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DEONIacuteSIO SCHMITT
A HISTOacuteRIA DA LIacuteNGUA DE SINAIS EM SANTA CATARINA
Contextos soacutecio-histoacutericos e sociolinguiacutesticos de surdos de 1946 a 2010
Orientadora Profordf Dra Izete Lehmkuhl Coelho
Coorientador Prof Dr Tarciacutesio de Arantes Leite
Tese apresentada ao programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo
em Linguiacutestica da Universidade Federal de Santa
Catarina ndash UFSC para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de
doutor em Linguiacutestica
Florianoacutepolis 2013
Ficha de identificaccedilatildeo da obra elaborada pelo autor atraveacutes do Programa de Geraccedilatildeo Automaacutetica da Biblioteca Universitaacuteria da UFSC
Schmitt Deonisio
A HISTOacuteRIA DA LIacuteNGUA DE SINAIS EM SANTA CATARINA Contextos soacutecio-histoacutericos e sociolinguiacutesticos de surdos de 1946 a 2010 Deonisio Schmitt orientadora Izete Lehmkuhl Coelho co-orientador Tarciacutesio de Arantes Leite - Florianoacutepolis SC 2013 228 p
Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa
Catarina Centro de Comunicaccedilatildeo e Expressatildeo Programa de Poacutes- Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica
Inclui referecircncias
1 Linguiacutestica 2 Histoacuteria da LIBRAS 3
Sociolinguiacutestica 4 Soacutecio-histoacuterico 5 Variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas I Izete Lehmkuhl Coelho II Tarciacutesio de Arantes Leite III Universidade Federal de Santa Catarina Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica IV Tiacutetulo
A HISTOacuteRIA DA LIacuteNGUA DE SINAIS EM SANTA CATARINA
Contextos soacutecio-histoacutericos e sociolinguiacutesticos de surdos de 1946 a 2010
Orientadora Profordf Dra Izete Lehmkuhl Coelho
Coorientador Prof Dr Tarciacutesio de Arantes Leite
Banca Examinadora
Profordf Dra Fabiacuteola Sucupira Ferreira Sell ndash UDESC (Membro Externo)
Profordf Dra Lodenir Becker Karnopp ndash UFRGS (Membro Externo)
Profordf Dra Ronice Muller de Quadros ndash UFSC (Membro Interno)
Profordf Dra Edair Maria Goumlrski ndash UFSC (Membro Interno)
Profordf Dra Karin Liacutelian Strobel ndash UFSC (Membro Interno)
Profordf Dra Aline Lemos Pizzio ndash UFSC (Membro Suplente Interno)
Profordf Dra Sueli Costa ndash IFSC (Membro Suplente Externo)
Florianoacutepolis 2013
ldquoOs procedimentos da linguiacutestica descritiva se
baseiam no entendimento de que a liacutengua eacute um
conjunto estruturado de normas sociais No
passado foi uacutetil considerar que tais normas eram
invariantes e compartilhadas por todos os
membros da comunidade linguiacutestica Todavia as
anaacutelises do contexto social em que a liacutengua eacute
utilizada vieram demonstrar que muitos
elementos da estrutura linguiacutestica estatildeo
implicados na variaccedilatildeo sistemaacutetica que reflete
tanto a mudanccedila no tempo quanto os processos
sociais extralinguumliacutesticosrdquo (LABOV 1968 p
241)
ldquoQuando eu aceito a liacutengua de outra pessoa eu
aceitei a pessoa Quando eu rejeito a liacutengua eu
rejeitei a pessoa porque a liacutengua eacute parte de noacutes
mesmos Quando eu aceito a Liacutengua de Sinais
eu aceito o surdo e eacute importante ter sempre em
mente que o surdo tem o direito de ser surdo
Devemos ensinaacute-los ajudaacute-los mas temos que
permitir-lhe ser surdordquo (TERJE BASILIER
psiquiatra norueguecircs)
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais por terem me acompanhado e me dado forccedila para
essa caminhada
A minha amada esposa por ter paciecircncia comigo durante todos
esses anos
Aos meus filhos Eduardo Espiacutendola Schmitt e Mocircnica Espiacutendola
Schmitt que sofreu juntamente com minha esposa cuidando dele nas
cansativas muito correria de trabalho por motivo de paciecircncia comigo
durante do estudo e trabalho
Ao Sr Francisco Lima Juacutenior guerreiro no movimento de surdos
pela primeira escola e associaccedilatildeo que marca o registro histoacuterico na
liacutengua de sinais sofreram a mudanccedila o tempo em Santa Catarina
A Associaccedilatildeo de Surdos da Grande Florianoacutepolis Sociedade de
Surdos de Satildeo Joseacute Universidade Federal de Santa Catarina
Universidade do Estado de Santa Catarina Grupo de Estudos Surdos e
Comunidade Surda pelo seu apoio
Agrave professora Dra Izete Lehmkul Coelho (UFSC) pela sua
orientaccedilatildeo de pesquisa na aacuterea em sociolinguiacutestica e me dava a
disciplina no estudo referecircncia teoacuterico
Ao meu co-orientador Dr Tarciacutesio de Arantes Leite pela sua
orientaccedilatildeo muito detalhe no estudo as liacutenguas de sinais
Aos colegas de LetrasLIBRAS pelo incentivo e forccedila de vontade
no compartilhamento das experiecircncias no estudo linguiacutestico dos surdos
A Dra Ronice Muller de Quadros abriu a oportunidade de espaccedilo
acadecircmico na liacutengua de sinais na Universidade Federal de Santa
Catarina ndash UFSC
A Prof Dra Edair Maria Goumlrski convidado especial na disciplina
sociolinguiacutestica na banca de examinadora e antes tambeacutem esteve na
minha qualificaccedilatildeo em 2012
Aos colegas surdos na faixa etaacuteria que compartilharam comigo
durante as entrevistas de gravaccedilotildees sobre a histoacuteria de surdos em Santa
Catarina
A CAPES e REUNI pelo fornecimento de bolsa no programa de
poacutes-graduaccedilatildeo - PGL oferecendo-me a oportunidade de desenvolver
meu estudo e pesquisa
Convidado especial nas bancas de examinadoras Fabiacuteola Sucupira
Ferreira Sell Karin Liacutelian Strobel e Lodenir Becker Karnopp membro e
suplente Aline Lemos Pizzio e Suelli Costa
Aacutes colegas Edgar Correa Veras Nataacutelia Schleder Rigo e Tiago
Coimbra Nogueira que me interpretaram na banca de qualificaccedilatildeo em
2012 Daniela Bieleski Diego Mauricio Barbosa e Gisele Iandra Pessini
Anater que me interpretaram na banca avaliaccedilatildeo de defesa
A Maria Eloiza de Macedo por nos ajudar com discussotildees na
revisatildeo e pela paciecircncia e comprometimento e
Apoio a ediccedilatildeo de filmagem satildeo Marcos Luchi Joatildeo Paulo
Ampessan e Marcos Alexandre Marquioto
RESUMO
Esta pesquisa visa identificar possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas
linguiacutesticas ocorridas na Liacutengua Brasileira de Sinais (LIBRAS) no periacuteodo
histoacuterico de 1946 a 2010 analisando narrativas filmadas de trecircs geraccedilotildees de
sujeitos surdos usuaacuterios dessa liacutengua O Grupo I eacute formado por indiviacuteduos
com mais de 60 anos o Grupo II por indiviacuteduos de 30 a 60 anos o Grupo
III eacute formado por indiviacuteduos de 15 a 30 anos Na primeira parte do trabalho
apresentamos uma revisatildeo de base teoacuterico-metodoloacutegica fundamentada nos
estudos de Labov (2008 [1972]) sobre mudanccedilas linguiacutesticas no contexto
social observadas em tempo aparente na ilha de Martha‟s Vineyard e em
Nova York A concepccedilatildeo da variaccedilatildeo sociolinguiacutestica pode nos ajudar nesta
investigaccedilatildeo que versa sobre a histoacuteria da LIBRAS em Santa Catarina no
periacuteodo jaacute referido A partir da teoria laboviana analisam-se certos padrotildees
sociolinguiacutesticos verificados nesta pesquisa Considera-se o fato de apenas
uma pessoa ter influenciado toda uma comunidade de surdos em Santa
Catarina o professor Francisco Lima Juacutenior que veio do Rio de Janeiro
para Florianoacutepolis em 1946 Baseando-nos nesta data escolhemos o periacuteodo
acima citado para traccedilar um percurso de possiacuteveis transformaccedilotildees
linguiacutesticas de natureza interna e externa ocorridas na LIBRAS em Santa
Catarina Os resultados desta pesquisa apontam que haacute variaccedilatildeo e mudanccedila
em tempo aparente na LIBRAS relacionando o contexto linguiacutestico atual
dos jovens (Grupo III) a transformaccedilotildees histoacutericas e sociais observadas na
comunidade surda em Santa Catarina
Palavras-chave Histoacuteria da LIBRAS sociolinguiacutestica soacutecio-histoacuterico
variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas
ABSTRACT
This research aims to identify eventual linguistic variations and
changes in Brazilian Sign Language (LIBRAS) in the period from 1946 to
2010 through the analysis of the filmed narratives of three generations of
deaf people users of that language Group I is formed by individuals over
60 years-old Group II by individuals between 30 and 60 years-old and
Group III individuals between 15 and 30 years-old In the first part of this
research we present a theoretical-methodological review based on the
studies of Labov (2008 [1972]) about the social context of changes
observed in apparent time in Martha‟s Vineyard and in New York City We
believe the theory of language variation and change can help us in this
research which deals with the history of LIBRAS in Santa Catarina in the
period mentioned above Based on Labov‟s theory we analize certain
sociolinguistic patterns that were verified in this research We consider the
fact that only one person had influence on a whole deaf community in its
linguistic development teacher Francisco Lima Juacutenior who came from Rio
de Janeiro to Florianoacutepolis in 1946 Considering this date we chose the
period from 1946 to 2010 to trace back the path of eventual linguistic
transformations both internal and external in LIBRAS in Santa Catarina
We expect that in the outcome of this research there is variation and change
in apparent time of LIBRAS relating the present context linguistic to youth
(Group III) to the historical and social transformations observed the deaf
community in Santa Catarina
Keywords History of LIBRAS sociolinguistics sociohistory language
variation and change
RESUMEN
El objetivo de esta investigacioacuten es identificar posibles variaciones y
cambios linguiacutesticos ocurridos en la Lengua Brasilentildea de Sentildeales
(LIBRAS) en el periodo comprendido entre 1946 y 2010 analizando
narrativas grabadas de tres generaciones de individuos sordos usuarios de
esa lengua El Grupo I esta formado por individuos con maacutes de 60 antildeos el
Grupo II por individuos de 30 a 60 antildeos el Grupo III es formado por
individuos de 15 a 30 antildeos Se presenta en la primera etapa de la
investigacioacuten un repaso teoacuterico-metodoloacutegico fundamentado en los estudios
de Labov (2008 [1972]) acerca de cambios linguiacutesticos en el contexto
social observados en tiempo aparente en la Isla de Martha‟s Vineyard y en
Nueva York La concepcioacuten de la variacioacuten sociolinguiacutestica nos puede
ayudar en este estudio el cual trata de la historia de la LIBRAS en Santa
Catarina en el periodo mencionado A partir de la teoriacutea laboviana se
analizan ciertos patrones sociolinguiacutesticos verificados en esta investigacioacuten
Se considera el hecho de solo una persona haber influenciado toda la
comunidad de sordos en Santa Catarina el profesor Francisco Lima Juacutenior
que partioacute del Rio de Janeiro para Florianoacutepolis en el antildeo de 1946 Con base
en esta fecha elegimos el periodo antes mencionado para disentildear una
trayectoria de las posibles transformaciones linguiacutesticas de caraacutecter interno
y externo ocurridas en la lengua de sentildeales en Santa Catarina Se espera que
los resultados de esta investigacioacuten indiquen que existe una variacion y
cambio en el tiempo aparente en LIBRAS relacionando el contexto
linguiacutesticas actual a joacutevenes (Grupo III) las transformaciones historicas y
sociales observados la comunidad sorda de Santa Catarina
Palabras-clave Historia de la LIBRAS sociolinguiacutestica sociohistorio
variacioacuten y cambio linguiacutesticos
LISTA DE ABREVIATURAS
ACT ndash Admissatildeo em Caraacuteter Temporaacuterio
ASL ndash Liacutengua de Sinais Americana
ASURJ ndash Associaccedilatildeo dos Surdos de Rio de Janeiro
BESC ndash Banco do Estado de Santa Catarina
BSL ndash Liacutengua de Sinais Britacircnica
CAPES ndash Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel
Superior
CELESC ndash Centrais Eleacutetricas de Santa Catarina SA
CSMSC ndash Ciacuterculo de Surdos-Mudos de Santa Catarina
FCEE ndash Fundaccedilatildeo Catarinense de Educaccedilatildeo Especial
FENEIS ndash Federaccedilatildeo Nacional de Educaccedilatildeo e Integraccedilatildeo dos Surdos
FUTSAL ndash Futebol de Salatildeo
IATEL ndash Instituto de Audiccedilatildeo e Terapia da Linguagem
INES ndash Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos
INSM ndash Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos-Mudos
IPS ndash Instituto Paulista de Surdos
LIBRAS ndash Liacutengua Brasileira de Sinais
LSB ndash Liacutengua de Sinais Brasileiras
LSF ndash Liacutengua de Sinais Francesa
MEC ndash Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
NEESPI ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo Especial e Inclusiva
PGL ndash Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica
REUNI ndash Programa de Apoio a Planos de Reestruturaccedilatildeo e Expansatildeo
das Universidades Federais Brasileiras
UFSC ndash Universidade Federal de Santa Catarina
UNIVALI ndash Universidade do Vale do Itajaiacute
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 ndash Sinal de Matildee35
Figura 02 ndash Sinal de Matildee37
Figura 03 ndash Retirado do livro de GROCE Nora Ellen Everyone Here
Spoke Sign Language Hereditary Deafness on Martha‟s Vineyard
Printed in the United States of America 195244
Figura 04 ndash Retirado do livro de LABOV Willian Padrotildees
Sociolinguiacutesticos45
Figura 05 ndash Retirado no site
httpcawikipediaorgwikiMartha27s_Vineyard45
Figura 06 ndash O trapezoacuteide das vogais a flecha indica a direccedilatildeo de
movimento do primeiro elemento de (aw)62
Figura 07 ndash Sinal de Porco67
Figura 08 ndash Abade L‟Epeacutee ensinando os surdos na liacutengua de sinais
francesa72
Figura 09 ndash Acervo na Revista da FENEIS81
Figura 10 ndash Acervo de Ana Regina e Souza Campello ndash UFSC83
Figura 11 ndash Acervo da Heloise Gripp Diniz ndash UFSC 0184
Figura 12 ndash Acervo da Heloise Gripp Diniz ndash UFSC 0284
Figura 13 ndash Acervo do Francisco - eacute o primeiro dicionaacuterio na liacutengua de
sinais em Santa Catarina em 194793
Figura 14 ndash Acervo do Profdeg Francisco - fotografia de Jornal que traz
reportagem sobre o livro ldquoLinguagem das Matildeosrdquo96
Figura 15 ndash Mostrar os Sinais106
Figura 16 ndash Variaccedilatildeo Fonoloacutegica108
Figura 17 ndash Mostrar os sinais com uma matildeo e com duas matildeos108
Figura 18 ndash Sinal de Paacutessaro110
Figura 19 e 20 ndash Ferreira-Brito e Langevin112
Figura 21 ndash httpwwwinesgovbrlibrasprincipalaspASSU_id=3112
Figura 22 ndash Quadro de CMs da LSB por Pimenta e Quadros112
Figura 23 ndash Sinal - ldquoCultura em SCrdquo115
Figura 24 ndash Sinal - ldquoCultura em SPrdquo115
Figura 25 ndash Sinal - ldquoCultura em RJrdquo115
Figura 26 ndash Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo ndash Depto Educaccedilatildeo
Especial ndash CuritibaPR SEEDSUEDDEE117
Figura 27 ndash Sinal de Ajudar118
Figura 28 ndash Sinal de Faltar119
Figura 29 ndash Sinal de Ocircnibus119
Figura 30 ndash Sinal de Sonhar119
Figura 31 CM ndash 01 11154
Figura 32 CM ndash 02 57154
Figura 33 CM ndash 07155
Figura 34 CM ndash 01 11154
Figura 35 CM ndash 02 57154
Figura 36 CM ndash 01 11154
Figura 37 CM ndash 53a156
Figura 38 CM ndash 36156
Figura 39 CM ndash 37a156
Figura 40 CM ndash 40156
Figura 41 CM ndash 40156
Figura 42 CM ndash 02157
Figura 43 CM ndash 14158
Figura 44 CM ndash 63158
Figura 45 CM ndash 02157
Figura 46 CM ndash 14158
Figura 47 CM ndash 63158
Figura 48 CM ndash 02 07157
Figura 49 CM ndash 14158
Figura 50 CM ndash 11159
Figura 51 CM ndash 14160
Figura 52 CM ndash 16160
Figura 53 CM ndash 16159
Figura 54 CM ndash 02 45160
Figura 55 CM ndash 11 38159
Figura 56 CM ndash 16160
Figura 57 CM ndash 02 45160
Figura 58 CM ndash 11 51a162
Figura 59 CM ndash 11162
Figura 60 CM ndash 14162
Figura 61 CM ndash 11162
Figura 62 CM ndash 34 62163
Figura 63 CM ndash 05163
Figura 64 CM ndash 05163
Figura 65 CM ndash 05163
Figura 66 CM ndash 14164
Figura 67 CM ndash 25164
Figura 68 CM ndash 14164
Figura 69 CM ndash 15165
Figura 70 CM ndash 25164
Figura 71 CM ndash 08a 64166
Figura 72 CM ndash 10166
Figura 73 CM ndash 10166
Figura 74 CM ndash 10166
Figura 75 CM ndash 53a168
Figura 76 CM ndash 61168
Figura 77 CM ndash 53a168
Figura 78 CM ndash 61168
Figura 79 CM ndash 53a168
Figura 80 CM ndash 07 64169
Figura 81 CM ndash 08a169
Figura 82 CM ndash 08a169
Figura 83 CM ndash 16170
Figura 84 CM ndash 44170
Figura 85 CM ndash 16170
Figura 86 CM ndash 44170
Figura 87 CM ndash 16170
Figura 88 CM ndash 21171
Figura 89 CM ndash 24171
Figura 90 CM ndash 24171
Figura 91 CM ndash 24171
Figura 92 CM ndash 14172
Figura 93 CM ndash 15173
Figura 94 CM ndash 14172
Figura 95 CM ndash 15173
Figura 96 CM ndash 14172
Figura 97 CM ndash 53a 63175
Figura 98 CM ndash 08a175
Figura 99 CM ndash 08a175
Figura 100 CM ndash 08a175
Figura 101 CM ndash 63177
Figura 102 CM ndash 14 24177
Figura 103 CM ndash 14177
Figura 104 CM ndash 14177
Figura 105 CM ndash 24177
Figura 106 CM ndash 24177
Figura 107 CM ndash 62180
Figura 108 CM ndash 24180
Figura 109 CM ndash 21181
Figura 110 CM ndash 11180
Figura 111 CM ndash 24180
Figura 112 CM ndash 21181
Figura 113 CM ndash 24180
Figura 114 CM ndash 63182
Figura 115 CM ndash 08a182
Figura 116 CM ndash 63182
Figura 117 CM ndash 08a182
Figura 118 CM ndash 08a182
LISTA DE QUADROS
Quadro 01 Sinal de Aposentar155
Quadro 02 Sinal de Aviatildeo156
Quadro 03 Sinal de Matildee158
Quadro 04 Sinal de Pai160
Quadro 05 Sinal de Poliacutetica162
Quadro 06 Sinal de Preto163
Quadro 07 Sinal de Reuniatildeo165
Quadro 08 Sinal de Semana166
Quadro 09 Sinal de Banco168
Quadro 10 Sinal de Feio169
Quadro 11 Sinal de Meacutedico170
Quadro 12 Sinal de Nome171
Quadro 13 Sinal de Porque173
Quadro 14 Sinal de Antes175
Quadro 15 Sinal de Cortar177
Quadro 16 Sinal de Padre181
Quadro 17 Sinal de Ter182
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 Centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por grupos
ocupacionais51
Tabela 02 Centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por faixa etaacuteria51
Tabela 03 Distribuiccedilatildeo geograacutefica da centralizaccedilatildeo53
Tabela 04 Cruzamento de fatores 6 falantes com o maior grau de
centralizaccedilatildeo55
Tabela 05 Centralizaccedilatildeo por grupos eacutetnicos56
Tabela 06 Centralizaccedilatildeo e atitude com relaccedilatildeo a Martha‟s Vineyard58
Tabela 07 A escala em tempo aparente eacute chamada de ldquogradaccedilatildeo
etaacuteriardquo61
Tabela 08 Mudanccedila de (aw) e (ay) em tempo aparente atraveacutes de duas
geraccedilotildees em Martha‟s Vineyard62
Tabela 09 Preliminar dos dados ndash variaccedilotildees ou mudanccedilas
linguiacutesticas151
SUMAacuteRIO
Introduzindo a pesquisa na liacutengua de sinais25 CAPIacuteTULO I ndash Delimitaccedilatildeo do objeto de pesquisa31
11 Introduccedilatildeo31
12 Mudanccedilas histoacutericas na LIBRAS e variaccedilotildees linguiacutesticas de
1946 a 2010 em Santa Catarina31
13 Objetivo Geral33
14 Objetivos especiacuteficos33
15 Questotildees e Hipoacuteteses de pesquisa na liacutengua de sinais37
CAPIacuteTULO II ndash Pressupostos teoacuterico-metodoloacutegicos da sociolinguiacutestica
laboviana39
21 Introduccedilatildeo39
22 A liacutengua em seu contexto social40
221 LABOV pesquisador pioneiro em sociolinguiacutestica40
222 A Ilha de Martha‟s Vineyard42
223 Seleccedilatildeo da variaacutevel linguiacutestica47
224 Distribuiccedilatildeo por idade e tempo50
225 Uma explicaccedilatildeo possiacutevel para o aumento da centralizaccedilatildeo52
226 A interaccedilatildeo de padrotildees linguiacutesticos e sociais54
23 Os princiacutepios da mudanccedila linguiacutestica59
231 A idade e a variaccedilatildeo estaacutevel60
232 A idade e a mudanccedila linguiacutestica61
233 Aplicando os conhecimentos da sociolinguiacutestica64
CAPIacuteTULO III ndash A histoacuteria social da liacutengua69
31 Introduccedilatildeo69
32 Charles Michel de LEpeacutee - Instituto Nacional de Surdos-Mudos
em Paris69
33 Eacutedouard Huet ndash Instituto Nacional Educaccedilatildeo de Surdos
(INESRJ)74
34 Francisco Lima Juacutenior - O Primeiro Professor Surdo na liacutengua
de sinais em Santa Catarina87
CAPIacuteTULO IV ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila na liacutengua de sinais101
41 Introduccedilatildeo101
42 A liacutengua de sinais pelo surdo indiacutecios de variaccedilatildeo e mudanccedila
linguiacutestica101
43 As variaccedilotildees linguiacutesticas na liacutengua de sinais116
44 O surdo se comunica a liacutengua de sinais no contexto social118
CAPIacuteTULO V ndash Metodologia121
51 Introduccedilatildeo121
52 A coleta de dados123
53 O meacutetodo de entrevista sociolinguiacutestica a coleta de narrativas
de experiecircncia pessoal124
54 A transcriccedilatildeo de dados dos trecircs grupos compostos de
informantes surdos na liacutengua de sinais126
55 Informantes do grupo surdo na liacutengua de sinais126
56 Descriccedilatildeo dos informantes quanto aos dados129
561 Grupo I - Informantes130
5611 Informante G130
5612 Informante H132
5613 Informante I134
562 Grupo II - Informantes135
5621 Informante D136
5622 Informante E137
5623 Informante F139
563 Grupo III - Informantes140
5631 Informante A140
5632 Informante B141
5633 Informante C143
564 ndash Algumas consideraccedilotildees finais146
CAPITULO VI ndash Descriccedilatildeo e anaacutelise dos resultados149
61 Introduccedilatildeo149
62 A comparaccedilatildeo dos dados o grupo de trecircs geraccedilotildees de surdos na
liacutengua de sinais149
63 Variaccedilatildeo e Mudanccedila lexical na Liacutengua Brasileira de Sinais152
64 Variaccedilatildeo e Mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua Brasileira de
Sinais173
65 O que dizem os resultados das trecircs geraccedilotildees dos informantes na
Liacutengua Brasileira de Sinais 183
Consideraccedilotildees Finais187
Referecircncias Bibliograacuteficas191
Anexos199
25
Introduzindo a pesquisa na liacutengua de sinais
Sou Surdo Pretendo investigar a variaccedilatildeo e a mudanccedila linguiacutestica
na liacutengua de sinais como trabalho final do curso de poacutes-graduaccedilatildeo em
Linguiacutestica niacutevel Doutorado e aprofundar os conceitos adquiridos no
meu mestrado Realizei a defesa do mestrado em 2008 na UFSC O
estudo foi feito na linha de pesquisa em Educaccedilatildeo e Processos
Inclusivos O tema abordado foi ldquoContextualizaccedilatildeo da Trajetoacuteria dos
Surdos e Educaccedilatildeo de Surdos em Santa Catarinardquo
Iniciei no mestrado pesquisando a Educaccedilatildeo de Surdos em SC
Como natildeo haacute documentaccedilatildeo histoacuterica busquei atraveacutes do depoimento
do professor surdo Francisco1 e tambeacutem de documentos e fotografias
que ele tinha resgatar um pouco da trajetoacuteria da Educaccedilatildeo de Surdos em
SC
Aquela pesquisa visava introduzir as narrativas de sujeitos surdos
no que tange a sua histoacuteria memoacuteria e identidade Minha posiccedilatildeo eacute que
atraveacutes dela eacute possiacutevel conseguir elucidar a caminhada realizada pelos
surdos de Santa Catarina E tambeacutem atraveacutes de narrativas captadas com
o professor Francisco Lima Juacutenior (Chiquito) e de alguns de seus ex-
alunos bem como de alguns dados de Jornais fotos e filmagens
consegue-se chegar a escrever a histoacuteria do movimento surdo de Santa
Catarina com respeito agrave organizaccedilatildeo e agrave educaccedilatildeo de surdos O tema foi
muito amplo para pesquisar no mestrado Entatildeo optei por pesquisar a
parte histoacuterica da liacutengua de sinais no mestrado e a parte linguiacutestica no
doutorado numa perspectiva sociolinguiacutestica
Na pesquisa de mestrado percebi que apareceram sinais
diferentes no depoimento de dois surdos que sinalizaram sobre a
Educaccedilatildeo de surdos Refleti sobre esses sinais diferentes e natildeo
conseguia explicaacute-los Entatildeo realizei o projeto de doutorado para
entender melhor essa diferenccedila de sinais estudando um tema mais
1 SCHMITT (2008) dissertaccedilatildeo de mestrado na UFSC Em 1928 nasceu em FlorianoacutepolisSC e inicia a vida de Francisco Lima Juacutenior Em 1937 a 1946 no INSMRJ Francisco inicia seus
estudos No ano de 1947 primeiro espaccedilo de educaccedilatildeo de surdos na garagem na casa dos pais
(Francisco) Em 1954 o encontro de surdos organiza a fundaccedilatildeo do Ciacuterculo Surdos-Mudos em Santa Catarina ndash CSMSC Em 1955 funda o Ciacuterculo Surdos-Mudos em Santa Catarina ndash
CSMSC e tambeacutem foi delegado na regiatildeo do sul Em 1960 teve iniacutecio o governo de Celso
Ramos Em 1963 iniciou a construccedilatildeo Escola Governador Celso Ramos Em 1964 a primeira turma de surdos na Escola Governador Celso Ramos Ex-alunos Surdos na primeira Turma
Escola Governador Celso Ramos em 1964 e 1969 Fundado em 25 de marccedilo de 1969 o
Instituto de Audiccedilatildeo e Terapia da Linguagem ndash IATEL e em 1997 o Francisco entregou o documento no Ciacuterculo Surdos-Mudos em Santa Catarina ndash CSMSC para a Sandra L Amorim e
atualmente ASGF Isso foi apresentado a minha pesquisa de biografia
26
especiacutefico ldquoA Histoacuteria da Liacutengua de Sinais em Santa Catarina
Contextos soacutecio-histoacutericos e sociolinguiacutesticos de surdos de 1946 a
2010rdquo
O trabalho de coleta de dados para esta pesquisa acontece em
forma de relatos filmados sobre a histoacuteria e as experiecircncias de vida de
cada indiviacuteduo em liacutengua de sinais de trecircs geraccedilotildees nas seguintes faixas
etaacuterias o Grupo I eacute formado por indiviacuteduos com mais de 60 anos o
Grupo II por indiviacuteduos de 30 a 60 anos e o Grupo III eacute formado por
indiviacuteduos de 15 a 30 anos Pretende-se investigar nos dados de que
dispomos se aconteceu alguma transformaccedilatildeo linguiacutestica e em caso
positivo qual foi esta transformaccedilatildeo Se a economia a poliacutetica a
questatildeo social e cultural influenciam as mudanccedilas linguiacutesticas que
ocorrem e quais as possiacuteveis influecircncias que estes fatores tiveram em
relaccedilatildeo agraves mudanccedilas na liacutengua de sinais de Santa Catarina no periacuteodo
de 1946 a 2010
A pesquisa e a leitura de histoacuterias da liacutengua de sinais no mundo
no Brasil e em Santa Catarina em diferentes comunidades surdas
propiciaratildeo um maior conhecimento linguiacutestico e melhor entendimento
das diferentes culturas surdas Jaacute posso adiantar que as narrativas
coletadas contadas e vividas pelos trecircs grupos pesquisados em
diferentes momentos da sociedade brasileira ampliaram minha forma de
ver e perceber o mundo
Meu estudo de pesquisa no mestrado apresentou dados sobre a
histoacuteria da liacutengua de sinais de Santa Catarina e as dificuldades
encontradas da comunidade surda nos contatos sociais das vaacuterias regiotildees
de Santa Catarina e ateacute mesmo com outros estados (PR RS SP RJ e
MG) Acredita-se que a ampliaccedilatildeo de sinais aqui em Santa Catarina teve
a influecircncia do professor Francisco Lima Juacutenior porque ele estudou no
INESRJ (Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos) e no IPSSP
(Instituto Paulista de Surdos) e trouxe sinais utilizados nesses estados
aleacutem de outros sinais aprendidos em contatos com surdos de outros
estados (PR RS SP RJ e MG) e ensinou tais sinais aos seus alunos
surdos enriquecendo assim a liacutengua de sinais
Ateacute agora as pesquisas sobre a liacutengua de sinais em Santa Catarina
natildeo tecircm registro da histoacuteria do sujeito surdo na escola e nem nas
associaccedilotildees de surdos ou na comunidade surda na deacutecada de 1950 Pela
pesquisa percebi que antes da vinda do professor Francisco para Santa
Catarina natildeo havia registrodocumentaccedilatildeo sobre a liacutengua de sinais A
histoacuteria que pesquisei sobre a liacutengua de sinais em Santa Catarina surge
de conversas com o professor Francisco e com outros indiviacuteduos surdos
Atualmente haacute mais registros sobre a liacutengua de sinais mas ainda eacute
27
muito pouco pois eacute uma liacutengua na modalidade visual espacial e sua
forma de registro ainda eacute precaacuteria A histoacuteria da liacutengua de sinais tem sido narrada por instituiccedilotildees de
indiviacuteduos ouvintes uma dessas eacute o INESRJ onde estudou o professor
Francisco Essas narraccedilotildees tecircm como base a educaccedilatildeo oralista que natildeo
utilizava nenhum tipo de sinalizaccedilatildeo e a comunidade surda que
utilizava a LIBRAS natildeo deixou informaccedilotildeesregistros sobre a histoacuteria da
comunidade surda daquela eacutepoca (1940) O pouco que ficou eacute
superficial deixando de mostrar informaccedilotildees de maior valor sobre esta
liacutengua que eacute muito importante para que com os registros possamos
entender melhor as variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas que ocorreram e
ocorrem Para isso eacute preciso que indiviacuteduos surdos pesquisem sobre a
histoacuteria cultura identidade e liacutengua de sinais da comunidade surda
Os dados desta pesquisa considerados importantes foram
analisados com o objetivo principal de pesquisar as variaccedilotildees e
possiacuteveis mudanccedilas em tempo aparente na liacutengua de sinais em Santa
Catarina atraveacutes das narrativas de sujeitos surdos
Percebi que o professor Francisco influenciou a liacutengua de sinais
em Santa Catarina e resgatando parte da histoacuteria dessa liacutengua pesquisei
variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas no periacuteodo de 1946 ateacute a
atualidade (2010) A falta de pesquisa histoacuterica da liacutengua de sinais
2 entre 1930 a
1980 no Brasil com referecircncia agrave variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica com o
foco no estudo sociolinguiacutestico e soacutecio-histoacuterico dificultou vislumbrar
o desenvolvimento desta liacutengua durante esse periacuteodo as mudanccedilas
ocorridas e o uso da liacutengua de sinais pela comunidade surda Natildeo houve
registro de pesquisa sobre este tema na liacutengua de sinais atraveacutes de
registro espaccedilo-visual (filmagem viacutedeos fotos etc) nas uacuteltimas deacutecadas
e parece que muitos dados que satildeo importantes sobre o sujeito surdo se
perderam Vale registrar no entanto trabalhos importantes que
procuraram resgatar parte da histoacuteria da liacutengua de sinais no Brasil a
dissertaccedilatildeo defendida em 2010 por Heloise Gripp Diniz sobre o tema
ldquoA histoacuteria da liacutengua de sinais brasileira (Libras) um estudo descritivo
de mudanccedilas fonoloacutegicas e lexicaisrdquo e os trabalhos de Perlin (1998)
Miranda (2001) Karnopp e Quadros (2004) Brito (1990 1991 1993 e
1995) Felipe (1988 1991 1993 1994 1995 1996 e 1997) Campello
(2011) entre outros
2 SCHMITT (2008) relata que ldquoa liacutengua de sinais ou seja a liacutengua dos sujeitos surdos eacute o
espaccedilo que mais eacute atingido pelo diferencialismordquo
28
Com relaccedilatildeo ao oralismo que exigia que os surdos falassem e natildeo
podiam sinalizar essa praacutetica trouxe grandes problemas uma delas foi a
dificuldade na criaccedilatildeo de espaccedilos (escola associaccedilatildeo etc) pelos
proacuteprios surdos Com a criaccedilatildeo das Associaccedilotildees de Surdos em Santa
Catarina os surdos puderam defender seus interesses E a partir de
2001 em Santa Catarina quando foi criada a Lei Estadual Nordm 118693
oficializou a LIBRAS como forma de comunicaccedilatildeo dos surdos
Haacute dez anos surgiu a LEI Nordm 10436 DE 24 DE ABRIL DE
2002 ldquoreconhecida como meio legal de comunicaccedilatildeo e expressatildeo da
Liacutengua Brasileira de Sinais - LIBRAS e outros recursos de expressatildeo a
ela associadosrdquo e o DECRETO Nordm 5626 DE 22 DE DEZEMBRO DE
2005
Em SC a primeira conquista educacional dos surdos aconteceu na
escola Governador Celso Ramos no centro de Florianoacutepolis em 1964
com a primeira turma de surdos a frequentar uma escola Nesta escola
eles tiveram acesso ao uso da liacutengua de sinais com a mediaccedilatildeo do
professor Francisco que tinha o apelido de ldquoChiquitordquo Com o
aprendizado da liacutengua de sinais os surdos comeccedilaram uma nova histoacuteria
e foram aprimorando sua liacutengua
Os alunos surdos adquiriam mais expressatildeo na comunicaccedilatildeo da
liacutengua de sinais e na interaccedilatildeo com o professor de liacutengua de sinais
surdo aprendiam mais raacutepido a se comunicar e a entender os conceitos
(sinaispalavras) Eles aprenderam e foram influenciados pelo professor
Francisco com quem tiveram o primeiro contato com a liacutengua de sinais
Os surdos comeccedilaram a utilizar a liacutengua de sinais na comunidade
surda ampliando este aprendizado Assim indaguei-me sobre qual era a
liacutengua de sinais ensinada naquele contexto social e as mudanccedilas
ocorridas por causa disto Entatildeo procurei o professor Francisco para
entender quais os sinais diferentes que havia em 1950 e que ele trouxe
para Santa Catarina Soube que o professor em seus estudos no INES foi
influenciado pela Liacutengua de Sinais Francesa (Europa) e pela Liacutengua de
Sinais Americana (Estados Unidos) na deacutecada de 1940 retornou para
Santa Catarina por volta de 1947 Essa contextualizaccedilatildeo sobre a liacutengua
de sinais eacute importante para a anaacutelise e pesquisa desta liacutengua em nosso
Estado
O professor Francisco estudou no Rio de Janeiro de 1937 a 1946
3 Em Santa Catarina foi criada a Lei no 11869 de 06 de setembro de 2001 reconhece oficialmente no Estado de Santa Catarina a linguagem gestual codificada na Liacutengua Brasileira
de Sinais LIBRAS ndash e outros recursos a ela associados como meio de comunicaccedilatildeo objetiva e
de uso corrente
29
Trouxe a experiecircncia dos sinais emergentes do Instituto Nacional de
Educaccedilatildeo de Surdos ndash INESRJ e influenciou a Regiatildeo Sul
protagonizando a histoacuteria da liacutengua de sinais por toda comunidade surda
catarinense
Eacute preciso pensar como na realidade a comunidade surda
catarinense resolveu seus problemas nas diferentes fases da histoacuteria da
liacutengua de sinais e em diferentes geraccedilotildees dos surdos Algumas sugestotildees
propostas dizem respeito ao Ciacuterculo de Surdos-Mudos de Santa Catarina
- CSMSC4 fundado pelo professor Francisco tambeacutem professor da
Escola Governador Celso Ramos Tais fatos trouxeram uma maior
interaccedilatildeo entre os surdos catarinenses e o contexto social vivido entre
1946 a 1955 proporcionando a criaccedilatildeo de Associaccedilotildees de Surdos em
vaacuterias regiotildees do estado de Santa Catarina em especial na Escola G
Celso Ramos de 1964 a 1973
Com o intuito de cumprir os objetivos a que esta pesquisa se
propocircs o trabalho seraacute organizado da seguinte forma
Nesta Introduccedilatildeo fiz um breve relato da construccedilatildeo deste
trabalho de pesquisa destacando pontos que acredito serem relevantes
com relaccedilatildeo agrave liacutengua de sinais em Santa Catarina
No primeiro capiacutetulo apresento a delimitaccedilatildeo do objeto de
pesquisa a contextualizaccedilatildeo dos sujeitos surdos na liacutengua de sinais com
o objetivo de pesquisar as mudanccedilas histoacutericas na LIBRAS e possiacuteveis
variaccedilotildees linguiacutesticas que ocorrem na trajetoacuteria percorrida desde o
projeto ateacute a concretizaccedilatildeo da pesquisa de campo realizada
No segundo capiacutetulo apresento alguns pressupostos teoacuterico-
metodoloacutegicos da sociolinguiacutestica laboviana apresento estudos de
Labov sobre a centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) na comunidade de fala da
Ilha de Marthas Vineyard bem como sobre a liacutengua em seu contexto
social a variaccedilatildeo e a mudanccedila linguiacutestica
No terceiro capiacutetulo apresento a contextualizaccedilatildeo da histoacuteria
social da liacutengua em organizaccedilotildees surdas no paiacutes com base na trajetoacuteria
dos surdos na Europa Ameacuterica Brasil e regiotildees de Santa Catarina
No quarto capiacutetulo apresento explicaccedilotildees sobre a variaccedilatildeo
encontrada na liacutengua de sinais e discutida por diversos linguistas
No quinto capiacutetulo apresento a metodologia de coleta das
narrativas dos sujeitos surdos por faixa etaacuteria e a descriccedilatildeo dos
4 O CSMSC professor Francisco comeccedilou a reunir todos os surdos de Santa Catarina
buscando as pessoas surdas que ficavam isoladas na sociedade Fazia reuniotildees perioacutedicas em
sua casa com atividade social alfabetizaccedilatildeo e oficinas de artes e trabalhos artesanais Entatildeo em 18 de agosto de 1955 com 30 associados fundou o Ciacuterculo dos Surdos e Mudos de Santa
Catarina Atualmente chamado de Associaccedilatildeo de Surdos da Grande Florianoacutepolis - ASGF
30
informantes quanto aos dados colhidos na liacutengua de sinais nas trecircs
geraccedilotildees controladas
No sexto capiacutetulo apresento a descriccedilatildeo e a anaacutelise dos
resultados a comparaccedilatildeo dos dados de cada grupo nas trecircs geraccedilotildees de
surdos que utilizaram a liacutengua de sinais
Por fim nas consideraccedilotildees finais mostro que esta pesquisa
pretende contribuir com resultados sobre a variaccedilatildeo e a mudanccedila
linguiacutestica na Liacutengua de Sinais e talvez contribuir com o registro dos
dados coletados no curso de LetrasLIBRAS como referecircncia
bibliograacutefica para auxiliar outras pesquisas
31
CAPIacuteTULO I ndash Delimitaccedilatildeo do objeto de pesquisa
11 ndash Introduccedilatildeo
Pretendo pesquisar parte da histoacuteria da LIBRAS em Santa
Catarina de indiviacuteduos surdos em contextos soacutecio-histoacutericos e
sociolinguiacutesticos de diferentes regiotildees do estado com comunicaccedilatildeo de
sinais diferentes idades variadas gecircnero diferente costumes proacuteprios
escolaridade variada exercendo trabalhos e crenccedilas diferentes
vivenciando fatos histoacutericos tudo isso acontecendo em contextos
distintos Escolhi o periacuteodo de 1946 a 2010 para a pesquisa porque o
professor Francisco Lima Juacutenior que nasceu em 1928 foi estudar fora
da cidade retornou para Florianoacutepolis em 1946 de seus estudos no
Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos (INES) no Rio de Janeiro e
acredito que ele influenciou o ensino da LIBRAS em Santa Catarina
Realizar esta pesquisa eacute um grande desafio pela dificuldade para
encontrar o registro da histoacuteria da liacutengua de sinais e das variaccedilotildees e
mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas Para desenvolver este trabalho eacute
importante saber as influecircncias lexicais e fonoloacutegicas ocorridas nessa
liacutengua em Santa Catarina de onde vieram as influecircncias e qual seu
reflexo na comunidade surda E ainda se essa liacutengua trouxe uma
valorizaccedilatildeo maior para o grupo de surdos I (mais velhos) e se foi
influenciada por fatores sociais e histoacutericos da comunidade surda de
Santa Catarina
Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os seguintes toacutepicos a
delimitaccedilatildeo da pesquisa mudanccedilas histoacutericas na LIBRAS e variaccedilotildees
linguiacutesticas nas deacutecadas de 1940 a 2010 uma contextualizaccedilatildeo sobre a
influecircncia do professor Francisco na comunidade surda a justificativa
sobre a pesquisa feita com as pessoas surdas o objetivo geral desta
pesquisa e por fim a hipoacutetese levantada sobre a influecircncia do professor
Francisco na comunidade surda de Santa Catarina com relaccedilatildeo agrave liacutengua
de sinais
12 ndash Mudanccedilas histoacutericas na LIBRAS e variaccedilotildees linguiacutesticas de
1946 a 2010 em Santa Catarina
A metodologia utilizada nesta pesquisa eacute de base empiacuterica
atraveacutes de coleta de narrativas de sujeitos surdos na faixa etaacuteria de 15 a
80 anos divididos em trecircs grupos os quais responderam agrave seguinte
pergunta ldquoExplique a histoacuteria da educaccedilatildeo do sujeito surdo em Santa
32
Catarinardquo As respostas estatildeo registradas em viacutedeos por se tratar de uma
liacutengua visual-espacial
Os dados colhidos satildeo descritos e analisados com o objetivo de
verificar se ocorreram variaccedilotildees e possiacuteveis mudanccedilas em tempo
aparente em sinais da LIBRAS identificando linguiacutestica e
historicamente cada caso
Nesta pesquisa pretendo aprofundar a histoacuteria da LIBRAS em
Santa Catarina e verificar as variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas
entre 1946 a 2010 bem como a influecircncia do professor Francisco na
comunidade surda do estado de Santa Catarina
Temos poucos registros histoacutericos no Brasil sobre a comunidade
surda e a LIBRAS e esses em sua maioria satildeo escritos por pessoas
ouvintes uma histoacuteria oral5
Em Santa Catarina a realidade eacute a mesma natildeo haacute registros
escritos documentados sobre a comunidade surda A LIBRAS foi
oficializada em 2001 em Santa Catarina e em 2002 no Brasil Ainda eacute
recente e poucos registros temos Eacute necessaacuterio pesquisar mais sobre a
LIBRAS em seus aspectos histoacuterico e linguiacutestico pois atualmente
poucos surdos conhecem sua liacutengua em seus aspectos linguiacutesticos e
gramaticais apenas sinalizam e se comunicam mas se pedirmos
explicaccedilotildees poucos saberatildeo daacute-las ateacute porque isso natildeo eacute mateacuteria
escolar
Com os dados coletados e analisados acredito que poderei
entender melhor qual foi a influecircncia ou natildeo do professor Francisco
junto agrave comunidade surda de Santa Catarina Aleacutem dos dados pretendo
fazer isso com o auxiacutelio de reportagens jornais e revistas catarinenses
bem como atraveacutes de documentos das instituiccedilotildees que trabalharam ou
trabalham com pessoas surdas Tambeacutem pretendo verificar informaccedilotildees
no arquivo Puacuteblico Catarinense Espero que com os depoimentos em
viacutedeos consiga encontrar evidecircncias de variaccedilotildees e mudanccedilas
linguiacutesticas lexicais e fonoloacutegicas em LIBRAS que ocorreram desde a
deacutecada de 1940 Os surdos que deram seu depoimento fazem parte da
comunidade surda que participou do movimento surdo catarinense nas
uacuteltimas deacutecadas Para analisar as transformaccedilotildees ocorridas eles foram
observados por faixas etaacuterias Considerando o uso de narrativas sobre a
5 SCHMITT (2008) na dissertaccedilatildeo de mestrado apresenta O que eacute Histoacuteria Oral ndash Eacute o estudo das narrativas dos sujeitos da pesquisa sua versatildeo e memoacuterias do fato pesquisado ocupa-se em
registrar essas narrativas (gravaccedilotildees filmagens transcriccedilatildeo das entrevistas recortes da
imprensa) como metodologia de pesquisa
33
histoacuteria dessas pessoas utilizei as discussotildees sobre histoacuteria oral para
realizar as entrevistas conforme Alberti (2005)
A histoacuteria oral tem uma natureza especifica que
condiciona as perguntas que o pesquisador pode fazer
Em se tratando de uma forma de recuperaccedilatildeo do passado
conforme concebido pelos que viveram eacute fundamental
que tal abordagem seja efetivamente relevante para a
investigaccedilatildeo que se pretende realizar (ALBERTI 2005
p 30)
13 ndash Objetivo Geral
Verificar a influecircncia do professor Francisco Lima Juacutenior sobre a
liacutengua de sinais de Santa Catarina e pesquisar variaccedilotildees e possiacuteveis
mudanccedilas em tempo aparente na liacutengua de sinais desse educador e de
outros oito sujeitos surdos reunidos por faixa etaacuteria diferente em trecircs
grupos de indiviacuteduos Grupo I (de 60 a 80 anos) Grupo II (de 30 a 60
anos) e Grupo III (de 15 a 30 anos) A narrativa desses nove sujeitos
surdos seraacute analisada com o propoacutesito de verificar quais as
transformaccedilotildees linguiacutesticas ocorridas na comunidade surda atual e quais
as diferenccedilas lexicais e fonoloacutegicas de uso da LIBRAS nas faixas etaacuterias
desses trecircs grupos de geraccedilotildees investigados
14 ndash Objetivos especiacuteficos
Identificar as alteraccedilotildees de alguns sinais quanto agrave
variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica e lexical dentro da liacutengua
de sinais e outros sinais que permanecem ateacute a atualidade
sem influecircncias externas
Comparar a variaccedilatildeo e a mudanccedila encontradas na
liacutengua de sinais utilizada pelos indiviacuteduos surdos
pertencentes a diferentes faixas etaacuterias representantes de
trecircs geraccedilotildees de sinalizadores
Identificar possiacuteveis fatores que condicionam a
variaccedilatildeo e a mudanccedila linguiacutesticas observadas nos trecircs
grupos pesquisados
34
Pretendemos pesquisar a liacutengua de sinais em Santa Catarina
observando a narrativa (depoimento) do sujeito surdo coletada na
escola e na associaccedilatildeo Com o surgimento do primeiro espaccedilo de
identidade cultural6 do surdo em contato com o professor Francisco
quando retornou do Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos
(INESRJ) para Florianoacutepolis que contribuiu para a melhoria do ensino
de liacutengua de sinais aos surdos Observe-se o que disse Felipe (2001)
sobre isso
Assim o antigo Instituto continuou como um centro de
integraccedilatildeo para o fortalecimento do desenvolvimento da
LIBRAS pois segundo Relatoacuterio do Diretor Dr Tobias
Rabello Leite de 1871 esta escola jaacute possuiacutea alunos
vindos de vaacuterias partes do paiacutes dezoito anos retornavam
agraves cidades de origem levando com eles a LIBRAS
(FELIPE 2001 p 121)
Quando o professor Francisco retornou de seu estudo no INES
percebe-se que influenciou o aprendizado da LIBRAS em Santa
Catarina pois a geraccedilatildeo mais nova buscava aprender a liacutengua com os
liacutederes surdos da geraccedilatildeo do professor Francisco Esse espaccedilo foi
conquistado pela poliacutetica de educaccedilatildeo de surdos que assegurava o
envolvimento com a liacutengua de sinais que atualmente estaacute se expandindo
na comunidade surda em nosso estado catarinense
Esse caminho foi aberto pelo professor Francisco Lima Juacutenior
que motivou os sujeitos surdos a aprenderem a LIBRAS num periacuteodo de
escolas oralistas a valorizarem o contato com outros sujeitos surdos e as
conversas nas comunidades surdas e associaccedilotildees levando os surdos da
atualidade a lutarem pelos seus direitos e deveres e a aprimorarem os
espaccedilos cultural e linguiacutestico criando assim lideranccedilas nessas
comunidades Isto proporcionou troca de ideias e experiecircncias
necessidade de mais estudos e melhor compreensatildeo da poliacutetica brasileira
para a busca desses direitos Os surdos da atualidade tambeacutem criaram
uma identidade nessa comunidade com as trocas aprenderam mais
criaram sinais para palavras novas melhoraram sinais antigos etc Para a
autora Tanya A Felipe
6 SCHMITT (2008) relata que ldquoA pesquisa acadecircmica na universidade sobre os problemas na
fase de histoacuteria de ouvinte e a pesquisa na educaccedilatildeo de surdos introduz a identidade cultural
surda no espaccedilo de conflito que eacute a educaccedilatildeo de surdo Esse momento cultural do surdo e a aacuterea de conhecimento sobre a cultura surda satildeo importantes na realidade das pesquisas que
apresentam o sujeito surdo no ensinordquo
35
Como toda liacutengua as liacutenguas de sinais aumentam seus
vocabulaacuterios com novos sinais introduzidos pelas
comunidades surdas em resposta as mudanccedilas culturais e
tecnoloacutegicas Assim a cada necessidade surge um novo
sinal e desde que se torne aceito seraacute utilizado pela
comunidade (FELIPE 2001 p 19)
Percebe-se na citaccedilatildeo da autora que o contato da comunidade
surda7 acontece atraveacutes da comunicaccedilatildeo visual-espacial As mudanccedilas
tecnoloacutegicas a busca de conhecimento e a cultura influenciam a
LIBRAS fazendo com que a comunidade crie novos sinais e modifique
outros sinais mais antigos
A LIBRAS eacute considerada uma liacutengua assim como as outras
liacutenguas orais e apresenta variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica Um dos
exemplos de mudanccedila em LIBRAS foi uma mudanccedila discreta8 do sinal
de ldquoMAtildeErdquo A mudanccedila fonoloacutegica atinge um dos cinco paracircmetros
fonoloacutegicos da formaccedilatildeo de sinais O ponto de articulaccedilatildeo eacute preservado
na mudanccedila do sinal MAtildeE a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) muda e eacute
acrescentado o sinal de MULHER tornando o sinal composto
Figura 01 ndash Sinal de Matildee
Eacute importante retomar aqui quais satildeo esses cinco paracircmetros
Stokoe que por volta de 1960 e 1965 apontou trecircs paracircmetros que
constituem os sinais e nomeou-os configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ponto
de articulaccedilatildeo (PA) ou locaccedilatildeo (L) e movimento (M) Satildeo eles
7 Para Felipe (2001 p 38) ldquouma comunidade eacute um sistema social geral no qual pessoas vivem
juntas compartilham metas comuns e partilham certas responsabilidades umas com as outrasrdquo PADDEN (19895) Para esta pesquisadora ldquouma Comunidade Surda eacute um grupo de pessoas
que mora em uma localizaccedilatildeo particular compartilha as metas comuns de seus membros e de
vaacuterios modos trabalha para alcanccedilar estas metasrdquo Portanto nessa Comunidade pode ter tambeacutem ouvintes e surdos que natildeo satildeo culturalmente Surdos 8 Ocorre quando uma forma (ou sinal) eacute substituiacuteda por outra de modo natildeo gradual
36
Configuraccedilatildeo de matildeos ndash satildeo as diferentes formas que as
matildeos assumem na representaccedilatildeo do sinal
Ponto de articulaccedilatildeo ndash eacute a posiccedilatildeo onde as matildeos satildeo
posicionadas no momento da sinalizaccedilatildeo
Movimento ndash eacute o deslocamento das matildeos no espaccedilo e
em diferentes partes do corpo
Karnopp (1999) apresenta como resultado de pesquisa que a
configuraccedilatildeo de matildeos se diferencia pela seleccedilatildeo de dedos e a
configuraccedilatildeo ou posiccedilatildeo destes para efetuar o sinal Em ASL os dedos
selecionados devem permanecer na mesma disposiccedilatildeo ou quando tem
mudanccedila de posiccedilatildeo os dedos selecionados devem continuar iguais ateacute
o teacutermino do sinal As posiccedilotildees e configuraccedilotildees dos dedos diferenciam-
se em a) difusatildeo dos dedos aduccedilatildeo b) junccedilatildeo entre os dedos e o
polegar abertura e c) tipo e grau de flexatildeo apresentando a organizaccedilatildeo
fonoloacutegica dos sinais com ecircnfase nos articuladores dos itens lexicais e
das restriccedilotildees na formaccedilatildeo de sinais
A partir de 1970 outros linguistas conduziram estudos mais
aprofundados sobre os aspectos fonoloacutegicos Robbin Battison (1974)
Edward S Klima e Ursulla Bellugi (1979) descreveram o quarto
paracircmetro
Orientaccedilatildeo ndash que eacute a posiccedilatildeo da palma da matildeo se pra
frente ou pra traacutes para cima ou para baixo para o lado
esquerdo ou direito
O quinto paracircmetro eacute a expressatildeo facialcorporal foi adicionado
por Ferreira Brito em 1995 no Brasil
Expressotildees faciais e corporais satildeo elementos
gramaticais que compotildeem a estrutura da liacutengua Tambeacutem
chamados de marcadores natildeo manuais Ex a fisionomia
para expressar uma pessoa chata e muito chata eacute
intensificada para expressar o que eacute desejado Alguns sinais
podem ter uma direccedilatildeo e a inversatildeo deste pode significar
oposiccedilatildeo contraacuterio ou concordacircncia nuacutemero-pessoal
37
Figura 02 ndash Sinal de Matildee
Para Quadros (1997) pesquisas evidenciam a perda completa da
motivaccedilatildeo do sinal na crianccedila surda em fase de aquisiccedilatildeo da liacutengua de
sinais Tais sinais como ldquobenccedilatildeordquo para matildee e pai para o surdo adulto ateacute
podem ser resgatados Entretanto a crianccedila que estaacute adquirindo a liacutengua de
sinais e nunca viu esta accedilatildeo natildeo repete a mesma atitude beijando a matildeo
A liacutengua de sinais eacute diferente em diversos paiacuteses e ateacute mesmo em
diferentes regiotildees dentro de um mesmo paiacutes A liacutengua de sinais eacute o que
permite a comunicaccedilatildeo entre as pessoas surdas desta forma os surdos
que conhecem a liacutengua de sinais de outras regiotildees com certeza teratildeo
maior facilidade de comunicaccedilatildeo e tambeacutem de conhecimento
Vale ressaltar que toda forma de liacutengua ldquofaladardquo no contexto
social e tudo o que noacutes vivemos sofre mudanccedilas Todas as liacutenguas tecircm
influecircncia do tempo decorrido Na LIBRAS tambeacutem existem mudanccedilas
culturais e linguiacutesticas
15 ndash Questotildees e Hipoacuteteses de pesquisa na liacutengua de sinais
Nesta pesquisa parto das seguintes questotildees 1) O professor
Francisco influenciou a LIBRAS em SC 2) Que variaccedilotildees e mudanccedila
linguiacutestica vamos encontrar na liacutengua dos nove sujeitos surdos
Acredito que (hipoacutetese) o professor Francisco teve grande influecircncia na
comunidade surda de Santa Catarina com relaccedilatildeo agrave Liacutengua de Sinais
Acredito tambeacutem (hipoacutetese) que muitos dos sinais utilizados pelos
Grupos I e II natildeo satildeo conhecidos pelo Grupo III dos mais jovens Penso
que (hipoacutetese) alguns sinais tiveram alteraccedilotildees quanto a variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica como tambeacutem lexical nos trecircs grupos pesquisados
Quando comparar a liacutengua de sinais nos Grupos I II e III nas diferentes
faixas etaacuterias espero (hipoacutetese) encontrar vaacuterios sinais que comprovem
variaccedilotildees e mudanccedilas fonoloacutegicas e lexicais Essas hipoacuteteses surgiram
de observaccedilotildees como usuaacuterio da LIBRAS
38
Em relaccedilatildeo aos fatores internos e externos que condicionam a
variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica e lexical acredito (hipoacutetese) que o
professor Francisco eacute o precursor do ensino de sinais em Santa Catarina
(fator externo) No Grupo II temos a influecircncia do professor Francisco e
de seus primeiros alunos e das associaccedilotildees de surdos e no Grupo III
temos um maior nuacutemero de surdos nas universidades precisando criar
novos sinais para os novos conhecimentos aprendidos
Labov em sua pesquisa cita ldquo o objetivo da pesquisa linguiacutestica
na comunidade deve ser descobrir como as pessoas falam quando natildeo
estatildeo sendo monitoradasrdquo (LABOV 2008 [1972] p 244) Nesta
pesquisa a observaccedilatildeo aos indiviacuteduos surdos dos trecircs grupos
pesquisados acontece de forma diferente eles sabem que estatildeo
respondendo perguntas e que estatildeo sendo filmados
Pela anaacutelise das respostas em liacutengua de sinais e descriccedilatildeo dos
surdos seraacute possiacutevel descobrir atraveacutes das descriccedilotildees aspectos
culturais9 individuais e tambeacutem obter dados quanto agraves variaccedilotildees e
mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas na liacutengua de sinais neste periacuteodo de
tempo que acontece desde 1946
Finalmente esta tese teraacute o registro dos dados colhidos nos trecircs
grupos pesquisados de diferentes geraccedilotildees mostrando variaccedilotildees e
mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas com os contatos culturais da
comunidade surda
Os fatos sociais desta liacutengua como de qualquer outra podem
acontecer em qualquer tempo e em diferentes situaccedilotildees e quando
analisados neste caso podemos perceber a mudanccedila dos indiviacuteduos
surdos num determinado contexto soacutecio-histoacuterico e linguiacutestico A amostra eou dados para a tese de doutorado na UFSC
proporcionaraacute anaacutelises sobre aspectos variaacuteveis da LIBRAS (variaccedilatildeo e
mudanccedila fonoloacutegica e lexical) com o apoio de autores como Labov
2008 [1972] Naro 2003 Weinreich Labov e Herzog 2006 [1968]
Calvet 2002 entre outros
O periacuteodo indicado para a pesquisa que eacute de 1946 a 2010 pode
revelar parte da histoacuteria da comunidade surda de Santa Catarina e a
influecircncia que o professor Francisco Lima Juacutenior trouxe de contribuiccedilatildeo
para a liacutengua de sinais de Santa Catarina e para a comunidade surda do
estado
9 PERLIN (2006 p 65) Cultura Surda ndash o livro a Invenccedilatildeo da Surdez II explica que a cultura surda esta aiacute enfatizando oferecendo transparentemente sua possessatildeo simboacutelica sobressaindo
com seus discursos narrativos afirmando a necessidade da reinscriccedilatildeo da diferenccedila cultural e
consequente diferenccedila pedagoacutegica
39
CAPIacuteTULO II ndash Pressupostos teoacuterico-metodoloacutegicos da
sociolinguiacutestica laboviana
21 ndash Introduccedilatildeo
A Sociolinguiacutestica se dedica ao estudo da liacutengua falada e do
contexto social de uso da liacutengua ou seja estuda como os membros de
uma sociedade se comunicam em diversas situaccedilotildees em funccedilatildeo por
exemplo do lugar onde cresceram ou de sua posiccedilatildeo socioeconocircmica A
liacutengua surge e tambeacutem se transforma em funccedilatildeo do contexto soacutecio-
histoacuterico
Como seraacute visto mais adiante para essa aacuterea de conhecimento satildeo
fundamentais os conceitos de variaccedilatildeo e mudanccedila O primeiro envolve a
coexistecircncia de diferentes formas linguiacutesticas para a expressatildeo de um
significado e o segundo diz respeito agrave substituiccedilatildeo de formas com o
passar do tempo Esses estudos satildeo fundamentados na sociolinguiacutestica
variacionista que teve iniacutecio com as pesquisas de Labov
Este capiacutetulo traz relatos da pesquisa de Labov que foi pioneiro
na sociolinguiacutestica e realizou estudo linguiacutestico na comunidade de fala
da Ilha de Marthas Vineyard associando a influecircncia dos povos que
imigraram e colonizaram a ilha agraves mudanccedilas ocorridas na fala bem
como o turismo que eacute frequente no veratildeo com visitantes que falam
variedades de uma mesma liacutengua e outras liacutenguas e influenciam o
comeacutercio da ilha fazendo com que variedades e liacutenguas diferentes se
misturem quando as pessoas conversam Num dado momento Labov
investigou a centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) na comunidade de fala da ilha
Foram entrevistados diferentes grupos eacutetnicos ingleses portugueses e
iacutendios Isso foi importante para entender mudanccedilas linguiacutesticas
ocorridas nessa ilha dos Estados Unidos
Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os seguintes toacutepicos a liacutengua
em seu contexto social a partir da teoria laboviana Labov como
pesquisador pioneiro em sociolinguiacutestica o iniacutecio da pesquisa de Labov
na Ilha de Martha‟s Vineyard com ingleses portugueses e iacutendios a
maneira como Labov realizou a pesquisa para escolher a variaacutevel
linguiacutestica a ser estudada a explicaccedilatildeo dos dados obtidos por grupos
ocupacionais e por idade a explicaccedilatildeo da pesquisa realizada por Labov
sobre o aumento da centralizaccedilatildeo comentaacuterios sobre a interaccedilatildeo de
padrotildees linguiacutesticos e sociais na Ilha de Martha‟s Vineyard os
princiacutepios da mudanccedila linguiacutestica a idade e a variaccedilatildeo estaacutevel e por
fim algumas reflexotildees sobre a idade e a mudanccedila linguiacutestica
40
22 ndash A liacutengua em seu contexto social
A liacutengua eacute uma forma de comportamento eacute usada por seres
humanos num contexto social ao comunicarem uns aos outros suas
ideias suas necessidades e emoccedilotildees Sendo assim o comportamento
linguiacutestico de um grupo pode variar de acordo com as experiecircncias
vividas numa comunidade Para Labov (1972) o estudo da origem da
evoluccedilatildeo da linguagem que eacute a ciecircncia que estuda a parte da linguiacutestica
incluiacuteda no contexto social eacute buscado no comportamento linguiacutestico de
um grupo social isto eacute de uma comunidade de fala10
Natildeo se trata de um grupo de falantes que utilizava a mesma forma
de fala mas do grupo que segue as mesmas normas quanto ao uso da
linguagem No caso da linguagem gestual um exemplo disso seria de
um surdo com uma famiacutelia de ouvintesfalantes que natildeo fica isolado na
questatildeo da liacutengua pois comeccedila a frequentar uma associaccedilatildeo de surdos e
aprende a liacutengua de sinais Neste espaccedilo ele aprende a comunicar-se na
liacutengua de sinais e natildeo apenas numa liacutengua gestual caseira
Para entender o comportamento linguiacutestico de uma comunidade
de fala vatildeo ser retomados alguns estudos pioneiros de Labov da deacutecada
de 1960 Antes poreacutem eacute importante entender quem eacute esse pesquisador e
alguns dos trabalhos que ele fez 221 ndash LABOV pesquisador pioneiro em sociolinguiacutestica
William Labov nasceu na cidade de Rutherford em Nova Jersey
no dia 4 de dezembro em 1927 Comeccedilou sua carreira de estudo em
Harvard em 1948 quiacutemico trabalhou na aacuterea industrial de 1949 a 1961
Ele iniciou suas pesquisas como linguista nos Estados Unidos com foco
de estudo direcionado ao contexto social agrave comunidade de fala e agraves
mudanccedilas sonoras da liacutengua
A observaccedilatildeo de Labov sobre os padrotildees sociolinguiacutesticos na ilha
de Marthas Vineyard resultou na publicaccedilatildeo do seu trabalho
apresentado no 37ordm Encontro Anual da Sociedade Americana de
Linguiacutestica em Nova York nos Estados Unidos em 1963 Nesse
trabalho o pesquisador apresentou suas consideraccedilotildees sobre a mudanccedila
sonora dos ditongos (ay) e (aw) no contexto da comunidade de fala da
10 Segundo COELHO et al (2010 p 163) Comunidade de fala ndash ldquonoccedilatildeo que recobre tanto aspectos sociais quanto linguiacutesticos envolvendo atitudesnorma sociais compartilhadas pelos
falantes que por sua vez compartilham caracteriacutesticas linguiacutesticas que os diferem de outros
grupos sociaisrdquo
41
ilha
O autor estudou tambeacutem na Columbia University sob a
orientaccedilatildeo do Professor Uriel Weinreich - doutorado em linguiacutestica em
1964 ndash com quem realizou e aprofundou sua pesquisa em
sociolinguiacutestica sobre a liacutengua falada
Eacute um pesquisador amplamente considerado na aacuterea da pesquisa
linguiacutestica por sua metodologia em sociolinguiacutestica Em seus trabalhos
o autor mostra aspectos de variaccedilatildeo dialetal e mudanccedila da liacutengua inglesa
na sociedade da Ilha de Marthas Vineyard e em Nova York11
atraveacutes de
estudos de variaccedilatildeo fonoloacutegica
Em 1972 Labov publicou seu livro Sociolinguistic Patterns
University of Pennsylvania Press original em Inglecircs o qual teve seu
volume traduzido para o portuguecircs e publicado em 2008 no Brasil
Ele pesquisou durante meses na Ilha de Martha‟s Vineyard
estado de Massachusetts as variaacuteveis foneacuteticas (ay) e (aw) em diferentes
localidades faixas etaacuterias12
grupos profissionais e eacutetnicos da ilha Com
esse estudo conseguiu reconstruir a histoacuteria social da comunidade
daquela ilha a partir da frequecircncia e distribuiccedilatildeo dessas duas variaacuteveis
para verificar se ocorreu mudanccedila sonora correlacionando o complexo
padratildeo linguiacutestico com a estrutura social atraveacutes da investigaccedilatildeo de
fatores sociais que incidem diretamente sobre o processo linguiacutestico
Sobre a mudanccedila linguiacutestica podemos destacar trecircs principais
caracteriacutesticas relevantes na pesquisa que Labov (2008 [1972] p 19)
desenvolveu na Ilha
a origem das variaccedilotildees linguiacutesticas
a difusatildeo e a propagaccedilatildeo das mudanccedilas linguiacutesticas e
a regularidade da mudanccedila linguiacutestica
Labov investigou como aconteceu a variaccedilatildeo do inglecircs americano
em uma determinada comunidade a partir das influecircncias sociais que
vieram do contato entre os indiviacuteduos das localidades pesquisadas
11 A pesquisa de Labov na ilha de Martha‟s Vineyard foi escolhida por mim porque Francisco
viveu em Florianoacutepolis e agrupou os surdos de SC tendo como referecircncia uma ilha que se
parece muito com Martha‟s nas temporadas de veratildeo os turistas do paiacutes e do exterior lotam a cidade fortalecendo a economia do lugar
12 Ao analisar faixa etaacuteria podemos detectar mudanccedila em tempo aparente atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre grupo dos falantes mais velhos e jovens ou variaccedilatildeo estaacutevel
42
Pela induccedilatildeo as variaccedilotildees fonoloacutegicas podem ocorrer pelos
processos de assimilaccedilatildeo ou dissimilaccedilatildeo por analogia empreacutestimo
fusatildeo contaminaccedilatildeo variaccedilatildeo aleatoacuteria ou outros processos linguiacutesticos
em que haja a interaccedilatildeo entre o sistema linguiacutestico de caracteriacutesticas
fisioloacutegicas ou psicoloacutegicas do indiviacuteduo
O autor realizou a pesquisa na comunidade de falantes de
Martha‟s Vineyard nos EUA em Massachusetts para verificar o grau de
centralizaccedilatildeo de sons no caso (ay) e (aw) em diferentes momentos e
situaccedilotildees daquela comunidade como veremos nas proacuteximas seccedilotildees
222 ndash A Ilha de Martharsquos Vineyard
Martha`s Vineyard eacute a maior ilha ao largo da costa da Nova
Inglaterra abrange quase uma centena de quilocircmetros quadrados de
aacuterea
A ilha antigamente era povoada por grupos de iacutendios que estavam
relacionados com a Wampanoags no estado sudeste de Massachusetts
Num primeiro momento os europeus ocuparam a ilha e com o passar
do tempo aprenderam com os iacutendios de diferentes tribos de Martha`s
Vineyard a pescar e a utilizar a agricultura
O primeiro assentamento europeu aconteceu em 1644 na ilha O
governador de Winthrop de Boston norte dos Estados Unidos nessa
eacutepoca anotou em seu jornal local que algumas pessoas de Watertown
eram surdas e se comunicavam atraveacutes de sinais13
isso ajudou na
divulgaccedilatildeo da liacutengua inglesa que comeccedilou a ser usada pelos habitantes
de Martha`s Vineyard Este grupo vinha de famiacutelias do estado de
Massachusetts em Bay Colony que resolveu morar na Ilha
A Ilha de Martha‟s Vineyard na deacutecada de 1960 era formada por
uma pequena populaccedilatildeo de 6000 falantes nativos dividida em trecircs
grupos eacutetnicos ingleses portugueses e iacutendios A pesquisa de Labov
levou em consideraccedilatildeo as trecircs etnias Foram entrevistados 69 indiviacuteduos
daquela sociedade Dentre eles os nuacutemeros entrevistados foram 42
13 Realizei a pesquisa no livro que se chama ldquoEveryone Here Spoke Sign Languagerdquo da autora
(Groce 1952) achei interessante a leitura mas fui riscando e analisando de acordo com minha compreensatildeo do texto e comparando com o que Labov (2008) apresentou no livro Padrotildees
Sociolinguiacutesticos Eacute importante salientar que a pesquisa apresentada no livro de Groce eacute
interessante para realizar estudos na comunidade surda na liacutengua de sinais
43
ingleses 16 portugueses e 9 iacutendios de grupos eacutetnicos essencialmente
endoacutegamos14
Labov controlou tambeacutem diferentes grupos ocupacionais
14 na pesca 8 na agricultura 6 na construccedilatildeo 19 no ramo de serviccedilos 3
profissionais liberais 5 donas de casa e 14 estudantes Fez entrevista
formal e observaccedilotildees em muitas situaccedilotildees espontacircneas nas ruas de
Vineyard Haven e Edgartown em lanchonetes restaurantes bares
embarcadouros e diversos lugares onde o som geral da conversa puacuteblica
podia ser anotado quando natildeo gravado As anotaccedilotildees serviam apenas
como controles suplementares sobre as entrevistas gravadas As
entrevistas aconteceram em trecircs periacuteodos agosto final de
setembrooutubro de 1961 e janeiro de 1962 com pessoas de idades que
variaram de 14 a 75 anos
As duas principais variaacuteveis estudadas na ilha foram (ay) e (aw)
O significado linguiacutestico das formas em variaccedilatildeo era o mesmo mas a
situaccedilatildeo de fala era diferente na comunidade Como resultado das
entrevistas o autor obteve aproximadamente 3500 ocorrecircncias de (ay) e
1500 ocorrecircncias de (aw) como base de dados para sua pesquisa
O primeiro grupo eacutetnico formado por descendentes das famiacutelias
mais velhas de origem inglesa foi para a ilha nos seacuteculos XVII e XVIII
As famiacutelias inglesas eram os Mayhews Nortons Hancocks Allens
Tiltons Vincents Wests e Pooles que com o passar dos anos
influenciaram a liacutengua inglesa falada na ilha e a cultura da comunidade
O segundo grupo eacutetnico era formado por famiacutelias de imigrantes
accedilorianos vindos de Cabo Verde em Portugal Esses imigrantes
portugueses ao longo de toda costa da Nova Inglaterra representaram o
percentual mais alto de centralizaccedilatildeo em Martha‟s Vineyard
A ilha foi dividida em duas partes mais relevantes para a
pesquisa a ilha alta (up-island) e a ilha baixa (down-island) num total
de 5563 (cinco mil quinhentos e sessenta e trecircs) habitantes na deacutecada
de 1960 A ilha alta era organizada por pessoas que viviam em meio
rural poucos lugares fazendas casas de veraneio abandonadas lagoas
de aacutegua salgada e pacircntanos era uma aacuterea geograacutefica central desabitada e
com pinheirais improdutivos A ilha baixa era uma regiatildeo formada por
trecircs pequenos centros urbanos onde vivia cerca de trecircs quartos da
populaccedilatildeo A populaccedilatildeo de Martha‟s Vineyard na deacutecada de 1970 era de
11725 habitantes na parte alta da Ilha (rural) era de 3846 Edgartown
14 Eacute o indiviacuteduo que se casa com membros da mesma tribo para conservaccedilatildeo de sua nobreza e
raccedila
44
1118 Oak Bluffs 1027 Vineyard Haven 1701 e na parte baixa da Ilha
(Vilarejos) 1717 Edgartown 256 Oak Bluffs 292 Tisbury 468 West
Tisbury 360 Chilmark 238 Gay Head 103
Mapeamento da Ilha de Martharsquos Vineyard
Em 1960
Figura 03 ndash Retirado do livro de GROCE Nora Ellen Everyone Here
Spoke Sign Language Hereditary Deafness on Martha‟s Vineyard
Printed in the United States of America 1952
45
Em 1960
Figura 04 ndash Retirado do livro de LABOV Willian Padrotildees
Sociolinguiacutesticos 2008 [1972]
Atualmente em 2012
Figura 05 ndash 10092011 retirado no site
httpcawikipediaorgwikiMartha27s_Vineyard
46
A populaccedilatildeo na Ilha no ano de 1960 estava constituiacuteda de 11
de descendentes da primeira ou da segunda geraccedilatildeo de imigrantes
portugueses Das terceiras e quartas geraccedilotildees provavelmente chegaria
proacuteximo aos 20 Quanto ao terceiro grupo eacutetnico eram remanescentes de
indiacutegenas de GAY HEAD O quarto grupo eacute uma Miscelacircnea de
famiacutelias de imigrantes europeus que vieram da Inglaterra Franccedila-
Canadaacute Irlanda Alemanha e Polocircnia Apesar de que a soma desses
imigrantes seja de aproximadamente 15 natildeo foi levada em conta por
natildeo ser uma forccedila social coesa Segundo Labov todos os anos no veratildeo muitos turistas
chegavam agrave ilha nos meses de junhojulho passando de 6000
habitantes para 42000 habitantes representando um nuacutemero expressivo
mas natildeo foi diretamente analisado porque a influecircncia direta destes
veranistas sobre o falar em Vineyard era relativamente pequena A
constante pressatildeo vinda na comunicaccedilatildeo junto agrave crescente dependecircncia
econocircmica criada pelo turismo gera indiretamente mudanccedilas
linguiacutesticas
Os veranistas estrangeiros falam uma liacutengua proacutepria em seu paiacutes
vatildeo a passeio agrave Ilha para conhecer e explorar a cidade e tambeacutem o povo
daquela ilha fazendo trocas neste conviacutevio e de alguma forma
promovem mudanccedilas econocircmicas poliacuteticas culturais sociais e
linguiacutesticas
O autor constatou que a Ilha de Martha‟s Vineyard aleacutem da
variaccedilatildeo estudada que eacute a centralizaccedilatildeo dos ditongos os falantes
tambeacutem usam as formas variaacuteveis do ndashr poacutes-vocaacutelico em palavras como
car (carro) four (quatro) card (cartatildeo) fourth (quarto) (podemos
verificar ocorrecircncia semelhante na liacutengua falada oral com o sotaque que
se modifica) Diferente do padratildeo comum do sudeste da Nova
Inglaterra [ai] e [au] com frequecircncia se ouve na ilha [ɐi] e [ɐu] ou
mesmo [əi] e [əu] Labov (2008 [1972] p 27) escreve o seguinte
ldquoEsse aspecto dos ditongos centralizados eacute saliente para
o linguumlista mas natildeo para os falantes eacute claramente imune
agrave distorccedilatildeo consciente jaacute que os vineyardenses nativos
natildeo se datildeo conta dele nem conseguem controlaacute-lo
conscientemente No que diz respeito agrave estrutura natildeo
podemos desprezar o paralelismo estrutural de ay e
aw por outro lado esses ditongos satildeo marcados por
grande liberdade estrutural na gama de alofones
permitida pelo sistema Essas satildeo diferenccedilas estritamente
subfonecircmicas Uma vez que natildeo existem outros ditongos
47
crescentes com primeiros elementos baixo ou central
nesse sistema natildeo eacute provaacutevel que o alccedilamento
continuando ou ate a posteriorizaccedilatildeo ou anterioriazaccedilatildeo
resultasse em confusatildeo com qualquer outro fonemardquo
Labov em sua pesquisa mostrou a pronuacutencia variaacutevel dos
ditongos (ay) e (aw) na comunidade de fala considerando traccedilos sociais
dos moradores da localizaccedilatildeo alta (rural) e baixa (vilarejos) da Ilha
atraveacutes de um mapeamento da fala Ele investigou (ay) como o ditongo
em palavras do inglecircs (ex right white pride wine ou wife) e (aw)
ditongo encontrado nas palavras do inglecircs como house out e doubt por
exemplo
Ele realizou procedimentos de observaccedilatildeo e identificaccedilatildeo da
comunidade de fala em duas localizaccedilotildees diferentes em Marthas
Vineyard e Nova York Estudou as realizaccedilotildees de (ay) e (aw) em vaacuterias
regiotildees da ilha e do estado entre as faixas etaacuterias dos informantes entre
grupos de profissionais e tambeacutem entre os grupos eacutetnicos (raccedila e cor)
E em Nova York pesquisou em trecircs lojas de departamento sobre a
realizaccedilatildeo de [r] em posiccedilatildeo final e preacute-consonantal na fala de
funcionaacuterios destas lojas Labov (1994) analisou o uso de [r] que
poderia ser pronunciado ou natildeo na fala de 264 pessoas levando-os a
responder de forma que aparecesse na fala a expressatildeo fourth floor
(quarto andar) porque essa expressatildeo contem [r] nas duas proposiccedilotildees
pretendidas preacute-consonantal (fourth) e final (floor) Labov com essa
pesquisa nos Estados Unidos mostrou que o vernaacuteculo de Nova York
continuou sem o [r] por muito tempo mas como a pronuacutencia do [r] era
prestigiada passou a ser usada pelas classes mais altas e pelos jovens
sensiacuteveis pela questatildeo do status social
Desse modo Labov desenvolveu suas pesquisas com base em
procedimentos metodoloacutegicos que pudessem reconstruir a histoacuteria
recente da mudanccedila linguiacutestica da pronuacutencia dos ditongos e do [r] poacutes-
vocaacutelico Neste trabalho vatildeo ser detalhados os resultados da pesquisa em
Marthas Vineyard
223 ndash Seleccedilatildeo da variaacutevel linguiacutestica
Na seleccedilatildeo da variaacutevel linguiacutestica eacute importante perguntar quais
satildeo as propriedades mais uacuteteis de uma variaacutevel linguiacutestica servindo de
foco de pesquisa de uma determinada comunidade de falantes
Labov pensou como primeiro passo da pesquisa em verificar um
item que ocorra com frequecircncia numa conversaccedilatildeo espontacircnea e que
48
possa ser mapeado Em segundo deve ser estrutural ou seja quanto
mais integrado o item estiver num sistema mais amplo de unidades
funcionais maior seraacute o interesse linguiacutestico intriacutenseco ao estudo E
finalmente em terceiro a distribuiccedilatildeo do traccedilo deve ser estratificada
observando a faixa etaacuteria o grupo de profissionais ou outros
extratos da comunidade de fala Labov apresentou a pesquisa
preliminar sobre o estudo do som na fala da comunidade em vaacuterias
categorias buscando os dados das pessoas que falavam em
diferentes situaccedilotildees linguiacutesticas na ilha como mostra a citaccedilatildeo
abaixo Nas entrevistas preliminares conduzidas em Martha‟s
Vineyard em 1961 foram observadas diversas
mudanccedilas estruturais que eram claramente paralelas a
mudanccedilas que ocorreriam no continente sob a
influecircncia do padratildeo do sudeste da Nova Inglaterra
(LABOV 2008 [1972] p 26)
Eacute importante ressaltar que a Ilha de Marthas‟s Vineyard tem
conservado traccedilos arcaicos provavelmente a populaccedilatildeo era do sudeste
da Nova Inglaterra antes de 1800 Estudos preliminares em 1961
mostraram que a maior parte dos traccedilos especiais do falar da ilha
apresentado nos mapas do LANE15
ainda podiam ser encontrados entre
os falantes de 50 a 95 anos de idade
Labov queria entender a estrutura interna do inglecircs Vineyardense
as diferenccedilas sistemaacuteticas que jaacute haviam ocorrido e as mudanccedilas que
estavam ocorrendo por isso selecionou um aspecto linguiacutestico
caracteriacutestico da ilha com o maior nuacutemero possiacutevel de variaccedilatildeo e o mais
complexo padratildeo de distribuiccedilatildeo Ele comeccedilava a pesquisa
entrevistando indiviacuteduos falantes na comunidade com o objetivo de
detectar variaccedilotildees linguiacutesticas16
geograacuteficas sociais e estiliacutesticas
15 Linguistic Atlas of New England Trata-se de um projeto que registrou a fala de habitantes da Nova Inglaterra nos Estados Unidos na deacutecada de 1930 Segundo O‟Cain (1979 p 243)
ldquoLANE samples the speech of the older and rural representatives of the culture thus
establishing late nineteenth-century bench marks for the study of the New England dialects and also samples younger and urban speakers thus indicating general and particular trends of
changerdquo
16 COELHO et al (2010 p 166) lembram que variaccedilatildeo eacute o ldquoprocesso pelo qual duas formas
podem ocorrer no mesmo contexto linguiacutestico com o mesmo valor referencial ou com o mesmo valor de verdade ie com o mesmo significado Dois requisitos precisam pois ser
cumpridos para que ocorra variaccedilatildeo as formas envolvidas precisam (i) ser intercambiaacuteveis no
mesmo contexto e (ii) manter o mesmo significadordquo
49
Na comunidade linguiacutestica17
de falantes atraveacutes da forma de
falar na conversa espontacircnea e no comportamento o autor mostrou
que havia diferenccedilas linguiacutesticas na ilha de Martha‟s Vineyard e no
sudeste da Nova Inglaterra de onde migraram pessoas para a
colonizaccedilatildeo da ilha
Em sua pesquisa Labov observou que ldquono caso do r poacutes-
vocaacutelico os falantes apresentavam uma variaacutevel linguiacutestica definida
pelos limites geograacuteficos da ilha e que segue um padratildeo social
idiossincraacutetico a Marthas Vineyardrdquo (LABOV 2008 [1972] p 27) Em
algumas aacutereas a retroflexatildeo estava diminuindo e em outras aumentando
As variaccedilotildees do r eram frequentes salientes e envolviam
consequecircncias estruturais determinantes para o sistema vocaacutelico inteiro
Labov em sua pesquisa mostrou variaccedilotildees linguiacutesticas que
ocorreriam na Ilha em uma mesma palavra com ditongos centralizados
como no caso do (ay) e do (aw) na fala dos grupos pesquisados Para
Labov A propriedade deste traccedilo de centralizaccedilatildeo que o faz
parecer excepcionalmente atraente ateacute mesmo agrave
primeira vista eacute a indicaccedilatildeo de um complexo e sutil
padratildeo de estratificaccedilatildeo Essa mesma complexidade
daacute provas de ser recompensadora pois quando a
tendecircncia centralizante eacute mapeada nos haacutebitos de
vaacuterios falantes e a influecircncia do ambiente foneacutetico
prosoacutedico e estiliacutestico eacute considerada permanece uma
ampla aacuterea de variaccedilatildeo (LABOV 2008 [1972] p 27
e 28)
Na comunidade de fala o ambiente o espaccedilo os diferentes
interlocutores as diferentes situaccedilotildees no modo de falar interferem no
sistema foneacutetico prosoacutedico e estiliacutestico da liacutengua falada
As mudanccedilas sonoras satildeo estudadas no momento presente e no
passado buscando novos conhecimentosexplicaccedilotildees sobre uma
17 DUBOIS J et al (2006 p 133) entendem por ldquocomunidade linguiacutestica um grupo de seres
humanos que usam a mesma liacutengua ou o mesmo dialeto num dado momento e que podem comunicar-se entre si Quando uma naccedilatildeo eacute monoliacutengue constitui uma comunidade linguiacutestica
Mas a comunidade linguiacutestica natildeo eacute homogecircnea compotildee-se sempre de um grande nuacutemero de
grupos que tem comportamentos linguiacutesticos diferentes A forma de liacutengua que os membros desses grupos usam tende a reproduzir de uma maneira ou de outra na foneacutetica na sintaxe ou
no leacutexico as diferenccedilas de geraccedilatildeo de origem de residecircncia de profissatildeo ou de formaccedilatildeo
(diferenccedilas socioculturais)rdquo
50
determinada aacuterea da comunidade falada as influecircncias as mudanccedilas
fonecircmicas ocorridas e suposiccedilotildees de como seraacute no futuro
Labov escreve que na Ilha de Marthas‟s Vineyard os veranistas
tecircm apenas uma leve impressatildeo da fala dos nativos pois de cada oito
pessoas na ilha sete satildeo visitantes Para Labov os veranistas natildeo tinham
muita importacircncia naquela comunidade pois na primeira semana de
setembro eles voltavam para seu lugar de origem E apenas ficavam os
moradores da ilha Continuavam a utilizar um alto grau de centralizaccedilatildeo
de (ay) e (aw) na ilha alta e tambeacutem nas aacutereas do vilarejo da ilha baixa
o turismo natildeo interferia nesse aspecto
Labov escreve que
A fim de estudar sistematicamente esse traccedilo foi
necessaacuterio conceber um modelo de entrevista que
fornecesse vaacuterios exemplos de (ay) e (aw) na fala
espontacircnea na fala emocionalmente carregada na fala
monitorada e no estilo de leitura O primeiro desses
ditongos tem mais do dobro da frequumlecircncia de uso do
segundo mas mesmo assim diversas estrateacutegias foram
necessaacuterias para aumentar a concentraccedilatildeo de ocorrecircncias
de ambos (LABOV 2008 [1972] p 31)
Para pesquisar a frequecircncia dos ditongos de (ay) e (aw) Labov
utilizou como estrateacutegia um questionaacuterio lexical concentrando-se em
algumas palavras e utilizando os mapas de LANE Aleacutem disso
formulou perguntas acerca de juiacutezos de valores e orientaccedilatildeo social do
informante e por fim um texto para leitura especial como um teste de
habilidade para ler uma histoacuteria
224 ndash Distribuiccedilatildeo por idade e tempo
Para cada falante o grau geral de centralizaccedilatildeo foi expresso por
valores numeacutericos multiplicados por 100 Veja a tabela 01
Centralizaccedilatildeo por grupos ocupacionais
Na centralizaccedilatildeo por grupos ocupacionais Labov chegou agrave
conclusatildeo de que o grupo dos pescadores na fala centralizava mais os
ditongos (ay) e (aw) do que os fazendeiros e outros pesquisados
51
Ocupaccedilatildeo (ay) (aw)
Pescadores 100 79
Fazendeiros 32 22
Outros 41 57
Tabela 01 ndash Centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por grupos ocupacionais
(LABOV 2008 [1972] p 46)
A tabela 01 mostra as tendecircncias de centralizaccedilatildeo dos ditongos
em funccedilatildeo dos grupos profissionais Os resultados apontam que os
pescadores usam mais centralizaccedilatildeo de (ay) e de (aw) num total
numeacuterico de 100 e de 79 respectivamente Para os fazendeiros os
resultados apontam 32 para (ay) e 22 para (aw) e para as outras
ocupaccedilotildees 41 para (ay) e 57 para (aw) A diferenccedila de resultados com
