natildeo te acho

chata vc e uma pessoa carinhosardquo (linhas 3-4)

O texto natildeo atende agrave proposta de considerar o botatildeo de bloqueio na vida real como

consta da instruccedilatildeo

120

Quadro 31 ndash Produccedilatildeo inicial Joana ndash Tiacutetulo Pessoas chatas e outras legal

1 Pessoas chatas tem muitas pessoas que diz

2 que a outra e chata tem pessoas chata satildeo

3 aquelas que fazem muitas perguntas que saber

4 da vida do outro essas pessoas se torna muito chata

5

6 Muitas pessoas no Facebook que eu natildeo gosto de aceita

7 porque jaacute cei que ela e muito chato jaacute bloquei

8 muitas pessoas nesse caso de se chato deacute mas

9 porque fica mandando mensagem sem noccedilatildeo que

10 rendo saber da sua vida isso que eacute chato

11 pra mim pessoas que tu natildeo suporta se fose

12 eu bloquairia case todo mundo

13

14 Pra mim pessoas legal e aquelas que teu

15 jaacute persebe pelo jeito dessa pessoa eu tenho

16 uma amizade muito legal pra mim eu sou

17 uma menina que faso amizade muito raacutepdo

18 mas as mizades que eu fasso eu percebo logo

19 se essa amizade vai ser boa ou natildeo tenho mui

20 tas pessoas no face que eu acho legal que satildeo

21 boa de se se conversa natildeo faiz ldquomuitas perguntasrdquo

22 e muito bom ter uma amizade legal

23 pessoas legais satildeo oacutetimas de conversa natildeo tir inte

24 ronper quando tu taacute falando essa que satildeo pra

25 mim pessoas legais eu acho que tenho

26 muitas pessoas legal Fonte Dados da pesquisa

Podemos dizer que Joana criou seu texto em trecircs paraacutegrafos apesar de natildeo haver

um ponto para demonstrar se era realmente o final ou se ela desejava continuar escrevendo

Aliaacutes seus paraacutegrafos natildeo trazem pontuaccedilatildeo mostrando que o fluxo das ideias foi contiacutenuo

natildeo havendo o procedimento de elaboraccedilatildeo do rascunho para a seguir passar a limpo

concatenando melhor as ideias

Seu tiacutetulo natildeo foi atrativo poreacutem foi relativo ao assunto da instruccedilatildeo Em se

tratando do desenvolvimento do tema a aluna tem em mente o que eacute ser chato e o que eacute ser

legal poreacutem natildeo extrapola na compreensatildeo visto que desenvolve um paraacutegrafo descrevendo

seu procedimento na rede social natildeo fazendo a analogia com a vida real e o botatildeo de bloqueio

Natildeo houve a consideraccedilatildeo da audiecircncia nem a conversa com o leitor pedida na

instruccedilatildeo

121

Quadro 32 ndash Produccedilatildeo final Joana ndash Tiacutetulo Pessoas otimas

1 Ser legal e vocecirc tendo humildade com

2 uma pessoa ajuda ela em tudo que vocecirc

3 porde ter um pouco de paciecircncia com essa

4 pessoa vocecirc tecircm que ter amor por ela eacute com-

5 sidera ela como sua amiga ou irmatildeo tecircm

6 varias coisas pra vocecirc ser torna uma otima

7 pessoa Pra mim ser legal com migo eacute min

8 trata bem o que eu perdi tem que min da

9 e se min dar todo dia uma caixa de bombo

10 Garoto esse se torna oacutetimo pra mim

11

12 pessoas chatas e aquela que critica muito

13 as pessoas natildeo sabendo da vida dela sair

14 falando dela pra todo mundo chato e

15 aquela que quer saber de mais da sua

16 vida se torna iguinorante ETC temos que

17 ter mas um pouco de humo com essas

18 eu natildeo suporto pessoas chata se puder

19 nem fala com migo seria melhor ainda Fonte Dados da pesquisa

Apoacutes a tempestade de ideias da aula destinada agrave reescrita Joana reescreveu seu

texto em dois paraacutegrafos dedicando um a mostrar o que eacute ser chato e o seguinte ao que eacute ser

legal em sua opiniatildeo No entanto natildeo parece ter compreendido que natildeo bastava elencar

situaccedilotildees do que eacute ser chato e ser legal mas contar narrar situaccedilotildees vivenciadas ou observadas

a fim de entreter seu leitor

Na reescrita a aluna natildeo considera a audiecircncia visto que seu texto parece mais

trazer em si opiniotildees sem incitar reflexotildees Joana se distancia do que consta na instruccedilatildeo que

eacute o bloqueio na vida real imitando as redes sociais apenas afirma nas linhas 18-19 que ldquoeu

natildeo suporto pessoas chata se puder nem fala com migo seria melhor aindardquo Seu tiacutetulo soacute tratou

agora de um lado do comportamento humano (ldquoPessoas otimasrdquo) e deve ter sido colocado apoacutes

a finalizaccedilatildeo do texto quando foi verificar se havia tiacutetulo

Assim apoacutes a anaacutelise dos textos A dos alunos percebemos a evoluccedilatildeo dos itens

presentes e os distribuiacutemos no quadro autoavaliativo

Durante a produccedilatildeo dos textos observamos os alunos presentes procurando

perceber algo sobre seu processo de planejamento de escrita O que foi detectado nas primeiras

produccedilotildees poucos deles fizeram um rascunho antes de escreverem na folha de produccedilatildeo

recebida alguns textos jaacute deram sinais de que alguns alunos entenderam o que eacute a ldquoconversa

122

com o leitorrdquo alguns partiram de uma situaccedilatildeo vividaobservada para compor seu texto no

entanto mais parecendo um relato pessoal ou um diaacuterio pessoal do que uma abordagem de

crocircnica poucos narraram essa situaccedilatildeo de forma clara para que o leitor pudesse acompanhar

poucos posicionaram o foco narrativo de maneira adequada vaacuterios apenas tangenciaram a

proposta de produccedilatildeo Essas dificuldades constituiacuteram o cerne a ser explorado nas atividades

dos moacutedulos aplicados nos encontros da sequecircncia

Podemos estabelecer um graacutefico para melhor visualizaccedilatildeo dos resultados ateacute essa

etapa

Graacutefico 7 ndash Avaliaccedilatildeo das crocircnicas A

Fonte Dados da pesquisa

Como vemos houve na maioria dos itens avaliados uma sensiacutevel melhora apesar

das dificuldades ainda apresentadas Percebemos que vaacuterios alunos ainda focam em apenas

alguns aspectos do texto que conteacutem a instruccedilatildeo de produccedilatildeo deixando de contemplar o todo

como por exemplo o botatildeo de bloquear na vida real ndash diversos alunos natildeo atingiram esse

objetivo no texto acreditamos que porque lhes faltou uma releitura direcionada para verificaccedilatildeo

de tudo o que havia sido pedido Isso nos mostra que os alunos ao tomarem contato com seus

textos de uma primeira produccedilatildeo escrita se orientados a ter um pouco mais de paciecircncia sem

a urgecircncia de entregar logo a tarefa e se incentivados a reler se autoavaliar e a ouvir sugestotildees

0

2

4

6

8

10

12

14

Avaliaccedilatildeo das crocircnicas A

PI PF

123

podem sim progredir no sentido de se tornarem escritores mais haacutebeis enquanto conscientes

das etapas que regem o processo de escrita de textos

532 Produccedilotildees B textos para circulaccedilatildeo social

A produccedilatildeo para circulaccedilatildeo social foi chamada de produccedilatildeo B e corresponde ao

trabalho com um puacuteblico que variou entre 4 (quatro) a 8 (oito) alunos frequentes dentre os

quais apenas 4 (quatro) produziram o texto para fins de circulaccedilatildeo social real Nesta etapa

foram realizados 5 (cinco) encontros com duraccedilatildeo de 10 (dez) horasaula e leitura de quatro

crocircnicas ineacuteditas para os alunos (A cara da rua A carta de punho Amor de Macumba e Sr

Google Pacheco) e atividades correspondentes

A leitura desses textos foi produtiva para a classe no sentido de compreender que

cada crocircnica traz em si o resultado da reflexatildeo que o cronista consegue realizar das situaccedilotildees

que vivencia ou observa Identificar as situaccedilotildees geradoras das crocircnicas lidas ao longo dos

moacutedulos fez parte do trabalho que conduziu os alunos a falar de vaacuterios assuntos que poderiam

tornar-se temas de textos Copiamos no quadro e eles nos cadernos Eram temas do cotidiano

como assalto relaccedilotildees sociais vida de youtuber bullying fome cujas situaccedilotildees jaacute

observadasvivenciadas por eles mesmos poderiam render uma reflexatildeo

Aparentemente a dificuldade maior dos alunos eacute em expressar essa situaccedilatildeo sem

que ora pareccedila um relato iacutentimo como diaacuterio ou memoacuterias pois a natural disposiccedilatildeo de seus

textos traz uma sequecircncia narrativa um relato de emoccedilotildees pessoais poreacutem natildeo necessariamente

conduz o leitor a uma reflexatildeo ora por vezes pause a narraccedilatildeo e interaja com o leitor por meio

de perguntas ou ainda faccedila um texto com forccedila injuntiva ou com moral da histoacuteria

Para a escrita e a reescrita do texto desta etapa a PF-B incentivamos nossos alunos

a utilizar o quadro autoavaliativo tocando nos pontos mais sensiacuteveis identificados desde a PI-

A Natildeo foi estipulado um nuacutemero de paraacutegrafos deixando os alunos agrave vontade para produzir

Consideramos como audiecircncia um puacuteblico leitor que tivesse sua idade aproximadamente que

entendesse seus problemas dilemas alegrias que fizesse parte de seu mundo frequentando a

escola tendo amigos observando qualidades boas do ser humano ou mazelas da vida podendo

esse puacuteblico acessar redes sociais ou natildeo De toda forma o ideal seria conversar com o leitor

sobre questotildees cotidianas situando-o no tempo e no espaccedilo da crocircnica O texto B foi

integralmente produzido em meio digital a pedido dos proacuteprios alunos por celular ou

computador conforme o material que tivessem disponiacutevel em matildeos e nenhum foi produzido

124

em sala limitado pelo horaacuterio de aula No entanto foi feito o acordo dos prazos de entrega de

cada texto a fim de podermos imprimir e levar para trabalho de leitura releitura feedback da

professora-pesquisadora feedback dos colegas permitindo a cada autor reflexatildeo sobre o texto

e possibilitando a reescrita

Os alunos que se engajaram na produccedilatildeo da crocircnica para circulaccedilatildeo social foram os

alunos Ana Rodrigo Eduardo e Estela Os tiacutetulos das produccedilotildees inicial e final estatildeo no quadro

a seguir

Quadro 33 ndash Tiacutetulos das produccedilotildees para circulaccedilatildeo social

Tiacutetulo PI-B PF-B

Ana PROIBIDA DE ACHAR

GRACcedilA

Rodrigo Vida de preguiccediloso VIDA DE PREGUICcedilOSO

Eduardo INFAcircNCIA FELIZ

Estela ldquoDown= bullyingrdquo DOWN= BULLYING

Fonte Dados da pesquisa

Esses textos diferentemente das produccedilotildees A foram escritos utilizando aparelhos

de celular O acordo foi feito com os alunos em virtude da preferecircncia destes em gostarem de

escrever utilizando-se da tecnologia facilitando o registro a releitura e a reescrita segundo eles

mesmos visto que o meio virtual tambeacutem atenderia a ideia da circulaccedilatildeo dos textos A anaacutelise

das produccedilotildees B estaacute descrita ao longo desta seccedilatildeo

Quadro 34 ndash PIB Ana

1

2

3

Que situaccedilatildeo Eacute o que penso ateacute hoje Pude presenciar um niacutevel de babaquice

e de falta do que fazer de uma garota da minha escola que pra ser sincera eu nem ao

menos sei o nome dela

4

5

6

7

8

Tava eu junto com mais quatro amigos na cantina da minha escola no

finalzinho do recreio estaacutevamos rindo e conversando como sempre Chegaram duas

meninas de outra sala que eu nunca falei nem sabia de onde saiacuteram natildeo sabia nada

sobre ela poreacutem sei que sabiam sobre mim coisas do tipo novata do 9 ano meio

doida duvido se natildeo sabiam ate meu nome Bem nem tava prestando atenccedilatildeo nelas

125

9

10

11

12

13

14

15

16

17

Quando meu amigo brincou eguas de novo Sorriu e depois pediu

desculpas logo que percebeu o tamanho das meninas e todo mundo riu quando ele

brincou EU JURO que fiquei seacuteria mas natildeo aguentei quando ele pediu desculpas

com medo de levar uns supapos Foi entatildeo que comecei a rir e umas das meninas olhou

pra mim com uma cara super ameaccediladora dizendo tu ta rindo do que Ta achando

graccedila eacute Cara tinha quatro pessoas aleacutem de mim QUATRO seacuterio que ela

enchergou soacute a mim ali Eacute ser muito babaca pra chegar em um ponto desse minha

uacutenica reaccedilatildeo foi natildeo pera ela taacute falando comigo serio isso Gente Qual o nome

dela algueacutem aqui a conhece SOCORRO

18

19

Ate hoje me pergunto qual o problema dela Mas prefiro nem chegar perto

Vai que essa doenccedila pega

Fonte Dados da pesquisa

O texto de Ana foi composto de 4 (quatro) paraacutegrafos Sua conversa com o leitor

natildeo eacute com elementos expliacutecitos como na instruccedilatildeo sugerida na produccedilatildeo A mas percebe-se que

ela se importa com uma audiecircncia visto que narra para uma pessoa explicando a situaccedilatildeo

vivenciada contando ao seu leitor suas impressotildees mostrando as falas que ocorreram dando a

perceber os outros personagens que entraram na histoacuteria

As notaccedilotildees linguiacutesticas para indicar intensidade surpresa e algumas viacutergulas estatildeo

razoavelmente bem empregadas como vemos em ldquoeguas de novordquo (linha 9) que separa a

expressatildeo de surpresa ldquoeacuteguasrdquo com uma viacutergula e finaliza a frase com interrogaccedilatildeo

acompanhada de exclamaccedilatildeo atribuindo maior intensidade agrave fala

Quadro 35 ndash PFB Ana ndash Tiacutetulo PROIBIDA DE ACHAR GRACcedilA

1

2

3

E que situaccedilatildeo Eacute o que eu penso ateacute hoje Pude presenciar um niacutevel de babaquice

e de falta do que fazer de uma garota da minha escola que pra ser sincera eu nem ao

menos sei o nome dela

4

5

6

7

8

9

Estava eu junto com mais quatro amigos na cantina da minha escola no

finalzinho do recreio Estaacutevamos rindo e botando conversa fora de boa na paz Entatildeo

duas meninas que eu natildeo conheccedilo ndash jaacute tinha ateacute visto as duas mas nunca tinha falado

com elas nem ao menos sabia o nome delas mas sei que elas sabiam de mim certeza

Aquele pessoal fala demais ndash chegaram e estavam repetindo o lanche Ateacute entatildeo nem

tava reparando na presenccedila delas

126

10

11

12

13

14

15

16

17

18

Foi quando meu amigo brincou nossa vatildeo repetir de novo Eu olhei entendi

e nem dei importacircncia nem quis rir pra natildeo arrumar confusatildeo Elas olharam pra ele

com uma cara bem ameaccediladora e ele se arrependeu e pediu desculpas Nessa hora eu

natildeo aguentei e ri poreacutem dele Pensei eita macho ficou com medo de levar uns

sopapos Todo mundo rindo Foi entatildeo que uma delas olhou pra mim me batendo

verbalmente tu taacute rindo de quecirc Taacute achando graccedila eacute Mano do ceacuteu essa menina

tem problema soacute pode Foi minha uacutenica reaccedilatildeo Com quatro pessoas aleacutem de mim ali

sorrindo e ela pergunta soacute pra mim Eacute ser muito babaca pra chegar a esse ponto seacuterio

isso Perguntei pros meus amigos ldquogente qual o nome dela Ela taacute falando pra mim

mesmo SOCORRO

19

20

Ainda bem que meus amigos estavam ali senatildeo eu tava ferradinha Ateacute hoje

me pergunto qual o problema dela Mas prefiro nem chegar perto Vai que isso pega

Fonte Dados da pesquisa

Os quatro paraacutegrafos tiveram uma reelaboraccedilatildeo mas mantiveram-se em mesmo

nuacutemero na PFB de Ana Seu tiacutetulo permaneceu o mesmo e tem a ver com o teor da crocircnica

Quanto ao uso da pontuaccedilatildeo houve inclusive utilizaccedilatildeo de novo recurso o entre

travessotildees a partir de uma sugestatildeo dada pela professora-pesquisadora que indica um adendo

de informaccedilotildees agrave ldquoconversardquo que a narradora conduziu

Pudemos perceber uma melhor descriccedilatildeo da ambientaccedilatildeo onde a situaccedilatildeo

vivenciada se passou consolidando o tempo do finalzinho do recreio situaccedilatildeo que durou muito

pouco mas que para a autora durou com intensidade

O final foi interessante e ateacute cocircmico trazendo questotildees a se pensar como a amizade

e o companheirismo versus a implicacircncia de pessoas desconhecidas (podemos ver seu aliacutevio

em ldquoAinda bem que meus amigos estavam ali senatildeo eu tava lsquoferradinharsquordquo na linha 19) e o

quanto eacute raacutepido - e tolo - para nascer um conflito

Quadro 36 ndash PIB Rodrigo ndash Tiacutetulo Vida De preguiccediloso

1

2

Vocecirc tem preguiccedila Tem preguiccedila de ter preguiccedila perdeu alguma coisa por

causa de preguiccedila

3

4

5

Natildeo eacute muito certo ter preguiccedila de tudo dizem que eacute pegado mas natildeo vejo mal

nem um em ter preguiccedila oacutebvio que nem todo tempo vou ter preguiccedila mas a maior parte

127

6 do tempo sim sou tatildeo preguiccediloso que dormi com fome pra natildeo ir ateacute a geladeira parece

um pouco absurdo mas eacute verdade

7

8

9

10

Natildeo sei vocecirc mas eu jaacute dormi no sofaacute com preguiccedila de ir pra cama certo que

vida de preguiccediloso natildeo eacute la essas mil maravilhas principalmente se vocecirc mora sozinho(a)

eacute muito bom passar o dia deitado mexendo no celular ou PC e com um lanchinho do

lado

11

12

Mas o simples fato de eu pensar que vou ter que tecirc uma famiacutelia um emprego

meu carro minha empresa meu cachorro

13

14

Jaacute da ateacute preguiccedila de sair da cama mas vocecirc jaacute pensou como seria bom se natildeo

existisse nada disso pra se preocupar

15 Seria muito bom natildeo eacute

16

17

A preguiccedila jaacute se tornou parte do cotidiano tenho quase certeza que nesse

momento vocecirc estaacute com preguiccedila natildeo eacute

18

19

20

Muito bom passar o dia sem fazer nada Poreacutem um pouco cansado pela falta

de exerciacutecio fiacutesico mas nada quecirc um bom lanche natildeo resolva vida de preguiccediloso natildeo

leva a lugar nem um falo isso por mera experiecircncia

21 Mas eacute assim mesmo logo logo a preguiccedila passa pelo menos eu acho

Fonte Dados da pesquisa

O texto de Rodrigo partiu de uma situaccedilatildeo observadavivida Conversa com o leitor

(ldquovocecirc jaacute pensou como seria bom serdquo linha 12) sobre o tema preguiccedila A repeticcedilatildeo do termo

preguiccedila foi objeto de questionamento na aula ao que o aluno respondeu que utilizou-se da

estrateacutegia para reforccedilar a situaccedilatildeo e provocar no leitor a preguiccedila de ler ao que os colegas

aprovaram achando inclusive engraccedilado O narrador eacute personagem e coloca para seu leitor as

impressotildees de como eacute viver com o miacutenimo de disposiccedilatildeo poreacutem com a consciecircncia de que natildeo

eacute o ideal para a vida O final natildeo eacute interessante ou surpreendente poreacutem se adequa ao

desenvolvimento do texto Possui tiacutetulo apropriado

Quadro 37 ndash PFB Rodrigo ndash Tiacutetulo VIDA DE PREGUICcedilOSO

1

2

Vocecirc tem preguiccedila Tem preguiccedila de ter preguiccedila Perdeu alguma coisa por

causa de preguiccedila

3

4

Natildeo eacute muito certo ter preguiccedila de tudo dizem que eacute pecado mas natildeo vejo mal

nenhum em ter preguiccedila Oacutebvio que nem todo tempo vou ter preguiccedila mas na hora de

128

5

6

7

8

jogar aquela bola ningueacutem tem preguiccedila mas agora fala em arrumar a cama A preguiccedila

sai de baixo da cama pra vocecirc Eu tenho preguiccedila a maior parte do tempo Sou tatildeo

preguiccediloso que dormi com fome para natildeo ter de ir ateacute a geladeira pegar comida Parece

um pouco absurdo mas eacute verdade

9

10

11

12

13

14

Aiacute vocecirc acorda e vai ateacute a sala daiacute vocecirc se deita no sofaacute e esquece o controle

em cima da mesa do computador ou da estante aiacute daacute aquele grito ldquoocirc manhecircecircecircecircecircecircecircecircrdquo

Logo ela vem correndo saber o que aconteceu e vocecirc na maior cara de pau diz pega

o controle pra mim Na hora que vocecirc diz isso vocecirc desperta todos os capirotos do

mundo ela ainda fala aquela frase que toda matildee diz o QUEcirc menino Isso serve pra

tudo que vocecirc pede pra sua matildee fazer pra vocecirc ateacute mesmo apagar a luz

15

16

17

Quando eu estiver em um relacionamento minha namorada natildeo vai precisar

se preocupar com traiccedilatildeo Tenho preguiccedila de ir bem aiacute na esquina comprar o patildeo

imagine sair para trair ela Mas eacute muita melodia

18

19

20

21

A vida de um preguiccediloso em si ela eacute uma grande sobrevivecircncia Natildeo muita

mas vocecirc vai ter de lutar para conseguir comida enfrentar o Vingador da Caverna do

Dragatildeo o quarto do furacatildeo e a cama do pavor Preguiccediloso pode vencer tudo isso mas

nunca conseguiraacute vencer a preguiccedila ndash pelo menos eu nunca consegui

22

23

24

25

Era tatildeo lindo quando eu dormia no sofaacute e acordava na cama graccedilas a meus

pais Mas os tempos mudaram vocecirc dorme no chatildeo e acorda no chatildeo Deixar pra fazer

amanhatilde o que pode fazer hoje isso sim eacute tiacutepico de um preguiccediloso mas agraves vezes nem

fazemos

26

27

28

Todos noacutes temos aquela cadeira que na hora de dormir sempre colocamos

todas as coisas de cima da cama em cima dela soacute por preguiccedila de arrumar tudo em seu

devido lugar

29

30

31

32

33

34

35

Um celular PC tablet televisatildeo tudo isso com internet uma tomada tudo do

seu lado tem como natildeo ter preguiccedila ateacute de procurar aquela seacuterie na Netflix Certo que

o celular ou o PC tem comando de voz soacute pra falar o nome da seacuterie que vocecirc quer assistir

e tecnologicamente ir direto pra seacuterie mas daacute uma preguiccedila de falar e ainda com um

lanche do lado ateacute imagino o quatildeo seria top passar o dia assim Mas tem que estudar

fazer comida dar banho do cachorro limpar a casa e lavar a louccedila Ai ai daacute preguiccedila

soacute de pensar nisso Um dia vou perder essa preguiccedila pelo menos assim espero

Fonte Dados da pesquisa

129

O uso de expressotildees coloquiais como em ldquoMas eacute muita melodiardquo (linha 17) para

mostrar o quanto daacute trabalho trair a namorada e a corrente entre os jovens ldquoo quatildeo seria top

passar o dia assimrdquo (linha 33) deu colorido agrave crocircnica

O uso de notaccedilotildees linguiacutesticas para realccedilar o texto como em ldquoocirc manhecircecircecircecircecircecircecircecircrdquo

(linha 10) que mostra prolongamento da voz o QUEcirc meninordquo (linha 13) que indica tom

de voz mais alto e forte aleacutem da pontuaccedilatildeo que exclama a pergunta O uso do travessatildeo como

forma de colocar uma explicaccedilatildeo em evidecircncia foi adotado por sugestatildeo nossa como em ldquondash

pelo menos eu nunca conseguirdquo (linha 21) tambeacutem enriqueceu o texto

Ainda houve repeticcedilatildeo de termos sem intenccedilatildeo como em ldquomas na hora de jogar

aquela bola ningueacutem tem preguiccedila mas agora fala em arrumar a camardquo (linhas 4-5)

O final foi interessante levando a audiecircncia a refletir e a se divertir tambeacutem com a

descriccedilatildeo das situaccedilotildees ndash algumas ateacute inusitadas ndash de preguiccedila mas que acontecem em algum

grau com os leitores jovens

Quadro 38 ndash PIB Eduardo ndash Tiacutetulo

1

2

3

4

5

Eu gosto muito de comida principalmente uma lasanha Porque eacute gostoso

mata a fome e deixa a gente feliz Bons tempos quando agente era crianccedila tomava aquele

belo leite antes de domir acordava de manhatilde bem cedinho com o cherinho do cafeacute na

mesa mas o tempos mudou E hoje em dia as crianccedilas dorme tarde natildeo se alimentatildeo

direito so querem comer besteras prejudicando a sauacutede

6 Era engraccedilado quando minha matildee dizia

7

8

Come a salada do prato se vocecirc comer tudinho mamatildee te dar um doccedile de

leite e agente comia

9

10

11

E quando noacutes tinha dor de barriga a matildee ja vinha com o chaacute de bodo para dar

pra noacutes tomar E quando jogava bola e noacutes se arranhava a matildee ja tava nas matildeos o

merthiolate para passa na gente

12

13

14

15

16

17

E quando o pessoal ia jogar bola reunia a galera e ia chamar a turma todinha

para jogar nosso campo era em um local de pissarra com muro em volta e quando a

bola cailha na casa da quela vizinha chata um de noacutes tiamos que pega o mas corajoso

se arricar a buscar e esse corajoso era eu lembro que uma vez eu chutei a bola para laacute

e machuquei um das plantas dela e vizinha fofocou para minha matildee e mamatildee colocou

eu de cartigo

130

18

19

Agora as crianccedilas so querem ficar trancada dentro do quarto mechendo no seu

celular PC em geral

20

21

22

23

24

25

26

27

28

Percebi que a infacircncia de hoje natildeo eacute mas a mesma de antigamente Hoje em

dia tamos rodiado de tecnologia crianccedilas jovens tem celulares internet computadores

mas antigamente natildeo era assim natildeo tou querendo criticar a tecnologias pois eu vivo na

tecnologia hoje Nesse tempo de hoje das tecnologia se vocecirc quer ouvir uma muacutesica eacute

soacute ir no YouTube ou fazer o download quer conversar com um amigo eacute soacute entra no

Whatsapp e conversar Mas quando era antigamente se quissemos ouvir uma

muacutesica tiamos que esperar passar no raacutedio ou comprar um CD bem ali na banca se

quisesse conversar com um amigo distante teria que ir na casa dele ou enviar uma carta

para ele

29

30

E quando era natal ano novo famiacutelia toda reunida mesa cheia de comida

deliciosas isso era muito bom

31

32 SO SEI QUE A INFACIA QUE EU TIVE FOI MUITA OTIMA lt3

Fonte Dados da pesquisa

Composto por 9 (nove) paraacutegrafos o texto de Eduardo partiu de uma situaccedilatildeo

vivida em que ele observa a passagem do tempo e as mudanccedilas de haacutebitos com uma certa

nostalgia buscando a atenccedilatildeo do leitor atraveacutes da reflexatildeo sobre a imersatildeo na tecnologia Seu

texto comeccedila com uma associaccedilatildeo da comida que ele gosta e que ldquopuxardquo outras questotildees que

perpassam a alimentaccedilatildeo o sono as brincadeiras narrando inclusive desventuras vividas

Ao final nas linhas 29-30 o paraacutegrafo parece desconexo visto que natildeo evolui e

nem se liga ao anterior

A ortografia e a pontuaccedilatildeo nesse momento natildeo haviam sido a prioridade embora

os alunos jaacute estivessem de posse do quadro autoavaliativo Eduardo foi um dos alunos que mais

se surpreendeu com a releitura do texto no tablet como haviacuteamos descrito na seccedilatildeo sobre os

procedimentos posto que os erros e sugestotildees satildeo apontados pelo aplicativo editor de textos

Ele afirmou que foi bastante uacutetil para que ele observasse os erros visto que natildeo tinha

consciecircncia dos mesmos

131

Quadro 39 ndash PFB Eduardo ndash INFAcircNCIA FELIZ

1

2

3

4

5

Eu gosto muito de comida principalmente uma lasanha Porque eacute gostoso

mata a fome e deixa a gente feliz Bons tempos quando a gente era crianccedila tomava

aquele belo leite antes de dormir acordava de manhatilde bem cedinho com o cheirinho do

cafeacute na mesa mas os tempos mudaram Hoje em dia as crianccedilas dormem tarde natildeo se

alimentam direito soacute querem comer besteiras prejudicando a sauacutede

6

7

Era engraccedilado quando minha matildee dizia Come a salada do prato se vocecirc

comer tudinho mamatildee te daacute um doce de leite e a gente comia

8

9

10

E quando noacutes tiacutenhamos dor de barriga a matildee jaacute vinha com o chaacute de boldo para

dar pra tomar E quando jogaacutevamos bola e nos arranhaacutevamos a matildee jaacute estava com o

mertiolate nas matildeos para passar na gente

11

12

13

14

15

16

17

E quando o pessoal ia jogar bola reunia a galera e ia chamar a turma todinha

para jogar nosso campo era em um local de piccedilarra com muro em volta e quando a bola

caiacutea na casa da aquela vizinha chata um de noacutes tinha que pegar o mais corajoso se

arriscar a buscar e esse corajoso era eu Lembro que uma vez eu chutei a bola para laacute e

machuquei um das plantas dela e a vizinha fofocou para minha matildee e mamatildee colocou

eu de castigo Quem nunca morreu de medo de voltar para casa com aquela roupa cheia

de barro e levar uma bronca

18

19

Vocecirc pode ateacute achar que eu jaacute acabei a minha infacircncia mas ainda tocirc nela pois

a infacircncia que eu era mais novo natildeo eacute mas a mesma do que a de hoje

20

21

Agora as crianccedilas soacute querem ficar trancadas dentro do quarto mexendo no seu

celular PC em geral

22

23

24

25

26

27

28

29

Percebi que a infacircncia de hoje natildeo eacute mas a mesma de antigamente Hoje em

dia estamos rodeados de tecnologia Crianccedilas jovens tem celulares internet

computadores mas antigamente natildeo era assim Natildeo estou querendo criticar a tecnologia

pois eu vivo na tecnologia hoje Nesse tempo de hoje se vocecirc quer ouvir uma muacutesica eacute

soacute ir no YouTube ou fazer o download Quer conversar com um amigo eacute soacute entrar no

WhatsApp e conversar Mas quando era antigamente se quiseacutessemos ouvir uma muacutesica

tiacutenhamos que esperar passar no raacutedio ou comprar um CD bem ali na banca Se quisesse

conversar com um amigo distante teria que ir na casa dele ou enviar uma carta para ele

30

31

32

Pois agora as crianccedilas jaacute respondem com ignoracircncia para seus pais Se eu

resmungasse para minha matildee pelo menos um Taacute bom taacute bom mamatildee jaacute me batia Ela

ainda me colocava de joelho no chatildeo e eu morrendo de chorar mamatildee dizia Engole o

132

33

34

35

choro mas eu natildeo sabia engolir o choro Seraacute que tinha que pegar um copo para

colocar as minhas laacutegrimas do meu choro Natildeo sei mas eu acho que eacute melhor natildeo

arriscar de me levantar e apanhar mais ainda

36 O mais engraccedilado eacute que chinela de matildee sempre acerta [

37 Mesmo apanhando

38 SOacute SEI QUE A INFAcircNCIA QUE EU TIVE FOI MUITO OacuteTIMA lt3

Fonte Dados da pesquisa

O texto teve uma ampliaccedilatildeo e o aluno pediu ajuda agrave professora-pesquisadora para

a correccedilatildeo da pontuaccedilatildeo e tambeacutem da ortografia para ldquoevitar aquela coisa toda vermelha

professorardquo que seria rever no tablet o editor mostrando os erros Bastante empenhado Eduardo

colocou suas impressotildees lado bom e ruim para que seu leitor pudesse acompanhar o que seria

uma infacircncia adequada Nas linhas 18-19 em ldquoVocecirc pode ateacute achar que eu jaacute acabei a minha

infacircncia mas ainda tocirc nela pois a lsquoinfacircncia que eu era mais novorsquo natildeo eacute mas a mesma do que

a de hojerdquo Valeu a discussatildeo com os colegas e com a professora-pesquisadora a respeito dessa

nostalgia visto que o autor ainda eacute um adolescente de 15 anos

O final convenhamos embora natildeo seja muito paciacutefico natildeo deixa de causar o riso

no leitor visto que em ldquoMesmo apanhandordquo (linha 37) as reticecircncias deixam o pensamento

em aberto e o leitor conclui pelo exposto que ainda assim valia a pena a infacircncia menos

tecnoloacutegica e mais fora de casa

Quadro 40 ndash PIB Estela ndash Tiacutetulo ldquoDown= bullyingrdquo

1

2

Antigamente eu natildeo me importava tanto mas hoje penso bastante sobre o

assunto por que as pessoas praticam o bullying

3

4

5

Na minha opiniatildeo a praacutetica de bullying eacute desnecessaacuteria pois noacutes natildeo

ganhamos nada em humilharmenosprezar o proacuteximo natildeo eacute mesmo eacute bem melhor ser

gentil ser solidaacuterio aceitar os defeitos do proacuteximo

6

7

8

9

10

11

Conheccedilo uma garota chamada Beatriz jovem de dezenove anos(19) que tinha

siacutendrome de Down ela era uma garota bem extrovertida amigaacutevel carinhosa etc

Muitos a criticavam por conter essa siacutendrome por ser diferente Ela tinha seu tinha seu

lado carinhoso mas tambeacutem tinha o seu lado revoltadobravo e todos criticavam-na por

ser diferente por ter esse seu lado ldquobipolarrdquo pelo fato dela mudar de humor tatildeo

facilmente

133

12

13

14

15

Muitos faziam o possiacutevel para evitar sua presenccedila por perto eles a eles

simplesmente natildeo aceitavam o fato dela ter aquela siacutendrome pra eles ela natildeo era ldquoigualrdquo

a eles eles deveriam aceitaacute-la da maneira que ela nasceu da maneira em que ela foi

gerada

16

17

18

Chamavam-na por apelidos maldosos e preconceituosos como por exemplo

doida (pelo simples fato dela ter siacutendrome de Down que a diferenciava das demais

pessoas) de retardada de doente chamavam-na de feia ridiacuteculaetc

19

20

21

22

23

24

25

Ao sofrer esses preconceitos ela sempre revidavasempre reagia com agressotildees

e xingamentos terriacuteveis o que agravava cada vez mais a situaccedilatildeo Acho que por ela

conter essa doenccedila ela natildeo levava muito a seacuterios esse preconceito essa indiferenccedila

acho que pelo fato de ela conter essa doenccedila desde a formaccedilatildeo de seu feto deve ter

ocorrido algumas alteraccedilotildees em seu ceacuterebro na parte mentalo que prejudica muito a

crianccedila em questotildees de aprendizado de se socializar e que a levava a considerar essas

praacuteticas de bullying como uma brincadeira

26

27

28

29

E tambeacutem sua matildee natildeo era aquele tipo de matildee que se interessava como foi o

dia na escola se as aulas foram boas essas coisas que normalmente as matildees fazem E

ela tambeacutem natildeo morava junto a seu pai pois creio que era divorciado de sua matildee

moravam somente ela sua matildee e sua irmatilde mais nova de dezessete anos (17)

30

31

Atualmente a situaccedilatildeo ainda se repete por falta de atenccedilatildeo dos pais e da

proacutepria viacutetima do bullying

32

33

(Na minha opiniatildeo ela soacute precisa de um pouco mais de atenccedilatildeo e compreensatildeo

dos pais e tenho certeza que esse problema jaacute haveria sido resolvido)

34

35

E vocecirc leitor o que faria se vocecirc fosse viacutetima de bullying denunciaria ou

preferiria guardar pra si

36

37

38

39

40

(Isso natildeo eacute um texto qualquer eacute tambeacutem um alerta uma ldquocampanhardquo pra vocecirc

vitima ou praticante do bullying pense no proacuteximo alerte-se muitas vezes essas piadas

brincadeiras esses preconceitos passam dos limites e acabam se tornando grandes

ofensas o que levam as viacutetimas a profundas depressotildees e ateacute mesmo ao suiciacutedio vamos

acabar com isso)

41 chega de bullying

Fonte Dados da pesquisa

134

Estela comeccedila seu texto com um paraacutegrafo que faz uma introduccedilatildeo-enquadramento

lanccedilando um questionamento ao seu leitor surgido de uma situaccedilatildeo observadavivida que ela

narra ao longo dos 12 (doze) paraacutegrafos No 10ordm a autora conversa com explicitamente com o

leitor como no modelo apresentado para a produccedilatildeo A O foco narrativo eacute mantido como

narrador observador do que acontece poreacutem levando o leitor a refletir sobre o problema real do

bullying com a intenccedilatildeo de causar impressotildees no leitor como empatia reflexatildeo e ateacute emoccedilatildeo

O final natildeo parece caracterizar-se como o de uma crocircnica literaacuteria lembrando o

penuacuteltimo paraacutegrafo uma sequecircncia injuntiva com a intenccedilatildeo de levar o leitor a modificar seu

comportamento mostrando um ponto de vista criacutetico a respeito da situaccedilatildeo Possui

personagens descrevendo a menina Beatriz e seu comportamento sua matildee e menciona pai e

irmatilde Possui um tiacutetulo interessante pelo trocadilho se podemos assim dizer com a palavra

down Down eacute a siacutendrome mencionada no texto e de iniacutecio o sinal de igual indica que ter

siacutendrome de Down eacute de se esperar de algum modo que a pessoa sofra bullying Poreacutem a aluna

sabe que down em inglecircs quer dizer ldquoabaixordquo o que resultaria numa livre traduccedilatildeo ldquoabaixo

o bullyingrdquo Estela emprega em diversos momentos os sinais de pontuaccedilatildeo adequadamente e

no geral os paraacutegrafos estatildeo bem organizados embora tenha havido repeticcedilatildeo desnecessaacuteria de

palavras no 4ordm paraacutegrafo

Quadro 41 ndash PFB Estela ndashTiacutetulo DOWN= BULLYING

1

2

Antigamente eu natildeo me importava tanto mas hoje penso bastante sobre o

assunto por que as pessoas praticam o bullying

3

4

5

A praacutetica de bullying eacute desnecessaacuteria pois noacutes natildeo ganhamos nada em

humilhar o proacuteximo natildeo eacute mesmo Eacute bem melhor ser gentil ser solidaacuterio aceitar os

defeitos do proacuteximo

6

7

8

9

10

Conheci uma garota chamada Beatriz jovem de dezenove anos que era

portadora da siacutendrome de Down Era uma garota bem extrovertida amigaacutevel carinhosa

etc Ela tinha seu tinha seu lado carinhoso mas tambeacutem tinha o seu lado revoltado e

todos criticavam-na por ser diferente por ter esse seu lado ldquobipolarrdquo pelo fato dela mudar

de humor tatildeo facilmente

11

12

13

Muitos faziam o possiacutevel para evitar sua presenccedila por perto Simplesmente

natildeo aceitavam o fato dela natildeo ser ldquoigualrdquo a eles enquanto que deveriam aceitaacute-la da

maneira que ela nasceu da maneira em que ela foi gerada

135

14

15

16

Chamavam-na por apelidos maldosos e preconceituosos como por exemplo

doida (pelo simples fato dela ser portadora de Down que a diferenciava das demais

pessoas) de retardada de doente chamavam-na de feia ridiacuteculaetc

17

18

19

20

21

Ao sofrer esse preconceito ela revidava Sempre reagia com agressotildees e

xingamentos terriacuteveis o que agravava cada vez mais a situaccedilatildeo Acho que pelo fato de

ela ter Down desde a formaccedilatildeo de seu feto deve ter ocorrido algumas alteraccedilotildees em seu

ceacuterebroo que prejudica muito a crianccedila em questotildees de aprendizado de se socializar

poreacutem isso natildeo a impedia de considerar essas praacuteticas de bullying como algo tatildeo seacuterio

22

23

24

25

26

Atualmente a situaccedilatildeo ainda se repete por falta de atenccedilatildeo dos pais Sua matildee

natildeo era aquele tipo de matildee que se interessava como foi o dia na escola se as aulas foram

boas essas coisas que normalmente as matildees fazem Ela soacute precisa de um pouco mais de

atenccedilatildeo e compreensatildeo dos pais e tenho certeza que esse problema jaacute teria sido

resolvido

27 E vocecirc leitor como agiria se fosse viacutetima de algum tipo de bullying

28

29

30

31

32

Pare e pense na situaccedilatildeo que ocorrera com essa garota Pense Como agiria se

fosse viacutetima ou tivesse observado uma situaccedilatildeo como essa Tambeacutem imagine se vocecirc

se sentiria bem se sofresse certos preconceitos certas ofensas E tambeacutem peccedilo-lhe

venha pensar antes de ldquotentarrdquo praticar esses atos infracionais contra algueacutem Se ponha

no lugar da viacutetima

33 chega de bullying

Fonte Dados da pesquisa

O tiacutetulo foi mantido Os paraacutegrafos em geral ficaram bem organizados Houve

evoluccedilatildeo no emprego dos sinais de pontuaccedilatildeo Evitou a repeticcedilatildeo desnecessaacuteria de palavras e

buscou definir visto que estava em duacutevida segundo ela mesma sobre quais termos usar

Partiu como jaacute haviacuteamos identificado de uma situaccedilatildeo observadavivida Conversa

com o leitor como no exemplo ldquonatildeo eacute mesmordquo (linha 4) ou em ldquoE vocecirc leitorrdquo (linha 27)

buscando leva-lo a refletir sobre a situaccedilatildeo O final eacute interessante muito embora natildeo o

reconheccedilamos como caracteriacutestico de uma crocircnica literaacuteria Mostra discretamente ao leitor seu

ponto de vista a respeito da situaccedilatildeo buscando proporcionar-lhe um momento de reflexatildeo

Descreve bem a Beatriz e superficialmente a matildee poreacutem com caracteriacutesticas

adequadas agrave situaccedilatildeo Apoacutes a anaacutelise dos textos B dos alunos estabelecemos um graacutefico a

respeito de sua evoluccedilatildeo para melhor visualizaccedilatildeo dos resultados nessa etapa Vejamos a seguir

136

Graacutefico 8 ndash Avaliaccedilatildeo das crocircnicas B

Fonte dados da pesquisa

A partir da anaacutelise dos textos dos alunos que frequentaram todas as aulas e se

engajaram nas atividades da SD percebemos que houve na maioria dos itens avaliados uma

sensiacutevel melhora corroborando com o anteriormente dito que os alunos ao tomarem contato

com seus textos de uma primeira produccedilatildeo escrita se orientados e incentivados a reler se

autoavaliar e a ouvir sugestotildees podem sim progredir no sentido de se tornarem escritores mais

haacutebeis e conscientes das etapas que regem o processo de escrita de textos E esse processo se

feito com frequecircncia comeccedila a se automatizar e facilita o aprendizado de qualquer gecircnero que

se venha trabalhar

533 Uma nova reescrita

Retomando seu texto A PI e PF a aluna Ana pediu a oportunidade de reescrevecirc-lo

visto que em sua releitura afirmou que natildeo havia feito apropriadamente e que ao final de todas

as atividades ela percebia o quanto natildeo tinha desenvolvido ainda os procedimentos adequados

para a produccedilatildeo de um texto o que inclui as etapas de releitura autocriacutetica reflexatildeo

reelaboraccedilatildeo e reescrita Segue assim o texto de Ana que chamaremos PFA2

0

05

1

15

2

25

3

35

4

Avaliaccedilatildeo das crocircnicas B

PI-B PF-B

137

Quadro 42 ndash PFA2 Ana ndash Tiacutetulo O que eacute ser chato

1 Como saber quando vocecirc estar sendo chato

2 Bom depois de ler um dos textos maravilhosos do Anaximandro Amorim

3 o chato da vez despertou uma vontade em mim de me aprofundar no assunto

4

5 Eacute muito difiacutecil dizer o que de fato eacute ser chato ou melhor listar tudo o que eacute pura

6 chatice demoraria horas e horas Vocecirc se considera chato

7 Sabe quando vocecirc estar sendo chato Olha muito cuidado um chato nunca

8 se acha chato digo isso com toda convicccedilatildeo

9

10 Conheccedilo uma menina ela eacute da minha escola graccedilas

11 a Deus natildeo eacute da minha sala Ameacutem

12 Ela tem uma mente aberta uns gosto legais mas cara

13 ela desconhece a palavra limites isso a torna very chata

14 uma mina linda de opiniotildees legais que natildeo sabe ver quando natildeo a querem

15 por perto quando ela estar atrapalhando e natildeo entende

16 quando o papo ja ta chato e a pessoa ta fugindo dela mas mesmo assim

17 acha que a pessoa ta super interessada e ela se engana e

18 acaba se tornando uma chata eu a considero minha amiga

19 ela me apoia e me sempre da uma levantada na minha auto-estima

20 uma garota interessante agraves vezes e por tempos curtos ela eacute

21 daquele tipo de pessoas que a gente passa comprimenta e

22 natildeo para pra conversar so quando ela chama e as vezes ainda invento desculpas

23 pra natildeo ir e se vou quando passa de cinco minutos eu jaacute

24 fico SU-FO-CA-DA parece que ela estraga o papo

25

26 Enfim ser chato eacute natildeo saber quando vocecirc ta forccedilando a barra

27 eacute natildeo reconhecer quando vocecirc estar sendo chato

28 ser chato eacute natildeo ter limites afinal tudo tem Natildeo eacute mesmo Fonte Dados da pesquisa

Por fim Ana reescreveu seu texto colocando-o em 5 (cinco paraacutegrafos) e o elaborou

visando ao que a instruccedilatildeo da atividade requer um texto que possa inspirar reflexatildeo sobre o

que eacute ser chato e o que eacute ser legal poreacutem sem colocar a questatildeo do botatildeo de bloqueio da vida

real Atraveacutes dos exemplos Ana conduziu seu leitor a refletir atendendo aos criteacuterios de partir

de uma situaccedilatildeo vividaobservada como vemos nas linhas 10-24 e conversando com o leitor

como percebemos nas marcas linguiacutesticas em ldquoComo saber quando vocecirc estar sendo chatordquo

(linha 1) ldquoVocecirc se considera chatordquo (linha 6) ldquoSabe quando vocecirc estar sendo chatordquo (linha

7) e ldquoNatildeo eacute mesmordquo (linha 28) e descreve uma personagem ldquouma menina ela eacute da minha

escolardquo (linha 10) que inseriu em seu texto para ilustrar a situaccedilatildeo

Apesar de Ana ainda deixar a desejar em outros aspectos tanto textuais quanto

formais de convenccedilotildees da escrita percebemos que ela evoluiu no criteacuterio organizaccedilatildeo de

138

paraacutegrafos e emprego dos sinais de pontuaccedilatildeo Em ldquograccedilas a Deus natildeo eacute da minha sala

Ameacutemrdquo ela separa o termo Ameacutem do resto da frase com a viacutergula entendendo que eacute uma

expressatildeo que merecia realce e usa o ponto de exclamaccedilatildeo para expressar seu aliacutevio Ana

demonstra conhecer que o uso de marcas linguiacutesticas como o uso de maiuacutesculas e a separaccedilatildeo

silaacutebica podem dar forccedila a uma palavra fazendo-a ganhar maior expressividade como em ldquoSU-

FO-CA-DArdquo na linha 24 Ao longo de seu texto Ana emprega muitas palavras do cotidiano

giacuterias inclusive e marcas da oralidade ndash o que natildeo necessariamente eacute um problema em uma

crocircnica literaacuteria poreacutem conveacutem relembrar a questatildeo da experiecircncia e habilidade no uso de tais

de modo a natildeo cansar o leitor

Sua estrateacutegia para iniciar o texto foi partir da intertextualidade (ldquoBom depois de

ler um dos textos maravilhosos do Anaximandro Amorim lsquoo chato da vezrsquo despertou uma

vontade em mim de me aprofundar no assuntordquo linhas 1-3) Desse modo Ana fez uso da

informaccedilatildeo de uma de nossas aulas de quando trabalhamos com a crocircnica ldquoCarta de punhordquo

cuja leitura em sala e atividade de exploraccedilatildeo do texto mostrava que o autor cronista com

publicaccedilotildees frequentes no jornal buscava nas proacuteprias produccedilotildees retomar seus assuntos

passados Uma curiosidade que foi despertada em Ana para o momento havia sido ldquoe pode

isso professorardquo ao que respondemos afirmativamente poreacutem o sucesso da estrateacutegia viria

com o tempo e a experiecircncia de cada autor da intimidade que esse tivesse com a liacutengua materna

e com a situaccedilatildeo de produccedilatildeo tudo dentro do contexto

Consideramos assim que o uso da estrateacutegia pela aluna foi um ponto positivo em

sua participaccedilatildeo posto que caracteriza envolvimento com o projeto e as aulas Ademais desejar

fazer mais uma reescrita quando natildeo havia mais a exigecircncia pois como dissemos jaacute haviacuteamos

encerrado os moacutedulos e estaacutevamos reescrevendo o texto para circulaccedilatildeo social eacute um ponto

bastante positivo no tocante aos procedimentos de escritor apoacutes algum tempo ela releu seu

texto achou-o inadequado ou insuficiente para as caracteriacutesticas do que se estava estudando e

produzindo e tomou a iniciativa de refazecirc-lo

139

6 CONCLUSAtildeO

O foco principal de nosso trabalho foi o desenvolvimento da competecircncia

comunicativa escrita Para tanto consideramos o processo tendo como produto o texto cujo

valor real foi-lhe atribuiacutedo valor social com direito a circulaccedilatildeo levado a puacuteblico

O gecircnero escolhido foi a crocircnica literaacuteria Poderia ter sido outro visto que o trabalho

com o processo de escrita dentro de uma sequecircncia didaacutetica comporta qualquer gecircnero textual

Poreacutem como dissemos na introduccedilatildeo a escolha do gecircnero partiu de uma motivaccedilatildeo pessoal

Passado todo o processo da escolha de como trabalhar ateacute a publicaccedilatildeo dos textos

julgamos oportuno avaliar todos os acircmbitos

Por percebermos ao longo dos anos de experiecircncia que vaacuterios alunos produzem

seus textos sem recorrer agrave etapa do planejamento a da revisatildeo e a da reescrita visamos entatildeo

nesta pesquisa devido agrave ausecircncia de tais procedimentos responder agraves seguintes questotildees-

problema desdobradas a partir da questatildeo baacutesica como ensinar a produccedilatildeo escrita no 9ordm ano do

Ensino Fundamental enfocando o ato de redigir como um processo visto que haacute estudantes

deste niacutevel que normalmente natildeo tecircm o haacutebito de planejar seus textos

A partir desse questionamento nos perguntamos

a) que atividades pedagoacutegicas possibilitam aos alunos a consciecircncia de que eacute

preciso desenvolver estrateacutegias proacuteprias (recorrer agrave etapa do planejamento da

revisatildeo e da reescrita) para produzir seus textos

b) de que forma o conhecimento sobre a estrutura composicional de um gecircnero

pode ajudar a superar as dificuldades

c) a comparaccedilatildeo das produccedilotildees inicial e final permitiraacute associar a melhoria do

desempenho da competecircncia escrita e a apropriaccedilatildeo do gecircnero crocircnica literaacuteria ao

desenvolvimento da sequecircncia de atividades

Buscando encontrar uma praacutetica que resultasse em textos melhores fizemos uso

em nossa sequecircncia de atividades de teorias que norteassem o trabalho com a escrita como

processo com a sequecircncia didaacutetica com gecircnero textual e com o gecircnero crocircnica narrativa A

importacircncia desse aparato teoacuterico para o professor que visa minimizar as dificuldades dos

alunos e diminuir a praacutetica da escrita improvisada permite-lhe compreender como se daacute o

processo cognitivo durante a produccedilatildeo de um texto o que o leva a considerar para seu trabalho

com os alunos aspectos como audiecircncia e circulaccedilatildeo social reais como praacuteticas de uma

140

sociedade letrada o que vai aleacutem da preocupaccedilatildeo com a gramaacutetica e a ortografia apenas de

um texto produzido somente para o professor e a nota

Ao longo da aplicaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica confirmamos o que a experiecircncia de

sala ao longo dos anos apontava o conhecimento sobre a estrutura composicional de um gecircnero

pode ajudar a superar as dificuldades de escrita por mostrar ao aluno o que precisa estar contido

em seu texto Os exemplos que o professor venha a trabalhar em sala com a turma mostram

modelos de gecircneros com aspectos que podem sim ser imitados de iniacutecio ateacute que quando o

aluno ganhe experiecircncia possa manejar melhor as palavras e as ideias que deseje colocar para

seu leitor assumindo assim um estilo proacuteprio de escrita

Como professora realizar a pesquisa nos permitiu refletir sobre a nossa proacutepria

praacutetica posto que superar as proacuteprias deficiecircncias no ensino da produccedilatildeo textual foi uma grande

inquietaccedilatildeo Reconhecer as praacuteticas nos foi importante para saber em que aspectos ainda temos

desafios a superar e para reforccedilar e desenvolver aspectos positivos em noacutes Ter clareza de como

se situam os iacutendices de avaliaccedilatildeo na turma na escola no municiacutepio no estado e no paiacutes tambeacutem

foi bastante importante Normalmente a tendecircncia coletiva estaacute em descrer na educaccedilatildeo poreacutem

mesmo que muito lentamente observamos progresso histoacuterico na concepccedilatildeo de aprendizado da

liacutengua materna no valor que eacute dado agrave leitura e agrave escrita

Apoacutes as oficinas a anaacutelise dos objetivos elencados ao iniacutecio de todo o processo

com dados comparativos entre produccedilatildeo inicial e produccedilatildeo final constatamos a relevacircncia da

hipoacutetese baacutesica os alunos do 9ordm ano produziram textos na etapa final das oficinas utilizando-

se das caracteriacutesticas do gecircnero textual crocircnica literaacuteria compreendendo que escrita eacute interaccedilatildeo

valorizando o uso social da escrita de acordo com a proposta teoacuterica de gecircnero preparando

seus textos pautados nas etapas do processo de redigir conforme as orientaccedilotildees dadas em sala

de aula

Sobre nossas hipoacuteteses secundaacuterias pensamos que eacute possiacutevel sim motivar os

alunos a escrever ao desenvolver com eles atividades voltadas para os diferentes subprocessos

e habilidades envolvidos no ato de redigir Poreacutem para haver o engajamento e resultar em uma

turma que escreva textos compatiacuteveis com o grau de desenvolvimento de habilidades esperadas

para o ano que cursam enfrentamos desafios como o aspecto do imediatismo e da recompensa

A natildeo adesatildeo de vaacuterios alunos ao projeto se deu por este natildeo valer nota Portanto

sem uma recompensa imediata natildeo houve o engajamento Nossos alunos infelizmente natildeo

estatildeo habituados a pensar a longo prazo a planejar alcanccedilar metas nem integrar atividades que

lhes facilitem a vida estudantil no futuro Talvez ndash pensamos ndash nem a cultura escolar abranja

141

ainda um trabalho soacutelido e constante nesse sentido Apesar disso haacute professores que se

empenham em fazer um trabalho constante de leitura e na medida do possiacutevel de escrita ao

qual fizemos nossa contribuiccedilatildeo

Por uacuteltimo apoacutes a realizaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica proposta ao contrastarmos as

produccedilotildees inicial e final dos alunos principalmente no que concerne agrave produccedilatildeo realizada para

fins de circulaccedilatildeo social real considerando uma audiecircncia real verificamos um desempenho

mais satisfatoacuterio em relaccedilatildeo agrave competecircncia discursiva realizada no gecircnero crocircnica literaacuteria

visto que os processos de escrita foram considerados no ato da produccedilatildeo de suas proacuteprias

crocircnicas

Para que essa produccedilatildeo fosse efetiva houve que se ter em mente na elaboraccedilatildeo dos

moacutedulos que qualquer tarefa de escrita bem-sucedida requer o exerciacutecio da escrita e da reescrita

Esse processo de aperfeiccediloamento dos textos demanda da parte do professor planejamento

para conhecer as necessidades de natureza geral da turma para trabalhar as caracteriacutesticas de

um gecircnero bem como as de natureza individual do aluno como as limitaccedilotildees no

reconhecimento do gecircnero textual na progressatildeo narrativa nas convenccedilotildees da escrita culta

Pensamos que poderia ser interessante para o aperfeiccediloamento desta SD ampliar e

diversificar mais os textos que compotildeem o moacutedulo de reconhecimento para antes da primeira

produccedilatildeo dos alunos visando oferecer uma visatildeo mais ampla do gecircnero Aleacutem disso

percebemos que tambeacutem eacute preciso que enquanto professores trabalhemos recorrentemente a

instruccedilatildeo da produccedilatildeo com os alunos no sentido de que eles compreendam que natildeo apenas um

aspecto seja escolhido para ser trabalhado mas todos os que nela estatildeo contidos

Aplicar uma SD eacute um trabalho que exige bastante do professor pois se trata de

conhecer o perfil de cada turma em que se decide aplicar um projeto de escrita diagnosticar

planejar os moacutedulos e pensar que o produto pode e deve ter circulaccedilatildeo no meio social Para

tanto eacute importante frisar que a rede de ensino acolha e apoie o professor motivando-o e

possibilitando-lhe as condiccedilotildees necessaacuterias e adequadas para o desenvolvimento de projetos de

escrita dentre as quais podemos mencionar formaccedilatildeo continuada que incentive os projetos de

escrita reforccedilo agraves condiccedilotildees dos materiais das escolas manter o nuacutemero de alunos adequado

nas salas evitando a superlotaccedilatildeo

No tocante aos alunos especialmente os que integraram todos os encontros de todos

os moacutedulos notamos que estes afirmaram que amadureceram ao longo do processo aprendendo

gradualmente a ter controle de sua escrita relendo quando necessaacuterio refletindo buscando

142

clareza Tambeacutem apreciaram muito poder opinar sobre os textos dos colegas visto que estavam

se apropriando das caracteriacutesticas do gecircnero estudado e sentiram seguranccedila para colaborar

Quanto ao trabalho com nuacutemero reduzido de alunos ao permanecerem no projeto

apenas aqueles que se interessaram em melhorar seu desempenho pessoal em leitura e produccedilatildeo

conforme eles mesmos disseram o grupo menor ficou mais coeso e permitiu-lhes liberdade

para trabalhar fosse com discussotildees sugestotildees ou mesmo para dar apoio ateacute mesmo na hora

de ler em voz alta para todos Foi um progresso coletivo e reafirmou a amizade entre o grupo e

tambeacutem conosco por ver que a colaboraccedilatildeo era acompanhada de afetividade

A produccedilatildeo dos textos para circulaccedilatildeo social escrevendo no celular foi produtiva

visto que oportunizou aos alunos o uso da tecnologia que eles afirmam preferir permitindo

agravequeles que natildeo gostam muito de produzir textos com os recursos tradicionais (folha de

produccedilatildeo e caneta) participarem ativamente do processo de produccedilatildeo textual Essa tecnologia

pode ser considerada para futuros trabalhos com alunos do ensino fundamental

Gostariacuteamos de mencionar que este trabalho do iniacutecio ao fim tratou com questotildees

de motivaccedilatildeo e inquietaccedilotildees reais e pessoais A queda abrupta do nuacutemero de participantes

desde o momento da adesatildeo ateacute o da produccedilatildeo para a circulaccedilatildeo eacute reflexo dos desafios que

qualquer professor enfrenta em sua sala cotidianamente No entanto as aulas regulares

diferentemente da proposta da aplicaccedilatildeo do projeto tecircm consigo uma carga de obrigatoriedade

ao exigir a frequecircncia a assiduidade a entrega de tarefas e as avaliaccedilotildees ndash itens que compotildeem

a nota para a aprovaccedilatildeo anual

Em decorrecircncia dessa obrigatoriedade se contrastarmos o desempenho dos alunos

no projeto ao seu desempenho regular na sala de aula de qualquer disciplina natildeo apenas na

liacutengua portuguesa veremos estudantes sem uma motivaccedilatildeo que os conecte ao desenvolvimento

das aulas natildeo permitindo o amadurecimento de suas capacidades e habilidades Como

professora da turma que aplicou o projeto sem exigecircncia de notas percebi que os alunos em

sua maioria natildeo gostariam de estar na escola Muitos natildeo veem ainda sentido em estar presentes

uma tarde inteira 20 (vinte) horas semanais sentados copiando tendo preguiccedila de elaborar

reflexotildees

Esse comportamento desmotivado que se generaliza em escolas de diversos pontos

do Paiacutes desanima tambeacutem os professores gerando a consequecircncia de ao inveacutes de buscarem

novas estrateacutegias para as aulas acabarem mantendo a praacutetica e ainda se conformando com o

senso comum de que ldquoesses alunos natildeo querem nadardquo fora a conjuntura social e econocircmica que

143

por si soacute eacute desanimadora ao limitar recursos e investimentos em educaccedilatildeo desvalorizando a

figura do professor

Gostariacuteamos de acrescentar que sim eles querem Mas ainda natildeo sabem ao certo o

que querem E talvez o que eles possam vir a querer ainda natildeo esteja sendo claramente

apresentado pois atividades tradicionais natildeo os atraem a querer conhecer mais e aprender mais

sobre determinados assuntos que podem acrescentar-lhes agrave vida diaacuteria Ficaria aiacute um desafio ao

professor ao projeto poliacutetico pedagoacutegico da escola e agraves redes de educaccedilatildeo baacutesica repensar o

curriacuteculo para os estudantes deste seacuteculo

Como pudemos observar este trabalho teve sim lacunas que podem ser sanadas

com outras pesquisas Apesar disso acreditamos que a pesquisa-accedilatildeo que realizamos pocircde

aleacutem de ofertar contribuiccedilotildees no acircmbito acadecircmico ao evidenciar vitoacuterias e expor os desafios

encorajar os alunos participantes da pesquisa principalmente os que tiveram a compreensatildeo de

que sua participaccedilatildeo lhes valeria para aleacutem de integrar pontos para uma nota no sentido de que

se permitiram evoluir como produtores de texto em sua liacutengua materna direito que lhes cabe

desde o momento em que satildeo reconhecidos cidadatildeos e que ingressam nas escolas brasileiras

144

REFEREcircNCIAS

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Brasiacutelia MECSEF 1998 106 p

145

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica Secretaria de Educaccedilatildeo

Continuada Alfabetizaccedilatildeo Diversidade e Inclusatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Profissional e

Tecnoloacutegica Conselho Nacional da Educaccedilatildeo Cacircmara Nacional de Educaccedilatildeo Baacutesica

Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educaccedilatildeo Baacutesica Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica Diretoria de Curriacuteculos e Educaccedilatildeo Integral Brasiacutelia MEC

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Escrita para que te quero Fortaleza Ediccedilotildees Demoacutecrito Rocha UECE 2005 Coleccedilatildeo

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VIEIRA Iuacuteta Lerche Escrita para que te quero In VIEIRA Iuacuteta Lerche Escrita para que

te quero Fortaleza Ediccedilotildees Demoacutecrito Rocha UECE 2005 Coleccedilatildeo Magister p 13-14

VIEIRA Iuacuteta Lerche Abordagem imitativa da redaccedilatildeo trabalhando com formatos e gecircneros

In VIEIRA Iuacuteta Lerche Escrita para que te quero Fortaleza Ediccedilotildees Demoacutecrito Rocha

UECE 2005 Coleccedilatildeo Magister p159-171

148

APEcircNDICE A ndash ATIVIDADES PROPOSTAS PARA A SEQUEcircNCIA DIDAacuteTICA

Para compor o momento da apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo da sequecircncia de atividades

sensibilizamos os alunos com as caracteriacutesticas baacutesicas das crocircnicas contemporacircneas que foram

descritas na seccedilatildeo correspondente e resgatadas agora organizaccedilatildeo de sua narrativa em primeira

ou terceira pessoa quase sempre como quem conta um caso em tom intimista uma narraccedilatildeo

em que o autor insere em seu texto trechos de diaacutelogos permeados por expressotildees cotidianas

escrevendo como quem conversa com seus leitores como se estivessem muito proacuteximos uso

de temaacuteticas que tratam de reflexotildees sobre a vida social poliacutetica econocircmica por vezes de forma

humoriacutestica outras de modo mais seacuterio outras com jeito poeacutetico permitindo o pertencimento

do gecircnero agrave esfera literaacuteria emprego de linguagem que mescla aspectos da escrita com outros

da oralidade preferecircncia pela brevidade leveza faacutecil acesso e envolvimento Esperamos que

ao final da atividade que aleacutem de respondida por escrito mas principalmente oralmente os

alunos atentem para essas caracteriacutesticas e possam ter um norte quando chegar o momento de

sua primeira produccedilatildeo

Atividade nordm 1

Prova Falsa

Seacutergio Porto (Stanislaw Ponte Preta)

