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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE BIOQUÍMICA E BIOLOGIA MOLECULAR PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOQUÍMICA E BIOLOGIA MOLECULAR IGOR PARRA PESSOA CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA, ATIVIDADE ANTIOXIDANTE E SEGURANÇA DE USO DE SEMENTES DE LICANIA RIGIDA BENTH FORTALEZA-CE 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE BIOQUÍMICA E BIOLOGIA MOLECULAR

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOQUÍMICA E BIOLOGIA

MOLECULAR

IGOR PARRA PESSOA

CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA, ATIVIDADE ANTIOXIDANTE E SEGURANÇA

DE USO DE SEMENTES DE LICANIA RIGIDA BENTH

FORTALEZA-CE

2015

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IGOR PARRA PESSOA

CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA, ATIVIDADE ANTIOXIDANTE E SEGURANÇA DE

USO DE SEMENTES DE LICANIA RIGIDA BENTH

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Bioquímica da Universidade

Federal do Ceará como requisito parcial para

obtenção do título de Mestre em Bioquímica

(Área de concentração: Bioquímica Vegetal).

Orientador:

Prof.ª Dra. Ana de Fátima Fontenele Urano

Carvalho

Co-orientador:

Dr. Davi Felipe Farias

FORTALEZA

2015

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IGOR PARRA PESSOA

CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA, ATIVIDADE ANTIOXIDANTE E SEGURANÇA DE

USO DE SEMENTES DE LICANIA RIGIDA BENTH

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Bioquímica da Universidade

Federal do Ceará como requisito parcial para

obtenção do título de Mestre em Bioquímica

(Área de concentração: Bioquímica vegetal).

Aprovada em: 24 / 04 / 2015

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________

Prof.ª Dra. Ana de Fátima Fontenele Urano Carvalho (Orientadora)

Universidade Federal do Ceará

_________________________________________________

Dr. Davi Felipe Farias (Co-orientador)

Universidade Federal do Ceará

_________________________________________________

Dr. Ad A. C. M. Peijnenburg

Rikilt Institute of Food Safety, Wageningen University and Research Centre

_________________________________________________

Edy Sousa de Brito

Embrapa Agroindústria Tropical

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Dedico este trabalho aos meus pais: Evandro

Soares Pessoa e Nirley Parra Pessoa que

acreditaram em mim e sempre investiram

incondicionalmente muito carinho e amor na

minha educação, ética, moral e formação

acadêmica. Agradeço especialmente a eles pela

paciência e confiança.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por saber o que é melhor para mim mais que eu mesmo e por saber a ordem e

o tempo certos de todas as coisas.

A minha linda esposa, Rebeca de Souza Franco Pessoa, por todo o tempo concedido,

pela compreensão e por ser a mulher que me trouxe à luz quando estava nas trevas e que me

traz a Paz quando perco a esperança.

Ao meu filho, Pedro de Souza Pessoa, por fazer com que minha vida faça ainda mais

sentido de ser e por fazer tudo valer a pena.

A minha família, por sempre valorizar muito cada novo obstáculo que consigo transpor,

sempre dando apoio com muito orgulho. Desejo que todos que se sentem família, de sangue,

agregados e amigos próximos, sintam-se contemplados.

A Orientadora, Prof.ª Dra. Ana de Fátima Fontenele Urano Carvalho, pelo acolhimento,

oportunidade e confiança depositados em mim. Seu trabalho é inegavelmente por amor e vou

levar essa experiência para minha vida profissional.

Ao Co-orientador, Dr. Davi Felipe Farias, por ser um cientista dedicado e inspirador e

por não poupar esforços para me ajudar seja na bancada ou na escrita. Ajudou-me a ampliar

meus horizontes e avistar as boas oportunidades.

Ao Programa de Pós-Graduação em Bioquímica e Biologia Molecular, na pessoa do

Coordenador Prof. Dr. Márcio Viana Ramos, que com o braço firme sempre conduziu a minha

turma de mestrado a alcançar os resultados e a atingir os objetivos.

Aos professores que compõem o corpo docente do Programa de Pós-Graduação em

Bioquímica da UFC pela excelente qualidade das aulas práticas e teóricas. Nunca se deixam

esmorecer pela eventual falta de estrutura ou de recursos. Sempre se preocupam em elevar o

nível da turma e em formar profissionais que não decepcionarão o mercado e nem a comunidade

científica.

A minha turma e todos os meus amigos do Programa de Pós-Graduação em Bioquímica

da UFC.

Aos colegas do laboratório de Bioprospecção de Recursos Regionais, por serem sempre

pessoas muito animadas, cooperativas e que sempre me guiaram bem pelos caminhos da

Ciência, no dia-a-dia do laboratório e no manuseio de animais experimentais. Raramente levei

dúvidas para casa e, se levei alguma, muito provavelmente fui o último a sair. Em especial,

gostaria de agradecer ao meu grande amigo e colega de laboratório Thiago Almeida por me

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ensinar tudo o que eu sei na área de extratos vegetais e atividade antioxidante. Não sei o que

seria do meu mestrado sem a supervisão próxima dele.

A Universidade Federal do Ceará – UFC, pelo espaço e tecnologia cedidos e por

proporcionar continuamente oportunidade a centenas de alunos de ingressarem na vida

acadêmica, um caminho sem volta e de muito crescimento pessoal. Eternamente grato a todos

os funcionários, gestores e governantes que fazem acontecer nossa Universidade.

A CAPES, pelo suporte financeiro durante todo o desenvolvimento da pesquisa.

A todos que direta ou indiretamente cruzaram meus caminhos e que de alguma forma

influenciaram para que o destino me conduzisse até aqui.

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RESUMO

Radicais livres têm sido associados à etiologia e à progressão de diversas patologias crônico-

degenerativas, e constituem um dos fatores de deterioração da qualidade de alimentos. Existe

um crescente interesse em encontrar fontes naturais e seguras de antioxidantes capazes de

neutralizar esses agentes nocivos sem alterar de forma negativa características sensoriais dos

alimentos. Dentro deste contexto, extratos de plantas ricos em polifenóis têm sido investigados

para esse fim. Este estudo objetivou caracterizar a composição fenólica do extrato etanólico

(EELr) e frações derivadas de sementes de Licania rigida (aquosa, FALr; metanólica, FMLr;

acetato de etila, FAELr; clorofórmica, FCLr; hexânica, FHLr), estimar a capacidade

antioxidante total e, paralelamente, avaliar a segurança de uso através de testes de toxicidade in

vitro e in vivo. Foram detectadas através de prospecção fitoquímica qualitativa três classes de

metabólitos secundários no extrato: taninos, flavonoides e saponinas. Além disso, foi

determinada a quantidade de fenóis totais, flavonoides e taninos do EELr e das frações FAELr,

FALr e FMLr (de 3,815 a 6,452; 0,006 a 0,135; 0,147 a 0,294 equivalentes em micrograma de

ácido gálico, quercetina e ácido tânico por grama de amostra, respectivamente). Onze

compostos fenólicos distintos, classificados como ácidos fenólicos e flavonoides, foram

identificados via CLAE. O ácido cafeico e o ácido clorogênico foram os majoritários dentre os

ácidos fenólicos, e a quercetina e o kaempferol dentre os flavonoides. Em geral, o EELr, FALr,

FAELr e FMLr mostraram atividade antioxidante no ensaio DPPH com CN50 variando de 2,79

a 196,6 µg/mL. Em relação ao ensaio de inibição da peroxidação lipídica (usando TBARS), a

FALr foi capaz de prevenir peroxidação lipídica tanto em condições normais como na presença

de indutor de estresse (ferro). Houve também uma clara relação positiva entre o conteúdo de

taninos das amostras e o bom desempenho nas atividades antioxidantes. Flavonoides como a

quercetina, quercitrina e catequina correlacionaram-se positivamente com o resultado do teste

DPPH e do TBARS sem indução de estresse por ferro. Já os ácidos fenólicos, como ácido

clorogênico, mostraram-se mais importantes quando o ferro foi usado. EELr, FALr, FAELr e

FMLr mostraram perfil fenólico promissor com potente atividade antioxidante total. A

composição natural das sementes dessa planta pode ser explorada na indústria farmacêutica

para produzir nutracêuticos. De forma geral, o EELr apresentou baixa ou nenhuma toxicidade

de acordo com os ensaios utilizados. No entanto, abordagens mais sensíveis como a

toxicogenômica e ensaios de toxicidade crônica em animais devem ser feitos a fim de garantir

a sua segurança de uso.

Palavras-chave: Fitoquímica. Perfil fenólico. Toxicologia. Licania rigida

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ABSTRACT

Free radicals have been associated to the etiology and the progression of various chronic-

degenerative diseases, and constitute one of the factors that affect food quality deterioration.

There is a growing interest in finding natural and safe sources of antioxidants that are able to

neutralize those damaging agents without negatively altering food sensorial characteristics. In

this context, plant extracts rich in polyphenols have been investigated to this end. This study

aimed to characterize the phenolic composition of the ethanolic extract (EELr) and derived

fractions from Licania rigida seeds (aqueous, FALr; methanol, FMLr; ethyl acetate, FAELr;

chloroform, FCLr; hexane, FHLr), to estimate the total antioxidant capacity and, at the same

time, to evaluate the safe use through in vitro and in vivo toxicity tests. Phytochemical screening

has detected three secondary metabolite classes from EELr: tannins, flavonoids and saponins.

Moreover, it was determined the amount of total phenols, flavonoids and tannins (from 3.815

to 6.452; 0.006 to 0.135; 0.147 to 0.294 gallic acid, quercetin and tannic acid equivalents in

micrograms per gram of sample, respectively). Eleven distinct phenolic compounds, classified

as phenolic acids and flavonoids, were identified by HPLC. The caffeic and chlorogenic acid

were the major compounds among the phenolic acids, and quercetin and kaempferol among the

flavonoids. In general, the EELr, FALr, FAELr and FMLr showed antioxidant activity towards

the DPPH free radical with SC50 ranging from 2.79 to 196.6 µg/mL. Regarding the inhibition

of lipid peroxidation assay (using TBARS), FALr was capable of preventing lipid peroxidation

both in normal conditions and in the presence of stress inducer (iron). There was a clear positive

relation between the samples’ tannin content and a good performance in the antioxidant

activities. Flavonoids as quercetin, quercitrin and catechin correlated positively with the results

of DPPH assay and TBARS assay without iron as a stress-inducer. In the other hand, the

phenolic acids, such as chlorogenic acid, showed to be more preponderant when iron was used.

EELr, FALr, FAELr and FMLr showed a promising phenolic profile with potent antioxidant

activity. The natural composition of L. rigida seeds can be explored in the pharmaceutical

industries to produce nutraceuticals. Generally, the EELr presented low toxicity accordingly to

the assays used. Nevertheless, more sensitive approaches like toxicogenomics and non-acute

toxicity assays with animals must be performed to guarantee its safe use.

Keywords: Phytochemistry. Phenolic profile. Toxicology. Licania rigida

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Árvore, frutos e inflorescência da oiticica (Licania rigida Benth) Pág. 18

Figura 2 - Evolução do número de artigos publicados em língua inglesa com a

palavra-chave “Reactive oxygen species” segundo o tempo em anos

Pág. 19

Figura 3 - Esquema que relaciona estado redox e as consequências ao

organismo especificamente no que tange algumas funções primárias

das espécies reativas de oxigênio

Pág. 29

Figura 4 - Esquema do desenho experimental Pág. 47

Figura 5 - Representação gráfica das estruturas químicas dos compostos

identificados pela CLAE no extrato e frações derivadas de sementes

de Licania rigida

Pág. 62

Figura 6 - Ensaio de inibição da peroxidação lipídica (TBARS) de extrato

etanólico e frações derivadas de sementes de Licania rigida

Pág. 64

Figura 7 - Atividade quelante do extrato etanólico e frações derivadas de

sementes de Licania rigida baseadas no método da orto-fenantrolina

Pág. 66

Figura 8 - Letalidade de naúplios de Artemia sp. frente ao extrato etanólico e

frações derivadas de sementes de Licania rigida

Pág. 67

Figura 9 - Atividade hemolítica em hemácias de humanos (tipos A, B e O) e

coelhos frente à exposição ao extrato etanólico de sementes de

Licania rigida

Pág. 68

Figura 10 - Ensaio de viabilidade celular de linhagens de adenocarcinoma de

mama humano (MCF-7) frente à exposição ao extrato etanólico de

sementes de Licania rigida e ao ácido gálico

Pág. 69

Figura 11 - Ensaio de viabilidade celular de linhagens de adenocarcinoma de

cólon humano (Caco-2) frente à exposição ao extrato etanólico de

sementes de Licania rigida e ao ácido gálico

Pág. 70

Figura 12 - Evolução do peso dos camundongos sujeitos ao ensaio de toxicidade

aguda frente a amostra extrato etanólico de sementes de Licania

rigida, EELr, segundo o tempo em dias

Pág. 71

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Prospecção fitoquímica mostrando a presença ou ausência de classes

de compostos químicos no extrato etanólico de sementes de Licania

rigida

Pág. 59

Tabela 2 - Determinação de fenóis totais, flavonoides e taninos de extrato

etanólico e frações de sementes de Licania rigida

Pág.60

Tabela 3 - Quantificação de compostos fenólicos por Cromatografia líquida de

alta eficiência do extrato etanólico e das frações derivadas de

sementes de Licania rigida

Pág. 61

Tabela 4 - Atividades antioxidantes do extrato etanólico e frações derivadas de

sementes de Licania rigida

Pág. 63

Tabela 5 - Correlação parcial entre a composição de compostos fenólicos

(CLAE) e atividade de varredura do radical DPPH e inibição da

peroxidação lipídica com e sem ferro como indutor de estresse

(TBARS)

Pág. 65

Tabela 6 - Concentração efetiva de extrato e frações derivadas de sementes de

Licania rigida que causou morte em 50% dos náuplios de Artemia sp.

Pág. 67

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Abs absorbância

ANOVA análise de variância

Ar composto com anel aromático

AVC acidente vascular cerebral

BHA butil-hidroxi-anisol

BHT butil-hidroxi-tolueno

BSA Albumina sérica bovina

C1, C2, C3... carbono 1, carbono 2, carbono 3...

C2-C3 ligação entre carbono 2 e 3

Caco-2 caucasian colon adenocarcinoma cell line

CAT capacidade antioxidante total

CI50 concentração efetiva de inibir 50%

CL50 concentração efetiva letal 50%

CN50 concentração efetiva de neutralizar 50%

CLAE cromatografia líquida de alta eficiência

CTE cadeia transportadora de elétrons

DMEM Dulbecco’s Modified Eagle’s Medium (meio de cultura)

DMSO dimetilsulfóxido

DNA ácido desoxirribonucleico

DPPH 2,2-difenil-1-picrilhidrazil

EDTA ácido etilenodiamino tetra-acético

EROs espécies reativas de oxigênio

Fe(II)/Fe(III) íon ferro/ Íon férrico

GPx glutationa peroxidase

GR glutationa redutase

GSH glutationa reduzida

GSSG glutationa oxidada

H2O2 peróxido de hidrogênio

HAT Hydrogen Atom Transfer (transferência de átomo de hidrogênio)

Hep G2 linhagem de células de carcinoma de fígado humano

K562 linhagem de células de leucemia humana

L• radical alquila

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LO• radical alcoxila

LOO• radical peroxila

LOOH hidroperóxido lipídico

MDA malondialdeído

MCF-7 Michigan Cancer Foundation – 7 (linhagem de células de câncer de mama

humano)

MSDS Material Safety Data Sheets (Ficha de Dados de Segurança de Material)

NADPH fosfato de dinucleótido de nicotinamida e adenina

NOX NADPH oxidase

O2- ânion superóxido

OH• radical hidroxila

OMS Organização Mundial da Saúde

PACs proantocianidinas

PG propil galato

pH potencial hidrogeniônico

SAR Structure-activity relationships (relações atividade-estrutura)

SET Single-Electron Transfer (transferência de um único elétron)

SOD superóxido dismutase

SPLET Sequential Proton Loss Electron Transfer (perda de próton e transferência de

elétron sequencial)

TBA ácido tiobarbitúrico

TBARS substancias reativas ao ácido tiobarbitúrico

TBHQ terc-butil-hidroquinona

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 15

2 REVISÃO DE LITERATURA ....................................................................... 17

2.1 Família Chrysobalanaceae e o gênero Licania .......................................... 17

2.2 Licania rigida ............................................................................................ 18

2.3 Fatores abióticos da Caatinga e metabólitos secundários de plantas ......... 19

2.4 Biologia dos radicais livres ........................................................................ 20

2.4.1 Radicais livres e EROs ........................................................................ 21

2.4.2 Antioxidantes ...................................................................................... 23

2.4.3 Estresse Oxidativo ............................................................................... 28

2.4.4 Antioxidantes e a indústria de alimentos............................................. 33

2.4.5 Metabólitos secundários de plantas ..................................................... 36

2.5 Toxicologia e segurança de uso ................................................................. 39

2.5.1 O uso de plantas medicinais e efeitos adversos................................... 40

2.5.2 Taninos e efeito antinutricional ........................................................... 41

2.5.3 Saponinas e atividade hemolítica ........................................................ 42

2.5.4 Polifenóis e citotoxicidade .................................................................. 42

2.5.5 Biodisponibilidade de compostos fenólicos pós-ingestão ................... 44

3 OBJETIVOS ................................................................................................... 45

3.1 Objetivo Geral ........................................................................................... 45

3.2 Objetivos Específicos ................................................................................ 45

4 MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................... 46

4.1 Reagentes ................................................................................................... 46

4.2 Materiais Biológicos .................................................................................. 46

4.2.1 Eritrócitos ............................................................................................ 46

4.2.2 Animais ............................................................................................... 46

4.3 Desenho experimental ............................................................................... 47

4.4 Coleta, preparação dos extratos e fracionamento ...................................... 48

4.5 Perfil de polifenóis e atividades antioxidantes .......................................... 49

4.5.1 Prospecção fitoquímica ....................................................................... 49

4.5.2 Determinação de fenóis totais ............................................................. 49

4.5.3 Determinação de flavonoides .............................................................. 50

4.5.4 Determinação de taninos ..................................................................... 50

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4.5.5 Quantificação de compostos fenólicos por cromatografia líquida de alta

eficiência com detector tipo de arranjo de fotodiodo (CLAE-DAD) ................................ 51

4.5.6 Ensaio DPPH ....................................................................................... 52

4.5.7 Ensaio TBARS .................................................................................... 52

4.5.8 Ensaio de atividade quelante ............................................................... 53

4.6 Análises toxicológicas ............................................................................... 53

4.6.1 Toxicidade aguda em náuplios de Artemia sp. .................................... 54

4.6.2 Ensaio de atividade hemolítica ............................................................ 54

4.6.3 Citotoxicidade em linhagens de células de câncer .............................. 55

4.6.4 Avaliação de toxicidade aguda em camundongos ............................... 57

4.7 Análises estatísticas ................................................................................... 58

5 RESULTADOS .............................................................................................. 60

5.1 Perfil de polifenóis e atividade antioxidante ............................................. 60

5.1.1 Prospecção fitoquímica ....................................................................... 60

5.1.2 Fenóis totais, Flavonoides e Taninos .................................................. 60

5.1.3 Quantificação de compostos fenólicos por Cromatografia Líquida de

Alta Eficiência com detector tipo de arranjo de fotodiodo (CLAE-DAD) ....................... 61

5.1.4 Capacidade antioxidante total ............................................................. 64

5.1.5 Correlação da atividade antioxidante e composição de compostos

fenólicos ............................................................................................................. 65

5.1.6 Ensaio de atividade quelante ............................................................... 66

5.2 Análises toxicológicas ............................................................................... 67

5.2.1 Toxicidade aguda em náuplios de Artemia sp. .................................... 67

5.2.2 Ensaio de atividade hemolítica ............................................................ 69

5.2.3 Citotoxicidade a linhagens de células de câncer ................................. 69

5.2.4 Avaliação de toxicidade aguda em camundongos ............................... 72

6 DISCUSSÃO .................................................................................................. 73

6.1 Perfil de polifenóis e atividade antioxidante ............................................. 73

6.2 Segurança de uso das sementes de Licania rigida..................................... 77

7 CONCLUSÃO ................................................................................................ 82

REFERÊNCIAS .................................................................................................... 83

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1 INTRODUÇÃO

A flora brasileira abrange uma grande biodiversidade com atividades biológicas

relevantes, as quais são comumente exploradas nas preparações da medicina popular

(CALDERON et al., 2009; RATES, 2001). Os compostos bioativos responsáveis pelos efeitos

profiláticos e/ou terapêuticos dessas formulações são normalmente provenientes do

metabolismo secundário das plantas (ACADEMY, 2010). Muitos desses compostos também

são conhecidos por apresentarem potente atividade antioxidante (DAI; MUMPER, 2010).

Atualmente, um dos grandes desafios da fitoterapia é identificar em quais partes da planta esses

metabólitos secundários são tipicamente acumulados (AGATI et al., 2012) e quais as condições

de cultivo que favorecem a sua biossíntese (SELMAR; KLEINWÄCHTER, 2013b).

Metabólitos secundários, tais como os compostos fenólicos, são substâncias

frequentemente produzidas em resposta às interações da planta com o seu ambiente e com os

demais organismos vivos. Normalmente, esses compostos acumulam-se em partes da planta

que são alvo permanente de estresses bióticos e abióticos. Por exemplo, muitos metabólitos

secundários podem participar da proteção da parte reprodutiva da planta contra pragas e

herbívoros quando se acumulam nas cascas das frutas. Por outro lado, esses compostos também

podem atuar na atração de organismos benéficos, a exemplo dos polinizadores e disseminadores

de sementes (CHEYNIER et al., 2013).