relaccedilatildeo agrave centralizaccedilatildeo dos ditongos pelos falantes na ilha em Martha‟s
Vineyard confirma o fato de pescadores usarem mais centralizaccedilatildeo do
que os demais informantes
Na centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por faixa etaacuteria Labov escreve
A centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) parece exibir um aumento
regular em faixas etaacuterias sucessivas alcanccedilando um pico
no grupo de 31 a 45 anos Temos agora de examinar as
razotildees para considerarmos esse padratildeo como uma
evidecircncia de mudanccedila histoacuterica no desenvolvimento de
Martha‟s Vineyard (LABOV 2008 [1972] p 41)
Vejamos a tabela
Idade (ay) (aw)
75 25 22
61 ndash 75 35 37
46 ndash 60 62 44
31 ndash 45 81 88
14 ndash 30 37 46
Tabela 02 ndash Centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por faixa etaacuteria (LABOV 2008
[1972] p 41)
52
Na tabela 02 Labov apresenta na coluna agrave esquerda a variaacutevel
independente18
ldquoidaderdquo (externa) distribuiacuteda em diferentes faixas
etaacuterias tendo iniacutecio a partir de 14 anos ateacute acima de 75 anos A coluna
central e a da direita apresentam as duas variaacuteveis dependentes19
fonoloacutegicas (internas) ndash os ditongos (ay) e (aw) Finalmente a tabela
apresenta a centralizaccedilatildeo de cada um dos ditongos de acordo com a
faixa etaacuteria do falante na Ilha de Martha‟s Vineyard
O fato de ser miacutenimo o percentual de centralizaccedilatildeo para
os muito velhos e para os muito jovens mostra que o
efeito da idade natildeo pode ser inteiramente descartado e
que de fato pode ser um fator secundaacuterio na distribuiccedilatildeo
pelas faixas etaacuterias (LABOV 2008 [1972] p 44)
Labov analisou em sua pesquisa iacutendices calculados por ele a
partir da centralizaccedilatildeo dos ditongos num total de 477 centralizaccedilatildeo de
(ay) e (aw) sendo 240 de (ay) e 237 de (aw) Ele percebeu na
distribuiccedilatildeo entre as cinco faixas etaacuterias um aumento percentual
gradativo com o resultado maior de centralizaccedilatildeo no grupo de 31 a 45
anos Por fim Labov em suas pesquisas sociolinguiacutesticas observou uma
possiacutevel mudanccedila da liacutengua nas diferentes faixas etaacuterias da comunidade
de fala de Martha‟s Vineyard com o controle da atuaccedilatildeo de vaacuterios
fatores internos e externos na centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw)
225 ndash Uma explicaccedilatildeo possiacutevel para o aumento da centralizaccedilatildeo
O exame da centralizaccedilatildeo segundo Labov da variaacutevel
dependente em estudo foi meramente descritivo e quando Labov tentou
explicar o fenocircmeno deparou-se com a seguinte questatildeo quais variaacuteveis
independentes seria importante examinarmos Labov supotildee que a
centralizaccedilatildeo desceu a um ponto baixo no final da deacutecada de 1930 e no
poacutes-guerra iniciou a subida Observe
18 COELHO et al (2010 p 166) ldquoVariaacuteveis independentes ndash fatores que condicionam nossa
escolha entre uma ou outra variante e que permitem ao linguista sugerir em que tipo de ambiente tanto linguiacutestico quanto extralinguiacutestico uma variante tem maior probabilidade de
ser escolhida em detrimento de sua (s) ldquorival (is)rdquordquo
19 COELHO et al (2010 p 166) ldquoVariaacutevel dependente ndash aspecto ou categoria da liacutengua que se
encontra em variaccedilatildeordquo
53
Permanece a questatildeo inicial a de explicar (ou de
oferecer um contexto mais amplo para) o aumento geral
da centralizaccedilatildeo na ilha Por que Martha‟s Vineyard deu
as costas para a histoacuteria da liacutengua inglesa Acredito que
podemos encontrar uma explicaccedilatildeo especifica se
estudarmos a configuraccedilatildeo detalhada desta mudanccedila
sonora em funccedilatildeo das forccedilas sociais que afetam mais
profundamente a vida da ilha (LABOV 2008 [1972] p
45)
As primeiras anaacutelises revelaram algumas correlaccedilotildees sociais
notaacuteveis A tabela 03 distribuiccedilatildeo geograacutefica da centralizaccedilatildeo mostra
as tendecircncias nas aacutereas da ilha alta rural a favorecer mais a centralizaccedilatildeo
do que nas aacutereas dos vilarejos da ilha baixa A tabela 03 mostra os
resultados sobre diferenccedilas geograacuteficas entre os moradores da ilha com
relaccedilatildeo agrave centralizaccedilatildeo dos ditongos nas duas principais partes da ilha
nas aacutereas da ilha alta rural e vilarejos na parte da ilha baixa
Os resultados de pesquisa sobre a centralizaccedilatildeo podem ser vistos
na tabela a seguir
(ay) (aw)
Ilha baixa 35 33
Edgartown 48 55
Oak Bluffs 33 10
Vineyard Haven 24 33
Ilha alta 61 66
Oak Bluffs 71 99
N Tisbury 35 13
West Tisbury 51 51
Chilmark 100 81
Gay Head 51 81
Tabela 03 ndash Distribuiccedilatildeo geograacutefica da centralizaccedilatildeo (LABOV 2008
[1972] p 45)
Estaratildeo essas variaacuteveis sociais vinculadas de algum
modo demonstraacutevel agrave mudanccedila linguumliacutestica Seratildeo
realmente independentes umas das outras ou algumas
das correlaccedilotildees estatildeo equivocadas e satildeo dependentes de
algum fator mais amplo que eacute logicamente preacutevio a elas
Se tal fator mais amplo existe precisamos indagar como
ele se originou e de que modo estaacute vinculado aos eventos
linguumliacutesticos Uma abordagem simplista e contabiliacutestica
54
natildeo responderaacute a essas perguntas Teremos de buscar
respostas na estrutura social da ilha e nas pressotildees que
motivam as mudanccedilas sociais da Martha‟s Vineyard
contemporacircnea (LABOV 2008 [1972] p 46)
A mudanccedila linguiacutestica dos grupos era identificada com os
costumes da ilha de Martha‟s Vineyard e Labov conduziu sua pesquisa
com pessoas que habitavam este local e viviam mais de acordo com os
seus costumes tradicionais Labov acreditava que as mudanccedilas
linguiacutesticas poderiam ser correlacionadas agraves relaccedilotildees sociais dos
moradores da ilha e por isso realizou sua pesquisa observando os
comportamentos linguiacutesticos somente das pessoas nativas da ilha
226 ndash A interaccedilatildeo de padrotildees linguiacutesticos e sociais
A Ilha de Martha‟s Vineyard ateacute hoje em dia eacute um lugar
beliacutessimo atrai muitos turistas inclusive poliacuteticos americanos As
pessoas que viviam laacute na deacutecada de 1960 natildeo tinham vida faacutecil na
sociedade americana Era o local com renda mais baixa no municiacutepio de
Massachusetts Labov traz essas informaccedilotildees do Censo de 196020
Os
moradores da ilha dependiam do turista a economia melhorava muito na
temporada Na Ilha de Florianoacutepolis acontece algo parecido Na
temporada de veratildeo o turista do paiacutes e do exterior lota a cidade
fortalecendo a economia do lugar
Florianoacutepolis tambeacutem eacute uma ilha beliacutessima com temporadas de
turistas que vecircm conhecer e aproveitar os lugares ir agraves praias passear
nos Shopping comprar nas lojas ir a restaurantes etc Labov quando
relata sua pesquisa na Ilha de Martha‟s Vineyard parece estar
comentando de Florianoacutepolis Os moradores da ilha aproveitam para
alugar suas casas vender seus produtos principalmente para os turistas
mais ricos Entatildeo haacute uma movimentaccedilatildeo econocircmica muito grande
assim como uma troca com relaccedilatildeo agrave liacutengua falada Como diz Labov (2008 [1972] p 49) ldquoOs chilmarkenses se
orgulham muito de suas diferenccedilas em relaccedilatildeo aos moradores do
continenterdquo
20 O Censo de 1960 mostra que a ilha de Martha‟s Vineyard se trata do municiacutepio mais pobre
de Massachusetts tem a meacutedia de renda mais baixa o mais alto nuacutemero de pessoas pobres e o
menor nuacutemero de pessoas ricas (LABOV 2008 [1972] p 47)
55
Vocecircs que vecircm para caacute para Martha‟s Vineyard natildeo
entendem os costumes das velhas famiacutelias da ilha
costumes e tradiccedilotildees estritamente mariacutetimos e aquilo
que nos interessa o resto da Ameacuterica essa parte do outro
lado aqui da aacutegua que pertence a vocecircs e com que noacutes
natildeo temos nada a ver se esqueceu completamente
Acho ateacute que noacutes usamos um tipo de liacutengua inglesa
totalmente diferente pensamos diferente aqui na ilha
eacute quase uma liacutengua separada dentro da liacutengua inglesa
Interessante se faz notar que no lugar de Chilmark a comunidade
na ilha vive a tradiccedilatildeo da famiacutelia os costumes vecircm de geraccedilatildeo em
geraccedilatildeo O estrangeiro de liacutengua inglesa quando conhece o lugar pode
influenciar a liacutengua falada na ilha pois seu inglecircs eacute diferente
Os resultados reunidos com o maior grau de centralizaccedilatildeo de (ay)
e de (aw) satildeo mostrados na tabela 04 organizados por ocupaccedilatildeo regiatildeo
ou localidade em que moram e faixa etaacuteria
Tabela 04 ndash Cruzamento de fatores 6 falantes com o maior grau de
centralizaccedilatildeo (LABOV 2008 [1972] p 50)
Na regiatildeo Edgartown dois pescadores que satildeo irmatildeos
descendentes de famiacutelias antigas mantecircm sua posiccedilatildeo agrave beira mar de Edgartown trabalhando mesmo frente agrave invasatildeo dos veranistas
Nas tabelas 01 e 04 verifica-se que de todos os grupos
ocupacionais o de pescadores eacute o que utiliza um maior iacutendice de
centralizaccedilatildeo Labov tentou fazer tabulaccedilotildees cruzadas extensas entre as
tabelas 04 e 05 mas chegou agrave conclusatildeo que o nuacutemero era pequeno
Ocupaccedilatildeo Regiatildeo Idade (ay) (aw)
Pescador de Chilmark 60 anos 170 111
Pescador de Chilmark 31 anos 165 211
Pescador de Chilmark 55 anos 150 124
Pescador de Edgartown 61 anos 143 107
Pescador de Chilmark 33 anos 133 79
Pescador de Edgartown 52 anos 131 131
56
demais Exemplificou com o grupo de pescadores de Chilmark na faixa
etaacuteria de 30 a 60 anos Percebeu que cinco informantes tecircm iacutendices
meacutedios de 148 para (ay) e 118 para (aw) o mais elevado do que
qualquer outro grupo social da ilha Labov concluiu entatildeo que a grande
escalada da centralizaccedilatildeo comeccedilou na ilha alta entre os pescadores de
Chilmark
Veja agora os resultados da faixa etaacuteria por grupo eacutetnico
Tabela 05 ndash Centralizaccedilatildeo por grupos eacutetnicos (LABOV 2008
[1972] p 46)
A tabela 5 apresenta a centralizaccedilatildeo por faixa etaacuteria em cada um
dos grupos eacutetnicos principais (ingleses portugueses e indiacutegenas)
Labov concluiu que
Vemos que a centralizaccedilatildeo atinge o aacutepice na faixa etaacuteria
de 30 a 45 anos e que a centralizaccedilatildeo de (aw) alcanccedilou
ou ultrapassou (ay) neste ponto Essa faixa etaacuteria tem
estado sob uma pressatildeo muito mais forte do que qualquer
outra os homens cresceram numa economia declinante
depois de fazerem uma escolha mais ou menos
deliberada de permanecer na ilha em vez de abandonaacute-la
A maioria deles esteve nas forccedilas armadas durante a
Segunda Guerra Mundial ou no conflito da Coreacuteia
Muitos frequumlentaram uma faculdade pois o grupo de
ascendecircncia inglesa tem um grande apreccedilo pela educaccedilatildeo
superior Em algum momento cada um desses homens
escolheu levar uma vida apertada em Martha‟s Vineyard
enquanto muitos de seus contemporacircneos partiram para
ganhar mais dinheiro ou mais reconhecimento em outro
lugar (LABOV 2008 [1972] p 50 e 51)
Exemplificou com relatos as interferecircncias que ocorreram no
modo de falar na ilha Uma delas ldquoSabe o E nem sempre falou desse
jeito foi soacute depois que ele voltou da faculdade Acho que ele queria
Ingleses Portugueses Indiacutegenas
Faixa etaacuteria (ay) (aw) (ay) (aw) (ay) (aw)
Mais de 60 36 34 26 26 32 40
46 a 60 85 63 37 59 71 100
31 a 45 108 109 73 83 80 133
Menos de 30 35 31 34 52 47 88
Todas as idades 67 60 42 54 56 90
57
ficar mais parecido com os homens das docasrdquo
Labov concluiu
Aqui vemos um caso niacutetido de hipercorreccedilatildeo atuando e
com base em outros indiacutecios tambeacutem eacute razoaacutevel supor
que essa eacute uma forccedila muito regular de implementaccedilatildeo da
tendecircncia foneacutetica que estamos estudando (LABOV
2008 [1972] p 52)
Muitos dos jovens de antigas famiacutelias natildeo permaneceratildeo na ilha e
isto reflete nos iacutendices da tabela Atraveacutes de uma leitura padronizada de
um texto com os jovens Labov observou que existia diferenccedila na fala
dos que permaneciam na ilha exibiam forte centralizaccedilatildeo enquanto os
que queriam sair mostravam pouca ou nenhuma centralizaccedilatildeo
Das informaccedilotildees obtidas surgiu um padratildeo unificado que
exprimia o significado social dos ditongos centralizados evidenciando
ldquoque o significado imediato desse traccedilo era o Vineyardenserdquo Labov
esclarece que pelo fato de os grupos terem que responder a desafios
diferentes a seu status nativo desenvolvia-se um modo complexo no
traccedilo fonecircmico
Labov exemplifica isso abaixo
O grupo das antigas famiacutelias de origem inglesa tem sido
submetido a pressotildees vindas de fora seus membros estatildeo
lutando para manter sua posiccedilatildeo independente diante de
um persistente decliacutenio da economia e diante do asseacutedio
ininterrupto dos veranistas O membro da comunidade de
orientaccedilatildeo tradicional naturalmente busca seus valores
nas geraccedilotildees passadas essas geraccedilotildees passadas formam
um grupo de referecircncia para ele (LABOV 2008 [1972]
p 57)
Na geraccedilatildeo mais jovem dos ingleses o efeito diferencial no grau
de centralizaccedilatildeo manteve-se na tradiccedilatildeo eles tinham os ancestrais como
referecircncia se consideravam independentes enquanto pescadores
acreditavam que a ilha lhes pertencia Mantinham sua posiccedilatildeo
econocircmica Se pretendiam sair da ilha a influecircncia dos antepassados
diminuiacutea consideravelmente
No grupo de portugueses eles natildeo enfrentavam o dilema de partir ou ficar na ilha o principal desafio a que esse grupo tinha reagido
provinha do grupo inglecircs que tinha servido de referecircncia ateacute pouco
tempo Para os portugueses o mais urgente era afirmar-se em sua
identidade como ilheacuteu Os indiacutegenas se ressentiam dos obstaacuteculos que
58
enfrentavam na ilha mas tinham adotado muito dos valores dos
Chilmarkenses Com poucos recursos linguiacutesticos ficava difiacutecil insistir
em sua identidade indiacutegena
Labov (2008 [1972] p 59) examinando as entrevistas de cada
informante situou-as em trecircs categorias
Positivo ndash exprime sentimentos definitivamente positivos
acerca de Martha‟s Vineyard neutra ndash expressa
sentimentos nem positivos nem negativos acerca de
Martha‟s Vineyard negativa ndash indicada o desejo de ir
viver em outro lugar
Agora observe na tabela 06 o resultado da centralizaccedilatildeo segundo
a atitude dos trecircs grupos de falantes quanto agrave ilha
Pessoas (ay) (aw)
40 Positiva 63 62
19 Neutra 32 42
6 Negativa 09 08
Tabela 06 ndash Centralizaccedilatildeo e atitude com relaccedilatildeo a Martha‟s Vineyard
(LABOV 2008 [1972] p 59)
Labov agrupou os vaacuterios informantes em uma escala social
quanto ao uso dos ditongos centralizados Primeiro mostravam-se com
atitudes positivas 40 pessoas entrevistadas o iacutendice de centralizaccedilatildeo era
de 63 para (ay) e 62 para (aw) as duas comparaccedilotildees de centralizaccedilotildees
mais altas Segundo o ponto neutro realizado por 19 pessoas
entrevistadas o iacutendice de centralizaccedilatildeo ficava na faixa de 30 32 para
(ay) e 42 para (aw) nem positivo nem negativo Terceiro o ponto
negativo O autor encontrou 6 pessoas entrevistadas que tinham atitudes
negativas com relaccedilatildeo agrave ilha O iacutendice de centralizaccedilatildeo nesse caso era
apenas de 09 para (ay) e de 08 para (aw) Essas pessoas diziam que queriam
viver em outros lugares e natildeo na ilha de Martha‟s Vineyard O autor
mostrou a estratificaccedilatildeo de todos e como ele conseguiu explicar a
distribuiccedilatildeo dos ditongos centralizados de forma vaacutelida fazendo as
relaccedilotildees necessaacuterias para as explicaccedilotildees
59
23 ndash Os princiacutepios da mudanccedila linguiacutestica
Num primeiro estudo relacionado agrave mudanccedila linguiacutestica em
progresso (em curso) eacute necessaacuterio entender como as variaccedilotildees
linguiacutesticas estatildeo distribuiacutedas por faixa etaacuteria Entatildeo percebemos a
mudanccedila linguiacutestica relacionando a variaacutevel linguiacutestica com a idade
pesquisando indiviacuteduos de diferentes geraccedilotildees Segue abaixo a citaccedilatildeo
de Labov sobre mudanccedila linguiacutestica observada entre as faixas etaacuterias
conhecida como mudanccedila em tempo aparente21
A primeira abordagem e mais simples para estudar a
mudanccedila linguiacutestica em andamento eacute traccedilar mudanccedila no
tempo aparente isto eacute a distribuiccedilatildeo das variaacuteveis
linguiacutesticas entre os diferentes niacuteveis etaacuterios Se
descobrirmos uma relaccedilatildeo monotocircnica entre a idade e a
variaacutevel linguiacutestica ou uma correlaccedilatildeo significativa entre
as duas entatildeo trata-se de decidir se estamos lidando com
uma verdadeira mudanccedila em progresso ou de gradaccedilatildeo
etaacuteria (Hockett 1950) uma mudanccedila regular de
comportamento linguiacutestico com a idade que se repete em
cada geraccedilatildeo (LABOV 1994 p 47)22
A primeira e mais simples aproximaccedilatildeo entre as variaccedilotildees
encontradas na sincronia ao estudo da mudanccedila linguiacutestica em curso eacute
seguir a pista da mudanccedila em tempo aparente isto eacute a distribuiccedilatildeo das
variaacuteveis linguiacutesticas por faixa etaacuteria Na variaccedilatildeo encontrada entre o
grupo dos indiviacuteduos mais velhos de uma geraccedilatildeo e outro grupo de
21 SILVA (2004) faz um recorte transversal da amostra sincrocircnica em funccedilatildeo da faixa etaacuteria
dos informantes Por exemplo utilizamos no nosso estudo trecircs grupos etaacuterios jovens meia idade e idosos
COELHO et al (2010 p 164) apontam que mudanccedila em tempo aparente eacute uma ldquomudanccedila
linguiacutestica captada em estudo do comportamento linguiacutestico de indiviacuteduos de diferentes
geraccedilotildees numa comunidade num dado periacuteodo de tempo Tal estudo possibilita identificar correlaccedilotildees entre a variaacutevel social idade e a variaacutevel linguiacutestica em estudo revelando indiacutecios
de (i) uma mudanccedila concernente agrave idade que ocorre regularmente em cada geraccedilatildeo (gradaccedilatildeo
etaacuteria) ou de (ii) uma mudanccedila efetiva em progressordquo
22 Traduccedilatildeo minha do texto original em Inglecircs de Labov ldquoThe first and most straightforward approach to studying linguistic change in progress is to trace change in apparent time that is
the distribution of linguistic variables across age levels If we discover a monotonic
relationship between age and the linguistic variable or a significant correlation between the two then issue is to decide whether we are dealing with a true change in progress or with age-
grading (Hockett 1950) a regular change of linguistic behavior with age that repeats in each
generationrdquo
60
indiviacuteduos mais jovens em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria percebe-se muitas
vezes mudanccedila linguiacutestica em progresso nas liacutenguas
Na estratificaccedilatildeo por idade muitas vezes se percebe que os
indiviacuteduos mudam seu comportamento linguiacutestico durante toda a sua
vida mas a comunidade nem sempre muda
231 ndash A idade e a variaccedilatildeo estaacutevel
Mas nem sempre o estudo da faixa etaacuteria vai indicar mudanccedila em
progresso A meacutedia do grau de realizaccedilatildeo de uma variaccedilatildeo estaacutevel23
pode ser tambeacutem observada entre as faixas etaacuterias dos falantes em que
os grupos extremos (jovens e velhos) apresentam o mesmo
comportamento ao contraacuterio do grupo de meia idade cujo
comportamento se diferencia devido agraves pressotildees sociais Eacute considerando
a variaacutevel idade que vai ser observado no conjunto de dados
investigados se temos mudanccedila em tempo aparente ou variaccedilatildeo estaacutevel
A variaccedilatildeo estaacutevel pode ser observada considerando a
combinaccedilatildeo dos resultados das variaacuteveis bdquoidade‟ bdquosexo‟ bdquoclasse social‟ e
bdquoniacutevel de escolaridade‟ Com relaccedilatildeo agrave bdquofaixa etaacuteria‟ a variaccedilatildeo estaacutevel
diz respeito a variantes que coexistem por um longo periacuteodo mas sem
ter necessariamente predominacircncia de uma sobre a outra
Uma outra possibilidade eacute a visatildeo claacutessica que prevecirc estabilidade
do falante mas instabilidade da comunidade Ex daqui a 20 anos os
falantes de 70 anos estaratildeo falando como os de 50 anos de hoje Outra
possibilidade admite que o sistema linguiacutestico do indiviacuteduo modifica
mas o da comunidade permanece o mesmo Ex daqui a 20 anos os
falantes de 70 anos teratildeo o mesmo sistema que os de 70 anos hoje
Resultados recentes apontam para uma terceira possibilidade o
indiviacuteduo muda com o passar do tempo mas natildeo atinge precisamente a
mesma posiccedilatildeo em que estatildeo os falantes mais velhos atualmente
23 COELHO et al (2010 p 166) apontam que variaccedilatildeo estaacutevel eacute conhecida como a ldquosituaccedilatildeo
de variaccedilatildeo entre duas ou mais formas linguiacutesticas que se estende numa comunidade ao longo
do tempo sem que uma variante ceda seu espaccedilo agrave outrardquo
61
232 ndash A idade e a mudanccedila linguiacutestica
Segundo Naro (2003 p 44) no portuguecircs atual do RJ haacute
fenocircmenos em que a idade atua fortemente
Seudele a forma seu para a 3ordf pessoa eacute pouquiacutessimo
recorrente na fala dos mais jovens
Noacutesa gente os jovens estatildeo evitando a forma noacutes
Ir os jovens estatildeo evitando as regecircncias ir a e ir para
preferindo ir em
Sob a hipoacutetese claacutessica o estado atual da liacutengua de um falante
adulto reflete o estado da liacutengua adquirida mais ou menos ateacute os 15 anos
de idade Logo um indiviacuteduo falante com 60 anos representa a liacutengua de
45 anos atraacutes Falantes adultos tendem a usar as formas antigas Os pais
e filhos apesar de estarem em interaccedilatildeo constante usam formas
distintas na comunicaccedilatildeo Pais e filhos tecircm um vocabulaacuterio e uma fala
proacuteprios de sua eacutepoca Com o passar do tempo eacute provaacutevel que a forma
nova seja adotada por pais e filhos
Naro (2003) apresenta a escala em tempo aparente obtida atraveacutes
do estudo de falantes com idades diferentes ndash chamada de ldquogradaccedilatildeo
etaacuteriardquo ndash que corresponde sempre sob a hipoacutetese claacutessica a uma escala
de mudanccedila em tempo real Observamos a tabela apresentada a seguir
Idade atual
(em anos)
Estado da liacutengua
(anos atraacutes)
70
60
50
40
30
20
55
45
35
25
15
5
Tabela 07 ndash A escala em tempo aparente eacute chamada de ldquogradaccedilatildeo etaacuteriardquo (NARO 2003 p 45)
A tabela ajuda a explicar os dados da pesquisa realizada por
Labov (atraveacutes de gravaccedilatildeo no ano de 1990) mostrando que a fala de
62
um indiviacuteduo de 70 anos de idade representaria o estado da liacutengua
adquirida em 1935
Segundo Naro (2003) Labov conseguiu distinguir quatro graus de
ditongos centralizados denotados (aw) ndash 0 (a posiccedilatildeo mais baixa
correspondendo a ldquoshwardquo) As trecircs posiccedilotildees centrais claacutessicas do
alfabeto foneacutetico estatildeo representadas por ele no seguinte graacutefico
Figura 06 ndash O trapezoacuteide das vogais a flecha indica a direccedilatildeo de
movimento do primeiro elemento de (aw) (NARO 2003 p 49)
A pesquisa em Martha‟s Vineyard revelou que os velhos
preservavam mais a forma original natildeo-centralizada os jovens por
outro lado centralizavam mais Segue a tabela
Geraccedilatildeo Idade Iacutendice de (aw) Iacutendice de (ay)
I (pais) 75+
61 - 75
22
37 25
35
II (filhos) 46 ndash 60
31 ndash 45
44
88 62
88
Tabela 08 ndash Mudanccedila de (aw) e (ay) em tempo aparente atraveacutes de duas
geraccedilotildees em Martha‟s Vineyard (Labov 1972 apud Naro 2003 p 22)
Algumas observaccedilotildees de Naro sobre a pesquisa de Labov satildeo (i) a centralizaccedilatildeo estaacute se espalhando com forccedila e rapidez (ii) os indiviacuteduos
mais velhos (80 anos) praticamente apenas usavam o grau zero o mais
aberto da escala com ocorrecircncias esporaacutedicas do grau um a faixa de 60
anos estava concentrada no grau dois antes de consoante surda (out
63
ldquoforardquo) e no grau zero ou um em outros contextos (round ldquoredondordquo
now ldquoagorardquo) na faixa de 30 anos o condicionamento se tornava quase
categoacuterico grau dois ou trecircs antes de consoante surda grau zero ou um
nos demais contextos ndash resultados obtidos atraveacutes do estudo da variaccedilatildeo
no indiviacuteduo Observa-se assim detalhadamente a mudanccedila em
progresso desde o comeccedilo (ocorrecircncia esporaacutedica de variantes mais
altas) ateacute a instauraccedilatildeo do condicionamento categoacuterico (variantes mais
altas antes de consoante surda variantes mais baixas nos outros
contextos)
De acordo com Naro
O que permite esta visatildeo simultacircnea das diversas etapas
do processo dinacircmico de mudanccedila eacute o congelamento do
sistema linguiacutestico do falante na eacutepoca da puberdade e eacute
justamente este o postulado fundamental que subjaz agrave
hipoacutetese claacutessica do relacionamento entre mudanccedila
linguiacutestica e idade o processo da mudanccedila se espelha na
fala das sucessivas faixas etaacuterias (NARO 2003 p 46)
Sabemos que nem toda variaccedilatildeo na fala representa mudanccedila em
progresso Um exemplo pronuacutencia do morfema ing em inglecircs (walking
ldquoandandordquo) que pode ser realizado como velar ou dental ndash eacute uma
variaccedilatildeo atestada haacute seacuteculos poreacutem ainda existente em praticamente
todos os dialetos e nas diferentes faixas etaacuterias
Labov realizava pesquisas sobre o desenvolvimento diacrocircnico24
da liacutengua a partir de anaacutelises sincrocircnicas25
primeiro foi na ilha de
Marthas Vineyard (1963) e depois foi na cidade de Nova York (1966)
Quando a mudanccedila estaacute envolvida certa variante
ocorreraacute na fala da crianccedila embora esteja ausente na fala
de seus pais ou mais tipicamente uma variante na fala
24 JOTA (1981 p 103) ldquoEstudo da liacutengua atraveacutes dos tempos e consequentemente estudo das transformaccedilotildees que sofre a liacutengua em sua evoluccedilatildeo Opotildee-se agrave sincronia A linguiacutestica
portanto jaacute que pode estudar a liacutengua diacronicamente ou se limitar ao seu estudo em
determinado tempo de sua evoluccedilatildeo (sincronia) se divide em diacrocircnica e sincrocircnicardquo
25 JOTA (1981 p 307) ldquoConjunto dos fatos linguiacutesticos num dado estaacutegio de sua evoluccedilatildeo A sincronia eacute objeto de estudo da linguiacutestica sincrocircnica ou estaacutetica Como um estado de liacutengua
abrange determinado espaccedilo de tempo tempo suficiente para que haja alguma variaccedilatildeo
sincrocircnica eacute claro que esta sob certo ponto-de-vista natildeo se distingue da evoluccedilatildeo diacrocircnicardquo
64
dos pais ocorreraacute na fala de seus filhos com frequecircncia
maior e na fala de seus netos com frequecircncia ainda
maior (CHAMBERS 1995 p185)26
Numa comunidade em geral as geraccedilotildees sucessivas apresentaratildeo
uma frequecircncia de uso maior da variante inovadora A conclusatildeo loacutegica
eacute que com o passar do tempo haveraacute um uso categorial da forma
inovadora e a eliminaccedilatildeo da variante antiga
233 ndash Aplicando os conhecimentos da sociolinguiacutestica
Eacute importante ressaltar que todas as liacutenguas mudam com o tempo
Como exemplo o portuguecircs eacute originaacuterio do latim considerado liacutengua
matildee Entretanto atualmente natildeo haacute semelhanccedila entre as duas liacutenguas
As diferenccedilas satildeo profundas e afetam toda a gramaacutetica da liacutengua essas
diferenccedilas apareceram e cresceram ao longo de mais de mil anos Tanto
na liacutengua falada quanto na liacutengua escrita ocorrem mudanccedilas que satildeo
observadas quando satildeo feitas pesquisas que nos mostram em que alguns
fenocircmenos mudaram Este assunto eacute explicado por Naro (2003)
A mudanccedila linguiacutestica natildeo eacute abrupta normalmente se processa de
maneira gradual em vaacuterias dimensotildees Sob o eixo social eacute observaacutevel
que falantes mais velhos costumam preservar mais as formas antigas o
mesmo ocorre com pessoas mais escolarizadas com camadas da
populaccedilatildeo que gozam de maior prestiacutegio social com o grupo feminino e
com as pessoas que exercem atividades que exigem boa apresentaccedilatildeo
para o puacuteblico Uma mesma pessoa pode escolher diferentes formas em
diferentes situaccedilotildees
Com base nisso pretendo fazer uma comparaccedilatildeo das mudanccedilas
ocorridas num curto espaccedilo de tempo tendo como referecircncia um
professor surdo para investigar as possiacuteveis mudanccedilas da liacutengua de
sinais depois de seu estudo no INES ateacute o momento atual envolvendo
um grupo de surdos mais velhos e outros dois grupos mais jovens Os
dados obtidos na pesquisa podem mostrar como ocorreram algumas
mudanccedilas na liacutengua de sinais e se realmente ocorreram aleacutem disso
podem criar um registro deste periacuteodo para futuras pesquisas Para
Labov (2008 [1972] p 21) ldquoseria de esperar que a aplicaccedilatildeo da
26 Traduccedilatildeo minha do texto original em Inglecircs ldquoWhere change is involved a certain variant will occur in the speech of children though it is absent in the speech of their parents or more
typically a variant in the parents‟ speech will occur in the speech of their children with greater
frequency and in the speech of their granchildren with even greater frequencyrdquo
65
linguiacutestica estrutural a problemas diacrocircnicos levasse ao enriquecimento
dos dados mais do que ao seu empobrecimentordquo
Vale lembrar que em 1970 a educaccedilatildeo dos surdos em Santa
Catarina era baseada em metodologia oralista Poucos sinalizavam
porque natildeo podiam tinham que falar Os sinais eram usados na
comunicaccedilatildeo entre surdos mas esporadicamente pois nesta eacutepoca aleacutem
de serem proibidos de utilizarem sinais para a comunicaccedilatildeo tambeacutem
natildeo podiam fazer reuniotildees soacute de indiviacuteduos surdos como acontece
atualmente Segue a citaccedilatildeo de Labov 2008 [1972] que considero
pressuposto para o desenvolvimento da presente pesquisa
O ponto de vista do presente estudo eacute o de que natildeo se
pode entender o desenvolvimento de uma mudanccedila
linguumliacutestica sem levar em conta a vida social da
comunidade em que ela ocorre Ou dizendo de outro
modo as pressotildees sociais estatildeo operando continuamente
sobre a liacutengua natildeo de algum ponto remoto no passado
mas como uma forccedila social imanente agindo no presente
vivo (LABOV 2008 [1972] p 21)
O maior problema a meu ver eacute que o grupo dos mais velhos que
usava a liacutengua falada natildeo entendia a importacircncia da liacutengua de sinais
para o indiviacuteduo surdo restringindo muito a sinalizaccedilatildeo e os sinais no
ano de 1950 Sabemos que pessoas de diferentes lugares que vecircm para
uma determinada comunidade acabam trocando experiecircncias e palavras
influenciando essa comunidade Isto pouco acontecia com o grupo dos
surdos mais velhos Diferentemente do que se observava com os
antigos os surdos mais novos tinham um maior contato social com a
liacutengua de sinais brasileira permitindo mais trocas de conhecimentos
criando novos sinais tornando a liacutengua de sinais mais ldquovivardquo e
ldquodinacircmicardquo
Por exemplo em comparaccedilatildeo com falantes da ilha em
Florianoacutepolis quanto agrave situaccedilatildeo estiliacutestica27
o grupo mais velho de
surdos usava mais a liacutengua falada do que a sinalizada pouco contato
eles tinham entre si pois era proibida28
a sinalizaccedilatildeo pelas instituiccedilotildees
27 Eacute o jeito de falar nas diferentes situaccedilotildees com os diferentes interlocutores e nos variados
contextos
28 SCHMITT (2008) A representaccedilatildeo de surdo na histoacuteria antiga registra a passagem que os
surdos realizaram na sociedade onde predominavam os ouvintes Entatildeo a hegemonia dos ouvintes manteve sempre o surdo como excluiacutedo atraveacutes de estereoacutetipos e depreciaccedilotildees A
sociedade antiga natildeo permitia a capacitaccedilatildeo dos surdos como sujeitos normais o uso da liacutengua
66
que trabalhavam com os surdos e tambeacutem pelas famiacutelias Conta-se que
em algumas escolas amarravam as matildeos dos indiviacuteduos surdos para que
natildeo sinalizassem Com o grupo mais jovem eacute diferente o contato deles
com outros surdos eacute maior trocam mais experiecircncias e sinais
propiciando assim mais mudanccedilas na liacutengua de sinais tornando-se hoje
mais usada e mais dinacircmica na comunidade surda Isso acontece aqui
em Florianoacutepolis tambeacutem A influecircncia accediloriana trazida pelos
imigrantes portugueses atualmente com a visita de turistas brasileiros
(ex vindos dos estados de RS SP PR e MG) e estrangeiros (ex
Argentinos Paraguaios Uruguaios Chilenos dentre outros) a
Florianoacutepolis acaba interferindo e modificando a liacutengua falada na ilha
Acredita-se que existe variaccedilatildeo linguiacutestica na liacutengua de sinais
em Santa Catarina por influecircncia da comunidade de falantes nas
diferentes regiotildees do estado A liacutengua de sinais acaba incorporando
parte da cultura dessas comunidades a sua liacutengua
Existem pesquisas na liacutengua de sinais mostrando diferenccedilas
nas liacutenguas visual-espacial de acordo com o paiacutes de origem com
diferenccedilas culturais diferentes configuraccedilotildees de matildeos etc Estas
pesquisas ajudam a compreender melhor a estrutura das liacutenguas de
sinais seu aspecto linguiacutestico e gramatical
Em Santa Catarina na comunidade de falantes no municiacutepio de
Itaacute na regiatildeo oeste do estado muitos descendentes de europeus
(Italianos alematildees poloneses etc) falam usando um r brando por
exemplo barragem mas na fala fica baragem
Na liacutengua portuguesa existem diferentes sons e diferentes formas
de falar esses sons No caso do exemplo citado anteriormente do
municiacutepio de Itaacute o som do r falado eacute diferente mas o significado da
palavra eacute o mesmo Na LIBRAS acontece isto um determinado sinal
pode ser pronunciado de diferentes maneiras com relaccedilatildeo agrave
configuraccedilatildeo de matildeos (CM)29
ao ponto de articulaccedilatildeo (PA) e ao
movimento (M) Segue abaixo a foto de trecircs principais paracircmetros
fonoloacutegicos
de sinais e nem aceitava a cultura do surdo Como A liacutengua de sinais foi banida das escolas
pelas decisotildees do Congresso de Milatildeo em 1880
29 Configuraccedilatildeo de matildeo e segue a foto
67
Figura 07 ndash Sinal de Porco
Por exemplo os sinais para as palavras amanhatilde
30 e faacutecil
31 satildeo
diferentes quanto ao ponto de articulaccedilatildeo e ao movimento mas a
configuraccedilatildeo de matildeos eacute a mesma para as duas palavras Ė importante
ressaltar que Labov em sua pesquisa mostrou variaacuteveis linguiacutesticas com
relaccedilatildeo agrave comunidade de fala e o exemplo na liacutengua de sinais eacute visual e
natildeo sonoro Entatildeo a fonologia das liacutenguas de sinais eacute um ramo da
linguiacutestica que objetiva identificar a estrutura e a organizaccedilatildeo dos
constituintes fonoloacutegicos propondo descriccedilotildees e explicaccedilotildees
Labov (1982) no entanto acreditava que eacute possiacutevel que uma
mudanccedila linguiacutestica possa ser o resultado de uma causa particular
isolada do sistema linguiacutestico ou social Por exemplo em Marthas
Vineyard um alto nuacutemero de casamento entre surdos e ouvintes e entre
surdos foi responsaacutevel pelo nascimento de centenas de surdos no seacuteculo
XIX Como resultado quase todos os membros ouvintes da comunidade
aprenderam a liacutengua de sinais e a utilizaram com muitos outros
propoacutesitos aleacutem da comunicaccedilatildeo com surdos (GROCE 1952)
Concluo este capiacutetulo que apresenta a pesquisa de Labov na ilha
30 Sinal de amanhatilde e segue a foto
31 Sinal de faacutecil e segue a foto
68
de Marthas Vineyard verificando a ocorrecircncia de centralizaccedilatildeo de
ditongos com algumas consideraccedilotildees A metodologia de pesquisa que
Labov abriu um campo de estudos que relaciona variaccedilatildeo e a mudanccedila
linguiacutestica ao contexto social utilizando-se de fatores como gecircnero
escolaridade classe social faixa etaacuteria local de residecircncia apoiando-se
em conhecimento de antropologia e liacutengua e de teacutecnicas computacionais
e matemaacuteticas Essa forma de pesquisa deu iniacutecio ao ramo da linguiacutestica
que conhecemos como sociolinguiacutestica variacionista ou quantitativa em
que a liacutengua natildeo eacute vista como uma estrutura estaacutetica e sim como um
sistema em variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica constante ligado agrave estrutura
social
69
CAPIacuteTULO III ndash A histoacuteria social da liacutengua
31 ndash Introduccedilatildeo
Inicialmente este capiacutetulo apresenta a histoacuteria contextualizada da
liacutengua de sinais da Franccedila depois no Brasil e finalmente em Santa
Catarina No primeiro momento apresenta-se o perfil do fundador da
primeira escola de surdos no mundo localizada na Franccedila o Abade de
LacuteEacutepeacutee Em seguida aponta-se qual foi o fundador da primeira
instituiccedilatildeo de surdos na cidade do Rio de Janeiro o Eacutedouard Huet32
e
traz consideraccedilotildees sobre o primeiro professor surdo a trabalhar em sala
de aula com alunos surdos em Santa Catarina Francisco Lima Juacutenior
Este uacuteltimo estudou a liacutengua de sinais na cidade do Rio de Janeiro e
proporcionou aos surdos de Santa Catarina uma comunicaccedilatildeo em liacutengua
de sinais mais aprofundada e abrangente Ele tambeacutem divulgou a liacutengua
de sinais na comunidade surda criando espaccedilos culturais e uma
identidade para a comunidade surda catarinense
Este capiacutetulo apresentada a seguinte estrutura comenta sobre o
primeiro fundador do Instituto Nacional de Surdos de Paris Abade
LacuteEacutepeacutee apresenta Eacutedouard Huet e sua vinda para o INESRJ e por fim
relata a histoacuteria do primeiro professor surdo (Francisco Lima Juacutenior) em
Santa Catarina na liacutengua de sinais
32 ndash Charles Michel de LacuteEacutepeacutee - Instituto Nacional de Surdos-
Mudos33
em Paris
Na Franccedila Abade de LacuteEacutepeacutee34
foi o primeiro fundador de uma
escola com classes para a educaccedilatildeo de surdos e tambeacutem criou a
32 No Brasil escreve-se Eduard mas na Franccedila seu nome e escrito Eacutedouard Huet
33 Surdos-Mudos ndash terminologia utilizada nessa eacutepoca atualmente utilizamos ser surdo
34 Abade de LacuteEacutepeacutee foi o criador de um meacutetodo empregado na educaccedilatildeo de surdos
denominado de ldquosinais metoacutedicosrdquo A justificativa para a criaccedilatildeo desse meacutetodo se deu pelo fato de que L‟Epeacutee acreditava que a Liacutengua de Sinais utilizada pelos surdos era incompleta
devendo ser melhorada e universalizada Seu meacutetodo consistia em conservar o ldquonuacutecleo central
dos gestosrdquo utilizados por seus alunos adicionando poreacutem a estes gestos outros sinais para designar objetos qualidades fatos ou situaccedilotildees No entanto como seu principal objetivo era o
ensino da liacutengua francesa natildeo se deu por satisfeito criou uma seacuterie de sinais que natildeo existiam
na codificaccedilatildeo gestual referente a preposiccedilotildees artigos tempo e pessoa verbal entre outros
70
linguagem de gestos que se chamava ldquoLINGUAGEM DE SINAIS
METOacuteDICOSrdquo e o alfabeto manual que eacute bem diferente dos coacutedigos de
significados na estrutura frasal e no gesto que representava a palavra
para o surdo
Moura (2000 p 22) relatou que o Abade Charles-Michel de
L‟Epeacutee nasceu em 1712 na cidade de Versalhes na Franccedila O Abade
comeccedilou a ensinar os surdos em 1760 por razotildees religiosas iniciando
seu trabalho com duas freiras surdas Com grande desafio transformou
sua casa na primeira escola puacuteblica para surdos (Instituto de Surdos e
Mudos de Paris) utilizando a comunicaccedilatildeo gestual A autora Perlin
(2002) lembra que
As escolas fundadas em outros paiacuteses nos moldes da
Franccedila passaram a usar as liacutenguas de sinais nacionais e a
explorar novos recursos na educaccedilatildeo de surdos O
curriacuteculo da escola para surdos em Paris passou a
conter liacutengua de sinais religiatildeo liacutengua nacional e
formaccedilatildeo profissional
O Abade de L‟Epeacutee comeccedilou a sua pesquisa observando um
grupo de surdos de laacute que se comunicava nas ruas da cidade (cuidando
para que as pessoas natildeo os vissem fazendo gestos) na liacutengua de sinais
francesa O Abade LacuteEacutepeacutee teve a ideia de conhecer mais sobre a liacutengua
gestual daqueles surdos e mais tarde pensou em como poderia ajudaacute-los
nessa comunicaccedilatildeo Ele ensinava religiatildeo na igreja para os surdos Entatildeo
LacuteEacutepeacutee comeccedilou a investir em seu projeto de melhorias para esta forma
de comunicaccedilatildeo Chamou o grupo de surdos e mostrou a liacutengua gestual
com gramaacutetica proacutepria e o alfabeto manual para o auxiacutelio na
comunicaccedilatildeo
A oportunidade de melhorar a linguagem dos surdos na eacutepoca foi
essencial para que fosse desenvolvida a base da liacutengua de sinais dos
surdos de Paris fortalecendo a cultura e a comunidade surda Isso
permitia tambeacutem que os surdos tivessem acesso a uma filosofia
religiosa aprendendo com isso novos vocabulaacuterios aleacutem da crenccedila e de
um modelo educacional diferente Segue o autor
Todo surdo-mudo enviando ateacute noacutes jaacute tem uma
linguagem () Tem o haacutebito de usaacute-la e compreende os
outros que a fazem Com essa linguagem expressa as
suas necessidades desejos duacutevidas dores etc e natildeo
erra quando os outros se expressam da mesma forma
Noacutes desejamos instruiacute-los e assim ensinar-lhes o francecircs
71
Qual eacute o meacutetodo mais simples e mais curto Natildeo seria
expressando-nos na sua liacutengua Adaptando a sua liacutengua e
fazendo com que ela se adapte a regras claras natildeo
seriacuteamos capazes de conduzir a sua instruccedilatildeo como
desejamos (citado por Harlan Lane Instituon des
Sourds-Muets par la Voie des Signes Meacutethodies part 1
cap IV p 36) apud (CARVALHO 2007 p 24)
Para o surdo comeccedilou a existir uma linguagem atraveacutes da
comunicaccedilatildeo gestual Assim os surdos trocavam informaccedilotildees entre eles
na liacutengua de sinais essencial para o acesso do surdo a sua identidade
Essa convenccedilatildeo social da liacutengua de sinais nesse primeiro grupo de
surdos foi a base da liacutengua Entatildeo o surdo podia aprender a liacutengua
francesa escrita e ter contato com a gramaacutetica dessa liacutengua que foi
essencial para a comunicaccedilatildeo dos surdos transformando a representaccedilatildeo
do gestual O surdo podia alfabetizar-se em francecircs e entender melhor a
sociedade em que vivia e assim adaptar-se agraves mudanccedilas ocorridas em
sua liacutengua gestual Segue a discussatildeo do autor
O Abade L‟Epeacutee iniciou do ano em 1760 conheceu o
grupo de surdo na liacutengua de sinais francesa e estudou
junto com os surdos Mas ele teve a ideacuteia de ajudar o
surdo valorizar a liacutengua de sinais francesa Quem fundou
o Instituto no Paris Foi Abade L‟Epeacutee Laacute foi ensinada
a liacutengua de sinais francesa para os alunos surdos mais
pobres Berthier escreveu a biografia do Abade L‟Epeacutee
(1712 ndash 1789) (SCHMITT 2008 p 50)
O Abade L‟Epeacutee com sua experiecircncia e pesquisa ajudava os
surdos franceses na liacutengua francesa escrita e na liacutengua de sinais em
Paris Com sua pesquisa ele mostrou para a comunidade da eacutepoca uma
nova forma de ensinar os surdos desenvolvendo estrateacutegias de ensino
nas duas liacutenguas Acreditava-se que um dos motivos que levou o Abade
a demonstrar interesse pela educaccedilatildeo de surdos foi o fato de ele ter duas
freiras surdas Seguem imagens mostrando o Abade L‟Epeacutee ensinando o
primeiro grupo de surdos franceses (SCHMITT 2008 p 51)
72
Figura 08 ndash Abade L‟Epeacutee ensinando os surdos na liacutengua de sinais
francesa
Schmitt (2008) realizou pesquisa na liacutengua de sinais na
identificaccedilatildeo do surdo e na adaptaccedilatildeo do conhecimento pelo surdo
Sobre L‟Epeacutee ensinando o grupo de surdos na imagem anterior Schmitt
comenta
O Abade L‟ Epeacutee ajudou ensinando os surdos na liacutengua
de sinais valorizando o aspecto viso-espacial na relaccedilatildeo
das matildeos compartilhando e mostrando a loacutegica de sinais
do surdo compreende-se envolve a capacidade no uso o
alfabeto na cultura do surdo Entatildeo na realidade
possibilitou a liacutengua do surdo na comunicaccedilatildeo com outro
surdo e na relaccedilatildeo com professor francecircs (SCHMITT
2008 p 51)
Segundo Frishberg (1975) na Franccedila escreveu que Abbe Charles-
Michel LacuteEpeacutee descreveu o uso da liacutengua de sinais que havia aprendido
com seus alunos ou em contato com as pessoas Era uma forma natural
de comunicaccedilatildeo que veio dar origem agrave gramaacutetica francesa de sinais
Essa gramaacutetica francesa se espalhou e foi disseminada por toda a
Europa cada paiacutes com suas especificidades como ocorre na liacutengua
falada
Percebemos que o Abade L‟Epeacutee ensinava a gramaacutetica do francecircs
no Instituto para Surdos de Paris para que os alunos surdos aprendessem
a histoacuteria e a liacutengua de sinais O L`Epee foi o antecessor em Paris do
Abade Sicard que escreveu o primeiro dicionaacuterio na liacutengua de sinais no
seacuteculo XVIII
Quando o Abade apresentou a comunicaccedilatildeo em liacutengua de sinais
ao grupo para que aprendessem vocabulaacuterio na liacutengua de sinais mostrou
os sinais de COMER AacuteGUA e tambeacutem o sinal de BEBER apontando
para vaacuterios objetos para que o grupo memorizasse e aprendesse o nome
73
de cada um deles Isso com o grupo de alunos e tambeacutem com as duas
irmatildes Foi crescendo o nuacutemero de sinais usados na linguagem gestual
francesa daquela eacutepoca pelos alunos surdos da instituiccedilatildeo onde ensinava
L‟Epeacutee
Entatildeo percebi atraveacutes de leituras que o Abade L‟Epeacutee ensinava a
gramaacutetica do francecircs no Instituto para Surdos de Paris para que os
alunos surdos aprendessem dentre outras coisas a histoacuteria e a liacutengua de
sinais Isso foi interessante para o grupo pois desenvolveram um padratildeo
para a linguagem gestual
Em 1755 Abade L‟Epeacutee iniciou com o primeiro grupo de surdos
no Instituto em Paris onde ensinava a vaacuterios alunos de classes
diferentes ricos e pobres Ele apresentou para os alunos a importacircncia
dos sinais padronizados que ajudavam na comunicaccedilatildeo Em contato
com a liacutengua de sinais convencionada o grupo de surdos na Franccedila
cada vez mais dominava os sinais e aperfeiccediloava o seu meacutetodo de sinais
metoacutedicos
Em ldquoA Maacutescara da Benevolecircnciardquo Lane (1992) apresenta relatos
interessantes de pesquisa com entrevistas de alunos surdos Sua
descriccedilatildeo sobre os sinais indicando os tempos segue na citaccedilatildeo
ldquoO aluno apesar de surdo e mudo tinha tal como noacutes
uma ideacuteia de passado presente e futuro antes de ser
colocado sob a nossa tutela mas eram incapazes de fazer
os sinais para exprimir as diferenccedilas Se quisesse
exprimir uma acccedilatildeo presente Fazia um sinal impelido
pela natureza que consiste em atrair o olhar do
interlocutor para testemunhar a nossa actividade actual
mas se a acccedilatildeo natildeo tivesse lugar na sua vista estendia as
matildeos sobre a mesa tal como estamos todos aptos a fazer
em situaccedilotildees semelhantes e estes satildeo os sinais que
voltou a aprender na aula para indicar o presente de um
verbo Se quisesse indicar que uma acccedilatildeo pertence ao
passado Atirava despreocupadamente o braccedilo sobre o
ombro duas ou trecircs vezes adoptamos estes sinais para
indicar o passado dos verbos E finalmente quando
tivesse a intenccedilatildeo de anunciar o futuro projectava a Matildeo
direita uma vez mais neste caso seleccionaacutemos este
sinal para representar o tempo futuro de um verbordquo
(LANE 1992 p 107 e 108)
Observa-se que havia diferenccedilas na gramaacutetica dos sinais que os
surdos utilizavam no passado A linguagem gestual francesa mudava
com o tempo na realidade da comunidade surda de Paris O contato com
74
sinais na escola eram muito diferentes daqueles que usavam nas
conversas de ruas Os alunos aprenderam formas verbais (passado
presente e futuro) que interferiram na liacutengua Quando a comunidade
surda que utiliza um espaccedilo cultural aprende o contexto cultural se
modifica e a liacutengua de sinais que tambeacutem eacute social se modifica
A liacutengua de sinais francesa serve de origem para muitos dos sinais
usados na ASL No comeccedilo do seacuteculo XIX um professor de surdo
chamado Thomas Hopkins Gallaudet foi da Ameacuterica para a Europa a
fim de aprender teacutecnicas de ensino Na Inglaterra ele conheceu Roch-
Ambroise Cucurron e Abbe Sicard o diretor de uma escola para surdos
em Paris Gallaudet aprendeu meacutetodos de ensino e muitos sinais para
usar na comunicaccedilatildeo com os surdos com Abbe Sicard Tambeacutem
Gallaudet convenceu Laurent Clerc um dos alunos de Sicard a ajudaacute-lo
a fundar uma escola para surdos na Ameacuterica
Gallaudet e Clerc fundaram a Escola Americana para Surdos
(ASD) em 1816 em Hartford Connecticut A escola combinava sinais
da LSF com os que jaacute eram usados pela comunidade de surdos da
Ameacuterica para criar uma linguagem padronizada Nesta eacutepoca esta
linguagem evoluiu para a ASL considerada atualmente a liacutengua de
sinais mais geneacuterica do mundo O filho de Thomas Gallaudet Edward
fundou a Universidade de Gallaudet em Washington DC A Gallaudet
foi a primeira faculdade para surdos
33 ndash Eacutedouard Huet - Instituto Nacional Educaccedilatildeo de Surdos
(INESRJ)
Segundo Ceacutesar Delgado (Revista da FENEIS 2002) Huet nasceu
em 1822 em Paris na Franccedila Comeccedilou seus estudos desde a infacircncia
ouvia normalmente jaacute se comunicava na fala nos idiomas francecircs (sua
liacutengua natural) alematildeo e portuguecircs mais tarde estudava outra liacutengua
que era o espanhol Ficou surdo aos doze anos de idade por
consequecircncia de um sarampo Como ele pertencia agrave nobreza estudou no
Instituto em Bourges e seu aprendizado na liacutengua de sinais francesa
proporcionou muitas oportunidades tornou-se professor de francecircs para
um grupo de surdos na Europa Ele foi convidado pelo imperador Dom Pedro II
35 para que
35 Deste que Eduard Huet fundou o imperial Instituto de Surdos-Mudos com autorizaccedilatildeo do
Imperador Dom Pedro II a Liacutengua de Sinais passou a fazer parte da educaccedilatildeo dos indiviacuteduos
surdos como forma de comunicaccedilatildeo e expressatildeo No iniacutecio a Liacutengua de Sinais teve sua origem na Franccedila mas aos poucos ela foi se desenvolvendo e se adaptando agrave realidade do
Brasil Isso comprova entatildeo que a Liacutengua de Sinais natildeo eacute universal mas ela possui pequenas
75
ajudasse a trabalhar na criaccedilatildeo do Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de
Surdos-Mudos com sede no Rio de Janeiro Iniciou ensinando na sua
liacutengua francesa depois aprendeu os sinais usados no Brasil e acabou
misturando as duas liacutenguas Trouxe um meacutetodo de ensino para a
Educaccedilatildeo de Surdos influenciando a Liacutengua de Sinais Brasileira com
sua liacutengua de sinais (francesa)
Eacutedouard Huet foi o primeiro professor surdo do Brasil
Apresentou em 1855 um projeto ao Imperador D Pedro II para uma
escola de surdos e assim foi fundado o Instituto Nacional de Educaccedilatildeo
de Surdos-Mudos no Rio de Janeiro Ele foi o responsaacutevel por trazer a
liacutengua de sinais francesa para o Instituto fundado em 1857 na cidade
do Rio de JaneiroRJ Com isso temos a origem da influecircncia da liacutengua
de sinais francesa (LSF) trazida por ele da Europa sobre a liacutengua de
sinais brasileira (LSB)36
Segue citaccedilatildeo de Campello que fala sobre a
constituiccedilatildeo da LSB no Brasil
a Constituiccedilatildeo Histoacuterica da Liacutengua de Sinais Brasileira
registro aqui ldquoa viagemrdquo da LSF ateacute o Brasil Essa
viagem tem a sua cronologia histoacuterica quando em 1855
o Ministro de Instruccedilatildeo Puacuteblica Drouyn de Louys e o
embaixador da Franccedila Monsieur Saint George junto
com a corte do Rio de Janeiro apresentou o Conde e
Professor surdo D E Huet37 ex-diretor do Instituto de
Bourges ao ex-Imperador Dom Pedro II e o mesmo
concedeu todas as honrarias inclusive com o salaacuterio e
hospedagem e incentivou a criaccedilatildeo de um educandaacuterio38
semelhanccedilas variando tanto de estado para estado dentro de um mesmo paiacutes quanto de um paiacutes para o outro com algumas semelhanccedilas
36 Campello usa a sigla LSB Nesta tese a sigla usada eacute LIBRAS
37 Haacute muita controveacutersia em torno do seu nome Inicialmente foi registrado na ldquoRevista
Espaccedilordquo do INES como E Huet Mas nos outros documentos pesquisados por mim assinava
como D E Huet sem complementar ou acrescentar o nome proacuteprio completo Recentemente atraveacutes da pesquisa pelo dirigente da FENEIS e da publicaccedilatildeo da Revista FENEIS confirmou
o nome completo de EHuet como Edward Huet Haacute pouco tempo o Grupo de Sinais
Mexicano anexou a coacutepia do email da bisneta que confirmou o nome dele como D Edward Huet M
38 Esse processo jaacute havia acontecido de forma similar com a educaccedilatildeo dos cegos O cego Patriacutecio Aacutelvares de Azevedo brasileiro educado em Paris e que ao regressar ao Rio de Janeiro
em 1851 pensou em fundar um instituto de ensino para cegos A realidade se concretizou em
1854 na fundaccedilatildeo de Instituto Benjamin Constant para cegos
76
destinado ao ensino de surdos mudos39 seria mais uma
poliacutetica puacuteblica com uma tendecircncia mundial a criaccedilatildeo de
escolas de ensino e tambeacutem de residenciais para abrigar
ldquodeficientes40 Haacute a hipoacutetese de que a princesa Isabel
filha do D Pedro II teria um filho surdo41 e tambeacutem que
o marido dela o Conde dacuteEu era portador de deficiecircncia
auditiva42 Mesmo com ou sem comprovaccedilatildeo histoacuterica
eacute difiacutecil transpor a histoacuteria da criaccedilatildeo e do interesse de
Dom Pedro II em abrir a escola de surdos
(CAMPELLO 2011)
O professor surdo Huet lutou pelo direito agrave liacutengua de sinais na
Instituiccedilatildeo com o imperador Dom Pedro II a fim de abrir espaccedilo na
escola de surdo em 1857 O INES era a uacutenica instituiccedilatildeo puacuteblica federal
do Brasil localizada no Rio de Janeiro Vieram alunos de outros estados
brasileiros para estudar com o professor Huet e ficavam hospedados no
Instituto Depois aprendiam a Liacutengua de Sinais Francesa da mesma
maneira que o professor aprendeu na escola francesa
A liacutengua de sinais foi transformada com o tempo tendo influecircncia
do professor surdo Huet Moura (2000 p 81 e 82) comenta o
seguinte
Se deu atraveacutes de Liacutengua de Sinais pode-se deduzir que
ele utilizava os Sinais e a escrita sendo considerado
inclusive o introdutor de Liacutengua de Sinais Francesa no
Brasil onde ela acabou por mesclar-se com a Liacutengua de
Sinais utilizada pelos Surdos em nosso paiacutes O
39 Relatoacuterio do E d Huet aos membros da Comissatildeo Diretora em abril de 1856 no Instituto de
Surdos Mudos
40 Deficientes satildeo as denominaccedilotildees daqueles que mentalmente e fisicamente satildeo incapazes para fazer qualquer atividade
41 Reis (1992) relata que o professor Geraldo Cavalcanti de Albuquerque disciacutepulo do professor Joatildeo Brasil Silvado (diretor do INSM ndash Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos-
Mudos em 1907) informou-lhe em entrevista que o interesse do imperador D Pedro II em
educaccedilatildeo de surdos viria do fato de ser a princesa Isabel matildee de um filho surdo e casada com o Conde D‟Eu parcialmente surdo
42 Nos documentos escritos pelo Francisco de Souza Brasil e Medeiros e Albuquerque (1932)
atestava a surdez do Conde DacuteEu ldquoO Conde DacuteEu tinha ainda o inconveniente de ser surdo A
surdez alheando os indiviacuteduos do meio em que estatildeo lhes daacute agraves vezes a imputaccedilatildeo de orgulhosos porque natildeo lhes permite tomar parte na conversa com a cordialidade que todos
desejariamrdquo (grifo meu)
77
Curriculum por ele apresentado em 1856 colocava
disciplinas como portuguecircs aritmeacutetica histoacuteria
geografia e incluiacutea ldquolinguagem articuladardquo e ldquoleitura
sobre os laacutebiosrdquo para os que tivessem aptidatildeo para tanto
O professor Huet planejava as vaacuterias disciplinas que ensinava
para os alunos surdos desta Instituiccedilatildeo obedecendo ao curriacuteculo escolar
da eacutepoca oferecido nas escolas de ouvintes Infelizmente natildeo foram
registrados os vocabulaacuterios da liacutengua de sinais brasileira desta eacutepoca No
Brasil foi lanccedilada a primeira publicaccedilatildeo sobre liacutengua de sinais em 1873
pelo aluno surdo Flausino Joseacute da Gama do Instituto de Surdos-Mudos43
do Rio de Janeiro O estudo resultou na obra ldquoIconographia dos Signaes
dos Surdos-Mudosrdquo foi publicado o dicionaacuterio em 1875 Poreacutem em
1880 no Congresso Internacional de Educaccedilatildeo de Surdo (Milatildeo)44
a
liacutengua de sinais foi rejeitada nas escolas focando apenas a liacutengua oral
Contudo os alunos do INES continuaram a estudar desenvolver e
disseminar a LIBRAS que por volta de 1980 voltou a ter sua
importacircncia intensificada
Como eacute explicado no prefaacutecio a inspiraccedilatildeo para o
trabalho foi dita pelo estudante ao ver na biblioteca da
instituiccedilatildeo um livro francecircs do Instituto Nacional de
Paris produzindo pelo surdo Francecircs Pellisier Natildeo havia
oficina litografia (o desenho eacute feito em uma pedra ou
placa de metal) no INES e na eacutepoca essa era a uacutenica
maneira de se reproduzir um desenho A ajuda veio do
Sr Eduard Rensburg que se dispotildee a ensinar a Flausino
trabalhar com essa difiacutecil teacutecnica Bastaram poucos dias
de aula e o Surdo tornou-se um exiacutemio litoacutegrafo
(REVISTA DA FENEIS n0 10 2001)
Segundo Campello (2011) Flausino Joseacute da Gama criou com seu
trabalho o dicionaacuterio ldquoIconographia dos Signaes dos Surdos-Mudosrdquo
com o prefaacutecio do Dr Tobias Leite ex-diretor no Instituto Nacional dos
Surdos-Mudos que no passado registrou sobre a pesquisa de Flausino e
a seguir o que escreveu Tobias no dicionaacuterio do INES em 1875
43 Atual Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos ndash INESRJ
44 REacuteE (2005) ldquo() essa data ainda eacute lembrada como a mais sinistra de sua histoacuteria como se fosse mesmo o ldquo11 de setembrordquo deles quando desabaram as torres gecircmeas da cultura e da
liacutengua de sinais a do meacutetodo misto e a do meacutetodo manualista para educaccedilatildeo dos surdos Ali
comeccedilou uma longa e amarga batalha para defender o direito de vida de liacutengua de sinaisrdquo
78
Este livro tem dous fins
Vulgarisar a linguagem dos signaes meio predilecto dos
surdos mudos para a manifestaccedilatildeo dos seus pensamentos
Os pais os professores primaacuterios e todos os eu se
interessarem por esses infelizes ficaratildeo habilitados para
os entender e se fazerem entender
Mostrar o quanto deve ser apreciado um surdo mudo
educado
O alumno deste Instituto Flausino Joseacute da Gama vendo
entre os livros da biblioteca a obra do illustre surdo-
mudo Pellisier professor do Instituto de Pariz
manifestou desejo de reproduzir as estampas para os
fallantes conversarem com os surdos-mudos dizia-me
elle repetidas vezes
Natildeo obstante ser elle haacutebil desenhista a realizaccedilatildeo do
seu desejo era difficil porque natildeo haacute no Instituto officina
de lihtographia e a despeza nas officinas do commercio
seria grande
Referindo o facto ao Sr Eduard Rensburg este senhor
generosamente offereceu-se para ensinar a Flausino o
desenho lithographico e as suas officinas para a
execuccedilatildeo da obra Aceitei immediatamente o
offerecimento e em poucos dias sahio o livro que tenho
a satisfacccedilatildeo de apresentar a todos os que se interessarem
por essa numerosa classe de nossos compatriotas
A Flausino os louvores e ao Sr Rensburg os
agradecimentos de todos os que se interessatildeo pela
instrucccedilatildeo popular
Tobias Leiterdquo
Campello (2011) pesquisou sobre o dicionaacuterio da liacutengua de sinais
registrado e documentado por Flausino que foi apresentado na escrita
pelo ex-diretor do INES que escrevia a palavra ldquoVulgarisarrdquo45
(p 79)
Segundo Delaporte (2005) a Escola Parisiense ldquoSaint-Jacquesrdquo era um
lugar de prestigio onde todas as pessoas que desejavam ensinar os
surdos precisavam obrigatoriamente passar Eacutedouard Huet realizou seus
estudos laacute Flausino inspirou-se no dicionaacuterio de Pierre Peacutelissier que foi
trazido para o Brasil por Eacutedouard Huet Os alunos do INES tinham
muita dificuldade pois os sinais eram muito antigos e eles precisavam
45 CAMPELLO mostrou a pesquisa ldquo que naquela eacutepoca significava colocar a disposiccedilatildeo do
povo e por isso o dicionaacuterio se apresentava como instruccedilatildeo popularrdquo
79
se comunicar com surdos do Instituto de Paris Campello diz que foi
copiado o dicionaacuterio no Instituto Imperial de Paris
Comparado com o original ldquoIcnographie des signesrdquo de
P Pelissier membro ativo de ldquola Socieacuteteacute Centrale
dacuteEducation et dacuteAssistance decircs Sourds-Muetsrdquo e
professor de surdos mudos do Instituto Imperial de Paris
em 1856 obra ldquoIconographia dos signaes dos surdos
mudosrdquo pelo surdo Flausino Joseacute da Gama em 1875 eacute
uma coacutepia na iacutentegra do material com a traduccedilatildeo do
francecircs para o portuguecircs ou seja os sinais foram
copiados um a um traduzindo-se apenas as palavras do
francecircs que identificavam os sinais (CAMPELLO
2011)
Verificando a explicaccedilatildeo anterior da citaccedilatildeo a autora mostrou
uma comparaccedilatildeo do dicionaacuterio em Paris e no Brasil foi copiado o
material para ser utilizado aqui no INES e soacute foi mudado o vocabulaacuterio
eou palavra na traduccedilatildeo do francecircs para o portuguecircs Atualmente a
LIBRAS estaacute bem diferente da eacutepoca de Flausino mas a influecircncia da
Liacutengua de Sinais Francesa eacute inegaacutevel na comunicaccedilatildeo dos surdos
brasileiros pois foi a primeira liacutengua de sinais traduzida e ensinada no
INES
Com o uso e a difusatildeo da liacutengua de sinais surgiu o primeiro
dicionaacuterio do Brasil e as seguintes obras dos autores i) Iconographia
dos Signaes dos Surdos-Mudos de Flausino Joseacute da Gama em 1875 ii)
Linguagem das Matildeos de Eugecircnio Oates em 1969 e iii) O Dicionaacuterio
Enciclopeacutedico Ilustrado Triliacutengue Liacutengua de Sinais Brasileira de
Fernando C Capovilla e Walkiria D Raphael em 2001
Felipe (2000) fala sobre o surgimento da LIBRAS sobre
Flausino Joseacute da Gama e outros dicionaacuterios da LIBRAS
Aqui no Brasil a primeira publicaccedilatildeo sobre a liacutengua
de sinais brasileira data de 1875 trata-se de um livro
Iconografia dos Signaes dos Surdos-Mudos de Flausino
da Gama um ex-aluno do Instituto de Surdos que se
tornou repetidor dessa escola quando terminou seu
periacuteodo de estudo Quase um seacuteculo depois em 1969
com a publicaccedilatildeo do artigo de KAKUMUSU J Urubu
Sign Language foi constatado que haveria pelo menos
outra liacutengua de sinais no Brasil utilizada pelos iacutendios
Urubus-Kaapor
80
Somente em 1969 por iniciativa estrangeira foi
publicado outro livro sobre a liacutengua de sinais brasileira
Linguagem das Matildeos de DATES E mas devido agrave
influecircncia da ASL muitos sinais nessa obra como
tambeacutem na de HOEMAN H et al Linguagem de Sinais
do Brasil satildeo sinais dessa liacutengua Esses dois livros
foram durante deacutecadas o material didaacutetico utilizado
pelos instrutores surdos para ensinarem sua liacutengua e
talvez por essas obras trazerem uma seleccedilatildeo de
fotografias ou desenhos de sinais da LIBRAS com
explicaccedilotildees a metodologia que vem sendo utilizada para
ensinar esta liacutengua tem sido somente a apresentaccedilatildeo de
sinais e traduccedilatildeo dos mesmos
Em 1960 Willian Stokoe
46 iniciou a pesquisa na liacutengua de sinais
americana com publicaccedilatildeo de estudo linguiacutestico mostrando que esta
liacutengua de sinais tinha uma gramaacutetica proacutepria e tambeacutem apresentava
todos os aspectos linguiacutesticos das liacutenguas orais A partir desta
divulgaccedilatildeo do Stokoe o mundo comeccedilou a pesquisar mais sobre as
liacutenguas de sinais Estudou cientificamente a Liacutengua de Sinais Americana
comparando com a Liacutengua Inglesa observou que ambas tinham
caracteriacutesticas equivalentes auxiliando na concepccedilatildeo sobre a educaccedilatildeo
de surdos na liacutengua de sinais
Felipe (2000) apresentou na pesquisa o surgimento da LIBRAS
Seguem agora ilustraccedilotildees sobre os dicionaacuterios antigos ldquoIconographia
dos Signaes dos Surdos Mudos de Flausino Joseacute da Gamardquo ldquoLinguagem
das Matildeos de Eugecircnio Oatesrdquo ldquoEnciclopeacutedico Ilustrado Triliacutengue
Liacutengua de Sinais Brasileira Vol I e II de Fernando C Capovilla e
Walkiria D Raphael
46 STOKOE (1920-2000) foi um dos primeiros linguistas a estudar uma liacutengua de sinais com
tratamento linguiacutestico Considerado o pai da linguiacutestica da liacutengua de sinais americana ndash ASL Ele ensinando e pesquisando revolucionou a Liacutengua de Sinais e mostrou que ela possuiacutea
regras gramaticais proacuteprias A partir daiacute o mundo inteiro passou a aceitar a Liacutengua de Sinais
como uma Liacutengua
81
Figura 09 ndash Acervo na Revista da FENEIS
Interessante a pesquisa das primeiras publicaccedilotildees dos autores
sobre a liacutengua de sinais Trouxe para noacutes surdos brasileiros
documentos para outras pesquisas valorizando o contexto social e a
liacutengua de sinais Campello (2007)
47 apresentou a pesquisa ldquoMudanccedilas fonoloacutegicas
47 Retirado a fonte com autora CAMPELLO 2007 SINPEL ndash I0 Seminaacuterio Integrado de
Pesquisas em Linguiacutestica na UFSC ldquoMudanccedilas fonoloacutegicas dos registros do seacuteculo XVIII ao seacuteculo XXI na liacutengua de sinais brasileirardquo
82
dos registros do seacuteculo XVIII ao seacuteculo XXI na Liacutengua de Sinais
Brasileira elementos novos sobre a liacutengua de sinais brasileirardquo Foi o
primeiro trabalho desse tipo com a LIBRAS desenvolvido no Brasil A
autora destacou inicialmente as justificativas para sua pesquisa
a) Natildeo haacute registro a respeito do desenvolvimento
histoacuterico da liacutengua de sinais brasileira nos livros
brasileiros b) Os surdos brasileiros tecircm muito interesse
em saber mais sobre a origem desta liacutengua c) A liacutengua
de sinais passou a ser reconhecida como liacutengua de
instruccedilatildeo dos surdos brasileiros por meio da Lei 10436
de 2002 regulamentada pelo decreto 5626 de 2005 d) A
liacutengua de sinais passa a ser objeto de ensino Antes de
iniciar a pesquisa em si considero importante situar as
influecircncias da liacutengua de sinais dos Surdos que moldaram
o primeiro dicionaacuterio de liacutengua de sinais brasileira o
movimento poliacutetico social cultural e educacional Com
o ldquoobjeto de pesquisardquo apresento a justificativa visto que
ateacute o presente momento natildeo se sabe se esta liacutengua jaacute
existia antes da fundaccedilatildeo do INES eou natildeo foi
reconhecida por causa da homogeneidade da liacutengua
nacional que eacute a liacutengua portuguesa Tambeacutem visa a
coleta dos sinais e suas mudanccedilas em niacutevel foneacutetico-
fonoloacutegico da Liacutengua de Sinais Francesa para a Liacutengua
de Sinais Brasileira e apresenta a metodologia de
investigaccedilatildeo problematizando a origem da liacutengua de
sinais brasileira jaacute que foi mesclada com a liacutengua de
sinais francesa Muita pesquisa foi deixada de lado pelo
estigma e desconhecimento da liacutengua em estudo nesse
projeto (CAMPELLO 2007)
Observe a figura do painel que Campello apresentou no
Seminaacuterio e eu fotografei
83
Figura 10 ndash Acervo de Ana Regina e Souza Campello ndash UFSC
Diniz (2010) realizou a pesquisa sobre o estudo descritivo das
mudanccedilas fonoloacutegicas e lexicais da Liacutengua de Sinais Brasileira
identificando e analisando os tipos de sinais que mais levam agrave variaccedilatildeo e
agrave mudanccedila e os possiacuteveis motivos que ao longo do tempo culminam
em tais variaccedilotildees Observou-se que o estudo elaborado na histoacuteria da
liacutengua de sinais teve como objetivo principal identificar as mudanccedilas
ocorridas na forma de comunicaccedilatildeo das comunidades surdas bem como
a influecircncia da liacutengua escrita no caso o portuguecircs neste processo
A autora apresenta sua pesquisa de modo a contribuir com os
registros histoacutericos da comunidade surda geral e da liacutengua de sinais As
suas anaacutelises ampliam os conhecimentos sobre a estrutura linguiacutestica da
LIBRAS e seu processo de mudanccedila assim como permitem contrastar
as variaccedilotildees que ocorrem com as liacutenguas orais e as liacutenguas de sinais
Mais amplamente o estudo objetiva valorizar socialmente a Liacutengua
Brasileira de Sinais difundir suas vertentes propiciando agrave populaccedilatildeo
surda o resgate de suas origens tradiccedilotildees e identidade proacutepria
Ela analisou trecircs documentos histoacutericos mais especificamente
trecircs dicionaacuterios de sinais foram os instrumentos de base na pesquisa da
autora acerca do processo de variaccedilatildeo na LIBRAS satildeo eles
Iconographia dos Signaes dos Surdos-Mudos de 1875 (primeiro
documento a fazer referecircncia agrave LIBRAS trata-se de uma reproduccedilatildeo fiel
do dicionaacuterio de sinais Francecircs que envolve representaccedilatildeo de sinais por
meio de desenhos (ilustraccedilotildees)) Linguagem das Matildeos de 1969
(produzido pelo padre Eugecircnio Oates missionaacuterio americano que
trabalhou com surdos em vaacuterias regiotildees brasileiras) e o terceiro
Dicionaacuterio Digital da LIBRAS do Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de
84
Surdos (INES) de 2006 (em CD-ROM produzido no Rio de Janeiro
por profissionais surdos e ouvintes)
Os resultados da pesquisa de Diniz apresentam na anaacutelise dos
dados indiacutecios de mudanccedila fonoloacutegica e lexical
A figura 11 a seguir mostra a forma como o sinal de FACA eacute
produzido utilizando a configuraccedilatildeo de matildeos que se altera nas trecircs
imagens apresentadas
GLOSA ICON OATES INES
Est 2
FACA
FACA
FACA
FACA
Figura 11 ndash Acervo da Heloise Gripp Diniz ndash UFSC 01
A figura 12 apresenta um exemplo de mudanccedila lexical com
configuraccedilotildees de matildeos mostrando o sinal de PUNIR apresentado no
dicionaacuterio em trecircs momentos (Icon Oates e INES) Segue a figura
GLOSA ICON OATES INES
Est 16
PUNIR
PUNIR
CASTIGAR
CASTIGAR
Figura 12 ndash Acervo da Heloise Gripp Diniz ndash UFSC 02
Diante da anaacutelise comparativa dos referidos dicionaacuterios a autora
classificou os sinais em trecircs categorias os que permanecem idecircnticos
(sem alteraccedilotildees) os que sofreram mudanccedilas fonoloacutegicas em alguns de
seus paracircmetros (que se mostrou a maior das trecircs categorias) e os que
sofreram mudanccedilas lexicais alterando por completo as formas dos sinais
originais Dentre os fatores internos que contribuiacuteram para tais variaccedilotildees destacam-se conforto linguiacutestico na articulaccedilatildeo das matildeos e
do corpo e a acuidade visual no espaccedilo da sinalizaccedilatildeo Haacute tambeacutem a
contribuiccedilatildeo dos fatores socioculturais como influecircncia das liacutenguas em
contato empreacutestimo linguiacutestico bilinguismo preconceito linguiacutestico e
85
influecircncia da liacutengua portuguesa e dos falantes ouvintes
Em outras palavras nota-se que o estudo procura resgatar a
histoacuteria das mudanccedilas dos sinais da LIBRAS e de como surgiram as
mudanccedilas influenciadas pelo advento da Instituto Nacional de Educaccedilatildeo
de Surdos (INES) bem como o viacutenculo existente entre o instituto e os
diferentes dicionaacuterios de liacutenguas de sinais da eacutepoca que mostram a
existecircncia de fortes mudanccedilas linguiacutesticas ao longo do tempo entre as
pessoas de mais idade com as famiacutelias e as novas geraccedilotildees que surgem
dispostas a encontrar sinais de configuraccedilotildees de matildeos que possibilitem
facilitar cada vez mais a interaccedilatildeo das comunidades surdas com a
sociedade em geral
Percebe-se entatildeo vaacuterios dialetos utilizados entre grupos de
amigos e familiares na busca de uma melhor compreensatildeo da
comunicaccedilatildeo atraveacutes da liacutengua de sinais Nota-se que apesar da
evoluccedilatildeo da liacutengua de sinais haacute existecircncia de vaacuterios sinais
desconhecidos entre as associaccedilotildees de surdos Existe uma seacuterie de
variaacuteveis diferentes que funcionam como preacute-requisito influenciando
diretamente os processos de variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica
Segundo Diniz (2010) natildeo eacute aconselhaacutevel fazer traduccedilatildeo do
portuguecircs para LIBRAS pois tal conversatildeo acaba dificultando ainda
mais a compreensatildeo e a comunicaccedilatildeo com a comunidade dos surdos
Assim pode-se notar que natildeo eacute apropriado misturar duas liacutenguas (uma
oral outra visual) ao mesmo tempo pois haacute uma diferenccedila muito grande
entre elas Dessa forma torna-se mais faacutecil a compreensatildeo para o surdo
quando eacute explicado diretamente na liacutengua de sinais
Sempre eacute conveniente ressaltar que a LIBRAS eacute uma liacutengua
humana da mesma forma que as liacutenguas faladas nesse sentido a liacutengua
de sinais possui sua proacutepria estrutura linguiacutestica embora com
modalidades diferentes e passa por processos de mudanccedilas contiacutenuas e
deve ser considerada pela comunidade cientiacutefica como sendo de grande
importacircncia para a sociedade em geral As liacutenguas de sinais satildeo
humanas naturais e com estruturas linguiacutesticas proacuteprias fazendo uso do
canal de comunicaccedilatildeo visual-espacial Portanto satildeo mitos48
as
48 FRISHBERG (1975 p 696 - 697) Alguns mitos satildeo derrubados por no que se refere agrave ASL
O primeiro deles diz respeito agrave falsa crenccedila de que a linguagem gestual eacute universal Pelo
contraacuterio as pessoas surdas da China natildeo conseguem entender a ASL tampouco os surdos americanos conseguem entender a CSL a Liacutengua de Sinais Chinesa Os surdos ingleses
tambeacutem natildeo conseguem entender a Liacutengua de Sinais Francesa (LSF) e vice-versa O segundo
mito esclarecido eacute de que a liacutengua de sinais tem muito pouco ou nada a ver com a liacutengua falada da comunidade em sua volta Neste sentido a autora esclarece que a liacutengua de sinais natildeo
significa uma representaccedilatildeo manual traduzida diretamente do inglecircs O terceiro mito elucidado
86
afirmaccedilotildees de que a liacutengua de sinais eacute universal miacutemica coacutedigos
gestos ou apenas uma representaccedilatildeo manual das liacutenguas orais
Cabe ressaltar que a representaccedilatildeo atraveacutes de imagens figuras
gestos configuraccedilatildeo de matildeos e expressotildees faciais satildeo fundamentais para
a fluecircncia da comunicaccedilatildeo entre os membros da comunidade surda e
tambeacutem com a sociedade tornando a compreensatildeo mais acessiacutevel a
todas as pessoas Por meio de estudos nos dicionaacuterios de LIBRAS
percebe-se a existecircncia de algumas categorias distintas de algumas que
permanecem idecircnticas ateacute os dias de hoje e de outras que vecircm sofrendo
mudanccedilas fonoloacutegicas gradativamente com ideias inovadoras
influenciadas pelos estudos efetuados a partir da histoacuteria da liacutengua de
sinais e sua evoluccedilatildeo no processo de mudanccedila ateacute os dias atuais Tais
descobertas satildeo importantiacutessimas para a academia e para os aspectos
socioculturais como forma de resgatar a histoacuteria bem como os valores
das comunidades surdas esquecidas no passado recuperando sua proacutepria
identidade frente agravequeles que utilizam a liacutengua oral
Em geral eacute muito difiacutecil de recuperar nos registros dos
dicionaacuterios os detalhes das articulaccedilotildees movimentos entre outros Isso
ocorre porque na maioria das vezes eles apresentam uma uacutenica palavra
em portuguecircs associada a cada sinal de forma intuitiva quase sempre
indicando um sinal preciso e natildeo uma possiacutevel traduccedilatildeo De qualquer
maneira a partir das evidecircncias que estatildeo nos dicionaacuterios pode-se
analisar como era a liacutengua de sinais antigamente e como ela se
modificou ateacute os dias de hoje bem como qual a sua importacircncia para a
valorizaccedilatildeo social da comunidade surda
Diniz (2010) percebeu que ao passar dos anos existe uma
evoluccedilatildeo no desenvolvimento dos dicionaacuterios trazendo uma forma mais
faacutecil e aacutegil de comunicaccedilatildeo entre os escritores e leitores Hoje a
preocupaccedilatildeo natildeo eacute apenas em fazer dicionaacuterios mas tambeacutem em
analisar as metodologias de produccedilatildeo lexicograacutefica isto eacute como e para
que os dicionaacuterios tecircm sido feitos
Diniz (2010) tambeacutem observou uma pequena mudanccedila no
alfabeto manual que aparece nos trecircs dicionaacuterios Houve uma mudanccedila
fonoloacutegica na estampa ldquoIrdquo referente ao alfabeto de 26 letras no
dicionaacuterio Iconographia Em Oates o alfabeto permanece semelhante
ateacute os dias de hoje mudando apenas a configuraccedilatildeo de matildeos da letra H
No dicionaacuterio INES o alfabeto eacute idecircntico aos dias de hoje
pela pesquisadora refuta a ideia de que as liacutenguas de sinais satildeo apenas gestos teatrais ou
miacutemicos
87
Segundo Diniz (2010) identificam-se tendecircncias de mudanccedilas na
LIBRAS nos trecircs dicionaacuterios a saber simetria de duas matildeos
deslocamento locativo conteuacutedo lexical para as matildeos assimilaccedilatildeo
deletaccedilatildeo de uma matildeo de sinais de duas matildeos e deletaccedilatildeo de uma parte
do sinal composto Dos resultados das anaacutelises pode-se verificar que
alguns sinais da LIBRAS permaneceram idecircnticos ateacute os dias de hoje
enquanto outros sofreram mudanccedilas nas partes fonoloacutegicas e lexicais A
autora concluiu que diversos fatores influenciaram tais mudanccedilas como
por exemplo a influecircncia dos falantes ouvintes sobre a LIBRAS a
influecircncia da Liacutengua portuguesa na estrutura da LIBRAS o
desconhecimento sobre as liacutenguas de sinais a organizaccedilatildeo lexicograacutefica
nos dicionaacuterios de sinais a discriminaccedilatildeo ouvinte sobre a LIBRAS o
contato contiacutenuo dos surdos com ouvinte e a inseguranccedila na
consciecircncia linguiacutestica dos surdos em relaccedilatildeo agrave LIBRAS Outra
conclusatildeo foi a descoberta de sinais da Iconographia idecircnticos na ASL e
na LSF hoje em dia mais do que nos dicionaacuterios Oates e dos INES
34 ndash Francisco Lima Juacutenior ndash O Primeiro Professor Surdo em
Santa Catarina na liacutengua de sinais
Segundo Schmitt (2008) Francisco Lima Juacutenior tem lembranccedilas
do avocirc Germano tias Erna Irude e Isabel o pai Francisco matildee Augusta
e o irmatildeo Reinoldo Francisco Lima Juacutenior chamado pelo apelido
(chiquito) eacute o uacutenico surdo desta famiacutelia Ele nasceu no dia 01 de junho
de 1928 em casa na Rua Duarte Schutel no 16 em Florianoacutepolis A tia
Erna disse que o Francisco foi ateacute os 36 meses de idade uma crianccedila
normal e perfeita mas nesta idade foi um susto para os familiares do
Francisco ele ter ficado surdo
Atraveacutes de contatos com o senhor Francisco Lima Juacutenior
estive presente na casa dele investigando sobre a
primeira turma de surdo Catarinense No dia 04082006
foi entrevistado o senhor Francisco Lima Juacutenior Ele
nasceu no dia 01061928 em Florianoacutepolis no Estado de
Santa Catarina e ateacute a idade de 03 anos ouvia
normalmente A famiacutelia do Francisco sempre conversava
com ele sobre cinema ou noticias que ouviam o raacutedio O
Francisco estava sentado no chatildeo brincando com o
carrinho na sala de estar assistindo o cinema com a
famiacutelia dele A famiacutelia chamou atenccedilatildeo do seu filho
Francisco mas ele natildeo ouvia a voz dos seus pais falando
Franciscooooo e tambeacutem batendo palmas O Francisco
natildeo ouvia nada e quando o pai tocou no ombro do
88
Francisco ele entendeu O que pai (SCHMITT 2008 p
86)
Seus pais natildeo se aperceberam ao longo deste tempo que Francisco
estava ficando surdo porque ele ainda natildeo havia aprendido a falar
compreender palavras e a se comunicar por gestos O pai de Francisco
levou-o para o meacutedico que falou que o menino teve um problema no
nervo auditivo e ficou surdo (Consultas ao meacutedico com frequecircncia
dificuldade de se comunicar com a famiacutelia sentia-se muito pressionado
foram tempos difiacuteceis ele conta) O pai queria ensinar a liccedilatildeo para
Francisco que aprendia vocabulaacuterio e a gramaacutetica juntamente com os
nuacutemeros cardinais desenho e a palavra correspondente e tambeacutem a
linguagem gestual da comunicaccedilatildeo dele O pai levou-o para o
tratamento meacutedico com o Dr Djalma Moellmann que informou aos
pais que pela idade do Francisco ele poderia estudar no Instituto
Nacional de Surdos-Mudos do Rio de Janeiro Segue o depoimento
Os pais resolveram levar seu filho para tratamento
meacutedico e fonoaudioloacutegico no centro de Florianoacutepolis
para saber o que aconteceu com a audiccedilatildeo do Francisco
que natildeo ouvia nada O meacutedico fonoaudioloacutegico dizia que
ele era deficiente auditivo e tambeacutem chamou-o de Surdo-
Mudo naquela eacutepoca ˝Ai Como fazer agora Os pais
perguntaram O que O meu filho natildeo podia estudar na
escola dos ouvintes e na eacutepoca aqui natildeo existia escola
para surdos˝ O meacutedico fonoaudioloacutegico informou sobre
a escola no INSM - Instituto Nacional de Surdos-Mudos
no Rio de JaneiroRJ Eles verificaram que laacute existia
escola para surdos-mudos mas resolveram permanecer
morando naquela cidade Entatildeo o pai resolveu levar o
seu filho Francisco para o Rio de JaneiroRJ Quando o
Francisco era crianccedila tinha ocircnibus carro caminhatildeo
bicicleta e aviatildeo Foi viagem de navio O tio do
Francisco trabalhava como marinheiro e levou o
Francisco para o Rio acompanhando do pai e do tio dele
(SCHMITT 2008 p 86)
Francisco realizou exames meacutedicos onde foi avaliada sua sauacutede