Quem teve a ideia foi o padrinho da caccedilula ndash ele me conta Trouxe o cachorro de

presente e logo a famiacutelia inteira se apaixonou pelo bicho Ele ateacute que natildeo eacute contra isso de se ter

um animalzinho em casa desde que seja obediente e com um miacutenimo de educaccedilatildeo

mdash Mas o cachorro era um chato mdash desabafou

Desses cachorrinhos de raccedila cheio de nheacutem-nheacutem-nheacutem que comem comidinha

especial precisam de muitos cuidados enfim um chato de galocha E como se isto natildeo

bastasse implicava com o dono da casa

mdash Vivia de rabo abanando para todo mundo mas quando eu entrava em casa vinha

logo com aquele latido fininho e antipaacutetico de cachorro de francesa

Ainda por cima era puxa-saco Lembrava certos poliacuteticos da oposiccedilatildeo que

espinafram o ministro mas quando estatildeo com o ministro ficam mais por baixo que tapete de

poratildeo Quando cruzavam num corredor ou qualquer outra dependecircncia da casa o desgraccedilado

rosnava ameaccedilador mas quando a patroa estava perto abanava o rabinho fingindo-se seu

amigo

mdash Quando eu reclamava dizendo que o cachorro era um ciacutenico minha mulher

brigava comigo dizendo que nunca houve cachorro fingido e eu eacute que implicava com o

ldquopobrezinhordquo

Num raacutepido balanccedilo poderia assinalar o cachorro comeu oito meias suas roeu a

manga de um paletoacute de casimira inglesa rasgara diversos livros natildeo podia ver um peacute de sapato

que arrastava para locais incriacuteveis A vida laacute em sua casa estava se tornando insuportaacutevel

Estava vendo a hora em que se desquitava por causa daquele bicho cretino Tentou mandaacute-lo

embora umas vinte vezes e era uma choradeira das crianccedilas e uma espinafraccedilatildeo da mulher

mdash Vocecirc eacute um desalmado mdash disse ela uma vez

Venceu a guerra fria com o cachorro graccedilas agrave maacute educaccedilatildeo do adversaacuterio O

catildeozinho comeccedilou a fazer pipi onde natildeo devia Vaacuterias vezes exemplado prosseguiu no feio

viacutecio Fez diversas vezes no tapete da sala Fez duas na boneca da filha maior Quatro ou cinco

vezes fez nos brinquedos da caccedilula E tudo culminou com o pipi que fez em cima do vestido

novo de sua mulher

149

mdash Aiacute mandaram o cachorro embora mdash perguntei

mdash Mandaram Mas eu fiz questatildeo de daacute-lo de presente a um amigo que adora

cachorros Ele estaacute levando um vidatildeo em sua nova residecircncia

mdash Ueacutehellip mas vocecirc natildeo o detestava Como eacute que arranjou essa sopa pra ele

mdash Problema da consciecircncia mdash explicou mdash O pipi natildeo era dele

E suspirou cheio de remorso

(Disponiacutevel em httpcontobrasileirocombrprova-falsa-cronica-de-sergio-porto-stanislaw-ponte-preta Acesso

em 2612017)

Questotildees

1 Quantos personagens aparecem na histoacuteria Quais vocecirc diria que satildeo os principais

2 Quem teve a ideia foi o padrinho da caccedilula ndash ele me conta

A frase ele me conta eacute um recurso que mostra que a conversa de dois amigos eacute

repassada a uma terceira pessoa Quem eacute ela

3 Que recursos linguiacutesticos mostram a fala do marido e dono da casa onde estava o

cachorro

4 E quais identificam a fala do amigo

5 Onde o marido e seu amigo parecem conversar

6 A partir da fala do marido e das explicaccedilotildees do amigo quais eram as caracteriacutesticas do

cachorro

7 () e eu eacute que implicava com o ldquopobrezinhordquo

Por que pobrezinho estaacute entre aspas

8 Quando aconteceu a histoacuteria

9 Qual foi o problema da histoacuteria

10 Como foi resolvido

11 O destino dado ao cachorro surpreendeu ao amigo Por quecirc

12 Afinal quem era culpado na histoacuteria

13 Que tom predominantemente foi dado a esse texto Humor ironia criacutetica reflexatildeo

lirismo

14 Qual foi o tema principal do texto Vocecirc apontaria outros temas que aparecem na

leitura

15 Que comparaccedilotildees o autor faz com o cachorro Haacute alguma criacutetica Explique

16 Vocecirc conhece o significado das palavrasexpressotildees a seguir Veja

nheacutem-nheacutem-nheacutem chato de galocha puxa-saco

espinafrar espinafraccedilatildeo desquitava guerra fria

vidatildeo sopa

17 Que palavras satildeo usadas no texto para se referir agrave esposa

18 E suspirou cheio de remorso

Explique o valor dessa frase para o contexto da histoacuteria

Atividade nordm 2

Abandono de animais eacute crime e precisa ser denunciado

Por Canal do Pet | 26072016

150

Aleacutem do abandono de animais praacuteticas como bater negar aacutegua ou alimento tambeacutem

satildeo consideradas crime saiba como denunciar

Infelizmente o abandono de animais estaacute cada dia mais presente nos noticiaacuterios

Mesmo com tantas campanhas contra a praacutetica muita gente ainda comete esse crime -

principalmente quando eacute eacutepoca de feacuterias mesmo natildeo havendo um nuacutemero exato as estatiacutesticas

dos institutos de pesquisa afirmam que nos periacuteodos de feacuterias haacute um pico no abandono de

animais Existem muitos relatos de donos que deixam os cachorros em pet shops veterinaacuterios

e hoteacuteis para cachorro e simplesmente nunca mais voltam para buscaacute-los Esse problema pode

estar atrelado a decisatildeo precipitada de ter um animal de estimaccedilatildeo

A Lei 960598 (Lei de Crimes Ambientais) prevecirc os maus-tratos como crime O

decreto 2464534 (Decreto de Getuacutelio Vargas) determina quais atitudes podem ser consideradas

como maus-tratos Qualquer pessoa que for testemunha de um abandono de

animais domeacutesticos ou exoacuteticos pode ir agrave delegacia mais proacutexima A Promotora de Justiccedila

permite a denuacutencia anocircnima Mas para que a denuacutencia seja realizada vocecirc precisa ter certeza

do crime pois uma acusaccedilatildeo falsa eacute outro crime Aleacutem disso no momento da denuacutencia na

delegacia eacute preciso passar o maior nuacutemero de informaccedilotildees possiacuteveis em relaccedilatildeo ao infrator

como seu endereccedilo residencial ou comercial

Caso o animal esteja abandonado em um terreno baldio ou propriedade particular

por exemplo natildeo hesite em invadir o local para salvar o bichinho a sua accedilatildeo seraacute amparada

pela lei O decreto de lei nuacutemero 284840 artigo 24 considera a invasatildeo para salvamento de

um animal em perigo uma atitude de necessidade e portanto natildeo haveraacute nenhum tipo de

puniccedilatildeo

Aleacutem do abandono outras praacuteticas satildeo consideradas crimes pela lei Uma delas eacute o

atropelamento de um animal sem que haja a prestaccedilatildeo de assistecircncia por parte do condutor do

veiacuteculo tambeacutem eacute ilegal Se presenciar essa situaccedilatildeo anote a placa do carro hora e local Outra

eacute a ameaccedila de envenenamento Bater espancar prender por correntes recusar aacutegua e comida e

obrigar ao trabalho excessivo tambeacutem satildeo praacuteticas proibidas

Algumas pessoas preferem natildeo denunciar pelo fato do infrator ser algueacutem proacuteximo

um amigo ou familiar por exemplo Mas lembre-se de que eacute possiacutevel efetuar a denuacutencia de

maus tratos ou abando de animais de forma anocircnima Por isso ao presenciar qualquer situaccedilatildeo

que possa colocar um animal em risco tire foto grave um viacutedeo tenha provas concretas do

acorrido e denuncie Vocecirc seraacute apenas a testemunha o Estado faraacute o restante

Disponiacutevel em httpcanaldopetigcombrcuidados2016-07-26abandono-de-animaishtml Acesso em 22 de

agosto de 2017

Atividade nordm 3

O chato da vez Anaximandro Amorim

Ai meu Deus eu sou muito chato afirmou um amigo em uma conversa informal

Engraccedilado Eu natildeo o acho chato muito pelo contraacuterio Gosto da companhia dele Seraacute que ele

natildeo estaria sendo muito duro consigo mesmo Ou seraacute que eu sou tatildeo chato quanto ele

E vocecirc leitor Vocecirc eacute chato Todo mundo eacute chato ningueacutem eacute chato Do alto desses

meus quase quarenta anos de vida percebi que chatice natildeo eacute qualidade eacute estado de espiacuterito

Dependo de quem quando e onde E sem menos perceber vocecirc leitor pode ser o chato da

vez Cuidado

Foi o que me aconteceu esses dias Um colega insinuou que eu estava sendo chato

Foi num arroubo de fuacuteria o cidadatildeo estava tendo um ataque de nervos Dizem que eacute assim que

151

as verdades vecircm agrave tona Engraccedilado sempre achei que o havia tratado com distinccedilatildeo Talvez

essa fosse tal ldquochaticerdquo ser educado com as pessoas num mundo cada vez mais carente disso

Bom melhor ser chato do que grosso neacute

Particularmente faccedilo tudo para natildeo ser chato Tento ser discreto falar o menos

possiacutevel ouccedilo mais pergunto quase nada sobre a vida particular das pessoas Acho chato

quando fazem isso comigo Natildeo gosto de pegar no peacute A reciacuteproca eacute verdadeira Mas acho que

agraves vezes por medo da chatice acabo chateando algumas pessoas Haacute uma linha muito tecircnue

nesse negoacutecio todo Chato eacute natildeo saber a hora de ultrapassaacute-la E no fundo todo mundo a

ultrapassa

Esses dias aliaacutes fui agrave forra Havia um chato que me chateava haacute uns dois anos

Chato de rede social Daqueles que veem a gente uma duas vezes no maacuteximo e jaacute acham que

podem tomar certas liberdades Meu pavio eacute ateacute meio longo mas chegou uma hora que natildeo

deu Bloqueei o sujeito Estava chato demais Eacute uma pena que na vida real a gente natildeo tenha

esse botatildeo Ia ter tanta gente para bloquear

Em todo caso discordo desse meu amigo Acho que dois chatos natildeo se datildeo Ou ele

estava chato ou era eu Ou na posiccedilatildeo em que estaacutevamos natildeo dava para saber Se bem que

chato que eacute chato natildeo se acha chato Os outros eacute que acham Assim melhor terminar esta

crocircnica que estaacute uma grande chatice por aqui Antes que algueacutem ache definitivamente que o

chato da vez sou eu

Disponiacutevel em httpanaximandroamorimcombrAbreEmDIV]ajaxasplink=amateriaampid=127 Acesso em

24 mai 2017

Questotildees

1 Vamos falar de marcas de autoria

a) De quem eacute a voz que fala no texto Que idade tem essa voz Essa voz fala com algueacutem

Com quem Mostre alguma(s) passagem que indique isso

b) Onde a situaccedilatildeo se passa Haacute algum lugar especiacutefico

c) Esse texto estaacute no passado no presente ou no futuro

d) Do que trata a situaccedilatildeo Ela surgiu de alguma ocasiatildeo especiacutefica Se sim qual

2 O que o autor nos leva a entender que eacute ldquoser chatordquo

3 Que sensaccedilotildees esse texto despertou em vocecirc Explique

4 Vocecirc se considera um(a) chato(a) Por quecirc Em que ocasiotildees

5 Quando o assunto eacute redes sociais

a) Vocecirc tem alguma Qual

b) Com que frequecircncia vocecirc acessa

c) Vocecirc costuma escrever e postar Que tipo de material (textos fotos viacutedeos)

d) Vocecirc tem haacutebito de acompanhar postagens de algueacutem Que tipo de posts vocecirc

acompanha Costuma interagir por meio de comentaacuterios de expressatildeo de opiniatildeo

6 Vamos ver se vocecirc conhece o significado das palavrasexpressotildees a seguir

com distinccedilatildeo pegar no peacute

linha muito tecircnue fui agrave forra

7 Leia o trecho abaixo

Meu pavio eacute ateacute meio longo mas chegou uma hora que natildeo deu Bloqueei o sujeito

Estava chato demais Eacute uma pena que na vida real a gente natildeo tenha esse botatildeo Ia ter tanta

gente para bloquear

a) Qual eacute sua opiniatildeo sobre o pensamento que o autor expressa no trecho acima

b) Vocecirc tambeacutem teria gente para bloquear Por que razotildees

152

c) Agora vamos produzir Inspirado(a) nessa temaacutetica do trecho acima produza um texto

em forma de crocircnica que converse com seu leitor sobre o que eacute ser legal e ser chato a

partir de situaccedilotildees que vocecirc tenha vivenciado e ou observado Vamos determinar quem

seraacute esse leitor

bull Tem a sua idade

bull Acessa redes sociais

bull Lecirc e posta com frequecircncia

bull Interage com as postagens que estatildeo na rede seja de amigos pessoais ou apenas de

outros usuaacuterios

Antes de comeccedilar pense que sensaccedilotildees eu quer causar no meu leitor

Quero fazecirc-lo rir Se emocionar Refletir Que outras sensaccedilotildees seriam possiacuteveis

Faccedila entre 3 e 6 paraacutegrafos Vocecirc pode usar personagens que conversem e

expliquem o assunto (como em Prova Falsa) ou falar diretamente com seu leitor (como

em O chato da vez) Releia Reescreva o que natildeo estiver bem ao seu gosto Ao terminar

seu texto decirc-lhe um tiacutetulo coerente e passe a limpo na folha de produccedilatildeo Bom trabalho

Atividade nordm 4

Manias Ana Mello

Dos vaacuterios significados que meu amigo Aureacutelio apresenta o melhor diz que mania

eacute uma ideia fixa obsessatildeo Mau costume tambeacutem eacute bem significativo Ou extravagacircncia

esquisitice

Dizem por aiacute que vamos ficando velhos e as manias aumentam e se consolidam Eacute

verdade eu observo nos mais velhos do que eu Poucos conseguem controlar aquele impulso

profundo de dar sua opiniatildeo Essa eacute uma mania das mais chatas Repeti-la muitas vezes entatildeo

eacute maccedilante

Jaacute descobri tambeacutem que eacute quase inevitaacutevel ter manias na velhice muitas vecircm da

juventude mesmo condenamos e depois de um tempo fazemos igual sem cerimocircnia alguma

Uma amiga me enviou uma oraccedilatildeo sob o tiacutetulo ldquoOraccedilatildeo para ser uma velhinha

legalrdquo Vou fazer todos os dias e envio coacutepia a quem precisar Separei algumas frases as mais

interessantes

Livrai-me Senhor da tolice de achar que devo dizer algo em toda e qualquer

ocasiatildeo Deste desejo enorme que tenho de querer pocircr em ordem a vida dos outros Da tolice

de querer contar tudo com detalhes e minuacutecias e daacute-me asas para voar diretamente ao ponto que

interessa Jaacute descobri que pessoas que acertam sempre satildeo maccedilantes e desagradaacuteveis Livrai-

me de ser santa Eacute difiacutecil conviver com Santos Mas uma velha rabugenta Senhor eacute obra prima

do diabo

Acho que a oraccedilatildeo pode ser feita por pessoas jovens tambeacutem pois essas manias natildeo

satildeo exclusivas das velhinhas

Fiquei agora com uma duacutevida seraacute que escrever crocircnicas semanais e mandar para

todos os amigos eacute mania Se for azar o de vocecircs amigo eacute para isso mesmo

Enviado por Ana Mello em 02112007

Coacutedigo do texto T720831

Disponiacutevel em httpwwwrecantodasletrascombrcronicas720831

153

Acessado em 23102017

1 Quem eacute ldquomeu amigo Aureacuteliordquo

2 Que exemplos de manias a autora nos apresenta em seu texto

3 Que impressotildees esse texto causou em vocecirc

4 Segundo essa crocircnica quem tem manias Vocecirc concorda Por quecirc

5 Liste aqui manias que vocecirc sabe que tem Apoacutes terminar pense vocecirc as considera

boas ou maacutes manias Por quecirc

6 Vamos fazer um exerciacutecio de escrita Escreva uma crocircnica em que vocecirc fale de suas

manias Converse com o leitor conte a ele suas experiecircncias Faccedila comparaccedilotildees com

pessoas que vocecirc conhece Vocecirc pode inclusive comparar-se hoje a vocecirc daqui a uns

quarenta anos Como seraacute que suas manias vatildeo ser Vatildeo parecer com as das pessoas

mais velhas que vocecirc conhece e convive mas cujas manias vocecirc tanto critica Seratildeo

manias diferentes Seratildeo melhores ou piores

Obs coloque um tiacutetulo interessante e que chame a atenccedilatildeo de seu leitor

Pense que seu texto poderia ser publicado num blog ou mesmo numa paacutegina de rede

social ndash sendo assim que tipo de leitor vai ler o seu texto Ao terminar releia arrume

as ideias e passe a limpo para a folha de produccedilatildeo textual

Atividade nordm 5

Pacto apoacutes morte natildeo podia ver faca Nonato Reis

Essa histoacuteria de prometer retornar ao mundo dos vivos apoacutes o desenlace soa

esquisito e jaacute colocou muita gente em maus lenccediloacuteis A morte pelo misteacuterio que carrega incute

a curiosidade de tentar desvendaacute-la e saber o que de fato existe por traacutes dela Eacute uma questatildeo

que permaneceraacute insoluacutevel ateacute que a ciecircncia elucide-a se eacute que isso algum dia ocorreraacute

Enquanto natildeo atingimos esse estaacutegio temos que ficar com o relato daqueles que se dizem

viacutetimas ou privilegiados de experiecircncias poacutes-tuacutemulo

No Ibacazinho na Palmela no Muricituba e no Marimar era comum as pessoas

fazerem promessas agrave semelhanccedila do pacto selado entre Alvinho e Pau Ferro Na maioria das

vezes o defunto natildeo conseguia voltar deixando frustrados ou aliviados aqueles com quem fez

o acordo Foi o caso de Rui um primo meu que ldquose acertourdquo com Ponina aquela tia-avoacute

descrita em uma de minhas crocircnicas

Rui era um dos poucos que natildeo tinham medo da Tapera de Maria Fernandes Tanto

que decidiu erguer casa justo ali naquele retacircngulo amaldiccediloado e por muito tempo antes de

se casar foi morador solitaacuterio do lugar sem nunca jamais ter visto qualquer coisa fora do

universo dos vivos

Os dois combinaram que aquele que morresse primeiro viria dar sinal ao outro na

noite posterior ao sepultamento Ponina que devia ser uns 50 anos mais velha do que ele tinha

a maior probabilidade de ficar com a obrigaccedilatildeo de cumprir o trato e foi o que aconteceu Poreacutem

os dias e as noites passaram apoacutes o falecimento dela sem que a finada desse qualquer sinal da

sua presenccedila para Rui

Eu tambeacutem caiacute nessa besteira de fazer uma promessa com uma menina do primeiro

ano meacutedio e vivi uma situaccedilatildeo constrangedora Rosa era baixinha corpo bem feito cabelos no

estilo pigmaleatildeo excelente aluna fera em Matemaacutetica e Fiacutesica Nossa aproximaccedilatildeo se deu por

estrateacutegia de aprendizado

154

Eu tinha facilidade em Portuguecircs e Redaccedilatildeo uacutenicas mateacuterias que ela natildeo dominava

e precisava de reforccedilo em Fiacutesica e Matemaacutetica Selamos um pacto de ajuda muacutetua nessas

disciplinas que depois se estendeu para depois da vida ldquoSe eu morrer primeiro eu apareccedilo

para ti em plena Rua Grande apinhada de gente e se tu fores primeiro do que eu tu me surges

agrave noite no meu quartordquo

Eu natildeo entendi o porquecirc da escolha do local da minha apariccedilatildeo mas aceitei Os

anos se passaram eu entrara para a universidade perdi o contato com ela Um dia caminhando

pela Rua Grande veacutespera de Natal gente feito formiga dei de cara com aquela menina

tampinha cabelos no mesmo estilo de antes que diante de mim abriu um enorme sorriso e abriu

os braccedilos para me acolher Eu caiacute das nuvens mas antes que ela me alcanccedilasse danei a correr

feito louco fazendo zigue-zague entre as pessoas ateacute esbarrar num orelhatildeo e me estatelar no

chatildeo o rosto sangrando Assustada Rosa ajoelhou-se diante de mim e quis saber o motivo

daquela reaccedilatildeo ldquoCara o que eacute isso Tu viu fantasmardquo Eu baixei a cabeccedila o coraccedilatildeo prestes a

explodir e natildeo consegui dizer nada

Situaccedilatildeo pior viveu o professor Auriacutelio Vieira de Andrade que fizera um pacto

desses com um primo ainda menino Ele cresceu veio estudar em Satildeo Luiacutes e levou anos para

retornar ao interior Um belo dia em feacuterias na casa paterna Auriacutelio conversava com a matildee em

volta do fogatildeo de lenha quando do nada surgiu o menino da promessa e o pegou pelo braccedilo

dizendo ldquoVamos eu vim te buscarrdquo

Ele natildeo se lembrava mais da estoacuteria nem do menino Pensou que se tratava de uma

brincadeira e reagiu com naturalidade ldquoCalma para onde vocecirc quer me levarrdquo O menino

respondeu ldquopara o aleacutemrdquo Auriacutelio sorriu ldquomas eu ainda natildeo quero ir para o aleacutemrdquo O menino

natildeo se deu por vencido ldquoNatildeo importa a tua vontade vocecirc fez um pacto comigo e eu vim te

buscarrdquo

Foi entatildeo que o caso ressurgiu liacutempido na memoacuteria de Auriacutelio e ele viu que a coisa

era seacuteria A matildee percebendo a gravidade da situaccedilatildeo poreacutem sem avistar o menino tratou de

ajudar o filho segurando-o pelo braccedilo mas notou que havia uma energia ali muito maior que a

resistecircncia de ambos e apelou aos ceacuteus pedindo socorro divino

Auriacutelio jaacute desaparecia na porta da rua quase que levado aos trambolhotildees

Desesperada a matildee comeccedilou a rezar o Pai Nosso e o Credo e soacute assim conseguiu ter o filho de

volta Auriacutelio poreacutem viveu dias amargos ldquoPassei quase um mecircs deprimido Soacute pensava em

suiciacutedio Natildeo podia ver faca perto de mimrdquo

Crocircnica escrita em janeiro de 2017

Questotildees

Parte I ndash Vocabulaacuterio

a) Vocecirc conhece estas palavras

Desenlace Incute

Insoluacutevel Tapera

Pigmaleatildeo Apinhada

b) Vocecirc observa marcas de oralidade no texto Vamos destacar algumas

c) Que outras palavras ou expressotildees satildeo muito correntes no vocabulaacuterio do Maranhatildeo

Parte II ndash Compreensatildeo

1 Do que trata a histoacuteria

2 Qual eacute o foco narrativo

155

3 Que personagens aparecem na histoacuteria

4 O que eacute um pacto poacutes-morte Vocecirc sabe de algueacutem que tenha feito algum

5 Vocecirc acredita nessas histoacuterias Fale um pouco a respeito

6 No trecho ldquoSe eu morrer primeiro eu apareccedilo para ti em plena Rua Grande apinhada

de gente e se tu fores primeiro do que eu tu me surges agrave noite no meu quartordquo

Qual seria a vantagem para cada um nos locais das apariccedilotildees E as desvantagens

7 Como seria feito o seu pacto caso um dia vocecirc resolvesse fazecirc-lo

8 No que esse texto que vocecirc leu se assemelha com uma histoacuteria de terror E no que ela

se diferencia

9 Se esse texto fosse uma notiacutecia de jornal seria escrito da mesma forma Qual seria a

diferenccedila da linguagem

10 No uacuteltimo paraacutegrafo haacute a frase

ldquoFoi entatildeo que o caso ressurgiu liacutempido na memoacuteria de Auriacutelio e ele viu que a coisa

era seacuteriardquo

Se vocecirc fosse o Auriacutelio como resolveria a situaccedilatildeo

Atividade nordm 6

A cara da rua Marcelo Xavier

A rua sempre traduz a imagem de determinada eacutepoca Por isso eacute tatildeo interessante

Em cenas urbanas do seacuteculo XVIII XIX vemos carruagens mulheres de vestidos longos e

homens de terno e chapeacuteu No comeccedilo do seacuteculo XX automoacuteveis pretos mulheres de vestidos

mais curtos e homens ainda de terno e chapeacuteu Nos anos 1960 e 1970 automoacuteveis coloridos

mulheres de minissaia e homens sem terno e sem chapeacuteu

E agora na segunda deacutecada do seacuteculo XXI qual eacute a cara da rua Talvez vocecirc natildeo

saiba responder Eacute que ela passa todos os dias diante do seu nariz e vocecirc natildeo a vecirc Ou vocecirc

apenas vecirc algumas partes ldquomais atraentesrdquo do corpo dela A cara da rua continua invisiacutevel Vale o esforccedilo encare-a Como a um espelho Eacute divertido eacute necessaacuterio Esqueccedila o colesterol de

carros que entopem as vias mire os humanos

Repare bem as mulheres estatildeo de vestidos de todos os comprimentos de calccedilas

coladas se equilibrando em agulhas altiacutessimas carregadas de adereccedilos Normal

Os homens ah Os homens deram um salto esteacutetico rumo agrave libertaccedilatildeo Lembra

aqueles cavalheiros sisudos das ruas antigas com ternos de cores soacutebrias e chapeacuteus iguais

Esquece

Os novos machos estatildeo de brincos colares vistosos boneacutes e tecircnis coloridos

camisetas de todo tipo ebermudas

Natildeo as antigas que natildeo passavam de calccedilas curtas discretas As de hoje satildeo

espalhafatosas se expressam Multicoloridas exibem uma diversidade visual que beira o

infinito Geomeacutetricas abstratas figurativas iacutedolos super-heroacuteis paisagens flores ondas do

156

mar nuvens paacutessaros animais palavras de ordem apologias Combinam texturas

inimaginaacuteveis demarcam aacutereas visuais em recortes absurdamente livres ndash numa perna listras

diagonais na outra xadrez Um tsunami criativo que sai arrastando os antigos princiacutepios de

harmonia do universo da moda E o que eacute intrigante natildeo se repetem

Esse surto visual atinge seu aacutepice quando as bermudas-alucinoacutegenas se juntam a

camisetas estampadas tecircnis astronaacuteuticos boneacutes cheios de atitude e tatuagens ndash nos braccedilos nas

panturrilhas no pescoccedilo laacute estatildeo dragotildees coroas de espinho mulheres folhas de maconha

juras de amor

Vocecirc pode natildeo gostar do que vecirc natildeo se reconhecer na imagem que estaacute no espelho

mas essa eacute a cara da rua do seu tempo De certa forma a sua cara

XAVIER Marcelo A cara da rua e outras crocircnicas Satildeo Paulo Saraiva 2013

Vamos refletir sobre o texto

1 A partir da leitura vocecirc consegue deduzir de que situaccedilatildeo observada no cotidiano o autor

partiu para escrever essa crocircnica

2 O autor fez a construccedilatildeo do seu texto de forma simples poreacutem criativa por meio de

comparaccedilotildees para mostrar a cara da rua ao longo do tempo Vamos identificaacute-las

No meio urbano Seacutec XVIII

XIX

Comeccedilo do

seacutec XX

Anos 19601970 do

seacutec XX

2ordf deacutecada do

seacutec XXI

Vestuaacuterio

feminino

Vestuaacuterio

masculino

3 Dessas comparaccedilotildees do visual que foram feitas ao longo do texto vocecirc encontra alguma

na rua onde mora Qual

4 E o que eacute diferente na rua onde vocecirc mora que natildeo foi citado no texto

5 Preste atenccedilatildeo aos trechos a seguir

A rua sempre traduz a imagem de determinada eacutepoca Por isso eacute tatildeo interessante

[]

Vocecirc pode natildeo gostar do que vecirc natildeo se reconhecer na imagem que estaacute no espelho

mas essa eacute a cara da rua do seu tempo De certa forma a sua cara

6 A partir da leitura do texto vocecirc consegue dizer se o autor gosta ou natildeo gosta da cara da

rua que ele descreve Explique sua resposta

7 Que palavras ou expressotildees no texto mostram que o autor conversa com seu leitor ao longo do texto Sublinhe-as

8 Para que puacuteblico vocecirc acha que essa crocircnica estaacute direcionada Explique sua resposta

9 Vocecirc faraacute a seguir a seguinte atividade leia essa crocircnica de Marcelo Xavier para uma

pessoa em casa Apoacutes a leitura anote as impressotildees e opiniotildees dela sobre a atual cara

da rua sejam positivas ou negativas Ao final pergunte a essa pessoa para quem vocecirc

leu se o texto provocou uma impressatildeo boa ou ruim se ela o achou bem ou mal escrito

se a fez refletir sobre a vida e a mudanccedila dos tempos e qual a conclusatildeo a que ela chegou

depois dessa reflexatildeo

Ao final dessa atividade passe a limpo seu registro e traga para a aula

seguinte para discussatildeo coletiva

157

Atividade nordm 7

A Carta de punho

Demitri Tulio

DAS ANTIGAS 23102016

Algumas pessoas ainda escrevem cartas E bom que ainda o fazem Missivas

escritas agrave matildeo e a tinta preta da caneta dando vida agrave vontade de chegar perto do outro

Ou de ser escutado como se pensasse alto querendo ser ouvido das lonjuras que a

vida vai criando entre ex-amores amigos que deixaram de se ter de filho e matildee separados por

asas

Particularmente antes de agora laacute longe quando fui mais menino queria ter escrito

muitas cartas Devo ter rabiscado umas duas e nunca as mandei agrave destinataacuteria

Primeiro porque tinha vergonha de natildeo saber ortografia Achava difiacutecil (ainda

acho) a gramaacutetica brasileira e me amuava em vergonha de grafar ou concordar alguma coisa

ldquoerradardquo para quem eu queria dizer de mim

Entatildeo ficava horas e dias tentando

rascunhar correto e catando palavras peludas

trechos do dicionaacuterio frase de escritores que eu

queria ser Um paraacutegrafo dois e rasgava a folha

do caderno Serei levado a pagode

E por mais que eu lesse Graciliano

para Heloiacutesa os labirintos e as encruzilhadas da Clarice e os retratos de dona Leopoldina sobre

o Brasil e seu desenxabido Pedro I natildeo conseguia nem copiaacute-los

Loacutegico carta eacute um ser entranhado do remetente Eacute quase um pulmatildeo um rim um

coraccedilatildeo Eacute parte do corpo que se doa no instante em que a esferograacutefica vai sendo guiada pelo

papel

E natildeo era meu o afeto de Graciliano Natildeo eram minhas as inquietaccedilotildees de Clarice

E era de dona Leopoldina aquele incocircmodo de calor a saudade das oacuteperas da Aacuteustria as caccediladas

de animais do Brasil ldquoprimitivordquo

Pois bem queria ter escrito recebido e respondido mais cartas Hoje mando emails

Eacute bom mas carta tinha uma espera que natildeo sei dizer

Semana passada depois de mais de 30 anos sem algueacutem me endereccedilar uma carta

de papel e caneta eis que recebo Natildeo foi de pretendente Sempre esperei por uma dessas mas

talvez a falta de boniteza tenha me privado de

Foi de um leitor da Coluna Um moccedilo de mais de 92 anos que teve a gentileza de

tirar um tempo e me enviar um envelope pelos Correios Carimbado dois selos e o trato por

ldquoIlmo Srrdquo

ldquoCaro (posso) Sr Demitri Sauacutede Sou assinante drsquo O Povo haacute deacutecadas e portanto

seu leitor antigo Natildeo soacute leitor mas tambeacutem admirador pela defesa da natureza (paacutessaros do

Cocoacute) e pelo seu estilo diferente (neologismos bem lsquocolocadosrsquo) e assuntos (temas) originais

para suas crocircnicas

Criei coragem para lhe escrever apoacutes ler sua crocircnica (artigo) lsquoEntatildeo Venha

comigorsquo excelente para quem como eu jaacute passou dos 92 e concorda com suas colocaccedilotildees

sobre a velhice

Aceite meus cumprimentos e votos de muitos anos de lsquoescrevinhaccedilatildeorsquo

Cordialmente (ex-cordis) Santos Rochardquo

158

E ainda escreve um paraacutegrafo derradeiro apoacutes as despedida e a assinatura ldquoPS Natildeo

eacute que eu queira lsquosubir aleacutem da chinelarsquo mas me parece que no penuacuteltimo paraacutegrafo de sua

crocircnica deveria ter escrito lsquose casariarsquo em vez de lsquocasaria-sersquo Discurperdquo

O envelope branco com um carimbo de uma agecircncia dos Correios do bairro

Meireles trazia ainda um texto datilografado (Ser Jovem do general Douglas Mac-Arthur) e

um recorte de jornal com um sermatildeo de Santo Agostinho

Pois fico agradecido pela decisatildeo de escrever a carta do tempo dedicado Pelos

minutos pensando em o que escrever Por cada palavra casada com cada frase Pela respiraccedilatildeo

para pensar em quem nem se conhece

Pela caneta preta identificando o remetente

Pela ida aos Correios ou por se dar ao trabalho de pedir algueacutem que fosse

Pela gentileza de ler a Das Antigas

Como o senhor mandou dizer ldquoNatildeo eacute por ter vivido um certo nuacutemero de anos que

envelhecemos envelhecemos porque abandonamos o nosso idealrdquo

Sem mais fico por aqui

Acesso em 31 ago 2017

httpwww20opovocombrappcolunasdasantigas20161022noticiasdasantigas3665372a-carta-de-

punhoshtml

Vocabulaacuterio

Desenxabido Adjetivo 1desprovido de gosto de sabor insiacutepido insosso2a que

falta interesse particular ou graccedila marcado pela repeticcedilatildeo aborrecido monoacutetono

Ex abundantia cordis Da abundacircncia do coraccedilatildeo Com sinceridade

Curiosidade

Pedro nasceu na manhatilde de 12 de outubro de 1798 no Palaacutecio Real de Queluz

Portugal Ele foi nomeado em homenagem a Satildeo Pedro de Alcacircntara e seu nome completo era

Pedro de Alcacircntara Francisco Antoacutenio Joatildeo Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael

Joaquim Joseacute Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim Desde seu nascimento recebeu o prefixo

honoriacutefico de Dom

Atividade

Vamos observar a crocircnica Marque o que acha adequado

Sim Natildeo

Partiu de uma situaccedilatildeo observadavivida

Conversa com o leitor

Possui o foco narrativo bem determinado (narrador personagem ou

narrador observador ou narrador onisciente)

Leva o leitor a refletir

Causa impressotildees no leitor como riso choro reflexatildeo emoccedilatildeo

Possui um final interessante

Mostra discretamente ao leitor seu ponto de vista a respeito da situaccedilatildeo

Possui alguma descriccedilatildeo de lugarobjetopersonagem

Possui um tiacutetulo

Emprega adequadamente os sinais de pontuaccedilatildeo

Evita repeticcedilatildeo desnecessaacuteria de palavras

Possui paraacutegrafos bem organizados

159

Atividade nordm 8

Amor de macumba Fabriacutecio Carpinejar

Quando algum amigo diz que recebeu macumba da ex fico com ciuacuteme Com dor

de cotovelo

Isso que eacute amor grandioso Amor de verdade

Sempre olho na minha esquina para ver se natildeo tem nenhuma encomenda para mim

Mas nunca chega esse sedex do amor

Macumba eacute sedex 10 do amor

Eacute muita paixatildeo odiar algueacutem com tanto zelo Eacute muito capricho gastar seu tempo e

fazer um trabalhinho para prender a pessoa ao seu coraccedilatildeo

Eacute muita disposiccedilatildeo

Eacute muita energia

Eacute muito querer

Eacute muito desejo

Eacute a superaccedilatildeo de todos os incocircmodos de todos os vexames de todos os medos

Eacute muito luxo ter uma amada pagando para os santos mexerem com vocecirc pagando

a parcela antecipada da eternidade

Isso que eacute amor aleacutem da vida

Isso que eacute vontade de permanecer junto

Eu aceitaria qualquer prova de doaccedilatildeo amarraccedilatildeo vodu letras de macarratildeo

pipoca

Nem precisa roubar minha cueca daria a melhor da minha gaveta

Ai que inveja

No lugar da galinha preta poderia oferecer o chester que sempre recebo no final do

ano

Estaacute aqui parado no congelador Sem uso

E as velas na minha esquina ainda ajudariam a iluminaccedilatildeo puacuteblica

Amor de macumba eacute amor para sempre

Disponiacutevel em httpcarpinejarblogspotcombr201402amor-de-macumbahtml

Acesso em 2 de agosto de 2017

Vamos refletir sobre o texto

1 A partir da leitura vocecirc consegue deduzir de que situaccedilatildeo observada no cotidiano o autor

partiu para escrever essa crocircnica

2 Qual parece ser a opiniatildeo do autor a respeito do tema Utilize trechos do texto que

justifique a sua resposta

3 Que reflexotildees se pode perceber na leitura desse texto

4 Que impressotildees essa crocircnica causa no leitor (riso choro reflexatildeo emoccedilatildeo alguma

outra)

160

Atividade nordm 9

Sr Google Pacheco

SR GOOGLE PACHECO

27 outubro 2012 Juliano Martinz

Quando chegavam ao escritoacuterio pela manhatilde o senhor Google Pacheco sempre

estava laacute Sentado a sua mesa ou correndo de um lado para outro mantinha-se no seu

memoraacutevel ritmo agitado produccedilatildeo beirando o frenesi Os funcionaacuterios o admiravam Era

sempre o primeiro a chegar e o uacuteltimo a sair (embora ningueacutem tenha testemunhado qualquer

um destes acontecimentos)

ndash Acho que ele dorme no escritoacuterio ndash alguns arriscavam

Outros jaacute apelavam pro exagero

ndash Dizem que ele nunca dorme

Sr Google Pacheco O chefe do departamento de marketing Baixo e gordinho

Feiccedilatildeo inocente quase boba Chamava a atenccedilatildeo pelas roupas sempre de cores viacutevidas

cintilantes Geralmente boneacute azul camiseta vermelha calccedilas amarelas e tecircnis verde Agraves vezes

invertia as cores mas nunca as abandonava Roupas estranhas para um homem de nome

estranho A personagem perfeita para textos humoriacutesticos

Quando era novo na empresa ainda apenas um singelo desconhecido causava

confusatildeo com seu nome Liam o crachaacute e diziam

ndash Bom dia sr Goacutegle

Ele corrigia sempre sorridente e simpaacutetico

ndash Natildeo natildeo Pronuncia-se Guacutegou

ndash Guacutegou

ndash Eacute a centeacutesima potecircncia do nuacutemero 10

ndash Uau

Ateacute o nome carregava seu estigma de gecircnio absoluto O Sr Google era uma

enciclopeacutedia ambulante Parecia ser senhor de todo o conhecimento Portador de soluccedilatildeo para

os mais variados problemas na ponta da liacutengua Para cada desafio proposto no dia a dia da

empresa vertia um turbilhatildeo de soluccedilotildees precisas e automaacuteticas

Com sua eficiecircncia derramada a cada suspiro de auxiliar no departamento de

marketing chegou agrave chefia em poucos meses Com o passar dos dias e semanas a experiecircncia

acumulando-se nas veias parecia saber o que as pessoas queriam antes de terminarem de falar

ndash Seu Google o senhor sabe que horashellip

ndash hellip seraacute a reuniatildeo do conselho

ndash Isso Isso mesmo

ndash 16 horas

Era um gecircnio Disposiccedilatildeo tamanha natildeo demorou muito e comeccedilaram a abordar

assuntos mais pessoais

ndash Sr Google preciso de sua ajuda Como faccedilo para conhellip

ndash Conquistar sua melhor amiga

ndash Uau Como o senhor sabe

E derramava soluccedilotildees Como se natildeo bastasse a prontidatildeo comeccedilou a oferecer

vaacuterias opccedilotildees

ndash Sr Google chocolate daacutehellip

ndash Espinha Celulite Coacutelica no bebecirc

ndash Eacuteeacuteeacuteeacutehellip

161

ndash Sono Dor de cabeccedila Azia

ndash Euhellip

ndash Enxaqueca Energia Gases

ndash Isso ndash disse ruborizada ndash Gases

ndash Ahaacute Vocecirc estaacute com sorte menina

Ateacute o poderoso e inacessiacutevel dono da empresa cuja agenda diaacuteria se resumia a

constantes viagens de negoacutecio pela Europa comeccedilou a passar mais tempo no Brasil E quase

todos os dias ia na empresa Mas nem entrava em sua sala Jaacute ia direto para a sala do senhor

Google Os curiosos e fofoqueiros discutiam o teor das conversas atraacutes daquelas portas Uns

diziam que falavam apenas sobre bolsa de valores Acontecimentos mundiais tendecircncias

econocircmicas essas coisas Outros achavam que a conversa soacute passeava pela arena dos assuntos

pessoais

Independentemente do conteuacutedo destes encontros a portas fechadas a empresa soacute

crescia E os funcionaacuterios eram unacircnimes em admitir depois da chegada do Sr Google a vida

de todos eles se tornou mais completa e intensa

Certo dia o Sr Google natildeo apareceu para trabalhar A princiacutepio pairou uma tensatildeo

camuflada no ar Agrave medida que as horas foram passando e o Sr Google natildeo aparecia fez-se

um clima de desespero Comeccedilaram a ligar para o seu celular mas dava como nuacutemero

inexistente Algueacutem tem o telefone da casa dele O resultado foi o mesmo nuacutemero inexistente

Onde ele morava mesmo Ningueacutem sabia O desespero instalou-se no preacutedio Ningueacutem

conseguia fazer nada Ficavam andando de um lado para outro perdidos Nem a dona Gertrudes

conseguiu fazer o cafeacute

Durante dias ningueacutem trabalhou Duacutevidas sobre o andamento da empresa ndash diziam

que accedilotildees da empresa estavam tendo quedas vertiginosas Os funcionaacuterios sentiam-se curvados

ante o peso dos problemas pessoais que natildeo conseguiam resolver sem a ajuda e os conselhos

do Sr Google

Duas semanas depois e metade deles natildeo mais aparecia na empresa Dois ou trecircs

mergulharam de cabeccedila no alcoolismo Outro se jogou da ponte E o poderoso dono da empresa

quem diria foi flagrado diversas vezes em prantos cambaleando pelos corredores

fantasmagoacutericos e mal iluminados da empresa que veio agrave falecircncia dias depois

Quanto ao sr Google nunca mais foi visto Dizem por aiacute que montou um site e

ficou milionaacuterio Mas comprovar mesmo ningueacutem nunca comprovou

Acesso em 2 de agosto de 2017

Disponiacutevel em httpcorrosivacombrcronicas-engracadascronica-humoristica-google-

pacheco

Atividade

1 Vocecirc conhece o vocabulaacuterio a seguir

Memoraacutevel

Frenesi

Singelo

Vertia

Turbilhatildeo

Vertiginosas

2 O texto trata de maneira bem humorada de uma situaccedilatildeo cotidiana Qual

3 O texto traz em si alguma reflexatildeo Qual

162

ANEXO A ndash DISTRIBUICcedilAtildeO POR NIacuteVEL DE PROFICIEcircNCIA

Liacutengua Portuguesa do 9ordm Ano do Ensino Fundamental

Distribuiccedilatildeo por Niacutevel de Proficiecircncia - Liacutengua Portuguesa do 9ordm Ano do Ensino

Fundamental

Niacutevel Descriccedilatildeo do Niacutevel - O estudante provavelmente eacute capaz de

Niacutevel 0

Desempenho menor

que 200

Niacutevel 1

Desempenho maior

ou igual a 200 e

menor que 225

Os estudantes provavelmente satildeo capazes de Reconhecer

expressotildees caracteriacutesticas da linguagem (cientiacutefica jornaliacutestica etc)

e a relaccedilatildeo entre expressatildeo e seu referente em reportagens e artigos

de opiniatildeo Inferir o efeito de sentido de expressatildeo e opiniatildeo em

crocircnicas e reportagens

Niacutevel 2

Desempenho maior

ou igual a 225 e

menor que 250

Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes

provavelmente satildeo capazes de Localizar informaccedilotildees expliacutecitas em

fragmentos de romances e crocircnicas Identificar tema e assunto em

poemas e charges relacionando elementos verbais e natildeo verbais

Reconhecer o sentido estabelecido pelo uso de expressotildees de

pontuaccedilatildeo de conjunccedilotildees em poemas charges e fragmentos de

romances Reconhecer relaccedilotildees de causa e consequecircncia e

caracteriacutesticas de personagens em lendas e faacutebulas Reconhecer

recurso argumentativo em artigos de opiniatildeo Inferir efeito de

sentido de repeticcedilatildeo de expressotildees em crocircnicas

Niacutevel 3

Desempenho maior

ou igual a 250 e

menor que 275

Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes

provavelmente satildeo capazes de Localizar informaccedilotildees expliacutecitas em

crocircnicas e faacutebulas Identificar os elementos da narrativa em letras de

muacutesica e faacutebulas Reconhecer a finalidade de abaixo-assinado e

verbetes Reconhecer relaccedilatildeo entre pronomes e seus referentes e

relaccedilotildees de causa e consequecircncia em fragmentos de romances

diaacuterios crocircnicas reportagens e maacuteximas (proveacuterbios) Interpretar o

sentido de conjunccedilotildees de adveacuterbios e as relaccedilotildees entre elementos

verbais e natildeo verbais em tirinhas fragmentos de romances

reportagens e crocircnicas Comparar textos de gecircneros diferentes que

abordem o mesmo tema Inferir tema e ideia principal em notiacutecias

crocircnicas e poemas Inferir o sentido de palavra ou expressatildeo em

histoacuteria em quadrinhos poemas e fragmentos de romances

Niacutevel 4

Desempenho maior

Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes

provavelmente satildeo capazes de Localizar informaccedilotildees expliacutecitas em

artigos de opiniatildeo e crocircnicas Identificar finalidade e elementos da

163

ou igual a 275 e

menor que 300

narrativa em faacutebulas e contos Reconhecer opiniotildees distintas sobre o

mesmo assunto em reportagens contos e enquetes Reconhecer

relaccedilotildees de causa e consequecircncia e relaccedilotildees entre pronomes e seus

referentes em fragmentos de romances faacutebulas crocircnicas artigos de

opiniatildeo e reportagens Reconhecer o sentido de expressatildeo e de

variantes linguiacutesticas em letras de muacutesica tirinhas poemas e

fragmentos de romances Inferir tema tese e ideia principal em

contos letras de muacutesica editoriais reportagens crocircnicas e artigos

Inferir o efeito de sentido de linguagem verbal e natildeo verbal em

charges e histoacuteria em quadrinhos Inferir informaccedilotildees em

fragmentos de romance Inferir o efeito de sentido da pontuaccedilatildeo e da

polissemia como recurso para estabelecer humor ou ironia em

tirinhas anedotas e contos

Niacutevel 5

Desempenho maior

ou igual a 300 e

menor que 325

Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes

provavelmente satildeo capazes de Localizar a informaccedilatildeo principal em

reportagens Identificar ideia principal e finalidade em notiacutecias

reportagens e resenhas Reconhecer caracteriacutesticas da linguagem

(cientiacutefica jornaliacutestica etc) em reportagens Reconhecer elementos

da narrativa em crocircnicas Reconhecer argumentos e opiniotildees em

notiacutecias artigos de opiniatildeo e fragmentos de romances Diferenciar

abordagem do mesmo tema em textos de gecircneros distintos Inferir

informaccedilatildeo em contos crocircnicas notiacutecias e charges Inferir sentido

de palavras da repeticcedilatildeo de palavras de expressotildees de linguagem

verbal e natildeo verbal e de pontuaccedilatildeo em charges tirinhas contos

crocircnicas e fragmentos de romances

Niacutevel 6

Desempenho maior

ou igual a 325 e

menor que 350

Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes

provavelmente satildeo capazes de Identificar ideia principal e

elementos da narrativa em reportagens e crocircnicas Identificar

argumento em reportagens e crocircnicas Reconhecer o efeito de

sentido da repeticcedilatildeo de expressotildees e palavras do uso de pontuaccedilatildeo

de variantes linguiacutesticas e de figuras de linguagem em poemas

contos e fragmentos de romances Reconhecer a relaccedilatildeo de causa e

consequecircncia em contos Reconhecer diferentes opiniotildees entre

cartas de leitor que abordam o mesmo tema Reconhecer a relaccedilatildeo

de sentido estabelecida por conjunccedilotildees em crocircnicas contos e

cordeacuteis Reconhecer o tema comum entre textos de gecircneros

distintos Reconhecer o efeito de sentido decorrente do uso de

figuras de linguagem e de recursos graacuteficos em poemas e

fragmentos de romances Diferenciar fato de opiniatildeo em artigos e

reportagens Inferir o efeito de sentido de linguagem verbal e natildeo

verbal em tirinhas

Niacutevel 7

Desempenho maior

Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes

provavelmente satildeo capazes de Localizar informaccedilotildees expliacutecitas

ideia principal e expressatildeo que causa humor em contos crocircnicas e

164

ou igual a 350 e

menor que 375

artigos de opiniatildeo Identificar variantes linguiacutesticas em letras de

muacutesica Reconhecer a finalidade e a relaccedilatildeo de sentido estabelecida

por conjunccedilotildees em lendas e crocircnicas

Niacutevel 8

Desempenho maior

ou igual a 375

Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes

provavelmente satildeo capazes de Localizar ideia principal em

manuais reportagens artigos e teses Identificar os elementos da

narrativa em contos e crocircnicas Diferenciar fatos de opiniotildees e

opiniotildees diferentes em artigos e notiacutecias Inferir o sentido de

palavras em poemas

Fonte INEP (2018)

165

ANEXO B ndash DISTRIBUICcedilAtildeO DE TEXTOS FALADOS E ESCRITOS NO CONTIacuteNUO

GENEacuteRICO

Distribuiccedilatildeo dos textos de uso falados e escritos no contiacutenuo geneacuterico

Fonte MARCUSCHI (2015 p 195-196)

166

ANEXO C ndash PRODUCcedilOtildeES DOS ALUNOS

Produccedilatildeo Inicial de Ana

Produccedilatildeo Final de Ana

167

Produccedilatildeo Inicial de Rodrigo

168

Produccedilatildeo final de Rodrigo

169

Produccedilatildeo Inicial de Eduardo

170

Produccedilatildeo final de Eduardo

171

Produccedilatildeo inicial de Estela

172

Produccedilatildeo final de Estela

173

174

175

Produccedilatildeo Inicial de Celia

176

Produccedilatildeo final de Celia

177

Produccedilatildeo Inicial de Arlindo

178

Produccedilatildeo final de Arlindo

179

Produccedilatildeo Inicial de Juacutelia

180

Produccedilatildeo final de Juacutelia

181

Produccedilatildeo Inicial de Vicente

182

Produccedilatildeo final de Vicente

183

Produccedilatildeo Inicial de Graccedila

184

Produccedilatildeo final de Graccedila

185

Produccedilatildeo Inicial de Lilian

186

Produccedilatildeo final de Lilian

187

Produccedilatildeo Inicial de Heloiacutesa

188

Produccedilatildeo final de Heloisa

189

Produccedilatildeo Inicial de Eliane

190

Produccedilatildeo final de Eliane

191

Produccedilatildeo Inicial de Joana

Fonte dados da pesquisa

192

Figura 31 ndash Produccedilatildeo final de Joana

Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE HUMANIDADES … · A Deus, que me pôs a realizar sonhos, permitindo-me o devido aperfeiçoamento para que pudesse executar melhor a tarefa

A Deus

Aos meus pais Olilia e Arnold

Aos meus filhotes Felipe e Miguel

A Maria Morena e Bilaacute in memorian

AGRADECIMENTOS

A Deus que me pocircs a realizar sonhos permitindo-me o devido aperfeiccediloamento

para que pudesse executar melhor a tarefa de contribuir para o mundo

Aos meus pais Olilia e Arnold por todo o apoio incondicional e sem esperar em

troca a vida toda e mais ainda durante o mestrado

Aos meus filhos Felipe e Miguel pela compreensatildeo da distacircncia mesmo que

passageira pela paciecircncia e pelo apoio

Agrave Prof Dr Aurea Zavam pelo carinho acolhimento e orientaccedilatildeo

Aos professores participantes da banca examinadora Pollyane Bicalho Ribeiro e

Sarah Diva da Silva Ipiranga pelo tempo pelas valiosas colaboraccedilotildees e sugestotildees

Aos colegas da 3ordf turma de mestrado ProfLetrasUFC pelas reflexotildees criacuteticas e

sugestotildees recebidas

Agraves damas do fuaacute porque satildeo as melhores amigas que se pode ter Raquel Ive

Carolina Edvania Eacuterica e Flaacutevia

A Aline pela amizade e carinho imensos essa natural forccedila que a vida lhe deu e

que tatildeo generosamente partilha

A Carla amiga de forccedila pela sensatez e ombro amigo generosidade e atenccedilatildeo

A Robson do fundo do coraccedilatildeo de quem digo que palavras natildeo descrevem essa

amizade que a gente tem

Agrave querida Nady por sua boniacutessima vontade em passar suas ldquolentes de catar pulgardquo

em minhas linhas

Ao meu tio Raimundo e a dona Gilda pela compreensatildeo e disposiccedilatildeo em ajudar a

cuidar da minha turma aqui

Agrave Semed-Satildeo Luiacutes por acreditar na figura do professor que busca capacitaccedilatildeo

profissional

Agrave coordenaccedilatildeo do Mestrado Profissional em LetrasUFC pelo incentivo aos

mestrandos

Aos nossos professores do Mestrado que em muito contribuiacuteram em nossa jornada

Agrave nossa diretora da escola Maria de Jesus Dijeacute pelo apoio e disponibilidade e por

sempre acreditar nos projetos como uma forma de acrescentar ao aperfeiccediloamento dos alunos

da escola

Aos professores e funcionaacuterios que apoiaram e colaboraram com o projeto

Aos pais e familiares que apoiaram e consentiram na participaccedilatildeo dos alunos

Aos alunos do 9ordm ano turma 91 de 2017 que integraram o projeto acreditaram em

si mesmos e agora veem seus escritos circularem socialmente

A todos os amigos colegas de trabalho alunos ex-alunos e demais pessoas que

cruzaram meu caminho deixando contribuiccedilotildees alertas liccedilotildees posso natildeo nominar um por um

aqui mas agradeccedilo sua importacircncia

Agrave CAPES pelo apoio financeiro com a manutenccedilatildeo da bolsa de auxiacutelio

ldquoSe vocecirc quiser melhorar de vida Marcie

sempre vai ter que atravessar um oceano ou um

deserto ou uma montanha Mas se de repente

vocecirc atravessar uma sala cheia de gente toda a

sua vida pode mudarrdquo (Peppermint Patty)

RESUMO

O presente trabalho versa sobre o desenvolvimento da competecircncia escrita de alunos do 9ordm ano

do Ensino Fundamental por meio de uma sequecircncia didaacutetica aplicada ao gecircnero crocircnica

visando proporcionar avanccedilos no processo de redigir Para o aporte teoacuterico daacute-se preferecircncia

agraves abordagens de gecircnero na perspectiva de Bakhtin (2011) Bazerman (2009) Bazerman e

Miller (2011) e Marcuschi (2015) A metodologia envolve uma pesquisa-accedilatildeo conforme

elucidaccedilotildees de Gil (2008) O procedimento se daacute pela aplicaccedilatildeo de uma sequecircncia didaacutetica

inspirada em contribuiccedilotildees de Dolz Noverraz e Schneuwly ([2004] 2013) Swiderski e Costa-

Huumlbes (2009) Lopes-Rossi (2011) Vieira (2005) e Serafini (2003) com vista ao aprendizado

de produccedilatildeo de texto do gecircnero crocircnica sob a oacutetica da escrita como processo Por meio das

atividades de leitura e escrita de crocircnicas percebe-se que os alunos refletiram sobre os

procedimentos de escritor sensibilizaram mais o seu olhar para o cotidiano e ampliaram o

conhecimento de sua competecircncia linguiacutestica Acredita-se que propiciar situaccedilotildees de

aprendizagem apresentando-as natildeo como um fardo mas com a graccedila ndash apesar do necessaacuterio

investimento pedagoacutegico ndash que a escrita pode vir a ter garante assim que os alunos concluam

o Ensino Fundamental tendo a oportunidade de elaborar textos consoantes ao seu direito de

serem proficientes em sua liacutengua materna

Palavras-chave Produccedilatildeo escrita Gecircneros textuais Sequecircncia didaacutetica Crocircnicas

ABSTRACT

The present work deals with the development of written competence of students of the 9th grade

of elementary school through a didactic sequence applied to the genre chronicles aiming to

provide advances in the writing process For the theoretical contribution genre approaches are

preferred from the perspective of Bakhtin (2011) Bazerman (2009) Bazerman e Miller (2011)

e Marcuschi (2015) The methodology involves an action research according to Gils (2008)

elucidations The procedure is based on the application of a didactic sequence inspired by

contributions of Dolz Noverraz and Schneuwly ([2004] 2013) Swiderski and Costa-Huumlbes

(2009) Lopes-Rossi (2011) Vieira (2005) e Serafini (2003) with a view to learning text

production of the genre chronicle under the point of view of writing as a process Through the

activities of reading and writing of chronicles it is noticed that the students have reflected on

the procedures of writer they have sensitized more their look at the quotidian and have extended

the knowledge of their linguistic competence It is believed that providing learning situations

by presenting them not as a burden but with the grace - despite all the necessary pedagogical

investment - that writing can have thus ensuring that students finish elementary school having

the opportunity to prepare texts according to their right to be proficient in their mother language

Keywords Written production Genres Didactic sequence Chronicles

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Esquema baacutesico de sequecircncia didaacutetica 31

Figura 2 - Esquema da SD adaptada por Costa-Huumlbes 36

Figura 3 - Esquema da SD adaptada por Costa-Huumlbes 38

Figura 4 - Proposiccedilatildeo de sequecircncia didaacutetica para o projeto de escrita 77

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 ndash Resultados IDEB 2015 70

Graacutefico 2 ndash Desempenho da escola nas ediccedilotildees da Prova Brasil 70

Graacutefico 3 ndash Distribuiccedilatildeo percentual dos alunos do 9ordm Ano do EF por niacutevel de

proficiecircncia - Liacutengua Portuguesa

71

Graacutefico 4 ndash Nuacutemero de alunos do 9ordm ano 88

Graacutefico 5 ndash Participaccedilatildeo nas produccedilotildees 89

Graacutefico 6 ndash Alunos presentes por encontro 90

Graacutefico 7 ndash Avaliaccedilatildeo das crocircnicas A 122

Graacutefico 8 ndash Avaliaccedilatildeo das crocircnicas B 136

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 ndash Siacutentese das etapas de desenvolvimento de projetos pedagoacutegicos que visam agrave

produccedilatildeo escrita de gecircneros discursivos

38

Quadro 2 ndash Motivaccedilatildeo e envolvimento na produccedilatildeo escrita 54

Quadro 3 ndash Como organizar as ideias em paraacutegrafos 63

Quadro 4 ndash Moacutedulos desenvolvidos na sequecircncia de atividades (SA) 80

Quadro 5 ndash Quadro autoavaliativo 91

Quadro 6 ndash Identificaccedilatildeo dos textos dos alunos

Quadro 7 ndash Produccedilatildeo inicial Ana ndash Tiacutetulo Ser chato ou natildeo ser eis a questatildeo

Quadro 8 ndash Produccedilatildeo final Ana ndash Tiacutetulo Ser chato ou natildeo ser eis a questatildeo

Quadro 9 ndash Produccedilatildeo inicial Rodrigo ndash Tiacutetulo Pare de se criticar

Quadro 10 ndash Produccedilatildeo final Rodrigo ndash Tiacutetulo

Quadro 11 ndash Produccedilatildeo inicial Eduardo ndashTiacutetulo O amigo muito e muito chato

Quadro 12 ndash Produccedilatildeo final Eduardo ndashTiacutetulo Ser legal natildeo eacute ser chato

Quadro 13 ndash Produccedilatildeo inicial Estela ndash Tiacutetulo Os chatos de antematildeo

Quadro 14 ndash Produccedilatildeo final Estela ndashTiacutetulo O tio chato de galocha

Quadro 15 ndash Produccedilatildeo inicial Ceacutelia ndashTiacutetulo Chata sim ou natildeo

Quadro 16 ndash Produccedilatildeo final Ceacutelia ndash Tiacutetulo Chata sim ou natildeo

Quadro 17 ndash Produccedilatildeo inicial Arlindo ndash Tiacutetulo Chato e natildeo eacute chato

Quadro 18 ndash Produccedilatildeo final Arlindo ndash Tiacutetulo Chato e natildeo eacute chato

Quadro 19 ndash Produccedilatildeo inicial Juacutelia ndash Tiacutetulo Ser chato ou ser legal

Quadro 20 ndash Produccedilatildeo final Juacutelia ndash Tiacutetulo Pessoas chatas e pessoas legais

Quadro 21 ndash Produccedilatildeo inicial Vicente ndash Tiacutetulo A pergunta eacute se eu bloquearia uma

pessoa chata

Quadro 22 ndash Produccedilatildeo final Vicente ndash Tiacutetulo

Quadro 23 ndash Produccedilatildeo inicial Graccedila ndash Tiacutetulo Rafaelly chata

Quadro 24 ndash Produccedilatildeo final Graccedila ndash Tiacutetulo Chata ela ou EU

Quadro 25 ndash Produccedilatildeo inicial Lilian ndash Tiacutetulo Meus amigos chatos e Eu

Quadro 26 ndash Produccedilatildeo final Lilian ndash Tiacutetulo Pessoas legais e chatas

Quadro 27 ndash Produccedilatildeo inicial Heloiacutesa ndash Tiacutetulo ldquoChato mais eacute muito legalrdquo

Quadro 28 ndash Produccedilatildeo final Heloiacutesa ndash Tiacutetulo ldquoO melhor chatordquo

Quadro 29 ndash Produccedilatildeo inicial Eliane ndash Tiacutetulo Um pouco de tudo

91

92

93

95

96

97

99

99

101

103

104

105

106

107

108

109

110

111

112

113

114

115

116

117

Quadro 30 ndash Produccedilatildeo final Eliane ndash Tiacutetulo O que e chato e o que e legal

Quadro 31 ndash Produccedilatildeo inicial Joana ndash Tiacutetulo Pessoas chatas e outras legal

Quadro 32 ndash Produccedilatildeo final Joana ndash Tiacutetulo Pessoas oacutetimas

Quadro 33 ndash Tiacutetulos das produccedilotildees para circulaccedilatildeo social

Quadro 34 ndash PIB Ana

Quadro 35 ndash PFB Ana ndash Tiacutetulo PROIBIDA DE ACHAR GRACcedilA

Quadro 36 ndash PIB Rodrigo ndash Tiacutetulo Vida de preguiccediloso

Quadro 37 ndash PFB Rodrigo ndash Tiacutetulo VIDA DE PREGUICcedilOSO

Quadro 38 ndash PIB Eduardo ndash Tiacutetulo

Quadro 39 ndash PFB Eduardo ndash INFAcircNCIA FELIZ

Quadro 40 ndash PIB Estela ndash Tiacutetulo ldquoDown= bullyingrdquo

Quadro 41 ndash PFB Estela ndashTiacutetulo DOWN= BULLYING

Quadro 42 ndash PFA2 Ana ndash Tiacutetulo O que eacute ser chato

118

120

121

124

124

125

126

127

129

131

132

134

137

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BNCC Base Nacional Comum Curricular

ENEM Exame Nacional do Ensino Meacutedio

FP Folha de Produccedilatildeo

IDEB Iacutendice de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

LDB Lei de Diretrizes e Bases

PCN Paracircmetros Curriculares Nacionais

PF Produccedilatildeo final

PF-A Produccedilatildeo final para a o trabalho em sala

PF-B Produccedilatildeo final para circulaccedilatildeo social dos textos com audiecircncia real

PI Produccedilatildeo Inicial

PI-A Produccedilatildeo inicial para o trabalho em sala

PI-B Produccedilatildeo inicial para circulaccedilatildeo social dos textos com audiecircncia real

SD Sequecircncia Didaacutetica

SEMED Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo

TDIC Tecnologias Digitais da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 16

2 OS GEcircNEROS E O TRABALHO EM SALA DE AULA 23

21 Demarcando o conceito de gecircnero 23

211 Gecircnero como tipo relativamente estaacutevel de enunciado 23

212 Gecircnero como accedilatildeo social 26

213 Gecircnero como fenocircmeno histoacuterico 30

22 Conhecendo a sequecircncia didaacutetica 31

221 Conceito de sequecircncia didaacutetica 32

222 Propostas de adaptaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica 35

2221 Moacutedulo de reconhecimento 36

2222 Moacutedulo de divulgaccedilatildeo ao puacuteblico 37

2223 Abordagem imitativa da redaccedilatildeo 39

23 Definindo o gecircnero textual crocircnica 41

231 A crocircnica brasileira 42

232 Caracteriacutesticas da crocircnica 44

2321 Crocircnica um gecircnero jornaliacutestico 45

2322 Crocircnica um gecircnero literaacuterio 46

3 LEITURA E ESCRITA NOS ANOS FINAIS DO ENSINO

FUNDAMENTAL

49

31 Habilidades de leitura e escrita para que ler e escrever 49

32 Escrita e motivaccedilatildeo 53

33 Escrita como processo 56

34 Escrita na escola 61

35 Letramento literaacuterio 66

4 NATUREZA E PROCEDIMENTOS DA PESQUISA 69

41 Contexto da pesquisa 69

42 Participantes 72

43 Materiais 73

44 Procedimentos 74

441 Primeira etapa da apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo agrave produccedilatildeo inicial 77

442 Segunda etapa desenvolvimento dos moacutedulos 79

443 Terceira etapa produccedilatildeo final 85

444 Quarta etapa circulaccedilatildeo social dos textos 86

5 ANAacuteLISE DA SEQUEcircNCIA REFLEXOtildeES 87

51 Participaccedilatildeo dos alunos na pesquisa 88

52 Anaacutelise da apropriaccedilatildeo de caracteriacutesticas do gecircnero crocircnica literaacuteria 90

53 Os textos dos alunos 92

531 Produccedilotildees A textos apenas para o trabalho em sala de aula 92

532 Produccedilotildees B textos para circulaccedilatildeo social 123

533 Uma nova reescrita 136

6 CONCLUSAtildeO 139

REFEREcircNCIAS 144

APEcircNDICE A ndash ATIVIDADES PROPOSTAS PARA A SEQUEcircNCIA

DIDAacuteTICA

148

ANEXO A ndash DISTRIBUICcedilAtildeO POR NIacuteVEL DE PROFICIEcircNCIA 162

ANEXO B ndash DISTRIBUICcedilAtildeO DE TEXTOS FALADOS E ESCRITOS

NO CONTIacuteNUO GENEacuteRICO

165

ANEXO C ndash PRODUCcedilOtildeES DOS ALUNOS 166

16

1 INTRODUCcedilAtildeO

A proposta deste trabalho parte de uma motivaccedilatildeo de cunho pessoal fruto das

dificuldades que como professora enfrentamos todos os dias como se pode conduzir o

trabalho em sala de aula de modo eficaz para que os alunos independentemente de sua idade

ou seacuterie possam terminar o ano letivo escrevendo textos claros

Para levar o aluno a desenvolver suas habilidades de escrita um passo importante

seria planejar sequecircncias que abordem as caracteriacutesticas do gecircnero a ser trabalhado permitindo-

lhe pocircr em aproximaccedilatildeo eou contraste seus saberes com os conhecimentos a serem construiacutedos