Em relação aos seus benefícios para a saúde humana, estudos epidemiológicos

apontam que uma dieta rica em fitoquímicos tem efeito protetor e promove a saúde em geral,

uma vez que o consumo regular de frutas e vegetais está relacionado com a diminuição do risco

de câncer, doenças do coração, hipertensão e AVC. Esses benefícios à saúde têm sido

associados ao conteúdo de polifenóis desses alimentos (FRATIANNI et al., 2014; VULIĆ et

al., 2014). Por sua vez, esse efeito é frequentemente atribuído à atividade antioxidante de

algumas dessas substancias, a exemplo dos flavonoides (LESJAK et al., 2014).

Neste contexto, é fácil entender o interesse crescente na descoberta de novas fontes

naturais de antioxidantes nas plantas (DIMITRIOS, 2006). Os metabólitos secundários estão

em todos os tecidos vegetais, no entanto, as sementes tendem a concentrá-los bastante (MOL;

GROTEWOLD; KOES, 1998). Isso decorre do fato de que os metabólitos secundários estão

envolvidos na defesa de plantas e que o estágio de semente é uma fase crucial no seu ciclo de

vida (MAZID; KHAN; MOHAMMAD, 2011). Dessa forma, as sementes têm sido vistas como

fontes promissoras de moléculas bioativas com potencial para aplicação na indústria

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farmacêutica ou, mesmo, na indústria de alimentos para enriquecimento de produtos

alimentícios (POWELL, 2009).

Licania rigida é uma espécie vegetal pertencente à família Chrysobalanaceae e é

popularmente conhecida no Nordeste brasileiro como oiticica. Essa espécie é o objeto de estudo

deste trabalho. L. rigida é uma planta nativa da Mata Atlântica (mata densa de clima úmido e

tropical), mas que logrou adaptar-se a um outro bioma brasileiro totalmente distinto, a Caatinga.

Este bioma, tido como o único exclusivamente brasileiro, tem sido vítima do uso inapropriado

de seus recursos naturais pelo homem o que tem causado sérios danos ambientais a sua rica

biota (CARDOSO et al., 2005). O extrativismo predatório de L. rigida ao longo de décadas

exemplifica bem esse cenário. A fim de promover o uso sustentável dos recursos naturais e a

preservação da biodiversidade local, um estudo prévio realizado pelo grupo de pesquisa

coordenado pela Profa. Dra. Ana de Fátima F. U. Carvalho, orientadora deste trabalho de

dissertação, mostrou que dentre 21 espécies de plantas investigadas, L. rigida foi uma das

quatro espécies que apresentaram os melhores resultados quanto à presença de atividade

antioxidante (FARIAS et al., 2013). Neste contexto, o presente estudo objetivou investigar o

perfil fenólico e o potencial antioxidante do extrato etanólico bruto e frações derivadas de

sementes de L. rigida, assim como avaliar de forma preliminar a segurança de uso para o

consumo humano.

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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Família Chrysobalanaceae e o gênero Licania

Chrysobalanaceae é uma família composta de dezessete gêneros e

aproximadamente 525 espécies. São plantas lenhosas, arbustos ou árvores encontradas em

regiões tropicais e subtropicais, mas concentram-se principalmente nos trópicos do Novo

Mundo (YAKANDAWALA; MORTON; PRANCE, 2010).

Na medicina popular, espécies de Chrysobalanaceae são utilizadas para várias

finalidades. Na África e na América do Sul, algumas espécies apresentam indicações populares

para várias doenças como malária, epilepsia, diarreia, inflamações e diabetes. Entre aquelas que

são correntemente usadas, as espécies do gênero Licania detêm o maior número de usos

descritos para fins profiláticos e terapêuticos, destacando-se o seu uso como anti-inflamatório.

No Nordeste do Brasil, espécies de Licania são popularmente conhecidas como "oiti"

(FEITOSA; XAVIER; PERRELLI, 2012) e suas folhas são usadas para tratar diabetes (AGRA

et al., 2007), dor de barriga (DE ALBUQUERQUE et al., 2007), diarreia e disenteria

(CARTAXO; DE ALMEIDA SOUZA; DE ALBUQUERQUE, 2010).

Geralmente o conhecimento popular pode orientar a busca de plantas medicinais,

que ocasionalmente resultam na descoberta de moléculas com atividades biológicas (MACIEL

et al., 2002). Apesar de apresentar várias indicações de uso popular, há poucos estudos

confirmando as atividades descritas para o gênero Licania. Portanto, as espécies de Licania

podem ser consideradas como um repositório de moléculas biologicamente ativas ainda pouco

estudado e com potencialidades para contribuir para o tratamento da malária, diabetes e como

agentes anti-inflamatórios (FEITOSA; XAVIER; PERRELLI, 2012).

Neste âmbito, prospecções fitoquímicas do gênero Licania mostraram semelhanças

com outros gêneros da família Chrysobalanaceae. Esses estudos isolaram e caracterizaram duas

principais classes de compostos: flavonoides e triterpenos (CASTILHO; DE OLIVEIRA;

KAPLAN, 2005).

Quanto aos estudos de atividades biológicas do gênero Licania, tem recebido

bastante atenção a prospecção de moléculas com atividade anticâncer. As investigações de

citotoxicidade do gênero Licania iniciaram com o extrato etanólico de L. heteromorpha o qual

mostrou atividade contra células de carcinoma de cólon 38 e melanoma B16 em modelos in

vitro (BRACA et al., 2003). Além disso, ácido betulínico e oleanólico de L. tomentosa

apresentaram capacidade de inibir o crescimento e de induzir apoptose em células da linhagem

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de eritroleucemia (K562) e também de evitar a proliferação de Lucena 1, uma linhagem

resistente a vincristina derivada de K562 (FERNANDES et al., 2003). Finalmente, o extrato da

raiz de L. michauxii mostrou citotoxicidade contra a cultura de hepatoma humano (Hep G2) e

carcinoma de cólon (Caco-2) (BADISA et al., 2000). Esse gênero pode tornar-se uma

importante fonte de novas drogas antitumorais devido às atividades citotóxicas mostradas pelos

seus extratos. No entanto, mais estudos são considerados necessários para avaliar o mecanismo

de ação responsável pela citotoxicidade (CARNEVALE NETO et al., 2012).

Outras atividades foram descritas para o gênero Licania. Flavonoides obtidos de

folhas de L. licaniaeflora e L. heteromorpha apresentaram atividade antioxidante (Braca et al.,

2001a; Montoro et al., 2005). L. carii, L. pittieri e L. pyrifolia foram tóxicas contra

Biomphalaria glabrata, um molusco envolvido no ciclo reprodutivo do Schistosoma mansoni

(BILIA et al., 2000). O extrato de L. tomentosa mostrou a capacidade de inibir o vírus herpes

simplex tipo I resistente ao aciclovir e de interferir com o processo inicial de infecção em

concentrações não citotóxicas (MIRANDA et al., 2002). Embora espécies de Licania tenham

indicação popular como anti-inflamatórias, existem poucos estudos para dar suporte a esse uso

(FEITOSA; XAVIER; PERRELLI, 2012).

2.2 Licania rigida

O World Checklist of Selected Plant Families reconheceu cerca de 222 táxons para

o gênero Licania (GOVAERTS; PRANCE; SOTHERS, 2015). Destes, apenas cinco têm frutas

comestíveis, uma delas é a L. rigida, denominada popularmente como “oiticica” (JANICK;

PAULL, 2008). A oiticica é uma planta da família Chrysobalanaceae, endêmica da Caatinga e

da vegetação típica da faixa de transição entre o sertão semiárido do Nordeste e a região

Amazônica (Mata dos Cocais). A árvore pode atingir até 15 metros de altura, de grande

potencial como árvore ornamental pela folhagem sempre verde e as inflorescências amarelas

(NETO et al., 2014). As frutas são formadas por grandes sementes envolvidas por finas camadas

de polpa e mais externamente por uma casca suave. Essas são mais consumidas na medicina

popular como remédios, contra inflamações e diabetes (AGRA et al., 2007), do que como

comida, muito embora, análises físico-químicas das suas sementes revelaram alto conteúdo de

óleo (mais de 60%), com interessante perfil de ácidos graxos: 9% de ácido linolênico (ômega

3); 30% de ácido linoleico (ômega 6); e 35% de ácido oleico (ômega 9) (MACEDO et al., 2011).

Logo, o óleo de sementes de L. rigida é similar em composição ao de canola e de soja

(ZAMBIAZI et al., 2007). Por conta de algumas características químicas peculiares desse óleo,

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a oiticica ganhou destaque no mercado industrial pela sua alta secatividade, propriedade que já

foi bastante explorada na fabricação de tintas para automóveis, tintas para impressoras e

vernizes entre 1930 e 1950 (MACEDO et al., 2011). Adicionalmente, os frutos dessa espécie

podem vir a ser uma importante fonte para a produção de biodiesel, mas este potencial ainda

não foi bem estudado. Caso essa potencialidade fosse comprovada, a coleta dos frutos de

oiticica poderia tornar-se uma fonte de renda sustentável no semiárido do nordeste brasileiro,

uma vez que a colheita deveria ser realizada entre os meses de dezembro a fevereiro, período

de maior escassez de recursos para a agricultura familiar (PINTO; SOUZA; CENTRAL, 2012)

(Figura 1).

Figura 1 – Árvore, frutos e inflorescência da oiticica (Licania rigida Benth)

A, árvore; B, frutos; C, inflorescência.

2.3 Fatores abióticos da Caatinga e metabólitos secundários de plantas

A Caatinga, bioma o qual L. rigida é endêmica, consegue reunir um conjunto de

características que alguns pesquisadores têm descrito como fatores de estresse que podem

favorecer um aumento da produção e acúmulo de metabólitos secundários (FINI et al., 2011;

NOWAK et al., 2010). A Caatinga compreende 734.000 km2 na região Nordeste do Brasil e é

sujeita a um clima semiárido, bordeado por áreas mais úmidas. A disponibilidade de água é

altamente variável no tempo e espaço com chuvas erráticas, concentradas em poucos meses e

alternância de anos de seca com anos mais chuvosos. Além disso, a intensidade de luz é

abundante em todo o território e as altas temperaturas (média anual chega a 30 ºC) leva a flora

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a ter adaptações relacionadas ao déficit de água. O solo da Caatinga, de origem sedimentar, tem

sido lixiviado ao longo de milhões de anos e é um solo pobre, deficiente em cálcio e fósforo

(GARIGLIO et al., 2010). Algumas plantas conseguem sobreviver em condições adversas,

como essas descritas acima, inclusive após longos períodos de estiagem. Como uma das

estratégias de sobrevivência, elas aumentam a produção de metabólitos secundários que são

substancias que estão relacionadas à biologia dos radicais livres.

2.4 Biologia dos radicais livres

Uma pesquisa na base de dados científicos Pubmed mostra que o primeiro trabalho

publicado sobre espécies reativas de oxigênio (EROs) data de 1945. Desde então, o uso de

EROs como palavra-chave resulta em mais de 150.000 artigos publicados na língua inglesa

(Figura 2).

Figura 2 - Evolução do número de artigos publicados em língua inglesa com a palavra-chave

“Reactive oxygen species” segundo o tempo em anos

A geração de radicais livres e/ou espécies reativas não radicais de oxigênio é

normalmente resultante do metabolismo do oxigênio. A mitocôndria, por meio da cadeia

transportadora de elétrons (CTE), é a principal fonte geradora. Os radicais livres foram descritos

pela primeira vez por Moses Gomberg há mais de um século. Por muito tempo, essas entidades

químicas não eram concebidas de estarem presentes em sistemas biológicos devido a sua alta

reatividade e consequentemente meia-vida muito curta. Desde então, nosso entendimento sobre

o envolvimento dos radicais livres nos processos biológicos cresceu notoriamente. Desde muito

cedo, sugeriu-se que os radicais livres têm principalmente papéis deletérios, sendo considerados

apenas como espécies nocivas (LUSHCHAK, 2014). Notavelmente, o oxigênio é tóxico, e

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organismos aeróbicos somente sobrevivem à sua presença pelo fato de possuírem defesas

antioxidantes e de terem de mantê-las sempre em elevadas concentrações. Isto tem um custo

energético alto e, por vezes, seria metabolicamente “mais barato” reparar ou repor as

biomoléculas danificadas (HALLIWELL, 2007). De fato, como as células requerem um

ambiente redutor para poder funcionar, EROs são uma ameaça constante e consequência natural

da respiração aeróbica (STORR et al., 2013).

Muitas descobertas mudaram a forma dos cientistas olharem para os radicais livres.

Evidências têm se acumulado sobre EROs participando da regulação e manutenção de

processos fisiológicos em seres vivos. O ponto de inflexão foi quando encontrou-se que os

radicais livres são responsáveis por combater agentes infecciosos através do sistema imune

(PROLO; ALVAREZ; RADI, 2014). Logo descobriu-se que muitas das respostas mediadas por

EROs protegem as células contra estresse oxidativo e restabelecem a homeostase. Organismos

superiores evoluíram no uso de óxido nítrico e EROs como moléculas sinalizadoras para outras

funções fisiológicas. Estas incluem regulação do tônus vascular, monitoramento da tensão do

oxigênio controlando a ventilação pulmonar e a produção de eritropoietina, transdução de sinal

através de receptores de membrana em vários processos (DRÖGE, 2002). Deste modo, ficou

claro que radicais livres são participantes ativos em diversos processos e não podem ser

considerados apenas como agentes prejudiciais. Ambos as EROs e os sistemas de proteção

antioxidante atuam conjuntamente para alcançar um estado de homeostase redox (ALFADDA;

SALLAM, 2012).

2.4.1 Radicais livres e EROs

Oxidação pode ser definida como uma reação química que envolve a transferência

de elétrons entre moléculas a um agente oxidante (que passa por uma redução simultânea). Essa

transferência de elétrons entre entidades pode gerar radicais. Na natureza, moléculas são

formadas de prótons, nêutrons e elétrons. Enquanto prótons e nêutrons compõem o núcleo de

átomos, elétrons ocupam regiões espaciais fora do núcleo denominados orbitais. Em

compostos, cada orbital molecular pode conter um máximo de dois elétrons desemparelhados

com spins opostos. O formato do orbital (s-1, p-3, d-5, f-7) e orientação (dimensões x, y e z)

vão diferir de molécula para molécula dependendo da sua composição (CRAFT et al., 2012).

Um radical livre é um átomo ou molécula que pode existir independentemente com um ou mais

elétrons desemparelhados na sua camada mais externa. Estas camadas podem ser atômicas ou

moleculares. É sabido que moléculas são mais estáveis no estado de equilíbrio, radicais são

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espécies altamente reativas que frequentemente não perduram por muito tempo nessa forma

(LOBO et al., 2010).

Em organismos vivos sob condições aeróbicas mais de 90% do oxigênio consumido

é reduzido diretamente a água pela citocromo oxidase na CTE sem que EROs sejam liberadas.

Menos de 10% do oxigênio consumido é convertido no radical ânion superóxido (O2-) seguido

de redução concomitante à recepção de dois prótons o que resulta em peróxido de hidrogênio

(H2O2). Este composto não é um radical livre, mas é quimicamente mais reativo que o oxigênio

molecular, devido a isso ele é incluído no grupo das EROs. H2O2 recebe mais um elétron e é

quebrado em radical hidroxila (OH•) e ânion hidroxila (OH-). Finalmente, OH• interage com

mais um elétron e próton resultando na formação da molécula da água. Nos sistemas biológicos,

esta reação é principalmente realizada através da subtração de um átomo de hidrogênio de

diferentes compostos como as proteínas e lipídeos resultando frequentemente na iniciação de

reações em cadeia (VENDITTI; DI STEFANO; DI MEO, 2013). Em resumo, O2-, H2O2 e OH•

coletivamente são chamados de espécies reativas de oxigênio, mas apenas O2- e OH• são

radicais.

EROs incluem não só as espécies mencionadas, mas também diversos peróxidos,

como peróxidos lipídicos, proteicos e de ácidos nucleicos. Além disso, existem outras espécies

reativas relacionadas, como as espécies reativas de nitrogênio (SALISBURY; BRONAS,

2015). Superóxidos e peróxido de hidrogênio podem agir tanto conjuntamente, mas também

individualmente. O2- e óxido nítrico reagem para formar peroxinitrito. Isso depleta óxido nítrico

enquanto gera um poderoso oxidante. Na presença de gás carbônico, a concentração aumentada

de H2O2 forma peróxi monocarbonato, o qual, ao menos em alguns casos, se comporta como

um oxidante ainda mais forte (LIOCHEV, 2013).

Existem outras fontes de produção de EROs, como nas inflamações mediadas por

neutrófilos, eosinófilos e macrófagos. Processos metabólicos também geram EROs, por

exemplo, os peroxissomos catabolizam biomoléculas usando enzimas que removem hidrogênio

em uma reação oxidativa, criando peróxido de hidrogênio como subproduto. De fato, um grande

número de enzimas (xantina oxidase, óxido nítrico sintase, citocromos p450) e organelas

(mitocôndrias, peroxissomos) produzem EROs como subproduto do metabolismo. Em

contraste, a função primeira das NADPH oxidases (NOX) é produzir EROs. Igualmente, fontes

exógenas como luz ultravioleta (UV), radiação ionizante e substâncias oxidantes contribuem

para a formação de EROs (SAILAJA RAO et al., 2011).

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2.4.2 Antioxidantes

A origem dos antioxidantes remonta da antiguidade. Em particular, podemos

lembrar do notável conhecimento técnico dos antigos Egípcios em preservar cadáveres, em

parte devido ao uso de extratos aromáticos de plantas ricos em polifenóis com atividades

antimicrobianas (JONES et al., 2014).

Apesar do termo “antioxidante” originalmente se referir a moléculas que previnem

o consumo de oxigênio pelos tecidos vivos, o termo tem evoluído e, atualmente, refere-se à

prevenção de sistemas oxidativos como um todo. Um antioxidante é uma molécula que retarda

ou previne a oxidação de outra molécula e, portanto, pode ser considerada como redutora. No

entanto, nem toda molécula redutora é necessariamente antioxidante. “Agente redutor” e

“agente oxidante” são termos químicos, enquanto que “antioxidante” e “pró-oxidante” fazem

referência específica aos sistemas biológicos (CRAFT et al., 2012).

De acordo com Sailaja Rao et al. (2011) os antioxidantes podem ser classificados

da seguinte forma:

a) em primários e secundários, em relação a sua ação direta ou indireta

(quelando metais de transição, por exemplo);

b) em exógenos ou endógenos, se produzido pelo próprio organismo ou

adquirido pela dieta; e em

c) de baixa ou alta massa molecular, quando se refere a moléculas simples ou

sistemas enzimáticos complexos.

2.4.2.1 Antioxidantes enzimáticos

A quantidade de EROs produzidas pela mitocôndria é pouco controlada pela célula

e, para manter o estado redox equilibrado, as células possuem sistemas antioxidantes bem

regulados. Organismos vivos possuem sistemas antioxidantes multinível operando tanto para

eliminar as EROs como para minimizar seus efeitos negativos (VENDITTI; DI STEFANO; DI

MEO, 2013). O ambiente redox é modulado por um número de proteínas que são capazes de

controlar níveis intracelulares de EROs e ajustar a sinalização de rotas metabólicas redox-

sensíveis. Nas últimas décadas, muito da atenção dos pesquisadores foi direcionada à

investigação de como esses antioxidantes enzimáticos atuam. A descrição do mecanismo de

ação da superóxido dismutase (SOD) foi a primeira descoberta revolucionária neste campo.

Três tipos de SOD coexistem, com manganês, Mn-SOD (SOD-1), com cobre e zinco, CuZn-

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SOD (SOD-2) e extracelular, EC-SOD (SOD-3), e são encontradas em diferentes localizações

subcelulares. Mn-SOD é localizada na mitocôndria, CuZn-SOD no núcleo e citoplasma e EC-

SOD é mais abundante na matriz extracelular e fluidos. Essas enzimas catalisam a reação:

O2- + O2

- + 2H+ H2O2 + O2

O H2O2 formado é dismutado pela catalase. A catalase funciona convertendo H2O2

em água e oxigênio e é amplamente localizada nas organelas conhecidas como peroxissomos

(STORR et al., 2013):

H2O2 + H2O2 2H2O + O2

Existe a hipótese que peroxidases são a primeira linha de defesa contra H2O2 porque

elas têm menor constante de Michaelis (Km) que as catalases e estas tornam-se mais importantes

apenas quando as peroxidases estiverem sobrecarregadas (LIOCHEV, 2013). H2O2 pode ser

reduzido por diferentes peroxidases como a glutationa peroxidase (GPx). A GPx é uma seleno-

enzima que reduz H2O2 a água via oxidação do selênio produzindo ácido selênico que pode

reagir com duas glutationas (GSH), as quais serão oxidadas a forma oxidada da glutationa

(GSSG). Além do H2O2, essa enzima também reduz peróxidos lipídicos, tais como

hidroperóxido lipídico (LOOH), radical peroxila (LOO•), radical alcoxila (LO•), e radical

alquila (L•):

H2O2 + 2GSH H2O + GSSG

LOOH + 2GSH LOH + GSSG

Muitos outros substratos podem ser usados para redução de H2O2, tais como o

guaiacol. Certamente, se GPx são usadas para desintoxicar H2O2, o estoque de GSH deve ser

mantido e para isso a redução GSSG é promovida pela glutationa redutase (GR). GR, outro

membro do sistema glutationa, é uma flavoenzima dimérica e funciona reduzindo GSSG em

GSH com o gasto de NADPH (LÜ et al., 2010):

GSSG + NADPH 2GSH + NADP+

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Muitos desses sistemas enzimáticos protetores são superexpressos sob estresse

oxidativo, provendo uma adaptação. Isto é um forte indicativo biológico que superóxido,

peróxido de hidrogênio e outros oxidantes são mais frequentemente deletérios que benéficos

(KASPAR; NITURE; JAISWAL, 2009). Os sistemas enzimáticos de eliminação de EROs

descritos acima operam com O2- e H2O2, mas não com OH•. Na verdade, não há sistemas

enzimáticos conhecidos que consigam eliminar OH•, o que é provavelmente relacionado a sua

alta reatividade (HALLIWELL, 2007). OH• e outras EROs que escapam desses sistemas

protetores podem danificar componentes celulares, os quais são registrados como sinais da

presença de EROs nos seres vivos (LUSHCHAK, 2014). Defesas antioxidantes próprias do

organismo humano não são sempre suficientes para manter o equilíbrio adequado de EROs. É

nesse ponto que reside a importância dos antioxidantes adquiridos pela dieta. Parece que os

organismos lidam com as EROs muito bem quando recebem aporte exógenos de antioxidantes,

tais como ácido ascórbico, tocoferol, polifenóis, dentre outros (BRIEGER et al., 2012).