se podia estudar no Instituto Nacional de Surdos-Mudos que era um
grande desafio Nesse lugar havia modernas oficinas e ginaacutesio tinha 109
surdos internos Era comum observar um grupo de surdos que se
comunicava na liacutengua de sinais no corredor do Instituto Laacute tambeacutem os
alunos surdos podiam entrar em contato com os primeiros surdos que
89
vieram de diferentes estados e regiotildees do Brasil Em 1937 o pai
acompanhou Francisco em uma viagem de navio para o Rio de Janeiro e
matriculou-o no Instituto Nacional de Surdos-Mudos Laacute conheceu o Dr
Armando ex-diretor de INSM na deacutecada de 1940
Em 1937 Francisco foi levado pelos primos Paulo e Hugo e pelo
seu tio para conhecer o INSM Eles levavam Francisco ao Instituto nos
saacutebados e voltavam nas segundas-feiras de 1937 a 1939 Hugo
trabalhava no navio ldquoDuque de Caxiasrdquo que saiacutea do Rio de Janeiro O
outro navio onde estava o tio voltava da Bahia quando avistou um
submarino de guerra (alematildeo) que era dotado de canhotildees Os dois
navios chocaram-se agrave noite neles tinha bombas nucleares Hugo o tio
passageiros e marinheiros morreram no mar e um outro navio onde seu
tio Paulo trabalhava desapareceu na Europa em 1945
Na segunda guerra Hitler se armou poderosamente para dominar
a Europa mas com sua derrota em 1939 a 1945 a Alemanha perdeu
cerca de um quarto do seu territoacuterio que por alguns anos foi ocupado
pelas forcas aliadas russas americanas inglesas e francesas Das cinzas
surgem os novos navios Um navio a vapor com o nome de Carlos
Hoepcke e Anna navio este de carga e passageiros que transportou
Francisco ateacute o Rio de Janeiro O capitatildeo deste navio era seu tio Ceacutelio
Viana Os passageiros eram atenciosos para com Francisco e o
ajudavam quando ele precisava
Era oferecido abrigo aos navios aportados no porto de SantosSP
Rio de Janeiro Satildeo Francisco do Sul e Itajaiacute Iam de navio e na volta
vinham de aviatildeo com destino a Florianoacutepolis e Rio de Janeiro O pai
Francisco Candido de Souza Lima era gerente contador homem de
bom coraccedilatildeo que fazia a contabilidade de Carlos Hoepcke era uma
amizade de marinha mercante
Em suas viagens o professor Francisco Lima Juacutenior viu o Sr
Ademar Barros que era intendente de comeacutercio do vapor Carlos
Hoepcke Viajaram num submarino guiados por buacutessola para ajudar os
navegantes em 1937 a 1946 Ao fim do ano letivo no Instituto o pai e
Francisco voltavam para Florianoacutepolis em 1947 O Professor Francisco
trabalhou auxiliando a contabilidade e os lanccedilamentos na filial de Carlos
Hoepcke SA Ele aproveitou o aprendizado nas oficinas do Instituto
Nacional de Surdos-Mudos onde aprendeu uma seacuterie de profissotildees
como a de marcenaria encadernaccedilatildeo e sapataria aleacutem de participar de
um curso de Desenho Segue a explicaccedilatildeo do autor
Os alunos de vaacuterios estados no Brasil tambeacutem estudavam
no INSM junto com o Francisco e fizeram amizade
90
jogando o futebol na quadra Depois o Francisco foi para
os alojamentos no Instituto e dormiu cada um num
beliche todos os alunos surdos eram brasileiros Os
alunos surdos acordavam agraves 05h30min nas madrugadas
para arrumar e ficavam esperando na fila de outros
alunos faziam relaxamento e educaccedilatildeo fiacutesica para depois
tomar o banho Depois estudavam de manhatilde e agrave tarde agraves
vezes agrave noite e voltavam para o alojamento no Instituto
O professor no Instituto dava aula de oralizaccedilatildeo para os
alunos surdos na sala de aula explicando o conteuacutedo de
mateacuteria no quadro negro e tambeacutem com vareta Depois o
professor anotava no quadro a escrita de portuguecircs
avisava para o aluno surdo que natildeo podia copiar no
quadro e prestar atenccedilatildeo agrave escrita no quadro O professor
apagava no quadro para o aluno surdo memorizar a
escrita da fala O que aconteceu Os alunos ficaram com
dificuldade de entender a escrita no quadro (SCHMITT
2008 p 92 e 93)
Os professores mostravam vaacuterias figuras de objetos com os
respectivos nomes e individualmente faziam o trabalho de repeticcedilatildeo
com o aluno Francisco que escrevia e falava Mas existia a liacutengua de
sinais no lado de fora No paacutetio a comunicaccedilatildeo dele e o grupo de surdo
no Instituto apresentava a liacutengua de sinais Dr Armando Lacerda diretor
do Instituto Nacional de Surdos-Mudos ndash INSM acampanhou a
comemoraccedilatildeo de sua fundaccedilatildeo e seguiram-se demonstraccedilotildees de
ginaacutestica representaccedilatildeo de uma peccedila teatral nuacutemeros de bailado pelo
corpo etc
Os surdos da marcenaria da encadernaccedilatildeo e da sapataria eram
jogadores e participaram da competiccedilatildeo de futebol de campo no
instituto Venceram os surdos da encadernaccedilatildeo que receberam
medalhas e trofeacuteu O grupo de alunos que ganhou a competiccedilatildeo foi
viajar e passear na praia da Ilha de PaquetaacuteRJ Dois alunos deste grupo
mais tarde tornaram-se professores do Instituto Um deles era o
professor Heacutelio ensinava ginaacutestica futebol e voleibol na quadra de
esportivo e o outro era professor Francisco
Na eacutepoca foi feita uma reportagem com depoimentos do Dr
Armando Lacerda dos professores Joatildeo Brasil Silvado Juacutenior Saul Borges Carneiro e Geraldo Cavalcantil todos eles ouvintes Essa
reportagem foi riquiacutessima detalhada cheia de fotografias eacute uma
importante fonte de pesquisa Francisco desenvolveu sua aprendizagem
na liacutengua de sinais aproveitando essas atividades comemorativas que
aconteciam no instituto aleacutem do curriacuteculo da escola
91
Os professores acima citados todos oralistas impressionam pela
cultura e a quantidade de informaccedilotildees com que discorrem sobre a
educaccedilatildeo do surdo e a histoacuteria na liacutengua de sinais Sendo recebido pelo
ministro da educaccedilatildeo e sauacutede naquela eacutepoca foi oferecido um meacuterito ao
ex-aluno Francisco Lima Juacutenior conforme mostra a citaccedilatildeo
O Francisco Lima Juacutenior recebeu o meacuterito do segundo
melhor no Instituto Nacional de Surdos-Mudos (INSM)
no Rio de JaneiroRJ por a maior nota de avaliaccedilatildeo na
prova e tambeacutem em todas as disciplinas Vejam os
nomes ndash primeiro lugar (Odil Soares em Satildeo Paulo)
segundo lugar (Francisco Lima Juacutenior em Santa
Catarina) e terceiro lugar (Miriam S Rio de Janeiro)
Parabenizamos o senhor Francisco Lima Juacutenior do nosso
Estado de Santa Catarina eacute vitorioso e orgulhoso
(SCHMITT 2008 p 96)
Ele foi aluno interno do Instituto Nacional de Surdos-Mudos do
Rio de Janeiro e do Instituto Paulista de Surdos em Satildeo Paulo em 1940 e
natildeo gostava de Satildeo Paulo A professora Helena (INES) era de origem
Italiana ensinava a fazer ditado em portuguecircs (oralismo) mas a liacutengua
de sinais natildeo existia na comunicaccedilatildeo e o grupo surdo teve pouco contato
com a liacutengua materna (liacutengua de sinais)
Para a inauguraccedilatildeo do Instituto Nacional de Surdos-Mudos foram
convidadas vaacuterias autoridades entre elas o ministro da educaccedilatildeo
diretores de escolas e outros Esta aconteceu no teatro do Instituto e
ofereceram trecircs certificados para o curso de desenho para a oficina de
encadernaccedilatildeo e linguagem que foram ganhos pelo Francisco Lima
Juacutenior em 1946 No ano seguinte ele voltou para Florianoacutepolis
Em 1946 com 18 anos de idade voltou para
FlorianoacutepolisSC quando passou a procurar por pessoas
surdas nas vaacuterias cidades do estado de Santa Catarina e
demorou um tempo para ter contato com os surdos
catarinenses Ele comeccedilou a dar aulas numa garagem
situada agrave Rua Francisco Tolentino passando ser ali a
primeira escola para surdos de Florianoacutepolis O
Francisco ensinava desenho linguagem escrita
vocabulaacuterio baacutesico gramaacutetica geograacutefia histoacuteria do
Brasil e conhecimentos gerais Ele trouxe para o nosso
estado o modelo de associaccedilatildeo e fez um projeto de escola
para surdos com a esposa de ouvinte que ajudou o
Francisco Apoacutes a conclusatildeo dos cursos em 1947
retorna definitivamente para casa dos pais em
92
Florianoacutepolis agrave Rua Duarte Schutel nordm 16 (SCHMITT
2008 p 104)
Em 1947 morava com o pai em sua casa em Florianoacutepolis Ele
foi habilitado em contabilidade pelo Instituto e fez o curso de
Contabilidade do Instituto Radio Teacutecnico RT Monitor SA ndash nuacutecleo de
ensino profissional livre por correspondecircncia (1 liccedilatildeo ateacute 28 liccedilatildeo) Satildeo
Paulo ndash SP Apoacutes Francisco conhecer os surdos em vaacuterias cidades de
Santa Catarina ele ficou com vontade de auxiliar o surdo que ficava
isolado em casa e na famiacutelia sem o uso da comunicaccedilatildeo gestual Veja a
seguir a imagem apresentada do Francisco Lima Juacutenior em 1947
93
Figura 13 ndash Acervo do Francisco eacute o primeiro dicionaacuterio na liacutengua de
sinais em Santa Catarina em 1947
O primeiro dicionaacuterio em Santa Catarina tinha imagens do
proacuteprio Francisco que demonstrava a preocupaccedilatildeo culturallinguiacutestica
para com os surdos e a difusatildeo da liacutengua de sinais procurava uma forma
de o grupo de surdo ter contato com a liacutengua de sinais e ensinava em sua casa (na garagem) onde tambeacutem ficava a associaccedilatildeo
As aulas continuavam com o professor Francisco que ia
ensinando cada vez mais sinais e com qualidade pois dali faziam as
provas finais O professor ensinava conteuacutedos de matemaacutetica geografia
94
conhecimento geral ciecircncias e portuguecircs No uacuteltimo mecircs de aula apoacutes o
encerramento das aulas o professor entregava os boletins com as meacutedias
de todos os surdos que ficaram alegres pois nenhum deles tinha sido
reprovado
Francisco viajou para Satildeo Paulo em 1954 iniciou sua amizade
com o primeiro presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos de Satildeo
Paulo senhor Maacuterio Devisate que natildeo tinha o conhecimento da
existecircncia de uma associaccedilatildeo de surdos em Florianoacutepolis O senhor
Maacuterio Devisate deu um documento de uma Associaccedilatildeo de Surdos-
Mudos com acircmbito nacional e Francisco veio como delegado para a
regiatildeo do sul passando a residir nessa capital
Foi o primeiro encontro com o presidente da Sociedade dos
Surdos-Mudos do Distrito Federal49
que mudou a Associaccedilatildeo de Surdos-
Mudos do Rio de Janeiro o senhor Miguel da Fonseca Seabra de Melo
grande colega jaacute falecido Francisco em meio agrave conversa na liacutengua de
sinais conheceu o presidente da ASURJ que comentou ldquoaquele tambeacutem
eacute surdordquo O colega dele sorriu ao sair cumprimentou o senhor Miguel
da Fonseca Seabra de Melo que agradecendo estendeu-lhe a matildeo Isso
aconteceu no Instituto Nacional de Surdos-Mudos
Francisco nunca mais se esqueceu dessa cena bem da verdade
ele conversava com o senhor Salomatildeo Watnick (jaacute falecido em Porto
Alegre) que foi o primeiro presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos
do Rio Grande do Sul e foi uma grande amizade Como pode estudar
desde cedo em escola especial para Surdos Mudos em Satildeo Paulo e Rio
de Janeiro conhecia muitos surdos tinha amizade e intimidade
oportunizando contato com surdos que tinham lideranccedila e outros grupos
de surdos tendo como consequecircncia aprendido expressotildees palavras
novas da liacutengua de sinais inclusive as variaccedilotildees linguiacutesticas de outras
regiotildees
Francisco foi tratado como amigo pelos senhores Vivaldo Leal de
Merelles e Ciro Garcia de Souza jaacute falecidos que escreveram o
primeiro estatuto da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos do Paranaacute Eles
perguntaram como ganhavam a vida os surdos-mudos que natildeo tiveram a
felicidade de cursar escolas especiais Entatildeo nesta pergunta
encontraram o motivo da existecircncia da associaccedilatildeo e da escola
Francisco fundou o Ciacuterculo dos Surdos-Mudos de Santa Catarina
ndash CSMSC no ano de 1955 Naquele aniversaacuterio de sua entidade os
surdos-mudos de Florianoacutepolis receberam a visita de delegaccedilotildees de
49 O Distrito Federal nessa eacutepoca era o Rio de Janeiro
95
outros Estados No primeiro jogo o CSMSC jaacute ganhou um trofeacuteu no
futebol de campo Outro ganho foi com a Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos
do Paranaacute onde havia muitas variaccedilotildees na liacutengua de sinais e o contato
proporcionou o aprendizado de novos sinais para todos
Em 1961 o Governador Celso Ramos atendia o presidente O
Ciacuterculo dos Surdos-Mudos de Santa Catarina o professor Francisco
Lima Juacutenior acompanhado de outros membros daquela associaccedilatildeo
pleiteava a construccedilatildeo de uma escola para surdos-mudos em nosso
Estado porque ainda natildeo existia nenhuma O ensino de Francisco
desenvolvia o domiacutenio da liacutengua de sinais dos surdos em Santa Catarina
Em Santa Catarina o processo de educaccedilatildeo de surdos se
deu na deacutecada de 50 com serviccedilos implementados na
rede regular de ensino Aconteceu que os surdos
estudaram na escola regular juntamente com alunos
ouvintes e eles natildeo se compreenderam na sala de aula
porque o professor falava a liacutengua portuguesa e oralismo
A liacutengua de sinais era proibida por influecircncia do
congresso de Milatildeo na Itaacutelia em 1880 Os alunos surdos
ficaram isolados dos alunos ouvintes por causa das
barreiras de comunicaccedilatildeo Os ouvintes natildeo conheciam a
cultura e a identidade surda Por exemplo na sala de aula
muitos alunos ouvintes se comunicam em portuguecircs e os
surdos ficam isolados e excluiacutedos na escola dos ouvintes
Porque o surdo procura a intervenccedilatildeo da cultura que se
vive na liacutengua de sinais encontra outros surdos na
comunicaccedilatildeo nos contados entre outros surdos e
consegue juntamente na forccedila poliacutetica dos movimentos
surdos Na verdade o Francisco teve forccedila de vontade
para estudar no INES Ele eacute uma pessoa boa com a
responsabilidade de fundar associaccedilatildeo de surdo A
trajetoacuteria de vida desde a infacircncia marca e registra que
Francisco tem procuraccedilatildeo com o povo surdo do interior
com os contatos na liacutengua de sinais e mais valorizaccedilatildeo da
cultura surda (SCHMITT 2008 p 105)
Foi apresentado para Francisco Lima Juacutenior pelo Governador
Celso Ramos o termo aprovado para contrataccedilatildeo de profissionais para
funcionamento da sala para surdos-mudos em Florianoacutepolis que
funcionou na Escola Celso Ramos localizada na Rua Francisco
Tolentino n0 12 Centro de Florianoacutepolis Esse empreendimento veio
dotar a capital de mais uma escola desta vez destinada aos surdos-
mudos que tambeacutem necessitavam ser atendidos quando se promovia o
crescimento no nuacutemero de escola em nossa terra
96
Em Florianoacutepolis existiam duas escolas para crianccedilas surdas
uma funcionando no grupo Escolar Celso Ramos e outra no grupo
Escolar Barreiros Filho todos a cargos de professores especializados
Nessa eacutepoca os surdos de Florianoacutepolis receberam a visita de um
sacerdote surdo o Padre Vicente de Paulo Penido Burnier natural de
Juiz de Fora Estado de Minas Gerais e tambeacutem do Padre Eugecircnio Oates
nascido em Missouir Estados Unidos Atraiacutedo pela personalidade e pelo
trabalho do padre Vicente o padre Eugecircnio Oates veio para o Brasil em
1946 como missionaacuterio dirigindo-se agrave igreja dos padres redentoristas
sediada em Manaus
Integrou-se na vida brasileira o padre Eugecircnio Oates realizando
campanhas em todo o paiacutes em favor da difusatildeo da linguagem das matildeos
no Rio de Janeiro onde lanccedilou o primeiro livro em 1969
Figura 14 ndash Acervo do Francisco fotografia de Jornal que traz
reportagem sobre o livro Linguagem das Matildeos
Em Florianoacutepolis encaminhavam os surdos-mudos para a
instituiccedilatildeo especializada podia-se procurar o Ciacuterculo dos Surdos-Mudos
de Santa Catarina no grupo escolar Barreiros Filho e no Instituto de
Audiccedilatildeo e Terapia de Linguagem ndash IATEL Fundado no dia 05 de julho
de 1969 o IATEL jaacute funcionava no hospital infantil em instalaccedilotildees
precaacuterias Para que crianccedilas surdas pudessem ter uma vida normal o
professor Francisco Lima Juacutenior trabalhava haacute muitos anos
O Ciacuterculo dos Surdos-Mudos de Santa Catarina comeccedilou a se
movimentar pois na reuniatildeo teve contato com a liacutengua de sinais que
comeccedilou com o discurso depois um jogo divertido que o CSMSC
97
promovia no encontro desta reuniatildeo Tambeacutem ofereceu a renovaccedilatildeo de
matriacuteculas para menores e adultos surdos Reabriu a escola para surdos
menores no periacuteodo da manhatilde e agrave noite para adultos analfabetos Teve
tambeacutem outra reuniatildeo que iniciou com um discurso e apoacutes isso
aconteceu o jogo com os associados
As aulas continuavam normalmente e as reuniotildees tambeacutem
Francisco Lima Juacutenior que era o presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos
do Estado de Santa Catarina era quem organizava o encontro com as
associaccedilotildees de surdos de vaacuterias cidades do estado Havia aleacutem dos
discursos escolha da rainha dos surdos e competiccedilotildees de jogos (futebol
vocirclei) aleacutem de viagens Numa dessas viagens os surdos de Santa
Catarina foram para Satildeo Paulo no festival esportivo numa viagem de
dois dias onde ocorria a silenciosa festividade
O presidente do CSMSC nesta festa fez um discurso para os
amigos surdos de Satildeo Paulo e o vice-presidente do CSMSC deixou seu
cargo porque natildeo quis mais participar destas associaccedilotildees Entatildeo as
aulas continuaram Foi um mecircs em que muitos soacutecios ou alguns estavam
com muito trabalho vinham alguns soacutecios da associaccedilatildeo dos surdos-
mudos para saber das informaccedilotildees da semana no CSMSC Por isso
continuaram alguns surdos realizando o encontro para bate-papo na
liacutengua de sinais todas as quartas-feiras Realizou-se a primeira
comunhatildeo pascoal na capela do Coleacutegio Catarinense rezada pelo padre
Vicente que era surdo no mesmo dia apoacutes a missa de aniversaacuterio do
presidente Francisco
Os alunos surdos entraram em feacuterias mas continuaram os
encontros e reuniotildees onde discursavam e planejavam as atividades
esportivas para o CSMSC apoacutes os jogos que eles faziam todos os
meses Havia reuniotildees com bate-papos na liacutengua de sinais no CSMSC
Numa destas reuniotildees aconteceu um evento importante para os surdos-
mudos que eram associados do CSMSC pois comemoraram a data de
sua inauguraccedilatildeo
Francisco continuava a dar aulas e palestras principalmente sobre
a Independecircncia do Brasil sobre D Pedro I e outros assuntos Na
comemoraccedilatildeo da Independecircncia do Brasil os associados da CSMSC
viajaram para Curitiba e encontraram os amigos surdos de laacute E todos
fizeram um discurso que iniciou com o presidente da CSMSC apoacutes os
representantes de cada sociedade e depois do discurso foi eleita a rainha
da Associaccedilatildeo dos Surdos de Curitiba senhorita Anair Budel Em
seguida o presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos de Curitiba convidou o
professor Francisco Lima Juacutenior presidente do CSMSC para danccedilar a
valsa com a rainha das prendas Anair Budel
98
Francisco contou que o baile foi muito divertido e durou ateacute a
madrugada com o grupo de surdos que conversava muito no encontro
de associaccedilotildees regionais Apoacutes o encerramento do evento visitaram
uma escola de crianccedilas surdas em Curitiba Em 1972 o professor deu
para cada aluno uma cartolina e assim cada um ia imaginar e pintar seu
conhecimento do trabalho para a difusatildeo da liacutengua de sinais Depois na
comemoraccedilatildeo do dia do professor os alunos fizeram uma pequena
homenagem ao professor Francisco
O professor falou sobre o dia do Iacutendio descobrimento do Brasil a
morte de Tiradentes entre outros Na paacutescoa os alunos receberam
presentes de chocolate na semana da paixatildeo foi apresentado o teatro ldquoa
morte de Jesus Cristordquo na liacutengua de sinais por um grupo de surdos para
difundir sua liacutengua
O ensino da liacutengua de sinais em Santa Catarina com os
ensinamentos do professor Francisco proporcionou uma nova fase da
liacutengua de sinais trazendo influecircncias de outras comunidades surdas do
Brasil A partir desse contato o modelo linguiacutestico trazido do Rio de
Janeiro eacute aperfeiccediloado a cada geraccedilatildeo
O Imperial Instituto dos Surdos-Mudos foi de extrema
importacircncia na propagaccedilatildeo da liacutengua de sinais em grande
parte das regiotildees brasileiras O Sr Francisco cidadatildeo
Catarinense foi um aluno desta instituiccedilatildeo apoacutes retornar
ao seu estado de origem ele foi educador de surdos e
responsaacuteveis pela difusatildeo da liacutengua sinalizada usada
nesse instituto (CORREA e SEGALA 2009 p 32)
Durante todo esse tempo o professor Francisco Lima Juacutenior
orienta auxilia e direciona todas as atividades escolares das crianccedilas
jovens e adultos surdos tornando-se assim o primeiro professor dessa
metodologia de ensino - A Linguagem das Matildeos com o objetivo de
criar um alfabeto uacutenico para todos os Surdos do Estado de Santa
Catarina Suas aulas e palestras em LIBRAS tornaram-se muito
populares entre os surdos catarinenses
Eacute importante registrar na histoacuteria da liacutengua de sinais em Santa
Catarina um estudo linguiacutestico e possibilitar a pesquisa sobre o primeiro
professor surdo Francisco que criou o primeiro dicionaacuterio aqui em
Santa Catarina Ele trouxe o modelo do INESRJ (uma experiecircncia na liacutengua de sinais) para nosso estado de Santa Catarina e influenciou a
comunidade surda catarinense
Uma das pessoas surdas da nova geraccedilatildeo eacute a Sandra Luacutecia
Amorim que escreveu um pequeno dicionaacuterio chamado ldquoComunicando
99
a Liberdade - A Liacutengua das Matildeosrdquo em 2000
Concluiacutemos que a Liacutengua Brasileira de Sinais teve forte
influecircncia da liacutengua de sinais francesa (LSF) que tambeacutem influenciou a
liacutengua de sinais em Santa Catarina atraveacutes do professor Francisco que
estudou no INES A LSF eacute uma liacutengua mais antiga do que a LIBRAS
com um acervo bibliograacutefico maior A LIBRAS tem caracteriacutesticas
proacuteprias e estaacute em expansatildeo a partir de sua oficializaccedilatildeo em 2002 pela
necessidade de incluir novos sinais ao aprendizado da comunidade surda
que passou a ter uma maior abertura nas universidades
100
101
CAPIacuteTULO IV ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila na liacutengua de sinais
41 ndash Introduccedilatildeo
Nesta pesquisa tomamos como base teoacuterica os estudos
sociolinguiacutesticos de Labov (2008 [1972]) na concepccedilatildeo de que seu texto
pode nos ajudar a embasar o trabalho de pesquisa Assim tomamos
como base os estudos das liacutenguas orais do autor adaptando-os agraves
variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas das liacutenguas de sinais
O estudo desenvolvido aqui mostra os sujeitos surdos a liacutengua de
sinais algumas possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas Traz
explicaccedilotildees da liacutengua de sinais pelo surdo indiacutecios de variaccedilatildeo e
mudanccedila linguiacutestica apresenta variaccedilotildees linguiacutesticas na liacutengua de sinais
utilizadas pelos surdos e por fim como o surdo se comunica a liacutengua
de sinais em seu contexto social
42 ndash A liacutengua de sinais pelo surdo indiacutecios de variaccedilatildeo e mudanccedila
linguiacutestica
A LIBRAS
50 eacute uma liacutengua usada entre os surdos assim como
entre os ouvintes desde que queiram interagir com esta forma de
comunicaccedilatildeo Ao verificar o acesso dos surdos agrave comunicaccedilatildeo e agrave
expressatildeo de forma criativa pode-se encontrar respostas sobre
mudanccedilas na gramaacutetica em palavras em frases e em seu contexto
social
As liacutenguas mudam todos os dias evoluem mas a essa
mudanccedila diacrocircnica se acrescenta uma outra sincrocircnica
pode-se perceber numa liacutengua continuamente a
coexistecircncia de formas diferentes de um mesmo
significado Essas variaacuteveis podem ser geograacuteficas a
mesma liacutengua pode ser pronunciado diferentemente ou
ter um leacutexico diferente em diferentes pontos do territoacuterio
(CALVET 2002 p 89)
Queremos apresentar algumas variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas a
que os surdos estiveram expostos no primeiro espaccedilo de ensino
promovido pelo professor Francisco Lima Juacutenior (Chiquito) Ele
influenciou para a expansatildeo da liacutengua de sinais da comunidade surda na
50 ldquoEacute uma liacutengua natural eacute atraveacutes dela que os surdos tecircm acesso ao mundo em que vivem No
entanto ela natildeo eacute uma liacutengua que o surdo aprende sozinho Ele pode desenvolver uma liacutengua
102
histoacuteria de Santa Catarina Entatildeo queremos perceber se haacute diferenccedilas
durante sua trajetoacuteria entre a variaccedilatildeo linguiacutestica daquela eacutepoca (1950)
ateacute a atualidade se aconteceram mudanccedilas por influecircncia da
transformaccedilatildeo tecnoloacutegica da sociedade Acreditamos que com o passar
do tempo ocorrem mudanccedilas na liacutengua de sinais histoacuterica e
culturalmente na comunidade surda
As liacutenguas de sinais como todas as liacutenguas satildeo dinacircmicas Em
contato com grupos surdos na comunidade modificam-se ao longo do
tempo como qualquer outra liacutengua A mudanccedila pode ser percebida em
diferentes regiotildees onde o surdo busca a informaccedilatildeo utilizando a liacutengua
de sinais que vem de outro lugar com algumas diferenccedilas entre palavras
e seu significado entre sinais
Quando as pessoas surdas evoluem culturalmente a liacutengua de
sinais se transforma Com o passar do tempo a ldquoLIBRASrdquo tambeacutem se
modifica Na interaccedilatildeo do indiviacuteduo surdo na comunidade surda e na
sociedade essas relaccedilotildees de contato fazem com que se criem novos
sinais pois aparecem palavras novas e outros sinais sofrem adaptaccedilotildees
ocorrem mudanccedilas na configuraccedilatildeo de matildeos no ponto de articulaccedilatildeo
no movimento na orientaccedilatildeodirecional na expressatildeo facial e corporal
Essas adaptaccedilotildees satildeo criadas pela necessidade no contato e na situaccedilatildeo
de uso A comunidade surda como qualquer outra vem evoluindo e se
transformando firmando uma identidade surda
Como jaacute ressaltamos a origem da liacutengua de sinais no Brasil eacute
europeacuteia Sua maior influecircncia foi no Rio de Janeiro no Instituto
Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos ndash INESRJ onde se expandiu para os
demais estados brasileiros Recebeu influecircncia tambeacutem do Francecircs do
Portuguecircs (Portugal) e dos Estados Unidos O Instituto pesquisou a
influecircncia cultural dos surdos e as influecircncias sofridas quanto a
LIBRAS Assim como na Liacutengua Portuguesa acontecem modificaccedilotildees
na escrita e na fala com o tempo na liacutengua de sinais tambeacutem ocorrem
transformaccedilotildees quanto agrave configuraccedilatildeo de matildeos A liacutengua de sinais
evolui com mudanccedila constante em cada regiatildeo e a comunicaccedilatildeo do
surdo acompanha e qualifica mais a liacutengua de sinais A LIBRAS sofre
modificaccedilotildees com o tempo e tambeacutem como na liacutengua falada apresenta
palavras ou expressotildees proacuteprias do lugar onde acontece a comunicaccedilatildeo
Sendo assim o surdo natildeo tem o contato com a LIBRAS longe da
sociedade ou na zona rural nesse caso pode se apropriar de sinais
proacuteprios para a comunicaccedilatildeo ex Francisco buscava os surdos nas
regiotildees de Santa Catarina pois o contato com a LIBRAS eacute importante
para a sua identidade cultural
103
Realmente pode-se considerar que essas diferentes
palavras se dividem em seu uso em uma escala de faixas
etaacuterias os jovens diriam banheiro seus pais wc e seus
avoacutes reservados por exemplo Pode-se entatildeo imaginar
que eles se dividam segundo o sexo dos falantes os
homens dizendo mais banheiro e wc e as mulheres
toalete e reservado (CALVET 2002 p 103)
A LIBRAS eacute uma liacutengua porque possui estrutura gramatical
proacutepria eacute essencial para o surdo o contato em relaccedilatildeo ao outro como
em qualquer outra liacutengua que tem diferenccedilas gramaticais Utilizando o
movimento de sinal e a expressatildeo facial como meio de comunicaccedilatildeo o
surdo se comunica tanto com a comunidade surda quanto com a ouvinte
O contato dos jovens com os ensinamentos do professor
Francisco proporcionou uma nova fase da liacutengua de sinais A partir
desse contato o modelo linguiacutestico trazido do Rio de Janeiro eacute
aperfeiccediloado pela geraccedilatildeo mais nova do mesmo modo que descreve
Calvet (2002) nos estudos de liacutengua oral
- a ideacuteia de pesquisa uma (s) variaacutevel (eis) frequente (s)
que geralmente aparecem na estrutura linguumliacutestica
variaacuteveis cuja distribuiccedilatildeo deve ser fortemente
estratificada ldquoIsso equivale a dizer que as pesquisas
preliminares deveriam indicar a seu respeito uma
distribuiccedilatildeo assimeacutetrica entre as mais diversas faixas
etaacuterias ou entre outras categorias mais hierarquizadas da
sociedaderdquo - o estabelecimento de uma metodologia que
extrai essas variaacuteveis dos textos produzidos pelos
falantes - a pesquisa da correlaccedilatildeo entre essa
distribuiccedilatildeo de traccedilos linguiacutesticos e uma distribuiccedilatildeo de
traccedilos socioloacutegicos (CALVET 2002 p 93)
Na citaccedilatildeo acima o autor relata que eacute preciso pensar a construccedilatildeo
de identidade levando em conta diferentes faixas etaacuterias e a variaccedilatildeo
linguiacutestica Entendemos assim a necessidade de pesquisarmos as
variaccedilotildees ocorridas em Santa Catarina
A LIBRAS possui uma forma de comunicaccedilatildeo proacutepria Eacute
independente como qualquer outra liacutengua escrita ou falada Tem o
formato proacuteprio na sua comunicaccedilatildeo que eacute o visual pois se utiliza de
sinaisgestos e expressotildees Todos os seres humanos usam um
determinado tipo de liacutengua e linguagem para se comunicar e tanto a
liacutengua falada quanto a sinalizada apresentam sentidos de expressotildees
104
diferentes na comunicaccedilatildeo A liacutengua de sinais muda histoacuterica e
linguisticamente conforme as variaccedilotildees de cada lugar ou regiatildeo Entatildeo
eacute importante a relaccedilatildeo estabelecida com outras pessoas na sociedade na
troca de informaccedilatildeo ideias experiecircncias ensinamentos e aprendizagem
quando se fala uma liacutengua Quando pensamos as liacutenguas percebemos
que existem diferenccedilas na LIBRAS e no Portuguecircs
Frishberg (1975)51
no seu estudo pesquisado no Instituto Teacutecnico
Nacional para Surdos de Nova Iorque aborda como a Liacutengua de Sinais
Americana (ASL) tem mudado gradativamente ao longo do tempo de
uma linguagem mais icocircnica para uma linguagem mais arbitraacuteria Eacute a
liacutengua natural da comunidade surda nos Estados Unidos e em partes do
Canadaacute onde o inglecircs eacute falado Difere das duas liacutenguas que a maioria
das pessoas conhece no sentido de que eacute produzida com as matildeos e
percebida pelos olhos em vez de pronunciado e percebido pelos
ouvidos Entatildeo ela realizou a sua pesquisa sobre alguns processos
histoacutericos em Liacutengua de Sinais onde havia uma forte tendecircncia para
certas mudanccedilas Como toda liacutengua as liacutenguas de sinais aumentam seu
inventaacuterio lexical com novos sinais introduzidos pelas comunidades
surdas em respostas agraves mudanccedilas culturais e tecnoloacutegicas
A liacutengua de sinais possui estrutura gramatical como qualquer
liacutengua utiliza paracircmetros e como todas as liacutenguas tem variaccedilotildees no
niacutevel fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico e pragmaacutetico Por
isso pode-se perceber a mudanccedila cotidiana na liacutengua de sinais A pessoa
surda traz do seu contato cultural dos grupos nos quais estaacute inserida
novos olhares desta liacutengua muitas vezes transformando sinais jaacute
existentes em novos sinais
Quadros e Karnopp (2004) dizem que as liacutenguas de sinais
recebem informaccedilotildees linguiacutesticas pelos olhos e satildeo produzidas pelas
matildeos O termo fonologia tem sido muito usado para estudar os
elementos das liacutenguas de sinais Apesar da diferenccedila com as liacutenguas
orais as duas liacutenguas tecircm os mesmos princiacutepios subjacentes de
construccedilatildeo Poreacutem existe um esquema linguiacutestico estrutural nas liacutenguas
de sinais que natildeo tem significado se feito isoladamente que eacute
51 Nancy Frishberg eacute consultora em Liacutengua de Sinais e Interpretaccedilatildeo Ela tem PhD em
linguiacutestica pela Universidade da Califoacuternia San Diego onde sua pesquisa de doutorado focada
em mudanccedila histoacuterica em Liacutengua de Sinais Americana ndash ASL Seu trabalho de dissertaccedilatildeo demostrou que os sinais seguem princiacutepios linguiacutesticos como elas mudam ao longo do tempo
com o uso Seu livro de 1986 ldquoInterpretaccedilatildeo Um Introduccedilatildeordquo que ainda estaacute em versatildeo
impressa eacute o texto principal em muitos programas de treinamento inteacuterprete e serve como base para o exame escrito (primeira etapa) para certificaccedilatildeo pelo Registro de Inteacuterpretes para
Surdos
105
Configuraccedilatildeo de Matildeos (CM) Locaccedilatildeo (L) e Movimento (M) A
LIBRAS eacute basicamente feita com as matildeos (direita ou esquerda) tendo
tambeacutem movimento do corpo e da face A CM L e M se contrastam
minimamente alterando o significado dos sinais
A ASL tem a sua proacutepria gramaacutetica e fonologia Na liacutengua de
sinais eacute o estudo dos movimentos manuais baacutesicos que fornece a base
para todos os sinais sintaxe e morfologia na liacutengua falada A morfologia
estuda como as palavras satildeo formadas a partir de sons e palavras
baacutesicas Na liacutengua de sinais eacute o estudo de como os sinais manuais
baacutesicos representam conceitos A liacutengua americana de sinais eacute uma
liacutengua visual que incorpora gestos expressotildees faciais movimentos da
cabeccedila linguagem corporal e ateacute o espaccedilo ao redor do falante Os sinais
manuais satildeo a base desta liacutengua Muitos deles satildeo icocircnicos o que
significa dizer que o sinal usa uma imagem visual que se parece com o
conceito que representa
Wescott (1971 Frishberg) sugere que todas as formas de liacutengua
(oral escrita e gestual) usam iconicidade Ele diz que a iconicidade eacute um
sinal familiar (caseiro) em vez de uma caracteriacutestica absoluta de
qualquer sistema de comunicaccedilatildeo incluindo a liacutengua
Segundo Frishberg um sinal pode ser especificado atraveacutes de
quatro paracircmetros simultaneamente configuraccedilatildeo de matildeo movimento
ponto de articulaccedilatildeo (ou localizaccedilatildeo) e orientaccedilatildeo Essas descriccedilotildees de
paracircmetro servem para poder distinguir alguns sinais de outros similares
e dar sentido agrave frase num todo como por exemplo os sinais HOJE e
AGORA diferem no paracircmetro movimento mas satildeo iguais na
configuraccedilatildeo de matildeos e na localizaccedilatildeo A alteraccedilatildeo entre esses
paracircmetros pode significar uma completa alteraccedilatildeo no sentido de
algumas palavras Por exemplo o sinal correspondente agrave ldquoMACcedilAtilderdquo pode
significar ldquoQUEIJOrdquo se houver apenas uma mudanccedila na configuraccedilatildeo
de matildeos novamente ldquoMACcedilAtilderdquo pode significar ldquoCURSOrdquo se houver
diferenccedila no local e por fim ldquoMACcedilAtilderdquo pode significar ldquoCUBArdquo se
houver variaccedilatildeo no movimento Esses satildeo pares-miacutenimos encontrados
na LIBRAS A orientaccedilatildeo conforme aplicada tambeacutem pode alterar o
significado de uma palavra Seguem os exemplos na liacutengua de sinais
106
Figura 15 ndash Mostrar os Sinais
As autoras Quadros e Karnopp (2004 p 78) dizem que as
restriccedilotildees fonoloacutegicas requeridas para a boa formaccedilatildeo de sinais podem
ser produzidas pelas matildeos como a) sinais produzidos com uma das
matildeos b) sinais produzidos com as duas matildeos ambas ativas e c) sinais produzidos com as duas matildeos em que a matildeo dominante eacute ativa e a matildeo
natildeo-dominante serve como locaccedilatildeo
Para Battison (1978 Quadros e Karnopp (2004)) haacute duas
restriccedilotildees fonoloacutegicas na produccedilatildeo dos tipos de sinais a) a condiccedilatildeo de
107
simetria e b) a condiccedilatildeo de dominacircncia Quando as duas matildeos se
movem na produccedilatildeo de um uacutenico sinal CM deve ser a mesma para as
duas matildeos a locaccedilatildeo deve ser a mesma ou simeacutetrica o movimento deve
ser simultacircneo ou alternado Jaacute na condiccedilatildeo de dominacircncia as matildeos
apresentam diferentes configuraccedilotildees e entatildeo a matildeo ativa produz o
movimento e a matildeo passiva serve de apoio
A importacircncia dessa transferecircncia de movimento do rosto ou
corpo para as matildeos deve ser ressaltada bem como a concentraccedilatildeo para
uma sinalizaccedilatildeo de faacutecil entendimento Alguns sinais continuam sendo
motivados para uma mudanccedila dentre eles WILL (indica o futuro)
CARE (cuidado) TEDIOUS (tedioso) FINDFAULT (criticar) e
MEET (encontrar) Nessas mudanccedilas satildeo observadas algumas
caracteriacutesticas corporais tais como movimentos ordenados dos dedos e
matildeos deslocamento lateral da cabeccedila e movimentos do toacuterax
Pesquisei outro exemplo no curso de LetrasLIBRAS sobre a
variaccedilatildeo fonoloacutegica ldquoOs sinais FUNNY (engraccedilado) BLACK (preto)
e BORING (chato) satildeo exemplos de variaccedilatildeo fonoloacutegica pois esses
sinais podem ser realizados de duas formas soacute com o indicador
distendido e os outros dedos fechados ou com o
indicador e o polegar distendidos e os demais dedos fechadosrdquo
108
Figura 16 ndash Variaccedilatildeo fonoloacutegica
Outro exemplo interessante dos autores Woodward e Desantis
(1976) satildeo sinais que podem ser realizados tanto com uma matildeo quanto
com duas matildeos como os sinais CAT (gato) COW (vaca) e FAMOUS
(famoso) que satildeo produzidos no rosto
CAT COW
FAMOUS
(TENNANT amp BROWN 2004)
Figura 17 ndash Mostrar os sinais com uma matildeo e com duas matildeos
109
Vamos conhecer e refletir sobre as variaccedilotildees dos surdos
essencialmente com relaccedilatildeo agrave liacutengua de sinais
Klima e Bellugi (1979) representam uma pesquisa fonoloacutegica na
liacutengua de sinais do ASL A ASL ndash American Sign Language eacute a liacutengua
natural da comunidade surda nos Estados Unidos Os autores
identificam na liacutengua de sinais apenas trecircs paracircmetros configuraccedilatildeo de
matildeo (CM) ponto de articulaccedilatildeo (ou localizaccedilatildeo) (L) movimento (M)
que ao serem analisados individualmente natildeo satildeo possuidores de
significado e a outra autora Brito (1995) no Brasil pesquisou partes dos
paracircmetros primaacuterios a configuraccedilatildeo das matildeos o ponto de articulaccedilatildeo e
o movimento e tambeacutem os paracircmetros secundaacuterios52
a regiatildeo de
contato a orientaccedilatildeo das matildeos e a disposiccedilatildeo das matildeos
Segundo Frishberg em se tratando de tendecircncia para a simetria a
liacutengua toma vaacuterias formas Examinando o seu desenvolvimento em dois
paracircmetros matildeo-forma e movimento nota-se que ambas as matildeos agem
em uniacutessono e uma matildeo age sobre a outra As matildeos assumiram a mesma
configuraccedilatildeo Pode-se ver que alguns sinais mudam sua forma de
expressatildeo antes era com apenas uma das matildeos e agora se tornam as
duas
Eacute claro que os sinais tendem a seguir mudanccedilas ao longo da
histoacuteria Por exemplo para sinais no rosto tendem a utilizar apenas uma
matildeo deixando a face mais visiacutevel e permitindo que os olhos expressem
uma variedade de fins gramaticais Jaacute para os sinais na aacuterea do tronco
geralmente usam as duas matildeos ndash o que muitas vezes eacute sinal de
redundacircncia e simetria
Segue o exemplo da liacutengua de sinais do ASL
52 BRITO (1995) Regiatildeo de Contato ldquoRefere-se agrave parte da matildeo que entra em contato com o corpo Esse contato pode-ser dar maneiras diferentes atraveacutes de um toque de um risco de um
deslizamento etcrdquo
Orientaccedilatildeo das Matildeos ldquoEacute a direccedilatildeo da palma da matildeo durante o sinal voltada para cima para
baixo para o corpo para frente para esquerda ou para a direita Pode haver mudanccedila na
orientaccedilatildeo durante a execuccedilatildeo do Movimentordquo
Disposiccedilatildeo das Matildeos ldquoA articulaccedilatildeo dos sinais pode ser feita apenas pela matildeo dominante ou
pelas duas matildeos Neste uacuteltimo caso as duas matildeos podem se movimentar para formar o sinal ou entatildeo apenas a matildeo dominante se movimenta e a outra funciona como Ponto de
Articulaccedilatildeordquo
110
Figura 18 ndash Sinal de Paacutessaro
Para o sinal de PAacuteSSARO em um primeiro momento utiliza-se
uma das matildeos na aacuterea da face para o sinal ldquobicordquo e em seguida as duas
matildeos (uma para cada lado) em forma de asas Por fim o sinal
PAacuteSSARO hoje eacute apenas representado pela primeira parte (bico em
matildeo uacutenica)
A histoacuteria documentada da liacutengua americana de sinais natildeo eacute
longa existe uma seacuterie de gestos registrados ao longo da histoacuteria mas
foi somente no final do seacuteculo XVIII que os surdos foram considerados
educaacuteveis
Segundo Frishberg ldquoHomesignrdquo (sinais caseiros) eacute um termo
geral utilizado pela comunidade surda para se comunicar poreacutem eacute uma
forma bastante utilizada principalmente pelas matildees em aacutereas rurais que
tecircm filhos surdos Dados estatiacutesticos mostram que 80 a 90 dos surdos
nascem de pais ouvintes por essa razatildeo haacute uma necessidade inevitaacutevel
de comunicaccedilatildeo A partir dessa necessidade as matildees principalmente
precisam encontrar maneiras de se comunicar com os filhos e passam a
criar sinais de forma empiacuterica sem qualquer regra ou seja sinais natildeo
padronizados Tais sinais inventados passam a criar certas dificuldades
111
de comunicaccedilatildeo entre as diferentes comunidades de surdos Existe a
ASL (Liacutengua de Sinais Americana) com uma linguagem jaacute padronizada
que comeccedila a ser difundida e ensinada atraveacutes das escolas americanas
com sinais padronizados
A liacutengua de sinais padronizada enfrenta ainda dificuldade pois
algumas escolas eram proibidas politicamente de ensinar atraveacutes da
metodologia da ASL O fato eacute que outras escolas mesmo sem a devida
autorizaccedilatildeo comeccedilam a ensinar a liacutengua padronizada Os surdos
comeccedilam a aprender a liacutengua padratildeo mas continuam a se comunicar em
casa com os familiares usando o ldquohomesignrdquo (sinais caseiros) A
comunicaccedilatildeo ensinada em casa requeria a utilizaccedilatildeo de vaacuterios recursos
ambientais para a comunicaccedilatildeo entretanto havia a dificuldade de
encontrar referecircncia para as cores nos recursos ambientais pois para se
referir a uma cor eles deveriam encontraacute-lo na natureza aproximar-se o
suficiente para apontar e fazer a associaccedilatildeo com a cor
Historicamente pode-se afirmar que ao longo do tempo a forma
de comunicaccedilatildeo entre a comunidade surda vem mudando
constantemente teacutecnicas e sinais vecircm sendo aperfeiccediloados Ao inveacutes de
gestos natildeo-estruturados o que encontramos eacute uma gama de sinais e
movimentos de matildeos regularizados ou seja inter-relacionados
conjunto sistematizado de sinais que estaacute passando por mudanccedilas de
forma regular e formal
Quadros e Karnopp (2004 p 51) observam que os articuladores
primaacuterios das liacutenguas de sinais satildeo as matildeos estas se movimentam em
um espaccedilo determinado em frente ao corpo Um sinal pode ser
articulado com uma ou duas matildeos ou seja um mesmo sinal pode ser
articulado tanto com a matildeo direita quanto com a esquerda Mas precisa-
se levar em conta que sinais efetuados com as duas matildeos apresentam
restriccedilotildees em relaccedilatildeo ao tipo de interaccedilatildeo entre as matildeos De acordo
com Brito (1995) a LIBRAS apresenta 46 Configuraccedilotildees de Matildeos
(CMs) mas nem todas as liacutenguas de sinais partilham do mesmo nuacutemero
de configuraccedilotildees de matildeos Seguem quatro imagens de configuraccedilotildees de
matildeos difundidas no Brasil
112
As Configuraccedilotildees de Matildeos da LIBRAS
Figura 19 Figura 20
Figura 19 e 20 ndash Ferreira-Brito e Langevin (1995 p220)
Figura 21 Figura 22
Figura 21 ndash httpwwwinesgovbrlibrasprincipalaspASSU_id=3
Figura 22 ndash Quadro de CMs da LSB por Pimenta e Quadros (2006 p 73)
113
Um aspecto recorrentemente discutido eacute a iconicidade dos sinais
ndash em oposiccedilatildeo agrave arbitrariedade da relaccedilatildeo entre significado e
significante observada na constituiccedilatildeo do signo linguiacutestico em liacutenguas
orais Reconhecendo nas liacutenguas de sinais a iconicidade a par da
arbitrariedade (e remetendo a estudos que demonstram por exemplo a
dificuldade por parte de informantes de deduzirem significados em
relaccedilatildeo a muitas formas aparentemente icocircnicas) as autoras (Ferreira-
Brito e Langevin Pimenta e Quadros) destacam o fato de que signos
icocircnicos sofrem mudanccedilas as quais frequentemente ldquotendem a inibir a
natureza icocircnica dos sinais tornando-os mais arbitraacuterios atraveacutes dos
temposrdquo
Embora os demais sinais natildeo-manuais sejam realizados de forma
muitas vezes equivocada quando estes satildeo de forma simples como
afirmativa negativa e exclamativa natildeo haacute um comprometimento do
significado na sentenccedila Mas quando associados a outras formas o
equiacutevoco na execuccedilatildeo da expressatildeo facial provoca uma mudanccedila no
significado da sentenccedila passando esta a pertencer a outra classe
As liacutenguas orais modificam-se como no caso das palavras que
caem em desuso outras que satildeo adquiridas aumentando o vocabulaacuterio
e ainda mudando de significado das palavras O mesmo acontece nas
liacutenguas de sinais a fim de responder agraves necessidades que a evoluccedilatildeo
soacutecio-cultural impotildee
A ASL por sua vez estaacute seguindo a teoria citada acima
substituindo seus iacutecones por siacutembolos que de maneira geral tendem a
ser menos transparentes e icocircnicos pois se tornam mais arbitraacuterios
siacutembolos convencionais
Com o passar do tempo ocorrem muitas mudanccedilas nas liacutenguas
para suprir as necessidades de comunicaccedilatildeo e as modificaccedilotildees de
costumes de cada geraccedilatildeo Assim novos sinais satildeo criados de acordo
com a necessidade de cada grupo
Na verdade temos que pesquisar a liacutengua de sinais em Santa
Catarina observar o sujeito surdo em diferentes faixas etaacuterias
investigando o surgimento do primeiro espaccedilo de identidade cultural do
surdo em contexto social e acessando gramaticalmente a liacutengua de
sinais Esse espaccedilo foi conquistado pela poliacutetica linguiacutestica que assegura
o envolvimento com a liacutengua de sinais que estaacute se expandindo na
sociedade em nosso estado catarinense
Como toda liacutengua a LIBRAS sofre influecircncia das mudanccedilas
histoacutericas e culturais as liacutenguas satildeo dinacircmicas e natildeo estaacuteticas por isso
elas vivem sofrendo alteraccedilotildees e com as liacutenguas de sinais ocorre o
mesmo Essas mudanccedilas podem ser percebidas nas diferentes regiotildees
114
onde satildeo utilizadas as mesmas liacutenguas em que haacute algumas diferenccedilas
em algumas palavras ou expressotildees Mas como tem sido a participaccedilatildeo
do registro na comunicaccedilatildeo do surdo neste espaccedilo linguiacutestico e histoacuterico
cultural na liacutengua de sinais
Calvet (2002) mostra relaccedilotildees entre a liacutengua e a sociedade
fornecendo embasamento agraves explicaccedilotildees sobre as variaccedilotildees
sociolinguiacutesticas o que nos permite fazer uma comparaccedilatildeo das
descriccedilotildees agraves influecircncias externas e internas que a liacutengua de sinais de
Santa Catarina sofreu ateacute chegar ao estaacutegio em que se encontra
atualmente expandido em LIBRAS
Eacute importante registrar a nova histoacuteria da liacutengua de sinais suas
variaccedilotildees e o seu potencial transformador na realidade da comunidade
surda
O sistema linguiacutestico eacute heterogecircneo e as variaccedilotildees podem ser
observadas sob vaacuterios aspectos Sob o ponto de vista diacrocircnico
podemos observar o processo de sistematizaccedilatildeo linguiacutestico de alguns
gestos extralinguiacutesticos usados por usuaacuterios de liacutengua oral auditiva
que foram lexicalizados na LIBRAS tais como os gestuais que
correspondem ao significado de LOUCO ADEUS POSITIVO etc
Por outro lado sob uma perspectiva sincrocircnica vaacuterias formas
podem ser alternadas e podem representar aleacutem disso uma variaccedilatildeo
diatoacutepica53
e a variaccedilatildeo diafaacutesica54
Essas variaccedilotildees referem-se a
variaacuteveis geograacuteficas podem coexistir duas ou mais formas com um
mesmo significado Eacute o caso do sinal CULTURA (matildeo em ldquo5rdquo na testa
ou matildeo em ldquoCrdquo ao longo do braccedilo de apoio) Essas variantes podem
identificar usuaacuterios provindos do Sul e Centro-Oeste respectivamente e
em outras regiotildees por apresentarem sinais diferentes
Em geral um dialeto abrange uma zona ou regiatildeo territorial que
pode ou natildeo coincidir com as fronteiras ou barreiras geograacuteficas No
53 Variaccedilatildeo diatoacutepica eacute a regional quando haacute elementos diferentes dentro de um mesmo territoacuterio linguiacutestico mas natildeo necessariamente dentro de um mesmo dialeto Nem sempre os
elementos detentos de variaccedilotildees diatoacutepicas concorrem a menos quando haacute fortes migraccedilotildees
dentro de um mesmo territoacuterio Podem ocorrer interferecircncias mais incisivas quando determinadas regiotildees possuem destaque econocircmico poliacutetico social e cultural
54 Variaccedilatildeo diafaacutesica eacute a situacional relativa agraves diferentes monitoraccedilotildees do falante nas diferentes situaccedilotildees de interaccedilatildeo Exemplo uma pessoa estaraacute mais monitorada em seu
ambiente de trabalho do que nas interaccedilotildees realizadas em ambiente domeacutestico A variaccedilatildeo
diafaacutesica vem da afirmaccedilatildeo LABOVIANA de que natildeo haacute falante de estilo uacutenico A produccedilatildeo linguiacutestica eacute dependente do contexto social
115
Brasil existem vaacuterios dialetos55
(ou variedades) em comunidades de
ouvintes onde se fala a Liacutengua Portuguesa com diferentes usos Ex
bergamota vergamota e tangerina Palavras variaacuteveis acontecem em
vaacuterias regiotildees e podem ser usadas por motivaccedilatildeo social e ou regional A
seguir algumas variaccedilotildees linguiacutesticas que ocorrem na LIBRAS Ex o
sinal de Cultura SC SP e RJ Seguem os sinais
Figura 23 ndash Sinal ldquoCultura em SCrdquo
Figura 24 ndash Sinal ldquoCultura em SPrdquo
Figura 25 ndash Sinal ldquoCultura em RJrdquo
55 Variedade ndash ldquoa fala de uma comunidade de modo global considerando-se todas as suas particularidades tanto categoacutericas quanto variaacuteveis o mesmo que dialeto ou falarrdquo COELHO
et al (2010 p 166)
116
Um outro exemplo de variaccedilatildeo diatoacutepica no leacutexico do portuguecircs
pode ser observado na diferenccedila entre MACAXEIRA (Norte e
Nordeste) MANDIOCA (Sudeste e Centro-Oeste) e AIPIM (Sul)
A liacutengua de sinais tem uma importacircncia muito significativa para a
comunicaccedilatildeo entre surdos e tambeacutem entre surdos e ouvinte pois sem a
liacutengua de sinais dificultaria a comunicaccedilatildeo e os surdos natildeo conseguiriam
viver na comunidade
A LIBRAS possui forma clara e definida em sua estrutura
gramatical que se estabelece no dia a dia dos que a utilizam Suas vaacuterias
formas sua estrutura o grupo que a utiliza a influecircncia social e
geograacutefica torna a LIBRAS uma liacutengua como qualquer outra pois
realiza a verdadeira funccedilatildeo de comunicar Como Calvet (2002 p 89)
explica variaacuteveis linguiacutesticas satildeo muito usadas em todas as liacutenguas
ldquoDeste modo um reacuteptil comum em todo o Brasil eacute chamado de ldquoosgardquo
na regiatildeo Norte ldquobribardquo ou ldquoviacuteborardquo no Nordeste e ldquolagartixardquo no
Centro-Sul56
rdquo
43 ndash As variaccedilotildees linguiacutesticas na liacutengua de sinais
Uma definiccedilatildeo geral sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica na liacutengua de
sinais torna-se necessaacuteria para melhor aproveitamento desta pesquisa Eacute
importante considerar os dialetos regionais natildeo soacute usados em regiotildees
diferentes no contato social mas no espaccedilo de uso cultural da liacutengua
influenciando o surdo
A Liacutengua de Sinais Americana (ASL) eacute diferente da Liacutengua de
Sinais Britacircnica (BSL) que por sua vez eacute diferente da Liacutengua de Sinais
Argentina e tambeacutem da Liacutengua de Sinais Francesa (LSF) Verificamos
que nos demais paiacuteses tambeacutem satildeo diferentes as liacutenguas de sinais e as
variaccedilotildees linguiacutesticas no contexto social dos surdos no mundo
(STROBEL e FERNANDES 1998) Observe
Ex
56 O exemplo do autor eacute o seguinte ldquoDesse modo um objeto simples como a serpiliegravere peccedila de pano usada para limpar o chatildeo pode tambeacutem ser chamada de panosse (na Saboacuteia e na
Suiacuteccedila) wassingue (no Norte) torchon (no leste) since (no sudeste)rdquo
117
NOME
ASL LIBRAS
Figura 26 ndash Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo ndash Depto Educaccedilatildeo
Especial ndash CuritibaPR SEEDSUEDDEE
Aleacutem disso dentro de um mesmo paiacutes haacute as variaccedilotildees regionais
Na LIBRAS tambeacutem existem dialetos regionais salientando assim uma
vez mais o seu caraacuteter de liacutengua natural
Os povos57
surdos satildeo influenciados pelos contatos nas liacutenguas de
sinais Em cada regiatildeo o surdo se comunica A liacutengua difere quanto ao
dialeto social e cultural Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica em LIBRAS
As variaccedilotildees linguiacutesticas relacionadas ao contexto satildeo chamadas
de variaccedilotildees estiliacutesticas ou registro Os paracircmetros de variaccedilatildeo
linguiacutestica satildeo diversos no ato de interagir verbalmente um falante
utilizaraacute a variedade linguiacutestica relativa agrave sua regiatildeo de origem classe
social idade escolaridade sexo ou ainda acrescenta-se sua condiccedilatildeo
adaptativa de origem como no caso da pessoa surda
O professor Francisco participou do grupo surdo de outras regiotildees
dos estados de Santa Catarina Paranaacute Rio Grande do Sul Satildeo Paulo
Rio de Janeiro e Minas Gerais em contato com a liacutengua de sinais e suas
variaccedilotildees linguiacutesticas No dialeto regional haacute variaccedilatildeo linguiacutestica
diferenccedilas percebidas no espaccedilo cultural do surdo nas situaccedilotildees de
conversa na associaccedilatildeo escola e comunidade Os sujeitos surdos que
relataram o depoimento para a pesquisa sobre a liacutengua de sinais falavam da importacircncia do Francisco para a comunidade surda de SC
57 O povo surdo segundo STROBEL (2006) refere-se ao conjunto de sujeitos que natildeo habitam
no mesmo local mas que estatildeo ligados por uma origem tais como a cultura surda costumes e interesses semelhantes histoacuterias e tradiccedilotildees comuns e qualquer outro laccedilo
118
No mundo haacute pelo menos uma liacutengua de sinais usada
amplamente na comunidade surda de cada paiacutes diferente da liacutengua
falada utilizada na mesma aacuterea geograacutefica Isto se daacute porque essas
liacutenguas de sinais satildeo independentes das liacutenguas orais pois foram
produzidas dentro das comunidades surdas (STROBEL e
FERNANDES 1998)
Pode ser considerado como sotaque na liacutengua de sinais as
variaccedilotildees linguiacutesticas e costume cultural diferentes de cada regiatildeo
Entatildeo Francisco trouxe a experiecircncia do contato com outras regiotildees
para o grupo de surdos de SC na comunicaccedilatildeo em liacutengua de sinais
44 ndash O surdo se comunica a liacutengua de sinais no contexto social
O dialeto social refere-se a variaccedilotildees de configuraccedilatildeo das matildeos
eou de movimento natildeo modificando o sentido do sinal (STROBEL e
FERNANDES 1998) Dependendo da situaccedilatildeo de uso da comunicaccedilatildeo
do surdo na liacutengua de sinais a variaccedilatildeo pode ser observada atraveacutes da
configuraccedilatildeo das matildeos como em
Ex
Figura 27 ndash Sinal de Ajudar
119
Figura 28 ndash Sinal de Faltar
Figura 29 ndash Sinal de Ocircnibus
Figura 30 ndash Sinal de Sonhar
120
Nem todos os usuaacuterios de uma liacutengua falam do mesmo
jeito por isto todas as liacutenguas naturais possuem
variaccedilotildees linguiacutesticas A LIBRAS tambeacutem apresenta
dialetos regionais reforccedilando seu caraacuteter de liacutengua
natural As variaccedilotildees na LIBRAS ocorrem de vaacuterias
formas como alteraccedilotildees na configuraccedilatildeo de matildeos (forma
que a matildeo assume na realizaccedilatildeo do sinal) ou na
localizaccedilatildeo espacial do sinal (local onde o sinal eacute
realizado) sem que seu sentido e significado sejam
perdido ou modificados Tambeacutem haacute sinais diferentes
para representar um mesmo referente usando em
diferentes regiotildees do paiacutes agraves vezes do mesmo estado
(BASSO e SCHMITT 2007 p 50 e 51)
O valor social58
das formas em variaccedilatildeo se estabelece nas
relaccedilotildees sociais e na avaliaccedilatildeo do que pode ser considerada uma
variedade de prestiacutegio ou uma variedade estigmatizada Estilos formais
ou distensos podem ser identificados a partir de um estudo da variaccedilatildeo
das formas no contexto social Estudos sobre o portuguecircs falado
mostram por exemplo que jovens mais favorecidos tendem a fazer
mais concordacircncia verbal em oposiccedilatildeo aos menos favorecidos que
tendem a usar menos concordacircncia Isso mostra o fator externo
(mercado de trabalho ou situaccedilatildeo) e a necessidade de o falante se
adequar ao valor linguiacutestico de concordacircncia considerado como de
prestiacutegio nesse espaccedilo Podemos concluir que a LIBRAS como
qualquer outra liacutengua apresenta variaccedilatildeo e mudanccedila mas ainda
precisamos aprofundar os estudos linguiacutesticos dessa liacutengua para melhor
conhececirc-la em seus diferentes aspectos (lexicais fonoloacutegicos
morfoloacutegicos e sintaacuteticos) O capiacutetulo 6 traraacute uma descriccedilatildeo sobre
alguns desses aspectos em variaccedilatildeo e mudanccedila Acreditamos que com a
proposta biliacutengue para a educaccedilatildeo de surdos a liacutengua portuguesa e a
LIBRAS teratildeo uma relaccedilatildeo cada vez mais intensa e o contato dessas
duas liacutenguas pelos surdos vai acarretar com toda a certeza trocas
linguiacutesticas entre elas o que pode provocar novas transformaccedilotildees
58 Valor social eacute relativo aos problemas de avaliaccedilatildeo e eacute atribuiacutedo pelos proacuteprios falantes e
usuaacuterios de liacutengua de sinais ou seja eacute sempre de ordem social (nunca linguiacutestica) Valor
atribuiacutedo desenha o futuro das formas concorrentes jaacute que a forma eleita eacute sempre a que recebe maior valor e que muitas vezes corresponde agraves formas adotadas pela elite econocircmica poliacutetica
social ou cultural de uma dada comunidade (surda)
121
CAPIacuteTULO V ndash Metodologia
51 ndash Introduccedilatildeo
Investigarei a histoacuteria da liacutengua de sinais em Santa Catarina e as
variaccedilotildees e mudanccedilas fonoloacutegicas e lexicais ocorridas no periacuteodo que
compreende 1946 aos dias atuais fazendo comparaccedilotildees entre sinais que
aparecem nos relatos de experiecircncias em trecircs geraccedilotildees de surdos
pesquisadas
A metodologia utilizada para esta pesquisa foi a de coleta de
dados atraveacutes de perguntas e depoimentos dos surdos envolvidos nas
trecircs geraccedilotildees das uacuteltimas deacutecadas A coleta de dados de informantes59
foi realizada com o objetivo de solicitar depoimentos sobre fatos
histoacutericos e sobre o contato que os surdos tiveram com a liacutengua de
sinais
Os depoimentos dos ex-alunos surdos bem como dos surdos
envolvidos na comunidade surda catarinense nas uacuteltimas deacutecadas foram
realizados por meio de entrevistas filmadas Eu mesmo fiz os viacutedeos
Mas antes conversei com cada um dos surdos explicando porque
precisava de seu depoimento Apoacutes a aceitaccedilatildeo de cada um formei os
trecircs grupos por idade Cada um assinou uma ficha do informante para
realizar a pesquisa (em anexo) com dados pessoais e autorizaccedilatildeo
Foram utilizadas trecircs cacircmeras para a filmagem colocadas de forma a
gravar o depoimento dos trecircs surdos simultaneamente Primeiro filmei o
Grupo I Os informantes ficaram sentados na frente de cada cacircmera um
ao lado do outro Depois fiz a pergunta e eles teriam trinta minutos para
dar a resposta e mais vinte minutos para conversarem entre eles Liguei
as trecircs cacircmeras e saiacute da sala Voltei aproximadamente apoacutes uma hora e
desliguei as cacircmeras Fiz o mesmo com o Grupo II e com o Grupo III O
Grupo III foi filmado na UFSC os outros dois numa sala da Associaccedilatildeo
de Surdos A resposta sobre a histoacuteria da educaccedilatildeo de surdos em SC
mais a conversa espontacircnea em LIBRAS trouxe material de qualidade
para a pesquisa A escolha dos surdos levou em conta o fato de os
escolhidos terem frequentado a escola na deacutecada de 1950 quando surgiu
tambeacutem uma associaccedilatildeo de surdos catarinenses
Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os seguintes toacutepicos a coleta
59 COELHO et al (2010 p 164) ldquosujeito da pesquisa sociolinguiacutestica aquele que fornece seus
dados linguiacutesticos para que o pesquisador analiserdquo
122
de dados das trecircs geraccedilotildees com as diferentes faixas etaacuterias o meacutetodo de
entrevista sociolinguiacutestica a coleta de narrativa de experiecircncia pessoal
a transcriccedilatildeo de dados dos trecircs grupos compostos de informantes surdos
na liacutengua de sinais os informantes do grupo surdo na liacutengua de sinais e
por fim a descriccedilatildeo dos informantes quanto aos dados
Como procedimento metodoloacutegico no primeiro momento
realizamos uma coleta inicial de dados na liacutengua de sinais observando
uma diferenccedila de 30 anos entre um grupo e outro Cada grupo eacute
composto de trecircs indiviacuteduos
O Grupo I eacute formado por pessoas mais velhas na faixa
etaacuteria entre 60 a 80 anos
O Grupo II eacute formado por pessoas entre 30 a 60 anos e
O Grupo III eacute formado por indiviacuteduos na faixa etaacuteria de
15 a 30 anos
Com a anaacutelise da LIBRAS usada pelos indiviacuteduos dessas trecircs
faixas etaacuterias esperamos poder detectar se nas trecircs geraccedilotildees de
sinalizadores da liacutengua de sinais em Santa Catarina vamos encontrar
mudanccedila em tempo aparente
Entatildeo foram entrevistados os trecircs informantes do Grupo III na
situaccedilatildeo de mais jovem em idade na faixa etaacuteria de 15 a 30 anos 1)
Informante A 2) Informante B e 3) Informante C
No segundo momento foi feita a coleta dos dados do Grupo I
Para saber o que existe no primeiro grupo de diferente precisamos
identificar os sinais antigos para depois fazermos uma comparaccedilatildeo com
as liacutenguas de sinais da atualidade Assim foram entrevistados trecircs
sujeitos surdos mais velhos na faixa etaacuteria de 60 a 80 anos 1)
Informante G 2) Informante H e 3) Informante I
No terceiro momento foram entrevistados os informantes do
Grupo II outros trecircs alunos de Francisco na faixa etaacuteria de 30 a 60
anos 1) Informante D 2) Informante E e 3) Informante F Acreditamos
que as formas usadas pelo professor Francisco serviram e servem de
modelo influenciando os alunos E que agraves vezes os alunos do professor
Francisco podem usar alguns sinais proacuteprios do professor surdo em
conversas na escola na associaccedilatildeo e na comunidade surda das regiotildees
de Santa Catarina Eacute possiacutevel tambeacutem que o ex-professor Francisco
usasse outros sinais quando conversava com os amigos os ex-alunos
surdos na escola e associaccedilatildeo em Santa Catarina
123
Foi levado em consideraccedilatildeo na coleta o que sugere Tarallo
(2000)
O pesquisador ao selecionar seus informantes estaraacute em
contato com falantes que variam segundo classe social
faixa etaacuteria etnia e sexo Seja qual for a natureza da
situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo seja qual for o toacutepico central
da conversa seja quem for o informante o pesquisador
deveraacute tentar neutralizar a forccedila exercida pela presenccedila
do gravador e por sua proacutepria presenccedila como elemento
estranho a comunidade Tal neutralizaccedilatildeo pode ser
alcanccedilada no momento em que o pesquisador se decide a
representar o papel de aprendiz-interessado na
comunidade de falantes e em seus problemas e
peculiaridades (TARALLO 2000 p 21)
Ė importante selecionar os informantes dos grupos que tecircm
contato entre si e utilizam a liacutengua de sinais de classes sociais
diferentes dentro da comunidade surda faixa etaacuteria diferente etc A
geraccedilatildeo do grupo dos mais velhos tem influecircncia sobre o grupo dos mais
novos que tem menos contato experiecircncia com a liacutengua Isso pode ser
observado na liacutengua usada pelos informantes pois seus objetivos satildeo
diferentes na fase de aprendizagem em situaccedilatildeo de comunidade surda
O pesquisador aproveita para pensar e planejar como seraacute realizada a
coleta de dados Por se tratar de uma liacutengua visualespacial tentei
diversificar os lugares para a conversa espontacircnea dos informantes
52 ndash A coleta de dados
Na coleta dos dados desta pesquisa espera-se que as trecircs geraccedilotildees
com faixas etaacuterias distintas de informantes relatem sua experiecircncia de
vida na liacutengua de sinais possibilitando uma anaacutelise dos sinais gravados
para que possamos identificar possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas
linguiacutesticas
Na primeira parte assisti aos viacutedeos no programa Transcriccedilatildeo de
Liacutengua de Sinais ndash ELAN60
No segundo momento verifiquei e analisei
60 McCLEARY e VIOTTI 2007 - Eacute a caraacuteter eminentemente descritivo buscando a captaccedilatildeo
do maior nuacutemero de detalhes de sinalizaccedilatildeo As narrativas que estatildeo sendo transcritas foram
baseadas no filme ldquoHistoacuteria da pecircrardquo criado pelo de pesquisa de Wallace Chafe na deacutecada de 1970 com o objetivo de eliciar narrativas para anaacutelise e comparaccedilatildeo translinguiacutestica Visando
a produccedilatildeo de narrativas em liacutengua de sinais brasileira o grupo ECS fez a gravaccedilatildeo de
narrativas produzidas por surdos que assistiram ao filme e relataram a histoacuteria para outra pessoa fluente na liacutengua
124
a coleta de dados dos grupos de informantes das trecircs geraccedilotildees com
relaccedilatildeo agraves mudanccedilas histoacutericas e linguiacutesticas Depois realizei a
descriccedilatildeo dos grupos nas diferentes faixas etaacuterias que mostram se os
sinais se modificam nas possiacuteveis narrativas Espero com esses sinais
observados alcanccedilar o objetivo principal da pesquisa o de comparar os
sinais encontrados nos trecircs grupos e verificar se ocorreram variaccedilotildees e
mudanccedilas linguiacutesticas em tempo aparente
Realizei a coleta de dados da seguinte forma coloquei todos os
depoimentos filmados dos surdos no programa ELAN Escolhi os sinais
que apareciam nos trecircs grupos e fiz uma tabela com esses sinais depois
fiz anaacutelise e descriccedilatildeo dos resultados finais
53 ndash O meacutetodo de entrevista sociolinguiacutestica a coleta de narrativas
de experiecircncia pessoal
A coleta de dados realizada numa entrevista deve ocorrer de
forma espontacircnea Antes de realizar a pesquisa para recolher os dados eacute
importante conhecer as diferentes abordagens que identificam os grupos
e sua relaccedilatildeo com a liacutengua Segundo Tarallo (2000)
De gravador em punho o pesquisador-sociolinguista
como afirmamos deve coletar 1 situaccedilatildeo natural de
comunicaccedilatildeo linguumliacutestica e 2 grande quantidade de
material de boa qualidade sonora (TARALLO 2000 p
21)
Para realizar a pesquisa empiacuterica foi necessaacuterio um planejamento
anterior utilizando viacutedeo de filmagem com boa qualidade visual pois
observamos indiviacuteduos que utilizam a comunicaccedilatildeo visual espacial com
o objetivo de melhor descrevermos os grupos e verificar questotildees
linguiacutesticas desses indiviacuteduos
Para a coleta seguimos os procedimentos metodoloacutegicos
indicados por Tarallo
Este software foi desenvolvido no Instituto Max Planck de Psycholinguistics na Holanda e
mostra no site wwwmpinl na transcriccedilatildeo o ELAN (Eudico Language Annotator) eacute um
programa que permite adicionar anotaccedilotildees para um arquivo de viacutedeo o que pode tornaacute-lo muito mais faacutecil de estudar assistir o viacutedeo na liacutengua de sinais Ele tambeacutem pode ser utilizado
com as liacutenguas faladas (com ou aacuteudio ou viacutedeo) mas este foi apresentado na minha pesquisa e
utilizado na liacutenguas de sinais das trecircs geraccedilotildees
125
Para atingir tais propoacutesitos metodoloacutegicos podem-se
formular moacutedulos (ou roteiros) de perguntas um
questionaacuterio-guia de entrevista Esses moacutedulos tecircm por
objetivo homogeneizar os dados de vaacuterios informantes
para posterior comparaccedilatildeo controlar os toacutepicos de
conversaccedilatildeo e em especial provocar narrativas de
experiecircncia pessoal (TARALLO 2000 p 22)
Ė permitido ressaltar na pesquisa sociolinguiacutestica que para
realizaacute-la seraacute feita uma seleccedilatildeo de um grupo ou indiviacuteduo dependendo
da situaccedilatildeo como por exemplo quanto agrave classe social pode ser
verificado o gecircnero a etnia faixa etaacuteria e costumes A situaccedilatildeo de
pesquisa pode acontecer em qualquer lugarambiente O pesquisador
observa de forma neutra o grupo de falantes que estaacute pesquisando em
um determinado local e faz anaacutelises com base nos fatos linguiacutesticos
observando-os em conversas espontacircneas procurando especificaacute-las
A metodologia de coleta laboviana mostra que encontramos a
variedade mais espontacircnea em narrativa de experiecircncia pessoal pois o
indiviacuteduo quando estaacute envolvido emocionalmente faz relatos sem se
preocupar com o modo como estaacute contando De acordo com Tarallo
Os estudos de narrativas de experiecircncia pessoal tecircm
demonstrado que ao relataacute-las o informante estaacute tatildeo
envolvido emocionalmente com o que relata que presta o
miacutenimo de atenccedilatildeo ao como E eacute precisamente esta a
situaccedilatildeo natural de comunicaccedilatildeo almejada pelo
pesquisador-sociolinguista
Os moacutedulos cobrem uma seacuterie de toacutepicos para fins de
conversaccedilatildeo dados pessoais do informante (sua
histoacuteria) jogo e brincadeira de infacircncia brigas namoro e
encontros amorosos casamento perigo de morte medo
famiacutelia religiatildeo amigos turmas serviccedilos puacuteblicos o
crime nas ruas escola e trabalho interaccedilatildeo com outros
membros da comunidade esportes etc (TARALLO
2000 p 22)
As pessoas ouvintes falam sobre fatos ocorridos de sua experiecircncia pessoal com famiacutelia amigos etc de forma natural Isto
tambeacutem acontece na comunidade surda e ao coletar narrativas em
liacutengua de sinais acredita-se que vamos encontrar diferentes situaccedilotildees do
cotidiano e parte da histoacuteria da comunidade que mostraratildeo variaccedilotildees e
tambeacutem mudanccedilas linguiacutesticas
126
Podem ser escolhidas diferentes maneiras de realizar uma
pesquisa de campo mas a experiecircncia pessoal deve ser levada em
consideraccedilatildeo A pesquisa pode ser realizada com diferentes informantes
ou grupos de informantes de qualquer categoria para verificar as
possiacuteveis variaccedilotildees da liacutengua falada sem qualquer preocupaccedilatildeo com a
forma como indica Tarallo
A narrativa de experiecircncia pessoal eacute a mina de ouro que
o pesquisador-sociolinguistica procura Ao narrar suas
experiecircncias pessoais mais envolventes ao colocaacute-las no
gecircnero narrativa o informante desvencilha-se
praticamente de qualquer preocupaccedilatildeo com a forma A
desatenccedilatildeo agrave forma no entanto vem sempre embutida
numa linha de relato a que chamaremos ldquoestrutura
narrativardquo (TARALLO 2000 p 23)
Nesta citaccedilatildeo o autor explica a importacircncia da coleta de narrativa
pessoal de cada um dos informantes porque apenas fazem a narraccedilatildeo
sem preocupaccedilatildeo com a forma como estatildeo contando
54 ndash A transcriccedilatildeo de dados dos trecircs grupos compostos de
informantes surdos na liacutengua de sinais
Estes dados foram organizados no sistema de transcriccedilatildeo na
liacutengua de sinais ndash ELAN As identificaccedilotildees dos sujeitos surdos que
apresentavam cada um o seu relato em viacutedeo mostram a sua forma de se
comunicar na liacutengua de sinais Verificar se a variaccedilatildeo fonoloacutegica e
mudanccedila lexical pode acontecer nesta liacutengua de sinais em trecircs geraccedilotildees
eacute um dos propoacutesitos deste trabalho
55 ndash Informantes do grupo surdo na liacutengua de sinais
Os informantes do grupo que participaram da minha pesquisa
foram escolhidos de forma aleatoacuteria pela facilidade de contato e
separados em trecircs geraccedilotildees que usavam a liacutengua de sinais
Labov em suas pesquisas elaborava entrevistas de modo a
elicitar nos entrevistados uma fala menos monitorada ndash o vernaacuteculo61
Ele afirma que
61 ldquoEstilo em que pouco monitoramento eacute dispensado agrave fala fala ldquonaturalrdquordquo COELHO et al
(2010 p 166)
127
As narrativas produzidas em resposta a essa pergunta
[ldquoVocecirc jaacute viveu uma situaccedilatildeo em que correu seacuterio risco
de morrerrdquo] quase sempre exibem uma mudanccedila de
estilo que se distancia da fala monitorada e se aproxima
do vernaacuteculo62 (LABOV 2008 [1972] p 245)
Da mesma forma na pesquisa sobre o grupo de surdo que o
senhor Francisco ensinou utilizei um questionaacuterio com uma pergunta
que era explique a histoacuteria da educaccedilatildeo de surdo em Santa
Catarina para que pessoas surdas respondessem As perguntas foram
feitas em LIBRAS e as respostas foram filmadas num total de nove
pessoas
O foco do agrupamento dos sujeitos foi a idade portanto houve
variabilidade quanto ao gecircnero e agraves atividades exercidas pelos
participantes
Na primeira etapa o objetivo foi a escolha dos trecircs indiviacuteduos dos
grupos informantes surdos mais jovens A B e C Neste grupo o fator
escolhido quanto ao sexo foi trecircs masculinos pois natildeo encontrei jovem
do sexo feminino
Na segunda etapa os trecircs indiviacuteduos do grupo de informantes
surdos intermediaacuterio D E e F foram quanto ao sexo dois masculinos e
um feminino
Na uacuteltima etapa os trecircs indiviacuteduos do grupo de informantes
surdos mais velhos G H e I foram escolhidos quanto ao sexo um
masculino e dois femininos Entatildeo escolhi a faixa etaacuteria deste grupo que
apresentava o documentaacuterio em viacutedeo que a partir do qual foi extraiacuteda
amostra de uma experiecircncia de cada uma das narrativas de sujeitos
surdos que usavam a liacutengua de sinais espontacircnea Seguem os quadros de
amostras dos grupos em trecircs geraccedilotildees contemplados nesta pesquisa
62 Um dos aspectos mais interessantes dessa pergunta eacute que ela implica uma resposta sim-ou-
natildeo do tipo que em geral evitamos O mecanismo parece ser o seguinte o informante estaacute
disposto a reconhecer o fato de ter estado numa situaccedilatildeo assim embora possa natildeo estar disposto a fazer um relato Mas uma vez que reconheceu o fato acha muito difiacutecil deixar de
fazer um relato completo quando o entrevistador pergunta depois de alguns instantes ldquoO que
aconteceurdquo Do contraacuterio ficaria parecendo que ele fez uma afirmaccedilatildeo falsa
128
Quadros de amostras dos Grupos I II e III
Grupo I
Identificaccedilatildeo
de Classe
Sexo Idade Faixa
Etaacuteria
Profissotildees
Informante G Masculino 82
anos
60 a 80
anos
ProfessorAposentado
Informante H Feminino 64
anos
60 a 80
anos
CostureiraAposentado
Informante I Feminino 62
anos
60 a 80
anos
BancaacuterioAposentado
Grupo II
Identificaccedilatilde
o de Classe
Sexo Idade Faixa
Etaacuteria
Profissotildees
Informante D Feminino 56
anos
30 a 60
anos
BancaacuterioAposentado
Informante E Masculino 53
anos
30 a 60
anos
Autocircnomo
Informante F Masculino 52
anos
30 a 60
anos
MotoristaAposentado
Grupo III
Identificaccedilatildeo
de Classe
Sexo Idade Faixa
Etaacuteria
Profissotildees
Informante A Masculino 29
anos
15 a 30
anos
Professor
Informante B Masculino 25
anos
15 a 30
anos
Professor
Informante C Masculino 24
anos
15 a 30
anos
Estudante
129
Os Grupos I e II foram alunos de profdeg Francisco jaacute os
informantes do Grupo III foram escolhidos na universidade porque eacute
difiacutecil de ser ter contato com surdo na faixa etaacuteria de 15 anos
Cada um dos 9 (nove) informantes da amostra nos trecircs (3) grupos
com relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria poderaacute trazer indicativos sobre a trajetoacuteria da
liacutengua de sinais e a influecircncia da geraccedilatildeo dos surdos mais velhos (Grupo
I) com relaccedilatildeo agrave sinalizaccedilatildeo utilizada na atualidade pelos surdos mais
jovens (Grupo III) Segundo a citaccedilatildeo de Tarallo
a primeira tentativa de definiccedilatildeo a liacutengua falada a que
nos temos referido eacute o veiculo linguumliacutestico de
comunicaccedilatildeo usado em situaccedilotildees naturais de interaccedilatildeo
social do tipo comunicaccedilatildeo face a face Ė a liacutengua que
usamos em nossos lares ao interagir com os demais
membros de nossas famiacutelias Ė a liacutengua usada nos
botequins clubes parques rodas de amigos nos
corredores e paacutetios das escolas longe da tutela dos
professores Ė a liacutengua falada entre amigos inimigos
amantes e apaixonados (TARALLO 2000 p 19)
Na interaccedilatildeo social desta liacutengua que o surdo utiliza para se
comunicar em diversos lugares com os amigos na associaccedilatildeo na escola
etc haacute uma valorizaccedilatildeo cultural aleacutem da troca de conhecimentos
necessidades de criaccedilatildeo de novos sinais modificaccedilatildeo eou
aperfeiccediloamento de outros trazendo modificaccedilotildees linguiacutesticas
Concluiacutemos a explicaccedilatildeo do procedimento da metodologia desta
pesquisa trazendo consideraccedilotildees sobre os registros dos dados dos
informantes para posterior verificaccedilatildeo da variaccedilatildeo e mudanccedila
linguiacutestica observada nos trecircs grupos de surdos nas diferentes geraccedilotildees
referentes agrave liacutengua de sinais Atraveacutes das informaccedilotildees encontradas nas
narrativas seraacute feita uma trajetoacuteria histoacuterica da liacutengua de sinais e seratildeo
observadas as mudanccedilas ocorridas com relaccedilatildeo agrave liacutengua na comunidade
surda de Santa Catarina
56 ndash Descriccedilatildeo dos informantes quanto aos dados
Nesta seccedilatildeo apresentamos descriccedilotildees dos dados coletados na
liacutengua de sinais espontacircnea de informantes conforme amostras dos
Grupos I II e III Os dados foram observados pelo programa de
transcriccedilatildeo de ELAN Realizei os trabalhos comparando a liacutengua usada
pelas geraccedilotildees e as informaccedilotildees dadas pelos informantes
Os fatos sociolinguiacutesticos apresentados pelos informantes atraveacutes
130
de seus depoimentos mostrando suas trajetoacuterias e vivecircncias na
comunidade surda nas diferentes regiotildees do estado de SC seratildeo
analisados para saber se o professor surdo influenciou a comunidade
surda do estado no ensino da LIBRAS
A questatildeo que tentarei responder com os dados eacute a seguinte Os
informantes de cada grupo de comunidades surdas de diferentes regiotildees
do estado de Santa Catarina relatando sua trajetoacuteria com experiecircncias
relacionadas agrave liacutengua de sinais ora sofreram ora natildeo a influecircncia do
professor surdo com relaccedilatildeo ao aprendizado desta liacutengua
Pretendo verificar se haacute algum sinal de que a liacutengua sofreu
variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica em cada uma das trecircs geraccedilotildees dos
informantes Essas trecircs geraccedilotildees vatildeo ser acompanhadas pelas glosas de
sinais A descriccedilatildeo de experiecircncias dos informantes surdos nos trecircs
grupos observados eacute a estrateacutegia para se pesquisar o processo de
mudanccedila
A pesquisa vai analisar os trecircs comparativos dos informantes
surdos com a descriccedilatildeo de dados de cada geraccedilatildeo apoacutes verificar os
resultados de cada uma das trecircs geraccedilotildees de informantes Grupo III A
B C Grupo II D E F Grupo I G H e I As narrativas na liacutengua de
sinais que os informantes apresentaram foram coletadas e vatildeo ser
descritas nas proacuteximas seccedilotildees
561 ndash Grupo I ndash Informantes
Nas narrativas dos sujeitos63
do grupo de informantes na faixa
etaacuteria dos surdos de 60 a 80 anos os mais velhos mesmo grupo do
professor surdo foram expressas algumas opiniotildees dos surdos
nomeados de informantes G H e I Seguem as informaccedilotildees
5611 ndash Informante G
Francisco eacute o informante G e sua identidade estaacute expliacutecita porque
ele autorizou O informante G mostra sua experiecircncia na liacutengua de
63 Os sujeitos surdos SCHMITT (2008) mostram a participaccedilatildeo no amplo espaccedilo da sociedade
em que vivem No momento eles se identificam como um ldquooutrordquo como surdo Esta mudanccedila
eacute mostrada pelas lutas seja na sociedade em encontros eventos seminaacuterios congressos e outros Isso eacute o povo surdo participando no movimento na luta pela educaccedilatildeo pelos direitos
culturais
131
sinais e sua opiniatildeo sobre como aconteceu essa experiecircncia Segue um
comentaacuterio ldquoSabemos que as liacutenguas mudam com o tempo e se
transformam conforme as culturas dos paiacuteses regiotildees ou mesmo em
situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo em que estaacute participando (numa conversa
informal na sala de aula na famiacutelia etc) estas mudanccedilas ocorrem com
as configuraccedilotildees de matildeos articulaccedilotildees movimentos expressotildees faciais e
ou corporais essas mudanccedilas satildeo recicladas para se adaptar a realidade e
