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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARAacute
CENTRO DE HUMANIDADES
PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO PROFISSIOONAL EM LETRAS
FERNANDA MARIA DA SERRA COSTA
A PRODUCcedilAtildeO ESCRITA DE CROcircNICAS EM SALA DE AULA DO 9ordm ANO DO
ENSINO FUNDAMENTAL
FORTALEZA - CE
2018
FERNANDA MARIA DA SERRA COSTA
A PRODUCcedilAtildeO ESCRITA DE CROcircNICAS EM SALA DE AULA DO 9ordm ANO DO ENSINO
FUNDAMENTAL
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-
Graduaccedilatildeo Profissional em Letras da
Universidade Federal do Cearaacute como requisito
parcial agrave obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em
Letras
Aacuterea de concentraccedilatildeo Linguagens e
Letramentos
Orientadora Profordf Drordf Aurea Suely Zavam
FORTALEZA - CE
2018
Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo
Universidade Federal do Cearaacute
Biblioteca Universitaacuteria
Gerada automaticamente pelo moacutedulo Catalog mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)
C872p Costa Fernanda Maria da Serra
A produccedilatildeo escrita de crocircnicas em sala de aula do 9ordm ano do ensino fundamental Fernanda Maria
da Serra Costa ndash 2018
192 f il color
Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Universidade Federal do Cearaacute Centro de Humanidades Programa de
Poacutes-Graduaccedilatildeo Profissional em Letras Fortaleza 2018
Aacuterea de concentraccedilatildeo Linguagens e letramentos
Orientaccedilatildeo Profa Dra Aacuteurea Suely Zavam
1 Produccedilatildeo escrita 2 Escrita como processo 3 Gecircnero textual 4 Crocircnicas 5 Sequecircncia de
atividades I Tiacutetulo
CDD 410
FERNANDA MARIA DA SERRA COSTA
A PRODUCcedilAtildeO ESCRITA DE CROcircNICAS EM SALA DE AULA DO 9ordm ANO DO ENSINO
FUNDAMENTAL
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-
Graduaccedilatildeo Profissional em Letras da
Universidade Federal do Cearaacute como requisito
parcial agrave obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em
Letras Aacuterea de concentraccedilatildeo Linguagens e
Letramentos
Aprovado em ____ ____ _______
BANCA EXAMINADORA
________________________________________
Profordf Drordf Aacuteurea Suely Zavam (Orientadora)
Universidade Federal do Cearaacute (UFC)
_________________________________________
Profordf Drordf Pollyane Bicalho Ribeiro
Universidade Federal do Cearaacute (UFC)
_________________________________________
Prof Drordf Sarah Diva da Silva Ipiranga
Universidade Estadual do Cearaacute (UECE)
A Deus
Aos meus pais Olilia e Arnold
Aos meus filhotes Felipe e Miguel
A Maria Morena e Bilaacute in memorian
AGRADECIMENTOS
A Deus que me pocircs a realizar sonhos permitindo-me o devido aperfeiccediloamento
para que pudesse executar melhor a tarefa de contribuir para o mundo
Aos meus pais Olilia e Arnold por todo o apoio incondicional e sem esperar em
troca a vida toda e mais ainda durante o mestrado
Aos meus filhos Felipe e Miguel pela compreensatildeo da distacircncia mesmo que
passageira pela paciecircncia e pelo apoio
Agrave Prof Dr Aurea Zavam pelo carinho acolhimento e orientaccedilatildeo
Aos professores participantes da banca examinadora Pollyane Bicalho Ribeiro e
Sarah Diva da Silva Ipiranga pelo tempo pelas valiosas colaboraccedilotildees e sugestotildees
Aos colegas da 3ordf turma de mestrado ProfLetrasUFC pelas reflexotildees criacuteticas e
sugestotildees recebidas
Agraves damas do fuaacute porque satildeo as melhores amigas que se pode ter Raquel Ive
Carolina Edvania Eacuterica e Flaacutevia
A Aline pela amizade e carinho imensos essa natural forccedila que a vida lhe deu e
que tatildeo generosamente partilha
A Carla amiga de forccedila pela sensatez e ombro amigo generosidade e atenccedilatildeo
A Robson do fundo do coraccedilatildeo de quem digo que palavras natildeo descrevem essa
amizade que a gente tem
Agrave querida Nady por sua boniacutessima vontade em passar suas ldquolentes de catar pulgardquo
em minhas linhas
Ao meu tio Raimundo e a dona Gilda pela compreensatildeo e disposiccedilatildeo em ajudar a
cuidar da minha turma aqui
Agrave Semed-Satildeo Luiacutes por acreditar na figura do professor que busca capacitaccedilatildeo
profissional
Agrave coordenaccedilatildeo do Mestrado Profissional em LetrasUFC pelo incentivo aos
mestrandos
Aos nossos professores do Mestrado que em muito contribuiacuteram em nossa jornada
Agrave nossa diretora da escola Maria de Jesus Dijeacute pelo apoio e disponibilidade e por
sempre acreditar nos projetos como uma forma de acrescentar ao aperfeiccediloamento dos alunos
da escola
Aos professores e funcionaacuterios que apoiaram e colaboraram com o projeto
Aos pais e familiares que apoiaram e consentiram na participaccedilatildeo dos alunos
Aos alunos do 9ordm ano turma 91 de 2017 que integraram o projeto acreditaram em
si mesmos e agora veem seus escritos circularem socialmente
A todos os amigos colegas de trabalho alunos ex-alunos e demais pessoas que
cruzaram meu caminho deixando contribuiccedilotildees alertas liccedilotildees posso natildeo nominar um por um
aqui mas agradeccedilo sua importacircncia
Agrave CAPES pelo apoio financeiro com a manutenccedilatildeo da bolsa de auxiacutelio
ldquoSe vocecirc quiser melhorar de vida Marcie
sempre vai ter que atravessar um oceano ou um
deserto ou uma montanha Mas se de repente
vocecirc atravessar uma sala cheia de gente toda a
sua vida pode mudarrdquo (Peppermint Patty)
RESUMO
O presente trabalho versa sobre o desenvolvimento da competecircncia escrita de alunos do 9ordm ano
do Ensino Fundamental por meio de uma sequecircncia didaacutetica aplicada ao gecircnero crocircnica
visando proporcionar avanccedilos no processo de redigir Para o aporte teoacuterico daacute-se preferecircncia
agraves abordagens de gecircnero na perspectiva de Bakhtin (2011) Bazerman (2009) Bazerman e
Miller (2011) e Marcuschi (2015) A metodologia envolve uma pesquisa-accedilatildeo conforme
elucidaccedilotildees de Gil (2008) O procedimento se daacute pela aplicaccedilatildeo de uma sequecircncia didaacutetica
inspirada em contribuiccedilotildees de Dolz Noverraz e Schneuwly ([2004] 2013) Swiderski e Costa-
Huumlbes (2009) Lopes-Rossi (2011) Vieira (2005) e Serafini (2003) com vista ao aprendizado
de produccedilatildeo de texto do gecircnero crocircnica sob a oacutetica da escrita como processo Por meio das
atividades de leitura e escrita de crocircnicas percebe-se que os alunos refletiram sobre os
procedimentos de escritor sensibilizaram mais o seu olhar para o cotidiano e ampliaram o
conhecimento de sua competecircncia linguiacutestica Acredita-se que propiciar situaccedilotildees de
aprendizagem apresentando-as natildeo como um fardo mas com a graccedila ndash apesar do necessaacuterio
investimento pedagoacutegico ndash que a escrita pode vir a ter garante assim que os alunos concluam
o Ensino Fundamental tendo a oportunidade de elaborar textos consoantes ao seu direito de
serem proficientes em sua liacutengua materna
Palavras-chave Produccedilatildeo escrita Gecircneros textuais Sequecircncia didaacutetica Crocircnicas
ABSTRACT
The present work deals with the development of written competence of students of the 9th grade
of elementary school through a didactic sequence applied to the genre chronicles aiming to
provide advances in the writing process For the theoretical contribution genre approaches are
preferred from the perspective of Bakhtin (2011) Bazerman (2009) Bazerman e Miller (2011)
e Marcuschi (2015) The methodology involves an action research according to Gils (2008)
elucidations The procedure is based on the application of a didactic sequence inspired by
contributions of Dolz Noverraz and Schneuwly ([2004] 2013) Swiderski and Costa-Huumlbes
(2009) Lopes-Rossi (2011) Vieira (2005) e Serafini (2003) with a view to learning text
production of the genre chronicle under the point of view of writing as a process Through the
activities of reading and writing of chronicles it is noticed that the students have reflected on
the procedures of writer they have sensitized more their look at the quotidian and have extended
the knowledge of their linguistic competence It is believed that providing learning situations
by presenting them not as a burden but with the grace - despite all the necessary pedagogical
investment - that writing can have thus ensuring that students finish elementary school having
the opportunity to prepare texts according to their right to be proficient in their mother language
Keywords Written production Genres Didactic sequence Chronicles
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Esquema baacutesico de sequecircncia didaacutetica 31
Figura 2 - Esquema da SD adaptada por Costa-Huumlbes 36
Figura 3 - Esquema da SD adaptada por Costa-Huumlbes 38
Figura 4 - Proposiccedilatildeo de sequecircncia didaacutetica para o projeto de escrita 77
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 ndash Resultados IDEB 2015 70
Graacutefico 2 ndash Desempenho da escola nas ediccedilotildees da Prova Brasil 70
Graacutefico 3 ndash Distribuiccedilatildeo percentual dos alunos do 9ordm Ano do EF por niacutevel de
proficiecircncia - Liacutengua Portuguesa
71
Graacutefico 4 ndash Nuacutemero de alunos do 9ordm ano 88
Graacutefico 5 ndash Participaccedilatildeo nas produccedilotildees 89
Graacutefico 6 ndash Alunos presentes por encontro 90
Graacutefico 7 ndash Avaliaccedilatildeo das crocircnicas A 122
Graacutefico 8 ndash Avaliaccedilatildeo das crocircnicas B 136
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 ndash Siacutentese das etapas de desenvolvimento de projetos pedagoacutegicos que visam agrave
produccedilatildeo escrita de gecircneros discursivos
38
Quadro 2 ndash Motivaccedilatildeo e envolvimento na produccedilatildeo escrita 54
Quadro 3 ndash Como organizar as ideias em paraacutegrafos 63
Quadro 4 ndash Moacutedulos desenvolvidos na sequecircncia de atividades (SA) 80
Quadro 5 ndash Quadro autoavaliativo 91
Quadro 6 ndash Identificaccedilatildeo dos textos dos alunos
Quadro 7 ndash Produccedilatildeo inicial Ana ndash Tiacutetulo Ser chato ou natildeo ser eis a questatildeo
Quadro 8 ndash Produccedilatildeo final Ana ndash Tiacutetulo Ser chato ou natildeo ser eis a questatildeo
Quadro 9 ndash Produccedilatildeo inicial Rodrigo ndash Tiacutetulo Pare de se criticar
Quadro 10 ndash Produccedilatildeo final Rodrigo ndash Tiacutetulo
Quadro 11 ndash Produccedilatildeo inicial Eduardo ndashTiacutetulo O amigo muito e muito chato
Quadro 12 ndash Produccedilatildeo final Eduardo ndashTiacutetulo Ser legal natildeo eacute ser chato
Quadro 13 ndash Produccedilatildeo inicial Estela ndash Tiacutetulo Os chatos de antematildeo
Quadro 14 ndash Produccedilatildeo final Estela ndashTiacutetulo O tio chato de galocha
Quadro 15 ndash Produccedilatildeo inicial Ceacutelia ndashTiacutetulo Chata sim ou natildeo
Quadro 16 ndash Produccedilatildeo final Ceacutelia ndash Tiacutetulo Chata sim ou natildeo
Quadro 17 ndash Produccedilatildeo inicial Arlindo ndash Tiacutetulo Chato e natildeo eacute chato
Quadro 18 ndash Produccedilatildeo final Arlindo ndash Tiacutetulo Chato e natildeo eacute chato
Quadro 19 ndash Produccedilatildeo inicial Juacutelia ndash Tiacutetulo Ser chato ou ser legal
Quadro 20 ndash Produccedilatildeo final Juacutelia ndash Tiacutetulo Pessoas chatas e pessoas legais
Quadro 21 ndash Produccedilatildeo inicial Vicente ndash Tiacutetulo A pergunta eacute se eu bloquearia uma
pessoa chata
Quadro 22 ndash Produccedilatildeo final Vicente ndash Tiacutetulo
Quadro 23 ndash Produccedilatildeo inicial Graccedila ndash Tiacutetulo Rafaelly chata
Quadro 24 ndash Produccedilatildeo final Graccedila ndash Tiacutetulo Chata ela ou EU
Quadro 25 ndash Produccedilatildeo inicial Lilian ndash Tiacutetulo Meus amigos chatos e Eu
Quadro 26 ndash Produccedilatildeo final Lilian ndash Tiacutetulo Pessoas legais e chatas
Quadro 27 ndash Produccedilatildeo inicial Heloiacutesa ndash Tiacutetulo ldquoChato mais eacute muito legalrdquo
Quadro 28 ndash Produccedilatildeo final Heloiacutesa ndash Tiacutetulo ldquoO melhor chatordquo
Quadro 29 ndash Produccedilatildeo inicial Eliane ndash Tiacutetulo Um pouco de tudo
91
92
93
95
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97
99
99
101
103
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116
117
Quadro 30 ndash Produccedilatildeo final Eliane ndash Tiacutetulo O que e chato e o que e legal
Quadro 31 ndash Produccedilatildeo inicial Joana ndash Tiacutetulo Pessoas chatas e outras legal
Quadro 32 ndash Produccedilatildeo final Joana ndash Tiacutetulo Pessoas oacutetimas
Quadro 33 ndash Tiacutetulos das produccedilotildees para circulaccedilatildeo social
Quadro 34 ndash PIB Ana
Quadro 35 ndash PFB Ana ndash Tiacutetulo PROIBIDA DE ACHAR GRACcedilA
Quadro 36 ndash PIB Rodrigo ndash Tiacutetulo Vida de preguiccediloso
Quadro 37 ndash PFB Rodrigo ndash Tiacutetulo VIDA DE PREGUICcedilOSO
Quadro 38 ndash PIB Eduardo ndash Tiacutetulo
Quadro 39 ndash PFB Eduardo ndash INFAcircNCIA FELIZ
Quadro 40 ndash PIB Estela ndash Tiacutetulo ldquoDown= bullyingrdquo
Quadro 41 ndash PFB Estela ndashTiacutetulo DOWN= BULLYING
Quadro 42 ndash PFA2 Ana ndash Tiacutetulo O que eacute ser chato
118
120
121
124
124
125
126
127
129
131
132
134
137
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
BNCC Base Nacional Comum Curricular
ENEM Exame Nacional do Ensino Meacutedio
FP Folha de Produccedilatildeo
IDEB Iacutendice de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica
INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
LDB Lei de Diretrizes e Bases
PCN Paracircmetros Curriculares Nacionais
PF Produccedilatildeo final
PF-A Produccedilatildeo final para a o trabalho em sala
PF-B Produccedilatildeo final para circulaccedilatildeo social dos textos com audiecircncia real
PI Produccedilatildeo Inicial
PI-A Produccedilatildeo inicial para o trabalho em sala
PI-B Produccedilatildeo inicial para circulaccedilatildeo social dos textos com audiecircncia real
SD Sequecircncia Didaacutetica
SEMED Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo
TDIC Tecnologias Digitais da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 16
2 OS GEcircNEROS E O TRABALHO EM SALA DE AULA 23
21 Demarcando o conceito de gecircnero 23
211 Gecircnero como tipo relativamente estaacutevel de enunciado 23
212 Gecircnero como accedilatildeo social 26
213 Gecircnero como fenocircmeno histoacuterico 30
22 Conhecendo a sequecircncia didaacutetica 31
221 Conceito de sequecircncia didaacutetica 32
222 Propostas de adaptaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica 35
2221 Moacutedulo de reconhecimento 36
2222 Moacutedulo de divulgaccedilatildeo ao puacuteblico 37
2223 Abordagem imitativa da redaccedilatildeo 39
23 Definindo o gecircnero textual crocircnica 41
231 A crocircnica brasileira 42
232 Caracteriacutesticas da crocircnica 44
2321 Crocircnica um gecircnero jornaliacutestico 45
2322 Crocircnica um gecircnero literaacuterio 46
3 LEITURA E ESCRITA NOS ANOS FINAIS DO ENSINO
FUNDAMENTAL
49
31 Habilidades de leitura e escrita para que ler e escrever 49
32 Escrita e motivaccedilatildeo 53
33 Escrita como processo 56
34 Escrita na escola 61
35 Letramento literaacuterio 66
4 NATUREZA E PROCEDIMENTOS DA PESQUISA 69
41 Contexto da pesquisa 69
42 Participantes 72
43 Materiais 73
44 Procedimentos 74
441 Primeira etapa da apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo agrave produccedilatildeo inicial 77
442 Segunda etapa desenvolvimento dos moacutedulos 79
443 Terceira etapa produccedilatildeo final 85
444 Quarta etapa circulaccedilatildeo social dos textos 86
5 ANAacuteLISE DA SEQUEcircNCIA REFLEXOtildeES 87
51 Participaccedilatildeo dos alunos na pesquisa 88
52 Anaacutelise da apropriaccedilatildeo de caracteriacutesticas do gecircnero crocircnica literaacuteria 90
53 Os textos dos alunos 92
531 Produccedilotildees A textos apenas para o trabalho em sala de aula 92
532 Produccedilotildees B textos para circulaccedilatildeo social 123
533 Uma nova reescrita 136
6 CONCLUSAtildeO 139
REFEREcircNCIAS 144
APEcircNDICE A ndash ATIVIDADES PROPOSTAS PARA A SEQUEcircNCIA
DIDAacuteTICA
148
ANEXO A ndash DISTRIBUICcedilAtildeO POR NIacuteVEL DE PROFICIEcircNCIA 162
ANEXO B ndash DISTRIBUICcedilAtildeO DE TEXTOS FALADOS E ESCRITOS
NO CONTIacuteNUO GENEacuteRICO
165
ANEXO C ndash PRODUCcedilOtildeES DOS ALUNOS 166
16
1 INTRODUCcedilAtildeO
A proposta deste trabalho parte de uma motivaccedilatildeo de cunho pessoal fruto das
dificuldades que como professora enfrentamos todos os dias como se pode conduzir o
trabalho em sala de aula de modo eficaz para que os alunos independentemente de sua idade
ou seacuterie possam terminar o ano letivo escrevendo textos claros
Para levar o aluno a desenvolver suas habilidades de escrita um passo importante
seria planejar sequecircncias que abordem as caracteriacutesticas do gecircnero a ser trabalhado permitindo-
lhe pocircr em aproximaccedilatildeo eou contraste seus saberes com os conhecimentos a serem construiacutedos
Para noacutes professores esse passo tem se revelado ainda bastante difiacutecil visto que nossa cultura
escolar ainda natildeo se firmou apropriadamente na visatildeo de que escrita eacute processo e que seu
produto pode ndash deve aliaacutes ndash alcanccedilar a sociedade permitindo ao aluno o exerciacutecio da cidadania
Pensamos entatildeo na elaboraccedilatildeo de uma sequecircncia de aulas que trabalhe a produccedilatildeo
escrita abordando o seu processo Para tanto escolhemos a oacutetica de Vieira (2005) que traz
importante contribuiccedilatildeo para o trabalho do professor ao abordar o processo de produccedilatildeo do
texto considerando-o mais importante no ambiente pedagoacutegico do que o texto pronto Sua
justificativa parte da inquietaccedilatildeo de por que eacute difiacutecil aprender a redigir
Ao longo de sua obra a autora traz reflexotildees a partir de pesquisas sobre os aspectos
comunicativos cognitivos e psicoloacutegicos do processo de redigir conhecimento que ela constata
fornecerem subsiacutedios para fundamentar a didaacutetica da escrita orientando as escolhas
metodoloacutegicas dos professores (VIEIRA 2005 p79) Ainda na abordagem da produccedilatildeo escrita
como processo contamos com Serafini (2003) que tambeacutem traz valiosa orientaccedilatildeo tanto para
o aluno como para o professor
Para trabalharmos esse processo com os alunos o gecircnero escolhido para a criaccedilatildeo
e aplicaccedilatildeo de nossa sequecircncia de aulas eacute a crocircnica literaacuteria que vem ganhando destaque no
cenaacuterio nacional atual de estudos na educaccedilatildeo baacutesica desde a proposta da Olimpiacuteada de Liacutengua
Portuguesa Escrevendo o Futuro (CENPEC 2016) Por seu formato fluido e por se apresentar
de tal modo que a fala pessoal se associa agrave fala coletiva a crocircnica parece integrar espaccedilos
iacutentimos a puacuteblicos construindo dessa maneira uma relaccedilatildeo de proximidade entre o autor e o
leitor
Por percebermos que haacute vaacuterios alunos que produzem seus textos sem recorrer agrave
etapa do planejamento a da revisatildeo e a da reescrita visamos entatildeo nesta pesquisa devido agrave
ausecircncia de tais procedimentos responder agraves seguintes questotildees-problema desdobradas a partir
17
da questatildeo baacutesica como ensinar a produccedilatildeo escrita no 9ordm ano do Ensino Fundamental enfocando
o ato de redigir como um processo visto que haacute estudantes deste niacutevel que normalmente natildeo
tecircm o haacutebito de planejar seus textos A partir desse questionamento nos perguntamos
a) que atividades pedagoacutegicas possibilitam aos alunos a consciecircncia de que eacute
preciso desenvolver estrateacutegias proacuteprias (recorrer agrave etapa do planejamento da
revisatildeo e da reescrita) para produzir seus textos
b) de que forma o conhecimento sobre a estrutura composicional de um gecircnero
pode ajudar a superar as dificuldades
c) a comparaccedilatildeo das produccedilotildees inicial e final permitiraacute associar a melhoria do
desempenho da competecircncia escrita e a apropriaccedilatildeo do gecircnero crocircnica literaacuteria
ao desenvolvimento da sequecircncia de atividades
Apoacutes as oficinas a anaacutelise deteacutem-se nos objetivos elencados com dados
comparativos entre produccedilatildeo inicial e produccedilatildeo final a fim de constatarmos a relevacircncia da
hipoacutetese baacutesica os alunos do 9ordm ano produziram textos na etapa final das oficinas utilizando-
se das caracteriacutesticas do gecircnero textual crocircnica literaacuteria compreendendo que escrita eacute interaccedilatildeo
valorizando o uso social da escrita de acordo com a proposta teoacuterica de gecircnero preparando
seus textos pautados nas etapas do processo de redigir conforme as orientaccedilotildees dadas em sala
de aula Desdobradas em mais trecircs hipoacuteteses secundaacuterias pensamos
a) eacute possiacutevel motivar os alunos a escrever ao desenvolver com eles atividades
voltadas para os diferentes subprocessos e habilidades envolvidos no ato de
redigir
b) o ensino da composiccedilatildeo do gecircnero crocircnica literaacuteria contribuiraacute para minimizar
dificuldades observadas nos textos dos alunos do 9ordm ano como nos planos
morfossintaacutetico e semacircntico aleacutem de lhes propiciar o desenvolvimento da
competecircncia em textos escritos
c) apoacutes a realizaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica proposta ao compararmos as produccedilotildees
inicial e final dos alunos verificaremos um desempenho mais satisfatoacuterio em
relaccedilatildeo agrave competecircncia discursiva realizada no gecircnero crocircnica
Utilizamos a sequecircncia didaacutetica ferramenta teoacuterico-metodoloacutegica proposta por
Dolz Noverraz e Schneuwly ([2004]2013) para facilitar a criaccedilatildeo de nossa sequecircncia
refletindo sobre as atividades iniciais como um diagnoacutestico e a partir daiacute compondo os
moacutedulos que julgamos necessaacuterios dentro do tempo disponiacutevel para o aperfeiccediloamento da
praacutetica de escrita dos alunos
18
Sem esquecer que o produto desta sequecircncia precisa ter relevacircncia e circulaccedilatildeo
social fizemos o estudo do conceito de gecircnero a partir de autores como Bakhtin (2011)
Bazerman (2009) Bazerman Miller (2011) e Marcuschi (2015) autores cujas contribuiccedilotildees
teoacutericas nos permitem compreender que os textos verbais ou orais dependem do contexto em
que satildeo criados considerando seu momento histoacuterico e caracteriacutesticas culturais e sociais
fazendo portanto sentido somente se se destinarem a uma audiecircncia real com papeis sociais
reais
O gecircnero eleito para o trabalho de produccedilatildeo escrita eacute como dissemos a crocircnica
literaacuteria A escolha da tipologia narrativa e do gecircnero crocircnica deu-se por alguns motivos
a) as narrativas possuem um papel fundamental na formaccedilatildeo dos indiviacuteduos Desde
a infacircncia a crianccedila tem contato com a narraccedilatildeo Ela mesma narra como forma
de organizar suas ideias E em sociedade as narrativas ajudaram a construir a
identidade dos povos prolongando ramos e aprofundando raiacutezes
b) a crocircnica eacute um gecircnero que se identifica com a realidade dos alunos pela leveza
da linguagem associando a oralidade e coloquialidade e facilidade de
identificaccedilatildeo de elementos coletivos e individuais presentes em seu cotidiano
os quais podem vir a se tornar objeto de reflexatildeo de bom humor ou mesmo de
criacutetica e sobre tais elementos pode-se motivar os alunos a escrever
c) considerando o papel social da escola que deve ser de integrar o aluno como
cidadatildeo em sociedade eacute uma excelente oportunidade de ensinar os
procedimentos concernentes ao processo de escrita com um texto com
caracteriacutesticas literaacuterias visto que daiacute por diante entrando no ensino meacutedio
predominam as praacuteticas de trabalho com os textos argumentativos cuja
recorrecircncia se deve a serem os mais cobrados em avaliaccedilotildees diagnoacutesticas e de
acesso ao niacutevel superior tais como ENEM vestibulares seleccedilotildees e concursos
sendo um pouco esquecidas as narrativas e os processos de escrita criativa
Esta pesquisa se valeu tambeacutem de trabalhos acadecircmicos que trataram de produccedilatildeo
escrita na escola do gecircnero crocircnica de sequecircncias didaacuteticas e do estudo dos gecircneros textuais
relacionados ao trabalho em sala de aula dentre os quais destacamos
Santos (2008) em sua pesquisa sobre o gecircnero textual crocircnica narrativa no ensino
meacutedio percebeu alguns avanccedilos discretos apoacutes a aplicaccedilatildeo de uma sequecircncia didaacutetica Embora
muitos textos tenham apresentado as caracteriacutesticas do gecircnero explorado em sala de aula
alguns se apresentaram ainda como narrativas tipicamente escolares O pesquisador encontrou
19
dificuldades durante sua pesquisa com produccedilatildeo textual porque afirma na escola o objeto
central de ensino da liacutengua portuguesa ainda eacute a gramaacutetica que disputa espaccedilo diretamente com
a literatura sendo a produccedilatildeo relegada a apenas uma aula sem enfoque no processo de reescrita
dos textos com as devidas reflexotildees
Swiderski e Costa-Huumlbes (2009) analisam o formato baacutesico da sequecircncia didaacutetica
proposta pelo grupo de Genebra e propotildeem a inserccedilatildeo de um moacutedulo novo chamado de moacutedulo
de reconhecimento anterior agrave produccedilatildeo inicial de modo a permitir aos alunos o contato com
textos do gecircnero antes de partir diretamente para a escrita do primeiro texto propiciando
oportunidade de pesquisa leitura e anaacutelise linguiacutestica contemplando os outros eixos do
trabalho com liacutengua portuguesa aleacutem da escrita eou oralidade
Lopes-Rossi (2011) tambeacutem trata da sequecircncia didaacutetica e propotildee para o final da
SD uma culminacircncia a que ela chama de divulgaccedilatildeo ao puacuteblico ou seja um momento para
colocar em circulaccedilatildeo social os textos que os alunos produzem ao longo do trabalho
sistematizado permitindo-lhes compreender o sentido real dos textos do gecircnero que estudam
Colombo (2013) faz uma avaliaccedilatildeo das produccedilotildees vencedoras das ediccedilotildees da
Olimpiacuteada de Liacutengua Portuguesa Escrevendo o Futuro na categoria Crocircnicas Sua criacutetica
principal ao processo estaacute natildeo nas oficinas realizadas pois em muito ajudam os alunos a
conhecer os diversos tons que os textos das crocircnicas trazem a partir das mais diferentes
temaacuteticas mas na artificialidade do interlocutor para quem os alunos escreveram (uma banca
examinadora) e as redaccedilotildees escolhidas por essa banca (um criteacuterio mais pessoal que objetivo)
Colombo (2013) critica tambeacutem a incoerecircncia entre o material de avaliaccedilatildeo
produzido pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Educaccedilatildeo Cultura e Accedilatildeo Comunitaacuteria ndash
CENPEC em 2011 com uma coletacircnea de excertos de textos natildeo vencedores de ediccedilotildees
passadas que aponta no capiacutetulo dedicado agraves crocircnicas exemplos de distanciamentos da
tipologia narrativa proacutepria do gecircnero em textos que abordaram mazelas locais com
predominacircncia da descriccedilatildeo e da criacutetica Para ela essas mesmas caracteriacutesticas ressurgiram nos
textos vencedores do ano de 2012 Dentre outras criacuteticas a mais incisiva de suas consideraccedilotildees
eacute a de que a crocircnica eacute um texto para ser lido na escola sendo no entanto impossiacutevel ensinar os
alunos a escrever crocircnicas pois para a autora natildeo devem ser produzidas sob a pressatildeo de um
concurso que escolheraacute qual a melhor
Correia (2015) em sua pesquisa centrada em uma sala de aula de 7ordm ano do Ensino
Fundamental priorizou a praacutetica de leitura do gecircnero crocircnica e associou ao trabalho com esta
mais dois gecircneros a entrevista e o documentaacuterio audiovisual abordando um aspecto
20
multimodal em sua produccedilatildeo final Sua intenccedilatildeo parece-nos foi usar a temaacutetica das crocircnicas
para despertar nos alunos uma apropriaccedilatildeo da realidade em que estatildeo inseridos e em suas
consideraccedilotildees acredita que no momento de produccedilatildeo escrita dentro das possibilidades de
alunos de 12 anos de idade logrou sucesso ao levar os alunos ao reconhecimento das
caracteriacutesticas do gecircnero
Paiva (2015) realizou um trabalho que contribuiu diretamente para o
desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita atraveacutes do ensino da produccedilatildeo de textos
argumentativos no gecircnero carta de reclamaccedilatildeo Por meio de uma sequecircncia didaacutetica que
priorizava como em nosso caso de pesquisa o processo de produccedilatildeo em vez de considerar
apenas o produto a pesquisadora logrou ecircxito ao identificar progressos nos textos dos alunos
dentro das possibilidades de trabalho que executou
Feitosa (2016) abordou o ensino de liacutengua portuguesa na perspectiva dos gecircneros
realizando uma sequecircncia didaacutetica com o gecircnero panfleto colocando o produto final em
circulaccedilatildeo social como em nosso caso de pesquisa com a distribuiccedilatildeo dos panfletos pelos
alunos no ambiente escolar e na comunidade em que a escola estaacute inserida Fazendo isso ela
possibilitou a atribuiccedilatildeo da significaccedilatildeo proacutepria do gecircnero agrave produccedilatildeo textual dos alunos fator
importante para estimulaacute-los a interagir em sociedade por meio de seus textos
Os Paracircmetros Curriculares Nacionais (PCN 1997) reconhecem que o ensino de liacutengua
portuguesa na educaccedilatildeo baacutesica eacute pautado em uma prioridade de estudos de aspectos normativos
ou gramaticais da liacutengua o que o torna limitado e insuficiente e sugerem redirecionar o foco
para a praacutetica de leitura e ndash aspecto muito importante ndash o exerciacutecio da escrita de textos nos mais
variados gecircneros textuais existentes na sociedade possibilitando o estudo da liacutengua em
contextos reais de uso natildeo apenas como um conjunto de normas1
Para tanto aprender a pensar e falar sobre a proacutepria linguagem realizar uma
atividade de natureza reflexiva uma atividade de anaacutelise linguiacutestica supotildee duas situaccedilotildees
planejar situaccedilotildees didaacuteticas que possibilitem a reflexatildeo natildeo somente sobre os diferentes
recursos expressivos utilizados pelo autor do texto mas tambeacutem sobre a forma pela qual a
seleccedilatildeo de tais recursos reflete as condiccedilotildees de produccedilatildeo do discurso e as restriccedilotildees impostas
1 Os Paracircmetros Curriculares Nacionais (PCN 1997) reconhecem que o ensino de liacutengua portuguesa na educaccedilatildeo
baacutesica eacute pautado em uma prioridade de estudos de aspectos normativos ou gramaticais da liacutengua o que o torna
limitado e insuficiente e sugerem redirecionar o foco para a praacutetica de leitura e ndash aspecto muito importante ndash o
exerciacutecio da escrita de textos nos mais variados gecircneros textuais existentes na sociedade possibilitando o estudo
da liacutengua em contextos reais de uso natildeo apenas como um conjunto de normas
21
pelo gecircnero e pelo suporte e tomar como objeto de reflexatildeo os procedimentos de planejamento
de elaboraccedilatildeo e de refacccedilatildeo dos textos (BRASIL 1997 p 8)
Esses gecircneros a que se referem os paracircmetros satildeo conceituados por Bakhtin autor
em que se fundamenta a proposta dos PCN Compreendendo que o conhecimento de tais
gecircneros traz liberdade ao usuaacuterio da liacutengua o filoacutesofo afirma que quanto melhor dominamos os
gecircneros tanto mais livremente os empregamos tanto mais plena e nitidamente descobrimos
neles a nossa individualidade (onde isso eacute possiacutevel e necessaacuterio) refletimos de modo mais
flexiacutevel e sutil a situaccedilatildeo singular da comunicaccedilatildeo em suma realizamos de modo mais acabado
o nosso livre projeto de discurso (BAKHTIN 2011 p 285)
Os PCN para o 3ordm e o 4ordm ciclos do Ensino Fundamental orientam aleacutem da ampliaccedilatildeo
da variedade de textos e gecircneros que o trabalho com os alunos leve a ldquoconhecer caracteriacutesticas
fundamentais do Brasil nas dimensotildees sociais materiais e culturais como meio para construir
progressivamente a noccedilatildeo de identidade nacional e pessoal e o sentimento de pertinecircncia ao
paiacutesrdquo (BRASIL 1997 p 7)
Assim produzir textos requer dessa forma estudar os diferentes modos de
expressatildeo abrindo-se aiacute para o aluno uma gama de possibilidades de manifestaccedilatildeo de ideias
atraveacutes do conhecimento de sua liacutengua nas relaccedilotildees de interaccedilatildeo pessoal
No entanto para que essa produccedilatildeo seja efetiva haacute que se ter em mente que
qualquer tarefa de escrita bem-sucedida requer o exerciacutecio da escrita e da reescrita pois se
considera que nesse processo de aperfeiccediloamento as aulas tomadas entre o iniacutecio e o teacutermino
de uma sequecircncia de atividades ou seja entre a produccedilatildeo inicial e a produccedilatildeo final sejam
vaacuterias e variadas com planejamento para conhecer as necessidades de cunho geral da turma
como as caracteriacutesticas de um gecircnero bem como as de cunho individual do aluno como as
limitaccedilotildees no reconhecimento do gecircnero textual na construccedilatildeo de argumentos na progressatildeo
narrativa nas convenccedilotildees da escrita culta
Com o objetivo de orientar o leitor apresentamos a forma de organizaccedilatildeo desta
pesquisa que se encontra disposta em mais cinco seccedilotildees primaacuterias aleacutem desta Introduccedilatildeo
Na seccedilatildeo 2 denominada ldquoOs gecircneros e o trabalho em sala de aulardquo discorremos
sobre o conceito de gecircnero apoiando-nos na oacutetica de Bahktin de gecircnero como tipo
relativamente estaacutevel de enunciado na oacutetica da sociorretoacuterica do gecircnero como accedilatildeo social
principalmente com Bazerman e Miller e do gecircnero como fenocircmeno histoacuterico como nos fala
Marcuschi Aleacutem disso tratamos do conceito de sequecircncia didaacutetica proposta teoacuterico-
metodoloacutegica de Dolz Noverraz e Schneuwly e de propostas complementares agrave SD com as
22
contribuiccedilotildees de Costa-Huumlbes e Lopes-Rossi Ainda nesta seccedilatildeo tratamos da definiccedilatildeo do
gecircnero textual crocircnica e suas caracteriacutesticas desenvolvidas no Brasil tanto no campo
jornaliacutestico quanto no literaacuterio pelas oacuteticas de Beltratildeo Coutinho e Cacircndido
Na seccedilatildeo 3 denominada ldquoLeitura e escrita no ensino fundamental anos finaisrdquo
discorremos sobre escrita resgatando um pouco do percurso histoacuterico das habilidades de leitura
e escrita na escola e na sociedade tratamos do aspecto da motivaccedilatildeo para a escrita da escrita
como um processo da escrita na escola e do letramento literaacuterio que julgamos interessante
ressaltar visto que leitura e escrita precisam ser instrumentalizadas
Na seccedilatildeo 4 denominada ldquoNatureza e procedimentos da pesquisardquo discorremos
sobre nossa pesquisa propriamente dita o contexto da pesquisa os sujeitos os materiais e os
procedimentos mostrando o desenvolvimento da sequecircncia de atividades e procedimentos de
coleta de dados
Na seccedilatildeo 5 denominada ldquoAnaacutelise da sequecircncia de atividades reflexotildeesrdquo
discorremos sobre nossa sequecircncia didaacutetica mostrando a participaccedilatildeo dos alunos na pesquisa
apresentando a anaacutelise da apropriaccedilatildeo de caracteriacutesticas do gecircnero crocircnica literaacuteria nos textos
dos alunos bem como os textos produzidos para circulaccedilatildeo social
E por fim na Conclusatildeo apresentamos reflexotildees acerca da experiecircncia com a
pesquisa e dos resultados obtidos bem como sugestotildees para o avanccedilo de trabalhos que possam
contribuir para a competecircncia escrita dos alunos do ensino fundamental e a continuidade de
estudos na aacuterea
Acreditamos que a pesquisa-accedilatildeo desenvolvida que se inscreve no escopo da
Linguiacutestica Aplicada pode aleacutem de ofertar contribuiccedilotildees no acircmbito acadecircmico encorajar os
alunos participantes da pesquisa no sentido de se permitirem evoluir como produtores de texto
em sua liacutengua materna direito que lhes cabe desde o momento em que satildeo reconhecidos
cidadatildeos que ingressam nas escolas brasileiras
23
2 OS GEcircNEROS E O TRABALHO EM SALA DE AULA
Os pressupostos que embasam esta pesquisa perpassam a necessidade de se
compreender o que satildeo os gecircneros textuais em distinccedilatildeo de tipos textuais e como trabalhaacute-los
em atividades sequenciadas destacando-se inclusive como estas podem melhorarauxiliar o
trabalho do professor da educaccedilatildeo baacutesica Aleacutem disso tentaremos delinear ainda que
reconheccedilamos a natildeo consensualidade de definiccedilotildees o que vem a ser a crocircnica a partir das
escolhas dos textos que integram o corpus exemplo para os alunos
21 Demarcando o conceito de gecircnero
Iniciamos nosso percurso teoacuterico a partir da compreensatildeo do que eacute o gecircnero
Concordamos com Bezerra (2017 p 11) quando ele diz que o conceito de gecircnero eacute tomado
como ldquouma categoria mediadora entre o texto e o discurso capaz de colocar em xeque velhas
concepccedilotildees dicotocircmicas como a que trata o texto como uma mera lsquomaterializaccedilatildeorsquo de um
discurso consequentemente lsquoimaterialrsquordquo
Para Bezerra (2017) a partir do gecircnero tanto o texto como o discurso podem ser
relacionados produtivamente com o seu contexto cognitivo e social o que viabiliza o estudo
teoacuterico e sua aplicaccedilatildeo pedagoacutegica
No panorama teoacuterico referencial buscaremos compreensatildeo do que eacute o gecircnero
atraveacutes da conceituaccedilatildeo de Bakhtin (2011) Bazerman (2009) Miller (2011) e Marcuschi
(2015) e sua importacircncia para o trabalho de pesquisa-accedilatildeo com produccedilatildeo textual no 9ordm ano do
ensino fundamental
211 Gecircnero como tipo relativamente estaacutevel de enunciado
De iniacutecio veremos a abordagem enunciativo-discursiva de Bakhtin (2011) que se
refere ao processo de interaccedilatildeo verbal e ao enunciado Para o filoacutesofo russo as interaccedilotildees
podem ocorrer de maneira mais geral face a face mas tambeacutem se concretizar atraveacutes dos textos
escritos Nesse processo o leitor tem um papel ativo na compreensatildeo das informaccedilotildees quando
com elas interage aceitando reformulando contrapondo e complementando conforme seu
arcabouccedilo de conhecimentos e experiecircncias e o faz reportando-se a diferentes vozes de textos
24
previamente lidos e ouvidos Essas interaccedilotildees efetivam-se por meio de enunciados chamados
de gecircneros
A compreensatildeo baacutesica do que satildeo os gecircneros textuais ou usando o termo adotado
por Bakhtin os gecircneros do discurso eacute definida como ldquotipos relativamente estaacuteveis de
enunciadosrdquo (2011 p 262) elaborados pelas diferentes esferas de utilizaccedilatildeo da liacutengua Cada
esfera de uso da linguagem traz consigo uma concepccedilatildeo padratildeo de destinataacuterio a quem se dirige
o locutor e esse destinataacuterio sempre adota uma atitude responsiva ativa diante da totalidade
acabada do gecircnero Digamos que segundo o autor essas esferas permitem-nos situar e prever
o que o interlocutor emitiraacute evitando prejuiacutezos na eficaacutecia da comunicaccedilatildeo
Aprendemos a moldar nossa fala agraves formas do gecircnero e ao ouvir a fala do outro
sabemos de imediato bem nas primeiras palavras pressentir-lhe o gecircnero Se natildeo
existissem os gecircneros do discurso e se natildeo os dominaacutessemos se tiveacutessemos de criaacute-
los pela primeira vez no processo da fala se tiveacutessemos de construir cada um de
nossos enunciados a comunicaccedilatildeo verbal seria quase impossiacutevel (BAKHTIN 2011
p 302)
Dessa forma compreendemos que os enunciados tecircm relativa estabilidade
apresentando formas tiacutepicas que se adaptam agraves muacuteltiplas situaccedilotildees tanto orais quanto escritas
sendo essas formas variaacuteveis portanto Satildeo caracteriacutesticas dos gecircneros o dialogismo e a
polifonia
No dialogismo compreendemos que um texto tem relaccedilotildees com o contexto social
com os textos jaacute lidos pelo leitor e suas experiecircncias de vida e as ligaccedilotildees feitas com as diversas
aacutereas de conhecimento natildeo sendo nunca um produto fechado em si mesmo e uacutenico O discurso
dessa forma estabelece intercacircmbios socioculturais fruto de processos cognitivos e
conhecimentos acumulados historicamente que atendem a essa atitude responsiva ativa Essa
caracteriacutestica estaacute relacionada ao processo de leitura e ao de produccedilatildeo de textos pois o leitor
ou o escritor estabelece um diaacutelogo com o texto em ambos os processos
Na polifonia entendemos que o texto natildeo eacute constituiacutedo apenas da voz do escritor
mas por outras vozes por dizeres de outrem e satildeo vozes que se cruzam concordam ou
discordam entre si
Nas condiccedilotildees de produccedilatildeo dos enunciados e dos gecircneros discursivos estatildeo
inseridas as intenccedilotildees comunicativas e as necessidades sociointerativas dos sujeitos nas esferas
de atividade em que o papel e o lugar de cada sujeito satildeo determinados socialmente Para o
autor trecircs elementos baacutesicos configurariam um gecircnero discursivo o conteuacutedo temaacutetico o estilo
e a forma composicional
25
O conteuacutedo temaacutetico do gecircnero eacute definido pelo enunciador e depende diretamente
das situaccedilotildees das condiccedilotildees de produccedilatildeo e das necessidades da proacutepria enunciaccedilatildeo A escolha
desse conteuacutedo se daacute conforme a intencionalidade do enunciador estando de acordo com as
suas necessidades
O estilo do enunciador pode ser observado na adequaccedilatildeo da linguagem empregada
na escolha dos vocaacutebulos conforme a finalidade e a proacutepria estrutura do enunciado do gecircnero
escolhido voltados para seu interlocutor Nas palavras de Bakhtin (2011 p 284)
O estilo eacute indissociavelmente vinculado a unidades temaacuteticas determinadas e o que eacute
particularmente importante a unidades composicionais tipo de estruturaccedilatildeo e de
conclusatildeo de um todo tipo de relaccedilatildeo entre o locutor e os outros parceiros da
comunicaccedilatildeo verbal (relaccedilatildeo com o ouvinte ou com o leitor com o interlocutor com
o discurso do outro etc) (BAKHTIN 2011 p 284)
Assim para o autor ldquoo enunciado - oral e escrito primaacuterio e secundaacuterio em
qualquer esfera da comunicaccedilatildeo verbal - eacute individual e por isso pode refletir a individualidade
de quem fala (ou escreve)rdquo (BAKHTIN 2011 p 283) Ou seja o estilo eacute individual poreacutem eacute
definido pelo outro e pelo gecircnero ldquodepende do modo que locutor percebe e compreende seu
destinataacuterio e do modo que ele presume uma compreensatildeo responsiva ativardquo (BRAIT 2016 p
95)
A estrutura composicional do gecircnero eacute um elemento que segue padrotildees definidos
pela sociedade Cada enunciado deve inserir-se no padratildeo que eacute convencionado pelo gecircnero a
fim de ser reconhecido e consequentemente compreendido
Essa breve exposiccedilatildeo das trecircs caracteriacutesticas dos gecircneros vem mostrar que elas
dependeratildeo em grande parte das condiccedilotildees de produccedilatildeo de cada enunciado uma vez que
[] o discurso se molda sempre agrave forma do enunciado que pertence a um sujeito
falante e natildeo pode existir fora dessa forma Quaisquer que sejam o volume o
conteuacutedo a composiccedilatildeo os enunciados sempre possuem como unidades da
comunicaccedilatildeo verbal caracteriacutesticas estruturais que lhe satildeo comuns e acima de tudo
fronteiras claramente delimitadas (BAKHTIN 2011 p 293)
Essas caracteriacutesticas ocorrem simultaneamente em uma enunciaccedilatildeo concreta pois
eacute no momento da enunciaccedilatildeo que se definiraacute como essas caracteriacutesticas seratildeo empregadas
A partir dessa compreensatildeo de Bakhtin diversos outros autores conceituaram o que
eacute gecircnero Dentre as grandes Escolas do Gecircnero2 nosso trabalho considerou os conceitos baacutesicos
2 Dentre as grandes Escolas de Gecircnero destacam-se a Escola de Sidney a Norte-americana e a de Genebra
26
adotados pela Escola norte-americana representada por Miller (2011) e Bazerman (2009) Por
fim no Brasil veremos Marcuschi (2015) Traremos ainda para a proacutexima seccedilatildeo autores que
desenvolvem e aplicam os conceitos de gecircnero textual na praacutetica por meio de sequecircncias de
atividades como Dolz Noverraz e Schneuwly ([2004]2013) atraveacutes da Sequecircncia Didaacutetica e
Vieira (2005) com a Abordagem imitativa da redaccedilatildeo trabalhando com formatos e gecircneros
212 Gecircnero como accedilatildeo social
A noccedilatildeo de gecircnero como accedilatildeo social foi desenvolvida inicialmente por Carolyn
Miller A elaboraccedilatildeo de uma teoria de gecircnero ocorreu com mais dois pesquisadores John
Swales e Charles Bazerman Todos satildeo membros do grupo que compotildee a escola de estudos de
gecircneros norte-americana cuja caracteriacutestica eacute o interesse pela natureza social do discurso
(CARVALHO 2005) Veremos aqui mais especificamente os expoentes Miller e Bazerman
A noccedilatildeo de gecircneros natildeo eacute recente e remonta agrave Retoacuterica Claacutessica Por volta dos anos
1980 Miller voltou-se aos estudos das determinaccedilotildees retoacutericas de Aristoacuteteles O filoacutesofo grego
postulou a primeira classificaccedilatildeo dos discursos em trecircs tipos o judiciaacuterio o deliberativo e o
epidiacutetico Carvalho (2016) nos diz que para Aristoacuteteles autor da classificaccedilatildeo essa distinccedilatildeo
dos discursos eacute necessaacuteria porque existem trecircs tipos de auditoacuterio e eacute preciso adaptar-se a eles
conferindo traccedilos especiacuteficos a cada gecircnero pois a escolha entre um deles se daacute mediante a
necessidade que o orador tem de se adaptar ao puacuteblico Aleacutem de classificar Aristoacuteteles
apresenta as caracteriacutesticas de cada um desses tipos de discurso Segundo Carvalho (2016 p
35)
O pensador grego entende que esses trecircs gecircneros se remetem a um tempo especiacutefico
indicam atos expressam valores e apresentam formas especiacuteficas de argumentaccedilatildeo
Assim sendo pondera que o gecircnero judiciaacuterio se dirige a um auditoacuterio especializado
versa sobre leis recorre a silogismos e se refere a acontecimentos do passado para
acusar ou defender O deliberativo trata-se de um gecircnero que se relaciona a um puacuteblico
culto faz uso de argumentos atraveacutes de exemplos e expressa atitudes que poderatildeo
acontecer no futuro O epiacutedictico por sua vez eacute caracterizado como um gecircnero no
qual o orador exalta ou despreza caracteriacutesticas de determinados indiviacuteduos no exato
momento da enunciaccedilatildeo (CARVALHO 2016 p 35)
Nessa abordagem claacutessica apesar de a classificaccedilatildeo de Aristoacuteteles ter reduzido os
discursos a apenas trecircs tipos jaacute se compreendia que a variedade dos gecircneros eacute dependente da
variedade de auditoacuterios e por essa razatildeo natildeo podem ser concebidos desvinculados de seus
interlocutores sendo formas de agir em sociedade de diferentes maneiras Nas palavras de
Carvalho (2016 p34) ldquopor esse acircngulo podemos dizer ainda hoje que lanccedilar um olhar sobre
27
os gecircneros que contemple suas dimensotildees retoacutericas eacute antes de tudo atentar para a natureza
social e argumentativa inerente a cada tipo de discurso e concebecirc-los como formas de
(inter)accedilatildeordquo
Por sua vez Bazerman (2009) na introduccedilatildeo de seu livro Gecircneros textuais
tipificaccedilatildeo e interaccedilatildeo fala da necessidade de se entender as variedades da escrita numa
abordagem que comeccedila com as circunstacircncias em que as pessoas produzem e usam os textos
questionando sobre os motivos e accedilotildees tiacutepicos associados com a escrita e leitura desses textos
Em deacutecadas recentes o ensino da escrita foi transformado pelo amplo reconhecimento
de vaacuterios princiacutepios Primeiro o escrever bem requer mais do que a produccedilatildeo de
sentenccedilas corretas tambeacutem envolve a comunicaccedilatildeo bem-sucedida de mensagens
significantes para outros Segundo a escrita eacute um processo que leva tempo e incorpora
muitas diferentes atividades Terceiro o ensino da escrita que ajuda alunos a
alcanccedilarem o sucesso acadecircmico precisa atender a todos os tipos de escrita que satildeo
necessaacuterios natildeo somente para o estudo da linguagem ou da literatura mas tambeacutem
para as disciplinas de histoacuteria ciecircncia filosofia e poliacutetica Quarto os alunos ao
terminarem seus estudos precisam estar aptos a produzir muitas diferentes formas da
escrita Embora todas as formas da escrita que os alunos poderiam precisar sejam
impossiacuteveis de antecipar os alunos precisam de habilidade e flexibilidade suficientes
para se adaptar agraves situaccedilotildees variantes da escrita (BAZERMAN 2009 p 16)
Bazerman (2009) afirma que se pode chegar a uma compreensatildeo mais profunda de
gecircneros se os compreendermos como ldquofenocircmenos de reconhecimento psicossocial que satildeo parte
de processos de atividades socialmente organizadasrdquo (Bazerman 2009 p31) Na concepccedilatildeo do
pesquisador gecircneros satildeo os tipos que as pessoas reconhecem como sendo usados por elas
proacuteprias e pelos outros ou seja ldquosatildeo fatos sociais sobre os tipos de atos de fala que as pessoas
podem realizar e sobre os modos como elas os realizamrdquo (Bazerman 2009 p 31) Desse modo
os gecircneros emergem nos processos sociais na medida em que as pessoas tentam compreender
umas agraves outras de tal maneira que consigam coordenar atividades e compartilhar significados
com vistas a seus propoacutesitos praacuteticos
Para Miller e Bazerman (2011) definir o gecircnero como ldquogecircnero textualrdquo ou apenas
gecircnero ou ainda ldquogecircnero discursivordquo eacute uma questatildeo de necessidade apenas em contextos em
que se precise fazer algum tipo de distinccedilatildeo ou esclarecimento conceitual como uma espeacutecie
de contraste Nessa obra constituiacuteda como um ldquobate papordquo com perguntas e respostas os
professores a seu turno datildeo suas visotildees sobre essas distinccedilotildees quando perguntados ldquocomo vocecirc
define o conceito de gecircnerordquo Miller responde
Bom eu mantenho a minha definiccedilatildeo jaacute conhecida Eu natildeo distinguiria gecircnero textual
de gecircnero Eu o defino amplamente ou seja o gecircnero eacute uma accedilatildeo retoacuterica tipificada
baseada numa situaccedilatildeo retoacuterica recorrente [] Diria apenas que essa definiccedilatildeo tende
28
a se concentrar mais na produccedilatildeo na pessoa que desenvolve a accedilatildeo do que na
recepccedilatildeo Mas creio que eacute possiacutevel direcionaacute-la para pensar sobre o modo como
algueacutem realiza uma accedilatildeo e responde a ela Acho que tanto a produccedilatildeo como a recepccedilatildeo
satildeo importantes para se pensar no gecircnero como accedilatildeo (BAZERMAN MILLER 2011
p 16)
A mesma questatildeo dirigida a Bazerman eacute respondida da seguinte forma
Eu gostaria de acrescentar algumas coisas Percebo que em portuguecircs eacute necessaacuterio
distinguir gecircneros textuais (textual genre) de gecircnero (gender) Poreacutem em inglecircs o uso
do termo ldquogecircnero de textordquo se opotildee a gecircneros orais ou gecircneros em outros meios
Certamente os gecircneros textuais possuem caracteriacutesticas que os distinguem dos
gecircneros da pintura por exemplo mas todos satildeo formas de gecircnero O que realmente
estaacute em discussatildeo portanto satildeo as possibilidades (affordances) especiacuteficas da
textualidade versus artes graacuteficas por exemplo (BAZERMAN MILLER 2011 p
22)
Para os estudiosos da sociorretoacuterica os gecircneros pertencem agraves atividades humanas
e as refletem de forma que agrave medida que a linguagem muda mudam consigo os gecircneros natildeo
sendo o mais importante classificar ou nomear um gecircnero mas saber como ele funciona
O conceito de gecircnero de Miller tem como noccedilotildees-chave a recorrecircncia e a accedilatildeo
retoacuterica como se pode entender a partir da definiccedilatildeo dada pela proacutepria autora quando diz que
ldquoo gecircnero eacute uma accedilatildeo retoacuterica tipificada baseada numa situaccedilatildeo retoacuterica recorrenterdquo
(BAZERMAN MILLER 2011 p 22) Sua linha de trabalho define que o gecircnero espelha a
experiecircncia de seus usuaacuterios sendo o texto a forma materializada dessa experiecircncia por meio
da accedilatildeo ali levada a cabo de sua forma e de sua substacircncia (CARVALHO 2005 p 133)
Eacute atraveacutes do processo de tipificaccedilatildeo que satildeo construiacutedas as condiccedilotildees de
recorrecircncia analogias e similaridades necessaacuterias para a compreensatildeo do gecircnero em uma dada
cultura Nesse processo eacute importante o papel do sujeito cognitivo visto que ele capta a
recorrecircncia social de uma determinada comunicaccedilatildeo o que sinaliza padrotildees socialmente
perceptiacuteveis e socialmente determinados moldando-se a eles (BAZERMAN MILLER 2011
p 32)
Para caracterizar como os gecircneros se configuram e se enquadram em organizaccedilotildees
papeis e atividades mais amplas Bazerman (2009) propotildee vaacuterios conceitos que se sobrepotildeem
cada um envolvendo um aspecto diferente dessa configuraccedilatildeo conjunto de gecircneros sistema de
gecircneros e sistema de atividades
Segundo o autor um conjunto de gecircneros eacute ldquoa coleccedilatildeo de tipos de textos que uma
pessoa num determinado papel tende a produzirrdquo (2009 p 32) Compreendemos a partir da
explicaccedilatildeo do autor que eacute exemplificada com os profissionais da engenharia e da educaccedilatildeo que
29
ao identificar todas as formas de escrita com as quais devem trabalhar consegue-se ter acesso
agraves competecircncias habilidades e conhecimentos que lhe satildeo requeridos para que atue com bom
domiacutenio em sua aacuterea
Prosseguindo o autor conceitua um sistema de gecircneros
Um sistema de gecircneros compreende os diversos conjuntos de gecircneros organizados por
pessoas que trabalham juntas de uma forma organizada e tambeacutem as relaccedilotildees
padronizadas que se estabelecem na produccedilatildeo circulaccedilatildeo e uso desses documentos
Um sistema de gecircneros captura as sequecircncias regulares com que um gecircnero segue
outro gecircnero dentro de um fluxo comunicativo tiacutepico de um grupo de pessoas
(BAZERMAN 2009 p 32-33)
Esse aspecto se refere agrave integraccedilatildeo dos conjuntos de gecircneros que satildeo usados por
todos os participantes de uma determinada accedilatildeo social Como exemplo podemos pensar nas
provas de uma disciplina o professor elabora as provas e os alunos fazem as provas Ao analisar
o sistema de gecircneros observa-se a sequecircncia dos gecircneros e torna-se possiacutevel esclarecer quais
accedilotildees sociais as pessoas fazem e a forma pela qual os gecircneros datildeo ferramentas para essas accedilotildees
Por fim Bazerman (2009 p 33) conceitua sistema de atividades relacionando-o
ainda ao sistema de gecircneros ldquoEsse sistema de gecircneros eacute tambeacutem parte do sistema de atividades
da sala de aula Ao definir o sistema de gecircneros em que as pessoas estatildeo envolvidas vocecirc
identifica tambeacutem um frame que organiza o seu trabalho sua atenccedilatildeo e suas realizaccedilotildeesrdquo A
palavra frame eacute compreendida como moldura ou quadro No acircmbito educacional podemos
compreender a expressatildeo como o enquadramento que direciona o trabalho que compete a cada
pessoa imersa na accedilatildeo social
Pensando no exemplo da aacuterea educacional um aluno lida com um conjunto de
gecircneros como as provas os seminaacuterios os apontamentos e dentro do sistema de gecircneros
utilizados seu padratildeo como aluno consiste em estudar para os seminaacuterios tomar apontamentos
e responder agraves questotildees das provas sendo que dentro do sistema de atividades em que se
encontra natildeo pode deixar de atender agrave ordem que o frame lhe impotildee pois se lhe eacute determinado
que faccedila sua prova por escrito natildeo lhe eacute permitido por mais que estivesse respondendo tudo
corretamente utilizar-se de um gecircnero oral para que obtenha a nota ndash o que corrobora com a
afirmaccedilatildeo do autor quando este diz que ldquolevar em consideraccedilatildeo o sistema de atividades junto
com o sistema de gecircneros eacute focalizar o que as pessoas fazem e como os textos ajudam as pessoas
a fazecirc-lo em vez de focalizar os textos como fins em si mesmordquo (BAZERMAN 2009 p 33-
34)
30
Apoacutes essa caracterizaccedilatildeo de como os gecircneros se configuram e se enquadram em
organizaccedilotildees papeis e atividades mais amplas nessa abordagem que comeccedila com as
circunstacircncias em que as pessoas produzem e usam os textos questionando sobre os motivos e
accedilotildees tiacutepicos associados com a escrita e leitura desses textos veremos na seccedilatildeo seguinte a
concepccedilatildeo de gecircneros textuais como fenocircmenos histoacutericos profundamente vinculados agrave vida
cultural e social sob a oacutetica de Marcuschi
213 Gecircnero como fenocircmeno histoacuterico
No Brasil Marcuschi (2015) trabalhou a produccedilatildeo textual sob um enfoque
sociointerativo de gecircneros textuais no contiacutenuo de fala-escrita buscando esclarecer os
processos de compreensatildeo textual e de produccedilatildeo de sentido Coadunando com os conceitos jaacute
expostos de Bakhtin (2011) sobre as interaccedilotildees entendemos que elas se datildeo em domiacutenios
discursivos ou seja esferas da vida social ou institucional (por exemplo religiosa juriacutedica
jornaliacutestica pedagoacutegica poliacutetica industrial militar familiar luacutedica etc) nas quais se datildeo
praacuteticas que organizam formas de comunicaccedilatildeo e respectivas estrateacutegias de compreensatildeo (p
194)
Deste modo para Marcuschi os domiacutenios discursivos produzem ldquomodelos de accedilatildeo
comunicativa que se estabilizam e se transmitem de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo com propoacutesitos e
efeitos definidos e clarosrdquo (2015 p 194) que resultam em formas de accedilatildeo reflexatildeo e avaliaccedilatildeo
social que ldquodeterminam formatos textuais que em uacuteltima instacircncia desembocam na
estabilizaccedilatildeo de gecircneros textuaisrdquo (2015 p 194) tambeacutem organizando as relaccedilotildees de poder
Na concepccedilatildeo de Marcuschi (2015) os gecircneros textuais satildeo entatildeo fenocircmenos
histoacutericos profundamente vinculados agrave vida cultural e social O autor afirma que quando
dominamos um gecircnero textual natildeo dominamos uma forma linguiacutestica mas sim uma forma de
realizar linguisticamente objetivos especiacuteficos em situaccedilotildees sociais particulares (p 31) Isso
equivaleria a dizer que os gecircneros textuais operam em certos contextos como formas de
legitimaccedilatildeo discursiva por se situarem numa relaccedilatildeo soacutecio-histoacuterica com fontes de produccedilatildeo
que lhes datildeo sustentaccedilatildeo
Essa relaccedilatildeo soacutecio-histoacuterica a que se refere o autor trata da construccedilatildeo coletiva que
ordena e estabiliza as atividades comunicativas do dia a dia convergindo com o pensamento de
Bakhtin isto eacute como os gecircneros independem de decisotildees individuais e natildeo satildeo facilmente
manipulaacuteveis eles operam como geradores de expectativas de compreensatildeo muacutetua Nas
31
palavras de Marcuschi (2015 p 189) ldquoos gecircneros textuais natildeo satildeo fruto de invenccedilotildees
individuais mas formas socialmente maturadas em praacuteticas comunicativas na accedilatildeo
linguageirardquo
Em uma tentativa de distribuiccedilatildeo dos gecircneros da oralidade e escrita Marcuschi
(2015) cria um quadro geral3 que mostra que muitos gecircneros satildeo comuns a vaacuterios domiacutenios
figurando a crocircnica gecircnero eleito para a realizaccedilatildeo de nossa pesquisa-accedilatildeo de processo de
produccedilatildeo escrita em forma de sequecircncia didaacutetica nos domiacutenios discursivos ficcional e
jornaliacutestico Na distribuiccedilatildeo do contiacutenuo de fala-escrita que ensaia desenhar Marcuschi mostra
a crocircnica deslizando entre o domiacutenio das conversaccedilotildees na conversa espontacircnea seguindo para
as apresentaccedilotildees e reportagens com as narrativas
Desse modo caminha-se para uma compreensatildeo do que eacute a crocircnica aquele texto
escrito leve e espontacircneo que parece por vezes conversar com seu leitor narrando uma coisa
ou outra do dia a dia podendo conduzi-lo a reflexotildees ou possibilitando-lhe um dia mais bem-
humorado ou mesmo poeacutetico Direcionado para nossa investigaccedilatildeo julgamos esses conceitos
bastante importantes para elucidar para os alunos em que contexto satildeo produzidas as crocircnicas
de onde partem a quem pretendem alcanccedilar
Nesse sentido a partir do exposto concluiacutemos que um gecircnero seria uma resposta
usada pelos usuaacuterios de uma liacutengua em situaccedilotildees especiacuteficas constituiacutedo por caracteriacutesticas
gerais relativamente estaacuteveis Dessa forma aleacutem da intenccedilatildeo da comunicaccedilatildeo existe um
conhecimento comum pelo qual os falantes se orientam em suas decisotildees linguiacutesticas ao
construir o gecircnero de texto que estatildeo produzindo ou que devem produzir em cada contexto
comunicativo Esses gecircneros natildeo surgem naturalmente mas se constroem na interaccedilatildeo
comunicativa e satildeo fenocircmenos sociointerativos
22 Conhecendo a sequecircncia didaacutetica
Com vistas a ajudar o trabalho do professor tem sido muito discutido na uacuteltima
deacutecada o emprego das sequecircncias didaacuteticas especialmente na educaccedilatildeo baacutesica Sua
caracteriacutestica consiste em ser um conjunto de atividades ligadas entre si planejadas para ensinar
um conteuacutedo etapa por etapa Ao organizaacute-la de acordo com os objetivos que pretende alcanccedilar
para seus alunos o professor desenvolve atividades de aprendizagem e de avaliaccedilatildeo
3 Cf Anexo A
32
Para o trabalho em nossa aacuterea Liacutengua Portuguesa nossa pesquisa-accedilatildeo vai se
utilizar do procedimento baacutesico da sequecircncia didaacutetica para o ensino da escrita do gecircnero textual
crocircnica literaacuteria para o 9ordm ano do ensino fundamental inspirada no referencial teoacuterico-
metodoloacutegico de Dolz Noverraz e Schneuwly (2013) na proposta de adaptaccedilatildeo da sequecircncia
didaacutetica conduzida por Swiderski e Costa-Huumlbes (2009) na proposta de circulaccedilatildeo social do
gecircnero discursivo produzido em sequecircncias didaacuteticas de projetos pedagoacutegicos de Lopes-Rossi
(2011) e nas sugestotildees didaacuteticas da praacutetica de sala de aula de Vieira (2005) e de Serafini (2003)
221 Conceito de sequecircncia didaacutetica
Dolz Noverraz e Schneuwly (2013 p 83) reconhecem que os textos escritos ou
orais que produzimos diferenciam-se uns dos outros porque satildeo produzidos em condiccedilotildees
diferentes Apesar dessa diversidade satildeo constatadas regularidades de modo que em situaccedilotildees
semelhantes produzimos textos com caracteriacutesticas semelhantes que os autores chamam de
gecircneros de textos conhecidos de e reconhecidos por todos e que por isso mesmo facilitam a
comunicaccedilatildeo a conversa em famiacutelia ou a negociaccedilatildeo no mercado por exemplo
O conceito baacutesico de sequecircncia didaacutetica segundo os autores (2013 p 83) eacute que
esta eacute um conjunto de atividades escolares organizadas de maneira sistemaacutetica em torno de
um gecircnero textual oral ou escrito e que tem precisamente a finalidade de ajudar os alunos a
dominar melhor um gecircnero de texto o que lhes permitiraacute falar ou escrever de maneira mais
adequada a cada situaccedilatildeo comunicativa
Para o desenvolvimento de nossa pesquisa escolhemos o gecircnero crocircnica literaacuteria
visando o desenvolvimento da competecircncia discursiva dos alunos posto que ainda natildeo
dominam adequadamente a produccedilatildeo de um texto nesse gecircnero Assim como preveem Dolz
Noverraz e Schneuwly (2013 p 83) ldquoo trabalho escolar seraacute realizado evidentemente sobre
gecircneros que o aluno natildeo domina ou o faz de maneira insuficiente sobre aqueles dificilmente
acessiacuteveis espontaneamente pela maioria dos alunos e sobre gecircneros puacuteblicos e natildeo privadosrdquo
De acordo com os autores uma sequecircncia didaacutetica pode ser flexiacutevel no sentido de
que se houver necessidade o professor poderaacute por vezes criar outras atividades ou modificar
os textos de referecircncia utilizados Essa flexibilidade precisa tambeacutem considerar os fenocircmenos
de desencorajamento que poderatildeo manifestar-se durante o tempo consagrado agrave sequecircncia como
por exemplo no aluno o sentimento de que jamais conseguiraacute melhorar seu texto por causa das
dificuldades proacuteprias da escrita no professor nos momentos em que os alunos parecem
33
desconectar-se da proposta projetada perdendo o interesse pela atividade proposta no dia Para
minimizar situaccedilotildees assim eacute que deve ser deixado um espaccedilo para as atividades mais informais
e menos exigentes em termos de tempo (DOLZ NOVERRAZ SCHNEUWLY 2013 p 108)
Percebemos dessa forma que um professor natildeo eacute obrigado a realizar todas as
atividades predeterminadas de uma sequecircncia didaacutetica na sua integralidade Sob pena do rigor
por cumprir aquele planejamento e somente ele no decorrer do processo de aprendizagem
ambos professor e aluno podem sentir que a experiecircncia natildeo foi vaacutelida terminando por realizar
as aulas de modo tradicional natildeo ocorrendo assim o acesso dos alunos a praacuteticas de linguagem
novas ou dificilmente dominaacuteveis
Por ser de caraacuteter progressivo a cada etapa de uma sequecircncia didaacutetica o professor
pode ndash e deve ndash fazer uma reflexatildeo associando o microcosmo que eacute a sala de aula onde
trabalha com um macro que seria o mundo em que estamos inseridos com todo o seu contexto
que pode servir como suporte para que o docente se integre a uma (ou a vaacuterias) teorias que
possa vir a aplicar
Com a reflexatildeo sobre a(s) teoria(s) e construindo seu arcabouccedilo teoacuterico conforme
observa sua praacutetica o professor ndash incluiacutemo-nos aqui ndash como sugere Bortoni-Ricardo (2008)
torna-se pesquisador podendo aprimorar sua postura pedagoacutegica de modo a obter assim
resultados mais satisfatoacuterios junto aos discentes
Dando prosseguimento expomos aqui o os quatro componentes da estrutura baacutesica
de uma sequecircncia didaacutetica segundo Dolz Noverraz Schneuwly (2013) que serve como
inspiraccedilatildeo para as atividades que planejamos para esta pesquisa-accedilatildeo
Figura 1 - Esquema baacutesico de sequecircncia didaacutetica
Fonte Adaptado de DOLZ NOVERRAZ SCHNEUWLY (2013 p 83)
Para Dolz Noverraz e Schneuwly (2013) eacute necessaacuterio que o professor informe os
alunos e conscientize-os da importacircncia dos conteuacutedos a serem trabalhados em sala de aula
Para isso o professor deve claramente definir o problema de comunicaccedilatildeo que devem resolver
Apresentaccedilatildeo da
Situaccedilatildeo
PRODUCcedilAtildeO
INICIAL
PRODUCcedilAtildeO
FINAL
Moacuted
ulo 1
Moacuted
ulo 2
Moacuted
ulo n
34
produzindo um texto e os conteuacutedos com os quais trabalharatildeo no texto que seraacute produzido
Assim na fase inicial de apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo satildeo fornecidas aos alunos as informaccedilotildees
necessaacuterias para conhecerem o ldquoprojeto comunicativo visado e a aprendizagem de linguagem a
que estaacute relacionadordquo (2013 p 85)
Depois dessa contextualizaccedilatildeo com os alunos eles passam agrave primeira produccedilatildeo
tentando elaborar um texto escrito Ora embora os alunos ainda natildeo tenham verdadeiramente
tido o contato aprofundado com o gecircnero esse encaminhamento natildeo necessariamente os potildee
numa situaccedilatildeo de insucesso Ao contraacuterio do que se pode pensar produzir um texto adequado
agrave situaccedilatildeo proposta embora os alunos nesse primeiro momento natildeo atendam a todas as
caracteriacutesticas do gecircnero solicitado permite-lhes descobrir o que jaacute sabem fazer e ganhar
consciecircncia das dificuldades que possuem e ao professor avaliar natildeo somente as dificuldades
apresentadas pelos alunos na produccedilatildeo inicial mas tambeacutem que se apresentarem durante o
processo de produccedilatildeo Desse modo a produccedilatildeo inicial eacute caracterizada como ldquoo primeiro lugar
de aprendizagem da sequecircnciardquo (DOLZ NOVERRAZ SCHNEUWLY 2013 p 87 Grifo dos
autores)
A etapa seguinte se constitui dos moacutedulos isto eacute a decomposiccedilatildeo dos problemas
detectados na primeira produccedilatildeo com consequente fornecimento de instrumentalizaccedilatildeo para a
superaccedilatildeo das dificuldades Esse processo que vai da produccedilatildeo inicial aos moacutedulos os autores
denominaram de ldquomovimento geral da sequecircncia didaacuteticardquo (2013 p 88) partindo do acircmbito
mais complexo que eacute a produccedilatildeo inicial para o mais simples que satildeo os moacutedulos os quais
trabalham as capacidades necessaacuterias ao domiacutenio do gecircnero No fim o movimento da sequecircncia
didaacutetica vai para o complexo novamente que eacute a produccedilatildeo final No processo de elaboraccedilatildeo de
cada moacutedulo os autores levantam trecircs questionamentos 1) Que dificuldades da expressatildeo oral
e escrita abordar 2) Como construir um moacutedulo para trabalhar um problema particular 3)
Como capitalizar o que eacute adquirido nos moacutedulos (2013 p 88)
Para responder a cada uma dessas indagaccedilotildees Dolz Noverraz e Schneuwly (2013
p 88) consideram trecircs dimensotildees no processo de construccedilatildeo dos moacutedulos que satildeo trabalhar
problemas de niacuteveis diferentes variar atividades e exerciacutecios e capitalizar as aquisiccedilotildees
A primeira etapa trabalhar problemas de niacuteveis diferentes baseada na psicologia
da linguagem eacute constituiacuteda por quatro niacuteveis principais na produccedilatildeo de textos a saber
representaccedilatildeo da situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo em que o aluno deveraacute aprender com clareza a fazer
uma imagem ldquodo destinataacuterio do texto da finalidade visada da sua posiccedilatildeo como autor ou
locutor e do gecircnero visadordquo (p 88) elaboraccedilatildeo dos conteuacutedos em que o aluno ldquodeveraacute conhecer
35
as teacutecnicas para buscar elaborar ou criar conteuacutedosrdquo (p 88) planejamento do texto em que o
aluno deveraacute estruturar seu texto de acordo com um plano que depende da finalidade que se
deseja atingir considerando que cada gecircnero se caracteriza por uma estrutura evocando a
compreensatildeo de Bakhtin (2011) ldquorelativamente estaacutevelrdquo realizaccedilatildeo do texto em que o aluno
deveraacute escrever seu texto escolhendo os meios de linguagem mais eficazes para a finalidade
que pretende alcanccedilar
Em relaccedilatildeo agrave segunda etapa variar as atividades e exerciacutecios os autores definem
que ldquoo princiacutepio essencial de elaboraccedilatildeo de um moacutedulo que trate de um problema de produccedilatildeo
textual eacute o de variar os modos de trabalhordquo (p 89) Afirmando que existem variadas categorias
de atividades e exerciacutecios (atividades de observaccedilatildeo e de anaacutelise de textos tarefas simplificadas
de produccedilatildeo de textos e a elaboraccedilatildeo de uma linguagem comum) (p 89) sugerem assim que
cada moacutedulo tenha atividades diversificadas com o objetivo de proporcionar ao aluno diferentes
meios de apropriaccedilatildeo dos conteuacutedos necessaacuterios ao seu sucesso na produccedilatildeo final
A terceira etapa capitalizar as aquisiccedilotildees consiste em aprender a falar sobre o
gecircnero abordado atraveacutes da aquisiccedilatildeo de vocabulaacuterio teacutecnico comum agrave classe e ao professor
A partir dessa construccedilatildeo progressiva dos conhecimentos de linguagem e de regras seraacute
possiacutevel ao professor estimular os alunos a refletir sobre o que foi aprendido nos moacutedulos e
juntos fazerem uma siacutentese na forma de como sugerem os autores lista de constataccedilotildees ou de
lembrete ou glossaacuterio (p 90)
A etapa final da sequecircncia didaacutetica corresponde agrave produccedilatildeo final momento em que
o aluno colocaraacute em praacutetica as noccedilotildees e os instrumentos que foram elaborados e aplicados
durante os moacutedulos sendo o momento para o professor avaliar o aprendizado do aluno Essa
avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo final tem caraacuteter somativo e eacute pautada na construccedilatildeo de uma grade (2013
p 90) de criteacuterios que explicitam aos alunos o que seraacute avaliado permitindo a objetividade ao
pautar-se nos conteuacutedos trabalhados em aula Isso tornaraacute possiacutevel ao professor a observaccedilatildeo
das aprendizagens efetuadas planejar a continuaccedilatildeo do trabalho e se necessaacuterio retornar a
pontos mal assimilados
222 Propostas de adaptaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica
Com vistas a justificar como compusemos a SD aplicada vamos nessa seccedilatildeo
mostrar o aparato teoacuterico de pesquisadoras que contribuiacuteram com propostas de adaptaccedilatildeo e
36
complementaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica do grupo de Genebra buscando propiciar ao professor
um trabalho mais amplo
2221 Moacutedulo de reconhecimento
Baseados na proposta teoacuterico-metodoloacutegica da SD produzida para o contexto
sociocultural dos pesquisadores de Genebra os integrantes de um grupo de estudos em Liacutengua
Portuguesa da regiatildeo Oeste do Paranaacute criaram uma proposta de ensino da LP para as seacuteries
iniciais contendo uma adaptaccedilatildeo (SWIDERSKI COSTA-HUumlBES 2009) que consiste na
inserccedilatildeo de um moacutedulo de reconhecimento do gecircnero antes da etapa de produccedilatildeo inicial em
atividades e exerciacutecios que contemplem a leitura a pesquisa e a anaacutelise linguiacutestica com textos
do gecircnero Para melhor entendimento observemos a figura a seguir
Figura 2 - Esquema da SD adaptada por Costa-Huumlbes
Fonte Adaptado de SWIDERSKI E COSTA-HUumlBES (2009)
Esse moacutedulo inserido antes da produccedilatildeo inicial como proposto pelas autoras serve
segundo elas ao reconhecimento dos aspectos do gecircnero a ser trabalhado na SD em atividades
e exerciacutecios que contemplem a leitura a pesquisa e a anaacutelise linguiacutestica com textos do gecircnero
Na SD ldquoas condiccedilotildees de praacuteticas de leituras envolvem natildeo apenas o contexto de produccedilatildeo e a
relaccedilatildeo autor-texto A esses aspectos somam-se o conhecimento do leitor e o contexto de uso
que conforme Orlandi (1996) satildeo fatores determinantes na produccedilatildeo de sentidosrdquo
(SWIDERSKI COSTA-HUumlBES 2009 p 121)
Diante disso ao avaliarem a proposta da SD as autoras entendem que antes de se
chegar agrave produccedilatildeo inicial o professor pode criar para o estudante vaacuterias situaccedilotildees que envolvam
a praacutetica de leitura de textos do gecircnero selecionado que circulam na sociedade oportunizando
nesse contato com esses textos a mobilizaccedilatildeo de estrateacutegias diferentes frente aos diversos
37
objetivos que implicam o ato de ler e enfatizam que trabalhar com a leitura natildeo exclui o
trabalho com os outros eixos do processo ensino-aprendizagem de LP
As autoras acrescentam ainda sobre o trabalho de reconhecimento do gecircnero
Outro detalhe que salientamos sobre o trabalho de reconhecimento do gecircnero refere-
se ao fato de que as informaccedilotildees sobre o gecircnero natildeo satildeo dadas gratuitamente jaacute que
o mesmo natildeo eacute tratado como uma forma pronta e acabada mas como um instrumento
relativamente estaacutevel Entendido assim a praacutetica de ensino-aprendizagem precisa
incentivar o processo de pesquisa Nessa perspectiva o estudante tem dois problemas
a resolver antes de iniciar sua produccedilatildeo um abarca a pesquisa para conhecer os
elementos que determinam num dado contexto soacutecio-histoacuterico e cultural a produccedilatildeo
e a circulaccedilatildeo das amostras do gecircnero a ser abordado didaticamente e em segundo
a leitura e a anaacutelise dessas amostras novamente buscando reforccedilar o conhecimento
acerca dos elementos que as constituem (SWIDERSKI COSTA-HUumlBES 2009 p
121)
Vemos entatildeo que as leituras para reconhecimento do gecircnero como uma etapa
anterior ao momento da produccedilatildeo inicial servem como base ao trabalho a ser desenvolvido
Inclusive entendemos no tocante a servir como exemplo e modelo que fornecem traccedilos para
possiacuteveis comparaccedilotildees ao longo do desenvolvimento dos moacutedulos como poderemos perceber
na seccedilatildeo correspondente ao nosso trabalho
2222 Moacutedulo de divulgaccedilatildeo ao puacuteblico
Como forma de consolidar para o aluno a visatildeo do uso real de um gecircnero textual
Lopes-Rossi (2011) propotildee a divulgaccedilatildeo das produccedilotildees dos alunos apoacutes a realizaccedilatildeo das tarefas
dos moacutedulos
Deste modo o professor pode entatildeo criar com eficiecircncia projetos pedagoacutegicos
que visem segundo a autora ldquoao conhecimento agrave leitura agrave discussatildeo sobre o uso e as funccedilotildees
sociais dos gecircneros escolhidos e quando pertinente a sua produccedilatildeo escrita e circulaccedilatildeo socialrdquo
(LOPES-ROSSI 2011 p 71)
O quadro a seguir proposto por Lopes-Rossi (2011) reflete os fundamentos sobre
o trabalho com projetos pedagoacutegicos e sintetiza as etapas de desenvolvimento de projetos
pedagoacutegicos que visam agrave produccedilatildeo escrita de gecircneros discursivos incluindo o moacutedulo de
divulgaccedilatildeo ao puacuteblico de acordo com a forma tiacutepica de circulaccedilatildeo de cada gecircnero
38
Quadro 1 ndash Siacutentese das etapas de desenvolvimento de projetos pedagoacutegicos que visam agrave produccedilatildeo escrita de
gecircneros discursivos
Moacutedulos didaacuteticos Sequecircncias didaacuteticas
Leitura para apropriaccedilatildeo das
caracteriacutesticas tiacutepicas do
gecircnero discursivo
rarr Seacuterie de atividades de leitura comentaacuterios e
discussotildees de vaacuterios exemplos do gecircnero para
conhecimento de suas caracteriacutesticas discursivas
temaacuteticas e composicionais (aspectos verbais e natildeo
verbais)
Produccedilatildeo escrita do gecircnero
de acordo com suas
condiccedilotildees de produccedilatildeo
tiacutepicas
rarr Seacuterie de atividades de produccedilatildeo
- planejamento da produccedilatildeo (assunto esboccedilo geral
forma de obtenccedilatildeo de informaccedilotildees recursos
necessaacuterios)
- coleta de informaccedilotildees
- produccedilatildeo da primeira versatildeo
- revisatildeo colaborativa do texto
- produccedilatildeo da segunda versatildeo
- revisatildeo colaborativa do texto
- produccedilatildeo da versatildeo final incluindo o suporte para a
circulaccedilatildeo do texto
Divulgaccedilatildeo ao puacuteblico de
acordo com a forma tiacutepica de
circulaccedilatildeo do gecircnero
rarr Seacuterie de providecircncias para efetivar a circulaccedilatildeo da
produccedilatildeo dos alunos fora da sala de aula e mesmo da
escola de acordo com as necessidades de cada evento
de divulgaccedilatildeo e das caracteriacutesticas de circulaccedilatildeo do
gecircnero Fonte Adaptado de LOPES-ROSSI (2011 p 72)
Se adaptarmos o quadro em forma de esquema a fim de facilitar a visualizaccedilatildeo
teremos
Figura 3 Esquema das etapas de desenvolvimento de projetos pedagoacutegicos visando agrave produccedilatildeo escrita de gecircneros
discursivos
Fonte Adaptado de LOPES-ROSSI (2011)
Segundo a autora a proposta de trabalho pedagoacutegico com gecircneros discursivos pela
oacutetica dos pesquisadores do grupo de Genebra proporciona de fato o desenvolvimento da
Produccedilatildeo
escrita
Divulgaccedilatildeo ao
puacuteblico
Leitura para
apropriaccedilatildeo
39
autonomia do aluno no processo de leitura e produccedilatildeo textual sendo uma consequecircncia do
domiacutenio do funcionamento da linguagem em situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo visto que eacute por meio
dos gecircneros discursivos que as praacuteticas de linguagem incorporam-se agraves atividades dos alunos
Sua oacutetica inclui um moacutedulo de leitura para apropriaccedilatildeo das caracteriacutesticas tiacutepicas
do gecircnero que se pretende trabalhar como jaacute descrito no quadro e que coaduna com a proposta
de Swidesrki e Costa-Huumlbes (2009) O moacutedulo de produccedilatildeo escrita de Lopes-Rossi (2009) trata
de planejamento da produccedilatildeo coleta de informaccedilotildees produccedilatildeo da primeira versatildeo revisatildeo
colaborativa do texto produccedilatildeo da segunda versatildeo revisatildeo colaborativa do texto produccedilatildeo da
versatildeo final incluindo o suporte para a circulaccedilatildeo do texto
Para noacutes eacute interessante considerar o moacutedulo de divulgaccedilatildeo ao puacuteblico pois
somando-se a esse trabalho de desenvolvimento da autonomia a circulaccedilatildeo da produccedilatildeo viraacute
corroborar entatildeo a funccedilatildeo social do texto divulgado no suporte adequado nas condiccedilotildees
apropriadas
2223 Abordagem imitativa da redaccedilatildeo
No capiacutetulo Abordagem imitativa da redaccedilatildeo trabalhando com formatos e gecircneros
que integra a obra Escrita para que te quero Vieira (2005 p 159-171) elenca passos para o
trabalho do professor com os alunos na construccedilatildeo de um texto como se fosse um guia o que
pode ser bastante uacutetil para o trabalho com formatos e gecircneros Seguem os passos
1ordm Dar exemplos do tipo de escrita esperado que em poucas palavras consiste em
oferecer modelos de textos relativamente faacuteceis de ler evidenciando sua estrutura
2ordm Ensinar as regras que consiste em explicitar o caminho para atingir as metas
Se necessaacuterio for diz a autora transmite-se um conhecimento analiacutetico ldquouse esquemas ou
diagramas para ilustrar Leve seus alunos a aprenderem mais a partir de modelos direcionando
a instruccedilatildeo para um alvordquo (VIEIRA 2005 p 159)
3ordm Apresentar uma ldquoreceitardquo passo a passo do gecircnero pretendido o que deixa claro
o que se quer que os alunos produzam e tambeacutem serve de guia para as tarefas de casa quando
estiverem trabalhando sozinhos A receita seraacute tatildeo melhor para os alunos se elaborada
diretamente pelo professor ou pelos proacuteprios alunos Tambeacutem eacute possiacutevel diz a autora adaptar
instruccedilotildees de manuais e usar a proacutepria experiecircncia de redator
40
4ordm Demonstrar a ldquoreceitardquo que eacute um momento em que os alunos percebem o
trabalho na praacutetica com o professor executando alguns ou todos os passos da ldquoreceitardquo
demonstrando como se escreve Os alunos colaboram na criaccedilatildeo conjunta de um texto
5ordm Ser autecircntico no processo que eacute dividir com os estudantes os problemas que
surgem na produccedilatildeo de qualquer texto mostrando como solucionar dialogando com os alunos
trabalhando de forma colaborativa
6ordm Dar tarefas curtas e planejadas com cuidado o que atribui ao trabalho do aluno
mais qualidade Normalmente para impressionar o professor a aluno escreve textos longos
repetitivos e sem atratividade As atividades com limite de extensatildeo favorecem segundo a
autora a motivaccedilatildeo o alcance e a variedade de audiecircncias o feedback do professor a
possibilidade de repeticcedilatildeo da tarefa o que Vieira considera um passo fundamental para se
dominar um conhecimento
7ordm Propiciar feedback uacutetil e especiacutefico Neste aspecto a autora natildeo estimula o
ldquoretoquerdquo dos textos dos alunos feito pelo professor Pelo contraacuterio incentiva criacuteticas justas
que visem a evoluccedilatildeo construindo com o aluno atraveacutes das sugestotildees e questotildees adequadas a
reformulaccedilatildeo de seus textos Vieira acrescenta ainda que este feedback natildeo deveria vir somente
do professor mas de uma variedade de leitores como seus pares e a famiacutelia para evitar a falsa
ideia de que a escrita eacute algo direcionado somente ao professor
8ordm Repetir a tarefa Ningueacutem se torna bom em algo logo na primeira tentativa
Portanto para desenvolver as habilidades eacute importante a repeticcedilatildeo para dominar um
conhecimento
Apoacutes elencar a autora sugere tarefas de aplicaccedilatildeo para o professor de forma bem
praacutetica para criar uma ldquoreceitardquo de escrita com os alunos (2005 p 162) de modo que noacutes
professores nos apropriemos dos diferentes gecircneros textuais conhecendo de antematildeo as
caracteriacutesticas destes e mesmo as dificuldades partindo de textos autecircnticos listando
procedimentos e etapas necessaacuterios para redigir textos semelhantes e refletindo sobre a
instruccedilatildeo que devemos criar estabelecendo um propoacutesito para que o aluno escreva e exercite
apropriadamente o modelo de gecircnero
A partir desse roteiro teoacuterico-metodoloacutegico que traccedilamos ao longo desta seccedilatildeo
inspiramo-nos para criar para o trabalho com o gecircnero crocircnica assunto da proacutexima seccedilatildeo em
nossa pesquisa-accedilatildeo a sequecircncia didaacutetica com foco na produccedilatildeo escrita de crocircnicas literaacuterias
acrescida das etapas de reconhecimento do gecircnero e da divulgaccedilatildeo ao puacuteblico dado o desejo
41
de extrapolar o acircmbito da sala de aula fazendo com que os textos dos alunos tivessem
circulaccedilatildeo social
23 Definindo o gecircnero textual crocircnica
A palavra ldquocrocircnicardquo tem origem no grego antigo khroacutenos e significa tempo Naquela
sociedade o gecircnero ganhou esse nome inicialmente por trazer em seu corpo o relato em ordem
cronoloacutegica dos fatos ou acontecimentos de uma eacutepoca
Um dos pioneiros a estudar o texto literaacuterio segundo Ferreira (2011 p 65) foi o
pensador grego Aristoacuteteles Sua perspectiva formulava o conceito de mimese que seria a obra
literaacuteria como representaccedilatildeo ou imitaccedilatildeo do mundo Considerando essa oacutetica a crocircnica em sua
origem tomava a forma de registro histoacuterico de um povo Aleacutem disso compreende-se que mais
do que apenas encadear a sequecircncia de fatos sucessivos interessava a forma como isso se dava
mostrando o cuidado com a arte literaacuteria
Aproximadamente no seacuteculo XII a crocircnica ressurge em uso na Europa medieval e
tem seu conceito atualizado pela perspectiva grega ora se encarrega de registrar os fatos
fidedignamente o que lhe confere caraacuteter histoacuterico ora relata-os fazendo uso de recursos
linguiacutesticos tanto denotativos quanto conotativos conferindo-lhe caraacuteter de ficccedilatildeo literaacuteria A
esse respeito nos fala Borges (2008 p 205)
A preocupaccedilatildeo com a descriccedilatildeo da histoacuteria de uma vida teve seu iniacutecio no mundo
grego antigo ao mesmo tempo em que surgiu a Histoacuteria como forma de
conhecimento essa era uma Histoacuteria poliacutetica com sua diferenciaccedilatildeoimbricaccedilatildeo com
a memoacuteria Ao longo de mais ou menos dois milecircnios autores acharam que contar a
histoacuteria da vida de algueacutem era algo distinto de uma Histoacuteria (que narrava fatos
coletivos e contava a verdade) as histoacuterias das vidas (termo usado entatildeo pelos
autores) serviam desde o mundo greco-romano para dar exemplos morais negativos
ou positivos - muitas vezes constituindo os panegiacutericos Essa chamada biografia
claacutessica punha um acento muito maior no caraacuteter poliacutetico moral ou religioso do
biografado do que em sua pessoa em sua singularidade No mundo medieval a ideia
dos exempla prolongou-se configurando-se na hagiografia e nas croacutenicas
Esses textos chamados de crocircnicas como caracterizadas acima por Borges (2008)
confundiam-se com outros gecircneros da eacutepoca ndash o que era muito comum ndash por tomarem um
caraacuteter biograacutefico sendo sinocircnimas por exemplo da hagiografia cuja intencionalidade ditava
o estilo do escritor concretizando ao longo da sucessatildeo cronoloacutegica dos fatos uma visatildeo
parcial beirando o excessivamente elogioso
42
A crocircnica percorreu longo curso ateacute ganhar a forma que conhecemos hoje no Brasil
Para Coutinho (2008) a origem de nossa atual crocircnica brasileira estaria no ensaio inglecircs do
seacuteculo XVI O autor a compara ao ensaio informal (informal essay ou familiar essay) que
consiste em seu sentido primitivo numa tentativa numa experimentaccedilatildeo de interpretaccedilatildeo
pessoal dos fatos sem obedecer a uma estrutura predeterminada poreacutem com forte marca da
prosa oral colocada na escrita
A essecircncia do ensaio (nesse sentido original) estaacute em sua relaccedilatildeo com a palavra falada
e com a elocuccedilatildeo oral como se depreende do estudo estiliacutestico dos grandes ensaiacutestas
estilo muito proacuteximo da maneira oral ou do pensamento que eacute captado no proacuteprio ato
e momento de pensar (COUTINHO 2008 p 100)
A respeito do conceito de crocircnica temos a visatildeo de Coutinho (2008) cujos criteacuterios
de classificaccedilatildeo dos gecircneros literaacuterios adotados em sua obra apontam para ldquoum grupo de formas
literaacuterias que resultam de uma explanaccedilatildeo direta dos pontos de vista do autor dirigindo-se em
seu proacuteprio nome ao leitor ou ouvinte sem qualquer artifiacutecio intermediaacuteriordquo (2008 p 99)
Segundo ele o autor vale-se de meacutetodo direto ao inveacutes de indireto em gecircneros ensaiacutesticos ou
discursivos cujos exemplos dados satildeo o ensaio a crocircnica o discurso e o sermatildeo a carta as
memoacuterias o diaacuterio as maacuteximas Outra aproximaccedilatildeo da crocircnica ao ensaio para o autor eacute que
ambos satildeo escritos em linguagem coloquial discorrendo sobre diversos assuntos tais como os
proacuteprios seres humanos os fatos ocorridos com eles as cenas da natureza entre outros
Poreacutem na mesma obra Coutinho (2008) afirma que modernamente a palavra
ensaio veio perdendo seu caraacuteter inicial e etimoloacutegico de tentativa de experimentaccedilatildeo
passando a se confundir com ldquoestudordquo ldquoou o que os ingleses chamam de julgamento isto eacute
que oferecem conclusotildees sobre os assuntos apoacutes discussatildeo argumentaccedilatildeo anaacutelise avaliaccedilatildeordquo
231 A crocircnica brasileira
No seacuteculo XIX a sociedade desenvolve-se industrialmente permitindo o advento
da imprensa Para vaacuterios autores como Barbier (2008 apud FERREIRA 2011) Coutinho
(2008) Cacircndido (1992) Castello (1999) o folhetim eacute a gecircnese da crocircnica moderna sendo o
jornal o suporte em que a crocircnica vai ganhar definitivamente seu espaccedilo Sobre essa relaccedilatildeo na
eacutepoca entre o suporte para o gecircnero e o gosto pelo gecircnero Barbier (2008) fala
Sabe-se hoje que os gecircneros literaacuterios estatildeo intimamente relacionados agraves condiccedilotildees
sociais e histoacutericas que determinam a formaccedilatildeo do puacuteblico leitor com seus gostos e
sensibilidades e que por outro lado eles tambeacutem se alteram com a mudanccedila do
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suporte material dos textos como o demonstra a Histoacuteria dos manuscritos dos
impressos e das recentes experimentaccedilotildees digitais (BARBIER 2008 apud
FERREIRA 2011 p 73)
Das palavras de Barbier (2008) captamos a importacircncia que passa a ter a imprensa
para a divulgaccedilatildeo dos textos por seu alcance por sua frequecircncia bem como por seu poder de
molde sobre o puacuteblico leitor que se formava na eacutepoca
Antocircnio Candido (1992 p 15) no belo texto A vida ao reacutes-do-chatildeo explica que
ldquoantes de ser crocircnica propriamente dita foi lsquofolhetimrsquo ou seja um artigo de rodapeacute sobre as
questotildees do dia ndash poliacuteticas sociais artiacutesticas literaacuteriasrdquo E completa o autor afirmando que a
crocircnica ldquonatildeo nasceu propriamente com o jornal mas soacute quando este se tornou quotidiano de
tiragem relativamente grande e teor acessiacutevel isto eacute haacute pouco mais de um seacuteculo e meiordquo
(CAcircNDIDO 1992 p 15)
Esse folhetim em geral ficava no rodapeacute da primeira paacutegina do jornal e era
destinado ao entretenimento do leitor Esse espaccedilo com o tempo passou a acolher a ficccedilatildeo
literaacuteria Autores publicavam aiacute seus textos treinando a narrativa Tal foi a receptividade do
formato que ganhou espaccedilo proacuteprio semanalmente Nas palavras de Castello (1999) aquele
texto que veio depois a ser a crocircnica complementaria a funccedilatildeo da imprensa diaacuteria
A partir dos anos [19]20 acentua-se a contribuiccedilatildeo de cronistas e memorialistas Mas
o primeiro gecircnero mais do que o segundo eacute continuidade e amadurecimento de uma
tradiccedilatildeo proveniente do Romantismo quando o ldquofolhetimrdquo semanal eacute definido por
Joseacute de Alencar e enriquecido por Machado de Assis mestre de cronistas que vieram
depois Conta-se ainda a contribuiccedilatildeo da prosa poeacutetica de Raul Pompeia e logo a
seguir de Olavo Bilac Finalmente nos nossos dias seja atividade complementar seja
agraves vezes principal e mesmo uacutenica de vaacuterios escritores a crocircnica se afirma como gecircnero
da preferecircncia de numeroso puacuteblico Contribuiu sempre para difundi-la desde seus
momentos iniciais datados do Romantismo a divulgaccedilatildeo em primeira matildeo pelos
principais jornais e revistas do paiacutes Complementava mesmo pelo seacuteculo XIX a
funccedilatildeo de nossa imprensa diaacuteria tradicionalmente marcada pela colaboraccedilatildeo dos
escritores do momento Surgia como um misto de notiacutecia vaacuteria reflexatildeo invenccedilatildeo e
ateacute mesmo de criacutetica ou impressotildees literaacuterias (CASTELLO 1999 p 377-378)
A crocircnica complementava a imprensa por em seu bojo tratar de assuntos mais
amenos diferindo dos que motivavam as notiacutecias e as reportagens sem no entanto como nos
mostra Cacircndido (1992) deixar de lado o que toca a alma humana
Ora a crocircnica estaacute sempre ajudando a estabelecer ou restabelecer a dimensatildeo das
coisas e das pessoas Em lugar de oferecer um cenaacuterio excelso numa revoada de
adjetivos e periacuteodos candentes pega o miuacutedo e mostra nele uma grandeza uma beleza
ou uma singularidade insuspeitada Ela eacute amiga da verdade e da poesia nas suas
formas mais diretas e tambeacutem nas suas formas mais fantaacutesticas - sobretudo porque
quase sempre utiliza o humor (CAcircNDIDO 1992 p 14)
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Amenos sim poreacutem as crocircnicas de um ou outro modo conduziam o leitor mesmo
que por caminhos suaves de ldquoar despreocupado de quem estaacute falando de coisas sem maior
consequecircnciardquo (CAcircNDIDO 1992 p 17) agrave criacutetica social agrave reflexatildeo sobre o significado das
accedilotildees e dos sentimentos do homem
Segundo Coutinho (2008 p 106) o caminho que conduziria agrave crocircnica brasileira
comeccedila com Francisco Otaviano no Jornal do Commercio no Rio de Janeiro em 2 de
dezembro de 1852 Nessa data eacute inaugurada a seccedilatildeo ldquoA semanardquo em que seriam publicados os
folhetins literaacuterios do Romantismo
O folhetim seccedilatildeo ao final da paacutegina apresentou caracteriacutesticas que se agrupadas
conforme a frequecircncia do teor das publicaccedilotildees seriam de variedades e de romances O primeiro
grupo o de variedades abordava assuntos diversos da eacutepoca tratando de tudo um pouco e
ocupava a primeira paacutegina do jornal O segundo por sua vez destinava-se a textos de ficccedilatildeo
Esse espaccedilo passou a publicar romances de autores da eacutepoca distribuiacutedos em histoacuterias seriadas
ou capiacutetulos provocando no puacuteblico leitor a curiosidade pelo que viria a seguir tornando-se
um sucesso permitindo ldquoalavancar as vendas aumentar as assinaturas e por conseguinte
ampliar as vantagens financeiras dos jornaisrdquo (SANTOS 2008 p 68)
Essa iniciativa abriu espaccedilo para publicaccedilotildees de romances de autores brasileiros O
guarani de Joseacute de Alencar por exemplo foi desenvolvido a princiacutepio para o folhetim Em 1ordm
de janeiro de 1857 saiu o capiacutetulo inicial do romance no Diaacuterio do Rio de Janeiro Ao final
daquele ano foi publicado como livro com alteraccedilotildees miacutenimas em relaccedilatildeo ao que fora
publicado em folhetim
A evoluccedilatildeo da sociedade industrial refletiu sua setorizaccedilatildeo no modo de organizaccedilatildeo
dos jornais O folhetim para variedades teve sua alteraccedilatildeo quando foram criadas seccedilotildees
especiacuteficas para assuntos especiacuteficos de maneira a organizar o jornal Para o folhetim restaram
assuntos mais corriqueiros de cunho mais descompromissado com a veracidade dos fatos ndash
estes ficariam para as notiacutecias A esses textos mais leves cujo caraacuteter era efecircmero com a mera
funccedilatildeo de distrair o leitor passou-se a dar o nome de crocircnica
232 Caracteriacutesticas da crocircnica
Apesar da filiaccedilatildeo ao jornal as caracteriacutesticas atuais do gecircnero crocircnica vatildeo aleacutem do
desenvolvimento da imprensa Como bem nos resume Amaral (2008) tambeacutem estatildeo
intimamente relacionadas agraves transformaccedilotildees sociais e agrave valorizaccedilatildeo da histoacuteria social isto eacute da
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histoacuteria que considera importantes os movimentos de todas as classes sociais e natildeo soacute os das
grandes figuras poliacuteticas ou militares Em suas palavras no ldquoregistro da histoacuteria social assim
como na escrita das crocircnicas um dos objetivos eacute mostrar a grandiosidade e a singularidade dos
acontecimentos miuacutedos do cotidianordquo (2008 p 12)
Eacute efecircmera simples e dinacircmica em sua linguagem como nos fala Cacircndido (1992 p
14)
Isto acontece porque natildeo tem pretensotildees a durar uma vez que eacute filha do jornal e da
era da maacutequina onde tudo acaba tatildeo depressa Ela natildeo foi feita originalmente para o
livro mas para essa publicaccedilatildeo efecircmera que se compra num dia e no dia seguinte eacute
usada para embrulhar um par de sapatos ou forrar o chatildeo da cozinha Por se abrigar
nesse veiacuteculo transitoacuterio o seu intuito natildeo eacute o dos escritores que pensam em ldquoficarrdquo
isto eacute permanecer na lembranccedila e na admiraccedilatildeo da posteridade e a sua perspectiva
natildeo eacute a dos que escrevem do alto da montanha mas do simples reacutes-do-chatildeo
(CAcircNDIDO 1992 p 14)
As crocircnicas contemporacircneas organizam sua narrativa em primeira ou terceira
pessoa quase sempre como quem conta um caso em tom intimista Ao narrar os autores
inserem em seu texto trechos de diaacutelogos permeados por expressotildees cotidianas escrevendo
como quem conversa com seus leitores como se estivessem muito proacuteximos Como temaacutetica
os cronistas tratam de reflexotildees sobre a vida social poliacutetica econocircmica por vezes de forma
humoriacutestica outras de modo mais seacuterio outras com um jeito poeacutetico que indica o pertencimento
do gecircnero agrave esfera literaacuteria
Assim uma forte caracteriacutestica do gecircnero eacute ter uma linguagem que mescla aspectos
da escrita com outros da oralidade E por causa do uso de linguagem coloquial e da proximidade
com os fatos cotidianos a crocircnica por vezes eacute vista como literatura ldquomenorrdquo Essa suposta
classificaccedilatildeo como gecircnero literaacuterio menor natildeo diminui sua importacircncia Por ser breve leve de
faacutecil acesso envolvente ela possibilita momentos de fruiccedilatildeo a muitos leitores que nem sempre
tecircm acesso ndash ou natildeo gostam devido agrave extensatildeo ndash aos romances Para compreendermos as
caracteriacutesticas da crocircnica precisamos conhecer como ela se manifesta como texto jornaliacutestico
e tambeacutem como texto literaacuterio
2321 Crocircnica um gecircnero jornaliacutestico
Para termos uma ideia de como eacute vista a crocircnica na esfera jornaliacutestica valemo-nos
da classificaccedilatildeo do pioneiro na aacuterea Luiacutes Beltratildeo (1980 p 67 Grifos do autor)
O primeiro aspecto eacute quanto agrave natureza do tema Deste modo ele apresenta trecircs
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espeacutecies
a) crocircnica geral tambeacutem chamada de coluna ou seccedilatildeo especial que aborda
assuntos variados ldquosob uma epiacutegrafe geralrdquo ou localizada em paacutegina fixa no
jornal
b) crocircnica local tambeacutem chama de urbana ou da cidade divulgada sob a mesma
epiacutegrafe que fala da vida cotidiana da cidade recebendo e orientando a opiniatildeo
puacuteblica da comunidade onde circula o jornal
c) crocircnica especializada tambeacutem chamada de comentaacuterio integra uma paacutegina ou
seccedilatildeo do jornal determinada destacando-se graficamente das demais mateacuterias
ali publicadas trata de assuntos referentes a uma aacuterea especiacutefica de atividade
cujo autor eacute um expert como nos casos de poliacutetica esportes ou economia
O segundo aspecto eacute o tratamento dado ao tema Beltratildeo (1980 p68) apresenta
mais trecircs classificaccedilotildees
a) crocircnica analiacutetica em que o cronista expotildee os fatos com brevidade e os analisa
com objetividade dirigindo-se ldquomais agrave inteligecircncia que ao coraccedilatildeordquo com
linguagem soacutebria e elegante poreacutem dotada de capricho e graccedila
b) crocircnica sentimental em que o cronista apela para a sensibilidade de seu leitor
retirando-se dos fatos e explorando aspectos liacutericos pitorescos ou eacutepicos de
modo a comovecirc-lo e influenciaacute-lo agrave accedilatildeo com linguagem vivaz ritmo aacutegil sem
dar profundidade ao tema
c) crocircnica satiacuterico-humoriacutestica em que o objetivo do cronista eacute criticar fatos accedilotildees
personagens ou pronunciamentos comentados ndash amplamente conhecidos do
puacuteblico ndash ridicularizando-os ou ironizando-os buscando o entretenimento do
leitor utilizando linguagem com linguagem figurada com duplo sentido
palavras aspeadas e verbos no futuro do preteacuterito Para Beltratildeo (1980) a esse tipo
de crocircnica se assemelham as charges dos jornais
2322 Crocircnica um gecircnero literaacuterio
A crocircnica como vimos previamente surgiu no espaccedilo do jornal Embora o
utilizasse como suporte e a partir dele tenha se firmado desenvolveu caracteriacutesticas proacuteprias
indo para aleacutem da esfera jornaliacutestica alcanccedilando assim a esfera literaacuteria Nas palavras de
Eduardo Portela (apud Coutinho 2008 p 107)
47
O fundamental na crocircnica eacute a superaccedilatildeo de sua base jornaliacutestica e urbana em busca de
transcendecircncia seja construindo ldquouma vida aleacutem da notiacuteciardquo Seja enriquecendo a
notiacutecia ldquocom elementos de tipo psicoloacutegico metafiacutesicordquo ou com o humour seja
fazendo ldquoo subjetivismo do artistardquo ldquoo seu universo internordquo sobrepor-se ldquoagrave
preocupaccedilatildeo objetiva do cronistardquo (PORTELA apud COUTINHO 2008 p 107)
Como se vecirc essa base jornaliacutestica que atrelava a crocircnica agrave notiacutecia foi
gradativamente superada Natildeo soacute em jornais mas tambeacutem em revistas ela passou a ser
publicada ainda trazendo em si o aspecto da brevidade Poreacutem as que alcanccedilaram a
transcendecircncia de que nos fala o autor passaram a tambeacutem ser publicadas em livros reunidas
em coletacircneas organizadas por autores e editoras chegando mesmo a serem inseridas nos livros
didaacuteticos do ensino baacutesico
Para aleacutem dessa caracteriacutestica da crocircnica literaacuteria impressa temos agora tambeacutem
no seacuteculo XX a crocircnica cujo suporte eacute o meio online divulgada amplamente por meio das redes
sociais sites ou blogs Nesses meios tambeacutem haacute crocircnicas ligadas a notiacutecias sim No entanto a
dinacircmica da vida a capacidade de observaccedilatildeo e a vontade crescente na sociedade de expressatildeo
permite que o subjetivo emerja externalizando o universo dos autores modernos tocando os
leitores igualmente modernos tornando puacuteblico o que poderia ser antes apenas privado natildeo
priorizando apenas a objetividade histoacuterica que buscaram os cronistas incipientes
Considerando todas essas formas de tornar puacuteblica a crocircnica vejamos algumas de
suas caracteriacutesticas mais expressivas Afracircnio Coutinho (2008 p 107 Grifos nossos) fala sobre
os diversos tipos da crocircnica na literatura brasileira afirmando ser possiacutevel classificaacute-los pela
natureza do assunto ou pelo movimento interno Satildeo eles
a) a crocircnica narrativa que se aproxima do conto por ter seu eixo em uma histoacuteria
b) a crocircnica metafiacutesica que se constitui de aura de reflexotildees mais ou menos
filosoacuteficas sobre os acontecimentos ou os homens
c) a crocircnica-poema em prosa que traz em si conteuacutedo liacuterico resultante de mero
extravasamento da alma do artista ante o espetaacuteculo da vida das paisagens ou
episoacutedios para ele significativos
d) a crocircnica-comentaacuterio que trata das variedades dos acontecimentos e que tem
ldquono dizer de Eugecircnio Gomes o aspecto de um lsquobazar asiaacuteticorsquo acumulando
muita coisa diferente ou diacutesparrdquo
Antocircnio Cacircndido (1992 p 21) sugere sem pretensatildeo de categorizar uma
classificaccedilatildeo das crocircnicas Poderiacuteamos agrupar conforme seus exemplos da seguinte forma
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a) crocircnicas que satildeo diaacutelogos e que nelas podemos perceber que o cronista e seu
leitor ideal se revezam nos pontos de vista e nas informaccedilotildees
b) crocircnicas que marcham rumo ao conto ldquoagrave narrativa mais espraiada com certa
estrutura de ficccedilatildeordquo
c) crocircnicas que parecem anedotas desdobradas
d) crocircnicas que se aproximam da exposiccedilatildeo poeacutetica ou de certo tipo de biografia
liacuterica construiacutedas por enumeraccedilatildeo parecendo uma divagaccedilatildeo livre ldquouma
cadeia de associaccedilotildees totalmente sem necessidade que deveria resultar em
simples acuacutemulo de palavrasrdquo mas que resulta em ldquoum sistema expressivo tatildeo
perfeitordquo
Nos tempos em que vivemos e para nosso projeto escolhemos crocircnicas que se
apresentaram para noacutes tatildeo efecircmeras quanto as do jornal impresso as de meio virtual online
Bem certo que natildeo foram todas mas vaacuterias que nossos alunos leram encaixam-se nesse perfil
O advento da internet permite que acessemos textos dos mais variados gecircneros Em nosso caso
crocircnicas de autores de diversos pontos do Paiacutes Usamos famosos e outros cuja fama no meio
literaacuterio ainda estaacute se nacionalizando porquanto alguns jaacute estejam bem consolidados no meio
em seus estados
Como nosso objetivo maior nesta pesquisa-accedilatildeo eacute contribuir para o
desenvolvimento da competecircncia escrita dos alunos neste caso os do 9ordm ano do Ensino
fundamental ano divisor de aacuteguas prestes a entrar para o ensino meacutedio quando lhes seraacute
cobrado um conhecimento que muitos natildeo chegam a alcanccedilar que eacute o de ter boa escrita boa
produccedilatildeo textual propiciar-lhes-emos conhecer as etapas especiacuteficas do processo atraveacutes de
nossa SD o que lhes seraacute fundamental natildeo somente para os niacuteveis escolares seguintes mas
tambeacutem para as praacuteticas sociais nas quais estatildeo inseridos
A escolha do gecircnero natildeo poderia ter sido mais oportuna Nas palavras de Cacircndido
(1992 p 16) sobre a crocircnica ldquoo seu grande prestiacutegio atual eacute um bom sintoma do progresso de
busca da oralidade na escrita isto eacute na quebra do artifiacutecio e aproximaccedilatildeo com o que haacute de mais
natural no modo de ser do nosso tempo E isto eacute humanizaccedilatildeo da melhorrdquo
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3 LEITURA E ESCRITA NOS ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
Nesta seccedilatildeo tratamos da questatildeo da escrita no ensino fundamental nos anos finais
refletindo sobre o que ensinar em Liacutengua Portuguesa como os professores trabalham como
veem a importacircncia das aulas de escrita
31 Habilidades de leitura e escrita para que ler e escrever
No iniacutecio do seacuteculo XX pensava-se nas aulas de liacutengua materna como o momento
de se transmitir a norma culta da liacutengua portuguesa para os estudantes oriundos da classe social
alta A linguagem era vista como a expressatildeo do pensamento e a capacidade de escrever seria
portanto uma consequecircncia do pensar Na escola os textos literaacuterios eram valorizados e os
regionalismos ignorados Tambeacutem era descartada a ideia de se ler na escola jornais ou
quaisquer textos de nuances coloquiais
A partir da segunda metade do seacuteculo XIX comeccedilaram a surgir no Paiacutes ainda que
alguns fossem impressos na Europa livros de leitura destinados especificamente agraves seacuteries
iniciais da escolarizaccedilatildeo Segundo Galvatildeo e Batista (sd) autores como Abiacutelio Ceacutesar Borges e
Felisberto de Carvalho editaram livros considerados inovadores para a eacutepoca por terem caraacuteter
enciclopeacutedico trazendo conteuacutedos de vaacuterias aacutereas do conhecimento sendo de cunho instrutivo
e moral Essas obras destinadas ao aprendizado inicial da leitura e da escrita visavam substituir
as cartilhas grosseiras ou os materiais manuscritos que no entanto na maior parte do paiacutes
continuaram sendo usados
No iniacutecio do seacuteculo XX foram publicados livros cujo formato comeccedilou a modificar
o conceito de livro usado nas escolas Atraveacutes do Brasil de Olavo Bilac e Manuel Bonfim e
Narizinho arrebitado de Monteiro Lobato marcaram a histoacuteria
Movidos pelo nacionalismo que caracterizava aquele momento brasileiro os autores
construiacuteram um livro que traz uma narrativa contiacutenua ao longo dos capiacutetulos contando
a histoacuteria de trecircs meninos viajando atraveacutes do paiacutes No prefaacutecio os autores afirmam
que atraveacutes da histoacuteria narrada o professor teria material para desenvolver os diversos
assuntos necessaacuterios agrave instruccedilatildeo das crianccedilas Aleacutem disso e talvez sobretudo os
autores tecircm uma preocupaccedilatildeo com a educaccedilatildeo moral dos meninos e meninas Em
1921 outro livro marcaria a histoacuteria dos livros de leitura Narizinho Arrebitado de
Monteiro Lobato Um dos grandes sucessos da literatura infantil brasileira nasceu
como 2o livro de leitura para as escolas E com ele uma grande inovaccedilatildeo Segundo
a criacutetica da eacutepoca o livro se diferenciava de toda a literatura didaacutetica produzida no
Brasil na medida em que trazia para a escola um aspecto ateacute entatildeo ignorado pela
instituiccedilatildeo provocar o prazer na leitura (GALVAtildeO BATISTA sd)
50
Da deacutecada de 20 ateacute meados da de 50 inuacutemeros livros de leitura foram produzidos
e algumas editoras especializaram-se na produccedilatildeo de livros didaacuteticos Nesse momento vaacuterias
reformas de ensino foram empreendidas por diversos Estados
Nos anos 1970 a linguagem passou a ser vista como um instrumento de
comunicaccedilatildeo como nos fala Raupp (2005)
A concepccedilatildeo agora eacute a de linguagem como instrumento de comunicaccedilatildeo e os
objetivos de ensino satildeo pragmaacuteticos e utilitaacuterios natildeo se trata mais de promover o conhecimento
do sistema linguiacutestico ndash o saber a respeito da liacutengua ndash mas do desenvolvimento das habilidades
de expressatildeo e compreensatildeo de mensagens ndash o uso instrumental e comunicativo da liacutengua A
escola abre-se para a pluralidade de linguagens e culturas
Segundo a autora ensinar a liacutengua nas escolas era priorizar o ensino de gramaacutetica
Poreacutem no iniacutecio dos anos 70 a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo nordm 569271
provocou mudanccedilas natildeo somente na disciplina de Liacutengua Portuguesa mas em todas as demais
disciplinas curriculares A liacutengua no contexto ideoloacutegico do movimento militar poacutes-64 eacute
considerada instrumento a serviccedilo do desenvolvimento Assim a disciplina ldquoPortuguecircsrdquo passa
a ser denominada de Comunicaccedilatildeo e Expressatildeo (nas seacuteries iniciais) Comunicaccedilatildeo em Liacutengua
Portuguesa (nas seacuteries finais) e no 2deg grau Liacutengua Portuguesa e Literatura Brasileira O aluno
deveria respeitar modelos para construir textos e transmitir mensagens Os gecircneros natildeo
literaacuterios foram incorporados agraves aulas
Chegando agrave deacutecada de 1980 foi sendo revista refletida e ampliada a concepccedilatildeo de
linguagem como um instrumento de comunicaccedilatildeo passando a influenciar o ensino e mostrando
que o foco deve estar na interaccedilatildeo entre as pessoas Poreacutem apesar dos novos estudos mesmo
entrando na deacutecada de 1990 professores ainda reproduziam mesmo que inconscientemente o
mesmo sistema de transposiccedilatildeo didaacutetica de conteuacutedos e a mesma atribuiccedilatildeo de valor e
importacircncia ao ensino prescritivo e normativo com que construiacuteram sua formaccedilatildeo tanto pessoal
quanto pedagoacutegica
Questionava-se para que serve a escola E trazendo para nossa aacuterea de interesse
para que serve a disciplina Liacutengua Portuguesa Para alguns a escola era e ainda eacute vista como
preparatoacuteria de alunos para o vestibular tanto mais se aproximava do ensino meacutedio No entanto
se a escola se detiver apenas a esses exames perderaacute completamente seu papel social que como
sabemos eacute muito mais abrangente que fazer uma prova cuja finalidade eacute especiacutefica objetiva e
limitada por um tempo e por uma seacuterie de outras determinaccedilotildees teacutecnicas
51
Nesse sentido a escola natildeo tem por finalidade maior garantir o preparo de alunos
para concursos pois natildeo cumpriria seu papel de promover a inclusatildeo social dos cidadatildeos Para
aleacutem da escola haacute a vida e toda sua abrangecircncia social e poliacutetica Entatildeo para de fato promover
a inclusatildeo de cada aluno nada mais importante do que incluiacute-los no mundo da leitura e da
escrita da anaacutelise e da reflexatildeo criacutetica estimulando-os agrave criaccedilatildeo
Valemo-nos das palavras de Antunes (2007 p110) a respeito do conflito sobre o
que ensinar nas aulas de Liacutengua Portuguesa quando questiona o que leva ainda algumas pessoas
a defenderem a prioridade de um ensino concentrado em ldquoanalisar frases para identificar
substantivos adjetivos verbos sublinhar diacutegrafos distinguir objeto preposicionado de objeto
direto pleonaacutestico classificar oraccedilotildees e outras categorias metalinguiacutesticasrdquo Por que falantes da
liacutengua materna natildeo tecircm familiaridade com a liacutengua em sua modalidade escrita em sua forma
espontacircnea de uso Raupp (2005 p 53) apresenta-nos uma resposta
A verdade eacute que por mais que se tenham alterado meacutetodos e teacutecnicas pressupostos e
concepccedilotildees no ensino de Liacutengua Portuguesa uma premissa permaneceu inalterada a
necessidade de se ensinaraprender a leitura e a escrita E apesar de inuacutemeras
alteraccedilotildees didaacutetico-metodoloacutegicas ocorridas ao longo do percurso o ler e o escrever
permanecem gerenciadores de todo o processo de inserccedilatildeo do sujeito na escola e fora
dela A esse respeito menciona Britto (1997 p100) ldquoo aprendizado efetivo da escrita
(e aqui eu acrescentaria e da leitura) natildeo decorre de um processo de treinamento mas
da inserccedilatildeo do sujeito no mundo da relaccedilatildeo que estabelece entre o que aprende e seu
universo soacutecio-histoacutericordquo e a inserccedilatildeo do sujeito no mundo inegavelmente ocorre
por meio da leitura deste mundo (RAUPP 2005 p 53)
De certa maneira a tradiccedilatildeo dos meacutetodos de ensino da liacutengua materna na escola
ainda contribui no sentido de natildeo se estimular os aprendizes a fluir na leitura e na escrita
(BEZERRA 2014 LOPES-ROSSI 2012)
Com o intuito de superar meacutetodos tatildeo tradicionais quanto ineficientes no ensino da
competecircncia discursiva e sensiacuteveis agraves transformaccedilotildees gestadas nos centros de conhecimento
no ano de 1996 foi promulgada apoacutes longos debates e discussotildees a Lei de Diretrizes e Bases
que rege a educaccedilatildeo brasileira com vistas agraves novas formas do pensar e agir docente de modo
a implementar a transformaccedilatildeo do olhar das instituiccedilotildees que formam professores bem como
auxiliar os docentes jaacute em exerciacutecio atraveacutes das instituiccedilotildees que lhes propiciam a formaccedilatildeo
continuada
Assim os Paracircmetros Curriculares Nacionais (1997) reconhecem que o ensino da
liacutengua portuguesa pautado em uma prioridade de estudos de aspectos normativos ou gramaticais
da liacutengua eacute limitado e insuficiente e sugerem redirecionar o foco para a praacutetica de leitura e ndash
aspecto muito importante ndash o exerciacutecio da escrita de textos nos mais variados gecircneros textuais
52
existentes na sociedade possibilitando o estudo da liacutengua em contextos reais de uso natildeo apenas
como um conjunto de normas
A importacircncia e o valor dos usos da linguagem satildeo determinados historicamente
segundo as demandas sociais de cada momento Atualmente exigem-se niacuteveis de leitura e de
escrita diferentes dos que satisfizeram as demandas sociais ateacute haacute bem pouco tempo e tudo
indica que essa exigecircncia tende a ser crescente A necessidade de atender a essa demanda
obriga agrave revisatildeo substantiva dos meacutetodos de ensino e agrave constituiccedilatildeo de praacuteticas que possibilitem
ao aluno ampliar sua competecircncia discursiva na interlocuccedilatildeo (BRASIL 1998 p 23)
Nesse sentido os PCN (1997) orientam o trabalho em sala em direccedilatildeo agrave ampliaccedilatildeo
do uso da liacutengua aos contextos natildeo podendo ficar reduzida apenas ao trabalho sistemaacutetico com
a mateacuteria gramatical visto que aprender a pensar e falar sobre a proacutepria linguagem realizar
uma atividade de natureza reflexiva uma atividade de anaacutelise linguiacutestica supotildee duas situaccedilotildees
planejar situaccedilotildees didaacuteticas que possibilitem a reflexatildeo natildeo somente sobre os diferentes
recursos expressivos utilizados pelo autor do texto mas tambeacutem sobre a forma pela qual a
seleccedilatildeo de tais recursos reflete as condiccedilotildees de produccedilatildeo do discurso e as restriccedilotildees impostas
pelo gecircnero e pelo suporte e tomar como objeto de reflexatildeo os procedimentos de planejamento
de elaboraccedilatildeo e de refacccedilatildeo dos textos (BRASIL 1997 p 8 Grifo nosso)
Produzir textos requer dessa forma estudar os diferentes modos de expressatildeo
abrindo-se aiacute para o aluno uma gama de possibilidades de manifestaccedilatildeo de ideias atraveacutes do
conhecimento de sua liacutengua quando de seu uso nas relaccedilotildees de interaccedilatildeo pessoal No entanto
para que essa produccedilatildeo seja efetiva haacute que se ter em mente que qualquer atividade de produccedilatildeo
textual bem-sucedida requer o exerciacutecio da escrita e da reescrita pois se considera que nesse
processo de aperfeiccediloamento as aulas tomadas entre o iniacutecio e o teacutermino de uma sequecircncia ou
seja entre a produccedilatildeo inicial e a produccedilatildeo final sejam vaacuterias e variadas com planejamento para
conhecer as necessidades de cunho geral da turma como as caracteriacutesticas de um gecircnero bem
como as de cunho individual do aluno como as limitaccedilotildees no reconhecimento do gecircnero
textual na construccedilatildeo de argumentos nas convenccedilotildees da escrita culta
Para boa parte das crianccedilas e dos jovens brasileiros a escola eacute o uacutenico espaccedilo que
pode proporcionar acesso a textos escritos textos estes que se converteratildeo inevitavelmente em
modelos para a produccedilatildeo Se eacute de esperar que o escritor iniciante redija seus textos usando como
referecircncia estrateacutegias de organizaccedilatildeo tiacutepicas da oralidade a possibilidade de que venha a
construir uma representaccedilatildeo do que seja a escrita soacute estaraacute colocada se as atividades escolares
53
lhe oferecerem uma rica convivecircncia com a diversidade de textos que caracterizam as praacuteticas
sociais (BRASIL 1998 p 25-26)
Para levar o aluno a desenvolver suas habilidades de escrita um passo eacute planejar
sequecircncias que abordem as caracteriacutesticas do gecircnero a ser trabalhado permitindo-lhe pocircr em
aproximaccedilatildeo eou contraste seus saberes com os conhecimentos a serem construiacutedos algo que
tem se revelado bastante difiacutecil
Para o trabalho com a escrita em Liacutengua Portuguesa pode-se partir da questatildeo
essencial o que se deve ensinar para os alunos Para a resposta eacute importante entendermos a
escrita como processo quais satildeo as etapas Quais as estrateacutegias de escrita Qual o papel do
professor neste processo Para fundamentar a didaacutetica da escrita eacute importante conhecer os
processos de redigir e tambeacutem considerar como motivar os alunos a escrever Vamos para este
estudo nortearmo-nos em Serafini (2003) Koch e Elias (2009) e Vieira (2005)
32 Escrita e motivaccedilatildeo
Vieira (2005 p 71) traz agrave tona uma reflexatildeo sobre a necessidade de motivar a
escrita pois essa praacutetica permeia todas as nossas atividades cotidianas e eacute cada vez mais
indispensaacutevel Em sua anaacutelise entende que os atos de escrita que acontecem na escola
apresentam uma defasagem entre a realidade do mundo da palavra e a palavra do mundo
escolar Por vezes os alunos escrevem textos sem instruccedilotildees claras e sem um destinataacuterio
concreto aleacutem do professor cujo papel consiste em corrigir os erros de gramaacutetica e ortografia
Uma criacutetica pertinente da autora eacute que nossas escolas ainda estatildeo em sua maioria
com um atraso pedagoacutegico quanto ao trabalho com a escrita seus usos sociais e os processos
do redator Apesar de muitas abordagens e contribuiccedilotildees pedagoacutegicas que trabalham esses usos
sociais e o ato de redigir em funccedilatildeo de uma audiecircncia para o texto ou de um propoacutesito
comunicativo terem despontado essas ideias permanecem distantes da realidade do ensino Em
sua contribuiccedilatildeo para o tema motivaccedilatildeo Vieira (2005 p 70) afirma ldquoSe o impulso
comunicativo para escrever eacute determinante de escolhas temaacuteticas estruturais estiliacutesticas e
pragmaacuteticas no texto em composiccedilatildeo de partida isso jaacute deveria implicar num cuidado muito
maior em relaccedilatildeo ao quecirc e como satildeo propostos os atos de escrita na escolardquo
Essas proposiccedilotildees de que trata a autora atentam para que consideremos que estamos
na era digital em que a tecnologia absorve bastante a atenccedilatildeo dos alunos o que atribui novas
funccedilotildees para a escrita Para motivaacute-los as atividades precisam entatildeo levaacute-los a se sentirem
54
capazes de se envolver e de completar a tarefa isto eacute de ter competecircncia e controle sobre ela
controle sobre seus textos e sobre a situaccedilatildeo de escrita Essa autopercepccedilatildeo de competecircncia e
controle cuja recompensa eacute a autogratificaccedilatildeo eacute conceituada como motivaccedilatildeo intriacutenseca
concebida do ponto de vista cognitivista em oposiccedilatildeo ao conceito behaviorista de motivaccedilatildeo
cujo foco estaacute em recompensas externas chamado de motivaccedilatildeo extriacutenseca
Para o ensino segundo Vieira (2005) a percepccedilatildeo de competecircncia eacute muito
importante no que tange ao engajamento em tarefas Se o aluno natildeo se percebe competente
numa aacuterea maior sua necessidade de assistecircncia externa para se desincumbir de uma tarefa
Desse modo Vieira (2005 p 73) diz que
A ideia eacute que quando os estudantes se apropriam de sua escrita seu niacutevel de
engajamento seraacute mais alto Assim todo redator do principiante ao profissional deve
ser encorajado a apropriar-se de seu texto usando a escrita para expressar sua
compreensatildeo pessoal dos assuntos e para buscar seus proacuteprios propoacutesitos acadecircmicos
e sociais (VIEIRA 2005 p 73)
Visando entatildeo propiciar uma maior motivaccedilatildeo para redigir Vieira (2005) lista em
um quadro algumas atitudes de intervenccedilatildeo possiacuteveis cujos princiacutepios e praacuteticas aceitamos
como norte em nossa pesquisa de acordo com as possibilidades e dificuldades verificadas na
turma considerando a SD que foi aplicada Vejamos a seguir
Quadro 2 ndash Motivaccedilatildeo e envolvimento na produccedilatildeo escrita
ELEMENTOS BAacuteSICOS PRINCIacutePIOS E PRAacuteTICAS EFEITOS GERADOS
a) Competecircncia + assistecircncia
b) Controle (textosituaccedilatildeo de
escrita)
Encorajar a apropriaccedilatildeo do
texto
Compartilhar e demonstrar atos
de escrita ao aluno (o prazer e as
dificuldades)
Oportunidades para
autorregulaccedilatildeo
Engajamento mais alto
na leitura (a) e na escrita
(b) gt maior
competecircncia controle
Tempo
Concentrar periacuteodos para
escrever instituindo a
regularidade
Maior competecircncia e
controle
Propriedade (ownership)
Controlar a situaccedilatildeo de escrita e
a tarefa dentro do gecircnero e
formato
- variar temasassuntos
- focalizar uma audiecircncia
- encontrar a proacutepria ldquovozrdquo
expressando significados e
opiniotildees
- lerredigir textos autecircnticos
criando propoacutesitos
Domiacutenio sobre o texto e
maior prazer na escrita
55
comunicativos e situaccedilotildees reais
de escrita
Resposta (retorno reacuteplica)
Lerouvircompartilhar textos
Trabalhar em pequenos grupos
antes de trabalhar de forma
independente
Oportunidades de trocar
e comentar textos com
os colegas obtendo
respostas especiacuteficas
Complexidade da tarefa ndash usar
habilidades e conhecimentos
preacutevios propor tarefas que
possam ser executadas com
ecircxito (Bereiter e Scardamalia
1982)
Propor tarefas que dosem
- conteuacutedo (assunto)
- forma (gecircnero formato)
- funccedilatildeo (propoacutesito do texto)
Ex assunto novo + formato de
texto conhecido + funccedilatildeo
conhecida
Confianccedila reforccedilada
pela possibilidade de
sucesso de dar conta da
tarefa estimulando a
percepccedilatildeo da
competecircncia
Percepccedilatildeo abrangente do
processo de redigir (similar em
liacutengua materna e liacutengua
estrangeira ndash dominar o coacutedigo
linguiacutestico natildeo eacute o maior
problema)
Focalizar em separado
processos de
composiccedilatildeotranscriccedilatildeo
(gerarorganizar ideias x
ortografia e gramaacutetica)
Reforccedilo da experiecircncia
de sucesso gt niacutevel mais
alto de competecircncia
percebida gt
engajamento com tarefas
semelhantes Fonte Adaptado de VIEIRA (2005)
Aleacutem desses elementos a autora aponta outros aspectos praacuteticos que podem ampliar
a motivaccedilatildeo para escrever Satildeo eles
a) trabalhar a leitura e a escrita de forma complementar explorando textos
variados observando padrotildees ortograacuteficos e construccedilotildees sintaacuteticas explorando
o potencial da internet e os acervos disponiacuteveis pois a leitura contribui para a
escrita mais que o proacuteprio ato de redigir
b) integrar a escrita agrave matildeo com a escrita digital transitando do papel agrave tela do
computador exercitando em cada uma das modalidades de escrita os aspectos
que melhor favorecem
c) recriar situaccedilotildees comunicativas autecircnticas e propoacutesitos para escrever como
anuacutencios manchetes oraccedilotildees bilhetes cartas notiacutecias entre outros indo dos
mais simples aos mais complexos e
d) buscar audiecircncias verdadeiras para escrever e interlocutores para comentar os
textos redigidos criando situaccedilotildees de modo que os estudantes possam comentar
e criticar o que foi produzido
Diante do exposto procuramos ao longo das aulas dos moacutedulos contemplar nas
atividades os aspectos que podem motivar o aluno a escrever dominando pouco a pouco seu
texto propiciando-lhe a construccedilatildeo de experiecircncias positivas ainda mais porque estaacute em jogo
o despertar da consciecircncia de que a escrita eacute um processo como veremos na seccedilatildeo a seguir
56
33 Escrita como processo
Iniciando com questionamentos como por que eacute difiacutecil aprender a redigir quais satildeo
as maiores dificuldades envolvidas na produccedilatildeo de um texto como as crianccedilas escrevem e se
desenvolvem como redatoras quais os comportamentos caracteriacutesticos dos bons e dos maus
redatores entre outros que foram propostos por Vieira (2005 p 80) para saber mais sobre o
processo de produccedilatildeo de textos na escola
Em cada exerciacutecio de linguagem escrita praticado na escola eacute fundamental prever
para quem se vai escrever As redaccedilotildees escritas ldquopara ningueacutemrdquo que segundo Antunes (2009)
desconsideram o outro sujeito que integra a atividade comunicativa soacute podem resultar no
desinteresse e na ineficiecircncia dos meacutetodos de que somos testemunhas haacute vaacuterias deacutecadas Essa
produccedilatildeo textual ldquopara ningueacutemrdquo de que trata a autora reflete-se nas inseguranccedilas
manifestadas pelos alunos Quando estes escrevem eacute unicamente para o professor porque
visam merecer uma nota e passar de ano Ora se a escrita tem tantas funccedilotildees na sociedade
sendo de ordem praacutetica natildeo faz sentido cristalizaacute-la em fins puramente escolares
A escrita segundo Koch e Elias (2009) pode ter vaacuterios focos De acordo com as
autoras haacute correntes de produccedilatildeo textual que colocam o foco da escrita na liacutengua outras que
focam no escritor e por uacuteltimo na interaccedilatildeo
Com o foco da escrita na liacutengua bastaria tanto ao escritor como ao leitor ter
conhecimento do coacutedigo utilizado no texto sem espaccedilo para implicitudes havendo centraccedilatildeo
na linearidade de modo transparente
Com o foco da escrita no escritor o texto eacute visto como produto loacutegico do
pensamento (representaccedilatildeo mental) do escritor ou seja uma expressatildeo do pensamento e das
intenccedilotildees do autor mas que natildeo leva em conta as experiecircncias e os conhecimentos do leitor
pois natildeo considera a interaccedilatildeo que haacute no processo (KOCH ELIAS 2009 p 33)
No entanto natildeo se deve considerar segundo as autoras o foco apenas no coacutedigo
ou apenas no escritor mas na interaccedilatildeo
Essa eacute a diferenccedila em relaccedilatildeo agraves concepccedilotildees anteriormente descritas visto que a
escrita natildeo eacute compreendida em relaccedilatildeo apenas agrave apropriaccedilatildeo das regras da liacutengua nem
tampouco ao pensamento e intenccedilotildees do escritor mas sim em relaccedilatildeo agrave interaccedilatildeo escritor-
leitor levando em conta eacute verdade as intenccedilotildees daquele que faz uso da liacutengua para atingir o
seu intento sem contudo ignorar que o leitor com seus conhecimentos eacute parte constitutiva desse
processo (KOCH ELIAS 2009 p 34)
57
Desse modo a primeira condiccedilatildeo necessaacuteria ao professor que ensina a redigir eacute que
tenha em mente que a escrita eacute uma atividade comunicativa e que desempenha funccedilotildees cada
vez mais diversificadas no dia a dia de uma sociedade letradardquo (VIEIRA 2005 p 80) Escrever
eacute um ato que requer sentido afinal comunicar-se eacute um ato de interaccedilatildeo social eacute praacutetica eacute
vivecircncia
Os processos psicoloacutegicos ou mentais acionados durante a produccedilatildeo de um texto
natildeo acontecem necessariamente numa ordem loacutegica Podem vir simultaneamente o que pode
levar o redator a sentir que tem conflitos e consequentemente estancar diante dessa dificuldade
inicial
Logo para produzir um texto eacute preciso ter determinados os pontos que indicam
exatamente o que fazer o que facilita o trabalho de qualquer escritor Vieira (2005) considera
que para despertar o prazer de escrever haacute que se levar em conta os seguintes argumentos um
eacute a funcionalidade da escrita jaacute falada anteriormente outro diz respeito agrave proacutepria natureza da
escrita tatildeo distinta da fala
Embora a escrita em papel seja um ato solitaacuterio em que natildeo se conta com a reaccedilatildeo
do interlocutor por causa da proacutepria distacircncia espacial que separa autor e leitor a consciecircncia
da audiecircncia eacute o que impulsiona o texto que estaacute sendo produzido Em outras palavras no ato
de redigir jaacute estaacute inscrito o virtual leitor do texto E eacute essa consciecircncia aparentemente
contraditoacuteria entre ausecircncia e presenccedila do destinataacuterio da mensagem que vai moldar os
procedimentos do redator (VIEIRA 2005 p 82)
Concordamos com Serafini (2003 p17) quando afirma que escrever um texto ldquonatildeo
significa criar por inspiraccedilatildeo divina Eacute um trabalho E para realizar a contento um trabalho eacute
preciso conhecer as regras do jogordquo As regras que a autora propotildee satildeo as seguintes ter um
plano ordenar as ideias organizar o texto corrigir Essa distribuiccedilatildeo das etapas do trabalho
permite que se trabalhe melhor Da mesma forma Koch e Elias (2009 p 37) evidenciam que
[] em sua atividade o escritor recorre a conhecimentos armazenados na memoacuteria
relacionados agrave liacutengua ao saber enciclopeacutedico a praacuteticas interacionais Esses
conhecimentos resultado de inuacutemeras atividades em que nos envolvemos ao longo de
nossa vida deixam entrever a intriacutenseca relaccedilatildeo entre linguagemmundopraacuteticas
sociais (KOCH ELIAS 2009 p 37)
Para Koch e Elias (2009 p 34) a escrita eacute uma atividade que demanda esforccedilo e
as estrateacutegias a seguir
58
a) ativaccedilatildeo de conhecimentos sobre os componentes da situaccedilatildeo comunicativa
(interlocutores toacutepico a ser desenvolvido e configuraccedilatildeo textual adequada agrave
interaccedilatildeo em foco)
b) seleccedilatildeo organizaccedilatildeo e desenvolvimento das ideias de modo a garantir a
continuidade do tema e sua progressatildeo
c) ldquobalanceamentordquo entre informaccedilotildees expliacutecitas e impliacutecitas entre informaccedilotildees
ldquonovasrdquo e ldquodadasrdquo levando em conta o compartilhamento de informaccedilotildees com
o leitor e o objetivo da escrita
d) revisatildeo da escrita ao longo de todo o processo guiada pelo objetivo da produccedilatildeo
e pela interaccedilatildeo que o escritor pretende estabelecer com o leitor
Haacute muitas maneiras de percebermos os subprocessos e as habilidades implicadas
na produccedilatildeo de um texto como mostram Serafini (2003) Koch e Elias (2009) Vieira (2005
p84) tambeacutem menciona em sua obra modelos do tipo ldquoensaio esboccedilo ediccedilatildeo e revisatildeordquo
ldquoensaiar escrever e passar a limpordquo ldquoextrapolar e resumirrdquo ldquocoletar e conectarrdquo ldquodesenvoltura
coerecircncia e precisatildeordquo ldquogerarorganizar ideias produzir texto e revisarrdquo ldquoelaboraccedilatildeo expressatildeo
e revisatildeordquo ldquoplanificaccedilatildeo textualizaccedilatildeo revisatildeordquo
Nessa visatildeo processual do ensino da escrita todas essas maneiras convergem para
o consenso de que haacute operaccedilotildees mentais de natureza diferente e conflitante e para fins
pedagoacutegicos eacute interessante separar as atividades de composiccedilatildeo e de transcriccedilatildeo segundo o
conceito de Smith apud Vieira (2005 p 84) ldquoSegundo ele a atividade de compor diz respeito
agrave geraccedilatildeo seleccedilatildeo organizaccedilatildeo de ideias e sua traduccedilatildeo em linguagem Jaacute a atividade de
transcrever refere-se ao ato fiacutesico de registrar as palavrasrdquo
Na praacutetica compor e transcrever satildeo aspectos concorrentes e para a autora a
soluccedilatildeo pedagoacutegica seria separar as duas atividades da seguinte forma
[] primeiro levar o aluno a compor sem se preocupar com a transcriccedilatildeo depois
orientaacute-lo para revisar e reescrever o texto (fazendo-o compreender que a atividade de
revisatildeo faz parte do processo de redigir um texto) Estas colocaccedilotildees jaacute nos permitem
rever os criteacuterios de avaliaccedilatildeo de redaccedilotildees mostrando-nos como estamos equivocados
quando elegemos a correccedilatildeo gramatical e a ortografia como metas principais para a
habilidade de redigir (VIEIRA 2005 p 85)
Assim como ensinar a redigir sob a oacutetica da escrita como processo De iniacutecio tendo
em mente que as operaccedilotildees e habilidades necessaacuterias agrave elaboraccedilatildeo do texto tecircm valor No
entanto o exerciacutecio das habilidades de escrita em separado pode ter a desvantagem de levar o
59
aluno a achar que o processo eacute uma atividade fragmentada Para entatildeo evitar essa percepccedilatildeo
eacute preciso aleacutem dos exerciacutecios redigir textos completos
De jaacute temos consciecircncia de que nenhuma abordagem para o ensino da escrita eacute
absoluta Nas palavras de Vieira (2005 p 87)
A redaccedilatildeo requer meacutetodo muacuteltiplo jaacute que envolve diferentes tipos de capacidades e
habilidades E nada substitui o bom senso do professor Assim por exemplo se ele
julgar necessaacuterio reforccedilar determinados padrotildees de texto recorrendo agrave abordagem
imitativa estaraacute procedendo de forma adequada Da mesma maneira poderaacute usar
estrateacutegias de liberaccedilatildeo da linguagem na fase de geraccedilatildeo de ideias ou reforccedilar os
recursos de interaccedilatildeo verbal professor-aluno ou aluno-aluno nas atividades de revisatildeo
de texto (VIEIRA 2005 p 87)
Vieira (2005) sintetiza os pontos importantes para o desenvolvimento da habilidade
de redigir a partir de investigaccedilotildees de Krashen (1984 apud Vieira 2005) na aacuterea
O primeiro ponto eacute a frequecircncia com que se redige Independentemente da
disciplina escrever exige treino constante concentrando o tempo disponiacutevel e em horaacuterio
regular posto que ldquosaber com antecedecircncia quando vamos redigir cria prontidatildeo para a
atividade que comeccedila interiormente bem antes de colocarmos as palavras no papelrdquo (VIEIRA
2005 p 88)
O segundo ponto eacute a correlaccedilatildeo entre leitura e escrita A habilidade de ler
compreensivamente permite que quanto mais se leia mais se observe a composiccedilatildeo dos textos
aprendendo-se a lidar com seus padrotildees de organizaccedilatildeo com as intenccedilotildees do autor e percebendo
como se executam diferentes modalidades de usos da escrita
O terceiro ponto eacute a frequecircncia em ler x a frequecircncia em escrever Vieira (2005)
afirma que estudos que comparam a frequecircncia em ler e a frequecircncia em escrever revelam que
a leitura tem efeito mais forte sobre o desenvolvimento da escrita que a proacutepria frequecircncia com
que se escreve
O quarto ponto eacute a instruccedilatildeo escolar para o ensino da escrita Mais do que qualquer
outra habilidade diz a autora a escrita precisa ser demonstrada Assim as instruccedilotildees que o
professor faz ao texto do aluno durante o processo contribuem para que este faccedila os devidos
ajustes melhorando assim sua habilidade de produzir textos
O quinto ponto eacute o feedback do professor Este ponto ressalta o papel fundamental
do professor nas muacuteltiplas reescrituras por que passa um texto ldquoO ideal eacute que sejam feitos
vaacuterios rascunhos com o professor presente comentando cada estaacutegio intermediaacuteriordquo (VIEIRA
2005 p 89) Suas correccedilotildees precisam ser feitas sobre um aspecto de cada vez especificando
as alteraccedilotildees necessaacuterias nos aspectos de composiccedilatildeo e de transcriccedilatildeo
60
O sexto ponto eacute a instrumentaccedilatildeo gramatical e o desenvolvimento da escrita e trata
do que muito se tem discutido na atual sociedade instruccedilatildeo gramatical desvinculada do uso
praacutetico da linguagem natildeo garante a ningueacutem uma escrita melhor
O seacutetimo e uacuteltimo ponto satildeo os processos de composiccedilatildeo de bons e maus redatores
e diferencia em pelo menos quatro aspectos os que escrevem bem do que os que o fazem mal
Satildeo eles
a) planejamento quem redige bem planeja mais Esse planejamento pode ser
gastando mais tempo pensando tomando notas antes de escreverem
flexibilizando os planos e revisando os esquemas agrave medida que surgem novas
ideias e argumentos Apenas alguns redatores experientes seguem uma ordem
linear planejando primeiro em seguida esboccedilando o texto num rascunho e
enfim revisando ldquoPara a maioria deles o processo de redigir eacute recursivo isto eacute
sujeito a retomadas e alteraccedilotildees em diferentes pontos da produccedilatildeo do textordquo
(VIEIRA 2005 p 91)
b) releitura durante a elaboraccedilatildeo do texto as pausas na escrita para a releitura
permitem manter o senso de totalidade da composiccedilatildeo planejando o que
escrever em seguida e tambeacutem relembrando o que jaacute foi registrado fazendo com
que o texto avance
c) revisatildeo a diferenccedila entre os escritores experientes dos inexperientes eacute a revisatildeo
frequentemente confundida com editoraccedilatildeo A revisatildeo pelos experientes eacute uma
focalizaccedilatildeo do significado servindo para ldquoinventar acrescentar mudanccedilas de
conteuacutedo e para reorganizar longos trechos da composiccedilatildeordquo (VIEIRA 2005 p
94) ao passo que a editoraccedilatildeo normalmente a preocupaccedilatildeo dos inexperientes eacute
a correccedilatildeo gramatical a ortograacutefica e a pontuaccedilatildeo que se feita antes do tempo
quebra o ritmo da escrita deixando de conduzir o fio do pensamento e
d) consciecircncia da audiecircncia fundamental considerando o foco da escrita como
anteriormente dito na interaccedilatildeo Levar em conta o leitor como ele poderaacute
receber as palavras e ideias do texto os conhecimentos que ele precisaraacute ter para
compreender o texto e os interesses que ele tem eacute marca dos escritores que
redigem bem ao contraacuterio dos demais que ldquotendem a ficar presos ao assunto do
texto e a gastar menos tempo pensando no leitor por natildeo terem consciecircncia da
audiecircncia ou por natildeo serem capazes de consideraacute-la na escritardquo (VIEIRA 2005
p 95)
61
Essas etapas apresentadas nesta seccedilatildeo foram fundamentais para o processo
conduzido em nossa SD visto permitir aos alunos tomar consciecircncia dos processos que satildeo
ativados antes e durante a escrita bem como nas etapas de leitura releitura e reescrita sendo
cerne da elaboraccedilatildeo das propostas de produccedilatildeo conforme veremos nas seccedilotildees correspondentes
aos moacutedulos aos encontros e agraves atividades desenvolvidas Para a seccedilatildeo seguinte veremos como
pode ser trabalhada a escrita na escola
34 Escrita na escola
Para antes do iniacutecio do trabalho de escrita no acircmbito escolar o ideal eacute que o
professor tenha em mente para definir com clareza junto aos seus alunos na tarefa que deveraacute
ser desenvolvida os seguintes pontos segundo Serafini (2003) destinataacuterio objetivo do texto
gecircnero do texto papel do redator objeto da redaccedilatildeo comprimento da redaccedilatildeo criteacuterios de
avaliaccedilatildeo Desse modo
a) o destinataacuterio eacute a pessoa para a qual se escreve ou seja o leitor Como as
produccedilotildees satildeo feitas no contexto escolar para que o aluno-escritor natildeo dirija seu
texto somente ao professor eacute importante nos comandos de produccedilatildeo esclarecer
qual eacute ou deve ser o perfil de leitor para quem se escreve
b) o objetivo de um texto precisa ser claro pois a ele se atrela a avaliaccedilatildeo do
mesmo no caso do contexto escolar Aliaacutes um texto pode ter mais de um
objetivo e isso precisa ser ponto claro entre o professor e o aluno
c) a escolha do gecircnero eacute entatildeo essencial para o desenvolvimento do texto por
permitir a realizaccedilatildeo deste com um estilo muito marcante O gecircnero permite
inclusive compreender qual eacute o papel do redator na produccedilatildeo para assim
inserir-se ou retirar-se no texto
d) o objeto da redaccedilatildeo para a autora deveria ser deduzido do tiacutetulo da redaccedilatildeo (que
entendemos atualmente como o direcionamento do tema) e explica que assim
como haacute comandos que expotildeem detalhadamente o objeto da redaccedilatildeo haacute tambeacutem
os que pouco oferecem explicaccedilotildees e que conveacutem em casos como esse que o
aluno explique ldquonuma introduccedilatildeo como seratildeo interpretados os termos do
problema propostordquo (SERAFINI 2003 p 28)
e) a extensatildeo do texto depende essencialmente do objetivo da disponibilidade de
tempo da capacidade e da rapidez de quem escreve Entendemos aqui que haacute
62
gecircneros que permitem maior extensatildeo que outros No contexto escolar
normalmente noacutes professores por razotildees de ordem praacutetica do dia a dia pedimos
textos com limite de linhas ou paraacutegrafos
f) finalmente os criteacuterios de avaliaccedilatildeo do professor ajudam o aluno a ldquocanalizar a
proacutepria energia na direccedilatildeo certardquo (SERAFINI 2003 p 29) Como parte do
trabalho com sequecircncia didaacutetica haacute o partilhamento dos criteacuterios trabalhados
do vocabulaacuterio teacutecnico e das caracteriacutesticas a serem encontradas nos textos
produzidos facilitando a vida do aluno quanto ao que colocar no texto e
clareando para o professor o que ele pode esperar desse texto
Desse modo para o escritor que se vecirc diante do papel em branco
independentemente do que vaacute escrever eacute preciso antes empenhar seu tempo e esforccedilo em duas
etapas fundamentais a criaccedilatildeo de ideias para assim passar agrave produccedilatildeo do texto
A separaccedilatildeo consiste em primeiramente levar o aluno a compor sem a
preocupaccedilatildeo com a transcriccedilatildeo Em seguida orientaacute-lo para que faccedila a revisatildeo e a reescrita do
texto colocando-lhe de modo expliacutecito que a revisatildeo eacute parte do processo de redigir um texto
A etapa de criaccedilatildeo das ideias eacute aquela em que o autor pode ldquoatirarrdquo palavras-chave
protoacutetipos de paraacutegrafos de personagens de ambientes de sequecircncias de acontecimentos sem
o fantasma da censura agrave criatividade Aliaacutes eacute nesse momento que pode surgir uma ldquogrande
sacadardquo cujo valor do registro possa vir a ser recompensador Nas palavras de Serafini (2003
p 31) a ldquofolha de papel na qual listamos os dados recolhidos cumpre a funccedilatildeo de prolongamento
da memoacuteria no mundo visiacutevel eacute mais faacutecil escolher num elenco fisicamente visiacutevel que num
iacutendice feito mentalmenterdquo
A coleta das ideias que surgiram ao ser terminada pede a decisatildeo do que e como
usar no texto Para os textos literaacuterios que satildeo objeto de nossa pesquisa um passo necessaacuterio
na estruturaccedilatildeo de Serafini (2003) eacute a identificaccedilatildeo do ponto de vista
Os textos descritivo-narrativos natildeo apresentam ideias predominantes mas contam
fatos e descrevem lugares e pessoas A estrutura desses textos natildeo eacute mais dada por uma ideia
a tese mas pelo ponto de vista isto eacute pelo acircngulo de perspectiva do qual satildeo mostrados fatos
e objetos Nas histoacuterias complexas e nos romances o ponto de vista pode tambeacutem mudar
(SERAFINI 2003 p 45)
Nas palavras da autora ldquo[] para fazer uma boa descriccedilatildeo de um objeto ou lugar
devemos escolher um ponto de vista fica por conta de nossa sensibilidade selecionar um ponto
de vista interessante eficaz e quem sabe originalrdquo (SERAFINI 2003 p47) Entatildeo para um
63
texto narrativo que conta uma histoacuteria natildeo existe um modo objetivo de narrar mas um acircngulo
de perspectiva Completando o pensamento de Serafini Koch e Elias declaram que o como
dizer o que se quer dizer eacute revelador de que a escrita eacute um processo que envolve escolha de um
gecircnero textual em consonacircncia com as praacuteticas sociais seleccedilatildeo organizaccedilatildeo e revisatildeo das ideias
para os ajustesreajustes necessaacuterios tendo em vista a eficiecircncia e a eficaacutecia da comunicaccedilatildeo
(KOCH ELIAS 2009 p 36)
Apoacutes a seleccedilatildeo das ideias de sua organizaccedilatildeo e da escolha do ponto de vista o
escritor pode efetivamente passar agrave produccedilatildeo Tudo o que foi feito para despertar coloquemos
assim o escritor para o labor com seu texto eacute uma hipoacutetese do trabalho final visto que ao
comeccedilar a escrever novas ideias vatildeo surgindo E como nos lembra Serafini (2003 p 54) ldquo[]
quem se propotildee a ensinar a escrever na escola brasileira atual geralmente encontra problemas
porque natildeo tem agrave disposiccedilatildeo um modelo uacutenico de liacutengua nem uma tradiccedilatildeo de didaacutetica da
redaccedilatildeo que privilegie um dos diversos estilos possiacuteveisrdquo Frases longas ou curtas discurso
direto ou indireto ou mesmo o indireto livre tudo satildeo escolhas com as quais o aluno-escritor
vai se familiarizar ao longo de sua jornada escolar pouco a pouco conforme suas experiecircncias
de leitura e praacutetica com a escrita progredindo do paraacutegrafo mais simples ao mais complexo A
autora assim define o que eacute paraacutegrafo
O paraacutegrafo eacute uma quantidade de texto delimitada por um ponto final o texto continua
a se desenvolver na outra linha afastado da margem Ele pode conter vaacuterios periacuteodos
separados por pontos e por viacutergulas O que importa eacute garantir que a cada paraacutegrafo
corresponda uma uacutenica ideia de roteiro Esta colocaccedilatildeo tiacutepica do mundo anglo-saxatildeo
e americano pode parecer excessivamente mecanicista e simplista Com efeito eacute
justificada soacute no niacutevel didaacutetico para aqueles estudantes que tecircm grandes dificuldades
para escrever Este meacutetodo aliaacutes deve ser assumido como hipoacutetese de trabalho mas
deve ser revisto agrave medida que se adquire familiaridade com a liacutengua Em nome de
uma melhor organizaccedilatildeo do texto eacute possiacutevel por exemplo reagrupar mais de uma
ideia do roteiro num uacutenico paraacutegrafo ou associar agrave mesma ideia mais paraacutegrafos
(SERAFINI 2003 p 55)
Desse modo se fizermos um pequeno quadro com a finalidade de melhor visualizar
as possibilidades de organizaccedilatildeo do texto em paraacutegrafos o que pode ajudar os alunos temos
Quadro 3 ndash Como organizar as ideias em paraacutegrafos
1 ideia 1 paraacutegrafo
2 ou mais ideias 1 paraacutegrafo
1 ideia 2 ou mais paraacutegrafos
Fonte adaptado de SERAFINI (2003)
64
Por razotildees didaacuteticas Serafini (2003) classifica trecircs principais tipos de paraacutegrafo
com caracteriacutesticas especiacuteficas o paraacutegrafo narrativo que eacute constituiacutedo por uma sequecircncia de
afirmaccedilotildees-informaccedilotildees que natildeo precisam de garantia4 e eacute onde os fatos satildeo expostos em ordem
cronoloacutegica o paraacutegrafo descritivo que conteacutem objetos lugares e pessoas geralmente
constituiacutedo soacute pela afirmaccedilatildeo e pela informaccedilatildeo dispensando a garantia e finalmente o
paraacutegrafo expositivo-argumentativo mais complexo que os anteriores apresenta em geral todas
as caracteriacutesticas do modelo de Toulmin (cf nota 8) e que apresenta uma tese com os dados e
as observaccedilotildees que podem ser uacuteteis para convencer o leitor de sua validade
Ainda na classificaccedilatildeo do paraacutegrafo narrativo tambeacutem chamado de cronoloacutegico
Serafini nos mostra um caso particular de apresentaccedilatildeo de uma sequecircncia de fatos o que inclui
o flash-back que eacute a interrupccedilatildeo na sequecircncia cronoloacutegica ldquointroduzindo fatos anteriores uacuteteis
agrave compreensatildeo da narrativa Embora natildeo seja tatildeo natural eacute possiacutevel interromper uma sequecircncia
temporal para incluir fatos que aconteceratildeo depoisrdquo (SERAFINI 2003 p 58)
Um outro caso de paraacutegrafo narrativo ou cronoloacutegico eacute o que apresenta um
procedimento Procedimentos ldquosatildeo todas as sequecircncias de accedilotildees que devem ser cumpridas para
se obter certo resultadordquo (SERAFINI 2003 p 59) por exemplo a enumeraccedilatildeo das etapas
necessaacuterias ao preparo de uma torta A descriccedilatildeo correta do procedimento requer que natildeo se
inverta a ordem de suas operaccedilotildees elementares
O paraacutegrafo descritivo segundo a autora eacute importante ldquo[] para envolver o leitor
na histoacuteria convencecirc-lo da tese ou tornar-lhe a leitura mais concreta e vivardquo (SERAFINI 2003
p 58) Dessa forma eacute interessante que os personagens ambientes e objetos natildeo sejam apenas
mencionados mas apresentados com riqueza de detalhes A generalizaccedilatildeo pode deixar o leitor
indiferente ao passo que descriccedilotildees detalhadas podem vir a interessar envolver e mesmo
emocionar
Frequentemente quem natildeo tem grande experiecircncia de escrita considera as
descriccedilotildees oacutebvias e as abandona porque tende a atribuir ao leitor os seus proacuteprios
conhecimentos e experiecircncias As crianccedilas em geral se aborrecem ao ler as descriccedilotildees e agraves vezes
pulam o trecho descritivo porque satildeo mais pela trama do que pela apresentaccedilatildeo dos ambientes
e das caracteriacutesticas fiacutesicas e psicoloacutegicas dos protagonistas Entretanto agrave medida que
4 Serafini (2003 p 56-57) apresenta o modelo de Toulmin que examina quais satildeo as caracteriacutesticas de um
paraacutegrafo que o tornam convincente isto eacute que levem o leitor a compartilhar da mesma tese Satildeo elas a afirmaccedilatildeo
que apresenta a ideia principal do paraacutegrafo a informaccedilatildeo que conteacutem os dados que apoiam a afirmaccedilatildeo e a
garantia que eacute a ligaccedilatildeo entre a afirmaccedilatildeo e a informaccedilatildeo e mostra a importacircncia da informaccedilatildeo para apoiar a
asserccedilatildeo Ex Artur estaacute nervoso sua e ri sem parar Afirmaccedilatildeo Artur estaacute nervoso Informaccedilatildeo sua e ri sem
parar Garantia (subentendida) suar e rir sem parar satildeo sinais tiacutepicos de nervosismo
65
estimulam a sensibilidade em relaccedilatildeo aos textos elas vatildeo se dando conta de que natildeo eacute soacute a accedilatildeo
que torna interessante a histoacuteria Eacute tarefa do professor desenvolver essa sensibilidade e esse
gosto em vez de se fixar apenas nos aspectos narrativos de um texto (SERAFINI 2003 p 63)
Serafini (2003) tambeacutem trata da importacircncia dos paraacutegrafos que conduzem as
introduccedilotildees nos textos A autora classifica as introduccedilotildees em introduccedilatildeo-enquadramento e
introduccedilatildeo para chamar a atenccedilatildeo
A introduccedilatildeo-enquadramento enquadra o tema proposto na instruccedilatildeo para a
produccedilatildeo textual realccedilando sua importacircncia e agraves vezes ateacute antecipando o que seraacute
desenvolvido no corpo do texto ldquoUma introduccedilatildeo muito comum eacute aquela em que o estudante
coloca questotildees agraves quais pretende responder agrave medida que vai desenvolvendo o textordquo
(SERAFINI 2003 p 72) Normalmente utilizada entre os estudantes segundo a autora eacute
caracteriacutestica de quem natildeo faz planejamento e comeccedila a escrever seu texto sem saber o que vai
colocar em seu desenvolvimento mas tambeacutem por quem pretende reelaborar e expandir o
tiacutetulo5
A introduccedilatildeo para chamar a atenccedilatildeo segundo a autora pretende atrair a atenccedilatildeo e
o interesse do leitor utilizando frases de efeito citaccedilotildees informaccedilotildees curiosas exemplos
concretos que antecipam problemaacuteticas a serem desenvolvidas no corpo do texto e envolvem
emocionalmente o leitor exemplificaccedilotildees em primeira pessoa pois ldquoos problemas concretos
narrados na primeira pessoa atraem mais a curiosidade do que aqueles apresentados de modo
abstratordquo (SERAFINI 2003 p 74)
Ao final de sua primeira versatildeo de texto o alunoescritor tende a fazer uma raacutepida
releitura normalmente pouco criacutetica O ideal eacute que seu texto possa ser apreciado pelos colegas
de sala para que sejam feitas sugestotildees Quando a revisatildeo for desenvolvida pelo proacuteprio autor
5 Os tiacutetulos poderiam ser classificados segundo Serafini (2003) em trecircs grandes categorias o tiacutetulo-frase-de-
efeito o tiacutetulo-estiacutemulo-aberto e o tiacutetulo-roteiro O tiacutetulo-frase-de-efeito ldquoeacute geralmente agradaacutevel arguto suscita
a admiraccedilatildeo do leitor pode ser provocativo mas natildeo necessariamente profundordquo (p100) trazendo geralmente
citaccedilotildees de personagens importantes ou as afirmaccedilotildees categoacutericas do professor Por exemplo ldquoJaacute natildeo haacute matildeos
dadas no mundordquo (Drummond - Unesp) ou ldquoQuando vocecirc for martelo lembre-se que jaacute foi pregordquo (pichaccedilatildeo de
parede utilizada na Unesp) Os tiacutetulos-estiacutemulo-aberto ldquopropotildeem um tema de modo muito geneacuterico e neutro e datildeo
mais liberdade ao estudanterdquo (p101) Por exemplo ldquoViver hojerdquo (Santa Casa-SP) ldquoA televisatildeordquo (Poli-USP)
Finalmente os tiacutetulos-roteiro ldquonatildeo soacute propotildeem um tema como no grupo precedente mas tambeacutem oferecem uma
seacuterie de pontos de vista de problemas que devem ser analisados fornecendo jaacute a pauta do desenvolvimentordquo
(p101) A autora explica que enquanto um tiacutetulo-estiacutemulo-aberto seria ldquoA televisatildeordquo o tiacutetulo-roteiro solicitaria
ldquoDescreva os efeitos positivos e negativos que a televisatildeo causa sobre os jovens da sua geraccedilatildeo Cite especialmente
os programas mais interessantes e os mais aborrecidos de que vocecirc se recorda procurando explicar os efeitos
positivos ou negativos que cada um teve no seu desenvolvimentordquo (p101-102) O que chamamos ao longo de
nosso texto de instruccedilatildeo se aproximaria mais do que Serafini chama de tiacutetulo-roteiro por jaacute determinar que
informaccedilotildees a produccedilatildeo textual deve conter poreacutem noacutes atribuiacutemos mais caracteriacutesticas ao que eacute pedido aos alunos
a cada produccedilatildeo como os comandos que determinam que gecircnero textual seraacute trabalhado a extensatildeo do texto a
audiecircncia o objetivo a temaacutetica e outros itens que devem estar presentes na produccedilatildeo conforme a aula e o moacutedulo
66
eacute interessante haver um hiato de tempo entre a primeira escrita e a revisatildeo para que as ideias
se clareiem e possam ser postas na forma apropriada
Trabalhar a abordagem da escrita como processo lanccedila luz sobre as operaccedilotildees e as
habilidades necessaacuterias agrave elaboraccedilatildeo do texto priorizando-as mais do que ao produto final
obtido o que simplifica a escrita para fins de ensino por tratar dos componentes do processo
isoladamente treinando-os separadamente
Na verdade nenhuma abordagem para o ensino da escrita eacute exclusiva A redaccedilatildeo
requer meacutetodo muacuteltiplo jaacute que envolve diferentes tipos de capacidades e habilidades E nada
substitui o bom senso do professor Assim por exemplo se ele julgar necessaacuterio reforccedilar
determinados padrotildees de texto recorrendo agrave abordagem imitativa estaraacute procedendo de forma
adequada Da mesma maneira poderaacute usar estrateacutegias de liberaccedilatildeo da linguagem na fase de
geraccedilatildeo de ideias ou reforccedilar os recursos de interaccedilatildeo verbal professor-aluno ou aluno-aluno
nas atividades de revisatildeo de textos (VIEIRA 2005 p 87)
No entanto para Vieira (2005) esse exerciacutecio em separado das habilidades da
escrita natildeo dispensa a redaccedilatildeo de textos completos devendo o professor cuidar para que o
processo de escrita natildeo perca seu caraacuteter integral devido agraves atividades fragmentadas
35 Letramento literaacuterio
Acreditamos que para o desenvolvimento de nosso trabalho eacute importante ter em
mente que para escrever melhor para saber o que inserir em seu texto o aluno deve aguccedilar seu
olhar para o que vai nos textos de outrem ndash em nosso caso os que foram escolhidos para compor
a sequecircncia ndash e como foram ditas as coisas que laacute estatildeo inseridas Dessa forma desenvolvemos
em nossos moacutedulos praacuteticas que abordam aleacutem da praacutetica da escrita como processo o
letramento literaacuterio posto que a visatildeo que o inclui extrapola as simples leituras e anaacutelises das
palavras discutindo conceitos que compotildeem o acervo cultural dos alunos a partir das ideias
presentes nos textos
Para Cosson (2016 p23) ldquoa literatura natildeo estaacute sendo ensinada para garantir a
funccedilatildeo essencial de construir e reconstruir a palavra que nos humanizardquo O autor afirma que se
pode trazer ao aluno uma experiecircncia de leitura a ser compartilhada ampliando-a com
informaccedilotildees especiacuteficas do campo literaacuterio e ateacute fora dele A maneira de ensinar precisa ser
organizada segundo os objetivos da formaccedilatildeo do aluno evidentemente mas sem o abandono
do prazer de ler Compreende assim que o letramento literaacuterio eacute uma praacutetica social e como
67
tal responsabilidade da escola que deve cumpri-la sem descaracterizaacute-la sem negar mas
confirmando o poder de humanizaccedilatildeo da literatura
Para promover o letramento literaacuterio Cosson nos conduz a questionar e
desconstruir pressuposiccedilotildees sobre leitura e literatura enraizadas no senso comum A primeira eacute
que os livros falam por si mesmos ao leitor Ora ldquoos livros como os fatos jamais falam por si
mesmos O que os fazem falar satildeo os mecanismos de interpretaccedilatildeo que usamos e grande parte
deles satildeo aprendidos na escolardquo (2016 p 26) Ensinar a explorar o texto natildeo eacute criar uma barreira
entre elas e o leitor mas ajudar o leitor a manipular os textos dominando o discurso literaacuterio
Outra pressuposiccedilatildeo eacute que ler eacute um ato solitaacuterio Para o autor mais que o
movimento individual dos olhos ler implica uma troca de sentidos o que envolve escritor
leitor e sociedade em que ambos estatildeo localizados ldquopois os sentidos satildeo resultado de
compartilhamentos de visotildees do mundo entre os homens no tempo e no espaccedilordquo (2016 p 27)
Quando compreender isto o leitor alcanccedilaraacute um real significado na leitura
Tambeacutem uma pressuposiccedilatildeo eacute a ideia de que eacute impossiacutevel expressar o que sentimos
na leitura dos textos literaacuterios Esse eacute outro equiacutevoco que trata a leitura literaacuteria como uma
atividade tatildeo individual que natildeo poderia ser compartilhada Pelo contraacuterio conforme o autor o
efeito de proximidade que o texto literaacuterio traz eacute resultado do diaacutelogo que travamos com o
mundo e com os outros inseridos que estamos em uma sociedade O que levamos ao texto eacute
mais uacutenico do que o que ele nos oferece o que explica as diferentes leituras que fazemos do
mesmo texto em diferentes etapas de nossas vidas
A uacuteltima pressuposiccedilatildeo de que trata o autor eacute que ldquoa leitura literaacuteria praticada na
escola tambeacutem chamada anaacutelise literaacuteria destruiria a magia e a beleza da obra ao revelar seus
mecanismos de construccedilatildeordquo (COSSON 2016 p 28) Para Cosson a literatura mantida ldquoem
adoraccedilatildeordquo torna-se estranha ao leitor ao passo que a leitura literaacuteria que lhe fornece ferramentas
para exploraccedilatildeo do texto o convida agrave interaccedilatildeo como um processo de comunicaccedilatildeo
O autor conclui que se quisermos formar leitores capazes de experienciar toda a
forccedila humanizadora da literatura natildeo basta apenas ler com vistas a criar um haacutebito de leitura
mas fornecer-lhes ldquoos instrumentos necessaacuterios para conhecer e articular com proficiecircncia o
mundo feito linguagemrdquo (COSSON 2016 p 30)
Nossa seleccedilatildeo de textos para a SD foi inspirada em temas que os alunos costumam
observar na vida diaacuteria Tivemos preferecircncia por textos que circulam em meio eletrocircnico
extraiacutedos de sites blogs e de redes sociais ou seja contemporacircneos e com temas atuais Cosson
(2016 p34) distingue os dois termos que normalmente satildeo usados como sinocircnimos na
68
adjetivaccedilatildeo da produccedilatildeo literaacuteria da seguinte forma ldquo[] obras contemporacircneas satildeo aquelas
escritas e publicadas em meu tempo e obras atuais satildeo aquelas que tecircm significado para mim
em meu tempo independentemente da eacutepoca de sua escrita ou publicaccedilatildeordquo
Fizemos uma seleccedilatildeo preacutevia dos textos mas agrave medida em que as aulas avanccedilavam
abrimos a perspectiva para assuntos que eram mencionados em sala e trouxemos outros textos
inclusive publicados em livros variando as autorias poreacutem mantendo ainda o dinamismo e a
contemporaneidade Esse material se encontra na seccedilatildeo correspondente
69
4 NATUREZA E PROCEDIMENTOS DA PESQUISA
Apresentaremos nas seccedilotildees seguintes a metodologia e os procedimentos adotados
em nossa pesquisa realizada em uma escola puacuteblica municipal de Satildeo Luiacutes Maranhatildeo
41 Contexto da pesquisa
A pesquisa foi desenvolvida em uma das turmas de 9ordm ano de uma unidade de
educaccedilatildeo baacutesica municipal de ensino fundamental de 1ordm a 9ordm anos A escola tem um anexo
proacuteximo onde funcionam turmas de 1ordm ano (3 salas) Situa-se na aacuterea Itaqui-Bacanga em um
bairro considerado de difiacutecil acesso por sua pouca oferta de ocircnibus no municiacutepio de Satildeo Luiacutes
capital do Maranhatildeo ilha de Upaon-Accedilu
Antes pouco populoso o bairro tem aumentado de tamanho pela chegada de
moradores alguns oriundos de diversas cidades do interior mas tambeacutem vindos de outros
bairros pois algumas melhorias para a valorizaccedilatildeo da aacuterea tecircm acontecido como a construccedilatildeo
da escola e recentemente a quadra de esportes em sua aacuterea do posto de sauacutede da associaccedilatildeo
onde ocorre a conhecida Festa da Macaxeira e mais recentemente a criaccedilatildeo de um conjunto
residencial do programa do governo federal Minha Casa Minha Vida
No turno matutino nesta escola funciona o ensino fundamental (EF) ndash anos iniciais
(1ordm ao 5ordm ano) e no vespertino o EF ndash anos finais (6ordm ao 9ordm ano) sendo 2 turmas de 6ordm ano 2
turmas de 7ordm ano 2 turmas de 8ordm ano e 1 turma de 9ordm ano
Segundo os indicadores contextuais da Prova Brasil o niacutevel socioeconocircmico da
escola estaacute em meacutedio baixo O indicador de adequaccedilatildeo da formaccedilatildeo docente6 que analisa a
formaccedilatildeo dos docentes que lecionam nos finais do EF na escola eacute 85 Observando as meacutedias
de proficiecircncia em relaccedilatildeo agraves meacutedias das escolas do Brasil do Maranhatildeo e de Satildeo Luiacutes
comparando-as agrave nossa escola temos
6 Apresenta o percentual de disciplinas em cada etapa que satildeo ministradas por professores com formaccedilatildeo superior
de Licenciatura (ou Bacharelado com complementaccedilatildeo pedagoacutegica) na mesma disciplina que leciona Fonte e site
para consulta
httpsistemasprovabrasilinepgovbrprovaBrasilResultadosviewboletimDesempenhoboletimDesempenhosea
m Acesso em 3 de janeiro de 2018
70
Graacutefico 1 ndash Resultados IDEB 2015
Fonte INEP (2018))
O graacutefico acima mostra que o desempenho da escola ficou abaixo das meacutedias de
proficiecircncia em Liacutengua Portuguesa em leitura do Paiacutes em 2015 No entanto estaacute acima das
meacutedias do estado e do municiacutepio ludovicense que apresentaram indicadores 23093 e 23915
respectivamente A escola obteve 24034 ou seja pouco mais de um ponto acima o que natildeo
deixa de ser uma conquista para a gestatildeo e o corpo docente visto todos os entraves no processo
educacional Aleacutem do que se observarmos os indicadores de proficiecircncia em LP no 9ordm ano na
escola ao longo das trecircs uacuteltimas ediccedilotildees da Prova Brasil veremos que tem havido um progresso
como constatamos a seguir
Graacutefico 2 ndash Desempenho da escola nas ediccedilotildees da Prova Brasil
Fonte INEP (2018)
215
220
225
230
235
240
245
2011 2013 2015
Desempenho da escola nas ediccedilotildees da Prova Brasil
220
225
230
235
240
245
250
255
Brasil Maranhatildeo Satildeo Luiacutes Nossa escola
Resultados IDEB 2015
71
Os niacuteveis de proficiecircncia em Liacutengua Portuguesa classificados pela Prova Brasil
satildeo 9 (nove) e avaliam a capacidade de leitura dos alunos O desempenho por niacutevel de
proficiecircncia7 da turma de 9ordm ano no IDEB8 a seguir eacute referente ao ano de 2015
Graacutefico 3 ndash Distribuiccedilatildeo percentual dos alunos do 9ordm Ano do EF por niacutevel de proficiecircncia - Liacutengua Portuguesa
Fonte INEP (2018)
Para a aplicaccedilatildeo da SD foi escolhida a turma do 9ordm ano do ano letivo de 2017 que
contava com 46 alunos no iniacutecio do ano no turno vespertino Ao longo do ano alguns alunos
trancaram matriacutecula eou foram transferidos resultando no nuacutemero de 43 alunos frequentes ao
final do ano letivo O puacuteblico tem entre 14 e 15 anos em sua maior parte Por ser uma turma
que antecede o ingresso no ensino meacutedio eacute-lhe dispensada atenccedilatildeo especial no que tange a
projetos e preparaccedilatildeo para a seleccedilatildeo na etapa posterior da Educaccedilatildeo Baacutesica
A carga horaacuteria da disciplina Liacutengua Portuguesa eacute de 5 horas-aula por semana sem
divisatildeo formal interna de assuntos havendo flexibilidade para o trabalho com leitura produccedilatildeo
textual gramaacutetica e projetos tanto internos agrave escola como parcerias externas com essa
7 Os niacuteveis de proficiecircncia descritos pelo Inep encontram-se nos anexos deste trabalho 8 IDEB eacute o Iacutendice de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica criado pelo Inep em 2007 cuja escala vai de zero a
dez O indicador eacute calculado a partir dos dados sobre aprovaccedilatildeo escolar obtidos no Censo Escolar e meacutedias de
desempenho nas avaliaccedilotildees do Inep o Saeb e a Prova Brasil A fonte e o site oficial para consulta estatildeo disponiacuteveis
em lt httpportalinepgovbrwebportal-idebgt
000
500
1000
1500
2000
2500
3000
Niacutevel 0 Niacutevel 1 Niacutevel 2 Niacutevel 3 Niacutevel 4 Niacutevel 5 Niacutevel 6 Niacutevel 7 Niacutevel 8
Distribuiccedilatildeo percentual dos alunos do 9ordm Ano do EF por niacutevel de
proficiecircncia em 2015- Liacutengua Portuguesa
Nossa escola Escolas Similares
72
A opccedilatildeo por trabalhar a pesquisa nessa turma deu-se por ser a seacuterie que se prepara
para avanccedilar para o ensino meacutedio podendo assim ter um reforccedilo em sua competecircncia
discursiva atraveacutes da praacutetica da leitura e da produccedilatildeo escrita como processo
Ao mesmo tempo eacute importante que os alunos se interessem mais e mais por leitura
e sabendo que este puacuteblico natildeo aprecia leituras longas como as dos romances por exemplo a
crocircnica literaacuteria eacute uma excelente sugestatildeo por suas temaacuteticas que em vaacuterios exemplos eacute
proacutexima da realidade do aluno aleacutem de contar com textos breves e dinacircmicos
Por fim era de interesse da escola que os alunos dessa turma saiacutessem do ensino
fundamental com seguranccedila no que se refere a produzir textos escritos em gecircneros especiacuteficos
de uso cotidiano acionando assim conhecimentos que foram aprofundados e consolidados nas
aulas de anos anteriores
42 Participantes
Os sujeitos participantes da pesquisa satildeo alunos que frequentam a turma do 9ordm ano
no turno vespertino do ano letivo de 2017 na escola da rede puacuteblica municipal de ensino de
Satildeo Luiacutes no Maranhatildeo Em sua maioria residem na aacuterea que abrange o Argola e Tambor o
Gapara a Cidade Nova e adjacecircncias A maioria dos alunos tendo em vista sua idade apenas
estuda e mora com os pais eou responsaacuteveis
Ao longo do ano letivo a turma teve algumas alteraccedilotildees em seu puacuteblico com dois
estudantes que pediram transferecircncia de escola e outro que trancou a matriacutecula Assim
frequentando efetivamente as aulas foram 43 (quarenta e trecircs) alunos No entanto dentre esses
apenas uma meacutedia de 20 (vinte) alunos se interessou em participar do projeto de escrita
A turma em si eacute caracterizada pelos proacuteprios alunos bem como por professores
como composta por um puacuteblico cuja falta de interesse e de motivaccedilatildeo de vaacuterios estudantes
prejudica aqueles que desejam realmente se dedicar A sala eacute muito cheia e devido agrave natural
predisposiccedilatildeo que tecircm os adolescentes para a distraccedilatildeo e a conversa em vaacuterios momentos eacute um
desafio para se conseguir sua atenccedilatildeo e envolvimento nas atividades Percebemos nos contatos
iniciais com a turma completa que satildeo poucos infelizmente que demonstram real empenho
em participar
73
Os alunos que optaram por integrar o projeto desenvolveram as atividades propostas
em cinco moacutedulos realizadas em 11 (onze) encontros de 2 (duas) horas-aula cada9 durante os
meses de outubro a dezembro conforme cronograma previsto
43 Materiais
O material analisado na pesquisa eacute constituiacutedo pelos textos produzidos pelos alunos
que participaram de todas as atividades desta sequecircncia Portanto para a anaacutelise consideramos
apenas 13 (treze) alunos no total
Para a composiccedilatildeo do trabalho denominamos os textos produzidos nesta SD da
seguinte forma
a) produccedilatildeo inicial A (PI-A) realizada apoacutes 3 (trecircs) encontros com um total de 4
(quatro) horasaula constando atividades de leitura de crocircnicas que serviram
como norte para a primeira escrita dos alunos fazendo uma breve sensibilizaccedilatildeo
de caracteriacutesticas do gecircnero
b) produccedilatildeo final A (PF-A) realizada apoacutes o segundo moacutedulo da sequecircncia
reescrevendo a PI-A texto sem circulaccedilatildeo social mas com o intuito de
desenvolver a competecircncia comunicativa do aluno
c) produccedilatildeo inicial B (PI-B) realizada apoacutes os moacutedulos 3 (trecircs) e 4 (quatro) jaacute
visando a circulaccedilatildeo social do texto
d) produccedilatildeo final B (PF-B) realizada apoacutes o moacutedulo 5 (cinco) quando os alunos
tivessem aperfeiccediloado sua competecircncia comunicativa escrita e se apropriado do
gecircnero estudado cumprindo o propoacutesito comunicativo da proposta de produccedilatildeo
visando a divulgaccedilatildeo do texto
Para a realizaccedilatildeo da produccedilatildeo inicial utilizamos coacutepias de uma crocircnica
acompanhada de uma proposta de produccedilatildeo elaborada de acordo com a temaacutetica do texto e
associada agrave realidade dos alunos contextualizando uma possibilidade de ligar o mundo real ao
mundo virtual e uma coacutepia da folha de produccedilatildeo textual a ser utilizada em nosso projeto
Durante o desenvolvimento dos moacutedulos da SD utilizamos coacutepias dos textos e
atividades propostas distribuiacutedas individualmente Tambeacutem foi feito o uso do quadro branco
9 Agrave exceccedilatildeo dos dois primeiros encontros de 1 horaaula cada um
74
incel e apagador e de algumas imagens impressas em folha sulfite para ilustrar o conteuacutedo de
algumas crocircnicas de acordo com o planejamento de cada encontro
Para que houvesse a etapa poacutes sequecircncia didaacutetica que corresponde agrave circulaccedilatildeo
social do texto no gecircnero produzido os alunos que desejaram realmente publicar seus escritos
dentro do gecircnero crocircnica literaacuteria produziram um material especiacutefico para tal (PF-B) a partir
da escolha de temaacuteticas que agradaram a cada um individualmente Esse material que tambeacutem
constaraacute de nossa pesquisa corresponde aos textos de 4 (quatro) alunos apenas e
apresentaremos na seccedilatildeo destinada as produccedilotildees iniciais (PI-B) uma primeira reescrita e por
fim as produccedilotildees finais (PF-B)
44 Procedimentos
Antes de aplicarmos a SD com os alunos realizamos momentos de socializaccedilatildeo da
seguinte forma explicamos a importacircncia do projeto agrave direccedilatildeo da escola aos professores e aos
pais dos alunos da turma escolhida para a execuccedilatildeo do projeto visando o fortalecimento da
proposta Com os professores foi feito um momento de reuniatildeo uma semana antes do iniacutecio do
projeto Com os pais realizamos uma reuniatildeo para a socializaccedilatildeo e igualmente para pedir seu
apoio no incentivo agrave participaccedilatildeo dos alunos Infelizmente foram poucos os pais responsaacuteveis
que compareceram agrave reuniatildeo situaccedilatildeo que ocorre normalmente quando se datildeo as reuniotildees de
pais e mestres na escola
Foram realizados 11 (onze) encontros de duas horas-aula (de cinquenta minutos
cada uma) que ocorreram entre os meses de setembro e novembro de 2017 Entre a primeira
fase que compreende a socializaccedilatildeo do projeto e a busca pela adesatildeo as primeiras leituras e a
produccedilatildeo inicial A totalizando 3 (trecircs) encontros num total de 4 horasaula e o iniacutecio da
segunda fase que compreende os moacutedulos propriamente ditos do processo de escrita ateacute a
produccedilatildeo final A num total de 3 (trecircs) encontros houve um intervalo de aproximadamente 1
(um) mecircs tempo destinado agrave apreciaccedilatildeo da PI-A anaacutelise e elaboraccedilatildeo dos moacutedulos da
sequecircncia de atividades Para a posterior culminacircncia que coloca os textos em circulaccedilatildeo social
houve mais 5 (cinco) encontros agora com um puacuteblico mais reduzido que realmente desejava
publicar suas produccedilotildees
Destinamos dois horaacuterios agraves terccedilas-feiras que estavam ociosos para os alunos pois
correspondiam aos horaacuterios das disciplinas de Arte e Ensino religioso cuja professora estava
75
afastada em virtude de uma licenccedila de sauacutede para o desenvolvimento do projeto sem alterar a
rotina das aulas de Liacutengua Portuguesa
Como primeira atividade lemos o texto Prova falsa de Stanislaw Ponte Preta (cf
Apecircndice A) com a turma completa Fizemos o exerciacutecio de interpretaccedilatildeo do texto e breve
leitura de Abandono de Animais eacute crime e precisa ser denunciado (cf Apecircndice B) uma
reportagem para que os alunos percebessem diferenccedilas entre os gecircneros (2 horasaula)
O encontro seguinte teve a leitura do texto O chato da vez de Anaximandro
Amorim (cf Apecircndice C) e atividades de interpretaccedilatildeo Dentre as questotildees havia a instruccedilatildeo
que propunha os comandos para a criaccedilatildeo de um texto em forma de crocircnica ndash com o que os
alunos puderam perceber a respeito do gecircnero durante os encontros - e a partir disso nestas 2
(duas) horasaula os alunos fizeram sua produccedilatildeo inicial10 Esses textos compotildeem a produccedilatildeo
inicial dos integrantes do projeto
Os moacutedulos elaborados para o trabalho que visavam melhorar os aspectos da escrita
dos alunos considerando o processo bem como os procedimentos de escritor compreenderam
atividades de leitura exerciacutecios de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo dos textos e de produccedilatildeo de
textos escritos mediados pela professora pesquisadora dentro do gecircnero crocircnica literaacuteria
discussotildees sobre os temas presentes nas crocircnicas aproximando-os da realidade dos alunos com
o objetivo de desenvolver nestes sua capacidade de observaccedilatildeo e reflexatildeo para a produccedilatildeo
textual
Foram apresentadas agrave turma de maneira coletiva as principais dificuldades
diagnosticadas na produccedilatildeo inicial Procuramos natildeo focalizar de iniacutecio a editoraccedilatildeo11 do texto
na folha de produccedilatildeo No entanto natildeo deixamos de trabalhar em sala elementos como o cuidado
com a pontuaccedilatildeo a paragrafaccedilatildeo e a ortografia O conteuacutedo das aulas de cada moacutedulo estaacute
descrito na seccedilatildeo correspondente
No decorrer dos moacutedulos os alunos realizaram atividades de revisatildeo e reescrita dos
seus textos observando tanto a estrutura do gecircnero quanto o seu conteuacutedo orientados pela
professora pesquisadora e tambeacutem recebendo ideias e sugestotildees dos colegas em um feedback
colaborativo Dessa forma chegaram ao seu texto final aplicando na medida de sua
10 Obs o 4ordm horaacuterio que foi escolhido para ser o momento da produccedilatildeo inicial foi prejudicado por dois fatores
O primeiro foi que o professor de educaccedilatildeo fiacutesica da escola convidou os alunos para antecipar sua praacutetica e vaacuterios
natildeo voltaram do recreio para a aula do projeto O segundo fator foi que nesse dia aconteceu uma briga com agressatildeo
fiacutesica entre uma aluna da sala e outra aluna de outra turma o que deixou a escola inteira agitada Os 20 (vinte)
alunos que permaneceram em sala para a produccedilatildeo felizmente mostraram-se interessados embora vaacuterios dissessem
que natildeo levavam jeito para escrever Apenas alguns alunos passaram a limpo seus textos 11 Ver seccedilatildeo Escrita como processo
76
conscientizaccedilatildeo os conhecimentos adquiridos e as duacutevidas esclarecidas durante a sequecircncia de
atividades
Nossa proposta incluiu a circulaccedilatildeo social dos textos para uma audiecircncia real o que
consistiu em uma culminacircncia do projeto de escrita O acordo feito com os alunos foi a
publicaccedilatildeo interna de uma versatildeo artesanalmente produzida de um livro de crocircnicas para que
pudessem marcar o momento e guardar um livro fiacutesico como recordaccedilatildeo e a publicaccedilatildeo em
suas paacuteginas pessoais na rede social Facebook plataforma que os alunos apreciam utilizar com
certa frequecircncia posto que nosso trabalho teve como material para leitura textos retirados da
internet como o proacuteprio Facebook blogs sites Para esta etapa somente cinco alunos
frequentaram assiduamente (alguns outros esporadicamente) sendo que apenas quatro
produziram um texto individual que passou pelo mesmo processo de reescrita e que teve sua
publicaccedilatildeo na plataforma e tambeacutem em um formato artesanal impresso para que suas famiacutelias
e comunidade escolar possam prestigiar o momento na tarde de autoacutegrafos
As produccedilotildees finais seratildeo analisadas no capiacutetulo a seguir em relaccedilatildeo agrave apropriaccedilatildeo
das caracteriacutesticas do gecircnero estudado bem como de sua estrutura composicional com o
objetivo de avaliar se os alunos conseguiram desenvolvecirc-la satisfatoriamente e se a estrutura e
a aplicaccedilatildeo da sequecircncia de atividades favoreceu o desenvolvimento da competecircncia textual e
discursiva dos estudantes que integraram a pesquisa de acordo com o que foi observado em
suas produccedilotildees iniciais examinando seu desempenho em ambas as produccedilotildees
Para o desenvolvimento de nossas atividades do projeto planejamos os encontros
com base nos estudos realizados a respeito do procedimento Sequecircncia Didaacutetica de Dolz
Noverraz e Schneuwly (2013) como estrateacutegia de ensino dos gecircneros textuais na proposta de
adaptaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica conduzida por Swiderski e Costa-Huumlbes (2009) na proposta
de circulaccedilatildeo social do gecircnero discursivo produzido em sequecircncias didaacuteticas de projetos
pedagoacutegicos de Lopes-Rossi (2011) e dos procedimentos das etapas de escrita como
planejamento ediccedilatildeo revisatildeo e reescrita do texto segundo Vieira (2005) e Serafini (2003)
O planejamento de nossa SD abrange 12 (doze) etapas conforme mostra a figura a
seguir
77
Figura 4 - Proposiccedilatildeo de sequecircncia didaacutetica para o projeto de escrita
Fonte Elaborado pela autora adaptado de DOLZ NOVERRAZ SCHNEUWLY (2013) SWIDERSKI COSTA-
HUumlBES (2009) LOPES-ROSSI (2011)
Nossa sequecircncia foi pensada para 2 (duas) etapas distintas Na primeira etapa A
uma produccedilatildeo textual para trabalho em sala com o mesmo tema com a expectativa de serem
colocados nos textos elementos que respondessem ao enunciado instrucional da atividade que
segue a crocircnica lida no dia na segunda etapa B uma produccedilatildeo que jaacute seria composta visando
a circulaccedilatildeo social com tema livre agrave escolha dos alunos a partir das discussotildees sobre o que
pode ser tema de uma crocircnica
Pela necessidade de uma SD mais completa inserimos ao modo de Swiderski e
Costa-Huumlbes entre a apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e a produccedilatildeo inicial um moacutedulo
de reconhecimento do gecircnero E apoacutes o teacutermino de nossa SD inserimos ao modo de Lopes-
Rossi um moacutedulo para a divulgaccedilatildeo social dos textos
441 Primeira etapa da apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo agrave produccedilatildeo inicial
Entre a apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo e a produccedilatildeo inicial (PI) utilizamos 4 (quatro)
horas-aula No primeiro encontro fizemos no 1ordm (primeiro) horaacuterio a socializaccedilatildeo do projeto
com os alunos e incentivamos a adesatildeo expondo as vantagens de trabalharmos o aprendizado
de um gecircnero como a crocircnica em forma de sequecircncia de aulas e atividades Natildeo houve
manifestaccedilatildeo de unanimidade de interesse em participar do projeto Na realidade apenas
metade da sala pareceu desejar integrar o projeto Quando perguntados sobre o motivo que natildeo
os animava vaacuterios responderam ldquopreguiccedila de ler professora preguiccedila de escrever professora
ah eu natildeo gosto de ler muito natildeo Leio porque sou obrigada e natildeo vale nem nota mesmordquo
Apresentaccedilatildeo
da Situaccedilatildeo
Produccedilatildeo
Inicial A
Produccedilatildeo
Final A
Moacuted
ulo 1
Moacuted
ulo 2
Moacuted
ulo 3
Circulaccedilatildeo social
das produccedilotildees B Moacuted
ulo 4 Produccedilatildeo
Inicial B
Moacuted
ulo 5 Produccedilatildeo
Final B
Moacutedulo de
reconheci
mento
78
Apesar da inicial resistecircncia de boa parte da sala colocamos aos alunos as
vantagens de sua participaccedilatildeo visto que a principal finalidade da sequecircncia de atividades seria
o desenvolvimento de sua competecircncia escrita por meio da aprimoraccedilatildeo de suas habilidades
leitoras oportunidade de ampliaccedilatildeo da criatividade e desenvolvimento das habilidades e
procedimentos de escritor como o planejamento das ideias a releitura a revisatildeo a reescrita ndash
que sabemos natildeo fazem parte da rotina dos alunos salvo raras exceccedilotildees ndash utilizando como
base o estudo das caracteriacutesticas do gecircnero textual crocircnica literaacuteria
No horaacuterio seguinte com a turma completa iniciamos o moacutedulo de reconhecimento
realizando a leitura do texto Prova falsa de Stanislaw Ponte Preta Leitura silenciosa seguida
de leitura em voz alta por parte da professora-pesquisadora poreacutem sem realizar a atividade que
acompanhava o texto Comeccedilamos a trabalhar com a turma algumas caracteriacutesticas que a
sensibilizariam para o gecircnero como a presenccedila de um tiacutetulo interessante para a criaccedilatildeo de um
texto a partir de uma situaccedilatildeo do cotidiano e que o cronista resolveu contar ao leitor ao bom
humor e agrave leveza das palavras trazidas no texto
No segundo encontro com 1 hora-aula na semana seguinte fizemos a continuaccedilatildeo
da aula anterior no primeiro horaacuterio realizando o exerciacutecio de interpretaccedilatildeo do texto Prova
Falsa No horaacuterio seguinte realizamos breve leitura do texto Abandono de Animais eacute crime e
precisa ser denunciado para que os alunos percebessem a diferenccedila entre a crocircnica e a
reportagem embora ambas falassem cada uma a seu modo de criaccedilatildeo de animais de estimaccedilatildeo
Chegamos aos terceiro encontro com 2 (duas) hora-aula e realizamos a leitura do
texto O chato da vez de Anaximandro Amorim (cf Anexo D) No 1ordm horaacuterio destinado a nossas
aulas tudo transcorreu relativamente normal com a turma completa lendo e realizando parte
das atividades Poreacutem nossa Produccedilatildeo Inicial deveria acontecer apoacutes o recreio pois a
organizaccedilatildeo da grade de horaacuterios compreendia 1 hora-aula antes do recreio e a 1 hora-aula
seguinte apoacutes o recreio
Esse horaacuterio que foi escolhido para ser o momento da PI foi prejudicado por dois
fatores O primeiro foi que o professor de educaccedilatildeo fiacutesica12 da escola convidou os alunos para
antecipar sua praacutetica e vaacuterios natildeo voltaram do recreio para a aula do projeto O segundo fator
foi que nesse dia aconteceu uma briga com agressatildeo fiacutesica entre uma aluna da sala e outra aluna
de outra turma o que deixou a escola inteira agitada Os 20 (vinte) alunos que permaneceram
12 O professor de educaccedilatildeo fiacutesica natildeo estava presente na reuniatildeo de socializaccedilatildeo do projeto com os professores e
por isso natildeo sabia que a professora-pesquisadora ocuparia aquele horaacuterio que estava ocioso para os alunos
79
em sala para a produccedilatildeo felizmente mostraram-se interessados embora vaacuterios dissessem que
natildeo levavam jeito para escrever
Demos prosseguimento agrave atividade que acompanha o texto O chato da vez
realizando a instruccedilatildeo de produccedilatildeo do quesito 7 (sete) Os alunos receberam uma folha de
produccedilatildeo e foram orientados a primeiro escrever seu rascunho em folha agrave parte e somente
quando terminassem passar seu texto para a folha de produccedilatildeo A maioria escreveu diretamente
na FP Apenas alguns alunos fizeram um breve rascunho e depois passaram a limpo seus textos
O que buscamos detectar nessas primeiras produccedilotildees (PI-A) sem o devido
aprofundamento das caracteriacutesticas da crocircnica literaacuteria apenas com as leituras e as atividades
de sensibilizaccedilatildeo no moacutedulo de reconhecimento do gecircnero a partir da instruccedilatildeo de produccedilatildeo
foram os itens a seguir
i) quantos textos jaacute deram sinais de que os alunos entenderam o que eacute a ldquoconversa
com o leitorrdquo e a expressaram em marcas linguiacutesticas
ii) quantos atenderam ao perfil da audiecircncia solicitada na instruccedilatildeo
iii) quantos se mantiveram no tema discutido
iv) quantos partiram de uma situaccedilatildeo vividaobservada para compor seu texto
v) quantos narraram essa situaccedilatildeo de forma clara para que o leitor pudesse
acompanhar
vi) quantos atenderam agrave instruccedilatildeo quanto agrave presenccedila de tiacutetulo e ao nuacutemero de
paraacutegrafos
Trataremos em seccedilatildeo posterior correspondente agrave anaacutelise sobre estes resultados
442 Segunda etapa desenvolvimento dos moacutedulos
Aproximadamente 1 (um) mecircs apoacutes a apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo e a produccedilatildeo inicial
que foram realizadas em 4 (quatro) encontros o desenvolvimento dos moacutedulos foi iniciado A
partir de entatildeo foram realizados 8 (oito) encontros de 2 (duas) horas-aula cada um Foram
cinco moacutedulos com atividades diversas que trabalharam fundamentalmente o planejamento
das ideias a organizaccedilatildeo e a revisatildeo do texto aleacutem da reescrita que eacute a ponte para a produccedilatildeo
final O trabalho desenvolvido nos moacutedulos estaacute sintetizado no quadro a seguir e seratildeo
detalhados os procedimentos das aulas nos toacutepicos seguintes
80
Quadro 4 ndash Moacutedulos desenvolvidos na sequecircncia didaacutetica (SD)
MOacuteDULOS TEMA FINALIDADE ATIVIDADE NUacuteMERO
DE AULAS
Moacutedulo 1 A mateacuteria da
crocircnica
Abstrair a partir da
leitura a situaccedilatildeo que
pode ter gerado as
crocircnicas
Leitura dos textos
Realizaccedilatildeo das atividades de
interpretaccedilatildeo
Identificaccedilatildeo das situaccedilotildees
que geraram as crocircnicas
Observaccedilatildeo da construccedilatildeo da
narraccedilatildeo
4 horas-aula
Moacutedulo 2
Releitura e
reescrita da PI-
A
Revisar o conteuacutedo e a
estrutura das crocircnicas
produzidas (PI-A) a fim
de reescrevecirc-las fazendo
as modificaccedilotildees
necessaacuterias eou sugeridas
adequando-as agrave instruccedilatildeo
Conversa sobre as
dificuldades observadas nas
primeiras produccedilotildees Releitura
das produccedilotildees iniciais
individualmente e em duplas
para feedback colaborativo
Reescrita da crocircnica
2 horas-aula
Moacutedulo 3
A opiniatildeo e a
descriccedilatildeo na
crocircnica
Observar a realidade do
seu entorno e tambeacutem de
ouvir as opiniotildees das
pessoas que habitam esse
ambiente
Leitura do texto
Realizaccedilatildeo das atividades de
interpretaccedilatildeo
Atividade de coleta de
impressotildees de algueacutem
proacuteximo Confronto ou
associaccedilatildeo com suas proacuteprias
opiniotildees Observaccedilatildeo de
elementos e situaccedilotildees do
proacuteprio cotidiano
Uso criativo das palavras
reflexatildeo sobre linguagem
conotativa
Elaboraccedilatildeo de um pequeno
texto
2 horas-aula
Moacutedulo 4
A linguagem
criativa e a
verossimilhanccedila
na crocircnica
Produccedilatildeo
inicial do texto
para publicaccedilatildeo
ndash PI-B
Observar as formas
criativas de narrar o
cotidiano
Leitura do texto
Realizaccedilatildeo das atividades de
interpretaccedilatildeo Discussatildeo sobre
verossimilhanccedila
2 horas-aula
Moacutedulo 5
Revisatildeo e
reescrita do
texto para
publicaccedilatildeo ndash
PI-B
Observar os elementos
estudados ao longo dos
moacutedulos na PI-B
Leitura dos textos Feedback
colaborativo Releitura da PI-
B Exerciacutecio de topicalizaccedilatildeo
4 horasaula
Fonte Elaborado pela autora
Nos itens a seguir apresentamos o relato da aplicaccedilatildeo dos moacutedulos bem como as
atividades correspondentes a cada um em uma turma de 9ordm ano de uma escola puacuteblica municipal
em Satildeo Luiacutes no 4ordm (quarto) bimestre do ano letivo de 2017
a) Moacutedulo 1 ndash quarto e quinto encontros ndash 4 (quatro) horas-aula
81
A partir da leitura dos textos Manias e Pacto apoacutes morte natildeo podia ver faca (cf
Anexo E) os alunos praticaram o exerciacutecio de observaccedilatildeo e abstraccedilatildeo da situaccedilatildeo que pode ter
gerado essas crocircnicas
Neste dia foi feita a leitura da crocircnica Manias Os alunos puderam refletir a partir
das questotildees de interpretaccedilatildeo e anaacutelise do texto sobre o que satildeo manias e viram tambeacutem que
elas natildeo satildeo exclusividade de pessoas idosas Na verdade concluiacuteram que basta o ser humano
estar vivo independentemente da idade que tenha para comeccedilar a calcar camadas e mais
camadas de comportamentos que mais adiante se tornaratildeo manias Natildeo houve tempo
disponiacutevel para os alunos comporem um texto a respeito da mateacuteria manias e os alunos pediram
para fazer em casa No entanto na aula seguinte ningueacutem apresentou o texto
Para o encontro seguinte que correspondia ao dia das bruxas a crocircnica escolhida
para leitura que tomou o primeiro horaacuterio foi Pacto poacutes-morte natildeo podia ver faca de Nonato
Reis por ser de gosto dos alunos dessa faixa etaacuteria histoacuterias de fantasmas misteacuterios e lendas
Nossa atividade foi bastante interessante pois todos que estavam na sala entraram no ritmo
daqueles causos contados em prosa pelo jornalista Nonato Reis O segundo horaacuterio foi
direcionado agrave atividade de leitura e interpretaccedilatildeo da crocircnica em que os alunos puderam
observar o ponto de vista do narrador as situaccedilotildees que deram origem e suporte agrave construccedilatildeo da
crocircnica aprenderam vocaacutebulos novos e ainda puderam soltar um pouco da imaginaccedilatildeo e
criatividade pensando em como eles mesmos fariam seus pactos com algueacutem ndash e constatamos
que vaacuterios querem mais eacute que seus contratantes se assustem em vida caso os alunos partam
primeiro
Ao final da leitura ainda exercitamos uma breve retextualizaccedilatildeo se fosse para
compor uma manchete de jornal como eles poderiam criar uma frase de impacto para o leitor
que tivesse relaccedilatildeo com o texto Um dos alunos sugeriu ldquoHomem faz pacto e menino vem
buscarrdquo
b) Moacutedulo 2 ndash sexto encontro ndash 2 (duas) horas-aula
Este encontro foi destinado para releitura da primeira produccedilatildeo feita (PI-A) O
procedimento inicial foi a tempestade de ideias sobre o que eacute ser chato e o que eacute ser legal cujo
registro dessas caracteriacutesticas noacutes construiacutemos na lousa sendo a professora-pesquisadora como
escriba Em seguida entregamos aos participantes do projeto seus textos
De iniacutecio vaacuterios disseram gostar do proacuteprio texto poreacutem quando a professora-
pesquisadora passou de carteira em carteira pedindo que lessem em voz meacutedia de modo a
apenas o proacuteprio aluno e a professora poderem escutar ele mesmo se dava conta de que havia
82
algo a consertar Em alguns casos faltava o diaacutelogo com o leitor noutros uma situaccedilatildeo que
explicasse o porquecirc de algueacutem ser considerado chato ou legal Eacute a tal situaccedilatildeo do leitor na
histoacuteria Natildeo daacute pra jogar em cima dele soacute o resultado Tem que mostrar de onde partiram as
conclusotildees Assim demos uma folha sulfite em branco para que os alunos registrassem seus
rascunhos suas ideias por mais que as considerassem absurdas e daiacute pudessem extrair o que
iria compor o novo texto Fomos bem claras ao falar da importacircncia de tomar notas elas servem
como um prolongamento da memoacuteria (SERAFINI 2003)
Apoacutes esse registro os alunos tiveram a liberdade de escolher sentar em dupla ou
trio e foram lendo seus proacuteprios textos e o dos colegas para se inspirar ou dar sugestotildees uns
aos outros num feedback colaborativo enquanto a professora-pesquisadora permanecia dando
assistecircncia de um por um Infelizmente natildeo conseguimos sentar com todos para dar o devido
retorno individual sendo alguns apenas por orientaccedilatildeo coletiva e outros por bilhetinho com
questotildees gerais
Entatildeo pegamos o texto O chato da vez fizemos mais uma leitura e de novo
revimos a questatildeo 7 que eacute a instruccedilatildeo da produccedilatildeo Entatildeo os alunos receberam a folha de
produccedilatildeo e assim fizeram a reescrita (PF-A)
c) Moacutedulo 3 ndash seacutetimo encontro ndash 2 (duas) horas-aula
A partir da leitura da crocircnica A cara da rua (cf Apecircndice F) os alunos fizeram o
exerciacutecio praacutetico de observar a realidade do seu entorno sensibilizando-se a partir do uso da
descriccedilatildeo na crocircnica literaacuteria e tambeacutem de ouvir as opiniotildees das pessoas que habitam esse
ambiente
Houve uma alteraccedilatildeo no quadro do horaacuterio da escola o que colocou os encontros
do projeto para o 4ordm e o 5ordm horaacuterios As aulas passaram assim a natildeo ter uma quebra em seu
ritmo visto que anteriormente eram dois horaacuterios sendo um antes do recreio e o outro depois
A dificuldade enfrentada na aplicaccedilatildeo deste dia foi que alguns dos alunos que
integram o projeto se atrasaram visto que foi um dia atiacutepico na programaccedilatildeo da escola
Correspondeu este dia agrave visitaccedilatildeo da 11ordf FeLiS a Feira do livro de Satildeo Luiacutes realizada no
centro histoacuterico da cidade na Praia Grande Portanto neste dia natildeo fizemos uma releitura dos
textos que jaacute comeccedilaram a ser reescritos
Fizemos a leitura do texto A cara da rua de Marcelo Xavier discutimos as questotildees
e com os alunos (mesmo os que chegaram atrasados) foi feito o acordo da realizaccedilatildeo da uacuteltima
questatildeo que eacute fazer a leitura do texto para algueacutem em casa e anotar as impressotildees que a pessoa
teve ao ouvir a crocircnica
83
O objetivo desta atividade foi despertar nos alunos a consciecircncia de que uma
crocircnica bem escrita causa alguma reaccedilatildeo em seu leitor uma reflexatildeo uma emoccedilatildeo Aleacutem disso
eles observaram o modo de descrever empregado pelo autor ao longo dos paraacutegrafos usados na
caracterizaccedilatildeo da rua Utilizamos como material para essa aula figuras impressas da moda que
mostravam ao longo das deacutecadas as mudanccedilas citadas no texto
Neste dia tambeacutem os alunos anotaram os fundamentos que devem estar presentes
no texto que eles escrevem uma espeacutecie de quadro autoavaliativo13 criado a partir das
caracteriacutesticas dos textos estudados
d) Moacutedulo 4 ndash oitavo encontro ndash 2 (duas) horas-aula
O encontro comeccedilou retomando a atividade da aula anterior que era fazer a leitura
do texto para algueacutem em casa e anotar as impressotildees que a pessoa teve ao ouvir a crocircnica
Apenas uma aluna realizou a atividade poreacutem foi interessante visto que a opiniatildeo coletada deu
espaccedilo para a discussatildeo sobre a liberdade de expressatildeo fosse no vestuaacuterio no comportamento
ou mesmo no vocabulaacuterio das pessoas que integram a cara da rua
A aula do dia foi direcionada a conhecer mais algumas crocircnicas Amor de Macumba
e Sr Google Pacheco (cf Apecircndice G) para que os alunos pudessem observar e compreender
melhor de que situaccedilotildees observadasvivenciadas partiram os textos podendo ser inesperadas
eou ateacute pitorescas Apoacutes a escuta dos textos cuja leitura foi realizada pela professora-
pesquisadora foram trabalhadas oralmente as questotildees de compreensatildeo e identificadas as
situaccedilotildees geradoras das crocircnicas em questatildeo (independentemente de serem reais ou natildeo)
compreendendo melhor o que eacute verossimilhanccedila
Ao final desse momento os alunos falaram de vaacuterios assuntos que poderiam se
tornar temas de textos Copiamos no quadro e eles nos cadernos Eram temas do cotidiano
como assalto relaccedilotildees sociais vida de youtuber bullying fome cujas situaccedilotildees jaacute
observadasvivenciadas poderiam render uma reflexatildeo
Aparentemente a dificuldade maior dos alunos estava em expressar essa situaccedilatildeo
sem que parecesse um diaacuterio iacutentimo como diaacuterio ou memoacuterias pois a natural disposiccedilatildeo de
seus textos traz uma sequecircncia narrativa um relato de emoccedilotildees pessoais poreacutem natildeo
necessariamente conduzia o leitor a uma reflexatildeo embora por vezes pausasse a narraccedilatildeo e
interagisse com o leitor por meio de perguntas ndash conforme mostrado nas crocircnicas lidas ao longo
do projeto
13 Cf seccedilatildeo de Anaacutelises
84
O foco foi entatildeo ajudar os alunos a desprender-se da aura de criacutetica ou de diaacuterio
iacutentimo em seus textos permitindo-lhes atribuir um ar de narrar os fatos podendo aumentar as
situaccedilotildees conduzindo seu leitor sem sobrecarregaacute-lo com queixumes lamentos criacuteticas ferinas
ou aquele ldquoar de moral da histoacuteriardquo
Como a discussatildeo havia tomado bastante tempo da aula os alunos pediram para
trazer o texto depois Resolvemos propor entatildeo o envio por um meio digital O escolhido foi
o Whatsapp e a produccedilatildeo seria impressa e entregue entre os colegas para leitura coletiva e
apreciaccedilatildeo etapa fundamental para o moacutedulo seguinte
e) Moacutedulo 5 ndash nono encontro ndash 2 (duas) horas-aula
Quatro alunos me mandaram seus textos (Ana Rodrigo Eduardo Estela) A
expectativa da aula do dia era que os alunos lessem as proacuteprias produccedilotildees e as colocassem para
apreciaccedilatildeo dos colegas relessem lessem juntos encontrassem os erros aceitassem as
sugestotildees O trabalho da professora pesquisadora foi inicialmente ir de dupla em dupla para
orientar E assim fizemos o trabalho
Utilizamos como material para essa aula os textos enviados impressos e um tablet
para visualizaccedilatildeo e se desejassem atualizaccedilatildeo de algum trecho do texto Cada aluno autor teve
seu momento de visualizaccedilatildeo na tela e de certo modo foi um choque ver no tablet os erros
ortograacuteficos e as sugestotildees de pontuaccedilatildeo que o aplicativo Word sugeria O aluno Eduardo foi o
mais surpreso pois em seu texto soacute de ortografia e pontuaccedilatildeo havia 22 erros fora as sugestotildees
que o Word corrigia Apesar disso o aluno natildeo desanimou aceitando sugestotildees do aplicativo e
tambeacutem dos colegas e da professora-pesquisadora
Houve o momento da leitura em conjunto e este foi fundamental para trabalharmos
a paragrafaccedilatildeo A professora-pesquisadora lia em voz alta para os alunos eles acompanhavam
o pensamento criando a imagem mental dos fatos corridos e quando havia quebra na
sequecircncia eles mesmos estranhavam e identificavam fazendo sugestotildees de alteraccedilatildeo Isso foi
feito com cada texto
Os temas para a produccedilatildeo do texto publicado foram escolhidos pelos proacuteprios
alunos Diferentemente da PI-A que foi induzida pela instruccedilatildeo aqueles que se dedicaram a
escrever por prazer desenvolveram mais o gosto por entender e reler o proacuteprio texto dando
valor tambeacutem agrave apreciaccedilatildeo dos colegas natildeo apenas da professora
Os quatro alunos que produziram texto para o livro disseram que passaram a prestar
mais atenccedilatildeo a ortografia e acentuaccedilatildeo embora reconheccedilam que natildeo dominam adequadamente
85
ainda Nesse momento consideramos fundamental conscientizar-lhes que esse domiacutenio eacute um
processo e pode durar a vida inteira
f) Moacutedulo 6 ndash deacutecimo encontro ndash 2 (duas) horas-aula
A aula do dia foi dedicada agrave revisatildeo e discussatildeo final dos textos de Ana Rodrigo
Eduardo e Estela Apoacutes a leitura individual e novas sugestotildees sentamos em ciacuterculo e
registramos em voz alta no celular durante uns 20 minutos uma pequena avaliaccedilatildeo do projeto
e avaliaccedilatildeo pessoal em forma de grupo focal Apenas uma aluna dentre os seis que estavam
presentes se recusou a falar Ela mesma afirmou ldquoprofessora eu nunca falo eu natildeo gosto de
falarrdquo A pauta foi a seguinte
i) Uma breve avaliaccedilatildeo do projeto
- vocecirc gostou das aulas
- o que foi um ponto positivo
- e um desafio
- o que vocecirc sugere para um proacuteximo projeto
ii) Uma breve avaliaccedilatildeo pessoal
- vocecirc aprendeu algo que natildeo sabia antes
- mudou alguma coisa nos seus procedimentos em relaccedilatildeo agrave leitura e agrave escrita
- fale um pouco sobre isso
A opiniatildeo dos alunos seraacute tratada na seccedilatildeo seguinte ao longo da avaliaccedilatildeo do
projeto
443 Terceira etapa produccedilatildeo final
Neste dia relemos as primeiras produccedilotildees que os alunos fizeram de maneira
coletiva Foi unacircnime o descontentamento com os textos pois concluiacuteram que estava tudo
muito longe de ter caracteriacutesticas de crocircnica Aproveitamos tambeacutem para ler o texto de um
aluno e fazer um exerciacutecio de topicalizaccedilatildeo a fim de instrumentalizaacute-los com uma uacutetil
ferramenta de anaacutelise das partes do texto detectando as ideias que o compotildeem comparando ao
comando de produccedilatildeo que foi dado naquele momento da PI e percebendo que ideias faltam para
completar a instruccedilatildeo pedida Fora isso os alunos perceberam que havia muitos erros
ortograacuteficos e disseram que achavam interessante se pudessem para todos os textos escrever
em aplicativos de celular ou programas de ediccedilatildeo de texto como o Word para que as correccedilotildees
mais baacutesicas jaacute fossem automaticamente realizadas
86
444 Quarta etapa circulaccedilatildeo social dos textos
A circulaccedilatildeo social dos textos eacute parte de nossa proposta para a sequecircncia didaacutetica
Como o objetivo maior foi o de contribuir para o aperfeiccediloamento das habilidades de escrita
desenvolvendo procedimentos de escritor fugindo agrave praacutetica que os alunos normalmente tecircm
que eacute de fazer um texto sem os devidos cuidados apenas visando nota para entregar ao
professor contamos que essas produccedilotildees foram de grande valia aos que permaneceram ateacute o
final de nosso projeto
O livro artesanal foi produzido e no dia da cerimocircnia de formatura dos alunos do
9ordm ano foi tornado puacuteblico mostrado aos outros alunos familiares e comunidade escolar
presente O livro conteacutem as produccedilotildees dos 4 (quatro) alunos e mais as crocircnicas lidas ao longo
das aulas Aleacutem disso cada um publicou seu texto em sua paacutegina do Facebook
87
5 ANAacuteLISE DA SEQUEcircNCIA REFLEXOtildeES
Este capiacutetulo eacute destinado a discussatildeo e anaacutelise dos dados coletados quando de antes
da aplicaccedilatildeo dos moacutedulos (produccedilatildeo inicial) e depois do desenvolvimento destes (produccedilatildeo
final) a fim de verificarmos o desempenho dos alunos e certificar que o desenvolvimento de
nossa SD proposta para o desenvolvimento da competecircncia escrita dos alunos do 9ordm ano do
ensino fundamental pode propiciar-lhes progressos nas habilidades de produccedilatildeo de seus textos
Apresentamos aqui os principais dados da pesquisa como nuacutemero de alunos
participantes em cada etapa de produccedilatildeo nuacutemero de estudantes que participaram de todas as
atividades e principais dificuldades quanto aos elementos constitutivos do gecircnero trabalhado
Para a anaacutelise das versotildees produzidas pelos alunos que participaram de todos os encontros
fazendo o comparativo entre a PI e a PF partimos das categorias do gecircnero crocircnica literaacuteria
trabalhadas durante a SD Deste modo veremos as seccedilotildees destinadas a analisar os elementos
constitutivos presentes nos textos
A anaacutelise dos dados considerou as hipoacuteteses levantadas no iniacutecio da pesquisa que
recapitulamos
a) eacute possiacutevel motivar os alunos a escrever ao desenvolver com eles atividades
voltadas para os diferentes subprocessos e habilidades envolvidos no ato de
redigir
b) o ensino da composiccedilatildeo do gecircnero crocircnica literaacuteria contribuiraacute para minimizar
dificuldades observadas nos textos dos alunos do 9ordm ano como nos planos
morfossintaacutetico e semacircntico aleacutem de lhes propiciar o desenvolvimento da
competecircncia escrita em textos escritos
c) apoacutes a realizaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica proposta ao compararmos as produccedilotildees
inicial e final dos alunos verificaremos um desempenho mais satisfatoacuterio em
relaccedilatildeo agrave competecircncia discursiva realizada no gecircnero crocircnica
Da primeira hipoacutetese consideramos para a elaboraccedilatildeo das atividades e o
planejamento dos encontros trabalhar os subprocessos da escrita geraccedilatildeo e organizaccedilatildeo de
ideias planejamento do texto rascunho escrita releitura revisatildeo reescrita ateacute o passo da
publicaccedilatildeo agrave audiecircncia pretendida Esses passos auxiliaram os alunos a desenvolver melhor
seus textos apoacutes a revisatildeo quando os comparamos aos seus primeiros textos conforme a anaacutelise
dos dados Inclui tambeacutem este momento a motivaccedilatildeo de modo que quanto maior o domiacutenio
das habilidades mais confiantes os alunos ficavam e consequentemente mais motivados
88
Buscamos identificar nos textos dos alunos os avanccedilos referentes agrave apropriaccedilatildeo do
gecircnero crocircnica literaacuteria a partir dos textos escolhidos para servir-lhes de modelo para a
produccedilatildeo Relatamos aqui tambeacutem as dificuldades trabalhadas com eles durante os moacutedulos e
que foram aperfeiccediloadas Aleacutem das dificuldades composicionais relatamos ao longo do
capiacutetulo as dificuldades quanto agrave participaccedilatildeo no projeto aplicado
51 Participaccedilatildeo dos alunos na pesquisa
A sala de aula escolhida para aplicaccedilatildeo do projeto de produccedilatildeo escrita de crocircnicas
literaacuterias foi uma turma de 9ordm ano vespertino em uma escola puacuteblica do municiacutepio de Satildeo Luiacutes
Maranhatildeo Os alunos frequentes totalizavam no ano letivo de 2017 43 (quarenta e trecircs) No
entanto ao final de nosso projeto tivemos um resultado de produccedilotildees que visavam agrave circulaccedilatildeo
social do texto no gecircnero que corresponde a menos de 10 (dez por cento) do total da classe
Graacutefico 4 ndash Nuacutemero de alunos do 9ordm ano
Fonte Produzido pela autora
Podemos dizer que a SD teve duas partes no tocante agrave participaccedilatildeo dos alunos No
primeiro 19 (dezenove) alunos produziram a PI-A havendo oscilaccedilatildeo da presenccedila nas
atividades ateacute a reescrita a PF-A No entanto selecionamos as produccedilotildees apenas dos que
participaram de todos os encontros que foram 13 (treze) alunos e que produziram a PF-A
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
Nuacutemero de alunos
Nuacutemero de alunos no 9ordm ano
Alunos regularmente frequentes
Alunos que produziram o texto para a professora-pesquisadora como audiecircncia
Alunos que produziram texto para circulaccedilatildeo social com audiecircncia real
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No segundo momento visando a publicaccedilatildeo dos textos o nuacutemero de alunos
presentes caiu vertiginosamente finalizando o projeto de aplicaccedilatildeo da SD com 6 alunos
frequentes sendo que apenas 4 (quatro) produziram o texto para circulaccedilatildeo social constando a
PI-B e a PF-B Segundo os alunos da turma o fato de natildeo valer nota associado ao item do
termo de compromisso que diz que a qualquer momento o aluno poderia deixar de participar
sem qualquer prejuiacutezo fez com que alguns alunos deixassem de querer frequentar ldquoporque eu
natildeo gosto de escrever professorardquo acabando por ldquocontagiarrdquo outros alunos a querer sair mais
cedo da sala de aula abandonando assim o projeto aplicado ldquomas pelo menos a senhora jaacute tem
um texto natildeo eacuterdquo
Dessa forma totalizamos 26 (vinte e seis) textos analisados 2 (dois) de cada
participante na primeira parte e 4 (quatro) dos quatro alunos que tiveram seus textos publicados
no livro artesanal e na plataforma online
Graacutefico 5 ndash Participaccedilatildeo nas produccedilotildees
Fonte Produzido pela autora
Como vimos 13 (treze) alunos realizaram a PF-A e 4 (quatro) a PF-B Nosso
projeto de produccedilatildeo escrita de crocircnicas literaacuterias contou com 11 (onze) encontros efetivos num
total de 20 (vinte) horasaula A participaccedilatildeo da turma ocorreu da seguinte forma
0
5
10
15
20
PI-A PF-A PI-B PF-B
Participaccedilatildeo nas produccedilotildees
Produccedilatildeo a partir de instruccedilatildeo Produccedilatildeo para publicaccedilatildeo
90
Graacutefico 6 ndash Alunos presentes por encontro
Fonte Produzido pela autora
Quanto agrave participaccedilatildeo nos encontros nos quais desenvolvemos os moacutedulos a maior
participaccedilatildeo ocorreu no 1ordm (primeiro) e no 4ordm (quarto) encontros No 9ordm (nono) encontro tivemos
a menor quantidade de alunos O uacuteltimo encontro contou com 7 (sete) alunos
52 Anaacutelise da apropriaccedilatildeo de caracteriacutesticas do gecircnero crocircnica literaacuteria
Nosso objetivo com esta pesquisa foi de contribuir para o desenvolvimento da
competecircncia escrita dos alunos de 9ordm ano a partir da proposta da aplicaccedilatildeo de uma sequecircncia
didaacutetica para a produccedilatildeo de textos escritos em uma turma deste niacutevel utilizando para tal o
gecircnero crocircnica literaacuteria A sequecircncia foi desenvolvida no 2ordm semestre do ano letivo de 2017
Para verificar o desempenho dos alunos nos textos escritos antes e apoacutes a aplicaccedilatildeo
da SD buscando comprovar sua eficiecircncia como uma proposta para o ensino de produccedilatildeo de
textos e o desenvolvimento da competecircncia escrita dos alunos procedemos a anaacutelise do corpus
de produccedilotildees a fim de verificar se a construccedilatildeo do texto de alunos do 9ordm ano corresponde de
algum modo aos exemplos de crocircnicas apresentados na primeira parte da sequecircncia didaacutetica
Essa produccedilatildeo A corresponde ao trabalho com 13 alunos (como jaacute informado na
seccedilatildeo 4411) em 3 (trecircs) encontros com duraccedilatildeo de 6 (seis) horasaula e leitura de duas
crocircnicas ineacuteditas para os alunos (Manias e Pacto apoacutes morte) e atividades correspondentes e
mais a releitura de O chato da vez releitura da instruccedilatildeo e releitura das PI-A
0
5
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25
30
35
40
Alunos presentes por encontro
Nordm de alunos
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Nossa primeira parte da sequecircncia em que preparamos os alunos para a produccedilatildeo
do primeiro texto do gecircnero com um miacutenimo de caracteriacutesticas tratou de mostrar exemplos do
que se pode esperar em uma crocircnica fornecendo um miacutenimo de elementos para que atraveacutes de
uma abordagem imitativa os alunos fizessem o seu texto PI-A
Para a reescrita ou PF-A a fim de auxiliar nossos alunos fomos construindo ao
longo do periacuteodo de aplicaccedilatildeo das aulas um quadro autoavaliativo que resultou nos itens
expostos no quadro a seguir
Quadro 5 ndash Quadro autoavaliativo
Seu texto Sim Natildeo
Partiu de uma situaccedilatildeo observadavivida
Conversa com o leitor
Possui o foco narrativo bem determinado (narrador personagem ou
narrador observador)
Leva o leitor a refletir
Causa impressotildees no leitor como riso choro reflexatildeo emoccedilatildeo
satisfaccedilatildeo
Possui um final interessante
Mostra discretamente ao leitor seu ponto de vista a respeito da situaccedilatildeo
Possui alguma descriccedilatildeo de lugarobjetopersonagem
Possui um tiacutetulo
Apresenta os acontecimentos de forma clara
Emprega adequadamente os sinais de pontuaccedilatildeo
Evita repeticcedilatildeo desnecessaacuteria de palavras
Possui paraacutegrafos bem organizados
Fonte Elaborado pela autora
O quadro nasceu da observaccedilatildeo das caracteriacutesticas constantemente presentes em
produccedilotildees de alunos com os quais trabalhamos A proposta era que os integrantes do projeto
avaliassem os proacuteprios textos atentando para estes aspectos mais baacutesicos
Desta forma vamos proceder a anaacutelise com a observaccedilatildeo da apropriaccedilatildeo das
caracteriacutesticas trabalhadas do gecircnero crocircnica literaacuteria sob uma oacutetica do processo de produccedilatildeo
oferecendo uma abordagem imitativa de produccedilatildeo de textos nas produccedilotildees iniciais e finais A
de 13 (treze) alunos cuja identificaccedilatildeo estaacute no quadro a seguir
Quadro 6 ndash Identificaccedilatildeo dos textos A dos alunos
Identificaccedilatildeo textoautor Tiacutetulo PI Tiacutetulo PF
Ana Ser chato ou natildeo ser eis a
questatildeo
Ser chato ou natildeo ser eis a
questatildeo
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Rodrigo Pare de se criticar
Eduardo O amigo muito e muito chato Ser legal natildeo eacute ser chato
Estela Os chatos de antematildeo O tio chato de galocha
Ceacutelia Chata sim ou natildeo Chata sim ou natildeo
Arlindo Chato e natildeo eacute chato Chato e natildeo eacute chato
Juacutelia Ser chato ou ser legal Pessoas chatas e pessoas
legais
Vicente Aacute pergunta eacute se eu
bloquearia uma pessoa chata
Graccedila Rafaelly chata Chata ela ou EU
Lilian Meus amigos chatos e Eu Pessoas legais e chatas
Heloiacutesa ldquoChato mais eacute muito legalrdquo ldquoO melhor chatordquo
Eliane Um pouco de tudo O que e chato e o que e legal
Joana Pessoas chatas e outras legal Pessoas otimas Fonte Produzido pela autora
Esses textos foram produzidos em sala na folha de produccedilatildeo textual proacutepria
elaborada para a SD de forma manuscrita e os originais A encontram-se nos anexos Na seccedilatildeo
a seguir mostraremos o panorama das anaacutelises
53 Os textos dos alunos
Esta seccedilatildeo traz os textos dos alunos produzidos em dois momentos O primeiro que
chamamos de texto A composto de produccedilatildeo inicial A e produccedilatildeo final A foi o texto produzido
na primeira parte de nossa sequecircncia didaacutetica que vai ateacute o moacutedulo 2 (dois) e que ficou restrito
apenas ao trabalho em sala de aula O segundo foi o texto B com produccedilatildeo inicial B e produccedilatildeo
final B cuja produccedilatildeo jaacute visava agrave circulaccedilatildeo social das produccedilotildees
531 Produccedilotildees A textos apenas para o trabalho em sala de aula
Quadro 7 ndash Produccedilatildeo inicial Ana ndash Tiacutetulo Ser chato ou natildeo ser eis a questatildeo
1 O ldquochato da vezrdquo esse texto fez eu refletir bastante
2 sobre esse negocio de chatisse sabe eu natildeo acho que
3 ser chato seja um defeito ou muito menos uma qua-
4 lidade de sabe de uma coisa Eu nem ao menos sei o
5 que eacute ser chato mas se algueacutem me perguntar diria que
6 ser chato eacute apenas falar de um assunto pode ser sobre ele
7 ou sobre mim mas se for falado isso pra mim muitas ve-
8 zes isso pra mim eacute pura chatice mas sabe eu natildeo tiraria
9 nem evitaria ningueacutem mesmo sendo aquela amiga que so
93
10 sabe falar que ta doente e reclamar de noites mal dormi-
11 das sempre ateacute porque eacute o jeito dela e cada um oferece o
12 que tem para oferecer eu natildeo fico puxando o saco delas
13 mas evito elas sempre que posso Ateacute porque seria uma
14 chatice evita-la ou qualquer um outro chato Fonte Dados da pesquisa
O texto foi composto por um paraacutegrafo apenas Percebe-se que Ana o criou
atendendo ao que a instruccedilatildeo da atividade requer criar um texto que possa inspirar reflexatildeo
Poreacutem a aluna natildeo exatamente conduz seu leitor a refletir Ela jaacute parte de uma constataccedilatildeo sobre
a qual ela mesma refletiu e expotildee no texto suas conclusotildees Natildeo narra uma situaccedilatildeo
vividaobservada mas elenca o que lhe parecem procederes chatos ldquomesmo sendo aquela amiga
que so sabe falar que ta doente e reclamar de noites mal dormidas semprerdquo (linhas 9 a 11) A
aluna natildeo usou a estrateacutegia de inserir personagens que transparecessem seu ponto de vista ao
leitor Construiu seu texto em primeira pessoa ao modo de ldquoO chato da vezrdquo e demonstrou que
tinha consciecircncia de que seu texto seria lido por uma audiecircncia visto que lanccedila perguntas para
confirmaccedilatildeo ldquosaberdquo (linha 1) ldquosabe de uma coisardquo (linha 4) embora essa audiecircncia natildeo
coadune com a instruccedilatildeo
Quadro 8 ndash Produccedilatildeo final Ana ndash Tiacutetulo Ser chato ou natildeo ser eis a questatildeo
1 ldquoO chato da vezrdquo Um texto muito interessante
2 que fez eu refletir sobre esse negocio de chatisse um
3 assunto que eu ja tinha pensado bastante mas cheguei a
4 conclusatildeo de que natildeo deve ser considerado um defeito nem
5 uma qualidade chato quero dizer mas deve ser um a
6 coisa que vocecirc deve ser controlada sabe as vezes eacute ne-
7 cessario ter um pouco de chatisse
8
9 Ser chato na minha opiniatildeo natildeo teria um signi-
10 ficado especifico seria vaacuterias coisas como falar apenas de
11 um assunto coisas repetitivas sabe natildeo saber aceitar o jeito
12 das pessoas ao seu redor ser chato eacute natildeo saber relevar e ser
13 legal eacute o oposto pois se eu falasse se eu falasse ago-
14 ra as caracteriacutesticas das pesso legal esse texto ficaria cha-
15 to ca entre nos Fonte Dados da pesquisa
O texto reescrito agora compotildee-se de dois paraacutegrafos embora no trabalho de
discussatildeo e reapresentaccedilatildeo da mesma proposta a instruccedilatildeo indique entre 3 (trecircs) e 6 (seis)
paraacutegrafos
94
Mais uma vez a aluna elaborou seu texto visando ao que a instruccedilatildeo da atividade
requer um texto que possa inspirar reflexatildeo sem conduzir exatamente seu leitor a refletir mas
expondo uma constataccedilatildeo sobre a qual ela mesma refletiu
O primeiro paraacutegrafo inicia com frases que lembram o gecircnero resenha ldquoO chato da
vezrdquo Um texto muito interessante que fez eu refletir sobre esse negocio de chatisse (linhas 1 e
2)
O segundo paraacutegrafo que ela inicia nos daacute a pista de que ela retorna ao quesito de
letra a da atividade 7 que tem por funccedilatildeo sensibilizar e conduzir o aluno a compreender a
instruccedilatildeo que vai se apresentar definitivamente a partir do quesito de letra c e perde de vista
que seu texto deve ser composto dentro das caracteriacutesticas do gecircnero crocircnica Em lugar disso
ela o compotildee expondo sua opiniatildeo o que tange um outro gecircnero
O texto possui tiacutetulo como na PI e faz uma referecircncia intertextual agrave famosa frase
de William Shakespeare Ser ou natildeo ser eis a questatildeo
Ainda como na PI a aluna natildeo narra uma situaccedilatildeo vividaobservada elencando
em vez disso o que foi considerado chato nas discussotildees que a turma fez para tentar definir o
que era ser legal e ser chato como falar apenas de um assunto coisas repetitivas sabe natildeo
saber aceitar o jeito das pessoas ao seu redor ser chato eacute natildeo saber relevar (linhas 10 a 12)
Mais uma vez a aluna natildeo usou a estrateacutegia de inserir personagens que
transparecessem seu ponto de vista ao leitor Construiu seu texto em primeira pessoa ao modo
de ldquoO chato da vezrdquo mas frases como sabe (linha 11) e ca entre nos (linha 15) mostram que
houve sim uma preocupaccedilatildeo em conversar com o leitor transparecendo sua percepccedilatildeo de uma
audiecircncia como presente no texto da instruccedilatildeo bem como ao longo das crocircnicas lidas foram
ressaltadas foacutermulas de conversas com o leitor
A autora desenvolveu pouco seu texto e ainda buscou abreviaacute-lo visto que ldquose eu
falasse agora as caracteriacutesticas das pesso legal esse texto ficaria chato ca entre nosrdquo (linhas
14 e 15)
Natildeo houve para antes da reescrita um texto na folha de rascunho Foi feita a
refacccedilatildeo do texto diretamente na folha de produccedilatildeo havendo ainda problemas com a ortografia
e a pontuaccedilatildeo
No entanto Ana depois de seguir com o projeto e apurar um pouco mais o olhar
segundo ela mesma pediu para que deacutessemos nova oportunidade de leitura pois ela havia feito
uma nova reescrita ao final dos moacutedulos Essa reescrita de Ana estaacute na seccedilatildeo seguinte apoacutes o
teacutermino de todos os moacutedulos
95
Quadro 9 ndash Produccedilatildeo inicial Rodrigo ndash Tiacutetulo Pare de se criticar
1 Bom pessoal primeiro quero que vocecircs entendatildeo o
2 verdadeiro significado de ser chato e ser legal
3 antes de tudo Natildeo levem nada pro lado pessoal apenas
4 entenda Vamos comeccedilar
5
6 Uma pessoa chata por exemplo ela eacute cheia de
7 nheacute nheacute nheacute mas nem todo mundo eacute chato depende
8 de quem te acha chato concerteza ela tambeacutem natildeo eacute
9 a pessoa mais legal triloca ou radical do mundo Se
10 ela te acha chato foudaci o que importa eacute vocecirc se
11 acha legal Ai Deus quem dera tivesse um
12 botatildeo pra silenciar pessoas chatas leitor estaacute me ente-
13 ndendo uma pessoa chata ela pode ser chata
14 pra vocecirc mas pra mim natildeo entatildeo vai lagar de se
15 achar chato Cara vocecirc eacute mocirc legal pra muitas
16 pessoas deixa de se alto criticar
17
18 Voltando ao assunto se vocecirc tivesse um
19 botatildeo pra bloquear uma pessoa que tipo de pessoa
20 vocecirc bloquearia eu particularmente bloquearia
21 essas pessoas chatas que natildeo saien do meu peacute
22 entatildeo era soacute isso Seja mais legal consigo
23 mesmo Fui
24
25 Fim
26 Joinha
27 LIKE Fonte Dados da pesquisa
Construiacutedo em 3 (trecircs) paraacutegrafos de efetivo conteuacutedo entre as linhas 1 e 23 o texto
desse aluno busca fortemente o contato com sua audiecircncia como se vecirc em diversos exemplos
ldquoBom pessoalrdquo (linha 1) ldquoquero que vocecircs entendatildeordquo [sic] (linha 1) ldquoleitorrdquo (linha 12) ldquoestaacute
me entendendordquo (linhas 12-13) ldquoCara vocecirc eacute mocirc legalrdquo (linha 15) se vocecirc tivesse um botatildeo
(linhas 18-19) Seja mais legal consigo mesmo (linhas 22-23) Esse contato eacute influenciado pelos
diaacutelogos mais proacuteximos da oralidade que se apresenta nos textos usados para sensibilizar e
inspirar a produccedilatildeo inicial e que eacute uma caracteriacutestica do gecircnero trabalhado
No entanto seu texto natildeo se caracteriza como gecircnero crocircnica Percebemos que
lembra muito um roteiro de fala para viacutedeo do youtube ndash e sim o aluno autor do texto eacute youtuber
e tem um canal O aluno termina seu texto com claras referecircncias agrave esfera do discurso online
em que se tem interaccedilatildeo direta com o leitor Joinha LIKE (linhas 26 e 27) bem como um
96
elemento visual associado a essa multimodalidade que a internet permite que eacute a matildeo com
polegar para cima (linha 25) conhecido como thumbs up ou no Brasil joinha usado para
expressar contentamento com o conteuacutedo escrito o que corresponde ao perfil de audiecircncia dado
na instruccedilatildeo
Rodrigo faz muito uso da palavra chato o que pode sobrecarregar o texto Poreacutem
e como veremos a seguir na produccedilatildeo B do mesmo aluno a repeticcedilatildeo segundo ele eacute
caracteriacutestica sua para ldquoreforccedilar que a pessoa eacute chata professorardquo Apesar disso natildeo houve
uma definiccedilatildeo mais bem detalhada do que eacute o chato como os que ldquonatildeo saien do meu peacuterdquo (linha
21)
Haacute uma referecircncia no texto agrave primeira leitura feita em sala antes da PI que foi o
texto Prova Falsa Nas linhas 6-7 pode-se ler ldquonheacute nheacute nheacuterdquo como definiccedilatildeo do que eacute uma
pessoa chata e que no texto do Stanislaw Ponte Preta aparece como ldquoDesses cachorrinhos de
raccedila cheio de nheacutem-nheacutem-nheacutem que comem comidinha especial precisam de muitos
cuidados enfim um chato de galochardquo Por natildeo portar o texto em matildeos na hora da produccedilatildeo
entendemos entatildeo que o aluno Rodrigo fixou o vocaacutebulo corrente na oralidade (nheacutem-nheacutem-
nheacutem) ao conceito (muito chato chato de galocha) causando um saldo positivo em sua escolha
Quadro 10 ndash Produccedilatildeo final Rodrigo ndash Tiacutetulo
1 bom dia boa tarde e boa noite depende
2 da hora em que estiver lendo isso
3 Hoje eu vou falar um pouco sobre pessoas
4 chatas e pessoas legais se estiver pronto vamos laacute
5
6 Primeiro reflita uma coisa vocecirc leitor se
7 considera chato Antes de dizer vocecirc precisa saber
8 a diferenccedila entre ser legal e ser chato vou explicar
9
10 Uma pessoa legal eacute aquela que sabe te
11 ouvir dar sua opiniatildeo na hora certa e saber
12 reconhecer seus erros mas chega um devido ponto
13 que vocecirc tenta ser tatildeo legal que chega a ser chata
14 mas existe uma diferenccedila entre essas duas coisas
15 estaacute entendendo leitor Suponhamos que exista
16 um botatildeo de bloquear pessoas igual aquele do
17 Whatsapp quem vocecirc bloquearia seus amigos
18 Seus familiares Seus colegas Ou as pessoas chatas
19 Hahahahaha jaacute sei a resposta entatildeo isso facilitaria
20 muito sua vida neacute
21
22 bom espero ter ajudado a saber a
97
23 diferenccedila entre essas duas coisas en em breve
24 farei outro texto para explicar um pouco
25 melhor valeu falou e fui
26
27 Fonte Dados da pesquisa
Nessa versatildeo de reescrita do texto vimos que o aluno natildeo colocou o tiacutetulo
Acreditamos que ele natildeo tenha lembrado visto que na PI foi atribuiacutedo um tiacutetulo a seu texto
Natildeo houve para antes da reescrita um texto na folha de rascunho O aluno afirmou
que gostava de desenhar e permitimos que ele fizesse o que lhe fosse mais confortaacutevel para
liberar a criatividade apoacutes a conversa com a turma em busca da compreensatildeo do que eacute ser legal
ou ser chato A refacccedilatildeo do texto foi feita diretamente na folha de produccedilatildeo havendo ainda
alguns problemas com a ortografia e a pontuaccedilatildeo poreacutem com bom uso das interrogaccedilotildees para
conduzir o leitor por seus questionamentos o autor buscou uma aprovaccedilatildeo para o tema que
expotildee
Natildeo houve neste texto a presenccedila da narraccedilatildeo de uma situaccedilatildeo vividaobservada
Rodrigo mencionou algumas situaccedilotildees discutidas na sala antes da reescrita que falavam sobre
o que eacute ser chato e o que eacute ser legal Na linha 19 houve uma quebra e expectativa pois o trecho
ldquoHahahahaha jaacute sei a respostardquo natildeo deixa claro realmente qual a resposta
Percebemos tambeacutem a utilizaccedilatildeo de siacutembolos em seu texto ao final Esse recurso
multimodal eacute caracteriacutestico da forma de interaccedilatildeo existente nas redes sociais e o aluno por
entender na instruccedilatildeo que o texto eacute direcionado a um leitor de sua idade e que lecirc e faz postagens
e comentaacuterios com frequecircncia empregou iacutecones de maneira natural em seu texto Entendemos
aqui que ele considerou a audiecircncia determinada na instruccedilatildeo
Quadro 11 ndash Produccedilatildeo inicial Eduardo ndashTiacutetulo O amigo muito e muito chato
1 Nossa meus amigos satildeo chatos
2 ou seraacute que eacute eu mesmo que sou
3 completamente chato Natildeo sei mas se
4 sou o que eu faccedilo de errado pra ser chato
5
6 Tive uma amizade que era muito
7 bacana uma convivencia boa para se
8 viver mas passando alguns tempo
9
10 Ficou absurdamente chato ficou
11 muito muito muito chata vivia na
98
12 minha casa Iria conpletamente na minha
13 casa nas horas enproprias era chato
14
15 Mas um dia fiquei dando indiretas
16 para ele dizendo ldquoQue mamatildee mandou arruma
17 a casardquo essa coisas assim
18
19 Um dia disse para ele ldquoTou meio
20 oculpadordquo ai ele disse ldquoVocecirc eacute muito chatordquo
21 e saiu de casa sem olhar para traacutes
22
23 Mas ai ele foi que ficou mais chato
24 ainda Tocava a campainha de casa e
25 saia correndo
26
27 Se desse de broqueiar ele na vida
28 real eu broqueiava Vocecirc faria o mesmo
29 leitor Fonte Dados da pesquisa
A PI apresenta o ponto de vista do autor sobre o que eacute ser chato ldquovivia na minha
casa Iria completamente na minha casa nas horas enproprias era chatordquo (linhas 11-13) poreacutem
natildeo explicita o que eacute ser legal deixando essa lacuna para o leitor Apesar disso EDUARDO
parte de uma situaccedilatildeo vividaobservada que era essa relaccedilatildeo com seu amigo
O texto estaacute organizado em 7 (sete) paraacutegrafos No entanto o 2ordm e o 3ordm paraacutegrafos
poderiam estar unidos pela temaacutetica14 assim como o 5ordm e o 6ordm paraacutegrafos O uso do conectivo
mas foi inadequadamente empregado no 4ordm paraacutegrafo (Mas um dia fiquei dando indiretas para
ele) (linhas 15-16) A repeticcedilatildeo da expressatildeo temporal um dia no iniacutecio do 4ordm e do 5ordm paraacutegrafos
sucessivamente natildeo permite claramente ao leitor saber se as situaccedilotildees aconteceram no mesmo
dia ou em dias distintos
Percebemos o emprego da 1ordf pessoa como a voz que fala no texto um narrador-
personagem que se comunica tanto com outro personagem por meio de discurso indireto livre
(ai ele disse ldquoVocecirc eacute muito chatordquo) (linha 20) quanto com o leitor ldquoVocecirc faria o mesmo leitorrdquo
(linhas 28-29) demonstrando consciecircncia de que existe uma audiecircncia e embora natildeo mostre
claros exemplos ainda assim atende agrave instruccedilatildeo de que essa mesma audiecircncia deve ser um
puacuteblico que estaacute antenado nas redes sociais ldquoSe desse de broqueiar ele na vida real eu
broqueiavardquo (linhas 27-28)
14 Cf seccedilatildeo Escrita na escola
99
Quadro 12 ndash Produccedilatildeo final Eduardo ndashTiacutetulo Ser legal natildeo eacute ser chato
1 Ser legal eacute oacutetimo mas vocecirc
2 pode esta achando que taacute sendo
3 muito legal mas a pessoa
4 que vocecirc ta sendo legal natildeo
5 pode ta achando vocecirc muito legal
6 mas sim chato
7
8 Vocecirc indo na casa do seu
9 amigo toda hora pode ser legal
10 para ele mas para seu amigo natildeo
11
12 Coisas demais natildeo eacute tatildeo
13 legal E vocecirc leitor tem alguma
14 coisa engual a isso
15
16 LEGAL X CHATO
Fonte Dados da pesquisa
Nessa reescrita do texto apoacutes as sugestotildees percebemos que o aluno fez natildeo uma
nova versatildeo do primeiro texto mas uma resposta agraves discussotildees realizadas na sala antes do
momento de escrita Pedimos ao grupo como um todo que levasse em conta o que eacute ser legal
e o que eacute ser chato e desses exemplos praacuteticos partindo de situaccedilotildees vividasobservadas
Enquanto a professora-pesquisadora atendia outros alunos que natildeo haviam compreendido
claramente as sugestotildees dadas agraves suas PI o aluno Estela elaborou 3 (trecircs) paraacutegrafos que
condensam sua situaccedilatildeo descrita na PI natildeo utilizando diaacutelogos nem personagens apesar de
ainda se dirigir ao leitor (ldquoE vocecirc leitorrdquo) (linha 13) Houve uma perda da qualidade do texto
por causa de uma provaacutevel falta de compreensatildeo da tarefa a ser realizada na sala
Quadro 13 ndash Produccedilatildeo inicial Estela ndash Tiacutetulo Os chatos de antematildeo
1 Certo dia observei dois amigos conversando
2 Marcelo e Camila quase todos os dias Marcelo
3 e Camila quase todos os dias eles ldquobrigavamrdquo
4 ficavam de ldquomalrdquo como os jovens de hoje falam
5
6 O motivo dessas brigas era apenas pelo fato
7 de Marcelo dizer a Camila que ela era uma
8 chata e ela como todos os ldquochatosrdquo natildeo
100
9 admitiam ser chatos neacute
10
11 E vocecirc se por acaso algueacutem chamaacute-lo de chato
12 O que vocecirc faria
13
14 Eu natildeo era muito ldquoamigardquo deles mas na real
15 dava uma vontade de chegar e dizer-lhes ldquo
16 Por favor natildeo sejam tatildeo ridiacuteculos os dois
17 satildeo uns chatosrdquo
18
19 Mas como eacute errado intrometer-se nas conversas
20 dos outros resolvi natildeo dizer nada
21
22 Passaram-se semanas e eles sempre continuavam
23 com isso
24
25 Entatildeo resolvi fazer algo para que evitasse
26 essas ldquobrigasrdquo cotidianas
27
28 Natildeo falei nada pessoalmente mas sim por uma
29 rede social e mandei a seguinte mensagem
30
31 ldquoDesculpe-me por intrometer-me na amizade
32 entre vocecirc e Marcelo mas essa chatice que
33 haacute entre vocecirc e seu amigo estaacute me incomoda-
34 do aacute dias Pelo fato de vocecirc e seu amigo
35 ficarem pegando no peacute um do outro na
36 minha opiniatildeo vocecircs deveriam conversar
37 civilizadamente e aceitarem uns aos outros
38 da maneira que vocecircs satildeo E soacute issordquo
39
40 Dias depois dessa conversa observei-os aten-
41 tamente e percebi que havia uma grande diferenccedila
42 entre eles na qual eles estavam interagindo
43 se entendendo se aceitando
44
45 E entatildeo os dois aproximaram-se de mim e
46 agradeceram pelo conselho
47
48 Fiquei super feliz de tecirc-los ajudados
49 Na minha opiniatildeo chatice eacute algo que a
50 pessoa tem de natureza um certo
51 estado de espiacuterito
52
53 E se isso natildeo resolvesse tentaria bloqueaacute-
54 -los tentaria parar de dar atenccedilatildeo graccedilas
55 a Deus eles pararam
56
101
57 Ufa Pelo menos no final eles foram legais uns com os outros
58
59 Fim Fonte Dados da pesquisa
Apresentando-se como a mais extensa das produccedilotildees iniciais esta PI possui 14
(quatorze) paraacutegrafos Alguns poderiam ser condensados de modo a deixar as ideias agrupadas
(o 4ordm e o 5ordm o 6ordm o 7ordm e o 8ordm) Ou entatildeo poderia ter havido nova reescrita de alguns periacuteodos de
modo a condensar as informaccedilotildees Poreacutem para tal lembramos Serafini (2003) que afirma que
para escritores inexperientes essa estrateacutegia de periacuteodos mais curtos ajuda melhor a organizar
o pensamento Essa aluna produziu um rascunho antes de passar a limpo para a folha de
produccedilatildeo textual oficial
Demonstrando certo domiacutenio no uso dos pronomes pessoais obliacutequos como se pode
ver em diversos exemplos ao longo do texto ldquochamaacute-lordquo (linha11) ldquoe dizer-lhesrdquo (linha 15)
ldquoeacute errado intrometer-serdquo (linha 19) fez um emprego inadequado quando usou de pronome
relativo (na qual) (linha 42) possivelmente tentando o registro culto da liacutengua
Nesse texto se percebe o uso do discurso indireto (ldquoE entatildeo os dois aproximaram-
se de mim e agradeceram pelo conselhordquo) (linhas 45-46) As marcas de conversa com o leitor
podem ser vista em ldquoneacuterdquo (linha 9) e ldquoE vocecirc se por acaso algueacutem chamaacute-lo de chato O que
vocecirc fariardquo (linhas 11-12 A autora assume um ponto de vista e narra para uma audiecircncia
correspondendo ao requisitado na instruccedilatildeo
Como a instruccedilatildeo de produccedilatildeo determina o perfil do leitor como sendo um
adolescente que acessa redes sociais a autora coloca como soluccedilatildeo ao conflito de constantes
brigas entre o casal de amigos adolescente o envio de uma mensagem por rede social falando
inclusive que os bloquearia caso continuassem chatos O texto assemelha-se a um conto
inclusive pela forma como a autora encerra seu texto ldquoFimrdquo (linha 59) Quanto a despertar no
leitor uma reflexatildeo podemos dizer que A4 estaacute no caminho e que um trabalho mais detido
sobre esse texto poderia melhorar a qualidade dessa reflexatildeo
Quadro 14 ndash Produccedilatildeo final Estela ndashTiacutetulo O tio chato de galocha
1 As feacuterias chegaram e como em todas as feacuteria-
2 s eu partia em uma ldquoincriacutevel aventurardquo (pra
3 natildeo dizer o contraacuterio) a casa dos meus
4 tios na qual eacute um verdadeiro desastre
5 Ter que acordar com o ldquocantar dos galosrdquo
6 como dizem os mais velhos em clima de
102
7 discussatildeo affseacute uma verdadeira cha-
8 tice eu odiava ter que estragar minhas
9 maravilhosas feacuterias convivendo com eles
10 Eles discutiam ateacute pelo simples fato de cair
11 farelos de comida no chatildeo eu odiavaaa