2.4.2.2 Antioxidantes de baixa massa molecular

Um antioxidante de baixa massa molecular é uma molécula estável o suficiente para

doar um elétron a um radical livre e neutralizá-lo, reduzindo sua capacidade de causar dano.

Esses antioxidantes, assim como os antioxidantes do tipo enzimático, são capazes de retardar

ou inibir o dano celular, muito embora o façam através da propriedade de varredura de radicais

livres. Esse tipo de antioxidante consegue romper com a reação em cadeia ao interagir de forma

segura com os radicais livres antes que moléculas vitais sejam lesadas. Alguns desses

antioxidantes, incluindo glutationa, ubiquinol, ácido úrico, são produzidos endogenamente

durante o metabolismo normal, outros são obtidos exclusivamente pela dieta. Existem ainda

micronutrientes (vitaminas e minerais) que são essenciais ao bom funcionamento do corpo, que

incluem vitamina C (ácido ascórbico), E (alpha-tocoferol) e betacaroteno, e devem

obrigatoriamente ser supridos pela dieta. Em contraste, existem aqueles antioxidantes que não

são vitais, mas que estão associados à prevenção de doenças crônico-degenerativas e melhoria

geral do estado de saúde, como os polifenóis (LOBO et al., 2010).

Dado a presença de diferentes tipos de antioxidantes nos sistemas biológicos,

métodos que envolvem a quantificação da “capacidade antioxidante total” (CAT) tornaram-se

comuns nos laboratórios científicos e médicos. Capacidade antioxidante corresponde ao

potencial total de varredura de radicais livres de uma solução-teste, independente das constantes

de atividades antioxidantes individuais. Assumidas as diferenças de natureza química

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envolvidas em cada grupo de antioxidantes, a escolha do tipo de ensaio pode ter grande efeito

sobre os resultados obtidos. Nem todos os métodos e antioxidantes são compatíveis, a mesma

espécie antioxidante pode gerar resultados dessemelhantes em diferentes ensaios. Isto sugere a

necessidade de se fazer várias avaliações antioxidantes na amostra, levando em consideração o

mecanismo envolvido e as peculiaridades de cada ensaio. Logo, afirmações como “X é o melhor

antioxidante” ou que “Y é melhor antioxidante que Z” não significam nada ao menos que os

ensaios sejam bem descritos e padronizados (GUTTERIDGE; HALLIWELL, 2010). Assim,

não existe um único antioxidante universal, cada um reage de uma forma diferente com os

vários tipos de EROs e geram produtos de variável reatividade. A química desses produtos

gerados também deve ser considerada para predizer como os antioxidantes deverão se

comportar in vivo ou nos alimentos (HALLIWELL, 2012b). Quando bem escolhidos e

realizados apropriadamente, medições da capacidade antioxidante produzem valiosos dados

que envolvem capacidade potencial in vivo de compostos antioxidantes (ainda que apenas como

screening). Apesar de padronização ter sido sugerida, não existem ensaios de capacidade

antioxidante oficiais (FRANKEL; FINLEY, 2008; PRIOR; WU; SCHAICH, 2005).

2.4.2.2.1 Mecanismos dos antioxidantes de baixa massa molecular

As reações antioxidantes podem ser agrupadas em duas categorias: transferência de

átomo de hidrogênio (HAT) e transferência de elétron (SET), ambas são aplicáveis a ação

antioxidante de compostos fenólicos. Os fenólicos também podem operar como antioxidantes

secundários devido a sua capacidade de se ligar a metais potencialmente pró-oxidativos. O

mecanismo HAT ocorre quando um antioxidante extingue radicais livres doando átomos de

hidrogênio. A reação esquemática (1) abaixo ilustra a química da reação: um componente

antioxidante (abreviado como componente aromático [Ar] e um grupo hidroxila [OH]) doa um

átomo de hidrogênio a um radical livre instável e no processo se torna uma espécie radical mais

estável que a primeira. Está espécie mais estável é menos propensa a propagar uma reação em

cadeia com outros substratos.

(n)RO2• + ArOH → (n)ROOH + ArO• (HAT) (1)

Ainda que o elétron do radical fenóxi (1) inicialmente esteja no átomo de oxigênio

altamente eletronegativo, é provável que esse elétron seja deslocado e compartilhado pelo anel

aromático. Na reação (1), “n” representa o fator estequiométrico para o reagente radical livre e

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o composto fenólico resultante. Quanto mais fracamente o átomo de hidrogênio é mantido no

grupo OH do composto antioxidante, mais provável e rápido ele vai participar na reação do tipo

HAT com radicais livres.

O mecanismo SET descreve os casos onde um antioxidante transfere um único

elétron para ajudar na redução de um composto alvo. As reações esquemáticas ilustram esse

mecanismo (2-4). O radical catiônico resultante do antioxidante é então desprotonado por meio

de uma interação com a água.

(n)RO2• + ArOH → (n)RO2− + [ArOH]•+ (SET) (2)

[ArOH]•+ + H2O → ArO• + H3O+ (Desprotonação) (3)

RO2− +H3O

+ → ROOH + H2O (Formação de hidroperóxido) (4)

A finalidade da reação SET (2) é a mesma da reação HAT (1) em termos de

varredura de radical livre, porém, a reação SET (2) pode ser sujeita à propagação de reações

em cadeia com meia-vida estendida do [ArOH]•+. As espécies antioxidantes resultantes da

reação (2) [ArOH]•+ ilustram que apesar de o elétron e a carga formal realmente existirem

inicialmente no átomo de oxigênio, é provável que o elétron seja deslocado e distribuído pelo

anel aromático. Dado que a reação (2) envolve a criação de espécies iônicas, o potencial de

ionização de um composto antioxidante se torna um parâmetro para predição da capacidade de

um fenólico neutralizar radicais livres via SET.

Ainda que muitas reações antioxidantes sejam caracterizadas como sendo do tipo

HAT ou SET, estes mecanismos podem ocorrer simultaneamente. As reações esquemáticas (5-

7) ilustram o mecanismo de transferência de elétron com perda de próton sequencial (SPLET):

ArOH → ArO− + H+ (5)

ArO− + ROO• → ArO• + ROO− (6)

ROO− + H+ → ROOH (7)

Reações SPLET representam uma das principais fontes de erro ao classificar

erroneamente reações tipo SET como HAT, porque elas podem ocorrer rapidamente em certos

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ambientes. Reações SET muitas vezes são mais lentas que as HAT. Portanto, se a cinética da

reação entre antioxidantes e radicais livres é rápida em um dado sistema, HAT é frequentemente

o mecanismo assumido como predominante (CRAFT et al., 2012).

A presença de íons metálicos, como cobre e ferro, e o excesso de H2O2 no sistema

pode acelerar a taxa de oxidação. Esta ação pode ocorrer através da produção de OH• pela

reação de Fenton. Então, a melhor estratégia para minimizar os danos oxidativo por OH• é

remover H2O2 quando ele não é necessário ou sequestrar de forma segura o metal de transição

catalizador necessário para reação de Fenton (VALKO et al., 2006):

Fe(II) + H2O2 Fe(III) + OH• + OH-

Tem sido demonstrado que os compostos fenólicos podem inibir a ação pró-

oxidativa de metais num processo de quelação, no qual os fenólicos se ligam com os íons

metálicos para formar complexos incapazes de promover oxidação. Por meio deste processo,

fenólicos operam como antioxidantes secundários, efetivamente inibindo oxidação sem

interagir diretamente com radicais livres. Na estrutura dos flavonoides, os agrupamentos

hidroxilas presentes nos carbonos 5 e/ou 3 do anel A, o grupo oxo no carbono 4 e a dupla ligação

entre os carbonos 2 e 3 do anel C são características importantes de determinados compostos

que influenciam na propriedade quelante de íons metálicos. A presença de grupos o-

dihidroxifenil nos carbonos 3 e 4 do anel B e/ou nos carbonos 7 e 8 do anel A também

influenciam essa propriedade. Os grupos hidroxilas que estiverem conjugados a grupo metil ou

a carboidratos poderão se envolver na complexação de íons metálicos. A habilidade de fenólicos

de quelar metais de transição in vivo é de certa forma incerta, mas o uso de fenólicos tem sido

sugerido no tratamento de doenças em que ocorre sobrecarga de metais, como é o caso da

hemocromatose (sobrecarga de ferro) e na doença de Wilson (sobrecarga de cobre). Até onde

o processo de quelação explica as ações antioxidantes dos fenólicos (seja em sinergismo com

os mecanismos HAT e SET ou não) é uma área de contínua pesquisa (PERRON;

BRUMAGHIM, 2009; WEINREB et al., 2009).

2.4.3 Estresse Oxidativo

A geração de EROs pode ser maléfica ou benéfica, vai depender do nível de

estresse. O presente estado de conhecimento sobre o assunto dá suporte às seguintes funções

primárias das EROs em biologia: defesa do hospedeiro, sinalização celular e processos de

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biossíntese. As EROs contribuem na defesa do hospedeiro direta ou indiretamente na

eliminação de microrganismos. Na sinalização celular, EROs podem modificar aminoácidos

redox-sensíveis em uma variedade de proteínas, que incluem fosfatases, canais iônicos e fatores

de transcrição. Quando a geração de EROs é muito baixa, a defesa do hospedeiro e a sinalização

celular podem ficar prejudicadas, ao passo que quando está muito alta pode haver danos não

específicos e sinalização excessiva (Figura 3). Existe um delicado equilíbrio entre o estado

redox fisiológico e estresse oxidativo, dependendo das taxas relativas de produção e depuração,

as EROs podem ser perigosas quando presentes em excesso no organismo (BRIEGER et al.,

2012).

Figura 3 - Esquema que relaciona estado redox e as consequências ao organismo

especificamente no que tange algumas funções primárias das espécies reativas de oxigênio

Fonte: Adaptado de Brieger et al. (2012)

Os seres vivos possuem sistemas finamente regulados para controlar níveis de

EROs. No entanto, as EROs podem escapar ou sobrecarregar esses sistemas, particularmente

em células que não estão funcionando bem. Existem vários motivos para isso:

a) aumento de compostos endógenos ou exógenos entrando em auto-oxidação

juntamente com a produção de EROs;

b) depleção das reservas de antioxidantes de baixa massa molecular;

c) inativação das enzimas antioxidantes;

d) diminuição na expressão de enzimas antioxidantes e na produção de

antioxidantes de baixa massa molecular; e finalmente

Sinalização celular e Defesa do hospedeiro prejudicadas

Compensação patológica

Sinalização celular e defesa do hospedeiro eficazes

Biossíntese

Sinalização excessiva

Danos não-específicosEstresse Oxidativo

Doença

Doença

Saúde

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e) a combinação de dois ou mais fatores listados acima.

Portanto, sob condições normais, os níveis de EROs flutuam numa certa faixa

definida e devido a situações bem específicas os níveis aumentam drasticamente e saem dessa

faixa de controle. Se os sistemas de antioxidantes forem capazes de adequadamente lidar com

essa quantidade de EROs aumentada, os níveis retornam ao patamar inicial. Esse evento pode

ser denominado “estresse oxidativo agudo”. Em alguns casos, as células não conseguem

retomar o equilíbrio, mesmo aumentando a expressão de antioxidantes e enzimas relacionadas.

Este estado pode ser chamado de “estresse oxidativo crônico”. Atualmente, o estresse oxidativo

é definido como “uma situação onde a concentração de EROs no estado de equilíbrio é

transitoriamente ou cronicamente aumentada, perturbando o metabolismo celular e sua

regulação, danificando componentes celulares” (VALKO et al., 2006). O ácido

desoxirribonucleico (DNA) mitocondrial parece ser mais suscetível a ocorrer mutações

induzidas por estresse oxidativo porque não tem enzimas de reparo de DNA. Além disso podem

ser formados agregados insolúveis de proteínas. Estes agregados proteicos são a base molecular

de um grande número doenças, particularmente patologias neurodegenerativas (BRIEGER et

al., 2012).

Radicais livres podem causar danos no DNA por uma variedade de mecanismos

que incluem alteração de bases, rearranjo das sequências de DNA, duplicação de genes,

ativação de oncogenes e remoção de hidrogênio de 2´desoxirribose e timina. Danos oxidativos

ao DNA podem causar muitas lesões nas bases, preferencialmente na guanina devido ao seu

baixo potencial redox. A lesão mais comumente descrita é a 7,8-dihidroxi-8-oxoguanina (8-

oxoG). Apesar de a 8-oxoG ser a lesão mais comum, o radical hidroxila pode reagir com

adenina, citosina e timina. Um DNA que está danificado por EROs é um risco direto a

estabilidade genômica. Como o DNA é propenso a danos oxidativos, vários sistemas de reparo

tem evoluído para proteger as células dessas lesões potencialmente perigosas (STORR et al.,

2013).

2.4.3.1 Envelhecimento e doenças crônico-degenerativas associadas ao estresse oxidativo

Quando foi proposto nos anos 50 que o envelhecimento era resultado de mudanças

progressivas causadas por danos cumulativos de radicais livres, imediatamente se levantou a

possibilidade que os antioxidantes poderiam retardar o processo de envelhecimento e prolongar

a expectativa de vida. Esses primeiros experimentos semearam as sementes da crença nas

mentes de cientistas e do público em geral que os antioxidantes poderiam ser o “elixir da

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juventude” que todos estavam em busca (GUTTERIDGE; HALLIWELL, 2010). Normalmente,

o acúmulo de dano oxidativo no DNA está implicado em muitas doenças, mas também ocorre

em condições normais como no envelhecimento. Envelhecimento é um processo fisiológico,

definido como uma série de mudanças tempo-dependente que reduzem a capacidade funcional.

A teoria do radical livre mitocondrial do envelhecimento propõe que o envelhecimento é

causado por danos a macromoléculas pelas EROs. No entanto, tem sido proposto que as EROs

modulam os processos de envelhecimento mediando respostas de estresse aos danos idade-

dependentes. Por um lado, estudos apontam que uma superexpressão de enzimas antioxidantes

resulta em aumento da expectativa de vida. Por outro, tem-se mostrado que em alguns casos

quando há um aumento no estresse oxidativo há também um aumento na longevidade (VIÑA

et al., 2013). Já a evolução dos seres vivos mostra que animais que tem uma alta expectativa de

vida contam com dois fatores condicionantes: (1) baixa taxa de geração de dano endógeno e (2)

tecidos que possuem macromoléculas que são altamente resistentes a danos oxidativos

(BARJA, 2013).

A maioria das doenças tem algum grau de estresse oxidativo seja na etiologia, seja

como subproduto gerado no quadro clínico da doença. O sistema antioxidante capaz de reagir

a esses danos é, por vezes, ele mesmo afetado, permitindo que mais danos ocorram. Se os danos

no DNA não são prontamente removidos, eles podem se perpetuar como mutações que

contribuem no desenvolvimento de doenças. Por exemplo, processos oxidativos estão

envolvidos na formação de placas ateroscleróticas nas paredes arteriais e, por isso, podem levar

a um aumento na incidência de doenças cardiovasculares em humanos. Ácidos nucleicos

oxidados no DNA podem ser mutagênicos e levar a carcinogênese. Muitos processos

inflamatórios podem desencadear estresse oxidativo que frequentemente resultam numa

superprodução de EROs que as defesas naturais do corpo não conseguem suportar. Até mesmo

um aumento da ingestão de alimentos pró-oxidativos ou deficiência prolongada de nutrientes

pode resultar em estresse oxidativo no corpo (WINTERBOURN, 2008).

EROs estão envolvidos em um grande número de doenças cardiovasculares e o

mecanismo causal é complexo. Células vasculares simultaneamente expressam múltiplas

enzimas NOX e várias doenças cardiovasculares têm sido associadas com alterações na

expressão de NOX 1, 2 e 5. Nas células de músculo liso vasculares de grandes artérias, NOX1

é requerida para migração, hipertrofia e proliferação, NOX4 medeia diferenciação, e NOX 1 e

2 são implicadas na hipertensão. Existem muitas evidências de que as EROs contribuem para a

fisiopatologia da hipertensão. Notavelmente, o aumento de superóxido vai levar à redução da

biodisponibilidade do vasodilatador óxido nítrico. Além disso, a hipertrofia e a proliferação das

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células de músculo liso vasculares podem levar a um aumento na resistência vascular

(SALISBURY; BRONAS, 2015).

Dano oxidativo ao DNA pode também ser um importante fator no desenvolvimento

de complicações do diabetes, especialmente nos pacientes que tem a doença pouco controlada.

É cada vez mais reconhecido que as complicações do diabetes são fortemente ligadas ao estresse

oxidativo. Retinopatia diabética, a maior causa de cegueira em adultos de todo o mundo, tem

sido o foco de intensa pesquisa. Os achados apontam que o estresse oxidativo tem um papel

vital na patogênese. A resistência à insulina não é uma condição apenas do diabetes tipo 2, mas

é também característica de uma ampla gama de condições clínicas como obesidade, síndrome

metabólica, gravidez e sepse. Além disso, marcadores de estresse oxidativo têm sido

significativamente associados com obesidade, resistência à insulina, diabetes mellitus e sepse.

Similarmente, condições que aumentam os níveis de EROs, por exemplo, doenças cujos

defeitos primários afetam o equilíbrio de EROs como esclerose lateral amiotrófica, foram

associadas com resistência à insulina (SIREESHA; SAILAJA RAO, 2015).

Obesidade – definida por um índice de massa corporal igual (peso corporal em

quilos dividido pela altura em metros ao quadrado) ou maior que 30 kg/m2 – é uma doença

crônica com consequências adversas sérias e é atualmente uma das principais causas de mortes

evitáveis do mundo. É um fator independente de risco estabelecido para doença cardiovascular.

A obesidade está também associada com um estado inflamatório crônico dos tecidos adiposos

e em outros órgãos também, onde infiltrados de monócitos e macrófagos aumentam em número

e em atividade. Muitos mediadores ativos, moléculas quimiotáticas, citocinas e adipocinas,

aumentam o estado inflamatório crônico e resultam em produção excessiva de EROs causando

estresse oxidativo sistêmico (MARSEGLIA et al., 2014; NABAVI et al., 2015).

EROs também desempenham papel na doença pulmonar obstrutiva crônica

(DPOC). Pacientes com DPOC até exalam peróxido de hidrogênio. Outro exemplo é o papel na

etiologia nos danos de isquemia-reperfusão no cérebro, coração e rins. Na aterosclerose,

lipoproteínas de baixa densidade (LDL) são oxidadas e subsequentemente tomadas pelos

macrófagos, levando a formação de células de espuma e eventualmente a complicações

cardiovasculares. Compostos que aumentam a produção de radicais livres (nitrofurantoína,

doxorubicina) podem também induzir a danos teciduais nos pulmões e no coração,

respectivamente (PANDEY et al., 2013).

A doença de Alzheimer é um bom exemplo de como uma inflamação crônica a

nível neurológico pode contribuir para degeneração neurológica e demência. Amiloides,

particularmente as formas solúveis, podem levar a ativação da micróglia e geração duradoura

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de EROs, contribuindo para dano neuronal e, finalmente, demência. EROs também parecem ter

papel patológico importante na etiologia de outra desordem neurodegenerativa, a doença de

Parkinson. Estresse oxidativo tem papel central no desenvolvimento de esclerose amiotrófica

lateral, doença degenerativa progressiva que afeta neurônios motores. Apesar de a causa dessa

patologia ser desconhecida, mutações pontuais no gene da SOD-1 estão associadas como

formas familiares da doença. Aumento da presença de marcadores de estresse oxidativo tem

sido encontrado na medula espinhal e em outros fluidos biológicos (como no plasma e no fluido

cérebro-espinhal) de pacientes com esclerose amiotrófica lateral, juntos com aumento na

expressão da enzima NOX2 (SHUKLA; MISHRA; PANT, 2011).

Contudo, Halliwell (2012a) em um artigo de opinião comenta sobre a

individualidade bioquímica de cada pessoa frente ao estresse oxidativo:

Fumar aumenta dano oxidativo, mas olhando com cuidado para os dados, pode-se ver

alguns fumantes apresentando biomarcadores de baixo dano oxidativo e vários não-

fumantes com biomarcadores de estresse oxidativo. De fato, numerosos estudos

mostram que existe uma grande variação dos níveis de biomarcadores em pessoas

aparentemente saudáveis, talvez geneticamente pré-determinado. Talvez devêssemos

tentar intervir com suplementos de antioxidantes apenas nas pessoas mais

comprometidas.