conceitos na sociedade tendo os traccedilos de identificaccedilatildeo proacutepriardquo
O informante G nasceu no dia 01061928 em Florianoacutepolis SC
foi aluno interino do Instituto Nacional de Surdos-Mudos do Rio de
Janeiro e do Instituto Paulista de Surdos em Satildeo Paulo de 1937 a 1946
Ele realizou o curso fundamental e meacutedio tinha habilitaccedilatildeo em ensino
especial desenho encadernaccedilatildeo ginaacutestica datilografia frequentou da
1a a 8
a seacuterie do ensino fundamental no Instituto Nacional de Surdos-
Mudos e sua habilitaccedilatildeo eacute em Contabilidade pelo Instituto Monitor e
Nuacutecleo de ensino profissional
Em 1952 ele conheceu quinze surdos-mudos em Florianoacutepolis
que natildeo sabiam ler e escrever Ele ensinava algumas palavras e sinais
para esses surdos-mudos De outra feita entre 1953 a 1954 iniciava a
amizade com o primeiro presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos de
Satildeo Paulo senhor Maacuterio Devisate Ele natildeo tinha o conhecimento da
existecircncia de uma Associaccedilatildeo de Surdos em Florianoacutepolis o senhor
Devisate entregava um documento para Associaccedilatildeo de Surdos-Mudos
de acircmbito nacional e o professor Francisco Lima Juacutenior veio como
delegado e responsaacutevel pela regiatildeo do Sul passando a residir nesta
capital (Florianoacutepolis)
O primeiro presidente da Sociedade dos Surdos-Mudos do
Distrito Federal que na eacutepoca era Rio de Janeiro foi o senhor Miguel
da Fonseca Seabra de Melo era grande colega do Francisco Mais tarde
com a construccedilatildeo de Brasiacutelia a associaccedilatildeo continuou no RJ soacute que
naquele momento natildeo mais como capital com o nome Sociedade dos
Surdos-Mudos do Brasil para finalmente Associaccedilatildeo dos Surdos do Rio
de Janeiro (ASURJ)
O grupo conversava na liacutengua de sinais numa reuniatildeo quando
chegou o presidente da ASURJ que tambeacutem era surdo O professor
Francisco foi apresentado e cumprimentou o senhor Miguel da Fonseca
Seabra de Melo que estava acompanhado de uma colega que ao ver o
professor Francisco sorriu O professor Francisco agradeceu pela ajuda
que o senhor Miguel deu ao Instituto Nacional de Surdos-Mudos e as
informaccedilotildees referentes agrave associaccedilatildeo
Na verdade o professor Francisco tinha contato e conversava
132
sempre com o amigo que estudou com ele no INES o senhor Salomatildeo
Watnick que foi primeiro presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos
do Rio Grande do Sul seu grande amigo que morava em Porto Alegre
Como o INES estava passando por reforma o professor
Francisco como tinha muitos amigos dos diferentes cursos e viagens
que fez conseguiu estudar na Escola Especial para Surdos-Mudos em
Satildeo Paulo que para ele era uma escola maravilhosa e excepcional onde
aprendeu muito
O grupo dos surdos de SC se perguntava como ganharia a vida
pois natildeo estavam felizes nas escolas especiais que na eacutepoca utilizavam
os meacutetodos oralistas onde os surdos natildeo podiam utilizar sinais Mas
encontraram o motivo da existecircncia na associaccedilatildeo do estado podendo
assim discutir e abrir caminhos para os surdos
5612 ndash Informante H
A informante H mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua
opiniatildeo sobre como aconteceu essa experiecircncia ldquoMudam porque as
pessoas mudam os tempos mudam assim como mudam as culturas e
diversas outras formas de liacutengua existentes entre elas Sendo a LIBRAS
tambeacutem uma forma de liacutengua ela acompanha estas mudanccedilas para que
os indiviacuteduos que dela fazem uso possam acompanhar a sociedade e
mundo do qual fazem parterdquo
A informante H nasceu em 26051946 em Satildeo Pedro de
Alcacircntara em Santa Catarina Durante sua infacircncia e adolescecircncia
morou com seus pais que eram agricultores
Ela teve que trabalhar na lavoura dos 6 ateacute os 18 anos de idade
cortava o capim que alimentava o gado roccedilava para limpar um paacutetio do
terreno e uma plantaccedilatildeo cercada onde se criavam vaacuterias galinhas patos
etc Plantavam vaacuterios tipos de flores e tinham uma horta Ela penteava
os cabelos dos cavalos para depois montaacute-lo corria e caiacutea no chatildeo num
desses passeios quebrou o braccedilo e diz que doeu muito Quando o
cunhado viu o braccedilo dela quebrado levou-a de carroccedila para o hospital
na cidade de Vidal Ramos em Santa Catarina Depois ela tinha que
ficar um mecircs com o gesso no braccedilo mas 15 dias depois na casa da
irmatilde olhava o rio e pulava no rio que brilhava acabou ficando coberta
de aacutegua e quase se afogou Para natildeo se afogar colocou as matildeos em cima
de uma pedra do rio ficou muito assustada e chorou muito o tio dela foi
quem a ajudou
O pai de H eacute brasileiro e lavrador Dedicava-se agrave criaccedilatildeo de gado
aves e na fabricaccedilatildeo de cachaccedilas que preparava das plantas que
133
produziam cana-de-accediluacutecar cafeacute e frutas Na casa natildeo tinha luz e era
utilizada a vela a fogueira e a lacircmpada de querosene
A matildee de H tambeacutem era brasileira costureira e lavradora
Trabalhava na propriedade na plantaccedilatildeo de milho feijatildeo arroz aipim e
verduras Os Pais de H tiveram 13 filhos 1 filha jaacute falecida com 1 ano e
um mecircs de gravidez gemular 3 filhas eram ouvintes 3 filhas eram
surdas 6 filhos eram ouvintes 1 filho era surdo A terra lavrada e
cultivada estaacute localizada em Satildeo Pedro de Alcacircntara Depois que o pai
morreu o terreno foi loteado e a informante H ficou com um dos lotes e
os irmatildeos deram a casa
O irmatildeo da informante H que era surdo jaacute falecido em 1976 foi
mordido por uma cobra venenosa Seu pai faleceu em 1989 e a matildee
faleceu em 1998
Em 1966 ajudava lavando roupas para fora nesta eacutepoca morava
com o primo numa casa localizada no bairro do Estreito ndash
FlorianoacutepolisSC Tinha trecircs vizinhos surdos e com eles conversava com
os sinais eou gestualidade Ela natildeo sabia conversar em LIBRAS com
outro surdo aprendeu com os vizinhos surdos que a avisavam das
reuniotildees de surdos que aconteciam no salatildeo do grupo Escolar Celso
Ramos
O professor Francisco ensinou aos surdos as regras do jogo de
bingo depois foram oferecidos cinco brindes para o jogo de bingo que
aconteceu no bairro de Capoeiras Ele perguntava para ela de onde vocecirc
eacute E ela respondia que morava em Satildeo Pedro de Alcacircntara Entatildeo o
Francisco foi junto com a informante H conhecer sua casa localizada no
siacutetio de Satildeo Pedro de Alcacircntara
Ela apresentou sua matildee para o senhor Francisco queria estudar e
aprender a liacutengua de sinais com Francisco presidente da associaccedilatildeo e
professor na escola para surdos Ela veio para a capital em 1966 aos 19
anos de idade onde aprendeu a Liacutengua Portuguesa Escrita matemaacutetica e
liacutengua de sinais na Escola Celso Ramos em Florianoacutepolis numa classe
de alunos surdos Alguns anos mais tarde ela trabalhou como costureira
na faacutebrica de renda e bordados Hoepcke
Ela fez alguns cursos de pintura em tecido bordado a maacutequina
Ela conta que sempre foi uma pessoa esforccedilada que buscava desafios na
sua aprendizagem o tempo todo e cada vez mais como autodidata que
aprendia muitas coisas como por exemplo cozinhar e alta costura
Passava sempre na escola era muito esforccedilada aprimorava muito a sua
aprendizagem de vida
O professor Francisco e ela viajavam pelo estado verificavam e
encontravam os surdos no interior do estado Ela entregou um anel para
134
a ex-rainha do Ciacuterculo de Surdo-Mudos de Santa Catarina ndash CSMSC
que era Catarina Ceciacutelia Schveitzer em 1993
5613 ndash Informante I
A informante I mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua
opiniatildeo sobre como aconteceu essa experiecircncia ldquoMudam a ldquoformardquo de
vida das pessoas na sociedade para que se adaptem a nova realidade e
as liacutenguas tambeacutem se modificam As liacutenguas de sinais tambeacutem mudam
criam-se palavras novas satildeo influenciadas por outras liacutenguas etc A
evoluccedilatildeo das coisas em geral estaacute acontecendo de forma muito raacutepida e
a LIBRAS sendo uma forma de comunicaccedilatildeo entre cultura surda e
ouvinte precisa acompanhar essa evoluccedilatildeo Quando uma determinada
coisa natildeo acompanha o desenvolvimento onde estaacute inserida a
tendecircncia eacute de ficar do lado de forardquo
A informante I nasceu em 01041948 em Blumenau veio de
uma famiacutelia de 6 irmatildeos onde 3 satildeo surdos e 3 satildeo ouvintes A matildee do
informante I descobriu que era surda quando tinha mais ou menos dois
anos de idade Apoacutes essa descoberta teve uma infacircncia normal era uma
crianccedila super ativa
Aos 7 anos de idade entrava na escola onde havia outras crianccedilas
surdas como ela Foi alfabetizada em Blumenau Depois lembrou que
tentava usar o seu aparelho auditivo mas como natildeo escutava nada
acabou rejeitando o aparelho
Tinha muita preocupaccedilatildeo com a educaccedilatildeo dos surdos Os pais
mandaram-na estudar num internato de crianccedilas surdas no Rio de
Janeiro aos 9 ou 10 anos de idade Ela natildeo se adaptou e retornou para
Blumenau A escola para surdos que frequentava em Blumenau ficou
sem a professora especializada e ela teve que ir para uma escola regular
O pai que era bancaacuterio pediu transferecircncia do banco para a cidade
de Florianoacutepolis para que a informante I e seus irmatildeos pudessem
continuar os estudos
Em Florianoacutepolis frequentaram a escola Celso Ramos onde a sala
dos surdos era de responsabilidade do professor Francisco Lima Juacutenior
O professor Francisco era uma pessoa muito importante nesta
eacutepoca a vida dele era ajudar o grupo de surdos atraveacutes da liacutengua de
sinais e ele lecionava no ensino fundamental e no curso primaacuterio
A informante I sempre foi muito curiosa queria mais e resolveu
fazer o curso ginasial por correspondecircncia pois na eacutepoca fazia o
segundo grau na escola de ouvintes tinha dificuldade tinha que aprender
tudo sozinha porque na escola o ensino era em portuguecircs falado difiacutecil
135
para o surdo entender (problema de comunicaccedilatildeo) Ela tinha vontade de
estudar na escola com o professor Francisco que ensinava na liacutengua de
sinais
Relembrou que naquela eacutepoca viu que foi muito difiacutecil quando
ela tinha duacutevidas os pais pagavam um professor para dar aulas
particulares Enfim venceu mas natildeo foi faacutecil Depois fez vaacuterios cursos
profissionalizantes como datilografia correspondecircncia comercial curso
de cabeleireira manicure pintura em tela corte e costura e tantos outros
que agora natildeo lembrava mais
Depois de tudo isso resolveu fazer o concurso para uma vaga de
escrituraacuterio no Banco do Estado de Santa Catarina ndash BESC e foi
aprovada trabalhou laacute por vaacuterios anos e agora jaacute estava aposentada
A informante I eacute casada e o companheiro tambeacutem eacute surdo
funcionaacuterio aposentado da Imprensa Oficial Queria muito ter filhos e
acabou tendo um filho que eacute ouvinte e hoje estaacute com 27 anos e tem
formaccedilatildeo acadecircmica com poacutes-graduaccedilatildeo Diz sentir-se realizada
Sua matildee tem hoje 87 anos e eacute a grande incentivadora de sua vida
eacute tambeacutem um grande exemplo de vida guerreira batalhadora e muito
religiosa Foi ela que ensinou o que eacute amor respeito e outros valores
morais tudo isso dentro da doutrina espiacuterita
A informante I diz ser uma pessoa realizada porque venceu
muitas barreiras conseguiu tirar a carteira de motorista e tambeacutem
aprendeu a utilizar a comunicaccedilatildeo no celular Internet MSN e e-mail
Nada foi faacutecil considera-se uma pessoa feliz adora assistir aos
filmes legendados os noticiaacuterios novelas enfim gosta de estar bem
informada
Contando a histoacuteria de sua vida quer mostrar agraves pessoas que pode
alcanccedilar qualquer coisa na vida e que natildeo eacute diferente dos outros A
diferenccedila estaacute na audiccedilatildeo mas pode usar os outros sentidos para se
comunicar e utilizar a liacutengua de sinais visual
562 ndash Grupo II ndash Informantes
Nas narrativas dos sujeitos surdos para a pesquisa no Grupo II
com idade intermediaacuteria de 30 anos a 60 anos de idade em
intermediaacuterio verificou-se que todos foram alunos do professor surdo
Francisco A seguir estatildeo expressas algumas opiniotildees destes surdos
nomeados de informantes D E e F
136
5621 ndash Informante D
A informante D mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua
opiniatildeo a respeito de como aconteceu essa experiecircncia ldquoCom o passar
do tempo ocorrem muitas mudanccedilas nas liacutenguas de sinais para suprir as
necessidades de comunicaccedilatildeo e as modificaccedilotildees de costumes de cada
geraccedilatildeo Os sinais satildeo criados de acordo com a necessidade de cada
grupordquo
A informante D nasceu em Florianoacutepolis num domingo no dia
quatro de outubro de mil novecentos e cinquenta e trecircs (04101953) em
casa sob os cuidados de uma parteira chamada de Dona Oliacutevia Nasceu
com audiccedilatildeo perfeita segundo diagnoacutestico de um meacutedico do hospital
das cliacutenicas em Satildeo PauloSP em 1961 O responsaacutevel pela sua perda de
audiccedilatildeo foi um medicamento chamado de trepdomicina usado para
acalmar a ldquotosse compridardquo ou Coqueluche Nessa eacutepoca natildeo havia
vacina para a doenccedila nos postos de sauacutede Sua matildee levou os filhos para
vacinar e constatou isso
A famiacutelia dela descobriu a surdez aos nove meses de idade Ela
tinha seis meses de idade quando foi acometida pelo viacuterus da
coqueluche e a irmatilde tambeacutem que na eacutepoca tinha 9 anos de idade
A matildee dela quando estava graacutevida tomou uma injeccedilatildeo
denominada 914 para curar infecccedilatildeo no aparelho genital feminino Esse
medicamento agiu negativamente na formaccedilatildeo dos ossos deixando-a
com o andar defeituoso parecendo que uma perna era mais curta que a
outra Ela foi para Satildeo Paulo levada pelo irmatildeo e pelo padrinho para
tratamento Foi submetida a quatro cirurgias entre 1961 a 1963 mas
que surtiram pouco resultado comprovado em 1980 Daiacute para frente
voltava a ter uma perna mais curta e sente muitas dores ao andar e
sentar
Em 1964 iniciava seus estudos na escola para surdos de
Florianoacutepolis no grupo Celso Ramos Seu primeiro professor surdo foi
o Francisco que lhe dava aula na liacutengua de sinais Francisco tambeacutem
ensinava LIBRAS no Ciacuterculo dos Surdos Mudos de Santa Catarina na
escola primaacuteria e na associaccedilatildeo de surdos
Em 1975 fazia teste para ingressar como funcionaacuteria no BESC
sendo admitida como escrituraria em 18091975 e se aposentou em
19112002 Ela aprendeu a dirigir automoacutevel fez curso de datilografia
e por uacuteltimo fez curso baacutesico de computador para saber operaacute-lo Fez
curso de pintura a oacuteleo em tela e em tecido Procurava cuidar de sua
sauacutede indo ao meacutedico regularmente
Ela eacute associada e participa da diretoria da Associaccedilatildeo de Surdos
137
da Grande Florianoacutepolis ndash ASGF eacute tambeacutem voluntaacuteria nas atividades
que a associaccedilatildeo desenvolve em benefiacutecio de seus amigos surdos que
frequentam a mesma associaccedilatildeo Hoje ensina LIBRAS para os
associados de qualquer idade
5622 ndash Informante E
O informante E mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua
opiniatildeo de como aconteceu essa experiecircncia ldquoAssim como a liacutengua
portuguesa evolui ou muda com o passar do tempo LIBRAS tambeacutem
passa por mudanccedilas constantes estas podem ser de regiatildeo para regiatildeo
por exemplo a liacutengua de LIBRAS acompanha a evoluccedilatildeo do mundo
sendo hoje uma liacutengua para a comunicaccedilatildeo dos surdosrdquo
O informante E nasceu na maternidade Carmela Dutra no Centro
de Florianoacutepolis no dia 03 de Novembro de 1957 Ele ficou surdo aos
quatro anos de idade (causado por remeacutedios ministrados errados por sua
matildee nos ouvidos quando estava com febre dor de ouvidos e caxumba)
Com 53 anos eacute presidente de entidade esportiva de Santa
Catarina desde 1999 reeleito pela segunda vez com gestatildeo ateacute 2011
sendo um dos liacutederes dos surdos de Santa Catarina Foi um dos
fundadores da Sociedade de Surdos de Satildeo Joseacute atuou nela de 1990 a
1996 uma entidade que crescia muito e eacute considerada a mais organizada
no estado de Santa Catarina
Ele escolheu o sobrenome diferente na campanha poliacutetica que
concorreu para vereador de Satildeo Joseacute de 2003 a 2007 em homenagem agrave
sua avoacute-materna jaacute falecida descendente de alematildees que lhe criou por
mais de 10 anos junto com o marido descendente de portugueses que
natildeo conhecera pois a avoacute dele ficara viuacuteva quando o pai dele era
solteiro Portanto queria preservar o sobrenome da avoacute-matildee dele como
lembranccedila
Os pais dele estavam preocupados com sua infacircncia com sua
situaccedilatildeo futura e por isso procuravam incansavelmente a existecircncia de
uma escola especial para surdos
Finalmente acharam a escola localizada na Rua Conselheiro
Mafra no Centro de Florianoacutepolis Era uma sala comercial tipo garagem
grande (perto do antigo terminal urbano hoje Terminal Cidade de
Florianoacutepolis) foi ali onde encontraram a primeira escola para surdos
onde ele aprendeu a liacutengua de sinais aos 6 anos de idade
Ele estudou com o primeiro professor surdo do estado de Santa
Catarina O professor Francisco e sua esposa que era ouvinte e tambeacutem
professora chamava-se Mercedes e foi a primeira inteacuterprete dele Neste
138
momento existiam outros alunos surdos que eram Niro Paulo Percy
Socircnia Maria da Graccedila Maria Bernadete Aldenei Rita Reinoldo
Edson Ivo (falecido) Arnoldo e outros que ele natildeo lembrava
No comeccedilo do aprendizado dele da liacutengua de sinais achava
estranho e natildeo lhe agradava muito fazendo com que ele natildeo quisesse
estudar ali mas foi a matildee dele que o incentivou a continuar estudando
e com o tempo foi gostando da escola e do grupo de amigos surdos
isto foi em 1971
Essa escola foi transferida de local e foi para a EEB
Governador Celso Ramos no bairro Prainha em Florianoacutepolis no ano
de 1972 Esta nova escola ele adorava muito e guarda boas recordaccedilotildees
vividas nela
Infelizmente ele natildeo lembrava do ano em que foi transferido para
o Instituto de Audiccedilatildeo e Terapia da Linguagem ndash IATEL situado na
Rua Liberato Bittencourt no Centro de Florianoacutepolis numa casa
simples e alugada Ficou muito contrariado com esta transferecircncia
Nessa eacutepoca tinha mais ou menos 13 anos Proacuteximo aos 15 anos ele
abandonou o IATEL porque tinha que trabalhar para sustentar a avoacute
dele que era viuacuteva e pobre Sua avoacute tambeacutem natildeo gostava desta escola e
tambeacutem das novas professoras que eram ouvintes e que natildeo sabiam usar
a liacutengua de sinais obrigando os surdos a oralizarem
Aos 14 anos ele jaacute trabalhava em uma empresa de comunicaccedilatildeo
visual (luminosos) Apoacutes um ano ele mudava de ramo para a funccedilatildeo de
auxiliar de escritoacuterio em duas empresas de contabilidade Depois disso
ele fundou uma empresa proacutepria de comunicaccedilatildeo visual em sociedade
com seu pai no ramo de letreiros em placas paredes e etc O nome da
empresa comprada foi modificado e mais tarde fez sociedade com o
irmatildeo caccedilula Para seu irmatildeo caccedilula foi um aprendizado e hoje ele eacute
proprietaacuterio de uma empresa no mesmo ramo residindo em Blumenau
Em 2000 deixava este ramo e comeccedilava a estudar para ter a
formaccedilatildeo de professor na Liacutengua de Sinais aos 43 anos Ele Trabalhou
como professor em Admissatildeo em Caraacuteter Temporaacuterio ndash ACT e na
Fundaccedilatildeo Catarinense de Educaccedilatildeo Especial - FCEE como assessor
teacutecnico na Educaccedilatildeo de Surdos de 2003 a 2005 Trabalhou tambeacutem
como ACT no Centro Educacional Municipal Interativo Floresta em Satildeo
Joseacute no Nuacutecleo de Educaccedilatildeo Especial e Inclusiva - NEESPI como
professor de LIBRAS de 2006 a 2007 Foi docente dos cursos de
LIBRAS de 2000 a 2007
A partir de 2008 deixava o cargo de professor de LIBRAS para
focar os compromissos somente nos esportes Atualmente atua numa
entidade esportiva de surdos desde 1999 nesta com 12 associaccedilotildees
139
filiadas organizando em meacutedia sete (7) eventos esportivos por ano
Portanto os pensamentos deles e seus compromissos satildeo voltados para a
comunidade surda
5623 ndash Informante F
O informante F mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua
opiniatildeo de como aconteceu essa experiecircncia ldquoPorque assim como toda
liacutengua ela sofre das mudanccedilas histoacutericas e culturais as liacutenguas satildeo
dinacircmicas e natildeo estaacuteticas por isso elas vivem sofrendo alteraccedilotildees e com
as liacutenguas de sinais ocorre o mesmo Essas mudanccedilas podem ser
percebidas nas diferentes regiotildees onde satildeo utilizadas a mesma liacutengua
mesmo sendo a mesma liacutengua ela possui algumas diferenccedilas em
algumas palavras ou expressotildeesrdquo
O informante F nasceu 04071958 em Florianoacutepolis eacute casado e
tem 52 anos Nasceu surdo a famiacutelia dele sempre lhe deu apoio
levaram-no a vaacuterios lugares para consultar com meacutedicos procuravam
um tratamento mas de acordo com os meacutedicos ele natildeo tinha muita
chance de desenvolver audiccedilatildeo e a fala Nesta eacutepoca natildeo existiam no
Estado de Santa Catarina escolas especializadas para surdos e como o
pai dele era militar natildeo podia morar em outro Estado Entatildeo seu pai
matriculou-o numa escola regular mas as professoras natildeo sabiam a
liacutengua de sinais e era muito difiacutecil para ele aprender
A alfabetizaccedilatildeo dele natildeo foi muito boa e para melhorar um pouco
o aprendizado tinha aulas com o professor surdo Francisco Lima Juacutenior
que lhe ensinava as palavras utilizando o alfabeto manual e a liacutengua de
sinais para o aprendizado da Liacutengua Portuguesa Escrita e tambeacutem para
alguns alunos surdos
Em sua famiacutelia se comunicava atraveacutes de sinais caseiros que de
acordo com ele foi muito bom e os utiliza ateacute hoje
Apesar das dificuldades nos estudos tinha sorte pois conseguiu
emprego Neste emprego que era na Central de Luz Eleacutetrica de Santa
Catarina ndash CELESC sempre foi muito bem tratado Tinha muitos
amigos na associaccedilatildeo de surdos na escola e no trabalho e para se
comunicar ensinava alguns sinais bem baacutesicos para os amigos para que
assim natildeo tivessem problemas quanto agrave comunicaccedilatildeo
Ele trabalhou sempre na CELESC na cidade de Florianoacutepolis
pois foi aprovado em um teste naquela eacutepoca natildeo havia concursos
Depois foi transferido algumas vezes para outras cidades como
Blumenau Joinville e Jaraguaacute do Sul Iniciou como auxiliar de serviccedilos
gerais depois passou a auxiliar administrativo e por uacuteltimo como
140
motorista
Foi presidente de vaacuterias Associaccedilotildees de Surdos uma dessas em
1989 que foi fechada neste mesmo ano e outra em dois mandatos
20052008 Ele jogou em vaacuterios times nas associaccedilotildees de surdo de Santa
Catarina Ele preferia jogar futebol de salatildeo - FUTSAL
Ele sempre participou e ateacute hoje participa de encontros com
surdos na liacutengua de sinais seja em associaccedilotildees ou outros eventos
Atualmente mora na cidade de Londrina ndash Paranaacute
563 ndash Grupo III ndash Informantes
Nas narrativas dos sujeitos surdos do Grupo III com idades entre
15 a 30 anos sendo o grupo dos mais jovens e que participam de
associaccedilotildees de surdos em Santa Catarina foram expressas algumas
opiniotildees desses surdos aqui nomeados de informantes A B e C
Seguem abaixo relatos e experiecircncias dos informantes
5631 ndash Informante A
O informante A mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua
opiniatildeo a respeito de como aconteceu essa experiecircncia ldquoNatildeo diria que
ldquomudardquo mas sim sofre modificaccedilotildeesalteraccedilotildees com o tempo e como
qualquer outra liacutengua dependendo do estadopaiacutes em que eacute ldquofaladardquo teraacute
adaptaccedilotildees conforme a necessidade de cada lugar Sendo que ateacute mesmo
em casa quando a crianccedila natildeo tem contato com LIBRAS em um
primeiro momento ela e sua famiacutelia se apropriam de sinais proacuteprios para
a comunicaccedilatildeordquo
O informante A nasceu em 18121980 no Balneaacuterio Camboriuacute
nasceu surdo comunica-se por meio de gestos com a famiacutelia Sua
famiacutelia sempre mostrou preocupaccedilatildeo com ele levaram-no a atendimento
fonoaudioloacutegico para que aprendesse a falar mas tinha dificuldades
poreacutem era esforccedilado Somente mais tarde encontrava a comunidade
surda na escola Quando ele teve atendimento especial e natildeo era
utilizada a liacutengua de sinais somente alguns gestos acabava desistindo e
parava de estudar Retornando agrave escola com ouvintes quando ele tinha
17 anos de idade encontrava os surdos que o convidaram a participar
de uma festa na associaccedilatildeo de surdos foi quando comeccedilou a aprender a
LIBRAS e ficou feliz pois comunicava-se com todos na LIBRAS jaacute
que era um modo mais faacutecil de aprender e memorizar os conteuacutedos jaacute
com o oralismo era muito sofrido
Ele fundou uma Associaccedilatildeo de Surdos na cidade onde mora Na
141
associaccedilatildeo motivou o uso da LIBRAS valorizou o contato entre os
membros da comunidade surda e a LIBRAS assim como a educaccedilatildeo
formal Ele sentia-se satisfeito pois se comunicava com os amigos
usando a leitura labial e os gestos mesmo assim perdia algumas
informaccedilotildees por natildeo ouvir Mais tarde encontrava-se com grupos de
surdos e comeccedilou entatildeo o contato da LIBRAS e percebia que por meio
da LIBRAS ele poderia receber mais informaccedilotildees do que pela leitura
labial e a partir de entatildeo conseguiu viver melhor na sociedade Lutou
para inserir a LIBRAS no ensino dos surdos porque sabia na praacutetica que
facilita o aprendizado do surdo
Hoje estaacute casado e sua esposa eacute surda Formou-se na faculdade de
gastronomia pela UNIVALI e tem o curso de especializaccedilatildeo em
educaccedilatildeo especial Atualmente faz curso de LetrasLIBRAS e sua
turma eacute composta na maioria por surdos que estatildeo gostando do curso
tendo a oportunidade de trocar ideacuteias experiecircncias bem como buscar
novos conhecimentos
Ele eacute Instrutor de LIBRAS efetivado pela prefeitura de Itajaiacute
aleacutem de trabalhar como professor de LIBRAS em outros lugares
Tambeacutem realiza trabalhos voluntaacuterios em algumas entidades
(Associaccedilatildeo FENEIS Federaccedilatildeo etc) Jaacute atuou em vaacuterios cargos de
diretoria na Associaccedilatildeo de Surdos de Balneaacuterio Camboriuacute isso foi bom
porque ele aprendeu sobre poliacutetica sobre organizaccedilatildeo e tambeacutem a
utilizar estrateacutegias diferentes para as accedilotildees etc
5632 ndash Informante B
O informante B mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua
opiniatildeo sobre como aconteceu essa experiecircncia ldquoA LIBRAS eacute uma
liacutengua porque possui uma forma de comunicaccedilatildeo proacutepria Ė
independente como qualquer outra liacutengua escrita ou falada Tem
formato proacuteprio sua comunicaccedilatildeo eacute visual pois se utiliza de gestos e
expressotildees Como todas as liacutenguas tem variaccedilotildees conforme a regiatildeordquo
O informante B nasceu em 08011985 na cidade de Tijucas em
Santa Catarina Atualmente mora em Itapema e tem 25 anos Ele nasceu
surdo mas seus pais soacute descobriram sua surdez aos nove meses de
idade entatildeo ficaram apavorados e natildeo sabiam como ele iria se
comunicar na sociedade Depois o pai dele levou-o para uma escola em
Florianoacutepolis chamada de IATEL onde ateacute a 3ordf seacuterie utilizavam a
linguagem oral e muito pouco gestual Na eacutepoca os gestos (sinais) natildeo
eram reconhecidos como uma liacutengua
Os pais dele escolheram uma escola da Rede Regular de Ensino
142
na eacutepoca nem era pensado em inteacuterprete de LIBRAS ateacute porque essa
natildeo era uma liacutengua oficializada Eles natildeo conheciam a comunidade
surda e sua cultura entatildeo decidiram que seu filho frequentaria
atendimento fonoaudioloacutegico dois dias por semana
Para o informante B seus pais tentavam criaacute-lo como ouvinte o
que para ele caracteriza uma tentava de modificar sua identidade surda
Ele relata que tinha muita dificuldade de comunicar-se com as pessoas
na sociedade que utilizava a liacutengua falada
Mais tarde aos 16 anos de idade foi para uma escola de educaccedilatildeo
especial onde teve aulas de informaacutetica com outros surdos entatildeo podia
utilizar a LIBRAS Antes ele ficava isolado natildeo gostava e natildeo podia
usar a liacutengua de sinais comeccedilava a aprender a falar mas demorava
muito Agora aceita sua identidade surda sente-se mais feliz e melhor
Participa de uma associaccedilatildeo de surdos e viaja para vaacuterios lugares nas
diferentes regiotildees de Santa Catarina
Ele trabalhou como analista de sistemas na aacuterea de informaacutetica da
empresa Ceracircmica Portobello em Tijucas ficava muito incomodado
com a barreira de comunicaccedilatildeo com os funcionaacuterios em virtude de terem
muito trabalho pois o surdo precisa das matildeos para falar e se estaacute com
elas ocupadas trabalhando fica impossiacutevel comunicar-se diferente dos
ouvintes Tentou ensinar alguns sinais para os funcionaacuterios para que lhe
entendessem e pudessem se comunicar com ele mas os funcionaacuterios
desviavam para outro assunto natildeo demonstravam interesse em aprender
sinais Sofria por passar o dia inteiro de trabalho sem poder se
comunicar com outra pessoa disfarccedilava esse sentimento acessando a
Internet para realizar pesquisas de temas relacionados agrave educaccedilatildeo de
surdos (palestras congressos encontros etc) Entatildeo numa destas
pesquisas achou um congresso de surdos anotou a data e mostrou ao
chefe que o liberou para ir ao congresso (encontro surdo)
Ele acredita que as pessoas natildeo tinham culpa pois oralismo era a
forma de ensinar naquela eacutepoca e para os surdos era muito difiacutecil de
compreender e aprender a liacutengua falada Aprendeu LIBRAS na
comunidade surda Apoacutes a liberaccedilatildeo para o congresso pelo seu chefe
comeccedilou a frequentar a associaccedilatildeo de surdos e outros eventos da
comunidade surda
Ele participou de um concurso no municiacutepio de Itajaiacute para o
cargo de instrutor de LIBRAS Foi classificado em terceiro lugar
conseguiu um trabalho e seus pais deixaram que ele morasse sozinho
em Itajaiacute Morou sozinho por um ano trabalhava durante o dia e
estudava na faculdade agrave noite Com o passar do tempo conheceu
pessoas e fez amizade com outros surdos que no segundo ano dividiram
143
o aluguel da casa com ele
Alguns surdos convidaram ele para um encontro de surdo
(nacional congresso e entre outros) Foi possiacutevel fazer novas amizades e
entrar em contato com outros sujeitos surdos pois neste espaccedilo tinha
surdo sentado ao lado surdo no bar e em outros momentos do
congresso
Ao teacutermino do encontro pegou os endereccedilos eletrocircnicos das
pessoas que conheceu e assim pode manter correspondecircncia com outros
surdos atraveacutes de e-mails nas diferentes regiotildees do estado de SC
Depois de algum tempo de troca de e-mails combinou encontros e
viajou para o sul sudeste nordeste norte do Brasil e etc encontrou-se
com muitos surdos que se comunicavam na liacutengua de sinais e aprendeu
muitos sinais novos onde percebeu que havia muitas diferenccedilas nos
sinais que cada regiatildeo tinha sinais especiacuteficos daquele lugar
Quando o curso de LetrasLIBRAS da UFSC foi aprovado pelo
MEC e abriram-se as inscriccedilotildees trecircs instrutores de LIBRAS jaacute haviam
prestado o vestibular tiveram uma prova com 15 questotildees referentes a
LIBRAS utilizaram na apresentaccedilatildeo para seleccedilatildeo dos candidatos slides
e videoconferecircncia com todos os candidatos Ficou admirado e achou
muito legal o grupo de surdo que estava laacute e disse ldquoPassei a ver o
mundo diferente ao teacutermino da provardquo
Ele trabalhou como instrutor de LIBRAS por 4 anos e recebeu 14
alunos surdos para atendimento no processo de aprendizagem da
LIBRAS E tambeacutem ensinou sobre a relaccedilatildeo de aprendizagem do aluno
surdo em LIBRAS para os colegas Ele formou-se no curso de ciecircncias
da computaccedilatildeo e fez poacutes-graduaccedilatildeo no processo de inclusatildeo e educaccedilatildeo
especial Atualmente estaacute cursando a faculdade de LetrasLIBRAS pela
UFSC
5633 ndash Informante C
O informante C mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua
opiniatildeo de como aconteceu essa experiecircncia ldquoA liacutengua de sinais assim
como todo o contexto no qual estamos inseridos sofre mudanccedilas e
adaptaccedilotildees durante o decorrer de nossas vidas por questotildees de
adaptaccedilatildeo comportamento e culturardquo
O informante C nasceu em 12021986 em Santa MariaRS surdo
de nascenccedila morando em Florianoacutepolis haacute pouco tempo Voltando ao
passado dele desde pequeno adorava brincar mexer experimentar as
coisas novas o que tinha por perto Certa vez sua avoacute chamou-o falava
o seu nome mas como ele natildeo escutava nenhuma letra e nenhum som
144
que veio da voz da avoacute natildeo a atendeu Ela estranhou a atitude dele pois
ele nunca deu atenccedilatildeo para ela quando ela gritava ou chamava pelo seu
nome Pra ela era impossiacutevel uma crianccedila que natildeo respondia aos sons
Entatildeo ficou desconfiada que ele poderia ser surdo Resolveu pedir aos
pais dele para levaacute-lo a um meacutedico para descobrir a causa do problema
Mas seus pais tinham dificuldade de aceitar essa ideacuteia e de levaacute-lo para
o meacutedico parecia que tinham medo que ele realmente fosse surdo Ficou
assim sem comunicaccedilatildeo
A matildee dele assustada chorava muito e o pai dele ficou furioso
Pois o medo deles era de jamais se comunicarem com o filho que eles
amavam muito Entatildeo o meacutedico deu um conselho para a matildee dele que
era conhecer as pessoas surdas que se comunicavam atraveacutes da
LIBRAS ou entatildeo fazer atendimento e acompanhamento com
fonoaudioacuteloga para aprender a falar eou melhorar a fala
A matildee dele decidiu em primeiro lugar ir numa escola onde tinham
pessoas surdas laacute conheceu algumas pessoas surdas e achou que eram
pessoas legais Conversou com essas pessoas surdas que conheceu
sobre seu filho que era surdo Queria saber como poderia se comunicar
com uma crianccedila surda pois o objetivo da matildee era poder se comunicar
com o filho Entatildeo pediu ajuda de um surdo jovem Ele explicou para
ela que devia fazer um curso de LIBRAS que eacute a Liacutengua de Sinais
Brasileira que as pessoas surdas utilizam para se comunicarem com
facilidade
Ele crescia e no seu desenvolvimento viveu muita coisa
conseguiu mexer comer tudo A matildee dele comunicava-se com ele
atraveacutes dos sinais ele via as matildeos da matildee que natildeo parava de mexer
estranhava mas repetia para entender aquele conceito o que ela queria
dizer ela sinalizava e mostrava as coisas ateacute que ele entendia o
conceito
A matildee dele era uma pessoa bastante simples e feliz com os filhos
Tem um irmatildeo que eacute um ano mais velho do que ele o irmatildeo aprendeu a
usar sinais com ele e a matildee e podiam se comunicar daiacute eles
melhoraram muito a comunicaccedilatildeo tornaram-se grandes amigos sempre
brincaram juntos brigavam choravam gritavam e reclamavam Mas
eles eram grandes amigos
Ele mais observava as coisas a seu redor e se admirava com o que
via Depois de alguns meses sua irmatilde cresceu um pouco conseguiu
perceber as coisas comeccedilou a falar com ela atraveacutes de sinais ela
aprendeu essa liacutengua com ele como se fosse a primeira liacutengua da vida
dela Uma vez teve uma festinha laacute em sua casa estava toda a famiacutelia
reunida passou um aviatildeo sua irmatilde ouviu o barulho do aviatildeo e sinalizou
145
um aviatildeo todo mundo viu e se assustaram principalmente a matildee dele
pois natildeo sabia que a filha sinalizava sendo tatildeo pequena Sua matildee ficou
tatildeo contente e bateu uma foto dela sinalizando
Como cresceu sempre podendo se comunicar na liacutengua dos sinais
acreditava viver muito ldquonormalizadordquo Tinha uma famiacutelia e amigos
surdos estudou em escolas com outras crianccedilas surdas e relata como ele
se divertia muito
Depois de certo tempo a escola natildeo funcionava somente para
crianccedilas surdas sua matildee ficou muito preocupada com sua educaccedilatildeo
combinou com seu pai e com toda sua famiacutelia a mudanccedila para a cidade
de Florianoacutepolis ndash Santa Catarina pois soube que havia uma escola
especial para ele onde poderia crescer com uma educaccedilatildeo de qualidade
Quando chegou agrave capital de SC Florianoacutepolis simplesmente
amou a cidade porque ele curtia bastante as praias o pai alugou uma
casa bem legal na Barra da Lagoa e todos os dias ia sozinho para a
praia brincava na areia e construiacutea castelos
O informante C relata que curtiu bastante aquele veratildeo
mudaram-se dessa casa para outra que construiacuteram no bairro Carianos
ele natildeo gostava muito do lugar achava meio estranho porque para ele
ficava muito longe das praias Mas com o tempo ele se acostumou ateacute
fez amizades com os vizinhos que eram ouvintes Ele natildeo sabia como
comunicar-se com eles pois usavam a fala ele sentiu vergonha e medo
Ficava atraacutes de sua matildee que explicava para os vizinhos que ele era
surdo que natildeo sabia falar quase nada apenas sabia LIBRAS eles
ficavam admirados e convidavam-no para brincar Tinha amigos que
eram tranquilos porque o pai deles era surdo tambeacutem
O tempo passava e ele brincava sempre com esses amigos curtia
muito mas ele percebeu que se comunicavam soacute oralmente soacute ele natildeo
estranhava Foi falar com sua matildee sobre essa situaccedilatildeo pois ele queria
poder falar tambeacutem sua matildee se surpreendeu com a ideacuteia dele que era
ldquoquerer poderrdquo falar tambeacutem Para sua matildee foi uma surpresa porque
ouvia muito que a maioria das pessoas surdas natildeo aguentava aprender a
falar e seu proacuteprio filho estava querendo aprender a falar
Ele resolveu ser soacutecio de uma associaccedilatildeo de outra cidade natildeo
gostava da anterior e se mudou para Associaccedilatildeo dos Surdos da Grande
Florianoacutepolis ele fez amizade com o pessoal viajou muito se divertia
saiacutea e curtiu bastante Participava das reuniotildees da associaccedilatildeo tambeacutem
Depois virou Conselheiro Fiscal da Associaccedilatildeo gostou da experiecircncia
mas continuou sendo soacutecio Mas por outro lado andava observava e
estudava bastante e percebeu o mundo cada vez mais veloz por causa
da tecnologia e a sociedade que natildeo parava de mudar Depois que
146
terminou o terceiratildeo teve uma formatura incriacutevel em que chorou um
monte pois teve medo de perder o contato com as colegas de sala mas
tambeacutem porque ele aprendeu a amar esses amigos como se fossem de
sua famiacutelia
Comeccedilou uma faculdade na UFSC gostou bastante e fez novas
amizades comeccedilou a trabalhar como AtorTradutor Cinegrafista Editor
de Viacutedeos na UFSC tudo isso como bolsista Ele tornou-se bem
conhecido nacionalmente na comunidade surda comeccedilou a viajar
bastante para congressos e palestras Depois de um ano de sucesso em
sua vida acabou o contrato de bolsista pela UFSC e comeccedilou a
trabalhar como professor na prefeitura foi um grande desafio para ele
pois tinha professoras ouvintes que trabalhavam na educaccedilatildeo especial
que pensavam diferente dele com relaccedilatildeo agrave comunicaccedilatildeo na liacutengua de
sinais
Hoje em dia continua sendo conhecido nacionalmente na
comunidade surda eacute estudante do uacuteltimo periacuteodo da LetrasLIBRAS na
UFSC e estaacute trabalhando em duas escolas da prefeitura como professor
de LIBRAS
564 ndash Algumas consideraccedilotildees finais
Os informantes mostraram sua histoacuteria e nela pude perceber que
sinalizavam diferentemente uma mesma palavra principalmente aqueles
que viveram em lugares diferentes
Sabemos que a histoacuteria humana sofre transformaccedilotildees ao longo do
tempo mas nem sempre os seres humanos se datildeo conta das mudanccedilas
que podem acontecer no passado no presente e no futuro Na sociedade
acontecem transformaccedilotildees tecnoloacutegicas poliacuteticas econocircmicas sociais e
culturais Todas essas transformaccedilotildees influenciam o modo como usamos
a liacutengua E a liacutengua se modifica com o tempo
Noacutes tambeacutem mudamos as ldquocoisas da vidardquo A comunidade surda
tem um jeito proacuteprio de demonstrar as variaccedilotildees regionais e mudanccedilas
quanto agrave liacutengua de sinais a ponto de ser possiacutevel identificar a
procedecircncia de um surdo do nordeste ou do sul com base apenas no seu
gestual
A comunidade surda antigamente apresentava uma forma de
conversar em LIBRAS mais cotidiana e restrita agrave associaccedilatildeo de surdos
mas na atualidade a comunicaccedilatildeo eacute mais ampla acontece em vaacuterios
locais como escolas universidades congressos viagens turiacutesticas etc
ampliando conhecimentos e conhecendo novos sinais em contexto
social
147
Um surdo conversa com outro surdo utilizando a liacutengua de sinais
e qualquer pessoa ouvinte pode aprender LIBRAS e se comunicar na
comunidade surda mesmo natildeo tendo fluecircncia Dessa forma os surdos e
ouvintes podem se comunicar na LIBRAS Aleacutem disso a comunicaccedilatildeo
entre duas ou mais pessoas pode se dar em diferentes contextos sociais
Vale ressaltar que poucos surdos conheciam a gramaacutetica ou tinham
conhecimento linguiacutestico da LIBRAS ateacute porque eacute uma liacutengua que estaacute
sendo ensinada para o surdo nas escolas a partir da LEI de
reconhecimento e ainda natildeo eacute ensinada a parte de reflexatildeo linguiacutestica
estaacute mais voltada para sua praacutetica (o uso)
Segundo Labov
Ao falar do papel de fatores sociais que influenciam a
evoluccedilatildeo linguiacutestica eacute importante natildeo superestimar o
grau de contato ou de superposiccedilatildeo entre valores sociais
e a estrutura da liacutengua A estrutura linguiacutestica e a
estrutura social natildeo satildeo de modo algum coextensivas A
grande maioria das regras linguiacutesticas estatildeo bastante
distantes de qualquer valor social elas fazem parte do
elaborado mecanismo de que o falante precisa para
traduzir seu complexo conjunto de significados ou
intenccedilotildees em forma linear (LABOV 2008 [1972] p
290)
Em vaacuterios lugares (regiotildees) da comunidade surda usar a LIBRAS
em breve vai ser como falar em inglecircs em francecircs em italiano e em
outras liacutenguas Todas as liacutenguas satildeo importantes poreacutem alguma pode
ser mais reconhecida no mundo e influenciar mais Natildeo podemos
descartar a possibilidade de outras liacutenguas serem mais reconhecidas
assim como natildeo podemos prever quais liacutenguas influenciaratildeo mais no
mundo em outras eacutepocas quais dialetos novos teremos e quais variaccedilotildees
e mudanccedilas linguiacutesticas Talvez no futuro tenhamos mais influecircncia das
liacutenguas de sinais na comunicaccedilatildeo do mundo
148
149
CAPIacuteTULO VI ndash Descriccedilatildeo e anaacutelise dos resultados
61 ndash Introduccedilatildeo
Realizei a pesquisa escrita baseado nos relatos dos informantes
das trecircs geraccedilotildees pesquisadas atraveacutes de filmagem Primeiro busquei
nessas filmagens sinais que fossem relevantes para a pesquisa
variaccedilotildees e mudanccedilas lexicais e variaccedilotildees e mudanccedilas fonoloacutegica na
LIBRAS Em seguida fiz uma listagem de sinais com a palavra
correspondente em Liacutengua Portuguesa observando o nuacutemero de vezes
em que o sinal era apresentado aparecia Depois escolhi os sinais que
mais apareciam nos trecircs grupos de informantes e verifiquei as CM (paacuteg
225 e 227) que apareceram Apoacutes isto fiz tabelas gerais para pesquisa
de variaccedilatildeo lexical mudanccedila lexical variaccedilatildeo fonoloacutegica e mudanccedila
fonoloacutegica Foram escolhidos dezessete sinais para anaacutelise porque
apareceram nos trecircs grupos e em maior nuacutemero Apoacutes a escolha dos
sinais construiacute quatro tabelas gerais com os sinais produzidos pelos trecircs
grupos pesquisados com a CM utilizada na sinalizaccedilatildeo Por fim fiz a
anaacutelise dos dados obtidos
Ressalto que a descriccedilatildeo dos informantes que realizaram as
entrevistas nas trecircs geraccedilotildees em diferentes faixas etaacuterias traz
informaccedilotildees de grande importacircncia para a anaacutelise dos dados obtidos
referentes agraves possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas na Liacutengua de
Sinais em Santa Catarina
Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os seguintes toacutepicos
comparaccedilatildeo dos dados dos grupos das trecircs geraccedilotildees de surdos na liacutengua
de sinais e descriccedilatildeo sobre variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na liacutengua de
sinais com a existecircncia de um ou mais sinais dos informantes das trecircs
geraccedilotildees descriccedilatildeo da variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua de
sinais e explicaccedilatildeo de como o mesmo sinal pode ser utilizado e por
fim anaacutelise dos resultados das trecircs geraccedilotildees dos informantes
considerando as variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas na Liacutengua Brasileira
de Sinais
62 ndash A comparaccedilatildeo dos dados o grupo de trecircs geraccedilotildees de surdos
na liacutengua de sinais
Os dados recolhidos no programa de transcriccedilatildeo na liacutengua de
sinais ndash ELAN foram analisados e comparados com o propoacutesito de
mostrarapontar possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas que
aconteceram na liacutengua de sinais em Santa Catarina Os informantes
150
apresentaram individualmente suas respostas ao questionaacuterio referente a
seu aprendizado escolar e a sua vida Essas apresentaccedilotildees gravadas em
viacutedeo tecircm o objetivo de mostrar a experiecircncia na liacutengua de sinais dos
informantes nas trecircs geraccedilotildees pesquisadas
Para anaacutelise dos dados recolhidos foi feita uma tabela
denominada Preliminar dos dados ndash variaccedilotildees ou mudanccedilas
linguiacutesticas Nessa tabela vemos a transcriccedilatildeo dos depoimentos e a
identificaccedilatildeo dos Grupos (I II e III) de surdos que narraram a sua
experiecircncia na liacutengua de sinais Seguem as principais abordagens
pesquisadas
No primeiro momento investigo a variaccedilatildeo e
mudanccedila lexical na Liacutengua Brasileira de Sinais onde
dois ou mais sinais existem na liacutengua ao mesmo tempo
descrevo a mudanccedila em dois sinais que se daacute quando o
antigo sinal some e um novo entra
No segundo e uacuteltimo momento investigo a variaccedilatildeo e
mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua Brasileira de Sinais em
que um mesmo sinal possui mais de uma forma de
realizaccedilatildeo descrevo a mudanccedila que se observa quando um
sinal altera de caracteriacutesticas com relaccedilatildeo aos paracircmetros
configuraccedilatildeo das matildeos ponto de articulaccedilatildeo e movimento
Foi interessante realizar a pesquisa dos dados dos trecircs grupos
porque eacute um desafio aleacutem de me permitir identificar os sinais das
geraccedilotildees pesquisadas A princiacutepio foram identificados os sinais que
eram utilizados pelos surdos mais velhos e que os jovens natildeo
conheciam Em seguida os sinais com configuraccedilatildeo de matildeos (CM) e
ponto de articulaccedilatildeo (PA) diferentes e tambeacutem os sinais com
configuraccedilatildeo de matildeos (CM) iguais e ponto de articulaccedilatildeo (PA)
diferentes Por uacuteltimo os sinais com configuraccedilatildeo de matildeos (CM)
diferentes e ponto de articulaccedilatildeo (PA) iguais
Os sinais apresentados pelos informantes das trecircs geraccedilotildees
totalizaram 255 sinais Nesse total foram utilizados 17 vocaacutebulos para a
anaacutelise dos resultados e levantamento dos sinais de cada informante dos
trecircs Grupos (I II e III) Alguns sinais foram dispensados porque
tornariam a pesquisa muito ampla Dos 255 sinais encontrados para
anaacutelise 115 foram apresentados pelos surdos do Grupo mais jovem 163
foram apresentados pelo Grupo com idade intermediaacuteria e 183 pelo
Grupo dos mais velhos
Esta distribuiccedilatildeo por faixa etaacuteria compreende 9 informantes trecircs
151
em cada uma das geraccedilotildees formando os trecircs Grupos pesquisados (I II e
III) O resultado mais significativo foi mostrado pelos informantes do
grupo de indiviacuteduos mais velhos (G e I) possibilitando numa primeira
anaacutelise perceber algumas variaccedilotildees e mudanccedila na liacutengua de sinais Ficou
perceptiacutevel que o grupo de surdos dos mais velhos influenciou a liacutengua
de sinais em Santa Catarina na comunidade surda Segue tabela com os
nuacutemeros de sinais levantados em cada um dos trecircs grupos
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Sinais
Analisados
183
163
115
Tabela 09 ndash Preliminar dos dados ndash Variaccedilotildees ou mudanccedilas linguiacutesticas
Como jaacute foi comentado anteriormente a comunidade surda em
Santa Catarina ateacute aproximadamente o ano de 2000 teve um uacutenico
professor surdo no nosso estado e que influenciou a liacutengua de sinais O
fator externo que influenciou a liacutengua de sinais em SC atraveacutes do
professor Francisco foi o agrupamento dos surdos de todo o estado
formando uma comunidade surda que tambeacutem participa da
identificaccedilatildeo de classe do grupo informante Outro fator externo eacute
percebido nos Grupos II e I que mostram sinais aprendidos no contato
com o professor surdo na escola e tambeacutem no Ciacuterculo de Surdo-Mudo
em Santa Catarina sendo que o Grupo II influenciou o Grupo III
Na tabela em anexo percebe-se que dos 255 sinais coletados o
Grupo I apresentou mais sinais do que os Grupos II e III Talvez os
sinais natildeo conhecidos pelo Grupo III sejam os sinais criados
recentemente pela comunidade surda acadecircmica
Nas quatro tabelas gerais dos dados (paacuteg153 167 174 e 176)
tambeacutem apresenta na coluna agrave esquerda dos informantes o sinal (leacutexico)
e na direita os trecircs grupos de diferentes geraccedilotildees com diferentes faixas
etaacuterias que variam de 25 a mais de 80 anos e totalizam nove (9) indiviacuteduos Na coluna sinal (leacutexico) apresentam-se os dados que foram
escolhidos para realizar a pesquisa nos Grupos I II e III as variaacuteveis
independentes (homem mulher idade escolaridade e profissatildeo) que
152
podem mostrar tambeacutem variaccedilatildeo e mudanccedila na liacutengua de sinais usada
pelos informantes
63 ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na Liacutengua Brasileira de Sinais
Nesta seccedilatildeo vatildeo ser observados os itens lexicais que estatildeo em
variaccedilatildeo nas trecircs geraccedilotildees Comparando os sinais eles podem ser
produzidos atraveacutes de um sinal ou mais por exemplo o sinal de ldquomatildeerdquo
no passado tinha apenas um sinal (simples) atualmente utilizam-se dois
sinais (composto) para esta representaccedilatildeo Isto mostra que acontece
variaccedilatildeo lexical em LIBRAS Outros exemplos de sinais em variaccedilatildeo
satildeo ldquoaposentarrdquo ldquoaviatildeordquo ldquomatildeerdquo ldquopairdquo ldquopoliacuteticardquo ldquopretordquo
ldquoreuniatildeordquo e ldquosemanardquo (Tabela geral dos dados a seguir)
Nos Grupos I e II nos sinais de banco feio meacutedico porque
padre e ter tambeacutem acontece variaccedilatildeo lexical pois tem mais de um
sinal que existe na liacutengua ao mesmo tempo Nos Grupos I e III o sinal de
nome aponta variaccedilatildeo lexical
Foi apresentada na discussatildeo sobre mudanccedila lexical de alguns
sinais na Liacutengua Brasileira de Sinais (MAtildeE e PAI) Agora seraacute mostrada
a variaccedilatildeo lexical encontrada nos sinais utilizados pelos informantes das
trecircs geraccedilotildees (Grupos I II e III)
Veja a tabela a seguir elaborada para descrever os resultados
obtidos dos informantes dos Grupos I II e III Os nuacutemeros que
aparecem na tabela correspondem agrave configuraccedilatildeo de matildeos (CM) num
total de 64 posiccedilotildees diferentes que as matildeos podem assumir (ver anexo
paacutegina 225)
153
Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na Liacutengua
Brasileira de Sinais
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
APOSENTAR CM ndash 01 02
07 11 57
CM ndash 01 02
11 57
CM ndash 01 11
AVIAtildeO CM ndash 53a CM ndash 36 37a
40
CM ndash 40
MAtildeE CM ndash 02 14
63
CM ndash 01 02
06 14 60 63
CM ndash 02 07
14
PAI CM ndash 01 11
14 16 38
CM ndash 01 02
11 16 38 45
CM ndash 02 11
16 38 45
POLIacuteTICA CM ndash 11 51a CM ndash 11 14 CM ndash 11
PRETO CM ndash 05 34
62
CM ndash 05 CM ndash 05
REUNIAtildeO CM ndash 14 CM ndash 14 15
25
CM ndash 25
SEMANA CM ndash 08a 10
64
CM ndash 10 CM ndash 10
Os quadros a seguir mostram a sequecircncia dos sinais lexicais
utilizados pelos informantes desta pesquisa na liacutengua de sinais nas trecircs
geraccedilotildees
Observe-se inicialmente o item lexical APOSENTAR
154
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Aposentar
(1)
Figura 31
CM ndash 01 11
(2)
Figura 32
CM ndash 02 57
(1)
Figura 34
CM ndash 01 11
(2)
Figura 35
CM ndash 02 57
Figura 36
CM ndash 01 11
155
(3)
Figura 33
CM ndash 07
Quadro 01 ndash Sinal de Aposentar
O sinal de aposentar apresentado no quadro 01 no Grupo I (mais
velhos) apareceu com trecircs sinais diferentes o que indica variaccedilatildeo
lexical O Grupo III (mais jovem) utiliza o sinal com a configuraccedilatildeo de
matildeos (CM) - 01 e 11 com o movimento no espaccedilo neutro
consecutivamente para frente Os Grupos I e II utilizaram a CM - 02 57
(palma da matildeo aberta se fechando agrave medida que o antebraccedilo puxa para
traacutes junto ao lado do corpo no espaccedilo neutro) O Grupo I apresentou o
sinal de aposentar com a CM ndash 07 ambas as matildeos saiacutedas do espaccedilo
neutro na frente do corpo indo ateacute o peito Esse sinal atualmente eacute
produzido para indicar folga descanso e acomodar O Grupo III natildeo
conhece o sinal de aposentar do Grupo I talvez por isso eles utilizam
com outro significado O Grupo I tem trecircs sinais diferentes para
ldquoaposentarrdquo como mostram as figuras 31 32 e 33 mas o significado eacute o
mesmo isso pode ser variaccedilatildeo lexical mas tudo indica que ocorre
tambeacutem mudanccedila lexical O Grupo I tem um uacutenico sinal diferente do
Grupo III Parece que atualmente o sinal tem outro significado
Inicialmente observe-se o item lexical AVIAtildeO
156
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Aviatildeo
Figura 37
CM ndash 53a
(1)
Figura 38
CM ndash 36
(2)
Figura 39
CM ndash 37a
(3)
Figura 40
CM ndash 40
Figura 41
CM ndash 40
Quadro 02 ndash Sinal de Aviatildeo
157
Sabe-se que o professor Francisco iniciou o ensino para alguns
surdos utilizando a soletraccedilatildeo no alfabeto digital em Portuguecircs
Observando os trecircs grupos foi possiacutevel identificar as
modificaccedilotildees graduais deste sinal que iniciou com a soletraccedilatildeo Depois
foi apresentada como em CM ndash 53a a matildeo parte do lado do corpo em
linha reta e ascendente imitando a decolagem do aviatildeo usada pelo
Grupo I (mais velhos) O Grupo II apresentou as configuraccedilotildees CM ndash
36 CM ndash 37a CM - 40 tambeacutem imitando a decolagem do aviatildeo No
Grupo III apareceu apenas o sinal com a CM ndash 40 ou seja continuou
igual ao utilizado pelo Grupo II
Veja a seguir o item lexical MAtildeE
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Matildee
(1)
Figura 42
CM ndash 02
(1)
Figura 45
CM ndash 02
(1)
Figura 48
CM ndash 02 07
158
(2)
Figura 43
CM ndash 14
(3)
Figura 44
CM ndash 63
(2)
Figura 46
CM ndash 14
(3)
Figura 47
CM ndash 63
(4)
(2)
Figura 49
CM ndash 14
Quadro 03 ndash Sinal de Matildee
No quadro 03 aparece na figura 43 46 e 49 nos Grupos I II e III
o sinal de matildee que tem variaccedilatildeo lexical ao mesmo tempo Entatildeo os
Grupos I e II tambeacutem mostram o mesmo sinal No Grupo III a figura 48
mostra o sinal de matildee (mulher^benccedilatildeo = matildee) o que acontece eacute um sinal
composto em variaccedilatildeo lexical Nas figuras 42 45 e 48 a configuraccedilatildeo de
matildeos acontece (igualmente) nos trecircs grupos As figuras 44 e 47 nos Grupos I e II mostram a palma da matildeo aberta para frente e o dorso da
matildeo colocado na boca para o sinal de matildee o que tambeacutem indica
variaccedilatildeo lexical
No quadro 03 tambeacutem mostra mudanccedila lexical O sinal de ldquoM-Atilde-
Erdquo aparece soletrado no alfabeto digital e outro com a configuraccedilatildeo de
159
matildeos (CM) em ldquoMrdquo (nuacutemero da CM ndash 01 06 60) com ponto de
articulaccedilatildeo (PA) na boca num movimento (M) de roccedilar a matildeo para
frente (reto) Atualmente o sinal de MAtildeE eacute realizado da seguinte forma
o sinal de mulher (matildeo fechada e polegar riscando o rosto de cima para
baixo) junto com a matildeo fechada sendo beijada no dorso (mulher^benccedilatildeo
= MAtildeE) representando um sinal composto
Comparando o sinal de MAtildeE apresentado pelos informantes dos
trecircs Grupos (I II e III) nota-se que ocorreu mudanccedila lexical a forma de
configuraccedilatildeo de matildeos (CM) modificou-se
Pode ser que a distinccedilatildeo entre variaccedilatildeo lexical e mudanccedila lexical
nem sempre estaacute clara mas pode ser estabelecida em alguns casos dos
sinais
O quadro a seguir mostra variaccedilatildeo e mudanccedila do item lexical
PAI
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Pai
(1)
Figura 50
CM ndash 11
(1)
Figura 53
CM ndash 16
(1)
Figura 55
CM ndash 11 38
160
(2)
Figura 51
CM ndash 14
(3)
Figura 52
CM ndash 16
(4)
(2)
Figura 54
CM ndash 02 45
(3)
(2)
Figura 56
CM ndash 16
(3)
Figura 57
CM ndash 02 45
Quadro 04 ndash Sinal de Pai
Nas figuras 52 53 e 56 dos Grupos I II e III na configuraccedilatildeo de
matildeos (CM) o dedo indicador curvado colocado como se fosse um
bigode movimenta-se para frente e para traacutes significando sinal de pai
Os Grupos II e III mostram o sinal composto (homem^benccedilatildeo = pai)
Nas figuras 54 e 57 tambeacutem temos variaccedilatildeo e mudanccedila lexical Na
figura 51 o dedo indicador reto eacute colocado como se fosse um bigode
fazendo movimento para a direita no Grupo I Nas figuras 50 e 55 nos
Grupos I e III mostra-se a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) - 11 tambeacutem
161
imitando um bigode fazendo movimento para a direita e no Grupo III
mostra-se o empreacutestimo linguiacutestico ldquoP-Irdquo (CM) -11 38 o sinal de pai
No quadro 04 tambeacutem aparece mudanccedila lexical O sinal de
famiacutelia que mostra a palavra ldquoP-A-Irdquo eacute apresentado na soletraccedilatildeo de
matildeos Haacute uma mudanccedila linguiacutestica porque inicia com o sinal ldquoPrdquo (CM ndash
11) passando sobre os laacutebios depois o sinal de bigode realizado de duas
formas diferentes (o dedo indicador em cima do laacutebio superior e o dedo
indicador flexionado tambeacutem em cima do laacutebio superior) e ainda o sinal
ldquoPrdquo saindo dos laacutebios indo para frente formando o sinal ldquoIrdquo (CM ndash 38)
e atualmente o sinal de homem (CM ndash 45) fechar a matildeo e beijar as
costas da mesma (CM ndash 02) Observam-se nesse caso cinco diferentes
sinais ilustrando as variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas Acredita-se que
o contado dos diferentes surdos em comunicaccedilatildeo com gestos familiares
proporcionou uma troca entre eles influenciando a comunidade surda e
a escola com uma classe de surdos onde os alunos tiveram contato com
a soletraccedilatildeo de palavras em Portuguecircs e nos respectivos sinais
O Grupo I apresentou trecircs sinais diferentes nas figuras 50 51 e 52
ldquopaisrdquo o que pode indicar variaccedilatildeo lexical O Grupo II mostra dois
sinais diferentes nas figuras 53 e 54 tem um sinal composto
homem^benccedilatildeo = pai que foi utilizado pelo Grupo III
Observe agora no quadro a seguir o item lexical POLIacuteTICA
162
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Poliacutetica
Figura 58
CM ndash 11 51a
(1)
Figura 59
CM ndash 11
(2)
Figura 60
CM ndash 14
Figura 61
CM ndash 1 1
Quadro 05 ndash Sinal de Poliacutetica
No quadro 05 o sinal de POLIacuteTICA se daacute atraveacutes da matildeo direita
na configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 11 colocada em movimento circular
(girando) no lado do rosto com a bochecha insuflada sinal apresentado
pelos Grupos II e III O Grupo I apresenta um sinal icocircnico porque eacute a
representaccedilatildeo da sede do congresso em Brasiacutelia O Grupo II mostra
tambeacutem outro sinal para poliacutetica com CM ndash 14 o dedo indicador das matildeos com as extremidades proacuteximas em frente do corpo em movimento
alternado para cima e para baixo localizado no espaccedilo neutro
No Grupo III na figura 61 com CM ndash 14 eacute o uacutenico sinal com
configuraccedilatildeo diferente e que o significado tambeacutem pode ser entendido
163
como discutir a poliacutetica aparecendo nesse caso com sentido
abrangente
Veja a seguir o item lexical PRETO
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Preto
(1)
Figura 62
CM ndash 34 62
(2)
Figura 63
CM ndash 05
Figura 64
CM ndash 05
Figura 65
CM ndash 05
Quadro 06 ndash Sinal de Preto
No quadro 06 aparece o sinal de PRETO com a matildeo direita com
CM ndash 05 palma para baixo simulando girar uma chave ao lado da
cabeccedila Um dos informantes do Grupo I utilizou o sinal de preto que
acredito teve influecircncia da liacutengua de sinais produzida no Rio de janeiro
Os Grupos II e III apresentaram o sinal regional utilizado na grande
Florianoacutepolis Os Grupos I II e III mostram o mesmo sinal para preto
164
nas figuras 63 64 e 65 mas tem um sinal diferente apresentado pelo
Grupo I nas figuras 62 e 63
O sinal produzido pelo Grupo I na figura 62 eacute utilizado ateacute hoje
no Rio de Janeiro e percebo que tambeacutem eacute utilizado por interpretes e
estudantes surdos da UFSC
Veja a seguir o item lexical REUNIAtildeO
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Reuniatildeo
Figura 66
CM ndash 14
(1)
Figura 67
CM ndash 25
(2)
Figura 68
CM ndash 14
Figura 70
CM ndash 25
165
(3)
Figura 69
CM ndash 15
Quadro 07 ndash Sinal de Reuniatildeo
No quadro 07 o sinal de REUNIAtildeO mostrado pelos Grupos II e
III com CM ndash 25 nas matildeos estaacute localizado no espaccedilo neutro com as
palmas das matildeos para frente as matildeos em movimento semicircular
fechando em ciacuterculo Os Grupos I e II mostram como em CM ndash 14
realizado da mesma forma que o descrito anteriormente sinal este que o
grupo jovem natildeo conhece O Grupo II apresenta um sinal de REUNIAtildeO
com as matildeos como em CM ndash 15 em espaccedilo neutro movendo-se
alternadamente para frente e para traacutes com a palma das matildeos proacuteximas
este grupo apresentou trecircs sinais diferentes enquanto os Grupos I e III
mostraram apenas um
No Grupo II na figura 69 o sinal eacute diferente e natildeo aparece no
Grupo I e no Grupo III mas o significado deste eacute REUNIAtildeO particular
com poucas pessoas Talvez por isso natildeo apareceu nos outros dois
grupos Nas figuras 68 e 69 os sinais apresentam variaccedilatildeo fonoloacutegica
porque mudou o traccedilo linguiacutestico o ponto de articulaccedilatildeo da sinalizaccedilatildeo
no espaccedilo neutro eacute o mesmo mas a CM e o movimento se alteram
Veja a seguir o item lexical SEMANA
166
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Semana
(1)
Figura 71
CM ndash 08a 64
(2)
Figura 72
CM ndash 10
Figura 73
CM ndash 10
Figura 74
CM ndash 10
Quadro 08 ndash Sinal de Semana
No quadro 08 aparece o sinal de SEMANA com a matildeo esquerda
aberta palma para fora (CM ndash 08a ldquoLrdquo) matildeo direita CM - 64 palma
para fora direcionando as duas matildeos para o lado direito O grupo de
informante III (terceira geraccedilatildeo) apresentou a variaccedilatildeo do sinal descrita
anteriormente mas o Grupo II apresentou o sinal a matildeo direita com
forma de configuraccedilatildeo CM - 10 direcionando a matildeo direita para o lado
direito ponto de articulaccedilatildeo no espaccedilo neutro O Grupo I (primeira
geraccedilatildeo) apresentou no queixo o sinal de semana como em CM ndash 10
Isso mostra a variaccedilatildeo do sinal apresentado pelos informantes nas trecircs
geraccedilotildees por faixa etaacuteria Os trecircs grupos sinalizam semana de forma
diferente nas figuras 71 72 e 74 Os Grupos I e II sinalizam semana nas
167
figuras 72 e 73 de forma igual O Grupo I eacute o uacutenico que realiza o sinal
no espaccedilo neutro e o Grupo III inicia o sinal no queixo e termina-o no
espaccedilo neutro
Uma das razotildees para variaccedilatildeo e mudanccedila lexical acontecer eacute por
influecircncia tecnoloacutegica que transforma a sociedade que cresce no
cotidiano por necessidade na liacutengua usada na conversa No caso da
pessoa surda em contato com a liacutengua de sinais ela acaba valorizando
mais a liacutengua de sinais que torna a cultura surda dinacircmica e proporciona
uma nova forma de comunicaccedilatildeo para o indiviacuteduo surdo Na
comunidade surda precisamos buscar o conhecimento cada vez maior
para aumentar o leacutexico da liacutengua em sinais
Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na Liacutengua
Brasileira de Sinais
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
BANCO CM ndash 53a 61 CM ndash 53a 61 CM ndash 53a
FEIO CM ndash 07 64 CM ndash 8a CM ndash 08a
MEacuteDICO CM ndash 16 44 CM ndash 16 44 CM ndash 16
NOME CM ndash 21 24 CM ndash 24 CM ndash 24
PORQUE CM ndash 14 15 CM ndash 14 15 CM ndash 14
O quadro a seguir apresenta a sequecircncia dos sinais lexicais que
sofreram mudanccedila na liacutengua de sinais dos informantes dos Grupos I II e
III nas trecircs geraccedilotildees Inicialmente seraacute descrito o item lexical BANCO
168
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Banco
(1)
Figura 75
CM ndash 53a
(2)
Figura 76
CM ndash 61
(1)
Figura 77
CM ndash 53a
(2)
Figura 78
CM ndash 61
Figura 79
CM ndash 53a
Quadro 09 ndash Sinal de Banco
No quadro 09 a CM ndash 61 corresponde agrave letra B no alfabeto
digital palma da matildeo voltada para a esquerda batendo suavemente em
cima do peito esquerdo Este sinal foi utilizado pelos Grupos II e I
sofrendo uma mudanccedila lexical pois modificou o ponto de articulaccedilatildeo e
a CM com o mesmo movimento Os informantes do Grupo III (jovens)
natildeo utilizam e talvez natildeo conheccedilam o sinal de BANCO utilizado pelos
Grupos II e I Podemos chamar de mudanccedila em tempo aparente
Nos Grupos I II e III apresentam variaccedilatildeo lexical os sinais das
figuras 75 77 e 79 pois se realizam da mesma forma Nos Grupos I e II
169
as figuras 76 e 78 apresentam um sinal que natildeo eacute mais utilizado
caracterizando uma mudanccedila lexical
Observe-se agora o sinal do item lexical FEIO
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Feio
Figura 80
CM ndash 07 64
64
Figura 81
CM ndash 08a
Figura 82
CM ndash 08a
Quadro 10 ndash Sinal de Feio
No quadro 10 a CM ndash 08a (L) usa palma da matildeo em frente da
boca o dedo indicador apontando para a esquerda em seguida abaixa-
se a matildeo ateacute a altura do peito O sinal utilizado pelo Grupo I mostra uma
mudanccedila lexical no sinal de FEIO o sinal de bonito (matildeo aberta com
palma da matildeo voltada para o rosto na frente fazendo um ciacuterculo e se
fechando) e mais o sinal de negaccedilatildeo matildeo fechada com polegar para
baixo Houve uma troca na configuraccedilatildeo de matildeos (CM) de ponto de
articulaccedilatildeo (PA) e movimento (M) do sinal pelos surdos do Grupo III
(mais jovens de 15 a 30 anos de idade) O Grupo I faz dois sinais
bonito^ruim = feio na figura 80 como se fosse o contraacuterio de bonito O
Grupo II faz o sinal de feio para pessoas enquanto o Grupo III sinaliza
com significado de feio para objetos
64 A imagem da CM segue a ordem da tabela com as configuraccedilotildees
170
Observe-se a seguir o item lexical MEacuteDICO
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Meacutedico
(1)
Figura 83
CM ndash 16
(2)
Figura 84
CM ndash 44
(1)
Figura 85
CM ndash 16
(2)
Figura 86
CM ndash 44
Figura 87
CM ndash 16
Quadro 11 ndash Sinal de Meacutedico
No quadro 11 o sinal de MEacuteDICO aparece diferenciado no Grupo
I (geraccedilatildeo G H e I) O sinal de MEacuteDICO eacute produzido com a
configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 44 com ponto de articulaccedilatildeo (PA) no
peito em cima do coraccedilatildeo movimentando-se semicircularmente ateacute o
lado direito Esse sinal mostra mudanccedila lexical pois o Grupo III
(jovens) inovou com relaccedilatildeo ao espaccedilo neutro65
o sinal eacute produzido
65 Espaccedilo Neutro ndash ldquono caso do uso de pontos arbitraacuterios o estabelecimento ocorre em um
local neutro do espaccedilo da sinalizaccedilatildeo e em geral satildeo distribuiacutedos no espaccedilo de forma a serem
171
com a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 16 em ambas as matildeos onde uma eacute
ativa e outra passiva e o dedo indicador direito bate na 2a falange do
dedo esquerdo
Podemos dizer que o sinal que aparece nos Grupos I e II e que
natildeo aparece no Grupo III eacute um sinal icocircnico Acredito que ainda eacute
utilizado apenas natildeo apareceu nas sinalizaccedilotildees do grupo dos mais
jovens que apresentam uma fluecircncia maior na LIBRAS
Veja a seguir a configuraccedilatildeo do item lexical NOME
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Nome
(1)
Figura 88
CM ndash 21
(2)
Figura 89
CM ndash 24
Figura 90
CM ndash 24
Figura 91
CM ndash 24
Quadro 12 ndash Sinal de Nome
amplamente diferenciados Os pontos podem estar acima ou abaixo do espaccedilo neutro se esses apresentarem uma imagem apropriada (por ex um aviatildeo seraacute apontado acima do espaccedilo
neutro)rdquo QUADROS et al (2008 p 07)
172
No quadro 12 mostra o sinal de NOME com a configuraccedilatildeo de
matildeos (CM) ndash 24 (matildeo direita em ldquoUrdquo no Alfabeto Digital) palma da
matildeo para frente dedos apontados para cima na altura do peito movem-
se os dedos do lado esquerdo para o lado direito Na leitura dos
resultados encontrados apareceu uma mudanccedila lexical na liacutengua de
sinais o Grupo I utiliza a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 21 24 na (CM)
ndash 21 representa o nome do crachaacute (sinal icocircnico) Acontece mudanccedila
lexical pois as configuraccedilotildees de matildeos (CM) os pontos de articulaccedilotildees
(PA) os movimentos (M) e a orientaccedilatildeo satildeo diferentes (OP) Aqui
temos tambeacutem mudanccedila fonoloacutegica as configuraccedilotildees de matildeos satildeo
diferentes
O quadro a seguir mostra a configuraccedilatildeo do item lexical
PORQUE
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Porque
(1)
Figura 92
CM ndash 14
(1)
Figura 94
CM ndash 14
Figura 96
CM ndash 14
173
(2)
Figura 93
CM ndash 15
(2)
Figura 95
CM ndash 15
Quadro 13 ndash Sinal de Porque
No quadro 13 o sinal de PORQUE no Grupo I e II aparece com
CM ndash 15 (dedo indicador flexionado saindo da tecircmpora em diagonal) e
nos trecircs grupos aparece o sinal com a CM ndash 14 dedo indicador direito e
esquerdo em diagonal bater o indicador direito sobre o esquerdo vaacuterias
vezes no espaccedilo neutro O sinal com a CM ndash 14 aparece na sinalizaccedilatildeo
dos informantes das trecircs geraccedilotildees permanecendo ateacute a atualidade
O sinal que os Grupos I e II fizeram nas figuras 93 e 95 natildeo eacute
mais realizado pelo grupo dos mais jovens que tambeacutem natildeo conhece o
significado
64 ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua Brasileira de Sinais
A variaccedilatildeo e a mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua Brasileira de
Sinais satildeo observadas na semelhanccedila entre somfala ou sinais foneacutetico-
fonoloacutegicos Na Liacutengua Brasileira de Sinais encontram-se modificaccedilotildees
de pronuacutencia de certos itens lexicais atestando variaccedilatildeo e mudanccedila
fonoloacutegica Essa variaccedilatildeo depende da unidade lexical e pode decorrer de
diferentes paracircmetros a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) movimento (M)
ponto de articulaccedilatildeo (PA) e orientaccedilatildeo das matildeos Nesses casos a
configuraccedilatildeo de matildeos pode modificar mas o significado dos sinais
permanece o mesmo mostrando variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica As
autoras Quadros e Karnopp (2004 p47) definem a fonologia das
liacutenguas de sinais da seguinte forma
Fonologia das liacutenguas de sinais eacute o ramo da linguumliacutestica
que objetiva identificar a estrutura e a organizaccedilatildeo dos
constituintes fonoloacutegicos propondo modelos descritivos
e explanatoacuterios A primeira tarefa da fonologia para
174
liacutengua de sinais eacute determinar quais satildeo as unidades
miacutenimas que formam os sinais A segunda tarefa eacute
estabelecer quais satildeo os padrotildees possiacuteveis de
combinaccedilatildeo entre essas unidades e as variaccedilotildees possiacuteveis
no ambiente fonoloacutegico
Haacute pouca pesquisa cientiacutefica sobre variaccedilatildeo e mudanccedila
fonoloacutegica na LIBRAS no Brasil Pode-se verificar atraveacutes dos dados
dos informantes apresentados a cada pronuacutencia dos sinais diferentes de
uso a unidade miacutenima lexical pode se modificar (configuraccedilatildeo de matildeos
movimento e ponto de articulaccedilatildeo) No quadro 07 apresenta-se o sinal
de semana mostrando mudanccedila no ponto de articulaccedilatildeo e variaccedilatildeo e
mudanccedila fonoloacutegica nos Grupos I II e III
Veja a Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica
na Liacutengua Brasileira de Sinais com os resultados que foram escolhidos
nesta pesquisa para realizar a descriccedilatildeo e a anaacutelise
Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua
Brasileira de Sinais
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
ANTES CM ndash 08a 53a
63
CM ndash 08a CM ndash 08a
Veja agora os sinais para o item lexical ANTES
175
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Antes
(1)
Figura 97
CM ndash 53a 63
(2)
Figura 98
CM ndash 08a
Figura 99
CM ndash 08a
Figura 100
CM ndash 08a
Quadro 14 ndash Sinal de Antes
No quadro 14 aparece o sinal de ANTES com a seguinte
configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 08a a matildeo direita em L horizontal
(alfabeto digital) palma para baixo na frente do corpo no espaccedilo neutro
levantar o antebraccedilo da matildeo direita para cima Outro sinal aparece com
a (CM) ndash 53a e 63 inicia com a CM 63 e finaliza com a CM 53a com o
mesmo movimento do antebraccedilo descrito anteriormente Ambos os
informantes utilizam a expressatildeo facial necessaacuteria para a compreensatildeo
do sinal As trecircs geraccedilotildees apresentaram variaccedilatildeo fonoloacutegica o sinal eacute
produzido com diferentes configuraccedilotildees de matildeos mas os paracircmetros
movimento (M) e ponto de articulaccedilatildeo (PA) satildeo os mesmos
176
Nos Grupos I II e III apresentam os mesmos sinais com a mesma
CM ndash 08a mas temos com essa mesma CM o mesmo significado soacute
que com ponto de articulaccedilatildeo diferente acontecendo na palma da matildeo e
no dorso da matildeo e que tambeacutem pode ter significado de ldquoQue horasrdquo ou
pode estar atrasado para trabalhar ou ainda precisa agendar uma reuniatildeo
antes
Os dados coletados tambeacutem mostram mudanccedila e variaccedilatildeo
fonoloacutegica na liacutengua brasileira de sinais Sinais foram modificados com
o passar dos anos Observando os informantes percebe-se que os
paracircmetros mudaram da geraccedilatildeo mais antiga (Grupo I) em relaccedilatildeo agrave
geraccedilatildeo atual (Grupo III)
Observe na tabela a seguir os dados que foram escolhidos para
realizar a descriccedilatildeo e a anaacutelise dos resultados Ela apresenta a sequecircncia
das mudanccedilas e variaccedilotildees dos sinais lexicais na LIBRAS usados pelos
informantes nas trecircs geraccedilotildees
Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua
Brasileira de Sinais
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
CORTAR CM ndash 14 24
63
CM ndash 14 24 CM ndash 24
PADRE CM ndash 21 24
62
CM ndash 11 21
24
CM ndash 24
TER CM ndash 08a 63 CM ndash 08a 63 CM ndash 08a
Acompanhe agora a descriccedilatildeo do item lexical CORTAR
177
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Cortar
(1)
Figura 101
CM ndash 63
(2)
Figura 102
CM ndash 14 24
(3)
Figura 103
CM ndash 14
(1)
Figura 104
CM ndash 14
(2)
Figura 105
CM ndash 24
Figura 106
CM ndash 24
Quadro 15 ndash Sinal de Cortar
178
No quadro 15 observa-se que o Grupo I apresentou a
configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 63 (U) raspando o dedo meacutedio da matildeo
direita no dedo indicador da matildeo esquerda simulando cortar algo
Depois a CM ndash 14 junto com a CM 24 mostraram um movimento
simulando o corte com uma faca e tambeacutem a CM ndash 14 em ambas as
matildeos simulando o movimento de cortar O Grupo II apresentou a CM ndash
14 (igual a do Grupo I) e a CM ndash 24 simulando o movimento de cortar
O Grupo III (jovem) utilizou apenas a CM ndash 24
Exemplos das figuras apresentadas no quadro 15 mostrando
sinais de CORTAR66
em diferentes contextos satildeo apresentados a seguir
a) Em LIBRAS Grupo I - EU ANTES ESTUDAR LAacute INES
DEPOIS CORTAR MARCENEIRO (Figura 101)
Em Portuguecircs Grupo I ndash Eu era crianccedila estudava no INES
fomos cortar madeira com supervisatildeo de um marceneiro (Figura 101)
b) Em LIBRAS Grupo I - SURDOS LAacute INES CORTAR
PAPELAtildeO (Figura 102)
Em Portuguecircs Grupo I ndash Os alunos surdos do INES foram
cortar papelatildeo (Figura 102)
c) Em LIBRAS Grupo I - EU AIacute (FOGO) FOGO COMER
CARNE CORTAR UM (CADA) IRMAtildeO SENTAR COMER TODOS
COMER ARROZ BATATA AIPIM TODOS (Figura 103)
Em Portuguecircs Grupo I ndash Eu fiquei assustada com o fogo Eu e
meus irmatildeos sentados juntos a mesa cortei a carne e dei um pedaccedilo para
cada irmatildeo Todos comeram arroz batata e aipim aleacutem da carne
(Figura 103)
d) Em LIBRAS Grupo II ndash ANTES ERA PEQUENO
BRINCAR LAacute ESCOLA BALANCcedilO CORRENTE CORTAR DEDO
DOR (Figura 104)
Em Portuguecircs Grupo II ndash Quando era crianccedila fomos brincar no
parque da escola cortei o dedo na corrente (Figura 104)
e) Em LIBRAS Grupo II - FESTA CSMSC SURDOS CORTAR
CARNE BOLO TODOS SURDOS (Figura 105)
Em Portuguecircs Grupo II ndash Teve uma festa do Ciacuterculo de Surdos-
Mudos de Santa Catarina (CSMSC) para comemoraccedilatildeo dos surdos Foi
cortada a carne e o bolo para os surdos que foram a associaccedilatildeo (Figura
105)
66 Nesses casos noacutes temos sinais diferentes para o mesmo significado de ldquocortarrdquo que satildeo as imagens do quadro 15
179
f) Em LIBRAS Grupo III ndash EU LAacute CASA AMIGO SURDO
ALMOCcedilAR COMER PEDIR CORTAR CARNE CONVERSAR
AMIGO (Figura 106)
Em Portuguecircs Grupo III - Eu fui agrave casa do meu amigo surdo
almoccedilar pedi a ele para cortar a carne e tambeacutem conversei com os
amigos surdos (Figura 106)
O Grupo I eacute o uacutenico que utiliza para o sinal de cortar CM ndash 63 um
sinal diferente dos outros grupos mas com o mesmo significado Parece
que o Grupo I foi evoluindo o sinal comeccedilou com CM diferente em
cada matildeo e por fim uma mesma CM para ambas as matildeos O Grupo II
utilizou duas CM diferentes como o Grupo I mas realizava o sinal de
duas formas diferentes CM ndash 14 ou 24 mas a mesma CM para ambas as
matildeos O Grupo III realiza o sinal somente com a CM ndash 24 em ambas as
matildeos Como se observa parece que ocorreu mudanccedila fonoloacutegica nos
trecircs grupos pesquisados
Veja na sequecircncia a mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua brasileira de
sinais
A tabela a seguir traz os sinais do item lexical PADRE
180
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Padre
(1)
Figura 107
CM ndash 62
(2)
Figura 108
CM ndash 24
(1)
Figura 110
CM ndash 11
(2)
Figura 111
CM ndash 24
Figura 113
CM - 24
181
(3)
Figura 109
CM ndash 21
(3)
Figura 112
CM ndash 21
Quadro 16 ndash Sinal de Padre
Nos trecircs grupos apareceu o sinal com CM ndash 24 matildeo na frente do
peito no espaccedilo neutro desenhando uma cruz com a matildeo (Representaccedilatildeo
icocircnica) Os Grupos I e II apresentaram o mesmo sinal CM ndash 21
produzido na base do pescoccedilo iniciando do lado esquerdo indo ateacute o
lado direito como se estivesse desenhando a gola da batina (Icocircnico) O
Grupo I apresentou um sinal diferente com CM ndash 62 matildeo na frente do
peito no espaccedilo neutro desenhando uma cruz com a matildeo O Grupo II
tambeacutem mostra um sinal uacutenico com CM ndash 11 matildeo na frente do peito no
espaccedilo neutro desenhando uma cruz com a matildeo A configuraccedilatildeo de
matildeos (CM) foi sendo alterada no espaccedilo neutro Os informantes do
Grupo I II e III (nas trecircs geraccedilotildees) apresentaram sinais que podem ser
considerados como variaccedilatildeo ou mudanccedila fonoloacutegica
Na figura 107 o sinal parece ser igual ao que um padre faz na
missa ao despedir-se dos fieacuteis e na figura 110 parece que a CM ndash 11 (P)
recebe influecircncia do oralismo Um uacutenico sinal aparece nos trecircs grupos
satildeo das figuras 108 111 e 113 sendo o uacutenico utilizado pelo Grupo III
(jovens)
Veja na sequecircncia a mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua brasileira de
sinais
Agora observe o sinal variaacutevel do item lexical TER
182
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Ter
(1)
Figura 114
CM ndash 63
(2)
Figura 115
CM ndash 08a
(1)
Figura 116
CM ndash 63
(2)
Figura 117
CM ndash 08a
Figura 118
CM ndash 08a
Quadro 17 ndash Sinal de Ter
No quadro 17 aparecem os dados apresentados pelo Grupo I dos
trecircs informantes G H e I
Em conversa natildeo filmada com o informante G ele deu a seguinte
explicaccedilatildeo para a variaccedilatildeo do item ldquoTERrdquo antigamente o professor
Francisco Lima Juacutenior usava o sinal ldquoTERrdquo fazendo a soletraccedilatildeo do
sinal depois utilizou a configuraccedilatildeo de matildeo com todos os dedos
fechados (CM ndash 63) colocados no peito em seguida outra oposiccedilatildeo
seria a matildeo e os dedos abertos tambeacutem colocados no peito (CM ndash 64)
183
Atualmente o sinal ldquoTERrdquo eacute realizado como CM - 08a tambeacutem
colocado no peito Observa-se uma mudanccedila fonoloacutegica com alteraccedilatildeo
na liacutengua de sinais ao longo de algumas deacutecadas O dedo em ldquoLrdquo (08a) eacute
batido no meio do peito com a ponta do polegar
Os Grupos I e II mostram os sinais de ter nas figuras 114 e 116
com mesma CM ndash 63 Nas figuras 115 117 e 118 os sinais satildeo
realizados com a mesma CM ndash 08a O Grupo III permanece apenas com
um sinal
Veja na sequecircncia a mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua brasileira de