Para noacutes professores esse passo tem se revelado ainda bastante difiacutecil visto que nossa cultura

escolar ainda natildeo se firmou apropriadamente na visatildeo de que escrita eacute processo e que seu

produto pode ndash deve aliaacutes ndash alcanccedilar a sociedade permitindo ao aluno o exerciacutecio da cidadania

Pensamos entatildeo na elaboraccedilatildeo de uma sequecircncia de aulas que trabalhe a produccedilatildeo

escrita abordando o seu processo Para tanto escolhemos a oacutetica de Vieira (2005) que traz

importante contribuiccedilatildeo para o trabalho do professor ao abordar o processo de produccedilatildeo do

texto considerando-o mais importante no ambiente pedagoacutegico do que o texto pronto Sua

justificativa parte da inquietaccedilatildeo de por que eacute difiacutecil aprender a redigir

Ao longo de sua obra a autora traz reflexotildees a partir de pesquisas sobre os aspectos

comunicativos cognitivos e psicoloacutegicos do processo de redigir conhecimento que ela constata

fornecerem subsiacutedios para fundamentar a didaacutetica da escrita orientando as escolhas

metodoloacutegicas dos professores (VIEIRA 2005 p79) Ainda na abordagem da produccedilatildeo escrita

como processo contamos com Serafini (2003) que tambeacutem traz valiosa orientaccedilatildeo tanto para

o aluno como para o professor

Para trabalharmos esse processo com os alunos o gecircnero escolhido para a criaccedilatildeo

e aplicaccedilatildeo de nossa sequecircncia de aulas eacute a crocircnica literaacuteria que vem ganhando destaque no

cenaacuterio nacional atual de estudos na educaccedilatildeo baacutesica desde a proposta da Olimpiacuteada de Liacutengua

Portuguesa Escrevendo o Futuro (CENPEC 2016) Por seu formato fluido e por se apresentar

de tal modo que a fala pessoal se associa agrave fala coletiva a crocircnica parece integrar espaccedilos

iacutentimos a puacuteblicos construindo dessa maneira uma relaccedilatildeo de proximidade entre o autor e o

leitor

Por percebermos que haacute vaacuterios alunos que produzem seus textos sem recorrer agrave

etapa do planejamento a da revisatildeo e a da reescrita visamos entatildeo nesta pesquisa devido agrave

ausecircncia de tais procedimentos responder agraves seguintes questotildees-problema desdobradas a partir

17

da questatildeo baacutesica como ensinar a produccedilatildeo escrita no 9ordm ano do Ensino Fundamental enfocando

o ato de redigir como um processo visto que haacute estudantes deste niacutevel que normalmente natildeo

tecircm o haacutebito de planejar seus textos A partir desse questionamento nos perguntamos

a) que atividades pedagoacutegicas possibilitam aos alunos a consciecircncia de que eacute

preciso desenvolver estrateacutegias proacuteprias (recorrer agrave etapa do planejamento da

revisatildeo e da reescrita) para produzir seus textos

b) de que forma o conhecimento sobre a estrutura composicional de um gecircnero

pode ajudar a superar as dificuldades

c) a comparaccedilatildeo das produccedilotildees inicial e final permitiraacute associar a melhoria do

desempenho da competecircncia escrita e a apropriaccedilatildeo do gecircnero crocircnica literaacuteria

ao desenvolvimento da sequecircncia de atividades

Apoacutes as oficinas a anaacutelise deteacutem-se nos objetivos elencados com dados

comparativos entre produccedilatildeo inicial e produccedilatildeo final a fim de constatarmos a relevacircncia da

hipoacutetese baacutesica os alunos do 9ordm ano produziram textos na etapa final das oficinas utilizando-

se das caracteriacutesticas do gecircnero textual crocircnica literaacuteria compreendendo que escrita eacute interaccedilatildeo

valorizando o uso social da escrita de acordo com a proposta teoacuterica de gecircnero preparando

seus textos pautados nas etapas do processo de redigir conforme as orientaccedilotildees dadas em sala

de aula Desdobradas em mais trecircs hipoacuteteses secundaacuterias pensamos

a) eacute possiacutevel motivar os alunos a escrever ao desenvolver com eles atividades

voltadas para os diferentes subprocessos e habilidades envolvidos no ato de

redigir

b) o ensino da composiccedilatildeo do gecircnero crocircnica literaacuteria contribuiraacute para minimizar

dificuldades observadas nos textos dos alunos do 9ordm ano como nos planos

morfossintaacutetico e semacircntico aleacutem de lhes propiciar o desenvolvimento da

competecircncia em textos escritos

c) apoacutes a realizaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica proposta ao compararmos as produccedilotildees

inicial e final dos alunos verificaremos um desempenho mais satisfatoacuterio em

relaccedilatildeo agrave competecircncia discursiva realizada no gecircnero crocircnica

Utilizamos a sequecircncia didaacutetica ferramenta teoacuterico-metodoloacutegica proposta por

Dolz Noverraz e Schneuwly ([2004]2013) para facilitar a criaccedilatildeo de nossa sequecircncia

refletindo sobre as atividades iniciais como um diagnoacutestico e a partir daiacute compondo os

moacutedulos que julgamos necessaacuterios dentro do tempo disponiacutevel para o aperfeiccediloamento da

praacutetica de escrita dos alunos

18

Sem esquecer que o produto desta sequecircncia precisa ter relevacircncia e circulaccedilatildeo

social fizemos o estudo do conceito de gecircnero a partir de autores como Bakhtin (2011)

Bazerman (2009) Bazerman Miller (2011) e Marcuschi (2015) autores cujas contribuiccedilotildees

teoacutericas nos permitem compreender que os textos verbais ou orais dependem do contexto em

que satildeo criados considerando seu momento histoacuterico e caracteriacutesticas culturais e sociais

fazendo portanto sentido somente se se destinarem a uma audiecircncia real com papeis sociais

reais

O gecircnero eleito para o trabalho de produccedilatildeo escrita eacute como dissemos a crocircnica

literaacuteria A escolha da tipologia narrativa e do gecircnero crocircnica deu-se por alguns motivos

a) as narrativas possuem um papel fundamental na formaccedilatildeo dos indiviacuteduos Desde

a infacircncia a crianccedila tem contato com a narraccedilatildeo Ela mesma narra como forma

de organizar suas ideias E em sociedade as narrativas ajudaram a construir a

identidade dos povos prolongando ramos e aprofundando raiacutezes

b) a crocircnica eacute um gecircnero que se identifica com a realidade dos alunos pela leveza

da linguagem associando a oralidade e coloquialidade e facilidade de

identificaccedilatildeo de elementos coletivos e individuais presentes em seu cotidiano

os quais podem vir a se tornar objeto de reflexatildeo de bom humor ou mesmo de

criacutetica e sobre tais elementos pode-se motivar os alunos a escrever

c) considerando o papel social da escola que deve ser de integrar o aluno como

cidadatildeo em sociedade eacute uma excelente oportunidade de ensinar os

procedimentos concernentes ao processo de escrita com um texto com

caracteriacutesticas literaacuterias visto que daiacute por diante entrando no ensino meacutedio

predominam as praacuteticas de trabalho com os textos argumentativos cuja

recorrecircncia se deve a serem os mais cobrados em avaliaccedilotildees diagnoacutesticas e de

acesso ao niacutevel superior tais como ENEM vestibulares seleccedilotildees e concursos

sendo um pouco esquecidas as narrativas e os processos de escrita criativa

Esta pesquisa se valeu tambeacutem de trabalhos acadecircmicos que trataram de produccedilatildeo

escrita na escola do gecircnero crocircnica de sequecircncias didaacuteticas e do estudo dos gecircneros textuais

relacionados ao trabalho em sala de aula dentre os quais destacamos

Santos (2008) em sua pesquisa sobre o gecircnero textual crocircnica narrativa no ensino

meacutedio percebeu alguns avanccedilos discretos apoacutes a aplicaccedilatildeo de uma sequecircncia didaacutetica Embora

muitos textos tenham apresentado as caracteriacutesticas do gecircnero explorado em sala de aula

alguns se apresentaram ainda como narrativas tipicamente escolares O pesquisador encontrou

19

dificuldades durante sua pesquisa com produccedilatildeo textual porque afirma na escola o objeto

central de ensino da liacutengua portuguesa ainda eacute a gramaacutetica que disputa espaccedilo diretamente com

a literatura sendo a produccedilatildeo relegada a apenas uma aula sem enfoque no processo de reescrita

dos textos com as devidas reflexotildees

Swiderski e Costa-Huumlbes (2009) analisam o formato baacutesico da sequecircncia didaacutetica

proposta pelo grupo de Genebra e propotildeem a inserccedilatildeo de um moacutedulo novo chamado de moacutedulo

de reconhecimento anterior agrave produccedilatildeo inicial de modo a permitir aos alunos o contato com

textos do gecircnero antes de partir diretamente para a escrita do primeiro texto propiciando

oportunidade de pesquisa leitura e anaacutelise linguiacutestica contemplando os outros eixos do

trabalho com liacutengua portuguesa aleacutem da escrita eou oralidade

Lopes-Rossi (2011) tambeacutem trata da sequecircncia didaacutetica e propotildee para o final da

SD uma culminacircncia a que ela chama de divulgaccedilatildeo ao puacuteblico ou seja um momento para

colocar em circulaccedilatildeo social os textos que os alunos produzem ao longo do trabalho

sistematizado permitindo-lhes compreender o sentido real dos textos do gecircnero que estudam

Colombo (2013) faz uma avaliaccedilatildeo das produccedilotildees vencedoras das ediccedilotildees da

Olimpiacuteada de Liacutengua Portuguesa Escrevendo o Futuro na categoria Crocircnicas Sua criacutetica

principal ao processo estaacute natildeo nas oficinas realizadas pois em muito ajudam os alunos a

conhecer os diversos tons que os textos das crocircnicas trazem a partir das mais diferentes

temaacuteticas mas na artificialidade do interlocutor para quem os alunos escreveram (uma banca

examinadora) e as redaccedilotildees escolhidas por essa banca (um criteacuterio mais pessoal que objetivo)

Colombo (2013) critica tambeacutem a incoerecircncia entre o material de avaliaccedilatildeo

produzido pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Educaccedilatildeo Cultura e Accedilatildeo Comunitaacuteria ndash

CENPEC em 2011 com uma coletacircnea de excertos de textos natildeo vencedores de ediccedilotildees

passadas que aponta no capiacutetulo dedicado agraves crocircnicas exemplos de distanciamentos da

tipologia narrativa proacutepria do gecircnero em textos que abordaram mazelas locais com

predominacircncia da descriccedilatildeo e da criacutetica Para ela essas mesmas caracteriacutesticas ressurgiram nos

textos vencedores do ano de 2012 Dentre outras criacuteticas a mais incisiva de suas consideraccedilotildees

eacute a de que a crocircnica eacute um texto para ser lido na escola sendo no entanto impossiacutevel ensinar os

alunos a escrever crocircnicas pois para a autora natildeo devem ser produzidas sob a pressatildeo de um

concurso que escolheraacute qual a melhor

Correia (2015) em sua pesquisa centrada em uma sala de aula de 7ordm ano do Ensino

Fundamental priorizou a praacutetica de leitura do gecircnero crocircnica e associou ao trabalho com esta

mais dois gecircneros a entrevista e o documentaacuterio audiovisual abordando um aspecto

20

multimodal em sua produccedilatildeo final Sua intenccedilatildeo parece-nos foi usar a temaacutetica das crocircnicas

para despertar nos alunos uma apropriaccedilatildeo da realidade em que estatildeo inseridos e em suas

consideraccedilotildees acredita que no momento de produccedilatildeo escrita dentro das possibilidades de

alunos de 12 anos de idade logrou sucesso ao levar os alunos ao reconhecimento das

caracteriacutesticas do gecircnero

Paiva (2015) realizou um trabalho que contribuiu diretamente para o

desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita atraveacutes do ensino da produccedilatildeo de textos

argumentativos no gecircnero carta de reclamaccedilatildeo Por meio de uma sequecircncia didaacutetica que

priorizava como em nosso caso de pesquisa o processo de produccedilatildeo em vez de considerar

apenas o produto a pesquisadora logrou ecircxito ao identificar progressos nos textos dos alunos

dentro das possibilidades de trabalho que executou

Feitosa (2016) abordou o ensino de liacutengua portuguesa na perspectiva dos gecircneros

realizando uma sequecircncia didaacutetica com o gecircnero panfleto colocando o produto final em

circulaccedilatildeo social como em nosso caso de pesquisa com a distribuiccedilatildeo dos panfletos pelos

alunos no ambiente escolar e na comunidade em que a escola estaacute inserida Fazendo isso ela

possibilitou a atribuiccedilatildeo da significaccedilatildeo proacutepria do gecircnero agrave produccedilatildeo textual dos alunos fator

importante para estimulaacute-los a interagir em sociedade por meio de seus textos

Os Paracircmetros Curriculares Nacionais (PCN 1997) reconhecem que o ensino de liacutengua

portuguesa na educaccedilatildeo baacutesica eacute pautado em uma prioridade de estudos de aspectos normativos

ou gramaticais da liacutengua o que o torna limitado e insuficiente e sugerem redirecionar o foco

para a praacutetica de leitura e ndash aspecto muito importante ndash o exerciacutecio da escrita de textos nos mais

variados gecircneros textuais existentes na sociedade possibilitando o estudo da liacutengua em

contextos reais de uso natildeo apenas como um conjunto de normas1

Para tanto aprender a pensar e falar sobre a proacutepria linguagem realizar uma

atividade de natureza reflexiva uma atividade de anaacutelise linguiacutestica supotildee duas situaccedilotildees

planejar situaccedilotildees didaacuteticas que possibilitem a reflexatildeo natildeo somente sobre os diferentes

recursos expressivos utilizados pelo autor do texto mas tambeacutem sobre a forma pela qual a

seleccedilatildeo de tais recursos reflete as condiccedilotildees de produccedilatildeo do discurso e as restriccedilotildees impostas

1 Os Paracircmetros Curriculares Nacionais (PCN 1997) reconhecem que o ensino de liacutengua portuguesa na educaccedilatildeo

baacutesica eacute pautado em uma prioridade de estudos de aspectos normativos ou gramaticais da liacutengua o que o torna

limitado e insuficiente e sugerem redirecionar o foco para a praacutetica de leitura e ndash aspecto muito importante ndash o

exerciacutecio da escrita de textos nos mais variados gecircneros textuais existentes na sociedade possibilitando o estudo

da liacutengua em contextos reais de uso natildeo apenas como um conjunto de normas

21

pelo gecircnero e pelo suporte e tomar como objeto de reflexatildeo os procedimentos de planejamento

de elaboraccedilatildeo e de refacccedilatildeo dos textos (BRASIL 1997 p 8)

Esses gecircneros a que se referem os paracircmetros satildeo conceituados por Bakhtin autor

em que se fundamenta a proposta dos PCN Compreendendo que o conhecimento de tais

gecircneros traz liberdade ao usuaacuterio da liacutengua o filoacutesofo afirma que quanto melhor dominamos os

gecircneros tanto mais livremente os empregamos tanto mais plena e nitidamente descobrimos

neles a nossa individualidade (onde isso eacute possiacutevel e necessaacuterio) refletimos de modo mais

flexiacutevel e sutil a situaccedilatildeo singular da comunicaccedilatildeo em suma realizamos de modo mais acabado

o nosso livre projeto de discurso (BAKHTIN 2011 p 285)

Os PCN para o 3ordm e o 4ordm ciclos do Ensino Fundamental orientam aleacutem da ampliaccedilatildeo

da variedade de textos e gecircneros que o trabalho com os alunos leve a ldquoconhecer caracteriacutesticas

fundamentais do Brasil nas dimensotildees sociais materiais e culturais como meio para construir

progressivamente a noccedilatildeo de identidade nacional e pessoal e o sentimento de pertinecircncia ao

paiacutesrdquo (BRASIL 1997 p 7)

Assim produzir textos requer dessa forma estudar os diferentes modos de

expressatildeo abrindo-se aiacute para o aluno uma gama de possibilidades de manifestaccedilatildeo de ideias

atraveacutes do conhecimento de sua liacutengua nas relaccedilotildees de interaccedilatildeo pessoal

No entanto para que essa produccedilatildeo seja efetiva haacute que se ter em mente que

qualquer tarefa de escrita bem-sucedida requer o exerciacutecio da escrita e da reescrita pois se

considera que nesse processo de aperfeiccediloamento as aulas tomadas entre o iniacutecio e o teacutermino

de uma sequecircncia de atividades ou seja entre a produccedilatildeo inicial e a produccedilatildeo final sejam

vaacuterias e variadas com planejamento para conhecer as necessidades de cunho geral da turma

como as caracteriacutesticas de um gecircnero bem como as de cunho individual do aluno como as

limitaccedilotildees no reconhecimento do gecircnero textual na construccedilatildeo de argumentos na progressatildeo

narrativa nas convenccedilotildees da escrita culta

Com o objetivo de orientar o leitor apresentamos a forma de organizaccedilatildeo desta

pesquisa que se encontra disposta em mais cinco seccedilotildees primaacuterias aleacutem desta Introduccedilatildeo

Na seccedilatildeo 2 denominada ldquoOs gecircneros e o trabalho em sala de aulardquo discorremos

sobre o conceito de gecircnero apoiando-nos na oacutetica de Bahktin de gecircnero como tipo

relativamente estaacutevel de enunciado na oacutetica da sociorretoacuterica do gecircnero como accedilatildeo social

principalmente com Bazerman e Miller e do gecircnero como fenocircmeno histoacuterico como nos fala

Marcuschi Aleacutem disso tratamos do conceito de sequecircncia didaacutetica proposta teoacuterico-

metodoloacutegica de Dolz Noverraz e Schneuwly e de propostas complementares agrave SD com as

22

contribuiccedilotildees de Costa-Huumlbes e Lopes-Rossi Ainda nesta seccedilatildeo tratamos da definiccedilatildeo do

gecircnero textual crocircnica e suas caracteriacutesticas desenvolvidas no Brasil tanto no campo

jornaliacutestico quanto no literaacuterio pelas oacuteticas de Beltratildeo Coutinho e Cacircndido

Na seccedilatildeo 3 denominada ldquoLeitura e escrita no ensino fundamental anos finaisrdquo

discorremos sobre escrita resgatando um pouco do percurso histoacuterico das habilidades de leitura

e escrita na escola e na sociedade tratamos do aspecto da motivaccedilatildeo para a escrita da escrita

como um processo da escrita na escola e do letramento literaacuterio que julgamos interessante

ressaltar visto que leitura e escrita precisam ser instrumentalizadas

Na seccedilatildeo 4 denominada ldquoNatureza e procedimentos da pesquisardquo discorremos

sobre nossa pesquisa propriamente dita o contexto da pesquisa os sujeitos os materiais e os

procedimentos mostrando o desenvolvimento da sequecircncia de atividades e procedimentos de

coleta de dados

Na seccedilatildeo 5 denominada ldquoAnaacutelise da sequecircncia de atividades reflexotildeesrdquo

discorremos sobre nossa sequecircncia didaacutetica mostrando a participaccedilatildeo dos alunos na pesquisa

apresentando a anaacutelise da apropriaccedilatildeo de caracteriacutesticas do gecircnero crocircnica literaacuteria nos textos

dos alunos bem como os textos produzidos para circulaccedilatildeo social

E por fim na Conclusatildeo apresentamos reflexotildees acerca da experiecircncia com a

pesquisa e dos resultados obtidos bem como sugestotildees para o avanccedilo de trabalhos que possam

contribuir para a competecircncia escrita dos alunos do ensino fundamental e a continuidade de

estudos na aacuterea

Acreditamos que a pesquisa-accedilatildeo desenvolvida que se inscreve no escopo da

Linguiacutestica Aplicada pode aleacutem de ofertar contribuiccedilotildees no acircmbito acadecircmico encorajar os

alunos participantes da pesquisa no sentido de se permitirem evoluir como produtores de texto

em sua liacutengua materna direito que lhes cabe desde o momento em que satildeo reconhecidos

cidadatildeos que ingressam nas escolas brasileiras

23

2 OS GEcircNEROS E O TRABALHO EM SALA DE AULA

Os pressupostos que embasam esta pesquisa perpassam a necessidade de se

compreender o que satildeo os gecircneros textuais em distinccedilatildeo de tipos textuais e como trabalhaacute-los

em atividades sequenciadas destacando-se inclusive como estas podem melhorarauxiliar o

trabalho do professor da educaccedilatildeo baacutesica Aleacutem disso tentaremos delinear ainda que

reconheccedilamos a natildeo consensualidade de definiccedilotildees o que vem a ser a crocircnica a partir das

escolhas dos textos que integram o corpus exemplo para os alunos

21 Demarcando o conceito de gecircnero

Iniciamos nosso percurso teoacuterico a partir da compreensatildeo do que eacute o gecircnero

Concordamos com Bezerra (2017 p 11) quando ele diz que o conceito de gecircnero eacute tomado

como ldquouma categoria mediadora entre o texto e o discurso capaz de colocar em xeque velhas

concepccedilotildees dicotocircmicas como a que trata o texto como uma mera lsquomaterializaccedilatildeorsquo de um

discurso consequentemente lsquoimaterialrsquordquo

Para Bezerra (2017) a partir do gecircnero tanto o texto como o discurso podem ser

relacionados produtivamente com o seu contexto cognitivo e social o que viabiliza o estudo

teoacuterico e sua aplicaccedilatildeo pedagoacutegica

No panorama teoacuterico referencial buscaremos compreensatildeo do que eacute o gecircnero

atraveacutes da conceituaccedilatildeo de Bakhtin (2011) Bazerman (2009) Miller (2011) e Marcuschi

(2015) e sua importacircncia para o trabalho de pesquisa-accedilatildeo com produccedilatildeo textual no 9ordm ano do

ensino fundamental

211 Gecircnero como tipo relativamente estaacutevel de enunciado

De iniacutecio veremos a abordagem enunciativo-discursiva de Bakhtin (2011) que se

refere ao processo de interaccedilatildeo verbal e ao enunciado Para o filoacutesofo russo as interaccedilotildees

podem ocorrer de maneira mais geral face a face mas tambeacutem se concretizar atraveacutes dos textos

escritos Nesse processo o leitor tem um papel ativo na compreensatildeo das informaccedilotildees quando

com elas interage aceitando reformulando contrapondo e complementando conforme seu

arcabouccedilo de conhecimentos e experiecircncias e o faz reportando-se a diferentes vozes de textos

24

previamente lidos e ouvidos Essas interaccedilotildees efetivam-se por meio de enunciados chamados

de gecircneros

A compreensatildeo baacutesica do que satildeo os gecircneros textuais ou usando o termo adotado

por Bakhtin os gecircneros do discurso eacute definida como ldquotipos relativamente estaacuteveis de

enunciadosrdquo (2011 p 262) elaborados pelas diferentes esferas de utilizaccedilatildeo da liacutengua Cada

esfera de uso da linguagem traz consigo uma concepccedilatildeo padratildeo de destinataacuterio a quem se dirige

o locutor e esse destinataacuterio sempre adota uma atitude responsiva ativa diante da totalidade

acabada do gecircnero Digamos que segundo o autor essas esferas permitem-nos situar e prever

o que o interlocutor emitiraacute evitando prejuiacutezos na eficaacutecia da comunicaccedilatildeo

Aprendemos a moldar nossa fala agraves formas do gecircnero e ao ouvir a fala do outro

sabemos de imediato bem nas primeiras palavras pressentir-lhe o gecircnero Se natildeo

existissem os gecircneros do discurso e se natildeo os dominaacutessemos se tiveacutessemos de criaacute-

los pela primeira vez no processo da fala se tiveacutessemos de construir cada um de

nossos enunciados a comunicaccedilatildeo verbal seria quase impossiacutevel (BAKHTIN 2011

p 302)

Dessa forma compreendemos que os enunciados tecircm relativa estabilidade

apresentando formas tiacutepicas que se adaptam agraves muacuteltiplas situaccedilotildees tanto orais quanto escritas

sendo essas formas variaacuteveis portanto Satildeo caracteriacutesticas dos gecircneros o dialogismo e a

polifonia

No dialogismo compreendemos que um texto tem relaccedilotildees com o contexto social

com os textos jaacute lidos pelo leitor e suas experiecircncias de vida e as ligaccedilotildees feitas com as diversas

aacutereas de conhecimento natildeo sendo nunca um produto fechado em si mesmo e uacutenico O discurso

dessa forma estabelece intercacircmbios socioculturais fruto de processos cognitivos e

conhecimentos acumulados historicamente que atendem a essa atitude responsiva ativa Essa

caracteriacutestica estaacute relacionada ao processo de leitura e ao de produccedilatildeo de textos pois o leitor

ou o escritor estabelece um diaacutelogo com o texto em ambos os processos

Na polifonia entendemos que o texto natildeo eacute constituiacutedo apenas da voz do escritor

mas por outras vozes por dizeres de outrem e satildeo vozes que se cruzam concordam ou

discordam entre si

Nas condiccedilotildees de produccedilatildeo dos enunciados e dos gecircneros discursivos estatildeo

inseridas as intenccedilotildees comunicativas e as necessidades sociointerativas dos sujeitos nas esferas

de atividade em que o papel e o lugar de cada sujeito satildeo determinados socialmente Para o

autor trecircs elementos baacutesicos configurariam um gecircnero discursivo o conteuacutedo temaacutetico o estilo

e a forma composicional

25

O conteuacutedo temaacutetico do gecircnero eacute definido pelo enunciador e depende diretamente

das situaccedilotildees das condiccedilotildees de produccedilatildeo e das necessidades da proacutepria enunciaccedilatildeo A escolha

desse conteuacutedo se daacute conforme a intencionalidade do enunciador estando de acordo com as

suas necessidades

O estilo do enunciador pode ser observado na adequaccedilatildeo da linguagem empregada

na escolha dos vocaacutebulos conforme a finalidade e a proacutepria estrutura do enunciado do gecircnero

escolhido voltados para seu interlocutor Nas palavras de Bakhtin (2011 p 284)

O estilo eacute indissociavelmente vinculado a unidades temaacuteticas determinadas e o que eacute

particularmente importante a unidades composicionais tipo de estruturaccedilatildeo e de

conclusatildeo de um todo tipo de relaccedilatildeo entre o locutor e os outros parceiros da

comunicaccedilatildeo verbal (relaccedilatildeo com o ouvinte ou com o leitor com o interlocutor com

o discurso do outro etc) (BAKHTIN 2011 p 284)

Assim para o autor ldquoo enunciado - oral e escrito primaacuterio e secundaacuterio em

qualquer esfera da comunicaccedilatildeo verbal - eacute individual e por isso pode refletir a individualidade

de quem fala (ou escreve)rdquo (BAKHTIN 2011 p 283) Ou seja o estilo eacute individual poreacutem eacute

definido pelo outro e pelo gecircnero ldquodepende do modo que locutor percebe e compreende seu

destinataacuterio e do modo que ele presume uma compreensatildeo responsiva ativardquo (BRAIT 2016 p

95)

A estrutura composicional do gecircnero eacute um elemento que segue padrotildees definidos

pela sociedade Cada enunciado deve inserir-se no padratildeo que eacute convencionado pelo gecircnero a

fim de ser reconhecido e consequentemente compreendido

Essa breve exposiccedilatildeo das trecircs caracteriacutesticas dos gecircneros vem mostrar que elas

dependeratildeo em grande parte das condiccedilotildees de produccedilatildeo de cada enunciado uma vez que

[] o discurso se molda sempre agrave forma do enunciado que pertence a um sujeito

falante e natildeo pode existir fora dessa forma Quaisquer que sejam o volume o

conteuacutedo a composiccedilatildeo os enunciados sempre possuem como unidades da

comunicaccedilatildeo verbal caracteriacutesticas estruturais que lhe satildeo comuns e acima de tudo

fronteiras claramente delimitadas (BAKHTIN 2011 p 293)

Essas caracteriacutesticas ocorrem simultaneamente em uma enunciaccedilatildeo concreta pois

eacute no momento da enunciaccedilatildeo que se definiraacute como essas caracteriacutesticas seratildeo empregadas

A partir dessa compreensatildeo de Bakhtin diversos outros autores conceituaram o que

eacute gecircnero Dentre as grandes Escolas do Gecircnero2 nosso trabalho considerou os conceitos baacutesicos

2 Dentre as grandes Escolas de Gecircnero destacam-se a Escola de Sidney a Norte-americana e a de Genebra

26

adotados pela Escola norte-americana representada por Miller (2011) e Bazerman (2009) Por

fim no Brasil veremos Marcuschi (2015) Traremos ainda para a proacutexima seccedilatildeo autores que

desenvolvem e aplicam os conceitos de gecircnero textual na praacutetica por meio de sequecircncias de

atividades como Dolz Noverraz e Schneuwly ([2004]2013) atraveacutes da Sequecircncia Didaacutetica e

Vieira (2005) com a Abordagem imitativa da redaccedilatildeo trabalhando com formatos e gecircneros

212 Gecircnero como accedilatildeo social

A noccedilatildeo de gecircnero como accedilatildeo social foi desenvolvida inicialmente por Carolyn

Miller A elaboraccedilatildeo de uma teoria de gecircnero ocorreu com mais dois pesquisadores John

Swales e Charles Bazerman Todos satildeo membros do grupo que compotildee a escola de estudos de

gecircneros norte-americana cuja caracteriacutestica eacute o interesse pela natureza social do discurso

(CARVALHO 2005) Veremos aqui mais especificamente os expoentes Miller e Bazerman

A noccedilatildeo de gecircneros natildeo eacute recente e remonta agrave Retoacuterica Claacutessica Por volta dos anos

1980 Miller voltou-se aos estudos das determinaccedilotildees retoacutericas de Aristoacuteteles O filoacutesofo grego

postulou a primeira classificaccedilatildeo dos discursos em trecircs tipos o judiciaacuterio o deliberativo e o

epidiacutetico Carvalho (2016) nos diz que para Aristoacuteteles autor da classificaccedilatildeo essa distinccedilatildeo

dos discursos eacute necessaacuteria porque existem trecircs tipos de auditoacuterio e eacute preciso adaptar-se a eles

conferindo traccedilos especiacuteficos a cada gecircnero pois a escolha entre um deles se daacute mediante a

necessidade que o orador tem de se adaptar ao puacuteblico Aleacutem de classificar Aristoacuteteles

apresenta as caracteriacutesticas de cada um desses tipos de discurso Segundo Carvalho (2016 p

35)

O pensador grego entende que esses trecircs gecircneros se remetem a um tempo especiacutefico

indicam atos expressam valores e apresentam formas especiacuteficas de argumentaccedilatildeo

Assim sendo pondera que o gecircnero judiciaacuterio se dirige a um auditoacuterio especializado

versa sobre leis recorre a silogismos e se refere a acontecimentos do passado para

acusar ou defender O deliberativo trata-se de um gecircnero que se relaciona a um puacuteblico

culto faz uso de argumentos atraveacutes de exemplos e expressa atitudes que poderatildeo

acontecer no futuro O epiacutedictico por sua vez eacute caracterizado como um gecircnero no

qual o orador exalta ou despreza caracteriacutesticas de determinados indiviacuteduos no exato

momento da enunciaccedilatildeo (CARVALHO 2016 p 35)

Nessa abordagem claacutessica apesar de a classificaccedilatildeo de Aristoacuteteles ter reduzido os

discursos a apenas trecircs tipos jaacute se compreendia que a variedade dos gecircneros eacute dependente da

variedade de auditoacuterios e por essa razatildeo natildeo podem ser concebidos desvinculados de seus

interlocutores sendo formas de agir em sociedade de diferentes maneiras Nas palavras de

Carvalho (2016 p34) ldquopor esse acircngulo podemos dizer ainda hoje que lanccedilar um olhar sobre

27

os gecircneros que contemple suas dimensotildees retoacutericas eacute antes de tudo atentar para a natureza

social e argumentativa inerente a cada tipo de discurso e concebecirc-los como formas de

(inter)accedilatildeordquo

Por sua vez Bazerman (2009) na introduccedilatildeo de seu livro Gecircneros textuais

tipificaccedilatildeo e interaccedilatildeo fala da necessidade de se entender as variedades da escrita numa

abordagem que comeccedila com as circunstacircncias em que as pessoas produzem e usam os textos

questionando sobre os motivos e accedilotildees tiacutepicos associados com a escrita e leitura desses textos

Em deacutecadas recentes o ensino da escrita foi transformado pelo amplo reconhecimento

de vaacuterios princiacutepios Primeiro o escrever bem requer mais do que a produccedilatildeo de

sentenccedilas corretas tambeacutem envolve a comunicaccedilatildeo bem-sucedida de mensagens

significantes para outros Segundo a escrita eacute um processo que leva tempo e incorpora

muitas diferentes atividades Terceiro o ensino da escrita que ajuda alunos a

alcanccedilarem o sucesso acadecircmico precisa atender a todos os tipos de escrita que satildeo

necessaacuterios natildeo somente para o estudo da linguagem ou da literatura mas tambeacutem

para as disciplinas de histoacuteria ciecircncia filosofia e poliacutetica Quarto os alunos ao

terminarem seus estudos precisam estar aptos a produzir muitas diferentes formas da

escrita Embora todas as formas da escrita que os alunos poderiam precisar sejam

impossiacuteveis de antecipar os alunos precisam de habilidade e flexibilidade suficientes

para se adaptar agraves situaccedilotildees variantes da escrita (BAZERMAN 2009 p 16)

Bazerman (2009) afirma que se pode chegar a uma compreensatildeo mais profunda de

gecircneros se os compreendermos como ldquofenocircmenos de reconhecimento psicossocial que satildeo parte

de processos de atividades socialmente organizadasrdquo (Bazerman 2009 p31) Na concepccedilatildeo do

pesquisador gecircneros satildeo os tipos que as pessoas reconhecem como sendo usados por elas

proacuteprias e pelos outros ou seja ldquosatildeo fatos sociais sobre os tipos de atos de fala que as pessoas

podem realizar e sobre os modos como elas os realizamrdquo (Bazerman 2009 p 31) Desse modo

os gecircneros emergem nos processos sociais na medida em que as pessoas tentam compreender

umas agraves outras de tal maneira que consigam coordenar atividades e compartilhar significados

com vistas a seus propoacutesitos praacuteticos

Para Miller e Bazerman (2011) definir o gecircnero como ldquogecircnero textualrdquo ou apenas

gecircnero ou ainda ldquogecircnero discursivordquo eacute uma questatildeo de necessidade apenas em contextos em

que se precise fazer algum tipo de distinccedilatildeo ou esclarecimento conceitual como uma espeacutecie

de contraste Nessa obra constituiacuteda como um ldquobate papordquo com perguntas e respostas os

professores a seu turno datildeo suas visotildees sobre essas distinccedilotildees quando perguntados ldquocomo vocecirc

define o conceito de gecircnerordquo Miller responde

Bom eu mantenho a minha definiccedilatildeo jaacute conhecida Eu natildeo distinguiria gecircnero textual

de gecircnero Eu o defino amplamente ou seja o gecircnero eacute uma accedilatildeo retoacuterica tipificada

baseada numa situaccedilatildeo retoacuterica recorrente [] Diria apenas que essa definiccedilatildeo tende

28

a se concentrar mais na produccedilatildeo na pessoa que desenvolve a accedilatildeo do que na

recepccedilatildeo Mas creio que eacute possiacutevel direcionaacute-la para pensar sobre o modo como

algueacutem realiza uma accedilatildeo e responde a ela Acho que tanto a produccedilatildeo como a recepccedilatildeo

satildeo importantes para se pensar no gecircnero como accedilatildeo (BAZERMAN MILLER 2011

p 16)

A mesma questatildeo dirigida a Bazerman eacute respondida da seguinte forma

Eu gostaria de acrescentar algumas coisas Percebo que em portuguecircs eacute necessaacuterio

distinguir gecircneros textuais (textual genre) de gecircnero (gender) Poreacutem em inglecircs o uso

do termo ldquogecircnero de textordquo se opotildee a gecircneros orais ou gecircneros em outros meios

Certamente os gecircneros textuais possuem caracteriacutesticas que os distinguem dos

gecircneros da pintura por exemplo mas todos satildeo formas de gecircnero O que realmente

estaacute em discussatildeo portanto satildeo as possibilidades (affordances) especiacuteficas da

textualidade versus artes graacuteficas por exemplo (BAZERMAN MILLER 2011 p

22)

Para os estudiosos da sociorretoacuterica os gecircneros pertencem agraves atividades humanas

e as refletem de forma que agrave medida que a linguagem muda mudam consigo os gecircneros natildeo

sendo o mais importante classificar ou nomear um gecircnero mas saber como ele funciona

O conceito de gecircnero de Miller tem como noccedilotildees-chave a recorrecircncia e a accedilatildeo

retoacuterica como se pode entender a partir da definiccedilatildeo dada pela proacutepria autora quando diz que

ldquoo gecircnero eacute uma accedilatildeo retoacuterica tipificada baseada numa situaccedilatildeo retoacuterica recorrenterdquo

(BAZERMAN MILLER 2011 p 22) Sua linha de trabalho define que o gecircnero espelha a

experiecircncia de seus usuaacuterios sendo o texto a forma materializada dessa experiecircncia por meio

da accedilatildeo ali levada a cabo de sua forma e de sua substacircncia (CARVALHO 2005 p 133)

Eacute atraveacutes do processo de tipificaccedilatildeo que satildeo construiacutedas as condiccedilotildees de

recorrecircncia analogias e similaridades necessaacuterias para a compreensatildeo do gecircnero em uma dada

cultura Nesse processo eacute importante o papel do sujeito cognitivo visto que ele capta a

recorrecircncia social de uma determinada comunicaccedilatildeo o que sinaliza padrotildees socialmente

perceptiacuteveis e socialmente determinados moldando-se a eles (BAZERMAN MILLER 2011

p 32)

Para caracterizar como os gecircneros se configuram e se enquadram em organizaccedilotildees

papeis e atividades mais amplas Bazerman (2009) propotildee vaacuterios conceitos que se sobrepotildeem

cada um envolvendo um aspecto diferente dessa configuraccedilatildeo conjunto de gecircneros sistema de

gecircneros e sistema de atividades

Segundo o autor um conjunto de gecircneros eacute ldquoa coleccedilatildeo de tipos de textos que uma

pessoa num determinado papel tende a produzirrdquo (2009 p 32) Compreendemos a partir da

explicaccedilatildeo do autor que eacute exemplificada com os profissionais da engenharia e da educaccedilatildeo que

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ao identificar todas as formas de escrita com as quais devem trabalhar consegue-se ter acesso

agraves competecircncias habilidades e conhecimentos que lhe satildeo requeridos para que atue com bom

domiacutenio em sua aacuterea

Prosseguindo o autor conceitua um sistema de gecircneros

Um sistema de gecircneros compreende os diversos conjuntos de gecircneros organizados por

pessoas que trabalham juntas de uma forma organizada e tambeacutem as relaccedilotildees

padronizadas que se estabelecem na produccedilatildeo circulaccedilatildeo e uso desses documentos

Um sistema de gecircneros captura as sequecircncias regulares com que um gecircnero segue

outro gecircnero dentro de um fluxo comunicativo tiacutepico de um grupo de pessoas

(BAZERMAN 2009 p 32-33)

Esse aspecto se refere agrave integraccedilatildeo dos conjuntos de gecircneros que satildeo usados por

todos os participantes de uma determinada accedilatildeo social Como exemplo podemos pensar nas

provas de uma disciplina o professor elabora as provas e os alunos fazem as provas Ao analisar

o sistema de gecircneros observa-se a sequecircncia dos gecircneros e torna-se possiacutevel esclarecer quais

accedilotildees sociais as pessoas fazem e a forma pela qual os gecircneros datildeo ferramentas para essas accedilotildees

Por fim Bazerman (2009 p 33) conceitua sistema de atividades relacionando-o

ainda ao sistema de gecircneros ldquoEsse sistema de gecircneros eacute tambeacutem parte do sistema de atividades

da sala de aula Ao definir o sistema de gecircneros em que as pessoas estatildeo envolvidas vocecirc

identifica tambeacutem um frame que organiza o seu trabalho sua atenccedilatildeo e suas realizaccedilotildeesrdquo A

palavra frame eacute compreendida como moldura ou quadro No acircmbito educacional podemos

compreender a expressatildeo como o enquadramento que direciona o trabalho que compete a cada

pessoa imersa na accedilatildeo social

Pensando no exemplo da aacuterea educacional um aluno lida com um conjunto de

gecircneros como as provas os seminaacuterios os apontamentos e dentro do sistema de gecircneros

utilizados seu padratildeo como aluno consiste em estudar para os seminaacuterios tomar apontamentos

e responder agraves questotildees das provas sendo que dentro do sistema de atividades em que se

encontra natildeo pode deixar de atender agrave ordem que o frame lhe impotildee pois se lhe eacute determinado

que faccedila sua prova por escrito natildeo lhe eacute permitido por mais que estivesse respondendo tudo

corretamente utilizar-se de um gecircnero oral para que obtenha a nota ndash o que corrobora com a

afirmaccedilatildeo do autor quando este diz que ldquolevar em consideraccedilatildeo o sistema de atividades junto

com o sistema de gecircneros eacute focalizar o que as pessoas fazem e como os textos ajudam as pessoas

a fazecirc-lo em vez de focalizar os textos como fins em si mesmordquo (BAZERMAN 2009 p 33-

34)

30

Apoacutes essa caracterizaccedilatildeo de como os gecircneros se configuram e se enquadram em

organizaccedilotildees papeis e atividades mais amplas nessa abordagem que comeccedila com as

circunstacircncias em que as pessoas produzem e usam os textos questionando sobre os motivos e

accedilotildees tiacutepicos associados com a escrita e leitura desses textos veremos na seccedilatildeo seguinte a

concepccedilatildeo de gecircneros textuais como fenocircmenos histoacutericos profundamente vinculados agrave vida

cultural e social sob a oacutetica de Marcuschi

213 Gecircnero como fenocircmeno histoacuterico

No Brasil Marcuschi (2015) trabalhou a produccedilatildeo textual sob um enfoque

sociointerativo de gecircneros textuais no contiacutenuo de fala-escrita buscando esclarecer os

processos de compreensatildeo textual e de produccedilatildeo de sentido Coadunando com os conceitos jaacute

expostos de Bakhtin (2011) sobre as interaccedilotildees entendemos que elas se datildeo em domiacutenios

discursivos ou seja esferas da vida social ou institucional (por exemplo religiosa juriacutedica

jornaliacutestica pedagoacutegica poliacutetica industrial militar familiar luacutedica etc) nas quais se datildeo

praacuteticas que organizam formas de comunicaccedilatildeo e respectivas estrateacutegias de compreensatildeo (p

194)

Deste modo para Marcuschi os domiacutenios discursivos produzem ldquomodelos de accedilatildeo

comunicativa que se estabilizam e se transmitem de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo com propoacutesitos e

efeitos definidos e clarosrdquo (2015 p 194) que resultam em formas de accedilatildeo reflexatildeo e avaliaccedilatildeo

social que ldquodeterminam formatos textuais que em uacuteltima instacircncia desembocam na

estabilizaccedilatildeo de gecircneros textuaisrdquo (2015 p 194) tambeacutem organizando as relaccedilotildees de poder

Na concepccedilatildeo de Marcuschi (2015) os gecircneros textuais satildeo entatildeo fenocircmenos

histoacutericos profundamente vinculados agrave vida cultural e social O autor afirma que quando

dominamos um gecircnero textual natildeo dominamos uma forma linguiacutestica mas sim uma forma de

realizar linguisticamente objetivos especiacuteficos em situaccedilotildees sociais particulares (p 31) Isso

equivaleria a dizer que os gecircneros textuais operam em certos contextos como formas de

legitimaccedilatildeo discursiva por se situarem numa relaccedilatildeo soacutecio-histoacuterica com fontes de produccedilatildeo

que lhes datildeo sustentaccedilatildeo

Essa relaccedilatildeo soacutecio-histoacuterica a que se refere o autor trata da construccedilatildeo coletiva que

ordena e estabiliza as atividades comunicativas do dia a dia convergindo com o pensamento de

Bakhtin isto eacute como os gecircneros independem de decisotildees individuais e natildeo satildeo facilmente

manipulaacuteveis eles operam como geradores de expectativas de compreensatildeo muacutetua Nas

31

palavras de Marcuschi (2015 p 189) ldquoos gecircneros textuais natildeo satildeo fruto de invenccedilotildees

individuais mas formas socialmente maturadas em praacuteticas comunicativas na accedilatildeo

linguageirardquo

Em uma tentativa de distribuiccedilatildeo dos gecircneros da oralidade e escrita Marcuschi

(2015) cria um quadro geral3 que mostra que muitos gecircneros satildeo comuns a vaacuterios domiacutenios

figurando a crocircnica gecircnero eleito para a realizaccedilatildeo de nossa pesquisa-accedilatildeo de processo de

produccedilatildeo escrita em forma de sequecircncia didaacutetica nos domiacutenios discursivos ficcional e

jornaliacutestico Na distribuiccedilatildeo do contiacutenuo de fala-escrita que ensaia desenhar Marcuschi mostra

a crocircnica deslizando entre o domiacutenio das conversaccedilotildees na conversa espontacircnea seguindo para

as apresentaccedilotildees e reportagens com as narrativas

Desse modo caminha-se para uma compreensatildeo do que eacute a crocircnica aquele texto

escrito leve e espontacircneo que parece por vezes conversar com seu leitor narrando uma coisa

ou outra do dia a dia podendo conduzi-lo a reflexotildees ou possibilitando-lhe um dia mais bem-

humorado ou mesmo poeacutetico Direcionado para nossa investigaccedilatildeo julgamos esses conceitos

bastante importantes para elucidar para os alunos em que contexto satildeo produzidas as crocircnicas

de onde partem a quem pretendem alcanccedilar

Nesse sentido a partir do exposto concluiacutemos que um gecircnero seria uma resposta

usada pelos usuaacuterios de uma liacutengua em situaccedilotildees especiacuteficas constituiacutedo por caracteriacutesticas

gerais relativamente estaacuteveis Dessa forma aleacutem da intenccedilatildeo da comunicaccedilatildeo existe um

conhecimento comum pelo qual os falantes se orientam em suas decisotildees linguiacutesticas ao

construir o gecircnero de texto que estatildeo produzindo ou que devem produzir em cada contexto

comunicativo Esses gecircneros natildeo surgem naturalmente mas se constroem na interaccedilatildeo

comunicativa e satildeo fenocircmenos sociointerativos

22 Conhecendo a sequecircncia didaacutetica

Com vistas a ajudar o trabalho do professor tem sido muito discutido na uacuteltima

deacutecada o emprego das sequecircncias didaacuteticas especialmente na educaccedilatildeo baacutesica Sua

caracteriacutestica consiste em ser um conjunto de atividades ligadas entre si planejadas para ensinar

um conteuacutedo etapa por etapa Ao organizaacute-la de acordo com os objetivos que pretende alcanccedilar

para seus alunos o professor desenvolve atividades de aprendizagem e de avaliaccedilatildeo

3 Cf Anexo A

32

Para o trabalho em nossa aacuterea Liacutengua Portuguesa nossa pesquisa-accedilatildeo vai se

utilizar do procedimento baacutesico da sequecircncia didaacutetica para o ensino da escrita do gecircnero textual

crocircnica literaacuteria para o 9ordm ano do ensino fundamental inspirada no referencial teoacuterico-

metodoloacutegico de Dolz Noverraz e Schneuwly (2013) na proposta de adaptaccedilatildeo da sequecircncia

didaacutetica conduzida por Swiderski e Costa-Huumlbes (2009) na proposta de circulaccedilatildeo social do

gecircnero discursivo produzido em sequecircncias didaacuteticas de projetos pedagoacutegicos de Lopes-Rossi

(2011) e nas sugestotildees didaacuteticas da praacutetica de sala de aula de Vieira (2005) e de Serafini (2003)

221 Conceito de sequecircncia didaacutetica

Dolz Noverraz e Schneuwly (2013 p 83) reconhecem que os textos escritos ou

orais que produzimos diferenciam-se uns dos outros porque satildeo produzidos em condiccedilotildees

diferentes Apesar dessa diversidade satildeo constatadas regularidades de modo que em situaccedilotildees

semelhantes produzimos textos com caracteriacutesticas semelhantes que os autores chamam de

gecircneros de textos conhecidos de e reconhecidos por todos e que por isso mesmo facilitam a

comunicaccedilatildeo a conversa em famiacutelia ou a negociaccedilatildeo no mercado por exemplo

O conceito baacutesico de sequecircncia didaacutetica segundo os autores (2013 p 83) eacute que

esta eacute um conjunto de atividades escolares organizadas de maneira sistemaacutetica em torno de

um gecircnero textual oral ou escrito e que tem precisamente a finalidade de ajudar os alunos a

dominar melhor um gecircnero de texto o que lhes permitiraacute falar ou escrever de maneira mais

adequada a cada situaccedilatildeo comunicativa

Para o desenvolvimento de nossa pesquisa escolhemos o gecircnero crocircnica literaacuteria

visando o desenvolvimento da competecircncia discursiva dos alunos posto que ainda natildeo

dominam adequadamente a produccedilatildeo de um texto nesse gecircnero Assim como preveem Dolz

Noverraz e Schneuwly (2013 p 83) ldquoo trabalho escolar seraacute realizado evidentemente sobre

gecircneros que o aluno natildeo domina ou o faz de maneira insuficiente sobre aqueles dificilmente

acessiacuteveis espontaneamente pela maioria dos alunos e sobre gecircneros puacuteblicos e natildeo privadosrdquo

De acordo com os autores uma sequecircncia didaacutetica pode ser flexiacutevel no sentido de

que se houver necessidade o professor poderaacute por vezes criar outras atividades ou modificar

os textos de referecircncia utilizados Essa flexibilidade precisa tambeacutem considerar os fenocircmenos

de desencorajamento que poderatildeo manifestar-se durante o tempo consagrado agrave sequecircncia como

por exemplo no aluno o sentimento de que jamais conseguiraacute melhorar seu texto por causa das

dificuldades proacuteprias da escrita no professor nos momentos em que os alunos parecem

33

desconectar-se da proposta projetada perdendo o interesse pela atividade proposta no dia Para

minimizar situaccedilotildees assim eacute que deve ser deixado um espaccedilo para as atividades mais informais

e menos exigentes em termos de tempo (DOLZ NOVERRAZ SCHNEUWLY 2013 p 108)

Percebemos dessa forma que um professor natildeo eacute obrigado a realizar todas as

atividades predeterminadas de uma sequecircncia didaacutetica na sua integralidade Sob pena do rigor

por cumprir aquele planejamento e somente ele no decorrer do processo de aprendizagem

ambos professor e aluno podem sentir que a experiecircncia natildeo foi vaacutelida terminando por realizar

as aulas de modo tradicional natildeo ocorrendo assim o acesso dos alunos a praacuteticas de linguagem

novas ou dificilmente dominaacuteveis

Por ser de caraacuteter progressivo a cada etapa de uma sequecircncia didaacutetica o professor

pode ndash e deve ndash fazer uma reflexatildeo associando o microcosmo que eacute a sala de aula onde

trabalha com um macro que seria o mundo em que estamos inseridos com todo o seu contexto

que pode servir como suporte para que o docente se integre a uma (ou a vaacuterias) teorias que

possa vir a aplicar

Com a reflexatildeo sobre a(s) teoria(s) e construindo seu arcabouccedilo teoacuterico conforme

observa sua praacutetica o professor ndash incluiacutemo-nos aqui ndash como sugere Bortoni-Ricardo (2008)

torna-se pesquisador podendo aprimorar sua postura pedagoacutegica de modo a obter assim

resultados mais satisfatoacuterios junto aos discentes

Dando prosseguimento expomos aqui o os quatro componentes da estrutura baacutesica

de uma sequecircncia didaacutetica segundo Dolz Noverraz Schneuwly (2013) que serve como

inspiraccedilatildeo para as atividades que planejamos para esta pesquisa-accedilatildeo

Figura 1 - Esquema baacutesico de sequecircncia didaacutetica

Fonte Adaptado de DOLZ NOVERRAZ SCHNEUWLY (2013 p 83)

Para Dolz Noverraz e Schneuwly (2013) eacute necessaacuterio que o professor informe os

alunos e conscientize-os da importacircncia dos conteuacutedos a serem trabalhados em sala de aula

Para isso o professor deve claramente definir o problema de comunicaccedilatildeo que devem resolver

Apresentaccedilatildeo da

Situaccedilatildeo

PRODUCcedilAtildeO

INICIAL

PRODUCcedilAtildeO

FINAL

Moacuted

ulo 1

Moacuted

ulo 2

Moacuted

ulo n

34

produzindo um texto e os conteuacutedos com os quais trabalharatildeo no texto que seraacute produzido

Assim na fase inicial de apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo satildeo fornecidas aos alunos as informaccedilotildees

necessaacuterias para conhecerem o ldquoprojeto comunicativo visado e a aprendizagem de linguagem a

que estaacute relacionadordquo (2013 p 85)

Depois dessa contextualizaccedilatildeo com os alunos eles passam agrave primeira produccedilatildeo

tentando elaborar um texto escrito Ora embora os alunos ainda natildeo tenham verdadeiramente

tido o contato aprofundado com o gecircnero esse encaminhamento natildeo necessariamente os potildee

numa situaccedilatildeo de insucesso Ao contraacuterio do que se pode pensar produzir um texto adequado

agrave situaccedilatildeo proposta embora os alunos nesse primeiro momento natildeo atendam a todas as

caracteriacutesticas do gecircnero solicitado permite-lhes descobrir o que jaacute sabem fazer e ganhar

consciecircncia das dificuldades que possuem e ao professor avaliar natildeo somente as dificuldades

apresentadas pelos alunos na produccedilatildeo inicial mas tambeacutem que se apresentarem durante o

processo de produccedilatildeo Desse modo a produccedilatildeo inicial eacute caracterizada como ldquoo primeiro lugar

de aprendizagem da sequecircnciardquo (DOLZ NOVERRAZ SCHNEUWLY 2013 p 87 Grifo dos

autores)

A etapa seguinte se constitui dos moacutedulos isto eacute a decomposiccedilatildeo dos problemas

detectados na primeira produccedilatildeo com consequente fornecimento de instrumentalizaccedilatildeo para a

superaccedilatildeo das dificuldades Esse processo que vai da produccedilatildeo inicial aos moacutedulos os autores

denominaram de ldquomovimento geral da sequecircncia didaacuteticardquo (2013 p 88) partindo do acircmbito

mais complexo que eacute a produccedilatildeo inicial para o mais simples que satildeo os moacutedulos os quais

trabalham as capacidades necessaacuterias ao domiacutenio do gecircnero No fim o movimento da sequecircncia

didaacutetica vai para o complexo novamente que eacute a produccedilatildeo final No processo de elaboraccedilatildeo de

cada moacutedulo os autores levantam trecircs questionamentos 1) Que dificuldades da expressatildeo oral

e escrita abordar 2) Como construir um moacutedulo para trabalhar um problema particular 3)

Como capitalizar o que eacute adquirido nos moacutedulos (2013 p 88)

Para responder a cada uma dessas indagaccedilotildees Dolz Noverraz e Schneuwly (2013

p 88) consideram trecircs dimensotildees no processo de construccedilatildeo dos moacutedulos que satildeo trabalhar

problemas de niacuteveis diferentes variar atividades e exerciacutecios e capitalizar as aquisiccedilotildees

A primeira etapa trabalhar problemas de niacuteveis diferentes baseada na psicologia

da linguagem eacute constituiacuteda por quatro niacuteveis principais na produccedilatildeo de textos a saber

representaccedilatildeo da situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo em que o aluno deveraacute aprender com clareza a fazer

uma imagem ldquodo destinataacuterio do texto da finalidade visada da sua posiccedilatildeo como autor ou

locutor e do gecircnero visadordquo (p 88) elaboraccedilatildeo dos conteuacutedos em que o aluno ldquodeveraacute conhecer

35

as teacutecnicas para buscar elaborar ou criar conteuacutedosrdquo (p 88) planejamento do texto em que o

aluno deveraacute estruturar seu texto de acordo com um plano que depende da finalidade que se

deseja atingir considerando que cada gecircnero se caracteriza por uma estrutura evocando a

compreensatildeo de Bakhtin (2011) ldquorelativamente estaacutevelrdquo realizaccedilatildeo do texto em que o aluno

deveraacute escrever seu texto escolhendo os meios de linguagem mais eficazes para a finalidade

que pretende alcanccedilar

Em relaccedilatildeo agrave segunda etapa variar as atividades e exerciacutecios os autores definem

que ldquoo princiacutepio essencial de elaboraccedilatildeo de um moacutedulo que trate de um problema de produccedilatildeo

textual eacute o de variar os modos de trabalhordquo (p 89) Afirmando que existem variadas categorias

de atividades e exerciacutecios (atividades de observaccedilatildeo e de anaacutelise de textos tarefas simplificadas

de produccedilatildeo de textos e a elaboraccedilatildeo de uma linguagem comum) (p 89) sugerem assim que

cada moacutedulo tenha atividades diversificadas com o objetivo de proporcionar ao aluno diferentes

meios de apropriaccedilatildeo dos conteuacutedos necessaacuterios ao seu sucesso na produccedilatildeo final

A terceira etapa capitalizar as aquisiccedilotildees consiste em aprender a falar sobre o

gecircnero abordado atraveacutes da aquisiccedilatildeo de vocabulaacuterio teacutecnico comum agrave classe e ao professor

A partir dessa construccedilatildeo progressiva dos conhecimentos de linguagem e de regras seraacute

possiacutevel ao professor estimular os alunos a refletir sobre o que foi aprendido nos moacutedulos e

juntos fazerem uma siacutentese na forma de como sugerem os autores lista de constataccedilotildees ou de

lembrete ou glossaacuterio (p 90)

A etapa final da sequecircncia didaacutetica corresponde agrave produccedilatildeo final momento em que

o aluno colocaraacute em praacutetica as noccedilotildees e os instrumentos que foram elaborados e aplicados

durante os moacutedulos sendo o momento para o professor avaliar o aprendizado do aluno Essa

avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo final tem caraacuteter somativo e eacute pautada na construccedilatildeo de uma grade (2013

p 90) de criteacuterios que explicitam aos alunos o que seraacute avaliado permitindo a objetividade ao

pautar-se nos conteuacutedos trabalhados em aula Isso tornaraacute possiacutevel ao professor a observaccedilatildeo

das aprendizagens efetuadas planejar a continuaccedilatildeo do trabalho e se necessaacuterio retornar a

pontos mal assimilados

222 Propostas de adaptaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica

Com vistas a justificar como compusemos a SD aplicada vamos nessa seccedilatildeo

mostrar o aparato teoacuterico de pesquisadoras que contribuiacuteram com propostas de adaptaccedilatildeo e

36

complementaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica do grupo de Genebra buscando propiciar ao professor

um trabalho mais amplo

2221 Moacutedulo de reconhecimento

Baseados na proposta teoacuterico-metodoloacutegica da SD produzida para o contexto

sociocultural dos pesquisadores de Genebra os integrantes de um grupo de estudos em Liacutengua

Portuguesa da regiatildeo Oeste do Paranaacute criaram uma proposta de ensino da LP para as seacuteries

iniciais contendo uma adaptaccedilatildeo (SWIDERSKI COSTA-HUumlBES 2009) que consiste na

inserccedilatildeo de um moacutedulo de reconhecimento do gecircnero antes da etapa de produccedilatildeo inicial em

atividades e exerciacutecios que contemplem a leitura a pesquisa e a anaacutelise linguiacutestica com textos

do gecircnero Para melhor entendimento observemos a figura a seguir

Figura 2 - Esquema da SD adaptada por Costa-Huumlbes

Fonte Adaptado de SWIDERSKI E COSTA-HUumlBES (2009)

Esse moacutedulo inserido antes da produccedilatildeo inicial como proposto pelas autoras serve

segundo elas ao reconhecimento dos aspectos do gecircnero a ser trabalhado na SD em atividades

e exerciacutecios que contemplem a leitura a pesquisa e a anaacutelise linguiacutestica com textos do gecircnero

Na SD ldquoas condiccedilotildees de praacuteticas de leituras envolvem natildeo apenas o contexto de produccedilatildeo e a

relaccedilatildeo autor-texto A esses aspectos somam-se o conhecimento do leitor e o contexto de uso

que conforme Orlandi (1996) satildeo fatores determinantes na produccedilatildeo de sentidosrdquo

(SWIDERSKI COSTA-HUumlBES 2009 p 121)

Diante disso ao avaliarem a proposta da SD as autoras entendem que antes de se

chegar agrave produccedilatildeo inicial o professor pode criar para o estudante vaacuterias situaccedilotildees que envolvam

a praacutetica de leitura de textos do gecircnero selecionado que circulam na sociedade oportunizando

nesse contato com esses textos a mobilizaccedilatildeo de estrateacutegias diferentes frente aos diversos

37

objetivos que implicam o ato de ler e enfatizam que trabalhar com a leitura natildeo exclui o

trabalho com os outros eixos do processo ensino-aprendizagem de LP

As autoras acrescentam ainda sobre o trabalho de reconhecimento do gecircnero

Outro detalhe que salientamos sobre o trabalho de reconhecimento do gecircnero refere-

se ao fato de que as informaccedilotildees sobre o gecircnero natildeo satildeo dadas gratuitamente jaacute que

o mesmo natildeo eacute tratado como uma forma pronta e acabada mas como um instrumento

relativamente estaacutevel Entendido assim a praacutetica de ensino-aprendizagem precisa

incentivar o processo de pesquisa Nessa perspectiva o estudante tem dois problemas

a resolver antes de iniciar sua produccedilatildeo um abarca a pesquisa para conhecer os

elementos que determinam num dado contexto soacutecio-histoacuterico e cultural a produccedilatildeo

e a circulaccedilatildeo das amostras do gecircnero a ser abordado didaticamente e em segundo

a leitura e a anaacutelise dessas amostras novamente buscando reforccedilar o conhecimento

acerca dos elementos que as constituem (SWIDERSKI COSTA-HUumlBES 2009 p

121)

Vemos entatildeo que as leituras para reconhecimento do gecircnero como uma etapa

anterior ao momento da produccedilatildeo inicial servem como base ao trabalho a ser desenvolvido

Inclusive entendemos no tocante a servir como exemplo e modelo que fornecem traccedilos para

possiacuteveis comparaccedilotildees ao longo do desenvolvimento dos moacutedulos como poderemos perceber

na seccedilatildeo correspondente ao nosso trabalho

2222 Moacutedulo de divulgaccedilatildeo ao puacuteblico

Como forma de consolidar para o aluno a visatildeo do uso real de um gecircnero textual

Lopes-Rossi (2011) propotildee a divulgaccedilatildeo das produccedilotildees dos alunos apoacutes a realizaccedilatildeo das tarefas

dos moacutedulos

Deste modo o professor pode entatildeo criar com eficiecircncia projetos pedagoacutegicos

que visem segundo a autora ldquoao conhecimento agrave leitura agrave discussatildeo sobre o uso e as funccedilotildees

sociais dos gecircneros escolhidos e quando pertinente a sua produccedilatildeo escrita e circulaccedilatildeo socialrdquo

(LOPES-ROSSI 2011 p 71)

O quadro a seguir proposto por Lopes-Rossi (2011) reflete os fundamentos sobre

o trabalho com projetos pedagoacutegicos e sintetiza as etapas de desenvolvimento de projetos

pedagoacutegicos que visam agrave produccedilatildeo escrita de gecircneros discursivos incluindo o moacutedulo de

divulgaccedilatildeo ao puacuteblico de acordo com a forma tiacutepica de circulaccedilatildeo de cada gecircnero

38

Quadro 1 ndash Siacutentese das etapas de desenvolvimento de projetos pedagoacutegicos que visam agrave produccedilatildeo escrita de

gecircneros discursivos

Moacutedulos didaacuteticos Sequecircncias didaacuteticas

Leitura para apropriaccedilatildeo das

caracteriacutesticas tiacutepicas do

gecircnero discursivo

rarr Seacuterie de atividades de leitura comentaacuterios e

discussotildees de vaacuterios exemplos do gecircnero para

conhecimento de suas caracteriacutesticas discursivas

temaacuteticas e composicionais (aspectos verbais e natildeo

verbais)

Produccedilatildeo escrita do gecircnero

de acordo com suas

condiccedilotildees de produccedilatildeo

tiacutepicas

rarr Seacuterie de atividades de produccedilatildeo

- planejamento da produccedilatildeo (assunto esboccedilo geral

forma de obtenccedilatildeo de informaccedilotildees recursos

necessaacuterios)