12 E vocecirc leitor aguentaria toda essa chatice
13
14 O que vocecirc faria em relaccedilatildeo a essa situaccedilatildeo
15
16 Jaacute haviam se passado mais da metade das
17 feacuterias eu estava orando agrave Deus para que
18 esses dias infernais ao lado dos meus ti-
19 os acabassem e tambeacutem que titio Luiacutes
20 parasse de reclamar por eu comer muito
21 e parar de ficar assistindo programas
22 ateacute tarde da noite eu achava um exagero
23 eacute oacutebvio pois eram ldquofeacuteriasrdquo e nas feacuterias
24 acostumamos ficar distantes de tarefas
25 escolares de tudo que nos lembrar a
26 escola (rsrsrs)
27
28 O meu tio tambeacutem dizia que eu precisa-
29 va de educaccedilatildeo que os meus pais natildeo
30 me educaram adequadamentee eu natildeo
31 podia resmungar porque se meus pais
32 soubessem que me comportei mau eu iria
33 ficar ferrado E entatildeo mais dias infernais
34 se passaram e graccedilas a Deus as feacuterias
35 terminaram e natildeo tive mas que ver
36 presenciar aquele meu chato e insupor-
37 taacutevel tio
38
39 Pra mim ser chato e ser legal eacute
40 Ser legal Ser chato
41 Saber ouvir Criticar os outros
42 Dar comida Reclamar de tudo
43 Ser sincera Daacute importacircncia demais ao que dizem
44 Ter bom coraccedilatildeo Ser falso
45 Ajudar as pessoas Ser preconceituoso
46 Aceitar diferenccedilas
47
48 E o que vocecircs leitores acham o que
49 eacute ser ou natildeo legal Fonte Dados da pesquisa
Concentrada em 6 (seis) paraacutegrafos a reescrita ganhou alguns pontos mais
interessantes para se aproximar da crocircnica literaacuteria Partiu de uma situaccedilatildeo vivenciada
103
conduziu o leitor a compreender seu ponto de vista sobre o que era ser chato No entanto o
texto se distanciou da proposta da instruccedilatildeo no sentido de falar tambeacutem o que eacute legal natildeo
somente chato e lembrar do botatildeo de bloqueio da vida real
O 5ordm paraacutegrafo se tornou uma enumeraccedilatildeo das caracteriacutesticas do ser legal e ser chato
e deixou de narrar ou descrever uma situaccedilatildeo ou personagem
Uma caracteriacutestica da linguagem coloquial encontrada foi o uso da expressatildeo ldquoTer
que acordar com o lsquocantar dos galosrsquo como dizem os mais velhosrdquo (linhas 5-6) atribuindo a
frase agrave sabedoria popular Outras marcas tiacutepicas de coloquialidade utilizadas inclusive em meio
digital nos bate-papos foram a escrita de expressotildees com notaccedilotildees como ldquoaffsrdquo (linha 7)
para demonstrar aborrecimento ldquoodiavaaardquo (linha 11) estendendo as vogais para mostrar a
insatisfaccedilatildeo prolongada o frequente uso de aspas para indicar ironia ldquoeu partia em uma lsquoincriacutevel
aventurarsquordquo seguido de uma explicaccedilatildeo entre parecircnteses
Nessa produccedilatildeo a aluna tambeacutem natildeo empregou adequadamente o pronome relativo
ldquona qual eacute um verdadeiro desastrerdquo como se vecirc na linha 4
Quadro 15 ndash Produccedilatildeo inicial Ceacutelia ndashTiacutetulo Chata sim ou natildeo
1 Um dia uma amiga minha me pergun-
2 tou ndash Eu sou chata Responde ndash Sim as vezes
3 Mas o problema foi que ela natildeo aceitou a
4 verdade e saiu furiosa comigo
5
6 Mas me responde leitor se algueacutem viesse
7 te pergunta se ela eram chata o que vocecirc
8 responderia O problema e que nem todos
9 gostam de escuta a verdade
10
11 Aconteceu que um dia um colega disse
12 que eu era chata no comeccedilo fiquei com
13 um pouco de raiva Mas passou por que
14 parei eacute pensei e verdade sou chata Mas
15 mesmo assim sedo chata sim ou natildeo
16 a reciacuteproca era verdadeira
17
18 Chata sim ou natildeo uma pergunta que
19 eu mesmo me fiz vou acabar por aqui
20 antes que eu comece a fica chata de
21 vez Fonte Dados da pesquisa
104
O texto foi composto em 4 (quatro) paraacutegrafos atendendo agrave instruccedilatildeo A voz que
narra estaacute em 1ordf pessoa e dialoga diretamente com um personagem (linhas 1 e 2) Haacute um contato
direto com o leitor atraveacutes de frases como ldquoMas me responde leitorrdquo (linha 6) e ldquoO que vocecirc
responderiardquo (linhas 7-8)
A autora parte de uma situaccedilatildeo vividaobservada ndash na verdade haacute mais de uma
situaccedilatildeo ndash como vemos em ldquoUm dia uma amiga minha me perguntourdquo (linhas 1-2) e ldquoAconteceu
que um dia um colega disse que eu era chatardquo (linhas 11-12) No entanto natildeo segue a proposta
da instruccedilatildeo que eacute falar sobre o que eacute ser legal e ser chato Natildeo haacute exemplificaccedilotildees para que o
leitor entenda o ponto de vista da autora apenas situaccedilotildees em que disseram que ela e chata ou
sua amiga eacute chata Natildeo haacute tambeacutem menccedilatildeo ao ldquobloqueiordquo da vida real aos que satildeo chatos
Haacute alguns problemas quanto agrave ortografia e tambeacutem confusatildeo quanto ao emprego
dos sinais de pontuaccedilatildeo adequados
Quadro 16 ndash Produccedilatildeo final Ceacutelia ndash Tiacutetulo Chata sim ou natildeo
1 Um dia uma amiga minha me per-
2 guntou ndash Eu sou muito chata Responde ndash Sim
3 as vezes Mas o problema foi que ela natildeo
4 gostou de sabe em saiu furiosa comigo e
5 natildeo deixo eu termina de falar
6
7 Mas outro dia ela veio para me pedi des-
8 culpas eacute eu disse ndash natildeo precisa eacute como eu dizia
9 vocecirc e chata mais as vezes quando vocecirc natildeo
10 falando demais ou falando coisas se graccedila Eacute
11 ela disse ndash Eacute mesmo eacute sorriu
12
13 Mas me responde leitor se algueacutem viesse te
14 pergunta se ela era chata o que vocecircs respon-
15 deria O problema eacute que nem todos gostam de es-
16 cuta a verdade
17
18 Aconteceu que um dia um colega disse
19 que eu era chata no comeccedilo fiquei com um
20 pouco de raiva Mas passou porque parei eacute
21 pensei e verdade sou chata Mais mesmo assim
22 sedo chata sim ou natildeo a reciacuteproca era
23 verdadeira
24
25 Chata sim ou natildeo uma pergunta que
26 eu mesmo me fiz bom vou parar por aqui
27 antes que eu comece a fica chata de vez Fonte Dados da pesquisa
105
O texto reescrito foi composto em 5 (cinco) paraacutegrafos o que estaacute dentro do
previsto pela instruccedilatildeo Alguns problemas quanto agrave ortografia e tambeacutem confusatildeo quanto ao
emprego dos sinais de pontuaccedilatildeo adequados permaneceram como em ldquoUm dia minha amiga
me perguntou ndash Eu sou muito chatardquo em que foi feito uso de exclamaccedilatildeo em vez de
interrogaccedilatildeo
Foi mantida a voz que narra (1ordf pessoa) e o diaacutelogo com um personagem ndash a amiga
(linhas 1 e 2) se faz em forma de discurso direto embora natildeo devidamente paragrafado poreacutem
fazendo uso de travessotildees o que eacute um avanccedilo
O segundo paraacutegrafo (linhas 7 a 11) foi inserido a partir da sugestatildeo que fizemos
para a aluna Era interessante que ela acrescentasse em seu texto algo que exemplificasse o que
ela considera como ser legal e ser chato Atendendo agrave sugestatildeo a aluna mostra discretamente
seu ponto de vista na frase ldquovocecirc e chata mais as vezes quando vocecirc natildeo falando demais ou
falando coisas se graccedilardquo (linhas 9-10)
O contato direto com o leitor permanece como na PI atraveacutes de frases como ldquoMas
me responde leitorrdquo (linha 13) ndash cuja pontuaccedilatildeo nessa reescrita foi melhorada pela sugestatildeo ndash
e ldquoO que vocecirc responderiardquo (linhas 14-15) Natildeo foi atendida a instruccedilatildeo no tocante ao botatildeo
de bloqueio na vida real
A autora emprega em seu texto a frase ldquobom vou parar por aquirdquo (linha 26)
caracteriacutestica de uma conversa informal Esse uso da oralidade como em conversas eacute marca do
gecircnero crocircnica
Quadro 17 ndash Produccedilatildeo inicial Arlindo ndash Tiacutetulo Chato e natildeo eacute chato
1 Eu natildeo gosto daquela pessoa que
2 jaacute chegada pensando que jaacute pode falar
3 todo que pensa pra mim as pessoas
4 que pega celular para falar besteira nas
5 redes sociais essas pessoas eu natildeo gosto
6
7 agora aquelas pessoas que satildeo bem
8 calmas nas redes sociais ai eu gosto
9 por que sabem conversar saber puxar
10 intimidade fazem a gente rir e noacutes nos
11 trazem conforto e nos fazem saber que
12 a pessoa com quem a gente conversar
13 natildeo eacute uma maacute pessoa Eacute muito
14 bem amigo nos faz feliz
15
106
16 agora as pessoas que eu bloqueio
17 satildeo aquelas pessoas que natildeo sabem
18 conversar falatildeo de qualquer jeito
19 puxa assunto que eu natildeo gosto
20 por isso eu bloqueio essas pessoas
21 redes sociais eacute pra procurar
22 amigo e ais vezes eacute pra respeitar Fonte Dados da pesquisa
Ao ler o texto de Arlindo vemos que ele trata do assunto pedido na instruccedilatildeo e tem
em mente a audiecircncia pretendida que acessa redes sociais No entanto natildeo alcanccedila o leitor
envolvendo-o na conversa narrando-lhe as situaccedilotildees apenas elenca as situaccedilotildees que lhe satildeo de
agrado e desagrado mostrando o que para ele eacute ser chato e ser legal
Os trecircs paraacutegrafos que compotildeem o texto se organizam de modo a mostrar o que o
autor natildeo gosta o que gosta e o porquecirc de bloquear pessoas ndash mas na rede social natildeo fazendo
o comparativo com a vida real
Quadro 18 ndash Produccedilatildeo final Arlindo ndash Tiacutetulo Chato e natildeo eacute chato
1 Chato eacute uma pessoa botar besteira
2 no Facebook Por que isso eacute muito chato e
3 horriacutevel todo mundo ver vai laacute e comentar
4 mal do video ser legal eacute aquela pessoa que
5 vai laacute na casa da pessoa te daacute presente
6 sem vocecirc pedir nada sem vocecirc falar nada
7 no final soacute agradecer e ser feliz com o presente e
8 depois no outro dia soacute retribuir
9
10 Meu caro amigo legal e chato eacute
11 ser como uma pedra ajuda a parar o
12 tracircnsito e depois eacute chato porque as
13 pessoas tropeccedilam nelas e meus irmatildeos
14 legal e chato satildeo quase a mesma coisa
15 soacute que satildeo meios diferentes eu vou te
16 explicar
17 Ser chato eacute coisa possiacutevel e ser legal eacute
18 coisa quase impossiacutevel Fonte Dados da pesquisa
O aluno Arlindo manteve seu tiacutetulo e percebemos que a explicaccedilatildeo para o mesmo
seria transmitir a ideia de ldquochato e natildeo chatordquo ndash ou legal O verbo ser que aparece no tiacutetulo
como eacute deveria ter sido empregado de outra maneira como quando sugerimos ldquoEacute chato e natildeo
107
eacute chatordquo ou ldquoO que eacute chato e o que natildeo eacute chatordquo ou ldquoChato e legalrdquo No rascunho que Arlindo
fez ele empregou como tiacutetulo provisoacuterio ldquoO que eacute chato e o que eacute legalrdquo Poreacutem na hora de
passar a limpo e entregar permaneceu o tiacutetulo original
O autor Arlindo manteve seu foco nas redes sociais como indica a instruccedilatildeo e
amplia um pouco as ideias a partir das discussotildees que aconteceram na aula durante a
tempestade de ideias a fim de redespertar o olhar dos alunos para partirem de situaccedilotildees
vividasobservadas Nas linhas de 10 a 13 ele faz uma comparaccedilatildeo com a pedra fruto da
discussatildeo preacutevia Dependendo do ponto de vista a pedra pode ajudar bem como pode
atrapalhar Poreacutem nas linhas 15 e 16 Arlindo fica de explicar o porquecirc de ser chato e ser legal
serem quase a mesma coisa e termina o texto abruptamente sem desenvolver suas ideias
Houve uma evoluccedilatildeo no tocante agrave conversa com o leitor Embora Arlindo natildeo tenha
claro se sua audiecircncia eacute uma pessoa soacute (linha 10 Meu caro amigo) ou um grupo de pessoas
(linha 13 e meus irmatildeos linhas 15 e 16 eu vou te explicar) ele jaacute a chama a prestar atenccedilatildeo
no que estaacute se propondo a dizer em seu texto
Quadro 19 ndash Produccedilatildeo inicial Juacutelia ndash Tiacutetulo Ser chato ou ser legal
1 Ai meu Deus tou de saco cheio de tantos amigos
2 chatos eles ficam com chatice toda hora
3 se na vida tivesse um botatildeo para bloquear
4 as pessoas chatas seria otimo pelomenos
5
6 Eu ficaria com menos pessoas chatas ao
7 meu redor Ai soacute ficaria as pessoas
8 legais
9
10 Eu chamo meus amigos de chatos mais
11 eu gosto deles assim mesmo Eu chamo
12 meus amigos de chatos e eles me chamam
13 de chata tambeacutem e se existisse o botatildeo
14 de bloquear Eu ia ser bloqueada tambeacutem
15 Mesmo se existisse o botatildeo muitas pessoas
16 iam mudar de comportamento eles iriam
17 querer ser legais para natildeo serem bloque-
18 ados Eu mesma ia mudar de atitudes
19 com meus amigos Eu natildeo ia mais
20 ser chata como vaacuterias pessoas me
21 chama Fonte Dados da pesquisa
108
Na linha 1 vemos que a aluna utilizou a expressatildeo Ai meu Deus retirada do texto
trabalhado e que daacute suporte agrave instruccedilatildeo A aluna faz uso da linguagem coloquial na mesma linha
(tou de saco cheio) caracteriacutestica permitida na abordagem de nossas crocircnicas literaacuterias
Eacute interessante perceber que Juacutelia apoacutes se avaliar como chata faz uma reflexatildeo
(linhas 13-14 ldquoe se existisse o botatildeo de bloquear Eu ia ser bloqueada tambeacutemrdquo) E trata da
questatildeo falando de possiacuteveis alteraccedilotildees no comportamento das pessoas incluindo o seu proacuteprio
No entanto apesar de ela levantar essa reflexatildeo natildeo a direciona diretamente ao leitor poreacutem
tem em mente mesmo que superficialmente que sua audiecircncia estaacute nos paracircmetros indicados
pela instruccedilatildeo visto que menciona o botatildeo de bloquear caracteriacutestico de ambientes virtuais
sendo conhecido portanto de pessoas que tecircm acesso ao mundo digital
Quadro 20 ndash Produccedilatildeo final Juacutelia ndash Tiacutetulo Pessoas chatas e pessoas legais
1 Como existem pessoas chatas que ficam
2 dando bola para o que as pessoas falam
3 fica reclamando da vida e tambeacutem quer tudo
4 do seu jeito Natildeo daacute certo ser amiga desse
5 tipo de pessoa
6
7 Prefiro aqueles amigos que sabe lidar
8 comigo que datildeo carinho e que natildeo fique
9 reclamando de tudo e que natildeo sabe relevar
10 os problemas como se nada tivesse acontecendo
11
12 Eu gosto daquelas pessoas que chamam os
13 amigos para um passeio isso sim eacute ser
14 legal tem alguns tipos de amigos que fazem
15 de tudo pra ver seus amigos felizes
16
17 existem alguns amigos que falam
18 com vocecirc uma hora e depois taacute falando
19 mal de vocecirc esse tipo de pessoa faz isso
20 porque eacute falso e tem inveja soacute porque
21 vocecirc eacute feliz com seus amigos e ele (a)
22 natildeo
23
24 e vocecirc leitor Vocecirc eacute chato ou legal
25 Eu tenho poucos amigos mas os que
26 tenho satildeo os melhores
27
28 as pessoas gostam de vocecirc como
29 vocecirc eacute ou natildeo
30
31 Existem ateacute aquele tipo de pessoa
109
32 que humilha as pessoas nas redes
33 sociais pessoas que fazem bullying
34 com outras pessoas esse tipo de pessoa
35 satildeo muito chatas Fonte Dados da pesquisa
A aluna produziu sua nova versatildeo de texto sobre as discussotildees em sala de aula que
antecederam esse momento da reescrita Os alunos determinaram exemplos do que seria ser
legal e ser chato e ela os aproveitou na enumeraccedilatildeo em seu texto No entanto de alguma forma
Juacutelia imprimiu sua reflexatildeo pessoal sobre o que eacute legal e o que eacute chato Nas linhas 1-5 ela afirma
o quatildeo difiacutecil eacute ser amiga de pessoas que atribuem muita importacircncia ao que outras pessoas
dizem que ficam reclamando da vida e tambeacutem querem tudo do seu jeito Nas linhas 7-10 e
12-15 ela explicita suas preferecircncias por pessoas que considera legais e exemplifica Nas linhas
17-22 Juacutelia diz que tipo de pessoas satildeo chatas novamente
Poreacutem o que parece ter acontecido eacute que Juacutelia natildeo teria ainda compreendido que
era para partir de uma experiecircncia vivida ou observada aprofundando-se um pouco mais na
narrativa
Ao todo o texto comporta agora 7 paraacutegrafos que poderiam ter sido mais bem
organizados Nas linhas 24-29 A7 aborda sua audiecircncia diretamente tratando-a por vocecirc
lanccedilando-lhe perguntas Esse seria o momento em que o texto acabaria poreacutem convidada a
reler mais uma vez a autora percebeu que natildeo abordou a proposta da instruccedilatildeo que era bloquear
os chatos da vida real nem havia tambeacutem abordado questotildees tocantes agraves redes sociais
finalizando portanto com um paraacutegrafo que fizesse o resgate ainda a tempo mesmo que
perdendo um pouco do ritmo do texto
Quadro 21 ndash Produccedilatildeo inicial Vicente ndash Tiacutetulo A pergunta eacute se eu bloquearia uma pessoa chata
1 Bom gente vocecirc bloquearia uma pessoa
2 chata que bertuba-se voccedilecirc nas redes
3 sociais
4
5 A pergunta eacute se eu bloquearia uma pess-
6 oa chata ovio que sim por que Por que
7 se eu natildeo bloqueaccedile essa pessoa ia ficar
8 mim perturbandando ai eu ia ficar com
9 muita raiva ai eu ia falar aquelas coisas
10 maeducada como xingar fala coisas que natildeo
11 pode falar porisso eu bloquei essa pessoa
12 ai ateacute que foi bom bloquear essa pessoa
110
13 por que ela natildeo ia ficar mim perturbando natildeo
14 ia ficar falando como tomar certas liberdades
15 mas chegou uma hora que natildeo deu bloquei o
16 sujeito Estava chato demais Xxxx
17
18 Uma pessoa chata eu sou uma pessoa
19 chata por que quando eu estou no whats
20 natildeo tem nenhuma pessoa olaine eu fico man-
21 dando mensagens pra essas pessoa ai essa pes-
22 soas natildeo gosta e fala que eu sou chato triste
23 neacute kkkk Fonte Dados da pesquisa
Parece-nos que Vicente tem por meacutetodo iniciar a escrita de seu texto respondendo
diretamente agrave pergunta que foi feita na instruccedilatildeo e fazendo disso seu tiacutetulo inclusive Serafini
(2003 p 71) chama a esse tipo de paraacutegrafo de introduccedilatildeo-enquadramento (cf na seccedilatildeo sobre
escrita) O texto inteiro possui 3 (trecircs) paraacutegrafos
Nas linhas 14 a 16 vemos que houve coacutepia de excertos do texto motivador O chato
da vez (ldquotomar certas liberdadesrdquo ldquomas chegou uma hora que natildeo deurdquo ldquobloquei o sujeito
Estava chato demaisrdquo)
No iniacutecio do texto logo nas linhas 1-2 Vicente tem em mente uma audiecircncia como
vemos em ldquoBom gente vocecirc bloquearia uma pessoa chata que bertuba-se voccedilecirc nas redes
sociaisrdquo Poreacutem o aluno natildeo define se vai falar a um grupo (gente) ou a uma pessoa soacute (vocecirc)
Para atender agrave instruccedilatildeo Vicente trata de situaccedilotildees vividas em ambiente online quando se
refere ao aplicativo de interaccedilatildeo (linha 19 ldquoquando eu estou no whatsrdquo) fala do envio de
mensagens e traz um elemento multimodal ao final de seu texto (linha 23 ldquokkkkrdquo) que
caracteriza a gargalhada frequentemente usada em conversas online
Quadro 22 ndash Produccedilatildeo final Vicente ndash Tiacutetulo
1 Bom uma pessoa legal eacute ter paciensia
2 criativa uma pessoa legal animada inteligente
3 adoraveu feliz simpatica bom humor natildeo ser
4 groseiro com as pessoas simpatica conversar com
5 as pessoas legal
6
7 Ser chato Eacute uma pessoa que faz varias
8 perguntas como quando onde que horas etc
9 ser chato e pegar no peacute de varias pessoas e ser
10 ensorportavel pessoas chatas deveriam refletir
11 sobre a paciecircncias das outras pessoas uma
111
12 pessoa que tem pouca paciecircncia e bem
13 difiacutecil conviver com uma pessoa chata
14
15 Um chato ser legal e muito estranho
16 para queacutem conhece uma pessoa chata e bem
17 dificil ele ser legal soacute se acontecer aguma
18 coisa para ele ser legal um dia uma meni-
19 na ficou fazendo vaacuterias perguntas sobre a minha
20 vida natildeo gostava das perguntas que ela fazia
21 e falei coisa que natildeo devia no outro dia eu notei
22 o comportamento dela estava estranho tipo compor-
23 tada legal uma pessoal de bom humor natildeo parecia
24 com ela estava estranha e foi indo assim
25 e ela veio falar com migo e nunca mais per aquelas
26 perguntas hoje ela eacute legal gostei dela ter
27 mudado natildeo soacute eu mas muitas pessoas Fonte Dados da pesquisa
Vicente iniciou seu texto reescrito apoacutes as discussotildees em sala retirando a pergunta
direta que fazia para inspirar-se para comeccedilar e passando a uma conclusatildeo direta (linha 1
ldquoBomrdquo) sobre as caracteriacutesticas de uma pessoa legal seguindo a isso um paraacutegrafo do que eacute ser
chato Apesar de o texto ter perdido em atratividade em seu iniacutecio Vicente atendeu agrave sugestatildeo
que fizemos quando pedimos que ele mencionasse uma situaccedilatildeo que tivesse
vivenciadoobservado
No entanto perdeu de vista a instruccedilatildeo uma audiecircncia que acesse as redes sociais
a questatildeo do bloquear na vida real o contato direcionado ao leitor
Quadro 23 ndash Produccedilatildeo inicial Graccedila ndash Tiacutetulo Rafaelly chata
1 Eu quero bloqueia essa
2 pessoa porque primeiramente
3 ela natildeo tem nem celula
4 entatildeo neste caso natildeo da pra bloqueia
5 ela As vezes essa pessoa ela e
6 um pouco chata fresca e sem
7 graccedila com todo respeito Algumas
8 vezes ela fala um pouco de
9 besteira e isso torna ela uma
10 pessoa chata Eu conheci essa
11 pessoa na escola so que agora
12 ela natildeo tem a mesma idade
13 que eu tenho a uacutenica rede social
14 que ela tem e o Facebook
15
112
16 Mais mi responde leitor o que
17 vocecirc acha sobre as pessoas
18 chatas
19
20 Pensando bem ela e uma
21 pessoa muito legal toda doidi-
22 nha amigaacutevel e amorosa etc
23 O que eu gosto mais nela
24 e que ela e sincera e indireta
25 e eacute bom de dar conselhos por
26 isso que eu amo a chatice
27 dela e ela se chama Rafaelly Fonte Dados da pesquisa
Neste texto a autora faz uma reflexatildeo sobre a amiga partindo de uma ideia inicial
que eacute a chatice da Rafaelly para a consideraccedilatildeo dos pontos positivos que a mesma Rafaelly tem
(ldquoPensando bemrdquo)
Houve uma maacute interpretaccedilatildeo da instruccedilatildeo quanto ao entendimento do que seria
bloquear uma pessoa na vida real como comprovamos nas linhas 2-5 ldquoprimeiramente ela natildeo
tem nem ceacutelula entatildeo neste caso natildeo da pra bloqueia elardquo
Nas linhas 16-18 A9 tem em mente uma audiecircncia como vemos em ldquoMais mi
responde leitor o que vocecirc acha sobre as pessoas chatasrdquo
Quadro 24 ndash Produccedilatildeo final Graccedila ndash Tiacutetulo Chata ela ou EU
1 Mi responde leitor o que
2 vocecirc acha sobre as pessoas cha-
3 tas
4
5 E vocecirc leitor Vocecirc e chato
6
7 Certo dia uma amiga veio
8 falar um monte de bobagens coisa-
9 s que natildeo tinha nada haver
10 ou seja coisas sem graccedilas Eacute eu
11 disse vocecirc e muito chata sabia
12 Ela falou ndash vocecirc tambeacutem fiquei
13 brava
14
15 Logo seguinte eu queria
16 bloquea ela porque tinha mi
17 chamado de chata mas tinha
18 um problema era que primeira-
19 mente ela natildeo tinha nem
113
20 celular entatildeo neste caso natildeo da-
21 va para bloquea o unico lugar
22 que dava pra bloquea ela era
23 no Facebook
24
25 Mais pensando bem ela
26 e uma pessoa muito legal to-
27 da doida amigavel e amorosa etc
28 O que eu acho legal nela e a sinceridade dela ajuda as
29 pessoa sabe releva os problemas
30
31 Natildeo vou nega que tambeacutem
32 sou uma pessoa chata Fonte Dados da pesquisa
Nas linhas 1-3 e linha 5 Graccedila teve em vista uma audiecircncia como vemos em ldquoMi
responde leitor o que vocecirc acha sobre as pessoas chatasrdquo e ldquoE vocecirc leitor Vocecirc e chatordquo Em
sua reescrita a aluna se comunica com o leitor de forma expliacutecita inspirada no modelo do texto
O chato da vez
Percebemos que ela atendeu a sugestatildeo de partir de uma situaccedilatildeo vividaobservada
para compor sua crocircnica (linha 7 ldquoCerto dia uma amiga []rdquo) desenvolvendo seu texto no
sentido de apresentar a seu leitor sua ideia do que eacute ser chato e ser legal a partir do que expotildee
e conduz seu fio tocando na instruccedilatildeo que sugere a inspiraccedilatildeo de bloquear uma pessoa na vida
real Poreacutem percebemos que ela natildeo extrapolou os limites do ambiente virtual criando uma
situaccedilatildeo de botatildeo de bloqueio da vida real para evitar as pessoas que ela considera chatas mas
condicionando o bloqueio meramente agraves redes sociais
Quadro 25 ndash Produccedilatildeo inicial Lilian ndash Tiacutetulo Meus amigos chatos e Eu
1 Eu tenho um amigo muito chato ele
2 fica o tempo todo pegando no
3 meu peacute as vezes eu comeccedilo
4 a chamar ele de chato ai ele
5 fica uns dias estranho comigo
6 mas depois agente comeccedila
7 se falar de novo
8
9 Eu queria pra existir um
10 botatildeo pra bloquear meus amigos
11 chatos porque eles pegam muito
12 no meu peacute eu chama eles
13 de chatos mas eu tambeacutem sou
14 chata e muito chata se existisse
114
15 o botatildeo pra bloquear as pessoas
16 chatas eu tambeacutem ia ser bloqueada
17 porque eu sou muito chata eu
18 natildeo queria ser chata eu queria
19 ser legal eu sou chata porque
20 quando eu comeccedilo falar eu natildeo
21 quero parar ai minhas amigas
22 ficam dizendo que eu sou muito
23 chata mais mesmo assim sou
24 feliz Fonte Dados da pesquisa
Lilian parte de uma situaccedilatildeo vivenciada (linhas 1-7) em que fala de um amigo
muito chato e usa a expressatildeo ldquopegar no peacuterdquo como em O chato da vez Nas linhas 17 a 24
Lilian tambeacutem diz porque ela seria uma pessoa chata ndash comeccedila a falar e natildeo quer parar Por
isso ela desejaria o botatildeo de bloquear na vida real como dito na questatildeo 7 que traz a instruccedilatildeo
de produccedilatildeo No entanto as situaccedilotildees natildeo estatildeo bem desenvolvidas e natildeo prendem o leitor que
aliaacutes natildeo eacute inserido no texto na ldquoconversa com o leitorrdquo Natildeo observamos uma percepccedilatildeo clara
da ideia de redes sociais
Quadro 26 ndash Produccedilatildeo final Lilian ndash Tiacutetulo Pessoas legais e chatas
1 Existem pessoas chatas e
2 outras legais conheccedilo alguns amigos que
3 satildeo um pouco chatos porque eles
4 ficam reclamando da vida eles ficam
5 dando importacircncia para os que os
6 outros falam desse jeito natildeo daacute
7
8 Mais eu tenho alguns amigos
9 que vivem fazendo piadas para seus
10 amigos Gosto do jeito que eles tratam
11 seus amigos eles levam eles pra
12 um passeio levam para o cinema
13 datildeo carinho sabem relevar os problemas
14 mas eu conheccedilo uns que falam comigo
15 mas depois tatildeo falando mal de mim
16 pela minha costa
17
18 Eu me acho uma pessoa
19 muito chata porque eu gosto
20 de tudo do meu jeito reclamo de
21 tudo dou importacircncia pra tudo
22 que as pessoas falam mais
115
23 as vezes eu soacute um pouco legal
24 com minhas amigas E vocecirc leitor
25 eacute chato ou legal as pessoas gostam
26 de vocecirc Fonte Dados da pesquisa
Apoacutes a tempestade de ideias da aula destinada agrave reescrita Lilian produziu 3 (trecircs)
paraacutegrafos e dedicou um a mostrar o que eacute ser chato e o seguinte ao que eacute ser legal em sua
opiniatildeo Na reescrita a aluna jaacute considera a audiecircncia conversando com o leitor (linhas 24-26)
poreacutem se distancia do que consta na instruccedilatildeo que eacute o bloqueio na vida real imitando as redes
sociais Ainda percebemos repeticcedilotildees de palavras que poderiam se tivesse havido uma nova
leitura ter sido evitadas
Podemos dizer que Lilian nos permite refletir sobre o comportamento humano
quando diz ldquomas eu conheccedilo uns que falam comigo mas depois tatildeo falando mal de mim pela
minha costardquo (linhas 14-16) poreacutem ela natildeo desenvolve a ideia apropriadamente no paraacutegrafo
seguinte como ela mesma havia dito em sala que falam mal dela porque ela tem o gecircnio difiacutecil
como ela descreveria em ldquoeu gosto de tudo do meu jeitordquo (linhas 19-20) De algum modo
podemos dizer que esse desdobramento de paraacutegrafos jaacute eacute uma evoluccedilatildeo na escrita de Lilian
Quadro 27 ndash Produccedilatildeo inicial Heloiacutesa ndash Tiacutetulo ldquoChato mais eacute muito legalrdquo
1 Tenho um amigo que ele eacute legal
2 mas tambeacutem eacute chato ao mesmo
3 tempo mais gosto da companhia
4 dele Mais quando chega a chatice
5 natildeo da pra aguentar ele comeccedila
6 a fala fala e fala eacute senpre o
7 mesmo assunto algo que natildeo
8 gosto ldquojogordquo
9
10 Taacute toda hora mandando mensage-
11 m daacute raiva mas neacute
12 Somos muito amigo nas
13 redes sociais posta fotos toda
14 hora Mas eacute muito legal sempre
15 faz brincadeiras pelo zapp
16
17 Eu poderia bloquialo mais
18 eacute muito legal telo como amigo
19
20 Gosta de pegar no meu peacute
21 quando o assunto eacute estudo mim
116
22 da sempre vaacuterios concelhos
23
24 Por mais que seja meu amigo vocecirc
25 eacute muito chatooo Fonte Dados da pesquisa
O texto foi escrito em 5 (cinco) paraacutegrafos Natildeo traz marcas explicitas de conversa
com o leitor e haacute um tangenciamento do que pede a instruccedilatildeo visto que a autora falou de
bloqueio No entanto natildeo houve real compreensatildeo do botatildeo de bloqueio da vida real visto que
ela se refere a um bloqueio nas redes sociais Percebemos o uso do coraccedilatildeo ao fim do penuacuteltimo
paraacutegrafo (linha 22) como sendo um recurso multimodal utilizado em meio virtual para
demonstrar agrado agrave ideia (curti)
Houve neste texto uma mudanccedila de interlocutor Inicialmente voltado para uma
audiecircncia mesmo que natildeo se dirigisse diretamente ao leitor o texto passou a ser direcionado
para o amigo chato de Heloiacutesa
Haacute a frequente repeticcedilatildeo do termo mas poreacutem sem uma forma consolidada de uso
visto que Heloiacutesa emprega mas e mais alternadamente
Quadro 28 ndash Produccedilatildeo final Heloiacutesa ndash Tiacutetulo ldquoO melhor chatordquo
1 Vol falar um pouco do meu
2 amigo
3
4 Ele se chama Daniel ele eacute uma
5 boa pessoa estaacute sempre mi
6 ajudando eacute um bom amigo e mim
7 da sempre forccedila pra tudo gosto
8 muito da conpanhia dele
9
10 E vocecirc leitor Vocecirc eacute chato
11
12 Somos chatos tenho 15 anos e sei
13 que chatise eacute estado de espirito
14
15 Ele eacute chato em vez enquando
16 ele eacute muito quando ele me
17 ajuda em algo ele mim trata
18 surper bem ele mim dar muito
19 carinho ele mim oferece cumida
20 quando estou na casa dele
21 natildeo gosta de criticar as pessoas
22
117
23 Ele eacute chato quando reclama
24 de tudo quer tudo do seu jeito
25 que ele conbina da ouvidos a
26 tudo o que falam ele fala demais Fonte Dados da pesquisa
Essa aluna se valeu do que discutimos em sala no dia em que propusemos a reescrita
sobre o que poderiam ser atitudes de uma pessoa legal A turma presente enumerou accedilotildees como
dar carinho oferecer comida ouvir as pessoas atenciosamente tratar bem natildeo criticar as
pessoas como sendo de pessoas legais ao passo que reclamar de tudo soacute querer as coisa do seu
jeito dar ouvidos a fofocas e falar demais como sendo atitudes de pessoas chatas Mencionar
um amigo e descrever atitudes dele eacute um princiacutepio do que conversamos sobre fornecer a
descriccedilatildeo de alguma pessoa e narrar uma situaccedilatildeo No entanto a aluna natildeo aprofundou a
descriccedilatildeo das caracteriacutesticas do amigo ndash apenas nomeou ndash e nem narrou a situaccedilatildeo sugerida
A reescrita foi feita em 6 (seis) paraacutegrafos dentro do que sugere a instruccedilatildeo O seu
primeiro traz uma introduccedilatildeo que chama a atenccedilatildeo preparando o leitor para o que vem a seguir
no texto Consideramos um avanccedilo no sentido de que Heloiacutesa jaacute parece ter feito um plano
melhor de escrita o que pode se consolidar em propostas futuras O segundo paraacutegrafo foi clara
paraacutefrase do texto motivador ldquoO chato da vezrdquo (linhas ldquosei que chatise eacute estado de espiritordquo)
Percebemos diminuiccedilatildeo nas repeticcedilotildees desnecessaacuterias
Na PF a aluna manteve o foco narrando o que lhe acontece descrevendo seu
amigo sem deixar o leitor para conversar com este amigo
Quadro 29 ndash Produccedilatildeo inicial Eliane ndash Tiacutetulo Um pouco de tudo
1 Ai gente nesse mundo agrave
2 muitas pessoas chatas
3 pois eu conheci pessoas
4 chatas e legais
5
6 Na adolecircncia conhecemos
7 pessoas numa pat-papo com
8 os amigos conheci uma
9 amiga pois conversamos e
10 ali natildeo parou mais de
11 falar
12
13 Num sentido e que ela
14 era muito cheia de
15 nheacutem-nheacutem de papo nada
16 ver O egrave o meu pensamento
118
17 que mim engana Mais eu
18 natildeo acho ela chata
19
20 De um tempo pra caacute nos
21 damos muito bem parti-
22 cularmente nos casos eu e ela
23 descordamos de tudo que
24 falamos mas eu acho que
25 duas chatas se dam muito
26 bem Na vida real parece um
27 mundo digital nos natildeo
28 paramos para pensamos nos
29 casos da vida social pessoas
30 postam coisas invalida na
31 rede sociais Fonte Dados da pesquisa
Para a produccedilatildeo inicial Eliane buscou elementos dos textos que lemos em sala De
Prova Falsa percebemos o uso da expressatildeo ldquoera muito cheia de nheacutem-nheacutemrdquo (linhas 14-15)
quando quis falar da amiga com comportamentos chatos De O chato da vez a partiacutecula ldquoAirdquo
como em ldquoAi genterdquo (linha 1) logo no iniacutecio mostra que o texto tem ares coloquiais com
linguagem despojada
Atraveacutes da coloquialidade Eliane se dirige ao leitor poreacutem ficou confuso o
desenvolvimento do tema na conversa proposta na instruccedilatildeo que seria o bloqueio das pessoas
na vida real No tocante ao assunto abordado na instruccedilatildeo Eliane fala de ser chato e ser legal
e menciona as redes sociais poreacutem seu texto entre as linhas 26 e 31 (ldquoNa vida real parece um
mundo digital nos natildeo paramos para pensamos nos casos da vida social pessoas postam coisas
invalida na rede sociaisrdquo) natildeo teve desenvolvimento quebrando assim a coerecircncia
Quadro 30 ndash Produccedilatildeo final Eliane ndash Tiacutetulo O que e chato e o que e legal
1 Ai gente eu sou muito chata
2 Afirmou uma amiga em um bate-papo
3 com os colegas Eu natildeo te acho chata
4 vc e uma pessoa carinhosa aceitar
5 as diferenccedilas dos outros
6
7 Pois eacute muitas pessoas tem suas referen-
8 ccedilas mas isso natildeo quer dizer que
9 todos que estatildeo aqui satildeo chatos
10 Adriana ela e companheira Delci e
11 carinhosa
119
12
13 Mais alguns tem outro estorico de
14 pensamento por exemplo O Luis reclamar
15 demais Rosi e falza Eu particularmente
16 faccedilo de tudo pra natildeo ser chata
17 tento conversar da maneira possiacutevel
18 ajudar as pessoas em tudo quer
19 posso
20
21 Por isso tem um sentido de tudo
22 seja o que vc eacute natildeo o que as
23 pessoas queram o que vc sejam
24 mas que seja uma pessoa dignar Fonte Dados da pesquisa
A PF de Eliane possui tiacutetulo agora mais direcionado agrave instruccedilatildeo visto que a aluna
considerou falar a respeito do que para ela eacute ser chato e o que eacute ser legal O primeiro paraacutegrafo
do texto (linhas 1-5) eacute uma paraacutefrase do paraacutegrafo inicial do texto motivador poreacutem conteacutem o
teor da tempestade de ideias realizada antes da produccedilatildeo
O paraacutegrafo seguinte eacute interessante porque traz em si a ideia de ponto de vista e
toleracircncia afinal todos tecircm defeitos (ldquomas isso natildeo quer dizer que todos que estatildeo aqui satildeo
chatosrdquo linhas 8-9) mas qualidades tambeacutem (ldquoAdriana ela e companheira Delci e carinhosardquo
linhas 10-11) Houve uma evoluccedilatildeo na organizaccedilatildeo dos paraacutegrafos
Houve emprego adequado dos sinais de pontuaccedilatildeo dois-pontos e a viacutergula como
em ldquopor exemplo O Luis reclamar demais Rosi e falzardquo (linhas 14-15)
Eliane em sua reescrita atendeu agrave sugestatildeo de utilizar exemplos podendo colocar
personagens no seu texto No entanto percebemos que ela ainda natildeo compreendeu que para
tanto seria necessaacuterio mais que apenas nominar pessoas e adjetivaacute-las mas realmente fazer um
exerciacutecio de descriccedilatildeo mais detalhado fazendo seu leitor compreender por que ldquoO Luis
reclamar demaisrdquo (linhas 14-15) e a ldquoRosi e falzardquo (linha 15) por exemplo
Quanto agrave audiecircncia Eliane entende que conversa com um leitor como vemos por
exemplo em ldquoseja o que vc eacute natildeo o que as pessoas queram o que vc sejamrdquo (linhas 22-23)
poreacutem natildeo manteacutem o foco visto que mistura a audiecircncia com o personagem ldquoEu natildeo te acho
chata vc e uma pessoa carinhosardquo (linhas 3-4)
O texto natildeo atende agrave proposta de considerar o botatildeo de bloqueio na vida real como
consta da instruccedilatildeo
120
Quadro 31 ndash Produccedilatildeo inicial Joana ndash Tiacutetulo Pessoas chatas e outras legal
1 Pessoas chatas tem muitas pessoas que diz
2 que a outra e chata tem pessoas chata satildeo
3 aquelas que fazem muitas perguntas que saber
4 da vida do outro essas pessoas se torna muito chata
5
6 Muitas pessoas no Facebook que eu natildeo gosto de aceita
7 porque jaacute cei que ela e muito chato jaacute bloquei
8 muitas pessoas nesse caso de se chato deacute mas
9 porque fica mandando mensagem sem noccedilatildeo que
10 rendo saber da sua vida isso que eacute chato
11 pra mim pessoas que tu natildeo suporta se fose
12 eu bloquairia case todo mundo
13
14 Pra mim pessoas legal e aquelas que teu
15 jaacute persebe pelo jeito dessa pessoa eu tenho
16 uma amizade muito legal pra mim eu sou
17 uma menina que faso amizade muito raacutepdo
18 mas as mizades que eu fasso eu percebo logo
19 se essa amizade vai ser boa ou natildeo tenho mui
20 tas pessoas no face que eu acho legal que satildeo
21 boa de se se conversa natildeo faiz ldquomuitas perguntasrdquo
22 e muito bom ter uma amizade legal
23 pessoas legais satildeo oacutetimas de conversa natildeo tir inte
24 ronper quando tu taacute falando essa que satildeo pra
25 mim pessoas legais eu acho que tenho
26 muitas pessoas legal Fonte Dados da pesquisa
Podemos dizer que Joana criou seu texto em trecircs paraacutegrafos apesar de natildeo haver
um ponto para demonstrar se era realmente o final ou se ela desejava continuar escrevendo
Aliaacutes seus paraacutegrafos natildeo trazem pontuaccedilatildeo mostrando que o fluxo das ideias foi contiacutenuo
natildeo havendo o procedimento de elaboraccedilatildeo do rascunho para a seguir passar a limpo
concatenando melhor as ideias
Seu tiacutetulo natildeo foi atrativo poreacutem foi relativo ao assunto da instruccedilatildeo Em se
tratando do desenvolvimento do tema a aluna tem em mente o que eacute ser chato e o que eacute ser
legal poreacutem natildeo extrapola na compreensatildeo visto que desenvolve um paraacutegrafo descrevendo
seu procedimento na rede social natildeo fazendo a analogia com a vida real e o botatildeo de bloqueio
Natildeo houve a consideraccedilatildeo da audiecircncia nem a conversa com o leitor pedida na
instruccedilatildeo
121
Quadro 32 ndash Produccedilatildeo final Joana ndash Tiacutetulo Pessoas otimas
1 Ser legal e vocecirc tendo humildade com
2 uma pessoa ajuda ela em tudo que vocecirc
3 porde ter um pouco de paciecircncia com essa
4 pessoa vocecirc tecircm que ter amor por ela eacute com-
5 sidera ela como sua amiga ou irmatildeo tecircm
6 varias coisas pra vocecirc ser torna uma otima
7 pessoa Pra mim ser legal com migo eacute min
8 trata bem o que eu perdi tem que min da
9 e se min dar todo dia uma caixa de bombo
10 Garoto esse se torna oacutetimo pra mim
11
12 pessoas chatas e aquela que critica muito
13 as pessoas natildeo sabendo da vida dela sair
14 falando dela pra todo mundo chato e
15 aquela que quer saber de mais da sua
16 vida se torna iguinorante ETC temos que
17 ter mas um pouco de humo com essas
18 eu natildeo suporto pessoas chata se puder
19 nem fala com migo seria melhor ainda Fonte Dados da pesquisa
Apoacutes a tempestade de ideias da aula destinada agrave reescrita Joana reescreveu seu
texto em dois paraacutegrafos dedicando um a mostrar o que eacute ser chato e o seguinte ao que eacute ser
legal em sua opiniatildeo No entanto natildeo parece ter compreendido que natildeo bastava elencar
situaccedilotildees do que eacute ser chato e ser legal mas contar narrar situaccedilotildees vivenciadas ou observadas
a fim de entreter seu leitor
Na reescrita a aluna natildeo considera a audiecircncia visto que seu texto parece mais
trazer em si opiniotildees sem incitar reflexotildees Joana se distancia do que consta na instruccedilatildeo que
eacute o bloqueio na vida real imitando as redes sociais apenas afirma nas linhas 18-19 que ldquoeu
natildeo suporto pessoas chata se puder nem fala com migo seria melhor aindardquo Seu tiacutetulo soacute tratou
agora de um lado do comportamento humano (ldquoPessoas otimasrdquo) e deve ter sido colocado apoacutes
a finalizaccedilatildeo do texto quando foi verificar se havia tiacutetulo
Assim apoacutes a anaacutelise dos textos A dos alunos percebemos a evoluccedilatildeo dos itens
presentes e os distribuiacutemos no quadro autoavaliativo
Durante a produccedilatildeo dos textos observamos os alunos presentes procurando
perceber algo sobre seu processo de planejamento de escrita O que foi detectado nas primeiras
produccedilotildees poucos deles fizeram um rascunho antes de escreverem na folha de produccedilatildeo
recebida alguns textos jaacute deram sinais de que alguns alunos entenderam o que eacute a ldquoconversa
122
com o leitorrdquo alguns partiram de uma situaccedilatildeo vividaobservada para compor seu texto no
entanto mais parecendo um relato pessoal ou um diaacuterio pessoal do que uma abordagem de
crocircnica poucos narraram essa situaccedilatildeo de forma clara para que o leitor pudesse acompanhar
poucos posicionaram o foco narrativo de maneira adequada vaacuterios apenas tangenciaram a
proposta de produccedilatildeo Essas dificuldades constituiacuteram o cerne a ser explorado nas atividades
dos moacutedulos aplicados nos encontros da sequecircncia
Podemos estabelecer um graacutefico para melhor visualizaccedilatildeo dos resultados ateacute essa
etapa
Graacutefico 7 ndash Avaliaccedilatildeo das crocircnicas A
Fonte Dados da pesquisa
Como vemos houve na maioria dos itens avaliados uma sensiacutevel melhora apesar
das dificuldades ainda apresentadas Percebemos que vaacuterios alunos ainda focam em apenas
alguns aspectos do texto que conteacutem a instruccedilatildeo de produccedilatildeo deixando de contemplar o todo
como por exemplo o botatildeo de bloquear na vida real ndash diversos alunos natildeo atingiram esse
objetivo no texto acreditamos que porque lhes faltou uma releitura direcionada para verificaccedilatildeo
de tudo o que havia sido pedido Isso nos mostra que os alunos ao tomarem contato com seus
textos de uma primeira produccedilatildeo escrita se orientados a ter um pouco mais de paciecircncia sem
a urgecircncia de entregar logo a tarefa e se incentivados a reler se autoavaliar e a ouvir sugestotildees
0
2
4
6
8
10
12
14
Avaliaccedilatildeo das crocircnicas A
PI PF
123
podem sim progredir no sentido de se tornarem escritores mais haacutebeis enquanto conscientes
das etapas que regem o processo de escrita de textos
532 Produccedilotildees B textos para circulaccedilatildeo social
A produccedilatildeo para circulaccedilatildeo social foi chamada de produccedilatildeo B e corresponde ao
trabalho com um puacuteblico que variou entre 4 (quatro) a 8 (oito) alunos frequentes dentre os
quais apenas 4 (quatro) produziram o texto para fins de circulaccedilatildeo social real Nesta etapa
foram realizados 5 (cinco) encontros com duraccedilatildeo de 10 (dez) horasaula e leitura de quatro
crocircnicas ineacuteditas para os alunos (A cara da rua A carta de punho Amor de Macumba e Sr
Google Pacheco) e atividades correspondentes
A leitura desses textos foi produtiva para a classe no sentido de compreender que
cada crocircnica traz em si o resultado da reflexatildeo que o cronista consegue realizar das situaccedilotildees
que vivencia ou observa Identificar as situaccedilotildees geradoras das crocircnicas lidas ao longo dos
moacutedulos fez parte do trabalho que conduziu os alunos a falar de vaacuterios assuntos que poderiam
tornar-se temas de textos Copiamos no quadro e eles nos cadernos Eram temas do cotidiano
como assalto relaccedilotildees sociais vida de youtuber bullying fome cujas situaccedilotildees jaacute
observadasvivenciadas por eles mesmos poderiam render uma reflexatildeo
Aparentemente a dificuldade maior dos alunos eacute em expressar essa situaccedilatildeo sem
que ora pareccedila um relato iacutentimo como diaacuterio ou memoacuterias pois a natural disposiccedilatildeo de seus
textos traz uma sequecircncia narrativa um relato de emoccedilotildees pessoais poreacutem natildeo necessariamente
conduz o leitor a uma reflexatildeo ora por vezes pause a narraccedilatildeo e interaja com o leitor por meio
de perguntas ou ainda faccedila um texto com forccedila injuntiva ou com moral da histoacuteria
Para a escrita e a reescrita do texto desta etapa a PF-B incentivamos nossos alunos
a utilizar o quadro autoavaliativo tocando nos pontos mais sensiacuteveis identificados desde a PI-
A Natildeo foi estipulado um nuacutemero de paraacutegrafos deixando os alunos agrave vontade para produzir
Consideramos como audiecircncia um puacuteblico leitor que tivesse sua idade aproximadamente que
entendesse seus problemas dilemas alegrias que fizesse parte de seu mundo frequentando a
escola tendo amigos observando qualidades boas do ser humano ou mazelas da vida podendo
esse puacuteblico acessar redes sociais ou natildeo De toda forma o ideal seria conversar com o leitor
sobre questotildees cotidianas situando-o no tempo e no espaccedilo da crocircnica O texto B foi
integralmente produzido em meio digital a pedido dos proacuteprios alunos por celular ou
computador conforme o material que tivessem disponiacutevel em matildeos e nenhum foi produzido
124
em sala limitado pelo horaacuterio de aula No entanto foi feito o acordo dos prazos de entrega de
cada texto a fim de podermos imprimir e levar para trabalho de leitura releitura feedback da
professora-pesquisadora feedback dos colegas permitindo a cada autor reflexatildeo sobre o texto
e possibilitando a reescrita
Os alunos que se engajaram na produccedilatildeo da crocircnica para circulaccedilatildeo social foram os
alunos Ana Rodrigo Eduardo e Estela Os tiacutetulos das produccedilotildees inicial e final estatildeo no quadro
a seguir
Quadro 33 ndash Tiacutetulos das produccedilotildees para circulaccedilatildeo social
Tiacutetulo PI-B PF-B
Ana PROIBIDA DE ACHAR
GRACcedilA
Rodrigo Vida de preguiccediloso VIDA DE PREGUICcedilOSO
Eduardo INFAcircNCIA FELIZ
Estela ldquoDown= bullyingrdquo DOWN= BULLYING
Fonte Dados da pesquisa
Esses textos diferentemente das produccedilotildees A foram escritos utilizando aparelhos
de celular O acordo foi feito com os alunos em virtude da preferecircncia destes em gostarem de
escrever utilizando-se da tecnologia facilitando o registro a releitura e a reescrita segundo eles
mesmos visto que o meio virtual tambeacutem atenderia a ideia da circulaccedilatildeo dos textos A anaacutelise
das produccedilotildees B estaacute descrita ao longo desta seccedilatildeo
Quadro 34 ndash PIB Ana
1
2
3
Que situaccedilatildeo Eacute o que penso ateacute hoje Pude presenciar um niacutevel de babaquice
e de falta do que fazer de uma garota da minha escola que pra ser sincera eu nem ao
menos sei o nome dela
4
5
6
7
8
Tava eu junto com mais quatro amigos na cantina da minha escola no
finalzinho do recreio estaacutevamos rindo e conversando como sempre Chegaram duas
meninas de outra sala que eu nunca falei nem sabia de onde saiacuteram natildeo sabia nada
sobre ela poreacutem sei que sabiam sobre mim coisas do tipo novata do 9 ano meio
doida duvido se natildeo sabiam ate meu nome Bem nem tava prestando atenccedilatildeo nelas
125
9
10
11
12
13
14
15
16
17
Quando meu amigo brincou eguas de novo Sorriu e depois pediu
desculpas logo que percebeu o tamanho das meninas e todo mundo riu quando ele
brincou EU JURO que fiquei seacuteria mas natildeo aguentei quando ele pediu desculpas
com medo de levar uns supapos Foi entatildeo que comecei a rir e umas das meninas olhou
pra mim com uma cara super ameaccediladora dizendo tu ta rindo do que Ta achando
graccedila eacute Cara tinha quatro pessoas aleacutem de mim QUATRO seacuterio que ela
enchergou soacute a mim ali Eacute ser muito babaca pra chegar em um ponto desse minha
uacutenica reaccedilatildeo foi natildeo pera ela taacute falando comigo serio isso Gente Qual o nome
dela algueacutem aqui a conhece SOCORRO
18
19
Ate hoje me pergunto qual o problema dela Mas prefiro nem chegar perto
Vai que essa doenccedila pega
Fonte Dados da pesquisa
O texto de Ana foi composto de 4 (quatro) paraacutegrafos Sua conversa com o leitor
natildeo eacute com elementos expliacutecitos como na instruccedilatildeo sugerida na produccedilatildeo A mas percebe-se que
ela se importa com uma audiecircncia visto que narra para uma pessoa explicando a situaccedilatildeo
vivenciada contando ao seu leitor suas impressotildees mostrando as falas que ocorreram dando a
perceber os outros personagens que entraram na histoacuteria
As notaccedilotildees linguiacutesticas para indicar intensidade surpresa e algumas viacutergulas estatildeo
razoavelmente bem empregadas como vemos em ldquoeguas de novordquo (linha 9) que separa a
expressatildeo de surpresa ldquoeacuteguasrdquo com uma viacutergula e finaliza a frase com interrogaccedilatildeo
acompanhada de exclamaccedilatildeo atribuindo maior intensidade agrave fala
Quadro 35 ndash PFB Ana ndash Tiacutetulo PROIBIDA DE ACHAR GRACcedilA
1
2
3
E que situaccedilatildeo Eacute o que eu penso ateacute hoje Pude presenciar um niacutevel de babaquice
e de falta do que fazer de uma garota da minha escola que pra ser sincera eu nem ao
menos sei o nome dela
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Estava eu junto com mais quatro amigos na cantina da minha escola no
finalzinho do recreio Estaacutevamos rindo e botando conversa fora de boa na paz Entatildeo
duas meninas que eu natildeo conheccedilo ndash jaacute tinha ateacute visto as duas mas nunca tinha falado
com elas nem ao menos sabia o nome delas mas sei que elas sabiam de mim certeza
Aquele pessoal fala demais ndash chegaram e estavam repetindo o lanche Ateacute entatildeo nem
tava reparando na presenccedila delas
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Foi quando meu amigo brincou nossa vatildeo repetir de novo Eu olhei entendi
e nem dei importacircncia nem quis rir pra natildeo arrumar confusatildeo Elas olharam pra ele
com uma cara bem ameaccediladora e ele se arrependeu e pediu desculpas Nessa hora eu
natildeo aguentei e ri poreacutem dele Pensei eita macho ficou com medo de levar uns
sopapos Todo mundo rindo Foi entatildeo que uma delas olhou pra mim me batendo
verbalmente tu taacute rindo de quecirc Taacute achando graccedila eacute Mano do ceacuteu essa menina
tem problema soacute pode Foi minha uacutenica reaccedilatildeo Com quatro pessoas aleacutem de mim ali
sorrindo e ela pergunta soacute pra mim Eacute ser muito babaca pra chegar a esse ponto seacuterio
isso Perguntei pros meus amigos ldquogente qual o nome dela Ela taacute falando pra mim
mesmo SOCORRO
19
20
Ainda bem que meus amigos estavam ali senatildeo eu tava ferradinha Ateacute hoje
me pergunto qual o problema dela Mas prefiro nem chegar perto Vai que isso pega
Fonte Dados da pesquisa
Os quatro paraacutegrafos tiveram uma reelaboraccedilatildeo mas mantiveram-se em mesmo
nuacutemero na PFB de Ana Seu tiacutetulo permaneceu o mesmo e tem a ver com o teor da crocircnica
Quanto ao uso da pontuaccedilatildeo houve inclusive utilizaccedilatildeo de novo recurso o entre
travessotildees a partir de uma sugestatildeo dada pela professora-pesquisadora que indica um adendo
de informaccedilotildees agrave ldquoconversardquo que a narradora conduziu
Pudemos perceber uma melhor descriccedilatildeo da ambientaccedilatildeo onde a situaccedilatildeo
vivenciada se passou consolidando o tempo do finalzinho do recreio situaccedilatildeo que durou muito
pouco mas que para a autora durou com intensidade
O final foi interessante e ateacute cocircmico trazendo questotildees a se pensar como a amizade
e o companheirismo versus a implicacircncia de pessoas desconhecidas (podemos ver seu aliacutevio
em ldquoAinda bem que meus amigos estavam ali senatildeo eu tava lsquoferradinharsquordquo na linha 19) e o
quanto eacute raacutepido - e tolo - para nascer um conflito
Quadro 36 ndash PIB Rodrigo ndash Tiacutetulo Vida De preguiccediloso
1
2
Vocecirc tem preguiccedila Tem preguiccedila de ter preguiccedila perdeu alguma coisa por
causa de preguiccedila
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Natildeo eacute muito certo ter preguiccedila de tudo dizem que eacute pegado mas natildeo vejo mal
nem um em ter preguiccedila oacutebvio que nem todo tempo vou ter preguiccedila mas a maior parte
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6 do tempo sim sou tatildeo preguiccediloso que dormi com fome pra natildeo ir ateacute a geladeira parece
um pouco absurdo mas eacute verdade
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Natildeo sei vocecirc mas eu jaacute dormi no sofaacute com preguiccedila de ir pra cama certo que
vida de preguiccediloso natildeo eacute la essas mil maravilhas principalmente se vocecirc mora sozinho(a)
eacute muito bom passar o dia deitado mexendo no celular ou PC e com um lanchinho do
lado
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Mas o simples fato de eu pensar que vou ter que tecirc uma famiacutelia um emprego
meu carro minha empresa meu cachorro
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Jaacute da ateacute preguiccedila de sair da cama mas vocecirc jaacute pensou como seria bom se natildeo
existisse nada disso pra se preocupar
15 Seria muito bom natildeo eacute
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A preguiccedila jaacute se tornou parte do cotidiano tenho quase certeza que nesse
momento vocecirc estaacute com preguiccedila natildeo eacute
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Muito bom passar o dia sem fazer nada Poreacutem um pouco cansado pela falta
de exerciacutecio fiacutesico mas nada quecirc um bom lanche natildeo resolva vida de preguiccediloso natildeo
leva a lugar nem um falo isso por mera experiecircncia
21 Mas eacute assim mesmo logo logo a preguiccedila passa pelo menos eu acho
Fonte Dados da pesquisa
O texto de Rodrigo partiu de uma situaccedilatildeo observadavivida Conversa com o leitor
(ldquovocecirc jaacute pensou como seria bom serdquo linha 12) sobre o tema preguiccedila A repeticcedilatildeo do termo
preguiccedila foi objeto de questionamento na aula ao que o aluno respondeu que utilizou-se da
estrateacutegia para reforccedilar a situaccedilatildeo e provocar no leitor a preguiccedila de ler ao que os colegas
aprovaram achando inclusive engraccedilado O narrador eacute personagem e coloca para seu leitor as
impressotildees de como eacute viver com o miacutenimo de disposiccedilatildeo poreacutem com a consciecircncia de que natildeo
eacute o ideal para a vida O final natildeo eacute interessante ou surpreendente poreacutem se adequa ao
desenvolvimento do texto Possui tiacutetulo apropriado
Quadro 37 ndash PFB Rodrigo ndash Tiacutetulo VIDA DE PREGUICcedilOSO
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Vocecirc tem preguiccedila Tem preguiccedila de ter preguiccedila Perdeu alguma coisa por
causa de preguiccedila
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4
Natildeo eacute muito certo ter preguiccedila de tudo dizem que eacute pecado mas natildeo vejo mal
nenhum em ter preguiccedila Oacutebvio que nem todo tempo vou ter preguiccedila mas na hora de
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jogar aquela bola ningueacutem tem preguiccedila mas agora fala em arrumar a cama A preguiccedila
sai de baixo da cama pra vocecirc Eu tenho preguiccedila a maior parte do tempo Sou tatildeo
preguiccediloso que dormi com fome para natildeo ter de ir ateacute a geladeira pegar comida Parece
um pouco absurdo mas eacute verdade
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Aiacute vocecirc acorda e vai ateacute a sala daiacute vocecirc se deita no sofaacute e esquece o controle
em cima da mesa do computador ou da estante aiacute daacute aquele grito ldquoocirc manhecircecircecircecircecircecircecircecircrdquo
Logo ela vem correndo saber o que aconteceu e vocecirc na maior cara de pau diz pega
o controle pra mim Na hora que vocecirc diz isso vocecirc desperta todos os capirotos do
mundo ela ainda fala aquela frase que toda matildee diz o QUEcirc menino Isso serve pra
tudo que vocecirc pede pra sua matildee fazer pra vocecirc ateacute mesmo apagar a luz
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Quando eu estiver em um relacionamento minha namorada natildeo vai precisar
se preocupar com traiccedilatildeo Tenho preguiccedila de ir bem aiacute na esquina comprar o patildeo
imagine sair para trair ela Mas eacute muita melodia
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A vida de um preguiccediloso em si ela eacute uma grande sobrevivecircncia Natildeo muita
mas vocecirc vai ter de lutar para conseguir comida enfrentar o Vingador da Caverna do
Dragatildeo o quarto do furacatildeo e a cama do pavor Preguiccediloso pode vencer tudo isso mas
nunca conseguiraacute vencer a preguiccedila ndash pelo menos eu nunca consegui
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Era tatildeo lindo quando eu dormia no sofaacute e acordava na cama graccedilas a meus
pais Mas os tempos mudaram vocecirc dorme no chatildeo e acorda no chatildeo Deixar pra fazer
amanhatilde o que pode fazer hoje isso sim eacute tiacutepico de um preguiccediloso mas agraves vezes nem
fazemos
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Todos noacutes temos aquela cadeira que na hora de dormir sempre colocamos
todas as coisas de cima da cama em cima dela soacute por preguiccedila de arrumar tudo em seu
devido lugar
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Um celular PC tablet televisatildeo tudo isso com internet uma tomada tudo do
seu lado tem como natildeo ter preguiccedila ateacute de procurar aquela seacuterie na Netflix Certo que
o celular ou o PC tem comando de voz soacute pra falar o nome da seacuterie que vocecirc quer assistir
e tecnologicamente ir direto pra seacuterie mas daacute uma preguiccedila de falar e ainda com um
lanche do lado ateacute imagino o quatildeo seria top passar o dia assim Mas tem que estudar
fazer comida dar banho do cachorro limpar a casa e lavar a louccedila Ai ai daacute preguiccedila
soacute de pensar nisso Um dia vou perder essa preguiccedila pelo menos assim espero
Fonte Dados da pesquisa
129
O uso de expressotildees coloquiais como em ldquoMas eacute muita melodiardquo (linha 17) para
mostrar o quanto daacute trabalho trair a namorada e a corrente entre os jovens ldquoo quatildeo seria top
passar o dia assimrdquo (linha 33) deu colorido agrave crocircnica
O uso de notaccedilotildees linguiacutesticas para realccedilar o texto como em ldquoocirc manhecircecircecircecircecircecircecircecircrdquo
(linha 10) que mostra prolongamento da voz o QUEcirc meninordquo (linha 13) que indica tom
de voz mais alto e forte aleacutem da pontuaccedilatildeo que exclama a pergunta O uso do travessatildeo como
forma de colocar uma explicaccedilatildeo em evidecircncia foi adotado por sugestatildeo nossa como em ldquondash
pelo menos eu nunca conseguirdquo (linha 21) tambeacutem enriqueceu o texto
Ainda houve repeticcedilatildeo de termos sem intenccedilatildeo como em ldquomas na hora de jogar
aquela bola ningueacutem tem preguiccedila mas agora fala em arrumar a camardquo (linhas 4-5)
O final foi interessante levando a audiecircncia a refletir e a se divertir tambeacutem com a
descriccedilatildeo das situaccedilotildees ndash algumas ateacute inusitadas ndash de preguiccedila mas que acontecem em algum
grau com os leitores jovens
Quadro 38 ndash PIB Eduardo ndash Tiacutetulo
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Eu gosto muito de comida principalmente uma lasanha Porque eacute gostoso
mata a fome e deixa a gente feliz Bons tempos quando agente era crianccedila tomava aquele
belo leite antes de domir acordava de manhatilde bem cedinho com o cherinho do cafeacute na
mesa mas o tempos mudou E hoje em dia as crianccedilas dorme tarde natildeo se alimentatildeo
direito so querem comer besteras prejudicando a sauacutede
6 Era engraccedilado quando minha matildee dizia
7
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Come a salada do prato se vocecirc comer tudinho mamatildee te dar um doccedile de
leite e agente comia
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E quando noacutes tinha dor de barriga a matildee ja vinha com o chaacute de bodo para dar
pra noacutes tomar E quando jogava bola e noacutes se arranhava a matildee ja tava nas matildeos o
merthiolate para passa na gente
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E quando o pessoal ia jogar bola reunia a galera e ia chamar a turma todinha
para jogar nosso campo era em um local de pissarra com muro em volta e quando a
bola cailha na casa da quela vizinha chata um de noacutes tiamos que pega o mas corajoso
se arricar a buscar e esse corajoso era eu lembro que uma vez eu chutei a bola para laacute
e machuquei um das plantas dela e vizinha fofocou para minha matildee e mamatildee colocou
eu de cartigo
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Agora as crianccedilas so querem ficar trancada dentro do quarto mechendo no seu
celular PC em geral
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Percebi que a infacircncia de hoje natildeo eacute mas a mesma de antigamente Hoje em
dia tamos rodiado de tecnologia crianccedilas jovens tem celulares internet computadores
mas antigamente natildeo era assim natildeo tou querendo criticar a tecnologias pois eu vivo na
tecnologia hoje Nesse tempo de hoje das tecnologia se vocecirc quer ouvir uma muacutesica eacute
soacute ir no YouTube ou fazer o download quer conversar com um amigo eacute soacute entra no
Whatsapp e conversar Mas quando era antigamente se quissemos ouvir uma
muacutesica tiamos que esperar passar no raacutedio ou comprar um CD bem ali na banca se
quisesse conversar com um amigo distante teria que ir na casa dele ou enviar uma carta
para ele
29
30
E quando era natal ano novo famiacutelia toda reunida mesa cheia de comida
deliciosas isso era muito bom
31
32 SO SEI QUE A INFACIA QUE EU TIVE FOI MUITA OTIMA lt3
Fonte Dados da pesquisa
Composto por 9 (nove) paraacutegrafos o texto de Eduardo partiu de uma situaccedilatildeo
vivida em que ele observa a passagem do tempo e as mudanccedilas de haacutebitos com uma certa
nostalgia buscando a atenccedilatildeo do leitor atraveacutes da reflexatildeo sobre a imersatildeo na tecnologia Seu
texto comeccedila com uma associaccedilatildeo da comida que ele gosta e que ldquopuxardquo outras questotildees que
perpassam a alimentaccedilatildeo o sono as brincadeiras narrando inclusive desventuras vividas
Ao final nas linhas 29-30 o paraacutegrafo parece desconexo visto que natildeo evolui e
nem se liga ao anterior
A ortografia e a pontuaccedilatildeo nesse momento natildeo haviam sido a prioridade embora
os alunos jaacute estivessem de posse do quadro autoavaliativo Eduardo foi um dos alunos que mais
se surpreendeu com a releitura do texto no tablet como haviacuteamos descrito na seccedilatildeo sobre os
procedimentos posto que os erros e sugestotildees satildeo apontados pelo aplicativo editor de textos
Ele afirmou que foi bastante uacutetil para que ele observasse os erros visto que natildeo tinha
consciecircncia dos mesmos
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Quadro 39 ndash PFB Eduardo ndash INFAcircNCIA FELIZ
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Eu gosto muito de comida principalmente uma lasanha Porque eacute gostoso
mata a fome e deixa a gente feliz Bons tempos quando a gente era crianccedila tomava
aquele belo leite antes de dormir acordava de manhatilde bem cedinho com o cheirinho do
cafeacute na mesa mas os tempos mudaram Hoje em dia as crianccedilas dormem tarde natildeo se
alimentam direito soacute querem comer besteiras prejudicando a sauacutede
6
7
Era engraccedilado quando minha matildee dizia Come a salada do prato se vocecirc
comer tudinho mamatildee te daacute um doce de leite e a gente comia
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E quando noacutes tiacutenhamos dor de barriga a matildee jaacute vinha com o chaacute de boldo para
dar pra tomar E quando jogaacutevamos bola e nos arranhaacutevamos a matildee jaacute estava com o
mertiolate nas matildeos para passar na gente
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E quando o pessoal ia jogar bola reunia a galera e ia chamar a turma todinha
para jogar nosso campo era em um local de piccedilarra com muro em volta e quando a bola
caiacutea na casa da aquela vizinha chata um de noacutes tinha que pegar o mais corajoso se
arriscar a buscar e esse corajoso era eu Lembro que uma vez eu chutei a bola para laacute e
machuquei um das plantas dela e a vizinha fofocou para minha matildee e mamatildee colocou
eu de castigo Quem nunca morreu de medo de voltar para casa com aquela roupa cheia
de barro e levar uma bronca
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Vocecirc pode ateacute achar que eu jaacute acabei a minha infacircncia mas ainda tocirc nela pois
a infacircncia que eu era mais novo natildeo eacute mas a mesma do que a de hoje
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Agora as crianccedilas soacute querem ficar trancadas dentro do quarto mexendo no seu
celular PC em geral
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Percebi que a infacircncia de hoje natildeo eacute mas a mesma de antigamente Hoje em
dia estamos rodeados de tecnologia Crianccedilas jovens tem celulares internet
computadores mas antigamente natildeo era assim Natildeo estou querendo criticar a tecnologia
pois eu vivo na tecnologia hoje Nesse tempo de hoje se vocecirc quer ouvir uma muacutesica eacute
soacute ir no YouTube ou fazer o download Quer conversar com um amigo eacute soacute entrar no
WhatsApp e conversar Mas quando era antigamente se quiseacutessemos ouvir uma muacutesica
tiacutenhamos que esperar passar no raacutedio ou comprar um CD bem ali na banca Se quisesse
conversar com um amigo distante teria que ir na casa dele ou enviar uma carta para ele
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Pois agora as crianccedilas jaacute respondem com ignoracircncia para seus pais Se eu
resmungasse para minha matildee pelo menos um Taacute bom taacute bom mamatildee jaacute me batia Ela
ainda me colocava de joelho no chatildeo e eu morrendo de chorar mamatildee dizia Engole o
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choro mas eu natildeo sabia engolir o choro Seraacute que tinha que pegar um copo para
colocar as minhas laacutegrimas do meu choro Natildeo sei mas eu acho que eacute melhor natildeo
arriscar de me levantar e apanhar mais ainda
36 O mais engraccedilado eacute que chinela de matildee sempre acerta [
37 Mesmo apanhando
38 SOacute SEI QUE A INFAcircNCIA QUE EU TIVE FOI MUITO OacuteTIMA lt3
Fonte Dados da pesquisa
O texto teve uma ampliaccedilatildeo e o aluno pediu ajuda agrave professora-pesquisadora para
a correccedilatildeo da pontuaccedilatildeo e tambeacutem da ortografia para ldquoevitar aquela coisa toda vermelha
professorardquo que seria rever no tablet o editor mostrando os erros Bastante empenhado Eduardo
colocou suas impressotildees lado bom e ruim para que seu leitor pudesse acompanhar o que seria
uma infacircncia adequada Nas linhas 18-19 em ldquoVocecirc pode ateacute achar que eu jaacute acabei a minha
infacircncia mas ainda tocirc nela pois a lsquoinfacircncia que eu era mais novorsquo natildeo eacute mas a mesma do que
a de hojerdquo Valeu a discussatildeo com os colegas e com a professora-pesquisadora a respeito dessa
nostalgia visto que o autor ainda eacute um adolescente de 15 anos
O final convenhamos embora natildeo seja muito paciacutefico natildeo deixa de causar o riso
no leitor visto que em ldquoMesmo apanhandordquo (linha 37) as reticecircncias deixam o pensamento
em aberto e o leitor conclui pelo exposto que ainda assim valia a pena a infacircncia menos
tecnoloacutegica e mais fora de casa
Quadro 40 ndash PIB Estela ndash Tiacutetulo ldquoDown= bullyingrdquo
1
2
Antigamente eu natildeo me importava tanto mas hoje penso bastante sobre o
assunto por que as pessoas praticam o bullying
3
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Na minha opiniatildeo a praacutetica de bullying eacute desnecessaacuteria pois noacutes natildeo
ganhamos nada em humilharmenosprezar o proacuteximo natildeo eacute mesmo eacute bem melhor ser
gentil ser solidaacuterio aceitar os defeitos do proacuteximo
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Conheccedilo uma garota chamada Beatriz jovem de dezenove anos(19) que tinha
siacutendrome de Down ela era uma garota bem extrovertida amigaacutevel carinhosa etc
Muitos a criticavam por conter essa siacutendrome por ser diferente Ela tinha seu tinha seu
lado carinhoso mas tambeacutem tinha o seu lado revoltadobravo e todos criticavam-na por
ser diferente por ter esse seu lado ldquobipolarrdquo pelo fato dela mudar de humor tatildeo
facilmente
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Muitos faziam o possiacutevel para evitar sua presenccedila por perto eles a eles
simplesmente natildeo aceitavam o fato dela ter aquela siacutendrome pra eles ela natildeo era ldquoigualrdquo
a eles eles deveriam aceitaacute-la da maneira que ela nasceu da maneira em que ela foi
gerada
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Chamavam-na por apelidos maldosos e preconceituosos como por exemplo
doida (pelo simples fato dela ter siacutendrome de Down que a diferenciava das demais
pessoas) de retardada de doente chamavam-na de feia ridiacuteculaetc
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Ao sofrer esses preconceitos ela sempre revidavasempre reagia com agressotildees
e xingamentos terriacuteveis o que agravava cada vez mais a situaccedilatildeo Acho que por ela
conter essa doenccedila ela natildeo levava muito a seacuterios esse preconceito essa indiferenccedila
acho que pelo fato de ela conter essa doenccedila desde a formaccedilatildeo de seu feto deve ter
ocorrido algumas alteraccedilotildees em seu ceacuterebro na parte mentalo que prejudica muito a
crianccedila em questotildees de aprendizado de se socializar e que a levava a considerar essas
praacuteticas de bullying como uma brincadeira
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E tambeacutem sua matildee natildeo era aquele tipo de matildee que se interessava como foi o
dia na escola se as aulas foram boas essas coisas que normalmente as matildees fazem E
ela tambeacutem natildeo morava junto a seu pai pois creio que era divorciado de sua matildee
moravam somente ela sua matildee e sua irmatilde mais nova de dezessete anos (17)
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Atualmente a situaccedilatildeo ainda se repete por falta de atenccedilatildeo dos pais e da
proacutepria viacutetima do bullying
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(Na minha opiniatildeo ela soacute precisa de um pouco mais de atenccedilatildeo e compreensatildeo
dos pais e tenho certeza que esse problema jaacute haveria sido resolvido)
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E vocecirc leitor o que faria se vocecirc fosse viacutetima de bullying denunciaria ou
preferiria guardar pra si
36
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(Isso natildeo eacute um texto qualquer eacute tambeacutem um alerta uma ldquocampanhardquo pra vocecirc
vitima ou praticante do bullying pense no proacuteximo alerte-se muitas vezes essas piadas
brincadeiras esses preconceitos passam dos limites e acabam se tornando grandes
ofensas o que levam as viacutetimas a profundas depressotildees e ateacute mesmo ao suiciacutedio vamos
acabar com isso)
41 chega de bullying
Fonte Dados da pesquisa
134
Estela comeccedila seu texto com um paraacutegrafo que faz uma introduccedilatildeo-enquadramento
lanccedilando um questionamento ao seu leitor surgido de uma situaccedilatildeo observadavivida que ela
narra ao longo dos 12 (doze) paraacutegrafos No 10ordm a autora conversa com explicitamente com o
leitor como no modelo apresentado para a produccedilatildeo A O foco narrativo eacute mantido como
narrador observador do que acontece poreacutem levando o leitor a refletir sobre o problema real do
bullying com a intenccedilatildeo de causar impressotildees no leitor como empatia reflexatildeo e ateacute emoccedilatildeo
O final natildeo parece caracterizar-se como o de uma crocircnica literaacuteria lembrando o
penuacuteltimo paraacutegrafo uma sequecircncia injuntiva com a intenccedilatildeo de levar o leitor a modificar seu
comportamento mostrando um ponto de vista criacutetico a respeito da situaccedilatildeo Possui
personagens descrevendo a menina Beatriz e seu comportamento sua matildee e menciona pai e
irmatilde Possui um tiacutetulo interessante pelo trocadilho se podemos assim dizer com a palavra
down Down eacute a siacutendrome mencionada no texto e de iniacutecio o sinal de igual indica que ter
siacutendrome de Down eacute de se esperar de algum modo que a pessoa sofra bullying Poreacutem a aluna
sabe que down em inglecircs quer dizer ldquoabaixordquo o que resultaria numa livre traduccedilatildeo ldquoabaixo
o bullyingrdquo Estela emprega em diversos momentos os sinais de pontuaccedilatildeo adequadamente e
no geral os paraacutegrafos estatildeo bem organizados embora tenha havido repeticcedilatildeo desnecessaacuteria de
palavras no 4ordm paraacutegrafo
Quadro 41 ndash PFB Estela ndashTiacutetulo DOWN= BULLYING
1
2
Antigamente eu natildeo me importava tanto mas hoje penso bastante sobre o
assunto por que as pessoas praticam o bullying
3
4
5
A praacutetica de bullying eacute desnecessaacuteria pois noacutes natildeo ganhamos nada em
humilhar o proacuteximo natildeo eacute mesmo Eacute bem melhor ser gentil ser solidaacuterio aceitar os
defeitos do proacuteximo
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10
Conheci uma garota chamada Beatriz jovem de dezenove anos que era
portadora da siacutendrome de Down Era uma garota bem extrovertida amigaacutevel carinhosa
etc Ela tinha seu tinha seu lado carinhoso mas tambeacutem tinha o seu lado revoltado e
todos criticavam-na por ser diferente por ter esse seu lado ldquobipolarrdquo pelo fato dela mudar
de humor tatildeo facilmente
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Muitos faziam o possiacutevel para evitar sua presenccedila por perto Simplesmente
natildeo aceitavam o fato dela natildeo ser ldquoigualrdquo a eles enquanto que deveriam aceitaacute-la da
maneira que ela nasceu da maneira em que ela foi gerada
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Chamavam-na por apelidos maldosos e preconceituosos como por exemplo
doida (pelo simples fato dela ser portadora de Down que a diferenciava das demais
pessoas) de retardada de doente chamavam-na de feia ridiacuteculaetc
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Ao sofrer esse preconceito ela revidava Sempre reagia com agressotildees e
xingamentos terriacuteveis o que agravava cada vez mais a situaccedilatildeo Acho que pelo fato de
ela ter Down desde a formaccedilatildeo de seu feto deve ter ocorrido algumas alteraccedilotildees em seu
ceacuterebroo que prejudica muito a crianccedila em questotildees de aprendizado de se socializar
poreacutem isso natildeo a impedia de considerar essas praacuteticas de bullying como algo tatildeo seacuterio
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Atualmente a situaccedilatildeo ainda se repete por falta de atenccedilatildeo dos pais Sua matildee
natildeo era aquele tipo de matildee que se interessava como foi o dia na escola se as aulas foram
boas essas coisas que normalmente as matildees fazem Ela soacute precisa de um pouco mais de
atenccedilatildeo e compreensatildeo dos pais e tenho certeza que esse problema jaacute teria sido
resolvido
27 E vocecirc leitor como agiria se fosse viacutetima de algum tipo de bullying
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Pare e pense na situaccedilatildeo que ocorrera com essa garota Pense Como agiria se
fosse viacutetima ou tivesse observado uma situaccedilatildeo como essa Tambeacutem imagine se vocecirc
se sentiria bem se sofresse certos preconceitos certas ofensas E tambeacutem peccedilo-lhe
venha pensar antes de ldquotentarrdquo praticar esses atos infracionais contra algueacutem Se ponha
no lugar da viacutetima
33 chega de bullying
Fonte Dados da pesquisa
O tiacutetulo foi mantido Os paraacutegrafos em geral ficaram bem organizados Houve
evoluccedilatildeo no emprego dos sinais de pontuaccedilatildeo Evitou a repeticcedilatildeo desnecessaacuteria de palavras e
buscou definir visto que estava em duacutevida segundo ela mesma sobre quais termos usar
Partiu como jaacute haviacuteamos identificado de uma situaccedilatildeo observadavivida Conversa
com o leitor como no exemplo ldquonatildeo eacute mesmordquo (linha 4) ou em ldquoE vocecirc leitorrdquo (linha 27)
buscando leva-lo a refletir sobre a situaccedilatildeo O final eacute interessante muito embora natildeo o
reconheccedilamos como caracteriacutestico de uma crocircnica literaacuteria Mostra discretamente ao leitor seu
ponto de vista a respeito da situaccedilatildeo buscando proporcionar-lhe um momento de reflexatildeo
Descreve bem a Beatriz e superficialmente a matildee poreacutem com caracteriacutesticas
adequadas agrave situaccedilatildeo Apoacutes a anaacutelise dos textos B dos alunos estabelecemos um graacutefico a
respeito de sua evoluccedilatildeo para melhor visualizaccedilatildeo dos resultados nessa etapa Vejamos a seguir
136
Graacutefico 8 ndash Avaliaccedilatildeo das crocircnicas B
Fonte dados da pesquisa
A partir da anaacutelise dos textos dos alunos que frequentaram todas as aulas e se
engajaram nas atividades da SD percebemos que houve na maioria dos itens avaliados uma
sensiacutevel melhora corroborando com o anteriormente dito que os alunos ao tomarem contato
com seus textos de uma primeira produccedilatildeo escrita se orientados e incentivados a reler se
autoavaliar e a ouvir sugestotildees podem sim progredir no sentido de se tornarem escritores mais
haacutebeis e conscientes das etapas que regem o processo de escrita de textos E esse processo se
feito com frequecircncia comeccedila a se automatizar e facilita o aprendizado de qualquer gecircnero que
se venha trabalhar
533 Uma nova reescrita
Retomando seu texto A PI e PF a aluna Ana pediu a oportunidade de reescrevecirc-lo
visto que em sua releitura afirmou que natildeo havia feito apropriadamente e que ao final de todas
as atividades ela percebia o quanto natildeo tinha desenvolvido ainda os procedimentos adequados
para a produccedilatildeo de um texto o que inclui as etapas de releitura autocriacutetica reflexatildeo
reelaboraccedilatildeo e reescrita Segue assim o texto de Ana que chamaremos PFA2
0
05
1
15
2
25
3
35
4
Avaliaccedilatildeo das crocircnicas B
PI-B PF-B
137
Quadro 42 ndash PFA2 Ana ndash Tiacutetulo O que eacute ser chato
1 Como saber quando vocecirc estar sendo chato
2 Bom depois de ler um dos textos maravilhosos do Anaximandro Amorim
3 o chato da vez despertou uma vontade em mim de me aprofundar no assunto
4
5 Eacute muito difiacutecil dizer o que de fato eacute ser chato ou melhor listar tudo o que eacute pura
6 chatice demoraria horas e horas Vocecirc se considera chato
7 Sabe quando vocecirc estar sendo chato Olha muito cuidado um chato nunca
8 se acha chato digo isso com toda convicccedilatildeo
9
10 Conheccedilo uma menina ela eacute da minha escola graccedilas
11 a Deus natildeo eacute da minha sala Ameacutem
12 Ela tem uma mente aberta uns gosto legais mas cara
13 ela desconhece a palavra limites isso a torna very chata
14 uma mina linda de opiniotildees legais que natildeo sabe ver quando natildeo a querem
15 por perto quando ela estar atrapalhando e natildeo entende
16 quando o papo ja ta chato e a pessoa ta fugindo dela mas mesmo assim
17 acha que a pessoa ta super interessada e ela se engana e
18 acaba se tornando uma chata eu a considero minha amiga
19 ela me apoia e me sempre da uma levantada na minha auto-estima
20 uma garota interessante agraves vezes e por tempos curtos ela eacute
21 daquele tipo de pessoas que a gente passa comprimenta e
22 natildeo para pra conversar so quando ela chama e as vezes ainda invento desculpas
23 pra natildeo ir e se vou quando passa de cinco minutos eu jaacute
24 fico SU-FO-CA-DA parece que ela estraga o papo
25
26 Enfim ser chato eacute natildeo saber quando vocecirc ta forccedilando a barra
27 eacute natildeo reconhecer quando vocecirc estar sendo chato
28 ser chato eacute natildeo ter limites afinal tudo tem Natildeo eacute mesmo Fonte Dados da pesquisa
Por fim Ana reescreveu seu texto colocando-o em 5 (cinco paraacutegrafos) e o elaborou
visando ao que a instruccedilatildeo da atividade requer um texto que possa inspirar reflexatildeo sobre o
que eacute ser chato e o que eacute ser legal poreacutem sem colocar a questatildeo do botatildeo de bloqueio da vida
real Atraveacutes dos exemplos Ana conduziu seu leitor a refletir atendendo aos criteacuterios de partir
de uma situaccedilatildeo vividaobservada como vemos nas linhas 10-24 e conversando com o leitor
como percebemos nas marcas linguiacutesticas em ldquoComo saber quando vocecirc estar sendo chatordquo
(linha 1) ldquoVocecirc se considera chatordquo (linha 6) ldquoSabe quando vocecirc estar sendo chatordquo (linha
7) e ldquoNatildeo eacute mesmordquo (linha 28) e descreve uma personagem ldquouma menina ela eacute da minha
escolardquo (linha 10) que inseriu em seu texto para ilustrar a situaccedilatildeo
Apesar de Ana ainda deixar a desejar em outros aspectos tanto textuais quanto
formais de convenccedilotildees da escrita percebemos que ela evoluiu no criteacuterio organizaccedilatildeo de
138
paraacutegrafos e emprego dos sinais de pontuaccedilatildeo Em ldquograccedilas a Deus natildeo eacute da minha sala
Ameacutemrdquo ela separa o termo Ameacutem do resto da frase com a viacutergula entendendo que eacute uma
expressatildeo que merecia realce e usa o ponto de exclamaccedilatildeo para expressar seu aliacutevio Ana
demonstra conhecer que o uso de marcas linguiacutesticas como o uso de maiuacutesculas e a separaccedilatildeo
silaacutebica podem dar forccedila a uma palavra fazendo-a ganhar maior expressividade como em ldquoSU-
FO-CA-DArdquo na linha 24 Ao longo de seu texto Ana emprega muitas palavras do cotidiano
giacuterias inclusive e marcas da oralidade ndash o que natildeo necessariamente eacute um problema em uma
crocircnica literaacuteria poreacutem conveacutem relembrar a questatildeo da experiecircncia e habilidade no uso de tais
de modo a natildeo cansar o leitor
Sua estrateacutegia para iniciar o texto foi partir da intertextualidade (ldquoBom depois de
ler um dos textos maravilhosos do Anaximandro Amorim lsquoo chato da vezrsquo despertou uma
vontade em mim de me aprofundar no assuntordquo linhas 1-3) Desse modo Ana fez uso da
informaccedilatildeo de uma de nossas aulas de quando trabalhamos com a crocircnica ldquoCarta de punhordquo
cuja leitura em sala e atividade de exploraccedilatildeo do texto mostrava que o autor cronista com
publicaccedilotildees frequentes no jornal buscava nas proacuteprias produccedilotildees retomar seus assuntos
passados Uma curiosidade que foi despertada em Ana para o momento havia sido ldquoe pode
isso professorardquo ao que respondemos afirmativamente poreacutem o sucesso da estrateacutegia viria
com o tempo e a experiecircncia de cada autor da intimidade que esse tivesse com a liacutengua materna
e com a situaccedilatildeo de produccedilatildeo tudo dentro do contexto
Consideramos assim que o uso da estrateacutegia pela aluna foi um ponto positivo em
sua participaccedilatildeo posto que caracteriza envolvimento com o projeto e as aulas Ademais desejar
fazer mais uma reescrita quando natildeo havia mais a exigecircncia pois como dissemos jaacute haviacuteamos
encerrado os moacutedulos e estaacutevamos reescrevendo o texto para circulaccedilatildeo social eacute um ponto
bastante positivo no tocante aos procedimentos de escritor apoacutes algum tempo ela releu seu
texto achou-o inadequado ou insuficiente para as caracteriacutesticas do que se estava estudando e
produzindo e tomou a iniciativa de refazecirc-lo
139
6 CONCLUSAtildeO
O foco principal de nosso trabalho foi o desenvolvimento da competecircncia
comunicativa escrita Para tanto consideramos o processo tendo como produto o texto cujo
valor real foi-lhe atribuiacutedo valor social com direito a circulaccedilatildeo levado a puacuteblico
O gecircnero escolhido foi a crocircnica literaacuteria Poderia ter sido outro visto que o trabalho
com o processo de escrita dentro de uma sequecircncia didaacutetica comporta qualquer gecircnero textual
Poreacutem como dissemos na introduccedilatildeo a escolha do gecircnero partiu de uma motivaccedilatildeo pessoal
Passado todo o processo da escolha de como trabalhar ateacute a publicaccedilatildeo dos textos
julgamos oportuno avaliar todos os acircmbitos
Por percebermos ao longo dos anos de experiecircncia que vaacuterios alunos produzem
seus textos sem recorrer agrave etapa do planejamento a da revisatildeo e a da reescrita visamos entatildeo
nesta pesquisa devido agrave ausecircncia de tais procedimentos responder agraves seguintes questotildees-
problema desdobradas a partir da questatildeo baacutesica como ensinar a produccedilatildeo escrita no 9ordm ano do
Ensino Fundamental enfocando o ato de redigir como um processo visto que haacute estudantes
deste niacutevel que normalmente natildeo tecircm o haacutebito de planejar seus textos
A partir desse questionamento nos perguntamos
a) que atividades pedagoacutegicas possibilitam aos alunos a consciecircncia de que eacute
preciso desenvolver estrateacutegias proacuteprias (recorrer agrave etapa do planejamento da
revisatildeo e da reescrita) para produzir seus textos
b) de que forma o conhecimento sobre a estrutura composicional de um gecircnero
pode ajudar a superar as dificuldades
c) a comparaccedilatildeo das produccedilotildees inicial e final permitiraacute associar a melhoria do
desempenho da competecircncia escrita e a apropriaccedilatildeo do gecircnero crocircnica literaacuteria ao
desenvolvimento da sequecircncia de atividades
Buscando encontrar uma praacutetica que resultasse em textos melhores fizemos uso
em nossa sequecircncia de atividades de teorias que norteassem o trabalho com a escrita como
processo com a sequecircncia didaacutetica com gecircnero textual e com o gecircnero crocircnica narrativa A
importacircncia desse aparato teoacuterico para o professor que visa minimizar as dificuldades dos
alunos e diminuir a praacutetica da escrita improvisada permite-lhe compreender como se daacute o
processo cognitivo durante a produccedilatildeo de um texto o que o leva a considerar para seu trabalho
com os alunos aspectos como audiecircncia e circulaccedilatildeo social reais como praacuteticas de uma
140
sociedade letrada o que vai aleacutem da preocupaccedilatildeo com a gramaacutetica e a ortografia apenas de
um texto produzido somente para o professor e a nota
Ao longo da aplicaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica confirmamos o que a experiecircncia de
sala ao longo dos anos apontava o conhecimento sobre a estrutura composicional de um gecircnero
pode ajudar a superar as dificuldades de escrita por mostrar ao aluno o que precisa estar contido
em seu texto Os exemplos que o professor venha a trabalhar em sala com a turma mostram
modelos de gecircneros com aspectos que podem sim ser imitados de iniacutecio ateacute que quando o
aluno ganhe experiecircncia possa manejar melhor as palavras e as ideias que deseje colocar para
seu leitor assumindo assim um estilo proacuteprio de escrita
Como professora realizar a pesquisa nos permitiu refletir sobre a nossa proacutepria
praacutetica posto que superar as proacuteprias deficiecircncias no ensino da produccedilatildeo textual foi uma grande
inquietaccedilatildeo Reconhecer as praacuteticas nos foi importante para saber em que aspectos ainda temos
desafios a superar e para reforccedilar e desenvolver aspectos positivos em noacutes Ter clareza de como
se situam os iacutendices de avaliaccedilatildeo na turma na escola no municiacutepio no estado e no paiacutes tambeacutem
foi bastante importante Normalmente a tendecircncia coletiva estaacute em descrer na educaccedilatildeo poreacutem
mesmo que muito lentamente observamos progresso histoacuterico na concepccedilatildeo de aprendizado da
liacutengua materna no valor que eacute dado agrave leitura e agrave escrita
Apoacutes as oficinas a anaacutelise dos objetivos elencados ao iniacutecio de todo o processo
com dados comparativos entre produccedilatildeo inicial e produccedilatildeo final constatamos a relevacircncia da
hipoacutetese baacutesica os alunos do 9ordm ano produziram textos na etapa final das oficinas utilizando-
se das caracteriacutesticas do gecircnero textual crocircnica literaacuteria compreendendo que escrita eacute interaccedilatildeo
valorizando o uso social da escrita de acordo com a proposta teoacuterica de gecircnero preparando
seus textos pautados nas etapas do processo de redigir conforme as orientaccedilotildees dadas em sala
de aula
Sobre nossas hipoacuteteses secundaacuterias pensamos que eacute possiacutevel sim motivar os
alunos a escrever ao desenvolver com eles atividades voltadas para os diferentes subprocessos
e habilidades envolvidos no ato de redigir Poreacutem para haver o engajamento e resultar em uma
turma que escreva textos compatiacuteveis com o grau de desenvolvimento de habilidades esperadas
para o ano que cursam enfrentamos desafios como o aspecto do imediatismo e da recompensa
A natildeo adesatildeo de vaacuterios alunos ao projeto se deu por este natildeo valer nota Portanto
sem uma recompensa imediata natildeo houve o engajamento Nossos alunos infelizmente natildeo
estatildeo habituados a pensar a longo prazo a planejar alcanccedilar metas nem integrar atividades que
lhes facilitem a vida estudantil no futuro Talvez ndash pensamos ndash nem a cultura escolar abranja
141
ainda um trabalho soacutelido e constante nesse sentido Apesar disso haacute professores que se
empenham em fazer um trabalho constante de leitura e na medida do possiacutevel de escrita ao
qual fizemos nossa contribuiccedilatildeo
Por uacuteltimo apoacutes a realizaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica proposta ao contrastarmos as
produccedilotildees inicial e final dos alunos principalmente no que concerne agrave produccedilatildeo realizada para
fins de circulaccedilatildeo social real considerando uma audiecircncia real verificamos um desempenho
mais satisfatoacuterio em relaccedilatildeo agrave competecircncia discursiva realizada no gecircnero crocircnica literaacuteria
visto que os processos de escrita foram considerados no ato da produccedilatildeo de suas proacuteprias
crocircnicas
Para que essa produccedilatildeo fosse efetiva houve que se ter em mente na elaboraccedilatildeo dos
moacutedulos que qualquer tarefa de escrita bem-sucedida requer o exerciacutecio da escrita e da reescrita
Esse processo de aperfeiccediloamento dos textos demanda da parte do professor planejamento
para conhecer as necessidades de natureza geral da turma para trabalhar as caracteriacutesticas de
um gecircnero bem como as de natureza individual do aluno como as limitaccedilotildees no
reconhecimento do gecircnero textual na progressatildeo narrativa nas convenccedilotildees da escrita culta
Pensamos que poderia ser interessante para o aperfeiccediloamento desta SD ampliar e
diversificar mais os textos que compotildeem o moacutedulo de reconhecimento para antes da primeira
produccedilatildeo dos alunos visando oferecer uma visatildeo mais ampla do gecircnero Aleacutem disso
percebemos que tambeacutem eacute preciso que enquanto professores trabalhemos recorrentemente a
instruccedilatildeo da produccedilatildeo com os alunos no sentido de que eles compreendam que natildeo apenas um
aspecto seja escolhido para ser trabalhado mas todos os que nela estatildeo contidos
Aplicar uma SD eacute um trabalho que exige bastante do professor pois se trata de
conhecer o perfil de cada turma em que se decide aplicar um projeto de escrita diagnosticar
planejar os moacutedulos e pensar que o produto pode e deve ter circulaccedilatildeo no meio social Para
tanto eacute importante frisar que a rede de ensino acolha e apoie o professor motivando-o e
possibilitando-lhe as condiccedilotildees necessaacuterias e adequadas para o desenvolvimento de projetos de
escrita dentre as quais podemos mencionar formaccedilatildeo continuada que incentive os projetos de
escrita reforccedilo agraves condiccedilotildees dos materiais das escolas manter o nuacutemero de alunos adequado
nas salas evitando a superlotaccedilatildeo
No tocante aos alunos especialmente os que integraram todos os encontros de todos
os moacutedulos notamos que estes afirmaram que amadureceram ao longo do processo aprendendo
gradualmente a ter controle de sua escrita relendo quando necessaacuterio refletindo buscando
142
clareza Tambeacutem apreciaram muito poder opinar sobre os textos dos colegas visto que estavam
se apropriando das caracteriacutesticas do gecircnero estudado e sentiram seguranccedila para colaborar
Quanto ao trabalho com nuacutemero reduzido de alunos ao permanecerem no projeto
apenas aqueles que se interessaram em melhorar seu desempenho pessoal em leitura e produccedilatildeo
conforme eles mesmos disseram o grupo menor ficou mais coeso e permitiu-lhes liberdade
para trabalhar fosse com discussotildees sugestotildees ou mesmo para dar apoio ateacute mesmo na hora
de ler em voz alta para todos Foi um progresso coletivo e reafirmou a amizade entre o grupo e
tambeacutem conosco por ver que a colaboraccedilatildeo era acompanhada de afetividade
A produccedilatildeo dos textos para circulaccedilatildeo social escrevendo no celular foi produtiva
visto que oportunizou aos alunos o uso da tecnologia que eles afirmam preferir permitindo
agravequeles que natildeo gostam muito de produzir textos com os recursos tradicionais (folha de
produccedilatildeo e caneta) participarem ativamente do processo de produccedilatildeo textual Essa tecnologia
pode ser considerada para futuros trabalhos com alunos do ensino fundamental
Gostariacuteamos de mencionar que este trabalho do iniacutecio ao fim tratou com questotildees
de motivaccedilatildeo e inquietaccedilotildees reais e pessoais A queda abrupta do nuacutemero de participantes
desde o momento da adesatildeo ateacute o da produccedilatildeo para a circulaccedilatildeo eacute reflexo dos desafios que
qualquer professor enfrenta em sua sala cotidianamente No entanto as aulas regulares
diferentemente da proposta da aplicaccedilatildeo do projeto tecircm consigo uma carga de obrigatoriedade
ao exigir a frequecircncia a assiduidade a entrega de tarefas e as avaliaccedilotildees ndash itens que compotildeem
a nota para a aprovaccedilatildeo anual
Em decorrecircncia dessa obrigatoriedade se contrastarmos o desempenho dos alunos
no projeto ao seu desempenho regular na sala de aula de qualquer disciplina natildeo apenas na
liacutengua portuguesa veremos estudantes sem uma motivaccedilatildeo que os conecte ao desenvolvimento
das aulas natildeo permitindo o amadurecimento de suas capacidades e habilidades Como
professora da turma que aplicou o projeto sem exigecircncia de notas percebi que os alunos em
sua maioria natildeo gostariam de estar na escola Muitos natildeo veem ainda sentido em estar presentes
uma tarde inteira 20 (vinte) horas semanais sentados copiando tendo preguiccedila de elaborar
reflexotildees
Esse comportamento desmotivado que se generaliza em escolas de diversos pontos
do Paiacutes desanima tambeacutem os professores gerando a consequecircncia de ao inveacutes de buscarem
novas estrateacutegias para as aulas acabarem mantendo a praacutetica e ainda se conformando com o
senso comum de que ldquoesses alunos natildeo querem nadardquo fora a conjuntura social e econocircmica que
143
por si soacute eacute desanimadora ao limitar recursos e investimentos em educaccedilatildeo desvalorizando a
figura do professor
Gostariacuteamos de acrescentar que sim eles querem Mas ainda natildeo sabem ao certo o
que querem E talvez o que eles possam vir a querer ainda natildeo esteja sendo claramente
apresentado pois atividades tradicionais natildeo os atraem a querer conhecer mais e aprender mais
sobre determinados assuntos que podem acrescentar-lhes agrave vida diaacuteria Ficaria aiacute um desafio ao
professor ao projeto poliacutetico pedagoacutegico da escola e agraves redes de educaccedilatildeo baacutesica repensar o
curriacuteculo para os estudantes deste seacuteculo
Como pudemos observar este trabalho teve sim lacunas que podem ser sanadas
com outras pesquisas Apesar disso acreditamos que a pesquisa-accedilatildeo que realizamos pocircde
aleacutem de ofertar contribuiccedilotildees no acircmbito acadecircmico ao evidenciar vitoacuterias e expor os desafios
encorajar os alunos participantes da pesquisa principalmente os que tiveram a compreensatildeo de
que sua participaccedilatildeo lhes valeria para aleacutem de integrar pontos para uma nota no sentido de que
se permitiram evoluir como produtores de texto em sua liacutengua materna direito que lhes cabe
desde o momento em que satildeo reconhecidos cidadatildeos e que ingressam nas escolas brasileiras
144
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Pesquisas em Educaccedilatildeo Cultura e Accedilatildeo Comunitaacuteria ndash Cenpec e Fundaccedilatildeo Itauacute Social 2011
RAUPP Eliane Santos Ensino de liacutengua portuguesa uma perspectiva linguiacutestica Revista
Publicatio da UEPG Ciecircncias Humanas Linguiacutestica Letras e Artes Ponta Grossa PR
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SANTOS Joseacute Milson dos O gecircnero crocircnica na sala de aula do ensino meacutedio 171 f
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SERAFINI Maria Teresa Como escrever textos 11 ed Satildeo Paulo Globo 2003
SAtildeO LUIacuteS (MA) Prefeitura Municipal Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo Proposta
curricular liacutengua portuguesa - ensino fundamental - 3ordm e 4ordm Ciclos Satildeo Luiacutes 2008
SILVA Auriane M M SILVA Luacutecia M L Produccedilatildeo escrita assistemaacutetica espontaneiacutesta
improvisada restrita agraves aulas de portuguecircs In BORTONI-RICARDO Stella-Maris
MACHADO Veruska Ribeiro R (Org) Os doze trabalhos de Heacutercules do oral para o
escrito Satildeo Paulo Paraacutebola 2013 p 81-96
SOLEacute Isabel Estrateacutegias de Leitura Porto Alegre Artmed 1998
SWIDERSKI Rosiane Moreira da S COSTA-HUumlBES Terezinha da Conceiccedilatildeo Abordagem
sociointeracionista amp sequecircncia didaacutetica relato de uma experiecircncia Liacutenguas amp Letras
Unioeste Cascavel-PR v 10 n18 1ordm sem 2009 p 113-118 Disponiacutevel em lt httpe-
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em 14 mai 2018
VIEIRA Iuacuteta Lerche Ensinando a redigir do processo ao produto In VIEIRA Iuacuteta Lerche
Escrita para que te quero Fortaleza Ediccedilotildees Demoacutecrito Rocha UECE 2005 Coleccedilatildeo
Magister p 79-97
VIEIRA Iuacuteta Lerche Escrita para que te quero In VIEIRA Iuacuteta Lerche Escrita para que
te quero Fortaleza Ediccedilotildees Demoacutecrito Rocha UECE 2005 Coleccedilatildeo Magister p 13-14
VIEIRA Iuacuteta Lerche Abordagem imitativa da redaccedilatildeo trabalhando com formatos e gecircneros
In VIEIRA Iuacuteta Lerche Escrita para que te quero Fortaleza Ediccedilotildees Demoacutecrito Rocha
UECE 2005 Coleccedilatildeo Magister p159-171
148
APEcircNDICE A ndash ATIVIDADES PROPOSTAS PARA A SEQUEcircNCIA DIDAacuteTICA
Para compor o momento da apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo da sequecircncia de atividades
sensibilizamos os alunos com as caracteriacutesticas baacutesicas das crocircnicas contemporacircneas que foram
descritas na seccedilatildeo correspondente e resgatadas agora organizaccedilatildeo de sua narrativa em primeira
ou terceira pessoa quase sempre como quem conta um caso em tom intimista uma narraccedilatildeo
em que o autor insere em seu texto trechos de diaacutelogos permeados por expressotildees cotidianas
escrevendo como quem conversa com seus leitores como se estivessem muito proacuteximos uso
de temaacuteticas que tratam de reflexotildees sobre a vida social poliacutetica econocircmica por vezes de forma
humoriacutestica outras de modo mais seacuterio outras com jeito poeacutetico permitindo o pertencimento
do gecircnero agrave esfera literaacuteria emprego de linguagem que mescla aspectos da escrita com outros
da oralidade preferecircncia pela brevidade leveza faacutecil acesso e envolvimento Esperamos que
ao final da atividade que aleacutem de respondida por escrito mas principalmente oralmente os
alunos atentem para essas caracteriacutesticas e possam ter um norte quando chegar o momento de
sua primeira produccedilatildeo
Atividade nordm 1
Prova Falsa
Seacutergio Porto (Stanislaw Ponte Preta)
Quem teve a ideia foi o padrinho da caccedilula ndash ele me conta Trouxe o cachorro de
presente e logo a famiacutelia inteira se apaixonou pelo bicho Ele ateacute que natildeo eacute contra isso de se ter
um animalzinho em casa desde que seja obediente e com um miacutenimo de educaccedilatildeo
mdash Mas o cachorro era um chato mdash desabafou
Desses cachorrinhos de raccedila cheio de nheacutem-nheacutem-nheacutem que comem comidinha
especial precisam de muitos cuidados enfim um chato de galocha E como se isto natildeo
bastasse implicava com o dono da casa
mdash Vivia de rabo abanando para todo mundo mas quando eu entrava em casa vinha
logo com aquele latido fininho e antipaacutetico de cachorro de francesa
Ainda por cima era puxa-saco Lembrava certos poliacuteticos da oposiccedilatildeo que
espinafram o ministro mas quando estatildeo com o ministro ficam mais por baixo que tapete de
poratildeo Quando cruzavam num corredor ou qualquer outra dependecircncia da casa o desgraccedilado
rosnava ameaccedilador mas quando a patroa estava perto abanava o rabinho fingindo-se seu
amigo
mdash Quando eu reclamava dizendo que o cachorro era um ciacutenico minha mulher
brigava comigo dizendo que nunca houve cachorro fingido e eu eacute que implicava com o
ldquopobrezinhordquo
Num raacutepido balanccedilo poderia assinalar o cachorro comeu oito meias suas roeu a
manga de um paletoacute de casimira inglesa rasgara diversos livros natildeo podia ver um peacute de sapato
que arrastava para locais incriacuteveis A vida laacute em sua casa estava se tornando insuportaacutevel
Estava vendo a hora em que se desquitava por causa daquele bicho cretino Tentou mandaacute-lo
embora umas vinte vezes e era uma choradeira das crianccedilas e uma espinafraccedilatildeo da mulher
mdash Vocecirc eacute um desalmado mdash disse ela uma vez
Venceu a guerra fria com o cachorro graccedilas agrave maacute educaccedilatildeo do adversaacuterio O
catildeozinho comeccedilou a fazer pipi onde natildeo devia Vaacuterias vezes exemplado prosseguiu no feio
viacutecio Fez diversas vezes no tapete da sala Fez duas na boneca da filha maior Quatro ou cinco
vezes fez nos brinquedos da caccedilula E tudo culminou com o pipi que fez em cima do vestido
novo de sua mulher
149
mdash Aiacute mandaram o cachorro embora mdash perguntei
mdash Mandaram Mas eu fiz questatildeo de daacute-lo de presente a um amigo que adora
cachorros Ele estaacute levando um vidatildeo em sua nova residecircncia
mdash Ueacutehellip mas vocecirc natildeo o detestava Como eacute que arranjou essa sopa pra ele
mdash Problema da consciecircncia mdash explicou mdash O pipi natildeo era dele
E suspirou cheio de remorso
(Disponiacutevel em httpcontobrasileirocombrprova-falsa-cronica-de-sergio-porto-stanislaw-ponte-preta Acesso
em 2612017)
Questotildees
1 Quantos personagens aparecem na histoacuteria Quais vocecirc diria que satildeo os principais
2 Quem teve a ideia foi o padrinho da caccedilula ndash ele me conta
A frase ele me conta eacute um recurso que mostra que a conversa de dois amigos eacute
repassada a uma terceira pessoa Quem eacute ela
3 Que recursos linguiacutesticos mostram a fala do marido e dono da casa onde estava o
cachorro
4 E quais identificam a fala do amigo
5 Onde o marido e seu amigo parecem conversar
6 A partir da fala do marido e das explicaccedilotildees do amigo quais eram as caracteriacutesticas do
cachorro
7 () e eu eacute que implicava com o ldquopobrezinhordquo
Por que pobrezinho estaacute entre aspas
8 Quando aconteceu a histoacuteria
9 Qual foi o problema da histoacuteria
10 Como foi resolvido
11 O destino dado ao cachorro surpreendeu ao amigo Por quecirc
12 Afinal quem era culpado na histoacuteria
13 Que tom predominantemente foi dado a esse texto Humor ironia criacutetica reflexatildeo
lirismo
14 Qual foi o tema principal do texto Vocecirc apontaria outros temas que aparecem na
leitura
15 Que comparaccedilotildees o autor faz com o cachorro Haacute alguma criacutetica Explique
16 Vocecirc conhece o significado das palavrasexpressotildees a seguir Veja
nheacutem-nheacutem-nheacutem chato de galocha puxa-saco
espinafrar espinafraccedilatildeo desquitava guerra fria
vidatildeo sopa
17 Que palavras satildeo usadas no texto para se referir agrave esposa
18 E suspirou cheio de remorso
Explique o valor dessa frase para o contexto da histoacuteria
Atividade nordm 2
Abandono de animais eacute crime e precisa ser denunciado
Por Canal do Pet | 26072016
150
Aleacutem do abandono de animais praacuteticas como bater negar aacutegua ou alimento tambeacutem
satildeo consideradas crime saiba como denunciar
Infelizmente o abandono de animais estaacute cada dia mais presente nos noticiaacuterios
Mesmo com tantas campanhas contra a praacutetica muita gente ainda comete esse crime -
principalmente quando eacute eacutepoca de feacuterias mesmo natildeo havendo um nuacutemero exato as estatiacutesticas
dos institutos de pesquisa afirmam que nos periacuteodos de feacuterias haacute um pico no abandono de
animais Existem muitos relatos de donos que deixam os cachorros em pet shops veterinaacuterios
e hoteacuteis para cachorro e simplesmente nunca mais voltam para buscaacute-los Esse problema pode
estar atrelado a decisatildeo precipitada de ter um animal de estimaccedilatildeo
A Lei 960598 (Lei de Crimes Ambientais) prevecirc os maus-tratos como crime O
decreto 2464534 (Decreto de Getuacutelio Vargas) determina quais atitudes podem ser consideradas
como maus-tratos Qualquer pessoa que for testemunha de um abandono de
animais domeacutesticos ou exoacuteticos pode ir agrave delegacia mais proacutexima A Promotora de Justiccedila
permite a denuacutencia anocircnima Mas para que a denuacutencia seja realizada vocecirc precisa ter certeza
do crime pois uma acusaccedilatildeo falsa eacute outro crime Aleacutem disso no momento da denuacutencia na
delegacia eacute preciso passar o maior nuacutemero de informaccedilotildees possiacuteveis em relaccedilatildeo ao infrator
como seu endereccedilo residencial ou comercial
Caso o animal esteja abandonado em um terreno baldio ou propriedade particular
por exemplo natildeo hesite em invadir o local para salvar o bichinho a sua accedilatildeo seraacute amparada
pela lei O decreto de lei nuacutemero 284840 artigo 24 considera a invasatildeo para salvamento de
um animal em perigo uma atitude de necessidade e portanto natildeo haveraacute nenhum tipo de
puniccedilatildeo
Aleacutem do abandono outras praacuteticas satildeo consideradas crimes pela lei Uma delas eacute o
atropelamento de um animal sem que haja a prestaccedilatildeo de assistecircncia por parte do condutor do
veiacuteculo tambeacutem eacute ilegal Se presenciar essa situaccedilatildeo anote a placa do carro hora e local Outra
eacute a ameaccedila de envenenamento Bater espancar prender por correntes recusar aacutegua e comida e
obrigar ao trabalho excessivo tambeacutem satildeo praacuteticas proibidas
Algumas pessoas preferem natildeo denunciar pelo fato do infrator ser algueacutem proacuteximo
um amigo ou familiar por exemplo Mas lembre-se de que eacute possiacutevel efetuar a denuacutencia de
maus tratos ou abando de animais de forma anocircnima Por isso ao presenciar qualquer situaccedilatildeo
que possa colocar um animal em risco tire foto grave um viacutedeo tenha provas concretas do
acorrido e denuncie Vocecirc seraacute apenas a testemunha o Estado faraacute o restante
Disponiacutevel em httpcanaldopetigcombrcuidados2016-07-26abandono-de-animaishtml Acesso em 22 de
agosto de 2017
Atividade nordm 3
O chato da vez Anaximandro Amorim
Ai meu Deus eu sou muito chato afirmou um amigo em uma conversa informal
Engraccedilado Eu natildeo o acho chato muito pelo contraacuterio Gosto da companhia dele Seraacute que ele
natildeo estaria sendo muito duro consigo mesmo Ou seraacute que eu sou tatildeo chato quanto ele
E vocecirc leitor Vocecirc eacute chato Todo mundo eacute chato ningueacutem eacute chato Do alto desses
meus quase quarenta anos de vida percebi que chatice natildeo eacute qualidade eacute estado de espiacuterito
Dependo de quem quando e onde E sem menos perceber vocecirc leitor pode ser o chato da
vez Cuidado
Foi o que me aconteceu esses dias Um colega insinuou que eu estava sendo chato
Foi num arroubo de fuacuteria o cidadatildeo estava tendo um ataque de nervos Dizem que eacute assim que
151
as verdades vecircm agrave tona Engraccedilado sempre achei que o havia tratado com distinccedilatildeo Talvez
essa fosse tal ldquochaticerdquo ser educado com as pessoas num mundo cada vez mais carente disso
Bom melhor ser chato do que grosso neacute
Particularmente faccedilo tudo para natildeo ser chato Tento ser discreto falar o menos
possiacutevel ouccedilo mais pergunto quase nada sobre a vida particular das pessoas Acho chato
quando fazem isso comigo Natildeo gosto de pegar no peacute A reciacuteproca eacute verdadeira Mas acho que
agraves vezes por medo da chatice acabo chateando algumas pessoas Haacute uma linha muito tecircnue
nesse negoacutecio todo Chato eacute natildeo saber a hora de ultrapassaacute-la E no fundo todo mundo a
ultrapassa
Esses dias aliaacutes fui agrave forra Havia um chato que me chateava haacute uns dois anos
Chato de rede social Daqueles que veem a gente uma duas vezes no maacuteximo e jaacute acham que
podem tomar certas liberdades Meu pavio eacute ateacute meio longo mas chegou uma hora que natildeo
deu Bloqueei o sujeito Estava chato demais Eacute uma pena que na vida real a gente natildeo tenha
esse botatildeo Ia ter tanta gente para bloquear
Em todo caso discordo desse meu amigo Acho que dois chatos natildeo se datildeo Ou ele
estava chato ou era eu Ou na posiccedilatildeo em que estaacutevamos natildeo dava para saber Se bem que
chato que eacute chato natildeo se acha chato Os outros eacute que acham Assim melhor terminar esta
crocircnica que estaacute uma grande chatice por aqui Antes que algueacutem ache definitivamente que o
chato da vez sou eu
Disponiacutevel em httpanaximandroamorimcombrAbreEmDIV]ajaxasplink=amateriaampid=127 Acesso em
24 mai 2017
Questotildees
1 Vamos falar de marcas de autoria
a) De quem eacute a voz que fala no texto Que idade tem essa voz Essa voz fala com algueacutem
Com quem Mostre alguma(s) passagem que indique isso
b) Onde a situaccedilatildeo se passa Haacute algum lugar especiacutefico
c) Esse texto estaacute no passado no presente ou no futuro
d) Do que trata a situaccedilatildeo Ela surgiu de alguma ocasiatildeo especiacutefica Se sim qual
2 O que o autor nos leva a entender que eacute ldquoser chatordquo
3 Que sensaccedilotildees esse texto despertou em vocecirc Explique
4 Vocecirc se considera um(a) chato(a) Por quecirc Em que ocasiotildees
5 Quando o assunto eacute redes sociais
a) Vocecirc tem alguma Qual
b) Com que frequecircncia vocecirc acessa
c) Vocecirc costuma escrever e postar Que tipo de material (textos fotos viacutedeos)
d) Vocecirc tem haacutebito de acompanhar postagens de algueacutem Que tipo de posts vocecirc
acompanha Costuma interagir por meio de comentaacuterios de expressatildeo de opiniatildeo
6 Vamos ver se vocecirc conhece o significado das palavrasexpressotildees a seguir
com distinccedilatildeo pegar no peacute
linha muito tecircnue fui agrave forra
7 Leia o trecho abaixo
Meu pavio eacute ateacute meio longo mas chegou uma hora que natildeo deu Bloqueei o sujeito
Estava chato demais Eacute uma pena que na vida real a gente natildeo tenha esse botatildeo Ia ter tanta
gente para bloquear
a) Qual eacute sua opiniatildeo sobre o pensamento que o autor expressa no trecho acima
b) Vocecirc tambeacutem teria gente para bloquear Por que razotildees
152
c) Agora vamos produzir Inspirado(a) nessa temaacutetica do trecho acima produza um texto
em forma de crocircnica que converse com seu leitor sobre o que eacute ser legal e ser chato a
partir de situaccedilotildees que vocecirc tenha vivenciado e ou observado Vamos determinar quem
seraacute esse leitor
bull Tem a sua idade
bull Acessa redes sociais
bull Lecirc e posta com frequecircncia
bull Interage com as postagens que estatildeo na rede seja de amigos pessoais ou apenas de
outros usuaacuterios
Antes de comeccedilar pense que sensaccedilotildees eu quer causar no meu leitor
Quero fazecirc-lo rir Se emocionar Refletir Que outras sensaccedilotildees seriam possiacuteveis
Faccedila entre 3 e 6 paraacutegrafos Vocecirc pode usar personagens que conversem e
expliquem o assunto (como em Prova Falsa) ou falar diretamente com seu leitor (como
em O chato da vez) Releia Reescreva o que natildeo estiver bem ao seu gosto Ao terminar
seu texto decirc-lhe um tiacutetulo coerente e passe a limpo na folha de produccedilatildeo Bom trabalho
Atividade nordm 4
Manias Ana Mello
Dos vaacuterios significados que meu amigo Aureacutelio apresenta o melhor diz que mania
eacute uma ideia fixa obsessatildeo Mau costume tambeacutem eacute bem significativo Ou extravagacircncia
esquisitice
Dizem por aiacute que vamos ficando velhos e as manias aumentam e se consolidam Eacute
verdade eu observo nos mais velhos do que eu Poucos conseguem controlar aquele impulso
profundo de dar sua opiniatildeo Essa eacute uma mania das mais chatas Repeti-la muitas vezes entatildeo
eacute maccedilante
Jaacute descobri tambeacutem que eacute quase inevitaacutevel ter manias na velhice muitas vecircm da
juventude mesmo condenamos e depois de um tempo fazemos igual sem cerimocircnia alguma
Uma amiga me enviou uma oraccedilatildeo sob o tiacutetulo ldquoOraccedilatildeo para ser uma velhinha
legalrdquo Vou fazer todos os dias e envio coacutepia a quem precisar Separei algumas frases as mais
interessantes
Livrai-me Senhor da tolice de achar que devo dizer algo em toda e qualquer
ocasiatildeo Deste desejo enorme que tenho de querer pocircr em ordem a vida dos outros Da tolice
de querer contar tudo com detalhes e minuacutecias e daacute-me asas para voar diretamente ao ponto que
interessa Jaacute descobri que pessoas que acertam sempre satildeo maccedilantes e desagradaacuteveis Livrai-
me de ser santa Eacute difiacutecil conviver com Santos Mas uma velha rabugenta Senhor eacute obra prima
do diabo
Acho que a oraccedilatildeo pode ser feita por pessoas jovens tambeacutem pois essas manias natildeo
satildeo exclusivas das velhinhas
Fiquei agora com uma duacutevida seraacute que escrever crocircnicas semanais e mandar para
todos os amigos eacute mania Se for azar o de vocecircs amigo eacute para isso mesmo
Enviado por Ana Mello em 02112007
Coacutedigo do texto T720831
Disponiacutevel em httpwwwrecantodasletrascombrcronicas720831
153
Acessado em 23102017
1 Quem eacute ldquomeu amigo Aureacuteliordquo
2 Que exemplos de manias a autora nos apresenta em seu texto
3 Que impressotildees esse texto causou em vocecirc
4 Segundo essa crocircnica quem tem manias Vocecirc concorda Por quecirc
5 Liste aqui manias que vocecirc sabe que tem Apoacutes terminar pense vocecirc as considera
boas ou maacutes manias Por quecirc
6 Vamos fazer um exerciacutecio de escrita Escreva uma crocircnica em que vocecirc fale de suas
manias Converse com o leitor conte a ele suas experiecircncias Faccedila comparaccedilotildees com
pessoas que vocecirc conhece Vocecirc pode inclusive comparar-se hoje a vocecirc daqui a uns
quarenta anos Como seraacute que suas manias vatildeo ser Vatildeo parecer com as das pessoas
mais velhas que vocecirc conhece e convive mas cujas manias vocecirc tanto critica Seratildeo
manias diferentes Seratildeo melhores ou piores
Obs coloque um tiacutetulo interessante e que chame a atenccedilatildeo de seu leitor
Pense que seu texto poderia ser publicado num blog ou mesmo numa paacutegina de rede
social ndash sendo assim que tipo de leitor vai ler o seu texto Ao terminar releia arrume
as ideias e passe a limpo para a folha de produccedilatildeo textual
Atividade nordm 5
Pacto apoacutes morte natildeo podia ver faca Nonato Reis
Essa histoacuteria de prometer retornar ao mundo dos vivos apoacutes o desenlace soa
esquisito e jaacute colocou muita gente em maus lenccediloacuteis A morte pelo misteacuterio que carrega incute
a curiosidade de tentar desvendaacute-la e saber o que de fato existe por traacutes dela Eacute uma questatildeo
que permaneceraacute insoluacutevel ateacute que a ciecircncia elucide-a se eacute que isso algum dia ocorreraacute
Enquanto natildeo atingimos esse estaacutegio temos que ficar com o relato daqueles que se dizem
viacutetimas ou privilegiados de experiecircncias poacutes-tuacutemulo
No Ibacazinho na Palmela no Muricituba e no Marimar era comum as pessoas
fazerem promessas agrave semelhanccedila do pacto selado entre Alvinho e Pau Ferro Na maioria das
vezes o defunto natildeo conseguia voltar deixando frustrados ou aliviados aqueles com quem fez
o acordo Foi o caso de Rui um primo meu que ldquose acertourdquo com Ponina aquela tia-avoacute
descrita em uma de minhas crocircnicas
Rui era um dos poucos que natildeo tinham medo da Tapera de Maria Fernandes Tanto
que decidiu erguer casa justo ali naquele retacircngulo amaldiccediloado e por muito tempo antes de
se casar foi morador solitaacuterio do lugar sem nunca jamais ter visto qualquer coisa fora do
universo dos vivos
Os dois combinaram que aquele que morresse primeiro viria dar sinal ao outro na
noite posterior ao sepultamento Ponina que devia ser uns 50 anos mais velha do que ele tinha
a maior probabilidade de ficar com a obrigaccedilatildeo de cumprir o trato e foi o que aconteceu Poreacutem
os dias e as noites passaram apoacutes o falecimento dela sem que a finada desse qualquer sinal da
sua presenccedila para Rui
Eu tambeacutem caiacute nessa besteira de fazer uma promessa com uma menina do primeiro
ano meacutedio e vivi uma situaccedilatildeo constrangedora Rosa era baixinha corpo bem feito cabelos no
estilo pigmaleatildeo excelente aluna fera em Matemaacutetica e Fiacutesica Nossa aproximaccedilatildeo se deu por
estrateacutegia de aprendizado
154
Eu tinha facilidade em Portuguecircs e Redaccedilatildeo uacutenicas mateacuterias que ela natildeo dominava
e precisava de reforccedilo em Fiacutesica e Matemaacutetica Selamos um pacto de ajuda muacutetua nessas
disciplinas que depois se estendeu para depois da vida ldquoSe eu morrer primeiro eu apareccedilo
para ti em plena Rua Grande apinhada de gente e se tu fores primeiro do que eu tu me surges
agrave noite no meu quartordquo
Eu natildeo entendi o porquecirc da escolha do local da minha apariccedilatildeo mas aceitei Os
anos se passaram eu entrara para a universidade perdi o contato com ela Um dia caminhando
pela Rua Grande veacutespera de Natal gente feito formiga dei de cara com aquela menina
tampinha cabelos no mesmo estilo de antes que diante de mim abriu um enorme sorriso e abriu
os braccedilos para me acolher Eu caiacute das nuvens mas antes que ela me alcanccedilasse danei a correr
feito louco fazendo zigue-zague entre as pessoas ateacute esbarrar num orelhatildeo e me estatelar no
chatildeo o rosto sangrando Assustada Rosa ajoelhou-se diante de mim e quis saber o motivo
daquela reaccedilatildeo ldquoCara o que eacute isso Tu viu fantasmardquo Eu baixei a cabeccedila o coraccedilatildeo prestes a
explodir e natildeo consegui dizer nada
Situaccedilatildeo pior viveu o professor Auriacutelio Vieira de Andrade que fizera um pacto
desses com um primo ainda menino Ele cresceu veio estudar em Satildeo Luiacutes e levou anos para
retornar ao interior Um belo dia em feacuterias na casa paterna Auriacutelio conversava com a matildee em
volta do fogatildeo de lenha quando do nada surgiu o menino da promessa e o pegou pelo braccedilo
dizendo ldquoVamos eu vim te buscarrdquo
Ele natildeo se lembrava mais da estoacuteria nem do menino Pensou que se tratava de uma
brincadeira e reagiu com naturalidade ldquoCalma para onde vocecirc quer me levarrdquo O menino
respondeu ldquopara o aleacutemrdquo Auriacutelio sorriu ldquomas eu ainda natildeo quero ir para o aleacutemrdquo O menino
natildeo se deu por vencido ldquoNatildeo importa a tua vontade vocecirc fez um pacto comigo e eu vim te
buscarrdquo
Foi entatildeo que o caso ressurgiu liacutempido na memoacuteria de Auriacutelio e ele viu que a coisa
era seacuteria A matildee percebendo a gravidade da situaccedilatildeo poreacutem sem avistar o menino tratou de
ajudar o filho segurando-o pelo braccedilo mas notou que havia uma energia ali muito maior que a
resistecircncia de ambos e apelou aos ceacuteus pedindo socorro divino
Auriacutelio jaacute desaparecia na porta da rua quase que levado aos trambolhotildees
Desesperada a matildee comeccedilou a rezar o Pai Nosso e o Credo e soacute assim conseguiu ter o filho de
volta Auriacutelio poreacutem viveu dias amargos ldquoPassei quase um mecircs deprimido Soacute pensava em
suiciacutedio Natildeo podia ver faca perto de mimrdquo
Crocircnica escrita em janeiro de 2017
Questotildees
Parte I ndash Vocabulaacuterio
a) Vocecirc conhece estas palavras
Desenlace Incute
Insoluacutevel Tapera
Pigmaleatildeo Apinhada
b) Vocecirc observa marcas de oralidade no texto Vamos destacar algumas
c) Que outras palavras ou expressotildees satildeo muito correntes no vocabulaacuterio do Maranhatildeo
Parte II ndash Compreensatildeo
1 Do que trata a histoacuteria
2 Qual eacute o foco narrativo
155
3 Que personagens aparecem na histoacuteria
4 O que eacute um pacto poacutes-morte Vocecirc sabe de algueacutem que tenha feito algum
5 Vocecirc acredita nessas histoacuterias Fale um pouco a respeito
6 No trecho ldquoSe eu morrer primeiro eu apareccedilo para ti em plena Rua Grande apinhada
de gente e se tu fores primeiro do que eu tu me surges agrave noite no meu quartordquo
Qual seria a vantagem para cada um nos locais das apariccedilotildees E as desvantagens
7 Como seria feito o seu pacto caso um dia vocecirc resolvesse fazecirc-lo
8 No que esse texto que vocecirc leu se assemelha com uma histoacuteria de terror E no que ela
se diferencia
9 Se esse texto fosse uma notiacutecia de jornal seria escrito da mesma forma Qual seria a
diferenccedila da linguagem
10 No uacuteltimo paraacutegrafo haacute a frase
ldquoFoi entatildeo que o caso ressurgiu liacutempido na memoacuteria de Auriacutelio e ele viu que a coisa
era seacuteriardquo
Se vocecirc fosse o Auriacutelio como resolveria a situaccedilatildeo
Atividade nordm 6
A cara da rua Marcelo Xavier
A rua sempre traduz a imagem de determinada eacutepoca Por isso eacute tatildeo interessante
Em cenas urbanas do seacuteculo XVIII XIX vemos carruagens mulheres de vestidos longos e
homens de terno e chapeacuteu No comeccedilo do seacuteculo XX automoacuteveis pretos mulheres de vestidos
mais curtos e homens ainda de terno e chapeacuteu Nos anos 1960 e 1970 automoacuteveis coloridos
mulheres de minissaia e homens sem terno e sem chapeacuteu
E agora na segunda deacutecada do seacuteculo XXI qual eacute a cara da rua Talvez vocecirc natildeo
saiba responder Eacute que ela passa todos os dias diante do seu nariz e vocecirc natildeo a vecirc Ou vocecirc
apenas vecirc algumas partes ldquomais atraentesrdquo do corpo dela A cara da rua continua invisiacutevel Vale o esforccedilo encare-a Como a um espelho Eacute divertido eacute necessaacuterio Esqueccedila o colesterol de
carros que entopem as vias mire os humanos
Repare bem as mulheres estatildeo de vestidos de todos os comprimentos de calccedilas
coladas se equilibrando em agulhas altiacutessimas carregadas de adereccedilos Normal
Os homens ah Os homens deram um salto esteacutetico rumo agrave libertaccedilatildeo Lembra
aqueles cavalheiros sisudos das ruas antigas com ternos de cores soacutebrias e chapeacuteus iguais
Esquece
Os novos machos estatildeo de brincos colares vistosos boneacutes e tecircnis coloridos
camisetas de todo tipo ebermudas
Natildeo as antigas que natildeo passavam de calccedilas curtas discretas As de hoje satildeo
espalhafatosas se expressam Multicoloridas exibem uma diversidade visual que beira o
infinito Geomeacutetricas abstratas figurativas iacutedolos super-heroacuteis paisagens flores ondas do
156
mar nuvens paacutessaros animais palavras de ordem apologias Combinam texturas
inimaginaacuteveis demarcam aacutereas visuais em recortes absurdamente livres ndash numa perna listras
diagonais na outra xadrez Um tsunami criativo que sai arrastando os antigos princiacutepios de
harmonia do universo da moda E o que eacute intrigante natildeo se repetem
Esse surto visual atinge seu aacutepice quando as bermudas-alucinoacutegenas se juntam a
camisetas estampadas tecircnis astronaacuteuticos boneacutes cheios de atitude e tatuagens ndash nos braccedilos nas
panturrilhas no pescoccedilo laacute estatildeo dragotildees coroas de espinho mulheres folhas de maconha
juras de amor
Vocecirc pode natildeo gostar do que vecirc natildeo se reconhecer na imagem que estaacute no espelho
mas essa eacute a cara da rua do seu tempo De certa forma a sua cara
XAVIER Marcelo A cara da rua e outras crocircnicas Satildeo Paulo Saraiva 2013
Vamos refletir sobre o texto
1 A partir da leitura vocecirc consegue deduzir de que situaccedilatildeo observada no cotidiano o autor
partiu para escrever essa crocircnica
2 O autor fez a construccedilatildeo do seu texto de forma simples poreacutem criativa por meio de
comparaccedilotildees para mostrar a cara da rua ao longo do tempo Vamos identificaacute-las
No meio urbano Seacutec XVIII
XIX
Comeccedilo do
seacutec XX
Anos 19601970 do
seacutec XX
2ordf deacutecada do
seacutec XXI
Vestuaacuterio
feminino
Vestuaacuterio
masculino
3 Dessas comparaccedilotildees do visual que foram feitas ao longo do texto vocecirc encontra alguma
na rua onde mora Qual
4 E o que eacute diferente na rua onde vocecirc mora que natildeo foi citado no texto
5 Preste atenccedilatildeo aos trechos a seguir
A rua sempre traduz a imagem de determinada eacutepoca Por isso eacute tatildeo interessante
[]
Vocecirc pode natildeo gostar do que vecirc natildeo se reconhecer na imagem que estaacute no espelho
mas essa eacute a cara da rua do seu tempo De certa forma a sua cara
6 A partir da leitura do texto vocecirc consegue dizer se o autor gosta ou natildeo gosta da cara da
rua que ele descreve Explique sua resposta
7 Que palavras ou expressotildees no texto mostram que o autor conversa com seu leitor ao longo do texto Sublinhe-as
8 Para que puacuteblico vocecirc acha que essa crocircnica estaacute direcionada Explique sua resposta
9 Vocecirc faraacute a seguir a seguinte atividade leia essa crocircnica de Marcelo Xavier para uma
pessoa em casa Apoacutes a leitura anote as impressotildees e opiniotildees dela sobre a atual cara
da rua sejam positivas ou negativas Ao final pergunte a essa pessoa para quem vocecirc
leu se o texto provocou uma impressatildeo boa ou ruim se ela o achou bem ou mal escrito
se a fez refletir sobre a vida e a mudanccedila dos tempos e qual a conclusatildeo a que ela chegou
depois dessa reflexatildeo
Ao final dessa atividade passe a limpo seu registro e traga para a aula
seguinte para discussatildeo coletiva
157
Atividade nordm 7
A Carta de punho
Demitri Tulio
DAS ANTIGAS 23102016
Algumas pessoas ainda escrevem cartas E bom que ainda o fazem Missivas
escritas agrave matildeo e a tinta preta da caneta dando vida agrave vontade de chegar perto do outro
Ou de ser escutado como se pensasse alto querendo ser ouvido das lonjuras que a
vida vai criando entre ex-amores amigos que deixaram de se ter de filho e matildee separados por
asas
Particularmente antes de agora laacute longe quando fui mais menino queria ter escrito
muitas cartas Devo ter rabiscado umas duas e nunca as mandei agrave destinataacuteria
Primeiro porque tinha vergonha de natildeo saber ortografia Achava difiacutecil (ainda
acho) a gramaacutetica brasileira e me amuava em vergonha de grafar ou concordar alguma coisa
ldquoerradardquo para quem eu queria dizer de mim
Entatildeo ficava horas e dias tentando
rascunhar correto e catando palavras peludas
trechos do dicionaacuterio frase de escritores que eu
queria ser Um paraacutegrafo dois e rasgava a folha
do caderno Serei levado a pagode
E por mais que eu lesse Graciliano
para Heloiacutesa os labirintos e as encruzilhadas da Clarice e os retratos de dona Leopoldina sobre
o Brasil e seu desenxabido Pedro I natildeo conseguia nem copiaacute-los
Loacutegico carta eacute um ser entranhado do remetente Eacute quase um pulmatildeo um rim um
coraccedilatildeo Eacute parte do corpo que se doa no instante em que a esferograacutefica vai sendo guiada pelo
papel
E natildeo era meu o afeto de Graciliano Natildeo eram minhas as inquietaccedilotildees de Clarice
E era de dona Leopoldina aquele incocircmodo de calor a saudade das oacuteperas da Aacuteustria as caccediladas
de animais do Brasil ldquoprimitivordquo
Pois bem queria ter escrito recebido e respondido mais cartas Hoje mando emails
Eacute bom mas carta tinha uma espera que natildeo sei dizer
Semana passada depois de mais de 30 anos sem algueacutem me endereccedilar uma carta
de papel e caneta eis que recebo Natildeo foi de pretendente Sempre esperei por uma dessas mas
talvez a falta de boniteza tenha me privado de
Foi de um leitor da Coluna Um moccedilo de mais de 92 anos que teve a gentileza de
tirar um tempo e me enviar um envelope pelos Correios Carimbado dois selos e o trato por
ldquoIlmo Srrdquo
ldquoCaro (posso) Sr Demitri Sauacutede Sou assinante drsquo O Povo haacute deacutecadas e portanto
seu leitor antigo Natildeo soacute leitor mas tambeacutem admirador pela defesa da natureza (paacutessaros do
Cocoacute) e pelo seu estilo diferente (neologismos bem lsquocolocadosrsquo) e assuntos (temas) originais
para suas crocircnicas
Criei coragem para lhe escrever apoacutes ler sua crocircnica (artigo) lsquoEntatildeo Venha
comigorsquo excelente para quem como eu jaacute passou dos 92 e concorda com suas colocaccedilotildees
sobre a velhice
Aceite meus cumprimentos e votos de muitos anos de lsquoescrevinhaccedilatildeorsquo
Cordialmente (ex-cordis) Santos Rochardquo
158
E ainda escreve um paraacutegrafo derradeiro apoacutes as despedida e a assinatura ldquoPS Natildeo
eacute que eu queira lsquosubir aleacutem da chinelarsquo mas me parece que no penuacuteltimo paraacutegrafo de sua
crocircnica deveria ter escrito lsquose casariarsquo em vez de lsquocasaria-sersquo Discurperdquo
O envelope branco com um carimbo de uma agecircncia dos Correios do bairro
Meireles trazia ainda um texto datilografado (Ser Jovem do general Douglas Mac-Arthur) e
um recorte de jornal com um sermatildeo de Santo Agostinho
Pois fico agradecido pela decisatildeo de escrever a carta do tempo dedicado Pelos
minutos pensando em o que escrever Por cada palavra casada com cada frase Pela respiraccedilatildeo
para pensar em quem nem se conhece
Pela caneta preta identificando o remetente
Pela ida aos Correios ou por se dar ao trabalho de pedir algueacutem que fosse
Pela gentileza de ler a Das Antigas
Como o senhor mandou dizer ldquoNatildeo eacute por ter vivido um certo nuacutemero de anos que
envelhecemos envelhecemos porque abandonamos o nosso idealrdquo
Sem mais fico por aqui
Acesso em 31 ago 2017
httpwww20opovocombrappcolunasdasantigas20161022noticiasdasantigas3665372a-carta-de-
punhoshtml
Vocabulaacuterio
Desenxabido Adjetivo 1desprovido de gosto de sabor insiacutepido insosso2a que
falta interesse particular ou graccedila marcado pela repeticcedilatildeo aborrecido monoacutetono
Ex abundantia cordis Da abundacircncia do coraccedilatildeo Com sinceridade
Curiosidade
Pedro nasceu na manhatilde de 12 de outubro de 1798 no Palaacutecio Real de Queluz
Portugal Ele foi nomeado em homenagem a Satildeo Pedro de Alcacircntara e seu nome completo era
Pedro de Alcacircntara Francisco Antoacutenio Joatildeo Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael
Joaquim Joseacute Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim Desde seu nascimento recebeu o prefixo
honoriacutefico de Dom
Atividade
Vamos observar a crocircnica Marque o que acha adequado
Sim Natildeo
Partiu de uma situaccedilatildeo observadavivida
Conversa com o leitor
Possui o foco narrativo bem determinado (narrador personagem ou
narrador observador ou narrador onisciente)
Leva o leitor a refletir
Causa impressotildees no leitor como riso choro reflexatildeo emoccedilatildeo
Possui um final interessante
Mostra discretamente ao leitor seu ponto de vista a respeito da situaccedilatildeo
Possui alguma descriccedilatildeo de lugarobjetopersonagem
Possui um tiacutetulo
Emprega adequadamente os sinais de pontuaccedilatildeo
Evita repeticcedilatildeo desnecessaacuteria de palavras
Possui paraacutegrafos bem organizados
159
Atividade nordm 8
Amor de macumba Fabriacutecio Carpinejar
Quando algum amigo diz que recebeu macumba da ex fico com ciuacuteme Com dor
de cotovelo
Isso que eacute amor grandioso Amor de verdade
Sempre olho na minha esquina para ver se natildeo tem nenhuma encomenda para mim
Mas nunca chega esse sedex do amor
Macumba eacute sedex 10 do amor
Eacute muita paixatildeo odiar algueacutem com tanto zelo Eacute muito capricho gastar seu tempo e
fazer um trabalhinho para prender a pessoa ao seu coraccedilatildeo
Eacute muita disposiccedilatildeo
Eacute muita energia
Eacute muito querer
Eacute muito desejo
Eacute a superaccedilatildeo de todos os incocircmodos de todos os vexames de todos os medos
Eacute muito luxo ter uma amada pagando para os santos mexerem com vocecirc pagando
a parcela antecipada da eternidade
Isso que eacute amor aleacutem da vida
Isso que eacute vontade de permanecer junto
Eu aceitaria qualquer prova de doaccedilatildeo amarraccedilatildeo vodu letras de macarratildeo
pipoca
Nem precisa roubar minha cueca daria a melhor da minha gaveta
Ai que inveja
No lugar da galinha preta poderia oferecer o chester que sempre recebo no final do
ano
Estaacute aqui parado no congelador Sem uso
E as velas na minha esquina ainda ajudariam a iluminaccedilatildeo puacuteblica
Amor de macumba eacute amor para sempre
Disponiacutevel em httpcarpinejarblogspotcombr201402amor-de-macumbahtml
Acesso em 2 de agosto de 2017
Vamos refletir sobre o texto
1 A partir da leitura vocecirc consegue deduzir de que situaccedilatildeo observada no cotidiano o autor
partiu para escrever essa crocircnica
2 Qual parece ser a opiniatildeo do autor a respeito do tema Utilize trechos do texto que
justifique a sua resposta
3 Que reflexotildees se pode perceber na leitura desse texto
4 Que impressotildees essa crocircnica causa no leitor (riso choro reflexatildeo emoccedilatildeo alguma
outra)
160
Atividade nordm 9
Sr Google Pacheco
SR GOOGLE PACHECO
27 outubro 2012 Juliano Martinz
Quando chegavam ao escritoacuterio pela manhatilde o senhor Google Pacheco sempre
estava laacute Sentado a sua mesa ou correndo de um lado para outro mantinha-se no seu
memoraacutevel ritmo agitado produccedilatildeo beirando o frenesi Os funcionaacuterios o admiravam Era
sempre o primeiro a chegar e o uacuteltimo a sair (embora ningueacutem tenha testemunhado qualquer
um destes acontecimentos)
ndash Acho que ele dorme no escritoacuterio ndash alguns arriscavam
Outros jaacute apelavam pro exagero
ndash Dizem que ele nunca dorme
Sr Google Pacheco O chefe do departamento de marketing Baixo e gordinho
Feiccedilatildeo inocente quase boba Chamava a atenccedilatildeo pelas roupas sempre de cores viacutevidas
cintilantes Geralmente boneacute azul camiseta vermelha calccedilas amarelas e tecircnis verde Agraves vezes
invertia as cores mas nunca as abandonava Roupas estranhas para um homem de nome
estranho A personagem perfeita para textos humoriacutesticos
Quando era novo na empresa ainda apenas um singelo desconhecido causava
confusatildeo com seu nome Liam o crachaacute e diziam
ndash Bom dia sr Goacutegle
Ele corrigia sempre sorridente e simpaacutetico
ndash Natildeo natildeo Pronuncia-se Guacutegou
ndash Guacutegou
ndash Eacute a centeacutesima potecircncia do nuacutemero 10
ndash Uau
Ateacute o nome carregava seu estigma de gecircnio absoluto O Sr Google era uma
enciclopeacutedia ambulante Parecia ser senhor de todo o conhecimento Portador de soluccedilatildeo para
os mais variados problemas na ponta da liacutengua Para cada desafio proposto no dia a dia da
empresa vertia um turbilhatildeo de soluccedilotildees precisas e automaacuteticas
Com sua eficiecircncia derramada a cada suspiro de auxiliar no departamento de
marketing chegou agrave chefia em poucos meses Com o passar dos dias e semanas a experiecircncia
acumulando-se nas veias parecia saber o que as pessoas queriam antes de terminarem de falar
ndash Seu Google o senhor sabe que horashellip
ndash hellip seraacute a reuniatildeo do conselho
ndash Isso Isso mesmo
ndash 16 horas
Era um gecircnio Disposiccedilatildeo tamanha natildeo demorou muito e comeccedilaram a abordar
assuntos mais pessoais
ndash Sr Google preciso de sua ajuda Como faccedilo para conhellip
ndash Conquistar sua melhor amiga
ndash Uau Como o senhor sabe
E derramava soluccedilotildees Como se natildeo bastasse a prontidatildeo comeccedilou a oferecer
vaacuterias opccedilotildees
ndash Sr Google chocolate daacutehellip
ndash Espinha Celulite Coacutelica no bebecirc
ndash Eacuteeacuteeacuteeacutehellip
161
ndash Sono Dor de cabeccedila Azia
ndash Euhellip
ndash Enxaqueca Energia Gases
ndash Isso ndash disse ruborizada ndash Gases
ndash Ahaacute Vocecirc estaacute com sorte menina
Ateacute o poderoso e inacessiacutevel dono da empresa cuja agenda diaacuteria se resumia a
constantes viagens de negoacutecio pela Europa comeccedilou a passar mais tempo no Brasil E quase
todos os dias ia na empresa Mas nem entrava em sua sala Jaacute ia direto para a sala do senhor
Google Os curiosos e fofoqueiros discutiam o teor das conversas atraacutes daquelas portas Uns
diziam que falavam apenas sobre bolsa de valores Acontecimentos mundiais tendecircncias
econocircmicas essas coisas Outros achavam que a conversa soacute passeava pela arena dos assuntos
pessoais
Independentemente do conteuacutedo destes encontros a portas fechadas a empresa soacute
crescia E os funcionaacuterios eram unacircnimes em admitir depois da chegada do Sr Google a vida
de todos eles se tornou mais completa e intensa
Certo dia o Sr Google natildeo apareceu para trabalhar A princiacutepio pairou uma tensatildeo
camuflada no ar Agrave medida que as horas foram passando e o Sr Google natildeo aparecia fez-se
um clima de desespero Comeccedilaram a ligar para o seu celular mas dava como nuacutemero
inexistente Algueacutem tem o telefone da casa dele O resultado foi o mesmo nuacutemero inexistente
Onde ele morava mesmo Ningueacutem sabia O desespero instalou-se no preacutedio Ningueacutem
conseguia fazer nada Ficavam andando de um lado para outro perdidos Nem a dona Gertrudes
conseguiu fazer o cafeacute
Durante dias ningueacutem trabalhou Duacutevidas sobre o andamento da empresa ndash diziam
que accedilotildees da empresa estavam tendo quedas vertiginosas Os funcionaacuterios sentiam-se curvados
ante o peso dos problemas pessoais que natildeo conseguiam resolver sem a ajuda e os conselhos
do Sr Google
Duas semanas depois e metade deles natildeo mais aparecia na empresa Dois ou trecircs
mergulharam de cabeccedila no alcoolismo Outro se jogou da ponte E o poderoso dono da empresa
quem diria foi flagrado diversas vezes em prantos cambaleando pelos corredores
fantasmagoacutericos e mal iluminados da empresa que veio agrave falecircncia dias depois
Quanto ao sr Google nunca mais foi visto Dizem por aiacute que montou um site e
ficou milionaacuterio Mas comprovar mesmo ningueacutem nunca comprovou
Acesso em 2 de agosto de 2017
Disponiacutevel em httpcorrosivacombrcronicas-engracadascronica-humoristica-google-
pacheco
Atividade
1 Vocecirc conhece o vocabulaacuterio a seguir
Memoraacutevel
Frenesi
Singelo
Vertia
Turbilhatildeo
Vertiginosas
2 O texto trata de maneira bem humorada de uma situaccedilatildeo cotidiana Qual
3 O texto traz em si alguma reflexatildeo Qual
162
ANEXO A ndash DISTRIBUICcedilAtildeO POR NIacuteVEL DE PROFICIEcircNCIA
Liacutengua Portuguesa do 9ordm Ano do Ensino Fundamental
Distribuiccedilatildeo por Niacutevel de Proficiecircncia - Liacutengua Portuguesa do 9ordm Ano do Ensino
Fundamental
Niacutevel Descriccedilatildeo do Niacutevel - O estudante provavelmente eacute capaz de
Niacutevel 0
Desempenho menor
que 200
Niacutevel 1
Desempenho maior
ou igual a 200 e
menor que 225
Os estudantes provavelmente satildeo capazes de Reconhecer
expressotildees caracteriacutesticas da linguagem (cientiacutefica jornaliacutestica etc)
e a relaccedilatildeo entre expressatildeo e seu referente em reportagens e artigos
de opiniatildeo Inferir o efeito de sentido de expressatildeo e opiniatildeo em
crocircnicas e reportagens
Niacutevel 2
Desempenho maior
ou igual a 225 e
menor que 250
Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes
provavelmente satildeo capazes de Localizar informaccedilotildees expliacutecitas em
fragmentos de romances e crocircnicas Identificar tema e assunto em
poemas e charges relacionando elementos verbais e natildeo verbais
Reconhecer o sentido estabelecido pelo uso de expressotildees de
pontuaccedilatildeo de conjunccedilotildees em poemas charges e fragmentos de
romances Reconhecer relaccedilotildees de causa e consequecircncia e
caracteriacutesticas de personagens em lendas e faacutebulas Reconhecer
recurso argumentativo em artigos de opiniatildeo Inferir efeito de
sentido de repeticcedilatildeo de expressotildees em crocircnicas
Niacutevel 3
Desempenho maior
ou igual a 250 e
menor que 275
Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes
provavelmente satildeo capazes de Localizar informaccedilotildees expliacutecitas em
crocircnicas e faacutebulas Identificar os elementos da narrativa em letras de
muacutesica e faacutebulas Reconhecer a finalidade de abaixo-assinado e
verbetes Reconhecer relaccedilatildeo entre pronomes e seus referentes e
relaccedilotildees de causa e consequecircncia em fragmentos de romances
diaacuterios crocircnicas reportagens e maacuteximas (proveacuterbios) Interpretar o
sentido de conjunccedilotildees de adveacuterbios e as relaccedilotildees entre elementos
verbais e natildeo verbais em tirinhas fragmentos de romances
reportagens e crocircnicas Comparar textos de gecircneros diferentes que
abordem o mesmo tema Inferir tema e ideia principal em notiacutecias
crocircnicas e poemas Inferir o sentido de palavra ou expressatildeo em
histoacuteria em quadrinhos poemas e fragmentos de romances
Niacutevel 4
Desempenho maior
Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes
provavelmente satildeo capazes de Localizar informaccedilotildees expliacutecitas em
artigos de opiniatildeo e crocircnicas Identificar finalidade e elementos da
163
ou igual a 275 e
menor que 300
narrativa em faacutebulas e contos Reconhecer opiniotildees distintas sobre o
mesmo assunto em reportagens contos e enquetes Reconhecer
relaccedilotildees de causa e consequecircncia e relaccedilotildees entre pronomes e seus
referentes em fragmentos de romances faacutebulas crocircnicas artigos de
opiniatildeo e reportagens Reconhecer o sentido de expressatildeo e de
variantes linguiacutesticas em letras de muacutesica tirinhas poemas e
fragmentos de romances Inferir tema tese e ideia principal em
contos letras de muacutesica editoriais reportagens crocircnicas e artigos
Inferir o efeito de sentido de linguagem verbal e natildeo verbal em
charges e histoacuteria em quadrinhos Inferir informaccedilotildees em
fragmentos de romance Inferir o efeito de sentido da pontuaccedilatildeo e da
polissemia como recurso para estabelecer humor ou ironia em
tirinhas anedotas e contos
Niacutevel 5
Desempenho maior
ou igual a 300 e
menor que 325
Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes
provavelmente satildeo capazes de Localizar a informaccedilatildeo principal em
reportagens Identificar ideia principal e finalidade em notiacutecias
reportagens e resenhas Reconhecer caracteriacutesticas da linguagem
(cientiacutefica jornaliacutestica etc) em reportagens Reconhecer elementos
da narrativa em crocircnicas Reconhecer argumentos e opiniotildees em
notiacutecias artigos de opiniatildeo e fragmentos de romances Diferenciar
abordagem do mesmo tema em textos de gecircneros distintos Inferir
informaccedilatildeo em contos crocircnicas notiacutecias e charges Inferir sentido
de palavras da repeticcedilatildeo de palavras de expressotildees de linguagem
verbal e natildeo verbal e de pontuaccedilatildeo em charges tirinhas contos
crocircnicas e fragmentos de romances
Niacutevel 6
Desempenho maior
ou igual a 325 e
menor que 350
Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes
provavelmente satildeo capazes de Identificar ideia principal e
elementos da narrativa em reportagens e crocircnicas Identificar
argumento em reportagens e crocircnicas Reconhecer o efeito de
sentido da repeticcedilatildeo de expressotildees e palavras do uso de pontuaccedilatildeo
de variantes linguiacutesticas e de figuras de linguagem em poemas
contos e fragmentos de romances Reconhecer a relaccedilatildeo de causa e
consequecircncia em contos Reconhecer diferentes opiniotildees entre
cartas de leitor que abordam o mesmo tema Reconhecer a relaccedilatildeo
de sentido estabelecida por conjunccedilotildees em crocircnicas contos e
cordeacuteis Reconhecer o tema comum entre textos de gecircneros
distintos Reconhecer o efeito de sentido decorrente do uso de
figuras de linguagem e de recursos graacuteficos em poemas e
fragmentos de romances Diferenciar fato de opiniatildeo em artigos e
reportagens Inferir o efeito de sentido de linguagem verbal e natildeo
verbal em tirinhas
Niacutevel 7
Desempenho maior
Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes
provavelmente satildeo capazes de Localizar informaccedilotildees expliacutecitas
ideia principal e expressatildeo que causa humor em contos crocircnicas e
164
ou igual a 350 e
menor que 375
artigos de opiniatildeo Identificar variantes linguiacutesticas em letras de
muacutesica Reconhecer a finalidade e a relaccedilatildeo de sentido estabelecida
por conjunccedilotildees em lendas e crocircnicas
Niacutevel 8
Desempenho maior
ou igual a 375
Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes
provavelmente satildeo capazes de Localizar ideia principal em
manuais reportagens artigos e teses Identificar os elementos da
narrativa em contos e crocircnicas Diferenciar fatos de opiniotildees e
opiniotildees diferentes em artigos e notiacutecias Inferir o sentido de
palavras em poemas
Fonte INEP (2018)
165
ANEXO B ndash DISTRIBUICcedilAtildeO DE TEXTOS FALADOS E ESCRITOS NO CONTIacuteNUO
GENEacuteRICO
Distribuiccedilatildeo dos textos de uso falados e escritos no contiacutenuo geneacuterico
Fonte MARCUSCHI (2015 p 195-196)
166
ANEXO C ndash PRODUCcedilOtildeES DOS ALUNOS
Produccedilatildeo Inicial de Ana
Produccedilatildeo Final de Ana
167
Produccedilatildeo Inicial de Rodrigo
168
Produccedilatildeo final de Rodrigo
169
Produccedilatildeo Inicial de Eduardo
170
Produccedilatildeo final de Eduardo
171
Produccedilatildeo inicial de Estela
172
Produccedilatildeo final de Estela
173
174
175
Produccedilatildeo Inicial de Celia
176
Produccedilatildeo final de Celia
177
Produccedilatildeo Inicial de Arlindo
178
Produccedilatildeo final de Arlindo
179
Produccedilatildeo Inicial de Juacutelia
180
Produccedilatildeo final de Juacutelia
181
Produccedilatildeo Inicial de Vicente
182
Produccedilatildeo final de Vicente
183
Produccedilatildeo Inicial de Graccedila
184
Produccedilatildeo final de Graccedila
185
Produccedilatildeo Inicial de Lilian
186
Produccedilatildeo final de Lilian
187
Produccedilatildeo Inicial de Heloiacutesa
188
Produccedilatildeo final de Heloisa
189
Produccedilatildeo Inicial de Eliane
190
Produccedilatildeo final de Eliane
191
Produccedilatildeo Inicial de Joana
Fonte dados da pesquisa
192
Figura 31 ndash Produccedilatildeo final de Joana
FERNANDA MARIA DA SERRA COSTA
A PRODUCcedilAtildeO ESCRITA DE CROcircNICAS EM SALA DE AULA DO 9ordm ANO DO ENSINO
FUNDAMENTAL
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-
Graduaccedilatildeo Profissional em Letras da
Universidade Federal do Cearaacute como requisito
parcial agrave obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em
Letras
Aacuterea de concentraccedilatildeo Linguagens e
Letramentos
Orientadora Profordf Drordf Aurea Suely Zavam
FORTALEZA - CE
2018
Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo
Universidade Federal do Cearaacute
Biblioteca Universitaacuteria
Gerada automaticamente pelo moacutedulo Catalog mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)
C872p Costa Fernanda Maria da Serra
A produccedilatildeo escrita de crocircnicas em sala de aula do 9ordm ano do ensino fundamental Fernanda Maria
da Serra Costa ndash 2018
192 f il color
Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Universidade Federal do Cearaacute Centro de Humanidades Programa de
Poacutes-Graduaccedilatildeo Profissional em Letras Fortaleza 2018
Aacuterea de concentraccedilatildeo Linguagens e letramentos
Orientaccedilatildeo Profa Dra Aacuteurea Suely Zavam
1 Produccedilatildeo escrita 2 Escrita como processo 3 Gecircnero textual 4 Crocircnicas 5 Sequecircncia de
atividades I Tiacutetulo
CDD 410
FERNANDA MARIA DA SERRA COSTA
A PRODUCcedilAtildeO ESCRITA DE CROcircNICAS EM SALA DE AULA DO 9ordm ANO DO ENSINO
FUNDAMENTAL
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-
Graduaccedilatildeo Profissional em Letras da
Universidade Federal do Cearaacute como requisito
parcial agrave obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em
Letras Aacuterea de concentraccedilatildeo Linguagens e
Letramentos
Aprovado em ____ ____ _______
BANCA EXAMINADORA
________________________________________
Profordf Drordf Aacuteurea Suely Zavam (Orientadora)
Universidade Federal do Cearaacute (UFC)
_________________________________________
Profordf Drordf Pollyane Bicalho Ribeiro
Universidade Federal do Cearaacute (UFC)
_________________________________________
Prof Drordf Sarah Diva da Silva Ipiranga
Universidade Estadual do Cearaacute (UECE)
A Deus
Aos meus pais Olilia e Arnold
Aos meus filhotes Felipe e Miguel
A Maria Morena e Bilaacute in memorian
AGRADECIMENTOS
A Deus que me pocircs a realizar sonhos permitindo-me o devido aperfeiccediloamento
para que pudesse executar melhor a tarefa de contribuir para o mundo
Aos meus pais Olilia e Arnold por todo o apoio incondicional e sem esperar em
troca a vida toda e mais ainda durante o mestrado
Aos meus filhos Felipe e Miguel pela compreensatildeo da distacircncia mesmo que
passageira pela paciecircncia e pelo apoio
Agrave Prof Dr Aurea Zavam pelo carinho acolhimento e orientaccedilatildeo
Aos professores participantes da banca examinadora Pollyane Bicalho Ribeiro e
Sarah Diva da Silva Ipiranga pelo tempo pelas valiosas colaboraccedilotildees e sugestotildees
Aos colegas da 3ordf turma de mestrado ProfLetrasUFC pelas reflexotildees criacuteticas e
sugestotildees recebidas
Agraves damas do fuaacute porque satildeo as melhores amigas que se pode ter Raquel Ive
Carolina Edvania Eacuterica e Flaacutevia
A Aline pela amizade e carinho imensos essa natural forccedila que a vida lhe deu e
que tatildeo generosamente partilha
A Carla amiga de forccedila pela sensatez e ombro amigo generosidade e atenccedilatildeo
A Robson do fundo do coraccedilatildeo de quem digo que palavras natildeo descrevem essa
amizade que a gente tem
Agrave querida Nady por sua boniacutessima vontade em passar suas ldquolentes de catar pulgardquo
em minhas linhas
Ao meu tio Raimundo e a dona Gilda pela compreensatildeo e disposiccedilatildeo em ajudar a
cuidar da minha turma aqui
Agrave Semed-Satildeo Luiacutes por acreditar na figura do professor que busca capacitaccedilatildeo
profissional
Agrave coordenaccedilatildeo do Mestrado Profissional em LetrasUFC pelo incentivo aos
mestrandos
Aos nossos professores do Mestrado que em muito contribuiacuteram em nossa jornada
Agrave nossa diretora da escola Maria de Jesus Dijeacute pelo apoio e disponibilidade e por
sempre acreditar nos projetos como uma forma de acrescentar ao aperfeiccediloamento dos alunos
da escola
Aos professores e funcionaacuterios que apoiaram e colaboraram com o projeto
Aos pais e familiares que apoiaram e consentiram na participaccedilatildeo dos alunos
Aos alunos do 9ordm ano turma 91 de 2017 que integraram o projeto acreditaram em
si mesmos e agora veem seus escritos circularem socialmente
A todos os amigos colegas de trabalho alunos ex-alunos e demais pessoas que
cruzaram meu caminho deixando contribuiccedilotildees alertas liccedilotildees posso natildeo nominar um por um
aqui mas agradeccedilo sua importacircncia
Agrave CAPES pelo apoio financeiro com a manutenccedilatildeo da bolsa de auxiacutelio
ldquoSe vocecirc quiser melhorar de vida Marcie
sempre vai ter que atravessar um oceano ou um
deserto ou uma montanha Mas se de repente
vocecirc atravessar uma sala cheia de gente toda a
sua vida pode mudarrdquo (Peppermint Patty)
RESUMO
O presente trabalho versa sobre o desenvolvimento da competecircncia escrita de alunos do 9ordm ano
do Ensino Fundamental por meio de uma sequecircncia didaacutetica aplicada ao gecircnero crocircnica
visando proporcionar avanccedilos no processo de redigir Para o aporte teoacuterico daacute-se preferecircncia
agraves abordagens de gecircnero na perspectiva de Bakhtin (2011) Bazerman (2009) Bazerman e
Miller (2011) e Marcuschi (2015) A metodologia envolve uma pesquisa-accedilatildeo conforme
elucidaccedilotildees de Gil (2008) O procedimento se daacute pela aplicaccedilatildeo de uma sequecircncia didaacutetica
inspirada em contribuiccedilotildees de Dolz Noverraz e Schneuwly ([2004] 2013) Swiderski e Costa-
Huumlbes (2009) Lopes-Rossi (2011) Vieira (2005) e Serafini (2003) com vista ao aprendizado
de produccedilatildeo de texto do gecircnero crocircnica sob a oacutetica da escrita como processo Por meio das
atividades de leitura e escrita de crocircnicas percebe-se que os alunos refletiram sobre os
procedimentos de escritor sensibilizaram mais o seu olhar para o cotidiano e ampliaram o
conhecimento de sua competecircncia linguiacutestica Acredita-se que propiciar situaccedilotildees de
aprendizagem apresentando-as natildeo como um fardo mas com a graccedila ndash apesar do necessaacuterio
investimento pedagoacutegico ndash que a escrita pode vir a ter garante assim que os alunos concluam
o Ensino Fundamental tendo a oportunidade de elaborar textos consoantes ao seu direito de
serem proficientes em sua liacutengua materna
Palavras-chave Produccedilatildeo escrita Gecircneros textuais Sequecircncia didaacutetica Crocircnicas
ABSTRACT
The present work deals with the development of written competence of students of the 9th grade
of elementary school through a didactic sequence applied to the genre chronicles aiming to
provide advances in the writing process For the theoretical contribution genre approaches are
preferred from the perspective of Bakhtin (2011) Bazerman (2009) Bazerman e Miller (2011)
e Marcuschi (2015) The methodology involves an action research according to Gils (2008)
elucidations The procedure is based on the application of a didactic sequence inspired by
contributions of Dolz Noverraz and Schneuwly ([2004] 2013) Swiderski and Costa-Huumlbes
(2009) Lopes-Rossi (2011) Vieira (2005) e Serafini (2003) with a view to learning text
production of the genre chronicle under the point of view of writing as a process Through the
activities of reading and writing of chronicles it is noticed that the students have reflected on
the procedures of writer they have sensitized more their look at the quotidian and have extended
the knowledge of their linguistic competence It is believed that providing learning situations
by presenting them not as a burden but with the grace - despite all the necessary pedagogical
investment - that writing can have thus ensuring that students finish elementary school having
the opportunity to prepare texts according to their right to be proficient in their mother language
Keywords Written production Genres Didactic sequence Chronicles
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Esquema baacutesico de sequecircncia didaacutetica 31
Figura 2 - Esquema da SD adaptada por Costa-Huumlbes 36
Figura 3 - Esquema da SD adaptada por Costa-Huumlbes 38
Figura 4 - Proposiccedilatildeo de sequecircncia didaacutetica para o projeto de escrita 77
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 ndash Resultados IDEB 2015 70
Graacutefico 2 ndash Desempenho da escola nas ediccedilotildees da Prova Brasil 70
Graacutefico 3 ndash Distribuiccedilatildeo percentual dos alunos do 9ordm Ano do EF por niacutevel de
proficiecircncia - Liacutengua Portuguesa
71
Graacutefico 4 ndash Nuacutemero de alunos do 9ordm ano 88
Graacutefico 5 ndash Participaccedilatildeo nas produccedilotildees 89
Graacutefico 6 ndash Alunos presentes por encontro 90
Graacutefico 7 ndash Avaliaccedilatildeo das crocircnicas A 122
Graacutefico 8 ndash Avaliaccedilatildeo das crocircnicas B 136
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 ndash Siacutentese das etapas de desenvolvimento de projetos pedagoacutegicos que visam agrave
produccedilatildeo escrita de gecircneros discursivos
38
Quadro 2 ndash Motivaccedilatildeo e envolvimento na produccedilatildeo escrita 54
Quadro 3 ndash Como organizar as ideias em paraacutegrafos 63
Quadro 4 ndash Moacutedulos desenvolvidos na sequecircncia de atividades (SA) 80
Quadro 5 ndash Quadro autoavaliativo 91
Quadro 6 ndash Identificaccedilatildeo dos textos dos alunos
Quadro 7 ndash Produccedilatildeo inicial Ana ndash Tiacutetulo Ser chato ou natildeo ser eis a questatildeo
Quadro 8 ndash Produccedilatildeo final Ana ndash Tiacutetulo Ser chato ou natildeo ser eis a questatildeo
Quadro 9 ndash Produccedilatildeo inicial Rodrigo ndash Tiacutetulo Pare de se criticar
Quadro 10 ndash Produccedilatildeo final Rodrigo ndash Tiacutetulo
Quadro 11 ndash Produccedilatildeo inicial Eduardo ndashTiacutetulo O amigo muito e muito chato
Quadro 12 ndash Produccedilatildeo final Eduardo ndashTiacutetulo Ser legal natildeo eacute ser chato
Quadro 13 ndash Produccedilatildeo inicial Estela ndash Tiacutetulo Os chatos de antematildeo
Quadro 14 ndash Produccedilatildeo final Estela ndashTiacutetulo O tio chato de galocha
Quadro 15 ndash Produccedilatildeo inicial Ceacutelia ndashTiacutetulo Chata sim ou natildeo
Quadro 16 ndash Produccedilatildeo final Ceacutelia ndash Tiacutetulo Chata sim ou natildeo
Quadro 17 ndash Produccedilatildeo inicial Arlindo ndash Tiacutetulo Chato e natildeo eacute chato
Quadro 18 ndash Produccedilatildeo final Arlindo ndash Tiacutetulo Chato e natildeo eacute chato
Quadro 19 ndash Produccedilatildeo inicial Juacutelia ndash Tiacutetulo Ser chato ou ser legal
Quadro 20 ndash Produccedilatildeo final Juacutelia ndash Tiacutetulo Pessoas chatas e pessoas legais
Quadro 21 ndash Produccedilatildeo inicial Vicente ndash Tiacutetulo A pergunta eacute se eu bloquearia uma
pessoa chata
Quadro 22 ndash Produccedilatildeo final Vicente ndash Tiacutetulo
Quadro 23 ndash Produccedilatildeo inicial Graccedila ndash Tiacutetulo Rafaelly chata
Quadro 24 ndash Produccedilatildeo final Graccedila ndash Tiacutetulo Chata ela ou EU
Quadro 25 ndash Produccedilatildeo inicial Lilian ndash Tiacutetulo Meus amigos chatos e Eu
Quadro 26 ndash Produccedilatildeo final Lilian ndash Tiacutetulo Pessoas legais e chatas
Quadro 27 ndash Produccedilatildeo inicial Heloiacutesa ndash Tiacutetulo ldquoChato mais eacute muito legalrdquo
Quadro 28 ndash Produccedilatildeo final Heloiacutesa ndash Tiacutetulo ldquoO melhor chatordquo
Quadro 29 ndash Produccedilatildeo inicial Eliane ndash Tiacutetulo Um pouco de tudo
91
92
93
95
96
97
99
99
101
103
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110
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113
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115
116
117
Quadro 30 ndash Produccedilatildeo final Eliane ndash Tiacutetulo O que e chato e o que e legal
Quadro 31 ndash Produccedilatildeo inicial Joana ndash Tiacutetulo Pessoas chatas e outras legal
Quadro 32 ndash Produccedilatildeo final Joana ndash Tiacutetulo Pessoas oacutetimas
Quadro 33 ndash Tiacutetulos das produccedilotildees para circulaccedilatildeo social
Quadro 34 ndash PIB Ana
Quadro 35 ndash PFB Ana ndash Tiacutetulo PROIBIDA DE ACHAR GRACcedilA
Quadro 36 ndash PIB Rodrigo ndash Tiacutetulo Vida de preguiccediloso
Quadro 37 ndash PFB Rodrigo ndash Tiacutetulo VIDA DE PREGUICcedilOSO
Quadro 38 ndash PIB Eduardo ndash Tiacutetulo
Quadro 39 ndash PFB Eduardo ndash INFAcircNCIA FELIZ
Quadro 40 ndash PIB Estela ndash Tiacutetulo ldquoDown= bullyingrdquo
Quadro 41 ndash PFB Estela ndashTiacutetulo DOWN= BULLYING
Quadro 42 ndash PFA2 Ana ndash Tiacutetulo O que eacute ser chato
118
120
121
124
124
125
126
127
129
131
132
134
137
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
BNCC Base Nacional Comum Curricular
ENEM Exame Nacional do Ensino Meacutedio
FP Folha de Produccedilatildeo
IDEB Iacutendice de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica
INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
LDB Lei de Diretrizes e Bases
PCN Paracircmetros Curriculares Nacionais
PF Produccedilatildeo final
PF-A Produccedilatildeo final para a o trabalho em sala
PF-B Produccedilatildeo final para circulaccedilatildeo social dos textos com audiecircncia real
PI Produccedilatildeo Inicial
PI-A Produccedilatildeo inicial para o trabalho em sala
PI-B Produccedilatildeo inicial para circulaccedilatildeo social dos textos com audiecircncia real
SD Sequecircncia Didaacutetica
SEMED Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo
TDIC Tecnologias Digitais da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 16
2 OS GEcircNEROS E O TRABALHO EM SALA DE AULA 23
21 Demarcando o conceito de gecircnero 23
211 Gecircnero como tipo relativamente estaacutevel de enunciado 23
212 Gecircnero como accedilatildeo social 26
213 Gecircnero como fenocircmeno histoacuterico 30
22 Conhecendo a sequecircncia didaacutetica 31
221 Conceito de sequecircncia didaacutetica 32
222 Propostas de adaptaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica 35
2221 Moacutedulo de reconhecimento 36
2222 Moacutedulo de divulgaccedilatildeo ao puacuteblico 37
2223 Abordagem imitativa da redaccedilatildeo 39
23 Definindo o gecircnero textual crocircnica 41
231 A crocircnica brasileira 42
232 Caracteriacutesticas da crocircnica 44
2321 Crocircnica um gecircnero jornaliacutestico 45
2322 Crocircnica um gecircnero literaacuterio 46
3 LEITURA E ESCRITA NOS ANOS FINAIS DO ENSINO
FUNDAMENTAL
49
31 Habilidades de leitura e escrita para que ler e escrever 49
32 Escrita e motivaccedilatildeo 53
33 Escrita como processo 56
34 Escrita na escola 61
35 Letramento literaacuterio 66
4 NATUREZA E PROCEDIMENTOS DA PESQUISA 69
41 Contexto da pesquisa 69
42 Participantes 72
43 Materiais 73
44 Procedimentos 74
441 Primeira etapa da apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo agrave produccedilatildeo inicial 77
442 Segunda etapa desenvolvimento dos moacutedulos 79
443 Terceira etapa produccedilatildeo final 85
444 Quarta etapa circulaccedilatildeo social dos textos 86
5 ANAacuteLISE DA SEQUEcircNCIA REFLEXOtildeES 87
51 Participaccedilatildeo dos alunos na pesquisa 88
52 Anaacutelise da apropriaccedilatildeo de caracteriacutesticas do gecircnero crocircnica literaacuteria 90
53 Os textos dos alunos 92
531 Produccedilotildees A textos apenas para o trabalho em sala de aula 92
532 Produccedilotildees B textos para circulaccedilatildeo social 123
533 Uma nova reescrita 136
6 CONCLUSAtildeO 139
REFEREcircNCIAS 144
APEcircNDICE A ndash ATIVIDADES PROPOSTAS PARA A SEQUEcircNCIA
DIDAacuteTICA
148
ANEXO A ndash DISTRIBUICcedilAtildeO POR NIacuteVEL DE PROFICIEcircNCIA 162
ANEXO B ndash DISTRIBUICcedilAtildeO DE TEXTOS FALADOS E ESCRITOS
NO CONTIacuteNUO GENEacuteRICO
165
ANEXO C ndash PRODUCcedilOtildeES DOS ALUNOS 166
16
1 INTRODUCcedilAtildeO
A proposta deste trabalho parte de uma motivaccedilatildeo de cunho pessoal fruto das
dificuldades que como professora enfrentamos todos os dias como se pode conduzir o
trabalho em sala de aula de modo eficaz para que os alunos independentemente de sua idade
ou seacuterie possam terminar o ano letivo escrevendo textos claros
Para levar o aluno a desenvolver suas habilidades de escrita um passo importante
seria planejar sequecircncias que abordem as caracteriacutesticas do gecircnero a ser trabalhado permitindo-
lhe pocircr em aproximaccedilatildeo eou contraste seus saberes com os conhecimentos a serem construiacutedos
Para noacutes professores esse passo tem se revelado ainda bastante difiacutecil visto que nossa cultura
escolar ainda natildeo se firmou apropriadamente na visatildeo de que escrita eacute processo e que seu
produto pode ndash deve aliaacutes ndash alcanccedilar a sociedade permitindo ao aluno o exerciacutecio da cidadania
Pensamos entatildeo na elaboraccedilatildeo de uma sequecircncia de aulas que trabalhe a produccedilatildeo
escrita abordando o seu processo Para tanto escolhemos a oacutetica de Vieira (2005) que traz
importante contribuiccedilatildeo para o trabalho do professor ao abordar o processo de produccedilatildeo do
texto considerando-o mais importante no ambiente pedagoacutegico do que o texto pronto Sua
justificativa parte da inquietaccedilatildeo de por que eacute difiacutecil aprender a redigir
Ao longo de sua obra a autora traz reflexotildees a partir de pesquisas sobre os aspectos
comunicativos cognitivos e psicoloacutegicos do processo de redigir conhecimento que ela constata
fornecerem subsiacutedios para fundamentar a didaacutetica da escrita orientando as escolhas
metodoloacutegicas dos professores (VIEIRA 2005 p79) Ainda na abordagem da produccedilatildeo escrita
como processo contamos com Serafini (2003) que tambeacutem traz valiosa orientaccedilatildeo tanto para
o aluno como para o professor
Para trabalharmos esse processo com os alunos o gecircnero escolhido para a criaccedilatildeo
e aplicaccedilatildeo de nossa sequecircncia de aulas eacute a crocircnica literaacuteria que vem ganhando destaque no
cenaacuterio nacional atual de estudos na educaccedilatildeo baacutesica desde a proposta da Olimpiacuteada de Liacutengua
Portuguesa Escrevendo o Futuro (CENPEC 2016) Por seu formato fluido e por se apresentar
de tal modo que a fala pessoal se associa agrave fala coletiva a crocircnica parece integrar espaccedilos
iacutentimos a puacuteblicos construindo dessa maneira uma relaccedilatildeo de proximidade entre o autor e o
leitor
Por percebermos que haacute vaacuterios alunos que produzem seus textos sem recorrer agrave
etapa do planejamento a da revisatildeo e a da reescrita visamos entatildeo nesta pesquisa devido agrave
ausecircncia de tais procedimentos responder agraves seguintes questotildees-problema desdobradas a partir
17
da questatildeo baacutesica como ensinar a produccedilatildeo escrita no 9ordm ano do Ensino Fundamental enfocando
o ato de redigir como um processo visto que haacute estudantes deste niacutevel que normalmente natildeo
tecircm o haacutebito de planejar seus textos A partir desse questionamento nos perguntamos
a) que atividades pedagoacutegicas possibilitam aos alunos a consciecircncia de que eacute
preciso desenvolver estrateacutegias proacuteprias (recorrer agrave etapa do planejamento da
revisatildeo e da reescrita) para produzir seus textos
b) de que forma o conhecimento sobre a estrutura composicional de um gecircnero
pode ajudar a superar as dificuldades
c) a comparaccedilatildeo das produccedilotildees inicial e final permitiraacute associar a melhoria do
desempenho da competecircncia escrita e a apropriaccedilatildeo do gecircnero crocircnica literaacuteria
ao desenvolvimento da sequecircncia de atividades
Apoacutes as oficinas a anaacutelise deteacutem-se nos objetivos elencados com dados
comparativos entre produccedilatildeo inicial e produccedilatildeo final a fim de constatarmos a relevacircncia da
hipoacutetese baacutesica os alunos do 9ordm ano produziram textos na etapa final das oficinas utilizando-
se das caracteriacutesticas do gecircnero textual crocircnica literaacuteria compreendendo que escrita eacute interaccedilatildeo
valorizando o uso social da escrita de acordo com a proposta teoacuterica de gecircnero preparando
seus textos pautados nas etapas do processo de redigir conforme as orientaccedilotildees dadas em sala
de aula Desdobradas em mais trecircs hipoacuteteses secundaacuterias pensamos
a) eacute possiacutevel motivar os alunos a escrever ao desenvolver com eles atividades
voltadas para os diferentes subprocessos e habilidades envolvidos no ato de
redigir
b) o ensino da composiccedilatildeo do gecircnero crocircnica literaacuteria contribuiraacute para minimizar
dificuldades observadas nos textos dos alunos do 9ordm ano como nos planos
morfossintaacutetico e semacircntico aleacutem de lhes propiciar o desenvolvimento da
competecircncia em textos escritos
c) apoacutes a realizaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica proposta ao compararmos as produccedilotildees
inicial e final dos alunos verificaremos um desempenho mais satisfatoacuterio em
relaccedilatildeo agrave competecircncia discursiva realizada no gecircnero crocircnica
Utilizamos a sequecircncia didaacutetica ferramenta teoacuterico-metodoloacutegica proposta por
Dolz Noverraz e Schneuwly ([2004]2013) para facilitar a criaccedilatildeo de nossa sequecircncia
refletindo sobre as atividades iniciais como um diagnoacutestico e a partir daiacute compondo os
moacutedulos que julgamos necessaacuterios dentro do tempo disponiacutevel para o aperfeiccediloamento da
praacutetica de escrita dos alunos
18
Sem esquecer que o produto desta sequecircncia precisa ter relevacircncia e circulaccedilatildeo
social fizemos o estudo do conceito de gecircnero a partir de autores como Bakhtin (2011)
Bazerman (2009) Bazerman Miller (2011) e Marcuschi (2015) autores cujas contribuiccedilotildees
teoacutericas nos permitem compreender que os textos verbais ou orais dependem do contexto em
que satildeo criados considerando seu momento histoacuterico e caracteriacutesticas culturais e sociais
fazendo portanto sentido somente se se destinarem a uma audiecircncia real com papeis sociais
reais
O gecircnero eleito para o trabalho de produccedilatildeo escrita eacute como dissemos a crocircnica
literaacuteria A escolha da tipologia narrativa e do gecircnero crocircnica deu-se por alguns motivos
a) as narrativas possuem um papel fundamental na formaccedilatildeo dos indiviacuteduos Desde
a infacircncia a crianccedila tem contato com a narraccedilatildeo Ela mesma narra como forma
de organizar suas ideias E em sociedade as narrativas ajudaram a construir a
identidade dos povos prolongando ramos e aprofundando raiacutezes
b) a crocircnica eacute um gecircnero que se identifica com a realidade dos alunos pela leveza
da linguagem associando a oralidade e coloquialidade e facilidade de
identificaccedilatildeo de elementos coletivos e individuais presentes em seu cotidiano
os quais podem vir a se tornar objeto de reflexatildeo de bom humor ou mesmo de
criacutetica e sobre tais elementos pode-se motivar os alunos a escrever
c) considerando o papel social da escola que deve ser de integrar o aluno como
cidadatildeo em sociedade eacute uma excelente oportunidade de ensinar os
procedimentos concernentes ao processo de escrita com um texto com
caracteriacutesticas literaacuterias visto que daiacute por diante entrando no ensino meacutedio
predominam as praacuteticas de trabalho com os textos argumentativos cuja
recorrecircncia se deve a serem os mais cobrados em avaliaccedilotildees diagnoacutesticas e de
acesso ao niacutevel superior tais como ENEM vestibulares seleccedilotildees e concursos
sendo um pouco esquecidas as narrativas e os processos de escrita criativa
Esta pesquisa se valeu tambeacutem de trabalhos acadecircmicos que trataram de produccedilatildeo
escrita na escola do gecircnero crocircnica de sequecircncias didaacuteticas e do estudo dos gecircneros textuais
relacionados ao trabalho em sala de aula dentre os quais destacamos
Santos (2008) em sua pesquisa sobre o gecircnero textual crocircnica narrativa no ensino
meacutedio percebeu alguns avanccedilos discretos apoacutes a aplicaccedilatildeo de uma sequecircncia didaacutetica Embora
muitos textos tenham apresentado as caracteriacutesticas do gecircnero explorado em sala de aula
alguns se apresentaram ainda como narrativas tipicamente escolares O pesquisador encontrou
19
dificuldades durante sua pesquisa com produccedilatildeo textual porque afirma na escola o objeto
central de ensino da liacutengua portuguesa ainda eacute a gramaacutetica que disputa espaccedilo diretamente com
a literatura sendo a produccedilatildeo relegada a apenas uma aula sem enfoque no processo de reescrita
dos textos com as devidas reflexotildees
Swiderski e Costa-Huumlbes (2009) analisam o formato baacutesico da sequecircncia didaacutetica
proposta pelo grupo de Genebra e propotildeem a inserccedilatildeo de um moacutedulo novo chamado de moacutedulo
de reconhecimento anterior agrave produccedilatildeo inicial de modo a permitir aos alunos o contato com
textos do gecircnero antes de partir diretamente para a escrita do primeiro texto propiciando
oportunidade de pesquisa leitura e anaacutelise linguiacutestica contemplando os outros eixos do
trabalho com liacutengua portuguesa aleacutem da escrita eou oralidade
Lopes-Rossi (2011) tambeacutem trata da sequecircncia didaacutetica e propotildee para o final da
SD uma culminacircncia a que ela chama de divulgaccedilatildeo ao puacuteblico ou seja um momento para
colocar em circulaccedilatildeo social os textos que os alunos produzem ao longo do trabalho
sistematizado permitindo-lhes compreender o sentido real dos textos do gecircnero que estudam
Colombo (2013) faz uma avaliaccedilatildeo das produccedilotildees vencedoras das ediccedilotildees da
Olimpiacuteada de Liacutengua Portuguesa Escrevendo o Futuro na categoria Crocircnicas Sua criacutetica
principal ao processo estaacute natildeo nas oficinas realizadas pois em muito ajudam os alunos a
conhecer os diversos tons que os textos das crocircnicas trazem a partir das mais diferentes
temaacuteticas mas na artificialidade do interlocutor para quem os alunos escreveram (uma banca
examinadora) e as redaccedilotildees escolhidas por essa banca (um criteacuterio mais pessoal que objetivo)
Colombo (2013) critica tambeacutem a incoerecircncia entre o material de avaliaccedilatildeo
produzido pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Educaccedilatildeo Cultura e Accedilatildeo Comunitaacuteria ndash
CENPEC em 2011 com uma coletacircnea de excertos de textos natildeo vencedores de ediccedilotildees
passadas que aponta no capiacutetulo dedicado agraves crocircnicas exemplos de distanciamentos da
tipologia narrativa proacutepria do gecircnero em textos que abordaram mazelas locais com
predominacircncia da descriccedilatildeo e da criacutetica Para ela essas mesmas caracteriacutesticas ressurgiram nos
textos vencedores do ano de 2012 Dentre outras criacuteticas a mais incisiva de suas consideraccedilotildees
eacute a de que a crocircnica eacute um texto para ser lido na escola sendo no entanto impossiacutevel ensinar os
alunos a escrever crocircnicas pois para a autora natildeo devem ser produzidas sob a pressatildeo de um
concurso que escolheraacute qual a melhor
Correia (2015) em sua pesquisa centrada em uma sala de aula de 7ordm ano do Ensino
Fundamental priorizou a praacutetica de leitura do gecircnero crocircnica e associou ao trabalho com esta
mais dois gecircneros a entrevista e o documentaacuterio audiovisual abordando um aspecto
20
multimodal em sua produccedilatildeo final Sua intenccedilatildeo parece-nos foi usar a temaacutetica das crocircnicas
para despertar nos alunos uma apropriaccedilatildeo da realidade em que estatildeo inseridos e em suas
consideraccedilotildees acredita que no momento de produccedilatildeo escrita dentro das possibilidades de
alunos de 12 anos de idade logrou sucesso ao levar os alunos ao reconhecimento das
caracteriacutesticas do gecircnero
Paiva (2015) realizou um trabalho que contribuiu diretamente para o
desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita atraveacutes do ensino da produccedilatildeo de textos
argumentativos no gecircnero carta de reclamaccedilatildeo Por meio de uma sequecircncia didaacutetica que
priorizava como em nosso caso de pesquisa o processo de produccedilatildeo em vez de considerar
apenas o produto a pesquisadora logrou ecircxito ao identificar progressos nos textos dos alunos
dentro das possibilidades de trabalho que executou
Feitosa (2016) abordou o ensino de liacutengua portuguesa na perspectiva dos gecircneros
realizando uma sequecircncia didaacutetica com o gecircnero panfleto colocando o produto final em
circulaccedilatildeo social como em nosso caso de pesquisa com a distribuiccedilatildeo dos panfletos pelos
alunos no ambiente escolar e na comunidade em que a escola estaacute inserida Fazendo isso ela
possibilitou a atribuiccedilatildeo da significaccedilatildeo proacutepria do gecircnero agrave produccedilatildeo textual dos alunos fator
importante para estimulaacute-los a interagir em sociedade por meio de seus textos
Os Paracircmetros Curriculares Nacionais (PCN 1997) reconhecem que o ensino de liacutengua
portuguesa na educaccedilatildeo baacutesica eacute pautado em uma prioridade de estudos de aspectos normativos
ou gramaticais da liacutengua o que o torna limitado e insuficiente e sugerem redirecionar o foco
para a praacutetica de leitura e ndash aspecto muito importante ndash o exerciacutecio da escrita de textos nos mais
variados gecircneros textuais existentes na sociedade possibilitando o estudo da liacutengua em
contextos reais de uso natildeo apenas como um conjunto de normas1
Para tanto aprender a pensar e falar sobre a proacutepria linguagem realizar uma
atividade de natureza reflexiva uma atividade de anaacutelise linguiacutestica supotildee duas situaccedilotildees
planejar situaccedilotildees didaacuteticas que possibilitem a reflexatildeo natildeo somente sobre os diferentes
recursos expressivos utilizados pelo autor do texto mas tambeacutem sobre a forma pela qual a
seleccedilatildeo de tais recursos reflete as condiccedilotildees de produccedilatildeo do discurso e as restriccedilotildees impostas
1 Os Paracircmetros Curriculares Nacionais (PCN 1997) reconhecem que o ensino de liacutengua portuguesa na educaccedilatildeo
baacutesica eacute pautado em uma prioridade de estudos de aspectos normativos ou gramaticais da liacutengua o que o torna
limitado e insuficiente e sugerem redirecionar o foco para a praacutetica de leitura e ndash aspecto muito importante ndash o
exerciacutecio da escrita de textos nos mais variados gecircneros textuais existentes na sociedade possibilitando o estudo
da liacutengua em contextos reais de uso natildeo apenas como um conjunto de normas
21
pelo gecircnero e pelo suporte e tomar como objeto de reflexatildeo os procedimentos de planejamento
de elaboraccedilatildeo e de refacccedilatildeo dos textos (BRASIL 1997 p 8)
Esses gecircneros a que se referem os paracircmetros satildeo conceituados por Bakhtin autor
em que se fundamenta a proposta dos PCN Compreendendo que o conhecimento de tais
gecircneros traz liberdade ao usuaacuterio da liacutengua o filoacutesofo afirma que quanto melhor dominamos os
gecircneros tanto mais livremente os empregamos tanto mais plena e nitidamente descobrimos
neles a nossa individualidade (onde isso eacute possiacutevel e necessaacuterio) refletimos de modo mais
flexiacutevel e sutil a situaccedilatildeo singular da comunicaccedilatildeo em suma realizamos de modo mais acabado
o nosso livre projeto de discurso (BAKHTIN 2011 p 285)
Os PCN para o 3ordm e o 4ordm ciclos do Ensino Fundamental orientam aleacutem da ampliaccedilatildeo
da variedade de textos e gecircneros que o trabalho com os alunos leve a ldquoconhecer caracteriacutesticas
fundamentais do Brasil nas dimensotildees sociais materiais e culturais como meio para construir
progressivamente a noccedilatildeo de identidade nacional e pessoal e o sentimento de pertinecircncia ao
paiacutesrdquo (BRASIL 1997 p 7)
Assim produzir textos requer dessa forma estudar os diferentes modos de
expressatildeo abrindo-se aiacute para o aluno uma gama de possibilidades de manifestaccedilatildeo de ideias
atraveacutes do conhecimento de sua liacutengua nas relaccedilotildees de interaccedilatildeo pessoal
No entanto para que essa produccedilatildeo seja efetiva haacute que se ter em mente que
qualquer tarefa de escrita bem-sucedida requer o exerciacutecio da escrita e da reescrita pois se
considera que nesse processo de aperfeiccediloamento as aulas tomadas entre o iniacutecio e o teacutermino
de uma sequecircncia de atividades ou seja entre a produccedilatildeo inicial e a produccedilatildeo final sejam
vaacuterias e variadas com planejamento para conhecer as necessidades de cunho geral da turma
como as caracteriacutesticas de um gecircnero bem como as de cunho individual do aluno como as
limitaccedilotildees no reconhecimento do gecircnero textual na construccedilatildeo de argumentos na progressatildeo
narrativa nas convenccedilotildees da escrita culta
Com o objetivo de orientar o leitor apresentamos a forma de organizaccedilatildeo desta
pesquisa que se encontra disposta em mais cinco seccedilotildees primaacuterias aleacutem desta Introduccedilatildeo
Na seccedilatildeo 2 denominada ldquoOs gecircneros e o trabalho em sala de aulardquo discorremos
sobre o conceito de gecircnero apoiando-nos na oacutetica de Bahktin de gecircnero como tipo
relativamente estaacutevel de enunciado na oacutetica da sociorretoacuterica do gecircnero como accedilatildeo social
principalmente com Bazerman e Miller e do gecircnero como fenocircmeno histoacuterico como nos fala
Marcuschi Aleacutem disso tratamos do conceito de sequecircncia didaacutetica proposta teoacuterico-
metodoloacutegica de Dolz Noverraz e Schneuwly e de propostas complementares agrave SD com as
22
contribuiccedilotildees de Costa-Huumlbes e Lopes-Rossi Ainda nesta seccedilatildeo tratamos da definiccedilatildeo do
gecircnero textual crocircnica e suas caracteriacutesticas desenvolvidas no Brasil tanto no campo
jornaliacutestico quanto no literaacuterio pelas oacuteticas de Beltratildeo Coutinho e Cacircndido
Na seccedilatildeo 3 denominada ldquoLeitura e escrita no ensino fundamental anos finaisrdquo
discorremos sobre escrita resgatando um pouco do percurso histoacuterico das habilidades de leitura
e escrita na escola e na sociedade tratamos do aspecto da motivaccedilatildeo para a escrita da escrita
como um processo da escrita na escola e do letramento literaacuterio que julgamos interessante
ressaltar visto que leitura e escrita precisam ser instrumentalizadas
Na seccedilatildeo 4 denominada ldquoNatureza e procedimentos da pesquisardquo discorremos
sobre nossa pesquisa propriamente dita o contexto da pesquisa os sujeitos os materiais e os
procedimentos mostrando o desenvolvimento da sequecircncia de atividades e procedimentos de
coleta de dados
Na seccedilatildeo 5 denominada ldquoAnaacutelise da sequecircncia de atividades reflexotildeesrdquo
discorremos sobre nossa sequecircncia didaacutetica mostrando a participaccedilatildeo dos alunos na pesquisa
apresentando a anaacutelise da apropriaccedilatildeo de caracteriacutesticas do gecircnero crocircnica literaacuteria nos textos
dos alunos bem como os textos produzidos para circulaccedilatildeo social
E por fim na Conclusatildeo apresentamos reflexotildees acerca da experiecircncia com a
pesquisa e dos resultados obtidos bem como sugestotildees para o avanccedilo de trabalhos que possam
contribuir para a competecircncia escrita dos alunos do ensino fundamental e a continuidade de
estudos na aacuterea
Acreditamos que a pesquisa-accedilatildeo desenvolvida que se inscreve no escopo da
Linguiacutestica Aplicada pode aleacutem de ofertar contribuiccedilotildees no acircmbito acadecircmico encorajar os
alunos participantes da pesquisa no sentido de se permitirem evoluir como produtores de texto
em sua liacutengua materna direito que lhes cabe desde o momento em que satildeo reconhecidos
cidadatildeos que ingressam nas escolas brasileiras
23
2 OS GEcircNEROS E O TRABALHO EM SALA DE AULA
Os pressupostos que embasam esta pesquisa perpassam a necessidade de se
compreender o que satildeo os gecircneros textuais em distinccedilatildeo de tipos textuais e como trabalhaacute-los
em atividades sequenciadas destacando-se inclusive como estas podem melhorarauxiliar o
trabalho do professor da educaccedilatildeo baacutesica Aleacutem disso tentaremos delinear ainda que
reconheccedilamos a natildeo consensualidade de definiccedilotildees o que vem a ser a crocircnica a partir das
escolhas dos textos que integram o corpus exemplo para os alunos
21 Demarcando o conceito de gecircnero
Iniciamos nosso percurso teoacuterico a partir da compreensatildeo do que eacute o gecircnero
Concordamos com Bezerra (2017 p 11) quando ele diz que o conceito de gecircnero eacute tomado
como ldquouma categoria mediadora entre o texto e o discurso capaz de colocar em xeque velhas
concepccedilotildees dicotocircmicas como a que trata o texto como uma mera lsquomaterializaccedilatildeorsquo de um
discurso consequentemente lsquoimaterialrsquordquo
Para Bezerra (2017) a partir do gecircnero tanto o texto como o discurso podem ser
relacionados produtivamente com o seu contexto cognitivo e social o que viabiliza o estudo
teoacuterico e sua aplicaccedilatildeo pedagoacutegica
No panorama teoacuterico referencial buscaremos compreensatildeo do que eacute o gecircnero
atraveacutes da conceituaccedilatildeo de Bakhtin (2011) Bazerman (2009) Miller (2011) e Marcuschi
(2015) e sua importacircncia para o trabalho de pesquisa-accedilatildeo com produccedilatildeo textual no 9ordm ano do
ensino fundamental
211 Gecircnero como tipo relativamente estaacutevel de enunciado
De iniacutecio veremos a abordagem enunciativo-discursiva de Bakhtin (2011) que se
refere ao processo de interaccedilatildeo verbal e ao enunciado Para o filoacutesofo russo as interaccedilotildees
podem ocorrer de maneira mais geral face a face mas tambeacutem se concretizar atraveacutes dos textos
escritos Nesse processo o leitor tem um papel ativo na compreensatildeo das informaccedilotildees quando
com elas interage aceitando reformulando contrapondo e complementando conforme seu
arcabouccedilo de conhecimentos e experiecircncias e o faz reportando-se a diferentes vozes de textos
24
previamente lidos e ouvidos Essas interaccedilotildees efetivam-se por meio de enunciados chamados
de gecircneros
A compreensatildeo baacutesica do que satildeo os gecircneros textuais ou usando o termo adotado
por Bakhtin os gecircneros do discurso eacute definida como ldquotipos relativamente estaacuteveis de
enunciadosrdquo (2011 p 262) elaborados pelas diferentes esferas de utilizaccedilatildeo da liacutengua Cada
esfera de uso da linguagem traz consigo uma concepccedilatildeo padratildeo de destinataacuterio a quem se dirige
o locutor e esse destinataacuterio sempre adota uma atitude responsiva ativa diante da totalidade
acabada do gecircnero Digamos que segundo o autor essas esferas permitem-nos situar e prever
o que o interlocutor emitiraacute evitando prejuiacutezos na eficaacutecia da comunicaccedilatildeo
Aprendemos a moldar nossa fala agraves formas do gecircnero e ao ouvir a fala do outro
sabemos de imediato bem nas primeiras palavras pressentir-lhe o gecircnero Se natildeo
existissem os gecircneros do discurso e se natildeo os dominaacutessemos se tiveacutessemos de criaacute-
los pela primeira vez no processo da fala se tiveacutessemos de construir cada um de
nossos enunciados a comunicaccedilatildeo verbal seria quase impossiacutevel (BAKHTIN 2011
p 302)
Dessa forma compreendemos que os enunciados tecircm relativa estabilidade
apresentando formas tiacutepicas que se adaptam agraves muacuteltiplas situaccedilotildees tanto orais quanto escritas
sendo essas formas variaacuteveis portanto Satildeo caracteriacutesticas dos gecircneros o dialogismo e a
polifonia
No dialogismo compreendemos que um texto tem relaccedilotildees com o contexto social
com os textos jaacute lidos pelo leitor e suas experiecircncias de vida e as ligaccedilotildees feitas com as diversas
aacutereas de conhecimento natildeo sendo nunca um produto fechado em si mesmo e uacutenico O discurso
dessa forma estabelece intercacircmbios socioculturais fruto de processos cognitivos e
conhecimentos acumulados historicamente que atendem a essa atitude responsiva ativa Essa
caracteriacutestica estaacute relacionada ao processo de leitura e ao de produccedilatildeo de textos pois o leitor
ou o escritor estabelece um diaacutelogo com o texto em ambos os processos
Na polifonia entendemos que o texto natildeo eacute constituiacutedo apenas da voz do escritor
mas por outras vozes por dizeres de outrem e satildeo vozes que se cruzam concordam ou
discordam entre si
Nas condiccedilotildees de produccedilatildeo dos enunciados e dos gecircneros discursivos estatildeo
inseridas as intenccedilotildees comunicativas e as necessidades sociointerativas dos sujeitos nas esferas
de atividade em que o papel e o lugar de cada sujeito satildeo determinados socialmente Para o
autor trecircs elementos baacutesicos configurariam um gecircnero discursivo o conteuacutedo temaacutetico o estilo
e a forma composicional
25
O conteuacutedo temaacutetico do gecircnero eacute definido pelo enunciador e depende diretamente
das situaccedilotildees das condiccedilotildees de produccedilatildeo e das necessidades da proacutepria enunciaccedilatildeo A escolha
desse conteuacutedo se daacute conforme a intencionalidade do enunciador estando de acordo com as
suas necessidades
O estilo do enunciador pode ser observado na adequaccedilatildeo da linguagem empregada
na escolha dos vocaacutebulos conforme a finalidade e a proacutepria estrutura do enunciado do gecircnero
escolhido voltados para seu interlocutor Nas palavras de Bakhtin (2011 p 284)
O estilo eacute indissociavelmente vinculado a unidades temaacuteticas determinadas e o que eacute
particularmente importante a unidades composicionais tipo de estruturaccedilatildeo e de
conclusatildeo de um todo tipo de relaccedilatildeo entre o locutor e os outros parceiros da
comunicaccedilatildeo verbal (relaccedilatildeo com o ouvinte ou com o leitor com o interlocutor com
o discurso do outro etc) (BAKHTIN 2011 p 284)
Assim para o autor ldquoo enunciado - oral e escrito primaacuterio e secundaacuterio em
qualquer esfera da comunicaccedilatildeo verbal - eacute individual e por isso pode refletir a individualidade
de quem fala (ou escreve)rdquo (BAKHTIN 2011 p 283) Ou seja o estilo eacute individual poreacutem eacute
definido pelo outro e pelo gecircnero ldquodepende do modo que locutor percebe e compreende seu
destinataacuterio e do modo que ele presume uma compreensatildeo responsiva ativardquo (BRAIT 2016 p
95)
A estrutura composicional do gecircnero eacute um elemento que segue padrotildees definidos
pela sociedade Cada enunciado deve inserir-se no padratildeo que eacute convencionado pelo gecircnero a
fim de ser reconhecido e consequentemente compreendido
Essa breve exposiccedilatildeo das trecircs caracteriacutesticas dos gecircneros vem mostrar que elas
dependeratildeo em grande parte das condiccedilotildees de produccedilatildeo de cada enunciado uma vez que
[] o discurso se molda sempre agrave forma do enunciado que pertence a um sujeito
falante e natildeo pode existir fora dessa forma Quaisquer que sejam o volume o
conteuacutedo a composiccedilatildeo os enunciados sempre possuem como unidades da
comunicaccedilatildeo verbal caracteriacutesticas estruturais que lhe satildeo comuns e acima de tudo
fronteiras claramente delimitadas (BAKHTIN 2011 p 293)
Essas caracteriacutesticas ocorrem simultaneamente em uma enunciaccedilatildeo concreta pois
eacute no momento da enunciaccedilatildeo que se definiraacute como essas caracteriacutesticas seratildeo empregadas
A partir dessa compreensatildeo de Bakhtin diversos outros autores conceituaram o que
eacute gecircnero Dentre as grandes Escolas do Gecircnero2 nosso trabalho considerou os conceitos baacutesicos
2 Dentre as grandes Escolas de Gecircnero destacam-se a Escola de Sidney a Norte-americana e a de Genebra
26
adotados pela Escola norte-americana representada por Miller (2011) e Bazerman (2009) Por
fim no Brasil veremos Marcuschi (2015) Traremos ainda para a proacutexima seccedilatildeo autores que
desenvolvem e aplicam os conceitos de gecircnero textual na praacutetica por meio de sequecircncias de
atividades como Dolz Noverraz e Schneuwly ([2004]2013) atraveacutes da Sequecircncia Didaacutetica e
Vieira (2005) com a Abordagem imitativa da redaccedilatildeo trabalhando com formatos e gecircneros
212 Gecircnero como accedilatildeo social
A noccedilatildeo de gecircnero como accedilatildeo social foi desenvolvida inicialmente por Carolyn
Miller A elaboraccedilatildeo de uma teoria de gecircnero ocorreu com mais dois pesquisadores John
Swales e Charles Bazerman Todos satildeo membros do grupo que compotildee a escola de estudos de
gecircneros norte-americana cuja caracteriacutestica eacute o interesse pela natureza social do discurso
(CARVALHO 2005) Veremos aqui mais especificamente os expoentes Miller e Bazerman
A noccedilatildeo de gecircneros natildeo eacute recente e remonta agrave Retoacuterica Claacutessica Por volta dos anos
1980 Miller voltou-se aos estudos das determinaccedilotildees retoacutericas de Aristoacuteteles O filoacutesofo grego
postulou a primeira classificaccedilatildeo dos discursos em trecircs tipos o judiciaacuterio o deliberativo e o
epidiacutetico Carvalho (2016) nos diz que para Aristoacuteteles autor da classificaccedilatildeo essa distinccedilatildeo
dos discursos eacute necessaacuteria porque existem trecircs tipos de auditoacuterio e eacute preciso adaptar-se a eles
conferindo traccedilos especiacuteficos a cada gecircnero pois a escolha entre um deles se daacute mediante a
necessidade que o orador tem de se adaptar ao puacuteblico Aleacutem de classificar Aristoacuteteles
apresenta as caracteriacutesticas de cada um desses tipos de discurso Segundo Carvalho (2016 p
35)
O pensador grego entende que esses trecircs gecircneros se remetem a um tempo especiacutefico
indicam atos expressam valores e apresentam formas especiacuteficas de argumentaccedilatildeo
Assim sendo pondera que o gecircnero judiciaacuterio se dirige a um auditoacuterio especializado
versa sobre leis recorre a silogismos e se refere a acontecimentos do passado para
acusar ou defender O deliberativo trata-se de um gecircnero que se relaciona a um puacuteblico
culto faz uso de argumentos atraveacutes de exemplos e expressa atitudes que poderatildeo
acontecer no futuro O epiacutedictico por sua vez eacute caracterizado como um gecircnero no
qual o orador exalta ou despreza caracteriacutesticas de determinados indiviacuteduos no exato
momento da enunciaccedilatildeo (CARVALHO 2016 p 35)
Nessa abordagem claacutessica apesar de a classificaccedilatildeo de Aristoacuteteles ter reduzido os
discursos a apenas trecircs tipos jaacute se compreendia que a variedade dos gecircneros eacute dependente da
variedade de auditoacuterios e por essa razatildeo natildeo podem ser concebidos desvinculados de seus
interlocutores sendo formas de agir em sociedade de diferentes maneiras Nas palavras de
Carvalho (2016 p34) ldquopor esse acircngulo podemos dizer ainda hoje que lanccedilar um olhar sobre
27
os gecircneros que contemple suas dimensotildees retoacutericas eacute antes de tudo atentar para a natureza
social e argumentativa inerente a cada tipo de discurso e concebecirc-los como formas de
(inter)accedilatildeordquo
Por sua vez Bazerman (2009) na introduccedilatildeo de seu livro Gecircneros textuais
tipificaccedilatildeo e interaccedilatildeo fala da necessidade de se entender as variedades da escrita numa
abordagem que comeccedila com as circunstacircncias em que as pessoas produzem e usam os textos
questionando sobre os motivos e accedilotildees tiacutepicos associados com a escrita e leitura desses textos
Em deacutecadas recentes o ensino da escrita foi transformado pelo amplo reconhecimento
de vaacuterios princiacutepios Primeiro o escrever bem requer mais do que a produccedilatildeo de
sentenccedilas corretas tambeacutem envolve a comunicaccedilatildeo bem-sucedida de mensagens
significantes para outros Segundo a escrita eacute um processo que leva tempo e incorpora
muitas diferentes atividades Terceiro o ensino da escrita que ajuda alunos a
alcanccedilarem o sucesso acadecircmico precisa atender a todos os tipos de escrita que satildeo
necessaacuterios natildeo somente para o estudo da linguagem ou da literatura mas tambeacutem
para as disciplinas de histoacuteria ciecircncia filosofia e poliacutetica Quarto os alunos ao
terminarem seus estudos precisam estar aptos a produzir muitas diferentes formas da
escrita Embora todas as formas da escrita que os alunos poderiam precisar sejam
impossiacuteveis de antecipar os alunos precisam de habilidade e flexibilidade suficientes
para se adaptar agraves situaccedilotildees variantes da escrita (BAZERMAN 2009 p 16)
Bazerman (2009) afirma que se pode chegar a uma compreensatildeo mais profunda de
gecircneros se os compreendermos como ldquofenocircmenos de reconhecimento psicossocial que satildeo parte
de processos de atividades socialmente organizadasrdquo (Bazerman 2009 p31) Na concepccedilatildeo do
pesquisador gecircneros satildeo os tipos que as pessoas reconhecem como sendo usados por elas
proacuteprias e pelos outros ou seja ldquosatildeo fatos sociais sobre os tipos de atos de fala que as pessoas
podem realizar e sobre os modos como elas os realizamrdquo (Bazerman 2009 p 31) Desse modo
os gecircneros emergem nos processos sociais na medida em que as pessoas tentam compreender
umas agraves outras de tal maneira que consigam coordenar atividades e compartilhar significados
com vistas a seus propoacutesitos praacuteticos
Para Miller e Bazerman (2011) definir o gecircnero como ldquogecircnero textualrdquo ou apenas
gecircnero ou ainda ldquogecircnero discursivordquo eacute uma questatildeo de necessidade apenas em contextos em
que se precise fazer algum tipo de distinccedilatildeo ou esclarecimento conceitual como uma espeacutecie
de contraste Nessa obra constituiacuteda como um ldquobate papordquo com perguntas e respostas os
professores a seu turno datildeo suas visotildees sobre essas distinccedilotildees quando perguntados ldquocomo vocecirc
define o conceito de gecircnerordquo Miller responde
Bom eu mantenho a minha definiccedilatildeo jaacute conhecida Eu natildeo distinguiria gecircnero textual
de gecircnero Eu o defino amplamente ou seja o gecircnero eacute uma accedilatildeo retoacuterica tipificada
baseada numa situaccedilatildeo retoacuterica recorrente [] Diria apenas que essa definiccedilatildeo tende
28
a se concentrar mais na produccedilatildeo na pessoa que desenvolve a accedilatildeo do que na
recepccedilatildeo Mas creio que eacute possiacutevel direcionaacute-la para pensar sobre o modo como
algueacutem realiza uma accedilatildeo e responde a ela Acho que tanto a produccedilatildeo como a recepccedilatildeo
satildeo importantes para se pensar no gecircnero como accedilatildeo (BAZERMAN MILLER 2011
p 16)
A mesma questatildeo dirigida a Bazerman eacute respondida da seguinte forma
Eu gostaria de acrescentar algumas coisas Percebo que em portuguecircs eacute necessaacuterio
distinguir gecircneros textuais (textual genre) de gecircnero (gender) Poreacutem em inglecircs o uso
do termo ldquogecircnero de textordquo se opotildee a gecircneros orais ou gecircneros em outros meios
Certamente os gecircneros textuais possuem caracteriacutesticas que os distinguem dos
gecircneros da pintura por exemplo mas todos satildeo formas de gecircnero O que realmente
estaacute em discussatildeo portanto satildeo as possibilidades (affordances) especiacuteficas da
textualidade versus artes graacuteficas por exemplo (BAZERMAN MILLER 2011 p
22)
Para os estudiosos da sociorretoacuterica os gecircneros pertencem agraves atividades humanas
e as refletem de forma que agrave medida que a linguagem muda mudam consigo os gecircneros natildeo
sendo o mais importante classificar ou nomear um gecircnero mas saber como ele funciona
O conceito de gecircnero de Miller tem como noccedilotildees-chave a recorrecircncia e a accedilatildeo
retoacuterica como se pode entender a partir da definiccedilatildeo dada pela proacutepria autora quando diz que
ldquoo gecircnero eacute uma accedilatildeo retoacuterica tipificada baseada numa situaccedilatildeo retoacuterica recorrenterdquo
(BAZERMAN MILLER 2011 p 22) Sua linha de trabalho define que o gecircnero espelha a
experiecircncia de seus usuaacuterios sendo o texto a forma materializada dessa experiecircncia por meio
da accedilatildeo ali levada a cabo de sua forma e de sua substacircncia (CARVALHO 2005 p 133)
Eacute atraveacutes do processo de tipificaccedilatildeo que satildeo construiacutedas as condiccedilotildees de
recorrecircncia analogias e similaridades necessaacuterias para a compreensatildeo do gecircnero em uma dada
cultura Nesse processo eacute importante o papel do sujeito cognitivo visto que ele capta a
recorrecircncia social de uma determinada comunicaccedilatildeo o que sinaliza padrotildees socialmente
perceptiacuteveis e socialmente determinados moldando-se a eles (BAZERMAN MILLER 2011
p 32)
Para caracterizar como os gecircneros se configuram e se enquadram em organizaccedilotildees
papeis e atividades mais amplas Bazerman (2009) propotildee vaacuterios conceitos que se sobrepotildeem
cada um envolvendo um aspecto diferente dessa configuraccedilatildeo conjunto de gecircneros sistema de
gecircneros e sistema de atividades
Segundo o autor um conjunto de gecircneros eacute ldquoa coleccedilatildeo de tipos de textos que uma
pessoa num determinado papel tende a produzirrdquo (2009 p 32) Compreendemos a partir da
explicaccedilatildeo do autor que eacute exemplificada com os profissionais da engenharia e da educaccedilatildeo que
29
ao identificar todas as formas de escrita com as quais devem trabalhar consegue-se ter acesso
agraves competecircncias habilidades e conhecimentos que lhe satildeo requeridos para que atue com bom
domiacutenio em sua aacuterea
Prosseguindo o autor conceitua um sistema de gecircneros
Um sistema de gecircneros compreende os diversos conjuntos de gecircneros organizados por
pessoas que trabalham juntas de uma forma organizada e tambeacutem as relaccedilotildees
padronizadas que se estabelecem na produccedilatildeo circulaccedilatildeo e uso desses documentos
Um sistema de gecircneros captura as sequecircncias regulares com que um gecircnero segue
outro gecircnero dentro de um fluxo comunicativo tiacutepico de um grupo de pessoas
(BAZERMAN 2009 p 32-33)
Esse aspecto se refere agrave integraccedilatildeo dos conjuntos de gecircneros que satildeo usados por
todos os participantes de uma determinada accedilatildeo social Como exemplo podemos pensar nas
provas de uma disciplina o professor elabora as provas e os alunos fazem as provas Ao analisar
o sistema de gecircneros observa-se a sequecircncia dos gecircneros e torna-se possiacutevel esclarecer quais
accedilotildees sociais as pessoas fazem e a forma pela qual os gecircneros datildeo ferramentas para essas accedilotildees
Por fim Bazerman (2009 p 33) conceitua sistema de atividades relacionando-o
ainda ao sistema de gecircneros ldquoEsse sistema de gecircneros eacute tambeacutem parte do sistema de atividades
da sala de aula Ao definir o sistema de gecircneros em que as pessoas estatildeo envolvidas vocecirc
identifica tambeacutem um frame que organiza o seu trabalho sua atenccedilatildeo e suas realizaccedilotildeesrdquo A
palavra frame eacute compreendida como moldura ou quadro No acircmbito educacional podemos
compreender a expressatildeo como o enquadramento que direciona o trabalho que compete a cada
pessoa imersa na accedilatildeo social
Pensando no exemplo da aacuterea educacional um aluno lida com um conjunto de
gecircneros como as provas os seminaacuterios os apontamentos e dentro do sistema de gecircneros
utilizados seu padratildeo como aluno consiste em estudar para os seminaacuterios tomar apontamentos
e responder agraves questotildees das provas sendo que dentro do sistema de atividades em que se
encontra natildeo pode deixar de atender agrave ordem que o frame lhe impotildee pois se lhe eacute determinado
que faccedila sua prova por escrito natildeo lhe eacute permitido por mais que estivesse respondendo tudo
corretamente utilizar-se de um gecircnero oral para que obtenha a nota ndash o que corrobora com a
afirmaccedilatildeo do autor quando este diz que ldquolevar em consideraccedilatildeo o sistema de atividades junto
com o sistema de gecircneros eacute focalizar o que as pessoas fazem e como os textos ajudam as pessoas
a fazecirc-lo em vez de focalizar os textos como fins em si mesmordquo (BAZERMAN 2009 p 33-
34)
30
Apoacutes essa caracterizaccedilatildeo de como os gecircneros se configuram e se enquadram em
organizaccedilotildees papeis e atividades mais amplas nessa abordagem que comeccedila com as
circunstacircncias em que as pessoas produzem e usam os textos questionando sobre os motivos e
accedilotildees tiacutepicos associados com a escrita e leitura desses textos veremos na seccedilatildeo seguinte a
concepccedilatildeo de gecircneros textuais como fenocircmenos histoacutericos profundamente vinculados agrave vida
cultural e social sob a oacutetica de Marcuschi
213 Gecircnero como fenocircmeno histoacuterico
No Brasil Marcuschi (2015) trabalhou a produccedilatildeo textual sob um enfoque
sociointerativo de gecircneros textuais no contiacutenuo de fala-escrita buscando esclarecer os
processos de compreensatildeo textual e de produccedilatildeo de sentido Coadunando com os conceitos jaacute
expostos de Bakhtin (2011) sobre as interaccedilotildees entendemos que elas se datildeo em domiacutenios
discursivos ou seja esferas da vida social ou institucional (por exemplo religiosa juriacutedica
jornaliacutestica pedagoacutegica poliacutetica industrial militar familiar luacutedica etc) nas quais se datildeo
praacuteticas que organizam formas de comunicaccedilatildeo e respectivas estrateacutegias de compreensatildeo (p
194)
Deste modo para Marcuschi os domiacutenios discursivos produzem ldquomodelos de accedilatildeo
comunicativa que se estabilizam e se transmitem de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo com propoacutesitos e
efeitos definidos e clarosrdquo (2015 p 194) que resultam em formas de accedilatildeo reflexatildeo e avaliaccedilatildeo
social que ldquodeterminam formatos textuais que em uacuteltima instacircncia desembocam na
estabilizaccedilatildeo de gecircneros textuaisrdquo (2015 p 194) tambeacutem organizando as relaccedilotildees de poder
Na concepccedilatildeo de Marcuschi (2015) os gecircneros textuais satildeo entatildeo fenocircmenos
histoacutericos profundamente vinculados agrave vida cultural e social O autor afirma que quando
dominamos um gecircnero textual natildeo dominamos uma forma linguiacutestica mas sim uma forma de
realizar linguisticamente objetivos especiacuteficos em situaccedilotildees sociais particulares (p 31) Isso
equivaleria a dizer que os gecircneros textuais operam em certos contextos como formas de
legitimaccedilatildeo discursiva por se situarem numa relaccedilatildeo soacutecio-histoacuterica com fontes de produccedilatildeo
que lhes datildeo sustentaccedilatildeo
Essa relaccedilatildeo soacutecio-histoacuterica a que se refere o autor trata da construccedilatildeo coletiva que
ordena e estabiliza as atividades comunicativas do dia a dia convergindo com o pensamento de
Bakhtin isto eacute como os gecircneros independem de decisotildees individuais e natildeo satildeo facilmente
manipulaacuteveis eles operam como geradores de expectativas de compreensatildeo muacutetua Nas
31
palavras de Marcuschi (2015 p 189) ldquoos gecircneros textuais natildeo satildeo fruto de invenccedilotildees
individuais mas formas socialmente maturadas em praacuteticas comunicativas na accedilatildeo
linguageirardquo
Em uma tentativa de distribuiccedilatildeo dos gecircneros da oralidade e escrita Marcuschi
(2015) cria um quadro geral3 que mostra que muitos gecircneros satildeo comuns a vaacuterios domiacutenios
figurando a crocircnica gecircnero eleito para a realizaccedilatildeo de nossa pesquisa-accedilatildeo de processo de
produccedilatildeo escrita em forma de sequecircncia didaacutetica nos domiacutenios discursivos ficcional e
jornaliacutestico Na distribuiccedilatildeo do contiacutenuo de fala-escrita que ensaia desenhar Marcuschi mostra
a crocircnica deslizando entre o domiacutenio das conversaccedilotildees na conversa espontacircnea seguindo para
as apresentaccedilotildees e reportagens com as narrativas
Desse modo caminha-se para uma compreensatildeo do que eacute a crocircnica aquele texto
escrito leve e espontacircneo que parece por vezes conversar com seu leitor narrando uma coisa
ou outra do dia a dia podendo conduzi-lo a reflexotildees ou possibilitando-lhe um dia mais bem-
humorado ou mesmo poeacutetico Direcionado para nossa investigaccedilatildeo julgamos esses conceitos
bastante importantes para elucidar para os alunos em que contexto satildeo produzidas as crocircnicas
de onde partem a quem pretendem alcanccedilar
Nesse sentido a partir do exposto concluiacutemos que um gecircnero seria uma resposta
usada pelos usuaacuterios de uma liacutengua em situaccedilotildees especiacuteficas constituiacutedo por caracteriacutesticas
gerais relativamente estaacuteveis Dessa forma aleacutem da intenccedilatildeo da comunicaccedilatildeo existe um
conhecimento comum pelo qual os falantes se orientam em suas decisotildees linguiacutesticas ao
construir o gecircnero de texto que estatildeo produzindo ou que devem produzir em cada contexto
comunicativo Esses gecircneros natildeo surgem naturalmente mas se constroem na interaccedilatildeo
comunicativa e satildeo fenocircmenos sociointerativos
22 Conhecendo a sequecircncia didaacutetica
Com vistas a ajudar o trabalho do professor tem sido muito discutido na uacuteltima
deacutecada o emprego das sequecircncias didaacuteticas especialmente na educaccedilatildeo baacutesica Sua
caracteriacutestica consiste em ser um conjunto de atividades ligadas entre si planejadas para ensinar
um conteuacutedo etapa por etapa Ao organizaacute-la de acordo com os objetivos que pretende alcanccedilar
para seus alunos o professor desenvolve atividades de aprendizagem e de avaliaccedilatildeo
3 Cf Anexo A
32
Para o trabalho em nossa aacuterea Liacutengua Portuguesa nossa pesquisa-accedilatildeo vai se
utilizar do procedimento baacutesico da sequecircncia didaacutetica para o ensino da escrita do gecircnero textual
crocircnica literaacuteria para o 9ordm ano do ensino fundamental inspirada no referencial teoacuterico-
metodoloacutegico de Dolz Noverraz e Schneuwly (2013) na proposta de adaptaccedilatildeo da sequecircncia
didaacutetica conduzida por Swiderski e Costa-Huumlbes (2009) na proposta de circulaccedilatildeo social do
gecircnero discursivo produzido em sequecircncias didaacuteticas de projetos pedagoacutegicos de Lopes-Rossi
(2011) e nas sugestotildees didaacuteticas da praacutetica de sala de aula de Vieira (2005) e de Serafini (2003)
221 Conceito de sequecircncia didaacutetica
Dolz Noverraz e Schneuwly (2013 p 83) reconhecem que os textos escritos ou
orais que produzimos diferenciam-se uns dos outros porque satildeo produzidos em condiccedilotildees
diferentes Apesar dessa diversidade satildeo constatadas regularidades de modo que em situaccedilotildees
semelhantes produzimos textos com caracteriacutesticas semelhantes que os autores chamam de
gecircneros de textos conhecidos de e reconhecidos por todos e que por isso mesmo facilitam a
comunicaccedilatildeo a conversa em famiacutelia ou a negociaccedilatildeo no mercado por exemplo
O conceito baacutesico de sequecircncia didaacutetica segundo os autores (2013 p 83) eacute que
esta eacute um conjunto de atividades escolares organizadas de maneira sistemaacutetica em torno de
um gecircnero textual oral ou escrito e que tem precisamente a finalidade de ajudar os alunos a
dominar melhor um gecircnero de texto o que lhes permitiraacute falar ou escrever de maneira mais
adequada a cada situaccedilatildeo comunicativa
Para o desenvolvimento de nossa pesquisa escolhemos o gecircnero crocircnica literaacuteria
visando o desenvolvimento da competecircncia discursiva dos alunos posto que ainda natildeo
dominam adequadamente a produccedilatildeo de um texto nesse gecircnero Assim como preveem Dolz
Noverraz e Schneuwly (2013 p 83) ldquoo trabalho escolar seraacute realizado evidentemente sobre
gecircneros que o aluno natildeo domina ou o faz de maneira insuficiente sobre aqueles dificilmente
acessiacuteveis espontaneamente pela maioria dos alunos e sobre gecircneros puacuteblicos e natildeo privadosrdquo
De acordo com os autores uma sequecircncia didaacutetica pode ser flexiacutevel no sentido de
que se houver necessidade o professor poderaacute por vezes criar outras atividades ou modificar
os textos de referecircncia utilizados Essa flexibilidade precisa tambeacutem considerar os fenocircmenos
de desencorajamento que poderatildeo manifestar-se durante o tempo consagrado agrave sequecircncia como
por exemplo no aluno o sentimento de que jamais conseguiraacute melhorar seu texto por causa das
dificuldades proacuteprias da escrita no professor nos momentos em que os alunos parecem
33
desconectar-se da proposta projetada perdendo o interesse pela atividade proposta no dia Para
minimizar situaccedilotildees assim eacute que deve ser deixado um espaccedilo para as atividades mais informais
e menos exigentes em termos de tempo (DOLZ NOVERRAZ SCHNEUWLY 2013 p 108)
Percebemos dessa forma que um professor natildeo eacute obrigado a realizar todas as
atividades predeterminadas de uma sequecircncia didaacutetica na sua integralidade Sob pena do rigor
por cumprir aquele planejamento e somente ele no decorrer do processo de aprendizagem
ambos professor e aluno podem sentir que a experiecircncia natildeo foi vaacutelida terminando por realizar
as aulas de modo tradicional natildeo ocorrendo assim o acesso dos alunos a praacuteticas de linguagem
novas ou dificilmente dominaacuteveis
Por ser de caraacuteter progressivo a cada etapa de uma sequecircncia didaacutetica o professor
pode ndash e deve ndash fazer uma reflexatildeo associando o microcosmo que eacute a sala de aula onde
trabalha com um macro que seria o mundo em que estamos inseridos com todo o seu contexto
que pode servir como suporte para que o docente se integre a uma (ou a vaacuterias) teorias que
possa vir a aplicar
Com a reflexatildeo sobre a(s) teoria(s) e construindo seu arcabouccedilo teoacuterico conforme
observa sua praacutetica o professor ndash incluiacutemo-nos aqui ndash como sugere Bortoni-Ricardo (2008)
torna-se pesquisador podendo aprimorar sua postura pedagoacutegica de modo a obter assim
resultados mais satisfatoacuterios junto aos discentes
Dando prosseguimento expomos aqui o os quatro componentes da estrutura baacutesica
de uma sequecircncia didaacutetica segundo Dolz Noverraz Schneuwly (2013) que serve como
inspiraccedilatildeo para as atividades que planejamos para esta pesquisa-accedilatildeo
Figura 1 - Esquema baacutesico de sequecircncia didaacutetica
Fonte Adaptado de DOLZ NOVERRAZ SCHNEUWLY (2013 p 83)
Para Dolz Noverraz e Schneuwly (2013) eacute necessaacuterio que o professor informe os
alunos e conscientize-os da importacircncia dos conteuacutedos a serem trabalhados em sala de aula
Para isso o professor deve claramente definir o problema de comunicaccedilatildeo que devem resolver
Apresentaccedilatildeo da
Situaccedilatildeo
PRODUCcedilAtildeO
INICIAL
PRODUCcedilAtildeO
FINAL
Moacuted
ulo 1
Moacuted
ulo 2
Moacuted
ulo n
34
produzindo um texto e os conteuacutedos com os quais trabalharatildeo no texto que seraacute produzido
Assim na fase inicial de apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo satildeo fornecidas aos alunos as informaccedilotildees
necessaacuterias para conhecerem o ldquoprojeto comunicativo visado e a aprendizagem de linguagem a
que estaacute relacionadordquo (2013 p 85)
Depois dessa contextualizaccedilatildeo com os alunos eles passam agrave primeira produccedilatildeo
tentando elaborar um texto escrito Ora embora os alunos ainda natildeo tenham verdadeiramente
tido o contato aprofundado com o gecircnero esse encaminhamento natildeo necessariamente os potildee
numa situaccedilatildeo de insucesso Ao contraacuterio do que se pode pensar produzir um texto adequado
agrave situaccedilatildeo proposta embora os alunos nesse primeiro momento natildeo atendam a todas as
caracteriacutesticas do gecircnero solicitado permite-lhes descobrir o que jaacute sabem fazer e ganhar
consciecircncia das dificuldades que possuem e ao professor avaliar natildeo somente as dificuldades
apresentadas pelos alunos na produccedilatildeo inicial mas tambeacutem que se apresentarem durante o
processo de produccedilatildeo Desse modo a produccedilatildeo inicial eacute caracterizada como ldquoo primeiro lugar
de aprendizagem da sequecircnciardquo (DOLZ NOVERRAZ SCHNEUWLY 2013 p 87 Grifo dos
autores)
A etapa seguinte se constitui dos moacutedulos isto eacute a decomposiccedilatildeo dos problemas
detectados na primeira produccedilatildeo com consequente fornecimento de instrumentalizaccedilatildeo para a
superaccedilatildeo das dificuldades Esse processo que vai da produccedilatildeo inicial aos moacutedulos os autores
denominaram de ldquomovimento geral da sequecircncia didaacuteticardquo (2013 p 88) partindo do acircmbito
mais complexo que eacute a produccedilatildeo inicial para o mais simples que satildeo os moacutedulos os quais
trabalham as capacidades necessaacuterias ao domiacutenio do gecircnero No fim o movimento da sequecircncia
didaacutetica vai para o complexo novamente que eacute a produccedilatildeo final No processo de elaboraccedilatildeo de
cada moacutedulo os autores levantam trecircs questionamentos 1) Que dificuldades da expressatildeo oral
e escrita abordar 2) Como construir um moacutedulo para trabalhar um problema particular 3)
Como capitalizar o que eacute adquirido nos moacutedulos (2013 p 88)
Para responder a cada uma dessas indagaccedilotildees Dolz Noverraz e Schneuwly (2013
p 88) consideram trecircs dimensotildees no processo de construccedilatildeo dos moacutedulos que satildeo trabalhar
problemas de niacuteveis diferentes variar atividades e exerciacutecios e capitalizar as aquisiccedilotildees
A primeira etapa trabalhar problemas de niacuteveis diferentes baseada na psicologia
da linguagem eacute constituiacuteda por quatro niacuteveis principais na produccedilatildeo de textos a saber
representaccedilatildeo da situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo em que o aluno deveraacute aprender com clareza a fazer
uma imagem ldquodo destinataacuterio do texto da finalidade visada da sua posiccedilatildeo como autor ou
locutor e do gecircnero visadordquo (p 88) elaboraccedilatildeo dos conteuacutedos em que o aluno ldquodeveraacute conhecer
35
as teacutecnicas para buscar elaborar ou criar conteuacutedosrdquo (p 88) planejamento do texto em que o
aluno deveraacute estruturar seu texto de acordo com um plano que depende da finalidade que se
deseja atingir considerando que cada gecircnero se caracteriza por uma estrutura evocando a
compreensatildeo de Bakhtin (2011) ldquorelativamente estaacutevelrdquo realizaccedilatildeo do texto em que o aluno
deveraacute escrever seu texto escolhendo os meios de linguagem mais eficazes para a finalidade
que pretende alcanccedilar
Em relaccedilatildeo agrave segunda etapa variar as atividades e exerciacutecios os autores definem
que ldquoo princiacutepio essencial de elaboraccedilatildeo de um moacutedulo que trate de um problema de produccedilatildeo
textual eacute o de variar os modos de trabalhordquo (p 89) Afirmando que existem variadas categorias
de atividades e exerciacutecios (atividades de observaccedilatildeo e de anaacutelise de textos tarefas simplificadas
de produccedilatildeo de textos e a elaboraccedilatildeo de uma linguagem comum) (p 89) sugerem assim que
cada moacutedulo tenha atividades diversificadas com o objetivo de proporcionar ao aluno diferentes
meios de apropriaccedilatildeo dos conteuacutedos necessaacuterios ao seu sucesso na produccedilatildeo final
A terceira etapa capitalizar as aquisiccedilotildees consiste em aprender a falar sobre o
gecircnero abordado atraveacutes da aquisiccedilatildeo de vocabulaacuterio teacutecnico comum agrave classe e ao professor
A partir dessa construccedilatildeo progressiva dos conhecimentos de linguagem e de regras seraacute
possiacutevel ao professor estimular os alunos a refletir sobre o que foi aprendido nos moacutedulos e
juntos fazerem uma siacutentese na forma de como sugerem os autores lista de constataccedilotildees ou de
lembrete ou glossaacuterio (p 90)
A etapa final da sequecircncia didaacutetica corresponde agrave produccedilatildeo final momento em que
o aluno colocaraacute em praacutetica as noccedilotildees e os instrumentos que foram elaborados e aplicados
durante os moacutedulos sendo o momento para o professor avaliar o aprendizado do aluno Essa
avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo final tem caraacuteter somativo e eacute pautada na construccedilatildeo de uma grade (2013
p 90) de criteacuterios que explicitam aos alunos o que seraacute avaliado permitindo a objetividade ao
pautar-se nos conteuacutedos trabalhados em aula Isso tornaraacute possiacutevel ao professor a observaccedilatildeo
das aprendizagens efetuadas planejar a continuaccedilatildeo do trabalho e se necessaacuterio retornar a
pontos mal assimilados
222 Propostas de adaptaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica
Com vistas a justificar como compusemos a SD aplicada vamos nessa seccedilatildeo
mostrar o aparato teoacuterico de pesquisadoras que contribuiacuteram com propostas de adaptaccedilatildeo e
36
complementaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica do grupo de Genebra buscando propiciar ao professor
um trabalho mais amplo
2221 Moacutedulo de reconhecimento
Baseados na proposta teoacuterico-metodoloacutegica da SD produzida para o contexto
sociocultural dos pesquisadores de Genebra os integrantes de um grupo de estudos em Liacutengua
Portuguesa da regiatildeo Oeste do Paranaacute criaram uma proposta de ensino da LP para as seacuteries
iniciais contendo uma adaptaccedilatildeo (SWIDERSKI COSTA-HUumlBES 2009) que consiste na
inserccedilatildeo de um moacutedulo de reconhecimento do gecircnero antes da etapa de produccedilatildeo inicial em
atividades e exerciacutecios que contemplem a leitura a pesquisa e a anaacutelise linguiacutestica com textos
do gecircnero Para melhor entendimento observemos a figura a seguir
Figura 2 - Esquema da SD adaptada por Costa-Huumlbes
Fonte Adaptado de SWIDERSKI E COSTA-HUumlBES (2009)
Esse moacutedulo inserido antes da produccedilatildeo inicial como proposto pelas autoras serve
segundo elas ao reconhecimento dos aspectos do gecircnero a ser trabalhado na SD em atividades
e exerciacutecios que contemplem a leitura a pesquisa e a anaacutelise linguiacutestica com textos do gecircnero
Na SD ldquoas condiccedilotildees de praacuteticas de leituras envolvem natildeo apenas o contexto de produccedilatildeo e a
relaccedilatildeo autor-texto A esses aspectos somam-se o conhecimento do leitor e o contexto de uso
que conforme Orlandi (1996) satildeo fatores determinantes na produccedilatildeo de sentidosrdquo
(SWIDERSKI COSTA-HUumlBES 2009 p 121)
Diante disso ao avaliarem a proposta da SD as autoras entendem que antes de se
chegar agrave produccedilatildeo inicial o professor pode criar para o estudante vaacuterias situaccedilotildees que envolvam
a praacutetica de leitura de textos do gecircnero selecionado que circulam na sociedade oportunizando
nesse contato com esses textos a mobilizaccedilatildeo de estrateacutegias diferentes frente aos diversos
37
objetivos que implicam o ato de ler e enfatizam que trabalhar com a leitura natildeo exclui o
trabalho com os outros eixos do processo ensino-aprendizagem de LP
As autoras acrescentam ainda sobre o trabalho de reconhecimento do gecircnero
Outro detalhe que salientamos sobre o trabalho de reconhecimento do gecircnero refere-
se ao fato de que as informaccedilotildees sobre o gecircnero natildeo satildeo dadas gratuitamente jaacute que
o mesmo natildeo eacute tratado como uma forma pronta e acabada mas como um instrumento
relativamente estaacutevel Entendido assim a praacutetica de ensino-aprendizagem precisa
incentivar o processo de pesquisa Nessa perspectiva o estudante tem dois problemas
a resolver antes de iniciar sua produccedilatildeo um abarca a pesquisa para conhecer os
elementos que determinam num dado contexto soacutecio-histoacuterico e cultural a produccedilatildeo
e a circulaccedilatildeo das amostras do gecircnero a ser abordado didaticamente e em segundo
a leitura e a anaacutelise dessas amostras novamente buscando reforccedilar o conhecimento
acerca dos elementos que as constituem (SWIDERSKI COSTA-HUumlBES 2009 p
121)
Vemos entatildeo que as leituras para reconhecimento do gecircnero como uma etapa
anterior ao momento da produccedilatildeo inicial servem como base ao trabalho a ser desenvolvido
Inclusive entendemos no tocante a servir como exemplo e modelo que fornecem traccedilos para
possiacuteveis comparaccedilotildees ao longo do desenvolvimento dos moacutedulos como poderemos perceber
na seccedilatildeo correspondente ao nosso trabalho
2222 Moacutedulo de divulgaccedilatildeo ao puacuteblico
Como forma de consolidar para o aluno a visatildeo do uso real de um gecircnero textual
Lopes-Rossi (2011) propotildee a divulgaccedilatildeo das produccedilotildees dos alunos apoacutes a realizaccedilatildeo das tarefas
dos moacutedulos
Deste modo o professor pode entatildeo criar com eficiecircncia projetos pedagoacutegicos
que visem segundo a autora ldquoao conhecimento agrave leitura agrave discussatildeo sobre o uso e as funccedilotildees
sociais dos gecircneros escolhidos e quando pertinente a sua produccedilatildeo escrita e circulaccedilatildeo socialrdquo
(LOPES-ROSSI 2011 p 71)
O quadro a seguir proposto por Lopes-Rossi (2011) reflete os fundamentos sobre
o trabalho com projetos pedagoacutegicos e sintetiza as etapas de desenvolvimento de projetos
pedagoacutegicos que visam agrave produccedilatildeo escrita de gecircneros discursivos incluindo o moacutedulo de
divulgaccedilatildeo ao puacuteblico de acordo com a forma tiacutepica de circulaccedilatildeo de cada gecircnero
38
Quadro 1 ndash Siacutentese das etapas de desenvolvimento de projetos pedagoacutegicos que visam agrave produccedilatildeo escrita de
gecircneros discursivos
Moacutedulos didaacuteticos Sequecircncias didaacuteticas
Leitura para apropriaccedilatildeo das
caracteriacutesticas tiacutepicas do
gecircnero discursivo
rarr Seacuterie de atividades de leitura comentaacuterios e
discussotildees de vaacuterios exemplos do gecircnero para
conhecimento de suas caracteriacutesticas discursivas
temaacuteticas e composicionais (aspectos verbais e natildeo
verbais)
Produccedilatildeo escrita do gecircnero
de acordo com suas
condiccedilotildees de produccedilatildeo
tiacutepicas
rarr Seacuterie de atividades de produccedilatildeo
- planejamento da produccedilatildeo (assunto esboccedilo geral
forma de obtenccedilatildeo de informaccedilotildees recursos
necessaacuterios)
- coleta de informaccedilotildees
- produccedilatildeo da primeira versatildeo
- revisatildeo colaborativa do texto
- produccedilatildeo da segunda versatildeo
- revisatildeo colaborativa do texto
- produccedilatildeo da versatildeo final incluindo o suporte para a
circulaccedilatildeo do texto
Divulgaccedilatildeo ao puacuteblico de
acordo com a forma tiacutepica de
circulaccedilatildeo do gecircnero
rarr Seacuterie de providecircncias para efetivar a circulaccedilatildeo da
produccedilatildeo dos alunos fora da sala de aula e mesmo da
escola de acordo com as necessidades de cada evento
de divulgaccedilatildeo e das caracteriacutesticas de circulaccedilatildeo do
gecircnero Fonte Adaptado de LOPES-ROSSI (2011 p 72)
Se adaptarmos o quadro em forma de esquema a fim de facilitar a visualizaccedilatildeo
teremos
Figura 3 Esquema das etapas de desenvolvimento de projetos pedagoacutegicos visando agrave produccedilatildeo escrita de gecircneros
discursivos
Fonte Adaptado de LOPES-ROSSI (2011)
Segundo a autora a proposta de trabalho pedagoacutegico com gecircneros discursivos pela
oacutetica dos pesquisadores do grupo de Genebra proporciona de fato o desenvolvimento da
Produccedilatildeo
escrita
Divulgaccedilatildeo ao
puacuteblico
Leitura para
apropriaccedilatildeo
39
autonomia do aluno no processo de leitura e produccedilatildeo textual sendo uma consequecircncia do
domiacutenio do funcionamento da linguagem em situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo visto que eacute por meio
dos gecircneros discursivos que as praacuteticas de linguagem incorporam-se agraves atividades dos alunos
Sua oacutetica inclui um moacutedulo de leitura para apropriaccedilatildeo das caracteriacutesticas tiacutepicas
do gecircnero que se pretende trabalhar como jaacute descrito no quadro e que coaduna com a proposta
de Swidesrki e Costa-Huumlbes (2009) O moacutedulo de produccedilatildeo escrita de Lopes-Rossi (2009) trata
de planejamento da produccedilatildeo coleta de informaccedilotildees produccedilatildeo da primeira versatildeo revisatildeo
colaborativa do texto produccedilatildeo da segunda versatildeo revisatildeo colaborativa do texto produccedilatildeo da
versatildeo final incluindo o suporte para a circulaccedilatildeo do texto
Para noacutes eacute interessante considerar o moacutedulo de divulgaccedilatildeo ao puacuteblico pois
somando-se a esse trabalho de desenvolvimento da autonomia a circulaccedilatildeo da produccedilatildeo viraacute
corroborar entatildeo a funccedilatildeo social do texto divulgado no suporte adequado nas condiccedilotildees
apropriadas
2223 Abordagem imitativa da redaccedilatildeo
No capiacutetulo Abordagem imitativa da redaccedilatildeo trabalhando com formatos e gecircneros
que integra a obra Escrita para que te quero Vieira (2005 p 159-171) elenca passos para o
trabalho do professor com os alunos na construccedilatildeo de um texto como se fosse um guia o que
pode ser bastante uacutetil para o trabalho com formatos e gecircneros Seguem os passos
1ordm Dar exemplos do tipo de escrita esperado que em poucas palavras consiste em
oferecer modelos de textos relativamente faacuteceis de ler evidenciando sua estrutura
2ordm Ensinar as regras que consiste em explicitar o caminho para atingir as metas
Se necessaacuterio for diz a autora transmite-se um conhecimento analiacutetico ldquouse esquemas ou
diagramas para ilustrar Leve seus alunos a aprenderem mais a partir de modelos direcionando
a instruccedilatildeo para um alvordquo (VIEIRA 2005 p 159)
3ordm Apresentar uma ldquoreceitardquo passo a passo do gecircnero pretendido o que deixa claro
o que se quer que os alunos produzam e tambeacutem serve de guia para as tarefas de casa quando
estiverem trabalhando sozinhos A receita seraacute tatildeo melhor para os alunos se elaborada
diretamente pelo professor ou pelos proacuteprios alunos Tambeacutem eacute possiacutevel diz a autora adaptar
instruccedilotildees de manuais e usar a proacutepria experiecircncia de redator
40
4ordm Demonstrar a ldquoreceitardquo que eacute um momento em que os alunos percebem o
trabalho na praacutetica com o professor executando alguns ou todos os passos da ldquoreceitardquo
demonstrando como se escreve Os alunos colaboram na criaccedilatildeo conjunta de um texto
5ordm Ser autecircntico no processo que eacute dividir com os estudantes os problemas que
surgem na produccedilatildeo de qualquer texto mostrando como solucionar dialogando com os alunos
trabalhando de forma colaborativa
6ordm Dar tarefas curtas e planejadas com cuidado o que atribui ao trabalho do aluno
mais qualidade Normalmente para impressionar o professor a aluno escreve textos longos
repetitivos e sem atratividade As atividades com limite de extensatildeo favorecem segundo a
autora a motivaccedilatildeo o alcance e a variedade de audiecircncias o feedback do professor a
possibilidade de repeticcedilatildeo da tarefa o que Vieira considera um passo fundamental para se
dominar um conhecimento
7ordm Propiciar feedback uacutetil e especiacutefico Neste aspecto a autora natildeo estimula o
ldquoretoquerdquo dos textos dos alunos feito pelo professor Pelo contraacuterio incentiva criacuteticas justas
que visem a evoluccedilatildeo construindo com o aluno atraveacutes das sugestotildees e questotildees adequadas a
reformulaccedilatildeo de seus textos Vieira acrescenta ainda que este feedback natildeo deveria vir somente
do professor mas de uma variedade de leitores como seus pares e a famiacutelia para evitar a falsa
ideia de que a escrita eacute algo direcionado somente ao professor
8ordm Repetir a tarefa Ningueacutem se torna bom em algo logo na primeira tentativa
Portanto para desenvolver as habilidades eacute importante a repeticcedilatildeo para dominar um
conhecimento
Apoacutes elencar a autora sugere tarefas de aplicaccedilatildeo para o professor de forma bem
praacutetica para criar uma ldquoreceitardquo de escrita com os alunos (2005 p 162) de modo que noacutes
professores nos apropriemos dos diferentes gecircneros textuais conhecendo de antematildeo as
caracteriacutesticas destes e mesmo as dificuldades partindo de textos autecircnticos listando
procedimentos e etapas necessaacuterios para redigir textos semelhantes e refletindo sobre a
instruccedilatildeo que devemos criar estabelecendo um propoacutesito para que o aluno escreva e exercite
apropriadamente o modelo de gecircnero
A partir desse roteiro teoacuterico-metodoloacutegico que traccedilamos ao longo desta seccedilatildeo
inspiramo-nos para criar para o trabalho com o gecircnero crocircnica assunto da proacutexima seccedilatildeo em
nossa pesquisa-accedilatildeo a sequecircncia didaacutetica com foco na produccedilatildeo escrita de crocircnicas literaacuterias
acrescida das etapas de reconhecimento do gecircnero e da divulgaccedilatildeo ao puacuteblico dado o desejo
41
de extrapolar o acircmbito da sala de aula fazendo com que os textos dos alunos tivessem
circulaccedilatildeo social
23 Definindo o gecircnero textual crocircnica
A palavra ldquocrocircnicardquo tem origem no grego antigo khroacutenos e significa tempo Naquela
sociedade o gecircnero ganhou esse nome inicialmente por trazer em seu corpo o relato em ordem
cronoloacutegica dos fatos ou acontecimentos de uma eacutepoca
Um dos pioneiros a estudar o texto literaacuterio segundo Ferreira (2011 p 65) foi o
pensador grego Aristoacuteteles Sua perspectiva formulava o conceito de mimese que seria a obra
literaacuteria como representaccedilatildeo ou imitaccedilatildeo do mundo Considerando essa oacutetica a crocircnica em sua
origem tomava a forma de registro histoacuterico de um povo Aleacutem disso compreende-se que mais
do que apenas encadear a sequecircncia de fatos sucessivos interessava a forma como isso se dava
mostrando o cuidado com a arte literaacuteria
Aproximadamente no seacuteculo XII a crocircnica ressurge em uso na Europa medieval e
tem seu conceito atualizado pela perspectiva grega ora se encarrega de registrar os fatos
fidedignamente o que lhe confere caraacuteter histoacuterico ora relata-os fazendo uso de recursos
linguiacutesticos tanto denotativos quanto conotativos conferindo-lhe caraacuteter de ficccedilatildeo literaacuteria A
esse respeito nos fala Borges (2008 p 205)
A preocupaccedilatildeo com a descriccedilatildeo da histoacuteria de uma vida teve seu iniacutecio no mundo
grego antigo ao mesmo tempo em que surgiu a Histoacuteria como forma de
conhecimento essa era uma Histoacuteria poliacutetica com sua diferenciaccedilatildeoimbricaccedilatildeo com
a memoacuteria Ao longo de mais ou menos dois milecircnios autores acharam que contar a
histoacuteria da vida de algueacutem era algo distinto de uma Histoacuteria (que narrava fatos
coletivos e contava a verdade) as histoacuterias das vidas (termo usado entatildeo pelos
autores) serviam desde o mundo greco-romano para dar exemplos morais negativos
ou positivos - muitas vezes constituindo os panegiacutericos Essa chamada biografia
claacutessica punha um acento muito maior no caraacuteter poliacutetico moral ou religioso do
biografado do que em sua pessoa em sua singularidade No mundo medieval a ideia
dos exempla prolongou-se configurando-se na hagiografia e nas croacutenicas
Esses textos chamados de crocircnicas como caracterizadas acima por Borges (2008)
confundiam-se com outros gecircneros da eacutepoca ndash o que era muito comum ndash por tomarem um
caraacuteter biograacutefico sendo sinocircnimas por exemplo da hagiografia cuja intencionalidade ditava
o estilo do escritor concretizando ao longo da sucessatildeo cronoloacutegica dos fatos uma visatildeo
parcial beirando o excessivamente elogioso
42
A crocircnica percorreu longo curso ateacute ganhar a forma que conhecemos hoje no Brasil
Para Coutinho (2008) a origem de nossa atual crocircnica brasileira estaria no ensaio inglecircs do
seacuteculo XVI O autor a compara ao ensaio informal (informal essay ou familiar essay) que
consiste em seu sentido primitivo numa tentativa numa experimentaccedilatildeo de interpretaccedilatildeo
pessoal dos fatos sem obedecer a uma estrutura predeterminada poreacutem com forte marca da
prosa oral colocada na escrita
A essecircncia do ensaio (nesse sentido original) estaacute em sua relaccedilatildeo com a palavra falada
e com a elocuccedilatildeo oral como se depreende do estudo estiliacutestico dos grandes ensaiacutestas
estilo muito proacuteximo da maneira oral ou do pensamento que eacute captado no proacuteprio ato
e momento de pensar (COUTINHO 2008 p 100)
A respeito do conceito de crocircnica temos a visatildeo de Coutinho (2008) cujos criteacuterios
de classificaccedilatildeo dos gecircneros literaacuterios adotados em sua obra apontam para ldquoum grupo de formas
literaacuterias que resultam de uma explanaccedilatildeo direta dos pontos de vista do autor dirigindo-se em
seu proacuteprio nome ao leitor ou ouvinte sem qualquer artifiacutecio intermediaacuteriordquo (2008 p 99)
Segundo ele o autor vale-se de meacutetodo direto ao inveacutes de indireto em gecircneros ensaiacutesticos ou
discursivos cujos exemplos dados satildeo o ensaio a crocircnica o discurso e o sermatildeo a carta as
memoacuterias o diaacuterio as maacuteximas Outra aproximaccedilatildeo da crocircnica ao ensaio para o autor eacute que
ambos satildeo escritos em linguagem coloquial discorrendo sobre diversos assuntos tais como os
proacuteprios seres humanos os fatos ocorridos com eles as cenas da natureza entre outros
Poreacutem na mesma obra Coutinho (2008) afirma que modernamente a palavra
ensaio veio perdendo seu caraacuteter inicial e etimoloacutegico de tentativa de experimentaccedilatildeo
passando a se confundir com ldquoestudordquo ldquoou o que os ingleses chamam de julgamento isto eacute
que oferecem conclusotildees sobre os assuntos apoacutes discussatildeo argumentaccedilatildeo anaacutelise avaliaccedilatildeordquo
231 A crocircnica brasileira
No seacuteculo XIX a sociedade desenvolve-se industrialmente permitindo o advento
da imprensa Para vaacuterios autores como Barbier (2008 apud FERREIRA 2011) Coutinho
(2008) Cacircndido (1992) Castello (1999) o folhetim eacute a gecircnese da crocircnica moderna sendo o
jornal o suporte em que a crocircnica vai ganhar definitivamente seu espaccedilo Sobre essa relaccedilatildeo na
eacutepoca entre o suporte para o gecircnero e o gosto pelo gecircnero Barbier (2008) fala
Sabe-se hoje que os gecircneros literaacuterios estatildeo intimamente relacionados agraves condiccedilotildees
sociais e histoacutericas que determinam a formaccedilatildeo do puacuteblico leitor com seus gostos e
sensibilidades e que por outro lado eles tambeacutem se alteram com a mudanccedila do
43
suporte material dos textos como o demonstra a Histoacuteria dos manuscritos dos
impressos e das recentes experimentaccedilotildees digitais (BARBIER 2008 apud
FERREIRA 2011 p 73)
Das palavras de Barbier (2008) captamos a importacircncia que passa a ter a imprensa
para a divulgaccedilatildeo dos textos por seu alcance por sua frequecircncia bem como por seu poder de
molde sobre o puacuteblico leitor que se formava na eacutepoca
Antocircnio Candido (1992 p 15) no belo texto A vida ao reacutes-do-chatildeo explica que
ldquoantes de ser crocircnica propriamente dita foi lsquofolhetimrsquo ou seja um artigo de rodapeacute sobre as
questotildees do dia ndash poliacuteticas sociais artiacutesticas literaacuteriasrdquo E completa o autor afirmando que a
crocircnica ldquonatildeo nasceu propriamente com o jornal mas soacute quando este se tornou quotidiano de
tiragem relativamente grande e teor acessiacutevel isto eacute haacute pouco mais de um seacuteculo e meiordquo
(CAcircNDIDO 1992 p 15)
Esse folhetim em geral ficava no rodapeacute da primeira paacutegina do jornal e era
destinado ao entretenimento do leitor Esse espaccedilo com o tempo passou a acolher a ficccedilatildeo
literaacuteria Autores publicavam aiacute seus textos treinando a narrativa Tal foi a receptividade do
formato que ganhou espaccedilo proacuteprio semanalmente Nas palavras de Castello (1999) aquele
texto que veio depois a ser a crocircnica complementaria a funccedilatildeo da imprensa diaacuteria
A partir dos anos [19]20 acentua-se a contribuiccedilatildeo de cronistas e memorialistas Mas
o primeiro gecircnero mais do que o segundo eacute continuidade e amadurecimento de uma
tradiccedilatildeo proveniente do Romantismo quando o ldquofolhetimrdquo semanal eacute definido por
Joseacute de Alencar e enriquecido por Machado de Assis mestre de cronistas que vieram
depois Conta-se ainda a contribuiccedilatildeo da prosa poeacutetica de Raul Pompeia e logo a
seguir de Olavo Bilac Finalmente nos nossos dias seja atividade complementar seja
agraves vezes principal e mesmo uacutenica de vaacuterios escritores a crocircnica se afirma como gecircnero
da preferecircncia de numeroso puacuteblico Contribuiu sempre para difundi-la desde seus
momentos iniciais datados do Romantismo a divulgaccedilatildeo em primeira matildeo pelos
principais jornais e revistas do paiacutes Complementava mesmo pelo seacuteculo XIX a
funccedilatildeo de nossa imprensa diaacuteria tradicionalmente marcada pela colaboraccedilatildeo dos
escritores do momento Surgia como um misto de notiacutecia vaacuteria reflexatildeo invenccedilatildeo e
ateacute mesmo de criacutetica ou impressotildees literaacuterias (CASTELLO 1999 p 377-378)
A crocircnica complementava a imprensa por em seu bojo tratar de assuntos mais
amenos diferindo dos que motivavam as notiacutecias e as reportagens sem no entanto como nos
mostra Cacircndido (1992) deixar de lado o que toca a alma humana
Ora a crocircnica estaacute sempre ajudando a estabelecer ou restabelecer a dimensatildeo das
coisas e das pessoas Em lugar de oferecer um cenaacuterio excelso numa revoada de
adjetivos e periacuteodos candentes pega o miuacutedo e mostra nele uma grandeza uma beleza
ou uma singularidade insuspeitada Ela eacute amiga da verdade e da poesia nas suas