Da mesma forma, tem-se o entendimento que os mesmos fatores ambientais e

genéticos que fariam uma pessoa desenvolver uma patologia de cunho oxidativo, em outras o

quadro clínico simplesmente não se instala. A intervenção dietoterápica em indivíduos sem

queixa de saúde deve ser através de alimentos que contenham naturalmente antioxidantes, mas

que não sejam super ricos em calorias, a exemplo das frutas, vegetais e os grãos. Estes alimentos

ajudam a manter a saúde e retardar o aparecimento de doenças. A contribuição dos

antioxidantes para esses efeitos é incerta. Altas doses de suplementos de antioxidantes

geralmente não trazem benefício algum e podem até causar danos. Misturas de baixa dose de

vitaminas e minerais podem trazer benefícios, mas para os casos em que os indivíduos têm

dietas e estilo de vida tão ruins que invariavelmente estão deficientes em alguns micronutrientes

(GUTTERIDGE; HALLIWELL, 2010).

2.4.4 Antioxidantes e a indústria de alimentos

Nos últimos 50 anos, a peroxidação lipídica tem sido tema de extensos estudos de

diversos pontos de vista, como mecanismo, análise dos produtos, envolvimento em doenças,

inibição e sinalização biológica. Lipídeos são oxidados por três mecanismos distintos: oxidação

enzimática, oxidação não-enzimática e oxidação mediada por radical livre. Cada um desses

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mecanismos gera produtos específicos. A susceptibilidade de lipídeos a oxidação depende do

meio e da sua estrutura inerente (NIKI et al., 2005).

A oxidação lipídica é a maior causa de deterioração da qualidade de alimentos

durante o processo e armazenamento, levando ao rápido desenvolvimento de odores, ranço e

sabores desagradáveis. Ademais, oxidação lipídica leva a perda de nutrientes pela destruição de

vitaminas lipossolúveis e ácidos graxos essenciais, além de trazer riscos à saúde devido à

formação de produtos primários ou secundários da oxidação lipídica. Assim, os antioxidantes

são usados nos alimentos para prevenir a oxidação lipídica. Antioxidantes sintéticos atualmente

usados pela indústria de alimentos incluem butil-hidroxi-anisol (BHA), butil-hidroxi-tolueno

(BHT), terc-butil-hidroquinona (TBHQ) e propil galato (PG). Todavia, o seu uso tem sido

limitado nos últimos anos devido a preocupações associadas com potenciais efeitos

carcinogênicos mostrados em alguns modelos animais quando testados em altas concentrações.

Contudo, não é fácil descobrir novas e eficazes fontes naturais de antioxidantes. Atividade

antioxidante em sistemas alimentares depende de muitos fatores que incluem a localização

física do antioxidante no alimento; interação com outros constituintes do alimento; e as

condições gerais do alimento (pH, força iônica, balanço hidrofílico/lipofílico, dentre outros). A

eficácia de um antioxidante na varredura de radicais livres em fase aquosa depende da sua

solubilidade em ambas fases aquosa e lipídica de uma comida ou bebida. Para esse fim, modelos

de sistemas antioxidantes in vitro precisam levar em consideração a natureza complexa dos

alimentos e se o objetivo for alcançar alta relevância e precisão (CHANDRASEKARA;

SHAHIDI, 2012).

A reação em cadeia oxidativa de compostos orgânicos também tem sido referida

como auto-oxidação. Os produtos peróxidos da reação servem de iniciadores e a taxa de

consumo de oxigênio aumenta com o tempo à medida que mais produtos peróxidos vão sendo

formados. Essas reações envolvem os seguintes mecanismos:

a) reações de iniciação, onde o número de radicais livres aumenta;

b) reações de propagação, na qual o número de radicais permanece constante;

c) reações de terminação, onde o número de radicais diminui.

As reações estão esquematizadas a seguir:

RH + iniciador → R• + H• (Iniciação) (1)

R• + O2 → ROO• (Propagação) (2)

ROO• + R´H → ROOH+R´• (Propagação) (3)

ROO• + R• → ROOR (Terminação) (4)

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R• + R• → RR (Terminação) (5)

O radical gerado em (1) pode interagir com o oxigênio molecular (2) e passar por

muitas reações de propagação subsequentes (3) com substratos endógenos ou exógenos

resultando em uma variedade de EROs. É importante notar que R• (1) pode ser pouco reativo,

porém, uma vez que ele se propaga com O2 para formar ROO•, se torna altamente reativo. Os

produtos primários da auto-oxidação lipídica são LOOHs, que não são sensorialmente

perceptíveis. LOOHs são muito instáveis e se degradam a produtos secundários de oxidação,

como os aldeídos, cetonas, álcoois, e hidrocarbonetos que podem afetar a qualidade dos

alimentos (YIN; XU; PORTER, 2011).

A inclusão de componentes ricos em fenólicos em alimentos e bebidas precisa ser

inteligentemente empregada para assegurar que os fenólicos não afetaram adversamente os

atributos sensoriais do alimento e que eles não sejam significativamente biodegradados antes

de alcançar o ponto de absorção pelo corpo humano. Isto é frequentemente realizado por uso

de nanoencapsulação e outras técnicas (FANG; BHANDARI, 2010).

Fenólicos naturais têm sido descritos por terem excelentes propriedades como

aditivos de alimentos, por exemplo, eles podem ser usados como corantes naturais de alimentos.

Nos últimos anos, corantes sintéticos têm sido banidos em muitos países por serem tóxicos e

carcinogênicos. Antocianinas, corante natural e facilmente obtido de frutas e vegetais, pode ser

considerado um substituto potencial para os corantes que foram banidos. De fato, esses

compostos têm cores atrativas e brilhantes, ao mesmo tempo, a sua alta solubilidade em água

permite que eles sejam facilmente incorporados em sistemas alimentares aquosos (IGNAT;

VOLF; POPA, 2011).

Um exemplo de peroxidação lipídica na prática é na indústria de produtos cárneos,

causa primária de deterioração desse tipo de produto. Radicais livres como o radical hidroxila

e hidroperóxidos são os maiores iniciadores da reação em cadeia. Muita atenção tem sido

prestada ao papel do ferro como catalizador primário da peroxidação lipídica, especialmente

nas proteínas heme como as mioglobinas e hemoglobinas (MIN; AHN, 2005). A interação dos

taninos, frequentes constituintes de extratos de plantas, com proteínas da carne, como a miosina,

não resultou em perda da atividade antioxidante. Na verdade, os resultados do ensaio usando

substancias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBARS) de porco cozido indicou que os

complexos taninos-proteínas adicionados ao sistema sobreviveram ao processamento térmico e

deu estabilidade aos lipídeos da carne contra oxidação. Com esse exemplo, tem-se uma

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aplicação prática de polifenóis protegendo um produto alimentício contra peroxidação lipídica

mesmo após processamento térmico (AMAROWICZ, 2007).

2.4.5 Metabólitos secundários de plantas

Compostos fenólicos são metabólitos secundários de plantas, um dos grupos de

fitoquímicos com a mais ampla ocorrência no reino vegetal. São substancias de considerável

importância fisiológica e morfológica, tendo diversas funções biológicas. Fenólicos podem

atuar como fitoalexinas, sendo deterrentes e atrativos para os polinizadores, pigmentos de

planta, antioxidantes e agentes de proteção contra raios ultravioleta, dentre outros. Fitoalexinas

são substâncias produzidas pelos tecidos da planta em resposta ao contato com um parasita e

que especificamente inibe o crescimento daquele parasita; e compostos deterrentes são

substâncias que ocorrem naturalmente em certas plantas que adversamente afetam insetos e

outros animais que as comem. Essas propriedades fazem desses compostos importantes para o

crescimento, reprodução, provendo proteção contra patógenos e predadores (CHEYNIER et al.,

2013; MAZID; KHAN; MOHAMMAD, 2011).

Existem algumas condições climáticas e físicas que podem aumentar a produção de

metabólitos secundários em plantas. Alguns fatores de deficiência tem ganhado mais atenção

como é o caso do estresse por deficiência hídrica (NOWAK et al., 2010; SELMAR;

KLEINWÄCHTER, 2013a), muito embora, o calor excessivo, alta incidência de radiação UV,

estações do ano e características do solo também tem profunda influência na qualidade e

quantidade de metabólitos acumulados nas plantas. É por isso que a composição fenólica de um

extrato pode variar substancialmente dependendo da época e da localização que a planta foi

coletada (SELMAR; KLEINWÄCHTER, 2013b).

2.4.5.1 Polifenóis

Um dos grupos de antioxidantes mais bem conhecidos na literatura científica são

os polifenóis. Qualquer composto que contenha um anel aromático acoplado a um grupo

hidroxila é um composto fenólico. Este grupo compreende variadas classes de compostos como

os ácidos fenólicos, coumarinas, flavonoides, isoflavonoides, estilbenos, lignanas e taninos. Os

polifenóis têm sido relacionados à prevenção e ao alívio de algumas doenças degenerativas.

Pesquisa epidemiológicas têm mostrado que uma dieta rica em frutas, vegetais e cereais

integrais e outras fontes de compostos fenólicos, está associada ao aumento de antioxidantes no

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corpo humano. Por conseguinte, a extração e análise de fenólicos de plantas e outras fontes têm

sido extensamente estudados para o potencial uso na prevenção de doenças (IGNAT; VOLF;

POPA, 2011).

2.4.5.1.1 Ácidos fenólicos

Ácidos fenólicos são amplamente distribuídos na alimentação humana,

particularmente em frutas, vegetais e bebidas (café, cerveja, vinho e suco de frutas). A ingestão

diária de ácidos fenólicos gira em torno de 200mg/dia com grande variação dependendo dos

hábitos alimentares e preferências. Ácidos fenólicos têm recibo bastante atenção devido a sua

alta concentração nos alimentos e bebidas, forte atividade antioxidante e fácil absorção

intestinal. Além disso, esses compostos estão também associados a aspectos de qualidade dos

alimentos como cor, sabor e nutrição. As diferentes formas de ácidos fenólicos resultam em

variável adequação a diferentes condições de extração e suscetibilidades à degradação. Os

ácidos fenólicos consistem em dois subgrupos, os ácidos hidroxibenzóicos e os ácidos

hidroxicinâmicos. Os ácidos hidroxibenzóicos incluem o ácido gálico, ácido p-hidroxi-

benzoico, ácido protocatequínico, ácido vanílico e ácido siríngico, os quais têm em comum a

estrutura C6-C1. Ácidos hidroxicinâmicos, por outro lado, são compostos aromáticos com

cadeia lateral de 3 carbonos (C6-C3), por exemplo, ácido cafeico, ácido ferúlico, ácido p-

cumárico e ácido sinapínico são os representantes mais comuns. Ácidos fenólicos são

sintetizados a partir da fenilalanina (e tirosina) nas plantas. Este processo é comumente referido

como metabolismo fenilpropanoide (PIAZZON et al., 2012).

2.4.5.1.2 Flavonoides

Flavonoides incluem o grupo de polifenóis mais bem estudados por causa de suas

inúmeras atividades biológicas. Sua estrutura básica é um difenil-propano, que consiste em uma

configuração de 15 carbonos em um arranjo C6-C3-C6 (dois anéis aromáticos, A e B, ligados

entre si por três átomos de carbono que usualmente formam um terceiro anel heterocíclico, anel

C). O anel aromático A é derivado da rota metabólica acetato/malonato, enquanto o anel B é

derivado da fenilalanina, através da rota do chiquimato, e anel C pode ser fechado ou aberto

(chalconas). Flavonoides podem ser divididos em sete subclasses de acordo com características

estruturais do anel C: flavonóis, flavonas, flavanones, flavanóis (catequinas), antocianinas,

flavononóis e isoflavonas, das quais as flavonas e os flavonóis são os mais comuns e

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estruturalmente diversos. Diferenças específicas dentro de cada grupo dão origem aos diferentes

compostos dentro de cada classe de flavonoides e surgem a partir da variação no número e

disposição dos grupos hidroxila nos anéis A e B, e a extensão da alquilação e/ou glicosilação

(KUMAR; PANDEY, 2013).

Flavonoides são especialmente importantes devido ao alto potencial redox, que

permite que eles atuem como agente redutores, doadores de hidrogênio, neutralizadores de

oxigênio singleto. Adicionalmente, eles têm potencial de complexação com metais. Quando

consumidos regularmente por humanos, flavonoides têm sido associados a redução da

incidência de doenças como câncer e doença cardíaca. Há atualmente um grande interesse na

pesquisa em flavonoides devido a possibilidade de melhorar a saúde pública através da dieta,

onde cuidados com a saúde podem ser promovidos pelo consumo de frutas e vegetais

(TARAHOVSKY et al., 2014). Flavonoides são fitoquímicos que ajudam a proteger a planta

contra radiação UV, fungos, herbívoros, patógenos e dano celular oxidativo. O conteúdo de

flavonoides varia amplamente dependendo de fatores ambientais, tais como condições de

cultivo, clima, armazenamento e forma de processamento térmico (AGATI et al., 2013;

WINKEL-SHIRLEY, 2002).

2.4.5.1.3 Taninos

Taninos são compostos de massa molecular relativamente alta (500 a 30.000 Da) e

podem ser subdivididos em hidrolisáveis e condensados. Os taninos condensados,

frequentemente chamados de proantocianidinas (PACs), liberam monômeros de antocianidinas

quando aquecidos na presença de ácido. Nos alimentos, os PACs são usualmente classificados

em procianidinas ou prodelfinidinas de acordo com a química das subunidades flavan-3-ol.

Procianidinas são formadas de monômeros de (-) epicatequina, enquanto prodelfinidinas são

formadas de subunidades de epigalocatequinas. Mesmo as rotas biossintéticas dos flavonoides

sendo bem conhecidas, os passos que levam a condensação e polimerização ainda não foram

bem elucidados. Taninos hidrolisáveis são assim nomeados porque eles são facilmente

hidrolisados em ácido ou base fracos a suas unidades monoméricas de ácido gálico e ácido

elágico. Ácido gálico é esterificado e se une a um grupo hidroxila de um poliol de hidratos de

carbono e outros grupos galoil podem ser incorporados gerando um polifenol polimérico, um

tanino hidrolisável, galotanino. Os elagitaninos são simplesmente polímeros de ácido elágico e

ácido gálico. Eles têm vários efeitos em sistemas biológicos já que eles são potenciais quelantes

de íons metálicos, agentes precipitadores de proteínas e antioxidantes (SERRANO et al., 2009).

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Além disso, alimentos ricos em taninos provocam sensações gustativas de adstringência

resultantes de interação com proteínas ricas em prolinas presentes na saliva (AMAROWICZ et

al., 2004).

2.4.5.2 Saponinas

Saponinas compõem uma parte hidrofílica de açúcar ligada a uma aglicona

hidrofóbica (sapogenina). Devido a seu caráter anfipático, elas são capazes de permeabilizar

membranas celulares e de diminuir a tensão superficial de um meio aquoso. Esta propriedade é

o motivo do nome “saponina”, derivado do Latim “sapo”, que se refere a formação de espuma

estável em soluções aquosas.

Saponinas são eficazes em:

a) inibir proliferação celular de tumor;

b) estimular a liberação do hormônio luteinizante o que as confere propriedades

abortíferas; e de

c) reduzir os níveis sanguíneos de colesterol e triacilglicerol.

Elas também apresentam atividade antifúngica, citotóxica, hemolítica,

antiplaquetária, imunoestimulatória como adjuvante de vacinas e efeito sinergístico de

toxicidade com imunotoxinas (NEGRI; TABACH, 2013).

De acordo com o caráter químico da aglicona, as saponinas são divididas em

esteroidais e triterpenoides. A parte do monossacarídeo das saponinas inclui um amplo espectro

de açúcares simples como D-glicose, D-galactose, D-frutose, 3-metil-D-glicose, D-xilose, L-

arabinose, L-ramnose, L-fucose, D-apiose e D-chinovose, além do ácido D-glucurônico e ácido

D-galacturônico. Os açúcares frequentemente se ligam na posição C3 via grupos hidroxilas

como glicosídeos ou como ésteres ligados via grupo carboxila na posição C28 (WENG, 2011).

2.5 Toxicologia e segurança de uso

Antioxidantes são usados na indústria alimentícia como conservantes de alimentos

e bebidas e na embalagem, e cada vez mais estão sendo adicionados a esses alimentos para

aumentar as vendas por causa dos benefícios a saúde percebidos pelo consumidor. Aqui, o

conceito de “antioxidante é bom, quanto mais antioxidante melhor” está bem impregnado na

percepção pública de uma forma geral (HALLIWELL, 2012a).

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Na Renascença, o médico Paracelsus notou mais de 500 anos atrás que todo

composto tem efeitos negativos numa dose muito alta. Isto se aplica para antioxidantes.

Administração de altas doses de antioxidantes pode explicar o aumento percebido de toxicidade

relatado algumas vezes. Por exemplo, suplementação de 20 mg de betacaroteno em fumantes

do sexo masculino aumenta a incidência de câncer de pulmão em 18%. Note que a

recomendação de ingestão média diária de betacaroteno é de apenas 2-7mg. É surpreendente

que na época em que foram conduzidos esses estudos de suplementação, informações essenciais

sobre a biotransformação de betacaroteno estavam faltando. Claramente “quanto mais melhor”

não é o caso. Identificação da dose ótima com relação benefício-risco elevada é necessária,

juntamente com um conhecimento adequado da biotransformação (BAST; HAENEN, 2013).

A “quimiofobia” está generalizada e antioxidantes naturais, frequentemente

denotados pelo prefixo bio-, são considerados superiores aos antioxidantes sintéticos. Para o

consumidor, a palavra “bio” significa natural e é pensada como sinônimo de seguro. A mesma

escola de pensamento associa a palavra “química” com perigo. A convicção desse mito é

disseminada e forma a base para a agricultura orgânica, em que não são utilizados pesticidas,

herbicidas ou fertilizantes artificiais. Em relação ao uso de antioxidantes substituindo

tratamentos com medicamentos também é fruto dessa onda de raciocínio. Resposta

farmacológica não deve ser esperada de antioxidantes. Drogas agem especificamente sobre um

alvo, como uma enzima, um receptor ou transportador. De preferência a ação de uma droga

deve ser específica, ou seja, ela tem de agir única e exclusivamente sobre o alvo e induz efeito

forte. A eficácia clínica de uma droga é, portanto, fácil de mensurar. Este princípio básico da

farmacologia está em contraste com o uso de alimentos ou compostos derivados de alimentos

para um fim terapêutico (FRANCL, 2013; SIMPSON; BROCK, 2004).

2.5.1 O uso de plantas medicinais e efeitos adversos

As plantas tem sido a base da medicina tradicional em todo o mundo por milhares

de anos e continua provendo novos remédios a humanidade. A Organização Mundial da Saúde

(OMS) tem estimado que 80% dos habitantes da terra contam com a medicina tradicional para

cuidados primários com a saúde e a maior parte da terapia envolve o uso de extratos de plantas

e seus componentes ativos. Como discutido previamente, muitas doenças têm etiologia baseada

no estresse oxidativo, uma solução para esse problema é suplementar através da dieta

compostos antioxidantes que estão nas plantas. Estes antioxidantes naturais podem, portanto,

servir como um tipo de medicina preventiva (KRISHNAIAH; SARBATLY;

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NITHYANANDAM, 2011). Por outro lado, num universo de numerosas plantas com atividades

biológicas usadas neste tipo terapia, muitas delas causam envenenamento em seres humanos.

Alguns estudos reportam importantes efeitos tóxicos de plantas usadas comumente na medicina

alternativa, incluindo plantas usadas como antibiótico, antiviral, anticâncer, anti-inflamatório e

até afrodisíaco (NDHLALA et al., 2013). Além disso, boa parte dessas plantas nunca foram

testadas para efeitos tóxicos. Existem plantas e diferentes usos que nunca chegam ao

conhecimento da comunidade científica e, obviamente, não conseguem retornar a comunidade

não acadêmica um posicionamento sobre a segurança de uso de todas essas plantas (TARIQ;

MUSSARAT; ADNAN, 2015).

2.5.2 Taninos e efeito antinutricional

Apesar de grandes diferenças estruturais, taninos hidrolisáveis e condensados

frequentemente produzem efeitos antinutricionais semelhantes. Os efeitos relatados mais

comuns em experimentos com animais são diminuição no ganho de peso, no apetite, menor

digestibilidade proteica e menor eficiência na utilização de nutrientes. Portanto, alimentos ricos

em taninos são considerados como alimentos de baixo valor nutricional. A base bioquímica

para esses efeitos parece não ser somente pela inibição da digestão proteica, mas uma inibição

sistêmica do metabolismo dos nutrientes digeridos e absorvidos, particularmente de proteínas

(BUTLER, 1992; CHUNG et al., 1998).

PACs são o tipo mais comum de taninos encontrados na forragem à base de

legumes. Dificuldades na análise de taninos são oriundas do processamento da amostra e da

secagem que diminuem a extração e a atividade biológica. Os métodos de análise quantitativa

não se correlacionam bem com inibição enzimática, precipitação de proteínas e efeitos

antinutricionais. Taninos hidrolisáveis são potencialmente mais tóxicos a ruminantes.

Pirrogalol, uma hepatotoxina e nefrotoxina, é um produto da degradação por microrganismos

da flora dos ruminantes. PACs são consideradas menos tóxicas porque elas não são absorvidas,

mas são associadas a lesões na mucosa do intestino. A explicação mais amplamente aceita é

que os complexos PAC-proteínas escapam a degradação ruminal e são biodisponíveis no baixo

trato intestinal. Pesquisa sobre a manipulação do conteúdo de PAC na forragem de leguminosas

é justificada pelo fato delas estarem associadas a leguminosas que causam menos

empachamento, a baixo nitrogênio não-proteico em silagem e maior eficiência de utilização de

proteína (REED, 1995).