- coleta de informaccedilotildees

- produccedilatildeo da primeira versatildeo

- revisatildeo colaborativa do texto

- produccedilatildeo da segunda versatildeo

- revisatildeo colaborativa do texto

- produccedilatildeo da versatildeo final incluindo o suporte para a

circulaccedilatildeo do texto

Divulgaccedilatildeo ao puacuteblico de

acordo com a forma tiacutepica de

circulaccedilatildeo do gecircnero

rarr Seacuterie de providecircncias para efetivar a circulaccedilatildeo da

produccedilatildeo dos alunos fora da sala de aula e mesmo da

escola de acordo com as necessidades de cada evento

de divulgaccedilatildeo e das caracteriacutesticas de circulaccedilatildeo do

gecircnero Fonte Adaptado de LOPES-ROSSI (2011 p 72)

Se adaptarmos o quadro em forma de esquema a fim de facilitar a visualizaccedilatildeo

teremos

Figura 3 Esquema das etapas de desenvolvimento de projetos pedagoacutegicos visando agrave produccedilatildeo escrita de gecircneros

discursivos

Fonte Adaptado de LOPES-ROSSI (2011)

Segundo a autora a proposta de trabalho pedagoacutegico com gecircneros discursivos pela

oacutetica dos pesquisadores do grupo de Genebra proporciona de fato o desenvolvimento da

Produccedilatildeo

escrita

Divulgaccedilatildeo ao

puacuteblico

Leitura para

apropriaccedilatildeo

39

autonomia do aluno no processo de leitura e produccedilatildeo textual sendo uma consequecircncia do

domiacutenio do funcionamento da linguagem em situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo visto que eacute por meio

dos gecircneros discursivos que as praacuteticas de linguagem incorporam-se agraves atividades dos alunos

Sua oacutetica inclui um moacutedulo de leitura para apropriaccedilatildeo das caracteriacutesticas tiacutepicas

do gecircnero que se pretende trabalhar como jaacute descrito no quadro e que coaduna com a proposta

de Swidesrki e Costa-Huumlbes (2009) O moacutedulo de produccedilatildeo escrita de Lopes-Rossi (2009) trata

de planejamento da produccedilatildeo coleta de informaccedilotildees produccedilatildeo da primeira versatildeo revisatildeo

colaborativa do texto produccedilatildeo da segunda versatildeo revisatildeo colaborativa do texto produccedilatildeo da

versatildeo final incluindo o suporte para a circulaccedilatildeo do texto

Para noacutes eacute interessante considerar o moacutedulo de divulgaccedilatildeo ao puacuteblico pois

somando-se a esse trabalho de desenvolvimento da autonomia a circulaccedilatildeo da produccedilatildeo viraacute

corroborar entatildeo a funccedilatildeo social do texto divulgado no suporte adequado nas condiccedilotildees

apropriadas

2223 Abordagem imitativa da redaccedilatildeo

No capiacutetulo Abordagem imitativa da redaccedilatildeo trabalhando com formatos e gecircneros

que integra a obra Escrita para que te quero Vieira (2005 p 159-171) elenca passos para o

trabalho do professor com os alunos na construccedilatildeo de um texto como se fosse um guia o que

pode ser bastante uacutetil para o trabalho com formatos e gecircneros Seguem os passos

1ordm Dar exemplos do tipo de escrita esperado que em poucas palavras consiste em

oferecer modelos de textos relativamente faacuteceis de ler evidenciando sua estrutura

2ordm Ensinar as regras que consiste em explicitar o caminho para atingir as metas

Se necessaacuterio for diz a autora transmite-se um conhecimento analiacutetico ldquouse esquemas ou

diagramas para ilustrar Leve seus alunos a aprenderem mais a partir de modelos direcionando

a instruccedilatildeo para um alvordquo (VIEIRA 2005 p 159)

3ordm Apresentar uma ldquoreceitardquo passo a passo do gecircnero pretendido o que deixa claro

o que se quer que os alunos produzam e tambeacutem serve de guia para as tarefas de casa quando

estiverem trabalhando sozinhos A receita seraacute tatildeo melhor para os alunos se elaborada

diretamente pelo professor ou pelos proacuteprios alunos Tambeacutem eacute possiacutevel diz a autora adaptar

instruccedilotildees de manuais e usar a proacutepria experiecircncia de redator

40

4ordm Demonstrar a ldquoreceitardquo que eacute um momento em que os alunos percebem o

trabalho na praacutetica com o professor executando alguns ou todos os passos da ldquoreceitardquo

demonstrando como se escreve Os alunos colaboram na criaccedilatildeo conjunta de um texto

5ordm Ser autecircntico no processo que eacute dividir com os estudantes os problemas que

surgem na produccedilatildeo de qualquer texto mostrando como solucionar dialogando com os alunos

trabalhando de forma colaborativa

6ordm Dar tarefas curtas e planejadas com cuidado o que atribui ao trabalho do aluno

mais qualidade Normalmente para impressionar o professor a aluno escreve textos longos

repetitivos e sem atratividade As atividades com limite de extensatildeo favorecem segundo a

autora a motivaccedilatildeo o alcance e a variedade de audiecircncias o feedback do professor a

possibilidade de repeticcedilatildeo da tarefa o que Vieira considera um passo fundamental para se

dominar um conhecimento

7ordm Propiciar feedback uacutetil e especiacutefico Neste aspecto a autora natildeo estimula o

ldquoretoquerdquo dos textos dos alunos feito pelo professor Pelo contraacuterio incentiva criacuteticas justas

que visem a evoluccedilatildeo construindo com o aluno atraveacutes das sugestotildees e questotildees adequadas a

reformulaccedilatildeo de seus textos Vieira acrescenta ainda que este feedback natildeo deveria vir somente

do professor mas de uma variedade de leitores como seus pares e a famiacutelia para evitar a falsa

ideia de que a escrita eacute algo direcionado somente ao professor

8ordm Repetir a tarefa Ningueacutem se torna bom em algo logo na primeira tentativa

Portanto para desenvolver as habilidades eacute importante a repeticcedilatildeo para dominar um

conhecimento

Apoacutes elencar a autora sugere tarefas de aplicaccedilatildeo para o professor de forma bem

praacutetica para criar uma ldquoreceitardquo de escrita com os alunos (2005 p 162) de modo que noacutes

professores nos apropriemos dos diferentes gecircneros textuais conhecendo de antematildeo as

caracteriacutesticas destes e mesmo as dificuldades partindo de textos autecircnticos listando

procedimentos e etapas necessaacuterios para redigir textos semelhantes e refletindo sobre a

instruccedilatildeo que devemos criar estabelecendo um propoacutesito para que o aluno escreva e exercite

apropriadamente o modelo de gecircnero

A partir desse roteiro teoacuterico-metodoloacutegico que traccedilamos ao longo desta seccedilatildeo

inspiramo-nos para criar para o trabalho com o gecircnero crocircnica assunto da proacutexima seccedilatildeo em

nossa pesquisa-accedilatildeo a sequecircncia didaacutetica com foco na produccedilatildeo escrita de crocircnicas literaacuterias

acrescida das etapas de reconhecimento do gecircnero e da divulgaccedilatildeo ao puacuteblico dado o desejo

41

de extrapolar o acircmbito da sala de aula fazendo com que os textos dos alunos tivessem

circulaccedilatildeo social

23 Definindo o gecircnero textual crocircnica

A palavra ldquocrocircnicardquo tem origem no grego antigo khroacutenos e significa tempo Naquela

sociedade o gecircnero ganhou esse nome inicialmente por trazer em seu corpo o relato em ordem

cronoloacutegica dos fatos ou acontecimentos de uma eacutepoca

Um dos pioneiros a estudar o texto literaacuterio segundo Ferreira (2011 p 65) foi o

pensador grego Aristoacuteteles Sua perspectiva formulava o conceito de mimese que seria a obra

literaacuteria como representaccedilatildeo ou imitaccedilatildeo do mundo Considerando essa oacutetica a crocircnica em sua

origem tomava a forma de registro histoacuterico de um povo Aleacutem disso compreende-se que mais

do que apenas encadear a sequecircncia de fatos sucessivos interessava a forma como isso se dava

mostrando o cuidado com a arte literaacuteria

Aproximadamente no seacuteculo XII a crocircnica ressurge em uso na Europa medieval e

tem seu conceito atualizado pela perspectiva grega ora se encarrega de registrar os fatos

fidedignamente o que lhe confere caraacuteter histoacuterico ora relata-os fazendo uso de recursos

linguiacutesticos tanto denotativos quanto conotativos conferindo-lhe caraacuteter de ficccedilatildeo literaacuteria A

esse respeito nos fala Borges (2008 p 205)

A preocupaccedilatildeo com a descriccedilatildeo da histoacuteria de uma vida teve seu iniacutecio no mundo

grego antigo ao mesmo tempo em que surgiu a Histoacuteria como forma de

conhecimento essa era uma Histoacuteria poliacutetica com sua diferenciaccedilatildeoimbricaccedilatildeo com

a memoacuteria Ao longo de mais ou menos dois milecircnios autores acharam que contar a

histoacuteria da vida de algueacutem era algo distinto de uma Histoacuteria (que narrava fatos

coletivos e contava a verdade) as histoacuterias das vidas (termo usado entatildeo pelos

autores) serviam desde o mundo greco-romano para dar exemplos morais negativos

ou positivos - muitas vezes constituindo os panegiacutericos Essa chamada biografia

claacutessica punha um acento muito maior no caraacuteter poliacutetico moral ou religioso do

biografado do que em sua pessoa em sua singularidade No mundo medieval a ideia

dos exempla prolongou-se configurando-se na hagiografia e nas croacutenicas

Esses textos chamados de crocircnicas como caracterizadas acima por Borges (2008)

confundiam-se com outros gecircneros da eacutepoca ndash o que era muito comum ndash por tomarem um

caraacuteter biograacutefico sendo sinocircnimas por exemplo da hagiografia cuja intencionalidade ditava

o estilo do escritor concretizando ao longo da sucessatildeo cronoloacutegica dos fatos uma visatildeo

parcial beirando o excessivamente elogioso

42

A crocircnica percorreu longo curso ateacute ganhar a forma que conhecemos hoje no Brasil

Para Coutinho (2008) a origem de nossa atual crocircnica brasileira estaria no ensaio inglecircs do

seacuteculo XVI O autor a compara ao ensaio informal (informal essay ou familiar essay) que

consiste em seu sentido primitivo numa tentativa numa experimentaccedilatildeo de interpretaccedilatildeo

pessoal dos fatos sem obedecer a uma estrutura predeterminada poreacutem com forte marca da

prosa oral colocada na escrita

A essecircncia do ensaio (nesse sentido original) estaacute em sua relaccedilatildeo com a palavra falada

e com a elocuccedilatildeo oral como se depreende do estudo estiliacutestico dos grandes ensaiacutestas

estilo muito proacuteximo da maneira oral ou do pensamento que eacute captado no proacuteprio ato

e momento de pensar (COUTINHO 2008 p 100)

A respeito do conceito de crocircnica temos a visatildeo de Coutinho (2008) cujos criteacuterios

de classificaccedilatildeo dos gecircneros literaacuterios adotados em sua obra apontam para ldquoum grupo de formas

literaacuterias que resultam de uma explanaccedilatildeo direta dos pontos de vista do autor dirigindo-se em

seu proacuteprio nome ao leitor ou ouvinte sem qualquer artifiacutecio intermediaacuteriordquo (2008 p 99)

Segundo ele o autor vale-se de meacutetodo direto ao inveacutes de indireto em gecircneros ensaiacutesticos ou

discursivos cujos exemplos dados satildeo o ensaio a crocircnica o discurso e o sermatildeo a carta as

memoacuterias o diaacuterio as maacuteximas Outra aproximaccedilatildeo da crocircnica ao ensaio para o autor eacute que

ambos satildeo escritos em linguagem coloquial discorrendo sobre diversos assuntos tais como os

proacuteprios seres humanos os fatos ocorridos com eles as cenas da natureza entre outros

Poreacutem na mesma obra Coutinho (2008) afirma que modernamente a palavra

ensaio veio perdendo seu caraacuteter inicial e etimoloacutegico de tentativa de experimentaccedilatildeo

passando a se confundir com ldquoestudordquo ldquoou o que os ingleses chamam de julgamento isto eacute

que oferecem conclusotildees sobre os assuntos apoacutes discussatildeo argumentaccedilatildeo anaacutelise avaliaccedilatildeordquo

231 A crocircnica brasileira

No seacuteculo XIX a sociedade desenvolve-se industrialmente permitindo o advento

da imprensa Para vaacuterios autores como Barbier (2008 apud FERREIRA 2011) Coutinho

(2008) Cacircndido (1992) Castello (1999) o folhetim eacute a gecircnese da crocircnica moderna sendo o

jornal o suporte em que a crocircnica vai ganhar definitivamente seu espaccedilo Sobre essa relaccedilatildeo na

eacutepoca entre o suporte para o gecircnero e o gosto pelo gecircnero Barbier (2008) fala

Sabe-se hoje que os gecircneros literaacuterios estatildeo intimamente relacionados agraves condiccedilotildees

sociais e histoacutericas que determinam a formaccedilatildeo do puacuteblico leitor com seus gostos e

sensibilidades e que por outro lado eles tambeacutem se alteram com a mudanccedila do

43

suporte material dos textos como o demonstra a Histoacuteria dos manuscritos dos

impressos e das recentes experimentaccedilotildees digitais (BARBIER 2008 apud

FERREIRA 2011 p 73)

Das palavras de Barbier (2008) captamos a importacircncia que passa a ter a imprensa

para a divulgaccedilatildeo dos textos por seu alcance por sua frequecircncia bem como por seu poder de

molde sobre o puacuteblico leitor que se formava na eacutepoca

Antocircnio Candido (1992 p 15) no belo texto A vida ao reacutes-do-chatildeo explica que

ldquoantes de ser crocircnica propriamente dita foi lsquofolhetimrsquo ou seja um artigo de rodapeacute sobre as

questotildees do dia ndash poliacuteticas sociais artiacutesticas literaacuteriasrdquo E completa o autor afirmando que a

crocircnica ldquonatildeo nasceu propriamente com o jornal mas soacute quando este se tornou quotidiano de

tiragem relativamente grande e teor acessiacutevel isto eacute haacute pouco mais de um seacuteculo e meiordquo

(CAcircNDIDO 1992 p 15)

Esse folhetim em geral ficava no rodapeacute da primeira paacutegina do jornal e era

destinado ao entretenimento do leitor Esse espaccedilo com o tempo passou a acolher a ficccedilatildeo

literaacuteria Autores publicavam aiacute seus textos treinando a narrativa Tal foi a receptividade do

formato que ganhou espaccedilo proacuteprio semanalmente Nas palavras de Castello (1999) aquele

texto que veio depois a ser a crocircnica complementaria a funccedilatildeo da imprensa diaacuteria

A partir dos anos [19]20 acentua-se a contribuiccedilatildeo de cronistas e memorialistas Mas

o primeiro gecircnero mais do que o segundo eacute continuidade e amadurecimento de uma

tradiccedilatildeo proveniente do Romantismo quando o ldquofolhetimrdquo semanal eacute definido por

Joseacute de Alencar e enriquecido por Machado de Assis mestre de cronistas que vieram

depois Conta-se ainda a contribuiccedilatildeo da prosa poeacutetica de Raul Pompeia e logo a

seguir de Olavo Bilac Finalmente nos nossos dias seja atividade complementar seja

agraves vezes principal e mesmo uacutenica de vaacuterios escritores a crocircnica se afirma como gecircnero

da preferecircncia de numeroso puacuteblico Contribuiu sempre para difundi-la desde seus

momentos iniciais datados do Romantismo a divulgaccedilatildeo em primeira matildeo pelos

principais jornais e revistas do paiacutes Complementava mesmo pelo seacuteculo XIX a

funccedilatildeo de nossa imprensa diaacuteria tradicionalmente marcada pela colaboraccedilatildeo dos

escritores do momento Surgia como um misto de notiacutecia vaacuteria reflexatildeo invenccedilatildeo e

ateacute mesmo de criacutetica ou impressotildees literaacuterias (CASTELLO 1999 p 377-378)

A crocircnica complementava a imprensa por em seu bojo tratar de assuntos mais

amenos diferindo dos que motivavam as notiacutecias e as reportagens sem no entanto como nos

mostra Cacircndido (1992) deixar de lado o que toca a alma humana

Ora a crocircnica estaacute sempre ajudando a estabelecer ou restabelecer a dimensatildeo das

coisas e das pessoas Em lugar de oferecer um cenaacuterio excelso numa revoada de

adjetivos e periacuteodos candentes pega o miuacutedo e mostra nele uma grandeza uma beleza

ou uma singularidade insuspeitada Ela eacute amiga da verdade e da poesia nas suas

formas mais diretas e tambeacutem nas suas formas mais fantaacutesticas - sobretudo porque

quase sempre utiliza o humor (CAcircNDIDO 1992 p 14)

44

Amenos sim poreacutem as crocircnicas de um ou outro modo conduziam o leitor mesmo

que por caminhos suaves de ldquoar despreocupado de quem estaacute falando de coisas sem maior

consequecircnciardquo (CAcircNDIDO 1992 p 17) agrave criacutetica social agrave reflexatildeo sobre o significado das

accedilotildees e dos sentimentos do homem

Segundo Coutinho (2008 p 106) o caminho que conduziria agrave crocircnica brasileira

comeccedila com Francisco Otaviano no Jornal do Commercio no Rio de Janeiro em 2 de

dezembro de 1852 Nessa data eacute inaugurada a seccedilatildeo ldquoA semanardquo em que seriam publicados os

folhetins literaacuterios do Romantismo

O folhetim seccedilatildeo ao final da paacutegina apresentou caracteriacutesticas que se agrupadas

conforme a frequecircncia do teor das publicaccedilotildees seriam de variedades e de romances O primeiro

grupo o de variedades abordava assuntos diversos da eacutepoca tratando de tudo um pouco e

ocupava a primeira paacutegina do jornal O segundo por sua vez destinava-se a textos de ficccedilatildeo

Esse espaccedilo passou a publicar romances de autores da eacutepoca distribuiacutedos em histoacuterias seriadas

ou capiacutetulos provocando no puacuteblico leitor a curiosidade pelo que viria a seguir tornando-se

um sucesso permitindo ldquoalavancar as vendas aumentar as assinaturas e por conseguinte

ampliar as vantagens financeiras dos jornaisrdquo (SANTOS 2008 p 68)

Essa iniciativa abriu espaccedilo para publicaccedilotildees de romances de autores brasileiros O

guarani de Joseacute de Alencar por exemplo foi desenvolvido a princiacutepio para o folhetim Em 1ordm

de janeiro de 1857 saiu o capiacutetulo inicial do romance no Diaacuterio do Rio de Janeiro Ao final

daquele ano foi publicado como livro com alteraccedilotildees miacutenimas em relaccedilatildeo ao que fora

publicado em folhetim

A evoluccedilatildeo da sociedade industrial refletiu sua setorizaccedilatildeo no modo de organizaccedilatildeo

dos jornais O folhetim para variedades teve sua alteraccedilatildeo quando foram criadas seccedilotildees

especiacuteficas para assuntos especiacuteficos de maneira a organizar o jornal Para o folhetim restaram

assuntos mais corriqueiros de cunho mais descompromissado com a veracidade dos fatos ndash

estes ficariam para as notiacutecias A esses textos mais leves cujo caraacuteter era efecircmero com a mera

funccedilatildeo de distrair o leitor passou-se a dar o nome de crocircnica

232 Caracteriacutesticas da crocircnica

Apesar da filiaccedilatildeo ao jornal as caracteriacutesticas atuais do gecircnero crocircnica vatildeo aleacutem do

desenvolvimento da imprensa Como bem nos resume Amaral (2008) tambeacutem estatildeo

intimamente relacionadas agraves transformaccedilotildees sociais e agrave valorizaccedilatildeo da histoacuteria social isto eacute da

45

histoacuteria que considera importantes os movimentos de todas as classes sociais e natildeo soacute os das

grandes figuras poliacuteticas ou militares Em suas palavras no ldquoregistro da histoacuteria social assim

como na escrita das crocircnicas um dos objetivos eacute mostrar a grandiosidade e a singularidade dos

acontecimentos miuacutedos do cotidianordquo (2008 p 12)

Eacute efecircmera simples e dinacircmica em sua linguagem como nos fala Cacircndido (1992 p

14)

Isto acontece porque natildeo tem pretensotildees a durar uma vez que eacute filha do jornal e da

era da maacutequina onde tudo acaba tatildeo depressa Ela natildeo foi feita originalmente para o

livro mas para essa publicaccedilatildeo efecircmera que se compra num dia e no dia seguinte eacute

usada para embrulhar um par de sapatos ou forrar o chatildeo da cozinha Por se abrigar

nesse veiacuteculo transitoacuterio o seu intuito natildeo eacute o dos escritores que pensam em ldquoficarrdquo

isto eacute permanecer na lembranccedila e na admiraccedilatildeo da posteridade e a sua perspectiva

natildeo eacute a dos que escrevem do alto da montanha mas do simples reacutes-do-chatildeo

(CAcircNDIDO 1992 p 14)

As crocircnicas contemporacircneas organizam sua narrativa em primeira ou terceira

pessoa quase sempre como quem conta um caso em tom intimista Ao narrar os autores

inserem em seu texto trechos de diaacutelogos permeados por expressotildees cotidianas escrevendo

como quem conversa com seus leitores como se estivessem muito proacuteximos Como temaacutetica

os cronistas tratam de reflexotildees sobre a vida social poliacutetica econocircmica por vezes de forma

humoriacutestica outras de modo mais seacuterio outras com um jeito poeacutetico que indica o pertencimento

do gecircnero agrave esfera literaacuteria

Assim uma forte caracteriacutestica do gecircnero eacute ter uma linguagem que mescla aspectos

da escrita com outros da oralidade E por causa do uso de linguagem coloquial e da proximidade

com os fatos cotidianos a crocircnica por vezes eacute vista como literatura ldquomenorrdquo Essa suposta

classificaccedilatildeo como gecircnero literaacuterio menor natildeo diminui sua importacircncia Por ser breve leve de

faacutecil acesso envolvente ela possibilita momentos de fruiccedilatildeo a muitos leitores que nem sempre

tecircm acesso ndash ou natildeo gostam devido agrave extensatildeo ndash aos romances Para compreendermos as

caracteriacutesticas da crocircnica precisamos conhecer como ela se manifesta como texto jornaliacutestico

e tambeacutem como texto literaacuterio

2321 Crocircnica um gecircnero jornaliacutestico

Para termos uma ideia de como eacute vista a crocircnica na esfera jornaliacutestica valemo-nos

da classificaccedilatildeo do pioneiro na aacuterea Luiacutes Beltratildeo (1980 p 67 Grifos do autor)

O primeiro aspecto eacute quanto agrave natureza do tema Deste modo ele apresenta trecircs

46

espeacutecies

a) crocircnica geral tambeacutem chamada de coluna ou seccedilatildeo especial que aborda

assuntos variados ldquosob uma epiacutegrafe geralrdquo ou localizada em paacutegina fixa no

jornal

b) crocircnica local tambeacutem chama de urbana ou da cidade divulgada sob a mesma

epiacutegrafe que fala da vida cotidiana da cidade recebendo e orientando a opiniatildeo

puacuteblica da comunidade onde circula o jornal

c) crocircnica especializada tambeacutem chamada de comentaacuterio integra uma paacutegina ou

seccedilatildeo do jornal determinada destacando-se graficamente das demais mateacuterias

ali publicadas trata de assuntos referentes a uma aacuterea especiacutefica de atividade

cujo autor eacute um expert como nos casos de poliacutetica esportes ou economia

O segundo aspecto eacute o tratamento dado ao tema Beltratildeo (1980 p68) apresenta

mais trecircs classificaccedilotildees

a) crocircnica analiacutetica em que o cronista expotildee os fatos com brevidade e os analisa

com objetividade dirigindo-se ldquomais agrave inteligecircncia que ao coraccedilatildeordquo com

linguagem soacutebria e elegante poreacutem dotada de capricho e graccedila

b) crocircnica sentimental em que o cronista apela para a sensibilidade de seu leitor

retirando-se dos fatos e explorando aspectos liacutericos pitorescos ou eacutepicos de

modo a comovecirc-lo e influenciaacute-lo agrave accedilatildeo com linguagem vivaz ritmo aacutegil sem

dar profundidade ao tema

c) crocircnica satiacuterico-humoriacutestica em que o objetivo do cronista eacute criticar fatos accedilotildees

personagens ou pronunciamentos comentados ndash amplamente conhecidos do

puacuteblico ndash ridicularizando-os ou ironizando-os buscando o entretenimento do

leitor utilizando linguagem com linguagem figurada com duplo sentido

palavras aspeadas e verbos no futuro do preteacuterito Para Beltratildeo (1980) a esse tipo

de crocircnica se assemelham as charges dos jornais

2322 Crocircnica um gecircnero literaacuterio

A crocircnica como vimos previamente surgiu no espaccedilo do jornal Embora o

utilizasse como suporte e a partir dele tenha se firmado desenvolveu caracteriacutesticas proacuteprias

indo para aleacutem da esfera jornaliacutestica alcanccedilando assim a esfera literaacuteria Nas palavras de

Eduardo Portela (apud Coutinho 2008 p 107)

47

O fundamental na crocircnica eacute a superaccedilatildeo de sua base jornaliacutestica e urbana em busca de

transcendecircncia seja construindo ldquouma vida aleacutem da notiacuteciardquo Seja enriquecendo a

notiacutecia ldquocom elementos de tipo psicoloacutegico metafiacutesicordquo ou com o humour seja

fazendo ldquoo subjetivismo do artistardquo ldquoo seu universo internordquo sobrepor-se ldquoagrave

preocupaccedilatildeo objetiva do cronistardquo (PORTELA apud COUTINHO 2008 p 107)

Como se vecirc essa base jornaliacutestica que atrelava a crocircnica agrave notiacutecia foi

gradativamente superada Natildeo soacute em jornais mas tambeacutem em revistas ela passou a ser

publicada ainda trazendo em si o aspecto da brevidade Poreacutem as que alcanccedilaram a

transcendecircncia de que nos fala o autor passaram a tambeacutem ser publicadas em livros reunidas

em coletacircneas organizadas por autores e editoras chegando mesmo a serem inseridas nos livros

didaacuteticos do ensino baacutesico

Para aleacutem dessa caracteriacutestica da crocircnica literaacuteria impressa temos agora tambeacutem

no seacuteculo XX a crocircnica cujo suporte eacute o meio online divulgada amplamente por meio das redes

sociais sites ou blogs Nesses meios tambeacutem haacute crocircnicas ligadas a notiacutecias sim No entanto a

dinacircmica da vida a capacidade de observaccedilatildeo e a vontade crescente na sociedade de expressatildeo

permite que o subjetivo emerja externalizando o universo dos autores modernos tocando os

leitores igualmente modernos tornando puacuteblico o que poderia ser antes apenas privado natildeo

priorizando apenas a objetividade histoacuterica que buscaram os cronistas incipientes

Considerando todas essas formas de tornar puacuteblica a crocircnica vejamos algumas de

suas caracteriacutesticas mais expressivas Afracircnio Coutinho (2008 p 107 Grifos nossos) fala sobre

os diversos tipos da crocircnica na literatura brasileira afirmando ser possiacutevel classificaacute-los pela

natureza do assunto ou pelo movimento interno Satildeo eles

a) a crocircnica narrativa que se aproxima do conto por ter seu eixo em uma histoacuteria

b) a crocircnica metafiacutesica que se constitui de aura de reflexotildees mais ou menos

filosoacuteficas sobre os acontecimentos ou os homens

c) a crocircnica-poema em prosa que traz em si conteuacutedo liacuterico resultante de mero

extravasamento da alma do artista ante o espetaacuteculo da vida das paisagens ou

episoacutedios para ele significativos

d) a crocircnica-comentaacuterio que trata das variedades dos acontecimentos e que tem

ldquono dizer de Eugecircnio Gomes o aspecto de um lsquobazar asiaacuteticorsquo acumulando

muita coisa diferente ou diacutesparrdquo

Antocircnio Cacircndido (1992 p 21) sugere sem pretensatildeo de categorizar uma

classificaccedilatildeo das crocircnicas Poderiacuteamos agrupar conforme seus exemplos da seguinte forma

48

a) crocircnicas que satildeo diaacutelogos e que nelas podemos perceber que o cronista e seu

leitor ideal se revezam nos pontos de vista e nas informaccedilotildees

b) crocircnicas que marcham rumo ao conto ldquoagrave narrativa mais espraiada com certa

estrutura de ficccedilatildeordquo

c) crocircnicas que parecem anedotas desdobradas

d) crocircnicas que se aproximam da exposiccedilatildeo poeacutetica ou de certo tipo de biografia

liacuterica construiacutedas por enumeraccedilatildeo parecendo uma divagaccedilatildeo livre ldquouma

cadeia de associaccedilotildees totalmente sem necessidade que deveria resultar em

simples acuacutemulo de palavrasrdquo mas que resulta em ldquoum sistema expressivo tatildeo

perfeitordquo

Nos tempos em que vivemos e para nosso projeto escolhemos crocircnicas que se

apresentaram para noacutes tatildeo efecircmeras quanto as do jornal impresso as de meio virtual online

Bem certo que natildeo foram todas mas vaacuterias que nossos alunos leram encaixam-se nesse perfil

O advento da internet permite que acessemos textos dos mais variados gecircneros Em nosso caso

crocircnicas de autores de diversos pontos do Paiacutes Usamos famosos e outros cuja fama no meio

literaacuterio ainda estaacute se nacionalizando porquanto alguns jaacute estejam bem consolidados no meio

em seus estados

Como nosso objetivo maior nesta pesquisa-accedilatildeo eacute contribuir para o

desenvolvimento da competecircncia escrita dos alunos neste caso os do 9ordm ano do Ensino

fundamental ano divisor de aacuteguas prestes a entrar para o ensino meacutedio quando lhes seraacute

cobrado um conhecimento que muitos natildeo chegam a alcanccedilar que eacute o de ter boa escrita boa

produccedilatildeo textual propiciar-lhes-emos conhecer as etapas especiacuteficas do processo atraveacutes de

nossa SD o que lhes seraacute fundamental natildeo somente para os niacuteveis escolares seguintes mas

tambeacutem para as praacuteticas sociais nas quais estatildeo inseridos

A escolha do gecircnero natildeo poderia ter sido mais oportuna Nas palavras de Cacircndido

(1992 p 16) sobre a crocircnica ldquoo seu grande prestiacutegio atual eacute um bom sintoma do progresso de

busca da oralidade na escrita isto eacute na quebra do artifiacutecio e aproximaccedilatildeo com o que haacute de mais

natural no modo de ser do nosso tempo E isto eacute humanizaccedilatildeo da melhorrdquo

49

3 LEITURA E ESCRITA NOS ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Nesta seccedilatildeo tratamos da questatildeo da escrita no ensino fundamental nos anos finais

refletindo sobre o que ensinar em Liacutengua Portuguesa como os professores trabalham como

veem a importacircncia das aulas de escrita

31 Habilidades de leitura e escrita para que ler e escrever

No iniacutecio do seacuteculo XX pensava-se nas aulas de liacutengua materna como o momento

de se transmitir a norma culta da liacutengua portuguesa para os estudantes oriundos da classe social

alta A linguagem era vista como a expressatildeo do pensamento e a capacidade de escrever seria

portanto uma consequecircncia do pensar Na escola os textos literaacuterios eram valorizados e os

regionalismos ignorados Tambeacutem era descartada a ideia de se ler na escola jornais ou

quaisquer textos de nuances coloquiais

A partir da segunda metade do seacuteculo XIX comeccedilaram a surgir no Paiacutes ainda que

alguns fossem impressos na Europa livros de leitura destinados especificamente agraves seacuteries

iniciais da escolarizaccedilatildeo Segundo Galvatildeo e Batista (sd) autores como Abiacutelio Ceacutesar Borges e

Felisberto de Carvalho editaram livros considerados inovadores para a eacutepoca por terem caraacuteter

enciclopeacutedico trazendo conteuacutedos de vaacuterias aacutereas do conhecimento sendo de cunho instrutivo

e moral Essas obras destinadas ao aprendizado inicial da leitura e da escrita visavam substituir

as cartilhas grosseiras ou os materiais manuscritos que no entanto na maior parte do paiacutes

continuaram sendo usados

No iniacutecio do seacuteculo XX foram publicados livros cujo formato comeccedilou a modificar

o conceito de livro usado nas escolas Atraveacutes do Brasil de Olavo Bilac e Manuel Bonfim e

Narizinho arrebitado de Monteiro Lobato marcaram a histoacuteria

Movidos pelo nacionalismo que caracterizava aquele momento brasileiro os autores

construiacuteram um livro que traz uma narrativa contiacutenua ao longo dos capiacutetulos contando

a histoacuteria de trecircs meninos viajando atraveacutes do paiacutes No prefaacutecio os autores afirmam

que atraveacutes da histoacuteria narrada o professor teria material para desenvolver os diversos

assuntos necessaacuterios agrave instruccedilatildeo das crianccedilas Aleacutem disso e talvez sobretudo os

autores tecircm uma preocupaccedilatildeo com a educaccedilatildeo moral dos meninos e meninas Em

1921 outro livro marcaria a histoacuteria dos livros de leitura Narizinho Arrebitado de

Monteiro Lobato Um dos grandes sucessos da literatura infantil brasileira nasceu

como 2o livro de leitura para as escolas E com ele uma grande inovaccedilatildeo Segundo

a criacutetica da eacutepoca o livro se diferenciava de toda a literatura didaacutetica produzida no

Brasil na medida em que trazia para a escola um aspecto ateacute entatildeo ignorado pela

instituiccedilatildeo provocar o prazer na leitura (GALVAtildeO BATISTA sd)

50

Da deacutecada de 20 ateacute meados da de 50 inuacutemeros livros de leitura foram produzidos

e algumas editoras especializaram-se na produccedilatildeo de livros didaacuteticos Nesse momento vaacuterias

reformas de ensino foram empreendidas por diversos Estados

Nos anos 1970 a linguagem passou a ser vista como um instrumento de

comunicaccedilatildeo como nos fala Raupp (2005)

A concepccedilatildeo agora eacute a de linguagem como instrumento de comunicaccedilatildeo e os

objetivos de ensino satildeo pragmaacuteticos e utilitaacuterios natildeo se trata mais de promover o conhecimento

do sistema linguiacutestico ndash o saber a respeito da liacutengua ndash mas do desenvolvimento das habilidades

de expressatildeo e compreensatildeo de mensagens ndash o uso instrumental e comunicativo da liacutengua A

escola abre-se para a pluralidade de linguagens e culturas

Segundo a autora ensinar a liacutengua nas escolas era priorizar o ensino de gramaacutetica

Poreacutem no iniacutecio dos anos 70 a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo nordm 569271

provocou mudanccedilas natildeo somente na disciplina de Liacutengua Portuguesa mas em todas as demais

disciplinas curriculares A liacutengua no contexto ideoloacutegico do movimento militar poacutes-64 eacute

considerada instrumento a serviccedilo do desenvolvimento Assim a disciplina ldquoPortuguecircsrdquo passa

a ser denominada de Comunicaccedilatildeo e Expressatildeo (nas seacuteries iniciais) Comunicaccedilatildeo em Liacutengua

Portuguesa (nas seacuteries finais) e no 2deg grau Liacutengua Portuguesa e Literatura Brasileira O aluno

deveria respeitar modelos para construir textos e transmitir mensagens Os gecircneros natildeo

literaacuterios foram incorporados agraves aulas

Chegando agrave deacutecada de 1980 foi sendo revista refletida e ampliada a concepccedilatildeo de

linguagem como um instrumento de comunicaccedilatildeo passando a influenciar o ensino e mostrando

que o foco deve estar na interaccedilatildeo entre as pessoas Poreacutem apesar dos novos estudos mesmo

entrando na deacutecada de 1990 professores ainda reproduziam mesmo que inconscientemente o

mesmo sistema de transposiccedilatildeo didaacutetica de conteuacutedos e a mesma atribuiccedilatildeo de valor e

importacircncia ao ensino prescritivo e normativo com que construiacuteram sua formaccedilatildeo tanto pessoal

quanto pedagoacutegica

Questionava-se para que serve a escola E trazendo para nossa aacuterea de interesse

para que serve a disciplina Liacutengua Portuguesa Para alguns a escola era e ainda eacute vista como

preparatoacuteria de alunos para o vestibular tanto mais se aproximava do ensino meacutedio No entanto

se a escola se detiver apenas a esses exames perderaacute completamente seu papel social que como

sabemos eacute muito mais abrangente que fazer uma prova cuja finalidade eacute especiacutefica objetiva e

limitada por um tempo e por uma seacuterie de outras determinaccedilotildees teacutecnicas

51

Nesse sentido a escola natildeo tem por finalidade maior garantir o preparo de alunos

para concursos pois natildeo cumpriria seu papel de promover a inclusatildeo social dos cidadatildeos Para

aleacutem da escola haacute a vida e toda sua abrangecircncia social e poliacutetica Entatildeo para de fato promover

a inclusatildeo de cada aluno nada mais importante do que incluiacute-los no mundo da leitura e da

escrita da anaacutelise e da reflexatildeo criacutetica estimulando-os agrave criaccedilatildeo

Valemo-nos das palavras de Antunes (2007 p110) a respeito do conflito sobre o

que ensinar nas aulas de Liacutengua Portuguesa quando questiona o que leva ainda algumas pessoas

a defenderem a prioridade de um ensino concentrado em ldquoanalisar frases para identificar

substantivos adjetivos verbos sublinhar diacutegrafos distinguir objeto preposicionado de objeto

direto pleonaacutestico classificar oraccedilotildees e outras categorias metalinguiacutesticasrdquo Por que falantes da

liacutengua materna natildeo tecircm familiaridade com a liacutengua em sua modalidade escrita em sua forma

espontacircnea de uso Raupp (2005 p 53) apresenta-nos uma resposta

A verdade eacute que por mais que se tenham alterado meacutetodos e teacutecnicas pressupostos e

concepccedilotildees no ensino de Liacutengua Portuguesa uma premissa permaneceu inalterada a

necessidade de se ensinaraprender a leitura e a escrita E apesar de inuacutemeras

alteraccedilotildees didaacutetico-metodoloacutegicas ocorridas ao longo do percurso o ler e o escrever

permanecem gerenciadores de todo o processo de inserccedilatildeo do sujeito na escola e fora

dela A esse respeito menciona Britto (1997 p100) ldquoo aprendizado efetivo da escrita

(e aqui eu acrescentaria e da leitura) natildeo decorre de um processo de treinamento mas

da inserccedilatildeo do sujeito no mundo da relaccedilatildeo que estabelece entre o que aprende e seu

universo soacutecio-histoacutericordquo e a inserccedilatildeo do sujeito no mundo inegavelmente ocorre

por meio da leitura deste mundo (RAUPP 2005 p 53)

De certa maneira a tradiccedilatildeo dos meacutetodos de ensino da liacutengua materna na escola

ainda contribui no sentido de natildeo se estimular os aprendizes a fluir na leitura e na escrita

(BEZERRA 2014 LOPES-ROSSI 2012)

Com o intuito de superar meacutetodos tatildeo tradicionais quanto ineficientes no ensino da

competecircncia discursiva e sensiacuteveis agraves transformaccedilotildees gestadas nos centros de conhecimento

no ano de 1996 foi promulgada apoacutes longos debates e discussotildees a Lei de Diretrizes e Bases

que rege a educaccedilatildeo brasileira com vistas agraves novas formas do pensar e agir docente de modo

a implementar a transformaccedilatildeo do olhar das instituiccedilotildees que formam professores bem como

auxiliar os docentes jaacute em exerciacutecio atraveacutes das instituiccedilotildees que lhes propiciam a formaccedilatildeo

continuada

Assim os Paracircmetros Curriculares Nacionais (1997) reconhecem que o ensino da

liacutengua portuguesa pautado em uma prioridade de estudos de aspectos normativos ou gramaticais

da liacutengua eacute limitado e insuficiente e sugerem redirecionar o foco para a praacutetica de leitura e ndash

aspecto muito importante ndash o exerciacutecio da escrita de textos nos mais variados gecircneros textuais

52

existentes na sociedade possibilitando o estudo da liacutengua em contextos reais de uso natildeo apenas

como um conjunto de normas

A importacircncia e o valor dos usos da linguagem satildeo determinados historicamente

segundo as demandas sociais de cada momento Atualmente exigem-se niacuteveis de leitura e de

escrita diferentes dos que satisfizeram as demandas sociais ateacute haacute bem pouco tempo e tudo

indica que essa exigecircncia tende a ser crescente A necessidade de atender a essa demanda

obriga agrave revisatildeo substantiva dos meacutetodos de ensino e agrave constituiccedilatildeo de praacuteticas que possibilitem

ao aluno ampliar sua competecircncia discursiva na interlocuccedilatildeo (BRASIL 1998 p 23)

Nesse sentido os PCN (1997) orientam o trabalho em sala em direccedilatildeo agrave ampliaccedilatildeo

do uso da liacutengua aos contextos natildeo podendo ficar reduzida apenas ao trabalho sistemaacutetico com

a mateacuteria gramatical visto que aprender a pensar e falar sobre a proacutepria linguagem realizar

uma atividade de natureza reflexiva uma atividade de anaacutelise linguiacutestica supotildee duas situaccedilotildees

planejar situaccedilotildees didaacuteticas que possibilitem a reflexatildeo natildeo somente sobre os diferentes

recursos expressivos utilizados pelo autor do texto mas tambeacutem sobre a forma pela qual a

seleccedilatildeo de tais recursos reflete as condiccedilotildees de produccedilatildeo do discurso e as restriccedilotildees impostas

pelo gecircnero e pelo suporte e tomar como objeto de reflexatildeo os procedimentos de planejamento

de elaboraccedilatildeo e de refacccedilatildeo dos textos (BRASIL 1997 p 8 Grifo nosso)

Produzir textos requer dessa forma estudar os diferentes modos de expressatildeo

abrindo-se aiacute para o aluno uma gama de possibilidades de manifestaccedilatildeo de ideias atraveacutes do

conhecimento de sua liacutengua quando de seu uso nas relaccedilotildees de interaccedilatildeo pessoal No entanto

para que essa produccedilatildeo seja efetiva haacute que se ter em mente que qualquer atividade de produccedilatildeo

textual bem-sucedida requer o exerciacutecio da escrita e da reescrita pois se considera que nesse

processo de aperfeiccediloamento as aulas tomadas entre o iniacutecio e o teacutermino de uma sequecircncia ou

seja entre a produccedilatildeo inicial e a produccedilatildeo final sejam vaacuterias e variadas com planejamento para

conhecer as necessidades de cunho geral da turma como as caracteriacutesticas de um gecircnero bem

como as de cunho individual do aluno como as limitaccedilotildees no reconhecimento do gecircnero

textual na construccedilatildeo de argumentos nas convenccedilotildees da escrita culta

Para boa parte das crianccedilas e dos jovens brasileiros a escola eacute o uacutenico espaccedilo que

pode proporcionar acesso a textos escritos textos estes que se converteratildeo inevitavelmente em

modelos para a produccedilatildeo Se eacute de esperar que o escritor iniciante redija seus textos usando como

referecircncia estrateacutegias de organizaccedilatildeo tiacutepicas da oralidade a possibilidade de que venha a

construir uma representaccedilatildeo do que seja a escrita soacute estaraacute colocada se as atividades escolares

53

lhe oferecerem uma rica convivecircncia com a diversidade de textos que caracterizam as praacuteticas

sociais (BRASIL 1998 p 25-26)

Para levar o aluno a desenvolver suas habilidades de escrita um passo eacute planejar

sequecircncias que abordem as caracteriacutesticas do gecircnero a ser trabalhado permitindo-lhe pocircr em

aproximaccedilatildeo eou contraste seus saberes com os conhecimentos a serem construiacutedos algo que

tem se revelado bastante difiacutecil

Para o trabalho com a escrita em Liacutengua Portuguesa pode-se partir da questatildeo

essencial o que se deve ensinar para os alunos Para a resposta eacute importante entendermos a

escrita como processo quais satildeo as etapas Quais as estrateacutegias de escrita Qual o papel do

professor neste processo Para fundamentar a didaacutetica da escrita eacute importante conhecer os

processos de redigir e tambeacutem considerar como motivar os alunos a escrever Vamos para este

estudo nortearmo-nos em Serafini (2003) Koch e Elias (2009) e Vieira (2005)

32 Escrita e motivaccedilatildeo

Vieira (2005 p 71) traz agrave tona uma reflexatildeo sobre a necessidade de motivar a

escrita pois essa praacutetica permeia todas as nossas atividades cotidianas e eacute cada vez mais

indispensaacutevel Em sua anaacutelise entende que os atos de escrita que acontecem na escola

apresentam uma defasagem entre a realidade do mundo da palavra e a palavra do mundo

escolar Por vezes os alunos escrevem textos sem instruccedilotildees claras e sem um destinataacuterio

concreto aleacutem do professor cujo papel consiste em corrigir os erros de gramaacutetica e ortografia

Uma criacutetica pertinente da autora eacute que nossas escolas ainda estatildeo em sua maioria

com um atraso pedagoacutegico quanto ao trabalho com a escrita seus usos sociais e os processos

do redator Apesar de muitas abordagens e contribuiccedilotildees pedagoacutegicas que trabalham esses usos

sociais e o ato de redigir em funccedilatildeo de uma audiecircncia para o texto ou de um propoacutesito

comunicativo terem despontado essas ideias permanecem distantes da realidade do ensino Em

sua contribuiccedilatildeo para o tema motivaccedilatildeo Vieira (2005 p 70) afirma ldquoSe o impulso

comunicativo para escrever eacute determinante de escolhas temaacuteticas estruturais estiliacutesticas e

pragmaacuteticas no texto em composiccedilatildeo de partida isso jaacute deveria implicar num cuidado muito

maior em relaccedilatildeo ao quecirc e como satildeo propostos os atos de escrita na escolardquo

Essas proposiccedilotildees de que trata a autora atentam para que consideremos que estamos

na era digital em que a tecnologia absorve bastante a atenccedilatildeo dos alunos o que atribui novas

funccedilotildees para a escrita Para motivaacute-los as atividades precisam entatildeo levaacute-los a se sentirem

54

capazes de se envolver e de completar a tarefa isto eacute de ter competecircncia e controle sobre ela

controle sobre seus textos e sobre a situaccedilatildeo de escrita Essa autopercepccedilatildeo de competecircncia e

controle cuja recompensa eacute a autogratificaccedilatildeo eacute conceituada como motivaccedilatildeo intriacutenseca

concebida do ponto de vista cognitivista em oposiccedilatildeo ao conceito behaviorista de motivaccedilatildeo

cujo foco estaacute em recompensas externas chamado de motivaccedilatildeo extriacutenseca

Para o ensino segundo Vieira (2005) a percepccedilatildeo de competecircncia eacute muito

importante no que tange ao engajamento em tarefas Se o aluno natildeo se percebe competente

numa aacuterea maior sua necessidade de assistecircncia externa para se desincumbir de uma tarefa

Desse modo Vieira (2005 p 73) diz que

A ideia eacute que quando os estudantes se apropriam de sua escrita seu niacutevel de

engajamento seraacute mais alto Assim todo redator do principiante ao profissional deve

ser encorajado a apropriar-se de seu texto usando a escrita para expressar sua

compreensatildeo pessoal dos assuntos e para buscar seus proacuteprios propoacutesitos acadecircmicos

e sociais (VIEIRA 2005 p 73)

Visando entatildeo propiciar uma maior motivaccedilatildeo para redigir Vieira (2005) lista em

um quadro algumas atitudes de intervenccedilatildeo possiacuteveis cujos princiacutepios e praacuteticas aceitamos

como norte em nossa pesquisa de acordo com as possibilidades e dificuldades verificadas na

turma considerando a SD que foi aplicada Vejamos a seguir

Quadro 2 ndash Motivaccedilatildeo e envolvimento na produccedilatildeo escrita

ELEMENTOS BAacuteSICOS PRINCIacutePIOS E PRAacuteTICAS EFEITOS GERADOS

a) Competecircncia + assistecircncia

b) Controle (textosituaccedilatildeo de

escrita)

Encorajar a apropriaccedilatildeo do

texto

Compartilhar e demonstrar atos

de escrita ao aluno (o prazer e as

dificuldades)

Oportunidades para

autorregulaccedilatildeo

Engajamento mais alto

na leitura (a) e na escrita

(b) gt maior

competecircncia controle

Tempo

Concentrar periacuteodos para

escrever instituindo a

regularidade

Maior competecircncia e

controle

Propriedade (ownership)

Controlar a situaccedilatildeo de escrita e

a tarefa dentro do gecircnero e

formato

- variar temasassuntos

- focalizar uma audiecircncia

- encontrar a proacutepria ldquovozrdquo

expressando significados e

opiniotildees

- lerredigir textos autecircnticos

criando propoacutesitos

Domiacutenio sobre o texto e

maior prazer na escrita

55

comunicativos e situaccedilotildees reais

de escrita

Resposta (retorno reacuteplica)

Lerouvircompartilhar textos

Trabalhar em pequenos grupos

antes de trabalhar de forma

independente

Oportunidades de trocar

e comentar textos com

os colegas obtendo

respostas especiacuteficas

Complexidade da tarefa ndash usar

habilidades e conhecimentos

preacutevios propor tarefas que

possam ser executadas com

ecircxito (Bereiter e Scardamalia

1982)

Propor tarefas que dosem

- conteuacutedo (assunto)

- forma (gecircnero formato)

- funccedilatildeo (propoacutesito do texto)

Ex assunto novo + formato de

texto conhecido + funccedilatildeo

conhecida

Confianccedila reforccedilada

pela possibilidade de

sucesso de dar conta da

tarefa estimulando a

percepccedilatildeo da

competecircncia

Percepccedilatildeo abrangente do

processo de redigir (similar em

liacutengua materna e liacutengua

estrangeira ndash dominar o coacutedigo

linguiacutestico natildeo eacute o maior

problema)

Focalizar em separado

processos de

composiccedilatildeotranscriccedilatildeo

(gerarorganizar ideias x

ortografia e gramaacutetica)

Reforccedilo da experiecircncia

de sucesso gt niacutevel mais

alto de competecircncia

percebida gt

engajamento com tarefas

semelhantes Fonte Adaptado de VIEIRA (2005)

Aleacutem desses elementos a autora aponta outros aspectos praacuteticos que podem ampliar

a motivaccedilatildeo para escrever Satildeo eles

a) trabalhar a leitura e a escrita de forma complementar explorando textos

variados observando padrotildees ortograacuteficos e construccedilotildees sintaacuteticas explorando

o potencial da internet e os acervos disponiacuteveis pois a leitura contribui para a

escrita mais que o proacuteprio ato de redigir

b) integrar a escrita agrave matildeo com a escrita digital transitando do papel agrave tela do

computador exercitando em cada uma das modalidades de escrita os aspectos

que melhor favorecem

c) recriar situaccedilotildees comunicativas autecircnticas e propoacutesitos para escrever como

anuacutencios manchetes oraccedilotildees bilhetes cartas notiacutecias entre outros indo dos

mais simples aos mais complexos e

d) buscar audiecircncias verdadeiras para escrever e interlocutores para comentar os

textos redigidos criando situaccedilotildees de modo que os estudantes possam comentar

e criticar o que foi produzido

Diante do exposto procuramos ao longo das aulas dos moacutedulos contemplar nas

atividades os aspectos que podem motivar o aluno a escrever dominando pouco a pouco seu

texto propiciando-lhe a construccedilatildeo de experiecircncias positivas ainda mais porque estaacute em jogo

o despertar da consciecircncia de que a escrita eacute um processo como veremos na seccedilatildeo a seguir

56

33 Escrita como processo

Iniciando com questionamentos como por que eacute difiacutecil aprender a redigir quais satildeo

as maiores dificuldades envolvidas na produccedilatildeo de um texto como as crianccedilas escrevem e se

desenvolvem como redatoras quais os comportamentos caracteriacutesticos dos bons e dos maus

redatores entre outros que foram propostos por Vieira (2005 p 80) para saber mais sobre o

processo de produccedilatildeo de textos na escola

Em cada exerciacutecio de linguagem escrita praticado na escola eacute fundamental prever

para quem se vai escrever As redaccedilotildees escritas ldquopara ningueacutemrdquo que segundo Antunes (2009)

desconsideram o outro sujeito que integra a atividade comunicativa soacute podem resultar no

desinteresse e na ineficiecircncia dos meacutetodos de que somos testemunhas haacute vaacuterias deacutecadas Essa

produccedilatildeo textual ldquopara ningueacutemrdquo de que trata a autora reflete-se nas inseguranccedilas

manifestadas pelos alunos Quando estes escrevem eacute unicamente para o professor porque

visam merecer uma nota e passar de ano Ora se a escrita tem tantas funccedilotildees na sociedade

sendo de ordem praacutetica natildeo faz sentido cristalizaacute-la em fins puramente escolares

A escrita segundo Koch e Elias (2009) pode ter vaacuterios focos De acordo com as

autoras haacute correntes de produccedilatildeo textual que colocam o foco da escrita na liacutengua outras que

focam no escritor e por uacuteltimo na interaccedilatildeo

Com o foco da escrita na liacutengua bastaria tanto ao escritor como ao leitor ter

conhecimento do coacutedigo utilizado no texto sem espaccedilo para implicitudes havendo centraccedilatildeo

na linearidade de modo transparente

Com o foco da escrita no escritor o texto eacute visto como produto loacutegico do

pensamento (representaccedilatildeo mental) do escritor ou seja uma expressatildeo do pensamento e das

intenccedilotildees do autor mas que natildeo leva em conta as experiecircncias e os conhecimentos do leitor

pois natildeo considera a interaccedilatildeo que haacute no processo (KOCH ELIAS 2009 p 33)

No entanto natildeo se deve considerar segundo as autoras o foco apenas no coacutedigo

ou apenas no escritor mas na interaccedilatildeo

Essa eacute a diferenccedila em relaccedilatildeo agraves concepccedilotildees anteriormente descritas visto que a

escrita natildeo eacute compreendida em relaccedilatildeo apenas agrave apropriaccedilatildeo das regras da liacutengua nem

tampouco ao pensamento e intenccedilotildees do escritor mas sim em relaccedilatildeo agrave interaccedilatildeo escritor-

leitor levando em conta eacute verdade as intenccedilotildees daquele que faz uso da liacutengua para atingir o

seu intento sem contudo ignorar que o leitor com seus conhecimentos eacute parte constitutiva desse

processo (KOCH ELIAS 2009 p 34)

57

Desse modo a primeira condiccedilatildeo necessaacuteria ao professor que ensina a redigir eacute que

tenha em mente que a escrita eacute uma atividade comunicativa e que desempenha funccedilotildees cada

vez mais diversificadas no dia a dia de uma sociedade letradardquo (VIEIRA 2005 p 80) Escrever

eacute um ato que requer sentido afinal comunicar-se eacute um ato de interaccedilatildeo social eacute praacutetica eacute

vivecircncia

Os processos psicoloacutegicos ou mentais acionados durante a produccedilatildeo de um texto

natildeo acontecem necessariamente numa ordem loacutegica Podem vir simultaneamente o que pode

levar o redator a sentir que tem conflitos e consequentemente estancar diante dessa dificuldade

inicial

Logo para produzir um texto eacute preciso ter determinados os pontos que indicam

exatamente o que fazer o que facilita o trabalho de qualquer escritor Vieira (2005) considera

que para despertar o prazer de escrever haacute que se levar em conta os seguintes argumentos um

eacute a funcionalidade da escrita jaacute falada anteriormente outro diz respeito agrave proacutepria natureza da

escrita tatildeo distinta da fala

Embora a escrita em papel seja um ato solitaacuterio em que natildeo se conta com a reaccedilatildeo

do interlocutor por causa da proacutepria distacircncia espacial que separa autor e leitor a consciecircncia

da audiecircncia eacute o que impulsiona o texto que estaacute sendo produzido Em outras palavras no ato

de redigir jaacute estaacute inscrito o virtual leitor do texto E eacute essa consciecircncia aparentemente

contraditoacuteria entre ausecircncia e presenccedila do destinataacuterio da mensagem que vai moldar os

procedimentos do redator (VIEIRA 2005 p 82)

Concordamos com Serafini (2003 p17) quando afirma que escrever um texto ldquonatildeo

significa criar por inspiraccedilatildeo divina Eacute um trabalho E para realizar a contento um trabalho eacute

preciso conhecer as regras do jogordquo As regras que a autora propotildee satildeo as seguintes ter um

plano ordenar as ideias organizar o texto corrigir Essa distribuiccedilatildeo das etapas do trabalho

permite que se trabalhe melhor Da mesma forma Koch e Elias (2009 p 37) evidenciam que

[] em sua atividade o escritor recorre a conhecimentos armazenados na memoacuteria

relacionados agrave liacutengua ao saber enciclopeacutedico a praacuteticas interacionais Esses

conhecimentos resultado de inuacutemeras atividades em que nos envolvemos ao longo de

nossa vida deixam entrever a intriacutenseca relaccedilatildeo entre linguagemmundopraacuteticas

sociais (KOCH ELIAS 2009 p 37)

Para Koch e Elias (2009 p 34) a escrita eacute uma atividade que demanda esforccedilo e

as estrateacutegias a seguir

58

a) ativaccedilatildeo de conhecimentos sobre os componentes da situaccedilatildeo comunicativa

(interlocutores toacutepico a ser desenvolvido e configuraccedilatildeo textual adequada agrave

interaccedilatildeo em foco)

b) seleccedilatildeo organizaccedilatildeo e desenvolvimento das ideias de modo a garantir a

continuidade do tema e sua progressatildeo

c) ldquobalanceamentordquo entre informaccedilotildees expliacutecitas e impliacutecitas entre informaccedilotildees

ldquonovasrdquo e ldquodadasrdquo levando em conta o compartilhamento de informaccedilotildees com

o leitor e o objetivo da escrita

d) revisatildeo da escrita ao longo de todo o processo guiada pelo objetivo da produccedilatildeo

e pela interaccedilatildeo que o escritor pretende estabelecer com o leitor

Haacute muitas maneiras de percebermos os subprocessos e as habilidades implicadas

na produccedilatildeo de um texto como mostram Serafini (2003) Koch e Elias (2009) Vieira (2005

p84) tambeacutem menciona em sua obra modelos do tipo ldquoensaio esboccedilo ediccedilatildeo e revisatildeordquo

ldquoensaiar escrever e passar a limpordquo ldquoextrapolar e resumirrdquo ldquocoletar e conectarrdquo ldquodesenvoltura

coerecircncia e precisatildeordquo ldquogerarorganizar ideias produzir texto e revisarrdquo ldquoelaboraccedilatildeo expressatildeo

e revisatildeordquo ldquoplanificaccedilatildeo textualizaccedilatildeo revisatildeordquo

Nessa visatildeo processual do ensino da escrita todas essas maneiras convergem para

o consenso de que haacute operaccedilotildees mentais de natureza diferente e conflitante e para fins

pedagoacutegicos eacute interessante separar as atividades de composiccedilatildeo e de transcriccedilatildeo segundo o

conceito de Smith apud Vieira (2005 p 84) ldquoSegundo ele a atividade de compor diz respeito

agrave geraccedilatildeo seleccedilatildeo organizaccedilatildeo de ideias e sua traduccedilatildeo em linguagem Jaacute a atividade de

transcrever refere-se ao ato fiacutesico de registrar as palavrasrdquo

Na praacutetica compor e transcrever satildeo aspectos concorrentes e para a autora a

soluccedilatildeo pedagoacutegica seria separar as duas atividades da seguinte forma

[] primeiro levar o aluno a compor sem se preocupar com a transcriccedilatildeo depois

orientaacute-lo para revisar e reescrever o texto (fazendo-o compreender que a atividade de

revisatildeo faz parte do processo de redigir um texto) Estas colocaccedilotildees jaacute nos permitem

rever os criteacuterios de avaliaccedilatildeo de redaccedilotildees mostrando-nos como estamos equivocados

quando elegemos a correccedilatildeo gramatical e a ortografia como metas principais para a

habilidade de redigir (VIEIRA 2005 p 85)

Assim como ensinar a redigir sob a oacutetica da escrita como processo De iniacutecio tendo

em mente que as operaccedilotildees e habilidades necessaacuterias agrave elaboraccedilatildeo do texto tecircm valor No

entanto o exerciacutecio das habilidades de escrita em separado pode ter a desvantagem de levar o

59

aluno a achar que o processo eacute uma atividade fragmentada Para entatildeo evitar essa percepccedilatildeo

eacute preciso aleacutem dos exerciacutecios redigir textos completos

De jaacute temos consciecircncia de que nenhuma abordagem para o ensino da escrita eacute

absoluta Nas palavras de Vieira (2005 p 87)

A redaccedilatildeo requer meacutetodo muacuteltiplo jaacute que envolve diferentes tipos de capacidades e

habilidades E nada substitui o bom senso do professor Assim por exemplo se ele

julgar necessaacuterio reforccedilar determinados padrotildees de texto recorrendo agrave abordagem

imitativa estaraacute procedendo de forma adequada Da mesma maneira poderaacute usar

estrateacutegias de liberaccedilatildeo da linguagem na fase de geraccedilatildeo de ideias ou reforccedilar os

recursos de interaccedilatildeo verbal professor-aluno ou aluno-aluno nas atividades de revisatildeo

de texto (VIEIRA 2005 p 87)

Vieira (2005) sintetiza os pontos importantes para o desenvolvimento da habilidade

de redigir a partir de investigaccedilotildees de Krashen (1984 apud Vieira 2005) na aacuterea

O primeiro ponto eacute a frequecircncia com que se redige Independentemente da

disciplina escrever exige treino constante concentrando o tempo disponiacutevel e em horaacuterio

regular posto que ldquosaber com antecedecircncia quando vamos redigir cria prontidatildeo para a

atividade que comeccedila interiormente bem antes de colocarmos as palavras no papelrdquo (VIEIRA

2005 p 88)

O segundo ponto eacute a correlaccedilatildeo entre leitura e escrita A habilidade de ler

compreensivamente permite que quanto mais se leia mais se observe a composiccedilatildeo dos textos

aprendendo-se a lidar com seus padrotildees de organizaccedilatildeo com as intenccedilotildees do autor e percebendo

como se executam diferentes modalidades de usos da escrita

O terceiro ponto eacute a frequecircncia em ler x a frequecircncia em escrever Vieira (2005)

afirma que estudos que comparam a frequecircncia em ler e a frequecircncia em escrever revelam que

a leitura tem efeito mais forte sobre o desenvolvimento da escrita que a proacutepria frequecircncia com

que se escreve

O quarto ponto eacute a instruccedilatildeo escolar para o ensino da escrita Mais do que qualquer

outra habilidade diz a autora a escrita precisa ser demonstrada Assim as instruccedilotildees que o

professor faz ao texto do aluno durante o processo contribuem para que este faccedila os devidos

ajustes melhorando assim sua habilidade de produzir textos

O quinto ponto eacute o feedback do professor Este ponto ressalta o papel fundamental

do professor nas muacuteltiplas reescrituras por que passa um texto ldquoO ideal eacute que sejam feitos

vaacuterios rascunhos com o professor presente comentando cada estaacutegio intermediaacuteriordquo (VIEIRA

2005 p 89) Suas correccedilotildees precisam ser feitas sobre um aspecto de cada vez especificando

as alteraccedilotildees necessaacuterias nos aspectos de composiccedilatildeo e de transcriccedilatildeo

60

O sexto ponto eacute a instrumentaccedilatildeo gramatical e o desenvolvimento da escrita e trata

do que muito se tem discutido na atual sociedade instruccedilatildeo gramatical desvinculada do uso

praacutetico da linguagem natildeo garante a ningueacutem uma escrita melhor

O seacutetimo e uacuteltimo ponto satildeo os processos de composiccedilatildeo de bons e maus redatores

e diferencia em pelo menos quatro aspectos os que escrevem bem do que os que o fazem mal

Satildeo eles

a) planejamento quem redige bem planeja mais Esse planejamento pode ser

gastando mais tempo pensando tomando notas antes de escreverem

flexibilizando os planos e revisando os esquemas agrave medida que surgem novas

ideias e argumentos Apenas alguns redatores experientes seguem uma ordem

linear planejando primeiro em seguida esboccedilando o texto num rascunho e

enfim revisando ldquoPara a maioria deles o processo de redigir eacute recursivo isto eacute

sujeito a retomadas e alteraccedilotildees em diferentes pontos da produccedilatildeo do textordquo

(VIEIRA 2005 p 91)

b) releitura durante a elaboraccedilatildeo do texto as pausas na escrita para a releitura

permitem manter o senso de totalidade da composiccedilatildeo planejando o que

escrever em seguida e tambeacutem relembrando o que jaacute foi registrado fazendo com

que o texto avance

c) revisatildeo a diferenccedila entre os escritores experientes dos inexperientes eacute a revisatildeo

frequentemente confundida com editoraccedilatildeo A revisatildeo pelos experientes eacute uma

focalizaccedilatildeo do significado servindo para ldquoinventar acrescentar mudanccedilas de

conteuacutedo e para reorganizar longos trechos da composiccedilatildeordquo (VIEIRA 2005 p

94) ao passo que a editoraccedilatildeo normalmente a preocupaccedilatildeo dos inexperientes eacute

a correccedilatildeo gramatical a ortograacutefica e a pontuaccedilatildeo que se feita antes do tempo

quebra o ritmo da escrita deixando de conduzir o fio do pensamento e

d) consciecircncia da audiecircncia fundamental considerando o foco da escrita como

anteriormente dito na interaccedilatildeo Levar em conta o leitor como ele poderaacute

receber as palavras e ideias do texto os conhecimentos que ele precisaraacute ter para

compreender o texto e os interesses que ele tem eacute marca dos escritores que

redigem bem ao contraacuterio dos demais que ldquotendem a ficar presos ao assunto do

texto e a gastar menos tempo pensando no leitor por natildeo terem consciecircncia da

audiecircncia ou por natildeo serem capazes de consideraacute-la na escritardquo (VIEIRA 2005

p 95)