sinais
Na eacutepoca em que o professor Francisco foi professor era outro
tempo na comunicaccedilatildeo em liacutengua de sinais diferentemente de hoje tal
como se observa na comunicaccedilatildeo entre as pessoas mais jovens com
contato cultural maior O professor Francisco aprendeu no RJ a escrever
com o alfabeto digital (soletraccedilatildeo) e assim ele comeccedilou a ensinar Aleacutem
de ensinar o contato do aluno surdo com a comunidade de surdos fez
com que houvesse uma troca o Sr Francisco ensinou a soletraccedilatildeo no
alfabeto digital (alfabetizaccedilatildeo em Liacutengua Portuguesa) e aprendeu sinais
familiares dos diversos surdos com quem teve contato Todos
aprenderam e isso influenciou para que ocorresse mudanccedila fonoloacutegica
Pesquisando a LIBRAS nos Grupos I II e III confirmamos portanto
algumas mudanccedilas fonoloacutegicas
65 ndash O que dizem os resultados das trecircs geraccedilotildees dos informantes
na Liacutengua Brasileira de Sinais
A comunidade surda principalmente na associaccedilatildeo de surdo de
Santa Catarina abriu espaccedilo para o encontro de surdos proporcionando
a troca de informaccedilotildees e experiecircncias na liacutengua de sinais (visuais)
promovendo eventos na aacuterea esportiva cultural poliacutetica e na educaccedilatildeo
de surdo Todos esses espaccedilos sociais devem ter contribuiacutedo para o que
esta pesquisa jaacute aponta variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica em LIBRAS
Os resultados de certos itens lexicais usados pelos grupos de
indiviacuteduos investigados apontam que os Grupos I e II se distinguem do
184
Grupo III
Os resultados mostram que com passar do tempo os sinais entre
os grupos se modificam apresentando indiacutecios de mudanccedila em tempo
aparente na liacutengua de sinais nas trecircs geraccedilotildees O grupo dos mais jovens
de 15 a 30 anos (Grupo III) diferentemente dos outros dois grupos
(Grupo I e Grupo II) apresenta um sinal para cada palavra Acreditamos
que antes havia mais sinais porque eram familiares ou caseiros os quais
foram substituiacutedos eou modificados com o contato social maior que a
comunidade surda tem nos dias atuais Acreditamos que outros sinais
estatildeo sendo criados com o passar do tempo o que pode ser fruto de um
maior contato social entre os surdos jovens
Os resultados apontam que os trecircs grupos investigados (Grupos I
II e III) usaram vaacuterios sinais idecircnticos para algumas palavras os Grupos
I e II usaram outros e os Grupos II e III usaram palavras idecircnticas em
menor nuacutemero Entretanto os Grupos I e III (dos mais velhos e dos mais
jovens) natildeo usaram nenhuma palavra comum que se distinguisse do
Grupo II Os resultados apontam portanto que na LIBRAS haacute variaccedilatildeo
lexical e fonoloacutegica
Como eacute possiacutevel perceber a partir dos resultados apresentados o
contato entre as pessoas surdas transforma a liacutengua de sinais que jaacute
apresenta indiacutecios de variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica entre diferentes
geraccedilotildees como acontece em qualquer liacutengua natural
Nota-se nas narrativas contadas que os surdos tecircm consciecircncia de
seu papel nas trecircs geraccedilotildees de informantes e reconhecem a influecircncia
exercida pelo contato com outros surdos e com os surdos mais velhos
Certamente o Grupo III seraacute disseminador de conhecimento
aumentando cada vez mais o interesse de outros surdos pela liacutengua de
sinais e com a expansatildeo de seu uso naturalmente outras mudanccedilas vatildeo
acontecer transformando mais uma vez a liacutengua de sinais Aleacutem disso
pode-se identificar nas narrativas de todos os sujeitos a total
consciecircncia das pessoas envolvidas no processo de ampliaccedilatildeo do espaccedilo
de conforto do surdo Eacute mais uma parte da histoacuteria surda que se registra
tendo como personagem principalmente a pesquisa sobre a variaccedilatildeo e a
mudanccedila linguiacutestica na liacutengua de sinais em Santa Catarina
Eacute importante registrar o momento de pouco acesso dos surdos agrave
pesquisa a respeito da liacutengua brasileira de sinais seja no domiacutenio
puacuteblico ou privado Assim julga-se necessaacuterio o desenvolvimento de
mais estudos e de um contato mais intenso de sujeitos surdos com as
reflexotildees e conhecimentos que satildeo produzidos sobre essa liacutengua
refletindo o que dizem os informantes surdos nas trecircs geraccedilotildees da liacutengua
de sinais Sabe-se que em parte isso ocorre porque eacute uma liacutengua
185
oficializada recentemente
Os estudos tecircm apontado atraveacutes de recentes pesquisas que a
liacutengua de sinais eacute a forma mais adequada de comunicaccedilatildeo para a
educaccedilatildeo do surdo tendo em vista que como as outras liacutenguas
humanas a liacutengua de sinais eacute uma liacutengua natural podendo servir de base
para o ensino da liacutengua escrita
Finalmente espero que os resultados desta pesquisa possam
motivar-me e motivar outras pessoas a aprofundar o tema aqui
pesquisado
186
187
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Concluiacutemos que eacute importante pesquisar sobre a histoacuteria na liacutengua
de sinais em Santa Catarina em encontros sociais ou nas associaccedilotildees de
surdo Aleacutem de aprender a liacutengua de sinais os surdos que fazem parte
dessas associaccedilotildees acabam criando uma identidade surda trocam
experiecircncias evoluindo na proacutepria liacutengua criando e valorizando o seu
espaccedilo linguiacutesticocultural
Na liacutengua de sinais aqui no Brasil acontece a mesma coisa que
se observa no portuguecircs quanto agraves regras da liacutengua que satildeo oficiais
para todo o Brasil mas vaacuterios sinais satildeo diferentes para expressar a
mesma coisa Podemos utilizar no sul do Brasil um sinal e outro
sinal totalmente diferente na regiatildeo sudeste com o mesmo
significado
Surdos se encontram em associaccedilotildees ou outros espaccedilos
culturais para poder conversar trocar experiecircncia e aprender sua
liacutengua mas com o ouvinte acontece diferente eles natildeo precisam de
um local para esses encontros isso acontece em seu dia-a-dia todos
se falam O surdo necessita marcar encontros com outros surdos
para que aconteccedila a comunicaccedilatildeo pois poucos ouvintes sabem se
comunicar em LIBRAS Eles vatildeo para a associaccedilatildeo de surdos
aprender LIBRAS e com o passar do tempo podem se tornar
biliacutengues
Haacute falta de pesquisa em variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica das
liacutenguas de sinais e sobre o desenvolvimento e o domiacutenio desta liacutengua
Nada foi registrado nas uacuteltimas deacutecadas e parece que muitos dados sobre
os sujeitos surdos e sua histoacuteria da liacutengua de sinais foram prejudicados e
perdidos
Na UFSC por exemplo temos no curso de LETRASLIBRAS
a distacircncia que eacute pioneiro uma vitoacuteria do surdo acessando a
primeira Universidade Brasileira que estuda a liacutengua de sinais e que
oferece oportunidade de acesso ao estudo e aprofundamento
linguiacutestico da LIBRAS aleacutem das trocas de sinais em diferentes
regiotildees do paiacutes
Temos um grupo de surdos responsaacuteveis por criar sinais novos
de acordo com as necessidades encontradas pelas comunidades
surdas para diminuir a influecircncia da Liacutengua Portuguesa na
LIBRAS e possibilitar outros contatos fora do Brasil trazendo
relatos de experiecircncias de comunidades surdas de outros paiacuteses bem
como apresentaccedilotildees de pesquisas mais avanccediladas nas liacutenguas de
sinais
188
Eacute importante reforccedilar que a LIBRAS eacute uma liacutengua natural pois
possui estrutura gramatical eacute utilizada por um grande grupo social com
funccedilatildeo ativa e provedora de opiniatildeo Este tipo de liacutengua soacute se diferencia
das liacutenguas orais pela forma de se comunicar pois esta utiliza a accedilatildeo
gestual o que difere das demais liacutenguas que utilizam a accedilatildeo oral na
comunicaccedilatildeo
As pessoas falam que na ilha de Santa Catarina o dialeto falado eacute
o manezinho que vem sofrendo modificaccedilotildees com o passar dos anos
devido ao turismo que eacute forte na temporada de veratildeo O professor
Francisco e a comunidade surda na deacutecada de 1950 usavam o sinal de
dactilologia no mesmo sentido da liacutengua nativa mas com dialeto
proacuteprio Depois outros surdos vieram para Santa Catarina e sinalizaram
diferentemente Isso mostra que nas duas liacutenguas ndash LIBRAS e Portuguecircs
ndash haacute variaccedilatildeo dialetal
Observando os trecircs grupos de surdos investigados nesta tese
podemos dizer que o Grupo I mostra o primeiro contato com a liacutengua de
sinais desenvolvida com pouco conhecimento linguiacutestico porque
adquirir a liacutengua de sinais em contexto social na eacutepoca era difiacutecil Mas
este Grupo I foi buscando surdos que participavam de associaccedilotildees que
estudavam na garagem da casa do professor Francisco e na Escola Celso
Ramos onde tinha o grupo de surdos aprendendo a liacutengua de sinais que
se modificava O Grupo III demonstrou mais qualidade na sinalizaccedilatildeo
da liacutengua de sinais e maior fluecircncia mas natildeo conhece alguns dos sinais
(antigos) realizados pelos Grupos I e II O contexto social dos Grupos
nas trecircs geraccedilotildees eacute bem diferente e a liacutengua de sinais do Grupo III (mais
jovens) apresentou menor nuacutemero de sinais que os demais grupos
Acreditamos que antes havia mais sinais porque eram familiares
Os resultados do trabalho mostraram que algumas variaccedilotildees e
mudanccedilas linguiacutesticas (variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na liacutengua de sinais e
variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua de sinais) aconteceram nos trecircs
grupos quando um mesmo sinal eacute produzido pelos diferentes grupos de
maneira diferente Alguns sinais que antigamente eram produzidos no
corpo agora acontecem no espaccedilo neutro na liacutengua de sinais Os grupos
mostraram sinais que antes eram produzidos com uma matildeo e agora satildeo
produzidos com ambas as matildeos ao mesmo tempo O Grupo I utilizava
sinalizaccedilatildeo manual sinais familiares (caseiros) ou aqueles aprendidos e
trazidos pelo professor Francisco do INES o que talvez explique o fato
de que este grupo tinha um nuacutemero maior de sinais para uma mesma
palavra
Concluiacutemos que os trecircs grupos de nove informantes nas
diferentes geraccedilotildees apresentaram sinais compartilhados e outros que se
189
transformaram com o tempo na liacutengua de sinais Cada grupo pertence a
um contexto social diferente A liacutengua de sinais transforma e desenvolve
o conhecimento caseiro bem como a troca de informaccedilotildees a
participaccedilatildeo na associaccedilatildeo de surdos e na busca de mais contato com
outros surdos Na escola o surdo conseguia aprender mais quando o
professor surdo (Francisco) ensinava na liacutengua de sinais e tambeacutem
quando proporcionava aos seus alunos um contato social que antes natildeo
existia
190
191
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University Press 1996
198
199
ANEXOS
Anaacutelise Comparativa dos Dados Variaccedilatildeo e Mudanccedila Linguiacutestica
Sinais
(Leacutexico)
Forma do
Sinal
(Configuraccedilatildeo
de Matildeos)
Identificaccedilatildeo
de Classe
Faixa
Etaacuteria
(Grupo)
Geraccedilatildeo
Ajudar1
CM ndash 63
Informante
H D E F A
C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Ajudar2
CM ndash 02 63
Informante
D E B
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Ajudar3
CM ndash 01 63
Informante
H I F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Ajudar4
CM ndash 14 63
Informante
I E F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Aluno1
CM ndash 01
Informante
G I A B C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Aluno2
CM ndash 63
Informante
G H I D B
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Amanhatilde1 CM ndash 14 Informante 60 a 80 I
200
H Anos
Amanhatilde2 CM ndash 63 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Amanhatilde3
CM ndash 35a
Informante
I A B
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Antes1 CM ndash 53a Informante
I
60 a 80
Anos
I
Antes2 CM ndash 63 Informante
I
60 a 80
Anos
I
Antes3
CM ndash 08a 63
Informante
G E F B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Aposentar1
CM ndash 02 57
Informante
G I F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Aposentar2
CM ndash 01 11
Informante
G I F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Aposentar3 CM ndash 07 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Associaccedilatildeo1
CM ndash 01
(2 matildeos)
Informante
G I F D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Associaccedilatildeo2
CM ndash 01
(1 matildeo)
Informante
I D E F A
B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
60 a 80
201
Aula1 CM ndash 63 Informante
G H I E D
A C
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Aviatildeo1 CM ndash 53a Informante
G
60 a 80
Anos
I
Aviatildeo2 CM ndash 36 37a Informante
E F
30 a 60
Anos
II
Aviatildeo3
CM ndash 40
Informante
D E F A B
C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Avocirc1 CM ndash 30 31 Informante
G I
60 a 80
Anos
I
Avocirc2 CM ndash 02 57 Informante
H I
60 a 80
Anos
I
Avocirc3
CM ndash 02
Informante
H I D E F
A
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Azul1 CM ndash 01 Informante
G I
60 a 80
Anos
I
A-z-u-l2 CM ndash 01 08a
14 24
Informante
G I
60 a 80
Anos
I
Azul3
CM ndash 01 08a
Informante
D E F A B
C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Bairro CM ndash 14 63 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Banco1
CM ndash 61
Informante
G H I F
60 a 80 Anos
30 a 60
Anos
I II
Banco2
CM ndash 53a
Informante
60 a 80
Anos
I II III
202
G I F C 30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
Batata1 CM ndash 62 Informante
H
60 a 80
Anos
I
Batata2 CM ndash 63 Informante
H
60 a 80
Anos
I
Branco1
CM ndash 63
Informante
H I B
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Branco2 CM ndash 35a Informante
G
60 a 80
Anos
I
Cafeacute
CM ndash 49
Informante
G F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Calma1
CM ndash 63
(2 matildeos)
Informante
G H I D E
F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Calma2
CM ndash 63
(1 matildeo)
Informante
H I E B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Cama1 CM ndash 37a Informante
G
60 a 80
Anos
I
Cama2 CM ndash 63 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Cavalo1 CM ndash 02 Informante
H
60 a 80
Anos
I
Cavalo2 CM ndash 27 Informante
H I
60 a 80
Anos
I
Chorar1 CM ndash 14 Informante
D
30 a 60
Anos
II
203
Chorar2 CM ndash 18a Informante
H I
60 a 80
Anos
I
Crianccedila1
CM ndash 63
(pequeno)
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Crianccedila2 CM ndash 64 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Crianccedila3
CM ndash 14 63
Informante
D E A C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Crianccedila4 CM ndash 57 63 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Cobra1 CM ndash 14 Informante
H
60 a 80
Anos
I
Cobra2
CM ndash 31
Informante
E F A B
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Conversar1
CM ndash 14
Informante
G H F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Conversar2 CM ndash 63
(2 matildeos)
Informante
G H I D E
F A
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Conversar3 CM ndash 28 Informante
D
30 a 60
Anos
II
Conversar4 CM ndash 44 Informante
D E F
30 a 60
Anos
II
Conversar5 CM ndash 21 Informante
H
60 a 80
Anos
I
Cortar1 CM ndash 14 Informante
H
60 a 80
Anos
I
204
Cortar2 CM ndash 63 Informante
H
60 a 80
Anos
I
Cortar3
CM ndash 14 24
Informante
E B
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Cultura CM - 31 Informante
A B C
15 a 30
Anos
III
Dormir1
CM ndash 63
(1 matildeos e 2
matildeos)
Informante
G H I F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Dormir2 CM ndash 02 47 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Dormir3
CM ndash 21 24
32
Informante
G D F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Depois1 CM ndash 53a
(2 matildeos)
Informante
H I A B C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Depois2
CM ndash 14
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Depois3
CM ndash 53a
(1 matildeo)
Informante
G D E F A
B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Educaccedilatildeo1 CM ndash 46a Informante
H
60 a 80
Anos
I
Educaccedilatildeo2 CM ndash 45 57 Informante
G
60 a 80
Anos
I
205
Escola1
CM ndash 63
Informante
G H I D E
F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Escola2
CM ndash 63
(duas matildeos)
Informante
D E A B C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Estudar
CM ndash 63
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Emagrecer1 CM ndash 39 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Emagrecer2 CM ndash 47 ou 57 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Engordar1 CM ndash 02 Informante
G H
60 a 80
Anos
I
Engordar2 CM ndash 47 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Engravidar1 CM ndash 14 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Engravidar2 CM ndash 53a Informante
H
60 a 80
Anos
I
Faacutecil1 CM ndash 63 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Faacutecil2 CM ndash 48 Informante
I
60 a 80
Anos
I
Faacutecil3 CM ndash 35a Informante
C
15 a 30
Anos
III
Faculdade1
CM ndash 54
Informante
F A C
30 a 60
Anos
15 a 30 Anos
II III
Faculdade2 CM ndash 21 Informante
I
60 a 80
Anos
I
Faculdade3 CM ndash 55 Informante
A B
15 a 30
Anos
III
206
Falar1
CM ndash 14
Informante
G H D E F
C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Falar2
CM ndash 49
Informante
H D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Falar3
CM ndash 11
(E 1 matildeo e 2
matildeos)
Informante
G H I D E
A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Falar4 CM ndash 21 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Falar5 CM ndash 44 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Feio1
CM ndash 08a
Informante
F B
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Feio2
CM ndash 08a
Informante
D E A
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Feio3 CM ndash 07 64 Informante
G H I
60 a 80
Anos
I
Flor1 CM ndash 57 Informante
D
30 a 60
Anos
II
Flor2 CM ndash 54 Informante
I
60 a 80
Anos
I
Forte1 CM ndash 14 Informante
F
30 a 60
Anos
II
Forte2
CM ndash 02
(2 matildeos)
Informante
G H I D C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II III
207
15 a 30
Anos
Forte3 CM ndash 32
(1 matildeo)
Informante
I
60 a 80
Anos
I
Gato1
CM ndash 08b 20
Informante
G H C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Gato2 CM ndash 59a Informante
I
60 a 80
Anos
I
Gato3 CM ndash 20 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Gostar1 CM ndash 44 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Gostar2 CM ndash 63 Informante
E F
30 a 60
Anos
II
Homem1
CM ndash 50
Informante
G H I D F
A B
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Homem2
CM ndash 21
Informante
H I D F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Hospital1
CM ndash 14
(1 matildeo e 2
matildeos) cruz
Informante
H I C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Hospiatl2
CM ndash 16
Informante
D E F B C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Igreja1 CM ndash 14
(cruz)
Informante
F
30 a 60
Anos
II
Igreja2
CM ndash 14 15
Informante
60 a 80
Anos
I II III
208
H I D E F
A B C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
Igual1
CM ndash 14
Informante
G H I D E
F B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Igual2
CM ndash 14 ( )
Informante
H B
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Igual3
CM ndash 14
(mesmo)
Informante
F C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Igual4 CM ndash 24
(1 matildeo)
Informante
G I A B C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Igual5
CM ndash 24
(2 matildeos)
Informante
I D E F A
B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Igual6 CM ndash 53a Informante
A
15 a 30
Anos
III
Igual7
CM ndash 61
Informante
I A C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Irmatildeo1
CM ndash 14
Informante G H D F
60 a 80
Anos 30 a 60
Anos
I II
Irmatildeo2 CM ndash 24 Informante
D E F
30 a 60
Anos
II
209
Lembrar1
CM ndash 14
Informante
G H D E A
B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Lembrar2
CM ndash 32
Informante
D E F A B
C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Limpar1 CM ndash 02 Informante
H D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Limpar2
CM ndash 64
Informante
H E
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Limpar3
CM ndash 08a
Informante
H D E F A
B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Livro1 CM ndash 63
(duas matildeos)
Informante
G
60 a 80
Anos
I
Livro2
CM ndash 63 08a
Informante
H D E F A
B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Lutar1
CM ndash 08a
Informante
I A B
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Lutar2 CM ndash 02 63 Informante
I D E A B
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II III
210
15 a 30
Anos
Matildee1
CM ndash 63
Informante
H E F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Matildee2 CM ndash 02 07 Informante
A B C
15 a 30
Anos
III
Matildee3
CM ndash 14
Informante I
D B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Matildee4 CM ndash 63
(m)
Informante
G
60 a 80
Anos
I
Matildee5
CM ndash 02
Informante
I D F A
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
M-atilde-e6 CM ndash 01 06
60
Informante
F
30 a 60
Anos
II
Matildee7 CM ndash 02 Informante
F
30 a 60
Anos
II
Mais1
CM ndash 63
Informante
G I E A B
C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Mais2
CM ndash 63
(2 matildeos)
Informante
I D E A
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos 15 a 30
Anos
I II III
Mais3 CM ndash 08a Informante
G I E F
60 a 80
Anos
I II
211
30 a 60
Anos
Mais4
CM ndash 14
Informante
I E C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Matemaacutetica1
CM ndash 02
Informante
G H I D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Matemaacutetica2
CM ndash 58
Informante
G H I F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Meacutedico1
CM ndash 44
Informante
G F B
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Meacutedico2
CM ndash 16
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Medo1
CM ndash 34 64
Informante
H D F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
III
Medo2 CM ndash 02 Informante
E F
30 a 60
Anos
II
Medo3 CM ndash 33 Informante
F
30 a 60
Anos
II
Melhor1
CM ndash 45
Informante
G H I E
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
212
Melhor2
CM ndash 07
Informante
H I E A B
C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Melhor3
CM ndash 63
Informante
H A C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Morrer1 CM ndash 63 63
(2 matildeos)
Informante
H
60 a 80
Anos
I
Morrer2
CM ndash 63
Informante
H I D E F
C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Mudar1
CM ndash 07
Informante
G H E A B
C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
30 a 60
Anos
I II III
Mudar2 CM ndash 44
(1 matildeo e 2
matildeos)
Informante
H I E F B
C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Mulher1 CM ndash 07
(menina) (oral)
Informante
H
60 a 80
Anos
I
Mulher2
CM ndash 07 63
Informante
H D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Mulher3
CM ndash 07
Informante
G I D E F
B
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II III
213
15 a 30
Anos
Noite1
CM ndash 57 44
Informante
G D F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Noite2
CM ndash 53
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Nome1
CM ndash 21
Informante
G H I A
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Nome2
CM ndash 24
Informante
G H I D E
F A C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Noacutes1
CM ndash 14
Informante
G D E F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Noacutes2
CM ndash 14
Informante
E A
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
N-u-n1
CM ndash 24
Informante
I D E
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
N-u-n-c-a2
CM ndash 01 24
51a
Informante
I D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
214
Nunca3
CM ndash 14
(2 matildeos)
Informante
I D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Objetivo1 CM ndash 42 58 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Objetivo2 CM ndash 14 Informante
B
15 a 30
Anos
III
Ocircnibus1 CM ndash 07 Informante
F
30 a 60
Anos
II
Ocircnibus2 CM ndash 31 Informante
I B
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Ovo1 CM ndash 44 57 Informante
I
60 a 80
Anos
I
O-v-o2 CM ndash 42 32 Informante
G H
60 a 80
Anos
I
Padre1 CM ndash 11 Informante
G
30 a 60
Anos
II
Padre2
CM ndash 21
Informante
G H D F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Padre3
CM ndash 24
Informante
I F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
P-a-i1
CM ndash 01 11
38
Informante
G H I D E
F A
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Pai2
CM ndash 11 (p)
Informante
G H F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II III
215
15 a 30
Anos
Pai3 CM ndash 14 Informante
G H I
60 a 80
Anos
I
Pai4
CM ndash 16
Informante
I F B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Pai5
CM ndash 02 45
Informante
E A B C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Patildeo1 CM ndash 02 47
57
Informante
H
60 a 80
Anos
I
Patildeo2 CM ndash 63 Informante
H
60 a 80
Anos
I
Patildeo3
CM ndash 01
Informante
I F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Peixe1 CM ndash 16 Informante
G I
60 a 80
Anos
I
Peixe2
CM ndash 63
Informante
I F A
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Pessoa1
CM ndash 11
Informante
G I C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Pessoa2
CM ndash 35a
Informante
I D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Pessoa3
CM ndash 18a
Informante
F A C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
216
Pode-Natildeo1 CM ndash 14
(2 matildeos)
Informante
D E
30 a 60
Anos
II
Pode-Natildeo2 CM ndash 14
(1 matildeo)
Informante
F
30 a 60
Anos
II
Poliacutetica1 CM ndash 11 51a Informante
G I
60 a 80
Anos
I
Poliacutetica2
CM ndash 11
Informante
I E B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Poliacutetica3 CM ndash 14 Informante
D E
30 a 60
Anos
II
Porque1
CM ndash 15
Informante
G H I D F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Porque2 CM ndash 14 Informante
G H I E F
A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Povo1 CM ndash 02 64 Informante
G I
60 a 80
Anos
I
Povo2 CM ndash 11 Informante
I
60 a 80
Anos
I
P-o-v-o3 CM ndash 11 32
42
Informante
I
60 a 80
Anos
I
Preto1
CM ndash 05
Informante
G H I F B
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Preto2 CM ndash 34 62 Informante
G H I
60 a 80
Anos
I
Primeiro1
CM ndash 07 14
Informante
60 a 80
Anos
I II III
217
G I E F C 30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
Primeiro2
CM ndash 14
Informante
H F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Primeiro3 CM ndash 14
(duas matildeos)
Informante
D
30 a 60
Anos
II
Primeiro4
CM ndash 07
Informante
F E C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Profissional
1
CM ndash 11 Informante
I
60 a 80
Anos
I
Profissional
2
CM ndash 63 Informante
C
15 a 30
Anos
III
Prova1 CM ndash 63 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Prova2
CM ndash 53a
(duas matildeos)
Informante
E F A B C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Respeitar1 CM ndash 53a Informante
D E
30 a 60
Anos
II
Respeitar2 CM ndash 25 Informante
E F
30 a 60
Anos
II
Responsaacutevel
1
CM ndash 25
Informante
I D E B
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Responsaacutevel
2
CM ndash 25
(duas matildeos)
Informante
I D E F A
B
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II III
218
15 a 30
Anos
Responsaacutevel
3
CM ndash 63
(duas matildeos)
Informante
G I
60 a 80
Anos
I
Reuniatildeo1 CM ndash 15 Informante
D
30 a 60
Anos
II
Reuniatildeo2
CM ndash 25
Informante
D E A
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Reuniatildeo3 CM ndash 14 Informante
G H D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Saber1
CM ndash 63
Informante
D B C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Saber2
CM ndash 14
Informante
G H I D E
F A C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Saber3
CM ndash 44 53a
Informante
G H I F A
B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Saber4
CM ndash 11
Informante
E F C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Semana1 CM ndash 10 Informante
D E
30 a 60
Anos
II
Semana2 CM ndash 10 Informante
B
15 a 30
Anos
III
Semana3 CM ndash 08a 64 Informante
I
60 a 80
Anos
I
219
Sim1
CM ndash 02
Informante
H D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
S-i-m2 CM ndash 02 38
60
Informante
H I
60 a 80
Anos
I
Sim3 CM ndash 59a 63 Informante
G H
60 a 80
Anos
I
Surdo1
CM ndash 14
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Surdo2
CM ndash 25
Informante
G I D E B
C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Tambeacutem1
CM ndash 61
Informante
G H I D E
A
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Tambeacutem2
CM ndash 14
Informante
G H I D E
F B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Tarde1 CM ndash 63 Informante
G H I
60 a 80
Anos
I
Tarde2 CM ndash 44 47
63
Informante
H
60 a 80
Anos
I
Tarde3 CM ndash 63 Informante
G H
60 a 80
Anos
I
Teatro1 CM ndash 57 Informante
I
60 a 80
Anos
I
220
Teatro2 CM ndash 49 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Tempo1
CM ndash 14
Informante
H I D E A
B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Tempo2
CM ndash 57
Informante
H I D E
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Tempo3
CM ndash 63
Informante
G I D E C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Tempo4
CM ndash 45
Informante
G D E F A
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Ter1
CM ndash 63 64
Informante
G H I D F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Ter2
CM ndash 08a
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Tio1
CM ndash 56
Informante
H F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Tio2
CM ndash 51b
Informante
30 a 60
Anos
II III
221
D E F A B
C
15 a 30
Anos
Trabalhar1
CM ndash 08a
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Trabalhar2
CM ndash 14
Informante
H I F A
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Trabalhar3 CM ndash 24 Informante
I
60 a 80
Anos
I
Tudo CM ndash 63
(duas matildeos)
Informante
F
30 a 60
Anos
II
Vagabundo1 CM ndash 63 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Vagabundo2 CM ndash 64 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Ver1 CM ndash 14 Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Ver2
CM ndash 32
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Ver3
CM ndash 64
Informante D E B C
30 a 60
Anos 15 a 30
Anos
II III
Vergonha1
CM ndash 64
Informante
60 a 80
Anos
I II
222
I E 30 a 60
Anos
Vergonha2 CM ndash 11 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Vermelho1 CM ndash 32 Informante
G H I
60 a 80
Anos
I
Vermelho2 CM ndash 14 Informante
G H I
60 a 80
Anos
I
Viajar1 CM ndash 63 Informante
D E F
30 a 60
Anos
II
Viajar2 CM ndash 45 Informante
F
30 a 60
Anos
II
WC CM ndash 48 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Palavras no total 255 sinais lexicais
Palavra Ajudar 4 Sinais Palavra Mais 4 Sinais
Palavra Aluno 2 Sinais Palavra Matemaacutetica 2 Sinais
Palavra Amanhatilde 3 Sinais Palavra Meacutedico 2 Sinais
Palavra Antes 3 Sinais Palavra Medo 3 Sinais
palavra Aposentar 3 Sinais Palavra Melhor 3 Sinais
Palavra Associaccedilatildeo 2 Sinais Palavra Morrer 2 Sinais
Palavra Aula 1 Sinal Palavra Mudar 2 Sinais
Palavra Aviatildeo 3 Sinais Palavra Mulher 3 Sinais
Palavra Avocirc 3 Sinais Palavra Noite 2 Sinais
Palavra Azul 3 Sinais Palavra Nome 2 Sinais
Palavra Bairro 1 Sinal Palavra Noacutes 2 Sinais
Palavra Banco 2 Sinais Palavra Nunca 3 Sinais
Palavra Batata 2 Sinais Palavra Objetivo 2 Sinais
Palavra Branco 2 Sinais Palavra Ocircnibus 2 Sinais
Palavra Cafeacute 1 Sinal Palavra Ovo 2 Sinais
Palavra Calma 2 Sinais Palavra Padre 3 Sinais
Palavra Cama 2 Sinais Palavra Pai 5 Sinais
Palavra Cavalo 2 Sinais Palavra Patildeo 3 Sinais
Palavra Chorar 2 Sinais Palavra Peixe 2 Sinais
Palavra Crianccedila 4 Sinais Palavra Pessoa 3 Sinais
Palavra Cobra 2 Sinais Palavra Pode-natildeo 2 Sinais
Palavra Conversar 5 Sinais Palavra Poliacutetica 3 Sinais
Palavra Cortar 3 Sinais Palavra Porque 2 Sinais
223
Palavra Cultura 1 Sinal Palavra Povo 3 Sinais
Palavra Dormir 3 Sinais Palavra Preto 2 Sinais
Palavra Depois 3 Sinais Palavra Primeiro 4 Sinais
Palavra Educaccedilatildeo 2 Sinais Palavra Profissional 2 Sinais
Palavra Escola 2 Sinais Palavra Prova 2 Sinais
Palavra Estudar 1 Sinal Palavra Respeitar 2 Sinais
Palavra Emagrecer 2 Sinais Palavra Responsaacutevel 3 Sinais
Palavra Engordar 2 Sinais Palavra Reuniatildeo 3 Sinais
Palavra Engravidar 2 Sinais Palavra Saber 4 Sinais
Palavra Faacutecil 3 Sinais Palavra Semana 3 Sinais
Palavra Faculdade 3 Sinais Palavra Sim 3 Sinais
Palavra Falar 5 Sinais Palavra Surdo 2 Sinais
Palavra Feio 3 Sinais Palavra Tambeacutem 2 Sinais
Palavra Flor 2 Sinais Palavra Tarde 3 Sinais
Palavra Forte 3 Sinais Palavra Teatro 2 Sinais
Palavra Gato 3 Sinais Palavra Tempo 4 Sinais
Palavra Gostar 2 Sinais Palavra Ter 2 Sinais
Palavra Homem 2 Sinais Palavra Tio 2 Sinais
Palavra Hospital 2 Sinais Palavra Trabalhar 3 Sinais
Palavra Igreja 2 Sinais Palavra Tudo 1 Sinal
Palavra Igual 7 Sinais Palavra Vagabundo 2 Sinais
Palavra Irmatildeo 2 Sinais Palavra Ver 3 Sinais
Palavra Lembrar 2 Sinais Palavra Vergonha 2 Sinais
Palavra Limpar 3 Sinais Palavra Vermelho 2 Sinais
Palavra Livro 2 Sinais Palavra Viajar 2 Sinais
Palavra Lutar 2 Sinais Palavra WC 1 Sinal
Palavra Matildee 7 Sinais
224
225
AS CONFIGURACcedilOtildeES DE MAtildeOS
Cm 01
Cm 02
Cm 03
Cm 04
Cm 05
Cm 06
Cm 07
Cm 08a
Cm 08b
Cm 09
Cm 10
Cm 11
Cm 12
Cm 13
Cm 14
Cm 15
Cm 16
Cm 17
Cm 18a
Cm 18b
Cm 19
Cm 20
Cm 21
Cm 22a
Cm 22b
Cm 23
Cm 24
Cm 25
Cm 26
Cm 27
226
Cm 28
Cm 29a
Cm 29b
Cm 30
Cm 31
Cm 32
Cm 33
Cm 34
Cm 35a
Cm 35b
Cm 36
Cm 37a
Cm 37b
Cm 38
Cm 39
Cm 40
Cm 41
Cm 42
Cm 43
Cm 44
Cm 45
Cm 46a
Cm 46b
Cm 47
Cm 48
Cm 49
Cm 50
Cm 51a
Cm 51b
Cm 52
Cm 53a
Cm 53b
Cm 54
Cm 55
Cm 56
227
Cm 57
Cm 58
Cm 59a
Cm 60
Cm 61
Cm 62
Cm 63
Cm 64
228
Ficha de identificaccedilatildeo da obra elaborada pelo autor atraveacutes do Programa de Geraccedilatildeo Automaacutetica da Biblioteca Universitaacuteria da UFSC
Schmitt Deonisio
A HISTOacuteRIA DA LIacuteNGUA DE SINAIS EM SANTA CATARINA Contextos soacutecio-histoacutericos e sociolinguiacutesticos de surdos de 1946 a 2010 Deonisio Schmitt orientadora Izete Lehmkuhl Coelho co-orientador Tarciacutesio de Arantes Leite - Florianoacutepolis SC 2013 228 p
Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa
Catarina Centro de Comunicaccedilatildeo e Expressatildeo Programa de Poacutes- Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica
Inclui referecircncias
1 Linguiacutestica 2 Histoacuteria da LIBRAS 3
Sociolinguiacutestica 4 Soacutecio-histoacuterico 5 Variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas I Izete Lehmkuhl Coelho II Tarciacutesio de Arantes Leite III Universidade Federal de Santa Catarina Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica IV Tiacutetulo
A HISTOacuteRIA DA LIacuteNGUA DE SINAIS EM SANTA CATARINA
Contextos soacutecio-histoacutericos e sociolinguiacutesticos de surdos de 1946 a 2010
Orientadora Profordf Dra Izete Lehmkuhl Coelho
Coorientador Prof Dr Tarciacutesio de Arantes Leite
Banca Examinadora
Profordf Dra Fabiacuteola Sucupira Ferreira Sell ndash UDESC (Membro Externo)
Profordf Dra Lodenir Becker Karnopp ndash UFRGS (Membro Externo)
Profordf Dra Ronice Muller de Quadros ndash UFSC (Membro Interno)
Profordf Dra Edair Maria Goumlrski ndash UFSC (Membro Interno)
Profordf Dra Karin Liacutelian Strobel ndash UFSC (Membro Interno)
Profordf Dra Aline Lemos Pizzio ndash UFSC (Membro Suplente Interno)
Profordf Dra Sueli Costa ndash IFSC (Membro Suplente Externo)
Florianoacutepolis 2013
ldquoOs procedimentos da linguiacutestica descritiva se
baseiam no entendimento de que a liacutengua eacute um
conjunto estruturado de normas sociais No
passado foi uacutetil considerar que tais normas eram
invariantes e compartilhadas por todos os
membros da comunidade linguiacutestica Todavia as
anaacutelises do contexto social em que a liacutengua eacute
utilizada vieram demonstrar que muitos
elementos da estrutura linguiacutestica estatildeo
implicados na variaccedilatildeo sistemaacutetica que reflete
tanto a mudanccedila no tempo quanto os processos
sociais extralinguumliacutesticosrdquo (LABOV 1968 p
241)
ldquoQuando eu aceito a liacutengua de outra pessoa eu
aceitei a pessoa Quando eu rejeito a liacutengua eu
rejeitei a pessoa porque a liacutengua eacute parte de noacutes
mesmos Quando eu aceito a Liacutengua de Sinais
eu aceito o surdo e eacute importante ter sempre em
mente que o surdo tem o direito de ser surdo
Devemos ensinaacute-los ajudaacute-los mas temos que
permitir-lhe ser surdordquo (TERJE BASILIER
psiquiatra norueguecircs)
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais por terem me acompanhado e me dado forccedila para
essa caminhada
A minha amada esposa por ter paciecircncia comigo durante todos
esses anos
Aos meus filhos Eduardo Espiacutendola Schmitt e Mocircnica Espiacutendola
Schmitt que sofreu juntamente com minha esposa cuidando dele nas
cansativas muito correria de trabalho por motivo de paciecircncia comigo
durante do estudo e trabalho
Ao Sr Francisco Lima Juacutenior guerreiro no movimento de surdos
pela primeira escola e associaccedilatildeo que marca o registro histoacuterico na
liacutengua de sinais sofreram a mudanccedila o tempo em Santa Catarina
A Associaccedilatildeo de Surdos da Grande Florianoacutepolis Sociedade de
Surdos de Satildeo Joseacute Universidade Federal de Santa Catarina
Universidade do Estado de Santa Catarina Grupo de Estudos Surdos e
Comunidade Surda pelo seu apoio
Agrave professora Dra Izete Lehmkul Coelho (UFSC) pela sua
orientaccedilatildeo de pesquisa na aacuterea em sociolinguiacutestica e me dava a
disciplina no estudo referecircncia teoacuterico
Ao meu co-orientador Dr Tarciacutesio de Arantes Leite pela sua
orientaccedilatildeo muito detalhe no estudo as liacutenguas de sinais
Aos colegas de LetrasLIBRAS pelo incentivo e forccedila de vontade
no compartilhamento das experiecircncias no estudo linguiacutestico dos surdos
A Dra Ronice Muller de Quadros abriu a oportunidade de espaccedilo
acadecircmico na liacutengua de sinais na Universidade Federal de Santa
Catarina ndash UFSC
A Prof Dra Edair Maria Goumlrski convidado especial na disciplina
sociolinguiacutestica na banca de examinadora e antes tambeacutem esteve na
minha qualificaccedilatildeo em 2012
Aos colegas surdos na faixa etaacuteria que compartilharam comigo
durante as entrevistas de gravaccedilotildees sobre a histoacuteria de surdos em Santa
Catarina
A CAPES e REUNI pelo fornecimento de bolsa no programa de
poacutes-graduaccedilatildeo - PGL oferecendo-me a oportunidade de desenvolver
meu estudo e pesquisa
Convidado especial nas bancas de examinadoras Fabiacuteola Sucupira
Ferreira Sell Karin Liacutelian Strobel e Lodenir Becker Karnopp membro e
suplente Aline Lemos Pizzio e Suelli Costa
Aacutes colegas Edgar Correa Veras Nataacutelia Schleder Rigo e Tiago
Coimbra Nogueira que me interpretaram na banca de qualificaccedilatildeo em
2012 Daniela Bieleski Diego Mauricio Barbosa e Gisele Iandra Pessini
Anater que me interpretaram na banca avaliaccedilatildeo de defesa
A Maria Eloiza de Macedo por nos ajudar com discussotildees na
revisatildeo e pela paciecircncia e comprometimento e
Apoio a ediccedilatildeo de filmagem satildeo Marcos Luchi Joatildeo Paulo
Ampessan e Marcos Alexandre Marquioto
RESUMO
Esta pesquisa visa identificar possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas
linguiacutesticas ocorridas na Liacutengua Brasileira de Sinais (LIBRAS) no periacuteodo
histoacuterico de 1946 a 2010 analisando narrativas filmadas de trecircs geraccedilotildees de
sujeitos surdos usuaacuterios dessa liacutengua O Grupo I eacute formado por indiviacuteduos
com mais de 60 anos o Grupo II por indiviacuteduos de 30 a 60 anos o Grupo
III eacute formado por indiviacuteduos de 15 a 30 anos Na primeira parte do trabalho
apresentamos uma revisatildeo de base teoacuterico-metodoloacutegica fundamentada nos
estudos de Labov (2008 [1972]) sobre mudanccedilas linguiacutesticas no contexto
social observadas em tempo aparente na ilha de Martha‟s Vineyard e em
Nova York A concepccedilatildeo da variaccedilatildeo sociolinguiacutestica pode nos ajudar nesta
investigaccedilatildeo que versa sobre a histoacuteria da LIBRAS em Santa Catarina no
periacuteodo jaacute referido A partir da teoria laboviana analisam-se certos padrotildees
sociolinguiacutesticos verificados nesta pesquisa Considera-se o fato de apenas
uma pessoa ter influenciado toda uma comunidade de surdos em Santa
Catarina o professor Francisco Lima Juacutenior que veio do Rio de Janeiro
para Florianoacutepolis em 1946 Baseando-nos nesta data escolhemos o periacuteodo
acima citado para traccedilar um percurso de possiacuteveis transformaccedilotildees
linguiacutesticas de natureza interna e externa ocorridas na LIBRAS em Santa
Catarina Os resultados desta pesquisa apontam que haacute variaccedilatildeo e mudanccedila
em tempo aparente na LIBRAS relacionando o contexto linguiacutestico atual
dos jovens (Grupo III) a transformaccedilotildees histoacutericas e sociais observadas na
comunidade surda em Santa Catarina
Palavras-chave Histoacuteria da LIBRAS sociolinguiacutestica soacutecio-histoacuterico
variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas
ABSTRACT
This research aims to identify eventual linguistic variations and
changes in Brazilian Sign Language (LIBRAS) in the period from 1946 to
2010 through the analysis of the filmed narratives of three generations of
deaf people users of that language Group I is formed by individuals over
60 years-old Group II by individuals between 30 and 60 years-old and
Group III individuals between 15 and 30 years-old In the first part of this
research we present a theoretical-methodological review based on the
studies of Labov (2008 [1972]) about the social context of changes
observed in apparent time in Martha‟s Vineyard and in New York City We
believe the theory of language variation and change can help us in this
research which deals with the history of LIBRAS in Santa Catarina in the
period mentioned above Based on Labov‟s theory we analize certain
sociolinguistic patterns that were verified in this research We consider the
fact that only one person had influence on a whole deaf community in its
linguistic development teacher Francisco Lima Juacutenior who came from Rio
de Janeiro to Florianoacutepolis in 1946 Considering this date we chose the
period from 1946 to 2010 to trace back the path of eventual linguistic
transformations both internal and external in LIBRAS in Santa Catarina
We expect that in the outcome of this research there is variation and change
in apparent time of LIBRAS relating the present context linguistic to youth
(Group III) to the historical and social transformations observed the deaf
community in Santa Catarina
Keywords History of LIBRAS sociolinguistics sociohistory language
variation and change
RESUMEN
El objetivo de esta investigacioacuten es identificar posibles variaciones y
cambios linguiacutesticos ocurridos en la Lengua Brasilentildea de Sentildeales
(LIBRAS) en el periodo comprendido entre 1946 y 2010 analizando
narrativas grabadas de tres generaciones de individuos sordos usuarios de
esa lengua El Grupo I esta formado por individuos con maacutes de 60 antildeos el
Grupo II por individuos de 30 a 60 antildeos el Grupo III es formado por
individuos de 15 a 30 antildeos Se presenta en la primera etapa de la
investigacioacuten un repaso teoacuterico-metodoloacutegico fundamentado en los estudios
de Labov (2008 [1972]) acerca de cambios linguiacutesticos en el contexto
social observados en tiempo aparente en la Isla de Martha‟s Vineyard y en
Nueva York La concepcioacuten de la variacioacuten sociolinguiacutestica nos puede
ayudar en este estudio el cual trata de la historia de la LIBRAS en Santa
Catarina en el periodo mencionado A partir de la teoriacutea laboviana se
analizan ciertos patrones sociolinguiacutesticos verificados en esta investigacioacuten
Se considera el hecho de solo una persona haber influenciado toda la
comunidad de sordos en Santa Catarina el profesor Francisco Lima Juacutenior
que partioacute del Rio de Janeiro para Florianoacutepolis en el antildeo de 1946 Con base
en esta fecha elegimos el periodo antes mencionado para disentildear una
trayectoria de las posibles transformaciones linguiacutesticas de caraacutecter interno
y externo ocurridas en la lengua de sentildeales en Santa Catarina Se espera que
los resultados de esta investigacioacuten indiquen que existe una variacion y
cambio en el tiempo aparente en LIBRAS relacionando el contexto
linguiacutesticas actual a joacutevenes (Grupo III) las transformaciones historicas y
sociales observados la comunidad sorda de Santa Catarina
Palabras-clave Historia de la LIBRAS sociolinguiacutestica sociohistorio
variacioacuten y cambio linguiacutesticos
LISTA DE ABREVIATURAS
ACT ndash Admissatildeo em Caraacuteter Temporaacuterio
ASL ndash Liacutengua de Sinais Americana
ASURJ ndash Associaccedilatildeo dos Surdos de Rio de Janeiro
BESC ndash Banco do Estado de Santa Catarina
BSL ndash Liacutengua de Sinais Britacircnica
CAPES ndash Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel
Superior
CELESC ndash Centrais Eleacutetricas de Santa Catarina SA
CSMSC ndash Ciacuterculo de Surdos-Mudos de Santa Catarina
FCEE ndash Fundaccedilatildeo Catarinense de Educaccedilatildeo Especial
FENEIS ndash Federaccedilatildeo Nacional de Educaccedilatildeo e Integraccedilatildeo dos Surdos
FUTSAL ndash Futebol de Salatildeo
IATEL ndash Instituto de Audiccedilatildeo e Terapia da Linguagem
INES ndash Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos
INSM ndash Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos-Mudos
IPS ndash Instituto Paulista de Surdos
LIBRAS ndash Liacutengua Brasileira de Sinais
LSB ndash Liacutengua de Sinais Brasileiras
LSF ndash Liacutengua de Sinais Francesa
MEC ndash Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
NEESPI ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo Especial e Inclusiva
PGL ndash Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica
REUNI ndash Programa de Apoio a Planos de Reestruturaccedilatildeo e Expansatildeo
das Universidades Federais Brasileiras
UFSC ndash Universidade Federal de Santa Catarina
UNIVALI ndash Universidade do Vale do Itajaiacute
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 ndash Sinal de Matildee35
Figura 02 ndash Sinal de Matildee37
Figura 03 ndash Retirado do livro de GROCE Nora Ellen Everyone Here
Spoke Sign Language Hereditary Deafness on Martha‟s Vineyard
Printed in the United States of America 195244
Figura 04 ndash Retirado do livro de LABOV Willian Padrotildees
Sociolinguiacutesticos45
Figura 05 ndash Retirado no site
httpcawikipediaorgwikiMartha27s_Vineyard45
Figura 06 ndash O trapezoacuteide das vogais a flecha indica a direccedilatildeo de
movimento do primeiro elemento de (aw)62
Figura 07 ndash Sinal de Porco67
Figura 08 ndash Abade L‟Epeacutee ensinando os surdos na liacutengua de sinais
francesa72
Figura 09 ndash Acervo na Revista da FENEIS81
Figura 10 ndash Acervo de Ana Regina e Souza Campello ndash UFSC83
Figura 11 ndash Acervo da Heloise Gripp Diniz ndash UFSC 0184
Figura 12 ndash Acervo da Heloise Gripp Diniz ndash UFSC 0284
Figura 13 ndash Acervo do Francisco - eacute o primeiro dicionaacuterio na liacutengua de
sinais em Santa Catarina em 194793
Figura 14 ndash Acervo do Profdeg Francisco - fotografia de Jornal que traz
reportagem sobre o livro ldquoLinguagem das Matildeosrdquo96
Figura 15 ndash Mostrar os Sinais106
Figura 16 ndash Variaccedilatildeo Fonoloacutegica108
Figura 17 ndash Mostrar os sinais com uma matildeo e com duas matildeos108
Figura 18 ndash Sinal de Paacutessaro110
Figura 19 e 20 ndash Ferreira-Brito e Langevin112
Figura 21 ndash httpwwwinesgovbrlibrasprincipalaspASSU_id=3112
Figura 22 ndash Quadro de CMs da LSB por Pimenta e Quadros112
Figura 23 ndash Sinal - ldquoCultura em SCrdquo115
Figura 24 ndash Sinal - ldquoCultura em SPrdquo115
Figura 25 ndash Sinal - ldquoCultura em RJrdquo115
Figura 26 ndash Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo ndash Depto Educaccedilatildeo
Especial ndash CuritibaPR SEEDSUEDDEE117
Figura 27 ndash Sinal de Ajudar118
Figura 28 ndash Sinal de Faltar119
Figura 29 ndash Sinal de Ocircnibus119
Figura 30 ndash Sinal de Sonhar119
Figura 31 CM ndash 01 11154
Figura 32 CM ndash 02 57154
Figura 33 CM ndash 07155
Figura 34 CM ndash 01 11154
Figura 35 CM ndash 02 57154
Figura 36 CM ndash 01 11154
Figura 37 CM ndash 53a156
Figura 38 CM ndash 36156
Figura 39 CM ndash 37a156
Figura 40 CM ndash 40156
Figura 41 CM ndash 40156
Figura 42 CM ndash 02157
Figura 43 CM ndash 14158
Figura 44 CM ndash 63158
Figura 45 CM ndash 02157
Figura 46 CM ndash 14158
Figura 47 CM ndash 63158
Figura 48 CM ndash 02 07157
Figura 49 CM ndash 14158
Figura 50 CM ndash 11159
Figura 51 CM ndash 14160
Figura 52 CM ndash 16160
Figura 53 CM ndash 16159
Figura 54 CM ndash 02 45160
Figura 55 CM ndash 11 38159
Figura 56 CM ndash 16160
Figura 57 CM ndash 02 45160
Figura 58 CM ndash 11 51a162
Figura 59 CM ndash 11162
Figura 60 CM ndash 14162
Figura 61 CM ndash 11162
Figura 62 CM ndash 34 62163
Figura 63 CM ndash 05163
Figura 64 CM ndash 05163
Figura 65 CM ndash 05163
Figura 66 CM ndash 14164
Figura 67 CM ndash 25164
Figura 68 CM ndash 14164
Figura 69 CM ndash 15165
Figura 70 CM ndash 25164
Figura 71 CM ndash 08a 64166
Figura 72 CM ndash 10166
Figura 73 CM ndash 10166
Figura 74 CM ndash 10166
Figura 75 CM ndash 53a168
Figura 76 CM ndash 61168
Figura 77 CM ndash 53a168
Figura 78 CM ndash 61168
Figura 79 CM ndash 53a168
Figura 80 CM ndash 07 64169
Figura 81 CM ndash 08a169
Figura 82 CM ndash 08a169
Figura 83 CM ndash 16170
Figura 84 CM ndash 44170
Figura 85 CM ndash 16170
Figura 86 CM ndash 44170
Figura 87 CM ndash 16170
Figura 88 CM ndash 21171
Figura 89 CM ndash 24171
Figura 90 CM ndash 24171
Figura 91 CM ndash 24171
Figura 92 CM ndash 14172
Figura 93 CM ndash 15173
Figura 94 CM ndash 14172
Figura 95 CM ndash 15173
Figura 96 CM ndash 14172
Figura 97 CM ndash 53a 63175
Figura 98 CM ndash 08a175
Figura 99 CM ndash 08a175
Figura 100 CM ndash 08a175
Figura 101 CM ndash 63177
Figura 102 CM ndash 14 24177
Figura 103 CM ndash 14177
Figura 104 CM ndash 14177
Figura 105 CM ndash 24177
Figura 106 CM ndash 24177
Figura 107 CM ndash 62180
Figura 108 CM ndash 24180
Figura 109 CM ndash 21181
Figura 110 CM ndash 11180
Figura 111 CM ndash 24180
Figura 112 CM ndash 21181
Figura 113 CM ndash 24180
Figura 114 CM ndash 63182
Figura 115 CM ndash 08a182
Figura 116 CM ndash 63182
Figura 117 CM ndash 08a182
Figura 118 CM ndash 08a182
LISTA DE QUADROS
Quadro 01 Sinal de Aposentar155
Quadro 02 Sinal de Aviatildeo156
Quadro 03 Sinal de Matildee158
Quadro 04 Sinal de Pai160
Quadro 05 Sinal de Poliacutetica162
Quadro 06 Sinal de Preto163
Quadro 07 Sinal de Reuniatildeo165
Quadro 08 Sinal de Semana166
Quadro 09 Sinal de Banco168
Quadro 10 Sinal de Feio169
Quadro 11 Sinal de Meacutedico170
Quadro 12 Sinal de Nome171
Quadro 13 Sinal de Porque173
Quadro 14 Sinal de Antes175
Quadro 15 Sinal de Cortar177
Quadro 16 Sinal de Padre181
Quadro 17 Sinal de Ter182
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 Centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por grupos
ocupacionais51
Tabela 02 Centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por faixa etaacuteria51
Tabela 03 Distribuiccedilatildeo geograacutefica da centralizaccedilatildeo53
Tabela 04 Cruzamento de fatores 6 falantes com o maior grau de
centralizaccedilatildeo55
Tabela 05 Centralizaccedilatildeo por grupos eacutetnicos56
Tabela 06 Centralizaccedilatildeo e atitude com relaccedilatildeo a Martha‟s Vineyard58
Tabela 07 A escala em tempo aparente eacute chamada de ldquogradaccedilatildeo
etaacuteriardquo61
Tabela 08 Mudanccedila de (aw) e (ay) em tempo aparente atraveacutes de duas
geraccedilotildees em Martha‟s Vineyard62
Tabela 09 Preliminar dos dados ndash variaccedilotildees ou mudanccedilas
linguiacutesticas151
SUMAacuteRIO
Introduzindo a pesquisa na liacutengua de sinais25 CAPIacuteTULO I ndash Delimitaccedilatildeo do objeto de pesquisa31
11 Introduccedilatildeo31
12 Mudanccedilas histoacutericas na LIBRAS e variaccedilotildees linguiacutesticas de
1946 a 2010 em Santa Catarina31
13 Objetivo Geral33
14 Objetivos especiacuteficos33
15 Questotildees e Hipoacuteteses de pesquisa na liacutengua de sinais37
CAPIacuteTULO II ndash Pressupostos teoacuterico-metodoloacutegicos da sociolinguiacutestica
laboviana39
21 Introduccedilatildeo39
22 A liacutengua em seu contexto social40
221 LABOV pesquisador pioneiro em sociolinguiacutestica40
222 A Ilha de Martha‟s Vineyard42
223 Seleccedilatildeo da variaacutevel linguiacutestica47
224 Distribuiccedilatildeo por idade e tempo50
225 Uma explicaccedilatildeo possiacutevel para o aumento da centralizaccedilatildeo52
226 A interaccedilatildeo de padrotildees linguiacutesticos e sociais54
23 Os princiacutepios da mudanccedila linguiacutestica59
231 A idade e a variaccedilatildeo estaacutevel60
232 A idade e a mudanccedila linguiacutestica61
233 Aplicando os conhecimentos da sociolinguiacutestica64
CAPIacuteTULO III ndash A histoacuteria social da liacutengua69
31 Introduccedilatildeo69
32 Charles Michel de LEpeacutee - Instituto Nacional de Surdos-Mudos
em Paris69
33 Eacutedouard Huet ndash Instituto Nacional Educaccedilatildeo de Surdos
(INESRJ)74
34 Francisco Lima Juacutenior - O Primeiro Professor Surdo na liacutengua
de sinais em Santa Catarina87
CAPIacuteTULO IV ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila na liacutengua de sinais101
41 Introduccedilatildeo101
42 A liacutengua de sinais pelo surdo indiacutecios de variaccedilatildeo e mudanccedila
linguiacutestica101
43 As variaccedilotildees linguiacutesticas na liacutengua de sinais116
44 O surdo se comunica a liacutengua de sinais no contexto social118
CAPIacuteTULO V ndash Metodologia121
51 Introduccedilatildeo121
52 A coleta de dados123
53 O meacutetodo de entrevista sociolinguiacutestica a coleta de narrativas
de experiecircncia pessoal124
54 A transcriccedilatildeo de dados dos trecircs grupos compostos de
informantes surdos na liacutengua de sinais126
55 Informantes do grupo surdo na liacutengua de sinais126
56 Descriccedilatildeo dos informantes quanto aos dados129
561 Grupo I - Informantes130
5611 Informante G130
5612 Informante H132
5613 Informante I134
562 Grupo II - Informantes135
5621 Informante D136
5622 Informante E137
5623 Informante F139
563 Grupo III - Informantes140
5631 Informante A140
5632 Informante B141
5633 Informante C143
564 ndash Algumas consideraccedilotildees finais146
CAPITULO VI ndash Descriccedilatildeo e anaacutelise dos resultados149
61 Introduccedilatildeo149
62 A comparaccedilatildeo dos dados o grupo de trecircs geraccedilotildees de surdos na
liacutengua de sinais149
63 Variaccedilatildeo e Mudanccedila lexical na Liacutengua Brasileira de Sinais152
64 Variaccedilatildeo e Mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua Brasileira de
Sinais173
65 O que dizem os resultados das trecircs geraccedilotildees dos informantes na
Liacutengua Brasileira de Sinais 183
Consideraccedilotildees Finais187
Referecircncias Bibliograacuteficas191
Anexos199
25
Introduzindo a pesquisa na liacutengua de sinais
Sou Surdo Pretendo investigar a variaccedilatildeo e a mudanccedila linguiacutestica
na liacutengua de sinais como trabalho final do curso de poacutes-graduaccedilatildeo em
Linguiacutestica niacutevel Doutorado e aprofundar os conceitos adquiridos no
meu mestrado Realizei a defesa do mestrado em 2008 na UFSC O
estudo foi feito na linha de pesquisa em Educaccedilatildeo e Processos
Inclusivos O tema abordado foi ldquoContextualizaccedilatildeo da Trajetoacuteria dos
Surdos e Educaccedilatildeo de Surdos em Santa Catarinardquo
Iniciei no mestrado pesquisando a Educaccedilatildeo de Surdos em SC
Como natildeo haacute documentaccedilatildeo histoacuterica busquei atraveacutes do depoimento
do professor surdo Francisco1 e tambeacutem de documentos e fotografias
que ele tinha resgatar um pouco da trajetoacuteria da Educaccedilatildeo de Surdos em
SC
Aquela pesquisa visava introduzir as narrativas de sujeitos surdos
no que tange a sua histoacuteria memoacuteria e identidade Minha posiccedilatildeo eacute que
atraveacutes dela eacute possiacutevel conseguir elucidar a caminhada realizada pelos
surdos de Santa Catarina E tambeacutem atraveacutes de narrativas captadas com
o professor Francisco Lima Juacutenior (Chiquito) e de alguns de seus ex-
alunos bem como de alguns dados de Jornais fotos e filmagens
consegue-se chegar a escrever a histoacuteria do movimento surdo de Santa
Catarina com respeito agrave organizaccedilatildeo e agrave educaccedilatildeo de surdos O tema foi
muito amplo para pesquisar no mestrado Entatildeo optei por pesquisar a
parte histoacuterica da liacutengua de sinais no mestrado e a parte linguiacutestica no
doutorado numa perspectiva sociolinguiacutestica
Na pesquisa de mestrado percebi que apareceram sinais
diferentes no depoimento de dois surdos que sinalizaram sobre a
Educaccedilatildeo de surdos Refleti sobre esses sinais diferentes e natildeo
conseguia explicaacute-los Entatildeo realizei o projeto de doutorado para
entender melhor essa diferenccedila de sinais estudando um tema mais
1 SCHMITT (2008) dissertaccedilatildeo de mestrado na UFSC Em 1928 nasceu em FlorianoacutepolisSC e inicia a vida de Francisco Lima Juacutenior Em 1937 a 1946 no INSMRJ Francisco inicia seus
estudos No ano de 1947 primeiro espaccedilo de educaccedilatildeo de surdos na garagem na casa dos pais
(Francisco) Em 1954 o encontro de surdos organiza a fundaccedilatildeo do Ciacuterculo Surdos-Mudos em Santa Catarina ndash CSMSC Em 1955 funda o Ciacuterculo Surdos-Mudos em Santa Catarina ndash
CSMSC e tambeacutem foi delegado na regiatildeo do sul Em 1960 teve iniacutecio o governo de Celso
Ramos Em 1963 iniciou a construccedilatildeo Escola Governador Celso Ramos Em 1964 a primeira turma de surdos na Escola Governador Celso Ramos Ex-alunos Surdos na primeira Turma
Escola Governador Celso Ramos em 1964 e 1969 Fundado em 25 de marccedilo de 1969 o
Instituto de Audiccedilatildeo e Terapia da Linguagem ndash IATEL e em 1997 o Francisco entregou o documento no Ciacuterculo Surdos-Mudos em Santa Catarina ndash CSMSC para a Sandra L Amorim e
atualmente ASGF Isso foi apresentado a minha pesquisa de biografia
26
especiacutefico ldquoA Histoacuteria da Liacutengua de Sinais em Santa Catarina
Contextos soacutecio-histoacutericos e sociolinguiacutesticos de surdos de 1946 a
2010rdquo
O trabalho de coleta de dados para esta pesquisa acontece em
forma de relatos filmados sobre a histoacuteria e as experiecircncias de vida de
cada indiviacuteduo em liacutengua de sinais de trecircs geraccedilotildees nas seguintes faixas
etaacuterias o Grupo I eacute formado por indiviacuteduos com mais de 60 anos o
Grupo II por indiviacuteduos de 30 a 60 anos e o Grupo III eacute formado por
indiviacuteduos de 15 a 30 anos Pretende-se investigar nos dados de que
dispomos se aconteceu alguma transformaccedilatildeo linguiacutestica e em caso
positivo qual foi esta transformaccedilatildeo Se a economia a poliacutetica a
questatildeo social e cultural influenciam as mudanccedilas linguiacutesticas que
ocorrem e quais as possiacuteveis influecircncias que estes fatores tiveram em
relaccedilatildeo agraves mudanccedilas na liacutengua de sinais de Santa Catarina no periacuteodo
de 1946 a 2010
A pesquisa e a leitura de histoacuterias da liacutengua de sinais no mundo
no Brasil e em Santa Catarina em diferentes comunidades surdas
propiciaratildeo um maior conhecimento linguiacutestico e melhor entendimento
das diferentes culturas surdas Jaacute posso adiantar que as narrativas
coletadas contadas e vividas pelos trecircs grupos pesquisados em
diferentes momentos da sociedade brasileira ampliaram minha forma de
ver e perceber o mundo
Meu estudo de pesquisa no mestrado apresentou dados sobre a
histoacuteria da liacutengua de sinais de Santa Catarina e as dificuldades
encontradas da comunidade surda nos contatos sociais das vaacuterias regiotildees
de Santa Catarina e ateacute mesmo com outros estados (PR RS SP RJ e
MG) Acredita-se que a ampliaccedilatildeo de sinais aqui em Santa Catarina teve
a influecircncia do professor Francisco Lima Juacutenior porque ele estudou no
INESRJ (Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos) e no IPSSP
(Instituto Paulista de Surdos) e trouxe sinais utilizados nesses estados
aleacutem de outros sinais aprendidos em contatos com surdos de outros
estados (PR RS SP RJ e MG) e ensinou tais sinais aos seus alunos
surdos enriquecendo assim a liacutengua de sinais
Ateacute agora as pesquisas sobre a liacutengua de sinais em Santa Catarina
natildeo tecircm registro da histoacuteria do sujeito surdo na escola e nem nas
associaccedilotildees de surdos ou na comunidade surda na deacutecada de 1950 Pela
pesquisa percebi que antes da vinda do professor Francisco para Santa
Catarina natildeo havia registrodocumentaccedilatildeo sobre a liacutengua de sinais A
histoacuteria que pesquisei sobre a liacutengua de sinais em Santa Catarina surge
de conversas com o professor Francisco e com outros indiviacuteduos surdos
Atualmente haacute mais registros sobre a liacutengua de sinais mas ainda eacute
27
muito pouco pois eacute uma liacutengua na modalidade visual espacial e sua
forma de registro ainda eacute precaacuteria A histoacuteria da liacutengua de sinais tem sido narrada por instituiccedilotildees de
indiviacuteduos ouvintes uma dessas eacute o INESRJ onde estudou o professor
Francisco Essas narraccedilotildees tecircm como base a educaccedilatildeo oralista que natildeo
utilizava nenhum tipo de sinalizaccedilatildeo e a comunidade surda que
utilizava a LIBRAS natildeo deixou informaccedilotildeesregistros sobre a histoacuteria da
comunidade surda daquela eacutepoca (1940) O pouco que ficou eacute
superficial deixando de mostrar informaccedilotildees de maior valor sobre esta
liacutengua que eacute muito importante para que com os registros possamos
entender melhor as variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas que ocorreram e
ocorrem Para isso eacute preciso que indiviacuteduos surdos pesquisem sobre a
histoacuteria cultura identidade e liacutengua de sinais da comunidade surda
Os dados desta pesquisa considerados importantes foram
analisados com o objetivo principal de pesquisar as variaccedilotildees e
possiacuteveis mudanccedilas em tempo aparente na liacutengua de sinais em Santa
Catarina atraveacutes das narrativas de sujeitos surdos
Percebi que o professor Francisco influenciou a liacutengua de sinais
em Santa Catarina e resgatando parte da histoacuteria dessa liacutengua pesquisei
variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas no periacuteodo de 1946 ateacute a
atualidade (2010) A falta de pesquisa histoacuterica da liacutengua de sinais
2 entre 1930 a
1980 no Brasil com referecircncia agrave variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica com o
foco no estudo sociolinguiacutestico e soacutecio-histoacuterico dificultou vislumbrar
o desenvolvimento desta liacutengua durante esse periacuteodo as mudanccedilas
ocorridas e o uso da liacutengua de sinais pela comunidade surda Natildeo houve
registro de pesquisa sobre este tema na liacutengua de sinais atraveacutes de
registro espaccedilo-visual (filmagem viacutedeos fotos etc) nas uacuteltimas deacutecadas
e parece que muitos dados que satildeo importantes sobre o sujeito surdo se
perderam Vale registrar no entanto trabalhos importantes que
procuraram resgatar parte da histoacuteria da liacutengua de sinais no Brasil a
dissertaccedilatildeo defendida em 2010 por Heloise Gripp Diniz sobre o tema
ldquoA histoacuteria da liacutengua de sinais brasileira (Libras) um estudo descritivo
de mudanccedilas fonoloacutegicas e lexicaisrdquo e os trabalhos de Perlin (1998)
Miranda (2001) Karnopp e Quadros (2004) Brito (1990 1991 1993 e
1995) Felipe (1988 1991 1993 1994 1995 1996 e 1997) Campello
(2011) entre outros
2 SCHMITT (2008) relata que ldquoa liacutengua de sinais ou seja a liacutengua dos sujeitos surdos eacute o
espaccedilo que mais eacute atingido pelo diferencialismordquo
28
Com relaccedilatildeo ao oralismo que exigia que os surdos falassem e natildeo
podiam sinalizar essa praacutetica trouxe grandes problemas uma delas foi a
dificuldade na criaccedilatildeo de espaccedilos (escola associaccedilatildeo etc) pelos
proacuteprios surdos Com a criaccedilatildeo das Associaccedilotildees de Surdos em Santa
Catarina os surdos puderam defender seus interesses E a partir de
2001 em Santa Catarina quando foi criada a Lei Estadual Nordm 118693
oficializou a LIBRAS como forma de comunicaccedilatildeo dos surdos
Haacute dez anos surgiu a LEI Nordm 10436 DE 24 DE ABRIL DE
2002 ldquoreconhecida como meio legal de comunicaccedilatildeo e expressatildeo da
Liacutengua Brasileira de Sinais - LIBRAS e outros recursos de expressatildeo a
ela associadosrdquo e o DECRETO Nordm 5626 DE 22 DE DEZEMBRO DE
2005
Em SC a primeira conquista educacional dos surdos aconteceu na
escola Governador Celso Ramos no centro de Florianoacutepolis em 1964
com a primeira turma de surdos a frequentar uma escola Nesta escola
eles tiveram acesso ao uso da liacutengua de sinais com a mediaccedilatildeo do
professor Francisco que tinha o apelido de ldquoChiquitordquo Com o
aprendizado da liacutengua de sinais os surdos comeccedilaram uma nova histoacuteria
e foram aprimorando sua liacutengua
Os alunos surdos adquiriam mais expressatildeo na comunicaccedilatildeo da
liacutengua de sinais e na interaccedilatildeo com o professor de liacutengua de sinais
surdo aprendiam mais raacutepido a se comunicar e a entender os conceitos
(sinaispalavras) Eles aprenderam e foram influenciados pelo professor
Francisco com quem tiveram o primeiro contato com a liacutengua de sinais
Os surdos comeccedilaram a utilizar a liacutengua de sinais na comunidade
surda ampliando este aprendizado Assim indaguei-me sobre qual era a
liacutengua de sinais ensinada naquele contexto social e as mudanccedilas
ocorridas por causa disto Entatildeo procurei o professor Francisco para
entender quais os sinais diferentes que havia em 1950 e que ele trouxe
para Santa Catarina Soube que o professor em seus estudos no INES foi
influenciado pela Liacutengua de Sinais Francesa (Europa) e pela Liacutengua de
Sinais Americana (Estados Unidos) na deacutecada de 1940 retornou para
Santa Catarina por volta de 1947 Essa contextualizaccedilatildeo sobre a liacutengua
de sinais eacute importante para a anaacutelise e pesquisa desta liacutengua em nosso
Estado
O professor Francisco estudou no Rio de Janeiro de 1937 a 1946
3 Em Santa Catarina foi criada a Lei no 11869 de 06 de setembro de 2001 reconhece oficialmente no Estado de Santa Catarina a linguagem gestual codificada na Liacutengua Brasileira
de Sinais LIBRAS ndash e outros recursos a ela associados como meio de comunicaccedilatildeo objetiva e
de uso corrente
29
Trouxe a experiecircncia dos sinais emergentes do Instituto Nacional de
Educaccedilatildeo de Surdos ndash INESRJ e influenciou a Regiatildeo Sul
protagonizando a histoacuteria da liacutengua de sinais por toda comunidade surda
catarinense
Eacute preciso pensar como na realidade a comunidade surda
catarinense resolveu seus problemas nas diferentes fases da histoacuteria da
liacutengua de sinais e em diferentes geraccedilotildees dos surdos Algumas sugestotildees
propostas dizem respeito ao Ciacuterculo de Surdos-Mudos de Santa Catarina
- CSMSC4 fundado pelo professor Francisco tambeacutem professor da
Escola Governador Celso Ramos Tais fatos trouxeram uma maior
interaccedilatildeo entre os surdos catarinenses e o contexto social vivido entre
1946 a 1955 proporcionando a criaccedilatildeo de Associaccedilotildees de Surdos em
vaacuterias regiotildees do estado de Santa Catarina em especial na Escola G
Celso Ramos de 1964 a 1973
Com o intuito de cumprir os objetivos a que esta pesquisa se
propocircs o trabalho seraacute organizado da seguinte forma
Nesta Introduccedilatildeo fiz um breve relato da construccedilatildeo deste
trabalho de pesquisa destacando pontos que acredito serem relevantes
com relaccedilatildeo agrave liacutengua de sinais em Santa Catarina
No primeiro capiacutetulo apresento a delimitaccedilatildeo do objeto de
pesquisa a contextualizaccedilatildeo dos sujeitos surdos na liacutengua de sinais com
o objetivo de pesquisar as mudanccedilas histoacutericas na LIBRAS e possiacuteveis
variaccedilotildees linguiacutesticas que ocorrem na trajetoacuteria percorrida desde o
projeto ateacute a concretizaccedilatildeo da pesquisa de campo realizada
No segundo capiacutetulo apresento alguns pressupostos teoacuterico-
metodoloacutegicos da sociolinguiacutestica laboviana apresento estudos de
Labov sobre a centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) na comunidade de fala da
Ilha de Marthas Vineyard bem como sobre a liacutengua em seu contexto
social a variaccedilatildeo e a mudanccedila linguiacutestica
No terceiro capiacutetulo apresento a contextualizaccedilatildeo da histoacuteria
social da liacutengua em organizaccedilotildees surdas no paiacutes com base na trajetoacuteria
dos surdos na Europa Ameacuterica Brasil e regiotildees de Santa Catarina
No quarto capiacutetulo apresento explicaccedilotildees sobre a variaccedilatildeo
encontrada na liacutengua de sinais e discutida por diversos linguistas
No quinto capiacutetulo apresento a metodologia de coleta das
narrativas dos sujeitos surdos por faixa etaacuteria e a descriccedilatildeo dos
4 O CSMSC professor Francisco comeccedilou a reunir todos os surdos de Santa Catarina
buscando as pessoas surdas que ficavam isoladas na sociedade Fazia reuniotildees perioacutedicas em
sua casa com atividade social alfabetizaccedilatildeo e oficinas de artes e trabalhos artesanais Entatildeo em 18 de agosto de 1955 com 30 associados fundou o Ciacuterculo dos Surdos e Mudos de Santa
Catarina Atualmente chamado de Associaccedilatildeo de Surdos da Grande Florianoacutepolis - ASGF
30
informantes quanto aos dados colhidos na liacutengua de sinais nas trecircs
geraccedilotildees controladas
No sexto capiacutetulo apresento a descriccedilatildeo e a anaacutelise dos
resultados a comparaccedilatildeo dos dados de cada grupo nas trecircs geraccedilotildees de
surdos que utilizaram a liacutengua de sinais
Por fim nas consideraccedilotildees finais mostro que esta pesquisa
pretende contribuir com resultados sobre a variaccedilatildeo e a mudanccedila
linguiacutestica na Liacutengua de Sinais e talvez contribuir com o registro dos
dados coletados no curso de LetrasLIBRAS como referecircncia
bibliograacutefica para auxiliar outras pesquisas
31
CAPIacuteTULO I ndash Delimitaccedilatildeo do objeto de pesquisa
11 ndash Introduccedilatildeo
Pretendo pesquisar parte da histoacuteria da LIBRAS em Santa
Catarina de indiviacuteduos surdos em contextos soacutecio-histoacutericos e
sociolinguiacutesticos de diferentes regiotildees do estado com comunicaccedilatildeo de
sinais diferentes idades variadas gecircnero diferente costumes proacuteprios
escolaridade variada exercendo trabalhos e crenccedilas diferentes
vivenciando fatos histoacutericos tudo isso acontecendo em contextos
distintos Escolhi o periacuteodo de 1946 a 2010 para a pesquisa porque o
professor Francisco Lima Juacutenior que nasceu em 1928 foi estudar fora
da cidade retornou para Florianoacutepolis em 1946 de seus estudos no
Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos (INES) no Rio de Janeiro e
acredito que ele influenciou o ensino da LIBRAS em Santa Catarina
Realizar esta pesquisa eacute um grande desafio pela dificuldade para
encontrar o registro da histoacuteria da liacutengua de sinais e das variaccedilotildees e
mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas Para desenvolver este trabalho eacute
importante saber as influecircncias lexicais e fonoloacutegicas ocorridas nessa
liacutengua em Santa Catarina de onde vieram as influecircncias e qual seu
reflexo na comunidade surda E ainda se essa liacutengua trouxe uma
valorizaccedilatildeo maior para o grupo de surdos I (mais velhos) e se foi
influenciada por fatores sociais e histoacutericos da comunidade surda de
Santa Catarina
Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os seguintes toacutepicos a
delimitaccedilatildeo da pesquisa mudanccedilas histoacutericas na LIBRAS e variaccedilotildees
linguiacutesticas nas deacutecadas de 1940 a 2010 uma contextualizaccedilatildeo sobre a
influecircncia do professor Francisco na comunidade surda a justificativa
sobre a pesquisa feita com as pessoas surdas o objetivo geral desta
pesquisa e por fim a hipoacutetese levantada sobre a influecircncia do professor
Francisco na comunidade surda de Santa Catarina com relaccedilatildeo agrave liacutengua
de sinais
12 ndash Mudanccedilas histoacutericas na LIBRAS e variaccedilotildees linguiacutesticas de
1946 a 2010 em Santa Catarina
A metodologia utilizada nesta pesquisa eacute de base empiacuterica
atraveacutes de coleta de narrativas de sujeitos surdos na faixa etaacuteria de 15 a
80 anos divididos em trecircs grupos os quais responderam agrave seguinte
pergunta ldquoExplique a histoacuteria da educaccedilatildeo do sujeito surdo em Santa
32
Catarinardquo As respostas estatildeo registradas em viacutedeos por se tratar de uma
liacutengua visual-espacial
Os dados colhidos satildeo descritos e analisados com o objetivo de
verificar se ocorreram variaccedilotildees e possiacuteveis mudanccedilas em tempo
aparente em sinais da LIBRAS identificando linguiacutestica e
historicamente cada caso
Nesta pesquisa pretendo aprofundar a histoacuteria da LIBRAS em
Santa Catarina e verificar as variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas
entre 1946 a 2010 bem como a influecircncia do professor Francisco na
comunidade surda do estado de Santa Catarina
Temos poucos registros histoacutericos no Brasil sobre a comunidade
surda e a LIBRAS e esses em sua maioria satildeo escritos por pessoas
ouvintes uma histoacuteria oral5
Em Santa Catarina a realidade eacute a mesma natildeo haacute registros
escritos documentados sobre a comunidade surda A LIBRAS foi
oficializada em 2001 em Santa Catarina e em 2002 no Brasil Ainda eacute
recente e poucos registros temos Eacute necessaacuterio pesquisar mais sobre a
LIBRAS em seus aspectos histoacuterico e linguiacutestico pois atualmente
poucos surdos conhecem sua liacutengua em seus aspectos linguiacutesticos e
gramaticais apenas sinalizam e se comunicam mas se pedirmos
explicaccedilotildees poucos saberatildeo daacute-las ateacute porque isso natildeo eacute mateacuteria
escolar
Com os dados coletados e analisados acredito que poderei
entender melhor qual foi a influecircncia ou natildeo do professor Francisco
junto agrave comunidade surda de Santa Catarina Aleacutem dos dados pretendo
fazer isso com o auxiacutelio de reportagens jornais e revistas catarinenses
bem como atraveacutes de documentos das instituiccedilotildees que trabalharam ou
trabalham com pessoas surdas Tambeacutem pretendo verificar informaccedilotildees
no arquivo Puacuteblico Catarinense Espero que com os depoimentos em
viacutedeos consiga encontrar evidecircncias de variaccedilotildees e mudanccedilas
linguiacutesticas lexicais e fonoloacutegicas em LIBRAS que ocorreram desde a
deacutecada de 1940 Os surdos que deram seu depoimento fazem parte da
comunidade surda que participou do movimento surdo catarinense nas
uacuteltimas deacutecadas Para analisar as transformaccedilotildees ocorridas eles foram
observados por faixas etaacuterias Considerando o uso de narrativas sobre a
5 SCHMITT (2008) na dissertaccedilatildeo de mestrado apresenta O que eacute Histoacuteria Oral ndash Eacute o estudo das narrativas dos sujeitos da pesquisa sua versatildeo e memoacuterias do fato pesquisado ocupa-se em
registrar essas narrativas (gravaccedilotildees filmagens transcriccedilatildeo das entrevistas recortes da
imprensa) como metodologia de pesquisa
33
histoacuteria dessas pessoas utilizei as discussotildees sobre histoacuteria oral para
realizar as entrevistas conforme Alberti (2005)
A histoacuteria oral tem uma natureza especifica que
condiciona as perguntas que o pesquisador pode fazer
Em se tratando de uma forma de recuperaccedilatildeo do passado
conforme concebido pelos que viveram eacute fundamental
que tal abordagem seja efetivamente relevante para a
investigaccedilatildeo que se pretende realizar (ALBERTI 2005
p 30)
13 ndash Objetivo Geral
Verificar a influecircncia do professor Francisco Lima Juacutenior sobre a
liacutengua de sinais de Santa Catarina e pesquisar variaccedilotildees e possiacuteveis
mudanccedilas em tempo aparente na liacutengua de sinais desse educador e de
outros oito sujeitos surdos reunidos por faixa etaacuteria diferente em trecircs
grupos de indiviacuteduos Grupo I (de 60 a 80 anos) Grupo II (de 30 a 60
anos) e Grupo III (de 15 a 30 anos) A narrativa desses nove sujeitos
surdos seraacute analisada com o propoacutesito de verificar quais as
transformaccedilotildees linguiacutesticas ocorridas na comunidade surda atual e quais
as diferenccedilas lexicais e fonoloacutegicas de uso da LIBRAS nas faixas etaacuterias
desses trecircs grupos de geraccedilotildees investigados
14 ndash Objetivos especiacuteficos
Identificar as alteraccedilotildees de alguns sinais quanto agrave
variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica e lexical dentro da liacutengua
de sinais e outros sinais que permanecem ateacute a atualidade
sem influecircncias externas
Comparar a variaccedilatildeo e a mudanccedila encontradas na
liacutengua de sinais utilizada pelos indiviacuteduos surdos
pertencentes a diferentes faixas etaacuterias representantes de
trecircs geraccedilotildees de sinalizadores
Identificar possiacuteveis fatores que condicionam a
variaccedilatildeo e a mudanccedila linguiacutesticas observadas nos trecircs
grupos pesquisados
34
Pretendemos pesquisar a liacutengua de sinais em Santa Catarina
observando a narrativa (depoimento) do sujeito surdo coletada na
escola e na associaccedilatildeo Com o surgimento do primeiro espaccedilo de
identidade cultural6 do surdo em contato com o professor Francisco
quando retornou do Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos
(INESRJ) para Florianoacutepolis que contribuiu para a melhoria do ensino
de liacutengua de sinais aos surdos Observe-se o que disse Felipe (2001)
sobre isso
Assim o antigo Instituto continuou como um centro de
integraccedilatildeo para o fortalecimento do desenvolvimento da
LIBRAS pois segundo Relatoacuterio do Diretor Dr Tobias
Rabello Leite de 1871 esta escola jaacute possuiacutea alunos
vindos de vaacuterias partes do paiacutes dezoito anos retornavam
agraves cidades de origem levando com eles a LIBRAS
(FELIPE 2001 p 121)
Quando o professor Francisco retornou de seu estudo no INES
percebe-se que influenciou o aprendizado da LIBRAS em Santa
Catarina pois a geraccedilatildeo mais nova buscava aprender a liacutengua com os
liacutederes surdos da geraccedilatildeo do professor Francisco Esse espaccedilo foi
conquistado pela poliacutetica de educaccedilatildeo de surdos que assegurava o
envolvimento com a liacutengua de sinais que atualmente estaacute se expandindo
na comunidade surda em nosso estado catarinense
Esse caminho foi aberto pelo professor Francisco Lima Juacutenior
que motivou os sujeitos surdos a aprenderem a LIBRAS num periacuteodo de
escolas oralistas a valorizarem o contato com outros sujeitos surdos e as
conversas nas comunidades surdas e associaccedilotildees levando os surdos da
atualidade a lutarem pelos seus direitos e deveres e a aprimorarem os
espaccedilos cultural e linguiacutestico criando assim lideranccedilas nessas
comunidades Isto proporcionou troca de ideias e experiecircncias
necessidade de mais estudos e melhor compreensatildeo da poliacutetica brasileira
para a busca desses direitos Os surdos da atualidade tambeacutem criaram
uma identidade nessa comunidade com as trocas aprenderam mais
criaram sinais para palavras novas melhoraram sinais antigos etc Para a
autora Tanya A Felipe
6 SCHMITT (2008) relata que ldquoA pesquisa acadecircmica na universidade sobre os problemas na
fase de histoacuteria de ouvinte e a pesquisa na educaccedilatildeo de surdos introduz a identidade cultural
surda no espaccedilo de conflito que eacute a educaccedilatildeo de surdo Esse momento cultural do surdo e a aacuterea de conhecimento sobre a cultura surda satildeo importantes na realidade das pesquisas que
apresentam o sujeito surdo no ensinordquo
35
Como toda liacutengua as liacutenguas de sinais aumentam seus
vocabulaacuterios com novos sinais introduzidos pelas
comunidades surdas em resposta as mudanccedilas culturais e
tecnoloacutegicas Assim a cada necessidade surge um novo
sinal e desde que se torne aceito seraacute utilizado pela
comunidade (FELIPE 2001 p 19)
Percebe-se na citaccedilatildeo da autora que o contato da comunidade
surda7 acontece atraveacutes da comunicaccedilatildeo visual-espacial As mudanccedilas
tecnoloacutegicas a busca de conhecimento e a cultura influenciam a
LIBRAS fazendo com que a comunidade crie novos sinais e modifique
outros sinais mais antigos
A LIBRAS eacute considerada uma liacutengua assim como as outras
liacutenguas orais e apresenta variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica Um dos
exemplos de mudanccedila em LIBRAS foi uma mudanccedila discreta8 do sinal
de ldquoMAtildeErdquo A mudanccedila fonoloacutegica atinge um dos cinco paracircmetros
fonoloacutegicos da formaccedilatildeo de sinais O ponto de articulaccedilatildeo eacute preservado
na mudanccedila do sinal MAtildeE a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) muda e eacute
acrescentado o sinal de MULHER tornando o sinal composto
Figura 01 ndash Sinal de Matildee
Eacute importante retomar aqui quais satildeo esses cinco paracircmetros
Stokoe que por volta de 1960 e 1965 apontou trecircs paracircmetros que
constituem os sinais e nomeou-os configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ponto
de articulaccedilatildeo (PA) ou locaccedilatildeo (L) e movimento (M) Satildeo eles
7 Para Felipe (2001 p 38) ldquouma comunidade eacute um sistema social geral no qual pessoas vivem
juntas compartilham metas comuns e partilham certas responsabilidades umas com as outrasrdquo PADDEN (19895) Para esta pesquisadora ldquouma Comunidade Surda eacute um grupo de pessoas
que mora em uma localizaccedilatildeo particular compartilha as metas comuns de seus membros e de
vaacuterios modos trabalha para alcanccedilar estas metasrdquo Portanto nessa Comunidade pode ter tambeacutem ouvintes e surdos que natildeo satildeo culturalmente Surdos 8 Ocorre quando uma forma (ou sinal) eacute substituiacuteda por outra de modo natildeo gradual
36
Configuraccedilatildeo de matildeos ndash satildeo as diferentes formas que as
matildeos assumem na representaccedilatildeo do sinal
Ponto de articulaccedilatildeo ndash eacute a posiccedilatildeo onde as matildeos satildeo
posicionadas no momento da sinalizaccedilatildeo
Movimento ndash eacute o deslocamento das matildeos no espaccedilo e
em diferentes partes do corpo
Karnopp (1999) apresenta como resultado de pesquisa que a
configuraccedilatildeo de matildeos se diferencia pela seleccedilatildeo de dedos e a
configuraccedilatildeo ou posiccedilatildeo destes para efetuar o sinal Em ASL os dedos
selecionados devem permanecer na mesma disposiccedilatildeo ou quando tem
mudanccedila de posiccedilatildeo os dedos selecionados devem continuar iguais ateacute