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2.5.3 Saponinas e atividade hemolítica

A atividade hemolítica de saponinas induzindo toxicidade na maioria dos animais

é uma grande desvantagem para o seu desenvolvimento como fármaco. Apesar de o exato

mecanismo da ruptura de membrana de eritrócitos pelas saponinas não ser claramente

compreendido, tem sido associado com sua propriedade anfifílica. Tem sido hipotetizado que

saponinas interagem com os lipídeos de membrana das células e formam complexos insolúveis

com colesterol levando a formação de poros, permeabilizando a célula e subsequentemente

perdendo hemoglobina para o meio extracelular. Já que algumas saponinas não são hemolíticas,

estudos sobre atividade relacionada a estrutura foram feitos a fim de descobrir compostos ativos

como agente anticâncer ou adjuvantes de vacinas sem toxicidade aos eritrócitos. Não existe

correlação evidente entre a atividade hemolítica com a citotoxicidade das saponinas

(GAUTHIER et al., 2009). Saponinas triterpenoides como a do tipo lupine quase não têm

atividade hemolítica, mas possuem atividade citotóxica mais forte que as do tipo oleanane.

Além disso, a localização do açúcar (C3 ou C28) e os tipos de açúcar (α-L-Araf, β-D-Glcp ou

β-D-Galp) influenciam no efeito (LIU et al., 2013).

Apesar de existirem poucos estudos que avaliam tolerância a saponinas, pode ser

afirmado que a maioria das saponinas parecem ser seguras para o consumo, ao menos em

concentrações normalmente recomendadas. No entanto, existem poucos estudos de toxicologia

in vivo investigando a segurança das saponinas (WENG, 2011).

2.5.4 Polifenóis e citotoxicidade

Quase todos os agentes quimioterápicos sintéticos atualmente usados na terapia

contra o câncer são altamente tóxicos e produzem danos severos contra células normais. A falta

de efeitos tóxicos em terapias de longo prazo, facilidade de obtenção e inerente atividade

biológica dos polifenóis os tornam opções viáveis para quimioprevenção ou como adjuvantes

associados a outros agentes na quimioterapia (MATSUO et al., 2005). De fato, polifenóis tem

mostrado atividade citotóxica contra várias linhagens de células cancerígenas com pouco ou

nenhum efeito em células normais, o que estimula ainda mais o desenvolvimento de tratamentos

baseados em polifenóis (RAO et al., 2007).

Tem-se sugerido que polifenóis têm efeito de inibição do crescimento em vários

tipos de linhagens de câncer agindo por diferentes rotas metabólicas e em diferentes alvos

moleculares. Polifenóis podem se ligar facilmente a membrana, penetrar em células em culturas

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in vitro e modular atividade metabólicas celulares. Mitigação de dano oxidativo, inativação de

carcinógeno, inibição da proliferação, promoção de diferenciação, indução da detenção do ciclo

celular e apoptose, comprometimento da angiogênese e supressão da metástase compõem as

atividades anticarcinogênicas dos polifenóis (SAK, 2014).

Células de uma variedade de linhagens de células malignas têm dificuldades de

entrar em processo de apoptose em resposta a estímulos fisiológicos. Indução de apoptose em

células malignas representa uma abordagem promissora para a quimioprevenção e

quimioterapia, e a busca de agentes que podem especificamente ativar apoptose em células

tumorais é uma interessante estratégia na descoberta de novas drogas. A eficácia de polifenóis

é, em parte, devido a habilidade de induzir apoptose em células tumorais (CHANG et al., 2008).

Um dos acontecimentos mais comuns do desenvolvimento de câncer, conhecido

como uma marca registrada de células malignas é a desregulação do ciclo celular. Agentes que

podem inibir a progressão da divisão celular são importantes no estudo da prevenção e terapia

do câncer. Tem se mostrado que os polifenóis podem desregular a progressão do ciclo celular

tanto na G1/S como na G2/M modulando várias proteínas que regulam ciclo celular (LEE et

al., 2005).

2.5.4.1 O princípio do ensaio do ATP

A estimativa de ATP usando luciferase de vaga-lume é o método mais comumente

aplicado para avaliar o número de células viáveis em screenings de alto rendimento (da sigla

inglês HTS - High Throughput Screening). ATP tem sido amplamente aceito como válido

marcador de células viáveis. Quando as células perdem a integridade da membrana, perdem a

capacidade de sintetizar ATP e as ATPases endógenas depletam rapidamente qualquer ATP

remanescente do citoplasma. Embora a luciferase tem sido usada para medir o ATP durante

décadas, os avanços recentes na concepção do ensaio resultaram em um protocolo consistente

de uma única adição de reagente que resulta em um sinal luminescente que brilha por horas. A

versão estável da luciferase foi a tecnologia que permitiu o desenvolvimento de ensaios

robustos que suportam as condições adversas de lise celular e são mais resistentes aos inibidores

de luciferase encontrados nas bibliotecas de moléculas pequenas. O reagente de detecção de

ATP contém detergente para lisar as células, inibidores da ATPase para estabilizar o ATP que

é liberado a partir das células lisadas, luciferina como substrato e forma estável da luciferase

para catalisar a reação que gera os fótons de luz. O ensaio de ATP é o mais rápido, mais sensível

e menos propenso a artefatos do que outros métodos de ensaio de viabilidade. O sinal

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luminescente atinge um estado estável dentro de 10 minutos após a adição do reagente e

normalmente brilha com uma meia-vida superior a 5 horas.

2.5.5 Biodisponibilidade de compostos fenólicos pós-ingestão

A Biologia Molecular frequentemente tenta aprender sobre eventos celulares

estudando cultura de células. De fato, muito se tem aprendido, mas cultura de células não

representam a realidade na medida em que as células não se encontram no seu estado normal.

O meio de cultura é usualmente deficiente em antioxidantes (vitaminas C e E) e precursores de

antioxidantes (selênio), e contêm íons metálicos presentes como contaminantes ou adicionados

a fórmula deliberadamente [sais de Fe(III) adicionados ao Dulbecco’s modified Eagle’s medium

(DMEM)]. Dado que a maioria das culturas de células animais são cultivadas como uma

camada única de células sob 95% ar / 5% CO2 (aprox. 152 mmHg O2), estas estão inseridas em

um meio altamente hiperóxido (a maioria das células no corpo humano estão a menos que 10

mmHg O2). Segundo o potencial de seleção natural darwiniano culturas de células que se

dividem rapidamente, é possível que o crescimento de tais células num meio pró-oxidante

depois de muitas gerações leve à evolução do uso de EROs para rotas de sinalização que

promovem proliferação e suprimem morte celular por mecanismos que podem não ocorrer

normalmente in vivo (HALLIWELL, 2008).

O corpo humano contém um sistema de defesa enzimático e químico muito

complexo. Uma vez que um antioxidante entra no corpo, ele não passa inalterado até o local de

ação, então, biodisponibilidade e bioatividade tem de ser consideradas. Portanto, a atividade

antioxidante in vitro pode não correlacionar bem com a in vivo. Por exemplo, o trato

gastrointestinal pode degradar ou alterar a forma química de um composto antioxidante ao

passar pelo estômago, prevenindo-os de serem absorvidos no intestino e, portanto, tornando-os

ineficazes na prevenção de oxidação no organismo ou em fazer qualquer outra atividade

biológica que dependa da preservação da estrutura química. Não obstante, como um screening,

é razoável assumir que se um antioxidante tem capacidade baixa de varrer radicais livres ou de

prevenir reações oxidativas in vitro, então, é provável que também terá baixa eficácia in vivo.

Devido ao custo de modelos baseados em sistema de animais e de estudos de intervenções em

humanos, é preferível submeter previamente as amostras em uma bateria de ensaios in vitro

(CRAFT et al., 2012).

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3 OBJETIVOS

3.1 Objetivo Geral

Determinar a composição química, o potencial antioxidante e a segurança de uso

do extrato etanólico e frações derivadas de sementes de Licania rigida Benth.

3.2 Objetivos Específicos

Identificar e quantificar compostos fenólicos no extrato etanólico e suas frações

derivadas;

Determinar a capacidade antioxidante total utilizando três métodos complementares;

Avaliar a correlação entre atividade antioxidante e a presença de compostos fenólicos;

Avaliar a presença de atividade citotóxica, hemolítica e toxicidade aguda em náuplios

de Artemia sp.;

Avaliar a toxicidade aguda em camundongos.

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4 MATERIAIS E MÉTODOS

4.1 Reagentes

Ácido gálico, ácido clorogênico, ácido elágico, ácido ascórbico, sulfato ferroso,

ácido tânico, fenantrolina e ácido cafeico foram adquiridos da Merck (Darmstadt, Alemanha).

2,2-difenil-1-picrilhidrazil (DPPH), ácido tiobarbitúrico (TBA), 1,1,3,3-tetraetoxipropano

(MDA), albumina sérica bovina (BSA) fração V livre de ácidos graxos, agarose tipo I, azida

sódica, cloreto de alumínio, acetato de potássio, quercetina, quercitrina, isoquercitrina, rutina,

kaempferol, catequina, epicatequina e reagente Folin-Ciocalteau foram comprados da Sigma

Aldrich Co. (St. Louis, EUA). Todos os demais componentes químicos usados foram de

graduação analítica.

4.2 Materiais Biológicos

4.2.1 Eritrócitos

Eritrócitos humanos dos tipos sanguíneos A, B e O foram obtidos de doadores

voluntários adultos saudáveis, de 18 a 40 anos, de qualquer sexo, como descrito em detalhes na

seção número 4.6.2.1. Todos os procedimentos que envolveram seres humanos foram

submetidos à aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Universidade

Federal do Ceará (UFC) (Fortaleza, Ceará, Brasil) para ser conduzido de acordo com a

resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.

4.2.2 Animais

4.2.2.1 Naúplios de Artemia sp.

Cistos de Artemia sp. foram adquiridos comercialmente em lojas de aquarismo na

cidade Fortaleza (Ceará, Brasil). Para obtenção dos naúplios do microcrustáceo, cistos de

Artemia sp. foram postos para eclodir em solução salina (NaCl 0,9%). Uma lâmpada foi

colocada acima de um dos lados do aquário para atrair os microcrustáceos para perto da parede

do aquário. Após 24 h, os náuplios de Artemia estavam prontos para o ensaio. Nenhum alimento

foi adicionado durante esse período.

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4.2.2.2 Animais de laboratório

Dois coelhos macho da raça Califórnia com três meses de idade foram adquiridos

junto ao Setor de Cunicultura do Departamento de Zootecnia da UFC, Fortaleza, Ceará. O

coelho foi mantido no Biotério de Manutenção do Departamento de Bioquímica e Biologia

Molecular da UFC com água e ração (Biobase, Bio-Tec, São Paulo, Brasil) ad libitum.

Quinze camundongos fêmeas convencionais, originalmente da linhagem Unib:SW

(Swiss), nulíparas e não prenhas foram adquiridas com três semanas de idade do Biotério

Central da UFC (BIOCEN-UFC). Os animais foram alojados no biotério de experimentação do

Bioprospec, Departamento de Biologia da UFC, com condições de temperatura (23,0 ± 2,0 ºC),

fotoperíodo (12 h claro/12 h escuro) e umidade do ar (45-55%) controladas. Os camundongos

foram mantidos em número adequado em caixas de polipropileno com substrato de raspa de

pinho (Biotécnicas, São Paulo, Brasil) e água e ração (Biobase, Bio-Tec, São Paulo, Brasil) ad

libitum até atingirem o peso médio aproximado de 24 g para início do ensaio. Todos os

protocolos com animais, adotados neste trabalho, foram previamente aprovados pela Comissão

de Ética em Pesquisa Animal (CEPA) da UFC, que adota os preceitos do COBEA e obedece à

Lei Nº 11.794, de 8 de outubro de 2008 (Lei Arouca), que regula o uso de animais em pesquisas

científicas. Os animais foram marcados para facilitar a identificação e mantidos nas gaiolas por

tempo hábil para permitir aclimatação às condições do laboratório.

4.3 Desenho experimental

O desenho experimental deste trabalho foi dividido em três fases: (1) coleta,

extração e fracionamento, seguido de caracterização química; (2) ensaios de atividade

antioxidante e (3) ensaios de toxicidade. Os ensaios a princípio seriam apenas de atividade

antioxidante, porém, durante a revisão de literatura, averiguou-se que altas concentrações de

compostos fenólicos poderiam ser tóxicos e impossibilitar seu consumo pela população. Fez-

se, portanto, um ensaio de toxicidade preliminar usando náuplios de Artemia sp. que prediz com

sensibilidade razoável toxicidade em outros modelos. O desenho experimental configurou-se

como destacado na Figura 4.

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4.4 Coleta, preparação dos extratos e fracionamento

Frutos maduros de L. rigida foram coletados (ao menos 3 quilogramas) de janeiro

a março de 2013, no Campus do Pici da UFC, cidade de Fortaleza, Estado do Ceará. A planta

foi identificada pelo taxonomista Dr. Edson de Paula Nunes e uma voucher com número EAC

40216 foi depositada no Herbário Prisco Bezerra dessa mesma Universidade.

As sementes foram separadas do fruto e desidratadas a 50 ºC em estufa até obtenção

de peso constante. Em seguida, as sementes foram trituradas em um moedor de café (Cadence,

Itajaí, Brasil) para obter um pó fino (tamanho da partícula < 0,5 mm). Este material (500g) foi

submetido a extração com etanol 99% (1,5 L) à temperatura ambiente (25 – 27 ºC) por três dias.

O sobrenadante foi removido e filtrado em papel de filtro Whatman número 1 e guardado em

Cole

ta, E

xtr

ação

e

frac

ionam

ento

Caracterização química

Prospecção fitoquímica

Determinação de fenóis,taninos e

flavonoides

CLAE

Ensa

ios

de

ativ

idad

e an

tiox

idan

te

Varredura do radical DPPH

Inibição da peroxidação lipídica (TBARS)

Atividade quelante de metais de transição (Ferro)

Ensa

ios

de

tox

icid

ade

Toxicidade aguda em Artemia sp.

Citotoxicidade com linhagens de células de cancer

Atividade hemolítca com sangue de coelho e de humanos (tipo A, B e O)

Toxicidade aguda em camundogos

Figura 4 – Esquema do desenho experimental

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frascos âmbar à temperatura ambiente. Depois, o mesmo pó foi submetido a mais duas extrações

consecutivas nas mesmas condições, resultando num volume final de extrato de

aproximadamente 4,5 L. Os filtrados das três extrações distintas foram misturados e

concentrados sob pressão reduzida em rotaevaporador (Tecnal, Piracicaba, Brasil) até a

completa eliminação do solvente, e armazenado num congelador a - 4 ºC. O material obtido foi

denominado de Extrato Etanólico de sementes de Licania rigida (EELr) e teve um rendimento

de 46,6%. Parte desse extrato foi usado para o fracionamento como descrito a seguir: primeiro,

25 g do EELr foi misturado com sílica até obter uma farinha fina. Depois, usando um filtro de

papel e funil de Büchner, a mistura foi eluída com solventes em ordem crescente de polaridade

(hexano, clorofórmio, acetato de etila, metanol e água). A mudança para o próximo solvente

somente ocorria quando o eluato estava totalmente transparente. Finalmente, os solventes foram

destilados no rotaevaporador produzindo cinco frações a partir do extrato etanólico de sementes

de L. rigida: Fração Hexânica de L. rigida (FHLr, rendimento de 0,84%); Fração Clorofórmica

de L. rigida (FCLr, rendimento de 10,68%); Fração Acetato de Etila de L. rigida (FAELr,

rendimento de 37,04%); Fração Metanólica de L. rigida (FMLr, rendimento de 17,28%) e

Fração Aquosa de L. rigida (FALr, rendimento de 1,04%). O EELr e demais frações foram

armazenados a - 4 ºC até o momento das análises (SOUZA et al., 2013).

4.5 Perfil de polifenóis e atividades antioxidantes

4.5.1 Prospecção fitoquímica

EELr foi submetido a uma pesquisa de fitoquímicos para a detecção das principais

classes de metabólitos secundários por meio de reações químicas que resultam no

desenvolvimento de cor e/ou precipitado distintivo para cada classe de substância de acordo

com a metodologia descrita por Matos (1997).

4.5.2 Determinação de fenóis totais

O conteúdo de fenóis totais do extrato e frações de L. rigida foi determinado pelo

método de Folin-Ciocalteu (SINGLETON; ORTHOFER; LAMUELA-RAVENTÓS, 1999),

com algumas modificações. Resumidamente, em uma microplaca de 96 poços, foi misturado

50 µL de amostra com 50 µL de reagente de Folin-Ciocalteu (33%, v/v), seguido por uma espera

de 3 min para, logo em seguida, adicionar 100 µL de água destilada e 100 µL de carbonato de

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sódio (7,5%), nesta ordem. A mistura de reação foi incubada por 30 min no escuro e a

absorbância foi medida a 700 nm utilizando um espectrofotômetro (Biotek, Winooski, United

States). Ácido gálico foi usado como padrão para compostos fenólicos. A média das leituras foi

usada e o conteúdo total fenólico foi expresso em microgramas de ácido gálico por miligramas

de amostra. Todas as amostras foram analisadas em triplicatas.

4.5.3 Determinação de flavonoides

O método do cloreto de alumínio foi utilizado para determinar o conteúdo de

flavonoides nas amostras (CHANG et al., 2002). Quercetina foi usada para fazer a calibração

da curva. De forma breve, 10 mg de quercetina foi dissolvida em etanol 80% e depois diluída

para 25, 50 e 100 µg/mL. Em seguida, 0,5 mL das soluções padrões diluídas foram misturadas

separadamente com 1,5 mL de etanol 95%, 0,1 mL de cloreto de alumínio (10%), 0,1 mL de

acetato de potássio 1 M e 2,8 mL de água destilada. Após incubação à temperatura ambiente

por 30 min, a absorbância da mistura de reação foi medida a 415 nm com um espectrofotômetro.

O cloreto de alumínio foi substituído pela mesma quantidade de água destilada para constituir

o branco do ensaio. Da mesma forma, 0,5 mL das amostras foram colocadas para reagir com

cloreto de alumínio para determinação de flavonoides como descrito acima. Todas as análises

foram feitas em triplicatas.

4.5.4 Determinação de taninos

A determinação de taninos foi executada pelo método de difusão radial

(HAGERMAN, 1987). Este método consiste da reação entre taninos e proteínas num gel de

agarose formando um alo visível e mensurável. Inicialmente, foi preparada uma solução tampão

de ácido acético 50 mM, pH 5,0, contendo 60 μM de ácido ascórbico e 0,04% de azida sódica.

Esta solução tampão foi usada para preparar o gel de agarose 1%. Sucintamente, a solução foi

aquecida até completa homogeneização da agarose e, depois, arrefecida a 45 ºC. Neste ponto,

0,1% de albumina bovina sérica foi adicionada. Rapidamente, o gel foi distribuído em placas

de Petri de 9 cm de diâmetro (15 mL aproximadamente em cada). As placas tampadas foram

colocadas em refrigeração por 10 min para assegurar a gelificação. Poços de quatro milímetros

de diâmetro foram feitos no gel com distância de no mínimo 2 cm dos outros poços e das bordas

da placa. Com ajuda de uma micropipeta, quatro alíquotas sucessivas de 10 μL de amostra

foram adicionadas nos poços. Para obter uma curva padrão, o mesmo procedimento foi

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realizado com diluições seriadas feitas a partir de uma solução etanólica (70%) de ácido tânico

a uma concentração de 25 mg/mL. Todas as amostras foram analisadas em triplicatas.

4.5.5 Quantificação de compostos fenólicos por cromatografia líquida de alta eficiência

com detector tipo de arranjo de fotodiodo (CLAE-DAD)

Análises cromatográficas em fase reversa foram realizadas sob condições de

gradiente, utilizando coluna C18 (4,6 mm x 250 mm) com partículas de 5 μm de diâmetro; a

fase móvel foi água contendo 2% de ácido acético (A) e metanol (B), e a composição do

gradiente foi: 5% de (B) durante 2 min; 25% (B), até 10 min; 40, 50, 60, 70 e 80% (B) a cada

10 minutos; seguindo o método descrito por Boligon e colaboradores (2012), com ligeiras

modificações. Antes de serem usadas, as amostras de L. rigida (extrato etanólico e as frações

metanólica, acetato de etila, clorofórmica e aquosa) e a fase móvel foram filtradas através de

filtro de membrana de 0,45 μm (Millipore) e, em seguida, desgaseificou-se em banho

ultrassónico. As amostras foram analisadas numa concentração de 20 mg/mL. A taxa de fluxo

foi de 0,7 mL/min e o volume de injeção foi de 40 μL. As soluções estoque dos padrões foram

preparadas em fase móvel de CLAE numa faixa de concentrações de 0,030-0,250 mg/mL de

catequina, epicatequina, quercetina, quercitrina, isoquercitrina, rutina e kaempferol, e de 0,045-

0,500 mg/mL para os ácidos gálico, clorogênico, elágico e cafeico. A quantificação foi

calculada utilizando o método padrão de integração externa dos picos a 257 nm para o ácido

gálico, 280 nm para a catequina e a epicatequina, 325 nm para os ácidos clorogênico, elágico e

cafeico, e 365 nm para a quercetina, quercitrina, isoquercitrina, rutina, kaempferol e kaempferol

glicosídeo.

Os picos da cromatografia foram confirmados por comparação do seu tempo de

retenção com os de padrões de referência e por espectros de DAD (200 a 600 nm). Curva de

calibração para o ácido gálico: Y = 14063x + 1.187,9 (r = 0,9997); ácido clorogênico: Y =

12850x + 1.372,5 (r = 0,9993); ácido caféico: Y = 12748x + 1.240,8 (r = 0,9991); ácido elágico:

Y = 13065x + 1.197,8 (r = 0,9999); catequina: Y = 11964x + 1387,6 (r = 0,9999); epicatequina:

Y = 12678x + 1329,7 (r = 0,9990); rutina: Y = 12756x + 1.367,1 (r = 0,9996); quercetina: Y =

14274x + 1.341,5 (r = 0,9995); quercitrina: Y = 12694x + 1357,4 (r = 0,9993); isoquercitrina:

Y = 12571x + 1.358,5 (r = 0,9997) e kaempferol: Y = 13657x + 1.293,8 (r = 0,9999). Todas as

operações de cromatografia foram realizadas à temperatura ambiente e em triplicata.