61

Essas etapas apresentadas nesta seccedilatildeo foram fundamentais para o processo

conduzido em nossa SD visto permitir aos alunos tomar consciecircncia dos processos que satildeo

ativados antes e durante a escrita bem como nas etapas de leitura releitura e reescrita sendo

cerne da elaboraccedilatildeo das propostas de produccedilatildeo conforme veremos nas seccedilotildees correspondentes

aos moacutedulos aos encontros e agraves atividades desenvolvidas Para a seccedilatildeo seguinte veremos como

pode ser trabalhada a escrita na escola

34 Escrita na escola

Para antes do iniacutecio do trabalho de escrita no acircmbito escolar o ideal eacute que o

professor tenha em mente para definir com clareza junto aos seus alunos na tarefa que deveraacute

ser desenvolvida os seguintes pontos segundo Serafini (2003) destinataacuterio objetivo do texto

gecircnero do texto papel do redator objeto da redaccedilatildeo comprimento da redaccedilatildeo criteacuterios de

avaliaccedilatildeo Desse modo

a) o destinataacuterio eacute a pessoa para a qual se escreve ou seja o leitor Como as

produccedilotildees satildeo feitas no contexto escolar para que o aluno-escritor natildeo dirija seu

texto somente ao professor eacute importante nos comandos de produccedilatildeo esclarecer

qual eacute ou deve ser o perfil de leitor para quem se escreve

b) o objetivo de um texto precisa ser claro pois a ele se atrela a avaliaccedilatildeo do

mesmo no caso do contexto escolar Aliaacutes um texto pode ter mais de um

objetivo e isso precisa ser ponto claro entre o professor e o aluno

c) a escolha do gecircnero eacute entatildeo essencial para o desenvolvimento do texto por

permitir a realizaccedilatildeo deste com um estilo muito marcante O gecircnero permite

inclusive compreender qual eacute o papel do redator na produccedilatildeo para assim

inserir-se ou retirar-se no texto

d) o objeto da redaccedilatildeo para a autora deveria ser deduzido do tiacutetulo da redaccedilatildeo (que

entendemos atualmente como o direcionamento do tema) e explica que assim

como haacute comandos que expotildeem detalhadamente o objeto da redaccedilatildeo haacute tambeacutem

os que pouco oferecem explicaccedilotildees e que conveacutem em casos como esse que o

aluno explique ldquonuma introduccedilatildeo como seratildeo interpretados os termos do

problema propostordquo (SERAFINI 2003 p 28)

e) a extensatildeo do texto depende essencialmente do objetivo da disponibilidade de

tempo da capacidade e da rapidez de quem escreve Entendemos aqui que haacute

62

gecircneros que permitem maior extensatildeo que outros No contexto escolar

normalmente noacutes professores por razotildees de ordem praacutetica do dia a dia pedimos

textos com limite de linhas ou paraacutegrafos

f) finalmente os criteacuterios de avaliaccedilatildeo do professor ajudam o aluno a ldquocanalizar a

proacutepria energia na direccedilatildeo certardquo (SERAFINI 2003 p 29) Como parte do

trabalho com sequecircncia didaacutetica haacute o partilhamento dos criteacuterios trabalhados

do vocabulaacuterio teacutecnico e das caracteriacutesticas a serem encontradas nos textos

produzidos facilitando a vida do aluno quanto ao que colocar no texto e

clareando para o professor o que ele pode esperar desse texto

Desse modo para o escritor que se vecirc diante do papel em branco

independentemente do que vaacute escrever eacute preciso antes empenhar seu tempo e esforccedilo em duas

etapas fundamentais a criaccedilatildeo de ideias para assim passar agrave produccedilatildeo do texto

A separaccedilatildeo consiste em primeiramente levar o aluno a compor sem a

preocupaccedilatildeo com a transcriccedilatildeo Em seguida orientaacute-lo para que faccedila a revisatildeo e a reescrita do

texto colocando-lhe de modo expliacutecito que a revisatildeo eacute parte do processo de redigir um texto

A etapa de criaccedilatildeo das ideias eacute aquela em que o autor pode ldquoatirarrdquo palavras-chave

protoacutetipos de paraacutegrafos de personagens de ambientes de sequecircncias de acontecimentos sem

o fantasma da censura agrave criatividade Aliaacutes eacute nesse momento que pode surgir uma ldquogrande

sacadardquo cujo valor do registro possa vir a ser recompensador Nas palavras de Serafini (2003

p 31) a ldquofolha de papel na qual listamos os dados recolhidos cumpre a funccedilatildeo de prolongamento

da memoacuteria no mundo visiacutevel eacute mais faacutecil escolher num elenco fisicamente visiacutevel que num

iacutendice feito mentalmenterdquo

A coleta das ideias que surgiram ao ser terminada pede a decisatildeo do que e como

usar no texto Para os textos literaacuterios que satildeo objeto de nossa pesquisa um passo necessaacuterio

na estruturaccedilatildeo de Serafini (2003) eacute a identificaccedilatildeo do ponto de vista

Os textos descritivo-narrativos natildeo apresentam ideias predominantes mas contam

fatos e descrevem lugares e pessoas A estrutura desses textos natildeo eacute mais dada por uma ideia

a tese mas pelo ponto de vista isto eacute pelo acircngulo de perspectiva do qual satildeo mostrados fatos

e objetos Nas histoacuterias complexas e nos romances o ponto de vista pode tambeacutem mudar

(SERAFINI 2003 p 45)

Nas palavras da autora ldquo[] para fazer uma boa descriccedilatildeo de um objeto ou lugar

devemos escolher um ponto de vista fica por conta de nossa sensibilidade selecionar um ponto

de vista interessante eficaz e quem sabe originalrdquo (SERAFINI 2003 p47) Entatildeo para um

63

texto narrativo que conta uma histoacuteria natildeo existe um modo objetivo de narrar mas um acircngulo

de perspectiva Completando o pensamento de Serafini Koch e Elias declaram que o como

dizer o que se quer dizer eacute revelador de que a escrita eacute um processo que envolve escolha de um

gecircnero textual em consonacircncia com as praacuteticas sociais seleccedilatildeo organizaccedilatildeo e revisatildeo das ideias

para os ajustesreajustes necessaacuterios tendo em vista a eficiecircncia e a eficaacutecia da comunicaccedilatildeo

(KOCH ELIAS 2009 p 36)

Apoacutes a seleccedilatildeo das ideias de sua organizaccedilatildeo e da escolha do ponto de vista o

escritor pode efetivamente passar agrave produccedilatildeo Tudo o que foi feito para despertar coloquemos

assim o escritor para o labor com seu texto eacute uma hipoacutetese do trabalho final visto que ao

comeccedilar a escrever novas ideias vatildeo surgindo E como nos lembra Serafini (2003 p 54) ldquo[]

quem se propotildee a ensinar a escrever na escola brasileira atual geralmente encontra problemas

porque natildeo tem agrave disposiccedilatildeo um modelo uacutenico de liacutengua nem uma tradiccedilatildeo de didaacutetica da

redaccedilatildeo que privilegie um dos diversos estilos possiacuteveisrdquo Frases longas ou curtas discurso

direto ou indireto ou mesmo o indireto livre tudo satildeo escolhas com as quais o aluno-escritor

vai se familiarizar ao longo de sua jornada escolar pouco a pouco conforme suas experiecircncias

de leitura e praacutetica com a escrita progredindo do paraacutegrafo mais simples ao mais complexo A

autora assim define o que eacute paraacutegrafo

O paraacutegrafo eacute uma quantidade de texto delimitada por um ponto final o texto continua

a se desenvolver na outra linha afastado da margem Ele pode conter vaacuterios periacuteodos

separados por pontos e por viacutergulas O que importa eacute garantir que a cada paraacutegrafo

corresponda uma uacutenica ideia de roteiro Esta colocaccedilatildeo tiacutepica do mundo anglo-saxatildeo

e americano pode parecer excessivamente mecanicista e simplista Com efeito eacute

justificada soacute no niacutevel didaacutetico para aqueles estudantes que tecircm grandes dificuldades

para escrever Este meacutetodo aliaacutes deve ser assumido como hipoacutetese de trabalho mas

deve ser revisto agrave medida que se adquire familiaridade com a liacutengua Em nome de

uma melhor organizaccedilatildeo do texto eacute possiacutevel por exemplo reagrupar mais de uma

ideia do roteiro num uacutenico paraacutegrafo ou associar agrave mesma ideia mais paraacutegrafos

(SERAFINI 2003 p 55)

Desse modo se fizermos um pequeno quadro com a finalidade de melhor visualizar

as possibilidades de organizaccedilatildeo do texto em paraacutegrafos o que pode ajudar os alunos temos

Quadro 3 ndash Como organizar as ideias em paraacutegrafos

1 ideia 1 paraacutegrafo

2 ou mais ideias 1 paraacutegrafo

1 ideia 2 ou mais paraacutegrafos

Fonte adaptado de SERAFINI (2003)

64

Por razotildees didaacuteticas Serafini (2003) classifica trecircs principais tipos de paraacutegrafo

com caracteriacutesticas especiacuteficas o paraacutegrafo narrativo que eacute constituiacutedo por uma sequecircncia de

afirmaccedilotildees-informaccedilotildees que natildeo precisam de garantia4 e eacute onde os fatos satildeo expostos em ordem

cronoloacutegica o paraacutegrafo descritivo que conteacutem objetos lugares e pessoas geralmente

constituiacutedo soacute pela afirmaccedilatildeo e pela informaccedilatildeo dispensando a garantia e finalmente o

paraacutegrafo expositivo-argumentativo mais complexo que os anteriores apresenta em geral todas

as caracteriacutesticas do modelo de Toulmin (cf nota 8) e que apresenta uma tese com os dados e

as observaccedilotildees que podem ser uacuteteis para convencer o leitor de sua validade

Ainda na classificaccedilatildeo do paraacutegrafo narrativo tambeacutem chamado de cronoloacutegico

Serafini nos mostra um caso particular de apresentaccedilatildeo de uma sequecircncia de fatos o que inclui

o flash-back que eacute a interrupccedilatildeo na sequecircncia cronoloacutegica ldquointroduzindo fatos anteriores uacuteteis

agrave compreensatildeo da narrativa Embora natildeo seja tatildeo natural eacute possiacutevel interromper uma sequecircncia

temporal para incluir fatos que aconteceratildeo depoisrdquo (SERAFINI 2003 p 58)

Um outro caso de paraacutegrafo narrativo ou cronoloacutegico eacute o que apresenta um

procedimento Procedimentos ldquosatildeo todas as sequecircncias de accedilotildees que devem ser cumpridas para

se obter certo resultadordquo (SERAFINI 2003 p 59) por exemplo a enumeraccedilatildeo das etapas

necessaacuterias ao preparo de uma torta A descriccedilatildeo correta do procedimento requer que natildeo se

inverta a ordem de suas operaccedilotildees elementares

O paraacutegrafo descritivo segundo a autora eacute importante ldquo[] para envolver o leitor

na histoacuteria convencecirc-lo da tese ou tornar-lhe a leitura mais concreta e vivardquo (SERAFINI 2003

p 58) Dessa forma eacute interessante que os personagens ambientes e objetos natildeo sejam apenas

mencionados mas apresentados com riqueza de detalhes A generalizaccedilatildeo pode deixar o leitor

indiferente ao passo que descriccedilotildees detalhadas podem vir a interessar envolver e mesmo

emocionar

Frequentemente quem natildeo tem grande experiecircncia de escrita considera as

descriccedilotildees oacutebvias e as abandona porque tende a atribuir ao leitor os seus proacuteprios

conhecimentos e experiecircncias As crianccedilas em geral se aborrecem ao ler as descriccedilotildees e agraves vezes

pulam o trecho descritivo porque satildeo mais pela trama do que pela apresentaccedilatildeo dos ambientes

e das caracteriacutesticas fiacutesicas e psicoloacutegicas dos protagonistas Entretanto agrave medida que

4 Serafini (2003 p 56-57) apresenta o modelo de Toulmin que examina quais satildeo as caracteriacutesticas de um

paraacutegrafo que o tornam convincente isto eacute que levem o leitor a compartilhar da mesma tese Satildeo elas a afirmaccedilatildeo

que apresenta a ideia principal do paraacutegrafo a informaccedilatildeo que conteacutem os dados que apoiam a afirmaccedilatildeo e a

garantia que eacute a ligaccedilatildeo entre a afirmaccedilatildeo e a informaccedilatildeo e mostra a importacircncia da informaccedilatildeo para apoiar a

asserccedilatildeo Ex Artur estaacute nervoso sua e ri sem parar Afirmaccedilatildeo Artur estaacute nervoso Informaccedilatildeo sua e ri sem

parar Garantia (subentendida) suar e rir sem parar satildeo sinais tiacutepicos de nervosismo

65

estimulam a sensibilidade em relaccedilatildeo aos textos elas vatildeo se dando conta de que natildeo eacute soacute a accedilatildeo

que torna interessante a histoacuteria Eacute tarefa do professor desenvolver essa sensibilidade e esse

gosto em vez de se fixar apenas nos aspectos narrativos de um texto (SERAFINI 2003 p 63)

Serafini (2003) tambeacutem trata da importacircncia dos paraacutegrafos que conduzem as

introduccedilotildees nos textos A autora classifica as introduccedilotildees em introduccedilatildeo-enquadramento e

introduccedilatildeo para chamar a atenccedilatildeo

A introduccedilatildeo-enquadramento enquadra o tema proposto na instruccedilatildeo para a

produccedilatildeo textual realccedilando sua importacircncia e agraves vezes ateacute antecipando o que seraacute

desenvolvido no corpo do texto ldquoUma introduccedilatildeo muito comum eacute aquela em que o estudante

coloca questotildees agraves quais pretende responder agrave medida que vai desenvolvendo o textordquo

(SERAFINI 2003 p 72) Normalmente utilizada entre os estudantes segundo a autora eacute

caracteriacutestica de quem natildeo faz planejamento e comeccedila a escrever seu texto sem saber o que vai

colocar em seu desenvolvimento mas tambeacutem por quem pretende reelaborar e expandir o

tiacutetulo5

A introduccedilatildeo para chamar a atenccedilatildeo segundo a autora pretende atrair a atenccedilatildeo e

o interesse do leitor utilizando frases de efeito citaccedilotildees informaccedilotildees curiosas exemplos

concretos que antecipam problemaacuteticas a serem desenvolvidas no corpo do texto e envolvem

emocionalmente o leitor exemplificaccedilotildees em primeira pessoa pois ldquoos problemas concretos

narrados na primeira pessoa atraem mais a curiosidade do que aqueles apresentados de modo

abstratordquo (SERAFINI 2003 p 74)

Ao final de sua primeira versatildeo de texto o alunoescritor tende a fazer uma raacutepida

releitura normalmente pouco criacutetica O ideal eacute que seu texto possa ser apreciado pelos colegas

de sala para que sejam feitas sugestotildees Quando a revisatildeo for desenvolvida pelo proacuteprio autor

5 Os tiacutetulos poderiam ser classificados segundo Serafini (2003) em trecircs grandes categorias o tiacutetulo-frase-de-

efeito o tiacutetulo-estiacutemulo-aberto e o tiacutetulo-roteiro O tiacutetulo-frase-de-efeito ldquoeacute geralmente agradaacutevel arguto suscita

a admiraccedilatildeo do leitor pode ser provocativo mas natildeo necessariamente profundordquo (p100) trazendo geralmente

citaccedilotildees de personagens importantes ou as afirmaccedilotildees categoacutericas do professor Por exemplo ldquoJaacute natildeo haacute matildeos

dadas no mundordquo (Drummond - Unesp) ou ldquoQuando vocecirc for martelo lembre-se que jaacute foi pregordquo (pichaccedilatildeo de

parede utilizada na Unesp) Os tiacutetulos-estiacutemulo-aberto ldquopropotildeem um tema de modo muito geneacuterico e neutro e datildeo

mais liberdade ao estudanterdquo (p101) Por exemplo ldquoViver hojerdquo (Santa Casa-SP) ldquoA televisatildeordquo (Poli-USP)

Finalmente os tiacutetulos-roteiro ldquonatildeo soacute propotildeem um tema como no grupo precedente mas tambeacutem oferecem uma

seacuterie de pontos de vista de problemas que devem ser analisados fornecendo jaacute a pauta do desenvolvimentordquo

(p101) A autora explica que enquanto um tiacutetulo-estiacutemulo-aberto seria ldquoA televisatildeordquo o tiacutetulo-roteiro solicitaria

ldquoDescreva os efeitos positivos e negativos que a televisatildeo causa sobre os jovens da sua geraccedilatildeo Cite especialmente

os programas mais interessantes e os mais aborrecidos de que vocecirc se recorda procurando explicar os efeitos

positivos ou negativos que cada um teve no seu desenvolvimentordquo (p101-102) O que chamamos ao longo de

nosso texto de instruccedilatildeo se aproximaria mais do que Serafini chama de tiacutetulo-roteiro por jaacute determinar que

informaccedilotildees a produccedilatildeo textual deve conter poreacutem noacutes atribuiacutemos mais caracteriacutesticas ao que eacute pedido aos alunos

a cada produccedilatildeo como os comandos que determinam que gecircnero textual seraacute trabalhado a extensatildeo do texto a

audiecircncia o objetivo a temaacutetica e outros itens que devem estar presentes na produccedilatildeo conforme a aula e o moacutedulo

66

eacute interessante haver um hiato de tempo entre a primeira escrita e a revisatildeo para que as ideias

se clareiem e possam ser postas na forma apropriada

Trabalhar a abordagem da escrita como processo lanccedila luz sobre as operaccedilotildees e as

habilidades necessaacuterias agrave elaboraccedilatildeo do texto priorizando-as mais do que ao produto final

obtido o que simplifica a escrita para fins de ensino por tratar dos componentes do processo

isoladamente treinando-os separadamente

Na verdade nenhuma abordagem para o ensino da escrita eacute exclusiva A redaccedilatildeo

requer meacutetodo muacuteltiplo jaacute que envolve diferentes tipos de capacidades e habilidades E nada

substitui o bom senso do professor Assim por exemplo se ele julgar necessaacuterio reforccedilar

determinados padrotildees de texto recorrendo agrave abordagem imitativa estaraacute procedendo de forma

adequada Da mesma maneira poderaacute usar estrateacutegias de liberaccedilatildeo da linguagem na fase de

geraccedilatildeo de ideias ou reforccedilar os recursos de interaccedilatildeo verbal professor-aluno ou aluno-aluno

nas atividades de revisatildeo de textos (VIEIRA 2005 p 87)

No entanto para Vieira (2005) esse exerciacutecio em separado das habilidades da

escrita natildeo dispensa a redaccedilatildeo de textos completos devendo o professor cuidar para que o

processo de escrita natildeo perca seu caraacuteter integral devido agraves atividades fragmentadas

35 Letramento literaacuterio

Acreditamos que para o desenvolvimento de nosso trabalho eacute importante ter em

mente que para escrever melhor para saber o que inserir em seu texto o aluno deve aguccedilar seu

olhar para o que vai nos textos de outrem ndash em nosso caso os que foram escolhidos para compor

a sequecircncia ndash e como foram ditas as coisas que laacute estatildeo inseridas Dessa forma desenvolvemos

em nossos moacutedulos praacuteticas que abordam aleacutem da praacutetica da escrita como processo o

letramento literaacuterio posto que a visatildeo que o inclui extrapola as simples leituras e anaacutelises das

palavras discutindo conceitos que compotildeem o acervo cultural dos alunos a partir das ideias

presentes nos textos

Para Cosson (2016 p23) ldquoa literatura natildeo estaacute sendo ensinada para garantir a

funccedilatildeo essencial de construir e reconstruir a palavra que nos humanizardquo O autor afirma que se

pode trazer ao aluno uma experiecircncia de leitura a ser compartilhada ampliando-a com

informaccedilotildees especiacuteficas do campo literaacuterio e ateacute fora dele A maneira de ensinar precisa ser

organizada segundo os objetivos da formaccedilatildeo do aluno evidentemente mas sem o abandono

do prazer de ler Compreende assim que o letramento literaacuterio eacute uma praacutetica social e como

67

tal responsabilidade da escola que deve cumpri-la sem descaracterizaacute-la sem negar mas

confirmando o poder de humanizaccedilatildeo da literatura

Para promover o letramento literaacuterio Cosson nos conduz a questionar e

desconstruir pressuposiccedilotildees sobre leitura e literatura enraizadas no senso comum A primeira eacute

que os livros falam por si mesmos ao leitor Ora ldquoos livros como os fatos jamais falam por si

mesmos O que os fazem falar satildeo os mecanismos de interpretaccedilatildeo que usamos e grande parte

deles satildeo aprendidos na escolardquo (2016 p 26) Ensinar a explorar o texto natildeo eacute criar uma barreira

entre elas e o leitor mas ajudar o leitor a manipular os textos dominando o discurso literaacuterio

Outra pressuposiccedilatildeo eacute que ler eacute um ato solitaacuterio Para o autor mais que o

movimento individual dos olhos ler implica uma troca de sentidos o que envolve escritor

leitor e sociedade em que ambos estatildeo localizados ldquopois os sentidos satildeo resultado de

compartilhamentos de visotildees do mundo entre os homens no tempo e no espaccedilordquo (2016 p 27)

Quando compreender isto o leitor alcanccedilaraacute um real significado na leitura

Tambeacutem uma pressuposiccedilatildeo eacute a ideia de que eacute impossiacutevel expressar o que sentimos

na leitura dos textos literaacuterios Esse eacute outro equiacutevoco que trata a leitura literaacuteria como uma

atividade tatildeo individual que natildeo poderia ser compartilhada Pelo contraacuterio conforme o autor o

efeito de proximidade que o texto literaacuterio traz eacute resultado do diaacutelogo que travamos com o

mundo e com os outros inseridos que estamos em uma sociedade O que levamos ao texto eacute

mais uacutenico do que o que ele nos oferece o que explica as diferentes leituras que fazemos do

mesmo texto em diferentes etapas de nossas vidas

A uacuteltima pressuposiccedilatildeo de que trata o autor eacute que ldquoa leitura literaacuteria praticada na

escola tambeacutem chamada anaacutelise literaacuteria destruiria a magia e a beleza da obra ao revelar seus

mecanismos de construccedilatildeordquo (COSSON 2016 p 28) Para Cosson a literatura mantida ldquoem

adoraccedilatildeordquo torna-se estranha ao leitor ao passo que a leitura literaacuteria que lhe fornece ferramentas

para exploraccedilatildeo do texto o convida agrave interaccedilatildeo como um processo de comunicaccedilatildeo

O autor conclui que se quisermos formar leitores capazes de experienciar toda a

forccedila humanizadora da literatura natildeo basta apenas ler com vistas a criar um haacutebito de leitura

mas fornecer-lhes ldquoos instrumentos necessaacuterios para conhecer e articular com proficiecircncia o

mundo feito linguagemrdquo (COSSON 2016 p 30)

Nossa seleccedilatildeo de textos para a SD foi inspirada em temas que os alunos costumam

observar na vida diaacuteria Tivemos preferecircncia por textos que circulam em meio eletrocircnico

extraiacutedos de sites blogs e de redes sociais ou seja contemporacircneos e com temas atuais Cosson

(2016 p34) distingue os dois termos que normalmente satildeo usados como sinocircnimos na

68

adjetivaccedilatildeo da produccedilatildeo literaacuteria da seguinte forma ldquo[] obras contemporacircneas satildeo aquelas

escritas e publicadas em meu tempo e obras atuais satildeo aquelas que tecircm significado para mim

em meu tempo independentemente da eacutepoca de sua escrita ou publicaccedilatildeordquo

Fizemos uma seleccedilatildeo preacutevia dos textos mas agrave medida em que as aulas avanccedilavam

abrimos a perspectiva para assuntos que eram mencionados em sala e trouxemos outros textos

inclusive publicados em livros variando as autorias poreacutem mantendo ainda o dinamismo e a

contemporaneidade Esse material se encontra na seccedilatildeo correspondente

69

4 NATUREZA E PROCEDIMENTOS DA PESQUISA

Apresentaremos nas seccedilotildees seguintes a metodologia e os procedimentos adotados

em nossa pesquisa realizada em uma escola puacuteblica municipal de Satildeo Luiacutes Maranhatildeo

41 Contexto da pesquisa

A pesquisa foi desenvolvida em uma das turmas de 9ordm ano de uma unidade de

educaccedilatildeo baacutesica municipal de ensino fundamental de 1ordm a 9ordm anos A escola tem um anexo

proacuteximo onde funcionam turmas de 1ordm ano (3 salas) Situa-se na aacuterea Itaqui-Bacanga em um

bairro considerado de difiacutecil acesso por sua pouca oferta de ocircnibus no municiacutepio de Satildeo Luiacutes

capital do Maranhatildeo ilha de Upaon-Accedilu

Antes pouco populoso o bairro tem aumentado de tamanho pela chegada de

moradores alguns oriundos de diversas cidades do interior mas tambeacutem vindos de outros

bairros pois algumas melhorias para a valorizaccedilatildeo da aacuterea tecircm acontecido como a construccedilatildeo

da escola e recentemente a quadra de esportes em sua aacuterea do posto de sauacutede da associaccedilatildeo

onde ocorre a conhecida Festa da Macaxeira e mais recentemente a criaccedilatildeo de um conjunto

residencial do programa do governo federal Minha Casa Minha Vida

No turno matutino nesta escola funciona o ensino fundamental (EF) ndash anos iniciais

(1ordm ao 5ordm ano) e no vespertino o EF ndash anos finais (6ordm ao 9ordm ano) sendo 2 turmas de 6ordm ano 2

turmas de 7ordm ano 2 turmas de 8ordm ano e 1 turma de 9ordm ano

Segundo os indicadores contextuais da Prova Brasil o niacutevel socioeconocircmico da

escola estaacute em meacutedio baixo O indicador de adequaccedilatildeo da formaccedilatildeo docente6 que analisa a

formaccedilatildeo dos docentes que lecionam nos finais do EF na escola eacute 85 Observando as meacutedias

de proficiecircncia em relaccedilatildeo agraves meacutedias das escolas do Brasil do Maranhatildeo e de Satildeo Luiacutes

comparando-as agrave nossa escola temos

6 Apresenta o percentual de disciplinas em cada etapa que satildeo ministradas por professores com formaccedilatildeo superior

de Licenciatura (ou Bacharelado com complementaccedilatildeo pedagoacutegica) na mesma disciplina que leciona Fonte e site

para consulta

httpsistemasprovabrasilinepgovbrprovaBrasilResultadosviewboletimDesempenhoboletimDesempenhosea

m Acesso em 3 de janeiro de 2018

70

Graacutefico 1 ndash Resultados IDEB 2015

Fonte INEP (2018))

O graacutefico acima mostra que o desempenho da escola ficou abaixo das meacutedias de

proficiecircncia em Liacutengua Portuguesa em leitura do Paiacutes em 2015 No entanto estaacute acima das

meacutedias do estado e do municiacutepio ludovicense que apresentaram indicadores 23093 e 23915

respectivamente A escola obteve 24034 ou seja pouco mais de um ponto acima o que natildeo

deixa de ser uma conquista para a gestatildeo e o corpo docente visto todos os entraves no processo

educacional Aleacutem do que se observarmos os indicadores de proficiecircncia em LP no 9ordm ano na

escola ao longo das trecircs uacuteltimas ediccedilotildees da Prova Brasil veremos que tem havido um progresso

como constatamos a seguir

Graacutefico 2 ndash Desempenho da escola nas ediccedilotildees da Prova Brasil

Fonte INEP (2018)

215

220

225

230

235

240

245

2011 2013 2015

Desempenho da escola nas ediccedilotildees da Prova Brasil

220

225

230

235

240

245

250

255

Brasil Maranhatildeo Satildeo Luiacutes Nossa escola

Resultados IDEB 2015

71

Os niacuteveis de proficiecircncia em Liacutengua Portuguesa classificados pela Prova Brasil

satildeo 9 (nove) e avaliam a capacidade de leitura dos alunos O desempenho por niacutevel de

proficiecircncia7 da turma de 9ordm ano no IDEB8 a seguir eacute referente ao ano de 2015

Graacutefico 3 ndash Distribuiccedilatildeo percentual dos alunos do 9ordm Ano do EF por niacutevel de proficiecircncia - Liacutengua Portuguesa

Fonte INEP (2018)

Para a aplicaccedilatildeo da SD foi escolhida a turma do 9ordm ano do ano letivo de 2017 que

contava com 46 alunos no iniacutecio do ano no turno vespertino Ao longo do ano alguns alunos

trancaram matriacutecula eou foram transferidos resultando no nuacutemero de 43 alunos frequentes ao

final do ano letivo O puacuteblico tem entre 14 e 15 anos em sua maior parte Por ser uma turma

que antecede o ingresso no ensino meacutedio eacute-lhe dispensada atenccedilatildeo especial no que tange a

projetos e preparaccedilatildeo para a seleccedilatildeo na etapa posterior da Educaccedilatildeo Baacutesica

A carga horaacuteria da disciplina Liacutengua Portuguesa eacute de 5 horas-aula por semana sem

divisatildeo formal interna de assuntos havendo flexibilidade para o trabalho com leitura produccedilatildeo

textual gramaacutetica e projetos tanto internos agrave escola como parcerias externas com essa

7 Os niacuteveis de proficiecircncia descritos pelo Inep encontram-se nos anexos deste trabalho 8 IDEB eacute o Iacutendice de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica criado pelo Inep em 2007 cuja escala vai de zero a

dez O indicador eacute calculado a partir dos dados sobre aprovaccedilatildeo escolar obtidos no Censo Escolar e meacutedias de

desempenho nas avaliaccedilotildees do Inep o Saeb e a Prova Brasil A fonte e o site oficial para consulta estatildeo disponiacuteveis

em lt httpportalinepgovbrwebportal-idebgt

000

500

1000

1500

2000

2500

3000

Niacutevel 0 Niacutevel 1 Niacutevel 2 Niacutevel 3 Niacutevel 4 Niacutevel 5 Niacutevel 6 Niacutevel 7 Niacutevel 8

Distribuiccedilatildeo percentual dos alunos do 9ordm Ano do EF por niacutevel de

proficiecircncia em 2015- Liacutengua Portuguesa

Nossa escola Escolas Similares

72

A opccedilatildeo por trabalhar a pesquisa nessa turma deu-se por ser a seacuterie que se prepara

para avanccedilar para o ensino meacutedio podendo assim ter um reforccedilo em sua competecircncia

discursiva atraveacutes da praacutetica da leitura e da produccedilatildeo escrita como processo

Ao mesmo tempo eacute importante que os alunos se interessem mais e mais por leitura

e sabendo que este puacuteblico natildeo aprecia leituras longas como as dos romances por exemplo a

crocircnica literaacuteria eacute uma excelente sugestatildeo por suas temaacuteticas que em vaacuterios exemplos eacute

proacutexima da realidade do aluno aleacutem de contar com textos breves e dinacircmicos

Por fim era de interesse da escola que os alunos dessa turma saiacutessem do ensino

fundamental com seguranccedila no que se refere a produzir textos escritos em gecircneros especiacuteficos

de uso cotidiano acionando assim conhecimentos que foram aprofundados e consolidados nas

aulas de anos anteriores

42 Participantes

Os sujeitos participantes da pesquisa satildeo alunos que frequentam a turma do 9ordm ano

no turno vespertino do ano letivo de 2017 na escola da rede puacuteblica municipal de ensino de

Satildeo Luiacutes no Maranhatildeo Em sua maioria residem na aacuterea que abrange o Argola e Tambor o

Gapara a Cidade Nova e adjacecircncias A maioria dos alunos tendo em vista sua idade apenas

estuda e mora com os pais eou responsaacuteveis

Ao longo do ano letivo a turma teve algumas alteraccedilotildees em seu puacuteblico com dois

estudantes que pediram transferecircncia de escola e outro que trancou a matriacutecula Assim

frequentando efetivamente as aulas foram 43 (quarenta e trecircs) alunos No entanto dentre esses

apenas uma meacutedia de 20 (vinte) alunos se interessou em participar do projeto de escrita

A turma em si eacute caracterizada pelos proacuteprios alunos bem como por professores

como composta por um puacuteblico cuja falta de interesse e de motivaccedilatildeo de vaacuterios estudantes

prejudica aqueles que desejam realmente se dedicar A sala eacute muito cheia e devido agrave natural

predisposiccedilatildeo que tecircm os adolescentes para a distraccedilatildeo e a conversa em vaacuterios momentos eacute um

desafio para se conseguir sua atenccedilatildeo e envolvimento nas atividades Percebemos nos contatos

iniciais com a turma completa que satildeo poucos infelizmente que demonstram real empenho

em participar

73

Os alunos que optaram por integrar o projeto desenvolveram as atividades propostas

em cinco moacutedulos realizadas em 11 (onze) encontros de 2 (duas) horas-aula cada9 durante os

meses de outubro a dezembro conforme cronograma previsto

43 Materiais

O material analisado na pesquisa eacute constituiacutedo pelos textos produzidos pelos alunos

que participaram de todas as atividades desta sequecircncia Portanto para a anaacutelise consideramos

apenas 13 (treze) alunos no total

Para a composiccedilatildeo do trabalho denominamos os textos produzidos nesta SD da

seguinte forma

a) produccedilatildeo inicial A (PI-A) realizada apoacutes 3 (trecircs) encontros com um total de 4

(quatro) horasaula constando atividades de leitura de crocircnicas que serviram

como norte para a primeira escrita dos alunos fazendo uma breve sensibilizaccedilatildeo

de caracteriacutesticas do gecircnero

b) produccedilatildeo final A (PF-A) realizada apoacutes o segundo moacutedulo da sequecircncia

reescrevendo a PI-A texto sem circulaccedilatildeo social mas com o intuito de

desenvolver a competecircncia comunicativa do aluno

c) produccedilatildeo inicial B (PI-B) realizada apoacutes os moacutedulos 3 (trecircs) e 4 (quatro) jaacute

visando a circulaccedilatildeo social do texto

d) produccedilatildeo final B (PF-B) realizada apoacutes o moacutedulo 5 (cinco) quando os alunos

tivessem aperfeiccediloado sua competecircncia comunicativa escrita e se apropriado do

gecircnero estudado cumprindo o propoacutesito comunicativo da proposta de produccedilatildeo

visando a divulgaccedilatildeo do texto

Para a realizaccedilatildeo da produccedilatildeo inicial utilizamos coacutepias de uma crocircnica

acompanhada de uma proposta de produccedilatildeo elaborada de acordo com a temaacutetica do texto e

associada agrave realidade dos alunos contextualizando uma possibilidade de ligar o mundo real ao

mundo virtual e uma coacutepia da folha de produccedilatildeo textual a ser utilizada em nosso projeto

Durante o desenvolvimento dos moacutedulos da SD utilizamos coacutepias dos textos e

atividades propostas distribuiacutedas individualmente Tambeacutem foi feito o uso do quadro branco

9 Agrave exceccedilatildeo dos dois primeiros encontros de 1 horaaula cada um

74

incel e apagador e de algumas imagens impressas em folha sulfite para ilustrar o conteuacutedo de

algumas crocircnicas de acordo com o planejamento de cada encontro

Para que houvesse a etapa poacutes sequecircncia didaacutetica que corresponde agrave circulaccedilatildeo

social do texto no gecircnero produzido os alunos que desejaram realmente publicar seus escritos

dentro do gecircnero crocircnica literaacuteria produziram um material especiacutefico para tal (PF-B) a partir

da escolha de temaacuteticas que agradaram a cada um individualmente Esse material que tambeacutem

constaraacute de nossa pesquisa corresponde aos textos de 4 (quatro) alunos apenas e

apresentaremos na seccedilatildeo destinada as produccedilotildees iniciais (PI-B) uma primeira reescrita e por

fim as produccedilotildees finais (PF-B)

44 Procedimentos

Antes de aplicarmos a SD com os alunos realizamos momentos de socializaccedilatildeo da

seguinte forma explicamos a importacircncia do projeto agrave direccedilatildeo da escola aos professores e aos

pais dos alunos da turma escolhida para a execuccedilatildeo do projeto visando o fortalecimento da

proposta Com os professores foi feito um momento de reuniatildeo uma semana antes do iniacutecio do

projeto Com os pais realizamos uma reuniatildeo para a socializaccedilatildeo e igualmente para pedir seu

apoio no incentivo agrave participaccedilatildeo dos alunos Infelizmente foram poucos os pais responsaacuteveis

que compareceram agrave reuniatildeo situaccedilatildeo que ocorre normalmente quando se datildeo as reuniotildees de

pais e mestres na escola

Foram realizados 11 (onze) encontros de duas horas-aula (de cinquenta minutos

cada uma) que ocorreram entre os meses de setembro e novembro de 2017 Entre a primeira

fase que compreende a socializaccedilatildeo do projeto e a busca pela adesatildeo as primeiras leituras e a

produccedilatildeo inicial A totalizando 3 (trecircs) encontros num total de 4 horasaula e o iniacutecio da

segunda fase que compreende os moacutedulos propriamente ditos do processo de escrita ateacute a

produccedilatildeo final A num total de 3 (trecircs) encontros houve um intervalo de aproximadamente 1

(um) mecircs tempo destinado agrave apreciaccedilatildeo da PI-A anaacutelise e elaboraccedilatildeo dos moacutedulos da

sequecircncia de atividades Para a posterior culminacircncia que coloca os textos em circulaccedilatildeo social

houve mais 5 (cinco) encontros agora com um puacuteblico mais reduzido que realmente desejava

publicar suas produccedilotildees

Destinamos dois horaacuterios agraves terccedilas-feiras que estavam ociosos para os alunos pois

correspondiam aos horaacuterios das disciplinas de Arte e Ensino religioso cuja professora estava

75

afastada em virtude de uma licenccedila de sauacutede para o desenvolvimento do projeto sem alterar a

rotina das aulas de Liacutengua Portuguesa

Como primeira atividade lemos o texto Prova falsa de Stanislaw Ponte Preta (cf

Apecircndice A) com a turma completa Fizemos o exerciacutecio de interpretaccedilatildeo do texto e breve

leitura de Abandono de Animais eacute crime e precisa ser denunciado (cf Apecircndice B) uma

reportagem para que os alunos percebessem diferenccedilas entre os gecircneros (2 horasaula)

O encontro seguinte teve a leitura do texto O chato da vez de Anaximandro

Amorim (cf Apecircndice C) e atividades de interpretaccedilatildeo Dentre as questotildees havia a instruccedilatildeo

que propunha os comandos para a criaccedilatildeo de um texto em forma de crocircnica ndash com o que os

alunos puderam perceber a respeito do gecircnero durante os encontros - e a partir disso nestas 2

(duas) horasaula os alunos fizeram sua produccedilatildeo inicial10 Esses textos compotildeem a produccedilatildeo

inicial dos integrantes do projeto

Os moacutedulos elaborados para o trabalho que visavam melhorar os aspectos da escrita

dos alunos considerando o processo bem como os procedimentos de escritor compreenderam

atividades de leitura exerciacutecios de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo dos textos e de produccedilatildeo de

textos escritos mediados pela professora pesquisadora dentro do gecircnero crocircnica literaacuteria

discussotildees sobre os temas presentes nas crocircnicas aproximando-os da realidade dos alunos com

o objetivo de desenvolver nestes sua capacidade de observaccedilatildeo e reflexatildeo para a produccedilatildeo

textual

Foram apresentadas agrave turma de maneira coletiva as principais dificuldades

diagnosticadas na produccedilatildeo inicial Procuramos natildeo focalizar de iniacutecio a editoraccedilatildeo11 do texto

na folha de produccedilatildeo No entanto natildeo deixamos de trabalhar em sala elementos como o cuidado

com a pontuaccedilatildeo a paragrafaccedilatildeo e a ortografia O conteuacutedo das aulas de cada moacutedulo estaacute

descrito na seccedilatildeo correspondente

No decorrer dos moacutedulos os alunos realizaram atividades de revisatildeo e reescrita dos

seus textos observando tanto a estrutura do gecircnero quanto o seu conteuacutedo orientados pela

professora pesquisadora e tambeacutem recebendo ideias e sugestotildees dos colegas em um feedback

colaborativo Dessa forma chegaram ao seu texto final aplicando na medida de sua

10 Obs o 4ordm horaacuterio que foi escolhido para ser o momento da produccedilatildeo inicial foi prejudicado por dois fatores

O primeiro foi que o professor de educaccedilatildeo fiacutesica da escola convidou os alunos para antecipar sua praacutetica e vaacuterios

natildeo voltaram do recreio para a aula do projeto O segundo fator foi que nesse dia aconteceu uma briga com agressatildeo

fiacutesica entre uma aluna da sala e outra aluna de outra turma o que deixou a escola inteira agitada Os 20 (vinte)

alunos que permaneceram em sala para a produccedilatildeo felizmente mostraram-se interessados embora vaacuterios dissessem

que natildeo levavam jeito para escrever Apenas alguns alunos passaram a limpo seus textos 11 Ver seccedilatildeo Escrita como processo

76

conscientizaccedilatildeo os conhecimentos adquiridos e as duacutevidas esclarecidas durante a sequecircncia de

atividades

Nossa proposta incluiu a circulaccedilatildeo social dos textos para uma audiecircncia real o que

consistiu em uma culminacircncia do projeto de escrita O acordo feito com os alunos foi a

publicaccedilatildeo interna de uma versatildeo artesanalmente produzida de um livro de crocircnicas para que

pudessem marcar o momento e guardar um livro fiacutesico como recordaccedilatildeo e a publicaccedilatildeo em

suas paacuteginas pessoais na rede social Facebook plataforma que os alunos apreciam utilizar com

certa frequecircncia posto que nosso trabalho teve como material para leitura textos retirados da

internet como o proacuteprio Facebook blogs sites Para esta etapa somente cinco alunos

frequentaram assiduamente (alguns outros esporadicamente) sendo que apenas quatro

produziram um texto individual que passou pelo mesmo processo de reescrita e que teve sua

publicaccedilatildeo na plataforma e tambeacutem em um formato artesanal impresso para que suas famiacutelias

e comunidade escolar possam prestigiar o momento na tarde de autoacutegrafos

As produccedilotildees finais seratildeo analisadas no capiacutetulo a seguir em relaccedilatildeo agrave apropriaccedilatildeo

das caracteriacutesticas do gecircnero estudado bem como de sua estrutura composicional com o

objetivo de avaliar se os alunos conseguiram desenvolvecirc-la satisfatoriamente e se a estrutura e

a aplicaccedilatildeo da sequecircncia de atividades favoreceu o desenvolvimento da competecircncia textual e

discursiva dos estudantes que integraram a pesquisa de acordo com o que foi observado em

suas produccedilotildees iniciais examinando seu desempenho em ambas as produccedilotildees

Para o desenvolvimento de nossas atividades do projeto planejamos os encontros

com base nos estudos realizados a respeito do procedimento Sequecircncia Didaacutetica de Dolz

Noverraz e Schneuwly (2013) como estrateacutegia de ensino dos gecircneros textuais na proposta de

adaptaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica conduzida por Swiderski e Costa-Huumlbes (2009) na proposta

de circulaccedilatildeo social do gecircnero discursivo produzido em sequecircncias didaacuteticas de projetos

pedagoacutegicos de Lopes-Rossi (2011) e dos procedimentos das etapas de escrita como

planejamento ediccedilatildeo revisatildeo e reescrita do texto segundo Vieira (2005) e Serafini (2003)

O planejamento de nossa SD abrange 12 (doze) etapas conforme mostra a figura a

seguir

77

Figura 4 - Proposiccedilatildeo de sequecircncia didaacutetica para o projeto de escrita

Fonte Elaborado pela autora adaptado de DOLZ NOVERRAZ SCHNEUWLY (2013) SWIDERSKI COSTA-

HUumlBES (2009) LOPES-ROSSI (2011)

Nossa sequecircncia foi pensada para 2 (duas) etapas distintas Na primeira etapa A

uma produccedilatildeo textual para trabalho em sala com o mesmo tema com a expectativa de serem

colocados nos textos elementos que respondessem ao enunciado instrucional da atividade que

segue a crocircnica lida no dia na segunda etapa B uma produccedilatildeo que jaacute seria composta visando

a circulaccedilatildeo social com tema livre agrave escolha dos alunos a partir das discussotildees sobre o que

pode ser tema de uma crocircnica

Pela necessidade de uma SD mais completa inserimos ao modo de Swiderski e

Costa-Huumlbes entre a apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e a produccedilatildeo inicial um moacutedulo

de reconhecimento do gecircnero E apoacutes o teacutermino de nossa SD inserimos ao modo de Lopes-

Rossi um moacutedulo para a divulgaccedilatildeo social dos textos

441 Primeira etapa da apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo agrave produccedilatildeo inicial

Entre a apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo e a produccedilatildeo inicial (PI) utilizamos 4 (quatro)

horas-aula No primeiro encontro fizemos no 1ordm (primeiro) horaacuterio a socializaccedilatildeo do projeto

com os alunos e incentivamos a adesatildeo expondo as vantagens de trabalharmos o aprendizado

de um gecircnero como a crocircnica em forma de sequecircncia de aulas e atividades Natildeo houve

manifestaccedilatildeo de unanimidade de interesse em participar do projeto Na realidade apenas

metade da sala pareceu desejar integrar o projeto Quando perguntados sobre o motivo que natildeo

os animava vaacuterios responderam ldquopreguiccedila de ler professora preguiccedila de escrever professora

ah eu natildeo gosto de ler muito natildeo Leio porque sou obrigada e natildeo vale nem nota mesmordquo

Apresentaccedilatildeo

da Situaccedilatildeo

Produccedilatildeo

Inicial A

Produccedilatildeo

Final A

Moacuted

ulo 1

Moacuted

ulo 2

Moacuted

ulo 3

Circulaccedilatildeo social

das produccedilotildees B Moacuted

ulo 4 Produccedilatildeo

Inicial B

Moacuted

ulo 5 Produccedilatildeo

Final B

Moacutedulo de

reconheci

mento

78

Apesar da inicial resistecircncia de boa parte da sala colocamos aos alunos as

vantagens de sua participaccedilatildeo visto que a principal finalidade da sequecircncia de atividades seria

o desenvolvimento de sua competecircncia escrita por meio da aprimoraccedilatildeo de suas habilidades

leitoras oportunidade de ampliaccedilatildeo da criatividade e desenvolvimento das habilidades e

procedimentos de escritor como o planejamento das ideias a releitura a revisatildeo a reescrita ndash

que sabemos natildeo fazem parte da rotina dos alunos salvo raras exceccedilotildees ndash utilizando como

base o estudo das caracteriacutesticas do gecircnero textual crocircnica literaacuteria

No horaacuterio seguinte com a turma completa iniciamos o moacutedulo de reconhecimento

realizando a leitura do texto Prova falsa de Stanislaw Ponte Preta Leitura silenciosa seguida

de leitura em voz alta por parte da professora-pesquisadora poreacutem sem realizar a atividade que

acompanhava o texto Comeccedilamos a trabalhar com a turma algumas caracteriacutesticas que a

sensibilizariam para o gecircnero como a presenccedila de um tiacutetulo interessante para a criaccedilatildeo de um

texto a partir de uma situaccedilatildeo do cotidiano e que o cronista resolveu contar ao leitor ao bom

humor e agrave leveza das palavras trazidas no texto

No segundo encontro com 1 hora-aula na semana seguinte fizemos a continuaccedilatildeo

da aula anterior no primeiro horaacuterio realizando o exerciacutecio de interpretaccedilatildeo do texto Prova

Falsa No horaacuterio seguinte realizamos breve leitura do texto Abandono de Animais eacute crime e

precisa ser denunciado para que os alunos percebessem a diferenccedila entre a crocircnica e a

reportagem embora ambas falassem cada uma a seu modo de criaccedilatildeo de animais de estimaccedilatildeo

Chegamos aos terceiro encontro com 2 (duas) hora-aula e realizamos a leitura do

texto O chato da vez de Anaximandro Amorim (cf Anexo D) No 1ordm horaacuterio destinado a nossas

aulas tudo transcorreu relativamente normal com a turma completa lendo e realizando parte

das atividades Poreacutem nossa Produccedilatildeo Inicial deveria acontecer apoacutes o recreio pois a

organizaccedilatildeo da grade de horaacuterios compreendia 1 hora-aula antes do recreio e a 1 hora-aula

seguinte apoacutes o recreio

Esse horaacuterio que foi escolhido para ser o momento da PI foi prejudicado por dois

fatores O primeiro foi que o professor de educaccedilatildeo fiacutesica12 da escola convidou os alunos para

antecipar sua praacutetica e vaacuterios natildeo voltaram do recreio para a aula do projeto O segundo fator

foi que nesse dia aconteceu uma briga com agressatildeo fiacutesica entre uma aluna da sala e outra aluna

de outra turma o que deixou a escola inteira agitada Os 20 (vinte) alunos que permaneceram

12 O professor de educaccedilatildeo fiacutesica natildeo estava presente na reuniatildeo de socializaccedilatildeo do projeto com os professores e

por isso natildeo sabia que a professora-pesquisadora ocuparia aquele horaacuterio que estava ocioso para os alunos

79

em sala para a produccedilatildeo felizmente mostraram-se interessados embora vaacuterios dissessem que

natildeo levavam jeito para escrever

Demos prosseguimento agrave atividade que acompanha o texto O chato da vez

realizando a instruccedilatildeo de produccedilatildeo do quesito 7 (sete) Os alunos receberam uma folha de

produccedilatildeo e foram orientados a primeiro escrever seu rascunho em folha agrave parte e somente

quando terminassem passar seu texto para a folha de produccedilatildeo A maioria escreveu diretamente

na FP Apenas alguns alunos fizeram um breve rascunho e depois passaram a limpo seus textos

O que buscamos detectar nessas primeiras produccedilotildees (PI-A) sem o devido

aprofundamento das caracteriacutesticas da crocircnica literaacuteria apenas com as leituras e as atividades

de sensibilizaccedilatildeo no moacutedulo de reconhecimento do gecircnero a partir da instruccedilatildeo de produccedilatildeo

foram os itens a seguir

i) quantos textos jaacute deram sinais de que os alunos entenderam o que eacute a ldquoconversa

com o leitorrdquo e a expressaram em marcas linguiacutesticas

ii) quantos atenderam ao perfil da audiecircncia solicitada na instruccedilatildeo

iii) quantos se mantiveram no tema discutido

iv) quantos partiram de uma situaccedilatildeo vividaobservada para compor seu texto

v) quantos narraram essa situaccedilatildeo de forma clara para que o leitor pudesse

acompanhar

vi) quantos atenderam agrave instruccedilatildeo quanto agrave presenccedila de tiacutetulo e ao nuacutemero de

paraacutegrafos

Trataremos em seccedilatildeo posterior correspondente agrave anaacutelise sobre estes resultados

442 Segunda etapa desenvolvimento dos moacutedulos

Aproximadamente 1 (um) mecircs apoacutes a apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo e a produccedilatildeo inicial

que foram realizadas em 4 (quatro) encontros o desenvolvimento dos moacutedulos foi iniciado A

partir de entatildeo foram realizados 8 (oito) encontros de 2 (duas) horas-aula cada um Foram

cinco moacutedulos com atividades diversas que trabalharam fundamentalmente o planejamento

das ideias a organizaccedilatildeo e a revisatildeo do texto aleacutem da reescrita que eacute a ponte para a produccedilatildeo

final O trabalho desenvolvido nos moacutedulos estaacute sintetizado no quadro a seguir e seratildeo

detalhados os procedimentos das aulas nos toacutepicos seguintes

80

Quadro 4 ndash Moacutedulos desenvolvidos na sequecircncia didaacutetica (SD)

MOacuteDULOS TEMA FINALIDADE ATIVIDADE NUacuteMERO

DE AULAS

Moacutedulo 1 A mateacuteria da

crocircnica

Abstrair a partir da

leitura a situaccedilatildeo que

pode ter gerado as

crocircnicas

Leitura dos textos

Realizaccedilatildeo das atividades de

interpretaccedilatildeo

Identificaccedilatildeo das situaccedilotildees

que geraram as crocircnicas

Observaccedilatildeo da construccedilatildeo da

narraccedilatildeo

4 horas-aula

Moacutedulo 2

Releitura e

reescrita da PI-

A

Revisar o conteuacutedo e a

estrutura das crocircnicas

produzidas (PI-A) a fim

de reescrevecirc-las fazendo

as modificaccedilotildees

necessaacuterias eou sugeridas

adequando-as agrave instruccedilatildeo

Conversa sobre as

dificuldades observadas nas

primeiras produccedilotildees Releitura

das produccedilotildees iniciais

individualmente e em duplas

para feedback colaborativo

Reescrita da crocircnica

2 horas-aula

Moacutedulo 3

A opiniatildeo e a

descriccedilatildeo na

crocircnica

Observar a realidade do

seu entorno e tambeacutem de

ouvir as opiniotildees das

pessoas que habitam esse

ambiente

Leitura do texto

Realizaccedilatildeo das atividades de

interpretaccedilatildeo

Atividade de coleta de

impressotildees de algueacutem

proacuteximo Confronto ou

associaccedilatildeo com suas proacuteprias

opiniotildees Observaccedilatildeo de

elementos e situaccedilotildees do

proacuteprio cotidiano

Uso criativo das palavras

reflexatildeo sobre linguagem

conotativa

Elaboraccedilatildeo de um pequeno

texto

2 horas-aula

Moacutedulo 4

A linguagem

criativa e a

verossimilhanccedila

na crocircnica

Produccedilatildeo

inicial do texto

para publicaccedilatildeo

ndash PI-B

Observar as formas

criativas de narrar o

cotidiano

Leitura do texto

Realizaccedilatildeo das atividades de

interpretaccedilatildeo Discussatildeo sobre

verossimilhanccedila

2 horas-aula

Moacutedulo 5

Revisatildeo e

reescrita do

texto para

publicaccedilatildeo ndash

PI-B

Observar os elementos

estudados ao longo dos

moacutedulos na PI-B

Leitura dos textos Feedback

colaborativo Releitura da PI-

B Exerciacutecio de topicalizaccedilatildeo

4 horasaula

Fonte Elaborado pela autora

Nos itens a seguir apresentamos o relato da aplicaccedilatildeo dos moacutedulos bem como as

atividades correspondentes a cada um em uma turma de 9ordm ano de uma escola puacuteblica municipal

em Satildeo Luiacutes no 4ordm (quarto) bimestre do ano letivo de 2017

a) Moacutedulo 1 ndash quarto e quinto encontros ndash 4 (quatro) horas-aula

81

A partir da leitura dos textos Manias e Pacto apoacutes morte natildeo podia ver faca (cf

Anexo E) os alunos praticaram o exerciacutecio de observaccedilatildeo e abstraccedilatildeo da situaccedilatildeo que pode ter

gerado essas crocircnicas

Neste dia foi feita a leitura da crocircnica Manias Os alunos puderam refletir a partir

das questotildees de interpretaccedilatildeo e anaacutelise do texto sobre o que satildeo manias e viram tambeacutem que

elas natildeo satildeo exclusividade de pessoas idosas Na verdade concluiacuteram que basta o ser humano

estar vivo independentemente da idade que tenha para comeccedilar a calcar camadas e mais

camadas de comportamentos que mais adiante se tornaratildeo manias Natildeo houve tempo

disponiacutevel para os alunos comporem um texto a respeito da mateacuteria manias e os alunos pediram

para fazer em casa No entanto na aula seguinte ningueacutem apresentou o texto

Para o encontro seguinte que correspondia ao dia das bruxas a crocircnica escolhida

para leitura que tomou o primeiro horaacuterio foi Pacto poacutes-morte natildeo podia ver faca de Nonato

Reis por ser de gosto dos alunos dessa faixa etaacuteria histoacuterias de fantasmas misteacuterios e lendas

Nossa atividade foi bastante interessante pois todos que estavam na sala entraram no ritmo

daqueles causos contados em prosa pelo jornalista Nonato Reis O segundo horaacuterio foi

direcionado agrave atividade de leitura e interpretaccedilatildeo da crocircnica em que os alunos puderam

observar o ponto de vista do narrador as situaccedilotildees que deram origem e suporte agrave construccedilatildeo da

crocircnica aprenderam vocaacutebulos novos e ainda puderam soltar um pouco da imaginaccedilatildeo e

criatividade pensando em como eles mesmos fariam seus pactos com algueacutem ndash e constatamos

que vaacuterios querem mais eacute que seus contratantes se assustem em vida caso os alunos partam

primeiro

Ao final da leitura ainda exercitamos uma breve retextualizaccedilatildeo se fosse para

compor uma manchete de jornal como eles poderiam criar uma frase de impacto para o leitor

que tivesse relaccedilatildeo com o texto Um dos alunos sugeriu ldquoHomem faz pacto e menino vem

buscarrdquo

b) Moacutedulo 2 ndash sexto encontro ndash 2 (duas) horas-aula

Este encontro foi destinado para releitura da primeira produccedilatildeo feita (PI-A) O

procedimento inicial foi a tempestade de ideias sobre o que eacute ser chato e o que eacute ser legal cujo

registro dessas caracteriacutesticas noacutes construiacutemos na lousa sendo a professora-pesquisadora como

escriba Em seguida entregamos aos participantes do projeto seus textos

De iniacutecio vaacuterios disseram gostar do proacuteprio texto poreacutem quando a professora-

pesquisadora passou de carteira em carteira pedindo que lessem em voz meacutedia de modo a

apenas o proacuteprio aluno e a professora poderem escutar ele mesmo se dava conta de que havia

82

algo a consertar Em alguns casos faltava o diaacutelogo com o leitor noutros uma situaccedilatildeo que

explicasse o porquecirc de algueacutem ser considerado chato ou legal Eacute a tal situaccedilatildeo do leitor na

histoacuteria Natildeo daacute pra jogar em cima dele soacute o resultado Tem que mostrar de onde partiram as

conclusotildees Assim demos uma folha sulfite em branco para que os alunos registrassem seus

rascunhos suas ideias por mais que as considerassem absurdas e daiacute pudessem extrair o que

iria compor o novo texto Fomos bem claras ao falar da importacircncia de tomar notas elas servem

como um prolongamento da memoacuteria (SERAFINI 2003)

Apoacutes esse registro os alunos tiveram a liberdade de escolher sentar em dupla ou

trio e foram lendo seus proacuteprios textos e o dos colegas para se inspirar ou dar sugestotildees uns

aos outros num feedback colaborativo enquanto a professora-pesquisadora permanecia dando

assistecircncia de um por um Infelizmente natildeo conseguimos sentar com todos para dar o devido

retorno individual sendo alguns apenas por orientaccedilatildeo coletiva e outros por bilhetinho com

questotildees gerais

Entatildeo pegamos o texto O chato da vez fizemos mais uma leitura e de novo

revimos a questatildeo 7 que eacute a instruccedilatildeo da produccedilatildeo Entatildeo os alunos receberam a folha de

produccedilatildeo e assim fizeram a reescrita (PF-A)

c) Moacutedulo 3 ndash seacutetimo encontro ndash 2 (duas) horas-aula

A partir da leitura da crocircnica A cara da rua (cf Apecircndice F) os alunos fizeram o

exerciacutecio praacutetico de observar a realidade do seu entorno sensibilizando-se a partir do uso da

descriccedilatildeo na crocircnica literaacuteria e tambeacutem de ouvir as opiniotildees das pessoas que habitam esse

ambiente

Houve uma alteraccedilatildeo no quadro do horaacuterio da escola o que colocou os encontros

do projeto para o 4ordm e o 5ordm horaacuterios As aulas passaram assim a natildeo ter uma quebra em seu

ritmo visto que anteriormente eram dois horaacuterios sendo um antes do recreio e o outro depois

A dificuldade enfrentada na aplicaccedilatildeo deste dia foi que alguns dos alunos que

integram o projeto se atrasaram visto que foi um dia atiacutepico na programaccedilatildeo da escola

Correspondeu este dia agrave visitaccedilatildeo da 11ordf FeLiS a Feira do livro de Satildeo Luiacutes realizada no

centro histoacuterico da cidade na Praia Grande Portanto neste dia natildeo fizemos uma releitura dos

textos que jaacute comeccedilaram a ser reescritos

Fizemos a leitura do texto A cara da rua de Marcelo Xavier discutimos as questotildees

e com os alunos (mesmo os que chegaram atrasados) foi feito o acordo da realizaccedilatildeo da uacuteltima

questatildeo que eacute fazer a leitura do texto para algueacutem em casa e anotar as impressotildees que a pessoa

teve ao ouvir a crocircnica

83

O objetivo desta atividade foi despertar nos alunos a consciecircncia de que uma

crocircnica bem escrita causa alguma reaccedilatildeo em seu leitor uma reflexatildeo uma emoccedilatildeo Aleacutem disso

eles observaram o modo de descrever empregado pelo autor ao longo dos paraacutegrafos usados na

caracterizaccedilatildeo da rua Utilizamos como material para essa aula figuras impressas da moda que

mostravam ao longo das deacutecadas as mudanccedilas citadas no texto

Neste dia tambeacutem os alunos anotaram os fundamentos que devem estar presentes

no texto que eles escrevem uma espeacutecie de quadro autoavaliativo13 criado a partir das

caracteriacutesticas dos textos estudados

d) Moacutedulo 4 ndash oitavo encontro ndash 2 (duas) horas-aula

O encontro comeccedilou retomando a atividade da aula anterior que era fazer a leitura

do texto para algueacutem em casa e anotar as impressotildees que a pessoa teve ao ouvir a crocircnica

Apenas uma aluna realizou a atividade poreacutem foi interessante visto que a opiniatildeo coletada deu

espaccedilo para a discussatildeo sobre a liberdade de expressatildeo fosse no vestuaacuterio no comportamento

ou mesmo no vocabulaacuterio das pessoas que integram a cara da rua

A aula do dia foi direcionada a conhecer mais algumas crocircnicas Amor de Macumba

e Sr Google Pacheco (cf Apecircndice G) para que os alunos pudessem observar e compreender

melhor de que situaccedilotildees observadasvivenciadas partiram os textos podendo ser inesperadas

eou ateacute pitorescas Apoacutes a escuta dos textos cuja leitura foi realizada pela professora-

pesquisadora foram trabalhadas oralmente as questotildees de compreensatildeo e identificadas as

situaccedilotildees geradoras das crocircnicas em questatildeo (independentemente de serem reais ou natildeo)

compreendendo melhor o que eacute verossimilhanccedila

Ao final desse momento os alunos falaram de vaacuterios assuntos que poderiam se

tornar temas de textos Copiamos no quadro e eles nos cadernos Eram temas do cotidiano

como assalto relaccedilotildees sociais vida de youtuber bullying fome cujas situaccedilotildees jaacute

observadasvivenciadas poderiam render uma reflexatildeo

Aparentemente a dificuldade maior dos alunos estava em expressar essa situaccedilatildeo

sem que parecesse um diaacuterio iacutentimo como diaacuterio ou memoacuterias pois a natural disposiccedilatildeo de

seus textos traz uma sequecircncia narrativa um relato de emoccedilotildees pessoais poreacutem natildeo

necessariamente conduzia o leitor a uma reflexatildeo embora por vezes pausasse a narraccedilatildeo e

interagisse com o leitor por meio de perguntas ndash conforme mostrado nas crocircnicas lidas ao longo

do projeto

13 Cf seccedilatildeo de Anaacutelises

84

O foco foi entatildeo ajudar os alunos a desprender-se da aura de criacutetica ou de diaacuterio

iacutentimo em seus textos permitindo-lhes atribuir um ar de narrar os fatos podendo aumentar as

situaccedilotildees conduzindo seu leitor sem sobrecarregaacute-lo com queixumes lamentos criacuteticas ferinas

ou aquele ldquoar de moral da histoacuteriardquo

Como a discussatildeo havia tomado bastante tempo da aula os alunos pediram para

trazer o texto depois Resolvemos propor entatildeo o envio por um meio digital O escolhido foi

o Whatsapp e a produccedilatildeo seria impressa e entregue entre os colegas para leitura coletiva e

apreciaccedilatildeo etapa fundamental para o moacutedulo seguinte

e) Moacutedulo 5 ndash nono encontro ndash 2 (duas) horas-aula

Quatro alunos me mandaram seus textos (Ana Rodrigo Eduardo Estela) A

expectativa da aula do dia era que os alunos lessem as proacuteprias produccedilotildees e as colocassem para

apreciaccedilatildeo dos colegas relessem lessem juntos encontrassem os erros aceitassem as

sugestotildees O trabalho da professora pesquisadora foi inicialmente ir de dupla em dupla para

orientar E assim fizemos o trabalho

Utilizamos como material para essa aula os textos enviados impressos e um tablet

para visualizaccedilatildeo e se desejassem atualizaccedilatildeo de algum trecho do texto Cada aluno autor teve

seu momento de visualizaccedilatildeo na tela e de certo modo foi um choque ver no tablet os erros

ortograacuteficos e as sugestotildees de pontuaccedilatildeo que o aplicativo Word sugeria O aluno Eduardo foi o

mais surpreso pois em seu texto soacute de ortografia e pontuaccedilatildeo havia 22 erros fora as sugestotildees

que o Word corrigia Apesar disso o aluno natildeo desanimou aceitando sugestotildees do aplicativo e

tambeacutem dos colegas e da professora-pesquisadora

Houve o momento da leitura em conjunto e este foi fundamental para trabalharmos

a paragrafaccedilatildeo A professora-pesquisadora lia em voz alta para os alunos eles acompanhavam

o pensamento criando a imagem mental dos fatos corridos e quando havia quebra na

sequecircncia eles mesmos estranhavam e identificavam fazendo sugestotildees de alteraccedilatildeo Isso foi

feito com cada texto

Os temas para a produccedilatildeo do texto publicado foram escolhidos pelos proacuteprios

alunos Diferentemente da PI-A que foi induzida pela instruccedilatildeo aqueles que se dedicaram a

escrever por prazer desenvolveram mais o gosto por entender e reler o proacuteprio texto dando

valor tambeacutem agrave apreciaccedilatildeo dos colegas natildeo apenas da professora

Os quatro alunos que produziram texto para o livro disseram que passaram a prestar

mais atenccedilatildeo a ortografia e acentuaccedilatildeo embora reconheccedilam que natildeo dominam adequadamente

85

ainda Nesse momento consideramos fundamental conscientizar-lhes que esse domiacutenio eacute um

processo e pode durar a vida inteira

f) Moacutedulo 6 ndash deacutecimo encontro ndash 2 (duas) horas-aula

A aula do dia foi dedicada agrave revisatildeo e discussatildeo final dos textos de Ana Rodrigo