formas mais diretas e tambeacutem nas suas formas mais fantaacutesticas - sobretudo porque
quase sempre utiliza o humor (CAcircNDIDO 1992 p 14)
44
Amenos sim poreacutem as crocircnicas de um ou outro modo conduziam o leitor mesmo
que por caminhos suaves de ldquoar despreocupado de quem estaacute falando de coisas sem maior
consequecircnciardquo (CAcircNDIDO 1992 p 17) agrave criacutetica social agrave reflexatildeo sobre o significado das
accedilotildees e dos sentimentos do homem
Segundo Coutinho (2008 p 106) o caminho que conduziria agrave crocircnica brasileira
comeccedila com Francisco Otaviano no Jornal do Commercio no Rio de Janeiro em 2 de
dezembro de 1852 Nessa data eacute inaugurada a seccedilatildeo ldquoA semanardquo em que seriam publicados os
folhetins literaacuterios do Romantismo
O folhetim seccedilatildeo ao final da paacutegina apresentou caracteriacutesticas que se agrupadas
conforme a frequecircncia do teor das publicaccedilotildees seriam de variedades e de romances O primeiro
grupo o de variedades abordava assuntos diversos da eacutepoca tratando de tudo um pouco e
ocupava a primeira paacutegina do jornal O segundo por sua vez destinava-se a textos de ficccedilatildeo
Esse espaccedilo passou a publicar romances de autores da eacutepoca distribuiacutedos em histoacuterias seriadas
ou capiacutetulos provocando no puacuteblico leitor a curiosidade pelo que viria a seguir tornando-se
um sucesso permitindo ldquoalavancar as vendas aumentar as assinaturas e por conseguinte
ampliar as vantagens financeiras dos jornaisrdquo (SANTOS 2008 p 68)
Essa iniciativa abriu espaccedilo para publicaccedilotildees de romances de autores brasileiros O
guarani de Joseacute de Alencar por exemplo foi desenvolvido a princiacutepio para o folhetim Em 1ordm
de janeiro de 1857 saiu o capiacutetulo inicial do romance no Diaacuterio do Rio de Janeiro Ao final
daquele ano foi publicado como livro com alteraccedilotildees miacutenimas em relaccedilatildeo ao que fora
publicado em folhetim
A evoluccedilatildeo da sociedade industrial refletiu sua setorizaccedilatildeo no modo de organizaccedilatildeo
dos jornais O folhetim para variedades teve sua alteraccedilatildeo quando foram criadas seccedilotildees
especiacuteficas para assuntos especiacuteficos de maneira a organizar o jornal Para o folhetim restaram
assuntos mais corriqueiros de cunho mais descompromissado com a veracidade dos fatos ndash
estes ficariam para as notiacutecias A esses textos mais leves cujo caraacuteter era efecircmero com a mera
funccedilatildeo de distrair o leitor passou-se a dar o nome de crocircnica
232 Caracteriacutesticas da crocircnica
Apesar da filiaccedilatildeo ao jornal as caracteriacutesticas atuais do gecircnero crocircnica vatildeo aleacutem do
desenvolvimento da imprensa Como bem nos resume Amaral (2008) tambeacutem estatildeo
intimamente relacionadas agraves transformaccedilotildees sociais e agrave valorizaccedilatildeo da histoacuteria social isto eacute da
45
histoacuteria que considera importantes os movimentos de todas as classes sociais e natildeo soacute os das
grandes figuras poliacuteticas ou militares Em suas palavras no ldquoregistro da histoacuteria social assim
como na escrita das crocircnicas um dos objetivos eacute mostrar a grandiosidade e a singularidade dos
acontecimentos miuacutedos do cotidianordquo (2008 p 12)
Eacute efecircmera simples e dinacircmica em sua linguagem como nos fala Cacircndido (1992 p
14)
Isto acontece porque natildeo tem pretensotildees a durar uma vez que eacute filha do jornal e da
era da maacutequina onde tudo acaba tatildeo depressa Ela natildeo foi feita originalmente para o
livro mas para essa publicaccedilatildeo efecircmera que se compra num dia e no dia seguinte eacute
usada para embrulhar um par de sapatos ou forrar o chatildeo da cozinha Por se abrigar
nesse veiacuteculo transitoacuterio o seu intuito natildeo eacute o dos escritores que pensam em ldquoficarrdquo
isto eacute permanecer na lembranccedila e na admiraccedilatildeo da posteridade e a sua perspectiva
natildeo eacute a dos que escrevem do alto da montanha mas do simples reacutes-do-chatildeo
(CAcircNDIDO 1992 p 14)
As crocircnicas contemporacircneas organizam sua narrativa em primeira ou terceira
pessoa quase sempre como quem conta um caso em tom intimista Ao narrar os autores
inserem em seu texto trechos de diaacutelogos permeados por expressotildees cotidianas escrevendo
como quem conversa com seus leitores como se estivessem muito proacuteximos Como temaacutetica
os cronistas tratam de reflexotildees sobre a vida social poliacutetica econocircmica por vezes de forma
humoriacutestica outras de modo mais seacuterio outras com um jeito poeacutetico que indica o pertencimento
do gecircnero agrave esfera literaacuteria
Assim uma forte caracteriacutestica do gecircnero eacute ter uma linguagem que mescla aspectos
da escrita com outros da oralidade E por causa do uso de linguagem coloquial e da proximidade
com os fatos cotidianos a crocircnica por vezes eacute vista como literatura ldquomenorrdquo Essa suposta
classificaccedilatildeo como gecircnero literaacuterio menor natildeo diminui sua importacircncia Por ser breve leve de
faacutecil acesso envolvente ela possibilita momentos de fruiccedilatildeo a muitos leitores que nem sempre
tecircm acesso ndash ou natildeo gostam devido agrave extensatildeo ndash aos romances Para compreendermos as
caracteriacutesticas da crocircnica precisamos conhecer como ela se manifesta como texto jornaliacutestico
e tambeacutem como texto literaacuterio
2321 Crocircnica um gecircnero jornaliacutestico
Para termos uma ideia de como eacute vista a crocircnica na esfera jornaliacutestica valemo-nos
da classificaccedilatildeo do pioneiro na aacuterea Luiacutes Beltratildeo (1980 p 67 Grifos do autor)
O primeiro aspecto eacute quanto agrave natureza do tema Deste modo ele apresenta trecircs
46
espeacutecies
a) crocircnica geral tambeacutem chamada de coluna ou seccedilatildeo especial que aborda
assuntos variados ldquosob uma epiacutegrafe geralrdquo ou localizada em paacutegina fixa no
jornal
b) crocircnica local tambeacutem chama de urbana ou da cidade divulgada sob a mesma
epiacutegrafe que fala da vida cotidiana da cidade recebendo e orientando a opiniatildeo
puacuteblica da comunidade onde circula o jornal
c) crocircnica especializada tambeacutem chamada de comentaacuterio integra uma paacutegina ou
seccedilatildeo do jornal determinada destacando-se graficamente das demais mateacuterias
ali publicadas trata de assuntos referentes a uma aacuterea especiacutefica de atividade
cujo autor eacute um expert como nos casos de poliacutetica esportes ou economia
O segundo aspecto eacute o tratamento dado ao tema Beltratildeo (1980 p68) apresenta
mais trecircs classificaccedilotildees
a) crocircnica analiacutetica em que o cronista expotildee os fatos com brevidade e os analisa
com objetividade dirigindo-se ldquomais agrave inteligecircncia que ao coraccedilatildeordquo com
linguagem soacutebria e elegante poreacutem dotada de capricho e graccedila
b) crocircnica sentimental em que o cronista apela para a sensibilidade de seu leitor
retirando-se dos fatos e explorando aspectos liacutericos pitorescos ou eacutepicos de
modo a comovecirc-lo e influenciaacute-lo agrave accedilatildeo com linguagem vivaz ritmo aacutegil sem
dar profundidade ao tema
c) crocircnica satiacuterico-humoriacutestica em que o objetivo do cronista eacute criticar fatos accedilotildees
personagens ou pronunciamentos comentados ndash amplamente conhecidos do
puacuteblico ndash ridicularizando-os ou ironizando-os buscando o entretenimento do
leitor utilizando linguagem com linguagem figurada com duplo sentido
palavras aspeadas e verbos no futuro do preteacuterito Para Beltratildeo (1980) a esse tipo
de crocircnica se assemelham as charges dos jornais
2322 Crocircnica um gecircnero literaacuterio
A crocircnica como vimos previamente surgiu no espaccedilo do jornal Embora o
utilizasse como suporte e a partir dele tenha se firmado desenvolveu caracteriacutesticas proacuteprias
indo para aleacutem da esfera jornaliacutestica alcanccedilando assim a esfera literaacuteria Nas palavras de
Eduardo Portela (apud Coutinho 2008 p 107)
47
O fundamental na crocircnica eacute a superaccedilatildeo de sua base jornaliacutestica e urbana em busca de
transcendecircncia seja construindo ldquouma vida aleacutem da notiacuteciardquo Seja enriquecendo a
notiacutecia ldquocom elementos de tipo psicoloacutegico metafiacutesicordquo ou com o humour seja
fazendo ldquoo subjetivismo do artistardquo ldquoo seu universo internordquo sobrepor-se ldquoagrave
preocupaccedilatildeo objetiva do cronistardquo (PORTELA apud COUTINHO 2008 p 107)
Como se vecirc essa base jornaliacutestica que atrelava a crocircnica agrave notiacutecia foi
gradativamente superada Natildeo soacute em jornais mas tambeacutem em revistas ela passou a ser
publicada ainda trazendo em si o aspecto da brevidade Poreacutem as que alcanccedilaram a
transcendecircncia de que nos fala o autor passaram a tambeacutem ser publicadas em livros reunidas
em coletacircneas organizadas por autores e editoras chegando mesmo a serem inseridas nos livros
didaacuteticos do ensino baacutesico
Para aleacutem dessa caracteriacutestica da crocircnica literaacuteria impressa temos agora tambeacutem
no seacuteculo XX a crocircnica cujo suporte eacute o meio online divulgada amplamente por meio das redes
sociais sites ou blogs Nesses meios tambeacutem haacute crocircnicas ligadas a notiacutecias sim No entanto a
dinacircmica da vida a capacidade de observaccedilatildeo e a vontade crescente na sociedade de expressatildeo
permite que o subjetivo emerja externalizando o universo dos autores modernos tocando os
leitores igualmente modernos tornando puacuteblico o que poderia ser antes apenas privado natildeo
priorizando apenas a objetividade histoacuterica que buscaram os cronistas incipientes
Considerando todas essas formas de tornar puacuteblica a crocircnica vejamos algumas de
suas caracteriacutesticas mais expressivas Afracircnio Coutinho (2008 p 107 Grifos nossos) fala sobre
os diversos tipos da crocircnica na literatura brasileira afirmando ser possiacutevel classificaacute-los pela
natureza do assunto ou pelo movimento interno Satildeo eles
a) a crocircnica narrativa que se aproxima do conto por ter seu eixo em uma histoacuteria
b) a crocircnica metafiacutesica que se constitui de aura de reflexotildees mais ou menos
filosoacuteficas sobre os acontecimentos ou os homens
c) a crocircnica-poema em prosa que traz em si conteuacutedo liacuterico resultante de mero
extravasamento da alma do artista ante o espetaacuteculo da vida das paisagens ou
episoacutedios para ele significativos
d) a crocircnica-comentaacuterio que trata das variedades dos acontecimentos e que tem
ldquono dizer de Eugecircnio Gomes o aspecto de um lsquobazar asiaacuteticorsquo acumulando
muita coisa diferente ou diacutesparrdquo
Antocircnio Cacircndido (1992 p 21) sugere sem pretensatildeo de categorizar uma
classificaccedilatildeo das crocircnicas Poderiacuteamos agrupar conforme seus exemplos da seguinte forma
48
a) crocircnicas que satildeo diaacutelogos e que nelas podemos perceber que o cronista e seu
leitor ideal se revezam nos pontos de vista e nas informaccedilotildees
b) crocircnicas que marcham rumo ao conto ldquoagrave narrativa mais espraiada com certa
estrutura de ficccedilatildeordquo
c) crocircnicas que parecem anedotas desdobradas
d) crocircnicas que se aproximam da exposiccedilatildeo poeacutetica ou de certo tipo de biografia
liacuterica construiacutedas por enumeraccedilatildeo parecendo uma divagaccedilatildeo livre ldquouma
cadeia de associaccedilotildees totalmente sem necessidade que deveria resultar em
simples acuacutemulo de palavrasrdquo mas que resulta em ldquoum sistema expressivo tatildeo
perfeitordquo
Nos tempos em que vivemos e para nosso projeto escolhemos crocircnicas que se
apresentaram para noacutes tatildeo efecircmeras quanto as do jornal impresso as de meio virtual online
Bem certo que natildeo foram todas mas vaacuterias que nossos alunos leram encaixam-se nesse perfil
O advento da internet permite que acessemos textos dos mais variados gecircneros Em nosso caso
crocircnicas de autores de diversos pontos do Paiacutes Usamos famosos e outros cuja fama no meio
literaacuterio ainda estaacute se nacionalizando porquanto alguns jaacute estejam bem consolidados no meio
em seus estados
Como nosso objetivo maior nesta pesquisa-accedilatildeo eacute contribuir para o
desenvolvimento da competecircncia escrita dos alunos neste caso os do 9ordm ano do Ensino
fundamental ano divisor de aacuteguas prestes a entrar para o ensino meacutedio quando lhes seraacute
cobrado um conhecimento que muitos natildeo chegam a alcanccedilar que eacute o de ter boa escrita boa
produccedilatildeo textual propiciar-lhes-emos conhecer as etapas especiacuteficas do processo atraveacutes de
nossa SD o que lhes seraacute fundamental natildeo somente para os niacuteveis escolares seguintes mas
tambeacutem para as praacuteticas sociais nas quais estatildeo inseridos
A escolha do gecircnero natildeo poderia ter sido mais oportuna Nas palavras de Cacircndido
(1992 p 16) sobre a crocircnica ldquoo seu grande prestiacutegio atual eacute um bom sintoma do progresso de
busca da oralidade na escrita isto eacute na quebra do artifiacutecio e aproximaccedilatildeo com o que haacute de mais
natural no modo de ser do nosso tempo E isto eacute humanizaccedilatildeo da melhorrdquo
49
3 LEITURA E ESCRITA NOS ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
Nesta seccedilatildeo tratamos da questatildeo da escrita no ensino fundamental nos anos finais
refletindo sobre o que ensinar em Liacutengua Portuguesa como os professores trabalham como
veem a importacircncia das aulas de escrita
31 Habilidades de leitura e escrita para que ler e escrever
No iniacutecio do seacuteculo XX pensava-se nas aulas de liacutengua materna como o momento
de se transmitir a norma culta da liacutengua portuguesa para os estudantes oriundos da classe social
alta A linguagem era vista como a expressatildeo do pensamento e a capacidade de escrever seria
portanto uma consequecircncia do pensar Na escola os textos literaacuterios eram valorizados e os
regionalismos ignorados Tambeacutem era descartada a ideia de se ler na escola jornais ou
quaisquer textos de nuances coloquiais
A partir da segunda metade do seacuteculo XIX comeccedilaram a surgir no Paiacutes ainda que
alguns fossem impressos na Europa livros de leitura destinados especificamente agraves seacuteries
iniciais da escolarizaccedilatildeo Segundo Galvatildeo e Batista (sd) autores como Abiacutelio Ceacutesar Borges e
Felisberto de Carvalho editaram livros considerados inovadores para a eacutepoca por terem caraacuteter
enciclopeacutedico trazendo conteuacutedos de vaacuterias aacutereas do conhecimento sendo de cunho instrutivo
e moral Essas obras destinadas ao aprendizado inicial da leitura e da escrita visavam substituir
as cartilhas grosseiras ou os materiais manuscritos que no entanto na maior parte do paiacutes
continuaram sendo usados
No iniacutecio do seacuteculo XX foram publicados livros cujo formato comeccedilou a modificar
o conceito de livro usado nas escolas Atraveacutes do Brasil de Olavo Bilac e Manuel Bonfim e
Narizinho arrebitado de Monteiro Lobato marcaram a histoacuteria
Movidos pelo nacionalismo que caracterizava aquele momento brasileiro os autores
construiacuteram um livro que traz uma narrativa contiacutenua ao longo dos capiacutetulos contando
a histoacuteria de trecircs meninos viajando atraveacutes do paiacutes No prefaacutecio os autores afirmam
que atraveacutes da histoacuteria narrada o professor teria material para desenvolver os diversos
assuntos necessaacuterios agrave instruccedilatildeo das crianccedilas Aleacutem disso e talvez sobretudo os
autores tecircm uma preocupaccedilatildeo com a educaccedilatildeo moral dos meninos e meninas Em
1921 outro livro marcaria a histoacuteria dos livros de leitura Narizinho Arrebitado de
Monteiro Lobato Um dos grandes sucessos da literatura infantil brasileira nasceu
como 2o livro de leitura para as escolas E com ele uma grande inovaccedilatildeo Segundo
a criacutetica da eacutepoca o livro se diferenciava de toda a literatura didaacutetica produzida no
Brasil na medida em que trazia para a escola um aspecto ateacute entatildeo ignorado pela
instituiccedilatildeo provocar o prazer na leitura (GALVAtildeO BATISTA sd)
50
Da deacutecada de 20 ateacute meados da de 50 inuacutemeros livros de leitura foram produzidos
e algumas editoras especializaram-se na produccedilatildeo de livros didaacuteticos Nesse momento vaacuterias
reformas de ensino foram empreendidas por diversos Estados
Nos anos 1970 a linguagem passou a ser vista como um instrumento de
comunicaccedilatildeo como nos fala Raupp (2005)
A concepccedilatildeo agora eacute a de linguagem como instrumento de comunicaccedilatildeo e os
objetivos de ensino satildeo pragmaacuteticos e utilitaacuterios natildeo se trata mais de promover o conhecimento
do sistema linguiacutestico ndash o saber a respeito da liacutengua ndash mas do desenvolvimento das habilidades
de expressatildeo e compreensatildeo de mensagens ndash o uso instrumental e comunicativo da liacutengua A
escola abre-se para a pluralidade de linguagens e culturas
Segundo a autora ensinar a liacutengua nas escolas era priorizar o ensino de gramaacutetica
Poreacutem no iniacutecio dos anos 70 a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo nordm 569271
provocou mudanccedilas natildeo somente na disciplina de Liacutengua Portuguesa mas em todas as demais
disciplinas curriculares A liacutengua no contexto ideoloacutegico do movimento militar poacutes-64 eacute
considerada instrumento a serviccedilo do desenvolvimento Assim a disciplina ldquoPortuguecircsrdquo passa
a ser denominada de Comunicaccedilatildeo e Expressatildeo (nas seacuteries iniciais) Comunicaccedilatildeo em Liacutengua
Portuguesa (nas seacuteries finais) e no 2deg grau Liacutengua Portuguesa e Literatura Brasileira O aluno
deveria respeitar modelos para construir textos e transmitir mensagens Os gecircneros natildeo
literaacuterios foram incorporados agraves aulas
Chegando agrave deacutecada de 1980 foi sendo revista refletida e ampliada a concepccedilatildeo de
linguagem como um instrumento de comunicaccedilatildeo passando a influenciar o ensino e mostrando
que o foco deve estar na interaccedilatildeo entre as pessoas Poreacutem apesar dos novos estudos mesmo
entrando na deacutecada de 1990 professores ainda reproduziam mesmo que inconscientemente o
mesmo sistema de transposiccedilatildeo didaacutetica de conteuacutedos e a mesma atribuiccedilatildeo de valor e
importacircncia ao ensino prescritivo e normativo com que construiacuteram sua formaccedilatildeo tanto pessoal
quanto pedagoacutegica
Questionava-se para que serve a escola E trazendo para nossa aacuterea de interesse
para que serve a disciplina Liacutengua Portuguesa Para alguns a escola era e ainda eacute vista como
preparatoacuteria de alunos para o vestibular tanto mais se aproximava do ensino meacutedio No entanto
se a escola se detiver apenas a esses exames perderaacute completamente seu papel social que como
sabemos eacute muito mais abrangente que fazer uma prova cuja finalidade eacute especiacutefica objetiva e
limitada por um tempo e por uma seacuterie de outras determinaccedilotildees teacutecnicas
51
Nesse sentido a escola natildeo tem por finalidade maior garantir o preparo de alunos
para concursos pois natildeo cumpriria seu papel de promover a inclusatildeo social dos cidadatildeos Para
aleacutem da escola haacute a vida e toda sua abrangecircncia social e poliacutetica Entatildeo para de fato promover
a inclusatildeo de cada aluno nada mais importante do que incluiacute-los no mundo da leitura e da
escrita da anaacutelise e da reflexatildeo criacutetica estimulando-os agrave criaccedilatildeo
Valemo-nos das palavras de Antunes (2007 p110) a respeito do conflito sobre o
que ensinar nas aulas de Liacutengua Portuguesa quando questiona o que leva ainda algumas pessoas
a defenderem a prioridade de um ensino concentrado em ldquoanalisar frases para identificar
substantivos adjetivos verbos sublinhar diacutegrafos distinguir objeto preposicionado de objeto
direto pleonaacutestico classificar oraccedilotildees e outras categorias metalinguiacutesticasrdquo Por que falantes da
liacutengua materna natildeo tecircm familiaridade com a liacutengua em sua modalidade escrita em sua forma
espontacircnea de uso Raupp (2005 p 53) apresenta-nos uma resposta
A verdade eacute que por mais que se tenham alterado meacutetodos e teacutecnicas pressupostos e
concepccedilotildees no ensino de Liacutengua Portuguesa uma premissa permaneceu inalterada a
necessidade de se ensinaraprender a leitura e a escrita E apesar de inuacutemeras
alteraccedilotildees didaacutetico-metodoloacutegicas ocorridas ao longo do percurso o ler e o escrever
permanecem gerenciadores de todo o processo de inserccedilatildeo do sujeito na escola e fora
dela A esse respeito menciona Britto (1997 p100) ldquoo aprendizado efetivo da escrita
(e aqui eu acrescentaria e da leitura) natildeo decorre de um processo de treinamento mas
da inserccedilatildeo do sujeito no mundo da relaccedilatildeo que estabelece entre o que aprende e seu
universo soacutecio-histoacutericordquo e a inserccedilatildeo do sujeito no mundo inegavelmente ocorre
por meio da leitura deste mundo (RAUPP 2005 p 53)
De certa maneira a tradiccedilatildeo dos meacutetodos de ensino da liacutengua materna na escola
ainda contribui no sentido de natildeo se estimular os aprendizes a fluir na leitura e na escrita
(BEZERRA 2014 LOPES-ROSSI 2012)
Com o intuito de superar meacutetodos tatildeo tradicionais quanto ineficientes no ensino da
competecircncia discursiva e sensiacuteveis agraves transformaccedilotildees gestadas nos centros de conhecimento
no ano de 1996 foi promulgada apoacutes longos debates e discussotildees a Lei de Diretrizes e Bases
que rege a educaccedilatildeo brasileira com vistas agraves novas formas do pensar e agir docente de modo
a implementar a transformaccedilatildeo do olhar das instituiccedilotildees que formam professores bem como
auxiliar os docentes jaacute em exerciacutecio atraveacutes das instituiccedilotildees que lhes propiciam a formaccedilatildeo
continuada
Assim os Paracircmetros Curriculares Nacionais (1997) reconhecem que o ensino da
liacutengua portuguesa pautado em uma prioridade de estudos de aspectos normativos ou gramaticais
da liacutengua eacute limitado e insuficiente e sugerem redirecionar o foco para a praacutetica de leitura e ndash
aspecto muito importante ndash o exerciacutecio da escrita de textos nos mais variados gecircneros textuais
52
existentes na sociedade possibilitando o estudo da liacutengua em contextos reais de uso natildeo apenas
como um conjunto de normas
A importacircncia e o valor dos usos da linguagem satildeo determinados historicamente
segundo as demandas sociais de cada momento Atualmente exigem-se niacuteveis de leitura e de
escrita diferentes dos que satisfizeram as demandas sociais ateacute haacute bem pouco tempo e tudo
indica que essa exigecircncia tende a ser crescente A necessidade de atender a essa demanda
obriga agrave revisatildeo substantiva dos meacutetodos de ensino e agrave constituiccedilatildeo de praacuteticas que possibilitem
ao aluno ampliar sua competecircncia discursiva na interlocuccedilatildeo (BRASIL 1998 p 23)
Nesse sentido os PCN (1997) orientam o trabalho em sala em direccedilatildeo agrave ampliaccedilatildeo
do uso da liacutengua aos contextos natildeo podendo ficar reduzida apenas ao trabalho sistemaacutetico com
a mateacuteria gramatical visto que aprender a pensar e falar sobre a proacutepria linguagem realizar
uma atividade de natureza reflexiva uma atividade de anaacutelise linguiacutestica supotildee duas situaccedilotildees
planejar situaccedilotildees didaacuteticas que possibilitem a reflexatildeo natildeo somente sobre os diferentes
recursos expressivos utilizados pelo autor do texto mas tambeacutem sobre a forma pela qual a
seleccedilatildeo de tais recursos reflete as condiccedilotildees de produccedilatildeo do discurso e as restriccedilotildees impostas
pelo gecircnero e pelo suporte e tomar como objeto de reflexatildeo os procedimentos de planejamento
de elaboraccedilatildeo e de refacccedilatildeo dos textos (BRASIL 1997 p 8 Grifo nosso)
Produzir textos requer dessa forma estudar os diferentes modos de expressatildeo
abrindo-se aiacute para o aluno uma gama de possibilidades de manifestaccedilatildeo de ideias atraveacutes do
conhecimento de sua liacutengua quando de seu uso nas relaccedilotildees de interaccedilatildeo pessoal No entanto
para que essa produccedilatildeo seja efetiva haacute que se ter em mente que qualquer atividade de produccedilatildeo
textual bem-sucedida requer o exerciacutecio da escrita e da reescrita pois se considera que nesse
processo de aperfeiccediloamento as aulas tomadas entre o iniacutecio e o teacutermino de uma sequecircncia ou
seja entre a produccedilatildeo inicial e a produccedilatildeo final sejam vaacuterias e variadas com planejamento para
conhecer as necessidades de cunho geral da turma como as caracteriacutesticas de um gecircnero bem
como as de cunho individual do aluno como as limitaccedilotildees no reconhecimento do gecircnero
textual na construccedilatildeo de argumentos nas convenccedilotildees da escrita culta
Para boa parte das crianccedilas e dos jovens brasileiros a escola eacute o uacutenico espaccedilo que
pode proporcionar acesso a textos escritos textos estes que se converteratildeo inevitavelmente em
modelos para a produccedilatildeo Se eacute de esperar que o escritor iniciante redija seus textos usando como
referecircncia estrateacutegias de organizaccedilatildeo tiacutepicas da oralidade a possibilidade de que venha a
construir uma representaccedilatildeo do que seja a escrita soacute estaraacute colocada se as atividades escolares
53
lhe oferecerem uma rica convivecircncia com a diversidade de textos que caracterizam as praacuteticas
sociais (BRASIL 1998 p 25-26)
Para levar o aluno a desenvolver suas habilidades de escrita um passo eacute planejar
sequecircncias que abordem as caracteriacutesticas do gecircnero a ser trabalhado permitindo-lhe pocircr em
aproximaccedilatildeo eou contraste seus saberes com os conhecimentos a serem construiacutedos algo que
tem se revelado bastante difiacutecil
Para o trabalho com a escrita em Liacutengua Portuguesa pode-se partir da questatildeo
essencial o que se deve ensinar para os alunos Para a resposta eacute importante entendermos a
escrita como processo quais satildeo as etapas Quais as estrateacutegias de escrita Qual o papel do
professor neste processo Para fundamentar a didaacutetica da escrita eacute importante conhecer os
processos de redigir e tambeacutem considerar como motivar os alunos a escrever Vamos para este
estudo nortearmo-nos em Serafini (2003) Koch e Elias (2009) e Vieira (2005)
32 Escrita e motivaccedilatildeo
Vieira (2005 p 71) traz agrave tona uma reflexatildeo sobre a necessidade de motivar a
escrita pois essa praacutetica permeia todas as nossas atividades cotidianas e eacute cada vez mais
indispensaacutevel Em sua anaacutelise entende que os atos de escrita que acontecem na escola
apresentam uma defasagem entre a realidade do mundo da palavra e a palavra do mundo
escolar Por vezes os alunos escrevem textos sem instruccedilotildees claras e sem um destinataacuterio
concreto aleacutem do professor cujo papel consiste em corrigir os erros de gramaacutetica e ortografia
Uma criacutetica pertinente da autora eacute que nossas escolas ainda estatildeo em sua maioria
com um atraso pedagoacutegico quanto ao trabalho com a escrita seus usos sociais e os processos
do redator Apesar de muitas abordagens e contribuiccedilotildees pedagoacutegicas que trabalham esses usos
sociais e o ato de redigir em funccedilatildeo de uma audiecircncia para o texto ou de um propoacutesito
comunicativo terem despontado essas ideias permanecem distantes da realidade do ensino Em
sua contribuiccedilatildeo para o tema motivaccedilatildeo Vieira (2005 p 70) afirma ldquoSe o impulso
comunicativo para escrever eacute determinante de escolhas temaacuteticas estruturais estiliacutesticas e
pragmaacuteticas no texto em composiccedilatildeo de partida isso jaacute deveria implicar num cuidado muito
maior em relaccedilatildeo ao quecirc e como satildeo propostos os atos de escrita na escolardquo
Essas proposiccedilotildees de que trata a autora atentam para que consideremos que estamos
na era digital em que a tecnologia absorve bastante a atenccedilatildeo dos alunos o que atribui novas
funccedilotildees para a escrita Para motivaacute-los as atividades precisam entatildeo levaacute-los a se sentirem
54
capazes de se envolver e de completar a tarefa isto eacute de ter competecircncia e controle sobre ela
controle sobre seus textos e sobre a situaccedilatildeo de escrita Essa autopercepccedilatildeo de competecircncia e
controle cuja recompensa eacute a autogratificaccedilatildeo eacute conceituada como motivaccedilatildeo intriacutenseca
concebida do ponto de vista cognitivista em oposiccedilatildeo ao conceito behaviorista de motivaccedilatildeo
cujo foco estaacute em recompensas externas chamado de motivaccedilatildeo extriacutenseca
Para o ensino segundo Vieira (2005) a percepccedilatildeo de competecircncia eacute muito
importante no que tange ao engajamento em tarefas Se o aluno natildeo se percebe competente
numa aacuterea maior sua necessidade de assistecircncia externa para se desincumbir de uma tarefa
Desse modo Vieira (2005 p 73) diz que
A ideia eacute que quando os estudantes se apropriam de sua escrita seu niacutevel de
engajamento seraacute mais alto Assim todo redator do principiante ao profissional deve
ser encorajado a apropriar-se de seu texto usando a escrita para expressar sua
compreensatildeo pessoal dos assuntos e para buscar seus proacuteprios propoacutesitos acadecircmicos
e sociais (VIEIRA 2005 p 73)
Visando entatildeo propiciar uma maior motivaccedilatildeo para redigir Vieira (2005) lista em
um quadro algumas atitudes de intervenccedilatildeo possiacuteveis cujos princiacutepios e praacuteticas aceitamos
como norte em nossa pesquisa de acordo com as possibilidades e dificuldades verificadas na
turma considerando a SD que foi aplicada Vejamos a seguir
Quadro 2 ndash Motivaccedilatildeo e envolvimento na produccedilatildeo escrita
ELEMENTOS BAacuteSICOS PRINCIacutePIOS E PRAacuteTICAS EFEITOS GERADOS
a) Competecircncia + assistecircncia
b) Controle (textosituaccedilatildeo de
escrita)
Encorajar a apropriaccedilatildeo do
texto
Compartilhar e demonstrar atos
de escrita ao aluno (o prazer e as
dificuldades)
Oportunidades para
autorregulaccedilatildeo
Engajamento mais alto
na leitura (a) e na escrita
(b) gt maior
competecircncia controle
Tempo
Concentrar periacuteodos para
escrever instituindo a
regularidade
Maior competecircncia e
controle
Propriedade (ownership)
Controlar a situaccedilatildeo de escrita e
a tarefa dentro do gecircnero e
formato
- variar temasassuntos
- focalizar uma audiecircncia
- encontrar a proacutepria ldquovozrdquo
expressando significados e
opiniotildees
- lerredigir textos autecircnticos
criando propoacutesitos
Domiacutenio sobre o texto e
maior prazer na escrita
55
comunicativos e situaccedilotildees reais
de escrita
Resposta (retorno reacuteplica)
Lerouvircompartilhar textos
Trabalhar em pequenos grupos
antes de trabalhar de forma
independente
Oportunidades de trocar
e comentar textos com
os colegas obtendo
respostas especiacuteficas
Complexidade da tarefa ndash usar
habilidades e conhecimentos
preacutevios propor tarefas que
possam ser executadas com
ecircxito (Bereiter e Scardamalia
1982)
Propor tarefas que dosem
- conteuacutedo (assunto)
- forma (gecircnero formato)
- funccedilatildeo (propoacutesito do texto)
Ex assunto novo + formato de
texto conhecido + funccedilatildeo
conhecida
Confianccedila reforccedilada
pela possibilidade de
sucesso de dar conta da
tarefa estimulando a
percepccedilatildeo da
competecircncia
Percepccedilatildeo abrangente do
processo de redigir (similar em
liacutengua materna e liacutengua
estrangeira ndash dominar o coacutedigo
linguiacutestico natildeo eacute o maior
problema)
Focalizar em separado
processos de
composiccedilatildeotranscriccedilatildeo
(gerarorganizar ideias x
ortografia e gramaacutetica)
Reforccedilo da experiecircncia
de sucesso gt niacutevel mais
alto de competecircncia
percebida gt
engajamento com tarefas
semelhantes Fonte Adaptado de VIEIRA (2005)
Aleacutem desses elementos a autora aponta outros aspectos praacuteticos que podem ampliar
a motivaccedilatildeo para escrever Satildeo eles
a) trabalhar a leitura e a escrita de forma complementar explorando textos
variados observando padrotildees ortograacuteficos e construccedilotildees sintaacuteticas explorando
o potencial da internet e os acervos disponiacuteveis pois a leitura contribui para a
escrita mais que o proacuteprio ato de redigir
b) integrar a escrita agrave matildeo com a escrita digital transitando do papel agrave tela do
computador exercitando em cada uma das modalidades de escrita os aspectos
que melhor favorecem
c) recriar situaccedilotildees comunicativas autecircnticas e propoacutesitos para escrever como
anuacutencios manchetes oraccedilotildees bilhetes cartas notiacutecias entre outros indo dos
mais simples aos mais complexos e
d) buscar audiecircncias verdadeiras para escrever e interlocutores para comentar os
textos redigidos criando situaccedilotildees de modo que os estudantes possam comentar
e criticar o que foi produzido
Diante do exposto procuramos ao longo das aulas dos moacutedulos contemplar nas
atividades os aspectos que podem motivar o aluno a escrever dominando pouco a pouco seu
texto propiciando-lhe a construccedilatildeo de experiecircncias positivas ainda mais porque estaacute em jogo
o despertar da consciecircncia de que a escrita eacute um processo como veremos na seccedilatildeo a seguir
56
33 Escrita como processo
Iniciando com questionamentos como por que eacute difiacutecil aprender a redigir quais satildeo
as maiores dificuldades envolvidas na produccedilatildeo de um texto como as crianccedilas escrevem e se
desenvolvem como redatoras quais os comportamentos caracteriacutesticos dos bons e dos maus
redatores entre outros que foram propostos por Vieira (2005 p 80) para saber mais sobre o
processo de produccedilatildeo de textos na escola
Em cada exerciacutecio de linguagem escrita praticado na escola eacute fundamental prever
para quem se vai escrever As redaccedilotildees escritas ldquopara ningueacutemrdquo que segundo Antunes (2009)
desconsideram o outro sujeito que integra a atividade comunicativa soacute podem resultar no
desinteresse e na ineficiecircncia dos meacutetodos de que somos testemunhas haacute vaacuterias deacutecadas Essa
produccedilatildeo textual ldquopara ningueacutemrdquo de que trata a autora reflete-se nas inseguranccedilas
manifestadas pelos alunos Quando estes escrevem eacute unicamente para o professor porque
visam merecer uma nota e passar de ano Ora se a escrita tem tantas funccedilotildees na sociedade
sendo de ordem praacutetica natildeo faz sentido cristalizaacute-la em fins puramente escolares
A escrita segundo Koch e Elias (2009) pode ter vaacuterios focos De acordo com as
autoras haacute correntes de produccedilatildeo textual que colocam o foco da escrita na liacutengua outras que
focam no escritor e por uacuteltimo na interaccedilatildeo
Com o foco da escrita na liacutengua bastaria tanto ao escritor como ao leitor ter
conhecimento do coacutedigo utilizado no texto sem espaccedilo para implicitudes havendo centraccedilatildeo
na linearidade de modo transparente
Com o foco da escrita no escritor o texto eacute visto como produto loacutegico do
pensamento (representaccedilatildeo mental) do escritor ou seja uma expressatildeo do pensamento e das
intenccedilotildees do autor mas que natildeo leva em conta as experiecircncias e os conhecimentos do leitor
pois natildeo considera a interaccedilatildeo que haacute no processo (KOCH ELIAS 2009 p 33)
No entanto natildeo se deve considerar segundo as autoras o foco apenas no coacutedigo
ou apenas no escritor mas na interaccedilatildeo
Essa eacute a diferenccedila em relaccedilatildeo agraves concepccedilotildees anteriormente descritas visto que a
escrita natildeo eacute compreendida em relaccedilatildeo apenas agrave apropriaccedilatildeo das regras da liacutengua nem
tampouco ao pensamento e intenccedilotildees do escritor mas sim em relaccedilatildeo agrave interaccedilatildeo escritor-
leitor levando em conta eacute verdade as intenccedilotildees daquele que faz uso da liacutengua para atingir o
seu intento sem contudo ignorar que o leitor com seus conhecimentos eacute parte constitutiva desse
processo (KOCH ELIAS 2009 p 34)
57
Desse modo a primeira condiccedilatildeo necessaacuteria ao professor que ensina a redigir eacute que
tenha em mente que a escrita eacute uma atividade comunicativa e que desempenha funccedilotildees cada
vez mais diversificadas no dia a dia de uma sociedade letradardquo (VIEIRA 2005 p 80) Escrever
eacute um ato que requer sentido afinal comunicar-se eacute um ato de interaccedilatildeo social eacute praacutetica eacute
vivecircncia
Os processos psicoloacutegicos ou mentais acionados durante a produccedilatildeo de um texto
natildeo acontecem necessariamente numa ordem loacutegica Podem vir simultaneamente o que pode
levar o redator a sentir que tem conflitos e consequentemente estancar diante dessa dificuldade
inicial
Logo para produzir um texto eacute preciso ter determinados os pontos que indicam
exatamente o que fazer o que facilita o trabalho de qualquer escritor Vieira (2005) considera
que para despertar o prazer de escrever haacute que se levar em conta os seguintes argumentos um
eacute a funcionalidade da escrita jaacute falada anteriormente outro diz respeito agrave proacutepria natureza da
escrita tatildeo distinta da fala
Embora a escrita em papel seja um ato solitaacuterio em que natildeo se conta com a reaccedilatildeo
do interlocutor por causa da proacutepria distacircncia espacial que separa autor e leitor a consciecircncia
da audiecircncia eacute o que impulsiona o texto que estaacute sendo produzido Em outras palavras no ato
de redigir jaacute estaacute inscrito o virtual leitor do texto E eacute essa consciecircncia aparentemente
contraditoacuteria entre ausecircncia e presenccedila do destinataacuterio da mensagem que vai moldar os
procedimentos do redator (VIEIRA 2005 p 82)
Concordamos com Serafini (2003 p17) quando afirma que escrever um texto ldquonatildeo
significa criar por inspiraccedilatildeo divina Eacute um trabalho E para realizar a contento um trabalho eacute
preciso conhecer as regras do jogordquo As regras que a autora propotildee satildeo as seguintes ter um
plano ordenar as ideias organizar o texto corrigir Essa distribuiccedilatildeo das etapas do trabalho
permite que se trabalhe melhor Da mesma forma Koch e Elias (2009 p 37) evidenciam que
[] em sua atividade o escritor recorre a conhecimentos armazenados na memoacuteria
relacionados agrave liacutengua ao saber enciclopeacutedico a praacuteticas interacionais Esses
conhecimentos resultado de inuacutemeras atividades em que nos envolvemos ao longo de
nossa vida deixam entrever a intriacutenseca relaccedilatildeo entre linguagemmundopraacuteticas
sociais (KOCH ELIAS 2009 p 37)
Para Koch e Elias (2009 p 34) a escrita eacute uma atividade que demanda esforccedilo e
as estrateacutegias a seguir
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a) ativaccedilatildeo de conhecimentos sobre os componentes da situaccedilatildeo comunicativa
(interlocutores toacutepico a ser desenvolvido e configuraccedilatildeo textual adequada agrave
interaccedilatildeo em foco)
b) seleccedilatildeo organizaccedilatildeo e desenvolvimento das ideias de modo a garantir a
continuidade do tema e sua progressatildeo
c) ldquobalanceamentordquo entre informaccedilotildees expliacutecitas e impliacutecitas entre informaccedilotildees
ldquonovasrdquo e ldquodadasrdquo levando em conta o compartilhamento de informaccedilotildees com
o leitor e o objetivo da escrita
d) revisatildeo da escrita ao longo de todo o processo guiada pelo objetivo da produccedilatildeo
e pela interaccedilatildeo que o escritor pretende estabelecer com o leitor
Haacute muitas maneiras de percebermos os subprocessos e as habilidades implicadas
na produccedilatildeo de um texto como mostram Serafini (2003) Koch e Elias (2009) Vieira (2005
p84) tambeacutem menciona em sua obra modelos do tipo ldquoensaio esboccedilo ediccedilatildeo e revisatildeordquo
ldquoensaiar escrever e passar a limpordquo ldquoextrapolar e resumirrdquo ldquocoletar e conectarrdquo ldquodesenvoltura
coerecircncia e precisatildeordquo ldquogerarorganizar ideias produzir texto e revisarrdquo ldquoelaboraccedilatildeo expressatildeo
e revisatildeordquo ldquoplanificaccedilatildeo textualizaccedilatildeo revisatildeordquo
Nessa visatildeo processual do ensino da escrita todas essas maneiras convergem para
o consenso de que haacute operaccedilotildees mentais de natureza diferente e conflitante e para fins
pedagoacutegicos eacute interessante separar as atividades de composiccedilatildeo e de transcriccedilatildeo segundo o
conceito de Smith apud Vieira (2005 p 84) ldquoSegundo ele a atividade de compor diz respeito
agrave geraccedilatildeo seleccedilatildeo organizaccedilatildeo de ideias e sua traduccedilatildeo em linguagem Jaacute a atividade de
transcrever refere-se ao ato fiacutesico de registrar as palavrasrdquo
Na praacutetica compor e transcrever satildeo aspectos concorrentes e para a autora a
soluccedilatildeo pedagoacutegica seria separar as duas atividades da seguinte forma
[] primeiro levar o aluno a compor sem se preocupar com a transcriccedilatildeo depois
orientaacute-lo para revisar e reescrever o texto (fazendo-o compreender que a atividade de
revisatildeo faz parte do processo de redigir um texto) Estas colocaccedilotildees jaacute nos permitem
rever os criteacuterios de avaliaccedilatildeo de redaccedilotildees mostrando-nos como estamos equivocados
quando elegemos a correccedilatildeo gramatical e a ortografia como metas principais para a
habilidade de redigir (VIEIRA 2005 p 85)
Assim como ensinar a redigir sob a oacutetica da escrita como processo De iniacutecio tendo
em mente que as operaccedilotildees e habilidades necessaacuterias agrave elaboraccedilatildeo do texto tecircm valor No
entanto o exerciacutecio das habilidades de escrita em separado pode ter a desvantagem de levar o
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aluno a achar que o processo eacute uma atividade fragmentada Para entatildeo evitar essa percepccedilatildeo
eacute preciso aleacutem dos exerciacutecios redigir textos completos
De jaacute temos consciecircncia de que nenhuma abordagem para o ensino da escrita eacute
absoluta Nas palavras de Vieira (2005 p 87)
A redaccedilatildeo requer meacutetodo muacuteltiplo jaacute que envolve diferentes tipos de capacidades e
habilidades E nada substitui o bom senso do professor Assim por exemplo se ele
julgar necessaacuterio reforccedilar determinados padrotildees de texto recorrendo agrave abordagem
imitativa estaraacute procedendo de forma adequada Da mesma maneira poderaacute usar
estrateacutegias de liberaccedilatildeo da linguagem na fase de geraccedilatildeo de ideias ou reforccedilar os
recursos de interaccedilatildeo verbal professor-aluno ou aluno-aluno nas atividades de revisatildeo
de texto (VIEIRA 2005 p 87)
Vieira (2005) sintetiza os pontos importantes para o desenvolvimento da habilidade
de redigir a partir de investigaccedilotildees de Krashen (1984 apud Vieira 2005) na aacuterea
O primeiro ponto eacute a frequecircncia com que se redige Independentemente da
disciplina escrever exige treino constante concentrando o tempo disponiacutevel e em horaacuterio
regular posto que ldquosaber com antecedecircncia quando vamos redigir cria prontidatildeo para a
atividade que comeccedila interiormente bem antes de colocarmos as palavras no papelrdquo (VIEIRA
2005 p 88)
O segundo ponto eacute a correlaccedilatildeo entre leitura e escrita A habilidade de ler
compreensivamente permite que quanto mais se leia mais se observe a composiccedilatildeo dos textos
aprendendo-se a lidar com seus padrotildees de organizaccedilatildeo com as intenccedilotildees do autor e percebendo
como se executam diferentes modalidades de usos da escrita
O terceiro ponto eacute a frequecircncia em ler x a frequecircncia em escrever Vieira (2005)
afirma que estudos que comparam a frequecircncia em ler e a frequecircncia em escrever revelam que
a leitura tem efeito mais forte sobre o desenvolvimento da escrita que a proacutepria frequecircncia com
que se escreve
O quarto ponto eacute a instruccedilatildeo escolar para o ensino da escrita Mais do que qualquer
outra habilidade diz a autora a escrita precisa ser demonstrada Assim as instruccedilotildees que o
professor faz ao texto do aluno durante o processo contribuem para que este faccedila os devidos
ajustes melhorando assim sua habilidade de produzir textos
O quinto ponto eacute o feedback do professor Este ponto ressalta o papel fundamental
do professor nas muacuteltiplas reescrituras por que passa um texto ldquoO ideal eacute que sejam feitos
vaacuterios rascunhos com o professor presente comentando cada estaacutegio intermediaacuteriordquo (VIEIRA
2005 p 89) Suas correccedilotildees precisam ser feitas sobre um aspecto de cada vez especificando
as alteraccedilotildees necessaacuterias nos aspectos de composiccedilatildeo e de transcriccedilatildeo
60
O sexto ponto eacute a instrumentaccedilatildeo gramatical e o desenvolvimento da escrita e trata
do que muito se tem discutido na atual sociedade instruccedilatildeo gramatical desvinculada do uso
praacutetico da linguagem natildeo garante a ningueacutem uma escrita melhor
O seacutetimo e uacuteltimo ponto satildeo os processos de composiccedilatildeo de bons e maus redatores
e diferencia em pelo menos quatro aspectos os que escrevem bem do que os que o fazem mal
Satildeo eles
a) planejamento quem redige bem planeja mais Esse planejamento pode ser
gastando mais tempo pensando tomando notas antes de escreverem
flexibilizando os planos e revisando os esquemas agrave medida que surgem novas
ideias e argumentos Apenas alguns redatores experientes seguem uma ordem
linear planejando primeiro em seguida esboccedilando o texto num rascunho e
enfim revisando ldquoPara a maioria deles o processo de redigir eacute recursivo isto eacute
sujeito a retomadas e alteraccedilotildees em diferentes pontos da produccedilatildeo do textordquo
(VIEIRA 2005 p 91)
b) releitura durante a elaboraccedilatildeo do texto as pausas na escrita para a releitura
permitem manter o senso de totalidade da composiccedilatildeo planejando o que
escrever em seguida e tambeacutem relembrando o que jaacute foi registrado fazendo com
que o texto avance
c) revisatildeo a diferenccedila entre os escritores experientes dos inexperientes eacute a revisatildeo
frequentemente confundida com editoraccedilatildeo A revisatildeo pelos experientes eacute uma
focalizaccedilatildeo do significado servindo para ldquoinventar acrescentar mudanccedilas de
conteuacutedo e para reorganizar longos trechos da composiccedilatildeordquo (VIEIRA 2005 p
94) ao passo que a editoraccedilatildeo normalmente a preocupaccedilatildeo dos inexperientes eacute
a correccedilatildeo gramatical a ortograacutefica e a pontuaccedilatildeo que se feita antes do tempo
quebra o ritmo da escrita deixando de conduzir o fio do pensamento e
d) consciecircncia da audiecircncia fundamental considerando o foco da escrita como
anteriormente dito na interaccedilatildeo Levar em conta o leitor como ele poderaacute
receber as palavras e ideias do texto os conhecimentos que ele precisaraacute ter para
compreender o texto e os interesses que ele tem eacute marca dos escritores que
redigem bem ao contraacuterio dos demais que ldquotendem a ficar presos ao assunto do
texto e a gastar menos tempo pensando no leitor por natildeo terem consciecircncia da
audiecircncia ou por natildeo serem capazes de consideraacute-la na escritardquo (VIEIRA 2005
p 95)
61
Essas etapas apresentadas nesta seccedilatildeo foram fundamentais para o processo
conduzido em nossa SD visto permitir aos alunos tomar consciecircncia dos processos que satildeo
ativados antes e durante a escrita bem como nas etapas de leitura releitura e reescrita sendo
cerne da elaboraccedilatildeo das propostas de produccedilatildeo conforme veremos nas seccedilotildees correspondentes
aos moacutedulos aos encontros e agraves atividades desenvolvidas Para a seccedilatildeo seguinte veremos como
pode ser trabalhada a escrita na escola
34 Escrita na escola
Para antes do iniacutecio do trabalho de escrita no acircmbito escolar o ideal eacute que o
professor tenha em mente para definir com clareza junto aos seus alunos na tarefa que deveraacute
ser desenvolvida os seguintes pontos segundo Serafini (2003) destinataacuterio objetivo do texto
gecircnero do texto papel do redator objeto da redaccedilatildeo comprimento da redaccedilatildeo criteacuterios de
avaliaccedilatildeo Desse modo
a) o destinataacuterio eacute a pessoa para a qual se escreve ou seja o leitor Como as
produccedilotildees satildeo feitas no contexto escolar para que o aluno-escritor natildeo dirija seu
texto somente ao professor eacute importante nos comandos de produccedilatildeo esclarecer
qual eacute ou deve ser o perfil de leitor para quem se escreve
b) o objetivo de um texto precisa ser claro pois a ele se atrela a avaliaccedilatildeo do
mesmo no caso do contexto escolar Aliaacutes um texto pode ter mais de um
objetivo e isso precisa ser ponto claro entre o professor e o aluno
c) a escolha do gecircnero eacute entatildeo essencial para o desenvolvimento do texto por
permitir a realizaccedilatildeo deste com um estilo muito marcante O gecircnero permite
inclusive compreender qual eacute o papel do redator na produccedilatildeo para assim
inserir-se ou retirar-se no texto
d) o objeto da redaccedilatildeo para a autora deveria ser deduzido do tiacutetulo da redaccedilatildeo (que
entendemos atualmente como o direcionamento do tema) e explica que assim
como haacute comandos que expotildeem detalhadamente o objeto da redaccedilatildeo haacute tambeacutem
os que pouco oferecem explicaccedilotildees e que conveacutem em casos como esse que o
aluno explique ldquonuma introduccedilatildeo como seratildeo interpretados os termos do
problema propostordquo (SERAFINI 2003 p 28)
e) a extensatildeo do texto depende essencialmente do objetivo da disponibilidade de
tempo da capacidade e da rapidez de quem escreve Entendemos aqui que haacute
62
gecircneros que permitem maior extensatildeo que outros No contexto escolar
normalmente noacutes professores por razotildees de ordem praacutetica do dia a dia pedimos
textos com limite de linhas ou paraacutegrafos
f) finalmente os criteacuterios de avaliaccedilatildeo do professor ajudam o aluno a ldquocanalizar a
proacutepria energia na direccedilatildeo certardquo (SERAFINI 2003 p 29) Como parte do
trabalho com sequecircncia didaacutetica haacute o partilhamento dos criteacuterios trabalhados
do vocabulaacuterio teacutecnico e das caracteriacutesticas a serem encontradas nos textos
produzidos facilitando a vida do aluno quanto ao que colocar no texto e
clareando para o professor o que ele pode esperar desse texto
Desse modo para o escritor que se vecirc diante do papel em branco
independentemente do que vaacute escrever eacute preciso antes empenhar seu tempo e esforccedilo em duas
etapas fundamentais a criaccedilatildeo de ideias para assim passar agrave produccedilatildeo do texto
A separaccedilatildeo consiste em primeiramente levar o aluno a compor sem a
preocupaccedilatildeo com a transcriccedilatildeo Em seguida orientaacute-lo para que faccedila a revisatildeo e a reescrita do
texto colocando-lhe de modo expliacutecito que a revisatildeo eacute parte do processo de redigir um texto
A etapa de criaccedilatildeo das ideias eacute aquela em que o autor pode ldquoatirarrdquo palavras-chave
protoacutetipos de paraacutegrafos de personagens de ambientes de sequecircncias de acontecimentos sem
o fantasma da censura agrave criatividade Aliaacutes eacute nesse momento que pode surgir uma ldquogrande
sacadardquo cujo valor do registro possa vir a ser recompensador Nas palavras de Serafini (2003
p 31) a ldquofolha de papel na qual listamos os dados recolhidos cumpre a funccedilatildeo de prolongamento
da memoacuteria no mundo visiacutevel eacute mais faacutecil escolher num elenco fisicamente visiacutevel que num
iacutendice feito mentalmenterdquo
A coleta das ideias que surgiram ao ser terminada pede a decisatildeo do que e como
usar no texto Para os textos literaacuterios que satildeo objeto de nossa pesquisa um passo necessaacuterio
na estruturaccedilatildeo de Serafini (2003) eacute a identificaccedilatildeo do ponto de vista
Os textos descritivo-narrativos natildeo apresentam ideias predominantes mas contam
fatos e descrevem lugares e pessoas A estrutura desses textos natildeo eacute mais dada por uma ideia
a tese mas pelo ponto de vista isto eacute pelo acircngulo de perspectiva do qual satildeo mostrados fatos
e objetos Nas histoacuterias complexas e nos romances o ponto de vista pode tambeacutem mudar
(SERAFINI 2003 p 45)
Nas palavras da autora ldquo[] para fazer uma boa descriccedilatildeo de um objeto ou lugar
devemos escolher um ponto de vista fica por conta de nossa sensibilidade selecionar um ponto
de vista interessante eficaz e quem sabe originalrdquo (SERAFINI 2003 p47) Entatildeo para um
63
texto narrativo que conta uma histoacuteria natildeo existe um modo objetivo de narrar mas um acircngulo
de perspectiva Completando o pensamento de Serafini Koch e Elias declaram que o como
dizer o que se quer dizer eacute revelador de que a escrita eacute um processo que envolve escolha de um
gecircnero textual em consonacircncia com as praacuteticas sociais seleccedilatildeo organizaccedilatildeo e revisatildeo das ideias
para os ajustesreajustes necessaacuterios tendo em vista a eficiecircncia e a eficaacutecia da comunicaccedilatildeo
(KOCH ELIAS 2009 p 36)
Apoacutes a seleccedilatildeo das ideias de sua organizaccedilatildeo e da escolha do ponto de vista o
escritor pode efetivamente passar agrave produccedilatildeo Tudo o que foi feito para despertar coloquemos
assim o escritor para o labor com seu texto eacute uma hipoacutetese do trabalho final visto que ao
comeccedilar a escrever novas ideias vatildeo surgindo E como nos lembra Serafini (2003 p 54) ldquo[]
quem se propotildee a ensinar a escrever na escola brasileira atual geralmente encontra problemas
porque natildeo tem agrave disposiccedilatildeo um modelo uacutenico de liacutengua nem uma tradiccedilatildeo de didaacutetica da
redaccedilatildeo que privilegie um dos diversos estilos possiacuteveisrdquo Frases longas ou curtas discurso
direto ou indireto ou mesmo o indireto livre tudo satildeo escolhas com as quais o aluno-escritor
vai se familiarizar ao longo de sua jornada escolar pouco a pouco conforme suas experiecircncias
de leitura e praacutetica com a escrita progredindo do paraacutegrafo mais simples ao mais complexo A
autora assim define o que eacute paraacutegrafo
O paraacutegrafo eacute uma quantidade de texto delimitada por um ponto final o texto continua
a se desenvolver na outra linha afastado da margem Ele pode conter vaacuterios periacuteodos
separados por pontos e por viacutergulas O que importa eacute garantir que a cada paraacutegrafo
corresponda uma uacutenica ideia de roteiro Esta colocaccedilatildeo tiacutepica do mundo anglo-saxatildeo
e americano pode parecer excessivamente mecanicista e simplista Com efeito eacute
justificada soacute no niacutevel didaacutetico para aqueles estudantes que tecircm grandes dificuldades
para escrever Este meacutetodo aliaacutes deve ser assumido como hipoacutetese de trabalho mas
deve ser revisto agrave medida que se adquire familiaridade com a liacutengua Em nome de
uma melhor organizaccedilatildeo do texto eacute possiacutevel por exemplo reagrupar mais de uma
ideia do roteiro num uacutenico paraacutegrafo ou associar agrave mesma ideia mais paraacutegrafos
(SERAFINI 2003 p 55)
Desse modo se fizermos um pequeno quadro com a finalidade de melhor visualizar
as possibilidades de organizaccedilatildeo do texto em paraacutegrafos o que pode ajudar os alunos temos
Quadro 3 ndash Como organizar as ideias em paraacutegrafos
1 ideia 1 paraacutegrafo
2 ou mais ideias 1 paraacutegrafo
1 ideia 2 ou mais paraacutegrafos
Fonte adaptado de SERAFINI (2003)
64
Por razotildees didaacuteticas Serafini (2003) classifica trecircs principais tipos de paraacutegrafo
com caracteriacutesticas especiacuteficas o paraacutegrafo narrativo que eacute constituiacutedo por uma sequecircncia de
afirmaccedilotildees-informaccedilotildees que natildeo precisam de garantia4 e eacute onde os fatos satildeo expostos em ordem
cronoloacutegica o paraacutegrafo descritivo que conteacutem objetos lugares e pessoas geralmente
constituiacutedo soacute pela afirmaccedilatildeo e pela informaccedilatildeo dispensando a garantia e finalmente o
paraacutegrafo expositivo-argumentativo mais complexo que os anteriores apresenta em geral todas
as caracteriacutesticas do modelo de Toulmin (cf nota 8) e que apresenta uma tese com os dados e
as observaccedilotildees que podem ser uacuteteis para convencer o leitor de sua validade
Ainda na classificaccedilatildeo do paraacutegrafo narrativo tambeacutem chamado de cronoloacutegico
Serafini nos mostra um caso particular de apresentaccedilatildeo de uma sequecircncia de fatos o que inclui
o flash-back que eacute a interrupccedilatildeo na sequecircncia cronoloacutegica ldquointroduzindo fatos anteriores uacuteteis
agrave compreensatildeo da narrativa Embora natildeo seja tatildeo natural eacute possiacutevel interromper uma sequecircncia
temporal para incluir fatos que aconteceratildeo depoisrdquo (SERAFINI 2003 p 58)
Um outro caso de paraacutegrafo narrativo ou cronoloacutegico eacute o que apresenta um
procedimento Procedimentos ldquosatildeo todas as sequecircncias de accedilotildees que devem ser cumpridas para
se obter certo resultadordquo (SERAFINI 2003 p 59) por exemplo a enumeraccedilatildeo das etapas
necessaacuterias ao preparo de uma torta A descriccedilatildeo correta do procedimento requer que natildeo se
inverta a ordem de suas operaccedilotildees elementares
O paraacutegrafo descritivo segundo a autora eacute importante ldquo[] para envolver o leitor
na histoacuteria convencecirc-lo da tese ou tornar-lhe a leitura mais concreta e vivardquo (SERAFINI 2003
p 58) Dessa forma eacute interessante que os personagens ambientes e objetos natildeo sejam apenas
mencionados mas apresentados com riqueza de detalhes A generalizaccedilatildeo pode deixar o leitor
indiferente ao passo que descriccedilotildees detalhadas podem vir a interessar envolver e mesmo
emocionar
Frequentemente quem natildeo tem grande experiecircncia de escrita considera as
descriccedilotildees oacutebvias e as abandona porque tende a atribuir ao leitor os seus proacuteprios
conhecimentos e experiecircncias As crianccedilas em geral se aborrecem ao ler as descriccedilotildees e agraves vezes
pulam o trecho descritivo porque satildeo mais pela trama do que pela apresentaccedilatildeo dos ambientes
e das caracteriacutesticas fiacutesicas e psicoloacutegicas dos protagonistas Entretanto agrave medida que
4 Serafini (2003 p 56-57) apresenta o modelo de Toulmin que examina quais satildeo as caracteriacutesticas de um
paraacutegrafo que o tornam convincente isto eacute que levem o leitor a compartilhar da mesma tese Satildeo elas a afirmaccedilatildeo
que apresenta a ideia principal do paraacutegrafo a informaccedilatildeo que conteacutem os dados que apoiam a afirmaccedilatildeo e a
garantia que eacute a ligaccedilatildeo entre a afirmaccedilatildeo e a informaccedilatildeo e mostra a importacircncia da informaccedilatildeo para apoiar a
asserccedilatildeo Ex Artur estaacute nervoso sua e ri sem parar Afirmaccedilatildeo Artur estaacute nervoso Informaccedilatildeo sua e ri sem
parar Garantia (subentendida) suar e rir sem parar satildeo sinais tiacutepicos de nervosismo
65
estimulam a sensibilidade em relaccedilatildeo aos textos elas vatildeo se dando conta de que natildeo eacute soacute a accedilatildeo
que torna interessante a histoacuteria Eacute tarefa do professor desenvolver essa sensibilidade e esse
gosto em vez de se fixar apenas nos aspectos narrativos de um texto (SERAFINI 2003 p 63)
Serafini (2003) tambeacutem trata da importacircncia dos paraacutegrafos que conduzem as
introduccedilotildees nos textos A autora classifica as introduccedilotildees em introduccedilatildeo-enquadramento e
introduccedilatildeo para chamar a atenccedilatildeo
A introduccedilatildeo-enquadramento enquadra o tema proposto na instruccedilatildeo para a
produccedilatildeo textual realccedilando sua importacircncia e agraves vezes ateacute antecipando o que seraacute
desenvolvido no corpo do texto ldquoUma introduccedilatildeo muito comum eacute aquela em que o estudante
coloca questotildees agraves quais pretende responder agrave medida que vai desenvolvendo o textordquo
(SERAFINI 2003 p 72) Normalmente utilizada entre os estudantes segundo a autora eacute
caracteriacutestica de quem natildeo faz planejamento e comeccedila a escrever seu texto sem saber o que vai
colocar em seu desenvolvimento mas tambeacutem por quem pretende reelaborar e expandir o
tiacutetulo5
A introduccedilatildeo para chamar a atenccedilatildeo segundo a autora pretende atrair a atenccedilatildeo e
o interesse do leitor utilizando frases de efeito citaccedilotildees informaccedilotildees curiosas exemplos
concretos que antecipam problemaacuteticas a serem desenvolvidas no corpo do texto e envolvem
emocionalmente o leitor exemplificaccedilotildees em primeira pessoa pois ldquoos problemas concretos
narrados na primeira pessoa atraem mais a curiosidade do que aqueles apresentados de modo
abstratordquo (SERAFINI 2003 p 74)
Ao final de sua primeira versatildeo de texto o alunoescritor tende a fazer uma raacutepida
releitura normalmente pouco criacutetica O ideal eacute que seu texto possa ser apreciado pelos colegas
de sala para que sejam feitas sugestotildees Quando a revisatildeo for desenvolvida pelo proacuteprio autor
5 Os tiacutetulos poderiam ser classificados segundo Serafini (2003) em trecircs grandes categorias o tiacutetulo-frase-de-
efeito o tiacutetulo-estiacutemulo-aberto e o tiacutetulo-roteiro O tiacutetulo-frase-de-efeito ldquoeacute geralmente agradaacutevel arguto suscita
a admiraccedilatildeo do leitor pode ser provocativo mas natildeo necessariamente profundordquo (p100) trazendo geralmente
citaccedilotildees de personagens importantes ou as afirmaccedilotildees categoacutericas do professor Por exemplo ldquoJaacute natildeo haacute matildeos
dadas no mundordquo (Drummond - Unesp) ou ldquoQuando vocecirc for martelo lembre-se que jaacute foi pregordquo (pichaccedilatildeo de
parede utilizada na Unesp) Os tiacutetulos-estiacutemulo-aberto ldquopropotildeem um tema de modo muito geneacuterico e neutro e datildeo
mais liberdade ao estudanterdquo (p101) Por exemplo ldquoViver hojerdquo (Santa Casa-SP) ldquoA televisatildeordquo (Poli-USP)
Finalmente os tiacutetulos-roteiro ldquonatildeo soacute propotildeem um tema como no grupo precedente mas tambeacutem oferecem uma
seacuterie de pontos de vista de problemas que devem ser analisados fornecendo jaacute a pauta do desenvolvimentordquo
(p101) A autora explica que enquanto um tiacutetulo-estiacutemulo-aberto seria ldquoA televisatildeordquo o tiacutetulo-roteiro solicitaria
ldquoDescreva os efeitos positivos e negativos que a televisatildeo causa sobre os jovens da sua geraccedilatildeo Cite especialmente
os programas mais interessantes e os mais aborrecidos de que vocecirc se recorda procurando explicar os efeitos
positivos ou negativos que cada um teve no seu desenvolvimentordquo (p101-102) O que chamamos ao longo de
nosso texto de instruccedilatildeo se aproximaria mais do que Serafini chama de tiacutetulo-roteiro por jaacute determinar que
informaccedilotildees a produccedilatildeo textual deve conter poreacutem noacutes atribuiacutemos mais caracteriacutesticas ao que eacute pedido aos alunos
a cada produccedilatildeo como os comandos que determinam que gecircnero textual seraacute trabalhado a extensatildeo do texto a
audiecircncia o objetivo a temaacutetica e outros itens que devem estar presentes na produccedilatildeo conforme a aula e o moacutedulo
66
eacute interessante haver um hiato de tempo entre a primeira escrita e a revisatildeo para que as ideias
se clareiem e possam ser postas na forma apropriada
Trabalhar a abordagem da escrita como processo lanccedila luz sobre as operaccedilotildees e as
habilidades necessaacuterias agrave elaboraccedilatildeo do texto priorizando-as mais do que ao produto final
obtido o que simplifica a escrita para fins de ensino por tratar dos componentes do processo
isoladamente treinando-os separadamente
Na verdade nenhuma abordagem para o ensino da escrita eacute exclusiva A redaccedilatildeo
requer meacutetodo muacuteltiplo jaacute que envolve diferentes tipos de capacidades e habilidades E nada
substitui o bom senso do professor Assim por exemplo se ele julgar necessaacuterio reforccedilar
determinados padrotildees de texto recorrendo agrave abordagem imitativa estaraacute procedendo de forma
adequada Da mesma maneira poderaacute usar estrateacutegias de liberaccedilatildeo da linguagem na fase de
geraccedilatildeo de ideias ou reforccedilar os recursos de interaccedilatildeo verbal professor-aluno ou aluno-aluno
nas atividades de revisatildeo de textos (VIEIRA 2005 p 87)
No entanto para Vieira (2005) esse exerciacutecio em separado das habilidades da
escrita natildeo dispensa a redaccedilatildeo de textos completos devendo o professor cuidar para que o
processo de escrita natildeo perca seu caraacuteter integral devido agraves atividades fragmentadas
35 Letramento literaacuterio
Acreditamos que para o desenvolvimento de nosso trabalho eacute importante ter em
mente que para escrever melhor para saber o que inserir em seu texto o aluno deve aguccedilar seu
olhar para o que vai nos textos de outrem ndash em nosso caso os que foram escolhidos para compor
a sequecircncia ndash e como foram ditas as coisas que laacute estatildeo inseridas Dessa forma desenvolvemos
em nossos moacutedulos praacuteticas que abordam aleacutem da praacutetica da escrita como processo o
letramento literaacuterio posto que a visatildeo que o inclui extrapola as simples leituras e anaacutelises das
palavras discutindo conceitos que compotildeem o acervo cultural dos alunos a partir das ideias
presentes nos textos
Para Cosson (2016 p23) ldquoa literatura natildeo estaacute sendo ensinada para garantir a
funccedilatildeo essencial de construir e reconstruir a palavra que nos humanizardquo O autor afirma que se
pode trazer ao aluno uma experiecircncia de leitura a ser compartilhada ampliando-a com
informaccedilotildees especiacuteficas do campo literaacuterio e ateacute fora dele A maneira de ensinar precisa ser
organizada segundo os objetivos da formaccedilatildeo do aluno evidentemente mas sem o abandono
do prazer de ler Compreende assim que o letramento literaacuterio eacute uma praacutetica social e como
67
tal responsabilidade da escola que deve cumpri-la sem descaracterizaacute-la sem negar mas
confirmando o poder de humanizaccedilatildeo da literatura
Para promover o letramento literaacuterio Cosson nos conduz a questionar e
desconstruir pressuposiccedilotildees sobre leitura e literatura enraizadas no senso comum A primeira eacute
que os livros falam por si mesmos ao leitor Ora ldquoos livros como os fatos jamais falam por si
mesmos O que os fazem falar satildeo os mecanismos de interpretaccedilatildeo que usamos e grande parte
deles satildeo aprendidos na escolardquo (2016 p 26) Ensinar a explorar o texto natildeo eacute criar uma barreira
entre elas e o leitor mas ajudar o leitor a manipular os textos dominando o discurso literaacuterio
Outra pressuposiccedilatildeo eacute que ler eacute um ato solitaacuterio Para o autor mais que o
movimento individual dos olhos ler implica uma troca de sentidos o que envolve escritor
leitor e sociedade em que ambos estatildeo localizados ldquopois os sentidos satildeo resultado de
compartilhamentos de visotildees do mundo entre os homens no tempo e no espaccedilordquo (2016 p 27)
Quando compreender isto o leitor alcanccedilaraacute um real significado na leitura
Tambeacutem uma pressuposiccedilatildeo eacute a ideia de que eacute impossiacutevel expressar o que sentimos
na leitura dos textos literaacuterios Esse eacute outro equiacutevoco que trata a leitura literaacuteria como uma
atividade tatildeo individual que natildeo poderia ser compartilhada Pelo contraacuterio conforme o autor o
efeito de proximidade que o texto literaacuterio traz eacute resultado do diaacutelogo que travamos com o
mundo e com os outros inseridos que estamos em uma sociedade O que levamos ao texto eacute
mais uacutenico do que o que ele nos oferece o que explica as diferentes leituras que fazemos do
mesmo texto em diferentes etapas de nossas vidas
A uacuteltima pressuposiccedilatildeo de que trata o autor eacute que ldquoa leitura literaacuteria praticada na
escola tambeacutem chamada anaacutelise literaacuteria destruiria a magia e a beleza da obra ao revelar seus
mecanismos de construccedilatildeordquo (COSSON 2016 p 28) Para Cosson a literatura mantida ldquoem
adoraccedilatildeordquo torna-se estranha ao leitor ao passo que a leitura literaacuteria que lhe fornece ferramentas
para exploraccedilatildeo do texto o convida agrave interaccedilatildeo como um processo de comunicaccedilatildeo
O autor conclui que se quisermos formar leitores capazes de experienciar toda a
forccedila humanizadora da literatura natildeo basta apenas ler com vistas a criar um haacutebito de leitura
mas fornecer-lhes ldquoos instrumentos necessaacuterios para conhecer e articular com proficiecircncia o
mundo feito linguagemrdquo (COSSON 2016 p 30)
Nossa seleccedilatildeo de textos para a SD foi inspirada em temas que os alunos costumam
observar na vida diaacuteria Tivemos preferecircncia por textos que circulam em meio eletrocircnico
extraiacutedos de sites blogs e de redes sociais ou seja contemporacircneos e com temas atuais Cosson
(2016 p34) distingue os dois termos que normalmente satildeo usados como sinocircnimos na
68
adjetivaccedilatildeo da produccedilatildeo literaacuteria da seguinte forma ldquo[] obras contemporacircneas satildeo aquelas
escritas e publicadas em meu tempo e obras atuais satildeo aquelas que tecircm significado para mim
em meu tempo independentemente da eacutepoca de sua escrita ou publicaccedilatildeordquo
Fizemos uma seleccedilatildeo preacutevia dos textos mas agrave medida em que as aulas avanccedilavam
abrimos a perspectiva para assuntos que eram mencionados em sala e trouxemos outros textos
inclusive publicados em livros variando as autorias poreacutem mantendo ainda o dinamismo e a
contemporaneidade Esse material se encontra na seccedilatildeo correspondente
69
4 NATUREZA E PROCEDIMENTOS DA PESQUISA
Apresentaremos nas seccedilotildees seguintes a metodologia e os procedimentos adotados
em nossa pesquisa realizada em uma escola puacuteblica municipal de Satildeo Luiacutes Maranhatildeo
41 Contexto da pesquisa
A pesquisa foi desenvolvida em uma das turmas de 9ordm ano de uma unidade de
educaccedilatildeo baacutesica municipal de ensino fundamental de 1ordm a 9ordm anos A escola tem um anexo
proacuteximo onde funcionam turmas de 1ordm ano (3 salas) Situa-se na aacuterea Itaqui-Bacanga em um
bairro considerado de difiacutecil acesso por sua pouca oferta de ocircnibus no municiacutepio de Satildeo Luiacutes
capital do Maranhatildeo ilha de Upaon-Accedilu
Antes pouco populoso o bairro tem aumentado de tamanho pela chegada de
moradores alguns oriundos de diversas cidades do interior mas tambeacutem vindos de outros
bairros pois algumas melhorias para a valorizaccedilatildeo da aacuterea tecircm acontecido como a construccedilatildeo
da escola e recentemente a quadra de esportes em sua aacuterea do posto de sauacutede da associaccedilatildeo
onde ocorre a conhecida Festa da Macaxeira e mais recentemente a criaccedilatildeo de um conjunto
residencial do programa do governo federal Minha Casa Minha Vida
No turno matutino nesta escola funciona o ensino fundamental (EF) ndash anos iniciais
(1ordm ao 5ordm ano) e no vespertino o EF ndash anos finais (6ordm ao 9ordm ano) sendo 2 turmas de 6ordm ano 2
turmas de 7ordm ano 2 turmas de 8ordm ano e 1 turma de 9ordm ano
Segundo os indicadores contextuais da Prova Brasil o niacutevel socioeconocircmico da
escola estaacute em meacutedio baixo O indicador de adequaccedilatildeo da formaccedilatildeo docente6 que analisa a
formaccedilatildeo dos docentes que lecionam nos finais do EF na escola eacute 85 Observando as meacutedias
de proficiecircncia em relaccedilatildeo agraves meacutedias das escolas do Brasil do Maranhatildeo e de Satildeo Luiacutes
comparando-as agrave nossa escola temos
6 Apresenta o percentual de disciplinas em cada etapa que satildeo ministradas por professores com formaccedilatildeo superior
de Licenciatura (ou Bacharelado com complementaccedilatildeo pedagoacutegica) na mesma disciplina que leciona Fonte e site
para consulta
httpsistemasprovabrasilinepgovbrprovaBrasilResultadosviewboletimDesempenhoboletimDesempenhosea
m Acesso em 3 de janeiro de 2018
70
Graacutefico 1 ndash Resultados IDEB 2015
Fonte INEP (2018))
O graacutefico acima mostra que o desempenho da escola ficou abaixo das meacutedias de
proficiecircncia em Liacutengua Portuguesa em leitura do Paiacutes em 2015 No entanto estaacute acima das
meacutedias do estado e do municiacutepio ludovicense que apresentaram indicadores 23093 e 23915
respectivamente A escola obteve 24034 ou seja pouco mais de um ponto acima o que natildeo
deixa de ser uma conquista para a gestatildeo e o corpo docente visto todos os entraves no processo
educacional Aleacutem do que se observarmos os indicadores de proficiecircncia em LP no 9ordm ano na
escola ao longo das trecircs uacuteltimas ediccedilotildees da Prova Brasil veremos que tem havido um progresso
como constatamos a seguir
Graacutefico 2 ndash Desempenho da escola nas ediccedilotildees da Prova Brasil
Fonte INEP (2018)
215
220
225
230
235
240
245
2011 2013 2015
Desempenho da escola nas ediccedilotildees da Prova Brasil
220
225
230
235
240
245
250
255
Brasil Maranhatildeo Satildeo Luiacutes Nossa escola
Resultados IDEB 2015
71
Os niacuteveis de proficiecircncia em Liacutengua Portuguesa classificados pela Prova Brasil
satildeo 9 (nove) e avaliam a capacidade de leitura dos alunos O desempenho por niacutevel de
proficiecircncia7 da turma de 9ordm ano no IDEB8 a seguir eacute referente ao ano de 2015
Graacutefico 3 ndash Distribuiccedilatildeo percentual dos alunos do 9ordm Ano do EF por niacutevel de proficiecircncia - Liacutengua Portuguesa
Fonte INEP (2018)
Para a aplicaccedilatildeo da SD foi escolhida a turma do 9ordm ano do ano letivo de 2017 que
contava com 46 alunos no iniacutecio do ano no turno vespertino Ao longo do ano alguns alunos
trancaram matriacutecula eou foram transferidos resultando no nuacutemero de 43 alunos frequentes ao
final do ano letivo O puacuteblico tem entre 14 e 15 anos em sua maior parte Por ser uma turma
que antecede o ingresso no ensino meacutedio eacute-lhe dispensada atenccedilatildeo especial no que tange a
projetos e preparaccedilatildeo para a seleccedilatildeo na etapa posterior da Educaccedilatildeo Baacutesica
A carga horaacuteria da disciplina Liacutengua Portuguesa eacute de 5 horas-aula por semana sem
divisatildeo formal interna de assuntos havendo flexibilidade para o trabalho com leitura produccedilatildeo
textual gramaacutetica e projetos tanto internos agrave escola como parcerias externas com essa
7 Os niacuteveis de proficiecircncia descritos pelo Inep encontram-se nos anexos deste trabalho 8 IDEB eacute o Iacutendice de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica criado pelo Inep em 2007 cuja escala vai de zero a
dez O indicador eacute calculado a partir dos dados sobre aprovaccedilatildeo escolar obtidos no Censo Escolar e meacutedias de
desempenho nas avaliaccedilotildees do Inep o Saeb e a Prova Brasil A fonte e o site oficial para consulta estatildeo disponiacuteveis
em lt httpportalinepgovbrwebportal-idebgt
000
500
1000
1500
2000
2500
3000
Niacutevel 0 Niacutevel 1 Niacutevel 2 Niacutevel 3 Niacutevel 4 Niacutevel 5 Niacutevel 6 Niacutevel 7 Niacutevel 8
Distribuiccedilatildeo percentual dos alunos do 9ordm Ano do EF por niacutevel de
proficiecircncia em 2015- Liacutengua Portuguesa
Nossa escola Escolas Similares
72
A opccedilatildeo por trabalhar a pesquisa nessa turma deu-se por ser a seacuterie que se prepara
para avanccedilar para o ensino meacutedio podendo assim ter um reforccedilo em sua competecircncia
discursiva atraveacutes da praacutetica da leitura e da produccedilatildeo escrita como processo
Ao mesmo tempo eacute importante que os alunos se interessem mais e mais por leitura
e sabendo que este puacuteblico natildeo aprecia leituras longas como as dos romances por exemplo a
crocircnica literaacuteria eacute uma excelente sugestatildeo por suas temaacuteticas que em vaacuterios exemplos eacute
proacutexima da realidade do aluno aleacutem de contar com textos breves e dinacircmicos
Por fim era de interesse da escola que os alunos dessa turma saiacutessem do ensino
fundamental com seguranccedila no que se refere a produzir textos escritos em gecircneros especiacuteficos
de uso cotidiano acionando assim conhecimentos que foram aprofundados e consolidados nas
aulas de anos anteriores
42 Participantes
Os sujeitos participantes da pesquisa satildeo alunos que frequentam a turma do 9ordm ano
no turno vespertino do ano letivo de 2017 na escola da rede puacuteblica municipal de ensino de
Satildeo Luiacutes no Maranhatildeo Em sua maioria residem na aacuterea que abrange o Argola e Tambor o
Gapara a Cidade Nova e adjacecircncias A maioria dos alunos tendo em vista sua idade apenas
estuda e mora com os pais eou responsaacuteveis
Ao longo do ano letivo a turma teve algumas alteraccedilotildees em seu puacuteblico com dois
estudantes que pediram transferecircncia de escola e outro que trancou a matriacutecula Assim
frequentando efetivamente as aulas foram 43 (quarenta e trecircs) alunos No entanto dentre esses
apenas uma meacutedia de 20 (vinte) alunos se interessou em participar do projeto de escrita
A turma em si eacute caracterizada pelos proacuteprios alunos bem como por professores
como composta por um puacuteblico cuja falta de interesse e de motivaccedilatildeo de vaacuterios estudantes
prejudica aqueles que desejam realmente se dedicar A sala eacute muito cheia e devido agrave natural
predisposiccedilatildeo que tecircm os adolescentes para a distraccedilatildeo e a conversa em vaacuterios momentos eacute um
desafio para se conseguir sua atenccedilatildeo e envolvimento nas atividades Percebemos nos contatos
iniciais com a turma completa que satildeo poucos infelizmente que demonstram real empenho
em participar
73
Os alunos que optaram por integrar o projeto desenvolveram as atividades propostas
em cinco moacutedulos realizadas em 11 (onze) encontros de 2 (duas) horas-aula cada9 durante os
meses de outubro a dezembro conforme cronograma previsto
43 Materiais
O material analisado na pesquisa eacute constituiacutedo pelos textos produzidos pelos alunos
que participaram de todas as atividades desta sequecircncia Portanto para a anaacutelise consideramos
apenas 13 (treze) alunos no total
Para a composiccedilatildeo do trabalho denominamos os textos produzidos nesta SD da
seguinte forma
a) produccedilatildeo inicial A (PI-A) realizada apoacutes 3 (trecircs) encontros com um total de 4
(quatro) horasaula constando atividades de leitura de crocircnicas que serviram
como norte para a primeira escrita dos alunos fazendo uma breve sensibilizaccedilatildeo
de caracteriacutesticas do gecircnero
b) produccedilatildeo final A (PF-A) realizada apoacutes o segundo moacutedulo da sequecircncia
reescrevendo a PI-A texto sem circulaccedilatildeo social mas com o intuito de
desenvolver a competecircncia comunicativa do aluno
c) produccedilatildeo inicial B (PI-B) realizada apoacutes os moacutedulos 3 (trecircs) e 4 (quatro) jaacute
visando a circulaccedilatildeo social do texto
d) produccedilatildeo final B (PF-B) realizada apoacutes o moacutedulo 5 (cinco) quando os alunos
tivessem aperfeiccediloado sua competecircncia comunicativa escrita e se apropriado do
gecircnero estudado cumprindo o propoacutesito comunicativo da proposta de produccedilatildeo
visando a divulgaccedilatildeo do texto
Para a realizaccedilatildeo da produccedilatildeo inicial utilizamos coacutepias de uma crocircnica
acompanhada de uma proposta de produccedilatildeo elaborada de acordo com a temaacutetica do texto e
associada agrave realidade dos alunos contextualizando uma possibilidade de ligar o mundo real ao
mundo virtual e uma coacutepia da folha de produccedilatildeo textual a ser utilizada em nosso projeto
Durante o desenvolvimento dos moacutedulos da SD utilizamos coacutepias dos textos e
atividades propostas distribuiacutedas individualmente Tambeacutem foi feito o uso do quadro branco
9 Agrave exceccedilatildeo dos dois primeiros encontros de 1 horaaula cada um
74
incel e apagador e de algumas imagens impressas em folha sulfite para ilustrar o conteuacutedo de
algumas crocircnicas de acordo com o planejamento de cada encontro
Para que houvesse a etapa poacutes sequecircncia didaacutetica que corresponde agrave circulaccedilatildeo
social do texto no gecircnero produzido os alunos que desejaram realmente publicar seus escritos
dentro do gecircnero crocircnica literaacuteria produziram um material especiacutefico para tal (PF-B) a partir
da escolha de temaacuteticas que agradaram a cada um individualmente Esse material que tambeacutem
constaraacute de nossa pesquisa corresponde aos textos de 4 (quatro) alunos apenas e
apresentaremos na seccedilatildeo destinada as produccedilotildees iniciais (PI-B) uma primeira reescrita e por
fim as produccedilotildees finais (PF-B)
44 Procedimentos
Antes de aplicarmos a SD com os alunos realizamos momentos de socializaccedilatildeo da
seguinte forma explicamos a importacircncia do projeto agrave direccedilatildeo da escola aos professores e aos
pais dos alunos da turma escolhida para a execuccedilatildeo do projeto visando o fortalecimento da
proposta Com os professores foi feito um momento de reuniatildeo uma semana antes do iniacutecio do
projeto Com os pais realizamos uma reuniatildeo para a socializaccedilatildeo e igualmente para pedir seu
apoio no incentivo agrave participaccedilatildeo dos alunos Infelizmente foram poucos os pais responsaacuteveis
que compareceram agrave reuniatildeo situaccedilatildeo que ocorre normalmente quando se datildeo as reuniotildees de
pais e mestres na escola
Foram realizados 11 (onze) encontros de duas horas-aula (de cinquenta minutos
cada uma) que ocorreram entre os meses de setembro e novembro de 2017 Entre a primeira
fase que compreende a socializaccedilatildeo do projeto e a busca pela adesatildeo as primeiras leituras e a
produccedilatildeo inicial A totalizando 3 (trecircs) encontros num total de 4 horasaula e o iniacutecio da
segunda fase que compreende os moacutedulos propriamente ditos do processo de escrita ateacute a
produccedilatildeo final A num total de 3 (trecircs) encontros houve um intervalo de aproximadamente 1
(um) mecircs tempo destinado agrave apreciaccedilatildeo da PI-A anaacutelise e elaboraccedilatildeo dos moacutedulos da
sequecircncia de atividades Para a posterior culminacircncia que coloca os textos em circulaccedilatildeo social
houve mais 5 (cinco) encontros agora com um puacuteblico mais reduzido que realmente desejava
publicar suas produccedilotildees
Destinamos dois horaacuterios agraves terccedilas-feiras que estavam ociosos para os alunos pois
correspondiam aos horaacuterios das disciplinas de Arte e Ensino religioso cuja professora estava
75
afastada em virtude de uma licenccedila de sauacutede para o desenvolvimento do projeto sem alterar a
rotina das aulas de Liacutengua Portuguesa
Como primeira atividade lemos o texto Prova falsa de Stanislaw Ponte Preta (cf
Apecircndice A) com a turma completa Fizemos o exerciacutecio de interpretaccedilatildeo do texto e breve
leitura de Abandono de Animais eacute crime e precisa ser denunciado (cf Apecircndice B) uma
reportagem para que os alunos percebessem diferenccedilas entre os gecircneros (2 horasaula)
O encontro seguinte teve a leitura do texto O chato da vez de Anaximandro
Amorim (cf Apecircndice C) e atividades de interpretaccedilatildeo Dentre as questotildees havia a instruccedilatildeo
que propunha os comandos para a criaccedilatildeo de um texto em forma de crocircnica ndash com o que os
alunos puderam perceber a respeito do gecircnero durante os encontros - e a partir disso nestas 2
(duas) horasaula os alunos fizeram sua produccedilatildeo inicial10 Esses textos compotildeem a produccedilatildeo
inicial dos integrantes do projeto
Os moacutedulos elaborados para o trabalho que visavam melhorar os aspectos da escrita
dos alunos considerando o processo bem como os procedimentos de escritor compreenderam
atividades de leitura exerciacutecios de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo dos textos e de produccedilatildeo de
textos escritos mediados pela professora pesquisadora dentro do gecircnero crocircnica literaacuteria
discussotildees sobre os temas presentes nas crocircnicas aproximando-os da realidade dos alunos com
o objetivo de desenvolver nestes sua capacidade de observaccedilatildeo e reflexatildeo para a produccedilatildeo
textual
Foram apresentadas agrave turma de maneira coletiva as principais dificuldades
diagnosticadas na produccedilatildeo inicial Procuramos natildeo focalizar de iniacutecio a editoraccedilatildeo11 do texto
na folha de produccedilatildeo No entanto natildeo deixamos de trabalhar em sala elementos como o cuidado
com a pontuaccedilatildeo a paragrafaccedilatildeo e a ortografia O conteuacutedo das aulas de cada moacutedulo estaacute
descrito na seccedilatildeo correspondente
No decorrer dos moacutedulos os alunos realizaram atividades de revisatildeo e reescrita dos
seus textos observando tanto a estrutura do gecircnero quanto o seu conteuacutedo orientados pela
professora pesquisadora e tambeacutem recebendo ideias e sugestotildees dos colegas em um feedback
colaborativo Dessa forma chegaram ao seu texto final aplicando na medida de sua
10 Obs o 4ordm horaacuterio que foi escolhido para ser o momento da produccedilatildeo inicial foi prejudicado por dois fatores
O primeiro foi que o professor de educaccedilatildeo fiacutesica da escola convidou os alunos para antecipar sua praacutetica e vaacuterios
natildeo voltaram do recreio para a aula do projeto O segundo fator foi que nesse dia aconteceu uma briga com agressatildeo
fiacutesica entre uma aluna da sala e outra aluna de outra turma o que deixou a escola inteira agitada Os 20 (vinte)
alunos que permaneceram em sala para a produccedilatildeo felizmente mostraram-se interessados embora vaacuterios dissessem
que natildeo levavam jeito para escrever Apenas alguns alunos passaram a limpo seus textos 11 Ver seccedilatildeo Escrita como processo
76
conscientizaccedilatildeo os conhecimentos adquiridos e as duacutevidas esclarecidas durante a sequecircncia de
atividades
Nossa proposta incluiu a circulaccedilatildeo social dos textos para uma audiecircncia real o que
consistiu em uma culminacircncia do projeto de escrita O acordo feito com os alunos foi a
publicaccedilatildeo interna de uma versatildeo artesanalmente produzida de um livro de crocircnicas para que
pudessem marcar o momento e guardar um livro fiacutesico como recordaccedilatildeo e a publicaccedilatildeo em
suas paacuteginas pessoais na rede social Facebook plataforma que os alunos apreciam utilizar com
certa frequecircncia posto que nosso trabalho teve como material para leitura textos retirados da
internet como o proacuteprio Facebook blogs sites Para esta etapa somente cinco alunos
frequentaram assiduamente (alguns outros esporadicamente) sendo que apenas quatro
produziram um texto individual que passou pelo mesmo processo de reescrita e que teve sua
publicaccedilatildeo na plataforma e tambeacutem em um formato artesanal impresso para que suas famiacutelias
e comunidade escolar possam prestigiar o momento na tarde de autoacutegrafos
As produccedilotildees finais seratildeo analisadas no capiacutetulo a seguir em relaccedilatildeo agrave apropriaccedilatildeo
das caracteriacutesticas do gecircnero estudado bem como de sua estrutura composicional com o
objetivo de avaliar se os alunos conseguiram desenvolvecirc-la satisfatoriamente e se a estrutura e
a aplicaccedilatildeo da sequecircncia de atividades favoreceu o desenvolvimento da competecircncia textual e
discursiva dos estudantes que integraram a pesquisa de acordo com o que foi observado em
suas produccedilotildees iniciais examinando seu desempenho em ambas as produccedilotildees
Para o desenvolvimento de nossas atividades do projeto planejamos os encontros
com base nos estudos realizados a respeito do procedimento Sequecircncia Didaacutetica de Dolz
Noverraz e Schneuwly (2013) como estrateacutegia de ensino dos gecircneros textuais na proposta de
adaptaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica conduzida por Swiderski e Costa-Huumlbes (2009) na proposta
de circulaccedilatildeo social do gecircnero discursivo produzido em sequecircncias didaacuteticas de projetos
pedagoacutegicos de Lopes-Rossi (2011) e dos procedimentos das etapas de escrita como
planejamento ediccedilatildeo revisatildeo e reescrita do texto segundo Vieira (2005) e Serafini (2003)
O planejamento de nossa SD abrange 12 (doze) etapas conforme mostra a figura a
seguir
77
Figura 4 - Proposiccedilatildeo de sequecircncia didaacutetica para o projeto de escrita
Fonte Elaborado pela autora adaptado de DOLZ NOVERRAZ SCHNEUWLY (2013) SWIDERSKI COSTA-
HUumlBES (2009) LOPES-ROSSI (2011)
Nossa sequecircncia foi pensada para 2 (duas) etapas distintas Na primeira etapa A
uma produccedilatildeo textual para trabalho em sala com o mesmo tema com a expectativa de serem
colocados nos textos elementos que respondessem ao enunciado instrucional da atividade que
segue a crocircnica lida no dia na segunda etapa B uma produccedilatildeo que jaacute seria composta visando
a circulaccedilatildeo social com tema livre agrave escolha dos alunos a partir das discussotildees sobre o que
pode ser tema de uma crocircnica
Pela necessidade de uma SD mais completa inserimos ao modo de Swiderski e
Costa-Huumlbes entre a apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e a produccedilatildeo inicial um moacutedulo
de reconhecimento do gecircnero E apoacutes o teacutermino de nossa SD inserimos ao modo de Lopes-
Rossi um moacutedulo para a divulgaccedilatildeo social dos textos
441 Primeira etapa da apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo agrave produccedilatildeo inicial
Entre a apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo e a produccedilatildeo inicial (PI) utilizamos 4 (quatro)
horas-aula No primeiro encontro fizemos no 1ordm (primeiro) horaacuterio a socializaccedilatildeo do projeto
com os alunos e incentivamos a adesatildeo expondo as vantagens de trabalharmos o aprendizado
de um gecircnero como a crocircnica em forma de sequecircncia de aulas e atividades Natildeo houve
manifestaccedilatildeo de unanimidade de interesse em participar do projeto Na realidade apenas
metade da sala pareceu desejar integrar o projeto Quando perguntados sobre o motivo que natildeo
os animava vaacuterios responderam ldquopreguiccedila de ler professora preguiccedila de escrever professora
ah eu natildeo gosto de ler muito natildeo Leio porque sou obrigada e natildeo vale nem nota mesmordquo
Apresentaccedilatildeo
da Situaccedilatildeo
Produccedilatildeo
Inicial A
Produccedilatildeo
Final A
Moacuted
ulo 1
Moacuted
ulo 2
Moacuted
ulo 3
Circulaccedilatildeo social
das produccedilotildees B Moacuted
ulo 4 Produccedilatildeo
Inicial B
Moacuted
ulo 5 Produccedilatildeo
Final B
Moacutedulo de
reconheci
mento
78
Apesar da inicial resistecircncia de boa parte da sala colocamos aos alunos as
vantagens de sua participaccedilatildeo visto que a principal finalidade da sequecircncia de atividades seria
o desenvolvimento de sua competecircncia escrita por meio da aprimoraccedilatildeo de suas habilidades
leitoras oportunidade de ampliaccedilatildeo da criatividade e desenvolvimento das habilidades e
procedimentos de escritor como o planejamento das ideias a releitura a revisatildeo a reescrita ndash
que sabemos natildeo fazem parte da rotina dos alunos salvo raras exceccedilotildees ndash utilizando como
base o estudo das caracteriacutesticas do gecircnero textual crocircnica literaacuteria
No horaacuterio seguinte com a turma completa iniciamos o moacutedulo de reconhecimento
realizando a leitura do texto Prova falsa de Stanislaw Ponte Preta Leitura silenciosa seguida
de leitura em voz alta por parte da professora-pesquisadora poreacutem sem realizar a atividade que
acompanhava o texto Comeccedilamos a trabalhar com a turma algumas caracteriacutesticas que a
sensibilizariam para o gecircnero como a presenccedila de um tiacutetulo interessante para a criaccedilatildeo de um
texto a partir de uma situaccedilatildeo do cotidiano e que o cronista resolveu contar ao leitor ao bom
humor e agrave leveza das palavras trazidas no texto
No segundo encontro com 1 hora-aula na semana seguinte fizemos a continuaccedilatildeo
da aula anterior no primeiro horaacuterio realizando o exerciacutecio de interpretaccedilatildeo do texto Prova
Falsa No horaacuterio seguinte realizamos breve leitura do texto Abandono de Animais eacute crime e
precisa ser denunciado para que os alunos percebessem a diferenccedila entre a crocircnica e a
reportagem embora ambas falassem cada uma a seu modo de criaccedilatildeo de animais de estimaccedilatildeo
Chegamos aos terceiro encontro com 2 (duas) hora-aula e realizamos a leitura do
texto O chato da vez de Anaximandro Amorim (cf Anexo D) No 1ordm horaacuterio destinado a nossas
aulas tudo transcorreu relativamente normal com a turma completa lendo e realizando parte
das atividades Poreacutem nossa Produccedilatildeo Inicial deveria acontecer apoacutes o recreio pois a
organizaccedilatildeo da grade de horaacuterios compreendia 1 hora-aula antes do recreio e a 1 hora-aula
seguinte apoacutes o recreio
Esse horaacuterio que foi escolhido para ser o momento da PI foi prejudicado por dois
fatores O primeiro foi que o professor de educaccedilatildeo fiacutesica12 da escola convidou os alunos para
antecipar sua praacutetica e vaacuterios natildeo voltaram do recreio para a aula do projeto O segundo fator
foi que nesse dia aconteceu uma briga com agressatildeo fiacutesica entre uma aluna da sala e outra aluna
de outra turma o que deixou a escola inteira agitada Os 20 (vinte) alunos que permaneceram
12 O professor de educaccedilatildeo fiacutesica natildeo estava presente na reuniatildeo de socializaccedilatildeo do projeto com os professores e
por isso natildeo sabia que a professora-pesquisadora ocuparia aquele horaacuterio que estava ocioso para os alunos
79
em sala para a produccedilatildeo felizmente mostraram-se interessados embora vaacuterios dissessem que
natildeo levavam jeito para escrever
Demos prosseguimento agrave atividade que acompanha o texto O chato da vez
realizando a instruccedilatildeo de produccedilatildeo do quesito 7 (sete) Os alunos receberam uma folha de
produccedilatildeo e foram orientados a primeiro escrever seu rascunho em folha agrave parte e somente
quando terminassem passar seu texto para a folha de produccedilatildeo A maioria escreveu diretamente
na FP Apenas alguns alunos fizeram um breve rascunho e depois passaram a limpo seus textos
O que buscamos detectar nessas primeiras produccedilotildees (PI-A) sem o devido
aprofundamento das caracteriacutesticas da crocircnica literaacuteria apenas com as leituras e as atividades
de sensibilizaccedilatildeo no moacutedulo de reconhecimento do gecircnero a partir da instruccedilatildeo de produccedilatildeo
foram os itens a seguir
i) quantos textos jaacute deram sinais de que os alunos entenderam o que eacute a ldquoconversa
com o leitorrdquo e a expressaram em marcas linguiacutesticas
ii) quantos atenderam ao perfil da audiecircncia solicitada na instruccedilatildeo
iii) quantos se mantiveram no tema discutido
iv) quantos partiram de uma situaccedilatildeo vividaobservada para compor seu texto
v) quantos narraram essa situaccedilatildeo de forma clara para que o leitor pudesse
acompanhar
vi) quantos atenderam agrave instruccedilatildeo quanto agrave presenccedila de tiacutetulo e ao nuacutemero de
paraacutegrafos
Trataremos em seccedilatildeo posterior correspondente agrave anaacutelise sobre estes resultados
442 Segunda etapa desenvolvimento dos moacutedulos
Aproximadamente 1 (um) mecircs apoacutes a apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo e a produccedilatildeo inicial
que foram realizadas em 4 (quatro) encontros o desenvolvimento dos moacutedulos foi iniciado A
partir de entatildeo foram realizados 8 (oito) encontros de 2 (duas) horas-aula cada um Foram
cinco moacutedulos com atividades diversas que trabalharam fundamentalmente o planejamento
das ideias a organizaccedilatildeo e a revisatildeo do texto aleacutem da reescrita que eacute a ponte para a produccedilatildeo
final O trabalho desenvolvido nos moacutedulos estaacute sintetizado no quadro a seguir e seratildeo
detalhados os procedimentos das aulas nos toacutepicos seguintes
80
Quadro 4 ndash Moacutedulos desenvolvidos na sequecircncia didaacutetica (SD)
MOacuteDULOS TEMA FINALIDADE ATIVIDADE NUacuteMERO
DE AULAS
Moacutedulo 1 A mateacuteria da
crocircnica
Abstrair a partir da
leitura a situaccedilatildeo que
pode ter gerado as
crocircnicas
Leitura dos textos
Realizaccedilatildeo das atividades de
interpretaccedilatildeo
Identificaccedilatildeo das situaccedilotildees
que geraram as crocircnicas
Observaccedilatildeo da construccedilatildeo da
narraccedilatildeo
4 horas-aula
Moacutedulo 2
Releitura e
reescrita da PI-
A
Revisar o conteuacutedo e a
estrutura das crocircnicas
produzidas (PI-A) a fim
de reescrevecirc-las fazendo
as modificaccedilotildees
necessaacuterias eou sugeridas
adequando-as agrave instruccedilatildeo
Conversa sobre as
dificuldades observadas nas
primeiras produccedilotildees Releitura
das produccedilotildees iniciais
individualmente e em duplas
para feedback colaborativo
Reescrita da crocircnica
2 horas-aula
Moacutedulo 3
A opiniatildeo e a
descriccedilatildeo na
crocircnica
Observar a realidade do
seu entorno e tambeacutem de
ouvir as opiniotildees das
pessoas que habitam esse
ambiente
Leitura do texto
Realizaccedilatildeo das atividades de
interpretaccedilatildeo
Atividade de coleta de
impressotildees de algueacutem
proacuteximo Confronto ou
associaccedilatildeo com suas proacuteprias
opiniotildees Observaccedilatildeo de
elementos e situaccedilotildees do
proacuteprio cotidiano
Uso criativo das palavras
reflexatildeo sobre linguagem
conotativa
Elaboraccedilatildeo de um pequeno
texto
2 horas-aula
Moacutedulo 4
A linguagem
criativa e a
verossimilhanccedila
na crocircnica
Produccedilatildeo
inicial do texto
para publicaccedilatildeo
ndash PI-B
Observar as formas
criativas de narrar o
cotidiano
Leitura do texto
Realizaccedilatildeo das atividades de
interpretaccedilatildeo Discussatildeo sobre
verossimilhanccedila
2 horas-aula
Moacutedulo 5
Revisatildeo e
reescrita do
texto para
publicaccedilatildeo ndash
PI-B
Observar os elementos
estudados ao longo dos
moacutedulos na PI-B
Leitura dos textos Feedback
colaborativo Releitura da PI-
B Exerciacutecio de topicalizaccedilatildeo
4 horasaula
Fonte Elaborado pela autora
Nos itens a seguir apresentamos o relato da aplicaccedilatildeo dos moacutedulos bem como as
atividades correspondentes a cada um em uma turma de 9ordm ano de uma escola puacuteblica municipal
em Satildeo Luiacutes no 4ordm (quarto) bimestre do ano letivo de 2017
a) Moacutedulo 1 ndash quarto e quinto encontros ndash 4 (quatro) horas-aula
81
A partir da leitura dos textos Manias e Pacto apoacutes morte natildeo podia ver faca (cf
Anexo E) os alunos praticaram o exerciacutecio de observaccedilatildeo e abstraccedilatildeo da situaccedilatildeo que pode ter
gerado essas crocircnicas
Neste dia foi feita a leitura da crocircnica Manias Os alunos puderam refletir a partir
das questotildees de interpretaccedilatildeo e anaacutelise do texto sobre o que satildeo manias e viram tambeacutem que
elas natildeo satildeo exclusividade de pessoas idosas Na verdade concluiacuteram que basta o ser humano
estar vivo independentemente da idade que tenha para comeccedilar a calcar camadas e mais
camadas de comportamentos que mais adiante se tornaratildeo manias Natildeo houve tempo
disponiacutevel para os alunos comporem um texto a respeito da mateacuteria manias e os alunos pediram
para fazer em casa No entanto na aula seguinte ningueacutem apresentou o texto
Para o encontro seguinte que correspondia ao dia das bruxas a crocircnica escolhida
para leitura que tomou o primeiro horaacuterio foi Pacto poacutes-morte natildeo podia ver faca de Nonato
Reis por ser de gosto dos alunos dessa faixa etaacuteria histoacuterias de fantasmas misteacuterios e lendas
Nossa atividade foi bastante interessante pois todos que estavam na sala entraram no ritmo
daqueles causos contados em prosa pelo jornalista Nonato Reis O segundo horaacuterio foi
direcionado agrave atividade de leitura e interpretaccedilatildeo da crocircnica em que os alunos puderam
observar o ponto de vista do narrador as situaccedilotildees que deram origem e suporte agrave construccedilatildeo da
crocircnica aprenderam vocaacutebulos novos e ainda puderam soltar um pouco da imaginaccedilatildeo e
criatividade pensando em como eles mesmos fariam seus pactos com algueacutem ndash e constatamos
que vaacuterios querem mais eacute que seus contratantes se assustem em vida caso os alunos partam
primeiro
Ao final da leitura ainda exercitamos uma breve retextualizaccedilatildeo se fosse para
compor uma manchete de jornal como eles poderiam criar uma frase de impacto para o leitor
que tivesse relaccedilatildeo com o texto Um dos alunos sugeriu ldquoHomem faz pacto e menino vem
buscarrdquo
b) Moacutedulo 2 ndash sexto encontro ndash 2 (duas) horas-aula
Este encontro foi destinado para releitura da primeira produccedilatildeo feita (PI-A) O
procedimento inicial foi a tempestade de ideias sobre o que eacute ser chato e o que eacute ser legal cujo
registro dessas caracteriacutesticas noacutes construiacutemos na lousa sendo a professora-pesquisadora como
escriba Em seguida entregamos aos participantes do projeto seus textos
De iniacutecio vaacuterios disseram gostar do proacuteprio texto poreacutem quando a professora-
pesquisadora passou de carteira em carteira pedindo que lessem em voz meacutedia de modo a
apenas o proacuteprio aluno e a professora poderem escutar ele mesmo se dava conta de que havia
82
algo a consertar Em alguns casos faltava o diaacutelogo com o leitor noutros uma situaccedilatildeo que
explicasse o porquecirc de algueacutem ser considerado chato ou legal Eacute a tal situaccedilatildeo do leitor na
histoacuteria Natildeo daacute pra jogar em cima dele soacute o resultado Tem que mostrar de onde partiram as
conclusotildees Assim demos uma folha sulfite em branco para que os alunos registrassem seus
rascunhos suas ideias por mais que as considerassem absurdas e daiacute pudessem extrair o que
iria compor o novo texto Fomos bem claras ao falar da importacircncia de tomar notas elas servem
como um prolongamento da memoacuteria (SERAFINI 2003)
Apoacutes esse registro os alunos tiveram a liberdade de escolher sentar em dupla ou
trio e foram lendo seus proacuteprios textos e o dos colegas para se inspirar ou dar sugestotildees uns
aos outros num feedback colaborativo enquanto a professora-pesquisadora permanecia dando
assistecircncia de um por um Infelizmente natildeo conseguimos sentar com todos para dar o devido
retorno individual sendo alguns apenas por orientaccedilatildeo coletiva e outros por bilhetinho com
questotildees gerais
Entatildeo pegamos o texto O chato da vez fizemos mais uma leitura e de novo
revimos a questatildeo 7 que eacute a instruccedilatildeo da produccedilatildeo Entatildeo os alunos receberam a folha de
produccedilatildeo e assim fizeram a reescrita (PF-A)
c) Moacutedulo 3 ndash seacutetimo encontro ndash 2 (duas) horas-aula
A partir da leitura da crocircnica A cara da rua (cf Apecircndice F) os alunos fizeram o
exerciacutecio praacutetico de observar a realidade do seu entorno sensibilizando-se a partir do uso da
descriccedilatildeo na crocircnica literaacuteria e tambeacutem de ouvir as opiniotildees das pessoas que habitam esse
ambiente
Houve uma alteraccedilatildeo no quadro do horaacuterio da escola o que colocou os encontros
do projeto para o 4ordm e o 5ordm horaacuterios As aulas passaram assim a natildeo ter uma quebra em seu
ritmo visto que anteriormente eram dois horaacuterios sendo um antes do recreio e o outro depois
A dificuldade enfrentada na aplicaccedilatildeo deste dia foi que alguns dos alunos que
integram o projeto se atrasaram visto que foi um dia atiacutepico na programaccedilatildeo da escola
Correspondeu este dia agrave visitaccedilatildeo da 11ordf FeLiS a Feira do livro de Satildeo Luiacutes realizada no
centro histoacuterico da cidade na Praia Grande Portanto neste dia natildeo fizemos uma releitura dos
textos que jaacute comeccedilaram a ser reescritos
Fizemos a leitura do texto A cara da rua de Marcelo Xavier discutimos as questotildees
e com os alunos (mesmo os que chegaram atrasados) foi feito o acordo da realizaccedilatildeo da uacuteltima
questatildeo que eacute fazer a leitura do texto para algueacutem em casa e anotar as impressotildees que a pessoa
teve ao ouvir a crocircnica
83
O objetivo desta atividade foi despertar nos alunos a consciecircncia de que uma
crocircnica bem escrita causa alguma reaccedilatildeo em seu leitor uma reflexatildeo uma emoccedilatildeo Aleacutem disso
eles observaram o modo de descrever empregado pelo autor ao longo dos paraacutegrafos usados na
caracterizaccedilatildeo da rua Utilizamos como material para essa aula figuras impressas da moda que
mostravam ao longo das deacutecadas as mudanccedilas citadas no texto
Neste dia tambeacutem os alunos anotaram os fundamentos que devem estar presentes
no texto que eles escrevem uma espeacutecie de quadro autoavaliativo13 criado a partir das
caracteriacutesticas dos textos estudados
d) Moacutedulo 4 ndash oitavo encontro ndash 2 (duas) horas-aula
O encontro comeccedilou retomando a atividade da aula anterior que era fazer a leitura
do texto para algueacutem em casa e anotar as impressotildees que a pessoa teve ao ouvir a crocircnica
Apenas uma aluna realizou a atividade poreacutem foi interessante visto que a opiniatildeo coletada deu
espaccedilo para a discussatildeo sobre a liberdade de expressatildeo fosse no vestuaacuterio no comportamento
ou mesmo no vocabulaacuterio das pessoas que integram a cara da rua
A aula do dia foi direcionada a conhecer mais algumas crocircnicas Amor de Macumba
e Sr Google Pacheco (cf Apecircndice G) para que os alunos pudessem observar e compreender
melhor de que situaccedilotildees observadasvivenciadas partiram os textos podendo ser inesperadas
eou ateacute pitorescas Apoacutes a escuta dos textos cuja leitura foi realizada pela professora-
pesquisadora foram trabalhadas oralmente as questotildees de compreensatildeo e identificadas as
situaccedilotildees geradoras das crocircnicas em questatildeo (independentemente de serem reais ou natildeo)
compreendendo melhor o que eacute verossimilhanccedila
Ao final desse momento os alunos falaram de vaacuterios assuntos que poderiam se
tornar temas de textos Copiamos no quadro e eles nos cadernos Eram temas do cotidiano
como assalto relaccedilotildees sociais vida de youtuber bullying fome cujas situaccedilotildees jaacute
observadasvivenciadas poderiam render uma reflexatildeo
Aparentemente a dificuldade maior dos alunos estava em expressar essa situaccedilatildeo
sem que parecesse um diaacuterio iacutentimo como diaacuterio ou memoacuterias pois a natural disposiccedilatildeo de
seus textos traz uma sequecircncia narrativa um relato de emoccedilotildees pessoais poreacutem natildeo
necessariamente conduzia o leitor a uma reflexatildeo embora por vezes pausasse a narraccedilatildeo e
interagisse com o leitor por meio de perguntas ndash conforme mostrado nas crocircnicas lidas ao longo
do projeto
13 Cf seccedilatildeo de Anaacutelises
84
O foco foi entatildeo ajudar os alunos a desprender-se da aura de criacutetica ou de diaacuterio
iacutentimo em seus textos permitindo-lhes atribuir um ar de narrar os fatos podendo aumentar as
situaccedilotildees conduzindo seu leitor sem sobrecarregaacute-lo com queixumes lamentos criacuteticas ferinas
ou aquele ldquoar de moral da histoacuteriardquo
Como a discussatildeo havia tomado bastante tempo da aula os alunos pediram para
trazer o texto depois Resolvemos propor entatildeo o envio por um meio digital O escolhido foi
o Whatsapp e a produccedilatildeo seria impressa e entregue entre os colegas para leitura coletiva e
apreciaccedilatildeo etapa fundamental para o moacutedulo seguinte
e) Moacutedulo 5 ndash nono encontro ndash 2 (duas) horas-aula
Quatro alunos me mandaram seus textos (Ana Rodrigo Eduardo Estela) A
expectativa da aula do dia era que os alunos lessem as proacuteprias produccedilotildees e as colocassem para
apreciaccedilatildeo dos colegas relessem lessem juntos encontrassem os erros aceitassem as
sugestotildees O trabalho da professora pesquisadora foi inicialmente ir de dupla em dupla para
orientar E assim fizemos o trabalho
Utilizamos como material para essa aula os textos enviados impressos e um tablet
para visualizaccedilatildeo e se desejassem atualizaccedilatildeo de algum trecho do texto Cada aluno autor teve
seu momento de visualizaccedilatildeo na tela e de certo modo foi um choque ver no tablet os erros
ortograacuteficos e as sugestotildees de pontuaccedilatildeo que o aplicativo Word sugeria O aluno Eduardo foi o
mais surpreso pois em seu texto soacute de ortografia e pontuaccedilatildeo havia 22 erros fora as sugestotildees
que o Word corrigia Apesar disso o aluno natildeo desanimou aceitando sugestotildees do aplicativo e
tambeacutem dos colegas e da professora-pesquisadora
Houve o momento da leitura em conjunto e este foi fundamental para trabalharmos
a paragrafaccedilatildeo A professora-pesquisadora lia em voz alta para os alunos eles acompanhavam
o pensamento criando a imagem mental dos fatos corridos e quando havia quebra na
sequecircncia eles mesmos estranhavam e identificavam fazendo sugestotildees de alteraccedilatildeo Isso foi
feito com cada texto
Os temas para a produccedilatildeo do texto publicado foram escolhidos pelos proacuteprios
alunos Diferentemente da PI-A que foi induzida pela instruccedilatildeo aqueles que se dedicaram a
escrever por prazer desenvolveram mais o gosto por entender e reler o proacuteprio texto dando
valor tambeacutem agrave apreciaccedilatildeo dos colegas natildeo apenas da professora
Os quatro alunos que produziram texto para o livro disseram que passaram a prestar
mais atenccedilatildeo a ortografia e acentuaccedilatildeo embora reconheccedilam que natildeo dominam adequadamente
85
ainda Nesse momento consideramos fundamental conscientizar-lhes que esse domiacutenio eacute um
processo e pode durar a vida inteira
f) Moacutedulo 6 ndash deacutecimo encontro ndash 2 (duas) horas-aula
A aula do dia foi dedicada agrave revisatildeo e discussatildeo final dos textos de Ana Rodrigo
Eduardo e Estela Apoacutes a leitura individual e novas sugestotildees sentamos em ciacuterculo e
registramos em voz alta no celular durante uns 20 minutos uma pequena avaliaccedilatildeo do projeto
e avaliaccedilatildeo pessoal em forma de grupo focal Apenas uma aluna dentre os seis que estavam
presentes se recusou a falar Ela mesma afirmou ldquoprofessora eu nunca falo eu natildeo gosto de
falarrdquo A pauta foi a seguinte
i) Uma breve avaliaccedilatildeo do projeto
- vocecirc gostou das aulas
- o que foi um ponto positivo
- e um desafio
- o que vocecirc sugere para um proacuteximo projeto
ii) Uma breve avaliaccedilatildeo pessoal
- vocecirc aprendeu algo que natildeo sabia antes
- mudou alguma coisa nos seus procedimentos em relaccedilatildeo agrave leitura e agrave escrita
- fale um pouco sobre isso
A opiniatildeo dos alunos seraacute tratada na seccedilatildeo seguinte ao longo da avaliaccedilatildeo do
projeto
443 Terceira etapa produccedilatildeo final
Neste dia relemos as primeiras produccedilotildees que os alunos fizeram de maneira
coletiva Foi unacircnime o descontentamento com os textos pois concluiacuteram que estava tudo
muito longe de ter caracteriacutesticas de crocircnica Aproveitamos tambeacutem para ler o texto de um
aluno e fazer um exerciacutecio de topicalizaccedilatildeo a fim de instrumentalizaacute-los com uma uacutetil
ferramenta de anaacutelise das partes do texto detectando as ideias que o compotildeem comparando ao
comando de produccedilatildeo que foi dado naquele momento da PI e percebendo que ideias faltam para
completar a instruccedilatildeo pedida Fora isso os alunos perceberam que havia muitos erros
ortograacuteficos e disseram que achavam interessante se pudessem para todos os textos escrever
em aplicativos de celular ou programas de ediccedilatildeo de texto como o Word para que as correccedilotildees
mais baacutesicas jaacute fossem automaticamente realizadas
86
444 Quarta etapa circulaccedilatildeo social dos textos
A circulaccedilatildeo social dos textos eacute parte de nossa proposta para a sequecircncia didaacutetica
Como o objetivo maior foi o de contribuir para o aperfeiccediloamento das habilidades de escrita
desenvolvendo procedimentos de escritor fugindo agrave praacutetica que os alunos normalmente tecircm
que eacute de fazer um texto sem os devidos cuidados apenas visando nota para entregar ao
professor contamos que essas produccedilotildees foram de grande valia aos que permaneceram ateacute o
final de nosso projeto
O livro artesanal foi produzido e no dia da cerimocircnia de formatura dos alunos do
9ordm ano foi tornado puacuteblico mostrado aos outros alunos familiares e comunidade escolar
presente O livro conteacutem as produccedilotildees dos 4 (quatro) alunos e mais as crocircnicas lidas ao longo
das aulas Aleacutem disso cada um publicou seu texto em sua paacutegina do Facebook
87
5 ANAacuteLISE DA SEQUEcircNCIA REFLEXOtildeES
Este capiacutetulo eacute destinado a discussatildeo e anaacutelise dos dados coletados quando de antes
da aplicaccedilatildeo dos moacutedulos (produccedilatildeo inicial) e depois do desenvolvimento destes (produccedilatildeo
final) a fim de verificarmos o desempenho dos alunos e certificar que o desenvolvimento de
nossa SD proposta para o desenvolvimento da competecircncia escrita dos alunos do 9ordm ano do
ensino fundamental pode propiciar-lhes progressos nas habilidades de produccedilatildeo de seus textos
Apresentamos aqui os principais dados da pesquisa como nuacutemero de alunos
participantes em cada etapa de produccedilatildeo nuacutemero de estudantes que participaram de todas as
atividades e principais dificuldades quanto aos elementos constitutivos do gecircnero trabalhado
Para a anaacutelise das versotildees produzidas pelos alunos que participaram de todos os encontros
fazendo o comparativo entre a PI e a PF partimos das categorias do gecircnero crocircnica literaacuteria
trabalhadas durante a SD Deste modo veremos as seccedilotildees destinadas a analisar os elementos
constitutivos presentes nos textos
A anaacutelise dos dados considerou as hipoacuteteses levantadas no iniacutecio da pesquisa que
recapitulamos
a) eacute possiacutevel motivar os alunos a escrever ao desenvolver com eles atividades
voltadas para os diferentes subprocessos e habilidades envolvidos no ato de
redigir
b) o ensino da composiccedilatildeo do gecircnero crocircnica literaacuteria contribuiraacute para minimizar
dificuldades observadas nos textos dos alunos do 9ordm ano como nos planos
morfossintaacutetico e semacircntico aleacutem de lhes propiciar o desenvolvimento da
competecircncia escrita em textos escritos
c) apoacutes a realizaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica proposta ao compararmos as produccedilotildees
inicial e final dos alunos verificaremos um desempenho mais satisfatoacuterio em
relaccedilatildeo agrave competecircncia discursiva realizada no gecircnero crocircnica
Da primeira hipoacutetese consideramos para a elaboraccedilatildeo das atividades e o
planejamento dos encontros trabalhar os subprocessos da escrita geraccedilatildeo e organizaccedilatildeo de
ideias planejamento do texto rascunho escrita releitura revisatildeo reescrita ateacute o passo da
publicaccedilatildeo agrave audiecircncia pretendida Esses passos auxiliaram os alunos a desenvolver melhor
seus textos apoacutes a revisatildeo quando os comparamos aos seus primeiros textos conforme a anaacutelise
dos dados Inclui tambeacutem este momento a motivaccedilatildeo de modo que quanto maior o domiacutenio
das habilidades mais confiantes os alunos ficavam e consequentemente mais motivados
88
Buscamos identificar nos textos dos alunos os avanccedilos referentes agrave apropriaccedilatildeo do
gecircnero crocircnica literaacuteria a partir dos textos escolhidos para servir-lhes de modelo para a
produccedilatildeo Relatamos aqui tambeacutem as dificuldades trabalhadas com eles durante os moacutedulos e
que foram aperfeiccediloadas Aleacutem das dificuldades composicionais relatamos ao longo do
capiacutetulo as dificuldades quanto agrave participaccedilatildeo no projeto aplicado
51 Participaccedilatildeo dos alunos na pesquisa
A sala de aula escolhida para aplicaccedilatildeo do projeto de produccedilatildeo escrita de crocircnicas
literaacuterias foi uma turma de 9ordm ano vespertino em uma escola puacuteblica do municiacutepio de Satildeo Luiacutes
Maranhatildeo Os alunos frequentes totalizavam no ano letivo de 2017 43 (quarenta e trecircs) No
entanto ao final de nosso projeto tivemos um resultado de produccedilotildees que visavam agrave circulaccedilatildeo
social do texto no gecircnero que corresponde a menos de 10 (dez por cento) do total da classe
Graacutefico 4 ndash Nuacutemero de alunos do 9ordm ano
Fonte Produzido pela autora
Podemos dizer que a SD teve duas partes no tocante agrave participaccedilatildeo dos alunos No
primeiro 19 (dezenove) alunos produziram a PI-A havendo oscilaccedilatildeo da presenccedila nas
atividades ateacute a reescrita a PF-A No entanto selecionamos as produccedilotildees apenas dos que
participaram de todos os encontros que foram 13 (treze) alunos e que produziram a PF-A
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
Nuacutemero de alunos
Nuacutemero de alunos no 9ordm ano
Alunos regularmente frequentes
Alunos que produziram o texto para a professora-pesquisadora como audiecircncia
Alunos que produziram texto para circulaccedilatildeo social com audiecircncia real
89
No segundo momento visando a publicaccedilatildeo dos textos o nuacutemero de alunos
presentes caiu vertiginosamente finalizando o projeto de aplicaccedilatildeo da SD com 6 alunos
frequentes sendo que apenas 4 (quatro) produziram o texto para circulaccedilatildeo social constando a
PI-B e a PF-B Segundo os alunos da turma o fato de natildeo valer nota associado ao item do
termo de compromisso que diz que a qualquer momento o aluno poderia deixar de participar
sem qualquer prejuiacutezo fez com que alguns alunos deixassem de querer frequentar ldquoporque eu
natildeo gosto de escrever professorardquo acabando por ldquocontagiarrdquo outros alunos a querer sair mais
cedo da sala de aula abandonando assim o projeto aplicado ldquomas pelo menos a senhora jaacute tem
um texto natildeo eacuterdquo
Dessa forma totalizamos 26 (vinte e seis) textos analisados 2 (dois) de cada
participante na primeira parte e 4 (quatro) dos quatro alunos que tiveram seus textos publicados
no livro artesanal e na plataforma online
Graacutefico 5 ndash Participaccedilatildeo nas produccedilotildees
Fonte Produzido pela autora
Como vimos 13 (treze) alunos realizaram a PF-A e 4 (quatro) a PF-B Nosso
projeto de produccedilatildeo escrita de crocircnicas literaacuterias contou com 11 (onze) encontros efetivos num
total de 20 (vinte) horasaula A participaccedilatildeo da turma ocorreu da seguinte forma
0
5
10
15
20
PI-A PF-A PI-B PF-B
Participaccedilatildeo nas produccedilotildees
Produccedilatildeo a partir de instruccedilatildeo Produccedilatildeo para publicaccedilatildeo
90
Graacutefico 6 ndash Alunos presentes por encontro
Fonte Produzido pela autora
Quanto agrave participaccedilatildeo nos encontros nos quais desenvolvemos os moacutedulos a maior
participaccedilatildeo ocorreu no 1ordm (primeiro) e no 4ordm (quarto) encontros No 9ordm (nono) encontro tivemos
a menor quantidade de alunos O uacuteltimo encontro contou com 7 (sete) alunos
52 Anaacutelise da apropriaccedilatildeo de caracteriacutesticas do gecircnero crocircnica literaacuteria
Nosso objetivo com esta pesquisa foi de contribuir para o desenvolvimento da
competecircncia escrita dos alunos de 9ordm ano a partir da proposta da aplicaccedilatildeo de uma sequecircncia
didaacutetica para a produccedilatildeo de textos escritos em uma turma deste niacutevel utilizando para tal o
gecircnero crocircnica literaacuteria A sequecircncia foi desenvolvida no 2ordm semestre do ano letivo de 2017
Para verificar o desempenho dos alunos nos textos escritos antes e apoacutes a aplicaccedilatildeo
da SD buscando comprovar sua eficiecircncia como uma proposta para o ensino de produccedilatildeo de
textos e o desenvolvimento da competecircncia escrita dos alunos procedemos a anaacutelise do corpus
de produccedilotildees a fim de verificar se a construccedilatildeo do texto de alunos do 9ordm ano corresponde de
algum modo aos exemplos de crocircnicas apresentados na primeira parte da sequecircncia didaacutetica
Essa produccedilatildeo A corresponde ao trabalho com 13 alunos (como jaacute informado na
seccedilatildeo 4411) em 3 (trecircs) encontros com duraccedilatildeo de 6 (seis) horasaula e leitura de duas
crocircnicas ineacuteditas para os alunos (Manias e Pacto apoacutes morte) e atividades correspondentes e
mais a releitura de O chato da vez releitura da instruccedilatildeo e releitura das PI-A
0
5
10
15
20
25
30
35
40
Alunos presentes por encontro
Nordm de alunos
91
Nossa primeira parte da sequecircncia em que preparamos os alunos para a produccedilatildeo
do primeiro texto do gecircnero com um miacutenimo de caracteriacutesticas tratou de mostrar exemplos do
que se pode esperar em uma crocircnica fornecendo um miacutenimo de elementos para que atraveacutes de
uma abordagem imitativa os alunos fizessem o seu texto PI-A
Para a reescrita ou PF-A a fim de auxiliar nossos alunos fomos construindo ao
longo do periacuteodo de aplicaccedilatildeo das aulas um quadro autoavaliativo que resultou nos itens
expostos no quadro a seguir
Quadro 5 ndash Quadro autoavaliativo
Seu texto Sim Natildeo
Partiu de uma situaccedilatildeo observadavivida
Conversa com o leitor
Possui o foco narrativo bem determinado (narrador personagem ou
narrador observador)
Leva o leitor a refletir
Causa impressotildees no leitor como riso choro reflexatildeo emoccedilatildeo
satisfaccedilatildeo
Possui um final interessante
Mostra discretamente ao leitor seu ponto de vista a respeito da situaccedilatildeo
Possui alguma descriccedilatildeo de lugarobjetopersonagem
Possui um tiacutetulo
Apresenta os acontecimentos de forma clara
Emprega adequadamente os sinais de pontuaccedilatildeo
Evita repeticcedilatildeo desnecessaacuteria de palavras
Possui paraacutegrafos bem organizados
Fonte Elaborado pela autora
O quadro nasceu da observaccedilatildeo das caracteriacutesticas constantemente presentes em
produccedilotildees de alunos com os quais trabalhamos A proposta era que os integrantes do projeto
avaliassem os proacuteprios textos atentando para estes aspectos mais baacutesicos
Desta forma vamos proceder a anaacutelise com a observaccedilatildeo da apropriaccedilatildeo das
caracteriacutesticas trabalhadas do gecircnero crocircnica literaacuteria sob uma oacutetica do processo de produccedilatildeo
oferecendo uma abordagem imitativa de produccedilatildeo de textos nas produccedilotildees iniciais e finais A
de 13 (treze) alunos cuja identificaccedilatildeo estaacute no quadro a seguir
Quadro 6 ndash Identificaccedilatildeo dos textos A dos alunos
Identificaccedilatildeo textoautor Tiacutetulo PI Tiacutetulo PF
Ana Ser chato ou natildeo ser eis a
questatildeo
Ser chato ou natildeo ser eis a
questatildeo
92
Rodrigo Pare de se criticar
Eduardo O amigo muito e muito chato Ser legal natildeo eacute ser chato
Estela Os chatos de antematildeo O tio chato de galocha
Ceacutelia Chata sim ou natildeo Chata sim ou natildeo
Arlindo Chato e natildeo eacute chato Chato e natildeo eacute chato
Juacutelia Ser chato ou ser legal Pessoas chatas e pessoas
legais
Vicente Aacute pergunta eacute se eu
bloquearia uma pessoa chata
Graccedila Rafaelly chata Chata ela ou EU
Lilian Meus amigos chatos e Eu Pessoas legais e chatas
Heloiacutesa ldquoChato mais eacute muito legalrdquo ldquoO melhor chatordquo
Eliane Um pouco de tudo O que e chato e o que e legal
Joana Pessoas chatas e outras legal Pessoas otimas Fonte Produzido pela autora
Esses textos foram produzidos em sala na folha de produccedilatildeo textual proacutepria
elaborada para a SD de forma manuscrita e os originais A encontram-se nos anexos Na seccedilatildeo
a seguir mostraremos o panorama das anaacutelises
53 Os textos dos alunos
Esta seccedilatildeo traz os textos dos alunos produzidos em dois momentos O primeiro que
chamamos de texto A composto de produccedilatildeo inicial A e produccedilatildeo final A foi o texto produzido
na primeira parte de nossa sequecircncia didaacutetica que vai ateacute o moacutedulo 2 (dois) e que ficou restrito
apenas ao trabalho em sala de aula O segundo foi o texto B com produccedilatildeo inicial B e produccedilatildeo
final B cuja produccedilatildeo jaacute visava agrave circulaccedilatildeo social das produccedilotildees
531 Produccedilotildees A textos apenas para o trabalho em sala de aula
Quadro 7 ndash Produccedilatildeo inicial Ana ndash Tiacutetulo Ser chato ou natildeo ser eis a questatildeo
1 O ldquochato da vezrdquo esse texto fez eu refletir bastante
2 sobre esse negocio de chatisse sabe eu natildeo acho que
3 ser chato seja um defeito ou muito menos uma qua-
4 lidade de sabe de uma coisa Eu nem ao menos sei o
5 que eacute ser chato mas se algueacutem me perguntar diria que
6 ser chato eacute apenas falar de um assunto pode ser sobre ele
7 ou sobre mim mas se for falado isso pra mim muitas ve-
8 zes isso pra mim eacute pura chatice mas sabe eu natildeo tiraria
9 nem evitaria ningueacutem mesmo sendo aquela amiga que so
93
10 sabe falar que ta doente e reclamar de noites mal dormi-
11 das sempre ateacute porque eacute o jeito dela e cada um oferece o
12 que tem para oferecer eu natildeo fico puxando o saco delas
13 mas evito elas sempre que posso Ateacute porque seria uma
14 chatice evita-la ou qualquer um outro chato Fonte Dados da pesquisa
O texto foi composto por um paraacutegrafo apenas Percebe-se que Ana o criou
atendendo ao que a instruccedilatildeo da atividade requer criar um texto que possa inspirar reflexatildeo
Poreacutem a aluna natildeo exatamente conduz seu leitor a refletir Ela jaacute parte de uma constataccedilatildeo sobre
a qual ela mesma refletiu e expotildee no texto suas conclusotildees Natildeo narra uma situaccedilatildeo
vividaobservada mas elenca o que lhe parecem procederes chatos ldquomesmo sendo aquela amiga
que so sabe falar que ta doente e reclamar de noites mal dormidas semprerdquo (linhas 9 a 11) A
aluna natildeo usou a estrateacutegia de inserir personagens que transparecessem seu ponto de vista ao
leitor Construiu seu texto em primeira pessoa ao modo de ldquoO chato da vezrdquo e demonstrou que
tinha consciecircncia de que seu texto seria lido por uma audiecircncia visto que lanccedila perguntas para
confirmaccedilatildeo ldquosaberdquo (linha 1) ldquosabe de uma coisardquo (linha 4) embora essa audiecircncia natildeo
coadune com a instruccedilatildeo
Quadro 8 ndash Produccedilatildeo final Ana ndash Tiacutetulo Ser chato ou natildeo ser eis a questatildeo
1 ldquoO chato da vezrdquo Um texto muito interessante
2 que fez eu refletir sobre esse negocio de chatisse um
3 assunto que eu ja tinha pensado bastante mas cheguei a
4 conclusatildeo de que natildeo deve ser considerado um defeito nem
5 uma qualidade chato quero dizer mas deve ser um a
6 coisa que vocecirc deve ser controlada sabe as vezes eacute ne-
7 cessario ter um pouco de chatisse
8
9 Ser chato na minha opiniatildeo natildeo teria um signi-
10 ficado especifico seria vaacuterias coisas como falar apenas de
11 um assunto coisas repetitivas sabe natildeo saber aceitar o jeito
12 das pessoas ao seu redor ser chato eacute natildeo saber relevar e ser
13 legal eacute o oposto pois se eu falasse se eu falasse ago-
14 ra as caracteriacutesticas das pesso legal esse texto ficaria cha-
15 to ca entre nos Fonte Dados da pesquisa
O texto reescrito agora compotildee-se de dois paraacutegrafos embora no trabalho de
discussatildeo e reapresentaccedilatildeo da mesma proposta a instruccedilatildeo indique entre 3 (trecircs) e 6 (seis)
paraacutegrafos
94
Mais uma vez a aluna elaborou seu texto visando ao que a instruccedilatildeo da atividade
requer um texto que possa inspirar reflexatildeo sem conduzir exatamente seu leitor a refletir mas
expondo uma constataccedilatildeo sobre a qual ela mesma refletiu
O primeiro paraacutegrafo inicia com frases que lembram o gecircnero resenha ldquoO chato da
vezrdquo Um texto muito interessante que fez eu refletir sobre esse negocio de chatisse (linhas 1 e
2)
O segundo paraacutegrafo que ela inicia nos daacute a pista de que ela retorna ao quesito de
letra a da atividade 7 que tem por funccedilatildeo sensibilizar e conduzir o aluno a compreender a
instruccedilatildeo que vai se apresentar definitivamente a partir do quesito de letra c e perde de vista
que seu texto deve ser composto dentro das caracteriacutesticas do gecircnero crocircnica Em lugar disso
ela o compotildee expondo sua opiniatildeo o que tange um outro gecircnero
O texto possui tiacutetulo como na PI e faz uma referecircncia intertextual agrave famosa frase
de William Shakespeare Ser ou natildeo ser eis a questatildeo
Ainda como na PI a aluna natildeo narra uma situaccedilatildeo vividaobservada elencando
em vez disso o que foi considerado chato nas discussotildees que a turma fez para tentar definir o
que era ser legal e ser chato como falar apenas de um assunto coisas repetitivas sabe natildeo
saber aceitar o jeito das pessoas ao seu redor ser chato eacute natildeo saber relevar (linhas 10 a 12)
Mais uma vez a aluna natildeo usou a estrateacutegia de inserir personagens que
transparecessem seu ponto de vista ao leitor Construiu seu texto em primeira pessoa ao modo
de ldquoO chato da vezrdquo mas frases como sabe (linha 11) e ca entre nos (linha 15) mostram que
houve sim uma preocupaccedilatildeo em conversar com o leitor transparecendo sua percepccedilatildeo de uma
audiecircncia como presente no texto da instruccedilatildeo bem como ao longo das crocircnicas lidas foram
ressaltadas foacutermulas de conversas com o leitor
A autora desenvolveu pouco seu texto e ainda buscou abreviaacute-lo visto que ldquose eu
falasse agora as caracteriacutesticas das pesso legal esse texto ficaria chato ca entre nosrdquo (linhas
14 e 15)
Natildeo houve para antes da reescrita um texto na folha de rascunho Foi feita a
refacccedilatildeo do texto diretamente na folha de produccedilatildeo havendo ainda problemas com a ortografia
e a pontuaccedilatildeo
No entanto Ana depois de seguir com o projeto e apurar um pouco mais o olhar
segundo ela mesma pediu para que deacutessemos nova oportunidade de leitura pois ela havia feito
uma nova reescrita ao final dos moacutedulos Essa reescrita de Ana estaacute na seccedilatildeo seguinte apoacutes o
teacutermino de todos os moacutedulos
95
Quadro 9 ndash Produccedilatildeo inicial Rodrigo ndash Tiacutetulo Pare de se criticar
1 Bom pessoal primeiro quero que vocecircs entendatildeo o
2 verdadeiro significado de ser chato e ser legal
3 antes de tudo Natildeo levem nada pro lado pessoal apenas
4 entenda Vamos comeccedilar
5
6 Uma pessoa chata por exemplo ela eacute cheia de
7 nheacute nheacute nheacute mas nem todo mundo eacute chato depende
8 de quem te acha chato concerteza ela tambeacutem natildeo eacute
9 a pessoa mais legal triloca ou radical do mundo Se
10 ela te acha chato foudaci o que importa eacute vocecirc se
11 acha legal Ai Deus quem dera tivesse um
12 botatildeo pra silenciar pessoas chatas leitor estaacute me ente-
13 ndendo uma pessoa chata ela pode ser chata
14 pra vocecirc mas pra mim natildeo entatildeo vai lagar de se
15 achar chato Cara vocecirc eacute mocirc legal pra muitas
16 pessoas deixa de se alto criticar
17
18 Voltando ao assunto se vocecirc tivesse um
19 botatildeo pra bloquear uma pessoa que tipo de pessoa
20 vocecirc bloquearia eu particularmente bloquearia
21 essas pessoas chatas que natildeo saien do meu peacute
22 entatildeo era soacute isso Seja mais legal consigo
23 mesmo Fui
24
25 Fim
26 Joinha
27 LIKE Fonte Dados da pesquisa
Construiacutedo em 3 (trecircs) paraacutegrafos de efetivo conteuacutedo entre as linhas 1 e 23 o texto
desse aluno busca fortemente o contato com sua audiecircncia como se vecirc em diversos exemplos
ldquoBom pessoalrdquo (linha 1) ldquoquero que vocecircs entendatildeordquo [sic] (linha 1) ldquoleitorrdquo (linha 12) ldquoestaacute
me entendendordquo (linhas 12-13) ldquoCara vocecirc eacute mocirc legalrdquo (linha 15) se vocecirc tivesse um botatildeo
(linhas 18-19) Seja mais legal consigo mesmo (linhas 22-23) Esse contato eacute influenciado pelos
diaacutelogos mais proacuteximos da oralidade que se apresenta nos textos usados para sensibilizar e
inspirar a produccedilatildeo inicial e que eacute uma caracteriacutestica do gecircnero trabalhado
No entanto seu texto natildeo se caracteriza como gecircnero crocircnica Percebemos que
lembra muito um roteiro de fala para viacutedeo do youtube ndash e sim o aluno autor do texto eacute youtuber
e tem um canal O aluno termina seu texto com claras referecircncias agrave esfera do discurso online
em que se tem interaccedilatildeo direta com o leitor Joinha LIKE (linhas 26 e 27) bem como um
96
elemento visual associado a essa multimodalidade que a internet permite que eacute a matildeo com
polegar para cima (linha 25) conhecido como thumbs up ou no Brasil joinha usado para
expressar contentamento com o conteuacutedo escrito o que corresponde ao perfil de audiecircncia dado
na instruccedilatildeo
Rodrigo faz muito uso da palavra chato o que pode sobrecarregar o texto Poreacutem
e como veremos a seguir na produccedilatildeo B do mesmo aluno a repeticcedilatildeo segundo ele eacute
caracteriacutestica sua para ldquoreforccedilar que a pessoa eacute chata professorardquo Apesar disso natildeo houve
uma definiccedilatildeo mais bem detalhada do que eacute o chato como os que ldquonatildeo saien do meu peacuterdquo (linha
21)
Haacute uma referecircncia no texto agrave primeira leitura feita em sala antes da PI que foi o
texto Prova Falsa Nas linhas 6-7 pode-se ler ldquonheacute nheacute nheacuterdquo como definiccedilatildeo do que eacute uma
pessoa chata e que no texto do Stanislaw Ponte Preta aparece como ldquoDesses cachorrinhos de
raccedila cheio de nheacutem-nheacutem-nheacutem que comem comidinha especial precisam de muitos
cuidados enfim um chato de galochardquo Por natildeo portar o texto em matildeos na hora da produccedilatildeo
entendemos entatildeo que o aluno Rodrigo fixou o vocaacutebulo corrente na oralidade (nheacutem-nheacutem-
nheacutem) ao conceito (muito chato chato de galocha) causando um saldo positivo em sua escolha
Quadro 10 ndash Produccedilatildeo final Rodrigo ndash Tiacutetulo
1 bom dia boa tarde e boa noite depende
2 da hora em que estiver lendo isso
3 Hoje eu vou falar um pouco sobre pessoas
4 chatas e pessoas legais se estiver pronto vamos laacute
5
6 Primeiro reflita uma coisa vocecirc leitor se
7 considera chato Antes de dizer vocecirc precisa saber
8 a diferenccedila entre ser legal e ser chato vou explicar
9
10 Uma pessoa legal eacute aquela que sabe te
11 ouvir dar sua opiniatildeo na hora certa e saber
12 reconhecer seus erros mas chega um devido ponto
13 que vocecirc tenta ser tatildeo legal que chega a ser chata
14 mas existe uma diferenccedila entre essas duas coisas
15 estaacute entendendo leitor Suponhamos que exista
16 um botatildeo de bloquear pessoas igual aquele do
17 Whatsapp quem vocecirc bloquearia seus amigos
18 Seus familiares Seus colegas Ou as pessoas chatas
19 Hahahahaha jaacute sei a resposta entatildeo isso facilitaria
20 muito sua vida neacute
21
22 bom espero ter ajudado a saber a
97
23 diferenccedila entre essas duas coisas en em breve
24 farei outro texto para explicar um pouco
25 melhor valeu falou e fui
26
27 Fonte Dados da pesquisa
Nessa versatildeo de reescrita do texto vimos que o aluno natildeo colocou o tiacutetulo
Acreditamos que ele natildeo tenha lembrado visto que na PI foi atribuiacutedo um tiacutetulo a seu texto
Natildeo houve para antes da reescrita um texto na folha de rascunho O aluno afirmou
que gostava de desenhar e permitimos que ele fizesse o que lhe fosse mais confortaacutevel para
liberar a criatividade apoacutes a conversa com a turma em busca da compreensatildeo do que eacute ser legal
ou ser chato A refacccedilatildeo do texto foi feita diretamente na folha de produccedilatildeo havendo ainda
alguns problemas com a ortografia e a pontuaccedilatildeo poreacutem com bom uso das interrogaccedilotildees para
conduzir o leitor por seus questionamentos o autor buscou uma aprovaccedilatildeo para o tema que
expotildee
Natildeo houve neste texto a presenccedila da narraccedilatildeo de uma situaccedilatildeo vividaobservada
Rodrigo mencionou algumas situaccedilotildees discutidas na sala antes da reescrita que falavam sobre
o que eacute ser chato e o que eacute ser legal Na linha 19 houve uma quebra e expectativa pois o trecho
ldquoHahahahaha jaacute sei a respostardquo natildeo deixa claro realmente qual a resposta
Percebemos tambeacutem a utilizaccedilatildeo de siacutembolos em seu texto ao final Esse recurso
multimodal eacute caracteriacutestico da forma de interaccedilatildeo existente nas redes sociais e o aluno por
entender na instruccedilatildeo que o texto eacute direcionado a um leitor de sua idade e que lecirc e faz postagens
e comentaacuterios com frequecircncia empregou iacutecones de maneira natural em seu texto Entendemos
aqui que ele considerou a audiecircncia determinada na instruccedilatildeo
Quadro 11 ndash Produccedilatildeo inicial Eduardo ndashTiacutetulo O amigo muito e muito chato
1 Nossa meus amigos satildeo chatos
2 ou seraacute que eacute eu mesmo que sou
3 completamente chato Natildeo sei mas se
4 sou o que eu faccedilo de errado pra ser chato
5
6 Tive uma amizade que era muito
7 bacana uma convivencia boa para se
8 viver mas passando alguns tempo
9
10 Ficou absurdamente chato ficou
11 muito muito muito chata vivia na
98
12 minha casa Iria conpletamente na minha
13 casa nas horas enproprias era chato
14
15 Mas um dia fiquei dando indiretas
16 para ele dizendo ldquoQue mamatildee mandou arruma
17 a casardquo essa coisas assim
18
19 Um dia disse para ele ldquoTou meio
20 oculpadordquo ai ele disse ldquoVocecirc eacute muito chatordquo
21 e saiu de casa sem olhar para traacutes
22
23 Mas ai ele foi que ficou mais chato
24 ainda Tocava a campainha de casa e
25 saia correndo
26
27 Se desse de broqueiar ele na vida
28 real eu broqueiava Vocecirc faria o mesmo
29 leitor Fonte Dados da pesquisa
A PI apresenta o ponto de vista do autor sobre o que eacute ser chato ldquovivia na minha
casa Iria completamente na minha casa nas horas enproprias era chatordquo (linhas 11-13) poreacutem
natildeo explicita o que eacute ser legal deixando essa lacuna para o leitor Apesar disso EDUARDO
parte de uma situaccedilatildeo vividaobservada que era essa relaccedilatildeo com seu amigo
O texto estaacute organizado em 7 (sete) paraacutegrafos No entanto o 2ordm e o 3ordm paraacutegrafos
poderiam estar unidos pela temaacutetica14 assim como o 5ordm e o 6ordm paraacutegrafos O uso do conectivo
mas foi inadequadamente empregado no 4ordm paraacutegrafo (Mas um dia fiquei dando indiretas para
ele) (linhas 15-16) A repeticcedilatildeo da expressatildeo temporal um dia no iniacutecio do 4ordm e do 5ordm paraacutegrafos
sucessivamente natildeo permite claramente ao leitor saber se as situaccedilotildees aconteceram no mesmo
dia ou em dias distintos
Percebemos o emprego da 1ordf pessoa como a voz que fala no texto um narrador-
personagem que se comunica tanto com outro personagem por meio de discurso indireto livre
(ai ele disse ldquoVocecirc eacute muito chatordquo) (linha 20) quanto com o leitor ldquoVocecirc faria o mesmo leitorrdquo
(linhas 28-29) demonstrando consciecircncia de que existe uma audiecircncia e embora natildeo mostre
claros exemplos ainda assim atende agrave instruccedilatildeo de que essa mesma audiecircncia deve ser um
puacuteblico que estaacute antenado nas redes sociais ldquoSe desse de broqueiar ele na vida real eu
broqueiavardquo (linhas 27-28)
14 Cf seccedilatildeo Escrita na escola
99
Quadro 12 ndash Produccedilatildeo final Eduardo ndashTiacutetulo Ser legal natildeo eacute ser chato
1 Ser legal eacute oacutetimo mas vocecirc
2 pode esta achando que taacute sendo
3 muito legal mas a pessoa
4 que vocecirc ta sendo legal natildeo
5 pode ta achando vocecirc muito legal
6 mas sim chato
7
8 Vocecirc indo na casa do seu
9 amigo toda hora pode ser legal
10 para ele mas para seu amigo natildeo
11
12 Coisas demais natildeo eacute tatildeo
13 legal E vocecirc leitor tem alguma
14 coisa engual a isso
15
16 LEGAL X CHATO
Fonte Dados da pesquisa
Nessa reescrita do texto apoacutes as sugestotildees percebemos que o aluno fez natildeo uma
nova versatildeo do primeiro texto mas uma resposta agraves discussotildees realizadas na sala antes do
momento de escrita Pedimos ao grupo como um todo que levasse em conta o que eacute ser legal
e o que eacute ser chato e desses exemplos praacuteticos partindo de situaccedilotildees vividasobservadas
Enquanto a professora-pesquisadora atendia outros alunos que natildeo haviam compreendido
claramente as sugestotildees dadas agraves suas PI o aluno Estela elaborou 3 (trecircs) paraacutegrafos que
condensam sua situaccedilatildeo descrita na PI natildeo utilizando diaacutelogos nem personagens apesar de
ainda se dirigir ao leitor (ldquoE vocecirc leitorrdquo) (linha 13) Houve uma perda da qualidade do texto
por causa de uma provaacutevel falta de compreensatildeo da tarefa a ser realizada na sala
Quadro 13 ndash Produccedilatildeo inicial Estela ndash Tiacutetulo Os chatos de antematildeo
1 Certo dia observei dois amigos conversando
2 Marcelo e Camila quase todos os dias Marcelo
3 e Camila quase todos os dias eles ldquobrigavamrdquo
4 ficavam de ldquomalrdquo como os jovens de hoje falam
5
6 O motivo dessas brigas era apenas pelo fato
7 de Marcelo dizer a Camila que ela era uma
8 chata e ela como todos os ldquochatosrdquo natildeo
100
9 admitiam ser chatos neacute
10
11 E vocecirc se por acaso algueacutem chamaacute-lo de chato
12 O que vocecirc faria
13
14 Eu natildeo era muito ldquoamigardquo deles mas na real
15 dava uma vontade de chegar e dizer-lhes ldquo
16 Por favor natildeo sejam tatildeo ridiacuteculos os dois
17 satildeo uns chatosrdquo
18
19 Mas como eacute errado intrometer-se nas conversas
20 dos outros resolvi natildeo dizer nada
21
22 Passaram-se semanas e eles sempre continuavam
23 com isso
24
25 Entatildeo resolvi fazer algo para que evitasse
26 essas ldquobrigasrdquo cotidianas
27
28 Natildeo falei nada pessoalmente mas sim por uma
29 rede social e mandei a seguinte mensagem
30
31 ldquoDesculpe-me por intrometer-me na amizade
32 entre vocecirc e Marcelo mas essa chatice que
33 haacute entre vocecirc e seu amigo estaacute me incomoda-
34 do aacute dias Pelo fato de vocecirc e seu amigo
35 ficarem pegando no peacute um do outro na
36 minha opiniatildeo vocecircs deveriam conversar
37 civilizadamente e aceitarem uns aos outros
38 da maneira que vocecircs satildeo E soacute issordquo
39
40 Dias depois dessa conversa observei-os aten-
41 tamente e percebi que havia uma grande diferenccedila
42 entre eles na qual eles estavam interagindo
43 se entendendo se aceitando
44
45 E entatildeo os dois aproximaram-se de mim e
46 agradeceram pelo conselho
47
48 Fiquei super feliz de tecirc-los ajudados
49 Na minha opiniatildeo chatice eacute algo que a
50 pessoa tem de natureza um certo
51 estado de espiacuterito
52
53 E se isso natildeo resolvesse tentaria bloqueaacute-
54 -los tentaria parar de dar atenccedilatildeo graccedilas
55 a Deus eles pararam
56
101
57 Ufa Pelo menos no final eles foram legais uns com os outros
58
59 Fim Fonte Dados da pesquisa
Apresentando-se como a mais extensa das produccedilotildees iniciais esta PI possui 14
(quatorze) paraacutegrafos Alguns poderiam ser condensados de modo a deixar as ideias agrupadas
(o 4ordm e o 5ordm o 6ordm o 7ordm e o 8ordm) Ou entatildeo poderia ter havido nova reescrita de alguns periacuteodos de
modo a condensar as informaccedilotildees Poreacutem para tal lembramos Serafini (2003) que afirma que
para escritores inexperientes essa estrateacutegia de periacuteodos mais curtos ajuda melhor a organizar
o pensamento Essa aluna produziu um rascunho antes de passar a limpo para a folha de
produccedilatildeo textual oficial
Demonstrando certo domiacutenio no uso dos pronomes pessoais obliacutequos como se pode
ver em diversos exemplos ao longo do texto ldquochamaacute-lordquo (linha11) ldquoe dizer-lhesrdquo (linha 15)
ldquoeacute errado intrometer-serdquo (linha 19) fez um emprego inadequado quando usou de pronome
relativo (na qual) (linha 42) possivelmente tentando o registro culto da liacutengua
Nesse texto se percebe o uso do discurso indireto (ldquoE entatildeo os dois aproximaram-
se de mim e agradeceram pelo conselhordquo) (linhas 45-46) As marcas de conversa com o leitor
podem ser vista em ldquoneacuterdquo (linha 9) e ldquoE vocecirc se por acaso algueacutem chamaacute-lo de chato O que
vocecirc fariardquo (linhas 11-12 A autora assume um ponto de vista e narra para uma audiecircncia
correspondendo ao requisitado na instruccedilatildeo
Como a instruccedilatildeo de produccedilatildeo determina o perfil do leitor como sendo um
adolescente que acessa redes sociais a autora coloca como soluccedilatildeo ao conflito de constantes
brigas entre o casal de amigos adolescente o envio de uma mensagem por rede social falando
inclusive que os bloquearia caso continuassem chatos O texto assemelha-se a um conto
inclusive pela forma como a autora encerra seu texto ldquoFimrdquo (linha 59) Quanto a despertar no
leitor uma reflexatildeo podemos dizer que A4 estaacute no caminho e que um trabalho mais detido
sobre esse texto poderia melhorar a qualidade dessa reflexatildeo
Quadro 14 ndash Produccedilatildeo final Estela ndashTiacutetulo O tio chato de galocha
1 As feacuterias chegaram e como em todas as feacuteria-
2 s eu partia em uma ldquoincriacutevel aventurardquo (pra
3 natildeo dizer o contraacuterio) a casa dos meus
4 tios na qual eacute um verdadeiro desastre
5 Ter que acordar com o ldquocantar dos galosrdquo
6 como dizem os mais velhos em clima de
102
7 discussatildeo affseacute uma verdadeira cha-
8 tice eu odiava ter que estragar minhas
9 maravilhosas feacuterias convivendo com eles
10 Eles discutiam ateacute pelo simples fato de cair
11 farelos de comida no chatildeo eu odiavaaa
12 E vocecirc leitor aguentaria toda essa chatice
13
14 O que vocecirc faria em relaccedilatildeo a essa situaccedilatildeo
15
16 Jaacute haviam se passado mais da metade das
17 feacuterias eu estava orando agrave Deus para que
18 esses dias infernais ao lado dos meus ti-
19 os acabassem e tambeacutem que titio Luiacutes
20 parasse de reclamar por eu comer muito
21 e parar de ficar assistindo programas
22 ateacute tarde da noite eu achava um exagero
23 eacute oacutebvio pois eram ldquofeacuteriasrdquo e nas feacuterias
24 acostumamos ficar distantes de tarefas
25 escolares de tudo que nos lembrar a
26 escola (rsrsrs)
27
28 O meu tio tambeacutem dizia que eu precisa-
29 va de educaccedilatildeo que os meus pais natildeo
30 me educaram adequadamentee eu natildeo
31 podia resmungar porque se meus pais
32 soubessem que me comportei mau eu iria
33 ficar ferrado E entatildeo mais dias infernais
34 se passaram e graccedilas a Deus as feacuterias
35 terminaram e natildeo tive mas que ver
36 presenciar aquele meu chato e insupor-
37 taacutevel tio
38
39 Pra mim ser chato e ser legal eacute
40 Ser legal Ser chato
41 Saber ouvir Criticar os outros
42 Dar comida Reclamar de tudo
43 Ser sincera Daacute importacircncia demais ao que dizem
44 Ter bom coraccedilatildeo Ser falso
45 Ajudar as pessoas Ser preconceituoso
46 Aceitar diferenccedilas
47
48 E o que vocecircs leitores acham o que
49 eacute ser ou natildeo legal Fonte Dados da pesquisa
Concentrada em 6 (seis) paraacutegrafos a reescrita ganhou alguns pontos mais
interessantes para se aproximar da crocircnica literaacuteria Partiu de uma situaccedilatildeo vivenciada
103
conduziu o leitor a compreender seu ponto de vista sobre o que era ser chato No entanto o
texto se distanciou da proposta da instruccedilatildeo no sentido de falar tambeacutem o que eacute legal natildeo
somente chato e lembrar do botatildeo de bloqueio da vida real
O 5ordm paraacutegrafo se tornou uma enumeraccedilatildeo das caracteriacutesticas do ser legal e ser chato
e deixou de narrar ou descrever uma situaccedilatildeo ou personagem
Uma caracteriacutestica da linguagem coloquial encontrada foi o uso da expressatildeo ldquoTer
que acordar com o lsquocantar dos galosrsquo como dizem os mais velhosrdquo (linhas 5-6) atribuindo a
frase agrave sabedoria popular Outras marcas tiacutepicas de coloquialidade utilizadas inclusive em meio
digital nos bate-papos foram a escrita de expressotildees com notaccedilotildees como ldquoaffsrdquo (linha 7)
para demonstrar aborrecimento ldquoodiavaaardquo (linha 11) estendendo as vogais para mostrar a
insatisfaccedilatildeo prolongada o frequente uso de aspas para indicar ironia ldquoeu partia em uma lsquoincriacutevel
aventurarsquordquo seguido de uma explicaccedilatildeo entre parecircnteses
Nessa produccedilatildeo a aluna tambeacutem natildeo empregou adequadamente o pronome relativo
ldquona qual eacute um verdadeiro desastrerdquo como se vecirc na linha 4
Quadro 15 ndash Produccedilatildeo inicial Ceacutelia ndashTiacutetulo Chata sim ou natildeo
1 Um dia uma amiga minha me pergun-
2 tou ndash Eu sou chata Responde ndash Sim as vezes
3 Mas o problema foi que ela natildeo aceitou a
4 verdade e saiu furiosa comigo
5
6 Mas me responde leitor se algueacutem viesse
7 te pergunta se ela eram chata o que vocecirc
8 responderia O problema e que nem todos
9 gostam de escuta a verdade
10
11 Aconteceu que um dia um colega disse
12 que eu era chata no comeccedilo fiquei com
13 um pouco de raiva Mas passou por que
14 parei eacute pensei e verdade sou chata Mas
15 mesmo assim sedo chata sim ou natildeo
16 a reciacuteproca era verdadeira
17
18 Chata sim ou natildeo uma pergunta que
19 eu mesmo me fiz vou acabar por aqui
20 antes que eu comece a fica chata de
21 vez Fonte Dados da pesquisa
104
O texto foi composto em 4 (quatro) paraacutegrafos atendendo agrave instruccedilatildeo A voz que
narra estaacute em 1ordf pessoa e dialoga diretamente com um personagem (linhas 1 e 2) Haacute um contato
direto com o leitor atraveacutes de frases como ldquoMas me responde leitorrdquo (linha 6) e ldquoO que vocecirc
responderiardquo (linhas 7-8)
A autora parte de uma situaccedilatildeo vividaobservada ndash na verdade haacute mais de uma
situaccedilatildeo ndash como vemos em ldquoUm dia uma amiga minha me perguntourdquo (linhas 1-2) e ldquoAconteceu
que um dia um colega disse que eu era chatardquo (linhas 11-12) No entanto natildeo segue a proposta
da instruccedilatildeo que eacute falar sobre o que eacute ser legal e ser chato Natildeo haacute exemplificaccedilotildees para que o
leitor entenda o ponto de vista da autora apenas situaccedilotildees em que disseram que ela e chata ou
sua amiga eacute chata Natildeo haacute tambeacutem menccedilatildeo ao ldquobloqueiordquo da vida real aos que satildeo chatos
Haacute alguns problemas quanto agrave ortografia e tambeacutem confusatildeo quanto ao emprego
dos sinais de pontuaccedilatildeo adequados
Quadro 16 ndash Produccedilatildeo final Ceacutelia ndash Tiacutetulo Chata sim ou natildeo
1 Um dia uma amiga minha me per-
2 guntou ndash Eu sou muito chata Responde ndash Sim
3 as vezes Mas o problema foi que ela natildeo
4 gostou de sabe em saiu furiosa comigo e
5 natildeo deixo eu termina de falar
6
7 Mas outro dia ela veio para me pedi des-
8 culpas eacute eu disse ndash natildeo precisa eacute como eu dizia
9 vocecirc e chata mais as vezes quando vocecirc natildeo
10 falando demais ou falando coisas se graccedila Eacute
11 ela disse ndash Eacute mesmo eacute sorriu
12
13 Mas me responde leitor se algueacutem viesse te
14 pergunta se ela era chata o que vocecircs respon-
15 deria O problema eacute que nem todos gostam de es-
16 cuta a verdade
17
18 Aconteceu que um dia um colega disse
19 que eu era chata no comeccedilo fiquei com um
20 pouco de raiva Mas passou porque parei eacute
21 pensei e verdade sou chata Mais mesmo assim
22 sedo chata sim ou natildeo a reciacuteproca era
23 verdadeira
24
25 Chata sim ou natildeo uma pergunta que
26 eu mesmo me fiz bom vou parar por aqui
27 antes que eu comece a fica chata de vez Fonte Dados da pesquisa
105
O texto reescrito foi composto em 5 (cinco) paraacutegrafos o que estaacute dentro do
previsto pela instruccedilatildeo Alguns problemas quanto agrave ortografia e tambeacutem confusatildeo quanto ao
emprego dos sinais de pontuaccedilatildeo adequados permaneceram como em ldquoUm dia minha amiga
me perguntou ndash Eu sou muito chatardquo em que foi feito uso de exclamaccedilatildeo em vez de
interrogaccedilatildeo
Foi mantida a voz que narra (1ordf pessoa) e o diaacutelogo com um personagem ndash a amiga
(linhas 1 e 2) se faz em forma de discurso direto embora natildeo devidamente paragrafado poreacutem
fazendo uso de travessotildees o que eacute um avanccedilo
O segundo paraacutegrafo (linhas 7 a 11) foi inserido a partir da sugestatildeo que fizemos
para a aluna Era interessante que ela acrescentasse em seu texto algo que exemplificasse o que
ela considera como ser legal e ser chato Atendendo agrave sugestatildeo a aluna mostra discretamente
seu ponto de vista na frase ldquovocecirc e chata mais as vezes quando vocecirc natildeo falando demais ou
falando coisas se graccedilardquo (linhas 9-10)
O contato direto com o leitor permanece como na PI atraveacutes de frases como ldquoMas
me responde leitorrdquo (linha 13) ndash cuja pontuaccedilatildeo nessa reescrita foi melhorada pela sugestatildeo ndash
e ldquoO que vocecirc responderiardquo (linhas 14-15) Natildeo foi atendida a instruccedilatildeo no tocante ao botatildeo
de bloqueio na vida real
A autora emprega em seu texto a frase ldquobom vou parar por aquirdquo (linha 26)
caracteriacutestica de uma conversa informal Esse uso da oralidade como em conversas eacute marca do
gecircnero crocircnica
Quadro 17 ndash Produccedilatildeo inicial Arlindo ndash Tiacutetulo Chato e natildeo eacute chato
1 Eu natildeo gosto daquela pessoa que
2 jaacute chegada pensando que jaacute pode falar
3 todo que pensa pra mim as pessoas
4 que pega celular para falar besteira nas
5 redes sociais essas pessoas eu natildeo gosto
6
7 agora aquelas pessoas que satildeo bem
8 calmas nas redes sociais ai eu gosto
9 por que sabem conversar saber puxar
10 intimidade fazem a gente rir e noacutes nos
11 trazem conforto e nos fazem saber que
12 a pessoa com quem a gente conversar
13 natildeo eacute uma maacute pessoa Eacute muito
14 bem amigo nos faz feliz
15
106
16 agora as pessoas que eu bloqueio
17 satildeo aquelas pessoas que natildeo sabem
18 conversar falatildeo de qualquer jeito
19 puxa assunto que eu natildeo gosto
20 por isso eu bloqueio essas pessoas
21 redes sociais eacute pra procurar
22 amigo e ais vezes eacute pra respeitar Fonte Dados da pesquisa
Ao ler o texto de Arlindo vemos que ele trata do assunto pedido na instruccedilatildeo e tem
em mente a audiecircncia pretendida que acessa redes sociais No entanto natildeo alcanccedila o leitor
envolvendo-o na conversa narrando-lhe as situaccedilotildees apenas elenca as situaccedilotildees que lhe satildeo de
agrado e desagrado mostrando o que para ele eacute ser chato e ser legal
Os trecircs paraacutegrafos que compotildeem o texto se organizam de modo a mostrar o que o
autor natildeo gosta o que gosta e o porquecirc de bloquear pessoas ndash mas na rede social natildeo fazendo
o comparativo com a vida real
Quadro 18 ndash Produccedilatildeo final Arlindo ndash Tiacutetulo Chato e natildeo eacute chato
1 Chato eacute uma pessoa botar besteira
2 no Facebook Por que isso eacute muito chato e
3 horriacutevel todo mundo ver vai laacute e comentar
4 mal do video ser legal eacute aquela pessoa que
5 vai laacute na casa da pessoa te daacute presente
6 sem vocecirc pedir nada sem vocecirc falar nada
7 no final soacute agradecer e ser feliz com o presente e
8 depois no outro dia soacute retribuir
9
10 Meu caro amigo legal e chato eacute
11 ser como uma pedra ajuda a parar o
12 tracircnsito e depois eacute chato porque as
13 pessoas tropeccedilam nelas e meus irmatildeos
14 legal e chato satildeo quase a mesma coisa
15 soacute que satildeo meios diferentes eu vou te
16 explicar
17 Ser chato eacute coisa possiacutevel e ser legal eacute
18 coisa quase impossiacutevel Fonte Dados da pesquisa
O aluno Arlindo manteve seu tiacutetulo e percebemos que a explicaccedilatildeo para o mesmo
seria transmitir a ideia de ldquochato e natildeo chatordquo ndash ou legal O verbo ser que aparece no tiacutetulo
como eacute deveria ter sido empregado de outra maneira como quando sugerimos ldquoEacute chato e natildeo
107
eacute chatordquo ou ldquoO que eacute chato e o que natildeo eacute chatordquo ou ldquoChato e legalrdquo No rascunho que Arlindo
fez ele empregou como tiacutetulo provisoacuterio ldquoO que eacute chato e o que eacute legalrdquo Poreacutem na hora de
passar a limpo e entregar permaneceu o tiacutetulo original
O autor Arlindo manteve seu foco nas redes sociais como indica a instruccedilatildeo e
amplia um pouco as ideias a partir das discussotildees que aconteceram na aula durante a
tempestade de ideias a fim de redespertar o olhar dos alunos para partirem de situaccedilotildees
vividasobservadas Nas linhas de 10 a 13 ele faz uma comparaccedilatildeo com a pedra fruto da
discussatildeo preacutevia Dependendo do ponto de vista a pedra pode ajudar bem como pode
atrapalhar Poreacutem nas linhas 15 e 16 Arlindo fica de explicar o porquecirc de ser chato e ser legal
serem quase a mesma coisa e termina o texto abruptamente sem desenvolver suas ideias
Houve uma evoluccedilatildeo no tocante agrave conversa com o leitor Embora Arlindo natildeo tenha
claro se sua audiecircncia eacute uma pessoa soacute (linha 10 Meu caro amigo) ou um grupo de pessoas
(linha 13 e meus irmatildeos linhas 15 e 16 eu vou te explicar) ele jaacute a chama a prestar atenccedilatildeo
no que estaacute se propondo a dizer em seu texto
Quadro 19 ndash Produccedilatildeo inicial Juacutelia ndash Tiacutetulo Ser chato ou ser legal
1 Ai meu Deus tou de saco cheio de tantos amigos
2 chatos eles ficam com chatice toda hora
3 se na vida tivesse um botatildeo para bloquear
4 as pessoas chatas seria otimo pelomenos
5
6 Eu ficaria com menos pessoas chatas ao
7 meu redor Ai soacute ficaria as pessoas
8 legais
9
10 Eu chamo meus amigos de chatos mais
11 eu gosto deles assim mesmo Eu chamo
12 meus amigos de chatos e eles me chamam
13 de chata tambeacutem e se existisse o botatildeo
14 de bloquear Eu ia ser bloqueada tambeacutem
15 Mesmo se existisse o botatildeo muitas pessoas
16 iam mudar de comportamento eles iriam
17 querer ser legais para natildeo serem bloque-
18 ados Eu mesma ia mudar de atitudes
19 com meus amigos Eu natildeo ia mais
20 ser chata como vaacuterias pessoas me
21 chama Fonte Dados da pesquisa
108
Na linha 1 vemos que a aluna utilizou a expressatildeo Ai meu Deus retirada do texto
trabalhado e que daacute suporte agrave instruccedilatildeo A aluna faz uso da linguagem coloquial na mesma linha
(tou de saco cheio) caracteriacutestica permitida na abordagem de nossas crocircnicas literaacuterias
Eacute interessante perceber que Juacutelia apoacutes se avaliar como chata faz uma reflexatildeo
(linhas 13-14 ldquoe se existisse o botatildeo de bloquear Eu ia ser bloqueada tambeacutemrdquo) E trata da
questatildeo falando de possiacuteveis alteraccedilotildees no comportamento das pessoas incluindo o seu proacuteprio
No entanto apesar de ela levantar essa reflexatildeo natildeo a direciona diretamente ao leitor poreacutem
tem em mente mesmo que superficialmente que sua audiecircncia estaacute nos paracircmetros indicados
pela instruccedilatildeo visto que menciona o botatildeo de bloquear caracteriacutestico de ambientes virtuais
sendo conhecido portanto de pessoas que tecircm acesso ao mundo digital
Quadro 20 ndash Produccedilatildeo final Juacutelia ndash Tiacutetulo Pessoas chatas e pessoas legais
1 Como existem pessoas chatas que ficam
2 dando bola para o que as pessoas falam
3 fica reclamando da vida e tambeacutem quer tudo
4 do seu jeito Natildeo daacute certo ser amiga desse
5 tipo de pessoa
6
7 Prefiro aqueles amigos que sabe lidar
8 comigo que datildeo carinho e que natildeo fique
9 reclamando de tudo e que natildeo sabe relevar
10 os problemas como se nada tivesse acontecendo
11
12 Eu gosto daquelas pessoas que chamam os
13 amigos para um passeio isso sim eacute ser
14 legal tem alguns tipos de amigos que fazem
15 de tudo pra ver seus amigos felizes
16
17 existem alguns amigos que falam
18 com vocecirc uma hora e depois taacute falando
19 mal de vocecirc esse tipo de pessoa faz isso
20 porque eacute falso e tem inveja soacute porque
21 vocecirc eacute feliz com seus amigos e ele (a)
22 natildeo
23
24 e vocecirc leitor Vocecirc eacute chato ou legal
25 Eu tenho poucos amigos mas os que
26 tenho satildeo os melhores
27
28 as pessoas gostam de vocecirc como
29 vocecirc eacute ou natildeo
30
31 Existem ateacute aquele tipo de pessoa
109
32 que humilha as pessoas nas redes
33 sociais pessoas que fazem bullying
34 com outras pessoas esse tipo de pessoa
35 satildeo muito chatas Fonte Dados da pesquisa
A aluna produziu sua nova versatildeo de texto sobre as discussotildees em sala de aula que
antecederam esse momento da reescrita Os alunos determinaram exemplos do que seria ser
legal e ser chato e ela os aproveitou na enumeraccedilatildeo em seu texto No entanto de alguma forma
Juacutelia imprimiu sua reflexatildeo pessoal sobre o que eacute legal e o que eacute chato Nas linhas 1-5 ela afirma
o quatildeo difiacutecil eacute ser amiga de pessoas que atribuem muita importacircncia ao que outras pessoas
dizem que ficam reclamando da vida e tambeacutem querem tudo do seu jeito Nas linhas 7-10 e
12-15 ela explicita suas preferecircncias por pessoas que considera legais e exemplifica Nas linhas
17-22 Juacutelia diz que tipo de pessoas satildeo chatas novamente
Poreacutem o que parece ter acontecido eacute que Juacutelia natildeo teria ainda compreendido que
era para partir de uma experiecircncia vivida ou observada aprofundando-se um pouco mais na
narrativa
Ao todo o texto comporta agora 7 paraacutegrafos que poderiam ter sido mais bem
organizados Nas linhas 24-29 A7 aborda sua audiecircncia diretamente tratando-a por vocecirc
lanccedilando-lhe perguntas Esse seria o momento em que o texto acabaria poreacutem convidada a
reler mais uma vez a autora percebeu que natildeo abordou a proposta da instruccedilatildeo que era bloquear
os chatos da vida real nem havia tambeacutem abordado questotildees tocantes agraves redes sociais
finalizando portanto com um paraacutegrafo que fizesse o resgate ainda a tempo mesmo que
perdendo um pouco do ritmo do texto
Quadro 21 ndash Produccedilatildeo inicial Vicente ndash Tiacutetulo A pergunta eacute se eu bloquearia uma pessoa chata
1 Bom gente vocecirc bloquearia uma pessoa
2 chata que bertuba-se voccedilecirc nas redes
3 sociais
4
5 A pergunta eacute se eu bloquearia uma pess-
6 oa chata ovio que sim por que Por que
7 se eu natildeo bloqueaccedile essa pessoa ia ficar
8 mim perturbandando ai eu ia ficar com
9 muita raiva ai eu ia falar aquelas coisas
10 maeducada como xingar fala coisas que natildeo
11 pode falar porisso eu bloquei essa pessoa
12 ai ateacute que foi bom bloquear essa pessoa
110
13 por que ela natildeo ia ficar mim perturbando natildeo
14 ia ficar falando como tomar certas liberdades
15 mas chegou uma hora que natildeo deu bloquei o
16 sujeito Estava chato demais Xxxx
17
18 Uma pessoa chata eu sou uma pessoa
19 chata por que quando eu estou no whats
20 natildeo tem nenhuma pessoa olaine eu fico man-
21 dando mensagens pra essas pessoa ai essa pes-
22 soas natildeo gosta e fala que eu sou chato triste
23 neacute kkkk Fonte Dados da pesquisa
Parece-nos que Vicente tem por meacutetodo iniciar a escrita de seu texto respondendo
diretamente agrave pergunta que foi feita na instruccedilatildeo e fazendo disso seu tiacutetulo inclusive Serafini
(2003 p 71) chama a esse tipo de paraacutegrafo de introduccedilatildeo-enquadramento (cf na seccedilatildeo sobre
escrita) O texto inteiro possui 3 (trecircs) paraacutegrafos
Nas linhas 14 a 16 vemos que houve coacutepia de excertos do texto motivador O chato
da vez (ldquotomar certas liberdadesrdquo ldquomas chegou uma hora que natildeo deurdquo ldquobloquei o sujeito
Estava chato demaisrdquo)
No iniacutecio do texto logo nas linhas 1-2 Vicente tem em mente uma audiecircncia como
vemos em ldquoBom gente vocecirc bloquearia uma pessoa chata que bertuba-se voccedilecirc nas redes
sociaisrdquo Poreacutem o aluno natildeo define se vai falar a um grupo (gente) ou a uma pessoa soacute (vocecirc)
Para atender agrave instruccedilatildeo Vicente trata de situaccedilotildees vividas em ambiente online quando se
refere ao aplicativo de interaccedilatildeo (linha 19 ldquoquando eu estou no whatsrdquo) fala do envio de
mensagens e traz um elemento multimodal ao final de seu texto (linha 23 ldquokkkkrdquo) que
caracteriza a gargalhada frequentemente usada em conversas online
Quadro 22 ndash Produccedilatildeo final Vicente ndash Tiacutetulo
1 Bom uma pessoa legal eacute ter paciensia
2 criativa uma pessoa legal animada inteligente
3 adoraveu feliz simpatica bom humor natildeo ser
4 groseiro com as pessoas simpatica conversar com
5 as pessoas legal
6
7 Ser chato Eacute uma pessoa que faz varias
8 perguntas como quando onde que horas etc
9 ser chato e pegar no peacute de varias pessoas e ser
10 ensorportavel pessoas chatas deveriam refletir
11 sobre a paciecircncias das outras pessoas uma
111
12 pessoa que tem pouca paciecircncia e bem
13 difiacutecil conviver com uma pessoa chata
14
15 Um chato ser legal e muito estranho
16 para queacutem conhece uma pessoa chata e bem
17 dificil ele ser legal soacute se acontecer aguma
18 coisa para ele ser legal um dia uma meni-
19 na ficou fazendo vaacuterias perguntas sobre a minha
20 vida natildeo gostava das perguntas que ela fazia
21 e falei coisa que natildeo devia no outro dia eu notei
22 o comportamento dela estava estranho tipo compor-
23 tada legal uma pessoal de bom humor natildeo parecia
24 com ela estava estranha e foi indo assim
25 e ela veio falar com migo e nunca mais per aquelas
26 perguntas hoje ela eacute legal gostei dela ter
27 mudado natildeo soacute eu mas muitas pessoas Fonte Dados da pesquisa
Vicente iniciou seu texto reescrito apoacutes as discussotildees em sala retirando a pergunta
direta que fazia para inspirar-se para comeccedilar e passando a uma conclusatildeo direta (linha 1
ldquoBomrdquo) sobre as caracteriacutesticas de uma pessoa legal seguindo a isso um paraacutegrafo do que eacute ser
chato Apesar de o texto ter perdido em atratividade em seu iniacutecio Vicente atendeu agrave sugestatildeo
que fizemos quando pedimos que ele mencionasse uma situaccedilatildeo que tivesse
vivenciadoobservado
No entanto perdeu de vista a instruccedilatildeo uma audiecircncia que acesse as redes sociais
a questatildeo do bloquear na vida real o contato direcionado ao leitor
Quadro 23 ndash Produccedilatildeo inicial Graccedila ndash Tiacutetulo Rafaelly chata
1 Eu quero bloqueia essa
2 pessoa porque primeiramente
3 ela natildeo tem nem celula
4 entatildeo neste caso natildeo da pra bloqueia
5 ela As vezes essa pessoa ela e
6 um pouco chata fresca e sem
7 graccedila com todo respeito Algumas
8 vezes ela fala um pouco de
9 besteira e isso torna ela uma
10 pessoa chata Eu conheci essa
11 pessoa na escola so que agora
12 ela natildeo tem a mesma idade
13 que eu tenho a uacutenica rede social
14 que ela tem e o Facebook
15
112
16 Mais mi responde leitor o que
17 vocecirc acha sobre as pessoas
18 chatas
19
20 Pensando bem ela e uma
21 pessoa muito legal toda doidi-
22 nha amigaacutevel e amorosa etc
23 O que eu gosto mais nela
24 e que ela e sincera e indireta
25 e eacute bom de dar conselhos por
26 isso que eu amo a chatice
27 dela e ela se chama Rafaelly Fonte Dados da pesquisa
Neste texto a autora faz uma reflexatildeo sobre a amiga partindo de uma ideia inicial
que eacute a chatice da Rafaelly para a consideraccedilatildeo dos pontos positivos que a mesma Rafaelly tem
(ldquoPensando bemrdquo)
Houve uma maacute interpretaccedilatildeo da instruccedilatildeo quanto ao entendimento do que seria
bloquear uma pessoa na vida real como comprovamos nas linhas 2-5 ldquoprimeiramente ela natildeo
tem nem ceacutelula entatildeo neste caso natildeo da pra bloqueia elardquo
Nas linhas 16-18 A9 tem em mente uma audiecircncia como vemos em ldquoMais mi
responde leitor o que vocecirc acha sobre as pessoas chatasrdquo
Quadro 24 ndash Produccedilatildeo final Graccedila ndash Tiacutetulo Chata ela ou EU
1 Mi responde leitor o que
2 vocecirc acha sobre as pessoas cha-
3 tas
4
5 E vocecirc leitor Vocecirc e chato
6
7 Certo dia uma amiga veio
8 falar um monte de bobagens coisa-
9 s que natildeo tinha nada haver
10 ou seja coisas sem graccedilas Eacute eu
11 disse vocecirc e muito chata sabia
12 Ela falou ndash vocecirc tambeacutem fiquei
13 brava
14
15 Logo seguinte eu queria
16 bloquea ela porque tinha mi
17 chamado de chata mas tinha
18 um problema era que primeira-
19 mente ela natildeo tinha nem
113
20 celular entatildeo neste caso natildeo da-
21 va para bloquea o unico lugar
22 que dava pra bloquea ela era
23 no Facebook
24
25 Mais pensando bem ela
26 e uma pessoa muito legal to-
27 da doida amigavel e amorosa etc
28 O que eu acho legal nela e a sinceridade dela ajuda as
29 pessoa sabe releva os problemas
30
31 Natildeo vou nega que tambeacutem
32 sou uma pessoa chata Fonte Dados da pesquisa
Nas linhas 1-3 e linha 5 Graccedila teve em vista uma audiecircncia como vemos em ldquoMi
responde leitor o que vocecirc acha sobre as pessoas chatasrdquo e ldquoE vocecirc leitor Vocecirc e chatordquo Em
sua reescrita a aluna se comunica com o leitor de forma expliacutecita inspirada no modelo do texto
O chato da vez
Percebemos que ela atendeu a sugestatildeo de partir de uma situaccedilatildeo vividaobservada
para compor sua crocircnica (linha 7 ldquoCerto dia uma amiga []rdquo) desenvolvendo seu texto no
sentido de apresentar a seu leitor sua ideia do que eacute ser chato e ser legal a partir do que expotildee
e conduz seu fio tocando na instruccedilatildeo que sugere a inspiraccedilatildeo de bloquear uma pessoa na vida
real Poreacutem percebemos que ela natildeo extrapolou os limites do ambiente virtual criando uma
situaccedilatildeo de botatildeo de bloqueio da vida real para evitar as pessoas que ela considera chatas mas
condicionando o bloqueio meramente agraves redes sociais
Quadro 25 ndash Produccedilatildeo inicial Lilian ndash Tiacutetulo Meus amigos chatos e Eu
1 Eu tenho um amigo muito chato ele
2 fica o tempo todo pegando no
3 meu peacute as vezes eu comeccedilo
4 a chamar ele de chato ai ele
5 fica uns dias estranho comigo
6 mas depois agente comeccedila
7 se falar de novo
8
9 Eu queria pra existir um
10 botatildeo pra bloquear meus amigos
11 chatos porque eles pegam muito
12 no meu peacute eu chama eles
13 de chatos mas eu tambeacutem sou
14 chata e muito chata se existisse
114
15 o botatildeo pra bloquear as pessoas
16 chatas eu tambeacutem ia ser bloqueada
17 porque eu sou muito chata eu
18 natildeo queria ser chata eu queria
19 ser legal eu sou chata porque
20 quando eu comeccedilo falar eu natildeo
21 quero parar ai minhas amigas
22 ficam dizendo que eu sou muito
23 chata mais mesmo assim sou
24 feliz Fonte Dados da pesquisa
Lilian parte de uma situaccedilatildeo vivenciada (linhas 1-7) em que fala de um amigo
muito chato e usa a expressatildeo ldquopegar no peacuterdquo como em O chato da vez Nas linhas 17 a 24
Lilian tambeacutem diz porque ela seria uma pessoa chata ndash comeccedila a falar e natildeo quer parar Por
isso ela desejaria o botatildeo de bloquear na vida real como dito na questatildeo 7 que traz a instruccedilatildeo
de produccedilatildeo No entanto as situaccedilotildees natildeo estatildeo bem desenvolvidas e natildeo prendem o leitor que
aliaacutes natildeo eacute inserido no texto na ldquoconversa com o leitorrdquo Natildeo observamos uma percepccedilatildeo clara
da ideia de redes sociais
Quadro 26 ndash Produccedilatildeo final Lilian ndash Tiacutetulo Pessoas legais e chatas
1 Existem pessoas chatas e
2 outras legais conheccedilo alguns amigos que
3 satildeo um pouco chatos porque eles
4 ficam reclamando da vida eles ficam
5 dando importacircncia para os que os
6 outros falam desse jeito natildeo daacute
7
8 Mais eu tenho alguns amigos
9 que vivem fazendo piadas para seus
10 amigos Gosto do jeito que eles tratam
11 seus amigos eles levam eles pra
12 um passeio levam para o cinema
13 datildeo carinho sabem relevar os problemas
14 mas eu conheccedilo uns que falam comigo
15 mas depois tatildeo falando mal de mim
16 pela minha costa
17
18 Eu me acho uma pessoa
19 muito chata porque eu gosto
20 de tudo do meu jeito reclamo de
21 tudo dou importacircncia pra tudo
22 que as pessoas falam mais
115
23 as vezes eu soacute um pouco legal
24 com minhas amigas E vocecirc leitor
25 eacute chato ou legal as pessoas gostam
26 de vocecirc Fonte Dados da pesquisa
Apoacutes a tempestade de ideias da aula destinada agrave reescrita Lilian produziu 3 (trecircs)
paraacutegrafos e dedicou um a mostrar o que eacute ser chato e o seguinte ao que eacute ser legal em sua
opiniatildeo Na reescrita a aluna jaacute considera a audiecircncia conversando com o leitor (linhas 24-26)
poreacutem se distancia do que consta na instruccedilatildeo que eacute o bloqueio na vida real imitando as redes
sociais Ainda percebemos repeticcedilotildees de palavras que poderiam se tivesse havido uma nova
leitura ter sido evitadas
Podemos dizer que Lilian nos permite refletir sobre o comportamento humano
quando diz ldquomas eu conheccedilo uns que falam comigo mas depois tatildeo falando mal de mim pela
minha costardquo (linhas 14-16) poreacutem ela natildeo desenvolve a ideia apropriadamente no paraacutegrafo
seguinte como ela mesma havia dito em sala que falam mal dela porque ela tem o gecircnio difiacutecil
como ela descreveria em ldquoeu gosto de tudo do meu jeitordquo (linhas 19-20) De algum modo
podemos dizer que esse desdobramento de paraacutegrafos jaacute eacute uma evoluccedilatildeo na escrita de Lilian
Quadro 27 ndash Produccedilatildeo inicial Heloiacutesa ndash Tiacutetulo ldquoChato mais eacute muito legalrdquo
1 Tenho um amigo que ele eacute legal
2 mas tambeacutem eacute chato ao mesmo
3 tempo mais gosto da companhia
4 dele Mais quando chega a chatice
5 natildeo da pra aguentar ele comeccedila
6 a fala fala e fala eacute senpre o
7 mesmo assunto algo que natildeo
8 gosto ldquojogordquo
9
10 Taacute toda hora mandando mensage-
11 m daacute raiva mas neacute
12 Somos muito amigo nas
13 redes sociais posta fotos toda
14 hora Mas eacute muito legal sempre
15 faz brincadeiras pelo zapp
16
17 Eu poderia bloquialo mais
18 eacute muito legal telo como amigo
19
20 Gosta de pegar no meu peacute
21 quando o assunto eacute estudo mim
116
22 da sempre vaacuterios concelhos
23
24 Por mais que seja meu amigo vocecirc
25 eacute muito chatooo Fonte Dados da pesquisa
O texto foi escrito em 5 (cinco) paraacutegrafos Natildeo traz marcas explicitas de conversa
com o leitor e haacute um tangenciamento do que pede a instruccedilatildeo visto que a autora falou de
bloqueio No entanto natildeo houve real compreensatildeo do botatildeo de bloqueio da vida real visto que
ela se refere a um bloqueio nas redes sociais Percebemos o uso do coraccedilatildeo ao fim do penuacuteltimo
paraacutegrafo (linha 22) como sendo um recurso multimodal utilizado em meio virtual para
demonstrar agrado agrave ideia (curti)
Houve neste texto uma mudanccedila de interlocutor Inicialmente voltado para uma
audiecircncia mesmo que natildeo se dirigisse diretamente ao leitor o texto passou a ser direcionado
para o amigo chato de Heloiacutesa
Haacute a frequente repeticcedilatildeo do termo mas poreacutem sem uma forma consolidada de uso
visto que Heloiacutesa emprega mas e mais alternadamente
Quadro 28 ndash Produccedilatildeo final Heloiacutesa ndash Tiacutetulo ldquoO melhor chatordquo
1 Vol falar um pouco do meu
2 amigo
3
4 Ele se chama Daniel ele eacute uma
5 boa pessoa estaacute sempre mi
6 ajudando eacute um bom amigo e mim
7 da sempre forccedila pra tudo gosto
8 muito da conpanhia dele
9
10 E vocecirc leitor Vocecirc eacute chato
11
12 Somos chatos tenho 15 anos e sei
13 que chatise eacute estado de espirito
14
15 Ele eacute chato em vez enquando
16 ele eacute muito quando ele me
17 ajuda em algo ele mim trata
18 surper bem ele mim dar muito
19 carinho ele mim oferece cumida
20 quando estou na casa dele
21 natildeo gosta de criticar as pessoas
22
117
23 Ele eacute chato quando reclama
24 de tudo quer tudo do seu jeito
25 que ele conbina da ouvidos a
26 tudo o que falam ele fala demais Fonte Dados da pesquisa
Essa aluna se valeu do que discutimos em sala no dia em que propusemos a reescrita
sobre o que poderiam ser atitudes de uma pessoa legal A turma presente enumerou accedilotildees como
dar carinho oferecer comida ouvir as pessoas atenciosamente tratar bem natildeo criticar as
pessoas como sendo de pessoas legais ao passo que reclamar de tudo soacute querer as coisa do seu
jeito dar ouvidos a fofocas e falar demais como sendo atitudes de pessoas chatas Mencionar
um amigo e descrever atitudes dele eacute um princiacutepio do que conversamos sobre fornecer a
descriccedilatildeo de alguma pessoa e narrar uma situaccedilatildeo No entanto a aluna natildeo aprofundou a
descriccedilatildeo das caracteriacutesticas do amigo ndash apenas nomeou ndash e nem narrou a situaccedilatildeo sugerida
A reescrita foi feita em 6 (seis) paraacutegrafos dentro do que sugere a instruccedilatildeo O seu
primeiro traz uma introduccedilatildeo que chama a atenccedilatildeo preparando o leitor para o que vem a seguir
no texto Consideramos um avanccedilo no sentido de que Heloiacutesa jaacute parece ter feito um plano
melhor de escrita o que pode se consolidar em propostas futuras O segundo paraacutegrafo foi clara
paraacutefrase do texto motivador ldquoO chato da vezrdquo (linhas ldquosei que chatise eacute estado de espiritordquo)
Percebemos diminuiccedilatildeo nas repeticcedilotildees desnecessaacuterias
Na PF a aluna manteve o foco narrando o que lhe acontece descrevendo seu
amigo sem deixar o leitor para conversar com este amigo
Quadro 29 ndash Produccedilatildeo inicial Eliane ndash Tiacutetulo Um pouco de tudo
1 Ai gente nesse mundo agrave
2 muitas pessoas chatas
3 pois eu conheci pessoas
4 chatas e legais
5
6 Na adolecircncia conhecemos
7 pessoas numa pat-papo com
8 os amigos conheci uma
9 amiga pois conversamos e
10 ali natildeo parou mais de
11 falar
12
13 Num sentido e que ela
14 era muito cheia de
15 nheacutem-nheacutem de papo nada
16 ver O egrave o meu pensamento
118
17 que mim engana Mais eu
18 natildeo acho ela chata
19
20 De um tempo pra caacute nos
21 damos muito bem parti-
22 cularmente nos casos eu e ela
23 descordamos de tudo que
24 falamos mas eu acho que
25 duas chatas se dam muito
26 bem Na vida real parece um
27 mundo digital nos natildeo
28 paramos para pensamos nos
29 casos da vida social pessoas
30 postam coisas invalida na
31 rede sociais Fonte Dados da pesquisa
Para a produccedilatildeo inicial Eliane buscou elementos dos textos que lemos em sala De
Prova Falsa percebemos o uso da expressatildeo ldquoera muito cheia de nheacutem-nheacutemrdquo (linhas 14-15)
quando quis falar da amiga com comportamentos chatos De O chato da vez a partiacutecula ldquoAirdquo
como em ldquoAi genterdquo (linha 1) logo no iniacutecio mostra que o texto tem ares coloquiais com
linguagem despojada
Atraveacutes da coloquialidade Eliane se dirige ao leitor poreacutem ficou confuso o
desenvolvimento do tema na conversa proposta na instruccedilatildeo que seria o bloqueio das pessoas
na vida real No tocante ao assunto abordado na instruccedilatildeo Eliane fala de ser chato e ser legal
e menciona as redes sociais poreacutem seu texto entre as linhas 26 e 31 (ldquoNa vida real parece um
mundo digital nos natildeo paramos para pensamos nos casos da vida social pessoas postam coisas
invalida na rede sociaisrdquo) natildeo teve desenvolvimento quebrando assim a coerecircncia
Quadro 30 ndash Produccedilatildeo final Eliane ndash Tiacutetulo O que e chato e o que e legal
1 Ai gente eu sou muito chata
2 Afirmou uma amiga em um bate-papo
3 com os colegas Eu natildeo te acho chata
4 vc e uma pessoa carinhosa aceitar
5 as diferenccedilas dos outros
6
7 Pois eacute muitas pessoas tem suas referen-
8 ccedilas mas isso natildeo quer dizer que
9 todos que estatildeo aqui satildeo chatos
10 Adriana ela e companheira Delci e
11 carinhosa
119
12
13 Mais alguns tem outro estorico de
14 pensamento por exemplo O Luis reclamar
15 demais Rosi e falza Eu particularmente
16 faccedilo de tudo pra natildeo ser chata
17 tento conversar da maneira possiacutevel
18 ajudar as pessoas em tudo quer
19 posso
20
21 Por isso tem um sentido de tudo
22 seja o que vc eacute natildeo o que as
23 pessoas queram o que vc sejam
24 mas que seja uma pessoa dignar Fonte Dados da pesquisa
A PF de Eliane possui tiacutetulo agora mais direcionado agrave instruccedilatildeo visto que a aluna
considerou falar a respeito do que para ela eacute ser chato e o que eacute ser legal O primeiro paraacutegrafo
do texto (linhas 1-5) eacute uma paraacutefrase do paraacutegrafo inicial do texto motivador poreacutem conteacutem o
teor da tempestade de ideias realizada antes da produccedilatildeo
O paraacutegrafo seguinte eacute interessante porque traz em si a ideia de ponto de vista e
toleracircncia afinal todos tecircm defeitos (ldquomas isso natildeo quer dizer que todos que estatildeo aqui satildeo
chatosrdquo linhas 8-9) mas qualidades tambeacutem (ldquoAdriana ela e companheira Delci e carinhosardquo
linhas 10-11) Houve uma evoluccedilatildeo na organizaccedilatildeo dos paraacutegrafos
Houve emprego adequado dos sinais de pontuaccedilatildeo dois-pontos e a viacutergula como
em ldquopor exemplo O Luis reclamar demais Rosi e falzardquo (linhas 14-15)
Eliane em sua reescrita atendeu agrave sugestatildeo de utilizar exemplos podendo colocar
personagens no seu texto No entanto percebemos que ela ainda natildeo compreendeu que para
tanto seria necessaacuterio mais que apenas nominar pessoas e adjetivaacute-las mas realmente fazer um
exerciacutecio de descriccedilatildeo mais detalhado fazendo seu leitor compreender por que ldquoO Luis
reclamar demaisrdquo (linhas 14-15) e a ldquoRosi e falzardquo (linha 15) por exemplo
Quanto agrave audiecircncia Eliane entende que conversa com um leitor como vemos por
exemplo em ldquoseja o que vc eacute natildeo o que as pessoas queram o que vc sejamrdquo (linhas 22-23)
poreacutem natildeo manteacutem o foco visto que mistura a audiecircncia com o personagem ldquoEu natildeo te acho
chata vc e uma pessoa carinhosardquo (linhas 3-4)
O texto natildeo atende agrave proposta de considerar o botatildeo de bloqueio na vida real como
consta da instruccedilatildeo
120
Quadro 31 ndash Produccedilatildeo inicial Joana ndash Tiacutetulo Pessoas chatas e outras legal
1 Pessoas chatas tem muitas pessoas que diz
2 que a outra e chata tem pessoas chata satildeo
3 aquelas que fazem muitas perguntas que saber
4 da vida do outro essas pessoas se torna muito chata
5
6 Muitas pessoas no Facebook que eu natildeo gosto de aceita
7 porque jaacute cei que ela e muito chato jaacute bloquei
8 muitas pessoas nesse caso de se chato deacute mas
9 porque fica mandando mensagem sem noccedilatildeo que
10 rendo saber da sua vida isso que eacute chato
11 pra mim pessoas que tu natildeo suporta se fose
12 eu bloquairia case todo mundo
13
14 Pra mim pessoas legal e aquelas que teu
15 jaacute persebe pelo jeito dessa pessoa eu tenho
16 uma amizade muito legal pra mim eu sou
17 uma menina que faso amizade muito raacutepdo
18 mas as mizades que eu fasso eu percebo logo
19 se essa amizade vai ser boa ou natildeo tenho mui
20 tas pessoas no face que eu acho legal que satildeo
21 boa de se se conversa natildeo faiz ldquomuitas perguntasrdquo
22 e muito bom ter uma amizade legal
23 pessoas legais satildeo oacutetimas de conversa natildeo tir inte
24 ronper quando tu taacute falando essa que satildeo pra
25 mim pessoas legais eu acho que tenho
26 muitas pessoas legal Fonte Dados da pesquisa
Podemos dizer que Joana criou seu texto em trecircs paraacutegrafos apesar de natildeo haver
um ponto para demonstrar se era realmente o final ou se ela desejava continuar escrevendo
Aliaacutes seus paraacutegrafos natildeo trazem pontuaccedilatildeo mostrando que o fluxo das ideias foi contiacutenuo
natildeo havendo o procedimento de elaboraccedilatildeo do rascunho para a seguir passar a limpo
concatenando melhor as ideias
Seu tiacutetulo natildeo foi atrativo poreacutem foi relativo ao assunto da instruccedilatildeo Em se
tratando do desenvolvimento do tema a aluna tem em mente o que eacute ser chato e o que eacute ser
legal poreacutem natildeo extrapola na compreensatildeo visto que desenvolve um paraacutegrafo descrevendo
seu procedimento na rede social natildeo fazendo a analogia com a vida real e o botatildeo de bloqueio
Natildeo houve a consideraccedilatildeo da audiecircncia nem a conversa com o leitor pedida na
instruccedilatildeo
121
Quadro 32 ndash Produccedilatildeo final Joana ndash Tiacutetulo Pessoas otimas
1 Ser legal e vocecirc tendo humildade com
2 uma pessoa ajuda ela em tudo que vocecirc
3 porde ter um pouco de paciecircncia com essa
4 pessoa vocecirc tecircm que ter amor por ela eacute com-
5 sidera ela como sua amiga ou irmatildeo tecircm
6 varias coisas pra vocecirc ser torna uma otima
7 pessoa Pra mim ser legal com migo eacute min
8 trata bem o que eu perdi tem que min da
9 e se min dar todo dia uma caixa de bombo
10 Garoto esse se torna oacutetimo pra mim
11
12 pessoas chatas e aquela que critica muito
13 as pessoas natildeo sabendo da vida dela sair
14 falando dela pra todo mundo chato e
15 aquela que quer saber de mais da sua
16 vida se torna iguinorante ETC temos que
17 ter mas um pouco de humo com essas
18 eu natildeo suporto pessoas chata se puder
19 nem fala com migo seria melhor ainda Fonte Dados da pesquisa
Apoacutes a tempestade de ideias da aula destinada agrave reescrita Joana reescreveu seu
texto em dois paraacutegrafos dedicando um a mostrar o que eacute ser chato e o seguinte ao que eacute ser
legal em sua opiniatildeo No entanto natildeo parece ter compreendido que natildeo bastava elencar
situaccedilotildees do que eacute ser chato e ser legal mas contar narrar situaccedilotildees vivenciadas ou observadas
a fim de entreter seu leitor
Na reescrita a aluna natildeo considera a audiecircncia visto que seu texto parece mais
trazer em si opiniotildees sem incitar reflexotildees Joana se distancia do que consta na instruccedilatildeo que
eacute o bloqueio na vida real imitando as redes sociais apenas afirma nas linhas 18-19 que ldquoeu
natildeo suporto pessoas chata se puder nem fala com migo seria melhor aindardquo Seu tiacutetulo soacute tratou
agora de um lado do comportamento humano (ldquoPessoas otimasrdquo) e deve ter sido colocado apoacutes
a finalizaccedilatildeo do texto quando foi verificar se havia tiacutetulo
Assim apoacutes a anaacutelise dos textos A dos alunos percebemos a evoluccedilatildeo dos itens
presentes e os distribuiacutemos no quadro autoavaliativo
Durante a produccedilatildeo dos textos observamos os alunos presentes procurando
perceber algo sobre seu processo de planejamento de escrita O que foi detectado nas primeiras
produccedilotildees poucos deles fizeram um rascunho antes de escreverem na folha de produccedilatildeo
recebida alguns textos jaacute deram sinais de que alguns alunos entenderam o que eacute a ldquoconversa
122
com o leitorrdquo alguns partiram de uma situaccedilatildeo vividaobservada para compor seu texto no
entanto mais parecendo um relato pessoal ou um diaacuterio pessoal do que uma abordagem de
crocircnica poucos narraram essa situaccedilatildeo de forma clara para que o leitor pudesse acompanhar
poucos posicionaram o foco narrativo de maneira adequada vaacuterios apenas tangenciaram a
proposta de produccedilatildeo Essas dificuldades constituiacuteram o cerne a ser explorado nas atividades
dos moacutedulos aplicados nos encontros da sequecircncia
Podemos estabelecer um graacutefico para melhor visualizaccedilatildeo dos resultados ateacute essa
etapa
Graacutefico 7 ndash Avaliaccedilatildeo das crocircnicas A
Fonte Dados da pesquisa
Como vemos houve na maioria dos itens avaliados uma sensiacutevel melhora apesar
das dificuldades ainda apresentadas Percebemos que vaacuterios alunos ainda focam em apenas
alguns aspectos do texto que conteacutem a instruccedilatildeo de produccedilatildeo deixando de contemplar o todo
como por exemplo o botatildeo de bloquear na vida real ndash diversos alunos natildeo atingiram esse
objetivo no texto acreditamos que porque lhes faltou uma releitura direcionada para verificaccedilatildeo
de tudo o que havia sido pedido Isso nos mostra que os alunos ao tomarem contato com seus
textos de uma primeira produccedilatildeo escrita se orientados a ter um pouco mais de paciecircncia sem
a urgecircncia de entregar logo a tarefa e se incentivados a reler se autoavaliar e a ouvir sugestotildees
0
2
4
6
8
10
12
14
Avaliaccedilatildeo das crocircnicas A
PI PF
123
podem sim progredir no sentido de se tornarem escritores mais haacutebeis enquanto conscientes
das etapas que regem o processo de escrita de textos
532 Produccedilotildees B textos para circulaccedilatildeo social
A produccedilatildeo para circulaccedilatildeo social foi chamada de produccedilatildeo B e corresponde ao
trabalho com um puacuteblico que variou entre 4 (quatro) a 8 (oito) alunos frequentes dentre os
quais apenas 4 (quatro) produziram o texto para fins de circulaccedilatildeo social real Nesta etapa
foram realizados 5 (cinco) encontros com duraccedilatildeo de 10 (dez) horasaula e leitura de quatro
crocircnicas ineacuteditas para os alunos (A cara da rua A carta de punho Amor de Macumba e Sr
Google Pacheco) e atividades correspondentes
A leitura desses textos foi produtiva para a classe no sentido de compreender que
cada crocircnica traz em si o resultado da reflexatildeo que o cronista consegue realizar das situaccedilotildees
que vivencia ou observa Identificar as situaccedilotildees geradoras das crocircnicas lidas ao longo dos
moacutedulos fez parte do trabalho que conduziu os alunos a falar de vaacuterios assuntos que poderiam
tornar-se temas de textos Copiamos no quadro e eles nos cadernos Eram temas do cotidiano
como assalto relaccedilotildees sociais vida de youtuber bullying fome cujas situaccedilotildees jaacute
observadasvivenciadas por eles mesmos poderiam render uma reflexatildeo
Aparentemente a dificuldade maior dos alunos eacute em expressar essa situaccedilatildeo sem
que ora pareccedila um relato iacutentimo como diaacuterio ou memoacuterias pois a natural disposiccedilatildeo de seus
textos traz uma sequecircncia narrativa um relato de emoccedilotildees pessoais poreacutem natildeo necessariamente
conduz o leitor a uma reflexatildeo ora por vezes pause a narraccedilatildeo e interaja com o leitor por meio
de perguntas ou ainda faccedila um texto com forccedila injuntiva ou com moral da histoacuteria
Para a escrita e a reescrita do texto desta etapa a PF-B incentivamos nossos alunos
a utilizar o quadro autoavaliativo tocando nos pontos mais sensiacuteveis identificados desde a PI-
A Natildeo foi estipulado um nuacutemero de paraacutegrafos deixando os alunos agrave vontade para produzir
Consideramos como audiecircncia um puacuteblico leitor que tivesse sua idade aproximadamente que
entendesse seus problemas dilemas alegrias que fizesse parte de seu mundo frequentando a
escola tendo amigos observando qualidades boas do ser humano ou mazelas da vida podendo
esse puacuteblico acessar redes sociais ou natildeo De toda forma o ideal seria conversar com o leitor
sobre questotildees cotidianas situando-o no tempo e no espaccedilo da crocircnica O texto B foi
integralmente produzido em meio digital a pedido dos proacuteprios alunos por celular ou
computador conforme o material que tivessem disponiacutevel em matildeos e nenhum foi produzido
124
em sala limitado pelo horaacuterio de aula No entanto foi feito o acordo dos prazos de entrega de
cada texto a fim de podermos imprimir e levar para trabalho de leitura releitura feedback da
professora-pesquisadora feedback dos colegas permitindo a cada autor reflexatildeo sobre o texto
e possibilitando a reescrita
Os alunos que se engajaram na produccedilatildeo da crocircnica para circulaccedilatildeo social foram os
alunos Ana Rodrigo Eduardo e Estela Os tiacutetulos das produccedilotildees inicial e final estatildeo no quadro
a seguir
Quadro 33 ndash Tiacutetulos das produccedilotildees para circulaccedilatildeo social
Tiacutetulo PI-B PF-B
Ana PROIBIDA DE ACHAR
GRACcedilA
Rodrigo Vida de preguiccediloso VIDA DE PREGUICcedilOSO
Eduardo INFAcircNCIA FELIZ
Estela ldquoDown= bullyingrdquo DOWN= BULLYING
Fonte Dados da pesquisa
Esses textos diferentemente das produccedilotildees A foram escritos utilizando aparelhos
de celular O acordo foi feito com os alunos em virtude da preferecircncia destes em gostarem de
escrever utilizando-se da tecnologia facilitando o registro a releitura e a reescrita segundo eles
mesmos visto que o meio virtual tambeacutem atenderia a ideia da circulaccedilatildeo dos textos A anaacutelise
das produccedilotildees B estaacute descrita ao longo desta seccedilatildeo
Quadro 34 ndash PIB Ana
1
2
3
Que situaccedilatildeo Eacute o que penso ateacute hoje Pude presenciar um niacutevel de babaquice
e de falta do que fazer de uma garota da minha escola que pra ser sincera eu nem ao
menos sei o nome dela
4
5
6
7
8
Tava eu junto com mais quatro amigos na cantina da minha escola no
finalzinho do recreio estaacutevamos rindo e conversando como sempre Chegaram duas
meninas de outra sala que eu nunca falei nem sabia de onde saiacuteram natildeo sabia nada
sobre ela poreacutem sei que sabiam sobre mim coisas do tipo novata do 9 ano meio
doida duvido se natildeo sabiam ate meu nome Bem nem tava prestando atenccedilatildeo nelas
125
9
10
11
12
13
14
15
16
17
Quando meu amigo brincou eguas de novo Sorriu e depois pediu
desculpas logo que percebeu o tamanho das meninas e todo mundo riu quando ele
brincou EU JURO que fiquei seacuteria mas natildeo aguentei quando ele pediu desculpas
com medo de levar uns supapos Foi entatildeo que comecei a rir e umas das meninas olhou
pra mim com uma cara super ameaccediladora dizendo tu ta rindo do que Ta achando
graccedila eacute Cara tinha quatro pessoas aleacutem de mim QUATRO seacuterio que ela
enchergou soacute a mim ali Eacute ser muito babaca pra chegar em um ponto desse minha
uacutenica reaccedilatildeo foi natildeo pera ela taacute falando comigo serio isso Gente Qual o nome
dela algueacutem aqui a conhece SOCORRO
18
19
Ate hoje me pergunto qual o problema dela Mas prefiro nem chegar perto
Vai que essa doenccedila pega
Fonte Dados da pesquisa
O texto de Ana foi composto de 4 (quatro) paraacutegrafos Sua conversa com o leitor
natildeo eacute com elementos expliacutecitos como na instruccedilatildeo sugerida na produccedilatildeo A mas percebe-se que
ela se importa com uma audiecircncia visto que narra para uma pessoa explicando a situaccedilatildeo
vivenciada contando ao seu leitor suas impressotildees mostrando as falas que ocorreram dando a
perceber os outros personagens que entraram na histoacuteria
As notaccedilotildees linguiacutesticas para indicar intensidade surpresa e algumas viacutergulas estatildeo
razoavelmente bem empregadas como vemos em ldquoeguas de novordquo (linha 9) que separa a
expressatildeo de surpresa ldquoeacuteguasrdquo com uma viacutergula e finaliza a frase com interrogaccedilatildeo
acompanhada de exclamaccedilatildeo atribuindo maior intensidade agrave fala
Quadro 35 ndash PFB Ana ndash Tiacutetulo PROIBIDA DE ACHAR GRACcedilA
1
2
3
E que situaccedilatildeo Eacute o que eu penso ateacute hoje Pude presenciar um niacutevel de babaquice
e de falta do que fazer de uma garota da minha escola que pra ser sincera eu nem ao
menos sei o nome dela
4
5
6
7
8
9
Estava eu junto com mais quatro amigos na cantina da minha escola no
finalzinho do recreio Estaacutevamos rindo e botando conversa fora de boa na paz Entatildeo
duas meninas que eu natildeo conheccedilo ndash jaacute tinha ateacute visto as duas mas nunca tinha falado
com elas nem ao menos sabia o nome delas mas sei que elas sabiam de mim certeza
Aquele pessoal fala demais ndash chegaram e estavam repetindo o lanche Ateacute entatildeo nem
tava reparando na presenccedila delas
126
10
11
12
13
14
15
16
17
18
Foi quando meu amigo brincou nossa vatildeo repetir de novo Eu olhei entendi
e nem dei importacircncia nem quis rir pra natildeo arrumar confusatildeo Elas olharam pra ele
com uma cara bem ameaccediladora e ele se arrependeu e pediu desculpas Nessa hora eu
natildeo aguentei e ri poreacutem dele Pensei eita macho ficou com medo de levar uns
sopapos Todo mundo rindo Foi entatildeo que uma delas olhou pra mim me batendo
verbalmente tu taacute rindo de quecirc Taacute achando graccedila eacute Mano do ceacuteu essa menina
tem problema soacute pode Foi minha uacutenica reaccedilatildeo Com quatro pessoas aleacutem de mim ali
sorrindo e ela pergunta soacute pra mim Eacute ser muito babaca pra chegar a esse ponto seacuterio
isso Perguntei pros meus amigos ldquogente qual o nome dela Ela taacute falando pra mim
mesmo SOCORRO
19
20
Ainda bem que meus amigos estavam ali senatildeo eu tava ferradinha Ateacute hoje
me pergunto qual o problema dela Mas prefiro nem chegar perto Vai que isso pega
Fonte Dados da pesquisa
Os quatro paraacutegrafos tiveram uma reelaboraccedilatildeo mas mantiveram-se em mesmo
nuacutemero na PFB de Ana Seu tiacutetulo permaneceu o mesmo e tem a ver com o teor da crocircnica
Quanto ao uso da pontuaccedilatildeo houve inclusive utilizaccedilatildeo de novo recurso o entre
travessotildees a partir de uma sugestatildeo dada pela professora-pesquisadora que indica um adendo
de informaccedilotildees agrave ldquoconversardquo que a narradora conduziu
Pudemos perceber uma melhor descriccedilatildeo da ambientaccedilatildeo onde a situaccedilatildeo
vivenciada se passou consolidando o tempo do finalzinho do recreio situaccedilatildeo que durou muito
pouco mas que para a autora durou com intensidade
O final foi interessante e ateacute cocircmico trazendo questotildees a se pensar como a amizade
e o companheirismo versus a implicacircncia de pessoas desconhecidas (podemos ver seu aliacutevio
em ldquoAinda bem que meus amigos estavam ali senatildeo eu tava lsquoferradinharsquordquo na linha 19) e o
quanto eacute raacutepido - e tolo - para nascer um conflito
Quadro 36 ndash PIB Rodrigo ndash Tiacutetulo Vida De preguiccediloso
1
2
Vocecirc tem preguiccedila Tem preguiccedila de ter preguiccedila perdeu alguma coisa por
causa de preguiccedila
3
4
5
Natildeo eacute muito certo ter preguiccedila de tudo dizem que eacute pegado mas natildeo vejo mal
nem um em ter preguiccedila oacutebvio que nem todo tempo vou ter preguiccedila mas a maior parte
127
6 do tempo sim sou tatildeo preguiccediloso que dormi com fome pra natildeo ir ateacute a geladeira parece
um pouco absurdo mas eacute verdade
7
8
9
10
Natildeo sei vocecirc mas eu jaacute dormi no sofaacute com preguiccedila de ir pra cama certo que
vida de preguiccediloso natildeo eacute la essas mil maravilhas principalmente se vocecirc mora sozinho(a)
eacute muito bom passar o dia deitado mexendo no celular ou PC e com um lanchinho do
lado
11
12
Mas o simples fato de eu pensar que vou ter que tecirc uma famiacutelia um emprego
meu carro minha empresa meu cachorro
13
14
Jaacute da ateacute preguiccedila de sair da cama mas vocecirc jaacute pensou como seria bom se natildeo
existisse nada disso pra se preocupar
15 Seria muito bom natildeo eacute
16
17
A preguiccedila jaacute se tornou parte do cotidiano tenho quase certeza que nesse
momento vocecirc estaacute com preguiccedila natildeo eacute
18
19
20
Muito bom passar o dia sem fazer nada Poreacutem um pouco cansado pela falta
de exerciacutecio fiacutesico mas nada quecirc um bom lanche natildeo resolva vida de preguiccediloso natildeo
leva a lugar nem um falo isso por mera experiecircncia
21 Mas eacute assim mesmo logo logo a preguiccedila passa pelo menos eu acho
Fonte Dados da pesquisa
O texto de Rodrigo partiu de uma situaccedilatildeo observadavivida Conversa com o leitor
(ldquovocecirc jaacute pensou como seria bom serdquo linha 12) sobre o tema preguiccedila A repeticcedilatildeo do termo
preguiccedila foi objeto de questionamento na aula ao que o aluno respondeu que utilizou-se da
estrateacutegia para reforccedilar a situaccedilatildeo e provocar no leitor a preguiccedila de ler ao que os colegas
aprovaram achando inclusive engraccedilado O narrador eacute personagem e coloca para seu leitor as
impressotildees de como eacute viver com o miacutenimo de disposiccedilatildeo poreacutem com a consciecircncia de que natildeo
eacute o ideal para a vida O final natildeo eacute interessante ou surpreendente poreacutem se adequa ao
desenvolvimento do texto Possui tiacutetulo apropriado
Quadro 37 ndash PFB Rodrigo ndash Tiacutetulo VIDA DE PREGUICcedilOSO
1
2
Vocecirc tem preguiccedila Tem preguiccedila de ter preguiccedila Perdeu alguma coisa por
causa de preguiccedila
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4
Natildeo eacute muito certo ter preguiccedila de tudo dizem que eacute pecado mas natildeo vejo mal
nenhum em ter preguiccedila Oacutebvio que nem todo tempo vou ter preguiccedila mas na hora de
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7
8
jogar aquela bola ningueacutem tem preguiccedila mas agora fala em arrumar a cama A preguiccedila
sai de baixo da cama pra vocecirc Eu tenho preguiccedila a maior parte do tempo Sou tatildeo
preguiccediloso que dormi com fome para natildeo ter de ir ateacute a geladeira pegar comida Parece
um pouco absurdo mas eacute verdade
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Aiacute vocecirc acorda e vai ateacute a sala daiacute vocecirc se deita no sofaacute e esquece o controle
em cima da mesa do computador ou da estante aiacute daacute aquele grito ldquoocirc manhecircecircecircecircecircecircecircecircrdquo
Logo ela vem correndo saber o que aconteceu e vocecirc na maior cara de pau diz pega
o controle pra mim Na hora que vocecirc diz isso vocecirc desperta todos os capirotos do
mundo ela ainda fala aquela frase que toda matildee diz o QUEcirc menino Isso serve pra
tudo que vocecirc pede pra sua matildee fazer pra vocecirc ateacute mesmo apagar a luz
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Quando eu estiver em um relacionamento minha namorada natildeo vai precisar
se preocupar com traiccedilatildeo Tenho preguiccedila de ir bem aiacute na esquina comprar o patildeo
imagine sair para trair ela Mas eacute muita melodia
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A vida de um preguiccediloso em si ela eacute uma grande sobrevivecircncia Natildeo muita
mas vocecirc vai ter de lutar para conseguir comida enfrentar o Vingador da Caverna do
Dragatildeo o quarto do furacatildeo e a cama do pavor Preguiccediloso pode vencer tudo isso mas
nunca conseguiraacute vencer a preguiccedila ndash pelo menos eu nunca consegui
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Era tatildeo lindo quando eu dormia no sofaacute e acordava na cama graccedilas a meus
pais Mas os tempos mudaram vocecirc dorme no chatildeo e acorda no chatildeo Deixar pra fazer
amanhatilde o que pode fazer hoje isso sim eacute tiacutepico de um preguiccediloso mas agraves vezes nem
fazemos
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Todos noacutes temos aquela cadeira que na hora de dormir sempre colocamos
todas as coisas de cima da cama em cima dela soacute por preguiccedila de arrumar tudo em seu
devido lugar
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Um celular PC tablet televisatildeo tudo isso com internet uma tomada tudo do
seu lado tem como natildeo ter preguiccedila ateacute de procurar aquela seacuterie na Netflix Certo que
o celular ou o PC tem comando de voz soacute pra falar o nome da seacuterie que vocecirc quer assistir
e tecnologicamente ir direto pra seacuterie mas daacute uma preguiccedila de falar e ainda com um
lanche do lado ateacute imagino o quatildeo seria top passar o dia assim Mas tem que estudar
fazer comida dar banho do cachorro limpar a casa e lavar a louccedila Ai ai daacute preguiccedila
soacute de pensar nisso Um dia vou perder essa preguiccedila pelo menos assim espero
Fonte Dados da pesquisa
129
O uso de expressotildees coloquiais como em ldquoMas eacute muita melodiardquo (linha 17) para
mostrar o quanto daacute trabalho trair a namorada e a corrente entre os jovens ldquoo quatildeo seria top
passar o dia assimrdquo (linha 33) deu colorido agrave crocircnica
O uso de notaccedilotildees linguiacutesticas para realccedilar o texto como em ldquoocirc manhecircecircecircecircecircecircecircecircrdquo
(linha 10) que mostra prolongamento da voz o QUEcirc meninordquo (linha 13) que indica tom
de voz mais alto e forte aleacutem da pontuaccedilatildeo que exclama a pergunta O uso do travessatildeo como
forma de colocar uma explicaccedilatildeo em evidecircncia foi adotado por sugestatildeo nossa como em ldquondash
pelo menos eu nunca conseguirdquo (linha 21) tambeacutem enriqueceu o texto
Ainda houve repeticcedilatildeo de termos sem intenccedilatildeo como em ldquomas na hora de jogar
aquela bola ningueacutem tem preguiccedila mas agora fala em arrumar a camardquo (linhas 4-5)
O final foi interessante levando a audiecircncia a refletir e a se divertir tambeacutem com a
descriccedilatildeo das situaccedilotildees ndash algumas ateacute inusitadas ndash de preguiccedila mas que acontecem em algum
grau com os leitores jovens
Quadro 38 ndash PIB Eduardo ndash Tiacutetulo
1
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5
Eu gosto muito de comida principalmente uma lasanha Porque eacute gostoso
mata a fome e deixa a gente feliz Bons tempos quando agente era crianccedila tomava aquele
belo leite antes de domir acordava de manhatilde bem cedinho com o cherinho do cafeacute na
mesa mas o tempos mudou E hoje em dia as crianccedilas dorme tarde natildeo se alimentatildeo
direito so querem comer besteras prejudicando a sauacutede
6 Era engraccedilado quando minha matildee dizia
7
8
Come a salada do prato se vocecirc comer tudinho mamatildee te dar um doccedile de
leite e agente comia
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E quando noacutes tinha dor de barriga a matildee ja vinha com o chaacute de bodo para dar
pra noacutes tomar E quando jogava bola e noacutes se arranhava a matildee ja tava nas matildeos o
merthiolate para passa na gente
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E quando o pessoal ia jogar bola reunia a galera e ia chamar a turma todinha
para jogar nosso campo era em um local de pissarra com muro em volta e quando a
bola cailha na casa da quela vizinha chata um de noacutes tiamos que pega o mas corajoso
se arricar a buscar e esse corajoso era eu lembro que uma vez eu chutei a bola para laacute
e machuquei um das plantas dela e vizinha fofocou para minha matildee e mamatildee colocou
eu de cartigo
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Agora as crianccedilas so querem ficar trancada dentro do quarto mechendo no seu
celular PC em geral
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Percebi que a infacircncia de hoje natildeo eacute mas a mesma de antigamente Hoje em
dia tamos rodiado de tecnologia crianccedilas jovens tem celulares internet computadores
mas antigamente natildeo era assim natildeo tou querendo criticar a tecnologias pois eu vivo na
tecnologia hoje Nesse tempo de hoje das tecnologia se vocecirc quer ouvir uma muacutesica eacute
soacute ir no YouTube ou fazer o download quer conversar com um amigo eacute soacute entra no
Whatsapp e conversar Mas quando era antigamente se quissemos ouvir uma
muacutesica tiamos que esperar passar no raacutedio ou comprar um CD bem ali na banca se
quisesse conversar com um amigo distante teria que ir na casa dele ou enviar uma carta
para ele
29
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E quando era natal ano novo famiacutelia toda reunida mesa cheia de comida
deliciosas isso era muito bom
31
32 SO SEI QUE A INFACIA QUE EU TIVE FOI MUITA OTIMA lt3
Fonte Dados da pesquisa
Composto por 9 (nove) paraacutegrafos o texto de Eduardo partiu de uma situaccedilatildeo
vivida em que ele observa a passagem do tempo e as mudanccedilas de haacutebitos com uma certa
nostalgia buscando a atenccedilatildeo do leitor atraveacutes da reflexatildeo sobre a imersatildeo na tecnologia Seu
texto comeccedila com uma associaccedilatildeo da comida que ele gosta e que ldquopuxardquo outras questotildees que
perpassam a alimentaccedilatildeo o sono as brincadeiras narrando inclusive desventuras vividas
Ao final nas linhas 29-30 o paraacutegrafo parece desconexo visto que natildeo evolui e
nem se liga ao anterior
A ortografia e a pontuaccedilatildeo nesse momento natildeo haviam sido a prioridade embora
os alunos jaacute estivessem de posse do quadro autoavaliativo Eduardo foi um dos alunos que mais
se surpreendeu com a releitura do texto no tablet como haviacuteamos descrito na seccedilatildeo sobre os
procedimentos posto que os erros e sugestotildees satildeo apontados pelo aplicativo editor de textos
Ele afirmou que foi bastante uacutetil para que ele observasse os erros visto que natildeo tinha
consciecircncia dos mesmos
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Quadro 39 ndash PFB Eduardo ndash INFAcircNCIA FELIZ
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2
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5
Eu gosto muito de comida principalmente uma lasanha Porque eacute gostoso
mata a fome e deixa a gente feliz Bons tempos quando a gente era crianccedila tomava
aquele belo leite antes de dormir acordava de manhatilde bem cedinho com o cheirinho do
cafeacute na mesa mas os tempos mudaram Hoje em dia as crianccedilas dormem tarde natildeo se
alimentam direito soacute querem comer besteiras prejudicando a sauacutede
6
7
Era engraccedilado quando minha matildee dizia Come a salada do prato se vocecirc
comer tudinho mamatildee te daacute um doce de leite e a gente comia
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E quando noacutes tiacutenhamos dor de barriga a matildee jaacute vinha com o chaacute de boldo para
dar pra tomar E quando jogaacutevamos bola e nos arranhaacutevamos a matildee jaacute estava com o
mertiolate nas matildeos para passar na gente
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E quando o pessoal ia jogar bola reunia a galera e ia chamar a turma todinha
para jogar nosso campo era em um local de piccedilarra com muro em volta e quando a bola
caiacutea na casa da aquela vizinha chata um de noacutes tinha que pegar o mais corajoso se
arriscar a buscar e esse corajoso era eu Lembro que uma vez eu chutei a bola para laacute e
machuquei um das plantas dela e a vizinha fofocou para minha matildee e mamatildee colocou
eu de castigo Quem nunca morreu de medo de voltar para casa com aquela roupa cheia
de barro e levar uma bronca
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Vocecirc pode ateacute achar que eu jaacute acabei a minha infacircncia mas ainda tocirc nela pois
a infacircncia que eu era mais novo natildeo eacute mas a mesma do que a de hoje
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Agora as crianccedilas soacute querem ficar trancadas dentro do quarto mexendo no seu
celular PC em geral
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Percebi que a infacircncia de hoje natildeo eacute mas a mesma de antigamente Hoje em
dia estamos rodeados de tecnologia Crianccedilas jovens tem celulares internet
computadores mas antigamente natildeo era assim Natildeo estou querendo criticar a tecnologia
pois eu vivo na tecnologia hoje Nesse tempo de hoje se vocecirc quer ouvir uma muacutesica eacute
soacute ir no YouTube ou fazer o download Quer conversar com um amigo eacute soacute entrar no
WhatsApp e conversar Mas quando era antigamente se quiseacutessemos ouvir uma muacutesica
tiacutenhamos que esperar passar no raacutedio ou comprar um CD bem ali na banca Se quisesse
conversar com um amigo distante teria que ir na casa dele ou enviar uma carta para ele
30
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Pois agora as crianccedilas jaacute respondem com ignoracircncia para seus pais Se eu
resmungasse para minha matildee pelo menos um Taacute bom taacute bom mamatildee jaacute me batia Ela
ainda me colocava de joelho no chatildeo e eu morrendo de chorar mamatildee dizia Engole o
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choro mas eu natildeo sabia engolir o choro Seraacute que tinha que pegar um copo para
colocar as minhas laacutegrimas do meu choro Natildeo sei mas eu acho que eacute melhor natildeo
arriscar de me levantar e apanhar mais ainda
36 O mais engraccedilado eacute que chinela de matildee sempre acerta [
37 Mesmo apanhando
38 SOacute SEI QUE A INFAcircNCIA QUE EU TIVE FOI MUITO OacuteTIMA lt3
Fonte Dados da pesquisa
O texto teve uma ampliaccedilatildeo e o aluno pediu ajuda agrave professora-pesquisadora para
a correccedilatildeo da pontuaccedilatildeo e tambeacutem da ortografia para ldquoevitar aquela coisa toda vermelha
professorardquo que seria rever no tablet o editor mostrando os erros Bastante empenhado Eduardo
colocou suas impressotildees lado bom e ruim para que seu leitor pudesse acompanhar o que seria
uma infacircncia adequada Nas linhas 18-19 em ldquoVocecirc pode ateacute achar que eu jaacute acabei a minha
infacircncia mas ainda tocirc nela pois a lsquoinfacircncia que eu era mais novorsquo natildeo eacute mas a mesma do que
a de hojerdquo Valeu a discussatildeo com os colegas e com a professora-pesquisadora a respeito dessa
nostalgia visto que o autor ainda eacute um adolescente de 15 anos
O final convenhamos embora natildeo seja muito paciacutefico natildeo deixa de causar o riso
no leitor visto que em ldquoMesmo apanhandordquo (linha 37) as reticecircncias deixam o pensamento
em aberto e o leitor conclui pelo exposto que ainda assim valia a pena a infacircncia menos
tecnoloacutegica e mais fora de casa
Quadro 40 ndash PIB Estela ndash Tiacutetulo ldquoDown= bullyingrdquo
1
2
Antigamente eu natildeo me importava tanto mas hoje penso bastante sobre o
assunto por que as pessoas praticam o bullying
3
4
5
Na minha opiniatildeo a praacutetica de bullying eacute desnecessaacuteria pois noacutes natildeo
ganhamos nada em humilharmenosprezar o proacuteximo natildeo eacute mesmo eacute bem melhor ser
gentil ser solidaacuterio aceitar os defeitos do proacuteximo
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Conheccedilo uma garota chamada Beatriz jovem de dezenove anos(19) que tinha
siacutendrome de Down ela era uma garota bem extrovertida amigaacutevel carinhosa etc
Muitos a criticavam por conter essa siacutendrome por ser diferente Ela tinha seu tinha seu
lado carinhoso mas tambeacutem tinha o seu lado revoltadobravo e todos criticavam-na por
ser diferente por ter esse seu lado ldquobipolarrdquo pelo fato dela mudar de humor tatildeo
facilmente
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Muitos faziam o possiacutevel para evitar sua presenccedila por perto eles a eles
simplesmente natildeo aceitavam o fato dela ter aquela siacutendrome pra eles ela natildeo era ldquoigualrdquo
a eles eles deveriam aceitaacute-la da maneira que ela nasceu da maneira em que ela foi
gerada
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18
Chamavam-na por apelidos maldosos e preconceituosos como por exemplo
doida (pelo simples fato dela ter siacutendrome de Down que a diferenciava das demais
pessoas) de retardada de doente chamavam-na de feia ridiacuteculaetc
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Ao sofrer esses preconceitos ela sempre revidavasempre reagia com agressotildees
e xingamentos terriacuteveis o que agravava cada vez mais a situaccedilatildeo Acho que por ela
conter essa doenccedila ela natildeo levava muito a seacuterios esse preconceito essa indiferenccedila
acho que pelo fato de ela conter essa doenccedila desde a formaccedilatildeo de seu feto deve ter
ocorrido algumas alteraccedilotildees em seu ceacuterebro na parte mentalo que prejudica muito a
crianccedila em questotildees de aprendizado de se socializar e que a levava a considerar essas
praacuteticas de bullying como uma brincadeira
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E tambeacutem sua matildee natildeo era aquele tipo de matildee que se interessava como foi o
dia na escola se as aulas foram boas essas coisas que normalmente as matildees fazem E
ela tambeacutem natildeo morava junto a seu pai pois creio que era divorciado de sua matildee
moravam somente ela sua matildee e sua irmatilde mais nova de dezessete anos (17)
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Atualmente a situaccedilatildeo ainda se repete por falta de atenccedilatildeo dos pais e da
proacutepria viacutetima do bullying
32
33
(Na minha opiniatildeo ela soacute precisa de um pouco mais de atenccedilatildeo e compreensatildeo
dos pais e tenho certeza que esse problema jaacute haveria sido resolvido)
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E vocecirc leitor o que faria se vocecirc fosse viacutetima de bullying denunciaria ou
preferiria guardar pra si
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(Isso natildeo eacute um texto qualquer eacute tambeacutem um alerta uma ldquocampanhardquo pra vocecirc
vitima ou praticante do bullying pense no proacuteximo alerte-se muitas vezes essas piadas
brincadeiras esses preconceitos passam dos limites e acabam se tornando grandes
ofensas o que levam as viacutetimas a profundas depressotildees e ateacute mesmo ao suiciacutedio vamos
acabar com isso)
41 chega de bullying
Fonte Dados da pesquisa
134
Estela comeccedila seu texto com um paraacutegrafo que faz uma introduccedilatildeo-enquadramento
lanccedilando um questionamento ao seu leitor surgido de uma situaccedilatildeo observadavivida que ela
narra ao longo dos 12 (doze) paraacutegrafos No 10ordm a autora conversa com explicitamente com o
leitor como no modelo apresentado para a produccedilatildeo A O foco narrativo eacute mantido como
narrador observador do que acontece poreacutem levando o leitor a refletir sobre o problema real do
bullying com a intenccedilatildeo de causar impressotildees no leitor como empatia reflexatildeo e ateacute emoccedilatildeo
O final natildeo parece caracterizar-se como o de uma crocircnica literaacuteria lembrando o
penuacuteltimo paraacutegrafo uma sequecircncia injuntiva com a intenccedilatildeo de levar o leitor a modificar seu
comportamento mostrando um ponto de vista criacutetico a respeito da situaccedilatildeo Possui
personagens descrevendo a menina Beatriz e seu comportamento sua matildee e menciona pai e
irmatilde Possui um tiacutetulo interessante pelo trocadilho se podemos assim dizer com a palavra
down Down eacute a siacutendrome mencionada no texto e de iniacutecio o sinal de igual indica que ter
siacutendrome de Down eacute de se esperar de algum modo que a pessoa sofra bullying Poreacutem a aluna
sabe que down em inglecircs quer dizer ldquoabaixordquo o que resultaria numa livre traduccedilatildeo ldquoabaixo
o bullyingrdquo Estela emprega em diversos momentos os sinais de pontuaccedilatildeo adequadamente e
no geral os paraacutegrafos estatildeo bem organizados embora tenha havido repeticcedilatildeo desnecessaacuteria de
palavras no 4ordm paraacutegrafo
Quadro 41 ndash PFB Estela ndashTiacutetulo DOWN= BULLYING
1
2
Antigamente eu natildeo me importava tanto mas hoje penso bastante sobre o
assunto por que as pessoas praticam o bullying
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A praacutetica de bullying eacute desnecessaacuteria pois noacutes natildeo ganhamos nada em
humilhar o proacuteximo natildeo eacute mesmo Eacute bem melhor ser gentil ser solidaacuterio aceitar os
defeitos do proacuteximo
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Conheci uma garota chamada Beatriz jovem de dezenove anos que era
portadora da siacutendrome de Down Era uma garota bem extrovertida amigaacutevel carinhosa
etc Ela tinha seu tinha seu lado carinhoso mas tambeacutem tinha o seu lado revoltado e
todos criticavam-na por ser diferente por ter esse seu lado ldquobipolarrdquo pelo fato dela mudar
de humor tatildeo facilmente
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Muitos faziam o possiacutevel para evitar sua presenccedila por perto Simplesmente
natildeo aceitavam o fato dela natildeo ser ldquoigualrdquo a eles enquanto que deveriam aceitaacute-la da
maneira que ela nasceu da maneira em que ela foi gerada
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Chamavam-na por apelidos maldosos e preconceituosos como por exemplo
doida (pelo simples fato dela ser portadora de Down que a diferenciava das demais
pessoas) de retardada de doente chamavam-na de feia ridiacuteculaetc
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Ao sofrer esse preconceito ela revidava Sempre reagia com agressotildees e
xingamentos terriacuteveis o que agravava cada vez mais a situaccedilatildeo Acho que pelo fato de
ela ter Down desde a formaccedilatildeo de seu feto deve ter ocorrido algumas alteraccedilotildees em seu
ceacuterebroo que prejudica muito a crianccedila em questotildees de aprendizado de se socializar
poreacutem isso natildeo a impedia de considerar essas praacuteticas de bullying como algo tatildeo seacuterio
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Atualmente a situaccedilatildeo ainda se repete por falta de atenccedilatildeo dos pais Sua matildee
natildeo era aquele tipo de matildee que se interessava como foi o dia na escola se as aulas foram
boas essas coisas que normalmente as matildees fazem Ela soacute precisa de um pouco mais de
atenccedilatildeo e compreensatildeo dos pais e tenho certeza que esse problema jaacute teria sido
resolvido
27 E vocecirc leitor como agiria se fosse viacutetima de algum tipo de bullying
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Pare e pense na situaccedilatildeo que ocorrera com essa garota Pense Como agiria se
fosse viacutetima ou tivesse observado uma situaccedilatildeo como essa Tambeacutem imagine se vocecirc
se sentiria bem se sofresse certos preconceitos certas ofensas E tambeacutem peccedilo-lhe
venha pensar antes de ldquotentarrdquo praticar esses atos infracionais contra algueacutem Se ponha
no lugar da viacutetima
33 chega de bullying
Fonte Dados da pesquisa
O tiacutetulo foi mantido Os paraacutegrafos em geral ficaram bem organizados Houve
evoluccedilatildeo no emprego dos sinais de pontuaccedilatildeo Evitou a repeticcedilatildeo desnecessaacuteria de palavras e
buscou definir visto que estava em duacutevida segundo ela mesma sobre quais termos usar
Partiu como jaacute haviacuteamos identificado de uma situaccedilatildeo observadavivida Conversa
com o leitor como no exemplo ldquonatildeo eacute mesmordquo (linha 4) ou em ldquoE vocecirc leitorrdquo (linha 27)
buscando leva-lo a refletir sobre a situaccedilatildeo O final eacute interessante muito embora natildeo o
reconheccedilamos como caracteriacutestico de uma crocircnica literaacuteria Mostra discretamente ao leitor seu
ponto de vista a respeito da situaccedilatildeo buscando proporcionar-lhe um momento de reflexatildeo
Descreve bem a Beatriz e superficialmente a matildee poreacutem com caracteriacutesticas
adequadas agrave situaccedilatildeo Apoacutes a anaacutelise dos textos B dos alunos estabelecemos um graacutefico a
respeito de sua evoluccedilatildeo para melhor visualizaccedilatildeo dos resultados nessa etapa Vejamos a seguir
136
Graacutefico 8 ndash Avaliaccedilatildeo das crocircnicas B
Fonte dados da pesquisa
A partir da anaacutelise dos textos dos alunos que frequentaram todas as aulas e se
engajaram nas atividades da SD percebemos que houve na maioria dos itens avaliados uma
sensiacutevel melhora corroborando com o anteriormente dito que os alunos ao tomarem contato
com seus textos de uma primeira produccedilatildeo escrita se orientados e incentivados a reler se
autoavaliar e a ouvir sugestotildees podem sim progredir no sentido de se tornarem escritores mais
haacutebeis e conscientes das etapas que regem o processo de escrita de textos E esse processo se
feito com frequecircncia comeccedila a se automatizar e facilita o aprendizado de qualquer gecircnero que
se venha trabalhar
533 Uma nova reescrita
Retomando seu texto A PI e PF a aluna Ana pediu a oportunidade de reescrevecirc-lo
visto que em sua releitura afirmou que natildeo havia feito apropriadamente e que ao final de todas
as atividades ela percebia o quanto natildeo tinha desenvolvido ainda os procedimentos adequados
para a produccedilatildeo de um texto o que inclui as etapas de releitura autocriacutetica reflexatildeo
reelaboraccedilatildeo e reescrita Segue assim o texto de Ana que chamaremos PFA2
0
05
1
15
2
25
3
35
4
Avaliaccedilatildeo das crocircnicas B
PI-B PF-B
137
Quadro 42 ndash PFA2 Ana ndash Tiacutetulo O que eacute ser chato
1 Como saber quando vocecirc estar sendo chato
2 Bom depois de ler um dos textos maravilhosos do Anaximandro Amorim
3 o chato da vez despertou uma vontade em mim de me aprofundar no assunto
4
5 Eacute muito difiacutecil dizer o que de fato eacute ser chato ou melhor listar tudo o que eacute pura
6 chatice demoraria horas e horas Vocecirc se considera chato
7 Sabe quando vocecirc estar sendo chato Olha muito cuidado um chato nunca
8 se acha chato digo isso com toda convicccedilatildeo
9
10 Conheccedilo uma menina ela eacute da minha escola graccedilas
11 a Deus natildeo eacute da minha sala Ameacutem
12 Ela tem uma mente aberta uns gosto legais mas cara
13 ela desconhece a palavra limites isso a torna very chata
14 uma mina linda de opiniotildees legais que natildeo sabe ver quando natildeo a querem
15 por perto quando ela estar atrapalhando e natildeo entende
16 quando o papo ja ta chato e a pessoa ta fugindo dela mas mesmo assim
17 acha que a pessoa ta super interessada e ela se engana e
18 acaba se tornando uma chata eu a considero minha amiga
19 ela me apoia e me sempre da uma levantada na minha auto-estima
20 uma garota interessante agraves vezes e por tempos curtos ela eacute
21 daquele tipo de pessoas que a gente passa comprimenta e
22 natildeo para pra conversar so quando ela chama e as vezes ainda invento desculpas
23 pra natildeo ir e se vou quando passa de cinco minutos eu jaacute
24 fico SU-FO-CA-DA parece que ela estraga o papo
25
26 Enfim ser chato eacute natildeo saber quando vocecirc ta forccedilando a barra
27 eacute natildeo reconhecer quando vocecirc estar sendo chato
28 ser chato eacute natildeo ter limites afinal tudo tem Natildeo eacute mesmo Fonte Dados da pesquisa
Por fim Ana reescreveu seu texto colocando-o em 5 (cinco paraacutegrafos) e o elaborou
visando ao que a instruccedilatildeo da atividade requer um texto que possa inspirar reflexatildeo sobre o
que eacute ser chato e o que eacute ser legal poreacutem sem colocar a questatildeo do botatildeo de bloqueio da vida
real Atraveacutes dos exemplos Ana conduziu seu leitor a refletir atendendo aos criteacuterios de partir
de uma situaccedilatildeo vividaobservada como vemos nas linhas 10-24 e conversando com o leitor
como percebemos nas marcas linguiacutesticas em ldquoComo saber quando vocecirc estar sendo chatordquo
(linha 1) ldquoVocecirc se considera chatordquo (linha 6) ldquoSabe quando vocecirc estar sendo chatordquo (linha
7) e ldquoNatildeo eacute mesmordquo (linha 28) e descreve uma personagem ldquouma menina ela eacute da minha
escolardquo (linha 10) que inseriu em seu texto para ilustrar a situaccedilatildeo
Apesar de Ana ainda deixar a desejar em outros aspectos tanto textuais quanto
formais de convenccedilotildees da escrita percebemos que ela evoluiu no criteacuterio organizaccedilatildeo de
138
paraacutegrafos e emprego dos sinais de pontuaccedilatildeo Em ldquograccedilas a Deus natildeo eacute da minha sala
Ameacutemrdquo ela separa o termo Ameacutem do resto da frase com a viacutergula entendendo que eacute uma
expressatildeo que merecia realce e usa o ponto de exclamaccedilatildeo para expressar seu aliacutevio Ana
demonstra conhecer que o uso de marcas linguiacutesticas como o uso de maiuacutesculas e a separaccedilatildeo
silaacutebica podem dar forccedila a uma palavra fazendo-a ganhar maior expressividade como em ldquoSU-
FO-CA-DArdquo na linha 24 Ao longo de seu texto Ana emprega muitas palavras do cotidiano
giacuterias inclusive e marcas da oralidade ndash o que natildeo necessariamente eacute um problema em uma
crocircnica literaacuteria poreacutem conveacutem relembrar a questatildeo da experiecircncia e habilidade no uso de tais
de modo a natildeo cansar o leitor
Sua estrateacutegia para iniciar o texto foi partir da intertextualidade (ldquoBom depois de
ler um dos textos maravilhosos do Anaximandro Amorim lsquoo chato da vezrsquo despertou uma
vontade em mim de me aprofundar no assuntordquo linhas 1-3) Desse modo Ana fez uso da
informaccedilatildeo de uma de nossas aulas de quando trabalhamos com a crocircnica ldquoCarta de punhordquo
cuja leitura em sala e atividade de exploraccedilatildeo do texto mostrava que o autor cronista com
publicaccedilotildees frequentes no jornal buscava nas proacuteprias produccedilotildees retomar seus assuntos
passados Uma curiosidade que foi despertada em Ana para o momento havia sido ldquoe pode
isso professorardquo ao que respondemos afirmativamente poreacutem o sucesso da estrateacutegia viria
com o tempo e a experiecircncia de cada autor da intimidade que esse tivesse com a liacutengua materna
e com a situaccedilatildeo de produccedilatildeo tudo dentro do contexto
Consideramos assim que o uso da estrateacutegia pela aluna foi um ponto positivo em
sua participaccedilatildeo posto que caracteriza envolvimento com o projeto e as aulas Ademais desejar
fazer mais uma reescrita quando natildeo havia mais a exigecircncia pois como dissemos jaacute haviacuteamos
encerrado os moacutedulos e estaacutevamos reescrevendo o texto para circulaccedilatildeo social eacute um ponto
bastante positivo no tocante aos procedimentos de escritor apoacutes algum tempo ela releu seu
texto achou-o inadequado ou insuficiente para as caracteriacutesticas do que se estava estudando e
produzindo e tomou a iniciativa de refazecirc-lo
139
6 CONCLUSAtildeO
O foco principal de nosso trabalho foi o desenvolvimento da competecircncia
comunicativa escrita Para tanto consideramos o processo tendo como produto o texto cujo
valor real foi-lhe atribuiacutedo valor social com direito a circulaccedilatildeo levado a puacuteblico
O gecircnero escolhido foi a crocircnica literaacuteria Poderia ter sido outro visto que o trabalho
com o processo de escrita dentro de uma sequecircncia didaacutetica comporta qualquer gecircnero textual
Poreacutem como dissemos na introduccedilatildeo a escolha do gecircnero partiu de uma motivaccedilatildeo pessoal
Passado todo o processo da escolha de como trabalhar ateacute a publicaccedilatildeo dos textos
julgamos oportuno avaliar todos os acircmbitos
Por percebermos ao longo dos anos de experiecircncia que vaacuterios alunos produzem
seus textos sem recorrer agrave etapa do planejamento a da revisatildeo e a da reescrita visamos entatildeo
nesta pesquisa devido agrave ausecircncia de tais procedimentos responder agraves seguintes questotildees-
problema desdobradas a partir da questatildeo baacutesica como ensinar a produccedilatildeo escrita no 9ordm ano do
Ensino Fundamental enfocando o ato de redigir como um processo visto que haacute estudantes
deste niacutevel que normalmente natildeo tecircm o haacutebito de planejar seus textos
A partir desse questionamento nos perguntamos
a) que atividades pedagoacutegicas possibilitam aos alunos a consciecircncia de que eacute
preciso desenvolver estrateacutegias proacuteprias (recorrer agrave etapa do planejamento da
revisatildeo e da reescrita) para produzir seus textos
b) de que forma o conhecimento sobre a estrutura composicional de um gecircnero
pode ajudar a superar as dificuldades
c) a comparaccedilatildeo das produccedilotildees inicial e final permitiraacute associar a melhoria do
desempenho da competecircncia escrita e a apropriaccedilatildeo do gecircnero crocircnica literaacuteria ao
desenvolvimento da sequecircncia de atividades
Buscando encontrar uma praacutetica que resultasse em textos melhores fizemos uso
em nossa sequecircncia de atividades de teorias que norteassem o trabalho com a escrita como
processo com a sequecircncia didaacutetica com gecircnero textual e com o gecircnero crocircnica narrativa A
importacircncia desse aparato teoacuterico para o professor que visa minimizar as dificuldades dos
alunos e diminuir a praacutetica da escrita improvisada permite-lhe compreender como se daacute o
processo cognitivo durante a produccedilatildeo de um texto o que o leva a considerar para seu trabalho
com os alunos aspectos como audiecircncia e circulaccedilatildeo social reais como praacuteticas de uma
140
sociedade letrada o que vai aleacutem da preocupaccedilatildeo com a gramaacutetica e a ortografia apenas de
um texto produzido somente para o professor e a nota
Ao longo da aplicaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica confirmamos o que a experiecircncia de
sala ao longo dos anos apontava o conhecimento sobre a estrutura composicional de um gecircnero
pode ajudar a superar as dificuldades de escrita por mostrar ao aluno o que precisa estar contido
em seu texto Os exemplos que o professor venha a trabalhar em sala com a turma mostram
modelos de gecircneros com aspectos que podem sim ser imitados de iniacutecio ateacute que quando o
aluno ganhe experiecircncia possa manejar melhor as palavras e as ideias que deseje colocar para
seu leitor assumindo assim um estilo proacuteprio de escrita
Como professora realizar a pesquisa nos permitiu refletir sobre a nossa proacutepria
praacutetica posto que superar as proacuteprias deficiecircncias no ensino da produccedilatildeo textual foi uma grande
inquietaccedilatildeo Reconhecer as praacuteticas nos foi importante para saber em que aspectos ainda temos
desafios a superar e para reforccedilar e desenvolver aspectos positivos em noacutes Ter clareza de como
se situam os iacutendices de avaliaccedilatildeo na turma na escola no municiacutepio no estado e no paiacutes tambeacutem
foi bastante importante Normalmente a tendecircncia coletiva estaacute em descrer na educaccedilatildeo poreacutem
mesmo que muito lentamente observamos progresso histoacuterico na concepccedilatildeo de aprendizado da
liacutengua materna no valor que eacute dado agrave leitura e agrave escrita
Apoacutes as oficinas a anaacutelise dos objetivos elencados ao iniacutecio de todo o processo
com dados comparativos entre produccedilatildeo inicial e produccedilatildeo final constatamos a relevacircncia da
hipoacutetese baacutesica os alunos do 9ordm ano produziram textos na etapa final das oficinas utilizando-
se das caracteriacutesticas do gecircnero textual crocircnica literaacuteria compreendendo que escrita eacute interaccedilatildeo
valorizando o uso social da escrita de acordo com a proposta teoacuterica de gecircnero preparando
seus textos pautados nas etapas do processo de redigir conforme as orientaccedilotildees dadas em sala
de aula
Sobre nossas hipoacuteteses secundaacuterias pensamos que eacute possiacutevel sim motivar os
alunos a escrever ao desenvolver com eles atividades voltadas para os diferentes subprocessos
e habilidades envolvidos no ato de redigir Poreacutem para haver o engajamento e resultar em uma
turma que escreva textos compatiacuteveis com o grau de desenvolvimento de habilidades esperadas
para o ano que cursam enfrentamos desafios como o aspecto do imediatismo e da recompensa
A natildeo adesatildeo de vaacuterios alunos ao projeto se deu por este natildeo valer nota Portanto
sem uma recompensa imediata natildeo houve o engajamento Nossos alunos infelizmente natildeo
estatildeo habituados a pensar a longo prazo a planejar alcanccedilar metas nem integrar atividades que
lhes facilitem a vida estudantil no futuro Talvez ndash pensamos ndash nem a cultura escolar abranja
141
ainda um trabalho soacutelido e constante nesse sentido Apesar disso haacute professores que se
empenham em fazer um trabalho constante de leitura e na medida do possiacutevel de escrita ao
qual fizemos nossa contribuiccedilatildeo
Por uacuteltimo apoacutes a realizaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica proposta ao contrastarmos as
produccedilotildees inicial e final dos alunos principalmente no que concerne agrave produccedilatildeo realizada para
fins de circulaccedilatildeo social real considerando uma audiecircncia real verificamos um desempenho
mais satisfatoacuterio em relaccedilatildeo agrave competecircncia discursiva realizada no gecircnero crocircnica literaacuteria
visto que os processos de escrita foram considerados no ato da produccedilatildeo de suas proacuteprias
crocircnicas
Para que essa produccedilatildeo fosse efetiva houve que se ter em mente na elaboraccedilatildeo dos
moacutedulos que qualquer tarefa de escrita bem-sucedida requer o exerciacutecio da escrita e da reescrita
Esse processo de aperfeiccediloamento dos textos demanda da parte do professor planejamento
para conhecer as necessidades de natureza geral da turma para trabalhar as caracteriacutesticas de
um gecircnero bem como as de natureza individual do aluno como as limitaccedilotildees no
reconhecimento do gecircnero textual na progressatildeo narrativa nas convenccedilotildees da escrita culta
Pensamos que poderia ser interessante para o aperfeiccediloamento desta SD ampliar e
diversificar mais os textos que compotildeem o moacutedulo de reconhecimento para antes da primeira
produccedilatildeo dos alunos visando oferecer uma visatildeo mais ampla do gecircnero Aleacutem disso
percebemos que tambeacutem eacute preciso que enquanto professores trabalhemos recorrentemente a
instruccedilatildeo da produccedilatildeo com os alunos no sentido de que eles compreendam que natildeo apenas um
aspecto seja escolhido para ser trabalhado mas todos os que nela estatildeo contidos
Aplicar uma SD eacute um trabalho que exige bastante do professor pois se trata de
conhecer o perfil de cada turma em que se decide aplicar um projeto de escrita diagnosticar
planejar os moacutedulos e pensar que o produto pode e deve ter circulaccedilatildeo no meio social Para
tanto eacute importante frisar que a rede de ensino acolha e apoie o professor motivando-o e
possibilitando-lhe as condiccedilotildees necessaacuterias e adequadas para o desenvolvimento de projetos de
escrita dentre as quais podemos mencionar formaccedilatildeo continuada que incentive os projetos de
escrita reforccedilo agraves condiccedilotildees dos materiais das escolas manter o nuacutemero de alunos adequado
nas salas evitando a superlotaccedilatildeo
No tocante aos alunos especialmente os que integraram todos os encontros de todos
os moacutedulos notamos que estes afirmaram que amadureceram ao longo do processo aprendendo
gradualmente a ter controle de sua escrita relendo quando necessaacuterio refletindo buscando
142
clareza Tambeacutem apreciaram muito poder opinar sobre os textos dos colegas visto que estavam
se apropriando das caracteriacutesticas do gecircnero estudado e sentiram seguranccedila para colaborar
Quanto ao trabalho com nuacutemero reduzido de alunos ao permanecerem no projeto
apenas aqueles que se interessaram em melhorar seu desempenho pessoal em leitura e produccedilatildeo
conforme eles mesmos disseram o grupo menor ficou mais coeso e permitiu-lhes liberdade
para trabalhar fosse com discussotildees sugestotildees ou mesmo para dar apoio ateacute mesmo na hora
de ler em voz alta para todos Foi um progresso coletivo e reafirmou a amizade entre o grupo e
tambeacutem conosco por ver que a colaboraccedilatildeo era acompanhada de afetividade
A produccedilatildeo dos textos para circulaccedilatildeo social escrevendo no celular foi produtiva
visto que oportunizou aos alunos o uso da tecnologia que eles afirmam preferir permitindo
agravequeles que natildeo gostam muito de produzir textos com os recursos tradicionais (folha de
produccedilatildeo e caneta) participarem ativamente do processo de produccedilatildeo textual Essa tecnologia
pode ser considerada para futuros trabalhos com alunos do ensino fundamental
Gostariacuteamos de mencionar que este trabalho do iniacutecio ao fim tratou com questotildees
de motivaccedilatildeo e inquietaccedilotildees reais e pessoais A queda abrupta do nuacutemero de participantes
desde o momento da adesatildeo ateacute o da produccedilatildeo para a circulaccedilatildeo eacute reflexo dos desafios que
qualquer professor enfrenta em sua sala cotidianamente No entanto as aulas regulares
diferentemente da proposta da aplicaccedilatildeo do projeto tecircm consigo uma carga de obrigatoriedade
ao exigir a frequecircncia a assiduidade a entrega de tarefas e as avaliaccedilotildees ndash itens que compotildeem
a nota para a aprovaccedilatildeo anual
Em decorrecircncia dessa obrigatoriedade se contrastarmos o desempenho dos alunos
no projeto ao seu desempenho regular na sala de aula de qualquer disciplina natildeo apenas na
liacutengua portuguesa veremos estudantes sem uma motivaccedilatildeo que os conecte ao desenvolvimento
das aulas natildeo permitindo o amadurecimento de suas capacidades e habilidades Como
professora da turma que aplicou o projeto sem exigecircncia de notas percebi que os alunos em
sua maioria natildeo gostariam de estar na escola Muitos natildeo veem ainda sentido em estar presentes
uma tarde inteira 20 (vinte) horas semanais sentados copiando tendo preguiccedila de elaborar
reflexotildees
Esse comportamento desmotivado que se generaliza em escolas de diversos pontos
do Paiacutes desanima tambeacutem os professores gerando a consequecircncia de ao inveacutes de buscarem
novas estrateacutegias para as aulas acabarem mantendo a praacutetica e ainda se conformando com o
senso comum de que ldquoesses alunos natildeo querem nadardquo fora a conjuntura social e econocircmica que
143
por si soacute eacute desanimadora ao limitar recursos e investimentos em educaccedilatildeo desvalorizando a
figura do professor