LOD e LOQ ("Limite de Detecção" e "Limite de Quantificação") foram calculados

com base no desvio-padrão das respostas e na inclinação de três curvas analíticas independentes

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(BOLIGON et al., 2013). LOD e LOQ foram estimados em 3,3 e 10 σ/S, respectivamente, onde

“σ” é o desvio-padrão da resposta e “S” é a inclinação da curva de calibração.

Cromatografia líquida de alta eficiência foi realizada com Shimadzu Prominence

Auto Sampler (SIL-20A) sistema CLAE (Shimadzu, Kyoto, Japan), equipado com bombas

alternativas Shimadzu LC-20AT ligados a um desgaseificador DGU 20A5 com um integrador

CBM 20A, detector de arranjo de fotodiodo SPD-M20A e software de cromatografia LC

Solution versão 1.22 SP1.

4.5.6 Ensaio DPPH

A atividade antioxidante foi avaliada usando um método colorimétrico baseado na

capacidade de varredura do radical DPPH (2,2-difenil-1-picrilhidrazil ) (ZHANG et al., 2014).

Em resumo, foi preparada uma solução de 60 µmol/L de DPPH em etanol. Numa microplaca

de 96 poços, 100 µL de DPPH foram adicionados a 100 µL de amostra dissolvida em etanol em

concentrações variando de 0,5 a 500 μg/mL, em nove repetições por concentração. Como

controle negativo, foi usado 100 μL de DPPH misturado a 100 μL de etanol. A mistura de

reação foi incubada à temperatura ambiente por 30 min e as leituras foram feitas no

espectrofotômetro no comprimento de onda de 518 nm. A atividade antioxidante por esse

método foi estimada utilizando a seguinte fórmula:

%N = 100 x (Abscontrole – Absamostra)/ Abscontrole

Onde %N é o percentual de neutralização, Abscontrole é a absorbancia do controle

negativo (DPPH + Álcool); e Absamostra é a absorbância das amostras.

Ácido ascórbico foi usado como controle positivo neste experimento com as

mesmas concentrações usadas para as amostras. Todas as amostras foram analisadas em

triplicatas.

4.5.7 Ensaio TBARS

EROs têm meias-vidas extremamente curtas e são muito difíceis de mensurar

diretamente. Em vez disso, o que pode ser medido são diversos produtos do dano produzido

pelo estresse oxidativo, como os TBARS (Substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico). Estas

substâncias são formadas como produtos da peroxidação lipídica, que pode ser detectada

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usando o reagente ácido tiobarbitúrico (TBA). O MDA (Malondialdeído) é um dos vários

produtos formados via decomposição de peroxidação lipídica. A produção de TBARS foi

determinada usando fosfolipídios de gema do ovo, mais especificamente da carioteca (SABIR;

ROCHA, 2008). Concisamente, os fosfolipídios, obtidos do homogenato da membrana da

gema, foram adicionados a mistura de reação contendo variadas concentrações das amostras (8

a 250 µg/mL) e água destilada até completar volume de 500 µL. Esta mistura foi pré-incubada

a 37 ºC por 1 hora na presença ou na ausência de ferro (75 µM), um indutor de peroxidação

lipídica. O cromógeno detectável via espectrofotômetro pôde ser formado a partir da adição de

500 µL de ácido acético (20%, pH 3,0) e 500 µL de TBA (0,6% em solução aquosa) e, logo,

incubado a 97 ºC em banho-maria por uma hora. Ao mesmo tempo, uma série de diluições de

0,03 mM de MDA foi incubado da mesma maneira para servir como curva padrão. A

absorbância foi mensurada no comprimento de onda de 532 nm. Todas as amostras foram

analisadas em triplicatas.

4.5.8 Ensaio de atividade quelante

A fim de avaliar a propriedade quelante do extrato etanólico e das frações, foi usado

o método da fenantrolina com pequenas modificações (PUNTEL; NOGUEIRA; ROCHA,

2005). Resumidamente, uma mistura contendo 40 µL de Fe2+ (120 µM Fe2SO4) e 20 µL das

amostras nas concentrações de 62,5 a 1.000 µg/mL foi misturada a 591 µL de água destilada e

376 µL de tampão Tris-HCl (0,1 M; pH 7,2), seguido de 5 min de espera para que seja possível

a formação de complexos entre o Fe(II) e os compostos que têm essa propriedade. Depois disso,

13 µL de fenantrolina (0,25%) foram adicionados para formar complexos coloridos com os íons

de ferro que permaneceram livres. A absorbância foi registrada a 510 nm. Os valores foram

expressos em percentual em relação ao controle (mistura de reação sem amostra). As soluções

de Fe2SO4 foram preparadas com água destilada logo antes do uso. Ácido etilenodiamino tetra-

acético (EDTA) foi usado como controle positivo do ensaio nas mesmas concentrações das

amostras. Todas as amostras foram analisadas em triplicatas.

4.6 Análises toxicológicas

O presente trabalho visa também fornecer informações toxicológicas sobre o

extrato etanólico e frações derivadas de sementes de Licania rigida para que no futuro pudesse

servir de base para produção de um produto alimentício enriquecido com compostos fenólicos.

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Para tanto, se faz necessário um primeiro teste prospectivo de toxicidade que fosse rápido e

sensível, no caso, ensaio de toxicidade aguda em náuplios de Artemia sp.

4.6.1 Toxicidade aguda em náuplios de Artemia sp.

Os efeitos do extrato e das frações de L. rigida em concentrações variando de 31 a

1.000 µg/mL foram analisados sobre a taxa de sobrevivência de naúplios de Artemia sp., como

um modelo alternativo proposto para avaliação de citotoxicidade (COSTA-LOTUFO et al.,

2005). Náuplios de Artemia sp. (n = 10/amostra/concentração), eclodidos em água do mar

artificial (3,5% de salinidade) e com 48 h de vida, foram transferidos para um volume de 3,0

mL de cada amostra em diferentes concentrações. As amostras foram previamente preparadas

em água do mar, sendo preparados também controles negativos com o mesmo veículo. Após

24 h, foram contados os mortos em cada concentração das amostras e os resultados plotados

em um gráfico para correlacionar mortalidade x concentração da amostra para cálculo da

Concentração Letal para 50% dos indivíduos (CL50) através de análise de Probit. Cada

concentração foi testada em triplicata. Dicromato de potássio foi usado como controle positivo.

Também foi calculado o percentual de morte a partir da fórmula a seguir:

Percentual de morte (%): (Total de naúplios–Naúplios vivos) / Total de naúplios x 100

4.6.2 Ensaio de atividade hemolítica

Depois de realizado o ensaio de toxicidade aguda em náuplios de Artemia sp.

decidiu-se continuar os ensaios de toxicidade apenas com o EELr pelos seguintes motivos:

a) O extrato bruto é a amostra que compreende toda a composição de suas amostras

derivadas.

b) A extração de compostos fenólicos por solventes é normalmente feita usando etanol

porque é a opção que oferece menor impacto negativo ao meio ambiente.

c) O etanol é em geral o solvente que extrai mais eficazmente polifenóis de plantas.

4.6.2.1 Coleta de sangue humano e de coelho para isolamento e preparo de suspensão de

eritrócitos

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A coleta de sangue humano, a condição de saúde dos doadores e o número de

voluntários foram iguais aos descritos na seção 4.2.1. Foram coletadas alíquotas de 2 mL de

sangue de dois voluntários de cada tipo sanguíneo (A, B e O) e transferidas para tubos

heparinizados, lentamente homogeinizados e acondicionados a 4 ºC, até o momento do

isolamento dos eritrócitos.

Alíquotas de 2 mL sangue de dois coelhos foram coletadas a partir de um pequeno

corte perpendicular na veia marginal da orelha com bisturi. O sangue foi colhido em tubo

heparinizado, homogeinizado e acondicionado a 4 ºC, até o momento do isolamento dos

eritrócitos.

Para o isolamento dos eritrócitos e preparo de uma suspensão a 1%, todas as

amostras de sangue foram centrifugadas (Fanem, São Paulo, Brasil) a 200 x g, por 10 min, a 25

ºC. O sobrenadante foi cuidadosamente desprezado. Ao precipitado de eritrócitos foi

adicionado NaCl 0,9% para substituir o volume de plasma retirado, homogeinizado e

centrifugado nas mesmas condições. Repetiu-se esse mesmo processo no mínimo cinco vezes

ou até que se obtivesse um sobrenadante totalmente transparente. Do precipitado (“papa de

hemácias”), foi retirado 1 mL que foi misturado a 100 mL de NaCl 0,9%. A suspensão foi

levemente misturada e acondicionada a 4 ºC, por, no máximo, 24 h.

4.6.2.2 Atividade hemolítca em eritrócitos de humanos e coelho

A atividade hemolítica das entomotoxinas foi investigada seguindo a metodologia

descrita por Merker e Levine (1986) e Bernheimer (1988), com algumas modificações. A

presença de hemólise na suspensão de eritrócitos humanos do tipo A, B e O e de eritrócitos de

coelho, todas a 1%, foi verificada após incubação por 1 h a 37 ºC com concentrações crescentes

do EELr, variando de 8 a 2.000 µg/mL, numa proporção de 1:2 (v/v). O grau de hemólise foi

calculado pela liberação de hemoglobina medida no comprimento de onda de 540 nm, após

centrifugação da mistura a 1.000 x g, por 5 min, a 25 ºC. A lise completa (100 %) foi obtida

por diluição de 100 µL da suspensão de células a 1% em 900 µL de água destilada, utilizando-

se ainda um controle negativo com a mesma proporção de células em solução salina. A

atividade hemolítica foi calculada de acordo com a seguinte fórmula: (Abs540 da amostra –

Abs540 do NaCl 0,9%) x 100/Abs 540 da água destilada.

4.6.3 Citotoxicidade em linhagens de células de câncer

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4.6.3.1 Materiais para os testes de viabilidade celular

O kit ATPlite™ para mensuração da viabilidade celular foi adquirido

comercialmente da PerkinElmer (Groningen, Holanda). As placas de microtitulação de 96

poços de fundo plano foram adquiridas da Costar® (Washington, DC, EUA).

4.6.3.2 Preparo de soluções das amostras em diferentes doses para teste de viabilidade

celular

Devido à alta concentração de compostos fenólicos, as amostras EELr e FMLr

passaram por um processamento adicional a fim de garantir as suas completas solubilidades no

solvente tensor ativo dimetilsulfóxido (DMSO), que, por sua vez, está presente na composição

do veículo de exposição às células. O processamento consistiu em utilizar um valor máximo de

15 mg de amostra/100 µL de DMSO seguido de 3 min de agitação em agitador de tubos do tipo

vortex, 30 min em banho ultrassônico à 30 ºC, 3 h em agitador de bancada (tipo shaker), vortex

por mais 3 min e, por último, 5 min de centrifugação a 2.500 rpm a fim de separar qualquer

resíduo que não tenha sido dissolvido durante o processo. Em seguida, uma alíquota de 7 µL

dessas soluções foram diluídas em 400 µL de meio DMEM para obter as soluções que foram

expostas às células. Durante todos os passos as amostras foram protegidas da luz para evitar a

degradação dos compostos fotossensíveis.

Também devido a característica dos compostos fenólicos de formarem complexos

com proteínas foi determinado que não se poderia utilizar concentrações finais das amostras

maiores do que 250 µg/mL para que não ocorresse a precipitação das proteínas do meio de

cultura celular, o que invariavelmente interferiria no resultado final dos ensaios. As

concentrações finais determinadas foram de 60, 80, 100, 150 e 250 µg/mL e para os controles

positivos (ácido gálico e quercetina) foram utilizadas as concentrações 5, 10, 20, 40, 60 e 80

µg/mL, uma vez que concentrações maiores dessas amostras acidificavam o meio de cultura

também interferindo no resultado do ensaio, essa alteração no pH não foi observada para o

extrato etanólico e fração metanólica.

Os tempos de exposição para ambas as linhagens, MCF-7 (Michigan Cancer

Foundation-7) e Caco-2 (Caucasian colon adenocarcinoma) foram padronizados em 6 e 24 h

com concentrações celulares de 1.0 x 10 -5 e 1.5 x 10-5 por 100 µL e com início da exposição

após 72 e 48 h, respectivamente.

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4.6.3.3. Teste de viabilidade celular

As células foram expostas a diferentes concentrações das amostras e, após 6 e 24 h,

a viabilidade celular foi determinada utilizando o kit ATP-Lite™. Este kit baseia-se na detecção

da luminescência emitida quando o ATP produzido por células metabolicamente ativas fornece

a energia necessária para a enzima luciferase converter luciferina em oxiluciferina que é

detectada em comprimento de onda adequado. Este método foi executado seguindo a

metodologia de Farias (2013)¦ com poucas adaptações.

Células de MCF-7 (número de passagem 8 a 15) e Caco-2 (número de passagem 32

a 40), ambas indiferenciadas, foram tratadas com tripsina, contadas em câmara de Neubauer e

ressuspensas em seus respectivos meios de cultura. A concentração final para MCF-7 e Caco-

2 foi de 10.000 e 15.000 células/poço, respectivamente. Placas de microtitulação de 96 poços

foram semeadas com 100 μL da suspensão celular e, em seguida, incubadas a 37 °C, em

atmosfera com 5% de gás carbônico (CO2) e 100% de umidade relativa. Após 72 h para MCF-

7 e 48h para Caco-2, 17 μL de cada diluição das amostras foram adicionados cuidadosamente

sobre as células perfazendo um volume final de 117 μL em cada poço. Foram realizados

controles nas mesmas condições, onde somente o meio DMEM ou somente o controle contendo

DMSO foi adicionado às células.

Após 6 e 24 h de incubação, o meio de cultura foi renovado (100 μL) e foram

adicionados 50 μL de solução de lise de células de mamíferos (conteúdo do kit ATP-Lite™)

em cada poço. As placas foram agitadas durante 5 min a 700 rpm utilizando um agitador de

placas (Microtitre plate shaker - SSM5, Stuart Equipment, Staffordshire, Reino Unido). Foram

então adicionados 50 μL de solução de substrato (conteúdo do kit ATP-Lite™) e as placas

foram novamente agitadas nas mesmas condições anteriores. Ao término da agitação, as placas

foram protegidas da luz por 10 min e levadas ao leitor de microplacas (BIOTEK Synergy HT,

Winooski, VT, EUA) para medição da luminescência. Para ambas as linhagens celulares

testadas, cada concentração de cada amostra foi testada em triplicata e os controles em

sextuplicata.

4.6.4 Avaliação de toxicidade aguda em camundongos

O ensaio de toxicidade aguda, em dose única, via oral do EELr foi realizado de

acordo com o protocolo teste limite nº 425 da OECD (2001). Foram utilizados camundongos

fêmeas heterogênicos (n = 5/grupo), com 5 semanas de idade e com peso médio de 24 g

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oriundos do BIOCEN-UFC. A amostra em questão é extremamente difícil de dissolver em água

nas concentrações requeridas para o teste dose limite (2.000 mg de extrato/kg de peso do

animal). Para contornar esse problema, EELr foi diluído em solução hidroalcoólica contendo

álcool etílico 17%, a qual foi a menor concentração de etanol capaz de dissolver essa amostra.

Dessa forma, fez-se necessária a adição de dois grupos controle: (1) com água destilada e (2)

com o veículo usado para diluir as amostras. As amostras foram administradas através de

cânulas apropriadas por gavagem em pequenas frações de 200 µL durante um período inferior

a 12 h. Os animais foram deixados em jejum prévio de 3 h antes de cada aplicação,

permanecendo em jejum por mais 1 h após aplicação. Nos intervalos, foi fornecido alimentação

por 1 h até iniciar o próximo jejum. Assim 3 administrações orais foram feitas para cobrir a

dose necessária. Os animais foram observados individualmente nos primeiros 30 min e, depois,

periodicamente nas primeiras 24 h. Posteriormente, os camundongos foram observados

diariamente até completar 14 dias. Durante esse período atentou-se para a presença de mortes

e os seguintes sinais de intoxicação: alterações na pele e pelos, olhos e mucosa, alterações na

respiração, na circulação, no sistema nervoso central e autônomo, na atividade somatomotora e

no comportamento. Foram observados também tremores, convulsões, salivação, diarreia,

letargia e coma. Os animais foram pesados nos dias 0, 1, 4, 7 e 14. No 14º dia, os animais foram

sacrificados por deslocamento cervical e dissecados para observação anátomo-morfológica de

órgãos vitais.

4.7 Análises estatísticas

Os resultados foram expressos como médias ± desvio padrão (SD). Test t de Student

foi usado para comparação entre duas médias e análise de variância simples (One-way

ANOVA) foi usado para comparação de mais de duas médias. Uma diferença foi considerada

estatisticamente significante quando p < 0,05. Para alguns ensaios, os resultados foram

expressos como CE50 (concentração efetiva 50%) para uma curva dose-resposta, o qual

representa a concentração de um composto onde 50% do seu efeito máximo é observado. Neste

estudo, usou-se CN50 (onde “N” significa neutralização) e CI50 (onde “I” significa inibição).

Recorreu-se também ao uso de correlação para tentar atribuir uma relação de causa-

efeito entre a composição de compostos fenólicos das amostras e suas atividades antioxidantes.

O excessivamente alto grau de multicolinearidade entre as concentrações dos compostos

químicos quantificados pela CLAE impediu o uso de análise de regressão, mesmo aplicando

técnicas de ortogonalização, como análise de componente principal. Logo, como uma

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abordagem alternativa para determinar os efeitos de cada composto na atividade antioxidante,

análise de correlação parcial, a qual isola o efeito de várias variáveis sobre o par de variáveis

que está sendo analisado, foi realizada (ANDERSON, 2003).

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5 RESULTADOS

5.1 Perfil de polifenóis e atividade antioxidante

Um total de 6 amostras foram obtidas através da extração e fracionamento das

sementes de Licania rigida. As frações hexânica e clorofórmica foram descartadas porque essas

frações apresentaram atividade antioxidante insignificante em um teste preliminar usando o

método do DPPH. Os experimentos seguiram adiante com o EELr, FMLr, FAELr e FALr.

5.1.1 Prospecção fitoquímica

O estudo qualitativo de prospecção fitoquímica do EELr revelou a presença de

taninos, flavonoides e saponinas (Tabela 1).

Tabela 1 - Prospecção fitoquímica mostrando a presença ou ausência de classes de compostos

químicos no extrato etanólico de sementes de Licania rigida

Classes de compostos químicos

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

Presença + - + - + - + + - + + 1, taninos pirrogálicos; 2, antocianinas/antocianidinas; 3, flavonas/flavonóis/xantonas; 4, chalconas/auronas; 5,

flavononóis; 6, leucoantocianidinas; 7, flavonas; 8, catequinas; 9, esteroide/triterpenoides; 10,

flavonóis/flavononas/flavononóis/xantonas; 11, saponinas.

5.1.2 Fenóis totais, Flavonoides e Taninos

Para avaliar a composição química do EELr e das frações FAELr, FALr e FMLr

foram feitas mais três análises quantitativas: (1) fenóis totais, (2) determinação de flavonoides

e (3) análise de taninos através de um método clássico de difusão radial em gel de agarose

(Tabela 2). Em geral, as amostras de L. rigida mostraram ser ricas em taninos, sendo a FALr a

que teve a maior concentração (0,294 µg equivalente de ácido tânico/g de fração). Por outro

lado, a FALr foi a que teve o pior resultado de fenóis totais (quase metade do maior valor

encontrado) e quantidade de flavonoides próxima a zero. Ao mesmo tempo, o EELr foi a

amostra que teve o menor resultado para taninos, mas a mais alta concentração encontrada para

flavonoides e fenóis totais. Não foi possível detectar a quantidade de taninos na FAELr porque

a concentração ficou abaixo do limite de detecção do método.

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Tabela 2 - Determinação de fenóis totais, flavonoides e taninos de extrato etanólico e frações

de sementes de Licania rigida

Amostras Caracterização química

Fenóis Totais* Flavonoides** Taninos***

EELr 6,452 ± 0,138a 0,135 ± 0.003 0,147 ± 0.011a

FMLr 6,417 ± 0,047a 0,072 ± 0.001 0,159 ± 0.037a

FAELr 5,343 ± 0,057 ND -

FALr 3,815 ± 0,018 0,006 ± 0.002 0,294 ± 0.027 EELr, extrato etanólico de L. rigida; FMLr, fração metanólica de L. rigida; FAELr, fração acetato de etila de

L. rigida; FALr, fração aquosa de L. rigida;

ND, não determinado;

Amostras indicadas com a mesma letra (a) significa que elas são estatisticamente iguais com intervalo de

confiança de 95% (One-way ANOVA);

-, não detectado;

Valores são médias ± SEM de três experimentos;

*Equivalente de ácido gálico em micrograma por grama de amostra;

**Equivalente de quercetina em µg por grama de amostra;

***Equivalente de ácido tânico em µg por grama de amostra.

5.1.3 Quantificação de compostos fenólicos por Cromatografia Líquida de Alta Eficiência

com detector tipo de arranjo de fotodiodo (CLAE-DAD)

O extrato etanólico e as frações derivadas foram submetidas a análise por CLAE

com padrões de ácidos fenólicos e flavonoides (Tabela 3). Os resultados mostraram que a

FAELr foi a que concentrou mais eficientemente todos os tipos de ácidos fenólicos e

flavonoides. A soma das quantidades de todos os compostos fenólicos identificados pela CLAE

na FAELr chega a ser de 3 a 8 vezes maior que o encontrado nas outras frações. Em geral, a

ordem decrescente da quantidade de todos os compostos fenólicos foi como se segue: FAELr

> FMLr > EELr > FALr. Apenas no que concerne ao composto quercetina, pode-se observar

uma quantidade na FALr equivalente àquelas observadas na FMLr. Os compostos que foram

encontrados em maior quantidade nas amostras foram ácido clorogênico, ácido cafeico,

quercetina e kaempferol. Também pode-se observar uma concentração notável de rutina que é

um derivado glicosilado (rutinosídeo) de quercetina. As estruturas químicas de todos os

compostos identificados pela CLAE estão representadas graficamente na figura 5.