Eduardo e Estela Apoacutes a leitura individual e novas sugestotildees sentamos em ciacuterculo e

registramos em voz alta no celular durante uns 20 minutos uma pequena avaliaccedilatildeo do projeto

e avaliaccedilatildeo pessoal em forma de grupo focal Apenas uma aluna dentre os seis que estavam

presentes se recusou a falar Ela mesma afirmou ldquoprofessora eu nunca falo eu natildeo gosto de

falarrdquo A pauta foi a seguinte

i) Uma breve avaliaccedilatildeo do projeto

- vocecirc gostou das aulas

- o que foi um ponto positivo

- e um desafio

- o que vocecirc sugere para um proacuteximo projeto

ii) Uma breve avaliaccedilatildeo pessoal

- vocecirc aprendeu algo que natildeo sabia antes

- mudou alguma coisa nos seus procedimentos em relaccedilatildeo agrave leitura e agrave escrita

- fale um pouco sobre isso

A opiniatildeo dos alunos seraacute tratada na seccedilatildeo seguinte ao longo da avaliaccedilatildeo do

projeto

443 Terceira etapa produccedilatildeo final

Neste dia relemos as primeiras produccedilotildees que os alunos fizeram de maneira

coletiva Foi unacircnime o descontentamento com os textos pois concluiacuteram que estava tudo

muito longe de ter caracteriacutesticas de crocircnica Aproveitamos tambeacutem para ler o texto de um

aluno e fazer um exerciacutecio de topicalizaccedilatildeo a fim de instrumentalizaacute-los com uma uacutetil

ferramenta de anaacutelise das partes do texto detectando as ideias que o compotildeem comparando ao

comando de produccedilatildeo que foi dado naquele momento da PI e percebendo que ideias faltam para

completar a instruccedilatildeo pedida Fora isso os alunos perceberam que havia muitos erros

ortograacuteficos e disseram que achavam interessante se pudessem para todos os textos escrever

em aplicativos de celular ou programas de ediccedilatildeo de texto como o Word para que as correccedilotildees

mais baacutesicas jaacute fossem automaticamente realizadas

86

444 Quarta etapa circulaccedilatildeo social dos textos

A circulaccedilatildeo social dos textos eacute parte de nossa proposta para a sequecircncia didaacutetica

Como o objetivo maior foi o de contribuir para o aperfeiccediloamento das habilidades de escrita

desenvolvendo procedimentos de escritor fugindo agrave praacutetica que os alunos normalmente tecircm

que eacute de fazer um texto sem os devidos cuidados apenas visando nota para entregar ao

professor contamos que essas produccedilotildees foram de grande valia aos que permaneceram ateacute o

final de nosso projeto

O livro artesanal foi produzido e no dia da cerimocircnia de formatura dos alunos do

9ordm ano foi tornado puacuteblico mostrado aos outros alunos familiares e comunidade escolar

presente O livro conteacutem as produccedilotildees dos 4 (quatro) alunos e mais as crocircnicas lidas ao longo

das aulas Aleacutem disso cada um publicou seu texto em sua paacutegina do Facebook

87

5 ANAacuteLISE DA SEQUEcircNCIA REFLEXOtildeES

Este capiacutetulo eacute destinado a discussatildeo e anaacutelise dos dados coletados quando de antes

da aplicaccedilatildeo dos moacutedulos (produccedilatildeo inicial) e depois do desenvolvimento destes (produccedilatildeo

final) a fim de verificarmos o desempenho dos alunos e certificar que o desenvolvimento de

nossa SD proposta para o desenvolvimento da competecircncia escrita dos alunos do 9ordm ano do

ensino fundamental pode propiciar-lhes progressos nas habilidades de produccedilatildeo de seus textos

Apresentamos aqui os principais dados da pesquisa como nuacutemero de alunos

participantes em cada etapa de produccedilatildeo nuacutemero de estudantes que participaram de todas as

atividades e principais dificuldades quanto aos elementos constitutivos do gecircnero trabalhado

Para a anaacutelise das versotildees produzidas pelos alunos que participaram de todos os encontros

fazendo o comparativo entre a PI e a PF partimos das categorias do gecircnero crocircnica literaacuteria

trabalhadas durante a SD Deste modo veremos as seccedilotildees destinadas a analisar os elementos

constitutivos presentes nos textos

A anaacutelise dos dados considerou as hipoacuteteses levantadas no iniacutecio da pesquisa que

recapitulamos

a) eacute possiacutevel motivar os alunos a escrever ao desenvolver com eles atividades

voltadas para os diferentes subprocessos e habilidades envolvidos no ato de

redigir

b) o ensino da composiccedilatildeo do gecircnero crocircnica literaacuteria contribuiraacute para minimizar

dificuldades observadas nos textos dos alunos do 9ordm ano como nos planos

morfossintaacutetico e semacircntico aleacutem de lhes propiciar o desenvolvimento da

competecircncia escrita em textos escritos

c) apoacutes a realizaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica proposta ao compararmos as produccedilotildees

inicial e final dos alunos verificaremos um desempenho mais satisfatoacuterio em

relaccedilatildeo agrave competecircncia discursiva realizada no gecircnero crocircnica

Da primeira hipoacutetese consideramos para a elaboraccedilatildeo das atividades e o

planejamento dos encontros trabalhar os subprocessos da escrita geraccedilatildeo e organizaccedilatildeo de

ideias planejamento do texto rascunho escrita releitura revisatildeo reescrita ateacute o passo da

publicaccedilatildeo agrave audiecircncia pretendida Esses passos auxiliaram os alunos a desenvolver melhor

seus textos apoacutes a revisatildeo quando os comparamos aos seus primeiros textos conforme a anaacutelise

dos dados Inclui tambeacutem este momento a motivaccedilatildeo de modo que quanto maior o domiacutenio

das habilidades mais confiantes os alunos ficavam e consequentemente mais motivados

88

Buscamos identificar nos textos dos alunos os avanccedilos referentes agrave apropriaccedilatildeo do

gecircnero crocircnica literaacuteria a partir dos textos escolhidos para servir-lhes de modelo para a

produccedilatildeo Relatamos aqui tambeacutem as dificuldades trabalhadas com eles durante os moacutedulos e

que foram aperfeiccediloadas Aleacutem das dificuldades composicionais relatamos ao longo do

capiacutetulo as dificuldades quanto agrave participaccedilatildeo no projeto aplicado

51 Participaccedilatildeo dos alunos na pesquisa

A sala de aula escolhida para aplicaccedilatildeo do projeto de produccedilatildeo escrita de crocircnicas

literaacuterias foi uma turma de 9ordm ano vespertino em uma escola puacuteblica do municiacutepio de Satildeo Luiacutes

Maranhatildeo Os alunos frequentes totalizavam no ano letivo de 2017 43 (quarenta e trecircs) No

entanto ao final de nosso projeto tivemos um resultado de produccedilotildees que visavam agrave circulaccedilatildeo

social do texto no gecircnero que corresponde a menos de 10 (dez por cento) do total da classe

Graacutefico 4 ndash Nuacutemero de alunos do 9ordm ano

Fonte Produzido pela autora

Podemos dizer que a SD teve duas partes no tocante agrave participaccedilatildeo dos alunos No

primeiro 19 (dezenove) alunos produziram a PI-A havendo oscilaccedilatildeo da presenccedila nas

atividades ateacute a reescrita a PF-A No entanto selecionamos as produccedilotildees apenas dos que

participaram de todos os encontros que foram 13 (treze) alunos e que produziram a PF-A

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

Nuacutemero de alunos

Nuacutemero de alunos no 9ordm ano

Alunos regularmente frequentes

Alunos que produziram o texto para a professora-pesquisadora como audiecircncia

Alunos que produziram texto para circulaccedilatildeo social com audiecircncia real

89

No segundo momento visando a publicaccedilatildeo dos textos o nuacutemero de alunos

presentes caiu vertiginosamente finalizando o projeto de aplicaccedilatildeo da SD com 6 alunos

frequentes sendo que apenas 4 (quatro) produziram o texto para circulaccedilatildeo social constando a

PI-B e a PF-B Segundo os alunos da turma o fato de natildeo valer nota associado ao item do

termo de compromisso que diz que a qualquer momento o aluno poderia deixar de participar

sem qualquer prejuiacutezo fez com que alguns alunos deixassem de querer frequentar ldquoporque eu

natildeo gosto de escrever professorardquo acabando por ldquocontagiarrdquo outros alunos a querer sair mais

cedo da sala de aula abandonando assim o projeto aplicado ldquomas pelo menos a senhora jaacute tem

um texto natildeo eacuterdquo

Dessa forma totalizamos 26 (vinte e seis) textos analisados 2 (dois) de cada

participante na primeira parte e 4 (quatro) dos quatro alunos que tiveram seus textos publicados

no livro artesanal e na plataforma online

Graacutefico 5 ndash Participaccedilatildeo nas produccedilotildees

Fonte Produzido pela autora

Como vimos 13 (treze) alunos realizaram a PF-A e 4 (quatro) a PF-B Nosso

projeto de produccedilatildeo escrita de crocircnicas literaacuterias contou com 11 (onze) encontros efetivos num

total de 20 (vinte) horasaula A participaccedilatildeo da turma ocorreu da seguinte forma

0

5

10

15

20

PI-A PF-A PI-B PF-B

Participaccedilatildeo nas produccedilotildees

Produccedilatildeo a partir de instruccedilatildeo Produccedilatildeo para publicaccedilatildeo

90

Graacutefico 6 ndash Alunos presentes por encontro

Fonte Produzido pela autora

Quanto agrave participaccedilatildeo nos encontros nos quais desenvolvemos os moacutedulos a maior

participaccedilatildeo ocorreu no 1ordm (primeiro) e no 4ordm (quarto) encontros No 9ordm (nono) encontro tivemos

a menor quantidade de alunos O uacuteltimo encontro contou com 7 (sete) alunos

52 Anaacutelise da apropriaccedilatildeo de caracteriacutesticas do gecircnero crocircnica literaacuteria

Nosso objetivo com esta pesquisa foi de contribuir para o desenvolvimento da

competecircncia escrita dos alunos de 9ordm ano a partir da proposta da aplicaccedilatildeo de uma sequecircncia

didaacutetica para a produccedilatildeo de textos escritos em uma turma deste niacutevel utilizando para tal o

gecircnero crocircnica literaacuteria A sequecircncia foi desenvolvida no 2ordm semestre do ano letivo de 2017

Para verificar o desempenho dos alunos nos textos escritos antes e apoacutes a aplicaccedilatildeo

da SD buscando comprovar sua eficiecircncia como uma proposta para o ensino de produccedilatildeo de

textos e o desenvolvimento da competecircncia escrita dos alunos procedemos a anaacutelise do corpus

de produccedilotildees a fim de verificar se a construccedilatildeo do texto de alunos do 9ordm ano corresponde de

algum modo aos exemplos de crocircnicas apresentados na primeira parte da sequecircncia didaacutetica

Essa produccedilatildeo A corresponde ao trabalho com 13 alunos (como jaacute informado na

seccedilatildeo 4411) em 3 (trecircs) encontros com duraccedilatildeo de 6 (seis) horasaula e leitura de duas

crocircnicas ineacuteditas para os alunos (Manias e Pacto apoacutes morte) e atividades correspondentes e

mais a releitura de O chato da vez releitura da instruccedilatildeo e releitura das PI-A

0

5

10

15

20

25

30

35

40

Alunos presentes por encontro

Nordm de alunos

91

Nossa primeira parte da sequecircncia em que preparamos os alunos para a produccedilatildeo

do primeiro texto do gecircnero com um miacutenimo de caracteriacutesticas tratou de mostrar exemplos do

que se pode esperar em uma crocircnica fornecendo um miacutenimo de elementos para que atraveacutes de

uma abordagem imitativa os alunos fizessem o seu texto PI-A

Para a reescrita ou PF-A a fim de auxiliar nossos alunos fomos construindo ao

longo do periacuteodo de aplicaccedilatildeo das aulas um quadro autoavaliativo que resultou nos itens

expostos no quadro a seguir

Quadro 5 ndash Quadro autoavaliativo

Seu texto Sim Natildeo

Partiu de uma situaccedilatildeo observadavivida

Conversa com o leitor

Possui o foco narrativo bem determinado (narrador personagem ou

narrador observador)

Leva o leitor a refletir

Causa impressotildees no leitor como riso choro reflexatildeo emoccedilatildeo

satisfaccedilatildeo

Possui um final interessante

Mostra discretamente ao leitor seu ponto de vista a respeito da situaccedilatildeo

Possui alguma descriccedilatildeo de lugarobjetopersonagem

Possui um tiacutetulo

Apresenta os acontecimentos de forma clara

Emprega adequadamente os sinais de pontuaccedilatildeo

Evita repeticcedilatildeo desnecessaacuteria de palavras

Possui paraacutegrafos bem organizados

Fonte Elaborado pela autora

O quadro nasceu da observaccedilatildeo das caracteriacutesticas constantemente presentes em

produccedilotildees de alunos com os quais trabalhamos A proposta era que os integrantes do projeto

avaliassem os proacuteprios textos atentando para estes aspectos mais baacutesicos

Desta forma vamos proceder a anaacutelise com a observaccedilatildeo da apropriaccedilatildeo das

caracteriacutesticas trabalhadas do gecircnero crocircnica literaacuteria sob uma oacutetica do processo de produccedilatildeo

oferecendo uma abordagem imitativa de produccedilatildeo de textos nas produccedilotildees iniciais e finais A

de 13 (treze) alunos cuja identificaccedilatildeo estaacute no quadro a seguir

Quadro 6 ndash Identificaccedilatildeo dos textos A dos alunos

Identificaccedilatildeo textoautor Tiacutetulo PI Tiacutetulo PF

Ana Ser chato ou natildeo ser eis a

questatildeo

Ser chato ou natildeo ser eis a

questatildeo

92

Rodrigo Pare de se criticar

Eduardo O amigo muito e muito chato Ser legal natildeo eacute ser chato

Estela Os chatos de antematildeo O tio chato de galocha

Ceacutelia Chata sim ou natildeo Chata sim ou natildeo

Arlindo Chato e natildeo eacute chato Chato e natildeo eacute chato

Juacutelia Ser chato ou ser legal Pessoas chatas e pessoas

legais

Vicente Aacute pergunta eacute se eu

bloquearia uma pessoa chata

Graccedila Rafaelly chata Chata ela ou EU

Lilian Meus amigos chatos e Eu Pessoas legais e chatas

Heloiacutesa ldquoChato mais eacute muito legalrdquo ldquoO melhor chatordquo

Eliane Um pouco de tudo O que e chato e o que e legal

Joana Pessoas chatas e outras legal Pessoas otimas Fonte Produzido pela autora

Esses textos foram produzidos em sala na folha de produccedilatildeo textual proacutepria

elaborada para a SD de forma manuscrita e os originais A encontram-se nos anexos Na seccedilatildeo

a seguir mostraremos o panorama das anaacutelises

53 Os textos dos alunos

Esta seccedilatildeo traz os textos dos alunos produzidos em dois momentos O primeiro que

chamamos de texto A composto de produccedilatildeo inicial A e produccedilatildeo final A foi o texto produzido

na primeira parte de nossa sequecircncia didaacutetica que vai ateacute o moacutedulo 2 (dois) e que ficou restrito

apenas ao trabalho em sala de aula O segundo foi o texto B com produccedilatildeo inicial B e produccedilatildeo

final B cuja produccedilatildeo jaacute visava agrave circulaccedilatildeo social das produccedilotildees

531 Produccedilotildees A textos apenas para o trabalho em sala de aula

Quadro 7 ndash Produccedilatildeo inicial Ana ndash Tiacutetulo Ser chato ou natildeo ser eis a questatildeo

1 O ldquochato da vezrdquo esse texto fez eu refletir bastante

2 sobre esse negocio de chatisse sabe eu natildeo acho que

3 ser chato seja um defeito ou muito menos uma qua-

4 lidade de sabe de uma coisa Eu nem ao menos sei o

5 que eacute ser chato mas se algueacutem me perguntar diria que

6 ser chato eacute apenas falar de um assunto pode ser sobre ele

7 ou sobre mim mas se for falado isso pra mim muitas ve-

8 zes isso pra mim eacute pura chatice mas sabe eu natildeo tiraria

9 nem evitaria ningueacutem mesmo sendo aquela amiga que so

93

10 sabe falar que ta doente e reclamar de noites mal dormi-

11 das sempre ateacute porque eacute o jeito dela e cada um oferece o

12 que tem para oferecer eu natildeo fico puxando o saco delas

13 mas evito elas sempre que posso Ateacute porque seria uma

14 chatice evita-la ou qualquer um outro chato Fonte Dados da pesquisa

O texto foi composto por um paraacutegrafo apenas Percebe-se que Ana o criou

atendendo ao que a instruccedilatildeo da atividade requer criar um texto que possa inspirar reflexatildeo

Poreacutem a aluna natildeo exatamente conduz seu leitor a refletir Ela jaacute parte de uma constataccedilatildeo sobre

a qual ela mesma refletiu e expotildee no texto suas conclusotildees Natildeo narra uma situaccedilatildeo

vividaobservada mas elenca o que lhe parecem procederes chatos ldquomesmo sendo aquela amiga

que so sabe falar que ta doente e reclamar de noites mal dormidas semprerdquo (linhas 9 a 11) A

aluna natildeo usou a estrateacutegia de inserir personagens que transparecessem seu ponto de vista ao

leitor Construiu seu texto em primeira pessoa ao modo de ldquoO chato da vezrdquo e demonstrou que

tinha consciecircncia de que seu texto seria lido por uma audiecircncia visto que lanccedila perguntas para

confirmaccedilatildeo ldquosaberdquo (linha 1) ldquosabe de uma coisardquo (linha 4) embora essa audiecircncia natildeo

coadune com a instruccedilatildeo

Quadro 8 ndash Produccedilatildeo final Ana ndash Tiacutetulo Ser chato ou natildeo ser eis a questatildeo

1 ldquoO chato da vezrdquo Um texto muito interessante

2 que fez eu refletir sobre esse negocio de chatisse um

3 assunto que eu ja tinha pensado bastante mas cheguei a

4 conclusatildeo de que natildeo deve ser considerado um defeito nem

5 uma qualidade chato quero dizer mas deve ser um a

6 coisa que vocecirc deve ser controlada sabe as vezes eacute ne-

7 cessario ter um pouco de chatisse

8

9 Ser chato na minha opiniatildeo natildeo teria um signi-

10 ficado especifico seria vaacuterias coisas como falar apenas de

11 um assunto coisas repetitivas sabe natildeo saber aceitar o jeito

12 das pessoas ao seu redor ser chato eacute natildeo saber relevar e ser

13 legal eacute o oposto pois se eu falasse se eu falasse ago-

14 ra as caracteriacutesticas das pesso legal esse texto ficaria cha-

15 to ca entre nos Fonte Dados da pesquisa

O texto reescrito agora compotildee-se de dois paraacutegrafos embora no trabalho de

discussatildeo e reapresentaccedilatildeo da mesma proposta a instruccedilatildeo indique entre 3 (trecircs) e 6 (seis)

paraacutegrafos

94

Mais uma vez a aluna elaborou seu texto visando ao que a instruccedilatildeo da atividade

requer um texto que possa inspirar reflexatildeo sem conduzir exatamente seu leitor a refletir mas

expondo uma constataccedilatildeo sobre a qual ela mesma refletiu

O primeiro paraacutegrafo inicia com frases que lembram o gecircnero resenha ldquoO chato da

vezrdquo Um texto muito interessante que fez eu refletir sobre esse negocio de chatisse (linhas 1 e

2)

O segundo paraacutegrafo que ela inicia nos daacute a pista de que ela retorna ao quesito de

letra a da atividade 7 que tem por funccedilatildeo sensibilizar e conduzir o aluno a compreender a

instruccedilatildeo que vai se apresentar definitivamente a partir do quesito de letra c e perde de vista

que seu texto deve ser composto dentro das caracteriacutesticas do gecircnero crocircnica Em lugar disso

ela o compotildee expondo sua opiniatildeo o que tange um outro gecircnero

O texto possui tiacutetulo como na PI e faz uma referecircncia intertextual agrave famosa frase

de William Shakespeare Ser ou natildeo ser eis a questatildeo

Ainda como na PI a aluna natildeo narra uma situaccedilatildeo vividaobservada elencando

em vez disso o que foi considerado chato nas discussotildees que a turma fez para tentar definir o

que era ser legal e ser chato como falar apenas de um assunto coisas repetitivas sabe natildeo

saber aceitar o jeito das pessoas ao seu redor ser chato eacute natildeo saber relevar (linhas 10 a 12)

Mais uma vez a aluna natildeo usou a estrateacutegia de inserir personagens que

transparecessem seu ponto de vista ao leitor Construiu seu texto em primeira pessoa ao modo

de ldquoO chato da vezrdquo mas frases como sabe (linha 11) e ca entre nos (linha 15) mostram que

houve sim uma preocupaccedilatildeo em conversar com o leitor transparecendo sua percepccedilatildeo de uma

audiecircncia como presente no texto da instruccedilatildeo bem como ao longo das crocircnicas lidas foram

ressaltadas foacutermulas de conversas com o leitor

A autora desenvolveu pouco seu texto e ainda buscou abreviaacute-lo visto que ldquose eu

falasse agora as caracteriacutesticas das pesso legal esse texto ficaria chato ca entre nosrdquo (linhas

14 e 15)

Natildeo houve para antes da reescrita um texto na folha de rascunho Foi feita a

refacccedilatildeo do texto diretamente na folha de produccedilatildeo havendo ainda problemas com a ortografia

e a pontuaccedilatildeo

No entanto Ana depois de seguir com o projeto e apurar um pouco mais o olhar

segundo ela mesma pediu para que deacutessemos nova oportunidade de leitura pois ela havia feito

uma nova reescrita ao final dos moacutedulos Essa reescrita de Ana estaacute na seccedilatildeo seguinte apoacutes o

teacutermino de todos os moacutedulos

95

Quadro 9 ndash Produccedilatildeo inicial Rodrigo ndash Tiacutetulo Pare de se criticar

1 Bom pessoal primeiro quero que vocecircs entendatildeo o

2 verdadeiro significado de ser chato e ser legal

3 antes de tudo Natildeo levem nada pro lado pessoal apenas

4 entenda Vamos comeccedilar

5

6 Uma pessoa chata por exemplo ela eacute cheia de

7 nheacute nheacute nheacute mas nem todo mundo eacute chato depende

8 de quem te acha chato concerteza ela tambeacutem natildeo eacute

9 a pessoa mais legal triloca ou radical do mundo Se

10 ela te acha chato foudaci o que importa eacute vocecirc se

11 acha legal Ai Deus quem dera tivesse um

12 botatildeo pra silenciar pessoas chatas leitor estaacute me ente-

13 ndendo uma pessoa chata ela pode ser chata

14 pra vocecirc mas pra mim natildeo entatildeo vai lagar de se

15 achar chato Cara vocecirc eacute mocirc legal pra muitas

16 pessoas deixa de se alto criticar

17

18 Voltando ao assunto se vocecirc tivesse um

19 botatildeo pra bloquear uma pessoa que tipo de pessoa

20 vocecirc bloquearia eu particularmente bloquearia

21 essas pessoas chatas que natildeo saien do meu peacute

22 entatildeo era soacute isso Seja mais legal consigo

23 mesmo Fui

24

25 Fim

26 Joinha

27 LIKE Fonte Dados da pesquisa

Construiacutedo em 3 (trecircs) paraacutegrafos de efetivo conteuacutedo entre as linhas 1 e 23 o texto

desse aluno busca fortemente o contato com sua audiecircncia como se vecirc em diversos exemplos

ldquoBom pessoalrdquo (linha 1) ldquoquero que vocecircs entendatildeordquo [sic] (linha 1) ldquoleitorrdquo (linha 12) ldquoestaacute

me entendendordquo (linhas 12-13) ldquoCara vocecirc eacute mocirc legalrdquo (linha 15) se vocecirc tivesse um botatildeo

(linhas 18-19) Seja mais legal consigo mesmo (linhas 22-23) Esse contato eacute influenciado pelos

diaacutelogos mais proacuteximos da oralidade que se apresenta nos textos usados para sensibilizar e

inspirar a produccedilatildeo inicial e que eacute uma caracteriacutestica do gecircnero trabalhado

No entanto seu texto natildeo se caracteriza como gecircnero crocircnica Percebemos que

lembra muito um roteiro de fala para viacutedeo do youtube ndash e sim o aluno autor do texto eacute youtuber

e tem um canal O aluno termina seu texto com claras referecircncias agrave esfera do discurso online

em que se tem interaccedilatildeo direta com o leitor Joinha LIKE (linhas 26 e 27) bem como um

96

elemento visual associado a essa multimodalidade que a internet permite que eacute a matildeo com

polegar para cima (linha 25) conhecido como thumbs up ou no Brasil joinha usado para

expressar contentamento com o conteuacutedo escrito o que corresponde ao perfil de audiecircncia dado

na instruccedilatildeo

Rodrigo faz muito uso da palavra chato o que pode sobrecarregar o texto Poreacutem

e como veremos a seguir na produccedilatildeo B do mesmo aluno a repeticcedilatildeo segundo ele eacute

caracteriacutestica sua para ldquoreforccedilar que a pessoa eacute chata professorardquo Apesar disso natildeo houve

uma definiccedilatildeo mais bem detalhada do que eacute o chato como os que ldquonatildeo saien do meu peacuterdquo (linha

21)

Haacute uma referecircncia no texto agrave primeira leitura feita em sala antes da PI que foi o

texto Prova Falsa Nas linhas 6-7 pode-se ler ldquonheacute nheacute nheacuterdquo como definiccedilatildeo do que eacute uma

pessoa chata e que no texto do Stanislaw Ponte Preta aparece como ldquoDesses cachorrinhos de

raccedila cheio de nheacutem-nheacutem-nheacutem que comem comidinha especial precisam de muitos

cuidados enfim um chato de galochardquo Por natildeo portar o texto em matildeos na hora da produccedilatildeo

entendemos entatildeo que o aluno Rodrigo fixou o vocaacutebulo corrente na oralidade (nheacutem-nheacutem-

nheacutem) ao conceito (muito chato chato de galocha) causando um saldo positivo em sua escolha

Quadro 10 ndash Produccedilatildeo final Rodrigo ndash Tiacutetulo

1 bom dia boa tarde e boa noite depende

2 da hora em que estiver lendo isso

3 Hoje eu vou falar um pouco sobre pessoas

4 chatas e pessoas legais se estiver pronto vamos laacute

5

6 Primeiro reflita uma coisa vocecirc leitor se

7 considera chato Antes de dizer vocecirc precisa saber

8 a diferenccedila entre ser legal e ser chato vou explicar

9

10 Uma pessoa legal eacute aquela que sabe te

11 ouvir dar sua opiniatildeo na hora certa e saber

12 reconhecer seus erros mas chega um devido ponto

13 que vocecirc tenta ser tatildeo legal que chega a ser chata

14 mas existe uma diferenccedila entre essas duas coisas

15 estaacute entendendo leitor Suponhamos que exista

16 um botatildeo de bloquear pessoas igual aquele do

17 Whatsapp quem vocecirc bloquearia seus amigos

18 Seus familiares Seus colegas Ou as pessoas chatas

19 Hahahahaha jaacute sei a resposta entatildeo isso facilitaria

20 muito sua vida neacute

21

22 bom espero ter ajudado a saber a

97

23 diferenccedila entre essas duas coisas en em breve

24 farei outro texto para explicar um pouco

25 melhor valeu falou e fui

26

27 Fonte Dados da pesquisa

Nessa versatildeo de reescrita do texto vimos que o aluno natildeo colocou o tiacutetulo

Acreditamos que ele natildeo tenha lembrado visto que na PI foi atribuiacutedo um tiacutetulo a seu texto

Natildeo houve para antes da reescrita um texto na folha de rascunho O aluno afirmou

que gostava de desenhar e permitimos que ele fizesse o que lhe fosse mais confortaacutevel para

liberar a criatividade apoacutes a conversa com a turma em busca da compreensatildeo do que eacute ser legal

ou ser chato A refacccedilatildeo do texto foi feita diretamente na folha de produccedilatildeo havendo ainda

alguns problemas com a ortografia e a pontuaccedilatildeo poreacutem com bom uso das interrogaccedilotildees para

conduzir o leitor por seus questionamentos o autor buscou uma aprovaccedilatildeo para o tema que

expotildee

Natildeo houve neste texto a presenccedila da narraccedilatildeo de uma situaccedilatildeo vividaobservada

Rodrigo mencionou algumas situaccedilotildees discutidas na sala antes da reescrita que falavam sobre

o que eacute ser chato e o que eacute ser legal Na linha 19 houve uma quebra e expectativa pois o trecho

ldquoHahahahaha jaacute sei a respostardquo natildeo deixa claro realmente qual a resposta

Percebemos tambeacutem a utilizaccedilatildeo de siacutembolos em seu texto ao final Esse recurso

multimodal eacute caracteriacutestico da forma de interaccedilatildeo existente nas redes sociais e o aluno por

entender na instruccedilatildeo que o texto eacute direcionado a um leitor de sua idade e que lecirc e faz postagens

e comentaacuterios com frequecircncia empregou iacutecones de maneira natural em seu texto Entendemos

aqui que ele considerou a audiecircncia determinada na instruccedilatildeo

Quadro 11 ndash Produccedilatildeo inicial Eduardo ndashTiacutetulo O amigo muito e muito chato

1 Nossa meus amigos satildeo chatos

2 ou seraacute que eacute eu mesmo que sou

3 completamente chato Natildeo sei mas se

4 sou o que eu faccedilo de errado pra ser chato

5

6 Tive uma amizade que era muito

7 bacana uma convivencia boa para se

8 viver mas passando alguns tempo

9

10 Ficou absurdamente chato ficou

11 muito muito muito chata vivia na

98

12 minha casa Iria conpletamente na minha

13 casa nas horas enproprias era chato

14

15 Mas um dia fiquei dando indiretas

16 para ele dizendo ldquoQue mamatildee mandou arruma

17 a casardquo essa coisas assim

18

19 Um dia disse para ele ldquoTou meio

20 oculpadordquo ai ele disse ldquoVocecirc eacute muito chatordquo

21 e saiu de casa sem olhar para traacutes

22

23 Mas ai ele foi que ficou mais chato

24 ainda Tocava a campainha de casa e

25 saia correndo

26

27 Se desse de broqueiar ele na vida

28 real eu broqueiava Vocecirc faria o mesmo

29 leitor Fonte Dados da pesquisa

A PI apresenta o ponto de vista do autor sobre o que eacute ser chato ldquovivia na minha

casa Iria completamente na minha casa nas horas enproprias era chatordquo (linhas 11-13) poreacutem

natildeo explicita o que eacute ser legal deixando essa lacuna para o leitor Apesar disso EDUARDO

parte de uma situaccedilatildeo vividaobservada que era essa relaccedilatildeo com seu amigo

O texto estaacute organizado em 7 (sete) paraacutegrafos No entanto o 2ordm e o 3ordm paraacutegrafos

poderiam estar unidos pela temaacutetica14 assim como o 5ordm e o 6ordm paraacutegrafos O uso do conectivo

mas foi inadequadamente empregado no 4ordm paraacutegrafo (Mas um dia fiquei dando indiretas para

ele) (linhas 15-16) A repeticcedilatildeo da expressatildeo temporal um dia no iniacutecio do 4ordm e do 5ordm paraacutegrafos

sucessivamente natildeo permite claramente ao leitor saber se as situaccedilotildees aconteceram no mesmo

dia ou em dias distintos

Percebemos o emprego da 1ordf pessoa como a voz que fala no texto um narrador-

personagem que se comunica tanto com outro personagem por meio de discurso indireto livre

(ai ele disse ldquoVocecirc eacute muito chatordquo) (linha 20) quanto com o leitor ldquoVocecirc faria o mesmo leitorrdquo

(linhas 28-29) demonstrando consciecircncia de que existe uma audiecircncia e embora natildeo mostre

claros exemplos ainda assim atende agrave instruccedilatildeo de que essa mesma audiecircncia deve ser um

puacuteblico que estaacute antenado nas redes sociais ldquoSe desse de broqueiar ele na vida real eu

broqueiavardquo (linhas 27-28)

14 Cf seccedilatildeo Escrita na escola

99

Quadro 12 ndash Produccedilatildeo final Eduardo ndashTiacutetulo Ser legal natildeo eacute ser chato

1 Ser legal eacute oacutetimo mas vocecirc

2 pode esta achando que taacute sendo

3 muito legal mas a pessoa

4 que vocecirc ta sendo legal natildeo

5 pode ta achando vocecirc muito legal

6 mas sim chato

7

8 Vocecirc indo na casa do seu

9 amigo toda hora pode ser legal

10 para ele mas para seu amigo natildeo

11

12 Coisas demais natildeo eacute tatildeo

13 legal E vocecirc leitor tem alguma

14 coisa engual a isso

15

16 LEGAL X CHATO

Fonte Dados da pesquisa

Nessa reescrita do texto apoacutes as sugestotildees percebemos que o aluno fez natildeo uma

nova versatildeo do primeiro texto mas uma resposta agraves discussotildees realizadas na sala antes do

momento de escrita Pedimos ao grupo como um todo que levasse em conta o que eacute ser legal

e o que eacute ser chato e desses exemplos praacuteticos partindo de situaccedilotildees vividasobservadas

Enquanto a professora-pesquisadora atendia outros alunos que natildeo haviam compreendido

claramente as sugestotildees dadas agraves suas PI o aluno Estela elaborou 3 (trecircs) paraacutegrafos que

condensam sua situaccedilatildeo descrita na PI natildeo utilizando diaacutelogos nem personagens apesar de

ainda se dirigir ao leitor (ldquoE vocecirc leitorrdquo) (linha 13) Houve uma perda da qualidade do texto

por causa de uma provaacutevel falta de compreensatildeo da tarefa a ser realizada na sala

Quadro 13 ndash Produccedilatildeo inicial Estela ndash Tiacutetulo Os chatos de antematildeo

1 Certo dia observei dois amigos conversando

2 Marcelo e Camila quase todos os dias Marcelo

3 e Camila quase todos os dias eles ldquobrigavamrdquo

4 ficavam de ldquomalrdquo como os jovens de hoje falam

5

6 O motivo dessas brigas era apenas pelo fato

7 de Marcelo dizer a Camila que ela era uma

8 chata e ela como todos os ldquochatosrdquo natildeo

100

9 admitiam ser chatos neacute

10

11 E vocecirc se por acaso algueacutem chamaacute-lo de chato

12 O que vocecirc faria

13

14 Eu natildeo era muito ldquoamigardquo deles mas na real

15 dava uma vontade de chegar e dizer-lhes ldquo

16 Por favor natildeo sejam tatildeo ridiacuteculos os dois

17 satildeo uns chatosrdquo

18

19 Mas como eacute errado intrometer-se nas conversas

20 dos outros resolvi natildeo dizer nada

21

22 Passaram-se semanas e eles sempre continuavam

23 com isso

24

25 Entatildeo resolvi fazer algo para que evitasse

26 essas ldquobrigasrdquo cotidianas

27

28 Natildeo falei nada pessoalmente mas sim por uma

29 rede social e mandei a seguinte mensagem

30

31 ldquoDesculpe-me por intrometer-me na amizade

32 entre vocecirc e Marcelo mas essa chatice que

33 haacute entre vocecirc e seu amigo estaacute me incomoda-

34 do aacute dias Pelo fato de vocecirc e seu amigo

35 ficarem pegando no peacute um do outro na

36 minha opiniatildeo vocecircs deveriam conversar

37 civilizadamente e aceitarem uns aos outros

38 da maneira que vocecircs satildeo E soacute issordquo

39

40 Dias depois dessa conversa observei-os aten-

41 tamente e percebi que havia uma grande diferenccedila

42 entre eles na qual eles estavam interagindo

43 se entendendo se aceitando

44

45 E entatildeo os dois aproximaram-se de mim e

46 agradeceram pelo conselho

47

48 Fiquei super feliz de tecirc-los ajudados

49 Na minha opiniatildeo chatice eacute algo que a

50 pessoa tem de natureza um certo

51 estado de espiacuterito

52

53 E se isso natildeo resolvesse tentaria bloqueaacute-

54 -los tentaria parar de dar atenccedilatildeo graccedilas

55 a Deus eles pararam

56

101

57 Ufa Pelo menos no final eles foram legais uns com os outros

58

59 Fim Fonte Dados da pesquisa

Apresentando-se como a mais extensa das produccedilotildees iniciais esta PI possui 14

(quatorze) paraacutegrafos Alguns poderiam ser condensados de modo a deixar as ideias agrupadas

(o 4ordm e o 5ordm o 6ordm o 7ordm e o 8ordm) Ou entatildeo poderia ter havido nova reescrita de alguns periacuteodos de

modo a condensar as informaccedilotildees Poreacutem para tal lembramos Serafini (2003) que afirma que

para escritores inexperientes essa estrateacutegia de periacuteodos mais curtos ajuda melhor a organizar

o pensamento Essa aluna produziu um rascunho antes de passar a limpo para a folha de

produccedilatildeo textual oficial

Demonstrando certo domiacutenio no uso dos pronomes pessoais obliacutequos como se pode

ver em diversos exemplos ao longo do texto ldquochamaacute-lordquo (linha11) ldquoe dizer-lhesrdquo (linha 15)

ldquoeacute errado intrometer-serdquo (linha 19) fez um emprego inadequado quando usou de pronome

relativo (na qual) (linha 42) possivelmente tentando o registro culto da liacutengua

Nesse texto se percebe o uso do discurso indireto (ldquoE entatildeo os dois aproximaram-

se de mim e agradeceram pelo conselhordquo) (linhas 45-46) As marcas de conversa com o leitor

podem ser vista em ldquoneacuterdquo (linha 9) e ldquoE vocecirc se por acaso algueacutem chamaacute-lo de chato O que

vocecirc fariardquo (linhas 11-12 A autora assume um ponto de vista e narra para uma audiecircncia

correspondendo ao requisitado na instruccedilatildeo

Como a instruccedilatildeo de produccedilatildeo determina o perfil do leitor como sendo um

adolescente que acessa redes sociais a autora coloca como soluccedilatildeo ao conflito de constantes

brigas entre o casal de amigos adolescente o envio de uma mensagem por rede social falando

inclusive que os bloquearia caso continuassem chatos O texto assemelha-se a um conto

inclusive pela forma como a autora encerra seu texto ldquoFimrdquo (linha 59) Quanto a despertar no

leitor uma reflexatildeo podemos dizer que A4 estaacute no caminho e que um trabalho mais detido

sobre esse texto poderia melhorar a qualidade dessa reflexatildeo

Quadro 14 ndash Produccedilatildeo final Estela ndashTiacutetulo O tio chato de galocha

1 As feacuterias chegaram e como em todas as feacuteria-

2 s eu partia em uma ldquoincriacutevel aventurardquo (pra

3 natildeo dizer o contraacuterio) a casa dos meus

4 tios na qual eacute um verdadeiro desastre

5 Ter que acordar com o ldquocantar dos galosrdquo

6 como dizem os mais velhos em clima de

102

7 discussatildeo affseacute uma verdadeira cha-

8 tice eu odiava ter que estragar minhas

9 maravilhosas feacuterias convivendo com eles

10 Eles discutiam ateacute pelo simples fato de cair

11 farelos de comida no chatildeo eu odiavaaa

12 E vocecirc leitor aguentaria toda essa chatice

13

14 O que vocecirc faria em relaccedilatildeo a essa situaccedilatildeo

15

16 Jaacute haviam se passado mais da metade das

17 feacuterias eu estava orando agrave Deus para que

18 esses dias infernais ao lado dos meus ti-

19 os acabassem e tambeacutem que titio Luiacutes

20 parasse de reclamar por eu comer muito

21 e parar de ficar assistindo programas

22 ateacute tarde da noite eu achava um exagero

23 eacute oacutebvio pois eram ldquofeacuteriasrdquo e nas feacuterias

24 acostumamos ficar distantes de tarefas

25 escolares de tudo que nos lembrar a

26 escola (rsrsrs)

27

28 O meu tio tambeacutem dizia que eu precisa-

29 va de educaccedilatildeo que os meus pais natildeo

30 me educaram adequadamentee eu natildeo

31 podia resmungar porque se meus pais

32 soubessem que me comportei mau eu iria

33 ficar ferrado E entatildeo mais dias infernais

34 se passaram e graccedilas a Deus as feacuterias

35 terminaram e natildeo tive mas que ver

36 presenciar aquele meu chato e insupor-

37 taacutevel tio

38

39 Pra mim ser chato e ser legal eacute

40 Ser legal Ser chato

41 Saber ouvir Criticar os outros

42 Dar comida Reclamar de tudo

43 Ser sincera Daacute importacircncia demais ao que dizem

44 Ter bom coraccedilatildeo Ser falso

45 Ajudar as pessoas Ser preconceituoso

46 Aceitar diferenccedilas

47

48 E o que vocecircs leitores acham o que

49 eacute ser ou natildeo legal Fonte Dados da pesquisa

Concentrada em 6 (seis) paraacutegrafos a reescrita ganhou alguns pontos mais

interessantes para se aproximar da crocircnica literaacuteria Partiu de uma situaccedilatildeo vivenciada

103

conduziu o leitor a compreender seu ponto de vista sobre o que era ser chato No entanto o

texto se distanciou da proposta da instruccedilatildeo no sentido de falar tambeacutem o que eacute legal natildeo

somente chato e lembrar do botatildeo de bloqueio da vida real

O 5ordm paraacutegrafo se tornou uma enumeraccedilatildeo das caracteriacutesticas do ser legal e ser chato

e deixou de narrar ou descrever uma situaccedilatildeo ou personagem

Uma caracteriacutestica da linguagem coloquial encontrada foi o uso da expressatildeo ldquoTer

que acordar com o lsquocantar dos galosrsquo como dizem os mais velhosrdquo (linhas 5-6) atribuindo a

frase agrave sabedoria popular Outras marcas tiacutepicas de coloquialidade utilizadas inclusive em meio

digital nos bate-papos foram a escrita de expressotildees com notaccedilotildees como ldquoaffsrdquo (linha 7)

para demonstrar aborrecimento ldquoodiavaaardquo (linha 11) estendendo as vogais para mostrar a

insatisfaccedilatildeo prolongada o frequente uso de aspas para indicar ironia ldquoeu partia em uma lsquoincriacutevel

aventurarsquordquo seguido de uma explicaccedilatildeo entre parecircnteses

Nessa produccedilatildeo a aluna tambeacutem natildeo empregou adequadamente o pronome relativo

ldquona qual eacute um verdadeiro desastrerdquo como se vecirc na linha 4

Quadro 15 ndash Produccedilatildeo inicial Ceacutelia ndashTiacutetulo Chata sim ou natildeo

1 Um dia uma amiga minha me pergun-

2 tou ndash Eu sou chata Responde ndash Sim as vezes

3 Mas o problema foi que ela natildeo aceitou a

4 verdade e saiu furiosa comigo

5

6 Mas me responde leitor se algueacutem viesse

7 te pergunta se ela eram chata o que vocecirc

8 responderia O problema e que nem todos

9 gostam de escuta a verdade

10

11 Aconteceu que um dia um colega disse

12 que eu era chata no comeccedilo fiquei com

13 um pouco de raiva Mas passou por que

14 parei eacute pensei e verdade sou chata Mas

15 mesmo assim sedo chata sim ou natildeo

16 a reciacuteproca era verdadeira

17

18 Chata sim ou natildeo uma pergunta que

19 eu mesmo me fiz vou acabar por aqui

20 antes que eu comece a fica chata de

21 vez Fonte Dados da pesquisa

104

O texto foi composto em 4 (quatro) paraacutegrafos atendendo agrave instruccedilatildeo A voz que

narra estaacute em 1ordf pessoa e dialoga diretamente com um personagem (linhas 1 e 2) Haacute um contato

direto com o leitor atraveacutes de frases como ldquoMas me responde leitorrdquo (linha 6) e ldquoO que vocecirc

responderiardquo (linhas 7-8)

A autora parte de uma situaccedilatildeo vividaobservada ndash na verdade haacute mais de uma

situaccedilatildeo ndash como vemos em ldquoUm dia uma amiga minha me perguntourdquo (linhas 1-2) e ldquoAconteceu

que um dia um colega disse que eu era chatardquo (linhas 11-12) No entanto natildeo segue a proposta

da instruccedilatildeo que eacute falar sobre o que eacute ser legal e ser chato Natildeo haacute exemplificaccedilotildees para que o

leitor entenda o ponto de vista da autora apenas situaccedilotildees em que disseram que ela e chata ou

sua amiga eacute chata Natildeo haacute tambeacutem menccedilatildeo ao ldquobloqueiordquo da vida real aos que satildeo chatos

Haacute alguns problemas quanto agrave ortografia e tambeacutem confusatildeo quanto ao emprego

dos sinais de pontuaccedilatildeo adequados

Quadro 16 ndash Produccedilatildeo final Ceacutelia ndash Tiacutetulo Chata sim ou natildeo

1 Um dia uma amiga minha me per-

2 guntou ndash Eu sou muito chata Responde ndash Sim

3 as vezes Mas o problema foi que ela natildeo

4 gostou de sabe em saiu furiosa comigo e

5 natildeo deixo eu termina de falar

6

7 Mas outro dia ela veio para me pedi des-

8 culpas eacute eu disse ndash natildeo precisa eacute como eu dizia

9 vocecirc e chata mais as vezes quando vocecirc natildeo

10 falando demais ou falando coisas se graccedila Eacute

11 ela disse ndash Eacute mesmo eacute sorriu

12

13 Mas me responde leitor se algueacutem viesse te

14 pergunta se ela era chata o que vocecircs respon-

15 deria O problema eacute que nem todos gostam de es-

16 cuta a verdade

17

18 Aconteceu que um dia um colega disse

19 que eu era chata no comeccedilo fiquei com um

20 pouco de raiva Mas passou porque parei eacute

21 pensei e verdade sou chata Mais mesmo assim

22 sedo chata sim ou natildeo a reciacuteproca era

23 verdadeira

24

25 Chata sim ou natildeo uma pergunta que

26 eu mesmo me fiz bom vou parar por aqui

27 antes que eu comece a fica chata de vez Fonte Dados da pesquisa

105

O texto reescrito foi composto em 5 (cinco) paraacutegrafos o que estaacute dentro do

previsto pela instruccedilatildeo Alguns problemas quanto agrave ortografia e tambeacutem confusatildeo quanto ao

emprego dos sinais de pontuaccedilatildeo adequados permaneceram como em ldquoUm dia minha amiga

me perguntou ndash Eu sou muito chatardquo em que foi feito uso de exclamaccedilatildeo em vez de

interrogaccedilatildeo

Foi mantida a voz que narra (1ordf pessoa) e o diaacutelogo com um personagem ndash a amiga

(linhas 1 e 2) se faz em forma de discurso direto embora natildeo devidamente paragrafado poreacutem

fazendo uso de travessotildees o que eacute um avanccedilo

O segundo paraacutegrafo (linhas 7 a 11) foi inserido a partir da sugestatildeo que fizemos

para a aluna Era interessante que ela acrescentasse em seu texto algo que exemplificasse o que

ela considera como ser legal e ser chato Atendendo agrave sugestatildeo a aluna mostra discretamente

seu ponto de vista na frase ldquovocecirc e chata mais as vezes quando vocecirc natildeo falando demais ou

falando coisas se graccedilardquo (linhas 9-10)

O contato direto com o leitor permanece como na PI atraveacutes de frases como ldquoMas

me responde leitorrdquo (linha 13) ndash cuja pontuaccedilatildeo nessa reescrita foi melhorada pela sugestatildeo ndash

e ldquoO que vocecirc responderiardquo (linhas 14-15) Natildeo foi atendida a instruccedilatildeo no tocante ao botatildeo

de bloqueio na vida real

A autora emprega em seu texto a frase ldquobom vou parar por aquirdquo (linha 26)

caracteriacutestica de uma conversa informal Esse uso da oralidade como em conversas eacute marca do

gecircnero crocircnica

Quadro 17 ndash Produccedilatildeo inicial Arlindo ndash Tiacutetulo Chato e natildeo eacute chato

1 Eu natildeo gosto daquela pessoa que

2 jaacute chegada pensando que jaacute pode falar

3 todo que pensa pra mim as pessoas

4 que pega celular para falar besteira nas

5 redes sociais essas pessoas eu natildeo gosto

6

7 agora aquelas pessoas que satildeo bem

8 calmas nas redes sociais ai eu gosto

9 por que sabem conversar saber puxar

10 intimidade fazem a gente rir e noacutes nos

11 trazem conforto e nos fazem saber que

12 a pessoa com quem a gente conversar

13 natildeo eacute uma maacute pessoa Eacute muito

14 bem amigo nos faz feliz

15

106

16 agora as pessoas que eu bloqueio

17 satildeo aquelas pessoas que natildeo sabem

18 conversar falatildeo de qualquer jeito

19 puxa assunto que eu natildeo gosto

20 por isso eu bloqueio essas pessoas

21 redes sociais eacute pra procurar

22 amigo e ais vezes eacute pra respeitar Fonte Dados da pesquisa

Ao ler o texto de Arlindo vemos que ele trata do assunto pedido na instruccedilatildeo e tem

em mente a audiecircncia pretendida que acessa redes sociais No entanto natildeo alcanccedila o leitor

envolvendo-o na conversa narrando-lhe as situaccedilotildees apenas elenca as situaccedilotildees que lhe satildeo de

agrado e desagrado mostrando o que para ele eacute ser chato e ser legal

Os trecircs paraacutegrafos que compotildeem o texto se organizam de modo a mostrar o que o

autor natildeo gosta o que gosta e o porquecirc de bloquear pessoas ndash mas na rede social natildeo fazendo

o comparativo com a vida real

Quadro 18 ndash Produccedilatildeo final Arlindo ndash Tiacutetulo Chato e natildeo eacute chato

1 Chato eacute uma pessoa botar besteira

2 no Facebook Por que isso eacute muito chato e

3 horriacutevel todo mundo ver vai laacute e comentar

4 mal do video ser legal eacute aquela pessoa que

5 vai laacute na casa da pessoa te daacute presente

6 sem vocecirc pedir nada sem vocecirc falar nada

7 no final soacute agradecer e ser feliz com o presente e

8 depois no outro dia soacute retribuir

9

10 Meu caro amigo legal e chato eacute

11 ser como uma pedra ajuda a parar o

12 tracircnsito e depois eacute chato porque as

13 pessoas tropeccedilam nelas e meus irmatildeos

14 legal e chato satildeo quase a mesma coisa

15 soacute que satildeo meios diferentes eu vou te

16 explicar

17 Ser chato eacute coisa possiacutevel e ser legal eacute

18 coisa quase impossiacutevel Fonte Dados da pesquisa

O aluno Arlindo manteve seu tiacutetulo e percebemos que a explicaccedilatildeo para o mesmo

seria transmitir a ideia de ldquochato e natildeo chatordquo ndash ou legal O verbo ser que aparece no tiacutetulo

como eacute deveria ter sido empregado de outra maneira como quando sugerimos ldquoEacute chato e natildeo

107

eacute chatordquo ou ldquoO que eacute chato e o que natildeo eacute chatordquo ou ldquoChato e legalrdquo No rascunho que Arlindo

fez ele empregou como tiacutetulo provisoacuterio ldquoO que eacute chato e o que eacute legalrdquo Poreacutem na hora de

passar a limpo e entregar permaneceu o tiacutetulo original

O autor Arlindo manteve seu foco nas redes sociais como indica a instruccedilatildeo e

amplia um pouco as ideias a partir das discussotildees que aconteceram na aula durante a

tempestade de ideias a fim de redespertar o olhar dos alunos para partirem de situaccedilotildees

vividasobservadas Nas linhas de 10 a 13 ele faz uma comparaccedilatildeo com a pedra fruto da

discussatildeo preacutevia Dependendo do ponto de vista a pedra pode ajudar bem como pode

atrapalhar Poreacutem nas linhas 15 e 16 Arlindo fica de explicar o porquecirc de ser chato e ser legal

serem quase a mesma coisa e termina o texto abruptamente sem desenvolver suas ideias

Houve uma evoluccedilatildeo no tocante agrave conversa com o leitor Embora Arlindo natildeo tenha

claro se sua audiecircncia eacute uma pessoa soacute (linha 10 Meu caro amigo) ou um grupo de pessoas

(linha 13 e meus irmatildeos linhas 15 e 16 eu vou te explicar) ele jaacute a chama a prestar atenccedilatildeo

no que estaacute se propondo a dizer em seu texto

Quadro 19 ndash Produccedilatildeo inicial Juacutelia ndash Tiacutetulo Ser chato ou ser legal

1 Ai meu Deus tou de saco cheio de tantos amigos

2 chatos eles ficam com chatice toda hora

3 se na vida tivesse um botatildeo para bloquear

4 as pessoas chatas seria otimo pelomenos

5

6 Eu ficaria com menos pessoas chatas ao

7 meu redor Ai soacute ficaria as pessoas

8 legais

9

10 Eu chamo meus amigos de chatos mais

11 eu gosto deles assim mesmo Eu chamo

12 meus amigos de chatos e eles me chamam

13 de chata tambeacutem e se existisse o botatildeo

14 de bloquear Eu ia ser bloqueada tambeacutem

15 Mesmo se existisse o botatildeo muitas pessoas

16 iam mudar de comportamento eles iriam

17 querer ser legais para natildeo serem bloque-

18 ados Eu mesma ia mudar de atitudes

19 com meus amigos Eu natildeo ia mais

20 ser chata como vaacuterias pessoas me

21 chama Fonte Dados da pesquisa

108

Na linha 1 vemos que a aluna utilizou a expressatildeo Ai meu Deus retirada do texto

trabalhado e que daacute suporte agrave instruccedilatildeo A aluna faz uso da linguagem coloquial na mesma linha

(tou de saco cheio) caracteriacutestica permitida na abordagem de nossas crocircnicas literaacuterias

Eacute interessante perceber que Juacutelia apoacutes se avaliar como chata faz uma reflexatildeo

(linhas 13-14 ldquoe se existisse o botatildeo de bloquear Eu ia ser bloqueada tambeacutemrdquo) E trata da

questatildeo falando de possiacuteveis alteraccedilotildees no comportamento das pessoas incluindo o seu proacuteprio

No entanto apesar de ela levantar essa reflexatildeo natildeo a direciona diretamente ao leitor poreacutem

tem em mente mesmo que superficialmente que sua audiecircncia estaacute nos paracircmetros indicados

pela instruccedilatildeo visto que menciona o botatildeo de bloquear caracteriacutestico de ambientes virtuais

sendo conhecido portanto de pessoas que tecircm acesso ao mundo digital

Quadro 20 ndash Produccedilatildeo final Juacutelia ndash Tiacutetulo Pessoas chatas e pessoas legais

1 Como existem pessoas chatas que ficam

2 dando bola para o que as pessoas falam

3 fica reclamando da vida e tambeacutem quer tudo

4 do seu jeito Natildeo daacute certo ser amiga desse

5 tipo de pessoa

6

7 Prefiro aqueles amigos que sabe lidar

8 comigo que datildeo carinho e que natildeo fique

9 reclamando de tudo e que natildeo sabe relevar

10 os problemas como se nada tivesse acontecendo

11

12 Eu gosto daquelas pessoas que chamam os

13 amigos para um passeio isso sim eacute ser

14 legal tem alguns tipos de amigos que fazem

15 de tudo pra ver seus amigos felizes

16

17 existem alguns amigos que falam

18 com vocecirc uma hora e depois taacute falando

19 mal de vocecirc esse tipo de pessoa faz isso

20 porque eacute falso e tem inveja soacute porque

21 vocecirc eacute feliz com seus amigos e ele (a)

22 natildeo

23

24 e vocecirc leitor Vocecirc eacute chato ou legal

25 Eu tenho poucos amigos mas os que

26 tenho satildeo os melhores

27

28 as pessoas gostam de vocecirc como

29 vocecirc eacute ou natildeo

30

31 Existem ateacute aquele tipo de pessoa

109

32 que humilha as pessoas nas redes

33 sociais pessoas que fazem bullying

34 com outras pessoas esse tipo de pessoa

35 satildeo muito chatas Fonte Dados da pesquisa

A aluna produziu sua nova versatildeo de texto sobre as discussotildees em sala de aula que

antecederam esse momento da reescrita Os alunos determinaram exemplos do que seria ser

legal e ser chato e ela os aproveitou na enumeraccedilatildeo em seu texto No entanto de alguma forma

Juacutelia imprimiu sua reflexatildeo pessoal sobre o que eacute legal e o que eacute chato Nas linhas 1-5 ela afirma

o quatildeo difiacutecil eacute ser amiga de pessoas que atribuem muita importacircncia ao que outras pessoas

dizem que ficam reclamando da vida e tambeacutem querem tudo do seu jeito Nas linhas 7-10 e

12-15 ela explicita suas preferecircncias por pessoas que considera legais e exemplifica Nas linhas

17-22 Juacutelia diz que tipo de pessoas satildeo chatas novamente

Poreacutem o que parece ter acontecido eacute que Juacutelia natildeo teria ainda compreendido que

era para partir de uma experiecircncia vivida ou observada aprofundando-se um pouco mais na

narrativa

Ao todo o texto comporta agora 7 paraacutegrafos que poderiam ter sido mais bem

organizados Nas linhas 24-29 A7 aborda sua audiecircncia diretamente tratando-a por vocecirc

lanccedilando-lhe perguntas Esse seria o momento em que o texto acabaria poreacutem convidada a

reler mais uma vez a autora percebeu que natildeo abordou a proposta da instruccedilatildeo que era bloquear

os chatos da vida real nem havia tambeacutem abordado questotildees tocantes agraves redes sociais

finalizando portanto com um paraacutegrafo que fizesse o resgate ainda a tempo mesmo que

perdendo um pouco do ritmo do texto

Quadro 21 ndash Produccedilatildeo inicial Vicente ndash Tiacutetulo A pergunta eacute se eu bloquearia uma pessoa chata

1 Bom gente vocecirc bloquearia uma pessoa

2 chata que bertuba-se voccedilecirc nas redes

3 sociais

4

5 A pergunta eacute se eu bloquearia uma pess-

6 oa chata ovio que sim por que Por que

7 se eu natildeo bloqueaccedile essa pessoa ia ficar

8 mim perturbandando ai eu ia ficar com

9 muita raiva ai eu ia falar aquelas coisas

10 maeducada como xingar fala coisas que natildeo

11 pode falar porisso eu bloquei essa pessoa

12 ai ateacute que foi bom bloquear essa pessoa

110

13 por que ela natildeo ia ficar mim perturbando natildeo

14 ia ficar falando como tomar certas liberdades

15 mas chegou uma hora que natildeo deu bloquei o

16 sujeito Estava chato demais Xxxx

17

18 Uma pessoa chata eu sou uma pessoa

19 chata por que quando eu estou no whats

20 natildeo tem nenhuma pessoa olaine eu fico man-

21 dando mensagens pra essas pessoa ai essa pes-

22 soas natildeo gosta e fala que eu sou chato triste

23 neacute kkkk Fonte Dados da pesquisa

Parece-nos que Vicente tem por meacutetodo iniciar a escrita de seu texto respondendo

diretamente agrave pergunta que foi feita na instruccedilatildeo e fazendo disso seu tiacutetulo inclusive Serafini

(2003 p 71) chama a esse tipo de paraacutegrafo de introduccedilatildeo-enquadramento (cf na seccedilatildeo sobre

escrita) O texto inteiro possui 3 (trecircs) paraacutegrafos

Nas linhas 14 a 16 vemos que houve coacutepia de excertos do texto motivador O chato

da vez (ldquotomar certas liberdadesrdquo ldquomas chegou uma hora que natildeo deurdquo ldquobloquei o sujeito

Estava chato demaisrdquo)

No iniacutecio do texto logo nas linhas 1-2 Vicente tem em mente uma audiecircncia como

vemos em ldquoBom gente vocecirc bloquearia uma pessoa chata que bertuba-se voccedilecirc nas redes

sociaisrdquo Poreacutem o aluno natildeo define se vai falar a um grupo (gente) ou a uma pessoa soacute (vocecirc)

Para atender agrave instruccedilatildeo Vicente trata de situaccedilotildees vividas em ambiente online quando se

refere ao aplicativo de interaccedilatildeo (linha 19 ldquoquando eu estou no whatsrdquo) fala do envio de

mensagens e traz um elemento multimodal ao final de seu texto (linha 23 ldquokkkkrdquo) que

caracteriza a gargalhada frequentemente usada em conversas online

Quadro 22 ndash Produccedilatildeo final Vicente ndash Tiacutetulo

1 Bom uma pessoa legal eacute ter paciensia

2 criativa uma pessoa legal animada inteligente

3 adoraveu feliz simpatica bom humor natildeo ser

4 groseiro com as pessoas simpatica conversar com

5 as pessoas legal

6

7 Ser chato Eacute uma pessoa que faz varias

8 perguntas como quando onde que horas etc

9 ser chato e pegar no peacute de varias pessoas e ser

10 ensorportavel pessoas chatas deveriam refletir

11 sobre a paciecircncias das outras pessoas uma

111

12 pessoa que tem pouca paciecircncia e bem

13 difiacutecil conviver com uma pessoa chata

14

15 Um chato ser legal e muito estranho

16 para queacutem conhece uma pessoa chata e bem

17 dificil ele ser legal soacute se acontecer aguma

18 coisa para ele ser legal um dia uma meni-

19 na ficou fazendo vaacuterias perguntas sobre a minha

20 vida natildeo gostava das perguntas que ela fazia

21 e falei coisa que natildeo devia no outro dia eu notei

22 o comportamento dela estava estranho tipo compor-

23 tada legal uma pessoal de bom humor natildeo parecia

24 com ela estava estranha e foi indo assim

25 e ela veio falar com migo e nunca mais per aquelas

26 perguntas hoje ela eacute legal gostei dela ter

27 mudado natildeo soacute eu mas muitas pessoas Fonte Dados da pesquisa

Vicente iniciou seu texto reescrito apoacutes as discussotildees em sala retirando a pergunta

direta que fazia para inspirar-se para comeccedilar e passando a uma conclusatildeo direta (linha 1

ldquoBomrdquo) sobre as caracteriacutesticas de uma pessoa legal seguindo a isso um paraacutegrafo do que eacute ser

chato Apesar de o texto ter perdido em atratividade em seu iniacutecio Vicente atendeu agrave sugestatildeo

que fizemos quando pedimos que ele mencionasse uma situaccedilatildeo que tivesse

vivenciadoobservado

No entanto perdeu de vista a instruccedilatildeo uma audiecircncia que acesse as redes sociais

a questatildeo do bloquear na vida real o contato direcionado ao leitor

Quadro 23 ndash Produccedilatildeo inicial Graccedila ndash Tiacutetulo Rafaelly chata

1 Eu quero bloqueia essa

2 pessoa porque primeiramente

3 ela natildeo tem nem celula

4 entatildeo neste caso natildeo da pra bloqueia

5 ela As vezes essa pessoa ela e

6 um pouco chata fresca e sem

7 graccedila com todo respeito Algumas

8 vezes ela fala um pouco de

9 besteira e isso torna ela uma

10 pessoa chata Eu conheci essa

11 pessoa na escola so que agora

12 ela natildeo tem a mesma idade

13 que eu tenho a uacutenica rede social

14 que ela tem e o Facebook

15

112

16 Mais mi responde leitor o que

17 vocecirc acha sobre as pessoas

18 chatas

19

20 Pensando bem ela e uma

21 pessoa muito legal toda doidi-

22 nha amigaacutevel e amorosa etc

23 O que eu gosto mais nela

24 e que ela e sincera e indireta

25 e eacute bom de dar conselhos por

26 isso que eu amo a chatice

27 dela e ela se chama Rafaelly Fonte Dados da pesquisa

Neste texto a autora faz uma reflexatildeo sobre a amiga partindo de uma ideia inicial

que eacute a chatice da Rafaelly para a consideraccedilatildeo dos pontos positivos que a mesma Rafaelly tem

(ldquoPensando bemrdquo)

Houve uma maacute interpretaccedilatildeo da instruccedilatildeo quanto ao entendimento do que seria

bloquear uma pessoa na vida real como comprovamos nas linhas 2-5 ldquoprimeiramente ela natildeo

tem nem ceacutelula entatildeo neste caso natildeo da pra bloqueia elardquo

Nas linhas 16-18 A9 tem em mente uma audiecircncia como vemos em ldquoMais mi

responde leitor o que vocecirc acha sobre as pessoas chatasrdquo

Quadro 24 ndash Produccedilatildeo final Graccedila ndash Tiacutetulo Chata ela ou EU

1 Mi responde leitor o que

2 vocecirc acha sobre as pessoas cha-

3 tas

4

5 E vocecirc leitor Vocecirc e chato

6

7 Certo dia uma amiga veio

8 falar um monte de bobagens coisa-

9 s que natildeo tinha nada haver

10 ou seja coisas sem graccedilas Eacute eu

11 disse vocecirc e muito chata sabia

12 Ela falou ndash vocecirc tambeacutem fiquei

13 brava

14

15 Logo seguinte eu queria

16 bloquea ela porque tinha mi

17 chamado de chata mas tinha

18 um problema era que primeira-

19 mente ela natildeo tinha nem

113

20 celular entatildeo neste caso natildeo da-

21 va para bloquea o unico lugar

22 que dava pra bloquea ela era

23 no Facebook

24

25 Mais pensando bem ela

26 e uma pessoa muito legal to-

27 da doida amigavel e amorosa etc

28 O que eu acho legal nela e a sinceridade dela ajuda as

29 pessoa sabe releva os problemas

30

31 Natildeo vou nega que tambeacutem

32 sou uma pessoa chata Fonte Dados da pesquisa

Nas linhas 1-3 e linha 5 Graccedila teve em vista uma audiecircncia como vemos em ldquoMi

responde leitor o que vocecirc acha sobre as pessoas chatasrdquo e ldquoE vocecirc leitor Vocecirc e chatordquo Em

sua reescrita a aluna se comunica com o leitor de forma expliacutecita inspirada no modelo do texto