Gostariacuteamos de acrescentar que sim eles querem Mas ainda natildeo sabem ao certo o
que querem E talvez o que eles possam vir a querer ainda natildeo esteja sendo claramente
apresentado pois atividades tradicionais natildeo os atraem a querer conhecer mais e aprender mais
sobre determinados assuntos que podem acrescentar-lhes agrave vida diaacuteria Ficaria aiacute um desafio ao
professor ao projeto poliacutetico pedagoacutegico da escola e agraves redes de educaccedilatildeo baacutesica repensar o
curriacuteculo para os estudantes deste seacuteculo
Como pudemos observar este trabalho teve sim lacunas que podem ser sanadas
com outras pesquisas Apesar disso acreditamos que a pesquisa-accedilatildeo que realizamos pocircde
aleacutem de ofertar contribuiccedilotildees no acircmbito acadecircmico ao evidenciar vitoacuterias e expor os desafios
encorajar os alunos participantes da pesquisa principalmente os que tiveram a compreensatildeo de
que sua participaccedilatildeo lhes valeria para aleacutem de integrar pontos para uma nota no sentido de que
se permitiram evoluir como produtores de texto em sua liacutengua materna direito que lhes cabe
desde o momento em que satildeo reconhecidos cidadatildeos e que ingressam nas escolas brasileiras
144
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APEcircNDICE A ndash ATIVIDADES PROPOSTAS PARA A SEQUEcircNCIA DIDAacuteTICA
Para compor o momento da apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo da sequecircncia de atividades
sensibilizamos os alunos com as caracteriacutesticas baacutesicas das crocircnicas contemporacircneas que foram
descritas na seccedilatildeo correspondente e resgatadas agora organizaccedilatildeo de sua narrativa em primeira
ou terceira pessoa quase sempre como quem conta um caso em tom intimista uma narraccedilatildeo
em que o autor insere em seu texto trechos de diaacutelogos permeados por expressotildees cotidianas
escrevendo como quem conversa com seus leitores como se estivessem muito proacuteximos uso
de temaacuteticas que tratam de reflexotildees sobre a vida social poliacutetica econocircmica por vezes de forma
humoriacutestica outras de modo mais seacuterio outras com jeito poeacutetico permitindo o pertencimento
do gecircnero agrave esfera literaacuteria emprego de linguagem que mescla aspectos da escrita com outros
da oralidade preferecircncia pela brevidade leveza faacutecil acesso e envolvimento Esperamos que
ao final da atividade que aleacutem de respondida por escrito mas principalmente oralmente os
alunos atentem para essas caracteriacutesticas e possam ter um norte quando chegar o momento de
sua primeira produccedilatildeo
Atividade nordm 1
Prova Falsa
Seacutergio Porto (Stanislaw Ponte Preta)
Quem teve a ideia foi o padrinho da caccedilula ndash ele me conta Trouxe o cachorro de
presente e logo a famiacutelia inteira se apaixonou pelo bicho Ele ateacute que natildeo eacute contra isso de se ter
um animalzinho em casa desde que seja obediente e com um miacutenimo de educaccedilatildeo
mdash Mas o cachorro era um chato mdash desabafou
Desses cachorrinhos de raccedila cheio de nheacutem-nheacutem-nheacutem que comem comidinha
especial precisam de muitos cuidados enfim um chato de galocha E como se isto natildeo
bastasse implicava com o dono da casa
mdash Vivia de rabo abanando para todo mundo mas quando eu entrava em casa vinha
logo com aquele latido fininho e antipaacutetico de cachorro de francesa
Ainda por cima era puxa-saco Lembrava certos poliacuteticos da oposiccedilatildeo que
espinafram o ministro mas quando estatildeo com o ministro ficam mais por baixo que tapete de
poratildeo Quando cruzavam num corredor ou qualquer outra dependecircncia da casa o desgraccedilado
rosnava ameaccedilador mas quando a patroa estava perto abanava o rabinho fingindo-se seu
amigo
mdash Quando eu reclamava dizendo que o cachorro era um ciacutenico minha mulher
brigava comigo dizendo que nunca houve cachorro fingido e eu eacute que implicava com o
ldquopobrezinhordquo
Num raacutepido balanccedilo poderia assinalar o cachorro comeu oito meias suas roeu a
manga de um paletoacute de casimira inglesa rasgara diversos livros natildeo podia ver um peacute de sapato
que arrastava para locais incriacuteveis A vida laacute em sua casa estava se tornando insuportaacutevel
Estava vendo a hora em que se desquitava por causa daquele bicho cretino Tentou mandaacute-lo
embora umas vinte vezes e era uma choradeira das crianccedilas e uma espinafraccedilatildeo da mulher
mdash Vocecirc eacute um desalmado mdash disse ela uma vez
Venceu a guerra fria com o cachorro graccedilas agrave maacute educaccedilatildeo do adversaacuterio O
catildeozinho comeccedilou a fazer pipi onde natildeo devia Vaacuterias vezes exemplado prosseguiu no feio
viacutecio Fez diversas vezes no tapete da sala Fez duas na boneca da filha maior Quatro ou cinco
vezes fez nos brinquedos da caccedilula E tudo culminou com o pipi que fez em cima do vestido
novo de sua mulher
149
mdash Aiacute mandaram o cachorro embora mdash perguntei
mdash Mandaram Mas eu fiz questatildeo de daacute-lo de presente a um amigo que adora
cachorros Ele estaacute levando um vidatildeo em sua nova residecircncia
mdash Ueacutehellip mas vocecirc natildeo o detestava Como eacute que arranjou essa sopa pra ele
mdash Problema da consciecircncia mdash explicou mdash O pipi natildeo era dele
E suspirou cheio de remorso
(Disponiacutevel em httpcontobrasileirocombrprova-falsa-cronica-de-sergio-porto-stanislaw-ponte-preta Acesso
em 2612017)
Questotildees
1 Quantos personagens aparecem na histoacuteria Quais vocecirc diria que satildeo os principais
2 Quem teve a ideia foi o padrinho da caccedilula ndash ele me conta
A frase ele me conta eacute um recurso que mostra que a conversa de dois amigos eacute
repassada a uma terceira pessoa Quem eacute ela
3 Que recursos linguiacutesticos mostram a fala do marido e dono da casa onde estava o
cachorro
4 E quais identificam a fala do amigo
5 Onde o marido e seu amigo parecem conversar
6 A partir da fala do marido e das explicaccedilotildees do amigo quais eram as caracteriacutesticas do
cachorro
7 () e eu eacute que implicava com o ldquopobrezinhordquo
Por que pobrezinho estaacute entre aspas
8 Quando aconteceu a histoacuteria
9 Qual foi o problema da histoacuteria
10 Como foi resolvido
11 O destino dado ao cachorro surpreendeu ao amigo Por quecirc
12 Afinal quem era culpado na histoacuteria
13 Que tom predominantemente foi dado a esse texto Humor ironia criacutetica reflexatildeo
lirismo
14 Qual foi o tema principal do texto Vocecirc apontaria outros temas que aparecem na
leitura
15 Que comparaccedilotildees o autor faz com o cachorro Haacute alguma criacutetica Explique
16 Vocecirc conhece o significado das palavrasexpressotildees a seguir Veja
nheacutem-nheacutem-nheacutem chato de galocha puxa-saco
espinafrar espinafraccedilatildeo desquitava guerra fria
vidatildeo sopa
17 Que palavras satildeo usadas no texto para se referir agrave esposa
18 E suspirou cheio de remorso
Explique o valor dessa frase para o contexto da histoacuteria
Atividade nordm 2
Abandono de animais eacute crime e precisa ser denunciado
Por Canal do Pet | 26072016
150
Aleacutem do abandono de animais praacuteticas como bater negar aacutegua ou alimento tambeacutem
satildeo consideradas crime saiba como denunciar
Infelizmente o abandono de animais estaacute cada dia mais presente nos noticiaacuterios
Mesmo com tantas campanhas contra a praacutetica muita gente ainda comete esse crime -
principalmente quando eacute eacutepoca de feacuterias mesmo natildeo havendo um nuacutemero exato as estatiacutesticas
dos institutos de pesquisa afirmam que nos periacuteodos de feacuterias haacute um pico no abandono de
animais Existem muitos relatos de donos que deixam os cachorros em pet shops veterinaacuterios
e hoteacuteis para cachorro e simplesmente nunca mais voltam para buscaacute-los Esse problema pode
estar atrelado a decisatildeo precipitada de ter um animal de estimaccedilatildeo
A Lei 960598 (Lei de Crimes Ambientais) prevecirc os maus-tratos como crime O
decreto 2464534 (Decreto de Getuacutelio Vargas) determina quais atitudes podem ser consideradas
como maus-tratos Qualquer pessoa que for testemunha de um abandono de
animais domeacutesticos ou exoacuteticos pode ir agrave delegacia mais proacutexima A Promotora de Justiccedila
permite a denuacutencia anocircnima Mas para que a denuacutencia seja realizada vocecirc precisa ter certeza
do crime pois uma acusaccedilatildeo falsa eacute outro crime Aleacutem disso no momento da denuacutencia na
delegacia eacute preciso passar o maior nuacutemero de informaccedilotildees possiacuteveis em relaccedilatildeo ao infrator
como seu endereccedilo residencial ou comercial
Caso o animal esteja abandonado em um terreno baldio ou propriedade particular
por exemplo natildeo hesite em invadir o local para salvar o bichinho a sua accedilatildeo seraacute amparada
pela lei O decreto de lei nuacutemero 284840 artigo 24 considera a invasatildeo para salvamento de
um animal em perigo uma atitude de necessidade e portanto natildeo haveraacute nenhum tipo de
puniccedilatildeo
Aleacutem do abandono outras praacuteticas satildeo consideradas crimes pela lei Uma delas eacute o
atropelamento de um animal sem que haja a prestaccedilatildeo de assistecircncia por parte do condutor do
veiacuteculo tambeacutem eacute ilegal Se presenciar essa situaccedilatildeo anote a placa do carro hora e local Outra
eacute a ameaccedila de envenenamento Bater espancar prender por correntes recusar aacutegua e comida e
obrigar ao trabalho excessivo tambeacutem satildeo praacuteticas proibidas
Algumas pessoas preferem natildeo denunciar pelo fato do infrator ser algueacutem proacuteximo
um amigo ou familiar por exemplo Mas lembre-se de que eacute possiacutevel efetuar a denuacutencia de
maus tratos ou abando de animais de forma anocircnima Por isso ao presenciar qualquer situaccedilatildeo
que possa colocar um animal em risco tire foto grave um viacutedeo tenha provas concretas do
acorrido e denuncie Vocecirc seraacute apenas a testemunha o Estado faraacute o restante
Disponiacutevel em httpcanaldopetigcombrcuidados2016-07-26abandono-de-animaishtml Acesso em 22 de
agosto de 2017
Atividade nordm 3
O chato da vez Anaximandro Amorim
Ai meu Deus eu sou muito chato afirmou um amigo em uma conversa informal
Engraccedilado Eu natildeo o acho chato muito pelo contraacuterio Gosto da companhia dele Seraacute que ele
natildeo estaria sendo muito duro consigo mesmo Ou seraacute que eu sou tatildeo chato quanto ele
E vocecirc leitor Vocecirc eacute chato Todo mundo eacute chato ningueacutem eacute chato Do alto desses
meus quase quarenta anos de vida percebi que chatice natildeo eacute qualidade eacute estado de espiacuterito
Dependo de quem quando e onde E sem menos perceber vocecirc leitor pode ser o chato da
vez Cuidado
Foi o que me aconteceu esses dias Um colega insinuou que eu estava sendo chato
Foi num arroubo de fuacuteria o cidadatildeo estava tendo um ataque de nervos Dizem que eacute assim que
151
as verdades vecircm agrave tona Engraccedilado sempre achei que o havia tratado com distinccedilatildeo Talvez
essa fosse tal ldquochaticerdquo ser educado com as pessoas num mundo cada vez mais carente disso
Bom melhor ser chato do que grosso neacute
Particularmente faccedilo tudo para natildeo ser chato Tento ser discreto falar o menos
possiacutevel ouccedilo mais pergunto quase nada sobre a vida particular das pessoas Acho chato
quando fazem isso comigo Natildeo gosto de pegar no peacute A reciacuteproca eacute verdadeira Mas acho que
agraves vezes por medo da chatice acabo chateando algumas pessoas Haacute uma linha muito tecircnue
nesse negoacutecio todo Chato eacute natildeo saber a hora de ultrapassaacute-la E no fundo todo mundo a
ultrapassa
Esses dias aliaacutes fui agrave forra Havia um chato que me chateava haacute uns dois anos
Chato de rede social Daqueles que veem a gente uma duas vezes no maacuteximo e jaacute acham que
podem tomar certas liberdades Meu pavio eacute ateacute meio longo mas chegou uma hora que natildeo
deu Bloqueei o sujeito Estava chato demais Eacute uma pena que na vida real a gente natildeo tenha
esse botatildeo Ia ter tanta gente para bloquear
Em todo caso discordo desse meu amigo Acho que dois chatos natildeo se datildeo Ou ele
estava chato ou era eu Ou na posiccedilatildeo em que estaacutevamos natildeo dava para saber Se bem que
chato que eacute chato natildeo se acha chato Os outros eacute que acham Assim melhor terminar esta
crocircnica que estaacute uma grande chatice por aqui Antes que algueacutem ache definitivamente que o
chato da vez sou eu
Disponiacutevel em httpanaximandroamorimcombrAbreEmDIV]ajaxasplink=amateriaampid=127 Acesso em
24 mai 2017
Questotildees
1 Vamos falar de marcas de autoria
a) De quem eacute a voz que fala no texto Que idade tem essa voz Essa voz fala com algueacutem
Com quem Mostre alguma(s) passagem que indique isso
b) Onde a situaccedilatildeo se passa Haacute algum lugar especiacutefico
c) Esse texto estaacute no passado no presente ou no futuro
d) Do que trata a situaccedilatildeo Ela surgiu de alguma ocasiatildeo especiacutefica Se sim qual
2 O que o autor nos leva a entender que eacute ldquoser chatordquo
3 Que sensaccedilotildees esse texto despertou em vocecirc Explique
4 Vocecirc se considera um(a) chato(a) Por quecirc Em que ocasiotildees
5 Quando o assunto eacute redes sociais
a) Vocecirc tem alguma Qual
b) Com que frequecircncia vocecirc acessa
c) Vocecirc costuma escrever e postar Que tipo de material (textos fotos viacutedeos)
d) Vocecirc tem haacutebito de acompanhar postagens de algueacutem Que tipo de posts vocecirc
acompanha Costuma interagir por meio de comentaacuterios de expressatildeo de opiniatildeo
6 Vamos ver se vocecirc conhece o significado das palavrasexpressotildees a seguir
com distinccedilatildeo pegar no peacute
linha muito tecircnue fui agrave forra
7 Leia o trecho abaixo
Meu pavio eacute ateacute meio longo mas chegou uma hora que natildeo deu Bloqueei o sujeito
Estava chato demais Eacute uma pena que na vida real a gente natildeo tenha esse botatildeo Ia ter tanta
gente para bloquear
a) Qual eacute sua opiniatildeo sobre o pensamento que o autor expressa no trecho acima
b) Vocecirc tambeacutem teria gente para bloquear Por que razotildees
152
c) Agora vamos produzir Inspirado(a) nessa temaacutetica do trecho acima produza um texto
em forma de crocircnica que converse com seu leitor sobre o que eacute ser legal e ser chato a
partir de situaccedilotildees que vocecirc tenha vivenciado e ou observado Vamos determinar quem
seraacute esse leitor
bull Tem a sua idade
bull Acessa redes sociais
bull Lecirc e posta com frequecircncia
bull Interage com as postagens que estatildeo na rede seja de amigos pessoais ou apenas de
outros usuaacuterios
Antes de comeccedilar pense que sensaccedilotildees eu quer causar no meu leitor
Quero fazecirc-lo rir Se emocionar Refletir Que outras sensaccedilotildees seriam possiacuteveis
Faccedila entre 3 e 6 paraacutegrafos Vocecirc pode usar personagens que conversem e
expliquem o assunto (como em Prova Falsa) ou falar diretamente com seu leitor (como
em O chato da vez) Releia Reescreva o que natildeo estiver bem ao seu gosto Ao terminar
seu texto decirc-lhe um tiacutetulo coerente e passe a limpo na folha de produccedilatildeo Bom trabalho
Atividade nordm 4
Manias Ana Mello
Dos vaacuterios significados que meu amigo Aureacutelio apresenta o melhor diz que mania
eacute uma ideia fixa obsessatildeo Mau costume tambeacutem eacute bem significativo Ou extravagacircncia
esquisitice
Dizem por aiacute que vamos ficando velhos e as manias aumentam e se consolidam Eacute
verdade eu observo nos mais velhos do que eu Poucos conseguem controlar aquele impulso
profundo de dar sua opiniatildeo Essa eacute uma mania das mais chatas Repeti-la muitas vezes entatildeo
eacute maccedilante
Jaacute descobri tambeacutem que eacute quase inevitaacutevel ter manias na velhice muitas vecircm da
juventude mesmo condenamos e depois de um tempo fazemos igual sem cerimocircnia alguma
Uma amiga me enviou uma oraccedilatildeo sob o tiacutetulo ldquoOraccedilatildeo para ser uma velhinha
legalrdquo Vou fazer todos os dias e envio coacutepia a quem precisar Separei algumas frases as mais
interessantes
Livrai-me Senhor da tolice de achar que devo dizer algo em toda e qualquer
ocasiatildeo Deste desejo enorme que tenho de querer pocircr em ordem a vida dos outros Da tolice
de querer contar tudo com detalhes e minuacutecias e daacute-me asas para voar diretamente ao ponto que
interessa Jaacute descobri que pessoas que acertam sempre satildeo maccedilantes e desagradaacuteveis Livrai-
me de ser santa Eacute difiacutecil conviver com Santos Mas uma velha rabugenta Senhor eacute obra prima
do diabo
Acho que a oraccedilatildeo pode ser feita por pessoas jovens tambeacutem pois essas manias natildeo
satildeo exclusivas das velhinhas
Fiquei agora com uma duacutevida seraacute que escrever crocircnicas semanais e mandar para
todos os amigos eacute mania Se for azar o de vocecircs amigo eacute para isso mesmo
Enviado por Ana Mello em 02112007
Coacutedigo do texto T720831
Disponiacutevel em httpwwwrecantodasletrascombrcronicas720831
153
Acessado em 23102017
1 Quem eacute ldquomeu amigo Aureacuteliordquo
2 Que exemplos de manias a autora nos apresenta em seu texto
3 Que impressotildees esse texto causou em vocecirc
4 Segundo essa crocircnica quem tem manias Vocecirc concorda Por quecirc
5 Liste aqui manias que vocecirc sabe que tem Apoacutes terminar pense vocecirc as considera
boas ou maacutes manias Por quecirc
6 Vamos fazer um exerciacutecio de escrita Escreva uma crocircnica em que vocecirc fale de suas
manias Converse com o leitor conte a ele suas experiecircncias Faccedila comparaccedilotildees com
pessoas que vocecirc conhece Vocecirc pode inclusive comparar-se hoje a vocecirc daqui a uns
quarenta anos Como seraacute que suas manias vatildeo ser Vatildeo parecer com as das pessoas
mais velhas que vocecirc conhece e convive mas cujas manias vocecirc tanto critica Seratildeo
manias diferentes Seratildeo melhores ou piores
Obs coloque um tiacutetulo interessante e que chame a atenccedilatildeo de seu leitor
Pense que seu texto poderia ser publicado num blog ou mesmo numa paacutegina de rede
social ndash sendo assim que tipo de leitor vai ler o seu texto Ao terminar releia arrume
as ideias e passe a limpo para a folha de produccedilatildeo textual
Atividade nordm 5
Pacto apoacutes morte natildeo podia ver faca Nonato Reis
Essa histoacuteria de prometer retornar ao mundo dos vivos apoacutes o desenlace soa
esquisito e jaacute colocou muita gente em maus lenccediloacuteis A morte pelo misteacuterio que carrega incute
a curiosidade de tentar desvendaacute-la e saber o que de fato existe por traacutes dela Eacute uma questatildeo
que permaneceraacute insoluacutevel ateacute que a ciecircncia elucide-a se eacute que isso algum dia ocorreraacute
Enquanto natildeo atingimos esse estaacutegio temos que ficar com o relato daqueles que se dizem
viacutetimas ou privilegiados de experiecircncias poacutes-tuacutemulo
No Ibacazinho na Palmela no Muricituba e no Marimar era comum as pessoas
fazerem promessas agrave semelhanccedila do pacto selado entre Alvinho e Pau Ferro Na maioria das
vezes o defunto natildeo conseguia voltar deixando frustrados ou aliviados aqueles com quem fez
o acordo Foi o caso de Rui um primo meu que ldquose acertourdquo com Ponina aquela tia-avoacute
descrita em uma de minhas crocircnicas
Rui era um dos poucos que natildeo tinham medo da Tapera de Maria Fernandes Tanto
que decidiu erguer casa justo ali naquele retacircngulo amaldiccediloado e por muito tempo antes de
se casar foi morador solitaacuterio do lugar sem nunca jamais ter visto qualquer coisa fora do
universo dos vivos
Os dois combinaram que aquele que morresse primeiro viria dar sinal ao outro na
noite posterior ao sepultamento Ponina que devia ser uns 50 anos mais velha do que ele tinha
a maior probabilidade de ficar com a obrigaccedilatildeo de cumprir o trato e foi o que aconteceu Poreacutem
os dias e as noites passaram apoacutes o falecimento dela sem que a finada desse qualquer sinal da
sua presenccedila para Rui
Eu tambeacutem caiacute nessa besteira de fazer uma promessa com uma menina do primeiro
ano meacutedio e vivi uma situaccedilatildeo constrangedora Rosa era baixinha corpo bem feito cabelos no
estilo pigmaleatildeo excelente aluna fera em Matemaacutetica e Fiacutesica Nossa aproximaccedilatildeo se deu por
estrateacutegia de aprendizado
154
Eu tinha facilidade em Portuguecircs e Redaccedilatildeo uacutenicas mateacuterias que ela natildeo dominava
e precisava de reforccedilo em Fiacutesica e Matemaacutetica Selamos um pacto de ajuda muacutetua nessas
disciplinas que depois se estendeu para depois da vida ldquoSe eu morrer primeiro eu apareccedilo
para ti em plena Rua Grande apinhada de gente e se tu fores primeiro do que eu tu me surges
agrave noite no meu quartordquo
Eu natildeo entendi o porquecirc da escolha do local da minha apariccedilatildeo mas aceitei Os
anos se passaram eu entrara para a universidade perdi o contato com ela Um dia caminhando
pela Rua Grande veacutespera de Natal gente feito formiga dei de cara com aquela menina
tampinha cabelos no mesmo estilo de antes que diante de mim abriu um enorme sorriso e abriu
os braccedilos para me acolher Eu caiacute das nuvens mas antes que ela me alcanccedilasse danei a correr
feito louco fazendo zigue-zague entre as pessoas ateacute esbarrar num orelhatildeo e me estatelar no
chatildeo o rosto sangrando Assustada Rosa ajoelhou-se diante de mim e quis saber o motivo
daquela reaccedilatildeo ldquoCara o que eacute isso Tu viu fantasmardquo Eu baixei a cabeccedila o coraccedilatildeo prestes a
explodir e natildeo consegui dizer nada
Situaccedilatildeo pior viveu o professor Auriacutelio Vieira de Andrade que fizera um pacto
desses com um primo ainda menino Ele cresceu veio estudar em Satildeo Luiacutes e levou anos para
retornar ao interior Um belo dia em feacuterias na casa paterna Auriacutelio conversava com a matildee em
volta do fogatildeo de lenha quando do nada surgiu o menino da promessa e o pegou pelo braccedilo
dizendo ldquoVamos eu vim te buscarrdquo
Ele natildeo se lembrava mais da estoacuteria nem do menino Pensou que se tratava de uma
brincadeira e reagiu com naturalidade ldquoCalma para onde vocecirc quer me levarrdquo O menino
respondeu ldquopara o aleacutemrdquo Auriacutelio sorriu ldquomas eu ainda natildeo quero ir para o aleacutemrdquo O menino
natildeo se deu por vencido ldquoNatildeo importa a tua vontade vocecirc fez um pacto comigo e eu vim te
buscarrdquo
Foi entatildeo que o caso ressurgiu liacutempido na memoacuteria de Auriacutelio e ele viu que a coisa
era seacuteria A matildee percebendo a gravidade da situaccedilatildeo poreacutem sem avistar o menino tratou de
ajudar o filho segurando-o pelo braccedilo mas notou que havia uma energia ali muito maior que a
resistecircncia de ambos e apelou aos ceacuteus pedindo socorro divino
Auriacutelio jaacute desaparecia na porta da rua quase que levado aos trambolhotildees
Desesperada a matildee comeccedilou a rezar o Pai Nosso e o Credo e soacute assim conseguiu ter o filho de
volta Auriacutelio poreacutem viveu dias amargos ldquoPassei quase um mecircs deprimido Soacute pensava em
suiciacutedio Natildeo podia ver faca perto de mimrdquo
Crocircnica escrita em janeiro de 2017
Questotildees
Parte I ndash Vocabulaacuterio
a) Vocecirc conhece estas palavras
Desenlace Incute
Insoluacutevel Tapera
Pigmaleatildeo Apinhada
b) Vocecirc observa marcas de oralidade no texto Vamos destacar algumas
c) Que outras palavras ou expressotildees satildeo muito correntes no vocabulaacuterio do Maranhatildeo
Parte II ndash Compreensatildeo
1 Do que trata a histoacuteria
2 Qual eacute o foco narrativo
155
3 Que personagens aparecem na histoacuteria
4 O que eacute um pacto poacutes-morte Vocecirc sabe de algueacutem que tenha feito algum
5 Vocecirc acredita nessas histoacuterias Fale um pouco a respeito
6 No trecho ldquoSe eu morrer primeiro eu apareccedilo para ti em plena Rua Grande apinhada
de gente e se tu fores primeiro do que eu tu me surges agrave noite no meu quartordquo
Qual seria a vantagem para cada um nos locais das apariccedilotildees E as desvantagens
7 Como seria feito o seu pacto caso um dia vocecirc resolvesse fazecirc-lo
8 No que esse texto que vocecirc leu se assemelha com uma histoacuteria de terror E no que ela
se diferencia
9 Se esse texto fosse uma notiacutecia de jornal seria escrito da mesma forma Qual seria a
diferenccedila da linguagem
10 No uacuteltimo paraacutegrafo haacute a frase
ldquoFoi entatildeo que o caso ressurgiu liacutempido na memoacuteria de Auriacutelio e ele viu que a coisa
era seacuteriardquo
Se vocecirc fosse o Auriacutelio como resolveria a situaccedilatildeo
Atividade nordm 6
A cara da rua Marcelo Xavier
A rua sempre traduz a imagem de determinada eacutepoca Por isso eacute tatildeo interessante
Em cenas urbanas do seacuteculo XVIII XIX vemos carruagens mulheres de vestidos longos e
homens de terno e chapeacuteu No comeccedilo do seacuteculo XX automoacuteveis pretos mulheres de vestidos
mais curtos e homens ainda de terno e chapeacuteu Nos anos 1960 e 1970 automoacuteveis coloridos
mulheres de minissaia e homens sem terno e sem chapeacuteu
E agora na segunda deacutecada do seacuteculo XXI qual eacute a cara da rua Talvez vocecirc natildeo
saiba responder Eacute que ela passa todos os dias diante do seu nariz e vocecirc natildeo a vecirc Ou vocecirc
apenas vecirc algumas partes ldquomais atraentesrdquo do corpo dela A cara da rua continua invisiacutevel Vale o esforccedilo encare-a Como a um espelho Eacute divertido eacute necessaacuterio Esqueccedila o colesterol de
carros que entopem as vias mire os humanos
Repare bem as mulheres estatildeo de vestidos de todos os comprimentos de calccedilas
coladas se equilibrando em agulhas altiacutessimas carregadas de adereccedilos Normal
Os homens ah Os homens deram um salto esteacutetico rumo agrave libertaccedilatildeo Lembra
aqueles cavalheiros sisudos das ruas antigas com ternos de cores soacutebrias e chapeacuteus iguais
Esquece
Os novos machos estatildeo de brincos colares vistosos boneacutes e tecircnis coloridos
camisetas de todo tipo ebermudas
Natildeo as antigas que natildeo passavam de calccedilas curtas discretas As de hoje satildeo
espalhafatosas se expressam Multicoloridas exibem uma diversidade visual que beira o
infinito Geomeacutetricas abstratas figurativas iacutedolos super-heroacuteis paisagens flores ondas do
156
mar nuvens paacutessaros animais palavras de ordem apologias Combinam texturas
inimaginaacuteveis demarcam aacutereas visuais em recortes absurdamente livres ndash numa perna listras
diagonais na outra xadrez Um tsunami criativo que sai arrastando os antigos princiacutepios de
harmonia do universo da moda E o que eacute intrigante natildeo se repetem
Esse surto visual atinge seu aacutepice quando as bermudas-alucinoacutegenas se juntam a
camisetas estampadas tecircnis astronaacuteuticos boneacutes cheios de atitude e tatuagens ndash nos braccedilos nas
panturrilhas no pescoccedilo laacute estatildeo dragotildees coroas de espinho mulheres folhas de maconha
juras de amor
Vocecirc pode natildeo gostar do que vecirc natildeo se reconhecer na imagem que estaacute no espelho
mas essa eacute a cara da rua do seu tempo De certa forma a sua cara
XAVIER Marcelo A cara da rua e outras crocircnicas Satildeo Paulo Saraiva 2013
Vamos refletir sobre o texto
1 A partir da leitura vocecirc consegue deduzir de que situaccedilatildeo observada no cotidiano o autor
partiu para escrever essa crocircnica
2 O autor fez a construccedilatildeo do seu texto de forma simples poreacutem criativa por meio de
comparaccedilotildees para mostrar a cara da rua ao longo do tempo Vamos identificaacute-las
No meio urbano Seacutec XVIII
XIX
Comeccedilo do
seacutec XX
Anos 19601970 do
seacutec XX
2ordf deacutecada do
seacutec XXI
Vestuaacuterio
feminino
Vestuaacuterio
masculino
3 Dessas comparaccedilotildees do visual que foram feitas ao longo do texto vocecirc encontra alguma
na rua onde mora Qual
4 E o que eacute diferente na rua onde vocecirc mora que natildeo foi citado no texto
5 Preste atenccedilatildeo aos trechos a seguir
A rua sempre traduz a imagem de determinada eacutepoca Por isso eacute tatildeo interessante
[]
Vocecirc pode natildeo gostar do que vecirc natildeo se reconhecer na imagem que estaacute no espelho
mas essa eacute a cara da rua do seu tempo De certa forma a sua cara
6 A partir da leitura do texto vocecirc consegue dizer se o autor gosta ou natildeo gosta da cara da
rua que ele descreve Explique sua resposta
7 Que palavras ou expressotildees no texto mostram que o autor conversa com seu leitor ao longo do texto Sublinhe-as
8 Para que puacuteblico vocecirc acha que essa crocircnica estaacute direcionada Explique sua resposta
9 Vocecirc faraacute a seguir a seguinte atividade leia essa crocircnica de Marcelo Xavier para uma
pessoa em casa Apoacutes a leitura anote as impressotildees e opiniotildees dela sobre a atual cara
da rua sejam positivas ou negativas Ao final pergunte a essa pessoa para quem vocecirc
leu se o texto provocou uma impressatildeo boa ou ruim se ela o achou bem ou mal escrito
se a fez refletir sobre a vida e a mudanccedila dos tempos e qual a conclusatildeo a que ela chegou
depois dessa reflexatildeo
Ao final dessa atividade passe a limpo seu registro e traga para a aula
seguinte para discussatildeo coletiva
157
Atividade nordm 7
A Carta de punho
Demitri Tulio
DAS ANTIGAS 23102016
Algumas pessoas ainda escrevem cartas E bom que ainda o fazem Missivas
escritas agrave matildeo e a tinta preta da caneta dando vida agrave vontade de chegar perto do outro
Ou de ser escutado como se pensasse alto querendo ser ouvido das lonjuras que a
vida vai criando entre ex-amores amigos que deixaram de se ter de filho e matildee separados por
asas
Particularmente antes de agora laacute longe quando fui mais menino queria ter escrito
muitas cartas Devo ter rabiscado umas duas e nunca as mandei agrave destinataacuteria
Primeiro porque tinha vergonha de natildeo saber ortografia Achava difiacutecil (ainda
acho) a gramaacutetica brasileira e me amuava em vergonha de grafar ou concordar alguma coisa
ldquoerradardquo para quem eu queria dizer de mim
Entatildeo ficava horas e dias tentando
rascunhar correto e catando palavras peludas
trechos do dicionaacuterio frase de escritores que eu
queria ser Um paraacutegrafo dois e rasgava a folha
do caderno Serei levado a pagode
E por mais que eu lesse Graciliano
para Heloiacutesa os labirintos e as encruzilhadas da Clarice e os retratos de dona Leopoldina sobre
o Brasil e seu desenxabido Pedro I natildeo conseguia nem copiaacute-los
Loacutegico carta eacute um ser entranhado do remetente Eacute quase um pulmatildeo um rim um
coraccedilatildeo Eacute parte do corpo que se doa no instante em que a esferograacutefica vai sendo guiada pelo
papel
E natildeo era meu o afeto de Graciliano Natildeo eram minhas as inquietaccedilotildees de Clarice
E era de dona Leopoldina aquele incocircmodo de calor a saudade das oacuteperas da Aacuteustria as caccediladas
de animais do Brasil ldquoprimitivordquo
Pois bem queria ter escrito recebido e respondido mais cartas Hoje mando emails
Eacute bom mas carta tinha uma espera que natildeo sei dizer
Semana passada depois de mais de 30 anos sem algueacutem me endereccedilar uma carta
de papel e caneta eis que recebo Natildeo foi de pretendente Sempre esperei por uma dessas mas
talvez a falta de boniteza tenha me privado de
Foi de um leitor da Coluna Um moccedilo de mais de 92 anos que teve a gentileza de
tirar um tempo e me enviar um envelope pelos Correios Carimbado dois selos e o trato por
ldquoIlmo Srrdquo
ldquoCaro (posso) Sr Demitri Sauacutede Sou assinante drsquo O Povo haacute deacutecadas e portanto
seu leitor antigo Natildeo soacute leitor mas tambeacutem admirador pela defesa da natureza (paacutessaros do
Cocoacute) e pelo seu estilo diferente (neologismos bem lsquocolocadosrsquo) e assuntos (temas) originais
para suas crocircnicas
Criei coragem para lhe escrever apoacutes ler sua crocircnica (artigo) lsquoEntatildeo Venha
comigorsquo excelente para quem como eu jaacute passou dos 92 e concorda com suas colocaccedilotildees
sobre a velhice
Aceite meus cumprimentos e votos de muitos anos de lsquoescrevinhaccedilatildeorsquo
Cordialmente (ex-cordis) Santos Rochardquo
158
E ainda escreve um paraacutegrafo derradeiro apoacutes as despedida e a assinatura ldquoPS Natildeo
eacute que eu queira lsquosubir aleacutem da chinelarsquo mas me parece que no penuacuteltimo paraacutegrafo de sua
crocircnica deveria ter escrito lsquose casariarsquo em vez de lsquocasaria-sersquo Discurperdquo
O envelope branco com um carimbo de uma agecircncia dos Correios do bairro
Meireles trazia ainda um texto datilografado (Ser Jovem do general Douglas Mac-Arthur) e
um recorte de jornal com um sermatildeo de Santo Agostinho
Pois fico agradecido pela decisatildeo de escrever a carta do tempo dedicado Pelos
minutos pensando em o que escrever Por cada palavra casada com cada frase Pela respiraccedilatildeo
para pensar em quem nem se conhece
Pela caneta preta identificando o remetente
Pela ida aos Correios ou por se dar ao trabalho de pedir algueacutem que fosse
Pela gentileza de ler a Das Antigas
Como o senhor mandou dizer ldquoNatildeo eacute por ter vivido um certo nuacutemero de anos que
envelhecemos envelhecemos porque abandonamos o nosso idealrdquo
Sem mais fico por aqui
Acesso em 31 ago 2017
httpwww20opovocombrappcolunasdasantigas20161022noticiasdasantigas3665372a-carta-de-
punhoshtml
Vocabulaacuterio
Desenxabido Adjetivo 1desprovido de gosto de sabor insiacutepido insosso2a que
falta interesse particular ou graccedila marcado pela repeticcedilatildeo aborrecido monoacutetono
Ex abundantia cordis Da abundacircncia do coraccedilatildeo Com sinceridade
Curiosidade
Pedro nasceu na manhatilde de 12 de outubro de 1798 no Palaacutecio Real de Queluz
Portugal Ele foi nomeado em homenagem a Satildeo Pedro de Alcacircntara e seu nome completo era
Pedro de Alcacircntara Francisco Antoacutenio Joatildeo Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael
Joaquim Joseacute Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim Desde seu nascimento recebeu o prefixo
honoriacutefico de Dom
Atividade
Vamos observar a crocircnica Marque o que acha adequado
Sim Natildeo
Partiu de uma situaccedilatildeo observadavivida
Conversa com o leitor
Possui o foco narrativo bem determinado (narrador personagem ou
narrador observador ou narrador onisciente)
Leva o leitor a refletir
Causa impressotildees no leitor como riso choro reflexatildeo emoccedilatildeo
Possui um final interessante
Mostra discretamente ao leitor seu ponto de vista a respeito da situaccedilatildeo
Possui alguma descriccedilatildeo de lugarobjetopersonagem
Possui um tiacutetulo
Emprega adequadamente os sinais de pontuaccedilatildeo
Evita repeticcedilatildeo desnecessaacuteria de palavras
Possui paraacutegrafos bem organizados
159
Atividade nordm 8
Amor de macumba Fabriacutecio Carpinejar
Quando algum amigo diz que recebeu macumba da ex fico com ciuacuteme Com dor
de cotovelo
Isso que eacute amor grandioso Amor de verdade
Sempre olho na minha esquina para ver se natildeo tem nenhuma encomenda para mim
Mas nunca chega esse sedex do amor
Macumba eacute sedex 10 do amor
Eacute muita paixatildeo odiar algueacutem com tanto zelo Eacute muito capricho gastar seu tempo e
fazer um trabalhinho para prender a pessoa ao seu coraccedilatildeo
Eacute muita disposiccedilatildeo
Eacute muita energia
Eacute muito querer
Eacute muito desejo
Eacute a superaccedilatildeo de todos os incocircmodos de todos os vexames de todos os medos
Eacute muito luxo ter uma amada pagando para os santos mexerem com vocecirc pagando
a parcela antecipada da eternidade
Isso que eacute amor aleacutem da vida
Isso que eacute vontade de permanecer junto
Eu aceitaria qualquer prova de doaccedilatildeo amarraccedilatildeo vodu letras de macarratildeo
pipoca
Nem precisa roubar minha cueca daria a melhor da minha gaveta
Ai que inveja
No lugar da galinha preta poderia oferecer o chester que sempre recebo no final do
ano
Estaacute aqui parado no congelador Sem uso
E as velas na minha esquina ainda ajudariam a iluminaccedilatildeo puacuteblica
Amor de macumba eacute amor para sempre
Disponiacutevel em httpcarpinejarblogspotcombr201402amor-de-macumbahtml
Acesso em 2 de agosto de 2017
Vamos refletir sobre o texto
1 A partir da leitura vocecirc consegue deduzir de que situaccedilatildeo observada no cotidiano o autor
partiu para escrever essa crocircnica
2 Qual parece ser a opiniatildeo do autor a respeito do tema Utilize trechos do texto que
justifique a sua resposta
3 Que reflexotildees se pode perceber na leitura desse texto
4 Que impressotildees essa crocircnica causa no leitor (riso choro reflexatildeo emoccedilatildeo alguma
outra)
160
Atividade nordm 9
Sr Google Pacheco
SR GOOGLE PACHECO
27 outubro 2012 Juliano Martinz
Quando chegavam ao escritoacuterio pela manhatilde o senhor Google Pacheco sempre
estava laacute Sentado a sua mesa ou correndo de um lado para outro mantinha-se no seu
memoraacutevel ritmo agitado produccedilatildeo beirando o frenesi Os funcionaacuterios o admiravam Era
sempre o primeiro a chegar e o uacuteltimo a sair (embora ningueacutem tenha testemunhado qualquer
um destes acontecimentos)
ndash Acho que ele dorme no escritoacuterio ndash alguns arriscavam
Outros jaacute apelavam pro exagero
ndash Dizem que ele nunca dorme
Sr Google Pacheco O chefe do departamento de marketing Baixo e gordinho
Feiccedilatildeo inocente quase boba Chamava a atenccedilatildeo pelas roupas sempre de cores viacutevidas
cintilantes Geralmente boneacute azul camiseta vermelha calccedilas amarelas e tecircnis verde Agraves vezes
invertia as cores mas nunca as abandonava Roupas estranhas para um homem de nome
estranho A personagem perfeita para textos humoriacutesticos
Quando era novo na empresa ainda apenas um singelo desconhecido causava
confusatildeo com seu nome Liam o crachaacute e diziam
ndash Bom dia sr Goacutegle
Ele corrigia sempre sorridente e simpaacutetico
ndash Natildeo natildeo Pronuncia-se Guacutegou
ndash Guacutegou
ndash Eacute a centeacutesima potecircncia do nuacutemero 10
ndash Uau
Ateacute o nome carregava seu estigma de gecircnio absoluto O Sr Google era uma
enciclopeacutedia ambulante Parecia ser senhor de todo o conhecimento Portador de soluccedilatildeo para
os mais variados problemas na ponta da liacutengua Para cada desafio proposto no dia a dia da
empresa vertia um turbilhatildeo de soluccedilotildees precisas e automaacuteticas
Com sua eficiecircncia derramada a cada suspiro de auxiliar no departamento de
marketing chegou agrave chefia em poucos meses Com o passar dos dias e semanas a experiecircncia
acumulando-se nas veias parecia saber o que as pessoas queriam antes de terminarem de falar
ndash Seu Google o senhor sabe que horashellip
ndash hellip seraacute a reuniatildeo do conselho
ndash Isso Isso mesmo
ndash 16 horas
Era um gecircnio Disposiccedilatildeo tamanha natildeo demorou muito e comeccedilaram a abordar
assuntos mais pessoais
ndash Sr Google preciso de sua ajuda Como faccedilo para conhellip
ndash Conquistar sua melhor amiga
ndash Uau Como o senhor sabe
E derramava soluccedilotildees Como se natildeo bastasse a prontidatildeo comeccedilou a oferecer
vaacuterias opccedilotildees
ndash Sr Google chocolate daacutehellip
ndash Espinha Celulite Coacutelica no bebecirc
ndash Eacuteeacuteeacuteeacutehellip
161
ndash Sono Dor de cabeccedila Azia
ndash Euhellip
ndash Enxaqueca Energia Gases
ndash Isso ndash disse ruborizada ndash Gases
ndash Ahaacute Vocecirc estaacute com sorte menina
Ateacute o poderoso e inacessiacutevel dono da empresa cuja agenda diaacuteria se resumia a
constantes viagens de negoacutecio pela Europa comeccedilou a passar mais tempo no Brasil E quase
todos os dias ia na empresa Mas nem entrava em sua sala Jaacute ia direto para a sala do senhor
Google Os curiosos e fofoqueiros discutiam o teor das conversas atraacutes daquelas portas Uns
diziam que falavam apenas sobre bolsa de valores Acontecimentos mundiais tendecircncias
econocircmicas essas coisas Outros achavam que a conversa soacute passeava pela arena dos assuntos
pessoais
Independentemente do conteuacutedo destes encontros a portas fechadas a empresa soacute
crescia E os funcionaacuterios eram unacircnimes em admitir depois da chegada do Sr Google a vida
de todos eles se tornou mais completa e intensa
Certo dia o Sr Google natildeo apareceu para trabalhar A princiacutepio pairou uma tensatildeo
camuflada no ar Agrave medida que as horas foram passando e o Sr Google natildeo aparecia fez-se
um clima de desespero Comeccedilaram a ligar para o seu celular mas dava como nuacutemero
inexistente Algueacutem tem o telefone da casa dele O resultado foi o mesmo nuacutemero inexistente
Onde ele morava mesmo Ningueacutem sabia O desespero instalou-se no preacutedio Ningueacutem
conseguia fazer nada Ficavam andando de um lado para outro perdidos Nem a dona Gertrudes
conseguiu fazer o cafeacute
Durante dias ningueacutem trabalhou Duacutevidas sobre o andamento da empresa ndash diziam
que accedilotildees da empresa estavam tendo quedas vertiginosas Os funcionaacuterios sentiam-se curvados
ante o peso dos problemas pessoais que natildeo conseguiam resolver sem a ajuda e os conselhos
do Sr Google
Duas semanas depois e metade deles natildeo mais aparecia na empresa Dois ou trecircs
mergulharam de cabeccedila no alcoolismo Outro se jogou da ponte E o poderoso dono da empresa
quem diria foi flagrado diversas vezes em prantos cambaleando pelos corredores
fantasmagoacutericos e mal iluminados da empresa que veio agrave falecircncia dias depois
Quanto ao sr Google nunca mais foi visto Dizem por aiacute que montou um site e
ficou milionaacuterio Mas comprovar mesmo ningueacutem nunca comprovou
Acesso em 2 de agosto de 2017
Disponiacutevel em httpcorrosivacombrcronicas-engracadascronica-humoristica-google-
pacheco
Atividade
1 Vocecirc conhece o vocabulaacuterio a seguir
Memoraacutevel
Frenesi
Singelo
Vertia
Turbilhatildeo
Vertiginosas
2 O texto trata de maneira bem humorada de uma situaccedilatildeo cotidiana Qual
3 O texto traz em si alguma reflexatildeo Qual
162
ANEXO A ndash DISTRIBUICcedilAtildeO POR NIacuteVEL DE PROFICIEcircNCIA
Liacutengua Portuguesa do 9ordm Ano do Ensino Fundamental
Distribuiccedilatildeo por Niacutevel de Proficiecircncia - Liacutengua Portuguesa do 9ordm Ano do Ensino
Fundamental
Niacutevel Descriccedilatildeo do Niacutevel - O estudante provavelmente eacute capaz de
Niacutevel 0
Desempenho menor
que 200
Niacutevel 1
Desempenho maior
ou igual a 200 e
menor que 225
Os estudantes provavelmente satildeo capazes de Reconhecer
expressotildees caracteriacutesticas da linguagem (cientiacutefica jornaliacutestica etc)
e a relaccedilatildeo entre expressatildeo e seu referente em reportagens e artigos
de opiniatildeo Inferir o efeito de sentido de expressatildeo e opiniatildeo em
crocircnicas e reportagens
Niacutevel 2
Desempenho maior
ou igual a 225 e
menor que 250
Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes
provavelmente satildeo capazes de Localizar informaccedilotildees expliacutecitas em
fragmentos de romances e crocircnicas Identificar tema e assunto em
poemas e charges relacionando elementos verbais e natildeo verbais
Reconhecer o sentido estabelecido pelo uso de expressotildees de
pontuaccedilatildeo de conjunccedilotildees em poemas charges e fragmentos de
romances Reconhecer relaccedilotildees de causa e consequecircncia e
caracteriacutesticas de personagens em lendas e faacutebulas Reconhecer
recurso argumentativo em artigos de opiniatildeo Inferir efeito de
sentido de repeticcedilatildeo de expressotildees em crocircnicas
Niacutevel 3
Desempenho maior
ou igual a 250 e
menor que 275
Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes
provavelmente satildeo capazes de Localizar informaccedilotildees expliacutecitas em
crocircnicas e faacutebulas Identificar os elementos da narrativa em letras de
muacutesica e faacutebulas Reconhecer a finalidade de abaixo-assinado e
verbetes Reconhecer relaccedilatildeo entre pronomes e seus referentes e
relaccedilotildees de causa e consequecircncia em fragmentos de romances
diaacuterios crocircnicas reportagens e maacuteximas (proveacuterbios) Interpretar o
sentido de conjunccedilotildees de adveacuterbios e as relaccedilotildees entre elementos
verbais e natildeo verbais em tirinhas fragmentos de romances
reportagens e crocircnicas Comparar textos de gecircneros diferentes que
abordem o mesmo tema Inferir tema e ideia principal em notiacutecias
crocircnicas e poemas Inferir o sentido de palavra ou expressatildeo em
histoacuteria em quadrinhos poemas e fragmentos de romances
Niacutevel 4
Desempenho maior
Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes
provavelmente satildeo capazes de Localizar informaccedilotildees expliacutecitas em
artigos de opiniatildeo e crocircnicas Identificar finalidade e elementos da
163
ou igual a 275 e
menor que 300
narrativa em faacutebulas e contos Reconhecer opiniotildees distintas sobre o
mesmo assunto em reportagens contos e enquetes Reconhecer
relaccedilotildees de causa e consequecircncia e relaccedilotildees entre pronomes e seus
referentes em fragmentos de romances faacutebulas crocircnicas artigos de
opiniatildeo e reportagens Reconhecer o sentido de expressatildeo e de
variantes linguiacutesticas em letras de muacutesica tirinhas poemas e
fragmentos de romances Inferir tema tese e ideia principal em
contos letras de muacutesica editoriais reportagens crocircnicas e artigos
Inferir o efeito de sentido de linguagem verbal e natildeo verbal em
charges e histoacuteria em quadrinhos Inferir informaccedilotildees em
fragmentos de romance Inferir o efeito de sentido da pontuaccedilatildeo e da
polissemia como recurso para estabelecer humor ou ironia em
tirinhas anedotas e contos
Niacutevel 5
Desempenho maior
ou igual a 300 e
menor que 325
Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes
provavelmente satildeo capazes de Localizar a informaccedilatildeo principal em
reportagens Identificar ideia principal e finalidade em notiacutecias
reportagens e resenhas Reconhecer caracteriacutesticas da linguagem
(cientiacutefica jornaliacutestica etc) em reportagens Reconhecer elementos
da narrativa em crocircnicas Reconhecer argumentos e opiniotildees em
notiacutecias artigos de opiniatildeo e fragmentos de romances Diferenciar
abordagem do mesmo tema em textos de gecircneros distintos Inferir
informaccedilatildeo em contos crocircnicas notiacutecias e charges Inferir sentido
de palavras da repeticcedilatildeo de palavras de expressotildees de linguagem
verbal e natildeo verbal e de pontuaccedilatildeo em charges tirinhas contos
crocircnicas e fragmentos de romances
Niacutevel 6
Desempenho maior
ou igual a 325 e
menor que 350
Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes
provavelmente satildeo capazes de Identificar ideia principal e
elementos da narrativa em reportagens e crocircnicas Identificar
argumento em reportagens e crocircnicas Reconhecer o efeito de
sentido da repeticcedilatildeo de expressotildees e palavras do uso de pontuaccedilatildeo
de variantes linguiacutesticas e de figuras de linguagem em poemas
contos e fragmentos de romances Reconhecer a relaccedilatildeo de causa e
consequecircncia em contos Reconhecer diferentes opiniotildees entre
cartas de leitor que abordam o mesmo tema Reconhecer a relaccedilatildeo
de sentido estabelecida por conjunccedilotildees em crocircnicas contos e
cordeacuteis Reconhecer o tema comum entre textos de gecircneros
distintos Reconhecer o efeito de sentido decorrente do uso de
figuras de linguagem e de recursos graacuteficos em poemas e
fragmentos de romances Diferenciar fato de opiniatildeo em artigos e
reportagens Inferir o efeito de sentido de linguagem verbal e natildeo
verbal em tirinhas
Niacutevel 7
Desempenho maior
Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes
provavelmente satildeo capazes de Localizar informaccedilotildees expliacutecitas
ideia principal e expressatildeo que causa humor em contos crocircnicas e
164
ou igual a 350 e
menor que 375
artigos de opiniatildeo Identificar variantes linguiacutesticas em letras de
muacutesica Reconhecer a finalidade e a relaccedilatildeo de sentido estabelecida
por conjunccedilotildees em lendas e crocircnicas
Niacutevel 8
Desempenho maior
ou igual a 375
Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes
provavelmente satildeo capazes de Localizar ideia principal em
manuais reportagens artigos e teses Identificar os elementos da
narrativa em contos e crocircnicas Diferenciar fatos de opiniotildees e
opiniotildees diferentes em artigos e notiacutecias Inferir o sentido de
palavras em poemas
Fonte INEP (2018)
165
ANEXO B ndash DISTRIBUICcedilAtildeO DE TEXTOS FALADOS E ESCRITOS NO CONTIacuteNUO
GENEacuteRICO
Distribuiccedilatildeo dos textos de uso falados e escritos no contiacutenuo geneacuterico
Fonte MARCUSCHI (2015 p 195-196)
166
ANEXO C ndash PRODUCcedilOtildeES DOS ALUNOS
Produccedilatildeo Inicial de Ana
Produccedilatildeo Final de Ana
167
Produccedilatildeo Inicial de Rodrigo
168
Produccedilatildeo final de Rodrigo
169
Produccedilatildeo Inicial de Eduardo
170
Produccedilatildeo final de Eduardo
171
Produccedilatildeo inicial de Estela
172
Produccedilatildeo final de Estela
173
174
175
Produccedilatildeo Inicial de Celia
176
Produccedilatildeo final de Celia
177
Produccedilatildeo Inicial de Arlindo
178
Produccedilatildeo final de Arlindo
179
Produccedilatildeo Inicial de Juacutelia
180
Produccedilatildeo final de Juacutelia
181
Produccedilatildeo Inicial de Vicente
182
Produccedilatildeo final de Vicente
183
Produccedilatildeo Inicial de Graccedila
184
Produccedilatildeo final de Graccedila
185
Produccedilatildeo Inicial de Lilian
186
Produccedilatildeo final de Lilian
187
Produccedilatildeo Inicial de Heloiacutesa
188
Produccedilatildeo final de Heloisa
189
Produccedilatildeo Inicial de Eliane
190
Produccedilatildeo final de Eliane
191
Produccedilatildeo Inicial de Joana
Fonte dados da pesquisa
192
Figura 31 ndash Produccedilatildeo final de Joana
Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo
Universidade Federal do Cearaacute
Biblioteca Universitaacuteria
Gerada automaticamente pelo moacutedulo Catalog mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)
C872p Costa Fernanda Maria da Serra
A produccedilatildeo escrita de crocircnicas em sala de aula do 9ordm ano do ensino fundamental Fernanda Maria
da Serra Costa ndash 2018
192 f il color
Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Universidade Federal do Cearaacute Centro de Humanidades Programa de
Poacutes-Graduaccedilatildeo Profissional em Letras Fortaleza 2018
Aacuterea de concentraccedilatildeo Linguagens e letramentos
Orientaccedilatildeo Profa Dra Aacuteurea Suely Zavam
1 Produccedilatildeo escrita 2 Escrita como processo 3 Gecircnero textual 4 Crocircnicas 5 Sequecircncia de
atividades I Tiacutetulo
CDD 410
FERNANDA MARIA DA SERRA COSTA
A PRODUCcedilAtildeO ESCRITA DE CROcircNICAS EM SALA DE AULA DO 9ordm ANO DO ENSINO
FUNDAMENTAL
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-
Graduaccedilatildeo Profissional em Letras da
Universidade Federal do Cearaacute como requisito
parcial agrave obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em
Letras Aacuterea de concentraccedilatildeo Linguagens e
Letramentos
Aprovado em ____ ____ _______
BANCA EXAMINADORA
________________________________________
Profordf Drordf Aacuteurea Suely Zavam (Orientadora)
Universidade Federal do Cearaacute (UFC)
_________________________________________
Profordf Drordf Pollyane Bicalho Ribeiro
Universidade Federal do Cearaacute (UFC)
_________________________________________
Prof Drordf Sarah Diva da Silva Ipiranga
Universidade Estadual do Cearaacute (UECE)
A Deus
Aos meus pais Olilia e Arnold
Aos meus filhotes Felipe e Miguel
A Maria Morena e Bilaacute in memorian
AGRADECIMENTOS
A Deus que me pocircs a realizar sonhos permitindo-me o devido aperfeiccediloamento
para que pudesse executar melhor a tarefa de contribuir para o mundo
Aos meus pais Olilia e Arnold por todo o apoio incondicional e sem esperar em
troca a vida toda e mais ainda durante o mestrado
Aos meus filhos Felipe e Miguel pela compreensatildeo da distacircncia mesmo que
passageira pela paciecircncia e pelo apoio
Agrave Prof Dr Aurea Zavam pelo carinho acolhimento e orientaccedilatildeo
Aos professores participantes da banca examinadora Pollyane Bicalho Ribeiro e
Sarah Diva da Silva Ipiranga pelo tempo pelas valiosas colaboraccedilotildees e sugestotildees
Aos colegas da 3ordf turma de mestrado ProfLetrasUFC pelas reflexotildees criacuteticas e
sugestotildees recebidas
Agraves damas do fuaacute porque satildeo as melhores amigas que se pode ter Raquel Ive
Carolina Edvania Eacuterica e Flaacutevia
A Aline pela amizade e carinho imensos essa natural forccedila que a vida lhe deu e
que tatildeo generosamente partilha
A Carla amiga de forccedila pela sensatez e ombro amigo generosidade e atenccedilatildeo
A Robson do fundo do coraccedilatildeo de quem digo que palavras natildeo descrevem essa
amizade que a gente tem
Agrave querida Nady por sua boniacutessima vontade em passar suas ldquolentes de catar pulgardquo
em minhas linhas
Ao meu tio Raimundo e a dona Gilda pela compreensatildeo e disposiccedilatildeo em ajudar a
cuidar da minha turma aqui
Agrave Semed-Satildeo Luiacutes por acreditar na figura do professor que busca capacitaccedilatildeo
profissional
Agrave coordenaccedilatildeo do Mestrado Profissional em LetrasUFC pelo incentivo aos
mestrandos
Aos nossos professores do Mestrado que em muito contribuiacuteram em nossa jornada
Agrave nossa diretora da escola Maria de Jesus Dijeacute pelo apoio e disponibilidade e por
sempre acreditar nos projetos como uma forma de acrescentar ao aperfeiccediloamento dos alunos
da escola
Aos professores e funcionaacuterios que apoiaram e colaboraram com o projeto
Aos pais e familiares que apoiaram e consentiram na participaccedilatildeo dos alunos
Aos alunos do 9ordm ano turma 91 de 2017 que integraram o projeto acreditaram em
si mesmos e agora veem seus escritos circularem socialmente
A todos os amigos colegas de trabalho alunos ex-alunos e demais pessoas que
cruzaram meu caminho deixando contribuiccedilotildees alertas liccedilotildees posso natildeo nominar um por um
aqui mas agradeccedilo sua importacircncia
Agrave CAPES pelo apoio financeiro com a manutenccedilatildeo da bolsa de auxiacutelio
ldquoSe vocecirc quiser melhorar de vida Marcie
sempre vai ter que atravessar um oceano ou um
deserto ou uma montanha Mas se de repente
vocecirc atravessar uma sala cheia de gente toda a
sua vida pode mudarrdquo (Peppermint Patty)
RESUMO
O presente trabalho versa sobre o desenvolvimento da competecircncia escrita de alunos do 9ordm ano
do Ensino Fundamental por meio de uma sequecircncia didaacutetica aplicada ao gecircnero crocircnica
visando proporcionar avanccedilos no processo de redigir Para o aporte teoacuterico daacute-se preferecircncia
agraves abordagens de gecircnero na perspectiva de Bakhtin (2011) Bazerman (2009) Bazerman e
Miller (2011) e Marcuschi (2015) A metodologia envolve uma pesquisa-accedilatildeo conforme
elucidaccedilotildees de Gil (2008) O procedimento se daacute pela aplicaccedilatildeo de uma sequecircncia didaacutetica
inspirada em contribuiccedilotildees de Dolz Noverraz e Schneuwly ([2004] 2013) Swiderski e Costa-
Huumlbes (2009) Lopes-Rossi (2011) Vieira (2005) e Serafini (2003) com vista ao aprendizado
de produccedilatildeo de texto do gecircnero crocircnica sob a oacutetica da escrita como processo Por meio das
atividades de leitura e escrita de crocircnicas percebe-se que os alunos refletiram sobre os
procedimentos de escritor sensibilizaram mais o seu olhar para o cotidiano e ampliaram o
conhecimento de sua competecircncia linguiacutestica Acredita-se que propiciar situaccedilotildees de
aprendizagem apresentando-as natildeo como um fardo mas com a graccedila ndash apesar do necessaacuterio
investimento pedagoacutegico ndash que a escrita pode vir a ter garante assim que os alunos concluam
o Ensino Fundamental tendo a oportunidade de elaborar textos consoantes ao seu direito de
serem proficientes em sua liacutengua materna
Palavras-chave Produccedilatildeo escrita Gecircneros textuais Sequecircncia didaacutetica Crocircnicas
ABSTRACT
The present work deals with the development of written competence of students of the 9th grade
of elementary school through a didactic sequence applied to the genre chronicles aiming to
provide advances in the writing process For the theoretical contribution genre approaches are
preferred from the perspective of Bakhtin (2011) Bazerman (2009) Bazerman e Miller (2011)
e Marcuschi (2015) The methodology involves an action research according to Gils (2008)
elucidations The procedure is based on the application of a didactic sequence inspired by
contributions of Dolz Noverraz and Schneuwly ([2004] 2013) Swiderski and Costa-Huumlbes
(2009) Lopes-Rossi (2011) Vieira (2005) e Serafini (2003) with a view to learning text
production of the genre chronicle under the point of view of writing as a process Through the
activities of reading and writing of chronicles it is noticed that the students have reflected on
the procedures of writer they have sensitized more their look at the quotidian and have extended
the knowledge of their linguistic competence It is believed that providing learning situations
by presenting them not as a burden but with the grace - despite all the necessary pedagogical
investment - that writing can have thus ensuring that students finish elementary school having
the opportunity to prepare texts according to their right to be proficient in their mother language
Keywords Written production Genres Didactic sequence Chronicles
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Esquema baacutesico de sequecircncia didaacutetica 31
Figura 2 - Esquema da SD adaptada por Costa-Huumlbes 36
Figura 3 - Esquema da SD adaptada por Costa-Huumlbes 38
Figura 4 - Proposiccedilatildeo de sequecircncia didaacutetica para o projeto de escrita 77
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 ndash Resultados IDEB 2015 70
Graacutefico 2 ndash Desempenho da escola nas ediccedilotildees da Prova Brasil 70
Graacutefico 3 ndash Distribuiccedilatildeo percentual dos alunos do 9ordm Ano do EF por niacutevel de
proficiecircncia - Liacutengua Portuguesa
71
Graacutefico 4 ndash Nuacutemero de alunos do 9ordm ano 88
Graacutefico 5 ndash Participaccedilatildeo nas produccedilotildees 89
Graacutefico 6 ndash Alunos presentes por encontro 90
Graacutefico 7 ndash Avaliaccedilatildeo das crocircnicas A 122
Graacutefico 8 ndash Avaliaccedilatildeo das crocircnicas B 136
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 ndash Siacutentese das etapas de desenvolvimento de projetos pedagoacutegicos que visam agrave
produccedilatildeo escrita de gecircneros discursivos
38
Quadro 2 ndash Motivaccedilatildeo e envolvimento na produccedilatildeo escrita 54
Quadro 3 ndash Como organizar as ideias em paraacutegrafos 63
Quadro 4 ndash Moacutedulos desenvolvidos na sequecircncia de atividades (SA) 80
Quadro 5 ndash Quadro autoavaliativo 91
Quadro 6 ndash Identificaccedilatildeo dos textos dos alunos
Quadro 7 ndash Produccedilatildeo inicial Ana ndash Tiacutetulo Ser chato ou natildeo ser eis a questatildeo
Quadro 8 ndash Produccedilatildeo final Ana ndash Tiacutetulo Ser chato ou natildeo ser eis a questatildeo
Quadro 9 ndash Produccedilatildeo inicial Rodrigo ndash Tiacutetulo Pare de se criticar
Quadro 10 ndash Produccedilatildeo final Rodrigo ndash Tiacutetulo
Quadro 11 ndash Produccedilatildeo inicial Eduardo ndashTiacutetulo O amigo muito e muito chato
Quadro 12 ndash Produccedilatildeo final Eduardo ndashTiacutetulo Ser legal natildeo eacute ser chato
Quadro 13 ndash Produccedilatildeo inicial Estela ndash Tiacutetulo Os chatos de antematildeo
Quadro 14 ndash Produccedilatildeo final Estela ndashTiacutetulo O tio chato de galocha
Quadro 15 ndash Produccedilatildeo inicial Ceacutelia ndashTiacutetulo Chata sim ou natildeo
Quadro 16 ndash Produccedilatildeo final Ceacutelia ndash Tiacutetulo Chata sim ou natildeo
Quadro 17 ndash Produccedilatildeo inicial Arlindo ndash Tiacutetulo Chato e natildeo eacute chato
Quadro 18 ndash Produccedilatildeo final Arlindo ndash Tiacutetulo Chato e natildeo eacute chato
Quadro 19 ndash Produccedilatildeo inicial Juacutelia ndash Tiacutetulo Ser chato ou ser legal
Quadro 20 ndash Produccedilatildeo final Juacutelia ndash Tiacutetulo Pessoas chatas e pessoas legais
Quadro 21 ndash Produccedilatildeo inicial Vicente ndash Tiacutetulo A pergunta eacute se eu bloquearia uma
pessoa chata
Quadro 22 ndash Produccedilatildeo final Vicente ndash Tiacutetulo
Quadro 23 ndash Produccedilatildeo inicial Graccedila ndash Tiacutetulo Rafaelly chata
Quadro 24 ndash Produccedilatildeo final Graccedila ndash Tiacutetulo Chata ela ou EU
Quadro 25 ndash Produccedilatildeo inicial Lilian ndash Tiacutetulo Meus amigos chatos e Eu
Quadro 26 ndash Produccedilatildeo final Lilian ndash Tiacutetulo Pessoas legais e chatas
Quadro 27 ndash Produccedilatildeo inicial Heloiacutesa ndash Tiacutetulo ldquoChato mais eacute muito legalrdquo
Quadro 28 ndash Produccedilatildeo final Heloiacutesa ndash Tiacutetulo ldquoO melhor chatordquo
Quadro 29 ndash Produccedilatildeo inicial Eliane ndash Tiacutetulo Um pouco de tudo
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Quadro 30 ndash Produccedilatildeo final Eliane ndash Tiacutetulo O que e chato e o que e legal
Quadro 31 ndash Produccedilatildeo inicial Joana ndash Tiacutetulo Pessoas chatas e outras legal
Quadro 32 ndash Produccedilatildeo final Joana ndash Tiacutetulo Pessoas oacutetimas
Quadro 33 ndash Tiacutetulos das produccedilotildees para circulaccedilatildeo social
Quadro 34 ndash PIB Ana
Quadro 35 ndash PFB Ana ndash Tiacutetulo PROIBIDA DE ACHAR GRACcedilA
Quadro 36 ndash PIB Rodrigo ndash Tiacutetulo Vida de preguiccediloso
Quadro 37 ndash PFB Rodrigo ndash Tiacutetulo VIDA DE PREGUICcedilOSO
Quadro 38 ndash PIB Eduardo ndash Tiacutetulo
Quadro 39 ndash PFB Eduardo ndash INFAcircNCIA FELIZ
Quadro 40 ndash PIB Estela ndash Tiacutetulo ldquoDown= bullyingrdquo
Quadro 41 ndash PFB Estela ndashTiacutetulo DOWN= BULLYING
Quadro 42 ndash PFA2 Ana ndash Tiacutetulo O que eacute ser chato
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134
137
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
BNCC Base Nacional Comum Curricular
ENEM Exame Nacional do Ensino Meacutedio
FP Folha de Produccedilatildeo
IDEB Iacutendice de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica
INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
LDB Lei de Diretrizes e Bases
PCN Paracircmetros Curriculares Nacionais
PF Produccedilatildeo final
PF-A Produccedilatildeo final para a o trabalho em sala
PF-B Produccedilatildeo final para circulaccedilatildeo social dos textos com audiecircncia real
PI Produccedilatildeo Inicial
PI-A Produccedilatildeo inicial para o trabalho em sala
PI-B Produccedilatildeo inicial para circulaccedilatildeo social dos textos com audiecircncia real
SD Sequecircncia Didaacutetica
SEMED Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo
TDIC Tecnologias Digitais da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 16
2 OS GEcircNEROS E O TRABALHO EM SALA DE AULA 23
21 Demarcando o conceito de gecircnero 23
211 Gecircnero como tipo relativamente estaacutevel de enunciado 23
212 Gecircnero como accedilatildeo social 26
213 Gecircnero como fenocircmeno histoacuterico 30
22 Conhecendo a sequecircncia didaacutetica 31
221 Conceito de sequecircncia didaacutetica 32
222 Propostas de adaptaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica 35
2221 Moacutedulo de reconhecimento 36
2222 Moacutedulo de divulgaccedilatildeo ao puacuteblico 37
2223 Abordagem imitativa da redaccedilatildeo 39
23 Definindo o gecircnero textual crocircnica 41
231 A crocircnica brasileira 42
232 Caracteriacutesticas da crocircnica 44
2321 Crocircnica um gecircnero jornaliacutestico 45
2322 Crocircnica um gecircnero literaacuterio 46
3 LEITURA E ESCRITA NOS ANOS FINAIS DO ENSINO
FUNDAMENTAL
49
31 Habilidades de leitura e escrita para que ler e escrever 49
32 Escrita e motivaccedilatildeo 53
33 Escrita como processo 56
34 Escrita na escola 61
35 Letramento literaacuterio 66
4 NATUREZA E PROCEDIMENTOS DA PESQUISA 69
41 Contexto da pesquisa 69
42 Participantes 72
43 Materiais 73
44 Procedimentos 74
441 Primeira etapa da apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo agrave produccedilatildeo inicial 77
442 Segunda etapa desenvolvimento dos moacutedulos 79
443 Terceira etapa produccedilatildeo final 85
444 Quarta etapa circulaccedilatildeo social dos textos 86
5 ANAacuteLISE DA SEQUEcircNCIA REFLEXOtildeES 87
51 Participaccedilatildeo dos alunos na pesquisa 88
52 Anaacutelise da apropriaccedilatildeo de caracteriacutesticas do gecircnero crocircnica literaacuteria 90
53 Os textos dos alunos 92
531 Produccedilotildees A textos apenas para o trabalho em sala de aula 92
532 Produccedilotildees B textos para circulaccedilatildeo social 123
533 Uma nova reescrita 136
6 CONCLUSAtildeO 139
REFEREcircNCIAS 144
APEcircNDICE A ndash ATIVIDADES PROPOSTAS PARA A SEQUEcircNCIA
DIDAacuteTICA
148
ANEXO A ndash DISTRIBUICcedilAtildeO POR NIacuteVEL DE PROFICIEcircNCIA 162
ANEXO B ndash DISTRIBUICcedilAtildeO DE TEXTOS FALADOS E ESCRITOS
NO CONTIacuteNUO GENEacuteRICO
165
ANEXO C ndash PRODUCcedilOtildeES DOS ALUNOS 166
16
1 INTRODUCcedilAtildeO
A proposta deste trabalho parte de uma motivaccedilatildeo de cunho pessoal fruto das
dificuldades que como professora enfrentamos todos os dias como se pode conduzir o
trabalho em sala de aula de modo eficaz para que os alunos independentemente de sua idade
ou seacuterie possam terminar o ano letivo escrevendo textos claros
Para levar o aluno a desenvolver suas habilidades de escrita um passo importante
seria planejar sequecircncias que abordem as caracteriacutesticas do gecircnero a ser trabalhado permitindo-
lhe pocircr em aproximaccedilatildeo eou contraste seus saberes com os conhecimentos a serem construiacutedos
Para noacutes professores esse passo tem se revelado ainda bastante difiacutecil visto que nossa cultura
escolar ainda natildeo se firmou apropriadamente na visatildeo de que escrita eacute processo e que seu
produto pode ndash deve aliaacutes ndash alcanccedilar a sociedade permitindo ao aluno o exerciacutecio da cidadania
Pensamos entatildeo na elaboraccedilatildeo de uma sequecircncia de aulas que trabalhe a produccedilatildeo
escrita abordando o seu processo Para tanto escolhemos a oacutetica de Vieira (2005) que traz
importante contribuiccedilatildeo para o trabalho do professor ao abordar o processo de produccedilatildeo do
texto considerando-o mais importante no ambiente pedagoacutegico do que o texto pronto Sua
justificativa parte da inquietaccedilatildeo de por que eacute difiacutecil aprender a redigir
Ao longo de sua obra a autora traz reflexotildees a partir de pesquisas sobre os aspectos
comunicativos cognitivos e psicoloacutegicos do processo de redigir conhecimento que ela constata
fornecerem subsiacutedios para fundamentar a didaacutetica da escrita orientando as escolhas
metodoloacutegicas dos professores (VIEIRA 2005 p79) Ainda na abordagem da produccedilatildeo escrita
como processo contamos com Serafini (2003) que tambeacutem traz valiosa orientaccedilatildeo tanto para
o aluno como para o professor
Para trabalharmos esse processo com os alunos o gecircnero escolhido para a criaccedilatildeo
e aplicaccedilatildeo de nossa sequecircncia de aulas eacute a crocircnica literaacuteria que vem ganhando destaque no
cenaacuterio nacional atual de estudos na educaccedilatildeo baacutesica desde a proposta da Olimpiacuteada de Liacutengua
Portuguesa Escrevendo o Futuro (CENPEC 2016) Por seu formato fluido e por se apresentar
de tal modo que a fala pessoal se associa agrave fala coletiva a crocircnica parece integrar espaccedilos
iacutentimos a puacuteblicos construindo dessa maneira uma relaccedilatildeo de proximidade entre o autor e o
leitor
Por percebermos que haacute vaacuterios alunos que produzem seus textos sem recorrer agrave
etapa do planejamento a da revisatildeo e a da reescrita visamos entatildeo nesta pesquisa devido agrave
ausecircncia de tais procedimentos responder agraves seguintes questotildees-problema desdobradas a partir
17
da questatildeo baacutesica como ensinar a produccedilatildeo escrita no 9ordm ano do Ensino Fundamental enfocando
o ato de redigir como um processo visto que haacute estudantes deste niacutevel que normalmente natildeo
tecircm o haacutebito de planejar seus textos A partir desse questionamento nos perguntamos
a) que atividades pedagoacutegicas possibilitam aos alunos a consciecircncia de que eacute
preciso desenvolver estrateacutegias proacuteprias (recorrer agrave etapa do planejamento da
revisatildeo e da reescrita) para produzir seus textos
b) de que forma o conhecimento sobre a estrutura composicional de um gecircnero
pode ajudar a superar as dificuldades
c) a comparaccedilatildeo das produccedilotildees inicial e final permitiraacute associar a melhoria do
desempenho da competecircncia escrita e a apropriaccedilatildeo do gecircnero crocircnica literaacuteria
ao desenvolvimento da sequecircncia de atividades
Apoacutes as oficinas a anaacutelise deteacutem-se nos objetivos elencados com dados
comparativos entre produccedilatildeo inicial e produccedilatildeo final a fim de constatarmos a relevacircncia da
hipoacutetese baacutesica os alunos do 9ordm ano produziram textos na etapa final das oficinas utilizando-
se das caracteriacutesticas do gecircnero textual crocircnica literaacuteria compreendendo que escrita eacute interaccedilatildeo
valorizando o uso social da escrita de acordo com a proposta teoacuterica de gecircnero preparando
seus textos pautados nas etapas do processo de redigir conforme as orientaccedilotildees dadas em sala
de aula Desdobradas em mais trecircs hipoacuteteses secundaacuterias pensamos
a) eacute possiacutevel motivar os alunos a escrever ao desenvolver com eles atividades
voltadas para os diferentes subprocessos e habilidades envolvidos no ato de
redigir
b) o ensino da composiccedilatildeo do gecircnero crocircnica literaacuteria contribuiraacute para minimizar
dificuldades observadas nos textos dos alunos do 9ordm ano como nos planos
morfossintaacutetico e semacircntico aleacutem de lhes propiciar o desenvolvimento da
competecircncia em textos escritos
c) apoacutes a realizaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica proposta ao compararmos as produccedilotildees
inicial e final dos alunos verificaremos um desempenho mais satisfatoacuterio em
relaccedilatildeo agrave competecircncia discursiva realizada no gecircnero crocircnica
Utilizamos a sequecircncia didaacutetica ferramenta teoacuterico-metodoloacutegica proposta por
Dolz Noverraz e Schneuwly ([2004]2013) para facilitar a criaccedilatildeo de nossa sequecircncia
refletindo sobre as atividades iniciais como um diagnoacutestico e a partir daiacute compondo os
moacutedulos que julgamos necessaacuterios dentro do tempo disponiacutevel para o aperfeiccediloamento da
praacutetica de escrita dos alunos
18
Sem esquecer que o produto desta sequecircncia precisa ter relevacircncia e circulaccedilatildeo
social fizemos o estudo do conceito de gecircnero a partir de autores como Bakhtin (2011)
Bazerman (2009) Bazerman Miller (2011) e Marcuschi (2015) autores cujas contribuiccedilotildees
teoacutericas nos permitem compreender que os textos verbais ou orais dependem do contexto em
que satildeo criados considerando seu momento histoacuterico e caracteriacutesticas culturais e sociais
fazendo portanto sentido somente se se destinarem a uma audiecircncia real com papeis sociais
reais
O gecircnero eleito para o trabalho de produccedilatildeo escrita eacute como dissemos a crocircnica
literaacuteria A escolha da tipologia narrativa e do gecircnero crocircnica deu-se por alguns motivos
a) as narrativas possuem um papel fundamental na formaccedilatildeo dos indiviacuteduos Desde
a infacircncia a crianccedila tem contato com a narraccedilatildeo Ela mesma narra como forma
de organizar suas ideias E em sociedade as narrativas ajudaram a construir a
identidade dos povos prolongando ramos e aprofundando raiacutezes
b) a crocircnica eacute um gecircnero que se identifica com a realidade dos alunos pela leveza
da linguagem associando a oralidade e coloquialidade e facilidade de
identificaccedilatildeo de elementos coletivos e individuais presentes em seu cotidiano
os quais podem vir a se tornar objeto de reflexatildeo de bom humor ou mesmo de
criacutetica e sobre tais elementos pode-se motivar os alunos a escrever
c) considerando o papel social da escola que deve ser de integrar o aluno como
cidadatildeo em sociedade eacute uma excelente oportunidade de ensinar os
procedimentos concernentes ao processo de escrita com um texto com
caracteriacutesticas literaacuterias visto que daiacute por diante entrando no ensino meacutedio
predominam as praacuteticas de trabalho com os textos argumentativos cuja
recorrecircncia se deve a serem os mais cobrados em avaliaccedilotildees diagnoacutesticas e de
acesso ao niacutevel superior tais como ENEM vestibulares seleccedilotildees e concursos
sendo um pouco esquecidas as narrativas e os processos de escrita criativa
Esta pesquisa se valeu tambeacutem de trabalhos acadecircmicos que trataram de produccedilatildeo
escrita na escola do gecircnero crocircnica de sequecircncias didaacuteticas e do estudo dos gecircneros textuais
relacionados ao trabalho em sala de aula dentre os quais destacamos
Santos (2008) em sua pesquisa sobre o gecircnero textual crocircnica narrativa no ensino
meacutedio percebeu alguns avanccedilos discretos apoacutes a aplicaccedilatildeo de uma sequecircncia didaacutetica Embora
muitos textos tenham apresentado as caracteriacutesticas do gecircnero explorado em sala de aula
alguns se apresentaram ainda como narrativas tipicamente escolares O pesquisador encontrou
19
dificuldades durante sua pesquisa com produccedilatildeo textual porque afirma na escola o objeto
central de ensino da liacutengua portuguesa ainda eacute a gramaacutetica que disputa espaccedilo diretamente com
a literatura sendo a produccedilatildeo relegada a apenas uma aula sem enfoque no processo de reescrita
dos textos com as devidas reflexotildees
Swiderski e Costa-Huumlbes (2009) analisam o formato baacutesico da sequecircncia didaacutetica
proposta pelo grupo de Genebra e propotildeem a inserccedilatildeo de um moacutedulo novo chamado de moacutedulo
de reconhecimento anterior agrave produccedilatildeo inicial de modo a permitir aos alunos o contato com
textos do gecircnero antes de partir diretamente para a escrita do primeiro texto propiciando
oportunidade de pesquisa leitura e anaacutelise linguiacutestica contemplando os outros eixos do
trabalho com liacutengua portuguesa aleacutem da escrita eou oralidade
Lopes-Rossi (2011) tambeacutem trata da sequecircncia didaacutetica e propotildee para o final da
SD uma culminacircncia a que ela chama de divulgaccedilatildeo ao puacuteblico ou seja um momento para
colocar em circulaccedilatildeo social os textos que os alunos produzem ao longo do trabalho
sistematizado permitindo-lhes compreender o sentido real dos textos do gecircnero que estudam
Colombo (2013) faz uma avaliaccedilatildeo das produccedilotildees vencedoras das ediccedilotildees da
Olimpiacuteada de Liacutengua Portuguesa Escrevendo o Futuro na categoria Crocircnicas Sua criacutetica
principal ao processo estaacute natildeo nas oficinas realizadas pois em muito ajudam os alunos a
conhecer os diversos tons que os textos das crocircnicas trazem a partir das mais diferentes
temaacuteticas mas na artificialidade do interlocutor para quem os alunos escreveram (uma banca
examinadora) e as redaccedilotildees escolhidas por essa banca (um criteacuterio mais pessoal que objetivo)
Colombo (2013) critica tambeacutem a incoerecircncia entre o material de avaliaccedilatildeo
produzido pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Educaccedilatildeo Cultura e Accedilatildeo Comunitaacuteria ndash
CENPEC em 2011 com uma coletacircnea de excertos de textos natildeo vencedores de ediccedilotildees
passadas que aponta no capiacutetulo dedicado agraves crocircnicas exemplos de distanciamentos da
tipologia narrativa proacutepria do gecircnero em textos que abordaram mazelas locais com
predominacircncia da descriccedilatildeo e da criacutetica Para ela essas mesmas caracteriacutesticas ressurgiram nos
textos vencedores do ano de 2012 Dentre outras criacuteticas a mais incisiva de suas consideraccedilotildees
eacute a de que a crocircnica eacute um texto para ser lido na escola sendo no entanto impossiacutevel ensinar os
alunos a escrever crocircnicas pois para a autora natildeo devem ser produzidas sob a pressatildeo de um
concurso que escolheraacute qual a melhor
Correia (2015) em sua pesquisa centrada em uma sala de aula de 7ordm ano do Ensino
Fundamental priorizou a praacutetica de leitura do gecircnero crocircnica e associou ao trabalho com esta
mais dois gecircneros a entrevista e o documentaacuterio audiovisual abordando um aspecto
20
multimodal em sua produccedilatildeo final Sua intenccedilatildeo parece-nos foi usar a temaacutetica das crocircnicas
para despertar nos alunos uma apropriaccedilatildeo da realidade em que estatildeo inseridos e em suas
consideraccedilotildees acredita que no momento de produccedilatildeo escrita dentro das possibilidades de
alunos de 12 anos de idade logrou sucesso ao levar os alunos ao reconhecimento das
caracteriacutesticas do gecircnero
Paiva (2015) realizou um trabalho que contribuiu diretamente para o
desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita atraveacutes do ensino da produccedilatildeo de textos
argumentativos no gecircnero carta de reclamaccedilatildeo Por meio de uma sequecircncia didaacutetica que
priorizava como em nosso caso de pesquisa o processo de produccedilatildeo em vez de considerar
apenas o produto a pesquisadora logrou ecircxito ao identificar progressos nos textos dos alunos
dentro das possibilidades de trabalho que executou
Feitosa (2016) abordou o ensino de liacutengua portuguesa na perspectiva dos gecircneros
realizando uma sequecircncia didaacutetica com o gecircnero panfleto colocando o produto final em
circulaccedilatildeo social como em nosso caso de pesquisa com a distribuiccedilatildeo dos panfletos pelos
alunos no ambiente escolar e na comunidade em que a escola estaacute inserida Fazendo isso ela
possibilitou a atribuiccedilatildeo da significaccedilatildeo proacutepria do gecircnero agrave produccedilatildeo textual dos alunos fator
importante para estimulaacute-los a interagir em sociedade por meio de seus textos
Os Paracircmetros Curriculares Nacionais (PCN 1997) reconhecem que o ensino de liacutengua
portuguesa na educaccedilatildeo baacutesica eacute pautado em uma prioridade de estudos de aspectos normativos
ou gramaticais da liacutengua o que o torna limitado e insuficiente e sugerem redirecionar o foco
para a praacutetica de leitura e ndash aspecto muito importante ndash o exerciacutecio da escrita de textos nos mais
variados gecircneros textuais existentes na sociedade possibilitando o estudo da liacutengua em
contextos reais de uso natildeo apenas como um conjunto de normas1
Para tanto aprender a pensar e falar sobre a proacutepria linguagem realizar uma
atividade de natureza reflexiva uma atividade de anaacutelise linguiacutestica supotildee duas situaccedilotildees
planejar situaccedilotildees didaacuteticas que possibilitem a reflexatildeo natildeo somente sobre os diferentes
recursos expressivos utilizados pelo autor do texto mas tambeacutem sobre a forma pela qual a
seleccedilatildeo de tais recursos reflete as condiccedilotildees de produccedilatildeo do discurso e as restriccedilotildees impostas
1 Os Paracircmetros Curriculares Nacionais (PCN 1997) reconhecem que o ensino de liacutengua portuguesa na educaccedilatildeo
baacutesica eacute pautado em uma prioridade de estudos de aspectos normativos ou gramaticais da liacutengua o que o torna
limitado e insuficiente e sugerem redirecionar o foco para a praacutetica de leitura e ndash aspecto muito importante ndash o
exerciacutecio da escrita de textos nos mais variados gecircneros textuais existentes na sociedade possibilitando o estudo
da liacutengua em contextos reais de uso natildeo apenas como um conjunto de normas
21
pelo gecircnero e pelo suporte e tomar como objeto de reflexatildeo os procedimentos de planejamento
de elaboraccedilatildeo e de refacccedilatildeo dos textos (BRASIL 1997 p 8)
Esses gecircneros a que se referem os paracircmetros satildeo conceituados por Bakhtin autor
em que se fundamenta a proposta dos PCN Compreendendo que o conhecimento de tais
gecircneros traz liberdade ao usuaacuterio da liacutengua o filoacutesofo afirma que quanto melhor dominamos os
gecircneros tanto mais livremente os empregamos tanto mais plena e nitidamente descobrimos
neles a nossa individualidade (onde isso eacute possiacutevel e necessaacuterio) refletimos de modo mais
flexiacutevel e sutil a situaccedilatildeo singular da comunicaccedilatildeo em suma realizamos de modo mais acabado
o nosso livre projeto de discurso (BAKHTIN 2011 p 285)
Os PCN para o 3ordm e o 4ordm ciclos do Ensino Fundamental orientam aleacutem da ampliaccedilatildeo
da variedade de textos e gecircneros que o trabalho com os alunos leve a ldquoconhecer caracteriacutesticas
fundamentais do Brasil nas dimensotildees sociais materiais e culturais como meio para construir
progressivamente a noccedilatildeo de identidade nacional e pessoal e o sentimento de pertinecircncia ao
paiacutesrdquo (BRASIL 1997 p 7)
Assim produzir textos requer dessa forma estudar os diferentes modos de
expressatildeo abrindo-se aiacute para o aluno uma gama de possibilidades de manifestaccedilatildeo de ideias
atraveacutes do conhecimento de sua liacutengua nas relaccedilotildees de interaccedilatildeo pessoal
No entanto para que essa produccedilatildeo seja efetiva haacute que se ter em mente que
qualquer tarefa de escrita bem-sucedida requer o exerciacutecio da escrita e da reescrita pois se
considera que nesse processo de aperfeiccediloamento as aulas tomadas entre o iniacutecio e o teacutermino
de uma sequecircncia de atividades ou seja entre a produccedilatildeo inicial e a produccedilatildeo final sejam
vaacuterias e variadas com planejamento para conhecer as necessidades de cunho geral da turma
como as caracteriacutesticas de um gecircnero bem como as de cunho individual do aluno como as
limitaccedilotildees no reconhecimento do gecircnero textual na construccedilatildeo de argumentos na progressatildeo
narrativa nas convenccedilotildees da escrita culta
Com o objetivo de orientar o leitor apresentamos a forma de organizaccedilatildeo desta
pesquisa que se encontra disposta em mais cinco seccedilotildees primaacuterias aleacutem desta Introduccedilatildeo
Na seccedilatildeo 2 denominada ldquoOs gecircneros e o trabalho em sala de aulardquo discorremos
sobre o conceito de gecircnero apoiando-nos na oacutetica de Bahktin de gecircnero como tipo
relativamente estaacutevel de enunciado na oacutetica da sociorretoacuterica do gecircnero como accedilatildeo social
principalmente com Bazerman e Miller e do gecircnero como fenocircmeno histoacuterico como nos fala
Marcuschi Aleacutem disso tratamos do conceito de sequecircncia didaacutetica proposta teoacuterico-
metodoloacutegica de Dolz Noverraz e Schneuwly e de propostas complementares agrave SD com as
22
contribuiccedilotildees de Costa-Huumlbes e Lopes-Rossi Ainda nesta seccedilatildeo tratamos da definiccedilatildeo do
gecircnero textual crocircnica e suas caracteriacutesticas desenvolvidas no Brasil tanto no campo
jornaliacutestico quanto no literaacuterio pelas oacuteticas de Beltratildeo Coutinho e Cacircndido
Na seccedilatildeo 3 denominada ldquoLeitura e escrita no ensino fundamental anos finaisrdquo
discorremos sobre escrita resgatando um pouco do percurso histoacuterico das habilidades de leitura
e escrita na escola e na sociedade tratamos do aspecto da motivaccedilatildeo para a escrita da escrita
como um processo da escrita na escola e do letramento literaacuterio que julgamos interessante
ressaltar visto que leitura e escrita precisam ser instrumentalizadas
Na seccedilatildeo 4 denominada ldquoNatureza e procedimentos da pesquisardquo discorremos
sobre nossa pesquisa propriamente dita o contexto da pesquisa os sujeitos os materiais e os
procedimentos mostrando o desenvolvimento da sequecircncia de atividades e procedimentos de
coleta de dados
Na seccedilatildeo 5 denominada ldquoAnaacutelise da sequecircncia de atividades reflexotildeesrdquo
discorremos sobre nossa sequecircncia didaacutetica mostrando a participaccedilatildeo dos alunos na pesquisa
apresentando a anaacutelise da apropriaccedilatildeo de caracteriacutesticas do gecircnero crocircnica literaacuteria nos textos
dos alunos bem como os textos produzidos para circulaccedilatildeo social
E por fim na Conclusatildeo apresentamos reflexotildees acerca da experiecircncia com a
pesquisa e dos resultados obtidos bem como sugestotildees para o avanccedilo de trabalhos que possam
contribuir para a competecircncia escrita dos alunos do ensino fundamental e a continuidade de
estudos na aacuterea
Acreditamos que a pesquisa-accedilatildeo desenvolvida que se inscreve no escopo da
Linguiacutestica Aplicada pode aleacutem de ofertar contribuiccedilotildees no acircmbito acadecircmico encorajar os
alunos participantes da pesquisa no sentido de se permitirem evoluir como produtores de texto
em sua liacutengua materna direito que lhes cabe desde o momento em que satildeo reconhecidos
cidadatildeos que ingressam nas escolas brasileiras
23
2 OS GEcircNEROS E O TRABALHO EM SALA DE AULA
Os pressupostos que embasam esta pesquisa perpassam a necessidade de se
compreender o que satildeo os gecircneros textuais em distinccedilatildeo de tipos textuais e como trabalhaacute-los
em atividades sequenciadas destacando-se inclusive como estas podem melhorarauxiliar o
trabalho do professor da educaccedilatildeo baacutesica Aleacutem disso tentaremos delinear ainda que
reconheccedilamos a natildeo consensualidade de definiccedilotildees o que vem a ser a crocircnica a partir das
escolhas dos textos que integram o corpus exemplo para os alunos
21 Demarcando o conceito de gecircnero
Iniciamos nosso percurso teoacuterico a partir da compreensatildeo do que eacute o gecircnero
Concordamos com Bezerra (2017 p 11) quando ele diz que o conceito de gecircnero eacute tomado
como ldquouma categoria mediadora entre o texto e o discurso capaz de colocar em xeque velhas
concepccedilotildees dicotocircmicas como a que trata o texto como uma mera lsquomaterializaccedilatildeorsquo de um
discurso consequentemente lsquoimaterialrsquordquo
Para Bezerra (2017) a partir do gecircnero tanto o texto como o discurso podem ser
relacionados produtivamente com o seu contexto cognitivo e social o que viabiliza o estudo
teoacuterico e sua aplicaccedilatildeo pedagoacutegica
No panorama teoacuterico referencial buscaremos compreensatildeo do que eacute o gecircnero
atraveacutes da conceituaccedilatildeo de Bakhtin (2011) Bazerman (2009) Miller (2011) e Marcuschi
(2015) e sua importacircncia para o trabalho de pesquisa-accedilatildeo com produccedilatildeo textual no 9ordm ano do
ensino fundamental
211 Gecircnero como tipo relativamente estaacutevel de enunciado
De iniacutecio veremos a abordagem enunciativo-discursiva de Bakhtin (2011) que se
refere ao processo de interaccedilatildeo verbal e ao enunciado Para o filoacutesofo russo as interaccedilotildees
podem ocorrer de maneira mais geral face a face mas tambeacutem se concretizar atraveacutes dos textos
escritos Nesse processo o leitor tem um papel ativo na compreensatildeo das informaccedilotildees quando
com elas interage aceitando reformulando contrapondo e complementando conforme seu
arcabouccedilo de conhecimentos e experiecircncias e o faz reportando-se a diferentes vozes de textos
24
previamente lidos e ouvidos Essas interaccedilotildees efetivam-se por meio de enunciados chamados
de gecircneros
A compreensatildeo baacutesica do que satildeo os gecircneros textuais ou usando o termo adotado
por Bakhtin os gecircneros do discurso eacute definida como ldquotipos relativamente estaacuteveis de
enunciadosrdquo (2011 p 262) elaborados pelas diferentes esferas de utilizaccedilatildeo da liacutengua Cada
esfera de uso da linguagem traz consigo uma concepccedilatildeo padratildeo de destinataacuterio a quem se dirige
o locutor e esse destinataacuterio sempre adota uma atitude responsiva ativa diante da totalidade
acabada do gecircnero Digamos que segundo o autor essas esferas permitem-nos situar e prever
o que o interlocutor emitiraacute evitando prejuiacutezos na eficaacutecia da comunicaccedilatildeo
Aprendemos a moldar nossa fala agraves formas do gecircnero e ao ouvir a fala do outro
sabemos de imediato bem nas primeiras palavras pressentir-lhe o gecircnero Se natildeo
existissem os gecircneros do discurso e se natildeo os dominaacutessemos se tiveacutessemos de criaacute-
los pela primeira vez no processo da fala se tiveacutessemos de construir cada um de
nossos enunciados a comunicaccedilatildeo verbal seria quase impossiacutevel (BAKHTIN 2011
p 302)
Dessa forma compreendemos que os enunciados tecircm relativa estabilidade
apresentando formas tiacutepicas que se adaptam agraves muacuteltiplas situaccedilotildees tanto orais quanto escritas
sendo essas formas variaacuteveis portanto Satildeo caracteriacutesticas dos gecircneros o dialogismo e a
polifonia
No dialogismo compreendemos que um texto tem relaccedilotildees com o contexto social
com os textos jaacute lidos pelo leitor e suas experiecircncias de vida e as ligaccedilotildees feitas com as diversas
aacutereas de conhecimento natildeo sendo nunca um produto fechado em si mesmo e uacutenico O discurso
dessa forma estabelece intercacircmbios socioculturais fruto de processos cognitivos e
conhecimentos acumulados historicamente que atendem a essa atitude responsiva ativa Essa
caracteriacutestica estaacute relacionada ao processo de leitura e ao de produccedilatildeo de textos pois o leitor
ou o escritor estabelece um diaacutelogo com o texto em ambos os processos
Na polifonia entendemos que o texto natildeo eacute constituiacutedo apenas da voz do escritor
mas por outras vozes por dizeres de outrem e satildeo vozes que se cruzam concordam ou
discordam entre si
Nas condiccedilotildees de produccedilatildeo dos enunciados e dos gecircneros discursivos estatildeo
inseridas as intenccedilotildees comunicativas e as necessidades sociointerativas dos sujeitos nas esferas
de atividade em que o papel e o lugar de cada sujeito satildeo determinados socialmente Para o
autor trecircs elementos baacutesicos configurariam um gecircnero discursivo o conteuacutedo temaacutetico o estilo
e a forma composicional
25
O conteuacutedo temaacutetico do gecircnero eacute definido pelo enunciador e depende diretamente
das situaccedilotildees das condiccedilotildees de produccedilatildeo e das necessidades da proacutepria enunciaccedilatildeo A escolha
desse conteuacutedo se daacute conforme a intencionalidade do enunciador estando de acordo com as
suas necessidades
O estilo do enunciador pode ser observado na adequaccedilatildeo da linguagem empregada
na escolha dos vocaacutebulos conforme a finalidade e a proacutepria estrutura do enunciado do gecircnero
escolhido voltados para seu interlocutor Nas palavras de Bakhtin (2011 p 284)
O estilo eacute indissociavelmente vinculado a unidades temaacuteticas determinadas e o que eacute
particularmente importante a unidades composicionais tipo de estruturaccedilatildeo e de
conclusatildeo de um todo tipo de relaccedilatildeo entre o locutor e os outros parceiros da
comunicaccedilatildeo verbal (relaccedilatildeo com o ouvinte ou com o leitor com o interlocutor com
o discurso do outro etc) (BAKHTIN 2011 p 284)
Assim para o autor ldquoo enunciado - oral e escrito primaacuterio e secundaacuterio em
qualquer esfera da comunicaccedilatildeo verbal - eacute individual e por isso pode refletir a individualidade
de quem fala (ou escreve)rdquo (BAKHTIN 2011 p 283) Ou seja o estilo eacute individual poreacutem eacute
definido pelo outro e pelo gecircnero ldquodepende do modo que locutor percebe e compreende seu
destinataacuterio e do modo que ele presume uma compreensatildeo responsiva ativardquo (BRAIT 2016 p
95)
A estrutura composicional do gecircnero eacute um elemento que segue padrotildees definidos
pela sociedade Cada enunciado deve inserir-se no padratildeo que eacute convencionado pelo gecircnero a
fim de ser reconhecido e consequentemente compreendido
Essa breve exposiccedilatildeo das trecircs caracteriacutesticas dos gecircneros vem mostrar que elas
dependeratildeo em grande parte das condiccedilotildees de produccedilatildeo de cada enunciado uma vez que
[] o discurso se molda sempre agrave forma do enunciado que pertence a um sujeito
falante e natildeo pode existir fora dessa forma Quaisquer que sejam o volume o
conteuacutedo a composiccedilatildeo os enunciados sempre possuem como unidades da
comunicaccedilatildeo verbal caracteriacutesticas estruturais que lhe satildeo comuns e acima de tudo
fronteiras claramente delimitadas (BAKHTIN 2011 p 293)
Essas caracteriacutesticas ocorrem simultaneamente em uma enunciaccedilatildeo concreta pois
eacute no momento da enunciaccedilatildeo que se definiraacute como essas caracteriacutesticas seratildeo empregadas
A partir dessa compreensatildeo de Bakhtin diversos outros autores conceituaram o que
eacute gecircnero Dentre as grandes Escolas do Gecircnero2 nosso trabalho considerou os conceitos baacutesicos
2 Dentre as grandes Escolas de Gecircnero destacam-se a Escola de Sidney a Norte-americana e a de Genebra
26
adotados pela Escola norte-americana representada por Miller (2011) e Bazerman (2009) Por
fim no Brasil veremos Marcuschi (2015) Traremos ainda para a proacutexima seccedilatildeo autores que
desenvolvem e aplicam os conceitos de gecircnero textual na praacutetica por meio de sequecircncias de
atividades como Dolz Noverraz e Schneuwly ([2004]2013) atraveacutes da Sequecircncia Didaacutetica e
Vieira (2005) com a Abordagem imitativa da redaccedilatildeo trabalhando com formatos e gecircneros
212 Gecircnero como accedilatildeo social
A noccedilatildeo de gecircnero como accedilatildeo social foi desenvolvida inicialmente por Carolyn
Miller A elaboraccedilatildeo de uma teoria de gecircnero ocorreu com mais dois pesquisadores John
Swales e Charles Bazerman Todos satildeo membros do grupo que compotildee a escola de estudos de
gecircneros norte-americana cuja caracteriacutestica eacute o interesse pela natureza social do discurso
(CARVALHO 2005) Veremos aqui mais especificamente os expoentes Miller e Bazerman
A noccedilatildeo de gecircneros natildeo eacute recente e remonta agrave Retoacuterica Claacutessica Por volta dos anos
1980 Miller voltou-se aos estudos das determinaccedilotildees retoacutericas de Aristoacuteteles O filoacutesofo grego
postulou a primeira classificaccedilatildeo dos discursos em trecircs tipos o judiciaacuterio o deliberativo e o
epidiacutetico Carvalho (2016) nos diz que para Aristoacuteteles autor da classificaccedilatildeo essa distinccedilatildeo
dos discursos eacute necessaacuteria porque existem trecircs tipos de auditoacuterio e eacute preciso adaptar-se a eles
conferindo traccedilos especiacuteficos a cada gecircnero pois a escolha entre um deles se daacute mediante a
necessidade que o orador tem de se adaptar ao puacuteblico Aleacutem de classificar Aristoacuteteles
apresenta as caracteriacutesticas de cada um desses tipos de discurso Segundo Carvalho (2016 p
35)
O pensador grego entende que esses trecircs gecircneros se remetem a um tempo especiacutefico
indicam atos expressam valores e apresentam formas especiacuteficas de argumentaccedilatildeo
Assim sendo pondera que o gecircnero judiciaacuterio se dirige a um auditoacuterio especializado
versa sobre leis recorre a silogismos e se refere a acontecimentos do passado para
acusar ou defender O deliberativo trata-se de um gecircnero que se relaciona a um puacuteblico
culto faz uso de argumentos atraveacutes de exemplos e expressa atitudes que poderatildeo
acontecer no futuro O epiacutedictico por sua vez eacute caracterizado como um gecircnero no
qual o orador exalta ou despreza caracteriacutesticas de determinados indiviacuteduos no exato
momento da enunciaccedilatildeo (CARVALHO 2016 p 35)
Nessa abordagem claacutessica apesar de a classificaccedilatildeo de Aristoacuteteles ter reduzido os
discursos a apenas trecircs tipos jaacute se compreendia que a variedade dos gecircneros eacute dependente da
variedade de auditoacuterios e por essa razatildeo natildeo podem ser concebidos desvinculados de seus
interlocutores sendo formas de agir em sociedade de diferentes maneiras Nas palavras de
Carvalho (2016 p34) ldquopor esse acircngulo podemos dizer ainda hoje que lanccedilar um olhar sobre
27
os gecircneros que contemple suas dimensotildees retoacutericas eacute antes de tudo atentar para a natureza
social e argumentativa inerente a cada tipo de discurso e concebecirc-los como formas de
(inter)accedilatildeordquo
Por sua vez Bazerman (2009) na introduccedilatildeo de seu livro Gecircneros textuais
tipificaccedilatildeo e interaccedilatildeo fala da necessidade de se entender as variedades da escrita numa
abordagem que comeccedila com as circunstacircncias em que as pessoas produzem e usam os textos
questionando sobre os motivos e accedilotildees tiacutepicos associados com a escrita e leitura desses textos
Em deacutecadas recentes o ensino da escrita foi transformado pelo amplo reconhecimento
de vaacuterios princiacutepios Primeiro o escrever bem requer mais do que a produccedilatildeo de
sentenccedilas corretas tambeacutem envolve a comunicaccedilatildeo bem-sucedida de mensagens
significantes para outros Segundo a escrita eacute um processo que leva tempo e incorpora
muitas diferentes atividades Terceiro o ensino da escrita que ajuda alunos a
alcanccedilarem o sucesso acadecircmico precisa atender a todos os tipos de escrita que satildeo
necessaacuterios natildeo somente para o estudo da linguagem ou da literatura mas tambeacutem
para as disciplinas de histoacuteria ciecircncia filosofia e poliacutetica Quarto os alunos ao
terminarem seus estudos precisam estar aptos a produzir muitas diferentes formas da
escrita Embora todas as formas da escrita que os alunos poderiam precisar sejam
impossiacuteveis de antecipar os alunos precisam de habilidade e flexibilidade suficientes
para se adaptar agraves situaccedilotildees variantes da escrita (BAZERMAN 2009 p 16)
Bazerman (2009) afirma que se pode chegar a uma compreensatildeo mais profunda de
gecircneros se os compreendermos como ldquofenocircmenos de reconhecimento psicossocial que satildeo parte
de processos de atividades socialmente organizadasrdquo (Bazerman 2009 p31) Na concepccedilatildeo do
pesquisador gecircneros satildeo os tipos que as pessoas reconhecem como sendo usados por elas
proacuteprias e pelos outros ou seja ldquosatildeo fatos sociais sobre os tipos de atos de fala que as pessoas
podem realizar e sobre os modos como elas os realizamrdquo (Bazerman 2009 p 31) Desse modo
os gecircneros emergem nos processos sociais na medida em que as pessoas tentam compreender
umas agraves outras de tal maneira que consigam coordenar atividades e compartilhar significados
com vistas a seus propoacutesitos praacuteticos
Para Miller e Bazerman (2011) definir o gecircnero como ldquogecircnero textualrdquo ou apenas
gecircnero ou ainda ldquogecircnero discursivordquo eacute uma questatildeo de necessidade apenas em contextos em
que se precise fazer algum tipo de distinccedilatildeo ou esclarecimento conceitual como uma espeacutecie
de contraste Nessa obra constituiacuteda como um ldquobate papordquo com perguntas e respostas os
professores a seu turno datildeo suas visotildees sobre essas distinccedilotildees quando perguntados ldquocomo vocecirc
define o conceito de gecircnerordquo Miller responde
Bom eu mantenho a minha definiccedilatildeo jaacute conhecida Eu natildeo distinguiria gecircnero textual
de gecircnero Eu o defino amplamente ou seja o gecircnero eacute uma accedilatildeo retoacuterica tipificada
baseada numa situaccedilatildeo retoacuterica recorrente [] Diria apenas que essa definiccedilatildeo tende
28
a se concentrar mais na produccedilatildeo na pessoa que desenvolve a accedilatildeo do que na
recepccedilatildeo Mas creio que eacute possiacutevel direcionaacute-la para pensar sobre o modo como
algueacutem realiza uma accedilatildeo e responde a ela Acho que tanto a produccedilatildeo como a recepccedilatildeo
satildeo importantes para se pensar no gecircnero como accedilatildeo (BAZERMAN MILLER 2011
p 16)
A mesma questatildeo dirigida a Bazerman eacute respondida da seguinte forma
Eu gostaria de acrescentar algumas coisas Percebo que em portuguecircs eacute necessaacuterio
distinguir gecircneros textuais (textual genre) de gecircnero (gender) Poreacutem em inglecircs o uso
do termo ldquogecircnero de textordquo se opotildee a gecircneros orais ou gecircneros em outros meios
Certamente os gecircneros textuais possuem caracteriacutesticas que os distinguem dos
gecircneros da pintura por exemplo mas todos satildeo formas de gecircnero O que realmente
estaacute em discussatildeo portanto satildeo as possibilidades (affordances) especiacuteficas da
textualidade versus artes graacuteficas por exemplo (BAZERMAN MILLER 2011 p
22)
Para os estudiosos da sociorretoacuterica os gecircneros pertencem agraves atividades humanas
e as refletem de forma que agrave medida que a linguagem muda mudam consigo os gecircneros natildeo
sendo o mais importante classificar ou nomear um gecircnero mas saber como ele funciona
O conceito de gecircnero de Miller tem como noccedilotildees-chave a recorrecircncia e a accedilatildeo
retoacuterica como se pode entender a partir da definiccedilatildeo dada pela proacutepria autora quando diz que
ldquoo gecircnero eacute uma accedilatildeo retoacuterica tipificada baseada numa situaccedilatildeo retoacuterica recorrenterdquo
(BAZERMAN MILLER 2011 p 22) Sua linha de trabalho define que o gecircnero espelha a
experiecircncia de seus usuaacuterios sendo o texto a forma materializada dessa experiecircncia por meio
da accedilatildeo ali levada a cabo de sua forma e de sua substacircncia (CARVALHO 2005 p 133)
Eacute atraveacutes do processo de tipificaccedilatildeo que satildeo construiacutedas as condiccedilotildees de
recorrecircncia analogias e similaridades necessaacuterias para a compreensatildeo do gecircnero em uma dada
cultura Nesse processo eacute importante o papel do sujeito cognitivo visto que ele capta a
recorrecircncia social de uma determinada comunicaccedilatildeo o que sinaliza padrotildees socialmente
perceptiacuteveis e socialmente determinados moldando-se a eles (BAZERMAN MILLER 2011
p 32)
Para caracterizar como os gecircneros se configuram e se enquadram em organizaccedilotildees
papeis e atividades mais amplas Bazerman (2009) propotildee vaacuterios conceitos que se sobrepotildeem
cada um envolvendo um aspecto diferente dessa configuraccedilatildeo conjunto de gecircneros sistema de
gecircneros e sistema de atividades
Segundo o autor um conjunto de gecircneros eacute ldquoa coleccedilatildeo de tipos de textos que uma
pessoa num determinado papel tende a produzirrdquo (2009 p 32) Compreendemos a partir da
explicaccedilatildeo do autor que eacute exemplificada com os profissionais da engenharia e da educaccedilatildeo que
29
ao identificar todas as formas de escrita com as quais devem trabalhar consegue-se ter acesso
agraves competecircncias habilidades e conhecimentos que lhe satildeo requeridos para que atue com bom
domiacutenio em sua aacuterea
Prosseguindo o autor conceitua um sistema de gecircneros
Um sistema de gecircneros compreende os diversos conjuntos de gecircneros organizados por
pessoas que trabalham juntas de uma forma organizada e tambeacutem as relaccedilotildees
padronizadas que se estabelecem na produccedilatildeo circulaccedilatildeo e uso desses documentos
Um sistema de gecircneros captura as sequecircncias regulares com que um gecircnero segue
outro gecircnero dentro de um fluxo comunicativo tiacutepico de um grupo de pessoas
(BAZERMAN 2009 p 32-33)
Esse aspecto se refere agrave integraccedilatildeo dos conjuntos de gecircneros que satildeo usados por
todos os participantes de uma determinada accedilatildeo social Como exemplo podemos pensar nas
provas de uma disciplina o professor elabora as provas e os alunos fazem as provas Ao analisar
o sistema de gecircneros observa-se a sequecircncia dos gecircneros e torna-se possiacutevel esclarecer quais
accedilotildees sociais as pessoas fazem e a forma pela qual os gecircneros datildeo ferramentas para essas accedilotildees
Por fim Bazerman (2009 p 33) conceitua sistema de atividades relacionando-o
ainda ao sistema de gecircneros ldquoEsse sistema de gecircneros eacute tambeacutem parte do sistema de atividades
da sala de aula Ao definir o sistema de gecircneros em que as pessoas estatildeo envolvidas vocecirc
identifica tambeacutem um frame que organiza o seu trabalho sua atenccedilatildeo e suas realizaccedilotildeesrdquo A
palavra frame eacute compreendida como moldura ou quadro No acircmbito educacional podemos
compreender a expressatildeo como o enquadramento que direciona o trabalho que compete a cada
pessoa imersa na accedilatildeo social
Pensando no exemplo da aacuterea educacional um aluno lida com um conjunto de
gecircneros como as provas os seminaacuterios os apontamentos e dentro do sistema de gecircneros
utilizados seu padratildeo como aluno consiste em estudar para os seminaacuterios tomar apontamentos
e responder agraves questotildees das provas sendo que dentro do sistema de atividades em que se
encontra natildeo pode deixar de atender agrave ordem que o frame lhe impotildee pois se lhe eacute determinado
que faccedila sua prova por escrito natildeo lhe eacute permitido por mais que estivesse respondendo tudo
corretamente utilizar-se de um gecircnero oral para que obtenha a nota ndash o que corrobora com a
afirmaccedilatildeo do autor quando este diz que ldquolevar em consideraccedilatildeo o sistema de atividades junto
com o sistema de gecircneros eacute focalizar o que as pessoas fazem e como os textos ajudam as pessoas
a fazecirc-lo em vez de focalizar os textos como fins em si mesmordquo (BAZERMAN 2009 p 33-
34)
30
Apoacutes essa caracterizaccedilatildeo de como os gecircneros se configuram e se enquadram em
organizaccedilotildees papeis e atividades mais amplas nessa abordagem que comeccedila com as
circunstacircncias em que as pessoas produzem e usam os textos questionando sobre os motivos e
accedilotildees tiacutepicos associados com a escrita e leitura desses textos veremos na seccedilatildeo seguinte a
concepccedilatildeo de gecircneros textuais como fenocircmenos histoacutericos profundamente vinculados agrave vida
cultural e social sob a oacutetica de Marcuschi
213 Gecircnero como fenocircmeno histoacuterico
No Brasil Marcuschi (2015) trabalhou a produccedilatildeo textual sob um enfoque
sociointerativo de gecircneros textuais no contiacutenuo de fala-escrita buscando esclarecer os
processos de compreensatildeo textual e de produccedilatildeo de sentido Coadunando com os conceitos jaacute
expostos de Bakhtin (2011) sobre as interaccedilotildees entendemos que elas se datildeo em domiacutenios
discursivos ou seja esferas da vida social ou institucional (por exemplo religiosa juriacutedica
jornaliacutestica pedagoacutegica poliacutetica industrial militar familiar luacutedica etc) nas quais se datildeo
praacuteticas que organizam formas de comunicaccedilatildeo e respectivas estrateacutegias de compreensatildeo (p
194)
Deste modo para Marcuschi os domiacutenios discursivos produzem ldquomodelos de accedilatildeo
comunicativa que se estabilizam e se transmitem de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo com propoacutesitos e
efeitos definidos e clarosrdquo (2015 p 194) que resultam em formas de accedilatildeo reflexatildeo e avaliaccedilatildeo
social que ldquodeterminam formatos textuais que em uacuteltima instacircncia desembocam na
estabilizaccedilatildeo de gecircneros textuaisrdquo (2015 p 194) tambeacutem organizando as relaccedilotildees de poder
Na concepccedilatildeo de Marcuschi (2015) os gecircneros textuais satildeo entatildeo fenocircmenos
histoacutericos profundamente vinculados agrave vida cultural e social O autor afirma que quando
dominamos um gecircnero textual natildeo dominamos uma forma linguiacutestica mas sim uma forma de
realizar linguisticamente objetivos especiacuteficos em situaccedilotildees sociais particulares (p 31) Isso
equivaleria a dizer que os gecircneros textuais operam em certos contextos como formas de
legitimaccedilatildeo discursiva por se situarem numa relaccedilatildeo soacutecio-histoacuterica com fontes de produccedilatildeo
que lhes datildeo sustentaccedilatildeo
Essa relaccedilatildeo soacutecio-histoacuterica a que se refere o autor trata da construccedilatildeo coletiva que
ordena e estabiliza as atividades comunicativas do dia a dia convergindo com o pensamento de
Bakhtin isto eacute como os gecircneros independem de decisotildees individuais e natildeo satildeo facilmente
manipulaacuteveis eles operam como geradores de expectativas de compreensatildeo muacutetua Nas
31
palavras de Marcuschi (2015 p 189) ldquoos gecircneros textuais natildeo satildeo fruto de invenccedilotildees
individuais mas formas socialmente maturadas em praacuteticas comunicativas na accedilatildeo
linguageirardquo
Em uma tentativa de distribuiccedilatildeo dos gecircneros da oralidade e escrita Marcuschi
(2015) cria um quadro geral3 que mostra que muitos gecircneros satildeo comuns a vaacuterios domiacutenios
figurando a crocircnica gecircnero eleito para a realizaccedilatildeo de nossa pesquisa-accedilatildeo de processo de
produccedilatildeo escrita em forma de sequecircncia didaacutetica nos domiacutenios discursivos ficcional e
jornaliacutestico Na distribuiccedilatildeo do contiacutenuo de fala-escrita que ensaia desenhar Marcuschi mostra
a crocircnica deslizando entre o domiacutenio das conversaccedilotildees na conversa espontacircnea seguindo para
as apresentaccedilotildees e reportagens com as narrativas
Desse modo caminha-se para uma compreensatildeo do que eacute a crocircnica aquele texto
escrito leve e espontacircneo que parece por vezes conversar com seu leitor narrando uma coisa
ou outra do dia a dia podendo conduzi-lo a reflexotildees ou possibilitando-lhe um dia mais bem-
humorado ou mesmo poeacutetico Direcionado para nossa investigaccedilatildeo julgamos esses conceitos
bastante importantes para elucidar para os alunos em que contexto satildeo produzidas as crocircnicas
de onde partem a quem pretendem alcanccedilar
Nesse sentido a partir do exposto concluiacutemos que um gecircnero seria uma resposta
usada pelos usuaacuterios de uma liacutengua em situaccedilotildees especiacuteficas constituiacutedo por caracteriacutesticas
gerais relativamente estaacuteveis Dessa forma aleacutem da intenccedilatildeo da comunicaccedilatildeo existe um
conhecimento comum pelo qual os falantes se orientam em suas decisotildees linguiacutesticas ao
construir o gecircnero de texto que estatildeo produzindo ou que devem produzir em cada contexto
comunicativo Esses gecircneros natildeo surgem naturalmente mas se constroem na interaccedilatildeo
comunicativa e satildeo fenocircmenos sociointerativos
22 Conhecendo a sequecircncia didaacutetica
Com vistas a ajudar o trabalho do professor tem sido muito discutido na uacuteltima
deacutecada o emprego das sequecircncias didaacuteticas especialmente na educaccedilatildeo baacutesica Sua
caracteriacutestica consiste em ser um conjunto de atividades ligadas entre si planejadas para ensinar
um conteuacutedo etapa por etapa Ao organizaacute-la de acordo com os objetivos que pretende alcanccedilar
para seus alunos o professor desenvolve atividades de aprendizagem e de avaliaccedilatildeo
3 Cf Anexo A
32
Para o trabalho em nossa aacuterea Liacutengua Portuguesa nossa pesquisa-accedilatildeo vai se
utilizar do procedimento baacutesico da sequecircncia didaacutetica para o ensino da escrita do gecircnero textual
crocircnica literaacuteria para o 9ordm ano do ensino fundamental inspirada no referencial teoacuterico-
metodoloacutegico de Dolz Noverraz e Schneuwly (2013) na proposta de adaptaccedilatildeo da sequecircncia
didaacutetica conduzida por Swiderski e Costa-Huumlbes (2009) na proposta de circulaccedilatildeo social do
gecircnero discursivo produzido em sequecircncias didaacuteticas de projetos pedagoacutegicos de Lopes-Rossi
(2011) e nas sugestotildees didaacuteticas da praacutetica de sala de aula de Vieira (2005) e de Serafini (2003)
221 Conceito de sequecircncia didaacutetica
Dolz Noverraz e Schneuwly (2013 p 83) reconhecem que os textos escritos ou
orais que produzimos diferenciam-se uns dos outros porque satildeo produzidos em condiccedilotildees
diferentes Apesar dessa diversidade satildeo constatadas regularidades de modo que em situaccedilotildees
semelhantes produzimos textos com caracteriacutesticas semelhantes que os autores chamam de
gecircneros de textos conhecidos de e reconhecidos por todos e que por isso mesmo facilitam a
comunicaccedilatildeo a conversa em famiacutelia ou a negociaccedilatildeo no mercado por exemplo
O conceito baacutesico de sequecircncia didaacutetica segundo os autores (2013 p 83) eacute que
esta eacute um conjunto de atividades escolares organizadas de maneira sistemaacutetica em torno de
um gecircnero textual oral ou escrito e que tem precisamente a finalidade de ajudar os alunos a
dominar melhor um gecircnero de texto o que lhes permitiraacute falar ou escrever de maneira mais
adequada a cada situaccedilatildeo comunicativa
Para o desenvolvimento de nossa pesquisa escolhemos o gecircnero crocircnica literaacuteria
visando o desenvolvimento da competecircncia discursiva dos alunos posto que ainda natildeo
dominam adequadamente a produccedilatildeo de um texto nesse gecircnero Assim como preveem Dolz
Noverraz e Schneuwly (2013 p 83) ldquoo trabalho escolar seraacute realizado evidentemente sobre
gecircneros que o aluno natildeo domina ou o faz de maneira insuficiente sobre aqueles dificilmente
acessiacuteveis espontaneamente pela maioria dos alunos e sobre gecircneros puacuteblicos e natildeo privadosrdquo
De acordo com os autores uma sequecircncia didaacutetica pode ser flexiacutevel no sentido de
que se houver necessidade o professor poderaacute por vezes criar outras atividades ou modificar
os textos de referecircncia utilizados Essa flexibilidade precisa tambeacutem considerar os fenocircmenos
de desencorajamento que poderatildeo manifestar-se durante o tempo consagrado agrave sequecircncia como
por exemplo no aluno o sentimento de que jamais conseguiraacute melhorar seu texto por causa das
dificuldades proacuteprias da escrita no professor nos momentos em que os alunos parecem
33
desconectar-se da proposta projetada perdendo o interesse pela atividade proposta no dia Para
minimizar situaccedilotildees assim eacute que deve ser deixado um espaccedilo para as atividades mais informais
e menos exigentes em termos de tempo (DOLZ NOVERRAZ SCHNEUWLY 2013 p 108)
Percebemos dessa forma que um professor natildeo eacute obrigado a realizar todas as
atividades predeterminadas de uma sequecircncia didaacutetica na sua integralidade Sob pena do rigor
por cumprir aquele planejamento e somente ele no decorrer do processo de aprendizagem
ambos professor e aluno podem sentir que a experiecircncia natildeo foi vaacutelida terminando por realizar
as aulas de modo tradicional natildeo ocorrendo assim o acesso dos alunos a praacuteticas de linguagem
novas ou dificilmente dominaacuteveis
Por ser de caraacuteter progressivo a cada etapa de uma sequecircncia didaacutetica o professor
pode ndash e deve ndash fazer uma reflexatildeo associando o microcosmo que eacute a sala de aula onde
trabalha com um macro que seria o mundo em que estamos inseridos com todo o seu contexto
que pode servir como suporte para que o docente se integre a uma (ou a vaacuterias) teorias que
possa vir a aplicar
Com a reflexatildeo sobre a(s) teoria(s) e construindo seu arcabouccedilo teoacuterico conforme
observa sua praacutetica o professor ndash incluiacutemo-nos aqui ndash como sugere Bortoni-Ricardo (2008)
torna-se pesquisador podendo aprimorar sua postura pedagoacutegica de modo a obter assim
resultados mais satisfatoacuterios junto aos discentes
Dando prosseguimento expomos aqui o os quatro componentes da estrutura baacutesica
de uma sequecircncia didaacutetica segundo Dolz Noverraz Schneuwly (2013) que serve como
inspiraccedilatildeo para as atividades que planejamos para esta pesquisa-accedilatildeo
Figura 1 - Esquema baacutesico de sequecircncia didaacutetica
Fonte Adaptado de DOLZ NOVERRAZ SCHNEUWLY (2013 p 83)
Para Dolz Noverraz e Schneuwly (2013) eacute necessaacuterio que o professor informe os
alunos e conscientize-os da importacircncia dos conteuacutedos a serem trabalhados em sala de aula
Para isso o professor deve claramente definir o problema de comunicaccedilatildeo que devem resolver
Apresentaccedilatildeo da
Situaccedilatildeo
PRODUCcedilAtildeO
INICIAL
PRODUCcedilAtildeO
FINAL
Moacuted
ulo 1
Moacuted
ulo 2
Moacuted
ulo n
34
produzindo um texto e os conteuacutedos com os quais trabalharatildeo no texto que seraacute produzido
Assim na fase inicial de apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo satildeo fornecidas aos alunos as informaccedilotildees
necessaacuterias para conhecerem o ldquoprojeto comunicativo visado e a aprendizagem de linguagem a
que estaacute relacionadordquo (2013 p 85)
Depois dessa contextualizaccedilatildeo com os alunos eles passam agrave primeira produccedilatildeo
tentando elaborar um texto escrito Ora embora os alunos ainda natildeo tenham verdadeiramente
tido o contato aprofundado com o gecircnero esse encaminhamento natildeo necessariamente os potildee
numa situaccedilatildeo de insucesso Ao contraacuterio do que se pode pensar produzir um texto adequado
agrave situaccedilatildeo proposta embora os alunos nesse primeiro momento natildeo atendam a todas as
caracteriacutesticas do gecircnero solicitado permite-lhes descobrir o que jaacute sabem fazer e ganhar
consciecircncia das dificuldades que possuem e ao professor avaliar natildeo somente as dificuldades
apresentadas pelos alunos na produccedilatildeo inicial mas tambeacutem que se apresentarem durante o
processo de produccedilatildeo Desse modo a produccedilatildeo inicial eacute caracterizada como ldquoo primeiro lugar
de aprendizagem da sequecircnciardquo (DOLZ NOVERRAZ SCHNEUWLY 2013 p 87 Grifo dos
autores)
A etapa seguinte se constitui dos moacutedulos isto eacute a decomposiccedilatildeo dos problemas
detectados na primeira produccedilatildeo com consequente fornecimento de instrumentalizaccedilatildeo para a
superaccedilatildeo das dificuldades Esse processo que vai da produccedilatildeo inicial aos moacutedulos os autores
denominaram de ldquomovimento geral da sequecircncia didaacuteticardquo (2013 p 88) partindo do acircmbito
mais complexo que eacute a produccedilatildeo inicial para o mais simples que satildeo os moacutedulos os quais
trabalham as capacidades necessaacuterias ao domiacutenio do gecircnero No fim o movimento da sequecircncia
didaacutetica vai para o complexo novamente que eacute a produccedilatildeo final No processo de elaboraccedilatildeo de
cada moacutedulo os autores levantam trecircs questionamentos 1) Que dificuldades da expressatildeo oral
e escrita abordar 2) Como construir um moacutedulo para trabalhar um problema particular 3)
Como capitalizar o que eacute adquirido nos moacutedulos (2013 p 88)
Para responder a cada uma dessas indagaccedilotildees Dolz Noverraz e Schneuwly (2013
p 88) consideram trecircs dimensotildees no processo de construccedilatildeo dos moacutedulos que satildeo trabalhar
problemas de niacuteveis diferentes variar atividades e exerciacutecios e capitalizar as aquisiccedilotildees
A primeira etapa trabalhar problemas de niacuteveis diferentes baseada na psicologia
da linguagem eacute constituiacuteda por quatro niacuteveis principais na produccedilatildeo de textos a saber
representaccedilatildeo da situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo em que o aluno deveraacute aprender com clareza a fazer
uma imagem ldquodo destinataacuterio do texto da finalidade visada da sua posiccedilatildeo como autor ou
locutor e do gecircnero visadordquo (p 88) elaboraccedilatildeo dos conteuacutedos em que o aluno ldquodeveraacute conhecer
35
as teacutecnicas para buscar elaborar ou criar conteuacutedosrdquo (p 88) planejamento do texto em que o
aluno deveraacute estruturar seu texto de acordo com um plano que depende da finalidade que se
deseja atingir considerando que cada gecircnero se caracteriza por uma estrutura evocando a
compreensatildeo de Bakhtin (2011) ldquorelativamente estaacutevelrdquo realizaccedilatildeo do texto em que o aluno
deveraacute escrever seu texto escolhendo os meios de linguagem mais eficazes para a finalidade
que pretende alcanccedilar
Em relaccedilatildeo agrave segunda etapa variar as atividades e exerciacutecios os autores definem
que ldquoo princiacutepio essencial de elaboraccedilatildeo de um moacutedulo que trate de um problema de produccedilatildeo
textual eacute o de variar os modos de trabalhordquo (p 89) Afirmando que existem variadas categorias
de atividades e exerciacutecios (atividades de observaccedilatildeo e de anaacutelise de textos tarefas simplificadas
de produccedilatildeo de textos e a elaboraccedilatildeo de uma linguagem comum) (p 89) sugerem assim que
cada moacutedulo tenha atividades diversificadas com o objetivo de proporcionar ao aluno diferentes
meios de apropriaccedilatildeo dos conteuacutedos necessaacuterios ao seu sucesso na produccedilatildeo final
A terceira etapa capitalizar as aquisiccedilotildees consiste em aprender a falar sobre o
gecircnero abordado atraveacutes da aquisiccedilatildeo de vocabulaacuterio teacutecnico comum agrave classe e ao professor
A partir dessa construccedilatildeo progressiva dos conhecimentos de linguagem e de regras seraacute
possiacutevel ao professor estimular os alunos a refletir sobre o que foi aprendido nos moacutedulos e
juntos fazerem uma siacutentese na forma de como sugerem os autores lista de constataccedilotildees ou de
lembrete ou glossaacuterio (p 90)
A etapa final da sequecircncia didaacutetica corresponde agrave produccedilatildeo final momento em que
o aluno colocaraacute em praacutetica as noccedilotildees e os instrumentos que foram elaborados e aplicados
durante os moacutedulos sendo o momento para o professor avaliar o aprendizado do aluno Essa
avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo final tem caraacuteter somativo e eacute pautada na construccedilatildeo de uma grade (2013
p 90) de criteacuterios que explicitam aos alunos o que seraacute avaliado permitindo a objetividade ao
pautar-se nos conteuacutedos trabalhados em aula Isso tornaraacute possiacutevel ao professor a observaccedilatildeo
das aprendizagens efetuadas planejar a continuaccedilatildeo do trabalho e se necessaacuterio retornar a
pontos mal assimilados
222 Propostas de adaptaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica
Com vistas a justificar como compusemos a SD aplicada vamos nessa seccedilatildeo
mostrar o aparato teoacuterico de pesquisadoras que contribuiacuteram com propostas de adaptaccedilatildeo e
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complementaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica do grupo de Genebra buscando propiciar ao professor
um trabalho mais amplo
2221 Moacutedulo de reconhecimento
Baseados na proposta teoacuterico-metodoloacutegica da SD produzida para o contexto
sociocultural dos pesquisadores de Genebra os integrantes de um grupo de estudos em Liacutengua
Portuguesa da regiatildeo Oeste do Paranaacute criaram uma proposta de ensino da LP para as seacuteries
iniciais contendo uma adaptaccedilatildeo (SWIDERSKI COSTA-HUumlBES 2009) que consiste na
inserccedilatildeo de um moacutedulo de reconhecimento do gecircnero antes da etapa de produccedilatildeo inicial em
atividades e exerciacutecios que contemplem a leitura a pesquisa e a anaacutelise linguiacutestica com textos
do gecircnero Para melhor entendimento observemos a figura a seguir
Figura 2 - Esquema da SD adaptada por Costa-Huumlbes
Fonte Adaptado de SWIDERSKI E COSTA-HUumlBES (2009)
Esse moacutedulo inserido antes da produccedilatildeo inicial como proposto pelas autoras serve
segundo elas ao reconhecimento dos aspectos do gecircnero a ser trabalhado na SD em atividades
e exerciacutecios que contemplem a leitura a pesquisa e a anaacutelise linguiacutestica com textos do gecircnero
Na SD ldquoas condiccedilotildees de praacuteticas de leituras envolvem natildeo apenas o contexto de produccedilatildeo e a
relaccedilatildeo autor-texto A esses aspectos somam-se o conhecimento do leitor e o contexto de uso
que conforme Orlandi (1996) satildeo fatores determinantes na produccedilatildeo de sentidosrdquo
(SWIDERSKI COSTA-HUumlBES 2009 p 121)
Diante disso ao avaliarem a proposta da SD as autoras entendem que antes de se
chegar agrave produccedilatildeo inicial o professor pode criar para o estudante vaacuterias situaccedilotildees que envolvam
a praacutetica de leitura de textos do gecircnero selecionado que circulam na sociedade oportunizando
nesse contato com esses textos a mobilizaccedilatildeo de estrateacutegias diferentes frente aos diversos
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objetivos que implicam o ato de ler e enfatizam que trabalhar com a leitura natildeo exclui o
trabalho com os outros eixos do processo ensino-aprendizagem de LP
As autoras acrescentam ainda sobre o trabalho de reconhecimento do gecircnero
Outro detalhe que salientamos sobre o trabalho de reconhecimento do gecircnero refere-
se ao fato de que as informaccedilotildees sobre o gecircnero natildeo satildeo dadas gratuitamente jaacute que
o mesmo natildeo eacute tratado como uma forma pronta e acabada mas como um instrumento
relativamente estaacutevel Entendido assim a praacutetica de ensino-aprendizagem precisa
incentivar o processo de pesquisa Nessa perspectiva o estudante tem dois problemas
a resolver antes de iniciar sua produccedilatildeo um abarca a pesquisa para conhecer os
elementos que determinam num dado contexto soacutecio-histoacuterico e cultural a produccedilatildeo
e a circulaccedilatildeo das amostras do gecircnero a ser abordado didaticamente e em segundo
a leitura e a anaacutelise dessas amostras novamente buscando reforccedilar o conhecimento
acerca dos elementos que as constituem (SWIDERSKI COSTA-HUumlBES 2009 p
121)
Vemos entatildeo que as leituras para reconhecimento do gecircnero como uma etapa
anterior ao momento da produccedilatildeo inicial servem como base ao trabalho a ser desenvolvido
Inclusive entendemos no tocante a servir como exemplo e modelo que fornecem traccedilos para
possiacuteveis comparaccedilotildees ao longo do desenvolvimento dos moacutedulos como poderemos perceber
na seccedilatildeo correspondente ao nosso trabalho
2222 Moacutedulo de divulgaccedilatildeo ao puacuteblico
Como forma de consolidar para o aluno a visatildeo do uso real de um gecircnero textual
Lopes-Rossi (2011) propotildee a divulgaccedilatildeo das produccedilotildees dos alunos apoacutes a realizaccedilatildeo das tarefas
dos moacutedulos
Deste modo o professor pode entatildeo criar com eficiecircncia projetos pedagoacutegicos
que visem segundo a autora ldquoao conhecimento agrave leitura agrave discussatildeo sobre o uso e as funccedilotildees
sociais dos gecircneros escolhidos e quando pertinente a sua produccedilatildeo escrita e circulaccedilatildeo socialrdquo
(LOPES-ROSSI 2011 p 71)
O quadro a seguir proposto por Lopes-Rossi (2011) reflete os fundamentos sobre
o trabalho com projetos pedagoacutegicos e sintetiza as etapas de desenvolvimento de projetos
pedagoacutegicos que visam agrave produccedilatildeo escrita de gecircneros discursivos incluindo o moacutedulo de
divulgaccedilatildeo ao puacuteblico de acordo com a forma tiacutepica de circulaccedilatildeo de cada gecircnero
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Quadro 1 ndash Siacutentese das etapas de desenvolvimento de projetos pedagoacutegicos que visam agrave produccedilatildeo escrita de
gecircneros discursivos
Moacutedulos didaacuteticos Sequecircncias didaacuteticas
Leitura para apropriaccedilatildeo das
caracteriacutesticas tiacutepicas do
gecircnero discursivo
rarr Seacuterie de atividades de leitura comentaacuterios e
discussotildees de vaacuterios exemplos do gecircnero para
conhecimento de suas caracteriacutesticas discursivas
temaacuteticas e composicionais (aspectos verbais e natildeo
verbais)
Produccedilatildeo escrita do gecircnero
de acordo com suas
condiccedilotildees de produccedilatildeo
tiacutepicas
rarr Seacuterie de atividades de produccedilatildeo
- planejamento da produccedilatildeo (assunto esboccedilo geral
forma de obtenccedilatildeo de informaccedilotildees recursos
necessaacuterios)
- coleta de informaccedilotildees
- produccedilatildeo da primeira versatildeo
- revisatildeo colaborativa do texto
- produccedilatildeo da segunda versatildeo
- revisatildeo colaborativa do texto
- produccedilatildeo da versatildeo final incluindo o suporte para a
circulaccedilatildeo do texto
Divulgaccedilatildeo ao puacuteblico de
acordo com a forma tiacutepica de
circulaccedilatildeo do gecircnero
rarr Seacuterie de providecircncias para efetivar a circulaccedilatildeo da
produccedilatildeo dos alunos fora da sala de aula e mesmo da
escola de acordo com as necessidades de cada evento
de divulgaccedilatildeo e das caracteriacutesticas de circulaccedilatildeo do
gecircnero Fonte Adaptado de LOPES-ROSSI (2011 p 72)
Se adaptarmos o quadro em forma de esquema a fim de facilitar a visualizaccedilatildeo
teremos
Figura 3 Esquema das etapas de desenvolvimento de projetos pedagoacutegicos visando agrave produccedilatildeo escrita de gecircneros
discursivos
Fonte Adaptado de LOPES-ROSSI (2011)
Segundo a autora a proposta de trabalho pedagoacutegico com gecircneros discursivos pela
oacutetica dos pesquisadores do grupo de Genebra proporciona de fato o desenvolvimento da
Produccedilatildeo
escrita
Divulgaccedilatildeo ao
puacuteblico
Leitura para
apropriaccedilatildeo
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autonomia do aluno no processo de leitura e produccedilatildeo textual sendo uma consequecircncia do
domiacutenio do funcionamento da linguagem em situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo visto que eacute por meio
dos gecircneros discursivos que as praacuteticas de linguagem incorporam-se agraves atividades dos alunos
Sua oacutetica inclui um moacutedulo de leitura para apropriaccedilatildeo das caracteriacutesticas tiacutepicas
do gecircnero que se pretende trabalhar como jaacute descrito no quadro e que coaduna com a proposta
de Swidesrki e Costa-Huumlbes (2009) O moacutedulo de produccedilatildeo escrita de Lopes-Rossi (2009) trata
de planejamento da produccedilatildeo coleta de informaccedilotildees produccedilatildeo da primeira versatildeo revisatildeo
colaborativa do texto produccedilatildeo da segunda versatildeo revisatildeo colaborativa do texto produccedilatildeo da
versatildeo final incluindo o suporte para a circulaccedilatildeo do texto
Para noacutes eacute interessante considerar o moacutedulo de divulgaccedilatildeo ao puacuteblico pois
somando-se a esse trabalho de desenvolvimento da autonomia a circulaccedilatildeo da produccedilatildeo viraacute
corroborar entatildeo a funccedilatildeo social do texto divulgado no suporte adequado nas condiccedilotildees
apropriadas
2223 Abordagem imitativa da redaccedilatildeo
No capiacutetulo Abordagem imitativa da redaccedilatildeo trabalhando com formatos e gecircneros
que integra a obra Escrita para que te quero Vieira (2005 p 159-171) elenca passos para o
trabalho do professor com os alunos na construccedilatildeo de um texto como se fosse um guia o que
pode ser bastante uacutetil para o trabalho com formatos e gecircneros Seguem os passos
1ordm Dar exemplos do tipo de escrita esperado que em poucas palavras consiste em
oferecer modelos de textos relativamente faacuteceis de ler evidenciando sua estrutura
2ordm Ensinar as regras que consiste em explicitar o caminho para atingir as metas
Se necessaacuterio for diz a autora transmite-se um conhecimento analiacutetico ldquouse esquemas ou
diagramas para ilustrar Leve seus alunos a aprenderem mais a partir de modelos direcionando
a instruccedilatildeo para um alvordquo (VIEIRA 2005 p 159)
3ordm Apresentar uma ldquoreceitardquo passo a passo do gecircnero pretendido o que deixa claro
o que se quer que os alunos produzam e tambeacutem serve de guia para as tarefas de casa quando
estiverem trabalhando sozinhos A receita seraacute tatildeo melhor para os alunos se elaborada
diretamente pelo professor ou pelos proacuteprios alunos Tambeacutem eacute possiacutevel diz a autora adaptar
instruccedilotildees de manuais e usar a proacutepria experiecircncia de redator
40
4ordm Demonstrar a ldquoreceitardquo que eacute um momento em que os alunos percebem o
trabalho na praacutetica com o professor executando alguns ou todos os passos da ldquoreceitardquo
demonstrando como se escreve Os alunos colaboram na criaccedilatildeo conjunta de um texto
5ordm Ser autecircntico no processo que eacute dividir com os estudantes os problemas que
surgem na produccedilatildeo de qualquer texto mostrando como solucionar dialogando com os alunos
trabalhando de forma colaborativa
6ordm Dar tarefas curtas e planejadas com cuidado o que atribui ao trabalho do aluno
mais qualidade Normalmente para impressionar o professor a aluno escreve textos longos
repetitivos e sem atratividade As atividades com limite de extensatildeo favorecem segundo a
autora a motivaccedilatildeo o alcance e a variedade de audiecircncias o feedback do professor a
possibilidade de repeticcedilatildeo da tarefa o que Vieira considera um passo fundamental para se
dominar um conhecimento
7ordm Propiciar feedback uacutetil e especiacutefico Neste aspecto a autora natildeo estimula o
ldquoretoquerdquo dos textos dos alunos feito pelo professor Pelo contraacuterio incentiva criacuteticas justas
que visem a evoluccedilatildeo construindo com o aluno atraveacutes das sugestotildees e questotildees adequadas a
reformulaccedilatildeo de seus textos Vieira acrescenta ainda que este feedback natildeo deveria vir somente
do professor mas de uma variedade de leitores como seus pares e a famiacutelia para evitar a falsa
ideia de que a escrita eacute algo direcionado somente ao professor
8ordm Repetir a tarefa Ningueacutem se torna bom em algo logo na primeira tentativa
Portanto para desenvolver as habilidades eacute importante a repeticcedilatildeo para dominar um
conhecimento
Apoacutes elencar a autora sugere tarefas de aplicaccedilatildeo para o professor de forma bem
praacutetica para criar uma ldquoreceitardquo de escrita com os alunos (2005 p 162) de modo que noacutes
professores nos apropriemos dos diferentes gecircneros textuais conhecendo de antematildeo as
caracteriacutesticas destes e mesmo as dificuldades partindo de textos autecircnticos listando
procedimentos e etapas necessaacuterios para redigir textos semelhantes e refletindo sobre a
instruccedilatildeo que devemos criar estabelecendo um propoacutesito para que o aluno escreva e exercite
apropriadamente o modelo de gecircnero
A partir desse roteiro teoacuterico-metodoloacutegico que traccedilamos ao longo desta seccedilatildeo
inspiramo-nos para criar para o trabalho com o gecircnero crocircnica assunto da proacutexima seccedilatildeo em
nossa pesquisa-accedilatildeo a sequecircncia didaacutetica com foco na produccedilatildeo escrita de crocircnicas literaacuterias
acrescida das etapas de reconhecimento do gecircnero e da divulgaccedilatildeo ao puacuteblico dado o desejo
41
de extrapolar o acircmbito da sala de aula fazendo com que os textos dos alunos tivessem
circulaccedilatildeo social
23 Definindo o gecircnero textual crocircnica
A palavra ldquocrocircnicardquo tem origem no grego antigo khroacutenos e significa tempo Naquela
sociedade o gecircnero ganhou esse nome inicialmente por trazer em seu corpo o relato em ordem
cronoloacutegica dos fatos ou acontecimentos de uma eacutepoca
Um dos pioneiros a estudar o texto literaacuterio segundo Ferreira (2011 p 65) foi o
pensador grego Aristoacuteteles Sua perspectiva formulava o conceito de mimese que seria a obra
literaacuteria como representaccedilatildeo ou imitaccedilatildeo do mundo Considerando essa oacutetica a crocircnica em sua
origem tomava a forma de registro histoacuterico de um povo Aleacutem disso compreende-se que mais
do que apenas encadear a sequecircncia de fatos sucessivos interessava a forma como isso se dava
mostrando o cuidado com a arte literaacuteria
Aproximadamente no seacuteculo XII a crocircnica ressurge em uso na Europa medieval e
tem seu conceito atualizado pela perspectiva grega ora se encarrega de registrar os fatos
fidedignamente o que lhe confere caraacuteter histoacuterico ora relata-os fazendo uso de recursos
linguiacutesticos tanto denotativos quanto conotativos conferindo-lhe caraacuteter de ficccedilatildeo literaacuteria A
esse respeito nos fala Borges (2008 p 205)
A preocupaccedilatildeo com a descriccedilatildeo da histoacuteria de uma vida teve seu iniacutecio no mundo
grego antigo ao mesmo tempo em que surgiu a Histoacuteria como forma de
conhecimento essa era uma Histoacuteria poliacutetica com sua diferenciaccedilatildeoimbricaccedilatildeo com
a memoacuteria Ao longo de mais ou menos dois milecircnios autores acharam que contar a
histoacuteria da vida de algueacutem era algo distinto de uma Histoacuteria (que narrava fatos
coletivos e contava a verdade) as histoacuterias das vidas (termo usado entatildeo pelos
autores) serviam desde o mundo greco-romano para dar exemplos morais negativos
ou positivos - muitas vezes constituindo os panegiacutericos Essa chamada biografia
claacutessica punha um acento muito maior no caraacuteter poliacutetico moral ou religioso do
biografado do que em sua pessoa em sua singularidade No mundo medieval a ideia
dos exempla prolongou-se configurando-se na hagiografia e nas croacutenicas
Esses textos chamados de crocircnicas como caracterizadas acima por Borges (2008)
confundiam-se com outros gecircneros da eacutepoca ndash o que era muito comum ndash por tomarem um
caraacuteter biograacutefico sendo sinocircnimas por exemplo da hagiografia cuja intencionalidade ditava
o estilo do escritor concretizando ao longo da sucessatildeo cronoloacutegica dos fatos uma visatildeo
parcial beirando o excessivamente elogioso
42
A crocircnica percorreu longo curso ateacute ganhar a forma que conhecemos hoje no Brasil
Para Coutinho (2008) a origem de nossa atual crocircnica brasileira estaria no ensaio inglecircs do
seacuteculo XVI O autor a compara ao ensaio informal (informal essay ou familiar essay) que
consiste em seu sentido primitivo numa tentativa numa experimentaccedilatildeo de interpretaccedilatildeo
pessoal dos fatos sem obedecer a uma estrutura predeterminada poreacutem com forte marca da
prosa oral colocada na escrita
A essecircncia do ensaio (nesse sentido original) estaacute em sua relaccedilatildeo com a palavra falada
e com a elocuccedilatildeo oral como se depreende do estudo estiliacutestico dos grandes ensaiacutestas
estilo muito proacuteximo da maneira oral ou do pensamento que eacute captado no proacuteprio ato
e momento de pensar (COUTINHO 2008 p 100)
A respeito do conceito de crocircnica temos a visatildeo de Coutinho (2008) cujos criteacuterios
de classificaccedilatildeo dos gecircneros literaacuterios adotados em sua obra apontam para ldquoum grupo de formas
literaacuterias que resultam de uma explanaccedilatildeo direta dos pontos de vista do autor dirigindo-se em
seu proacuteprio nome ao leitor ou ouvinte sem qualquer artifiacutecio intermediaacuteriordquo (2008 p 99)
Segundo ele o autor vale-se de meacutetodo direto ao inveacutes de indireto em gecircneros ensaiacutesticos ou
discursivos cujos exemplos dados satildeo o ensaio a crocircnica o discurso e o sermatildeo a carta as
memoacuterias o diaacuterio as maacuteximas Outra aproximaccedilatildeo da crocircnica ao ensaio para o autor eacute que
ambos satildeo escritos em linguagem coloquial discorrendo sobre diversos assuntos tais como os
proacuteprios seres humanos os fatos ocorridos com eles as cenas da natureza entre outros
Poreacutem na mesma obra Coutinho (2008) afirma que modernamente a palavra
ensaio veio perdendo seu caraacuteter inicial e etimoloacutegico de tentativa de experimentaccedilatildeo
passando a se confundir com ldquoestudordquo ldquoou o que os ingleses chamam de julgamento isto eacute
que oferecem conclusotildees sobre os assuntos apoacutes discussatildeo argumentaccedilatildeo anaacutelise avaliaccedilatildeordquo
231 A crocircnica brasileira
No seacuteculo XIX a sociedade desenvolve-se industrialmente permitindo o advento
da imprensa Para vaacuterios autores como Barbier (2008 apud FERREIRA 2011) Coutinho
(2008) Cacircndido (1992) Castello (1999) o folhetim eacute a gecircnese da crocircnica moderna sendo o
jornal o suporte em que a crocircnica vai ganhar definitivamente seu espaccedilo Sobre essa relaccedilatildeo na
eacutepoca entre o suporte para o gecircnero e o gosto pelo gecircnero Barbier (2008) fala
Sabe-se hoje que os gecircneros literaacuterios estatildeo intimamente relacionados agraves condiccedilotildees
sociais e histoacutericas que determinam a formaccedilatildeo do puacuteblico leitor com seus gostos e
sensibilidades e que por outro lado eles tambeacutem se alteram com a mudanccedila do
43
suporte material dos textos como o demonstra a Histoacuteria dos manuscritos dos
impressos e das recentes experimentaccedilotildees digitais (BARBIER 2008 apud
FERREIRA 2011 p 73)
Das palavras de Barbier (2008) captamos a importacircncia que passa a ter a imprensa
para a divulgaccedilatildeo dos textos por seu alcance por sua frequecircncia bem como por seu poder de
molde sobre o puacuteblico leitor que se formava na eacutepoca
Antocircnio Candido (1992 p 15) no belo texto A vida ao reacutes-do-chatildeo explica que
ldquoantes de ser crocircnica propriamente dita foi lsquofolhetimrsquo ou seja um artigo de rodapeacute sobre as
questotildees do dia ndash poliacuteticas sociais artiacutesticas literaacuteriasrdquo E completa o autor afirmando que a
crocircnica ldquonatildeo nasceu propriamente com o jornal mas soacute quando este se tornou quotidiano de
tiragem relativamente grande e teor acessiacutevel isto eacute haacute pouco mais de um seacuteculo e meiordquo
(CAcircNDIDO 1992 p 15)
Esse folhetim em geral ficava no rodapeacute da primeira paacutegina do jornal e era
destinado ao entretenimento do leitor Esse espaccedilo com o tempo passou a acolher a ficccedilatildeo
literaacuteria Autores publicavam aiacute seus textos treinando a narrativa Tal foi a receptividade do
formato que ganhou espaccedilo proacuteprio semanalmente Nas palavras de Castello (1999) aquele
texto que veio depois a ser a crocircnica complementaria a funccedilatildeo da imprensa diaacuteria
A partir dos anos [19]20 acentua-se a contribuiccedilatildeo de cronistas e memorialistas Mas
o primeiro gecircnero mais do que o segundo eacute continuidade e amadurecimento de uma
tradiccedilatildeo proveniente do Romantismo quando o ldquofolhetimrdquo semanal eacute definido por
Joseacute de Alencar e enriquecido por Machado de Assis mestre de cronistas que vieram
depois Conta-se ainda a contribuiccedilatildeo da prosa poeacutetica de Raul Pompeia e logo a
seguir de Olavo Bilac Finalmente nos nossos dias seja atividade complementar seja
agraves vezes principal e mesmo uacutenica de vaacuterios escritores a crocircnica se afirma como gecircnero
da preferecircncia de numeroso puacuteblico Contribuiu sempre para difundi-la desde seus
momentos iniciais datados do Romantismo a divulgaccedilatildeo em primeira matildeo pelos
principais jornais e revistas do paiacutes Complementava mesmo pelo seacuteculo XIX a
funccedilatildeo de nossa imprensa diaacuteria tradicionalmente marcada pela colaboraccedilatildeo dos
escritores do momento Surgia como um misto de notiacutecia vaacuteria reflexatildeo invenccedilatildeo e
ateacute mesmo de criacutetica ou impressotildees literaacuterias (CASTELLO 1999 p 377-378)
A crocircnica complementava a imprensa por em seu bojo tratar de assuntos mais
amenos diferindo dos que motivavam as notiacutecias e as reportagens sem no entanto como nos
mostra Cacircndido (1992) deixar de lado o que toca a alma humana
Ora a crocircnica estaacute sempre ajudando a estabelecer ou restabelecer a dimensatildeo das
coisas e das pessoas Em lugar de oferecer um cenaacuterio excelso numa revoada de
adjetivos e periacuteodos candentes pega o miuacutedo e mostra nele uma grandeza uma beleza
ou uma singularidade insuspeitada Ela eacute amiga da verdade e da poesia nas suas
formas mais diretas e tambeacutem nas suas formas mais fantaacutesticas - sobretudo porque
quase sempre utiliza o humor (CAcircNDIDO 1992 p 14)
44
Amenos sim poreacutem as crocircnicas de um ou outro modo conduziam o leitor mesmo
que por caminhos suaves de ldquoar despreocupado de quem estaacute falando de coisas sem maior
consequecircnciardquo (CAcircNDIDO 1992 p 17) agrave criacutetica social agrave reflexatildeo sobre o significado das
accedilotildees e dos sentimentos do homem
Segundo Coutinho (2008 p 106) o caminho que conduziria agrave crocircnica brasileira
comeccedila com Francisco Otaviano no Jornal do Commercio no Rio de Janeiro em 2 de
dezembro de 1852 Nessa data eacute inaugurada a seccedilatildeo ldquoA semanardquo em que seriam publicados os
folhetins literaacuterios do Romantismo
O folhetim seccedilatildeo ao final da paacutegina apresentou caracteriacutesticas que se agrupadas
conforme a frequecircncia do teor das publicaccedilotildees seriam de variedades e de romances O primeiro
grupo o de variedades abordava assuntos diversos da eacutepoca tratando de tudo um pouco e
ocupava a primeira paacutegina do jornal O segundo por sua vez destinava-se a textos de ficccedilatildeo
Esse espaccedilo passou a publicar romances de autores da eacutepoca distribuiacutedos em histoacuterias seriadas
ou capiacutetulos provocando no puacuteblico leitor a curiosidade pelo que viria a seguir tornando-se
um sucesso permitindo ldquoalavancar as vendas aumentar as assinaturas e por conseguinte
ampliar as vantagens financeiras dos jornaisrdquo (SANTOS 2008 p 68)
Essa iniciativa abriu espaccedilo para publicaccedilotildees de romances de autores brasileiros O
guarani de Joseacute de Alencar por exemplo foi desenvolvido a princiacutepio para o folhetim Em 1ordm
de janeiro de 1857 saiu o capiacutetulo inicial do romance no Diaacuterio do Rio de Janeiro Ao final
daquele ano foi publicado como livro com alteraccedilotildees miacutenimas em relaccedilatildeo ao que fora
publicado em folhetim
A evoluccedilatildeo da sociedade industrial refletiu sua setorizaccedilatildeo no modo de organizaccedilatildeo
dos jornais O folhetim para variedades teve sua alteraccedilatildeo quando foram criadas seccedilotildees
especiacuteficas para assuntos especiacuteficos de maneira a organizar o jornal Para o folhetim restaram
assuntos mais corriqueiros de cunho mais descompromissado com a veracidade dos fatos ndash
estes ficariam para as notiacutecias A esses textos mais leves cujo caraacuteter era efecircmero com a mera
funccedilatildeo de distrair o leitor passou-se a dar o nome de crocircnica
232 Caracteriacutesticas da crocircnica
Apesar da filiaccedilatildeo ao jornal as caracteriacutesticas atuais do gecircnero crocircnica vatildeo aleacutem do
desenvolvimento da imprensa Como bem nos resume Amaral (2008) tambeacutem estatildeo
intimamente relacionadas agraves transformaccedilotildees sociais e agrave valorizaccedilatildeo da histoacuteria social isto eacute da
45
histoacuteria que considera importantes os movimentos de todas as classes sociais e natildeo soacute os das
grandes figuras poliacuteticas ou militares Em suas palavras no ldquoregistro da histoacuteria social assim
como na escrita das crocircnicas um dos objetivos eacute mostrar a grandiosidade e a singularidade dos
acontecimentos miuacutedos do cotidianordquo (2008 p 12)
Eacute efecircmera simples e dinacircmica em sua linguagem como nos fala Cacircndido (1992 p
14)
Isto acontece porque natildeo tem pretensotildees a durar uma vez que eacute filha do jornal e da
era da maacutequina onde tudo acaba tatildeo depressa Ela natildeo foi feita originalmente para o
livro mas para essa publicaccedilatildeo efecircmera que se compra num dia e no dia seguinte eacute
usada para embrulhar um par de sapatos ou forrar o chatildeo da cozinha Por se abrigar
nesse veiacuteculo transitoacuterio o seu intuito natildeo eacute o dos escritores que pensam em ldquoficarrdquo
isto eacute permanecer na lembranccedila e na admiraccedilatildeo da posteridade e a sua perspectiva
natildeo eacute a dos que escrevem do alto da montanha mas do simples reacutes-do-chatildeo
(CAcircNDIDO 1992 p 14)
As crocircnicas contemporacircneas organizam sua narrativa em primeira ou terceira
pessoa quase sempre como quem conta um caso em tom intimista Ao narrar os autores
inserem em seu texto trechos de diaacutelogos permeados por expressotildees cotidianas escrevendo
como quem conversa com seus leitores como se estivessem muito proacuteximos Como temaacutetica
os cronistas tratam de reflexotildees sobre a vida social poliacutetica econocircmica por vezes de forma
humoriacutestica outras de modo mais seacuterio outras com um jeito poeacutetico que indica o pertencimento
do gecircnero agrave esfera literaacuteria
Assim uma forte caracteriacutestica do gecircnero eacute ter uma linguagem que mescla aspectos
da escrita com outros da oralidade E por causa do uso de linguagem coloquial e da proximidade
com os fatos cotidianos a crocircnica por vezes eacute vista como literatura ldquomenorrdquo Essa suposta
classificaccedilatildeo como gecircnero literaacuterio menor natildeo diminui sua importacircncia Por ser breve leve de
faacutecil acesso envolvente ela possibilita momentos de fruiccedilatildeo a muitos leitores que nem sempre
tecircm acesso ndash ou natildeo gostam devido agrave extensatildeo ndash aos romances Para compreendermos as
caracteriacutesticas da crocircnica precisamos conhecer como ela se manifesta como texto jornaliacutestico
e tambeacutem como texto literaacuterio
2321 Crocircnica um gecircnero jornaliacutestico
Para termos uma ideia de como eacute vista a crocircnica na esfera jornaliacutestica valemo-nos
da classificaccedilatildeo do pioneiro na aacuterea Luiacutes Beltratildeo (1980 p 67 Grifos do autor)
O primeiro aspecto eacute quanto agrave natureza do tema Deste modo ele apresenta trecircs
46
espeacutecies
a) crocircnica geral tambeacutem chamada de coluna ou seccedilatildeo especial que aborda
assuntos variados ldquosob uma epiacutegrafe geralrdquo ou localizada em paacutegina fixa no
jornal
b) crocircnica local tambeacutem chama de urbana ou da cidade divulgada sob a mesma
epiacutegrafe que fala da vida cotidiana da cidade recebendo e orientando a opiniatildeo
puacuteblica da comunidade onde circula o jornal
c) crocircnica especializada tambeacutem chamada de comentaacuterio integra uma paacutegina ou
seccedilatildeo do jornal determinada destacando-se graficamente das demais mateacuterias
ali publicadas trata de assuntos referentes a uma aacuterea especiacutefica de atividade
cujo autor eacute um expert como nos casos de poliacutetica esportes ou economia
O segundo aspecto eacute o tratamento dado ao tema Beltratildeo (1980 p68) apresenta
mais trecircs classificaccedilotildees
a) crocircnica analiacutetica em que o cronista expotildee os fatos com brevidade e os analisa
com objetividade dirigindo-se ldquomais agrave inteligecircncia que ao coraccedilatildeordquo com
linguagem soacutebria e elegante poreacutem dotada de capricho e graccedila
b) crocircnica sentimental em que o cronista apela para a sensibilidade de seu leitor
retirando-se dos fatos e explorando aspectos liacutericos pitorescos ou eacutepicos de
modo a comovecirc-lo e influenciaacute-lo agrave accedilatildeo com linguagem vivaz ritmo aacutegil sem
dar profundidade ao tema
c) crocircnica satiacuterico-humoriacutestica em que o objetivo do cronista eacute criticar fatos accedilotildees
personagens ou pronunciamentos comentados ndash amplamente conhecidos do
puacuteblico ndash ridicularizando-os ou ironizando-os buscando o entretenimento do
leitor utilizando linguagem com linguagem figurada com duplo sentido
palavras aspeadas e verbos no futuro do preteacuterito Para Beltratildeo (1980) a esse tipo
de crocircnica se assemelham as charges dos jornais
2322 Crocircnica um gecircnero literaacuterio
A crocircnica como vimos previamente surgiu no espaccedilo do jornal Embora o
utilizasse como suporte e a partir dele tenha se firmado desenvolveu caracteriacutesticas proacuteprias
indo para aleacutem da esfera jornaliacutestica alcanccedilando assim a esfera literaacuteria Nas palavras de
Eduardo Portela (apud Coutinho 2008 p 107)
47
O fundamental na crocircnica eacute a superaccedilatildeo de sua base jornaliacutestica e urbana em busca de
transcendecircncia seja construindo ldquouma vida aleacutem da notiacuteciardquo Seja enriquecendo a
notiacutecia ldquocom elementos de tipo psicoloacutegico metafiacutesicordquo ou com o humour seja
fazendo ldquoo subjetivismo do artistardquo ldquoo seu universo internordquo sobrepor-se ldquoagrave
preocupaccedilatildeo objetiva do cronistardquo (PORTELA apud COUTINHO 2008 p 107)
Como se vecirc essa base jornaliacutestica que atrelava a crocircnica agrave notiacutecia foi
gradativamente superada Natildeo soacute em jornais mas tambeacutem em revistas ela passou a ser
publicada ainda trazendo em si o aspecto da brevidade Poreacutem as que alcanccedilaram a
transcendecircncia de que nos fala o autor passaram a tambeacutem ser publicadas em livros reunidas
em coletacircneas organizadas por autores e editoras chegando mesmo a serem inseridas nos livros
didaacuteticos do ensino baacutesico
Para aleacutem dessa caracteriacutestica da crocircnica literaacuteria impressa temos agora tambeacutem
no seacuteculo XX a crocircnica cujo suporte eacute o meio online divulgada amplamente por meio das redes
sociais sites ou blogs Nesses meios tambeacutem haacute crocircnicas ligadas a notiacutecias sim No entanto a
dinacircmica da vida a capacidade de observaccedilatildeo e a vontade crescente na sociedade de expressatildeo
permite que o subjetivo emerja externalizando o universo dos autores modernos tocando os
leitores igualmente modernos tornando puacuteblico o que poderia ser antes apenas privado natildeo
priorizando apenas a objetividade histoacuterica que buscaram os cronistas incipientes
Considerando todas essas formas de tornar puacuteblica a crocircnica vejamos algumas de
suas caracteriacutesticas mais expressivas Afracircnio Coutinho (2008 p 107 Grifos nossos) fala sobre
os diversos tipos da crocircnica na literatura brasileira afirmando ser possiacutevel classificaacute-los pela
natureza do assunto ou pelo movimento interno Satildeo eles
a) a crocircnica narrativa que se aproxima do conto por ter seu eixo em uma histoacuteria
b) a crocircnica metafiacutesica que se constitui de aura de reflexotildees mais ou menos
filosoacuteficas sobre os acontecimentos ou os homens
c) a crocircnica-poema em prosa que traz em si conteuacutedo liacuterico resultante de mero
extravasamento da alma do artista ante o espetaacuteculo da vida das paisagens ou
episoacutedios para ele significativos
d) a crocircnica-comentaacuterio que trata das variedades dos acontecimentos e que tem
ldquono dizer de Eugecircnio Gomes o aspecto de um lsquobazar asiaacuteticorsquo acumulando
muita coisa diferente ou diacutesparrdquo
Antocircnio Cacircndido (1992 p 21) sugere sem pretensatildeo de categorizar uma
classificaccedilatildeo das crocircnicas Poderiacuteamos agrupar conforme seus exemplos da seguinte forma
48
a) crocircnicas que satildeo diaacutelogos e que nelas podemos perceber que o cronista e seu
leitor ideal se revezam nos pontos de vista e nas informaccedilotildees
b) crocircnicas que marcham rumo ao conto ldquoagrave narrativa mais espraiada com certa
estrutura de ficccedilatildeordquo
c) crocircnicas que parecem anedotas desdobradas
d) crocircnicas que se aproximam da exposiccedilatildeo poeacutetica ou de certo tipo de biografia
liacuterica construiacutedas por enumeraccedilatildeo parecendo uma divagaccedilatildeo livre ldquouma
cadeia de associaccedilotildees totalmente sem necessidade que deveria resultar em
simples acuacutemulo de palavrasrdquo mas que resulta em ldquoum sistema expressivo tatildeo
perfeitordquo
Nos tempos em que vivemos e para nosso projeto escolhemos crocircnicas que se
apresentaram para noacutes tatildeo efecircmeras quanto as do jornal impresso as de meio virtual online
Bem certo que natildeo foram todas mas vaacuterias que nossos alunos leram encaixam-se nesse perfil
O advento da internet permite que acessemos textos dos mais variados gecircneros Em nosso caso
crocircnicas de autores de diversos pontos do Paiacutes Usamos famosos e outros cuja fama no meio
literaacuterio ainda estaacute se nacionalizando porquanto alguns jaacute estejam bem consolidados no meio
em seus estados
Como nosso objetivo maior nesta pesquisa-accedilatildeo eacute contribuir para o
desenvolvimento da competecircncia escrita dos alunos neste caso os do 9ordm ano do Ensino
fundamental ano divisor de aacuteguas prestes a entrar para o ensino meacutedio quando lhes seraacute
cobrado um conhecimento que muitos natildeo chegam a alcanccedilar que eacute o de ter boa escrita boa
produccedilatildeo textual propiciar-lhes-emos conhecer as etapas especiacuteficas do processo atraveacutes de
nossa SD o que lhes seraacute fundamental natildeo somente para os niacuteveis escolares seguintes mas
tambeacutem para as praacuteticas sociais nas quais estatildeo inseridos
A escolha do gecircnero natildeo poderia ter sido mais oportuna Nas palavras de Cacircndido
(1992 p 16) sobre a crocircnica ldquoo seu grande prestiacutegio atual eacute um bom sintoma do progresso de
busca da oralidade na escrita isto eacute na quebra do artifiacutecio e aproximaccedilatildeo com o que haacute de mais
natural no modo de ser do nosso tempo E isto eacute humanizaccedilatildeo da melhorrdquo
49
3 LEITURA E ESCRITA NOS ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
Nesta seccedilatildeo tratamos da questatildeo da escrita no ensino fundamental nos anos finais
refletindo sobre o que ensinar em Liacutengua Portuguesa como os professores trabalham como
veem a importacircncia das aulas de escrita
31 Habilidades de leitura e escrita para que ler e escrever
No iniacutecio do seacuteculo XX pensava-se nas aulas de liacutengua materna como o momento
de se transmitir a norma culta da liacutengua portuguesa para os estudantes oriundos da classe social
alta A linguagem era vista como a expressatildeo do pensamento e a capacidade de escrever seria
portanto uma consequecircncia do pensar Na escola os textos literaacuterios eram valorizados e os
regionalismos ignorados Tambeacutem era descartada a ideia de se ler na escola jornais ou
quaisquer textos de nuances coloquiais
A partir da segunda metade do seacuteculo XIX comeccedilaram a surgir no Paiacutes ainda que
alguns fossem impressos na Europa livros de leitura destinados especificamente agraves seacuteries
iniciais da escolarizaccedilatildeo Segundo Galvatildeo e Batista (sd) autores como Abiacutelio Ceacutesar Borges e
Felisberto de Carvalho editaram livros considerados inovadores para a eacutepoca por terem caraacuteter
enciclopeacutedico trazendo conteuacutedos de vaacuterias aacutereas do conhecimento sendo de cunho instrutivo
e moral Essas obras destinadas ao aprendizado inicial da leitura e da escrita visavam substituir
as cartilhas grosseiras ou os materiais manuscritos que no entanto na maior parte do paiacutes
continuaram sendo usados
No iniacutecio do seacuteculo XX foram publicados livros cujo formato comeccedilou a modificar
o conceito de livro usado nas escolas Atraveacutes do Brasil de Olavo Bilac e Manuel Bonfim e
Narizinho arrebitado de Monteiro Lobato marcaram a histoacuteria
Movidos pelo nacionalismo que caracterizava aquele momento brasileiro os autores
construiacuteram um livro que traz uma narrativa contiacutenua ao longo dos capiacutetulos contando
a histoacuteria de trecircs meninos viajando atraveacutes do paiacutes No prefaacutecio os autores afirmam
que atraveacutes da histoacuteria narrada o professor teria material para desenvolver os diversos
assuntos necessaacuterios agrave instruccedilatildeo das crianccedilas Aleacutem disso e talvez sobretudo os
autores tecircm uma preocupaccedilatildeo com a educaccedilatildeo moral dos meninos e meninas Em
1921 outro livro marcaria a histoacuteria dos livros de leitura Narizinho Arrebitado de
Monteiro Lobato Um dos grandes sucessos da literatura infantil brasileira nasceu
como 2o livro de leitura para as escolas E com ele uma grande inovaccedilatildeo Segundo
a criacutetica da eacutepoca o livro se diferenciava de toda a literatura didaacutetica produzida no
Brasil na medida em que trazia para a escola um aspecto ateacute entatildeo ignorado pela
instituiccedilatildeo provocar o prazer na leitura (GALVAtildeO BATISTA sd)
50
Da deacutecada de 20 ateacute meados da de 50 inuacutemeros livros de leitura foram produzidos
e algumas editoras especializaram-se na produccedilatildeo de livros didaacuteticos Nesse momento vaacuterias
reformas de ensino foram empreendidas por diversos Estados
Nos anos 1970 a linguagem passou a ser vista como um instrumento de
comunicaccedilatildeo como nos fala Raupp (2005)
A concepccedilatildeo agora eacute a de linguagem como instrumento de comunicaccedilatildeo e os
objetivos de ensino satildeo pragmaacuteticos e utilitaacuterios natildeo se trata mais de promover o conhecimento
do sistema linguiacutestico ndash o saber a respeito da liacutengua ndash mas do desenvolvimento das habilidades
de expressatildeo e compreensatildeo de mensagens ndash o uso instrumental e comunicativo da liacutengua A
escola abre-se para a pluralidade de linguagens e culturas
Segundo a autora ensinar a liacutengua nas escolas era priorizar o ensino de gramaacutetica
Poreacutem no iniacutecio dos anos 70 a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo nordm 569271
provocou mudanccedilas natildeo somente na disciplina de Liacutengua Portuguesa mas em todas as demais
disciplinas curriculares A liacutengua no contexto ideoloacutegico do movimento militar poacutes-64 eacute
considerada instrumento a serviccedilo do desenvolvimento Assim a disciplina ldquoPortuguecircsrdquo passa
a ser denominada de Comunicaccedilatildeo e Expressatildeo (nas seacuteries iniciais) Comunicaccedilatildeo em Liacutengua
Portuguesa (nas seacuteries finais) e no 2deg grau Liacutengua Portuguesa e Literatura Brasileira O aluno
deveria respeitar modelos para construir textos e transmitir mensagens Os gecircneros natildeo
literaacuterios foram incorporados agraves aulas
Chegando agrave deacutecada de 1980 foi sendo revista refletida e ampliada a concepccedilatildeo de
linguagem como um instrumento de comunicaccedilatildeo passando a influenciar o ensino e mostrando
que o foco deve estar na interaccedilatildeo entre as pessoas Poreacutem apesar dos novos estudos mesmo
entrando na deacutecada de 1990 professores ainda reproduziam mesmo que inconscientemente o
mesmo sistema de transposiccedilatildeo didaacutetica de conteuacutedos e a mesma atribuiccedilatildeo de valor e
importacircncia ao ensino prescritivo e normativo com que construiacuteram sua formaccedilatildeo tanto pessoal
quanto pedagoacutegica
Questionava-se para que serve a escola E trazendo para nossa aacuterea de interesse
para que serve a disciplina Liacutengua Portuguesa Para alguns a escola era e ainda eacute vista como
preparatoacuteria de alunos para o vestibular tanto mais se aproximava do ensino meacutedio No entanto
se a escola se detiver apenas a esses exames perderaacute completamente seu papel social que como
sabemos eacute muito mais abrangente que fazer uma prova cuja finalidade eacute especiacutefica objetiva e
limitada por um tempo e por uma seacuterie de outras determinaccedilotildees teacutecnicas
51
Nesse sentido a escola natildeo tem por finalidade maior garantir o preparo de alunos
para concursos pois natildeo cumpriria seu papel de promover a inclusatildeo social dos cidadatildeos Para
aleacutem da escola haacute a vida e toda sua abrangecircncia social e poliacutetica Entatildeo para de fato promover
a inclusatildeo de cada aluno nada mais importante do que incluiacute-los no mundo da leitura e da
escrita da anaacutelise e da reflexatildeo criacutetica estimulando-os agrave criaccedilatildeo
Valemo-nos das palavras de Antunes (2007 p110) a respeito do conflito sobre o
que ensinar nas aulas de Liacutengua Portuguesa quando questiona o que leva ainda algumas pessoas
a defenderem a prioridade de um ensino concentrado em ldquoanalisar frases para identificar
substantivos adjetivos verbos sublinhar diacutegrafos distinguir objeto preposicionado de objeto
direto pleonaacutestico classificar oraccedilotildees e outras categorias metalinguiacutesticasrdquo Por que falantes da
liacutengua materna natildeo tecircm familiaridade com a liacutengua em sua modalidade escrita em sua forma
espontacircnea de uso Raupp (2005 p 53) apresenta-nos uma resposta
A verdade eacute que por mais que se tenham alterado meacutetodos e teacutecnicas pressupostos e
concepccedilotildees no ensino de Liacutengua Portuguesa uma premissa permaneceu inalterada a
necessidade de se ensinaraprender a leitura e a escrita E apesar de inuacutemeras
alteraccedilotildees didaacutetico-metodoloacutegicas ocorridas ao longo do percurso o ler e o escrever
permanecem gerenciadores de todo o processo de inserccedilatildeo do sujeito na escola e fora
dela A esse respeito menciona Britto (1997 p100) ldquoo aprendizado efetivo da escrita
(e aqui eu acrescentaria e da leitura) natildeo decorre de um processo de treinamento mas
da inserccedilatildeo do sujeito no mundo da relaccedilatildeo que estabelece entre o que aprende e seu
universo soacutecio-histoacutericordquo e a inserccedilatildeo do sujeito no mundo inegavelmente ocorre
por meio da leitura deste mundo (RAUPP 2005 p 53)
De certa maneira a tradiccedilatildeo dos meacutetodos de ensino da liacutengua materna na escola
ainda contribui no sentido de natildeo se estimular os aprendizes a fluir na leitura e na escrita
(BEZERRA 2014 LOPES-ROSSI 2012)
Com o intuito de superar meacutetodos tatildeo tradicionais quanto ineficientes no ensino da
competecircncia discursiva e sensiacuteveis agraves transformaccedilotildees gestadas nos centros de conhecimento
no ano de 1996 foi promulgada apoacutes longos debates e discussotildees a Lei de Diretrizes e Bases
que rege a educaccedilatildeo brasileira com vistas agraves novas formas do pensar e agir docente de modo
a implementar a transformaccedilatildeo do olhar das instituiccedilotildees que formam professores bem como
auxiliar os docentes jaacute em exerciacutecio atraveacutes das instituiccedilotildees que lhes propiciam a formaccedilatildeo
continuada
Assim os Paracircmetros Curriculares Nacionais (1997) reconhecem que o ensino da
liacutengua portuguesa pautado em uma prioridade de estudos de aspectos normativos ou gramaticais
da liacutengua eacute limitado e insuficiente e sugerem redirecionar o foco para a praacutetica de leitura e ndash
aspecto muito importante ndash o exerciacutecio da escrita de textos nos mais variados gecircneros textuais
52
existentes na sociedade possibilitando o estudo da liacutengua em contextos reais de uso natildeo apenas
como um conjunto de normas
A importacircncia e o valor dos usos da linguagem satildeo determinados historicamente
segundo as demandas sociais de cada momento Atualmente exigem-se niacuteveis de leitura e de
escrita diferentes dos que satisfizeram as demandas sociais ateacute haacute bem pouco tempo e tudo
indica que essa exigecircncia tende a ser crescente A necessidade de atender a essa demanda
obriga agrave revisatildeo substantiva dos meacutetodos de ensino e agrave constituiccedilatildeo de praacuteticas que possibilitem
ao aluno ampliar sua competecircncia discursiva na interlocuccedilatildeo (BRASIL 1998 p 23)
Nesse sentido os PCN (1997) orientam o trabalho em sala em direccedilatildeo agrave ampliaccedilatildeo
do uso da liacutengua aos contextos natildeo podendo ficar reduzida apenas ao trabalho sistemaacutetico com
a mateacuteria gramatical visto que aprender a pensar e falar sobre a proacutepria linguagem realizar
uma atividade de natureza reflexiva uma atividade de anaacutelise linguiacutestica supotildee duas situaccedilotildees
planejar situaccedilotildees didaacuteticas que possibilitem a reflexatildeo natildeo somente sobre os diferentes
recursos expressivos utilizados pelo autor do texto mas tambeacutem sobre a forma pela qual a
seleccedilatildeo de tais recursos reflete as condiccedilotildees de produccedilatildeo do discurso e as restriccedilotildees impostas
pelo gecircnero e pelo suporte e tomar como objeto de reflexatildeo os procedimentos de planejamento
de elaboraccedilatildeo e de refacccedilatildeo dos textos (BRASIL 1997 p 8 Grifo nosso)
Produzir textos requer dessa forma estudar os diferentes modos de expressatildeo
abrindo-se aiacute para o aluno uma gama de possibilidades de manifestaccedilatildeo de ideias atraveacutes do
conhecimento de sua liacutengua quando de seu uso nas relaccedilotildees de interaccedilatildeo pessoal No entanto
para que essa produccedilatildeo seja efetiva haacute que se ter em mente que qualquer atividade de produccedilatildeo
textual bem-sucedida requer o exerciacutecio da escrita e da reescrita pois se considera que nesse
processo de aperfeiccediloamento as aulas tomadas entre o iniacutecio e o teacutermino de uma sequecircncia ou
seja entre a produccedilatildeo inicial e a produccedilatildeo final sejam vaacuterias e variadas com planejamento para
conhecer as necessidades de cunho geral da turma como as caracteriacutesticas de um gecircnero bem
como as de cunho individual do aluno como as limitaccedilotildees no reconhecimento do gecircnero
textual na construccedilatildeo de argumentos nas convenccedilotildees da escrita culta
Para boa parte das crianccedilas e dos jovens brasileiros a escola eacute o uacutenico espaccedilo que
pode proporcionar acesso a textos escritos textos estes que se converteratildeo inevitavelmente em
modelos para a produccedilatildeo Se eacute de esperar que o escritor iniciante redija seus textos usando como
referecircncia estrateacutegias de organizaccedilatildeo tiacutepicas da oralidade a possibilidade de que venha a
construir uma representaccedilatildeo do que seja a escrita soacute estaraacute colocada se as atividades escolares
53
lhe oferecerem uma rica convivecircncia com a diversidade de textos que caracterizam as praacuteticas
sociais (BRASIL 1998 p 25-26)
Para levar o aluno a desenvolver suas habilidades de escrita um passo eacute planejar
sequecircncias que abordem as caracteriacutesticas do gecircnero a ser trabalhado permitindo-lhe pocircr em
aproximaccedilatildeo eou contraste seus saberes com os conhecimentos a serem construiacutedos algo que
tem se revelado bastante difiacutecil
Para o trabalho com a escrita em Liacutengua Portuguesa pode-se partir da questatildeo
essencial o que se deve ensinar para os alunos Para a resposta eacute importante entendermos a
escrita como processo quais satildeo as etapas Quais as estrateacutegias de escrita Qual o papel do
professor neste processo Para fundamentar a didaacutetica da escrita eacute importante conhecer os
processos de redigir e tambeacutem considerar como motivar os alunos a escrever Vamos para este
estudo nortearmo-nos em Serafini (2003) Koch e Elias (2009) e Vieira (2005)
32 Escrita e motivaccedilatildeo
Vieira (2005 p 71) traz agrave tona uma reflexatildeo sobre a necessidade de motivar a
escrita pois essa praacutetica permeia todas as nossas atividades cotidianas e eacute cada vez mais
indispensaacutevel Em sua anaacutelise entende que os atos de escrita que acontecem na escola
apresentam uma defasagem entre a realidade do mundo da palavra e a palavra do mundo
escolar Por vezes os alunos escrevem textos sem instruccedilotildees claras e sem um destinataacuterio
concreto aleacutem do professor cujo papel consiste em corrigir os erros de gramaacutetica e ortografia
Uma criacutetica pertinente da autora eacute que nossas escolas ainda estatildeo em sua maioria
com um atraso pedagoacutegico quanto ao trabalho com a escrita seus usos sociais e os processos
do redator Apesar de muitas abordagens e contribuiccedilotildees pedagoacutegicas que trabalham esses usos
sociais e o ato de redigir em funccedilatildeo de uma audiecircncia para o texto ou de um propoacutesito
comunicativo terem despontado essas ideias permanecem distantes da realidade do ensino Em
sua contribuiccedilatildeo para o tema motivaccedilatildeo Vieira (2005 p 70) afirma ldquoSe o impulso
comunicativo para escrever eacute determinante de escolhas temaacuteticas estruturais estiliacutesticas e
pragmaacuteticas no texto em composiccedilatildeo de partida isso jaacute deveria implicar num cuidado muito
maior em relaccedilatildeo ao quecirc e como satildeo propostos os atos de escrita na escolardquo
Essas proposiccedilotildees de que trata a autora atentam para que consideremos que estamos
na era digital em que a tecnologia absorve bastante a atenccedilatildeo dos alunos o que atribui novas
funccedilotildees para a escrita Para motivaacute-los as atividades precisam entatildeo levaacute-los a se sentirem
54
capazes de se envolver e de completar a tarefa isto eacute de ter competecircncia e controle sobre ela
controle sobre seus textos e sobre a situaccedilatildeo de escrita Essa autopercepccedilatildeo de competecircncia e
controle cuja recompensa eacute a autogratificaccedilatildeo eacute conceituada como motivaccedilatildeo intriacutenseca
concebida do ponto de vista cognitivista em oposiccedilatildeo ao conceito behaviorista de motivaccedilatildeo
cujo foco estaacute em recompensas externas chamado de motivaccedilatildeo extriacutenseca
Para o ensino segundo Vieira (2005) a percepccedilatildeo de competecircncia eacute muito
importante no que tange ao engajamento em tarefas Se o aluno natildeo se percebe competente
numa aacuterea maior sua necessidade de assistecircncia externa para se desincumbir de uma tarefa
Desse modo Vieira (2005 p 73) diz que
A ideia eacute que quando os estudantes se apropriam de sua escrita seu niacutevel de
engajamento seraacute mais alto Assim todo redator do principiante ao profissional deve
ser encorajado a apropriar-se de seu texto usando a escrita para expressar sua
compreensatildeo pessoal dos assuntos e para buscar seus proacuteprios propoacutesitos acadecircmicos
e sociais (VIEIRA 2005 p 73)
Visando entatildeo propiciar uma maior motivaccedilatildeo para redigir Vieira (2005) lista em
um quadro algumas atitudes de intervenccedilatildeo possiacuteveis cujos princiacutepios e praacuteticas aceitamos
como norte em nossa pesquisa de acordo com as possibilidades e dificuldades verificadas na
turma considerando a SD que foi aplicada Vejamos a seguir
Quadro 2 ndash Motivaccedilatildeo e envolvimento na produccedilatildeo escrita
ELEMENTOS BAacuteSICOS PRINCIacutePIOS E PRAacuteTICAS EFEITOS GERADOS
a) Competecircncia + assistecircncia
b) Controle (textosituaccedilatildeo de
escrita)
Encorajar a apropriaccedilatildeo do
texto
Compartilhar e demonstrar atos
de escrita ao aluno (o prazer e as
dificuldades)
Oportunidades para
autorregulaccedilatildeo
Engajamento mais alto
na leitura (a) e na escrita
(b) gt maior
competecircncia controle
Tempo
Concentrar periacuteodos para
escrever instituindo a
regularidade
Maior competecircncia e
controle
Propriedade (ownership)
Controlar a situaccedilatildeo de escrita e
a tarefa dentro do gecircnero e
formato
- variar temasassuntos
- focalizar uma audiecircncia
- encontrar a proacutepria ldquovozrdquo
expressando significados e
opiniotildees
- lerredigir textos autecircnticos
criando propoacutesitos
Domiacutenio sobre o texto e
maior prazer na escrita
55
comunicativos e situaccedilotildees reais
de escrita
Resposta (retorno reacuteplica)
Lerouvircompartilhar textos
Trabalhar em pequenos grupos
antes de trabalhar de forma
independente
Oportunidades de trocar
e comentar textos com
os colegas obtendo
respostas especiacuteficas
Complexidade da tarefa ndash usar
habilidades e conhecimentos
preacutevios propor tarefas que
possam ser executadas com
ecircxito (Bereiter e Scardamalia
1982)
Propor tarefas que dosem
- conteuacutedo (assunto)
- forma (gecircnero formato)
- funccedilatildeo (propoacutesito do texto)
Ex assunto novo + formato de
texto conhecido + funccedilatildeo
conhecida
Confianccedila reforccedilada
pela possibilidade de
sucesso de dar conta da
tarefa estimulando a
percepccedilatildeo da
competecircncia
Percepccedilatildeo abrangente do
processo de redigir (similar em
liacutengua materna e liacutengua
estrangeira ndash dominar o coacutedigo
linguiacutestico natildeo eacute o maior
problema)
Focalizar em separado
processos de
composiccedilatildeotranscriccedilatildeo
(gerarorganizar ideias x
ortografia e gramaacutetica)
Reforccedilo da experiecircncia
de sucesso gt niacutevel mais
alto de competecircncia
percebida gt
engajamento com tarefas
semelhantes Fonte Adaptado de VIEIRA (2005)
Aleacutem desses elementos a autora aponta outros aspectos praacuteticos que podem ampliar
a motivaccedilatildeo para escrever Satildeo eles
a) trabalhar a leitura e a escrita de forma complementar explorando textos
variados observando padrotildees ortograacuteficos e construccedilotildees sintaacuteticas explorando
o potencial da internet e os acervos disponiacuteveis pois a leitura contribui para a
escrita mais que o proacuteprio ato de redigir
b) integrar a escrita agrave matildeo com a escrita digital transitando do papel agrave tela do
computador exercitando em cada uma das modalidades de escrita os aspectos
que melhor favorecem
c) recriar situaccedilotildees comunicativas autecircnticas e propoacutesitos para escrever como
anuacutencios manchetes oraccedilotildees bilhetes cartas notiacutecias entre outros indo dos
mais simples aos mais complexos e
d) buscar audiecircncias verdadeiras para escrever e interlocutores para comentar os
textos redigidos criando situaccedilotildees de modo que os estudantes possam comentar
e criticar o que foi produzido
Diante do exposto procuramos ao longo das aulas dos moacutedulos contemplar nas
atividades os aspectos que podem motivar o aluno a escrever dominando pouco a pouco seu
texto propiciando-lhe a construccedilatildeo de experiecircncias positivas ainda mais porque estaacute em jogo
o despertar da consciecircncia de que a escrita eacute um processo como veremos na seccedilatildeo a seguir
56
33 Escrita como processo
Iniciando com questionamentos como por que eacute difiacutecil aprender a redigir quais satildeo
as maiores dificuldades envolvidas na produccedilatildeo de um texto como as crianccedilas escrevem e se
desenvolvem como redatoras quais os comportamentos caracteriacutesticos dos bons e dos maus
redatores entre outros que foram propostos por Vieira (2005 p 80) para saber mais sobre o
processo de produccedilatildeo de textos na escola
Em cada exerciacutecio de linguagem escrita praticado na escola eacute fundamental prever
para quem se vai escrever As redaccedilotildees escritas ldquopara ningueacutemrdquo que segundo Antunes (2009)
desconsideram o outro sujeito que integra a atividade comunicativa soacute podem resultar no
desinteresse e na ineficiecircncia dos meacutetodos de que somos testemunhas haacute vaacuterias deacutecadas Essa
produccedilatildeo textual ldquopara ningueacutemrdquo de que trata a autora reflete-se nas inseguranccedilas
manifestadas pelos alunos Quando estes escrevem eacute unicamente para o professor porque
visam merecer uma nota e passar de ano Ora se a escrita tem tantas funccedilotildees na sociedade
sendo de ordem praacutetica natildeo faz sentido cristalizaacute-la em fins puramente escolares
A escrita segundo Koch e Elias (2009) pode ter vaacuterios focos De acordo com as
autoras haacute correntes de produccedilatildeo textual que colocam o foco da escrita na liacutengua outras que
focam no escritor e por uacuteltimo na interaccedilatildeo
Com o foco da escrita na liacutengua bastaria tanto ao escritor como ao leitor ter
conhecimento do coacutedigo utilizado no texto sem espaccedilo para implicitudes havendo centraccedilatildeo
na linearidade de modo transparente
Com o foco da escrita no escritor o texto eacute visto como produto loacutegico do
pensamento (representaccedilatildeo mental) do escritor ou seja uma expressatildeo do pensamento e das
intenccedilotildees do autor mas que natildeo leva em conta as experiecircncias e os conhecimentos do leitor
pois natildeo considera a interaccedilatildeo que haacute no processo (KOCH ELIAS 2009 p 33)
No entanto natildeo se deve considerar segundo as autoras o foco apenas no coacutedigo
ou apenas no escritor mas na interaccedilatildeo
Essa eacute a diferenccedila em relaccedilatildeo agraves concepccedilotildees anteriormente descritas visto que a
escrita natildeo eacute compreendida em relaccedilatildeo apenas agrave apropriaccedilatildeo das regras da liacutengua nem
tampouco ao pensamento e intenccedilotildees do escritor mas sim em relaccedilatildeo agrave interaccedilatildeo escritor-
leitor levando em conta eacute verdade as intenccedilotildees daquele que faz uso da liacutengua para atingir o
seu intento sem contudo ignorar que o leitor com seus conhecimentos eacute parte constitutiva desse
processo (KOCH ELIAS 2009 p 34)
57
Desse modo a primeira condiccedilatildeo necessaacuteria ao professor que ensina a redigir eacute que
tenha em mente que a escrita eacute uma atividade comunicativa e que desempenha funccedilotildees cada
vez mais diversificadas no dia a dia de uma sociedade letradardquo (VIEIRA 2005 p 80) Escrever
eacute um ato que requer sentido afinal comunicar-se eacute um ato de interaccedilatildeo social eacute praacutetica eacute
vivecircncia
Os processos psicoloacutegicos ou mentais acionados durante a produccedilatildeo de um texto
natildeo acontecem necessariamente numa ordem loacutegica Podem vir simultaneamente o que pode
levar o redator a sentir que tem conflitos e consequentemente estancar diante dessa dificuldade
inicial
Logo para produzir um texto eacute preciso ter determinados os pontos que indicam
exatamente o que fazer o que facilita o trabalho de qualquer escritor Vieira (2005) considera
que para despertar o prazer de escrever haacute que se levar em conta os seguintes argumentos um
eacute a funcionalidade da escrita jaacute falada anteriormente outro diz respeito agrave proacutepria natureza da
escrita tatildeo distinta da fala
Embora a escrita em papel seja um ato solitaacuterio em que natildeo se conta com a reaccedilatildeo
do interlocutor por causa da proacutepria distacircncia espacial que separa autor e leitor a consciecircncia
da audiecircncia eacute o que impulsiona o texto que estaacute sendo produzido Em outras palavras no ato
de redigir jaacute estaacute inscrito o virtual leitor do texto E eacute essa consciecircncia aparentemente
contraditoacuteria entre ausecircncia e presenccedila do destinataacuterio da mensagem que vai moldar os
procedimentos do redator (VIEIRA 2005 p 82)
Concordamos com Serafini (2003 p17) quando afirma que escrever um texto ldquonatildeo
significa criar por inspiraccedilatildeo divina Eacute um trabalho E para realizar a contento um trabalho eacute
preciso conhecer as regras do jogordquo As regras que a autora propotildee satildeo as seguintes ter um
plano ordenar as ideias organizar o texto corrigir Essa distribuiccedilatildeo das etapas do trabalho
permite que se trabalhe melhor Da mesma forma Koch e Elias (2009 p 37) evidenciam que
[] em sua atividade o escritor recorre a conhecimentos armazenados na memoacuteria
relacionados agrave liacutengua ao saber enciclopeacutedico a praacuteticas interacionais Esses
conhecimentos resultado de inuacutemeras atividades em que nos envolvemos ao longo de
nossa vida deixam entrever a intriacutenseca relaccedilatildeo entre linguagemmundopraacuteticas
sociais (KOCH ELIAS 2009 p 37)
Para Koch e Elias (2009 p 34) a escrita eacute uma atividade que demanda esforccedilo e
as estrateacutegias a seguir
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a) ativaccedilatildeo de conhecimentos sobre os componentes da situaccedilatildeo comunicativa
(interlocutores toacutepico a ser desenvolvido e configuraccedilatildeo textual adequada agrave
interaccedilatildeo em foco)
b) seleccedilatildeo organizaccedilatildeo e desenvolvimento das ideias de modo a garantir a
continuidade do tema e sua progressatildeo
c) ldquobalanceamentordquo entre informaccedilotildees expliacutecitas e impliacutecitas entre informaccedilotildees
ldquonovasrdquo e ldquodadasrdquo levando em conta o compartilhamento de informaccedilotildees com
o leitor e o objetivo da escrita
d) revisatildeo da escrita ao longo de todo o processo guiada pelo objetivo da produccedilatildeo
e pela interaccedilatildeo que o escritor pretende estabelecer com o leitor
Haacute muitas maneiras de percebermos os subprocessos e as habilidades implicadas
na produccedilatildeo de um texto como mostram Serafini (2003) Koch e Elias (2009) Vieira (2005
p84) tambeacutem menciona em sua obra modelos do tipo ldquoensaio esboccedilo ediccedilatildeo e revisatildeordquo
ldquoensaiar escrever e passar a limpordquo ldquoextrapolar e resumirrdquo ldquocoletar e conectarrdquo ldquodesenvoltura
coerecircncia e precisatildeordquo ldquogerarorganizar ideias produzir texto e revisarrdquo ldquoelaboraccedilatildeo expressatildeo
e revisatildeordquo ldquoplanificaccedilatildeo textualizaccedilatildeo revisatildeordquo
Nessa visatildeo processual do ensino da escrita todas essas maneiras convergem para
o consenso de que haacute operaccedilotildees mentais de natureza diferente e conflitante e para fins
pedagoacutegicos eacute interessante separar as atividades de composiccedilatildeo e de transcriccedilatildeo segundo o
conceito de Smith apud Vieira (2005 p 84) ldquoSegundo ele a atividade de compor diz respeito
agrave geraccedilatildeo seleccedilatildeo organizaccedilatildeo de ideias e sua traduccedilatildeo em linguagem Jaacute a atividade de
transcrever refere-se ao ato fiacutesico de registrar as palavrasrdquo
Na praacutetica compor e transcrever satildeo aspectos concorrentes e para a autora a
soluccedilatildeo pedagoacutegica seria separar as duas atividades da seguinte forma
[] primeiro levar o aluno a compor sem se preocupar com a transcriccedilatildeo depois
orientaacute-lo para revisar e reescrever o texto (fazendo-o compreender que a atividade de
revisatildeo faz parte do processo de redigir um texto) Estas colocaccedilotildees jaacute nos permitem
rever os criteacuterios de avaliaccedilatildeo de redaccedilotildees mostrando-nos como estamos equivocados
quando elegemos a correccedilatildeo gramatical e a ortografia como metas principais para a
habilidade de redigir (VIEIRA 2005 p 85)
Assim como ensinar a redigir sob a oacutetica da escrita como processo De iniacutecio tendo
em mente que as operaccedilotildees e habilidades necessaacuterias agrave elaboraccedilatildeo do texto tecircm valor No
entanto o exerciacutecio das habilidades de escrita em separado pode ter a desvantagem de levar o
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aluno a achar que o processo eacute uma atividade fragmentada Para entatildeo evitar essa percepccedilatildeo
eacute preciso aleacutem dos exerciacutecios redigir textos completos
De jaacute temos consciecircncia de que nenhuma abordagem para o ensino da escrita eacute
absoluta Nas palavras de Vieira (2005 p 87)
A redaccedilatildeo requer meacutetodo muacuteltiplo jaacute que envolve diferentes tipos de capacidades e
habilidades E nada substitui o bom senso do professor Assim por exemplo se ele
julgar necessaacuterio reforccedilar determinados padrotildees de texto recorrendo agrave abordagem
imitativa estaraacute procedendo de forma adequada Da mesma maneira poderaacute usar
estrateacutegias de liberaccedilatildeo da linguagem na fase de geraccedilatildeo de ideias ou reforccedilar os
recursos de interaccedilatildeo verbal professor-aluno ou aluno-aluno nas atividades de revisatildeo
de texto (VIEIRA 2005 p 87)
Vieira (2005) sintetiza os pontos importantes para o desenvolvimento da habilidade
de redigir a partir de investigaccedilotildees de Krashen (1984 apud Vieira 2005) na aacuterea
O primeiro ponto eacute a frequecircncia com que se redige Independentemente da
disciplina escrever exige treino constante concentrando o tempo disponiacutevel e em horaacuterio
regular posto que ldquosaber com antecedecircncia quando vamos redigir cria prontidatildeo para a
atividade que comeccedila interiormente bem antes de colocarmos as palavras no papelrdquo (VIEIRA
2005 p 88)
O segundo ponto eacute a correlaccedilatildeo entre leitura e escrita A habilidade de ler
compreensivamente permite que quanto mais se leia mais se observe a composiccedilatildeo dos textos
aprendendo-se a lidar com seus padrotildees de organizaccedilatildeo com as intenccedilotildees do autor e percebendo
como se executam diferentes modalidades de usos da escrita
O terceiro ponto eacute a frequecircncia em ler x a frequecircncia em escrever Vieira (2005)
afirma que estudos que comparam a frequecircncia em ler e a frequecircncia em escrever revelam que
a leitura tem efeito mais forte sobre o desenvolvimento da escrita que a proacutepria frequecircncia com
que se escreve
O quarto ponto eacute a instruccedilatildeo escolar para o ensino da escrita Mais do que qualquer
outra habilidade diz a autora a escrita precisa ser demonstrada Assim as instruccedilotildees que o
professor faz ao texto do aluno durante o processo contribuem para que este faccedila os devidos
ajustes melhorando assim sua habilidade de produzir textos
O quinto ponto eacute o feedback do professor Este ponto ressalta o papel fundamental
do professor nas muacuteltiplas reescrituras por que passa um texto ldquoO ideal eacute que sejam feitos
vaacuterios rascunhos com o professor presente comentando cada estaacutegio intermediaacuteriordquo (VIEIRA
2005 p 89) Suas correccedilotildees precisam ser feitas sobre um aspecto de cada vez especificando
as alteraccedilotildees necessaacuterias nos aspectos de composiccedilatildeo e de transcriccedilatildeo
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O sexto ponto eacute a instrumentaccedilatildeo gramatical e o desenvolvimento da escrita e trata
do que muito se tem discutido na atual sociedade instruccedilatildeo gramatical desvinculada do uso
praacutetico da linguagem natildeo garante a ningueacutem uma escrita melhor
O seacutetimo e uacuteltimo ponto satildeo os processos de composiccedilatildeo de bons e maus redatores
e diferencia em pelo menos quatro aspectos os que escrevem bem do que os que o fazem mal
Satildeo eles
a) planejamento quem redige bem planeja mais Esse planejamento pode ser
gastando mais tempo pensando tomando notas antes de escreverem
flexibilizando os planos e revisando os esquemas agrave medida que surgem novas
ideias e argumentos Apenas alguns redatores experientes seguem uma ordem
linear planejando primeiro em seguida esboccedilando o texto num rascunho e
enfim revisando ldquoPara a maioria deles o processo de redigir eacute recursivo isto eacute
sujeito a retomadas e alteraccedilotildees em diferentes pontos da produccedilatildeo do textordquo
(VIEIRA 2005 p 91)
b) releitura durante a elaboraccedilatildeo do texto as pausas na escrita para a releitura
permitem manter o senso de totalidade da composiccedilatildeo planejando o que
escrever em seguida e tambeacutem relembrando o que jaacute foi registrado fazendo com
que o texto avance
c) revisatildeo a diferenccedila entre os escritores experientes dos inexperientes eacute a revisatildeo
frequentemente confundida com editoraccedilatildeo A revisatildeo pelos experientes eacute uma
focalizaccedilatildeo do significado servindo para ldquoinventar acrescentar mudanccedilas de
conteuacutedo e para reorganizar longos trechos da composiccedilatildeordquo (VIEIRA 2005 p
94) ao passo que a editoraccedilatildeo normalmente a preocupaccedilatildeo dos inexperientes eacute
a correccedilatildeo gramatical a ortograacutefica e a pontuaccedilatildeo que se feita antes do tempo
quebra o ritmo da escrita deixando de conduzir o fio do pensamento e
d) consciecircncia da audiecircncia fundamental considerando o foco da escrita como
anteriormente dito na interaccedilatildeo Levar em conta o leitor como ele poderaacute
receber as palavras e ideias do texto os conhecimentos que ele precisaraacute ter para
compreender o texto e os interesses que ele tem eacute marca dos escritores que
redigem bem ao contraacuterio dos demais que ldquotendem a ficar presos ao assunto do
texto e a gastar menos tempo pensando no leitor por natildeo terem consciecircncia da
audiecircncia ou por natildeo serem capazes de consideraacute-la na escritardquo (VIEIRA 2005
p 95)
61
Essas etapas apresentadas nesta seccedilatildeo foram fundamentais para o processo
conduzido em nossa SD visto permitir aos alunos tomar consciecircncia dos processos que satildeo
ativados antes e durante a escrita bem como nas etapas de leitura releitura e reescrita sendo
cerne da elaboraccedilatildeo das propostas de produccedilatildeo conforme veremos nas seccedilotildees correspondentes
aos moacutedulos aos encontros e agraves atividades desenvolvidas Para a seccedilatildeo seguinte veremos como
pode ser trabalhada a escrita na escola
34 Escrita na escola
Para antes do iniacutecio do trabalho de escrita no acircmbito escolar o ideal eacute que o
professor tenha em mente para definir com clareza junto aos seus alunos na tarefa que deveraacute
ser desenvolvida os seguintes pontos segundo Serafini (2003) destinataacuterio objetivo do texto
gecircnero do texto papel do redator objeto da redaccedilatildeo comprimento da redaccedilatildeo criteacuterios de
avaliaccedilatildeo Desse modo
a) o destinataacuterio eacute a pessoa para a qual se escreve ou seja o leitor Como as
produccedilotildees satildeo feitas no contexto escolar para que o aluno-escritor natildeo dirija seu
texto somente ao professor eacute importante nos comandos de produccedilatildeo esclarecer
qual eacute ou deve ser o perfil de leitor para quem se escreve
b) o objetivo de um texto precisa ser claro pois a ele se atrela a avaliaccedilatildeo do
mesmo no caso do contexto escolar Aliaacutes um texto pode ter mais de um
objetivo e isso precisa ser ponto claro entre o professor e o aluno
c) a escolha do gecircnero eacute entatildeo essencial para o desenvolvimento do texto por
permitir a realizaccedilatildeo deste com um estilo muito marcante O gecircnero permite
inclusive compreender qual eacute o papel do redator na produccedilatildeo para assim
inserir-se ou retirar-se no texto
d) o objeto da redaccedilatildeo para a autora deveria ser deduzido do tiacutetulo da redaccedilatildeo (que
entendemos atualmente como o direcionamento do tema) e explica que assim
como haacute comandos que expotildeem detalhadamente o objeto da redaccedilatildeo haacute tambeacutem
os que pouco oferecem explicaccedilotildees e que conveacutem em casos como esse que o
aluno explique ldquonuma introduccedilatildeo como seratildeo interpretados os termos do
problema propostordquo (SERAFINI 2003 p 28)
e) a extensatildeo do texto depende essencialmente do objetivo da disponibilidade de
tempo da capacidade e da rapidez de quem escreve Entendemos aqui que haacute
62
gecircneros que permitem maior extensatildeo que outros No contexto escolar
normalmente noacutes professores por razotildees de ordem praacutetica do dia a dia pedimos
textos com limite de linhas ou paraacutegrafos
f) finalmente os criteacuterios de avaliaccedilatildeo do professor ajudam o aluno a ldquocanalizar a
proacutepria energia na direccedilatildeo certardquo (SERAFINI 2003 p 29) Como parte do
trabalho com sequecircncia didaacutetica haacute o partilhamento dos criteacuterios trabalhados
do vocabulaacuterio teacutecnico e das caracteriacutesticas a serem encontradas nos textos
produzidos facilitando a vida do aluno quanto ao que colocar no texto e
clareando para o professor o que ele pode esperar desse texto
Desse modo para o escritor que se vecirc diante do papel em branco
independentemente do que vaacute escrever eacute preciso antes empenhar seu tempo e esforccedilo em duas
etapas fundamentais a criaccedilatildeo de ideias para assim passar agrave produccedilatildeo do texto
A separaccedilatildeo consiste em primeiramente levar o aluno a compor sem a
preocupaccedilatildeo com a transcriccedilatildeo Em seguida orientaacute-lo para que faccedila a revisatildeo e a reescrita do
texto colocando-lhe de modo expliacutecito que a revisatildeo eacute parte do processo de redigir um texto
A etapa de criaccedilatildeo das ideias eacute aquela em que o autor pode ldquoatirarrdquo palavras-chave
protoacutetipos de paraacutegrafos de personagens de ambientes de sequecircncias de acontecimentos sem
o fantasma da censura agrave criatividade Aliaacutes eacute nesse momento que pode surgir uma ldquogrande
sacadardquo cujo valor do registro possa vir a ser recompensador Nas palavras de Serafini (2003
p 31) a ldquofolha de papel na qual listamos os dados recolhidos cumpre a funccedilatildeo de prolongamento
da memoacuteria no mundo visiacutevel eacute mais faacutecil escolher num elenco fisicamente visiacutevel que num
iacutendice feito mentalmenterdquo
A coleta das ideias que surgiram ao ser terminada pede a decisatildeo do que e como
usar no texto Para os textos literaacuterios que satildeo objeto de nossa pesquisa um passo necessaacuterio
na estruturaccedilatildeo de Serafini (2003) eacute a identificaccedilatildeo do ponto de vista
Os textos descritivo-narrativos natildeo apresentam ideias predominantes mas contam
fatos e descrevem lugares e pessoas A estrutura desses textos natildeo eacute mais dada por uma ideia
a tese mas pelo ponto de vista isto eacute pelo acircngulo de perspectiva do qual satildeo mostrados fatos
e objetos Nas histoacuterias complexas e nos romances o ponto de vista pode tambeacutem mudar
(SERAFINI 2003 p 45)
Nas palavras da autora ldquo[] para fazer uma boa descriccedilatildeo de um objeto ou lugar
devemos escolher um ponto de vista fica por conta de nossa sensibilidade selecionar um ponto
de vista interessante eficaz e quem sabe originalrdquo (SERAFINI 2003 p47) Entatildeo para um
63
texto narrativo que conta uma histoacuteria natildeo existe um modo objetivo de narrar mas um acircngulo
de perspectiva Completando o pensamento de Serafini Koch e Elias declaram que o como
dizer o que se quer dizer eacute revelador de que a escrita eacute um processo que envolve escolha de um
gecircnero textual em consonacircncia com as praacuteticas sociais seleccedilatildeo organizaccedilatildeo e revisatildeo das ideias
para os ajustesreajustes necessaacuterios tendo em vista a eficiecircncia e a eficaacutecia da comunicaccedilatildeo
(KOCH ELIAS 2009 p 36)
Apoacutes a seleccedilatildeo das ideias de sua organizaccedilatildeo e da escolha do ponto de vista o
escritor pode efetivamente passar agrave produccedilatildeo Tudo o que foi feito para despertar coloquemos
assim o escritor para o labor com seu texto eacute uma hipoacutetese do trabalho final visto que ao
comeccedilar a escrever novas ideias vatildeo surgindo E como nos lembra Serafini (2003 p 54) ldquo[]
quem se propotildee a ensinar a escrever na escola brasileira atual geralmente encontra problemas
porque natildeo tem agrave disposiccedilatildeo um modelo uacutenico de liacutengua nem uma tradiccedilatildeo de didaacutetica da
redaccedilatildeo que privilegie um dos diversos estilos possiacuteveisrdquo Frases longas ou curtas discurso
direto ou indireto ou mesmo o indireto livre tudo satildeo escolhas com as quais o aluno-escritor
vai se familiarizar ao longo de sua jornada escolar pouco a pouco conforme suas experiecircncias
de leitura e praacutetica com a escrita progredindo do paraacutegrafo mais simples ao mais complexo A
autora assim define o que eacute paraacutegrafo
O paraacutegrafo eacute uma quantidade de texto delimitada por um ponto final o texto continua
a se desenvolver na outra linha afastado da margem Ele pode conter vaacuterios periacuteodos
separados por pontos e por viacutergulas O que importa eacute garantir que a cada paraacutegrafo
corresponda uma uacutenica ideia de roteiro Esta colocaccedilatildeo tiacutepica do mundo anglo-saxatildeo
e americano pode parecer excessivamente mecanicista e simplista Com efeito eacute
justificada soacute no niacutevel didaacutetico para aqueles estudantes que tecircm grandes dificuldades
para escrever Este meacutetodo aliaacutes deve ser assumido como hipoacutetese de trabalho mas
deve ser revisto agrave medida que se adquire familiaridade com a liacutengua Em nome de
uma melhor organizaccedilatildeo do texto eacute possiacutevel por exemplo reagrupar mais de uma
ideia do roteiro num uacutenico paraacutegrafo ou associar agrave mesma ideia mais paraacutegrafos
(SERAFINI 2003 p 55)
Desse modo se fizermos um pequeno quadro com a finalidade de melhor visualizar
as possibilidades de organizaccedilatildeo do texto em paraacutegrafos o que pode ajudar os alunos temos
Quadro 3 ndash Como organizar as ideias em paraacutegrafos
1 ideia 1 paraacutegrafo
2 ou mais ideias 1 paraacutegrafo
1 ideia 2 ou mais paraacutegrafos
Fonte adaptado de SERAFINI (2003)
64
Por razotildees didaacuteticas Serafini (2003) classifica trecircs principais tipos de paraacutegrafo
com caracteriacutesticas especiacuteficas o paraacutegrafo narrativo que eacute constituiacutedo por uma sequecircncia de
afirmaccedilotildees-informaccedilotildees que natildeo precisam de garantia4 e eacute onde os fatos satildeo expostos em ordem
cronoloacutegica o paraacutegrafo descritivo que conteacutem objetos lugares e pessoas geralmente
constituiacutedo soacute pela afirmaccedilatildeo e pela informaccedilatildeo dispensando a garantia e finalmente o
paraacutegrafo expositivo-argumentativo mais complexo que os anteriores apresenta em geral todas
as caracteriacutesticas do modelo de Toulmin (cf nota 8) e que apresenta uma tese com os dados e
as observaccedilotildees que podem ser uacuteteis para convencer o leitor de sua validade
Ainda na classificaccedilatildeo do paraacutegrafo narrativo tambeacutem chamado de cronoloacutegico
Serafini nos mostra um caso particular de apresentaccedilatildeo de uma sequecircncia de fatos o que inclui
o flash-back que eacute a interrupccedilatildeo na sequecircncia cronoloacutegica ldquointroduzindo fatos anteriores uacuteteis
agrave compreensatildeo da narrativa Embora natildeo seja tatildeo natural eacute possiacutevel interromper uma sequecircncia
temporal para incluir fatos que aconteceratildeo depoisrdquo (SERAFINI 2003 p 58)
Um outro caso de paraacutegrafo narrativo ou cronoloacutegico eacute o que apresenta um
procedimento Procedimentos ldquosatildeo todas as sequecircncias de accedilotildees que devem ser cumpridas para
se obter certo resultadordquo (SERAFINI 2003 p 59) por exemplo a enumeraccedilatildeo das etapas
necessaacuterias ao preparo de uma torta A descriccedilatildeo correta do procedimento requer que natildeo se
inverta a ordem de suas operaccedilotildees elementares
O paraacutegrafo descritivo segundo a autora eacute importante ldquo[] para envolver o leitor
na histoacuteria convencecirc-lo da tese ou tornar-lhe a leitura mais concreta e vivardquo (SERAFINI 2003
p 58) Dessa forma eacute interessante que os personagens ambientes e objetos natildeo sejam apenas
mencionados mas apresentados com riqueza de detalhes A generalizaccedilatildeo pode deixar o leitor
indiferente ao passo que descriccedilotildees detalhadas podem vir a interessar envolver e mesmo
emocionar
Frequentemente quem natildeo tem grande experiecircncia de escrita considera as
descriccedilotildees oacutebvias e as abandona porque tende a atribuir ao leitor os seus proacuteprios
conhecimentos e experiecircncias As crianccedilas em geral se aborrecem ao ler as descriccedilotildees e agraves vezes
pulam o trecho descritivo porque satildeo mais pela trama do que pela apresentaccedilatildeo dos ambientes
e das caracteriacutesticas fiacutesicas e psicoloacutegicas dos protagonistas Entretanto agrave medida que
4 Serafini (2003 p 56-57) apresenta o modelo de Toulmin que examina quais satildeo as caracteriacutesticas de um
paraacutegrafo que o tornam convincente isto eacute que levem o leitor a compartilhar da mesma tese Satildeo elas a afirmaccedilatildeo
que apresenta a ideia principal do paraacutegrafo a informaccedilatildeo que conteacutem os dados que apoiam a afirmaccedilatildeo e a
garantia que eacute a ligaccedilatildeo entre a afirmaccedilatildeo e a informaccedilatildeo e mostra a importacircncia da informaccedilatildeo para apoiar a
asserccedilatildeo Ex Artur estaacute nervoso sua e ri sem parar Afirmaccedilatildeo Artur estaacute nervoso Informaccedilatildeo sua e ri sem
parar Garantia (subentendida) suar e rir sem parar satildeo sinais tiacutepicos de nervosismo
65
estimulam a sensibilidade em relaccedilatildeo aos textos elas vatildeo se dando conta de que natildeo eacute soacute a accedilatildeo
que torna interessante a histoacuteria Eacute tarefa do professor desenvolver essa sensibilidade e esse
gosto em vez de se fixar apenas nos aspectos narrativos de um texto (SERAFINI 2003 p 63)
Serafini (2003) tambeacutem trata da importacircncia dos paraacutegrafos que conduzem as
introduccedilotildees nos textos A autora classifica as introduccedilotildees em introduccedilatildeo-enquadramento e
introduccedilatildeo para chamar a atenccedilatildeo
A introduccedilatildeo-enquadramento enquadra o tema proposto na instruccedilatildeo para a
produccedilatildeo textual realccedilando sua importacircncia e agraves vezes ateacute antecipando o que seraacute
desenvolvido no corpo do texto ldquoUma introduccedilatildeo muito comum eacute aquela em que o estudante
coloca questotildees agraves quais pretende responder agrave medida que vai desenvolvendo o textordquo
(SERAFINI 2003 p 72) Normalmente utilizada entre os estudantes segundo a autora eacute
caracteriacutestica de quem natildeo faz planejamento e comeccedila a escrever seu texto sem saber o que vai
colocar em seu desenvolvimento mas tambeacutem por quem pretende reelaborar e expandir o
tiacutetulo5
A introduccedilatildeo para chamar a atenccedilatildeo segundo a autora pretende atrair a atenccedilatildeo e
o interesse do leitor utilizando frases de efeito citaccedilotildees informaccedilotildees curiosas exemplos
concretos que antecipam problemaacuteticas a serem desenvolvidas no corpo do texto e envolvem
emocionalmente o leitor exemplificaccedilotildees em primeira pessoa pois ldquoos problemas concretos
narrados na primeira pessoa atraem mais a curiosidade do que aqueles apresentados de modo
abstratordquo (SERAFINI 2003 p 74)
Ao final de sua primeira versatildeo de texto o alunoescritor tende a fazer uma raacutepida
releitura normalmente pouco criacutetica O ideal eacute que seu texto possa ser apreciado pelos colegas
de sala para que sejam feitas sugestotildees Quando a revisatildeo for desenvolvida pelo proacuteprio autor
5 Os tiacutetulos poderiam ser classificados segundo Serafini (2003) em trecircs grandes categorias o tiacutetulo-frase-de-
efeito o tiacutetulo-estiacutemulo-aberto e o tiacutetulo-roteiro O tiacutetulo-frase-de-efeito ldquoeacute geralmente agradaacutevel arguto suscita
a admiraccedilatildeo do leitor pode ser provocativo mas natildeo necessariamente profundordquo (p100) trazendo geralmente
citaccedilotildees de personagens importantes ou as afirmaccedilotildees categoacutericas do professor Por exemplo ldquoJaacute natildeo haacute matildeos
dadas no mundordquo (Drummond - Unesp) ou ldquoQuando vocecirc for martelo lembre-se que jaacute foi pregordquo (pichaccedilatildeo de
parede utilizada na Unesp) Os tiacutetulos-estiacutemulo-aberto ldquopropotildeem um tema de modo muito geneacuterico e neutro e datildeo
mais liberdade ao estudanterdquo (p101) Por exemplo ldquoViver hojerdquo (Santa Casa-SP) ldquoA televisatildeordquo (Poli-USP)
Finalmente os tiacutetulos-roteiro ldquonatildeo soacute propotildeem um tema como no grupo precedente mas tambeacutem oferecem uma
seacuterie de pontos de vista de problemas que devem ser analisados fornecendo jaacute a pauta do desenvolvimentordquo
(p101) A autora explica que enquanto um tiacutetulo-estiacutemulo-aberto seria ldquoA televisatildeordquo o tiacutetulo-roteiro solicitaria
ldquoDescreva os efeitos positivos e negativos que a televisatildeo causa sobre os jovens da sua geraccedilatildeo Cite especialmente
os programas mais interessantes e os mais aborrecidos de que vocecirc se recorda procurando explicar os efeitos
positivos ou negativos que cada um teve no seu desenvolvimentordquo (p101-102) O que chamamos ao longo de
nosso texto de instruccedilatildeo se aproximaria mais do que Serafini chama de tiacutetulo-roteiro por jaacute determinar que
informaccedilotildees a produccedilatildeo textual deve conter poreacutem noacutes atribuiacutemos mais caracteriacutesticas ao que eacute pedido aos alunos
a cada produccedilatildeo como os comandos que determinam que gecircnero textual seraacute trabalhado a extensatildeo do texto a
audiecircncia o objetivo a temaacutetica e outros itens que devem estar presentes na produccedilatildeo conforme a aula e o moacutedulo
66
eacute interessante haver um hiato de tempo entre a primeira escrita e a revisatildeo para que as ideias
se clareiem e possam ser postas na forma apropriada
Trabalhar a abordagem da escrita como processo lanccedila luz sobre as operaccedilotildees e as
habilidades necessaacuterias agrave elaboraccedilatildeo do texto priorizando-as mais do que ao produto final
obtido o que simplifica a escrita para fins de ensino por tratar dos componentes do processo
isoladamente treinando-os separadamente
Na verdade nenhuma abordagem para o ensino da escrita eacute exclusiva A redaccedilatildeo
requer meacutetodo muacuteltiplo jaacute que envolve diferentes tipos de capacidades e habilidades E nada
substitui o bom senso do professor Assim por exemplo se ele julgar necessaacuterio reforccedilar
determinados padrotildees de texto recorrendo agrave abordagem imitativa estaraacute procedendo de forma
adequada Da mesma maneira poderaacute usar estrateacutegias de liberaccedilatildeo da linguagem na fase de
geraccedilatildeo de ideias ou reforccedilar os recursos de interaccedilatildeo verbal professor-aluno ou aluno-aluno
nas atividades de revisatildeo de textos (VIEIRA 2005 p 87)
No entanto para Vieira (2005) esse exerciacutecio em separado das habilidades da
escrita natildeo dispensa a redaccedilatildeo de textos completos devendo o professor cuidar para que o
processo de escrita natildeo perca seu caraacuteter integral devido agraves atividades fragmentadas
35 Letramento literaacuterio
Acreditamos que para o desenvolvimento de nosso trabalho eacute importante ter em
mente que para escrever melhor para saber o que inserir em seu texto o aluno deve aguccedilar seu
olhar para o que vai nos textos de outrem ndash em nosso caso os que foram escolhidos para compor
a sequecircncia ndash e como foram ditas as coisas que laacute estatildeo inseridas Dessa forma desenvolvemos
em nossos moacutedulos praacuteticas que abordam aleacutem da praacutetica da escrita como processo o
letramento literaacuterio posto que a visatildeo que o inclui extrapola as simples leituras e anaacutelises das
palavras discutindo conceitos que compotildeem o acervo cultural dos alunos a partir das ideias
presentes nos textos
Para Cosson (2016 p23) ldquoa literatura natildeo estaacute sendo ensinada para garantir a
funccedilatildeo essencial de construir e reconstruir a palavra que nos humanizardquo O autor afirma que se
pode trazer ao aluno uma experiecircncia de leitura a ser compartilhada ampliando-a com
informaccedilotildees especiacuteficas do campo literaacuterio e ateacute fora dele A maneira de ensinar precisa ser
organizada segundo os objetivos da formaccedilatildeo do aluno evidentemente mas sem o abandono
do prazer de ler Compreende assim que o letramento literaacuterio eacute uma praacutetica social e como
67
tal responsabilidade da escola que deve cumpri-la sem descaracterizaacute-la sem negar mas
confirmando o poder de humanizaccedilatildeo da literatura
Para promover o letramento literaacuterio Cosson nos conduz a questionar e
desconstruir pressuposiccedilotildees sobre leitura e literatura enraizadas no senso comum A primeira eacute
que os livros falam por si mesmos ao leitor Ora ldquoos livros como os fatos jamais falam por si
mesmos O que os fazem falar satildeo os mecanismos de interpretaccedilatildeo que usamos e grande parte
deles satildeo aprendidos na escolardquo (2016 p 26) Ensinar a explorar o texto natildeo eacute criar uma barreira
entre elas e o leitor mas ajudar o leitor a manipular os textos dominando o discurso literaacuterio
Outra pressuposiccedilatildeo eacute que ler eacute um ato solitaacuterio Para o autor mais que o
movimento individual dos olhos ler implica uma troca de sentidos o que envolve escritor
leitor e sociedade em que ambos estatildeo localizados ldquopois os sentidos satildeo resultado de
compartilhamentos de visotildees do mundo entre os homens no tempo e no espaccedilordquo (2016 p 27)
Quando compreender isto o leitor alcanccedilaraacute um real significado na leitura
Tambeacutem uma pressuposiccedilatildeo eacute a ideia de que eacute impossiacutevel expressar o que sentimos
na leitura dos textos literaacuterios Esse eacute outro equiacutevoco que trata a leitura literaacuteria como uma
atividade tatildeo individual que natildeo poderia ser compartilhada Pelo contraacuterio conforme o autor o
efeito de proximidade que o texto literaacuterio traz eacute resultado do diaacutelogo que travamos com o
mundo e com os outros inseridos que estamos em uma sociedade O que levamos ao texto eacute
mais uacutenico do que o que ele nos oferece o que explica as diferentes leituras que fazemos do
mesmo texto em diferentes etapas de nossas vidas
A uacuteltima pressuposiccedilatildeo de que trata o autor eacute que ldquoa leitura literaacuteria praticada na
escola tambeacutem chamada anaacutelise literaacuteria destruiria a magia e a beleza da obra ao revelar seus
mecanismos de construccedilatildeordquo (COSSON 2016 p 28) Para Cosson a literatura mantida ldquoem
adoraccedilatildeordquo torna-se estranha ao leitor ao passo que a leitura literaacuteria que lhe fornece ferramentas
para exploraccedilatildeo do texto o convida agrave interaccedilatildeo como um processo de comunicaccedilatildeo
O autor conclui que se quisermos formar leitores capazes de experienciar toda a
forccedila humanizadora da literatura natildeo basta apenas ler com vistas a criar um haacutebito de leitura
mas fornecer-lhes ldquoos instrumentos necessaacuterios para conhecer e articular com proficiecircncia o
mundo feito linguagemrdquo (COSSON 2016 p 30)
Nossa seleccedilatildeo de textos para a SD foi inspirada em temas que os alunos costumam
observar na vida diaacuteria Tivemos preferecircncia por textos que circulam em meio eletrocircnico
extraiacutedos de sites blogs e de redes sociais ou seja contemporacircneos e com temas atuais Cosson
(2016 p34) distingue os dois termos que normalmente satildeo usados como sinocircnimos na
68
adjetivaccedilatildeo da produccedilatildeo literaacuteria da seguinte forma ldquo[] obras contemporacircneas satildeo aquelas
escritas e publicadas em meu tempo e obras atuais satildeo aquelas que tecircm significado para mim
em meu tempo independentemente da eacutepoca de sua escrita ou publicaccedilatildeordquo
Fizemos uma seleccedilatildeo preacutevia dos textos mas agrave medida em que as aulas avanccedilavam
abrimos a perspectiva para assuntos que eram mencionados em sala e trouxemos outros textos
inclusive publicados em livros variando as autorias poreacutem mantendo ainda o dinamismo e a
contemporaneidade Esse material se encontra na seccedilatildeo correspondente
69
4 NATUREZA E PROCEDIMENTOS DA PESQUISA
Apresentaremos nas seccedilotildees seguintes a metodologia e os procedimentos adotados
em nossa pesquisa realizada em uma escola puacuteblica municipal de Satildeo Luiacutes Maranhatildeo
41 Contexto da pesquisa
A pesquisa foi desenvolvida em uma das turmas de 9ordm ano de uma unidade de
educaccedilatildeo baacutesica municipal de ensino fundamental de 1ordm a 9ordm anos A escola tem um anexo
proacuteximo onde funcionam turmas de 1ordm ano (3 salas) Situa-se na aacuterea Itaqui-Bacanga em um
bairro considerado de difiacutecil acesso por sua pouca oferta de ocircnibus no municiacutepio de Satildeo Luiacutes
capital do Maranhatildeo ilha de Upaon-Accedilu
Antes pouco populoso o bairro tem aumentado de tamanho pela chegada de
moradores alguns oriundos de diversas cidades do interior mas tambeacutem vindos de outros
bairros pois algumas melhorias para a valorizaccedilatildeo da aacuterea tecircm acontecido como a construccedilatildeo
da escola e recentemente a quadra de esportes em sua aacuterea do posto de sauacutede da associaccedilatildeo
onde ocorre a conhecida Festa da Macaxeira e mais recentemente a criaccedilatildeo de um conjunto
residencial do programa do governo federal Minha Casa Minha Vida
No turno matutino nesta escola funciona o ensino fundamental (EF) ndash anos iniciais
(1ordm ao 5ordm ano) e no vespertino o EF ndash anos finais (6ordm ao 9ordm ano) sendo 2 turmas de 6ordm ano 2
turmas de 7ordm ano 2 turmas de 8ordm ano e 1 turma de 9ordm ano
Segundo os indicadores contextuais da Prova Brasil o niacutevel socioeconocircmico da
escola estaacute em meacutedio baixo O indicador de adequaccedilatildeo da formaccedilatildeo docente6 que analisa a
formaccedilatildeo dos docentes que lecionam nos finais do EF na escola eacute 85 Observando as meacutedias
de proficiecircncia em relaccedilatildeo agraves meacutedias das escolas do Brasil do Maranhatildeo e de Satildeo Luiacutes
comparando-as agrave nossa escola temos
6 Apresenta o percentual de disciplinas em cada etapa que satildeo ministradas por professores com formaccedilatildeo superior
de Licenciatura (ou Bacharelado com complementaccedilatildeo pedagoacutegica) na mesma disciplina que leciona Fonte e site
para consulta
httpsistemasprovabrasilinepgovbrprovaBrasilResultadosviewboletimDesempenhoboletimDesempenhosea
m Acesso em 3 de janeiro de 2018
70
Graacutefico 1 ndash Resultados IDEB 2015
Fonte INEP (2018))
O graacutefico acima mostra que o desempenho da escola ficou abaixo das meacutedias de
proficiecircncia em Liacutengua Portuguesa em leitura do Paiacutes em 2015 No entanto estaacute acima das
meacutedias do estado e do municiacutepio ludovicense que apresentaram indicadores 23093 e 23915
respectivamente A escola obteve 24034 ou seja pouco mais de um ponto acima o que natildeo
deixa de ser uma conquista para a gestatildeo e o corpo docente visto todos os entraves no processo
educacional Aleacutem do que se observarmos os indicadores de proficiecircncia em LP no 9ordm ano na
escola ao longo das trecircs uacuteltimas ediccedilotildees da Prova Brasil veremos que tem havido um progresso
como constatamos a seguir
Graacutefico 2 ndash Desempenho da escola nas ediccedilotildees da Prova Brasil
Fonte INEP (2018)
215
220
225
230
235
240
245
2011 2013 2015
Desempenho da escola nas ediccedilotildees da Prova Brasil
220
225
230
235
240
245
250
255
Brasil Maranhatildeo Satildeo Luiacutes Nossa escola
Resultados IDEB 2015
71
Os niacuteveis de proficiecircncia em Liacutengua Portuguesa classificados pela Prova Brasil
satildeo 9 (nove) e avaliam a capacidade de leitura dos alunos O desempenho por niacutevel de
proficiecircncia7 da turma de 9ordm ano no IDEB8 a seguir eacute referente ao ano de 2015
Graacutefico 3 ndash Distribuiccedilatildeo percentual dos alunos do 9ordm Ano do EF por niacutevel de proficiecircncia - Liacutengua Portuguesa
Fonte INEP (2018)
Para a aplicaccedilatildeo da SD foi escolhida a turma do 9ordm ano do ano letivo de 2017 que
contava com 46 alunos no iniacutecio do ano no turno vespertino Ao longo do ano alguns alunos
trancaram matriacutecula eou foram transferidos resultando no nuacutemero de 43 alunos frequentes ao
final do ano letivo O puacuteblico tem entre 14 e 15 anos em sua maior parte Por ser uma turma
que antecede o ingresso no ensino meacutedio eacute-lhe dispensada atenccedilatildeo especial no que tange a
projetos e preparaccedilatildeo para a seleccedilatildeo na etapa posterior da Educaccedilatildeo Baacutesica
A carga horaacuteria da disciplina Liacutengua Portuguesa eacute de 5 horas-aula por semana sem
divisatildeo formal interna de assuntos havendo flexibilidade para o trabalho com leitura produccedilatildeo
textual gramaacutetica e projetos tanto internos agrave escola como parcerias externas com essa
7 Os niacuteveis de proficiecircncia descritos pelo Inep encontram-se nos anexos deste trabalho 8 IDEB eacute o Iacutendice de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica criado pelo Inep em 2007 cuja escala vai de zero a
dez O indicador eacute calculado a partir dos dados sobre aprovaccedilatildeo escolar obtidos no Censo Escolar e meacutedias de
desempenho nas avaliaccedilotildees do Inep o Saeb e a Prova Brasil A fonte e o site oficial para consulta estatildeo disponiacuteveis
em lt httpportalinepgovbrwebportal-idebgt
000
500
1000
1500
2000
2500
3000
Niacutevel 0 Niacutevel 1 Niacutevel 2 Niacutevel 3 Niacutevel 4 Niacutevel 5 Niacutevel 6 Niacutevel 7 Niacutevel 8
Distribuiccedilatildeo percentual dos alunos do 9ordm Ano do EF por niacutevel de
proficiecircncia em 2015- Liacutengua Portuguesa
Nossa escola Escolas Similares
72
A opccedilatildeo por trabalhar a pesquisa nessa turma deu-se por ser a seacuterie que se prepara
para avanccedilar para o ensino meacutedio podendo assim ter um reforccedilo em sua competecircncia
discursiva atraveacutes da praacutetica da leitura e da produccedilatildeo escrita como processo
Ao mesmo tempo eacute importante que os alunos se interessem mais e mais por leitura
e sabendo que este puacuteblico natildeo aprecia leituras longas como as dos romances por exemplo a
crocircnica literaacuteria eacute uma excelente sugestatildeo por suas temaacuteticas que em vaacuterios exemplos eacute
proacutexima da realidade do aluno aleacutem de contar com textos breves e dinacircmicos
Por fim era de interesse da escola que os alunos dessa turma saiacutessem do ensino
fundamental com seguranccedila no que se refere a produzir textos escritos em gecircneros especiacuteficos
de uso cotidiano acionando assim conhecimentos que foram aprofundados e consolidados nas
aulas de anos anteriores
42 Participantes
Os sujeitos participantes da pesquisa satildeo alunos que frequentam a turma do 9ordm ano
no turno vespertino do ano letivo de 2017 na escola da rede puacuteblica municipal de ensino de
Satildeo Luiacutes no Maranhatildeo Em sua maioria residem na aacuterea que abrange o Argola e Tambor o
Gapara a Cidade Nova e adjacecircncias A maioria dos alunos tendo em vista sua idade apenas
estuda e mora com os pais eou responsaacuteveis
Ao longo do ano letivo a turma teve algumas alteraccedilotildees em seu puacuteblico com dois
estudantes que pediram transferecircncia de escola e outro que trancou a matriacutecula Assim
frequentando efetivamente as aulas foram 43 (quarenta e trecircs) alunos No entanto dentre esses
apenas uma meacutedia de 20 (vinte) alunos se interessou em participar do projeto de escrita
A turma em si eacute caracterizada pelos proacuteprios alunos bem como por professores
como composta por um puacuteblico cuja falta de interesse e de motivaccedilatildeo de vaacuterios estudantes
prejudica aqueles que desejam realmente se dedicar A sala eacute muito cheia e devido agrave natural
predisposiccedilatildeo que tecircm os adolescentes para a distraccedilatildeo e a conversa em vaacuterios momentos eacute um
desafio para se conseguir sua atenccedilatildeo e envolvimento nas atividades Percebemos nos contatos
iniciais com a turma completa que satildeo poucos infelizmente que demonstram real empenho
em participar
73
Os alunos que optaram por integrar o projeto desenvolveram as atividades propostas
em cinco moacutedulos realizadas em 11 (onze) encontros de 2 (duas) horas-aula cada9 durante os
meses de outubro a dezembro conforme cronograma previsto
43 Materiais
O material analisado na pesquisa eacute constituiacutedo pelos textos produzidos pelos alunos
que participaram de todas as atividades desta sequecircncia Portanto para a anaacutelise consideramos
apenas 13 (treze) alunos no total
Para a composiccedilatildeo do trabalho denominamos os textos produzidos nesta SD da
seguinte forma
a) produccedilatildeo inicial A (PI-A) realizada apoacutes 3 (trecircs) encontros com um total de 4
(quatro) horasaula constando atividades de leitura de crocircnicas que serviram
como norte para a primeira escrita dos alunos fazendo uma breve sensibilizaccedilatildeo
de caracteriacutesticas do gecircnero
b) produccedilatildeo final A (PF-A) realizada apoacutes o segundo moacutedulo da sequecircncia
reescrevendo a PI-A texto sem circulaccedilatildeo social mas com o intuito de
desenvolver a competecircncia comunicativa do aluno
c) produccedilatildeo inicial B (PI-B) realizada apoacutes os moacutedulos 3 (trecircs) e 4 (quatro) jaacute
visando a circulaccedilatildeo social do texto
d) produccedilatildeo final B (PF-B) realizada apoacutes o moacutedulo 5 (cinco) quando os alunos
tivessem aperfeiccediloado sua competecircncia comunicativa escrita e se apropriado do
gecircnero estudado cumprindo o propoacutesito comunicativo da proposta de produccedilatildeo
visando a divulgaccedilatildeo do texto
Para a realizaccedilatildeo da produccedilatildeo inicial utilizamos coacutepias de uma crocircnica
acompanhada de uma proposta de produccedilatildeo elaborada de acordo com a temaacutetica do texto e
associada agrave realidade dos alunos contextualizando uma possibilidade de ligar o mundo real ao
mundo virtual e uma coacutepia da folha de produccedilatildeo textual a ser utilizada em nosso projeto
Durante o desenvolvimento dos moacutedulos da SD utilizamos coacutepias dos textos e
atividades propostas distribuiacutedas individualmente Tambeacutem foi feito o uso do quadro branco
9 Agrave exceccedilatildeo dos dois primeiros encontros de 1 horaaula cada um
74
incel e apagador e de algumas imagens impressas em folha sulfite para ilustrar o conteuacutedo de
algumas crocircnicas de acordo com o planejamento de cada encontro
Para que houvesse a etapa poacutes sequecircncia didaacutetica que corresponde agrave circulaccedilatildeo
social do texto no gecircnero produzido os alunos que desejaram realmente publicar seus escritos
dentro do gecircnero crocircnica literaacuteria produziram um material especiacutefico para tal (PF-B) a partir
da escolha de temaacuteticas que agradaram a cada um individualmente Esse material que tambeacutem
constaraacute de nossa pesquisa corresponde aos textos de 4 (quatro) alunos apenas e
apresentaremos na seccedilatildeo destinada as produccedilotildees iniciais (PI-B) uma primeira reescrita e por
fim as produccedilotildees finais (PF-B)
44 Procedimentos
Antes de aplicarmos a SD com os alunos realizamos momentos de socializaccedilatildeo da
seguinte forma explicamos a importacircncia do projeto agrave direccedilatildeo da escola aos professores e aos
pais dos alunos da turma escolhida para a execuccedilatildeo do projeto visando o fortalecimento da
proposta Com os professores foi feito um momento de reuniatildeo uma semana antes do iniacutecio do
projeto Com os pais realizamos uma reuniatildeo para a socializaccedilatildeo e igualmente para pedir seu
apoio no incentivo agrave participaccedilatildeo dos alunos Infelizmente foram poucos os pais responsaacuteveis
que compareceram agrave reuniatildeo situaccedilatildeo que ocorre normalmente quando se datildeo as reuniotildees de
pais e mestres na escola
Foram realizados 11 (onze) encontros de duas horas-aula (de cinquenta minutos
cada uma) que ocorreram entre os meses de setembro e novembro de 2017 Entre a primeira
fase que compreende a socializaccedilatildeo do projeto e a busca pela adesatildeo as primeiras leituras e a
produccedilatildeo inicial A totalizando 3 (trecircs) encontros num total de 4 horasaula e o iniacutecio da
segunda fase que compreende os moacutedulos propriamente ditos do processo de escrita ateacute a
produccedilatildeo final A num total de 3 (trecircs) encontros houve um intervalo de aproximadamente 1
(um) mecircs tempo destinado agrave apreciaccedilatildeo da PI-A anaacutelise e elaboraccedilatildeo dos moacutedulos da
sequecircncia de atividades Para a posterior culminacircncia que coloca os textos em circulaccedilatildeo social
houve mais 5 (cinco) encontros agora com um puacuteblico mais reduzido que realmente desejava
publicar suas produccedilotildees
Destinamos dois horaacuterios agraves terccedilas-feiras que estavam ociosos para os alunos pois
correspondiam aos horaacuterios das disciplinas de Arte e Ensino religioso cuja professora estava
75
afastada em virtude de uma licenccedila de sauacutede para o desenvolvimento do projeto sem alterar a
rotina das aulas de Liacutengua Portuguesa
Como primeira atividade lemos o texto Prova falsa de Stanislaw Ponte Preta (cf
Apecircndice A) com a turma completa Fizemos o exerciacutecio de interpretaccedilatildeo do texto e breve
leitura de Abandono de Animais eacute crime e precisa ser denunciado (cf Apecircndice B) uma
reportagem para que os alunos percebessem diferenccedilas entre os gecircneros (2 horasaula)
O encontro seguinte teve a leitura do texto O chato da vez de Anaximandro
Amorim (cf Apecircndice C) e atividades de interpretaccedilatildeo Dentre as questotildees havia a instruccedilatildeo
que propunha os comandos para a criaccedilatildeo de um texto em forma de crocircnica ndash com o que os
alunos puderam perceber a respeito do gecircnero durante os encontros - e a partir disso nestas 2
(duas) horasaula os alunos fizeram sua produccedilatildeo inicial10 Esses textos compotildeem a produccedilatildeo
inicial dos integrantes do projeto
Os moacutedulos elaborados para o trabalho que visavam melhorar os aspectos da escrita
dos alunos considerando o processo bem como os procedimentos de escritor compreenderam
atividades de leitura exerciacutecios de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo dos textos e de produccedilatildeo de
textos escritos mediados pela professora pesquisadora dentro do gecircnero crocircnica literaacuteria
discussotildees sobre os temas presentes nas crocircnicas aproximando-os da realidade dos alunos com
o objetivo de desenvolver nestes sua capacidade de observaccedilatildeo e reflexatildeo para a produccedilatildeo
textual
Foram apresentadas agrave turma de maneira coletiva as principais dificuldades
diagnosticadas na produccedilatildeo inicial Procuramos natildeo focalizar de iniacutecio a editoraccedilatildeo11 do texto
na folha de produccedilatildeo No entanto natildeo deixamos de trabalhar em sala elementos como o cuidado
com a pontuaccedilatildeo a paragrafaccedilatildeo e a ortografia O conteuacutedo das aulas de cada moacutedulo estaacute
descrito na seccedilatildeo correspondente
No decorrer dos moacutedulos os alunos realizaram atividades de revisatildeo e reescrita dos
seus textos observando tanto a estrutura do gecircnero quanto o seu conteuacutedo orientados pela
professora pesquisadora e tambeacutem recebendo ideias e sugestotildees dos colegas em um feedback
colaborativo Dessa forma chegaram ao seu texto final aplicando na medida de sua
10 Obs o 4ordm horaacuterio que foi escolhido para ser o momento da produccedilatildeo inicial foi prejudicado por dois fatores
O primeiro foi que o professor de educaccedilatildeo fiacutesica da escola convidou os alunos para antecipar sua praacutetica e vaacuterios
natildeo voltaram do recreio para a aula do projeto O segundo fator foi que nesse dia aconteceu uma briga com agressatildeo
fiacutesica entre uma aluna da sala e outra aluna de outra turma o que deixou a escola inteira agitada Os 20 (vinte)
alunos que permaneceram em sala para a produccedilatildeo felizmente mostraram-se interessados embora vaacuterios dissessem
que natildeo levavam jeito para escrever Apenas alguns alunos passaram a limpo seus textos 11 Ver seccedilatildeo Escrita como processo
76
conscientizaccedilatildeo os conhecimentos adquiridos e as duacutevidas esclarecidas durante a sequecircncia de
atividades
Nossa proposta incluiu a circulaccedilatildeo social dos textos para uma audiecircncia real o que
consistiu em uma culminacircncia do projeto de escrita O acordo feito com os alunos foi a
publicaccedilatildeo interna de uma versatildeo artesanalmente produzida de um livro de crocircnicas para que
pudessem marcar o momento e guardar um livro fiacutesico como recordaccedilatildeo e a publicaccedilatildeo em
suas paacuteginas pessoais na rede social Facebook plataforma que os alunos apreciam utilizar com
certa frequecircncia posto que nosso trabalho teve como material para leitura textos retirados da
internet como o proacuteprio Facebook blogs sites Para esta etapa somente cinco alunos
frequentaram assiduamente (alguns outros esporadicamente) sendo que apenas quatro
produziram um texto individual que passou pelo mesmo processo de reescrita e que teve sua
publicaccedilatildeo na plataforma e tambeacutem em um formato artesanal impresso para que suas famiacutelias
e comunidade escolar possam prestigiar o momento na tarde de autoacutegrafos
As produccedilotildees finais seratildeo analisadas no capiacutetulo a seguir em relaccedilatildeo agrave apropriaccedilatildeo
das caracteriacutesticas do gecircnero estudado bem como de sua estrutura composicional com o
objetivo de avaliar se os alunos conseguiram desenvolvecirc-la satisfatoriamente e se a estrutura e
a aplicaccedilatildeo da sequecircncia de atividades favoreceu o desenvolvimento da competecircncia textual e
discursiva dos estudantes que integraram a pesquisa de acordo com o que foi observado em
suas produccedilotildees iniciais examinando seu desempenho em ambas as produccedilotildees
Para o desenvolvimento de nossas atividades do projeto planejamos os encontros
com base nos estudos realizados a respeito do procedimento Sequecircncia Didaacutetica de Dolz
Noverraz e Schneuwly (2013) como estrateacutegia de ensino dos gecircneros textuais na proposta de
adaptaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica conduzida por Swiderski e Costa-Huumlbes (2009) na proposta
de circulaccedilatildeo social do gecircnero discursivo produzido em sequecircncias didaacuteticas de projetos
pedagoacutegicos de Lopes-Rossi (2011) e dos procedimentos das etapas de escrita como
planejamento ediccedilatildeo revisatildeo e reescrita do texto segundo Vieira (2005) e Serafini (2003)
O planejamento de nossa SD abrange 12 (doze) etapas conforme mostra a figura a
seguir
77
Figura 4 - Proposiccedilatildeo de sequecircncia didaacutetica para o projeto de escrita
Fonte Elaborado pela autora adaptado de DOLZ NOVERRAZ SCHNEUWLY (2013) SWIDERSKI COSTA-
HUumlBES (2009) LOPES-ROSSI (2011)
Nossa sequecircncia foi pensada para 2 (duas) etapas distintas Na primeira etapa A
uma produccedilatildeo textual para trabalho em sala com o mesmo tema com a expectativa de serem
colocados nos textos elementos que respondessem ao enunciado instrucional da atividade que
segue a crocircnica lida no dia na segunda etapa B uma produccedilatildeo que jaacute seria composta visando
a circulaccedilatildeo social com tema livre agrave escolha dos alunos a partir das discussotildees sobre o que
pode ser tema de uma crocircnica
Pela necessidade de uma SD mais completa inserimos ao modo de Swiderski e
Costa-Huumlbes entre a apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e a produccedilatildeo inicial um moacutedulo
de reconhecimento do gecircnero E apoacutes o teacutermino de nossa SD inserimos ao modo de Lopes-
Rossi um moacutedulo para a divulgaccedilatildeo social dos textos
441 Primeira etapa da apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo agrave produccedilatildeo inicial
Entre a apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo e a produccedilatildeo inicial (PI) utilizamos 4 (quatro)
horas-aula No primeiro encontro fizemos no 1ordm (primeiro) horaacuterio a socializaccedilatildeo do projeto
com os alunos e incentivamos a adesatildeo expondo as vantagens de trabalharmos o aprendizado
de um gecircnero como a crocircnica em forma de sequecircncia de aulas e atividades Natildeo houve
manifestaccedilatildeo de unanimidade de interesse em participar do projeto Na realidade apenas
metade da sala pareceu desejar integrar o projeto Quando perguntados sobre o motivo que natildeo
os animava vaacuterios responderam ldquopreguiccedila de ler professora preguiccedila de escrever professora
ah eu natildeo gosto de ler muito natildeo Leio porque sou obrigada e natildeo vale nem nota mesmordquo
Apresentaccedilatildeo
da Situaccedilatildeo
Produccedilatildeo
Inicial A
Produccedilatildeo
Final A
Moacuted
ulo 1
Moacuted
ulo 2
Moacuted
ulo 3
Circulaccedilatildeo social
das produccedilotildees B Moacuted
ulo 4 Produccedilatildeo
Inicial B
Moacuted
ulo 5 Produccedilatildeo
Final B
Moacutedulo de
reconheci
mento
78
Apesar da inicial resistecircncia de boa parte da sala colocamos aos alunos as
vantagens de sua participaccedilatildeo visto que a principal finalidade da sequecircncia de atividades seria
o desenvolvimento de sua competecircncia escrita por meio da aprimoraccedilatildeo de suas habilidades
leitoras oportunidade de ampliaccedilatildeo da criatividade e desenvolvimento das habilidades e
procedimentos de escritor como o planejamento das ideias a releitura a revisatildeo a reescrita ndash
que sabemos natildeo fazem parte da rotina dos alunos salvo raras exceccedilotildees ndash utilizando como
base o estudo das caracteriacutesticas do gecircnero textual crocircnica literaacuteria
No horaacuterio seguinte com a turma completa iniciamos o moacutedulo de reconhecimento
realizando a leitura do texto Prova falsa de Stanislaw Ponte Preta Leitura silenciosa seguida
de leitura em voz alta por parte da professora-pesquisadora poreacutem sem realizar a atividade que
acompanhava o texto Comeccedilamos a trabalhar com a turma algumas caracteriacutesticas que a
sensibilizariam para o gecircnero como a presenccedila de um tiacutetulo interessante para a criaccedilatildeo de um
texto a partir de uma situaccedilatildeo do cotidiano e que o cronista resolveu contar ao leitor ao bom
humor e agrave leveza das palavras trazidas no texto
No segundo encontro com 1 hora-aula na semana seguinte fizemos a continuaccedilatildeo
da aula anterior no primeiro horaacuterio realizando o exerciacutecio de interpretaccedilatildeo do texto Prova
Falsa No horaacuterio seguinte realizamos breve leitura do texto Abandono de Animais eacute crime e
precisa ser denunciado para que os alunos percebessem a diferenccedila entre a crocircnica e a
reportagem embora ambas falassem cada uma a seu modo de criaccedilatildeo de animais de estimaccedilatildeo
Chegamos aos terceiro encontro com 2 (duas) hora-aula e realizamos a leitura do
texto O chato da vez de Anaximandro Amorim (cf Anexo D) No 1ordm horaacuterio destinado a nossas
aulas tudo transcorreu relativamente normal com a turma completa lendo e realizando parte
das atividades Poreacutem nossa Produccedilatildeo Inicial deveria acontecer apoacutes o recreio pois a
organizaccedilatildeo da grade de horaacuterios compreendia 1 hora-aula antes do recreio e a 1 hora-aula
seguinte apoacutes o recreio
Esse horaacuterio que foi escolhido para ser o momento da PI foi prejudicado por dois
fatores O primeiro foi que o professor de educaccedilatildeo fiacutesica12 da escola convidou os alunos para
antecipar sua praacutetica e vaacuterios natildeo voltaram do recreio para a aula do projeto O segundo fator
foi que nesse dia aconteceu uma briga com agressatildeo fiacutesica entre uma aluna da sala e outra aluna
de outra turma o que deixou a escola inteira agitada Os 20 (vinte) alunos que permaneceram
12 O professor de educaccedilatildeo fiacutesica natildeo estava presente na reuniatildeo de socializaccedilatildeo do projeto com os professores e
por isso natildeo sabia que a professora-pesquisadora ocuparia aquele horaacuterio que estava ocioso para os alunos
79
em sala para a produccedilatildeo felizmente mostraram-se interessados embora vaacuterios dissessem que
natildeo levavam jeito para escrever
Demos prosseguimento agrave atividade que acompanha o texto O chato da vez
realizando a instruccedilatildeo de produccedilatildeo do quesito 7 (sete) Os alunos receberam uma folha de
produccedilatildeo e foram orientados a primeiro escrever seu rascunho em folha agrave parte e somente
quando terminassem passar seu texto para a folha de produccedilatildeo A maioria escreveu diretamente
na FP Apenas alguns alunos fizeram um breve rascunho e depois passaram a limpo seus textos
O que buscamos detectar nessas primeiras produccedilotildees (PI-A) sem o devido
aprofundamento das caracteriacutesticas da crocircnica literaacuteria apenas com as leituras e as atividades
de sensibilizaccedilatildeo no moacutedulo de reconhecimento do gecircnero a partir da instruccedilatildeo de produccedilatildeo
foram os itens a seguir
i) quantos textos jaacute deram sinais de que os alunos entenderam o que eacute a ldquoconversa
com o leitorrdquo e a expressaram em marcas linguiacutesticas
ii) quantos atenderam ao perfil da audiecircncia solicitada na instruccedilatildeo
iii) quantos se mantiveram no tema discutido
iv) quantos partiram de uma situaccedilatildeo vividaobservada para compor seu texto
v) quantos narraram essa situaccedilatildeo de forma clara para que o leitor pudesse
acompanhar
vi) quantos atenderam agrave instruccedilatildeo quanto agrave presenccedila de tiacutetulo e ao nuacutemero de
paraacutegrafos
Trataremos em seccedilatildeo posterior correspondente agrave anaacutelise sobre estes resultados
442 Segunda etapa desenvolvimento dos moacutedulos
Aproximadamente 1 (um) mecircs apoacutes a apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo e a produccedilatildeo inicial
que foram realizadas em 4 (quatro) encontros o desenvolvimento dos moacutedulos foi iniciado A
partir de entatildeo foram realizados 8 (oito) encontros de 2 (duas) horas-aula cada um Foram
cinco moacutedulos com atividades diversas que trabalharam fundamentalmente o planejamento
das ideias a organizaccedilatildeo e a revisatildeo do texto aleacutem da reescrita que eacute a ponte para a produccedilatildeo
final O trabalho desenvolvido nos moacutedulos estaacute sintetizado no quadro a seguir e seratildeo
detalhados os procedimentos das aulas nos toacutepicos seguintes
80
Quadro 4 ndash Moacutedulos desenvolvidos na sequecircncia didaacutetica (SD)
MOacuteDULOS TEMA FINALIDADE ATIVIDADE NUacuteMERO
DE AULAS
Moacutedulo 1 A mateacuteria da
crocircnica
Abstrair a partir da
leitura a situaccedilatildeo que
pode ter gerado as
crocircnicas
Leitura dos textos
Realizaccedilatildeo das atividades de
interpretaccedilatildeo
Identificaccedilatildeo das situaccedilotildees
que geraram as crocircnicas
Observaccedilatildeo da construccedilatildeo da
narraccedilatildeo
4 horas-aula
Moacutedulo 2
Releitura e
reescrita da PI-
A
Revisar o conteuacutedo e a
estrutura das crocircnicas
produzidas (PI-A) a fim
de reescrevecirc-las fazendo
as modificaccedilotildees
necessaacuterias eou sugeridas
adequando-as agrave instruccedilatildeo
Conversa sobre as
dificuldades observadas nas
primeiras produccedilotildees Releitura
das produccedilotildees iniciais
individualmente e em duplas
para feedback colaborativo
Reescrita da crocircnica
2 horas-aula
Moacutedulo 3
A opiniatildeo e a
descriccedilatildeo na
crocircnica
Observar a realidade do
seu entorno e tambeacutem de
ouvir as opiniotildees das
pessoas que habitam esse
ambiente
Leitura do texto
Realizaccedilatildeo das atividades de
interpretaccedilatildeo