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Tabela 3 – Quantificação de compostos fenólicos por cromatografia líquida de alta eficiência

do extrato etanólico e das frações derivadas de sementes de Licania rigida

Compostos EELr FMLr FAELr

mg/g % mg/g % mg/g %

Ácido Gálico 3,41 ± 0,02a 0,34 5,98 ± 0,01a 0,59 8,05 ± 0,01a 0,80

Catequina 1,57 ± 0,01b 0,15 3,15 ± 0,03b 0,31 7,84 ± 0,02a 0,78

Ácido Clorogênico 15,68 ± 0,01c 1,56 14,08 ± 0,02c 1,40 39,25 ± 0,02b 3,92

Ácido Caféico 13,95 ± 0,01d 1,39 16,19 ± 0,01d 1,61 31,19 ± 0,01c 3,11

Epicatequina 1,30 ± 0,02b 0,13 2,73 ± 0,01b 0,27 14,27 ± 0,03d 1,42

Rutina 2,97 ± 0,03a 0,29 7,39 ± 0,03e 0,73 14,63 ± 0,01d 1,46

Quercitrina 1,25 ± 0,01b 0,12 4,52 ± 0,01f 0,45 38,94 ± 0,01b 3,89

Isoquercitrina 6,13 ± 0,01e 0,61 7,06 ± 0,02e 0,70 13,85 ± 0,02d 1,38

Quercetina 3,28 ± 0,02a 0,32 8,91 ± 0,01f 0,89 47,02± 0,01e 4,70

Kaempferol 12,65 ± 0,01f 1,26 14,57 ± 0,02c 1,34 38,61 ± 0,01b 3,86

Kaempferol

glicosilado 5,49 ± 0,01e 0,54 3,38 ± 0,01b 0,33 14,95 ± 0,01d 1,49

Compostos FCLr FALr LOQ LOD

mg/g % mg/g % g/mL g/mL

Ácido Gálico 2,81 ± 0,03a 0,28 1,57 ± 0,01a 0,15 0,018 0,059

Catequina 1,35 ± 0,02b 0,13 2,74 ± 0,01b 0,27

0,023 0,075

Ácido Clorogênico 17,46 ± 0,01c 1,74 1,61 ± 0,02a 0,16

0,007 0,023

Ácido Caféico 6,95 ± 0,01d 0,69 4,83 ± 0,03c 0,48

0,034 0,112

Epicatequina 3,11 ± 0,01a 0,31 0,92 ± 0,02d 0,09 0,015 0,049

Rutina - - 2,95 ± 0,02b 0,29

0,029 0,095

Quercitrina 4,62 ± 0,01e 0,46 1,68 ± 0,03a 0,16

0,042 0,138

Isoquercitrina - - 2,53 ± 0,01b 0,25

0,031 0,102

Quercetina - - 8,37 ± 0,01e 0,83

0,008 0,029

Kaempferol - - 4,19 ± 0,02f 0,41

0,021 0,069

Kaempferol

glicosilado - - 1,07 ± 0,01d 0,10

- -

EELr, extrato etanólico de L. rigida; FMLr, fração metanólica de L. rigida; FAELr, fração acetato de

etila de L. rigida; FCLr, fração clorofórmica de L. rigida; FALr, fração aquosa de L. rigida.

Os resultados são expressos como média ± SE de três determinações. Médias seguidas por letras diferentes

diferem pelo teste de Tukey p < 0,05.

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Figura 5 – Representação gráfica das estruturas químicas dos compostos identificados pela CLAE no extrato e frações derivadas de sementes de

Licania rigida

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64

5.1.4 Capacidade antioxidante total

A capacidade antioxidante total do extrato etanólico e das frações derivadas de

sementes de L. rigida foi estimada usando os métodos DPPH e TBARS (Tabela 4). Segundo o

teste DPPH as amostras que tiveram melhor desempenho foram a FAELr e FALr (CN50 = 2,786

e 33,2 µg/mL, respectivamente). Estes resultados correspondem a medida da capacidade de

neutralização direta de um tipo de radical livre.

No ensaio TBARS, a FMLr apresentou o melhor resultado sem a presença do ferro

como indutor de estresse (CI50 = 51,8 µg/mL). A FALr também mostrou ter capacidade de inibir

a peroxidação lipídica em ambas as condições, com ou sem ferro (CI50 = 72,62 e 89,17 µg/mL,

respectivamente). Ao contrário, a FAELr teve um resultado pouco expressivo tanto na presença

quanto na ausência de ferro (Tabela 4).

Tabela 4 - Atividades antioxidantes do extrato etanólico e frações derivadas de sementes de

Licania rigida

Amostras Ensaio DPPH

CN50 (µg/mL)

Ensaio TBARS, CI50 (µg/mL)

Sem Ferro Com ferro

EELr 196,6 175,8 477,2

FAELr 2,79 265,7 843,1

FMLr 121 51,8 345,6

FALr 33,2 89,17 72,62

Controle positivo

Ácido ascórbico 20,69 A atividade de varredura do radical DPPH foi expressa como concentração onde ocorre 50% de neutralização

(CN50) e a atividade de inibição da peroxidação lipídica (TBARS) foi expressa como concentração onde ocorre

50% da inibição (CI50);

EELr, extrato etanólico de L. rigida; FMLr, fração metanólica de L. rigida; FAELr, fração acetato de etila de

L. rigida; FALr, fração aquosa de L. rigida.

FALr foi a única fração capaz de inibir quase que completamente a produção de

MDA (malondialdeído) na concentração de 250 µg/mL (Figura 6). Nas frações EELr e FAELr

claramente ocorreu pró-oxidação nas concentrações intermediárias que pode ser visualizada a

partir de um leve aumento da produção de MDA, seguida de uma diminuição acentuada nas

concentrações mais altas das amostras. Isso ocorreu claramente em pelo menos três ocasiões:

no ensaio com ferro com EELr e FAELr e no ensaio sem ferro com EELr.

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Figura 6 - Ensaio de inibição da peroxidação lipídica (TBARS) de extrato etanólico e frações

derivadas de sementes de Licania rigida

EELr, extrato etanólico de L. rigida; FMLr, fração metanólica de L. rigida; FAELr, fração acetato de etila de L.

rigida; FALr, fração aquosa de L. rigida.

5.1.5 Correlação da atividade antioxidante e composição de compostos fenólicos

Os resultados das atividades antioxidantes (DPPH, TBARS com e sem ferro) das

diferentes amostras foram cruzados com os dados de composição obtidos por CLAE a fim de

estabelecer possíveis correlações. Foi observado que a atividade antioxidante mensurada a

partir do ensaio DPPH correlacionou-se muito bem com quercetina (r = 0,788) e com a

quercitrina (r = 0,744). Para o ensaio TBARS sem o ferro como indutor de estresse, a catequina

(r = 0,690) e a quercetina (r = 0,514) apresentaram as melhores correlações. Em geral, os

flavonoides obtiveram melhor correlação que os ácidos fenólicos nesses dois ensaios (Tabela

5). Considerando apenas os resultados do ensaio TBARS com o ferro, os resultados foram bem

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66

diferentes, tendo os ácidos fenólicos apresentado as melhores correlações. Nesse caso, os

melhores valores encontrados foram para ácido clorogênico (r = 0,465) e rutina (r = 0,346). O

grupo dos ácidos fenólicos mostraram uma correlação positiva sob esta condição (r = 0,246),

enquanto os flavonoides não (r = -0,246).

Tabela 5 - Correlação parcial entre a composição de compostos fenólicos (CLAE) e atividade

de varredura do radical DPPH e inibição da peroxidação lipídica com e sem ferro como

indutor de estresse (TBARS)

Compostos fenólicos

Atividades antioxidants

DPPH TBARS sem ferro TBARS com ferro

Ácidos fenólicos 0,410 0,371 -0,246

Ácido caféico 0,654 -0,023 0,117

Ácido clorogênico 0,268 0,552 -0,465

Ácido elágico -0,112 -0,013 0,074

Ácido gálico -0,001 0,154 -0,180

Flavonoides -0,410 -0,371 0,246

Catequinas -0,109 -0,690 0,664

Epicatequinas -0,517 0,068 -0,033

Isoquercitrina 0,520 -0,262 0,226

Kaempferol 0,415 -0,002 -0,027

Kaempferol glicosilado 0,546 -0,235 0,256

Quercetina -0,788 -0,514 0,336

Quercitrina -0,745 0,214 -0,043

Rutina -0,436 0,265 -0,346

5.1.6 Ensaio de atividade quelante

Em relação a atividade quelante, ou seja a capacidade de uma molécula de formar

complexos estáveis com o ferro, as amostras apresentaram um resultado pouco expressivo,

tendo FALr 1.000 µg/mL mostrado o melhor resultado (20%) (Figura 7). Essa capacidade

impede que o ferro participe da reação de Fenton, que por sua vez, inibe indiretamente a

formação de radicais extremamente reativos.

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Figura 7 - Atividade quelante do extrato etanólico e frações derivadas de sementes de Licania

rigida baseadas no método da orto-fenantrolina

A absorbância foi registrada em λ = 510 nm e o percentual de complexação foi calculado em relação ao controle

(determinado na ausência de amostras e EDTA). EELr, extrato etanólico de L. rigida; FMLr, fração metanólica de

L. rigida; FAELr, fração acetato de etila de L. rigida; FALr, fração aquosa de L. rigida; EDTA = ácido

etilenodiamino tetra-acético.

5.2 Análises toxicológicas

5.2.1 Toxicidade aguda em náuplios de Artemia sp.

Os resultados apontam que a fração que concentrou mais compostos fenólicos

simples, como flavonoides e ácidos fenólicos, FAELr foi a que teve a menor CL50 (CL50 = 11,56

µg/mL), ou seja, a que foi mais letal. Essa fração, teve letalidade superior a do controle positivo,

dicromato de potássio (CL50 = 13,45 µg/mL). Depois do FAELr e do controle positivo, o EELr

foi o mais letal (CL50 = 55,13 µg/mL). As frações FMLr e FALr somente causaram 100% de

mortalidade a partir da concentração 500 μg/mL (CL50 > 200 µg/mL) (Figura 8) (Tabela 6).

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Tabela 6 - Concentração efetiva de extrato e frações derivadas de sementes de Licania rigida

que causou morte em 50% dos naúplios de Artemia sp.

Amostras

Dicromato

de Potássio EELr FAELr FMLr FALr

CL50

(µg/mL) 13,45 55,13 11,56 246,8 293,4

EELr, extrato etanólico de L. rigida; FMLr, fração metanólica de L. rigida; FAELr, fração acetato de etila de L.

rigida; FALr, fração aquosa de L. rigida.

Figura 8 - Letalidade de naúplios de Artemia sp. frente ao extrato etanólico e frações derivadas

de sementes de Licania rigida

Os resultados estão expressos em % de letalidade segunda a variação da concentração. EELr, extrato etanólico de

L. rigida; FMLr, fração metanólica de L. rigida; FAELr, fração acetato de etila de L. rigida; FALr, fração aquosa

de L. rigida.

Os resultados do ensaio de toxicidade aguda em Artemia sp. sinalizaram a

necessidade de continuar a pesquisa toxicológica em outros níveis de sistemas biológicos. Para

tanto, escolheu-se continuar essas análises apenas com o EELr, pois este apresentou a segunda

maior toxicidade aos microcrustáceos além de ser a opção naturalmente escolhida pela indústria

para se trabalhar pois tem melhor rendimento, menor impacto ao meio ambiente e menor

toxicidade aos recursos humanos.

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5.2.2 Ensaio de atividade hemolítica

O EELr apresentou atividade hemolítica mas de forma não dose-dependente. Em

geral, a amostra começou a provocar hemólise a partir da concentração 250 μg/mL, atingiu um

efeito máximo na concentração 500 μg/mL e, logo, caiu pela metade nas concentrações mais

altas. As hemácias mais suscetíveis a hemólise frente ao EELr foram as do tipo sanguíneo “A”,

onde obteve-se resultados próximos a 30%. Pode-se dizer também que as hemácias do tipo “O”

e as do sangue de coelho foram mais resistentes a hemólise (Figura 9).

Figura 9 - Atividade hemolítica em hemácias de humanos (tipos A, B e O) e coelhos frente à

exposição ao extrato etanólico de sementes de Licania rigida

Os resultados estão expressos em absorbância no λ = 540 nm segundo a variação de concentração e também está

plotado uma linha que representa a média do % de hemólise frente a todos os tipos de hemácias.

5.2.3 Citotoxicidade a linhagens de células de câncer

Nas condições avaliadas o EELr apresentou pouca ou nenhuma toxidade a células

de adenocarcinoma de mama humano (MCF-7) nas primeiras 6 h de exposição e após 24 h. O

mesmo aconteceu para a linhagem de células de adenocarcinoma de cólon humano (Caco-2).

O ácido gálico demonstrou toxicidade em 6h de exposição, sendo a ação ainda mais evidente

após 24 h nas duas linhagens de células. A quercetina apresentou citotoxicidade mais branda

apenas à linhagem Caco-2 de forma dose-dependente. Em geral, a linhagem Caco-2 se mostrou

mais sensível (Figura 10 e 11).

0

5

10

15

20

25

30

35

0

0,02

0,04

0,06

0,08

0,1

0,12

0,14

0,16

8 16 32 64 125 250 500 1000 2000

Tipos sanguíneos humanos%

Hem

óli

se

Ab

s54

0

Concentrações (μg/mL)

A B O Coelho % Atividade Hemolítica Média

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Figura 10 - Ensaio de viabilidade celular de linhagens de adenocarcinoma de mama humano

(MCF-7) frente à exposição ao extrato etanólico de sementes de Licania rigida, à quercetina e

ao ácido gálico

Os resultados estão expressos luminescência e em percentual de viabilidade celular segundo a variação de

concentração. DMSO, dimetilsufóxido; DMEM, Dulbecco's Modified Eagle's Medium; EELr, extrato etanólico de

L. rigida; MCF-7, Michigan Cancer Foundation-7; 6h, seis horas de exposição; 24h, vinte e quatro horas de

exposição.

0

20

40

60

80

100

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

4000

Via

bil

idad

e ce

lula

r (%

)

Lu

min

escê

nci

a

Concentrações (μg/mL)

MCF7 - 24 h - EELr

0

20

40

60

80

100

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

Via

bili

dad

e c

elu

lar

(%)

Lum

ine

scê

nci

a

Concentrações (μg/mL)

MCF7 - 6h - EELr

0

20

40

60

80

100

0

500

1000

1500

2000

2500

Via

bil

idad

e ce

lula

r (%

)

Lu

min

escê

nci

a

Concentrações (μg/mL)

MCF7 - 6 h - Ácido gálico

0

20

40

60

80

100

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

Via

bil

idad

e ce

lula

r (%

)

Lu

min

escê

nci

a

Concentrações (μg/mL)

MCF7 - 24 h - Ácido gálico

0

20

40

60

80

100

0

500

1000

1500

2000

2500

Via

bil

idad

e ce

lula

r (%

)

Lu

min

escê

nci

a

Concentrações (μg/mL)

MCF7 - 6 h - Quercetina

0

20

40

60

80

100

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

Via

bil

idad

e ce

lula

r (%

)

Lu

min

escê

nci

a

Concentrações (μg/mL)

MCF7 - 24h - Quercetina

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Figura 11 - Ensaio de viabilidade celular de linhagens de adenocarcinoma de cólon humano

(Caco-2) frente à exposição ao extrato etanólico de sementes de Licania rigida, à quercetina e

ao ácido gálico

Os resultados estão expressos luminescência e em percentual de viabilidade celular segundo a variação de

concentração. DMSO, dimetilsufóxido; DMEM, Dulbecco's Modified Eagle's Medium; EELr, extrato etanólico de

L. rigida; Caco-2, caucasian colon adenocarcinoma; 6h, seis horas de exposição; 24h, vinte e quatro horas de

exposição.

0

20

40

60

80

100

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

4000

Via

bil

idad

e ce

lula

r (%

)

Lu

min

escê

nci

a

Concentrações (μg/mL)

Caco-2 - 24h - EELr

0

20

40

60

80

100

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

4000

Via

bil

idad

e ce

lula

r (%

)

Lu

min

escê

nci

a

Concentrações (μg/mL)

Caco-2 - 6h - EELr

0

20

40

60

80

100

0500

10001500200025003000350040004500

Via

bil

idad

e ce

lula

r (%

)

Lu

min

escê

nci

a

Concentrações (μg/mL)

Caco-2 - 6 h - Ácido gálico

0

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40

60

80

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0

1000

2000

3000

4000

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6000

Via

bil

idad

e ce

lula

r (%

)

Lu

min

escê

nci

a

Concentrações (μg/mL)

Caco-2 - 24 h - Ácido gálico

0

20

40

60

80

100

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

Via

bil

idad

e ce

lula

r (%

)

Lu

min

escê

nci

a

Concentrações (μg/mL)

Caco2 - 24 h - Quercetina

0

20

40

60

80

100

0

1000

2000

3000

4000

5000

Via

bil

idad

e ce

lula

r (%

)

Lu

min

escê

nci

a

Concentrações (μg/mL)

Caco2 - 6 h - Quercetina

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72

5.2.4 Avaliação de toxicidade aguda em camundongos

Após administração via oral, em dose única, de 2.000 mg/kg de EELr a um grupo

de camundongos fêmeas, nenhuma morte foi registrada ou qualquer sinal de intoxicação, ou

seja, não foi possível observar nenhuma alteração seja ela de comportamento, física ou qualquer

outro sinal. Tampouco foi observado qualquer alteração morfológica nos órgãos dissecados. Na

Figura 12, está mostrada a curva de evolução do peso corpóreo dos animais do grupo teste e

dos controles, apresentando uma sobreposição evidente entre as curvas dos camundongos

administrados com EELr e daqueles apenas com água destilada. Dessa forma, é possível afirmar

que o EELr possui DL50 maior que 2.000 mg/kg em camundongos.

Figura 12 – Comparação da evolução do peso corpóreo de camundongos fêmeas administrados

com dose única via oral do extrato etanólico de sementes de Licania rigida, EELr e

camundongos administrados apenas com os controles

H2O, grupo controle negativo; Controle Álcool, grupo controle com álcool 17,5%

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73

6 DISCUSSÃO

6.1 Perfil de polifenóis e atividade antioxidante

Este trabalho objetivou avaliar o potencial antioxidante do extrato (EELr) e frações

(FALr, fração aquosa; FMLr, fração metanólica; FAELr, fração acetato de etila) de sementes

de Licania rigida, uma planta cujas potencialidades foram pouco estudadas e que tem sido

vítima do extrativismo predatório. Para tanto, foi realizado um estudo sobre sua composição de

fenólicos, capacidade de varredura de radicais livres, inibição da peroxidação lipídica e

habilidade de quelar ferro.

Primeiramente, foi feita a prospecção fitoquímica do EELr, que se baseia em

técnicas de química básica que revelam a presença de determinadas classes de metabólitos

secundários nas amostras através de mudanças de cores dos reagentes. Esses ensaios proveram

informações preliminares importantes, que ajudaram a definir os próximos métodos de análise

química e de atividades biológicas que deveriam ser feitos. Por exemplo, a presença de taninos

suscitou o questionamento se a atividade antioxidante não estaria sendo provocada pela

presença desses compostos. Além disso, a presença de saponinas suscitou a necessidade de

avaliar atividade hemolítica no extrato.

A partir do EELr foi realizado fracionamento com solventes de crescente polaridade

segundo a escala eluotrópica. Sabe-se que cada solvente utilizado terá mais afinidade a

moléculas que têm polaridade semelhante. Desta forma, cada fração pode ter uma composição

totalmente distinta da outra quali- e quantitativamente. Esta variação de composição

invariavelmente se reflete nas atividades biológicas das amostras (DAI; MUMPER, 2010).

Neste trabalho o extrato e as frações apresentaram um perfil fenólico bastante heterogêneo com

claro reflexo nas atividades biológicas avaliadas.

Em relação aos resultados obtidos a partir das análises de CLAE, fenóis totais,

flavonoides totais e taninos, pode-se observar que a medida que uma amostra concentra maior

proporção de fenóis simples, como os ácidos fenólicos e flavonoides, menor quantidade de

taninos ela apresenta. Isso já era de certa forma esperado, uma vez que os taninos são compostos

fenólicos poliméricos que ao serem hidrolisados geram compostos monoméricos mais simples,

que incluem os ácidos fenólicos e flavonoides. No entanto, pode ocorrer que uma amostra

contenha os dois tipos de compostos, sem que um tenha que ter sofrido hidrólise para gerar o

outro. Na maioria das amostras (FAELr, FALr e EELr) analisadas neste trabalho ocorreu essa

relação inversamente proporcional. A FAELr foi a amostra onde essa relação inversa se mostrou

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mais expressiva, onde praticamente não foi possível detectar taninos e através da CLAE

detectou-se uma quantidade total de compostos fenólicos simples de até 8 vezes maior do que

aquela encontrada nas outras amostras. Este achado indica que o solvente acetato de etila tem

alta afinidade por compostos fenólicos de baixo peso molecular. Por outro lado, a FALr foi a

que menos concentrou compostos fenólicos simples, tanto quando analisada pela CLAE como

também pelo método de determinação de flavonoides totais, ao mesmo tempo, foi a fração que

mais apresentou taninos pelo método de difusão radial. Por último, o EELr, assim como a

FAELr, também demonstrou essa relação inversamente proporcional só que de maneira mais

branda.