O chato da vez

Percebemos que ela atendeu a sugestatildeo de partir de uma situaccedilatildeo vividaobservada

para compor sua crocircnica (linha 7 ldquoCerto dia uma amiga []rdquo) desenvolvendo seu texto no

sentido de apresentar a seu leitor sua ideia do que eacute ser chato e ser legal a partir do que expotildee

e conduz seu fio tocando na instruccedilatildeo que sugere a inspiraccedilatildeo de bloquear uma pessoa na vida

real Poreacutem percebemos que ela natildeo extrapolou os limites do ambiente virtual criando uma

situaccedilatildeo de botatildeo de bloqueio da vida real para evitar as pessoas que ela considera chatas mas

condicionando o bloqueio meramente agraves redes sociais

Quadro 25 ndash Produccedilatildeo inicial Lilian ndash Tiacutetulo Meus amigos chatos e Eu

1 Eu tenho um amigo muito chato ele

2 fica o tempo todo pegando no

3 meu peacute as vezes eu comeccedilo

4 a chamar ele de chato ai ele

5 fica uns dias estranho comigo

6 mas depois agente comeccedila

7 se falar de novo

8

9 Eu queria pra existir um

10 botatildeo pra bloquear meus amigos

11 chatos porque eles pegam muito

12 no meu peacute eu chama eles

13 de chatos mas eu tambeacutem sou

14 chata e muito chata se existisse

114

15 o botatildeo pra bloquear as pessoas

16 chatas eu tambeacutem ia ser bloqueada

17 porque eu sou muito chata eu

18 natildeo queria ser chata eu queria

19 ser legal eu sou chata porque

20 quando eu comeccedilo falar eu natildeo

21 quero parar ai minhas amigas

22 ficam dizendo que eu sou muito

23 chata mais mesmo assim sou

24 feliz Fonte Dados da pesquisa

Lilian parte de uma situaccedilatildeo vivenciada (linhas 1-7) em que fala de um amigo

muito chato e usa a expressatildeo ldquopegar no peacuterdquo como em O chato da vez Nas linhas 17 a 24

Lilian tambeacutem diz porque ela seria uma pessoa chata ndash comeccedila a falar e natildeo quer parar Por

isso ela desejaria o botatildeo de bloquear na vida real como dito na questatildeo 7 que traz a instruccedilatildeo

de produccedilatildeo No entanto as situaccedilotildees natildeo estatildeo bem desenvolvidas e natildeo prendem o leitor que

aliaacutes natildeo eacute inserido no texto na ldquoconversa com o leitorrdquo Natildeo observamos uma percepccedilatildeo clara

da ideia de redes sociais

Quadro 26 ndash Produccedilatildeo final Lilian ndash Tiacutetulo Pessoas legais e chatas

1 Existem pessoas chatas e

2 outras legais conheccedilo alguns amigos que

3 satildeo um pouco chatos porque eles

4 ficam reclamando da vida eles ficam

5 dando importacircncia para os que os

6 outros falam desse jeito natildeo daacute

7

8 Mais eu tenho alguns amigos

9 que vivem fazendo piadas para seus

10 amigos Gosto do jeito que eles tratam

11 seus amigos eles levam eles pra

12 um passeio levam para o cinema

13 datildeo carinho sabem relevar os problemas

14 mas eu conheccedilo uns que falam comigo

15 mas depois tatildeo falando mal de mim

16 pela minha costa

17

18 Eu me acho uma pessoa

19 muito chata porque eu gosto

20 de tudo do meu jeito reclamo de

21 tudo dou importacircncia pra tudo

22 que as pessoas falam mais

115

23 as vezes eu soacute um pouco legal

24 com minhas amigas E vocecirc leitor

25 eacute chato ou legal as pessoas gostam

26 de vocecirc Fonte Dados da pesquisa

Apoacutes a tempestade de ideias da aula destinada agrave reescrita Lilian produziu 3 (trecircs)

paraacutegrafos e dedicou um a mostrar o que eacute ser chato e o seguinte ao que eacute ser legal em sua

opiniatildeo Na reescrita a aluna jaacute considera a audiecircncia conversando com o leitor (linhas 24-26)

poreacutem se distancia do que consta na instruccedilatildeo que eacute o bloqueio na vida real imitando as redes

sociais Ainda percebemos repeticcedilotildees de palavras que poderiam se tivesse havido uma nova

leitura ter sido evitadas

Podemos dizer que Lilian nos permite refletir sobre o comportamento humano

quando diz ldquomas eu conheccedilo uns que falam comigo mas depois tatildeo falando mal de mim pela

minha costardquo (linhas 14-16) poreacutem ela natildeo desenvolve a ideia apropriadamente no paraacutegrafo

seguinte como ela mesma havia dito em sala que falam mal dela porque ela tem o gecircnio difiacutecil

como ela descreveria em ldquoeu gosto de tudo do meu jeitordquo (linhas 19-20) De algum modo

podemos dizer que esse desdobramento de paraacutegrafos jaacute eacute uma evoluccedilatildeo na escrita de Lilian

Quadro 27 ndash Produccedilatildeo inicial Heloiacutesa ndash Tiacutetulo ldquoChato mais eacute muito legalrdquo

1 Tenho um amigo que ele eacute legal

2 mas tambeacutem eacute chato ao mesmo

3 tempo mais gosto da companhia

4 dele Mais quando chega a chatice

5 natildeo da pra aguentar ele comeccedila

6 a fala fala e fala eacute senpre o

7 mesmo assunto algo que natildeo

8 gosto ldquojogordquo

9

10 Taacute toda hora mandando mensage-

11 m daacute raiva mas neacute

12 Somos muito amigo nas

13 redes sociais posta fotos toda

14 hora Mas eacute muito legal sempre

15 faz brincadeiras pelo zapp

16

17 Eu poderia bloquialo mais

18 eacute muito legal telo como amigo

19

20 Gosta de pegar no meu peacute

21 quando o assunto eacute estudo mim

116

22 da sempre vaacuterios concelhos

23

24 Por mais que seja meu amigo vocecirc

25 eacute muito chatooo Fonte Dados da pesquisa

O texto foi escrito em 5 (cinco) paraacutegrafos Natildeo traz marcas explicitas de conversa

com o leitor e haacute um tangenciamento do que pede a instruccedilatildeo visto que a autora falou de

bloqueio No entanto natildeo houve real compreensatildeo do botatildeo de bloqueio da vida real visto que

ela se refere a um bloqueio nas redes sociais Percebemos o uso do coraccedilatildeo ao fim do penuacuteltimo

paraacutegrafo (linha 22) como sendo um recurso multimodal utilizado em meio virtual para

demonstrar agrado agrave ideia (curti)

Houve neste texto uma mudanccedila de interlocutor Inicialmente voltado para uma

audiecircncia mesmo que natildeo se dirigisse diretamente ao leitor o texto passou a ser direcionado

para o amigo chato de Heloiacutesa

Haacute a frequente repeticcedilatildeo do termo mas poreacutem sem uma forma consolidada de uso

visto que Heloiacutesa emprega mas e mais alternadamente

Quadro 28 ndash Produccedilatildeo final Heloiacutesa ndash Tiacutetulo ldquoO melhor chatordquo

1 Vol falar um pouco do meu

2 amigo

3

4 Ele se chama Daniel ele eacute uma

5 boa pessoa estaacute sempre mi

6 ajudando eacute um bom amigo e mim

7 da sempre forccedila pra tudo gosto

8 muito da conpanhia dele

9

10 E vocecirc leitor Vocecirc eacute chato

11

12 Somos chatos tenho 15 anos e sei

13 que chatise eacute estado de espirito

14

15 Ele eacute chato em vez enquando

16 ele eacute muito quando ele me

17 ajuda em algo ele mim trata

18 surper bem ele mim dar muito

19 carinho ele mim oferece cumida

20 quando estou na casa dele

21 natildeo gosta de criticar as pessoas

22

117

23 Ele eacute chato quando reclama

24 de tudo quer tudo do seu jeito

25 que ele conbina da ouvidos a

26 tudo o que falam ele fala demais Fonte Dados da pesquisa

Essa aluna se valeu do que discutimos em sala no dia em que propusemos a reescrita

sobre o que poderiam ser atitudes de uma pessoa legal A turma presente enumerou accedilotildees como

dar carinho oferecer comida ouvir as pessoas atenciosamente tratar bem natildeo criticar as

pessoas como sendo de pessoas legais ao passo que reclamar de tudo soacute querer as coisa do seu

jeito dar ouvidos a fofocas e falar demais como sendo atitudes de pessoas chatas Mencionar

um amigo e descrever atitudes dele eacute um princiacutepio do que conversamos sobre fornecer a

descriccedilatildeo de alguma pessoa e narrar uma situaccedilatildeo No entanto a aluna natildeo aprofundou a

descriccedilatildeo das caracteriacutesticas do amigo ndash apenas nomeou ndash e nem narrou a situaccedilatildeo sugerida

A reescrita foi feita em 6 (seis) paraacutegrafos dentro do que sugere a instruccedilatildeo O seu

primeiro traz uma introduccedilatildeo que chama a atenccedilatildeo preparando o leitor para o que vem a seguir

no texto Consideramos um avanccedilo no sentido de que Heloiacutesa jaacute parece ter feito um plano

melhor de escrita o que pode se consolidar em propostas futuras O segundo paraacutegrafo foi clara

paraacutefrase do texto motivador ldquoO chato da vezrdquo (linhas ldquosei que chatise eacute estado de espiritordquo)

Percebemos diminuiccedilatildeo nas repeticcedilotildees desnecessaacuterias

Na PF a aluna manteve o foco narrando o que lhe acontece descrevendo seu

amigo sem deixar o leitor para conversar com este amigo

Quadro 29 ndash Produccedilatildeo inicial Eliane ndash Tiacutetulo Um pouco de tudo

1 Ai gente nesse mundo agrave

2 muitas pessoas chatas

3 pois eu conheci pessoas

4 chatas e legais

5

6 Na adolecircncia conhecemos

7 pessoas numa pat-papo com

8 os amigos conheci uma

9 amiga pois conversamos e

10 ali natildeo parou mais de

11 falar

12

13 Num sentido e que ela

14 era muito cheia de

15 nheacutem-nheacutem de papo nada

16 ver O egrave o meu pensamento

118

17 que mim engana Mais eu

18 natildeo acho ela chata

19

20 De um tempo pra caacute nos

21 damos muito bem parti-

22 cularmente nos casos eu e ela

23 descordamos de tudo que

24 falamos mas eu acho que

25 duas chatas se dam muito

26 bem Na vida real parece um

27 mundo digital nos natildeo

28 paramos para pensamos nos

29 casos da vida social pessoas

30 postam coisas invalida na

31 rede sociais Fonte Dados da pesquisa

Para a produccedilatildeo inicial Eliane buscou elementos dos textos que lemos em sala De

Prova Falsa percebemos o uso da expressatildeo ldquoera muito cheia de nheacutem-nheacutemrdquo (linhas 14-15)

quando quis falar da amiga com comportamentos chatos De O chato da vez a partiacutecula ldquoAirdquo

como em ldquoAi genterdquo (linha 1) logo no iniacutecio mostra que o texto tem ares coloquiais com

linguagem despojada

Atraveacutes da coloquialidade Eliane se dirige ao leitor poreacutem ficou confuso o

desenvolvimento do tema na conversa proposta na instruccedilatildeo que seria o bloqueio das pessoas

na vida real No tocante ao assunto abordado na instruccedilatildeo Eliane fala de ser chato e ser legal

e menciona as redes sociais poreacutem seu texto entre as linhas 26 e 31 (ldquoNa vida real parece um

mundo digital nos natildeo paramos para pensamos nos casos da vida social pessoas postam coisas

invalida na rede sociaisrdquo) natildeo teve desenvolvimento quebrando assim a coerecircncia

Quadro 30 ndash Produccedilatildeo final Eliane ndash Tiacutetulo O que e chato e o que e legal

1 Ai gente eu sou muito chata

2 Afirmou uma amiga em um bate-papo

3 com os colegas Eu natildeo te acho chata

4 vc e uma pessoa carinhosa aceitar

5 as diferenccedilas dos outros

6

7 Pois eacute muitas pessoas tem suas referen-

8 ccedilas mas isso natildeo quer dizer que

9 todos que estatildeo aqui satildeo chatos

10 Adriana ela e companheira Delci e

11 carinhosa

119

12

13 Mais alguns tem outro estorico de

14 pensamento por exemplo O Luis reclamar

15 demais Rosi e falza Eu particularmente

16 faccedilo de tudo pra natildeo ser chata

17 tento conversar da maneira possiacutevel

18 ajudar as pessoas em tudo quer

19 posso

20

21 Por isso tem um sentido de tudo

22 seja o que vc eacute natildeo o que as

23 pessoas queram o que vc sejam

24 mas que seja uma pessoa dignar Fonte Dados da pesquisa

A PF de Eliane possui tiacutetulo agora mais direcionado agrave instruccedilatildeo visto que a aluna

considerou falar a respeito do que para ela eacute ser chato e o que eacute ser legal O primeiro paraacutegrafo

do texto (linhas 1-5) eacute uma paraacutefrase do paraacutegrafo inicial do texto motivador poreacutem conteacutem o

teor da tempestade de ideias realizada antes da produccedilatildeo

O paraacutegrafo seguinte eacute interessante porque traz em si a ideia de ponto de vista e

toleracircncia afinal todos tecircm defeitos (ldquomas isso natildeo quer dizer que todos que estatildeo aqui satildeo

chatosrdquo linhas 8-9) mas qualidades tambeacutem (ldquoAdriana ela e companheira Delci e carinhosardquo

linhas 10-11) Houve uma evoluccedilatildeo na organizaccedilatildeo dos paraacutegrafos

Houve emprego adequado dos sinais de pontuaccedilatildeo dois-pontos e a viacutergula como

em ldquopor exemplo O Luis reclamar demais Rosi e falzardquo (linhas 14-15)

Eliane em sua reescrita atendeu agrave sugestatildeo de utilizar exemplos podendo colocar

personagens no seu texto No entanto percebemos que ela ainda natildeo compreendeu que para

tanto seria necessaacuterio mais que apenas nominar pessoas e adjetivaacute-las mas realmente fazer um

exerciacutecio de descriccedilatildeo mais detalhado fazendo seu leitor compreender por que ldquoO Luis

reclamar demaisrdquo (linhas 14-15) e a ldquoRosi e falzardquo (linha 15) por exemplo

Quanto agrave audiecircncia Eliane entende que conversa com um leitor como vemos por

exemplo em ldquoseja o que vc eacute natildeo o que as pessoas queram o que vc sejamrdquo (linhas 22-23)

poreacutem natildeo manteacutem o foco visto que mistura a audiecircncia com o personagem ldquoEu natildeo te acho

chata vc e uma pessoa carinhosardquo (linhas 3-4)

O texto natildeo atende agrave proposta de considerar o botatildeo de bloqueio na vida real como

consta da instruccedilatildeo

120

Quadro 31 ndash Produccedilatildeo inicial Joana ndash Tiacutetulo Pessoas chatas e outras legal

1 Pessoas chatas tem muitas pessoas que diz

2 que a outra e chata tem pessoas chata satildeo

3 aquelas que fazem muitas perguntas que saber

4 da vida do outro essas pessoas se torna muito chata

5

6 Muitas pessoas no Facebook que eu natildeo gosto de aceita

7 porque jaacute cei que ela e muito chato jaacute bloquei

8 muitas pessoas nesse caso de se chato deacute mas

9 porque fica mandando mensagem sem noccedilatildeo que

10 rendo saber da sua vida isso que eacute chato

11 pra mim pessoas que tu natildeo suporta se fose

12 eu bloquairia case todo mundo

13

14 Pra mim pessoas legal e aquelas que teu

15 jaacute persebe pelo jeito dessa pessoa eu tenho

16 uma amizade muito legal pra mim eu sou

17 uma menina que faso amizade muito raacutepdo

18 mas as mizades que eu fasso eu percebo logo

19 se essa amizade vai ser boa ou natildeo tenho mui

20 tas pessoas no face que eu acho legal que satildeo

21 boa de se se conversa natildeo faiz ldquomuitas perguntasrdquo

22 e muito bom ter uma amizade legal

23 pessoas legais satildeo oacutetimas de conversa natildeo tir inte

24 ronper quando tu taacute falando essa que satildeo pra

25 mim pessoas legais eu acho que tenho

26 muitas pessoas legal Fonte Dados da pesquisa

Podemos dizer que Joana criou seu texto em trecircs paraacutegrafos apesar de natildeo haver

um ponto para demonstrar se era realmente o final ou se ela desejava continuar escrevendo

Aliaacutes seus paraacutegrafos natildeo trazem pontuaccedilatildeo mostrando que o fluxo das ideias foi contiacutenuo

natildeo havendo o procedimento de elaboraccedilatildeo do rascunho para a seguir passar a limpo

concatenando melhor as ideias

Seu tiacutetulo natildeo foi atrativo poreacutem foi relativo ao assunto da instruccedilatildeo Em se

tratando do desenvolvimento do tema a aluna tem em mente o que eacute ser chato e o que eacute ser

legal poreacutem natildeo extrapola na compreensatildeo visto que desenvolve um paraacutegrafo descrevendo

seu procedimento na rede social natildeo fazendo a analogia com a vida real e o botatildeo de bloqueio

Natildeo houve a consideraccedilatildeo da audiecircncia nem a conversa com o leitor pedida na

instruccedilatildeo

121

Quadro 32 ndash Produccedilatildeo final Joana ndash Tiacutetulo Pessoas otimas

1 Ser legal e vocecirc tendo humildade com

2 uma pessoa ajuda ela em tudo que vocecirc

3 porde ter um pouco de paciecircncia com essa

4 pessoa vocecirc tecircm que ter amor por ela eacute com-

5 sidera ela como sua amiga ou irmatildeo tecircm

6 varias coisas pra vocecirc ser torna uma otima

7 pessoa Pra mim ser legal com migo eacute min

8 trata bem o que eu perdi tem que min da

9 e se min dar todo dia uma caixa de bombo

10 Garoto esse se torna oacutetimo pra mim

11

12 pessoas chatas e aquela que critica muito

13 as pessoas natildeo sabendo da vida dela sair

14 falando dela pra todo mundo chato e

15 aquela que quer saber de mais da sua

16 vida se torna iguinorante ETC temos que

17 ter mas um pouco de humo com essas

18 eu natildeo suporto pessoas chata se puder

19 nem fala com migo seria melhor ainda Fonte Dados da pesquisa

Apoacutes a tempestade de ideias da aula destinada agrave reescrita Joana reescreveu seu

texto em dois paraacutegrafos dedicando um a mostrar o que eacute ser chato e o seguinte ao que eacute ser

legal em sua opiniatildeo No entanto natildeo parece ter compreendido que natildeo bastava elencar

situaccedilotildees do que eacute ser chato e ser legal mas contar narrar situaccedilotildees vivenciadas ou observadas

a fim de entreter seu leitor

Na reescrita a aluna natildeo considera a audiecircncia visto que seu texto parece mais

trazer em si opiniotildees sem incitar reflexotildees Joana se distancia do que consta na instruccedilatildeo que

eacute o bloqueio na vida real imitando as redes sociais apenas afirma nas linhas 18-19 que ldquoeu

natildeo suporto pessoas chata se puder nem fala com migo seria melhor aindardquo Seu tiacutetulo soacute tratou

agora de um lado do comportamento humano (ldquoPessoas otimasrdquo) e deve ter sido colocado apoacutes

a finalizaccedilatildeo do texto quando foi verificar se havia tiacutetulo

Assim apoacutes a anaacutelise dos textos A dos alunos percebemos a evoluccedilatildeo dos itens

presentes e os distribuiacutemos no quadro autoavaliativo

Durante a produccedilatildeo dos textos observamos os alunos presentes procurando

perceber algo sobre seu processo de planejamento de escrita O que foi detectado nas primeiras

produccedilotildees poucos deles fizeram um rascunho antes de escreverem na folha de produccedilatildeo

recebida alguns textos jaacute deram sinais de que alguns alunos entenderam o que eacute a ldquoconversa

122

com o leitorrdquo alguns partiram de uma situaccedilatildeo vividaobservada para compor seu texto no

entanto mais parecendo um relato pessoal ou um diaacuterio pessoal do que uma abordagem de

crocircnica poucos narraram essa situaccedilatildeo de forma clara para que o leitor pudesse acompanhar

poucos posicionaram o foco narrativo de maneira adequada vaacuterios apenas tangenciaram a

proposta de produccedilatildeo Essas dificuldades constituiacuteram o cerne a ser explorado nas atividades

dos moacutedulos aplicados nos encontros da sequecircncia

Podemos estabelecer um graacutefico para melhor visualizaccedilatildeo dos resultados ateacute essa

etapa

Graacutefico 7 ndash Avaliaccedilatildeo das crocircnicas A

Fonte Dados da pesquisa

Como vemos houve na maioria dos itens avaliados uma sensiacutevel melhora apesar

das dificuldades ainda apresentadas Percebemos que vaacuterios alunos ainda focam em apenas

alguns aspectos do texto que conteacutem a instruccedilatildeo de produccedilatildeo deixando de contemplar o todo

como por exemplo o botatildeo de bloquear na vida real ndash diversos alunos natildeo atingiram esse

objetivo no texto acreditamos que porque lhes faltou uma releitura direcionada para verificaccedilatildeo

de tudo o que havia sido pedido Isso nos mostra que os alunos ao tomarem contato com seus

textos de uma primeira produccedilatildeo escrita se orientados a ter um pouco mais de paciecircncia sem

a urgecircncia de entregar logo a tarefa e se incentivados a reler se autoavaliar e a ouvir sugestotildees

0

2

4

6

8

10

12

14

Avaliaccedilatildeo das crocircnicas A

PI PF

123

podem sim progredir no sentido de se tornarem escritores mais haacutebeis enquanto conscientes

das etapas que regem o processo de escrita de textos

532 Produccedilotildees B textos para circulaccedilatildeo social

A produccedilatildeo para circulaccedilatildeo social foi chamada de produccedilatildeo B e corresponde ao

trabalho com um puacuteblico que variou entre 4 (quatro) a 8 (oito) alunos frequentes dentre os

quais apenas 4 (quatro) produziram o texto para fins de circulaccedilatildeo social real Nesta etapa

foram realizados 5 (cinco) encontros com duraccedilatildeo de 10 (dez) horasaula e leitura de quatro

crocircnicas ineacuteditas para os alunos (A cara da rua A carta de punho Amor de Macumba e Sr

Google Pacheco) e atividades correspondentes

A leitura desses textos foi produtiva para a classe no sentido de compreender que

cada crocircnica traz em si o resultado da reflexatildeo que o cronista consegue realizar das situaccedilotildees

que vivencia ou observa Identificar as situaccedilotildees geradoras das crocircnicas lidas ao longo dos

moacutedulos fez parte do trabalho que conduziu os alunos a falar de vaacuterios assuntos que poderiam

tornar-se temas de textos Copiamos no quadro e eles nos cadernos Eram temas do cotidiano

como assalto relaccedilotildees sociais vida de youtuber bullying fome cujas situaccedilotildees jaacute

observadasvivenciadas por eles mesmos poderiam render uma reflexatildeo

Aparentemente a dificuldade maior dos alunos eacute em expressar essa situaccedilatildeo sem

que ora pareccedila um relato iacutentimo como diaacuterio ou memoacuterias pois a natural disposiccedilatildeo de seus

textos traz uma sequecircncia narrativa um relato de emoccedilotildees pessoais poreacutem natildeo necessariamente

conduz o leitor a uma reflexatildeo ora por vezes pause a narraccedilatildeo e interaja com o leitor por meio

de perguntas ou ainda faccedila um texto com forccedila injuntiva ou com moral da histoacuteria

Para a escrita e a reescrita do texto desta etapa a PF-B incentivamos nossos alunos

a utilizar o quadro autoavaliativo tocando nos pontos mais sensiacuteveis identificados desde a PI-

A Natildeo foi estipulado um nuacutemero de paraacutegrafos deixando os alunos agrave vontade para produzir

Consideramos como audiecircncia um puacuteblico leitor que tivesse sua idade aproximadamente que

entendesse seus problemas dilemas alegrias que fizesse parte de seu mundo frequentando a

escola tendo amigos observando qualidades boas do ser humano ou mazelas da vida podendo

esse puacuteblico acessar redes sociais ou natildeo De toda forma o ideal seria conversar com o leitor

sobre questotildees cotidianas situando-o no tempo e no espaccedilo da crocircnica O texto B foi

integralmente produzido em meio digital a pedido dos proacuteprios alunos por celular ou

computador conforme o material que tivessem disponiacutevel em matildeos e nenhum foi produzido

124

em sala limitado pelo horaacuterio de aula No entanto foi feito o acordo dos prazos de entrega de

cada texto a fim de podermos imprimir e levar para trabalho de leitura releitura feedback da

professora-pesquisadora feedback dos colegas permitindo a cada autor reflexatildeo sobre o texto

e possibilitando a reescrita

Os alunos que se engajaram na produccedilatildeo da crocircnica para circulaccedilatildeo social foram os

alunos Ana Rodrigo Eduardo e Estela Os tiacutetulos das produccedilotildees inicial e final estatildeo no quadro

a seguir

Quadro 33 ndash Tiacutetulos das produccedilotildees para circulaccedilatildeo social

Tiacutetulo PI-B PF-B

Ana PROIBIDA DE ACHAR

GRACcedilA

Rodrigo Vida de preguiccediloso VIDA DE PREGUICcedilOSO

Eduardo INFAcircNCIA FELIZ

Estela ldquoDown= bullyingrdquo DOWN= BULLYING

Fonte Dados da pesquisa

Esses textos diferentemente das produccedilotildees A foram escritos utilizando aparelhos

de celular O acordo foi feito com os alunos em virtude da preferecircncia destes em gostarem de

escrever utilizando-se da tecnologia facilitando o registro a releitura e a reescrita segundo eles

mesmos visto que o meio virtual tambeacutem atenderia a ideia da circulaccedilatildeo dos textos A anaacutelise

das produccedilotildees B estaacute descrita ao longo desta seccedilatildeo

Quadro 34 ndash PIB Ana

1

2

3

Que situaccedilatildeo Eacute o que penso ateacute hoje Pude presenciar um niacutevel de babaquice

e de falta do que fazer de uma garota da minha escola que pra ser sincera eu nem ao

menos sei o nome dela

4

5

6

7

8

Tava eu junto com mais quatro amigos na cantina da minha escola no

finalzinho do recreio estaacutevamos rindo e conversando como sempre Chegaram duas

meninas de outra sala que eu nunca falei nem sabia de onde saiacuteram natildeo sabia nada

sobre ela poreacutem sei que sabiam sobre mim coisas do tipo novata do 9 ano meio

doida duvido se natildeo sabiam ate meu nome Bem nem tava prestando atenccedilatildeo nelas

125

9

10

11

12

13

14

15

16

17

Quando meu amigo brincou eguas de novo Sorriu e depois pediu

desculpas logo que percebeu o tamanho das meninas e todo mundo riu quando ele

brincou EU JURO que fiquei seacuteria mas natildeo aguentei quando ele pediu desculpas

com medo de levar uns supapos Foi entatildeo que comecei a rir e umas das meninas olhou

pra mim com uma cara super ameaccediladora dizendo tu ta rindo do que Ta achando

graccedila eacute Cara tinha quatro pessoas aleacutem de mim QUATRO seacuterio que ela

enchergou soacute a mim ali Eacute ser muito babaca pra chegar em um ponto desse minha

uacutenica reaccedilatildeo foi natildeo pera ela taacute falando comigo serio isso Gente Qual o nome

dela algueacutem aqui a conhece SOCORRO

18

19

Ate hoje me pergunto qual o problema dela Mas prefiro nem chegar perto

Vai que essa doenccedila pega

Fonte Dados da pesquisa

O texto de Ana foi composto de 4 (quatro) paraacutegrafos Sua conversa com o leitor

natildeo eacute com elementos expliacutecitos como na instruccedilatildeo sugerida na produccedilatildeo A mas percebe-se que

ela se importa com uma audiecircncia visto que narra para uma pessoa explicando a situaccedilatildeo

vivenciada contando ao seu leitor suas impressotildees mostrando as falas que ocorreram dando a

perceber os outros personagens que entraram na histoacuteria

As notaccedilotildees linguiacutesticas para indicar intensidade surpresa e algumas viacutergulas estatildeo

razoavelmente bem empregadas como vemos em ldquoeguas de novordquo (linha 9) que separa a

expressatildeo de surpresa ldquoeacuteguasrdquo com uma viacutergula e finaliza a frase com interrogaccedilatildeo

acompanhada de exclamaccedilatildeo atribuindo maior intensidade agrave fala

Quadro 35 ndash PFB Ana ndash Tiacutetulo PROIBIDA DE ACHAR GRACcedilA

1

2

3

E que situaccedilatildeo Eacute o que eu penso ateacute hoje Pude presenciar um niacutevel de babaquice

e de falta do que fazer de uma garota da minha escola que pra ser sincera eu nem ao

menos sei o nome dela

4

5

6

7

8

9

Estava eu junto com mais quatro amigos na cantina da minha escola no

finalzinho do recreio Estaacutevamos rindo e botando conversa fora de boa na paz Entatildeo

duas meninas que eu natildeo conheccedilo ndash jaacute tinha ateacute visto as duas mas nunca tinha falado

com elas nem ao menos sabia o nome delas mas sei que elas sabiam de mim certeza

Aquele pessoal fala demais ndash chegaram e estavam repetindo o lanche Ateacute entatildeo nem

tava reparando na presenccedila delas

126

10

11

12

13

14

15

16

17

18

Foi quando meu amigo brincou nossa vatildeo repetir de novo Eu olhei entendi

e nem dei importacircncia nem quis rir pra natildeo arrumar confusatildeo Elas olharam pra ele

com uma cara bem ameaccediladora e ele se arrependeu e pediu desculpas Nessa hora eu

natildeo aguentei e ri poreacutem dele Pensei eita macho ficou com medo de levar uns

sopapos Todo mundo rindo Foi entatildeo que uma delas olhou pra mim me batendo

verbalmente tu taacute rindo de quecirc Taacute achando graccedila eacute Mano do ceacuteu essa menina

tem problema soacute pode Foi minha uacutenica reaccedilatildeo Com quatro pessoas aleacutem de mim ali

sorrindo e ela pergunta soacute pra mim Eacute ser muito babaca pra chegar a esse ponto seacuterio

isso Perguntei pros meus amigos ldquogente qual o nome dela Ela taacute falando pra mim

mesmo SOCORRO

19

20

Ainda bem que meus amigos estavam ali senatildeo eu tava ferradinha Ateacute hoje

me pergunto qual o problema dela Mas prefiro nem chegar perto Vai que isso pega

Fonte Dados da pesquisa

Os quatro paraacutegrafos tiveram uma reelaboraccedilatildeo mas mantiveram-se em mesmo

nuacutemero na PFB de Ana Seu tiacutetulo permaneceu o mesmo e tem a ver com o teor da crocircnica

Quanto ao uso da pontuaccedilatildeo houve inclusive utilizaccedilatildeo de novo recurso o entre

travessotildees a partir de uma sugestatildeo dada pela professora-pesquisadora que indica um adendo

de informaccedilotildees agrave ldquoconversardquo que a narradora conduziu

Pudemos perceber uma melhor descriccedilatildeo da ambientaccedilatildeo onde a situaccedilatildeo

vivenciada se passou consolidando o tempo do finalzinho do recreio situaccedilatildeo que durou muito

pouco mas que para a autora durou com intensidade

O final foi interessante e ateacute cocircmico trazendo questotildees a se pensar como a amizade

e o companheirismo versus a implicacircncia de pessoas desconhecidas (podemos ver seu aliacutevio

em ldquoAinda bem que meus amigos estavam ali senatildeo eu tava lsquoferradinharsquordquo na linha 19) e o

quanto eacute raacutepido - e tolo - para nascer um conflito

Quadro 36 ndash PIB Rodrigo ndash Tiacutetulo Vida De preguiccediloso

1

2

Vocecirc tem preguiccedila Tem preguiccedila de ter preguiccedila perdeu alguma coisa por

causa de preguiccedila

3

4

5

Natildeo eacute muito certo ter preguiccedila de tudo dizem que eacute pegado mas natildeo vejo mal

nem um em ter preguiccedila oacutebvio que nem todo tempo vou ter preguiccedila mas a maior parte

127

6 do tempo sim sou tatildeo preguiccediloso que dormi com fome pra natildeo ir ateacute a geladeira parece

um pouco absurdo mas eacute verdade

7

8

9

10

Natildeo sei vocecirc mas eu jaacute dormi no sofaacute com preguiccedila de ir pra cama certo que

vida de preguiccediloso natildeo eacute la essas mil maravilhas principalmente se vocecirc mora sozinho(a)

eacute muito bom passar o dia deitado mexendo no celular ou PC e com um lanchinho do

lado

11

12

Mas o simples fato de eu pensar que vou ter que tecirc uma famiacutelia um emprego

meu carro minha empresa meu cachorro

13

14

Jaacute da ateacute preguiccedila de sair da cama mas vocecirc jaacute pensou como seria bom se natildeo

existisse nada disso pra se preocupar

15 Seria muito bom natildeo eacute

16

17

A preguiccedila jaacute se tornou parte do cotidiano tenho quase certeza que nesse

momento vocecirc estaacute com preguiccedila natildeo eacute

18

19

20

Muito bom passar o dia sem fazer nada Poreacutem um pouco cansado pela falta

de exerciacutecio fiacutesico mas nada quecirc um bom lanche natildeo resolva vida de preguiccediloso natildeo

leva a lugar nem um falo isso por mera experiecircncia

21 Mas eacute assim mesmo logo logo a preguiccedila passa pelo menos eu acho

Fonte Dados da pesquisa

O texto de Rodrigo partiu de uma situaccedilatildeo observadavivida Conversa com o leitor

(ldquovocecirc jaacute pensou como seria bom serdquo linha 12) sobre o tema preguiccedila A repeticcedilatildeo do termo

preguiccedila foi objeto de questionamento na aula ao que o aluno respondeu que utilizou-se da

estrateacutegia para reforccedilar a situaccedilatildeo e provocar no leitor a preguiccedila de ler ao que os colegas

aprovaram achando inclusive engraccedilado O narrador eacute personagem e coloca para seu leitor as

impressotildees de como eacute viver com o miacutenimo de disposiccedilatildeo poreacutem com a consciecircncia de que natildeo

eacute o ideal para a vida O final natildeo eacute interessante ou surpreendente poreacutem se adequa ao

desenvolvimento do texto Possui tiacutetulo apropriado

Quadro 37 ndash PFB Rodrigo ndash Tiacutetulo VIDA DE PREGUICcedilOSO

1

2

Vocecirc tem preguiccedila Tem preguiccedila de ter preguiccedila Perdeu alguma coisa por

causa de preguiccedila

3

4

Natildeo eacute muito certo ter preguiccedila de tudo dizem que eacute pecado mas natildeo vejo mal

nenhum em ter preguiccedila Oacutebvio que nem todo tempo vou ter preguiccedila mas na hora de

128

5

6

7

8

jogar aquela bola ningueacutem tem preguiccedila mas agora fala em arrumar a cama A preguiccedila

sai de baixo da cama pra vocecirc Eu tenho preguiccedila a maior parte do tempo Sou tatildeo

preguiccediloso que dormi com fome para natildeo ter de ir ateacute a geladeira pegar comida Parece

um pouco absurdo mas eacute verdade

9

10

11

12

13

14

Aiacute vocecirc acorda e vai ateacute a sala daiacute vocecirc se deita no sofaacute e esquece o controle

em cima da mesa do computador ou da estante aiacute daacute aquele grito ldquoocirc manhecircecircecircecircecircecircecircecircrdquo

Logo ela vem correndo saber o que aconteceu e vocecirc na maior cara de pau diz pega

o controle pra mim Na hora que vocecirc diz isso vocecirc desperta todos os capirotos do

mundo ela ainda fala aquela frase que toda matildee diz o QUEcirc menino Isso serve pra

tudo que vocecirc pede pra sua matildee fazer pra vocecirc ateacute mesmo apagar a luz

15

16

17

Quando eu estiver em um relacionamento minha namorada natildeo vai precisar

se preocupar com traiccedilatildeo Tenho preguiccedila de ir bem aiacute na esquina comprar o patildeo

imagine sair para trair ela Mas eacute muita melodia

18

19

20

21

A vida de um preguiccediloso em si ela eacute uma grande sobrevivecircncia Natildeo muita

mas vocecirc vai ter de lutar para conseguir comida enfrentar o Vingador da Caverna do

Dragatildeo o quarto do furacatildeo e a cama do pavor Preguiccediloso pode vencer tudo isso mas

nunca conseguiraacute vencer a preguiccedila ndash pelo menos eu nunca consegui

22

23

24

25

Era tatildeo lindo quando eu dormia no sofaacute e acordava na cama graccedilas a meus

pais Mas os tempos mudaram vocecirc dorme no chatildeo e acorda no chatildeo Deixar pra fazer

amanhatilde o que pode fazer hoje isso sim eacute tiacutepico de um preguiccediloso mas agraves vezes nem

fazemos

26

27

28

Todos noacutes temos aquela cadeira que na hora de dormir sempre colocamos

todas as coisas de cima da cama em cima dela soacute por preguiccedila de arrumar tudo em seu

devido lugar

29

30

31

32

33

34

35

Um celular PC tablet televisatildeo tudo isso com internet uma tomada tudo do

seu lado tem como natildeo ter preguiccedila ateacute de procurar aquela seacuterie na Netflix Certo que

o celular ou o PC tem comando de voz soacute pra falar o nome da seacuterie que vocecirc quer assistir

e tecnologicamente ir direto pra seacuterie mas daacute uma preguiccedila de falar e ainda com um

lanche do lado ateacute imagino o quatildeo seria top passar o dia assim Mas tem que estudar

fazer comida dar banho do cachorro limpar a casa e lavar a louccedila Ai ai daacute preguiccedila

soacute de pensar nisso Um dia vou perder essa preguiccedila pelo menos assim espero

Fonte Dados da pesquisa

129

O uso de expressotildees coloquiais como em ldquoMas eacute muita melodiardquo (linha 17) para

mostrar o quanto daacute trabalho trair a namorada e a corrente entre os jovens ldquoo quatildeo seria top

passar o dia assimrdquo (linha 33) deu colorido agrave crocircnica

O uso de notaccedilotildees linguiacutesticas para realccedilar o texto como em ldquoocirc manhecircecircecircecircecircecircecircecircrdquo

(linha 10) que mostra prolongamento da voz o QUEcirc meninordquo (linha 13) que indica tom

de voz mais alto e forte aleacutem da pontuaccedilatildeo que exclama a pergunta O uso do travessatildeo como

forma de colocar uma explicaccedilatildeo em evidecircncia foi adotado por sugestatildeo nossa como em ldquondash

pelo menos eu nunca conseguirdquo (linha 21) tambeacutem enriqueceu o texto

Ainda houve repeticcedilatildeo de termos sem intenccedilatildeo como em ldquomas na hora de jogar

aquela bola ningueacutem tem preguiccedila mas agora fala em arrumar a camardquo (linhas 4-5)

O final foi interessante levando a audiecircncia a refletir e a se divertir tambeacutem com a

descriccedilatildeo das situaccedilotildees ndash algumas ateacute inusitadas ndash de preguiccedila mas que acontecem em algum

grau com os leitores jovens

Quadro 38 ndash PIB Eduardo ndash Tiacutetulo

1

2

3

4

5

Eu gosto muito de comida principalmente uma lasanha Porque eacute gostoso

mata a fome e deixa a gente feliz Bons tempos quando agente era crianccedila tomava aquele

belo leite antes de domir acordava de manhatilde bem cedinho com o cherinho do cafeacute na

mesa mas o tempos mudou E hoje em dia as crianccedilas dorme tarde natildeo se alimentatildeo

direito so querem comer besteras prejudicando a sauacutede

6 Era engraccedilado quando minha matildee dizia

7

8

Come a salada do prato se vocecirc comer tudinho mamatildee te dar um doccedile de

leite e agente comia

9

10

11

E quando noacutes tinha dor de barriga a matildee ja vinha com o chaacute de bodo para dar

pra noacutes tomar E quando jogava bola e noacutes se arranhava a matildee ja tava nas matildeos o

merthiolate para passa na gente

12

13

14

15

16

17

E quando o pessoal ia jogar bola reunia a galera e ia chamar a turma todinha

para jogar nosso campo era em um local de pissarra com muro em volta e quando a

bola cailha na casa da quela vizinha chata um de noacutes tiamos que pega o mas corajoso

se arricar a buscar e esse corajoso era eu lembro que uma vez eu chutei a bola para laacute

e machuquei um das plantas dela e vizinha fofocou para minha matildee e mamatildee colocou

eu de cartigo

130

18

19

Agora as crianccedilas so querem ficar trancada dentro do quarto mechendo no seu

celular PC em geral

20

21

22

23

24

25

26

27

28

Percebi que a infacircncia de hoje natildeo eacute mas a mesma de antigamente Hoje em

dia tamos rodiado de tecnologia crianccedilas jovens tem celulares internet computadores

mas antigamente natildeo era assim natildeo tou querendo criticar a tecnologias pois eu vivo na

tecnologia hoje Nesse tempo de hoje das tecnologia se vocecirc quer ouvir uma muacutesica eacute

soacute ir no YouTube ou fazer o download quer conversar com um amigo eacute soacute entra no

Whatsapp e conversar Mas quando era antigamente se quissemos ouvir uma

muacutesica tiamos que esperar passar no raacutedio ou comprar um CD bem ali na banca se

quisesse conversar com um amigo distante teria que ir na casa dele ou enviar uma carta

para ele

29

30

E quando era natal ano novo famiacutelia toda reunida mesa cheia de comida

deliciosas isso era muito bom

31

32 SO SEI QUE A INFACIA QUE EU TIVE FOI MUITA OTIMA lt3

Fonte Dados da pesquisa

Composto por 9 (nove) paraacutegrafos o texto de Eduardo partiu de uma situaccedilatildeo

vivida em que ele observa a passagem do tempo e as mudanccedilas de haacutebitos com uma certa

nostalgia buscando a atenccedilatildeo do leitor atraveacutes da reflexatildeo sobre a imersatildeo na tecnologia Seu

texto comeccedila com uma associaccedilatildeo da comida que ele gosta e que ldquopuxardquo outras questotildees que

perpassam a alimentaccedilatildeo o sono as brincadeiras narrando inclusive desventuras vividas

Ao final nas linhas 29-30 o paraacutegrafo parece desconexo visto que natildeo evolui e

nem se liga ao anterior

A ortografia e a pontuaccedilatildeo nesse momento natildeo haviam sido a prioridade embora

os alunos jaacute estivessem de posse do quadro autoavaliativo Eduardo foi um dos alunos que mais

se surpreendeu com a releitura do texto no tablet como haviacuteamos descrito na seccedilatildeo sobre os

procedimentos posto que os erros e sugestotildees satildeo apontados pelo aplicativo editor de textos

Ele afirmou que foi bastante uacutetil para que ele observasse os erros visto que natildeo tinha

consciecircncia dos mesmos

131

Quadro 39 ndash PFB Eduardo ndash INFAcircNCIA FELIZ

1

2

3

4

5

Eu gosto muito de comida principalmente uma lasanha Porque eacute gostoso

mata a fome e deixa a gente feliz Bons tempos quando a gente era crianccedila tomava

aquele belo leite antes de dormir acordava de manhatilde bem cedinho com o cheirinho do

cafeacute na mesa mas os tempos mudaram Hoje em dia as crianccedilas dormem tarde natildeo se

alimentam direito soacute querem comer besteiras prejudicando a sauacutede

6

7

Era engraccedilado quando minha matildee dizia Come a salada do prato se vocecirc

comer tudinho mamatildee te daacute um doce de leite e a gente comia

8

9

10

E quando noacutes tiacutenhamos dor de barriga a matildee jaacute vinha com o chaacute de boldo para

dar pra tomar E quando jogaacutevamos bola e nos arranhaacutevamos a matildee jaacute estava com o

mertiolate nas matildeos para passar na gente

11

12

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14

15

16

17

E quando o pessoal ia jogar bola reunia a galera e ia chamar a turma todinha

para jogar nosso campo era em um local de piccedilarra com muro em volta e quando a bola

caiacutea na casa da aquela vizinha chata um de noacutes tinha que pegar o mais corajoso se

arriscar a buscar e esse corajoso era eu Lembro que uma vez eu chutei a bola para laacute e

machuquei um das plantas dela e a vizinha fofocou para minha matildee e mamatildee colocou

eu de castigo Quem nunca morreu de medo de voltar para casa com aquela roupa cheia

de barro e levar uma bronca

18

19

Vocecirc pode ateacute achar que eu jaacute acabei a minha infacircncia mas ainda tocirc nela pois

a infacircncia que eu era mais novo natildeo eacute mas a mesma do que a de hoje

20

21

Agora as crianccedilas soacute querem ficar trancadas dentro do quarto mexendo no seu

celular PC em geral

22

23

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25

26

27

28

29

Percebi que a infacircncia de hoje natildeo eacute mas a mesma de antigamente Hoje em

dia estamos rodeados de tecnologia Crianccedilas jovens tem celulares internet

computadores mas antigamente natildeo era assim Natildeo estou querendo criticar a tecnologia

pois eu vivo na tecnologia hoje Nesse tempo de hoje se vocecirc quer ouvir uma muacutesica eacute

soacute ir no YouTube ou fazer o download Quer conversar com um amigo eacute soacute entrar no

WhatsApp e conversar Mas quando era antigamente se quiseacutessemos ouvir uma muacutesica

tiacutenhamos que esperar passar no raacutedio ou comprar um CD bem ali na banca Se quisesse

conversar com um amigo distante teria que ir na casa dele ou enviar uma carta para ele

30

31

32

Pois agora as crianccedilas jaacute respondem com ignoracircncia para seus pais Se eu

resmungasse para minha matildee pelo menos um Taacute bom taacute bom mamatildee jaacute me batia Ela

ainda me colocava de joelho no chatildeo e eu morrendo de chorar mamatildee dizia Engole o

132

33

34

35

choro mas eu natildeo sabia engolir o choro Seraacute que tinha que pegar um copo para

colocar as minhas laacutegrimas do meu choro Natildeo sei mas eu acho que eacute melhor natildeo

arriscar de me levantar e apanhar mais ainda

36 O mais engraccedilado eacute que chinela de matildee sempre acerta [

37 Mesmo apanhando

38 SOacute SEI QUE A INFAcircNCIA QUE EU TIVE FOI MUITO OacuteTIMA lt3

Fonte Dados da pesquisa

O texto teve uma ampliaccedilatildeo e o aluno pediu ajuda agrave professora-pesquisadora para

a correccedilatildeo da pontuaccedilatildeo e tambeacutem da ortografia para ldquoevitar aquela coisa toda vermelha

professorardquo que seria rever no tablet o editor mostrando os erros Bastante empenhado Eduardo

colocou suas impressotildees lado bom e ruim para que seu leitor pudesse acompanhar o que seria

uma infacircncia adequada Nas linhas 18-19 em ldquoVocecirc pode ateacute achar que eu jaacute acabei a minha

infacircncia mas ainda tocirc nela pois a lsquoinfacircncia que eu era mais novorsquo natildeo eacute mas a mesma do que

a de hojerdquo Valeu a discussatildeo com os colegas e com a professora-pesquisadora a respeito dessa

nostalgia visto que o autor ainda eacute um adolescente de 15 anos

O final convenhamos embora natildeo seja muito paciacutefico natildeo deixa de causar o riso

no leitor visto que em ldquoMesmo apanhandordquo (linha 37) as reticecircncias deixam o pensamento

em aberto e o leitor conclui pelo exposto que ainda assim valia a pena a infacircncia menos

tecnoloacutegica e mais fora de casa

Quadro 40 ndash PIB Estela ndash Tiacutetulo ldquoDown= bullyingrdquo

1

2

Antigamente eu natildeo me importava tanto mas hoje penso bastante sobre o

assunto por que as pessoas praticam o bullying

3

4

5

Na minha opiniatildeo a praacutetica de bullying eacute desnecessaacuteria pois noacutes natildeo

ganhamos nada em humilharmenosprezar o proacuteximo natildeo eacute mesmo eacute bem melhor ser

gentil ser solidaacuterio aceitar os defeitos do proacuteximo

6

7

8

9

10

11

Conheccedilo uma garota chamada Beatriz jovem de dezenove anos(19) que tinha

siacutendrome de Down ela era uma garota bem extrovertida amigaacutevel carinhosa etc

Muitos a criticavam por conter essa siacutendrome por ser diferente Ela tinha seu tinha seu

lado carinhoso mas tambeacutem tinha o seu lado revoltadobravo e todos criticavam-na por

ser diferente por ter esse seu lado ldquobipolarrdquo pelo fato dela mudar de humor tatildeo

facilmente

133

12

13

14

15

Muitos faziam o possiacutevel para evitar sua presenccedila por perto eles a eles

simplesmente natildeo aceitavam o fato dela ter aquela siacutendrome pra eles ela natildeo era ldquoigualrdquo

a eles eles deveriam aceitaacute-la da maneira que ela nasceu da maneira em que ela foi

gerada

16

17

18

Chamavam-na por apelidos maldosos e preconceituosos como por exemplo

doida (pelo simples fato dela ter siacutendrome de Down que a diferenciava das demais

pessoas) de retardada de doente chamavam-na de feia ridiacuteculaetc

19

20

21

22

23

24

25

Ao sofrer esses preconceitos ela sempre revidavasempre reagia com agressotildees

e xingamentos terriacuteveis o que agravava cada vez mais a situaccedilatildeo Acho que por ela

conter essa doenccedila ela natildeo levava muito a seacuterios esse preconceito essa indiferenccedila

acho que pelo fato de ela conter essa doenccedila desde a formaccedilatildeo de seu feto deve ter

ocorrido algumas alteraccedilotildees em seu ceacuterebro na parte mentalo que prejudica muito a

crianccedila em questotildees de aprendizado de se socializar e que a levava a considerar essas

praacuteticas de bullying como uma brincadeira

26

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28

29

E tambeacutem sua matildee natildeo era aquele tipo de matildee que se interessava como foi o

dia na escola se as aulas foram boas essas coisas que normalmente as matildees fazem E

ela tambeacutem natildeo morava junto a seu pai pois creio que era divorciado de sua matildee

moravam somente ela sua matildee e sua irmatilde mais nova de dezessete anos (17)

30

31

Atualmente a situaccedilatildeo ainda se repete por falta de atenccedilatildeo dos pais e da

proacutepria viacutetima do bullying

32

33

(Na minha opiniatildeo ela soacute precisa de um pouco mais de atenccedilatildeo e compreensatildeo

dos pais e tenho certeza que esse problema jaacute haveria sido resolvido)

34

35

E vocecirc leitor o que faria se vocecirc fosse viacutetima de bullying denunciaria ou

preferiria guardar pra si

36

37

38

39

40

(Isso natildeo eacute um texto qualquer eacute tambeacutem um alerta uma ldquocampanhardquo pra vocecirc

vitima ou praticante do bullying pense no proacuteximo alerte-se muitas vezes essas piadas

brincadeiras esses preconceitos passam dos limites e acabam se tornando grandes

ofensas o que levam as viacutetimas a profundas depressotildees e ateacute mesmo ao suiciacutedio vamos

acabar com isso)

41 chega de bullying

Fonte Dados da pesquisa

134

Estela comeccedila seu texto com um paraacutegrafo que faz uma introduccedilatildeo-enquadramento

lanccedilando um questionamento ao seu leitor surgido de uma situaccedilatildeo observadavivida que ela

narra ao longo dos 12 (doze) paraacutegrafos No 10ordm a autora conversa com explicitamente com o

leitor como no modelo apresentado para a produccedilatildeo A O foco narrativo eacute mantido como

narrador observador do que acontece poreacutem levando o leitor a refletir sobre o problema real do

bullying com a intenccedilatildeo de causar impressotildees no leitor como empatia reflexatildeo e ateacute emoccedilatildeo

O final natildeo parece caracterizar-se como o de uma crocircnica literaacuteria lembrando o

penuacuteltimo paraacutegrafo uma sequecircncia injuntiva com a intenccedilatildeo de levar o leitor a modificar seu

comportamento mostrando um ponto de vista criacutetico a respeito da situaccedilatildeo Possui

personagens descrevendo a menina Beatriz e seu comportamento sua matildee e menciona pai e

irmatilde Possui um tiacutetulo interessante pelo trocadilho se podemos assim dizer com a palavra

down Down eacute a siacutendrome mencionada no texto e de iniacutecio o sinal de igual indica que ter

siacutendrome de Down eacute de se esperar de algum modo que a pessoa sofra bullying Poreacutem a aluna

sabe que down em inglecircs quer dizer ldquoabaixordquo o que resultaria numa livre traduccedilatildeo ldquoabaixo

o bullyingrdquo Estela emprega em diversos momentos os sinais de pontuaccedilatildeo adequadamente e

no geral os paraacutegrafos estatildeo bem organizados embora tenha havido repeticcedilatildeo desnecessaacuteria de

palavras no 4ordm paraacutegrafo

Quadro 41 ndash PFB Estela ndashTiacutetulo DOWN= BULLYING

1

2

Antigamente eu natildeo me importava tanto mas hoje penso bastante sobre o

assunto por que as pessoas praticam o bullying

3

4

5

A praacutetica de bullying eacute desnecessaacuteria pois noacutes natildeo ganhamos nada em

humilhar o proacuteximo natildeo eacute mesmo Eacute bem melhor ser gentil ser solidaacuterio aceitar os

defeitos do proacuteximo

6

7

8

9

10

Conheci uma garota chamada Beatriz jovem de dezenove anos que era

portadora da siacutendrome de Down Era uma garota bem extrovertida amigaacutevel carinhosa

etc Ela tinha seu tinha seu lado carinhoso mas tambeacutem tinha o seu lado revoltado e

todos criticavam-na por ser diferente por ter esse seu lado ldquobipolarrdquo pelo fato dela mudar

de humor tatildeo facilmente

11

12

13

Muitos faziam o possiacutevel para evitar sua presenccedila por perto Simplesmente

natildeo aceitavam o fato dela natildeo ser ldquoigualrdquo a eles enquanto que deveriam aceitaacute-la da

maneira que ela nasceu da maneira em que ela foi gerada

135

14

15

16

Chamavam-na por apelidos maldosos e preconceituosos como por exemplo

doida (pelo simples fato dela ser portadora de Down que a diferenciava das demais

pessoas) de retardada de doente chamavam-na de feia ridiacuteculaetc

17

18

19

20

21

Ao sofrer esse preconceito ela revidava Sempre reagia com agressotildees e

xingamentos terriacuteveis o que agravava cada vez mais a situaccedilatildeo Acho que pelo fato de

ela ter Down desde a formaccedilatildeo de seu feto deve ter ocorrido algumas alteraccedilotildees em seu

ceacuterebroo que prejudica muito a crianccedila em questotildees de aprendizado de se socializar

poreacutem isso natildeo a impedia de considerar essas praacuteticas de bullying como algo tatildeo seacuterio

22

23

24

25

26

Atualmente a situaccedilatildeo ainda se repete por falta de atenccedilatildeo dos pais Sua matildee

natildeo era aquele tipo de matildee que se interessava como foi o dia na escola se as aulas foram

boas essas coisas que normalmente as matildees fazem Ela soacute precisa de um pouco mais de

atenccedilatildeo e compreensatildeo dos pais e tenho certeza que esse problema jaacute teria sido

resolvido

27 E vocecirc leitor como agiria se fosse viacutetima de algum tipo de bullying

28

29

30

31

32

Pare e pense na situaccedilatildeo que ocorrera com essa garota Pense Como agiria se

fosse viacutetima ou tivesse observado uma situaccedilatildeo como essa Tambeacutem imagine se vocecirc

se sentiria bem se sofresse certos preconceitos certas ofensas E tambeacutem peccedilo-lhe

venha pensar antes de ldquotentarrdquo praticar esses atos infracionais contra algueacutem Se ponha

no lugar da viacutetima

33 chega de bullying

Fonte Dados da pesquisa

O tiacutetulo foi mantido Os paraacutegrafos em geral ficaram bem organizados Houve

evoluccedilatildeo no emprego dos sinais de pontuaccedilatildeo Evitou a repeticcedilatildeo desnecessaacuteria de palavras e

buscou definir visto que estava em duacutevida segundo ela mesma sobre quais termos usar

Partiu como jaacute haviacuteamos identificado de uma situaccedilatildeo observadavivida Conversa

com o leitor como no exemplo ldquonatildeo eacute mesmordquo (linha 4) ou em ldquoE vocecirc leitorrdquo (linha 27)

buscando leva-lo a refletir sobre a situaccedilatildeo O final eacute interessante muito embora natildeo o

reconheccedilamos como caracteriacutestico de uma crocircnica literaacuteria Mostra discretamente ao leitor seu

ponto de vista a respeito da situaccedilatildeo buscando proporcionar-lhe um momento de reflexatildeo

Descreve bem a Beatriz e superficialmente a matildee poreacutem com caracteriacutesticas

adequadas agrave situaccedilatildeo Apoacutes a anaacutelise dos textos B dos alunos estabelecemos um graacutefico a

respeito de sua evoluccedilatildeo para melhor visualizaccedilatildeo dos resultados nessa etapa Vejamos a seguir

136

Graacutefico 8 ndash Avaliaccedilatildeo das crocircnicas B

Fonte dados da pesquisa

A partir da anaacutelise dos textos dos alunos que frequentaram todas as aulas e se

engajaram nas atividades da SD percebemos que houve na maioria dos itens avaliados uma

sensiacutevel melhora corroborando com o anteriormente dito que os alunos ao tomarem contato

com seus textos de uma primeira produccedilatildeo escrita se orientados e incentivados a reler se

autoavaliar e a ouvir sugestotildees podem sim progredir no sentido de se tornarem escritores mais

haacutebeis e conscientes das etapas que regem o processo de escrita de textos E esse processo se

feito com frequecircncia comeccedila a se automatizar e facilita o aprendizado de qualquer gecircnero que

se venha trabalhar

533 Uma nova reescrita

Retomando seu texto A PI e PF a aluna Ana pediu a oportunidade de reescrevecirc-lo

visto que em sua releitura afirmou que natildeo havia feito apropriadamente e que ao final de todas

as atividades ela percebia o quanto natildeo tinha desenvolvido ainda os procedimentos adequados

para a produccedilatildeo de um texto o que inclui as etapas de releitura autocriacutetica reflexatildeo

reelaboraccedilatildeo e reescrita Segue assim o texto de Ana que chamaremos PFA2

0

05

1

15

2

25

3

35

4

Avaliaccedilatildeo das crocircnicas B

PI-B PF-B

137

Quadro 42 ndash PFA2 Ana ndash Tiacutetulo O que eacute ser chato

1 Como saber quando vocecirc estar sendo chato

2 Bom depois de ler um dos textos maravilhosos do Anaximandro Amorim

3 o chato da vez despertou uma vontade em mim de me aprofundar no assunto

4

5 Eacute muito difiacutecil dizer o que de fato eacute ser chato ou melhor listar tudo o que eacute pura

6 chatice demoraria horas e horas Vocecirc se considera chato

7 Sabe quando vocecirc estar sendo chato Olha muito cuidado um chato nunca

8 se acha chato digo isso com toda convicccedilatildeo

9

10 Conheccedilo uma menina ela eacute da minha escola graccedilas

11 a Deus natildeo eacute da minha sala Ameacutem

12 Ela tem uma mente aberta uns gosto legais mas cara

13 ela desconhece a palavra limites isso a torna very chata

14 uma mina linda de opiniotildees legais que natildeo sabe ver quando natildeo a querem

15 por perto quando ela estar atrapalhando e natildeo entende

16 quando o papo ja ta chato e a pessoa ta fugindo dela mas mesmo assim

17 acha que a pessoa ta super interessada e ela se engana e

18 acaba se tornando uma chata eu a considero minha amiga

19 ela me apoia e me sempre da uma levantada na minha auto-estima

20 uma garota interessante agraves vezes e por tempos curtos ela eacute

21 daquele tipo de pessoas que a gente passa comprimenta e

22 natildeo para pra conversar so quando ela chama e as vezes ainda invento desculpas

23 pra natildeo ir e se vou quando passa de cinco minutos eu jaacute

24 fico SU-FO-CA-DA parece que ela estraga o papo

25

26 Enfim ser chato eacute natildeo saber quando vocecirc ta forccedilando a barra

27 eacute natildeo reconhecer quando vocecirc estar sendo chato

28 ser chato eacute natildeo ter limites afinal tudo tem Natildeo eacute mesmo Fonte Dados da pesquisa

Por fim Ana reescreveu seu texto colocando-o em 5 (cinco paraacutegrafos) e o elaborou

visando ao que a instruccedilatildeo da atividade requer um texto que possa inspirar reflexatildeo sobre o

que eacute ser chato e o que eacute ser legal poreacutem sem colocar a questatildeo do botatildeo de bloqueio da vida

real Atraveacutes dos exemplos Ana conduziu seu leitor a refletir atendendo aos criteacuterios de partir

de uma situaccedilatildeo vividaobservada como vemos nas linhas 10-24 e conversando com o leitor

como percebemos nas marcas linguiacutesticas em ldquoComo saber quando vocecirc estar sendo chatordquo

(linha 1) ldquoVocecirc se considera chatordquo (linha 6) ldquoSabe quando vocecirc estar sendo chatordquo (linha

7) e ldquoNatildeo eacute mesmordquo (linha 28) e descreve uma personagem ldquouma menina ela eacute da minha

escolardquo (linha 10) que inseriu em seu texto para ilustrar a situaccedilatildeo

Apesar de Ana ainda deixar a desejar em outros aspectos tanto textuais quanto

formais de convenccedilotildees da escrita percebemos que ela evoluiu no criteacuterio organizaccedilatildeo de

138

paraacutegrafos e emprego dos sinais de pontuaccedilatildeo Em ldquograccedilas a Deus natildeo eacute da minha sala

Ameacutemrdquo ela separa o termo Ameacutem do resto da frase com a viacutergula entendendo que eacute uma

expressatildeo que merecia realce e usa o ponto de exclamaccedilatildeo para expressar seu aliacutevio Ana

demonstra conhecer que o uso de marcas linguiacutesticas como o uso de maiuacutesculas e a separaccedilatildeo

silaacutebica podem dar forccedila a uma palavra fazendo-a ganhar maior expressividade como em ldquoSU-

FO-CA-DArdquo na linha 24 Ao longo de seu texto Ana emprega muitas palavras do cotidiano

giacuterias inclusive e marcas da oralidade ndash o que natildeo necessariamente eacute um problema em uma

crocircnica literaacuteria poreacutem conveacutem relembrar a questatildeo da experiecircncia e habilidade no uso de tais

de modo a natildeo cansar o leitor

Sua estrateacutegia para iniciar o texto foi partir da intertextualidade (ldquoBom depois de

ler um dos textos maravilhosos do Anaximandro Amorim lsquoo chato da vezrsquo despertou uma

vontade em mim de me aprofundar no assuntordquo linhas 1-3) Desse modo Ana fez uso da

informaccedilatildeo de uma de nossas aulas de quando trabalhamos com a crocircnica ldquoCarta de punhordquo

cuja leitura em sala e atividade de exploraccedilatildeo do texto mostrava que o autor cronista com

publicaccedilotildees frequentes no jornal buscava nas proacuteprias produccedilotildees retomar seus assuntos

passados Uma curiosidade que foi despertada em Ana para o momento havia sido ldquoe pode

isso professorardquo ao que respondemos afirmativamente poreacutem o sucesso da estrateacutegia viria

com o tempo e a experiecircncia de cada autor da intimidade que esse tivesse com a liacutengua materna

e com a situaccedilatildeo de produccedilatildeo tudo dentro do contexto

Consideramos assim que o uso da estrateacutegia pela aluna foi um ponto positivo em

sua participaccedilatildeo posto que caracteriza envolvimento com o projeto e as aulas Ademais desejar

fazer mais uma reescrita quando natildeo havia mais a exigecircncia pois como dissemos jaacute haviacuteamos

encerrado os moacutedulos e estaacutevamos reescrevendo o texto para circulaccedilatildeo social eacute um ponto

bastante positivo no tocante aos procedimentos de escritor apoacutes algum tempo ela releu seu

texto achou-o inadequado ou insuficiente para as caracteriacutesticas do que se estava estudando e

produzindo e tomou a iniciativa de refazecirc-lo

139

6 CONCLUSAtildeO

O foco principal de nosso trabalho foi o desenvolvimento da competecircncia

comunicativa escrita Para tanto consideramos o processo tendo como produto o texto cujo

valor real foi-lhe atribuiacutedo valor social com direito a circulaccedilatildeo levado a puacuteblico

O gecircnero escolhido foi a crocircnica literaacuteria Poderia ter sido outro visto que o trabalho

com o processo de escrita dentro de uma sequecircncia didaacutetica comporta qualquer gecircnero textual

Poreacutem como dissemos na introduccedilatildeo a escolha do gecircnero partiu de uma motivaccedilatildeo pessoal

Passado todo o processo da escolha de como trabalhar ateacute a publicaccedilatildeo dos textos

julgamos oportuno avaliar todos os acircmbitos

Por percebermos ao longo dos anos de experiecircncia que vaacuterios alunos produzem

seus textos sem recorrer agrave etapa do planejamento a da revisatildeo e a da reescrita visamos entatildeo

nesta pesquisa devido agrave ausecircncia de tais procedimentos responder agraves seguintes questotildees-

problema desdobradas a partir da questatildeo baacutesica como ensinar a produccedilatildeo escrita no 9ordm ano do

Ensino Fundamental enfocando o ato de redigir como um processo visto que haacute estudantes

deste niacutevel que normalmente natildeo tecircm o haacutebito de planejar seus textos