o teacutermino do sinal As posiccedilotildees e configuraccedilotildees dos dedos diferenciam-
se em a) difusatildeo dos dedos aduccedilatildeo b) junccedilatildeo entre os dedos e o
polegar abertura e c) tipo e grau de flexatildeo apresentando a organizaccedilatildeo
fonoloacutegica dos sinais com ecircnfase nos articuladores dos itens lexicais e
das restriccedilotildees na formaccedilatildeo de sinais
A partir de 1970 outros linguistas conduziram estudos mais
aprofundados sobre os aspectos fonoloacutegicos Robbin Battison (1974)
Edward S Klima e Ursulla Bellugi (1979) descreveram o quarto
paracircmetro
Orientaccedilatildeo ndash que eacute a posiccedilatildeo da palma da matildeo se pra
frente ou pra traacutes para cima ou para baixo para o lado
esquerdo ou direito
O quinto paracircmetro eacute a expressatildeo facialcorporal foi adicionado
por Ferreira Brito em 1995 no Brasil
Expressotildees faciais e corporais satildeo elementos
gramaticais que compotildeem a estrutura da liacutengua Tambeacutem
chamados de marcadores natildeo manuais Ex a fisionomia
para expressar uma pessoa chata e muito chata eacute
intensificada para expressar o que eacute desejado Alguns sinais
podem ter uma direccedilatildeo e a inversatildeo deste pode significar
oposiccedilatildeo contraacuterio ou concordacircncia nuacutemero-pessoal
37
Figura 02 ndash Sinal de Matildee
Para Quadros (1997) pesquisas evidenciam a perda completa da
motivaccedilatildeo do sinal na crianccedila surda em fase de aquisiccedilatildeo da liacutengua de
sinais Tais sinais como ldquobenccedilatildeordquo para matildee e pai para o surdo adulto ateacute
podem ser resgatados Entretanto a crianccedila que estaacute adquirindo a liacutengua de
sinais e nunca viu esta accedilatildeo natildeo repete a mesma atitude beijando a matildeo
A liacutengua de sinais eacute diferente em diversos paiacuteses e ateacute mesmo em
diferentes regiotildees dentro de um mesmo paiacutes A liacutengua de sinais eacute o que
permite a comunicaccedilatildeo entre as pessoas surdas desta forma os surdos
que conhecem a liacutengua de sinais de outras regiotildees com certeza teratildeo
maior facilidade de comunicaccedilatildeo e tambeacutem de conhecimento
Vale ressaltar que toda forma de liacutengua ldquofaladardquo no contexto
social e tudo o que noacutes vivemos sofre mudanccedilas Todas as liacutenguas tecircm
influecircncia do tempo decorrido Na LIBRAS tambeacutem existem mudanccedilas
culturais e linguiacutesticas
15 ndash Questotildees e Hipoacuteteses de pesquisa na liacutengua de sinais
Nesta pesquisa parto das seguintes questotildees 1) O professor
Francisco influenciou a LIBRAS em SC 2) Que variaccedilotildees e mudanccedila
linguiacutestica vamos encontrar na liacutengua dos nove sujeitos surdos
Acredito que (hipoacutetese) o professor Francisco teve grande influecircncia na
comunidade surda de Santa Catarina com relaccedilatildeo agrave Liacutengua de Sinais
Acredito tambeacutem (hipoacutetese) que muitos dos sinais utilizados pelos
Grupos I e II natildeo satildeo conhecidos pelo Grupo III dos mais jovens Penso
que (hipoacutetese) alguns sinais tiveram alteraccedilotildees quanto a variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica como tambeacutem lexical nos trecircs grupos pesquisados
Quando comparar a liacutengua de sinais nos Grupos I II e III nas diferentes
faixas etaacuterias espero (hipoacutetese) encontrar vaacuterios sinais que comprovem
variaccedilotildees e mudanccedilas fonoloacutegicas e lexicais Essas hipoacuteteses surgiram
de observaccedilotildees como usuaacuterio da LIBRAS
38
Em relaccedilatildeo aos fatores internos e externos que condicionam a
variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica e lexical acredito (hipoacutetese) que o
professor Francisco eacute o precursor do ensino de sinais em Santa Catarina
(fator externo) No Grupo II temos a influecircncia do professor Francisco e
de seus primeiros alunos e das associaccedilotildees de surdos e no Grupo III
temos um maior nuacutemero de surdos nas universidades precisando criar
novos sinais para os novos conhecimentos aprendidos
Labov em sua pesquisa cita ldquo o objetivo da pesquisa linguiacutestica
na comunidade deve ser descobrir como as pessoas falam quando natildeo
estatildeo sendo monitoradasrdquo (LABOV 2008 [1972] p 244) Nesta
pesquisa a observaccedilatildeo aos indiviacuteduos surdos dos trecircs grupos
pesquisados acontece de forma diferente eles sabem que estatildeo
respondendo perguntas e que estatildeo sendo filmados
Pela anaacutelise das respostas em liacutengua de sinais e descriccedilatildeo dos
surdos seraacute possiacutevel descobrir atraveacutes das descriccedilotildees aspectos
culturais9 individuais e tambeacutem obter dados quanto agraves variaccedilotildees e
mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas na liacutengua de sinais neste periacuteodo de
tempo que acontece desde 1946
Finalmente esta tese teraacute o registro dos dados colhidos nos trecircs
grupos pesquisados de diferentes geraccedilotildees mostrando variaccedilotildees e
mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas com os contatos culturais da
comunidade surda
Os fatos sociais desta liacutengua como de qualquer outra podem
acontecer em qualquer tempo e em diferentes situaccedilotildees e quando
analisados neste caso podemos perceber a mudanccedila dos indiviacuteduos
surdos num determinado contexto soacutecio-histoacuterico e linguiacutestico A amostra eou dados para a tese de doutorado na UFSC
proporcionaraacute anaacutelises sobre aspectos variaacuteveis da LIBRAS (variaccedilatildeo e
mudanccedila fonoloacutegica e lexical) com o apoio de autores como Labov
2008 [1972] Naro 2003 Weinreich Labov e Herzog 2006 [1968]
Calvet 2002 entre outros
O periacuteodo indicado para a pesquisa que eacute de 1946 a 2010 pode
revelar parte da histoacuteria da comunidade surda de Santa Catarina e a
influecircncia que o professor Francisco Lima Juacutenior trouxe de contribuiccedilatildeo
para a liacutengua de sinais de Santa Catarina e para a comunidade surda do
estado
9 PERLIN (2006 p 65) Cultura Surda ndash o livro a Invenccedilatildeo da Surdez II explica que a cultura surda esta aiacute enfatizando oferecendo transparentemente sua possessatildeo simboacutelica sobressaindo
com seus discursos narrativos afirmando a necessidade da reinscriccedilatildeo da diferenccedila cultural e
consequente diferenccedila pedagoacutegica
39
CAPIacuteTULO II ndash Pressupostos teoacuterico-metodoloacutegicos da
sociolinguiacutestica laboviana
21 ndash Introduccedilatildeo
A Sociolinguiacutestica se dedica ao estudo da liacutengua falada e do
contexto social de uso da liacutengua ou seja estuda como os membros de
uma sociedade se comunicam em diversas situaccedilotildees em funccedilatildeo por
exemplo do lugar onde cresceram ou de sua posiccedilatildeo socioeconocircmica A
liacutengua surge e tambeacutem se transforma em funccedilatildeo do contexto soacutecio-
histoacuterico
Como seraacute visto mais adiante para essa aacuterea de conhecimento satildeo
fundamentais os conceitos de variaccedilatildeo e mudanccedila O primeiro envolve a
coexistecircncia de diferentes formas linguiacutesticas para a expressatildeo de um
significado e o segundo diz respeito agrave substituiccedilatildeo de formas com o
passar do tempo Esses estudos satildeo fundamentados na sociolinguiacutestica
variacionista que teve iniacutecio com as pesquisas de Labov
Este capiacutetulo traz relatos da pesquisa de Labov que foi pioneiro
na sociolinguiacutestica e realizou estudo linguiacutestico na comunidade de fala
da Ilha de Marthas Vineyard associando a influecircncia dos povos que
imigraram e colonizaram a ilha agraves mudanccedilas ocorridas na fala bem
como o turismo que eacute frequente no veratildeo com visitantes que falam
variedades de uma mesma liacutengua e outras liacutenguas e influenciam o
comeacutercio da ilha fazendo com que variedades e liacutenguas diferentes se
misturem quando as pessoas conversam Num dado momento Labov
investigou a centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) na comunidade de fala da ilha
Foram entrevistados diferentes grupos eacutetnicos ingleses portugueses e
iacutendios Isso foi importante para entender mudanccedilas linguiacutesticas
ocorridas nessa ilha dos Estados Unidos
Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os seguintes toacutepicos a liacutengua
em seu contexto social a partir da teoria laboviana Labov como
pesquisador pioneiro em sociolinguiacutestica o iniacutecio da pesquisa de Labov
na Ilha de Martha‟s Vineyard com ingleses portugueses e iacutendios a
maneira como Labov realizou a pesquisa para escolher a variaacutevel
linguiacutestica a ser estudada a explicaccedilatildeo dos dados obtidos por grupos
ocupacionais e por idade a explicaccedilatildeo da pesquisa realizada por Labov
sobre o aumento da centralizaccedilatildeo comentaacuterios sobre a interaccedilatildeo de
padrotildees linguiacutesticos e sociais na Ilha de Martha‟s Vineyard os
princiacutepios da mudanccedila linguiacutestica a idade e a variaccedilatildeo estaacutevel e por
fim algumas reflexotildees sobre a idade e a mudanccedila linguiacutestica
40
22 ndash A liacutengua em seu contexto social
A liacutengua eacute uma forma de comportamento eacute usada por seres
humanos num contexto social ao comunicarem uns aos outros suas
ideias suas necessidades e emoccedilotildees Sendo assim o comportamento
linguiacutestico de um grupo pode variar de acordo com as experiecircncias
vividas numa comunidade Para Labov (1972) o estudo da origem da
evoluccedilatildeo da linguagem que eacute a ciecircncia que estuda a parte da linguiacutestica
incluiacuteda no contexto social eacute buscado no comportamento linguiacutestico de
um grupo social isto eacute de uma comunidade de fala10
Natildeo se trata de um grupo de falantes que utilizava a mesma forma
de fala mas do grupo que segue as mesmas normas quanto ao uso da
linguagem No caso da linguagem gestual um exemplo disso seria de
um surdo com uma famiacutelia de ouvintesfalantes que natildeo fica isolado na
questatildeo da liacutengua pois comeccedila a frequentar uma associaccedilatildeo de surdos e
aprende a liacutengua de sinais Neste espaccedilo ele aprende a comunicar-se na
liacutengua de sinais e natildeo apenas numa liacutengua gestual caseira
Para entender o comportamento linguiacutestico de uma comunidade
de fala vatildeo ser retomados alguns estudos pioneiros de Labov da deacutecada
de 1960 Antes poreacutem eacute importante entender quem eacute esse pesquisador e
alguns dos trabalhos que ele fez 221 ndash LABOV pesquisador pioneiro em sociolinguiacutestica
William Labov nasceu na cidade de Rutherford em Nova Jersey
no dia 4 de dezembro em 1927 Comeccedilou sua carreira de estudo em
Harvard em 1948 quiacutemico trabalhou na aacuterea industrial de 1949 a 1961
Ele iniciou suas pesquisas como linguista nos Estados Unidos com foco
de estudo direcionado ao contexto social agrave comunidade de fala e agraves
mudanccedilas sonoras da liacutengua
A observaccedilatildeo de Labov sobre os padrotildees sociolinguiacutesticos na ilha
de Marthas Vineyard resultou na publicaccedilatildeo do seu trabalho
apresentado no 37ordm Encontro Anual da Sociedade Americana de
Linguiacutestica em Nova York nos Estados Unidos em 1963 Nesse
trabalho o pesquisador apresentou suas consideraccedilotildees sobre a mudanccedila
sonora dos ditongos (ay) e (aw) no contexto da comunidade de fala da
10 Segundo COELHO et al (2010 p 163) Comunidade de fala ndash ldquonoccedilatildeo que recobre tanto aspectos sociais quanto linguiacutesticos envolvendo atitudesnorma sociais compartilhadas pelos
falantes que por sua vez compartilham caracteriacutesticas linguiacutesticas que os diferem de outros
grupos sociaisrdquo
41
ilha
O autor estudou tambeacutem na Columbia University sob a
orientaccedilatildeo do Professor Uriel Weinreich - doutorado em linguiacutestica em
1964 ndash com quem realizou e aprofundou sua pesquisa em
sociolinguiacutestica sobre a liacutengua falada
Eacute um pesquisador amplamente considerado na aacuterea da pesquisa
linguiacutestica por sua metodologia em sociolinguiacutestica Em seus trabalhos
o autor mostra aspectos de variaccedilatildeo dialetal e mudanccedila da liacutengua inglesa
na sociedade da Ilha de Marthas Vineyard e em Nova York11
atraveacutes de
estudos de variaccedilatildeo fonoloacutegica
Em 1972 Labov publicou seu livro Sociolinguistic Patterns
University of Pennsylvania Press original em Inglecircs o qual teve seu
volume traduzido para o portuguecircs e publicado em 2008 no Brasil
Ele pesquisou durante meses na Ilha de Martha‟s Vineyard
estado de Massachusetts as variaacuteveis foneacuteticas (ay) e (aw) em diferentes
localidades faixas etaacuterias12
grupos profissionais e eacutetnicos da ilha Com
esse estudo conseguiu reconstruir a histoacuteria social da comunidade
daquela ilha a partir da frequecircncia e distribuiccedilatildeo dessas duas variaacuteveis
para verificar se ocorreu mudanccedila sonora correlacionando o complexo
padratildeo linguiacutestico com a estrutura social atraveacutes da investigaccedilatildeo de
fatores sociais que incidem diretamente sobre o processo linguiacutestico
Sobre a mudanccedila linguiacutestica podemos destacar trecircs principais
caracteriacutesticas relevantes na pesquisa que Labov (2008 [1972] p 19)
desenvolveu na Ilha
a origem das variaccedilotildees linguiacutesticas
a difusatildeo e a propagaccedilatildeo das mudanccedilas linguiacutesticas e
a regularidade da mudanccedila linguiacutestica
Labov investigou como aconteceu a variaccedilatildeo do inglecircs americano
em uma determinada comunidade a partir das influecircncias sociais que
vieram do contato entre os indiviacuteduos das localidades pesquisadas
11 A pesquisa de Labov na ilha de Martha‟s Vineyard foi escolhida por mim porque Francisco
viveu em Florianoacutepolis e agrupou os surdos de SC tendo como referecircncia uma ilha que se
parece muito com Martha‟s nas temporadas de veratildeo os turistas do paiacutes e do exterior lotam a cidade fortalecendo a economia do lugar
12 Ao analisar faixa etaacuteria podemos detectar mudanccedila em tempo aparente atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre grupo dos falantes mais velhos e jovens ou variaccedilatildeo estaacutevel
42
Pela induccedilatildeo as variaccedilotildees fonoloacutegicas podem ocorrer pelos
processos de assimilaccedilatildeo ou dissimilaccedilatildeo por analogia empreacutestimo
fusatildeo contaminaccedilatildeo variaccedilatildeo aleatoacuteria ou outros processos linguiacutesticos
em que haja a interaccedilatildeo entre o sistema linguiacutestico de caracteriacutesticas
fisioloacutegicas ou psicoloacutegicas do indiviacuteduo
O autor realizou a pesquisa na comunidade de falantes de
Martha‟s Vineyard nos EUA em Massachusetts para verificar o grau de
centralizaccedilatildeo de sons no caso (ay) e (aw) em diferentes momentos e
situaccedilotildees daquela comunidade como veremos nas proacuteximas seccedilotildees
222 ndash A Ilha de Martharsquos Vineyard
Martha`s Vineyard eacute a maior ilha ao largo da costa da Nova
Inglaterra abrange quase uma centena de quilocircmetros quadrados de
aacuterea
A ilha antigamente era povoada por grupos de iacutendios que estavam
relacionados com a Wampanoags no estado sudeste de Massachusetts
Num primeiro momento os europeus ocuparam a ilha e com o passar
do tempo aprenderam com os iacutendios de diferentes tribos de Martha`s
Vineyard a pescar e a utilizar a agricultura
O primeiro assentamento europeu aconteceu em 1644 na ilha O
governador de Winthrop de Boston norte dos Estados Unidos nessa
eacutepoca anotou em seu jornal local que algumas pessoas de Watertown
eram surdas e se comunicavam atraveacutes de sinais13
isso ajudou na
divulgaccedilatildeo da liacutengua inglesa que comeccedilou a ser usada pelos habitantes
de Martha`s Vineyard Este grupo vinha de famiacutelias do estado de
Massachusetts em Bay Colony que resolveu morar na Ilha
A Ilha de Martha‟s Vineyard na deacutecada de 1960 era formada por
uma pequena populaccedilatildeo de 6000 falantes nativos dividida em trecircs
grupos eacutetnicos ingleses portugueses e iacutendios A pesquisa de Labov
levou em consideraccedilatildeo as trecircs etnias Foram entrevistados 69 indiviacuteduos
daquela sociedade Dentre eles os nuacutemeros entrevistados foram 42
13 Realizei a pesquisa no livro que se chama ldquoEveryone Here Spoke Sign Languagerdquo da autora
(Groce 1952) achei interessante a leitura mas fui riscando e analisando de acordo com minha compreensatildeo do texto e comparando com o que Labov (2008) apresentou no livro Padrotildees
Sociolinguiacutesticos Eacute importante salientar que a pesquisa apresentada no livro de Groce eacute
interessante para realizar estudos na comunidade surda na liacutengua de sinais
43
ingleses 16 portugueses e 9 iacutendios de grupos eacutetnicos essencialmente
endoacutegamos14
Labov controlou tambeacutem diferentes grupos ocupacionais
14 na pesca 8 na agricultura 6 na construccedilatildeo 19 no ramo de serviccedilos 3
profissionais liberais 5 donas de casa e 14 estudantes Fez entrevista
formal e observaccedilotildees em muitas situaccedilotildees espontacircneas nas ruas de
Vineyard Haven e Edgartown em lanchonetes restaurantes bares
embarcadouros e diversos lugares onde o som geral da conversa puacuteblica
podia ser anotado quando natildeo gravado As anotaccedilotildees serviam apenas
como controles suplementares sobre as entrevistas gravadas As
entrevistas aconteceram em trecircs periacuteodos agosto final de
setembrooutubro de 1961 e janeiro de 1962 com pessoas de idades que
variaram de 14 a 75 anos
As duas principais variaacuteveis estudadas na ilha foram (ay) e (aw)
O significado linguiacutestico das formas em variaccedilatildeo era o mesmo mas a
situaccedilatildeo de fala era diferente na comunidade Como resultado das
entrevistas o autor obteve aproximadamente 3500 ocorrecircncias de (ay) e
1500 ocorrecircncias de (aw) como base de dados para sua pesquisa
O primeiro grupo eacutetnico formado por descendentes das famiacutelias
mais velhas de origem inglesa foi para a ilha nos seacuteculos XVII e XVIII
As famiacutelias inglesas eram os Mayhews Nortons Hancocks Allens
Tiltons Vincents Wests e Pooles que com o passar dos anos
influenciaram a liacutengua inglesa falada na ilha e a cultura da comunidade
O segundo grupo eacutetnico era formado por famiacutelias de imigrantes
accedilorianos vindos de Cabo Verde em Portugal Esses imigrantes
portugueses ao longo de toda costa da Nova Inglaterra representaram o
percentual mais alto de centralizaccedilatildeo em Martha‟s Vineyard
A ilha foi dividida em duas partes mais relevantes para a
pesquisa a ilha alta (up-island) e a ilha baixa (down-island) num total
de 5563 (cinco mil quinhentos e sessenta e trecircs) habitantes na deacutecada
de 1960 A ilha alta era organizada por pessoas que viviam em meio
rural poucos lugares fazendas casas de veraneio abandonadas lagoas
de aacutegua salgada e pacircntanos era uma aacuterea geograacutefica central desabitada e
com pinheirais improdutivos A ilha baixa era uma regiatildeo formada por
trecircs pequenos centros urbanos onde vivia cerca de trecircs quartos da
populaccedilatildeo A populaccedilatildeo de Martha‟s Vineyard na deacutecada de 1970 era de
11725 habitantes na parte alta da Ilha (rural) era de 3846 Edgartown
14 Eacute o indiviacuteduo que se casa com membros da mesma tribo para conservaccedilatildeo de sua nobreza e
raccedila
44
1118 Oak Bluffs 1027 Vineyard Haven 1701 e na parte baixa da Ilha
(Vilarejos) 1717 Edgartown 256 Oak Bluffs 292 Tisbury 468 West
Tisbury 360 Chilmark 238 Gay Head 103
Mapeamento da Ilha de Martharsquos Vineyard
Em 1960
Figura 03 ndash Retirado do livro de GROCE Nora Ellen Everyone Here
Spoke Sign Language Hereditary Deafness on Martha‟s Vineyard
Printed in the United States of America 1952
45
Em 1960
Figura 04 ndash Retirado do livro de LABOV Willian Padrotildees
Sociolinguiacutesticos 2008 [1972]
Atualmente em 2012
Figura 05 ndash 10092011 retirado no site
httpcawikipediaorgwikiMartha27s_Vineyard
46
A populaccedilatildeo na Ilha no ano de 1960 estava constituiacuteda de 11
de descendentes da primeira ou da segunda geraccedilatildeo de imigrantes
portugueses Das terceiras e quartas geraccedilotildees provavelmente chegaria
proacuteximo aos 20 Quanto ao terceiro grupo eacutetnico eram remanescentes de
indiacutegenas de GAY HEAD O quarto grupo eacute uma Miscelacircnea de
famiacutelias de imigrantes europeus que vieram da Inglaterra Franccedila-
Canadaacute Irlanda Alemanha e Polocircnia Apesar de que a soma desses
imigrantes seja de aproximadamente 15 natildeo foi levada em conta por
natildeo ser uma forccedila social coesa Segundo Labov todos os anos no veratildeo muitos turistas
chegavam agrave ilha nos meses de junhojulho passando de 6000
habitantes para 42000 habitantes representando um nuacutemero expressivo
mas natildeo foi diretamente analisado porque a influecircncia direta destes
veranistas sobre o falar em Vineyard era relativamente pequena A
constante pressatildeo vinda na comunicaccedilatildeo junto agrave crescente dependecircncia
econocircmica criada pelo turismo gera indiretamente mudanccedilas
linguiacutesticas
Os veranistas estrangeiros falam uma liacutengua proacutepria em seu paiacutes
vatildeo a passeio agrave Ilha para conhecer e explorar a cidade e tambeacutem o povo
daquela ilha fazendo trocas neste conviacutevio e de alguma forma
promovem mudanccedilas econocircmicas poliacuteticas culturais sociais e
linguiacutesticas
O autor constatou que a Ilha de Martha‟s Vineyard aleacutem da
variaccedilatildeo estudada que eacute a centralizaccedilatildeo dos ditongos os falantes
tambeacutem usam as formas variaacuteveis do ndashr poacutes-vocaacutelico em palavras como
car (carro) four (quatro) card (cartatildeo) fourth (quarto) (podemos
verificar ocorrecircncia semelhante na liacutengua falada oral com o sotaque que
se modifica) Diferente do padratildeo comum do sudeste da Nova
Inglaterra [ai] e [au] com frequecircncia se ouve na ilha [ɐi] e [ɐu] ou
mesmo [əi] e [əu] Labov (2008 [1972] p 27) escreve o seguinte
ldquoEsse aspecto dos ditongos centralizados eacute saliente para
o linguumlista mas natildeo para os falantes eacute claramente imune
agrave distorccedilatildeo consciente jaacute que os vineyardenses nativos
natildeo se datildeo conta dele nem conseguem controlaacute-lo
conscientemente No que diz respeito agrave estrutura natildeo
podemos desprezar o paralelismo estrutural de ay e
aw por outro lado esses ditongos satildeo marcados por
grande liberdade estrutural na gama de alofones
permitida pelo sistema Essas satildeo diferenccedilas estritamente
subfonecircmicas Uma vez que natildeo existem outros ditongos
47
crescentes com primeiros elementos baixo ou central
nesse sistema natildeo eacute provaacutevel que o alccedilamento
continuando ou ate a posteriorizaccedilatildeo ou anterioriazaccedilatildeo
resultasse em confusatildeo com qualquer outro fonemardquo
Labov em sua pesquisa mostrou a pronuacutencia variaacutevel dos
ditongos (ay) e (aw) na comunidade de fala considerando traccedilos sociais
dos moradores da localizaccedilatildeo alta (rural) e baixa (vilarejos) da Ilha
atraveacutes de um mapeamento da fala Ele investigou (ay) como o ditongo
em palavras do inglecircs (ex right white pride wine ou wife) e (aw)
ditongo encontrado nas palavras do inglecircs como house out e doubt por
exemplo
Ele realizou procedimentos de observaccedilatildeo e identificaccedilatildeo da
comunidade de fala em duas localizaccedilotildees diferentes em Marthas
Vineyard e Nova York Estudou as realizaccedilotildees de (ay) e (aw) em vaacuterias
regiotildees da ilha e do estado entre as faixas etaacuterias dos informantes entre
grupos de profissionais e tambeacutem entre os grupos eacutetnicos (raccedila e cor)
E em Nova York pesquisou em trecircs lojas de departamento sobre a
realizaccedilatildeo de [r] em posiccedilatildeo final e preacute-consonantal na fala de
funcionaacuterios destas lojas Labov (1994) analisou o uso de [r] que
poderia ser pronunciado ou natildeo na fala de 264 pessoas levando-os a
responder de forma que aparecesse na fala a expressatildeo fourth floor
(quarto andar) porque essa expressatildeo contem [r] nas duas proposiccedilotildees
pretendidas preacute-consonantal (fourth) e final (floor) Labov com essa
pesquisa nos Estados Unidos mostrou que o vernaacuteculo de Nova York
continuou sem o [r] por muito tempo mas como a pronuacutencia do [r] era
prestigiada passou a ser usada pelas classes mais altas e pelos jovens
sensiacuteveis pela questatildeo do status social
Desse modo Labov desenvolveu suas pesquisas com base em
procedimentos metodoloacutegicos que pudessem reconstruir a histoacuteria
recente da mudanccedila linguiacutestica da pronuacutencia dos ditongos e do [r] poacutes-
vocaacutelico Neste trabalho vatildeo ser detalhados os resultados da pesquisa em
Marthas Vineyard
223 ndash Seleccedilatildeo da variaacutevel linguiacutestica
Na seleccedilatildeo da variaacutevel linguiacutestica eacute importante perguntar quais
satildeo as propriedades mais uacuteteis de uma variaacutevel linguiacutestica servindo de
foco de pesquisa de uma determinada comunidade de falantes
Labov pensou como primeiro passo da pesquisa em verificar um
item que ocorra com frequecircncia numa conversaccedilatildeo espontacircnea e que
48
possa ser mapeado Em segundo deve ser estrutural ou seja quanto
mais integrado o item estiver num sistema mais amplo de unidades
funcionais maior seraacute o interesse linguiacutestico intriacutenseco ao estudo E
finalmente em terceiro a distribuiccedilatildeo do traccedilo deve ser estratificada
observando a faixa etaacuteria o grupo de profissionais ou outros
extratos da comunidade de fala Labov apresentou a pesquisa
preliminar sobre o estudo do som na fala da comunidade em vaacuterias
categorias buscando os dados das pessoas que falavam em
diferentes situaccedilotildees linguiacutesticas na ilha como mostra a citaccedilatildeo
abaixo Nas entrevistas preliminares conduzidas em Martha‟s
Vineyard em 1961 foram observadas diversas
mudanccedilas estruturais que eram claramente paralelas a
mudanccedilas que ocorreriam no continente sob a
influecircncia do padratildeo do sudeste da Nova Inglaterra
(LABOV 2008 [1972] p 26)
Eacute importante ressaltar que a Ilha de Marthas‟s Vineyard tem
conservado traccedilos arcaicos provavelmente a populaccedilatildeo era do sudeste
da Nova Inglaterra antes de 1800 Estudos preliminares em 1961
mostraram que a maior parte dos traccedilos especiais do falar da ilha
apresentado nos mapas do LANE15
ainda podiam ser encontrados entre
os falantes de 50 a 95 anos de idade
Labov queria entender a estrutura interna do inglecircs Vineyardense
as diferenccedilas sistemaacuteticas que jaacute haviam ocorrido e as mudanccedilas que
estavam ocorrendo por isso selecionou um aspecto linguiacutestico
caracteriacutestico da ilha com o maior nuacutemero possiacutevel de variaccedilatildeo e o mais
complexo padratildeo de distribuiccedilatildeo Ele comeccedilava a pesquisa
entrevistando indiviacuteduos falantes na comunidade com o objetivo de
detectar variaccedilotildees linguiacutesticas16
geograacuteficas sociais e estiliacutesticas
15 Linguistic Atlas of New England Trata-se de um projeto que registrou a fala de habitantes da Nova Inglaterra nos Estados Unidos na deacutecada de 1930 Segundo O‟Cain (1979 p 243)
ldquoLANE samples the speech of the older and rural representatives of the culture thus
establishing late nineteenth-century bench marks for the study of the New England dialects and also samples younger and urban speakers thus indicating general and particular trends of
changerdquo
16 COELHO et al (2010 p 166) lembram que variaccedilatildeo eacute o ldquoprocesso pelo qual duas formas
podem ocorrer no mesmo contexto linguiacutestico com o mesmo valor referencial ou com o mesmo valor de verdade ie com o mesmo significado Dois requisitos precisam pois ser
cumpridos para que ocorra variaccedilatildeo as formas envolvidas precisam (i) ser intercambiaacuteveis no
mesmo contexto e (ii) manter o mesmo significadordquo
49
Na comunidade linguiacutestica17
de falantes atraveacutes da forma de
falar na conversa espontacircnea e no comportamento o autor mostrou
que havia diferenccedilas linguiacutesticas na ilha de Martha‟s Vineyard e no
sudeste da Nova Inglaterra de onde migraram pessoas para a
colonizaccedilatildeo da ilha
Em sua pesquisa Labov observou que ldquono caso do r poacutes-
vocaacutelico os falantes apresentavam uma variaacutevel linguiacutestica definida
pelos limites geograacuteficos da ilha e que segue um padratildeo social
idiossincraacutetico a Marthas Vineyardrdquo (LABOV 2008 [1972] p 27) Em
algumas aacutereas a retroflexatildeo estava diminuindo e em outras aumentando
As variaccedilotildees do r eram frequentes salientes e envolviam
consequecircncias estruturais determinantes para o sistema vocaacutelico inteiro
Labov em sua pesquisa mostrou variaccedilotildees linguiacutesticas que
ocorreriam na Ilha em uma mesma palavra com ditongos centralizados
como no caso do (ay) e do (aw) na fala dos grupos pesquisados Para
Labov A propriedade deste traccedilo de centralizaccedilatildeo que o faz
parecer excepcionalmente atraente ateacute mesmo agrave
primeira vista eacute a indicaccedilatildeo de um complexo e sutil
padratildeo de estratificaccedilatildeo Essa mesma complexidade
daacute provas de ser recompensadora pois quando a
tendecircncia centralizante eacute mapeada nos haacutebitos de
vaacuterios falantes e a influecircncia do ambiente foneacutetico
prosoacutedico e estiliacutestico eacute considerada permanece uma
ampla aacuterea de variaccedilatildeo (LABOV 2008 [1972] p 27
e 28)
Na comunidade de fala o ambiente o espaccedilo os diferentes
interlocutores as diferentes situaccedilotildees no modo de falar interferem no
sistema foneacutetico prosoacutedico e estiliacutestico da liacutengua falada
As mudanccedilas sonoras satildeo estudadas no momento presente e no
passado buscando novos conhecimentosexplicaccedilotildees sobre uma
17 DUBOIS J et al (2006 p 133) entendem por ldquocomunidade linguiacutestica um grupo de seres
humanos que usam a mesma liacutengua ou o mesmo dialeto num dado momento e que podem comunicar-se entre si Quando uma naccedilatildeo eacute monoliacutengue constitui uma comunidade linguiacutestica
Mas a comunidade linguiacutestica natildeo eacute homogecircnea compotildee-se sempre de um grande nuacutemero de
grupos que tem comportamentos linguiacutesticos diferentes A forma de liacutengua que os membros desses grupos usam tende a reproduzir de uma maneira ou de outra na foneacutetica na sintaxe ou
no leacutexico as diferenccedilas de geraccedilatildeo de origem de residecircncia de profissatildeo ou de formaccedilatildeo
(diferenccedilas socioculturais)rdquo
50
determinada aacuterea da comunidade falada as influecircncias as mudanccedilas
fonecircmicas ocorridas e suposiccedilotildees de como seraacute no futuro
Labov escreve que na Ilha de Marthas‟s Vineyard os veranistas
tecircm apenas uma leve impressatildeo da fala dos nativos pois de cada oito
pessoas na ilha sete satildeo visitantes Para Labov os veranistas natildeo tinham
muita importacircncia naquela comunidade pois na primeira semana de
setembro eles voltavam para seu lugar de origem E apenas ficavam os
moradores da ilha Continuavam a utilizar um alto grau de centralizaccedilatildeo
de (ay) e (aw) na ilha alta e tambeacutem nas aacutereas do vilarejo da ilha baixa
o turismo natildeo interferia nesse aspecto
Labov escreve que
A fim de estudar sistematicamente esse traccedilo foi
necessaacuterio conceber um modelo de entrevista que
fornecesse vaacuterios exemplos de (ay) e (aw) na fala
espontacircnea na fala emocionalmente carregada na fala
monitorada e no estilo de leitura O primeiro desses
ditongos tem mais do dobro da frequumlecircncia de uso do
segundo mas mesmo assim diversas estrateacutegias foram
necessaacuterias para aumentar a concentraccedilatildeo de ocorrecircncias
de ambos (LABOV 2008 [1972] p 31)
Para pesquisar a frequecircncia dos ditongos de (ay) e (aw) Labov
utilizou como estrateacutegia um questionaacuterio lexical concentrando-se em
algumas palavras e utilizando os mapas de LANE Aleacutem disso
formulou perguntas acerca de juiacutezos de valores e orientaccedilatildeo social do
informante e por fim um texto para leitura especial como um teste de
habilidade para ler uma histoacuteria
224 ndash Distribuiccedilatildeo por idade e tempo
Para cada falante o grau geral de centralizaccedilatildeo foi expresso por
valores numeacutericos multiplicados por 100 Veja a tabela 01
Centralizaccedilatildeo por grupos ocupacionais
Na centralizaccedilatildeo por grupos ocupacionais Labov chegou agrave
conclusatildeo de que o grupo dos pescadores na fala centralizava mais os
ditongos (ay) e (aw) do que os fazendeiros e outros pesquisados
51
Ocupaccedilatildeo (ay) (aw)
Pescadores 100 79
Fazendeiros 32 22
Outros 41 57
Tabela 01 ndash Centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por grupos ocupacionais
(LABOV 2008 [1972] p 46)
A tabela 01 mostra as tendecircncias de centralizaccedilatildeo dos ditongos
em funccedilatildeo dos grupos profissionais Os resultados apontam que os
pescadores usam mais centralizaccedilatildeo de (ay) e de (aw) num total
numeacuterico de 100 e de 79 respectivamente Para os fazendeiros os
resultados apontam 32 para (ay) e 22 para (aw) e para as outras
ocupaccedilotildees 41 para (ay) e 57 para (aw) A diferenccedila de resultados com
relaccedilatildeo agrave centralizaccedilatildeo dos ditongos pelos falantes na ilha em Martha‟s
Vineyard confirma o fato de pescadores usarem mais centralizaccedilatildeo do
que os demais informantes
Na centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por faixa etaacuteria Labov escreve
A centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) parece exibir um aumento
regular em faixas etaacuterias sucessivas alcanccedilando um pico
no grupo de 31 a 45 anos Temos agora de examinar as
razotildees para considerarmos esse padratildeo como uma
evidecircncia de mudanccedila histoacuterica no desenvolvimento de
Martha‟s Vineyard (LABOV 2008 [1972] p 41)
Vejamos a tabela
Idade (ay) (aw)
75 25 22
61 ndash 75 35 37
46 ndash 60 62 44
31 ndash 45 81 88
14 ndash 30 37 46
Tabela 02 ndash Centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por faixa etaacuteria (LABOV 2008
[1972] p 41)
52
Na tabela 02 Labov apresenta na coluna agrave esquerda a variaacutevel
independente18
ldquoidaderdquo (externa) distribuiacuteda em diferentes faixas
etaacuterias tendo iniacutecio a partir de 14 anos ateacute acima de 75 anos A coluna
central e a da direita apresentam as duas variaacuteveis dependentes19
fonoloacutegicas (internas) ndash os ditongos (ay) e (aw) Finalmente a tabela
apresenta a centralizaccedilatildeo de cada um dos ditongos de acordo com a
faixa etaacuteria do falante na Ilha de Martha‟s Vineyard
O fato de ser miacutenimo o percentual de centralizaccedilatildeo para
os muito velhos e para os muito jovens mostra que o
efeito da idade natildeo pode ser inteiramente descartado e
que de fato pode ser um fator secundaacuterio na distribuiccedilatildeo
pelas faixas etaacuterias (LABOV 2008 [1972] p 44)
Labov analisou em sua pesquisa iacutendices calculados por ele a
partir da centralizaccedilatildeo dos ditongos num total de 477 centralizaccedilatildeo de
(ay) e (aw) sendo 240 de (ay) e 237 de (aw) Ele percebeu na
distribuiccedilatildeo entre as cinco faixas etaacuterias um aumento percentual
gradativo com o resultado maior de centralizaccedilatildeo no grupo de 31 a 45
anos Por fim Labov em suas pesquisas sociolinguiacutesticas observou uma
possiacutevel mudanccedila da liacutengua nas diferentes faixas etaacuterias da comunidade
de fala de Martha‟s Vineyard com o controle da atuaccedilatildeo de vaacuterios
fatores internos e externos na centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw)
225 ndash Uma explicaccedilatildeo possiacutevel para o aumento da centralizaccedilatildeo
O exame da centralizaccedilatildeo segundo Labov da variaacutevel
dependente em estudo foi meramente descritivo e quando Labov tentou
explicar o fenocircmeno deparou-se com a seguinte questatildeo quais variaacuteveis
independentes seria importante examinarmos Labov supotildee que a
centralizaccedilatildeo desceu a um ponto baixo no final da deacutecada de 1930 e no
poacutes-guerra iniciou a subida Observe
18 COELHO et al (2010 p 166) ldquoVariaacuteveis independentes ndash fatores que condicionam nossa
escolha entre uma ou outra variante e que permitem ao linguista sugerir em que tipo de ambiente tanto linguiacutestico quanto extralinguiacutestico uma variante tem maior probabilidade de
ser escolhida em detrimento de sua (s) ldquorival (is)rdquordquo
19 COELHO et al (2010 p 166) ldquoVariaacutevel dependente ndash aspecto ou categoria da liacutengua que se
encontra em variaccedilatildeordquo
53
Permanece a questatildeo inicial a de explicar (ou de
oferecer um contexto mais amplo para) o aumento geral
da centralizaccedilatildeo na ilha Por que Martha‟s Vineyard deu
as costas para a histoacuteria da liacutengua inglesa Acredito que
podemos encontrar uma explicaccedilatildeo especifica se
estudarmos a configuraccedilatildeo detalhada desta mudanccedila
sonora em funccedilatildeo das forccedilas sociais que afetam mais
profundamente a vida da ilha (LABOV 2008 [1972] p
45)
As primeiras anaacutelises revelaram algumas correlaccedilotildees sociais
notaacuteveis A tabela 03 distribuiccedilatildeo geograacutefica da centralizaccedilatildeo mostra
as tendecircncias nas aacutereas da ilha alta rural a favorecer mais a centralizaccedilatildeo
do que nas aacutereas dos vilarejos da ilha baixa A tabela 03 mostra os
resultados sobre diferenccedilas geograacuteficas entre os moradores da ilha com
relaccedilatildeo agrave centralizaccedilatildeo dos ditongos nas duas principais partes da ilha
nas aacutereas da ilha alta rural e vilarejos na parte da ilha baixa
Os resultados de pesquisa sobre a centralizaccedilatildeo podem ser vistos
na tabela a seguir
(ay) (aw)
Ilha baixa 35 33
Edgartown 48 55
Oak Bluffs 33 10
Vineyard Haven 24 33
Ilha alta 61 66
Oak Bluffs 71 99
N Tisbury 35 13
West Tisbury 51 51
Chilmark 100 81
Gay Head 51 81
Tabela 03 ndash Distribuiccedilatildeo geograacutefica da centralizaccedilatildeo (LABOV 2008
[1972] p 45)
Estaratildeo essas variaacuteveis sociais vinculadas de algum
modo demonstraacutevel agrave mudanccedila linguumliacutestica Seratildeo
realmente independentes umas das outras ou algumas
das correlaccedilotildees estatildeo equivocadas e satildeo dependentes de
algum fator mais amplo que eacute logicamente preacutevio a elas
Se tal fator mais amplo existe precisamos indagar como
ele se originou e de que modo estaacute vinculado aos eventos
linguumliacutesticos Uma abordagem simplista e contabiliacutestica
54
natildeo responderaacute a essas perguntas Teremos de buscar
respostas na estrutura social da ilha e nas pressotildees que
motivam as mudanccedilas sociais da Martha‟s Vineyard
contemporacircnea (LABOV 2008 [1972] p 46)
A mudanccedila linguiacutestica dos grupos era identificada com os
costumes da ilha de Martha‟s Vineyard e Labov conduziu sua pesquisa
com pessoas que habitavam este local e viviam mais de acordo com os
seus costumes tradicionais Labov acreditava que as mudanccedilas
linguiacutesticas poderiam ser correlacionadas agraves relaccedilotildees sociais dos
moradores da ilha e por isso realizou sua pesquisa observando os
comportamentos linguiacutesticos somente das pessoas nativas da ilha
226 ndash A interaccedilatildeo de padrotildees linguiacutesticos e sociais
A Ilha de Martha‟s Vineyard ateacute hoje em dia eacute um lugar
beliacutessimo atrai muitos turistas inclusive poliacuteticos americanos As
pessoas que viviam laacute na deacutecada de 1960 natildeo tinham vida faacutecil na
sociedade americana Era o local com renda mais baixa no municiacutepio de
Massachusetts Labov traz essas informaccedilotildees do Censo de 196020
Os
moradores da ilha dependiam do turista a economia melhorava muito na
temporada Na Ilha de Florianoacutepolis acontece algo parecido Na
temporada de veratildeo o turista do paiacutes e do exterior lota a cidade
fortalecendo a economia do lugar
Florianoacutepolis tambeacutem eacute uma ilha beliacutessima com temporadas de
turistas que vecircm conhecer e aproveitar os lugares ir agraves praias passear
nos Shopping comprar nas lojas ir a restaurantes etc Labov quando
relata sua pesquisa na Ilha de Martha‟s Vineyard parece estar
comentando de Florianoacutepolis Os moradores da ilha aproveitam para
alugar suas casas vender seus produtos principalmente para os turistas
mais ricos Entatildeo haacute uma movimentaccedilatildeo econocircmica muito grande
assim como uma troca com relaccedilatildeo agrave liacutengua falada Como diz Labov (2008 [1972] p 49) ldquoOs chilmarkenses se
orgulham muito de suas diferenccedilas em relaccedilatildeo aos moradores do
continenterdquo
20 O Censo de 1960 mostra que a ilha de Martha‟s Vineyard se trata do municiacutepio mais pobre
de Massachusetts tem a meacutedia de renda mais baixa o mais alto nuacutemero de pessoas pobres e o
menor nuacutemero de pessoas ricas (LABOV 2008 [1972] p 47)
55
Vocecircs que vecircm para caacute para Martha‟s Vineyard natildeo
entendem os costumes das velhas famiacutelias da ilha
costumes e tradiccedilotildees estritamente mariacutetimos e aquilo
que nos interessa o resto da Ameacuterica essa parte do outro
lado aqui da aacutegua que pertence a vocecircs e com que noacutes
natildeo temos nada a ver se esqueceu completamente
Acho ateacute que noacutes usamos um tipo de liacutengua inglesa
totalmente diferente pensamos diferente aqui na ilha
eacute quase uma liacutengua separada dentro da liacutengua inglesa
Interessante se faz notar que no lugar de Chilmark a comunidade
na ilha vive a tradiccedilatildeo da famiacutelia os costumes vecircm de geraccedilatildeo em
geraccedilatildeo O estrangeiro de liacutengua inglesa quando conhece o lugar pode
influenciar a liacutengua falada na ilha pois seu inglecircs eacute diferente
Os resultados reunidos com o maior grau de centralizaccedilatildeo de (ay)
e de (aw) satildeo mostrados na tabela 04 organizados por ocupaccedilatildeo regiatildeo
ou localidade em que moram e faixa etaacuteria
Tabela 04 ndash Cruzamento de fatores 6 falantes com o maior grau de
centralizaccedilatildeo (LABOV 2008 [1972] p 50)
Na regiatildeo Edgartown dois pescadores que satildeo irmatildeos
descendentes de famiacutelias antigas mantecircm sua posiccedilatildeo agrave beira mar de Edgartown trabalhando mesmo frente agrave invasatildeo dos veranistas
Nas tabelas 01 e 04 verifica-se que de todos os grupos
ocupacionais o de pescadores eacute o que utiliza um maior iacutendice de
centralizaccedilatildeo Labov tentou fazer tabulaccedilotildees cruzadas extensas entre as
tabelas 04 e 05 mas chegou agrave conclusatildeo que o nuacutemero era pequeno
Ocupaccedilatildeo Regiatildeo Idade (ay) (aw)
Pescador de Chilmark 60 anos 170 111
Pescador de Chilmark 31 anos 165 211
Pescador de Chilmark 55 anos 150 124
Pescador de Edgartown 61 anos 143 107
Pescador de Chilmark 33 anos 133 79
Pescador de Edgartown 52 anos 131 131
56
demais Exemplificou com o grupo de pescadores de Chilmark na faixa
etaacuteria de 30 a 60 anos Percebeu que cinco informantes tecircm iacutendices
meacutedios de 148 para (ay) e 118 para (aw) o mais elevado do que
qualquer outro grupo social da ilha Labov concluiu entatildeo que a grande
escalada da centralizaccedilatildeo comeccedilou na ilha alta entre os pescadores de
Chilmark
Veja agora os resultados da faixa etaacuteria por grupo eacutetnico
Tabela 05 ndash Centralizaccedilatildeo por grupos eacutetnicos (LABOV 2008
[1972] p 46)
A tabela 5 apresenta a centralizaccedilatildeo por faixa etaacuteria em cada um
dos grupos eacutetnicos principais (ingleses portugueses e indiacutegenas)
Labov concluiu que
Vemos que a centralizaccedilatildeo atinge o aacutepice na faixa etaacuteria
de 30 a 45 anos e que a centralizaccedilatildeo de (aw) alcanccedilou
ou ultrapassou (ay) neste ponto Essa faixa etaacuteria tem
estado sob uma pressatildeo muito mais forte do que qualquer
outra os homens cresceram numa economia declinante
depois de fazerem uma escolha mais ou menos
deliberada de permanecer na ilha em vez de abandonaacute-la
A maioria deles esteve nas forccedilas armadas durante a
Segunda Guerra Mundial ou no conflito da Coreacuteia
Muitos frequumlentaram uma faculdade pois o grupo de
ascendecircncia inglesa tem um grande apreccedilo pela educaccedilatildeo
superior Em algum momento cada um desses homens
escolheu levar uma vida apertada em Martha‟s Vineyard
enquanto muitos de seus contemporacircneos partiram para
ganhar mais dinheiro ou mais reconhecimento em outro
lugar (LABOV 2008 [1972] p 50 e 51)
Exemplificou com relatos as interferecircncias que ocorreram no
modo de falar na ilha Uma delas ldquoSabe o E nem sempre falou desse
jeito foi soacute depois que ele voltou da faculdade Acho que ele queria
Ingleses Portugueses Indiacutegenas
Faixa etaacuteria (ay) (aw) (ay) (aw) (ay) (aw)
Mais de 60 36 34 26 26 32 40
46 a 60 85 63 37 59 71 100
31 a 45 108 109 73 83 80 133
Menos de 30 35 31 34 52 47 88
Todas as idades 67 60 42 54 56 90
57
ficar mais parecido com os homens das docasrdquo
Labov concluiu
Aqui vemos um caso niacutetido de hipercorreccedilatildeo atuando e
com base em outros indiacutecios tambeacutem eacute razoaacutevel supor
que essa eacute uma forccedila muito regular de implementaccedilatildeo da
tendecircncia foneacutetica que estamos estudando (LABOV
2008 [1972] p 52)
Muitos dos jovens de antigas famiacutelias natildeo permaneceratildeo na ilha e
isto reflete nos iacutendices da tabela Atraveacutes de uma leitura padronizada de
um texto com os jovens Labov observou que existia diferenccedila na fala
dos que permaneciam na ilha exibiam forte centralizaccedilatildeo enquanto os
que queriam sair mostravam pouca ou nenhuma centralizaccedilatildeo
Das informaccedilotildees obtidas surgiu um padratildeo unificado que
exprimia o significado social dos ditongos centralizados evidenciando
ldquoque o significado imediato desse traccedilo era o Vineyardenserdquo Labov
esclarece que pelo fato de os grupos terem que responder a desafios
diferentes a seu status nativo desenvolvia-se um modo complexo no
traccedilo fonecircmico
Labov exemplifica isso abaixo
O grupo das antigas famiacutelias de origem inglesa tem sido
submetido a pressotildees vindas de fora seus membros estatildeo
lutando para manter sua posiccedilatildeo independente diante de
um persistente decliacutenio da economia e diante do asseacutedio
ininterrupto dos veranistas O membro da comunidade de
orientaccedilatildeo tradicional naturalmente busca seus valores
nas geraccedilotildees passadas essas geraccedilotildees passadas formam
um grupo de referecircncia para ele (LABOV 2008 [1972]
p 57)
Na geraccedilatildeo mais jovem dos ingleses o efeito diferencial no grau
de centralizaccedilatildeo manteve-se na tradiccedilatildeo eles tinham os ancestrais como
referecircncia se consideravam independentes enquanto pescadores
acreditavam que a ilha lhes pertencia Mantinham sua posiccedilatildeo
econocircmica Se pretendiam sair da ilha a influecircncia dos antepassados
diminuiacutea consideravelmente
No grupo de portugueses eles natildeo enfrentavam o dilema de partir ou ficar na ilha o principal desafio a que esse grupo tinha reagido
provinha do grupo inglecircs que tinha servido de referecircncia ateacute pouco
tempo Para os portugueses o mais urgente era afirmar-se em sua
identidade como ilheacuteu Os indiacutegenas se ressentiam dos obstaacuteculos que
58
enfrentavam na ilha mas tinham adotado muito dos valores dos
Chilmarkenses Com poucos recursos linguiacutesticos ficava difiacutecil insistir
em sua identidade indiacutegena
Labov (2008 [1972] p 59) examinando as entrevistas de cada
informante situou-as em trecircs categorias
Positivo ndash exprime sentimentos definitivamente positivos
acerca de Martha‟s Vineyard neutra ndash expressa
sentimentos nem positivos nem negativos acerca de
Martha‟s Vineyard negativa ndash indicada o desejo de ir
viver em outro lugar
Agora observe na tabela 06 o resultado da centralizaccedilatildeo segundo
a atitude dos trecircs grupos de falantes quanto agrave ilha
Pessoas (ay) (aw)
40 Positiva 63 62
19 Neutra 32 42
6 Negativa 09 08
Tabela 06 ndash Centralizaccedilatildeo e atitude com relaccedilatildeo a Martha‟s Vineyard
(LABOV 2008 [1972] p 59)
Labov agrupou os vaacuterios informantes em uma escala social
quanto ao uso dos ditongos centralizados Primeiro mostravam-se com
atitudes positivas 40 pessoas entrevistadas o iacutendice de centralizaccedilatildeo era
de 63 para (ay) e 62 para (aw) as duas comparaccedilotildees de centralizaccedilotildees
mais altas Segundo o ponto neutro realizado por 19 pessoas
entrevistadas o iacutendice de centralizaccedilatildeo ficava na faixa de 30 32 para
(ay) e 42 para (aw) nem positivo nem negativo Terceiro o ponto
negativo O autor encontrou 6 pessoas entrevistadas que tinham atitudes
negativas com relaccedilatildeo agrave ilha O iacutendice de centralizaccedilatildeo nesse caso era
apenas de 09 para (ay) e de 08 para (aw) Essas pessoas diziam que queriam
viver em outros lugares e natildeo na ilha de Martha‟s Vineyard O autor
mostrou a estratificaccedilatildeo de todos e como ele conseguiu explicar a
distribuiccedilatildeo dos ditongos centralizados de forma vaacutelida fazendo as
relaccedilotildees necessaacuterias para as explicaccedilotildees
59
23 ndash Os princiacutepios da mudanccedila linguiacutestica
Num primeiro estudo relacionado agrave mudanccedila linguiacutestica em
progresso (em curso) eacute necessaacuterio entender como as variaccedilotildees
linguiacutesticas estatildeo distribuiacutedas por faixa etaacuteria Entatildeo percebemos a
mudanccedila linguiacutestica relacionando a variaacutevel linguiacutestica com a idade
pesquisando indiviacuteduos de diferentes geraccedilotildees Segue abaixo a citaccedilatildeo
de Labov sobre mudanccedila linguiacutestica observada entre as faixas etaacuterias
conhecida como mudanccedila em tempo aparente21
A primeira abordagem e mais simples para estudar a
mudanccedila linguiacutestica em andamento eacute traccedilar mudanccedila no
tempo aparente isto eacute a distribuiccedilatildeo das variaacuteveis
linguiacutesticas entre os diferentes niacuteveis etaacuterios Se
descobrirmos uma relaccedilatildeo monotocircnica entre a idade e a
variaacutevel linguiacutestica ou uma correlaccedilatildeo significativa entre
as duas entatildeo trata-se de decidir se estamos lidando com
uma verdadeira mudanccedila em progresso ou de gradaccedilatildeo
etaacuteria (Hockett 1950) uma mudanccedila regular de
comportamento linguiacutestico com a idade que se repete em
cada geraccedilatildeo (LABOV 1994 p 47)22
A primeira e mais simples aproximaccedilatildeo entre as variaccedilotildees
encontradas na sincronia ao estudo da mudanccedila linguiacutestica em curso eacute
seguir a pista da mudanccedila em tempo aparente isto eacute a distribuiccedilatildeo das
variaacuteveis linguiacutesticas por faixa etaacuteria Na variaccedilatildeo encontrada entre o
grupo dos indiviacuteduos mais velhos de uma geraccedilatildeo e outro grupo de
21 SILVA (2004) faz um recorte transversal da amostra sincrocircnica em funccedilatildeo da faixa etaacuteria
dos informantes Por exemplo utilizamos no nosso estudo trecircs grupos etaacuterios jovens meia idade e idosos
COELHO et al (2010 p 164) apontam que mudanccedila em tempo aparente eacute uma ldquomudanccedila
linguiacutestica captada em estudo do comportamento linguiacutestico de indiviacuteduos de diferentes
geraccedilotildees numa comunidade num dado periacuteodo de tempo Tal estudo possibilita identificar correlaccedilotildees entre a variaacutevel social idade e a variaacutevel linguiacutestica em estudo revelando indiacutecios
de (i) uma mudanccedila concernente agrave idade que ocorre regularmente em cada geraccedilatildeo (gradaccedilatildeo
etaacuteria) ou de (ii) uma mudanccedila efetiva em progressordquo
22 Traduccedilatildeo minha do texto original em Inglecircs de Labov ldquoThe first and most straightforward approach to studying linguistic change in progress is to trace change in apparent time that is
the distribution of linguistic variables across age levels If we discover a monotonic
relationship between age and the linguistic variable or a significant correlation between the two then issue is to decide whether we are dealing with a true change in progress or with age-
grading (Hockett 1950) a regular change of linguistic behavior with age that repeats in each
generationrdquo
60
indiviacuteduos mais jovens em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria percebe-se muitas
vezes mudanccedila linguiacutestica em progresso nas liacutenguas
Na estratificaccedilatildeo por idade muitas vezes se percebe que os
indiviacuteduos mudam seu comportamento linguiacutestico durante toda a sua
vida mas a comunidade nem sempre muda
231 ndash A idade e a variaccedilatildeo estaacutevel
Mas nem sempre o estudo da faixa etaacuteria vai indicar mudanccedila em
progresso A meacutedia do grau de realizaccedilatildeo de uma variaccedilatildeo estaacutevel23
pode ser tambeacutem observada entre as faixas etaacuterias dos falantes em que
os grupos extremos (jovens e velhos) apresentam o mesmo
comportamento ao contraacuterio do grupo de meia idade cujo
comportamento se diferencia devido agraves pressotildees sociais Eacute considerando
a variaacutevel idade que vai ser observado no conjunto de dados
investigados se temos mudanccedila em tempo aparente ou variaccedilatildeo estaacutevel
A variaccedilatildeo estaacutevel pode ser observada considerando a
combinaccedilatildeo dos resultados das variaacuteveis bdquoidade‟ bdquosexo‟ bdquoclasse social‟ e
bdquoniacutevel de escolaridade‟ Com relaccedilatildeo agrave bdquofaixa etaacuteria‟ a variaccedilatildeo estaacutevel
diz respeito a variantes que coexistem por um longo periacuteodo mas sem
ter necessariamente predominacircncia de uma sobre a outra
Uma outra possibilidade eacute a visatildeo claacutessica que prevecirc estabilidade
do falante mas instabilidade da comunidade Ex daqui a 20 anos os
falantes de 70 anos estaratildeo falando como os de 50 anos de hoje Outra
possibilidade admite que o sistema linguiacutestico do indiviacuteduo modifica
mas o da comunidade permanece o mesmo Ex daqui a 20 anos os
falantes de 70 anos teratildeo o mesmo sistema que os de 70 anos hoje
Resultados recentes apontam para uma terceira possibilidade o
indiviacuteduo muda com o passar do tempo mas natildeo atinge precisamente a
mesma posiccedilatildeo em que estatildeo os falantes mais velhos atualmente
23 COELHO et al (2010 p 166) apontam que variaccedilatildeo estaacutevel eacute conhecida como a ldquosituaccedilatildeo
de variaccedilatildeo entre duas ou mais formas linguiacutesticas que se estende numa comunidade ao longo
do tempo sem que uma variante ceda seu espaccedilo agrave outrardquo
61
232 ndash A idade e a mudanccedila linguiacutestica
Segundo Naro (2003 p 44) no portuguecircs atual do RJ haacute
fenocircmenos em que a idade atua fortemente
Seudele a forma seu para a 3ordf pessoa eacute pouquiacutessimo
recorrente na fala dos mais jovens
Noacutesa gente os jovens estatildeo evitando a forma noacutes
Ir os jovens estatildeo evitando as regecircncias ir a e ir para
preferindo ir em
Sob a hipoacutetese claacutessica o estado atual da liacutengua de um falante
adulto reflete o estado da liacutengua adquirida mais ou menos ateacute os 15 anos
de idade Logo um indiviacuteduo falante com 60 anos representa a liacutengua de
45 anos atraacutes Falantes adultos tendem a usar as formas antigas Os pais
e filhos apesar de estarem em interaccedilatildeo constante usam formas
distintas na comunicaccedilatildeo Pais e filhos tecircm um vocabulaacuterio e uma fala
proacuteprios de sua eacutepoca Com o passar do tempo eacute provaacutevel que a forma
nova seja adotada por pais e filhos
Naro (2003) apresenta a escala em tempo aparente obtida atraveacutes
do estudo de falantes com idades diferentes ndash chamada de ldquogradaccedilatildeo
etaacuteriardquo ndash que corresponde sempre sob a hipoacutetese claacutessica a uma escala
de mudanccedila em tempo real Observamos a tabela apresentada a seguir
Idade atual
(em anos)
Estado da liacutengua
(anos atraacutes)
70
60
50
40
30
20
55
45
35
25
15
5
Tabela 07 ndash A escala em tempo aparente eacute chamada de ldquogradaccedilatildeo etaacuteriardquo (NARO 2003 p 45)
A tabela ajuda a explicar os dados da pesquisa realizada por
Labov (atraveacutes de gravaccedilatildeo no ano de 1990) mostrando que a fala de
62
um indiviacuteduo de 70 anos de idade representaria o estado da liacutengua
adquirida em 1935
Segundo Naro (2003) Labov conseguiu distinguir quatro graus de
ditongos centralizados denotados (aw) ndash 0 (a posiccedilatildeo mais baixa
correspondendo a ldquoshwardquo) As trecircs posiccedilotildees centrais claacutessicas do
alfabeto foneacutetico estatildeo representadas por ele no seguinte graacutefico
Figura 06 ndash O trapezoacuteide das vogais a flecha indica a direccedilatildeo de
movimento do primeiro elemento de (aw) (NARO 2003 p 49)
A pesquisa em Martha‟s Vineyard revelou que os velhos
preservavam mais a forma original natildeo-centralizada os jovens por
outro lado centralizavam mais Segue a tabela
Geraccedilatildeo Idade Iacutendice de (aw) Iacutendice de (ay)
I (pais) 75+
61 - 75
22
37 25
35
II (filhos) 46 ndash 60
31 ndash 45
44
88 62
88
Tabela 08 ndash Mudanccedila de (aw) e (ay) em tempo aparente atraveacutes de duas
geraccedilotildees em Martha‟s Vineyard (Labov 1972 apud Naro 2003 p 22)
Algumas observaccedilotildees de Naro sobre a pesquisa de Labov satildeo (i) a centralizaccedilatildeo estaacute se espalhando com forccedila e rapidez (ii) os indiviacuteduos
mais velhos (80 anos) praticamente apenas usavam o grau zero o mais
aberto da escala com ocorrecircncias esporaacutedicas do grau um a faixa de 60
anos estava concentrada no grau dois antes de consoante surda (out
63
ldquoforardquo) e no grau zero ou um em outros contextos (round ldquoredondordquo
now ldquoagorardquo) na faixa de 30 anos o condicionamento se tornava quase
categoacuterico grau dois ou trecircs antes de consoante surda grau zero ou um
nos demais contextos ndash resultados obtidos atraveacutes do estudo da variaccedilatildeo
no indiviacuteduo Observa-se assim detalhadamente a mudanccedila em
progresso desde o comeccedilo (ocorrecircncia esporaacutedica de variantes mais
altas) ateacute a instauraccedilatildeo do condicionamento categoacuterico (variantes mais
altas antes de consoante surda variantes mais baixas nos outros
contextos)
De acordo com Naro
O que permite esta visatildeo simultacircnea das diversas etapas
do processo dinacircmico de mudanccedila eacute o congelamento do
sistema linguiacutestico do falante na eacutepoca da puberdade e eacute
justamente este o postulado fundamental que subjaz agrave
hipoacutetese claacutessica do relacionamento entre mudanccedila
linguiacutestica e idade o processo da mudanccedila se espelha na
fala das sucessivas faixas etaacuterias (NARO 2003 p 46)
Sabemos que nem toda variaccedilatildeo na fala representa mudanccedila em
progresso Um exemplo pronuacutencia do morfema ing em inglecircs (walking
ldquoandandordquo) que pode ser realizado como velar ou dental ndash eacute uma
variaccedilatildeo atestada haacute seacuteculos poreacutem ainda existente em praticamente
todos os dialetos e nas diferentes faixas etaacuterias
Labov realizava pesquisas sobre o desenvolvimento diacrocircnico24
da liacutengua a partir de anaacutelises sincrocircnicas25
primeiro foi na ilha de
Marthas Vineyard (1963) e depois foi na cidade de Nova York (1966)
Quando a mudanccedila estaacute envolvida certa variante
ocorreraacute na fala da crianccedila embora esteja ausente na fala
de seus pais ou mais tipicamente uma variante na fala
24 JOTA (1981 p 103) ldquoEstudo da liacutengua atraveacutes dos tempos e consequentemente estudo das transformaccedilotildees que sofre a liacutengua em sua evoluccedilatildeo Opotildee-se agrave sincronia A linguiacutestica
portanto jaacute que pode estudar a liacutengua diacronicamente ou se limitar ao seu estudo em
determinado tempo de sua evoluccedilatildeo (sincronia) se divide em diacrocircnica e sincrocircnicardquo
25 JOTA (1981 p 307) ldquoConjunto dos fatos linguiacutesticos num dado estaacutegio de sua evoluccedilatildeo A sincronia eacute objeto de estudo da linguiacutestica sincrocircnica ou estaacutetica Como um estado de liacutengua
abrange determinado espaccedilo de tempo tempo suficiente para que haja alguma variaccedilatildeo
sincrocircnica eacute claro que esta sob certo ponto-de-vista natildeo se distingue da evoluccedilatildeo diacrocircnicardquo
64
dos pais ocorreraacute na fala de seus filhos com frequecircncia
maior e na fala de seus netos com frequecircncia ainda
maior (CHAMBERS 1995 p185)26
Numa comunidade em geral as geraccedilotildees sucessivas apresentaratildeo
uma frequecircncia de uso maior da variante inovadora A conclusatildeo loacutegica
eacute que com o passar do tempo haveraacute um uso categorial da forma
inovadora e a eliminaccedilatildeo da variante antiga
233 ndash Aplicando os conhecimentos da sociolinguiacutestica
Eacute importante ressaltar que todas as liacutenguas mudam com o tempo
Como exemplo o portuguecircs eacute originaacuterio do latim considerado liacutengua
matildee Entretanto atualmente natildeo haacute semelhanccedila entre as duas liacutenguas
As diferenccedilas satildeo profundas e afetam toda a gramaacutetica da liacutengua essas
diferenccedilas apareceram e cresceram ao longo de mais de mil anos Tanto
na liacutengua falada quanto na liacutengua escrita ocorrem mudanccedilas que satildeo
observadas quando satildeo feitas pesquisas que nos mostram em que alguns
fenocircmenos mudaram Este assunto eacute explicado por Naro (2003)
A mudanccedila linguiacutestica natildeo eacute abrupta normalmente se processa de
maneira gradual em vaacuterias dimensotildees Sob o eixo social eacute observaacutevel
que falantes mais velhos costumam preservar mais as formas antigas o
mesmo ocorre com pessoas mais escolarizadas com camadas da
populaccedilatildeo que gozam de maior prestiacutegio social com o grupo feminino e
com as pessoas que exercem atividades que exigem boa apresentaccedilatildeo
para o puacuteblico Uma mesma pessoa pode escolher diferentes formas em
diferentes situaccedilotildees
Com base nisso pretendo fazer uma comparaccedilatildeo das mudanccedilas
ocorridas num curto espaccedilo de tempo tendo como referecircncia um
professor surdo para investigar as possiacuteveis mudanccedilas da liacutengua de
sinais depois de seu estudo no INES ateacute o momento atual envolvendo
um grupo de surdos mais velhos e outros dois grupos mais jovens Os
dados obtidos na pesquisa podem mostrar como ocorreram algumas
mudanccedilas na liacutengua de sinais e se realmente ocorreram aleacutem disso
podem criar um registro deste periacuteodo para futuras pesquisas Para
Labov (2008 [1972] p 21) ldquoseria de esperar que a aplicaccedilatildeo da
26 Traduccedilatildeo minha do texto original em Inglecircs ldquoWhere change is involved a certain variant will occur in the speech of children though it is absent in the speech of their parents or more
typically a variant in the parents‟ speech will occur in the speech of their children with greater
frequency and in the speech of their granchildren with even greater frequencyrdquo
65
linguiacutestica estrutural a problemas diacrocircnicos levasse ao enriquecimento
dos dados mais do que ao seu empobrecimentordquo
Vale lembrar que em 1970 a educaccedilatildeo dos surdos em Santa
Catarina era baseada em metodologia oralista Poucos sinalizavam
porque natildeo podiam tinham que falar Os sinais eram usados na
comunicaccedilatildeo entre surdos mas esporadicamente pois nesta eacutepoca aleacutem
de serem proibidos de utilizarem sinais para a comunicaccedilatildeo tambeacutem
natildeo podiam fazer reuniotildees soacute de indiviacuteduos surdos como acontece
atualmente Segue a citaccedilatildeo de Labov 2008 [1972] que considero
pressuposto para o desenvolvimento da presente pesquisa
O ponto de vista do presente estudo eacute o de que natildeo se
pode entender o desenvolvimento de uma mudanccedila
linguumliacutestica sem levar em conta a vida social da
comunidade em que ela ocorre Ou dizendo de outro
modo as pressotildees sociais estatildeo operando continuamente
sobre a liacutengua natildeo de algum ponto remoto no passado
mas como uma forccedila social imanente agindo no presente
vivo (LABOV 2008 [1972] p 21)
O maior problema a meu ver eacute que o grupo dos mais velhos que
usava a liacutengua falada natildeo entendia a importacircncia da liacutengua de sinais
para o indiviacuteduo surdo restringindo muito a sinalizaccedilatildeo e os sinais no
ano de 1950 Sabemos que pessoas de diferentes lugares que vecircm para
uma determinada comunidade acabam trocando experiecircncias e palavras
influenciando essa comunidade Isto pouco acontecia com o grupo dos
surdos mais velhos Diferentemente do que se observava com os
antigos os surdos mais novos tinham um maior contato social com a
liacutengua de sinais brasileira permitindo mais trocas de conhecimentos
criando novos sinais tornando a liacutengua de sinais mais ldquovivardquo e
ldquodinacircmicardquo
Por exemplo em comparaccedilatildeo com falantes da ilha em
Florianoacutepolis quanto agrave situaccedilatildeo estiliacutestica27
o grupo mais velho de
surdos usava mais a liacutengua falada do que a sinalizada pouco contato
eles tinham entre si pois era proibida28
a sinalizaccedilatildeo pelas instituiccedilotildees
27 Eacute o jeito de falar nas diferentes situaccedilotildees com os diferentes interlocutores e nos variados
contextos
28 SCHMITT (2008) A representaccedilatildeo de surdo na histoacuteria antiga registra a passagem que os
surdos realizaram na sociedade onde predominavam os ouvintes Entatildeo a hegemonia dos ouvintes manteve sempre o surdo como excluiacutedo atraveacutes de estereoacutetipos e depreciaccedilotildees A
sociedade antiga natildeo permitia a capacitaccedilatildeo dos surdos como sujeitos normais o uso da liacutengua
66
que trabalhavam com os surdos e tambeacutem pelas famiacutelias Conta-se que
em algumas escolas amarravam as matildeos dos indiviacuteduos surdos para que
natildeo sinalizassem Com o grupo mais jovem eacute diferente o contato deles
com outros surdos eacute maior trocam mais experiecircncias e sinais
propiciando assim mais mudanccedilas na liacutengua de sinais tornando-se hoje
mais usada e mais dinacircmica na comunidade surda Isso acontece aqui
em Florianoacutepolis tambeacutem A influecircncia accediloriana trazida pelos
imigrantes portugueses atualmente com a visita de turistas brasileiros
(ex vindos dos estados de RS SP PR e MG) e estrangeiros (ex
Argentinos Paraguaios Uruguaios Chilenos dentre outros) a
Florianoacutepolis acaba interferindo e modificando a liacutengua falada na ilha
Acredita-se que existe variaccedilatildeo linguiacutestica na liacutengua de sinais
em Santa Catarina por influecircncia da comunidade de falantes nas
diferentes regiotildees do estado A liacutengua de sinais acaba incorporando
parte da cultura dessas comunidades a sua liacutengua
Existem pesquisas na liacutengua de sinais mostrando diferenccedilas
nas liacutenguas visual-espacial de acordo com o paiacutes de origem com
diferenccedilas culturais diferentes configuraccedilotildees de matildeos etc Estas
pesquisas ajudam a compreender melhor a estrutura das liacutenguas de
sinais seu aspecto linguiacutestico e gramatical
Em Santa Catarina na comunidade de falantes no municiacutepio de
Itaacute na regiatildeo oeste do estado muitos descendentes de europeus
(Italianos alematildees poloneses etc) falam usando um r brando por
exemplo barragem mas na fala fica baragem
Na liacutengua portuguesa existem diferentes sons e diferentes formas
de falar esses sons No caso do exemplo citado anteriormente do
municiacutepio de Itaacute o som do r falado eacute diferente mas o significado da
palavra eacute o mesmo Na LIBRAS acontece isto um determinado sinal
pode ser pronunciado de diferentes maneiras com relaccedilatildeo agrave
configuraccedilatildeo de matildeos (CM)29
ao ponto de articulaccedilatildeo (PA) e ao
movimento (M) Segue abaixo a foto de trecircs principais paracircmetros
fonoloacutegicos
de sinais e nem aceitava a cultura do surdo Como A liacutengua de sinais foi banida das escolas
pelas decisotildees do Congresso de Milatildeo em 1880
29 Configuraccedilatildeo de matildeo e segue a foto
67
Figura 07 ndash Sinal de Porco
Por exemplo os sinais para as palavras amanhatilde
30 e faacutecil
31 satildeo
diferentes quanto ao ponto de articulaccedilatildeo e ao movimento mas a
configuraccedilatildeo de matildeos eacute a mesma para as duas palavras Ė importante
ressaltar que Labov em sua pesquisa mostrou variaacuteveis linguiacutesticas com
relaccedilatildeo agrave comunidade de fala e o exemplo na liacutengua de sinais eacute visual e
natildeo sonoro Entatildeo a fonologia das liacutenguas de sinais eacute um ramo da
linguiacutestica que objetiva identificar a estrutura e a organizaccedilatildeo dos
constituintes fonoloacutegicos propondo descriccedilotildees e explicaccedilotildees
Labov (1982) no entanto acreditava que eacute possiacutevel que uma
mudanccedila linguiacutestica possa ser o resultado de uma causa particular
isolada do sistema linguiacutestico ou social Por exemplo em Marthas
Vineyard um alto nuacutemero de casamento entre surdos e ouvintes e entre
surdos foi responsaacutevel pelo nascimento de centenas de surdos no seacuteculo
XIX Como resultado quase todos os membros ouvintes da comunidade
aprenderam a liacutengua de sinais e a utilizaram com muitos outros
propoacutesitos aleacutem da comunicaccedilatildeo com surdos (GROCE 1952)
Concluo este capiacutetulo que apresenta a pesquisa de Labov na ilha
30 Sinal de amanhatilde e segue a foto
31 Sinal de faacutecil e segue a foto
68
de Marthas Vineyard verificando a ocorrecircncia de centralizaccedilatildeo de
ditongos com algumas consideraccedilotildees A metodologia de pesquisa que
Labov abriu um campo de estudos que relaciona variaccedilatildeo e a mudanccedila
linguiacutestica ao contexto social utilizando-se de fatores como gecircnero
escolaridade classe social faixa etaacuteria local de residecircncia apoiando-se
em conhecimento de antropologia e liacutengua e de teacutecnicas computacionais
e matemaacuteticas Essa forma de pesquisa deu iniacutecio ao ramo da linguiacutestica
que conhecemos como sociolinguiacutestica variacionista ou quantitativa em
que a liacutengua natildeo eacute vista como uma estrutura estaacutetica e sim como um
sistema em variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica constante ligado agrave estrutura
social
69
CAPIacuteTULO III ndash A histoacuteria social da liacutengua
31 ndash Introduccedilatildeo
Inicialmente este capiacutetulo apresenta a histoacuteria contextualizada da
liacutengua de sinais da Franccedila depois no Brasil e finalmente em Santa
Catarina No primeiro momento apresenta-se o perfil do fundador da
primeira escola de surdos no mundo localizada na Franccedila o Abade de
LacuteEacutepeacutee Em seguida aponta-se qual foi o fundador da primeira
instituiccedilatildeo de surdos na cidade do Rio de Janeiro o Eacutedouard Huet32
e
traz consideraccedilotildees sobre o primeiro professor surdo a trabalhar em sala
de aula com alunos surdos em Santa Catarina Francisco Lima Juacutenior
Este uacuteltimo estudou a liacutengua de sinais na cidade do Rio de Janeiro e
proporcionou aos surdos de Santa Catarina uma comunicaccedilatildeo em liacutengua
de sinais mais aprofundada e abrangente Ele tambeacutem divulgou a liacutengua
de sinais na comunidade surda criando espaccedilos culturais e uma
identidade para a comunidade surda catarinense
Este capiacutetulo apresentada a seguinte estrutura comenta sobre o
primeiro fundador do Instituto Nacional de Surdos de Paris Abade
LacuteEacutepeacutee apresenta Eacutedouard Huet e sua vinda para o INESRJ e por fim
relata a histoacuteria do primeiro professor surdo (Francisco Lima Juacutenior) em
Santa Catarina na liacutengua de sinais
32 ndash Charles Michel de LacuteEacutepeacutee - Instituto Nacional de Surdos-
Mudos33
em Paris
Na Franccedila Abade de LacuteEacutepeacutee34
foi o primeiro fundador de uma
escola com classes para a educaccedilatildeo de surdos e tambeacutem criou a
32 No Brasil escreve-se Eduard mas na Franccedila seu nome e escrito Eacutedouard Huet
33 Surdos-Mudos ndash terminologia utilizada nessa eacutepoca atualmente utilizamos ser surdo
34 Abade de LacuteEacutepeacutee foi o criador de um meacutetodo empregado na educaccedilatildeo de surdos
denominado de ldquosinais metoacutedicosrdquo A justificativa para a criaccedilatildeo desse meacutetodo se deu pelo fato de que L‟Epeacutee acreditava que a Liacutengua de Sinais utilizada pelos surdos era incompleta
devendo ser melhorada e universalizada Seu meacutetodo consistia em conservar o ldquonuacutecleo central
dos gestosrdquo utilizados por seus alunos adicionando poreacutem a estes gestos outros sinais para designar objetos qualidades fatos ou situaccedilotildees No entanto como seu principal objetivo era o
ensino da liacutengua francesa natildeo se deu por satisfeito criou uma seacuterie de sinais que natildeo existiam
na codificaccedilatildeo gestual referente a preposiccedilotildees artigos tempo e pessoa verbal entre outros
70
linguagem de gestos que se chamava ldquoLINGUAGEM DE SINAIS
METOacuteDICOSrdquo e o alfabeto manual que eacute bem diferente dos coacutedigos de
significados na estrutura frasal e no gesto que representava a palavra
para o surdo
Moura (2000 p 22) relatou que o Abade Charles-Michel de
L‟Epeacutee nasceu em 1712 na cidade de Versalhes na Franccedila O Abade
comeccedilou a ensinar os surdos em 1760 por razotildees religiosas iniciando
seu trabalho com duas freiras surdas Com grande desafio transformou
sua casa na primeira escola puacuteblica para surdos (Instituto de Surdos e
Mudos de Paris) utilizando a comunicaccedilatildeo gestual A autora Perlin
(2002) lembra que
As escolas fundadas em outros paiacuteses nos moldes da
Franccedila passaram a usar as liacutenguas de sinais nacionais e a
explorar novos recursos na educaccedilatildeo de surdos O
curriacuteculo da escola para surdos em Paris passou a
conter liacutengua de sinais religiatildeo liacutengua nacional e
formaccedilatildeo profissional
O Abade de L‟Epeacutee comeccedilou a sua pesquisa observando um
grupo de surdos de laacute que se comunicava nas ruas da cidade (cuidando
para que as pessoas natildeo os vissem fazendo gestos) na liacutengua de sinais
francesa O Abade LacuteEacutepeacutee teve a ideia de conhecer mais sobre a liacutengua
gestual daqueles surdos e mais tarde pensou em como poderia ajudaacute-los
nessa comunicaccedilatildeo Ele ensinava religiatildeo na igreja para os surdos Entatildeo
LacuteEacutepeacutee comeccedilou a investir em seu projeto de melhorias para esta forma
de comunicaccedilatildeo Chamou o grupo de surdos e mostrou a liacutengua gestual
com gramaacutetica proacutepria e o alfabeto manual para o auxiacutelio na
comunicaccedilatildeo
A oportunidade de melhorar a linguagem dos surdos na eacutepoca foi
essencial para que fosse desenvolvida a base da liacutengua de sinais dos
surdos de Paris fortalecendo a cultura e a comunidade surda Isso
permitia tambeacutem que os surdos tivessem acesso a uma filosofia
religiosa aprendendo com isso novos vocabulaacuterios aleacutem da crenccedila e de
um modelo educacional diferente Segue o autor
Todo surdo-mudo enviando ateacute noacutes jaacute tem uma
linguagem () Tem o haacutebito de usaacute-la e compreende os
outros que a fazem Com essa linguagem expressa as
suas necessidades desejos duacutevidas dores etc e natildeo
erra quando os outros se expressam da mesma forma
Noacutes desejamos instruiacute-los e assim ensinar-lhes o francecircs
71
Qual eacute o meacutetodo mais simples e mais curto Natildeo seria
expressando-nos na sua liacutengua Adaptando a sua liacutengua e
fazendo com que ela se adapte a regras claras natildeo
seriacuteamos capazes de conduzir a sua instruccedilatildeo como
desejamos (citado por Harlan Lane Instituon des
Sourds-Muets par la Voie des Signes Meacutethodies part 1
cap IV p 36) apud (CARVALHO 2007 p 24)
Para o surdo comeccedilou a existir uma linguagem atraveacutes da
comunicaccedilatildeo gestual Assim os surdos trocavam informaccedilotildees entre eles
na liacutengua de sinais essencial para o acesso do surdo a sua identidade
Essa convenccedilatildeo social da liacutengua de sinais nesse primeiro grupo de
surdos foi a base da liacutengua Entatildeo o surdo podia aprender a liacutengua
francesa escrita e ter contato com a gramaacutetica dessa liacutengua que foi
essencial para a comunicaccedilatildeo dos surdos transformando a representaccedilatildeo
do gestual O surdo podia alfabetizar-se em francecircs e entender melhor a
sociedade em que vivia e assim adaptar-se agraves mudanccedilas ocorridas em
sua liacutengua gestual Segue a discussatildeo do autor
O Abade L‟Epeacutee iniciou do ano em 1760 conheceu o
grupo de surdo na liacutengua de sinais francesa e estudou
junto com os surdos Mas ele teve a ideacuteia de ajudar o
surdo valorizar a liacutengua de sinais francesa Quem fundou
o Instituto no Paris Foi Abade L‟Epeacutee Laacute foi ensinada
a liacutengua de sinais francesa para os alunos surdos mais
pobres Berthier escreveu a biografia do Abade L‟Epeacutee
(1712 ndash 1789) (SCHMITT 2008 p 50)
O Abade L‟Epeacutee com sua experiecircncia e pesquisa ajudava os
surdos franceses na liacutengua francesa escrita e na liacutengua de sinais em
Paris Com sua pesquisa ele mostrou para a comunidade da eacutepoca uma
nova forma de ensinar os surdos desenvolvendo estrateacutegias de ensino
nas duas liacutenguas Acreditava-se que um dos motivos que levou o Abade
a demonstrar interesse pela educaccedilatildeo de surdos foi o fato de ele ter duas
freiras surdas Seguem imagens mostrando o Abade L‟Epeacutee ensinando o
primeiro grupo de surdos franceses (SCHMITT 2008 p 51)
72
Figura 08 ndash Abade L‟Epeacutee ensinando os surdos na liacutengua de sinais
francesa
Schmitt (2008) realizou pesquisa na liacutengua de sinais na
identificaccedilatildeo do surdo e na adaptaccedilatildeo do conhecimento pelo surdo
Sobre L‟Epeacutee ensinando o grupo de surdos na imagem anterior Schmitt
comenta
O Abade L‟ Epeacutee ajudou ensinando os surdos na liacutengua
de sinais valorizando o aspecto viso-espacial na relaccedilatildeo
das matildeos compartilhando e mostrando a loacutegica de sinais
do surdo compreende-se envolve a capacidade no uso o
alfabeto na cultura do surdo Entatildeo na realidade
possibilitou a liacutengua do surdo na comunicaccedilatildeo com outro
surdo e na relaccedilatildeo com professor francecircs (SCHMITT
2008 p 51)
Segundo Frishberg (1975) na Franccedila escreveu que Abbe Charles-
Michel LacuteEpeacutee descreveu o uso da liacutengua de sinais que havia aprendido
com seus alunos ou em contato com as pessoas Era uma forma natural
de comunicaccedilatildeo que veio dar origem agrave gramaacutetica francesa de sinais
Essa gramaacutetica francesa se espalhou e foi disseminada por toda a
Europa cada paiacutes com suas especificidades como ocorre na liacutengua
falada
Percebemos que o Abade L‟Epeacutee ensinava a gramaacutetica do francecircs
no Instituto para Surdos de Paris para que os alunos surdos aprendessem
a histoacuteria e a liacutengua de sinais O L`Epee foi o antecessor em Paris do
Abade Sicard que escreveu o primeiro dicionaacuterio na liacutengua de sinais no
seacuteculo XVIII
Quando o Abade apresentou a comunicaccedilatildeo em liacutengua de sinais
ao grupo para que aprendessem vocabulaacuterio na liacutengua de sinais mostrou
os sinais de COMER AacuteGUA e tambeacutem o sinal de BEBER apontando
para vaacuterios objetos para que o grupo memorizasse e aprendesse o nome
73
de cada um deles Isso com o grupo de alunos e tambeacutem com as duas
irmatildes Foi crescendo o nuacutemero de sinais usados na linguagem gestual
francesa daquela eacutepoca pelos alunos surdos da instituiccedilatildeo onde ensinava
L‟Epeacutee
Entatildeo percebi atraveacutes de leituras que o Abade L‟Epeacutee ensinava a
gramaacutetica do francecircs no Instituto para Surdos de Paris para que os
alunos surdos aprendessem dentre outras coisas a histoacuteria e a liacutengua de
sinais Isso foi interessante para o grupo pois desenvolveram um padratildeo
para a linguagem gestual
Em 1755 Abade L‟Epeacutee iniciou com o primeiro grupo de surdos
no Instituto em Paris onde ensinava a vaacuterios alunos de classes
diferentes ricos e pobres Ele apresentou para os alunos a importacircncia
dos sinais padronizados que ajudavam na comunicaccedilatildeo Em contato
com a liacutengua de sinais convencionada o grupo de surdos na Franccedila
cada vez mais dominava os sinais e aperfeiccediloava o seu meacutetodo de sinais
metoacutedicos
Em ldquoA Maacutescara da Benevolecircnciardquo Lane (1992) apresenta relatos
interessantes de pesquisa com entrevistas de alunos surdos Sua
descriccedilatildeo sobre os sinais indicando os tempos segue na citaccedilatildeo
ldquoO aluno apesar de surdo e mudo tinha tal como noacutes
uma ideacuteia de passado presente e futuro antes de ser
colocado sob a nossa tutela mas eram incapazes de fazer
os sinais para exprimir as diferenccedilas Se quisesse
exprimir uma acccedilatildeo presente Fazia um sinal impelido
pela natureza que consiste em atrair o olhar do
interlocutor para testemunhar a nossa actividade actual
mas se a acccedilatildeo natildeo tivesse lugar na sua vista estendia as
matildeos sobre a mesa tal como estamos todos aptos a fazer
em situaccedilotildees semelhantes e estes satildeo os sinais que
voltou a aprender na aula para indicar o presente de um
verbo Se quisesse indicar que uma acccedilatildeo pertence ao
passado Atirava despreocupadamente o braccedilo sobre o
ombro duas ou trecircs vezes adoptamos estes sinais para
indicar o passado dos verbos E finalmente quando
tivesse a intenccedilatildeo de anunciar o futuro projectava a Matildeo
direita uma vez mais neste caso seleccionaacutemos este
sinal para representar o tempo futuro de um verbordquo
(LANE 1992 p 107 e 108)
Observa-se que havia diferenccedilas na gramaacutetica dos sinais que os
surdos utilizavam no passado A linguagem gestual francesa mudava
com o tempo na realidade da comunidade surda de Paris O contato com
74
sinais na escola eram muito diferentes daqueles que usavam nas
conversas de ruas Os alunos aprenderam formas verbais (passado
presente e futuro) que interferiram na liacutengua Quando a comunidade
surda que utiliza um espaccedilo cultural aprende o contexto cultural se
modifica e a liacutengua de sinais que tambeacutem eacute social se modifica
A liacutengua de sinais francesa serve de origem para muitos dos sinais
usados na ASL No comeccedilo do seacuteculo XIX um professor de surdo
chamado Thomas Hopkins Gallaudet foi da Ameacuterica para a Europa a
fim de aprender teacutecnicas de ensino Na Inglaterra ele conheceu Roch-
Ambroise Cucurron e Abbe Sicard o diretor de uma escola para surdos
em Paris Gallaudet aprendeu meacutetodos de ensino e muitos sinais para
usar na comunicaccedilatildeo com os surdos com Abbe Sicard Tambeacutem
Gallaudet convenceu Laurent Clerc um dos alunos de Sicard a ajudaacute-lo
a fundar uma escola para surdos na Ameacuterica
Gallaudet e Clerc fundaram a Escola Americana para Surdos
(ASD) em 1816 em Hartford Connecticut A escola combinava sinais