Atividade de coleta de
impressotildees de algueacutem
proacuteximo Confronto ou
associaccedilatildeo com suas proacuteprias
opiniotildees Observaccedilatildeo de
elementos e situaccedilotildees do
proacuteprio cotidiano
Uso criativo das palavras
reflexatildeo sobre linguagem
conotativa
Elaboraccedilatildeo de um pequeno
texto
2 horas-aula
Moacutedulo 4
A linguagem
criativa e a
verossimilhanccedila
na crocircnica
Produccedilatildeo
inicial do texto
para publicaccedilatildeo
ndash PI-B
Observar as formas
criativas de narrar o
cotidiano
Leitura do texto
Realizaccedilatildeo das atividades de
interpretaccedilatildeo Discussatildeo sobre
verossimilhanccedila
2 horas-aula
Moacutedulo 5
Revisatildeo e
reescrita do
texto para
publicaccedilatildeo ndash
PI-B
Observar os elementos
estudados ao longo dos
moacutedulos na PI-B
Leitura dos textos Feedback
colaborativo Releitura da PI-
B Exerciacutecio de topicalizaccedilatildeo
4 horasaula
Fonte Elaborado pela autora
Nos itens a seguir apresentamos o relato da aplicaccedilatildeo dos moacutedulos bem como as
atividades correspondentes a cada um em uma turma de 9ordm ano de uma escola puacuteblica municipal
em Satildeo Luiacutes no 4ordm (quarto) bimestre do ano letivo de 2017
a) Moacutedulo 1 ndash quarto e quinto encontros ndash 4 (quatro) horas-aula
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A partir da leitura dos textos Manias e Pacto apoacutes morte natildeo podia ver faca (cf
Anexo E) os alunos praticaram o exerciacutecio de observaccedilatildeo e abstraccedilatildeo da situaccedilatildeo que pode ter
gerado essas crocircnicas
Neste dia foi feita a leitura da crocircnica Manias Os alunos puderam refletir a partir
das questotildees de interpretaccedilatildeo e anaacutelise do texto sobre o que satildeo manias e viram tambeacutem que
elas natildeo satildeo exclusividade de pessoas idosas Na verdade concluiacuteram que basta o ser humano
estar vivo independentemente da idade que tenha para comeccedilar a calcar camadas e mais
camadas de comportamentos que mais adiante se tornaratildeo manias Natildeo houve tempo
disponiacutevel para os alunos comporem um texto a respeito da mateacuteria manias e os alunos pediram
para fazer em casa No entanto na aula seguinte ningueacutem apresentou o texto
Para o encontro seguinte que correspondia ao dia das bruxas a crocircnica escolhida
para leitura que tomou o primeiro horaacuterio foi Pacto poacutes-morte natildeo podia ver faca de Nonato
Reis por ser de gosto dos alunos dessa faixa etaacuteria histoacuterias de fantasmas misteacuterios e lendas
Nossa atividade foi bastante interessante pois todos que estavam na sala entraram no ritmo
daqueles causos contados em prosa pelo jornalista Nonato Reis O segundo horaacuterio foi
direcionado agrave atividade de leitura e interpretaccedilatildeo da crocircnica em que os alunos puderam
observar o ponto de vista do narrador as situaccedilotildees que deram origem e suporte agrave construccedilatildeo da
crocircnica aprenderam vocaacutebulos novos e ainda puderam soltar um pouco da imaginaccedilatildeo e
criatividade pensando em como eles mesmos fariam seus pactos com algueacutem ndash e constatamos
que vaacuterios querem mais eacute que seus contratantes se assustem em vida caso os alunos partam
primeiro
Ao final da leitura ainda exercitamos uma breve retextualizaccedilatildeo se fosse para
compor uma manchete de jornal como eles poderiam criar uma frase de impacto para o leitor
que tivesse relaccedilatildeo com o texto Um dos alunos sugeriu ldquoHomem faz pacto e menino vem
buscarrdquo
b) Moacutedulo 2 ndash sexto encontro ndash 2 (duas) horas-aula
Este encontro foi destinado para releitura da primeira produccedilatildeo feita (PI-A) O
procedimento inicial foi a tempestade de ideias sobre o que eacute ser chato e o que eacute ser legal cujo
registro dessas caracteriacutesticas noacutes construiacutemos na lousa sendo a professora-pesquisadora como
escriba Em seguida entregamos aos participantes do projeto seus textos
De iniacutecio vaacuterios disseram gostar do proacuteprio texto poreacutem quando a professora-
pesquisadora passou de carteira em carteira pedindo que lessem em voz meacutedia de modo a
apenas o proacuteprio aluno e a professora poderem escutar ele mesmo se dava conta de que havia
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algo a consertar Em alguns casos faltava o diaacutelogo com o leitor noutros uma situaccedilatildeo que
explicasse o porquecirc de algueacutem ser considerado chato ou legal Eacute a tal situaccedilatildeo do leitor na
histoacuteria Natildeo daacute pra jogar em cima dele soacute o resultado Tem que mostrar de onde partiram as
conclusotildees Assim demos uma folha sulfite em branco para que os alunos registrassem seus
rascunhos suas ideias por mais que as considerassem absurdas e daiacute pudessem extrair o que
iria compor o novo texto Fomos bem claras ao falar da importacircncia de tomar notas elas servem
como um prolongamento da memoacuteria (SERAFINI 2003)
Apoacutes esse registro os alunos tiveram a liberdade de escolher sentar em dupla ou
trio e foram lendo seus proacuteprios textos e o dos colegas para se inspirar ou dar sugestotildees uns
aos outros num feedback colaborativo enquanto a professora-pesquisadora permanecia dando
assistecircncia de um por um Infelizmente natildeo conseguimos sentar com todos para dar o devido
retorno individual sendo alguns apenas por orientaccedilatildeo coletiva e outros por bilhetinho com
questotildees gerais
Entatildeo pegamos o texto O chato da vez fizemos mais uma leitura e de novo
revimos a questatildeo 7 que eacute a instruccedilatildeo da produccedilatildeo Entatildeo os alunos receberam a folha de
produccedilatildeo e assim fizeram a reescrita (PF-A)
c) Moacutedulo 3 ndash seacutetimo encontro ndash 2 (duas) horas-aula
A partir da leitura da crocircnica A cara da rua (cf Apecircndice F) os alunos fizeram o
exerciacutecio praacutetico de observar a realidade do seu entorno sensibilizando-se a partir do uso da
descriccedilatildeo na crocircnica literaacuteria e tambeacutem de ouvir as opiniotildees das pessoas que habitam esse
ambiente
Houve uma alteraccedilatildeo no quadro do horaacuterio da escola o que colocou os encontros
do projeto para o 4ordm e o 5ordm horaacuterios As aulas passaram assim a natildeo ter uma quebra em seu
ritmo visto que anteriormente eram dois horaacuterios sendo um antes do recreio e o outro depois
A dificuldade enfrentada na aplicaccedilatildeo deste dia foi que alguns dos alunos que
integram o projeto se atrasaram visto que foi um dia atiacutepico na programaccedilatildeo da escola
Correspondeu este dia agrave visitaccedilatildeo da 11ordf FeLiS a Feira do livro de Satildeo Luiacutes realizada no
centro histoacuterico da cidade na Praia Grande Portanto neste dia natildeo fizemos uma releitura dos
textos que jaacute comeccedilaram a ser reescritos
Fizemos a leitura do texto A cara da rua de Marcelo Xavier discutimos as questotildees
e com os alunos (mesmo os que chegaram atrasados) foi feito o acordo da realizaccedilatildeo da uacuteltima
questatildeo que eacute fazer a leitura do texto para algueacutem em casa e anotar as impressotildees que a pessoa
teve ao ouvir a crocircnica
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O objetivo desta atividade foi despertar nos alunos a consciecircncia de que uma
crocircnica bem escrita causa alguma reaccedilatildeo em seu leitor uma reflexatildeo uma emoccedilatildeo Aleacutem disso
eles observaram o modo de descrever empregado pelo autor ao longo dos paraacutegrafos usados na
caracterizaccedilatildeo da rua Utilizamos como material para essa aula figuras impressas da moda que
mostravam ao longo das deacutecadas as mudanccedilas citadas no texto
Neste dia tambeacutem os alunos anotaram os fundamentos que devem estar presentes
no texto que eles escrevem uma espeacutecie de quadro autoavaliativo13 criado a partir das
caracteriacutesticas dos textos estudados
d) Moacutedulo 4 ndash oitavo encontro ndash 2 (duas) horas-aula
O encontro comeccedilou retomando a atividade da aula anterior que era fazer a leitura
do texto para algueacutem em casa e anotar as impressotildees que a pessoa teve ao ouvir a crocircnica
Apenas uma aluna realizou a atividade poreacutem foi interessante visto que a opiniatildeo coletada deu
espaccedilo para a discussatildeo sobre a liberdade de expressatildeo fosse no vestuaacuterio no comportamento
ou mesmo no vocabulaacuterio das pessoas que integram a cara da rua
A aula do dia foi direcionada a conhecer mais algumas crocircnicas Amor de Macumba
e Sr Google Pacheco (cf Apecircndice G) para que os alunos pudessem observar e compreender
melhor de que situaccedilotildees observadasvivenciadas partiram os textos podendo ser inesperadas
eou ateacute pitorescas Apoacutes a escuta dos textos cuja leitura foi realizada pela professora-
pesquisadora foram trabalhadas oralmente as questotildees de compreensatildeo e identificadas as
situaccedilotildees geradoras das crocircnicas em questatildeo (independentemente de serem reais ou natildeo)
compreendendo melhor o que eacute verossimilhanccedila
Ao final desse momento os alunos falaram de vaacuterios assuntos que poderiam se
tornar temas de textos Copiamos no quadro e eles nos cadernos Eram temas do cotidiano
como assalto relaccedilotildees sociais vida de youtuber bullying fome cujas situaccedilotildees jaacute
observadasvivenciadas poderiam render uma reflexatildeo
Aparentemente a dificuldade maior dos alunos estava em expressar essa situaccedilatildeo
sem que parecesse um diaacuterio iacutentimo como diaacuterio ou memoacuterias pois a natural disposiccedilatildeo de
seus textos traz uma sequecircncia narrativa um relato de emoccedilotildees pessoais poreacutem natildeo
necessariamente conduzia o leitor a uma reflexatildeo embora por vezes pausasse a narraccedilatildeo e
interagisse com o leitor por meio de perguntas ndash conforme mostrado nas crocircnicas lidas ao longo
do projeto
13 Cf seccedilatildeo de Anaacutelises
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O foco foi entatildeo ajudar os alunos a desprender-se da aura de criacutetica ou de diaacuterio
iacutentimo em seus textos permitindo-lhes atribuir um ar de narrar os fatos podendo aumentar as
situaccedilotildees conduzindo seu leitor sem sobrecarregaacute-lo com queixumes lamentos criacuteticas ferinas
ou aquele ldquoar de moral da histoacuteriardquo
Como a discussatildeo havia tomado bastante tempo da aula os alunos pediram para
trazer o texto depois Resolvemos propor entatildeo o envio por um meio digital O escolhido foi
o Whatsapp e a produccedilatildeo seria impressa e entregue entre os colegas para leitura coletiva e
apreciaccedilatildeo etapa fundamental para o moacutedulo seguinte
e) Moacutedulo 5 ndash nono encontro ndash 2 (duas) horas-aula
Quatro alunos me mandaram seus textos (Ana Rodrigo Eduardo Estela) A
expectativa da aula do dia era que os alunos lessem as proacuteprias produccedilotildees e as colocassem para
apreciaccedilatildeo dos colegas relessem lessem juntos encontrassem os erros aceitassem as
sugestotildees O trabalho da professora pesquisadora foi inicialmente ir de dupla em dupla para
orientar E assim fizemos o trabalho
Utilizamos como material para essa aula os textos enviados impressos e um tablet
para visualizaccedilatildeo e se desejassem atualizaccedilatildeo de algum trecho do texto Cada aluno autor teve
seu momento de visualizaccedilatildeo na tela e de certo modo foi um choque ver no tablet os erros
ortograacuteficos e as sugestotildees de pontuaccedilatildeo que o aplicativo Word sugeria O aluno Eduardo foi o
mais surpreso pois em seu texto soacute de ortografia e pontuaccedilatildeo havia 22 erros fora as sugestotildees
que o Word corrigia Apesar disso o aluno natildeo desanimou aceitando sugestotildees do aplicativo e
tambeacutem dos colegas e da professora-pesquisadora
Houve o momento da leitura em conjunto e este foi fundamental para trabalharmos
a paragrafaccedilatildeo A professora-pesquisadora lia em voz alta para os alunos eles acompanhavam
o pensamento criando a imagem mental dos fatos corridos e quando havia quebra na
sequecircncia eles mesmos estranhavam e identificavam fazendo sugestotildees de alteraccedilatildeo Isso foi
feito com cada texto
Os temas para a produccedilatildeo do texto publicado foram escolhidos pelos proacuteprios
alunos Diferentemente da PI-A que foi induzida pela instruccedilatildeo aqueles que se dedicaram a
escrever por prazer desenvolveram mais o gosto por entender e reler o proacuteprio texto dando
valor tambeacutem agrave apreciaccedilatildeo dos colegas natildeo apenas da professora
Os quatro alunos que produziram texto para o livro disseram que passaram a prestar
mais atenccedilatildeo a ortografia e acentuaccedilatildeo embora reconheccedilam que natildeo dominam adequadamente
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ainda Nesse momento consideramos fundamental conscientizar-lhes que esse domiacutenio eacute um
processo e pode durar a vida inteira
f) Moacutedulo 6 ndash deacutecimo encontro ndash 2 (duas) horas-aula
A aula do dia foi dedicada agrave revisatildeo e discussatildeo final dos textos de Ana Rodrigo
Eduardo e Estela Apoacutes a leitura individual e novas sugestotildees sentamos em ciacuterculo e
registramos em voz alta no celular durante uns 20 minutos uma pequena avaliaccedilatildeo do projeto
e avaliaccedilatildeo pessoal em forma de grupo focal Apenas uma aluna dentre os seis que estavam
presentes se recusou a falar Ela mesma afirmou ldquoprofessora eu nunca falo eu natildeo gosto de
falarrdquo A pauta foi a seguinte
i) Uma breve avaliaccedilatildeo do projeto
- vocecirc gostou das aulas
- o que foi um ponto positivo
- e um desafio
- o que vocecirc sugere para um proacuteximo projeto
ii) Uma breve avaliaccedilatildeo pessoal
- vocecirc aprendeu algo que natildeo sabia antes
- mudou alguma coisa nos seus procedimentos em relaccedilatildeo agrave leitura e agrave escrita
- fale um pouco sobre isso
A opiniatildeo dos alunos seraacute tratada na seccedilatildeo seguinte ao longo da avaliaccedilatildeo do
projeto
443 Terceira etapa produccedilatildeo final
Neste dia relemos as primeiras produccedilotildees que os alunos fizeram de maneira
coletiva Foi unacircnime o descontentamento com os textos pois concluiacuteram que estava tudo
muito longe de ter caracteriacutesticas de crocircnica Aproveitamos tambeacutem para ler o texto de um
aluno e fazer um exerciacutecio de topicalizaccedilatildeo a fim de instrumentalizaacute-los com uma uacutetil
ferramenta de anaacutelise das partes do texto detectando as ideias que o compotildeem comparando ao
comando de produccedilatildeo que foi dado naquele momento da PI e percebendo que ideias faltam para
completar a instruccedilatildeo pedida Fora isso os alunos perceberam que havia muitos erros
ortograacuteficos e disseram que achavam interessante se pudessem para todos os textos escrever
em aplicativos de celular ou programas de ediccedilatildeo de texto como o Word para que as correccedilotildees
mais baacutesicas jaacute fossem automaticamente realizadas
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444 Quarta etapa circulaccedilatildeo social dos textos
A circulaccedilatildeo social dos textos eacute parte de nossa proposta para a sequecircncia didaacutetica
Como o objetivo maior foi o de contribuir para o aperfeiccediloamento das habilidades de escrita
desenvolvendo procedimentos de escritor fugindo agrave praacutetica que os alunos normalmente tecircm
que eacute de fazer um texto sem os devidos cuidados apenas visando nota para entregar ao
professor contamos que essas produccedilotildees foram de grande valia aos que permaneceram ateacute o
final de nosso projeto
O livro artesanal foi produzido e no dia da cerimocircnia de formatura dos alunos do
9ordm ano foi tornado puacuteblico mostrado aos outros alunos familiares e comunidade escolar
presente O livro conteacutem as produccedilotildees dos 4 (quatro) alunos e mais as crocircnicas lidas ao longo
das aulas Aleacutem disso cada um publicou seu texto em sua paacutegina do Facebook
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5 ANAacuteLISE DA SEQUEcircNCIA REFLEXOtildeES
Este capiacutetulo eacute destinado a discussatildeo e anaacutelise dos dados coletados quando de antes
da aplicaccedilatildeo dos moacutedulos (produccedilatildeo inicial) e depois do desenvolvimento destes (produccedilatildeo
final) a fim de verificarmos o desempenho dos alunos e certificar que o desenvolvimento de
nossa SD proposta para o desenvolvimento da competecircncia escrita dos alunos do 9ordm ano do
ensino fundamental pode propiciar-lhes progressos nas habilidades de produccedilatildeo de seus textos
Apresentamos aqui os principais dados da pesquisa como nuacutemero de alunos
participantes em cada etapa de produccedilatildeo nuacutemero de estudantes que participaram de todas as
atividades e principais dificuldades quanto aos elementos constitutivos do gecircnero trabalhado
Para a anaacutelise das versotildees produzidas pelos alunos que participaram de todos os encontros
fazendo o comparativo entre a PI e a PF partimos das categorias do gecircnero crocircnica literaacuteria
trabalhadas durante a SD Deste modo veremos as seccedilotildees destinadas a analisar os elementos
constitutivos presentes nos textos
A anaacutelise dos dados considerou as hipoacuteteses levantadas no iniacutecio da pesquisa que
recapitulamos
a) eacute possiacutevel motivar os alunos a escrever ao desenvolver com eles atividades
voltadas para os diferentes subprocessos e habilidades envolvidos no ato de
redigir
b) o ensino da composiccedilatildeo do gecircnero crocircnica literaacuteria contribuiraacute para minimizar
dificuldades observadas nos textos dos alunos do 9ordm ano como nos planos
morfossintaacutetico e semacircntico aleacutem de lhes propiciar o desenvolvimento da
competecircncia escrita em textos escritos
c) apoacutes a realizaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica proposta ao compararmos as produccedilotildees
inicial e final dos alunos verificaremos um desempenho mais satisfatoacuterio em
relaccedilatildeo agrave competecircncia discursiva realizada no gecircnero crocircnica
Da primeira hipoacutetese consideramos para a elaboraccedilatildeo das atividades e o
planejamento dos encontros trabalhar os subprocessos da escrita geraccedilatildeo e organizaccedilatildeo de
ideias planejamento do texto rascunho escrita releitura revisatildeo reescrita ateacute o passo da
publicaccedilatildeo agrave audiecircncia pretendida Esses passos auxiliaram os alunos a desenvolver melhor
seus textos apoacutes a revisatildeo quando os comparamos aos seus primeiros textos conforme a anaacutelise
dos dados Inclui tambeacutem este momento a motivaccedilatildeo de modo que quanto maior o domiacutenio
das habilidades mais confiantes os alunos ficavam e consequentemente mais motivados
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Buscamos identificar nos textos dos alunos os avanccedilos referentes agrave apropriaccedilatildeo do
gecircnero crocircnica literaacuteria a partir dos textos escolhidos para servir-lhes de modelo para a
produccedilatildeo Relatamos aqui tambeacutem as dificuldades trabalhadas com eles durante os moacutedulos e
que foram aperfeiccediloadas Aleacutem das dificuldades composicionais relatamos ao longo do
capiacutetulo as dificuldades quanto agrave participaccedilatildeo no projeto aplicado
51 Participaccedilatildeo dos alunos na pesquisa
A sala de aula escolhida para aplicaccedilatildeo do projeto de produccedilatildeo escrita de crocircnicas
literaacuterias foi uma turma de 9ordm ano vespertino em uma escola puacuteblica do municiacutepio de Satildeo Luiacutes
Maranhatildeo Os alunos frequentes totalizavam no ano letivo de 2017 43 (quarenta e trecircs) No
entanto ao final de nosso projeto tivemos um resultado de produccedilotildees que visavam agrave circulaccedilatildeo
social do texto no gecircnero que corresponde a menos de 10 (dez por cento) do total da classe
Graacutefico 4 ndash Nuacutemero de alunos do 9ordm ano
Fonte Produzido pela autora
Podemos dizer que a SD teve duas partes no tocante agrave participaccedilatildeo dos alunos No
primeiro 19 (dezenove) alunos produziram a PI-A havendo oscilaccedilatildeo da presenccedila nas
atividades ateacute a reescrita a PF-A No entanto selecionamos as produccedilotildees apenas dos que
participaram de todos os encontros que foram 13 (treze) alunos e que produziram a PF-A
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
Nuacutemero de alunos
Nuacutemero de alunos no 9ordm ano
Alunos regularmente frequentes
Alunos que produziram o texto para a professora-pesquisadora como audiecircncia
Alunos que produziram texto para circulaccedilatildeo social com audiecircncia real
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No segundo momento visando a publicaccedilatildeo dos textos o nuacutemero de alunos
presentes caiu vertiginosamente finalizando o projeto de aplicaccedilatildeo da SD com 6 alunos
frequentes sendo que apenas 4 (quatro) produziram o texto para circulaccedilatildeo social constando a
PI-B e a PF-B Segundo os alunos da turma o fato de natildeo valer nota associado ao item do
termo de compromisso que diz que a qualquer momento o aluno poderia deixar de participar
sem qualquer prejuiacutezo fez com que alguns alunos deixassem de querer frequentar ldquoporque eu
natildeo gosto de escrever professorardquo acabando por ldquocontagiarrdquo outros alunos a querer sair mais
cedo da sala de aula abandonando assim o projeto aplicado ldquomas pelo menos a senhora jaacute tem
um texto natildeo eacuterdquo
Dessa forma totalizamos 26 (vinte e seis) textos analisados 2 (dois) de cada
participante na primeira parte e 4 (quatro) dos quatro alunos que tiveram seus textos publicados
no livro artesanal e na plataforma online
Graacutefico 5 ndash Participaccedilatildeo nas produccedilotildees
Fonte Produzido pela autora
Como vimos 13 (treze) alunos realizaram a PF-A e 4 (quatro) a PF-B Nosso
projeto de produccedilatildeo escrita de crocircnicas literaacuterias contou com 11 (onze) encontros efetivos num
total de 20 (vinte) horasaula A participaccedilatildeo da turma ocorreu da seguinte forma
0
5
10
15
20
PI-A PF-A PI-B PF-B
Participaccedilatildeo nas produccedilotildees
Produccedilatildeo a partir de instruccedilatildeo Produccedilatildeo para publicaccedilatildeo
90
Graacutefico 6 ndash Alunos presentes por encontro
Fonte Produzido pela autora
Quanto agrave participaccedilatildeo nos encontros nos quais desenvolvemos os moacutedulos a maior
participaccedilatildeo ocorreu no 1ordm (primeiro) e no 4ordm (quarto) encontros No 9ordm (nono) encontro tivemos
a menor quantidade de alunos O uacuteltimo encontro contou com 7 (sete) alunos
52 Anaacutelise da apropriaccedilatildeo de caracteriacutesticas do gecircnero crocircnica literaacuteria
Nosso objetivo com esta pesquisa foi de contribuir para o desenvolvimento da
competecircncia escrita dos alunos de 9ordm ano a partir da proposta da aplicaccedilatildeo de uma sequecircncia
didaacutetica para a produccedilatildeo de textos escritos em uma turma deste niacutevel utilizando para tal o
gecircnero crocircnica literaacuteria A sequecircncia foi desenvolvida no 2ordm semestre do ano letivo de 2017
Para verificar o desempenho dos alunos nos textos escritos antes e apoacutes a aplicaccedilatildeo
da SD buscando comprovar sua eficiecircncia como uma proposta para o ensino de produccedilatildeo de
textos e o desenvolvimento da competecircncia escrita dos alunos procedemos a anaacutelise do corpus
de produccedilotildees a fim de verificar se a construccedilatildeo do texto de alunos do 9ordm ano corresponde de
algum modo aos exemplos de crocircnicas apresentados na primeira parte da sequecircncia didaacutetica
Essa produccedilatildeo A corresponde ao trabalho com 13 alunos (como jaacute informado na
seccedilatildeo 4411) em 3 (trecircs) encontros com duraccedilatildeo de 6 (seis) horasaula e leitura de duas
crocircnicas ineacuteditas para os alunos (Manias e Pacto apoacutes morte) e atividades correspondentes e
mais a releitura de O chato da vez releitura da instruccedilatildeo e releitura das PI-A
0
5
10
15
20
25
30
35
40
Alunos presentes por encontro
Nordm de alunos
91
Nossa primeira parte da sequecircncia em que preparamos os alunos para a produccedilatildeo
do primeiro texto do gecircnero com um miacutenimo de caracteriacutesticas tratou de mostrar exemplos do
que se pode esperar em uma crocircnica fornecendo um miacutenimo de elementos para que atraveacutes de
uma abordagem imitativa os alunos fizessem o seu texto PI-A
Para a reescrita ou PF-A a fim de auxiliar nossos alunos fomos construindo ao
longo do periacuteodo de aplicaccedilatildeo das aulas um quadro autoavaliativo que resultou nos itens
expostos no quadro a seguir
Quadro 5 ndash Quadro autoavaliativo
Seu texto Sim Natildeo
Partiu de uma situaccedilatildeo observadavivida
Conversa com o leitor
Possui o foco narrativo bem determinado (narrador personagem ou
narrador observador)
Leva o leitor a refletir
Causa impressotildees no leitor como riso choro reflexatildeo emoccedilatildeo
satisfaccedilatildeo
Possui um final interessante
Mostra discretamente ao leitor seu ponto de vista a respeito da situaccedilatildeo
Possui alguma descriccedilatildeo de lugarobjetopersonagem
Possui um tiacutetulo
Apresenta os acontecimentos de forma clara
Emprega adequadamente os sinais de pontuaccedilatildeo
Evita repeticcedilatildeo desnecessaacuteria de palavras
Possui paraacutegrafos bem organizados
Fonte Elaborado pela autora
O quadro nasceu da observaccedilatildeo das caracteriacutesticas constantemente presentes em
produccedilotildees de alunos com os quais trabalhamos A proposta era que os integrantes do projeto
avaliassem os proacuteprios textos atentando para estes aspectos mais baacutesicos
Desta forma vamos proceder a anaacutelise com a observaccedilatildeo da apropriaccedilatildeo das
caracteriacutesticas trabalhadas do gecircnero crocircnica literaacuteria sob uma oacutetica do processo de produccedilatildeo
oferecendo uma abordagem imitativa de produccedilatildeo de textos nas produccedilotildees iniciais e finais A
de 13 (treze) alunos cuja identificaccedilatildeo estaacute no quadro a seguir
Quadro 6 ndash Identificaccedilatildeo dos textos A dos alunos
Identificaccedilatildeo textoautor Tiacutetulo PI Tiacutetulo PF
Ana Ser chato ou natildeo ser eis a
questatildeo
Ser chato ou natildeo ser eis a
questatildeo
92
Rodrigo Pare de se criticar
Eduardo O amigo muito e muito chato Ser legal natildeo eacute ser chato
Estela Os chatos de antematildeo O tio chato de galocha
Ceacutelia Chata sim ou natildeo Chata sim ou natildeo
Arlindo Chato e natildeo eacute chato Chato e natildeo eacute chato
Juacutelia Ser chato ou ser legal Pessoas chatas e pessoas
legais
Vicente Aacute pergunta eacute se eu
bloquearia uma pessoa chata
Graccedila Rafaelly chata Chata ela ou EU
Lilian Meus amigos chatos e Eu Pessoas legais e chatas
Heloiacutesa ldquoChato mais eacute muito legalrdquo ldquoO melhor chatordquo
Eliane Um pouco de tudo O que e chato e o que e legal
Joana Pessoas chatas e outras legal Pessoas otimas Fonte Produzido pela autora
Esses textos foram produzidos em sala na folha de produccedilatildeo textual proacutepria
elaborada para a SD de forma manuscrita e os originais A encontram-se nos anexos Na seccedilatildeo
a seguir mostraremos o panorama das anaacutelises
53 Os textos dos alunos
Esta seccedilatildeo traz os textos dos alunos produzidos em dois momentos O primeiro que
chamamos de texto A composto de produccedilatildeo inicial A e produccedilatildeo final A foi o texto produzido
na primeira parte de nossa sequecircncia didaacutetica que vai ateacute o moacutedulo 2 (dois) e que ficou restrito
apenas ao trabalho em sala de aula O segundo foi o texto B com produccedilatildeo inicial B e produccedilatildeo
final B cuja produccedilatildeo jaacute visava agrave circulaccedilatildeo social das produccedilotildees
531 Produccedilotildees A textos apenas para o trabalho em sala de aula
Quadro 7 ndash Produccedilatildeo inicial Ana ndash Tiacutetulo Ser chato ou natildeo ser eis a questatildeo
1 O ldquochato da vezrdquo esse texto fez eu refletir bastante
2 sobre esse negocio de chatisse sabe eu natildeo acho que
3 ser chato seja um defeito ou muito menos uma qua-
4 lidade de sabe de uma coisa Eu nem ao menos sei o
5 que eacute ser chato mas se algueacutem me perguntar diria que
6 ser chato eacute apenas falar de um assunto pode ser sobre ele
7 ou sobre mim mas se for falado isso pra mim muitas ve-
8 zes isso pra mim eacute pura chatice mas sabe eu natildeo tiraria
9 nem evitaria ningueacutem mesmo sendo aquela amiga que so
93
10 sabe falar que ta doente e reclamar de noites mal dormi-
11 das sempre ateacute porque eacute o jeito dela e cada um oferece o
12 que tem para oferecer eu natildeo fico puxando o saco delas
13 mas evito elas sempre que posso Ateacute porque seria uma
14 chatice evita-la ou qualquer um outro chato Fonte Dados da pesquisa
O texto foi composto por um paraacutegrafo apenas Percebe-se que Ana o criou
atendendo ao que a instruccedilatildeo da atividade requer criar um texto que possa inspirar reflexatildeo
Poreacutem a aluna natildeo exatamente conduz seu leitor a refletir Ela jaacute parte de uma constataccedilatildeo sobre
a qual ela mesma refletiu e expotildee no texto suas conclusotildees Natildeo narra uma situaccedilatildeo
vividaobservada mas elenca o que lhe parecem procederes chatos ldquomesmo sendo aquela amiga
que so sabe falar que ta doente e reclamar de noites mal dormidas semprerdquo (linhas 9 a 11) A
aluna natildeo usou a estrateacutegia de inserir personagens que transparecessem seu ponto de vista ao
leitor Construiu seu texto em primeira pessoa ao modo de ldquoO chato da vezrdquo e demonstrou que
tinha consciecircncia de que seu texto seria lido por uma audiecircncia visto que lanccedila perguntas para
confirmaccedilatildeo ldquosaberdquo (linha 1) ldquosabe de uma coisardquo (linha 4) embora essa audiecircncia natildeo
coadune com a instruccedilatildeo
Quadro 8 ndash Produccedilatildeo final Ana ndash Tiacutetulo Ser chato ou natildeo ser eis a questatildeo
1 ldquoO chato da vezrdquo Um texto muito interessante
2 que fez eu refletir sobre esse negocio de chatisse um
3 assunto que eu ja tinha pensado bastante mas cheguei a
4 conclusatildeo de que natildeo deve ser considerado um defeito nem
5 uma qualidade chato quero dizer mas deve ser um a
6 coisa que vocecirc deve ser controlada sabe as vezes eacute ne-
7 cessario ter um pouco de chatisse
8
9 Ser chato na minha opiniatildeo natildeo teria um signi-
10 ficado especifico seria vaacuterias coisas como falar apenas de
11 um assunto coisas repetitivas sabe natildeo saber aceitar o jeito
12 das pessoas ao seu redor ser chato eacute natildeo saber relevar e ser
13 legal eacute o oposto pois se eu falasse se eu falasse ago-
14 ra as caracteriacutesticas das pesso legal esse texto ficaria cha-
15 to ca entre nos Fonte Dados da pesquisa
O texto reescrito agora compotildee-se de dois paraacutegrafos embora no trabalho de
discussatildeo e reapresentaccedilatildeo da mesma proposta a instruccedilatildeo indique entre 3 (trecircs) e 6 (seis)
paraacutegrafos
94
Mais uma vez a aluna elaborou seu texto visando ao que a instruccedilatildeo da atividade
requer um texto que possa inspirar reflexatildeo sem conduzir exatamente seu leitor a refletir mas
expondo uma constataccedilatildeo sobre a qual ela mesma refletiu
O primeiro paraacutegrafo inicia com frases que lembram o gecircnero resenha ldquoO chato da
vezrdquo Um texto muito interessante que fez eu refletir sobre esse negocio de chatisse (linhas 1 e
2)
O segundo paraacutegrafo que ela inicia nos daacute a pista de que ela retorna ao quesito de
letra a da atividade 7 que tem por funccedilatildeo sensibilizar e conduzir o aluno a compreender a
instruccedilatildeo que vai se apresentar definitivamente a partir do quesito de letra c e perde de vista
que seu texto deve ser composto dentro das caracteriacutesticas do gecircnero crocircnica Em lugar disso
ela o compotildee expondo sua opiniatildeo o que tange um outro gecircnero
O texto possui tiacutetulo como na PI e faz uma referecircncia intertextual agrave famosa frase
de William Shakespeare Ser ou natildeo ser eis a questatildeo
Ainda como na PI a aluna natildeo narra uma situaccedilatildeo vividaobservada elencando
em vez disso o que foi considerado chato nas discussotildees que a turma fez para tentar definir o
que era ser legal e ser chato como falar apenas de um assunto coisas repetitivas sabe natildeo
saber aceitar o jeito das pessoas ao seu redor ser chato eacute natildeo saber relevar (linhas 10 a 12)
Mais uma vez a aluna natildeo usou a estrateacutegia de inserir personagens que
transparecessem seu ponto de vista ao leitor Construiu seu texto em primeira pessoa ao modo
de ldquoO chato da vezrdquo mas frases como sabe (linha 11) e ca entre nos (linha 15) mostram que
houve sim uma preocupaccedilatildeo em conversar com o leitor transparecendo sua percepccedilatildeo de uma
audiecircncia como presente no texto da instruccedilatildeo bem como ao longo das crocircnicas lidas foram
ressaltadas foacutermulas de conversas com o leitor
A autora desenvolveu pouco seu texto e ainda buscou abreviaacute-lo visto que ldquose eu
falasse agora as caracteriacutesticas das pesso legal esse texto ficaria chato ca entre nosrdquo (linhas
14 e 15)
Natildeo houve para antes da reescrita um texto na folha de rascunho Foi feita a
refacccedilatildeo do texto diretamente na folha de produccedilatildeo havendo ainda problemas com a ortografia
e a pontuaccedilatildeo
No entanto Ana depois de seguir com o projeto e apurar um pouco mais o olhar
segundo ela mesma pediu para que deacutessemos nova oportunidade de leitura pois ela havia feito
uma nova reescrita ao final dos moacutedulos Essa reescrita de Ana estaacute na seccedilatildeo seguinte apoacutes o
teacutermino de todos os moacutedulos
95
Quadro 9 ndash Produccedilatildeo inicial Rodrigo ndash Tiacutetulo Pare de se criticar
1 Bom pessoal primeiro quero que vocecircs entendatildeo o
2 verdadeiro significado de ser chato e ser legal
3 antes de tudo Natildeo levem nada pro lado pessoal apenas
4 entenda Vamos comeccedilar
5
6 Uma pessoa chata por exemplo ela eacute cheia de
7 nheacute nheacute nheacute mas nem todo mundo eacute chato depende
8 de quem te acha chato concerteza ela tambeacutem natildeo eacute
9 a pessoa mais legal triloca ou radical do mundo Se
10 ela te acha chato foudaci o que importa eacute vocecirc se
11 acha legal Ai Deus quem dera tivesse um
12 botatildeo pra silenciar pessoas chatas leitor estaacute me ente-
13 ndendo uma pessoa chata ela pode ser chata
14 pra vocecirc mas pra mim natildeo entatildeo vai lagar de se
15 achar chato Cara vocecirc eacute mocirc legal pra muitas
16 pessoas deixa de se alto criticar
17
18 Voltando ao assunto se vocecirc tivesse um
19 botatildeo pra bloquear uma pessoa que tipo de pessoa
20 vocecirc bloquearia eu particularmente bloquearia
21 essas pessoas chatas que natildeo saien do meu peacute
22 entatildeo era soacute isso Seja mais legal consigo
23 mesmo Fui
24
25 Fim
26 Joinha
27 LIKE Fonte Dados da pesquisa
Construiacutedo em 3 (trecircs) paraacutegrafos de efetivo conteuacutedo entre as linhas 1 e 23 o texto
desse aluno busca fortemente o contato com sua audiecircncia como se vecirc em diversos exemplos
ldquoBom pessoalrdquo (linha 1) ldquoquero que vocecircs entendatildeordquo [sic] (linha 1) ldquoleitorrdquo (linha 12) ldquoestaacute
me entendendordquo (linhas 12-13) ldquoCara vocecirc eacute mocirc legalrdquo (linha 15) se vocecirc tivesse um botatildeo
(linhas 18-19) Seja mais legal consigo mesmo (linhas 22-23) Esse contato eacute influenciado pelos
diaacutelogos mais proacuteximos da oralidade que se apresenta nos textos usados para sensibilizar e
inspirar a produccedilatildeo inicial e que eacute uma caracteriacutestica do gecircnero trabalhado
No entanto seu texto natildeo se caracteriza como gecircnero crocircnica Percebemos que
lembra muito um roteiro de fala para viacutedeo do youtube ndash e sim o aluno autor do texto eacute youtuber
e tem um canal O aluno termina seu texto com claras referecircncias agrave esfera do discurso online
em que se tem interaccedilatildeo direta com o leitor Joinha LIKE (linhas 26 e 27) bem como um
96
elemento visual associado a essa multimodalidade que a internet permite que eacute a matildeo com
polegar para cima (linha 25) conhecido como thumbs up ou no Brasil joinha usado para
expressar contentamento com o conteuacutedo escrito o que corresponde ao perfil de audiecircncia dado
na instruccedilatildeo
Rodrigo faz muito uso da palavra chato o que pode sobrecarregar o texto Poreacutem
e como veremos a seguir na produccedilatildeo B do mesmo aluno a repeticcedilatildeo segundo ele eacute
caracteriacutestica sua para ldquoreforccedilar que a pessoa eacute chata professorardquo Apesar disso natildeo houve
uma definiccedilatildeo mais bem detalhada do que eacute o chato como os que ldquonatildeo saien do meu peacuterdquo (linha
21)
Haacute uma referecircncia no texto agrave primeira leitura feita em sala antes da PI que foi o
texto Prova Falsa Nas linhas 6-7 pode-se ler ldquonheacute nheacute nheacuterdquo como definiccedilatildeo do que eacute uma
pessoa chata e que no texto do Stanislaw Ponte Preta aparece como ldquoDesses cachorrinhos de
raccedila cheio de nheacutem-nheacutem-nheacutem que comem comidinha especial precisam de muitos
cuidados enfim um chato de galochardquo Por natildeo portar o texto em matildeos na hora da produccedilatildeo
entendemos entatildeo que o aluno Rodrigo fixou o vocaacutebulo corrente na oralidade (nheacutem-nheacutem-
nheacutem) ao conceito (muito chato chato de galocha) causando um saldo positivo em sua escolha
Quadro 10 ndash Produccedilatildeo final Rodrigo ndash Tiacutetulo
1 bom dia boa tarde e boa noite depende
2 da hora em que estiver lendo isso
3 Hoje eu vou falar um pouco sobre pessoas
4 chatas e pessoas legais se estiver pronto vamos laacute
5
6 Primeiro reflita uma coisa vocecirc leitor se
7 considera chato Antes de dizer vocecirc precisa saber
8 a diferenccedila entre ser legal e ser chato vou explicar
9
10 Uma pessoa legal eacute aquela que sabe te
11 ouvir dar sua opiniatildeo na hora certa e saber
12 reconhecer seus erros mas chega um devido ponto
13 que vocecirc tenta ser tatildeo legal que chega a ser chata
14 mas existe uma diferenccedila entre essas duas coisas
15 estaacute entendendo leitor Suponhamos que exista
16 um botatildeo de bloquear pessoas igual aquele do
17 Whatsapp quem vocecirc bloquearia seus amigos
18 Seus familiares Seus colegas Ou as pessoas chatas
19 Hahahahaha jaacute sei a resposta entatildeo isso facilitaria
20 muito sua vida neacute
21
22 bom espero ter ajudado a saber a
97
23 diferenccedila entre essas duas coisas en em breve
24 farei outro texto para explicar um pouco
25 melhor valeu falou e fui
26
27 Fonte Dados da pesquisa
Nessa versatildeo de reescrita do texto vimos que o aluno natildeo colocou o tiacutetulo
Acreditamos que ele natildeo tenha lembrado visto que na PI foi atribuiacutedo um tiacutetulo a seu texto
Natildeo houve para antes da reescrita um texto na folha de rascunho O aluno afirmou
que gostava de desenhar e permitimos que ele fizesse o que lhe fosse mais confortaacutevel para
liberar a criatividade apoacutes a conversa com a turma em busca da compreensatildeo do que eacute ser legal
ou ser chato A refacccedilatildeo do texto foi feita diretamente na folha de produccedilatildeo havendo ainda
alguns problemas com a ortografia e a pontuaccedilatildeo poreacutem com bom uso das interrogaccedilotildees para
conduzir o leitor por seus questionamentos o autor buscou uma aprovaccedilatildeo para o tema que
expotildee
Natildeo houve neste texto a presenccedila da narraccedilatildeo de uma situaccedilatildeo vividaobservada
Rodrigo mencionou algumas situaccedilotildees discutidas na sala antes da reescrita que falavam sobre
o que eacute ser chato e o que eacute ser legal Na linha 19 houve uma quebra e expectativa pois o trecho
ldquoHahahahaha jaacute sei a respostardquo natildeo deixa claro realmente qual a resposta
Percebemos tambeacutem a utilizaccedilatildeo de siacutembolos em seu texto ao final Esse recurso
multimodal eacute caracteriacutestico da forma de interaccedilatildeo existente nas redes sociais e o aluno por
entender na instruccedilatildeo que o texto eacute direcionado a um leitor de sua idade e que lecirc e faz postagens
e comentaacuterios com frequecircncia empregou iacutecones de maneira natural em seu texto Entendemos
aqui que ele considerou a audiecircncia determinada na instruccedilatildeo
Quadro 11 ndash Produccedilatildeo inicial Eduardo ndashTiacutetulo O amigo muito e muito chato
1 Nossa meus amigos satildeo chatos
2 ou seraacute que eacute eu mesmo que sou
3 completamente chato Natildeo sei mas se
4 sou o que eu faccedilo de errado pra ser chato
5
6 Tive uma amizade que era muito
7 bacana uma convivencia boa para se
8 viver mas passando alguns tempo
9
10 Ficou absurdamente chato ficou
11 muito muito muito chata vivia na
98
12 minha casa Iria conpletamente na minha
13 casa nas horas enproprias era chato
14
15 Mas um dia fiquei dando indiretas
16 para ele dizendo ldquoQue mamatildee mandou arruma
17 a casardquo essa coisas assim
18
19 Um dia disse para ele ldquoTou meio
20 oculpadordquo ai ele disse ldquoVocecirc eacute muito chatordquo
21 e saiu de casa sem olhar para traacutes
22
23 Mas ai ele foi que ficou mais chato
24 ainda Tocava a campainha de casa e
25 saia correndo
26
27 Se desse de broqueiar ele na vida
28 real eu broqueiava Vocecirc faria o mesmo
29 leitor Fonte Dados da pesquisa
A PI apresenta o ponto de vista do autor sobre o que eacute ser chato ldquovivia na minha
casa Iria completamente na minha casa nas horas enproprias era chatordquo (linhas 11-13) poreacutem
natildeo explicita o que eacute ser legal deixando essa lacuna para o leitor Apesar disso EDUARDO
parte de uma situaccedilatildeo vividaobservada que era essa relaccedilatildeo com seu amigo
O texto estaacute organizado em 7 (sete) paraacutegrafos No entanto o 2ordm e o 3ordm paraacutegrafos
poderiam estar unidos pela temaacutetica14 assim como o 5ordm e o 6ordm paraacutegrafos O uso do conectivo
mas foi inadequadamente empregado no 4ordm paraacutegrafo (Mas um dia fiquei dando indiretas para
ele) (linhas 15-16) A repeticcedilatildeo da expressatildeo temporal um dia no iniacutecio do 4ordm e do 5ordm paraacutegrafos
sucessivamente natildeo permite claramente ao leitor saber se as situaccedilotildees aconteceram no mesmo
dia ou em dias distintos
Percebemos o emprego da 1ordf pessoa como a voz que fala no texto um narrador-
personagem que se comunica tanto com outro personagem por meio de discurso indireto livre
(ai ele disse ldquoVocecirc eacute muito chatordquo) (linha 20) quanto com o leitor ldquoVocecirc faria o mesmo leitorrdquo
(linhas 28-29) demonstrando consciecircncia de que existe uma audiecircncia e embora natildeo mostre
claros exemplos ainda assim atende agrave instruccedilatildeo de que essa mesma audiecircncia deve ser um
puacuteblico que estaacute antenado nas redes sociais ldquoSe desse de broqueiar ele na vida real eu
broqueiavardquo (linhas 27-28)
14 Cf seccedilatildeo Escrita na escola
99
Quadro 12 ndash Produccedilatildeo final Eduardo ndashTiacutetulo Ser legal natildeo eacute ser chato
1 Ser legal eacute oacutetimo mas vocecirc
2 pode esta achando que taacute sendo
3 muito legal mas a pessoa
4 que vocecirc ta sendo legal natildeo
5 pode ta achando vocecirc muito legal
6 mas sim chato
7
8 Vocecirc indo na casa do seu
9 amigo toda hora pode ser legal
10 para ele mas para seu amigo natildeo
11
12 Coisas demais natildeo eacute tatildeo
13 legal E vocecirc leitor tem alguma
14 coisa engual a isso
15
16 LEGAL X CHATO
Fonte Dados da pesquisa
Nessa reescrita do texto apoacutes as sugestotildees percebemos que o aluno fez natildeo uma
nova versatildeo do primeiro texto mas uma resposta agraves discussotildees realizadas na sala antes do
momento de escrita Pedimos ao grupo como um todo que levasse em conta o que eacute ser legal
e o que eacute ser chato e desses exemplos praacuteticos partindo de situaccedilotildees vividasobservadas
Enquanto a professora-pesquisadora atendia outros alunos que natildeo haviam compreendido
claramente as sugestotildees dadas agraves suas PI o aluno Estela elaborou 3 (trecircs) paraacutegrafos que
condensam sua situaccedilatildeo descrita na PI natildeo utilizando diaacutelogos nem personagens apesar de
ainda se dirigir ao leitor (ldquoE vocecirc leitorrdquo) (linha 13) Houve uma perda da qualidade do texto
por causa de uma provaacutevel falta de compreensatildeo da tarefa a ser realizada na sala
Quadro 13 ndash Produccedilatildeo inicial Estela ndash Tiacutetulo Os chatos de antematildeo
1 Certo dia observei dois amigos conversando
2 Marcelo e Camila quase todos os dias Marcelo
3 e Camila quase todos os dias eles ldquobrigavamrdquo
4 ficavam de ldquomalrdquo como os jovens de hoje falam
5
6 O motivo dessas brigas era apenas pelo fato
7 de Marcelo dizer a Camila que ela era uma
8 chata e ela como todos os ldquochatosrdquo natildeo
100
9 admitiam ser chatos neacute
10
11 E vocecirc se por acaso algueacutem chamaacute-lo de chato
12 O que vocecirc faria
13
14 Eu natildeo era muito ldquoamigardquo deles mas na real
15 dava uma vontade de chegar e dizer-lhes ldquo
16 Por favor natildeo sejam tatildeo ridiacuteculos os dois
17 satildeo uns chatosrdquo
18
19 Mas como eacute errado intrometer-se nas conversas
20 dos outros resolvi natildeo dizer nada
21
22 Passaram-se semanas e eles sempre continuavam
23 com isso
24
25 Entatildeo resolvi fazer algo para que evitasse
26 essas ldquobrigasrdquo cotidianas
27
28 Natildeo falei nada pessoalmente mas sim por uma
29 rede social e mandei a seguinte mensagem
30
31 ldquoDesculpe-me por intrometer-me na amizade
32 entre vocecirc e Marcelo mas essa chatice que
33 haacute entre vocecirc e seu amigo estaacute me incomoda-
34 do aacute dias Pelo fato de vocecirc e seu amigo
35 ficarem pegando no peacute um do outro na
36 minha opiniatildeo vocecircs deveriam conversar
37 civilizadamente e aceitarem uns aos outros
38 da maneira que vocecircs satildeo E soacute issordquo
39
40 Dias depois dessa conversa observei-os aten-
41 tamente e percebi que havia uma grande diferenccedila
42 entre eles na qual eles estavam interagindo
43 se entendendo se aceitando
44
45 E entatildeo os dois aproximaram-se de mim e
46 agradeceram pelo conselho
47
48 Fiquei super feliz de tecirc-los ajudados
49 Na minha opiniatildeo chatice eacute algo que a
50 pessoa tem de natureza um certo
51 estado de espiacuterito
52
53 E se isso natildeo resolvesse tentaria bloqueaacute-
54 -los tentaria parar de dar atenccedilatildeo graccedilas
55 a Deus eles pararam
56
101
57 Ufa Pelo menos no final eles foram legais uns com os outros
58
59 Fim Fonte Dados da pesquisa
Apresentando-se como a mais extensa das produccedilotildees iniciais esta PI possui 14
(quatorze) paraacutegrafos Alguns poderiam ser condensados de modo a deixar as ideias agrupadas
(o 4ordm e o 5ordm o 6ordm o 7ordm e o 8ordm) Ou entatildeo poderia ter havido nova reescrita de alguns periacuteodos de
modo a condensar as informaccedilotildees Poreacutem para tal lembramos Serafini (2003) que afirma que
para escritores inexperientes essa estrateacutegia de periacuteodos mais curtos ajuda melhor a organizar
o pensamento Essa aluna produziu um rascunho antes de passar a limpo para a folha de
produccedilatildeo textual oficial
Demonstrando certo domiacutenio no uso dos pronomes pessoais obliacutequos como se pode
ver em diversos exemplos ao longo do texto ldquochamaacute-lordquo (linha11) ldquoe dizer-lhesrdquo (linha 15)
ldquoeacute errado intrometer-serdquo (linha 19) fez um emprego inadequado quando usou de pronome
relativo (na qual) (linha 42) possivelmente tentando o registro culto da liacutengua
Nesse texto se percebe o uso do discurso indireto (ldquoE entatildeo os dois aproximaram-
se de mim e agradeceram pelo conselhordquo) (linhas 45-46) As marcas de conversa com o leitor
podem ser vista em ldquoneacuterdquo (linha 9) e ldquoE vocecirc se por acaso algueacutem chamaacute-lo de chato O que
vocecirc fariardquo (linhas 11-12 A autora assume um ponto de vista e narra para uma audiecircncia
correspondendo ao requisitado na instruccedilatildeo
Como a instruccedilatildeo de produccedilatildeo determina o perfil do leitor como sendo um
adolescente que acessa redes sociais a autora coloca como soluccedilatildeo ao conflito de constantes
brigas entre o casal de amigos adolescente o envio de uma mensagem por rede social falando
inclusive que os bloquearia caso continuassem chatos O texto assemelha-se a um conto
inclusive pela forma como a autora encerra seu texto ldquoFimrdquo (linha 59) Quanto a despertar no
leitor uma reflexatildeo podemos dizer que A4 estaacute no caminho e que um trabalho mais detido
sobre esse texto poderia melhorar a qualidade dessa reflexatildeo
Quadro 14 ndash Produccedilatildeo final Estela ndashTiacutetulo O tio chato de galocha
1 As feacuterias chegaram e como em todas as feacuteria-
2 s eu partia em uma ldquoincriacutevel aventurardquo (pra
3 natildeo dizer o contraacuterio) a casa dos meus
4 tios na qual eacute um verdadeiro desastre
5 Ter que acordar com o ldquocantar dos galosrdquo
6 como dizem os mais velhos em clima de
102
7 discussatildeo affseacute uma verdadeira cha-
8 tice eu odiava ter que estragar minhas
9 maravilhosas feacuterias convivendo com eles
10 Eles discutiam ateacute pelo simples fato de cair
11 farelos de comida no chatildeo eu odiavaaa
12 E vocecirc leitor aguentaria toda essa chatice
13
14 O que vocecirc faria em relaccedilatildeo a essa situaccedilatildeo
15
16 Jaacute haviam se passado mais da metade das
17 feacuterias eu estava orando agrave Deus para que
18 esses dias infernais ao lado dos meus ti-
19 os acabassem e tambeacutem que titio Luiacutes
20 parasse de reclamar por eu comer muito
21 e parar de ficar assistindo programas
22 ateacute tarde da noite eu achava um exagero
23 eacute oacutebvio pois eram ldquofeacuteriasrdquo e nas feacuterias
24 acostumamos ficar distantes de tarefas
25 escolares de tudo que nos lembrar a
26 escola (rsrsrs)
27
28 O meu tio tambeacutem dizia que eu precisa-
29 va de educaccedilatildeo que os meus pais natildeo
30 me educaram adequadamentee eu natildeo
31 podia resmungar porque se meus pais
32 soubessem que me comportei mau eu iria
33 ficar ferrado E entatildeo mais dias infernais
34 se passaram e graccedilas a Deus as feacuterias
35 terminaram e natildeo tive mas que ver
36 presenciar aquele meu chato e insupor-
37 taacutevel tio
38
39 Pra mim ser chato e ser legal eacute
40 Ser legal Ser chato
41 Saber ouvir Criticar os outros
42 Dar comida Reclamar de tudo
43 Ser sincera Daacute importacircncia demais ao que dizem
44 Ter bom coraccedilatildeo Ser falso
45 Ajudar as pessoas Ser preconceituoso
46 Aceitar diferenccedilas
47
48 E o que vocecircs leitores acham o que
49 eacute ser ou natildeo legal Fonte Dados da pesquisa
Concentrada em 6 (seis) paraacutegrafos a reescrita ganhou alguns pontos mais
interessantes para se aproximar da crocircnica literaacuteria Partiu de uma situaccedilatildeo vivenciada
103
conduziu o leitor a compreender seu ponto de vista sobre o que era ser chato No entanto o
texto se distanciou da proposta da instruccedilatildeo no sentido de falar tambeacutem o que eacute legal natildeo
somente chato e lembrar do botatildeo de bloqueio da vida real
O 5ordm paraacutegrafo se tornou uma enumeraccedilatildeo das caracteriacutesticas do ser legal e ser chato
e deixou de narrar ou descrever uma situaccedilatildeo ou personagem
Uma caracteriacutestica da linguagem coloquial encontrada foi o uso da expressatildeo ldquoTer
que acordar com o lsquocantar dos galosrsquo como dizem os mais velhosrdquo (linhas 5-6) atribuindo a
frase agrave sabedoria popular Outras marcas tiacutepicas de coloquialidade utilizadas inclusive em meio
digital nos bate-papos foram a escrita de expressotildees com notaccedilotildees como ldquoaffsrdquo (linha 7)
para demonstrar aborrecimento ldquoodiavaaardquo (linha 11) estendendo as vogais para mostrar a
insatisfaccedilatildeo prolongada o frequente uso de aspas para indicar ironia ldquoeu partia em uma lsquoincriacutevel
aventurarsquordquo seguido de uma explicaccedilatildeo entre parecircnteses
Nessa produccedilatildeo a aluna tambeacutem natildeo empregou adequadamente o pronome relativo
ldquona qual eacute um verdadeiro desastrerdquo como se vecirc na linha 4
Quadro 15 ndash Produccedilatildeo inicial Ceacutelia ndashTiacutetulo Chata sim ou natildeo
1 Um dia uma amiga minha me pergun-
2 tou ndash Eu sou chata Responde ndash Sim as vezes
3 Mas o problema foi que ela natildeo aceitou a
4 verdade e saiu furiosa comigo
5
6 Mas me responde leitor se algueacutem viesse
7 te pergunta se ela eram chata o que vocecirc
8 responderia O problema e que nem todos
9 gostam de escuta a verdade
10
11 Aconteceu que um dia um colega disse
12 que eu era chata no comeccedilo fiquei com
13 um pouco de raiva Mas passou por que
14 parei eacute pensei e verdade sou chata Mas
15 mesmo assim sedo chata sim ou natildeo
16 a reciacuteproca era verdadeira
17
18 Chata sim ou natildeo uma pergunta que
19 eu mesmo me fiz vou acabar por aqui
20 antes que eu comece a fica chata de
21 vez Fonte Dados da pesquisa
104
O texto foi composto em 4 (quatro) paraacutegrafos atendendo agrave instruccedilatildeo A voz que
narra estaacute em 1ordf pessoa e dialoga diretamente com um personagem (linhas 1 e 2) Haacute um contato
direto com o leitor atraveacutes de frases como ldquoMas me responde leitorrdquo (linha 6) e ldquoO que vocecirc
responderiardquo (linhas 7-8)
A autora parte de uma situaccedilatildeo vividaobservada ndash na verdade haacute mais de uma
situaccedilatildeo ndash como vemos em ldquoUm dia uma amiga minha me perguntourdquo (linhas 1-2) e ldquoAconteceu
que um dia um colega disse que eu era chatardquo (linhas 11-12) No entanto natildeo segue a proposta
da instruccedilatildeo que eacute falar sobre o que eacute ser legal e ser chato Natildeo haacute exemplificaccedilotildees para que o
leitor entenda o ponto de vista da autora apenas situaccedilotildees em que disseram que ela e chata ou
sua amiga eacute chata Natildeo haacute tambeacutem menccedilatildeo ao ldquobloqueiordquo da vida real aos que satildeo chatos
Haacute alguns problemas quanto agrave ortografia e tambeacutem confusatildeo quanto ao emprego
dos sinais de pontuaccedilatildeo adequados
Quadro 16 ndash Produccedilatildeo final Ceacutelia ndash Tiacutetulo Chata sim ou natildeo
1 Um dia uma amiga minha me per-
2 guntou ndash Eu sou muito chata Responde ndash Sim
3 as vezes Mas o problema foi que ela natildeo
4 gostou de sabe em saiu furiosa comigo e
5 natildeo deixo eu termina de falar
6
7 Mas outro dia ela veio para me pedi des-
8 culpas eacute eu disse ndash natildeo precisa eacute como eu dizia
9 vocecirc e chata mais as vezes quando vocecirc natildeo
10 falando demais ou falando coisas se graccedila Eacute
11 ela disse ndash Eacute mesmo eacute sorriu
12
13 Mas me responde leitor se algueacutem viesse te
14 pergunta se ela era chata o que vocecircs respon-
15 deria O problema eacute que nem todos gostam de es-
16 cuta a verdade
17
18 Aconteceu que um dia um colega disse
19 que eu era chata no comeccedilo fiquei com um
20 pouco de raiva Mas passou porque parei eacute
21 pensei e verdade sou chata Mais mesmo assim
22 sedo chata sim ou natildeo a reciacuteproca era
23 verdadeira
24
25 Chata sim ou natildeo uma pergunta que
26 eu mesmo me fiz bom vou parar por aqui
27 antes que eu comece a fica chata de vez Fonte Dados da pesquisa
105
O texto reescrito foi composto em 5 (cinco) paraacutegrafos o que estaacute dentro do
previsto pela instruccedilatildeo Alguns problemas quanto agrave ortografia e tambeacutem confusatildeo quanto ao
emprego dos sinais de pontuaccedilatildeo adequados permaneceram como em ldquoUm dia minha amiga
me perguntou ndash Eu sou muito chatardquo em que foi feito uso de exclamaccedilatildeo em vez de
interrogaccedilatildeo
Foi mantida a voz que narra (1ordf pessoa) e o diaacutelogo com um personagem ndash a amiga
(linhas 1 e 2) se faz em forma de discurso direto embora natildeo devidamente paragrafado poreacutem
fazendo uso de travessotildees o que eacute um avanccedilo
O segundo paraacutegrafo (linhas 7 a 11) foi inserido a partir da sugestatildeo que fizemos
para a aluna Era interessante que ela acrescentasse em seu texto algo que exemplificasse o que
ela considera como ser legal e ser chato Atendendo agrave sugestatildeo a aluna mostra discretamente
seu ponto de vista na frase ldquovocecirc e chata mais as vezes quando vocecirc natildeo falando demais ou
falando coisas se graccedilardquo (linhas 9-10)
O contato direto com o leitor permanece como na PI atraveacutes de frases como ldquoMas
me responde leitorrdquo (linha 13) ndash cuja pontuaccedilatildeo nessa reescrita foi melhorada pela sugestatildeo ndash
e ldquoO que vocecirc responderiardquo (linhas 14-15) Natildeo foi atendida a instruccedilatildeo no tocante ao botatildeo
de bloqueio na vida real
A autora emprega em seu texto a frase ldquobom vou parar por aquirdquo (linha 26)
caracteriacutestica de uma conversa informal Esse uso da oralidade como em conversas eacute marca do
gecircnero crocircnica
Quadro 17 ndash Produccedilatildeo inicial Arlindo ndash Tiacutetulo Chato e natildeo eacute chato
1 Eu natildeo gosto daquela pessoa que
2 jaacute chegada pensando que jaacute pode falar
3 todo que pensa pra mim as pessoas
4 que pega celular para falar besteira nas
5 redes sociais essas pessoas eu natildeo gosto
6
7 agora aquelas pessoas que satildeo bem
8 calmas nas redes sociais ai eu gosto
9 por que sabem conversar saber puxar
10 intimidade fazem a gente rir e noacutes nos
11 trazem conforto e nos fazem saber que
12 a pessoa com quem a gente conversar
13 natildeo eacute uma maacute pessoa Eacute muito
14 bem amigo nos faz feliz
15
106
16 agora as pessoas que eu bloqueio
17 satildeo aquelas pessoas que natildeo sabem
18 conversar falatildeo de qualquer jeito
19 puxa assunto que eu natildeo gosto
20 por isso eu bloqueio essas pessoas
21 redes sociais eacute pra procurar
22 amigo e ais vezes eacute pra respeitar Fonte Dados da pesquisa
Ao ler o texto de Arlindo vemos que ele trata do assunto pedido na instruccedilatildeo e tem
em mente a audiecircncia pretendida que acessa redes sociais No entanto natildeo alcanccedila o leitor
envolvendo-o na conversa narrando-lhe as situaccedilotildees apenas elenca as situaccedilotildees que lhe satildeo de
agrado e desagrado mostrando o que para ele eacute ser chato e ser legal
Os trecircs paraacutegrafos que compotildeem o texto se organizam de modo a mostrar o que o
autor natildeo gosta o que gosta e o porquecirc de bloquear pessoas ndash mas na rede social natildeo fazendo
o comparativo com a vida real
Quadro 18 ndash Produccedilatildeo final Arlindo ndash Tiacutetulo Chato e natildeo eacute chato
1 Chato eacute uma pessoa botar besteira
2 no Facebook Por que isso eacute muito chato e
3 horriacutevel todo mundo ver vai laacute e comentar
4 mal do video ser legal eacute aquela pessoa que
5 vai laacute na casa da pessoa te daacute presente
6 sem vocecirc pedir nada sem vocecirc falar nada
7 no final soacute agradecer e ser feliz com o presente e
8 depois no outro dia soacute retribuir
9
10 Meu caro amigo legal e chato eacute
11 ser como uma pedra ajuda a parar o
12 tracircnsito e depois eacute chato porque as
13 pessoas tropeccedilam nelas e meus irmatildeos
14 legal e chato satildeo quase a mesma coisa
15 soacute que satildeo meios diferentes eu vou te
16 explicar
17 Ser chato eacute coisa possiacutevel e ser legal eacute
18 coisa quase impossiacutevel Fonte Dados da pesquisa
O aluno Arlindo manteve seu tiacutetulo e percebemos que a explicaccedilatildeo para o mesmo
seria transmitir a ideia de ldquochato e natildeo chatordquo ndash ou legal O verbo ser que aparece no tiacutetulo
como eacute deveria ter sido empregado de outra maneira como quando sugerimos ldquoEacute chato e natildeo
107
eacute chatordquo ou ldquoO que eacute chato e o que natildeo eacute chatordquo ou ldquoChato e legalrdquo No rascunho que Arlindo
fez ele empregou como tiacutetulo provisoacuterio ldquoO que eacute chato e o que eacute legalrdquo Poreacutem na hora de
passar a limpo e entregar permaneceu o tiacutetulo original
O autor Arlindo manteve seu foco nas redes sociais como indica a instruccedilatildeo e
amplia um pouco as ideias a partir das discussotildees que aconteceram na aula durante a
tempestade de ideias a fim de redespertar o olhar dos alunos para partirem de situaccedilotildees
vividasobservadas Nas linhas de 10 a 13 ele faz uma comparaccedilatildeo com a pedra fruto da
discussatildeo preacutevia Dependendo do ponto de vista a pedra pode ajudar bem como pode
atrapalhar Poreacutem nas linhas 15 e 16 Arlindo fica de explicar o porquecirc de ser chato e ser legal
serem quase a mesma coisa e termina o texto abruptamente sem desenvolver suas ideias
Houve uma evoluccedilatildeo no tocante agrave conversa com o leitor Embora Arlindo natildeo tenha
claro se sua audiecircncia eacute uma pessoa soacute (linha 10 Meu caro amigo) ou um grupo de pessoas
(linha 13 e meus irmatildeos linhas 15 e 16 eu vou te explicar) ele jaacute a chama a prestar atenccedilatildeo
no que estaacute se propondo a dizer em seu texto
Quadro 19 ndash Produccedilatildeo inicial Juacutelia ndash Tiacutetulo Ser chato ou ser legal
1 Ai meu Deus tou de saco cheio de tantos amigos
2 chatos eles ficam com chatice toda hora
3 se na vida tivesse um botatildeo para bloquear
4 as pessoas chatas seria otimo pelomenos
5
6 Eu ficaria com menos pessoas chatas ao
7 meu redor Ai soacute ficaria as pessoas
8 legais
9
10 Eu chamo meus amigos de chatos mais
11 eu gosto deles assim mesmo Eu chamo
12 meus amigos de chatos e eles me chamam
13 de chata tambeacutem e se existisse o botatildeo
14 de bloquear Eu ia ser bloqueada tambeacutem
15 Mesmo se existisse o botatildeo muitas pessoas
16 iam mudar de comportamento eles iriam
17 querer ser legais para natildeo serem bloque-
18 ados Eu mesma ia mudar de atitudes
19 com meus amigos Eu natildeo ia mais
20 ser chata como vaacuterias pessoas me
21 chama Fonte Dados da pesquisa
108
Na linha 1 vemos que a aluna utilizou a expressatildeo Ai meu Deus retirada do texto
trabalhado e que daacute suporte agrave instruccedilatildeo A aluna faz uso da linguagem coloquial na mesma linha
(tou de saco cheio) caracteriacutestica permitida na abordagem de nossas crocircnicas literaacuterias
Eacute interessante perceber que Juacutelia apoacutes se avaliar como chata faz uma reflexatildeo
(linhas 13-14 ldquoe se existisse o botatildeo de bloquear Eu ia ser bloqueada tambeacutemrdquo) E trata da
questatildeo falando de possiacuteveis alteraccedilotildees no comportamento das pessoas incluindo o seu proacuteprio
No entanto apesar de ela levantar essa reflexatildeo natildeo a direciona diretamente ao leitor poreacutem
tem em mente mesmo que superficialmente que sua audiecircncia estaacute nos paracircmetros indicados
pela instruccedilatildeo visto que menciona o botatildeo de bloquear caracteriacutestico de ambientes virtuais
sendo conhecido portanto de pessoas que tecircm acesso ao mundo digital
Quadro 20 ndash Produccedilatildeo final Juacutelia ndash Tiacutetulo Pessoas chatas e pessoas legais
1 Como existem pessoas chatas que ficam
2 dando bola para o que as pessoas falam
3 fica reclamando da vida e tambeacutem quer tudo
4 do seu jeito Natildeo daacute certo ser amiga desse
5 tipo de pessoa
6
7 Prefiro aqueles amigos que sabe lidar
8 comigo que datildeo carinho e que natildeo fique
9 reclamando de tudo e que natildeo sabe relevar
10 os problemas como se nada tivesse acontecendo
11
12 Eu gosto daquelas pessoas que chamam os
13 amigos para um passeio isso sim eacute ser
14 legal tem alguns tipos de amigos que fazem
15 de tudo pra ver seus amigos felizes
16
17 existem alguns amigos que falam
18 com vocecirc uma hora e depois taacute falando
19 mal de vocecirc esse tipo de pessoa faz isso
20 porque eacute falso e tem inveja soacute porque
21 vocecirc eacute feliz com seus amigos e ele (a)
22 natildeo
23
24 e vocecirc leitor Vocecirc eacute chato ou legal
25 Eu tenho poucos amigos mas os que
26 tenho satildeo os melhores
27
28 as pessoas gostam de vocecirc como
29 vocecirc eacute ou natildeo
30
31 Existem ateacute aquele tipo de pessoa
109
32 que humilha as pessoas nas redes
33 sociais pessoas que fazem bullying
34 com outras pessoas esse tipo de pessoa
35 satildeo muito chatas Fonte Dados da pesquisa
A aluna produziu sua nova versatildeo de texto sobre as discussotildees em sala de aula que
antecederam esse momento da reescrita Os alunos determinaram exemplos do que seria ser
legal e ser chato e ela os aproveitou na enumeraccedilatildeo em seu texto No entanto de alguma forma
Juacutelia imprimiu sua reflexatildeo pessoal sobre o que eacute legal e o que eacute chato Nas linhas 1-5 ela afirma
o quatildeo difiacutecil eacute ser amiga de pessoas que atribuem muita importacircncia ao que outras pessoas
dizem que ficam reclamando da vida e tambeacutem querem tudo do seu jeito Nas linhas 7-10 e
12-15 ela explicita suas preferecircncias por pessoas que considera legais e exemplifica Nas linhas
17-22 Juacutelia diz que tipo de pessoas satildeo chatas novamente
Poreacutem o que parece ter acontecido eacute que Juacutelia natildeo teria ainda compreendido que
era para partir de uma experiecircncia vivida ou observada aprofundando-se um pouco mais na
narrativa
Ao todo o texto comporta agora 7 paraacutegrafos que poderiam ter sido mais bem
organizados Nas linhas 24-29 A7 aborda sua audiecircncia diretamente tratando-a por vocecirc
lanccedilando-lhe perguntas Esse seria o momento em que o texto acabaria poreacutem convidada a
reler mais uma vez a autora percebeu que natildeo abordou a proposta da instruccedilatildeo que era bloquear
os chatos da vida real nem havia tambeacutem abordado questotildees tocantes agraves redes sociais
finalizando portanto com um paraacutegrafo que fizesse o resgate ainda a tempo mesmo que
perdendo um pouco do ritmo do texto
Quadro 21 ndash Produccedilatildeo inicial Vicente ndash Tiacutetulo A pergunta eacute se eu bloquearia uma pessoa chata
1 Bom gente vocecirc bloquearia uma pessoa
2 chata que bertuba-se voccedilecirc nas redes
3 sociais
4
5 A pergunta eacute se eu bloquearia uma pess-
6 oa chata ovio que sim por que Por que
7 se eu natildeo bloqueaccedile essa pessoa ia ficar
8 mim perturbandando ai eu ia ficar com
9 muita raiva ai eu ia falar aquelas coisas
10 maeducada como xingar fala coisas que natildeo
11 pode falar porisso eu bloquei essa pessoa
12 ai ateacute que foi bom bloquear essa pessoa
110
13 por que ela natildeo ia ficar mim perturbando natildeo
14 ia ficar falando como tomar certas liberdades
15 mas chegou uma hora que natildeo deu bloquei o
16 sujeito Estava chato demais Xxxx
17
18 Uma pessoa chata eu sou uma pessoa
19 chata por que quando eu estou no whats
20 natildeo tem nenhuma pessoa olaine eu fico man-
21 dando mensagens pra essas pessoa ai essa pes-
22 soas natildeo gosta e fala que eu sou chato triste
23 neacute kkkk Fonte Dados da pesquisa
Parece-nos que Vicente tem por meacutetodo iniciar a escrita de seu texto respondendo
diretamente agrave pergunta que foi feita na instruccedilatildeo e fazendo disso seu tiacutetulo inclusive Serafini
(2003 p 71) chama a esse tipo de paraacutegrafo de introduccedilatildeo-enquadramento (cf na seccedilatildeo sobre
escrita) O texto inteiro possui 3 (trecircs) paraacutegrafos
Nas linhas 14 a 16 vemos que houve coacutepia de excertos do texto motivador O chato
da vez (ldquotomar certas liberdadesrdquo ldquomas chegou uma hora que natildeo deurdquo ldquobloquei o sujeito
Estava chato demaisrdquo)
No iniacutecio do texto logo nas linhas 1-2 Vicente tem em mente uma audiecircncia como
vemos em ldquoBom gente vocecirc bloquearia uma pessoa chata que bertuba-se voccedilecirc nas redes
sociaisrdquo Poreacutem o aluno natildeo define se vai falar a um grupo (gente) ou a uma pessoa soacute (vocecirc)
Para atender agrave instruccedilatildeo Vicente trata de situaccedilotildees vividas em ambiente online quando se
refere ao aplicativo de interaccedilatildeo (linha 19 ldquoquando eu estou no whatsrdquo) fala do envio de
mensagens e traz um elemento multimodal ao final de seu texto (linha 23 ldquokkkkrdquo) que
caracteriza a gargalhada frequentemente usada em conversas online
Quadro 22 ndash Produccedilatildeo final Vicente ndash Tiacutetulo
1 Bom uma pessoa legal eacute ter paciensia
2 criativa uma pessoa legal animada inteligente
3 adoraveu feliz simpatica bom humor natildeo ser
4 groseiro com as pessoas simpatica conversar com
5 as pessoas legal
6
7 Ser chato Eacute uma pessoa que faz varias
8 perguntas como quando onde que horas etc
9 ser chato e pegar no peacute de varias pessoas e ser
10 ensorportavel pessoas chatas deveriam refletir
11 sobre a paciecircncias das outras pessoas uma
111
12 pessoa que tem pouca paciecircncia e bem
13 difiacutecil conviver com uma pessoa chata
14
15 Um chato ser legal e muito estranho
16 para queacutem conhece uma pessoa chata e bem
17 dificil ele ser legal soacute se acontecer aguma
18 coisa para ele ser legal um dia uma meni-
19 na ficou fazendo vaacuterias perguntas sobre a minha
20 vida natildeo gostava das perguntas que ela fazia
21 e falei coisa que natildeo devia no outro dia eu notei
22 o comportamento dela estava estranho tipo compor-
23 tada legal uma pessoal de bom humor natildeo parecia
24 com ela estava estranha e foi indo assim
25 e ela veio falar com migo e nunca mais per aquelas
26 perguntas hoje ela eacute legal gostei dela ter
27 mudado natildeo soacute eu mas muitas pessoas Fonte Dados da pesquisa
Vicente iniciou seu texto reescrito apoacutes as discussotildees em sala retirando a pergunta
direta que fazia para inspirar-se para comeccedilar e passando a uma conclusatildeo direta (linha 1
ldquoBomrdquo) sobre as caracteriacutesticas de uma pessoa legal seguindo a isso um paraacutegrafo do que eacute ser
chato Apesar de o texto ter perdido em atratividade em seu iniacutecio Vicente atendeu agrave sugestatildeo
que fizemos quando pedimos que ele mencionasse uma situaccedilatildeo que tivesse
vivenciadoobservado
No entanto perdeu de vista a instruccedilatildeo uma audiecircncia que acesse as redes sociais
a questatildeo do bloquear na vida real o contato direcionado ao leitor
Quadro 23 ndash Produccedilatildeo inicial Graccedila ndash Tiacutetulo Rafaelly chata
1 Eu quero bloqueia essa
2 pessoa porque primeiramente
3 ela natildeo tem nem celula
4 entatildeo neste caso natildeo da pra bloqueia
5 ela As vezes essa pessoa ela e
6 um pouco chata fresca e sem
7 graccedila com todo respeito Algumas
8 vezes ela fala um pouco de
9 besteira e isso torna ela uma
10 pessoa chata Eu conheci essa
11 pessoa na escola so que agora
12 ela natildeo tem a mesma idade
13 que eu tenho a uacutenica rede social
14 que ela tem e o Facebook
15
112
16 Mais mi responde leitor o que
17 vocecirc acha sobre as pessoas
18 chatas
19
20 Pensando bem ela e uma
21 pessoa muito legal toda doidi-
22 nha amigaacutevel e amorosa etc
23 O que eu gosto mais nela
24 e que ela e sincera e indireta
25 e eacute bom de dar conselhos por
26 isso que eu amo a chatice
27 dela e ela se chama Rafaelly Fonte Dados da pesquisa
Neste texto a autora faz uma reflexatildeo sobre a amiga partindo de uma ideia inicial
que eacute a chatice da Rafaelly para a consideraccedilatildeo dos pontos positivos que a mesma Rafaelly tem
(ldquoPensando bemrdquo)
Houve uma maacute interpretaccedilatildeo da instruccedilatildeo quanto ao entendimento do que seria
bloquear uma pessoa na vida real como comprovamos nas linhas 2-5 ldquoprimeiramente ela natildeo
tem nem ceacutelula entatildeo neste caso natildeo da pra bloqueia elardquo
Nas linhas 16-18 A9 tem em mente uma audiecircncia como vemos em ldquoMais mi
responde leitor o que vocecirc acha sobre as pessoas chatasrdquo
Quadro 24 ndash Produccedilatildeo final Graccedila ndash Tiacutetulo Chata ela ou EU
1 Mi responde leitor o que
2 vocecirc acha sobre as pessoas cha-
3 tas
4
5 E vocecirc leitor Vocecirc e chato
6
7 Certo dia uma amiga veio
8 falar um monte de bobagens coisa-
9 s que natildeo tinha nada haver
10 ou seja coisas sem graccedilas Eacute eu
11 disse vocecirc e muito chata sabia
12 Ela falou ndash vocecirc tambeacutem fiquei
13 brava
14
15 Logo seguinte eu queria
16 bloquea ela porque tinha mi
17 chamado de chata mas tinha
18 um problema era que primeira-
19 mente ela natildeo tinha nem
113
20 celular entatildeo neste caso natildeo da-
21 va para bloquea o unico lugar
22 que dava pra bloquea ela era
23 no Facebook
24
25 Mais pensando bem ela
26 e uma pessoa muito legal to-
27 da doida amigavel e amorosa etc
28 O que eu acho legal nela e a sinceridade dela ajuda as
29 pessoa sabe releva os problemas
30
31 Natildeo vou nega que tambeacutem
32 sou uma pessoa chata Fonte Dados da pesquisa
Nas linhas 1-3 e linha 5 Graccedila teve em vista uma audiecircncia como vemos em ldquoMi
responde leitor o que vocecirc acha sobre as pessoas chatasrdquo e ldquoE vocecirc leitor Vocecirc e chatordquo Em
sua reescrita a aluna se comunica com o leitor de forma expliacutecita inspirada no modelo do texto
O chato da vez
Percebemos que ela atendeu a sugestatildeo de partir de uma situaccedilatildeo vividaobservada
para compor sua crocircnica (linha 7 ldquoCerto dia uma amiga []rdquo) desenvolvendo seu texto no
sentido de apresentar a seu leitor sua ideia do que eacute ser chato e ser legal a partir do que expotildee
e conduz seu fio tocando na instruccedilatildeo que sugere a inspiraccedilatildeo de bloquear uma pessoa na vida
real Poreacutem percebemos que ela natildeo extrapolou os limites do ambiente virtual criando uma
situaccedilatildeo de botatildeo de bloqueio da vida real para evitar as pessoas que ela considera chatas mas
condicionando o bloqueio meramente agraves redes sociais
Quadro 25 ndash Produccedilatildeo inicial Lilian ndash Tiacutetulo Meus amigos chatos e Eu
1 Eu tenho um amigo muito chato ele
2 fica o tempo todo pegando no
3 meu peacute as vezes eu comeccedilo
4 a chamar ele de chato ai ele
5 fica uns dias estranho comigo
6 mas depois agente comeccedila
7 se falar de novo
8
9 Eu queria pra existir um
10 botatildeo pra bloquear meus amigos
11 chatos porque eles pegam muito
12 no meu peacute eu chama eles
13 de chatos mas eu tambeacutem sou
14 chata e muito chata se existisse
114
15 o botatildeo pra bloquear as pessoas
16 chatas eu tambeacutem ia ser bloqueada
17 porque eu sou muito chata eu
18 natildeo queria ser chata eu queria
19 ser legal eu sou chata porque
20 quando eu comeccedilo falar eu natildeo
21 quero parar ai minhas amigas
22 ficam dizendo que eu sou muito
23 chata mais mesmo assim sou
24 feliz Fonte Dados da pesquisa
Lilian parte de uma situaccedilatildeo vivenciada (linhas 1-7) em que fala de um amigo
muito chato e usa a expressatildeo ldquopegar no peacuterdquo como em O chato da vez Nas linhas 17 a 24
Lilian tambeacutem diz porque ela seria uma pessoa chata ndash comeccedila a falar e natildeo quer parar Por
isso ela desejaria o botatildeo de bloquear na vida real como dito na questatildeo 7 que traz a instruccedilatildeo
de produccedilatildeo No entanto as situaccedilotildees natildeo estatildeo bem desenvolvidas e natildeo prendem o leitor que
aliaacutes natildeo eacute inserido no texto na ldquoconversa com o leitorrdquo Natildeo observamos uma percepccedilatildeo clara
da ideia de redes sociais
Quadro 26 ndash Produccedilatildeo final Lilian ndash Tiacutetulo Pessoas legais e chatas
1 Existem pessoas chatas e
2 outras legais conheccedilo alguns amigos que
3 satildeo um pouco chatos porque eles
4 ficam reclamando da vida eles ficam
5 dando importacircncia para os que os
6 outros falam desse jeito natildeo daacute
7
8 Mais eu tenho alguns amigos
9 que vivem fazendo piadas para seus
10 amigos Gosto do jeito que eles tratam
11 seus amigos eles levam eles pra
12 um passeio levam para o cinema
13 datildeo carinho sabem relevar os problemas
14 mas eu conheccedilo uns que falam comigo
15 mas depois tatildeo falando mal de mim
16 pela minha costa
17
18 Eu me acho uma pessoa
19 muito chata porque eu gosto
20 de tudo do meu jeito reclamo de
21 tudo dou importacircncia pra tudo
22 que as pessoas falam mais
115
23 as vezes eu soacute um pouco legal
24 com minhas amigas E vocecirc leitor
25 eacute chato ou legal as pessoas gostam
26 de vocecirc Fonte Dados da pesquisa
Apoacutes a tempestade de ideias da aula destinada agrave reescrita Lilian produziu 3 (trecircs)
paraacutegrafos e dedicou um a mostrar o que eacute ser chato e o seguinte ao que eacute ser legal em sua
opiniatildeo Na reescrita a aluna jaacute considera a audiecircncia conversando com o leitor (linhas 24-26)
poreacutem se distancia do que consta na instruccedilatildeo que eacute o bloqueio na vida real imitando as redes
sociais Ainda percebemos repeticcedilotildees de palavras que poderiam se tivesse havido uma nova
leitura ter sido evitadas
Podemos dizer que Lilian nos permite refletir sobre o comportamento humano
quando diz ldquomas eu conheccedilo uns que falam comigo mas depois tatildeo falando mal de mim pela
minha costardquo (linhas 14-16) poreacutem ela natildeo desenvolve a ideia apropriadamente no paraacutegrafo
seguinte como ela mesma havia dito em sala que falam mal dela porque ela tem o gecircnio difiacutecil
como ela descreveria em ldquoeu gosto de tudo do meu jeitordquo (linhas 19-20) De algum modo
podemos dizer que esse desdobramento de paraacutegrafos jaacute eacute uma evoluccedilatildeo na escrita de Lilian
Quadro 27 ndash Produccedilatildeo inicial Heloiacutesa ndash Tiacutetulo ldquoChato mais eacute muito legalrdquo
1 Tenho um amigo que ele eacute legal
2 mas tambeacutem eacute chato ao mesmo
3 tempo mais gosto da companhia
4 dele Mais quando chega a chatice
5 natildeo da pra aguentar ele comeccedila
6 a fala fala e fala eacute senpre o
7 mesmo assunto algo que natildeo
8 gosto ldquojogordquo
9
10 Taacute toda hora mandando mensage-
11 m daacute raiva mas neacute
12 Somos muito amigo nas
13 redes sociais posta fotos toda
14 hora Mas eacute muito legal sempre
15 faz brincadeiras pelo zapp
16
17 Eu poderia bloquialo mais
18 eacute muito legal telo como amigo
19
20 Gosta de pegar no meu peacute
21 quando o assunto eacute estudo mim
116
22 da sempre vaacuterios concelhos
23
24 Por mais que seja meu amigo vocecirc
25 eacute muito chatooo Fonte Dados da pesquisa
O texto foi escrito em 5 (cinco) paraacutegrafos Natildeo traz marcas explicitas de conversa
com o leitor e haacute um tangenciamento do que pede a instruccedilatildeo visto que a autora falou de
bloqueio No entanto natildeo houve real compreensatildeo do botatildeo de bloqueio da vida real visto que
ela se refere a um bloqueio nas redes sociais Percebemos o uso do coraccedilatildeo ao fim do penuacuteltimo
paraacutegrafo (linha 22) como sendo um recurso multimodal utilizado em meio virtual para
demonstrar agrado agrave ideia (curti)
Houve neste texto uma mudanccedila de interlocutor Inicialmente voltado para uma
audiecircncia mesmo que natildeo se dirigisse diretamente ao leitor o texto passou a ser direcionado
para o amigo chato de Heloiacutesa
Haacute a frequente repeticcedilatildeo do termo mas poreacutem sem uma forma consolidada de uso
visto que Heloiacutesa emprega mas e mais alternadamente
Quadro 28 ndash Produccedilatildeo final Heloiacutesa ndash Tiacutetulo ldquoO melhor chatordquo
1 Vol falar um pouco do meu
2 amigo
3
4 Ele se chama Daniel ele eacute uma
5 boa pessoa estaacute sempre mi
6 ajudando eacute um bom amigo e mim
7 da sempre forccedila pra tudo gosto
8 muito da conpanhia dele
9
10 E vocecirc leitor Vocecirc eacute chato
11
12 Somos chatos tenho 15 anos e sei
13 que chatise eacute estado de espirito
14
15 Ele eacute chato em vez enquando
16 ele eacute muito quando ele me
17 ajuda em algo ele mim trata
18 surper bem ele mim dar muito
19 carinho ele mim oferece cumida
20 quando estou na casa dele
21 natildeo gosta de criticar as pessoas
22
117
23 Ele eacute chato quando reclama
24 de tudo quer tudo do seu jeito
25 que ele conbina da ouvidos a
26 tudo o que falam ele fala demais Fonte Dados da pesquisa
Essa aluna se valeu do que discutimos em sala no dia em que propusemos a reescrita
sobre o que poderiam ser atitudes de uma pessoa legal A turma presente enumerou accedilotildees como
dar carinho oferecer comida ouvir as pessoas atenciosamente tratar bem natildeo criticar as
pessoas como sendo de pessoas legais ao passo que reclamar de tudo soacute querer as coisa do seu
jeito dar ouvidos a fofocas e falar demais como sendo atitudes de pessoas chatas Mencionar
um amigo e descrever atitudes dele eacute um princiacutepio do que conversamos sobre fornecer a
descriccedilatildeo de alguma pessoa e narrar uma situaccedilatildeo No entanto a aluna natildeo aprofundou a
descriccedilatildeo das caracteriacutesticas do amigo ndash apenas nomeou ndash e nem narrou a situaccedilatildeo sugerida
A reescrita foi feita em 6 (seis) paraacutegrafos dentro do que sugere a instruccedilatildeo O seu
primeiro traz uma introduccedilatildeo que chama a atenccedilatildeo preparando o leitor para o que vem a seguir
no texto Consideramos um avanccedilo no sentido de que Heloiacutesa jaacute parece ter feito um plano
melhor de escrita o que pode se consolidar em propostas futuras O segundo paraacutegrafo foi clara
paraacutefrase do texto motivador ldquoO chato da vezrdquo (linhas ldquosei que chatise eacute estado de espiritordquo)
Percebemos diminuiccedilatildeo nas repeticcedilotildees desnecessaacuterias
Na PF a aluna manteve o foco narrando o que lhe acontece descrevendo seu
amigo sem deixar o leitor para conversar com este amigo
Quadro 29 ndash Produccedilatildeo inicial Eliane ndash Tiacutetulo Um pouco de tudo
1 Ai gente nesse mundo agrave
2 muitas pessoas chatas
3 pois eu conheci pessoas
4 chatas e legais
5
6 Na adolecircncia conhecemos
7 pessoas numa pat-papo com
8 os amigos conheci uma
9 amiga pois conversamos e
10 ali natildeo parou mais de
11 falar
12
13 Num sentido e que ela
14 era muito cheia de
15 nheacutem-nheacutem de papo nada
16 ver O egrave o meu pensamento
118
17 que mim engana Mais eu
18 natildeo acho ela chata
19
20 De um tempo pra caacute nos
21 damos muito bem parti-
22 cularmente nos casos eu e ela
23 descordamos de tudo que
24 falamos mas eu acho que
25 duas chatas se dam muito
26 bem Na vida real parece um
27 mundo digital nos natildeo
28 paramos para pensamos nos
29 casos da vida social pessoas
30 postam coisas invalida na
31 rede sociais Fonte Dados da pesquisa
Para a produccedilatildeo inicial Eliane buscou elementos dos textos que lemos em sala De
Prova Falsa percebemos o uso da expressatildeo ldquoera muito cheia de nheacutem-nheacutemrdquo (linhas 14-15)
quando quis falar da amiga com comportamentos chatos De O chato da vez a partiacutecula ldquoAirdquo
como em ldquoAi genterdquo (linha 1) logo no iniacutecio mostra que o texto tem ares coloquiais com
linguagem despojada
Atraveacutes da coloquialidade Eliane se dirige ao leitor poreacutem ficou confuso o
desenvolvimento do tema na conversa proposta na instruccedilatildeo que seria o bloqueio das pessoas
na vida real No tocante ao assunto abordado na instruccedilatildeo Eliane fala de ser chato e ser legal
e menciona as redes sociais poreacutem seu texto entre as linhas 26 e 31 (ldquoNa vida real parece um
mundo digital nos natildeo paramos para pensamos nos casos da vida social pessoas postam coisas
invalida na rede sociaisrdquo) natildeo teve desenvolvimento quebrando assim a coerecircncia
Quadro 30 ndash Produccedilatildeo final Eliane ndash Tiacutetulo O que e chato e o que e legal
1 Ai gente eu sou muito chata
2 Afirmou uma amiga em um bate-papo
3 com os colegas Eu natildeo te acho chata
4 vc e uma pessoa carinhosa aceitar
5 as diferenccedilas dos outros
6
7 Pois eacute muitas pessoas tem suas referen-
8 ccedilas mas isso natildeo quer dizer que
9 todos que estatildeo aqui satildeo chatos
10 Adriana ela e companheira Delci e
11 carinhosa
119
12
13 Mais alguns tem outro estorico de
14 pensamento por exemplo O Luis reclamar
15 demais Rosi e falza Eu particularmente
16 faccedilo de tudo pra natildeo ser chata
17 tento conversar da maneira possiacutevel
18 ajudar as pessoas em tudo quer
19 posso
20
21 Por isso tem um sentido de tudo
22 seja o que vc eacute natildeo o que as
23 pessoas queram o que vc sejam
24 mas que seja uma pessoa dignar Fonte Dados da pesquisa
A PF de Eliane possui tiacutetulo agora mais direcionado agrave instruccedilatildeo visto que a aluna
considerou falar a respeito do que para ela eacute ser chato e o que eacute ser legal O primeiro paraacutegrafo
do texto (linhas 1-5) eacute uma paraacutefrase do paraacutegrafo inicial do texto motivador poreacutem conteacutem o
teor da tempestade de ideias realizada antes da produccedilatildeo
O paraacutegrafo seguinte eacute interessante porque traz em si a ideia de ponto de vista e
toleracircncia afinal todos tecircm defeitos (ldquomas isso natildeo quer dizer que todos que estatildeo aqui satildeo
chatosrdquo linhas 8-9) mas qualidades tambeacutem (ldquoAdriana ela e companheira Delci e carinhosardquo
linhas 10-11) Houve uma evoluccedilatildeo na organizaccedilatildeo dos paraacutegrafos
Houve emprego adequado dos sinais de pontuaccedilatildeo dois-pontos e a viacutergula como
em ldquopor exemplo O Luis reclamar demais Rosi e falzardquo (linhas 14-15)
Eliane em sua reescrita atendeu agrave sugestatildeo de utilizar exemplos podendo colocar
personagens no seu texto No entanto percebemos que ela ainda natildeo compreendeu que para
tanto seria necessaacuterio mais que apenas nominar pessoas e adjetivaacute-las mas realmente fazer um
exerciacutecio de descriccedilatildeo mais detalhado fazendo seu leitor compreender por que ldquoO Luis
reclamar demaisrdquo (linhas 14-15) e a ldquoRosi e falzardquo (linha 15) por exemplo
Quanto agrave audiecircncia Eliane entende que conversa com um leitor como vemos por
exemplo em ldquoseja o que vc eacute natildeo o que as pessoas queram o que vc sejamrdquo (linhas 22-23)
poreacutem natildeo manteacutem o foco visto que mistura a audiecircncia com o personagem ldquoEu natildeo te acho
chata vc e uma pessoa carinhosardquo (linhas 3-4)
O texto natildeo atende agrave proposta de considerar o botatildeo de bloqueio na vida real como
consta da instruccedilatildeo
120
Quadro 31 ndash Produccedilatildeo inicial Joana ndash Tiacutetulo Pessoas chatas e outras legal
1 Pessoas chatas tem muitas pessoas que diz
2 que a outra e chata tem pessoas chata satildeo
3 aquelas que fazem muitas perguntas que saber
4 da vida do outro essas pessoas se torna muito chata
5
6 Muitas pessoas no Facebook que eu natildeo gosto de aceita
7 porque jaacute cei que ela e muito chato jaacute bloquei
8 muitas pessoas nesse caso de se chato deacute mas
9 porque fica mandando mensagem sem noccedilatildeo que
10 rendo saber da sua vida isso que eacute chato
11 pra mim pessoas que tu natildeo suporta se fose
12 eu bloquairia case todo mundo
13
14 Pra mim pessoas legal e aquelas que teu
15 jaacute persebe pelo jeito dessa pessoa eu tenho
16 uma amizade muito legal pra mim eu sou
17 uma menina que faso amizade muito raacutepdo
18 mas as mizades que eu fasso eu percebo logo
19 se essa amizade vai ser boa ou natildeo tenho mui
20 tas pessoas no face que eu acho legal que satildeo
21 boa de se se conversa natildeo faiz ldquomuitas perguntasrdquo
22 e muito bom ter uma amizade legal
23 pessoas legais satildeo oacutetimas de conversa natildeo tir inte
24 ronper quando tu taacute falando essa que satildeo pra
25 mim pessoas legais eu acho que tenho
26 muitas pessoas legal Fonte Dados da pesquisa
Podemos dizer que Joana criou seu texto em trecircs paraacutegrafos apesar de natildeo haver
um ponto para demonstrar se era realmente o final ou se ela desejava continuar escrevendo
Aliaacutes seus paraacutegrafos natildeo trazem pontuaccedilatildeo mostrando que o fluxo das ideias foi contiacutenuo
natildeo havendo o procedimento de elaboraccedilatildeo do rascunho para a seguir passar a limpo
concatenando melhor as ideias
Seu tiacutetulo natildeo foi atrativo poreacutem foi relativo ao assunto da instruccedilatildeo Em se
tratando do desenvolvimento do tema a aluna tem em mente o que eacute ser chato e o que eacute ser
legal poreacutem natildeo extrapola na compreensatildeo visto que desenvolve um paraacutegrafo descrevendo
seu procedimento na rede social natildeo fazendo a analogia com a vida real e o botatildeo de bloqueio
Natildeo houve a consideraccedilatildeo da audiecircncia nem a conversa com o leitor pedida na
instruccedilatildeo
121
Quadro 32 ndash Produccedilatildeo final Joana ndash Tiacutetulo Pessoas otimas
1 Ser legal e vocecirc tendo humildade com
2 uma pessoa ajuda ela em tudo que vocecirc
3 porde ter um pouco de paciecircncia com essa
4 pessoa vocecirc tecircm que ter amor por ela eacute com-
5 sidera ela como sua amiga ou irmatildeo tecircm
6 varias coisas pra vocecirc ser torna uma otima
7 pessoa Pra mim ser legal com migo eacute min
8 trata bem o que eu perdi tem que min da
9 e se min dar todo dia uma caixa de bombo
10 Garoto esse se torna oacutetimo pra mim
11
12 pessoas chatas e aquela que critica muito
13 as pessoas natildeo sabendo da vida dela sair
14 falando dela pra todo mundo chato e
15 aquela que quer saber de mais da sua
16 vida se torna iguinorante ETC temos que
17 ter mas um pouco de humo com essas
18 eu natildeo suporto pessoas chata se puder
19 nem fala com migo seria melhor ainda Fonte Dados da pesquisa
Apoacutes a tempestade de ideias da aula destinada agrave reescrita Joana reescreveu seu
texto em dois paraacutegrafos dedicando um a mostrar o que eacute ser chato e o seguinte ao que eacute ser
legal em sua opiniatildeo No entanto natildeo parece ter compreendido que natildeo bastava elencar
situaccedilotildees do que eacute ser chato e ser legal mas contar narrar situaccedilotildees vivenciadas ou observadas
a fim de entreter seu leitor
Na reescrita a aluna natildeo considera a audiecircncia visto que seu texto parece mais
trazer em si opiniotildees sem incitar reflexotildees Joana se distancia do que consta na instruccedilatildeo que
eacute o bloqueio na vida real imitando as redes sociais apenas afirma nas linhas 18-19 que ldquoeu
natildeo suporto pessoas chata se puder nem fala com migo seria melhor aindardquo Seu tiacutetulo soacute tratou
agora de um lado do comportamento humano (ldquoPessoas otimasrdquo) e deve ter sido colocado apoacutes
a finalizaccedilatildeo do texto quando foi verificar se havia tiacutetulo
Assim apoacutes a anaacutelise dos textos A dos alunos percebemos a evoluccedilatildeo dos itens
presentes e os distribuiacutemos no quadro autoavaliativo
Durante a produccedilatildeo dos textos observamos os alunos presentes procurando
perceber algo sobre seu processo de planejamento de escrita O que foi detectado nas primeiras
produccedilotildees poucos deles fizeram um rascunho antes de escreverem na folha de produccedilatildeo
recebida alguns textos jaacute deram sinais de que alguns alunos entenderam o que eacute a ldquoconversa
122
com o leitorrdquo alguns partiram de uma situaccedilatildeo vividaobservada para compor seu texto no
entanto mais parecendo um relato pessoal ou um diaacuterio pessoal do que uma abordagem de
crocircnica poucos narraram essa situaccedilatildeo de forma clara para que o leitor pudesse acompanhar
poucos posicionaram o foco narrativo de maneira adequada vaacuterios apenas tangenciaram a
proposta de produccedilatildeo Essas dificuldades constituiacuteram o cerne a ser explorado nas atividades
dos moacutedulos aplicados nos encontros da sequecircncia
Podemos estabelecer um graacutefico para melhor visualizaccedilatildeo dos resultados ateacute essa
etapa
Graacutefico 7 ndash Avaliaccedilatildeo das crocircnicas A
Fonte Dados da pesquisa
Como vemos houve na maioria dos itens avaliados uma sensiacutevel melhora apesar
das dificuldades ainda apresentadas Percebemos que vaacuterios alunos ainda focam em apenas
alguns aspectos do texto que conteacutem a instruccedilatildeo de produccedilatildeo deixando de contemplar o todo
como por exemplo o botatildeo de bloquear na vida real ndash diversos alunos natildeo atingiram esse
objetivo no texto acreditamos que porque lhes faltou uma releitura direcionada para verificaccedilatildeo
de tudo o que havia sido pedido Isso nos mostra que os alunos ao tomarem contato com seus
textos de uma primeira produccedilatildeo escrita se orientados a ter um pouco mais de paciecircncia sem
a urgecircncia de entregar logo a tarefa e se incentivados a reler se autoavaliar e a ouvir sugestotildees
0
2
4
6
8
10
12
14
Avaliaccedilatildeo das crocircnicas A
PI PF
123
podem sim progredir no sentido de se tornarem escritores mais haacutebeis enquanto conscientes
das etapas que regem o processo de escrita de textos
532 Produccedilotildees B textos para circulaccedilatildeo social
A produccedilatildeo para circulaccedilatildeo social foi chamada de produccedilatildeo B e corresponde ao
trabalho com um puacuteblico que variou entre 4 (quatro) a 8 (oito) alunos frequentes dentre os
quais apenas 4 (quatro) produziram o texto para fins de circulaccedilatildeo social real Nesta etapa
foram realizados 5 (cinco) encontros com duraccedilatildeo de 10 (dez) horasaula e leitura de quatro
crocircnicas ineacuteditas para os alunos (A cara da rua A carta de punho Amor de Macumba e Sr
Google Pacheco) e atividades correspondentes
A leitura desses textos foi produtiva para a classe no sentido de compreender que
cada crocircnica traz em si o resultado da reflexatildeo que o cronista consegue realizar das situaccedilotildees
que vivencia ou observa Identificar as situaccedilotildees geradoras das crocircnicas lidas ao longo dos
moacutedulos fez parte do trabalho que conduziu os alunos a falar de vaacuterios assuntos que poderiam
tornar-se temas de textos Copiamos no quadro e eles nos cadernos Eram temas do cotidiano
como assalto relaccedilotildees sociais vida de youtuber bullying fome cujas situaccedilotildees jaacute
observadasvivenciadas por eles mesmos poderiam render uma reflexatildeo
Aparentemente a dificuldade maior dos alunos eacute em expressar essa situaccedilatildeo sem
que ora pareccedila um relato iacutentimo como diaacuterio ou memoacuterias pois a natural disposiccedilatildeo de seus
textos traz uma sequecircncia narrativa um relato de emoccedilotildees pessoais poreacutem natildeo necessariamente
conduz o leitor a uma reflexatildeo ora por vezes pause a narraccedilatildeo e interaja com o leitor por meio
de perguntas ou ainda faccedila um texto com forccedila injuntiva ou com moral da histoacuteria
Para a escrita e a reescrita do texto desta etapa a PF-B incentivamos nossos alunos
a utilizar o quadro autoavaliativo tocando nos pontos mais sensiacuteveis identificados desde a PI-
A Natildeo foi estipulado um nuacutemero de paraacutegrafos deixando os alunos agrave vontade para produzir
Consideramos como audiecircncia um puacuteblico leitor que tivesse sua idade aproximadamente que
entendesse seus problemas dilemas alegrias que fizesse parte de seu mundo frequentando a
escola tendo amigos observando qualidades boas do ser humano ou mazelas da vida podendo
esse puacuteblico acessar redes sociais ou natildeo De toda forma o ideal seria conversar com o leitor
sobre questotildees cotidianas situando-o no tempo e no espaccedilo da crocircnica O texto B foi
integralmente produzido em meio digital a pedido dos proacuteprios alunos por celular ou
computador conforme o material que tivessem disponiacutevel em matildeos e nenhum foi produzido
124
em sala limitado pelo horaacuterio de aula No entanto foi feito o acordo dos prazos de entrega de
cada texto a fim de podermos imprimir e levar para trabalho de leitura releitura feedback da
professora-pesquisadora feedback dos colegas permitindo a cada autor reflexatildeo sobre o texto
e possibilitando a reescrita
Os alunos que se engajaram na produccedilatildeo da crocircnica para circulaccedilatildeo social foram os
alunos Ana Rodrigo Eduardo e Estela Os tiacutetulos das produccedilotildees inicial e final estatildeo no quadro
a seguir
Quadro 33 ndash Tiacutetulos das produccedilotildees para circulaccedilatildeo social
Tiacutetulo PI-B PF-B
Ana PROIBIDA DE ACHAR
GRACcedilA
Rodrigo Vida de preguiccediloso VIDA DE PREGUICcedilOSO
Eduardo INFAcircNCIA FELIZ
Estela ldquoDown= bullyingrdquo DOWN= BULLYING
Fonte Dados da pesquisa
Esses textos diferentemente das produccedilotildees A foram escritos utilizando aparelhos
de celular O acordo foi feito com os alunos em virtude da preferecircncia destes em gostarem de
escrever utilizando-se da tecnologia facilitando o registro a releitura e a reescrita segundo eles
mesmos visto que o meio virtual tambeacutem atenderia a ideia da circulaccedilatildeo dos textos A anaacutelise
das produccedilotildees B estaacute descrita ao longo desta seccedilatildeo
Quadro 34 ndash PIB Ana
1
2
3
Que situaccedilatildeo Eacute o que penso ateacute hoje Pude presenciar um niacutevel de babaquice
e de falta do que fazer de uma garota da minha escola que pra ser sincera eu nem ao
menos sei o nome dela
4
5
6
7
8
Tava eu junto com mais quatro amigos na cantina da minha escola no
finalzinho do recreio estaacutevamos rindo e conversando como sempre Chegaram duas
meninas de outra sala que eu nunca falei nem sabia de onde saiacuteram natildeo sabia nada
sobre ela poreacutem sei que sabiam sobre mim coisas do tipo novata do 9 ano meio
doida duvido se natildeo sabiam ate meu nome Bem nem tava prestando atenccedilatildeo nelas
125
9
10
11
12
13
14
15
16
17
Quando meu amigo brincou eguas de novo Sorriu e depois pediu
desculpas logo que percebeu o tamanho das meninas e todo mundo riu quando ele
brincou EU JURO que fiquei seacuteria mas natildeo aguentei quando ele pediu desculpas
com medo de levar uns supapos Foi entatildeo que comecei a rir e umas das meninas olhou
pra mim com uma cara super ameaccediladora dizendo tu ta rindo do que Ta achando
graccedila eacute Cara tinha quatro pessoas aleacutem de mim QUATRO seacuterio que ela
enchergou soacute a mim ali Eacute ser muito babaca pra chegar em um ponto desse minha
uacutenica reaccedilatildeo foi natildeo pera ela taacute falando comigo serio isso Gente Qual o nome
dela algueacutem aqui a conhece SOCORRO
18
19
Ate hoje me pergunto qual o problema dela Mas prefiro nem chegar perto
Vai que essa doenccedila pega
Fonte Dados da pesquisa
O texto de Ana foi composto de 4 (quatro) paraacutegrafos Sua conversa com o leitor
natildeo eacute com elementos expliacutecitos como na instruccedilatildeo sugerida na produccedilatildeo A mas percebe-se que
ela se importa com uma audiecircncia visto que narra para uma pessoa explicando a situaccedilatildeo
vivenciada contando ao seu leitor suas impressotildees mostrando as falas que ocorreram dando a
perceber os outros personagens que entraram na histoacuteria
As notaccedilotildees linguiacutesticas para indicar intensidade surpresa e algumas viacutergulas estatildeo
razoavelmente bem empregadas como vemos em ldquoeguas de novordquo (linha 9) que separa a
expressatildeo de surpresa ldquoeacuteguasrdquo com uma viacutergula e finaliza a frase com interrogaccedilatildeo
acompanhada de exclamaccedilatildeo atribuindo maior intensidade agrave fala
Quadro 35 ndash PFB Ana ndash Tiacutetulo PROIBIDA DE ACHAR GRACcedilA
1
2
3
E que situaccedilatildeo Eacute o que eu penso ateacute hoje Pude presenciar um niacutevel de babaquice
e de falta do que fazer de uma garota da minha escola que pra ser sincera eu nem ao
menos sei o nome dela
4
5
6
7
8
9
Estava eu junto com mais quatro amigos na cantina da minha escola no
finalzinho do recreio Estaacutevamos rindo e botando conversa fora de boa na paz Entatildeo
duas meninas que eu natildeo conheccedilo ndash jaacute tinha ateacute visto as duas mas nunca tinha falado
com elas nem ao menos sabia o nome delas mas sei que elas sabiam de mim certeza
Aquele pessoal fala demais ndash chegaram e estavam repetindo o lanche Ateacute entatildeo nem
tava reparando na presenccedila delas
126
10
11
12
13
14
15
16
17
18
Foi quando meu amigo brincou nossa vatildeo repetir de novo Eu olhei entendi
e nem dei importacircncia nem quis rir pra natildeo arrumar confusatildeo Elas olharam pra ele
com uma cara bem ameaccediladora e ele se arrependeu e pediu desculpas Nessa hora eu
natildeo aguentei e ri poreacutem dele Pensei eita macho ficou com medo de levar uns
sopapos Todo mundo rindo Foi entatildeo que uma delas olhou pra mim me batendo
verbalmente tu taacute rindo de quecirc Taacute achando graccedila eacute Mano do ceacuteu essa menina
tem problema soacute pode Foi minha uacutenica reaccedilatildeo Com quatro pessoas aleacutem de mim ali
sorrindo e ela pergunta soacute pra mim Eacute ser muito babaca pra chegar a esse ponto seacuterio
isso Perguntei pros meus amigos ldquogente qual o nome dela Ela taacute falando pra mim
mesmo SOCORRO
19
20
Ainda bem que meus amigos estavam ali senatildeo eu tava ferradinha Ateacute hoje
me pergunto qual o problema dela Mas prefiro nem chegar perto Vai que isso pega
Fonte Dados da pesquisa
Os quatro paraacutegrafos tiveram uma reelaboraccedilatildeo mas mantiveram-se em mesmo
nuacutemero na PFB de Ana Seu tiacutetulo permaneceu o mesmo e tem a ver com o teor da crocircnica
Quanto ao uso da pontuaccedilatildeo houve inclusive utilizaccedilatildeo de novo recurso o entre
travessotildees a partir de uma sugestatildeo dada pela professora-pesquisadora que indica um adendo
de informaccedilotildees agrave ldquoconversardquo que a narradora conduziu
Pudemos perceber uma melhor descriccedilatildeo da ambientaccedilatildeo onde a situaccedilatildeo
vivenciada se passou consolidando o tempo do finalzinho do recreio situaccedilatildeo que durou muito
pouco mas que para a autora durou com intensidade
O final foi interessante e ateacute cocircmico trazendo questotildees a se pensar como a amizade
e o companheirismo versus a implicacircncia de pessoas desconhecidas (podemos ver seu aliacutevio
em ldquoAinda bem que meus amigos estavam ali senatildeo eu tava lsquoferradinharsquordquo na linha 19) e o
quanto eacute raacutepido - e tolo - para nascer um conflito
Quadro 36 ndash PIB Rodrigo ndash Tiacutetulo Vida De preguiccediloso
1
2
Vocecirc tem preguiccedila Tem preguiccedila de ter preguiccedila perdeu alguma coisa por
causa de preguiccedila
3
4
5
Natildeo eacute muito certo ter preguiccedila de tudo dizem que eacute pegado mas natildeo vejo mal
nem um em ter preguiccedila oacutebvio que nem todo tempo vou ter preguiccedila mas a maior parte
127
6 do tempo sim sou tatildeo preguiccediloso que dormi com fome pra natildeo ir ateacute a geladeira parece
um pouco absurdo mas eacute verdade
7
8
9
10
Natildeo sei vocecirc mas eu jaacute dormi no sofaacute com preguiccedila de ir pra cama certo que
vida de preguiccediloso natildeo eacute la essas mil maravilhas principalmente se vocecirc mora sozinho(a)
eacute muito bom passar o dia deitado mexendo no celular ou PC e com um lanchinho do
lado
11
12
Mas o simples fato de eu pensar que vou ter que tecirc uma famiacutelia um emprego
meu carro minha empresa meu cachorro
13
14
Jaacute da ateacute preguiccedila de sair da cama mas vocecirc jaacute pensou como seria bom se natildeo
existisse nada disso pra se preocupar
15 Seria muito bom natildeo eacute
16
17
A preguiccedila jaacute se tornou parte do cotidiano tenho quase certeza que nesse
momento vocecirc estaacute com preguiccedila natildeo eacute
18
19
20
Muito bom passar o dia sem fazer nada Poreacutem um pouco cansado pela falta
de exerciacutecio fiacutesico mas nada quecirc um bom lanche natildeo resolva vida de preguiccediloso natildeo
leva a lugar nem um falo isso por mera experiecircncia
21 Mas eacute assim mesmo logo logo a preguiccedila passa pelo menos eu acho
Fonte Dados da pesquisa
O texto de Rodrigo partiu de uma situaccedilatildeo observadavivida Conversa com o leitor
(ldquovocecirc jaacute pensou como seria bom serdquo linha 12) sobre o tema preguiccedila A repeticcedilatildeo do termo
preguiccedila foi objeto de questionamento na aula ao que o aluno respondeu que utilizou-se da
estrateacutegia para reforccedilar a situaccedilatildeo e provocar no leitor a preguiccedila de ler ao que os colegas
aprovaram achando inclusive engraccedilado O narrador eacute personagem e coloca para seu leitor as
impressotildees de como eacute viver com o miacutenimo de disposiccedilatildeo poreacutem com a consciecircncia de que natildeo
eacute o ideal para a vida O final natildeo eacute interessante ou surpreendente poreacutem se adequa ao
desenvolvimento do texto Possui tiacutetulo apropriado
Quadro 37 ndash PFB Rodrigo ndash Tiacutetulo VIDA DE PREGUICcedilOSO
1
2
Vocecirc tem preguiccedila Tem preguiccedila de ter preguiccedila Perdeu alguma coisa por
causa de preguiccedila
3
4
Natildeo eacute muito certo ter preguiccedila de tudo dizem que eacute pecado mas natildeo vejo mal
nenhum em ter preguiccedila Oacutebvio que nem todo tempo vou ter preguiccedila mas na hora de
128
5
6
7
8
jogar aquela bola ningueacutem tem preguiccedila mas agora fala em arrumar a cama A preguiccedila
sai de baixo da cama pra vocecirc Eu tenho preguiccedila a maior parte do tempo Sou tatildeo
preguiccediloso que dormi com fome para natildeo ter de ir ateacute a geladeira pegar comida Parece
um pouco absurdo mas eacute verdade
9
10
11
12
13
14
Aiacute vocecirc acorda e vai ateacute a sala daiacute vocecirc se deita no sofaacute e esquece o controle
em cima da mesa do computador ou da estante aiacute daacute aquele grito ldquoocirc manhecircecircecircecircecircecircecircecircrdquo
Logo ela vem correndo saber o que aconteceu e vocecirc na maior cara de pau diz pega
o controle pra mim Na hora que vocecirc diz isso vocecirc desperta todos os capirotos do
mundo ela ainda fala aquela frase que toda matildee diz o QUEcirc menino Isso serve pra
tudo que vocecirc pede pra sua matildee fazer pra vocecirc ateacute mesmo apagar a luz
15
16
17
Quando eu estiver em um relacionamento minha namorada natildeo vai precisar
se preocupar com traiccedilatildeo Tenho preguiccedila de ir bem aiacute na esquina comprar o patildeo
imagine sair para trair ela Mas eacute muita melodia
18
19
20
21
A vida de um preguiccediloso em si ela eacute uma grande sobrevivecircncia Natildeo muita
mas vocecirc vai ter de lutar para conseguir comida enfrentar o Vingador da Caverna do
Dragatildeo o quarto do furacatildeo e a cama do pavor Preguiccediloso pode vencer tudo isso mas
nunca conseguiraacute vencer a preguiccedila ndash pelo menos eu nunca consegui
22
23
24
25
Era tatildeo lindo quando eu dormia no sofaacute e acordava na cama graccedilas a meus
pais Mas os tempos mudaram vocecirc dorme no chatildeo e acorda no chatildeo Deixar pra fazer
amanhatilde o que pode fazer hoje isso sim eacute tiacutepico de um preguiccediloso mas agraves vezes nem
fazemos
26
27
28
Todos noacutes temos aquela cadeira que na hora de dormir sempre colocamos
todas as coisas de cima da cama em cima dela soacute por preguiccedila de arrumar tudo em seu
devido lugar
29
30
31
32
33
34
35
Um celular PC tablet televisatildeo tudo isso com internet uma tomada tudo do
seu lado tem como natildeo ter preguiccedila ateacute de procurar aquela seacuterie na Netflix Certo que
o celular ou o PC tem comando de voz soacute pra falar o nome da seacuterie que vocecirc quer assistir
e tecnologicamente ir direto pra seacuterie mas daacute uma preguiccedila de falar e ainda com um
lanche do lado ateacute imagino o quatildeo seria top passar o dia assim Mas tem que estudar
fazer comida dar banho do cachorro limpar a casa e lavar a louccedila Ai ai daacute preguiccedila
soacute de pensar nisso Um dia vou perder essa preguiccedila pelo menos assim espero
Fonte Dados da pesquisa
129
O uso de expressotildees coloquiais como em ldquoMas eacute muita melodiardquo (linha 17) para
mostrar o quanto daacute trabalho trair a namorada e a corrente entre os jovens ldquoo quatildeo seria top
passar o dia assimrdquo (linha 33) deu colorido agrave crocircnica
O uso de notaccedilotildees linguiacutesticas para realccedilar o texto como em ldquoocirc manhecircecircecircecircecircecircecircecircrdquo
(linha 10) que mostra prolongamento da voz o QUEcirc meninordquo (linha 13) que indica tom
de voz mais alto e forte aleacutem da pontuaccedilatildeo que exclama a pergunta O uso do travessatildeo como
forma de colocar uma explicaccedilatildeo em evidecircncia foi adotado por sugestatildeo nossa como em ldquondash
pelo menos eu nunca conseguirdquo (linha 21) tambeacutem enriqueceu o texto
Ainda houve repeticcedilatildeo de termos sem intenccedilatildeo como em ldquomas na hora de jogar
aquela bola ningueacutem tem preguiccedila mas agora fala em arrumar a camardquo (linhas 4-5)
O final foi interessante levando a audiecircncia a refletir e a se divertir tambeacutem com a
descriccedilatildeo das situaccedilotildees ndash algumas ateacute inusitadas ndash de preguiccedila mas que acontecem em algum
grau com os leitores jovens
Quadro 38 ndash PIB Eduardo ndash Tiacutetulo
1
2
3
4
5
Eu gosto muito de comida principalmente uma lasanha Porque eacute gostoso
mata a fome e deixa a gente feliz Bons tempos quando agente era crianccedila tomava aquele
belo leite antes de domir acordava de manhatilde bem cedinho com o cherinho do cafeacute na
mesa mas o tempos mudou E hoje em dia as crianccedilas dorme tarde natildeo se alimentatildeo
direito so querem comer besteras prejudicando a sauacutede
6 Era engraccedilado quando minha matildee dizia
7
8
Come a salada do prato se vocecirc comer tudinho mamatildee te dar um doccedile de
leite e agente comia
9
10
11
E quando noacutes tinha dor de barriga a matildee ja vinha com o chaacute de bodo para dar
pra noacutes tomar E quando jogava bola e noacutes se arranhava a matildee ja tava nas matildeos o
merthiolate para passa na gente
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E quando o pessoal ia jogar bola reunia a galera e ia chamar a turma todinha
para jogar nosso campo era em um local de pissarra com muro em volta e quando a
bola cailha na casa da quela vizinha chata um de noacutes tiamos que pega o mas corajoso
se arricar a buscar e esse corajoso era eu lembro que uma vez eu chutei a bola para laacute
e machuquei um das plantas dela e vizinha fofocou para minha matildee e mamatildee colocou
eu de cartigo
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Agora as crianccedilas so querem ficar trancada dentro do quarto mechendo no seu
celular PC em geral
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Percebi que a infacircncia de hoje natildeo eacute mas a mesma de antigamente Hoje em
dia tamos rodiado de tecnologia crianccedilas jovens tem celulares internet computadores
mas antigamente natildeo era assim natildeo tou querendo criticar a tecnologias pois eu vivo na
tecnologia hoje Nesse tempo de hoje das tecnologia se vocecirc quer ouvir uma muacutesica eacute
soacute ir no YouTube ou fazer o download quer conversar com um amigo eacute soacute entra no
Whatsapp e conversar Mas quando era antigamente se quissemos ouvir uma
muacutesica tiamos que esperar passar no raacutedio ou comprar um CD bem ali na banca se
quisesse conversar com um amigo distante teria que ir na casa dele ou enviar uma carta
para ele
29
30
E quando era natal ano novo famiacutelia toda reunida mesa cheia de comida
deliciosas isso era muito bom
31
32 SO SEI QUE A INFACIA QUE EU TIVE FOI MUITA OTIMA lt3
Fonte Dados da pesquisa
Composto por 9 (nove) paraacutegrafos o texto de Eduardo partiu de uma situaccedilatildeo
vivida em que ele observa a passagem do tempo e as mudanccedilas de haacutebitos com uma certa
nostalgia buscando a atenccedilatildeo do leitor atraveacutes da reflexatildeo sobre a imersatildeo na tecnologia Seu
texto comeccedila com uma associaccedilatildeo da comida que ele gosta e que ldquopuxardquo outras questotildees que
perpassam a alimentaccedilatildeo o sono as brincadeiras narrando inclusive desventuras vividas
Ao final nas linhas 29-30 o paraacutegrafo parece desconexo visto que natildeo evolui e
nem se liga ao anterior
A ortografia e a pontuaccedilatildeo nesse momento natildeo haviam sido a prioridade embora
os alunos jaacute estivessem de posse do quadro autoavaliativo Eduardo foi um dos alunos que mais
se surpreendeu com a releitura do texto no tablet como haviacuteamos descrito na seccedilatildeo sobre os
procedimentos posto que os erros e sugestotildees satildeo apontados pelo aplicativo editor de textos
Ele afirmou que foi bastante uacutetil para que ele observasse os erros visto que natildeo tinha
consciecircncia dos mesmos
131
Quadro 39 ndash PFB Eduardo ndash INFAcircNCIA FELIZ
1
2
3
4
5
Eu gosto muito de comida principalmente uma lasanha Porque eacute gostoso
mata a fome e deixa a gente feliz Bons tempos quando a gente era crianccedila tomava
aquele belo leite antes de dormir acordava de manhatilde bem cedinho com o cheirinho do
cafeacute na mesa mas os tempos mudaram Hoje em dia as crianccedilas dormem tarde natildeo se
alimentam direito soacute querem comer besteiras prejudicando a sauacutede
6
7
Era engraccedilado quando minha matildee dizia Come a salada do prato se vocecirc
comer tudinho mamatildee te daacute um doce de leite e a gente comia
8
9
10
E quando noacutes tiacutenhamos dor de barriga a matildee jaacute vinha com o chaacute de boldo para
dar pra tomar E quando jogaacutevamos bola e nos arranhaacutevamos a matildee jaacute estava com o
mertiolate nas matildeos para passar na gente
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E quando o pessoal ia jogar bola reunia a galera e ia chamar a turma todinha
para jogar nosso campo era em um local de piccedilarra com muro em volta e quando a bola
caiacutea na casa da aquela vizinha chata um de noacutes tinha que pegar o mais corajoso se
arriscar a buscar e esse corajoso era eu Lembro que uma vez eu chutei a bola para laacute e
machuquei um das plantas dela e a vizinha fofocou para minha matildee e mamatildee colocou
eu de castigo Quem nunca morreu de medo de voltar para casa com aquela roupa cheia
de barro e levar uma bronca
18
19
Vocecirc pode ateacute achar que eu jaacute acabei a minha infacircncia mas ainda tocirc nela pois
a infacircncia que eu era mais novo natildeo eacute mas a mesma do que a de hoje
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Agora as crianccedilas soacute querem ficar trancadas dentro do quarto mexendo no seu
celular PC em geral
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Percebi que a infacircncia de hoje natildeo eacute mas a mesma de antigamente Hoje em
dia estamos rodeados de tecnologia Crianccedilas jovens tem celulares internet
computadores mas antigamente natildeo era assim Natildeo estou querendo criticar a tecnologia
pois eu vivo na tecnologia hoje Nesse tempo de hoje se vocecirc quer ouvir uma muacutesica eacute
soacute ir no YouTube ou fazer o download Quer conversar com um amigo eacute soacute entrar no
WhatsApp e conversar Mas quando era antigamente se quiseacutessemos ouvir uma muacutesica
tiacutenhamos que esperar passar no raacutedio ou comprar um CD bem ali na banca Se quisesse
conversar com um amigo distante teria que ir na casa dele ou enviar uma carta para ele
30
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32
Pois agora as crianccedilas jaacute respondem com ignoracircncia para seus pais Se eu
resmungasse para minha matildee pelo menos um Taacute bom taacute bom mamatildee jaacute me batia Ela
ainda me colocava de joelho no chatildeo e eu morrendo de chorar mamatildee dizia Engole o
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choro mas eu natildeo sabia engolir o choro Seraacute que tinha que pegar um copo para
colocar as minhas laacutegrimas do meu choro Natildeo sei mas eu acho que eacute melhor natildeo
arriscar de me levantar e apanhar mais ainda
36 O mais engraccedilado eacute que chinela de matildee sempre acerta [
37 Mesmo apanhando
38 SOacute SEI QUE A INFAcircNCIA QUE EU TIVE FOI MUITO OacuteTIMA lt3
Fonte Dados da pesquisa
O texto teve uma ampliaccedilatildeo e o aluno pediu ajuda agrave professora-pesquisadora para
a correccedilatildeo da pontuaccedilatildeo e tambeacutem da ortografia para ldquoevitar aquela coisa toda vermelha
professorardquo que seria rever no tablet o editor mostrando os erros Bastante empenhado Eduardo
colocou suas impressotildees lado bom e ruim para que seu leitor pudesse acompanhar o que seria
uma infacircncia adequada Nas linhas 18-19 em ldquoVocecirc pode ateacute achar que eu jaacute acabei a minha
infacircncia mas ainda tocirc nela pois a lsquoinfacircncia que eu era mais novorsquo natildeo eacute mas a mesma do que
a de hojerdquo Valeu a discussatildeo com os colegas e com a professora-pesquisadora a respeito dessa
nostalgia visto que o autor ainda eacute um adolescente de 15 anos
O final convenhamos embora natildeo seja muito paciacutefico natildeo deixa de causar o riso
no leitor visto que em ldquoMesmo apanhandordquo (linha 37) as reticecircncias deixam o pensamento
em aberto e o leitor conclui pelo exposto que ainda assim valia a pena a infacircncia menos
tecnoloacutegica e mais fora de casa
Quadro 40 ndash PIB Estela ndash Tiacutetulo ldquoDown= bullyingrdquo
1
2
Antigamente eu natildeo me importava tanto mas hoje penso bastante sobre o
assunto por que as pessoas praticam o bullying
3
4
5
Na minha opiniatildeo a praacutetica de bullying eacute desnecessaacuteria pois noacutes natildeo
ganhamos nada em humilharmenosprezar o proacuteximo natildeo eacute mesmo eacute bem melhor ser
gentil ser solidaacuterio aceitar os defeitos do proacuteximo
6
7
8
9
10
11
Conheccedilo uma garota chamada Beatriz jovem de dezenove anos(19) que tinha
siacutendrome de Down ela era uma garota bem extrovertida amigaacutevel carinhosa etc
Muitos a criticavam por conter essa siacutendrome por ser diferente Ela tinha seu tinha seu
lado carinhoso mas tambeacutem tinha o seu lado revoltadobravo e todos criticavam-na por
ser diferente por ter esse seu lado ldquobipolarrdquo pelo fato dela mudar de humor tatildeo
facilmente
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Muitos faziam o possiacutevel para evitar sua presenccedila por perto eles a eles
simplesmente natildeo aceitavam o fato dela ter aquela siacutendrome pra eles ela natildeo era ldquoigualrdquo
a eles eles deveriam aceitaacute-la da maneira que ela nasceu da maneira em que ela foi
gerada
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Chamavam-na por apelidos maldosos e preconceituosos como por exemplo
doida (pelo simples fato dela ter siacutendrome de Down que a diferenciava das demais
pessoas) de retardada de doente chamavam-na de feia ridiacuteculaetc
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Ao sofrer esses preconceitos ela sempre revidavasempre reagia com agressotildees
e xingamentos terriacuteveis o que agravava cada vez mais a situaccedilatildeo Acho que por ela
conter essa doenccedila ela natildeo levava muito a seacuterios esse preconceito essa indiferenccedila
acho que pelo fato de ela conter essa doenccedila desde a formaccedilatildeo de seu feto deve ter
ocorrido algumas alteraccedilotildees em seu ceacuterebro na parte mentalo que prejudica muito a
crianccedila em questotildees de aprendizado de se socializar e que a levava a considerar essas
praacuteticas de bullying como uma brincadeira
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E tambeacutem sua matildee natildeo era aquele tipo de matildee que se interessava como foi o
dia na escola se as aulas foram boas essas coisas que normalmente as matildees fazem E
ela tambeacutem natildeo morava junto a seu pai pois creio que era divorciado de sua matildee
moravam somente ela sua matildee e sua irmatilde mais nova de dezessete anos (17)
30
31
Atualmente a situaccedilatildeo ainda se repete por falta de atenccedilatildeo dos pais e da
proacutepria viacutetima do bullying
32
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(Na minha opiniatildeo ela soacute precisa de um pouco mais de atenccedilatildeo e compreensatildeo
dos pais e tenho certeza que esse problema jaacute haveria sido resolvido)
34
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E vocecirc leitor o que faria se vocecirc fosse viacutetima de bullying denunciaria ou
preferiria guardar pra si
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(Isso natildeo eacute um texto qualquer eacute tambeacutem um alerta uma ldquocampanhardquo pra vocecirc
vitima ou praticante do bullying pense no proacuteximo alerte-se muitas vezes essas piadas
brincadeiras esses preconceitos passam dos limites e acabam se tornando grandes
ofensas o que levam as viacutetimas a profundas depressotildees e ateacute mesmo ao suiciacutedio vamos
acabar com isso)
41 chega de bullying
Fonte Dados da pesquisa
134
Estela comeccedila seu texto com um paraacutegrafo que faz uma introduccedilatildeo-enquadramento
lanccedilando um questionamento ao seu leitor surgido de uma situaccedilatildeo observadavivida que ela
narra ao longo dos 12 (doze) paraacutegrafos No 10ordm a autora conversa com explicitamente com o
leitor como no modelo apresentado para a produccedilatildeo A O foco narrativo eacute mantido como
narrador observador do que acontece poreacutem levando o leitor a refletir sobre o problema real do
bullying com a intenccedilatildeo de causar impressotildees no leitor como empatia reflexatildeo e ateacute emoccedilatildeo
O final natildeo parece caracterizar-se como o de uma crocircnica literaacuteria lembrando o
penuacuteltimo paraacutegrafo uma sequecircncia injuntiva com a intenccedilatildeo de levar o leitor a modificar seu
comportamento mostrando um ponto de vista criacutetico a respeito da situaccedilatildeo Possui
personagens descrevendo a menina Beatriz e seu comportamento sua matildee e menciona pai e
irmatilde Possui um tiacutetulo interessante pelo trocadilho se podemos assim dizer com a palavra
down Down eacute a siacutendrome mencionada no texto e de iniacutecio o sinal de igual indica que ter
siacutendrome de Down eacute de se esperar de algum modo que a pessoa sofra bullying Poreacutem a aluna
sabe que down em inglecircs quer dizer ldquoabaixordquo o que resultaria numa livre traduccedilatildeo ldquoabaixo
o bullyingrdquo Estela emprega em diversos momentos os sinais de pontuaccedilatildeo adequadamente e
no geral os paraacutegrafos estatildeo bem organizados embora tenha havido repeticcedilatildeo desnecessaacuteria de
palavras no 4ordm paraacutegrafo
Quadro 41 ndash PFB Estela ndashTiacutetulo DOWN= BULLYING
1
2
Antigamente eu natildeo me importava tanto mas hoje penso bastante sobre o
assunto por que as pessoas praticam o bullying
3
4
5
A praacutetica de bullying eacute desnecessaacuteria pois noacutes natildeo ganhamos nada em
humilhar o proacuteximo natildeo eacute mesmo Eacute bem melhor ser gentil ser solidaacuterio aceitar os
defeitos do proacuteximo
6
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Conheci uma garota chamada Beatriz jovem de dezenove anos que era
portadora da siacutendrome de Down Era uma garota bem extrovertida amigaacutevel carinhosa
etc Ela tinha seu tinha seu lado carinhoso mas tambeacutem tinha o seu lado revoltado e
todos criticavam-na por ser diferente por ter esse seu lado ldquobipolarrdquo pelo fato dela mudar
de humor tatildeo facilmente
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Muitos faziam o possiacutevel para evitar sua presenccedila por perto Simplesmente
natildeo aceitavam o fato dela natildeo ser ldquoigualrdquo a eles enquanto que deveriam aceitaacute-la da
maneira que ela nasceu da maneira em que ela foi gerada
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Chamavam-na por apelidos maldosos e preconceituosos como por exemplo
doida (pelo simples fato dela ser portadora de Down que a diferenciava das demais
pessoas) de retardada de doente chamavam-na de feia ridiacuteculaetc
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Ao sofrer esse preconceito ela revidava Sempre reagia com agressotildees e
xingamentos terriacuteveis o que agravava cada vez mais a situaccedilatildeo Acho que pelo fato de
ela ter Down desde a formaccedilatildeo de seu feto deve ter ocorrido algumas alteraccedilotildees em seu
ceacuterebroo que prejudica muito a crianccedila em questotildees de aprendizado de se socializar
poreacutem isso natildeo a impedia de considerar essas praacuteticas de bullying como algo tatildeo seacuterio
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Atualmente a situaccedilatildeo ainda se repete por falta de atenccedilatildeo dos pais Sua matildee
natildeo era aquele tipo de matildee que se interessava como foi o dia na escola se as aulas foram
boas essas coisas que normalmente as matildees fazem Ela soacute precisa de um pouco mais de
atenccedilatildeo e compreensatildeo dos pais e tenho certeza que esse problema jaacute teria sido
resolvido
27 E vocecirc leitor como agiria se fosse viacutetima de algum tipo de bullying
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Pare e pense na situaccedilatildeo que ocorrera com essa garota Pense Como agiria se
fosse viacutetima ou tivesse observado uma situaccedilatildeo como essa Tambeacutem imagine se vocecirc
se sentiria bem se sofresse certos preconceitos certas ofensas E tambeacutem peccedilo-lhe
venha pensar antes de ldquotentarrdquo praticar esses atos infracionais contra algueacutem Se ponha
no lugar da viacutetima
33 chega de bullying
Fonte Dados da pesquisa
O tiacutetulo foi mantido Os paraacutegrafos em geral ficaram bem organizados Houve
evoluccedilatildeo no emprego dos sinais de pontuaccedilatildeo Evitou a repeticcedilatildeo desnecessaacuteria de palavras e
buscou definir visto que estava em duacutevida segundo ela mesma sobre quais termos usar
Partiu como jaacute haviacuteamos identificado de uma situaccedilatildeo observadavivida Conversa
com o leitor como no exemplo ldquonatildeo eacute mesmordquo (linha 4) ou em ldquoE vocecirc leitorrdquo (linha 27)
buscando leva-lo a refletir sobre a situaccedilatildeo O final eacute interessante muito embora natildeo o
reconheccedilamos como caracteriacutestico de uma crocircnica literaacuteria Mostra discretamente ao leitor seu
ponto de vista a respeito da situaccedilatildeo buscando proporcionar-lhe um momento de reflexatildeo
Descreve bem a Beatriz e superficialmente a matildee poreacutem com caracteriacutesticas
adequadas agrave situaccedilatildeo Apoacutes a anaacutelise dos textos B dos alunos estabelecemos um graacutefico a
respeito de sua evoluccedilatildeo para melhor visualizaccedilatildeo dos resultados nessa etapa Vejamos a seguir
136
Graacutefico 8 ndash Avaliaccedilatildeo das crocircnicas B
Fonte dados da pesquisa
A partir da anaacutelise dos textos dos alunos que frequentaram todas as aulas e se
engajaram nas atividades da SD percebemos que houve na maioria dos itens avaliados uma
sensiacutevel melhora corroborando com o anteriormente dito que os alunos ao tomarem contato
com seus textos de uma primeira produccedilatildeo escrita se orientados e incentivados a reler se
autoavaliar e a ouvir sugestotildees podem sim progredir no sentido de se tornarem escritores mais
haacutebeis e conscientes das etapas que regem o processo de escrita de textos E esse processo se
feito com frequecircncia comeccedila a se automatizar e facilita o aprendizado de qualquer gecircnero que
se venha trabalhar
533 Uma nova reescrita
Retomando seu texto A PI e PF a aluna Ana pediu a oportunidade de reescrevecirc-lo
visto que em sua releitura afirmou que natildeo havia feito apropriadamente e que ao final de todas
as atividades ela percebia o quanto natildeo tinha desenvolvido ainda os procedimentos adequados
para a produccedilatildeo de um texto o que inclui as etapas de releitura autocriacutetica reflexatildeo
reelaboraccedilatildeo e reescrita Segue assim o texto de Ana que chamaremos PFA2
0
05
1
15
2
25
3
35
4
Avaliaccedilatildeo das crocircnicas B
PI-B PF-B
137
Quadro 42 ndash PFA2 Ana ndash Tiacutetulo O que eacute ser chato
1 Como saber quando vocecirc estar sendo chato
2 Bom depois de ler um dos textos maravilhosos do Anaximandro Amorim
3 o chato da vez despertou uma vontade em mim de me aprofundar no assunto
4
5 Eacute muito difiacutecil dizer o que de fato eacute ser chato ou melhor listar tudo o que eacute pura
6 chatice demoraria horas e horas Vocecirc se considera chato
7 Sabe quando vocecirc estar sendo chato Olha muito cuidado um chato nunca
8 se acha chato digo isso com toda convicccedilatildeo
9
10 Conheccedilo uma menina ela eacute da minha escola graccedilas
11 a Deus natildeo eacute da minha sala Ameacutem
12 Ela tem uma mente aberta uns gosto legais mas cara
13 ela desconhece a palavra limites isso a torna very chata
14 uma mina linda de opiniotildees legais que natildeo sabe ver quando natildeo a querem
15 por perto quando ela estar atrapalhando e natildeo entende
16 quando o papo ja ta chato e a pessoa ta fugindo dela mas mesmo assim
17 acha que a pessoa ta super interessada e ela se engana e
18 acaba se tornando uma chata eu a considero minha amiga
19 ela me apoia e me sempre da uma levantada na minha auto-estima
20 uma garota interessante agraves vezes e por tempos curtos ela eacute
21 daquele tipo de pessoas que a gente passa comprimenta e
22 natildeo para pra conversar so quando ela chama e as vezes ainda invento desculpas
23 pra natildeo ir e se vou quando passa de cinco minutos eu jaacute
24 fico SU-FO-CA-DA parece que ela estraga o papo
25
26 Enfim ser chato eacute natildeo saber quando vocecirc ta forccedilando a barra
27 eacute natildeo reconhecer quando vocecirc estar sendo chato
28 ser chato eacute natildeo ter limites afinal tudo tem Natildeo eacute mesmo Fonte Dados da pesquisa
Por fim Ana reescreveu seu texto colocando-o em 5 (cinco paraacutegrafos) e o elaborou
visando ao que a instruccedilatildeo da atividade requer um texto que possa inspirar reflexatildeo sobre o
que eacute ser chato e o que eacute ser legal poreacutem sem colocar a questatildeo do botatildeo de bloqueio da vida
real Atraveacutes dos exemplos Ana conduziu seu leitor a refletir atendendo aos criteacuterios de partir
de uma situaccedilatildeo vividaobservada como vemos nas linhas 10-24 e conversando com o leitor
como percebemos nas marcas linguiacutesticas em ldquoComo saber quando vocecirc estar sendo chatordquo
(linha 1) ldquoVocecirc se considera chatordquo (linha 6) ldquoSabe quando vocecirc estar sendo chatordquo (linha
7) e ldquoNatildeo eacute mesmordquo (linha 28) e descreve uma personagem ldquouma menina ela eacute da minha
escolardquo (linha 10) que inseriu em seu texto para ilustrar a situaccedilatildeo
Apesar de Ana ainda deixar a desejar em outros aspectos tanto textuais quanto
formais de convenccedilotildees da escrita percebemos que ela evoluiu no criteacuterio organizaccedilatildeo de
138
paraacutegrafos e emprego dos sinais de pontuaccedilatildeo Em ldquograccedilas a Deus natildeo eacute da minha sala
Ameacutemrdquo ela separa o termo Ameacutem do resto da frase com a viacutergula entendendo que eacute uma
expressatildeo que merecia realce e usa o ponto de exclamaccedilatildeo para expressar seu aliacutevio Ana
demonstra conhecer que o uso de marcas linguiacutesticas como o uso de maiuacutesculas e a separaccedilatildeo
silaacutebica podem dar forccedila a uma palavra fazendo-a ganhar maior expressividade como em ldquoSU-
FO-CA-DArdquo na linha 24 Ao longo de seu texto Ana emprega muitas palavras do cotidiano
giacuterias inclusive e marcas da oralidade ndash o que natildeo necessariamente eacute um problema em uma
crocircnica literaacuteria poreacutem conveacutem relembrar a questatildeo da experiecircncia e habilidade no uso de tais
de modo a natildeo cansar o leitor
Sua estrateacutegia para iniciar o texto foi partir da intertextualidade (ldquoBom depois de
ler um dos textos maravilhosos do Anaximandro Amorim lsquoo chato da vezrsquo despertou uma
vontade em mim de me aprofundar no assuntordquo linhas 1-3) Desse modo Ana fez uso da
informaccedilatildeo de uma de nossas aulas de quando trabalhamos com a crocircnica ldquoCarta de punhordquo
cuja leitura em sala e atividade de exploraccedilatildeo do texto mostrava que o autor cronista com
publicaccedilotildees frequentes no jornal buscava nas proacuteprias produccedilotildees retomar seus assuntos
passados Uma curiosidade que foi despertada em Ana para o momento havia sido ldquoe pode
isso professorardquo ao que respondemos afirmativamente poreacutem o sucesso da estrateacutegia viria
com o tempo e a experiecircncia de cada autor da intimidade que esse tivesse com a liacutengua materna
e com a situaccedilatildeo de produccedilatildeo tudo dentro do contexto
Consideramos assim que o uso da estrateacutegia pela aluna foi um ponto positivo em
sua participaccedilatildeo posto que caracteriza envolvimento com o projeto e as aulas Ademais desejar
fazer mais uma reescrita quando natildeo havia mais a exigecircncia pois como dissemos jaacute haviacuteamos
encerrado os moacutedulos e estaacutevamos reescrevendo o texto para circulaccedilatildeo social eacute um ponto
bastante positivo no tocante aos procedimentos de escritor apoacutes algum tempo ela releu seu
texto achou-o inadequado ou insuficiente para as caracteriacutesticas do que se estava estudando e
produzindo e tomou a iniciativa de refazecirc-lo
139
6 CONCLUSAtildeO
O foco principal de nosso trabalho foi o desenvolvimento da competecircncia
comunicativa escrita Para tanto consideramos o processo tendo como produto o texto cujo
valor real foi-lhe atribuiacutedo valor social com direito a circulaccedilatildeo levado a puacuteblico
O gecircnero escolhido foi a crocircnica literaacuteria Poderia ter sido outro visto que o trabalho
com o processo de escrita dentro de uma sequecircncia didaacutetica comporta qualquer gecircnero textual
Poreacutem como dissemos na introduccedilatildeo a escolha do gecircnero partiu de uma motivaccedilatildeo pessoal
Passado todo o processo da escolha de como trabalhar ateacute a publicaccedilatildeo dos textos
julgamos oportuno avaliar todos os acircmbitos
Por percebermos ao longo dos anos de experiecircncia que vaacuterios alunos produzem
seus textos sem recorrer agrave etapa do planejamento a da revisatildeo e a da reescrita visamos entatildeo
nesta pesquisa devido agrave ausecircncia de tais procedimentos responder agraves seguintes questotildees-
problema desdobradas a partir da questatildeo baacutesica como ensinar a produccedilatildeo escrita no 9ordm ano do
Ensino Fundamental enfocando o ato de redigir como um processo visto que haacute estudantes
deste niacutevel que normalmente natildeo tecircm o haacutebito de planejar seus textos
A partir desse questionamento nos perguntamos
a) que atividades pedagoacutegicas possibilitam aos alunos a consciecircncia de que eacute
preciso desenvolver estrateacutegias proacuteprias (recorrer agrave etapa do planejamento da
revisatildeo e da reescrita) para produzir seus textos
b) de que forma o conhecimento sobre a estrutura composicional de um gecircnero
pode ajudar a superar as dificuldades
c) a comparaccedilatildeo das produccedilotildees inicial e final permitiraacute associar a melhoria do
desempenho da competecircncia escrita e a apropriaccedilatildeo do gecircnero crocircnica literaacuteria ao
desenvolvimento da sequecircncia de atividades
Buscando encontrar uma praacutetica que resultasse em textos melhores fizemos uso
em nossa sequecircncia de atividades de teorias que norteassem o trabalho com a escrita como
processo com a sequecircncia didaacutetica com gecircnero textual e com o gecircnero crocircnica narrativa A
importacircncia desse aparato teoacuterico para o professor que visa minimizar as dificuldades dos
alunos e diminuir a praacutetica da escrita improvisada permite-lhe compreender como se daacute o
processo cognitivo durante a produccedilatildeo de um texto o que o leva a considerar para seu trabalho
com os alunos aspectos como audiecircncia e circulaccedilatildeo social reais como praacuteticas de uma
140
sociedade letrada o que vai aleacutem da preocupaccedilatildeo com a gramaacutetica e a ortografia apenas de
um texto produzido somente para o professor e a nota
Ao longo da aplicaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica confirmamos o que a experiecircncia de
sala ao longo dos anos apontava o conhecimento sobre a estrutura composicional de um gecircnero
pode ajudar a superar as dificuldades de escrita por mostrar ao aluno o que precisa estar contido
em seu texto Os exemplos que o professor venha a trabalhar em sala com a turma mostram
modelos de gecircneros com aspectos que podem sim ser imitados de iniacutecio ateacute que quando o
aluno ganhe experiecircncia possa manejar melhor as palavras e as ideias que deseje colocar para
seu leitor assumindo assim um estilo proacuteprio de escrita
Como professora realizar a pesquisa nos permitiu refletir sobre a nossa proacutepria
praacutetica posto que superar as proacuteprias deficiecircncias no ensino da produccedilatildeo textual foi uma grande
inquietaccedilatildeo Reconhecer as praacuteticas nos foi importante para saber em que aspectos ainda temos
desafios a superar e para reforccedilar e desenvolver aspectos positivos em noacutes Ter clareza de como
se situam os iacutendices de avaliaccedilatildeo na turma na escola no municiacutepio no estado e no paiacutes tambeacutem
foi bastante importante Normalmente a tendecircncia coletiva estaacute em descrer na educaccedilatildeo poreacutem
mesmo que muito lentamente observamos progresso histoacuterico na concepccedilatildeo de aprendizado da
liacutengua materna no valor que eacute dado agrave leitura e agrave escrita
Apoacutes as oficinas a anaacutelise dos objetivos elencados ao iniacutecio de todo o processo
com dados comparativos entre produccedilatildeo inicial e produccedilatildeo final constatamos a relevacircncia da
hipoacutetese baacutesica os alunos do 9ordm ano produziram textos na etapa final das oficinas utilizando-
se das caracteriacutesticas do gecircnero textual crocircnica literaacuteria compreendendo que escrita eacute interaccedilatildeo
valorizando o uso social da escrita de acordo com a proposta teoacuterica de gecircnero preparando
seus textos pautados nas etapas do processo de redigir conforme as orientaccedilotildees dadas em sala
de aula
Sobre nossas hipoacuteteses secundaacuterias pensamos que eacute possiacutevel sim motivar os
alunos a escrever ao desenvolver com eles atividades voltadas para os diferentes subprocessos
e habilidades envolvidos no ato de redigir Poreacutem para haver o engajamento e resultar em uma
turma que escreva textos compatiacuteveis com o grau de desenvolvimento de habilidades esperadas
para o ano que cursam enfrentamos desafios como o aspecto do imediatismo e da recompensa
A natildeo adesatildeo de vaacuterios alunos ao projeto se deu por este natildeo valer nota Portanto
sem uma recompensa imediata natildeo houve o engajamento Nossos alunos infelizmente natildeo
estatildeo habituados a pensar a longo prazo a planejar alcanccedilar metas nem integrar atividades que
lhes facilitem a vida estudantil no futuro Talvez ndash pensamos ndash nem a cultura escolar abranja
141
ainda um trabalho soacutelido e constante nesse sentido Apesar disso haacute professores que se
empenham em fazer um trabalho constante de leitura e na medida do possiacutevel de escrita ao
qual fizemos nossa contribuiccedilatildeo
Por uacuteltimo apoacutes a realizaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica proposta ao contrastarmos as
produccedilotildees inicial e final dos alunos principalmente no que concerne agrave produccedilatildeo realizada para
fins de circulaccedilatildeo social real considerando uma audiecircncia real verificamos um desempenho
mais satisfatoacuterio em relaccedilatildeo agrave competecircncia discursiva realizada no gecircnero crocircnica literaacuteria
visto que os processos de escrita foram considerados no ato da produccedilatildeo de suas proacuteprias
crocircnicas
Para que essa produccedilatildeo fosse efetiva houve que se ter em mente na elaboraccedilatildeo dos
moacutedulos que qualquer tarefa de escrita bem-sucedida requer o exerciacutecio da escrita e da reescrita
Esse processo de aperfeiccediloamento dos textos demanda da parte do professor planejamento
para conhecer as necessidades de natureza geral da turma para trabalhar as caracteriacutesticas de
um gecircnero bem como as de natureza individual do aluno como as limitaccedilotildees no
reconhecimento do gecircnero textual na progressatildeo narrativa nas convenccedilotildees da escrita culta
Pensamos que poderia ser interessante para o aperfeiccediloamento desta SD ampliar e
diversificar mais os textos que compotildeem o moacutedulo de reconhecimento para antes da primeira
produccedilatildeo dos alunos visando oferecer uma visatildeo mais ampla do gecircnero Aleacutem disso
percebemos que tambeacutem eacute preciso que enquanto professores trabalhemos recorrentemente a
instruccedilatildeo da produccedilatildeo com os alunos no sentido de que eles compreendam que natildeo apenas um
aspecto seja escolhido para ser trabalhado mas todos os que nela estatildeo contidos
Aplicar uma SD eacute um trabalho que exige bastante do professor pois se trata de
conhecer o perfil de cada turma em que se decide aplicar um projeto de escrita diagnosticar
planejar os moacutedulos e pensar que o produto pode e deve ter circulaccedilatildeo no meio social Para
tanto eacute importante frisar que a rede de ensino acolha e apoie o professor motivando-o e
possibilitando-lhe as condiccedilotildees necessaacuterias e adequadas para o desenvolvimento de projetos de
escrita dentre as quais podemos mencionar formaccedilatildeo continuada que incentive os projetos de
escrita reforccedilo agraves condiccedilotildees dos materiais das escolas manter o nuacutemero de alunos adequado
nas salas evitando a superlotaccedilatildeo
No tocante aos alunos especialmente os que integraram todos os encontros de todos
os moacutedulos notamos que estes afirmaram que amadureceram ao longo do processo aprendendo
gradualmente a ter controle de sua escrita relendo quando necessaacuterio refletindo buscando
142
clareza Tambeacutem apreciaram muito poder opinar sobre os textos dos colegas visto que estavam
se apropriando das caracteriacutesticas do gecircnero estudado e sentiram seguranccedila para colaborar
Quanto ao trabalho com nuacutemero reduzido de alunos ao permanecerem no projeto
apenas aqueles que se interessaram em melhorar seu desempenho pessoal em leitura e produccedilatildeo
conforme eles mesmos disseram o grupo menor ficou mais coeso e permitiu-lhes liberdade
para trabalhar fosse com discussotildees sugestotildees ou mesmo para dar apoio ateacute mesmo na hora
de ler em voz alta para todos Foi um progresso coletivo e reafirmou a amizade entre o grupo e
tambeacutem conosco por ver que a colaboraccedilatildeo era acompanhada de afetividade
A produccedilatildeo dos textos para circulaccedilatildeo social escrevendo no celular foi produtiva
visto que oportunizou aos alunos o uso da tecnologia que eles afirmam preferir permitindo
agravequeles que natildeo gostam muito de produzir textos com os recursos tradicionais (folha de
produccedilatildeo e caneta) participarem ativamente do processo de produccedilatildeo textual Essa tecnologia
pode ser considerada para futuros trabalhos com alunos do ensino fundamental
Gostariacuteamos de mencionar que este trabalho do iniacutecio ao fim tratou com questotildees
de motivaccedilatildeo e inquietaccedilotildees reais e pessoais A queda abrupta do nuacutemero de participantes
desde o momento da adesatildeo ateacute o da produccedilatildeo para a circulaccedilatildeo eacute reflexo dos desafios que
qualquer professor enfrenta em sua sala cotidianamente No entanto as aulas regulares
diferentemente da proposta da aplicaccedilatildeo do projeto tecircm consigo uma carga de obrigatoriedade
ao exigir a frequecircncia a assiduidade a entrega de tarefas e as avaliaccedilotildees ndash itens que compotildeem
a nota para a aprovaccedilatildeo anual
Em decorrecircncia dessa obrigatoriedade se contrastarmos o desempenho dos alunos
no projeto ao seu desempenho regular na sala de aula de qualquer disciplina natildeo apenas na
liacutengua portuguesa veremos estudantes sem uma motivaccedilatildeo que os conecte ao desenvolvimento
das aulas natildeo permitindo o amadurecimento de suas capacidades e habilidades Como
professora da turma que aplicou o projeto sem exigecircncia de notas percebi que os alunos em
sua maioria natildeo gostariam de estar na escola Muitos natildeo veem ainda sentido em estar presentes
uma tarde inteira 20 (vinte) horas semanais sentados copiando tendo preguiccedila de elaborar
reflexotildees
Esse comportamento desmotivado que se generaliza em escolas de diversos pontos
do Paiacutes desanima tambeacutem os professores gerando a consequecircncia de ao inveacutes de buscarem
novas estrateacutegias para as aulas acabarem mantendo a praacutetica e ainda se conformando com o
senso comum de que ldquoesses alunos natildeo querem nadardquo fora a conjuntura social e econocircmica que
143
por si soacute eacute desanimadora ao limitar recursos e investimentos em educaccedilatildeo desvalorizando a
figura do professor
Gostariacuteamos de acrescentar que sim eles querem Mas ainda natildeo sabem ao certo o
que querem E talvez o que eles possam vir a querer ainda natildeo esteja sendo claramente
apresentado pois atividades tradicionais natildeo os atraem a querer conhecer mais e aprender mais
sobre determinados assuntos que podem acrescentar-lhes agrave vida diaacuteria Ficaria aiacute um desafio ao
professor ao projeto poliacutetico pedagoacutegico da escola e agraves redes de educaccedilatildeo baacutesica repensar o
curriacuteculo para os estudantes deste seacuteculo
Como pudemos observar este trabalho teve sim lacunas que podem ser sanadas
com outras pesquisas Apesar disso acreditamos que a pesquisa-accedilatildeo que realizamos pocircde
aleacutem de ofertar contribuiccedilotildees no acircmbito acadecircmico ao evidenciar vitoacuterias e expor os desafios
encorajar os alunos participantes da pesquisa principalmente os que tiveram a compreensatildeo de
que sua participaccedilatildeo lhes valeria para aleacutem de integrar pontos para uma nota no sentido de que
se permitiram evoluir como produtores de texto em sua liacutengua materna direito que lhes cabe
desde o momento em que satildeo reconhecidos cidadatildeos e que ingressam nas escolas brasileiras
144
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148
APEcircNDICE A ndash ATIVIDADES PROPOSTAS PARA A SEQUEcircNCIA DIDAacuteTICA
Para compor o momento da apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo da sequecircncia de atividades
sensibilizamos os alunos com as caracteriacutesticas baacutesicas das crocircnicas contemporacircneas que foram
descritas na seccedilatildeo correspondente e resgatadas agora organizaccedilatildeo de sua narrativa em primeira
ou terceira pessoa quase sempre como quem conta um caso em tom intimista uma narraccedilatildeo
em que o autor insere em seu texto trechos de diaacutelogos permeados por expressotildees cotidianas
escrevendo como quem conversa com seus leitores como se estivessem muito proacuteximos uso
de temaacuteticas que tratam de reflexotildees sobre a vida social poliacutetica econocircmica por vezes de forma
humoriacutestica outras de modo mais seacuterio outras com jeito poeacutetico permitindo o pertencimento
do gecircnero agrave esfera literaacuteria emprego de linguagem que mescla aspectos da escrita com outros
da oralidade preferecircncia pela brevidade leveza faacutecil acesso e envolvimento Esperamos que
ao final da atividade que aleacutem de respondida por escrito mas principalmente oralmente os
alunos atentem para essas caracteriacutesticas e possam ter um norte quando chegar o momento de
sua primeira produccedilatildeo
Atividade nordm 1
Prova Falsa
Seacutergio Porto (Stanislaw Ponte Preta)
Quem teve a ideia foi o padrinho da caccedilula ndash ele me conta Trouxe o cachorro de
presente e logo a famiacutelia inteira se apaixonou pelo bicho Ele ateacute que natildeo eacute contra isso de se ter
um animalzinho em casa desde que seja obediente e com um miacutenimo de educaccedilatildeo
mdash Mas o cachorro era um chato mdash desabafou
Desses cachorrinhos de raccedila cheio de nheacutem-nheacutem-nheacutem que comem comidinha
especial precisam de muitos cuidados enfim um chato de galocha E como se isto natildeo
bastasse implicava com o dono da casa
mdash Vivia de rabo abanando para todo mundo mas quando eu entrava em casa vinha
logo com aquele latido fininho e antipaacutetico de cachorro de francesa
Ainda por cima era puxa-saco Lembrava certos poliacuteticos da oposiccedilatildeo que
espinafram o ministro mas quando estatildeo com o ministro ficam mais por baixo que tapete de
poratildeo Quando cruzavam num corredor ou qualquer outra dependecircncia da casa o desgraccedilado
rosnava ameaccedilador mas quando a patroa estava perto abanava o rabinho fingindo-se seu
amigo
mdash Quando eu reclamava dizendo que o cachorro era um ciacutenico minha mulher
brigava comigo dizendo que nunca houve cachorro fingido e eu eacute que implicava com o
ldquopobrezinhordquo
Num raacutepido balanccedilo poderia assinalar o cachorro comeu oito meias suas roeu a
manga de um paletoacute de casimira inglesa rasgara diversos livros natildeo podia ver um peacute de sapato
que arrastava para locais incriacuteveis A vida laacute em sua casa estava se tornando insuportaacutevel
Estava vendo a hora em que se desquitava por causa daquele bicho cretino Tentou mandaacute-lo
embora umas vinte vezes e era uma choradeira das crianccedilas e uma espinafraccedilatildeo da mulher
mdash Vocecirc eacute um desalmado mdash disse ela uma vez
Venceu a guerra fria com o cachorro graccedilas agrave maacute educaccedilatildeo do adversaacuterio O
catildeozinho comeccedilou a fazer pipi onde natildeo devia Vaacuterias vezes exemplado prosseguiu no feio
viacutecio Fez diversas vezes no tapete da sala Fez duas na boneca da filha maior Quatro ou cinco
vezes fez nos brinquedos da caccedilula E tudo culminou com o pipi que fez em cima do vestido
novo de sua mulher
149
mdash Aiacute mandaram o cachorro embora mdash perguntei
mdash Mandaram Mas eu fiz questatildeo de daacute-lo de presente a um amigo que adora
cachorros Ele estaacute levando um vidatildeo em sua nova residecircncia
mdash Ueacutehellip mas vocecirc natildeo o detestava Como eacute que arranjou essa sopa pra ele
mdash Problema da consciecircncia mdash explicou mdash O pipi natildeo era dele
E suspirou cheio de remorso
(Disponiacutevel em httpcontobrasileirocombrprova-falsa-cronica-de-sergio-porto-stanislaw-ponte-preta Acesso
em 2612017)
Questotildees
1 Quantos personagens aparecem na histoacuteria Quais vocecirc diria que satildeo os principais
2 Quem teve a ideia foi o padrinho da caccedilula ndash ele me conta
A frase ele me conta eacute um recurso que mostra que a conversa de dois amigos eacute
repassada a uma terceira pessoa Quem eacute ela
3 Que recursos linguiacutesticos mostram a fala do marido e dono da casa onde estava o
cachorro
4 E quais identificam a fala do amigo
5 Onde o marido e seu amigo parecem conversar
6 A partir da fala do marido e das explicaccedilotildees do amigo quais eram as caracteriacutesticas do
cachorro
7 () e eu eacute que implicava com o ldquopobrezinhordquo
Por que pobrezinho estaacute entre aspas
8 Quando aconteceu a histoacuteria
9 Qual foi o problema da histoacuteria
10 Como foi resolvido
11 O destino dado ao cachorro surpreendeu ao amigo Por quecirc
12 Afinal quem era culpado na histoacuteria
13 Que tom predominantemente foi dado a esse texto Humor ironia criacutetica reflexatildeo
lirismo
14 Qual foi o tema principal do texto Vocecirc apontaria outros temas que aparecem na
leitura
15 Que comparaccedilotildees o autor faz com o cachorro Haacute alguma criacutetica Explique
16 Vocecirc conhece o significado das palavrasexpressotildees a seguir Veja
nheacutem-nheacutem-nheacutem chato de galocha puxa-saco
espinafrar espinafraccedilatildeo desquitava guerra fria
vidatildeo sopa
17 Que palavras satildeo usadas no texto para se referir agrave esposa
18 E suspirou cheio de remorso
Explique o valor dessa frase para o contexto da histoacuteria
Atividade nordm 2
Abandono de animais eacute crime e precisa ser denunciado
Por Canal do Pet | 26072016
150
Aleacutem do abandono de animais praacuteticas como bater negar aacutegua ou alimento tambeacutem
satildeo consideradas crime saiba como denunciar
Infelizmente o abandono de animais estaacute cada dia mais presente nos noticiaacuterios
Mesmo com tantas campanhas contra a praacutetica muita gente ainda comete esse crime -
principalmente quando eacute eacutepoca de feacuterias mesmo natildeo havendo um nuacutemero exato as estatiacutesticas
dos institutos de pesquisa afirmam que nos periacuteodos de feacuterias haacute um pico no abandono de
animais Existem muitos relatos de donos que deixam os cachorros em pet shops veterinaacuterios
e hoteacuteis para cachorro e simplesmente nunca mais voltam para buscaacute-los Esse problema pode
estar atrelado a decisatildeo precipitada de ter um animal de estimaccedilatildeo
A Lei 960598 (Lei de Crimes Ambientais) prevecirc os maus-tratos como crime O
decreto 2464534 (Decreto de Getuacutelio Vargas) determina quais atitudes podem ser consideradas
como maus-tratos Qualquer pessoa que for testemunha de um abandono de
animais domeacutesticos ou exoacuteticos pode ir agrave delegacia mais proacutexima A Promotora de Justiccedila
permite a denuacutencia anocircnima Mas para que a denuacutencia seja realizada vocecirc precisa ter certeza
do crime pois uma acusaccedilatildeo falsa eacute outro crime Aleacutem disso no momento da denuacutencia na
delegacia eacute preciso passar o maior nuacutemero de informaccedilotildees possiacuteveis em relaccedilatildeo ao infrator
como seu endereccedilo residencial ou comercial
Caso o animal esteja abandonado em um terreno baldio ou propriedade particular
por exemplo natildeo hesite em invadir o local para salvar o bichinho a sua accedilatildeo seraacute amparada
pela lei O decreto de lei nuacutemero 284840 artigo 24 considera a invasatildeo para salvamento de
um animal em perigo uma atitude de necessidade e portanto natildeo haveraacute nenhum tipo de
puniccedilatildeo
Aleacutem do abandono outras praacuteticas satildeo consideradas crimes pela lei Uma delas eacute o
atropelamento de um animal sem que haja a prestaccedilatildeo de assistecircncia por parte do condutor do
veiacuteculo tambeacutem eacute ilegal Se presenciar essa situaccedilatildeo anote a placa do carro hora e local Outra
eacute a ameaccedila de envenenamento Bater espancar prender por correntes recusar aacutegua e comida e
obrigar ao trabalho excessivo tambeacutem satildeo praacuteticas proibidas
Algumas pessoas preferem natildeo denunciar pelo fato do infrator ser algueacutem proacuteximo
um amigo ou familiar por exemplo Mas lembre-se de que eacute possiacutevel efetuar a denuacutencia de
maus tratos ou abando de animais de forma anocircnima Por isso ao presenciar qualquer situaccedilatildeo
que possa colocar um animal em risco tire foto grave um viacutedeo tenha provas concretas do
acorrido e denuncie Vocecirc seraacute apenas a testemunha o Estado faraacute o restante
Disponiacutevel em httpcanaldopetigcombrcuidados2016-07-26abandono-de-animaishtml Acesso em 22 de
agosto de 2017
Atividade nordm 3
O chato da vez Anaximandro Amorim
Ai meu Deus eu sou muito chato afirmou um amigo em uma conversa informal
Engraccedilado Eu natildeo o acho chato muito pelo contraacuterio Gosto da companhia dele Seraacute que ele
natildeo estaria sendo muito duro consigo mesmo Ou seraacute que eu sou tatildeo chato quanto ele
E vocecirc leitor Vocecirc eacute chato Todo mundo eacute chato ningueacutem eacute chato Do alto desses
meus quase quarenta anos de vida percebi que chatice natildeo eacute qualidade eacute estado de espiacuterito
Dependo de quem quando e onde E sem menos perceber vocecirc leitor pode ser o chato da
vez Cuidado
Foi o que me aconteceu esses dias Um colega insinuou que eu estava sendo chato
Foi num arroubo de fuacuteria o cidadatildeo estava tendo um ataque de nervos Dizem que eacute assim que
151
as verdades vecircm agrave tona Engraccedilado sempre achei que o havia tratado com distinccedilatildeo Talvez
essa fosse tal ldquochaticerdquo ser educado com as pessoas num mundo cada vez mais carente disso
Bom melhor ser chato do que grosso neacute
Particularmente faccedilo tudo para natildeo ser chato Tento ser discreto falar o menos
possiacutevel ouccedilo mais pergunto quase nada sobre a vida particular das pessoas Acho chato
quando fazem isso comigo Natildeo gosto de pegar no peacute A reciacuteproca eacute verdadeira Mas acho que
agraves vezes por medo da chatice acabo chateando algumas pessoas Haacute uma linha muito tecircnue
nesse negoacutecio todo Chato eacute natildeo saber a hora de ultrapassaacute-la E no fundo todo mundo a
ultrapassa
Esses dias aliaacutes fui agrave forra Havia um chato que me chateava haacute uns dois anos
Chato de rede social Daqueles que veem a gente uma duas vezes no maacuteximo e jaacute acham que
podem tomar certas liberdades Meu pavio eacute ateacute meio longo mas chegou uma hora que natildeo
deu Bloqueei o sujeito Estava chato demais Eacute uma pena que na vida real a gente natildeo tenha
esse botatildeo Ia ter tanta gente para bloquear
Em todo caso discordo desse meu amigo Acho que dois chatos natildeo se datildeo Ou ele
estava chato ou era eu Ou na posiccedilatildeo em que estaacutevamos natildeo dava para saber Se bem que
chato que eacute chato natildeo se acha chato Os outros eacute que acham Assim melhor terminar esta
crocircnica que estaacute uma grande chatice por aqui Antes que algueacutem ache definitivamente que o
chato da vez sou eu
Disponiacutevel em httpanaximandroamorimcombrAbreEmDIV]ajaxasplink=amateriaampid=127 Acesso em
24 mai 2017
Questotildees
1 Vamos falar de marcas de autoria
a) De quem eacute a voz que fala no texto Que idade tem essa voz Essa voz fala com algueacutem
Com quem Mostre alguma(s) passagem que indique isso
b) Onde a situaccedilatildeo se passa Haacute algum lugar especiacutefico
c) Esse texto estaacute no passado no presente ou no futuro
d) Do que trata a situaccedilatildeo Ela surgiu de alguma ocasiatildeo especiacutefica Se sim qual
2 O que o autor nos leva a entender que eacute ldquoser chatordquo
3 Que sensaccedilotildees esse texto despertou em vocecirc Explique
4 Vocecirc se considera um(a) chato(a) Por quecirc Em que ocasiotildees
5 Quando o assunto eacute redes sociais
a) Vocecirc tem alguma Qual
b) Com que frequecircncia vocecirc acessa
c) Vocecirc costuma escrever e postar Que tipo de material (textos fotos viacutedeos)
d) Vocecirc tem haacutebito de acompanhar postagens de algueacutem Que tipo de posts vocecirc
acompanha Costuma interagir por meio de comentaacuterios de expressatildeo de opiniatildeo
6 Vamos ver se vocecirc conhece o significado das palavrasexpressotildees a seguir
com distinccedilatildeo pegar no peacute
linha muito tecircnue fui agrave forra
7 Leia o trecho abaixo
Meu pavio eacute ateacute meio longo mas chegou uma hora que natildeo deu Bloqueei o sujeito
Estava chato demais Eacute uma pena que na vida real a gente natildeo tenha esse botatildeo Ia ter tanta
gente para bloquear
a) Qual eacute sua opiniatildeo sobre o pensamento que o autor expressa no trecho acima
b) Vocecirc tambeacutem teria gente para bloquear Por que razotildees
152
c) Agora vamos produzir Inspirado(a) nessa temaacutetica do trecho acima produza um texto
em forma de crocircnica que converse com seu leitor sobre o que eacute ser legal e ser chato a
partir de situaccedilotildees que vocecirc tenha vivenciado e ou observado Vamos determinar quem
seraacute esse leitor
bull Tem a sua idade
bull Acessa redes sociais
bull Lecirc e posta com frequecircncia
bull Interage com as postagens que estatildeo na rede seja de amigos pessoais ou apenas de
outros usuaacuterios
Antes de comeccedilar pense que sensaccedilotildees eu quer causar no meu leitor
Quero fazecirc-lo rir Se emocionar Refletir Que outras sensaccedilotildees seriam possiacuteveis
Faccedila entre 3 e 6 paraacutegrafos Vocecirc pode usar personagens que conversem e
expliquem o assunto (como em Prova Falsa) ou falar diretamente com seu leitor (como
em O chato da vez) Releia Reescreva o que natildeo estiver bem ao seu gosto Ao terminar
seu texto decirc-lhe um tiacutetulo coerente e passe a limpo na folha de produccedilatildeo Bom trabalho
Atividade nordm 4
Manias Ana Mello
Dos vaacuterios significados que meu amigo Aureacutelio apresenta o melhor diz que mania
eacute uma ideia fixa obsessatildeo Mau costume tambeacutem eacute bem significativo Ou extravagacircncia
esquisitice
Dizem por aiacute que vamos ficando velhos e as manias aumentam e se consolidam Eacute
verdade eu observo nos mais velhos do que eu Poucos conseguem controlar aquele impulso
profundo de dar sua opiniatildeo Essa eacute uma mania das mais chatas Repeti-la muitas vezes entatildeo
eacute maccedilante
Jaacute descobri tambeacutem que eacute quase inevitaacutevel ter manias na velhice muitas vecircm da
juventude mesmo condenamos e depois de um tempo fazemos igual sem cerimocircnia alguma
Uma amiga me enviou uma oraccedilatildeo sob o tiacutetulo ldquoOraccedilatildeo para ser uma velhinha
legalrdquo Vou fazer todos os dias e envio coacutepia a quem precisar Separei algumas frases as mais
interessantes
Livrai-me Senhor da tolice de achar que devo dizer algo em toda e qualquer
ocasiatildeo Deste desejo enorme que tenho de querer pocircr em ordem a vida dos outros Da tolice
de querer contar tudo com detalhes e minuacutecias e daacute-me asas para voar diretamente ao ponto que
interessa Jaacute descobri que pessoas que acertam sempre satildeo maccedilantes e desagradaacuteveis Livrai-
me de ser santa Eacute difiacutecil conviver com Santos Mas uma velha rabugenta Senhor eacute obra prima
do diabo
Acho que a oraccedilatildeo pode ser feita por pessoas jovens tambeacutem pois essas manias natildeo
satildeo exclusivas das velhinhas
Fiquei agora com uma duacutevida seraacute que escrever crocircnicas semanais e mandar para
todos os amigos eacute mania Se for azar o de vocecircs amigo eacute para isso mesmo
Enviado por Ana Mello em 02112007
Coacutedigo do texto T720831
Disponiacutevel em httpwwwrecantodasletrascombrcronicas720831
153
Acessado em 23102017
1 Quem eacute ldquomeu amigo Aureacuteliordquo
2 Que exemplos de manias a autora nos apresenta em seu texto
3 Que impressotildees esse texto causou em vocecirc
4 Segundo essa crocircnica quem tem manias Vocecirc concorda Por quecirc
5 Liste aqui manias que vocecirc sabe que tem Apoacutes terminar pense vocecirc as considera
boas ou maacutes manias Por quecirc
6 Vamos fazer um exerciacutecio de escrita Escreva uma crocircnica em que vocecirc fale de suas
manias Converse com o leitor conte a ele suas experiecircncias Faccedila comparaccedilotildees com
pessoas que vocecirc conhece Vocecirc pode inclusive comparar-se hoje a vocecirc daqui a uns
quarenta anos Como seraacute que suas manias vatildeo ser Vatildeo parecer com as das pessoas
mais velhas que vocecirc conhece e convive mas cujas manias vocecirc tanto critica Seratildeo
manias diferentes Seratildeo melhores ou piores
Obs coloque um tiacutetulo interessante e que chame a atenccedilatildeo de seu leitor
Pense que seu texto poderia ser publicado num blog ou mesmo numa paacutegina de rede
social ndash sendo assim que tipo de leitor vai ler o seu texto Ao terminar releia arrume
as ideias e passe a limpo para a folha de produccedilatildeo textual
Atividade nordm 5
Pacto apoacutes morte natildeo podia ver faca Nonato Reis
Essa histoacuteria de prometer retornar ao mundo dos vivos apoacutes o desenlace soa
esquisito e jaacute colocou muita gente em maus lenccediloacuteis A morte pelo misteacuterio que carrega incute
a curiosidade de tentar desvendaacute-la e saber o que de fato existe por traacutes dela Eacute uma questatildeo
que permaneceraacute insoluacutevel ateacute que a ciecircncia elucide-a se eacute que isso algum dia ocorreraacute
Enquanto natildeo atingimos esse estaacutegio temos que ficar com o relato daqueles que se dizem
viacutetimas ou privilegiados de experiecircncias poacutes-tuacutemulo
No Ibacazinho na Palmela no Muricituba e no Marimar era comum as pessoas
fazerem promessas agrave semelhanccedila do pacto selado entre Alvinho e Pau Ferro Na maioria das
vezes o defunto natildeo conseguia voltar deixando frustrados ou aliviados aqueles com quem fez
o acordo Foi o caso de Rui um primo meu que ldquose acertourdquo com Ponina aquela tia-avoacute
descrita em uma de minhas crocircnicas
Rui era um dos poucos que natildeo tinham medo da Tapera de Maria Fernandes Tanto
que decidiu erguer casa justo ali naquele retacircngulo amaldiccediloado e por muito tempo antes de
se casar foi morador solitaacuterio do lugar sem nunca jamais ter visto qualquer coisa fora do
universo dos vivos
Os dois combinaram que aquele que morresse primeiro viria dar sinal ao outro na
noite posterior ao sepultamento Ponina que devia ser uns 50 anos mais velha do que ele tinha
a maior probabilidade de ficar com a obrigaccedilatildeo de cumprir o trato e foi o que aconteceu Poreacutem
os dias e as noites passaram apoacutes o falecimento dela sem que a finada desse qualquer sinal da
sua presenccedila para Rui
Eu tambeacutem caiacute nessa besteira de fazer uma promessa com uma menina do primeiro
ano meacutedio e vivi uma situaccedilatildeo constrangedora Rosa era baixinha corpo bem feito cabelos no
estilo pigmaleatildeo excelente aluna fera em Matemaacutetica e Fiacutesica Nossa aproximaccedilatildeo se deu por
estrateacutegia de aprendizado
154
Eu tinha facilidade em Portuguecircs e Redaccedilatildeo uacutenicas mateacuterias que ela natildeo dominava
e precisava de reforccedilo em Fiacutesica e Matemaacutetica Selamos um pacto de ajuda muacutetua nessas
disciplinas que depois se estendeu para depois da vida ldquoSe eu morrer primeiro eu apareccedilo
para ti em plena Rua Grande apinhada de gente e se tu fores primeiro do que eu tu me surges
agrave noite no meu quartordquo
Eu natildeo entendi o porquecirc da escolha do local da minha apariccedilatildeo mas aceitei Os
anos se passaram eu entrara para a universidade perdi o contato com ela Um dia caminhando
pela Rua Grande veacutespera de Natal gente feito formiga dei de cara com aquela menina
tampinha cabelos no mesmo estilo de antes que diante de mim abriu um enorme sorriso e abriu
os braccedilos para me acolher Eu caiacute das nuvens mas antes que ela me alcanccedilasse danei a correr
feito louco fazendo zigue-zague entre as pessoas ateacute esbarrar num orelhatildeo e me estatelar no
chatildeo o rosto sangrando Assustada Rosa ajoelhou-se diante de mim e quis saber o motivo
daquela reaccedilatildeo ldquoCara o que eacute isso Tu viu fantasmardquo Eu baixei a cabeccedila o coraccedilatildeo prestes a
explodir e natildeo consegui dizer nada
Situaccedilatildeo pior viveu o professor Auriacutelio Vieira de Andrade que fizera um pacto
desses com um primo ainda menino Ele cresceu veio estudar em Satildeo Luiacutes e levou anos para
retornar ao interior Um belo dia em feacuterias na casa paterna Auriacutelio conversava com a matildee em
volta do fogatildeo de lenha quando do nada surgiu o menino da promessa e o pegou pelo braccedilo
dizendo ldquoVamos eu vim te buscarrdquo
Ele natildeo se lembrava mais da estoacuteria nem do menino Pensou que se tratava de uma
brincadeira e reagiu com naturalidade ldquoCalma para onde vocecirc quer me levarrdquo O menino
respondeu ldquopara o aleacutemrdquo Auriacutelio sorriu ldquomas eu ainda natildeo quero ir para o aleacutemrdquo O menino
natildeo se deu por vencido ldquoNatildeo importa a tua vontade vocecirc fez um pacto comigo e eu vim te
buscarrdquo
Foi entatildeo que o caso ressurgiu liacutempido na memoacuteria de Auriacutelio e ele viu que a coisa
era seacuteria A matildee percebendo a gravidade da situaccedilatildeo poreacutem sem avistar o menino tratou de
ajudar o filho segurando-o pelo braccedilo mas notou que havia uma energia ali muito maior que a
resistecircncia de ambos e apelou aos ceacuteus pedindo socorro divino
Auriacutelio jaacute desaparecia na porta da rua quase que levado aos trambolhotildees
Desesperada a matildee comeccedilou a rezar o Pai Nosso e o Credo e soacute assim conseguiu ter o filho de
volta Auriacutelio poreacutem viveu dias amargos ldquoPassei quase um mecircs deprimido Soacute pensava em
suiciacutedio Natildeo podia ver faca perto de mimrdquo
Crocircnica escrita em janeiro de 2017
Questotildees
Parte I ndash Vocabulaacuterio
a) Vocecirc conhece estas palavras
Desenlace Incute
Insoluacutevel Tapera
Pigmaleatildeo Apinhada
b) Vocecirc observa marcas de oralidade no texto Vamos destacar algumas
c) Que outras palavras ou expressotildees satildeo muito correntes no vocabulaacuterio do Maranhatildeo
Parte II ndash Compreensatildeo
1 Do que trata a histoacuteria
2 Qual eacute o foco narrativo
155
3 Que personagens aparecem na histoacuteria
4 O que eacute um pacto poacutes-morte Vocecirc sabe de algueacutem que tenha feito algum
5 Vocecirc acredita nessas histoacuterias Fale um pouco a respeito
6 No trecho ldquoSe eu morrer primeiro eu apareccedilo para ti em plena Rua Grande apinhada
de gente e se tu fores primeiro do que eu tu me surges agrave noite no meu quartordquo
Qual seria a vantagem para cada um nos locais das apariccedilotildees E as desvantagens
7 Como seria feito o seu pacto caso um dia vocecirc resolvesse fazecirc-lo
8 No que esse texto que vocecirc leu se assemelha com uma histoacuteria de terror E no que ela
se diferencia
9 Se esse texto fosse uma notiacutecia de jornal seria escrito da mesma forma Qual seria a
diferenccedila da linguagem
10 No uacuteltimo paraacutegrafo haacute a frase
ldquoFoi entatildeo que o caso ressurgiu liacutempido na memoacuteria de Auriacutelio e ele viu que a coisa
era seacuteriardquo
Se vocecirc fosse o Auriacutelio como resolveria a situaccedilatildeo
Atividade nordm 6
A cara da rua Marcelo Xavier
A rua sempre traduz a imagem de determinada eacutepoca Por isso eacute tatildeo interessante
Em cenas urbanas do seacuteculo XVIII XIX vemos carruagens mulheres de vestidos longos e
homens de terno e chapeacuteu No comeccedilo do seacuteculo XX automoacuteveis pretos mulheres de vestidos
mais curtos e homens ainda de terno e chapeacuteu Nos anos 1960 e 1970 automoacuteveis coloridos
mulheres de minissaia e homens sem terno e sem chapeacuteu
E agora na segunda deacutecada do seacuteculo XXI qual eacute a cara da rua Talvez vocecirc natildeo
saiba responder Eacute que ela passa todos os dias diante do seu nariz e vocecirc natildeo a vecirc Ou vocecirc
apenas vecirc algumas partes ldquomais atraentesrdquo do corpo dela A cara da rua continua invisiacutevel Vale o esforccedilo encare-a Como a um espelho Eacute divertido eacute necessaacuterio Esqueccedila o colesterol de
carros que entopem as vias mire os humanos
Repare bem as mulheres estatildeo de vestidos de todos os comprimentos de calccedilas
coladas se equilibrando em agulhas altiacutessimas carregadas de adereccedilos Normal
Os homens ah Os homens deram um salto esteacutetico rumo agrave libertaccedilatildeo Lembra
aqueles cavalheiros sisudos das ruas antigas com ternos de cores soacutebrias e chapeacuteus iguais
Esquece
Os novos machos estatildeo de brincos colares vistosos boneacutes e tecircnis coloridos
camisetas de todo tipo ebermudas
Natildeo as antigas que natildeo passavam de calccedilas curtas discretas As de hoje satildeo
espalhafatosas se expressam Multicoloridas exibem uma diversidade visual que beira o
infinito Geomeacutetricas abstratas figurativas iacutedolos super-heroacuteis paisagens flores ondas do
156
mar nuvens paacutessaros animais palavras de ordem apologias Combinam texturas
inimaginaacuteveis demarcam aacutereas visuais em recortes absurdamente livres ndash numa perna listras
diagonais na outra xadrez Um tsunami criativo que sai arrastando os antigos princiacutepios de
harmonia do universo da moda E o que eacute intrigante natildeo se repetem
Esse surto visual atinge seu aacutepice quando as bermudas-alucinoacutegenas se juntam a
camisetas estampadas tecircnis astronaacuteuticos boneacutes cheios de atitude e tatuagens ndash nos braccedilos nas
panturrilhas no pescoccedilo laacute estatildeo dragotildees coroas de espinho mulheres folhas de maconha
juras de amor
Vocecirc pode natildeo gostar do que vecirc natildeo se reconhecer na imagem que estaacute no espelho
mas essa eacute a cara da rua do seu tempo De certa forma a sua cara
XAVIER Marcelo A cara da rua e outras crocircnicas Satildeo Paulo Saraiva 2013
Vamos refletir sobre o texto
1 A partir da leitura vocecirc consegue deduzir de que situaccedilatildeo observada no cotidiano o autor
partiu para escrever essa crocircnica
2 O autor fez a construccedilatildeo do seu texto de forma simples poreacutem criativa por meio de
comparaccedilotildees para mostrar a cara da rua ao longo do tempo Vamos identificaacute-las
No meio urbano Seacutec XVIII
XIX
Comeccedilo do
seacutec XX
Anos 19601970 do
seacutec XX
2ordf deacutecada do
seacutec XXI
Vestuaacuterio
feminino
Vestuaacuterio
masculino
3 Dessas comparaccedilotildees do visual que foram feitas ao longo do texto vocecirc encontra alguma
na rua onde mora Qual
4 E o que eacute diferente na rua onde vocecirc mora que natildeo foi citado no texto
5 Preste atenccedilatildeo aos trechos a seguir
A rua sempre traduz a imagem de determinada eacutepoca Por isso eacute tatildeo interessante
[]
Vocecirc pode natildeo gostar do que vecirc natildeo se reconhecer na imagem que estaacute no espelho
mas essa eacute a cara da rua do seu tempo De certa forma a sua cara
6 A partir da leitura do texto vocecirc consegue dizer se o autor gosta ou natildeo gosta da cara da
rua que ele descreve Explique sua resposta
7 Que palavras ou expressotildees no texto mostram que o autor conversa com seu leitor ao longo do texto Sublinhe-as
8 Para que puacuteblico vocecirc acha que essa crocircnica estaacute direcionada Explique sua resposta
9 Vocecirc faraacute a seguir a seguinte atividade leia essa crocircnica de Marcelo Xavier para uma
pessoa em casa Apoacutes a leitura anote as impressotildees e opiniotildees dela sobre a atual cara
da rua sejam positivas ou negativas Ao final pergunte a essa pessoa para quem vocecirc
leu se o texto provocou uma impressatildeo boa ou ruim se ela o achou bem ou mal escrito
se a fez refletir sobre a vida e a mudanccedila dos tempos e qual a conclusatildeo a que ela chegou
depois dessa reflexatildeo
Ao final dessa atividade passe a limpo seu registro e traga para a aula
seguinte para discussatildeo coletiva
157
Atividade nordm 7
A Carta de punho
Demitri Tulio
DAS ANTIGAS 23102016
Algumas pessoas ainda escrevem cartas E bom que ainda o fazem Missivas
escritas agrave matildeo e a tinta preta da caneta dando vida agrave vontade de chegar perto do outro
Ou de ser escutado como se pensasse alto querendo ser ouvido das lonjuras que a
vida vai criando entre ex-amores amigos que deixaram de se ter de filho e matildee separados por
asas
Particularmente antes de agora laacute longe quando fui mais menino queria ter escrito
muitas cartas Devo ter rabiscado umas duas e nunca as mandei agrave destinataacuteria
Primeiro porque tinha vergonha de natildeo saber ortografia Achava difiacutecil (ainda
acho) a gramaacutetica brasileira e me amuava em vergonha de grafar ou concordar alguma coisa
ldquoerradardquo para quem eu queria dizer de mim
Entatildeo ficava horas e dias tentando
rascunhar correto e catando palavras peludas
trechos do dicionaacuterio frase de escritores que eu
queria ser Um paraacutegrafo dois e rasgava a folha
do caderno Serei levado a pagode
E por mais que eu lesse Graciliano
para Heloiacutesa os labirintos e as encruzilhadas da Clarice e os retratos de dona Leopoldina sobre
o Brasil e seu desenxabido Pedro I natildeo conseguia nem copiaacute-los
Loacutegico carta eacute um ser entranhado do remetente Eacute quase um pulmatildeo um rim um
coraccedilatildeo Eacute parte do corpo que se doa no instante em que a esferograacutefica vai sendo guiada pelo
papel
E natildeo era meu o afeto de Graciliano Natildeo eram minhas as inquietaccedilotildees de Clarice
E era de dona Leopoldina aquele incocircmodo de calor a saudade das oacuteperas da Aacuteustria as caccediladas
de animais do Brasil ldquoprimitivordquo
Pois bem queria ter escrito recebido e respondido mais cartas Hoje mando emails
Eacute bom mas carta tinha uma espera que natildeo sei dizer
Semana passada depois de mais de 30 anos sem algueacutem me endereccedilar uma carta
de papel e caneta eis que recebo Natildeo foi de pretendente Sempre esperei por uma dessas mas
talvez a falta de boniteza tenha me privado de
Foi de um leitor da Coluna Um moccedilo de mais de 92 anos que teve a gentileza de
tirar um tempo e me enviar um envelope pelos Correios Carimbado dois selos e o trato por
ldquoIlmo Srrdquo
ldquoCaro (posso) Sr Demitri Sauacutede Sou assinante drsquo O Povo haacute deacutecadas e portanto
seu leitor antigo Natildeo soacute leitor mas tambeacutem admirador pela defesa da natureza (paacutessaros do
Cocoacute) e pelo seu estilo diferente (neologismos bem lsquocolocadosrsquo) e assuntos (temas) originais
para suas crocircnicas
Criei coragem para lhe escrever apoacutes ler sua crocircnica (artigo) lsquoEntatildeo Venha
comigorsquo excelente para quem como eu jaacute passou dos 92 e concorda com suas colocaccedilotildees
sobre a velhice
Aceite meus cumprimentos e votos de muitos anos de lsquoescrevinhaccedilatildeorsquo
Cordialmente (ex-cordis) Santos Rochardquo
158
E ainda escreve um paraacutegrafo derradeiro apoacutes as despedida e a assinatura ldquoPS Natildeo
eacute que eu queira lsquosubir aleacutem da chinelarsquo mas me parece que no penuacuteltimo paraacutegrafo de sua
crocircnica deveria ter escrito lsquose casariarsquo em vez de lsquocasaria-sersquo Discurperdquo
O envelope branco com um carimbo de uma agecircncia dos Correios do bairro
Meireles trazia ainda um texto datilografado (Ser Jovem do general Douglas Mac-Arthur) e
um recorte de jornal com um sermatildeo de Santo Agostinho
Pois fico agradecido pela decisatildeo de escrever a carta do tempo dedicado Pelos
minutos pensando em o que escrever Por cada palavra casada com cada frase Pela respiraccedilatildeo
para pensar em quem nem se conhece
Pela caneta preta identificando o remetente
Pela ida aos Correios ou por se dar ao trabalho de pedir algueacutem que fosse
Pela gentileza de ler a Das Antigas
Como o senhor mandou dizer ldquoNatildeo eacute por ter vivido um certo nuacutemero de anos que
envelhecemos envelhecemos porque abandonamos o nosso idealrdquo
Sem mais fico por aqui
Acesso em 31 ago 2017
httpwww20opovocombrappcolunasdasantigas20161022noticiasdasantigas3665372a-carta-de-
punhoshtml
Vocabulaacuterio
Desenxabido Adjetivo 1desprovido de gosto de sabor insiacutepido insosso2a que
falta interesse particular ou graccedila marcado pela repeticcedilatildeo aborrecido monoacutetono
Ex abundantia cordis Da abundacircncia do coraccedilatildeo Com sinceridade
Curiosidade
Pedro nasceu na manhatilde de 12 de outubro de 1798 no Palaacutecio Real de Queluz
Portugal Ele foi nomeado em homenagem a Satildeo Pedro de Alcacircntara e seu nome completo era
Pedro de Alcacircntara Francisco Antoacutenio Joatildeo Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael
Joaquim Joseacute Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim Desde seu nascimento recebeu o prefixo
honoriacutefico de Dom
Atividade
Vamos observar a crocircnica Marque o que acha adequado
Sim Natildeo
Partiu de uma situaccedilatildeo observadavivida
Conversa com o leitor
Possui o foco narrativo bem determinado (narrador personagem ou
narrador observador ou narrador onisciente)
Leva o leitor a refletir
Causa impressotildees no leitor como riso choro reflexatildeo emoccedilatildeo
Possui um final interessante
Mostra discretamente ao leitor seu ponto de vista a respeito da situaccedilatildeo
Possui alguma descriccedilatildeo de lugarobjetopersonagem
Possui um tiacutetulo
Emprega adequadamente os sinais de pontuaccedilatildeo
Evita repeticcedilatildeo desnecessaacuteria de palavras
Possui paraacutegrafos bem organizados
159
Atividade nordm 8
Amor de macumba Fabriacutecio Carpinejar
Quando algum amigo diz que recebeu macumba da ex fico com ciuacuteme Com dor
de cotovelo
Isso que eacute amor grandioso Amor de verdade
Sempre olho na minha esquina para ver se natildeo tem nenhuma encomenda para mim
Mas nunca chega esse sedex do amor
Macumba eacute sedex 10 do amor
Eacute muita paixatildeo odiar algueacutem com tanto zelo Eacute muito capricho gastar seu tempo e
fazer um trabalhinho para prender a pessoa ao seu coraccedilatildeo
Eacute muita disposiccedilatildeo
Eacute muita energia
Eacute muito querer
Eacute muito desejo
Eacute a superaccedilatildeo de todos os incocircmodos de todos os vexames de todos os medos
Eacute muito luxo ter uma amada pagando para os santos mexerem com vocecirc pagando
a parcela antecipada da eternidade
Isso que eacute amor aleacutem da vida
Isso que eacute vontade de permanecer junto
Eu aceitaria qualquer prova de doaccedilatildeo amarraccedilatildeo vodu letras de macarratildeo
pipoca
Nem precisa roubar minha cueca daria a melhor da minha gaveta
Ai que inveja
No lugar da galinha preta poderia oferecer o chester que sempre recebo no final do
ano
Estaacute aqui parado no congelador Sem uso
E as velas na minha esquina ainda ajudariam a iluminaccedilatildeo puacuteblica
Amor de macumba eacute amor para sempre
Disponiacutevel em httpcarpinejarblogspotcombr201402amor-de-macumbahtml
Acesso em 2 de agosto de 2017
Vamos refletir sobre o texto
1 A partir da leitura vocecirc consegue deduzir de que situaccedilatildeo observada no cotidiano o autor
partiu para escrever essa crocircnica
2 Qual parece ser a opiniatildeo do autor a respeito do tema Utilize trechos do texto que
justifique a sua resposta
3 Que reflexotildees se pode perceber na leitura desse texto
4 Que impressotildees essa crocircnica causa no leitor (riso choro reflexatildeo emoccedilatildeo alguma
outra)
160
Atividade nordm 9
Sr Google Pacheco
SR GOOGLE PACHECO
27 outubro 2012 Juliano Martinz
Quando chegavam ao escritoacuterio pela manhatilde o senhor Google Pacheco sempre
estava laacute Sentado a sua mesa ou correndo de um lado para outro mantinha-se no seu
memoraacutevel ritmo agitado produccedilatildeo beirando o frenesi Os funcionaacuterios o admiravam Era
sempre o primeiro a chegar e o uacuteltimo a sair (embora ningueacutem tenha testemunhado qualquer
um destes acontecimentos)
ndash Acho que ele dorme no escritoacuterio ndash alguns arriscavam
Outros jaacute apelavam pro exagero
ndash Dizem que ele nunca dorme
Sr Google Pacheco O chefe do departamento de marketing Baixo e gordinho
Feiccedilatildeo inocente quase boba Chamava a atenccedilatildeo pelas roupas sempre de cores viacutevidas
cintilantes Geralmente boneacute azul camiseta vermelha calccedilas amarelas e tecircnis verde Agraves vezes
invertia as cores mas nunca as abandonava Roupas estranhas para um homem de nome
estranho A personagem perfeita para textos humoriacutesticos
Quando era novo na empresa ainda apenas um singelo desconhecido causava
confusatildeo com seu nome Liam o crachaacute e diziam
ndash Bom dia sr Goacutegle
Ele corrigia sempre sorridente e simpaacutetico
ndash Natildeo natildeo Pronuncia-se Guacutegou
ndash Guacutegou
ndash Eacute a centeacutesima potecircncia do nuacutemero 10
ndash Uau
Ateacute o nome carregava seu estigma de gecircnio absoluto O Sr Google era uma
enciclopeacutedia ambulante Parecia ser senhor de todo o conhecimento Portador de soluccedilatildeo para
os mais variados problemas na ponta da liacutengua Para cada desafio proposto no dia a dia da
empresa vertia um turbilhatildeo de soluccedilotildees precisas e automaacuteticas
Com sua eficiecircncia derramada a cada suspiro de auxiliar no departamento de
marketing chegou agrave chefia em poucos meses Com o passar dos dias e semanas a experiecircncia
acumulando-se nas veias parecia saber o que as pessoas queriam antes de terminarem de falar
ndash Seu Google o senhor sabe que horashellip
ndash hellip seraacute a reuniatildeo do conselho
ndash Isso Isso mesmo
ndash 16 horas
Era um gecircnio Disposiccedilatildeo tamanha natildeo demorou muito e comeccedilaram a abordar
assuntos mais pessoais
ndash Sr Google preciso de sua ajuda Como faccedilo para conhellip
ndash Conquistar sua melhor amiga
ndash Uau Como o senhor sabe
E derramava soluccedilotildees Como se natildeo bastasse a prontidatildeo comeccedilou a oferecer
vaacuterias opccedilotildees
ndash Sr Google chocolate daacutehellip
ndash Espinha Celulite Coacutelica no bebecirc
ndash Eacuteeacuteeacuteeacutehellip
161
ndash Sono Dor de cabeccedila Azia
ndash Euhellip
ndash Enxaqueca Energia Gases
ndash Isso ndash disse ruborizada ndash Gases
ndash Ahaacute Vocecirc estaacute com sorte menina
Ateacute o poderoso e inacessiacutevel dono da empresa cuja agenda diaacuteria se resumia a
constantes viagens de negoacutecio pela Europa comeccedilou a passar mais tempo no Brasil E quase
todos os dias ia na empresa Mas nem entrava em sua sala Jaacute ia direto para a sala do senhor
Google Os curiosos e fofoqueiros discutiam o teor das conversas atraacutes daquelas portas Uns
diziam que falavam apenas sobre bolsa de valores Acontecimentos mundiais tendecircncias
econocircmicas essas coisas Outros achavam que a conversa soacute passeava pela arena dos assuntos
pessoais
Independentemente do conteuacutedo destes encontros a portas fechadas a empresa soacute
crescia E os funcionaacuterios eram unacircnimes em admitir depois da chegada do Sr Google a vida
de todos eles se tornou mais completa e intensa
Certo dia o Sr Google natildeo apareceu para trabalhar A princiacutepio pairou uma tensatildeo
camuflada no ar Agrave medida que as horas foram passando e o Sr Google natildeo aparecia fez-se
um clima de desespero Comeccedilaram a ligar para o seu celular mas dava como nuacutemero
inexistente Algueacutem tem o telefone da casa dele O resultado foi o mesmo nuacutemero inexistente
Onde ele morava mesmo Ningueacutem sabia O desespero instalou-se no preacutedio Ningueacutem
conseguia fazer nada Ficavam andando de um lado para outro perdidos Nem a dona Gertrudes
conseguiu fazer o cafeacute
Durante dias ningueacutem trabalhou Duacutevidas sobre o andamento da empresa ndash diziam
que accedilotildees da empresa estavam tendo quedas vertiginosas Os funcionaacuterios sentiam-se curvados
ante o peso dos problemas pessoais que natildeo conseguiam resolver sem a ajuda e os conselhos
do Sr Google
Duas semanas depois e metade deles natildeo mais aparecia na empresa Dois ou trecircs
mergulharam de cabeccedila no alcoolismo Outro se jogou da ponte E o poderoso dono da empresa
quem diria foi flagrado diversas vezes em prantos cambaleando pelos corredores
fantasmagoacutericos e mal iluminados da empresa que veio agrave falecircncia dias depois
Quanto ao sr Google nunca mais foi visto Dizem por aiacute que montou um site e
ficou milionaacuterio Mas comprovar mesmo ningueacutem nunca comprovou
Acesso em 2 de agosto de 2017
Disponiacutevel em httpcorrosivacombrcronicas-engracadascronica-humoristica-google-
pacheco
Atividade
1 Vocecirc conhece o vocabulaacuterio a seguir
Memoraacutevel
Frenesi
Singelo
Vertia
Turbilhatildeo
Vertiginosas
2 O texto trata de maneira bem humorada de uma situaccedilatildeo cotidiana Qual
3 O texto traz em si alguma reflexatildeo Qual
162
ANEXO A ndash DISTRIBUICcedilAtildeO POR NIacuteVEL DE PROFICIEcircNCIA
Liacutengua Portuguesa do 9ordm Ano do Ensino Fundamental
Distribuiccedilatildeo por Niacutevel de Proficiecircncia - Liacutengua Portuguesa do 9ordm Ano do Ensino
Fundamental
Niacutevel Descriccedilatildeo do Niacutevel - O estudante provavelmente eacute capaz de
Niacutevel 0
Desempenho menor
que 200
Niacutevel 1
Desempenho maior
ou igual a 200 e
menor que 225
Os estudantes provavelmente satildeo capazes de Reconhecer
expressotildees caracteriacutesticas da linguagem (cientiacutefica jornaliacutestica etc)
e a relaccedilatildeo entre expressatildeo e seu referente em reportagens e artigos
de opiniatildeo Inferir o efeito de sentido de expressatildeo e opiniatildeo em
crocircnicas e reportagens
Niacutevel 2
Desempenho maior
ou igual a 225 e
menor que 250
Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes
provavelmente satildeo capazes de Localizar informaccedilotildees expliacutecitas em
fragmentos de romances e crocircnicas Identificar tema e assunto em
poemas e charges relacionando elementos verbais e natildeo verbais
Reconhecer o sentido estabelecido pelo uso de expressotildees de
pontuaccedilatildeo de conjunccedilotildees em poemas charges e fragmentos de
romances Reconhecer relaccedilotildees de causa e consequecircncia e
caracteriacutesticas de personagens em lendas e faacutebulas Reconhecer
recurso argumentativo em artigos de opiniatildeo Inferir efeito de
sentido de repeticcedilatildeo de expressotildees em crocircnicas
Niacutevel 3
Desempenho maior
ou igual a 250 e
menor que 275
Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes
provavelmente satildeo capazes de Localizar informaccedilotildees expliacutecitas em
crocircnicas e faacutebulas Identificar os elementos da narrativa em letras de
muacutesica e faacutebulas Reconhecer a finalidade de abaixo-assinado e
verbetes Reconhecer relaccedilatildeo entre pronomes e seus referentes e
relaccedilotildees de causa e consequecircncia em fragmentos de romances
diaacuterios crocircnicas reportagens e maacuteximas (proveacuterbios) Interpretar o
sentido de conjunccedilotildees de adveacuterbios e as relaccedilotildees entre elementos
verbais e natildeo verbais em tirinhas fragmentos de romances
reportagens e crocircnicas Comparar textos de gecircneros diferentes que
abordem o mesmo tema Inferir tema e ideia principal em notiacutecias
crocircnicas e poemas Inferir o sentido de palavra ou expressatildeo em
histoacuteria em quadrinhos poemas e fragmentos de romances
Niacutevel 4
Desempenho maior
Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes
provavelmente satildeo capazes de Localizar informaccedilotildees expliacutecitas em
artigos de opiniatildeo e crocircnicas Identificar finalidade e elementos da
163
ou igual a 275 e
menor que 300
narrativa em faacutebulas e contos Reconhecer opiniotildees distintas sobre o
mesmo assunto em reportagens contos e enquetes Reconhecer
relaccedilotildees de causa e consequecircncia e relaccedilotildees entre pronomes e seus
referentes em fragmentos de romances faacutebulas crocircnicas artigos de
opiniatildeo e reportagens Reconhecer o sentido de expressatildeo e de
variantes linguiacutesticas em letras de muacutesica tirinhas poemas e
fragmentos de romances Inferir tema tese e ideia principal em
contos letras de muacutesica editoriais reportagens crocircnicas e artigos
Inferir o efeito de sentido de linguagem verbal e natildeo verbal em
charges e histoacuteria em quadrinhos Inferir informaccedilotildees em
fragmentos de romance Inferir o efeito de sentido da pontuaccedilatildeo e da
polissemia como recurso para estabelecer humor ou ironia em
tirinhas anedotas e contos
Niacutevel 5
Desempenho maior
ou igual a 300 e
menor que 325
Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes
provavelmente satildeo capazes de Localizar a informaccedilatildeo principal em
reportagens Identificar ideia principal e finalidade em notiacutecias
reportagens e resenhas Reconhecer caracteriacutesticas da linguagem
(cientiacutefica jornaliacutestica etc) em reportagens Reconhecer elementos
da narrativa em crocircnicas Reconhecer argumentos e opiniotildees em
notiacutecias artigos de opiniatildeo e fragmentos de romances Diferenciar
abordagem do mesmo tema em textos de gecircneros distintos Inferir
informaccedilatildeo em contos crocircnicas notiacutecias e charges Inferir sentido
de palavras da repeticcedilatildeo de palavras de expressotildees de linguagem
verbal e natildeo verbal e de pontuaccedilatildeo em charges tirinhas contos
crocircnicas e fragmentos de romances
Niacutevel 6
Desempenho maior
ou igual a 325 e
menor que 350
Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes
provavelmente satildeo capazes de Identificar ideia principal e
elementos da narrativa em reportagens e crocircnicas Identificar
argumento em reportagens e crocircnicas Reconhecer o efeito de
sentido da repeticcedilatildeo de expressotildees e palavras do uso de pontuaccedilatildeo
de variantes linguiacutesticas e de figuras de linguagem em poemas
contos e fragmentos de romances Reconhecer a relaccedilatildeo de causa e
consequecircncia em contos Reconhecer diferentes opiniotildees entre
cartas de leitor que abordam o mesmo tema Reconhecer a relaccedilatildeo
de sentido estabelecida por conjunccedilotildees em crocircnicas contos e
cordeacuteis Reconhecer o tema comum entre textos de gecircneros
distintos Reconhecer o efeito de sentido decorrente do uso de
figuras de linguagem e de recursos graacuteficos em poemas e
fragmentos de romances Diferenciar fato de opiniatildeo em artigos e
reportagens Inferir o efeito de sentido de linguagem verbal e natildeo
verbal em tirinhas
Niacutevel 7
Desempenho maior
Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes
provavelmente satildeo capazes de Localizar informaccedilotildees expliacutecitas
ideia principal e expressatildeo que causa humor em contos crocircnicas e
164
ou igual a 350 e
menor que 375
artigos de opiniatildeo Identificar variantes linguiacutesticas em letras de
muacutesica Reconhecer a finalidade e a relaccedilatildeo de sentido estabelecida
por conjunccedilotildees em lendas e crocircnicas
Niacutevel 8
Desempenho maior
ou igual a 375
Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes
provavelmente satildeo capazes de Localizar ideia principal em
manuais reportagens artigos e teses Identificar os elementos da
narrativa em contos e crocircnicas Diferenciar fatos de opiniotildees e
opiniotildees diferentes em artigos e notiacutecias Inferir o sentido de
palavras em poemas
Fonte INEP (2018)
165
ANEXO B ndash DISTRIBUICcedilAtildeO DE TEXTOS FALADOS E ESCRITOS NO CONTIacuteNUO
GENEacuteRICO
Distribuiccedilatildeo dos textos de uso falados e escritos no contiacutenuo geneacuterico
Fonte MARCUSCHI (2015 p 195-196)
166
ANEXO C ndash PRODUCcedilOtildeES DOS ALUNOS
Produccedilatildeo Inicial de Ana
Produccedilatildeo Final de Ana
167
Produccedilatildeo Inicial de Rodrigo
168
Produccedilatildeo final de Rodrigo
169
Produccedilatildeo Inicial de Eduardo
170
Produccedilatildeo final de Eduardo
171
Produccedilatildeo inicial de Estela
172
Produccedilatildeo final de Estela
173
174
175
Produccedilatildeo Inicial de Celia
176
Produccedilatildeo final de Celia
177
Produccedilatildeo Inicial de Arlindo
178
Produccedilatildeo final de Arlindo
179
Produccedilatildeo Inicial de Juacutelia
180
Produccedilatildeo final de Juacutelia
181
Produccedilatildeo Inicial de Vicente
182
Produccedilatildeo final de Vicente
183
Produccedilatildeo Inicial de Graccedila
184
Produccedilatildeo final de Graccedila
185
Produccedilatildeo Inicial de Lilian
186
Produccedilatildeo final de Lilian
187
Produccedilatildeo Inicial de Heloiacutesa
188
Produccedilatildeo final de Heloisa
189
Produccedilatildeo Inicial de Eliane
190
Produccedilatildeo final de Eliane
191
Produccedilatildeo Inicial de Joana
Fonte dados da pesquisa
192
Figura 31 ndash Produccedilatildeo final de Joana
FERNANDA MARIA DA SERRA COSTA
A PRODUCcedilAtildeO ESCRITA DE CROcircNICAS EM SALA DE AULA DO 9ordm ANO DO ENSINO
FUNDAMENTAL
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-
Graduaccedilatildeo Profissional em Letras da
Universidade Federal do Cearaacute como requisito
parcial agrave obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em
Letras Aacuterea de concentraccedilatildeo Linguagens e
Letramentos
Aprovado em ____ ____ _______
BANCA EXAMINADORA
________________________________________
Profordf Drordf Aacuteurea Suely Zavam (Orientadora)
Universidade Federal do Cearaacute (UFC)
_________________________________________
Profordf Drordf Pollyane Bicalho Ribeiro
Universidade Federal do Cearaacute (UFC)
_________________________________________
Prof Drordf Sarah Diva da Silva Ipiranga
Universidade Estadual do Cearaacute (UECE)
A Deus
Aos meus pais Olilia e Arnold
Aos meus filhotes Felipe e Miguel
A Maria Morena e Bilaacute in memorian
AGRADECIMENTOS
A Deus que me pocircs a realizar sonhos permitindo-me o devido aperfeiccediloamento
para que pudesse executar melhor a tarefa de contribuir para o mundo
Aos meus pais Olilia e Arnold por todo o apoio incondicional e sem esperar em
troca a vida toda e mais ainda durante o mestrado
Aos meus filhos Felipe e Miguel pela compreensatildeo da distacircncia mesmo que
passageira pela paciecircncia e pelo apoio
Agrave Prof Dr Aurea Zavam pelo carinho acolhimento e orientaccedilatildeo
Aos professores participantes da banca examinadora Pollyane Bicalho Ribeiro e
Sarah Diva da Silva Ipiranga pelo tempo pelas valiosas colaboraccedilotildees e sugestotildees
Aos colegas da 3ordf turma de mestrado ProfLetrasUFC pelas reflexotildees criacuteticas e
sugestotildees recebidas
Agraves damas do fuaacute porque satildeo as melhores amigas que se pode ter Raquel Ive
Carolina Edvania Eacuterica e Flaacutevia
A Aline pela amizade e carinho imensos essa natural forccedila que a vida lhe deu e
que tatildeo generosamente partilha
A Carla amiga de forccedila pela sensatez e ombro amigo generosidade e atenccedilatildeo
A Robson do fundo do coraccedilatildeo de quem digo que palavras natildeo descrevem essa
amizade que a gente tem
Agrave querida Nady por sua boniacutessima vontade em passar suas ldquolentes de catar pulgardquo
em minhas linhas
Ao meu tio Raimundo e a dona Gilda pela compreensatildeo e disposiccedilatildeo em ajudar a
cuidar da minha turma aqui
Agrave Semed-Satildeo Luiacutes por acreditar na figura do professor que busca capacitaccedilatildeo
profissional
Agrave coordenaccedilatildeo do Mestrado Profissional em LetrasUFC pelo incentivo aos
mestrandos
Aos nossos professores do Mestrado que em muito contribuiacuteram em nossa jornada
Agrave nossa diretora da escola Maria de Jesus Dijeacute pelo apoio e disponibilidade e por
sempre acreditar nos projetos como uma forma de acrescentar ao aperfeiccediloamento dos alunos
da escola
Aos professores e funcionaacuterios que apoiaram e colaboraram com o projeto
Aos pais e familiares que apoiaram e consentiram na participaccedilatildeo dos alunos
Aos alunos do 9ordm ano turma 91 de 2017 que integraram o projeto acreditaram em
si mesmos e agora veem seus escritos circularem socialmente
A todos os amigos colegas de trabalho alunos ex-alunos e demais pessoas que
cruzaram meu caminho deixando contribuiccedilotildees alertas liccedilotildees posso natildeo nominar um por um
aqui mas agradeccedilo sua importacircncia
Agrave CAPES pelo apoio financeiro com a manutenccedilatildeo da bolsa de auxiacutelio
ldquoSe vocecirc quiser melhorar de vida Marcie
sempre vai ter que atravessar um oceano ou um
deserto ou uma montanha Mas se de repente
vocecirc atravessar uma sala cheia de gente toda a
sua vida pode mudarrdquo (Peppermint Patty)
RESUMO
O presente trabalho versa sobre o desenvolvimento da competecircncia escrita de alunos do 9ordm ano
do Ensino Fundamental por meio de uma sequecircncia didaacutetica aplicada ao gecircnero crocircnica
visando proporcionar avanccedilos no processo de redigir Para o aporte teoacuterico daacute-se preferecircncia
agraves abordagens de gecircnero na perspectiva de Bakhtin (2011) Bazerman (2009) Bazerman e
Miller (2011) e Marcuschi (2015) A metodologia envolve uma pesquisa-accedilatildeo conforme
elucidaccedilotildees de Gil (2008) O procedimento se daacute pela aplicaccedilatildeo de uma sequecircncia didaacutetica
inspirada em contribuiccedilotildees de Dolz Noverraz e Schneuwly ([2004] 2013) Swiderski e Costa-
Huumlbes (2009) Lopes-Rossi (2011) Vieira (2005) e Serafini (2003) com vista ao aprendizado
de produccedilatildeo de texto do gecircnero crocircnica sob a oacutetica da escrita como processo Por meio das
atividades de leitura e escrita de crocircnicas percebe-se que os alunos refletiram sobre os
procedimentos de escritor sensibilizaram mais o seu olhar para o cotidiano e ampliaram o
conhecimento de sua competecircncia linguiacutestica Acredita-se que propiciar situaccedilotildees de
aprendizagem apresentando-as natildeo como um fardo mas com a graccedila ndash apesar do necessaacuterio
investimento pedagoacutegico ndash que a escrita pode vir a ter garante assim que os alunos concluam
o Ensino Fundamental tendo a oportunidade de elaborar textos consoantes ao seu direito de
serem proficientes em sua liacutengua materna
Palavras-chave Produccedilatildeo escrita Gecircneros textuais Sequecircncia didaacutetica Crocircnicas
ABSTRACT
The present work deals with the development of written competence of students of the 9th grade
of elementary school through a didactic sequence applied to the genre chronicles aiming to
provide advances in the writing process For the theoretical contribution genre approaches are
preferred from the perspective of Bakhtin (2011) Bazerman (2009) Bazerman e Miller (2011)
e Marcuschi (2015) The methodology involves an action research according to Gils (2008)
elucidations The procedure is based on the application of a didactic sequence inspired by
contributions of Dolz Noverraz and Schneuwly ([2004] 2013) Swiderski and Costa-Huumlbes
(2009) Lopes-Rossi (2011) Vieira (2005) e Serafini (2003) with a view to learning text
production of the genre chronicle under the point of view of writing as a process Through the
activities of reading and writing of chronicles it is noticed that the students have reflected on
the procedures of writer they have sensitized more their look at the quotidian and have extended
the knowledge of their linguistic competence It is believed that providing learning situations
by presenting them not as a burden but with the grace - despite all the necessary pedagogical
investment - that writing can have thus ensuring that students finish elementary school having
the opportunity to prepare texts according to their right to be proficient in their mother language
Keywords Written production Genres Didactic sequence Chronicles
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Esquema baacutesico de sequecircncia didaacutetica 31
Figura 2 - Esquema da SD adaptada por Costa-Huumlbes 36
Figura 3 - Esquema da SD adaptada por Costa-Huumlbes 38
Figura 4 - Proposiccedilatildeo de sequecircncia didaacutetica para o projeto de escrita 77
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 ndash Resultados IDEB 2015 70
Graacutefico 2 ndash Desempenho da escola nas ediccedilotildees da Prova Brasil 70
Graacutefico 3 ndash Distribuiccedilatildeo percentual dos alunos do 9ordm Ano do EF por niacutevel de
proficiecircncia - Liacutengua Portuguesa
71
Graacutefico 4 ndash Nuacutemero de alunos do 9ordm ano 88
Graacutefico 5 ndash Participaccedilatildeo nas produccedilotildees 89
Graacutefico 6 ndash Alunos presentes por encontro 90
Graacutefico 7 ndash Avaliaccedilatildeo das crocircnicas A 122
Graacutefico 8 ndash Avaliaccedilatildeo das crocircnicas B 136
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 ndash Siacutentese das etapas de desenvolvimento de projetos pedagoacutegicos que visam agrave
produccedilatildeo escrita de gecircneros discursivos
38
Quadro 2 ndash Motivaccedilatildeo e envolvimento na produccedilatildeo escrita 54
Quadro 3 ndash Como organizar as ideias em paraacutegrafos 63
Quadro 4 ndash Moacutedulos desenvolvidos na sequecircncia de atividades (SA) 80
Quadro 5 ndash Quadro autoavaliativo 91
Quadro 6 ndash Identificaccedilatildeo dos textos dos alunos
Quadro 7 ndash Produccedilatildeo inicial Ana ndash Tiacutetulo Ser chato ou natildeo ser eis a questatildeo
Quadro 8 ndash Produccedilatildeo final Ana ndash Tiacutetulo Ser chato ou natildeo ser eis a questatildeo
Quadro 9 ndash Produccedilatildeo inicial Rodrigo ndash Tiacutetulo Pare de se criticar
Quadro 10 ndash Produccedilatildeo final Rodrigo ndash Tiacutetulo
Quadro 11 ndash Produccedilatildeo inicial Eduardo ndashTiacutetulo O amigo muito e muito chato
Quadro 12 ndash Produccedilatildeo final Eduardo ndashTiacutetulo Ser legal natildeo eacute ser chato
Quadro 13 ndash Produccedilatildeo inicial Estela ndash Tiacutetulo Os chatos de antematildeo
Quadro 14 ndash Produccedilatildeo final Estela ndashTiacutetulo O tio chato de galocha
Quadro 15 ndash Produccedilatildeo inicial Ceacutelia ndashTiacutetulo Chata sim ou natildeo
Quadro 16 ndash Produccedilatildeo final Ceacutelia ndash Tiacutetulo Chata sim ou natildeo
Quadro 17 ndash Produccedilatildeo inicial Arlindo ndash Tiacutetulo Chato e natildeo eacute chato
Quadro 18 ndash Produccedilatildeo final Arlindo ndash Tiacutetulo Chato e natildeo eacute chato
Quadro 19 ndash Produccedilatildeo inicial Juacutelia ndash Tiacutetulo Ser chato ou ser legal
Quadro 20 ndash Produccedilatildeo final Juacutelia ndash Tiacutetulo Pessoas chatas e pessoas legais
Quadro 21 ndash Produccedilatildeo inicial Vicente ndash Tiacutetulo A pergunta eacute se eu bloquearia uma
pessoa chata
Quadro 22 ndash Produccedilatildeo final Vicente ndash Tiacutetulo
Quadro 23 ndash Produccedilatildeo inicial Graccedila ndash Tiacutetulo Rafaelly chata
Quadro 24 ndash Produccedilatildeo final Graccedila ndash Tiacutetulo Chata ela ou EU
Quadro 25 ndash Produccedilatildeo inicial Lilian ndash Tiacutetulo Meus amigos chatos e Eu
Quadro 26 ndash Produccedilatildeo final Lilian ndash Tiacutetulo Pessoas legais e chatas
Quadro 27 ndash Produccedilatildeo inicial Heloiacutesa ndash Tiacutetulo ldquoChato mais eacute muito legalrdquo
Quadro 28 ndash Produccedilatildeo final Heloiacutesa ndash Tiacutetulo ldquoO melhor chatordquo
Quadro 29 ndash Produccedilatildeo inicial Eliane ndash Tiacutetulo Um pouco de tudo
91
92
93
95
96
97
99
99
101
103
104
105
106
107
108
109
110
111
112
113
114
115
116
117
Quadro 30 ndash Produccedilatildeo final Eliane ndash Tiacutetulo O que e chato e o que e legal
Quadro 31 ndash Produccedilatildeo inicial Joana ndash Tiacutetulo Pessoas chatas e outras legal
Quadro 32 ndash Produccedilatildeo final Joana ndash Tiacutetulo Pessoas oacutetimas
Quadro 33 ndash Tiacutetulos das produccedilotildees para circulaccedilatildeo social
Quadro 34 ndash PIB Ana
Quadro 35 ndash PFB Ana ndash Tiacutetulo PROIBIDA DE ACHAR GRACcedilA
Quadro 36 ndash PIB Rodrigo ndash Tiacutetulo Vida de preguiccediloso
Quadro 37 ndash PFB Rodrigo ndash Tiacutetulo VIDA DE PREGUICcedilOSO
Quadro 38 ndash PIB Eduardo ndash Tiacutetulo
Quadro 39 ndash PFB Eduardo ndash INFAcircNCIA FELIZ
Quadro 40 ndash PIB Estela ndash Tiacutetulo ldquoDown= bullyingrdquo
Quadro 41 ndash PFB Estela ndashTiacutetulo DOWN= BULLYING
Quadro 42 ndash PFA2 Ana ndash Tiacutetulo O que eacute ser chato
118
120
121
124
124
125
126
127
129
131
132
134
137
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
BNCC Base Nacional Comum Curricular
ENEM Exame Nacional do Ensino Meacutedio
FP Folha de Produccedilatildeo
IDEB Iacutendice de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica
INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
LDB Lei de Diretrizes e Bases
PCN Paracircmetros Curriculares Nacionais
PF Produccedilatildeo final
PF-A Produccedilatildeo final para a o trabalho em sala
PF-B Produccedilatildeo final para circulaccedilatildeo social dos textos com audiecircncia real
PI Produccedilatildeo Inicial
PI-A Produccedilatildeo inicial para o trabalho em sala
PI-B Produccedilatildeo inicial para circulaccedilatildeo social dos textos com audiecircncia real
SD Sequecircncia Didaacutetica
SEMED Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo
TDIC Tecnologias Digitais da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 16
2 OS GEcircNEROS E O TRABALHO EM SALA DE AULA 23
21 Demarcando o conceito de gecircnero 23
211 Gecircnero como tipo relativamente estaacutevel de enunciado 23
212 Gecircnero como accedilatildeo social 26
213 Gecircnero como fenocircmeno histoacuterico 30
22 Conhecendo a sequecircncia didaacutetica 31
221 Conceito de sequecircncia didaacutetica 32
222 Propostas de adaptaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica 35
2221 Moacutedulo de reconhecimento 36
2222 Moacutedulo de divulgaccedilatildeo ao puacuteblico 37
2223 Abordagem imitativa da redaccedilatildeo 39
23 Definindo o gecircnero textual crocircnica 41
231 A crocircnica brasileira 42
232 Caracteriacutesticas da crocircnica 44
2321 Crocircnica um gecircnero jornaliacutestico 45
2322 Crocircnica um gecircnero literaacuterio 46
3 LEITURA E ESCRITA NOS ANOS FINAIS DO ENSINO
FUNDAMENTAL
49
31 Habilidades de leitura e escrita para que ler e escrever 49
32 Escrita e motivaccedilatildeo 53
33 Escrita como processo 56
34 Escrita na escola 61
35 Letramento literaacuterio 66
4 NATUREZA E PROCEDIMENTOS DA PESQUISA 69
41 Contexto da pesquisa 69
42 Participantes 72
43 Materiais 73
44 Procedimentos 74
441 Primeira etapa da apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo agrave produccedilatildeo inicial 77
442 Segunda etapa desenvolvimento dos moacutedulos 79
443 Terceira etapa produccedilatildeo final 85
444 Quarta etapa circulaccedilatildeo social dos textos 86
5 ANAacuteLISE DA SEQUEcircNCIA REFLEXOtildeES 87
51 Participaccedilatildeo dos alunos na pesquisa 88
52 Anaacutelise da apropriaccedilatildeo de caracteriacutesticas do gecircnero crocircnica literaacuteria 90
53 Os textos dos alunos 92
531 Produccedilotildees A textos apenas para o trabalho em sala de aula 92
532 Produccedilotildees B textos para circulaccedilatildeo social 123
533 Uma nova reescrita 136
6 CONCLUSAtildeO 139
REFEREcircNCIAS 144
APEcircNDICE A ndash ATIVIDADES PROPOSTAS PARA A SEQUEcircNCIA
DIDAacuteTICA
148
ANEXO A ndash DISTRIBUICcedilAtildeO POR NIacuteVEL DE PROFICIEcircNCIA 162
ANEXO B ndash DISTRIBUICcedilAtildeO DE TEXTOS FALADOS E ESCRITOS
NO CONTIacuteNUO GENEacuteRICO
165
ANEXO C ndash PRODUCcedilOtildeES DOS ALUNOS 166
16
1 INTRODUCcedilAtildeO
A proposta deste trabalho parte de uma motivaccedilatildeo de cunho pessoal fruto das
dificuldades que como professora enfrentamos todos os dias como se pode conduzir o
trabalho em sala de aula de modo eficaz para que os alunos independentemente de sua idade
ou seacuterie possam terminar o ano letivo escrevendo textos claros
Para levar o aluno a desenvolver suas habilidades de escrita um passo importante
seria planejar sequecircncias que abordem as caracteriacutesticas do gecircnero a ser trabalhado permitindo-
lhe pocircr em aproximaccedilatildeo eou contraste seus saberes com os conhecimentos a serem construiacutedos
Para noacutes professores esse passo tem se revelado ainda bastante difiacutecil visto que nossa cultura
escolar ainda natildeo se firmou apropriadamente na visatildeo de que escrita eacute processo e que seu
produto pode ndash deve aliaacutes ndash alcanccedilar a sociedade permitindo ao aluno o exerciacutecio da cidadania
Pensamos entatildeo na elaboraccedilatildeo de uma sequecircncia de aulas que trabalhe a produccedilatildeo
escrita abordando o seu processo Para tanto escolhemos a oacutetica de Vieira (2005) que traz
importante contribuiccedilatildeo para o trabalho do professor ao abordar o processo de produccedilatildeo do
texto considerando-o mais importante no ambiente pedagoacutegico do que o texto pronto Sua
justificativa parte da inquietaccedilatildeo de por que eacute difiacutecil aprender a redigir
Ao longo de sua obra a autora traz reflexotildees a partir de pesquisas sobre os aspectos
comunicativos cognitivos e psicoloacutegicos do processo de redigir conhecimento que ela constata
fornecerem subsiacutedios para fundamentar a didaacutetica da escrita orientando as escolhas
metodoloacutegicas dos professores (VIEIRA 2005 p79) Ainda na abordagem da produccedilatildeo escrita
como processo contamos com Serafini (2003) que tambeacutem traz valiosa orientaccedilatildeo tanto para
o aluno como para o professor
Para trabalharmos esse processo com os alunos o gecircnero escolhido para a criaccedilatildeo
e aplicaccedilatildeo de nossa sequecircncia de aulas eacute a crocircnica literaacuteria que vem ganhando destaque no
cenaacuterio nacional atual de estudos na educaccedilatildeo baacutesica desde a proposta da Olimpiacuteada de Liacutengua
Portuguesa Escrevendo o Futuro (CENPEC 2016) Por seu formato fluido e por se apresentar
de tal modo que a fala pessoal se associa agrave fala coletiva a crocircnica parece integrar espaccedilos
iacutentimos a puacuteblicos construindo dessa maneira uma relaccedilatildeo de proximidade entre o autor e o
leitor
Por percebermos que haacute vaacuterios alunos que produzem seus textos sem recorrer agrave
etapa do planejamento a da revisatildeo e a da reescrita visamos entatildeo nesta pesquisa devido agrave
ausecircncia de tais procedimentos responder agraves seguintes questotildees-problema desdobradas a partir
17
da questatildeo baacutesica como ensinar a produccedilatildeo escrita no 9ordm ano do Ensino Fundamental enfocando
o ato de redigir como um processo visto que haacute estudantes deste niacutevel que normalmente natildeo
tecircm o haacutebito de planejar seus textos A partir desse questionamento nos perguntamos
a) que atividades pedagoacutegicas possibilitam aos alunos a consciecircncia de que eacute
preciso desenvolver estrateacutegias proacuteprias (recorrer agrave etapa do planejamento da
revisatildeo e da reescrita) para produzir seus textos
b) de que forma o conhecimento sobre a estrutura composicional de um gecircnero
pode ajudar a superar as dificuldades
c) a comparaccedilatildeo das produccedilotildees inicial e final permitiraacute associar a melhoria do
desempenho da competecircncia escrita e a apropriaccedilatildeo do gecircnero crocircnica literaacuteria
ao desenvolvimento da sequecircncia de atividades
Apoacutes as oficinas a anaacutelise deteacutem-se nos objetivos elencados com dados
comparativos entre produccedilatildeo inicial e produccedilatildeo final a fim de constatarmos a relevacircncia da
hipoacutetese baacutesica os alunos do 9ordm ano produziram textos na etapa final das oficinas utilizando-
se das caracteriacutesticas do gecircnero textual crocircnica literaacuteria compreendendo que escrita eacute interaccedilatildeo
valorizando o uso social da escrita de acordo com a proposta teoacuterica de gecircnero preparando
seus textos pautados nas etapas do processo de redigir conforme as orientaccedilotildees dadas em sala
de aula Desdobradas em mais trecircs hipoacuteteses secundaacuterias pensamos
a) eacute possiacutevel motivar os alunos a escrever ao desenvolver com eles atividades
voltadas para os diferentes subprocessos e habilidades envolvidos no ato de
redigir
b) o ensino da composiccedilatildeo do gecircnero crocircnica literaacuteria contribuiraacute para minimizar
dificuldades observadas nos textos dos alunos do 9ordm ano como nos planos
morfossintaacutetico e semacircntico aleacutem de lhes propiciar o desenvolvimento da
competecircncia em textos escritos
c) apoacutes a realizaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica proposta ao compararmos as produccedilotildees
inicial e final dos alunos verificaremos um desempenho mais satisfatoacuterio em
relaccedilatildeo agrave competecircncia discursiva realizada no gecircnero crocircnica
Utilizamos a sequecircncia didaacutetica ferramenta teoacuterico-metodoloacutegica proposta por
Dolz Noverraz e Schneuwly ([2004]2013) para facilitar a criaccedilatildeo de nossa sequecircncia
refletindo sobre as atividades iniciais como um diagnoacutestico e a partir daiacute compondo os
moacutedulos que julgamos necessaacuterios dentro do tempo disponiacutevel para o aperfeiccediloamento da
praacutetica de escrita dos alunos
18
Sem esquecer que o produto desta sequecircncia precisa ter relevacircncia e circulaccedilatildeo
social fizemos o estudo do conceito de gecircnero a partir de autores como Bakhtin (2011)
Bazerman (2009) Bazerman Miller (2011) e Marcuschi (2015) autores cujas contribuiccedilotildees
teoacutericas nos permitem compreender que os textos verbais ou orais dependem do contexto em
que satildeo criados considerando seu momento histoacuterico e caracteriacutesticas culturais e sociais
fazendo portanto sentido somente se se destinarem a uma audiecircncia real com papeis sociais
reais
O gecircnero eleito para o trabalho de produccedilatildeo escrita eacute como dissemos a crocircnica
literaacuteria A escolha da tipologia narrativa e do gecircnero crocircnica deu-se por alguns motivos
a) as narrativas possuem um papel fundamental na formaccedilatildeo dos indiviacuteduos Desde
a infacircncia a crianccedila tem contato com a narraccedilatildeo Ela mesma narra como forma
de organizar suas ideias E em sociedade as narrativas ajudaram a construir a
identidade dos povos prolongando ramos e aprofundando raiacutezes
b) a crocircnica eacute um gecircnero que se identifica com a realidade dos alunos pela leveza
da linguagem associando a oralidade e coloquialidade e facilidade de
identificaccedilatildeo de elementos coletivos e individuais presentes em seu cotidiano
os quais podem vir a se tornar objeto de reflexatildeo de bom humor ou mesmo de
criacutetica e sobre tais elementos pode-se motivar os alunos a escrever
c) considerando o papel social da escola que deve ser de integrar o aluno como
cidadatildeo em sociedade eacute uma excelente oportunidade de ensinar os
procedimentos concernentes ao processo de escrita com um texto com
caracteriacutesticas literaacuterias visto que daiacute por diante entrando no ensino meacutedio
predominam as praacuteticas de trabalho com os textos argumentativos cuja
recorrecircncia se deve a serem os mais cobrados em avaliaccedilotildees diagnoacutesticas e de
acesso ao niacutevel superior tais como ENEM vestibulares seleccedilotildees e concursos
sendo um pouco esquecidas as narrativas e os processos de escrita criativa
Esta pesquisa se valeu tambeacutem de trabalhos acadecircmicos que trataram de produccedilatildeo
escrita na escola do gecircnero crocircnica de sequecircncias didaacuteticas e do estudo dos gecircneros textuais
relacionados ao trabalho em sala de aula dentre os quais destacamos
Santos (2008) em sua pesquisa sobre o gecircnero textual crocircnica narrativa no ensino
meacutedio percebeu alguns avanccedilos discretos apoacutes a aplicaccedilatildeo de uma sequecircncia didaacutetica Embora
muitos textos tenham apresentado as caracteriacutesticas do gecircnero explorado em sala de aula
alguns se apresentaram ainda como narrativas tipicamente escolares O pesquisador encontrou
19
dificuldades durante sua pesquisa com produccedilatildeo textual porque afirma na escola o objeto
central de ensino da liacutengua portuguesa ainda eacute a gramaacutetica que disputa espaccedilo diretamente com
a literatura sendo a produccedilatildeo relegada a apenas uma aula sem enfoque no processo de reescrita
dos textos com as devidas reflexotildees
Swiderski e Costa-Huumlbes (2009) analisam o formato baacutesico da sequecircncia didaacutetica
proposta pelo grupo de Genebra e propotildeem a inserccedilatildeo de um moacutedulo novo chamado de moacutedulo
de reconhecimento anterior agrave produccedilatildeo inicial de modo a permitir aos alunos o contato com
textos do gecircnero antes de partir diretamente para a escrita do primeiro texto propiciando
oportunidade de pesquisa leitura e anaacutelise linguiacutestica contemplando os outros eixos do
trabalho com liacutengua portuguesa aleacutem da escrita eou oralidade
Lopes-Rossi (2011) tambeacutem trata da sequecircncia didaacutetica e propotildee para o final da
SD uma culminacircncia a que ela chama de divulgaccedilatildeo ao puacuteblico ou seja um momento para
colocar em circulaccedilatildeo social os textos que os alunos produzem ao longo do trabalho
sistematizado permitindo-lhes compreender o sentido real dos textos do gecircnero que estudam
Colombo (2013) faz uma avaliaccedilatildeo das produccedilotildees vencedoras das ediccedilotildees da
Olimpiacuteada de Liacutengua Portuguesa Escrevendo o Futuro na categoria Crocircnicas Sua criacutetica
principal ao processo estaacute natildeo nas oficinas realizadas pois em muito ajudam os alunos a
conhecer os diversos tons que os textos das crocircnicas trazem a partir das mais diferentes
temaacuteticas mas na artificialidade do interlocutor para quem os alunos escreveram (uma banca
examinadora) e as redaccedilotildees escolhidas por essa banca (um criteacuterio mais pessoal que objetivo)
Colombo (2013) critica tambeacutem a incoerecircncia entre o material de avaliaccedilatildeo
produzido pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Educaccedilatildeo Cultura e Accedilatildeo Comunitaacuteria ndash
CENPEC em 2011 com uma coletacircnea de excertos de textos natildeo vencedores de ediccedilotildees
passadas que aponta no capiacutetulo dedicado agraves crocircnicas exemplos de distanciamentos da
tipologia narrativa proacutepria do gecircnero em textos que abordaram mazelas locais com
predominacircncia da descriccedilatildeo e da criacutetica Para ela essas mesmas caracteriacutesticas ressurgiram nos
textos vencedores do ano de 2012 Dentre outras criacuteticas a mais incisiva de suas consideraccedilotildees
eacute a de que a crocircnica eacute um texto para ser lido na escola sendo no entanto impossiacutevel ensinar os
alunos a escrever crocircnicas pois para a autora natildeo devem ser produzidas sob a pressatildeo de um
concurso que escolheraacute qual a melhor
Correia (2015) em sua pesquisa centrada em uma sala de aula de 7ordm ano do Ensino
Fundamental priorizou a praacutetica de leitura do gecircnero crocircnica e associou ao trabalho com esta
mais dois gecircneros a entrevista e o documentaacuterio audiovisual abordando um aspecto
20
multimodal em sua produccedilatildeo final Sua intenccedilatildeo parece-nos foi usar a temaacutetica das crocircnicas
para despertar nos alunos uma apropriaccedilatildeo da realidade em que estatildeo inseridos e em suas
consideraccedilotildees acredita que no momento de produccedilatildeo escrita dentro das possibilidades de
alunos de 12 anos de idade logrou sucesso ao levar os alunos ao reconhecimento das
caracteriacutesticas do gecircnero
Paiva (2015) realizou um trabalho que contribuiu diretamente para o
desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita atraveacutes do ensino da produccedilatildeo de textos
argumentativos no gecircnero carta de reclamaccedilatildeo Por meio de uma sequecircncia didaacutetica que
priorizava como em nosso caso de pesquisa o processo de produccedilatildeo em vez de considerar
apenas o produto a pesquisadora logrou ecircxito ao identificar progressos nos textos dos alunos
dentro das possibilidades de trabalho que executou
Feitosa (2016) abordou o ensino de liacutengua portuguesa na perspectiva dos gecircneros
realizando uma sequecircncia didaacutetica com o gecircnero panfleto colocando o produto final em
circulaccedilatildeo social como em nosso caso de pesquisa com a distribuiccedilatildeo dos panfletos pelos
alunos no ambiente escolar e na comunidade em que a escola estaacute inserida Fazendo isso ela
possibilitou a atribuiccedilatildeo da significaccedilatildeo proacutepria do gecircnero agrave produccedilatildeo textual dos alunos fator
importante para estimulaacute-los a interagir em sociedade por meio de seus textos
Os Paracircmetros Curriculares Nacionais (PCN 1997) reconhecem que o ensino de liacutengua
portuguesa na educaccedilatildeo baacutesica eacute pautado em uma prioridade de estudos de aspectos normativos
ou gramaticais da liacutengua o que o torna limitado e insuficiente e sugerem redirecionar o foco
para a praacutetica de leitura e ndash aspecto muito importante ndash o exerciacutecio da escrita de textos nos mais
variados gecircneros textuais existentes na sociedade possibilitando o estudo da liacutengua em
contextos reais de uso natildeo apenas como um conjunto de normas1
Para tanto aprender a pensar e falar sobre a proacutepria linguagem realizar uma
atividade de natureza reflexiva uma atividade de anaacutelise linguiacutestica supotildee duas situaccedilotildees
planejar situaccedilotildees didaacuteticas que possibilitem a reflexatildeo natildeo somente sobre os diferentes
recursos expressivos utilizados pelo autor do texto mas tambeacutem sobre a forma pela qual a
seleccedilatildeo de tais recursos reflete as condiccedilotildees de produccedilatildeo do discurso e as restriccedilotildees impostas
1 Os Paracircmetros Curriculares Nacionais (PCN 1997) reconhecem que o ensino de liacutengua portuguesa na educaccedilatildeo
baacutesica eacute pautado em uma prioridade de estudos de aspectos normativos ou gramaticais da liacutengua o que o torna
limitado e insuficiente e sugerem redirecionar o foco para a praacutetica de leitura e ndash aspecto muito importante ndash o
exerciacutecio da escrita de textos nos mais variados gecircneros textuais existentes na sociedade possibilitando o estudo
da liacutengua em contextos reais de uso natildeo apenas como um conjunto de normas
21
pelo gecircnero e pelo suporte e tomar como objeto de reflexatildeo os procedimentos de planejamento
de elaboraccedilatildeo e de refacccedilatildeo dos textos (BRASIL 1997 p 8)
Esses gecircneros a que se referem os paracircmetros satildeo conceituados por Bakhtin autor
em que se fundamenta a proposta dos PCN Compreendendo que o conhecimento de tais
gecircneros traz liberdade ao usuaacuterio da liacutengua o filoacutesofo afirma que quanto melhor dominamos os
gecircneros tanto mais livremente os empregamos tanto mais plena e nitidamente descobrimos
neles a nossa individualidade (onde isso eacute possiacutevel e necessaacuterio) refletimos de modo mais
flexiacutevel e sutil a situaccedilatildeo singular da comunicaccedilatildeo em suma realizamos de modo mais acabado
o nosso livre projeto de discurso (BAKHTIN 2011 p 285)
Os PCN para o 3ordm e o 4ordm ciclos do Ensino Fundamental orientam aleacutem da ampliaccedilatildeo
da variedade de textos e gecircneros que o trabalho com os alunos leve a ldquoconhecer caracteriacutesticas
fundamentais do Brasil nas dimensotildees sociais materiais e culturais como meio para construir
progressivamente a noccedilatildeo de identidade nacional e pessoal e o sentimento de pertinecircncia ao
paiacutesrdquo (BRASIL 1997 p 7)
Assim produzir textos requer dessa forma estudar os diferentes modos de
expressatildeo abrindo-se aiacute para o aluno uma gama de possibilidades de manifestaccedilatildeo de ideias
atraveacutes do conhecimento de sua liacutengua nas relaccedilotildees de interaccedilatildeo pessoal
No entanto para que essa produccedilatildeo seja efetiva haacute que se ter em mente que
qualquer tarefa de escrita bem-sucedida requer o exerciacutecio da escrita e da reescrita pois se
considera que nesse processo de aperfeiccediloamento as aulas tomadas entre o iniacutecio e o teacutermino
de uma sequecircncia de atividades ou seja entre a produccedilatildeo inicial e a produccedilatildeo final sejam
vaacuterias e variadas com planejamento para conhecer as necessidades de cunho geral da turma
como as caracteriacutesticas de um gecircnero bem como as de cunho individual do aluno como as
limitaccedilotildees no reconhecimento do gecircnero textual na construccedilatildeo de argumentos na progressatildeo
narrativa nas convenccedilotildees da escrita culta
Com o objetivo de orientar o leitor apresentamos a forma de organizaccedilatildeo desta
pesquisa que se encontra disposta em mais cinco seccedilotildees primaacuterias aleacutem desta Introduccedilatildeo
Na seccedilatildeo 2 denominada ldquoOs gecircneros e o trabalho em sala de aulardquo discorremos
sobre o conceito de gecircnero apoiando-nos na oacutetica de Bahktin de gecircnero como tipo
relativamente estaacutevel de enunciado na oacutetica da sociorretoacuterica do gecircnero como accedilatildeo social
principalmente com Bazerman e Miller e do gecircnero como fenocircmeno histoacuterico como nos fala
Marcuschi Aleacutem disso tratamos do conceito de sequecircncia didaacutetica proposta teoacuterico-
metodoloacutegica de Dolz Noverraz e Schneuwly e de propostas complementares agrave SD com as
22
contribuiccedilotildees de Costa-Huumlbes e Lopes-Rossi Ainda nesta seccedilatildeo tratamos da definiccedilatildeo do
gecircnero textual crocircnica e suas caracteriacutesticas desenvolvidas no Brasil tanto no campo
jornaliacutestico quanto no literaacuterio pelas oacuteticas de Beltratildeo Coutinho e Cacircndido
Na seccedilatildeo 3 denominada ldquoLeitura e escrita no ensino fundamental anos finaisrdquo
discorremos sobre escrita resgatando um pouco do percurso histoacuterico das habilidades de leitura
e escrita na escola e na sociedade tratamos do aspecto da motivaccedilatildeo para a escrita da escrita
como um processo da escrita na escola e do letramento literaacuterio que julgamos interessante
ressaltar visto que leitura e escrita precisam ser instrumentalizadas
Na seccedilatildeo 4 denominada ldquoNatureza e procedimentos da pesquisardquo discorremos
sobre nossa pesquisa propriamente dita o contexto da pesquisa os sujeitos os materiais e os
procedimentos mostrando o desenvolvimento da sequecircncia de atividades e procedimentos de
coleta de dados
Na seccedilatildeo 5 denominada ldquoAnaacutelise da sequecircncia de atividades reflexotildeesrdquo
discorremos sobre nossa sequecircncia didaacutetica mostrando a participaccedilatildeo dos alunos na pesquisa
apresentando a anaacutelise da apropriaccedilatildeo de caracteriacutesticas do gecircnero crocircnica literaacuteria nos textos
dos alunos bem como os textos produzidos para circulaccedilatildeo social
E por fim na Conclusatildeo apresentamos reflexotildees acerca da experiecircncia com a
pesquisa e dos resultados obtidos bem como sugestotildees para o avanccedilo de trabalhos que possam
contribuir para a competecircncia escrita dos alunos do ensino fundamental e a continuidade de
estudos na aacuterea
Acreditamos que a pesquisa-accedilatildeo desenvolvida que se inscreve no escopo da
Linguiacutestica Aplicada pode aleacutem de ofertar contribuiccedilotildees no acircmbito acadecircmico encorajar os
alunos participantes da pesquisa no sentido de se permitirem evoluir como produtores de texto
em sua liacutengua materna direito que lhes cabe desde o momento em que satildeo reconhecidos
cidadatildeos que ingressam nas escolas brasileiras
23
2 OS GEcircNEROS E O TRABALHO EM SALA DE AULA
Os pressupostos que embasam esta pesquisa perpassam a necessidade de se
compreender o que satildeo os gecircneros textuais em distinccedilatildeo de tipos textuais e como trabalhaacute-los
em atividades sequenciadas destacando-se inclusive como estas podem melhorarauxiliar o
trabalho do professor da educaccedilatildeo baacutesica Aleacutem disso tentaremos delinear ainda que
reconheccedilamos a natildeo consensualidade de definiccedilotildees o que vem a ser a crocircnica a partir das
escolhas dos textos que integram o corpus exemplo para os alunos
21 Demarcando o conceito de gecircnero
Iniciamos nosso percurso teoacuterico a partir da compreensatildeo do que eacute o gecircnero
Concordamos com Bezerra (2017 p 11) quando ele diz que o conceito de gecircnero eacute tomado
como ldquouma categoria mediadora entre o texto e o discurso capaz de colocar em xeque velhas
concepccedilotildees dicotocircmicas como a que trata o texto como uma mera lsquomaterializaccedilatildeorsquo de um
discurso consequentemente lsquoimaterialrsquordquo
Para Bezerra (2017) a partir do gecircnero tanto o texto como o discurso podem ser
relacionados produtivamente com o seu contexto cognitivo e social o que viabiliza o estudo
teoacuterico e sua aplicaccedilatildeo pedagoacutegica
No panorama teoacuterico referencial buscaremos compreensatildeo do que eacute o gecircnero
atraveacutes da conceituaccedilatildeo de Bakhtin (2011) Bazerman (2009) Miller (2011) e Marcuschi
(2015) e sua importacircncia para o trabalho de pesquisa-accedilatildeo com produccedilatildeo textual no 9ordm ano do
ensino fundamental
211 Gecircnero como tipo relativamente estaacutevel de enunciado
De iniacutecio veremos a abordagem enunciativo-discursiva de Bakhtin (2011) que se
refere ao processo de interaccedilatildeo verbal e ao enunciado Para o filoacutesofo russo as interaccedilotildees
podem ocorrer de maneira mais geral face a face mas tambeacutem se concretizar atraveacutes dos textos
escritos Nesse processo o leitor tem um papel ativo na compreensatildeo das informaccedilotildees quando
com elas interage aceitando reformulando contrapondo e complementando conforme seu
arcabouccedilo de conhecimentos e experiecircncias e o faz reportando-se a diferentes vozes de textos
24
previamente lidos e ouvidos Essas interaccedilotildees efetivam-se por meio de enunciados chamados
de gecircneros
A compreensatildeo baacutesica do que satildeo os gecircneros textuais ou usando o termo adotado
por Bakhtin os gecircneros do discurso eacute definida como ldquotipos relativamente estaacuteveis de
enunciadosrdquo (2011 p 262) elaborados pelas diferentes esferas de utilizaccedilatildeo da liacutengua Cada
esfera de uso da linguagem traz consigo uma concepccedilatildeo padratildeo de destinataacuterio a quem se dirige
o locutor e esse destinataacuterio sempre adota uma atitude responsiva ativa diante da totalidade
acabada do gecircnero Digamos que segundo o autor essas esferas permitem-nos situar e prever
o que o interlocutor emitiraacute evitando prejuiacutezos na eficaacutecia da comunicaccedilatildeo
Aprendemos a moldar nossa fala agraves formas do gecircnero e ao ouvir a fala do outro
sabemos de imediato bem nas primeiras palavras pressentir-lhe o gecircnero Se natildeo
existissem os gecircneros do discurso e se natildeo os dominaacutessemos se tiveacutessemos de criaacute-
los pela primeira vez no processo da fala se tiveacutessemos de construir cada um de
nossos enunciados a comunicaccedilatildeo verbal seria quase impossiacutevel (BAKHTIN 2011
p 302)
Dessa forma compreendemos que os enunciados tecircm relativa estabilidade
apresentando formas tiacutepicas que se adaptam agraves muacuteltiplas situaccedilotildees tanto orais quanto escritas
sendo essas formas variaacuteveis portanto Satildeo caracteriacutesticas dos gecircneros o dialogismo e a
polifonia
No dialogismo compreendemos que um texto tem relaccedilotildees com o contexto social
com os textos jaacute lidos pelo leitor e suas experiecircncias de vida e as ligaccedilotildees feitas com as diversas
aacutereas de conhecimento natildeo sendo nunca um produto fechado em si mesmo e uacutenico O discurso
dessa forma estabelece intercacircmbios socioculturais fruto de processos cognitivos e
conhecimentos acumulados historicamente que atendem a essa atitude responsiva ativa Essa
caracteriacutestica estaacute relacionada ao processo de leitura e ao de produccedilatildeo de textos pois o leitor
ou o escritor estabelece um diaacutelogo com o texto em ambos os processos
Na polifonia entendemos que o texto natildeo eacute constituiacutedo apenas da voz do escritor
mas por outras vozes por dizeres de outrem e satildeo vozes que se cruzam concordam ou
discordam entre si
Nas condiccedilotildees de produccedilatildeo dos enunciados e dos gecircneros discursivos estatildeo
inseridas as intenccedilotildees comunicativas e as necessidades sociointerativas dos sujeitos nas esferas
de atividade em que o papel e o lugar de cada sujeito satildeo determinados socialmente Para o
autor trecircs elementos baacutesicos configurariam um gecircnero discursivo o conteuacutedo temaacutetico o estilo
e a forma composicional
25
O conteuacutedo temaacutetico do gecircnero eacute definido pelo enunciador e depende diretamente
das situaccedilotildees das condiccedilotildees de produccedilatildeo e das necessidades da proacutepria enunciaccedilatildeo A escolha
desse conteuacutedo se daacute conforme a intencionalidade do enunciador estando de acordo com as
suas necessidades
O estilo do enunciador pode ser observado na adequaccedilatildeo da linguagem empregada
na escolha dos vocaacutebulos conforme a finalidade e a proacutepria estrutura do enunciado do gecircnero
escolhido voltados para seu interlocutor Nas palavras de Bakhtin (2011 p 284)
O estilo eacute indissociavelmente vinculado a unidades temaacuteticas determinadas e o que eacute
particularmente importante a unidades composicionais tipo de estruturaccedilatildeo e de
conclusatildeo de um todo tipo de relaccedilatildeo entre o locutor e os outros parceiros da
comunicaccedilatildeo verbal (relaccedilatildeo com o ouvinte ou com o leitor com o interlocutor com
o discurso do outro etc) (BAKHTIN 2011 p 284)
Assim para o autor ldquoo enunciado - oral e escrito primaacuterio e secundaacuterio em
qualquer esfera da comunicaccedilatildeo verbal - eacute individual e por isso pode refletir a individualidade
de quem fala (ou escreve)rdquo (BAKHTIN 2011 p 283) Ou seja o estilo eacute individual poreacutem eacute
definido pelo outro e pelo gecircnero ldquodepende do modo que locutor percebe e compreende seu
destinataacuterio e do modo que ele presume uma compreensatildeo responsiva ativardquo (BRAIT 2016 p
95)
A estrutura composicional do gecircnero eacute um elemento que segue padrotildees definidos
pela sociedade Cada enunciado deve inserir-se no padratildeo que eacute convencionado pelo gecircnero a
fim de ser reconhecido e consequentemente compreendido
Essa breve exposiccedilatildeo das trecircs caracteriacutesticas dos gecircneros vem mostrar que elas
dependeratildeo em grande parte das condiccedilotildees de produccedilatildeo de cada enunciado uma vez que
[] o discurso se molda sempre agrave forma do enunciado que pertence a um sujeito
falante e natildeo pode existir fora dessa forma Quaisquer que sejam o volume o
conteuacutedo a composiccedilatildeo os enunciados sempre possuem como unidades da
comunicaccedilatildeo verbal caracteriacutesticas estruturais que lhe satildeo comuns e acima de tudo
fronteiras claramente delimitadas (BAKHTIN 2011 p 293)
Essas caracteriacutesticas ocorrem simultaneamente em uma enunciaccedilatildeo concreta pois
eacute no momento da enunciaccedilatildeo que se definiraacute como essas caracteriacutesticas seratildeo empregadas
A partir dessa compreensatildeo de Bakhtin diversos outros autores conceituaram o que
eacute gecircnero Dentre as grandes Escolas do Gecircnero2 nosso trabalho considerou os conceitos baacutesicos
2 Dentre as grandes Escolas de Gecircnero destacam-se a Escola de Sidney a Norte-americana e a de Genebra
26
adotados pela Escola norte-americana representada por Miller (2011) e Bazerman (2009) Por
fim no Brasil veremos Marcuschi (2015) Traremos ainda para a proacutexima seccedilatildeo autores que
desenvolvem e aplicam os conceitos de gecircnero textual na praacutetica por meio de sequecircncias de
atividades como Dolz Noverraz e Schneuwly ([2004]2013) atraveacutes da Sequecircncia Didaacutetica e
Vieira (2005) com a Abordagem imitativa da redaccedilatildeo trabalhando com formatos e gecircneros
212 Gecircnero como accedilatildeo social
A noccedilatildeo de gecircnero como accedilatildeo social foi desenvolvida inicialmente por Carolyn
Miller A elaboraccedilatildeo de uma teoria de gecircnero ocorreu com mais dois pesquisadores John
Swales e Charles Bazerman Todos satildeo membros do grupo que compotildee a escola de estudos de
gecircneros norte-americana cuja caracteriacutestica eacute o interesse pela natureza social do discurso
(CARVALHO 2005) Veremos aqui mais especificamente os expoentes Miller e Bazerman
A noccedilatildeo de gecircneros natildeo eacute recente e remonta agrave Retoacuterica Claacutessica Por volta dos anos
1980 Miller voltou-se aos estudos das determinaccedilotildees retoacutericas de Aristoacuteteles O filoacutesofo grego
postulou a primeira classificaccedilatildeo dos discursos em trecircs tipos o judiciaacuterio o deliberativo e o
epidiacutetico Carvalho (2016) nos diz que para Aristoacuteteles autor da classificaccedilatildeo essa distinccedilatildeo
dos discursos eacute necessaacuteria porque existem trecircs tipos de auditoacuterio e eacute preciso adaptar-se a eles
conferindo traccedilos especiacuteficos a cada gecircnero pois a escolha entre um deles se daacute mediante a
necessidade que o orador tem de se adaptar ao puacuteblico Aleacutem de classificar Aristoacuteteles
apresenta as caracteriacutesticas de cada um desses tipos de discurso Segundo Carvalho (2016 p
35)
O pensador grego entende que esses trecircs gecircneros se remetem a um tempo especiacutefico
indicam atos expressam valores e apresentam formas especiacuteficas de argumentaccedilatildeo
Assim sendo pondera que o gecircnero judiciaacuterio se dirige a um auditoacuterio especializado
versa sobre leis recorre a silogismos e se refere a acontecimentos do passado para
acusar ou defender O deliberativo trata-se de um gecircnero que se relaciona a um puacuteblico
culto faz uso de argumentos atraveacutes de exemplos e expressa atitudes que poderatildeo
acontecer no futuro O epiacutedictico por sua vez eacute caracterizado como um gecircnero no
qual o orador exalta ou despreza caracteriacutesticas de determinados indiviacuteduos no exato
momento da enunciaccedilatildeo (CARVALHO 2016 p 35)
Nessa abordagem claacutessica apesar de a classificaccedilatildeo de Aristoacuteteles ter reduzido os
discursos a apenas trecircs tipos jaacute se compreendia que a variedade dos gecircneros eacute dependente da
variedade de auditoacuterios e por essa razatildeo natildeo podem ser concebidos desvinculados de seus
interlocutores sendo formas de agir em sociedade de diferentes maneiras Nas palavras de
Carvalho (2016 p34) ldquopor esse acircngulo podemos dizer ainda hoje que lanccedilar um olhar sobre
27
os gecircneros que contemple suas dimensotildees retoacutericas eacute antes de tudo atentar para a natureza
social e argumentativa inerente a cada tipo de discurso e concebecirc-los como formas de
(inter)accedilatildeordquo
Por sua vez Bazerman (2009) na introduccedilatildeo de seu livro Gecircneros textuais
tipificaccedilatildeo e interaccedilatildeo fala da necessidade de se entender as variedades da escrita numa
abordagem que comeccedila com as circunstacircncias em que as pessoas produzem e usam os textos
questionando sobre os motivos e accedilotildees tiacutepicos associados com a escrita e leitura desses textos
Em deacutecadas recentes o ensino da escrita foi transformado pelo amplo reconhecimento
de vaacuterios princiacutepios Primeiro o escrever bem requer mais do que a produccedilatildeo de
sentenccedilas corretas tambeacutem envolve a comunicaccedilatildeo bem-sucedida de mensagens
significantes para outros Segundo a escrita eacute um processo que leva tempo e incorpora
muitas diferentes atividades Terceiro o ensino da escrita que ajuda alunos a
alcanccedilarem o sucesso acadecircmico precisa atender a todos os tipos de escrita que satildeo
necessaacuterios natildeo somente para o estudo da linguagem ou da literatura mas tambeacutem
para as disciplinas de histoacuteria ciecircncia filosofia e poliacutetica Quarto os alunos ao
terminarem seus estudos precisam estar aptos a produzir muitas diferentes formas da
escrita Embora todas as formas da escrita que os alunos poderiam precisar sejam
impossiacuteveis de antecipar os alunos precisam de habilidade e flexibilidade suficientes
para se adaptar agraves situaccedilotildees variantes da escrita (BAZERMAN 2009 p 16)
Bazerman (2009) afirma que se pode chegar a uma compreensatildeo mais profunda de
gecircneros se os compreendermos como ldquofenocircmenos de reconhecimento psicossocial que satildeo parte
de processos de atividades socialmente organizadasrdquo (Bazerman 2009 p31) Na concepccedilatildeo do
pesquisador gecircneros satildeo os tipos que as pessoas reconhecem como sendo usados por elas
proacuteprias e pelos outros ou seja ldquosatildeo fatos sociais sobre os tipos de atos de fala que as pessoas
podem realizar e sobre os modos como elas os realizamrdquo (Bazerman 2009 p 31) Desse modo
os gecircneros emergem nos processos sociais na medida em que as pessoas tentam compreender
umas agraves outras de tal maneira que consigam coordenar atividades e compartilhar significados
com vistas a seus propoacutesitos praacuteticos
Para Miller e Bazerman (2011) definir o gecircnero como ldquogecircnero textualrdquo ou apenas
gecircnero ou ainda ldquogecircnero discursivordquo eacute uma questatildeo de necessidade apenas em contextos em
que se precise fazer algum tipo de distinccedilatildeo ou esclarecimento conceitual como uma espeacutecie
de contraste Nessa obra constituiacuteda como um ldquobate papordquo com perguntas e respostas os
professores a seu turno datildeo suas visotildees sobre essas distinccedilotildees quando perguntados ldquocomo vocecirc
define o conceito de gecircnerordquo Miller responde
Bom eu mantenho a minha definiccedilatildeo jaacute conhecida Eu natildeo distinguiria gecircnero textual