No que concerne ao tipo de fenólicos encontrados, dois ácidos fenólicos e três

flavonoides merecem destaque por terem sido os majoritários. Tanto o ácido clorogênico como

o ácido cafeico são ácidos fenólicos bastante conhecidos, sendo o primeiro um derivado

glicosilado do segundo. O ácido cafeico tem um potencial antioxidante maior que o ácido

clorogênico, pois este último possui um glicosídeo onde seria um grupo hidroxila. Quando se

trata de relação atividade-estrutura (SAR, do inglês structure-activity relationship) o número

de hidroxilas disponíveis para as reações de neutralização é o fator mais importante de termos

de potencial antioxidante. Entre os flavonoides identificados, o kaempferol, quercetina e rutina

foram os que apresentaram os maiores concentrações na CLAE. Estes três pertencem a mesma

rota de biossíntese dos flavonoides (SAITO et al., 2013). A quercetina é derivada do kaempferol

pela adição de grupo hidroxila no carbono 3 do anel B. A rutina é, por sua vez, um composto

derivado da quercetina pela adição do rutinosídeo, um dissacarídeo. A quercetina e rutina

apresentam resultados de atividade antioxidante mais expressivos que o kaempferol (PIAZZON

et al., 2012; PIETTA, 2000; YANG; GUO; YUAN, 2008; ZHANG et al., 2011).

Os ensaios de “Capacidade Antioxidante Total” se propõem a medir in vitro todo o

potencial de uma solução de neutralizar ou prevenir formação de novos radicais livres. Cada

método avalia um possível mecanismo de ação diferente. O DPPH é o teste antioxidante mais

utilizado mundialmente pela sua facilidade, reprodutibilidade e adaptabilidade a amostras

hidrossolúveis (SHARMA; BHAT, 2009). Este método se propõe a mensurar a habilidade da

amostra de doar prótons ou transferir elétrons a fim de neutralizar o radical. É, portanto, um

método do tipo SPLET (CRAFT et al., 2012). Segundo esse teste, as amostras FAELr e FALr

tiveram os melhores resultados (CN50 = 2,78 e 33,2 µg/mL, respectivamente), comparável

àquele do ácido ascórbico (CN50 = 20,7 µg/mL) e bem abaixo daquele descrito para o extrato

hidroalcoólico de folhas de Licania tomentosa (CN50 73,3 µg/mL) (SILVA et al., 2012), uma

espécie também endêmica do bioma Caatinga.

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No entanto, quando os resultados são avaliados apenas sob a ótica da inibição da

peroxidação lipídica (TBARS), a FALr apresentou excelentes resultados com ou sem ferro (CI50

= 72,62 e 89,17 µg/mL respectivamente). Portanto, a FALr merece destaque por ser capaz de

atuar tanto em um ensaio que envolve a mecânica SPLET como também atua na

inibição/término da reação em cadeia da peroxidação lipídica de fosfolipídeos da carioteca de

ovos. Possivelmente, a FALr também pode ter atuado quelando o ferro, neutralizando seu efeito

como indutor de estresse. Além disso, a FMLr apresentou o melhor resultado no TBARS sem

ferro (CI50 = 51,8 µg/mL). Este resultado é realmente importante considerando que na maioria

dos estudos que usam extração e fracionamento de compostos fenólicos, a água destilada é

raramente usada como veículo.

O que pode ser parcialmente concluído a partir de uma leitura cuidadosa dos dados

de composição e dos dados de atividade antioxidante é que existe uma vantagem química da

FALr sobre as outras frações que é possuir maior quantidade de compostos fenólicos na forma

de taninos. O que se esperava a partir da literatura científica é que uma fração rica em

flavonoides e ácidos fenólicos, como a FAELr, apresentasse os melhores resultados de atividade

antioxidante. Fato esse que não ocorreu. Vários argumentos poderiam explicar (parcialmente)

porque uma amostra com alta concentração de fenólicos simples não teve resultados tão bons

no ensaio TBARS. Primeiro, alguns fenólicos simples podem sofrer auto-oxidação e se

comportar como pró-oxidante sob certas circunstancias. Ao invés de interromper a reação em

cadeia, o radical fenóxi pode também interagir com o oxigênio produzindo quinonas e ânion

superóxido. Além disso, metais de transição podem induzir atividade pró-oxidante de

compostos fenólicos (HENDRICH, 2006; PERRON; BRUMAGHIM, 2009). Isto pode ter

ocorrido em alguns casos no ensaio TBARS na presença de ferro realizado neste estudo. Apesar

dessas possibilidades, a explicação mais plausível está relacionada à inversa proporcionalidade

de taninos e fenóis simples encontrada nessas amostras. Ora pode-se atribuir a falta de atividade

da FAELr à ausência de taninos na sua composição, ora atribuir a excelente atividade inibitória

da FALr à presença dos mesmos. Além do mais, tem-se relatos que fenólicos tânicos possuem

atividade antioxidante muito superior à dos fenóis simples (GÜLÇIN et al., 2010;

HAGERMAN et al., 1998). Este fenômeno observado reforça a necessidade de discriminar as

classes de compostos fenólicos nas análises de composição química em estudos de atividade

antioxidante de extrato de plantas.

Foi realizado também um tratamento estatístico de correlação parcial entre as

atividades antioxidantes testadas e os dados de composição química oriundas da CLAE. A

correlação parcial mostrou que os flavonoides, como quercetina, quercitrina e catequina, se

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correlacionaram melhor que os ácidos fenólicos nos ensaios DPPH e TBARS sem ferro (valores

de “r” positivos e maior que 0,5). Este resultado já era esperado, uma vez que os flavonoides

são conhecidos pela sua potente atividade antioxidante (KUMAR; PANDEY, 2013), sendo a

quercetina frequentemente escolhida como controle positivo em ensaios antioxidantes (LU et

al., 2014). A catequina tem estrutura química semelhante à quercetina, mas falta um grupo oxo

no carbono 4 e uma dupla ligação entre os carbonos 2 e 3, o que resulta num potencial

antioxidante levemente menor (HEIM; TAGLIAFERRO; BOBILYA, 2002).

Por outro lado, a correlação com o ensaio TBARS com o ferro como indutor de

estresse foi melhor com os ácidos fenólicos, especialmente com o ácido clorogênico. A rutina

também aparece com correlação razoável. Existem duas condições que podem potencialmente

ter sido mais importantes do que a habilidade de neutralizar radicais peróxidos: (1) interação

com os fosfolipídios da carioteca dos ovos; e (2) A habilidade de formar complexos estáveis

com ferro.

Levando em consideração o primeiro ponto, para ser capaz de proteger

fosfolipídios, os polifenóis precisam ter grupos hidrofílicos na sua estrutura química, como

hidroxilas e carboidratos, os quais podem interagir com a parte polar dos fosfolipídios (OTEIZA

et al., 2005). Para contemplar a segunda condição, é essencial que a molécula apresente ao

menos catecol ou galoil como agrupamentos químicos (PHAN et al., 2014). Essas duas

condições são satisfeitas pela rutina e pelo ácido clorogênico (HUNYADI et al., 2012). A rutina,

por ser derivada da quercetina, possui naturalmente diversos grupos hidroxilas em toda a

molécula e está ligada a um dissacarídeo denominado rutinosídeo. Adicionalmente, existem

duas hidroxilas localizadas uma após a outra no anel B nos carbonos 4 e 5 formando um grupo

catecol. Estas duas características aumentam muito a sua hidrofilicidade e capacidade de quelar

metais de transição. O ácido clorogênico por sua vez é um derivado de ácido cafeico, uma

molécula muito pequena, e possui um glicosídeo acoplado. O seu único anel dispõe de duas

hidroxilas formando também um grupo catecol. Interessante ressaltar que o ácido clorogênico

não é um composto conhecido por ter alta atividade antioxidante.

Os resultados oriundos do ensaio de atividade quelante foram surpreendentemente

baixos, já que muitos estudos com extratos de planta mostram habilidade de quelar metais de

transição muitas vezes associada ao conteúdo fenólico e por vezes associado a atividade

antioxidante (PERRON; BRUMAGHIM, 2009). De fato, o estado redox intracelular está

relacionado com o par redox de ferro (e de cobre) e a manutenção desses níveis está sob estrito

controle fisiológico. Muito embora, sob condições específicas, os níveis de ferro podem

ultrapassar a capacidade da transferrina de ligá-lo (VALKO et al., 2006). Então, é útil mensurar

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a capacidade quelante de uma amostra de natureza fenólica para não atribuir a atividade

antioxidante tão somente à varredura de radicais livres.

No entanto, os resultados encontrados não são necessariamente negativos por duas

razões. Primeiro, em relação ao método, duas situações podem ter acontecido:

EDTA é um poderoso quelante de metais de transição e o resultado pode ter sido

subestimado por uma injusta comparação com este controle positivo. As amostras que

apresentam alguma atividade quelante relevante frente a comparação com o EDTA no

método da fenantrolina, já devem ser consideradas excelentes quelantes;

o reagente utilizado no método orto-fenantrolina poderia ter sido trocado por um agente

quelante menos forte, como a ferrozina.

Em segundo lugar, a capacidade quelante é apenas uma dentre vários mecanismos

de ação que ajudam prevenir estresse oxidativo em seres vivos (CRAFT et al., 2012; LÜ et al.,

2010). Ademais, uma amostra fortemente quelante seria sujeita a muita crítica se fosse indicada

para consumo humano, já que ela seria automaticamente classificada como antinutricional por

quelar micronutrientes essenciais (ex.: ferro e cobre). De qualquer forma, a atividade quelante

das amostras não foi nula. A FALr, por exemplo apresentou atividade quelante em torno de

20% de complexação na concentração mais alta, o que não é um resultado desprezível.

Mesmo que os resultados encontrados leve a pensar que a habilidade de quelar

metais não influenciou no ensaio de peroxidação lipídica (TBARS) na presença de ferro, é mais

razoável ponderar que talvez haja mais de um mecanismo envolvido. Antioxidantes são

compostos que podem retardar auto-oxidação inibindo a formação ou interrompendo a

propagação de radicais livres de diferentes maneiras:

a) varrendo espécies reativas que dão início a peroxidação;

b) quelando íons metálicos a fim de impedir que eles gerem mais espécies reativas

ou decomponham peróxidos lipídicos;

c) extinguindo O2- para prevenir a formação de peróxidos;

d) rompendo a reação em cadeia auto-oxidativa, e/ou

e) reduzindo localmente a concentração de O2 (BREWER, 2011).

6.2 Segurança de uso das sementes de Licania rigida

Para avaliar a segurança de uso do extrato etanólico de sementes de Licania rigida

para consumo humano foram feitas diversas análises toxicológicas em diferentes níveis de

complexidade. Primeiramente, foi realizado um ensaio de toxicidade aguda com o

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microcrustáceo Artemia sp. Este ensaio é considerado como excelente preditor em estudos de

ecotoxicidade e também de citotoxicidade (GAMBARDELLA et al., 2014; RAJABI et al.,

2015). Além disso, foram feitos ensaios hemolíticos com hemácias humanas e de coelho para

avaliar a capacidade do EELr de causar danos a células. Neste caso, a hemácia é um modelo de

citotoxicidade que avalia prioritariamente efeitos sobre a membrana e de variação de

osmolaridade já que não é dotada de núcleo. Em seguida, foi feita uma avaliação de viabilidade

celular usando duas linhagens de células de câncer humano. Aqui o efeito da amostra pode ter

relação com alteração da progressão do ciclo celular, indução de apoptose, interação com

membrana, dano oxidativo ao DNA, alteração na expressão gênica entre outras situações, pois

essas células possuem elevada taxa metabólica além de serem dotadas de todo o material

genético (AGALAKOVA; GUSEV, 2012). Por último, a amostra EELr na dose limite de 2.000

mg/kg foi avaliada quanto a sua toxicidade aguda em camundongos. Nesse ensaio é avaliada a

capacidade de uma substância ou mistura de substâncias produzir efeitos tóxicos agudos. Nesse

âmbito, há muitos processos que podem impedir que os compostos fenólicos possam ter uma

biodisponibilidade mínima necessária para ter algum efeito, seja tóxico ou benéfico (MANACH

et al., 2005; SERRANO et al., 2009).

O ensaio de toxicidade aguda em náuplios de Artemia sp. é um protocolo de

toxicidade bastante sensível e de alta reprodutibilidade. Os resultados de ensaios como esse

predizem possíveis efeitos tóxicos em nível celular e em nível de organismos mais simples.

Esses microcrustáceos são extremamente sensíveis a variações de qualidade do meio em que

vivem. Por isso são excelentes marcadores de poluição e podem servir de sinalizadores práticos

para acusar danos ao meio ambiente (GAMBARDELLA et al., 2014). O objetivo de ter usado

este ensaio com amostras de natureza fenólica foi de apontar qual fração teria maior potencial

de ser tóxica, numa espécie de screening citotóxico. A FAELr foi a amostra que causou a maior

letalidade nesse ensaio, até mesmo superior ao dicromato de potássio (controle positivo). Ao

mesmo tempo, essa é a amostra que mostrou maior concentração de compostos fenólicos

simples. Em contraste, a FALr foi que apresentou menor letalidade e apresenta composição

totalmente distinta, mais rica em taninos e menor concentração de compostos fenólicos simples.

Não é comum extratos de plantas causarem esse nível de toxicidade em naúplios de Artemia sp.

(FERRAZ FILHA et al., 2012; JAMES; NNACHETA; AMEH, 2008). Claro que existem

alguns relatos de toxicidade importantes de extratos de planta contra esse microcrustáceo como,

por exemplo, no caso de um gel contendo o extrato de Aloe vera que teve resultado positivo,

mas ainda assim 6 vezes menos potente que o dicromato de potássio (COCK; RUEBHART,

2008). Efeitos citotóxicos de polifenóis serão mais discutidos adiante.

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Atividade hemolítica em extratos de plantas é incomum e muitas vezes os

compostos fenólicos presentes nos extratos protegem a membrana das hemácias contra danos

oxidativos (BONARSKA-KUJAWA et al., 2014; SUWALSKY; AVELLO, 2014). Quando

ocorre esse tipo de efeito tóxico logo se costuma atribuir à presença de saponinas (LAKSHMI

et al., 2014). Saponinas são surfactantes e por isso conseguem permeabilizar a membrana das

hemácias formando poros, deixando-as suscetíveis à hemólise (BAUMANN et al., 2000;

VOUTQUENNE et al., 2002). O EELr em geral não apresentou forte atividade hemolítica em

qualquer um dos tipos sanguíneos testados. Houve grande variação interindividual e entre tipos

sanguíneos dessa ação. O máximo de percentual de hemólise encontrado foi aproximadamente

30% no sangue humano tipo “A”. Talvez a presença do antígeno que caracteriza este tipo

sanguíneo possa estar relacionado com esse resultado, pois os demais tipos sanguíneos, como

o tipo “O” e o sangue de coelho, foram os que mais resistiram a hemólise. O fato é que quando

ocorreu hemólise na presença da amostra, esta apresentou-se em uma faixa de concentração

mais ou menos delimitada, isto é um fenômeno não usual para este tipo de atividade. Se

comparado aos efeitos pró-oxidantes em doses intermediárias das amostras no ensaio de

inibição da peroxidação lipídica usando TBARS, pode-se sugerir que algum efeito pró-

oxidativo análogo lesionou as hemácias em concentrações intermediárias. Este efeito é mais

concebível para os taninos que para saponinas. Existe um estudo que sugere que taninos

induzem eriptose em eritrócitos humanos (ABED et al., 2013) e outro que relata que taninos

podem acelerar o processo de hemólise em eritrócitos de truta (FEDELI et al., 2004).

O extrato etanólico de sementes de Licania rigida não apresentou citotoxicidade

frente a linhagens de células de câncer de mama e de cólon. Já o ácido gálico e a quercetina

isoladamente apresentaram efeito sobre a viabilidade celular dessas linhagens de forma dose-

dependente, sendo a quercetina menos citotóxica que o ácido gálico. De fato existem diversos

estudos que mostram efeitos citotóxicos a linhagens de células de câncer humanos de

flavonoides (CHANG et al., 2008; MATSUO et al., 2005; SAK, 2014) e ácidos fenólicos

(SANDERSON et al., 2013; SCHUCK et al., 2013). Alguns estudos demonstraram que

diferentes combinações de compostos fenólicos podem levar tanto a um efeito sinergístico

como antagônico em ensaio de atividade antioxidante (PEYRAT-MAILLARD; CUVELIER;

BERSET, 2003) e de atividade antimicrobiana (VAQUERO; FERNÁNDEZ; DE NADRA,

2011) a depender da proporção de cada composto fenólico na mistura. Extrato de plantas e

compostos isolados do mesmo gênero apresentaram efeitos citotóxicos in vitro, como, por

exemplo, na L. heteromorpha em células de carcinoma de cólon 38 e melanoma B16 (BRACA

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et al., 2003); na L. tomentosa em células de eritroleucemia K562 e Lucena 1 (FERNANDES et

al., 2003); e na L. michauxii em células de hepatoma Hep G2 e de carcinoma de cólon Caco-2

(BADISA et al., 2000).

Quando administrado aos camundongos, o EELr não apresentou nenhum efeito

sobre a saúde dos animais e ganho de peso. Os animais não apresentaram nenhum sinal de

desconforto, desorientação ou mesmo irritação. O mais provável é que os compostos sofreram

alterações químicas importantes ao longo da digestão e metabolização a ponto de perder as

atividades biológicas. Talvez em um estudo de toxicidade crônica algum efeito sobre o

crescimento teria surgido devido às propriedades antinutricionais dos polifenóis. A

biodisponibilidade é o grande fator limitante para que os produtos à base de polifenóis tenham

algum efeito, negativo ou não (D’ARCHIVIO et al., 2010; REIN et al., 2013).

Biodisponibilidade difere enormemente de um polifenol para outro. Os polifenóis

mais abundantes na nossa dieta não são necessariamente aqueles que levam a maiores

concentrações de metabólitos ativos nos tecidos alvo. Os metabólitos presentes no sangue,

resultantes da digestão e da atividade hepática, usualmente diferem dos compostos nativos. A

concentração plasmática do total de metabólitos varia de 0 a 4 µmol/L após ingestão de 50 mg

de equivalentes de agliconas, e a excreção urinária relativa varia de 0,3 a 43% da dose ingerida,

dependendo do polifenol. Ácido gálico e isoflavonas são os polifenóis mais bem absorvidos,

seguidos de catequinas, flavanonas e glicosídeos de quercetina, mas com cinéticas diferentes

(MANACH et al., 2005). Apesar de dano oxidativo contribuir na etiologia de muitas patologias,

o uso de antioxidantes naturais como terapia para estas enfermidades não têm sido bem

sucedidos (HERCBERG et al., 2004). Pode haver alguma dificuldade em fornecer a quantidade

de antioxidantes suficiente para prevenir danos oxidativos a célula relacionados com a

patologia. É um desafio avaliar se a terapia realmente diminui o estresse oxidativo no paciente

de maneira pragmática. Para desenvolver terapias à base de antioxidantes eficazes, a melhor

estratégia pode ser criar novas entidades químicas desenhadas para detoxificar um espécie

reativa de oxigênio pré-definida que seja envolvida com a etiologia ou progressão de uma

dessas patologias (MURPHY, 2014). Outra estratégia seria aumentar a absorção e assimilação

desses compostos através de técnicas de encapsulação (FANG; BHANDARI, 2010; FATHI;

MOZAFARI; MOHEBBI, 2012; MUNIN; EDWARDS-LÉVY, 2011; SPIGNO et al., 2013).

Por outro lado, se os antioxidantes chegassem intactos aos tecidos, talvez pudéssemos ver

efeitos tóxicos já que isso poderia causar distúrbios importantes devido às inúmeras funções

vitais das EROs em processos biológicos (HALLIWELL, 2012a).

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Como o EELr foi diluído em uma parte de álcool, pensou-se que isto poderia causar

alguma alteração visível na mucosa gástrica. No entanto, a CL50 oral do álcool etílico para

camundongos é elevada, 7.060 mg/kg segundo o seu “Material Safety Data Sheet” (CRABBE

et al., 2008). Durante a dissecação dos animais não foi possível observar nenhuma alteração

morfológica importante comparada aos animais do grupo controle negativo, nem mesmo na

mucosa gástrica. Isso porque a dose de álcool usada para ajudar a dissolver a amostra foi no

mínimo 4 vezes menor que a CL50.

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7 CONCLUSÃO

O extrato etanólico e suas frações derivadas de sementes de Licania rigida

mostraram um perfil fenólico promissor com alta concentração de compostos com atividade

antioxidante. No que se refere à presença de compostos que atuam através da varredura de

radicais livres, flavonoides como a quercetina, quercitrina e catequina foram preponderantes.

Já os ácidos fenólicos se mostraram mais importantes quando condições de estresse foram

usadas (presença de ferro). Neste trabalho, também foi possível observar uma relação clara

entre a presença de taninos e atividade antioxidante nas amostras FALr, FMLr e EELr.

De forma geral, o EELr apresentou baixa ou nenhuma toxicidade de acordo com os

ensaios utilizados. No entanto, abordagens mais sensíveis como a toxicogenômica e ensaios de

toxicidade de longa duração em animais devem ser feitos a fim de garantir a segurança de uso

dessa promissora fonte de compostos antioxidantes.

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