da LSF com os que jaacute eram usados pela comunidade de surdos da
Ameacuterica para criar uma linguagem padronizada Nesta eacutepoca esta
linguagem evoluiu para a ASL considerada atualmente a liacutengua de
sinais mais geneacuterica do mundo O filho de Thomas Gallaudet Edward
fundou a Universidade de Gallaudet em Washington DC A Gallaudet
foi a primeira faculdade para surdos
33 ndash Eacutedouard Huet - Instituto Nacional Educaccedilatildeo de Surdos
(INESRJ)
Segundo Ceacutesar Delgado (Revista da FENEIS 2002) Huet nasceu
em 1822 em Paris na Franccedila Comeccedilou seus estudos desde a infacircncia
ouvia normalmente jaacute se comunicava na fala nos idiomas francecircs (sua
liacutengua natural) alematildeo e portuguecircs mais tarde estudava outra liacutengua
que era o espanhol Ficou surdo aos doze anos de idade por
consequecircncia de um sarampo Como ele pertencia agrave nobreza estudou no
Instituto em Bourges e seu aprendizado na liacutengua de sinais francesa
proporcionou muitas oportunidades tornou-se professor de francecircs para
um grupo de surdos na Europa Ele foi convidado pelo imperador Dom Pedro II
35 para que
35 Deste que Eduard Huet fundou o imperial Instituto de Surdos-Mudos com autorizaccedilatildeo do
Imperador Dom Pedro II a Liacutengua de Sinais passou a fazer parte da educaccedilatildeo dos indiviacuteduos
surdos como forma de comunicaccedilatildeo e expressatildeo No iniacutecio a Liacutengua de Sinais teve sua origem na Franccedila mas aos poucos ela foi se desenvolvendo e se adaptando agrave realidade do
Brasil Isso comprova entatildeo que a Liacutengua de Sinais natildeo eacute universal mas ela possui pequenas
75
ajudasse a trabalhar na criaccedilatildeo do Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de
Surdos-Mudos com sede no Rio de Janeiro Iniciou ensinando na sua
liacutengua francesa depois aprendeu os sinais usados no Brasil e acabou
misturando as duas liacutenguas Trouxe um meacutetodo de ensino para a
Educaccedilatildeo de Surdos influenciando a Liacutengua de Sinais Brasileira com
sua liacutengua de sinais (francesa)
Eacutedouard Huet foi o primeiro professor surdo do Brasil
Apresentou em 1855 um projeto ao Imperador D Pedro II para uma
escola de surdos e assim foi fundado o Instituto Nacional de Educaccedilatildeo
de Surdos-Mudos no Rio de Janeiro Ele foi o responsaacutevel por trazer a
liacutengua de sinais francesa para o Instituto fundado em 1857 na cidade
do Rio de JaneiroRJ Com isso temos a origem da influecircncia da liacutengua
de sinais francesa (LSF) trazida por ele da Europa sobre a liacutengua de
sinais brasileira (LSB)36
Segue citaccedilatildeo de Campello que fala sobre a
constituiccedilatildeo da LSB no Brasil
a Constituiccedilatildeo Histoacuterica da Liacutengua de Sinais Brasileira
registro aqui ldquoa viagemrdquo da LSF ateacute o Brasil Essa
viagem tem a sua cronologia histoacuterica quando em 1855
o Ministro de Instruccedilatildeo Puacuteblica Drouyn de Louys e o
embaixador da Franccedila Monsieur Saint George junto
com a corte do Rio de Janeiro apresentou o Conde e
Professor surdo D E Huet37 ex-diretor do Instituto de
Bourges ao ex-Imperador Dom Pedro II e o mesmo
concedeu todas as honrarias inclusive com o salaacuterio e
hospedagem e incentivou a criaccedilatildeo de um educandaacuterio38
semelhanccedilas variando tanto de estado para estado dentro de um mesmo paiacutes quanto de um paiacutes para o outro com algumas semelhanccedilas
36 Campello usa a sigla LSB Nesta tese a sigla usada eacute LIBRAS
37 Haacute muita controveacutersia em torno do seu nome Inicialmente foi registrado na ldquoRevista
Espaccedilordquo do INES como E Huet Mas nos outros documentos pesquisados por mim assinava
como D E Huet sem complementar ou acrescentar o nome proacuteprio completo Recentemente atraveacutes da pesquisa pelo dirigente da FENEIS e da publicaccedilatildeo da Revista FENEIS confirmou
o nome completo de EHuet como Edward Huet Haacute pouco tempo o Grupo de Sinais
Mexicano anexou a coacutepia do email da bisneta que confirmou o nome dele como D Edward Huet M
38 Esse processo jaacute havia acontecido de forma similar com a educaccedilatildeo dos cegos O cego Patriacutecio Aacutelvares de Azevedo brasileiro educado em Paris e que ao regressar ao Rio de Janeiro
em 1851 pensou em fundar um instituto de ensino para cegos A realidade se concretizou em
1854 na fundaccedilatildeo de Instituto Benjamin Constant para cegos
76
destinado ao ensino de surdos mudos39 seria mais uma
poliacutetica puacuteblica com uma tendecircncia mundial a criaccedilatildeo de
escolas de ensino e tambeacutem de residenciais para abrigar
ldquodeficientes40 Haacute a hipoacutetese de que a princesa Isabel
filha do D Pedro II teria um filho surdo41 e tambeacutem que
o marido dela o Conde dacuteEu era portador de deficiecircncia
auditiva42 Mesmo com ou sem comprovaccedilatildeo histoacuterica
eacute difiacutecil transpor a histoacuteria da criaccedilatildeo e do interesse de
Dom Pedro II em abrir a escola de surdos
(CAMPELLO 2011)
O professor surdo Huet lutou pelo direito agrave liacutengua de sinais na
Instituiccedilatildeo com o imperador Dom Pedro II a fim de abrir espaccedilo na
escola de surdo em 1857 O INES era a uacutenica instituiccedilatildeo puacuteblica federal
do Brasil localizada no Rio de Janeiro Vieram alunos de outros estados
brasileiros para estudar com o professor Huet e ficavam hospedados no
Instituto Depois aprendiam a Liacutengua de Sinais Francesa da mesma
maneira que o professor aprendeu na escola francesa
A liacutengua de sinais foi transformada com o tempo tendo influecircncia
do professor surdo Huet Moura (2000 p 81 e 82) comenta o
seguinte
Se deu atraveacutes de Liacutengua de Sinais pode-se deduzir que
ele utilizava os Sinais e a escrita sendo considerado
inclusive o introdutor de Liacutengua de Sinais Francesa no
Brasil onde ela acabou por mesclar-se com a Liacutengua de
Sinais utilizada pelos Surdos em nosso paiacutes O
39 Relatoacuterio do E d Huet aos membros da Comissatildeo Diretora em abril de 1856 no Instituto de
Surdos Mudos
40 Deficientes satildeo as denominaccedilotildees daqueles que mentalmente e fisicamente satildeo incapazes para fazer qualquer atividade
41 Reis (1992) relata que o professor Geraldo Cavalcanti de Albuquerque disciacutepulo do professor Joatildeo Brasil Silvado (diretor do INSM ndash Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos-
Mudos em 1907) informou-lhe em entrevista que o interesse do imperador D Pedro II em
educaccedilatildeo de surdos viria do fato de ser a princesa Isabel matildee de um filho surdo e casada com o Conde D‟Eu parcialmente surdo
42 Nos documentos escritos pelo Francisco de Souza Brasil e Medeiros e Albuquerque (1932)
atestava a surdez do Conde DacuteEu ldquoO Conde DacuteEu tinha ainda o inconveniente de ser surdo A
surdez alheando os indiviacuteduos do meio em que estatildeo lhes daacute agraves vezes a imputaccedilatildeo de orgulhosos porque natildeo lhes permite tomar parte na conversa com a cordialidade que todos
desejariamrdquo (grifo meu)
77
Curriculum por ele apresentado em 1856 colocava
disciplinas como portuguecircs aritmeacutetica histoacuteria
geografia e incluiacutea ldquolinguagem articuladardquo e ldquoleitura
sobre os laacutebiosrdquo para os que tivessem aptidatildeo para tanto
O professor Huet planejava as vaacuterias disciplinas que ensinava
para os alunos surdos desta Instituiccedilatildeo obedecendo ao curriacuteculo escolar
da eacutepoca oferecido nas escolas de ouvintes Infelizmente natildeo foram
registrados os vocabulaacuterios da liacutengua de sinais brasileira desta eacutepoca No
Brasil foi lanccedilada a primeira publicaccedilatildeo sobre liacutengua de sinais em 1873
pelo aluno surdo Flausino Joseacute da Gama do Instituto de Surdos-Mudos43
do Rio de Janeiro O estudo resultou na obra ldquoIconographia dos Signaes
dos Surdos-Mudosrdquo foi publicado o dicionaacuterio em 1875 Poreacutem em
1880 no Congresso Internacional de Educaccedilatildeo de Surdo (Milatildeo)44
a
liacutengua de sinais foi rejeitada nas escolas focando apenas a liacutengua oral
Contudo os alunos do INES continuaram a estudar desenvolver e
disseminar a LIBRAS que por volta de 1980 voltou a ter sua
importacircncia intensificada
Como eacute explicado no prefaacutecio a inspiraccedilatildeo para o
trabalho foi dita pelo estudante ao ver na biblioteca da
instituiccedilatildeo um livro francecircs do Instituto Nacional de
Paris produzindo pelo surdo Francecircs Pellisier Natildeo havia
oficina litografia (o desenho eacute feito em uma pedra ou
placa de metal) no INES e na eacutepoca essa era a uacutenica
maneira de se reproduzir um desenho A ajuda veio do
Sr Eduard Rensburg que se dispotildee a ensinar a Flausino
trabalhar com essa difiacutecil teacutecnica Bastaram poucos dias
de aula e o Surdo tornou-se um exiacutemio litoacutegrafo
(REVISTA DA FENEIS n0 10 2001)
Segundo Campello (2011) Flausino Joseacute da Gama criou com seu
trabalho o dicionaacuterio ldquoIconographia dos Signaes dos Surdos-Mudosrdquo
com o prefaacutecio do Dr Tobias Leite ex-diretor no Instituto Nacional dos
Surdos-Mudos que no passado registrou sobre a pesquisa de Flausino e
a seguir o que escreveu Tobias no dicionaacuterio do INES em 1875
43 Atual Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos ndash INESRJ
44 REacuteE (2005) ldquo() essa data ainda eacute lembrada como a mais sinistra de sua histoacuteria como se fosse mesmo o ldquo11 de setembrordquo deles quando desabaram as torres gecircmeas da cultura e da
liacutengua de sinais a do meacutetodo misto e a do meacutetodo manualista para educaccedilatildeo dos surdos Ali
comeccedilou uma longa e amarga batalha para defender o direito de vida de liacutengua de sinaisrdquo
78
Este livro tem dous fins
Vulgarisar a linguagem dos signaes meio predilecto dos
surdos mudos para a manifestaccedilatildeo dos seus pensamentos
Os pais os professores primaacuterios e todos os eu se
interessarem por esses infelizes ficaratildeo habilitados para
os entender e se fazerem entender
Mostrar o quanto deve ser apreciado um surdo mudo
educado
O alumno deste Instituto Flausino Joseacute da Gama vendo
entre os livros da biblioteca a obra do illustre surdo-
mudo Pellisier professor do Instituto de Pariz
manifestou desejo de reproduzir as estampas para os
fallantes conversarem com os surdos-mudos dizia-me
elle repetidas vezes
Natildeo obstante ser elle haacutebil desenhista a realizaccedilatildeo do
seu desejo era difficil porque natildeo haacute no Instituto officina
de lihtographia e a despeza nas officinas do commercio
seria grande
Referindo o facto ao Sr Eduard Rensburg este senhor
generosamente offereceu-se para ensinar a Flausino o
desenho lithographico e as suas officinas para a
execuccedilatildeo da obra Aceitei immediatamente o
offerecimento e em poucos dias sahio o livro que tenho
a satisfacccedilatildeo de apresentar a todos os que se interessarem
por essa numerosa classe de nossos compatriotas
A Flausino os louvores e ao Sr Rensburg os
agradecimentos de todos os que se interessatildeo pela
instrucccedilatildeo popular
Tobias Leiterdquo
Campello (2011) pesquisou sobre o dicionaacuterio da liacutengua de sinais
registrado e documentado por Flausino que foi apresentado na escrita
pelo ex-diretor do INES que escrevia a palavra ldquoVulgarisarrdquo45
(p 79)
Segundo Delaporte (2005) a Escola Parisiense ldquoSaint-Jacquesrdquo era um
lugar de prestigio onde todas as pessoas que desejavam ensinar os
surdos precisavam obrigatoriamente passar Eacutedouard Huet realizou seus
estudos laacute Flausino inspirou-se no dicionaacuterio de Pierre Peacutelissier que foi
trazido para o Brasil por Eacutedouard Huet Os alunos do INES tinham
muita dificuldade pois os sinais eram muito antigos e eles precisavam
45 CAMPELLO mostrou a pesquisa ldquo que naquela eacutepoca significava colocar a disposiccedilatildeo do
povo e por isso o dicionaacuterio se apresentava como instruccedilatildeo popularrdquo
79
se comunicar com surdos do Instituto de Paris Campello diz que foi
copiado o dicionaacuterio no Instituto Imperial de Paris
Comparado com o original ldquoIcnographie des signesrdquo de
P Pelissier membro ativo de ldquola Socieacuteteacute Centrale
dacuteEducation et dacuteAssistance decircs Sourds-Muetsrdquo e
professor de surdos mudos do Instituto Imperial de Paris
em 1856 obra ldquoIconographia dos signaes dos surdos
mudosrdquo pelo surdo Flausino Joseacute da Gama em 1875 eacute
uma coacutepia na iacutentegra do material com a traduccedilatildeo do
francecircs para o portuguecircs ou seja os sinais foram
copiados um a um traduzindo-se apenas as palavras do
francecircs que identificavam os sinais (CAMPELLO
2011)
Verificando a explicaccedilatildeo anterior da citaccedilatildeo a autora mostrou
uma comparaccedilatildeo do dicionaacuterio em Paris e no Brasil foi copiado o
material para ser utilizado aqui no INES e soacute foi mudado o vocabulaacuterio
eou palavra na traduccedilatildeo do francecircs para o portuguecircs Atualmente a
LIBRAS estaacute bem diferente da eacutepoca de Flausino mas a influecircncia da
Liacutengua de Sinais Francesa eacute inegaacutevel na comunicaccedilatildeo dos surdos
brasileiros pois foi a primeira liacutengua de sinais traduzida e ensinada no
INES
Com o uso e a difusatildeo da liacutengua de sinais surgiu o primeiro
dicionaacuterio do Brasil e as seguintes obras dos autores i) Iconographia
dos Signaes dos Surdos-Mudos de Flausino Joseacute da Gama em 1875 ii)
Linguagem das Matildeos de Eugecircnio Oates em 1969 e iii) O Dicionaacuterio
Enciclopeacutedico Ilustrado Triliacutengue Liacutengua de Sinais Brasileira de
Fernando C Capovilla e Walkiria D Raphael em 2001
Felipe (2000) fala sobre o surgimento da LIBRAS sobre
Flausino Joseacute da Gama e outros dicionaacuterios da LIBRAS
Aqui no Brasil a primeira publicaccedilatildeo sobre a liacutengua
de sinais brasileira data de 1875 trata-se de um livro
Iconografia dos Signaes dos Surdos-Mudos de Flausino
da Gama um ex-aluno do Instituto de Surdos que se
tornou repetidor dessa escola quando terminou seu
periacuteodo de estudo Quase um seacuteculo depois em 1969
com a publicaccedilatildeo do artigo de KAKUMUSU J Urubu
Sign Language foi constatado que haveria pelo menos
outra liacutengua de sinais no Brasil utilizada pelos iacutendios
Urubus-Kaapor
80
Somente em 1969 por iniciativa estrangeira foi
publicado outro livro sobre a liacutengua de sinais brasileira
Linguagem das Matildeos de DATES E mas devido agrave
influecircncia da ASL muitos sinais nessa obra como
tambeacutem na de HOEMAN H et al Linguagem de Sinais
do Brasil satildeo sinais dessa liacutengua Esses dois livros
foram durante deacutecadas o material didaacutetico utilizado
pelos instrutores surdos para ensinarem sua liacutengua e
talvez por essas obras trazerem uma seleccedilatildeo de
fotografias ou desenhos de sinais da LIBRAS com
explicaccedilotildees a metodologia que vem sendo utilizada para
ensinar esta liacutengua tem sido somente a apresentaccedilatildeo de
sinais e traduccedilatildeo dos mesmos
Em 1960 Willian Stokoe
46 iniciou a pesquisa na liacutengua de sinais
americana com publicaccedilatildeo de estudo linguiacutestico mostrando que esta
liacutengua de sinais tinha uma gramaacutetica proacutepria e tambeacutem apresentava
todos os aspectos linguiacutesticos das liacutenguas orais A partir desta
divulgaccedilatildeo do Stokoe o mundo comeccedilou a pesquisar mais sobre as
liacutenguas de sinais Estudou cientificamente a Liacutengua de Sinais Americana
comparando com a Liacutengua Inglesa observou que ambas tinham
caracteriacutesticas equivalentes auxiliando na concepccedilatildeo sobre a educaccedilatildeo
de surdos na liacutengua de sinais
Felipe (2000) apresentou na pesquisa o surgimento da LIBRAS
Seguem agora ilustraccedilotildees sobre os dicionaacuterios antigos ldquoIconographia
dos Signaes dos Surdos Mudos de Flausino Joseacute da Gamardquo ldquoLinguagem
das Matildeos de Eugecircnio Oatesrdquo ldquoEnciclopeacutedico Ilustrado Triliacutengue
Liacutengua de Sinais Brasileira Vol I e II de Fernando C Capovilla e
Walkiria D Raphael
46 STOKOE (1920-2000) foi um dos primeiros linguistas a estudar uma liacutengua de sinais com
tratamento linguiacutestico Considerado o pai da linguiacutestica da liacutengua de sinais americana ndash ASL Ele ensinando e pesquisando revolucionou a Liacutengua de Sinais e mostrou que ela possuiacutea
regras gramaticais proacuteprias A partir daiacute o mundo inteiro passou a aceitar a Liacutengua de Sinais
como uma Liacutengua
81
Figura 09 ndash Acervo na Revista da FENEIS
Interessante a pesquisa das primeiras publicaccedilotildees dos autores
sobre a liacutengua de sinais Trouxe para noacutes surdos brasileiros
documentos para outras pesquisas valorizando o contexto social e a
liacutengua de sinais Campello (2007)
47 apresentou a pesquisa ldquoMudanccedilas fonoloacutegicas
47 Retirado a fonte com autora CAMPELLO 2007 SINPEL ndash I0 Seminaacuterio Integrado de
Pesquisas em Linguiacutestica na UFSC ldquoMudanccedilas fonoloacutegicas dos registros do seacuteculo XVIII ao seacuteculo XXI na liacutengua de sinais brasileirardquo
82
dos registros do seacuteculo XVIII ao seacuteculo XXI na Liacutengua de Sinais
Brasileira elementos novos sobre a liacutengua de sinais brasileirardquo Foi o
primeiro trabalho desse tipo com a LIBRAS desenvolvido no Brasil A
autora destacou inicialmente as justificativas para sua pesquisa
a) Natildeo haacute registro a respeito do desenvolvimento
histoacuterico da liacutengua de sinais brasileira nos livros
brasileiros b) Os surdos brasileiros tecircm muito interesse
em saber mais sobre a origem desta liacutengua c) A liacutengua
de sinais passou a ser reconhecida como liacutengua de
instruccedilatildeo dos surdos brasileiros por meio da Lei 10436
de 2002 regulamentada pelo decreto 5626 de 2005 d) A
liacutengua de sinais passa a ser objeto de ensino Antes de
iniciar a pesquisa em si considero importante situar as
influecircncias da liacutengua de sinais dos Surdos que moldaram
o primeiro dicionaacuterio de liacutengua de sinais brasileira o
movimento poliacutetico social cultural e educacional Com
o ldquoobjeto de pesquisardquo apresento a justificativa visto que
ateacute o presente momento natildeo se sabe se esta liacutengua jaacute
existia antes da fundaccedilatildeo do INES eou natildeo foi
reconhecida por causa da homogeneidade da liacutengua
nacional que eacute a liacutengua portuguesa Tambeacutem visa a
coleta dos sinais e suas mudanccedilas em niacutevel foneacutetico-
fonoloacutegico da Liacutengua de Sinais Francesa para a Liacutengua
de Sinais Brasileira e apresenta a metodologia de
investigaccedilatildeo problematizando a origem da liacutengua de
sinais brasileira jaacute que foi mesclada com a liacutengua de
sinais francesa Muita pesquisa foi deixada de lado pelo
estigma e desconhecimento da liacutengua em estudo nesse
projeto (CAMPELLO 2007)
Observe a figura do painel que Campello apresentou no
Seminaacuterio e eu fotografei
83
Figura 10 ndash Acervo de Ana Regina e Souza Campello ndash UFSC
Diniz (2010) realizou a pesquisa sobre o estudo descritivo das
mudanccedilas fonoloacutegicas e lexicais da Liacutengua de Sinais Brasileira
identificando e analisando os tipos de sinais que mais levam agrave variaccedilatildeo e
agrave mudanccedila e os possiacuteveis motivos que ao longo do tempo culminam
em tais variaccedilotildees Observou-se que o estudo elaborado na histoacuteria da
liacutengua de sinais teve como objetivo principal identificar as mudanccedilas
ocorridas na forma de comunicaccedilatildeo das comunidades surdas bem como
a influecircncia da liacutengua escrita no caso o portuguecircs neste processo
A autora apresenta sua pesquisa de modo a contribuir com os
registros histoacutericos da comunidade surda geral e da liacutengua de sinais As
suas anaacutelises ampliam os conhecimentos sobre a estrutura linguiacutestica da
LIBRAS e seu processo de mudanccedila assim como permitem contrastar
as variaccedilotildees que ocorrem com as liacutenguas orais e as liacutenguas de sinais
Mais amplamente o estudo objetiva valorizar socialmente a Liacutengua
Brasileira de Sinais difundir suas vertentes propiciando agrave populaccedilatildeo
surda o resgate de suas origens tradiccedilotildees e identidade proacutepria
Ela analisou trecircs documentos histoacutericos mais especificamente
trecircs dicionaacuterios de sinais foram os instrumentos de base na pesquisa da
autora acerca do processo de variaccedilatildeo na LIBRAS satildeo eles
Iconographia dos Signaes dos Surdos-Mudos de 1875 (primeiro
documento a fazer referecircncia agrave LIBRAS trata-se de uma reproduccedilatildeo fiel
do dicionaacuterio de sinais Francecircs que envolve representaccedilatildeo de sinais por
meio de desenhos (ilustraccedilotildees)) Linguagem das Matildeos de 1969
(produzido pelo padre Eugecircnio Oates missionaacuterio americano que
trabalhou com surdos em vaacuterias regiotildees brasileiras) e o terceiro
Dicionaacuterio Digital da LIBRAS do Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de
84
Surdos (INES) de 2006 (em CD-ROM produzido no Rio de Janeiro
por profissionais surdos e ouvintes)
Os resultados da pesquisa de Diniz apresentam na anaacutelise dos
dados indiacutecios de mudanccedila fonoloacutegica e lexical
A figura 11 a seguir mostra a forma como o sinal de FACA eacute
produzido utilizando a configuraccedilatildeo de matildeos que se altera nas trecircs
imagens apresentadas
GLOSA ICON OATES INES
Est 2
FACA
FACA
FACA
FACA
Figura 11 ndash Acervo da Heloise Gripp Diniz ndash UFSC 01
A figura 12 apresenta um exemplo de mudanccedila lexical com
configuraccedilotildees de matildeos mostrando o sinal de PUNIR apresentado no
dicionaacuterio em trecircs momentos (Icon Oates e INES) Segue a figura
GLOSA ICON OATES INES
Est 16
PUNIR
PUNIR
CASTIGAR
CASTIGAR
Figura 12 ndash Acervo da Heloise Gripp Diniz ndash UFSC 02
Diante da anaacutelise comparativa dos referidos dicionaacuterios a autora
classificou os sinais em trecircs categorias os que permanecem idecircnticos
(sem alteraccedilotildees) os que sofreram mudanccedilas fonoloacutegicas em alguns de
seus paracircmetros (que se mostrou a maior das trecircs categorias) e os que
sofreram mudanccedilas lexicais alterando por completo as formas dos sinais
originais Dentre os fatores internos que contribuiacuteram para tais variaccedilotildees destacam-se conforto linguiacutestico na articulaccedilatildeo das matildeos e
do corpo e a acuidade visual no espaccedilo da sinalizaccedilatildeo Haacute tambeacutem a
contribuiccedilatildeo dos fatores socioculturais como influecircncia das liacutenguas em
contato empreacutestimo linguiacutestico bilinguismo preconceito linguiacutestico e
85
influecircncia da liacutengua portuguesa e dos falantes ouvintes
Em outras palavras nota-se que o estudo procura resgatar a
histoacuteria das mudanccedilas dos sinais da LIBRAS e de como surgiram as
mudanccedilas influenciadas pelo advento da Instituto Nacional de Educaccedilatildeo
de Surdos (INES) bem como o viacutenculo existente entre o instituto e os
diferentes dicionaacuterios de liacutenguas de sinais da eacutepoca que mostram a
existecircncia de fortes mudanccedilas linguiacutesticas ao longo do tempo entre as
pessoas de mais idade com as famiacutelias e as novas geraccedilotildees que surgem
dispostas a encontrar sinais de configuraccedilotildees de matildeos que possibilitem
facilitar cada vez mais a interaccedilatildeo das comunidades surdas com a
sociedade em geral
Percebe-se entatildeo vaacuterios dialetos utilizados entre grupos de
amigos e familiares na busca de uma melhor compreensatildeo da
comunicaccedilatildeo atraveacutes da liacutengua de sinais Nota-se que apesar da
evoluccedilatildeo da liacutengua de sinais haacute existecircncia de vaacuterios sinais
desconhecidos entre as associaccedilotildees de surdos Existe uma seacuterie de
variaacuteveis diferentes que funcionam como preacute-requisito influenciando
diretamente os processos de variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica
Segundo Diniz (2010) natildeo eacute aconselhaacutevel fazer traduccedilatildeo do
portuguecircs para LIBRAS pois tal conversatildeo acaba dificultando ainda
mais a compreensatildeo e a comunicaccedilatildeo com a comunidade dos surdos
Assim pode-se notar que natildeo eacute apropriado misturar duas liacutenguas (uma
oral outra visual) ao mesmo tempo pois haacute uma diferenccedila muito grande
entre elas Dessa forma torna-se mais faacutecil a compreensatildeo para o surdo
quando eacute explicado diretamente na liacutengua de sinais
Sempre eacute conveniente ressaltar que a LIBRAS eacute uma liacutengua
humana da mesma forma que as liacutenguas faladas nesse sentido a liacutengua
de sinais possui sua proacutepria estrutura linguiacutestica embora com
modalidades diferentes e passa por processos de mudanccedilas contiacutenuas e
deve ser considerada pela comunidade cientiacutefica como sendo de grande
importacircncia para a sociedade em geral As liacutenguas de sinais satildeo
humanas naturais e com estruturas linguiacutesticas proacuteprias fazendo uso do
canal de comunicaccedilatildeo visual-espacial Portanto satildeo mitos48
as
48 FRISHBERG (1975 p 696 - 697) Alguns mitos satildeo derrubados por no que se refere agrave ASL
O primeiro deles diz respeito agrave falsa crenccedila de que a linguagem gestual eacute universal Pelo
contraacuterio as pessoas surdas da China natildeo conseguem entender a ASL tampouco os surdos americanos conseguem entender a CSL a Liacutengua de Sinais Chinesa Os surdos ingleses
tambeacutem natildeo conseguem entender a Liacutengua de Sinais Francesa (LSF) e vice-versa O segundo
mito esclarecido eacute de que a liacutengua de sinais tem muito pouco ou nada a ver com a liacutengua falada da comunidade em sua volta Neste sentido a autora esclarece que a liacutengua de sinais natildeo
significa uma representaccedilatildeo manual traduzida diretamente do inglecircs O terceiro mito elucidado
86
afirmaccedilotildees de que a liacutengua de sinais eacute universal miacutemica coacutedigos
gestos ou apenas uma representaccedilatildeo manual das liacutenguas orais
Cabe ressaltar que a representaccedilatildeo atraveacutes de imagens figuras
gestos configuraccedilatildeo de matildeos e expressotildees faciais satildeo fundamentais para
a fluecircncia da comunicaccedilatildeo entre os membros da comunidade surda e
tambeacutem com a sociedade tornando a compreensatildeo mais acessiacutevel a
todas as pessoas Por meio de estudos nos dicionaacuterios de LIBRAS
percebe-se a existecircncia de algumas categorias distintas de algumas que
permanecem idecircnticas ateacute os dias de hoje e de outras que vecircm sofrendo
mudanccedilas fonoloacutegicas gradativamente com ideias inovadoras
influenciadas pelos estudos efetuados a partir da histoacuteria da liacutengua de
sinais e sua evoluccedilatildeo no processo de mudanccedila ateacute os dias atuais Tais
descobertas satildeo importantiacutessimas para a academia e para os aspectos
socioculturais como forma de resgatar a histoacuteria bem como os valores
das comunidades surdas esquecidas no passado recuperando sua proacutepria
identidade frente agravequeles que utilizam a liacutengua oral
Em geral eacute muito difiacutecil de recuperar nos registros dos
dicionaacuterios os detalhes das articulaccedilotildees movimentos entre outros Isso
ocorre porque na maioria das vezes eles apresentam uma uacutenica palavra
em portuguecircs associada a cada sinal de forma intuitiva quase sempre
indicando um sinal preciso e natildeo uma possiacutevel traduccedilatildeo De qualquer
maneira a partir das evidecircncias que estatildeo nos dicionaacuterios pode-se
analisar como era a liacutengua de sinais antigamente e como ela se
modificou ateacute os dias de hoje bem como qual a sua importacircncia para a
valorizaccedilatildeo social da comunidade surda
Diniz (2010) percebeu que ao passar dos anos existe uma
evoluccedilatildeo no desenvolvimento dos dicionaacuterios trazendo uma forma mais
faacutecil e aacutegil de comunicaccedilatildeo entre os escritores e leitores Hoje a
preocupaccedilatildeo natildeo eacute apenas em fazer dicionaacuterios mas tambeacutem em
analisar as metodologias de produccedilatildeo lexicograacutefica isto eacute como e para
que os dicionaacuterios tecircm sido feitos
Diniz (2010) tambeacutem observou uma pequena mudanccedila no
alfabeto manual que aparece nos trecircs dicionaacuterios Houve uma mudanccedila
fonoloacutegica na estampa ldquoIrdquo referente ao alfabeto de 26 letras no
dicionaacuterio Iconographia Em Oates o alfabeto permanece semelhante
ateacute os dias de hoje mudando apenas a configuraccedilatildeo de matildeos da letra H
No dicionaacuterio INES o alfabeto eacute idecircntico aos dias de hoje
pela pesquisadora refuta a ideia de que as liacutenguas de sinais satildeo apenas gestos teatrais ou
miacutemicos
87
Segundo Diniz (2010) identificam-se tendecircncias de mudanccedilas na
LIBRAS nos trecircs dicionaacuterios a saber simetria de duas matildeos
deslocamento locativo conteuacutedo lexical para as matildeos assimilaccedilatildeo
deletaccedilatildeo de uma matildeo de sinais de duas matildeos e deletaccedilatildeo de uma parte
do sinal composto Dos resultados das anaacutelises pode-se verificar que
alguns sinais da LIBRAS permaneceram idecircnticos ateacute os dias de hoje
enquanto outros sofreram mudanccedilas nas partes fonoloacutegicas e lexicais A
autora concluiu que diversos fatores influenciaram tais mudanccedilas como
por exemplo a influecircncia dos falantes ouvintes sobre a LIBRAS a
influecircncia da Liacutengua portuguesa na estrutura da LIBRAS o
desconhecimento sobre as liacutenguas de sinais a organizaccedilatildeo lexicograacutefica
nos dicionaacuterios de sinais a discriminaccedilatildeo ouvinte sobre a LIBRAS o
contato contiacutenuo dos surdos com ouvinte e a inseguranccedila na
consciecircncia linguiacutestica dos surdos em relaccedilatildeo agrave LIBRAS Outra
conclusatildeo foi a descoberta de sinais da Iconographia idecircnticos na ASL e
na LSF hoje em dia mais do que nos dicionaacuterios Oates e dos INES
34 ndash Francisco Lima Juacutenior ndash O Primeiro Professor Surdo em
Santa Catarina na liacutengua de sinais
Segundo Schmitt (2008) Francisco Lima Juacutenior tem lembranccedilas
do avocirc Germano tias Erna Irude e Isabel o pai Francisco matildee Augusta
e o irmatildeo Reinoldo Francisco Lima Juacutenior chamado pelo apelido
(chiquito) eacute o uacutenico surdo desta famiacutelia Ele nasceu no dia 01 de junho
de 1928 em casa na Rua Duarte Schutel no 16 em Florianoacutepolis A tia
Erna disse que o Francisco foi ateacute os 36 meses de idade uma crianccedila
normal e perfeita mas nesta idade foi um susto para os familiares do
Francisco ele ter ficado surdo
Atraveacutes de contatos com o senhor Francisco Lima Juacutenior
estive presente na casa dele investigando sobre a
primeira turma de surdo Catarinense No dia 04082006
foi entrevistado o senhor Francisco Lima Juacutenior Ele
nasceu no dia 01061928 em Florianoacutepolis no Estado de
Santa Catarina e ateacute a idade de 03 anos ouvia
normalmente A famiacutelia do Francisco sempre conversava
com ele sobre cinema ou noticias que ouviam o raacutedio O
Francisco estava sentado no chatildeo brincando com o
carrinho na sala de estar assistindo o cinema com a
famiacutelia dele A famiacutelia chamou atenccedilatildeo do seu filho
Francisco mas ele natildeo ouvia a voz dos seus pais falando
Franciscooooo e tambeacutem batendo palmas O Francisco
natildeo ouvia nada e quando o pai tocou no ombro do
88
Francisco ele entendeu O que pai (SCHMITT 2008 p
86)
Seus pais natildeo se aperceberam ao longo deste tempo que Francisco
estava ficando surdo porque ele ainda natildeo havia aprendido a falar
compreender palavras e a se comunicar por gestos O pai de Francisco
levou-o para o meacutedico que falou que o menino teve um problema no
nervo auditivo e ficou surdo (Consultas ao meacutedico com frequecircncia
dificuldade de se comunicar com a famiacutelia sentia-se muito pressionado
foram tempos difiacuteceis ele conta) O pai queria ensinar a liccedilatildeo para
Francisco que aprendia vocabulaacuterio e a gramaacutetica juntamente com os
nuacutemeros cardinais desenho e a palavra correspondente e tambeacutem a
linguagem gestual da comunicaccedilatildeo dele O pai levou-o para o
tratamento meacutedico com o Dr Djalma Moellmann que informou aos
pais que pela idade do Francisco ele poderia estudar no Instituto
Nacional de Surdos-Mudos do Rio de Janeiro Segue o depoimento
Os pais resolveram levar seu filho para tratamento
meacutedico e fonoaudioloacutegico no centro de Florianoacutepolis
para saber o que aconteceu com a audiccedilatildeo do Francisco
que natildeo ouvia nada O meacutedico fonoaudioloacutegico dizia que
ele era deficiente auditivo e tambeacutem chamou-o de Surdo-
Mudo naquela eacutepoca ˝Ai Como fazer agora Os pais
perguntaram O que O meu filho natildeo podia estudar na
escola dos ouvintes e na eacutepoca aqui natildeo existia escola
para surdos˝ O meacutedico fonoaudioloacutegico informou sobre
a escola no INSM - Instituto Nacional de Surdos-Mudos
no Rio de JaneiroRJ Eles verificaram que laacute existia
escola para surdos-mudos mas resolveram permanecer
morando naquela cidade Entatildeo o pai resolveu levar o
seu filho Francisco para o Rio de JaneiroRJ Quando o
Francisco era crianccedila tinha ocircnibus carro caminhatildeo
bicicleta e aviatildeo Foi viagem de navio O tio do
Francisco trabalhava como marinheiro e levou o
Francisco para o Rio acompanhando do pai e do tio dele
(SCHMITT 2008 p 86)
Francisco realizou exames meacutedicos onde foi avaliada sua sauacutede
se podia estudar no Instituto Nacional de Surdos-Mudos que era um
grande desafio Nesse lugar havia modernas oficinas e ginaacutesio tinha 109
surdos internos Era comum observar um grupo de surdos que se
comunicava na liacutengua de sinais no corredor do Instituto Laacute tambeacutem os
alunos surdos podiam entrar em contato com os primeiros surdos que
89
vieram de diferentes estados e regiotildees do Brasil Em 1937 o pai
acompanhou Francisco em uma viagem de navio para o Rio de Janeiro e
matriculou-o no Instituto Nacional de Surdos-Mudos Laacute conheceu o Dr
Armando ex-diretor de INSM na deacutecada de 1940
Em 1937 Francisco foi levado pelos primos Paulo e Hugo e pelo
seu tio para conhecer o INSM Eles levavam Francisco ao Instituto nos
saacutebados e voltavam nas segundas-feiras de 1937 a 1939 Hugo
trabalhava no navio ldquoDuque de Caxiasrdquo que saiacutea do Rio de Janeiro O
outro navio onde estava o tio voltava da Bahia quando avistou um
submarino de guerra (alematildeo) que era dotado de canhotildees Os dois
navios chocaram-se agrave noite neles tinha bombas nucleares Hugo o tio
passageiros e marinheiros morreram no mar e um outro navio onde seu
tio Paulo trabalhava desapareceu na Europa em 1945
Na segunda guerra Hitler se armou poderosamente para dominar
a Europa mas com sua derrota em 1939 a 1945 a Alemanha perdeu
cerca de um quarto do seu territoacuterio que por alguns anos foi ocupado
pelas forcas aliadas russas americanas inglesas e francesas Das cinzas
surgem os novos navios Um navio a vapor com o nome de Carlos
Hoepcke e Anna navio este de carga e passageiros que transportou
Francisco ateacute o Rio de Janeiro O capitatildeo deste navio era seu tio Ceacutelio
Viana Os passageiros eram atenciosos para com Francisco e o
ajudavam quando ele precisava
Era oferecido abrigo aos navios aportados no porto de SantosSP
Rio de Janeiro Satildeo Francisco do Sul e Itajaiacute Iam de navio e na volta
vinham de aviatildeo com destino a Florianoacutepolis e Rio de Janeiro O pai
Francisco Candido de Souza Lima era gerente contador homem de
bom coraccedilatildeo que fazia a contabilidade de Carlos Hoepcke era uma
amizade de marinha mercante
Em suas viagens o professor Francisco Lima Juacutenior viu o Sr
Ademar Barros que era intendente de comeacutercio do vapor Carlos
Hoepcke Viajaram num submarino guiados por buacutessola para ajudar os
navegantes em 1937 a 1946 Ao fim do ano letivo no Instituto o pai e
Francisco voltavam para Florianoacutepolis em 1947 O Professor Francisco
trabalhou auxiliando a contabilidade e os lanccedilamentos na filial de Carlos
Hoepcke SA Ele aproveitou o aprendizado nas oficinas do Instituto
Nacional de Surdos-Mudos onde aprendeu uma seacuterie de profissotildees
como a de marcenaria encadernaccedilatildeo e sapataria aleacutem de participar de
um curso de Desenho Segue a explicaccedilatildeo do autor
Os alunos de vaacuterios estados no Brasil tambeacutem estudavam
no INSM junto com o Francisco e fizeram amizade
90
jogando o futebol na quadra Depois o Francisco foi para
os alojamentos no Instituto e dormiu cada um num
beliche todos os alunos surdos eram brasileiros Os
alunos surdos acordavam agraves 05h30min nas madrugadas
para arrumar e ficavam esperando na fila de outros
alunos faziam relaxamento e educaccedilatildeo fiacutesica para depois
tomar o banho Depois estudavam de manhatilde e agrave tarde agraves
vezes agrave noite e voltavam para o alojamento no Instituto
O professor no Instituto dava aula de oralizaccedilatildeo para os
alunos surdos na sala de aula explicando o conteuacutedo de
mateacuteria no quadro negro e tambeacutem com vareta Depois o
professor anotava no quadro a escrita de portuguecircs
avisava para o aluno surdo que natildeo podia copiar no
quadro e prestar atenccedilatildeo agrave escrita no quadro O professor
apagava no quadro para o aluno surdo memorizar a
escrita da fala O que aconteceu Os alunos ficaram com
dificuldade de entender a escrita no quadro (SCHMITT
2008 p 92 e 93)
Os professores mostravam vaacuterias figuras de objetos com os
respectivos nomes e individualmente faziam o trabalho de repeticcedilatildeo
com o aluno Francisco que escrevia e falava Mas existia a liacutengua de
sinais no lado de fora No paacutetio a comunicaccedilatildeo dele e o grupo de surdo
no Instituto apresentava a liacutengua de sinais Dr Armando Lacerda diretor
do Instituto Nacional de Surdos-Mudos ndash INSM acampanhou a
comemoraccedilatildeo de sua fundaccedilatildeo e seguiram-se demonstraccedilotildees de
ginaacutestica representaccedilatildeo de uma peccedila teatral nuacutemeros de bailado pelo
corpo etc
Os surdos da marcenaria da encadernaccedilatildeo e da sapataria eram
jogadores e participaram da competiccedilatildeo de futebol de campo no
instituto Venceram os surdos da encadernaccedilatildeo que receberam
medalhas e trofeacuteu O grupo de alunos que ganhou a competiccedilatildeo foi
viajar e passear na praia da Ilha de PaquetaacuteRJ Dois alunos deste grupo
mais tarde tornaram-se professores do Instituto Um deles era o
professor Heacutelio ensinava ginaacutestica futebol e voleibol na quadra de
esportivo e o outro era professor Francisco
Na eacutepoca foi feita uma reportagem com depoimentos do Dr
Armando Lacerda dos professores Joatildeo Brasil Silvado Juacutenior Saul Borges Carneiro e Geraldo Cavalcantil todos eles ouvintes Essa
reportagem foi riquiacutessima detalhada cheia de fotografias eacute uma
importante fonte de pesquisa Francisco desenvolveu sua aprendizagem
na liacutengua de sinais aproveitando essas atividades comemorativas que
aconteciam no instituto aleacutem do curriacuteculo da escola
91
Os professores acima citados todos oralistas impressionam pela
cultura e a quantidade de informaccedilotildees com que discorrem sobre a
educaccedilatildeo do surdo e a histoacuteria na liacutengua de sinais Sendo recebido pelo
ministro da educaccedilatildeo e sauacutede naquela eacutepoca foi oferecido um meacuterito ao
ex-aluno Francisco Lima Juacutenior conforme mostra a citaccedilatildeo
O Francisco Lima Juacutenior recebeu o meacuterito do segundo
melhor no Instituto Nacional de Surdos-Mudos (INSM)
no Rio de JaneiroRJ por a maior nota de avaliaccedilatildeo na
prova e tambeacutem em todas as disciplinas Vejam os
nomes ndash primeiro lugar (Odil Soares em Satildeo Paulo)
segundo lugar (Francisco Lima Juacutenior em Santa
Catarina) e terceiro lugar (Miriam S Rio de Janeiro)
Parabenizamos o senhor Francisco Lima Juacutenior do nosso
Estado de Santa Catarina eacute vitorioso e orgulhoso
(SCHMITT 2008 p 96)
Ele foi aluno interno do Instituto Nacional de Surdos-Mudos do
Rio de Janeiro e do Instituto Paulista de Surdos em Satildeo Paulo em 1940 e
natildeo gostava de Satildeo Paulo A professora Helena (INES) era de origem
Italiana ensinava a fazer ditado em portuguecircs (oralismo) mas a liacutengua
de sinais natildeo existia na comunicaccedilatildeo e o grupo surdo teve pouco contato
com a liacutengua materna (liacutengua de sinais)
Para a inauguraccedilatildeo do Instituto Nacional de Surdos-Mudos foram
convidadas vaacuterias autoridades entre elas o ministro da educaccedilatildeo
diretores de escolas e outros Esta aconteceu no teatro do Instituto e
ofereceram trecircs certificados para o curso de desenho para a oficina de
encadernaccedilatildeo e linguagem que foram ganhos pelo Francisco Lima
Juacutenior em 1946 No ano seguinte ele voltou para Florianoacutepolis
Em 1946 com 18 anos de idade voltou para
FlorianoacutepolisSC quando passou a procurar por pessoas
surdas nas vaacuterias cidades do estado de Santa Catarina e
demorou um tempo para ter contato com os surdos
catarinenses Ele comeccedilou a dar aulas numa garagem
situada agrave Rua Francisco Tolentino passando ser ali a
primeira escola para surdos de Florianoacutepolis O
Francisco ensinava desenho linguagem escrita
vocabulaacuterio baacutesico gramaacutetica geograacutefia histoacuteria do
Brasil e conhecimentos gerais Ele trouxe para o nosso
estado o modelo de associaccedilatildeo e fez um projeto de escola
para surdos com a esposa de ouvinte que ajudou o
Francisco Apoacutes a conclusatildeo dos cursos em 1947
retorna definitivamente para casa dos pais em
92
Florianoacutepolis agrave Rua Duarte Schutel nordm 16 (SCHMITT
2008 p 104)
Em 1947 morava com o pai em sua casa em Florianoacutepolis Ele
foi habilitado em contabilidade pelo Instituto e fez o curso de
Contabilidade do Instituto Radio Teacutecnico RT Monitor SA ndash nuacutecleo de
ensino profissional livre por correspondecircncia (1 liccedilatildeo ateacute 28 liccedilatildeo) Satildeo
Paulo ndash SP Apoacutes Francisco conhecer os surdos em vaacuterias cidades de
Santa Catarina ele ficou com vontade de auxiliar o surdo que ficava
isolado em casa e na famiacutelia sem o uso da comunicaccedilatildeo gestual Veja a
seguir a imagem apresentada do Francisco Lima Juacutenior em 1947
93
Figura 13 ndash Acervo do Francisco eacute o primeiro dicionaacuterio na liacutengua de
sinais em Santa Catarina em 1947
O primeiro dicionaacuterio em Santa Catarina tinha imagens do
proacuteprio Francisco que demonstrava a preocupaccedilatildeo culturallinguiacutestica
para com os surdos e a difusatildeo da liacutengua de sinais procurava uma forma
de o grupo de surdo ter contato com a liacutengua de sinais e ensinava em sua casa (na garagem) onde tambeacutem ficava a associaccedilatildeo
As aulas continuavam com o professor Francisco que ia
ensinando cada vez mais sinais e com qualidade pois dali faziam as
provas finais O professor ensinava conteuacutedos de matemaacutetica geografia
94
conhecimento geral ciecircncias e portuguecircs No uacuteltimo mecircs de aula apoacutes o
encerramento das aulas o professor entregava os boletins com as meacutedias
de todos os surdos que ficaram alegres pois nenhum deles tinha sido
reprovado
Francisco viajou para Satildeo Paulo em 1954 iniciou sua amizade
com o primeiro presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos de Satildeo
Paulo senhor Maacuterio Devisate que natildeo tinha o conhecimento da
existecircncia de uma associaccedilatildeo de surdos em Florianoacutepolis O senhor
Maacuterio Devisate deu um documento de uma Associaccedilatildeo de Surdos-
Mudos com acircmbito nacional e Francisco veio como delegado para a
regiatildeo do sul passando a residir nessa capital
Foi o primeiro encontro com o presidente da Sociedade dos
Surdos-Mudos do Distrito Federal49
que mudou a Associaccedilatildeo de Surdos-
Mudos do Rio de Janeiro o senhor Miguel da Fonseca Seabra de Melo
grande colega jaacute falecido Francisco em meio agrave conversa na liacutengua de
sinais conheceu o presidente da ASURJ que comentou ldquoaquele tambeacutem
eacute surdordquo O colega dele sorriu ao sair cumprimentou o senhor Miguel
da Fonseca Seabra de Melo que agradecendo estendeu-lhe a matildeo Isso
aconteceu no Instituto Nacional de Surdos-Mudos
Francisco nunca mais se esqueceu dessa cena bem da verdade
ele conversava com o senhor Salomatildeo Watnick (jaacute falecido em Porto
Alegre) que foi o primeiro presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos
do Rio Grande do Sul e foi uma grande amizade Como pode estudar
desde cedo em escola especial para Surdos Mudos em Satildeo Paulo e Rio
de Janeiro conhecia muitos surdos tinha amizade e intimidade
oportunizando contato com surdos que tinham lideranccedila e outros grupos
de surdos tendo como consequecircncia aprendido expressotildees palavras
novas da liacutengua de sinais inclusive as variaccedilotildees linguiacutesticas de outras
regiotildees
Francisco foi tratado como amigo pelos senhores Vivaldo Leal de
Merelles e Ciro Garcia de Souza jaacute falecidos que escreveram o
primeiro estatuto da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos do Paranaacute Eles
perguntaram como ganhavam a vida os surdos-mudos que natildeo tiveram a
felicidade de cursar escolas especiais Entatildeo nesta pergunta
encontraram o motivo da existecircncia da associaccedilatildeo e da escola
Francisco fundou o Ciacuterculo dos Surdos-Mudos de Santa Catarina
ndash CSMSC no ano de 1955 Naquele aniversaacuterio de sua entidade os
surdos-mudos de Florianoacutepolis receberam a visita de delegaccedilotildees de
49 O Distrito Federal nessa eacutepoca era o Rio de Janeiro
95
outros Estados No primeiro jogo o CSMSC jaacute ganhou um trofeacuteu no
futebol de campo Outro ganho foi com a Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos
do Paranaacute onde havia muitas variaccedilotildees na liacutengua de sinais e o contato
proporcionou o aprendizado de novos sinais para todos
Em 1961 o Governador Celso Ramos atendia o presidente O
Ciacuterculo dos Surdos-Mudos de Santa Catarina o professor Francisco
Lima Juacutenior acompanhado de outros membros daquela associaccedilatildeo
pleiteava a construccedilatildeo de uma escola para surdos-mudos em nosso
Estado porque ainda natildeo existia nenhuma O ensino de Francisco
desenvolvia o domiacutenio da liacutengua de sinais dos surdos em Santa Catarina
Em Santa Catarina o processo de educaccedilatildeo de surdos se
deu na deacutecada de 50 com serviccedilos implementados na
rede regular de ensino Aconteceu que os surdos
estudaram na escola regular juntamente com alunos
ouvintes e eles natildeo se compreenderam na sala de aula
porque o professor falava a liacutengua portuguesa e oralismo
A liacutengua de sinais era proibida por influecircncia do
congresso de Milatildeo na Itaacutelia em 1880 Os alunos surdos
ficaram isolados dos alunos ouvintes por causa das
barreiras de comunicaccedilatildeo Os ouvintes natildeo conheciam a
cultura e a identidade surda Por exemplo na sala de aula
muitos alunos ouvintes se comunicam em portuguecircs e os
surdos ficam isolados e excluiacutedos na escola dos ouvintes
Porque o surdo procura a intervenccedilatildeo da cultura que se
vive na liacutengua de sinais encontra outros surdos na
comunicaccedilatildeo nos contados entre outros surdos e
consegue juntamente na forccedila poliacutetica dos movimentos
surdos Na verdade o Francisco teve forccedila de vontade
para estudar no INES Ele eacute uma pessoa boa com a
responsabilidade de fundar associaccedilatildeo de surdo A
trajetoacuteria de vida desde a infacircncia marca e registra que
Francisco tem procuraccedilatildeo com o povo surdo do interior
com os contatos na liacutengua de sinais e mais valorizaccedilatildeo da
cultura surda (SCHMITT 2008 p 105)
Foi apresentado para Francisco Lima Juacutenior pelo Governador
Celso Ramos o termo aprovado para contrataccedilatildeo de profissionais para
funcionamento da sala para surdos-mudos em Florianoacutepolis que
funcionou na Escola Celso Ramos localizada na Rua Francisco
Tolentino n0 12 Centro de Florianoacutepolis Esse empreendimento veio
dotar a capital de mais uma escola desta vez destinada aos surdos-
mudos que tambeacutem necessitavam ser atendidos quando se promovia o
crescimento no nuacutemero de escola em nossa terra
96
Em Florianoacutepolis existiam duas escolas para crianccedilas surdas
uma funcionando no grupo Escolar Celso Ramos e outra no grupo
Escolar Barreiros Filho todos a cargos de professores especializados
Nessa eacutepoca os surdos de Florianoacutepolis receberam a visita de um
sacerdote surdo o Padre Vicente de Paulo Penido Burnier natural de
Juiz de Fora Estado de Minas Gerais e tambeacutem do Padre Eugecircnio Oates
nascido em Missouir Estados Unidos Atraiacutedo pela personalidade e pelo
trabalho do padre Vicente o padre Eugecircnio Oates veio para o Brasil em
1946 como missionaacuterio dirigindo-se agrave igreja dos padres redentoristas
sediada em Manaus
Integrou-se na vida brasileira o padre Eugecircnio Oates realizando
campanhas em todo o paiacutes em favor da difusatildeo da linguagem das matildeos
no Rio de Janeiro onde lanccedilou o primeiro livro em 1969
Figura 14 ndash Acervo do Francisco fotografia de Jornal que traz
reportagem sobre o livro Linguagem das Matildeos
Em Florianoacutepolis encaminhavam os surdos-mudos para a
instituiccedilatildeo especializada podia-se procurar o Ciacuterculo dos Surdos-Mudos
de Santa Catarina no grupo escolar Barreiros Filho e no Instituto de
Audiccedilatildeo e Terapia de Linguagem ndash IATEL Fundado no dia 05 de julho
de 1969 o IATEL jaacute funcionava no hospital infantil em instalaccedilotildees
precaacuterias Para que crianccedilas surdas pudessem ter uma vida normal o
professor Francisco Lima Juacutenior trabalhava haacute muitos anos
O Ciacuterculo dos Surdos-Mudos de Santa Catarina comeccedilou a se
movimentar pois na reuniatildeo teve contato com a liacutengua de sinais que
comeccedilou com o discurso depois um jogo divertido que o CSMSC
97
promovia no encontro desta reuniatildeo Tambeacutem ofereceu a renovaccedilatildeo de
matriacuteculas para menores e adultos surdos Reabriu a escola para surdos
menores no periacuteodo da manhatilde e agrave noite para adultos analfabetos Teve
tambeacutem outra reuniatildeo que iniciou com um discurso e apoacutes isso
aconteceu o jogo com os associados
As aulas continuavam normalmente e as reuniotildees tambeacutem
Francisco Lima Juacutenior que era o presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos
do Estado de Santa Catarina era quem organizava o encontro com as
associaccedilotildees de surdos de vaacuterias cidades do estado Havia aleacutem dos
discursos escolha da rainha dos surdos e competiccedilotildees de jogos (futebol
vocirclei) aleacutem de viagens Numa dessas viagens os surdos de Santa
Catarina foram para Satildeo Paulo no festival esportivo numa viagem de
dois dias onde ocorria a silenciosa festividade
O presidente do CSMSC nesta festa fez um discurso para os
amigos surdos de Satildeo Paulo e o vice-presidente do CSMSC deixou seu
cargo porque natildeo quis mais participar destas associaccedilotildees Entatildeo as
aulas continuaram Foi um mecircs em que muitos soacutecios ou alguns estavam
com muito trabalho vinham alguns soacutecios da associaccedilatildeo dos surdos-
mudos para saber das informaccedilotildees da semana no CSMSC Por isso
continuaram alguns surdos realizando o encontro para bate-papo na
liacutengua de sinais todas as quartas-feiras Realizou-se a primeira
comunhatildeo pascoal na capela do Coleacutegio Catarinense rezada pelo padre
Vicente que era surdo no mesmo dia apoacutes a missa de aniversaacuterio do
presidente Francisco
Os alunos surdos entraram em feacuterias mas continuaram os
encontros e reuniotildees onde discursavam e planejavam as atividades
esportivas para o CSMSC apoacutes os jogos que eles faziam todos os
meses Havia reuniotildees com bate-papos na liacutengua de sinais no CSMSC
Numa destas reuniotildees aconteceu um evento importante para os surdos-
mudos que eram associados do CSMSC pois comemoraram a data de
sua inauguraccedilatildeo
Francisco continuava a dar aulas e palestras principalmente sobre
a Independecircncia do Brasil sobre D Pedro I e outros assuntos Na
comemoraccedilatildeo da Independecircncia do Brasil os associados da CSMSC
viajaram para Curitiba e encontraram os amigos surdos de laacute E todos
fizeram um discurso que iniciou com o presidente da CSMSC apoacutes os
representantes de cada sociedade e depois do discurso foi eleita a rainha
da Associaccedilatildeo dos Surdos de Curitiba senhorita Anair Budel Em
seguida o presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos de Curitiba convidou o
professor Francisco Lima Juacutenior presidente do CSMSC para danccedilar a
valsa com a rainha das prendas Anair Budel
98
Francisco contou que o baile foi muito divertido e durou ateacute a
madrugada com o grupo de surdos que conversava muito no encontro
de associaccedilotildees regionais Apoacutes o encerramento do evento visitaram
uma escola de crianccedilas surdas em Curitiba Em 1972 o professor deu
para cada aluno uma cartolina e assim cada um ia imaginar e pintar seu
conhecimento do trabalho para a difusatildeo da liacutengua de sinais Depois na
comemoraccedilatildeo do dia do professor os alunos fizeram uma pequena
homenagem ao professor Francisco
O professor falou sobre o dia do Iacutendio descobrimento do Brasil a
morte de Tiradentes entre outros Na paacutescoa os alunos receberam
presentes de chocolate na semana da paixatildeo foi apresentado o teatro ldquoa
morte de Jesus Cristordquo na liacutengua de sinais por um grupo de surdos para
difundir sua liacutengua
O ensino da liacutengua de sinais em Santa Catarina com os
ensinamentos do professor Francisco proporcionou uma nova fase da
liacutengua de sinais trazendo influecircncias de outras comunidades surdas do
Brasil A partir desse contato o modelo linguiacutestico trazido do Rio de
Janeiro eacute aperfeiccediloado a cada geraccedilatildeo
O Imperial Instituto dos Surdos-Mudos foi de extrema
importacircncia na propagaccedilatildeo da liacutengua de sinais em grande
parte das regiotildees brasileiras O Sr Francisco cidadatildeo
Catarinense foi um aluno desta instituiccedilatildeo apoacutes retornar
ao seu estado de origem ele foi educador de surdos e
responsaacuteveis pela difusatildeo da liacutengua sinalizada usada
nesse instituto (CORREA e SEGALA 2009 p 32)
Durante todo esse tempo o professor Francisco Lima Juacutenior
orienta auxilia e direciona todas as atividades escolares das crianccedilas
jovens e adultos surdos tornando-se assim o primeiro professor dessa
metodologia de ensino - A Linguagem das Matildeos com o objetivo de
criar um alfabeto uacutenico para todos os Surdos do Estado de Santa
Catarina Suas aulas e palestras em LIBRAS tornaram-se muito
populares entre os surdos catarinenses
Eacute importante registrar na histoacuteria da liacutengua de sinais em Santa
Catarina um estudo linguiacutestico e possibilitar a pesquisa sobre o primeiro
professor surdo Francisco que criou o primeiro dicionaacuterio aqui em
Santa Catarina Ele trouxe o modelo do INESRJ (uma experiecircncia na liacutengua de sinais) para nosso estado de Santa Catarina e influenciou a
comunidade surda catarinense
Uma das pessoas surdas da nova geraccedilatildeo eacute a Sandra Luacutecia
Amorim que escreveu um pequeno dicionaacuterio chamado ldquoComunicando
99
a Liberdade - A Liacutengua das Matildeosrdquo em 2000
Concluiacutemos que a Liacutengua Brasileira de Sinais teve forte
influecircncia da liacutengua de sinais francesa (LSF) que tambeacutem influenciou a
liacutengua de sinais em Santa Catarina atraveacutes do professor Francisco que
estudou no INES A LSF eacute uma liacutengua mais antiga do que a LIBRAS
com um acervo bibliograacutefico maior A LIBRAS tem caracteriacutesticas
proacuteprias e estaacute em expansatildeo a partir de sua oficializaccedilatildeo em 2002 pela
necessidade de incluir novos sinais ao aprendizado da comunidade surda
que passou a ter uma maior abertura nas universidades
100
101
CAPIacuteTULO IV ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila na liacutengua de sinais
41 ndash Introduccedilatildeo
Nesta pesquisa tomamos como base teoacuterica os estudos
sociolinguiacutesticos de Labov (2008 [1972]) na concepccedilatildeo de que seu texto
pode nos ajudar a embasar o trabalho de pesquisa Assim tomamos
como base os estudos das liacutenguas orais do autor adaptando-os agraves
variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas das liacutenguas de sinais
O estudo desenvolvido aqui mostra os sujeitos surdos a liacutengua de
sinais algumas possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas Traz
explicaccedilotildees da liacutengua de sinais pelo surdo indiacutecios de variaccedilatildeo e
mudanccedila linguiacutestica apresenta variaccedilotildees linguiacutesticas na liacutengua de sinais
utilizadas pelos surdos e por fim como o surdo se comunica a liacutengua
de sinais em seu contexto social
42 ndash A liacutengua de sinais pelo surdo indiacutecios de variaccedilatildeo e mudanccedila
linguiacutestica
A LIBRAS
50 eacute uma liacutengua usada entre os surdos assim como
entre os ouvintes desde que queiram interagir com esta forma de
comunicaccedilatildeo Ao verificar o acesso dos surdos agrave comunicaccedilatildeo e agrave
expressatildeo de forma criativa pode-se encontrar respostas sobre
mudanccedilas na gramaacutetica em palavras em frases e em seu contexto
social
As liacutenguas mudam todos os dias evoluem mas a essa
mudanccedila diacrocircnica se acrescenta uma outra sincrocircnica
pode-se perceber numa liacutengua continuamente a
coexistecircncia de formas diferentes de um mesmo
significado Essas variaacuteveis podem ser geograacuteficas a
mesma liacutengua pode ser pronunciado diferentemente ou
ter um leacutexico diferente em diferentes pontos do territoacuterio
(CALVET 2002 p 89)
Queremos apresentar algumas variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas a
que os surdos estiveram expostos no primeiro espaccedilo de ensino
promovido pelo professor Francisco Lima Juacutenior (Chiquito) Ele
influenciou para a expansatildeo da liacutengua de sinais da comunidade surda na
50 ldquoEacute uma liacutengua natural eacute atraveacutes dela que os surdos tecircm acesso ao mundo em que vivem No
entanto ela natildeo eacute uma liacutengua que o surdo aprende sozinho Ele pode desenvolver uma liacutengua
102
histoacuteria de Santa Catarina Entatildeo queremos perceber se haacute diferenccedilas
durante sua trajetoacuteria entre a variaccedilatildeo linguiacutestica daquela eacutepoca (1950)
ateacute a atualidade se aconteceram mudanccedilas por influecircncia da
transformaccedilatildeo tecnoloacutegica da sociedade Acreditamos que com o passar
do tempo ocorrem mudanccedilas na liacutengua de sinais histoacuterica e
culturalmente na comunidade surda
As liacutenguas de sinais como todas as liacutenguas satildeo dinacircmicas Em
contato com grupos surdos na comunidade modificam-se ao longo do
tempo como qualquer outra liacutengua A mudanccedila pode ser percebida em
diferentes regiotildees onde o surdo busca a informaccedilatildeo utilizando a liacutengua
de sinais que vem de outro lugar com algumas diferenccedilas entre palavras
e seu significado entre sinais
Quando as pessoas surdas evoluem culturalmente a liacutengua de
sinais se transforma Com o passar do tempo a ldquoLIBRASrdquo tambeacutem se
modifica Na interaccedilatildeo do indiviacuteduo surdo na comunidade surda e na
sociedade essas relaccedilotildees de contato fazem com que se criem novos
sinais pois aparecem palavras novas e outros sinais sofrem adaptaccedilotildees
ocorrem mudanccedilas na configuraccedilatildeo de matildeos no ponto de articulaccedilatildeo
no movimento na orientaccedilatildeodirecional na expressatildeo facial e corporal
Essas adaptaccedilotildees satildeo criadas pela necessidade no contato e na situaccedilatildeo
de uso A comunidade surda como qualquer outra vem evoluindo e se
transformando firmando uma identidade surda
Como jaacute ressaltamos a origem da liacutengua de sinais no Brasil eacute
europeacuteia Sua maior influecircncia foi no Rio de Janeiro no Instituto
Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos ndash INESRJ onde se expandiu para os
demais estados brasileiros Recebeu influecircncia tambeacutem do Francecircs do
Portuguecircs (Portugal) e dos Estados Unidos O Instituto pesquisou a
influecircncia cultural dos surdos e as influecircncias sofridas quanto a
LIBRAS Assim como na Liacutengua Portuguesa acontecem modificaccedilotildees
na escrita e na fala com o tempo na liacutengua de sinais tambeacutem ocorrem
transformaccedilotildees quanto agrave configuraccedilatildeo de matildeos A liacutengua de sinais
evolui com mudanccedila constante em cada regiatildeo e a comunicaccedilatildeo do
surdo acompanha e qualifica mais a liacutengua de sinais A LIBRAS sofre
modificaccedilotildees com o tempo e tambeacutem como na liacutengua falada apresenta
palavras ou expressotildees proacuteprias do lugar onde acontece a comunicaccedilatildeo
Sendo assim o surdo natildeo tem o contato com a LIBRAS longe da
sociedade ou na zona rural nesse caso pode se apropriar de sinais
proacuteprios para a comunicaccedilatildeo ex Francisco buscava os surdos nas
regiotildees de Santa Catarina pois o contato com a LIBRAS eacute importante
para a sua identidade cultural
103
Realmente pode-se considerar que essas diferentes
palavras se dividem em seu uso em uma escala de faixas
etaacuterias os jovens diriam banheiro seus pais wc e seus
avoacutes reservados por exemplo Pode-se entatildeo imaginar
que eles se dividam segundo o sexo dos falantes os
homens dizendo mais banheiro e wc e as mulheres
toalete e reservado (CALVET 2002 p 103)
A LIBRAS eacute uma liacutengua porque possui estrutura gramatical
proacutepria eacute essencial para o surdo o contato em relaccedilatildeo ao outro como
em qualquer outra liacutengua que tem diferenccedilas gramaticais Utilizando o
movimento de sinal e a expressatildeo facial como meio de comunicaccedilatildeo o
surdo se comunica tanto com a comunidade surda quanto com a ouvinte
O contato dos jovens com os ensinamentos do professor
Francisco proporcionou uma nova fase da liacutengua de sinais A partir
desse contato o modelo linguiacutestico trazido do Rio de Janeiro eacute
aperfeiccediloado pela geraccedilatildeo mais nova do mesmo modo que descreve
Calvet (2002) nos estudos de liacutengua oral
- a ideacuteia de pesquisa uma (s) variaacutevel (eis) frequente (s)
que geralmente aparecem na estrutura linguumliacutestica
variaacuteveis cuja distribuiccedilatildeo deve ser fortemente
estratificada ldquoIsso equivale a dizer que as pesquisas
preliminares deveriam indicar a seu respeito uma
distribuiccedilatildeo assimeacutetrica entre as mais diversas faixas
etaacuterias ou entre outras categorias mais hierarquizadas da
sociedaderdquo - o estabelecimento de uma metodologia que
extrai essas variaacuteveis dos textos produzidos pelos
falantes - a pesquisa da correlaccedilatildeo entre essa
distribuiccedilatildeo de traccedilos linguiacutesticos e uma distribuiccedilatildeo de
traccedilos socioloacutegicos (CALVET 2002 p 93)
Na citaccedilatildeo acima o autor relata que eacute preciso pensar a construccedilatildeo
de identidade levando em conta diferentes faixas etaacuterias e a variaccedilatildeo
linguiacutestica Entendemos assim a necessidade de pesquisarmos as
variaccedilotildees ocorridas em Santa Catarina
A LIBRAS possui uma forma de comunicaccedilatildeo proacutepria Eacute
independente como qualquer outra liacutengua escrita ou falada Tem o
formato proacuteprio na sua comunicaccedilatildeo que eacute o visual pois se utiliza de
sinaisgestos e expressotildees Todos os seres humanos usam um
determinado tipo de liacutengua e linguagem para se comunicar e tanto a
liacutengua falada quanto a sinalizada apresentam sentidos de expressotildees
104
diferentes na comunicaccedilatildeo A liacutengua de sinais muda histoacuterica e
linguisticamente conforme as variaccedilotildees de cada lugar ou regiatildeo Entatildeo
eacute importante a relaccedilatildeo estabelecida com outras pessoas na sociedade na
troca de informaccedilatildeo ideias experiecircncias ensinamentos e aprendizagem
quando se fala uma liacutengua Quando pensamos as liacutenguas percebemos
que existem diferenccedilas na LIBRAS e no Portuguecircs
Frishberg (1975)51
no seu estudo pesquisado no Instituto Teacutecnico
Nacional para Surdos de Nova Iorque aborda como a Liacutengua de Sinais
Americana (ASL) tem mudado gradativamente ao longo do tempo de
uma linguagem mais icocircnica para uma linguagem mais arbitraacuteria Eacute a
liacutengua natural da comunidade surda nos Estados Unidos e em partes do
Canadaacute onde o inglecircs eacute falado Difere das duas liacutenguas que a maioria
das pessoas conhece no sentido de que eacute produzida com as matildeos e
percebida pelos olhos em vez de pronunciado e percebido pelos
ouvidos Entatildeo ela realizou a sua pesquisa sobre alguns processos
histoacutericos em Liacutengua de Sinais onde havia uma forte tendecircncia para
certas mudanccedilas Como toda liacutengua as liacutenguas de sinais aumentam seu
inventaacuterio lexical com novos sinais introduzidos pelas comunidades
surdas em respostas agraves mudanccedilas culturais e tecnoloacutegicas
A liacutengua de sinais possui estrutura gramatical como qualquer
liacutengua utiliza paracircmetros e como todas as liacutenguas tem variaccedilotildees no
niacutevel fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico e pragmaacutetico Por
isso pode-se perceber a mudanccedila cotidiana na liacutengua de sinais A pessoa
surda traz do seu contato cultural dos grupos nos quais estaacute inserida
novos olhares desta liacutengua muitas vezes transformando sinais jaacute
existentes em novos sinais
Quadros e Karnopp (2004) dizem que as liacutenguas de sinais
recebem informaccedilotildees linguiacutesticas pelos olhos e satildeo produzidas pelas
matildeos O termo fonologia tem sido muito usado para estudar os
elementos das liacutenguas de sinais Apesar da diferenccedila com as liacutenguas
orais as duas liacutenguas tecircm os mesmos princiacutepios subjacentes de
construccedilatildeo Poreacutem existe um esquema linguiacutestico estrutural nas liacutenguas
de sinais que natildeo tem significado se feito isoladamente que eacute
51 Nancy Frishberg eacute consultora em Liacutengua de Sinais e Interpretaccedilatildeo Ela tem PhD em
linguiacutestica pela Universidade da Califoacuternia San Diego onde sua pesquisa de doutorado focada
em mudanccedila histoacuterica em Liacutengua de Sinais Americana ndash ASL Seu trabalho de dissertaccedilatildeo demostrou que os sinais seguem princiacutepios linguiacutesticos como elas mudam ao longo do tempo
com o uso Seu livro de 1986 ldquoInterpretaccedilatildeo Um Introduccedilatildeordquo que ainda estaacute em versatildeo
impressa eacute o texto principal em muitos programas de treinamento inteacuterprete e serve como base para o exame escrito (primeira etapa) para certificaccedilatildeo pelo Registro de Inteacuterpretes para
Surdos
105
Configuraccedilatildeo de Matildeos (CM) Locaccedilatildeo (L) e Movimento (M) A
LIBRAS eacute basicamente feita com as matildeos (direita ou esquerda) tendo
tambeacutem movimento do corpo e da face A CM L e M se contrastam
minimamente alterando o significado dos sinais
A ASL tem a sua proacutepria gramaacutetica e fonologia Na liacutengua de
sinais eacute o estudo dos movimentos manuais baacutesicos que fornece a base
para todos os sinais sintaxe e morfologia na liacutengua falada A morfologia
estuda como as palavras satildeo formadas a partir de sons e palavras
baacutesicas Na liacutengua de sinais eacute o estudo de como os sinais manuais
baacutesicos representam conceitos A liacutengua americana de sinais eacute uma
liacutengua visual que incorpora gestos expressotildees faciais movimentos da
cabeccedila linguagem corporal e ateacute o espaccedilo ao redor do falante Os sinais
manuais satildeo a base desta liacutengua Muitos deles satildeo icocircnicos o que
significa dizer que o sinal usa uma imagem visual que se parece com o
conceito que representa
Wescott (1971 Frishberg) sugere que todas as formas de liacutengua
(oral escrita e gestual) usam iconicidade Ele diz que a iconicidade eacute um
sinal familiar (caseiro) em vez de uma caracteriacutestica absoluta de
qualquer sistema de comunicaccedilatildeo incluindo a liacutengua
Segundo Frishberg um sinal pode ser especificado atraveacutes de
quatro paracircmetros simultaneamente configuraccedilatildeo de matildeo movimento
ponto de articulaccedilatildeo (ou localizaccedilatildeo) e orientaccedilatildeo Essas descriccedilotildees de
paracircmetro servem para poder distinguir alguns sinais de outros similares
e dar sentido agrave frase num todo como por exemplo os sinais HOJE e
AGORA diferem no paracircmetro movimento mas satildeo iguais na
configuraccedilatildeo de matildeos e na localizaccedilatildeo A alteraccedilatildeo entre esses
paracircmetros pode significar uma completa alteraccedilatildeo no sentido de
algumas palavras Por exemplo o sinal correspondente agrave ldquoMACcedilAtilderdquo pode
significar ldquoQUEIJOrdquo se houver apenas uma mudanccedila na configuraccedilatildeo
de matildeos novamente ldquoMACcedilAtilderdquo pode significar ldquoCURSOrdquo se houver
diferenccedila no local e por fim ldquoMACcedilAtilderdquo pode significar ldquoCUBArdquo se
houver variaccedilatildeo no movimento Esses satildeo pares-miacutenimos encontrados
na LIBRAS A orientaccedilatildeo conforme aplicada tambeacutem pode alterar o
significado de uma palavra Seguem os exemplos na liacutengua de sinais
106
Figura 15 ndash Mostrar os Sinais
As autoras Quadros e Karnopp (2004 p 78) dizem que as
restriccedilotildees fonoloacutegicas requeridas para a boa formaccedilatildeo de sinais podem
ser produzidas pelas matildeos como a) sinais produzidos com uma das
matildeos b) sinais produzidos com as duas matildeos ambas ativas e c) sinais produzidos com as duas matildeos em que a matildeo dominante eacute ativa e a matildeo
natildeo-dominante serve como locaccedilatildeo
Para Battison (1978 Quadros e Karnopp (2004)) haacute duas
restriccedilotildees fonoloacutegicas na produccedilatildeo dos tipos de sinais a) a condiccedilatildeo de
107
simetria e b) a condiccedilatildeo de dominacircncia Quando as duas matildeos se
movem na produccedilatildeo de um uacutenico sinal CM deve ser a mesma para as
duas matildeos a locaccedilatildeo deve ser a mesma ou simeacutetrica o movimento deve
ser simultacircneo ou alternado Jaacute na condiccedilatildeo de dominacircncia as matildeos
apresentam diferentes configuraccedilotildees e entatildeo a matildeo ativa produz o
movimento e a matildeo passiva serve de apoio
A importacircncia dessa transferecircncia de movimento do rosto ou
corpo para as matildeos deve ser ressaltada bem como a concentraccedilatildeo para
uma sinalizaccedilatildeo de faacutecil entendimento Alguns sinais continuam sendo
motivados para uma mudanccedila dentre eles WILL (indica o futuro)
CARE (cuidado) TEDIOUS (tedioso) FINDFAULT (criticar) e
MEET (encontrar) Nessas mudanccedilas satildeo observadas algumas
caracteriacutesticas corporais tais como movimentos ordenados dos dedos e
matildeos deslocamento lateral da cabeccedila e movimentos do toacuterax
Pesquisei outro exemplo no curso de LetrasLIBRAS sobre a
variaccedilatildeo fonoloacutegica ldquoOs sinais FUNNY (engraccedilado) BLACK (preto)
e BORING (chato) satildeo exemplos de variaccedilatildeo fonoloacutegica pois esses
sinais podem ser realizados de duas formas soacute com o indicador
distendido e os outros dedos fechados ou com o
indicador e o polegar distendidos e os demais dedos fechadosrdquo
108
Figura 16 ndash Variaccedilatildeo fonoloacutegica
Outro exemplo interessante dos autores Woodward e Desantis
(1976) satildeo sinais que podem ser realizados tanto com uma matildeo quanto
com duas matildeos como os sinais CAT (gato) COW (vaca) e FAMOUS
(famoso) que satildeo produzidos no rosto
CAT COW
FAMOUS
(TENNANT amp BROWN 2004)
Figura 17 ndash Mostrar os sinais com uma matildeo e com duas matildeos
109
Vamos conhecer e refletir sobre as variaccedilotildees dos surdos
essencialmente com relaccedilatildeo agrave liacutengua de sinais
Klima e Bellugi (1979) representam uma pesquisa fonoloacutegica na
liacutengua de sinais do ASL A ASL ndash American Sign Language eacute a liacutengua
natural da comunidade surda nos Estados Unidos Os autores
identificam na liacutengua de sinais apenas trecircs paracircmetros configuraccedilatildeo de
matildeo (CM) ponto de articulaccedilatildeo (ou localizaccedilatildeo) (L) movimento (M)
que ao serem analisados individualmente natildeo satildeo possuidores de
significado e a outra autora Brito (1995) no Brasil pesquisou partes dos
paracircmetros primaacuterios a configuraccedilatildeo das matildeos o ponto de articulaccedilatildeo e
o movimento e tambeacutem os paracircmetros secundaacuterios52
a regiatildeo de
contato a orientaccedilatildeo das matildeos e a disposiccedilatildeo das matildeos
Segundo Frishberg em se tratando de tendecircncia para a simetria a
liacutengua toma vaacuterias formas Examinando o seu desenvolvimento em dois
paracircmetros matildeo-forma e movimento nota-se que ambas as matildeos agem
em uniacutessono e uma matildeo age sobre a outra As matildeos assumiram a mesma
configuraccedilatildeo Pode-se ver que alguns sinais mudam sua forma de
expressatildeo antes era com apenas uma das matildeos e agora se tornam as
duas
Eacute claro que os sinais tendem a seguir mudanccedilas ao longo da
histoacuteria Por exemplo para sinais no rosto tendem a utilizar apenas uma
matildeo deixando a face mais visiacutevel e permitindo que os olhos expressem
uma variedade de fins gramaticais Jaacute para os sinais na aacuterea do tronco
geralmente usam as duas matildeos ndash o que muitas vezes eacute sinal de
redundacircncia e simetria
Segue o exemplo da liacutengua de sinais do ASL
52 BRITO (1995) Regiatildeo de Contato ldquoRefere-se agrave parte da matildeo que entra em contato com o corpo Esse contato pode-ser dar maneiras diferentes atraveacutes de um toque de um risco de um
deslizamento etcrdquo
Orientaccedilatildeo das Matildeos ldquoEacute a direccedilatildeo da palma da matildeo durante o sinal voltada para cima para
baixo para o corpo para frente para esquerda ou para a direita Pode haver mudanccedila na
orientaccedilatildeo durante a execuccedilatildeo do Movimentordquo
Disposiccedilatildeo das Matildeos ldquoA articulaccedilatildeo dos sinais pode ser feita apenas pela matildeo dominante ou
pelas duas matildeos Neste uacuteltimo caso as duas matildeos podem se movimentar para formar o sinal ou entatildeo apenas a matildeo dominante se movimenta e a outra funciona como Ponto de
Articulaccedilatildeordquo
110
Figura 18 ndash Sinal de Paacutessaro
Para o sinal de PAacuteSSARO em um primeiro momento utiliza-se
uma das matildeos na aacuterea da face para o sinal ldquobicordquo e em seguida as duas
matildeos (uma para cada lado) em forma de asas Por fim o sinal
PAacuteSSARO hoje eacute apenas representado pela primeira parte (bico em
matildeo uacutenica)
A histoacuteria documentada da liacutengua americana de sinais natildeo eacute
longa existe uma seacuterie de gestos registrados ao longo da histoacuteria mas
foi somente no final do seacuteculo XVIII que os surdos foram considerados
educaacuteveis
Segundo Frishberg ldquoHomesignrdquo (sinais caseiros) eacute um termo
geral utilizado pela comunidade surda para se comunicar poreacutem eacute uma
forma bastante utilizada principalmente pelas matildees em aacutereas rurais que
tecircm filhos surdos Dados estatiacutesticos mostram que 80 a 90 dos surdos
nascem de pais ouvintes por essa razatildeo haacute uma necessidade inevitaacutevel
de comunicaccedilatildeo A partir dessa necessidade as matildees principalmente
precisam encontrar maneiras de se comunicar com os filhos e passam a
criar sinais de forma empiacuterica sem qualquer regra ou seja sinais natildeo
padronizados Tais sinais inventados passam a criar certas dificuldades
111
de comunicaccedilatildeo entre as diferentes comunidades de surdos Existe a
ASL (Liacutengua de Sinais Americana) com uma linguagem jaacute padronizada
que comeccedila a ser difundida e ensinada atraveacutes das escolas americanas
com sinais padronizados
A liacutengua de sinais padronizada enfrenta ainda dificuldade pois
algumas escolas eram proibidas politicamente de ensinar atraveacutes da
metodologia da ASL O fato eacute que outras escolas mesmo sem a devida
autorizaccedilatildeo comeccedilam a ensinar a liacutengua padronizada Os surdos
comeccedilam a aprender a liacutengua padratildeo mas continuam a se comunicar em
casa com os familiares usando o ldquohomesignrdquo (sinais caseiros) A
comunicaccedilatildeo ensinada em casa requeria a utilizaccedilatildeo de vaacuterios recursos
ambientais para a comunicaccedilatildeo entretanto havia a dificuldade de
encontrar referecircncia para as cores nos recursos ambientais pois para se
referir a uma cor eles deveriam encontraacute-lo na natureza aproximar-se o
suficiente para apontar e fazer a associaccedilatildeo com a cor
Historicamente pode-se afirmar que ao longo do tempo a forma
de comunicaccedilatildeo entre a comunidade surda vem mudando
constantemente teacutecnicas e sinais vecircm sendo aperfeiccediloados Ao inveacutes de
gestos natildeo-estruturados o que encontramos eacute uma gama de sinais e
movimentos de matildeos regularizados ou seja inter-relacionados
conjunto sistematizado de sinais que estaacute passando por mudanccedilas de
forma regular e formal
Quadros e Karnopp (2004 p 51) observam que os articuladores
primaacuterios das liacutenguas de sinais satildeo as matildeos estas se movimentam em
um espaccedilo determinado em frente ao corpo Um sinal pode ser
articulado com uma ou duas matildeos ou seja um mesmo sinal pode ser
articulado tanto com a matildeo direita quanto com a esquerda Mas precisa-
se levar em conta que sinais efetuados com as duas matildeos apresentam
restriccedilotildees em relaccedilatildeo ao tipo de interaccedilatildeo entre as matildeos De acordo
com Brito (1995) a LIBRAS apresenta 46 Configuraccedilotildees de Matildeos
(CMs) mas nem todas as liacutenguas de sinais partilham do mesmo nuacutemero
de configuraccedilotildees de matildeos Seguem quatro imagens de configuraccedilotildees de
matildeos difundidas no Brasil
112
As Configuraccedilotildees de Matildeos da LIBRAS
Figura 19 Figura 20
Figura 19 e 20 ndash Ferreira-Brito e Langevin (1995 p220)
Figura 21 Figura 22
Figura 21 ndash httpwwwinesgovbrlibrasprincipalaspASSU_id=3
Figura 22 ndash Quadro de CMs da LSB por Pimenta e Quadros (2006 p 73)
113
Um aspecto recorrentemente discutido eacute a iconicidade dos sinais
ndash em oposiccedilatildeo agrave arbitrariedade da relaccedilatildeo entre significado e
significante observada na constituiccedilatildeo do signo linguiacutestico em liacutenguas
orais Reconhecendo nas liacutenguas de sinais a iconicidade a par da
arbitrariedade (e remetendo a estudos que demonstram por exemplo a
dificuldade por parte de informantes de deduzirem significados em
relaccedilatildeo a muitas formas aparentemente icocircnicas) as autoras (Ferreira-
Brito e Langevin Pimenta e Quadros) destacam o fato de que signos
icocircnicos sofrem mudanccedilas as quais frequentemente ldquotendem a inibir a
natureza icocircnica dos sinais tornando-os mais arbitraacuterios atraveacutes dos
temposrdquo
Embora os demais sinais natildeo-manuais sejam realizados de forma
muitas vezes equivocada quando estes satildeo de forma simples como
afirmativa negativa e exclamativa natildeo haacute um comprometimento do
significado na sentenccedila Mas quando associados a outras formas o
equiacutevoco na execuccedilatildeo da expressatildeo facial provoca uma mudanccedila no
significado da sentenccedila passando esta a pertencer a outra classe
As liacutenguas orais modificam-se como no caso das palavras que
caem em desuso outras que satildeo adquiridas aumentando o vocabulaacuterio
e ainda mudando de significado das palavras O mesmo acontece nas
liacutenguas de sinais a fim de responder agraves necessidades que a evoluccedilatildeo
soacutecio-cultural impotildee
A ASL por sua vez estaacute seguindo a teoria citada acima
substituindo seus iacutecones por siacutembolos que de maneira geral tendem a
ser menos transparentes e icocircnicos pois se tornam mais arbitraacuterios
siacutembolos convencionais
Com o passar do tempo ocorrem muitas mudanccedilas nas liacutenguas
para suprir as necessidades de comunicaccedilatildeo e as modificaccedilotildees de
costumes de cada geraccedilatildeo Assim novos sinais satildeo criados de acordo
com a necessidade de cada grupo
Na verdade temos que pesquisar a liacutengua de sinais em Santa
Catarina observar o sujeito surdo em diferentes faixas etaacuterias
investigando o surgimento do primeiro espaccedilo de identidade cultural do
surdo em contexto social e acessando gramaticalmente a liacutengua de
sinais Esse espaccedilo foi conquistado pela poliacutetica linguiacutestica que assegura
o envolvimento com a liacutengua de sinais que estaacute se expandindo na
sociedade em nosso estado catarinense
Como toda liacutengua a LIBRAS sofre influecircncia das mudanccedilas
histoacutericas e culturais as liacutenguas satildeo dinacircmicas e natildeo estaacuteticas por isso
elas vivem sofrendo alteraccedilotildees e com as liacutenguas de sinais ocorre o
mesmo Essas mudanccedilas podem ser percebidas nas diferentes regiotildees
114
onde satildeo utilizadas as mesmas liacutenguas em que haacute algumas diferenccedilas
em algumas palavras ou expressotildees Mas como tem sido a participaccedilatildeo
do registro na comunicaccedilatildeo do surdo neste espaccedilo linguiacutestico e histoacuterico
cultural na liacutengua de sinais
Calvet (2002) mostra relaccedilotildees entre a liacutengua e a sociedade
fornecendo embasamento agraves explicaccedilotildees sobre as variaccedilotildees
sociolinguiacutesticas o que nos permite fazer uma comparaccedilatildeo das
descriccedilotildees agraves influecircncias externas e internas que a liacutengua de sinais de
Santa Catarina sofreu ateacute chegar ao estaacutegio em que se encontra
atualmente expandido em LIBRAS
Eacute importante registrar a nova histoacuteria da liacutengua de sinais suas
variaccedilotildees e o seu potencial transformador na realidade da comunidade
surda
O sistema linguiacutestico eacute heterogecircneo e as variaccedilotildees podem ser
observadas sob vaacuterios aspectos Sob o ponto de vista diacrocircnico
podemos observar o processo de sistematizaccedilatildeo linguiacutestico de alguns
gestos extralinguiacutesticos usados por usuaacuterios de liacutengua oral auditiva
que foram lexicalizados na LIBRAS tais como os gestuais que
correspondem ao significado de LOUCO ADEUS POSITIVO etc
Por outro lado sob uma perspectiva sincrocircnica vaacuterias formas
podem ser alternadas e podem representar aleacutem disso uma variaccedilatildeo
diatoacutepica53
e a variaccedilatildeo diafaacutesica54
Essas variaccedilotildees referem-se a
variaacuteveis geograacuteficas podem coexistir duas ou mais formas com um
mesmo significado Eacute o caso do sinal CULTURA (matildeo em ldquo5rdquo na testa
ou matildeo em ldquoCrdquo ao longo do braccedilo de apoio) Essas variantes podem
identificar usuaacuterios provindos do Sul e Centro-Oeste respectivamente e
em outras regiotildees por apresentarem sinais diferentes
Em geral um dialeto abrange uma zona ou regiatildeo territorial que