de gecircnero Eu o defino amplamente ou seja o gecircnero eacute uma accedilatildeo retoacuterica tipificada
baseada numa situaccedilatildeo retoacuterica recorrente [] Diria apenas que essa definiccedilatildeo tende
28
a se concentrar mais na produccedilatildeo na pessoa que desenvolve a accedilatildeo do que na
recepccedilatildeo Mas creio que eacute possiacutevel direcionaacute-la para pensar sobre o modo como
algueacutem realiza uma accedilatildeo e responde a ela Acho que tanto a produccedilatildeo como a recepccedilatildeo
satildeo importantes para se pensar no gecircnero como accedilatildeo (BAZERMAN MILLER 2011
p 16)
A mesma questatildeo dirigida a Bazerman eacute respondida da seguinte forma
Eu gostaria de acrescentar algumas coisas Percebo que em portuguecircs eacute necessaacuterio
distinguir gecircneros textuais (textual genre) de gecircnero (gender) Poreacutem em inglecircs o uso
do termo ldquogecircnero de textordquo se opotildee a gecircneros orais ou gecircneros em outros meios
Certamente os gecircneros textuais possuem caracteriacutesticas que os distinguem dos
gecircneros da pintura por exemplo mas todos satildeo formas de gecircnero O que realmente
estaacute em discussatildeo portanto satildeo as possibilidades (affordances) especiacuteficas da
textualidade versus artes graacuteficas por exemplo (BAZERMAN MILLER 2011 p
22)
Para os estudiosos da sociorretoacuterica os gecircneros pertencem agraves atividades humanas
e as refletem de forma que agrave medida que a linguagem muda mudam consigo os gecircneros natildeo
sendo o mais importante classificar ou nomear um gecircnero mas saber como ele funciona
O conceito de gecircnero de Miller tem como noccedilotildees-chave a recorrecircncia e a accedilatildeo
retoacuterica como se pode entender a partir da definiccedilatildeo dada pela proacutepria autora quando diz que
ldquoo gecircnero eacute uma accedilatildeo retoacuterica tipificada baseada numa situaccedilatildeo retoacuterica recorrenterdquo
(BAZERMAN MILLER 2011 p 22) Sua linha de trabalho define que o gecircnero espelha a
experiecircncia de seus usuaacuterios sendo o texto a forma materializada dessa experiecircncia por meio
da accedilatildeo ali levada a cabo de sua forma e de sua substacircncia (CARVALHO 2005 p 133)
Eacute atraveacutes do processo de tipificaccedilatildeo que satildeo construiacutedas as condiccedilotildees de
recorrecircncia analogias e similaridades necessaacuterias para a compreensatildeo do gecircnero em uma dada
cultura Nesse processo eacute importante o papel do sujeito cognitivo visto que ele capta a
recorrecircncia social de uma determinada comunicaccedilatildeo o que sinaliza padrotildees socialmente
perceptiacuteveis e socialmente determinados moldando-se a eles (BAZERMAN MILLER 2011
p 32)
Para caracterizar como os gecircneros se configuram e se enquadram em organizaccedilotildees
papeis e atividades mais amplas Bazerman (2009) propotildee vaacuterios conceitos que se sobrepotildeem
cada um envolvendo um aspecto diferente dessa configuraccedilatildeo conjunto de gecircneros sistema de
gecircneros e sistema de atividades
Segundo o autor um conjunto de gecircneros eacute ldquoa coleccedilatildeo de tipos de textos que uma
pessoa num determinado papel tende a produzirrdquo (2009 p 32) Compreendemos a partir da
explicaccedilatildeo do autor que eacute exemplificada com os profissionais da engenharia e da educaccedilatildeo que
29
ao identificar todas as formas de escrita com as quais devem trabalhar consegue-se ter acesso
agraves competecircncias habilidades e conhecimentos que lhe satildeo requeridos para que atue com bom
domiacutenio em sua aacuterea
Prosseguindo o autor conceitua um sistema de gecircneros
Um sistema de gecircneros compreende os diversos conjuntos de gecircneros organizados por
pessoas que trabalham juntas de uma forma organizada e tambeacutem as relaccedilotildees
padronizadas que se estabelecem na produccedilatildeo circulaccedilatildeo e uso desses documentos
Um sistema de gecircneros captura as sequecircncias regulares com que um gecircnero segue
outro gecircnero dentro de um fluxo comunicativo tiacutepico de um grupo de pessoas
(BAZERMAN 2009 p 32-33)
Esse aspecto se refere agrave integraccedilatildeo dos conjuntos de gecircneros que satildeo usados por
todos os participantes de uma determinada accedilatildeo social Como exemplo podemos pensar nas
provas de uma disciplina o professor elabora as provas e os alunos fazem as provas Ao analisar
o sistema de gecircneros observa-se a sequecircncia dos gecircneros e torna-se possiacutevel esclarecer quais
accedilotildees sociais as pessoas fazem e a forma pela qual os gecircneros datildeo ferramentas para essas accedilotildees
Por fim Bazerman (2009 p 33) conceitua sistema de atividades relacionando-o
ainda ao sistema de gecircneros ldquoEsse sistema de gecircneros eacute tambeacutem parte do sistema de atividades
da sala de aula Ao definir o sistema de gecircneros em que as pessoas estatildeo envolvidas vocecirc
identifica tambeacutem um frame que organiza o seu trabalho sua atenccedilatildeo e suas realizaccedilotildeesrdquo A
palavra frame eacute compreendida como moldura ou quadro No acircmbito educacional podemos
compreender a expressatildeo como o enquadramento que direciona o trabalho que compete a cada
pessoa imersa na accedilatildeo social
Pensando no exemplo da aacuterea educacional um aluno lida com um conjunto de
gecircneros como as provas os seminaacuterios os apontamentos e dentro do sistema de gecircneros
utilizados seu padratildeo como aluno consiste em estudar para os seminaacuterios tomar apontamentos
e responder agraves questotildees das provas sendo que dentro do sistema de atividades em que se
encontra natildeo pode deixar de atender agrave ordem que o frame lhe impotildee pois se lhe eacute determinado
que faccedila sua prova por escrito natildeo lhe eacute permitido por mais que estivesse respondendo tudo
corretamente utilizar-se de um gecircnero oral para que obtenha a nota ndash o que corrobora com a
afirmaccedilatildeo do autor quando este diz que ldquolevar em consideraccedilatildeo o sistema de atividades junto
com o sistema de gecircneros eacute focalizar o que as pessoas fazem e como os textos ajudam as pessoas
a fazecirc-lo em vez de focalizar os textos como fins em si mesmordquo (BAZERMAN 2009 p 33-
34)
30
Apoacutes essa caracterizaccedilatildeo de como os gecircneros se configuram e se enquadram em
organizaccedilotildees papeis e atividades mais amplas nessa abordagem que comeccedila com as
circunstacircncias em que as pessoas produzem e usam os textos questionando sobre os motivos e
accedilotildees tiacutepicos associados com a escrita e leitura desses textos veremos na seccedilatildeo seguinte a
concepccedilatildeo de gecircneros textuais como fenocircmenos histoacutericos profundamente vinculados agrave vida
cultural e social sob a oacutetica de Marcuschi
213 Gecircnero como fenocircmeno histoacuterico
No Brasil Marcuschi (2015) trabalhou a produccedilatildeo textual sob um enfoque
sociointerativo de gecircneros textuais no contiacutenuo de fala-escrita buscando esclarecer os
processos de compreensatildeo textual e de produccedilatildeo de sentido Coadunando com os conceitos jaacute
expostos de Bakhtin (2011) sobre as interaccedilotildees entendemos que elas se datildeo em domiacutenios
discursivos ou seja esferas da vida social ou institucional (por exemplo religiosa juriacutedica
jornaliacutestica pedagoacutegica poliacutetica industrial militar familiar luacutedica etc) nas quais se datildeo
praacuteticas que organizam formas de comunicaccedilatildeo e respectivas estrateacutegias de compreensatildeo (p
194)
Deste modo para Marcuschi os domiacutenios discursivos produzem ldquomodelos de accedilatildeo
comunicativa que se estabilizam e se transmitem de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo com propoacutesitos e
efeitos definidos e clarosrdquo (2015 p 194) que resultam em formas de accedilatildeo reflexatildeo e avaliaccedilatildeo
social que ldquodeterminam formatos textuais que em uacuteltima instacircncia desembocam na
estabilizaccedilatildeo de gecircneros textuaisrdquo (2015 p 194) tambeacutem organizando as relaccedilotildees de poder
Na concepccedilatildeo de Marcuschi (2015) os gecircneros textuais satildeo entatildeo fenocircmenos
histoacutericos profundamente vinculados agrave vida cultural e social O autor afirma que quando
dominamos um gecircnero textual natildeo dominamos uma forma linguiacutestica mas sim uma forma de
realizar linguisticamente objetivos especiacuteficos em situaccedilotildees sociais particulares (p 31) Isso
equivaleria a dizer que os gecircneros textuais operam em certos contextos como formas de
legitimaccedilatildeo discursiva por se situarem numa relaccedilatildeo soacutecio-histoacuterica com fontes de produccedilatildeo
que lhes datildeo sustentaccedilatildeo
Essa relaccedilatildeo soacutecio-histoacuterica a que se refere o autor trata da construccedilatildeo coletiva que
ordena e estabiliza as atividades comunicativas do dia a dia convergindo com o pensamento de
Bakhtin isto eacute como os gecircneros independem de decisotildees individuais e natildeo satildeo facilmente
manipulaacuteveis eles operam como geradores de expectativas de compreensatildeo muacutetua Nas
31
palavras de Marcuschi (2015 p 189) ldquoos gecircneros textuais natildeo satildeo fruto de invenccedilotildees
individuais mas formas socialmente maturadas em praacuteticas comunicativas na accedilatildeo
linguageirardquo
Em uma tentativa de distribuiccedilatildeo dos gecircneros da oralidade e escrita Marcuschi
(2015) cria um quadro geral3 que mostra que muitos gecircneros satildeo comuns a vaacuterios domiacutenios
figurando a crocircnica gecircnero eleito para a realizaccedilatildeo de nossa pesquisa-accedilatildeo de processo de
produccedilatildeo escrita em forma de sequecircncia didaacutetica nos domiacutenios discursivos ficcional e
jornaliacutestico Na distribuiccedilatildeo do contiacutenuo de fala-escrita que ensaia desenhar Marcuschi mostra
a crocircnica deslizando entre o domiacutenio das conversaccedilotildees na conversa espontacircnea seguindo para
as apresentaccedilotildees e reportagens com as narrativas
Desse modo caminha-se para uma compreensatildeo do que eacute a crocircnica aquele texto
escrito leve e espontacircneo que parece por vezes conversar com seu leitor narrando uma coisa
ou outra do dia a dia podendo conduzi-lo a reflexotildees ou possibilitando-lhe um dia mais bem-
humorado ou mesmo poeacutetico Direcionado para nossa investigaccedilatildeo julgamos esses conceitos
bastante importantes para elucidar para os alunos em que contexto satildeo produzidas as crocircnicas
de onde partem a quem pretendem alcanccedilar
Nesse sentido a partir do exposto concluiacutemos que um gecircnero seria uma resposta
usada pelos usuaacuterios de uma liacutengua em situaccedilotildees especiacuteficas constituiacutedo por caracteriacutesticas
gerais relativamente estaacuteveis Dessa forma aleacutem da intenccedilatildeo da comunicaccedilatildeo existe um
conhecimento comum pelo qual os falantes se orientam em suas decisotildees linguiacutesticas ao
construir o gecircnero de texto que estatildeo produzindo ou que devem produzir em cada contexto
comunicativo Esses gecircneros natildeo surgem naturalmente mas se constroem na interaccedilatildeo
comunicativa e satildeo fenocircmenos sociointerativos
22 Conhecendo a sequecircncia didaacutetica
Com vistas a ajudar o trabalho do professor tem sido muito discutido na uacuteltima
deacutecada o emprego das sequecircncias didaacuteticas especialmente na educaccedilatildeo baacutesica Sua
caracteriacutestica consiste em ser um conjunto de atividades ligadas entre si planejadas para ensinar
um conteuacutedo etapa por etapa Ao organizaacute-la de acordo com os objetivos que pretende alcanccedilar
para seus alunos o professor desenvolve atividades de aprendizagem e de avaliaccedilatildeo
3 Cf Anexo A
32
Para o trabalho em nossa aacuterea Liacutengua Portuguesa nossa pesquisa-accedilatildeo vai se
utilizar do procedimento baacutesico da sequecircncia didaacutetica para o ensino da escrita do gecircnero textual
crocircnica literaacuteria para o 9ordm ano do ensino fundamental inspirada no referencial teoacuterico-
metodoloacutegico de Dolz Noverraz e Schneuwly (2013) na proposta de adaptaccedilatildeo da sequecircncia
didaacutetica conduzida por Swiderski e Costa-Huumlbes (2009) na proposta de circulaccedilatildeo social do
gecircnero discursivo produzido em sequecircncias didaacuteticas de projetos pedagoacutegicos de Lopes-Rossi
(2011) e nas sugestotildees didaacuteticas da praacutetica de sala de aula de Vieira (2005) e de Serafini (2003)
221 Conceito de sequecircncia didaacutetica
Dolz Noverraz e Schneuwly (2013 p 83) reconhecem que os textos escritos ou
orais que produzimos diferenciam-se uns dos outros porque satildeo produzidos em condiccedilotildees
diferentes Apesar dessa diversidade satildeo constatadas regularidades de modo que em situaccedilotildees
semelhantes produzimos textos com caracteriacutesticas semelhantes que os autores chamam de
gecircneros de textos conhecidos de e reconhecidos por todos e que por isso mesmo facilitam a
comunicaccedilatildeo a conversa em famiacutelia ou a negociaccedilatildeo no mercado por exemplo
O conceito baacutesico de sequecircncia didaacutetica segundo os autores (2013 p 83) eacute que
esta eacute um conjunto de atividades escolares organizadas de maneira sistemaacutetica em torno de
um gecircnero textual oral ou escrito e que tem precisamente a finalidade de ajudar os alunos a
dominar melhor um gecircnero de texto o que lhes permitiraacute falar ou escrever de maneira mais
adequada a cada situaccedilatildeo comunicativa
Para o desenvolvimento de nossa pesquisa escolhemos o gecircnero crocircnica literaacuteria
visando o desenvolvimento da competecircncia discursiva dos alunos posto que ainda natildeo
dominam adequadamente a produccedilatildeo de um texto nesse gecircnero Assim como preveem Dolz
Noverraz e Schneuwly (2013 p 83) ldquoo trabalho escolar seraacute realizado evidentemente sobre
gecircneros que o aluno natildeo domina ou o faz de maneira insuficiente sobre aqueles dificilmente
acessiacuteveis espontaneamente pela maioria dos alunos e sobre gecircneros puacuteblicos e natildeo privadosrdquo
De acordo com os autores uma sequecircncia didaacutetica pode ser flexiacutevel no sentido de
que se houver necessidade o professor poderaacute por vezes criar outras atividades ou modificar
os textos de referecircncia utilizados Essa flexibilidade precisa tambeacutem considerar os fenocircmenos
de desencorajamento que poderatildeo manifestar-se durante o tempo consagrado agrave sequecircncia como
por exemplo no aluno o sentimento de que jamais conseguiraacute melhorar seu texto por causa das
dificuldades proacuteprias da escrita no professor nos momentos em que os alunos parecem
33
desconectar-se da proposta projetada perdendo o interesse pela atividade proposta no dia Para
minimizar situaccedilotildees assim eacute que deve ser deixado um espaccedilo para as atividades mais informais
e menos exigentes em termos de tempo (DOLZ NOVERRAZ SCHNEUWLY 2013 p 108)
Percebemos dessa forma que um professor natildeo eacute obrigado a realizar todas as
atividades predeterminadas de uma sequecircncia didaacutetica na sua integralidade Sob pena do rigor
por cumprir aquele planejamento e somente ele no decorrer do processo de aprendizagem
ambos professor e aluno podem sentir que a experiecircncia natildeo foi vaacutelida terminando por realizar
as aulas de modo tradicional natildeo ocorrendo assim o acesso dos alunos a praacuteticas de linguagem
novas ou dificilmente dominaacuteveis
Por ser de caraacuteter progressivo a cada etapa de uma sequecircncia didaacutetica o professor
pode ndash e deve ndash fazer uma reflexatildeo associando o microcosmo que eacute a sala de aula onde
trabalha com um macro que seria o mundo em que estamos inseridos com todo o seu contexto
que pode servir como suporte para que o docente se integre a uma (ou a vaacuterias) teorias que
possa vir a aplicar
Com a reflexatildeo sobre a(s) teoria(s) e construindo seu arcabouccedilo teoacuterico conforme
observa sua praacutetica o professor ndash incluiacutemo-nos aqui ndash como sugere Bortoni-Ricardo (2008)
torna-se pesquisador podendo aprimorar sua postura pedagoacutegica de modo a obter assim
resultados mais satisfatoacuterios junto aos discentes
Dando prosseguimento expomos aqui o os quatro componentes da estrutura baacutesica
de uma sequecircncia didaacutetica segundo Dolz Noverraz Schneuwly (2013) que serve como
inspiraccedilatildeo para as atividades que planejamos para esta pesquisa-accedilatildeo
Figura 1 - Esquema baacutesico de sequecircncia didaacutetica
Fonte Adaptado de DOLZ NOVERRAZ SCHNEUWLY (2013 p 83)
Para Dolz Noverraz e Schneuwly (2013) eacute necessaacuterio que o professor informe os
alunos e conscientize-os da importacircncia dos conteuacutedos a serem trabalhados em sala de aula
Para isso o professor deve claramente definir o problema de comunicaccedilatildeo que devem resolver
Apresentaccedilatildeo da
Situaccedilatildeo
PRODUCcedilAtildeO
INICIAL
PRODUCcedilAtildeO
FINAL
Moacuted
ulo 1
Moacuted
ulo 2
Moacuted
ulo n
34
produzindo um texto e os conteuacutedos com os quais trabalharatildeo no texto que seraacute produzido
Assim na fase inicial de apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo satildeo fornecidas aos alunos as informaccedilotildees
necessaacuterias para conhecerem o ldquoprojeto comunicativo visado e a aprendizagem de linguagem a
que estaacute relacionadordquo (2013 p 85)
Depois dessa contextualizaccedilatildeo com os alunos eles passam agrave primeira produccedilatildeo
tentando elaborar um texto escrito Ora embora os alunos ainda natildeo tenham verdadeiramente
tido o contato aprofundado com o gecircnero esse encaminhamento natildeo necessariamente os potildee
numa situaccedilatildeo de insucesso Ao contraacuterio do que se pode pensar produzir um texto adequado
agrave situaccedilatildeo proposta embora os alunos nesse primeiro momento natildeo atendam a todas as
caracteriacutesticas do gecircnero solicitado permite-lhes descobrir o que jaacute sabem fazer e ganhar
consciecircncia das dificuldades que possuem e ao professor avaliar natildeo somente as dificuldades
apresentadas pelos alunos na produccedilatildeo inicial mas tambeacutem que se apresentarem durante o
processo de produccedilatildeo Desse modo a produccedilatildeo inicial eacute caracterizada como ldquoo primeiro lugar
de aprendizagem da sequecircnciardquo (DOLZ NOVERRAZ SCHNEUWLY 2013 p 87 Grifo dos
autores)
A etapa seguinte se constitui dos moacutedulos isto eacute a decomposiccedilatildeo dos problemas
detectados na primeira produccedilatildeo com consequente fornecimento de instrumentalizaccedilatildeo para a
superaccedilatildeo das dificuldades Esse processo que vai da produccedilatildeo inicial aos moacutedulos os autores
denominaram de ldquomovimento geral da sequecircncia didaacuteticardquo (2013 p 88) partindo do acircmbito
mais complexo que eacute a produccedilatildeo inicial para o mais simples que satildeo os moacutedulos os quais
trabalham as capacidades necessaacuterias ao domiacutenio do gecircnero No fim o movimento da sequecircncia
didaacutetica vai para o complexo novamente que eacute a produccedilatildeo final No processo de elaboraccedilatildeo de
cada moacutedulo os autores levantam trecircs questionamentos 1) Que dificuldades da expressatildeo oral
e escrita abordar 2) Como construir um moacutedulo para trabalhar um problema particular 3)
Como capitalizar o que eacute adquirido nos moacutedulos (2013 p 88)
Para responder a cada uma dessas indagaccedilotildees Dolz Noverraz e Schneuwly (2013
p 88) consideram trecircs dimensotildees no processo de construccedilatildeo dos moacutedulos que satildeo trabalhar
problemas de niacuteveis diferentes variar atividades e exerciacutecios e capitalizar as aquisiccedilotildees
A primeira etapa trabalhar problemas de niacuteveis diferentes baseada na psicologia
da linguagem eacute constituiacuteda por quatro niacuteveis principais na produccedilatildeo de textos a saber
representaccedilatildeo da situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo em que o aluno deveraacute aprender com clareza a fazer
uma imagem ldquodo destinataacuterio do texto da finalidade visada da sua posiccedilatildeo como autor ou
locutor e do gecircnero visadordquo (p 88) elaboraccedilatildeo dos conteuacutedos em que o aluno ldquodeveraacute conhecer
35
as teacutecnicas para buscar elaborar ou criar conteuacutedosrdquo (p 88) planejamento do texto em que o
aluno deveraacute estruturar seu texto de acordo com um plano que depende da finalidade que se
deseja atingir considerando que cada gecircnero se caracteriza por uma estrutura evocando a
compreensatildeo de Bakhtin (2011) ldquorelativamente estaacutevelrdquo realizaccedilatildeo do texto em que o aluno
deveraacute escrever seu texto escolhendo os meios de linguagem mais eficazes para a finalidade
que pretende alcanccedilar
Em relaccedilatildeo agrave segunda etapa variar as atividades e exerciacutecios os autores definem
que ldquoo princiacutepio essencial de elaboraccedilatildeo de um moacutedulo que trate de um problema de produccedilatildeo
textual eacute o de variar os modos de trabalhordquo (p 89) Afirmando que existem variadas categorias
de atividades e exerciacutecios (atividades de observaccedilatildeo e de anaacutelise de textos tarefas simplificadas
de produccedilatildeo de textos e a elaboraccedilatildeo de uma linguagem comum) (p 89) sugerem assim que
cada moacutedulo tenha atividades diversificadas com o objetivo de proporcionar ao aluno diferentes
meios de apropriaccedilatildeo dos conteuacutedos necessaacuterios ao seu sucesso na produccedilatildeo final
A terceira etapa capitalizar as aquisiccedilotildees consiste em aprender a falar sobre o
gecircnero abordado atraveacutes da aquisiccedilatildeo de vocabulaacuterio teacutecnico comum agrave classe e ao professor
A partir dessa construccedilatildeo progressiva dos conhecimentos de linguagem e de regras seraacute
possiacutevel ao professor estimular os alunos a refletir sobre o que foi aprendido nos moacutedulos e
juntos fazerem uma siacutentese na forma de como sugerem os autores lista de constataccedilotildees ou de
lembrete ou glossaacuterio (p 90)
A etapa final da sequecircncia didaacutetica corresponde agrave produccedilatildeo final momento em que
o aluno colocaraacute em praacutetica as noccedilotildees e os instrumentos que foram elaborados e aplicados
durante os moacutedulos sendo o momento para o professor avaliar o aprendizado do aluno Essa
avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo final tem caraacuteter somativo e eacute pautada na construccedilatildeo de uma grade (2013
p 90) de criteacuterios que explicitam aos alunos o que seraacute avaliado permitindo a objetividade ao
pautar-se nos conteuacutedos trabalhados em aula Isso tornaraacute possiacutevel ao professor a observaccedilatildeo
das aprendizagens efetuadas planejar a continuaccedilatildeo do trabalho e se necessaacuterio retornar a
pontos mal assimilados
222 Propostas de adaptaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica
Com vistas a justificar como compusemos a SD aplicada vamos nessa seccedilatildeo
mostrar o aparato teoacuterico de pesquisadoras que contribuiacuteram com propostas de adaptaccedilatildeo e
36
complementaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica do grupo de Genebra buscando propiciar ao professor
um trabalho mais amplo
2221 Moacutedulo de reconhecimento
Baseados na proposta teoacuterico-metodoloacutegica da SD produzida para o contexto
sociocultural dos pesquisadores de Genebra os integrantes de um grupo de estudos em Liacutengua
Portuguesa da regiatildeo Oeste do Paranaacute criaram uma proposta de ensino da LP para as seacuteries
iniciais contendo uma adaptaccedilatildeo (SWIDERSKI COSTA-HUumlBES 2009) que consiste na
inserccedilatildeo de um moacutedulo de reconhecimento do gecircnero antes da etapa de produccedilatildeo inicial em
atividades e exerciacutecios que contemplem a leitura a pesquisa e a anaacutelise linguiacutestica com textos
do gecircnero Para melhor entendimento observemos a figura a seguir
Figura 2 - Esquema da SD adaptada por Costa-Huumlbes
Fonte Adaptado de SWIDERSKI E COSTA-HUumlBES (2009)
Esse moacutedulo inserido antes da produccedilatildeo inicial como proposto pelas autoras serve
segundo elas ao reconhecimento dos aspectos do gecircnero a ser trabalhado na SD em atividades
e exerciacutecios que contemplem a leitura a pesquisa e a anaacutelise linguiacutestica com textos do gecircnero
Na SD ldquoas condiccedilotildees de praacuteticas de leituras envolvem natildeo apenas o contexto de produccedilatildeo e a
relaccedilatildeo autor-texto A esses aspectos somam-se o conhecimento do leitor e o contexto de uso
que conforme Orlandi (1996) satildeo fatores determinantes na produccedilatildeo de sentidosrdquo
(SWIDERSKI COSTA-HUumlBES 2009 p 121)
Diante disso ao avaliarem a proposta da SD as autoras entendem que antes de se
chegar agrave produccedilatildeo inicial o professor pode criar para o estudante vaacuterias situaccedilotildees que envolvam
a praacutetica de leitura de textos do gecircnero selecionado que circulam na sociedade oportunizando
nesse contato com esses textos a mobilizaccedilatildeo de estrateacutegias diferentes frente aos diversos
37
objetivos que implicam o ato de ler e enfatizam que trabalhar com a leitura natildeo exclui o
trabalho com os outros eixos do processo ensino-aprendizagem de LP
As autoras acrescentam ainda sobre o trabalho de reconhecimento do gecircnero
Outro detalhe que salientamos sobre o trabalho de reconhecimento do gecircnero refere-
se ao fato de que as informaccedilotildees sobre o gecircnero natildeo satildeo dadas gratuitamente jaacute que
o mesmo natildeo eacute tratado como uma forma pronta e acabada mas como um instrumento
relativamente estaacutevel Entendido assim a praacutetica de ensino-aprendizagem precisa
incentivar o processo de pesquisa Nessa perspectiva o estudante tem dois problemas
a resolver antes de iniciar sua produccedilatildeo um abarca a pesquisa para conhecer os
elementos que determinam num dado contexto soacutecio-histoacuterico e cultural a produccedilatildeo
e a circulaccedilatildeo das amostras do gecircnero a ser abordado didaticamente e em segundo
a leitura e a anaacutelise dessas amostras novamente buscando reforccedilar o conhecimento
acerca dos elementos que as constituem (SWIDERSKI COSTA-HUumlBES 2009 p
121)
Vemos entatildeo que as leituras para reconhecimento do gecircnero como uma etapa
anterior ao momento da produccedilatildeo inicial servem como base ao trabalho a ser desenvolvido
Inclusive entendemos no tocante a servir como exemplo e modelo que fornecem traccedilos para
possiacuteveis comparaccedilotildees ao longo do desenvolvimento dos moacutedulos como poderemos perceber
na seccedilatildeo correspondente ao nosso trabalho
2222 Moacutedulo de divulgaccedilatildeo ao puacuteblico
Como forma de consolidar para o aluno a visatildeo do uso real de um gecircnero textual
Lopes-Rossi (2011) propotildee a divulgaccedilatildeo das produccedilotildees dos alunos apoacutes a realizaccedilatildeo das tarefas
dos moacutedulos
Deste modo o professor pode entatildeo criar com eficiecircncia projetos pedagoacutegicos
que visem segundo a autora ldquoao conhecimento agrave leitura agrave discussatildeo sobre o uso e as funccedilotildees
sociais dos gecircneros escolhidos e quando pertinente a sua produccedilatildeo escrita e circulaccedilatildeo socialrdquo
(LOPES-ROSSI 2011 p 71)
O quadro a seguir proposto por Lopes-Rossi (2011) reflete os fundamentos sobre
o trabalho com projetos pedagoacutegicos e sintetiza as etapas de desenvolvimento de projetos
pedagoacutegicos que visam agrave produccedilatildeo escrita de gecircneros discursivos incluindo o moacutedulo de
divulgaccedilatildeo ao puacuteblico de acordo com a forma tiacutepica de circulaccedilatildeo de cada gecircnero
38
Quadro 1 ndash Siacutentese das etapas de desenvolvimento de projetos pedagoacutegicos que visam agrave produccedilatildeo escrita de
gecircneros discursivos
Moacutedulos didaacuteticos Sequecircncias didaacuteticas
Leitura para apropriaccedilatildeo das
caracteriacutesticas tiacutepicas do
gecircnero discursivo
rarr Seacuterie de atividades de leitura comentaacuterios e
discussotildees de vaacuterios exemplos do gecircnero para
conhecimento de suas caracteriacutesticas discursivas
temaacuteticas e composicionais (aspectos verbais e natildeo
verbais)
Produccedilatildeo escrita do gecircnero
de acordo com suas
condiccedilotildees de produccedilatildeo
tiacutepicas
rarr Seacuterie de atividades de produccedilatildeo
- planejamento da produccedilatildeo (assunto esboccedilo geral
forma de obtenccedilatildeo de informaccedilotildees recursos
necessaacuterios)
- coleta de informaccedilotildees
- produccedilatildeo da primeira versatildeo
- revisatildeo colaborativa do texto
- produccedilatildeo da segunda versatildeo
- revisatildeo colaborativa do texto
- produccedilatildeo da versatildeo final incluindo o suporte para a
circulaccedilatildeo do texto
Divulgaccedilatildeo ao puacuteblico de
acordo com a forma tiacutepica de
circulaccedilatildeo do gecircnero
rarr Seacuterie de providecircncias para efetivar a circulaccedilatildeo da
produccedilatildeo dos alunos fora da sala de aula e mesmo da
escola de acordo com as necessidades de cada evento
de divulgaccedilatildeo e das caracteriacutesticas de circulaccedilatildeo do
gecircnero Fonte Adaptado de LOPES-ROSSI (2011 p 72)
Se adaptarmos o quadro em forma de esquema a fim de facilitar a visualizaccedilatildeo
teremos
Figura 3 Esquema das etapas de desenvolvimento de projetos pedagoacutegicos visando agrave produccedilatildeo escrita de gecircneros
discursivos
Fonte Adaptado de LOPES-ROSSI (2011)
Segundo a autora a proposta de trabalho pedagoacutegico com gecircneros discursivos pela
oacutetica dos pesquisadores do grupo de Genebra proporciona de fato o desenvolvimento da
Produccedilatildeo
escrita
Divulgaccedilatildeo ao
puacuteblico
Leitura para
apropriaccedilatildeo
39
autonomia do aluno no processo de leitura e produccedilatildeo textual sendo uma consequecircncia do
domiacutenio do funcionamento da linguagem em situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo visto que eacute por meio
dos gecircneros discursivos que as praacuteticas de linguagem incorporam-se agraves atividades dos alunos
Sua oacutetica inclui um moacutedulo de leitura para apropriaccedilatildeo das caracteriacutesticas tiacutepicas
do gecircnero que se pretende trabalhar como jaacute descrito no quadro e que coaduna com a proposta
de Swidesrki e Costa-Huumlbes (2009) O moacutedulo de produccedilatildeo escrita de Lopes-Rossi (2009) trata
de planejamento da produccedilatildeo coleta de informaccedilotildees produccedilatildeo da primeira versatildeo revisatildeo
colaborativa do texto produccedilatildeo da segunda versatildeo revisatildeo colaborativa do texto produccedilatildeo da
versatildeo final incluindo o suporte para a circulaccedilatildeo do texto
Para noacutes eacute interessante considerar o moacutedulo de divulgaccedilatildeo ao puacuteblico pois
somando-se a esse trabalho de desenvolvimento da autonomia a circulaccedilatildeo da produccedilatildeo viraacute
corroborar entatildeo a funccedilatildeo social do texto divulgado no suporte adequado nas condiccedilotildees
apropriadas
2223 Abordagem imitativa da redaccedilatildeo
No capiacutetulo Abordagem imitativa da redaccedilatildeo trabalhando com formatos e gecircneros
que integra a obra Escrita para que te quero Vieira (2005 p 159-171) elenca passos para o
trabalho do professor com os alunos na construccedilatildeo de um texto como se fosse um guia o que
pode ser bastante uacutetil para o trabalho com formatos e gecircneros Seguem os passos
1ordm Dar exemplos do tipo de escrita esperado que em poucas palavras consiste em
oferecer modelos de textos relativamente faacuteceis de ler evidenciando sua estrutura
2ordm Ensinar as regras que consiste em explicitar o caminho para atingir as metas
Se necessaacuterio for diz a autora transmite-se um conhecimento analiacutetico ldquouse esquemas ou
diagramas para ilustrar Leve seus alunos a aprenderem mais a partir de modelos direcionando
a instruccedilatildeo para um alvordquo (VIEIRA 2005 p 159)
3ordm Apresentar uma ldquoreceitardquo passo a passo do gecircnero pretendido o que deixa claro
o que se quer que os alunos produzam e tambeacutem serve de guia para as tarefas de casa quando
estiverem trabalhando sozinhos A receita seraacute tatildeo melhor para os alunos se elaborada
diretamente pelo professor ou pelos proacuteprios alunos Tambeacutem eacute possiacutevel diz a autora adaptar
instruccedilotildees de manuais e usar a proacutepria experiecircncia de redator
40
4ordm Demonstrar a ldquoreceitardquo que eacute um momento em que os alunos percebem o
trabalho na praacutetica com o professor executando alguns ou todos os passos da ldquoreceitardquo
demonstrando como se escreve Os alunos colaboram na criaccedilatildeo conjunta de um texto
5ordm Ser autecircntico no processo que eacute dividir com os estudantes os problemas que
surgem na produccedilatildeo de qualquer texto mostrando como solucionar dialogando com os alunos
trabalhando de forma colaborativa
6ordm Dar tarefas curtas e planejadas com cuidado o que atribui ao trabalho do aluno
mais qualidade Normalmente para impressionar o professor a aluno escreve textos longos
repetitivos e sem atratividade As atividades com limite de extensatildeo favorecem segundo a
autora a motivaccedilatildeo o alcance e a variedade de audiecircncias o feedback do professor a
possibilidade de repeticcedilatildeo da tarefa o que Vieira considera um passo fundamental para se
dominar um conhecimento
7ordm Propiciar feedback uacutetil e especiacutefico Neste aspecto a autora natildeo estimula o
ldquoretoquerdquo dos textos dos alunos feito pelo professor Pelo contraacuterio incentiva criacuteticas justas
que visem a evoluccedilatildeo construindo com o aluno atraveacutes das sugestotildees e questotildees adequadas a
reformulaccedilatildeo de seus textos Vieira acrescenta ainda que este feedback natildeo deveria vir somente
do professor mas de uma variedade de leitores como seus pares e a famiacutelia para evitar a falsa
ideia de que a escrita eacute algo direcionado somente ao professor
8ordm Repetir a tarefa Ningueacutem se torna bom em algo logo na primeira tentativa
Portanto para desenvolver as habilidades eacute importante a repeticcedilatildeo para dominar um
conhecimento
Apoacutes elencar a autora sugere tarefas de aplicaccedilatildeo para o professor de forma bem
praacutetica para criar uma ldquoreceitardquo de escrita com os alunos (2005 p 162) de modo que noacutes
professores nos apropriemos dos diferentes gecircneros textuais conhecendo de antematildeo as
caracteriacutesticas destes e mesmo as dificuldades partindo de textos autecircnticos listando
procedimentos e etapas necessaacuterios para redigir textos semelhantes e refletindo sobre a
instruccedilatildeo que devemos criar estabelecendo um propoacutesito para que o aluno escreva e exercite
apropriadamente o modelo de gecircnero
A partir desse roteiro teoacuterico-metodoloacutegico que traccedilamos ao longo desta seccedilatildeo
inspiramo-nos para criar para o trabalho com o gecircnero crocircnica assunto da proacutexima seccedilatildeo em
nossa pesquisa-accedilatildeo a sequecircncia didaacutetica com foco na produccedilatildeo escrita de crocircnicas literaacuterias
acrescida das etapas de reconhecimento do gecircnero e da divulgaccedilatildeo ao puacuteblico dado o desejo
41
de extrapolar o acircmbito da sala de aula fazendo com que os textos dos alunos tivessem
circulaccedilatildeo social
23 Definindo o gecircnero textual crocircnica
A palavra ldquocrocircnicardquo tem origem no grego antigo khroacutenos e significa tempo Naquela
sociedade o gecircnero ganhou esse nome inicialmente por trazer em seu corpo o relato em ordem
cronoloacutegica dos fatos ou acontecimentos de uma eacutepoca
Um dos pioneiros a estudar o texto literaacuterio segundo Ferreira (2011 p 65) foi o
pensador grego Aristoacuteteles Sua perspectiva formulava o conceito de mimese que seria a obra
literaacuteria como representaccedilatildeo ou imitaccedilatildeo do mundo Considerando essa oacutetica a crocircnica em sua
origem tomava a forma de registro histoacuterico de um povo Aleacutem disso compreende-se que mais
do que apenas encadear a sequecircncia de fatos sucessivos interessava a forma como isso se dava
mostrando o cuidado com a arte literaacuteria
Aproximadamente no seacuteculo XII a crocircnica ressurge em uso na Europa medieval e
tem seu conceito atualizado pela perspectiva grega ora se encarrega de registrar os fatos
fidedignamente o que lhe confere caraacuteter histoacuterico ora relata-os fazendo uso de recursos
linguiacutesticos tanto denotativos quanto conotativos conferindo-lhe caraacuteter de ficccedilatildeo literaacuteria A
esse respeito nos fala Borges (2008 p 205)
A preocupaccedilatildeo com a descriccedilatildeo da histoacuteria de uma vida teve seu iniacutecio no mundo
grego antigo ao mesmo tempo em que surgiu a Histoacuteria como forma de
conhecimento essa era uma Histoacuteria poliacutetica com sua diferenciaccedilatildeoimbricaccedilatildeo com
a memoacuteria Ao longo de mais ou menos dois milecircnios autores acharam que contar a
histoacuteria da vida de algueacutem era algo distinto de uma Histoacuteria (que narrava fatos
coletivos e contava a verdade) as histoacuterias das vidas (termo usado entatildeo pelos
autores) serviam desde o mundo greco-romano para dar exemplos morais negativos
ou positivos - muitas vezes constituindo os panegiacutericos Essa chamada biografia
claacutessica punha um acento muito maior no caraacuteter poliacutetico moral ou religioso do
biografado do que em sua pessoa em sua singularidade No mundo medieval a ideia
dos exempla prolongou-se configurando-se na hagiografia e nas croacutenicas
Esses textos chamados de crocircnicas como caracterizadas acima por Borges (2008)
confundiam-se com outros gecircneros da eacutepoca ndash o que era muito comum ndash por tomarem um
caraacuteter biograacutefico sendo sinocircnimas por exemplo da hagiografia cuja intencionalidade ditava
o estilo do escritor concretizando ao longo da sucessatildeo cronoloacutegica dos fatos uma visatildeo
parcial beirando o excessivamente elogioso
42
A crocircnica percorreu longo curso ateacute ganhar a forma que conhecemos hoje no Brasil
Para Coutinho (2008) a origem de nossa atual crocircnica brasileira estaria no ensaio inglecircs do
seacuteculo XVI O autor a compara ao ensaio informal (informal essay ou familiar essay) que
consiste em seu sentido primitivo numa tentativa numa experimentaccedilatildeo de interpretaccedilatildeo
pessoal dos fatos sem obedecer a uma estrutura predeterminada poreacutem com forte marca da
prosa oral colocada na escrita
A essecircncia do ensaio (nesse sentido original) estaacute em sua relaccedilatildeo com a palavra falada
e com a elocuccedilatildeo oral como se depreende do estudo estiliacutestico dos grandes ensaiacutestas
estilo muito proacuteximo da maneira oral ou do pensamento que eacute captado no proacuteprio ato
e momento de pensar (COUTINHO 2008 p 100)
A respeito do conceito de crocircnica temos a visatildeo de Coutinho (2008) cujos criteacuterios
de classificaccedilatildeo dos gecircneros literaacuterios adotados em sua obra apontam para ldquoum grupo de formas
literaacuterias que resultam de uma explanaccedilatildeo direta dos pontos de vista do autor dirigindo-se em
seu proacuteprio nome ao leitor ou ouvinte sem qualquer artifiacutecio intermediaacuteriordquo (2008 p 99)
Segundo ele o autor vale-se de meacutetodo direto ao inveacutes de indireto em gecircneros ensaiacutesticos ou
discursivos cujos exemplos dados satildeo o ensaio a crocircnica o discurso e o sermatildeo a carta as
memoacuterias o diaacuterio as maacuteximas Outra aproximaccedilatildeo da crocircnica ao ensaio para o autor eacute que
ambos satildeo escritos em linguagem coloquial discorrendo sobre diversos assuntos tais como os
proacuteprios seres humanos os fatos ocorridos com eles as cenas da natureza entre outros
Poreacutem na mesma obra Coutinho (2008) afirma que modernamente a palavra
ensaio veio perdendo seu caraacuteter inicial e etimoloacutegico de tentativa de experimentaccedilatildeo
passando a se confundir com ldquoestudordquo ldquoou o que os ingleses chamam de julgamento isto eacute
que oferecem conclusotildees sobre os assuntos apoacutes discussatildeo argumentaccedilatildeo anaacutelise avaliaccedilatildeordquo
231 A crocircnica brasileira
No seacuteculo XIX a sociedade desenvolve-se industrialmente permitindo o advento
da imprensa Para vaacuterios autores como Barbier (2008 apud FERREIRA 2011) Coutinho
(2008) Cacircndido (1992) Castello (1999) o folhetim eacute a gecircnese da crocircnica moderna sendo o
jornal o suporte em que a crocircnica vai ganhar definitivamente seu espaccedilo Sobre essa relaccedilatildeo na
eacutepoca entre o suporte para o gecircnero e o gosto pelo gecircnero Barbier (2008) fala
Sabe-se hoje que os gecircneros literaacuterios estatildeo intimamente relacionados agraves condiccedilotildees
sociais e histoacutericas que determinam a formaccedilatildeo do puacuteblico leitor com seus gostos e
sensibilidades e que por outro lado eles tambeacutem se alteram com a mudanccedila do
43
suporte material dos textos como o demonstra a Histoacuteria dos manuscritos dos
impressos e das recentes experimentaccedilotildees digitais (BARBIER 2008 apud
FERREIRA 2011 p 73)
Das palavras de Barbier (2008) captamos a importacircncia que passa a ter a imprensa
para a divulgaccedilatildeo dos textos por seu alcance por sua frequecircncia bem como por seu poder de
molde sobre o puacuteblico leitor que se formava na eacutepoca
Antocircnio Candido (1992 p 15) no belo texto A vida ao reacutes-do-chatildeo explica que
ldquoantes de ser crocircnica propriamente dita foi lsquofolhetimrsquo ou seja um artigo de rodapeacute sobre as
questotildees do dia ndash poliacuteticas sociais artiacutesticas literaacuteriasrdquo E completa o autor afirmando que a
crocircnica ldquonatildeo nasceu propriamente com o jornal mas soacute quando este se tornou quotidiano de
tiragem relativamente grande e teor acessiacutevel isto eacute haacute pouco mais de um seacuteculo e meiordquo
(CAcircNDIDO 1992 p 15)
Esse folhetim em geral ficava no rodapeacute da primeira paacutegina do jornal e era
destinado ao entretenimento do leitor Esse espaccedilo com o tempo passou a acolher a ficccedilatildeo
literaacuteria Autores publicavam aiacute seus textos treinando a narrativa Tal foi a receptividade do
formato que ganhou espaccedilo proacuteprio semanalmente Nas palavras de Castello (1999) aquele
texto que veio depois a ser a crocircnica complementaria a funccedilatildeo da imprensa diaacuteria
A partir dos anos [19]20 acentua-se a contribuiccedilatildeo de cronistas e memorialistas Mas
o primeiro gecircnero mais do que o segundo eacute continuidade e amadurecimento de uma
tradiccedilatildeo proveniente do Romantismo quando o ldquofolhetimrdquo semanal eacute definido por
Joseacute de Alencar e enriquecido por Machado de Assis mestre de cronistas que vieram
depois Conta-se ainda a contribuiccedilatildeo da prosa poeacutetica de Raul Pompeia e logo a
seguir de Olavo Bilac Finalmente nos nossos dias seja atividade complementar seja
agraves vezes principal e mesmo uacutenica de vaacuterios escritores a crocircnica se afirma como gecircnero
da preferecircncia de numeroso puacuteblico Contribuiu sempre para difundi-la desde seus
momentos iniciais datados do Romantismo a divulgaccedilatildeo em primeira matildeo pelos
principais jornais e revistas do paiacutes Complementava mesmo pelo seacuteculo XIX a
funccedilatildeo de nossa imprensa diaacuteria tradicionalmente marcada pela colaboraccedilatildeo dos
escritores do momento Surgia como um misto de notiacutecia vaacuteria reflexatildeo invenccedilatildeo e
ateacute mesmo de criacutetica ou impressotildees literaacuterias (CASTELLO 1999 p 377-378)
A crocircnica complementava a imprensa por em seu bojo tratar de assuntos mais
amenos diferindo dos que motivavam as notiacutecias e as reportagens sem no entanto como nos
mostra Cacircndido (1992) deixar de lado o que toca a alma humana
Ora a crocircnica estaacute sempre ajudando a estabelecer ou restabelecer a dimensatildeo das
coisas e das pessoas Em lugar de oferecer um cenaacuterio excelso numa revoada de
adjetivos e periacuteodos candentes pega o miuacutedo e mostra nele uma grandeza uma beleza
ou uma singularidade insuspeitada Ela eacute amiga da verdade e da poesia nas suas
formas mais diretas e tambeacutem nas suas formas mais fantaacutesticas - sobretudo porque
quase sempre utiliza o humor (CAcircNDIDO 1992 p 14)
44
Amenos sim poreacutem as crocircnicas de um ou outro modo conduziam o leitor mesmo
que por caminhos suaves de ldquoar despreocupado de quem estaacute falando de coisas sem maior
consequecircnciardquo (CAcircNDIDO 1992 p 17) agrave criacutetica social agrave reflexatildeo sobre o significado das
accedilotildees e dos sentimentos do homem
Segundo Coutinho (2008 p 106) o caminho que conduziria agrave crocircnica brasileira
comeccedila com Francisco Otaviano no Jornal do Commercio no Rio de Janeiro em 2 de
dezembro de 1852 Nessa data eacute inaugurada a seccedilatildeo ldquoA semanardquo em que seriam publicados os
folhetins literaacuterios do Romantismo
O folhetim seccedilatildeo ao final da paacutegina apresentou caracteriacutesticas que se agrupadas
conforme a frequecircncia do teor das publicaccedilotildees seriam de variedades e de romances O primeiro
grupo o de variedades abordava assuntos diversos da eacutepoca tratando de tudo um pouco e
ocupava a primeira paacutegina do jornal O segundo por sua vez destinava-se a textos de ficccedilatildeo
Esse espaccedilo passou a publicar romances de autores da eacutepoca distribuiacutedos em histoacuterias seriadas
ou capiacutetulos provocando no puacuteblico leitor a curiosidade pelo que viria a seguir tornando-se
um sucesso permitindo ldquoalavancar as vendas aumentar as assinaturas e por conseguinte
ampliar as vantagens financeiras dos jornaisrdquo (SANTOS 2008 p 68)
Essa iniciativa abriu espaccedilo para publicaccedilotildees de romances de autores brasileiros O
guarani de Joseacute de Alencar por exemplo foi desenvolvido a princiacutepio para o folhetim Em 1ordm
de janeiro de 1857 saiu o capiacutetulo inicial do romance no Diaacuterio do Rio de Janeiro Ao final
daquele ano foi publicado como livro com alteraccedilotildees miacutenimas em relaccedilatildeo ao que fora
publicado em folhetim
A evoluccedilatildeo da sociedade industrial refletiu sua setorizaccedilatildeo no modo de organizaccedilatildeo
dos jornais O folhetim para variedades teve sua alteraccedilatildeo quando foram criadas seccedilotildees
especiacuteficas para assuntos especiacuteficos de maneira a organizar o jornal Para o folhetim restaram
assuntos mais corriqueiros de cunho mais descompromissado com a veracidade dos fatos ndash
estes ficariam para as notiacutecias A esses textos mais leves cujo caraacuteter era efecircmero com a mera
funccedilatildeo de distrair o leitor passou-se a dar o nome de crocircnica
232 Caracteriacutesticas da crocircnica
Apesar da filiaccedilatildeo ao jornal as caracteriacutesticas atuais do gecircnero crocircnica vatildeo aleacutem do
desenvolvimento da imprensa Como bem nos resume Amaral (2008) tambeacutem estatildeo
intimamente relacionadas agraves transformaccedilotildees sociais e agrave valorizaccedilatildeo da histoacuteria social isto eacute da
45
histoacuteria que considera importantes os movimentos de todas as classes sociais e natildeo soacute os das
grandes figuras poliacuteticas ou militares Em suas palavras no ldquoregistro da histoacuteria social assim
como na escrita das crocircnicas um dos objetivos eacute mostrar a grandiosidade e a singularidade dos
acontecimentos miuacutedos do cotidianordquo (2008 p 12)
Eacute efecircmera simples e dinacircmica em sua linguagem como nos fala Cacircndido (1992 p
14)
Isto acontece porque natildeo tem pretensotildees a durar uma vez que eacute filha do jornal e da
era da maacutequina onde tudo acaba tatildeo depressa Ela natildeo foi feita originalmente para o
livro mas para essa publicaccedilatildeo efecircmera que se compra num dia e no dia seguinte eacute
usada para embrulhar um par de sapatos ou forrar o chatildeo da cozinha Por se abrigar
nesse veiacuteculo transitoacuterio o seu intuito natildeo eacute o dos escritores que pensam em ldquoficarrdquo
isto eacute permanecer na lembranccedila e na admiraccedilatildeo da posteridade e a sua perspectiva
natildeo eacute a dos que escrevem do alto da montanha mas do simples reacutes-do-chatildeo
(CAcircNDIDO 1992 p 14)
As crocircnicas contemporacircneas organizam sua narrativa em primeira ou terceira
pessoa quase sempre como quem conta um caso em tom intimista Ao narrar os autores
inserem em seu texto trechos de diaacutelogos permeados por expressotildees cotidianas escrevendo
como quem conversa com seus leitores como se estivessem muito proacuteximos Como temaacutetica
os cronistas tratam de reflexotildees sobre a vida social poliacutetica econocircmica por vezes de forma
humoriacutestica outras de modo mais seacuterio outras com um jeito poeacutetico que indica o pertencimento
do gecircnero agrave esfera literaacuteria
Assim uma forte caracteriacutestica do gecircnero eacute ter uma linguagem que mescla aspectos
da escrita com outros da oralidade E por causa do uso de linguagem coloquial e da proximidade
com os fatos cotidianos a crocircnica por vezes eacute vista como literatura ldquomenorrdquo Essa suposta
classificaccedilatildeo como gecircnero literaacuterio menor natildeo diminui sua importacircncia Por ser breve leve de
faacutecil acesso envolvente ela possibilita momentos de fruiccedilatildeo a muitos leitores que nem sempre
tecircm acesso ndash ou natildeo gostam devido agrave extensatildeo ndash aos romances Para compreendermos as
caracteriacutesticas da crocircnica precisamos conhecer como ela se manifesta como texto jornaliacutestico
e tambeacutem como texto literaacuterio
2321 Crocircnica um gecircnero jornaliacutestico
Para termos uma ideia de como eacute vista a crocircnica na esfera jornaliacutestica valemo-nos
da classificaccedilatildeo do pioneiro na aacuterea Luiacutes Beltratildeo (1980 p 67 Grifos do autor)
O primeiro aspecto eacute quanto agrave natureza do tema Deste modo ele apresenta trecircs
46
espeacutecies
a) crocircnica geral tambeacutem chamada de coluna ou seccedilatildeo especial que aborda
assuntos variados ldquosob uma epiacutegrafe geralrdquo ou localizada em paacutegina fixa no
jornal
b) crocircnica local tambeacutem chama de urbana ou da cidade divulgada sob a mesma
epiacutegrafe que fala da vida cotidiana da cidade recebendo e orientando a opiniatildeo
puacuteblica da comunidade onde circula o jornal
c) crocircnica especializada tambeacutem chamada de comentaacuterio integra uma paacutegina ou
seccedilatildeo do jornal determinada destacando-se graficamente das demais mateacuterias
ali publicadas trata de assuntos referentes a uma aacuterea especiacutefica de atividade
cujo autor eacute um expert como nos casos de poliacutetica esportes ou economia
O segundo aspecto eacute o tratamento dado ao tema Beltratildeo (1980 p68) apresenta
mais trecircs classificaccedilotildees
a) crocircnica analiacutetica em que o cronista expotildee os fatos com brevidade e os analisa
com objetividade dirigindo-se ldquomais agrave inteligecircncia que ao coraccedilatildeordquo com
linguagem soacutebria e elegante poreacutem dotada de capricho e graccedila
b) crocircnica sentimental em que o cronista apela para a sensibilidade de seu leitor
retirando-se dos fatos e explorando aspectos liacutericos pitorescos ou eacutepicos de
modo a comovecirc-lo e influenciaacute-lo agrave accedilatildeo com linguagem vivaz ritmo aacutegil sem
dar profundidade ao tema
c) crocircnica satiacuterico-humoriacutestica em que o objetivo do cronista eacute criticar fatos accedilotildees
personagens ou pronunciamentos comentados ndash amplamente conhecidos do
puacuteblico ndash ridicularizando-os ou ironizando-os buscando o entretenimento do
leitor utilizando linguagem com linguagem figurada com duplo sentido
palavras aspeadas e verbos no futuro do preteacuterito Para Beltratildeo (1980) a esse tipo
de crocircnica se assemelham as charges dos jornais
2322 Crocircnica um gecircnero literaacuterio
A crocircnica como vimos previamente surgiu no espaccedilo do jornal Embora o
utilizasse como suporte e a partir dele tenha se firmado desenvolveu caracteriacutesticas proacuteprias
indo para aleacutem da esfera jornaliacutestica alcanccedilando assim a esfera literaacuteria Nas palavras de
Eduardo Portela (apud Coutinho 2008 p 107)
47
O fundamental na crocircnica eacute a superaccedilatildeo de sua base jornaliacutestica e urbana em busca de
transcendecircncia seja construindo ldquouma vida aleacutem da notiacuteciardquo Seja enriquecendo a
notiacutecia ldquocom elementos de tipo psicoloacutegico metafiacutesicordquo ou com o humour seja
fazendo ldquoo subjetivismo do artistardquo ldquoo seu universo internordquo sobrepor-se ldquoagrave
preocupaccedilatildeo objetiva do cronistardquo (PORTELA apud COUTINHO 2008 p 107)
Como se vecirc essa base jornaliacutestica que atrelava a crocircnica agrave notiacutecia foi
gradativamente superada Natildeo soacute em jornais mas tambeacutem em revistas ela passou a ser
publicada ainda trazendo em si o aspecto da brevidade Poreacutem as que alcanccedilaram a
transcendecircncia de que nos fala o autor passaram a tambeacutem ser publicadas em livros reunidas
em coletacircneas organizadas por autores e editoras chegando mesmo a serem inseridas nos livros
didaacuteticos do ensino baacutesico
Para aleacutem dessa caracteriacutestica da crocircnica literaacuteria impressa temos agora tambeacutem
no seacuteculo XX a crocircnica cujo suporte eacute o meio online divulgada amplamente por meio das redes
sociais sites ou blogs Nesses meios tambeacutem haacute crocircnicas ligadas a notiacutecias sim No entanto a
dinacircmica da vida a capacidade de observaccedilatildeo e a vontade crescente na sociedade de expressatildeo
permite que o subjetivo emerja externalizando o universo dos autores modernos tocando os
leitores igualmente modernos tornando puacuteblico o que poderia ser antes apenas privado natildeo
priorizando apenas a objetividade histoacuterica que buscaram os cronistas incipientes
Considerando todas essas formas de tornar puacuteblica a crocircnica vejamos algumas de
suas caracteriacutesticas mais expressivas Afracircnio Coutinho (2008 p 107 Grifos nossos) fala sobre
os diversos tipos da crocircnica na literatura brasileira afirmando ser possiacutevel classificaacute-los pela
natureza do assunto ou pelo movimento interno Satildeo eles
a) a crocircnica narrativa que se aproxima do conto por ter seu eixo em uma histoacuteria
b) a crocircnica metafiacutesica que se constitui de aura de reflexotildees mais ou menos
filosoacuteficas sobre os acontecimentos ou os homens
c) a crocircnica-poema em prosa que traz em si conteuacutedo liacuterico resultante de mero
extravasamento da alma do artista ante o espetaacuteculo da vida das paisagens ou
episoacutedios para ele significativos
d) a crocircnica-comentaacuterio que trata das variedades dos acontecimentos e que tem
ldquono dizer de Eugecircnio Gomes o aspecto de um lsquobazar asiaacuteticorsquo acumulando
muita coisa diferente ou diacutesparrdquo
Antocircnio Cacircndido (1992 p 21) sugere sem pretensatildeo de categorizar uma
classificaccedilatildeo das crocircnicas Poderiacuteamos agrupar conforme seus exemplos da seguinte forma
48
a) crocircnicas que satildeo diaacutelogos e que nelas podemos perceber que o cronista e seu
leitor ideal se revezam nos pontos de vista e nas informaccedilotildees
b) crocircnicas que marcham rumo ao conto ldquoagrave narrativa mais espraiada com certa
estrutura de ficccedilatildeordquo
c) crocircnicas que parecem anedotas desdobradas
d) crocircnicas que se aproximam da exposiccedilatildeo poeacutetica ou de certo tipo de biografia
liacuterica construiacutedas por enumeraccedilatildeo parecendo uma divagaccedilatildeo livre ldquouma
cadeia de associaccedilotildees totalmente sem necessidade que deveria resultar em
simples acuacutemulo de palavrasrdquo mas que resulta em ldquoum sistema expressivo tatildeo
perfeitordquo
Nos tempos em que vivemos e para nosso projeto escolhemos crocircnicas que se
apresentaram para noacutes tatildeo efecircmeras quanto as do jornal impresso as de meio virtual online
Bem certo que natildeo foram todas mas vaacuterias que nossos alunos leram encaixam-se nesse perfil
O advento da internet permite que acessemos textos dos mais variados gecircneros Em nosso caso
crocircnicas de autores de diversos pontos do Paiacutes Usamos famosos e outros cuja fama no meio
literaacuterio ainda estaacute se nacionalizando porquanto alguns jaacute estejam bem consolidados no meio
em seus estados
Como nosso objetivo maior nesta pesquisa-accedilatildeo eacute contribuir para o
desenvolvimento da competecircncia escrita dos alunos neste caso os do 9ordm ano do Ensino
fundamental ano divisor de aacuteguas prestes a entrar para o ensino meacutedio quando lhes seraacute
cobrado um conhecimento que muitos natildeo chegam a alcanccedilar que eacute o de ter boa escrita boa
produccedilatildeo textual propiciar-lhes-emos conhecer as etapas especiacuteficas do processo atraveacutes de
nossa SD o que lhes seraacute fundamental natildeo somente para os niacuteveis escolares seguintes mas
tambeacutem para as praacuteticas sociais nas quais estatildeo inseridos
A escolha do gecircnero natildeo poderia ter sido mais oportuna Nas palavras de Cacircndido
(1992 p 16) sobre a crocircnica ldquoo seu grande prestiacutegio atual eacute um bom sintoma do progresso de
busca da oralidade na escrita isto eacute na quebra do artifiacutecio e aproximaccedilatildeo com o que haacute de mais
natural no modo de ser do nosso tempo E isto eacute humanizaccedilatildeo da melhorrdquo
49
3 LEITURA E ESCRITA NOS ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
Nesta seccedilatildeo tratamos da questatildeo da escrita no ensino fundamental nos anos finais
refletindo sobre o que ensinar em Liacutengua Portuguesa como os professores trabalham como
veem a importacircncia das aulas de escrita
31 Habilidades de leitura e escrita para que ler e escrever
No iniacutecio do seacuteculo XX pensava-se nas aulas de liacutengua materna como o momento
de se transmitir a norma culta da liacutengua portuguesa para os estudantes oriundos da classe social
alta A linguagem era vista como a expressatildeo do pensamento e a capacidade de escrever seria
portanto uma consequecircncia do pensar Na escola os textos literaacuterios eram valorizados e os
regionalismos ignorados Tambeacutem era descartada a ideia de se ler na escola jornais ou
quaisquer textos de nuances coloquiais
A partir da segunda metade do seacuteculo XIX comeccedilaram a surgir no Paiacutes ainda que
alguns fossem impressos na Europa livros de leitura destinados especificamente agraves seacuteries
iniciais da escolarizaccedilatildeo Segundo Galvatildeo e Batista (sd) autores como Abiacutelio Ceacutesar Borges e
Felisberto de Carvalho editaram livros considerados inovadores para a eacutepoca por terem caraacuteter
enciclopeacutedico trazendo conteuacutedos de vaacuterias aacutereas do conhecimento sendo de cunho instrutivo
e moral Essas obras destinadas ao aprendizado inicial da leitura e da escrita visavam substituir
as cartilhas grosseiras ou os materiais manuscritos que no entanto na maior parte do paiacutes
continuaram sendo usados
No iniacutecio do seacuteculo XX foram publicados livros cujo formato comeccedilou a modificar
o conceito de livro usado nas escolas Atraveacutes do Brasil de Olavo Bilac e Manuel Bonfim e
Narizinho arrebitado de Monteiro Lobato marcaram a histoacuteria
Movidos pelo nacionalismo que caracterizava aquele momento brasileiro os autores
construiacuteram um livro que traz uma narrativa contiacutenua ao longo dos capiacutetulos contando
a histoacuteria de trecircs meninos viajando atraveacutes do paiacutes No prefaacutecio os autores afirmam
que atraveacutes da histoacuteria narrada o professor teria material para desenvolver os diversos
assuntos necessaacuterios agrave instruccedilatildeo das crianccedilas Aleacutem disso e talvez sobretudo os
autores tecircm uma preocupaccedilatildeo com a educaccedilatildeo moral dos meninos e meninas Em
1921 outro livro marcaria a histoacuteria dos livros de leitura Narizinho Arrebitado de
Monteiro Lobato Um dos grandes sucessos da literatura infantil brasileira nasceu
como 2o livro de leitura para as escolas E com ele uma grande inovaccedilatildeo Segundo
a criacutetica da eacutepoca o livro se diferenciava de toda a literatura didaacutetica produzida no
Brasil na medida em que trazia para a escola um aspecto ateacute entatildeo ignorado pela
instituiccedilatildeo provocar o prazer na leitura (GALVAtildeO BATISTA sd)
50
Da deacutecada de 20 ateacute meados da de 50 inuacutemeros livros de leitura foram produzidos
e algumas editoras especializaram-se na produccedilatildeo de livros didaacuteticos Nesse momento vaacuterias
reformas de ensino foram empreendidas por diversos Estados
Nos anos 1970 a linguagem passou a ser vista como um instrumento de
comunicaccedilatildeo como nos fala Raupp (2005)
A concepccedilatildeo agora eacute a de linguagem como instrumento de comunicaccedilatildeo e os
objetivos de ensino satildeo pragmaacuteticos e utilitaacuterios natildeo se trata mais de promover o conhecimento
do sistema linguiacutestico ndash o saber a respeito da liacutengua ndash mas do desenvolvimento das habilidades
de expressatildeo e compreensatildeo de mensagens ndash o uso instrumental e comunicativo da liacutengua A
escola abre-se para a pluralidade de linguagens e culturas
Segundo a autora ensinar a liacutengua nas escolas era priorizar o ensino de gramaacutetica
Poreacutem no iniacutecio dos anos 70 a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo nordm 569271
provocou mudanccedilas natildeo somente na disciplina de Liacutengua Portuguesa mas em todas as demais
disciplinas curriculares A liacutengua no contexto ideoloacutegico do movimento militar poacutes-64 eacute
considerada instrumento a serviccedilo do desenvolvimento Assim a disciplina ldquoPortuguecircsrdquo passa
a ser denominada de Comunicaccedilatildeo e Expressatildeo (nas seacuteries iniciais) Comunicaccedilatildeo em Liacutengua
Portuguesa (nas seacuteries finais) e no 2deg grau Liacutengua Portuguesa e Literatura Brasileira O aluno
deveria respeitar modelos para construir textos e transmitir mensagens Os gecircneros natildeo
literaacuterios foram incorporados agraves aulas
Chegando agrave deacutecada de 1980 foi sendo revista refletida e ampliada a concepccedilatildeo de
linguagem como um instrumento de comunicaccedilatildeo passando a influenciar o ensino e mostrando
que o foco deve estar na interaccedilatildeo entre as pessoas Poreacutem apesar dos novos estudos mesmo
entrando na deacutecada de 1990 professores ainda reproduziam mesmo que inconscientemente o
mesmo sistema de transposiccedilatildeo didaacutetica de conteuacutedos e a mesma atribuiccedilatildeo de valor e
importacircncia ao ensino prescritivo e normativo com que construiacuteram sua formaccedilatildeo tanto pessoal
quanto pedagoacutegica
Questionava-se para que serve a escola E trazendo para nossa aacuterea de interesse
para que serve a disciplina Liacutengua Portuguesa Para alguns a escola era e ainda eacute vista como
preparatoacuteria de alunos para o vestibular tanto mais se aproximava do ensino meacutedio No entanto
se a escola se detiver apenas a esses exames perderaacute completamente seu papel social que como
sabemos eacute muito mais abrangente que fazer uma prova cuja finalidade eacute especiacutefica objetiva e
limitada por um tempo e por uma seacuterie de outras determinaccedilotildees teacutecnicas
51
Nesse sentido a escola natildeo tem por finalidade maior garantir o preparo de alunos
para concursos pois natildeo cumpriria seu papel de promover a inclusatildeo social dos cidadatildeos Para
aleacutem da escola haacute a vida e toda sua abrangecircncia social e poliacutetica Entatildeo para de fato promover
a inclusatildeo de cada aluno nada mais importante do que incluiacute-los no mundo da leitura e da
escrita da anaacutelise e da reflexatildeo criacutetica estimulando-os agrave criaccedilatildeo
Valemo-nos das palavras de Antunes (2007 p110) a respeito do conflito sobre o
que ensinar nas aulas de Liacutengua Portuguesa quando questiona o que leva ainda algumas pessoas
a defenderem a prioridade de um ensino concentrado em ldquoanalisar frases para identificar
substantivos adjetivos verbos sublinhar diacutegrafos distinguir objeto preposicionado de objeto
direto pleonaacutestico classificar oraccedilotildees e outras categorias metalinguiacutesticasrdquo Por que falantes da
liacutengua materna natildeo tecircm familiaridade com a liacutengua em sua modalidade escrita em sua forma
espontacircnea de uso Raupp (2005 p 53) apresenta-nos uma resposta
A verdade eacute que por mais que se tenham alterado meacutetodos e teacutecnicas pressupostos e
concepccedilotildees no ensino de Liacutengua Portuguesa uma premissa permaneceu inalterada a
necessidade de se ensinaraprender a leitura e a escrita E apesar de inuacutemeras
alteraccedilotildees didaacutetico-metodoloacutegicas ocorridas ao longo do percurso o ler e o escrever
permanecem gerenciadores de todo o processo de inserccedilatildeo do sujeito na escola e fora
dela A esse respeito menciona Britto (1997 p100) ldquoo aprendizado efetivo da escrita
(e aqui eu acrescentaria e da leitura) natildeo decorre de um processo de treinamento mas
da inserccedilatildeo do sujeito no mundo da relaccedilatildeo que estabelece entre o que aprende e seu
universo soacutecio-histoacutericordquo e a inserccedilatildeo do sujeito no mundo inegavelmente ocorre
por meio da leitura deste mundo (RAUPP 2005 p 53)
De certa maneira a tradiccedilatildeo dos meacutetodos de ensino da liacutengua materna na escola
ainda contribui no sentido de natildeo se estimular os aprendizes a fluir na leitura e na escrita
(BEZERRA 2014 LOPES-ROSSI 2012)
Com o intuito de superar meacutetodos tatildeo tradicionais quanto ineficientes no ensino da
competecircncia discursiva e sensiacuteveis agraves transformaccedilotildees gestadas nos centros de conhecimento
no ano de 1996 foi promulgada apoacutes longos debates e discussotildees a Lei de Diretrizes e Bases
que rege a educaccedilatildeo brasileira com vistas agraves novas formas do pensar e agir docente de modo
a implementar a transformaccedilatildeo do olhar das instituiccedilotildees que formam professores bem como
auxiliar os docentes jaacute em exerciacutecio atraveacutes das instituiccedilotildees que lhes propiciam a formaccedilatildeo
continuada
Assim os Paracircmetros Curriculares Nacionais (1997) reconhecem que o ensino da
liacutengua portuguesa pautado em uma prioridade de estudos de aspectos normativos ou gramaticais
da liacutengua eacute limitado e insuficiente e sugerem redirecionar o foco para a praacutetica de leitura e ndash
aspecto muito importante ndash o exerciacutecio da escrita de textos nos mais variados gecircneros textuais
52
existentes na sociedade possibilitando o estudo da liacutengua em contextos reais de uso natildeo apenas
como um conjunto de normas
A importacircncia e o valor dos usos da linguagem satildeo determinados historicamente
segundo as demandas sociais de cada momento Atualmente exigem-se niacuteveis de leitura e de
escrita diferentes dos que satisfizeram as demandas sociais ateacute haacute bem pouco tempo e tudo
indica que essa exigecircncia tende a ser crescente A necessidade de atender a essa demanda
obriga agrave revisatildeo substantiva dos meacutetodos de ensino e agrave constituiccedilatildeo de praacuteticas que possibilitem
ao aluno ampliar sua competecircncia discursiva na interlocuccedilatildeo (BRASIL 1998 p 23)
Nesse sentido os PCN (1997) orientam o trabalho em sala em direccedilatildeo agrave ampliaccedilatildeo
do uso da liacutengua aos contextos natildeo podendo ficar reduzida apenas ao trabalho sistemaacutetico com
a mateacuteria gramatical visto que aprender a pensar e falar sobre a proacutepria linguagem realizar
uma atividade de natureza reflexiva uma atividade de anaacutelise linguiacutestica supotildee duas situaccedilotildees
planejar situaccedilotildees didaacuteticas que possibilitem a reflexatildeo natildeo somente sobre os diferentes
recursos expressivos utilizados pelo autor do texto mas tambeacutem sobre a forma pela qual a
seleccedilatildeo de tais recursos reflete as condiccedilotildees de produccedilatildeo do discurso e as restriccedilotildees impostas
pelo gecircnero e pelo suporte e tomar como objeto de reflexatildeo os procedimentos de planejamento
de elaboraccedilatildeo e de refacccedilatildeo dos textos (BRASIL 1997 p 8 Grifo nosso)
Produzir textos requer dessa forma estudar os diferentes modos de expressatildeo
abrindo-se aiacute para o aluno uma gama de possibilidades de manifestaccedilatildeo de ideias atraveacutes do
conhecimento de sua liacutengua quando de seu uso nas relaccedilotildees de interaccedilatildeo pessoal No entanto
para que essa produccedilatildeo seja efetiva haacute que se ter em mente que qualquer atividade de produccedilatildeo
textual bem-sucedida requer o exerciacutecio da escrita e da reescrita pois se considera que nesse
processo de aperfeiccediloamento as aulas tomadas entre o iniacutecio e o teacutermino de uma sequecircncia ou
seja entre a produccedilatildeo inicial e a produccedilatildeo final sejam vaacuterias e variadas com planejamento para
conhecer as necessidades de cunho geral da turma como as caracteriacutesticas de um gecircnero bem
como as de cunho individual do aluno como as limitaccedilotildees no reconhecimento do gecircnero
textual na construccedilatildeo de argumentos nas convenccedilotildees da escrita culta
Para boa parte das crianccedilas e dos jovens brasileiros a escola eacute o uacutenico espaccedilo que
pode proporcionar acesso a textos escritos textos estes que se converteratildeo inevitavelmente em
modelos para a produccedilatildeo Se eacute de esperar que o escritor iniciante redija seus textos usando como
referecircncia estrateacutegias de organizaccedilatildeo tiacutepicas da oralidade a possibilidade de que venha a
construir uma representaccedilatildeo do que seja a escrita soacute estaraacute colocada se as atividades escolares
53
lhe oferecerem uma rica convivecircncia com a diversidade de textos que caracterizam as praacuteticas
sociais (BRASIL 1998 p 25-26)
Para levar o aluno a desenvolver suas habilidades de escrita um passo eacute planejar
sequecircncias que abordem as caracteriacutesticas do gecircnero a ser trabalhado permitindo-lhe pocircr em
aproximaccedilatildeo eou contraste seus saberes com os conhecimentos a serem construiacutedos algo que
tem se revelado bastante difiacutecil
Para o trabalho com a escrita em Liacutengua Portuguesa pode-se partir da questatildeo
essencial o que se deve ensinar para os alunos Para a resposta eacute importante entendermos a
escrita como processo quais satildeo as etapas Quais as estrateacutegias de escrita Qual o papel do
professor neste processo Para fundamentar a didaacutetica da escrita eacute importante conhecer os
processos de redigir e tambeacutem considerar como motivar os alunos a escrever Vamos para este
estudo nortearmo-nos em Serafini (2003) Koch e Elias (2009) e Vieira (2005)
32 Escrita e motivaccedilatildeo
Vieira (2005 p 71) traz agrave tona uma reflexatildeo sobre a necessidade de motivar a
escrita pois essa praacutetica permeia todas as nossas atividades cotidianas e eacute cada vez mais
indispensaacutevel Em sua anaacutelise entende que os atos de escrita que acontecem na escola
apresentam uma defasagem entre a realidade do mundo da palavra e a palavra do mundo
escolar Por vezes os alunos escrevem textos sem instruccedilotildees claras e sem um destinataacuterio
concreto aleacutem do professor cujo papel consiste em corrigir os erros de gramaacutetica e ortografia
Uma criacutetica pertinente da autora eacute que nossas escolas ainda estatildeo em sua maioria
com um atraso pedagoacutegico quanto ao trabalho com a escrita seus usos sociais e os processos
do redator Apesar de muitas abordagens e contribuiccedilotildees pedagoacutegicas que trabalham esses usos
sociais e o ato de redigir em funccedilatildeo de uma audiecircncia para o texto ou de um propoacutesito
comunicativo terem despontado essas ideias permanecem distantes da realidade do ensino Em
sua contribuiccedilatildeo para o tema motivaccedilatildeo Vieira (2005 p 70) afirma ldquoSe o impulso
comunicativo para escrever eacute determinante de escolhas temaacuteticas estruturais estiliacutesticas e
pragmaacuteticas no texto em composiccedilatildeo de partida isso jaacute deveria implicar num cuidado muito
maior em relaccedilatildeo ao quecirc e como satildeo propostos os atos de escrita na escolardquo
Essas proposiccedilotildees de que trata a autora atentam para que consideremos que estamos
na era digital em que a tecnologia absorve bastante a atenccedilatildeo dos alunos o que atribui novas
funccedilotildees para a escrita Para motivaacute-los as atividades precisam entatildeo levaacute-los a se sentirem
54
capazes de se envolver e de completar a tarefa isto eacute de ter competecircncia e controle sobre ela
controle sobre seus textos e sobre a situaccedilatildeo de escrita Essa autopercepccedilatildeo de competecircncia e
controle cuja recompensa eacute a autogratificaccedilatildeo eacute conceituada como motivaccedilatildeo intriacutenseca
concebida do ponto de vista cognitivista em oposiccedilatildeo ao conceito behaviorista de motivaccedilatildeo
cujo foco estaacute em recompensas externas chamado de motivaccedilatildeo extriacutenseca
Para o ensino segundo Vieira (2005) a percepccedilatildeo de competecircncia eacute muito
importante no que tange ao engajamento em tarefas Se o aluno natildeo se percebe competente
numa aacuterea maior sua necessidade de assistecircncia externa para se desincumbir de uma tarefa
Desse modo Vieira (2005 p 73) diz que
A ideia eacute que quando os estudantes se apropriam de sua escrita seu niacutevel de
engajamento seraacute mais alto Assim todo redator do principiante ao profissional deve
ser encorajado a apropriar-se de seu texto usando a escrita para expressar sua
compreensatildeo pessoal dos assuntos e para buscar seus proacuteprios propoacutesitos acadecircmicos
e sociais (VIEIRA 2005 p 73)
Visando entatildeo propiciar uma maior motivaccedilatildeo para redigir Vieira (2005) lista em
um quadro algumas atitudes de intervenccedilatildeo possiacuteveis cujos princiacutepios e praacuteticas aceitamos
como norte em nossa pesquisa de acordo com as possibilidades e dificuldades verificadas na
turma considerando a SD que foi aplicada Vejamos a seguir
Quadro 2 ndash Motivaccedilatildeo e envolvimento na produccedilatildeo escrita
ELEMENTOS BAacuteSICOS PRINCIacutePIOS E PRAacuteTICAS EFEITOS GERADOS
a) Competecircncia + assistecircncia
b) Controle (textosituaccedilatildeo de
escrita)
Encorajar a apropriaccedilatildeo do
texto
Compartilhar e demonstrar atos
de escrita ao aluno (o prazer e as
dificuldades)
Oportunidades para
autorregulaccedilatildeo
Engajamento mais alto
na leitura (a) e na escrita
(b) gt maior
competecircncia controle
Tempo
Concentrar periacuteodos para
escrever instituindo a
regularidade
Maior competecircncia e
controle
Propriedade (ownership)
Controlar a situaccedilatildeo de escrita e
a tarefa dentro do gecircnero e
formato
- variar temasassuntos
- focalizar uma audiecircncia
- encontrar a proacutepria ldquovozrdquo
expressando significados e
opiniotildees
- lerredigir textos autecircnticos
criando propoacutesitos
Domiacutenio sobre o texto e
maior prazer na escrita
55
comunicativos e situaccedilotildees reais
de escrita
Resposta (retorno reacuteplica)
Lerouvircompartilhar textos
Trabalhar em pequenos grupos
antes de trabalhar de forma
independente
Oportunidades de trocar
e comentar textos com
os colegas obtendo
respostas especiacuteficas
Complexidade da tarefa ndash usar
habilidades e conhecimentos
preacutevios propor tarefas que
possam ser executadas com
ecircxito (Bereiter e Scardamalia
1982)
Propor tarefas que dosem
- conteuacutedo (assunto)
- forma (gecircnero formato)
- funccedilatildeo (propoacutesito do texto)
Ex assunto novo + formato de
texto conhecido + funccedilatildeo
conhecida
Confianccedila reforccedilada
pela possibilidade de
sucesso de dar conta da
tarefa estimulando a
percepccedilatildeo da
competecircncia
Percepccedilatildeo abrangente do
processo de redigir (similar em
liacutengua materna e liacutengua
estrangeira ndash dominar o coacutedigo
linguiacutestico natildeo eacute o maior
problema)
Focalizar em separado
processos de
composiccedilatildeotranscriccedilatildeo
(gerarorganizar ideias x
ortografia e gramaacutetica)
Reforccedilo da experiecircncia
de sucesso gt niacutevel mais
alto de competecircncia
percebida gt
engajamento com tarefas
semelhantes Fonte Adaptado de VIEIRA (2005)
Aleacutem desses elementos a autora aponta outros aspectos praacuteticos que podem ampliar
a motivaccedilatildeo para escrever Satildeo eles
a) trabalhar a leitura e a escrita de forma complementar explorando textos
variados observando padrotildees ortograacuteficos e construccedilotildees sintaacuteticas explorando
o potencial da internet e os acervos disponiacuteveis pois a leitura contribui para a
escrita mais que o proacuteprio ato de redigir
b) integrar a escrita agrave matildeo com a escrita digital transitando do papel agrave tela do
computador exercitando em cada uma das modalidades de escrita os aspectos
que melhor favorecem
c) recriar situaccedilotildees comunicativas autecircnticas e propoacutesitos para escrever como
anuacutencios manchetes oraccedilotildees bilhetes cartas notiacutecias entre outros indo dos
mais simples aos mais complexos e
d) buscar audiecircncias verdadeiras para escrever e interlocutores para comentar os
textos redigidos criando situaccedilotildees de modo que os estudantes possam comentar
e criticar o que foi produzido
Diante do exposto procuramos ao longo das aulas dos moacutedulos contemplar nas
atividades os aspectos que podem motivar o aluno a escrever dominando pouco a pouco seu
texto propiciando-lhe a construccedilatildeo de experiecircncias positivas ainda mais porque estaacute em jogo
o despertar da consciecircncia de que a escrita eacute um processo como veremos na seccedilatildeo a seguir
56
33 Escrita como processo
Iniciando com questionamentos como por que eacute difiacutecil aprender a redigir quais satildeo
as maiores dificuldades envolvidas na produccedilatildeo de um texto como as crianccedilas escrevem e se
desenvolvem como redatoras quais os comportamentos caracteriacutesticos dos bons e dos maus
redatores entre outros que foram propostos por Vieira (2005 p 80) para saber mais sobre o
processo de produccedilatildeo de textos na escola
Em cada exerciacutecio de linguagem escrita praticado na escola eacute fundamental prever
para quem se vai escrever As redaccedilotildees escritas ldquopara ningueacutemrdquo que segundo Antunes (2009)
desconsideram o outro sujeito que integra a atividade comunicativa soacute podem resultar no
desinteresse e na ineficiecircncia dos meacutetodos de que somos testemunhas haacute vaacuterias deacutecadas Essa
produccedilatildeo textual ldquopara ningueacutemrdquo de que trata a autora reflete-se nas inseguranccedilas
manifestadas pelos alunos Quando estes escrevem eacute unicamente para o professor porque
visam merecer uma nota e passar de ano Ora se a escrita tem tantas funccedilotildees na sociedade
sendo de ordem praacutetica natildeo faz sentido cristalizaacute-la em fins puramente escolares
A escrita segundo Koch e Elias (2009) pode ter vaacuterios focos De acordo com as
autoras haacute correntes de produccedilatildeo textual que colocam o foco da escrita na liacutengua outras que
focam no escritor e por uacuteltimo na interaccedilatildeo
Com o foco da escrita na liacutengua bastaria tanto ao escritor como ao leitor ter
conhecimento do coacutedigo utilizado no texto sem espaccedilo para implicitudes havendo centraccedilatildeo
na linearidade de modo transparente
Com o foco da escrita no escritor o texto eacute visto como produto loacutegico do
pensamento (representaccedilatildeo mental) do escritor ou seja uma expressatildeo do pensamento e das
intenccedilotildees do autor mas que natildeo leva em conta as experiecircncias e os conhecimentos do leitor
pois natildeo considera a interaccedilatildeo que haacute no processo (KOCH ELIAS 2009 p 33)
No entanto natildeo se deve considerar segundo as autoras o foco apenas no coacutedigo
ou apenas no escritor mas na interaccedilatildeo
Essa eacute a diferenccedila em relaccedilatildeo agraves concepccedilotildees anteriormente descritas visto que a
escrita natildeo eacute compreendida em relaccedilatildeo apenas agrave apropriaccedilatildeo das regras da liacutengua nem
tampouco ao pensamento e intenccedilotildees do escritor mas sim em relaccedilatildeo agrave interaccedilatildeo escritor-
leitor levando em conta eacute verdade as intenccedilotildees daquele que faz uso da liacutengua para atingir o
seu intento sem contudo ignorar que o leitor com seus conhecimentos eacute parte constitutiva desse
processo (KOCH ELIAS 2009 p 34)
57
Desse modo a primeira condiccedilatildeo necessaacuteria ao professor que ensina a redigir eacute que
tenha em mente que a escrita eacute uma atividade comunicativa e que desempenha funccedilotildees cada
vez mais diversificadas no dia a dia de uma sociedade letradardquo (VIEIRA 2005 p 80) Escrever
eacute um ato que requer sentido afinal comunicar-se eacute um ato de interaccedilatildeo social eacute praacutetica eacute
vivecircncia
Os processos psicoloacutegicos ou mentais acionados durante a produccedilatildeo de um texto
natildeo acontecem necessariamente numa ordem loacutegica Podem vir simultaneamente o que pode
levar o redator a sentir que tem conflitos e consequentemente estancar diante dessa dificuldade
inicial
Logo para produzir um texto eacute preciso ter determinados os pontos que indicam
exatamente o que fazer o que facilita o trabalho de qualquer escritor Vieira (2005) considera
que para despertar o prazer de escrever haacute que se levar em conta os seguintes argumentos um
eacute a funcionalidade da escrita jaacute falada anteriormente outro diz respeito agrave proacutepria natureza da
escrita tatildeo distinta da fala
Embora a escrita em papel seja um ato solitaacuterio em que natildeo se conta com a reaccedilatildeo
do interlocutor por causa da proacutepria distacircncia espacial que separa autor e leitor a consciecircncia
da audiecircncia eacute o que impulsiona o texto que estaacute sendo produzido Em outras palavras no ato
de redigir jaacute estaacute inscrito o virtual leitor do texto E eacute essa consciecircncia aparentemente
contraditoacuteria entre ausecircncia e presenccedila do destinataacuterio da mensagem que vai moldar os
procedimentos do redator (VIEIRA 2005 p 82)
Concordamos com Serafini (2003 p17) quando afirma que escrever um texto ldquonatildeo
significa criar por inspiraccedilatildeo divina Eacute um trabalho E para realizar a contento um trabalho eacute
preciso conhecer as regras do jogordquo As regras que a autora propotildee satildeo as seguintes ter um
plano ordenar as ideias organizar o texto corrigir Essa distribuiccedilatildeo das etapas do trabalho
permite que se trabalhe melhor Da mesma forma Koch e Elias (2009 p 37) evidenciam que
[] em sua atividade o escritor recorre a conhecimentos armazenados na memoacuteria
relacionados agrave liacutengua ao saber enciclopeacutedico a praacuteticas interacionais Esses
conhecimentos resultado de inuacutemeras atividades em que nos envolvemos ao longo de
nossa vida deixam entrever a intriacutenseca relaccedilatildeo entre linguagemmundopraacuteticas
sociais (KOCH ELIAS 2009 p 37)
Para Koch e Elias (2009 p 34) a escrita eacute uma atividade que demanda esforccedilo e
as estrateacutegias a seguir
58
a) ativaccedilatildeo de conhecimentos sobre os componentes da situaccedilatildeo comunicativa
(interlocutores toacutepico a ser desenvolvido e configuraccedilatildeo textual adequada agrave
interaccedilatildeo em foco)
b) seleccedilatildeo organizaccedilatildeo e desenvolvimento das ideias de modo a garantir a
continuidade do tema e sua progressatildeo
c) ldquobalanceamentordquo entre informaccedilotildees expliacutecitas e impliacutecitas entre informaccedilotildees
ldquonovasrdquo e ldquodadasrdquo levando em conta o compartilhamento de informaccedilotildees com
o leitor e o objetivo da escrita
d) revisatildeo da escrita ao longo de todo o processo guiada pelo objetivo da produccedilatildeo
e pela interaccedilatildeo que o escritor pretende estabelecer com o leitor
Haacute muitas maneiras de percebermos os subprocessos e as habilidades implicadas
na produccedilatildeo de um texto como mostram Serafini (2003) Koch e Elias (2009) Vieira (2005
p84) tambeacutem menciona em sua obra modelos do tipo ldquoensaio esboccedilo ediccedilatildeo e revisatildeordquo
ldquoensaiar escrever e passar a limpordquo ldquoextrapolar e resumirrdquo ldquocoletar e conectarrdquo ldquodesenvoltura
coerecircncia e precisatildeordquo ldquogerarorganizar ideias produzir texto e revisarrdquo ldquoelaboraccedilatildeo expressatildeo
e revisatildeordquo ldquoplanificaccedilatildeo textualizaccedilatildeo revisatildeordquo
Nessa visatildeo processual do ensino da escrita todas essas maneiras convergem para
o consenso de que haacute operaccedilotildees mentais de natureza diferente e conflitante e para fins
pedagoacutegicos eacute interessante separar as atividades de composiccedilatildeo e de transcriccedilatildeo segundo o
conceito de Smith apud Vieira (2005 p 84) ldquoSegundo ele a atividade de compor diz respeito
agrave geraccedilatildeo seleccedilatildeo organizaccedilatildeo de ideias e sua traduccedilatildeo em linguagem Jaacute a atividade de
transcrever refere-se ao ato fiacutesico de registrar as palavrasrdquo
Na praacutetica compor e transcrever satildeo aspectos concorrentes e para a autora a
soluccedilatildeo pedagoacutegica seria separar as duas atividades da seguinte forma
[] primeiro levar o aluno a compor sem se preocupar com a transcriccedilatildeo depois
orientaacute-lo para revisar e reescrever o texto (fazendo-o compreender que a atividade de
revisatildeo faz parte do processo de redigir um texto) Estas colocaccedilotildees jaacute nos permitem
rever os criteacuterios de avaliaccedilatildeo de redaccedilotildees mostrando-nos como estamos equivocados
quando elegemos a correccedilatildeo gramatical e a ortografia como metas principais para a
habilidade de redigir (VIEIRA 2005 p 85)
Assim como ensinar a redigir sob a oacutetica da escrita como processo De iniacutecio tendo
em mente que as operaccedilotildees e habilidades necessaacuterias agrave elaboraccedilatildeo do texto tecircm valor No
entanto o exerciacutecio das habilidades de escrita em separado pode ter a desvantagem de levar o
59
aluno a achar que o processo eacute uma atividade fragmentada Para entatildeo evitar essa percepccedilatildeo
eacute preciso aleacutem dos exerciacutecios redigir textos completos
De jaacute temos consciecircncia de que nenhuma abordagem para o ensino da escrita eacute
absoluta Nas palavras de Vieira (2005 p 87)
A redaccedilatildeo requer meacutetodo muacuteltiplo jaacute que envolve diferentes tipos de capacidades e
habilidades E nada substitui o bom senso do professor Assim por exemplo se ele
julgar necessaacuterio reforccedilar determinados padrotildees de texto recorrendo agrave abordagem
imitativa estaraacute procedendo de forma adequada Da mesma maneira poderaacute usar
estrateacutegias de liberaccedilatildeo da linguagem na fase de geraccedilatildeo de ideias ou reforccedilar os
recursos de interaccedilatildeo verbal professor-aluno ou aluno-aluno nas atividades de revisatildeo
de texto (VIEIRA 2005 p 87)
Vieira (2005) sintetiza os pontos importantes para o desenvolvimento da habilidade
de redigir a partir de investigaccedilotildees de Krashen (1984 apud Vieira 2005) na aacuterea
O primeiro ponto eacute a frequecircncia com que se redige Independentemente da
disciplina escrever exige treino constante concentrando o tempo disponiacutevel e em horaacuterio
regular posto que ldquosaber com antecedecircncia quando vamos redigir cria prontidatildeo para a
atividade que comeccedila interiormente bem antes de colocarmos as palavras no papelrdquo (VIEIRA
2005 p 88)
O segundo ponto eacute a correlaccedilatildeo entre leitura e escrita A habilidade de ler
compreensivamente permite que quanto mais se leia mais se observe a composiccedilatildeo dos textos
aprendendo-se a lidar com seus padrotildees de organizaccedilatildeo com as intenccedilotildees do autor e percebendo
como se executam diferentes modalidades de usos da escrita
O terceiro ponto eacute a frequecircncia em ler x a frequecircncia em escrever Vieira (2005)
afirma que estudos que comparam a frequecircncia em ler e a frequecircncia em escrever revelam que
a leitura tem efeito mais forte sobre o desenvolvimento da escrita que a proacutepria frequecircncia com
que se escreve
O quarto ponto eacute a instruccedilatildeo escolar para o ensino da escrita Mais do que qualquer
outra habilidade diz a autora a escrita precisa ser demonstrada Assim as instruccedilotildees que o
professor faz ao texto do aluno durante o processo contribuem para que este faccedila os devidos
ajustes melhorando assim sua habilidade de produzir textos
O quinto ponto eacute o feedback do professor Este ponto ressalta o papel fundamental
do professor nas muacuteltiplas reescrituras por que passa um texto ldquoO ideal eacute que sejam feitos
vaacuterios rascunhos com o professor presente comentando cada estaacutegio intermediaacuteriordquo (VIEIRA
2005 p 89) Suas correccedilotildees precisam ser feitas sobre um aspecto de cada vez especificando
as alteraccedilotildees necessaacuterias nos aspectos de composiccedilatildeo e de transcriccedilatildeo
60
O sexto ponto eacute a instrumentaccedilatildeo gramatical e o desenvolvimento da escrita e trata
do que muito se tem discutido na atual sociedade instruccedilatildeo gramatical desvinculada do uso
praacutetico da linguagem natildeo garante a ningueacutem uma escrita melhor
O seacutetimo e uacuteltimo ponto satildeo os processos de composiccedilatildeo de bons e maus redatores
e diferencia em pelo menos quatro aspectos os que escrevem bem do que os que o fazem mal
Satildeo eles
a) planejamento quem redige bem planeja mais Esse planejamento pode ser
gastando mais tempo pensando tomando notas antes de escreverem
flexibilizando os planos e revisando os esquemas agrave medida que surgem novas
ideias e argumentos Apenas alguns redatores experientes seguem uma ordem
linear planejando primeiro em seguida esboccedilando o texto num rascunho e
enfim revisando ldquoPara a maioria deles o processo de redigir eacute recursivo isto eacute
sujeito a retomadas e alteraccedilotildees em diferentes pontos da produccedilatildeo do textordquo
(VIEIRA 2005 p 91)
b) releitura durante a elaboraccedilatildeo do texto as pausas na escrita para a releitura
permitem manter o senso de totalidade da composiccedilatildeo planejando o que
escrever em seguida e tambeacutem relembrando o que jaacute foi registrado fazendo com
que o texto avance
c) revisatildeo a diferenccedila entre os escritores experientes dos inexperientes eacute a revisatildeo
frequentemente confundida com editoraccedilatildeo A revisatildeo pelos experientes eacute uma
focalizaccedilatildeo do significado servindo para ldquoinventar acrescentar mudanccedilas de
conteuacutedo e para reorganizar longos trechos da composiccedilatildeordquo (VIEIRA 2005 p
94) ao passo que a editoraccedilatildeo normalmente a preocupaccedilatildeo dos inexperientes eacute
a correccedilatildeo gramatical a ortograacutefica e a pontuaccedilatildeo que se feita antes do tempo
quebra o ritmo da escrita deixando de conduzir o fio do pensamento e
d) consciecircncia da audiecircncia fundamental considerando o foco da escrita como
anteriormente dito na interaccedilatildeo Levar em conta o leitor como ele poderaacute
receber as palavras e ideias do texto os conhecimentos que ele precisaraacute ter para
compreender o texto e os interesses que ele tem eacute marca dos escritores que
redigem bem ao contraacuterio dos demais que ldquotendem a ficar presos ao assunto do
texto e a gastar menos tempo pensando no leitor por natildeo terem consciecircncia da
audiecircncia ou por natildeo serem capazes de consideraacute-la na escritardquo (VIEIRA 2005
p 95)
61
Essas etapas apresentadas nesta seccedilatildeo foram fundamentais para o processo
conduzido em nossa SD visto permitir aos alunos tomar consciecircncia dos processos que satildeo
ativados antes e durante a escrita bem como nas etapas de leitura releitura e reescrita sendo
cerne da elaboraccedilatildeo das propostas de produccedilatildeo conforme veremos nas seccedilotildees correspondentes
aos moacutedulos aos encontros e agraves atividades desenvolvidas Para a seccedilatildeo seguinte veremos como
pode ser trabalhada a escrita na escola
34 Escrita na escola
Para antes do iniacutecio do trabalho de escrita no acircmbito escolar o ideal eacute que o
professor tenha em mente para definir com clareza junto aos seus alunos na tarefa que deveraacute
ser desenvolvida os seguintes pontos segundo Serafini (2003) destinataacuterio objetivo do texto
gecircnero do texto papel do redator objeto da redaccedilatildeo comprimento da redaccedilatildeo criteacuterios de
avaliaccedilatildeo Desse modo
a) o destinataacuterio eacute a pessoa para a qual se escreve ou seja o leitor Como as
produccedilotildees satildeo feitas no contexto escolar para que o aluno-escritor natildeo dirija seu
texto somente ao professor eacute importante nos comandos de produccedilatildeo esclarecer
qual eacute ou deve ser o perfil de leitor para quem se escreve
b) o objetivo de um texto precisa ser claro pois a ele se atrela a avaliaccedilatildeo do
mesmo no caso do contexto escolar Aliaacutes um texto pode ter mais de um
objetivo e isso precisa ser ponto claro entre o professor e o aluno
c) a escolha do gecircnero eacute entatildeo essencial para o desenvolvimento do texto por
permitir a realizaccedilatildeo deste com um estilo muito marcante O gecircnero permite
inclusive compreender qual eacute o papel do redator na produccedilatildeo para assim
inserir-se ou retirar-se no texto
d) o objeto da redaccedilatildeo para a autora deveria ser deduzido do tiacutetulo da redaccedilatildeo (que
entendemos atualmente como o direcionamento do tema) e explica que assim
como haacute comandos que expotildeem detalhadamente o objeto da redaccedilatildeo haacute tambeacutem
os que pouco oferecem explicaccedilotildees e que conveacutem em casos como esse que o
aluno explique ldquonuma introduccedilatildeo como seratildeo interpretados os termos do
problema propostordquo (SERAFINI 2003 p 28)
e) a extensatildeo do texto depende essencialmente do objetivo da disponibilidade de
tempo da capacidade e da rapidez de quem escreve Entendemos aqui que haacute
62
gecircneros que permitem maior extensatildeo que outros No contexto escolar
normalmente noacutes professores por razotildees de ordem praacutetica do dia a dia pedimos
textos com limite de linhas ou paraacutegrafos
f) finalmente os criteacuterios de avaliaccedilatildeo do professor ajudam o aluno a ldquocanalizar a
proacutepria energia na direccedilatildeo certardquo (SERAFINI 2003 p 29) Como parte do
trabalho com sequecircncia didaacutetica haacute o partilhamento dos criteacuterios trabalhados
do vocabulaacuterio teacutecnico e das caracteriacutesticas a serem encontradas nos textos
produzidos facilitando a vida do aluno quanto ao que colocar no texto e
clareando para o professor o que ele pode esperar desse texto
Desse modo para o escritor que se vecirc diante do papel em branco
independentemente do que vaacute escrever eacute preciso antes empenhar seu tempo e esforccedilo em duas
etapas fundamentais a criaccedilatildeo de ideias para assim passar agrave produccedilatildeo do texto
A separaccedilatildeo consiste em primeiramente levar o aluno a compor sem a
preocupaccedilatildeo com a transcriccedilatildeo Em seguida orientaacute-lo para que faccedila a revisatildeo e a reescrita do
texto colocando-lhe de modo expliacutecito que a revisatildeo eacute parte do processo de redigir um texto
A etapa de criaccedilatildeo das ideias eacute aquela em que o autor pode ldquoatirarrdquo palavras-chave
protoacutetipos de paraacutegrafos de personagens de ambientes de sequecircncias de acontecimentos sem
o fantasma da censura agrave criatividade Aliaacutes eacute nesse momento que pode surgir uma ldquogrande
sacadardquo cujo valor do registro possa vir a ser recompensador Nas palavras de Serafini (2003
p 31) a ldquofolha de papel na qual listamos os dados recolhidos cumpre a funccedilatildeo de prolongamento
da memoacuteria no mundo visiacutevel eacute mais faacutecil escolher num elenco fisicamente visiacutevel que num
iacutendice feito mentalmenterdquo
A coleta das ideias que surgiram ao ser terminada pede a decisatildeo do que e como
usar no texto Para os textos literaacuterios que satildeo objeto de nossa pesquisa um passo necessaacuterio
na estruturaccedilatildeo de Serafini (2003) eacute a identificaccedilatildeo do ponto de vista
Os textos descritivo-narrativos natildeo apresentam ideias predominantes mas contam
fatos e descrevem lugares e pessoas A estrutura desses textos natildeo eacute mais dada por uma ideia
a tese mas pelo ponto de vista isto eacute pelo acircngulo de perspectiva do qual satildeo mostrados fatos
e objetos Nas histoacuterias complexas e nos romances o ponto de vista pode tambeacutem mudar
(SERAFINI 2003 p 45)
Nas palavras da autora ldquo[] para fazer uma boa descriccedilatildeo de um objeto ou lugar
devemos escolher um ponto de vista fica por conta de nossa sensibilidade selecionar um ponto
de vista interessante eficaz e quem sabe originalrdquo (SERAFINI 2003 p47) Entatildeo para um
63
texto narrativo que conta uma histoacuteria natildeo existe um modo objetivo de narrar mas um acircngulo
de perspectiva Completando o pensamento de Serafini Koch e Elias declaram que o como
dizer o que se quer dizer eacute revelador de que a escrita eacute um processo que envolve escolha de um
gecircnero textual em consonacircncia com as praacuteticas sociais seleccedilatildeo organizaccedilatildeo e revisatildeo das ideias
para os ajustesreajustes necessaacuterios tendo em vista a eficiecircncia e a eficaacutecia da comunicaccedilatildeo
(KOCH ELIAS 2009 p 36)
Apoacutes a seleccedilatildeo das ideias de sua organizaccedilatildeo e da escolha do ponto de vista o
escritor pode efetivamente passar agrave produccedilatildeo Tudo o que foi feito para despertar coloquemos
assim o escritor para o labor com seu texto eacute uma hipoacutetese do trabalho final visto que ao
comeccedilar a escrever novas ideias vatildeo surgindo E como nos lembra Serafini (2003 p 54) ldquo[]
quem se propotildee a ensinar a escrever na escola brasileira atual geralmente encontra problemas
porque natildeo tem agrave disposiccedilatildeo um modelo uacutenico de liacutengua nem uma tradiccedilatildeo de didaacutetica da
redaccedilatildeo que privilegie um dos diversos estilos possiacuteveisrdquo Frases longas ou curtas discurso
direto ou indireto ou mesmo o indireto livre tudo satildeo escolhas com as quais o aluno-escritor
vai se familiarizar ao longo de sua jornada escolar pouco a pouco conforme suas experiecircncias
de leitura e praacutetica com a escrita progredindo do paraacutegrafo mais simples ao mais complexo A
autora assim define o que eacute paraacutegrafo
O paraacutegrafo eacute uma quantidade de texto delimitada por um ponto final o texto continua
a se desenvolver na outra linha afastado da margem Ele pode conter vaacuterios periacuteodos
separados por pontos e por viacutergulas O que importa eacute garantir que a cada paraacutegrafo
corresponda uma uacutenica ideia de roteiro Esta colocaccedilatildeo tiacutepica do mundo anglo-saxatildeo
e americano pode parecer excessivamente mecanicista e simplista Com efeito eacute
justificada soacute no niacutevel didaacutetico para aqueles estudantes que tecircm grandes dificuldades
para escrever Este meacutetodo aliaacutes deve ser assumido como hipoacutetese de trabalho mas
deve ser revisto agrave medida que se adquire familiaridade com a liacutengua Em nome de
uma melhor organizaccedilatildeo do texto eacute possiacutevel por exemplo reagrupar mais de uma
ideia do roteiro num uacutenico paraacutegrafo ou associar agrave mesma ideia mais paraacutegrafos
(SERAFINI 2003 p 55)
Desse modo se fizermos um pequeno quadro com a finalidade de melhor visualizar
as possibilidades de organizaccedilatildeo do texto em paraacutegrafos o que pode ajudar os alunos temos
Quadro 3 ndash Como organizar as ideias em paraacutegrafos
1 ideia 1 paraacutegrafo
2 ou mais ideias 1 paraacutegrafo
1 ideia 2 ou mais paraacutegrafos
Fonte adaptado de SERAFINI (2003)
64
Por razotildees didaacuteticas Serafini (2003) classifica trecircs principais tipos de paraacutegrafo
com caracteriacutesticas especiacuteficas o paraacutegrafo narrativo que eacute constituiacutedo por uma sequecircncia de
afirmaccedilotildees-informaccedilotildees que natildeo precisam de garantia4 e eacute onde os fatos satildeo expostos em ordem
cronoloacutegica o paraacutegrafo descritivo que conteacutem objetos lugares e pessoas geralmente
constituiacutedo soacute pela afirmaccedilatildeo e pela informaccedilatildeo dispensando a garantia e finalmente o
paraacutegrafo expositivo-argumentativo mais complexo que os anteriores apresenta em geral todas
as caracteriacutesticas do modelo de Toulmin (cf nota 8) e que apresenta uma tese com os dados e
as observaccedilotildees que podem ser uacuteteis para convencer o leitor de sua validade
Ainda na classificaccedilatildeo do paraacutegrafo narrativo tambeacutem chamado de cronoloacutegico
Serafini nos mostra um caso particular de apresentaccedilatildeo de uma sequecircncia de fatos o que inclui
o flash-back que eacute a interrupccedilatildeo na sequecircncia cronoloacutegica ldquointroduzindo fatos anteriores uacuteteis
agrave compreensatildeo da narrativa Embora natildeo seja tatildeo natural eacute possiacutevel interromper uma sequecircncia
temporal para incluir fatos que aconteceratildeo depoisrdquo (SERAFINI 2003 p 58)
Um outro caso de paraacutegrafo narrativo ou cronoloacutegico eacute o que apresenta um
procedimento Procedimentos ldquosatildeo todas as sequecircncias de accedilotildees que devem ser cumpridas para
se obter certo resultadordquo (SERAFINI 2003 p 59) por exemplo a enumeraccedilatildeo das etapas
necessaacuterias ao preparo de uma torta A descriccedilatildeo correta do procedimento requer que natildeo se
inverta a ordem de suas operaccedilotildees elementares
O paraacutegrafo descritivo segundo a autora eacute importante ldquo[] para envolver o leitor
na histoacuteria convencecirc-lo da tese ou tornar-lhe a leitura mais concreta e vivardquo (SERAFINI 2003
p 58) Dessa forma eacute interessante que os personagens ambientes e objetos natildeo sejam apenas
mencionados mas apresentados com riqueza de detalhes A generalizaccedilatildeo pode deixar o leitor
indiferente ao passo que descriccedilotildees detalhadas podem vir a interessar envolver e mesmo
emocionar
Frequentemente quem natildeo tem grande experiecircncia de escrita considera as
descriccedilotildees oacutebvias e as abandona porque tende a atribuir ao leitor os seus proacuteprios
conhecimentos e experiecircncias As crianccedilas em geral se aborrecem ao ler as descriccedilotildees e agraves vezes
pulam o trecho descritivo porque satildeo mais pela trama do que pela apresentaccedilatildeo dos ambientes
e das caracteriacutesticas fiacutesicas e psicoloacutegicas dos protagonistas Entretanto agrave medida que
4 Serafini (2003 p 56-57) apresenta o modelo de Toulmin que examina quais satildeo as caracteriacutesticas de um
paraacutegrafo que o tornam convincente isto eacute que levem o leitor a compartilhar da mesma tese Satildeo elas a afirmaccedilatildeo
que apresenta a ideia principal do paraacutegrafo a informaccedilatildeo que conteacutem os dados que apoiam a afirmaccedilatildeo e a
garantia que eacute a ligaccedilatildeo entre a afirmaccedilatildeo e a informaccedilatildeo e mostra a importacircncia da informaccedilatildeo para apoiar a
asserccedilatildeo Ex Artur estaacute nervoso sua e ri sem parar Afirmaccedilatildeo Artur estaacute nervoso Informaccedilatildeo sua e ri sem
parar Garantia (subentendida) suar e rir sem parar satildeo sinais tiacutepicos de nervosismo
65
estimulam a sensibilidade em relaccedilatildeo aos textos elas vatildeo se dando conta de que natildeo eacute soacute a accedilatildeo
que torna interessante a histoacuteria Eacute tarefa do professor desenvolver essa sensibilidade e esse
gosto em vez de se fixar apenas nos aspectos narrativos de um texto (SERAFINI 2003 p 63)
Serafini (2003) tambeacutem trata da importacircncia dos paraacutegrafos que conduzem as
introduccedilotildees nos textos A autora classifica as introduccedilotildees em introduccedilatildeo-enquadramento e
introduccedilatildeo para chamar a atenccedilatildeo
A introduccedilatildeo-enquadramento enquadra o tema proposto na instruccedilatildeo para a
produccedilatildeo textual realccedilando sua importacircncia e agraves vezes ateacute antecipando o que seraacute
desenvolvido no corpo do texto ldquoUma introduccedilatildeo muito comum eacute aquela em que o estudante
coloca questotildees agraves quais pretende responder agrave medida que vai desenvolvendo o textordquo
(SERAFINI 2003 p 72) Normalmente utilizada entre os estudantes segundo a autora eacute
caracteriacutestica de quem natildeo faz planejamento e comeccedila a escrever seu texto sem saber o que vai
colocar em seu desenvolvimento mas tambeacutem por quem pretende reelaborar e expandir o
tiacutetulo5
A introduccedilatildeo para chamar a atenccedilatildeo segundo a autora pretende atrair a atenccedilatildeo e
o interesse do leitor utilizando frases de efeito citaccedilotildees informaccedilotildees curiosas exemplos
concretos que antecipam problemaacuteticas a serem desenvolvidas no corpo do texto e envolvem
emocionalmente o leitor exemplificaccedilotildees em primeira pessoa pois ldquoos problemas concretos
narrados na primeira pessoa atraem mais a curiosidade do que aqueles apresentados de modo
abstratordquo (SERAFINI 2003 p 74)
Ao final de sua primeira versatildeo de texto o alunoescritor tende a fazer uma raacutepida
releitura normalmente pouco criacutetica O ideal eacute que seu texto possa ser apreciado pelos colegas
de sala para que sejam feitas sugestotildees Quando a revisatildeo for desenvolvida pelo proacuteprio autor
5 Os tiacutetulos poderiam ser classificados segundo Serafini (2003) em trecircs grandes categorias o tiacutetulo-frase-de-
efeito o tiacutetulo-estiacutemulo-aberto e o tiacutetulo-roteiro O tiacutetulo-frase-de-efeito ldquoeacute geralmente agradaacutevel arguto suscita
a admiraccedilatildeo do leitor pode ser provocativo mas natildeo necessariamente profundordquo (p100) trazendo geralmente
citaccedilotildees de personagens importantes ou as afirmaccedilotildees categoacutericas do professor Por exemplo ldquoJaacute natildeo haacute matildeos
dadas no mundordquo (Drummond - Unesp) ou ldquoQuando vocecirc for martelo lembre-se que jaacute foi pregordquo (pichaccedilatildeo de
parede utilizada na Unesp) Os tiacutetulos-estiacutemulo-aberto ldquopropotildeem um tema de modo muito geneacuterico e neutro e datildeo
mais liberdade ao estudanterdquo (p101) Por exemplo ldquoViver hojerdquo (Santa Casa-SP) ldquoA televisatildeordquo (Poli-USP)
Finalmente os tiacutetulos-roteiro ldquonatildeo soacute propotildeem um tema como no grupo precedente mas tambeacutem oferecem uma
seacuterie de pontos de vista de problemas que devem ser analisados fornecendo jaacute a pauta do desenvolvimentordquo
(p101) A autora explica que enquanto um tiacutetulo-estiacutemulo-aberto seria ldquoA televisatildeordquo o tiacutetulo-roteiro solicitaria
ldquoDescreva os efeitos positivos e negativos que a televisatildeo causa sobre os jovens da sua geraccedilatildeo Cite especialmente
os programas mais interessantes e os mais aborrecidos de que vocecirc se recorda procurando explicar os efeitos
positivos ou negativos que cada um teve no seu desenvolvimentordquo (p101-102) O que chamamos ao longo de
nosso texto de instruccedilatildeo se aproximaria mais do que Serafini chama de tiacutetulo-roteiro por jaacute determinar que
informaccedilotildees a produccedilatildeo textual deve conter poreacutem noacutes atribuiacutemos mais caracteriacutesticas ao que eacute pedido aos alunos
a cada produccedilatildeo como os comandos que determinam que gecircnero textual seraacute trabalhado a extensatildeo do texto a
audiecircncia o objetivo a temaacutetica e outros itens que devem estar presentes na produccedilatildeo conforme a aula e o moacutedulo
66
eacute interessante haver um hiato de tempo entre a primeira escrita e a revisatildeo para que as ideias
se clareiem e possam ser postas na forma apropriada
Trabalhar a abordagem da escrita como processo lanccedila luz sobre as operaccedilotildees e as
habilidades necessaacuterias agrave elaboraccedilatildeo do texto priorizando-as mais do que ao produto final
obtido o que simplifica a escrita para fins de ensino por tratar dos componentes do processo
isoladamente treinando-os separadamente
Na verdade nenhuma abordagem para o ensino da escrita eacute exclusiva A redaccedilatildeo
requer meacutetodo muacuteltiplo jaacute que envolve diferentes tipos de capacidades e habilidades E nada
substitui o bom senso do professor Assim por exemplo se ele julgar necessaacuterio reforccedilar
determinados padrotildees de texto recorrendo agrave abordagem imitativa estaraacute procedendo de forma
adequada Da mesma maneira poderaacute usar estrateacutegias de liberaccedilatildeo da linguagem na fase de
geraccedilatildeo de ideias ou reforccedilar os recursos de interaccedilatildeo verbal professor-aluno ou aluno-aluno
nas atividades de revisatildeo de textos (VIEIRA 2005 p 87)
No entanto para Vieira (2005) esse exerciacutecio em separado das habilidades da
escrita natildeo dispensa a redaccedilatildeo de textos completos devendo o professor cuidar para que o
processo de escrita natildeo perca seu caraacuteter integral devido agraves atividades fragmentadas
35 Letramento literaacuterio
Acreditamos que para o desenvolvimento de nosso trabalho eacute importante ter em
mente que para escrever melhor para saber o que inserir em seu texto o aluno deve aguccedilar seu
olhar para o que vai nos textos de outrem ndash em nosso caso os que foram escolhidos para compor
a sequecircncia ndash e como foram ditas as coisas que laacute estatildeo inseridas Dessa forma desenvolvemos
em nossos moacutedulos praacuteticas que abordam aleacutem da praacutetica da escrita como processo o
letramento literaacuterio posto que a visatildeo que o inclui extrapola as simples leituras e anaacutelises das
palavras discutindo conceitos que compotildeem o acervo cultural dos alunos a partir das ideias
presentes nos textos
Para Cosson (2016 p23) ldquoa literatura natildeo estaacute sendo ensinada para garantir a
funccedilatildeo essencial de construir e reconstruir a palavra que nos humanizardquo O autor afirma que se
pode trazer ao aluno uma experiecircncia de leitura a ser compartilhada ampliando-a com
informaccedilotildees especiacuteficas do campo literaacuterio e ateacute fora dele A maneira de ensinar precisa ser
organizada segundo os objetivos da formaccedilatildeo do aluno evidentemente mas sem o abandono
do prazer de ler Compreende assim que o letramento literaacuterio eacute uma praacutetica social e como
67
tal responsabilidade da escola que deve cumpri-la sem descaracterizaacute-la sem negar mas
confirmando o poder de humanizaccedilatildeo da literatura
Para promover o letramento literaacuterio Cosson nos conduz a questionar e
desconstruir pressuposiccedilotildees sobre leitura e literatura enraizadas no senso comum A primeira eacute
que os livros falam por si mesmos ao leitor Ora ldquoos livros como os fatos jamais falam por si
mesmos O que os fazem falar satildeo os mecanismos de interpretaccedilatildeo que usamos e grande parte
deles satildeo aprendidos na escolardquo (2016 p 26) Ensinar a explorar o texto natildeo eacute criar uma barreira
entre elas e o leitor mas ajudar o leitor a manipular os textos dominando o discurso literaacuterio
Outra pressuposiccedilatildeo eacute que ler eacute um ato solitaacuterio Para o autor mais que o
movimento individual dos olhos ler implica uma troca de sentidos o que envolve escritor
leitor e sociedade em que ambos estatildeo localizados ldquopois os sentidos satildeo resultado de
compartilhamentos de visotildees do mundo entre os homens no tempo e no espaccedilordquo (2016 p 27)
Quando compreender isto o leitor alcanccedilaraacute um real significado na leitura
Tambeacutem uma pressuposiccedilatildeo eacute a ideia de que eacute impossiacutevel expressar o que sentimos
na leitura dos textos literaacuterios Esse eacute outro equiacutevoco que trata a leitura literaacuteria como uma
atividade tatildeo individual que natildeo poderia ser compartilhada Pelo contraacuterio conforme o autor o
efeito de proximidade que o texto literaacuterio traz eacute resultado do diaacutelogo que travamos com o
mundo e com os outros inseridos que estamos em uma sociedade O que levamos ao texto eacute
mais uacutenico do que o que ele nos oferece o que explica as diferentes leituras que fazemos do
mesmo texto em diferentes etapas de nossas vidas
A uacuteltima pressuposiccedilatildeo de que trata o autor eacute que ldquoa leitura literaacuteria praticada na
escola tambeacutem chamada anaacutelise literaacuteria destruiria a magia e a beleza da obra ao revelar seus
mecanismos de construccedilatildeordquo (COSSON 2016 p 28) Para Cosson a literatura mantida ldquoem
adoraccedilatildeordquo torna-se estranha ao leitor ao passo que a leitura literaacuteria que lhe fornece ferramentas
para exploraccedilatildeo do texto o convida agrave interaccedilatildeo como um processo de comunicaccedilatildeo
O autor conclui que se quisermos formar leitores capazes de experienciar toda a
forccedila humanizadora da literatura natildeo basta apenas ler com vistas a criar um haacutebito de leitura
mas fornecer-lhes ldquoos instrumentos necessaacuterios para conhecer e articular com proficiecircncia o
mundo feito linguagemrdquo (COSSON 2016 p 30)
Nossa seleccedilatildeo de textos para a SD foi inspirada em temas que os alunos costumam
observar na vida diaacuteria Tivemos preferecircncia por textos que circulam em meio eletrocircnico
extraiacutedos de sites blogs e de redes sociais ou seja contemporacircneos e com temas atuais Cosson
(2016 p34) distingue os dois termos que normalmente satildeo usados como sinocircnimos na
68
adjetivaccedilatildeo da produccedilatildeo literaacuteria da seguinte forma ldquo[] obras contemporacircneas satildeo aquelas
escritas e publicadas em meu tempo e obras atuais satildeo aquelas que tecircm significado para mim
em meu tempo independentemente da eacutepoca de sua escrita ou publicaccedilatildeordquo
Fizemos uma seleccedilatildeo preacutevia dos textos mas agrave medida em que as aulas avanccedilavam
abrimos a perspectiva para assuntos que eram mencionados em sala e trouxemos outros textos
inclusive publicados em livros variando as autorias poreacutem mantendo ainda o dinamismo e a
contemporaneidade Esse material se encontra na seccedilatildeo correspondente
69
4 NATUREZA E PROCEDIMENTOS DA PESQUISA
Apresentaremos nas seccedilotildees seguintes a metodologia e os procedimentos adotados
em nossa pesquisa realizada em uma escola puacuteblica municipal de Satildeo Luiacutes Maranhatildeo
41 Contexto da pesquisa
A pesquisa foi desenvolvida em uma das turmas de 9ordm ano de uma unidade de
educaccedilatildeo baacutesica municipal de ensino fundamental de 1ordm a 9ordm anos A escola tem um anexo
proacuteximo onde funcionam turmas de 1ordm ano (3 salas) Situa-se na aacuterea Itaqui-Bacanga em um
bairro considerado de difiacutecil acesso por sua pouca oferta de ocircnibus no municiacutepio de Satildeo Luiacutes
capital do Maranhatildeo ilha de Upaon-Accedilu
Antes pouco populoso o bairro tem aumentado de tamanho pela chegada de
moradores alguns oriundos de diversas cidades do interior mas tambeacutem vindos de outros
bairros pois algumas melhorias para a valorizaccedilatildeo da aacuterea tecircm acontecido como a construccedilatildeo
da escola e recentemente a quadra de esportes em sua aacuterea do posto de sauacutede da associaccedilatildeo
onde ocorre a conhecida Festa da Macaxeira e mais recentemente a criaccedilatildeo de um conjunto
residencial do programa do governo federal Minha Casa Minha Vida
No turno matutino nesta escola funciona o ensino fundamental (EF) ndash anos iniciais
(1ordm ao 5ordm ano) e no vespertino o EF ndash anos finais (6ordm ao 9ordm ano) sendo 2 turmas de 6ordm ano 2
turmas de 7ordm ano 2 turmas de 8ordm ano e 1 turma de 9ordm ano
Segundo os indicadores contextuais da Prova Brasil o niacutevel socioeconocircmico da
escola estaacute em meacutedio baixo O indicador de adequaccedilatildeo da formaccedilatildeo docente6 que analisa a
formaccedilatildeo dos docentes que lecionam nos finais do EF na escola eacute 85 Observando as meacutedias
de proficiecircncia em relaccedilatildeo agraves meacutedias das escolas do Brasil do Maranhatildeo e de Satildeo Luiacutes
comparando-as agrave nossa escola temos
6 Apresenta o percentual de disciplinas em cada etapa que satildeo ministradas por professores com formaccedilatildeo superior
de Licenciatura (ou Bacharelado com complementaccedilatildeo pedagoacutegica) na mesma disciplina que leciona Fonte e site
para consulta
httpsistemasprovabrasilinepgovbrprovaBrasilResultadosviewboletimDesempenhoboletimDesempenhosea
m Acesso em 3 de janeiro de 2018
70
Graacutefico 1 ndash Resultados IDEB 2015
Fonte INEP (2018))
O graacutefico acima mostra que o desempenho da escola ficou abaixo das meacutedias de
proficiecircncia em Liacutengua Portuguesa em leitura do Paiacutes em 2015 No entanto estaacute acima das
meacutedias do estado e do municiacutepio ludovicense que apresentaram indicadores 23093 e 23915
respectivamente A escola obteve 24034 ou seja pouco mais de um ponto acima o que natildeo
deixa de ser uma conquista para a gestatildeo e o corpo docente visto todos os entraves no processo
educacional Aleacutem do que se observarmos os indicadores de proficiecircncia em LP no 9ordm ano na
escola ao longo das trecircs uacuteltimas ediccedilotildees da Prova Brasil veremos que tem havido um progresso
como constatamos a seguir
Graacutefico 2 ndash Desempenho da escola nas ediccedilotildees da Prova Brasil
Fonte INEP (2018)
215
220
225
230
235
240
245
2011 2013 2015
Desempenho da escola nas ediccedilotildees da Prova Brasil
220
225
230
235
240
245
250
255
Brasil Maranhatildeo Satildeo Luiacutes Nossa escola
Resultados IDEB 2015
71
Os niacuteveis de proficiecircncia em Liacutengua Portuguesa classificados pela Prova Brasil
satildeo 9 (nove) e avaliam a capacidade de leitura dos alunos O desempenho por niacutevel de
proficiecircncia7 da turma de 9ordm ano no IDEB8 a seguir eacute referente ao ano de 2015
Graacutefico 3 ndash Distribuiccedilatildeo percentual dos alunos do 9ordm Ano do EF por niacutevel de proficiecircncia - Liacutengua Portuguesa
Fonte INEP (2018)
Para a aplicaccedilatildeo da SD foi escolhida a turma do 9ordm ano do ano letivo de 2017 que
contava com 46 alunos no iniacutecio do ano no turno vespertino Ao longo do ano alguns alunos
trancaram matriacutecula eou foram transferidos resultando no nuacutemero de 43 alunos frequentes ao
final do ano letivo O puacuteblico tem entre 14 e 15 anos em sua maior parte Por ser uma turma
que antecede o ingresso no ensino meacutedio eacute-lhe dispensada atenccedilatildeo especial no que tange a
projetos e preparaccedilatildeo para a seleccedilatildeo na etapa posterior da Educaccedilatildeo Baacutesica
A carga horaacuteria da disciplina Liacutengua Portuguesa eacute de 5 horas-aula por semana sem
divisatildeo formal interna de assuntos havendo flexibilidade para o trabalho com leitura produccedilatildeo
textual gramaacutetica e projetos tanto internos agrave escola como parcerias externas com essa
7 Os niacuteveis de proficiecircncia descritos pelo Inep encontram-se nos anexos deste trabalho 8 IDEB eacute o Iacutendice de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica criado pelo Inep em 2007 cuja escala vai de zero a
dez O indicador eacute calculado a partir dos dados sobre aprovaccedilatildeo escolar obtidos no Censo Escolar e meacutedias de
desempenho nas avaliaccedilotildees do Inep o Saeb e a Prova Brasil A fonte e o site oficial para consulta estatildeo disponiacuteveis
em lt httpportalinepgovbrwebportal-idebgt
000
500
1000
1500
2000
2500
3000
Niacutevel 0 Niacutevel 1 Niacutevel 2 Niacutevel 3 Niacutevel 4 Niacutevel 5 Niacutevel 6 Niacutevel 7 Niacutevel 8
Distribuiccedilatildeo percentual dos alunos do 9ordm Ano do EF por niacutevel de
proficiecircncia em 2015- Liacutengua Portuguesa
Nossa escola Escolas Similares
72
A opccedilatildeo por trabalhar a pesquisa nessa turma deu-se por ser a seacuterie que se prepara
para avanccedilar para o ensino meacutedio podendo assim ter um reforccedilo em sua competecircncia
discursiva atraveacutes da praacutetica da leitura e da produccedilatildeo escrita como processo
Ao mesmo tempo eacute importante que os alunos se interessem mais e mais por leitura
e sabendo que este puacuteblico natildeo aprecia leituras longas como as dos romances por exemplo a
crocircnica literaacuteria eacute uma excelente sugestatildeo por suas temaacuteticas que em vaacuterios exemplos eacute
proacutexima da realidade do aluno aleacutem de contar com textos breves e dinacircmicos
Por fim era de interesse da escola que os alunos dessa turma saiacutessem do ensino
fundamental com seguranccedila no que se refere a produzir textos escritos em gecircneros especiacuteficos
de uso cotidiano acionando assim conhecimentos que foram aprofundados e consolidados nas
aulas de anos anteriores
42 Participantes
Os sujeitos participantes da pesquisa satildeo alunos que frequentam a turma do 9ordm ano
no turno vespertino do ano letivo de 2017 na escola da rede puacuteblica municipal de ensino de
Satildeo Luiacutes no Maranhatildeo Em sua maioria residem na aacuterea que abrange o Argola e Tambor o
Gapara a Cidade Nova e adjacecircncias A maioria dos alunos tendo em vista sua idade apenas
estuda e mora com os pais eou responsaacuteveis
Ao longo do ano letivo a turma teve algumas alteraccedilotildees em seu puacuteblico com dois
estudantes que pediram transferecircncia de escola e outro que trancou a matriacutecula Assim
frequentando efetivamente as aulas foram 43 (quarenta e trecircs) alunos No entanto dentre esses
apenas uma meacutedia de 20 (vinte) alunos se interessou em participar do projeto de escrita
A turma em si eacute caracterizada pelos proacuteprios alunos bem como por professores
como composta por um puacuteblico cuja falta de interesse e de motivaccedilatildeo de vaacuterios estudantes
prejudica aqueles que desejam realmente se dedicar A sala eacute muito cheia e devido agrave natural
predisposiccedilatildeo que tecircm os adolescentes para a distraccedilatildeo e a conversa em vaacuterios momentos eacute um
desafio para se conseguir sua atenccedilatildeo e envolvimento nas atividades Percebemos nos contatos
iniciais com a turma completa que satildeo poucos infelizmente que demonstram real empenho
em participar
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Os alunos que optaram por integrar o projeto desenvolveram as atividades propostas
em cinco moacutedulos realizadas em 11 (onze) encontros de 2 (duas) horas-aula cada9 durante os
meses de outubro a dezembro conforme cronograma previsto
43 Materiais
O material analisado na pesquisa eacute constituiacutedo pelos textos produzidos pelos alunos
que participaram de todas as atividades desta sequecircncia Portanto para a anaacutelise consideramos
apenas 13 (treze) alunos no total
Para a composiccedilatildeo do trabalho denominamos os textos produzidos nesta SD da
seguinte forma
a) produccedilatildeo inicial A (PI-A) realizada apoacutes 3 (trecircs) encontros com um total de 4
(quatro) horasaula constando atividades de leitura de crocircnicas que serviram
como norte para a primeira escrita dos alunos fazendo uma breve sensibilizaccedilatildeo
de caracteriacutesticas do gecircnero
b) produccedilatildeo final A (PF-A) realizada apoacutes o segundo moacutedulo da sequecircncia
reescrevendo a PI-A texto sem circulaccedilatildeo social mas com o intuito de
desenvolver a competecircncia comunicativa do aluno
c) produccedilatildeo inicial B (PI-B) realizada apoacutes os moacutedulos 3 (trecircs) e 4 (quatro) jaacute
visando a circulaccedilatildeo social do texto
d) produccedilatildeo final B (PF-B) realizada apoacutes o moacutedulo 5 (cinco) quando os alunos
tivessem aperfeiccediloado sua competecircncia comunicativa escrita e se apropriado do
gecircnero estudado cumprindo o propoacutesito comunicativo da proposta de produccedilatildeo
visando a divulgaccedilatildeo do texto
Para a realizaccedilatildeo da produccedilatildeo inicial utilizamos coacutepias de uma crocircnica
acompanhada de uma proposta de produccedilatildeo elaborada de acordo com a temaacutetica do texto e
associada agrave realidade dos alunos contextualizando uma possibilidade de ligar o mundo real ao
mundo virtual e uma coacutepia da folha de produccedilatildeo textual a ser utilizada em nosso projeto
Durante o desenvolvimento dos moacutedulos da SD utilizamos coacutepias dos textos e
atividades propostas distribuiacutedas individualmente Tambeacutem foi feito o uso do quadro branco
9 Agrave exceccedilatildeo dos dois primeiros encontros de 1 horaaula cada um
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incel e apagador e de algumas imagens impressas em folha sulfite para ilustrar o conteuacutedo de
algumas crocircnicas de acordo com o planejamento de cada encontro
Para que houvesse a etapa poacutes sequecircncia didaacutetica que corresponde agrave circulaccedilatildeo
social do texto no gecircnero produzido os alunos que desejaram realmente publicar seus escritos
dentro do gecircnero crocircnica literaacuteria produziram um material especiacutefico para tal (PF-B) a partir
da escolha de temaacuteticas que agradaram a cada um individualmente Esse material que tambeacutem
constaraacute de nossa pesquisa corresponde aos textos de 4 (quatro) alunos apenas e
apresentaremos na seccedilatildeo destinada as produccedilotildees iniciais (PI-B) uma primeira reescrita e por
fim as produccedilotildees finais (PF-B)
44 Procedimentos
Antes de aplicarmos a SD com os alunos realizamos momentos de socializaccedilatildeo da
seguinte forma explicamos a importacircncia do projeto agrave direccedilatildeo da escola aos professores e aos
pais dos alunos da turma escolhida para a execuccedilatildeo do projeto visando o fortalecimento da
proposta Com os professores foi feito um momento de reuniatildeo uma semana antes do iniacutecio do
projeto Com os pais realizamos uma reuniatildeo para a socializaccedilatildeo e igualmente para pedir seu
apoio no incentivo agrave participaccedilatildeo dos alunos Infelizmente foram poucos os pais responsaacuteveis
que compareceram agrave reuniatildeo situaccedilatildeo que ocorre normalmente quando se datildeo as reuniotildees de
pais e mestres na escola
Foram realizados 11 (onze) encontros de duas horas-aula (de cinquenta minutos
cada uma) que ocorreram entre os meses de setembro e novembro de 2017 Entre a primeira
fase que compreende a socializaccedilatildeo do projeto e a busca pela adesatildeo as primeiras leituras e a
produccedilatildeo inicial A totalizando 3 (trecircs) encontros num total de 4 horasaula e o iniacutecio da
segunda fase que compreende os moacutedulos propriamente ditos do processo de escrita ateacute a
produccedilatildeo final A num total de 3 (trecircs) encontros houve um intervalo de aproximadamente 1
(um) mecircs tempo destinado agrave apreciaccedilatildeo da PI-A anaacutelise e elaboraccedilatildeo dos moacutedulos da
sequecircncia de atividades Para a posterior culminacircncia que coloca os textos em circulaccedilatildeo social
houve mais 5 (cinco) encontros agora com um puacuteblico mais reduzido que realmente desejava
publicar suas produccedilotildees
Destinamos dois horaacuterios agraves terccedilas-feiras que estavam ociosos para os alunos pois
correspondiam aos horaacuterios das disciplinas de Arte e Ensino religioso cuja professora estava
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afastada em virtude de uma licenccedila de sauacutede para o desenvolvimento do projeto sem alterar a
rotina das aulas de Liacutengua Portuguesa
Como primeira atividade lemos o texto Prova falsa de Stanislaw Ponte Preta (cf
Apecircndice A) com a turma completa Fizemos o exerciacutecio de interpretaccedilatildeo do texto e breve
leitura de Abandono de Animais eacute crime e precisa ser denunciado (cf Apecircndice B) uma
reportagem para que os alunos percebessem diferenccedilas entre os gecircneros (2 horasaula)
O encontro seguinte teve a leitura do texto O chato da vez de Anaximandro
Amorim (cf Apecircndice C) e atividades de interpretaccedilatildeo Dentre as questotildees havia a instruccedilatildeo
que propunha os comandos para a criaccedilatildeo de um texto em forma de crocircnica ndash com o que os
alunos puderam perceber a respeito do gecircnero durante os encontros - e a partir disso nestas 2
(duas) horasaula os alunos fizeram sua produccedilatildeo inicial10 Esses textos compotildeem a produccedilatildeo
inicial dos integrantes do projeto
Os moacutedulos elaborados para o trabalho que visavam melhorar os aspectos da escrita
dos alunos considerando o processo bem como os procedimentos de escritor compreenderam
atividades de leitura exerciacutecios de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo dos textos e de produccedilatildeo de
textos escritos mediados pela professora pesquisadora dentro do gecircnero crocircnica literaacuteria
discussotildees sobre os temas presentes nas crocircnicas aproximando-os da realidade dos alunos com
o objetivo de desenvolver nestes sua capacidade de observaccedilatildeo e reflexatildeo para a produccedilatildeo
textual
Foram apresentadas agrave turma de maneira coletiva as principais dificuldades
diagnosticadas na produccedilatildeo inicial Procuramos natildeo focalizar de iniacutecio a editoraccedilatildeo11 do texto
na folha de produccedilatildeo No entanto natildeo deixamos de trabalhar em sala elementos como o cuidado
com a pontuaccedilatildeo a paragrafaccedilatildeo e a ortografia O conteuacutedo das aulas de cada moacutedulo estaacute
descrito na seccedilatildeo correspondente
No decorrer dos moacutedulos os alunos realizaram atividades de revisatildeo e reescrita dos
seus textos observando tanto a estrutura do gecircnero quanto o seu conteuacutedo orientados pela
professora pesquisadora e tambeacutem recebendo ideias e sugestotildees dos colegas em um feedback
colaborativo Dessa forma chegaram ao seu texto final aplicando na medida de sua
10 Obs o 4ordm horaacuterio que foi escolhido para ser o momento da produccedilatildeo inicial foi prejudicado por dois fatores
O primeiro foi que o professor de educaccedilatildeo fiacutesica da escola convidou os alunos para antecipar sua praacutetica e vaacuterios
natildeo voltaram do recreio para a aula do projeto O segundo fator foi que nesse dia aconteceu uma briga com agressatildeo
fiacutesica entre uma aluna da sala e outra aluna de outra turma o que deixou a escola inteira agitada Os 20 (vinte)
alunos que permaneceram em sala para a produccedilatildeo felizmente mostraram-se interessados embora vaacuterios dissessem
que natildeo levavam jeito para escrever Apenas alguns alunos passaram a limpo seus textos 11 Ver seccedilatildeo Escrita como processo
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conscientizaccedilatildeo os conhecimentos adquiridos e as duacutevidas esclarecidas durante a sequecircncia de
atividades
Nossa proposta incluiu a circulaccedilatildeo social dos textos para uma audiecircncia real o que
consistiu em uma culminacircncia do projeto de escrita O acordo feito com os alunos foi a
publicaccedilatildeo interna de uma versatildeo artesanalmente produzida de um livro de crocircnicas para que
pudessem marcar o momento e guardar um livro fiacutesico como recordaccedilatildeo e a publicaccedilatildeo em
suas paacuteginas pessoais na rede social Facebook plataforma que os alunos apreciam utilizar com
certa frequecircncia posto que nosso trabalho teve como material para leitura textos retirados da
internet como o proacuteprio Facebook blogs sites Para esta etapa somente cinco alunos
frequentaram assiduamente (alguns outros esporadicamente) sendo que apenas quatro
produziram um texto individual que passou pelo mesmo processo de reescrita e que teve sua
publicaccedilatildeo na plataforma e tambeacutem em um formato artesanal impresso para que suas famiacutelias
e comunidade escolar possam prestigiar o momento na tarde de autoacutegrafos
As produccedilotildees finais seratildeo analisadas no capiacutetulo a seguir em relaccedilatildeo agrave apropriaccedilatildeo
das caracteriacutesticas do gecircnero estudado bem como de sua estrutura composicional com o
objetivo de avaliar se os alunos conseguiram desenvolvecirc-la satisfatoriamente e se a estrutura e
a aplicaccedilatildeo da sequecircncia de atividades favoreceu o desenvolvimento da competecircncia textual e
discursiva dos estudantes que integraram a pesquisa de acordo com o que foi observado em
suas produccedilotildees iniciais examinando seu desempenho em ambas as produccedilotildees
Para o desenvolvimento de nossas atividades do projeto planejamos os encontros
com base nos estudos realizados a respeito do procedimento Sequecircncia Didaacutetica de Dolz
Noverraz e Schneuwly (2013) como estrateacutegia de ensino dos gecircneros textuais na proposta de
adaptaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica conduzida por Swiderski e Costa-Huumlbes (2009) na proposta
de circulaccedilatildeo social do gecircnero discursivo produzido em sequecircncias didaacuteticas de projetos
pedagoacutegicos de Lopes-Rossi (2011) e dos procedimentos das etapas de escrita como
planejamento ediccedilatildeo revisatildeo e reescrita do texto segundo Vieira (2005) e Serafini (2003)
O planejamento de nossa SD abrange 12 (doze) etapas conforme mostra a figura a
seguir
77
Figura 4 - Proposiccedilatildeo de sequecircncia didaacutetica para o projeto de escrita
Fonte Elaborado pela autora adaptado de DOLZ NOVERRAZ SCHNEUWLY (2013) SWIDERSKI COSTA-
HUumlBES (2009) LOPES-ROSSI (2011)
Nossa sequecircncia foi pensada para 2 (duas) etapas distintas Na primeira etapa A
uma produccedilatildeo textual para trabalho em sala com o mesmo tema com a expectativa de serem
colocados nos textos elementos que respondessem ao enunciado instrucional da atividade que
segue a crocircnica lida no dia na segunda etapa B uma produccedilatildeo que jaacute seria composta visando
a circulaccedilatildeo social com tema livre agrave escolha dos alunos a partir das discussotildees sobre o que
pode ser tema de uma crocircnica
Pela necessidade de uma SD mais completa inserimos ao modo de Swiderski e
Costa-Huumlbes entre a apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e a produccedilatildeo inicial um moacutedulo
de reconhecimento do gecircnero E apoacutes o teacutermino de nossa SD inserimos ao modo de Lopes-
Rossi um moacutedulo para a divulgaccedilatildeo social dos textos
441 Primeira etapa da apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo agrave produccedilatildeo inicial
Entre a apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo e a produccedilatildeo inicial (PI) utilizamos 4 (quatro)
horas-aula No primeiro encontro fizemos no 1ordm (primeiro) horaacuterio a socializaccedilatildeo do projeto
com os alunos e incentivamos a adesatildeo expondo as vantagens de trabalharmos o aprendizado
de um gecircnero como a crocircnica em forma de sequecircncia de aulas e atividades Natildeo houve
manifestaccedilatildeo de unanimidade de interesse em participar do projeto Na realidade apenas
metade da sala pareceu desejar integrar o projeto Quando perguntados sobre o motivo que natildeo
os animava vaacuterios responderam ldquopreguiccedila de ler professora preguiccedila de escrever professora
ah eu natildeo gosto de ler muito natildeo Leio porque sou obrigada e natildeo vale nem nota mesmordquo
Apresentaccedilatildeo
da Situaccedilatildeo
Produccedilatildeo
Inicial A
Produccedilatildeo
Final A
Moacuted
ulo 1
Moacuted
ulo 2
Moacuted
ulo 3
Circulaccedilatildeo social
das produccedilotildees B Moacuted
ulo 4 Produccedilatildeo
Inicial B
Moacuted
ulo 5 Produccedilatildeo
Final B
Moacutedulo de
reconheci
mento
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Apesar da inicial resistecircncia de boa parte da sala colocamos aos alunos as
vantagens de sua participaccedilatildeo visto que a principal finalidade da sequecircncia de atividades seria
o desenvolvimento de sua competecircncia escrita por meio da aprimoraccedilatildeo de suas habilidades
leitoras oportunidade de ampliaccedilatildeo da criatividade e desenvolvimento das habilidades e
procedimentos de escritor como o planejamento das ideias a releitura a revisatildeo a reescrita ndash
que sabemos natildeo fazem parte da rotina dos alunos salvo raras exceccedilotildees ndash utilizando como
base o estudo das caracteriacutesticas do gecircnero textual crocircnica literaacuteria
No horaacuterio seguinte com a turma completa iniciamos o moacutedulo de reconhecimento
realizando a leitura do texto Prova falsa de Stanislaw Ponte Preta Leitura silenciosa seguida
de leitura em voz alta por parte da professora-pesquisadora poreacutem sem realizar a atividade que
acompanhava o texto Comeccedilamos a trabalhar com a turma algumas caracteriacutesticas que a
sensibilizariam para o gecircnero como a presenccedila de um tiacutetulo interessante para a criaccedilatildeo de um
texto a partir de uma situaccedilatildeo do cotidiano e que o cronista resolveu contar ao leitor ao bom
humor e agrave leveza das palavras trazidas no texto
No segundo encontro com 1 hora-aula na semana seguinte fizemos a continuaccedilatildeo
da aula anterior no primeiro horaacuterio realizando o exerciacutecio de interpretaccedilatildeo do texto Prova
Falsa No horaacuterio seguinte realizamos breve leitura do texto Abandono de Animais eacute crime e
precisa ser denunciado para que os alunos percebessem a diferenccedila entre a crocircnica e a
reportagem embora ambas falassem cada uma a seu modo de criaccedilatildeo de animais de estimaccedilatildeo
Chegamos aos terceiro encontro com 2 (duas) hora-aula e realizamos a leitura do
texto O chato da vez de Anaximandro Amorim (cf Anexo D) No 1ordm horaacuterio destinado a nossas
aulas tudo transcorreu relativamente normal com a turma completa lendo e realizando parte
das atividades Poreacutem nossa Produccedilatildeo Inicial deveria acontecer apoacutes o recreio pois a
organizaccedilatildeo da grade de horaacuterios compreendia 1 hora-aula antes do recreio e a 1 hora-aula
seguinte apoacutes o recreio
Esse horaacuterio que foi escolhido para ser o momento da PI foi prejudicado por dois
fatores O primeiro foi que o professor de educaccedilatildeo fiacutesica12 da escola convidou os alunos para
antecipar sua praacutetica e vaacuterios natildeo voltaram do recreio para a aula do projeto O segundo fator
foi que nesse dia aconteceu uma briga com agressatildeo fiacutesica entre uma aluna da sala e outra aluna
de outra turma o que deixou a escola inteira agitada Os 20 (vinte) alunos que permaneceram
12 O professor de educaccedilatildeo fiacutesica natildeo estava presente na reuniatildeo de socializaccedilatildeo do projeto com os professores e
por isso natildeo sabia que a professora-pesquisadora ocuparia aquele horaacuterio que estava ocioso para os alunos
79
em sala para a produccedilatildeo felizmente mostraram-se interessados embora vaacuterios dissessem que
natildeo levavam jeito para escrever
Demos prosseguimento agrave atividade que acompanha o texto O chato da vez
realizando a instruccedilatildeo de produccedilatildeo do quesito 7 (sete) Os alunos receberam uma folha de
produccedilatildeo e foram orientados a primeiro escrever seu rascunho em folha agrave parte e somente
quando terminassem passar seu texto para a folha de produccedilatildeo A maioria escreveu diretamente
na FP Apenas alguns alunos fizeram um breve rascunho e depois passaram a limpo seus textos
O que buscamos detectar nessas primeiras produccedilotildees (PI-A) sem o devido
aprofundamento das caracteriacutesticas da crocircnica literaacuteria apenas com as leituras e as atividades
de sensibilizaccedilatildeo no moacutedulo de reconhecimento do gecircnero a partir da instruccedilatildeo de produccedilatildeo
foram os itens a seguir
i) quantos textos jaacute deram sinais de que os alunos entenderam o que eacute a ldquoconversa
com o leitorrdquo e a expressaram em marcas linguiacutesticas
ii) quantos atenderam ao perfil da audiecircncia solicitada na instruccedilatildeo
iii) quantos se mantiveram no tema discutido
iv) quantos partiram de uma situaccedilatildeo vividaobservada para compor seu texto
v) quantos narraram essa situaccedilatildeo de forma clara para que o leitor pudesse
acompanhar
vi) quantos atenderam agrave instruccedilatildeo quanto agrave presenccedila de tiacutetulo e ao nuacutemero de
paraacutegrafos
Trataremos em seccedilatildeo posterior correspondente agrave anaacutelise sobre estes resultados
442 Segunda etapa desenvolvimento dos moacutedulos
Aproximadamente 1 (um) mecircs apoacutes a apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo e a produccedilatildeo inicial
que foram realizadas em 4 (quatro) encontros o desenvolvimento dos moacutedulos foi iniciado A
partir de entatildeo foram realizados 8 (oito) encontros de 2 (duas) horas-aula cada um Foram
cinco moacutedulos com atividades diversas que trabalharam fundamentalmente o planejamento
das ideias a organizaccedilatildeo e a revisatildeo do texto aleacutem da reescrita que eacute a ponte para a produccedilatildeo
final O trabalho desenvolvido nos moacutedulos estaacute sintetizado no quadro a seguir e seratildeo
detalhados os procedimentos das aulas nos toacutepicos seguintes
80
Quadro 4 ndash Moacutedulos desenvolvidos na sequecircncia didaacutetica (SD)
MOacuteDULOS TEMA FINALIDADE ATIVIDADE NUacuteMERO
DE AULAS
Moacutedulo 1 A mateacuteria da
crocircnica
Abstrair a partir da
leitura a situaccedilatildeo que
pode ter gerado as
crocircnicas
Leitura dos textos
Realizaccedilatildeo das atividades de
interpretaccedilatildeo
Identificaccedilatildeo das situaccedilotildees
que geraram as crocircnicas
Observaccedilatildeo da construccedilatildeo da
narraccedilatildeo
4 horas-aula
Moacutedulo 2
Releitura e
reescrita da PI-
A
Revisar o conteuacutedo e a
estrutura das crocircnicas
produzidas (PI-A) a fim
de reescrevecirc-las fazendo
as modificaccedilotildees
necessaacuterias eou sugeridas
adequando-as agrave instruccedilatildeo
Conversa sobre as
dificuldades observadas nas
primeiras produccedilotildees Releitura
das produccedilotildees iniciais
individualmente e em duplas
para feedback colaborativo
Reescrita da crocircnica
2 horas-aula
Moacutedulo 3
A opiniatildeo e a
descriccedilatildeo na
crocircnica
Observar a realidade do
seu entorno e tambeacutem de
ouvir as opiniotildees das
pessoas que habitam esse
ambiente
Leitura do texto
Realizaccedilatildeo das atividades de
interpretaccedilatildeo
Atividade de coleta de
impressotildees de algueacutem
proacuteximo Confronto ou
associaccedilatildeo com suas proacuteprias
opiniotildees Observaccedilatildeo de
elementos e situaccedilotildees do
proacuteprio cotidiano
Uso criativo das palavras
reflexatildeo sobre linguagem
conotativa
Elaboraccedilatildeo de um pequeno
texto
2 horas-aula
Moacutedulo 4
A linguagem
criativa e a
verossimilhanccedila
na crocircnica
Produccedilatildeo
inicial do texto
para publicaccedilatildeo
ndash PI-B
Observar as formas
criativas de narrar o
cotidiano
Leitura do texto
Realizaccedilatildeo das atividades de
interpretaccedilatildeo Discussatildeo sobre
verossimilhanccedila
2 horas-aula
Moacutedulo 5
Revisatildeo e
reescrita do
texto para
publicaccedilatildeo ndash
PI-B
Observar os elementos
estudados ao longo dos
moacutedulos na PI-B
Leitura dos textos Feedback
colaborativo Releitura da PI-
B Exerciacutecio de topicalizaccedilatildeo
4 horasaula
Fonte Elaborado pela autora
Nos itens a seguir apresentamos o relato da aplicaccedilatildeo dos moacutedulos bem como as
atividades correspondentes a cada um em uma turma de 9ordm ano de uma escola puacuteblica municipal
em Satildeo Luiacutes no 4ordm (quarto) bimestre do ano letivo de 2017
a) Moacutedulo 1 ndash quarto e quinto encontros ndash 4 (quatro) horas-aula
81
A partir da leitura dos textos Manias e Pacto apoacutes morte natildeo podia ver faca (cf
Anexo E) os alunos praticaram o exerciacutecio de observaccedilatildeo e abstraccedilatildeo da situaccedilatildeo que pode ter
gerado essas crocircnicas
Neste dia foi feita a leitura da crocircnica Manias Os alunos puderam refletir a partir
das questotildees de interpretaccedilatildeo e anaacutelise do texto sobre o que satildeo manias e viram tambeacutem que
elas natildeo satildeo exclusividade de pessoas idosas Na verdade concluiacuteram que basta o ser humano
estar vivo independentemente da idade que tenha para comeccedilar a calcar camadas e mais
camadas de comportamentos que mais adiante se tornaratildeo manias Natildeo houve tempo
disponiacutevel para os alunos comporem um texto a respeito da mateacuteria manias e os alunos pediram
para fazer em casa No entanto na aula seguinte ningueacutem apresentou o texto
Para o encontro seguinte que correspondia ao dia das bruxas a crocircnica escolhida
para leitura que tomou o primeiro horaacuterio foi Pacto poacutes-morte natildeo podia ver faca de Nonato
Reis por ser de gosto dos alunos dessa faixa etaacuteria histoacuterias de fantasmas misteacuterios e lendas
Nossa atividade foi bastante interessante pois todos que estavam na sala entraram no ritmo
daqueles causos contados em prosa pelo jornalista Nonato Reis O segundo horaacuterio foi
direcionado agrave atividade de leitura e interpretaccedilatildeo da crocircnica em que os alunos puderam
observar o ponto de vista do narrador as situaccedilotildees que deram origem e suporte agrave construccedilatildeo da
crocircnica aprenderam vocaacutebulos novos e ainda puderam soltar um pouco da imaginaccedilatildeo e
criatividade pensando em como eles mesmos fariam seus pactos com algueacutem ndash e constatamos
que vaacuterios querem mais eacute que seus contratantes se assustem em vida caso os alunos partam
primeiro
Ao final da leitura ainda exercitamos uma breve retextualizaccedilatildeo se fosse para
compor uma manchete de jornal como eles poderiam criar uma frase de impacto para o leitor
que tivesse relaccedilatildeo com o texto Um dos alunos sugeriu ldquoHomem faz pacto e menino vem
buscarrdquo
b) Moacutedulo 2 ndash sexto encontro ndash 2 (duas) horas-aula
Este encontro foi destinado para releitura da primeira produccedilatildeo feita (PI-A) O
procedimento inicial foi a tempestade de ideias sobre o que eacute ser chato e o que eacute ser legal cujo
registro dessas caracteriacutesticas noacutes construiacutemos na lousa sendo a professora-pesquisadora como
escriba Em seguida entregamos aos participantes do projeto seus textos
De iniacutecio vaacuterios disseram gostar do proacuteprio texto poreacutem quando a professora-
pesquisadora passou de carteira em carteira pedindo que lessem em voz meacutedia de modo a
apenas o proacuteprio aluno e a professora poderem escutar ele mesmo se dava conta de que havia
82
algo a consertar Em alguns casos faltava o diaacutelogo com o leitor noutros uma situaccedilatildeo que
explicasse o porquecirc de algueacutem ser considerado chato ou legal Eacute a tal situaccedilatildeo do leitor na
histoacuteria Natildeo daacute pra jogar em cima dele soacute o resultado Tem que mostrar de onde partiram as
conclusotildees Assim demos uma folha sulfite em branco para que os alunos registrassem seus
rascunhos suas ideias por mais que as considerassem absurdas e daiacute pudessem extrair o que
iria compor o novo texto Fomos bem claras ao falar da importacircncia de tomar notas elas servem
como um prolongamento da memoacuteria (SERAFINI 2003)
Apoacutes esse registro os alunos tiveram a liberdade de escolher sentar em dupla ou
trio e foram lendo seus proacuteprios textos e o dos colegas para se inspirar ou dar sugestotildees uns
aos outros num feedback colaborativo enquanto a professora-pesquisadora permanecia dando
assistecircncia de um por um Infelizmente natildeo conseguimos sentar com todos para dar o devido
retorno individual sendo alguns apenas por orientaccedilatildeo coletiva e outros por bilhetinho com
questotildees gerais
Entatildeo pegamos o texto O chato da vez fizemos mais uma leitura e de novo
revimos a questatildeo 7 que eacute a instruccedilatildeo da produccedilatildeo Entatildeo os alunos receberam a folha de
produccedilatildeo e assim fizeram a reescrita (PF-A)
c) Moacutedulo 3 ndash seacutetimo encontro ndash 2 (duas) horas-aula
A partir da leitura da crocircnica A cara da rua (cf Apecircndice F) os alunos fizeram o
exerciacutecio praacutetico de observar a realidade do seu entorno sensibilizando-se a partir do uso da
descriccedilatildeo na crocircnica literaacuteria e tambeacutem de ouvir as opiniotildees das pessoas que habitam esse
ambiente
Houve uma alteraccedilatildeo no quadro do horaacuterio da escola o que colocou os encontros
do projeto para o 4ordm e o 5ordm horaacuterios As aulas passaram assim a natildeo ter uma quebra em seu
ritmo visto que anteriormente eram dois horaacuterios sendo um antes do recreio e o outro depois
A dificuldade enfrentada na aplicaccedilatildeo deste dia foi que alguns dos alunos que
integram o projeto se atrasaram visto que foi um dia atiacutepico na programaccedilatildeo da escola
Correspondeu este dia agrave visitaccedilatildeo da 11ordf FeLiS a Feira do livro de Satildeo Luiacutes realizada no
centro histoacuterico da cidade na Praia Grande Portanto neste dia natildeo fizemos uma releitura dos
textos que jaacute comeccedilaram a ser reescritos
Fizemos a leitura do texto A cara da rua de Marcelo Xavier discutimos as questotildees
e com os alunos (mesmo os que chegaram atrasados) foi feito o acordo da realizaccedilatildeo da uacuteltima
questatildeo que eacute fazer a leitura do texto para algueacutem em casa e anotar as impressotildees que a pessoa
teve ao ouvir a crocircnica
83
O objetivo desta atividade foi despertar nos alunos a consciecircncia de que uma
crocircnica bem escrita causa alguma reaccedilatildeo em seu leitor uma reflexatildeo uma emoccedilatildeo Aleacutem disso
eles observaram o modo de descrever empregado pelo autor ao longo dos paraacutegrafos usados na
caracterizaccedilatildeo da rua Utilizamos como material para essa aula figuras impressas da moda que
mostravam ao longo das deacutecadas as mudanccedilas citadas no texto
Neste dia tambeacutem os alunos anotaram os fundamentos que devem estar presentes
no texto que eles escrevem uma espeacutecie de quadro autoavaliativo13 criado a partir das
caracteriacutesticas dos textos estudados
d) Moacutedulo 4 ndash oitavo encontro ndash 2 (duas) horas-aula
O encontro comeccedilou retomando a atividade da aula anterior que era fazer a leitura
do texto para algueacutem em casa e anotar as impressotildees que a pessoa teve ao ouvir a crocircnica
Apenas uma aluna realizou a atividade poreacutem foi interessante visto que a opiniatildeo coletada deu
espaccedilo para a discussatildeo sobre a liberdade de expressatildeo fosse no vestuaacuterio no comportamento
ou mesmo no vocabulaacuterio das pessoas que integram a cara da rua
A aula do dia foi direcionada a conhecer mais algumas crocircnicas Amor de Macumba
e Sr Google Pacheco (cf Apecircndice G) para que os alunos pudessem observar e compreender
melhor de que situaccedilotildees observadasvivenciadas partiram os textos podendo ser inesperadas
eou ateacute pitorescas Apoacutes a escuta dos textos cuja leitura foi realizada pela professora-
pesquisadora foram trabalhadas oralmente as questotildees de compreensatildeo e identificadas as
situaccedilotildees geradoras das crocircnicas em questatildeo (independentemente de serem reais ou natildeo)
compreendendo melhor o que eacute verossimilhanccedila
Ao final desse momento os alunos falaram de vaacuterios assuntos que poderiam se
tornar temas de textos Copiamos no quadro e eles nos cadernos Eram temas do cotidiano
como assalto relaccedilotildees sociais vida de youtuber bullying fome cujas situaccedilotildees jaacute
observadasvivenciadas poderiam render uma reflexatildeo
Aparentemente a dificuldade maior dos alunos estava em expressar essa situaccedilatildeo
sem que parecesse um diaacuterio iacutentimo como diaacuterio ou memoacuterias pois a natural disposiccedilatildeo de
seus textos traz uma sequecircncia narrativa um relato de emoccedilotildees pessoais poreacutem natildeo
necessariamente conduzia o leitor a uma reflexatildeo embora por vezes pausasse a narraccedilatildeo e
interagisse com o leitor por meio de perguntas ndash conforme mostrado nas crocircnicas lidas ao longo
do projeto
13 Cf seccedilatildeo de Anaacutelises
84
O foco foi entatildeo ajudar os alunos a desprender-se da aura de criacutetica ou de diaacuterio
iacutentimo em seus textos permitindo-lhes atribuir um ar de narrar os fatos podendo aumentar as
situaccedilotildees conduzindo seu leitor sem sobrecarregaacute-lo com queixumes lamentos criacuteticas ferinas
ou aquele ldquoar de moral da histoacuteriardquo
Como a discussatildeo havia tomado bastante tempo da aula os alunos pediram para
trazer o texto depois Resolvemos propor entatildeo o envio por um meio digital O escolhido foi
o Whatsapp e a produccedilatildeo seria impressa e entregue entre os colegas para leitura coletiva e
apreciaccedilatildeo etapa fundamental para o moacutedulo seguinte
e) Moacutedulo 5 ndash nono encontro ndash 2 (duas) horas-aula
Quatro alunos me mandaram seus textos (Ana Rodrigo Eduardo Estela) A
expectativa da aula do dia era que os alunos lessem as proacuteprias produccedilotildees e as colocassem para
apreciaccedilatildeo dos colegas relessem lessem juntos encontrassem os erros aceitassem as
sugestotildees O trabalho da professora pesquisadora foi inicialmente ir de dupla em dupla para
orientar E assim fizemos o trabalho
Utilizamos como material para essa aula os textos enviados impressos e um tablet
para visualizaccedilatildeo e se desejassem atualizaccedilatildeo de algum trecho do texto Cada aluno autor teve
seu momento de visualizaccedilatildeo na tela e de certo modo foi um choque ver no tablet os erros
ortograacuteficos e as sugestotildees de pontuaccedilatildeo que o aplicativo Word sugeria O aluno Eduardo foi o
mais surpreso pois em seu texto soacute de ortografia e pontuaccedilatildeo havia 22 erros fora as sugestotildees
que o Word corrigia Apesar disso o aluno natildeo desanimou aceitando sugestotildees do aplicativo e
tambeacutem dos colegas e da professora-pesquisadora
Houve o momento da leitura em conjunto e este foi fundamental para trabalharmos
a paragrafaccedilatildeo A professora-pesquisadora lia em voz alta para os alunos eles acompanhavam
o pensamento criando a imagem mental dos fatos corridos e quando havia quebra na
sequecircncia eles mesmos estranhavam e identificavam fazendo sugestotildees de alteraccedilatildeo Isso foi
feito com cada texto
Os temas para a produccedilatildeo do texto publicado foram escolhidos pelos proacuteprios
alunos Diferentemente da PI-A que foi induzida pela instruccedilatildeo aqueles que se dedicaram a
escrever por prazer desenvolveram mais o gosto por entender e reler o proacuteprio texto dando
valor tambeacutem agrave apreciaccedilatildeo dos colegas natildeo apenas da professora
Os quatro alunos que produziram texto para o livro disseram que passaram a prestar
mais atenccedilatildeo a ortografia e acentuaccedilatildeo embora reconheccedilam que natildeo dominam adequadamente
85
ainda Nesse momento consideramos fundamental conscientizar-lhes que esse domiacutenio eacute um
processo e pode durar a vida inteira
f) Moacutedulo 6 ndash deacutecimo encontro ndash 2 (duas) horas-aula
A aula do dia foi dedicada agrave revisatildeo e discussatildeo final dos textos de Ana Rodrigo
Eduardo e Estela Apoacutes a leitura individual e novas sugestotildees sentamos em ciacuterculo e
registramos em voz alta no celular durante uns 20 minutos uma pequena avaliaccedilatildeo do projeto
e avaliaccedilatildeo pessoal em forma de grupo focal Apenas uma aluna dentre os seis que estavam
presentes se recusou a falar Ela mesma afirmou ldquoprofessora eu nunca falo eu natildeo gosto de
falarrdquo A pauta foi a seguinte
i) Uma breve avaliaccedilatildeo do projeto
- vocecirc gostou das aulas
- o que foi um ponto positivo
- e um desafio
- o que vocecirc sugere para um proacuteximo projeto
ii) Uma breve avaliaccedilatildeo pessoal
- vocecirc aprendeu algo que natildeo sabia antes
- mudou alguma coisa nos seus procedimentos em relaccedilatildeo agrave leitura e agrave escrita
- fale um pouco sobre isso
A opiniatildeo dos alunos seraacute tratada na seccedilatildeo seguinte ao longo da avaliaccedilatildeo do
projeto
443 Terceira etapa produccedilatildeo final
Neste dia relemos as primeiras produccedilotildees que os alunos fizeram de maneira
coletiva Foi unacircnime o descontentamento com os textos pois concluiacuteram que estava tudo
muito longe de ter caracteriacutesticas de crocircnica Aproveitamos tambeacutem para ler o texto de um
aluno e fazer um exerciacutecio de topicalizaccedilatildeo a fim de instrumentalizaacute-los com uma uacutetil
ferramenta de anaacutelise das partes do texto detectando as ideias que o compotildeem comparando ao
comando de produccedilatildeo que foi dado naquele momento da PI e percebendo que ideias faltam para
completar a instruccedilatildeo pedida Fora isso os alunos perceberam que havia muitos erros
ortograacuteficos e disseram que achavam interessante se pudessem para todos os textos escrever
em aplicativos de celular ou programas de ediccedilatildeo de texto como o Word para que as correccedilotildees
mais baacutesicas jaacute fossem automaticamente realizadas
86
444 Quarta etapa circulaccedilatildeo social dos textos
A circulaccedilatildeo social dos textos eacute parte de nossa proposta para a sequecircncia didaacutetica
Como o objetivo maior foi o de contribuir para o aperfeiccediloamento das habilidades de escrita
desenvolvendo procedimentos de escritor fugindo agrave praacutetica que os alunos normalmente tecircm
que eacute de fazer um texto sem os devidos cuidados apenas visando nota para entregar ao
professor contamos que essas produccedilotildees foram de grande valia aos que permaneceram ateacute o
final de nosso projeto
O livro artesanal foi produzido e no dia da cerimocircnia de formatura dos alunos do
9ordm ano foi tornado puacuteblico mostrado aos outros alunos familiares e comunidade escolar
presente O livro conteacutem as produccedilotildees dos 4 (quatro) alunos e mais as crocircnicas lidas ao longo
das aulas Aleacutem disso cada um publicou seu texto em sua paacutegina do Facebook
87
5 ANAacuteLISE DA SEQUEcircNCIA REFLEXOtildeES
Este capiacutetulo eacute destinado a discussatildeo e anaacutelise dos dados coletados quando de antes
da aplicaccedilatildeo dos moacutedulos (produccedilatildeo inicial) e depois do desenvolvimento destes (produccedilatildeo
final) a fim de verificarmos o desempenho dos alunos e certificar que o desenvolvimento de
nossa SD proposta para o desenvolvimento da competecircncia escrita dos alunos do 9ordm ano do
ensino fundamental pode propiciar-lhes progressos nas habilidades de produccedilatildeo de seus textos
Apresentamos aqui os principais dados da pesquisa como nuacutemero de alunos
participantes em cada etapa de produccedilatildeo nuacutemero de estudantes que participaram de todas as
atividades e principais dificuldades quanto aos elementos constitutivos do gecircnero trabalhado
Para a anaacutelise das versotildees produzidas pelos alunos que participaram de todos os encontros
fazendo o comparativo entre a PI e a PF partimos das categorias do gecircnero crocircnica literaacuteria
trabalhadas durante a SD Deste modo veremos as seccedilotildees destinadas a analisar os elementos
constitutivos presentes nos textos
A anaacutelise dos dados considerou as hipoacuteteses levantadas no iniacutecio da pesquisa que
recapitulamos
a) eacute possiacutevel motivar os alunos a escrever ao desenvolver com eles atividades
voltadas para os diferentes subprocessos e habilidades envolvidos no ato de
redigir
b) o ensino da composiccedilatildeo do gecircnero crocircnica literaacuteria contribuiraacute para minimizar
dificuldades observadas nos textos dos alunos do 9ordm ano como nos planos
morfossintaacutetico e semacircntico aleacutem de lhes propiciar o desenvolvimento da
competecircncia escrita em textos escritos
c) apoacutes a realizaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica proposta ao compararmos as produccedilotildees
inicial e final dos alunos verificaremos um desempenho mais satisfatoacuterio em
relaccedilatildeo agrave competecircncia discursiva realizada no gecircnero crocircnica
Da primeira hipoacutetese consideramos para a elaboraccedilatildeo das atividades e o
planejamento dos encontros trabalhar os subprocessos da escrita geraccedilatildeo e organizaccedilatildeo de
ideias planejamento do texto rascunho escrita releitura revisatildeo reescrita ateacute o passo da
publicaccedilatildeo agrave audiecircncia pretendida Esses passos auxiliaram os alunos a desenvolver melhor
seus textos apoacutes a revisatildeo quando os comparamos aos seus primeiros textos conforme a anaacutelise
dos dados Inclui tambeacutem este momento a motivaccedilatildeo de modo que quanto maior o domiacutenio
das habilidades mais confiantes os alunos ficavam e consequentemente mais motivados
88
Buscamos identificar nos textos dos alunos os avanccedilos referentes agrave apropriaccedilatildeo do
gecircnero crocircnica literaacuteria a partir dos textos escolhidos para servir-lhes de modelo para a
produccedilatildeo Relatamos aqui tambeacutem as dificuldades trabalhadas com eles durante os moacutedulos e
que foram aperfeiccediloadas Aleacutem das dificuldades composicionais relatamos ao longo do
capiacutetulo as dificuldades quanto agrave participaccedilatildeo no projeto aplicado
51 Participaccedilatildeo dos alunos na pesquisa
A sala de aula escolhida para aplicaccedilatildeo do projeto de produccedilatildeo escrita de crocircnicas
literaacuterias foi uma turma de 9ordm ano vespertino em uma escola puacuteblica do municiacutepio de Satildeo Luiacutes
Maranhatildeo Os alunos frequentes totalizavam no ano letivo de 2017 43 (quarenta e trecircs) No
entanto ao final de nosso projeto tivemos um resultado de produccedilotildees que visavam agrave circulaccedilatildeo
social do texto no gecircnero que corresponde a menos de 10 (dez por cento) do total da classe
Graacutefico 4 ndash Nuacutemero de alunos do 9ordm ano
Fonte Produzido pela autora
Podemos dizer que a SD teve duas partes no tocante agrave participaccedilatildeo dos alunos No
primeiro 19 (dezenove) alunos produziram a PI-A havendo oscilaccedilatildeo da presenccedila nas
atividades ateacute a reescrita a PF-A No entanto selecionamos as produccedilotildees apenas dos que
participaram de todos os encontros que foram 13 (treze) alunos e que produziram a PF-A
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
Nuacutemero de alunos
Nuacutemero de alunos no 9ordm ano
Alunos regularmente frequentes
Alunos que produziram o texto para a professora-pesquisadora como audiecircncia
Alunos que produziram texto para circulaccedilatildeo social com audiecircncia real
89
No segundo momento visando a publicaccedilatildeo dos textos o nuacutemero de alunos
presentes caiu vertiginosamente finalizando o projeto de aplicaccedilatildeo da SD com 6 alunos
frequentes sendo que apenas 4 (quatro) produziram o texto para circulaccedilatildeo social constando a
PI-B e a PF-B Segundo os alunos da turma o fato de natildeo valer nota associado ao item do
termo de compromisso que diz que a qualquer momento o aluno poderia deixar de participar
sem qualquer prejuiacutezo fez com que alguns alunos deixassem de querer frequentar ldquoporque eu
natildeo gosto de escrever professorardquo acabando por ldquocontagiarrdquo outros alunos a querer sair mais
cedo da sala de aula abandonando assim o projeto aplicado ldquomas pelo menos a senhora jaacute tem
um texto natildeo eacuterdquo
Dessa forma totalizamos 26 (vinte e seis) textos analisados 2 (dois) de cada
participante na primeira parte e 4 (quatro) dos quatro alunos que tiveram seus textos publicados
no livro artesanal e na plataforma online
Graacutefico 5 ndash Participaccedilatildeo nas produccedilotildees
Fonte Produzido pela autora
Como vimos 13 (treze) alunos realizaram a PF-A e 4 (quatro) a PF-B Nosso
projeto de produccedilatildeo escrita de crocircnicas literaacuterias contou com 11 (onze) encontros efetivos num
total de 20 (vinte) horasaula A participaccedilatildeo da turma ocorreu da seguinte forma
0
5
10
15
20
PI-A PF-A PI-B PF-B
Participaccedilatildeo nas produccedilotildees
Produccedilatildeo a partir de instruccedilatildeo Produccedilatildeo para publicaccedilatildeo
90
Graacutefico 6 ndash Alunos presentes por encontro
Fonte Produzido pela autora
Quanto agrave participaccedilatildeo nos encontros nos quais desenvolvemos os moacutedulos a maior
participaccedilatildeo ocorreu no 1ordm (primeiro) e no 4ordm (quarto) encontros No 9ordm (nono) encontro tivemos
a menor quantidade de alunos O uacuteltimo encontro contou com 7 (sete) alunos
52 Anaacutelise da apropriaccedilatildeo de caracteriacutesticas do gecircnero crocircnica literaacuteria
Nosso objetivo com esta pesquisa foi de contribuir para o desenvolvimento da
competecircncia escrita dos alunos de 9ordm ano a partir da proposta da aplicaccedilatildeo de uma sequecircncia
didaacutetica para a produccedilatildeo de textos escritos em uma turma deste niacutevel utilizando para tal o
gecircnero crocircnica literaacuteria A sequecircncia foi desenvolvida no 2ordm semestre do ano letivo de 2017
Para verificar o desempenho dos alunos nos textos escritos antes e apoacutes a aplicaccedilatildeo
da SD buscando comprovar sua eficiecircncia como uma proposta para o ensino de produccedilatildeo de
textos e o desenvolvimento da competecircncia escrita dos alunos procedemos a anaacutelise do corpus
de produccedilotildees a fim de verificar se a construccedilatildeo do texto de alunos do 9ordm ano corresponde de
algum modo aos exemplos de crocircnicas apresentados na primeira parte da sequecircncia didaacutetica
Essa produccedilatildeo A corresponde ao trabalho com 13 alunos (como jaacute informado na
seccedilatildeo 4411) em 3 (trecircs) encontros com duraccedilatildeo de 6 (seis) horasaula e leitura de duas
crocircnicas ineacuteditas para os alunos (Manias e Pacto apoacutes morte) e atividades correspondentes e
mais a releitura de O chato da vez releitura da instruccedilatildeo e releitura das PI-A
0
5
10
15
20
25
30
35
40
Alunos presentes por encontro
Nordm de alunos
91
Nossa primeira parte da sequecircncia em que preparamos os alunos para a produccedilatildeo
do primeiro texto do gecircnero com um miacutenimo de caracteriacutesticas tratou de mostrar exemplos do
que se pode esperar em uma crocircnica fornecendo um miacutenimo de elementos para que atraveacutes de
uma abordagem imitativa os alunos fizessem o seu texto PI-A
Para a reescrita ou PF-A a fim de auxiliar nossos alunos fomos construindo ao
longo do periacuteodo de aplicaccedilatildeo das aulas um quadro autoavaliativo que resultou nos itens
expostos no quadro a seguir
Quadro 5 ndash Quadro autoavaliativo
Seu texto Sim Natildeo
Partiu de uma situaccedilatildeo observadavivida
Conversa com o leitor
Possui o foco narrativo bem determinado (narrador personagem ou
narrador observador)
Leva o leitor a refletir
Causa impressotildees no leitor como riso choro reflexatildeo emoccedilatildeo
satisfaccedilatildeo
Possui um final interessante
Mostra discretamente ao leitor seu ponto de vista a respeito da situaccedilatildeo
Possui alguma descriccedilatildeo de lugarobjetopersonagem
Possui um tiacutetulo
Apresenta os acontecimentos de forma clara
Emprega adequadamente os sinais de pontuaccedilatildeo
Evita repeticcedilatildeo desnecessaacuteria de palavras
Possui paraacutegrafos bem organizados
Fonte Elaborado pela autora
O quadro nasceu da observaccedilatildeo das caracteriacutesticas constantemente presentes em
produccedilotildees de alunos com os quais trabalhamos A proposta era que os integrantes do projeto
avaliassem os proacuteprios textos atentando para estes aspectos mais baacutesicos
Desta forma vamos proceder a anaacutelise com a observaccedilatildeo da apropriaccedilatildeo das
caracteriacutesticas trabalhadas do gecircnero crocircnica literaacuteria sob uma oacutetica do processo de produccedilatildeo
oferecendo uma abordagem imitativa de produccedilatildeo de textos nas produccedilotildees iniciais e finais A
de 13 (treze) alunos cuja identificaccedilatildeo estaacute no quadro a seguir
Quadro 6 ndash Identificaccedilatildeo dos textos A dos alunos
Identificaccedilatildeo textoautor Tiacutetulo PI Tiacutetulo PF
Ana Ser chato ou natildeo ser eis a
questatildeo
Ser chato ou natildeo ser eis a
questatildeo
92
Rodrigo Pare de se criticar
Eduardo O amigo muito e muito chato Ser legal natildeo eacute ser chato
Estela Os chatos de antematildeo O tio chato de galocha
Ceacutelia Chata sim ou natildeo Chata sim ou natildeo
Arlindo Chato e natildeo eacute chato Chato e natildeo eacute chato
Juacutelia Ser chato ou ser legal Pessoas chatas e pessoas
legais
Vicente Aacute pergunta eacute se eu
bloquearia uma pessoa chata
Graccedila Rafaelly chata Chata ela ou EU
Lilian Meus amigos chatos e Eu Pessoas legais e chatas
Heloiacutesa ldquoChato mais eacute muito legalrdquo ldquoO melhor chatordquo
Eliane Um pouco de tudo O que e chato e o que e legal
Joana Pessoas chatas e outras legal Pessoas otimas Fonte Produzido pela autora
Esses textos foram produzidos em sala na folha de produccedilatildeo textual proacutepria
elaborada para a SD de forma manuscrita e os originais A encontram-se nos anexos Na seccedilatildeo
a seguir mostraremos o panorama das anaacutelises
53 Os textos dos alunos
Esta seccedilatildeo traz os textos dos alunos produzidos em dois momentos O primeiro que
chamamos de texto A composto de produccedilatildeo inicial A e produccedilatildeo final A foi o texto produzido
na primeira parte de nossa sequecircncia didaacutetica que vai ateacute o moacutedulo 2 (dois) e que ficou restrito
apenas ao trabalho em sala de aula O segundo foi o texto B com produccedilatildeo inicial B e produccedilatildeo
final B cuja produccedilatildeo jaacute visava agrave circulaccedilatildeo social das produccedilotildees
531 Produccedilotildees A textos apenas para o trabalho em sala de aula
Quadro 7 ndash Produccedilatildeo inicial Ana ndash Tiacutetulo Ser chato ou natildeo ser eis a questatildeo
1 O ldquochato da vezrdquo esse texto fez eu refletir bastante
2 sobre esse negocio de chatisse sabe eu natildeo acho que
3 ser chato seja um defeito ou muito menos uma qua-
4 lidade de sabe de uma coisa Eu nem ao menos sei o
5 que eacute ser chato mas se algueacutem me perguntar diria que
6 ser chato eacute apenas falar de um assunto pode ser sobre ele
7 ou sobre mim mas se for falado isso pra mim muitas ve-
8 zes isso pra mim eacute pura chatice mas sabe eu natildeo tiraria
9 nem evitaria ningueacutem mesmo sendo aquela amiga que so
93
10 sabe falar que ta doente e reclamar de noites mal dormi-
11 das sempre ateacute porque eacute o jeito dela e cada um oferece o
12 que tem para oferecer eu natildeo fico puxando o saco delas
13 mas evito elas sempre que posso Ateacute porque seria uma
14 chatice evita-la ou qualquer um outro chato Fonte Dados da pesquisa
O texto foi composto por um paraacutegrafo apenas Percebe-se que Ana o criou
atendendo ao que a instruccedilatildeo da atividade requer criar um texto que possa inspirar reflexatildeo
Poreacutem a aluna natildeo exatamente conduz seu leitor a refletir Ela jaacute parte de uma constataccedilatildeo sobre
a qual ela mesma refletiu e expotildee no texto suas conclusotildees Natildeo narra uma situaccedilatildeo
vividaobservada mas elenca o que lhe parecem procederes chatos ldquomesmo sendo aquela amiga
que so sabe falar que ta doente e reclamar de noites mal dormidas semprerdquo (linhas 9 a 11) A
aluna natildeo usou a estrateacutegia de inserir personagens que transparecessem seu ponto de vista ao
leitor Construiu seu texto em primeira pessoa ao modo de ldquoO chato da vezrdquo e demonstrou que
tinha consciecircncia de que seu texto seria lido por uma audiecircncia visto que lanccedila perguntas para
confirmaccedilatildeo ldquosaberdquo (linha 1) ldquosabe de uma coisardquo (linha 4) embora essa audiecircncia natildeo
coadune com a instruccedilatildeo
Quadro 8 ndash Produccedilatildeo final Ana ndash Tiacutetulo Ser chato ou natildeo ser eis a questatildeo
1 ldquoO chato da vezrdquo Um texto muito interessante
2 que fez eu refletir sobre esse negocio de chatisse um
3 assunto que eu ja tinha pensado bastante mas cheguei a
4 conclusatildeo de que natildeo deve ser considerado um defeito nem
5 uma qualidade chato quero dizer mas deve ser um a
6 coisa que vocecirc deve ser controlada sabe as vezes eacute ne-
7 cessario ter um pouco de chatisse
8
9 Ser chato na minha opiniatildeo natildeo teria um signi-
10 ficado especifico seria vaacuterias coisas como falar apenas de
11 um assunto coisas repetitivas sabe natildeo saber aceitar o jeito
12 das pessoas ao seu redor ser chato eacute natildeo saber relevar e ser
13 legal eacute o oposto pois se eu falasse se eu falasse ago-
14 ra as caracteriacutesticas das pesso legal esse texto ficaria cha-
15 to ca entre nos Fonte Dados da pesquisa
O texto reescrito agora compotildee-se de dois paraacutegrafos embora no trabalho de
discussatildeo e reapresentaccedilatildeo da mesma proposta a instruccedilatildeo indique entre 3 (trecircs) e 6 (seis)
paraacutegrafos
94
Mais uma vez a aluna elaborou seu texto visando ao que a instruccedilatildeo da atividade
requer um texto que possa inspirar reflexatildeo sem conduzir exatamente seu leitor a refletir mas
expondo uma constataccedilatildeo sobre a qual ela mesma refletiu
O primeiro paraacutegrafo inicia com frases que lembram o gecircnero resenha ldquoO chato da
vezrdquo Um texto muito interessante que fez eu refletir sobre esse negocio de chatisse (linhas 1 e
2)
O segundo paraacutegrafo que ela inicia nos daacute a pista de que ela retorna ao quesito de
letra a da atividade 7 que tem por funccedilatildeo sensibilizar e conduzir o aluno a compreender a
instruccedilatildeo que vai se apresentar definitivamente a partir do quesito de letra c e perde de vista
que seu texto deve ser composto dentro das caracteriacutesticas do gecircnero crocircnica Em lugar disso
ela o compotildee expondo sua opiniatildeo o que tange um outro gecircnero
O texto possui tiacutetulo como na PI e faz uma referecircncia intertextual agrave famosa frase
de William Shakespeare Ser ou natildeo ser eis a questatildeo
Ainda como na PI a aluna natildeo narra uma situaccedilatildeo vividaobservada elencando
em vez disso o que foi considerado chato nas discussotildees que a turma fez para tentar definir o
que era ser legal e ser chato como falar apenas de um assunto coisas repetitivas sabe natildeo
saber aceitar o jeito das pessoas ao seu redor ser chato eacute natildeo saber relevar (linhas 10 a 12)
Mais uma vez a aluna natildeo usou a estrateacutegia de inserir personagens que
transparecessem seu ponto de vista ao leitor Construiu seu texto em primeira pessoa ao modo
de ldquoO chato da vezrdquo mas frases como sabe (linha 11) e ca entre nos (linha 15) mostram que
houve sim uma preocupaccedilatildeo em conversar com o leitor transparecendo sua percepccedilatildeo de uma
audiecircncia como presente no texto da instruccedilatildeo bem como ao longo das crocircnicas lidas foram
ressaltadas foacutermulas de conversas com o leitor
A autora desenvolveu pouco seu texto e ainda buscou abreviaacute-lo visto que ldquose eu
falasse agora as caracteriacutesticas das pesso legal esse texto ficaria chato ca entre nosrdquo (linhas
14 e 15)
Natildeo houve para antes da reescrita um texto na folha de rascunho Foi feita a
refacccedilatildeo do texto diretamente na folha de produccedilatildeo havendo ainda problemas com a ortografia
e a pontuaccedilatildeo
No entanto Ana depois de seguir com o projeto e apurar um pouco mais o olhar
segundo ela mesma pediu para que deacutessemos nova oportunidade de leitura pois ela havia feito
uma nova reescrita ao final dos moacutedulos Essa reescrita de Ana estaacute na seccedilatildeo seguinte apoacutes o
teacutermino de todos os moacutedulos
95
Quadro 9 ndash Produccedilatildeo inicial Rodrigo ndash Tiacutetulo Pare de se criticar
1 Bom pessoal primeiro quero que vocecircs entendatildeo o
2 verdadeiro significado de ser chato e ser legal
3 antes de tudo Natildeo levem nada pro lado pessoal apenas
4 entenda Vamos comeccedilar
5
6 Uma pessoa chata por exemplo ela eacute cheia de
7 nheacute nheacute nheacute mas nem todo mundo eacute chato depende
8 de quem te acha chato concerteza ela tambeacutem natildeo eacute
9 a pessoa mais legal triloca ou radical do mundo Se
10 ela te acha chato foudaci o que importa eacute vocecirc se
11 acha legal Ai Deus quem dera tivesse um
12 botatildeo pra silenciar pessoas chatas leitor estaacute me ente-
13 ndendo uma pessoa chata ela pode ser chata
14 pra vocecirc mas pra mim natildeo entatildeo vai lagar de se
15 achar chato Cara vocecirc eacute mocirc legal pra muitas
16 pessoas deixa de se alto criticar
17
18 Voltando ao assunto se vocecirc tivesse um
19 botatildeo pra bloquear uma pessoa que tipo de pessoa
20 vocecirc bloquearia eu particularmente bloquearia
21 essas pessoas chatas que natildeo saien do meu peacute
22 entatildeo era soacute isso Seja mais legal consigo
23 mesmo Fui
24
25 Fim
26 Joinha
27 LIKE Fonte Dados da pesquisa
Construiacutedo em 3 (trecircs) paraacutegrafos de efetivo conteuacutedo entre as linhas 1 e 23 o texto
desse aluno busca fortemente o contato com sua audiecircncia como se vecirc em diversos exemplos
ldquoBom pessoalrdquo (linha 1) ldquoquero que vocecircs entendatildeordquo [sic] (linha 1) ldquoleitorrdquo (linha 12) ldquoestaacute
me entendendordquo (linhas 12-13) ldquoCara vocecirc eacute mocirc legalrdquo (linha 15) se vocecirc tivesse um botatildeo
(linhas 18-19) Seja mais legal consigo mesmo (linhas 22-23) Esse contato eacute influenciado pelos
diaacutelogos mais proacuteximos da oralidade que se apresenta nos textos usados para sensibilizar e
inspirar a produccedilatildeo inicial e que eacute uma caracteriacutestica do gecircnero trabalhado
No entanto seu texto natildeo se caracteriza como gecircnero crocircnica Percebemos que
lembra muito um roteiro de fala para viacutedeo do youtube ndash e sim o aluno autor do texto eacute youtuber
e tem um canal O aluno termina seu texto com claras referecircncias agrave esfera do discurso online
em que se tem interaccedilatildeo direta com o leitor Joinha LIKE (linhas 26 e 27) bem como um
96
elemento visual associado a essa multimodalidade que a internet permite que eacute a matildeo com
polegar para cima (linha 25) conhecido como thumbs up ou no Brasil joinha usado para
expressar contentamento com o conteuacutedo escrito o que corresponde ao perfil de audiecircncia dado
na instruccedilatildeo
Rodrigo faz muito uso da palavra chato o que pode sobrecarregar o texto Poreacutem
e como veremos a seguir na produccedilatildeo B do mesmo aluno a repeticcedilatildeo segundo ele eacute
caracteriacutestica sua para ldquoreforccedilar que a pessoa eacute chata professorardquo Apesar disso natildeo houve
uma definiccedilatildeo mais bem detalhada do que eacute o chato como os que ldquonatildeo saien do meu peacuterdquo (linha
21)
Haacute uma referecircncia no texto agrave primeira leitura feita em sala antes da PI que foi o
texto Prova Falsa Nas linhas 6-7 pode-se ler ldquonheacute nheacute nheacuterdquo como definiccedilatildeo do que eacute uma
pessoa chata e que no texto do Stanislaw Ponte Preta aparece como ldquoDesses cachorrinhos de
raccedila cheio de nheacutem-nheacutem-nheacutem que comem comidinha especial precisam de muitos
cuidados enfim um chato de galochardquo Por natildeo portar o texto em matildeos na hora da produccedilatildeo
entendemos entatildeo que o aluno Rodrigo fixou o vocaacutebulo corrente na oralidade (nheacutem-nheacutem-
nheacutem) ao conceito (muito chato chato de galocha) causando um saldo positivo em sua escolha
Quadro 10 ndash Produccedilatildeo final Rodrigo ndash Tiacutetulo
1 bom dia boa tarde e boa noite depende
2 da hora em que estiver lendo isso
3 Hoje eu vou falar um pouco sobre pessoas
4 chatas e pessoas legais se estiver pronto vamos laacute
5
6 Primeiro reflita uma coisa vocecirc leitor se
7 considera chato Antes de dizer vocecirc precisa saber
8 a diferenccedila entre ser legal e ser chato vou explicar
9
10 Uma pessoa legal eacute aquela que sabe te
11 ouvir dar sua opiniatildeo na hora certa e saber
12 reconhecer seus erros mas chega um devido ponto
13 que vocecirc tenta ser tatildeo legal que chega a ser chata
14 mas existe uma diferenccedila entre essas duas coisas
15 estaacute entendendo leitor Suponhamos que exista
16 um botatildeo de bloquear pessoas igual aquele do
17 Whatsapp quem vocecirc bloquearia seus amigos
18 Seus familiares Seus colegas Ou as pessoas chatas
19 Hahahahaha jaacute sei a resposta entatildeo isso facilitaria
20 muito sua vida neacute
21
22 bom espero ter ajudado a saber a
97
23 diferenccedila entre essas duas coisas en em breve
24 farei outro texto para explicar um pouco
25 melhor valeu falou e fui
26
27 Fonte Dados da pesquisa
Nessa versatildeo de reescrita do texto vimos que o aluno natildeo colocou o tiacutetulo
Acreditamos que ele natildeo tenha lembrado visto que na PI foi atribuiacutedo um tiacutetulo a seu texto
Natildeo houve para antes da reescrita um texto na folha de rascunho O aluno afirmou
que gostava de desenhar e permitimos que ele fizesse o que lhe fosse mais confortaacutevel para
liberar a criatividade apoacutes a conversa com a turma em busca da compreensatildeo do que eacute ser legal
ou ser chato A refacccedilatildeo do texto foi feita diretamente na folha de produccedilatildeo havendo ainda
alguns problemas com a ortografia e a pontuaccedilatildeo poreacutem com bom uso das interrogaccedilotildees para
conduzir o leitor por seus questionamentos o autor buscou uma aprovaccedilatildeo para o tema que
expotildee
Natildeo houve neste texto a presenccedila da narraccedilatildeo de uma situaccedilatildeo vividaobservada
Rodrigo mencionou algumas situaccedilotildees discutidas na sala antes da reescrita que falavam sobre
o que eacute ser chato e o que eacute ser legal Na linha 19 houve uma quebra e expectativa pois o trecho
ldquoHahahahaha jaacute sei a respostardquo natildeo deixa claro realmente qual a resposta
Percebemos tambeacutem a utilizaccedilatildeo de siacutembolos em seu texto ao final Esse recurso
multimodal eacute caracteriacutestico da forma de interaccedilatildeo existente nas redes sociais e o aluno por
entender na instruccedilatildeo que o texto eacute direcionado a um leitor de sua idade e que lecirc e faz postagens
e comentaacuterios com frequecircncia empregou iacutecones de maneira natural em seu texto Entendemos
aqui que ele considerou a audiecircncia determinada na instruccedilatildeo
Quadro 11 ndash Produccedilatildeo inicial Eduardo ndashTiacutetulo O amigo muito e muito chato
1 Nossa meus amigos satildeo chatos
2 ou seraacute que eacute eu mesmo que sou
3 completamente chato Natildeo sei mas se
4 sou o que eu faccedilo de errado pra ser chato
5
6 Tive uma amizade que era muito
7 bacana uma convivencia boa para se
8 viver mas passando alguns tempo
9
10 Ficou absurdamente chato ficou
11 muito muito muito chata vivia na
98
12 minha casa Iria conpletamente na minha
13 casa nas horas enproprias era chato
14
15 Mas um dia fiquei dando indiretas
16 para ele dizendo ldquoQue mamatildee mandou arruma
17 a casardquo essa coisas assim
18
19 Um dia disse para ele ldquoTou meio
20 oculpadordquo ai ele disse ldquoVocecirc eacute muito chatordquo
21 e saiu de casa sem olhar para traacutes
22
23 Mas ai ele foi que ficou mais chato
24 ainda Tocava a campainha de casa e
25 saia correndo
26
27 Se desse de broqueiar ele na vida
28 real eu broqueiava Vocecirc faria o mesmo
29 leitor Fonte Dados da pesquisa
A PI apresenta o ponto de vista do autor sobre o que eacute ser chato ldquovivia na minha
casa Iria completamente na minha casa nas horas enproprias era chatordquo (linhas 11-13) poreacutem
natildeo explicita o que eacute ser legal deixando essa lacuna para o leitor Apesar disso EDUARDO
parte de uma situaccedilatildeo vividaobservada que era essa relaccedilatildeo com seu amigo
O texto estaacute organizado em 7 (sete) paraacutegrafos No entanto o 2ordm e o 3ordm paraacutegrafos
poderiam estar unidos pela temaacutetica14 assim como o 5ordm e o 6ordm paraacutegrafos O uso do conectivo
mas foi inadequadamente empregado no 4ordm paraacutegrafo (Mas um dia fiquei dando indiretas para
ele) (linhas 15-16) A repeticcedilatildeo da expressatildeo temporal um dia no iniacutecio do 4ordm e do 5ordm paraacutegrafos
sucessivamente natildeo permite claramente ao leitor saber se as situaccedilotildees aconteceram no mesmo
dia ou em dias distintos
Percebemos o emprego da 1ordf pessoa como a voz que fala no texto um narrador-
personagem que se comunica tanto com outro personagem por meio de discurso indireto livre
(ai ele disse ldquoVocecirc eacute muito chatordquo) (linha 20) quanto com o leitor ldquoVocecirc faria o mesmo leitorrdquo
(linhas 28-29) demonstrando consciecircncia de que existe uma audiecircncia e embora natildeo mostre
claros exemplos ainda assim atende agrave instruccedilatildeo de que essa mesma audiecircncia deve ser um
puacuteblico que estaacute antenado nas redes sociais ldquoSe desse de broqueiar ele na vida real eu
broqueiavardquo (linhas 27-28)
14 Cf seccedilatildeo Escrita na escola
99
Quadro 12 ndash Produccedilatildeo final Eduardo ndashTiacutetulo Ser legal natildeo eacute ser chato
1 Ser legal eacute oacutetimo mas vocecirc
2 pode esta achando que taacute sendo
3 muito legal mas a pessoa
4 que vocecirc ta sendo legal natildeo
5 pode ta achando vocecirc muito legal
6 mas sim chato
7
8 Vocecirc indo na casa do seu
9 amigo toda hora pode ser legal
10 para ele mas para seu amigo natildeo
11
12 Coisas demais natildeo eacute tatildeo
13 legal E vocecirc leitor tem alguma
14 coisa engual a isso
15
16 LEGAL X CHATO
Fonte Dados da pesquisa
Nessa reescrita do texto apoacutes as sugestotildees percebemos que o aluno fez natildeo uma
nova versatildeo do primeiro texto mas uma resposta agraves discussotildees realizadas na sala antes do
momento de escrita Pedimos ao grupo como um todo que levasse em conta o que eacute ser legal
e o que eacute ser chato e desses exemplos praacuteticos partindo de situaccedilotildees vividasobservadas
Enquanto a professora-pesquisadora atendia outros alunos que natildeo haviam compreendido
claramente as sugestotildees dadas agraves suas PI o aluno Estela elaborou 3 (trecircs) paraacutegrafos que
condensam sua situaccedilatildeo descrita na PI natildeo utilizando diaacutelogos nem personagens apesar de
ainda se dirigir ao leitor (ldquoE vocecirc leitorrdquo) (linha 13) Houve uma perda da qualidade do texto
por causa de uma provaacutevel falta de compreensatildeo da tarefa a ser realizada na sala
Quadro 13 ndash Produccedilatildeo inicial Estela ndash Tiacutetulo Os chatos de antematildeo
1 Certo dia observei dois amigos conversando
2 Marcelo e Camila quase todos os dias Marcelo
3 e Camila quase todos os dias eles ldquobrigavamrdquo
4 ficavam de ldquomalrdquo como os jovens de hoje falam
5
6 O motivo dessas brigas era apenas pelo fato
7 de Marcelo dizer a Camila que ela era uma
8 chata e ela como todos os ldquochatosrdquo natildeo
100
9 admitiam ser chatos neacute
10
11 E vocecirc se por acaso algueacutem chamaacute-lo de chato
12 O que vocecirc faria
13
14 Eu natildeo era muito ldquoamigardquo deles mas na real
15 dava uma vontade de chegar e dizer-lhes ldquo
16 Por favor natildeo sejam tatildeo ridiacuteculos os dois
17 satildeo uns chatosrdquo
18
19 Mas como eacute errado intrometer-se nas conversas
20 dos outros resolvi natildeo dizer nada
21
22 Passaram-se semanas e eles sempre continuavam
23 com isso
24
25 Entatildeo resolvi fazer algo para que evitasse
26 essas ldquobrigasrdquo cotidianas
27
28 Natildeo falei nada pessoalmente mas sim por uma
29 rede social e mandei a seguinte mensagem
30
31 ldquoDesculpe-me por intrometer-me na amizade
32 entre vocecirc e Marcelo mas essa chatice que
33 haacute entre vocecirc e seu amigo estaacute me incomoda-
34 do aacute dias Pelo fato de vocecirc e seu amigo
35 ficarem pegando no peacute um do outro na
36 minha opiniatildeo vocecircs deveriam conversar
37 civilizadamente e aceitarem uns aos outros
38 da maneira que vocecircs satildeo E soacute issordquo
39
40 Dias depois dessa conversa observei-os aten-
41 tamente e percebi que havia uma grande diferenccedila
42 entre eles na qual eles estavam interagindo
43 se entendendo se aceitando
44
45 E entatildeo os dois aproximaram-se de mim e
46 agradeceram pelo conselho
47
48 Fiquei super feliz de tecirc-los ajudados
49 Na minha opiniatildeo chatice eacute algo que a
50 pessoa tem de natureza um certo
51 estado de espiacuterito
52
53 E se isso natildeo resolvesse tentaria bloqueaacute-
54 -los tentaria parar de dar atenccedilatildeo graccedilas
55 a Deus eles pararam
56
101
57 Ufa Pelo menos no final eles foram legais uns com os outros
58
59 Fim Fonte Dados da pesquisa
Apresentando-se como a mais extensa das produccedilotildees iniciais esta PI possui 14
(quatorze) paraacutegrafos Alguns poderiam ser condensados de modo a deixar as ideias agrupadas
(o 4ordm e o 5ordm o 6ordm o 7ordm e o 8ordm) Ou entatildeo poderia ter havido nova reescrita de alguns periacuteodos de
modo a condensar as informaccedilotildees Poreacutem para tal lembramos Serafini (2003) que afirma que
para escritores inexperientes essa estrateacutegia de periacuteodos mais curtos ajuda melhor a organizar
o pensamento Essa aluna produziu um rascunho antes de passar a limpo para a folha de
produccedilatildeo textual oficial
Demonstrando certo domiacutenio no uso dos pronomes pessoais obliacutequos como se pode
ver em diversos exemplos ao longo do texto ldquochamaacute-lordquo (linha11) ldquoe dizer-lhesrdquo (linha 15)
ldquoeacute errado intrometer-serdquo (linha 19) fez um emprego inadequado quando usou de pronome
relativo (na qual) (linha 42) possivelmente tentando o registro culto da liacutengua
Nesse texto se percebe o uso do discurso indireto (ldquoE entatildeo os dois aproximaram-
se de mim e agradeceram pelo conselhordquo) (linhas 45-46) As marcas de conversa com o leitor
podem ser vista em ldquoneacuterdquo (linha 9) e ldquoE vocecirc se por acaso algueacutem chamaacute-lo de chato O que
vocecirc fariardquo (linhas 11-12 A autora assume um ponto de vista e narra para uma audiecircncia
correspondendo ao requisitado na instruccedilatildeo
Como a instruccedilatildeo de produccedilatildeo determina o perfil do leitor como sendo um
adolescente que acessa redes sociais a autora coloca como soluccedilatildeo ao conflito de constantes
brigas entre o casal de amigos adolescente o envio de uma mensagem por rede social falando
inclusive que os bloquearia caso continuassem chatos O texto assemelha-se a um conto
inclusive pela forma como a autora encerra seu texto ldquoFimrdquo (linha 59) Quanto a despertar no
leitor uma reflexatildeo podemos dizer que A4 estaacute no caminho e que um trabalho mais detido
sobre esse texto poderia melhorar a qualidade dessa reflexatildeo
Quadro 14 ndash Produccedilatildeo final Estela ndashTiacutetulo O tio chato de galocha
1 As feacuterias chegaram e como em todas as feacuteria-
2 s eu partia em uma ldquoincriacutevel aventurardquo (pra
3 natildeo dizer o contraacuterio) a casa dos meus
4 tios na qual eacute um verdadeiro desastre
5 Ter que acordar com o ldquocantar dos galosrdquo
6 como dizem os mais velhos em clima de
102
7 discussatildeo affseacute uma verdadeira cha-
8 tice eu odiava ter que estragar minhas
9 maravilhosas feacuterias convivendo com eles
10 Eles discutiam ateacute pelo simples fato de cair
11 farelos de comida no chatildeo eu odiavaaa
12 E vocecirc leitor aguentaria toda essa chatice
13
14 O que vocecirc faria em relaccedilatildeo a essa situaccedilatildeo
15
16 Jaacute haviam se passado mais da metade das
17 feacuterias eu estava orando agrave Deus para que
18 esses dias infernais ao lado dos meus ti-
19 os acabassem e tambeacutem que titio Luiacutes
20 parasse de reclamar por eu comer muito
21 e parar de ficar assistindo programas
22 ateacute tarde da noite eu achava um exagero
23 eacute oacutebvio pois eram ldquofeacuteriasrdquo e nas feacuterias
24 acostumamos ficar distantes de tarefas
25 escolares de tudo que nos lembrar a
26 escola (rsrsrs)
27
28 O meu tio tambeacutem dizia que eu precisa-
29 va de educaccedilatildeo que os meus pais natildeo
30 me educaram adequadamentee eu natildeo
31 podia resmungar porque se meus pais
32 soubessem que me comportei mau eu iria
33 ficar ferrado E entatildeo mais dias infernais
34 se passaram e graccedilas a Deus as feacuterias
35 terminaram e natildeo tive mas que ver
36 presenciar aquele meu chato e insupor-
37 taacutevel tio
38
39 Pra mim ser chato e ser legal eacute
40 Ser legal Ser chato
41 Saber ouvir Criticar os outros
42 Dar comida Reclamar de tudo
43 Ser sincera Daacute importacircncia demais ao que dizem
44 Ter bom coraccedilatildeo Ser falso
45 Ajudar as pessoas Ser preconceituoso
46 Aceitar diferenccedilas
47
48 E o que vocecircs leitores acham o que
49 eacute ser ou natildeo legal Fonte Dados da pesquisa
Concentrada em 6 (seis) paraacutegrafos a reescrita ganhou alguns pontos mais
interessantes para se aproximar da crocircnica literaacuteria Partiu de uma situaccedilatildeo vivenciada
103
conduziu o leitor a compreender seu ponto de vista sobre o que era ser chato No entanto o
texto se distanciou da proposta da instruccedilatildeo no sentido de falar tambeacutem o que eacute legal natildeo
somente chato e lembrar do botatildeo de bloqueio da vida real
O 5ordm paraacutegrafo se tornou uma enumeraccedilatildeo das caracteriacutesticas do ser legal e ser chato
e deixou de narrar ou descrever uma situaccedilatildeo ou personagem
Uma caracteriacutestica da linguagem coloquial encontrada foi o uso da expressatildeo ldquoTer
que acordar com o lsquocantar dos galosrsquo como dizem os mais velhosrdquo (linhas 5-6) atribuindo a
frase agrave sabedoria popular Outras marcas tiacutepicas de coloquialidade utilizadas inclusive em meio
digital nos bate-papos foram a escrita de expressotildees com notaccedilotildees como ldquoaffsrdquo (linha 7)
para demonstrar aborrecimento ldquoodiavaaardquo (linha 11) estendendo as vogais para mostrar a
insatisfaccedilatildeo prolongada o frequente uso de aspas para indicar ironia ldquoeu partia em uma lsquoincriacutevel
aventurarsquordquo seguido de uma explicaccedilatildeo entre parecircnteses
Nessa produccedilatildeo a aluna tambeacutem natildeo empregou adequadamente o pronome relativo
ldquona qual eacute um verdadeiro desastrerdquo como se vecirc na linha 4
Quadro 15 ndash Produccedilatildeo inicial Ceacutelia ndashTiacutetulo Chata sim ou natildeo
1 Um dia uma amiga minha me pergun-
2 tou ndash Eu sou chata Responde ndash Sim as vezes
3 Mas o problema foi que ela natildeo aceitou a
4 verdade e saiu furiosa comigo
5
6 Mas me responde leitor se algueacutem viesse
7 te pergunta se ela eram chata o que vocecirc
8 responderia O problema e que nem todos
9 gostam de escuta a verdade
10
11 Aconteceu que um dia um colega disse
12 que eu era chata no comeccedilo fiquei com
13 um pouco de raiva Mas passou por que
14 parei eacute pensei e verdade sou chata Mas
15 mesmo assim sedo chata sim ou natildeo
16 a reciacuteproca era verdadeira
17
18 Chata sim ou natildeo uma pergunta que
19 eu mesmo me fiz vou acabar por aqui
20 antes que eu comece a fica chata de
21 vez Fonte Dados da pesquisa
104
O texto foi composto em 4 (quatro) paraacutegrafos atendendo agrave instruccedilatildeo A voz que
narra estaacute em 1ordf pessoa e dialoga diretamente com um personagem (linhas 1 e 2) Haacute um contato
direto com o leitor atraveacutes de frases como ldquoMas me responde leitorrdquo (linha 6) e ldquoO que vocecirc
responderiardquo (linhas 7-8)
A autora parte de uma situaccedilatildeo vividaobservada ndash na verdade haacute mais de uma
situaccedilatildeo ndash como vemos em ldquoUm dia uma amiga minha me perguntourdquo (linhas 1-2) e ldquoAconteceu
que um dia um colega disse que eu era chatardquo (linhas 11-12) No entanto natildeo segue a proposta
da instruccedilatildeo que eacute falar sobre o que eacute ser legal e ser chato Natildeo haacute exemplificaccedilotildees para que o
leitor entenda o ponto de vista da autora apenas situaccedilotildees em que disseram que ela e chata ou
sua amiga eacute chata Natildeo haacute tambeacutem menccedilatildeo ao ldquobloqueiordquo da vida real aos que satildeo chatos
Haacute alguns problemas quanto agrave ortografia e tambeacutem confusatildeo quanto ao emprego
dos sinais de pontuaccedilatildeo adequados
Quadro 16 ndash Produccedilatildeo final Ceacutelia ndash Tiacutetulo Chata sim ou natildeo
1 Um dia uma amiga minha me per-
2 guntou ndash Eu sou muito chata Responde ndash Sim
3 as vezes Mas o problema foi que ela natildeo
4 gostou de sabe em saiu furiosa comigo e
5 natildeo deixo eu termina de falar
6
7 Mas outro dia ela veio para me pedi des-
8 culpas eacute eu disse ndash natildeo precisa eacute como eu dizia
9 vocecirc e chata mais as vezes quando vocecirc natildeo
10 falando demais ou falando coisas se graccedila Eacute
11 ela disse ndash Eacute mesmo eacute sorriu
12
13 Mas me responde leitor se algueacutem viesse te
14 pergunta se ela era chata o que vocecircs respon-
15 deria O problema eacute que nem todos gostam de es-
16 cuta a verdade
17
18 Aconteceu que um dia um colega disse
19 que eu era chata no comeccedilo fiquei com um
20 pouco de raiva Mas passou porque parei eacute
21 pensei e verdade sou chata Mais mesmo assim
22 sedo chata sim ou natildeo a reciacuteproca era
23 verdadeira
24
25 Chata sim ou natildeo uma pergunta que
26 eu mesmo me fiz bom vou parar por aqui
27 antes que eu comece a fica chata de vez Fonte Dados da pesquisa
105
O texto reescrito foi composto em 5 (cinco) paraacutegrafos o que estaacute dentro do
previsto pela instruccedilatildeo Alguns problemas quanto agrave ortografia e tambeacutem confusatildeo quanto ao
emprego dos sinais de pontuaccedilatildeo adequados permaneceram como em ldquoUm dia minha amiga
me perguntou ndash Eu sou muito chatardquo em que foi feito uso de exclamaccedilatildeo em vez de
interrogaccedilatildeo
Foi mantida a voz que narra (1ordf pessoa) e o diaacutelogo com um personagem ndash a amiga
(linhas 1 e 2) se faz em forma de discurso direto embora natildeo devidamente paragrafado poreacutem
fazendo uso de travessotildees o que eacute um avanccedilo
O segundo paraacutegrafo (linhas 7 a 11) foi inserido a partir da sugestatildeo que fizemos
para a aluna Era interessante que ela acrescentasse em seu texto algo que exemplificasse o que
ela considera como ser legal e ser chato Atendendo agrave sugestatildeo a aluna mostra discretamente
seu ponto de vista na frase ldquovocecirc e chata mais as vezes quando vocecirc natildeo falando demais ou
falando coisas se graccedilardquo (linhas 9-10)
O contato direto com o leitor permanece como na PI atraveacutes de frases como ldquoMas
me responde leitorrdquo (linha 13) ndash cuja pontuaccedilatildeo nessa reescrita foi melhorada pela sugestatildeo ndash
e ldquoO que vocecirc responderiardquo (linhas 14-15) Natildeo foi atendida a instruccedilatildeo no tocante ao botatildeo
de bloqueio na vida real
A autora emprega em seu texto a frase ldquobom vou parar por aquirdquo (linha 26)
caracteriacutestica de uma conversa informal Esse uso da oralidade como em conversas eacute marca do
gecircnero crocircnica
Quadro 17 ndash Produccedilatildeo inicial Arlindo ndash Tiacutetulo Chato e natildeo eacute chato
1 Eu natildeo gosto daquela pessoa que
2 jaacute chegada pensando que jaacute pode falar
3 todo que pensa pra mim as pessoas
4 que pega celular para falar besteira nas
5 redes sociais essas pessoas eu natildeo gosto
6
7 agora aquelas pessoas que satildeo bem
8 calmas nas redes sociais ai eu gosto
9 por que sabem conversar saber puxar
10 intimidade fazem a gente rir e noacutes nos
11 trazem conforto e nos fazem saber que
12 a pessoa com quem a gente conversar
13 natildeo eacute uma maacute pessoa Eacute muito
14 bem amigo nos faz feliz
15
106
16 agora as pessoas que eu bloqueio
17 satildeo aquelas pessoas que natildeo sabem
18 conversar falatildeo de qualquer jeito
19 puxa assunto que eu natildeo gosto
20 por isso eu bloqueio essas pessoas
21 redes sociais eacute pra procurar
22 amigo e ais vezes eacute pra respeitar Fonte Dados da pesquisa
Ao ler o texto de Arlindo vemos que ele trata do assunto pedido na instruccedilatildeo e tem
em mente a audiecircncia pretendida que acessa redes sociais No entanto natildeo alcanccedila o leitor
envolvendo-o na conversa narrando-lhe as situaccedilotildees apenas elenca as situaccedilotildees que lhe satildeo de
agrado e desagrado mostrando o que para ele eacute ser chato e ser legal
Os trecircs paraacutegrafos que compotildeem o texto se organizam de modo a mostrar o que o
autor natildeo gosta o que gosta e o porquecirc de bloquear pessoas ndash mas na rede social natildeo fazendo
o comparativo com a vida real
Quadro 18 ndash Produccedilatildeo final Arlindo ndash Tiacutetulo Chato e natildeo eacute chato
1 Chato eacute uma pessoa botar besteira
2 no Facebook Por que isso eacute muito chato e
3 horriacutevel todo mundo ver vai laacute e comentar
4 mal do video ser legal eacute aquela pessoa que
5 vai laacute na casa da pessoa te daacute presente
6 sem vocecirc pedir nada sem vocecirc falar nada
7 no final soacute agradecer e ser feliz com o presente e
8 depois no outro dia soacute retribuir
9
10 Meu caro amigo legal e chato eacute
11 ser como uma pedra ajuda a parar o
12 tracircnsito e depois eacute chato porque as
13 pessoas tropeccedilam nelas e meus irmatildeos
14 legal e chato satildeo quase a mesma coisa
15 soacute que satildeo meios diferentes eu vou te
16 explicar
17 Ser chato eacute coisa possiacutevel e ser legal eacute
18 coisa quase impossiacutevel Fonte Dados da pesquisa
O aluno Arlindo manteve seu tiacutetulo e percebemos que a explicaccedilatildeo para o mesmo
seria transmitir a ideia de ldquochato e natildeo chatordquo ndash ou legal O verbo ser que aparece no tiacutetulo
como eacute deveria ter sido empregado de outra maneira como quando sugerimos ldquoEacute chato e natildeo
107
eacute chatordquo ou ldquoO que eacute chato e o que natildeo eacute chatordquo ou ldquoChato e legalrdquo No rascunho que Arlindo
fez ele empregou como tiacutetulo provisoacuterio ldquoO que eacute chato e o que eacute legalrdquo Poreacutem na hora de
passar a limpo e entregar permaneceu o tiacutetulo original
O autor Arlindo manteve seu foco nas redes sociais como indica a instruccedilatildeo e
amplia um pouco as ideias a partir das discussotildees que aconteceram na aula durante a
tempestade de ideias a fim de redespertar o olhar dos alunos para partirem de situaccedilotildees
vividasobservadas Nas linhas de 10 a 13 ele faz uma comparaccedilatildeo com a pedra fruto da
discussatildeo preacutevia Dependendo do ponto de vista a pedra pode ajudar bem como pode
atrapalhar Poreacutem nas linhas 15 e 16 Arlindo fica de explicar o porquecirc de ser chato e ser legal
serem quase a mesma coisa e termina o texto abruptamente sem desenvolver suas ideias
Houve uma evoluccedilatildeo no tocante agrave conversa com o leitor Embora Arlindo natildeo tenha
claro se sua audiecircncia eacute uma pessoa soacute (linha 10 Meu caro amigo) ou um grupo de pessoas
(linha 13 e meus irmatildeos linhas 15 e 16 eu vou te explicar) ele jaacute a chama a prestar atenccedilatildeo
no que estaacute se propondo a dizer em seu texto
Quadro 19 ndash Produccedilatildeo inicial Juacutelia ndash Tiacutetulo Ser chato ou ser legal
1 Ai meu Deus tou de saco cheio de tantos amigos
2 chatos eles ficam com chatice toda hora
3 se na vida tivesse um botatildeo para bloquear
4 as pessoas chatas seria otimo pelomenos
5
6 Eu ficaria com menos pessoas chatas ao
7 meu redor Ai soacute ficaria as pessoas
8 legais
9
10 Eu chamo meus amigos de chatos mais
11 eu gosto deles assim mesmo Eu chamo
12 meus amigos de chatos e eles me chamam
13 de chata tambeacutem e se existisse o botatildeo
14 de bloquear Eu ia ser bloqueada tambeacutem
15 Mesmo se existisse o botatildeo muitas pessoas
16 iam mudar de comportamento eles iriam
17 querer ser legais para natildeo serem bloque-
18 ados Eu mesma ia mudar de atitudes
19 com meus amigos Eu natildeo ia mais
20 ser chata como vaacuterias pessoas me
21 chama Fonte Dados da pesquisa
108
Na linha 1 vemos que a aluna utilizou a expressatildeo Ai meu Deus retirada do texto
trabalhado e que daacute suporte agrave instruccedilatildeo A aluna faz uso da linguagem coloquial na mesma linha
(tou de saco cheio) caracteriacutestica permitida na abordagem de nossas crocircnicas literaacuterias
Eacute interessante perceber que Juacutelia apoacutes se avaliar como chata faz uma reflexatildeo
(linhas 13-14 ldquoe se existisse o botatildeo de bloquear Eu ia ser bloqueada tambeacutemrdquo) E trata da
questatildeo falando de possiacuteveis alteraccedilotildees no comportamento das pessoas incluindo o seu proacuteprio
No entanto apesar de ela levantar essa reflexatildeo natildeo a direciona diretamente ao leitor poreacutem
tem em mente mesmo que superficialmente que sua audiecircncia estaacute nos paracircmetros indicados
pela instruccedilatildeo visto que menciona o botatildeo de bloquear caracteriacutestico de ambientes virtuais
sendo conhecido portanto de pessoas que tecircm acesso ao mundo digital
Quadro 20 ndash Produccedilatildeo final Juacutelia ndash Tiacutetulo Pessoas chatas e pessoas legais
1 Como existem pessoas chatas que ficam
2 dando bola para o que as pessoas falam
3 fica reclamando da vida e tambeacutem quer tudo
4 do seu jeito Natildeo daacute certo ser amiga desse
5 tipo de pessoa
6
7 Prefiro aqueles amigos que sabe lidar
8 comigo que datildeo carinho e que natildeo fique
9 reclamando de tudo e que natildeo sabe relevar
10 os problemas como se nada tivesse acontecendo
11
12 Eu gosto daquelas pessoas que chamam os
13 amigos para um passeio isso sim eacute ser
14 legal tem alguns tipos de amigos que fazem
15 de tudo pra ver seus amigos felizes
16
17 existem alguns amigos que falam
18 com vocecirc uma hora e depois taacute falando
19 mal de vocecirc esse tipo de pessoa faz isso
20 porque eacute falso e tem inveja soacute porque
21 vocecirc eacute feliz com seus amigos e ele (a)
22 natildeo
23
24 e vocecirc leitor Vocecirc eacute chato ou legal
25 Eu tenho poucos amigos mas os que
26 tenho satildeo os melhores
27
28 as pessoas gostam de vocecirc como
29 vocecirc eacute ou natildeo
30
31 Existem ateacute aquele tipo de pessoa
109
32 que humilha as pessoas nas redes
33 sociais pessoas que fazem bullying
34 com outras pessoas esse tipo de pessoa
35 satildeo muito chatas Fonte Dados da pesquisa
A aluna produziu sua nova versatildeo de texto sobre as discussotildees em sala de aula que
antecederam esse momento da reescrita Os alunos determinaram exemplos do que seria ser
legal e ser chato e ela os aproveitou na enumeraccedilatildeo em seu texto No entanto de alguma forma
Juacutelia imprimiu sua reflexatildeo pessoal sobre o que eacute legal e o que eacute chato Nas linhas 1-5 ela afirma
o quatildeo difiacutecil eacute ser amiga de pessoas que atribuem muita importacircncia ao que outras pessoas
dizem que ficam reclamando da vida e tambeacutem querem tudo do seu jeito Nas linhas 7-10 e
12-15 ela explicita suas preferecircncias por pessoas que considera legais e exemplifica Nas linhas
17-22 Juacutelia diz que tipo de pessoas satildeo chatas novamente
Poreacutem o que parece ter acontecido eacute que Juacutelia natildeo teria ainda compreendido que
era para partir de uma experiecircncia vivida ou observada aprofundando-se um pouco mais na
narrativa
Ao todo o texto comporta agora 7 paraacutegrafos que poderiam ter sido mais bem
organizados Nas linhas 24-29 A7 aborda sua audiecircncia diretamente tratando-a por vocecirc
lanccedilando-lhe perguntas Esse seria o momento em que o texto acabaria poreacutem convidada a
reler mais uma vez a autora percebeu que natildeo abordou a proposta da instruccedilatildeo que era bloquear
os chatos da vida real nem havia tambeacutem abordado questotildees tocantes agraves redes sociais
finalizando portanto com um paraacutegrafo que fizesse o resgate ainda a tempo mesmo que
perdendo um pouco do ritmo do texto
Quadro 21 ndash Produccedilatildeo inicial Vicente ndash Tiacutetulo A pergunta eacute se eu bloquearia uma pessoa chata
1 Bom gente vocecirc bloquearia uma pessoa
2 chata que bertuba-se voccedilecirc nas redes
3 sociais
4
5 A pergunta eacute se eu bloquearia uma pess-
6 oa chata ovio que sim por que Por que
7 se eu natildeo bloqueaccedile essa pessoa ia ficar
8 mim perturbandando ai eu ia ficar com
9 muita raiva ai eu ia falar aquelas coisas
10 maeducada como xingar fala coisas que natildeo
11 pode falar porisso eu bloquei essa pessoa
12 ai ateacute que foi bom bloquear essa pessoa
110
13 por que ela natildeo ia ficar mim perturbando natildeo
14 ia ficar falando como tomar certas liberdades
15 mas chegou uma hora que natildeo deu bloquei o
16 sujeito Estava chato demais Xxxx
17
18 Uma pessoa chata eu sou uma pessoa
19 chata por que quando eu estou no whats
20 natildeo tem nenhuma pessoa olaine eu fico man-
21 dando mensagens pra essas pessoa ai essa pes-
22 soas natildeo gosta e fala que eu sou chato triste
23 neacute kkkk Fonte Dados da pesquisa
Parece-nos que Vicente tem por meacutetodo iniciar a escrita de seu texto respondendo
diretamente agrave pergunta que foi feita na instruccedilatildeo e fazendo disso seu tiacutetulo inclusive Serafini
(2003 p 71) chama a esse tipo de paraacutegrafo de introduccedilatildeo-enquadramento (cf na seccedilatildeo sobre
escrita) O texto inteiro possui 3 (trecircs) paraacutegrafos
Nas linhas 14 a 16 vemos que houve coacutepia de excertos do texto motivador O chato
da vez (ldquotomar certas liberdadesrdquo ldquomas chegou uma hora que natildeo deurdquo ldquobloquei o sujeito
Estava chato demaisrdquo)
No iniacutecio do texto logo nas linhas 1-2 Vicente tem em mente uma audiecircncia como
vemos em ldquoBom gente vocecirc bloquearia uma pessoa chata que bertuba-se voccedilecirc nas redes
sociaisrdquo Poreacutem o aluno natildeo define se vai falar a um grupo (gente) ou a uma pessoa soacute (vocecirc)
Para atender agrave instruccedilatildeo Vicente trata de situaccedilotildees vividas em ambiente online quando se
refere ao aplicativo de interaccedilatildeo (linha 19 ldquoquando eu estou no whatsrdquo) fala do envio de
mensagens e traz um elemento multimodal ao final de seu texto (linha 23 ldquokkkkrdquo) que
caracteriza a gargalhada frequentemente usada em conversas online
Quadro 22 ndash Produccedilatildeo final Vicente ndash Tiacutetulo
1 Bom uma pessoa legal eacute ter paciensia
2 criativa uma pessoa legal animada inteligente
3 adoraveu feliz simpatica bom humor natildeo ser
4 groseiro com as pessoas simpatica conversar com
5 as pessoas legal
6
7 Ser chato Eacute uma pessoa que faz varias
8 perguntas como quando onde que horas etc
9 ser chato e pegar no peacute de varias pessoas e ser
10 ensorportavel pessoas chatas deveriam refletir
11 sobre a paciecircncias das outras pessoas uma
111
12 pessoa que tem pouca paciecircncia e bem
13 difiacutecil conviver com uma pessoa chata
14
15 Um chato ser legal e muito estranho
16 para queacutem conhece uma pessoa chata e bem
17 dificil ele ser legal soacute se acontecer aguma
18 coisa para ele ser legal um dia uma meni-
19 na ficou fazendo vaacuterias perguntas sobre a minha
20 vida natildeo gostava das perguntas que ela fazia
21 e falei coisa que natildeo devia no outro dia eu notei
22 o comportamento dela estava estranho tipo compor-
23 tada legal uma pessoal de bom humor natildeo parecia
24 com ela estava estranha e foi indo assim
25 e ela veio falar com migo e nunca mais per aquelas
26 perguntas hoje ela eacute legal gostei dela ter
27 mudado natildeo soacute eu mas muitas pessoas Fonte Dados da pesquisa
Vicente iniciou seu texto reescrito apoacutes as discussotildees em sala retirando a pergunta
direta que fazia para inspirar-se para comeccedilar e passando a uma conclusatildeo direta (linha 1
ldquoBomrdquo) sobre as caracteriacutesticas de uma pessoa legal seguindo a isso um paraacutegrafo do que eacute ser
chato Apesar de o texto ter perdido em atratividade em seu iniacutecio Vicente atendeu agrave sugestatildeo
que fizemos quando pedimos que ele mencionasse uma situaccedilatildeo que tivesse
vivenciadoobservado
No entanto perdeu de vista a instruccedilatildeo uma audiecircncia que acesse as redes sociais
a questatildeo do bloquear na vida real o contato direcionado ao leitor
Quadro 23 ndash Produccedilatildeo inicial Graccedila ndash Tiacutetulo Rafaelly chata
1 Eu quero bloqueia essa
2 pessoa porque primeiramente
3 ela natildeo tem nem celula
4 entatildeo neste caso natildeo da pra bloqueia
5 ela As vezes essa pessoa ela e
6 um pouco chata fresca e sem
7 graccedila com todo respeito Algumas
8 vezes ela fala um pouco de
9 besteira e isso torna ela uma
10 pessoa chata Eu conheci essa
11 pessoa na escola so que agora
12 ela natildeo tem a mesma idade
13 que eu tenho a uacutenica rede social
14 que ela tem e o Facebook
15
112
16 Mais mi responde leitor o que
17 vocecirc acha sobre as pessoas
18 chatas
19
20 Pensando bem ela e uma
21 pessoa muito legal toda doidi-
22 nha amigaacutevel e amorosa etc
23 O que eu gosto mais nela
24 e que ela e sincera e indireta
25 e eacute bom de dar conselhos por
26 isso que eu amo a chatice
27 dela e ela se chama Rafaelly Fonte Dados da pesquisa
Neste texto a autora faz uma reflexatildeo sobre a amiga partindo de uma ideia inicial
que eacute a chatice da Rafaelly para a consideraccedilatildeo dos pontos positivos que a mesma Rafaelly tem
(ldquoPensando bemrdquo)
Houve uma maacute interpretaccedilatildeo da instruccedilatildeo quanto ao entendimento do que seria
bloquear uma pessoa na vida real como comprovamos nas linhas 2-5 ldquoprimeiramente ela natildeo
tem nem ceacutelula entatildeo neste caso natildeo da pra bloqueia elardquo
Nas linhas 16-18 A9 tem em mente uma audiecircncia como vemos em ldquoMais mi
responde leitor o que vocecirc acha sobre as pessoas chatasrdquo
Quadro 24 ndash Produccedilatildeo final Graccedila ndash Tiacutetulo Chata ela ou EU
1 Mi responde leitor o que
2 vocecirc acha sobre as pessoas cha-
3 tas
4
5 E vocecirc leitor Vocecirc e chato
6
7 Certo dia uma amiga veio
8 falar um monte de bobagens coisa-
9 s que natildeo tinha nada haver
10 ou seja coisas sem graccedilas Eacute eu
11 disse vocecirc e muito chata sabia
12 Ela falou ndash vocecirc tambeacutem fiquei
13 brava
14
15 Logo seguinte eu queria
16 bloquea ela porque tinha mi
17 chamado de chata mas tinha
18 um problema era que primeira-
19 mente ela natildeo tinha nem
113
20 celular entatildeo neste caso natildeo da-
21 va para bloquea o unico lugar
22 que dava pra bloquea ela era
23 no Facebook
24
25 Mais pensando bem ela
26 e uma pessoa muito legal to-
27 da doida amigavel e amorosa etc
28 O que eu acho legal nela e a sinceridade dela ajuda as
29 pessoa sabe releva os problemas
30
31 Natildeo vou nega que tambeacutem
32 sou uma pessoa chata Fonte Dados da pesquisa
Nas linhas 1-3 e linha 5 Graccedila teve em vista uma audiecircncia como vemos em ldquoMi
responde leitor o que vocecirc acha sobre as pessoas chatasrdquo e ldquoE vocecirc leitor Vocecirc e chatordquo Em
sua reescrita a aluna se comunica com o leitor de forma expliacutecita inspirada no modelo do texto
O chato da vez
Percebemos que ela atendeu a sugestatildeo de partir de uma situaccedilatildeo vividaobservada
para compor sua crocircnica (linha 7 ldquoCerto dia uma amiga []rdquo) desenvolvendo seu texto no
sentido de apresentar a seu leitor sua ideia do que eacute ser chato e ser legal a partir do que expotildee
e conduz seu fio tocando na instruccedilatildeo que sugere a inspiraccedilatildeo de bloquear uma pessoa na vida
real Poreacutem percebemos que ela natildeo extrapolou os limites do ambiente virtual criando uma
situaccedilatildeo de botatildeo de bloqueio da vida real para evitar as pessoas que ela considera chatas mas
condicionando o bloqueio meramente agraves redes sociais
Quadro 25 ndash Produccedilatildeo inicial Lilian ndash Tiacutetulo Meus amigos chatos e Eu
1 Eu tenho um amigo muito chato ele
2 fica o tempo todo pegando no
3 meu peacute as vezes eu comeccedilo
4 a chamar ele de chato ai ele
5 fica uns dias estranho comigo
6 mas depois agente comeccedila
7 se falar de novo
8
9 Eu queria pra existir um
10 botatildeo pra bloquear meus amigos
11 chatos porque eles pegam muito
12 no meu peacute eu chama eles
13 de chatos mas eu tambeacutem sou
14 chata e muito chata se existisse
114
15 o botatildeo pra bloquear as pessoas
16 chatas eu tambeacutem ia ser bloqueada
17 porque eu sou muito chata eu
18 natildeo queria ser chata eu queria
19 ser legal eu sou chata porque
20 quando eu comeccedilo falar eu natildeo
21 quero parar ai minhas amigas
22 ficam dizendo que eu sou muito
23 chata mais mesmo assim sou
24 feliz Fonte Dados da pesquisa
Lilian parte de uma situaccedilatildeo vivenciada (linhas 1-7) em que fala de um amigo
muito chato e usa a expressatildeo ldquopegar no peacuterdquo como em O chato da vez Nas linhas 17 a 24
Lilian tambeacutem diz porque ela seria uma pessoa chata ndash comeccedila a falar e natildeo quer parar Por
isso ela desejaria o botatildeo de bloquear na vida real como dito na questatildeo 7 que traz a instruccedilatildeo
de produccedilatildeo No entanto as situaccedilotildees natildeo estatildeo bem desenvolvidas e natildeo prendem o leitor que
aliaacutes natildeo eacute inserido no texto na ldquoconversa com o leitorrdquo Natildeo observamos uma percepccedilatildeo clara
da ideia de redes sociais
Quadro 26 ndash Produccedilatildeo final Lilian ndash Tiacutetulo Pessoas legais e chatas
1 Existem pessoas chatas e
2 outras legais conheccedilo alguns amigos que
3 satildeo um pouco chatos porque eles
4 ficam reclamando da vida eles ficam
5 dando importacircncia para os que os
6 outros falam desse jeito natildeo daacute
7
8 Mais eu tenho alguns amigos
9 que vivem fazendo piadas para seus
10 amigos Gosto do jeito que eles tratam
11 seus amigos eles levam eles pra
12 um passeio levam para o cinema
13 datildeo carinho sabem relevar os problemas
14 mas eu conheccedilo uns que falam comigo
15 mas depois tatildeo falando mal de mim
16 pela minha costa
17
18 Eu me acho uma pessoa
19 muito chata porque eu gosto
20 de tudo do meu jeito reclamo de
21 tudo dou importacircncia pra tudo
22 que as pessoas falam mais
115
23 as vezes eu soacute um pouco legal
24 com minhas amigas E vocecirc leitor
25 eacute chato ou legal as pessoas gostam
26 de vocecirc Fonte Dados da pesquisa
Apoacutes a tempestade de ideias da aula destinada agrave reescrita Lilian produziu 3 (trecircs)
paraacutegrafos e dedicou um a mostrar o que eacute ser chato e o seguinte ao que eacute ser legal em sua
opiniatildeo Na reescrita a aluna jaacute considera a audiecircncia conversando com o leitor (linhas 24-26)
poreacutem se distancia do que consta na instruccedilatildeo que eacute o bloqueio na vida real imitando as redes
sociais Ainda percebemos repeticcedilotildees de palavras que poderiam se tivesse havido uma nova
leitura ter sido evitadas
Podemos dizer que Lilian nos permite refletir sobre o comportamento humano
quando diz ldquomas eu conheccedilo uns que falam comigo mas depois tatildeo falando mal de mim pela
minha costardquo (linhas 14-16) poreacutem ela natildeo desenvolve a ideia apropriadamente no paraacutegrafo
seguinte como ela mesma havia dito em sala que falam mal dela porque ela tem o gecircnio difiacutecil
como ela descreveria em ldquoeu gosto de tudo do meu jeitordquo (linhas 19-20) De algum modo
podemos dizer que esse desdobramento de paraacutegrafos jaacute eacute uma evoluccedilatildeo na escrita de Lilian
Quadro 27 ndash Produccedilatildeo inicial Heloiacutesa ndash Tiacutetulo ldquoChato mais eacute muito legalrdquo
1 Tenho um amigo que ele eacute legal
2 mas tambeacutem eacute chato ao mesmo
3 tempo mais gosto da companhia
4 dele Mais quando chega a chatice
5 natildeo da pra aguentar ele comeccedila
6 a fala fala e fala eacute senpre o
7 mesmo assunto algo que natildeo
8 gosto ldquojogordquo
9
10 Taacute toda hora mandando mensage-
11 m daacute raiva mas neacute
12 Somos muito amigo nas
13 redes sociais posta fotos toda
14 hora Mas eacute muito legal sempre
15 faz brincadeiras pelo zapp
16
17 Eu poderia bloquialo mais
18 eacute muito legal telo como amigo
19
20 Gosta de pegar no meu peacute
21 quando o assunto eacute estudo mim
116
22 da sempre vaacuterios concelhos
23
24 Por mais que seja meu amigo vocecirc
25 eacute muito chatooo Fonte Dados da pesquisa
O texto foi escrito em 5 (cinco) paraacutegrafos Natildeo traz marcas explicitas de conversa
com o leitor e haacute um tangenciamento do que pede a instruccedilatildeo visto que a autora falou de
bloqueio No entanto natildeo houve real compreensatildeo do botatildeo de bloqueio da vida real visto que
ela se refere a um bloqueio nas redes sociais Percebemos o uso do coraccedilatildeo ao fim do penuacuteltimo
paraacutegrafo (linha 22) como sendo um recurso multimodal utilizado em meio virtual para
demonstrar agrado agrave ideia (curti)
Houve neste texto uma mudanccedila de interlocutor Inicialmente voltado para uma
audiecircncia mesmo que natildeo se dirigisse diretamente ao leitor o texto passou a ser direcionado
para o amigo chato de Heloiacutesa
Haacute a frequente repeticcedilatildeo do termo mas poreacutem sem uma forma consolidada de uso
visto que Heloiacutesa emprega mas e mais alternadamente
Quadro 28 ndash Produccedilatildeo final Heloiacutesa ndash Tiacutetulo ldquoO melhor chatordquo
1 Vol falar um pouco do meu
2 amigo
3
4 Ele se chama Daniel ele eacute uma
5 boa pessoa estaacute sempre mi
6 ajudando eacute um bom amigo e mim
7 da sempre forccedila pra tudo gosto
8 muito da conpanhia dele
9
10 E vocecirc leitor Vocecirc eacute chato
11
12 Somos chatos tenho 15 anos e sei
13 que chatise eacute estado de espirito
14
15 Ele eacute chato em vez enquando
16 ele eacute muito quando ele me
17 ajuda em algo ele mim trata
18 surper bem ele mim dar muito
19 carinho ele mim oferece cumida
20 quando estou na casa dele
21 natildeo gosta de criticar as pessoas
22
117
23 Ele eacute chato quando reclama
24 de tudo quer tudo do seu jeito
25 que ele conbina da ouvidos a
26 tudo o que falam ele fala demais Fonte Dados da pesquisa
Essa aluna se valeu do que discutimos em sala no dia em que propusemos a reescrita
sobre o que poderiam ser atitudes de uma pessoa legal A turma presente enumerou accedilotildees como
dar carinho oferecer comida ouvir as pessoas atenciosamente tratar bem natildeo criticar as
pessoas como sendo de pessoas legais ao passo que reclamar de tudo soacute querer as coisa do seu
jeito dar ouvidos a fofocas e falar demais como sendo atitudes de pessoas chatas Mencionar
um amigo e descrever atitudes dele eacute um princiacutepio do que conversamos sobre fornecer a
descriccedilatildeo de alguma pessoa e narrar uma situaccedilatildeo No entanto a aluna natildeo aprofundou a
descriccedilatildeo das caracteriacutesticas do amigo ndash apenas nomeou ndash e nem narrou a situaccedilatildeo sugerida
A reescrita foi feita em 6 (seis) paraacutegrafos dentro do que sugere a instruccedilatildeo O seu
primeiro traz uma introduccedilatildeo que chama a atenccedilatildeo preparando o leitor para o que vem a seguir
no texto Consideramos um avanccedilo no sentido de que Heloiacutesa jaacute parece ter feito um plano
melhor de escrita o que pode se consolidar em propostas futuras O segundo paraacutegrafo foi clara
paraacutefrase do texto motivador ldquoO chato da vezrdquo (linhas ldquosei que chatise eacute estado de espiritordquo)
Percebemos diminuiccedilatildeo nas repeticcedilotildees desnecessaacuterias
Na PF a aluna manteve o foco narrando o que lhe acontece descrevendo seu
amigo sem deixar o leitor para conversar com este amigo
Quadro 29 ndash Produccedilatildeo inicial Eliane ndash Tiacutetulo Um pouco de tudo
1 Ai gente nesse mundo agrave
2 muitas pessoas chatas
3 pois eu conheci pessoas
4 chatas e legais
5
6 Na adolecircncia conhecemos
7 pessoas numa pat-papo com
8 os amigos conheci uma
9 amiga pois conversamos e
10 ali natildeo parou mais de
11 falar
12
13 Num sentido e que ela
14 era muito cheia de
15 nheacutem-nheacutem de papo nada
16 ver O egrave o meu pensamento
118
17 que mim engana Mais eu
18 natildeo acho ela chata
19
20 De um tempo pra caacute nos
21 damos muito bem parti-
22 cularmente nos casos eu e ela
23 descordamos de tudo que
24 falamos mas eu acho que
25 duas chatas se dam muito
26 bem Na vida real parece um
27 mundo digital nos natildeo
28 paramos para pensamos nos
29 casos da vida social pessoas
30 postam coisas invalida na
31 rede sociais Fonte Dados da pesquisa
Para a produccedilatildeo inicial Eliane buscou elementos dos textos que lemos em sala De
Prova Falsa percebemos o uso da expressatildeo ldquoera muito cheia de nheacutem-nheacutemrdquo (linhas 14-15)
quando quis falar da amiga com comportamentos chatos De O chato da vez a partiacutecula ldquoAirdquo
como em ldquoAi genterdquo (linha 1) logo no iniacutecio mostra que o texto tem ares coloquiais com
linguagem despojada
Atraveacutes da coloquialidade Eliane se dirige ao leitor poreacutem ficou confuso o
desenvolvimento do tema na conversa proposta na instruccedilatildeo que seria o bloqueio das pessoas
na vida real No tocante ao assunto abordado na instruccedilatildeo Eliane fala de ser chato e ser legal
e menciona as redes sociais poreacutem seu texto entre as linhas 26 e 31 (ldquoNa vida real parece um
mundo digital nos natildeo paramos para pensamos nos casos da vida social pessoas postam coisas
invalida na rede sociaisrdquo) natildeo teve desenvolvimento quebrando assim a coerecircncia
Quadro 30 ndash Produccedilatildeo final Eliane ndash Tiacutetulo O que e chato e o que e legal
1 Ai gente eu sou muito chata
2 Afirmou uma amiga em um bate-papo
3 com os colegas Eu natildeo te acho chata
4 vc e uma pessoa carinhosa aceitar
5 as diferenccedilas dos outros
6
7 Pois eacute muitas pessoas tem suas referen-
8 ccedilas mas isso natildeo quer dizer que
9 todos que estatildeo aqui satildeo chatos
10 Adriana ela e companheira Delci e
11 carinhosa
119
12
13 Mais alguns tem outro estorico de
14 pensamento por exemplo O Luis reclamar
15 demais Rosi e falza Eu particularmente
16 faccedilo de tudo pra natildeo ser chata
17 tento conversar da maneira possiacutevel
18 ajudar as pessoas em tudo quer
19 posso
20
21 Por isso tem um sentido de tudo
22 seja o que vc eacute natildeo o que as
23 pessoas queram o que vc sejam
24 mas que seja uma pessoa dignar Fonte Dados da pesquisa
A PF de Eliane possui tiacutetulo agora mais direcionado agrave instruccedilatildeo visto que a aluna
considerou falar a respeito do que para ela eacute ser chato e o que eacute ser legal O primeiro paraacutegrafo
do texto (linhas 1-5) eacute uma paraacutefrase do paraacutegrafo inicial do texto motivador poreacutem conteacutem o
teor da tempestade de ideias realizada antes da produccedilatildeo
O paraacutegrafo seguinte eacute interessante porque traz em si a ideia de ponto de vista e
toleracircncia afinal todos tecircm defeitos (ldquomas isso natildeo quer dizer que todos que estatildeo aqui satildeo
chatosrdquo linhas 8-9) mas qualidades tambeacutem (ldquoAdriana ela e companheira Delci e carinhosardquo
linhas 10-11) Houve uma evoluccedilatildeo na organizaccedilatildeo dos paraacutegrafos
Houve emprego adequado dos sinais de pontuaccedilatildeo dois-pontos e a viacutergula como
em ldquopor exemplo O Luis reclamar demais Rosi e falzardquo (linhas 14-15)
Eliane em sua reescrita atendeu agrave sugestatildeo de utilizar exemplos podendo colocar
personagens no seu texto No entanto percebemos que ela ainda natildeo compreendeu que para
tanto seria necessaacuterio mais que apenas nominar pessoas e adjetivaacute-las mas realmente fazer um
exerciacutecio de descriccedilatildeo mais detalhado fazendo seu leitor compreender por que ldquoO Luis
reclamar demaisrdquo (linhas 14-15) e a ldquoRosi e falzardquo (linha 15) por exemplo
Quanto agrave audiecircncia Eliane entende que conversa com um leitor como vemos por
exemplo em ldquoseja o que vc eacute natildeo o que as pessoas queram o que vc sejamrdquo (linhas 22-23)
poreacutem natildeo manteacutem o foco visto que mistura a audiecircncia com o personagem ldquoEu natildeo te acho
chata vc e uma pessoa carinhosardquo (linhas 3-4)
O texto natildeo atende agrave proposta de considerar o botatildeo de bloqueio na vida real como
consta da instruccedilatildeo
120
Quadro 31 ndash Produccedilatildeo inicial Joana ndash Tiacutetulo Pessoas chatas e outras legal
1 Pessoas chatas tem muitas pessoas que diz
2 que a outra e chata tem pessoas chata satildeo
3 aquelas que fazem muitas perguntas que saber
4 da vida do outro essas pessoas se torna muito chata
5
6 Muitas pessoas no Facebook que eu natildeo gosto de aceita
7 porque jaacute cei que ela e muito chato jaacute bloquei
8 muitas pessoas nesse caso de se chato deacute mas
9 porque fica mandando mensagem sem noccedilatildeo que
10 rendo saber da sua vida isso que eacute chato
11 pra mim pessoas que tu natildeo suporta se fose
12 eu bloquairia case todo mundo
13
14 Pra mim pessoas legal e aquelas que teu
15 jaacute persebe pelo jeito dessa pessoa eu tenho
16 uma amizade muito legal pra mim eu sou
17 uma menina que faso amizade muito raacutepdo
18 mas as mizades que eu fasso eu percebo logo
19 se essa amizade vai ser boa ou natildeo tenho mui
20 tas pessoas no face que eu acho legal que satildeo
21 boa de se se conversa natildeo faiz ldquomuitas perguntasrdquo
22 e muito bom ter uma amizade legal
23 pessoas legais satildeo oacutetimas de conversa natildeo tir inte
24 ronper quando tu taacute falando essa que satildeo pra
25 mim pessoas legais eu acho que tenho
26 muitas pessoas legal Fonte Dados da pesquisa
Podemos dizer que Joana criou seu texto em trecircs paraacutegrafos apesar de natildeo haver
um ponto para demonstrar se era realmente o final ou se ela desejava continuar escrevendo
Aliaacutes seus paraacutegrafos natildeo trazem pontuaccedilatildeo mostrando que o fluxo das ideias foi contiacutenuo
natildeo havendo o procedimento de elaboraccedilatildeo do rascunho para a seguir passar a limpo
concatenando melhor as ideias
Seu tiacutetulo natildeo foi atrativo poreacutem foi relativo ao assunto da instruccedilatildeo Em se
tratando do desenvolvimento do tema a aluna tem em mente o que eacute ser chato e o que eacute ser
legal poreacutem natildeo extrapola na compreensatildeo visto que desenvolve um paraacutegrafo descrevendo
seu procedimento na rede social natildeo fazendo a analogia com a vida real e o botatildeo de bloqueio
Natildeo houve a consideraccedilatildeo da audiecircncia nem a conversa com o leitor pedida na
instruccedilatildeo
121
Quadro 32 ndash Produccedilatildeo final Joana ndash Tiacutetulo Pessoas otimas
1 Ser legal e vocecirc tendo humildade com
2 uma pessoa ajuda ela em tudo que vocecirc
3 porde ter um pouco de paciecircncia com essa
4 pessoa vocecirc tecircm que ter amor por ela eacute com-
5 sidera ela como sua amiga ou irmatildeo tecircm
6 varias coisas pra vocecirc ser torna uma otima
7 pessoa Pra mim ser legal com migo eacute min
8 trata bem o que eu perdi tem que min da
9 e se min dar todo dia uma caixa de bombo
10 Garoto esse se torna oacutetimo pra mim
11
12 pessoas chatas e aquela que critica muito
13 as pessoas natildeo sabendo da vida dela sair
14 falando dela pra todo mundo chato e
15 aquela que quer saber de mais da sua
16 vida se torna iguinorante ETC temos que
17 ter mas um pouco de humo com essas
18 eu natildeo suporto pessoas chata se puder
19 nem fala com migo seria melhor ainda Fonte Dados da pesquisa
Apoacutes a tempestade de ideias da aula destinada agrave reescrita Joana reescreveu seu
texto em dois paraacutegrafos dedicando um a mostrar o que eacute ser chato e o seguinte ao que eacute ser
legal em sua opiniatildeo No entanto natildeo parece ter compreendido que natildeo bastava elencar
situaccedilotildees do que eacute ser chato e ser legal mas contar narrar situaccedilotildees vivenciadas ou observadas
a fim de entreter seu leitor
Na reescrita a aluna natildeo considera a audiecircncia visto que seu texto parece mais
trazer em si opiniotildees sem incitar reflexotildees Joana se distancia do que consta na instruccedilatildeo que
eacute o bloqueio na vida real imitando as redes sociais apenas afirma nas linhas 18-19 que ldquoeu
natildeo suporto pessoas chata se puder nem fala com migo seria melhor aindardquo Seu tiacutetulo soacute tratou
agora de um lado do comportamento humano (ldquoPessoas otimasrdquo) e deve ter sido colocado apoacutes
a finalizaccedilatildeo do texto quando foi verificar se havia tiacutetulo
Assim apoacutes a anaacutelise dos textos A dos alunos percebemos a evoluccedilatildeo dos itens
presentes e os distribuiacutemos no quadro autoavaliativo
Durante a produccedilatildeo dos textos observamos os alunos presentes procurando
perceber algo sobre seu processo de planejamento de escrita O que foi detectado nas primeiras
produccedilotildees poucos deles fizeram um rascunho antes de escreverem na folha de produccedilatildeo
recebida alguns textos jaacute deram sinais de que alguns alunos entenderam o que eacute a ldquoconversa
122
com o leitorrdquo alguns partiram de uma situaccedilatildeo vividaobservada para compor seu texto no
entanto mais parecendo um relato pessoal ou um diaacuterio pessoal do que uma abordagem de
crocircnica poucos narraram essa situaccedilatildeo de forma clara para que o leitor pudesse acompanhar
poucos posicionaram o foco narrativo de maneira adequada vaacuterios apenas tangenciaram a
proposta de produccedilatildeo Essas dificuldades constituiacuteram o cerne a ser explorado nas atividades
dos moacutedulos aplicados nos encontros da sequecircncia
Podemos estabelecer um graacutefico para melhor visualizaccedilatildeo dos resultados ateacute essa
etapa
Graacutefico 7 ndash Avaliaccedilatildeo das crocircnicas A
Fonte Dados da pesquisa
Como vemos houve na maioria dos itens avaliados uma sensiacutevel melhora apesar
das dificuldades ainda apresentadas Percebemos que vaacuterios alunos ainda focam em apenas
alguns aspectos do texto que conteacutem a instruccedilatildeo de produccedilatildeo deixando de contemplar o todo
como por exemplo o botatildeo de bloquear na vida real ndash diversos alunos natildeo atingiram esse
objetivo no texto acreditamos que porque lhes faltou uma releitura direcionada para verificaccedilatildeo
de tudo o que havia sido pedido Isso nos mostra que os alunos ao tomarem contato com seus
textos de uma primeira produccedilatildeo escrita se orientados a ter um pouco mais de paciecircncia sem
a urgecircncia de entregar logo a tarefa e se incentivados a reler se autoavaliar e a ouvir sugestotildees
0
2
4
6
8
10
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14
Avaliaccedilatildeo das crocircnicas A
PI PF
123
podem sim progredir no sentido de se tornarem escritores mais haacutebeis enquanto conscientes
das etapas que regem o processo de escrita de textos
532 Produccedilotildees B textos para circulaccedilatildeo social
A produccedilatildeo para circulaccedilatildeo social foi chamada de produccedilatildeo B e corresponde ao
trabalho com um puacuteblico que variou entre 4 (quatro) a 8 (oito) alunos frequentes dentre os
quais apenas 4 (quatro) produziram o texto para fins de circulaccedilatildeo social real Nesta etapa
foram realizados 5 (cinco) encontros com duraccedilatildeo de 10 (dez) horasaula e leitura de quatro
crocircnicas ineacuteditas para os alunos (A cara da rua A carta de punho Amor de Macumba e Sr
Google Pacheco) e atividades correspondentes
A leitura desses textos foi produtiva para a classe no sentido de compreender que
cada crocircnica traz em si o resultado da reflexatildeo que o cronista consegue realizar das situaccedilotildees
que vivencia ou observa Identificar as situaccedilotildees geradoras das crocircnicas lidas ao longo dos
moacutedulos fez parte do trabalho que conduziu os alunos a falar de vaacuterios assuntos que poderiam
tornar-se temas de textos Copiamos no quadro e eles nos cadernos Eram temas do cotidiano
como assalto relaccedilotildees sociais vida de youtuber bullying fome cujas situaccedilotildees jaacute
observadasvivenciadas por eles mesmos poderiam render uma reflexatildeo
Aparentemente a dificuldade maior dos alunos eacute em expressar essa situaccedilatildeo sem
que ora pareccedila um relato iacutentimo como diaacuterio ou memoacuterias pois a natural disposiccedilatildeo de seus
textos traz uma sequecircncia narrativa um relato de emoccedilotildees pessoais poreacutem natildeo necessariamente
conduz o leitor a uma reflexatildeo ora por vezes pause a narraccedilatildeo e interaja com o leitor por meio
de perguntas ou ainda faccedila um texto com forccedila injuntiva ou com moral da histoacuteria
Para a escrita e a reescrita do texto desta etapa a PF-B incentivamos nossos alunos
a utilizar o quadro autoavaliativo tocando nos pontos mais sensiacuteveis identificados desde a PI-
A Natildeo foi estipulado um nuacutemero de paraacutegrafos deixando os alunos agrave vontade para produzir
Consideramos como audiecircncia um puacuteblico leitor que tivesse sua idade aproximadamente que
entendesse seus problemas dilemas alegrias que fizesse parte de seu mundo frequentando a
escola tendo amigos observando qualidades boas do ser humano ou mazelas da vida podendo
esse puacuteblico acessar redes sociais ou natildeo De toda forma o ideal seria conversar com o leitor
sobre questotildees cotidianas situando-o no tempo e no espaccedilo da crocircnica O texto B foi
integralmente produzido em meio digital a pedido dos proacuteprios alunos por celular ou
computador conforme o material que tivessem disponiacutevel em matildeos e nenhum foi produzido
124
em sala limitado pelo horaacuterio de aula No entanto foi feito o acordo dos prazos de entrega de
cada texto a fim de podermos imprimir e levar para trabalho de leitura releitura feedback da
professora-pesquisadora feedback dos colegas permitindo a cada autor reflexatildeo sobre o texto
e possibilitando a reescrita
Os alunos que se engajaram na produccedilatildeo da crocircnica para circulaccedilatildeo social foram os
alunos Ana Rodrigo Eduardo e Estela Os tiacutetulos das produccedilotildees inicial e final estatildeo no quadro
a seguir
Quadro 33 ndash Tiacutetulos das produccedilotildees para circulaccedilatildeo social
Tiacutetulo PI-B PF-B
Ana PROIBIDA DE ACHAR
GRACcedilA
Rodrigo Vida de preguiccediloso VIDA DE PREGUICcedilOSO
Eduardo INFAcircNCIA FELIZ
Estela ldquoDown= bullyingrdquo DOWN= BULLYING
Fonte Dados da pesquisa
Esses textos diferentemente das produccedilotildees A foram escritos utilizando aparelhos
de celular O acordo foi feito com os alunos em virtude da preferecircncia destes em gostarem de
escrever utilizando-se da tecnologia facilitando o registro a releitura e a reescrita segundo eles
mesmos visto que o meio virtual tambeacutem atenderia a ideia da circulaccedilatildeo dos textos A anaacutelise
das produccedilotildees B estaacute descrita ao longo desta seccedilatildeo
Quadro 34 ndash PIB Ana
1
2
3
Que situaccedilatildeo Eacute o que penso ateacute hoje Pude presenciar um niacutevel de babaquice
e de falta do que fazer de uma garota da minha escola que pra ser sincera eu nem ao
menos sei o nome dela
4
5
6
7
8
Tava eu junto com mais quatro amigos na cantina da minha escola no
finalzinho do recreio estaacutevamos rindo e conversando como sempre Chegaram duas
meninas de outra sala que eu nunca falei nem sabia de onde saiacuteram natildeo sabia nada
sobre ela poreacutem sei que sabiam sobre mim coisas do tipo novata do 9 ano meio
doida duvido se natildeo sabiam ate meu nome Bem nem tava prestando atenccedilatildeo nelas
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9
10
11
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15
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Quando meu amigo brincou eguas de novo Sorriu e depois pediu
desculpas logo que percebeu o tamanho das meninas e todo mundo riu quando ele
brincou EU JURO que fiquei seacuteria mas natildeo aguentei quando ele pediu desculpas
com medo de levar uns supapos Foi entatildeo que comecei a rir e umas das meninas olhou
pra mim com uma cara super ameaccediladora dizendo tu ta rindo do que Ta achando
graccedila eacute Cara tinha quatro pessoas aleacutem de mim QUATRO seacuterio que ela
enchergou soacute a mim ali Eacute ser muito babaca pra chegar em um ponto desse minha
uacutenica reaccedilatildeo foi natildeo pera ela taacute falando comigo serio isso Gente Qual o nome
dela algueacutem aqui a conhece SOCORRO
18
19
Ate hoje me pergunto qual o problema dela Mas prefiro nem chegar perto
Vai que essa doenccedila pega
Fonte Dados da pesquisa
O texto de Ana foi composto de 4 (quatro) paraacutegrafos Sua conversa com o leitor
natildeo eacute com elementos expliacutecitos como na instruccedilatildeo sugerida na produccedilatildeo A mas percebe-se que
ela se importa com uma audiecircncia visto que narra para uma pessoa explicando a situaccedilatildeo
vivenciada contando ao seu leitor suas impressotildees mostrando as falas que ocorreram dando a
perceber os outros personagens que entraram na histoacuteria
As notaccedilotildees linguiacutesticas para indicar intensidade surpresa e algumas viacutergulas estatildeo
razoavelmente bem empregadas como vemos em ldquoeguas de novordquo (linha 9) que separa a
expressatildeo de surpresa ldquoeacuteguasrdquo com uma viacutergula e finaliza a frase com interrogaccedilatildeo
acompanhada de exclamaccedilatildeo atribuindo maior intensidade agrave fala
Quadro 35 ndash PFB Ana ndash Tiacutetulo PROIBIDA DE ACHAR GRACcedilA
1
2
3
E que situaccedilatildeo Eacute o que eu penso ateacute hoje Pude presenciar um niacutevel de babaquice
e de falta do que fazer de uma garota da minha escola que pra ser sincera eu nem ao
menos sei o nome dela
4
5
6
7
8
9
Estava eu junto com mais quatro amigos na cantina da minha escola no
finalzinho do recreio Estaacutevamos rindo e botando conversa fora de boa na paz Entatildeo
duas meninas que eu natildeo conheccedilo ndash jaacute tinha ateacute visto as duas mas nunca tinha falado
com elas nem ao menos sabia o nome delas mas sei que elas sabiam de mim certeza
Aquele pessoal fala demais ndash chegaram e estavam repetindo o lanche Ateacute entatildeo nem
tava reparando na presenccedila delas
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Foi quando meu amigo brincou nossa vatildeo repetir de novo Eu olhei entendi
e nem dei importacircncia nem quis rir pra natildeo arrumar confusatildeo Elas olharam pra ele
com uma cara bem ameaccediladora e ele se arrependeu e pediu desculpas Nessa hora eu
natildeo aguentei e ri poreacutem dele Pensei eita macho ficou com medo de levar uns
sopapos Todo mundo rindo Foi entatildeo que uma delas olhou pra mim me batendo
verbalmente tu taacute rindo de quecirc Taacute achando graccedila eacute Mano do ceacuteu essa menina
tem problema soacute pode Foi minha uacutenica reaccedilatildeo Com quatro pessoas aleacutem de mim ali