A partir desse questionamento nos perguntamos

a) que atividades pedagoacutegicas possibilitam aos alunos a consciecircncia de que eacute

preciso desenvolver estrateacutegias proacuteprias (recorrer agrave etapa do planejamento da

revisatildeo e da reescrita) para produzir seus textos

b) de que forma o conhecimento sobre a estrutura composicional de um gecircnero

pode ajudar a superar as dificuldades

c) a comparaccedilatildeo das produccedilotildees inicial e final permitiraacute associar a melhoria do

desempenho da competecircncia escrita e a apropriaccedilatildeo do gecircnero crocircnica literaacuteria ao

desenvolvimento da sequecircncia de atividades

Buscando encontrar uma praacutetica que resultasse em textos melhores fizemos uso

em nossa sequecircncia de atividades de teorias que norteassem o trabalho com a escrita como

processo com a sequecircncia didaacutetica com gecircnero textual e com o gecircnero crocircnica narrativa A

importacircncia desse aparato teoacuterico para o professor que visa minimizar as dificuldades dos

alunos e diminuir a praacutetica da escrita improvisada permite-lhe compreender como se daacute o

processo cognitivo durante a produccedilatildeo de um texto o que o leva a considerar para seu trabalho

com os alunos aspectos como audiecircncia e circulaccedilatildeo social reais como praacuteticas de uma

140

sociedade letrada o que vai aleacutem da preocupaccedilatildeo com a gramaacutetica e a ortografia apenas de

um texto produzido somente para o professor e a nota

Ao longo da aplicaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica confirmamos o que a experiecircncia de

sala ao longo dos anos apontava o conhecimento sobre a estrutura composicional de um gecircnero

pode ajudar a superar as dificuldades de escrita por mostrar ao aluno o que precisa estar contido

em seu texto Os exemplos que o professor venha a trabalhar em sala com a turma mostram

modelos de gecircneros com aspectos que podem sim ser imitados de iniacutecio ateacute que quando o

aluno ganhe experiecircncia possa manejar melhor as palavras e as ideias que deseje colocar para

seu leitor assumindo assim um estilo proacuteprio de escrita

Como professora realizar a pesquisa nos permitiu refletir sobre a nossa proacutepria

praacutetica posto que superar as proacuteprias deficiecircncias no ensino da produccedilatildeo textual foi uma grande

inquietaccedilatildeo Reconhecer as praacuteticas nos foi importante para saber em que aspectos ainda temos

desafios a superar e para reforccedilar e desenvolver aspectos positivos em noacutes Ter clareza de como

se situam os iacutendices de avaliaccedilatildeo na turma na escola no municiacutepio no estado e no paiacutes tambeacutem

foi bastante importante Normalmente a tendecircncia coletiva estaacute em descrer na educaccedilatildeo poreacutem

mesmo que muito lentamente observamos progresso histoacuterico na concepccedilatildeo de aprendizado da

liacutengua materna no valor que eacute dado agrave leitura e agrave escrita

Apoacutes as oficinas a anaacutelise dos objetivos elencados ao iniacutecio de todo o processo

com dados comparativos entre produccedilatildeo inicial e produccedilatildeo final constatamos a relevacircncia da

hipoacutetese baacutesica os alunos do 9ordm ano produziram textos na etapa final das oficinas utilizando-

se das caracteriacutesticas do gecircnero textual crocircnica literaacuteria compreendendo que escrita eacute interaccedilatildeo

valorizando o uso social da escrita de acordo com a proposta teoacuterica de gecircnero preparando

seus textos pautados nas etapas do processo de redigir conforme as orientaccedilotildees dadas em sala

de aula

Sobre nossas hipoacuteteses secundaacuterias pensamos que eacute possiacutevel sim motivar os

alunos a escrever ao desenvolver com eles atividades voltadas para os diferentes subprocessos

e habilidades envolvidos no ato de redigir Poreacutem para haver o engajamento e resultar em uma

turma que escreva textos compatiacuteveis com o grau de desenvolvimento de habilidades esperadas

para o ano que cursam enfrentamos desafios como o aspecto do imediatismo e da recompensa

A natildeo adesatildeo de vaacuterios alunos ao projeto se deu por este natildeo valer nota Portanto

sem uma recompensa imediata natildeo houve o engajamento Nossos alunos infelizmente natildeo

estatildeo habituados a pensar a longo prazo a planejar alcanccedilar metas nem integrar atividades que

lhes facilitem a vida estudantil no futuro Talvez ndash pensamos ndash nem a cultura escolar abranja

141

ainda um trabalho soacutelido e constante nesse sentido Apesar disso haacute professores que se

empenham em fazer um trabalho constante de leitura e na medida do possiacutevel de escrita ao

qual fizemos nossa contribuiccedilatildeo

Por uacuteltimo apoacutes a realizaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica proposta ao contrastarmos as

produccedilotildees inicial e final dos alunos principalmente no que concerne agrave produccedilatildeo realizada para

fins de circulaccedilatildeo social real considerando uma audiecircncia real verificamos um desempenho

mais satisfatoacuterio em relaccedilatildeo agrave competecircncia discursiva realizada no gecircnero crocircnica literaacuteria

visto que os processos de escrita foram considerados no ato da produccedilatildeo de suas proacuteprias

crocircnicas

Para que essa produccedilatildeo fosse efetiva houve que se ter em mente na elaboraccedilatildeo dos

moacutedulos que qualquer tarefa de escrita bem-sucedida requer o exerciacutecio da escrita e da reescrita

Esse processo de aperfeiccediloamento dos textos demanda da parte do professor planejamento

para conhecer as necessidades de natureza geral da turma para trabalhar as caracteriacutesticas de

um gecircnero bem como as de natureza individual do aluno como as limitaccedilotildees no

reconhecimento do gecircnero textual na progressatildeo narrativa nas convenccedilotildees da escrita culta

Pensamos que poderia ser interessante para o aperfeiccediloamento desta SD ampliar e

diversificar mais os textos que compotildeem o moacutedulo de reconhecimento para antes da primeira

produccedilatildeo dos alunos visando oferecer uma visatildeo mais ampla do gecircnero Aleacutem disso

percebemos que tambeacutem eacute preciso que enquanto professores trabalhemos recorrentemente a

instruccedilatildeo da produccedilatildeo com os alunos no sentido de que eles compreendam que natildeo apenas um

aspecto seja escolhido para ser trabalhado mas todos os que nela estatildeo contidos

Aplicar uma SD eacute um trabalho que exige bastante do professor pois se trata de

conhecer o perfil de cada turma em que se decide aplicar um projeto de escrita diagnosticar

planejar os moacutedulos e pensar que o produto pode e deve ter circulaccedilatildeo no meio social Para

tanto eacute importante frisar que a rede de ensino acolha e apoie o professor motivando-o e

possibilitando-lhe as condiccedilotildees necessaacuterias e adequadas para o desenvolvimento de projetos de

escrita dentre as quais podemos mencionar formaccedilatildeo continuada que incentive os projetos de

escrita reforccedilo agraves condiccedilotildees dos materiais das escolas manter o nuacutemero de alunos adequado

nas salas evitando a superlotaccedilatildeo

No tocante aos alunos especialmente os que integraram todos os encontros de todos

os moacutedulos notamos que estes afirmaram que amadureceram ao longo do processo aprendendo

gradualmente a ter controle de sua escrita relendo quando necessaacuterio refletindo buscando

142

clareza Tambeacutem apreciaram muito poder opinar sobre os textos dos colegas visto que estavam

se apropriando das caracteriacutesticas do gecircnero estudado e sentiram seguranccedila para colaborar

Quanto ao trabalho com nuacutemero reduzido de alunos ao permanecerem no projeto

apenas aqueles que se interessaram em melhorar seu desempenho pessoal em leitura e produccedilatildeo

conforme eles mesmos disseram o grupo menor ficou mais coeso e permitiu-lhes liberdade

para trabalhar fosse com discussotildees sugestotildees ou mesmo para dar apoio ateacute mesmo na hora

de ler em voz alta para todos Foi um progresso coletivo e reafirmou a amizade entre o grupo e

tambeacutem conosco por ver que a colaboraccedilatildeo era acompanhada de afetividade

A produccedilatildeo dos textos para circulaccedilatildeo social escrevendo no celular foi produtiva

visto que oportunizou aos alunos o uso da tecnologia que eles afirmam preferir permitindo

agravequeles que natildeo gostam muito de produzir textos com os recursos tradicionais (folha de

produccedilatildeo e caneta) participarem ativamente do processo de produccedilatildeo textual Essa tecnologia

pode ser considerada para futuros trabalhos com alunos do ensino fundamental

Gostariacuteamos de mencionar que este trabalho do iniacutecio ao fim tratou com questotildees

de motivaccedilatildeo e inquietaccedilotildees reais e pessoais A queda abrupta do nuacutemero de participantes

desde o momento da adesatildeo ateacute o da produccedilatildeo para a circulaccedilatildeo eacute reflexo dos desafios que

qualquer professor enfrenta em sua sala cotidianamente No entanto as aulas regulares

diferentemente da proposta da aplicaccedilatildeo do projeto tecircm consigo uma carga de obrigatoriedade

ao exigir a frequecircncia a assiduidade a entrega de tarefas e as avaliaccedilotildees ndash itens que compotildeem

a nota para a aprovaccedilatildeo anual

Em decorrecircncia dessa obrigatoriedade se contrastarmos o desempenho dos alunos

no projeto ao seu desempenho regular na sala de aula de qualquer disciplina natildeo apenas na

liacutengua portuguesa veremos estudantes sem uma motivaccedilatildeo que os conecte ao desenvolvimento

das aulas natildeo permitindo o amadurecimento de suas capacidades e habilidades Como

professora da turma que aplicou o projeto sem exigecircncia de notas percebi que os alunos em

sua maioria natildeo gostariam de estar na escola Muitos natildeo veem ainda sentido em estar presentes

uma tarde inteira 20 (vinte) horas semanais sentados copiando tendo preguiccedila de elaborar

reflexotildees

Esse comportamento desmotivado que se generaliza em escolas de diversos pontos

do Paiacutes desanima tambeacutem os professores gerando a consequecircncia de ao inveacutes de buscarem

novas estrateacutegias para as aulas acabarem mantendo a praacutetica e ainda se conformando com o

senso comum de que ldquoesses alunos natildeo querem nadardquo fora a conjuntura social e econocircmica que

143

por si soacute eacute desanimadora ao limitar recursos e investimentos em educaccedilatildeo desvalorizando a

figura do professor

Gostariacuteamos de acrescentar que sim eles querem Mas ainda natildeo sabem ao certo o

que querem E talvez o que eles possam vir a querer ainda natildeo esteja sendo claramente

apresentado pois atividades tradicionais natildeo os atraem a querer conhecer mais e aprender mais

sobre determinados assuntos que podem acrescentar-lhes agrave vida diaacuteria Ficaria aiacute um desafio ao

professor ao projeto poliacutetico pedagoacutegico da escola e agraves redes de educaccedilatildeo baacutesica repensar o

curriacuteculo para os estudantes deste seacuteculo

Como pudemos observar este trabalho teve sim lacunas que podem ser sanadas

com outras pesquisas Apesar disso acreditamos que a pesquisa-accedilatildeo que realizamos pocircde

aleacutem de ofertar contribuiccedilotildees no acircmbito acadecircmico ao evidenciar vitoacuterias e expor os desafios

encorajar os alunos participantes da pesquisa principalmente os que tiveram a compreensatildeo de

que sua participaccedilatildeo lhes valeria para aleacutem de integrar pontos para uma nota no sentido de que

se permitiram evoluir como produtores de texto em sua liacutengua materna direito que lhes cabe

desde o momento em que satildeo reconhecidos cidadatildeos e que ingressam nas escolas brasileiras

144

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145

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Continuada Alfabetizaccedilatildeo Diversidade e Inclusatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Profissional e

Tecnoloacutegica Conselho Nacional da Educaccedilatildeo Cacircmara Nacional de Educaccedilatildeo Baacutesica

Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educaccedilatildeo Baacutesica Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

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Escrita para que te quero Fortaleza Ediccedilotildees Demoacutecrito Rocha UECE 2005 Coleccedilatildeo

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VIEIRA Iuacuteta Lerche Escrita para que te quero In VIEIRA Iuacuteta Lerche Escrita para que

te quero Fortaleza Ediccedilotildees Demoacutecrito Rocha UECE 2005 Coleccedilatildeo Magister p 13-14

VIEIRA Iuacuteta Lerche Abordagem imitativa da redaccedilatildeo trabalhando com formatos e gecircneros

In VIEIRA Iuacuteta Lerche Escrita para que te quero Fortaleza Ediccedilotildees Demoacutecrito Rocha

UECE 2005 Coleccedilatildeo Magister p159-171

148

APEcircNDICE A ndash ATIVIDADES PROPOSTAS PARA A SEQUEcircNCIA DIDAacuteTICA

Para compor o momento da apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo da sequecircncia de atividades

sensibilizamos os alunos com as caracteriacutesticas baacutesicas das crocircnicas contemporacircneas que foram

descritas na seccedilatildeo correspondente e resgatadas agora organizaccedilatildeo de sua narrativa em primeira

ou terceira pessoa quase sempre como quem conta um caso em tom intimista uma narraccedilatildeo

em que o autor insere em seu texto trechos de diaacutelogos permeados por expressotildees cotidianas

escrevendo como quem conversa com seus leitores como se estivessem muito proacuteximos uso

de temaacuteticas que tratam de reflexotildees sobre a vida social poliacutetica econocircmica por vezes de forma

humoriacutestica outras de modo mais seacuterio outras com jeito poeacutetico permitindo o pertencimento

do gecircnero agrave esfera literaacuteria emprego de linguagem que mescla aspectos da escrita com outros

da oralidade preferecircncia pela brevidade leveza faacutecil acesso e envolvimento Esperamos que

ao final da atividade que aleacutem de respondida por escrito mas principalmente oralmente os

alunos atentem para essas caracteriacutesticas e possam ter um norte quando chegar o momento de

sua primeira produccedilatildeo

Atividade nordm 1

Prova Falsa

Seacutergio Porto (Stanislaw Ponte Preta)

Quem teve a ideia foi o padrinho da caccedilula ndash ele me conta Trouxe o cachorro de

presente e logo a famiacutelia inteira se apaixonou pelo bicho Ele ateacute que natildeo eacute contra isso de se ter

um animalzinho em casa desde que seja obediente e com um miacutenimo de educaccedilatildeo

mdash Mas o cachorro era um chato mdash desabafou

Desses cachorrinhos de raccedila cheio de nheacutem-nheacutem-nheacutem que comem comidinha

especial precisam de muitos cuidados enfim um chato de galocha E como se isto natildeo

bastasse implicava com o dono da casa

mdash Vivia de rabo abanando para todo mundo mas quando eu entrava em casa vinha

logo com aquele latido fininho e antipaacutetico de cachorro de francesa

Ainda por cima era puxa-saco Lembrava certos poliacuteticos da oposiccedilatildeo que

espinafram o ministro mas quando estatildeo com o ministro ficam mais por baixo que tapete de

poratildeo Quando cruzavam num corredor ou qualquer outra dependecircncia da casa o desgraccedilado

rosnava ameaccedilador mas quando a patroa estava perto abanava o rabinho fingindo-se seu

amigo

mdash Quando eu reclamava dizendo que o cachorro era um ciacutenico minha mulher

brigava comigo dizendo que nunca houve cachorro fingido e eu eacute que implicava com o

ldquopobrezinhordquo

Num raacutepido balanccedilo poderia assinalar o cachorro comeu oito meias suas roeu a

manga de um paletoacute de casimira inglesa rasgara diversos livros natildeo podia ver um peacute de sapato

que arrastava para locais incriacuteveis A vida laacute em sua casa estava se tornando insuportaacutevel

Estava vendo a hora em que se desquitava por causa daquele bicho cretino Tentou mandaacute-lo

embora umas vinte vezes e era uma choradeira das crianccedilas e uma espinafraccedilatildeo da mulher

mdash Vocecirc eacute um desalmado mdash disse ela uma vez

Venceu a guerra fria com o cachorro graccedilas agrave maacute educaccedilatildeo do adversaacuterio O

catildeozinho comeccedilou a fazer pipi onde natildeo devia Vaacuterias vezes exemplado prosseguiu no feio

viacutecio Fez diversas vezes no tapete da sala Fez duas na boneca da filha maior Quatro ou cinco

vezes fez nos brinquedos da caccedilula E tudo culminou com o pipi que fez em cima do vestido

novo de sua mulher

149

mdash Aiacute mandaram o cachorro embora mdash perguntei

mdash Mandaram Mas eu fiz questatildeo de daacute-lo de presente a um amigo que adora

cachorros Ele estaacute levando um vidatildeo em sua nova residecircncia

mdash Ueacutehellip mas vocecirc natildeo o detestava Como eacute que arranjou essa sopa pra ele

mdash Problema da consciecircncia mdash explicou mdash O pipi natildeo era dele

E suspirou cheio de remorso

(Disponiacutevel em httpcontobrasileirocombrprova-falsa-cronica-de-sergio-porto-stanislaw-ponte-preta Acesso

em 2612017)

Questotildees

1 Quantos personagens aparecem na histoacuteria Quais vocecirc diria que satildeo os principais

2 Quem teve a ideia foi o padrinho da caccedilula ndash ele me conta

A frase ele me conta eacute um recurso que mostra que a conversa de dois amigos eacute

repassada a uma terceira pessoa Quem eacute ela

3 Que recursos linguiacutesticos mostram a fala do marido e dono da casa onde estava o

cachorro

4 E quais identificam a fala do amigo

5 Onde o marido e seu amigo parecem conversar

6 A partir da fala do marido e das explicaccedilotildees do amigo quais eram as caracteriacutesticas do

cachorro

7 () e eu eacute que implicava com o ldquopobrezinhordquo

Por que pobrezinho estaacute entre aspas

8 Quando aconteceu a histoacuteria

9 Qual foi o problema da histoacuteria

10 Como foi resolvido

11 O destino dado ao cachorro surpreendeu ao amigo Por quecirc

12 Afinal quem era culpado na histoacuteria

13 Que tom predominantemente foi dado a esse texto Humor ironia criacutetica reflexatildeo

lirismo

14 Qual foi o tema principal do texto Vocecirc apontaria outros temas que aparecem na

leitura

15 Que comparaccedilotildees o autor faz com o cachorro Haacute alguma criacutetica Explique

16 Vocecirc conhece o significado das palavrasexpressotildees a seguir Veja

nheacutem-nheacutem-nheacutem chato de galocha puxa-saco

espinafrar espinafraccedilatildeo desquitava guerra fria

vidatildeo sopa

17 Que palavras satildeo usadas no texto para se referir agrave esposa

18 E suspirou cheio de remorso

Explique o valor dessa frase para o contexto da histoacuteria

Atividade nordm 2

Abandono de animais eacute crime e precisa ser denunciado

Por Canal do Pet | 26072016

150

Aleacutem do abandono de animais praacuteticas como bater negar aacutegua ou alimento tambeacutem

satildeo consideradas crime saiba como denunciar

Infelizmente o abandono de animais estaacute cada dia mais presente nos noticiaacuterios

Mesmo com tantas campanhas contra a praacutetica muita gente ainda comete esse crime -

principalmente quando eacute eacutepoca de feacuterias mesmo natildeo havendo um nuacutemero exato as estatiacutesticas

dos institutos de pesquisa afirmam que nos periacuteodos de feacuterias haacute um pico no abandono de

animais Existem muitos relatos de donos que deixam os cachorros em pet shops veterinaacuterios

e hoteacuteis para cachorro e simplesmente nunca mais voltam para buscaacute-los Esse problema pode

estar atrelado a decisatildeo precipitada de ter um animal de estimaccedilatildeo

A Lei 960598 (Lei de Crimes Ambientais) prevecirc os maus-tratos como crime O

decreto 2464534 (Decreto de Getuacutelio Vargas) determina quais atitudes podem ser consideradas

como maus-tratos Qualquer pessoa que for testemunha de um abandono de

animais domeacutesticos ou exoacuteticos pode ir agrave delegacia mais proacutexima A Promotora de Justiccedila

permite a denuacutencia anocircnima Mas para que a denuacutencia seja realizada vocecirc precisa ter certeza

do crime pois uma acusaccedilatildeo falsa eacute outro crime Aleacutem disso no momento da denuacutencia na

delegacia eacute preciso passar o maior nuacutemero de informaccedilotildees possiacuteveis em relaccedilatildeo ao infrator

como seu endereccedilo residencial ou comercial

Caso o animal esteja abandonado em um terreno baldio ou propriedade particular

por exemplo natildeo hesite em invadir o local para salvar o bichinho a sua accedilatildeo seraacute amparada

pela lei O decreto de lei nuacutemero 284840 artigo 24 considera a invasatildeo para salvamento de

um animal em perigo uma atitude de necessidade e portanto natildeo haveraacute nenhum tipo de

puniccedilatildeo

Aleacutem do abandono outras praacuteticas satildeo consideradas crimes pela lei Uma delas eacute o

atropelamento de um animal sem que haja a prestaccedilatildeo de assistecircncia por parte do condutor do

veiacuteculo tambeacutem eacute ilegal Se presenciar essa situaccedilatildeo anote a placa do carro hora e local Outra

eacute a ameaccedila de envenenamento Bater espancar prender por correntes recusar aacutegua e comida e

obrigar ao trabalho excessivo tambeacutem satildeo praacuteticas proibidas

Algumas pessoas preferem natildeo denunciar pelo fato do infrator ser algueacutem proacuteximo

um amigo ou familiar por exemplo Mas lembre-se de que eacute possiacutevel efetuar a denuacutencia de

maus tratos ou abando de animais de forma anocircnima Por isso ao presenciar qualquer situaccedilatildeo

que possa colocar um animal em risco tire foto grave um viacutedeo tenha provas concretas do

acorrido e denuncie Vocecirc seraacute apenas a testemunha o Estado faraacute o restante

Disponiacutevel em httpcanaldopetigcombrcuidados2016-07-26abandono-de-animaishtml Acesso em 22 de

agosto de 2017

Atividade nordm 3

O chato da vez Anaximandro Amorim

Ai meu Deus eu sou muito chato afirmou um amigo em uma conversa informal

Engraccedilado Eu natildeo o acho chato muito pelo contraacuterio Gosto da companhia dele Seraacute que ele

natildeo estaria sendo muito duro consigo mesmo Ou seraacute que eu sou tatildeo chato quanto ele

E vocecirc leitor Vocecirc eacute chato Todo mundo eacute chato ningueacutem eacute chato Do alto desses

meus quase quarenta anos de vida percebi que chatice natildeo eacute qualidade eacute estado de espiacuterito

Dependo de quem quando e onde E sem menos perceber vocecirc leitor pode ser o chato da

vez Cuidado

Foi o que me aconteceu esses dias Um colega insinuou que eu estava sendo chato

Foi num arroubo de fuacuteria o cidadatildeo estava tendo um ataque de nervos Dizem que eacute assim que

151

as verdades vecircm agrave tona Engraccedilado sempre achei que o havia tratado com distinccedilatildeo Talvez

essa fosse tal ldquochaticerdquo ser educado com as pessoas num mundo cada vez mais carente disso

Bom melhor ser chato do que grosso neacute

Particularmente faccedilo tudo para natildeo ser chato Tento ser discreto falar o menos

possiacutevel ouccedilo mais pergunto quase nada sobre a vida particular das pessoas Acho chato

quando fazem isso comigo Natildeo gosto de pegar no peacute A reciacuteproca eacute verdadeira Mas acho que

agraves vezes por medo da chatice acabo chateando algumas pessoas Haacute uma linha muito tecircnue

nesse negoacutecio todo Chato eacute natildeo saber a hora de ultrapassaacute-la E no fundo todo mundo a

ultrapassa

Esses dias aliaacutes fui agrave forra Havia um chato que me chateava haacute uns dois anos

Chato de rede social Daqueles que veem a gente uma duas vezes no maacuteximo e jaacute acham que

podem tomar certas liberdades Meu pavio eacute ateacute meio longo mas chegou uma hora que natildeo

deu Bloqueei o sujeito Estava chato demais Eacute uma pena que na vida real a gente natildeo tenha

esse botatildeo Ia ter tanta gente para bloquear

Em todo caso discordo desse meu amigo Acho que dois chatos natildeo se datildeo Ou ele

estava chato ou era eu Ou na posiccedilatildeo em que estaacutevamos natildeo dava para saber Se bem que

chato que eacute chato natildeo se acha chato Os outros eacute que acham Assim melhor terminar esta

crocircnica que estaacute uma grande chatice por aqui Antes que algueacutem ache definitivamente que o

chato da vez sou eu

Disponiacutevel em httpanaximandroamorimcombrAbreEmDIV]ajaxasplink=amateriaampid=127 Acesso em

24 mai 2017

Questotildees

1 Vamos falar de marcas de autoria

a) De quem eacute a voz que fala no texto Que idade tem essa voz Essa voz fala com algueacutem

Com quem Mostre alguma(s) passagem que indique isso

b) Onde a situaccedilatildeo se passa Haacute algum lugar especiacutefico

c) Esse texto estaacute no passado no presente ou no futuro

d) Do que trata a situaccedilatildeo Ela surgiu de alguma ocasiatildeo especiacutefica Se sim qual

2 O que o autor nos leva a entender que eacute ldquoser chatordquo

3 Que sensaccedilotildees esse texto despertou em vocecirc Explique

4 Vocecirc se considera um(a) chato(a) Por quecirc Em que ocasiotildees

5 Quando o assunto eacute redes sociais

a) Vocecirc tem alguma Qual

b) Com que frequecircncia vocecirc acessa

c) Vocecirc costuma escrever e postar Que tipo de material (textos fotos viacutedeos)

d) Vocecirc tem haacutebito de acompanhar postagens de algueacutem Que tipo de posts vocecirc

acompanha Costuma interagir por meio de comentaacuterios de expressatildeo de opiniatildeo

6 Vamos ver se vocecirc conhece o significado das palavrasexpressotildees a seguir

com distinccedilatildeo pegar no peacute

linha muito tecircnue fui agrave forra

7 Leia o trecho abaixo

Meu pavio eacute ateacute meio longo mas chegou uma hora que natildeo deu Bloqueei o sujeito

Estava chato demais Eacute uma pena que na vida real a gente natildeo tenha esse botatildeo Ia ter tanta

gente para bloquear

a) Qual eacute sua opiniatildeo sobre o pensamento que o autor expressa no trecho acima

b) Vocecirc tambeacutem teria gente para bloquear Por que razotildees

152

c) Agora vamos produzir Inspirado(a) nessa temaacutetica do trecho acima produza um texto

em forma de crocircnica que converse com seu leitor sobre o que eacute ser legal e ser chato a

partir de situaccedilotildees que vocecirc tenha vivenciado e ou observado Vamos determinar quem

seraacute esse leitor

bull Tem a sua idade

bull Acessa redes sociais

bull Lecirc e posta com frequecircncia

bull Interage com as postagens que estatildeo na rede seja de amigos pessoais ou apenas de

outros usuaacuterios

Antes de comeccedilar pense que sensaccedilotildees eu quer causar no meu leitor

Quero fazecirc-lo rir Se emocionar Refletir Que outras sensaccedilotildees seriam possiacuteveis

Faccedila entre 3 e 6 paraacutegrafos Vocecirc pode usar personagens que conversem e

expliquem o assunto (como em Prova Falsa) ou falar diretamente com seu leitor (como

em O chato da vez) Releia Reescreva o que natildeo estiver bem ao seu gosto Ao terminar

seu texto decirc-lhe um tiacutetulo coerente e passe a limpo na folha de produccedilatildeo Bom trabalho

Atividade nordm 4

Manias Ana Mello

Dos vaacuterios significados que meu amigo Aureacutelio apresenta o melhor diz que mania

eacute uma ideia fixa obsessatildeo Mau costume tambeacutem eacute bem significativo Ou extravagacircncia

esquisitice

Dizem por aiacute que vamos ficando velhos e as manias aumentam e se consolidam Eacute

verdade eu observo nos mais velhos do que eu Poucos conseguem controlar aquele impulso

profundo de dar sua opiniatildeo Essa eacute uma mania das mais chatas Repeti-la muitas vezes entatildeo

eacute maccedilante

Jaacute descobri tambeacutem que eacute quase inevitaacutevel ter manias na velhice muitas vecircm da

juventude mesmo condenamos e depois de um tempo fazemos igual sem cerimocircnia alguma

Uma amiga me enviou uma oraccedilatildeo sob o tiacutetulo ldquoOraccedilatildeo para ser uma velhinha

legalrdquo Vou fazer todos os dias e envio coacutepia a quem precisar Separei algumas frases as mais

interessantes

Livrai-me Senhor da tolice de achar que devo dizer algo em toda e qualquer

ocasiatildeo Deste desejo enorme que tenho de querer pocircr em ordem a vida dos outros Da tolice

de querer contar tudo com detalhes e minuacutecias e daacute-me asas para voar diretamente ao ponto que

interessa Jaacute descobri que pessoas que acertam sempre satildeo maccedilantes e desagradaacuteveis Livrai-

me de ser santa Eacute difiacutecil conviver com Santos Mas uma velha rabugenta Senhor eacute obra prima

do diabo

Acho que a oraccedilatildeo pode ser feita por pessoas jovens tambeacutem pois essas manias natildeo

satildeo exclusivas das velhinhas

Fiquei agora com uma duacutevida seraacute que escrever crocircnicas semanais e mandar para

todos os amigos eacute mania Se for azar o de vocecircs amigo eacute para isso mesmo

Enviado por Ana Mello em 02112007

Coacutedigo do texto T720831

Disponiacutevel em httpwwwrecantodasletrascombrcronicas720831

153

Acessado em 23102017

1 Quem eacute ldquomeu amigo Aureacuteliordquo

2 Que exemplos de manias a autora nos apresenta em seu texto

3 Que impressotildees esse texto causou em vocecirc

4 Segundo essa crocircnica quem tem manias Vocecirc concorda Por quecirc

5 Liste aqui manias que vocecirc sabe que tem Apoacutes terminar pense vocecirc as considera

boas ou maacutes manias Por quecirc

6 Vamos fazer um exerciacutecio de escrita Escreva uma crocircnica em que vocecirc fale de suas

manias Converse com o leitor conte a ele suas experiecircncias Faccedila comparaccedilotildees com

pessoas que vocecirc conhece Vocecirc pode inclusive comparar-se hoje a vocecirc daqui a uns

quarenta anos Como seraacute que suas manias vatildeo ser Vatildeo parecer com as das pessoas

mais velhas que vocecirc conhece e convive mas cujas manias vocecirc tanto critica Seratildeo

manias diferentes Seratildeo melhores ou piores

Obs coloque um tiacutetulo interessante e que chame a atenccedilatildeo de seu leitor

Pense que seu texto poderia ser publicado num blog ou mesmo numa paacutegina de rede

social ndash sendo assim que tipo de leitor vai ler o seu texto Ao terminar releia arrume

as ideias e passe a limpo para a folha de produccedilatildeo textual

Atividade nordm 5

Pacto apoacutes morte natildeo podia ver faca Nonato Reis

Essa histoacuteria de prometer retornar ao mundo dos vivos apoacutes o desenlace soa

esquisito e jaacute colocou muita gente em maus lenccediloacuteis A morte pelo misteacuterio que carrega incute

a curiosidade de tentar desvendaacute-la e saber o que de fato existe por traacutes dela Eacute uma questatildeo

que permaneceraacute insoluacutevel ateacute que a ciecircncia elucide-a se eacute que isso algum dia ocorreraacute

Enquanto natildeo atingimos esse estaacutegio temos que ficar com o relato daqueles que se dizem

viacutetimas ou privilegiados de experiecircncias poacutes-tuacutemulo

No Ibacazinho na Palmela no Muricituba e no Marimar era comum as pessoas

fazerem promessas agrave semelhanccedila do pacto selado entre Alvinho e Pau Ferro Na maioria das

vezes o defunto natildeo conseguia voltar deixando frustrados ou aliviados aqueles com quem fez

o acordo Foi o caso de Rui um primo meu que ldquose acertourdquo com Ponina aquela tia-avoacute

descrita em uma de minhas crocircnicas

Rui era um dos poucos que natildeo tinham medo da Tapera de Maria Fernandes Tanto

que decidiu erguer casa justo ali naquele retacircngulo amaldiccediloado e por muito tempo antes de

se casar foi morador solitaacuterio do lugar sem nunca jamais ter visto qualquer coisa fora do

universo dos vivos

Os dois combinaram que aquele que morresse primeiro viria dar sinal ao outro na

noite posterior ao sepultamento Ponina que devia ser uns 50 anos mais velha do que ele tinha

a maior probabilidade de ficar com a obrigaccedilatildeo de cumprir o trato e foi o que aconteceu Poreacutem

os dias e as noites passaram apoacutes o falecimento dela sem que a finada desse qualquer sinal da

sua presenccedila para Rui

Eu tambeacutem caiacute nessa besteira de fazer uma promessa com uma menina do primeiro

ano meacutedio e vivi uma situaccedilatildeo constrangedora Rosa era baixinha corpo bem feito cabelos no

estilo pigmaleatildeo excelente aluna fera em Matemaacutetica e Fiacutesica Nossa aproximaccedilatildeo se deu por

estrateacutegia de aprendizado

154

Eu tinha facilidade em Portuguecircs e Redaccedilatildeo uacutenicas mateacuterias que ela natildeo dominava

e precisava de reforccedilo em Fiacutesica e Matemaacutetica Selamos um pacto de ajuda muacutetua nessas

disciplinas que depois se estendeu para depois da vida ldquoSe eu morrer primeiro eu apareccedilo

para ti em plena Rua Grande apinhada de gente e se tu fores primeiro do que eu tu me surges

agrave noite no meu quartordquo

Eu natildeo entendi o porquecirc da escolha do local da minha apariccedilatildeo mas aceitei Os

anos se passaram eu entrara para a universidade perdi o contato com ela Um dia caminhando

pela Rua Grande veacutespera de Natal gente feito formiga dei de cara com aquela menina

tampinha cabelos no mesmo estilo de antes que diante de mim abriu um enorme sorriso e abriu

os braccedilos para me acolher Eu caiacute das nuvens mas antes que ela me alcanccedilasse danei a correr

feito louco fazendo zigue-zague entre as pessoas ateacute esbarrar num orelhatildeo e me estatelar no

chatildeo o rosto sangrando Assustada Rosa ajoelhou-se diante de mim e quis saber o motivo

daquela reaccedilatildeo ldquoCara o que eacute isso Tu viu fantasmardquo Eu baixei a cabeccedila o coraccedilatildeo prestes a

explodir e natildeo consegui dizer nada

Situaccedilatildeo pior viveu o professor Auriacutelio Vieira de Andrade que fizera um pacto

desses com um primo ainda menino Ele cresceu veio estudar em Satildeo Luiacutes e levou anos para

retornar ao interior Um belo dia em feacuterias na casa paterna Auriacutelio conversava com a matildee em

volta do fogatildeo de lenha quando do nada surgiu o menino da promessa e o pegou pelo braccedilo

dizendo ldquoVamos eu vim te buscarrdquo

Ele natildeo se lembrava mais da estoacuteria nem do menino Pensou que se tratava de uma

brincadeira e reagiu com naturalidade ldquoCalma para onde vocecirc quer me levarrdquo O menino

respondeu ldquopara o aleacutemrdquo Auriacutelio sorriu ldquomas eu ainda natildeo quero ir para o aleacutemrdquo O menino

natildeo se deu por vencido ldquoNatildeo importa a tua vontade vocecirc fez um pacto comigo e eu vim te

buscarrdquo

Foi entatildeo que o caso ressurgiu liacutempido na memoacuteria de Auriacutelio e ele viu que a coisa

era seacuteria A matildee percebendo a gravidade da situaccedilatildeo poreacutem sem avistar o menino tratou de

ajudar o filho segurando-o pelo braccedilo mas notou que havia uma energia ali muito maior que a

resistecircncia de ambos e apelou aos ceacuteus pedindo socorro divino

Auriacutelio jaacute desaparecia na porta da rua quase que levado aos trambolhotildees

Desesperada a matildee comeccedilou a rezar o Pai Nosso e o Credo e soacute assim conseguiu ter o filho de

volta Auriacutelio poreacutem viveu dias amargos ldquoPassei quase um mecircs deprimido Soacute pensava em

suiciacutedio Natildeo podia ver faca perto de mimrdquo

Crocircnica escrita em janeiro de 2017

Questotildees

Parte I ndash Vocabulaacuterio

a) Vocecirc conhece estas palavras

Desenlace Incute

Insoluacutevel Tapera

Pigmaleatildeo Apinhada

b) Vocecirc observa marcas de oralidade no texto Vamos destacar algumas

c) Que outras palavras ou expressotildees satildeo muito correntes no vocabulaacuterio do Maranhatildeo

Parte II ndash Compreensatildeo

1 Do que trata a histoacuteria

2 Qual eacute o foco narrativo

155

3 Que personagens aparecem na histoacuteria

4 O que eacute um pacto poacutes-morte Vocecirc sabe de algueacutem que tenha feito algum

5 Vocecirc acredita nessas histoacuterias Fale um pouco a respeito

6 No trecho ldquoSe eu morrer primeiro eu apareccedilo para ti em plena Rua Grande apinhada

de gente e se tu fores primeiro do que eu tu me surges agrave noite no meu quartordquo

Qual seria a vantagem para cada um nos locais das apariccedilotildees E as desvantagens

7 Como seria feito o seu pacto caso um dia vocecirc resolvesse fazecirc-lo

8 No que esse texto que vocecirc leu se assemelha com uma histoacuteria de terror E no que ela

se diferencia

9 Se esse texto fosse uma notiacutecia de jornal seria escrito da mesma forma Qual seria a

diferenccedila da linguagem

10 No uacuteltimo paraacutegrafo haacute a frase

ldquoFoi entatildeo que o caso ressurgiu liacutempido na memoacuteria de Auriacutelio e ele viu que a coisa

era seacuteriardquo

Se vocecirc fosse o Auriacutelio como resolveria a situaccedilatildeo

Atividade nordm 6

A cara da rua Marcelo Xavier

A rua sempre traduz a imagem de determinada eacutepoca Por isso eacute tatildeo interessante

Em cenas urbanas do seacuteculo XVIII XIX vemos carruagens mulheres de vestidos longos e

homens de terno e chapeacuteu No comeccedilo do seacuteculo XX automoacuteveis pretos mulheres de vestidos

mais curtos e homens ainda de terno e chapeacuteu Nos anos 1960 e 1970 automoacuteveis coloridos

mulheres de minissaia e homens sem terno e sem chapeacuteu

E agora na segunda deacutecada do seacuteculo XXI qual eacute a cara da rua Talvez vocecirc natildeo

saiba responder Eacute que ela passa todos os dias diante do seu nariz e vocecirc natildeo a vecirc Ou vocecirc

apenas vecirc algumas partes ldquomais atraentesrdquo do corpo dela A cara da rua continua invisiacutevel Vale o esforccedilo encare-a Como a um espelho Eacute divertido eacute necessaacuterio Esqueccedila o colesterol de

carros que entopem as vias mire os humanos

Repare bem as mulheres estatildeo de vestidos de todos os comprimentos de calccedilas

coladas se equilibrando em agulhas altiacutessimas carregadas de adereccedilos Normal

Os homens ah Os homens deram um salto esteacutetico rumo agrave libertaccedilatildeo Lembra

aqueles cavalheiros sisudos das ruas antigas com ternos de cores soacutebrias e chapeacuteus iguais

Esquece

Os novos machos estatildeo de brincos colares vistosos boneacutes e tecircnis coloridos

camisetas de todo tipo ebermudas

Natildeo as antigas que natildeo passavam de calccedilas curtas discretas As de hoje satildeo

espalhafatosas se expressam Multicoloridas exibem uma diversidade visual que beira o

infinito Geomeacutetricas abstratas figurativas iacutedolos super-heroacuteis paisagens flores ondas do

156

mar nuvens paacutessaros animais palavras de ordem apologias Combinam texturas

inimaginaacuteveis demarcam aacutereas visuais em recortes absurdamente livres ndash numa perna listras

diagonais na outra xadrez Um tsunami criativo que sai arrastando os antigos princiacutepios de

harmonia do universo da moda E o que eacute intrigante natildeo se repetem

Esse surto visual atinge seu aacutepice quando as bermudas-alucinoacutegenas se juntam a

camisetas estampadas tecircnis astronaacuteuticos boneacutes cheios de atitude e tatuagens ndash nos braccedilos nas

panturrilhas no pescoccedilo laacute estatildeo dragotildees coroas de espinho mulheres folhas de maconha

juras de amor

Vocecirc pode natildeo gostar do que vecirc natildeo se reconhecer na imagem que estaacute no espelho

mas essa eacute a cara da rua do seu tempo De certa forma a sua cara

XAVIER Marcelo A cara da rua e outras crocircnicas Satildeo Paulo Saraiva 2013

Vamos refletir sobre o texto

1 A partir da leitura vocecirc consegue deduzir de que situaccedilatildeo observada no cotidiano o autor

partiu para escrever essa crocircnica

2 O autor fez a construccedilatildeo do seu texto de forma simples poreacutem criativa por meio de

comparaccedilotildees para mostrar a cara da rua ao longo do tempo Vamos identificaacute-las

No meio urbano Seacutec XVIII

XIX

Comeccedilo do

seacutec XX

Anos 19601970 do

seacutec XX

2ordf deacutecada do

seacutec XXI

Vestuaacuterio

feminino

Vestuaacuterio

masculino

3 Dessas comparaccedilotildees do visual que foram feitas ao longo do texto vocecirc encontra alguma

na rua onde mora Qual

4 E o que eacute diferente na rua onde vocecirc mora que natildeo foi citado no texto

5 Preste atenccedilatildeo aos trechos a seguir

A rua sempre traduz a imagem de determinada eacutepoca Por isso eacute tatildeo interessante

[]

Vocecirc pode natildeo gostar do que vecirc natildeo se reconhecer na imagem que estaacute no espelho

mas essa eacute a cara da rua do seu tempo De certa forma a sua cara

6 A partir da leitura do texto vocecirc consegue dizer se o autor gosta ou natildeo gosta da cara da

rua que ele descreve Explique sua resposta

7 Que palavras ou expressotildees no texto mostram que o autor conversa com seu leitor ao longo do texto Sublinhe-as

8 Para que puacuteblico vocecirc acha que essa crocircnica estaacute direcionada Explique sua resposta

9 Vocecirc faraacute a seguir a seguinte atividade leia essa crocircnica de Marcelo Xavier para uma

pessoa em casa Apoacutes a leitura anote as impressotildees e opiniotildees dela sobre a atual cara

da rua sejam positivas ou negativas Ao final pergunte a essa pessoa para quem vocecirc

leu se o texto provocou uma impressatildeo boa ou ruim se ela o achou bem ou mal escrito

se a fez refletir sobre a vida e a mudanccedila dos tempos e qual a conclusatildeo a que ela chegou

depois dessa reflexatildeo

Ao final dessa atividade passe a limpo seu registro e traga para a aula

seguinte para discussatildeo coletiva

157

Atividade nordm 7

A Carta de punho

Demitri Tulio

DAS ANTIGAS 23102016

Algumas pessoas ainda escrevem cartas E bom que ainda o fazem Missivas

escritas agrave matildeo e a tinta preta da caneta dando vida agrave vontade de chegar perto do outro

Ou de ser escutado como se pensasse alto querendo ser ouvido das lonjuras que a

vida vai criando entre ex-amores amigos que deixaram de se ter de filho e matildee separados por

asas

Particularmente antes de agora laacute longe quando fui mais menino queria ter escrito

muitas cartas Devo ter rabiscado umas duas e nunca as mandei agrave destinataacuteria

Primeiro porque tinha vergonha de natildeo saber ortografia Achava difiacutecil (ainda

acho) a gramaacutetica brasileira e me amuava em vergonha de grafar ou concordar alguma coisa

ldquoerradardquo para quem eu queria dizer de mim

Entatildeo ficava horas e dias tentando

rascunhar correto e catando palavras peludas

trechos do dicionaacuterio frase de escritores que eu

queria ser Um paraacutegrafo dois e rasgava a folha

do caderno Serei levado a pagode

E por mais que eu lesse Graciliano

para Heloiacutesa os labirintos e as encruzilhadas da Clarice e os retratos de dona Leopoldina sobre

o Brasil e seu desenxabido Pedro I natildeo conseguia nem copiaacute-los

Loacutegico carta eacute um ser entranhado do remetente Eacute quase um pulmatildeo um rim um

coraccedilatildeo Eacute parte do corpo que se doa no instante em que a esferograacutefica vai sendo guiada pelo

papel

E natildeo era meu o afeto de Graciliano Natildeo eram minhas as inquietaccedilotildees de Clarice

E era de dona Leopoldina aquele incocircmodo de calor a saudade das oacuteperas da Aacuteustria as caccediladas

de animais do Brasil ldquoprimitivordquo

Pois bem queria ter escrito recebido e respondido mais cartas Hoje mando emails

Eacute bom mas carta tinha uma espera que natildeo sei dizer

Semana passada depois de mais de 30 anos sem algueacutem me endereccedilar uma carta

de papel e caneta eis que recebo Natildeo foi de pretendente Sempre esperei por uma dessas mas

talvez a falta de boniteza tenha me privado de

Foi de um leitor da Coluna Um moccedilo de mais de 92 anos que teve a gentileza de

tirar um tempo e me enviar um envelope pelos Correios Carimbado dois selos e o trato por

ldquoIlmo Srrdquo

ldquoCaro (posso) Sr Demitri Sauacutede Sou assinante drsquo O Povo haacute deacutecadas e portanto

seu leitor antigo Natildeo soacute leitor mas tambeacutem admirador pela defesa da natureza (paacutessaros do

Cocoacute) e pelo seu estilo diferente (neologismos bem lsquocolocadosrsquo) e assuntos (temas) originais

para suas crocircnicas

Criei coragem para lhe escrever apoacutes ler sua crocircnica (artigo) lsquoEntatildeo Venha

comigorsquo excelente para quem como eu jaacute passou dos 92 e concorda com suas colocaccedilotildees

sobre a velhice

Aceite meus cumprimentos e votos de muitos anos de lsquoescrevinhaccedilatildeorsquo

Cordialmente (ex-cordis) Santos Rochardquo

158

E ainda escreve um paraacutegrafo derradeiro apoacutes as despedida e a assinatura ldquoPS Natildeo

eacute que eu queira lsquosubir aleacutem da chinelarsquo mas me parece que no penuacuteltimo paraacutegrafo de sua

crocircnica deveria ter escrito lsquose casariarsquo em vez de lsquocasaria-sersquo Discurperdquo

O envelope branco com um carimbo de uma agecircncia dos Correios do bairro

Meireles trazia ainda um texto datilografado (Ser Jovem do general Douglas Mac-Arthur) e

um recorte de jornal com um sermatildeo de Santo Agostinho

Pois fico agradecido pela decisatildeo de escrever a carta do tempo dedicado Pelos

minutos pensando em o que escrever Por cada palavra casada com cada frase Pela respiraccedilatildeo

para pensar em quem nem se conhece

Pela caneta preta identificando o remetente

Pela ida aos Correios ou por se dar ao trabalho de pedir algueacutem que fosse

Pela gentileza de ler a Das Antigas

Como o senhor mandou dizer ldquoNatildeo eacute por ter vivido um certo nuacutemero de anos que

envelhecemos envelhecemos porque abandonamos o nosso idealrdquo

Sem mais fico por aqui

Acesso em 31 ago 2017

httpwww20opovocombrappcolunasdasantigas20161022noticiasdasantigas3665372a-carta-de-

punhoshtml

Vocabulaacuterio

Desenxabido Adjetivo 1desprovido de gosto de sabor insiacutepido insosso2a que

falta interesse particular ou graccedila marcado pela repeticcedilatildeo aborrecido monoacutetono

Ex abundantia cordis Da abundacircncia do coraccedilatildeo Com sinceridade

Curiosidade

Pedro nasceu na manhatilde de 12 de outubro de 1798 no Palaacutecio Real de Queluz

Portugal Ele foi nomeado em homenagem a Satildeo Pedro de Alcacircntara e seu nome completo era

Pedro de Alcacircntara Francisco Antoacutenio Joatildeo Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael

Joaquim Joseacute Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim Desde seu nascimento recebeu o prefixo

honoriacutefico de Dom

Atividade

Vamos observar a crocircnica Marque o que acha adequado

Sim Natildeo

Partiu de uma situaccedilatildeo observadavivida

Conversa com o leitor

Possui o foco narrativo bem determinado (narrador personagem ou

narrador observador ou narrador onisciente)

Leva o leitor a refletir

Causa impressotildees no leitor como riso choro reflexatildeo emoccedilatildeo

Possui um final interessante

Mostra discretamente ao leitor seu ponto de vista a respeito da situaccedilatildeo

Possui alguma descriccedilatildeo de lugarobjetopersonagem

Possui um tiacutetulo

Emprega adequadamente os sinais de pontuaccedilatildeo

Evita repeticcedilatildeo desnecessaacuteria de palavras

Possui paraacutegrafos bem organizados

159

Atividade nordm 8

Amor de macumba Fabriacutecio Carpinejar

Quando algum amigo diz que recebeu macumba da ex fico com ciuacuteme Com dor

de cotovelo

Isso que eacute amor grandioso Amor de verdade

Sempre olho na minha esquina para ver se natildeo tem nenhuma encomenda para mim

Mas nunca chega esse sedex do amor

Macumba eacute sedex 10 do amor

Eacute muita paixatildeo odiar algueacutem com tanto zelo Eacute muito capricho gastar seu tempo e

fazer um trabalhinho para prender a pessoa ao seu coraccedilatildeo

Eacute muita disposiccedilatildeo

Eacute muita energia

Eacute muito querer

Eacute muito desejo

Eacute a superaccedilatildeo de todos os incocircmodos de todos os vexames de todos os medos

Eacute muito luxo ter uma amada pagando para os santos mexerem com vocecirc pagando

a parcela antecipada da eternidade

Isso que eacute amor aleacutem da vida

Isso que eacute vontade de permanecer junto

Eu aceitaria qualquer prova de doaccedilatildeo amarraccedilatildeo vodu letras de macarratildeo

pipoca

Nem precisa roubar minha cueca daria a melhor da minha gaveta

Ai que inveja

No lugar da galinha preta poderia oferecer o chester que sempre recebo no final do

ano

Estaacute aqui parado no congelador Sem uso

E as velas na minha esquina ainda ajudariam a iluminaccedilatildeo puacuteblica

Amor de macumba eacute amor para sempre

Disponiacutevel em httpcarpinejarblogspotcombr201402amor-de-macumbahtml

Acesso em 2 de agosto de 2017

Vamos refletir sobre o texto

1 A partir da leitura vocecirc consegue deduzir de que situaccedilatildeo observada no cotidiano o autor

partiu para escrever essa crocircnica

2 Qual parece ser a opiniatildeo do autor a respeito do tema Utilize trechos do texto que

justifique a sua resposta

3 Que reflexotildees se pode perceber na leitura desse texto

4 Que impressotildees essa crocircnica causa no leitor (riso choro reflexatildeo emoccedilatildeo alguma

outra)

160

Atividade nordm 9

Sr Google Pacheco

SR GOOGLE PACHECO

27 outubro 2012 Juliano Martinz

Quando chegavam ao escritoacuterio pela manhatilde o senhor Google Pacheco sempre

estava laacute Sentado a sua mesa ou correndo de um lado para outro mantinha-se no seu

memoraacutevel ritmo agitado produccedilatildeo beirando o frenesi Os funcionaacuterios o admiravam Era

sempre o primeiro a chegar e o uacuteltimo a sair (embora ningueacutem tenha testemunhado qualquer

um destes acontecimentos)

ndash Acho que ele dorme no escritoacuterio ndash alguns arriscavam

Outros jaacute apelavam pro exagero

ndash Dizem que ele nunca dorme

Sr Google Pacheco O chefe do departamento de marketing Baixo e gordinho

Feiccedilatildeo inocente quase boba Chamava a atenccedilatildeo pelas roupas sempre de cores viacutevidas

cintilantes Geralmente boneacute azul camiseta vermelha calccedilas amarelas e tecircnis verde Agraves vezes

invertia as cores mas nunca as abandonava Roupas estranhas para um homem de nome

estranho A personagem perfeita para textos humoriacutesticos

Quando era novo na empresa ainda apenas um singelo desconhecido causava

confusatildeo com seu nome Liam o crachaacute e diziam

ndash Bom dia sr Goacutegle

Ele corrigia sempre sorridente e simpaacutetico

ndash Natildeo natildeo Pronuncia-se Guacutegou

ndash Guacutegou

ndash Eacute a centeacutesima potecircncia do nuacutemero 10

ndash Uau

Ateacute o nome carregava seu estigma de gecircnio absoluto O Sr Google era uma

enciclopeacutedia ambulante Parecia ser senhor de todo o conhecimento Portador de soluccedilatildeo para

os mais variados problemas na ponta da liacutengua Para cada desafio proposto no dia a dia da

empresa vertia um turbilhatildeo de soluccedilotildees precisas e automaacuteticas

Com sua eficiecircncia derramada a cada suspiro de auxiliar no departamento de

marketing chegou agrave chefia em poucos meses Com o passar dos dias e semanas a experiecircncia

acumulando-se nas veias parecia saber o que as pessoas queriam antes de terminarem de falar

ndash Seu Google o senhor sabe que horashellip

ndash hellip seraacute a reuniatildeo do conselho

ndash Isso Isso mesmo

ndash 16 horas

Era um gecircnio Disposiccedilatildeo tamanha natildeo demorou muito e comeccedilaram a abordar

assuntos mais pessoais

ndash Sr Google preciso de sua ajuda Como faccedilo para conhellip

ndash Conquistar sua melhor amiga

ndash Uau Como o senhor sabe

E derramava soluccedilotildees Como se natildeo bastasse a prontidatildeo comeccedilou a oferecer

vaacuterias opccedilotildees

ndash Sr Google chocolate daacutehellip

ndash Espinha Celulite Coacutelica no bebecirc

ndash Eacuteeacuteeacuteeacutehellip

161

ndash Sono Dor de cabeccedila Azia

ndash Euhellip

ndash Enxaqueca Energia Gases

ndash Isso ndash disse ruborizada ndash Gases

ndash Ahaacute Vocecirc estaacute com sorte menina

Ateacute o poderoso e inacessiacutevel dono da empresa cuja agenda diaacuteria se resumia a

constantes viagens de negoacutecio pela Europa comeccedilou a passar mais tempo no Brasil E quase

todos os dias ia na empresa Mas nem entrava em sua sala Jaacute ia direto para a sala do senhor

Google Os curiosos e fofoqueiros discutiam o teor das conversas atraacutes daquelas portas Uns

diziam que falavam apenas sobre bolsa de valores Acontecimentos mundiais tendecircncias

econocircmicas essas coisas Outros achavam que a conversa soacute passeava pela arena dos assuntos

pessoais

Independentemente do conteuacutedo destes encontros a portas fechadas a empresa soacute

crescia E os funcionaacuterios eram unacircnimes em admitir depois da chegada do Sr Google a vida

de todos eles se tornou mais completa e intensa

Certo dia o Sr Google natildeo apareceu para trabalhar A princiacutepio pairou uma tensatildeo

camuflada no ar Agrave medida que as horas foram passando e o Sr Google natildeo aparecia fez-se

um clima de desespero Comeccedilaram a ligar para o seu celular mas dava como nuacutemero

inexistente Algueacutem tem o telefone da casa dele O resultado foi o mesmo nuacutemero inexistente

Onde ele morava mesmo Ningueacutem sabia O desespero instalou-se no preacutedio Ningueacutem

conseguia fazer nada Ficavam andando de um lado para outro perdidos Nem a dona Gertrudes

conseguiu fazer o cafeacute

Durante dias ningueacutem trabalhou Duacutevidas sobre o andamento da empresa ndash diziam

que accedilotildees da empresa estavam tendo quedas vertiginosas Os funcionaacuterios sentiam-se curvados

ante o peso dos problemas pessoais que natildeo conseguiam resolver sem a ajuda e os conselhos

do Sr Google

Duas semanas depois e metade deles natildeo mais aparecia na empresa Dois ou trecircs

mergulharam de cabeccedila no alcoolismo Outro se jogou da ponte E o poderoso dono da empresa

quem diria foi flagrado diversas vezes em prantos cambaleando pelos corredores

fantasmagoacutericos e mal iluminados da empresa que veio agrave falecircncia dias depois

Quanto ao sr Google nunca mais foi visto Dizem por aiacute que montou um site e

ficou milionaacuterio Mas comprovar mesmo ningueacutem nunca comprovou

Acesso em 2 de agosto de 2017

Disponiacutevel em httpcorrosivacombrcronicas-engracadascronica-humoristica-google-

pacheco

Atividade

1 Vocecirc conhece o vocabulaacuterio a seguir

Memoraacutevel

Frenesi

Singelo

Vertia

Turbilhatildeo

Vertiginosas

2 O texto trata de maneira bem humorada de uma situaccedilatildeo cotidiana Qual

3 O texto traz em si alguma reflexatildeo Qual

162

ANEXO A ndash DISTRIBUICcedilAtildeO POR NIacuteVEL DE PROFICIEcircNCIA

Liacutengua Portuguesa do 9ordm Ano do Ensino Fundamental

Distribuiccedilatildeo por Niacutevel de Proficiecircncia - Liacutengua Portuguesa do 9ordm Ano do Ensino

Fundamental

Niacutevel Descriccedilatildeo do Niacutevel - O estudante provavelmente eacute capaz de

Niacutevel 0

Desempenho menor

que 200

Niacutevel 1

Desempenho maior

ou igual a 200 e

menor que 225

Os estudantes provavelmente satildeo capazes de Reconhecer

expressotildees caracteriacutesticas da linguagem (cientiacutefica jornaliacutestica etc)

e a relaccedilatildeo entre expressatildeo e seu referente em reportagens e artigos

de opiniatildeo Inferir o efeito de sentido de expressatildeo e opiniatildeo em

crocircnicas e reportagens

Niacutevel 2

Desempenho maior

ou igual a 225 e

menor que 250

Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes

provavelmente satildeo capazes de Localizar informaccedilotildees expliacutecitas em

fragmentos de romances e crocircnicas Identificar tema e assunto em

poemas e charges relacionando elementos verbais e natildeo verbais

Reconhecer o sentido estabelecido pelo uso de expressotildees de

pontuaccedilatildeo de conjunccedilotildees em poemas charges e fragmentos de

romances Reconhecer relaccedilotildees de causa e consequecircncia e

caracteriacutesticas de personagens em lendas e faacutebulas Reconhecer

recurso argumentativo em artigos de opiniatildeo Inferir efeito de

sentido de repeticcedilatildeo de expressotildees em crocircnicas

Niacutevel 3

Desempenho maior

ou igual a 250 e

menor que 275

Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes

provavelmente satildeo capazes de Localizar informaccedilotildees expliacutecitas em

crocircnicas e faacutebulas Identificar os elementos da narrativa em letras de

muacutesica e faacutebulas Reconhecer a finalidade de abaixo-assinado e

verbetes Reconhecer relaccedilatildeo entre pronomes e seus referentes e

relaccedilotildees de causa e consequecircncia em fragmentos de romances

diaacuterios crocircnicas reportagens e maacuteximas (proveacuterbios) Interpretar o

sentido de conjunccedilotildees de adveacuterbios e as relaccedilotildees entre elementos

verbais e natildeo verbais em tirinhas fragmentos de romances

reportagens e crocircnicas Comparar textos de gecircneros diferentes que

abordem o mesmo tema Inferir tema e ideia principal em notiacutecias

crocircnicas e poemas Inferir o sentido de palavra ou expressatildeo em

histoacuteria em quadrinhos poemas e fragmentos de romances

Niacutevel 4

Desempenho maior

Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes

provavelmente satildeo capazes de Localizar informaccedilotildees expliacutecitas em

artigos de opiniatildeo e crocircnicas Identificar finalidade e elementos da

163

ou igual a 275 e

menor que 300

narrativa em faacutebulas e contos Reconhecer opiniotildees distintas sobre o

mesmo assunto em reportagens contos e enquetes Reconhecer

relaccedilotildees de causa e consequecircncia e relaccedilotildees entre pronomes e seus

referentes em fragmentos de romances faacutebulas crocircnicas artigos de

opiniatildeo e reportagens Reconhecer o sentido de expressatildeo e de

variantes linguiacutesticas em letras de muacutesica tirinhas poemas e

fragmentos de romances Inferir tema tese e ideia principal em

contos letras de muacutesica editoriais reportagens crocircnicas e artigos

Inferir o efeito de sentido de linguagem verbal e natildeo verbal em

charges e histoacuteria em quadrinhos Inferir informaccedilotildees em

fragmentos de romance Inferir o efeito de sentido da pontuaccedilatildeo e da

polissemia como recurso para estabelecer humor ou ironia em

tirinhas anedotas e contos

Niacutevel 5

Desempenho maior

ou igual a 300 e

menor que 325

Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes

provavelmente satildeo capazes de Localizar a informaccedilatildeo principal em

reportagens Identificar ideia principal e finalidade em notiacutecias

reportagens e resenhas Reconhecer caracteriacutesticas da linguagem

(cientiacutefica jornaliacutestica etc) em reportagens Reconhecer elementos

da narrativa em crocircnicas Reconhecer argumentos e opiniotildees em

notiacutecias artigos de opiniatildeo e fragmentos de romances Diferenciar

abordagem do mesmo tema em textos de gecircneros distintos Inferir

informaccedilatildeo em contos crocircnicas notiacutecias e charges Inferir sentido

de palavras da repeticcedilatildeo de palavras de expressotildees de linguagem

verbal e natildeo verbal e de pontuaccedilatildeo em charges tirinhas contos

crocircnicas e fragmentos de romances

Niacutevel 6

Desempenho maior

ou igual a 325 e

menor que 350

Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes

provavelmente satildeo capazes de Identificar ideia principal e

elementos da narrativa em reportagens e crocircnicas Identificar

argumento em reportagens e crocircnicas Reconhecer o efeito de

sentido da repeticcedilatildeo de expressotildees e palavras do uso de pontuaccedilatildeo

de variantes linguiacutesticas e de figuras de linguagem em poemas

contos e fragmentos de romances Reconhecer a relaccedilatildeo de causa e

consequecircncia em contos Reconhecer diferentes opiniotildees entre

cartas de leitor que abordam o mesmo tema Reconhecer a relaccedilatildeo

de sentido estabelecida por conjunccedilotildees em crocircnicas contos e

cordeacuteis Reconhecer o tema comum entre textos de gecircneros

distintos Reconhecer o efeito de sentido decorrente do uso de

figuras de linguagem e de recursos graacuteficos em poemas e

fragmentos de romances Diferenciar fato de opiniatildeo em artigos e

reportagens Inferir o efeito de sentido de linguagem verbal e natildeo

verbal em tirinhas

Niacutevel 7

Desempenho maior

Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes

provavelmente satildeo capazes de Localizar informaccedilotildees expliacutecitas

ideia principal e expressatildeo que causa humor em contos crocircnicas e

164

ou igual a 350 e

menor que 375

artigos de opiniatildeo Identificar variantes linguiacutesticas em letras de

muacutesica Reconhecer a finalidade e a relaccedilatildeo de sentido estabelecida

por conjunccedilotildees em lendas e crocircnicas

Niacutevel 8

Desempenho maior

ou igual a 375

Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes

provavelmente satildeo capazes de Localizar ideia principal em

manuais reportagens artigos e teses Identificar os elementos da

narrativa em contos e crocircnicas Diferenciar fatos de opiniotildees e

opiniotildees diferentes em artigos e notiacutecias Inferir o sentido de

palavras em poemas

Fonte INEP (2018)

165

ANEXO B ndash DISTRIBUICcedilAtildeO DE TEXTOS FALADOS E ESCRITOS NO CONTIacuteNUO

GENEacuteRICO

Distribuiccedilatildeo dos textos de uso falados e escritos no contiacutenuo geneacuterico

Fonte MARCUSCHI (2015 p 195-196)

166

ANEXO C ndash PRODUCcedilOtildeES DOS ALUNOS

Produccedilatildeo Inicial de Ana

Produccedilatildeo Final de Ana

167

Produccedilatildeo Inicial de Rodrigo

168

Produccedilatildeo final de Rodrigo

169

Produccedilatildeo Inicial de Eduardo

170

Produccedilatildeo final de Eduardo

171

Produccedilatildeo inicial de Estela

172

Produccedilatildeo final de Estela

173

174

175

Produccedilatildeo Inicial de Celia

176

Produccedilatildeo final de Celia

177

Produccedilatildeo Inicial de Arlindo

178

Produccedilatildeo final de Arlindo

179

Produccedilatildeo Inicial de Juacutelia

180

Produccedilatildeo final de Juacutelia

181

Produccedilatildeo Inicial de Vicente

182

Produccedilatildeo final de Vicente

183

Produccedilatildeo Inicial de Graccedila

184

Produccedilatildeo final de Graccedila

185

Produccedilatildeo Inicial de Lilian

186

Produccedilatildeo final de Lilian

187

Produccedilatildeo Inicial de Heloiacutesa

188

Produccedilatildeo final de Heloisa

189

Produccedilatildeo Inicial de Eliane

190

Produccedilatildeo final de Eliane

191

Produccedilatildeo Inicial de Joana

Fonte dados da pesquisa

192

Figura 31 ndash Produccedilatildeo final de Joana

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE HUMANIDADES … · A Deus, que me pôs a realizar sonhos, permitindo-me o devido aperfeiçoamento para que pudesse executar melhor a tarefa
Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE HUMANIDADES … · A Deus, que me pôs a realizar sonhos, permitindo-me o devido aperfeiçoamento para que pudesse executar melhor a tarefa
Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE HUMANIDADES … · A Deus, que me pôs a realizar sonhos, permitindo-me o devido aperfeiçoamento para que pudesse executar melhor a tarefa
Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE HUMANIDADES … · A Deus, que me pôs a realizar sonhos, permitindo-me o devido aperfeiçoamento para que pudesse executar melhor a tarefa
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