sorrindo e ela pergunta soacute pra mim Eacute ser muito babaca pra chegar a esse ponto seacuterio
isso Perguntei pros meus amigos ldquogente qual o nome dela Ela taacute falando pra mim
mesmo SOCORRO
19
20
Ainda bem que meus amigos estavam ali senatildeo eu tava ferradinha Ateacute hoje
me pergunto qual o problema dela Mas prefiro nem chegar perto Vai que isso pega
Fonte Dados da pesquisa
Os quatro paraacutegrafos tiveram uma reelaboraccedilatildeo mas mantiveram-se em mesmo
nuacutemero na PFB de Ana Seu tiacutetulo permaneceu o mesmo e tem a ver com o teor da crocircnica
Quanto ao uso da pontuaccedilatildeo houve inclusive utilizaccedilatildeo de novo recurso o entre
travessotildees a partir de uma sugestatildeo dada pela professora-pesquisadora que indica um adendo
de informaccedilotildees agrave ldquoconversardquo que a narradora conduziu
Pudemos perceber uma melhor descriccedilatildeo da ambientaccedilatildeo onde a situaccedilatildeo
vivenciada se passou consolidando o tempo do finalzinho do recreio situaccedilatildeo que durou muito
pouco mas que para a autora durou com intensidade
O final foi interessante e ateacute cocircmico trazendo questotildees a se pensar como a amizade
e o companheirismo versus a implicacircncia de pessoas desconhecidas (podemos ver seu aliacutevio
em ldquoAinda bem que meus amigos estavam ali senatildeo eu tava lsquoferradinharsquordquo na linha 19) e o
quanto eacute raacutepido - e tolo - para nascer um conflito
Quadro 36 ndash PIB Rodrigo ndash Tiacutetulo Vida De preguiccediloso
1
2
Vocecirc tem preguiccedila Tem preguiccedila de ter preguiccedila perdeu alguma coisa por
causa de preguiccedila
3
4
5
Natildeo eacute muito certo ter preguiccedila de tudo dizem que eacute pegado mas natildeo vejo mal
nem um em ter preguiccedila oacutebvio que nem todo tempo vou ter preguiccedila mas a maior parte
127
6 do tempo sim sou tatildeo preguiccediloso que dormi com fome pra natildeo ir ateacute a geladeira parece
um pouco absurdo mas eacute verdade
7
8
9
10
Natildeo sei vocecirc mas eu jaacute dormi no sofaacute com preguiccedila de ir pra cama certo que
vida de preguiccediloso natildeo eacute la essas mil maravilhas principalmente se vocecirc mora sozinho(a)
eacute muito bom passar o dia deitado mexendo no celular ou PC e com um lanchinho do
lado
11
12
Mas o simples fato de eu pensar que vou ter que tecirc uma famiacutelia um emprego
meu carro minha empresa meu cachorro
13
14
Jaacute da ateacute preguiccedila de sair da cama mas vocecirc jaacute pensou como seria bom se natildeo
existisse nada disso pra se preocupar
15 Seria muito bom natildeo eacute
16
17
A preguiccedila jaacute se tornou parte do cotidiano tenho quase certeza que nesse
momento vocecirc estaacute com preguiccedila natildeo eacute
18
19
20
Muito bom passar o dia sem fazer nada Poreacutem um pouco cansado pela falta
de exerciacutecio fiacutesico mas nada quecirc um bom lanche natildeo resolva vida de preguiccediloso natildeo
leva a lugar nem um falo isso por mera experiecircncia
21 Mas eacute assim mesmo logo logo a preguiccedila passa pelo menos eu acho
Fonte Dados da pesquisa
O texto de Rodrigo partiu de uma situaccedilatildeo observadavivida Conversa com o leitor
(ldquovocecirc jaacute pensou como seria bom serdquo linha 12) sobre o tema preguiccedila A repeticcedilatildeo do termo
preguiccedila foi objeto de questionamento na aula ao que o aluno respondeu que utilizou-se da
estrateacutegia para reforccedilar a situaccedilatildeo e provocar no leitor a preguiccedila de ler ao que os colegas
aprovaram achando inclusive engraccedilado O narrador eacute personagem e coloca para seu leitor as
impressotildees de como eacute viver com o miacutenimo de disposiccedilatildeo poreacutem com a consciecircncia de que natildeo
eacute o ideal para a vida O final natildeo eacute interessante ou surpreendente poreacutem se adequa ao
desenvolvimento do texto Possui tiacutetulo apropriado
Quadro 37 ndash PFB Rodrigo ndash Tiacutetulo VIDA DE PREGUICcedilOSO
1
2
Vocecirc tem preguiccedila Tem preguiccedila de ter preguiccedila Perdeu alguma coisa por
causa de preguiccedila
3
4
Natildeo eacute muito certo ter preguiccedila de tudo dizem que eacute pecado mas natildeo vejo mal
nenhum em ter preguiccedila Oacutebvio que nem todo tempo vou ter preguiccedila mas na hora de
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5
6
7
8
jogar aquela bola ningueacutem tem preguiccedila mas agora fala em arrumar a cama A preguiccedila
sai de baixo da cama pra vocecirc Eu tenho preguiccedila a maior parte do tempo Sou tatildeo
preguiccediloso que dormi com fome para natildeo ter de ir ateacute a geladeira pegar comida Parece
um pouco absurdo mas eacute verdade
9
10
11
12
13
14
Aiacute vocecirc acorda e vai ateacute a sala daiacute vocecirc se deita no sofaacute e esquece o controle
em cima da mesa do computador ou da estante aiacute daacute aquele grito ldquoocirc manhecircecircecircecircecircecircecircecircrdquo
Logo ela vem correndo saber o que aconteceu e vocecirc na maior cara de pau diz pega
o controle pra mim Na hora que vocecirc diz isso vocecirc desperta todos os capirotos do
mundo ela ainda fala aquela frase que toda matildee diz o QUEcirc menino Isso serve pra
tudo que vocecirc pede pra sua matildee fazer pra vocecirc ateacute mesmo apagar a luz
15
16
17
Quando eu estiver em um relacionamento minha namorada natildeo vai precisar
se preocupar com traiccedilatildeo Tenho preguiccedila de ir bem aiacute na esquina comprar o patildeo
imagine sair para trair ela Mas eacute muita melodia
18
19
20
21
A vida de um preguiccediloso em si ela eacute uma grande sobrevivecircncia Natildeo muita
mas vocecirc vai ter de lutar para conseguir comida enfrentar o Vingador da Caverna do
Dragatildeo o quarto do furacatildeo e a cama do pavor Preguiccediloso pode vencer tudo isso mas
nunca conseguiraacute vencer a preguiccedila ndash pelo menos eu nunca consegui
22
23
24
25
Era tatildeo lindo quando eu dormia no sofaacute e acordava na cama graccedilas a meus
pais Mas os tempos mudaram vocecirc dorme no chatildeo e acorda no chatildeo Deixar pra fazer
amanhatilde o que pode fazer hoje isso sim eacute tiacutepico de um preguiccediloso mas agraves vezes nem
fazemos
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28
Todos noacutes temos aquela cadeira que na hora de dormir sempre colocamos
todas as coisas de cima da cama em cima dela soacute por preguiccedila de arrumar tudo em seu
devido lugar
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31
32
33
34
35
Um celular PC tablet televisatildeo tudo isso com internet uma tomada tudo do
seu lado tem como natildeo ter preguiccedila ateacute de procurar aquela seacuterie na Netflix Certo que
o celular ou o PC tem comando de voz soacute pra falar o nome da seacuterie que vocecirc quer assistir
e tecnologicamente ir direto pra seacuterie mas daacute uma preguiccedila de falar e ainda com um
lanche do lado ateacute imagino o quatildeo seria top passar o dia assim Mas tem que estudar
fazer comida dar banho do cachorro limpar a casa e lavar a louccedila Ai ai daacute preguiccedila
soacute de pensar nisso Um dia vou perder essa preguiccedila pelo menos assim espero
Fonte Dados da pesquisa
129
O uso de expressotildees coloquiais como em ldquoMas eacute muita melodiardquo (linha 17) para
mostrar o quanto daacute trabalho trair a namorada e a corrente entre os jovens ldquoo quatildeo seria top
passar o dia assimrdquo (linha 33) deu colorido agrave crocircnica
O uso de notaccedilotildees linguiacutesticas para realccedilar o texto como em ldquoocirc manhecircecircecircecircecircecircecircecircrdquo
(linha 10) que mostra prolongamento da voz o QUEcirc meninordquo (linha 13) que indica tom
de voz mais alto e forte aleacutem da pontuaccedilatildeo que exclama a pergunta O uso do travessatildeo como
forma de colocar uma explicaccedilatildeo em evidecircncia foi adotado por sugestatildeo nossa como em ldquondash
pelo menos eu nunca conseguirdquo (linha 21) tambeacutem enriqueceu o texto
Ainda houve repeticcedilatildeo de termos sem intenccedilatildeo como em ldquomas na hora de jogar
aquela bola ningueacutem tem preguiccedila mas agora fala em arrumar a camardquo (linhas 4-5)
O final foi interessante levando a audiecircncia a refletir e a se divertir tambeacutem com a
descriccedilatildeo das situaccedilotildees ndash algumas ateacute inusitadas ndash de preguiccedila mas que acontecem em algum
grau com os leitores jovens
Quadro 38 ndash PIB Eduardo ndash Tiacutetulo
1
2
3
4
5
Eu gosto muito de comida principalmente uma lasanha Porque eacute gostoso
mata a fome e deixa a gente feliz Bons tempos quando agente era crianccedila tomava aquele
belo leite antes de domir acordava de manhatilde bem cedinho com o cherinho do cafeacute na
mesa mas o tempos mudou E hoje em dia as crianccedilas dorme tarde natildeo se alimentatildeo
direito so querem comer besteras prejudicando a sauacutede
6 Era engraccedilado quando minha matildee dizia
7
8
Come a salada do prato se vocecirc comer tudinho mamatildee te dar um doccedile de
leite e agente comia
9
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11
E quando noacutes tinha dor de barriga a matildee ja vinha com o chaacute de bodo para dar
pra noacutes tomar E quando jogava bola e noacutes se arranhava a matildee ja tava nas matildeos o
merthiolate para passa na gente
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15
16
17
E quando o pessoal ia jogar bola reunia a galera e ia chamar a turma todinha
para jogar nosso campo era em um local de pissarra com muro em volta e quando a
bola cailha na casa da quela vizinha chata um de noacutes tiamos que pega o mas corajoso
se arricar a buscar e esse corajoso era eu lembro que uma vez eu chutei a bola para laacute
e machuquei um das plantas dela e vizinha fofocou para minha matildee e mamatildee colocou
eu de cartigo
130
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19
Agora as crianccedilas so querem ficar trancada dentro do quarto mechendo no seu
celular PC em geral
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28
Percebi que a infacircncia de hoje natildeo eacute mas a mesma de antigamente Hoje em
dia tamos rodiado de tecnologia crianccedilas jovens tem celulares internet computadores
mas antigamente natildeo era assim natildeo tou querendo criticar a tecnologias pois eu vivo na
tecnologia hoje Nesse tempo de hoje das tecnologia se vocecirc quer ouvir uma muacutesica eacute
soacute ir no YouTube ou fazer o download quer conversar com um amigo eacute soacute entra no
Whatsapp e conversar Mas quando era antigamente se quissemos ouvir uma
muacutesica tiamos que esperar passar no raacutedio ou comprar um CD bem ali na banca se
quisesse conversar com um amigo distante teria que ir na casa dele ou enviar uma carta
para ele
29
30
E quando era natal ano novo famiacutelia toda reunida mesa cheia de comida
deliciosas isso era muito bom
31
32 SO SEI QUE A INFACIA QUE EU TIVE FOI MUITA OTIMA lt3
Fonte Dados da pesquisa
Composto por 9 (nove) paraacutegrafos o texto de Eduardo partiu de uma situaccedilatildeo
vivida em que ele observa a passagem do tempo e as mudanccedilas de haacutebitos com uma certa
nostalgia buscando a atenccedilatildeo do leitor atraveacutes da reflexatildeo sobre a imersatildeo na tecnologia Seu
texto comeccedila com uma associaccedilatildeo da comida que ele gosta e que ldquopuxardquo outras questotildees que
perpassam a alimentaccedilatildeo o sono as brincadeiras narrando inclusive desventuras vividas
Ao final nas linhas 29-30 o paraacutegrafo parece desconexo visto que natildeo evolui e
nem se liga ao anterior
A ortografia e a pontuaccedilatildeo nesse momento natildeo haviam sido a prioridade embora
os alunos jaacute estivessem de posse do quadro autoavaliativo Eduardo foi um dos alunos que mais
se surpreendeu com a releitura do texto no tablet como haviacuteamos descrito na seccedilatildeo sobre os
procedimentos posto que os erros e sugestotildees satildeo apontados pelo aplicativo editor de textos
Ele afirmou que foi bastante uacutetil para que ele observasse os erros visto que natildeo tinha
consciecircncia dos mesmos
131
Quadro 39 ndash PFB Eduardo ndash INFAcircNCIA FELIZ
1
2
3
4
5
Eu gosto muito de comida principalmente uma lasanha Porque eacute gostoso
mata a fome e deixa a gente feliz Bons tempos quando a gente era crianccedila tomava
aquele belo leite antes de dormir acordava de manhatilde bem cedinho com o cheirinho do
cafeacute na mesa mas os tempos mudaram Hoje em dia as crianccedilas dormem tarde natildeo se
alimentam direito soacute querem comer besteiras prejudicando a sauacutede
6
7
Era engraccedilado quando minha matildee dizia Come a salada do prato se vocecirc
comer tudinho mamatildee te daacute um doce de leite e a gente comia
8
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10
E quando noacutes tiacutenhamos dor de barriga a matildee jaacute vinha com o chaacute de boldo para
dar pra tomar E quando jogaacutevamos bola e nos arranhaacutevamos a matildee jaacute estava com o
mertiolate nas matildeos para passar na gente
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E quando o pessoal ia jogar bola reunia a galera e ia chamar a turma todinha
para jogar nosso campo era em um local de piccedilarra com muro em volta e quando a bola
caiacutea na casa da aquela vizinha chata um de noacutes tinha que pegar o mais corajoso se
arriscar a buscar e esse corajoso era eu Lembro que uma vez eu chutei a bola para laacute e
machuquei um das plantas dela e a vizinha fofocou para minha matildee e mamatildee colocou
eu de castigo Quem nunca morreu de medo de voltar para casa com aquela roupa cheia
de barro e levar uma bronca
18
19
Vocecirc pode ateacute achar que eu jaacute acabei a minha infacircncia mas ainda tocirc nela pois
a infacircncia que eu era mais novo natildeo eacute mas a mesma do que a de hoje
20
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Agora as crianccedilas soacute querem ficar trancadas dentro do quarto mexendo no seu
celular PC em geral
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Percebi que a infacircncia de hoje natildeo eacute mas a mesma de antigamente Hoje em
dia estamos rodeados de tecnologia Crianccedilas jovens tem celulares internet
computadores mas antigamente natildeo era assim Natildeo estou querendo criticar a tecnologia
pois eu vivo na tecnologia hoje Nesse tempo de hoje se vocecirc quer ouvir uma muacutesica eacute
soacute ir no YouTube ou fazer o download Quer conversar com um amigo eacute soacute entrar no
WhatsApp e conversar Mas quando era antigamente se quiseacutessemos ouvir uma muacutesica
tiacutenhamos que esperar passar no raacutedio ou comprar um CD bem ali na banca Se quisesse
conversar com um amigo distante teria que ir na casa dele ou enviar uma carta para ele
30
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Pois agora as crianccedilas jaacute respondem com ignoracircncia para seus pais Se eu
resmungasse para minha matildee pelo menos um Taacute bom taacute bom mamatildee jaacute me batia Ela
ainda me colocava de joelho no chatildeo e eu morrendo de chorar mamatildee dizia Engole o
132
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choro mas eu natildeo sabia engolir o choro Seraacute que tinha que pegar um copo para
colocar as minhas laacutegrimas do meu choro Natildeo sei mas eu acho que eacute melhor natildeo
arriscar de me levantar e apanhar mais ainda
36 O mais engraccedilado eacute que chinela de matildee sempre acerta [
37 Mesmo apanhando
38 SOacute SEI QUE A INFAcircNCIA QUE EU TIVE FOI MUITO OacuteTIMA lt3
Fonte Dados da pesquisa
O texto teve uma ampliaccedilatildeo e o aluno pediu ajuda agrave professora-pesquisadora para
a correccedilatildeo da pontuaccedilatildeo e tambeacutem da ortografia para ldquoevitar aquela coisa toda vermelha
professorardquo que seria rever no tablet o editor mostrando os erros Bastante empenhado Eduardo
colocou suas impressotildees lado bom e ruim para que seu leitor pudesse acompanhar o que seria
uma infacircncia adequada Nas linhas 18-19 em ldquoVocecirc pode ateacute achar que eu jaacute acabei a minha
infacircncia mas ainda tocirc nela pois a lsquoinfacircncia que eu era mais novorsquo natildeo eacute mas a mesma do que
a de hojerdquo Valeu a discussatildeo com os colegas e com a professora-pesquisadora a respeito dessa
nostalgia visto que o autor ainda eacute um adolescente de 15 anos
O final convenhamos embora natildeo seja muito paciacutefico natildeo deixa de causar o riso
no leitor visto que em ldquoMesmo apanhandordquo (linha 37) as reticecircncias deixam o pensamento
em aberto e o leitor conclui pelo exposto que ainda assim valia a pena a infacircncia menos
tecnoloacutegica e mais fora de casa
Quadro 40 ndash PIB Estela ndash Tiacutetulo ldquoDown= bullyingrdquo
1
2
Antigamente eu natildeo me importava tanto mas hoje penso bastante sobre o
assunto por que as pessoas praticam o bullying
3
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Na minha opiniatildeo a praacutetica de bullying eacute desnecessaacuteria pois noacutes natildeo
ganhamos nada em humilharmenosprezar o proacuteximo natildeo eacute mesmo eacute bem melhor ser
gentil ser solidaacuterio aceitar os defeitos do proacuteximo
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Conheccedilo uma garota chamada Beatriz jovem de dezenove anos(19) que tinha
siacutendrome de Down ela era uma garota bem extrovertida amigaacutevel carinhosa etc
Muitos a criticavam por conter essa siacutendrome por ser diferente Ela tinha seu tinha seu
lado carinhoso mas tambeacutem tinha o seu lado revoltadobravo e todos criticavam-na por
ser diferente por ter esse seu lado ldquobipolarrdquo pelo fato dela mudar de humor tatildeo
facilmente
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Muitos faziam o possiacutevel para evitar sua presenccedila por perto eles a eles
simplesmente natildeo aceitavam o fato dela ter aquela siacutendrome pra eles ela natildeo era ldquoigualrdquo
a eles eles deveriam aceitaacute-la da maneira que ela nasceu da maneira em que ela foi
gerada
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Chamavam-na por apelidos maldosos e preconceituosos como por exemplo
doida (pelo simples fato dela ter siacutendrome de Down que a diferenciava das demais
pessoas) de retardada de doente chamavam-na de feia ridiacuteculaetc
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Ao sofrer esses preconceitos ela sempre revidavasempre reagia com agressotildees
e xingamentos terriacuteveis o que agravava cada vez mais a situaccedilatildeo Acho que por ela
conter essa doenccedila ela natildeo levava muito a seacuterios esse preconceito essa indiferenccedila
acho que pelo fato de ela conter essa doenccedila desde a formaccedilatildeo de seu feto deve ter
ocorrido algumas alteraccedilotildees em seu ceacuterebro na parte mentalo que prejudica muito a
crianccedila em questotildees de aprendizado de se socializar e que a levava a considerar essas
praacuteticas de bullying como uma brincadeira
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E tambeacutem sua matildee natildeo era aquele tipo de matildee que se interessava como foi o
dia na escola se as aulas foram boas essas coisas que normalmente as matildees fazem E
ela tambeacutem natildeo morava junto a seu pai pois creio que era divorciado de sua matildee
moravam somente ela sua matildee e sua irmatilde mais nova de dezessete anos (17)
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Atualmente a situaccedilatildeo ainda se repete por falta de atenccedilatildeo dos pais e da
proacutepria viacutetima do bullying
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(Na minha opiniatildeo ela soacute precisa de um pouco mais de atenccedilatildeo e compreensatildeo
dos pais e tenho certeza que esse problema jaacute haveria sido resolvido)
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E vocecirc leitor o que faria se vocecirc fosse viacutetima de bullying denunciaria ou
preferiria guardar pra si
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(Isso natildeo eacute um texto qualquer eacute tambeacutem um alerta uma ldquocampanhardquo pra vocecirc
vitima ou praticante do bullying pense no proacuteximo alerte-se muitas vezes essas piadas
brincadeiras esses preconceitos passam dos limites e acabam se tornando grandes
ofensas o que levam as viacutetimas a profundas depressotildees e ateacute mesmo ao suiciacutedio vamos
acabar com isso)
41 chega de bullying
Fonte Dados da pesquisa
134
Estela comeccedila seu texto com um paraacutegrafo que faz uma introduccedilatildeo-enquadramento
lanccedilando um questionamento ao seu leitor surgido de uma situaccedilatildeo observadavivida que ela
narra ao longo dos 12 (doze) paraacutegrafos No 10ordm a autora conversa com explicitamente com o
leitor como no modelo apresentado para a produccedilatildeo A O foco narrativo eacute mantido como
narrador observador do que acontece poreacutem levando o leitor a refletir sobre o problema real do
bullying com a intenccedilatildeo de causar impressotildees no leitor como empatia reflexatildeo e ateacute emoccedilatildeo
O final natildeo parece caracterizar-se como o de uma crocircnica literaacuteria lembrando o
penuacuteltimo paraacutegrafo uma sequecircncia injuntiva com a intenccedilatildeo de levar o leitor a modificar seu
comportamento mostrando um ponto de vista criacutetico a respeito da situaccedilatildeo Possui
personagens descrevendo a menina Beatriz e seu comportamento sua matildee e menciona pai e
irmatilde Possui um tiacutetulo interessante pelo trocadilho se podemos assim dizer com a palavra
down Down eacute a siacutendrome mencionada no texto e de iniacutecio o sinal de igual indica que ter
siacutendrome de Down eacute de se esperar de algum modo que a pessoa sofra bullying Poreacutem a aluna
sabe que down em inglecircs quer dizer ldquoabaixordquo o que resultaria numa livre traduccedilatildeo ldquoabaixo
o bullyingrdquo Estela emprega em diversos momentos os sinais de pontuaccedilatildeo adequadamente e
no geral os paraacutegrafos estatildeo bem organizados embora tenha havido repeticcedilatildeo desnecessaacuteria de
palavras no 4ordm paraacutegrafo
Quadro 41 ndash PFB Estela ndashTiacutetulo DOWN= BULLYING
1
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Antigamente eu natildeo me importava tanto mas hoje penso bastante sobre o
assunto por que as pessoas praticam o bullying
3
4
5
A praacutetica de bullying eacute desnecessaacuteria pois noacutes natildeo ganhamos nada em
humilhar o proacuteximo natildeo eacute mesmo Eacute bem melhor ser gentil ser solidaacuterio aceitar os
defeitos do proacuteximo
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Conheci uma garota chamada Beatriz jovem de dezenove anos que era
portadora da siacutendrome de Down Era uma garota bem extrovertida amigaacutevel carinhosa
etc Ela tinha seu tinha seu lado carinhoso mas tambeacutem tinha o seu lado revoltado e
todos criticavam-na por ser diferente por ter esse seu lado ldquobipolarrdquo pelo fato dela mudar
de humor tatildeo facilmente
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Muitos faziam o possiacutevel para evitar sua presenccedila por perto Simplesmente
natildeo aceitavam o fato dela natildeo ser ldquoigualrdquo a eles enquanto que deveriam aceitaacute-la da
maneira que ela nasceu da maneira em que ela foi gerada
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Chamavam-na por apelidos maldosos e preconceituosos como por exemplo
doida (pelo simples fato dela ser portadora de Down que a diferenciava das demais
pessoas) de retardada de doente chamavam-na de feia ridiacuteculaetc
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Ao sofrer esse preconceito ela revidava Sempre reagia com agressotildees e
xingamentos terriacuteveis o que agravava cada vez mais a situaccedilatildeo Acho que pelo fato de
ela ter Down desde a formaccedilatildeo de seu feto deve ter ocorrido algumas alteraccedilotildees em seu
ceacuterebroo que prejudica muito a crianccedila em questotildees de aprendizado de se socializar
poreacutem isso natildeo a impedia de considerar essas praacuteticas de bullying como algo tatildeo seacuterio
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Atualmente a situaccedilatildeo ainda se repete por falta de atenccedilatildeo dos pais Sua matildee
natildeo era aquele tipo de matildee que se interessava como foi o dia na escola se as aulas foram
boas essas coisas que normalmente as matildees fazem Ela soacute precisa de um pouco mais de
atenccedilatildeo e compreensatildeo dos pais e tenho certeza que esse problema jaacute teria sido
resolvido
27 E vocecirc leitor como agiria se fosse viacutetima de algum tipo de bullying
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Pare e pense na situaccedilatildeo que ocorrera com essa garota Pense Como agiria se
fosse viacutetima ou tivesse observado uma situaccedilatildeo como essa Tambeacutem imagine se vocecirc
se sentiria bem se sofresse certos preconceitos certas ofensas E tambeacutem peccedilo-lhe
venha pensar antes de ldquotentarrdquo praticar esses atos infracionais contra algueacutem Se ponha
no lugar da viacutetima
33 chega de bullying
Fonte Dados da pesquisa
O tiacutetulo foi mantido Os paraacutegrafos em geral ficaram bem organizados Houve
evoluccedilatildeo no emprego dos sinais de pontuaccedilatildeo Evitou a repeticcedilatildeo desnecessaacuteria de palavras e
buscou definir visto que estava em duacutevida segundo ela mesma sobre quais termos usar
Partiu como jaacute haviacuteamos identificado de uma situaccedilatildeo observadavivida Conversa
com o leitor como no exemplo ldquonatildeo eacute mesmordquo (linha 4) ou em ldquoE vocecirc leitorrdquo (linha 27)
buscando leva-lo a refletir sobre a situaccedilatildeo O final eacute interessante muito embora natildeo o
reconheccedilamos como caracteriacutestico de uma crocircnica literaacuteria Mostra discretamente ao leitor seu
ponto de vista a respeito da situaccedilatildeo buscando proporcionar-lhe um momento de reflexatildeo
Descreve bem a Beatriz e superficialmente a matildee poreacutem com caracteriacutesticas
adequadas agrave situaccedilatildeo Apoacutes a anaacutelise dos textos B dos alunos estabelecemos um graacutefico a
respeito de sua evoluccedilatildeo para melhor visualizaccedilatildeo dos resultados nessa etapa Vejamos a seguir
136
Graacutefico 8 ndash Avaliaccedilatildeo das crocircnicas B
Fonte dados da pesquisa
A partir da anaacutelise dos textos dos alunos que frequentaram todas as aulas e se
engajaram nas atividades da SD percebemos que houve na maioria dos itens avaliados uma
sensiacutevel melhora corroborando com o anteriormente dito que os alunos ao tomarem contato
com seus textos de uma primeira produccedilatildeo escrita se orientados e incentivados a reler se
autoavaliar e a ouvir sugestotildees podem sim progredir no sentido de se tornarem escritores mais
haacutebeis e conscientes das etapas que regem o processo de escrita de textos E esse processo se
feito com frequecircncia comeccedila a se automatizar e facilita o aprendizado de qualquer gecircnero que
se venha trabalhar
533 Uma nova reescrita
Retomando seu texto A PI e PF a aluna Ana pediu a oportunidade de reescrevecirc-lo
visto que em sua releitura afirmou que natildeo havia feito apropriadamente e que ao final de todas
as atividades ela percebia o quanto natildeo tinha desenvolvido ainda os procedimentos adequados
para a produccedilatildeo de um texto o que inclui as etapas de releitura autocriacutetica reflexatildeo
reelaboraccedilatildeo e reescrita Segue assim o texto de Ana que chamaremos PFA2
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Avaliaccedilatildeo das crocircnicas B
PI-B PF-B
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Quadro 42 ndash PFA2 Ana ndash Tiacutetulo O que eacute ser chato
1 Como saber quando vocecirc estar sendo chato
2 Bom depois de ler um dos textos maravilhosos do Anaximandro Amorim
3 o chato da vez despertou uma vontade em mim de me aprofundar no assunto
4
5 Eacute muito difiacutecil dizer o que de fato eacute ser chato ou melhor listar tudo o que eacute pura
6 chatice demoraria horas e horas Vocecirc se considera chato
7 Sabe quando vocecirc estar sendo chato Olha muito cuidado um chato nunca
8 se acha chato digo isso com toda convicccedilatildeo
9
10 Conheccedilo uma menina ela eacute da minha escola graccedilas
11 a Deus natildeo eacute da minha sala Ameacutem
12 Ela tem uma mente aberta uns gosto legais mas cara
13 ela desconhece a palavra limites isso a torna very chata
14 uma mina linda de opiniotildees legais que natildeo sabe ver quando natildeo a querem
15 por perto quando ela estar atrapalhando e natildeo entende
16 quando o papo ja ta chato e a pessoa ta fugindo dela mas mesmo assim
17 acha que a pessoa ta super interessada e ela se engana e
18 acaba se tornando uma chata eu a considero minha amiga
19 ela me apoia e me sempre da uma levantada na minha auto-estima
20 uma garota interessante agraves vezes e por tempos curtos ela eacute
21 daquele tipo de pessoas que a gente passa comprimenta e
22 natildeo para pra conversar so quando ela chama e as vezes ainda invento desculpas
23 pra natildeo ir e se vou quando passa de cinco minutos eu jaacute
24 fico SU-FO-CA-DA parece que ela estraga o papo
25
26 Enfim ser chato eacute natildeo saber quando vocecirc ta forccedilando a barra
27 eacute natildeo reconhecer quando vocecirc estar sendo chato
28 ser chato eacute natildeo ter limites afinal tudo tem Natildeo eacute mesmo Fonte Dados da pesquisa
Por fim Ana reescreveu seu texto colocando-o em 5 (cinco paraacutegrafos) e o elaborou
visando ao que a instruccedilatildeo da atividade requer um texto que possa inspirar reflexatildeo sobre o
que eacute ser chato e o que eacute ser legal poreacutem sem colocar a questatildeo do botatildeo de bloqueio da vida
real Atraveacutes dos exemplos Ana conduziu seu leitor a refletir atendendo aos criteacuterios de partir
de uma situaccedilatildeo vividaobservada como vemos nas linhas 10-24 e conversando com o leitor
como percebemos nas marcas linguiacutesticas em ldquoComo saber quando vocecirc estar sendo chatordquo
(linha 1) ldquoVocecirc se considera chatordquo (linha 6) ldquoSabe quando vocecirc estar sendo chatordquo (linha
7) e ldquoNatildeo eacute mesmordquo (linha 28) e descreve uma personagem ldquouma menina ela eacute da minha
escolardquo (linha 10) que inseriu em seu texto para ilustrar a situaccedilatildeo
Apesar de Ana ainda deixar a desejar em outros aspectos tanto textuais quanto
formais de convenccedilotildees da escrita percebemos que ela evoluiu no criteacuterio organizaccedilatildeo de
138
paraacutegrafos e emprego dos sinais de pontuaccedilatildeo Em ldquograccedilas a Deus natildeo eacute da minha sala
Ameacutemrdquo ela separa o termo Ameacutem do resto da frase com a viacutergula entendendo que eacute uma
expressatildeo que merecia realce e usa o ponto de exclamaccedilatildeo para expressar seu aliacutevio Ana
demonstra conhecer que o uso de marcas linguiacutesticas como o uso de maiuacutesculas e a separaccedilatildeo
silaacutebica podem dar forccedila a uma palavra fazendo-a ganhar maior expressividade como em ldquoSU-
FO-CA-DArdquo na linha 24 Ao longo de seu texto Ana emprega muitas palavras do cotidiano
giacuterias inclusive e marcas da oralidade ndash o que natildeo necessariamente eacute um problema em uma
crocircnica literaacuteria poreacutem conveacutem relembrar a questatildeo da experiecircncia e habilidade no uso de tais
de modo a natildeo cansar o leitor
Sua estrateacutegia para iniciar o texto foi partir da intertextualidade (ldquoBom depois de
ler um dos textos maravilhosos do Anaximandro Amorim lsquoo chato da vezrsquo despertou uma
vontade em mim de me aprofundar no assuntordquo linhas 1-3) Desse modo Ana fez uso da
informaccedilatildeo de uma de nossas aulas de quando trabalhamos com a crocircnica ldquoCarta de punhordquo
cuja leitura em sala e atividade de exploraccedilatildeo do texto mostrava que o autor cronista com
publicaccedilotildees frequentes no jornal buscava nas proacuteprias produccedilotildees retomar seus assuntos
passados Uma curiosidade que foi despertada em Ana para o momento havia sido ldquoe pode
isso professorardquo ao que respondemos afirmativamente poreacutem o sucesso da estrateacutegia viria
com o tempo e a experiecircncia de cada autor da intimidade que esse tivesse com a liacutengua materna
e com a situaccedilatildeo de produccedilatildeo tudo dentro do contexto
Consideramos assim que o uso da estrateacutegia pela aluna foi um ponto positivo em
sua participaccedilatildeo posto que caracteriza envolvimento com o projeto e as aulas Ademais desejar
fazer mais uma reescrita quando natildeo havia mais a exigecircncia pois como dissemos jaacute haviacuteamos
encerrado os moacutedulos e estaacutevamos reescrevendo o texto para circulaccedilatildeo social eacute um ponto
bastante positivo no tocante aos procedimentos de escritor apoacutes algum tempo ela releu seu
texto achou-o inadequado ou insuficiente para as caracteriacutesticas do que se estava estudando e
produzindo e tomou a iniciativa de refazecirc-lo
139
6 CONCLUSAtildeO
O foco principal de nosso trabalho foi o desenvolvimento da competecircncia
comunicativa escrita Para tanto consideramos o processo tendo como produto o texto cujo
valor real foi-lhe atribuiacutedo valor social com direito a circulaccedilatildeo levado a puacuteblico
O gecircnero escolhido foi a crocircnica literaacuteria Poderia ter sido outro visto que o trabalho
com o processo de escrita dentro de uma sequecircncia didaacutetica comporta qualquer gecircnero textual
Poreacutem como dissemos na introduccedilatildeo a escolha do gecircnero partiu de uma motivaccedilatildeo pessoal
Passado todo o processo da escolha de como trabalhar ateacute a publicaccedilatildeo dos textos
julgamos oportuno avaliar todos os acircmbitos
Por percebermos ao longo dos anos de experiecircncia que vaacuterios alunos produzem
seus textos sem recorrer agrave etapa do planejamento a da revisatildeo e a da reescrita visamos entatildeo
nesta pesquisa devido agrave ausecircncia de tais procedimentos responder agraves seguintes questotildees-
problema desdobradas a partir da questatildeo baacutesica como ensinar a produccedilatildeo escrita no 9ordm ano do
Ensino Fundamental enfocando o ato de redigir como um processo visto que haacute estudantes
deste niacutevel que normalmente natildeo tecircm o haacutebito de planejar seus textos
A partir desse questionamento nos perguntamos
a) que atividades pedagoacutegicas possibilitam aos alunos a consciecircncia de que eacute
preciso desenvolver estrateacutegias proacuteprias (recorrer agrave etapa do planejamento da
revisatildeo e da reescrita) para produzir seus textos
b) de que forma o conhecimento sobre a estrutura composicional de um gecircnero
pode ajudar a superar as dificuldades
c) a comparaccedilatildeo das produccedilotildees inicial e final permitiraacute associar a melhoria do
desempenho da competecircncia escrita e a apropriaccedilatildeo do gecircnero crocircnica literaacuteria ao
desenvolvimento da sequecircncia de atividades
Buscando encontrar uma praacutetica que resultasse em textos melhores fizemos uso
em nossa sequecircncia de atividades de teorias que norteassem o trabalho com a escrita como
processo com a sequecircncia didaacutetica com gecircnero textual e com o gecircnero crocircnica narrativa A
importacircncia desse aparato teoacuterico para o professor que visa minimizar as dificuldades dos
alunos e diminuir a praacutetica da escrita improvisada permite-lhe compreender como se daacute o
processo cognitivo durante a produccedilatildeo de um texto o que o leva a considerar para seu trabalho
com os alunos aspectos como audiecircncia e circulaccedilatildeo social reais como praacuteticas de uma
140
sociedade letrada o que vai aleacutem da preocupaccedilatildeo com a gramaacutetica e a ortografia apenas de
um texto produzido somente para o professor e a nota
Ao longo da aplicaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica confirmamos o que a experiecircncia de
sala ao longo dos anos apontava o conhecimento sobre a estrutura composicional de um gecircnero
pode ajudar a superar as dificuldades de escrita por mostrar ao aluno o que precisa estar contido
em seu texto Os exemplos que o professor venha a trabalhar em sala com a turma mostram
modelos de gecircneros com aspectos que podem sim ser imitados de iniacutecio ateacute que quando o
aluno ganhe experiecircncia possa manejar melhor as palavras e as ideias que deseje colocar para
seu leitor assumindo assim um estilo proacuteprio de escrita
Como professora realizar a pesquisa nos permitiu refletir sobre a nossa proacutepria
praacutetica posto que superar as proacuteprias deficiecircncias no ensino da produccedilatildeo textual foi uma grande
inquietaccedilatildeo Reconhecer as praacuteticas nos foi importante para saber em que aspectos ainda temos
desafios a superar e para reforccedilar e desenvolver aspectos positivos em noacutes Ter clareza de como
se situam os iacutendices de avaliaccedilatildeo na turma na escola no municiacutepio no estado e no paiacutes tambeacutem
foi bastante importante Normalmente a tendecircncia coletiva estaacute em descrer na educaccedilatildeo poreacutem
mesmo que muito lentamente observamos progresso histoacuterico na concepccedilatildeo de aprendizado da
liacutengua materna no valor que eacute dado agrave leitura e agrave escrita
Apoacutes as oficinas a anaacutelise dos objetivos elencados ao iniacutecio de todo o processo
com dados comparativos entre produccedilatildeo inicial e produccedilatildeo final constatamos a relevacircncia da
hipoacutetese baacutesica os alunos do 9ordm ano produziram textos na etapa final das oficinas utilizando-
se das caracteriacutesticas do gecircnero textual crocircnica literaacuteria compreendendo que escrita eacute interaccedilatildeo
valorizando o uso social da escrita de acordo com a proposta teoacuterica de gecircnero preparando
seus textos pautados nas etapas do processo de redigir conforme as orientaccedilotildees dadas em sala
de aula
Sobre nossas hipoacuteteses secundaacuterias pensamos que eacute possiacutevel sim motivar os
alunos a escrever ao desenvolver com eles atividades voltadas para os diferentes subprocessos
e habilidades envolvidos no ato de redigir Poreacutem para haver o engajamento e resultar em uma
turma que escreva textos compatiacuteveis com o grau de desenvolvimento de habilidades esperadas
para o ano que cursam enfrentamos desafios como o aspecto do imediatismo e da recompensa
A natildeo adesatildeo de vaacuterios alunos ao projeto se deu por este natildeo valer nota Portanto
sem uma recompensa imediata natildeo houve o engajamento Nossos alunos infelizmente natildeo
estatildeo habituados a pensar a longo prazo a planejar alcanccedilar metas nem integrar atividades que
lhes facilitem a vida estudantil no futuro Talvez ndash pensamos ndash nem a cultura escolar abranja
141
ainda um trabalho soacutelido e constante nesse sentido Apesar disso haacute professores que se
empenham em fazer um trabalho constante de leitura e na medida do possiacutevel de escrita ao
qual fizemos nossa contribuiccedilatildeo
Por uacuteltimo apoacutes a realizaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica proposta ao contrastarmos as
produccedilotildees inicial e final dos alunos principalmente no que concerne agrave produccedilatildeo realizada para
fins de circulaccedilatildeo social real considerando uma audiecircncia real verificamos um desempenho
mais satisfatoacuterio em relaccedilatildeo agrave competecircncia discursiva realizada no gecircnero crocircnica literaacuteria
visto que os processos de escrita foram considerados no ato da produccedilatildeo de suas proacuteprias
crocircnicas
Para que essa produccedilatildeo fosse efetiva houve que se ter em mente na elaboraccedilatildeo dos
moacutedulos que qualquer tarefa de escrita bem-sucedida requer o exerciacutecio da escrita e da reescrita
Esse processo de aperfeiccediloamento dos textos demanda da parte do professor planejamento
para conhecer as necessidades de natureza geral da turma para trabalhar as caracteriacutesticas de
um gecircnero bem como as de natureza individual do aluno como as limitaccedilotildees no
reconhecimento do gecircnero textual na progressatildeo narrativa nas convenccedilotildees da escrita culta
Pensamos que poderia ser interessante para o aperfeiccediloamento desta SD ampliar e
diversificar mais os textos que compotildeem o moacutedulo de reconhecimento para antes da primeira
produccedilatildeo dos alunos visando oferecer uma visatildeo mais ampla do gecircnero Aleacutem disso
percebemos que tambeacutem eacute preciso que enquanto professores trabalhemos recorrentemente a
instruccedilatildeo da produccedilatildeo com os alunos no sentido de que eles compreendam que natildeo apenas um
aspecto seja escolhido para ser trabalhado mas todos os que nela estatildeo contidos
Aplicar uma SD eacute um trabalho que exige bastante do professor pois se trata de
conhecer o perfil de cada turma em que se decide aplicar um projeto de escrita diagnosticar
planejar os moacutedulos e pensar que o produto pode e deve ter circulaccedilatildeo no meio social Para
tanto eacute importante frisar que a rede de ensino acolha e apoie o professor motivando-o e
possibilitando-lhe as condiccedilotildees necessaacuterias e adequadas para o desenvolvimento de projetos de
escrita dentre as quais podemos mencionar formaccedilatildeo continuada que incentive os projetos de
escrita reforccedilo agraves condiccedilotildees dos materiais das escolas manter o nuacutemero de alunos adequado
nas salas evitando a superlotaccedilatildeo
No tocante aos alunos especialmente os que integraram todos os encontros de todos
os moacutedulos notamos que estes afirmaram que amadureceram ao longo do processo aprendendo
gradualmente a ter controle de sua escrita relendo quando necessaacuterio refletindo buscando
142
clareza Tambeacutem apreciaram muito poder opinar sobre os textos dos colegas visto que estavam
se apropriando das caracteriacutesticas do gecircnero estudado e sentiram seguranccedila para colaborar
Quanto ao trabalho com nuacutemero reduzido de alunos ao permanecerem no projeto
apenas aqueles que se interessaram em melhorar seu desempenho pessoal em leitura e produccedilatildeo
conforme eles mesmos disseram o grupo menor ficou mais coeso e permitiu-lhes liberdade
para trabalhar fosse com discussotildees sugestotildees ou mesmo para dar apoio ateacute mesmo na hora
de ler em voz alta para todos Foi um progresso coletivo e reafirmou a amizade entre o grupo e
tambeacutem conosco por ver que a colaboraccedilatildeo era acompanhada de afetividade
A produccedilatildeo dos textos para circulaccedilatildeo social escrevendo no celular foi produtiva
visto que oportunizou aos alunos o uso da tecnologia que eles afirmam preferir permitindo
agravequeles que natildeo gostam muito de produzir textos com os recursos tradicionais (folha de
produccedilatildeo e caneta) participarem ativamente do processo de produccedilatildeo textual Essa tecnologia
pode ser considerada para futuros trabalhos com alunos do ensino fundamental
Gostariacuteamos de mencionar que este trabalho do iniacutecio ao fim tratou com questotildees
de motivaccedilatildeo e inquietaccedilotildees reais e pessoais A queda abrupta do nuacutemero de participantes
desde o momento da adesatildeo ateacute o da produccedilatildeo para a circulaccedilatildeo eacute reflexo dos desafios que
qualquer professor enfrenta em sua sala cotidianamente No entanto as aulas regulares
diferentemente da proposta da aplicaccedilatildeo do projeto tecircm consigo uma carga de obrigatoriedade
ao exigir a frequecircncia a assiduidade a entrega de tarefas e as avaliaccedilotildees ndash itens que compotildeem
a nota para a aprovaccedilatildeo anual
Em decorrecircncia dessa obrigatoriedade se contrastarmos o desempenho dos alunos
no projeto ao seu desempenho regular na sala de aula de qualquer disciplina natildeo apenas na
liacutengua portuguesa veremos estudantes sem uma motivaccedilatildeo que os conecte ao desenvolvimento
das aulas natildeo permitindo o amadurecimento de suas capacidades e habilidades Como
professora da turma que aplicou o projeto sem exigecircncia de notas percebi que os alunos em
sua maioria natildeo gostariam de estar na escola Muitos natildeo veem ainda sentido em estar presentes
uma tarde inteira 20 (vinte) horas semanais sentados copiando tendo preguiccedila de elaborar
reflexotildees
Esse comportamento desmotivado que se generaliza em escolas de diversos pontos
do Paiacutes desanima tambeacutem os professores gerando a consequecircncia de ao inveacutes de buscarem
novas estrateacutegias para as aulas acabarem mantendo a praacutetica e ainda se conformando com o
senso comum de que ldquoesses alunos natildeo querem nadardquo fora a conjuntura social e econocircmica que
143
por si soacute eacute desanimadora ao limitar recursos e investimentos em educaccedilatildeo desvalorizando a
figura do professor
Gostariacuteamos de acrescentar que sim eles querem Mas ainda natildeo sabem ao certo o
que querem E talvez o que eles possam vir a querer ainda natildeo esteja sendo claramente
apresentado pois atividades tradicionais natildeo os atraem a querer conhecer mais e aprender mais
sobre determinados assuntos que podem acrescentar-lhes agrave vida diaacuteria Ficaria aiacute um desafio ao
professor ao projeto poliacutetico pedagoacutegico da escola e agraves redes de educaccedilatildeo baacutesica repensar o
curriacuteculo para os estudantes deste seacuteculo
Como pudemos observar este trabalho teve sim lacunas que podem ser sanadas
com outras pesquisas Apesar disso acreditamos que a pesquisa-accedilatildeo que realizamos pocircde
aleacutem de ofertar contribuiccedilotildees no acircmbito acadecircmico ao evidenciar vitoacuterias e expor os desafios
encorajar os alunos participantes da pesquisa principalmente os que tiveram a compreensatildeo de
que sua participaccedilatildeo lhes valeria para aleacutem de integrar pontos para uma nota no sentido de que
se permitiram evoluir como produtores de texto em sua liacutengua materna direito que lhes cabe
desde o momento em que satildeo reconhecidos cidadatildeos e que ingressam nas escolas brasileiras
144
REFEREcircNCIAS
AMARAL Heloiacutesa Questatildeo de gecircnero o gecircnero textual crocircnica Revista na Ponta do
Laacutepis Satildeo Paulo n 10 p 12-13 dez 2008
ANTUNES Irandeacute Muito aleacutem da gramaacutetica por um ensino de liacutenguas sem pedras no
caminho Satildeo Paulo Paraacutebola 2007
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VIEIRA Iuacuteta Lerche Escrita para que te quero In VIEIRA Iuacuteta Lerche Escrita para que
te quero Fortaleza Ediccedilotildees Demoacutecrito Rocha UECE 2005 Coleccedilatildeo Magister p 13-14
VIEIRA Iuacuteta Lerche Abordagem imitativa da redaccedilatildeo trabalhando com formatos e gecircneros
In VIEIRA Iuacuteta Lerche Escrita para que te quero Fortaleza Ediccedilotildees Demoacutecrito Rocha
UECE 2005 Coleccedilatildeo Magister p159-171
148
APEcircNDICE A ndash ATIVIDADES PROPOSTAS PARA A SEQUEcircNCIA DIDAacuteTICA
Para compor o momento da apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo da sequecircncia de atividades
sensibilizamos os alunos com as caracteriacutesticas baacutesicas das crocircnicas contemporacircneas que foram
descritas na seccedilatildeo correspondente e resgatadas agora organizaccedilatildeo de sua narrativa em primeira
ou terceira pessoa quase sempre como quem conta um caso em tom intimista uma narraccedilatildeo
em que o autor insere em seu texto trechos de diaacutelogos permeados por expressotildees cotidianas
escrevendo como quem conversa com seus leitores como se estivessem muito proacuteximos uso
de temaacuteticas que tratam de reflexotildees sobre a vida social poliacutetica econocircmica por vezes de forma
humoriacutestica outras de modo mais seacuterio outras com jeito poeacutetico permitindo o pertencimento
do gecircnero agrave esfera literaacuteria emprego de linguagem que mescla aspectos da escrita com outros
da oralidade preferecircncia pela brevidade leveza faacutecil acesso e envolvimento Esperamos que
ao final da atividade que aleacutem de respondida por escrito mas principalmente oralmente os
alunos atentem para essas caracteriacutesticas e possam ter um norte quando chegar o momento de
sua primeira produccedilatildeo
Atividade nordm 1
Prova Falsa
Seacutergio Porto (Stanislaw Ponte Preta)
Quem teve a ideia foi o padrinho da caccedilula ndash ele me conta Trouxe o cachorro de
presente e logo a famiacutelia inteira se apaixonou pelo bicho Ele ateacute que natildeo eacute contra isso de se ter
um animalzinho em casa desde que seja obediente e com um miacutenimo de educaccedilatildeo
mdash Mas o cachorro era um chato mdash desabafou
Desses cachorrinhos de raccedila cheio de nheacutem-nheacutem-nheacutem que comem comidinha
especial precisam de muitos cuidados enfim um chato de galocha E como se isto natildeo
bastasse implicava com o dono da casa
mdash Vivia de rabo abanando para todo mundo mas quando eu entrava em casa vinha
logo com aquele latido fininho e antipaacutetico de cachorro de francesa
Ainda por cima era puxa-saco Lembrava certos poliacuteticos da oposiccedilatildeo que
espinafram o ministro mas quando estatildeo com o ministro ficam mais por baixo que tapete de
poratildeo Quando cruzavam num corredor ou qualquer outra dependecircncia da casa o desgraccedilado
rosnava ameaccedilador mas quando a patroa estava perto abanava o rabinho fingindo-se seu
amigo
mdash Quando eu reclamava dizendo que o cachorro era um ciacutenico minha mulher
brigava comigo dizendo que nunca houve cachorro fingido e eu eacute que implicava com o
ldquopobrezinhordquo
Num raacutepido balanccedilo poderia assinalar o cachorro comeu oito meias suas roeu a
manga de um paletoacute de casimira inglesa rasgara diversos livros natildeo podia ver um peacute de sapato
que arrastava para locais incriacuteveis A vida laacute em sua casa estava se tornando insuportaacutevel
Estava vendo a hora em que se desquitava por causa daquele bicho cretino Tentou mandaacute-lo
embora umas vinte vezes e era uma choradeira das crianccedilas e uma espinafraccedilatildeo da mulher
mdash Vocecirc eacute um desalmado mdash disse ela uma vez
Venceu a guerra fria com o cachorro graccedilas agrave maacute educaccedilatildeo do adversaacuterio O
catildeozinho comeccedilou a fazer pipi onde natildeo devia Vaacuterias vezes exemplado prosseguiu no feio
viacutecio Fez diversas vezes no tapete da sala Fez duas na boneca da filha maior Quatro ou cinco
vezes fez nos brinquedos da caccedilula E tudo culminou com o pipi que fez em cima do vestido
novo de sua mulher
149
mdash Aiacute mandaram o cachorro embora mdash perguntei
mdash Mandaram Mas eu fiz questatildeo de daacute-lo de presente a um amigo que adora
cachorros Ele estaacute levando um vidatildeo em sua nova residecircncia
mdash Ueacutehellip mas vocecirc natildeo o detestava Como eacute que arranjou essa sopa pra ele
mdash Problema da consciecircncia mdash explicou mdash O pipi natildeo era dele
E suspirou cheio de remorso
(Disponiacutevel em httpcontobrasileirocombrprova-falsa-cronica-de-sergio-porto-stanislaw-ponte-preta Acesso
em 2612017)
Questotildees
1 Quantos personagens aparecem na histoacuteria Quais vocecirc diria que satildeo os principais
2 Quem teve a ideia foi o padrinho da caccedilula ndash ele me conta
A frase ele me conta eacute um recurso que mostra que a conversa de dois amigos eacute
repassada a uma terceira pessoa Quem eacute ela
3 Que recursos linguiacutesticos mostram a fala do marido e dono da casa onde estava o
cachorro
4 E quais identificam a fala do amigo
5 Onde o marido e seu amigo parecem conversar
6 A partir da fala do marido e das explicaccedilotildees do amigo quais eram as caracteriacutesticas do
cachorro
7 () e eu eacute que implicava com o ldquopobrezinhordquo
Por que pobrezinho estaacute entre aspas
8 Quando aconteceu a histoacuteria
9 Qual foi o problema da histoacuteria
10 Como foi resolvido
11 O destino dado ao cachorro surpreendeu ao amigo Por quecirc
12 Afinal quem era culpado na histoacuteria
13 Que tom predominantemente foi dado a esse texto Humor ironia criacutetica reflexatildeo
lirismo
14 Qual foi o tema principal do texto Vocecirc apontaria outros temas que aparecem na
leitura
15 Que comparaccedilotildees o autor faz com o cachorro Haacute alguma criacutetica Explique
16 Vocecirc conhece o significado das palavrasexpressotildees a seguir Veja
nheacutem-nheacutem-nheacutem chato de galocha puxa-saco
espinafrar espinafraccedilatildeo desquitava guerra fria
vidatildeo sopa
17 Que palavras satildeo usadas no texto para se referir agrave esposa
18 E suspirou cheio de remorso
Explique o valor dessa frase para o contexto da histoacuteria
Atividade nordm 2
Abandono de animais eacute crime e precisa ser denunciado
Por Canal do Pet | 26072016
150
Aleacutem do abandono de animais praacuteticas como bater negar aacutegua ou alimento tambeacutem
satildeo consideradas crime saiba como denunciar
Infelizmente o abandono de animais estaacute cada dia mais presente nos noticiaacuterios
Mesmo com tantas campanhas contra a praacutetica muita gente ainda comete esse crime -
principalmente quando eacute eacutepoca de feacuterias mesmo natildeo havendo um nuacutemero exato as estatiacutesticas
dos institutos de pesquisa afirmam que nos periacuteodos de feacuterias haacute um pico no abandono de
animais Existem muitos relatos de donos que deixam os cachorros em pet shops veterinaacuterios
e hoteacuteis para cachorro e simplesmente nunca mais voltam para buscaacute-los Esse problema pode
estar atrelado a decisatildeo precipitada de ter um animal de estimaccedilatildeo
A Lei 960598 (Lei de Crimes Ambientais) prevecirc os maus-tratos como crime O
decreto 2464534 (Decreto de Getuacutelio Vargas) determina quais atitudes podem ser consideradas
como maus-tratos Qualquer pessoa que for testemunha de um abandono de
animais domeacutesticos ou exoacuteticos pode ir agrave delegacia mais proacutexima A Promotora de Justiccedila
permite a denuacutencia anocircnima Mas para que a denuacutencia seja realizada vocecirc precisa ter certeza
do crime pois uma acusaccedilatildeo falsa eacute outro crime Aleacutem disso no momento da denuacutencia na
delegacia eacute preciso passar o maior nuacutemero de informaccedilotildees possiacuteveis em relaccedilatildeo ao infrator
como seu endereccedilo residencial ou comercial
Caso o animal esteja abandonado em um terreno baldio ou propriedade particular
por exemplo natildeo hesite em invadir o local para salvar o bichinho a sua accedilatildeo seraacute amparada
pela lei O decreto de lei nuacutemero 284840 artigo 24 considera a invasatildeo para salvamento de
um animal em perigo uma atitude de necessidade e portanto natildeo haveraacute nenhum tipo de
puniccedilatildeo
Aleacutem do abandono outras praacuteticas satildeo consideradas crimes pela lei Uma delas eacute o
atropelamento de um animal sem que haja a prestaccedilatildeo de assistecircncia por parte do condutor do
veiacuteculo tambeacutem eacute ilegal Se presenciar essa situaccedilatildeo anote a placa do carro hora e local Outra
eacute a ameaccedila de envenenamento Bater espancar prender por correntes recusar aacutegua e comida e
obrigar ao trabalho excessivo tambeacutem satildeo praacuteticas proibidas
Algumas pessoas preferem natildeo denunciar pelo fato do infrator ser algueacutem proacuteximo
um amigo ou familiar por exemplo Mas lembre-se de que eacute possiacutevel efetuar a denuacutencia de
maus tratos ou abando de animais de forma anocircnima Por isso ao presenciar qualquer situaccedilatildeo
que possa colocar um animal em risco tire foto grave um viacutedeo tenha provas concretas do
acorrido e denuncie Vocecirc seraacute apenas a testemunha o Estado faraacute o restante
Disponiacutevel em httpcanaldopetigcombrcuidados2016-07-26abandono-de-animaishtml Acesso em 22 de
agosto de 2017
Atividade nordm 3
O chato da vez Anaximandro Amorim
Ai meu Deus eu sou muito chato afirmou um amigo em uma conversa informal
Engraccedilado Eu natildeo o acho chato muito pelo contraacuterio Gosto da companhia dele Seraacute que ele
natildeo estaria sendo muito duro consigo mesmo Ou seraacute que eu sou tatildeo chato quanto ele
E vocecirc leitor Vocecirc eacute chato Todo mundo eacute chato ningueacutem eacute chato Do alto desses
meus quase quarenta anos de vida percebi que chatice natildeo eacute qualidade eacute estado de espiacuterito
Dependo de quem quando e onde E sem menos perceber vocecirc leitor pode ser o chato da
vez Cuidado
Foi o que me aconteceu esses dias Um colega insinuou que eu estava sendo chato
Foi num arroubo de fuacuteria o cidadatildeo estava tendo um ataque de nervos Dizem que eacute assim que
151
as verdades vecircm agrave tona Engraccedilado sempre achei que o havia tratado com distinccedilatildeo Talvez
essa fosse tal ldquochaticerdquo ser educado com as pessoas num mundo cada vez mais carente disso
Bom melhor ser chato do que grosso neacute
Particularmente faccedilo tudo para natildeo ser chato Tento ser discreto falar o menos
possiacutevel ouccedilo mais pergunto quase nada sobre a vida particular das pessoas Acho chato
quando fazem isso comigo Natildeo gosto de pegar no peacute A reciacuteproca eacute verdadeira Mas acho que
agraves vezes por medo da chatice acabo chateando algumas pessoas Haacute uma linha muito tecircnue
nesse negoacutecio todo Chato eacute natildeo saber a hora de ultrapassaacute-la E no fundo todo mundo a
ultrapassa
Esses dias aliaacutes fui agrave forra Havia um chato que me chateava haacute uns dois anos
Chato de rede social Daqueles que veem a gente uma duas vezes no maacuteximo e jaacute acham que
podem tomar certas liberdades Meu pavio eacute ateacute meio longo mas chegou uma hora que natildeo
deu Bloqueei o sujeito Estava chato demais Eacute uma pena que na vida real a gente natildeo tenha
esse botatildeo Ia ter tanta gente para bloquear
Em todo caso discordo desse meu amigo Acho que dois chatos natildeo se datildeo Ou ele
estava chato ou era eu Ou na posiccedilatildeo em que estaacutevamos natildeo dava para saber Se bem que
chato que eacute chato natildeo se acha chato Os outros eacute que acham Assim melhor terminar esta
crocircnica que estaacute uma grande chatice por aqui Antes que algueacutem ache definitivamente que o
chato da vez sou eu
Disponiacutevel em httpanaximandroamorimcombrAbreEmDIV]ajaxasplink=amateriaampid=127 Acesso em
24 mai 2017
Questotildees
1 Vamos falar de marcas de autoria
a) De quem eacute a voz que fala no texto Que idade tem essa voz Essa voz fala com algueacutem
Com quem Mostre alguma(s) passagem que indique isso
b) Onde a situaccedilatildeo se passa Haacute algum lugar especiacutefico
c) Esse texto estaacute no passado no presente ou no futuro
d) Do que trata a situaccedilatildeo Ela surgiu de alguma ocasiatildeo especiacutefica Se sim qual
2 O que o autor nos leva a entender que eacute ldquoser chatordquo
3 Que sensaccedilotildees esse texto despertou em vocecirc Explique
4 Vocecirc se considera um(a) chato(a) Por quecirc Em que ocasiotildees
5 Quando o assunto eacute redes sociais
a) Vocecirc tem alguma Qual
b) Com que frequecircncia vocecirc acessa
c) Vocecirc costuma escrever e postar Que tipo de material (textos fotos viacutedeos)
d) Vocecirc tem haacutebito de acompanhar postagens de algueacutem Que tipo de posts vocecirc
acompanha Costuma interagir por meio de comentaacuterios de expressatildeo de opiniatildeo
6 Vamos ver se vocecirc conhece o significado das palavrasexpressotildees a seguir
com distinccedilatildeo pegar no peacute
linha muito tecircnue fui agrave forra
7 Leia o trecho abaixo
Meu pavio eacute ateacute meio longo mas chegou uma hora que natildeo deu Bloqueei o sujeito
Estava chato demais Eacute uma pena que na vida real a gente natildeo tenha esse botatildeo Ia ter tanta
gente para bloquear
a) Qual eacute sua opiniatildeo sobre o pensamento que o autor expressa no trecho acima
b) Vocecirc tambeacutem teria gente para bloquear Por que razotildees
152
c) Agora vamos produzir Inspirado(a) nessa temaacutetica do trecho acima produza um texto
em forma de crocircnica que converse com seu leitor sobre o que eacute ser legal e ser chato a
partir de situaccedilotildees que vocecirc tenha vivenciado e ou observado Vamos determinar quem
seraacute esse leitor
bull Tem a sua idade
bull Acessa redes sociais
bull Lecirc e posta com frequecircncia
bull Interage com as postagens que estatildeo na rede seja de amigos pessoais ou apenas de
outros usuaacuterios
Antes de comeccedilar pense que sensaccedilotildees eu quer causar no meu leitor
Quero fazecirc-lo rir Se emocionar Refletir Que outras sensaccedilotildees seriam possiacuteveis
Faccedila entre 3 e 6 paraacutegrafos Vocecirc pode usar personagens que conversem e
expliquem o assunto (como em Prova Falsa) ou falar diretamente com seu leitor (como
em O chato da vez) Releia Reescreva o que natildeo estiver bem ao seu gosto Ao terminar
seu texto decirc-lhe um tiacutetulo coerente e passe a limpo na folha de produccedilatildeo Bom trabalho
Atividade nordm 4
Manias Ana Mello
Dos vaacuterios significados que meu amigo Aureacutelio apresenta o melhor diz que mania
eacute uma ideia fixa obsessatildeo Mau costume tambeacutem eacute bem significativo Ou extravagacircncia
esquisitice
Dizem por aiacute que vamos ficando velhos e as manias aumentam e se consolidam Eacute
verdade eu observo nos mais velhos do que eu Poucos conseguem controlar aquele impulso
profundo de dar sua opiniatildeo Essa eacute uma mania das mais chatas Repeti-la muitas vezes entatildeo
eacute maccedilante
Jaacute descobri tambeacutem que eacute quase inevitaacutevel ter manias na velhice muitas vecircm da
juventude mesmo condenamos e depois de um tempo fazemos igual sem cerimocircnia alguma
Uma amiga me enviou uma oraccedilatildeo sob o tiacutetulo ldquoOraccedilatildeo para ser uma velhinha
legalrdquo Vou fazer todos os dias e envio coacutepia a quem precisar Separei algumas frases as mais
interessantes
Livrai-me Senhor da tolice de achar que devo dizer algo em toda e qualquer
ocasiatildeo Deste desejo enorme que tenho de querer pocircr em ordem a vida dos outros Da tolice
de querer contar tudo com detalhes e minuacutecias e daacute-me asas para voar diretamente ao ponto que
interessa Jaacute descobri que pessoas que acertam sempre satildeo maccedilantes e desagradaacuteveis Livrai-
me de ser santa Eacute difiacutecil conviver com Santos Mas uma velha rabugenta Senhor eacute obra prima
do diabo
Acho que a oraccedilatildeo pode ser feita por pessoas jovens tambeacutem pois essas manias natildeo
satildeo exclusivas das velhinhas
Fiquei agora com uma duacutevida seraacute que escrever crocircnicas semanais e mandar para
todos os amigos eacute mania Se for azar o de vocecircs amigo eacute para isso mesmo
Enviado por Ana Mello em 02112007
Coacutedigo do texto T720831
Disponiacutevel em httpwwwrecantodasletrascombrcronicas720831
153
Acessado em 23102017
1 Quem eacute ldquomeu amigo Aureacuteliordquo
2 Que exemplos de manias a autora nos apresenta em seu texto
3 Que impressotildees esse texto causou em vocecirc
4 Segundo essa crocircnica quem tem manias Vocecirc concorda Por quecirc
5 Liste aqui manias que vocecirc sabe que tem Apoacutes terminar pense vocecirc as considera
boas ou maacutes manias Por quecirc
6 Vamos fazer um exerciacutecio de escrita Escreva uma crocircnica em que vocecirc fale de suas
manias Converse com o leitor conte a ele suas experiecircncias Faccedila comparaccedilotildees com
pessoas que vocecirc conhece Vocecirc pode inclusive comparar-se hoje a vocecirc daqui a uns
quarenta anos Como seraacute que suas manias vatildeo ser Vatildeo parecer com as das pessoas
mais velhas que vocecirc conhece e convive mas cujas manias vocecirc tanto critica Seratildeo
manias diferentes Seratildeo melhores ou piores
Obs coloque um tiacutetulo interessante e que chame a atenccedilatildeo de seu leitor
Pense que seu texto poderia ser publicado num blog ou mesmo numa paacutegina de rede
social ndash sendo assim que tipo de leitor vai ler o seu texto Ao terminar releia arrume
as ideias e passe a limpo para a folha de produccedilatildeo textual
Atividade nordm 5
Pacto apoacutes morte natildeo podia ver faca Nonato Reis
Essa histoacuteria de prometer retornar ao mundo dos vivos apoacutes o desenlace soa
esquisito e jaacute colocou muita gente em maus lenccediloacuteis A morte pelo misteacuterio que carrega incute
a curiosidade de tentar desvendaacute-la e saber o que de fato existe por traacutes dela Eacute uma questatildeo
que permaneceraacute insoluacutevel ateacute que a ciecircncia elucide-a se eacute que isso algum dia ocorreraacute
Enquanto natildeo atingimos esse estaacutegio temos que ficar com o relato daqueles que se dizem
viacutetimas ou privilegiados de experiecircncias poacutes-tuacutemulo
No Ibacazinho na Palmela no Muricituba e no Marimar era comum as pessoas
fazerem promessas agrave semelhanccedila do pacto selado entre Alvinho e Pau Ferro Na maioria das
vezes o defunto natildeo conseguia voltar deixando frustrados ou aliviados aqueles com quem fez
o acordo Foi o caso de Rui um primo meu que ldquose acertourdquo com Ponina aquela tia-avoacute
descrita em uma de minhas crocircnicas
Rui era um dos poucos que natildeo tinham medo da Tapera de Maria Fernandes Tanto
que decidiu erguer casa justo ali naquele retacircngulo amaldiccediloado e por muito tempo antes de
se casar foi morador solitaacuterio do lugar sem nunca jamais ter visto qualquer coisa fora do
universo dos vivos
Os dois combinaram que aquele que morresse primeiro viria dar sinal ao outro na
noite posterior ao sepultamento Ponina que devia ser uns 50 anos mais velha do que ele tinha
a maior probabilidade de ficar com a obrigaccedilatildeo de cumprir o trato e foi o que aconteceu Poreacutem
os dias e as noites passaram apoacutes o falecimento dela sem que a finada desse qualquer sinal da
sua presenccedila para Rui
Eu tambeacutem caiacute nessa besteira de fazer uma promessa com uma menina do primeiro
ano meacutedio e vivi uma situaccedilatildeo constrangedora Rosa era baixinha corpo bem feito cabelos no
estilo pigmaleatildeo excelente aluna fera em Matemaacutetica e Fiacutesica Nossa aproximaccedilatildeo se deu por
estrateacutegia de aprendizado
154
Eu tinha facilidade em Portuguecircs e Redaccedilatildeo uacutenicas mateacuterias que ela natildeo dominava
e precisava de reforccedilo em Fiacutesica e Matemaacutetica Selamos um pacto de ajuda muacutetua nessas
disciplinas que depois se estendeu para depois da vida ldquoSe eu morrer primeiro eu apareccedilo
para ti em plena Rua Grande apinhada de gente e se tu fores primeiro do que eu tu me surges
agrave noite no meu quartordquo
Eu natildeo entendi o porquecirc da escolha do local da minha apariccedilatildeo mas aceitei Os
anos se passaram eu entrara para a universidade perdi o contato com ela Um dia caminhando
pela Rua Grande veacutespera de Natal gente feito formiga dei de cara com aquela menina
tampinha cabelos no mesmo estilo de antes que diante de mim abriu um enorme sorriso e abriu
os braccedilos para me acolher Eu caiacute das nuvens mas antes que ela me alcanccedilasse danei a correr
feito louco fazendo zigue-zague entre as pessoas ateacute esbarrar num orelhatildeo e me estatelar no
chatildeo o rosto sangrando Assustada Rosa ajoelhou-se diante de mim e quis saber o motivo
daquela reaccedilatildeo ldquoCara o que eacute isso Tu viu fantasmardquo Eu baixei a cabeccedila o coraccedilatildeo prestes a
explodir e natildeo consegui dizer nada
Situaccedilatildeo pior viveu o professor Auriacutelio Vieira de Andrade que fizera um pacto
desses com um primo ainda menino Ele cresceu veio estudar em Satildeo Luiacutes e levou anos para
retornar ao interior Um belo dia em feacuterias na casa paterna Auriacutelio conversava com a matildee em
volta do fogatildeo de lenha quando do nada surgiu o menino da promessa e o pegou pelo braccedilo
dizendo ldquoVamos eu vim te buscarrdquo
Ele natildeo se lembrava mais da estoacuteria nem do menino Pensou que se tratava de uma
brincadeira e reagiu com naturalidade ldquoCalma para onde vocecirc quer me levarrdquo O menino
respondeu ldquopara o aleacutemrdquo Auriacutelio sorriu ldquomas eu ainda natildeo quero ir para o aleacutemrdquo O menino
natildeo se deu por vencido ldquoNatildeo importa a tua vontade vocecirc fez um pacto comigo e eu vim te
buscarrdquo
Foi entatildeo que o caso ressurgiu liacutempido na memoacuteria de Auriacutelio e ele viu que a coisa
era seacuteria A matildee percebendo a gravidade da situaccedilatildeo poreacutem sem avistar o menino tratou de
ajudar o filho segurando-o pelo braccedilo mas notou que havia uma energia ali muito maior que a
resistecircncia de ambos e apelou aos ceacuteus pedindo socorro divino
Auriacutelio jaacute desaparecia na porta da rua quase que levado aos trambolhotildees
Desesperada a matildee comeccedilou a rezar o Pai Nosso e o Credo e soacute assim conseguiu ter o filho de
volta Auriacutelio poreacutem viveu dias amargos ldquoPassei quase um mecircs deprimido Soacute pensava em
suiciacutedio Natildeo podia ver faca perto de mimrdquo
Crocircnica escrita em janeiro de 2017
Questotildees
Parte I ndash Vocabulaacuterio
a) Vocecirc conhece estas palavras
Desenlace Incute
Insoluacutevel Tapera
Pigmaleatildeo Apinhada
b) Vocecirc observa marcas de oralidade no texto Vamos destacar algumas
c) Que outras palavras ou expressotildees satildeo muito correntes no vocabulaacuterio do Maranhatildeo
Parte II ndash Compreensatildeo
1 Do que trata a histoacuteria
2 Qual eacute o foco narrativo
155
3 Que personagens aparecem na histoacuteria
4 O que eacute um pacto poacutes-morte Vocecirc sabe de algueacutem que tenha feito algum
5 Vocecirc acredita nessas histoacuterias Fale um pouco a respeito
6 No trecho ldquoSe eu morrer primeiro eu apareccedilo para ti em plena Rua Grande apinhada
de gente e se tu fores primeiro do que eu tu me surges agrave noite no meu quartordquo
Qual seria a vantagem para cada um nos locais das apariccedilotildees E as desvantagens
7 Como seria feito o seu pacto caso um dia vocecirc resolvesse fazecirc-lo
8 No que esse texto que vocecirc leu se assemelha com uma histoacuteria de terror E no que ela
se diferencia
9 Se esse texto fosse uma notiacutecia de jornal seria escrito da mesma forma Qual seria a
diferenccedila da linguagem
10 No uacuteltimo paraacutegrafo haacute a frase
ldquoFoi entatildeo que o caso ressurgiu liacutempido na memoacuteria de Auriacutelio e ele viu que a coisa
era seacuteriardquo
Se vocecirc fosse o Auriacutelio como resolveria a situaccedilatildeo
Atividade nordm 6
A cara da rua Marcelo Xavier
A rua sempre traduz a imagem de determinada eacutepoca Por isso eacute tatildeo interessante
Em cenas urbanas do seacuteculo XVIII XIX vemos carruagens mulheres de vestidos longos e
homens de terno e chapeacuteu No comeccedilo do seacuteculo XX automoacuteveis pretos mulheres de vestidos
mais curtos e homens ainda de terno e chapeacuteu Nos anos 1960 e 1970 automoacuteveis coloridos
mulheres de minissaia e homens sem terno e sem chapeacuteu
E agora na segunda deacutecada do seacuteculo XXI qual eacute a cara da rua Talvez vocecirc natildeo
saiba responder Eacute que ela passa todos os dias diante do seu nariz e vocecirc natildeo a vecirc Ou vocecirc
apenas vecirc algumas partes ldquomais atraentesrdquo do corpo dela A cara da rua continua invisiacutevel Vale o esforccedilo encare-a Como a um espelho Eacute divertido eacute necessaacuterio Esqueccedila o colesterol de
carros que entopem as vias mire os humanos
Repare bem as mulheres estatildeo de vestidos de todos os comprimentos de calccedilas
coladas se equilibrando em agulhas altiacutessimas carregadas de adereccedilos Normal
Os homens ah Os homens deram um salto esteacutetico rumo agrave libertaccedilatildeo Lembra
aqueles cavalheiros sisudos das ruas antigas com ternos de cores soacutebrias e chapeacuteus iguais
Esquece
Os novos machos estatildeo de brincos colares vistosos boneacutes e tecircnis coloridos
camisetas de todo tipo ebermudas
Natildeo as antigas que natildeo passavam de calccedilas curtas discretas As de hoje satildeo
espalhafatosas se expressam Multicoloridas exibem uma diversidade visual que beira o
infinito Geomeacutetricas abstratas figurativas iacutedolos super-heroacuteis paisagens flores ondas do
156
mar nuvens paacutessaros animais palavras de ordem apologias Combinam texturas
inimaginaacuteveis demarcam aacutereas visuais em recortes absurdamente livres ndash numa perna listras
diagonais na outra xadrez Um tsunami criativo que sai arrastando os antigos princiacutepios de
harmonia do universo da moda E o que eacute intrigante natildeo se repetem
Esse surto visual atinge seu aacutepice quando as bermudas-alucinoacutegenas se juntam a
camisetas estampadas tecircnis astronaacuteuticos boneacutes cheios de atitude e tatuagens ndash nos braccedilos nas
panturrilhas no pescoccedilo laacute estatildeo dragotildees coroas de espinho mulheres folhas de maconha
juras de amor
Vocecirc pode natildeo gostar do que vecirc natildeo se reconhecer na imagem que estaacute no espelho
mas essa eacute a cara da rua do seu tempo De certa forma a sua cara
XAVIER Marcelo A cara da rua e outras crocircnicas Satildeo Paulo Saraiva 2013
Vamos refletir sobre o texto
1 A partir da leitura vocecirc consegue deduzir de que situaccedilatildeo observada no cotidiano o autor
partiu para escrever essa crocircnica
2 O autor fez a construccedilatildeo do seu texto de forma simples poreacutem criativa por meio de
comparaccedilotildees para mostrar a cara da rua ao longo do tempo Vamos identificaacute-las
No meio urbano Seacutec XVIII
XIX
Comeccedilo do
seacutec XX
Anos 19601970 do
seacutec XX
2ordf deacutecada do
seacutec XXI
Vestuaacuterio
feminino
Vestuaacuterio
masculino
3 Dessas comparaccedilotildees do visual que foram feitas ao longo do texto vocecirc encontra alguma
na rua onde mora Qual
4 E o que eacute diferente na rua onde vocecirc mora que natildeo foi citado no texto
5 Preste atenccedilatildeo aos trechos a seguir
A rua sempre traduz a imagem de determinada eacutepoca Por isso eacute tatildeo interessante
[]
Vocecirc pode natildeo gostar do que vecirc natildeo se reconhecer na imagem que estaacute no espelho
mas essa eacute a cara da rua do seu tempo De certa forma a sua cara
6 A partir da leitura do texto vocecirc consegue dizer se o autor gosta ou natildeo gosta da cara da
rua que ele descreve Explique sua resposta
7 Que palavras ou expressotildees no texto mostram que o autor conversa com seu leitor ao longo do texto Sublinhe-as
8 Para que puacuteblico vocecirc acha que essa crocircnica estaacute direcionada Explique sua resposta
9 Vocecirc faraacute a seguir a seguinte atividade leia essa crocircnica de Marcelo Xavier para uma
pessoa em casa Apoacutes a leitura anote as impressotildees e opiniotildees dela sobre a atual cara
da rua sejam positivas ou negativas Ao final pergunte a essa pessoa para quem vocecirc
leu se o texto provocou uma impressatildeo boa ou ruim se ela o achou bem ou mal escrito
se a fez refletir sobre a vida e a mudanccedila dos tempos e qual a conclusatildeo a que ela chegou
depois dessa reflexatildeo
Ao final dessa atividade passe a limpo seu registro e traga para a aula
seguinte para discussatildeo coletiva
157
Atividade nordm 7
A Carta de punho
Demitri Tulio
DAS ANTIGAS 23102016
Algumas pessoas ainda escrevem cartas E bom que ainda o fazem Missivas
escritas agrave matildeo e a tinta preta da caneta dando vida agrave vontade de chegar perto do outro
Ou de ser escutado como se pensasse alto querendo ser ouvido das lonjuras que a
vida vai criando entre ex-amores amigos que deixaram de se ter de filho e matildee separados por
asas
Particularmente antes de agora laacute longe quando fui mais menino queria ter escrito
muitas cartas Devo ter rabiscado umas duas e nunca as mandei agrave destinataacuteria
Primeiro porque tinha vergonha de natildeo saber ortografia Achava difiacutecil (ainda
acho) a gramaacutetica brasileira e me amuava em vergonha de grafar ou concordar alguma coisa
ldquoerradardquo para quem eu queria dizer de mim
Entatildeo ficava horas e dias tentando
rascunhar correto e catando palavras peludas
trechos do dicionaacuterio frase de escritores que eu
queria ser Um paraacutegrafo dois e rasgava a folha
do caderno Serei levado a pagode
E por mais que eu lesse Graciliano
para Heloiacutesa os labirintos e as encruzilhadas da Clarice e os retratos de dona Leopoldina sobre
o Brasil e seu desenxabido Pedro I natildeo conseguia nem copiaacute-los
Loacutegico carta eacute um ser entranhado do remetente Eacute quase um pulmatildeo um rim um
coraccedilatildeo Eacute parte do corpo que se doa no instante em que a esferograacutefica vai sendo guiada pelo
papel
E natildeo era meu o afeto de Graciliano Natildeo eram minhas as inquietaccedilotildees de Clarice
E era de dona Leopoldina aquele incocircmodo de calor a saudade das oacuteperas da Aacuteustria as caccediladas
de animais do Brasil ldquoprimitivordquo
Pois bem queria ter escrito recebido e respondido mais cartas Hoje mando emails
Eacute bom mas carta tinha uma espera que natildeo sei dizer
Semana passada depois de mais de 30 anos sem algueacutem me endereccedilar uma carta
de papel e caneta eis que recebo Natildeo foi de pretendente Sempre esperei por uma dessas mas
talvez a falta de boniteza tenha me privado de
Foi de um leitor da Coluna Um moccedilo de mais de 92 anos que teve a gentileza de
tirar um tempo e me enviar um envelope pelos Correios Carimbado dois selos e o trato por
ldquoIlmo Srrdquo
ldquoCaro (posso) Sr Demitri Sauacutede Sou assinante drsquo O Povo haacute deacutecadas e portanto
seu leitor antigo Natildeo soacute leitor mas tambeacutem admirador pela defesa da natureza (paacutessaros do
Cocoacute) e pelo seu estilo diferente (neologismos bem lsquocolocadosrsquo) e assuntos (temas) originais
para suas crocircnicas
Criei coragem para lhe escrever apoacutes ler sua crocircnica (artigo) lsquoEntatildeo Venha
comigorsquo excelente para quem como eu jaacute passou dos 92 e concorda com suas colocaccedilotildees
sobre a velhice
Aceite meus cumprimentos e votos de muitos anos de lsquoescrevinhaccedilatildeorsquo
Cordialmente (ex-cordis) Santos Rochardquo
158
E ainda escreve um paraacutegrafo derradeiro apoacutes as despedida e a assinatura ldquoPS Natildeo
eacute que eu queira lsquosubir aleacutem da chinelarsquo mas me parece que no penuacuteltimo paraacutegrafo de sua
crocircnica deveria ter escrito lsquose casariarsquo em vez de lsquocasaria-sersquo Discurperdquo
O envelope branco com um carimbo de uma agecircncia dos Correios do bairro
Meireles trazia ainda um texto datilografado (Ser Jovem do general Douglas Mac-Arthur) e
um recorte de jornal com um sermatildeo de Santo Agostinho
Pois fico agradecido pela decisatildeo de escrever a carta do tempo dedicado Pelos
minutos pensando em o que escrever Por cada palavra casada com cada frase Pela respiraccedilatildeo
para pensar em quem nem se conhece
Pela caneta preta identificando o remetente
Pela ida aos Correios ou por se dar ao trabalho de pedir algueacutem que fosse
Pela gentileza de ler a Das Antigas
Como o senhor mandou dizer ldquoNatildeo eacute por ter vivido um certo nuacutemero de anos que
envelhecemos envelhecemos porque abandonamos o nosso idealrdquo
Sem mais fico por aqui
Acesso em 31 ago 2017
httpwww20opovocombrappcolunasdasantigas20161022noticiasdasantigas3665372a-carta-de-
punhoshtml
Vocabulaacuterio
Desenxabido Adjetivo 1desprovido de gosto de sabor insiacutepido insosso2a que
falta interesse particular ou graccedila marcado pela repeticcedilatildeo aborrecido monoacutetono
Ex abundantia cordis Da abundacircncia do coraccedilatildeo Com sinceridade
Curiosidade
Pedro nasceu na manhatilde de 12 de outubro de 1798 no Palaacutecio Real de Queluz
Portugal Ele foi nomeado em homenagem a Satildeo Pedro de Alcacircntara e seu nome completo era
Pedro de Alcacircntara Francisco Antoacutenio Joatildeo Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael
Joaquim Joseacute Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim Desde seu nascimento recebeu o prefixo
honoriacutefico de Dom
Atividade
Vamos observar a crocircnica Marque o que acha adequado
Sim Natildeo
Partiu de uma situaccedilatildeo observadavivida
Conversa com o leitor
Possui o foco narrativo bem determinado (narrador personagem ou
narrador observador ou narrador onisciente)
Leva o leitor a refletir
Causa impressotildees no leitor como riso choro reflexatildeo emoccedilatildeo
Possui um final interessante
Mostra discretamente ao leitor seu ponto de vista a respeito da situaccedilatildeo
Possui alguma descriccedilatildeo de lugarobjetopersonagem
Possui um tiacutetulo
Emprega adequadamente os sinais de pontuaccedilatildeo
Evita repeticcedilatildeo desnecessaacuteria de palavras
Possui paraacutegrafos bem organizados
159
Atividade nordm 8
Amor de macumba Fabriacutecio Carpinejar
Quando algum amigo diz que recebeu macumba da ex fico com ciuacuteme Com dor
de cotovelo
Isso que eacute amor grandioso Amor de verdade
Sempre olho na minha esquina para ver se natildeo tem nenhuma encomenda para mim
Mas nunca chega esse sedex do amor
Macumba eacute sedex 10 do amor
Eacute muita paixatildeo odiar algueacutem com tanto zelo Eacute muito capricho gastar seu tempo e
fazer um trabalhinho para prender a pessoa ao seu coraccedilatildeo
Eacute muita disposiccedilatildeo
Eacute muita energia
Eacute muito querer
Eacute muito desejo
Eacute a superaccedilatildeo de todos os incocircmodos de todos os vexames de todos os medos
Eacute muito luxo ter uma amada pagando para os santos mexerem com vocecirc pagando
a parcela antecipada da eternidade
Isso que eacute amor aleacutem da vida
Isso que eacute vontade de permanecer junto
Eu aceitaria qualquer prova de doaccedilatildeo amarraccedilatildeo vodu letras de macarratildeo
pipoca
Nem precisa roubar minha cueca daria a melhor da minha gaveta
Ai que inveja
No lugar da galinha preta poderia oferecer o chester que sempre recebo no final do
ano
Estaacute aqui parado no congelador Sem uso
E as velas na minha esquina ainda ajudariam a iluminaccedilatildeo puacuteblica
Amor de macumba eacute amor para sempre
Disponiacutevel em httpcarpinejarblogspotcombr201402amor-de-macumbahtml
Acesso em 2 de agosto de 2017
Vamos refletir sobre o texto
1 A partir da leitura vocecirc consegue deduzir de que situaccedilatildeo observada no cotidiano o autor
partiu para escrever essa crocircnica
2 Qual parece ser a opiniatildeo do autor a respeito do tema Utilize trechos do texto que
justifique a sua resposta
3 Que reflexotildees se pode perceber na leitura desse texto
4 Que impressotildees essa crocircnica causa no leitor (riso choro reflexatildeo emoccedilatildeo alguma
outra)
160
Atividade nordm 9
Sr Google Pacheco
SR GOOGLE PACHECO
27 outubro 2012 Juliano Martinz
Quando chegavam ao escritoacuterio pela manhatilde o senhor Google Pacheco sempre
estava laacute Sentado a sua mesa ou correndo de um lado para outro mantinha-se no seu
memoraacutevel ritmo agitado produccedilatildeo beirando o frenesi Os funcionaacuterios o admiravam Era
sempre o primeiro a chegar e o uacuteltimo a sair (embora ningueacutem tenha testemunhado qualquer
um destes acontecimentos)
ndash Acho que ele dorme no escritoacuterio ndash alguns arriscavam
Outros jaacute apelavam pro exagero
ndash Dizem que ele nunca dorme
Sr Google Pacheco O chefe do departamento de marketing Baixo e gordinho
Feiccedilatildeo inocente quase boba Chamava a atenccedilatildeo pelas roupas sempre de cores viacutevidas
cintilantes Geralmente boneacute azul camiseta vermelha calccedilas amarelas e tecircnis verde Agraves vezes
invertia as cores mas nunca as abandonava Roupas estranhas para um homem de nome
estranho A personagem perfeita para textos humoriacutesticos
Quando era novo na empresa ainda apenas um singelo desconhecido causava
confusatildeo com seu nome Liam o crachaacute e diziam
ndash Bom dia sr Goacutegle
Ele corrigia sempre sorridente e simpaacutetico
ndash Natildeo natildeo Pronuncia-se Guacutegou
ndash Guacutegou
ndash Eacute a centeacutesima potecircncia do nuacutemero 10
ndash Uau
Ateacute o nome carregava seu estigma de gecircnio absoluto O Sr Google era uma
enciclopeacutedia ambulante Parecia ser senhor de todo o conhecimento Portador de soluccedilatildeo para
os mais variados problemas na ponta da liacutengua Para cada desafio proposto no dia a dia da
empresa vertia um turbilhatildeo de soluccedilotildees precisas e automaacuteticas
Com sua eficiecircncia derramada a cada suspiro de auxiliar no departamento de
marketing chegou agrave chefia em poucos meses Com o passar dos dias e semanas a experiecircncia
acumulando-se nas veias parecia saber o que as pessoas queriam antes de terminarem de falar
ndash Seu Google o senhor sabe que horashellip
ndash hellip seraacute a reuniatildeo do conselho
ndash Isso Isso mesmo
ndash 16 horas
Era um gecircnio Disposiccedilatildeo tamanha natildeo demorou muito e comeccedilaram a abordar
assuntos mais pessoais
ndash Sr Google preciso de sua ajuda Como faccedilo para conhellip
ndash Conquistar sua melhor amiga
ndash Uau Como o senhor sabe
E derramava soluccedilotildees Como se natildeo bastasse a prontidatildeo comeccedilou a oferecer
vaacuterias opccedilotildees
ndash Sr Google chocolate daacutehellip
ndash Espinha Celulite Coacutelica no bebecirc
ndash Eacuteeacuteeacuteeacutehellip
161
ndash Sono Dor de cabeccedila Azia
ndash Euhellip
ndash Enxaqueca Energia Gases
ndash Isso ndash disse ruborizada ndash Gases
ndash Ahaacute Vocecirc estaacute com sorte menina
Ateacute o poderoso e inacessiacutevel dono da empresa cuja agenda diaacuteria se resumia a
constantes viagens de negoacutecio pela Europa comeccedilou a passar mais tempo no Brasil E quase
todos os dias ia na empresa Mas nem entrava em sua sala Jaacute ia direto para a sala do senhor
Google Os curiosos e fofoqueiros discutiam o teor das conversas atraacutes daquelas portas Uns
diziam que falavam apenas sobre bolsa de valores Acontecimentos mundiais tendecircncias
econocircmicas essas coisas Outros achavam que a conversa soacute passeava pela arena dos assuntos
pessoais
Independentemente do conteuacutedo destes encontros a portas fechadas a empresa soacute
crescia E os funcionaacuterios eram unacircnimes em admitir depois da chegada do Sr Google a vida
de todos eles se tornou mais completa e intensa
Certo dia o Sr Google natildeo apareceu para trabalhar A princiacutepio pairou uma tensatildeo
camuflada no ar Agrave medida que as horas foram passando e o Sr Google natildeo aparecia fez-se
um clima de desespero Comeccedilaram a ligar para o seu celular mas dava como nuacutemero
inexistente Algueacutem tem o telefone da casa dele O resultado foi o mesmo nuacutemero inexistente
Onde ele morava mesmo Ningueacutem sabia O desespero instalou-se no preacutedio Ningueacutem
conseguia fazer nada Ficavam andando de um lado para outro perdidos Nem a dona Gertrudes
conseguiu fazer o cafeacute
Durante dias ningueacutem trabalhou Duacutevidas sobre o andamento da empresa ndash diziam
que accedilotildees da empresa estavam tendo quedas vertiginosas Os funcionaacuterios sentiam-se curvados
ante o peso dos problemas pessoais que natildeo conseguiam resolver sem a ajuda e os conselhos
do Sr Google
Duas semanas depois e metade deles natildeo mais aparecia na empresa Dois ou trecircs
mergulharam de cabeccedila no alcoolismo Outro se jogou da ponte E o poderoso dono da empresa
quem diria foi flagrado diversas vezes em prantos cambaleando pelos corredores
fantasmagoacutericos e mal iluminados da empresa que veio agrave falecircncia dias depois
Quanto ao sr Google nunca mais foi visto Dizem por aiacute que montou um site e
ficou milionaacuterio Mas comprovar mesmo ningueacutem nunca comprovou
Acesso em 2 de agosto de 2017
Disponiacutevel em httpcorrosivacombrcronicas-engracadascronica-humoristica-google-
pacheco
Atividade
1 Vocecirc conhece o vocabulaacuterio a seguir
Memoraacutevel
Frenesi
Singelo
Vertia
Turbilhatildeo
Vertiginosas
2 O texto trata de maneira bem humorada de uma situaccedilatildeo cotidiana Qual
3 O texto traz em si alguma reflexatildeo Qual
162
ANEXO A ndash DISTRIBUICcedilAtildeO POR NIacuteVEL DE PROFICIEcircNCIA
Liacutengua Portuguesa do 9ordm Ano do Ensino Fundamental
Distribuiccedilatildeo por Niacutevel de Proficiecircncia - Liacutengua Portuguesa do 9ordm Ano do Ensino
Fundamental
Niacutevel Descriccedilatildeo do Niacutevel - O estudante provavelmente eacute capaz de
Niacutevel 0
Desempenho menor
que 200
Niacutevel 1
Desempenho maior
ou igual a 200 e
menor que 225
Os estudantes provavelmente satildeo capazes de Reconhecer
expressotildees caracteriacutesticas da linguagem (cientiacutefica jornaliacutestica etc)
e a relaccedilatildeo entre expressatildeo e seu referente em reportagens e artigos
de opiniatildeo Inferir o efeito de sentido de expressatildeo e opiniatildeo em
crocircnicas e reportagens
Niacutevel 2
Desempenho maior
ou igual a 225 e
menor que 250
Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes
provavelmente satildeo capazes de Localizar informaccedilotildees expliacutecitas em
fragmentos de romances e crocircnicas Identificar tema e assunto em
poemas e charges relacionando elementos verbais e natildeo verbais
Reconhecer o sentido estabelecido pelo uso de expressotildees de
pontuaccedilatildeo de conjunccedilotildees em poemas charges e fragmentos de
romances Reconhecer relaccedilotildees de causa e consequecircncia e
caracteriacutesticas de personagens em lendas e faacutebulas Reconhecer
recurso argumentativo em artigos de opiniatildeo Inferir efeito de
sentido de repeticcedilatildeo de expressotildees em crocircnicas
Niacutevel 3
Desempenho maior
ou igual a 250 e
menor que 275
Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes
provavelmente satildeo capazes de Localizar informaccedilotildees expliacutecitas em
crocircnicas e faacutebulas Identificar os elementos da narrativa em letras de
muacutesica e faacutebulas Reconhecer a finalidade de abaixo-assinado e
verbetes Reconhecer relaccedilatildeo entre pronomes e seus referentes e
relaccedilotildees de causa e consequecircncia em fragmentos de romances
diaacuterios crocircnicas reportagens e maacuteximas (proveacuterbios) Interpretar o
sentido de conjunccedilotildees de adveacuterbios e as relaccedilotildees entre elementos
verbais e natildeo verbais em tirinhas fragmentos de romances
reportagens e crocircnicas Comparar textos de gecircneros diferentes que
abordem o mesmo tema Inferir tema e ideia principal em notiacutecias
crocircnicas e poemas Inferir o sentido de palavra ou expressatildeo em
histoacuteria em quadrinhos poemas e fragmentos de romances
Niacutevel 4
Desempenho maior
Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes
provavelmente satildeo capazes de Localizar informaccedilotildees expliacutecitas em
artigos de opiniatildeo e crocircnicas Identificar finalidade e elementos da
163
ou igual a 275 e
menor que 300
narrativa em faacutebulas e contos Reconhecer opiniotildees distintas sobre o
mesmo assunto em reportagens contos e enquetes Reconhecer
relaccedilotildees de causa e consequecircncia e relaccedilotildees entre pronomes e seus
referentes em fragmentos de romances faacutebulas crocircnicas artigos de
opiniatildeo e reportagens Reconhecer o sentido de expressatildeo e de
variantes linguiacutesticas em letras de muacutesica tirinhas poemas e
fragmentos de romances Inferir tema tese e ideia principal em
contos letras de muacutesica editoriais reportagens crocircnicas e artigos
Inferir o efeito de sentido de linguagem verbal e natildeo verbal em
charges e histoacuteria em quadrinhos Inferir informaccedilotildees em
fragmentos de romance Inferir o efeito de sentido da pontuaccedilatildeo e da
polissemia como recurso para estabelecer humor ou ironia em
tirinhas anedotas e contos
Niacutevel 5
Desempenho maior
ou igual a 300 e
menor que 325
Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes
provavelmente satildeo capazes de Localizar a informaccedilatildeo principal em
reportagens Identificar ideia principal e finalidade em notiacutecias
reportagens e resenhas Reconhecer caracteriacutesticas da linguagem
(cientiacutefica jornaliacutestica etc) em reportagens Reconhecer elementos
da narrativa em crocircnicas Reconhecer argumentos e opiniotildees em
notiacutecias artigos de opiniatildeo e fragmentos de romances Diferenciar
abordagem do mesmo tema em textos de gecircneros distintos Inferir
informaccedilatildeo em contos crocircnicas notiacutecias e charges Inferir sentido
de palavras da repeticcedilatildeo de palavras de expressotildees de linguagem
verbal e natildeo verbal e de pontuaccedilatildeo em charges tirinhas contos
crocircnicas e fragmentos de romances
Niacutevel 6
Desempenho maior
ou igual a 325 e
menor que 350
Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes
provavelmente satildeo capazes de Identificar ideia principal e
elementos da narrativa em reportagens e crocircnicas Identificar
argumento em reportagens e crocircnicas Reconhecer o efeito de
sentido da repeticcedilatildeo de expressotildees e palavras do uso de pontuaccedilatildeo
de variantes linguiacutesticas e de figuras de linguagem em poemas
contos e fragmentos de romances Reconhecer a relaccedilatildeo de causa e
consequecircncia em contos Reconhecer diferentes opiniotildees entre
cartas de leitor que abordam o mesmo tema Reconhecer a relaccedilatildeo
de sentido estabelecida por conjunccedilotildees em crocircnicas contos e
cordeacuteis Reconhecer o tema comum entre textos de gecircneros
distintos Reconhecer o efeito de sentido decorrente do uso de
figuras de linguagem e de recursos graacuteficos em poemas e
fragmentos de romances Diferenciar fato de opiniatildeo em artigos e
reportagens Inferir o efeito de sentido de linguagem verbal e natildeo
verbal em tirinhas
Niacutevel 7
Desempenho maior
Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes
provavelmente satildeo capazes de Localizar informaccedilotildees expliacutecitas
ideia principal e expressatildeo que causa humor em contos crocircnicas e
164
ou igual a 350 e
menor que 375
artigos de opiniatildeo Identificar variantes linguiacutesticas em letras de
muacutesica Reconhecer a finalidade e a relaccedilatildeo de sentido estabelecida
por conjunccedilotildees em lendas e crocircnicas
Niacutevel 8
Desempenho maior
ou igual a 375
Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes
provavelmente satildeo capazes de Localizar ideia principal em
manuais reportagens artigos e teses Identificar os elementos da
narrativa em contos e crocircnicas Diferenciar fatos de opiniotildees e
opiniotildees diferentes em artigos e notiacutecias Inferir o sentido de
palavras em poemas
Fonte INEP (2018)
165
ANEXO B ndash DISTRIBUICcedilAtildeO DE TEXTOS FALADOS E ESCRITOS NO CONTIacuteNUO
GENEacuteRICO
Distribuiccedilatildeo dos textos de uso falados e escritos no contiacutenuo geneacuterico
Fonte MARCUSCHI (2015 p 195-196)
166
ANEXO C ndash PRODUCcedilOtildeES DOS ALUNOS
Produccedilatildeo Inicial de Ana
Produccedilatildeo Final de Ana
167
Produccedilatildeo Inicial de Rodrigo
168
Produccedilatildeo final de Rodrigo
169
Produccedilatildeo Inicial de Eduardo
170
Produccedilatildeo final de Eduardo
171
Produccedilatildeo inicial de Estela
172
Produccedilatildeo final de Estela
173
174
175
Produccedilatildeo Inicial de Celia
176
Produccedilatildeo final de Celia
177
Produccedilatildeo Inicial de Arlindo
178
Produccedilatildeo final de Arlindo
179
Produccedilatildeo Inicial de Juacutelia
180
Produccedilatildeo final de Juacutelia
181
Produccedilatildeo Inicial de Vicente
182
Produccedilatildeo final de Vicente
183
Produccedilatildeo Inicial de Graccedila
184
Produccedilatildeo final de Graccedila
185
Produccedilatildeo Inicial de Lilian
186
Produccedilatildeo final de Lilian
187
Produccedilatildeo Inicial de Heloiacutesa
188
Produccedilatildeo final de Heloisa
189
Produccedilatildeo Inicial de Eliane
190
Produccedilatildeo final de Eliane
191
Produccedilatildeo Inicial de Joana
Fonte dados da pesquisa
192
Figura 31 ndash Produccedilatildeo final de Joana
A Deus
Aos meus pais Olilia e Arnold
Aos meus filhotes Felipe e Miguel
A Maria Morena e Bilaacute in memorian
AGRADECIMENTOS
A Deus que me pocircs a realizar sonhos permitindo-me o devido aperfeiccediloamento
para que pudesse executar melhor a tarefa de contribuir para o mundo
Aos meus pais Olilia e Arnold por todo o apoio incondicional e sem esperar em
troca a vida toda e mais ainda durante o mestrado
Aos meus filhos Felipe e Miguel pela compreensatildeo da distacircncia mesmo que
passageira pela paciecircncia e pelo apoio
Agrave Prof Dr Aurea Zavam pelo carinho acolhimento e orientaccedilatildeo
Aos professores participantes da banca examinadora Pollyane Bicalho Ribeiro e
Sarah Diva da Silva Ipiranga pelo tempo pelas valiosas colaboraccedilotildees e sugestotildees
Aos colegas da 3ordf turma de mestrado ProfLetrasUFC pelas reflexotildees criacuteticas e
sugestotildees recebidas
Agraves damas do fuaacute porque satildeo as melhores amigas que se pode ter Raquel Ive
Carolina Edvania Eacuterica e Flaacutevia
A Aline pela amizade e carinho imensos essa natural forccedila que a vida lhe deu e
que tatildeo generosamente partilha
A Carla amiga de forccedila pela sensatez e ombro amigo generosidade e atenccedilatildeo
A Robson do fundo do coraccedilatildeo de quem digo que palavras natildeo descrevem essa
amizade que a gente tem
Agrave querida Nady por sua boniacutessima vontade em passar suas ldquolentes de catar pulgardquo
em minhas linhas
Ao meu tio Raimundo e a dona Gilda pela compreensatildeo e disposiccedilatildeo em ajudar a
cuidar da minha turma aqui
Agrave Semed-Satildeo Luiacutes por acreditar na figura do professor que busca capacitaccedilatildeo
profissional
Agrave coordenaccedilatildeo do Mestrado Profissional em LetrasUFC pelo incentivo aos
mestrandos
Aos nossos professores do Mestrado que em muito contribuiacuteram em nossa jornada
Agrave nossa diretora da escola Maria de Jesus Dijeacute pelo apoio e disponibilidade e por
sempre acreditar nos projetos como uma forma de acrescentar ao aperfeiccediloamento dos alunos
da escola
Aos professores e funcionaacuterios que apoiaram e colaboraram com o projeto
Aos pais e familiares que apoiaram e consentiram na participaccedilatildeo dos alunos
Aos alunos do 9ordm ano turma 91 de 2017 que integraram o projeto acreditaram em
si mesmos e agora veem seus escritos circularem socialmente
A todos os amigos colegas de trabalho alunos ex-alunos e demais pessoas que
cruzaram meu caminho deixando contribuiccedilotildees alertas liccedilotildees posso natildeo nominar um por um
aqui mas agradeccedilo sua importacircncia
Agrave CAPES pelo apoio financeiro com a manutenccedilatildeo da bolsa de auxiacutelio
ldquoSe vocecirc quiser melhorar de vida Marcie
sempre vai ter que atravessar um oceano ou um
deserto ou uma montanha Mas se de repente
vocecirc atravessar uma sala cheia de gente toda a
sua vida pode mudarrdquo (Peppermint Patty)
RESUMO
O presente trabalho versa sobre o desenvolvimento da competecircncia escrita de alunos do 9ordm ano
do Ensino Fundamental por meio de uma sequecircncia didaacutetica aplicada ao gecircnero crocircnica
visando proporcionar avanccedilos no processo de redigir Para o aporte teoacuterico daacute-se preferecircncia
agraves abordagens de gecircnero na perspectiva de Bakhtin (2011) Bazerman (2009) Bazerman e
Miller (2011) e Marcuschi (2015) A metodologia envolve uma pesquisa-accedilatildeo conforme
elucidaccedilotildees de Gil (2008) O procedimento se daacute pela aplicaccedilatildeo de uma sequecircncia didaacutetica
inspirada em contribuiccedilotildees de Dolz Noverraz e Schneuwly ([2004] 2013) Swiderski e Costa-
Huumlbes (2009) Lopes-Rossi (2011) Vieira (2005) e Serafini (2003) com vista ao aprendizado
de produccedilatildeo de texto do gecircnero crocircnica sob a oacutetica da escrita como processo Por meio das
atividades de leitura e escrita de crocircnicas percebe-se que os alunos refletiram sobre os
procedimentos de escritor sensibilizaram mais o seu olhar para o cotidiano e ampliaram o
conhecimento de sua competecircncia linguiacutestica Acredita-se que propiciar situaccedilotildees de
aprendizagem apresentando-as natildeo como um fardo mas com a graccedila ndash apesar do necessaacuterio
investimento pedagoacutegico ndash que a escrita pode vir a ter garante assim que os alunos concluam
o Ensino Fundamental tendo a oportunidade de elaborar textos consoantes ao seu direito de
serem proficientes em sua liacutengua materna
Palavras-chave Produccedilatildeo escrita Gecircneros textuais Sequecircncia didaacutetica Crocircnicas
ABSTRACT
The present work deals with the development of written competence of students of the 9th grade
of elementary school through a didactic sequence applied to the genre chronicles aiming to
provide advances in the writing process For the theoretical contribution genre approaches are
preferred from the perspective of Bakhtin (2011) Bazerman (2009) Bazerman e Miller (2011)
e Marcuschi (2015) The methodology involves an action research according to Gils (2008)
elucidations The procedure is based on the application of a didactic sequence inspired by
contributions of Dolz Noverraz and Schneuwly ([2004] 2013) Swiderski and Costa-Huumlbes
(2009) Lopes-Rossi (2011) Vieira (2005) e Serafini (2003) with a view to learning text
production of the genre chronicle under the point of view of writing as a process Through the
activities of reading and writing of chronicles it is noticed that the students have reflected on
the procedures of writer they have sensitized more their look at the quotidian and have extended
the knowledge of their linguistic competence It is believed that providing learning situations
by presenting them not as a burden but with the grace - despite all the necessary pedagogical
investment - that writing can have thus ensuring that students finish elementary school having
the opportunity to prepare texts according to their right to be proficient in their mother language
Keywords Written production Genres Didactic sequence Chronicles
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Esquema baacutesico de sequecircncia didaacutetica 31
Figura 2 - Esquema da SD adaptada por Costa-Huumlbes 36
Figura 3 - Esquema da SD adaptada por Costa-Huumlbes 38
Figura 4 - Proposiccedilatildeo de sequecircncia didaacutetica para o projeto de escrita 77
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 ndash Resultados IDEB 2015 70
Graacutefico 2 ndash Desempenho da escola nas ediccedilotildees da Prova Brasil 70
Graacutefico 3 ndash Distribuiccedilatildeo percentual dos alunos do 9ordm Ano do EF por niacutevel de
proficiecircncia - Liacutengua Portuguesa
71
Graacutefico 4 ndash Nuacutemero de alunos do 9ordm ano 88
Graacutefico 5 ndash Participaccedilatildeo nas produccedilotildees 89
Graacutefico 6 ndash Alunos presentes por encontro 90
Graacutefico 7 ndash Avaliaccedilatildeo das crocircnicas A 122
Graacutefico 8 ndash Avaliaccedilatildeo das crocircnicas B 136
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 ndash Siacutentese das etapas de desenvolvimento de projetos pedagoacutegicos que visam agrave
produccedilatildeo escrita de gecircneros discursivos
38
Quadro 2 ndash Motivaccedilatildeo e envolvimento na produccedilatildeo escrita 54
Quadro 3 ndash Como organizar as ideias em paraacutegrafos 63
Quadro 4 ndash Moacutedulos desenvolvidos na sequecircncia de atividades (SA) 80
Quadro 5 ndash Quadro autoavaliativo 91
Quadro 6 ndash Identificaccedilatildeo dos textos dos alunos
Quadro 7 ndash Produccedilatildeo inicial Ana ndash Tiacutetulo Ser chato ou natildeo ser eis a questatildeo
Quadro 8 ndash Produccedilatildeo final Ana ndash Tiacutetulo Ser chato ou natildeo ser eis a questatildeo
Quadro 9 ndash Produccedilatildeo inicial Rodrigo ndash Tiacutetulo Pare de se criticar
Quadro 10 ndash Produccedilatildeo final Rodrigo ndash Tiacutetulo
Quadro 11 ndash Produccedilatildeo inicial Eduardo ndashTiacutetulo O amigo muito e muito chato
Quadro 12 ndash Produccedilatildeo final Eduardo ndashTiacutetulo Ser legal natildeo eacute ser chato
Quadro 13 ndash Produccedilatildeo inicial Estela ndash Tiacutetulo Os chatos de antematildeo
Quadro 14 ndash Produccedilatildeo final Estela ndashTiacutetulo O tio chato de galocha
Quadro 15 ndash Produccedilatildeo inicial Ceacutelia ndashTiacutetulo Chata sim ou natildeo
Quadro 16 ndash Produccedilatildeo final Ceacutelia ndash Tiacutetulo Chata sim ou natildeo
Quadro 17 ndash Produccedilatildeo inicial Arlindo ndash Tiacutetulo Chato e natildeo eacute chato
Quadro 18 ndash Produccedilatildeo final Arlindo ndash Tiacutetulo Chato e natildeo eacute chato
Quadro 19 ndash Produccedilatildeo inicial Juacutelia ndash Tiacutetulo Ser chato ou ser legal
Quadro 20 ndash Produccedilatildeo final Juacutelia ndash Tiacutetulo Pessoas chatas e pessoas legais
Quadro 21 ndash Produccedilatildeo inicial Vicente ndash Tiacutetulo A pergunta eacute se eu bloquearia uma
pessoa chata
Quadro 22 ndash Produccedilatildeo final Vicente ndash Tiacutetulo
Quadro 23 ndash Produccedilatildeo inicial Graccedila ndash Tiacutetulo Rafaelly chata
Quadro 24 ndash Produccedilatildeo final Graccedila ndash Tiacutetulo Chata ela ou EU
Quadro 25 ndash Produccedilatildeo inicial Lilian ndash Tiacutetulo Meus amigos chatos e Eu
Quadro 26 ndash Produccedilatildeo final Lilian ndash Tiacutetulo Pessoas legais e chatas
Quadro 27 ndash Produccedilatildeo inicial Heloiacutesa ndash Tiacutetulo ldquoChato mais eacute muito legalrdquo
Quadro 28 ndash Produccedilatildeo final Heloiacutesa ndash Tiacutetulo ldquoO melhor chatordquo
Quadro 29 ndash Produccedilatildeo inicial Eliane ndash Tiacutetulo Um pouco de tudo
91
92
93
95
96
97
99
99
101
103
104
105
106
107
108
109
110
111
112
113
114
115
116
117
Quadro 30 ndash Produccedilatildeo final Eliane ndash Tiacutetulo O que e chato e o que e legal
Quadro 31 ndash Produccedilatildeo inicial Joana ndash Tiacutetulo Pessoas chatas e outras legal
Quadro 32 ndash Produccedilatildeo final Joana ndash Tiacutetulo Pessoas oacutetimas
Quadro 33 ndash Tiacutetulos das produccedilotildees para circulaccedilatildeo social
Quadro 34 ndash PIB Ana
Quadro 35 ndash PFB Ana ndash Tiacutetulo PROIBIDA DE ACHAR GRACcedilA
Quadro 36 ndash PIB Rodrigo ndash Tiacutetulo Vida de preguiccediloso
Quadro 37 ndash PFB Rodrigo ndash Tiacutetulo VIDA DE PREGUICcedilOSO
Quadro 38 ndash PIB Eduardo ndash Tiacutetulo
Quadro 39 ndash PFB Eduardo ndash INFAcircNCIA FELIZ
Quadro 40 ndash PIB Estela ndash Tiacutetulo ldquoDown= bullyingrdquo
Quadro 41 ndash PFB Estela ndashTiacutetulo DOWN= BULLYING
Quadro 42 ndash PFA2 Ana ndash Tiacutetulo O que eacute ser chato
118
120
121
124
124
125
126
127
129
131
132
134
137
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
BNCC Base Nacional Comum Curricular
ENEM Exame Nacional do Ensino Meacutedio
FP Folha de Produccedilatildeo
IDEB Iacutendice de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica
INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
LDB Lei de Diretrizes e Bases
PCN Paracircmetros Curriculares Nacionais
PF Produccedilatildeo final
PF-A Produccedilatildeo final para a o trabalho em sala
PF-B Produccedilatildeo final para circulaccedilatildeo social dos textos com audiecircncia real
PI Produccedilatildeo Inicial
PI-A Produccedilatildeo inicial para o trabalho em sala
PI-B Produccedilatildeo inicial para circulaccedilatildeo social dos textos com audiecircncia real
SD Sequecircncia Didaacutetica
SEMED Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo
TDIC Tecnologias Digitais da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 16
2 OS GEcircNEROS E O TRABALHO EM SALA DE AULA 23
21 Demarcando o conceito de gecircnero 23
211 Gecircnero como tipo relativamente estaacutevel de enunciado 23
212 Gecircnero como accedilatildeo social 26
213 Gecircnero como fenocircmeno histoacuterico 30
22 Conhecendo a sequecircncia didaacutetica 31
221 Conceito de sequecircncia didaacutetica 32
222 Propostas de adaptaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica 35
2221 Moacutedulo de reconhecimento 36
2222 Moacutedulo de divulgaccedilatildeo ao puacuteblico 37
2223 Abordagem imitativa da redaccedilatildeo 39
23 Definindo o gecircnero textual crocircnica 41
231 A crocircnica brasileira 42
232 Caracteriacutesticas da crocircnica 44
2321 Crocircnica um gecircnero jornaliacutestico 45
2322 Crocircnica um gecircnero literaacuterio 46
3 LEITURA E ESCRITA NOS ANOS FINAIS DO ENSINO
FUNDAMENTAL
49
31 Habilidades de leitura e escrita para que ler e escrever 49
32 Escrita e motivaccedilatildeo 53
33 Escrita como processo 56
34 Escrita na escola 61
35 Letramento literaacuterio 66
4 NATUREZA E PROCEDIMENTOS DA PESQUISA 69
41 Contexto da pesquisa 69
42 Participantes 72
43 Materiais 73
44 Procedimentos 74
441 Primeira etapa da apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo agrave produccedilatildeo inicial 77
442 Segunda etapa desenvolvimento dos moacutedulos 79
443 Terceira etapa produccedilatildeo final 85
444 Quarta etapa circulaccedilatildeo social dos textos 86
5 ANAacuteLISE DA SEQUEcircNCIA REFLEXOtildeES 87
51 Participaccedilatildeo dos alunos na pesquisa 88
52 Anaacutelise da apropriaccedilatildeo de caracteriacutesticas do gecircnero crocircnica literaacuteria 90
53 Os textos dos alunos 92
531 Produccedilotildees A textos apenas para o trabalho em sala de aula 92
532 Produccedilotildees B textos para circulaccedilatildeo social 123
533 Uma nova reescrita 136
6 CONCLUSAtildeO 139
REFEREcircNCIAS 144
APEcircNDICE A ndash ATIVIDADES PROPOSTAS PARA A SEQUEcircNCIA
DIDAacuteTICA
148
ANEXO A ndash DISTRIBUICcedilAtildeO POR NIacuteVEL DE PROFICIEcircNCIA 162
ANEXO B ndash DISTRIBUICcedilAtildeO DE TEXTOS FALADOS E ESCRITOS
NO CONTIacuteNUO GENEacuteRICO
165
ANEXO C ndash PRODUCcedilOtildeES DOS ALUNOS 166
16
1 INTRODUCcedilAtildeO
A proposta deste trabalho parte de uma motivaccedilatildeo de cunho pessoal fruto das
dificuldades que como professora enfrentamos todos os dias como se pode conduzir o
trabalho em sala de aula de modo eficaz para que os alunos independentemente de sua idade
ou seacuterie possam terminar o ano letivo escrevendo textos claros
Para levar o aluno a desenvolver suas habilidades de escrita um passo importante
seria planejar sequecircncias que abordem as caracteriacutesticas do gecircnero a ser trabalhado permitindo-
lhe pocircr em aproximaccedilatildeo eou contraste seus saberes com os conhecimentos a serem construiacutedos
Para noacutes professores esse passo tem se revelado ainda bastante difiacutecil visto que nossa cultura
escolar ainda natildeo se firmou apropriadamente na visatildeo de que escrita eacute processo e que seu
produto pode ndash deve aliaacutes ndash alcanccedilar a sociedade permitindo ao aluno o exerciacutecio da cidadania
Pensamos entatildeo na elaboraccedilatildeo de uma sequecircncia de aulas que trabalhe a produccedilatildeo
escrita abordando o seu processo Para tanto escolhemos a oacutetica de Vieira (2005) que traz
importante contribuiccedilatildeo para o trabalho do professor ao abordar o processo de produccedilatildeo do
texto considerando-o mais importante no ambiente pedagoacutegico do que o texto pronto Sua
justificativa parte da inquietaccedilatildeo de por que eacute difiacutecil aprender a redigir
Ao longo de sua obra a autora traz reflexotildees a partir de pesquisas sobre os aspectos
comunicativos cognitivos e psicoloacutegicos do processo de redigir conhecimento que ela constata
fornecerem subsiacutedios para fundamentar a didaacutetica da escrita orientando as escolhas
metodoloacutegicas dos professores (VIEIRA 2005 p79) Ainda na abordagem da produccedilatildeo escrita
como processo contamos com Serafini (2003) que tambeacutem traz valiosa orientaccedilatildeo tanto para
o aluno como para o professor
Para trabalharmos esse processo com os alunos o gecircnero escolhido para a criaccedilatildeo
e aplicaccedilatildeo de nossa sequecircncia de aulas eacute a crocircnica literaacuteria que vem ganhando destaque no
cenaacuterio nacional atual de estudos na educaccedilatildeo baacutesica desde a proposta da Olimpiacuteada de Liacutengua
Portuguesa Escrevendo o Futuro (CENPEC 2016) Por seu formato fluido e por se apresentar
de tal modo que a fala pessoal se associa agrave fala coletiva a crocircnica parece integrar espaccedilos
iacutentimos a puacuteblicos construindo dessa maneira uma relaccedilatildeo de proximidade entre o autor e o
leitor
Por percebermos que haacute vaacuterios alunos que produzem seus textos sem recorrer agrave
etapa do planejamento a da revisatildeo e a da reescrita visamos entatildeo nesta pesquisa devido agrave
ausecircncia de tais procedimentos responder agraves seguintes questotildees-problema desdobradas a partir
17
da questatildeo baacutesica como ensinar a produccedilatildeo escrita no 9ordm ano do Ensino Fundamental enfocando
o ato de redigir como um processo visto que haacute estudantes deste niacutevel que normalmente natildeo
tecircm o haacutebito de planejar seus textos A partir desse questionamento nos perguntamos
a) que atividades pedagoacutegicas possibilitam aos alunos a consciecircncia de que eacute
preciso desenvolver estrateacutegias proacuteprias (recorrer agrave etapa do planejamento da
revisatildeo e da reescrita) para produzir seus textos
b) de que forma o conhecimento sobre a estrutura composicional de um gecircnero
pode ajudar a superar as dificuldades
c) a comparaccedilatildeo das produccedilotildees inicial e final permitiraacute associar a melhoria do
desempenho da competecircncia escrita e a apropriaccedilatildeo do gecircnero crocircnica literaacuteria
ao desenvolvimento da sequecircncia de atividades
Apoacutes as oficinas a anaacutelise deteacutem-se nos objetivos elencados com dados
comparativos entre produccedilatildeo inicial e produccedilatildeo final a fim de constatarmos a relevacircncia da
hipoacutetese baacutesica os alunos do 9ordm ano produziram textos na etapa final das oficinas utilizando-
se das caracteriacutesticas do gecircnero textual crocircnica literaacuteria compreendendo que escrita eacute interaccedilatildeo
valorizando o uso social da escrita de acordo com a proposta teoacuterica de gecircnero preparando
seus textos pautados nas etapas do processo de redigir conforme as orientaccedilotildees dadas em sala
de aula Desdobradas em mais trecircs hipoacuteteses secundaacuterias pensamos
a) eacute possiacutevel motivar os alunos a escrever ao desenvolver com eles atividades
voltadas para os diferentes subprocessos e habilidades envolvidos no ato de
redigir
b) o ensino da composiccedilatildeo do gecircnero crocircnica literaacuteria contribuiraacute para minimizar
dificuldades observadas nos textos dos alunos do 9ordm ano como nos planos
morfossintaacutetico e semacircntico aleacutem de lhes propiciar o desenvolvimento da
competecircncia em textos escritos
c) apoacutes a realizaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica proposta ao compararmos as produccedilotildees
inicial e final dos alunos verificaremos um desempenho mais satisfatoacuterio em
relaccedilatildeo agrave competecircncia discursiva realizada no gecircnero crocircnica
Utilizamos a sequecircncia didaacutetica ferramenta teoacuterico-metodoloacutegica proposta por
Dolz Noverraz e Schneuwly ([2004]2013) para facilitar a criaccedilatildeo de nossa sequecircncia
refletindo sobre as atividades iniciais como um diagnoacutestico e a partir daiacute compondo os
moacutedulos que julgamos necessaacuterios dentro do tempo disponiacutevel para o aperfeiccediloamento da
praacutetica de escrita dos alunos
18
Sem esquecer que o produto desta sequecircncia precisa ter relevacircncia e circulaccedilatildeo
social fizemos o estudo do conceito de gecircnero a partir de autores como Bakhtin (2011)
Bazerman (2009) Bazerman Miller (2011) e Marcuschi (2015) autores cujas contribuiccedilotildees
teoacutericas nos permitem compreender que os textos verbais ou orais dependem do contexto em
que satildeo criados considerando seu momento histoacuterico e caracteriacutesticas culturais e sociais
fazendo portanto sentido somente se se destinarem a uma audiecircncia real com papeis sociais
reais
O gecircnero eleito para o trabalho de produccedilatildeo escrita eacute como dissemos a crocircnica
literaacuteria A escolha da tipologia narrativa e do gecircnero crocircnica deu-se por alguns motivos
a) as narrativas possuem um papel fundamental na formaccedilatildeo dos indiviacuteduos Desde
a infacircncia a crianccedila tem contato com a narraccedilatildeo Ela mesma narra como forma
de organizar suas ideias E em sociedade as narrativas ajudaram a construir a
identidade dos povos prolongando ramos e aprofundando raiacutezes
b) a crocircnica eacute um gecircnero que se identifica com a realidade dos alunos pela leveza
da linguagem associando a oralidade e coloquialidade e facilidade de
identificaccedilatildeo de elementos coletivos e individuais presentes em seu cotidiano
os quais podem vir a se tornar objeto de reflexatildeo de bom humor ou mesmo de
criacutetica e sobre tais elementos pode-se motivar os alunos a escrever
c) considerando o papel social da escola que deve ser de integrar o aluno como
cidadatildeo em sociedade eacute uma excelente oportunidade de ensinar os
procedimentos concernentes ao processo de escrita com um texto com
caracteriacutesticas literaacuterias visto que daiacute por diante entrando no ensino meacutedio
predominam as praacuteticas de trabalho com os textos argumentativos cuja
recorrecircncia se deve a serem os mais cobrados em avaliaccedilotildees diagnoacutesticas e de
acesso ao niacutevel superior tais como ENEM vestibulares seleccedilotildees e concursos
sendo um pouco esquecidas as narrativas e os processos de escrita criativa
Esta pesquisa se valeu tambeacutem de trabalhos acadecircmicos que trataram de produccedilatildeo
escrita na escola do gecircnero crocircnica de sequecircncias didaacuteticas e do estudo dos gecircneros textuais
relacionados ao trabalho em sala de aula dentre os quais destacamos
Santos (2008) em sua pesquisa sobre o gecircnero textual crocircnica narrativa no ensino
meacutedio percebeu alguns avanccedilos discretos apoacutes a aplicaccedilatildeo de uma sequecircncia didaacutetica Embora
muitos textos tenham apresentado as caracteriacutesticas do gecircnero explorado em sala de aula
alguns se apresentaram ainda como narrativas tipicamente escolares O pesquisador encontrou
19
dificuldades durante sua pesquisa com produccedilatildeo textual porque afirma na escola o objeto
central de ensino da liacutengua portuguesa ainda eacute a gramaacutetica que disputa espaccedilo diretamente com
a literatura sendo a produccedilatildeo relegada a apenas uma aula sem enfoque no processo de reescrita
dos textos com as devidas reflexotildees
Swiderski e Costa-Huumlbes (2009) analisam o formato baacutesico da sequecircncia didaacutetica
proposta pelo grupo de Genebra e propotildeem a inserccedilatildeo de um moacutedulo novo chamado de moacutedulo
de reconhecimento anterior agrave produccedilatildeo inicial de modo a permitir aos alunos o contato com
textos do gecircnero antes de partir diretamente para a escrita do primeiro texto propiciando
oportunidade de pesquisa leitura e anaacutelise linguiacutestica contemplando os outros eixos do
trabalho com liacutengua portuguesa aleacutem da escrita eou oralidade
Lopes-Rossi (2011) tambeacutem trata da sequecircncia didaacutetica e propotildee para o final da
SD uma culminacircncia a que ela chama de divulgaccedilatildeo ao puacuteblico ou seja um momento para
colocar em circulaccedilatildeo social os textos que os alunos produzem ao longo do trabalho
sistematizado permitindo-lhes compreender o sentido real dos textos do gecircnero que estudam
Colombo (2013) faz uma avaliaccedilatildeo das produccedilotildees vencedoras das ediccedilotildees da
Olimpiacuteada de Liacutengua Portuguesa Escrevendo o Futuro na categoria Crocircnicas Sua criacutetica
principal ao processo estaacute natildeo nas oficinas realizadas pois em muito ajudam os alunos a
conhecer os diversos tons que os textos das crocircnicas trazem a partir das mais diferentes
temaacuteticas mas na artificialidade do interlocutor para quem os alunos escreveram (uma banca
examinadora) e as redaccedilotildees escolhidas por essa banca (um criteacuterio mais pessoal que objetivo)
Colombo (2013) critica tambeacutem a incoerecircncia entre o material de avaliaccedilatildeo
produzido pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Educaccedilatildeo Cultura e Accedilatildeo Comunitaacuteria ndash
CENPEC em 2011 com uma coletacircnea de excertos de textos natildeo vencedores de ediccedilotildees
passadas que aponta no capiacutetulo dedicado agraves crocircnicas exemplos de distanciamentos da
tipologia narrativa proacutepria do gecircnero em textos que abordaram mazelas locais com
predominacircncia da descriccedilatildeo e da criacutetica Para ela essas mesmas caracteriacutesticas ressurgiram nos
textos vencedores do ano de 2012 Dentre outras criacuteticas a mais incisiva de suas consideraccedilotildees
eacute a de que a crocircnica eacute um texto para ser lido na escola sendo no entanto impossiacutevel ensinar os
alunos a escrever crocircnicas pois para a autora natildeo devem ser produzidas sob a pressatildeo de um
concurso que escolheraacute qual a melhor
Correia (2015) em sua pesquisa centrada em uma sala de aula de 7ordm ano do Ensino
Fundamental priorizou a praacutetica de leitura do gecircnero crocircnica e associou ao trabalho com esta
mais dois gecircneros a entrevista e o documentaacuterio audiovisual abordando um aspecto
20
multimodal em sua produccedilatildeo final Sua intenccedilatildeo parece-nos foi usar a temaacutetica das crocircnicas
para despertar nos alunos uma apropriaccedilatildeo da realidade em que estatildeo inseridos e em suas
consideraccedilotildees acredita que no momento de produccedilatildeo escrita dentro das possibilidades de
alunos de 12 anos de idade logrou sucesso ao levar os alunos ao reconhecimento das
caracteriacutesticas do gecircnero
Paiva (2015) realizou um trabalho que contribuiu diretamente para o
desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita atraveacutes do ensino da produccedilatildeo de textos
argumentativos no gecircnero carta de reclamaccedilatildeo Por meio de uma sequecircncia didaacutetica que
priorizava como em nosso caso de pesquisa o processo de produccedilatildeo em vez de considerar
apenas o produto a pesquisadora logrou ecircxito ao identificar progressos nos textos dos alunos
dentro das possibilidades de trabalho que executou
Feitosa (2016) abordou o ensino de liacutengua portuguesa na perspectiva dos gecircneros
realizando uma sequecircncia didaacutetica com o gecircnero panfleto colocando o produto final em
circulaccedilatildeo social como em nosso caso de pesquisa com a distribuiccedilatildeo dos panfletos pelos
alunos no ambiente escolar e na comunidade em que a escola estaacute inserida Fazendo isso ela
possibilitou a atribuiccedilatildeo da significaccedilatildeo proacutepria do gecircnero agrave produccedilatildeo textual dos alunos fator
importante para estimulaacute-los a interagir em sociedade por meio de seus textos
Os Paracircmetros Curriculares Nacionais (PCN 1997) reconhecem que o ensino de liacutengua
portuguesa na educaccedilatildeo baacutesica eacute pautado em uma prioridade de estudos de aspectos normativos
ou gramaticais da liacutengua o que o torna limitado e insuficiente e sugerem redirecionar o foco
para a praacutetica de leitura e ndash aspecto muito importante ndash o exerciacutecio da escrita de textos nos mais
variados gecircneros textuais existentes na sociedade possibilitando o estudo da liacutengua em
contextos reais de uso natildeo apenas como um conjunto de normas1
Para tanto aprender a pensar e falar sobre a proacutepria linguagem realizar uma
atividade de natureza reflexiva uma atividade de anaacutelise linguiacutestica supotildee duas situaccedilotildees
planejar situaccedilotildees didaacuteticas que possibilitem a reflexatildeo natildeo somente sobre os diferentes
recursos expressivos utilizados pelo autor do texto mas tambeacutem sobre a forma pela qual a
seleccedilatildeo de tais recursos reflete as condiccedilotildees de produccedilatildeo do discurso e as restriccedilotildees impostas
1 Os Paracircmetros Curriculares Nacionais (PCN 1997) reconhecem que o ensino de liacutengua portuguesa na educaccedilatildeo
baacutesica eacute pautado em uma prioridade de estudos de aspectos normativos ou gramaticais da liacutengua o que o torna
limitado e insuficiente e sugerem redirecionar o foco para a praacutetica de leitura e ndash aspecto muito importante ndash o
exerciacutecio da escrita de textos nos mais variados gecircneros textuais existentes na sociedade possibilitando o estudo
da liacutengua em contextos reais de uso natildeo apenas como um conjunto de normas
21
pelo gecircnero e pelo suporte e tomar como objeto de reflexatildeo os procedimentos de planejamento
de elaboraccedilatildeo e de refacccedilatildeo dos textos (BRASIL 1997 p 8)
Esses gecircneros a que se referem os paracircmetros satildeo conceituados por Bakhtin autor
em que se fundamenta a proposta dos PCN Compreendendo que o conhecimento de tais
gecircneros traz liberdade ao usuaacuterio da liacutengua o filoacutesofo afirma que quanto melhor dominamos os
gecircneros tanto mais livremente os empregamos tanto mais plena e nitidamente descobrimos
neles a nossa individualidade (onde isso eacute possiacutevel e necessaacuterio) refletimos de modo mais
flexiacutevel e sutil a situaccedilatildeo singular da comunicaccedilatildeo em suma realizamos de modo mais acabado
o nosso livre projeto de discurso (BAKHTIN 2011 p 285)
Os PCN para o 3ordm e o 4ordm ciclos do Ensino Fundamental orientam aleacutem da ampliaccedilatildeo
da variedade de textos e gecircneros que o trabalho com os alunos leve a ldquoconhecer caracteriacutesticas
fundamentais do Brasil nas dimensotildees sociais materiais e culturais como meio para construir
progressivamente a noccedilatildeo de identidade nacional e pessoal e o sentimento de pertinecircncia ao
paiacutesrdquo (BRASIL 1997 p 7)
Assim produzir textos requer dessa forma estudar os diferentes modos de
expressatildeo abrindo-se aiacute para o aluno uma gama de possibilidades de manifestaccedilatildeo de ideias
atraveacutes do conhecimento de sua liacutengua nas relaccedilotildees de interaccedilatildeo pessoal
No entanto para que essa produccedilatildeo seja efetiva haacute que se ter em mente que
qualquer tarefa de escrita bem-sucedida requer o exerciacutecio da escrita e da reescrita pois se
considera que nesse processo de aperfeiccediloamento as aulas tomadas entre o iniacutecio e o teacutermino
de uma sequecircncia de atividades ou seja entre a produccedilatildeo inicial e a produccedilatildeo final sejam
vaacuterias e variadas com planejamento para conhecer as necessidades de cunho geral da turma
como as caracteriacutesticas de um gecircnero bem como as de cunho individual do aluno como as
limitaccedilotildees no reconhecimento do gecircnero textual na construccedilatildeo de argumentos na progressatildeo
narrativa nas convenccedilotildees da escrita culta
Com o objetivo de orientar o leitor apresentamos a forma de organizaccedilatildeo desta
pesquisa que se encontra disposta em mais cinco seccedilotildees primaacuterias aleacutem desta Introduccedilatildeo
Na seccedilatildeo 2 denominada ldquoOs gecircneros e o trabalho em sala de aulardquo discorremos
sobre o conceito de gecircnero apoiando-nos na oacutetica de Bahktin de gecircnero como tipo
relativamente estaacutevel de enunciado na oacutetica da sociorretoacuterica do gecircnero como accedilatildeo social
principalmente com Bazerman e Miller e do gecircnero como fenocircmeno histoacuterico como nos fala
Marcuschi Aleacutem disso tratamos do conceito de sequecircncia didaacutetica proposta teoacuterico-
metodoloacutegica de Dolz Noverraz e Schneuwly e de propostas complementares agrave SD com as
22
contribuiccedilotildees de Costa-Huumlbes e Lopes-Rossi Ainda nesta seccedilatildeo tratamos da definiccedilatildeo do
gecircnero textual crocircnica e suas caracteriacutesticas desenvolvidas no Brasil tanto no campo
jornaliacutestico quanto no literaacuterio pelas oacuteticas de Beltratildeo Coutinho e Cacircndido
Na seccedilatildeo 3 denominada ldquoLeitura e escrita no ensino fundamental anos finaisrdquo
discorremos sobre escrita resgatando um pouco do percurso histoacuterico das habilidades de leitura
e escrita na escola e na sociedade tratamos do aspecto da motivaccedilatildeo para a escrita da escrita
como um processo da escrita na escola e do letramento literaacuterio que julgamos interessante
ressaltar visto que leitura e escrita precisam ser instrumentalizadas
Na seccedilatildeo 4 denominada ldquoNatureza e procedimentos da pesquisardquo discorremos
sobre nossa pesquisa propriamente dita o contexto da pesquisa os sujeitos os materiais e os
procedimentos mostrando o desenvolvimento da sequecircncia de atividades e procedimentos de
coleta de dados
Na seccedilatildeo 5 denominada ldquoAnaacutelise da sequecircncia de atividades reflexotildeesrdquo
discorremos sobre nossa sequecircncia didaacutetica mostrando a participaccedilatildeo dos alunos na pesquisa
apresentando a anaacutelise da apropriaccedilatildeo de caracteriacutesticas do gecircnero crocircnica literaacuteria nos textos
dos alunos bem como os textos produzidos para circulaccedilatildeo social
E por fim na Conclusatildeo apresentamos reflexotildees acerca da experiecircncia com a
pesquisa e dos resultados obtidos bem como sugestotildees para o avanccedilo de trabalhos que possam
contribuir para a competecircncia escrita dos alunos do ensino fundamental e a continuidade de
estudos na aacuterea
Acreditamos que a pesquisa-accedilatildeo desenvolvida que se inscreve no escopo da
Linguiacutestica Aplicada pode aleacutem de ofertar contribuiccedilotildees no acircmbito acadecircmico encorajar os
alunos participantes da pesquisa no sentido de se permitirem evoluir como produtores de texto
em sua liacutengua materna direito que lhes cabe desde o momento em que satildeo reconhecidos
cidadatildeos que ingressam nas escolas brasileiras
23
2 OS GEcircNEROS E O TRABALHO EM SALA DE AULA
Os pressupostos que embasam esta pesquisa perpassam a necessidade de se
compreender o que satildeo os gecircneros textuais em distinccedilatildeo de tipos textuais e como trabalhaacute-los
em atividades sequenciadas destacando-se inclusive como estas podem melhorarauxiliar o
trabalho do professor da educaccedilatildeo baacutesica Aleacutem disso tentaremos delinear ainda que
reconheccedilamos a natildeo consensualidade de definiccedilotildees o que vem a ser a crocircnica a partir das
escolhas dos textos que integram o corpus exemplo para os alunos
21 Demarcando o conceito de gecircnero
Iniciamos nosso percurso teoacuterico a partir da compreensatildeo do que eacute o gecircnero
Concordamos com Bezerra (2017 p 11) quando ele diz que o conceito de gecircnero eacute tomado
como ldquouma categoria mediadora entre o texto e o discurso capaz de colocar em xeque velhas
concepccedilotildees dicotocircmicas como a que trata o texto como uma mera lsquomaterializaccedilatildeorsquo de um
discurso consequentemente lsquoimaterialrsquordquo
Para Bezerra (2017) a partir do gecircnero tanto o texto como o discurso podem ser
relacionados produtivamente com o seu contexto cognitivo e social o que viabiliza o estudo
teoacuterico e sua aplicaccedilatildeo pedagoacutegica
No panorama teoacuterico referencial buscaremos compreensatildeo do que eacute o gecircnero
atraveacutes da conceituaccedilatildeo de Bakhtin (2011) Bazerman (2009) Miller (2011) e Marcuschi
(2015) e sua importacircncia para o trabalho de pesquisa-accedilatildeo com produccedilatildeo textual no 9ordm ano do
ensino fundamental
211 Gecircnero como tipo relativamente estaacutevel de enunciado
De iniacutecio veremos a abordagem enunciativo-discursiva de Bakhtin (2011) que se
refere ao processo de interaccedilatildeo verbal e ao enunciado Para o filoacutesofo russo as interaccedilotildees
podem ocorrer de maneira mais geral face a face mas tambeacutem se concretizar atraveacutes dos textos
escritos Nesse processo o leitor tem um papel ativo na compreensatildeo das informaccedilotildees quando
com elas interage aceitando reformulando contrapondo e complementando conforme seu
arcabouccedilo de conhecimentos e experiecircncias e o faz reportando-se a diferentes vozes de textos
24
previamente lidos e ouvidos Essas interaccedilotildees efetivam-se por meio de enunciados chamados
de gecircneros
A compreensatildeo baacutesica do que satildeo os gecircneros textuais ou usando o termo adotado
por Bakhtin os gecircneros do discurso eacute definida como ldquotipos relativamente estaacuteveis de
enunciadosrdquo (2011 p 262) elaborados pelas diferentes esferas de utilizaccedilatildeo da liacutengua Cada
esfera de uso da linguagem traz consigo uma concepccedilatildeo padratildeo de destinataacuterio a quem se dirige
o locutor e esse destinataacuterio sempre adota uma atitude responsiva ativa diante da totalidade
acabada do gecircnero Digamos que segundo o autor essas esferas permitem-nos situar e prever
o que o interlocutor emitiraacute evitando prejuiacutezos na eficaacutecia da comunicaccedilatildeo
Aprendemos a moldar nossa fala agraves formas do gecircnero e ao ouvir a fala do outro
sabemos de imediato bem nas primeiras palavras pressentir-lhe o gecircnero Se natildeo
existissem os gecircneros do discurso e se natildeo os dominaacutessemos se tiveacutessemos de criaacute-
los pela primeira vez no processo da fala se tiveacutessemos de construir cada um de
nossos enunciados a comunicaccedilatildeo verbal seria quase impossiacutevel (BAKHTIN 2011
p 302)
Dessa forma compreendemos que os enunciados tecircm relativa estabilidade
apresentando formas tiacutepicas que se adaptam agraves muacuteltiplas situaccedilotildees tanto orais quanto escritas
sendo essas formas variaacuteveis portanto Satildeo caracteriacutesticas dos gecircneros o dialogismo e a
polifonia
No dialogismo compreendemos que um texto tem relaccedilotildees com o contexto social
com os textos jaacute lidos pelo leitor e suas experiecircncias de vida e as ligaccedilotildees feitas com as diversas
aacutereas de conhecimento natildeo sendo nunca um produto fechado em si mesmo e uacutenico O discurso
dessa forma estabelece intercacircmbios socioculturais fruto de processos cognitivos e
conhecimentos acumulados historicamente que atendem a essa atitude responsiva ativa Essa
caracteriacutestica estaacute relacionada ao processo de leitura e ao de produccedilatildeo de textos pois o leitor
ou o escritor estabelece um diaacutelogo com o texto em ambos os processos
Na polifonia entendemos que o texto natildeo eacute constituiacutedo apenas da voz do escritor
mas por outras vozes por dizeres de outrem e satildeo vozes que se cruzam concordam ou
discordam entre si
Nas condiccedilotildees de produccedilatildeo dos enunciados e dos gecircneros discursivos estatildeo
inseridas as intenccedilotildees comunicativas e as necessidades sociointerativas dos sujeitos nas esferas
de atividade em que o papel e o lugar de cada sujeito satildeo determinados socialmente Para o
autor trecircs elementos baacutesicos configurariam um gecircnero discursivo o conteuacutedo temaacutetico o estilo
e a forma composicional
25
O conteuacutedo temaacutetico do gecircnero eacute definido pelo enunciador e depende diretamente
das situaccedilotildees das condiccedilotildees de produccedilatildeo e das necessidades da proacutepria enunciaccedilatildeo A escolha
desse conteuacutedo se daacute conforme a intencionalidade do enunciador estando de acordo com as
suas necessidades
O estilo do enunciador pode ser observado na adequaccedilatildeo da linguagem empregada
na escolha dos vocaacutebulos conforme a finalidade e a proacutepria estrutura do enunciado do gecircnero
escolhido voltados para seu interlocutor Nas palavras de Bakhtin (2011 p 284)
O estilo eacute indissociavelmente vinculado a unidades temaacuteticas determinadas e o que eacute
particularmente importante a unidades composicionais tipo de estruturaccedilatildeo e de
conclusatildeo de um todo tipo de relaccedilatildeo entre o locutor e os outros parceiros da
comunicaccedilatildeo verbal (relaccedilatildeo com o ouvinte ou com o leitor com o interlocutor com
o discurso do outro etc) (BAKHTIN 2011 p 284)
Assim para o autor ldquoo enunciado - oral e escrito primaacuterio e secundaacuterio em
qualquer esfera da comunicaccedilatildeo verbal - eacute individual e por isso pode refletir a individualidade
de quem fala (ou escreve)rdquo (BAKHTIN 2011 p 283) Ou seja o estilo eacute individual poreacutem eacute
definido pelo outro e pelo gecircnero ldquodepende do modo que locutor percebe e compreende seu
destinataacuterio e do modo que ele presume uma compreensatildeo responsiva ativardquo (BRAIT 2016 p
95)
A estrutura composicional do gecircnero eacute um elemento que segue padrotildees definidos
pela sociedade Cada enunciado deve inserir-se no padratildeo que eacute convencionado pelo gecircnero a
fim de ser reconhecido e consequentemente compreendido
Essa breve exposiccedilatildeo das trecircs caracteriacutesticas dos gecircneros vem mostrar que elas
dependeratildeo em grande parte das condiccedilotildees de produccedilatildeo de cada enunciado uma vez que
[] o discurso se molda sempre agrave forma do enunciado que pertence a um sujeito
falante e natildeo pode existir fora dessa forma Quaisquer que sejam o volume o
conteuacutedo a composiccedilatildeo os enunciados sempre possuem como unidades da
comunicaccedilatildeo verbal caracteriacutesticas estruturais que lhe satildeo comuns e acima de tudo
fronteiras claramente delimitadas (BAKHTIN 2011 p 293)
Essas caracteriacutesticas ocorrem simultaneamente em uma enunciaccedilatildeo concreta pois
eacute no momento da enunciaccedilatildeo que se definiraacute como essas caracteriacutesticas seratildeo empregadas
A partir dessa compreensatildeo de Bakhtin diversos outros autores conceituaram o que
eacute gecircnero Dentre as grandes Escolas do Gecircnero2 nosso trabalho considerou os conceitos baacutesicos
2 Dentre as grandes Escolas de Gecircnero destacam-se a Escola de Sidney a Norte-americana e a de Genebra
26
adotados pela Escola norte-americana representada por Miller (2011) e Bazerman (2009) Por
fim no Brasil veremos Marcuschi (2015) Traremos ainda para a proacutexima seccedilatildeo autores que
desenvolvem e aplicam os conceitos de gecircnero textual na praacutetica por meio de sequecircncias de
atividades como Dolz Noverraz e Schneuwly ([2004]2013) atraveacutes da Sequecircncia Didaacutetica e
Vieira (2005) com a Abordagem imitativa da redaccedilatildeo trabalhando com formatos e gecircneros
212 Gecircnero como accedilatildeo social
A noccedilatildeo de gecircnero como accedilatildeo social foi desenvolvida inicialmente por Carolyn
Miller A elaboraccedilatildeo de uma teoria de gecircnero ocorreu com mais dois pesquisadores John
Swales e Charles Bazerman Todos satildeo membros do grupo que compotildee a escola de estudos de
gecircneros norte-americana cuja caracteriacutestica eacute o interesse pela natureza social do discurso
(CARVALHO 2005) Veremos aqui mais especificamente os expoentes Miller e Bazerman
A noccedilatildeo de gecircneros natildeo eacute recente e remonta agrave Retoacuterica Claacutessica Por volta dos anos
1980 Miller voltou-se aos estudos das determinaccedilotildees retoacutericas de Aristoacuteteles O filoacutesofo grego
postulou a primeira classificaccedilatildeo dos discursos em trecircs tipos o judiciaacuterio o deliberativo e o
epidiacutetico Carvalho (2016) nos diz que para Aristoacuteteles autor da classificaccedilatildeo essa distinccedilatildeo
dos discursos eacute necessaacuteria porque existem trecircs tipos de auditoacuterio e eacute preciso adaptar-se a eles
conferindo traccedilos especiacuteficos a cada gecircnero pois a escolha entre um deles se daacute mediante a
necessidade que o orador tem de se adaptar ao puacuteblico Aleacutem de classificar Aristoacuteteles
apresenta as caracteriacutesticas de cada um desses tipos de discurso Segundo Carvalho (2016 p
35)
O pensador grego entende que esses trecircs gecircneros se remetem a um tempo especiacutefico
indicam atos expressam valores e apresentam formas especiacuteficas de argumentaccedilatildeo
Assim sendo pondera que o gecircnero judiciaacuterio se dirige a um auditoacuterio especializado
versa sobre leis recorre a silogismos e se refere a acontecimentos do passado para
acusar ou defender O deliberativo trata-se de um gecircnero que se relaciona a um puacuteblico
culto faz uso de argumentos atraveacutes de exemplos e expressa atitudes que poderatildeo
acontecer no futuro O epiacutedictico por sua vez eacute caracterizado como um gecircnero no
qual o orador exalta ou despreza caracteriacutesticas de determinados indiviacuteduos no exato
momento da enunciaccedilatildeo (CARVALHO 2016 p 35)
Nessa abordagem claacutessica apesar de a classificaccedilatildeo de Aristoacuteteles ter reduzido os
discursos a apenas trecircs tipos jaacute se compreendia que a variedade dos gecircneros eacute dependente da
variedade de auditoacuterios e por essa razatildeo natildeo podem ser concebidos desvinculados de seus
interlocutores sendo formas de agir em sociedade de diferentes maneiras Nas palavras de
Carvalho (2016 p34) ldquopor esse acircngulo podemos dizer ainda hoje que lanccedilar um olhar sobre
27
os gecircneros que contemple suas dimensotildees retoacutericas eacute antes de tudo atentar para a natureza
social e argumentativa inerente a cada tipo de discurso e concebecirc-los como formas de
(inter)accedilatildeordquo
Por sua vez Bazerman (2009) na introduccedilatildeo de seu livro Gecircneros textuais
tipificaccedilatildeo e interaccedilatildeo fala da necessidade de se entender as variedades da escrita numa
abordagem que comeccedila com as circunstacircncias em que as pessoas produzem e usam os textos
questionando sobre os motivos e accedilotildees tiacutepicos associados com a escrita e leitura desses textos
Em deacutecadas recentes o ensino da escrita foi transformado pelo amplo reconhecimento
de vaacuterios princiacutepios Primeiro o escrever bem requer mais do que a produccedilatildeo de
sentenccedilas corretas tambeacutem envolve a comunicaccedilatildeo bem-sucedida de mensagens
significantes para outros Segundo a escrita eacute um processo que leva tempo e incorpora
muitas diferentes atividades Terceiro o ensino da escrita que ajuda alunos a
alcanccedilarem o sucesso acadecircmico precisa atender a todos os tipos de escrita que satildeo
necessaacuterios natildeo somente para o estudo da linguagem ou da literatura mas tambeacutem
para as disciplinas de histoacuteria ciecircncia filosofia e poliacutetica Quarto os alunos ao
terminarem seus estudos precisam estar aptos a produzir muitas diferentes formas da
escrita Embora todas as formas da escrita que os alunos poderiam precisar sejam
impossiacuteveis de antecipar os alunos precisam de habilidade e flexibilidade suficientes
para se adaptar agraves situaccedilotildees variantes da escrita (BAZERMAN 2009 p 16)
Bazerman (2009) afirma que se pode chegar a uma compreensatildeo mais profunda de
gecircneros se os compreendermos como ldquofenocircmenos de reconhecimento psicossocial que satildeo parte
de processos de atividades socialmente organizadasrdquo (Bazerman 2009 p31) Na concepccedilatildeo do
pesquisador gecircneros satildeo os tipos que as pessoas reconhecem como sendo usados por elas
proacuteprias e pelos outros ou seja ldquosatildeo fatos sociais sobre os tipos de atos de fala que as pessoas
podem realizar e sobre os modos como elas os realizamrdquo (Bazerman 2009 p 31) Desse modo
os gecircneros emergem nos processos sociais na medida em que as pessoas tentam compreender
umas agraves outras de tal maneira que consigam coordenar atividades e compartilhar significados
com vistas a seus propoacutesitos praacuteticos
Para Miller e Bazerman (2011) definir o gecircnero como ldquogecircnero textualrdquo ou apenas
gecircnero ou ainda ldquogecircnero discursivordquo eacute uma questatildeo de necessidade apenas em contextos em
que se precise fazer algum tipo de distinccedilatildeo ou esclarecimento conceitual como uma espeacutecie
de contraste Nessa obra constituiacuteda como um ldquobate papordquo com perguntas e respostas os
professores a seu turno datildeo suas visotildees sobre essas distinccedilotildees quando perguntados ldquocomo vocecirc
define o conceito de gecircnerordquo Miller responde
Bom eu mantenho a minha definiccedilatildeo jaacute conhecida Eu natildeo distinguiria gecircnero textual
de gecircnero Eu o defino amplamente ou seja o gecircnero eacute uma accedilatildeo retoacuterica tipificada
baseada numa situaccedilatildeo retoacuterica recorrente [] Diria apenas que essa definiccedilatildeo tende
28
a se concentrar mais na produccedilatildeo na pessoa que desenvolve a accedilatildeo do que na
recepccedilatildeo Mas creio que eacute possiacutevel direcionaacute-la para pensar sobre o modo como
algueacutem realiza uma accedilatildeo e responde a ela Acho que tanto a produccedilatildeo como a recepccedilatildeo
satildeo importantes para se pensar no gecircnero como accedilatildeo (BAZERMAN MILLER 2011
p 16)
A mesma questatildeo dirigida a Bazerman eacute respondida da seguinte forma
Eu gostaria de acrescentar algumas coisas Percebo que em portuguecircs eacute necessaacuterio
distinguir gecircneros textuais (textual genre) de gecircnero (gender) Poreacutem em inglecircs o uso
do termo ldquogecircnero de textordquo se opotildee a gecircneros orais ou gecircneros em outros meios
Certamente os gecircneros textuais possuem caracteriacutesticas que os distinguem dos
gecircneros da pintura por exemplo mas todos satildeo formas de gecircnero O que realmente
estaacute em discussatildeo portanto satildeo as possibilidades (affordances) especiacuteficas da
textualidade versus artes graacuteficas por exemplo (BAZERMAN MILLER 2011 p
22)
Para os estudiosos da sociorretoacuterica os gecircneros pertencem agraves atividades humanas
e as refletem de forma que agrave medida que a linguagem muda mudam consigo os gecircneros natildeo
sendo o mais importante classificar ou nomear um gecircnero mas saber como ele funciona
O conceito de gecircnero de Miller tem como noccedilotildees-chave a recorrecircncia e a accedilatildeo
retoacuterica como se pode entender a partir da definiccedilatildeo dada pela proacutepria autora quando diz que
ldquoo gecircnero eacute uma accedilatildeo retoacuterica tipificada baseada numa situaccedilatildeo retoacuterica recorrenterdquo
(BAZERMAN MILLER 2011 p 22) Sua linha de trabalho define que o gecircnero espelha a
experiecircncia de seus usuaacuterios sendo o texto a forma materializada dessa experiecircncia por meio
da accedilatildeo ali levada a cabo de sua forma e de sua substacircncia (CARVALHO 2005 p 133)
Eacute atraveacutes do processo de tipificaccedilatildeo que satildeo construiacutedas as condiccedilotildees de
recorrecircncia analogias e similaridades necessaacuterias para a compreensatildeo do gecircnero em uma dada
cultura Nesse processo eacute importante o papel do sujeito cognitivo visto que ele capta a
recorrecircncia social de uma determinada comunicaccedilatildeo o que sinaliza padrotildees socialmente
perceptiacuteveis e socialmente determinados moldando-se a eles (BAZERMAN MILLER 2011
p 32)
Para caracterizar como os gecircneros se configuram e se enquadram em organizaccedilotildees
papeis e atividades mais amplas Bazerman (2009) propotildee vaacuterios conceitos que se sobrepotildeem
cada um envolvendo um aspecto diferente dessa configuraccedilatildeo conjunto de gecircneros sistema de
gecircneros e sistema de atividades
Segundo o autor um conjunto de gecircneros eacute ldquoa coleccedilatildeo de tipos de textos que uma
pessoa num determinado papel tende a produzirrdquo (2009 p 32) Compreendemos a partir da
explicaccedilatildeo do autor que eacute exemplificada com os profissionais da engenharia e da educaccedilatildeo que
29
ao identificar todas as formas de escrita com as quais devem trabalhar consegue-se ter acesso
agraves competecircncias habilidades e conhecimentos que lhe satildeo requeridos para que atue com bom
domiacutenio em sua aacuterea
Prosseguindo o autor conceitua um sistema de gecircneros
Um sistema de gecircneros compreende os diversos conjuntos de gecircneros organizados por
pessoas que trabalham juntas de uma forma organizada e tambeacutem as relaccedilotildees
padronizadas que se estabelecem na produccedilatildeo circulaccedilatildeo e uso desses documentos
Um sistema de gecircneros captura as sequecircncias regulares com que um gecircnero segue
outro gecircnero dentro de um fluxo comunicativo tiacutepico de um grupo de pessoas
(BAZERMAN 2009 p 32-33)
Esse aspecto se refere agrave integraccedilatildeo dos conjuntos de gecircneros que satildeo usados por
todos os participantes de uma determinada accedilatildeo social Como exemplo podemos pensar nas
provas de uma disciplina o professor elabora as provas e os alunos fazem as provas Ao analisar
o sistema de gecircneros observa-se a sequecircncia dos gecircneros e torna-se possiacutevel esclarecer quais
accedilotildees sociais as pessoas fazem e a forma pela qual os gecircneros datildeo ferramentas para essas accedilotildees
Por fim Bazerman (2009 p 33) conceitua sistema de atividades relacionando-o
ainda ao sistema de gecircneros ldquoEsse sistema de gecircneros eacute tambeacutem parte do sistema de atividades
da sala de aula Ao definir o sistema de gecircneros em que as pessoas estatildeo envolvidas vocecirc
identifica tambeacutem um frame que organiza o seu trabalho sua atenccedilatildeo e suas realizaccedilotildeesrdquo A
palavra frame eacute compreendida como moldura ou quadro No acircmbito educacional podemos
compreender a expressatildeo como o enquadramento que direciona o trabalho que compete a cada
pessoa imersa na accedilatildeo social
Pensando no exemplo da aacuterea educacional um aluno lida com um conjunto de
gecircneros como as provas os seminaacuterios os apontamentos e dentro do sistema de gecircneros
utilizados seu padratildeo como aluno consiste em estudar para os seminaacuterios tomar apontamentos
e responder agraves questotildees das provas sendo que dentro do sistema de atividades em que se
encontra natildeo pode deixar de atender agrave ordem que o frame lhe impotildee pois se lhe eacute determinado
que faccedila sua prova por escrito natildeo lhe eacute permitido por mais que estivesse respondendo tudo
corretamente utilizar-se de um gecircnero oral para que obtenha a nota ndash o que corrobora com a
afirmaccedilatildeo do autor quando este diz que ldquolevar em consideraccedilatildeo o sistema de atividades junto
com o sistema de gecircneros eacute focalizar o que as pessoas fazem e como os textos ajudam as pessoas
a fazecirc-lo em vez de focalizar os textos como fins em si mesmordquo (BAZERMAN 2009 p 33-
34)
30
Apoacutes essa caracterizaccedilatildeo de como os gecircneros se configuram e se enquadram em
organizaccedilotildees papeis e atividades mais amplas nessa abordagem que comeccedila com as
circunstacircncias em que as pessoas produzem e usam os textos questionando sobre os motivos e
accedilotildees tiacutepicos associados com a escrita e leitura desses textos veremos na seccedilatildeo seguinte a
concepccedilatildeo de gecircneros textuais como fenocircmenos histoacutericos profundamente vinculados agrave vida
cultural e social sob a oacutetica de Marcuschi
213 Gecircnero como fenocircmeno histoacuterico
No Brasil Marcuschi (2015) trabalhou a produccedilatildeo textual sob um enfoque
sociointerativo de gecircneros textuais no contiacutenuo de fala-escrita buscando esclarecer os
processos de compreensatildeo textual e de produccedilatildeo de sentido Coadunando com os conceitos jaacute
expostos de Bakhtin (2011) sobre as interaccedilotildees entendemos que elas se datildeo em domiacutenios
discursivos ou seja esferas da vida social ou institucional (por exemplo religiosa juriacutedica
jornaliacutestica pedagoacutegica poliacutetica industrial militar familiar luacutedica etc) nas quais se datildeo
praacuteticas que organizam formas de comunicaccedilatildeo e respectivas estrateacutegias de compreensatildeo (p
194)
Deste modo para Marcuschi os domiacutenios discursivos produzem ldquomodelos de accedilatildeo
comunicativa que se estabilizam e se transmitem de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo com propoacutesitos e
efeitos definidos e clarosrdquo (2015 p 194) que resultam em formas de accedilatildeo reflexatildeo e avaliaccedilatildeo
social que ldquodeterminam formatos textuais que em uacuteltima instacircncia desembocam na
estabilizaccedilatildeo de gecircneros textuaisrdquo (2015 p 194) tambeacutem organizando as relaccedilotildees de poder
Na concepccedilatildeo de Marcuschi (2015) os gecircneros textuais satildeo entatildeo fenocircmenos
histoacutericos profundamente vinculados agrave vida cultural e social O autor afirma que quando
dominamos um gecircnero textual natildeo dominamos uma forma linguiacutestica mas sim uma forma de
realizar linguisticamente objetivos especiacuteficos em situaccedilotildees sociais particulares (p 31) Isso
equivaleria a dizer que os gecircneros textuais operam em certos contextos como formas de
legitimaccedilatildeo discursiva por se situarem numa relaccedilatildeo soacutecio-histoacuterica com fontes de produccedilatildeo
que lhes datildeo sustentaccedilatildeo
Essa relaccedilatildeo soacutecio-histoacuterica a que se refere o autor trata da construccedilatildeo coletiva que
ordena e estabiliza as atividades comunicativas do dia a dia convergindo com o pensamento de
Bakhtin isto eacute como os gecircneros independem de decisotildees individuais e natildeo satildeo facilmente
manipulaacuteveis eles operam como geradores de expectativas de compreensatildeo muacutetua Nas
31
palavras de Marcuschi (2015 p 189) ldquoos gecircneros textuais natildeo satildeo fruto de invenccedilotildees
individuais mas formas socialmente maturadas em praacuteticas comunicativas na accedilatildeo
linguageirardquo
Em uma tentativa de distribuiccedilatildeo dos gecircneros da oralidade e escrita Marcuschi
(2015) cria um quadro geral3 que mostra que muitos gecircneros satildeo comuns a vaacuterios domiacutenios
figurando a crocircnica gecircnero eleito para a realizaccedilatildeo de nossa pesquisa-accedilatildeo de processo de
produccedilatildeo escrita em forma de sequecircncia didaacutetica nos domiacutenios discursivos ficcional e
jornaliacutestico Na distribuiccedilatildeo do contiacutenuo de fala-escrita que ensaia desenhar Marcuschi mostra
a crocircnica deslizando entre o domiacutenio das conversaccedilotildees na conversa espontacircnea seguindo para
as apresentaccedilotildees e reportagens com as narrativas
Desse modo caminha-se para uma compreensatildeo do que eacute a crocircnica aquele texto
escrito leve e espontacircneo que parece por vezes conversar com seu leitor narrando uma coisa
ou outra do dia a dia podendo conduzi-lo a reflexotildees ou possibilitando-lhe um dia mais bem-
humorado ou mesmo poeacutetico Direcionado para nossa investigaccedilatildeo julgamos esses conceitos
bastante importantes para elucidar para os alunos em que contexto satildeo produzidas as crocircnicas
de onde partem a quem pretendem alcanccedilar
Nesse sentido a partir do exposto concluiacutemos que um gecircnero seria uma resposta
usada pelos usuaacuterios de uma liacutengua em situaccedilotildees especiacuteficas constituiacutedo por caracteriacutesticas
gerais relativamente estaacuteveis Dessa forma aleacutem da intenccedilatildeo da comunicaccedilatildeo existe um
conhecimento comum pelo qual os falantes se orientam em suas decisotildees linguiacutesticas ao
construir o gecircnero de texto que estatildeo produzindo ou que devem produzir em cada contexto
comunicativo Esses gecircneros natildeo surgem naturalmente mas se constroem na interaccedilatildeo
comunicativa e satildeo fenocircmenos sociointerativos
22 Conhecendo a sequecircncia didaacutetica
Com vistas a ajudar o trabalho do professor tem sido muito discutido na uacuteltima
deacutecada o emprego das sequecircncias didaacuteticas especialmente na educaccedilatildeo baacutesica Sua
caracteriacutestica consiste em ser um conjunto de atividades ligadas entre si planejadas para ensinar
um conteuacutedo etapa por etapa Ao organizaacute-la de acordo com os objetivos que pretende alcanccedilar
para seus alunos o professor desenvolve atividades de aprendizagem e de avaliaccedilatildeo
3 Cf Anexo A
32
Para o trabalho em nossa aacuterea Liacutengua Portuguesa nossa pesquisa-accedilatildeo vai se
utilizar do procedimento baacutesico da sequecircncia didaacutetica para o ensino da escrita do gecircnero textual
crocircnica literaacuteria para o 9ordm ano do ensino fundamental inspirada no referencial teoacuterico-
metodoloacutegico de Dolz Noverraz e Schneuwly (2013) na proposta de adaptaccedilatildeo da sequecircncia
didaacutetica conduzida por Swiderski e Costa-Huumlbes (2009) na proposta de circulaccedilatildeo social do
gecircnero discursivo produzido em sequecircncias didaacuteticas de projetos pedagoacutegicos de Lopes-Rossi
(2011) e nas sugestotildees didaacuteticas da praacutetica de sala de aula de Vieira (2005) e de Serafini (2003)
221 Conceito de sequecircncia didaacutetica
Dolz Noverraz e Schneuwly (2013 p 83) reconhecem que os textos escritos ou
orais que produzimos diferenciam-se uns dos outros porque satildeo produzidos em condiccedilotildees
diferentes Apesar dessa diversidade satildeo constatadas regularidades de modo que em situaccedilotildees
semelhantes produzimos textos com caracteriacutesticas semelhantes que os autores chamam de
gecircneros de textos conhecidos de e reconhecidos por todos e que por isso mesmo facilitam a
comunicaccedilatildeo a conversa em famiacutelia ou a negociaccedilatildeo no mercado por exemplo
O conceito baacutesico de sequecircncia didaacutetica segundo os autores (2013 p 83) eacute que
esta eacute um conjunto de atividades escolares organizadas de maneira sistemaacutetica em torno de
um gecircnero textual oral ou escrito e que tem precisamente a finalidade de ajudar os alunos a
dominar melhor um gecircnero de texto o que lhes permitiraacute falar ou escrever de maneira mais
adequada a cada situaccedilatildeo comunicativa
Para o desenvolvimento de nossa pesquisa escolhemos o gecircnero crocircnica literaacuteria
visando o desenvolvimento da competecircncia discursiva dos alunos posto que ainda natildeo
dominam adequadamente a produccedilatildeo de um texto nesse gecircnero Assim como preveem Dolz
Noverraz e Schneuwly (2013 p 83) ldquoo trabalho escolar seraacute realizado evidentemente sobre
gecircneros que o aluno natildeo domina ou o faz de maneira insuficiente sobre aqueles dificilmente
acessiacuteveis espontaneamente pela maioria dos alunos e sobre gecircneros puacuteblicos e natildeo privadosrdquo
De acordo com os autores uma sequecircncia didaacutetica pode ser flexiacutevel no sentido de
que se houver necessidade o professor poderaacute por vezes criar outras atividades ou modificar
os textos de referecircncia utilizados Essa flexibilidade precisa tambeacutem considerar os fenocircmenos
de desencorajamento que poderatildeo manifestar-se durante o tempo consagrado agrave sequecircncia como
por exemplo no aluno o sentimento de que jamais conseguiraacute melhorar seu texto por causa das
dificuldades proacuteprias da escrita no professor nos momentos em que os alunos parecem
33
desconectar-se da proposta projetada perdendo o interesse pela atividade proposta no dia Para
minimizar situaccedilotildees assim eacute que deve ser deixado um espaccedilo para as atividades mais informais
e menos exigentes em termos de tempo (DOLZ NOVERRAZ SCHNEUWLY 2013 p 108)
Percebemos dessa forma que um professor natildeo eacute obrigado a realizar todas as
atividades predeterminadas de uma sequecircncia didaacutetica na sua integralidade Sob pena do rigor
por cumprir aquele planejamento e somente ele no decorrer do processo de aprendizagem
ambos professor e aluno podem sentir que a experiecircncia natildeo foi vaacutelida terminando por realizar
as aulas de modo tradicional natildeo ocorrendo assim o acesso dos alunos a praacuteticas de linguagem
novas ou dificilmente dominaacuteveis
Por ser de caraacuteter progressivo a cada etapa de uma sequecircncia didaacutetica o professor
pode ndash e deve ndash fazer uma reflexatildeo associando o microcosmo que eacute a sala de aula onde
trabalha com um macro que seria o mundo em que estamos inseridos com todo o seu contexto
que pode servir como suporte para que o docente se integre a uma (ou a vaacuterias) teorias que
possa vir a aplicar
Com a reflexatildeo sobre a(s) teoria(s) e construindo seu arcabouccedilo teoacuterico conforme
observa sua praacutetica o professor ndash incluiacutemo-nos aqui ndash como sugere Bortoni-Ricardo (2008)
torna-se pesquisador podendo aprimorar sua postura pedagoacutegica de modo a obter assim
resultados mais satisfatoacuterios junto aos discentes
Dando prosseguimento expomos aqui o os quatro componentes da estrutura baacutesica
de uma sequecircncia didaacutetica segundo Dolz Noverraz Schneuwly (2013) que serve como
inspiraccedilatildeo para as atividades que planejamos para esta pesquisa-accedilatildeo
Figura 1 - Esquema baacutesico de sequecircncia didaacutetica
Fonte Adaptado de DOLZ NOVERRAZ SCHNEUWLY (2013 p 83)
Para Dolz Noverraz e Schneuwly (2013) eacute necessaacuterio que o professor informe os
alunos e conscientize-os da importacircncia dos conteuacutedos a serem trabalhados em sala de aula
Para isso o professor deve claramente definir o problema de comunicaccedilatildeo que devem resolver
Apresentaccedilatildeo da
Situaccedilatildeo
PRODUCcedilAtildeO
INICIAL
PRODUCcedilAtildeO
FINAL
Moacuted
ulo 1
Moacuted
ulo 2
Moacuted
ulo n
34
produzindo um texto e os conteuacutedos com os quais trabalharatildeo no texto que seraacute produzido
Assim na fase inicial de apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo satildeo fornecidas aos alunos as informaccedilotildees
necessaacuterias para conhecerem o ldquoprojeto comunicativo visado e a aprendizagem de linguagem a
que estaacute relacionadordquo (2013 p 85)
Depois dessa contextualizaccedilatildeo com os alunos eles passam agrave primeira produccedilatildeo
tentando elaborar um texto escrito Ora embora os alunos ainda natildeo tenham verdadeiramente
tido o contato aprofundado com o gecircnero esse encaminhamento natildeo necessariamente os potildee
numa situaccedilatildeo de insucesso Ao contraacuterio do que se pode pensar produzir um texto adequado
agrave situaccedilatildeo proposta embora os alunos nesse primeiro momento natildeo atendam a todas as
caracteriacutesticas do gecircnero solicitado permite-lhes descobrir o que jaacute sabem fazer e ganhar
consciecircncia das dificuldades que possuem e ao professor avaliar natildeo somente as dificuldades
apresentadas pelos alunos na produccedilatildeo inicial mas tambeacutem que se apresentarem durante o
processo de produccedilatildeo Desse modo a produccedilatildeo inicial eacute caracterizada como ldquoo primeiro lugar
de aprendizagem da sequecircnciardquo (DOLZ NOVERRAZ SCHNEUWLY 2013 p 87 Grifo dos
autores)
A etapa seguinte se constitui dos moacutedulos isto eacute a decomposiccedilatildeo dos problemas
detectados na primeira produccedilatildeo com consequente fornecimento de instrumentalizaccedilatildeo para a
superaccedilatildeo das dificuldades Esse processo que vai da produccedilatildeo inicial aos moacutedulos os autores
denominaram de ldquomovimento geral da sequecircncia didaacuteticardquo (2013 p 88) partindo do acircmbito
mais complexo que eacute a produccedilatildeo inicial para o mais simples que satildeo os moacutedulos os quais
trabalham as capacidades necessaacuterias ao domiacutenio do gecircnero No fim o movimento da sequecircncia
didaacutetica vai para o complexo novamente que eacute a produccedilatildeo final No processo de elaboraccedilatildeo de
cada moacutedulo os autores levantam trecircs questionamentos 1) Que dificuldades da expressatildeo oral
e escrita abordar 2) Como construir um moacutedulo para trabalhar um problema particular 3)
Como capitalizar o que eacute adquirido nos moacutedulos (2013 p 88)
Para responder a cada uma dessas indagaccedilotildees Dolz Noverraz e Schneuwly (2013
p 88) consideram trecircs dimensotildees no processo de construccedilatildeo dos moacutedulos que satildeo trabalhar
problemas de niacuteveis diferentes variar atividades e exerciacutecios e capitalizar as aquisiccedilotildees
A primeira etapa trabalhar problemas de niacuteveis diferentes baseada na psicologia
da linguagem eacute constituiacuteda por quatro niacuteveis principais na produccedilatildeo de textos a saber
representaccedilatildeo da situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo em que o aluno deveraacute aprender com clareza a fazer
uma imagem ldquodo destinataacuterio do texto da finalidade visada da sua posiccedilatildeo como autor ou
locutor e do gecircnero visadordquo (p 88) elaboraccedilatildeo dos conteuacutedos em que o aluno ldquodeveraacute conhecer
35
as teacutecnicas para buscar elaborar ou criar conteuacutedosrdquo (p 88) planejamento do texto em que o
aluno deveraacute estruturar seu texto de acordo com um plano que depende da finalidade que se
deseja atingir considerando que cada gecircnero se caracteriza por uma estrutura evocando a
compreensatildeo de Bakhtin (2011) ldquorelativamente estaacutevelrdquo realizaccedilatildeo do texto em que o aluno
deveraacute escrever seu texto escolhendo os meios de linguagem mais eficazes para a finalidade
que pretende alcanccedilar
Em relaccedilatildeo agrave segunda etapa variar as atividades e exerciacutecios os autores definem
que ldquoo princiacutepio essencial de elaboraccedilatildeo de um moacutedulo que trate de um problema de produccedilatildeo
textual eacute o de variar os modos de trabalhordquo (p 89) Afirmando que existem variadas categorias
de atividades e exerciacutecios (atividades de observaccedilatildeo e de anaacutelise de textos tarefas simplificadas
de produccedilatildeo de textos e a elaboraccedilatildeo de uma linguagem comum) (p 89) sugerem assim que
cada moacutedulo tenha atividades diversificadas com o objetivo de proporcionar ao aluno diferentes
meios de apropriaccedilatildeo dos conteuacutedos necessaacuterios ao seu sucesso na produccedilatildeo final
A terceira etapa capitalizar as aquisiccedilotildees consiste em aprender a falar sobre o
gecircnero abordado atraveacutes da aquisiccedilatildeo de vocabulaacuterio teacutecnico comum agrave classe e ao professor
A partir dessa construccedilatildeo progressiva dos conhecimentos de linguagem e de regras seraacute
possiacutevel ao professor estimular os alunos a refletir sobre o que foi aprendido nos moacutedulos e
juntos fazerem uma siacutentese na forma de como sugerem os autores lista de constataccedilotildees ou de
lembrete ou glossaacuterio (p 90)
A etapa final da sequecircncia didaacutetica corresponde agrave produccedilatildeo final momento em que
o aluno colocaraacute em praacutetica as noccedilotildees e os instrumentos que foram elaborados e aplicados
durante os moacutedulos sendo o momento para o professor avaliar o aprendizado do aluno Essa
avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo final tem caraacuteter somativo e eacute pautada na construccedilatildeo de uma grade (2013
p 90) de criteacuterios que explicitam aos alunos o que seraacute avaliado permitindo a objetividade ao
pautar-se nos conteuacutedos trabalhados em aula Isso tornaraacute possiacutevel ao professor a observaccedilatildeo
das aprendizagens efetuadas planejar a continuaccedilatildeo do trabalho e se necessaacuterio retornar a
pontos mal assimilados
222 Propostas de adaptaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica
Com vistas a justificar como compusemos a SD aplicada vamos nessa seccedilatildeo
mostrar o aparato teoacuterico de pesquisadoras que contribuiacuteram com propostas de adaptaccedilatildeo e
36
complementaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica do grupo de Genebra buscando propiciar ao professor
um trabalho mais amplo
2221 Moacutedulo de reconhecimento
Baseados na proposta teoacuterico-metodoloacutegica da SD produzida para o contexto
sociocultural dos pesquisadores de Genebra os integrantes de um grupo de estudos em Liacutengua
Portuguesa da regiatildeo Oeste do Paranaacute criaram uma proposta de ensino da LP para as seacuteries
iniciais contendo uma adaptaccedilatildeo (SWIDERSKI COSTA-HUumlBES 2009) que consiste na
inserccedilatildeo de um moacutedulo de reconhecimento do gecircnero antes da etapa de produccedilatildeo inicial em
atividades e exerciacutecios que contemplem a leitura a pesquisa e a anaacutelise linguiacutestica com textos
do gecircnero Para melhor entendimento observemos a figura a seguir
Figura 2 - Esquema da SD adaptada por Costa-Huumlbes
Fonte Adaptado de SWIDERSKI E COSTA-HUumlBES (2009)
Esse moacutedulo inserido antes da produccedilatildeo inicial como proposto pelas autoras serve
segundo elas ao reconhecimento dos aspectos do gecircnero a ser trabalhado na SD em atividades
e exerciacutecios que contemplem a leitura a pesquisa e a anaacutelise linguiacutestica com textos do gecircnero
Na SD ldquoas condiccedilotildees de praacuteticas de leituras envolvem natildeo apenas o contexto de produccedilatildeo e a
relaccedilatildeo autor-texto A esses aspectos somam-se o conhecimento do leitor e o contexto de uso
que conforme Orlandi (1996) satildeo fatores determinantes na produccedilatildeo de sentidosrdquo
(SWIDERSKI COSTA-HUumlBES 2009 p 121)
Diante disso ao avaliarem a proposta da SD as autoras entendem que antes de se
chegar agrave produccedilatildeo inicial o professor pode criar para o estudante vaacuterias situaccedilotildees que envolvam
a praacutetica de leitura de textos do gecircnero selecionado que circulam na sociedade oportunizando
nesse contato com esses textos a mobilizaccedilatildeo de estrateacutegias diferentes frente aos diversos
37
objetivos que implicam o ato de ler e enfatizam que trabalhar com a leitura natildeo exclui o
trabalho com os outros eixos do processo ensino-aprendizagem de LP
As autoras acrescentam ainda sobre o trabalho de reconhecimento do gecircnero
Outro detalhe que salientamos sobre o trabalho de reconhecimento do gecircnero refere-
se ao fato de que as informaccedilotildees sobre o gecircnero natildeo satildeo dadas gratuitamente jaacute que
o mesmo natildeo eacute tratado como uma forma pronta e acabada mas como um instrumento
relativamente estaacutevel Entendido assim a praacutetica de ensino-aprendizagem precisa
incentivar o processo de pesquisa Nessa perspectiva o estudante tem dois problemas
a resolver antes de iniciar sua produccedilatildeo um abarca a pesquisa para conhecer os
elementos que determinam num dado contexto soacutecio-histoacuterico e cultural a produccedilatildeo
e a circulaccedilatildeo das amostras do gecircnero a ser abordado didaticamente e em segundo
a leitura e a anaacutelise dessas amostras novamente buscando reforccedilar o conhecimento
acerca dos elementos que as constituem (SWIDERSKI COSTA-HUumlBES 2009 p
121)
Vemos entatildeo que as leituras para reconhecimento do gecircnero como uma etapa
anterior ao momento da produccedilatildeo inicial servem como base ao trabalho a ser desenvolvido
Inclusive entendemos no tocante a servir como exemplo e modelo que fornecem traccedilos para
possiacuteveis comparaccedilotildees ao longo do desenvolvimento dos moacutedulos como poderemos perceber
na seccedilatildeo correspondente ao nosso trabalho
2222 Moacutedulo de divulgaccedilatildeo ao puacuteblico
Como forma de consolidar para o aluno a visatildeo do uso real de um gecircnero textual
Lopes-Rossi (2011) propotildee a divulgaccedilatildeo das produccedilotildees dos alunos apoacutes a realizaccedilatildeo das tarefas
dos moacutedulos
Deste modo o professor pode entatildeo criar com eficiecircncia projetos pedagoacutegicos
que visem segundo a autora ldquoao conhecimento agrave leitura agrave discussatildeo sobre o uso e as funccedilotildees
sociais dos gecircneros escolhidos e quando pertinente a sua produccedilatildeo escrita e circulaccedilatildeo socialrdquo
(LOPES-ROSSI 2011 p 71)
O quadro a seguir proposto por Lopes-Rossi (2011) reflete os fundamentos sobre
o trabalho com projetos pedagoacutegicos e sintetiza as etapas de desenvolvimento de projetos
pedagoacutegicos que visam agrave produccedilatildeo escrita de gecircneros discursivos incluindo o moacutedulo de
divulgaccedilatildeo ao puacuteblico de acordo com a forma tiacutepica de circulaccedilatildeo de cada gecircnero
38
Quadro 1 ndash Siacutentese das etapas de desenvolvimento de projetos pedagoacutegicos que visam agrave produccedilatildeo escrita de
gecircneros discursivos
Moacutedulos didaacuteticos Sequecircncias didaacuteticas
Leitura para apropriaccedilatildeo das
caracteriacutesticas tiacutepicas do
gecircnero discursivo
rarr Seacuterie de atividades de leitura comentaacuterios e
discussotildees de vaacuterios exemplos do gecircnero para
conhecimento de suas caracteriacutesticas discursivas
temaacuteticas e composicionais (aspectos verbais e natildeo
verbais)
Produccedilatildeo escrita do gecircnero
de acordo com suas
condiccedilotildees de produccedilatildeo
tiacutepicas
rarr Seacuterie de atividades de produccedilatildeo
- planejamento da produccedilatildeo (assunto esboccedilo geral
forma de obtenccedilatildeo de informaccedilotildees recursos
necessaacuterios)
- coleta de informaccedilotildees
- produccedilatildeo da primeira versatildeo
- revisatildeo colaborativa do texto
- produccedilatildeo da segunda versatildeo
- revisatildeo colaborativa do texto
- produccedilatildeo da versatildeo final incluindo o suporte para a
circulaccedilatildeo do texto
Divulgaccedilatildeo ao puacuteblico de
acordo com a forma tiacutepica de
circulaccedilatildeo do gecircnero
rarr Seacuterie de providecircncias para efetivar a circulaccedilatildeo da
produccedilatildeo dos alunos fora da sala de aula e mesmo da
escola de acordo com as necessidades de cada evento
de divulgaccedilatildeo e das caracteriacutesticas de circulaccedilatildeo do
gecircnero Fonte Adaptado de LOPES-ROSSI (2011 p 72)
Se adaptarmos o quadro em forma de esquema a fim de facilitar a visualizaccedilatildeo
teremos
Figura 3 Esquema das etapas de desenvolvimento de projetos pedagoacutegicos visando agrave produccedilatildeo escrita de gecircneros
discursivos
Fonte Adaptado de LOPES-ROSSI (2011)
Segundo a autora a proposta de trabalho pedagoacutegico com gecircneros discursivos pela
oacutetica dos pesquisadores do grupo de Genebra proporciona de fato o desenvolvimento da
Produccedilatildeo
escrita
Divulgaccedilatildeo ao
puacuteblico
Leitura para
apropriaccedilatildeo
39
autonomia do aluno no processo de leitura e produccedilatildeo textual sendo uma consequecircncia do
domiacutenio do funcionamento da linguagem em situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo visto que eacute por meio
dos gecircneros discursivos que as praacuteticas de linguagem incorporam-se agraves atividades dos alunos
Sua oacutetica inclui um moacutedulo de leitura para apropriaccedilatildeo das caracteriacutesticas tiacutepicas
do gecircnero que se pretende trabalhar como jaacute descrito no quadro e que coaduna com a proposta
de Swidesrki e Costa-Huumlbes (2009) O moacutedulo de produccedilatildeo escrita de Lopes-Rossi (2009) trata
de planejamento da produccedilatildeo coleta de informaccedilotildees produccedilatildeo da primeira versatildeo revisatildeo
colaborativa do texto produccedilatildeo da segunda versatildeo revisatildeo colaborativa do texto produccedilatildeo da
versatildeo final incluindo o suporte para a circulaccedilatildeo do texto
Para noacutes eacute interessante considerar o moacutedulo de divulgaccedilatildeo ao puacuteblico pois
somando-se a esse trabalho de desenvolvimento da autonomia a circulaccedilatildeo da produccedilatildeo viraacute
corroborar entatildeo a funccedilatildeo social do texto divulgado no suporte adequado nas condiccedilotildees
apropriadas
2223 Abordagem imitativa da redaccedilatildeo
No capiacutetulo Abordagem imitativa da redaccedilatildeo trabalhando com formatos e gecircneros
que integra a obra Escrita para que te quero Vieira (2005 p 159-171) elenca passos para o
trabalho do professor com os alunos na construccedilatildeo de um texto como se fosse um guia o que
pode ser bastante uacutetil para o trabalho com formatos e gecircneros Seguem os passos
1ordm Dar exemplos do tipo de escrita esperado que em poucas palavras consiste em
oferecer modelos de textos relativamente faacuteceis de ler evidenciando sua estrutura
2ordm Ensinar as regras que consiste em explicitar o caminho para atingir as metas
Se necessaacuterio for diz a autora transmite-se um conhecimento analiacutetico ldquouse esquemas ou
diagramas para ilustrar Leve seus alunos a aprenderem mais a partir de modelos direcionando
a instruccedilatildeo para um alvordquo (VIEIRA 2005 p 159)
3ordm Apresentar uma ldquoreceitardquo passo a passo do gecircnero pretendido o que deixa claro
o que se quer que os alunos produzam e tambeacutem serve de guia para as tarefas de casa quando
estiverem trabalhando sozinhos A receita seraacute tatildeo melhor para os alunos se elaborada
diretamente pelo professor ou pelos proacuteprios alunos Tambeacutem eacute possiacutevel diz a autora adaptar
instruccedilotildees de manuais e usar a proacutepria experiecircncia de redator
40
4ordm Demonstrar a ldquoreceitardquo que eacute um momento em que os alunos percebem o
trabalho na praacutetica com o professor executando alguns ou todos os passos da ldquoreceitardquo
demonstrando como se escreve Os alunos colaboram na criaccedilatildeo conjunta de um texto
5ordm Ser autecircntico no processo que eacute dividir com os estudantes os problemas que
surgem na produccedilatildeo de qualquer texto mostrando como solucionar dialogando com os alunos
trabalhando de forma colaborativa
6ordm Dar tarefas curtas e planejadas com cuidado o que atribui ao trabalho do aluno
mais qualidade Normalmente para impressionar o professor a aluno escreve textos longos
repetitivos e sem atratividade As atividades com limite de extensatildeo favorecem segundo a
autora a motivaccedilatildeo o alcance e a variedade de audiecircncias o feedback do professor a
possibilidade de repeticcedilatildeo da tarefa o que Vieira considera um passo fundamental para se
dominar um conhecimento
7ordm Propiciar feedback uacutetil e especiacutefico Neste aspecto a autora natildeo estimula o
ldquoretoquerdquo dos textos dos alunos feito pelo professor Pelo contraacuterio incentiva criacuteticas justas
que visem a evoluccedilatildeo construindo com o aluno atraveacutes das sugestotildees e questotildees adequadas a
reformulaccedilatildeo de seus textos Vieira acrescenta ainda que este feedback natildeo deveria vir somente
do professor mas de uma variedade de leitores como seus pares e a famiacutelia para evitar a falsa
ideia de que a escrita eacute algo direcionado somente ao professor
8ordm Repetir a tarefa Ningueacutem se torna bom em algo logo na primeira tentativa
Portanto para desenvolver as habilidades eacute importante a repeticcedilatildeo para dominar um
conhecimento
Apoacutes elencar a autora sugere tarefas de aplicaccedilatildeo para o professor de forma bem
praacutetica para criar uma ldquoreceitardquo de escrita com os alunos (2005 p 162) de modo que noacutes
professores nos apropriemos dos diferentes gecircneros textuais conhecendo de antematildeo as
caracteriacutesticas destes e mesmo as dificuldades partindo de textos autecircnticos listando
procedimentos e etapas necessaacuterios para redigir textos semelhantes e refletindo sobre a
instruccedilatildeo que devemos criar estabelecendo um propoacutesito para que o aluno escreva e exercite
apropriadamente o modelo de gecircnero
A partir desse roteiro teoacuterico-metodoloacutegico que traccedilamos ao longo desta seccedilatildeo
inspiramo-nos para criar para o trabalho com o gecircnero crocircnica assunto da proacutexima seccedilatildeo em
nossa pesquisa-accedilatildeo a sequecircncia didaacutetica com foco na produccedilatildeo escrita de crocircnicas literaacuterias
acrescida das etapas de reconhecimento do gecircnero e da divulgaccedilatildeo ao puacuteblico dado o desejo
41
de extrapolar o acircmbito da sala de aula fazendo com que os textos dos alunos tivessem
circulaccedilatildeo social
23 Definindo o gecircnero textual crocircnica
A palavra ldquocrocircnicardquo tem origem no grego antigo khroacutenos e significa tempo Naquela
sociedade o gecircnero ganhou esse nome inicialmente por trazer em seu corpo o relato em ordem
cronoloacutegica dos fatos ou acontecimentos de uma eacutepoca
Um dos pioneiros a estudar o texto literaacuterio segundo Ferreira (2011 p 65) foi o
pensador grego Aristoacuteteles Sua perspectiva formulava o conceito de mimese que seria a obra
literaacuteria como representaccedilatildeo ou imitaccedilatildeo do mundo Considerando essa oacutetica a crocircnica em sua
origem tomava a forma de registro histoacuterico de um povo Aleacutem disso compreende-se que mais
do que apenas encadear a sequecircncia de fatos sucessivos interessava a forma como isso se dava
mostrando o cuidado com a arte literaacuteria
Aproximadamente no seacuteculo XII a crocircnica ressurge em uso na Europa medieval e
tem seu conceito atualizado pela perspectiva grega ora se encarrega de registrar os fatos
fidedignamente o que lhe confere caraacuteter histoacuterico ora relata-os fazendo uso de recursos
linguiacutesticos tanto denotativos quanto conotativos conferindo-lhe caraacuteter de ficccedilatildeo literaacuteria A
esse respeito nos fala Borges (2008 p 205)
A preocupaccedilatildeo com a descriccedilatildeo da histoacuteria de uma vida teve seu iniacutecio no mundo
grego antigo ao mesmo tempo em que surgiu a Histoacuteria como forma de
conhecimento essa era uma Histoacuteria poliacutetica com sua diferenciaccedilatildeoimbricaccedilatildeo com
a memoacuteria Ao longo de mais ou menos dois milecircnios autores acharam que contar a
histoacuteria da vida de algueacutem era algo distinto de uma Histoacuteria (que narrava fatos
coletivos e contava a verdade) as histoacuterias das vidas (termo usado entatildeo pelos
autores) serviam desde o mundo greco-romano para dar exemplos morais negativos
ou positivos - muitas vezes constituindo os panegiacutericos Essa chamada biografia
claacutessica punha um acento muito maior no caraacuteter poliacutetico moral ou religioso do
biografado do que em sua pessoa em sua singularidade No mundo medieval a ideia
dos exempla prolongou-se configurando-se na hagiografia e nas croacutenicas
Esses textos chamados de crocircnicas como caracterizadas acima por Borges (2008)
confundiam-se com outros gecircneros da eacutepoca ndash o que era muito comum ndash por tomarem um
caraacuteter biograacutefico sendo sinocircnimas por exemplo da hagiografia cuja intencionalidade ditava
o estilo do escritor concretizando ao longo da sucessatildeo cronoloacutegica dos fatos uma visatildeo
parcial beirando o excessivamente elogioso
42
A crocircnica percorreu longo curso ateacute ganhar a forma que conhecemos hoje no Brasil
Para Coutinho (2008) a origem de nossa atual crocircnica brasileira estaria no ensaio inglecircs do
seacuteculo XVI O autor a compara ao ensaio informal (informal essay ou familiar essay) que
consiste em seu sentido primitivo numa tentativa numa experimentaccedilatildeo de interpretaccedilatildeo
pessoal dos fatos sem obedecer a uma estrutura predeterminada poreacutem com forte marca da
prosa oral colocada na escrita
A essecircncia do ensaio (nesse sentido original) estaacute em sua relaccedilatildeo com a palavra falada
e com a elocuccedilatildeo oral como se depreende do estudo estiliacutestico dos grandes ensaiacutestas
estilo muito proacuteximo da maneira oral ou do pensamento que eacute captado no proacuteprio ato
e momento de pensar (COUTINHO 2008 p 100)
A respeito do conceito de crocircnica temos a visatildeo de Coutinho (2008) cujos criteacuterios
de classificaccedilatildeo dos gecircneros literaacuterios adotados em sua obra apontam para ldquoum grupo de formas
literaacuterias que resultam de uma explanaccedilatildeo direta dos pontos de vista do autor dirigindo-se em
seu proacuteprio nome ao leitor ou ouvinte sem qualquer artifiacutecio intermediaacuteriordquo (2008 p 99)
Segundo ele o autor vale-se de meacutetodo direto ao inveacutes de indireto em gecircneros ensaiacutesticos ou
discursivos cujos exemplos dados satildeo o ensaio a crocircnica o discurso e o sermatildeo a carta as
memoacuterias o diaacuterio as maacuteximas Outra aproximaccedilatildeo da crocircnica ao ensaio para o autor eacute que
ambos satildeo escritos em linguagem coloquial discorrendo sobre diversos assuntos tais como os
proacuteprios seres humanos os fatos ocorridos com eles as cenas da natureza entre outros
Poreacutem na mesma obra Coutinho (2008) afirma que modernamente a palavra
ensaio veio perdendo seu caraacuteter inicial e etimoloacutegico de tentativa de experimentaccedilatildeo
passando a se confundir com ldquoestudordquo ldquoou o que os ingleses chamam de julgamento isto eacute
que oferecem conclusotildees sobre os assuntos apoacutes discussatildeo argumentaccedilatildeo anaacutelise avaliaccedilatildeordquo
231 A crocircnica brasileira
No seacuteculo XIX a sociedade desenvolve-se industrialmente permitindo o advento
da imprensa Para vaacuterios autores como Barbier (2008 apud FERREIRA 2011) Coutinho
(2008) Cacircndido (1992) Castello (1999) o folhetim eacute a gecircnese da crocircnica moderna sendo o
jornal o suporte em que a crocircnica vai ganhar definitivamente seu espaccedilo Sobre essa relaccedilatildeo na
eacutepoca entre o suporte para o gecircnero e o gosto pelo gecircnero Barbier (2008) fala
Sabe-se hoje que os gecircneros literaacuterios estatildeo intimamente relacionados agraves condiccedilotildees
sociais e histoacutericas que determinam a formaccedilatildeo do puacuteblico leitor com seus gostos e
sensibilidades e que por outro lado eles tambeacutem se alteram com a mudanccedila do
43
suporte material dos textos como o demonstra a Histoacuteria dos manuscritos dos
impressos e das recentes experimentaccedilotildees digitais (BARBIER 2008 apud
FERREIRA 2011 p 73)
Das palavras de Barbier (2008) captamos a importacircncia que passa a ter a imprensa
para a divulgaccedilatildeo dos textos por seu alcance por sua frequecircncia bem como por seu poder de
molde sobre o puacuteblico leitor que se formava na eacutepoca
Antocircnio Candido (1992 p 15) no belo texto A vida ao reacutes-do-chatildeo explica que
ldquoantes de ser crocircnica propriamente dita foi lsquofolhetimrsquo ou seja um artigo de rodapeacute sobre as
questotildees do dia ndash poliacuteticas sociais artiacutesticas literaacuteriasrdquo E completa o autor afirmando que a
crocircnica ldquonatildeo nasceu propriamente com o jornal mas soacute quando este se tornou quotidiano de
tiragem relativamente grande e teor acessiacutevel isto eacute haacute pouco mais de um seacuteculo e meiordquo
(CAcircNDIDO 1992 p 15)
Esse folhetim em geral ficava no rodapeacute da primeira paacutegina do jornal e era
destinado ao entretenimento do leitor Esse espaccedilo com o tempo passou a acolher a ficccedilatildeo
literaacuteria Autores publicavam aiacute seus textos treinando a narrativa Tal foi a receptividade do
formato que ganhou espaccedilo proacuteprio semanalmente Nas palavras de Castello (1999) aquele
texto que veio depois a ser a crocircnica complementaria a funccedilatildeo da imprensa diaacuteria
A partir dos anos [19]20 acentua-se a contribuiccedilatildeo de cronistas e memorialistas Mas
o primeiro gecircnero mais do que o segundo eacute continuidade e amadurecimento de uma
tradiccedilatildeo proveniente do Romantismo quando o ldquofolhetimrdquo semanal eacute definido por
Joseacute de Alencar e enriquecido por Machado de Assis mestre de cronistas que vieram
depois Conta-se ainda a contribuiccedilatildeo da prosa poeacutetica de Raul Pompeia e logo a
seguir de Olavo Bilac Finalmente nos nossos dias seja atividade complementar seja
agraves vezes principal e mesmo uacutenica de vaacuterios escritores a crocircnica se afirma como gecircnero
da preferecircncia de numeroso puacuteblico Contribuiu sempre para difundi-la desde seus
momentos iniciais datados do Romantismo a divulgaccedilatildeo em primeira matildeo pelos
principais jornais e revistas do paiacutes Complementava mesmo pelo seacuteculo XIX a
funccedilatildeo de nossa imprensa diaacuteria tradicionalmente marcada pela colaboraccedilatildeo dos
escritores do momento Surgia como um misto de notiacutecia vaacuteria reflexatildeo invenccedilatildeo e
ateacute mesmo de criacutetica ou impressotildees literaacuterias (CASTELLO 1999 p 377-378)
A crocircnica complementava a imprensa por em seu bojo tratar de assuntos mais
amenos diferindo dos que motivavam as notiacutecias e as reportagens sem no entanto como nos
mostra Cacircndido (1992) deixar de lado o que toca a alma humana
Ora a crocircnica estaacute sempre ajudando a estabelecer ou restabelecer a dimensatildeo das
coisas e das pessoas Em lugar de oferecer um cenaacuterio excelso numa revoada de
adjetivos e periacuteodos candentes pega o miuacutedo e mostra nele uma grandeza uma beleza
ou uma singularidade insuspeitada Ela eacute amiga da verdade e da poesia nas suas
formas mais diretas e tambeacutem nas suas formas mais fantaacutesticas - sobretudo porque
quase sempre utiliza o humor (CAcircNDIDO 1992 p 14)
44
Amenos sim poreacutem as crocircnicas de um ou outro modo conduziam o leitor mesmo
que por caminhos suaves de ldquoar despreocupado de quem estaacute falando de coisas sem maior
consequecircnciardquo (CAcircNDIDO 1992 p 17) agrave criacutetica social agrave reflexatildeo sobre o significado das
accedilotildees e dos sentimentos do homem
Segundo Coutinho (2008 p 106) o caminho que conduziria agrave crocircnica brasileira
comeccedila com Francisco Otaviano no Jornal do Commercio no Rio de Janeiro em 2 de
dezembro de 1852 Nessa data eacute inaugurada a seccedilatildeo ldquoA semanardquo em que seriam publicados os
folhetins literaacuterios do Romantismo
O folhetim seccedilatildeo ao final da paacutegina apresentou caracteriacutesticas que se agrupadas
conforme a frequecircncia do teor das publicaccedilotildees seriam de variedades e de romances O primeiro
grupo o de variedades abordava assuntos diversos da eacutepoca tratando de tudo um pouco e
ocupava a primeira paacutegina do jornal O segundo por sua vez destinava-se a textos de ficccedilatildeo
Esse espaccedilo passou a publicar romances de autores da eacutepoca distribuiacutedos em histoacuterias seriadas
ou capiacutetulos provocando no puacuteblico leitor a curiosidade pelo que viria a seguir tornando-se
um sucesso permitindo ldquoalavancar as vendas aumentar as assinaturas e por conseguinte
ampliar as vantagens financeiras dos jornaisrdquo (SANTOS 2008 p 68)
Essa iniciativa abriu espaccedilo para publicaccedilotildees de romances de autores brasileiros O
guarani de Joseacute de Alencar por exemplo foi desenvolvido a princiacutepio para o folhetim Em 1ordm
de janeiro de 1857 saiu o capiacutetulo inicial do romance no Diaacuterio do Rio de Janeiro Ao final
daquele ano foi publicado como livro com alteraccedilotildees miacutenimas em relaccedilatildeo ao que fora
publicado em folhetim
A evoluccedilatildeo da sociedade industrial refletiu sua setorizaccedilatildeo no modo de organizaccedilatildeo
dos jornais O folhetim para variedades teve sua alteraccedilatildeo quando foram criadas seccedilotildees
especiacuteficas para assuntos especiacuteficos de maneira a organizar o jornal Para o folhetim restaram
assuntos mais corriqueiros de cunho mais descompromissado com a veracidade dos fatos ndash
estes ficariam para as notiacutecias A esses textos mais leves cujo caraacuteter era efecircmero com a mera
funccedilatildeo de distrair o leitor passou-se a dar o nome de crocircnica
232 Caracteriacutesticas da crocircnica
Apesar da filiaccedilatildeo ao jornal as caracteriacutesticas atuais do gecircnero crocircnica vatildeo aleacutem do
desenvolvimento da imprensa Como bem nos resume Amaral (2008) tambeacutem estatildeo
intimamente relacionadas agraves transformaccedilotildees sociais e agrave valorizaccedilatildeo da histoacuteria social isto eacute da
45
histoacuteria que considera importantes os movimentos de todas as classes sociais e natildeo soacute os das
grandes figuras poliacuteticas ou militares Em suas palavras no ldquoregistro da histoacuteria social assim
como na escrita das crocircnicas um dos objetivos eacute mostrar a grandiosidade e a singularidade dos
acontecimentos miuacutedos do cotidianordquo (2008 p 12)
Eacute efecircmera simples e dinacircmica em sua linguagem como nos fala Cacircndido (1992 p
14)
Isto acontece porque natildeo tem pretensotildees a durar uma vez que eacute filha do jornal e da
era da maacutequina onde tudo acaba tatildeo depressa Ela natildeo foi feita originalmente para o
livro mas para essa publicaccedilatildeo efecircmera que se compra num dia e no dia seguinte eacute
usada para embrulhar um par de sapatos ou forrar o chatildeo da cozinha Por se abrigar
nesse veiacuteculo transitoacuterio o seu intuito natildeo eacute o dos escritores que pensam em ldquoficarrdquo
isto eacute permanecer na lembranccedila e na admiraccedilatildeo da posteridade e a sua perspectiva
natildeo eacute a dos que escrevem do alto da montanha mas do simples reacutes-do-chatildeo
(CAcircNDIDO 1992 p 14)
As crocircnicas contemporacircneas organizam sua narrativa em primeira ou terceira
pessoa quase sempre como quem conta um caso em tom intimista Ao narrar os autores
inserem em seu texto trechos de diaacutelogos permeados por expressotildees cotidianas escrevendo
como quem conversa com seus leitores como se estivessem muito proacuteximos Como temaacutetica
os cronistas tratam de reflexotildees sobre a vida social poliacutetica econocircmica por vezes de forma
humoriacutestica outras de modo mais seacuterio outras com um jeito poeacutetico que indica o pertencimento
do gecircnero agrave esfera literaacuteria
Assim uma forte caracteriacutestica do gecircnero eacute ter uma linguagem que mescla aspectos
da escrita com outros da oralidade E por causa do uso de linguagem coloquial e da proximidade
com os fatos cotidianos a crocircnica por vezes eacute vista como literatura ldquomenorrdquo Essa suposta
classificaccedilatildeo como gecircnero literaacuterio menor natildeo diminui sua importacircncia Por ser breve leve de
faacutecil acesso envolvente ela possibilita momentos de fruiccedilatildeo a muitos leitores que nem sempre
tecircm acesso ndash ou natildeo gostam devido agrave extensatildeo ndash aos romances Para compreendermos as
caracteriacutesticas da crocircnica precisamos conhecer como ela se manifesta como texto jornaliacutestico
e tambeacutem como texto literaacuterio
2321 Crocircnica um gecircnero jornaliacutestico
Para termos uma ideia de como eacute vista a crocircnica na esfera jornaliacutestica valemo-nos
da classificaccedilatildeo do pioneiro na aacuterea Luiacutes Beltratildeo (1980 p 67 Grifos do autor)
O primeiro aspecto eacute quanto agrave natureza do tema Deste modo ele apresenta trecircs
46
espeacutecies
a) crocircnica geral tambeacutem chamada de coluna ou seccedilatildeo especial que aborda
assuntos variados ldquosob uma epiacutegrafe geralrdquo ou localizada em paacutegina fixa no
jornal
b) crocircnica local tambeacutem chama de urbana ou da cidade divulgada sob a mesma
epiacutegrafe que fala da vida cotidiana da cidade recebendo e orientando a opiniatildeo
puacuteblica da comunidade onde circula o jornal
c) crocircnica especializada tambeacutem chamada de comentaacuterio integra uma paacutegina ou
seccedilatildeo do jornal determinada destacando-se graficamente das demais mateacuterias
ali publicadas trata de assuntos referentes a uma aacuterea especiacutefica de atividade
cujo autor eacute um expert como nos casos de poliacutetica esportes ou economia
O segundo aspecto eacute o tratamento dado ao tema Beltratildeo (1980 p68) apresenta
mais trecircs classificaccedilotildees
a) crocircnica analiacutetica em que o cronista expotildee os fatos com brevidade e os analisa
com objetividade dirigindo-se ldquomais agrave inteligecircncia que ao coraccedilatildeordquo com
linguagem soacutebria e elegante poreacutem dotada de capricho e graccedila
b) crocircnica sentimental em que o cronista apela para a sensibilidade de seu leitor
retirando-se dos fatos e explorando aspectos liacutericos pitorescos ou eacutepicos de
modo a comovecirc-lo e influenciaacute-lo agrave accedilatildeo com linguagem vivaz ritmo aacutegil sem
dar profundidade ao tema
c) crocircnica satiacuterico-humoriacutestica em que o objetivo do cronista eacute criticar fatos accedilotildees
personagens ou pronunciamentos comentados ndash amplamente conhecidos do
puacuteblico ndash ridicularizando-os ou ironizando-os buscando o entretenimento do
leitor utilizando linguagem com linguagem figurada com duplo sentido
palavras aspeadas e verbos no futuro do preteacuterito Para Beltratildeo (1980) a esse tipo
de crocircnica se assemelham as charges dos jornais
2322 Crocircnica um gecircnero literaacuterio
A crocircnica como vimos previamente surgiu no espaccedilo do jornal Embora o
utilizasse como suporte e a partir dele tenha se firmado desenvolveu caracteriacutesticas proacuteprias
indo para aleacutem da esfera jornaliacutestica alcanccedilando assim a esfera literaacuteria Nas palavras de
Eduardo Portela (apud Coutinho 2008 p 107)
47
O fundamental na crocircnica eacute a superaccedilatildeo de sua base jornaliacutestica e urbana em busca de
transcendecircncia seja construindo ldquouma vida aleacutem da notiacuteciardquo Seja enriquecendo a
notiacutecia ldquocom elementos de tipo psicoloacutegico metafiacutesicordquo ou com o humour seja
fazendo ldquoo subjetivismo do artistardquo ldquoo seu universo internordquo sobrepor-se ldquoagrave
preocupaccedilatildeo objetiva do cronistardquo (PORTELA apud COUTINHO 2008 p 107)
Como se vecirc essa base jornaliacutestica que atrelava a crocircnica agrave notiacutecia foi
gradativamente superada Natildeo soacute em jornais mas tambeacutem em revistas ela passou a ser
publicada ainda trazendo em si o aspecto da brevidade Poreacutem as que alcanccedilaram a
transcendecircncia de que nos fala o autor passaram a tambeacutem ser publicadas em livros reunidas
em coletacircneas organizadas por autores e editoras chegando mesmo a serem inseridas nos livros
didaacuteticos do ensino baacutesico
Para aleacutem dessa caracteriacutestica da crocircnica literaacuteria impressa temos agora tambeacutem
no seacuteculo XX a crocircnica cujo suporte eacute o meio online divulgada amplamente por meio das redes
sociais sites ou blogs Nesses meios tambeacutem haacute crocircnicas ligadas a notiacutecias sim No entanto a
dinacircmica da vida a capacidade de observaccedilatildeo e a vontade crescente na sociedade de expressatildeo
permite que o subjetivo emerja externalizando o universo dos autores modernos tocando os
leitores igualmente modernos tornando puacuteblico o que poderia ser antes apenas privado natildeo
priorizando apenas a objetividade histoacuterica que buscaram os cronistas incipientes
Considerando todas essas formas de tornar puacuteblica a crocircnica vejamos algumas de
suas caracteriacutesticas mais expressivas Afracircnio Coutinho (2008 p 107 Grifos nossos) fala sobre
os diversos tipos da crocircnica na literatura brasileira afirmando ser possiacutevel classificaacute-los pela
natureza do assunto ou pelo movimento interno Satildeo eles
a) a crocircnica narrativa que se aproxima do conto por ter seu eixo em uma histoacuteria
b) a crocircnica metafiacutesica que se constitui de aura de reflexotildees mais ou menos
filosoacuteficas sobre os acontecimentos ou os homens
c) a crocircnica-poema em prosa que traz em si conteuacutedo liacuterico resultante de mero
extravasamento da alma do artista ante o espetaacuteculo da vida das paisagens ou
episoacutedios para ele significativos
d) a crocircnica-comentaacuterio que trata das variedades dos acontecimentos e que tem
ldquono dizer de Eugecircnio Gomes o aspecto de um lsquobazar asiaacuteticorsquo acumulando
muita coisa diferente ou diacutesparrdquo
Antocircnio Cacircndido (1992 p 21) sugere sem pretensatildeo de categorizar uma
classificaccedilatildeo das crocircnicas Poderiacuteamos agrupar conforme seus exemplos da seguinte forma
48
a) crocircnicas que satildeo diaacutelogos e que nelas podemos perceber que o cronista e seu
leitor ideal se revezam nos pontos de vista e nas informaccedilotildees
b) crocircnicas que marcham rumo ao conto ldquoagrave narrativa mais espraiada com certa
estrutura de ficccedilatildeordquo
c) crocircnicas que parecem anedotas desdobradas
d) crocircnicas que se aproximam da exposiccedilatildeo poeacutetica ou de certo tipo de biografia
liacuterica construiacutedas por enumeraccedilatildeo parecendo uma divagaccedilatildeo livre ldquouma
cadeia de associaccedilotildees totalmente sem necessidade que deveria resultar em
simples acuacutemulo de palavrasrdquo mas que resulta em ldquoum sistema expressivo tatildeo
perfeitordquo
Nos tempos em que vivemos e para nosso projeto escolhemos crocircnicas que se
apresentaram para noacutes tatildeo efecircmeras quanto as do jornal impresso as de meio virtual online
Bem certo que natildeo foram todas mas vaacuterias que nossos alunos leram encaixam-se nesse perfil
O advento da internet permite que acessemos textos dos mais variados gecircneros Em nosso caso
crocircnicas de autores de diversos pontos do Paiacutes Usamos famosos e outros cuja fama no meio
literaacuterio ainda estaacute se nacionalizando porquanto alguns jaacute estejam bem consolidados no meio
em seus estados
Como nosso objetivo maior nesta pesquisa-accedilatildeo eacute contribuir para o
desenvolvimento da competecircncia escrita dos alunos neste caso os do 9ordm ano do Ensino
fundamental ano divisor de aacuteguas prestes a entrar para o ensino meacutedio quando lhes seraacute
cobrado um conhecimento que muitos natildeo chegam a alcanccedilar que eacute o de ter boa escrita boa
produccedilatildeo textual propiciar-lhes-emos conhecer as etapas especiacuteficas do processo atraveacutes de
nossa SD o que lhes seraacute fundamental natildeo somente para os niacuteveis escolares seguintes mas
tambeacutem para as praacuteticas sociais nas quais estatildeo inseridos
A escolha do gecircnero natildeo poderia ter sido mais oportuna Nas palavras de Cacircndido
(1992 p 16) sobre a crocircnica ldquoo seu grande prestiacutegio atual eacute um bom sintoma do progresso de
busca da oralidade na escrita isto eacute na quebra do artifiacutecio e aproximaccedilatildeo com o que haacute de mais
natural no modo de ser do nosso tempo E isto eacute humanizaccedilatildeo da melhorrdquo
49
3 LEITURA E ESCRITA NOS ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
Nesta seccedilatildeo tratamos da questatildeo da escrita no ensino fundamental nos anos finais
refletindo sobre o que ensinar em Liacutengua Portuguesa como os professores trabalham como
veem a importacircncia das aulas de escrita
31 Habilidades de leitura e escrita para que ler e escrever
No iniacutecio do seacuteculo XX pensava-se nas aulas de liacutengua materna como o momento
de se transmitir a norma culta da liacutengua portuguesa para os estudantes oriundos da classe social
alta A linguagem era vista como a expressatildeo do pensamento e a capacidade de escrever seria
portanto uma consequecircncia do pensar Na escola os textos literaacuterios eram valorizados e os
regionalismos ignorados Tambeacutem era descartada a ideia de se ler na escola jornais ou
quaisquer textos de nuances coloquiais
A partir da segunda metade do seacuteculo XIX comeccedilaram a surgir no Paiacutes ainda que
alguns fossem impressos na Europa livros de leitura destinados especificamente agraves seacuteries
iniciais da escolarizaccedilatildeo Segundo Galvatildeo e Batista (sd) autores como Abiacutelio Ceacutesar Borges e
Felisberto de Carvalho editaram livros considerados inovadores para a eacutepoca por terem caraacuteter
enciclopeacutedico trazendo conteuacutedos de vaacuterias aacutereas do conhecimento sendo de cunho instrutivo
e moral Essas obras destinadas ao aprendizado inicial da leitura e da escrita visavam substituir
as cartilhas grosseiras ou os materiais manuscritos que no entanto na maior parte do paiacutes
continuaram sendo usados
No iniacutecio do seacuteculo XX foram publicados livros cujo formato comeccedilou a modificar
o conceito de livro usado nas escolas Atraveacutes do Brasil de Olavo Bilac e Manuel Bonfim e
Narizinho arrebitado de Monteiro Lobato marcaram a histoacuteria
Movidos pelo nacionalismo que caracterizava aquele momento brasileiro os autores
construiacuteram um livro que traz uma narrativa contiacutenua ao longo dos capiacutetulos contando
a histoacuteria de trecircs meninos viajando atraveacutes do paiacutes No prefaacutecio os autores afirmam
que atraveacutes da histoacuteria narrada o professor teria material para desenvolver os diversos
assuntos necessaacuterios agrave instruccedilatildeo das crianccedilas Aleacutem disso e talvez sobretudo os
autores tecircm uma preocupaccedilatildeo com a educaccedilatildeo moral dos meninos e meninas Em
1921 outro livro marcaria a histoacuteria dos livros de leitura Narizinho Arrebitado de
Monteiro Lobato Um dos grandes sucessos da literatura infantil brasileira nasceu
como 2o livro de leitura para as escolas E com ele uma grande inovaccedilatildeo Segundo
a criacutetica da eacutepoca o livro se diferenciava de toda a literatura didaacutetica produzida no
Brasil na medida em que trazia para a escola um aspecto ateacute entatildeo ignorado pela
instituiccedilatildeo provocar o prazer na leitura (GALVAtildeO BATISTA sd)
50
Da deacutecada de 20 ateacute meados da de 50 inuacutemeros livros de leitura foram produzidos
e algumas editoras especializaram-se na produccedilatildeo de livros didaacuteticos Nesse momento vaacuterias
reformas de ensino foram empreendidas por diversos Estados
Nos anos 1970 a linguagem passou a ser vista como um instrumento de
comunicaccedilatildeo como nos fala Raupp (2005)
A concepccedilatildeo agora eacute a de linguagem como instrumento de comunicaccedilatildeo e os
objetivos de ensino satildeo pragmaacuteticos e utilitaacuterios natildeo se trata mais de promover o conhecimento
do sistema linguiacutestico ndash o saber a respeito da liacutengua ndash mas do desenvolvimento das habilidades
de expressatildeo e compreensatildeo de mensagens ndash o uso instrumental e comunicativo da liacutengua A
escola abre-se para a pluralidade de linguagens e culturas
Segundo a autora ensinar a liacutengua nas escolas era priorizar o ensino de gramaacutetica
Poreacutem no iniacutecio dos anos 70 a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo nordm 569271
provocou mudanccedilas natildeo somente na disciplina de Liacutengua Portuguesa mas em todas as demais
disciplinas curriculares A liacutengua no contexto ideoloacutegico do movimento militar poacutes-64 eacute
considerada instrumento a serviccedilo do desenvolvimento Assim a disciplina ldquoPortuguecircsrdquo passa
a ser denominada de Comunicaccedilatildeo e Expressatildeo (nas seacuteries iniciais) Comunicaccedilatildeo em Liacutengua
Portuguesa (nas seacuteries finais) e no 2deg grau Liacutengua Portuguesa e Literatura Brasileira O aluno
deveria respeitar modelos para construir textos e transmitir mensagens Os gecircneros natildeo
literaacuterios foram incorporados agraves aulas
Chegando agrave deacutecada de 1980 foi sendo revista refletida e ampliada a concepccedilatildeo de
linguagem como um instrumento de comunicaccedilatildeo passando a influenciar o ensino e mostrando
que o foco deve estar na interaccedilatildeo entre as pessoas Poreacutem apesar dos novos estudos mesmo
entrando na deacutecada de 1990 professores ainda reproduziam mesmo que inconscientemente o
mesmo sistema de transposiccedilatildeo didaacutetica de conteuacutedos e a mesma atribuiccedilatildeo de valor e
importacircncia ao ensino prescritivo e normativo com que construiacuteram sua formaccedilatildeo tanto pessoal
quanto pedagoacutegica
Questionava-se para que serve a escola E trazendo para nossa aacuterea de interesse
para que serve a disciplina Liacutengua Portuguesa Para alguns a escola era e ainda eacute vista como
preparatoacuteria de alunos para o vestibular tanto mais se aproximava do ensino meacutedio No entanto
se a escola se detiver apenas a esses exames perderaacute completamente seu papel social que como
sabemos eacute muito mais abrangente que fazer uma prova cuja finalidade eacute especiacutefica objetiva e
limitada por um tempo e por uma seacuterie de outras determinaccedilotildees teacutecnicas
51
Nesse sentido a escola natildeo tem por finalidade maior garantir o preparo de alunos
para concursos pois natildeo cumpriria seu papel de promover a inclusatildeo social dos cidadatildeos Para
aleacutem da escola haacute a vida e toda sua abrangecircncia social e poliacutetica Entatildeo para de fato promover
a inclusatildeo de cada aluno nada mais importante do que incluiacute-los no mundo da leitura e da
escrita da anaacutelise e da reflexatildeo criacutetica estimulando-os agrave criaccedilatildeo
Valemo-nos das palavras de Antunes (2007 p110) a respeito do conflito sobre o
que ensinar nas aulas de Liacutengua Portuguesa quando questiona o que leva ainda algumas pessoas
a defenderem a prioridade de um ensino concentrado em ldquoanalisar frases para identificar
substantivos adjetivos verbos sublinhar diacutegrafos distinguir objeto preposicionado de objeto
direto pleonaacutestico classificar oraccedilotildees e outras categorias metalinguiacutesticasrdquo Por que falantes da
liacutengua materna natildeo tecircm familiaridade com a liacutengua em sua modalidade escrita em sua forma
espontacircnea de uso Raupp (2005 p 53) apresenta-nos uma resposta
A verdade eacute que por mais que se tenham alterado meacutetodos e teacutecnicas pressupostos e
concepccedilotildees no ensino de Liacutengua Portuguesa uma premissa permaneceu inalterada a
necessidade de se ensinaraprender a leitura e a escrita E apesar de inuacutemeras
alteraccedilotildees didaacutetico-metodoloacutegicas ocorridas ao longo do percurso o ler e o escrever
permanecem gerenciadores de todo o processo de inserccedilatildeo do sujeito na escola e fora
dela A esse respeito menciona Britto (1997 p100) ldquoo aprendizado efetivo da escrita
(e aqui eu acrescentaria e da leitura) natildeo decorre de um processo de treinamento mas
da inserccedilatildeo do sujeito no mundo da relaccedilatildeo que estabelece entre o que aprende e seu
universo soacutecio-histoacutericordquo e a inserccedilatildeo do sujeito no mundo inegavelmente ocorre
por meio da leitura deste mundo (RAUPP 2005 p 53)
De certa maneira a tradiccedilatildeo dos meacutetodos de ensino da liacutengua materna na escola
ainda contribui no sentido de natildeo se estimular os aprendizes a fluir na leitura e na escrita
(BEZERRA 2014 LOPES-ROSSI 2012)
Com o intuito de superar meacutetodos tatildeo tradicionais quanto ineficientes no ensino da
competecircncia discursiva e sensiacuteveis agraves transformaccedilotildees gestadas nos centros de conhecimento
no ano de 1996 foi promulgada apoacutes longos debates e discussotildees a Lei de Diretrizes e Bases
que rege a educaccedilatildeo brasileira com vistas agraves novas formas do pensar e agir docente de modo
a implementar a transformaccedilatildeo do olhar das instituiccedilotildees que formam professores bem como
auxiliar os docentes jaacute em exerciacutecio atraveacutes das instituiccedilotildees que lhes propiciam a formaccedilatildeo
continuada
Assim os Paracircmetros Curriculares Nacionais (1997) reconhecem que o ensino da
liacutengua portuguesa pautado em uma prioridade de estudos de aspectos normativos ou gramaticais
da liacutengua eacute limitado e insuficiente e sugerem redirecionar o foco para a praacutetica de leitura e ndash
aspecto muito importante ndash o exerciacutecio da escrita de textos nos mais variados gecircneros textuais
52
existentes na sociedade possibilitando o estudo da liacutengua em contextos reais de uso natildeo apenas
como um conjunto de normas
A importacircncia e o valor dos usos da linguagem satildeo determinados historicamente
segundo as demandas sociais de cada momento Atualmente exigem-se niacuteveis de leitura e de
escrita diferentes dos que satisfizeram as demandas sociais ateacute haacute bem pouco tempo e tudo
indica que essa exigecircncia tende a ser crescente A necessidade de atender a essa demanda
obriga agrave revisatildeo substantiva dos meacutetodos de ensino e agrave constituiccedilatildeo de praacuteticas que possibilitem
ao aluno ampliar sua competecircncia discursiva na interlocuccedilatildeo (BRASIL 1998 p 23)
Nesse sentido os PCN (1997) orientam o trabalho em sala em direccedilatildeo agrave ampliaccedilatildeo
do uso da liacutengua aos contextos natildeo podendo ficar reduzida apenas ao trabalho sistemaacutetico com
a mateacuteria gramatical visto que aprender a pensar e falar sobre a proacutepria linguagem realizar
uma atividade de natureza reflexiva uma atividade de anaacutelise linguiacutestica supotildee duas situaccedilotildees
planejar situaccedilotildees didaacuteticas que possibilitem a reflexatildeo natildeo somente sobre os diferentes
recursos expressivos utilizados pelo autor do texto mas tambeacutem sobre a forma pela qual a
seleccedilatildeo de tais recursos reflete as condiccedilotildees de produccedilatildeo do discurso e as restriccedilotildees impostas
pelo gecircnero e pelo suporte e tomar como objeto de reflexatildeo os procedimentos de planejamento
de elaboraccedilatildeo e de refacccedilatildeo dos textos (BRASIL 1997 p 8 Grifo nosso)
Produzir textos requer dessa forma estudar os diferentes modos de expressatildeo
abrindo-se aiacute para o aluno uma gama de possibilidades de manifestaccedilatildeo de ideias atraveacutes do
conhecimento de sua liacutengua quando de seu uso nas relaccedilotildees de interaccedilatildeo pessoal No entanto
para que essa produccedilatildeo seja efetiva haacute que se ter em mente que qualquer atividade de produccedilatildeo
textual bem-sucedida requer o exerciacutecio da escrita e da reescrita pois se considera que nesse
processo de aperfeiccediloamento as aulas tomadas entre o iniacutecio e o teacutermino de uma sequecircncia ou
seja entre a produccedilatildeo inicial e a produccedilatildeo final sejam vaacuterias e variadas com planejamento para
conhecer as necessidades de cunho geral da turma como as caracteriacutesticas de um gecircnero bem
como as de cunho individual do aluno como as limitaccedilotildees no reconhecimento do gecircnero
textual na construccedilatildeo de argumentos nas convenccedilotildees da escrita culta
Para boa parte das crianccedilas e dos jovens brasileiros a escola eacute o uacutenico espaccedilo que
pode proporcionar acesso a textos escritos textos estes que se converteratildeo inevitavelmente em
modelos para a produccedilatildeo Se eacute de esperar que o escritor iniciante redija seus textos usando como
referecircncia estrateacutegias de organizaccedilatildeo tiacutepicas da oralidade a possibilidade de que venha a
construir uma representaccedilatildeo do que seja a escrita soacute estaraacute colocada se as atividades escolares
53
lhe oferecerem uma rica convivecircncia com a diversidade de textos que caracterizam as praacuteticas
sociais (BRASIL 1998 p 25-26)
Para levar o aluno a desenvolver suas habilidades de escrita um passo eacute planejar
sequecircncias que abordem as caracteriacutesticas do gecircnero a ser trabalhado permitindo-lhe pocircr em
aproximaccedilatildeo eou contraste seus saberes com os conhecimentos a serem construiacutedos algo que
tem se revelado bastante difiacutecil
Para o trabalho com a escrita em Liacutengua Portuguesa pode-se partir da questatildeo
essencial o que se deve ensinar para os alunos Para a resposta eacute importante entendermos a
escrita como processo quais satildeo as etapas Quais as estrateacutegias de escrita Qual o papel do
professor neste processo Para fundamentar a didaacutetica da escrita eacute importante conhecer os
processos de redigir e tambeacutem considerar como motivar os alunos a escrever Vamos para este
estudo nortearmo-nos em Serafini (2003) Koch e Elias (2009) e Vieira (2005)
32 Escrita e motivaccedilatildeo
Vieira (2005 p 71) traz agrave tona uma reflexatildeo sobre a necessidade de motivar a
escrita pois essa praacutetica permeia todas as nossas atividades cotidianas e eacute cada vez mais
indispensaacutevel Em sua anaacutelise entende que os atos de escrita que acontecem na escola
apresentam uma defasagem entre a realidade do mundo da palavra e a palavra do mundo
escolar Por vezes os alunos escrevem textos sem instruccedilotildees claras e sem um destinataacuterio
concreto aleacutem do professor cujo papel consiste em corrigir os erros de gramaacutetica e ortografia
Uma criacutetica pertinente da autora eacute que nossas escolas ainda estatildeo em sua maioria
com um atraso pedagoacutegico quanto ao trabalho com a escrita seus usos sociais e os processos
do redator Apesar de muitas abordagens e contribuiccedilotildees pedagoacutegicas que trabalham esses usos
sociais e o ato de redigir em funccedilatildeo de uma audiecircncia para o texto ou de um propoacutesito
comunicativo terem despontado essas ideias permanecem distantes da realidade do ensino Em
sua contribuiccedilatildeo para o tema motivaccedilatildeo Vieira (2005 p 70) afirma ldquoSe o impulso
comunicativo para escrever eacute determinante de escolhas temaacuteticas estruturais estiliacutesticas e
pragmaacuteticas no texto em composiccedilatildeo de partida isso jaacute deveria implicar num cuidado muito
maior em relaccedilatildeo ao quecirc e como satildeo propostos os atos de escrita na escolardquo
Essas proposiccedilotildees de que trata a autora atentam para que consideremos que estamos
na era digital em que a tecnologia absorve bastante a atenccedilatildeo dos alunos o que atribui novas
funccedilotildees para a escrita Para motivaacute-los as atividades precisam entatildeo levaacute-los a se sentirem
54
capazes de se envolver e de completar a tarefa isto eacute de ter competecircncia e controle sobre ela
controle sobre seus textos e sobre a situaccedilatildeo de escrita Essa autopercepccedilatildeo de competecircncia e
controle cuja recompensa eacute a autogratificaccedilatildeo eacute conceituada como motivaccedilatildeo intriacutenseca
concebida do ponto de vista cognitivista em oposiccedilatildeo ao conceito behaviorista de motivaccedilatildeo
cujo foco estaacute em recompensas externas chamado de motivaccedilatildeo extriacutenseca
Para o ensino segundo Vieira (2005) a percepccedilatildeo de competecircncia eacute muito
importante no que tange ao engajamento em tarefas Se o aluno natildeo se percebe competente
numa aacuterea maior sua necessidade de assistecircncia externa para se desincumbir de uma tarefa
Desse modo Vieira (2005 p 73) diz que
A ideia eacute que quando os estudantes se apropriam de sua escrita seu niacutevel de
engajamento seraacute mais alto Assim todo redator do principiante ao profissional deve
ser encorajado a apropriar-se de seu texto usando a escrita para expressar sua
compreensatildeo pessoal dos assuntos e para buscar seus proacuteprios propoacutesitos acadecircmicos
e sociais (VIEIRA 2005 p 73)
Visando entatildeo propiciar uma maior motivaccedilatildeo para redigir Vieira (2005) lista em
um quadro algumas atitudes de intervenccedilatildeo possiacuteveis cujos princiacutepios e praacuteticas aceitamos
como norte em nossa pesquisa de acordo com as possibilidades e dificuldades verificadas na
turma considerando a SD que foi aplicada Vejamos a seguir
Quadro 2 ndash Motivaccedilatildeo e envolvimento na produccedilatildeo escrita
ELEMENTOS BAacuteSICOS PRINCIacutePIOS E PRAacuteTICAS EFEITOS GERADOS
a) Competecircncia + assistecircncia
b) Controle (textosituaccedilatildeo de
escrita)
Encorajar a apropriaccedilatildeo do
texto
Compartilhar e demonstrar atos
de escrita ao aluno (o prazer e as
dificuldades)
Oportunidades para
autorregulaccedilatildeo
Engajamento mais alto
na leitura (a) e na escrita
(b) gt maior
competecircncia controle
Tempo
Concentrar periacuteodos para
escrever instituindo a
regularidade
Maior competecircncia e
controle
Propriedade (ownership)
Controlar a situaccedilatildeo de escrita e
a tarefa dentro do gecircnero e
formato
- variar temasassuntos
- focalizar uma audiecircncia
- encontrar a proacutepria ldquovozrdquo
expressando significados e
opiniotildees
- lerredigir textos autecircnticos
criando propoacutesitos
Domiacutenio sobre o texto e
maior prazer na escrita
55
comunicativos e situaccedilotildees reais
de escrita
Resposta (retorno reacuteplica)
Lerouvircompartilhar textos
Trabalhar em pequenos grupos
antes de trabalhar de forma
independente
Oportunidades de trocar
e comentar textos com
os colegas obtendo
respostas especiacuteficas
Complexidade da tarefa ndash usar
habilidades e conhecimentos
preacutevios propor tarefas que
possam ser executadas com
ecircxito (Bereiter e Scardamalia
1982)
Propor tarefas que dosem
- conteuacutedo (assunto)
- forma (gecircnero formato)
- funccedilatildeo (propoacutesito do texto)
Ex assunto novo + formato de
texto conhecido + funccedilatildeo
conhecida
Confianccedila reforccedilada
pela possibilidade de
sucesso de dar conta da
tarefa estimulando a
percepccedilatildeo da
competecircncia
Percepccedilatildeo abrangente do
processo de redigir (similar em
liacutengua materna e liacutengua
estrangeira ndash dominar o coacutedigo
linguiacutestico natildeo eacute o maior
problema)
Focalizar em separado
processos de
composiccedilatildeotranscriccedilatildeo
(gerarorganizar ideias x
ortografia e gramaacutetica)
Reforccedilo da experiecircncia
de sucesso gt niacutevel mais
alto de competecircncia
percebida gt
engajamento com tarefas
semelhantes Fonte Adaptado de VIEIRA (2005)
Aleacutem desses elementos a autora aponta outros aspectos praacuteticos que podem ampliar
a motivaccedilatildeo para escrever Satildeo eles
a) trabalhar a leitura e a escrita de forma complementar explorando textos
variados observando padrotildees ortograacuteficos e construccedilotildees sintaacuteticas explorando
o potencial da internet e os acervos disponiacuteveis pois a leitura contribui para a
escrita mais que o proacuteprio ato de redigir
b) integrar a escrita agrave matildeo com a escrita digital transitando do papel agrave tela do
computador exercitando em cada uma das modalidades de escrita os aspectos
que melhor favorecem
c) recriar situaccedilotildees comunicativas autecircnticas e propoacutesitos para escrever como
anuacutencios manchetes oraccedilotildees bilhetes cartas notiacutecias entre outros indo dos
mais simples aos mais complexos e
d) buscar audiecircncias verdadeiras para escrever e interlocutores para comentar os
textos redigidos criando situaccedilotildees de modo que os estudantes possam comentar
e criticar o que foi produzido
Diante do exposto procuramos ao longo das aulas dos moacutedulos contemplar nas
atividades os aspectos que podem motivar o aluno a escrever dominando pouco a pouco seu
texto propiciando-lhe a construccedilatildeo de experiecircncias positivas ainda mais porque estaacute em jogo
o despertar da consciecircncia de que a escrita eacute um processo como veremos na seccedilatildeo a seguir
56
33 Escrita como processo
Iniciando com questionamentos como por que eacute difiacutecil aprender a redigir quais satildeo
as maiores dificuldades envolvidas na produccedilatildeo de um texto como as crianccedilas escrevem e se
desenvolvem como redatoras quais os comportamentos caracteriacutesticos dos bons e dos maus
redatores entre outros que foram propostos por Vieira (2005 p 80) para saber mais sobre o
processo de produccedilatildeo de textos na escola
Em cada exerciacutecio de linguagem escrita praticado na escola eacute fundamental prever
para quem se vai escrever As redaccedilotildees escritas ldquopara ningueacutemrdquo que segundo Antunes (2009)
desconsideram o outro sujeito que integra a atividade comunicativa soacute podem resultar no
desinteresse e na ineficiecircncia dos meacutetodos de que somos testemunhas haacute vaacuterias deacutecadas Essa
produccedilatildeo textual ldquopara ningueacutemrdquo de que trata a autora reflete-se nas inseguranccedilas
manifestadas pelos alunos Quando estes escrevem eacute unicamente para o professor porque
visam merecer uma nota e passar de ano Ora se a escrita tem tantas funccedilotildees na sociedade
sendo de ordem praacutetica natildeo faz sentido cristalizaacute-la em fins puramente escolares
A escrita segundo Koch e Elias (2009) pode ter vaacuterios focos De acordo com as
autoras haacute correntes de produccedilatildeo textual que colocam o foco da escrita na liacutengua outras que
focam no escritor e por uacuteltimo na interaccedilatildeo
Com o foco da escrita na liacutengua bastaria tanto ao escritor como ao leitor ter
conhecimento do coacutedigo utilizado no texto sem espaccedilo para implicitudes havendo centraccedilatildeo
na linearidade de modo transparente
Com o foco da escrita no escritor o texto eacute visto como produto loacutegico do
pensamento (representaccedilatildeo mental) do escritor ou seja uma expressatildeo do pensamento e das
intenccedilotildees do autor mas que natildeo leva em conta as experiecircncias e os conhecimentos do leitor
pois natildeo considera a interaccedilatildeo que haacute no processo (KOCH ELIAS 2009 p 33)
No entanto natildeo se deve considerar segundo as autoras o foco apenas no coacutedigo
ou apenas no escritor mas na interaccedilatildeo
Essa eacute a diferenccedila em relaccedilatildeo agraves concepccedilotildees anteriormente descritas visto que a
escrita natildeo eacute compreendida em relaccedilatildeo apenas agrave apropriaccedilatildeo das regras da liacutengua nem
tampouco ao pensamento e intenccedilotildees do escritor mas sim em relaccedilatildeo agrave interaccedilatildeo escritor-
leitor levando em conta eacute verdade as intenccedilotildees daquele que faz uso da liacutengua para atingir o
seu intento sem contudo ignorar que o leitor com seus conhecimentos eacute parte constitutiva desse
processo (KOCH ELIAS 2009 p 34)
57
Desse modo a primeira condiccedilatildeo necessaacuteria ao professor que ensina a redigir eacute que
tenha em mente que a escrita eacute uma atividade comunicativa e que desempenha funccedilotildees cada
vez mais diversificadas no dia a dia de uma sociedade letradardquo (VIEIRA 2005 p 80) Escrever
eacute um ato que requer sentido afinal comunicar-se eacute um ato de interaccedilatildeo social eacute praacutetica eacute
vivecircncia
Os processos psicoloacutegicos ou mentais acionados durante a produccedilatildeo de um texto
natildeo acontecem necessariamente numa ordem loacutegica Podem vir simultaneamente o que pode
levar o redator a sentir que tem conflitos e consequentemente estancar diante dessa dificuldade
inicial
Logo para produzir um texto eacute preciso ter determinados os pontos que indicam
exatamente o que fazer o que facilita o trabalho de qualquer escritor Vieira (2005) considera
que para despertar o prazer de escrever haacute que se levar em conta os seguintes argumentos um
eacute a funcionalidade da escrita jaacute falada anteriormente outro diz respeito agrave proacutepria natureza da
escrita tatildeo distinta da fala
Embora a escrita em papel seja um ato solitaacuterio em que natildeo se conta com a reaccedilatildeo
do interlocutor por causa da proacutepria distacircncia espacial que separa autor e leitor a consciecircncia
da audiecircncia eacute o que impulsiona o texto que estaacute sendo produzido Em outras palavras no ato
de redigir jaacute estaacute inscrito o virtual leitor do texto E eacute essa consciecircncia aparentemente
contraditoacuteria entre ausecircncia e presenccedila do destinataacuterio da mensagem que vai moldar os
procedimentos do redator (VIEIRA 2005 p 82)
Concordamos com Serafini (2003 p17) quando afirma que escrever um texto ldquonatildeo
significa criar por inspiraccedilatildeo divina Eacute um trabalho E para realizar a contento um trabalho eacute
preciso conhecer as regras do jogordquo As regras que a autora propotildee satildeo as seguintes ter um
plano ordenar as ideias organizar o texto corrigir Essa distribuiccedilatildeo das etapas do trabalho
permite que se trabalhe melhor Da mesma forma Koch e Elias (2009 p 37) evidenciam que
[] em sua atividade o escritor recorre a conhecimentos armazenados na memoacuteria
relacionados agrave liacutengua ao saber enciclopeacutedico a praacuteticas interacionais Esses
conhecimentos resultado de inuacutemeras atividades em que nos envolvemos ao longo de
nossa vida deixam entrever a intriacutenseca relaccedilatildeo entre linguagemmundopraacuteticas
sociais (KOCH ELIAS 2009 p 37)
Para Koch e Elias (2009 p 34) a escrita eacute uma atividade que demanda esforccedilo e
as estrateacutegias a seguir
58
a) ativaccedilatildeo de conhecimentos sobre os componentes da situaccedilatildeo comunicativa
(interlocutores toacutepico a ser desenvolvido e configuraccedilatildeo textual adequada agrave
interaccedilatildeo em foco)
b) seleccedilatildeo organizaccedilatildeo e desenvolvimento das ideias de modo a garantir a
continuidade do tema e sua progressatildeo
c) ldquobalanceamentordquo entre informaccedilotildees expliacutecitas e impliacutecitas entre informaccedilotildees
ldquonovasrdquo e ldquodadasrdquo levando em conta o compartilhamento de informaccedilotildees com
o leitor e o objetivo da escrita
d) revisatildeo da escrita ao longo de todo o processo guiada pelo objetivo da produccedilatildeo
e pela interaccedilatildeo que o escritor pretende estabelecer com o leitor
Haacute muitas maneiras de percebermos os subprocessos e as habilidades implicadas
na produccedilatildeo de um texto como mostram Serafini (2003) Koch e Elias (2009) Vieira (2005
p84) tambeacutem menciona em sua obra modelos do tipo ldquoensaio esboccedilo ediccedilatildeo e revisatildeordquo
ldquoensaiar escrever e passar a limpordquo ldquoextrapolar e resumirrdquo ldquocoletar e conectarrdquo ldquodesenvoltura
coerecircncia e precisatildeordquo ldquogerarorganizar ideias produzir texto e revisarrdquo ldquoelaboraccedilatildeo expressatildeo
e revisatildeordquo ldquoplanificaccedilatildeo textualizaccedilatildeo revisatildeordquo
Nessa visatildeo processual do ensino da escrita todas essas maneiras convergem para
o consenso de que haacute operaccedilotildees mentais de natureza diferente e conflitante e para fins
pedagoacutegicos eacute interessante separar as atividades de composiccedilatildeo e de transcriccedilatildeo segundo o
conceito de Smith apud Vieira (2005 p 84) ldquoSegundo ele a atividade de compor diz respeito
agrave geraccedilatildeo seleccedilatildeo organizaccedilatildeo de ideias e sua traduccedilatildeo em linguagem Jaacute a atividade de
transcrever refere-se ao ato fiacutesico de registrar as palavrasrdquo
Na praacutetica compor e transcrever satildeo aspectos concorrentes e para a autora a
soluccedilatildeo pedagoacutegica seria separar as duas atividades da seguinte forma
[] primeiro levar o aluno a compor sem se preocupar com a transcriccedilatildeo depois
orientaacute-lo para revisar e reescrever o texto (fazendo-o compreender que a atividade de
revisatildeo faz parte do processo de redigir um texto) Estas colocaccedilotildees jaacute nos permitem
rever os criteacuterios de avaliaccedilatildeo de redaccedilotildees mostrando-nos como estamos equivocados
quando elegemos a correccedilatildeo gramatical e a ortografia como metas principais para a
habilidade de redigir (VIEIRA 2005 p 85)
Assim como ensinar a redigir sob a oacutetica da escrita como processo De iniacutecio tendo
em mente que as operaccedilotildees e habilidades necessaacuterias agrave elaboraccedilatildeo do texto tecircm valor No
entanto o exerciacutecio das habilidades de escrita em separado pode ter a desvantagem de levar o
59
aluno a achar que o processo eacute uma atividade fragmentada Para entatildeo evitar essa percepccedilatildeo
eacute preciso aleacutem dos exerciacutecios redigir textos completos
De jaacute temos consciecircncia de que nenhuma abordagem para o ensino da escrita eacute
absoluta Nas palavras de Vieira (2005 p 87)
A redaccedilatildeo requer meacutetodo muacuteltiplo jaacute que envolve diferentes tipos de capacidades e
habilidades E nada substitui o bom senso do professor Assim por exemplo se ele
julgar necessaacuterio reforccedilar determinados padrotildees de texto recorrendo agrave abordagem
imitativa estaraacute procedendo de forma adequada Da mesma maneira poderaacute usar
estrateacutegias de liberaccedilatildeo da linguagem na fase de geraccedilatildeo de ideias ou reforccedilar os
recursos de interaccedilatildeo verbal professor-aluno ou aluno-aluno nas atividades de revisatildeo
de texto (VIEIRA 2005 p 87)
Vieira (2005) sintetiza os pontos importantes para o desenvolvimento da habilidade
de redigir a partir de investigaccedilotildees de Krashen (1984 apud Vieira 2005) na aacuterea
O primeiro ponto eacute a frequecircncia com que se redige Independentemente da
disciplina escrever exige treino constante concentrando o tempo disponiacutevel e em horaacuterio
regular posto que ldquosaber com antecedecircncia quando vamos redigir cria prontidatildeo para a
atividade que comeccedila interiormente bem antes de colocarmos as palavras no papelrdquo (VIEIRA
2005 p 88)
O segundo ponto eacute a correlaccedilatildeo entre leitura e escrita A habilidade de ler
compreensivamente permite que quanto mais se leia mais se observe a composiccedilatildeo dos textos
aprendendo-se a lidar com seus padrotildees de organizaccedilatildeo com as intenccedilotildees do autor e percebendo
como se executam diferentes modalidades de usos da escrita
O terceiro ponto eacute a frequecircncia em ler x a frequecircncia em escrever Vieira (2005)
afirma que estudos que comparam a frequecircncia em ler e a frequecircncia em escrever revelam que
a leitura tem efeito mais forte sobre o desenvolvimento da escrita que a proacutepria frequecircncia com
que se escreve
O quarto ponto eacute a instruccedilatildeo escolar para o ensino da escrita Mais do que qualquer
outra habilidade diz a autora a escrita precisa ser demonstrada Assim as instruccedilotildees que o
professor faz ao texto do aluno durante o processo contribuem para que este faccedila os devidos
ajustes melhorando assim sua habilidade de produzir textos
O quinto ponto eacute o feedback do professor Este ponto ressalta o papel fundamental
do professor nas muacuteltiplas reescrituras por que passa um texto ldquoO ideal eacute que sejam feitos
vaacuterios rascunhos com o professor presente comentando cada estaacutegio intermediaacuteriordquo (VIEIRA
2005 p 89) Suas correccedilotildees precisam ser feitas sobre um aspecto de cada vez especificando
as alteraccedilotildees necessaacuterias nos aspectos de composiccedilatildeo e de transcriccedilatildeo
60
O sexto ponto eacute a instrumentaccedilatildeo gramatical e o desenvolvimento da escrita e trata
do que muito se tem discutido na atual sociedade instruccedilatildeo gramatical desvinculada do uso
praacutetico da linguagem natildeo garante a ningueacutem uma escrita melhor
O seacutetimo e uacuteltimo ponto satildeo os processos de composiccedilatildeo de bons e maus redatores
e diferencia em pelo menos quatro aspectos os que escrevem bem do que os que o fazem mal
Satildeo eles
a) planejamento quem redige bem planeja mais Esse planejamento pode ser
gastando mais tempo pensando tomando notas antes de escreverem
flexibilizando os planos e revisando os esquemas agrave medida que surgem novas
ideias e argumentos Apenas alguns redatores experientes seguem uma ordem
linear planejando primeiro em seguida esboccedilando o texto num rascunho e
enfim revisando ldquoPara a maioria deles o processo de redigir eacute recursivo isto eacute
sujeito a retomadas e alteraccedilotildees em diferentes pontos da produccedilatildeo do textordquo
(VIEIRA 2005 p 91)
b) releitura durante a elaboraccedilatildeo do texto as pausas na escrita para a releitura
permitem manter o senso de totalidade da composiccedilatildeo planejando o que
escrever em seguida e tambeacutem relembrando o que jaacute foi registrado fazendo com
que o texto avance
c) revisatildeo a diferenccedila entre os escritores experientes dos inexperientes eacute a revisatildeo
frequentemente confundida com editoraccedilatildeo A revisatildeo pelos experientes eacute uma
focalizaccedilatildeo do significado servindo para ldquoinventar acrescentar mudanccedilas de
conteuacutedo e para reorganizar longos trechos da composiccedilatildeordquo (VIEIRA 2005 p
94) ao passo que a editoraccedilatildeo normalmente a preocupaccedilatildeo dos inexperientes eacute
a correccedilatildeo gramatical a ortograacutefica e a pontuaccedilatildeo que se feita antes do tempo
quebra o ritmo da escrita deixando de conduzir o fio do pensamento e
d) consciecircncia da audiecircncia fundamental considerando o foco da escrita como
anteriormente dito na interaccedilatildeo Levar em conta o leitor como ele poderaacute
receber as palavras e ideias do texto os conhecimentos que ele precisaraacute ter para
compreender o texto e os interesses que ele tem eacute marca dos escritores que
redigem bem ao contraacuterio dos demais que ldquotendem a ficar presos ao assunto do
texto e a gastar menos tempo pensando no leitor por natildeo terem consciecircncia da
audiecircncia ou por natildeo serem capazes de consideraacute-la na escritardquo (VIEIRA 2005
p 95)
61
Essas etapas apresentadas nesta seccedilatildeo foram fundamentais para o processo
conduzido em nossa SD visto permitir aos alunos tomar consciecircncia dos processos que satildeo
ativados antes e durante a escrita bem como nas etapas de leitura releitura e reescrita sendo
cerne da elaboraccedilatildeo das propostas de produccedilatildeo conforme veremos nas seccedilotildees correspondentes
aos moacutedulos aos encontros e agraves atividades desenvolvidas Para a seccedilatildeo seguinte veremos como
pode ser trabalhada a escrita na escola
34 Escrita na escola
Para antes do iniacutecio do trabalho de escrita no acircmbito escolar o ideal eacute que o
professor tenha em mente para definir com clareza junto aos seus alunos na tarefa que deveraacute
ser desenvolvida os seguintes pontos segundo Serafini (2003) destinataacuterio objetivo do texto
gecircnero do texto papel do redator objeto da redaccedilatildeo comprimento da redaccedilatildeo criteacuterios de
avaliaccedilatildeo Desse modo
a) o destinataacuterio eacute a pessoa para a qual se escreve ou seja o leitor Como as
produccedilotildees satildeo feitas no contexto escolar para que o aluno-escritor natildeo dirija seu
texto somente ao professor eacute importante nos comandos de produccedilatildeo esclarecer
qual eacute ou deve ser o perfil de leitor para quem se escreve
b) o objetivo de um texto precisa ser claro pois a ele se atrela a avaliaccedilatildeo do
mesmo no caso do contexto escolar Aliaacutes um texto pode ter mais de um
objetivo e isso precisa ser ponto claro entre o professor e o aluno
c) a escolha do gecircnero eacute entatildeo essencial para o desenvolvimento do texto por
permitir a realizaccedilatildeo deste com um estilo muito marcante O gecircnero permite
inclusive compreender qual eacute o papel do redator na produccedilatildeo para assim
inserir-se ou retirar-se no texto
d) o objeto da redaccedilatildeo para a autora deveria ser deduzido do tiacutetulo da redaccedilatildeo (que
entendemos atualmente como o direcionamento do tema) e explica que assim
como haacute comandos que expotildeem detalhadamente o objeto da redaccedilatildeo haacute tambeacutem
os que pouco oferecem explicaccedilotildees e que conveacutem em casos como esse que o
aluno explique ldquonuma introduccedilatildeo como seratildeo interpretados os termos do
problema propostordquo (SERAFINI 2003 p 28)
e) a extensatildeo do texto depende essencialmente do objetivo da disponibilidade de
tempo da capacidade e da rapidez de quem escreve Entendemos aqui que haacute
62
gecircneros que permitem maior extensatildeo que outros No contexto escolar
normalmente noacutes professores por razotildees de ordem praacutetica do dia a dia pedimos
textos com limite de linhas ou paraacutegrafos
f) finalmente os criteacuterios de avaliaccedilatildeo do professor ajudam o aluno a ldquocanalizar a
proacutepria energia na direccedilatildeo certardquo (SERAFINI 2003 p 29) Como parte do
trabalho com sequecircncia didaacutetica haacute o partilhamento dos criteacuterios trabalhados
do vocabulaacuterio teacutecnico e das caracteriacutesticas a serem encontradas nos textos
produzidos facilitando a vida do aluno quanto ao que colocar no texto e
clareando para o professor o que ele pode esperar desse texto
Desse modo para o escritor que se vecirc diante do papel em branco
independentemente do que vaacute escrever eacute preciso antes empenhar seu tempo e esforccedilo em duas
etapas fundamentais a criaccedilatildeo de ideias para assim passar agrave produccedilatildeo do texto
A separaccedilatildeo consiste em primeiramente levar o aluno a compor sem a
preocupaccedilatildeo com a transcriccedilatildeo Em seguida orientaacute-lo para que faccedila a revisatildeo e a reescrita do
texto colocando-lhe de modo expliacutecito que a revisatildeo eacute parte do processo de redigir um texto
A etapa de criaccedilatildeo das ideias eacute aquela em que o autor pode ldquoatirarrdquo palavras-chave
protoacutetipos de paraacutegrafos de personagens de ambientes de sequecircncias de acontecimentos sem
o fantasma da censura agrave criatividade Aliaacutes eacute nesse momento que pode surgir uma ldquogrande
sacadardquo cujo valor do registro possa vir a ser recompensador Nas palavras de Serafini (2003
p 31) a ldquofolha de papel na qual listamos os dados recolhidos cumpre a funccedilatildeo de prolongamento
da memoacuteria no mundo visiacutevel eacute mais faacutecil escolher num elenco fisicamente visiacutevel que num
iacutendice feito mentalmenterdquo
A coleta das ideias que surgiram ao ser terminada pede a decisatildeo do que e como
usar no texto Para os textos literaacuterios que satildeo objeto de nossa pesquisa um passo necessaacuterio
na estruturaccedilatildeo de Serafini (2003) eacute a identificaccedilatildeo do ponto de vista
Os textos descritivo-narrativos natildeo apresentam ideias predominantes mas contam
fatos e descrevem lugares e pessoas A estrutura desses textos natildeo eacute mais dada por uma ideia
a tese mas pelo ponto de vista isto eacute pelo acircngulo de perspectiva do qual satildeo mostrados fatos
e objetos Nas histoacuterias complexas e nos romances o ponto de vista pode tambeacutem mudar
(SERAFINI 2003 p 45)
Nas palavras da autora ldquo[] para fazer uma boa descriccedilatildeo de um objeto ou lugar
devemos escolher um ponto de vista fica por conta de nossa sensibilidade selecionar um ponto
de vista interessante eficaz e quem sabe originalrdquo (SERAFINI 2003 p47) Entatildeo para um
63
texto narrativo que conta uma histoacuteria natildeo existe um modo objetivo de narrar mas um acircngulo
de perspectiva Completando o pensamento de Serafini Koch e Elias declaram que o como
dizer o que se quer dizer eacute revelador de que a escrita eacute um processo que envolve escolha de um
gecircnero textual em consonacircncia com as praacuteticas sociais seleccedilatildeo organizaccedilatildeo e revisatildeo das ideias
para os ajustesreajustes necessaacuterios tendo em vista a eficiecircncia e a eficaacutecia da comunicaccedilatildeo
(KOCH ELIAS 2009 p 36)
Apoacutes a seleccedilatildeo das ideias de sua organizaccedilatildeo e da escolha do ponto de vista o
escritor pode efetivamente passar agrave produccedilatildeo Tudo o que foi feito para despertar coloquemos
assim o escritor para o labor com seu texto eacute uma hipoacutetese do trabalho final visto que ao
comeccedilar a escrever novas ideias vatildeo surgindo E como nos lembra Serafini (2003 p 54) ldquo[]
quem se propotildee a ensinar a escrever na escola brasileira atual geralmente encontra problemas
porque natildeo tem agrave disposiccedilatildeo um modelo uacutenico de liacutengua nem uma tradiccedilatildeo de didaacutetica da
redaccedilatildeo que privilegie um dos diversos estilos possiacuteveisrdquo Frases longas ou curtas discurso
direto ou indireto ou mesmo o indireto livre tudo satildeo escolhas com as quais o aluno-escritor
vai se familiarizar ao longo de sua jornada escolar pouco a pouco conforme suas experiecircncias
de leitura e praacutetica com a escrita progredindo do paraacutegrafo mais simples ao mais complexo A
autora assim define o que eacute paraacutegrafo
O paraacutegrafo eacute uma quantidade de texto delimitada por um ponto final o texto continua
a se desenvolver na outra linha afastado da margem Ele pode conter vaacuterios periacuteodos
separados por pontos e por viacutergulas O que importa eacute garantir que a cada paraacutegrafo
corresponda uma uacutenica ideia de roteiro Esta colocaccedilatildeo tiacutepica do mundo anglo-saxatildeo
e americano pode parecer excessivamente mecanicista e simplista Com efeito eacute
justificada soacute no niacutevel didaacutetico para aqueles estudantes que tecircm grandes dificuldades
para escrever Este meacutetodo aliaacutes deve ser assumido como hipoacutetese de trabalho mas
deve ser revisto agrave medida que se adquire familiaridade com a liacutengua Em nome de
uma melhor organizaccedilatildeo do texto eacute possiacutevel por exemplo reagrupar mais de uma
ideia do roteiro num uacutenico paraacutegrafo ou associar agrave mesma ideia mais paraacutegrafos
(SERAFINI 2003 p 55)
Desse modo se fizermos um pequeno quadro com a finalidade de melhor visualizar
as possibilidades de organizaccedilatildeo do texto em paraacutegrafos o que pode ajudar os alunos temos
Quadro 3 ndash Como organizar as ideias em paraacutegrafos
1 ideia 1 paraacutegrafo
2 ou mais ideias 1 paraacutegrafo
1 ideia 2 ou mais paraacutegrafos
Fonte adaptado de SERAFINI (2003)
64
Por razotildees didaacuteticas Serafini (2003) classifica trecircs principais tipos de paraacutegrafo
com caracteriacutesticas especiacuteficas o paraacutegrafo narrativo que eacute constituiacutedo por uma sequecircncia de
afirmaccedilotildees-informaccedilotildees que natildeo precisam de garantia4 e eacute onde os fatos satildeo expostos em ordem
cronoloacutegica o paraacutegrafo descritivo que conteacutem objetos lugares e pessoas geralmente
constituiacutedo soacute pela afirmaccedilatildeo e pela informaccedilatildeo dispensando a garantia e finalmente o
paraacutegrafo expositivo-argumentativo mais complexo que os anteriores apresenta em geral todas
as caracteriacutesticas do modelo de Toulmin (cf nota 8) e que apresenta uma tese com os dados e
as observaccedilotildees que podem ser uacuteteis para convencer o leitor de sua validade
Ainda na classificaccedilatildeo do paraacutegrafo narrativo tambeacutem chamado de cronoloacutegico
Serafini nos mostra um caso particular de apresentaccedilatildeo de uma sequecircncia de fatos o que inclui
o flash-back que eacute a interrupccedilatildeo na sequecircncia cronoloacutegica ldquointroduzindo fatos anteriores uacuteteis
agrave compreensatildeo da narrativa Embora natildeo seja tatildeo natural eacute possiacutevel interromper uma sequecircncia
temporal para incluir fatos que aconteceratildeo depoisrdquo (SERAFINI 2003 p 58)
Um outro caso de paraacutegrafo narrativo ou cronoloacutegico eacute o que apresenta um
procedimento Procedimentos ldquosatildeo todas as sequecircncias de accedilotildees que devem ser cumpridas para
se obter certo resultadordquo (SERAFINI 2003 p 59) por exemplo a enumeraccedilatildeo das etapas
necessaacuterias ao preparo de uma torta A descriccedilatildeo correta do procedimento requer que natildeo se
inverta a ordem de suas operaccedilotildees elementares
O paraacutegrafo descritivo segundo a autora eacute importante ldquo[] para envolver o leitor
na histoacuteria convencecirc-lo da tese ou tornar-lhe a leitura mais concreta e vivardquo (SERAFINI 2003
p 58) Dessa forma eacute interessante que os personagens ambientes e objetos natildeo sejam apenas
mencionados mas apresentados com riqueza de detalhes A generalizaccedilatildeo pode deixar o leitor
indiferente ao passo que descriccedilotildees detalhadas podem vir a interessar envolver e mesmo
emocionar
Frequentemente quem natildeo tem grande experiecircncia de escrita considera as
descriccedilotildees oacutebvias e as abandona porque tende a atribuir ao leitor os seus proacuteprios
conhecimentos e experiecircncias As crianccedilas em geral se aborrecem ao ler as descriccedilotildees e agraves vezes
pulam o trecho descritivo porque satildeo mais pela trama do que pela apresentaccedilatildeo dos ambientes
e das caracteriacutesticas fiacutesicas e psicoloacutegicas dos protagonistas Entretanto agrave medida que
4 Serafini (2003 p 56-57) apresenta o modelo de Toulmin que examina quais satildeo as caracteriacutesticas de um
paraacutegrafo que o tornam convincente isto eacute que levem o leitor a compartilhar da mesma tese Satildeo elas a afirmaccedilatildeo
que apresenta a ideia principal do paraacutegrafo a informaccedilatildeo que conteacutem os dados que apoiam a afirmaccedilatildeo e a
garantia que eacute a ligaccedilatildeo entre a afirmaccedilatildeo e a informaccedilatildeo e mostra a importacircncia da informaccedilatildeo para apoiar a
asserccedilatildeo Ex Artur estaacute nervoso sua e ri sem parar Afirmaccedilatildeo Artur estaacute nervoso Informaccedilatildeo sua e ri sem
parar Garantia (subentendida) suar e rir sem parar satildeo sinais tiacutepicos de nervosismo
65
estimulam a sensibilidade em relaccedilatildeo aos textos elas vatildeo se dando conta de que natildeo eacute soacute a accedilatildeo
que torna interessante a histoacuteria Eacute tarefa do professor desenvolver essa sensibilidade e esse
gosto em vez de se fixar apenas nos aspectos narrativos de um texto (SERAFINI 2003 p 63)
Serafini (2003) tambeacutem trata da importacircncia dos paraacutegrafos que conduzem as
introduccedilotildees nos textos A autora classifica as introduccedilotildees em introduccedilatildeo-enquadramento e
introduccedilatildeo para chamar a atenccedilatildeo
A introduccedilatildeo-enquadramento enquadra o tema proposto na instruccedilatildeo para a
produccedilatildeo textual realccedilando sua importacircncia e agraves vezes ateacute antecipando o que seraacute
desenvolvido no corpo do texto ldquoUma introduccedilatildeo muito comum eacute aquela em que o estudante
coloca questotildees agraves quais pretende responder agrave medida que vai desenvolvendo o textordquo
(SERAFINI 2003 p 72) Normalmente utilizada entre os estudantes segundo a autora eacute
caracteriacutestica de quem natildeo faz planejamento e comeccedila a escrever seu texto sem saber o que vai
colocar em seu desenvolvimento mas tambeacutem por quem pretende reelaborar e expandir o
tiacutetulo5
A introduccedilatildeo para chamar a atenccedilatildeo segundo a autora pretende atrair a atenccedilatildeo e
o interesse do leitor utilizando frases de efeito citaccedilotildees informaccedilotildees curiosas exemplos
concretos que antecipam problemaacuteticas a serem desenvolvidas no corpo do texto e envolvem
emocionalmente o leitor exemplificaccedilotildees em primeira pessoa pois ldquoos problemas concretos
narrados na primeira pessoa atraem mais a curiosidade do que aqueles apresentados de modo
abstratordquo (SERAFINI 2003 p 74)
Ao final de sua primeira versatildeo de texto o alunoescritor tende a fazer uma raacutepida
releitura normalmente pouco criacutetica O ideal eacute que seu texto possa ser apreciado pelos colegas
de sala para que sejam feitas sugestotildees Quando a revisatildeo for desenvolvida pelo proacuteprio autor
5 Os tiacutetulos poderiam ser classificados segundo Serafini (2003) em trecircs grandes categorias o tiacutetulo-frase-de-
efeito o tiacutetulo-estiacutemulo-aberto e o tiacutetulo-roteiro O tiacutetulo-frase-de-efeito ldquoeacute geralmente agradaacutevel arguto suscita
a admiraccedilatildeo do leitor pode ser provocativo mas natildeo necessariamente profundordquo (p100) trazendo geralmente
citaccedilotildees de personagens importantes ou as afirmaccedilotildees categoacutericas do professor Por exemplo ldquoJaacute natildeo haacute matildeos
dadas no mundordquo (Drummond - Unesp) ou ldquoQuando vocecirc for martelo lembre-se que jaacute foi pregordquo (pichaccedilatildeo de
parede utilizada na Unesp) Os tiacutetulos-estiacutemulo-aberto ldquopropotildeem um tema de modo muito geneacuterico e neutro e datildeo
mais liberdade ao estudanterdquo (p101) Por exemplo ldquoViver hojerdquo (Santa Casa-SP) ldquoA televisatildeordquo (Poli-USP)
Finalmente os tiacutetulos-roteiro ldquonatildeo soacute propotildeem um tema como no grupo precedente mas tambeacutem oferecem uma
seacuterie de pontos de vista de problemas que devem ser analisados fornecendo jaacute a pauta do desenvolvimentordquo
(p101) A autora explica que enquanto um tiacutetulo-estiacutemulo-aberto seria ldquoA televisatildeordquo o tiacutetulo-roteiro solicitaria
ldquoDescreva os efeitos positivos e negativos que a televisatildeo causa sobre os jovens da sua geraccedilatildeo Cite especialmente
os programas mais interessantes e os mais aborrecidos de que vocecirc se recorda procurando explicar os efeitos
positivos ou negativos que cada um teve no seu desenvolvimentordquo (p101-102) O que chamamos ao longo de
nosso texto de instruccedilatildeo se aproximaria mais do que Serafini chama de tiacutetulo-roteiro por jaacute determinar que
informaccedilotildees a produccedilatildeo textual deve conter poreacutem noacutes atribuiacutemos mais caracteriacutesticas ao que eacute pedido aos alunos
a cada produccedilatildeo como os comandos que determinam que gecircnero textual seraacute trabalhado a extensatildeo do texto a
audiecircncia o objetivo a temaacutetica e outros itens que devem estar presentes na produccedilatildeo conforme a aula e o moacutedulo
66
eacute interessante haver um hiato de tempo entre a primeira escrita e a revisatildeo para que as ideias
se clareiem e possam ser postas na forma apropriada
Trabalhar a abordagem da escrita como processo lanccedila luz sobre as operaccedilotildees e as
habilidades necessaacuterias agrave elaboraccedilatildeo do texto priorizando-as mais do que ao produto final
obtido o que simplifica a escrita para fins de ensino por tratar dos componentes do processo
isoladamente treinando-os separadamente
Na verdade nenhuma abordagem para o ensino da escrita eacute exclusiva A redaccedilatildeo
requer meacutetodo muacuteltiplo jaacute que envolve diferentes tipos de capacidades e habilidades E nada
substitui o bom senso do professor Assim por exemplo se ele julgar necessaacuterio reforccedilar
determinados padrotildees de texto recorrendo agrave abordagem imitativa estaraacute procedendo de forma
adequada Da mesma maneira poderaacute usar estrateacutegias de liberaccedilatildeo da linguagem na fase de
geraccedilatildeo de ideias ou reforccedilar os recursos de interaccedilatildeo verbal professor-aluno ou aluno-aluno
nas atividades de revisatildeo de textos (VIEIRA 2005 p 87)
No entanto para Vieira (2005) esse exerciacutecio em separado das habilidades da
escrita natildeo dispensa a redaccedilatildeo de textos completos devendo o professor cuidar para que o
processo de escrita natildeo perca seu caraacuteter integral devido agraves atividades fragmentadas
35 Letramento literaacuterio
Acreditamos que para o desenvolvimento de nosso trabalho eacute importante ter em
mente que para escrever melhor para saber o que inserir em seu texto o aluno deve aguccedilar seu
olhar para o que vai nos textos de outrem ndash em nosso caso os que foram escolhidos para compor
a sequecircncia ndash e como foram ditas as coisas que laacute estatildeo inseridas Dessa forma desenvolvemos
em nossos moacutedulos praacuteticas que abordam aleacutem da praacutetica da escrita como processo o
letramento literaacuterio posto que a visatildeo que o inclui extrapola as simples leituras e anaacutelises das
palavras discutindo conceitos que compotildeem o acervo cultural dos alunos a partir das ideias
presentes nos textos
Para Cosson (2016 p23) ldquoa literatura natildeo estaacute sendo ensinada para garantir a
funccedilatildeo essencial de construir e reconstruir a palavra que nos humanizardquo O autor afirma que se
pode trazer ao aluno uma experiecircncia de leitura a ser compartilhada ampliando-a com
informaccedilotildees especiacuteficas do campo literaacuterio e ateacute fora dele A maneira de ensinar precisa ser
organizada segundo os objetivos da formaccedilatildeo do aluno evidentemente mas sem o abandono
do prazer de ler Compreende assim que o letramento literaacuterio eacute uma praacutetica social e como
67
tal responsabilidade da escola que deve cumpri-la sem descaracterizaacute-la sem negar mas
confirmando o poder de humanizaccedilatildeo da literatura
Para promover o letramento literaacuterio Cosson nos conduz a questionar e
desconstruir pressuposiccedilotildees sobre leitura e literatura enraizadas no senso comum A primeira eacute
que os livros falam por si mesmos ao leitor Ora ldquoos livros como os fatos jamais falam por si
mesmos O que os fazem falar satildeo os mecanismos de interpretaccedilatildeo que usamos e grande parte
deles satildeo aprendidos na escolardquo (2016 p 26) Ensinar a explorar o texto natildeo eacute criar uma barreira
entre elas e o leitor mas ajudar o leitor a manipular os textos dominando o discurso literaacuterio
Outra pressuposiccedilatildeo eacute que ler eacute um ato solitaacuterio Para o autor mais que o
movimento individual dos olhos ler implica uma troca de sentidos o que envolve escritor
leitor e sociedade em que ambos estatildeo localizados ldquopois os sentidos satildeo resultado de
compartilhamentos de visotildees do mundo entre os homens no tempo e no espaccedilordquo (2016 p 27)
Quando compreender isto o leitor alcanccedilaraacute um real significado na leitura
Tambeacutem uma pressuposiccedilatildeo eacute a ideia de que eacute impossiacutevel expressar o que sentimos
na leitura dos textos literaacuterios Esse eacute outro equiacutevoco que trata a leitura literaacuteria como uma
atividade tatildeo individual que natildeo poderia ser compartilhada Pelo contraacuterio conforme o autor o
efeito de proximidade que o texto literaacuterio traz eacute resultado do diaacutelogo que travamos com o
mundo e com os outros inseridos que estamos em uma sociedade O que levamos ao texto eacute
mais uacutenico do que o que ele nos oferece o que explica as diferentes leituras que fazemos do
mesmo texto em diferentes etapas de nossas vidas
A uacuteltima pressuposiccedilatildeo de que trata o autor eacute que ldquoa leitura literaacuteria praticada na
escola tambeacutem chamada anaacutelise literaacuteria destruiria a magia e a beleza da obra ao revelar seus
mecanismos de construccedilatildeordquo (COSSON 2016 p 28) Para Cosson a literatura mantida ldquoem
adoraccedilatildeordquo torna-se estranha ao leitor ao passo que a leitura literaacuteria que lhe fornece ferramentas
para exploraccedilatildeo do texto o convida agrave interaccedilatildeo como um processo de comunicaccedilatildeo
O autor conclui que se quisermos formar leitores capazes de experienciar toda a
forccedila humanizadora da literatura natildeo basta apenas ler com vistas a criar um haacutebito de leitura
mas fornecer-lhes ldquoos instrumentos necessaacuterios para conhecer e articular com proficiecircncia o
mundo feito linguagemrdquo (COSSON 2016 p 30)
Nossa seleccedilatildeo de textos para a SD foi inspirada em temas que os alunos costumam
observar na vida diaacuteria Tivemos preferecircncia por textos que circulam em meio eletrocircnico
extraiacutedos de sites blogs e de redes sociais ou seja contemporacircneos e com temas atuais Cosson
(2016 p34) distingue os dois termos que normalmente satildeo usados como sinocircnimos na
68
adjetivaccedilatildeo da produccedilatildeo literaacuteria da seguinte forma ldquo[] obras contemporacircneas satildeo aquelas
escritas e publicadas em meu tempo e obras atuais satildeo aquelas que tecircm significado para mim
em meu tempo independentemente da eacutepoca de sua escrita ou publicaccedilatildeordquo
Fizemos uma seleccedilatildeo preacutevia dos textos mas agrave medida em que as aulas avanccedilavam
abrimos a perspectiva para assuntos que eram mencionados em sala e trouxemos outros textos
inclusive publicados em livros variando as autorias poreacutem mantendo ainda o dinamismo e a
contemporaneidade Esse material se encontra na seccedilatildeo correspondente
69
4 NATUREZA E PROCEDIMENTOS DA PESQUISA
Apresentaremos nas seccedilotildees seguintes a metodologia e os procedimentos adotados
em nossa pesquisa realizada em uma escola puacuteblica municipal de Satildeo Luiacutes Maranhatildeo
41 Contexto da pesquisa
A pesquisa foi desenvolvida em uma das turmas de 9ordm ano de uma unidade de
educaccedilatildeo baacutesica municipal de ensino fundamental de 1ordm a 9ordm anos A escola tem um anexo
proacuteximo onde funcionam turmas de 1ordm ano (3 salas) Situa-se na aacuterea Itaqui-Bacanga em um
bairro considerado de difiacutecil acesso por sua pouca oferta de ocircnibus no municiacutepio de Satildeo Luiacutes
capital do Maranhatildeo ilha de Upaon-Accedilu
Antes pouco populoso o bairro tem aumentado de tamanho pela chegada de
moradores alguns oriundos de diversas cidades do interior mas tambeacutem vindos de outros
bairros pois algumas melhorias para a valorizaccedilatildeo da aacuterea tecircm acontecido como a construccedilatildeo
da escola e recentemente a quadra de esportes em sua aacuterea do posto de sauacutede da associaccedilatildeo
onde ocorre a conhecida Festa da Macaxeira e mais recentemente a criaccedilatildeo de um conjunto
residencial do programa do governo federal Minha Casa Minha Vida
No turno matutino nesta escola funciona o ensino fundamental (EF) ndash anos iniciais
(1ordm ao 5ordm ano) e no vespertino o EF ndash anos finais (6ordm ao 9ordm ano) sendo 2 turmas de 6ordm ano 2
turmas de 7ordm ano 2 turmas de 8ordm ano e 1 turma de 9ordm ano
Segundo os indicadores contextuais da Prova Brasil o niacutevel socioeconocircmico da
escola estaacute em meacutedio baixo O indicador de adequaccedilatildeo da formaccedilatildeo docente6 que analisa a
formaccedilatildeo dos docentes que lecionam nos finais do EF na escola eacute 85 Observando as meacutedias
de proficiecircncia em relaccedilatildeo agraves meacutedias das escolas do Brasil do Maranhatildeo e de Satildeo Luiacutes
comparando-as agrave nossa escola temos
6 Apresenta o percentual de disciplinas em cada etapa que satildeo ministradas por professores com formaccedilatildeo superior
de Licenciatura (ou Bacharelado com complementaccedilatildeo pedagoacutegica) na mesma disciplina que leciona Fonte e site
para consulta
httpsistemasprovabrasilinepgovbrprovaBrasilResultadosviewboletimDesempenhoboletimDesempenhosea
m Acesso em 3 de janeiro de 2018
70
Graacutefico 1 ndash Resultados IDEB 2015
Fonte INEP (2018))
O graacutefico acima mostra que o desempenho da escola ficou abaixo das meacutedias de
proficiecircncia em Liacutengua Portuguesa em leitura do Paiacutes em 2015 No entanto estaacute acima das
meacutedias do estado e do municiacutepio ludovicense que apresentaram indicadores 23093 e 23915
respectivamente A escola obteve 24034 ou seja pouco mais de um ponto acima o que natildeo
deixa de ser uma conquista para a gestatildeo e o corpo docente visto todos os entraves no processo
educacional Aleacutem do que se observarmos os indicadores de proficiecircncia em LP no 9ordm ano na
escola ao longo das trecircs uacuteltimas ediccedilotildees da Prova Brasil veremos que tem havido um progresso
como constatamos a seguir
Graacutefico 2 ndash Desempenho da escola nas ediccedilotildees da Prova Brasil
Fonte INEP (2018)
215
220
225
230
235
240
245
2011 2013 2015
Desempenho da escola nas ediccedilotildees da Prova Brasil
220
225
230
235
240
245
250
255
Brasil Maranhatildeo Satildeo Luiacutes Nossa escola
Resultados IDEB 2015
71
Os niacuteveis de proficiecircncia em Liacutengua Portuguesa classificados pela Prova Brasil
satildeo 9 (nove) e avaliam a capacidade de leitura dos alunos O desempenho por niacutevel de
proficiecircncia7 da turma de 9ordm ano no IDEB8 a seguir eacute referente ao ano de 2015
Graacutefico 3 ndash Distribuiccedilatildeo percentual dos alunos do 9ordm Ano do EF por niacutevel de proficiecircncia - Liacutengua Portuguesa
Fonte INEP (2018)
Para a aplicaccedilatildeo da SD foi escolhida a turma do 9ordm ano do ano letivo de 2017 que
contava com 46 alunos no iniacutecio do ano no turno vespertino Ao longo do ano alguns alunos
trancaram matriacutecula eou foram transferidos resultando no nuacutemero de 43 alunos frequentes ao
final do ano letivo O puacuteblico tem entre 14 e 15 anos em sua maior parte Por ser uma turma
que antecede o ingresso no ensino meacutedio eacute-lhe dispensada atenccedilatildeo especial no que tange a
projetos e preparaccedilatildeo para a seleccedilatildeo na etapa posterior da Educaccedilatildeo Baacutesica
A carga horaacuteria da disciplina Liacutengua Portuguesa eacute de 5 horas-aula por semana sem
divisatildeo formal interna de assuntos havendo flexibilidade para o trabalho com leitura produccedilatildeo
textual gramaacutetica e projetos tanto internos agrave escola como parcerias externas com essa
7 Os niacuteveis de proficiecircncia descritos pelo Inep encontram-se nos anexos deste trabalho 8 IDEB eacute o Iacutendice de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica criado pelo Inep em 2007 cuja escala vai de zero a
dez O indicador eacute calculado a partir dos dados sobre aprovaccedilatildeo escolar obtidos no Censo Escolar e meacutedias de
desempenho nas avaliaccedilotildees do Inep o Saeb e a Prova Brasil A fonte e o site oficial para consulta estatildeo disponiacuteveis
em lt httpportalinepgovbrwebportal-idebgt
000
500
1000
1500
2000
2500
3000
Niacutevel 0 Niacutevel 1 Niacutevel 2 Niacutevel 3 Niacutevel 4 Niacutevel 5 Niacutevel 6 Niacutevel 7 Niacutevel 8
Distribuiccedilatildeo percentual dos alunos do 9ordm Ano do EF por niacutevel de
proficiecircncia em 2015- Liacutengua Portuguesa
Nossa escola Escolas Similares
72
A opccedilatildeo por trabalhar a pesquisa nessa turma deu-se por ser a seacuterie que se prepara
para avanccedilar para o ensino meacutedio podendo assim ter um reforccedilo em sua competecircncia
discursiva atraveacutes da praacutetica da leitura e da produccedilatildeo escrita como processo
Ao mesmo tempo eacute importante que os alunos se interessem mais e mais por leitura
e sabendo que este puacuteblico natildeo aprecia leituras longas como as dos romances por exemplo a
crocircnica literaacuteria eacute uma excelente sugestatildeo por suas temaacuteticas que em vaacuterios exemplos eacute
proacutexima da realidade do aluno aleacutem de contar com textos breves e dinacircmicos
Por fim era de interesse da escola que os alunos dessa turma saiacutessem do ensino
fundamental com seguranccedila no que se refere a produzir textos escritos em gecircneros especiacuteficos
de uso cotidiano acionando assim conhecimentos que foram aprofundados e consolidados nas
aulas de anos anteriores
42 Participantes
Os sujeitos participantes da pesquisa satildeo alunos que frequentam a turma do 9ordm ano
no turno vespertino do ano letivo de 2017 na escola da rede puacuteblica municipal de ensino de
Satildeo Luiacutes no Maranhatildeo Em sua maioria residem na aacuterea que abrange o Argola e Tambor o
Gapara a Cidade Nova e adjacecircncias A maioria dos alunos tendo em vista sua idade apenas
estuda e mora com os pais eou responsaacuteveis
Ao longo do ano letivo a turma teve algumas alteraccedilotildees em seu puacuteblico com dois
estudantes que pediram transferecircncia de escola e outro que trancou a matriacutecula Assim
frequentando efetivamente as aulas foram 43 (quarenta e trecircs) alunos No entanto dentre esses
apenas uma meacutedia de 20 (vinte) alunos se interessou em participar do projeto de escrita
A turma em si eacute caracterizada pelos proacuteprios alunos bem como por professores
como composta por um puacuteblico cuja falta de interesse e de motivaccedilatildeo de vaacuterios estudantes
prejudica aqueles que desejam realmente se dedicar A sala eacute muito cheia e devido agrave natural
predisposiccedilatildeo que tecircm os adolescentes para a distraccedilatildeo e a conversa em vaacuterios momentos eacute um
desafio para se conseguir sua atenccedilatildeo e envolvimento nas atividades Percebemos nos contatos
iniciais com a turma completa que satildeo poucos infelizmente que demonstram real empenho
em participar
73
Os alunos que optaram por integrar o projeto desenvolveram as atividades propostas
em cinco moacutedulos realizadas em 11 (onze) encontros de 2 (duas) horas-aula cada9 durante os
meses de outubro a dezembro conforme cronograma previsto
43 Materiais
O material analisado na pesquisa eacute constituiacutedo pelos textos produzidos pelos alunos
que participaram de todas as atividades desta sequecircncia Portanto para a anaacutelise consideramos
apenas 13 (treze) alunos no total
Para a composiccedilatildeo do trabalho denominamos os textos produzidos nesta SD da
seguinte forma
a) produccedilatildeo inicial A (PI-A) realizada apoacutes 3 (trecircs) encontros com um total de 4
(quatro) horasaula constando atividades de leitura de crocircnicas que serviram
como norte para a primeira escrita dos alunos fazendo uma breve sensibilizaccedilatildeo
de caracteriacutesticas do gecircnero
b) produccedilatildeo final A (PF-A) realizada apoacutes o segundo moacutedulo da sequecircncia
reescrevendo a PI-A texto sem circulaccedilatildeo social mas com o intuito de
desenvolver a competecircncia comunicativa do aluno
c) produccedilatildeo inicial B (PI-B) realizada apoacutes os moacutedulos 3 (trecircs) e 4 (quatro) jaacute
visando a circulaccedilatildeo social do texto
d) produccedilatildeo final B (PF-B) realizada apoacutes o moacutedulo 5 (cinco) quando os alunos
tivessem aperfeiccediloado sua competecircncia comunicativa escrita e se apropriado do
gecircnero estudado cumprindo o propoacutesito comunicativo da proposta de produccedilatildeo
visando a divulgaccedilatildeo do texto
Para a realizaccedilatildeo da produccedilatildeo inicial utilizamos coacutepias de uma crocircnica
acompanhada de uma proposta de produccedilatildeo elaborada de acordo com a temaacutetica do texto e
associada agrave realidade dos alunos contextualizando uma possibilidade de ligar o mundo real ao
mundo virtual e uma coacutepia da folha de produccedilatildeo textual a ser utilizada em nosso projeto
Durante o desenvolvimento dos moacutedulos da SD utilizamos coacutepias dos textos e
atividades propostas distribuiacutedas individualmente Tambeacutem foi feito o uso do quadro branco
9 Agrave exceccedilatildeo dos dois primeiros encontros de 1 horaaula cada um
74
incel e apagador e de algumas imagens impressas em folha sulfite para ilustrar o conteuacutedo de
algumas crocircnicas de acordo com o planejamento de cada encontro
Para que houvesse a etapa poacutes sequecircncia didaacutetica que corresponde agrave circulaccedilatildeo
social do texto no gecircnero produzido os alunos que desejaram realmente publicar seus escritos
dentro do gecircnero crocircnica literaacuteria produziram um material especiacutefico para tal (PF-B) a partir
da escolha de temaacuteticas que agradaram a cada um individualmente Esse material que tambeacutem
constaraacute de nossa pesquisa corresponde aos textos de 4 (quatro) alunos apenas e
apresentaremos na seccedilatildeo destinada as produccedilotildees iniciais (PI-B) uma primeira reescrita e por
fim as produccedilotildees finais (PF-B)
44 Procedimentos
Antes de aplicarmos a SD com os alunos realizamos momentos de socializaccedilatildeo da
seguinte forma explicamos a importacircncia do projeto agrave direccedilatildeo da escola aos professores e aos
pais dos alunos da turma escolhida para a execuccedilatildeo do projeto visando o fortalecimento da
proposta Com os professores foi feito um momento de reuniatildeo uma semana antes do iniacutecio do
projeto Com os pais realizamos uma reuniatildeo para a socializaccedilatildeo e igualmente para pedir seu
apoio no incentivo agrave participaccedilatildeo dos alunos Infelizmente foram poucos os pais responsaacuteveis
que compareceram agrave reuniatildeo situaccedilatildeo que ocorre normalmente quando se datildeo as reuniotildees de
pais e mestres na escola
Foram realizados 11 (onze) encontros de duas horas-aula (de cinquenta minutos
cada uma) que ocorreram entre os meses de setembro e novembro de 2017 Entre a primeira
fase que compreende a socializaccedilatildeo do projeto e a busca pela adesatildeo as primeiras leituras e a
produccedilatildeo inicial A totalizando 3 (trecircs) encontros num total de 4 horasaula e o iniacutecio da
segunda fase que compreende os moacutedulos propriamente ditos do processo de escrita ateacute a
produccedilatildeo final A num total de 3 (trecircs) encontros houve um intervalo de aproximadamente 1
(um) mecircs tempo destinado agrave apreciaccedilatildeo da PI-A anaacutelise e elaboraccedilatildeo dos moacutedulos da
sequecircncia de atividades Para a posterior culminacircncia que coloca os textos em circulaccedilatildeo social
houve mais 5 (cinco) encontros agora com um puacuteblico mais reduzido que realmente desejava
publicar suas produccedilotildees
Destinamos dois horaacuterios agraves terccedilas-feiras que estavam ociosos para os alunos pois
correspondiam aos horaacuterios das disciplinas de Arte e Ensino religioso cuja professora estava
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afastada em virtude de uma licenccedila de sauacutede para o desenvolvimento do projeto sem alterar a
rotina das aulas de Liacutengua Portuguesa
Como primeira atividade lemos o texto Prova falsa de Stanislaw Ponte Preta (cf
Apecircndice A) com a turma completa Fizemos o exerciacutecio de interpretaccedilatildeo do texto e breve
leitura de Abandono de Animais eacute crime e precisa ser denunciado (cf Apecircndice B) uma
reportagem para que os alunos percebessem diferenccedilas entre os gecircneros (2 horasaula)
O encontro seguinte teve a leitura do texto O chato da vez de Anaximandro
Amorim (cf Apecircndice C) e atividades de interpretaccedilatildeo Dentre as questotildees havia a instruccedilatildeo
que propunha os comandos para a criaccedilatildeo de um texto em forma de crocircnica ndash com o que os
alunos puderam perceber a respeito do gecircnero durante os encontros - e a partir disso nestas 2
(duas) horasaula os alunos fizeram sua produccedilatildeo inicial10 Esses textos compotildeem a produccedilatildeo
inicial dos integrantes do projeto
Os moacutedulos elaborados para o trabalho que visavam melhorar os aspectos da escrita
dos alunos considerando o processo bem como os procedimentos de escritor compreenderam
atividades de leitura exerciacutecios de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo dos textos e de produccedilatildeo de
textos escritos mediados pela professora pesquisadora dentro do gecircnero crocircnica literaacuteria
discussotildees sobre os temas presentes nas crocircnicas aproximando-os da realidade dos alunos com
o objetivo de desenvolver nestes sua capacidade de observaccedilatildeo e reflexatildeo para a produccedilatildeo
textual
Foram apresentadas agrave turma de maneira coletiva as principais dificuldades
diagnosticadas na produccedilatildeo inicial Procuramos natildeo focalizar de iniacutecio a editoraccedilatildeo11 do texto
na folha de produccedilatildeo No entanto natildeo deixamos de trabalhar em sala elementos como o cuidado
com a pontuaccedilatildeo a paragrafaccedilatildeo e a ortografia O conteuacutedo das aulas de cada moacutedulo estaacute
descrito na seccedilatildeo correspondente
No decorrer dos moacutedulos os alunos realizaram atividades de revisatildeo e reescrita dos
seus textos observando tanto a estrutura do gecircnero quanto o seu conteuacutedo orientados pela
professora pesquisadora e tambeacutem recebendo ideias e sugestotildees dos colegas em um feedback
colaborativo Dessa forma chegaram ao seu texto final aplicando na medida de sua
10 Obs o 4ordm horaacuterio que foi escolhido para ser o momento da produccedilatildeo inicial foi prejudicado por dois fatores
O primeiro foi que o professor de educaccedilatildeo fiacutesica da escola convidou os alunos para antecipar sua praacutetica e vaacuterios
natildeo voltaram do recreio para a aula do projeto O segundo fator foi que nesse dia aconteceu uma briga com agressatildeo
fiacutesica entre uma aluna da sala e outra aluna de outra turma o que deixou a escola inteira agitada Os 20 (vinte)
alunos que permaneceram em sala para a produccedilatildeo felizmente mostraram-se interessados embora vaacuterios dissessem
que natildeo levavam jeito para escrever Apenas alguns alunos passaram a limpo seus textos 11 Ver seccedilatildeo Escrita como processo
76
conscientizaccedilatildeo os conhecimentos adquiridos e as duacutevidas esclarecidas durante a sequecircncia de
atividades
Nossa proposta incluiu a circulaccedilatildeo social dos textos para uma audiecircncia real o que
consistiu em uma culminacircncia do projeto de escrita O acordo feito com os alunos foi a
publicaccedilatildeo interna de uma versatildeo artesanalmente produzida de um livro de crocircnicas para que
pudessem marcar o momento e guardar um livro fiacutesico como recordaccedilatildeo e a publicaccedilatildeo em
suas paacuteginas pessoais na rede social Facebook plataforma que os alunos apreciam utilizar com
certa frequecircncia posto que nosso trabalho teve como material para leitura textos retirados da
internet como o proacuteprio Facebook blogs sites Para esta etapa somente cinco alunos
frequentaram assiduamente (alguns outros esporadicamente) sendo que apenas quatro
produziram um texto individual que passou pelo mesmo processo de reescrita e que teve sua
publicaccedilatildeo na plataforma e tambeacutem em um formato artesanal impresso para que suas famiacutelias
e comunidade escolar possam prestigiar o momento na tarde de autoacutegrafos
As produccedilotildees finais seratildeo analisadas no capiacutetulo a seguir em relaccedilatildeo agrave apropriaccedilatildeo
das caracteriacutesticas do gecircnero estudado bem como de sua estrutura composicional com o
objetivo de avaliar se os alunos conseguiram desenvolvecirc-la satisfatoriamente e se a estrutura e
a aplicaccedilatildeo da sequecircncia de atividades favoreceu o desenvolvimento da competecircncia textual e
discursiva dos estudantes que integraram a pesquisa de acordo com o que foi observado em
suas produccedilotildees iniciais examinando seu desempenho em ambas as produccedilotildees
Para o desenvolvimento de nossas atividades do projeto planejamos os encontros
com base nos estudos realizados a respeito do procedimento Sequecircncia Didaacutetica de Dolz
Noverraz e Schneuwly (2013) como estrateacutegia de ensino dos gecircneros textuais na proposta de
adaptaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica conduzida por Swiderski e Costa-Huumlbes (2009) na proposta
de circulaccedilatildeo social do gecircnero discursivo produzido em sequecircncias didaacuteticas de projetos
pedagoacutegicos de Lopes-Rossi (2011) e dos procedimentos das etapas de escrita como
planejamento ediccedilatildeo revisatildeo e reescrita do texto segundo Vieira (2005) e Serafini (2003)
O planejamento de nossa SD abrange 12 (doze) etapas conforme mostra a figura a
seguir
77
Figura 4 - Proposiccedilatildeo de sequecircncia didaacutetica para o projeto de escrita
Fonte Elaborado pela autora adaptado de DOLZ NOVERRAZ SCHNEUWLY (2013) SWIDERSKI COSTA-
HUumlBES (2009) LOPES-ROSSI (2011)
Nossa sequecircncia foi pensada para 2 (duas) etapas distintas Na primeira etapa A
uma produccedilatildeo textual para trabalho em sala com o mesmo tema com a expectativa de serem
colocados nos textos elementos que respondessem ao enunciado instrucional da atividade que
segue a crocircnica lida no dia na segunda etapa B uma produccedilatildeo que jaacute seria composta visando
a circulaccedilatildeo social com tema livre agrave escolha dos alunos a partir das discussotildees sobre o que
pode ser tema de uma crocircnica
Pela necessidade de uma SD mais completa inserimos ao modo de Swiderski e
Costa-Huumlbes entre a apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e a produccedilatildeo inicial um moacutedulo
de reconhecimento do gecircnero E apoacutes o teacutermino de nossa SD inserimos ao modo de Lopes-
Rossi um moacutedulo para a divulgaccedilatildeo social dos textos
441 Primeira etapa da apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo agrave produccedilatildeo inicial
Entre a apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo e a produccedilatildeo inicial (PI) utilizamos 4 (quatro)
horas-aula No primeiro encontro fizemos no 1ordm (primeiro) horaacuterio a socializaccedilatildeo do projeto
com os alunos e incentivamos a adesatildeo expondo as vantagens de trabalharmos o aprendizado
de um gecircnero como a crocircnica em forma de sequecircncia de aulas e atividades Natildeo houve
manifestaccedilatildeo de unanimidade de interesse em participar do projeto Na realidade apenas
metade da sala pareceu desejar integrar o projeto Quando perguntados sobre o motivo que natildeo
os animava vaacuterios responderam ldquopreguiccedila de ler professora preguiccedila de escrever professora
ah eu natildeo gosto de ler muito natildeo Leio porque sou obrigada e natildeo vale nem nota mesmordquo
Apresentaccedilatildeo
da Situaccedilatildeo
Produccedilatildeo
Inicial A
Produccedilatildeo
Final A
Moacuted
ulo 1
Moacuted
ulo 2
Moacuted
ulo 3
Circulaccedilatildeo social
das produccedilotildees B Moacuted
ulo 4 Produccedilatildeo
Inicial B
Moacuted
ulo 5 Produccedilatildeo
Final B
Moacutedulo de
reconheci
mento
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Apesar da inicial resistecircncia de boa parte da sala colocamos aos alunos as
vantagens de sua participaccedilatildeo visto que a principal finalidade da sequecircncia de atividades seria
o desenvolvimento de sua competecircncia escrita por meio da aprimoraccedilatildeo de suas habilidades
leitoras oportunidade de ampliaccedilatildeo da criatividade e desenvolvimento das habilidades e
procedimentos de escritor como o planejamento das ideias a releitura a revisatildeo a reescrita ndash
que sabemos natildeo fazem parte da rotina dos alunos salvo raras exceccedilotildees ndash utilizando como
base o estudo das caracteriacutesticas do gecircnero textual crocircnica literaacuteria
No horaacuterio seguinte com a turma completa iniciamos o moacutedulo de reconhecimento
realizando a leitura do texto Prova falsa de Stanislaw Ponte Preta Leitura silenciosa seguida
de leitura em voz alta por parte da professora-pesquisadora poreacutem sem realizar a atividade que
acompanhava o texto Comeccedilamos a trabalhar com a turma algumas caracteriacutesticas que a
sensibilizariam para o gecircnero como a presenccedila de um tiacutetulo interessante para a criaccedilatildeo de um
texto a partir de uma situaccedilatildeo do cotidiano e que o cronista resolveu contar ao leitor ao bom
humor e agrave leveza das palavras trazidas no texto
No segundo encontro com 1 hora-aula na semana seguinte fizemos a continuaccedilatildeo
da aula anterior no primeiro horaacuterio realizando o exerciacutecio de interpretaccedilatildeo do texto Prova
Falsa No horaacuterio seguinte realizamos breve leitura do texto Abandono de Animais eacute crime e
precisa ser denunciado para que os alunos percebessem a diferenccedila entre a crocircnica e a
reportagem embora ambas falassem cada uma a seu modo de criaccedilatildeo de animais de estimaccedilatildeo
Chegamos aos terceiro encontro com 2 (duas) hora-aula e realizamos a leitura do
texto O chato da vez de Anaximandro Amorim (cf Anexo D) No 1ordm horaacuterio destinado a nossas
aulas tudo transcorreu relativamente normal com a turma completa lendo e realizando parte
das atividades Poreacutem nossa Produccedilatildeo Inicial deveria acontecer apoacutes o recreio pois a
organizaccedilatildeo da grade de horaacuterios compreendia 1 hora-aula antes do recreio e a 1 hora-aula
seguinte apoacutes o recreio
Esse horaacuterio que foi escolhido para ser o momento da PI foi prejudicado por dois
fatores O primeiro foi que o professor de educaccedilatildeo fiacutesica12 da escola convidou os alunos para
antecipar sua praacutetica e vaacuterios natildeo voltaram do recreio para a aula do projeto O segundo fator
foi que nesse dia aconteceu uma briga com agressatildeo fiacutesica entre uma aluna da sala e outra aluna
de outra turma o que deixou a escola inteira agitada Os 20 (vinte) alunos que permaneceram
12 O professor de educaccedilatildeo fiacutesica natildeo estava presente na reuniatildeo de socializaccedilatildeo do projeto com os professores e
por isso natildeo sabia que a professora-pesquisadora ocuparia aquele horaacuterio que estava ocioso para os alunos
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em sala para a produccedilatildeo felizmente mostraram-se interessados embora vaacuterios dissessem que
natildeo levavam jeito para escrever
Demos prosseguimento agrave atividade que acompanha o texto O chato da vez
realizando a instruccedilatildeo de produccedilatildeo do quesito 7 (sete) Os alunos receberam uma folha de
produccedilatildeo e foram orientados a primeiro escrever seu rascunho em folha agrave parte e somente
quando terminassem passar seu texto para a folha de produccedilatildeo A maioria escreveu diretamente
na FP Apenas alguns alunos fizeram um breve rascunho e depois passaram a limpo seus textos
O que buscamos detectar nessas primeiras produccedilotildees (PI-A) sem o devido
aprofundamento das caracteriacutesticas da crocircnica literaacuteria apenas com as leituras e as atividades
de sensibilizaccedilatildeo no moacutedulo de reconhecimento do gecircnero a partir da instruccedilatildeo de produccedilatildeo
foram os itens a seguir
i) quantos textos jaacute deram sinais de que os alunos entenderam o que eacute a ldquoconversa
com o leitorrdquo e a expressaram em marcas linguiacutesticas
ii) quantos atenderam ao perfil da audiecircncia solicitada na instruccedilatildeo
iii) quantos se mantiveram no tema discutido
iv) quantos partiram de uma situaccedilatildeo vividaobservada para compor seu texto
v) quantos narraram essa situaccedilatildeo de forma clara para que o leitor pudesse
acompanhar
vi) quantos atenderam agrave instruccedilatildeo quanto agrave presenccedila de tiacutetulo e ao nuacutemero de
paraacutegrafos
Trataremos em seccedilatildeo posterior correspondente agrave anaacutelise sobre estes resultados
442 Segunda etapa desenvolvimento dos moacutedulos
Aproximadamente 1 (um) mecircs apoacutes a apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo e a produccedilatildeo inicial
que foram realizadas em 4 (quatro) encontros o desenvolvimento dos moacutedulos foi iniciado A
partir de entatildeo foram realizados 8 (oito) encontros de 2 (duas) horas-aula cada um Foram
cinco moacutedulos com atividades diversas que trabalharam fundamentalmente o planejamento
das ideias a organizaccedilatildeo e a revisatildeo do texto aleacutem da reescrita que eacute a ponte para a produccedilatildeo
final O trabalho desenvolvido nos moacutedulos estaacute sintetizado no quadro a seguir e seratildeo
detalhados os procedimentos das aulas nos toacutepicos seguintes
80
Quadro 4 ndash Moacutedulos desenvolvidos na sequecircncia didaacutetica (SD)
MOacuteDULOS TEMA FINALIDADE ATIVIDADE NUacuteMERO
DE AULAS
Moacutedulo 1 A mateacuteria da
crocircnica
Abstrair a partir da
leitura a situaccedilatildeo que
pode ter gerado as
crocircnicas
Leitura dos textos
Realizaccedilatildeo das atividades de
interpretaccedilatildeo
Identificaccedilatildeo das situaccedilotildees
que geraram as crocircnicas
Observaccedilatildeo da construccedilatildeo da
narraccedilatildeo
4 horas-aula
Moacutedulo 2
Releitura e
reescrita da PI-
A
Revisar o conteuacutedo e a
estrutura das crocircnicas
produzidas (PI-A) a fim
de reescrevecirc-las fazendo
as modificaccedilotildees
necessaacuterias eou sugeridas
adequando-as agrave instruccedilatildeo
Conversa sobre as
dificuldades observadas nas
primeiras produccedilotildees Releitura
das produccedilotildees iniciais
individualmente e em duplas
para feedback colaborativo
Reescrita da crocircnica
2 horas-aula
Moacutedulo 3
A opiniatildeo e a
descriccedilatildeo na
crocircnica
Observar a realidade do
seu entorno e tambeacutem de
ouvir as opiniotildees das
pessoas que habitam esse
ambiente
Leitura do texto
Realizaccedilatildeo das atividades de
interpretaccedilatildeo
Atividade de coleta de
impressotildees de algueacutem
proacuteximo Confronto ou
associaccedilatildeo com suas proacuteprias
opiniotildees Observaccedilatildeo de
elementos e situaccedilotildees do
proacuteprio cotidiano
Uso criativo das palavras
reflexatildeo sobre linguagem
conotativa
Elaboraccedilatildeo de um pequeno
texto
2 horas-aula
Moacutedulo 4
A linguagem
criativa e a
verossimilhanccedila
na crocircnica
Produccedilatildeo
inicial do texto
para publicaccedilatildeo
ndash PI-B
Observar as formas
criativas de narrar o
cotidiano
Leitura do texto
Realizaccedilatildeo das atividades de
interpretaccedilatildeo Discussatildeo sobre
verossimilhanccedila
2 horas-aula
Moacutedulo 5
Revisatildeo e
reescrita do
texto para
publicaccedilatildeo ndash
PI-B
Observar os elementos
estudados ao longo dos
moacutedulos na PI-B
Leitura dos textos Feedback
colaborativo Releitura da PI-
B Exerciacutecio de topicalizaccedilatildeo
4 horasaula
Fonte Elaborado pela autora
Nos itens a seguir apresentamos o relato da aplicaccedilatildeo dos moacutedulos bem como as
atividades correspondentes a cada um em uma turma de 9ordm ano de uma escola puacuteblica municipal
em Satildeo Luiacutes no 4ordm (quarto) bimestre do ano letivo de 2017
a) Moacutedulo 1 ndash quarto e quinto encontros ndash 4 (quatro) horas-aula
81
A partir da leitura dos textos Manias e Pacto apoacutes morte natildeo podia ver faca (cf
Anexo E) os alunos praticaram o exerciacutecio de observaccedilatildeo e abstraccedilatildeo da situaccedilatildeo que pode ter
gerado essas crocircnicas
Neste dia foi feita a leitura da crocircnica Manias Os alunos puderam refletir a partir
das questotildees de interpretaccedilatildeo e anaacutelise do texto sobre o que satildeo manias e viram tambeacutem que
elas natildeo satildeo exclusividade de pessoas idosas Na verdade concluiacuteram que basta o ser humano
estar vivo independentemente da idade que tenha para comeccedilar a calcar camadas e mais
camadas de comportamentos que mais adiante se tornaratildeo manias Natildeo houve tempo
disponiacutevel para os alunos comporem um texto a respeito da mateacuteria manias e os alunos pediram
para fazer em casa No entanto na aula seguinte ningueacutem apresentou o texto
Para o encontro seguinte que correspondia ao dia das bruxas a crocircnica escolhida
para leitura que tomou o primeiro horaacuterio foi Pacto poacutes-morte natildeo podia ver faca de Nonato
Reis por ser de gosto dos alunos dessa faixa etaacuteria histoacuterias de fantasmas misteacuterios e lendas
Nossa atividade foi bastante interessante pois todos que estavam na sala entraram no ritmo
daqueles causos contados em prosa pelo jornalista Nonato Reis O segundo horaacuterio foi
direcionado agrave atividade de leitura e interpretaccedilatildeo da crocircnica em que os alunos puderam
observar o ponto de vista do narrador as situaccedilotildees que deram origem e suporte agrave construccedilatildeo da
crocircnica aprenderam vocaacutebulos novos e ainda puderam soltar um pouco da imaginaccedilatildeo e
criatividade pensando em como eles mesmos fariam seus pactos com algueacutem ndash e constatamos
que vaacuterios querem mais eacute que seus contratantes se assustem em vida caso os alunos partam
primeiro
Ao final da leitura ainda exercitamos uma breve retextualizaccedilatildeo se fosse para
compor uma manchete de jornal como eles poderiam criar uma frase de impacto para o leitor
que tivesse relaccedilatildeo com o texto Um dos alunos sugeriu ldquoHomem faz pacto e menino vem
buscarrdquo
b) Moacutedulo 2 ndash sexto encontro ndash 2 (duas) horas-aula
Este encontro foi destinado para releitura da primeira produccedilatildeo feita (PI-A) O
procedimento inicial foi a tempestade de ideias sobre o que eacute ser chato e o que eacute ser legal cujo
registro dessas caracteriacutesticas noacutes construiacutemos na lousa sendo a professora-pesquisadora como
escriba Em seguida entregamos aos participantes do projeto seus textos
De iniacutecio vaacuterios disseram gostar do proacuteprio texto poreacutem quando a professora-
pesquisadora passou de carteira em carteira pedindo que lessem em voz meacutedia de modo a
apenas o proacuteprio aluno e a professora poderem escutar ele mesmo se dava conta de que havia
82
algo a consertar Em alguns casos faltava o diaacutelogo com o leitor noutros uma situaccedilatildeo que
explicasse o porquecirc de algueacutem ser considerado chato ou legal Eacute a tal situaccedilatildeo do leitor na
histoacuteria Natildeo daacute pra jogar em cima dele soacute o resultado Tem que mostrar de onde partiram as
conclusotildees Assim demos uma folha sulfite em branco para que os alunos registrassem seus
rascunhos suas ideias por mais que as considerassem absurdas e daiacute pudessem extrair o que
iria compor o novo texto Fomos bem claras ao falar da importacircncia de tomar notas elas servem
como um prolongamento da memoacuteria (SERAFINI 2003)
Apoacutes esse registro os alunos tiveram a liberdade de escolher sentar em dupla ou
trio e foram lendo seus proacuteprios textos e o dos colegas para se inspirar ou dar sugestotildees uns
aos outros num feedback colaborativo enquanto a professora-pesquisadora permanecia dando
assistecircncia de um por um Infelizmente natildeo conseguimos sentar com todos para dar o devido
retorno individual sendo alguns apenas por orientaccedilatildeo coletiva e outros por bilhetinho com
questotildees gerais
Entatildeo pegamos o texto O chato da vez fizemos mais uma leitura e de novo
revimos a questatildeo 7 que eacute a instruccedilatildeo da produccedilatildeo Entatildeo os alunos receberam a folha de
produccedilatildeo e assim fizeram a reescrita (PF-A)
c) Moacutedulo 3 ndash seacutetimo encontro ndash 2 (duas) horas-aula
A partir da leitura da crocircnica A cara da rua (cf Apecircndice F) os alunos fizeram o
exerciacutecio praacutetico de observar a realidade do seu entorno sensibilizando-se a partir do uso da
descriccedilatildeo na crocircnica literaacuteria e tambeacutem de ouvir as opiniotildees das pessoas que habitam esse
ambiente
Houve uma alteraccedilatildeo no quadro do horaacuterio da escola o que colocou os encontros
do projeto para o 4ordm e o 5ordm horaacuterios As aulas passaram assim a natildeo ter uma quebra em seu
ritmo visto que anteriormente eram dois horaacuterios sendo um antes do recreio e o outro depois
A dificuldade enfrentada na aplicaccedilatildeo deste dia foi que alguns dos alunos que
integram o projeto se atrasaram visto que foi um dia atiacutepico na programaccedilatildeo da escola
Correspondeu este dia agrave visitaccedilatildeo da 11ordf FeLiS a Feira do livro de Satildeo Luiacutes realizada no
centro histoacuterico da cidade na Praia Grande Portanto neste dia natildeo fizemos uma releitura dos
textos que jaacute comeccedilaram a ser reescritos
Fizemos a leitura do texto A cara da rua de Marcelo Xavier discutimos as questotildees
e com os alunos (mesmo os que chegaram atrasados) foi feito o acordo da realizaccedilatildeo da uacuteltima
questatildeo que eacute fazer a leitura do texto para algueacutem em casa e anotar as impressotildees que a pessoa
teve ao ouvir a crocircnica
83
O objetivo desta atividade foi despertar nos alunos a consciecircncia de que uma
crocircnica bem escrita causa alguma reaccedilatildeo em seu leitor uma reflexatildeo uma emoccedilatildeo Aleacutem disso
eles observaram o modo de descrever empregado pelo autor ao longo dos paraacutegrafos usados na
caracterizaccedilatildeo da rua Utilizamos como material para essa aula figuras impressas da moda que
mostravam ao longo das deacutecadas as mudanccedilas citadas no texto
Neste dia tambeacutem os alunos anotaram os fundamentos que devem estar presentes
no texto que eles escrevem uma espeacutecie de quadro autoavaliativo13 criado a partir das
caracteriacutesticas dos textos estudados
d) Moacutedulo 4 ndash oitavo encontro ndash 2 (duas) horas-aula
O encontro comeccedilou retomando a atividade da aula anterior que era fazer a leitura
do texto para algueacutem em casa e anotar as impressotildees que a pessoa teve ao ouvir a crocircnica
Apenas uma aluna realizou a atividade poreacutem foi interessante visto que a opiniatildeo coletada deu
espaccedilo para a discussatildeo sobre a liberdade de expressatildeo fosse no vestuaacuterio no comportamento
ou mesmo no vocabulaacuterio das pessoas que integram a cara da rua
A aula do dia foi direcionada a conhecer mais algumas crocircnicas Amor de Macumba
e Sr Google Pacheco (cf Apecircndice G) para que os alunos pudessem observar e compreender
melhor de que situaccedilotildees observadasvivenciadas partiram os textos podendo ser inesperadas
eou ateacute pitorescas Apoacutes a escuta dos textos cuja leitura foi realizada pela professora-
pesquisadora foram trabalhadas oralmente as questotildees de compreensatildeo e identificadas as
situaccedilotildees geradoras das crocircnicas em questatildeo (independentemente de serem reais ou natildeo)
compreendendo melhor o que eacute verossimilhanccedila
Ao final desse momento os alunos falaram de vaacuterios assuntos que poderiam se
tornar temas de textos Copiamos no quadro e eles nos cadernos Eram temas do cotidiano
como assalto relaccedilotildees sociais vida de youtuber bullying fome cujas situaccedilotildees jaacute
observadasvivenciadas poderiam render uma reflexatildeo
Aparentemente a dificuldade maior dos alunos estava em expressar essa situaccedilatildeo
sem que parecesse um diaacuterio iacutentimo como diaacuterio ou memoacuterias pois a natural disposiccedilatildeo de
seus textos traz uma sequecircncia narrativa um relato de emoccedilotildees pessoais poreacutem natildeo
necessariamente conduzia o leitor a uma reflexatildeo embora por vezes pausasse a narraccedilatildeo e
interagisse com o leitor por meio de perguntas ndash conforme mostrado nas crocircnicas lidas ao longo
do projeto
13 Cf seccedilatildeo de Anaacutelises
84
O foco foi entatildeo ajudar os alunos a desprender-se da aura de criacutetica ou de diaacuterio
iacutentimo em seus textos permitindo-lhes atribuir um ar de narrar os fatos podendo aumentar as
situaccedilotildees conduzindo seu leitor sem sobrecarregaacute-lo com queixumes lamentos criacuteticas ferinas
ou aquele ldquoar de moral da histoacuteriardquo
Como a discussatildeo havia tomado bastante tempo da aula os alunos pediram para
trazer o texto depois Resolvemos propor entatildeo o envio por um meio digital O escolhido foi
o Whatsapp e a produccedilatildeo seria impressa e entregue entre os colegas para leitura coletiva e
apreciaccedilatildeo etapa fundamental para o moacutedulo seguinte
e) Moacutedulo 5 ndash nono encontro ndash 2 (duas) horas-aula
Quatro alunos me mandaram seus textos (Ana Rodrigo Eduardo Estela) A
expectativa da aula do dia era que os alunos lessem as proacuteprias produccedilotildees e as colocassem para
apreciaccedilatildeo dos colegas relessem lessem juntos encontrassem os erros aceitassem as
sugestotildees O trabalho da professora pesquisadora foi inicialmente ir de dupla em dupla para
orientar E assim fizemos o trabalho
Utilizamos como material para essa aula os textos enviados impressos e um tablet
para visualizaccedilatildeo e se desejassem atualizaccedilatildeo de algum trecho do texto Cada aluno autor teve
seu momento de visualizaccedilatildeo na tela e de certo modo foi um choque ver no tablet os erros
ortograacuteficos e as sugestotildees de pontuaccedilatildeo que o aplicativo Word sugeria O aluno Eduardo foi o
mais surpreso pois em seu texto soacute de ortografia e pontuaccedilatildeo havia 22 erros fora as sugestotildees
que o Word corrigia Apesar disso o aluno natildeo desanimou aceitando sugestotildees do aplicativo e
tambeacutem dos colegas e da professora-pesquisadora
Houve o momento da leitura em conjunto e este foi fundamental para trabalharmos
a paragrafaccedilatildeo A professora-pesquisadora lia em voz alta para os alunos eles acompanhavam
o pensamento criando a imagem mental dos fatos corridos e quando havia quebra na
sequecircncia eles mesmos estranhavam e identificavam fazendo sugestotildees de alteraccedilatildeo Isso foi
feito com cada texto
Os temas para a produccedilatildeo do texto publicado foram escolhidos pelos proacuteprios
alunos Diferentemente da PI-A que foi induzida pela instruccedilatildeo aqueles que se dedicaram a
escrever por prazer desenvolveram mais o gosto por entender e reler o proacuteprio texto dando
valor tambeacutem agrave apreciaccedilatildeo dos colegas natildeo apenas da professora
Os quatro alunos que produziram texto para o livro disseram que passaram a prestar
mais atenccedilatildeo a ortografia e acentuaccedilatildeo embora reconheccedilam que natildeo dominam adequadamente
85
ainda Nesse momento consideramos fundamental conscientizar-lhes que esse domiacutenio eacute um
processo e pode durar a vida inteira
f) Moacutedulo 6 ndash deacutecimo encontro ndash 2 (duas) horas-aula
A aula do dia foi dedicada agrave revisatildeo e discussatildeo final dos textos de Ana Rodrigo
Eduardo e Estela Apoacutes a leitura individual e novas sugestotildees sentamos em ciacuterculo e
registramos em voz alta no celular durante uns 20 minutos uma pequena avaliaccedilatildeo do projeto
e avaliaccedilatildeo pessoal em forma de grupo focal Apenas uma aluna dentre os seis que estavam
presentes se recusou a falar Ela mesma afirmou ldquoprofessora eu nunca falo eu natildeo gosto de
falarrdquo A pauta foi a seguinte
i) Uma breve avaliaccedilatildeo do projeto
- vocecirc gostou das aulas
- o que foi um ponto positivo
- e um desafio
- o que vocecirc sugere para um proacuteximo projeto
ii) Uma breve avaliaccedilatildeo pessoal
- vocecirc aprendeu algo que natildeo sabia antes
- mudou alguma coisa nos seus procedimentos em relaccedilatildeo agrave leitura e agrave escrita
- fale um pouco sobre isso
A opiniatildeo dos alunos seraacute tratada na seccedilatildeo seguinte ao longo da avaliaccedilatildeo do
projeto
443 Terceira etapa produccedilatildeo final
Neste dia relemos as primeiras produccedilotildees que os alunos fizeram de maneira
coletiva Foi unacircnime o descontentamento com os textos pois concluiacuteram que estava tudo
muito longe de ter caracteriacutesticas de crocircnica Aproveitamos tambeacutem para ler o texto de um
aluno e fazer um exerciacutecio de topicalizaccedilatildeo a fim de instrumentalizaacute-los com uma uacutetil
ferramenta de anaacutelise das partes do texto detectando as ideias que o compotildeem comparando ao
comando de produccedilatildeo que foi dado naquele momento da PI e percebendo que ideias faltam para
completar a instruccedilatildeo pedida Fora isso os alunos perceberam que havia muitos erros
ortograacuteficos e disseram que achavam interessante se pudessem para todos os textos escrever
em aplicativos de celular ou programas de ediccedilatildeo de texto como o Word para que as correccedilotildees
mais baacutesicas jaacute fossem automaticamente realizadas
86
444 Quarta etapa circulaccedilatildeo social dos textos
A circulaccedilatildeo social dos textos eacute parte de nossa proposta para a sequecircncia didaacutetica
Como o objetivo maior foi o de contribuir para o aperfeiccediloamento das habilidades de escrita
desenvolvendo procedimentos de escritor fugindo agrave praacutetica que os alunos normalmente tecircm
que eacute de fazer um texto sem os devidos cuidados apenas visando nota para entregar ao
professor contamos que essas produccedilotildees foram de grande valia aos que permaneceram ateacute o
final de nosso projeto
O livro artesanal foi produzido e no dia da cerimocircnia de formatura dos alunos do
9ordm ano foi tornado puacuteblico mostrado aos outros alunos familiares e comunidade escolar
presente O livro conteacutem as produccedilotildees dos 4 (quatro) alunos e mais as crocircnicas lidas ao longo
das aulas Aleacutem disso cada um publicou seu texto em sua paacutegina do Facebook
87
5 ANAacuteLISE DA SEQUEcircNCIA REFLEXOtildeES
Este capiacutetulo eacute destinado a discussatildeo e anaacutelise dos dados coletados quando de antes
da aplicaccedilatildeo dos moacutedulos (produccedilatildeo inicial) e depois do desenvolvimento destes (produccedilatildeo
final) a fim de verificarmos o desempenho dos alunos e certificar que o desenvolvimento de
nossa SD proposta para o desenvolvimento da competecircncia escrita dos alunos do 9ordm ano do
ensino fundamental pode propiciar-lhes progressos nas habilidades de produccedilatildeo de seus textos
Apresentamos aqui os principais dados da pesquisa como nuacutemero de alunos
participantes em cada etapa de produccedilatildeo nuacutemero de estudantes que participaram de todas as
atividades e principais dificuldades quanto aos elementos constitutivos do gecircnero trabalhado
Para a anaacutelise das versotildees produzidas pelos alunos que participaram de todos os encontros
fazendo o comparativo entre a PI e a PF partimos das categorias do gecircnero crocircnica literaacuteria
trabalhadas durante a SD Deste modo veremos as seccedilotildees destinadas a analisar os elementos
constitutivos presentes nos textos
A anaacutelise dos dados considerou as hipoacuteteses levantadas no iniacutecio da pesquisa que
recapitulamos
a) eacute possiacutevel motivar os alunos a escrever ao desenvolver com eles atividades
voltadas para os diferentes subprocessos e habilidades envolvidos no ato de
redigir
b) o ensino da composiccedilatildeo do gecircnero crocircnica literaacuteria contribuiraacute para minimizar
dificuldades observadas nos textos dos alunos do 9ordm ano como nos planos
morfossintaacutetico e semacircntico aleacutem de lhes propiciar o desenvolvimento da
competecircncia escrita em textos escritos
c) apoacutes a realizaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica proposta ao compararmos as produccedilotildees
inicial e final dos alunos verificaremos um desempenho mais satisfatoacuterio em
relaccedilatildeo agrave competecircncia discursiva realizada no gecircnero crocircnica
Da primeira hipoacutetese consideramos para a elaboraccedilatildeo das atividades e o
planejamento dos encontros trabalhar os subprocessos da escrita geraccedilatildeo e organizaccedilatildeo de
ideias planejamento do texto rascunho escrita releitura revisatildeo reescrita ateacute o passo da
publicaccedilatildeo agrave audiecircncia pretendida Esses passos auxiliaram os alunos a desenvolver melhor
seus textos apoacutes a revisatildeo quando os comparamos aos seus primeiros textos conforme a anaacutelise
dos dados Inclui tambeacutem este momento a motivaccedilatildeo de modo que quanto maior o domiacutenio
das habilidades mais confiantes os alunos ficavam e consequentemente mais motivados
88
Buscamos identificar nos textos dos alunos os avanccedilos referentes agrave apropriaccedilatildeo do
gecircnero crocircnica literaacuteria a partir dos textos escolhidos para servir-lhes de modelo para a
produccedilatildeo Relatamos aqui tambeacutem as dificuldades trabalhadas com eles durante os moacutedulos e
que foram aperfeiccediloadas Aleacutem das dificuldades composicionais relatamos ao longo do
capiacutetulo as dificuldades quanto agrave participaccedilatildeo no projeto aplicado
51 Participaccedilatildeo dos alunos na pesquisa
A sala de aula escolhida para aplicaccedilatildeo do projeto de produccedilatildeo escrita de crocircnicas
literaacuterias foi uma turma de 9ordm ano vespertino em uma escola puacuteblica do municiacutepio de Satildeo Luiacutes
Maranhatildeo Os alunos frequentes totalizavam no ano letivo de 2017 43 (quarenta e trecircs) No
entanto ao final de nosso projeto tivemos um resultado de produccedilotildees que visavam agrave circulaccedilatildeo
social do texto no gecircnero que corresponde a menos de 10 (dez por cento) do total da classe
Graacutefico 4 ndash Nuacutemero de alunos do 9ordm ano
Fonte Produzido pela autora
Podemos dizer que a SD teve duas partes no tocante agrave participaccedilatildeo dos alunos No
primeiro 19 (dezenove) alunos produziram a PI-A havendo oscilaccedilatildeo da presenccedila nas
atividades ateacute a reescrita a PF-A No entanto selecionamos as produccedilotildees apenas dos que
participaram de todos os encontros que foram 13 (treze) alunos e que produziram a PF-A
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
Nuacutemero de alunos
Nuacutemero de alunos no 9ordm ano
Alunos regularmente frequentes
Alunos que produziram o texto para a professora-pesquisadora como audiecircncia
Alunos que produziram texto para circulaccedilatildeo social com audiecircncia real
89
No segundo momento visando a publicaccedilatildeo dos textos o nuacutemero de alunos
presentes caiu vertiginosamente finalizando o projeto de aplicaccedilatildeo da SD com 6 alunos
frequentes sendo que apenas 4 (quatro) produziram o texto para circulaccedilatildeo social constando a
PI-B e a PF-B Segundo os alunos da turma o fato de natildeo valer nota associado ao item do
termo de compromisso que diz que a qualquer momento o aluno poderia deixar de participar
sem qualquer prejuiacutezo fez com que alguns alunos deixassem de querer frequentar ldquoporque eu
natildeo gosto de escrever professorardquo acabando por ldquocontagiarrdquo outros alunos a querer sair mais
cedo da sala de aula abandonando assim o projeto aplicado ldquomas pelo menos a senhora jaacute tem
um texto natildeo eacuterdquo
Dessa forma totalizamos 26 (vinte e seis) textos analisados 2 (dois) de cada
participante na primeira parte e 4 (quatro) dos quatro alunos que tiveram seus textos publicados
no livro artesanal e na plataforma online
Graacutefico 5 ndash Participaccedilatildeo nas produccedilotildees
Fonte Produzido pela autora
Como vimos 13 (treze) alunos realizaram a PF-A e 4 (quatro) a PF-B Nosso
projeto de produccedilatildeo escrita de crocircnicas literaacuterias contou com 11 (onze) encontros efetivos num
total de 20 (vinte) horasaula A participaccedilatildeo da turma ocorreu da seguinte forma
0
5
10
15
20
PI-A PF-A PI-B PF-B
Participaccedilatildeo nas produccedilotildees
Produccedilatildeo a partir de instruccedilatildeo Produccedilatildeo para publicaccedilatildeo
90
Graacutefico 6 ndash Alunos presentes por encontro
Fonte Produzido pela autora
Quanto agrave participaccedilatildeo nos encontros nos quais desenvolvemos os moacutedulos a maior
participaccedilatildeo ocorreu no 1ordm (primeiro) e no 4ordm (quarto) encontros No 9ordm (nono) encontro tivemos
a menor quantidade de alunos O uacuteltimo encontro contou com 7 (sete) alunos
52 Anaacutelise da apropriaccedilatildeo de caracteriacutesticas do gecircnero crocircnica literaacuteria
Nosso objetivo com esta pesquisa foi de contribuir para o desenvolvimento da
competecircncia escrita dos alunos de 9ordm ano a partir da proposta da aplicaccedilatildeo de uma sequecircncia
didaacutetica para a produccedilatildeo de textos escritos em uma turma deste niacutevel utilizando para tal o
gecircnero crocircnica literaacuteria A sequecircncia foi desenvolvida no 2ordm semestre do ano letivo de 2017
Para verificar o desempenho dos alunos nos textos escritos antes e apoacutes a aplicaccedilatildeo
da SD buscando comprovar sua eficiecircncia como uma proposta para o ensino de produccedilatildeo de
textos e o desenvolvimento da competecircncia escrita dos alunos procedemos a anaacutelise do corpus
de produccedilotildees a fim de verificar se a construccedilatildeo do texto de alunos do 9ordm ano corresponde de
algum modo aos exemplos de crocircnicas apresentados na primeira parte da sequecircncia didaacutetica
Essa produccedilatildeo A corresponde ao trabalho com 13 alunos (como jaacute informado na
seccedilatildeo 4411) em 3 (trecircs) encontros com duraccedilatildeo de 6 (seis) horasaula e leitura de duas
crocircnicas ineacuteditas para os alunos (Manias e Pacto apoacutes morte) e atividades correspondentes e
mais a releitura de O chato da vez releitura da instruccedilatildeo e releitura das PI-A
0
5
10
15
20
25
30
35
40
Alunos presentes por encontro
Nordm de alunos
91
Nossa primeira parte da sequecircncia em que preparamos os alunos para a produccedilatildeo
do primeiro texto do gecircnero com um miacutenimo de caracteriacutesticas tratou de mostrar exemplos do
que se pode esperar em uma crocircnica fornecendo um miacutenimo de elementos para que atraveacutes de
uma abordagem imitativa os alunos fizessem o seu texto PI-A
Para a reescrita ou PF-A a fim de auxiliar nossos alunos fomos construindo ao
longo do periacuteodo de aplicaccedilatildeo das aulas um quadro autoavaliativo que resultou nos itens
expostos no quadro a seguir
Quadro 5 ndash Quadro autoavaliativo
Seu texto Sim Natildeo
Partiu de uma situaccedilatildeo observadavivida
Conversa com o leitor
Possui o foco narrativo bem determinado (narrador personagem ou
narrador observador)
Leva o leitor a refletir
Causa impressotildees no leitor como riso choro reflexatildeo emoccedilatildeo
satisfaccedilatildeo
Possui um final interessante
Mostra discretamente ao leitor seu ponto de vista a respeito da situaccedilatildeo
Possui alguma descriccedilatildeo de lugarobjetopersonagem
Possui um tiacutetulo
Apresenta os acontecimentos de forma clara
Emprega adequadamente os sinais de pontuaccedilatildeo
Evita repeticcedilatildeo desnecessaacuteria de palavras
Possui paraacutegrafos bem organizados
Fonte Elaborado pela autora
O quadro nasceu da observaccedilatildeo das caracteriacutesticas constantemente presentes em
produccedilotildees de alunos com os quais trabalhamos A proposta era que os integrantes do projeto
avaliassem os proacuteprios textos atentando para estes aspectos mais baacutesicos
Desta forma vamos proceder a anaacutelise com a observaccedilatildeo da apropriaccedilatildeo das
caracteriacutesticas trabalhadas do gecircnero crocircnica literaacuteria sob uma oacutetica do processo de produccedilatildeo
oferecendo uma abordagem imitativa de produccedilatildeo de textos nas produccedilotildees iniciais e finais A
de 13 (treze) alunos cuja identificaccedilatildeo estaacute no quadro a seguir
Quadro 6 ndash Identificaccedilatildeo dos textos A dos alunos
Identificaccedilatildeo textoautor Tiacutetulo PI Tiacutetulo PF
Ana Ser chato ou natildeo ser eis a
questatildeo
Ser chato ou natildeo ser eis a
questatildeo
92
Rodrigo Pare de se criticar
Eduardo O amigo muito e muito chato Ser legal natildeo eacute ser chato
Estela Os chatos de antematildeo O tio chato de galocha
Ceacutelia Chata sim ou natildeo Chata sim ou natildeo
Arlindo Chato e natildeo eacute chato Chato e natildeo eacute chato
Juacutelia Ser chato ou ser legal Pessoas chatas e pessoas
legais
Vicente Aacute pergunta eacute se eu
bloquearia uma pessoa chata
Graccedila Rafaelly chata Chata ela ou EU
Lilian Meus amigos chatos e Eu Pessoas legais e chatas
Heloiacutesa ldquoChato mais eacute muito legalrdquo ldquoO melhor chatordquo
Eliane Um pouco de tudo O que e chato e o que e legal
Joana Pessoas chatas e outras legal Pessoas otimas Fonte Produzido pela autora
Esses textos foram produzidos em sala na folha de produccedilatildeo textual proacutepria
elaborada para a SD de forma manuscrita e os originais A encontram-se nos anexos Na seccedilatildeo
a seguir mostraremos o panorama das anaacutelises
53 Os textos dos alunos
Esta seccedilatildeo traz os textos dos alunos produzidos em dois momentos O primeiro que
chamamos de texto A composto de produccedilatildeo inicial A e produccedilatildeo final A foi o texto produzido
na primeira parte de nossa sequecircncia didaacutetica que vai ateacute o moacutedulo 2 (dois) e que ficou restrito
apenas ao trabalho em sala de aula O segundo foi o texto B com produccedilatildeo inicial B e produccedilatildeo
final B cuja produccedilatildeo jaacute visava agrave circulaccedilatildeo social das produccedilotildees
531 Produccedilotildees A textos apenas para o trabalho em sala de aula
Quadro 7 ndash Produccedilatildeo inicial Ana ndash Tiacutetulo Ser chato ou natildeo ser eis a questatildeo
1 O ldquochato da vezrdquo esse texto fez eu refletir bastante
2 sobre esse negocio de chatisse sabe eu natildeo acho que
3 ser chato seja um defeito ou muito menos uma qua-
4 lidade de sabe de uma coisa Eu nem ao menos sei o
5 que eacute ser chato mas se algueacutem me perguntar diria que
6 ser chato eacute apenas falar de um assunto pode ser sobre ele
7 ou sobre mim mas se for falado isso pra mim muitas ve-
8 zes isso pra mim eacute pura chatice mas sabe eu natildeo tiraria
9 nem evitaria ningueacutem mesmo sendo aquela amiga que so
93
10 sabe falar que ta doente e reclamar de noites mal dormi-
11 das sempre ateacute porque eacute o jeito dela e cada um oferece o
12 que tem para oferecer eu natildeo fico puxando o saco delas
13 mas evito elas sempre que posso Ateacute porque seria uma
14 chatice evita-la ou qualquer um outro chato Fonte Dados da pesquisa
O texto foi composto por um paraacutegrafo apenas Percebe-se que Ana o criou
atendendo ao que a instruccedilatildeo da atividade requer criar um texto que possa inspirar reflexatildeo
Poreacutem a aluna natildeo exatamente conduz seu leitor a refletir Ela jaacute parte de uma constataccedilatildeo sobre
a qual ela mesma refletiu e expotildee no texto suas conclusotildees Natildeo narra uma situaccedilatildeo
vividaobservada mas elenca o que lhe parecem procederes chatos ldquomesmo sendo aquela amiga
que so sabe falar que ta doente e reclamar de noites mal dormidas semprerdquo (linhas 9 a 11) A
aluna natildeo usou a estrateacutegia de inserir personagens que transparecessem seu ponto de vista ao
leitor Construiu seu texto em primeira pessoa ao modo de ldquoO chato da vezrdquo e demonstrou que
tinha consciecircncia de que seu texto seria lido por uma audiecircncia visto que lanccedila perguntas para
confirmaccedilatildeo ldquosaberdquo (linha 1) ldquosabe de uma coisardquo (linha 4) embora essa audiecircncia natildeo
coadune com a instruccedilatildeo
Quadro 8 ndash Produccedilatildeo final Ana ndash Tiacutetulo Ser chato ou natildeo ser eis a questatildeo
1 ldquoO chato da vezrdquo Um texto muito interessante
2 que fez eu refletir sobre esse negocio de chatisse um
3 assunto que eu ja tinha pensado bastante mas cheguei a
4 conclusatildeo de que natildeo deve ser considerado um defeito nem
5 uma qualidade chato quero dizer mas deve ser um a
6 coisa que vocecirc deve ser controlada sabe as vezes eacute ne-
7 cessario ter um pouco de chatisse
8
9 Ser chato na minha opiniatildeo natildeo teria um signi-
10 ficado especifico seria vaacuterias coisas como falar apenas de
11 um assunto coisas repetitivas sabe natildeo saber aceitar o jeito
12 das pessoas ao seu redor ser chato eacute natildeo saber relevar e ser
13 legal eacute o oposto pois se eu falasse se eu falasse ago-
14 ra as caracteriacutesticas das pesso legal esse texto ficaria cha-
15 to ca entre nos Fonte Dados da pesquisa
O texto reescrito agora compotildee-se de dois paraacutegrafos embora no trabalho de
discussatildeo e reapresentaccedilatildeo da mesma proposta a instruccedilatildeo indique entre 3 (trecircs) e 6 (seis)
paraacutegrafos
94
Mais uma vez a aluna elaborou seu texto visando ao que a instruccedilatildeo da atividade
requer um texto que possa inspirar reflexatildeo sem conduzir exatamente seu leitor a refletir mas
expondo uma constataccedilatildeo sobre a qual ela mesma refletiu
O primeiro paraacutegrafo inicia com frases que lembram o gecircnero resenha ldquoO chato da
vezrdquo Um texto muito interessante que fez eu refletir sobre esse negocio de chatisse (linhas 1 e
2)
O segundo paraacutegrafo que ela inicia nos daacute a pista de que ela retorna ao quesito de
letra a da atividade 7 que tem por funccedilatildeo sensibilizar e conduzir o aluno a compreender a
instruccedilatildeo que vai se apresentar definitivamente a partir do quesito de letra c e perde de vista
que seu texto deve ser composto dentro das caracteriacutesticas do gecircnero crocircnica Em lugar disso
ela o compotildee expondo sua opiniatildeo o que tange um outro gecircnero
O texto possui tiacutetulo como na PI e faz uma referecircncia intertextual agrave famosa frase
de William Shakespeare Ser ou natildeo ser eis a questatildeo
Ainda como na PI a aluna natildeo narra uma situaccedilatildeo vividaobservada elencando
em vez disso o que foi considerado chato nas discussotildees que a turma fez para tentar definir o
que era ser legal e ser chato como falar apenas de um assunto coisas repetitivas sabe natildeo
saber aceitar o jeito das pessoas ao seu redor ser chato eacute natildeo saber relevar (linhas 10 a 12)
Mais uma vez a aluna natildeo usou a estrateacutegia de inserir personagens que
transparecessem seu ponto de vista ao leitor Construiu seu texto em primeira pessoa ao modo
de ldquoO chato da vezrdquo mas frases como sabe (linha 11) e ca entre nos (linha 15) mostram que
houve sim uma preocupaccedilatildeo em conversar com o leitor transparecendo sua percepccedilatildeo de uma
audiecircncia como presente no texto da instruccedilatildeo bem como ao longo das crocircnicas lidas foram
ressaltadas foacutermulas de conversas com o leitor
A autora desenvolveu pouco seu texto e ainda buscou abreviaacute-lo visto que ldquose eu
falasse agora as caracteriacutesticas das pesso legal esse texto ficaria chato ca entre nosrdquo (linhas
14 e 15)
Natildeo houve para antes da reescrita um texto na folha de rascunho Foi feita a
refacccedilatildeo do texto diretamente na folha de produccedilatildeo havendo ainda problemas com a ortografia
e a pontuaccedilatildeo
No entanto Ana depois de seguir com o projeto e apurar um pouco mais o olhar
segundo ela mesma pediu para que deacutessemos nova oportunidade de leitura pois ela havia feito
uma nova reescrita ao final dos moacutedulos Essa reescrita de Ana estaacute na seccedilatildeo seguinte apoacutes o
teacutermino de todos os moacutedulos
95
Quadro 9 ndash Produccedilatildeo inicial Rodrigo ndash Tiacutetulo Pare de se criticar
1 Bom pessoal primeiro quero que vocecircs entendatildeo o
2 verdadeiro significado de ser chato e ser legal
3 antes de tudo Natildeo levem nada pro lado pessoal apenas
4 entenda Vamos comeccedilar
5
6 Uma pessoa chata por exemplo ela eacute cheia de
7 nheacute nheacute nheacute mas nem todo mundo eacute chato depende
8 de quem te acha chato concerteza ela tambeacutem natildeo eacute
9 a pessoa mais legal triloca ou radical do mundo Se
10 ela te acha chato foudaci o que importa eacute vocecirc se
11 acha legal Ai Deus quem dera tivesse um
12 botatildeo pra silenciar pessoas chatas leitor estaacute me ente-
13 ndendo uma pessoa chata ela pode ser chata
14 pra vocecirc mas pra mim natildeo entatildeo vai lagar de se
15 achar chato Cara vocecirc eacute mocirc legal pra muitas
16 pessoas deixa de se alto criticar
17
18 Voltando ao assunto se vocecirc tivesse um
19 botatildeo pra bloquear uma pessoa que tipo de pessoa
20 vocecirc bloquearia eu particularmente bloquearia
21 essas pessoas chatas que natildeo saien do meu peacute
22 entatildeo era soacute isso Seja mais legal consigo
23 mesmo Fui
24
25 Fim
26 Joinha
27 LIKE Fonte Dados da pesquisa
Construiacutedo em 3 (trecircs) paraacutegrafos de efetivo conteuacutedo entre as linhas 1 e 23 o texto
desse aluno busca fortemente o contato com sua audiecircncia como se vecirc em diversos exemplos
ldquoBom pessoalrdquo (linha 1) ldquoquero que vocecircs entendatildeordquo [sic] (linha 1) ldquoleitorrdquo (linha 12) ldquoestaacute
me entendendordquo (linhas 12-13) ldquoCara vocecirc eacute mocirc legalrdquo (linha 15) se vocecirc tivesse um botatildeo
(linhas 18-19) Seja mais legal consigo mesmo (linhas 22-23) Esse contato eacute influenciado pelos
diaacutelogos mais proacuteximos da oralidade que se apresenta nos textos usados para sensibilizar e
inspirar a produccedilatildeo inicial e que eacute uma caracteriacutestica do gecircnero trabalhado
No entanto seu texto natildeo se caracteriza como gecircnero crocircnica Percebemos que
lembra muito um roteiro de fala para viacutedeo do youtube ndash e sim o aluno autor do texto eacute youtuber
e tem um canal O aluno termina seu texto com claras referecircncias agrave esfera do discurso online
em que se tem interaccedilatildeo direta com o leitor Joinha LIKE (linhas 26 e 27) bem como um
96
elemento visual associado a essa multimodalidade que a internet permite que eacute a matildeo com
polegar para cima (linha 25) conhecido como thumbs up ou no Brasil joinha usado para
expressar contentamento com o conteuacutedo escrito o que corresponde ao perfil de audiecircncia dado
na instruccedilatildeo
Rodrigo faz muito uso da palavra chato o que pode sobrecarregar o texto Poreacutem
e como veremos a seguir na produccedilatildeo B do mesmo aluno a repeticcedilatildeo segundo ele eacute
caracteriacutestica sua para ldquoreforccedilar que a pessoa eacute chata professorardquo Apesar disso natildeo houve
uma definiccedilatildeo mais bem detalhada do que eacute o chato como os que ldquonatildeo saien do meu peacuterdquo (linha
21)
Haacute uma referecircncia no texto agrave primeira leitura feita em sala antes da PI que foi o
texto Prova Falsa Nas linhas 6-7 pode-se ler ldquonheacute nheacute nheacuterdquo como definiccedilatildeo do que eacute uma
pessoa chata e que no texto do Stanislaw Ponte Preta aparece como ldquoDesses cachorrinhos de
raccedila cheio de nheacutem-nheacutem-nheacutem que comem comidinha especial precisam de muitos
cuidados enfim um chato de galochardquo Por natildeo portar o texto em matildeos na hora da produccedilatildeo
entendemos entatildeo que o aluno Rodrigo fixou o vocaacutebulo corrente na oralidade (nheacutem-nheacutem-
nheacutem) ao conceito (muito chato chato de galocha) causando um saldo positivo em sua escolha
Quadro 10 ndash Produccedilatildeo final Rodrigo ndash Tiacutetulo
1 bom dia boa tarde e boa noite depende
2 da hora em que estiver lendo isso
3 Hoje eu vou falar um pouco sobre pessoas
4 chatas e pessoas legais se estiver pronto vamos laacute
5
6 Primeiro reflita uma coisa vocecirc leitor se
7 considera chato Antes de dizer vocecirc precisa saber
8 a diferenccedila entre ser legal e ser chato vou explicar
9
10 Uma pessoa legal eacute aquela que sabe te
11 ouvir dar sua opiniatildeo na hora certa e saber
12 reconhecer seus erros mas chega um devido ponto
13 que vocecirc tenta ser tatildeo legal que chega a ser chata
14 mas existe uma diferenccedila entre essas duas coisas
15 estaacute entendendo leitor Suponhamos que exista
16 um botatildeo de bloquear pessoas igual aquele do
17 Whatsapp quem vocecirc bloquearia seus amigos
18 Seus familiares Seus colegas Ou as pessoas chatas
19 Hahahahaha jaacute sei a resposta entatildeo isso facilitaria
20 muito sua vida neacute
21
22 bom espero ter ajudado a saber a
97
23 diferenccedila entre essas duas coisas en em breve
24 farei outro texto para explicar um pouco
25 melhor valeu falou e fui
26
27 Fonte Dados da pesquisa
Nessa versatildeo de reescrita do texto vimos que o aluno natildeo colocou o tiacutetulo
Acreditamos que ele natildeo tenha lembrado visto que na PI foi atribuiacutedo um tiacutetulo a seu texto
Natildeo houve para antes da reescrita um texto na folha de rascunho O aluno afirmou
que gostava de desenhar e permitimos que ele fizesse o que lhe fosse mais confortaacutevel para
liberar a criatividade apoacutes a conversa com a turma em busca da compreensatildeo do que eacute ser legal
ou ser chato A refacccedilatildeo do texto foi feita diretamente na folha de produccedilatildeo havendo ainda
alguns problemas com a ortografia e a pontuaccedilatildeo poreacutem com bom uso das interrogaccedilotildees para
conduzir o leitor por seus questionamentos o autor buscou uma aprovaccedilatildeo para o tema que
expotildee
Natildeo houve neste texto a presenccedila da narraccedilatildeo de uma situaccedilatildeo vividaobservada
Rodrigo mencionou algumas situaccedilotildees discutidas na sala antes da reescrita que falavam sobre
o que eacute ser chato e o que eacute ser legal Na linha 19 houve uma quebra e expectativa pois o trecho
ldquoHahahahaha jaacute sei a respostardquo natildeo deixa claro realmente qual a resposta
Percebemos tambeacutem a utilizaccedilatildeo de siacutembolos em seu texto ao final Esse recurso
multimodal eacute caracteriacutestico da forma de interaccedilatildeo existente nas redes sociais e o aluno por
entender na instruccedilatildeo que o texto eacute direcionado a um leitor de sua idade e que lecirc e faz postagens
e comentaacuterios com frequecircncia empregou iacutecones de maneira natural em seu texto Entendemos
aqui que ele considerou a audiecircncia determinada na instruccedilatildeo
Quadro 11 ndash Produccedilatildeo inicial Eduardo ndashTiacutetulo O amigo muito e muito chato
1 Nossa meus amigos satildeo chatos
2 ou seraacute que eacute eu mesmo que sou
3 completamente chato Natildeo sei mas se
4 sou o que eu faccedilo de errado pra ser chato
5
6 Tive uma amizade que era muito
7 bacana uma convivencia boa para se
8 viver mas passando alguns tempo
9
10 Ficou absurdamente chato ficou
11 muito muito muito chata vivia na
98
12 minha casa Iria conpletamente na minha
13 casa nas horas enproprias era chato
14
15 Mas um dia fiquei dando indiretas
16 para ele dizendo ldquoQue mamatildee mandou arruma
17 a casardquo essa coisas assim
18
19 Um dia disse para ele ldquoTou meio
20 oculpadordquo ai ele disse ldquoVocecirc eacute muito chatordquo
21 e saiu de casa sem olhar para traacutes
22
23 Mas ai ele foi que ficou mais chato
24 ainda Tocava a campainha de casa e
25 saia correndo
26
27 Se desse de broqueiar ele na vida
28 real eu broqueiava Vocecirc faria o mesmo
29 leitor Fonte Dados da pesquisa
A PI apresenta o ponto de vista do autor sobre o que eacute ser chato ldquovivia na minha
casa Iria completamente na minha casa nas horas enproprias era chatordquo (linhas 11-13) poreacutem
natildeo explicita o que eacute ser legal deixando essa lacuna para o leitor Apesar disso EDUARDO
parte de uma situaccedilatildeo vividaobservada que era essa relaccedilatildeo com seu amigo
O texto estaacute organizado em 7 (sete) paraacutegrafos No entanto o 2ordm e o 3ordm paraacutegrafos
poderiam estar unidos pela temaacutetica14 assim como o 5ordm e o 6ordm paraacutegrafos O uso do conectivo
mas foi inadequadamente empregado no 4ordm paraacutegrafo (Mas um dia fiquei dando indiretas para
ele) (linhas 15-16) A repeticcedilatildeo da expressatildeo temporal um dia no iniacutecio do 4ordm e do 5ordm paraacutegrafos
sucessivamente natildeo permite claramente ao leitor saber se as situaccedilotildees aconteceram no mesmo
dia ou em dias distintos
Percebemos o emprego da 1ordf pessoa como a voz que fala no texto um narrador-
personagem que se comunica tanto com outro personagem por meio de discurso indireto livre
(ai ele disse ldquoVocecirc eacute muito chatordquo) (linha 20) quanto com o leitor ldquoVocecirc faria o mesmo leitorrdquo
(linhas 28-29) demonstrando consciecircncia de que existe uma audiecircncia e embora natildeo mostre
claros exemplos ainda assim atende agrave instruccedilatildeo de que essa mesma audiecircncia deve ser um
puacuteblico que estaacute antenado nas redes sociais ldquoSe desse de broqueiar ele na vida real eu
broqueiavardquo (linhas 27-28)
14 Cf seccedilatildeo Escrita na escola
99
Quadro 12 ndash Produccedilatildeo final Eduardo ndashTiacutetulo Ser legal natildeo eacute ser chato
1 Ser legal eacute oacutetimo mas vocecirc
2 pode esta achando que taacute sendo
3 muito legal mas a pessoa
4 que vocecirc ta sendo legal natildeo
5 pode ta achando vocecirc muito legal
6 mas sim chato
7
8 Vocecirc indo na casa do seu
9 amigo toda hora pode ser legal
10 para ele mas para seu amigo natildeo
11
12 Coisas demais natildeo eacute tatildeo
13 legal E vocecirc leitor tem alguma
14 coisa engual a isso
15
16 LEGAL X CHATO
Fonte Dados da pesquisa
Nessa reescrita do texto apoacutes as sugestotildees percebemos que o aluno fez natildeo uma
nova versatildeo do primeiro texto mas uma resposta agraves discussotildees realizadas na sala antes do
momento de escrita Pedimos ao grupo como um todo que levasse em conta o que eacute ser legal
e o que eacute ser chato e desses exemplos praacuteticos partindo de situaccedilotildees vividasobservadas
Enquanto a professora-pesquisadora atendia outros alunos que natildeo haviam compreendido
claramente as sugestotildees dadas agraves suas PI o aluno Estela elaborou 3 (trecircs) paraacutegrafos que
condensam sua situaccedilatildeo descrita na PI natildeo utilizando diaacutelogos nem personagens apesar de
ainda se dirigir ao leitor (ldquoE vocecirc leitorrdquo) (linha 13) Houve uma perda da qualidade do texto
por causa de uma provaacutevel falta de compreensatildeo da tarefa a ser realizada na sala
Quadro 13 ndash Produccedilatildeo inicial Estela ndash Tiacutetulo Os chatos de antematildeo
1 Certo dia observei dois amigos conversando
2 Marcelo e Camila quase todos os dias Marcelo
3 e Camila quase todos os dias eles ldquobrigavamrdquo
4 ficavam de ldquomalrdquo como os jovens de hoje falam
5
6 O motivo dessas brigas era apenas pelo fato
7 de Marcelo dizer a Camila que ela era uma
8 chata e ela como todos os ldquochatosrdquo natildeo
100
9 admitiam ser chatos neacute
10
11 E vocecirc se por acaso algueacutem chamaacute-lo de chato
12 O que vocecirc faria
13
14 Eu natildeo era muito ldquoamigardquo deles mas na real
15 dava uma vontade de chegar e dizer-lhes ldquo
16 Por favor natildeo sejam tatildeo ridiacuteculos os dois
17 satildeo uns chatosrdquo
18
19 Mas como eacute errado intrometer-se nas conversas
20 dos outros resolvi natildeo dizer nada
21
22 Passaram-se semanas e eles sempre continuavam
23 com isso
24
25 Entatildeo resolvi fazer algo para que evitasse
26 essas ldquobrigasrdquo cotidianas
27
28 Natildeo falei nada pessoalmente mas sim por uma
29 rede social e mandei a seguinte mensagem
30
31 ldquoDesculpe-me por intrometer-me na amizade
32 entre vocecirc e Marcelo mas essa chatice que
33 haacute entre vocecirc e seu amigo estaacute me incomoda-
34 do aacute dias Pelo fato de vocecirc e seu amigo
35 ficarem pegando no peacute um do outro na
36 minha opiniatildeo vocecircs deveriam conversar
37 civilizadamente e aceitarem uns aos outros
38 da maneira que vocecircs satildeo E soacute issordquo
39
40 Dias depois dessa conversa observei-os aten-
41 tamente e percebi que havia uma grande diferenccedila
42 entre eles na qual eles estavam interagindo
43 se entendendo se aceitando
44
45 E entatildeo os dois aproximaram-se de mim e
46 agradeceram pelo conselho
47
48 Fiquei super feliz de tecirc-los ajudados
49 Na minha opiniatildeo chatice eacute algo que a
50 pessoa tem de natureza um certo
51 estado de espiacuterito
52
53 E se isso natildeo resolvesse tentaria bloqueaacute-
54 -los tentaria parar de dar atenccedilatildeo graccedilas
55 a Deus eles pararam
56
101
57 Ufa Pelo menos no final eles foram legais uns com os outros
58
59 Fim Fonte Dados da pesquisa
Apresentando-se como a mais extensa das produccedilotildees iniciais esta PI possui 14
(quatorze) paraacutegrafos Alguns poderiam ser condensados de modo a deixar as ideias agrupadas
(o 4ordm e o 5ordm o 6ordm o 7ordm e o 8ordm) Ou entatildeo poderia ter havido nova reescrita de alguns periacuteodos de
modo a condensar as informaccedilotildees Poreacutem para tal lembramos Serafini (2003) que afirma que
para escritores inexperientes essa estrateacutegia de periacuteodos mais curtos ajuda melhor a organizar
o pensamento Essa aluna produziu um rascunho antes de passar a limpo para a folha de
produccedilatildeo textual oficial
Demonstrando certo domiacutenio no uso dos pronomes pessoais obliacutequos como se pode
ver em diversos exemplos ao longo do texto ldquochamaacute-lordquo (linha11) ldquoe dizer-lhesrdquo (linha 15)
ldquoeacute errado intrometer-serdquo (linha 19) fez um emprego inadequado quando usou de pronome
relativo (na qual) (linha 42) possivelmente tentando o registro culto da liacutengua
Nesse texto se percebe o uso do discurso indireto (ldquoE entatildeo os dois aproximaram-
se de mim e agradeceram pelo conselhordquo) (linhas 45-46) As marcas de conversa com o leitor
podem ser vista em ldquoneacuterdquo (linha 9) e ldquoE vocecirc se por acaso algueacutem chamaacute-lo de chato O que
vocecirc fariardquo (linhas 11-12 A autora assume um ponto de vista e narra para uma audiecircncia
correspondendo ao requisitado na instruccedilatildeo
Como a instruccedilatildeo de produccedilatildeo determina o perfil do leitor como sendo um
adolescente que acessa redes sociais a autora coloca como soluccedilatildeo ao conflito de constantes
brigas entre o casal de amigos adolescente o envio de uma mensagem por rede social falando
inclusive que os bloquearia caso continuassem chatos O texto assemelha-se a um conto
inclusive pela forma como a autora encerra seu texto ldquoFimrdquo (linha 59) Quanto a despertar no
leitor uma reflexatildeo podemos dizer que A4 estaacute no caminho e que um trabalho mais detido
sobre esse texto poderia melhorar a qualidade dessa reflexatildeo
Quadro 14 ndash Produccedilatildeo final Estela ndashTiacutetulo O tio chato de galocha
1 As feacuterias chegaram e como em todas as feacuteria-
2 s eu partia em uma ldquoincriacutevel aventurardquo (pra
3 natildeo dizer o contraacuterio) a casa dos meus
4 tios na qual eacute um verdadeiro desastre
5 Ter que acordar com o ldquocantar dos galosrdquo
6 como dizem os mais velhos em clima de
102
7 discussatildeo affseacute uma verdadeira cha-
8 tice eu odiava ter que estragar minhas
9 maravilhosas feacuterias convivendo com eles
10 Eles discutiam ateacute pelo simples fato de cair
11 farelos de comida no chatildeo eu odiavaaa
12 E vocecirc leitor aguentaria toda essa chatice
13
14 O que vocecirc faria em relaccedilatildeo a essa situaccedilatildeo
15
16 Jaacute haviam se passado mais da metade das
17 feacuterias eu estava orando agrave Deus para que
18 esses dias infernais ao lado dos meus ti-
19 os acabassem e tambeacutem que titio Luiacutes
20 parasse de reclamar por eu comer muito
21 e parar de ficar assistindo programas
22 ateacute tarde da noite eu achava um exagero
23 eacute oacutebvio pois eram ldquofeacuteriasrdquo e nas feacuterias
24 acostumamos ficar distantes de tarefas
25 escolares de tudo que nos lembrar a
26 escola (rsrsrs)
27
28 O meu tio tambeacutem dizia que eu precisa-
29 va de educaccedilatildeo que os meus pais natildeo
30 me educaram adequadamentee eu natildeo
31 podia resmungar porque se meus pais
32 soubessem que me comportei mau eu iria
33 ficar ferrado E entatildeo mais dias infernais
34 se passaram e graccedilas a Deus as feacuterias
35 terminaram e natildeo tive mas que ver
36 presenciar aquele meu chato e insupor-
37 taacutevel tio
38
39 Pra mim ser chato e ser legal eacute
40 Ser legal Ser chato
41 Saber ouvir Criticar os outros
42 Dar comida Reclamar de tudo
43 Ser sincera Daacute importacircncia demais ao que dizem
44 Ter bom coraccedilatildeo Ser falso
45 Ajudar as pessoas Ser preconceituoso
46 Aceitar diferenccedilas
47
48 E o que vocecircs leitores acham o que
49 eacute ser ou natildeo legal Fonte Dados da pesquisa
Concentrada em 6 (seis) paraacutegrafos a reescrita ganhou alguns pontos mais
interessantes para se aproximar da crocircnica literaacuteria Partiu de uma situaccedilatildeo vivenciada
103
conduziu o leitor a compreender seu ponto de vista sobre o que era ser chato No entanto o
texto se distanciou da proposta da instruccedilatildeo no sentido de falar tambeacutem o que eacute legal natildeo
somente chato e lembrar do botatildeo de bloqueio da vida real
O 5ordm paraacutegrafo se tornou uma enumeraccedilatildeo das caracteriacutesticas do ser legal e ser chato
e deixou de narrar ou descrever uma situaccedilatildeo ou personagem
Uma caracteriacutestica da linguagem coloquial encontrada foi o uso da expressatildeo ldquoTer
que acordar com o lsquocantar dos galosrsquo como dizem os mais velhosrdquo (linhas 5-6) atribuindo a
frase agrave sabedoria popular Outras marcas tiacutepicas de coloquialidade utilizadas inclusive em meio
digital nos bate-papos foram a escrita de expressotildees com notaccedilotildees como ldquoaffsrdquo (linha 7)
para demonstrar aborrecimento ldquoodiavaaardquo (linha 11) estendendo as vogais para mostrar a
insatisfaccedilatildeo prolongada o frequente uso de aspas para indicar ironia ldquoeu partia em uma lsquoincriacutevel
aventurarsquordquo seguido de uma explicaccedilatildeo entre parecircnteses
Nessa produccedilatildeo a aluna tambeacutem natildeo empregou adequadamente o pronome relativo
ldquona qual eacute um verdadeiro desastrerdquo como se vecirc na linha 4
Quadro 15 ndash Produccedilatildeo inicial Ceacutelia ndashTiacutetulo Chata sim ou natildeo
1 Um dia uma amiga minha me pergun-
2 tou ndash Eu sou chata Responde ndash Sim as vezes
3 Mas o problema foi que ela natildeo aceitou a
4 verdade e saiu furiosa comigo
5
6 Mas me responde leitor se algueacutem viesse
7 te pergunta se ela eram chata o que vocecirc
8 responderia O problema e que nem todos
9 gostam de escuta a verdade
10
11 Aconteceu que um dia um colega disse
12 que eu era chata no comeccedilo fiquei com
13 um pouco de raiva Mas passou por que
14 parei eacute pensei e verdade sou chata Mas
15 mesmo assim sedo chata sim ou natildeo
16 a reciacuteproca era verdadeira
17
18 Chata sim ou natildeo uma pergunta que
19 eu mesmo me fiz vou acabar por aqui
20 antes que eu comece a fica chata de
21 vez Fonte Dados da pesquisa
104
O texto foi composto em 4 (quatro) paraacutegrafos atendendo agrave instruccedilatildeo A voz que
narra estaacute em 1ordf pessoa e dialoga diretamente com um personagem (linhas 1 e 2) Haacute um contato
direto com o leitor atraveacutes de frases como ldquoMas me responde leitorrdquo (linha 6) e ldquoO que vocecirc
responderiardquo (linhas 7-8)
A autora parte de uma situaccedilatildeo vividaobservada ndash na verdade haacute mais de uma
situaccedilatildeo ndash como vemos em ldquoUm dia uma amiga minha me perguntourdquo (linhas 1-2) e ldquoAconteceu
que um dia um colega disse que eu era chatardquo (linhas 11-12) No entanto natildeo segue a proposta
da instruccedilatildeo que eacute falar sobre o que eacute ser legal e ser chato Natildeo haacute exemplificaccedilotildees para que o
leitor entenda o ponto de vista da autora apenas situaccedilotildees em que disseram que ela e chata ou
sua amiga eacute chata Natildeo haacute tambeacutem menccedilatildeo ao ldquobloqueiordquo da vida real aos que satildeo chatos
Haacute alguns problemas quanto agrave ortografia e tambeacutem confusatildeo quanto ao emprego
dos sinais de pontuaccedilatildeo adequados
Quadro 16 ndash Produccedilatildeo final Ceacutelia ndash Tiacutetulo Chata sim ou natildeo
1 Um dia uma amiga minha me per-
2 guntou ndash Eu sou muito chata Responde ndash Sim
3 as vezes Mas o problema foi que ela natildeo
4 gostou de sabe em saiu furiosa comigo e
5 natildeo deixo eu termina de falar
6
7 Mas outro dia ela veio para me pedi des-
8 culpas eacute eu disse ndash natildeo precisa eacute como eu dizia
9 vocecirc e chata mais as vezes quando vocecirc natildeo
10 falando demais ou falando coisas se graccedila Eacute
11 ela disse ndash Eacute mesmo eacute sorriu
12
13 Mas me responde leitor se algueacutem viesse te
14 pergunta se ela era chata o que vocecircs respon-
15 deria O problema eacute que nem todos gostam de es-
16 cuta a verdade
17
18 Aconteceu que um dia um colega disse
19 que eu era chata no comeccedilo fiquei com um
20 pouco de raiva Mas passou porque parei eacute
21 pensei e verdade sou chata Mais mesmo assim
22 sedo chata sim ou natildeo a reciacuteproca era
23 verdadeira
24
25 Chata sim ou natildeo uma pergunta que
26 eu mesmo me fiz bom vou parar por aqui
27 antes que eu comece a fica chata de vez Fonte Dados da pesquisa
105
O texto reescrito foi composto em 5 (cinco) paraacutegrafos o que estaacute dentro do
previsto pela instruccedilatildeo Alguns problemas quanto agrave ortografia e tambeacutem confusatildeo quanto ao
emprego dos sinais de pontuaccedilatildeo adequados permaneceram como em ldquoUm dia minha amiga
me perguntou ndash Eu sou muito chatardquo em que foi feito uso de exclamaccedilatildeo em vez de
interrogaccedilatildeo
Foi mantida a voz que narra (1ordf pessoa) e o diaacutelogo com um personagem ndash a amiga
(linhas 1 e 2) se faz em forma de discurso direto embora natildeo devidamente paragrafado poreacutem
fazendo uso de travessotildees o que eacute um avanccedilo
O segundo paraacutegrafo (linhas 7 a 11) foi inserido a partir da sugestatildeo que fizemos
para a aluna Era interessante que ela acrescentasse em seu texto algo que exemplificasse o que
ela considera como ser legal e ser chato Atendendo agrave sugestatildeo a aluna mostra discretamente
seu ponto de vista na frase ldquovocecirc e chata mais as vezes quando vocecirc natildeo falando demais ou
falando coisas se graccedilardquo (linhas 9-10)
O contato direto com o leitor permanece como na PI atraveacutes de frases como ldquoMas
me responde leitorrdquo (linha 13) ndash cuja pontuaccedilatildeo nessa reescrita foi melhorada pela sugestatildeo ndash
e ldquoO que vocecirc responderiardquo (linhas 14-15) Natildeo foi atendida a instruccedilatildeo no tocante ao botatildeo
de bloqueio na vida real
A autora emprega em seu texto a frase ldquobom vou parar por aquirdquo (linha 26)
caracteriacutestica de uma conversa informal Esse uso da oralidade como em conversas eacute marca do
gecircnero crocircnica
Quadro 17 ndash Produccedilatildeo inicial Arlindo ndash Tiacutetulo Chato e natildeo eacute chato
1 Eu natildeo gosto daquela pessoa que
2 jaacute chegada pensando que jaacute pode falar
3 todo que pensa pra mim as pessoas
4 que pega celular para falar besteira nas
5 redes sociais essas pessoas eu natildeo gosto
6
7 agora aquelas pessoas que satildeo bem
8 calmas nas redes sociais ai eu gosto
9 por que sabem conversar saber puxar
10 intimidade fazem a gente rir e noacutes nos
11 trazem conforto e nos fazem saber que
12 a pessoa com quem a gente conversar
13 natildeo eacute uma maacute pessoa Eacute muito
14 bem amigo nos faz feliz
15
106
16 agora as pessoas que eu bloqueio
17 satildeo aquelas pessoas que natildeo sabem
18 conversar falatildeo de qualquer jeito
19 puxa assunto que eu natildeo gosto
20 por isso eu bloqueio essas pessoas
21 redes sociais eacute pra procurar
22 amigo e ais vezes eacute pra respeitar Fonte Dados da pesquisa
Ao ler o texto de Arlindo vemos que ele trata do assunto pedido na instruccedilatildeo e tem
em mente a audiecircncia pretendida que acessa redes sociais No entanto natildeo alcanccedila o leitor
envolvendo-o na conversa narrando-lhe as situaccedilotildees apenas elenca as situaccedilotildees que lhe satildeo de
agrado e desagrado mostrando o que para ele eacute ser chato e ser legal
Os trecircs paraacutegrafos que compotildeem o texto se organizam de modo a mostrar o que o
autor natildeo gosta o que gosta e o porquecirc de bloquear pessoas ndash mas na rede social natildeo fazendo
o comparativo com a vida real
Quadro 18 ndash Produccedilatildeo final Arlindo ndash Tiacutetulo Chato e natildeo eacute chato
1 Chato eacute uma pessoa botar besteira
2 no Facebook Por que isso eacute muito chato e
3 horriacutevel todo mundo ver vai laacute e comentar
4 mal do video ser legal eacute aquela pessoa que
5 vai laacute na casa da pessoa te daacute presente
6 sem vocecirc pedir nada sem vocecirc falar nada
7 no final soacute agradecer e ser feliz com o presente e
8 depois no outro dia soacute retribuir
9
10 Meu caro amigo legal e chato eacute
11 ser como uma pedra ajuda a parar o
12 tracircnsito e depois eacute chato porque as
13 pessoas tropeccedilam nelas e meus irmatildeos
14 legal e chato satildeo quase a mesma coisa
15 soacute que satildeo meios diferentes eu vou te
16 explicar
17 Ser chato eacute coisa possiacutevel e ser legal eacute
18 coisa quase impossiacutevel Fonte Dados da pesquisa
O aluno Arlindo manteve seu tiacutetulo e percebemos que a explicaccedilatildeo para o mesmo
seria transmitir a ideia de ldquochato e natildeo chatordquo ndash ou legal O verbo ser que aparece no tiacutetulo
como eacute deveria ter sido empregado de outra maneira como quando sugerimos ldquoEacute chato e natildeo
107
eacute chatordquo ou ldquoO que eacute chato e o que natildeo eacute chatordquo ou ldquoChato e legalrdquo No rascunho que Arlindo
fez ele empregou como tiacutetulo provisoacuterio ldquoO que eacute chato e o que eacute legalrdquo Poreacutem na hora de
passar a limpo e entregar permaneceu o tiacutetulo original
O autor Arlindo manteve seu foco nas redes sociais como indica a instruccedilatildeo e
amplia um pouco as ideias a partir das discussotildees que aconteceram na aula durante a
tempestade de ideias a fim de redespertar o olhar dos alunos para partirem de situaccedilotildees
vividasobservadas Nas linhas de 10 a 13 ele faz uma comparaccedilatildeo com a pedra fruto da
discussatildeo preacutevia Dependendo do ponto de vista a pedra pode ajudar bem como pode
atrapalhar Poreacutem nas linhas 15 e 16 Arlindo fica de explicar o porquecirc de ser chato e ser legal
serem quase a mesma coisa e termina o texto abruptamente sem desenvolver suas ideias
Houve uma evoluccedilatildeo no tocante agrave conversa com o leitor Embora Arlindo natildeo tenha
claro se sua audiecircncia eacute uma pessoa soacute (linha 10 Meu caro amigo) ou um grupo de pessoas
(linha 13 e meus irmatildeos linhas 15 e 16 eu vou te explicar) ele jaacute a chama a prestar atenccedilatildeo
no que estaacute se propondo a dizer em seu texto
Quadro 19 ndash Produccedilatildeo inicial Juacutelia ndash Tiacutetulo Ser chato ou ser legal
1 Ai meu Deus tou de saco cheio de tantos amigos
2 chatos eles ficam com chatice toda hora
3 se na vida tivesse um botatildeo para bloquear
4 as pessoas chatas seria otimo pelomenos
5
6 Eu ficaria com menos pessoas chatas ao
7 meu redor Ai soacute ficaria as pessoas
8 legais
9
10 Eu chamo meus amigos de chatos mais
11 eu gosto deles assim mesmo Eu chamo
12 meus amigos de chatos e eles me chamam
13 de chata tambeacutem e se existisse o botatildeo
14 de bloquear Eu ia ser bloqueada tambeacutem
15 Mesmo se existisse o botatildeo muitas pessoas
16 iam mudar de comportamento eles iriam
17 querer ser legais para natildeo serem bloque-
18 ados Eu mesma ia mudar de atitudes
19 com meus amigos Eu natildeo ia mais
20 ser chata como vaacuterias pessoas me
21 chama Fonte Dados da pesquisa
108
Na linha 1 vemos que a aluna utilizou a expressatildeo Ai meu Deus retirada do texto
trabalhado e que daacute suporte agrave instruccedilatildeo A aluna faz uso da linguagem coloquial na mesma linha
(tou de saco cheio) caracteriacutestica permitida na abordagem de nossas crocircnicas literaacuterias
Eacute interessante perceber que Juacutelia apoacutes se avaliar como chata faz uma reflexatildeo
(linhas 13-14 ldquoe se existisse o botatildeo de bloquear Eu ia ser bloqueada tambeacutemrdquo) E trata da
questatildeo falando de possiacuteveis alteraccedilotildees no comportamento das pessoas incluindo o seu proacuteprio
No entanto apesar de ela levantar essa reflexatildeo natildeo a direciona diretamente ao leitor poreacutem
tem em mente mesmo que superficialmente que sua audiecircncia estaacute nos paracircmetros indicados
pela instruccedilatildeo visto que menciona o botatildeo de bloquear caracteriacutestico de ambientes virtuais
sendo conhecido portanto de pessoas que tecircm acesso ao mundo digital
Quadro 20 ndash Produccedilatildeo final Juacutelia ndash Tiacutetulo Pessoas chatas e pessoas legais
1 Como existem pessoas chatas que ficam
2 dando bola para o que as pessoas falam
3 fica reclamando da vida e tambeacutem quer tudo
4 do seu jeito Natildeo daacute certo ser amiga desse
5 tipo de pessoa
6
7 Prefiro aqueles amigos que sabe lidar
8 comigo que datildeo carinho e que natildeo fique
9 reclamando de tudo e que natildeo sabe relevar
10 os problemas como se nada tivesse acontecendo
11
12 Eu gosto daquelas pessoas que chamam os
13 amigos para um passeio isso sim eacute ser
14 legal tem alguns tipos de amigos que fazem
15 de tudo pra ver seus amigos felizes
16
17 existem alguns amigos que falam
18 com vocecirc uma hora e depois taacute falando
19 mal de vocecirc esse tipo de pessoa faz isso
20 porque eacute falso e tem inveja soacute porque
21 vocecirc eacute feliz com seus amigos e ele (a)
22 natildeo
23
24 e vocecirc leitor Vocecirc eacute chato ou legal
25 Eu tenho poucos amigos mas os que
26 tenho satildeo os melhores
27
28 as pessoas gostam de vocecirc como
29 vocecirc eacute ou natildeo
30
31 Existem ateacute aquele tipo de pessoa
109
32 que humilha as pessoas nas redes
33 sociais pessoas que fazem bullying
34 com outras pessoas esse tipo de pessoa
35 satildeo muito chatas Fonte Dados da pesquisa
A aluna produziu sua nova versatildeo de texto sobre as discussotildees em sala de aula que
antecederam esse momento da reescrita Os alunos determinaram exemplos do que seria ser
legal e ser chato e ela os aproveitou na enumeraccedilatildeo em seu texto No entanto de alguma forma
Juacutelia imprimiu sua reflexatildeo pessoal sobre o que eacute legal e o que eacute chato Nas linhas 1-5 ela afirma
o quatildeo difiacutecil eacute ser amiga de pessoas que atribuem muita importacircncia ao que outras pessoas
dizem que ficam reclamando da vida e tambeacutem querem tudo do seu jeito Nas linhas 7-10 e
12-15 ela explicita suas preferecircncias por pessoas que considera legais e exemplifica Nas linhas
17-22 Juacutelia diz que tipo de pessoas satildeo chatas novamente
Poreacutem o que parece ter acontecido eacute que Juacutelia natildeo teria ainda compreendido que
era para partir de uma experiecircncia vivida ou observada aprofundando-se um pouco mais na
narrativa
Ao todo o texto comporta agora 7 paraacutegrafos que poderiam ter sido mais bem
organizados Nas linhas 24-29 A7 aborda sua audiecircncia diretamente tratando-a por vocecirc
lanccedilando-lhe perguntas Esse seria o momento em que o texto acabaria poreacutem convidada a
reler mais uma vez a autora percebeu que natildeo abordou a proposta da instruccedilatildeo que era bloquear
os chatos da vida real nem havia tambeacutem abordado questotildees tocantes agraves redes sociais
finalizando portanto com um paraacutegrafo que fizesse o resgate ainda a tempo mesmo que
perdendo um pouco do ritmo do texto
Quadro 21 ndash Produccedilatildeo inicial Vicente ndash Tiacutetulo A pergunta eacute se eu bloquearia uma pessoa chata
1 Bom gente vocecirc bloquearia uma pessoa
2 chata que bertuba-se voccedilecirc nas redes
3 sociais
4
5 A pergunta eacute se eu bloquearia uma pess-
6 oa chata ovio que sim por que Por que
7 se eu natildeo bloqueaccedile essa pessoa ia ficar
8 mim perturbandando ai eu ia ficar com
9 muita raiva ai eu ia falar aquelas coisas
10 maeducada como xingar fala coisas que natildeo
11 pode falar porisso eu bloquei essa pessoa
12 ai ateacute que foi bom bloquear essa pessoa
110
13 por que ela natildeo ia ficar mim perturbando natildeo
14 ia ficar falando como tomar certas liberdades
15 mas chegou uma hora que natildeo deu bloquei o
16 sujeito Estava chato demais Xxxx
17
18 Uma pessoa chata eu sou uma pessoa
19 chata por que quando eu estou no whats
20 natildeo tem nenhuma pessoa olaine eu fico man-
21 dando mensagens pra essas pessoa ai essa pes-
22 soas natildeo gosta e fala que eu sou chato triste
23 neacute kkkk Fonte Dados da pesquisa
Parece-nos que Vicente tem por meacutetodo iniciar a escrita de seu texto respondendo
diretamente agrave pergunta que foi feita na instruccedilatildeo e fazendo disso seu tiacutetulo inclusive Serafini
(2003 p 71) chama a esse tipo de paraacutegrafo de introduccedilatildeo-enquadramento (cf na seccedilatildeo sobre
escrita) O texto inteiro possui 3 (trecircs) paraacutegrafos
Nas linhas 14 a 16 vemos que houve coacutepia de excertos do texto motivador O chato
da vez (ldquotomar certas liberdadesrdquo ldquomas chegou uma hora que natildeo deurdquo ldquobloquei o sujeito
Estava chato demaisrdquo)
No iniacutecio do texto logo nas linhas 1-2 Vicente tem em mente uma audiecircncia como
vemos em ldquoBom gente vocecirc bloquearia uma pessoa chata que bertuba-se voccedilecirc nas redes
sociaisrdquo Poreacutem o aluno natildeo define se vai falar a um grupo (gente) ou a uma pessoa soacute (vocecirc)
Para atender agrave instruccedilatildeo Vicente trata de situaccedilotildees vividas em ambiente online quando se
refere ao aplicativo de interaccedilatildeo (linha 19 ldquoquando eu estou no whatsrdquo) fala do envio de
mensagens e traz um elemento multimodal ao final de seu texto (linha 23 ldquokkkkrdquo) que
caracteriza a gargalhada frequentemente usada em conversas online
Quadro 22 ndash Produccedilatildeo final Vicente ndash Tiacutetulo
1 Bom uma pessoa legal eacute ter paciensia
2 criativa uma pessoa legal animada inteligente
3 adoraveu feliz simpatica bom humor natildeo ser
4 groseiro com as pessoas simpatica conversar com
5 as pessoas legal
6
7 Ser chato Eacute uma pessoa que faz varias
8 perguntas como quando onde que horas etc
9 ser chato e pegar no peacute de varias pessoas e ser
10 ensorportavel pessoas chatas deveriam refletir
11 sobre a paciecircncias das outras pessoas uma
111
12 pessoa que tem pouca paciecircncia e bem
13 difiacutecil conviver com uma pessoa chata
14
15 Um chato ser legal e muito estranho
16 para queacutem conhece uma pessoa chata e bem
17 dificil ele ser legal soacute se acontecer aguma
18 coisa para ele ser legal um dia uma meni-
19 na ficou fazendo vaacuterias perguntas sobre a minha
20 vida natildeo gostava das perguntas que ela fazia
21 e falei coisa que natildeo devia no outro dia eu notei
22 o comportamento dela estava estranho tipo compor-
23 tada legal uma pessoal de bom humor natildeo parecia
24 com ela estava estranha e foi indo assim
25 e ela veio falar com migo e nunca mais per aquelas
26 perguntas hoje ela eacute legal gostei dela ter
27 mudado natildeo soacute eu mas muitas pessoas Fonte Dados da pesquisa
Vicente iniciou seu texto reescrito apoacutes as discussotildees em sala retirando a pergunta
direta que fazia para inspirar-se para comeccedilar e passando a uma conclusatildeo direta (linha 1
ldquoBomrdquo) sobre as caracteriacutesticas de uma pessoa legal seguindo a isso um paraacutegrafo do que eacute ser
chato Apesar de o texto ter perdido em atratividade em seu iniacutecio Vicente atendeu agrave sugestatildeo
que fizemos quando pedimos que ele mencionasse uma situaccedilatildeo que tivesse
vivenciadoobservado
No entanto perdeu de vista a instruccedilatildeo uma audiecircncia que acesse as redes sociais
a questatildeo do bloquear na vida real o contato direcionado ao leitor
Quadro 23 ndash Produccedilatildeo inicial Graccedila ndash Tiacutetulo Rafaelly chata
1 Eu quero bloqueia essa
2 pessoa porque primeiramente
3 ela natildeo tem nem celula
4 entatildeo neste caso natildeo da pra bloqueia
5 ela As vezes essa pessoa ela e
6 um pouco chata fresca e sem
7 graccedila com todo respeito Algumas
8 vezes ela fala um pouco de
9 besteira e isso torna ela uma
10 pessoa chata Eu conheci essa
11 pessoa na escola so que agora
12 ela natildeo tem a mesma idade
13 que eu tenho a uacutenica rede social
14 que ela tem e o Facebook
15
112
16 Mais mi responde leitor o que
17 vocecirc acha sobre as pessoas
18 chatas
19
20 Pensando bem ela e uma
21 pessoa muito legal toda doidi-
22 nha amigaacutevel e amorosa etc
23 O que eu gosto mais nela
24 e que ela e sincera e indireta
25 e eacute bom de dar conselhos por
26 isso que eu amo a chatice
27 dela e ela se chama Rafaelly Fonte Dados da pesquisa
Neste texto a autora faz uma reflexatildeo sobre a amiga partindo de uma ideia inicial
que eacute a chatice da Rafaelly para a consideraccedilatildeo dos pontos positivos que a mesma Rafaelly tem
(ldquoPensando bemrdquo)
Houve uma maacute interpretaccedilatildeo da instruccedilatildeo quanto ao entendimento do que seria
bloquear uma pessoa na vida real como comprovamos nas linhas 2-5 ldquoprimeiramente ela natildeo
tem nem ceacutelula entatildeo neste caso natildeo da pra bloqueia elardquo
Nas linhas 16-18 A9 tem em mente uma audiecircncia como vemos em ldquoMais mi
responde leitor o que vocecirc acha sobre as pessoas chatasrdquo
Quadro 24 ndash Produccedilatildeo final Graccedila ndash Tiacutetulo Chata ela ou EU
1 Mi responde leitor o que
2 vocecirc acha sobre as pessoas cha-
3 tas
4
5 E vocecirc leitor Vocecirc e chato
6
7 Certo dia uma amiga veio
8 falar um monte de bobagens coisa-
9 s que natildeo tinha nada haver
10 ou seja coisas sem graccedilas Eacute eu
11 disse vocecirc e muito chata sabia
12 Ela falou ndash vocecirc tambeacutem fiquei
13 brava
14
15 Logo seguinte eu queria
16 bloquea ela porque tinha mi
17 chamado de chata mas tinha
18 um problema era que primeira-
19 mente ela natildeo tinha nem
113
20 celular entatildeo neste caso natildeo da-
21 va para bloquea o unico lugar
22 que dava pra bloquea ela era
23 no Facebook
24
25 Mais pensando bem ela
26 e uma pessoa muito legal to-
27 da doida amigavel e amorosa etc
28 O que eu acho legal nela e a sinceridade dela ajuda as
29 pessoa sabe releva os problemas
30
31 Natildeo vou nega que tambeacutem
32 sou uma pessoa chata Fonte Dados da pesquisa
Nas linhas 1-3 e linha 5 Graccedila teve em vista uma audiecircncia como vemos em ldquoMi
responde leitor o que vocecirc acha sobre as pessoas chatasrdquo e ldquoE vocecirc leitor Vocecirc e chatordquo Em
sua reescrita a aluna se comunica com o leitor de forma expliacutecita inspirada no modelo do texto
O chato da vez
Percebemos que ela atendeu a sugestatildeo de partir de uma situaccedilatildeo vividaobservada
para compor sua crocircnica (linha 7 ldquoCerto dia uma amiga []rdquo) desenvolvendo seu texto no
sentido de apresentar a seu leitor sua ideia do que eacute ser chato e ser legal a partir do que expotildee
e conduz seu fio tocando na instruccedilatildeo que sugere a inspiraccedilatildeo de bloquear uma pessoa na vida
real Poreacutem percebemos que ela natildeo extrapolou os limites do ambiente virtual criando uma
situaccedilatildeo de botatildeo de bloqueio da vida real para evitar as pessoas que ela considera chatas mas
condicionando o bloqueio meramente agraves redes sociais
Quadro 25 ndash Produccedilatildeo inicial Lilian ndash Tiacutetulo Meus amigos chatos e Eu
1 Eu tenho um amigo muito chato ele
2 fica o tempo todo pegando no
3 meu peacute as vezes eu comeccedilo
4 a chamar ele de chato ai ele
5 fica uns dias estranho comigo
6 mas depois agente comeccedila
7 se falar de novo
8
9 Eu queria pra existir um
10 botatildeo pra bloquear meus amigos
11 chatos porque eles pegam muito
12 no meu peacute eu chama eles
13 de chatos mas eu tambeacutem sou
14 chata e muito chata se existisse
114
15 o botatildeo pra bloquear as pessoas
16 chatas eu tambeacutem ia ser bloqueada
17 porque eu sou muito chata eu
18 natildeo queria ser chata eu queria
19 ser legal eu sou chata porque
20 quando eu comeccedilo falar eu natildeo
21 quero parar ai minhas amigas
22 ficam dizendo que eu sou muito
23 chata mais mesmo assim sou
24 feliz Fonte Dados da pesquisa
Lilian parte de uma situaccedilatildeo vivenciada (linhas 1-7) em que fala de um amigo
muito chato e usa a expressatildeo ldquopegar no peacuterdquo como em O chato da vez Nas linhas 17 a 24
Lilian tambeacutem diz porque ela seria uma pessoa chata ndash comeccedila a falar e natildeo quer parar Por
isso ela desejaria o botatildeo de bloquear na vida real como dito na questatildeo 7 que traz a instruccedilatildeo
de produccedilatildeo No entanto as situaccedilotildees natildeo estatildeo bem desenvolvidas e natildeo prendem o leitor que
aliaacutes natildeo eacute inserido no texto na ldquoconversa com o leitorrdquo Natildeo observamos uma percepccedilatildeo clara
da ideia de redes sociais
Quadro 26 ndash Produccedilatildeo final Lilian ndash Tiacutetulo Pessoas legais e chatas
1 Existem pessoas chatas e
2 outras legais conheccedilo alguns amigos que
3 satildeo um pouco chatos porque eles
4 ficam reclamando da vida eles ficam
5 dando importacircncia para os que os
6 outros falam desse jeito natildeo daacute
7
8 Mais eu tenho alguns amigos
9 que vivem fazendo piadas para seus
10 amigos Gosto do jeito que eles tratam
11 seus amigos eles levam eles pra
12 um passeio levam para o cinema
13 datildeo carinho sabem relevar os problemas
14 mas eu conheccedilo uns que falam comigo
15 mas depois tatildeo falando mal de mim
16 pela minha costa
17
18 Eu me acho uma pessoa
19 muito chata porque eu gosto
20 de tudo do meu jeito reclamo de
21 tudo dou importacircncia pra tudo
22 que as pessoas falam mais
115
23 as vezes eu soacute um pouco legal
24 com minhas amigas E vocecirc leitor
25 eacute chato ou legal as pessoas gostam
26 de vocecirc Fonte Dados da pesquisa
Apoacutes a tempestade de ideias da aula destinada agrave reescrita Lilian produziu 3 (trecircs)
paraacutegrafos e dedicou um a mostrar o que eacute ser chato e o seguinte ao que eacute ser legal em sua
opiniatildeo Na reescrita a aluna jaacute considera a audiecircncia conversando com o leitor (linhas 24-26)
poreacutem se distancia do que consta na instruccedilatildeo que eacute o bloqueio na vida real imitando as redes
sociais Ainda percebemos repeticcedilotildees de palavras que poderiam se tivesse havido uma nova
leitura ter sido evitadas
Podemos dizer que Lilian nos permite refletir sobre o comportamento humano
quando diz ldquomas eu conheccedilo uns que falam comigo mas depois tatildeo falando mal de mim pela
minha costardquo (linhas 14-16) poreacutem ela natildeo desenvolve a ideia apropriadamente no paraacutegrafo
seguinte como ela mesma havia dito em sala que falam mal dela porque ela tem o gecircnio difiacutecil
como ela descreveria em ldquoeu gosto de tudo do meu jeitordquo (linhas 19-20) De algum modo
podemos dizer que esse desdobramento de paraacutegrafos jaacute eacute uma evoluccedilatildeo na escrita de Lilian
Quadro 27 ndash Produccedilatildeo inicial Heloiacutesa ndash Tiacutetulo ldquoChato mais eacute muito legalrdquo
1 Tenho um amigo que ele eacute legal
2 mas tambeacutem eacute chato ao mesmo
3 tempo mais gosto da companhia
4 dele Mais quando chega a chatice
5 natildeo da pra aguentar ele comeccedila
6 a fala fala e fala eacute senpre o
7 mesmo assunto algo que natildeo
8 gosto ldquojogordquo
9
10 Taacute toda hora mandando mensage-
11 m daacute raiva mas neacute
12 Somos muito amigo nas
13 redes sociais posta fotos toda
14 hora Mas eacute muito legal sempre
15 faz brincadeiras pelo zapp
16
17 Eu poderia bloquialo mais
18 eacute muito legal telo como amigo
19
20 Gosta de pegar no meu peacute
21 quando o assunto eacute estudo mim
116
22 da sempre vaacuterios concelhos
23
24 Por mais que seja meu amigo vocecirc
25 eacute muito chatooo Fonte Dados da pesquisa
O texto foi escrito em 5 (cinco) paraacutegrafos Natildeo traz marcas explicitas de conversa
com o leitor e haacute um tangenciamento do que pede a instruccedilatildeo visto que a autora falou de
bloqueio No entanto natildeo houve real compreensatildeo do botatildeo de bloqueio da vida real visto que
ela se refere a um bloqueio nas redes sociais Percebemos o uso do coraccedilatildeo ao fim do penuacuteltimo
paraacutegrafo (linha 22) como sendo um recurso multimodal utilizado em meio virtual para
demonstrar agrado agrave ideia (curti)
Houve neste texto uma mudanccedila de interlocutor Inicialmente voltado para uma
audiecircncia mesmo que natildeo se dirigisse diretamente ao leitor o texto passou a ser direcionado
para o amigo chato de Heloiacutesa
Haacute a frequente repeticcedilatildeo do termo mas poreacutem sem uma forma consolidada de uso
visto que Heloiacutesa emprega mas e mais alternadamente
Quadro 28 ndash Produccedilatildeo final Heloiacutesa ndash Tiacutetulo ldquoO melhor chatordquo
1 Vol falar um pouco do meu
2 amigo
3
4 Ele se chama Daniel ele eacute uma
5 boa pessoa estaacute sempre mi
6 ajudando eacute um bom amigo e mim
7 da sempre forccedila pra tudo gosto
8 muito da conpanhia dele
9
10 E vocecirc leitor Vocecirc eacute chato
11
12 Somos chatos tenho 15 anos e sei
13 que chatise eacute estado de espirito
14
15 Ele eacute chato em vez enquando
16 ele eacute muito quando ele me
17 ajuda em algo ele mim trata
18 surper bem ele mim dar muito
19 carinho ele mim oferece cumida
20 quando estou na casa dele
21 natildeo gosta de criticar as pessoas
22
117
23 Ele eacute chato quando reclama
24 de tudo quer tudo do seu jeito
25 que ele conbina da ouvidos a
26 tudo o que falam ele fala demais Fonte Dados da pesquisa
Essa aluna se valeu do que discutimos em sala no dia em que propusemos a reescrita
sobre o que poderiam ser atitudes de uma pessoa legal A turma presente enumerou accedilotildees como
dar carinho oferecer comida ouvir as pessoas atenciosamente tratar bem natildeo criticar as
pessoas como sendo de pessoas legais ao passo que reclamar de tudo soacute querer as coisa do seu
jeito dar ouvidos a fofocas e falar demais como sendo atitudes de pessoas chatas Mencionar
um amigo e descrever atitudes dele eacute um princiacutepio do que conversamos sobre fornecer a
descriccedilatildeo de alguma pessoa e narrar uma situaccedilatildeo No entanto a aluna natildeo aprofundou a
descriccedilatildeo das caracteriacutesticas do amigo ndash apenas nomeou ndash e nem narrou a situaccedilatildeo sugerida
A reescrita foi feita em 6 (seis) paraacutegrafos dentro do que sugere a instruccedilatildeo O seu
primeiro traz uma introduccedilatildeo que chama a atenccedilatildeo preparando o leitor para o que vem a seguir
no texto Consideramos um avanccedilo no sentido de que Heloiacutesa jaacute parece ter feito um plano
melhor de escrita o que pode se consolidar em propostas futuras O segundo paraacutegrafo foi clara
paraacutefrase do texto motivador ldquoO chato da vezrdquo (linhas ldquosei que chatise eacute estado de espiritordquo)
Percebemos diminuiccedilatildeo nas repeticcedilotildees desnecessaacuterias
Na PF a aluna manteve o foco narrando o que lhe acontece descrevendo seu
amigo sem deixar o leitor para conversar com este amigo
Quadro 29 ndash Produccedilatildeo inicial Eliane ndash Tiacutetulo Um pouco de tudo
1 Ai gente nesse mundo agrave
2 muitas pessoas chatas
3 pois eu conheci pessoas
4 chatas e legais
5
6 Na adolecircncia conhecemos
7 pessoas numa pat-papo com
8 os amigos conheci uma
9 amiga pois conversamos e
10 ali natildeo parou mais de
11 falar
12
13 Num sentido e que ela
14 era muito cheia de
15 nheacutem-nheacutem de papo nada
16 ver O egrave o meu pensamento
118
17 que mim engana Mais eu
18 natildeo acho ela chata
19
20 De um tempo pra caacute nos
21 damos muito bem parti-
22 cularmente nos casos eu e ela
23 descordamos de tudo que
24 falamos mas eu acho que
25 duas chatas se dam muito
26 bem Na vida real parece um
27 mundo digital nos natildeo
28 paramos para pensamos nos
29 casos da vida social pessoas
30 postam coisas invalida na
31 rede sociais Fonte Dados da pesquisa
Para a produccedilatildeo inicial Eliane buscou elementos dos textos que lemos em sala De
Prova Falsa percebemos o uso da expressatildeo ldquoera muito cheia de nheacutem-nheacutemrdquo (linhas 14-15)
quando quis falar da amiga com comportamentos chatos De O chato da vez a partiacutecula ldquoAirdquo
como em ldquoAi genterdquo (linha 1) logo no iniacutecio mostra que o texto tem ares coloquiais com
linguagem despojada
Atraveacutes da coloquialidade Eliane se dirige ao leitor poreacutem ficou confuso o
desenvolvimento do tema na conversa proposta na instruccedilatildeo que seria o bloqueio das pessoas
na vida real No tocante ao assunto abordado na instruccedilatildeo Eliane fala de ser chato e ser legal
e menciona as redes sociais poreacutem seu texto entre as linhas 26 e 31 (ldquoNa vida real parece um
mundo digital nos natildeo paramos para pensamos nos casos da vida social pessoas postam coisas
invalida na rede sociaisrdquo) natildeo teve desenvolvimento quebrando assim a coerecircncia
Quadro 30 ndash Produccedilatildeo final Eliane ndash Tiacutetulo O que e chato e o que e legal
1 Ai gente eu sou muito chata
2 Afirmou uma amiga em um bate-papo
3 com os colegas Eu natildeo te acho chata
4 vc e uma pessoa carinhosa aceitar
5 as diferenccedilas dos outros
6
7 Pois eacute muitas pessoas tem suas referen-
8 ccedilas mas isso natildeo quer dizer que
9 todos que estatildeo aqui satildeo chatos
10 Adriana ela e companheira Delci e
11 carinhosa
119
12
13 Mais alguns tem outro estorico de
14 pensamento por exemplo O Luis reclamar
15 demais Rosi e falza Eu particularmente
16 faccedilo de tudo pra natildeo ser chata
17 tento conversar da maneira possiacutevel
18 ajudar as pessoas em tudo quer
19 posso
20
21 Por isso tem um sentido de tudo
22 seja o que vc eacute natildeo o que as
23 pessoas queram o que vc sejam
24 mas que seja uma pessoa dignar Fonte Dados da pesquisa
A PF de Eliane possui tiacutetulo agora mais direcionado agrave instruccedilatildeo visto que a aluna
considerou falar a respeito do que para ela eacute ser chato e o que eacute ser legal O primeiro paraacutegrafo
do texto (linhas 1-5) eacute uma paraacutefrase do paraacutegrafo inicial do texto motivador poreacutem conteacutem o
teor da tempestade de ideias realizada antes da produccedilatildeo
O paraacutegrafo seguinte eacute interessante porque traz em si a ideia de ponto de vista e
toleracircncia afinal todos tecircm defeitos (ldquomas isso natildeo quer dizer que todos que estatildeo aqui satildeo
chatosrdquo linhas 8-9) mas qualidades tambeacutem (ldquoAdriana ela e companheira Delci e carinhosardquo
linhas 10-11) Houve uma evoluccedilatildeo na organizaccedilatildeo dos paraacutegrafos
Houve emprego adequado dos sinais de pontuaccedilatildeo dois-pontos e a viacutergula como
em ldquopor exemplo O Luis reclamar demais Rosi e falzardquo (linhas 14-15)
Eliane em sua reescrita atendeu agrave sugestatildeo de utilizar exemplos podendo colocar
personagens no seu texto No entanto percebemos que ela ainda natildeo compreendeu que para
tanto seria necessaacuterio mais que apenas nominar pessoas e adjetivaacute-las mas realmente fazer um
exerciacutecio de descriccedilatildeo mais detalhado fazendo seu leitor compreender por que ldquoO Luis
reclamar demaisrdquo (linhas 14-15) e a ldquoRosi e falzardquo (linha 15) por exemplo
Quanto agrave audiecircncia Eliane entende que conversa com um leitor como vemos por
exemplo em ldquoseja o que vc eacute natildeo o que as pessoas queram o que vc sejamrdquo (linhas 22-23)
poreacutem natildeo manteacutem o foco visto que mistura a audiecircncia com o personagem ldquoEu natildeo te acho
chata vc e uma pessoa carinhosardquo (linhas 3-4)
O texto natildeo atende agrave proposta de considerar o botatildeo de bloqueio na vida real como
consta da instruccedilatildeo
120
Quadro 31 ndash Produccedilatildeo inicial Joana ndash Tiacutetulo Pessoas chatas e outras legal
1 Pessoas chatas tem muitas pessoas que diz
2 que a outra e chata tem pessoas chata satildeo
3 aquelas que fazem muitas perguntas que saber
4 da vida do outro essas pessoas se torna muito chata
5
6 Muitas pessoas no Facebook que eu natildeo gosto de aceita
7 porque jaacute cei que ela e muito chato jaacute bloquei
8 muitas pessoas nesse caso de se chato deacute mas
9 porque fica mandando mensagem sem noccedilatildeo que
10 rendo saber da sua vida isso que eacute chato
11 pra mim pessoas que tu natildeo suporta se fose
12 eu bloquairia case todo mundo
13
14 Pra mim pessoas legal e aquelas que teu
15 jaacute persebe pelo jeito dessa pessoa eu tenho
16 uma amizade muito legal pra mim eu sou
17 uma menina que faso amizade muito raacutepdo
18 mas as mizades que eu fasso eu percebo logo
19 se essa amizade vai ser boa ou natildeo tenho mui
20 tas pessoas no face que eu acho legal que satildeo
21 boa de se se conversa natildeo faiz ldquomuitas perguntasrdquo
22 e muito bom ter uma amizade legal
23 pessoas legais satildeo oacutetimas de conversa natildeo tir inte
24 ronper quando tu taacute falando essa que satildeo pra
25 mim pessoas legais eu acho que tenho
26 muitas pessoas legal Fonte Dados da pesquisa
Podemos dizer que Joana criou seu texto em trecircs paraacutegrafos apesar de natildeo haver
um ponto para demonstrar se era realmente o final ou se ela desejava continuar escrevendo
Aliaacutes seus paraacutegrafos natildeo trazem pontuaccedilatildeo mostrando que o fluxo das ideias foi contiacutenuo
natildeo havendo o procedimento de elaboraccedilatildeo do rascunho para a seguir passar a limpo
concatenando melhor as ideias
Seu tiacutetulo natildeo foi atrativo poreacutem foi relativo ao assunto da instruccedilatildeo Em se
tratando do desenvolvimento do tema a aluna tem em mente o que eacute ser chato e o que eacute ser
legal poreacutem natildeo extrapola na compreensatildeo visto que desenvolve um paraacutegrafo descrevendo
seu procedimento na rede social natildeo fazendo a analogia com a vida real e o botatildeo de bloqueio
Natildeo houve a consideraccedilatildeo da audiecircncia nem a conversa com o leitor pedida na
instruccedilatildeo
121
Quadro 32 ndash Produccedilatildeo final Joana ndash Tiacutetulo Pessoas otimas
1 Ser legal e vocecirc tendo humildade com
2 uma pessoa ajuda ela em tudo que vocecirc
3 porde ter um pouco de paciecircncia com essa
4 pessoa vocecirc tecircm que ter amor por ela eacute com-
5 sidera ela como sua amiga ou irmatildeo tecircm
6 varias coisas pra vocecirc ser torna uma otima
7 pessoa Pra mim ser legal com migo eacute min
8 trata bem o que eu perdi tem que min da
9 e se min dar todo dia uma caixa de bombo
10 Garoto esse se torna oacutetimo pra mim
11
12 pessoas chatas e aquela que critica muito
13 as pessoas natildeo sabendo da vida dela sair
14 falando dela pra todo mundo chato e
15 aquela que quer saber de mais da sua
16 vida se torna iguinorante ETC temos que
17 ter mas um pouco de humo com essas
18 eu natildeo suporto pessoas chata se puder
19 nem fala com migo seria melhor ainda Fonte Dados da pesquisa
Apoacutes a tempestade de ideias da aula destinada agrave reescrita Joana reescreveu seu
texto em dois paraacutegrafos dedicando um a mostrar o que eacute ser chato e o seguinte ao que eacute ser
legal em sua opiniatildeo No entanto natildeo parece ter compreendido que natildeo bastava elencar
situaccedilotildees do que eacute ser chato e ser legal mas contar narrar situaccedilotildees vivenciadas ou observadas
a fim de entreter seu leitor
Na reescrita a aluna natildeo considera a audiecircncia visto que seu texto parece mais
trazer em si opiniotildees sem incitar reflexotildees Joana se distancia do que consta na instruccedilatildeo que
eacute o bloqueio na vida real imitando as redes sociais apenas afirma nas linhas 18-19 que ldquoeu
natildeo suporto pessoas chata se puder nem fala com migo seria melhor aindardquo Seu tiacutetulo soacute tratou
agora de um lado do comportamento humano (ldquoPessoas otimasrdquo) e deve ter sido colocado apoacutes
a finalizaccedilatildeo do texto quando foi verificar se havia tiacutetulo
Assim apoacutes a anaacutelise dos textos A dos alunos percebemos a evoluccedilatildeo dos itens
presentes e os distribuiacutemos no quadro autoavaliativo
Durante a produccedilatildeo dos textos observamos os alunos presentes procurando
perceber algo sobre seu processo de planejamento de escrita O que foi detectado nas primeiras
produccedilotildees poucos deles fizeram um rascunho antes de escreverem na folha de produccedilatildeo
recebida alguns textos jaacute deram sinais de que alguns alunos entenderam o que eacute a ldquoconversa
122
com o leitorrdquo alguns partiram de uma situaccedilatildeo vividaobservada para compor seu texto no
entanto mais parecendo um relato pessoal ou um diaacuterio pessoal do que uma abordagem de
crocircnica poucos narraram essa situaccedilatildeo de forma clara para que o leitor pudesse acompanhar
poucos posicionaram o foco narrativo de maneira adequada vaacuterios apenas tangenciaram a
proposta de produccedilatildeo Essas dificuldades constituiacuteram o cerne a ser explorado nas atividades
dos moacutedulos aplicados nos encontros da sequecircncia
Podemos estabelecer um graacutefico para melhor visualizaccedilatildeo dos resultados ateacute essa
etapa
Graacutefico 7 ndash Avaliaccedilatildeo das crocircnicas A
Fonte Dados da pesquisa
Como vemos houve na maioria dos itens avaliados uma sensiacutevel melhora apesar
das dificuldades ainda apresentadas Percebemos que vaacuterios alunos ainda focam em apenas
alguns aspectos do texto que conteacutem a instruccedilatildeo de produccedilatildeo deixando de contemplar o todo
como por exemplo o botatildeo de bloquear na vida real ndash diversos alunos natildeo atingiram esse
objetivo no texto acreditamos que porque lhes faltou uma releitura direcionada para verificaccedilatildeo
de tudo o que havia sido pedido Isso nos mostra que os alunos ao tomarem contato com seus
textos de uma primeira produccedilatildeo escrita se orientados a ter um pouco mais de paciecircncia sem
a urgecircncia de entregar logo a tarefa e se incentivados a reler se autoavaliar e a ouvir sugestotildees
0
2
4
6
8
10
12
14
Avaliaccedilatildeo das crocircnicas A
PI PF
123
podem sim progredir no sentido de se tornarem escritores mais haacutebeis enquanto conscientes
das etapas que regem o processo de escrita de textos
532 Produccedilotildees B textos para circulaccedilatildeo social
A produccedilatildeo para circulaccedilatildeo social foi chamada de produccedilatildeo B e corresponde ao
trabalho com um puacuteblico que variou entre 4 (quatro) a 8 (oito) alunos frequentes dentre os
quais apenas 4 (quatro) produziram o texto para fins de circulaccedilatildeo social real Nesta etapa
foram realizados 5 (cinco) encontros com duraccedilatildeo de 10 (dez) horasaula e leitura de quatro
crocircnicas ineacuteditas para os alunos (A cara da rua A carta de punho Amor de Macumba e Sr
Google Pacheco) e atividades correspondentes
A leitura desses textos foi produtiva para a classe no sentido de compreender que
cada crocircnica traz em si o resultado da reflexatildeo que o cronista consegue realizar das situaccedilotildees
que vivencia ou observa Identificar as situaccedilotildees geradoras das crocircnicas lidas ao longo dos
moacutedulos fez parte do trabalho que conduziu os alunos a falar de vaacuterios assuntos que poderiam
tornar-se temas de textos Copiamos no quadro e eles nos cadernos Eram temas do cotidiano
como assalto relaccedilotildees sociais vida de youtuber bullying fome cujas situaccedilotildees jaacute
observadasvivenciadas por eles mesmos poderiam render uma reflexatildeo
Aparentemente a dificuldade maior dos alunos eacute em expressar essa situaccedilatildeo sem
que ora pareccedila um relato iacutentimo como diaacuterio ou memoacuterias pois a natural disposiccedilatildeo de seus
textos traz uma sequecircncia narrativa um relato de emoccedilotildees pessoais poreacutem natildeo necessariamente
conduz o leitor a uma reflexatildeo ora por vezes pause a narraccedilatildeo e interaja com o leitor por meio
de perguntas ou ainda faccedila um texto com forccedila injuntiva ou com moral da histoacuteria
Para a escrita e a reescrita do texto desta etapa a PF-B incentivamos nossos alunos
a utilizar o quadro autoavaliativo tocando nos pontos mais sensiacuteveis identificados desde a PI-
A Natildeo foi estipulado um nuacutemero de paraacutegrafos deixando os alunos agrave vontade para produzir
Consideramos como audiecircncia um puacuteblico leitor que tivesse sua idade aproximadamente que
entendesse seus problemas dilemas alegrias que fizesse parte de seu mundo frequentando a
escola tendo amigos observando qualidades boas do ser humano ou mazelas da vida podendo
esse puacuteblico acessar redes sociais ou natildeo De toda forma o ideal seria conversar com o leitor
sobre questotildees cotidianas situando-o no tempo e no espaccedilo da crocircnica O texto B foi
integralmente produzido em meio digital a pedido dos proacuteprios alunos por celular ou
computador conforme o material que tivessem disponiacutevel em matildeos e nenhum foi produzido
124
em sala limitado pelo horaacuterio de aula No entanto foi feito o acordo dos prazos de entrega de
cada texto a fim de podermos imprimir e levar para trabalho de leitura releitura feedback da
professora-pesquisadora feedback dos colegas permitindo a cada autor reflexatildeo sobre o texto
e possibilitando a reescrita
Os alunos que se engajaram na produccedilatildeo da crocircnica para circulaccedilatildeo social foram os
alunos Ana Rodrigo Eduardo e Estela Os tiacutetulos das produccedilotildees inicial e final estatildeo no quadro
a seguir
Quadro 33 ndash Tiacutetulos das produccedilotildees para circulaccedilatildeo social
Tiacutetulo PI-B PF-B
Ana PROIBIDA DE ACHAR
GRACcedilA
Rodrigo Vida de preguiccediloso VIDA DE PREGUICcedilOSO
Eduardo INFAcircNCIA FELIZ
Estela ldquoDown= bullyingrdquo DOWN= BULLYING
Fonte Dados da pesquisa
Esses textos diferentemente das produccedilotildees A foram escritos utilizando aparelhos
de celular O acordo foi feito com os alunos em virtude da preferecircncia destes em gostarem de
escrever utilizando-se da tecnologia facilitando o registro a releitura e a reescrita segundo eles
mesmos visto que o meio virtual tambeacutem atenderia a ideia da circulaccedilatildeo dos textos A anaacutelise
das produccedilotildees B estaacute descrita ao longo desta seccedilatildeo
Quadro 34 ndash PIB Ana
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Que situaccedilatildeo Eacute o que penso ateacute hoje Pude presenciar um niacutevel de babaquice
e de falta do que fazer de uma garota da minha escola que pra ser sincera eu nem ao
menos sei o nome dela
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Tava eu junto com mais quatro amigos na cantina da minha escola no
finalzinho do recreio estaacutevamos rindo e conversando como sempre Chegaram duas
meninas de outra sala que eu nunca falei nem sabia de onde saiacuteram natildeo sabia nada
sobre ela poreacutem sei que sabiam sobre mim coisas do tipo novata do 9 ano meio
doida duvido se natildeo sabiam ate meu nome Bem nem tava prestando atenccedilatildeo nelas
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Quando meu amigo brincou eguas de novo Sorriu e depois pediu
desculpas logo que percebeu o tamanho das meninas e todo mundo riu quando ele
brincou EU JURO que fiquei seacuteria mas natildeo aguentei quando ele pediu desculpas
com medo de levar uns supapos Foi entatildeo que comecei a rir e umas das meninas olhou
pra mim com uma cara super ameaccediladora dizendo tu ta rindo do que Ta achando
graccedila eacute Cara tinha quatro pessoas aleacutem de mim QUATRO seacuterio que ela
enchergou soacute a mim ali Eacute ser muito babaca pra chegar em um ponto desse minha
uacutenica reaccedilatildeo foi natildeo pera ela taacute falando comigo serio isso Gente Qual o nome
dela algueacutem aqui a conhece SOCORRO
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Ate hoje me pergunto qual o problema dela Mas prefiro nem chegar perto
Vai que essa doenccedila pega
Fonte Dados da pesquisa
O texto de Ana foi composto de 4 (quatro) paraacutegrafos Sua conversa com o leitor
natildeo eacute com elementos expliacutecitos como na instruccedilatildeo sugerida na produccedilatildeo A mas percebe-se que
ela se importa com uma audiecircncia visto que narra para uma pessoa explicando a situaccedilatildeo
vivenciada contando ao seu leitor suas impressotildees mostrando as falas que ocorreram dando a
perceber os outros personagens que entraram na histoacuteria
As notaccedilotildees linguiacutesticas para indicar intensidade surpresa e algumas viacutergulas estatildeo
razoavelmente bem empregadas como vemos em ldquoeguas de novordquo (linha 9) que separa a
expressatildeo de surpresa ldquoeacuteguasrdquo com uma viacutergula e finaliza a frase com interrogaccedilatildeo
acompanhada de exclamaccedilatildeo atribuindo maior intensidade agrave fala
Quadro 35 ndash PFB Ana ndash Tiacutetulo PROIBIDA DE ACHAR GRACcedilA
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2
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E que situaccedilatildeo Eacute o que eu penso ateacute hoje Pude presenciar um niacutevel de babaquice
e de falta do que fazer de uma garota da minha escola que pra ser sincera eu nem ao
menos sei o nome dela
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Estava eu junto com mais quatro amigos na cantina da minha escola no
finalzinho do recreio Estaacutevamos rindo e botando conversa fora de boa na paz Entatildeo
duas meninas que eu natildeo conheccedilo ndash jaacute tinha ateacute visto as duas mas nunca tinha falado
com elas nem ao menos sabia o nome delas mas sei que elas sabiam de mim certeza
Aquele pessoal fala demais ndash chegaram e estavam repetindo o lanche Ateacute entatildeo nem
tava reparando na presenccedila delas
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Foi quando meu amigo brincou nossa vatildeo repetir de novo Eu olhei entendi
e nem dei importacircncia nem quis rir pra natildeo arrumar confusatildeo Elas olharam pra ele
com uma cara bem ameaccediladora e ele se arrependeu e pediu desculpas Nessa hora eu
natildeo aguentei e ri poreacutem dele Pensei eita macho ficou com medo de levar uns
sopapos Todo mundo rindo Foi entatildeo que uma delas olhou pra mim me batendo
verbalmente tu taacute rindo de quecirc Taacute achando graccedila eacute Mano do ceacuteu essa menina
tem problema soacute pode Foi minha uacutenica reaccedilatildeo Com quatro pessoas aleacutem de mim ali
sorrindo e ela pergunta soacute pra mim Eacute ser muito babaca pra chegar a esse ponto seacuterio
isso Perguntei pros meus amigos ldquogente qual o nome dela Ela taacute falando pra mim
mesmo SOCORRO
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Ainda bem que meus amigos estavam ali senatildeo eu tava ferradinha Ateacute hoje
me pergunto qual o problema dela Mas prefiro nem chegar perto Vai que isso pega
Fonte Dados da pesquisa
Os quatro paraacutegrafos tiveram uma reelaboraccedilatildeo mas mantiveram-se em mesmo
nuacutemero na PFB de Ana Seu tiacutetulo permaneceu o mesmo e tem a ver com o teor da crocircnica
Quanto ao uso da pontuaccedilatildeo houve inclusive utilizaccedilatildeo de novo recurso o entre
travessotildees a partir de uma sugestatildeo dada pela professora-pesquisadora que indica um adendo
de informaccedilotildees agrave ldquoconversardquo que a narradora conduziu
Pudemos perceber uma melhor descriccedilatildeo da ambientaccedilatildeo onde a situaccedilatildeo
vivenciada se passou consolidando o tempo do finalzinho do recreio situaccedilatildeo que durou muito
pouco mas que para a autora durou com intensidade
O final foi interessante e ateacute cocircmico trazendo questotildees a se pensar como a amizade
e o companheirismo versus a implicacircncia de pessoas desconhecidas (podemos ver seu aliacutevio
em ldquoAinda bem que meus amigos estavam ali senatildeo eu tava lsquoferradinharsquordquo na linha 19) e o
quanto eacute raacutepido - e tolo - para nascer um conflito
Quadro 36 ndash PIB Rodrigo ndash Tiacutetulo Vida De preguiccediloso
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Vocecirc tem preguiccedila Tem preguiccedila de ter preguiccedila perdeu alguma coisa por
causa de preguiccedila
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Natildeo eacute muito certo ter preguiccedila de tudo dizem que eacute pegado mas natildeo vejo mal
nem um em ter preguiccedila oacutebvio que nem todo tempo vou ter preguiccedila mas a maior parte
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6 do tempo sim sou tatildeo preguiccediloso que dormi com fome pra natildeo ir ateacute a geladeira parece
um pouco absurdo mas eacute verdade
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Natildeo sei vocecirc mas eu jaacute dormi no sofaacute com preguiccedila de ir pra cama certo que
vida de preguiccediloso natildeo eacute la essas mil maravilhas principalmente se vocecirc mora sozinho(a)
eacute muito bom passar o dia deitado mexendo no celular ou PC e com um lanchinho do
lado
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Mas o simples fato de eu pensar que vou ter que tecirc uma famiacutelia um emprego
meu carro minha empresa meu cachorro
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Jaacute da ateacute preguiccedila de sair da cama mas vocecirc jaacute pensou como seria bom se natildeo
existisse nada disso pra se preocupar
15 Seria muito bom natildeo eacute
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A preguiccedila jaacute se tornou parte do cotidiano tenho quase certeza que nesse
momento vocecirc estaacute com preguiccedila natildeo eacute
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Muito bom passar o dia sem fazer nada Poreacutem um pouco cansado pela falta
de exerciacutecio fiacutesico mas nada quecirc um bom lanche natildeo resolva vida de preguiccediloso natildeo
leva a lugar nem um falo isso por mera experiecircncia
21 Mas eacute assim mesmo logo logo a preguiccedila passa pelo menos eu acho
Fonte Dados da pesquisa
O texto de Rodrigo partiu de uma situaccedilatildeo observadavivida Conversa com o leitor
(ldquovocecirc jaacute pensou como seria bom serdquo linha 12) sobre o tema preguiccedila A repeticcedilatildeo do termo
preguiccedila foi objeto de questionamento na aula ao que o aluno respondeu que utilizou-se da
estrateacutegia para reforccedilar a situaccedilatildeo e provocar no leitor a preguiccedila de ler ao que os colegas
aprovaram achando inclusive engraccedilado O narrador eacute personagem e coloca para seu leitor as
impressotildees de como eacute viver com o miacutenimo de disposiccedilatildeo poreacutem com a consciecircncia de que natildeo
eacute o ideal para a vida O final natildeo eacute interessante ou surpreendente poreacutem se adequa ao
desenvolvimento do texto Possui tiacutetulo apropriado
Quadro 37 ndash PFB Rodrigo ndash Tiacutetulo VIDA DE PREGUICcedilOSO
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Vocecirc tem preguiccedila Tem preguiccedila de ter preguiccedila Perdeu alguma coisa por
causa de preguiccedila
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Natildeo eacute muito certo ter preguiccedila de tudo dizem que eacute pecado mas natildeo vejo mal
nenhum em ter preguiccedila Oacutebvio que nem todo tempo vou ter preguiccedila mas na hora de
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jogar aquela bola ningueacutem tem preguiccedila mas agora fala em arrumar a cama A preguiccedila
sai de baixo da cama pra vocecirc Eu tenho preguiccedila a maior parte do tempo Sou tatildeo
preguiccediloso que dormi com fome para natildeo ter de ir ateacute a geladeira pegar comida Parece
um pouco absurdo mas eacute verdade
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Aiacute vocecirc acorda e vai ateacute a sala daiacute vocecirc se deita no sofaacute e esquece o controle
em cima da mesa do computador ou da estante aiacute daacute aquele grito ldquoocirc manhecircecircecircecircecircecircecircecircrdquo
Logo ela vem correndo saber o que aconteceu e vocecirc na maior cara de pau diz pega
o controle pra mim Na hora que vocecirc diz isso vocecirc desperta todos os capirotos do
mundo ela ainda fala aquela frase que toda matildee diz o QUEcirc menino Isso serve pra
tudo que vocecirc pede pra sua matildee fazer pra vocecirc ateacute mesmo apagar a luz
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Quando eu estiver em um relacionamento minha namorada natildeo vai precisar
se preocupar com traiccedilatildeo Tenho preguiccedila de ir bem aiacute na esquina comprar o patildeo
imagine sair para trair ela Mas eacute muita melodia
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A vida de um preguiccediloso em si ela eacute uma grande sobrevivecircncia Natildeo muita
mas vocecirc vai ter de lutar para conseguir comida enfrentar o Vingador da Caverna do
Dragatildeo o quarto do furacatildeo e a cama do pavor Preguiccediloso pode vencer tudo isso mas
nunca conseguiraacute vencer a preguiccedila ndash pelo menos eu nunca consegui
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Era tatildeo lindo quando eu dormia no sofaacute e acordava na cama graccedilas a meus
pais Mas os tempos mudaram vocecirc dorme no chatildeo e acorda no chatildeo Deixar pra fazer
amanhatilde o que pode fazer hoje isso sim eacute tiacutepico de um preguiccediloso mas agraves vezes nem
fazemos
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Todos noacutes temos aquela cadeira que na hora de dormir sempre colocamos
todas as coisas de cima da cama em cima dela soacute por preguiccedila de arrumar tudo em seu
devido lugar
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Um celular PC tablet televisatildeo tudo isso com internet uma tomada tudo do
seu lado tem como natildeo ter preguiccedila ateacute de procurar aquela seacuterie na Netflix Certo que
o celular ou o PC tem comando de voz soacute pra falar o nome da seacuterie que vocecirc quer assistir
e tecnologicamente ir direto pra seacuterie mas daacute uma preguiccedila de falar e ainda com um
lanche do lado ateacute imagino o quatildeo seria top passar o dia assim Mas tem que estudar
fazer comida dar banho do cachorro limpar a casa e lavar a louccedila Ai ai daacute preguiccedila
soacute de pensar nisso Um dia vou perder essa preguiccedila pelo menos assim espero
Fonte Dados da pesquisa
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O uso de expressotildees coloquiais como em ldquoMas eacute muita melodiardquo (linha 17) para
mostrar o quanto daacute trabalho trair a namorada e a corrente entre os jovens ldquoo quatildeo seria top
passar o dia assimrdquo (linha 33) deu colorido agrave crocircnica
O uso de notaccedilotildees linguiacutesticas para realccedilar o texto como em ldquoocirc manhecircecircecircecircecircecircecircecircrdquo
(linha 10) que mostra prolongamento da voz o QUEcirc meninordquo (linha 13) que indica tom
de voz mais alto e forte aleacutem da pontuaccedilatildeo que exclama a pergunta O uso do travessatildeo como
forma de colocar uma explicaccedilatildeo em evidecircncia foi adotado por sugestatildeo nossa como em ldquondash
pelo menos eu nunca conseguirdquo (linha 21) tambeacutem enriqueceu o texto
Ainda houve repeticcedilatildeo de termos sem intenccedilatildeo como em ldquomas na hora de jogar
aquela bola ningueacutem tem preguiccedila mas agora fala em arrumar a camardquo (linhas 4-5)
O final foi interessante levando a audiecircncia a refletir e a se divertir tambeacutem com a
descriccedilatildeo das situaccedilotildees ndash algumas ateacute inusitadas ndash de preguiccedila mas que acontecem em algum
grau com os leitores jovens
Quadro 38 ndash PIB Eduardo ndash Tiacutetulo
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Eu gosto muito de comida principalmente uma lasanha Porque eacute gostoso
mata a fome e deixa a gente feliz Bons tempos quando agente era crianccedila tomava aquele
belo leite antes de domir acordava de manhatilde bem cedinho com o cherinho do cafeacute na
mesa mas o tempos mudou E hoje em dia as crianccedilas dorme tarde natildeo se alimentatildeo
direito so querem comer besteras prejudicando a sauacutede
6 Era engraccedilado quando minha matildee dizia
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Come a salada do prato se vocecirc comer tudinho mamatildee te dar um doccedile de
leite e agente comia
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E quando noacutes tinha dor de barriga a matildee ja vinha com o chaacute de bodo para dar
pra noacutes tomar E quando jogava bola e noacutes se arranhava a matildee ja tava nas matildeos o
merthiolate para passa na gente
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E quando o pessoal ia jogar bola reunia a galera e ia chamar a turma todinha
para jogar nosso campo era em um local de pissarra com muro em volta e quando a
bola cailha na casa da quela vizinha chata um de noacutes tiamos que pega o mas corajoso
se arricar a buscar e esse corajoso era eu lembro que uma vez eu chutei a bola para laacute
e machuquei um das plantas dela e vizinha fofocou para minha matildee e mamatildee colocou
eu de cartigo
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Agora as crianccedilas so querem ficar trancada dentro do quarto mechendo no seu
celular PC em geral
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Percebi que a infacircncia de hoje natildeo eacute mas a mesma de antigamente Hoje em
dia tamos rodiado de tecnologia crianccedilas jovens tem celulares internet computadores
mas antigamente natildeo era assim natildeo tou querendo criticar a tecnologias pois eu vivo na
tecnologia hoje Nesse tempo de hoje das tecnologia se vocecirc quer ouvir uma muacutesica eacute
soacute ir no YouTube ou fazer o download quer conversar com um amigo eacute soacute entra no
Whatsapp e conversar Mas quando era antigamente se quissemos ouvir uma
muacutesica tiamos que esperar passar no raacutedio ou comprar um CD bem ali na banca se
quisesse conversar com um amigo distante teria que ir na casa dele ou enviar uma carta
para ele
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E quando era natal ano novo famiacutelia toda reunida mesa cheia de comida
deliciosas isso era muito bom
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32 SO SEI QUE A INFACIA QUE EU TIVE FOI MUITA OTIMA lt3
Fonte Dados da pesquisa
Composto por 9 (nove) paraacutegrafos o texto de Eduardo partiu de uma situaccedilatildeo
vivida em que ele observa a passagem do tempo e as mudanccedilas de haacutebitos com uma certa
nostalgia buscando a atenccedilatildeo do leitor atraveacutes da reflexatildeo sobre a imersatildeo na tecnologia Seu
texto comeccedila com uma associaccedilatildeo da comida que ele gosta e que ldquopuxardquo outras questotildees que
perpassam a alimentaccedilatildeo o sono as brincadeiras narrando inclusive desventuras vividas
Ao final nas linhas 29-30 o paraacutegrafo parece desconexo visto que natildeo evolui e
nem se liga ao anterior
A ortografia e a pontuaccedilatildeo nesse momento natildeo haviam sido a prioridade embora
os alunos jaacute estivessem de posse do quadro autoavaliativo Eduardo foi um dos alunos que mais
se surpreendeu com a releitura do texto no tablet como haviacuteamos descrito na seccedilatildeo sobre os
procedimentos posto que os erros e sugestotildees satildeo apontados pelo aplicativo editor de textos
Ele afirmou que foi bastante uacutetil para que ele observasse os erros visto que natildeo tinha
consciecircncia dos mesmos
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Quadro 39 ndash PFB Eduardo ndash INFAcircNCIA FELIZ
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Eu gosto muito de comida principalmente uma lasanha Porque eacute gostoso
mata a fome e deixa a gente feliz Bons tempos quando a gente era crianccedila tomava
aquele belo leite antes de dormir acordava de manhatilde bem cedinho com o cheirinho do
cafeacute na mesa mas os tempos mudaram Hoje em dia as crianccedilas dormem tarde natildeo se
alimentam direito soacute querem comer besteiras prejudicando a sauacutede
6
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Era engraccedilado quando minha matildee dizia Come a salada do prato se vocecirc
comer tudinho mamatildee te daacute um doce de leite e a gente comia
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E quando noacutes tiacutenhamos dor de barriga a matildee jaacute vinha com o chaacute de boldo para
dar pra tomar E quando jogaacutevamos bola e nos arranhaacutevamos a matildee jaacute estava com o
mertiolate nas matildeos para passar na gente
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E quando o pessoal ia jogar bola reunia a galera e ia chamar a turma todinha
para jogar nosso campo era em um local de piccedilarra com muro em volta e quando a bola
caiacutea na casa da aquela vizinha chata um de noacutes tinha que pegar o mais corajoso se
arriscar a buscar e esse corajoso era eu Lembro que uma vez eu chutei a bola para laacute e
machuquei um das plantas dela e a vizinha fofocou para minha matildee e mamatildee colocou
eu de castigo Quem nunca morreu de medo de voltar para casa com aquela roupa cheia
de barro e levar uma bronca
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Vocecirc pode ateacute achar que eu jaacute acabei a minha infacircncia mas ainda tocirc nela pois
a infacircncia que eu era mais novo natildeo eacute mas a mesma do que a de hoje
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Agora as crianccedilas soacute querem ficar trancadas dentro do quarto mexendo no seu
celular PC em geral
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Percebi que a infacircncia de hoje natildeo eacute mas a mesma de antigamente Hoje em
dia estamos rodeados de tecnologia Crianccedilas jovens tem celulares internet
computadores mas antigamente natildeo era assim Natildeo estou querendo criticar a tecnologia
pois eu vivo na tecnologia hoje Nesse tempo de hoje se vocecirc quer ouvir uma muacutesica eacute
soacute ir no YouTube ou fazer o download Quer conversar com um amigo eacute soacute entrar no
WhatsApp e conversar Mas quando era antigamente se quiseacutessemos ouvir uma muacutesica
tiacutenhamos que esperar passar no raacutedio ou comprar um CD bem ali na banca Se quisesse
conversar com um amigo distante teria que ir na casa dele ou enviar uma carta para ele
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Pois agora as crianccedilas jaacute respondem com ignoracircncia para seus pais Se eu
resmungasse para minha matildee pelo menos um Taacute bom taacute bom mamatildee jaacute me batia Ela
ainda me colocava de joelho no chatildeo e eu morrendo de chorar mamatildee dizia Engole o
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choro mas eu natildeo sabia engolir o choro Seraacute que tinha que pegar um copo para
colocar as minhas laacutegrimas do meu choro Natildeo sei mas eu acho que eacute melhor natildeo
arriscar de me levantar e apanhar mais ainda
36 O mais engraccedilado eacute que chinela de matildee sempre acerta [
37 Mesmo apanhando
38 SOacute SEI QUE A INFAcircNCIA QUE EU TIVE FOI MUITO OacuteTIMA lt3
Fonte Dados da pesquisa
O texto teve uma ampliaccedilatildeo e o aluno pediu ajuda agrave professora-pesquisadora para
a correccedilatildeo da pontuaccedilatildeo e tambeacutem da ortografia para ldquoevitar aquela coisa toda vermelha
professorardquo que seria rever no tablet o editor mostrando os erros Bastante empenhado Eduardo
colocou suas impressotildees lado bom e ruim para que seu leitor pudesse acompanhar o que seria
uma infacircncia adequada Nas linhas 18-19 em ldquoVocecirc pode ateacute achar que eu jaacute acabei a minha
infacircncia mas ainda tocirc nela pois a lsquoinfacircncia que eu era mais novorsquo natildeo eacute mas a mesma do que
a de hojerdquo Valeu a discussatildeo com os colegas e com a professora-pesquisadora a respeito dessa
nostalgia visto que o autor ainda eacute um adolescente de 15 anos
O final convenhamos embora natildeo seja muito paciacutefico natildeo deixa de causar o riso
no leitor visto que em ldquoMesmo apanhandordquo (linha 37) as reticecircncias deixam o pensamento
em aberto e o leitor conclui pelo exposto que ainda assim valia a pena a infacircncia menos
tecnoloacutegica e mais fora de casa
Quadro 40 ndash PIB Estela ndash Tiacutetulo ldquoDown= bullyingrdquo
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Antigamente eu natildeo me importava tanto mas hoje penso bastante sobre o
assunto por que as pessoas praticam o bullying
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Na minha opiniatildeo a praacutetica de bullying eacute desnecessaacuteria pois noacutes natildeo
ganhamos nada em humilharmenosprezar o proacuteximo natildeo eacute mesmo eacute bem melhor ser
gentil ser solidaacuterio aceitar os defeitos do proacuteximo
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Conheccedilo uma garota chamada Beatriz jovem de dezenove anos(19) que tinha
siacutendrome de Down ela era uma garota bem extrovertida amigaacutevel carinhosa etc
Muitos a criticavam por conter essa siacutendrome por ser diferente Ela tinha seu tinha seu
lado carinhoso mas tambeacutem tinha o seu lado revoltadobravo e todos criticavam-na por
ser diferente por ter esse seu lado ldquobipolarrdquo pelo fato dela mudar de humor tatildeo
facilmente
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Muitos faziam o possiacutevel para evitar sua presenccedila por perto eles a eles
simplesmente natildeo aceitavam o fato dela ter aquela siacutendrome pra eles ela natildeo era ldquoigualrdquo
a eles eles deveriam aceitaacute-la da maneira que ela nasceu da maneira em que ela foi
gerada
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Chamavam-na por apelidos maldosos e preconceituosos como por exemplo
doida (pelo simples fato dela ter siacutendrome de Down que a diferenciava das demais
pessoas) de retardada de doente chamavam-na de feia ridiacuteculaetc
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Ao sofrer esses preconceitos ela sempre revidavasempre reagia com agressotildees
e xingamentos terriacuteveis o que agravava cada vez mais a situaccedilatildeo Acho que por ela
conter essa doenccedila ela natildeo levava muito a seacuterios esse preconceito essa indiferenccedila
acho que pelo fato de ela conter essa doenccedila desde a formaccedilatildeo de seu feto deve ter
ocorrido algumas alteraccedilotildees em seu ceacuterebro na parte mentalo que prejudica muito a
crianccedila em questotildees de aprendizado de se socializar e que a levava a considerar essas
praacuteticas de bullying como uma brincadeira
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E tambeacutem sua matildee natildeo era aquele tipo de matildee que se interessava como foi o
dia na escola se as aulas foram boas essas coisas que normalmente as matildees fazem E
ela tambeacutem natildeo morava junto a seu pai pois creio que era divorciado de sua matildee
moravam somente ela sua matildee e sua irmatilde mais nova de dezessete anos (17)
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Atualmente a situaccedilatildeo ainda se repete por falta de atenccedilatildeo dos pais e da
proacutepria viacutetima do bullying
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(Na minha opiniatildeo ela soacute precisa de um pouco mais de atenccedilatildeo e compreensatildeo
dos pais e tenho certeza que esse problema jaacute haveria sido resolvido)
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E vocecirc leitor o que faria se vocecirc fosse viacutetima de bullying denunciaria ou
preferiria guardar pra si
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(Isso natildeo eacute um texto qualquer eacute tambeacutem um alerta uma ldquocampanhardquo pra vocecirc
vitima ou praticante do bullying pense no proacuteximo alerte-se muitas vezes essas piadas
brincadeiras esses preconceitos passam dos limites e acabam se tornando grandes
ofensas o que levam as viacutetimas a profundas depressotildees e ateacute mesmo ao suiciacutedio vamos
acabar com isso)
41 chega de bullying
Fonte Dados da pesquisa
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Estela comeccedila seu texto com um paraacutegrafo que faz uma introduccedilatildeo-enquadramento
lanccedilando um questionamento ao seu leitor surgido de uma situaccedilatildeo observadavivida que ela
narra ao longo dos 12 (doze) paraacutegrafos No 10ordm a autora conversa com explicitamente com o
leitor como no modelo apresentado para a produccedilatildeo A O foco narrativo eacute mantido como
narrador observador do que acontece poreacutem levando o leitor a refletir sobre o problema real do
bullying com a intenccedilatildeo de causar impressotildees no leitor como empatia reflexatildeo e ateacute emoccedilatildeo
O final natildeo parece caracterizar-se como o de uma crocircnica literaacuteria lembrando o
penuacuteltimo paraacutegrafo uma sequecircncia injuntiva com a intenccedilatildeo de levar o leitor a modificar seu
comportamento mostrando um ponto de vista criacutetico a respeito da situaccedilatildeo Possui
personagens descrevendo a menina Beatriz e seu comportamento sua matildee e menciona pai e
irmatilde Possui um tiacutetulo interessante pelo trocadilho se podemos assim dizer com a palavra
down Down eacute a siacutendrome mencionada no texto e de iniacutecio o sinal de igual indica que ter
siacutendrome de Down eacute de se esperar de algum modo que a pessoa sofra bullying Poreacutem a aluna
sabe que down em inglecircs quer dizer ldquoabaixordquo o que resultaria numa livre traduccedilatildeo ldquoabaixo
o bullyingrdquo Estela emprega em diversos momentos os sinais de pontuaccedilatildeo adequadamente e
no geral os paraacutegrafos estatildeo bem organizados embora tenha havido repeticcedilatildeo desnecessaacuteria de
palavras no 4ordm paraacutegrafo
Quadro 41 ndash PFB Estela ndashTiacutetulo DOWN= BULLYING
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2
Antigamente eu natildeo me importava tanto mas hoje penso bastante sobre o
assunto por que as pessoas praticam o bullying
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A praacutetica de bullying eacute desnecessaacuteria pois noacutes natildeo ganhamos nada em
humilhar o proacuteximo natildeo eacute mesmo Eacute bem melhor ser gentil ser solidaacuterio aceitar os
defeitos do proacuteximo
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Conheci uma garota chamada Beatriz jovem de dezenove anos que era
portadora da siacutendrome de Down Era uma garota bem extrovertida amigaacutevel carinhosa
etc Ela tinha seu tinha seu lado carinhoso mas tambeacutem tinha o seu lado revoltado e
todos criticavam-na por ser diferente por ter esse seu lado ldquobipolarrdquo pelo fato dela mudar
de humor tatildeo facilmente
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Muitos faziam o possiacutevel para evitar sua presenccedila por perto Simplesmente
natildeo aceitavam o fato dela natildeo ser ldquoigualrdquo a eles enquanto que deveriam aceitaacute-la da
maneira que ela nasceu da maneira em que ela foi gerada
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Chamavam-na por apelidos maldosos e preconceituosos como por exemplo
doida (pelo simples fato dela ser portadora de Down que a diferenciava das demais
pessoas) de retardada de doente chamavam-na de feia ridiacuteculaetc
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Ao sofrer esse preconceito ela revidava Sempre reagia com agressotildees e
xingamentos terriacuteveis o que agravava cada vez mais a situaccedilatildeo Acho que pelo fato de
ela ter Down desde a formaccedilatildeo de seu feto deve ter ocorrido algumas alteraccedilotildees em seu
ceacuterebroo que prejudica muito a crianccedila em questotildees de aprendizado de se socializar
poreacutem isso natildeo a impedia de considerar essas praacuteticas de bullying como algo tatildeo seacuterio
22
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26
Atualmente a situaccedilatildeo ainda se repete por falta de atenccedilatildeo dos pais Sua matildee
natildeo era aquele tipo de matildee que se interessava como foi o dia na escola se as aulas foram
boas essas coisas que normalmente as matildees fazem Ela soacute precisa de um pouco mais de
atenccedilatildeo e compreensatildeo dos pais e tenho certeza que esse problema jaacute teria sido
resolvido
27 E vocecirc leitor como agiria se fosse viacutetima de algum tipo de bullying
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Pare e pense na situaccedilatildeo que ocorrera com essa garota Pense Como agiria se
fosse viacutetima ou tivesse observado uma situaccedilatildeo como essa Tambeacutem imagine se vocecirc
se sentiria bem se sofresse certos preconceitos certas ofensas E tambeacutem peccedilo-lhe
venha pensar antes de ldquotentarrdquo praticar esses atos infracionais contra algueacutem Se ponha
no lugar da viacutetima
33 chega de bullying
Fonte Dados da pesquisa
O tiacutetulo foi mantido Os paraacutegrafos em geral ficaram bem organizados Houve
evoluccedilatildeo no emprego dos sinais de pontuaccedilatildeo Evitou a repeticcedilatildeo desnecessaacuteria de palavras e
buscou definir visto que estava em duacutevida segundo ela mesma sobre quais termos usar
Partiu como jaacute haviacuteamos identificado de uma situaccedilatildeo observadavivida Conversa
com o leitor como no exemplo ldquonatildeo eacute mesmordquo (linha 4) ou em ldquoE vocecirc leitorrdquo (linha 27)
buscando leva-lo a refletir sobre a situaccedilatildeo O final eacute interessante muito embora natildeo o
reconheccedilamos como caracteriacutestico de uma crocircnica literaacuteria Mostra discretamente ao leitor seu
ponto de vista a respeito da situaccedilatildeo buscando proporcionar-lhe um momento de reflexatildeo
Descreve bem a Beatriz e superficialmente a matildee poreacutem com caracteriacutesticas
adequadas agrave situaccedilatildeo Apoacutes a anaacutelise dos textos B dos alunos estabelecemos um graacutefico a
respeito de sua evoluccedilatildeo para melhor visualizaccedilatildeo dos resultados nessa etapa Vejamos a seguir
136
Graacutefico 8 ndash Avaliaccedilatildeo das crocircnicas B
Fonte dados da pesquisa
A partir da anaacutelise dos textos dos alunos que frequentaram todas as aulas e se
engajaram nas atividades da SD percebemos que houve na maioria dos itens avaliados uma
sensiacutevel melhora corroborando com o anteriormente dito que os alunos ao tomarem contato
com seus textos de uma primeira produccedilatildeo escrita se orientados e incentivados a reler se
autoavaliar e a ouvir sugestotildees podem sim progredir no sentido de se tornarem escritores mais
haacutebeis e conscientes das etapas que regem o processo de escrita de textos E esse processo se
feito com frequecircncia comeccedila a se automatizar e facilita o aprendizado de qualquer gecircnero que
se venha trabalhar
533 Uma nova reescrita
Retomando seu texto A PI e PF a aluna Ana pediu a oportunidade de reescrevecirc-lo
visto que em sua releitura afirmou que natildeo havia feito apropriadamente e que ao final de todas
as atividades ela percebia o quanto natildeo tinha desenvolvido ainda os procedimentos adequados
para a produccedilatildeo de um texto o que inclui as etapas de releitura autocriacutetica reflexatildeo
reelaboraccedilatildeo e reescrita Segue assim o texto de Ana que chamaremos PFA2
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3
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Avaliaccedilatildeo das crocircnicas B
PI-B PF-B
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Quadro 42 ndash PFA2 Ana ndash Tiacutetulo O que eacute ser chato
1 Como saber quando vocecirc estar sendo chato
2 Bom depois de ler um dos textos maravilhosos do Anaximandro Amorim
3 o chato da vez despertou uma vontade em mim de me aprofundar no assunto
4
5 Eacute muito difiacutecil dizer o que de fato eacute ser chato ou melhor listar tudo o que eacute pura
6 chatice demoraria horas e horas Vocecirc se considera chato
7 Sabe quando vocecirc estar sendo chato Olha muito cuidado um chato nunca
8 se acha chato digo isso com toda convicccedilatildeo
9
10 Conheccedilo uma menina ela eacute da minha escola graccedilas
11 a Deus natildeo eacute da minha sala Ameacutem
12 Ela tem uma mente aberta uns gosto legais mas cara
13 ela desconhece a palavra limites isso a torna very chata
14 uma mina linda de opiniotildees legais que natildeo sabe ver quando natildeo a querem
15 por perto quando ela estar atrapalhando e natildeo entende
16 quando o papo ja ta chato e a pessoa ta fugindo dela mas mesmo assim
17 acha que a pessoa ta super interessada e ela se engana e
18 acaba se tornando uma chata eu a considero minha amiga
19 ela me apoia e me sempre da uma levantada na minha auto-estima
20 uma garota interessante agraves vezes e por tempos curtos ela eacute
21 daquele tipo de pessoas que a gente passa comprimenta e
22 natildeo para pra conversar so quando ela chama e as vezes ainda invento desculpas
23 pra natildeo ir e se vou quando passa de cinco minutos eu jaacute
24 fico SU-FO-CA-DA parece que ela estraga o papo
25
26 Enfim ser chato eacute natildeo saber quando vocecirc ta forccedilando a barra
27 eacute natildeo reconhecer quando vocecirc estar sendo chato
28 ser chato eacute natildeo ter limites afinal tudo tem Natildeo eacute mesmo Fonte Dados da pesquisa
Por fim Ana reescreveu seu texto colocando-o em 5 (cinco paraacutegrafos) e o elaborou
visando ao que a instruccedilatildeo da atividade requer um texto que possa inspirar reflexatildeo sobre o
que eacute ser chato e o que eacute ser legal poreacutem sem colocar a questatildeo do botatildeo de bloqueio da vida
real Atraveacutes dos exemplos Ana conduziu seu leitor a refletir atendendo aos criteacuterios de partir
de uma situaccedilatildeo vividaobservada como vemos nas linhas 10-24 e conversando com o leitor
como percebemos nas marcas linguiacutesticas em ldquoComo saber quando vocecirc estar sendo chatordquo
(linha 1) ldquoVocecirc se considera chatordquo (linha 6) ldquoSabe quando vocecirc estar sendo chatordquo (linha
7) e ldquoNatildeo eacute mesmordquo (linha 28) e descreve uma personagem ldquouma menina ela eacute da minha
escolardquo (linha 10) que inseriu em seu texto para ilustrar a situaccedilatildeo
Apesar de Ana ainda deixar a desejar em outros aspectos tanto textuais quanto
formais de convenccedilotildees da escrita percebemos que ela evoluiu no criteacuterio organizaccedilatildeo de
138
paraacutegrafos e emprego dos sinais de pontuaccedilatildeo Em ldquograccedilas a Deus natildeo eacute da minha sala
Ameacutemrdquo ela separa o termo Ameacutem do resto da frase com a viacutergula entendendo que eacute uma
expressatildeo que merecia realce e usa o ponto de exclamaccedilatildeo para expressar seu aliacutevio Ana
demonstra conhecer que o uso de marcas linguiacutesticas como o uso de maiuacutesculas e a separaccedilatildeo
silaacutebica podem dar forccedila a uma palavra fazendo-a ganhar maior expressividade como em ldquoSU-
FO-CA-DArdquo na linha 24 Ao longo de seu texto Ana emprega muitas palavras do cotidiano
giacuterias inclusive e marcas da oralidade ndash o que natildeo necessariamente eacute um problema em uma
crocircnica literaacuteria poreacutem conveacutem relembrar a questatildeo da experiecircncia e habilidade no uso de tais
de modo a natildeo cansar o leitor
Sua estrateacutegia para iniciar o texto foi partir da intertextualidade (ldquoBom depois de
ler um dos textos maravilhosos do Anaximandro Amorim lsquoo chato da vezrsquo despertou uma
vontade em mim de me aprofundar no assuntordquo linhas 1-3) Desse modo Ana fez uso da
informaccedilatildeo de uma de nossas aulas de quando trabalhamos com a crocircnica ldquoCarta de punhordquo
cuja leitura em sala e atividade de exploraccedilatildeo do texto mostrava que o autor cronista com
publicaccedilotildees frequentes no jornal buscava nas proacuteprias produccedilotildees retomar seus assuntos
passados Uma curiosidade que foi despertada em Ana para o momento havia sido ldquoe pode
isso professorardquo ao que respondemos afirmativamente poreacutem o sucesso da estrateacutegia viria
com o tempo e a experiecircncia de cada autor da intimidade que esse tivesse com a liacutengua materna
e com a situaccedilatildeo de produccedilatildeo tudo dentro do contexto
Consideramos assim que o uso da estrateacutegia pela aluna foi um ponto positivo em
sua participaccedilatildeo posto que caracteriza envolvimento com o projeto e as aulas Ademais desejar
fazer mais uma reescrita quando natildeo havia mais a exigecircncia pois como dissemos jaacute haviacuteamos
encerrado os moacutedulos e estaacutevamos reescrevendo o texto para circulaccedilatildeo social eacute um ponto
bastante positivo no tocante aos procedimentos de escritor apoacutes algum tempo ela releu seu
texto achou-o inadequado ou insuficiente para as caracteriacutesticas do que se estava estudando e
produzindo e tomou a iniciativa de refazecirc-lo
139
6 CONCLUSAtildeO
O foco principal de nosso trabalho foi o desenvolvimento da competecircncia
comunicativa escrita Para tanto consideramos o processo tendo como produto o texto cujo
valor real foi-lhe atribuiacutedo valor social com direito a circulaccedilatildeo levado a puacuteblico
O gecircnero escolhido foi a crocircnica literaacuteria Poderia ter sido outro visto que o trabalho
com o processo de escrita dentro de uma sequecircncia didaacutetica comporta qualquer gecircnero textual
Poreacutem como dissemos na introduccedilatildeo a escolha do gecircnero partiu de uma motivaccedilatildeo pessoal
Passado todo o processo da escolha de como trabalhar ateacute a publicaccedilatildeo dos textos
julgamos oportuno avaliar todos os acircmbitos
Por percebermos ao longo dos anos de experiecircncia que vaacuterios alunos produzem
seus textos sem recorrer agrave etapa do planejamento a da revisatildeo e a da reescrita visamos entatildeo
nesta pesquisa devido agrave ausecircncia de tais procedimentos responder agraves seguintes questotildees-
problema desdobradas a partir da questatildeo baacutesica como ensinar a produccedilatildeo escrita no 9ordm ano do
Ensino Fundamental enfocando o ato de redigir como um processo visto que haacute estudantes
deste niacutevel que normalmente natildeo tecircm o haacutebito de planejar seus textos
A partir desse questionamento nos perguntamos
a) que atividades pedagoacutegicas possibilitam aos alunos a consciecircncia de que eacute
preciso desenvolver estrateacutegias proacuteprias (recorrer agrave etapa do planejamento da
revisatildeo e da reescrita) para produzir seus textos
b) de que forma o conhecimento sobre a estrutura composicional de um gecircnero
pode ajudar a superar as dificuldades
c) a comparaccedilatildeo das produccedilotildees inicial e final permitiraacute associar a melhoria do
desempenho da competecircncia escrita e a apropriaccedilatildeo do gecircnero crocircnica literaacuteria ao
desenvolvimento da sequecircncia de atividades
Buscando encontrar uma praacutetica que resultasse em textos melhores fizemos uso
em nossa sequecircncia de atividades de teorias que norteassem o trabalho com a escrita como
processo com a sequecircncia didaacutetica com gecircnero textual e com o gecircnero crocircnica narrativa A
importacircncia desse aparato teoacuterico para o professor que visa minimizar as dificuldades dos
alunos e diminuir a praacutetica da escrita improvisada permite-lhe compreender como se daacute o
processo cognitivo durante a produccedilatildeo de um texto o que o leva a considerar para seu trabalho
com os alunos aspectos como audiecircncia e circulaccedilatildeo social reais como praacuteticas de uma
140
sociedade letrada o que vai aleacutem da preocupaccedilatildeo com a gramaacutetica e a ortografia apenas de
um texto produzido somente para o professor e a nota
Ao longo da aplicaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica confirmamos o que a experiecircncia de
sala ao longo dos anos apontava o conhecimento sobre a estrutura composicional de um gecircnero
pode ajudar a superar as dificuldades de escrita por mostrar ao aluno o que precisa estar contido
em seu texto Os exemplos que o professor venha a trabalhar em sala com a turma mostram
modelos de gecircneros com aspectos que podem sim ser imitados de iniacutecio ateacute que quando o
aluno ganhe experiecircncia possa manejar melhor as palavras e as ideias que deseje colocar para
seu leitor assumindo assim um estilo proacuteprio de escrita
Como professora realizar a pesquisa nos permitiu refletir sobre a nossa proacutepria
praacutetica posto que superar as proacuteprias deficiecircncias no ensino da produccedilatildeo textual foi uma grande
inquietaccedilatildeo Reconhecer as praacuteticas nos foi importante para saber em que aspectos ainda temos
desafios a superar e para reforccedilar e desenvolver aspectos positivos em noacutes Ter clareza de como
se situam os iacutendices de avaliaccedilatildeo na turma na escola no municiacutepio no estado e no paiacutes tambeacutem
foi bastante importante Normalmente a tendecircncia coletiva estaacute em descrer na educaccedilatildeo poreacutem
mesmo que muito lentamente observamos progresso histoacuterico na concepccedilatildeo de aprendizado da
liacutengua materna no valor que eacute dado agrave leitura e agrave escrita
Apoacutes as oficinas a anaacutelise dos objetivos elencados ao iniacutecio de todo o processo
com dados comparativos entre produccedilatildeo inicial e produccedilatildeo final constatamos a relevacircncia da
hipoacutetese baacutesica os alunos do 9ordm ano produziram textos na etapa final das oficinas utilizando-
se das caracteriacutesticas do gecircnero textual crocircnica literaacuteria compreendendo que escrita eacute interaccedilatildeo
valorizando o uso social da escrita de acordo com a proposta teoacuterica de gecircnero preparando
seus textos pautados nas etapas do processo de redigir conforme as orientaccedilotildees dadas em sala
de aula
Sobre nossas hipoacuteteses secundaacuterias pensamos que eacute possiacutevel sim motivar os
alunos a escrever ao desenvolver com eles atividades voltadas para os diferentes subprocessos
e habilidades envolvidos no ato de redigir Poreacutem para haver o engajamento e resultar em uma
turma que escreva textos compatiacuteveis com o grau de desenvolvimento de habilidades esperadas
para o ano que cursam enfrentamos desafios como o aspecto do imediatismo e da recompensa
A natildeo adesatildeo de vaacuterios alunos ao projeto se deu por este natildeo valer nota Portanto
sem uma recompensa imediata natildeo houve o engajamento Nossos alunos infelizmente natildeo
estatildeo habituados a pensar a longo prazo a planejar alcanccedilar metas nem integrar atividades que
lhes facilitem a vida estudantil no futuro Talvez ndash pensamos ndash nem a cultura escolar abranja
141
ainda um trabalho soacutelido e constante nesse sentido Apesar disso haacute professores que se
empenham em fazer um trabalho constante de leitura e na medida do possiacutevel de escrita ao
qual fizemos nossa contribuiccedilatildeo
Por uacuteltimo apoacutes a realizaccedilatildeo da sequecircncia didaacutetica proposta ao contrastarmos as
produccedilotildees inicial e final dos alunos principalmente no que concerne agrave produccedilatildeo realizada para
fins de circulaccedilatildeo social real considerando uma audiecircncia real verificamos um desempenho
mais satisfatoacuterio em relaccedilatildeo agrave competecircncia discursiva realizada no gecircnero crocircnica literaacuteria
visto que os processos de escrita foram considerados no ato da produccedilatildeo de suas proacuteprias
crocircnicas
Para que essa produccedilatildeo fosse efetiva houve que se ter em mente na elaboraccedilatildeo dos
moacutedulos que qualquer tarefa de escrita bem-sucedida requer o exerciacutecio da escrita e da reescrita
Esse processo de aperfeiccediloamento dos textos demanda da parte do professor planejamento
para conhecer as necessidades de natureza geral da turma para trabalhar as caracteriacutesticas de
um gecircnero bem como as de natureza individual do aluno como as limitaccedilotildees no
reconhecimento do gecircnero textual na progressatildeo narrativa nas convenccedilotildees da escrita culta
Pensamos que poderia ser interessante para o aperfeiccediloamento desta SD ampliar e
diversificar mais os textos que compotildeem o moacutedulo de reconhecimento para antes da primeira
produccedilatildeo dos alunos visando oferecer uma visatildeo mais ampla do gecircnero Aleacutem disso
percebemos que tambeacutem eacute preciso que enquanto professores trabalhemos recorrentemente a
instruccedilatildeo da produccedilatildeo com os alunos no sentido de que eles compreendam que natildeo apenas um
aspecto seja escolhido para ser trabalhado mas todos os que nela estatildeo contidos
Aplicar uma SD eacute um trabalho que exige bastante do professor pois se trata de
conhecer o perfil de cada turma em que se decide aplicar um projeto de escrita diagnosticar
planejar os moacutedulos e pensar que o produto pode e deve ter circulaccedilatildeo no meio social Para
tanto eacute importante frisar que a rede de ensino acolha e apoie o professor motivando-o e
possibilitando-lhe as condiccedilotildees necessaacuterias e adequadas para o desenvolvimento de projetos de
escrita dentre as quais podemos mencionar formaccedilatildeo continuada que incentive os projetos de
escrita reforccedilo agraves condiccedilotildees dos materiais das escolas manter o nuacutemero de alunos adequado
nas salas evitando a superlotaccedilatildeo
No tocante aos alunos especialmente os que integraram todos os encontros de todos
os moacutedulos notamos que estes afirmaram que amadureceram ao longo do processo aprendendo
gradualmente a ter controle de sua escrita relendo quando necessaacuterio refletindo buscando
142
clareza Tambeacutem apreciaram muito poder opinar sobre os textos dos colegas visto que estavam
se apropriando das caracteriacutesticas do gecircnero estudado e sentiram seguranccedila para colaborar
Quanto ao trabalho com nuacutemero reduzido de alunos ao permanecerem no projeto
apenas aqueles que se interessaram em melhorar seu desempenho pessoal em leitura e produccedilatildeo
conforme eles mesmos disseram o grupo menor ficou mais coeso e permitiu-lhes liberdade
para trabalhar fosse com discussotildees sugestotildees ou mesmo para dar apoio ateacute mesmo na hora
de ler em voz alta para todos Foi um progresso coletivo e reafirmou a amizade entre o grupo e
tambeacutem conosco por ver que a colaboraccedilatildeo era acompanhada de afetividade
A produccedilatildeo dos textos para circulaccedilatildeo social escrevendo no celular foi produtiva
visto que oportunizou aos alunos o uso da tecnologia que eles afirmam preferir permitindo
agravequeles que natildeo gostam muito de produzir textos com os recursos tradicionais (folha de
produccedilatildeo e caneta) participarem ativamente do processo de produccedilatildeo textual Essa tecnologia
pode ser considerada para futuros trabalhos com alunos do ensino fundamental
Gostariacuteamos de mencionar que este trabalho do iniacutecio ao fim tratou com questotildees
de motivaccedilatildeo e inquietaccedilotildees reais e pessoais A queda abrupta do nuacutemero de participantes
desde o momento da adesatildeo ateacute o da produccedilatildeo para a circulaccedilatildeo eacute reflexo dos desafios que
qualquer professor enfrenta em sua sala cotidianamente No entanto as aulas regulares
diferentemente da proposta da aplicaccedilatildeo do projeto tecircm consigo uma carga de obrigatoriedade
ao exigir a frequecircncia a assiduidade a entrega de tarefas e as avaliaccedilotildees ndash itens que compotildeem
a nota para a aprovaccedilatildeo anual
Em decorrecircncia dessa obrigatoriedade se contrastarmos o desempenho dos alunos
no projeto ao seu desempenho regular na sala de aula de qualquer disciplina natildeo apenas na
liacutengua portuguesa veremos estudantes sem uma motivaccedilatildeo que os conecte ao desenvolvimento
das aulas natildeo permitindo o amadurecimento de suas capacidades e habilidades Como
professora da turma que aplicou o projeto sem exigecircncia de notas percebi que os alunos em
sua maioria natildeo gostariam de estar na escola Muitos natildeo veem ainda sentido em estar presentes
uma tarde inteira 20 (vinte) horas semanais sentados copiando tendo preguiccedila de elaborar
reflexotildees
Esse comportamento desmotivado que se generaliza em escolas de diversos pontos
do Paiacutes desanima tambeacutem os professores gerando a consequecircncia de ao inveacutes de buscarem
novas estrateacutegias para as aulas acabarem mantendo a praacutetica e ainda se conformando com o
senso comum de que ldquoesses alunos natildeo querem nadardquo fora a conjuntura social e econocircmica que
143
por si soacute eacute desanimadora ao limitar recursos e investimentos em educaccedilatildeo desvalorizando a
figura do professor
Gostariacuteamos de acrescentar que sim eles querem Mas ainda natildeo sabem ao certo o
que querem E talvez o que eles possam vir a querer ainda natildeo esteja sendo claramente
apresentado pois atividades tradicionais natildeo os atraem a querer conhecer mais e aprender mais
sobre determinados assuntos que podem acrescentar-lhes agrave vida diaacuteria Ficaria aiacute um desafio ao
professor ao projeto poliacutetico pedagoacutegico da escola e agraves redes de educaccedilatildeo baacutesica repensar o
curriacuteculo para os estudantes deste seacuteculo
Como pudemos observar este trabalho teve sim lacunas que podem ser sanadas
com outras pesquisas Apesar disso acreditamos que a pesquisa-accedilatildeo que realizamos pocircde
aleacutem de ofertar contribuiccedilotildees no acircmbito acadecircmico ao evidenciar vitoacuterias e expor os desafios
encorajar os alunos participantes da pesquisa principalmente os que tiveram a compreensatildeo de
que sua participaccedilatildeo lhes valeria para aleacutem de integrar pontos para uma nota no sentido de que
se permitiram evoluir como produtores de texto em sua liacutengua materna direito que lhes cabe
desde o momento em que satildeo reconhecidos cidadatildeos e que ingressam nas escolas brasileiras
144
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LOPES-ROSSI Maria Aparecida Garcia Gecircneros discursivos no ensino de leitura e produccedilatildeo
de textos In DIONIacuteSIO Angela Paiva MACHADO Anna Rachel BEZERRA Maria
Auxiliadora Gecircneros textuais e ensino Satildeo Paulo Paraacutebola 2012 p 69-82
LOPES-ROSSI Maria Aparecida Garcia Gecircneros discursivos no ensino de leitura e produccedilatildeo
de textos In KARWOSKI Acir GAYDECZKA Beatriz BRITO Karim S (Org) Gecircneros
textuais reflexotildees e ensino Satildeo Paulo Paraacutebola 2011 p 69-82
MAGNANI Maria do Rosaacuterio Mortatti Leitura literatura e escola sobre a formaccedilatildeo do
gosto 2 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 2011
MARCUSCHI Luiz Antocircnio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo Satildeo
Paulo Paraacutebola 2015
MEURER JL BONINI Adair MOTA-ROTH Desireacutee (Org) Gecircneros teorias meacutetodos
debates Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005
MONDIM Angelo L O trabalho com gecircneros textuais no ensino de Liacutengua Portuguesa In
UNIVERSIDADE DE CAMPINAS Projeto Ensaios Campinas (SP) 1999 Disponiacutevel
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em lthttpwwwunicampbrielsitealunospublicacoestextost00009htmgt Acesso em 27
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RANGEL EGON DE O (Org) O que nos dizem os textos dos alunos Material de apoio
da Olimpiacuteada de liacutengua portuguesa escrevendo o futuro Satildeo Paulo Centro de Estudos e
Pesquisas em Educaccedilatildeo Cultura e Accedilatildeo Comunitaacuteria ndash Cenpec e Fundaccedilatildeo Itauacute Social 2011
RAUPP Eliane Santos Ensino de liacutengua portuguesa uma perspectiva linguiacutestica Revista
Publicatio da UEPG Ciecircncias Humanas Linguiacutestica Letras e Artes Ponta Grossa PR
v 13 n 2 p 49-58 2005 Disponiacutevel em
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set 2017
SANTOS Joseacute Milson dos O gecircnero crocircnica na sala de aula do ensino meacutedio 171 f
Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Letras Universidade Federal do Rio
Grande do Norte Natal 2008
SERAFINI Maria Teresa Como escrever textos 11 ed Satildeo Paulo Globo 2003
SAtildeO LUIacuteS (MA) Prefeitura Municipal Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo Proposta
curricular liacutengua portuguesa - ensino fundamental - 3ordm e 4ordm Ciclos Satildeo Luiacutes 2008
SILVA Auriane M M SILVA Luacutecia M L Produccedilatildeo escrita assistemaacutetica espontaneiacutesta
improvisada restrita agraves aulas de portuguecircs In BORTONI-RICARDO Stella-Maris
MACHADO Veruska Ribeiro R (Org) Os doze trabalhos de Heacutercules do oral para o
escrito Satildeo Paulo Paraacutebola 2013 p 81-96
SOLEacute Isabel Estrateacutegias de Leitura Porto Alegre Artmed 1998
SWIDERSKI Rosiane Moreira da S COSTA-HUumlBES Terezinha da Conceiccedilatildeo Abordagem
sociointeracionista amp sequecircncia didaacutetica relato de uma experiecircncia Liacutenguas amp Letras
Unioeste Cascavel-PR v 10 n18 1ordm sem 2009 p 113-118 Disponiacutevel em lt httpe-
revistaunioestebrindexphplinguaseletrasarticleview22531748gt Acesso em 03 jan
2018
TUFI M SOARES et al Fatores associados ao abandono escolar no ensino meacutedio puacuteblico de
Minas Gerais Educaccedilatildeo amp Pesquisa Satildeo Paulo v 41 n 3 p 757-772 julset 2015
Disponiacutevel em lt httpwwwscielobrpdfepv41n31517-9702-ep-41-3-0757pdfgt Acesso
em 14 mai 2018
VIEIRA Iuacuteta Lerche Ensinando a redigir do processo ao produto In VIEIRA Iuacuteta Lerche
Escrita para que te quero Fortaleza Ediccedilotildees Demoacutecrito Rocha UECE 2005 Coleccedilatildeo
Magister p 79-97
VIEIRA Iuacuteta Lerche Escrita para que te quero In VIEIRA Iuacuteta Lerche Escrita para que
te quero Fortaleza Ediccedilotildees Demoacutecrito Rocha UECE 2005 Coleccedilatildeo Magister p 13-14
VIEIRA Iuacuteta Lerche Abordagem imitativa da redaccedilatildeo trabalhando com formatos e gecircneros
In VIEIRA Iuacuteta Lerche Escrita para que te quero Fortaleza Ediccedilotildees Demoacutecrito Rocha
UECE 2005 Coleccedilatildeo Magister p159-171
148
APEcircNDICE A ndash ATIVIDADES PROPOSTAS PARA A SEQUEcircNCIA DIDAacuteTICA
Para compor o momento da apresentaccedilatildeo da situaccedilatildeo da sequecircncia de atividades
sensibilizamos os alunos com as caracteriacutesticas baacutesicas das crocircnicas contemporacircneas que foram
descritas na seccedilatildeo correspondente e resgatadas agora organizaccedilatildeo de sua narrativa em primeira
ou terceira pessoa quase sempre como quem conta um caso em tom intimista uma narraccedilatildeo
em que o autor insere em seu texto trechos de diaacutelogos permeados por expressotildees cotidianas
escrevendo como quem conversa com seus leitores como se estivessem muito proacuteximos uso
de temaacuteticas que tratam de reflexotildees sobre a vida social poliacutetica econocircmica por vezes de forma
humoriacutestica outras de modo mais seacuterio outras com jeito poeacutetico permitindo o pertencimento
do gecircnero agrave esfera literaacuteria emprego de linguagem que mescla aspectos da escrita com outros
da oralidade preferecircncia pela brevidade leveza faacutecil acesso e envolvimento Esperamos que
ao final da atividade que aleacutem de respondida por escrito mas principalmente oralmente os
alunos atentem para essas caracteriacutesticas e possam ter um norte quando chegar o momento de
sua primeira produccedilatildeo
Atividade nordm 1
Prova Falsa
Seacutergio Porto (Stanislaw Ponte Preta)
Quem teve a ideia foi o padrinho da caccedilula ndash ele me conta Trouxe o cachorro de
presente e logo a famiacutelia inteira se apaixonou pelo bicho Ele ateacute que natildeo eacute contra isso de se ter
um animalzinho em casa desde que seja obediente e com um miacutenimo de educaccedilatildeo
mdash Mas o cachorro era um chato mdash desabafou
Desses cachorrinhos de raccedila cheio de nheacutem-nheacutem-nheacutem que comem comidinha
especial precisam de muitos cuidados enfim um chato de galocha E como se isto natildeo
bastasse implicava com o dono da casa
mdash Vivia de rabo abanando para todo mundo mas quando eu entrava em casa vinha
logo com aquele latido fininho e antipaacutetico de cachorro de francesa
Ainda por cima era puxa-saco Lembrava certos poliacuteticos da oposiccedilatildeo que
espinafram o ministro mas quando estatildeo com o ministro ficam mais por baixo que tapete de
poratildeo Quando cruzavam num corredor ou qualquer outra dependecircncia da casa o desgraccedilado
rosnava ameaccedilador mas quando a patroa estava perto abanava o rabinho fingindo-se seu
amigo
mdash Quando eu reclamava dizendo que o cachorro era um ciacutenico minha mulher
brigava comigo dizendo que nunca houve cachorro fingido e eu eacute que implicava com o
ldquopobrezinhordquo
Num raacutepido balanccedilo poderia assinalar o cachorro comeu oito meias suas roeu a
manga de um paletoacute de casimira inglesa rasgara diversos livros natildeo podia ver um peacute de sapato
que arrastava para locais incriacuteveis A vida laacute em sua casa estava se tornando insuportaacutevel
Estava vendo a hora em que se desquitava por causa daquele bicho cretino Tentou mandaacute-lo
embora umas vinte vezes e era uma choradeira das crianccedilas e uma espinafraccedilatildeo da mulher
mdash Vocecirc eacute um desalmado mdash disse ela uma vez
Venceu a guerra fria com o cachorro graccedilas agrave maacute educaccedilatildeo do adversaacuterio O
catildeozinho comeccedilou a fazer pipi onde natildeo devia Vaacuterias vezes exemplado prosseguiu no feio
viacutecio Fez diversas vezes no tapete da sala Fez duas na boneca da filha maior Quatro ou cinco
vezes fez nos brinquedos da caccedilula E tudo culminou com o pipi que fez em cima do vestido
novo de sua mulher
149
mdash Aiacute mandaram o cachorro embora mdash perguntei
mdash Mandaram Mas eu fiz questatildeo de daacute-lo de presente a um amigo que adora
cachorros Ele estaacute levando um vidatildeo em sua nova residecircncia
mdash Ueacutehellip mas vocecirc natildeo o detestava Como eacute que arranjou essa sopa pra ele
mdash Problema da consciecircncia mdash explicou mdash O pipi natildeo era dele
E suspirou cheio de remorso
(Disponiacutevel em httpcontobrasileirocombrprova-falsa-cronica-de-sergio-porto-stanislaw-ponte-preta Acesso
em 2612017)
Questotildees
1 Quantos personagens aparecem na histoacuteria Quais vocecirc diria que satildeo os principais
2 Quem teve a ideia foi o padrinho da caccedilula ndash ele me conta
A frase ele me conta eacute um recurso que mostra que a conversa de dois amigos eacute
repassada a uma terceira pessoa Quem eacute ela
3 Que recursos linguiacutesticos mostram a fala do marido e dono da casa onde estava o
cachorro
4 E quais identificam a fala do amigo
5 Onde o marido e seu amigo parecem conversar
6 A partir da fala do marido e das explicaccedilotildees do amigo quais eram as caracteriacutesticas do
cachorro
7 () e eu eacute que implicava com o ldquopobrezinhordquo
Por que pobrezinho estaacute entre aspas
8 Quando aconteceu a histoacuteria
9 Qual foi o problema da histoacuteria
10 Como foi resolvido
11 O destino dado ao cachorro surpreendeu ao amigo Por quecirc
12 Afinal quem era culpado na histoacuteria
13 Que tom predominantemente foi dado a esse texto Humor ironia criacutetica reflexatildeo
lirismo
14 Qual foi o tema principal do texto Vocecirc apontaria outros temas que aparecem na
leitura
15 Que comparaccedilotildees o autor faz com o cachorro Haacute alguma criacutetica Explique
16 Vocecirc conhece o significado das palavrasexpressotildees a seguir Veja
nheacutem-nheacutem-nheacutem chato de galocha puxa-saco
espinafrar espinafraccedilatildeo desquitava guerra fria
vidatildeo sopa
17 Que palavras satildeo usadas no texto para se referir agrave esposa
18 E suspirou cheio de remorso
Explique o valor dessa frase para o contexto da histoacuteria
Atividade nordm 2
Abandono de animais eacute crime e precisa ser denunciado
Por Canal do Pet | 26072016
150
Aleacutem do abandono de animais praacuteticas como bater negar aacutegua ou alimento tambeacutem
satildeo consideradas crime saiba como denunciar
Infelizmente o abandono de animais estaacute cada dia mais presente nos noticiaacuterios
Mesmo com tantas campanhas contra a praacutetica muita gente ainda comete esse crime -
principalmente quando eacute eacutepoca de feacuterias mesmo natildeo havendo um nuacutemero exato as estatiacutesticas
dos institutos de pesquisa afirmam que nos periacuteodos de feacuterias haacute um pico no abandono de
animais Existem muitos relatos de donos que deixam os cachorros em pet shops veterinaacuterios
e hoteacuteis para cachorro e simplesmente nunca mais voltam para buscaacute-los Esse problema pode
estar atrelado a decisatildeo precipitada de ter um animal de estimaccedilatildeo
A Lei 960598 (Lei de Crimes Ambientais) prevecirc os maus-tratos como crime O
decreto 2464534 (Decreto de Getuacutelio Vargas) determina quais atitudes podem ser consideradas
como maus-tratos Qualquer pessoa que for testemunha de um abandono de
animais domeacutesticos ou exoacuteticos pode ir agrave delegacia mais proacutexima A Promotora de Justiccedila
permite a denuacutencia anocircnima Mas para que a denuacutencia seja realizada vocecirc precisa ter certeza
do crime pois uma acusaccedilatildeo falsa eacute outro crime Aleacutem disso no momento da denuacutencia na
delegacia eacute preciso passar o maior nuacutemero de informaccedilotildees possiacuteveis em relaccedilatildeo ao infrator
como seu endereccedilo residencial ou comercial
Caso o animal esteja abandonado em um terreno baldio ou propriedade particular
por exemplo natildeo hesite em invadir o local para salvar o bichinho a sua accedilatildeo seraacute amparada
pela lei O decreto de lei nuacutemero 284840 artigo 24 considera a invasatildeo para salvamento de
um animal em perigo uma atitude de necessidade e portanto natildeo haveraacute nenhum tipo de
puniccedilatildeo
Aleacutem do abandono outras praacuteticas satildeo consideradas crimes pela lei Uma delas eacute o
atropelamento de um animal sem que haja a prestaccedilatildeo de assistecircncia por parte do condutor do
veiacuteculo tambeacutem eacute ilegal Se presenciar essa situaccedilatildeo anote a placa do carro hora e local Outra
eacute a ameaccedila de envenenamento Bater espancar prender por correntes recusar aacutegua e comida e
obrigar ao trabalho excessivo tambeacutem satildeo praacuteticas proibidas
Algumas pessoas preferem natildeo denunciar pelo fato do infrator ser algueacutem proacuteximo
um amigo ou familiar por exemplo Mas lembre-se de que eacute possiacutevel efetuar a denuacutencia de
maus tratos ou abando de animais de forma anocircnima Por isso ao presenciar qualquer situaccedilatildeo
que possa colocar um animal em risco tire foto grave um viacutedeo tenha provas concretas do
acorrido e denuncie Vocecirc seraacute apenas a testemunha o Estado faraacute o restante
Disponiacutevel em httpcanaldopetigcombrcuidados2016-07-26abandono-de-animaishtml Acesso em 22 de
agosto de 2017
Atividade nordm 3
O chato da vez Anaximandro Amorim
Ai meu Deus eu sou muito chato afirmou um amigo em uma conversa informal
Engraccedilado Eu natildeo o acho chato muito pelo contraacuterio Gosto da companhia dele Seraacute que ele
natildeo estaria sendo muito duro consigo mesmo Ou seraacute que eu sou tatildeo chato quanto ele
E vocecirc leitor Vocecirc eacute chato Todo mundo eacute chato ningueacutem eacute chato Do alto desses
meus quase quarenta anos de vida percebi que chatice natildeo eacute qualidade eacute estado de espiacuterito
Dependo de quem quando e onde E sem menos perceber vocecirc leitor pode ser o chato da
vez Cuidado
Foi o que me aconteceu esses dias Um colega insinuou que eu estava sendo chato
Foi num arroubo de fuacuteria o cidadatildeo estava tendo um ataque de nervos Dizem que eacute assim que
151
as verdades vecircm agrave tona Engraccedilado sempre achei que o havia tratado com distinccedilatildeo Talvez
essa fosse tal ldquochaticerdquo ser educado com as pessoas num mundo cada vez mais carente disso
Bom melhor ser chato do que grosso neacute
Particularmente faccedilo tudo para natildeo ser chato Tento ser discreto falar o menos
possiacutevel ouccedilo mais pergunto quase nada sobre a vida particular das pessoas Acho chato
quando fazem isso comigo Natildeo gosto de pegar no peacute A reciacuteproca eacute verdadeira Mas acho que
agraves vezes por medo da chatice acabo chateando algumas pessoas Haacute uma linha muito tecircnue
nesse negoacutecio todo Chato eacute natildeo saber a hora de ultrapassaacute-la E no fundo todo mundo a
ultrapassa
Esses dias aliaacutes fui agrave forra Havia um chato que me chateava haacute uns dois anos
Chato de rede social Daqueles que veem a gente uma duas vezes no maacuteximo e jaacute acham que
podem tomar certas liberdades Meu pavio eacute ateacute meio longo mas chegou uma hora que natildeo
deu Bloqueei o sujeito Estava chato demais Eacute uma pena que na vida real a gente natildeo tenha
esse botatildeo Ia ter tanta gente para bloquear
Em todo caso discordo desse meu amigo Acho que dois chatos natildeo se datildeo Ou ele
estava chato ou era eu Ou na posiccedilatildeo em que estaacutevamos natildeo dava para saber Se bem que
chato que eacute chato natildeo se acha chato Os outros eacute que acham Assim melhor terminar esta
crocircnica que estaacute uma grande chatice por aqui Antes que algueacutem ache definitivamente que o
chato da vez sou eu
Disponiacutevel em httpanaximandroamorimcombrAbreEmDIV]ajaxasplink=amateriaampid=127 Acesso em
24 mai 2017
Questotildees
1 Vamos falar de marcas de autoria
a) De quem eacute a voz que fala no texto Que idade tem essa voz Essa voz fala com algueacutem
Com quem Mostre alguma(s) passagem que indique isso
b) Onde a situaccedilatildeo se passa Haacute algum lugar especiacutefico
c) Esse texto estaacute no passado no presente ou no futuro
d) Do que trata a situaccedilatildeo Ela surgiu de alguma ocasiatildeo especiacutefica Se sim qual
2 O que o autor nos leva a entender que eacute ldquoser chatordquo
3 Que sensaccedilotildees esse texto despertou em vocecirc Explique
4 Vocecirc se considera um(a) chato(a) Por quecirc Em que ocasiotildees
5 Quando o assunto eacute redes sociais
a) Vocecirc tem alguma Qual
b) Com que frequecircncia vocecirc acessa
c) Vocecirc costuma escrever e postar Que tipo de material (textos fotos viacutedeos)
d) Vocecirc tem haacutebito de acompanhar postagens de algueacutem Que tipo de posts vocecirc
acompanha Costuma interagir por meio de comentaacuterios de expressatildeo de opiniatildeo
6 Vamos ver se vocecirc conhece o significado das palavrasexpressotildees a seguir
com distinccedilatildeo pegar no peacute
linha muito tecircnue fui agrave forra
7 Leia o trecho abaixo
Meu pavio eacute ateacute meio longo mas chegou uma hora que natildeo deu Bloqueei o sujeito
Estava chato demais Eacute uma pena que na vida real a gente natildeo tenha esse botatildeo Ia ter tanta
gente para bloquear
a) Qual eacute sua opiniatildeo sobre o pensamento que o autor expressa no trecho acima
b) Vocecirc tambeacutem teria gente para bloquear Por que razotildees
152
c) Agora vamos produzir Inspirado(a) nessa temaacutetica do trecho acima produza um texto
em forma de crocircnica que converse com seu leitor sobre o que eacute ser legal e ser chato a
partir de situaccedilotildees que vocecirc tenha vivenciado e ou observado Vamos determinar quem
seraacute esse leitor
bull Tem a sua idade
bull Acessa redes sociais
bull Lecirc e posta com frequecircncia
bull Interage com as postagens que estatildeo na rede seja de amigos pessoais ou apenas de
outros usuaacuterios
Antes de comeccedilar pense que sensaccedilotildees eu quer causar no meu leitor
Quero fazecirc-lo rir Se emocionar Refletir Que outras sensaccedilotildees seriam possiacuteveis
Faccedila entre 3 e 6 paraacutegrafos Vocecirc pode usar personagens que conversem e
expliquem o assunto (como em Prova Falsa) ou falar diretamente com seu leitor (como
em O chato da vez) Releia Reescreva o que natildeo estiver bem ao seu gosto Ao terminar
seu texto decirc-lhe um tiacutetulo coerente e passe a limpo na folha de produccedilatildeo Bom trabalho
Atividade nordm 4
Manias Ana Mello
Dos vaacuterios significados que meu amigo Aureacutelio apresenta o melhor diz que mania
eacute uma ideia fixa obsessatildeo Mau costume tambeacutem eacute bem significativo Ou extravagacircncia
esquisitice
Dizem por aiacute que vamos ficando velhos e as manias aumentam e se consolidam Eacute
verdade eu observo nos mais velhos do que eu Poucos conseguem controlar aquele impulso
profundo de dar sua opiniatildeo Essa eacute uma mania das mais chatas Repeti-la muitas vezes entatildeo
eacute maccedilante
Jaacute descobri tambeacutem que eacute quase inevitaacutevel ter manias na velhice muitas vecircm da
juventude mesmo condenamos e depois de um tempo fazemos igual sem cerimocircnia alguma
Uma amiga me enviou uma oraccedilatildeo sob o tiacutetulo ldquoOraccedilatildeo para ser uma velhinha
legalrdquo Vou fazer todos os dias e envio coacutepia a quem precisar Separei algumas frases as mais
interessantes
Livrai-me Senhor da tolice de achar que devo dizer algo em toda e qualquer
ocasiatildeo Deste desejo enorme que tenho de querer pocircr em ordem a vida dos outros Da tolice
de querer contar tudo com detalhes e minuacutecias e daacute-me asas para voar diretamente ao ponto que
interessa Jaacute descobri que pessoas que acertam sempre satildeo maccedilantes e desagradaacuteveis Livrai-
me de ser santa Eacute difiacutecil conviver com Santos Mas uma velha rabugenta Senhor eacute obra prima
do diabo
Acho que a oraccedilatildeo pode ser feita por pessoas jovens tambeacutem pois essas manias natildeo
satildeo exclusivas das velhinhas
Fiquei agora com uma duacutevida seraacute que escrever crocircnicas semanais e mandar para
todos os amigos eacute mania Se for azar o de vocecircs amigo eacute para isso mesmo
Enviado por Ana Mello em 02112007
Coacutedigo do texto T720831
Disponiacutevel em httpwwwrecantodasletrascombrcronicas720831
153
Acessado em 23102017
1 Quem eacute ldquomeu amigo Aureacuteliordquo
2 Que exemplos de manias a autora nos apresenta em seu texto
3 Que impressotildees esse texto causou em vocecirc
4 Segundo essa crocircnica quem tem manias Vocecirc concorda Por quecirc
5 Liste aqui manias que vocecirc sabe que tem Apoacutes terminar pense vocecirc as considera
boas ou maacutes manias Por quecirc
6 Vamos fazer um exerciacutecio de escrita Escreva uma crocircnica em que vocecirc fale de suas
manias Converse com o leitor conte a ele suas experiecircncias Faccedila comparaccedilotildees com
pessoas que vocecirc conhece Vocecirc pode inclusive comparar-se hoje a vocecirc daqui a uns
quarenta anos Como seraacute que suas manias vatildeo ser Vatildeo parecer com as das pessoas
mais velhas que vocecirc conhece e convive mas cujas manias vocecirc tanto critica Seratildeo
manias diferentes Seratildeo melhores ou piores
Obs coloque um tiacutetulo interessante e que chame a atenccedilatildeo de seu leitor
Pense que seu texto poderia ser publicado num blog ou mesmo numa paacutegina de rede
social ndash sendo assim que tipo de leitor vai ler o seu texto Ao terminar releia arrume
as ideias e passe a limpo para a folha de produccedilatildeo textual
Atividade nordm 5
Pacto apoacutes morte natildeo podia ver faca Nonato Reis
Essa histoacuteria de prometer retornar ao mundo dos vivos apoacutes o desenlace soa
esquisito e jaacute colocou muita gente em maus lenccediloacuteis A morte pelo misteacuterio que carrega incute
a curiosidade de tentar desvendaacute-la e saber o que de fato existe por traacutes dela Eacute uma questatildeo
que permaneceraacute insoluacutevel ateacute que a ciecircncia elucide-a se eacute que isso algum dia ocorreraacute
Enquanto natildeo atingimos esse estaacutegio temos que ficar com o relato daqueles que se dizem
viacutetimas ou privilegiados de experiecircncias poacutes-tuacutemulo
No Ibacazinho na Palmela no Muricituba e no Marimar era comum as pessoas
fazerem promessas agrave semelhanccedila do pacto selado entre Alvinho e Pau Ferro Na maioria das
vezes o defunto natildeo conseguia voltar deixando frustrados ou aliviados aqueles com quem fez
o acordo Foi o caso de Rui um primo meu que ldquose acertourdquo com Ponina aquela tia-avoacute
descrita em uma de minhas crocircnicas
Rui era um dos poucos que natildeo tinham medo da Tapera de Maria Fernandes Tanto
que decidiu erguer casa justo ali naquele retacircngulo amaldiccediloado e por muito tempo antes de
se casar foi morador solitaacuterio do lugar sem nunca jamais ter visto qualquer coisa fora do
universo dos vivos
Os dois combinaram que aquele que morresse primeiro viria dar sinal ao outro na
noite posterior ao sepultamento Ponina que devia ser uns 50 anos mais velha do que ele tinha
a maior probabilidade de ficar com a obrigaccedilatildeo de cumprir o trato e foi o que aconteceu Poreacutem
os dias e as noites passaram apoacutes o falecimento dela sem que a finada desse qualquer sinal da
sua presenccedila para Rui
Eu tambeacutem caiacute nessa besteira de fazer uma promessa com uma menina do primeiro
ano meacutedio e vivi uma situaccedilatildeo constrangedora Rosa era baixinha corpo bem feito cabelos no
estilo pigmaleatildeo excelente aluna fera em Matemaacutetica e Fiacutesica Nossa aproximaccedilatildeo se deu por
estrateacutegia de aprendizado
154
Eu tinha facilidade em Portuguecircs e Redaccedilatildeo uacutenicas mateacuterias que ela natildeo dominava
e precisava de reforccedilo em Fiacutesica e Matemaacutetica Selamos um pacto de ajuda muacutetua nessas
disciplinas que depois se estendeu para depois da vida ldquoSe eu morrer primeiro eu apareccedilo
para ti em plena Rua Grande apinhada de gente e se tu fores primeiro do que eu tu me surges
agrave noite no meu quartordquo
Eu natildeo entendi o porquecirc da escolha do local da minha apariccedilatildeo mas aceitei Os
anos se passaram eu entrara para a universidade perdi o contato com ela Um dia caminhando
pela Rua Grande veacutespera de Natal gente feito formiga dei de cara com aquela menina
tampinha cabelos no mesmo estilo de antes que diante de mim abriu um enorme sorriso e abriu
os braccedilos para me acolher Eu caiacute das nuvens mas antes que ela me alcanccedilasse danei a correr
feito louco fazendo zigue-zague entre as pessoas ateacute esbarrar num orelhatildeo e me estatelar no
chatildeo o rosto sangrando Assustada Rosa ajoelhou-se diante de mim e quis saber o motivo
daquela reaccedilatildeo ldquoCara o que eacute isso Tu viu fantasmardquo Eu baixei a cabeccedila o coraccedilatildeo prestes a
explodir e natildeo consegui dizer nada
Situaccedilatildeo pior viveu o professor Auriacutelio Vieira de Andrade que fizera um pacto
desses com um primo ainda menino Ele cresceu veio estudar em Satildeo Luiacutes e levou anos para
retornar ao interior Um belo dia em feacuterias na casa paterna Auriacutelio conversava com a matildee em
volta do fogatildeo de lenha quando do nada surgiu o menino da promessa e o pegou pelo braccedilo
dizendo ldquoVamos eu vim te buscarrdquo
Ele natildeo se lembrava mais da estoacuteria nem do menino Pensou que se tratava de uma
brincadeira e reagiu com naturalidade ldquoCalma para onde vocecirc quer me levarrdquo O menino
respondeu ldquopara o aleacutemrdquo Auriacutelio sorriu ldquomas eu ainda natildeo quero ir para o aleacutemrdquo O menino
natildeo se deu por vencido ldquoNatildeo importa a tua vontade vocecirc fez um pacto comigo e eu vim te
buscarrdquo
Foi entatildeo que o caso ressurgiu liacutempido na memoacuteria de Auriacutelio e ele viu que a coisa
era seacuteria A matildee percebendo a gravidade da situaccedilatildeo poreacutem sem avistar o menino tratou de
ajudar o filho segurando-o pelo braccedilo mas notou que havia uma energia ali muito maior que a
resistecircncia de ambos e apelou aos ceacuteus pedindo socorro divino
Auriacutelio jaacute desaparecia na porta da rua quase que levado aos trambolhotildees
Desesperada a matildee comeccedilou a rezar o Pai Nosso e o Credo e soacute assim conseguiu ter o filho de
volta Auriacutelio poreacutem viveu dias amargos ldquoPassei quase um mecircs deprimido Soacute pensava em
suiciacutedio Natildeo podia ver faca perto de mimrdquo
Crocircnica escrita em janeiro de 2017
Questotildees
Parte I ndash Vocabulaacuterio
a) Vocecirc conhece estas palavras
Desenlace Incute
Insoluacutevel Tapera
Pigmaleatildeo Apinhada
b) Vocecirc observa marcas de oralidade no texto Vamos destacar algumas
c) Que outras palavras ou expressotildees satildeo muito correntes no vocabulaacuterio do Maranhatildeo
Parte II ndash Compreensatildeo
1 Do que trata a histoacuteria
2 Qual eacute o foco narrativo
155
3 Que personagens aparecem na histoacuteria
4 O que eacute um pacto poacutes-morte Vocecirc sabe de algueacutem que tenha feito algum
5 Vocecirc acredita nessas histoacuterias Fale um pouco a respeito
6 No trecho ldquoSe eu morrer primeiro eu apareccedilo para ti em plena Rua Grande apinhada
de gente e se tu fores primeiro do que eu tu me surges agrave noite no meu quartordquo
Qual seria a vantagem para cada um nos locais das apariccedilotildees E as desvantagens
7 Como seria feito o seu pacto caso um dia vocecirc resolvesse fazecirc-lo
8 No que esse texto que vocecirc leu se assemelha com uma histoacuteria de terror E no que ela
se diferencia
9 Se esse texto fosse uma notiacutecia de jornal seria escrito da mesma forma Qual seria a
diferenccedila da linguagem
10 No uacuteltimo paraacutegrafo haacute a frase
ldquoFoi entatildeo que o caso ressurgiu liacutempido na memoacuteria de Auriacutelio e ele viu que a coisa
era seacuteriardquo
Se vocecirc fosse o Auriacutelio como resolveria a situaccedilatildeo
Atividade nordm 6
A cara da rua Marcelo Xavier
A rua sempre traduz a imagem de determinada eacutepoca Por isso eacute tatildeo interessante
Em cenas urbanas do seacuteculo XVIII XIX vemos carruagens mulheres de vestidos longos e
homens de terno e chapeacuteu No comeccedilo do seacuteculo XX automoacuteveis pretos mulheres de vestidos
mais curtos e homens ainda de terno e chapeacuteu Nos anos 1960 e 1970 automoacuteveis coloridos
mulheres de minissaia e homens sem terno e sem chapeacuteu
E agora na segunda deacutecada do seacuteculo XXI qual eacute a cara da rua Talvez vocecirc natildeo
saiba responder Eacute que ela passa todos os dias diante do seu nariz e vocecirc natildeo a vecirc Ou vocecirc
apenas vecirc algumas partes ldquomais atraentesrdquo do corpo dela A cara da rua continua invisiacutevel Vale o esforccedilo encare-a Como a um espelho Eacute divertido eacute necessaacuterio Esqueccedila o colesterol de
carros que entopem as vias mire os humanos
Repare bem as mulheres estatildeo de vestidos de todos os comprimentos de calccedilas
coladas se equilibrando em agulhas altiacutessimas carregadas de adereccedilos Normal
Os homens ah Os homens deram um salto esteacutetico rumo agrave libertaccedilatildeo Lembra
aqueles cavalheiros sisudos das ruas antigas com ternos de cores soacutebrias e chapeacuteus iguais
Esquece
Os novos machos estatildeo de brincos colares vistosos boneacutes e tecircnis coloridos
camisetas de todo tipo ebermudas
Natildeo as antigas que natildeo passavam de calccedilas curtas discretas As de hoje satildeo
espalhafatosas se expressam Multicoloridas exibem uma diversidade visual que beira o
infinito Geomeacutetricas abstratas figurativas iacutedolos super-heroacuteis paisagens flores ondas do
156
mar nuvens paacutessaros animais palavras de ordem apologias Combinam texturas
inimaginaacuteveis demarcam aacutereas visuais em recortes absurdamente livres ndash numa perna listras
diagonais na outra xadrez Um tsunami criativo que sai arrastando os antigos princiacutepios de
harmonia do universo da moda E o que eacute intrigante natildeo se repetem
Esse surto visual atinge seu aacutepice quando as bermudas-alucinoacutegenas se juntam a
camisetas estampadas tecircnis astronaacuteuticos boneacutes cheios de atitude e tatuagens ndash nos braccedilos nas
panturrilhas no pescoccedilo laacute estatildeo dragotildees coroas de espinho mulheres folhas de maconha
juras de amor
Vocecirc pode natildeo gostar do que vecirc natildeo se reconhecer na imagem que estaacute no espelho
mas essa eacute a cara da rua do seu tempo De certa forma a sua cara
XAVIER Marcelo A cara da rua e outras crocircnicas Satildeo Paulo Saraiva 2013
Vamos refletir sobre o texto
1 A partir da leitura vocecirc consegue deduzir de que situaccedilatildeo observada no cotidiano o autor
partiu para escrever essa crocircnica
2 O autor fez a construccedilatildeo do seu texto de forma simples poreacutem criativa por meio de
comparaccedilotildees para mostrar a cara da rua ao longo do tempo Vamos identificaacute-las
No meio urbano Seacutec XVIII
XIX
Comeccedilo do
seacutec XX
Anos 19601970 do
seacutec XX
2ordf deacutecada do
seacutec XXI
Vestuaacuterio
feminino
Vestuaacuterio
masculino
3 Dessas comparaccedilotildees do visual que foram feitas ao longo do texto vocecirc encontra alguma
na rua onde mora Qual
4 E o que eacute diferente na rua onde vocecirc mora que natildeo foi citado no texto
5 Preste atenccedilatildeo aos trechos a seguir
A rua sempre traduz a imagem de determinada eacutepoca Por isso eacute tatildeo interessante
[]
Vocecirc pode natildeo gostar do que vecirc natildeo se reconhecer na imagem que estaacute no espelho
mas essa eacute a cara da rua do seu tempo De certa forma a sua cara
6 A partir da leitura do texto vocecirc consegue dizer se o autor gosta ou natildeo gosta da cara da
rua que ele descreve Explique sua resposta
7 Que palavras ou expressotildees no texto mostram que o autor conversa com seu leitor ao longo do texto Sublinhe-as
8 Para que puacuteblico vocecirc acha que essa crocircnica estaacute direcionada Explique sua resposta
9 Vocecirc faraacute a seguir a seguinte atividade leia essa crocircnica de Marcelo Xavier para uma
pessoa em casa Apoacutes a leitura anote as impressotildees e opiniotildees dela sobre a atual cara
da rua sejam positivas ou negativas Ao final pergunte a essa pessoa para quem vocecirc
leu se o texto provocou uma impressatildeo boa ou ruim se ela o achou bem ou mal escrito
se a fez refletir sobre a vida e a mudanccedila dos tempos e qual a conclusatildeo a que ela chegou
depois dessa reflexatildeo
Ao final dessa atividade passe a limpo seu registro e traga para a aula
seguinte para discussatildeo coletiva
157
Atividade nordm 7
A Carta de punho
Demitri Tulio
DAS ANTIGAS 23102016
Algumas pessoas ainda escrevem cartas E bom que ainda o fazem Missivas
escritas agrave matildeo e a tinta preta da caneta dando vida agrave vontade de chegar perto do outro
Ou de ser escutado como se pensasse alto querendo ser ouvido das lonjuras que a
vida vai criando entre ex-amores amigos que deixaram de se ter de filho e matildee separados por
asas
Particularmente antes de agora laacute longe quando fui mais menino queria ter escrito
muitas cartas Devo ter rabiscado umas duas e nunca as mandei agrave destinataacuteria
Primeiro porque tinha vergonha de natildeo saber ortografia Achava difiacutecil (ainda
acho) a gramaacutetica brasileira e me amuava em vergonha de grafar ou concordar alguma coisa
ldquoerradardquo para quem eu queria dizer de mim
Entatildeo ficava horas e dias tentando
rascunhar correto e catando palavras peludas
trechos do dicionaacuterio frase de escritores que eu
queria ser Um paraacutegrafo dois e rasgava a folha
do caderno Serei levado a pagode
E por mais que eu lesse Graciliano
para Heloiacutesa os labirintos e as encruzilhadas da Clarice e os retratos de dona Leopoldina sobre
o Brasil e seu desenxabido Pedro I natildeo conseguia nem copiaacute-los
Loacutegico carta eacute um ser entranhado do remetente Eacute quase um pulmatildeo um rim um
coraccedilatildeo Eacute parte do corpo que se doa no instante em que a esferograacutefica vai sendo guiada pelo
papel
E natildeo era meu o afeto de Graciliano Natildeo eram minhas as inquietaccedilotildees de Clarice
E era de dona Leopoldina aquele incocircmodo de calor a saudade das oacuteperas da Aacuteustria as caccediladas
de animais do Brasil ldquoprimitivordquo
Pois bem queria ter escrito recebido e respondido mais cartas Hoje mando emails
Eacute bom mas carta tinha uma espera que natildeo sei dizer
Semana passada depois de mais de 30 anos sem algueacutem me endereccedilar uma carta
de papel e caneta eis que recebo Natildeo foi de pretendente Sempre esperei por uma dessas mas
talvez a falta de boniteza tenha me privado de
Foi de um leitor da Coluna Um moccedilo de mais de 92 anos que teve a gentileza de
tirar um tempo e me enviar um envelope pelos Correios Carimbado dois selos e o trato por
ldquoIlmo Srrdquo
ldquoCaro (posso) Sr Demitri Sauacutede Sou assinante drsquo O Povo haacute deacutecadas e portanto
seu leitor antigo Natildeo soacute leitor mas tambeacutem admirador pela defesa da natureza (paacutessaros do
Cocoacute) e pelo seu estilo diferente (neologismos bem lsquocolocadosrsquo) e assuntos (temas) originais
para suas crocircnicas
Criei coragem para lhe escrever apoacutes ler sua crocircnica (artigo) lsquoEntatildeo Venha
comigorsquo excelente para quem como eu jaacute passou dos 92 e concorda com suas colocaccedilotildees
sobre a velhice
Aceite meus cumprimentos e votos de muitos anos de lsquoescrevinhaccedilatildeorsquo
Cordialmente (ex-cordis) Santos Rochardquo
158
E ainda escreve um paraacutegrafo derradeiro apoacutes as despedida e a assinatura ldquoPS Natildeo
eacute que eu queira lsquosubir aleacutem da chinelarsquo mas me parece que no penuacuteltimo paraacutegrafo de sua
crocircnica deveria ter escrito lsquose casariarsquo em vez de lsquocasaria-sersquo Discurperdquo
O envelope branco com um carimbo de uma agecircncia dos Correios do bairro
Meireles trazia ainda um texto datilografado (Ser Jovem do general Douglas Mac-Arthur) e
um recorte de jornal com um sermatildeo de Santo Agostinho
Pois fico agradecido pela decisatildeo de escrever a carta do tempo dedicado Pelos
minutos pensando em o que escrever Por cada palavra casada com cada frase Pela respiraccedilatildeo
para pensar em quem nem se conhece
Pela caneta preta identificando o remetente
Pela ida aos Correios ou por se dar ao trabalho de pedir algueacutem que fosse
Pela gentileza de ler a Das Antigas
Como o senhor mandou dizer ldquoNatildeo eacute por ter vivido um certo nuacutemero de anos que
envelhecemos envelhecemos porque abandonamos o nosso idealrdquo
Sem mais fico por aqui
Acesso em 31 ago 2017
httpwww20opovocombrappcolunasdasantigas20161022noticiasdasantigas3665372a-carta-de-
punhoshtml
Vocabulaacuterio
Desenxabido Adjetivo 1desprovido de gosto de sabor insiacutepido insosso2a que
falta interesse particular ou graccedila marcado pela repeticcedilatildeo aborrecido monoacutetono
Ex abundantia cordis Da abundacircncia do coraccedilatildeo Com sinceridade
Curiosidade
Pedro nasceu na manhatilde de 12 de outubro de 1798 no Palaacutecio Real de Queluz
Portugal Ele foi nomeado em homenagem a Satildeo Pedro de Alcacircntara e seu nome completo era
Pedro de Alcacircntara Francisco Antoacutenio Joatildeo Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael
Joaquim Joseacute Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim Desde seu nascimento recebeu o prefixo
honoriacutefico de Dom
Atividade
Vamos observar a crocircnica Marque o que acha adequado
Sim Natildeo
Partiu de uma situaccedilatildeo observadavivida
Conversa com o leitor
Possui o foco narrativo bem determinado (narrador personagem ou
narrador observador ou narrador onisciente)
Leva o leitor a refletir
Causa impressotildees no leitor como riso choro reflexatildeo emoccedilatildeo
Possui um final interessante
Mostra discretamente ao leitor seu ponto de vista a respeito da situaccedilatildeo
Possui alguma descriccedilatildeo de lugarobjetopersonagem
Possui um tiacutetulo
Emprega adequadamente os sinais de pontuaccedilatildeo
Evita repeticcedilatildeo desnecessaacuteria de palavras
Possui paraacutegrafos bem organizados
159
Atividade nordm 8
Amor de macumba Fabriacutecio Carpinejar
Quando algum amigo diz que recebeu macumba da ex fico com ciuacuteme Com dor
de cotovelo
Isso que eacute amor grandioso Amor de verdade
Sempre olho na minha esquina para ver se natildeo tem nenhuma encomenda para mim
Mas nunca chega esse sedex do amor
Macumba eacute sedex 10 do amor
Eacute muita paixatildeo odiar algueacutem com tanto zelo Eacute muito capricho gastar seu tempo e
fazer um trabalhinho para prender a pessoa ao seu coraccedilatildeo
Eacute muita disposiccedilatildeo
Eacute muita energia
Eacute muito querer
Eacute muito desejo
Eacute a superaccedilatildeo de todos os incocircmodos de todos os vexames de todos os medos
Eacute muito luxo ter uma amada pagando para os santos mexerem com vocecirc pagando
a parcela antecipada da eternidade
Isso que eacute amor aleacutem da vida
Isso que eacute vontade de permanecer junto
Eu aceitaria qualquer prova de doaccedilatildeo amarraccedilatildeo vodu letras de macarratildeo
pipoca
Nem precisa roubar minha cueca daria a melhor da minha gaveta
Ai que inveja
No lugar da galinha preta poderia oferecer o chester que sempre recebo no final do
ano
Estaacute aqui parado no congelador Sem uso
E as velas na minha esquina ainda ajudariam a iluminaccedilatildeo puacuteblica
Amor de macumba eacute amor para sempre
Disponiacutevel em httpcarpinejarblogspotcombr201402amor-de-macumbahtml
Acesso em 2 de agosto de 2017
Vamos refletir sobre o texto
1 A partir da leitura vocecirc consegue deduzir de que situaccedilatildeo observada no cotidiano o autor
partiu para escrever essa crocircnica
2 Qual parece ser a opiniatildeo do autor a respeito do tema Utilize trechos do texto que
justifique a sua resposta
3 Que reflexotildees se pode perceber na leitura desse texto
4 Que impressotildees essa crocircnica causa no leitor (riso choro reflexatildeo emoccedilatildeo alguma
outra)
160
Atividade nordm 9
Sr Google Pacheco
SR GOOGLE PACHECO
27 outubro 2012 Juliano Martinz
Quando chegavam ao escritoacuterio pela manhatilde o senhor Google Pacheco sempre
estava laacute Sentado a sua mesa ou correndo de um lado para outro mantinha-se no seu
memoraacutevel ritmo agitado produccedilatildeo beirando o frenesi Os funcionaacuterios o admiravam Era
sempre o primeiro a chegar e o uacuteltimo a sair (embora ningueacutem tenha testemunhado qualquer
um destes acontecimentos)
ndash Acho que ele dorme no escritoacuterio ndash alguns arriscavam
Outros jaacute apelavam pro exagero
ndash Dizem que ele nunca dorme
Sr Google Pacheco O chefe do departamento de marketing Baixo e gordinho
Feiccedilatildeo inocente quase boba Chamava a atenccedilatildeo pelas roupas sempre de cores viacutevidas
cintilantes Geralmente boneacute azul camiseta vermelha calccedilas amarelas e tecircnis verde Agraves vezes
invertia as cores mas nunca as abandonava Roupas estranhas para um homem de nome
estranho A personagem perfeita para textos humoriacutesticos
Quando era novo na empresa ainda apenas um singelo desconhecido causava
confusatildeo com seu nome Liam o crachaacute e diziam
ndash Bom dia sr Goacutegle
Ele corrigia sempre sorridente e simpaacutetico
ndash Natildeo natildeo Pronuncia-se Guacutegou
ndash Guacutegou
ndash Eacute a centeacutesima potecircncia do nuacutemero 10
ndash Uau
Ateacute o nome carregava seu estigma de gecircnio absoluto O Sr Google era uma
enciclopeacutedia ambulante Parecia ser senhor de todo o conhecimento Portador de soluccedilatildeo para
os mais variados problemas na ponta da liacutengua Para cada desafio proposto no dia a dia da
empresa vertia um turbilhatildeo de soluccedilotildees precisas e automaacuteticas
Com sua eficiecircncia derramada a cada suspiro de auxiliar no departamento de
marketing chegou agrave chefia em poucos meses Com o passar dos dias e semanas a experiecircncia
acumulando-se nas veias parecia saber o que as pessoas queriam antes de terminarem de falar
ndash Seu Google o senhor sabe que horashellip
ndash hellip seraacute a reuniatildeo do conselho
ndash Isso Isso mesmo
ndash 16 horas
Era um gecircnio Disposiccedilatildeo tamanha natildeo demorou muito e comeccedilaram a abordar
assuntos mais pessoais
ndash Sr Google preciso de sua ajuda Como faccedilo para conhellip
ndash Conquistar sua melhor amiga
ndash Uau Como o senhor sabe
E derramava soluccedilotildees Como se natildeo bastasse a prontidatildeo comeccedilou a oferecer
vaacuterias opccedilotildees
ndash Sr Google chocolate daacutehellip
ndash Espinha Celulite Coacutelica no bebecirc
ndash Eacuteeacuteeacuteeacutehellip
161
ndash Sono Dor de cabeccedila Azia
ndash Euhellip
ndash Enxaqueca Energia Gases
ndash Isso ndash disse ruborizada ndash Gases
ndash Ahaacute Vocecirc estaacute com sorte menina
Ateacute o poderoso e inacessiacutevel dono da empresa cuja agenda diaacuteria se resumia a
constantes viagens de negoacutecio pela Europa comeccedilou a passar mais tempo no Brasil E quase
todos os dias ia na empresa Mas nem entrava em sua sala Jaacute ia direto para a sala do senhor
Google Os curiosos e fofoqueiros discutiam o teor das conversas atraacutes daquelas portas Uns
diziam que falavam apenas sobre bolsa de valores Acontecimentos mundiais tendecircncias
econocircmicas essas coisas Outros achavam que a conversa soacute passeava pela arena dos assuntos
pessoais
Independentemente do conteuacutedo destes encontros a portas fechadas a empresa soacute
crescia E os funcionaacuterios eram unacircnimes em admitir depois da chegada do Sr Google a vida
de todos eles se tornou mais completa e intensa
Certo dia o Sr Google natildeo apareceu para trabalhar A princiacutepio pairou uma tensatildeo
camuflada no ar Agrave medida que as horas foram passando e o Sr Google natildeo aparecia fez-se
um clima de desespero Comeccedilaram a ligar para o seu celular mas dava como nuacutemero
inexistente Algueacutem tem o telefone da casa dele O resultado foi o mesmo nuacutemero inexistente
Onde ele morava mesmo Ningueacutem sabia O desespero instalou-se no preacutedio Ningueacutem
conseguia fazer nada Ficavam andando de um lado para outro perdidos Nem a dona Gertrudes
conseguiu fazer o cafeacute
Durante dias ningueacutem trabalhou Duacutevidas sobre o andamento da empresa ndash diziam
que accedilotildees da empresa estavam tendo quedas vertiginosas Os funcionaacuterios sentiam-se curvados
ante o peso dos problemas pessoais que natildeo conseguiam resolver sem a ajuda e os conselhos
do Sr Google
Duas semanas depois e metade deles natildeo mais aparecia na empresa Dois ou trecircs
mergulharam de cabeccedila no alcoolismo Outro se jogou da ponte E o poderoso dono da empresa
quem diria foi flagrado diversas vezes em prantos cambaleando pelos corredores
fantasmagoacutericos e mal iluminados da empresa que veio agrave falecircncia dias depois
Quanto ao sr Google nunca mais foi visto Dizem por aiacute que montou um site e
ficou milionaacuterio Mas comprovar mesmo ningueacutem nunca comprovou
Acesso em 2 de agosto de 2017
Disponiacutevel em httpcorrosivacombrcronicas-engracadascronica-humoristica-google-
pacheco
Atividade
1 Vocecirc conhece o vocabulaacuterio a seguir
Memoraacutevel
Frenesi
Singelo
Vertia
Turbilhatildeo
Vertiginosas
2 O texto trata de maneira bem humorada de uma situaccedilatildeo cotidiana Qual
3 O texto traz em si alguma reflexatildeo Qual
162
ANEXO A ndash DISTRIBUICcedilAtildeO POR NIacuteVEL DE PROFICIEcircNCIA
Liacutengua Portuguesa do 9ordm Ano do Ensino Fundamental
Distribuiccedilatildeo por Niacutevel de Proficiecircncia - Liacutengua Portuguesa do 9ordm Ano do Ensino
Fundamental
Niacutevel Descriccedilatildeo do Niacutevel - O estudante provavelmente eacute capaz de
Niacutevel 0
Desempenho menor
que 200
Niacutevel 1
Desempenho maior
ou igual a 200 e
menor que 225
Os estudantes provavelmente satildeo capazes de Reconhecer
expressotildees caracteriacutesticas da linguagem (cientiacutefica jornaliacutestica etc)
e a relaccedilatildeo entre expressatildeo e seu referente em reportagens e artigos
de opiniatildeo Inferir o efeito de sentido de expressatildeo e opiniatildeo em
crocircnicas e reportagens
Niacutevel 2
Desempenho maior
ou igual a 225 e
menor que 250
Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes
provavelmente satildeo capazes de Localizar informaccedilotildees expliacutecitas em
fragmentos de romances e crocircnicas Identificar tema e assunto em
poemas e charges relacionando elementos verbais e natildeo verbais
Reconhecer o sentido estabelecido pelo uso de expressotildees de
pontuaccedilatildeo de conjunccedilotildees em poemas charges e fragmentos de
romances Reconhecer relaccedilotildees de causa e consequecircncia e
caracteriacutesticas de personagens em lendas e faacutebulas Reconhecer
recurso argumentativo em artigos de opiniatildeo Inferir efeito de
sentido de repeticcedilatildeo de expressotildees em crocircnicas
Niacutevel 3
Desempenho maior
ou igual a 250 e
menor que 275
Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes
provavelmente satildeo capazes de Localizar informaccedilotildees expliacutecitas em
crocircnicas e faacutebulas Identificar os elementos da narrativa em letras de
muacutesica e faacutebulas Reconhecer a finalidade de abaixo-assinado e
verbetes Reconhecer relaccedilatildeo entre pronomes e seus referentes e
relaccedilotildees de causa e consequecircncia em fragmentos de romances
diaacuterios crocircnicas reportagens e maacuteximas (proveacuterbios) Interpretar o
sentido de conjunccedilotildees de adveacuterbios e as relaccedilotildees entre elementos
verbais e natildeo verbais em tirinhas fragmentos de romances
reportagens e crocircnicas Comparar textos de gecircneros diferentes que
abordem o mesmo tema Inferir tema e ideia principal em notiacutecias
crocircnicas e poemas Inferir o sentido de palavra ou expressatildeo em
histoacuteria em quadrinhos poemas e fragmentos de romances
Niacutevel 4
Desempenho maior
Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes
provavelmente satildeo capazes de Localizar informaccedilotildees expliacutecitas em
artigos de opiniatildeo e crocircnicas Identificar finalidade e elementos da
163
ou igual a 275 e
menor que 300
narrativa em faacutebulas e contos Reconhecer opiniotildees distintas sobre o
mesmo assunto em reportagens contos e enquetes Reconhecer
relaccedilotildees de causa e consequecircncia e relaccedilotildees entre pronomes e seus
referentes em fragmentos de romances faacutebulas crocircnicas artigos de
opiniatildeo e reportagens Reconhecer o sentido de expressatildeo e de
variantes linguiacutesticas em letras de muacutesica tirinhas poemas e
fragmentos de romances Inferir tema tese e ideia principal em
contos letras de muacutesica editoriais reportagens crocircnicas e artigos
Inferir o efeito de sentido de linguagem verbal e natildeo verbal em
charges e histoacuteria em quadrinhos Inferir informaccedilotildees em
fragmentos de romance Inferir o efeito de sentido da pontuaccedilatildeo e da
polissemia como recurso para estabelecer humor ou ironia em
tirinhas anedotas e contos
Niacutevel 5
Desempenho maior
ou igual a 300 e
menor que 325
Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes
provavelmente satildeo capazes de Localizar a informaccedilatildeo principal em
reportagens Identificar ideia principal e finalidade em notiacutecias
reportagens e resenhas Reconhecer caracteriacutesticas da linguagem
(cientiacutefica jornaliacutestica etc) em reportagens Reconhecer elementos
da narrativa em crocircnicas Reconhecer argumentos e opiniotildees em
notiacutecias artigos de opiniatildeo e fragmentos de romances Diferenciar
abordagem do mesmo tema em textos de gecircneros distintos Inferir
informaccedilatildeo em contos crocircnicas notiacutecias e charges Inferir sentido
de palavras da repeticcedilatildeo de palavras de expressotildees de linguagem
verbal e natildeo verbal e de pontuaccedilatildeo em charges tirinhas contos
crocircnicas e fragmentos de romances
Niacutevel 6
Desempenho maior
ou igual a 325 e
menor que 350
Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes
provavelmente satildeo capazes de Identificar ideia principal e
elementos da narrativa em reportagens e crocircnicas Identificar
argumento em reportagens e crocircnicas Reconhecer o efeito de
sentido da repeticcedilatildeo de expressotildees e palavras do uso de pontuaccedilatildeo
de variantes linguiacutesticas e de figuras de linguagem em poemas
contos e fragmentos de romances Reconhecer a relaccedilatildeo de causa e
consequecircncia em contos Reconhecer diferentes opiniotildees entre
cartas de leitor que abordam o mesmo tema Reconhecer a relaccedilatildeo
de sentido estabelecida por conjunccedilotildees em crocircnicas contos e
cordeacuteis Reconhecer o tema comum entre textos de gecircneros
distintos Reconhecer o efeito de sentido decorrente do uso de
figuras de linguagem e de recursos graacuteficos em poemas e
fragmentos de romances Diferenciar fato de opiniatildeo em artigos e
reportagens Inferir o efeito de sentido de linguagem verbal e natildeo
verbal em tirinhas
Niacutevel 7
Desempenho maior
Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes
provavelmente satildeo capazes de Localizar informaccedilotildees expliacutecitas
ideia principal e expressatildeo que causa humor em contos crocircnicas e
164
ou igual a 350 e
menor que 375
artigos de opiniatildeo Identificar variantes linguiacutesticas em letras de
muacutesica Reconhecer a finalidade e a relaccedilatildeo de sentido estabelecida
por conjunccedilotildees em lendas e crocircnicas
Niacutevel 8
Desempenho maior
ou igual a 375
Aleacutem das habilidades anteriormente citadas os estudantes
provavelmente satildeo capazes de Localizar ideia principal em
manuais reportagens artigos e teses Identificar os elementos da
narrativa em contos e crocircnicas Diferenciar fatos de opiniotildees e
opiniotildees diferentes em artigos e notiacutecias Inferir o sentido de
palavras em poemas
Fonte INEP (2018)
165
ANEXO B ndash DISTRIBUICcedilAtildeO DE TEXTOS FALADOS E ESCRITOS NO CONTIacuteNUO
GENEacuteRICO
Distribuiccedilatildeo dos textos de uso falados e escritos no contiacutenuo geneacuterico
Fonte MARCUSCHI (2015 p 195-196)
166
ANEXO C ndash PRODUCcedilOtildeES DOS ALUNOS
Produccedilatildeo Inicial de Ana
Produccedilatildeo Final de Ana
167
Produccedilatildeo Inicial de Rodrigo
168
Produccedilatildeo final de Rodrigo
169
Produccedilatildeo Inicial de Eduardo
170
Produccedilatildeo final de Eduardo
171
Produccedilatildeo inicial de Estela
172
Produccedilatildeo final de Estela
173
174
175
Produccedilatildeo Inicial de Celia
176
Produccedilatildeo final de Celia
177
Produccedilatildeo Inicial de Arlindo
178
Produccedilatildeo final de Arlindo
179
Produccedilatildeo Inicial de Juacutelia
180
Produccedilatildeo final de Juacutelia
181
Produccedilatildeo Inicial de Vicente
182
Produccedilatildeo final de Vicente
183
Produccedilatildeo Inicial de Graccedila
184
Produccedilatildeo final de Graccedila
185
Produccedilatildeo Inicial de Lilian
186
Produccedilatildeo final de Lilian
187
Produccedilatildeo Inicial de Heloiacutesa
188
Produccedilatildeo final de Heloisa
189
Produccedilatildeo Inicial de Eliane
190
Produccedilatildeo final de Eliane
191
Produccedilatildeo Inicial de Joana
Fonte dados da pesquisa
192
Figura 31 ndash Produccedilatildeo final de Joana