pode ou natildeo coincidir com as fronteiras ou barreiras geograacuteficas No
53 Variaccedilatildeo diatoacutepica eacute a regional quando haacute elementos diferentes dentro de um mesmo territoacuterio linguiacutestico mas natildeo necessariamente dentro de um mesmo dialeto Nem sempre os
elementos detentos de variaccedilotildees diatoacutepicas concorrem a menos quando haacute fortes migraccedilotildees
dentro de um mesmo territoacuterio Podem ocorrer interferecircncias mais incisivas quando determinadas regiotildees possuem destaque econocircmico poliacutetico social e cultural
54 Variaccedilatildeo diafaacutesica eacute a situacional relativa agraves diferentes monitoraccedilotildees do falante nas diferentes situaccedilotildees de interaccedilatildeo Exemplo uma pessoa estaraacute mais monitorada em seu
ambiente de trabalho do que nas interaccedilotildees realizadas em ambiente domeacutestico A variaccedilatildeo
diafaacutesica vem da afirmaccedilatildeo LABOVIANA de que natildeo haacute falante de estilo uacutenico A produccedilatildeo linguiacutestica eacute dependente do contexto social
115
Brasil existem vaacuterios dialetos55
(ou variedades) em comunidades de
ouvintes onde se fala a Liacutengua Portuguesa com diferentes usos Ex
bergamota vergamota e tangerina Palavras variaacuteveis acontecem em
vaacuterias regiotildees e podem ser usadas por motivaccedilatildeo social e ou regional A
seguir algumas variaccedilotildees linguiacutesticas que ocorrem na LIBRAS Ex o
sinal de Cultura SC SP e RJ Seguem os sinais
Figura 23 ndash Sinal ldquoCultura em SCrdquo
Figura 24 ndash Sinal ldquoCultura em SPrdquo
Figura 25 ndash Sinal ldquoCultura em RJrdquo
55 Variedade ndash ldquoa fala de uma comunidade de modo global considerando-se todas as suas particularidades tanto categoacutericas quanto variaacuteveis o mesmo que dialeto ou falarrdquo COELHO
et al (2010 p 166)
116
Um outro exemplo de variaccedilatildeo diatoacutepica no leacutexico do portuguecircs
pode ser observado na diferenccedila entre MACAXEIRA (Norte e
Nordeste) MANDIOCA (Sudeste e Centro-Oeste) e AIPIM (Sul)
A liacutengua de sinais tem uma importacircncia muito significativa para a
comunicaccedilatildeo entre surdos e tambeacutem entre surdos e ouvinte pois sem a
liacutengua de sinais dificultaria a comunicaccedilatildeo e os surdos natildeo conseguiriam
viver na comunidade
A LIBRAS possui forma clara e definida em sua estrutura
gramatical que se estabelece no dia a dia dos que a utilizam Suas vaacuterias
formas sua estrutura o grupo que a utiliza a influecircncia social e
geograacutefica torna a LIBRAS uma liacutengua como qualquer outra pois
realiza a verdadeira funccedilatildeo de comunicar Como Calvet (2002 p 89)
explica variaacuteveis linguiacutesticas satildeo muito usadas em todas as liacutenguas
ldquoDeste modo um reacuteptil comum em todo o Brasil eacute chamado de ldquoosgardquo
na regiatildeo Norte ldquobribardquo ou ldquoviacuteborardquo no Nordeste e ldquolagartixardquo no
Centro-Sul56
rdquo
43 ndash As variaccedilotildees linguiacutesticas na liacutengua de sinais
Uma definiccedilatildeo geral sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica na liacutengua de
sinais torna-se necessaacuteria para melhor aproveitamento desta pesquisa Eacute
importante considerar os dialetos regionais natildeo soacute usados em regiotildees
diferentes no contato social mas no espaccedilo de uso cultural da liacutengua
influenciando o surdo
A Liacutengua de Sinais Americana (ASL) eacute diferente da Liacutengua de
Sinais Britacircnica (BSL) que por sua vez eacute diferente da Liacutengua de Sinais
Argentina e tambeacutem da Liacutengua de Sinais Francesa (LSF) Verificamos
que nos demais paiacuteses tambeacutem satildeo diferentes as liacutenguas de sinais e as
variaccedilotildees linguiacutesticas no contexto social dos surdos no mundo
(STROBEL e FERNANDES 1998) Observe
Ex
56 O exemplo do autor eacute o seguinte ldquoDesse modo um objeto simples como a serpiliegravere peccedila de pano usada para limpar o chatildeo pode tambeacutem ser chamada de panosse (na Saboacuteia e na
Suiacuteccedila) wassingue (no Norte) torchon (no leste) since (no sudeste)rdquo
117
NOME
ASL LIBRAS
Figura 26 ndash Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo ndash Depto Educaccedilatildeo
Especial ndash CuritibaPR SEEDSUEDDEE
Aleacutem disso dentro de um mesmo paiacutes haacute as variaccedilotildees regionais
Na LIBRAS tambeacutem existem dialetos regionais salientando assim uma
vez mais o seu caraacuteter de liacutengua natural
Os povos57
surdos satildeo influenciados pelos contatos nas liacutenguas de
sinais Em cada regiatildeo o surdo se comunica A liacutengua difere quanto ao
dialeto social e cultural Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica em LIBRAS
As variaccedilotildees linguiacutesticas relacionadas ao contexto satildeo chamadas
de variaccedilotildees estiliacutesticas ou registro Os paracircmetros de variaccedilatildeo
linguiacutestica satildeo diversos no ato de interagir verbalmente um falante
utilizaraacute a variedade linguiacutestica relativa agrave sua regiatildeo de origem classe
social idade escolaridade sexo ou ainda acrescenta-se sua condiccedilatildeo
adaptativa de origem como no caso da pessoa surda
O professor Francisco participou do grupo surdo de outras regiotildees
dos estados de Santa Catarina Paranaacute Rio Grande do Sul Satildeo Paulo
Rio de Janeiro e Minas Gerais em contato com a liacutengua de sinais e suas
variaccedilotildees linguiacutesticas No dialeto regional haacute variaccedilatildeo linguiacutestica
diferenccedilas percebidas no espaccedilo cultural do surdo nas situaccedilotildees de
conversa na associaccedilatildeo escola e comunidade Os sujeitos surdos que
relataram o depoimento para a pesquisa sobre a liacutengua de sinais falavam da importacircncia do Francisco para a comunidade surda de SC
57 O povo surdo segundo STROBEL (2006) refere-se ao conjunto de sujeitos que natildeo habitam
no mesmo local mas que estatildeo ligados por uma origem tais como a cultura surda costumes e interesses semelhantes histoacuterias e tradiccedilotildees comuns e qualquer outro laccedilo
118
No mundo haacute pelo menos uma liacutengua de sinais usada
amplamente na comunidade surda de cada paiacutes diferente da liacutengua
falada utilizada na mesma aacuterea geograacutefica Isto se daacute porque essas
liacutenguas de sinais satildeo independentes das liacutenguas orais pois foram
produzidas dentro das comunidades surdas (STROBEL e
FERNANDES 1998)
Pode ser considerado como sotaque na liacutengua de sinais as
variaccedilotildees linguiacutesticas e costume cultural diferentes de cada regiatildeo
Entatildeo Francisco trouxe a experiecircncia do contato com outras regiotildees
para o grupo de surdos de SC na comunicaccedilatildeo em liacutengua de sinais
44 ndash O surdo se comunica a liacutengua de sinais no contexto social
O dialeto social refere-se a variaccedilotildees de configuraccedilatildeo das matildeos
eou de movimento natildeo modificando o sentido do sinal (STROBEL e
FERNANDES 1998) Dependendo da situaccedilatildeo de uso da comunicaccedilatildeo
do surdo na liacutengua de sinais a variaccedilatildeo pode ser observada atraveacutes da
configuraccedilatildeo das matildeos como em
Ex
Figura 27 ndash Sinal de Ajudar
119
Figura 28 ndash Sinal de Faltar
Figura 29 ndash Sinal de Ocircnibus
Figura 30 ndash Sinal de Sonhar
120
Nem todos os usuaacuterios de uma liacutengua falam do mesmo
jeito por isto todas as liacutenguas naturais possuem
variaccedilotildees linguiacutesticas A LIBRAS tambeacutem apresenta
dialetos regionais reforccedilando seu caraacuteter de liacutengua
natural As variaccedilotildees na LIBRAS ocorrem de vaacuterias
formas como alteraccedilotildees na configuraccedilatildeo de matildeos (forma
que a matildeo assume na realizaccedilatildeo do sinal) ou na
localizaccedilatildeo espacial do sinal (local onde o sinal eacute
realizado) sem que seu sentido e significado sejam
perdido ou modificados Tambeacutem haacute sinais diferentes
para representar um mesmo referente usando em
diferentes regiotildees do paiacutes agraves vezes do mesmo estado
(BASSO e SCHMITT 2007 p 50 e 51)
O valor social58
das formas em variaccedilatildeo se estabelece nas
relaccedilotildees sociais e na avaliaccedilatildeo do que pode ser considerada uma
variedade de prestiacutegio ou uma variedade estigmatizada Estilos formais
ou distensos podem ser identificados a partir de um estudo da variaccedilatildeo
das formas no contexto social Estudos sobre o portuguecircs falado
mostram por exemplo que jovens mais favorecidos tendem a fazer
mais concordacircncia verbal em oposiccedilatildeo aos menos favorecidos que
tendem a usar menos concordacircncia Isso mostra o fator externo
(mercado de trabalho ou situaccedilatildeo) e a necessidade de o falante se
adequar ao valor linguiacutestico de concordacircncia considerado como de
prestiacutegio nesse espaccedilo Podemos concluir que a LIBRAS como
qualquer outra liacutengua apresenta variaccedilatildeo e mudanccedila mas ainda
precisamos aprofundar os estudos linguiacutesticos dessa liacutengua para melhor
conhececirc-la em seus diferentes aspectos (lexicais fonoloacutegicos
morfoloacutegicos e sintaacuteticos) O capiacutetulo 6 traraacute uma descriccedilatildeo sobre
alguns desses aspectos em variaccedilatildeo e mudanccedila Acreditamos que com a
proposta biliacutengue para a educaccedilatildeo de surdos a liacutengua portuguesa e a
LIBRAS teratildeo uma relaccedilatildeo cada vez mais intensa e o contato dessas
duas liacutenguas pelos surdos vai acarretar com toda a certeza trocas
linguiacutesticas entre elas o que pode provocar novas transformaccedilotildees
58 Valor social eacute relativo aos problemas de avaliaccedilatildeo e eacute atribuiacutedo pelos proacuteprios falantes e
usuaacuterios de liacutengua de sinais ou seja eacute sempre de ordem social (nunca linguiacutestica) Valor
atribuiacutedo desenha o futuro das formas concorrentes jaacute que a forma eleita eacute sempre a que recebe maior valor e que muitas vezes corresponde agraves formas adotadas pela elite econocircmica poliacutetica
social ou cultural de uma dada comunidade (surda)
121
CAPIacuteTULO V ndash Metodologia
51 ndash Introduccedilatildeo
Investigarei a histoacuteria da liacutengua de sinais em Santa Catarina e as
variaccedilotildees e mudanccedilas fonoloacutegicas e lexicais ocorridas no periacuteodo que
compreende 1946 aos dias atuais fazendo comparaccedilotildees entre sinais que
aparecem nos relatos de experiecircncias em trecircs geraccedilotildees de surdos
pesquisadas
A metodologia utilizada para esta pesquisa foi a de coleta de
dados atraveacutes de perguntas e depoimentos dos surdos envolvidos nas
trecircs geraccedilotildees das uacuteltimas deacutecadas A coleta de dados de informantes59
foi realizada com o objetivo de solicitar depoimentos sobre fatos
histoacutericos e sobre o contato que os surdos tiveram com a liacutengua de
sinais
Os depoimentos dos ex-alunos surdos bem como dos surdos
envolvidos na comunidade surda catarinense nas uacuteltimas deacutecadas foram
realizados por meio de entrevistas filmadas Eu mesmo fiz os viacutedeos
Mas antes conversei com cada um dos surdos explicando porque
precisava de seu depoimento Apoacutes a aceitaccedilatildeo de cada um formei os
trecircs grupos por idade Cada um assinou uma ficha do informante para
realizar a pesquisa (em anexo) com dados pessoais e autorizaccedilatildeo
Foram utilizadas trecircs cacircmeras para a filmagem colocadas de forma a
gravar o depoimento dos trecircs surdos simultaneamente Primeiro filmei o
Grupo I Os informantes ficaram sentados na frente de cada cacircmera um
ao lado do outro Depois fiz a pergunta e eles teriam trinta minutos para
dar a resposta e mais vinte minutos para conversarem entre eles Liguei
as trecircs cacircmeras e saiacute da sala Voltei aproximadamente apoacutes uma hora e
desliguei as cacircmeras Fiz o mesmo com o Grupo II e com o Grupo III O
Grupo III foi filmado na UFSC os outros dois numa sala da Associaccedilatildeo
de Surdos A resposta sobre a histoacuteria da educaccedilatildeo de surdos em SC
mais a conversa espontacircnea em LIBRAS trouxe material de qualidade
para a pesquisa A escolha dos surdos levou em conta o fato de os
escolhidos terem frequentado a escola na deacutecada de 1950 quando surgiu
tambeacutem uma associaccedilatildeo de surdos catarinenses
Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os seguintes toacutepicos a coleta
59 COELHO et al (2010 p 164) ldquosujeito da pesquisa sociolinguiacutestica aquele que fornece seus
dados linguiacutesticos para que o pesquisador analiserdquo
122
de dados das trecircs geraccedilotildees com as diferentes faixas etaacuterias o meacutetodo de
entrevista sociolinguiacutestica a coleta de narrativa de experiecircncia pessoal
a transcriccedilatildeo de dados dos trecircs grupos compostos de informantes surdos
na liacutengua de sinais os informantes do grupo surdo na liacutengua de sinais e
por fim a descriccedilatildeo dos informantes quanto aos dados
Como procedimento metodoloacutegico no primeiro momento
realizamos uma coleta inicial de dados na liacutengua de sinais observando
uma diferenccedila de 30 anos entre um grupo e outro Cada grupo eacute
composto de trecircs indiviacuteduos
O Grupo I eacute formado por pessoas mais velhas na faixa
etaacuteria entre 60 a 80 anos
O Grupo II eacute formado por pessoas entre 30 a 60 anos e
O Grupo III eacute formado por indiviacuteduos na faixa etaacuteria de
15 a 30 anos
Com a anaacutelise da LIBRAS usada pelos indiviacuteduos dessas trecircs
faixas etaacuterias esperamos poder detectar se nas trecircs geraccedilotildees de
sinalizadores da liacutengua de sinais em Santa Catarina vamos encontrar
mudanccedila em tempo aparente
Entatildeo foram entrevistados os trecircs informantes do Grupo III na
situaccedilatildeo de mais jovem em idade na faixa etaacuteria de 15 a 30 anos 1)
Informante A 2) Informante B e 3) Informante C
No segundo momento foi feita a coleta dos dados do Grupo I
Para saber o que existe no primeiro grupo de diferente precisamos
identificar os sinais antigos para depois fazermos uma comparaccedilatildeo com
as liacutenguas de sinais da atualidade Assim foram entrevistados trecircs
sujeitos surdos mais velhos na faixa etaacuteria de 60 a 80 anos 1)
Informante G 2) Informante H e 3) Informante I
No terceiro momento foram entrevistados os informantes do
Grupo II outros trecircs alunos de Francisco na faixa etaacuteria de 30 a 60
anos 1) Informante D 2) Informante E e 3) Informante F Acreditamos
que as formas usadas pelo professor Francisco serviram e servem de
modelo influenciando os alunos E que agraves vezes os alunos do professor
Francisco podem usar alguns sinais proacuteprios do professor surdo em
conversas na escola na associaccedilatildeo e na comunidade surda das regiotildees
de Santa Catarina Eacute possiacutevel tambeacutem que o ex-professor Francisco
usasse outros sinais quando conversava com os amigos os ex-alunos
surdos na escola e associaccedilatildeo em Santa Catarina
123
Foi levado em consideraccedilatildeo na coleta o que sugere Tarallo
(2000)
O pesquisador ao selecionar seus informantes estaraacute em
contato com falantes que variam segundo classe social
faixa etaacuteria etnia e sexo Seja qual for a natureza da
situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo seja qual for o toacutepico central
da conversa seja quem for o informante o pesquisador
deveraacute tentar neutralizar a forccedila exercida pela presenccedila
do gravador e por sua proacutepria presenccedila como elemento
estranho a comunidade Tal neutralizaccedilatildeo pode ser
alcanccedilada no momento em que o pesquisador se decide a
representar o papel de aprendiz-interessado na
comunidade de falantes e em seus problemas e
peculiaridades (TARALLO 2000 p 21)
Ė importante selecionar os informantes dos grupos que tecircm
contato entre si e utilizam a liacutengua de sinais de classes sociais
diferentes dentro da comunidade surda faixa etaacuteria diferente etc A
geraccedilatildeo do grupo dos mais velhos tem influecircncia sobre o grupo dos mais
novos que tem menos contato experiecircncia com a liacutengua Isso pode ser
observado na liacutengua usada pelos informantes pois seus objetivos satildeo
diferentes na fase de aprendizagem em situaccedilatildeo de comunidade surda
O pesquisador aproveita para pensar e planejar como seraacute realizada a
coleta de dados Por se tratar de uma liacutengua visualespacial tentei
diversificar os lugares para a conversa espontacircnea dos informantes
52 ndash A coleta de dados
Na coleta dos dados desta pesquisa espera-se que as trecircs geraccedilotildees
com faixas etaacuterias distintas de informantes relatem sua experiecircncia de
vida na liacutengua de sinais possibilitando uma anaacutelise dos sinais gravados
para que possamos identificar possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas
linguiacutesticas
Na primeira parte assisti aos viacutedeos no programa Transcriccedilatildeo de
Liacutengua de Sinais ndash ELAN60
No segundo momento verifiquei e analisei
60 McCLEARY e VIOTTI 2007 - Eacute a caraacuteter eminentemente descritivo buscando a captaccedilatildeo
do maior nuacutemero de detalhes de sinalizaccedilatildeo As narrativas que estatildeo sendo transcritas foram
baseadas no filme ldquoHistoacuteria da pecircrardquo criado pelo de pesquisa de Wallace Chafe na deacutecada de 1970 com o objetivo de eliciar narrativas para anaacutelise e comparaccedilatildeo translinguiacutestica Visando
a produccedilatildeo de narrativas em liacutengua de sinais brasileira o grupo ECS fez a gravaccedilatildeo de
narrativas produzidas por surdos que assistiram ao filme e relataram a histoacuteria para outra pessoa fluente na liacutengua
124
a coleta de dados dos grupos de informantes das trecircs geraccedilotildees com
relaccedilatildeo agraves mudanccedilas histoacutericas e linguiacutesticas Depois realizei a
descriccedilatildeo dos grupos nas diferentes faixas etaacuterias que mostram se os
sinais se modificam nas possiacuteveis narrativas Espero com esses sinais
observados alcanccedilar o objetivo principal da pesquisa o de comparar os
sinais encontrados nos trecircs grupos e verificar se ocorreram variaccedilotildees e
mudanccedilas linguiacutesticas em tempo aparente
Realizei a coleta de dados da seguinte forma coloquei todos os
depoimentos filmados dos surdos no programa ELAN Escolhi os sinais
que apareciam nos trecircs grupos e fiz uma tabela com esses sinais depois
fiz anaacutelise e descriccedilatildeo dos resultados finais
53 ndash O meacutetodo de entrevista sociolinguiacutestica a coleta de narrativas
de experiecircncia pessoal
A coleta de dados realizada numa entrevista deve ocorrer de
forma espontacircnea Antes de realizar a pesquisa para recolher os dados eacute
importante conhecer as diferentes abordagens que identificam os grupos
e sua relaccedilatildeo com a liacutengua Segundo Tarallo (2000)
De gravador em punho o pesquisador-sociolinguista
como afirmamos deve coletar 1 situaccedilatildeo natural de
comunicaccedilatildeo linguumliacutestica e 2 grande quantidade de
material de boa qualidade sonora (TARALLO 2000 p
21)
Para realizar a pesquisa empiacuterica foi necessaacuterio um planejamento
anterior utilizando viacutedeo de filmagem com boa qualidade visual pois
observamos indiviacuteduos que utilizam a comunicaccedilatildeo visual espacial com
o objetivo de melhor descrevermos os grupos e verificar questotildees
linguiacutesticas desses indiviacuteduos
Para a coleta seguimos os procedimentos metodoloacutegicos
indicados por Tarallo
Este software foi desenvolvido no Instituto Max Planck de Psycholinguistics na Holanda e
mostra no site wwwmpinl na transcriccedilatildeo o ELAN (Eudico Language Annotator) eacute um
programa que permite adicionar anotaccedilotildees para um arquivo de viacutedeo o que pode tornaacute-lo muito mais faacutecil de estudar assistir o viacutedeo na liacutengua de sinais Ele tambeacutem pode ser utilizado
com as liacutenguas faladas (com ou aacuteudio ou viacutedeo) mas este foi apresentado na minha pesquisa e
utilizado na liacutenguas de sinais das trecircs geraccedilotildees
125
Para atingir tais propoacutesitos metodoloacutegicos podem-se
formular moacutedulos (ou roteiros) de perguntas um
questionaacuterio-guia de entrevista Esses moacutedulos tecircm por
objetivo homogeneizar os dados de vaacuterios informantes
para posterior comparaccedilatildeo controlar os toacutepicos de
conversaccedilatildeo e em especial provocar narrativas de
experiecircncia pessoal (TARALLO 2000 p 22)
Ė permitido ressaltar na pesquisa sociolinguiacutestica que para
realizaacute-la seraacute feita uma seleccedilatildeo de um grupo ou indiviacuteduo dependendo
da situaccedilatildeo como por exemplo quanto agrave classe social pode ser
verificado o gecircnero a etnia faixa etaacuteria e costumes A situaccedilatildeo de
pesquisa pode acontecer em qualquer lugarambiente O pesquisador
observa de forma neutra o grupo de falantes que estaacute pesquisando em
um determinado local e faz anaacutelises com base nos fatos linguiacutesticos
observando-os em conversas espontacircneas procurando especificaacute-las
A metodologia de coleta laboviana mostra que encontramos a
variedade mais espontacircnea em narrativa de experiecircncia pessoal pois o
indiviacuteduo quando estaacute envolvido emocionalmente faz relatos sem se
preocupar com o modo como estaacute contando De acordo com Tarallo
Os estudos de narrativas de experiecircncia pessoal tecircm
demonstrado que ao relataacute-las o informante estaacute tatildeo
envolvido emocionalmente com o que relata que presta o
miacutenimo de atenccedilatildeo ao como E eacute precisamente esta a
situaccedilatildeo natural de comunicaccedilatildeo almejada pelo
pesquisador-sociolinguista
Os moacutedulos cobrem uma seacuterie de toacutepicos para fins de
conversaccedilatildeo dados pessoais do informante (sua
histoacuteria) jogo e brincadeira de infacircncia brigas namoro e
encontros amorosos casamento perigo de morte medo
famiacutelia religiatildeo amigos turmas serviccedilos puacuteblicos o
crime nas ruas escola e trabalho interaccedilatildeo com outros
membros da comunidade esportes etc (TARALLO
2000 p 22)
As pessoas ouvintes falam sobre fatos ocorridos de sua experiecircncia pessoal com famiacutelia amigos etc de forma natural Isto
tambeacutem acontece na comunidade surda e ao coletar narrativas em
liacutengua de sinais acredita-se que vamos encontrar diferentes situaccedilotildees do
cotidiano e parte da histoacuteria da comunidade que mostraratildeo variaccedilotildees e
tambeacutem mudanccedilas linguiacutesticas
126
Podem ser escolhidas diferentes maneiras de realizar uma
pesquisa de campo mas a experiecircncia pessoal deve ser levada em
consideraccedilatildeo A pesquisa pode ser realizada com diferentes informantes
ou grupos de informantes de qualquer categoria para verificar as
possiacuteveis variaccedilotildees da liacutengua falada sem qualquer preocupaccedilatildeo com a
forma como indica Tarallo
A narrativa de experiecircncia pessoal eacute a mina de ouro que
o pesquisador-sociolinguistica procura Ao narrar suas
experiecircncias pessoais mais envolventes ao colocaacute-las no
gecircnero narrativa o informante desvencilha-se
praticamente de qualquer preocupaccedilatildeo com a forma A
desatenccedilatildeo agrave forma no entanto vem sempre embutida
numa linha de relato a que chamaremos ldquoestrutura
narrativardquo (TARALLO 2000 p 23)
Nesta citaccedilatildeo o autor explica a importacircncia da coleta de narrativa
pessoal de cada um dos informantes porque apenas fazem a narraccedilatildeo
sem preocupaccedilatildeo com a forma como estatildeo contando
54 ndash A transcriccedilatildeo de dados dos trecircs grupos compostos de
informantes surdos na liacutengua de sinais
Estes dados foram organizados no sistema de transcriccedilatildeo na
liacutengua de sinais ndash ELAN As identificaccedilotildees dos sujeitos surdos que
apresentavam cada um o seu relato em viacutedeo mostram a sua forma de se
comunicar na liacutengua de sinais Verificar se a variaccedilatildeo fonoloacutegica e
mudanccedila lexical pode acontecer nesta liacutengua de sinais em trecircs geraccedilotildees
eacute um dos propoacutesitos deste trabalho
55 ndash Informantes do grupo surdo na liacutengua de sinais
Os informantes do grupo que participaram da minha pesquisa
foram escolhidos de forma aleatoacuteria pela facilidade de contato e
separados em trecircs geraccedilotildees que usavam a liacutengua de sinais
Labov em suas pesquisas elaborava entrevistas de modo a
elicitar nos entrevistados uma fala menos monitorada ndash o vernaacuteculo61
Ele afirma que
61 ldquoEstilo em que pouco monitoramento eacute dispensado agrave fala fala ldquonaturalrdquordquo COELHO et al
(2010 p 166)
127
As narrativas produzidas em resposta a essa pergunta
[ldquoVocecirc jaacute viveu uma situaccedilatildeo em que correu seacuterio risco
de morrerrdquo] quase sempre exibem uma mudanccedila de
estilo que se distancia da fala monitorada e se aproxima
do vernaacuteculo62 (LABOV 2008 [1972] p 245)
Da mesma forma na pesquisa sobre o grupo de surdo que o
senhor Francisco ensinou utilizei um questionaacuterio com uma pergunta
que era explique a histoacuteria da educaccedilatildeo de surdo em Santa
Catarina para que pessoas surdas respondessem As perguntas foram
feitas em LIBRAS e as respostas foram filmadas num total de nove
pessoas
O foco do agrupamento dos sujeitos foi a idade portanto houve
variabilidade quanto ao gecircnero e agraves atividades exercidas pelos
participantes
Na primeira etapa o objetivo foi a escolha dos trecircs indiviacuteduos dos
grupos informantes surdos mais jovens A B e C Neste grupo o fator
escolhido quanto ao sexo foi trecircs masculinos pois natildeo encontrei jovem
do sexo feminino
Na segunda etapa os trecircs indiviacuteduos do grupo de informantes
surdos intermediaacuterio D E e F foram quanto ao sexo dois masculinos e
um feminino
Na uacuteltima etapa os trecircs indiviacuteduos do grupo de informantes
surdos mais velhos G H e I foram escolhidos quanto ao sexo um
masculino e dois femininos Entatildeo escolhi a faixa etaacuteria deste grupo que
apresentava o documentaacuterio em viacutedeo que a partir do qual foi extraiacuteda
amostra de uma experiecircncia de cada uma das narrativas de sujeitos
surdos que usavam a liacutengua de sinais espontacircnea Seguem os quadros de
amostras dos grupos em trecircs geraccedilotildees contemplados nesta pesquisa
62 Um dos aspectos mais interessantes dessa pergunta eacute que ela implica uma resposta sim-ou-
natildeo do tipo que em geral evitamos O mecanismo parece ser o seguinte o informante estaacute
disposto a reconhecer o fato de ter estado numa situaccedilatildeo assim embora possa natildeo estar disposto a fazer um relato Mas uma vez que reconheceu o fato acha muito difiacutecil deixar de
fazer um relato completo quando o entrevistador pergunta depois de alguns instantes ldquoO que
aconteceurdquo Do contraacuterio ficaria parecendo que ele fez uma afirmaccedilatildeo falsa
128
Quadros de amostras dos Grupos I II e III
Grupo I
Identificaccedilatildeo
de Classe
Sexo Idade Faixa
Etaacuteria
Profissotildees
Informante G Masculino 82
anos
60 a 80
anos
ProfessorAposentado
Informante H Feminino 64
anos
60 a 80
anos
CostureiraAposentado
Informante I Feminino 62
anos
60 a 80
anos
BancaacuterioAposentado
Grupo II
Identificaccedilatilde
o de Classe
Sexo Idade Faixa
Etaacuteria
Profissotildees
Informante D Feminino 56
anos
30 a 60
anos
BancaacuterioAposentado
Informante E Masculino 53
anos
30 a 60
anos
Autocircnomo
Informante F Masculino 52
anos
30 a 60
anos
MotoristaAposentado
Grupo III
Identificaccedilatildeo
de Classe
Sexo Idade Faixa
Etaacuteria
Profissotildees
Informante A Masculino 29
anos
15 a 30
anos
Professor
Informante B Masculino 25
anos
15 a 30
anos
Professor
Informante C Masculino 24
anos
15 a 30
anos
Estudante
129
Os Grupos I e II foram alunos de profdeg Francisco jaacute os
informantes do Grupo III foram escolhidos na universidade porque eacute
difiacutecil de ser ter contato com surdo na faixa etaacuteria de 15 anos
Cada um dos 9 (nove) informantes da amostra nos trecircs (3) grupos
com relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria poderaacute trazer indicativos sobre a trajetoacuteria da
liacutengua de sinais e a influecircncia da geraccedilatildeo dos surdos mais velhos (Grupo
I) com relaccedilatildeo agrave sinalizaccedilatildeo utilizada na atualidade pelos surdos mais
jovens (Grupo III) Segundo a citaccedilatildeo de Tarallo
a primeira tentativa de definiccedilatildeo a liacutengua falada a que
nos temos referido eacute o veiculo linguumliacutestico de
comunicaccedilatildeo usado em situaccedilotildees naturais de interaccedilatildeo
social do tipo comunicaccedilatildeo face a face Ė a liacutengua que
usamos em nossos lares ao interagir com os demais
membros de nossas famiacutelias Ė a liacutengua usada nos
botequins clubes parques rodas de amigos nos
corredores e paacutetios das escolas longe da tutela dos
professores Ė a liacutengua falada entre amigos inimigos
amantes e apaixonados (TARALLO 2000 p 19)
Na interaccedilatildeo social desta liacutengua que o surdo utiliza para se
comunicar em diversos lugares com os amigos na associaccedilatildeo na escola
etc haacute uma valorizaccedilatildeo cultural aleacutem da troca de conhecimentos
necessidades de criaccedilatildeo de novos sinais modificaccedilatildeo eou
aperfeiccediloamento de outros trazendo modificaccedilotildees linguiacutesticas
Concluiacutemos a explicaccedilatildeo do procedimento da metodologia desta
pesquisa trazendo consideraccedilotildees sobre os registros dos dados dos
informantes para posterior verificaccedilatildeo da variaccedilatildeo e mudanccedila
linguiacutestica observada nos trecircs grupos de surdos nas diferentes geraccedilotildees
referentes agrave liacutengua de sinais Atraveacutes das informaccedilotildees encontradas nas
narrativas seraacute feita uma trajetoacuteria histoacuterica da liacutengua de sinais e seratildeo
observadas as mudanccedilas ocorridas com relaccedilatildeo agrave liacutengua na comunidade
surda de Santa Catarina
56 ndash Descriccedilatildeo dos informantes quanto aos dados
Nesta seccedilatildeo apresentamos descriccedilotildees dos dados coletados na
liacutengua de sinais espontacircnea de informantes conforme amostras dos
Grupos I II e III Os dados foram observados pelo programa de
transcriccedilatildeo de ELAN Realizei os trabalhos comparando a liacutengua usada
pelas geraccedilotildees e as informaccedilotildees dadas pelos informantes
Os fatos sociolinguiacutesticos apresentados pelos informantes atraveacutes
130
de seus depoimentos mostrando suas trajetoacuterias e vivecircncias na
comunidade surda nas diferentes regiotildees do estado de SC seratildeo
analisados para saber se o professor surdo influenciou a comunidade
surda do estado no ensino da LIBRAS
A questatildeo que tentarei responder com os dados eacute a seguinte Os
informantes de cada grupo de comunidades surdas de diferentes regiotildees
do estado de Santa Catarina relatando sua trajetoacuteria com experiecircncias
relacionadas agrave liacutengua de sinais ora sofreram ora natildeo a influecircncia do
professor surdo com relaccedilatildeo ao aprendizado desta liacutengua
Pretendo verificar se haacute algum sinal de que a liacutengua sofreu
variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica em cada uma das trecircs geraccedilotildees dos
informantes Essas trecircs geraccedilotildees vatildeo ser acompanhadas pelas glosas de
sinais A descriccedilatildeo de experiecircncias dos informantes surdos nos trecircs
grupos observados eacute a estrateacutegia para se pesquisar o processo de
mudanccedila
A pesquisa vai analisar os trecircs comparativos dos informantes
surdos com a descriccedilatildeo de dados de cada geraccedilatildeo apoacutes verificar os
resultados de cada uma das trecircs geraccedilotildees de informantes Grupo III A
B C Grupo II D E F Grupo I G H e I As narrativas na liacutengua de
sinais que os informantes apresentaram foram coletadas e vatildeo ser
descritas nas proacuteximas seccedilotildees
561 ndash Grupo I ndash Informantes
Nas narrativas dos sujeitos63
do grupo de informantes na faixa
etaacuteria dos surdos de 60 a 80 anos os mais velhos mesmo grupo do
professor surdo foram expressas algumas opiniotildees dos surdos
nomeados de informantes G H e I Seguem as informaccedilotildees
5611 ndash Informante G
Francisco eacute o informante G e sua identidade estaacute expliacutecita porque
ele autorizou O informante G mostra sua experiecircncia na liacutengua de
63 Os sujeitos surdos SCHMITT (2008) mostram a participaccedilatildeo no amplo espaccedilo da sociedade
em que vivem No momento eles se identificam como um ldquooutrordquo como surdo Esta mudanccedila
eacute mostrada pelas lutas seja na sociedade em encontros eventos seminaacuterios congressos e outros Isso eacute o povo surdo participando no movimento na luta pela educaccedilatildeo pelos direitos
culturais
131
sinais e sua opiniatildeo sobre como aconteceu essa experiecircncia Segue um
comentaacuterio ldquoSabemos que as liacutenguas mudam com o tempo e se
transformam conforme as culturas dos paiacuteses regiotildees ou mesmo em
situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo em que estaacute participando (numa conversa
informal na sala de aula na famiacutelia etc) estas mudanccedilas ocorrem com
as configuraccedilotildees de matildeos articulaccedilotildees movimentos expressotildees faciais e
ou corporais essas mudanccedilas satildeo recicladas para se adaptar a realidade e
conceitos na sociedade tendo os traccedilos de identificaccedilatildeo proacutepriardquo
O informante G nasceu no dia 01061928 em Florianoacutepolis SC
foi aluno interino do Instituto Nacional de Surdos-Mudos do Rio de
Janeiro e do Instituto Paulista de Surdos em Satildeo Paulo de 1937 a 1946
Ele realizou o curso fundamental e meacutedio tinha habilitaccedilatildeo em ensino
especial desenho encadernaccedilatildeo ginaacutestica datilografia frequentou da
1a a 8
a seacuterie do ensino fundamental no Instituto Nacional de Surdos-
Mudos e sua habilitaccedilatildeo eacute em Contabilidade pelo Instituto Monitor e
Nuacutecleo de ensino profissional
Em 1952 ele conheceu quinze surdos-mudos em Florianoacutepolis
que natildeo sabiam ler e escrever Ele ensinava algumas palavras e sinais
para esses surdos-mudos De outra feita entre 1953 a 1954 iniciava a
amizade com o primeiro presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos de
Satildeo Paulo senhor Maacuterio Devisate Ele natildeo tinha o conhecimento da
existecircncia de uma Associaccedilatildeo de Surdos em Florianoacutepolis o senhor
Devisate entregava um documento para Associaccedilatildeo de Surdos-Mudos
de acircmbito nacional e o professor Francisco Lima Juacutenior veio como
delegado e responsaacutevel pela regiatildeo do Sul passando a residir nesta
capital (Florianoacutepolis)
O primeiro presidente da Sociedade dos Surdos-Mudos do
Distrito Federal que na eacutepoca era Rio de Janeiro foi o senhor Miguel
da Fonseca Seabra de Melo era grande colega do Francisco Mais tarde
com a construccedilatildeo de Brasiacutelia a associaccedilatildeo continuou no RJ soacute que
naquele momento natildeo mais como capital com o nome Sociedade dos
Surdos-Mudos do Brasil para finalmente Associaccedilatildeo dos Surdos do Rio
de Janeiro (ASURJ)
O grupo conversava na liacutengua de sinais numa reuniatildeo quando
chegou o presidente da ASURJ que tambeacutem era surdo O professor
Francisco foi apresentado e cumprimentou o senhor Miguel da Fonseca
Seabra de Melo que estava acompanhado de uma colega que ao ver o
professor Francisco sorriu O professor Francisco agradeceu pela ajuda
que o senhor Miguel deu ao Instituto Nacional de Surdos-Mudos e as
informaccedilotildees referentes agrave associaccedilatildeo
Na verdade o professor Francisco tinha contato e conversava
132
sempre com o amigo que estudou com ele no INES o senhor Salomatildeo
Watnick que foi primeiro presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos
do Rio Grande do Sul seu grande amigo que morava em Porto Alegre
Como o INES estava passando por reforma o professor
Francisco como tinha muitos amigos dos diferentes cursos e viagens
que fez conseguiu estudar na Escola Especial para Surdos-Mudos em
Satildeo Paulo que para ele era uma escola maravilhosa e excepcional onde
aprendeu muito
O grupo dos surdos de SC se perguntava como ganharia a vida
pois natildeo estavam felizes nas escolas especiais que na eacutepoca utilizavam
os meacutetodos oralistas onde os surdos natildeo podiam utilizar sinais Mas
encontraram o motivo da existecircncia na associaccedilatildeo do estado podendo
assim discutir e abrir caminhos para os surdos
5612 ndash Informante H
A informante H mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua
opiniatildeo sobre como aconteceu essa experiecircncia ldquoMudam porque as
pessoas mudam os tempos mudam assim como mudam as culturas e
diversas outras formas de liacutengua existentes entre elas Sendo a LIBRAS
tambeacutem uma forma de liacutengua ela acompanha estas mudanccedilas para que
os indiviacuteduos que dela fazem uso possam acompanhar a sociedade e
mundo do qual fazem parterdquo
A informante H nasceu em 26051946 em Satildeo Pedro de
Alcacircntara em Santa Catarina Durante sua infacircncia e adolescecircncia
morou com seus pais que eram agricultores
Ela teve que trabalhar na lavoura dos 6 ateacute os 18 anos de idade
cortava o capim que alimentava o gado roccedilava para limpar um paacutetio do
terreno e uma plantaccedilatildeo cercada onde se criavam vaacuterias galinhas patos
etc Plantavam vaacuterios tipos de flores e tinham uma horta Ela penteava
os cabelos dos cavalos para depois montaacute-lo corria e caiacutea no chatildeo num
desses passeios quebrou o braccedilo e diz que doeu muito Quando o
cunhado viu o braccedilo dela quebrado levou-a de carroccedila para o hospital
na cidade de Vidal Ramos em Santa Catarina Depois ela tinha que
ficar um mecircs com o gesso no braccedilo mas 15 dias depois na casa da
irmatilde olhava o rio e pulava no rio que brilhava acabou ficando coberta
de aacutegua e quase se afogou Para natildeo se afogar colocou as matildeos em cima
de uma pedra do rio ficou muito assustada e chorou muito o tio dela foi
quem a ajudou
O pai de H eacute brasileiro e lavrador Dedicava-se agrave criaccedilatildeo de gado
aves e na fabricaccedilatildeo de cachaccedilas que preparava das plantas que
133
produziam cana-de-accediluacutecar cafeacute e frutas Na casa natildeo tinha luz e era
utilizada a vela a fogueira e a lacircmpada de querosene
A matildee de H tambeacutem era brasileira costureira e lavradora
Trabalhava na propriedade na plantaccedilatildeo de milho feijatildeo arroz aipim e
verduras Os Pais de H tiveram 13 filhos 1 filha jaacute falecida com 1 ano e
um mecircs de gravidez gemular 3 filhas eram ouvintes 3 filhas eram
surdas 6 filhos eram ouvintes 1 filho era surdo A terra lavrada e
cultivada estaacute localizada em Satildeo Pedro de Alcacircntara Depois que o pai
morreu o terreno foi loteado e a informante H ficou com um dos lotes e
os irmatildeos deram a casa
O irmatildeo da informante H que era surdo jaacute falecido em 1976 foi
mordido por uma cobra venenosa Seu pai faleceu em 1989 e a matildee
faleceu em 1998
Em 1966 ajudava lavando roupas para fora nesta eacutepoca morava
com o primo numa casa localizada no bairro do Estreito ndash
FlorianoacutepolisSC Tinha trecircs vizinhos surdos e com eles conversava com
os sinais eou gestualidade Ela natildeo sabia conversar em LIBRAS com
outro surdo aprendeu com os vizinhos surdos que a avisavam das
reuniotildees de surdos que aconteciam no salatildeo do grupo Escolar Celso
Ramos
O professor Francisco ensinou aos surdos as regras do jogo de
bingo depois foram oferecidos cinco brindes para o jogo de bingo que
aconteceu no bairro de Capoeiras Ele perguntava para ela de onde vocecirc
eacute E ela respondia que morava em Satildeo Pedro de Alcacircntara Entatildeo o
Francisco foi junto com a informante H conhecer sua casa localizada no
siacutetio de Satildeo Pedro de Alcacircntara
Ela apresentou sua matildee para o senhor Francisco queria estudar e
aprender a liacutengua de sinais com Francisco presidente da associaccedilatildeo e
professor na escola para surdos Ela veio para a capital em 1966 aos 19
anos de idade onde aprendeu a Liacutengua Portuguesa Escrita matemaacutetica e
liacutengua de sinais na Escola Celso Ramos em Florianoacutepolis numa classe
de alunos surdos Alguns anos mais tarde ela trabalhou como costureira
na faacutebrica de renda e bordados Hoepcke
Ela fez alguns cursos de pintura em tecido bordado a maacutequina
Ela conta que sempre foi uma pessoa esforccedilada que buscava desafios na
sua aprendizagem o tempo todo e cada vez mais como autodidata que
aprendia muitas coisas como por exemplo cozinhar e alta costura
Passava sempre na escola era muito esforccedilada aprimorava muito a sua
aprendizagem de vida
O professor Francisco e ela viajavam pelo estado verificavam e
encontravam os surdos no interior do estado Ela entregou um anel para
134
a ex-rainha do Ciacuterculo de Surdo-Mudos de Santa Catarina ndash CSMSC
que era Catarina Ceciacutelia Schveitzer em 1993
5613 ndash Informante I
A informante I mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua
opiniatildeo sobre como aconteceu essa experiecircncia ldquoMudam a ldquoformardquo de
vida das pessoas na sociedade para que se adaptem a nova realidade e
as liacutenguas tambeacutem se modificam As liacutenguas de sinais tambeacutem mudam
criam-se palavras novas satildeo influenciadas por outras liacutenguas etc A
evoluccedilatildeo das coisas em geral estaacute acontecendo de forma muito raacutepida e
a LIBRAS sendo uma forma de comunicaccedilatildeo entre cultura surda e
ouvinte precisa acompanhar essa evoluccedilatildeo Quando uma determinada
coisa natildeo acompanha o desenvolvimento onde estaacute inserida a
tendecircncia eacute de ficar do lado de forardquo
A informante I nasceu em 01041948 em Blumenau veio de
uma famiacutelia de 6 irmatildeos onde 3 satildeo surdos e 3 satildeo ouvintes A matildee do
informante I descobriu que era surda quando tinha mais ou menos dois
anos de idade Apoacutes essa descoberta teve uma infacircncia normal era uma
crianccedila super ativa
Aos 7 anos de idade entrava na escola onde havia outras crianccedilas
surdas como ela Foi alfabetizada em Blumenau Depois lembrou que
tentava usar o seu aparelho auditivo mas como natildeo escutava nada
acabou rejeitando o aparelho
Tinha muita preocupaccedilatildeo com a educaccedilatildeo dos surdos Os pais
mandaram-na estudar num internato de crianccedilas surdas no Rio de
Janeiro aos 9 ou 10 anos de idade Ela natildeo se adaptou e retornou para
Blumenau A escola para surdos que frequentava em Blumenau ficou
sem a professora especializada e ela teve que ir para uma escola regular
O pai que era bancaacuterio pediu transferecircncia do banco para a cidade
de Florianoacutepolis para que a informante I e seus irmatildeos pudessem
continuar os estudos
Em Florianoacutepolis frequentaram a escola Celso Ramos onde a sala
dos surdos era de responsabilidade do professor Francisco Lima Juacutenior
O professor Francisco era uma pessoa muito importante nesta
eacutepoca a vida dele era ajudar o grupo de surdos atraveacutes da liacutengua de
sinais e ele lecionava no ensino fundamental e no curso primaacuterio
A informante I sempre foi muito curiosa queria mais e resolveu
fazer o curso ginasial por correspondecircncia pois na eacutepoca fazia o
segundo grau na escola de ouvintes tinha dificuldade tinha que aprender
tudo sozinha porque na escola o ensino era em portuguecircs falado difiacutecil
135
para o surdo entender (problema de comunicaccedilatildeo) Ela tinha vontade de
estudar na escola com o professor Francisco que ensinava na liacutengua de
sinais
Relembrou que naquela eacutepoca viu que foi muito difiacutecil quando
ela tinha duacutevidas os pais pagavam um professor para dar aulas
particulares Enfim venceu mas natildeo foi faacutecil Depois fez vaacuterios cursos
profissionalizantes como datilografia correspondecircncia comercial curso
de cabeleireira manicure pintura em tela corte e costura e tantos outros
que agora natildeo lembrava mais
Depois de tudo isso resolveu fazer o concurso para uma vaga de
escrituraacuterio no Banco do Estado de Santa Catarina ndash BESC e foi
aprovada trabalhou laacute por vaacuterios anos e agora jaacute estava aposentada
A informante I eacute casada e o companheiro tambeacutem eacute surdo
funcionaacuterio aposentado da Imprensa Oficial Queria muito ter filhos e
acabou tendo um filho que eacute ouvinte e hoje estaacute com 27 anos e tem
formaccedilatildeo acadecircmica com poacutes-graduaccedilatildeo Diz sentir-se realizada
Sua matildee tem hoje 87 anos e eacute a grande incentivadora de sua vida
eacute tambeacutem um grande exemplo de vida guerreira batalhadora e muito
religiosa Foi ela que ensinou o que eacute amor respeito e outros valores
morais tudo isso dentro da doutrina espiacuterita
A informante I diz ser uma pessoa realizada porque venceu
muitas barreiras conseguiu tirar a carteira de motorista e tambeacutem
aprendeu a utilizar a comunicaccedilatildeo no celular Internet MSN e e-mail
Nada foi faacutecil considera-se uma pessoa feliz adora assistir aos
filmes legendados os noticiaacuterios novelas enfim gosta de estar bem
informada
Contando a histoacuteria de sua vida quer mostrar agraves pessoas que pode
alcanccedilar qualquer coisa na vida e que natildeo eacute diferente dos outros A
diferenccedila estaacute na audiccedilatildeo mas pode usar os outros sentidos para se
comunicar e utilizar a liacutengua de sinais visual
562 ndash Grupo II ndash Informantes
Nas narrativas dos sujeitos surdos para a pesquisa no Grupo II
com idade intermediaacuteria de 30 anos a 60 anos de idade em
intermediaacuterio verificou-se que todos foram alunos do professor surdo
Francisco A seguir estatildeo expressas algumas opiniotildees destes surdos
nomeados de informantes D E e F
136
5621 ndash Informante D
A informante D mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua
opiniatildeo a respeito de como aconteceu essa experiecircncia ldquoCom o passar
do tempo ocorrem muitas mudanccedilas nas liacutenguas de sinais para suprir as
necessidades de comunicaccedilatildeo e as modificaccedilotildees de costumes de cada
geraccedilatildeo Os sinais satildeo criados de acordo com a necessidade de cada
grupordquo
A informante D nasceu em Florianoacutepolis num domingo no dia
quatro de outubro de mil novecentos e cinquenta e trecircs (04101953) em
casa sob os cuidados de uma parteira chamada de Dona Oliacutevia Nasceu
com audiccedilatildeo perfeita segundo diagnoacutestico de um meacutedico do hospital
das cliacutenicas em Satildeo PauloSP em 1961 O responsaacutevel pela sua perda de
audiccedilatildeo foi um medicamento chamado de trepdomicina usado para
acalmar a ldquotosse compridardquo ou Coqueluche Nessa eacutepoca natildeo havia
vacina para a doenccedila nos postos de sauacutede Sua matildee levou os filhos para
vacinar e constatou isso
A famiacutelia dela descobriu a surdez aos nove meses de idade Ela
tinha seis meses de idade quando foi acometida pelo viacuterus da
coqueluche e a irmatilde tambeacutem que na eacutepoca tinha 9 anos de idade
A matildee dela quando estava graacutevida tomou uma injeccedilatildeo
denominada 914 para curar infecccedilatildeo no aparelho genital feminino Esse
medicamento agiu negativamente na formaccedilatildeo dos ossos deixando-a
com o andar defeituoso parecendo que uma perna era mais curta que a
outra Ela foi para Satildeo Paulo levada pelo irmatildeo e pelo padrinho para
tratamento Foi submetida a quatro cirurgias entre 1961 a 1963 mas
que surtiram pouco resultado comprovado em 1980 Daiacute para frente
voltava a ter uma perna mais curta e sente muitas dores ao andar e
sentar
Em 1964 iniciava seus estudos na escola para surdos de
Florianoacutepolis no grupo Celso Ramos Seu primeiro professor surdo foi
o Francisco que lhe dava aula na liacutengua de sinais Francisco tambeacutem
ensinava LIBRAS no Ciacuterculo dos Surdos Mudos de Santa Catarina na
escola primaacuteria e na associaccedilatildeo de surdos
Em 1975 fazia teste para ingressar como funcionaacuteria no BESC
sendo admitida como escrituraria em 18091975 e se aposentou em
19112002 Ela aprendeu a dirigir automoacutevel fez curso de datilografia
e por uacuteltimo fez curso baacutesico de computador para saber operaacute-lo Fez
curso de pintura a oacuteleo em tela e em tecido Procurava cuidar de sua
sauacutede indo ao meacutedico regularmente
Ela eacute associada e participa da diretoria da Associaccedilatildeo de Surdos
137
da Grande Florianoacutepolis ndash ASGF eacute tambeacutem voluntaacuteria nas atividades
que a associaccedilatildeo desenvolve em benefiacutecio de seus amigos surdos que
frequentam a mesma associaccedilatildeo Hoje ensina LIBRAS para os
associados de qualquer idade
5622 ndash Informante E
O informante E mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua
opiniatildeo de como aconteceu essa experiecircncia ldquoAssim como a liacutengua
portuguesa evolui ou muda com o passar do tempo LIBRAS tambeacutem
passa por mudanccedilas constantes estas podem ser de regiatildeo para regiatildeo
por exemplo a liacutengua de LIBRAS acompanha a evoluccedilatildeo do mundo
sendo hoje uma liacutengua para a comunicaccedilatildeo dos surdosrdquo
O informante E nasceu na maternidade Carmela Dutra no Centro
de Florianoacutepolis no dia 03 de Novembro de 1957 Ele ficou surdo aos
quatro anos de idade (causado por remeacutedios ministrados errados por sua
matildee nos ouvidos quando estava com febre dor de ouvidos e caxumba)
Com 53 anos eacute presidente de entidade esportiva de Santa
Catarina desde 1999 reeleito pela segunda vez com gestatildeo ateacute 2011
sendo um dos liacutederes dos surdos de Santa Catarina Foi um dos
fundadores da Sociedade de Surdos de Satildeo Joseacute atuou nela de 1990 a
1996 uma entidade que crescia muito e eacute considerada a mais organizada
no estado de Santa Catarina
Ele escolheu o sobrenome diferente na campanha poliacutetica que
concorreu para vereador de Satildeo Joseacute de 2003 a 2007 em homenagem agrave
sua avoacute-materna jaacute falecida descendente de alematildees que lhe criou por
mais de 10 anos junto com o marido descendente de portugueses que
natildeo conhecera pois a avoacute dele ficara viuacuteva quando o pai dele era
solteiro Portanto queria preservar o sobrenome da avoacute-matildee dele como
lembranccedila
Os pais dele estavam preocupados com sua infacircncia com sua
situaccedilatildeo futura e por isso procuravam incansavelmente a existecircncia de
uma escola especial para surdos
Finalmente acharam a escola localizada na Rua Conselheiro
Mafra no Centro de Florianoacutepolis Era uma sala comercial tipo garagem
grande (perto do antigo terminal urbano hoje Terminal Cidade de
Florianoacutepolis) foi ali onde encontraram a primeira escola para surdos
onde ele aprendeu a liacutengua de sinais aos 6 anos de idade
Ele estudou com o primeiro professor surdo do estado de Santa
Catarina O professor Francisco e sua esposa que era ouvinte e tambeacutem
professora chamava-se Mercedes e foi a primeira inteacuterprete dele Neste
138
momento existiam outros alunos surdos que eram Niro Paulo Percy
Socircnia Maria da Graccedila Maria Bernadete Aldenei Rita Reinoldo
Edson Ivo (falecido) Arnoldo e outros que ele natildeo lembrava
No comeccedilo do aprendizado dele da liacutengua de sinais achava
estranho e natildeo lhe agradava muito fazendo com que ele natildeo quisesse
estudar ali mas foi a matildee dele que o incentivou a continuar estudando
e com o tempo foi gostando da escola e do grupo de amigos surdos
isto foi em 1971
Essa escola foi transferida de local e foi para a EEB
Governador Celso Ramos no bairro Prainha em Florianoacutepolis no ano
de 1972 Esta nova escola ele adorava muito e guarda boas recordaccedilotildees
vividas nela
Infelizmente ele natildeo lembrava do ano em que foi transferido para
o Instituto de Audiccedilatildeo e Terapia da Linguagem ndash IATEL situado na
Rua Liberato Bittencourt no Centro de Florianoacutepolis numa casa
simples e alugada Ficou muito contrariado com esta transferecircncia
Nessa eacutepoca tinha mais ou menos 13 anos Proacuteximo aos 15 anos ele
abandonou o IATEL porque tinha que trabalhar para sustentar a avoacute
dele que era viuacuteva e pobre Sua avoacute tambeacutem natildeo gostava desta escola e
tambeacutem das novas professoras que eram ouvintes e que natildeo sabiam usar
a liacutengua de sinais obrigando os surdos a oralizarem
Aos 14 anos ele jaacute trabalhava em uma empresa de comunicaccedilatildeo
visual (luminosos) Apoacutes um ano ele mudava de ramo para a funccedilatildeo de
auxiliar de escritoacuterio em duas empresas de contabilidade Depois disso
ele fundou uma empresa proacutepria de comunicaccedilatildeo visual em sociedade
com seu pai no ramo de letreiros em placas paredes e etc O nome da
empresa comprada foi modificado e mais tarde fez sociedade com o
irmatildeo caccedilula Para seu irmatildeo caccedilula foi um aprendizado e hoje ele eacute
proprietaacuterio de uma empresa no mesmo ramo residindo em Blumenau
Em 2000 deixava este ramo e comeccedilava a estudar para ter a
formaccedilatildeo de professor na Liacutengua de Sinais aos 43 anos Ele Trabalhou
como professor em Admissatildeo em Caraacuteter Temporaacuterio ndash ACT e na
Fundaccedilatildeo Catarinense de Educaccedilatildeo Especial - FCEE como assessor
teacutecnico na Educaccedilatildeo de Surdos de 2003 a 2005 Trabalhou tambeacutem
como ACT no Centro Educacional Municipal Interativo Floresta em Satildeo
Joseacute no Nuacutecleo de Educaccedilatildeo Especial e Inclusiva - NEESPI como
professor de LIBRAS de 2006 a 2007 Foi docente dos cursos de
LIBRAS de 2000 a 2007
A partir de 2008 deixava o cargo de professor de LIBRAS para
focar os compromissos somente nos esportes Atualmente atua numa
entidade esportiva de surdos desde 1999 nesta com 12 associaccedilotildees
139
filiadas organizando em meacutedia sete (7) eventos esportivos por ano
Portanto os pensamentos deles e seus compromissos satildeo voltados para a
comunidade surda
5623 ndash Informante F
O informante F mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua
opiniatildeo de como aconteceu essa experiecircncia ldquoPorque assim como toda
liacutengua ela sofre das mudanccedilas histoacutericas e culturais as liacutenguas satildeo
dinacircmicas e natildeo estaacuteticas por isso elas vivem sofrendo alteraccedilotildees e com
as liacutenguas de sinais ocorre o mesmo Essas mudanccedilas podem ser
percebidas nas diferentes regiotildees onde satildeo utilizadas a mesma liacutengua
mesmo sendo a mesma liacutengua ela possui algumas diferenccedilas em
algumas palavras ou expressotildeesrdquo
O informante F nasceu 04071958 em Florianoacutepolis eacute casado e
tem 52 anos Nasceu surdo a famiacutelia dele sempre lhe deu apoio
levaram-no a vaacuterios lugares para consultar com meacutedicos procuravam
um tratamento mas de acordo com os meacutedicos ele natildeo tinha muita
chance de desenvolver audiccedilatildeo e a fala Nesta eacutepoca natildeo existiam no
Estado de Santa Catarina escolas especializadas para surdos e como o
pai dele era militar natildeo podia morar em outro Estado Entatildeo seu pai
matriculou-o numa escola regular mas as professoras natildeo sabiam a
liacutengua de sinais e era muito difiacutecil para ele aprender
A alfabetizaccedilatildeo dele natildeo foi muito boa e para melhorar um pouco
o aprendizado tinha aulas com o professor surdo Francisco Lima Juacutenior
que lhe ensinava as palavras utilizando o alfabeto manual e a liacutengua de
sinais para o aprendizado da Liacutengua Portuguesa Escrita e tambeacutem para
alguns alunos surdos
Em sua famiacutelia se comunicava atraveacutes de sinais caseiros que de
acordo com ele foi muito bom e os utiliza ateacute hoje
Apesar das dificuldades nos estudos tinha sorte pois conseguiu
emprego Neste emprego que era na Central de Luz Eleacutetrica de Santa
Catarina ndash CELESC sempre foi muito bem tratado Tinha muitos
amigos na associaccedilatildeo de surdos na escola e no trabalho e para se
comunicar ensinava alguns sinais bem baacutesicos para os amigos para que
assim natildeo tivessem problemas quanto agrave comunicaccedilatildeo
Ele trabalhou sempre na CELESC na cidade de Florianoacutepolis
pois foi aprovado em um teste naquela eacutepoca natildeo havia concursos
Depois foi transferido algumas vezes para outras cidades como
Blumenau Joinville e Jaraguaacute do Sul Iniciou como auxiliar de serviccedilos
gerais depois passou a auxiliar administrativo e por uacuteltimo como
140
motorista
Foi presidente de vaacuterias Associaccedilotildees de Surdos uma dessas em
1989 que foi fechada neste mesmo ano e outra em dois mandatos
20052008 Ele jogou em vaacuterios times nas associaccedilotildees de surdo de Santa
Catarina Ele preferia jogar futebol de salatildeo - FUTSAL
Ele sempre participou e ateacute hoje participa de encontros com
surdos na liacutengua de sinais seja em associaccedilotildees ou outros eventos
Atualmente mora na cidade de Londrina ndash Paranaacute
563 ndash Grupo III ndash Informantes
Nas narrativas dos sujeitos surdos do Grupo III com idades entre
15 a 30 anos sendo o grupo dos mais jovens e que participam de
associaccedilotildees de surdos em Santa Catarina foram expressas algumas
opiniotildees desses surdos aqui nomeados de informantes A B e C
Seguem abaixo relatos e experiecircncias dos informantes
5631 ndash Informante A
O informante A mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua
opiniatildeo a respeito de como aconteceu essa experiecircncia ldquoNatildeo diria que
ldquomudardquo mas sim sofre modificaccedilotildeesalteraccedilotildees com o tempo e como
qualquer outra liacutengua dependendo do estadopaiacutes em que eacute ldquofaladardquo teraacute
adaptaccedilotildees conforme a necessidade de cada lugar Sendo que ateacute mesmo
em casa quando a crianccedila natildeo tem contato com LIBRAS em um
primeiro momento ela e sua famiacutelia se apropriam de sinais proacuteprios para
a comunicaccedilatildeordquo
O informante A nasceu em 18121980 no Balneaacuterio Camboriuacute
nasceu surdo comunica-se por meio de gestos com a famiacutelia Sua
famiacutelia sempre mostrou preocupaccedilatildeo com ele levaram-no a atendimento
fonoaudioloacutegico para que aprendesse a falar mas tinha dificuldades
poreacutem era esforccedilado Somente mais tarde encontrava a comunidade
surda na escola Quando ele teve atendimento especial e natildeo era
utilizada a liacutengua de sinais somente alguns gestos acabava desistindo e
parava de estudar Retornando agrave escola com ouvintes quando ele tinha
17 anos de idade encontrava os surdos que o convidaram a participar
de uma festa na associaccedilatildeo de surdos foi quando comeccedilou a aprender a
LIBRAS e ficou feliz pois comunicava-se com todos na LIBRAS jaacute
que era um modo mais faacutecil de aprender e memorizar os conteuacutedos jaacute
com o oralismo era muito sofrido
Ele fundou uma Associaccedilatildeo de Surdos na cidade onde mora Na
141
associaccedilatildeo motivou o uso da LIBRAS valorizou o contato entre os
membros da comunidade surda e a LIBRAS assim como a educaccedilatildeo
formal Ele sentia-se satisfeito pois se comunicava com os amigos
usando a leitura labial e os gestos mesmo assim perdia algumas
informaccedilotildees por natildeo ouvir Mais tarde encontrava-se com grupos de
surdos e comeccedilou entatildeo o contato da LIBRAS e percebia que por meio
da LIBRAS ele poderia receber mais informaccedilotildees do que pela leitura
labial e a partir de entatildeo conseguiu viver melhor na sociedade Lutou
para inserir a LIBRAS no ensino dos surdos porque sabia na praacutetica que
facilita o aprendizado do surdo
Hoje estaacute casado e sua esposa eacute surda Formou-se na faculdade de
gastronomia pela UNIVALI e tem o curso de especializaccedilatildeo em
educaccedilatildeo especial Atualmente faz curso de LetrasLIBRAS e sua
turma eacute composta na maioria por surdos que estatildeo gostando do curso
tendo a oportunidade de trocar ideacuteias experiecircncias bem como buscar
novos conhecimentos
Ele eacute Instrutor de LIBRAS efetivado pela prefeitura de Itajaiacute
aleacutem de trabalhar como professor de LIBRAS em outros lugares
Tambeacutem realiza trabalhos voluntaacuterios em algumas entidades
(Associaccedilatildeo FENEIS Federaccedilatildeo etc) Jaacute atuou em vaacuterios cargos de
diretoria na Associaccedilatildeo de Surdos de Balneaacuterio Camboriuacute isso foi bom
porque ele aprendeu sobre poliacutetica sobre organizaccedilatildeo e tambeacutem a
utilizar estrateacutegias diferentes para as accedilotildees etc
5632 ndash Informante B
O informante B mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua
opiniatildeo sobre como aconteceu essa experiecircncia ldquoA LIBRAS eacute uma
liacutengua porque possui uma forma de comunicaccedilatildeo proacutepria Ė
independente como qualquer outra liacutengua escrita ou falada Tem
formato proacuteprio sua comunicaccedilatildeo eacute visual pois se utiliza de gestos e
expressotildees Como todas as liacutenguas tem variaccedilotildees conforme a regiatildeordquo
O informante B nasceu em 08011985 na cidade de Tijucas em
Santa Catarina Atualmente mora em Itapema e tem 25 anos Ele nasceu
surdo mas seus pais soacute descobriram sua surdez aos nove meses de
idade entatildeo ficaram apavorados e natildeo sabiam como ele iria se
comunicar na sociedade Depois o pai dele levou-o para uma escola em
Florianoacutepolis chamada de IATEL onde ateacute a 3ordf seacuterie utilizavam a
linguagem oral e muito pouco gestual Na eacutepoca os gestos (sinais) natildeo
eram reconhecidos como uma liacutengua
Os pais dele escolheram uma escola da Rede Regular de Ensino
142
na eacutepoca nem era pensado em inteacuterprete de LIBRAS ateacute porque essa
natildeo era uma liacutengua oficializada Eles natildeo conheciam a comunidade
surda e sua cultura entatildeo decidiram que seu filho frequentaria
atendimento fonoaudioloacutegico dois dias por semana
Para o informante B seus pais tentavam criaacute-lo como ouvinte o
que para ele caracteriza uma tentava de modificar sua identidade surda
Ele relata que tinha muita dificuldade de comunicar-se com as pessoas
na sociedade que utilizava a liacutengua falada
Mais tarde aos 16 anos de idade foi para uma escola de educaccedilatildeo
especial onde teve aulas de informaacutetica com outros surdos entatildeo podia
utilizar a LIBRAS Antes ele ficava isolado natildeo gostava e natildeo podia
usar a liacutengua de sinais comeccedilava a aprender a falar mas demorava
muito Agora aceita sua identidade surda sente-se mais feliz e melhor
Participa de uma associaccedilatildeo de surdos e viaja para vaacuterios lugares nas
diferentes regiotildees de Santa Catarina
Ele trabalhou como analista de sistemas na aacuterea de informaacutetica da
empresa Ceracircmica Portobello em Tijucas ficava muito incomodado
com a barreira de comunicaccedilatildeo com os funcionaacuterios em virtude de terem
muito trabalho pois o surdo precisa das matildeos para falar e se estaacute com
elas ocupadas trabalhando fica impossiacutevel comunicar-se diferente dos
ouvintes Tentou ensinar alguns sinais para os funcionaacuterios para que lhe
entendessem e pudessem se comunicar com ele mas os funcionaacuterios
desviavam para outro assunto natildeo demonstravam interesse em aprender
sinais Sofria por passar o dia inteiro de trabalho sem poder se
comunicar com outra pessoa disfarccedilava esse sentimento acessando a
Internet para realizar pesquisas de temas relacionados agrave educaccedilatildeo de
surdos (palestras congressos encontros etc) Entatildeo numa destas
pesquisas achou um congresso de surdos anotou a data e mostrou ao
chefe que o liberou para ir ao congresso (encontro surdo)
Ele acredita que as pessoas natildeo tinham culpa pois oralismo era a
forma de ensinar naquela eacutepoca e para os surdos era muito difiacutecil de
compreender e aprender a liacutengua falada Aprendeu LIBRAS na
comunidade surda Apoacutes a liberaccedilatildeo para o congresso pelo seu chefe
comeccedilou a frequentar a associaccedilatildeo de surdos e outros eventos da
comunidade surda
Ele participou de um concurso no municiacutepio de Itajaiacute para o
cargo de instrutor de LIBRAS Foi classificado em terceiro lugar
conseguiu um trabalho e seus pais deixaram que ele morasse sozinho
em Itajaiacute Morou sozinho por um ano trabalhava durante o dia e
estudava na faculdade agrave noite Com o passar do tempo conheceu
pessoas e fez amizade com outros surdos que no segundo ano dividiram
143
o aluguel da casa com ele
Alguns surdos convidaram ele para um encontro de surdo
(nacional congresso e entre outros) Foi possiacutevel fazer novas amizades e
entrar em contato com outros sujeitos surdos pois neste espaccedilo tinha
surdo sentado ao lado surdo no bar e em outros momentos do
congresso
Ao teacutermino do encontro pegou os endereccedilos eletrocircnicos das
pessoas que conheceu e assim pode manter correspondecircncia com outros
surdos atraveacutes de e-mails nas diferentes regiotildees do estado de SC
Depois de algum tempo de troca de e-mails combinou encontros e
viajou para o sul sudeste nordeste norte do Brasil e etc encontrou-se
com muitos surdos que se comunicavam na liacutengua de sinais e aprendeu
muitos sinais novos onde percebeu que havia muitas diferenccedilas nos
sinais que cada regiatildeo tinha sinais especiacuteficos daquele lugar
Quando o curso de LetrasLIBRAS da UFSC foi aprovado pelo
MEC e abriram-se as inscriccedilotildees trecircs instrutores de LIBRAS jaacute haviam
prestado o vestibular tiveram uma prova com 15 questotildees referentes a
LIBRAS utilizaram na apresentaccedilatildeo para seleccedilatildeo dos candidatos slides
e videoconferecircncia com todos os candidatos Ficou admirado e achou
muito legal o grupo de surdo que estava laacute e disse ldquoPassei a ver o
mundo diferente ao teacutermino da provardquo
Ele trabalhou como instrutor de LIBRAS por 4 anos e recebeu 14
alunos surdos para atendimento no processo de aprendizagem da
LIBRAS E tambeacutem ensinou sobre a relaccedilatildeo de aprendizagem do aluno
surdo em LIBRAS para os colegas Ele formou-se no curso de ciecircncias
da computaccedilatildeo e fez poacutes-graduaccedilatildeo no processo de inclusatildeo e educaccedilatildeo
especial Atualmente estaacute cursando a faculdade de LetrasLIBRAS pela
UFSC
5633 ndash Informante C
O informante C mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua
opiniatildeo de como aconteceu essa experiecircncia ldquoA liacutengua de sinais assim
como todo o contexto no qual estamos inseridos sofre mudanccedilas e
adaptaccedilotildees durante o decorrer de nossas vidas por questotildees de
adaptaccedilatildeo comportamento e culturardquo
O informante C nasceu em 12021986 em Santa MariaRS surdo
de nascenccedila morando em Florianoacutepolis haacute pouco tempo Voltando ao
passado dele desde pequeno adorava brincar mexer experimentar as
coisas novas o que tinha por perto Certa vez sua avoacute chamou-o falava
o seu nome mas como ele natildeo escutava nenhuma letra e nenhum som
144
que veio da voz da avoacute natildeo a atendeu Ela estranhou a atitude dele pois
ele nunca deu atenccedilatildeo para ela quando ela gritava ou chamava pelo seu
nome Pra ela era impossiacutevel uma crianccedila que natildeo respondia aos sons
Entatildeo ficou desconfiada que ele poderia ser surdo Resolveu pedir aos
pais dele para levaacute-lo a um meacutedico para descobrir a causa do problema
Mas seus pais tinham dificuldade de aceitar essa ideacuteia e de levaacute-lo para
o meacutedico parecia que tinham medo que ele realmente fosse surdo Ficou
assim sem comunicaccedilatildeo
A matildee dele assustada chorava muito e o pai dele ficou furioso
Pois o medo deles era de jamais se comunicarem com o filho que eles
amavam muito Entatildeo o meacutedico deu um conselho para a matildee dele que
era conhecer as pessoas surdas que se comunicavam atraveacutes da
LIBRAS ou entatildeo fazer atendimento e acompanhamento com
fonoaudioacuteloga para aprender a falar eou melhorar a fala
A matildee dele decidiu em primeiro lugar ir numa escola onde tinham
pessoas surdas laacute conheceu algumas pessoas surdas e achou que eram
pessoas legais Conversou com essas pessoas surdas que conheceu
sobre seu filho que era surdo Queria saber como poderia se comunicar
com uma crianccedila surda pois o objetivo da matildee era poder se comunicar
com o filho Entatildeo pediu ajuda de um surdo jovem Ele explicou para
ela que devia fazer um curso de LIBRAS que eacute a Liacutengua de Sinais
Brasileira que as pessoas surdas utilizam para se comunicarem com
facilidade
Ele crescia e no seu desenvolvimento viveu muita coisa
conseguiu mexer comer tudo A matildee dele comunicava-se com ele
atraveacutes dos sinais ele via as matildeos da matildee que natildeo parava de mexer
estranhava mas repetia para entender aquele conceito o que ela queria
dizer ela sinalizava e mostrava as coisas ateacute que ele entendia o
conceito
A matildee dele era uma pessoa bastante simples e feliz com os filhos
Tem um irmatildeo que eacute um ano mais velho do que ele o irmatildeo aprendeu a
usar sinais com ele e a matildee e podiam se comunicar daiacute eles
melhoraram muito a comunicaccedilatildeo tornaram-se grandes amigos sempre
brincaram juntos brigavam choravam gritavam e reclamavam Mas
eles eram grandes amigos
Ele mais observava as coisas a seu redor e se admirava com o que
via Depois de alguns meses sua irmatilde cresceu um pouco conseguiu
perceber as coisas comeccedilou a falar com ela atraveacutes de sinais ela
aprendeu essa liacutengua com ele como se fosse a primeira liacutengua da vida
dela Uma vez teve uma festinha laacute em sua casa estava toda a famiacutelia
reunida passou um aviatildeo sua irmatilde ouviu o barulho do aviatildeo e sinalizou
145
um aviatildeo todo mundo viu e se assustaram principalmente a matildee dele
pois natildeo sabia que a filha sinalizava sendo tatildeo pequena Sua matildee ficou
tatildeo contente e bateu uma foto dela sinalizando
Como cresceu sempre podendo se comunicar na liacutengua dos sinais
acreditava viver muito ldquonormalizadordquo Tinha uma famiacutelia e amigos
surdos estudou em escolas com outras crianccedilas surdas e relata como ele
se divertia muito
Depois de certo tempo a escola natildeo funcionava somente para
crianccedilas surdas sua matildee ficou muito preocupada com sua educaccedilatildeo
combinou com seu pai e com toda sua famiacutelia a mudanccedila para a cidade
de Florianoacutepolis ndash Santa Catarina pois soube que havia uma escola
especial para ele onde poderia crescer com uma educaccedilatildeo de qualidade
Quando chegou agrave capital de SC Florianoacutepolis simplesmente
amou a cidade porque ele curtia bastante as praias o pai alugou uma
casa bem legal na Barra da Lagoa e todos os dias ia sozinho para a
praia brincava na areia e construiacutea castelos
O informante C relata que curtiu bastante aquele veratildeo
mudaram-se dessa casa para outra que construiacuteram no bairro Carianos
ele natildeo gostava muito do lugar achava meio estranho porque para ele
ficava muito longe das praias Mas com o tempo ele se acostumou ateacute
fez amizades com os vizinhos que eram ouvintes Ele natildeo sabia como
comunicar-se com eles pois usavam a fala ele sentiu vergonha e medo
Ficava atraacutes de sua matildee que explicava para os vizinhos que ele era
surdo que natildeo sabia falar quase nada apenas sabia LIBRAS eles
ficavam admirados e convidavam-no para brincar Tinha amigos que
eram tranquilos porque o pai deles era surdo tambeacutem
O tempo passava e ele brincava sempre com esses amigos curtia
muito mas ele percebeu que se comunicavam soacute oralmente soacute ele natildeo
estranhava Foi falar com sua matildee sobre essa situaccedilatildeo pois ele queria
poder falar tambeacutem sua matildee se surpreendeu com a ideacuteia dele que era
ldquoquerer poderrdquo falar tambeacutem Para sua matildee foi uma surpresa porque
ouvia muito que a maioria das pessoas surdas natildeo aguentava aprender a
falar e seu proacuteprio filho estava querendo aprender a falar
Ele resolveu ser soacutecio de uma associaccedilatildeo de outra cidade natildeo
gostava da anterior e se mudou para Associaccedilatildeo dos Surdos da Grande
Florianoacutepolis ele fez amizade com o pessoal viajou muito se divertia
saiacutea e curtiu bastante Participava das reuniotildees da associaccedilatildeo tambeacutem
Depois virou Conselheiro Fiscal da Associaccedilatildeo gostou da experiecircncia
mas continuou sendo soacutecio Mas por outro lado andava observava e
estudava bastante e percebeu o mundo cada vez mais veloz por causa
da tecnologia e a sociedade que natildeo parava de mudar Depois que
146
terminou o terceiratildeo teve uma formatura incriacutevel em que chorou um
monte pois teve medo de perder o contato com as colegas de sala mas
tambeacutem porque ele aprendeu a amar esses amigos como se fossem de
sua famiacutelia
Comeccedilou uma faculdade na UFSC gostou bastante e fez novas
amizades comeccedilou a trabalhar como AtorTradutor Cinegrafista Editor
de Viacutedeos na UFSC tudo isso como bolsista Ele tornou-se bem
conhecido nacionalmente na comunidade surda comeccedilou a viajar
bastante para congressos e palestras Depois de um ano de sucesso em
sua vida acabou o contrato de bolsista pela UFSC e comeccedilou a
trabalhar como professor na prefeitura foi um grande desafio para ele
pois tinha professoras ouvintes que trabalhavam na educaccedilatildeo especial
que pensavam diferente dele com relaccedilatildeo agrave comunicaccedilatildeo na liacutengua de
sinais
Hoje em dia continua sendo conhecido nacionalmente na
comunidade surda eacute estudante do uacuteltimo periacuteodo da LetrasLIBRAS na
UFSC e estaacute trabalhando em duas escolas da prefeitura como professor
de LIBRAS
564 ndash Algumas consideraccedilotildees finais
Os informantes mostraram sua histoacuteria e nela pude perceber que
sinalizavam diferentemente uma mesma palavra principalmente aqueles
que viveram em lugares diferentes
Sabemos que a histoacuteria humana sofre transformaccedilotildees ao longo do
tempo mas nem sempre os seres humanos se datildeo conta das mudanccedilas
que podem acontecer no passado no presente e no futuro Na sociedade
acontecem transformaccedilotildees tecnoloacutegicas poliacuteticas econocircmicas sociais e
culturais Todas essas transformaccedilotildees influenciam o modo como usamos
a liacutengua E a liacutengua se modifica com o tempo
Noacutes tambeacutem mudamos as ldquocoisas da vidardquo A comunidade surda
tem um jeito proacuteprio de demonstrar as variaccedilotildees regionais e mudanccedilas
quanto agrave liacutengua de sinais a ponto de ser possiacutevel identificar a
procedecircncia de um surdo do nordeste ou do sul com base apenas no seu
gestual
A comunidade surda antigamente apresentava uma forma de
conversar em LIBRAS mais cotidiana e restrita agrave associaccedilatildeo de surdos
mas na atualidade a comunicaccedilatildeo eacute mais ampla acontece em vaacuterios
locais como escolas universidades congressos viagens turiacutesticas etc
ampliando conhecimentos e conhecendo novos sinais em contexto
social
147
Um surdo conversa com outro surdo utilizando a liacutengua de sinais
e qualquer pessoa ouvinte pode aprender LIBRAS e se comunicar na
comunidade surda mesmo natildeo tendo fluecircncia Dessa forma os surdos e
ouvintes podem se comunicar na LIBRAS Aleacutem disso a comunicaccedilatildeo
entre duas ou mais pessoas pode se dar em diferentes contextos sociais
Vale ressaltar que poucos surdos conheciam a gramaacutetica ou tinham
conhecimento linguiacutestico da LIBRAS ateacute porque eacute uma liacutengua que estaacute
sendo ensinada para o surdo nas escolas a partir da LEI de
reconhecimento e ainda natildeo eacute ensinada a parte de reflexatildeo linguiacutestica
estaacute mais voltada para sua praacutetica (o uso)
Segundo Labov
Ao falar do papel de fatores sociais que influenciam a
evoluccedilatildeo linguiacutestica eacute importante natildeo superestimar o
grau de contato ou de superposiccedilatildeo entre valores sociais
e a estrutura da liacutengua A estrutura linguiacutestica e a
estrutura social natildeo satildeo de modo algum coextensivas A
grande maioria das regras linguiacutesticas estatildeo bastante
distantes de qualquer valor social elas fazem parte do
elaborado mecanismo de que o falante precisa para
traduzir seu complexo conjunto de significados ou
intenccedilotildees em forma linear (LABOV 2008 [1972] p
290)
Em vaacuterios lugares (regiotildees) da comunidade surda usar a LIBRAS
em breve vai ser como falar em inglecircs em francecircs em italiano e em
outras liacutenguas Todas as liacutenguas satildeo importantes poreacutem alguma pode
ser mais reconhecida no mundo e influenciar mais Natildeo podemos
descartar a possibilidade de outras liacutenguas serem mais reconhecidas
assim como natildeo podemos prever quais liacutenguas influenciaratildeo mais no
mundo em outras eacutepocas quais dialetos novos teremos e quais variaccedilotildees
e mudanccedilas linguiacutesticas Talvez no futuro tenhamos mais influecircncia das
liacutenguas de sinais na comunicaccedilatildeo do mundo
148
149
CAPIacuteTULO VI ndash Descriccedilatildeo e anaacutelise dos resultados
61 ndash Introduccedilatildeo
Realizei a pesquisa escrita baseado nos relatos dos informantes
das trecircs geraccedilotildees pesquisadas atraveacutes de filmagem Primeiro busquei
nessas filmagens sinais que fossem relevantes para a pesquisa
variaccedilotildees e mudanccedilas lexicais e variaccedilotildees e mudanccedilas fonoloacutegica na
LIBRAS Em seguida fiz uma listagem de sinais com a palavra
correspondente em Liacutengua Portuguesa observando o nuacutemero de vezes
em que o sinal era apresentado aparecia Depois escolhi os sinais que
mais apareciam nos trecircs grupos de informantes e verifiquei as CM (paacuteg
225 e 227) que apareceram Apoacutes isto fiz tabelas gerais para pesquisa
de variaccedilatildeo lexical mudanccedila lexical variaccedilatildeo fonoloacutegica e mudanccedila
fonoloacutegica Foram escolhidos dezessete sinais para anaacutelise porque
apareceram nos trecircs grupos e em maior nuacutemero Apoacutes a escolha dos
sinais construiacute quatro tabelas gerais com os sinais produzidos pelos trecircs
grupos pesquisados com a CM utilizada na sinalizaccedilatildeo Por fim fiz a
anaacutelise dos dados obtidos
Ressalto que a descriccedilatildeo dos informantes que realizaram as
entrevistas nas trecircs geraccedilotildees em diferentes faixas etaacuterias traz
informaccedilotildees de grande importacircncia para a anaacutelise dos dados obtidos
referentes agraves possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas na Liacutengua de
Sinais em Santa Catarina
Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os seguintes toacutepicos
comparaccedilatildeo dos dados dos grupos das trecircs geraccedilotildees de surdos na liacutengua
de sinais e descriccedilatildeo sobre variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na liacutengua de
sinais com a existecircncia de um ou mais sinais dos informantes das trecircs
geraccedilotildees descriccedilatildeo da variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua de
sinais e explicaccedilatildeo de como o mesmo sinal pode ser utilizado e por
fim anaacutelise dos resultados das trecircs geraccedilotildees dos informantes
considerando as variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas na Liacutengua Brasileira
de Sinais
62 ndash A comparaccedilatildeo dos dados o grupo de trecircs geraccedilotildees de surdos
na liacutengua de sinais
Os dados recolhidos no programa de transcriccedilatildeo na liacutengua de
sinais ndash ELAN foram analisados e comparados com o propoacutesito de
mostrarapontar possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas que
aconteceram na liacutengua de sinais em Santa Catarina Os informantes
150
apresentaram individualmente suas respostas ao questionaacuterio referente a
seu aprendizado escolar e a sua vida Essas apresentaccedilotildees gravadas em
viacutedeo tecircm o objetivo de mostrar a experiecircncia na liacutengua de sinais dos
informantes nas trecircs geraccedilotildees pesquisadas
Para anaacutelise dos dados recolhidos foi feita uma tabela
denominada Preliminar dos dados ndash variaccedilotildees ou mudanccedilas
linguiacutesticas Nessa tabela vemos a transcriccedilatildeo dos depoimentos e a
identificaccedilatildeo dos Grupos (I II e III) de surdos que narraram a sua
experiecircncia na liacutengua de sinais Seguem as principais abordagens
pesquisadas
No primeiro momento investigo a variaccedilatildeo e
mudanccedila lexical na Liacutengua Brasileira de Sinais onde
dois ou mais sinais existem na liacutengua ao mesmo tempo
descrevo a mudanccedila em dois sinais que se daacute quando o
antigo sinal some e um novo entra
No segundo e uacuteltimo momento investigo a variaccedilatildeo e
mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua Brasileira de Sinais em
que um mesmo sinal possui mais de uma forma de
realizaccedilatildeo descrevo a mudanccedila que se observa quando um
sinal altera de caracteriacutesticas com relaccedilatildeo aos paracircmetros
configuraccedilatildeo das matildeos ponto de articulaccedilatildeo e movimento
Foi interessante realizar a pesquisa dos dados dos trecircs grupos
porque eacute um desafio aleacutem de me permitir identificar os sinais das
geraccedilotildees pesquisadas A princiacutepio foram identificados os sinais que
eram utilizados pelos surdos mais velhos e que os jovens natildeo
conheciam Em seguida os sinais com configuraccedilatildeo de matildeos (CM) e
ponto de articulaccedilatildeo (PA) diferentes e tambeacutem os sinais com
configuraccedilatildeo de matildeos (CM) iguais e ponto de articulaccedilatildeo (PA)
diferentes Por uacuteltimo os sinais com configuraccedilatildeo de matildeos (CM)
diferentes e ponto de articulaccedilatildeo (PA) iguais
Os sinais apresentados pelos informantes das trecircs geraccedilotildees
totalizaram 255 sinais Nesse total foram utilizados 17 vocaacutebulos para a
anaacutelise dos resultados e levantamento dos sinais de cada informante dos
trecircs Grupos (I II e III) Alguns sinais foram dispensados porque
tornariam a pesquisa muito ampla Dos 255 sinais encontrados para
anaacutelise 115 foram apresentados pelos surdos do Grupo mais jovem 163
foram apresentados pelo Grupo com idade intermediaacuteria e 183 pelo
Grupo dos mais velhos
Esta distribuiccedilatildeo por faixa etaacuteria compreende 9 informantes trecircs
151
em cada uma das geraccedilotildees formando os trecircs Grupos pesquisados (I II e
III) O resultado mais significativo foi mostrado pelos informantes do
grupo de indiviacuteduos mais velhos (G e I) possibilitando numa primeira
anaacutelise perceber algumas variaccedilotildees e mudanccedila na liacutengua de sinais Ficou
perceptiacutevel que o grupo de surdos dos mais velhos influenciou a liacutengua
de sinais em Santa Catarina na comunidade surda Segue tabela com os
nuacutemeros de sinais levantados em cada um dos trecircs grupos
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Sinais
Analisados
183
163
115
Tabela 09 ndash Preliminar dos dados ndash Variaccedilotildees ou mudanccedilas linguiacutesticas
Como jaacute foi comentado anteriormente a comunidade surda em
Santa Catarina ateacute aproximadamente o ano de 2000 teve um uacutenico
professor surdo no nosso estado e que influenciou a liacutengua de sinais O
fator externo que influenciou a liacutengua de sinais em SC atraveacutes do
professor Francisco foi o agrupamento dos surdos de todo o estado
formando uma comunidade surda que tambeacutem participa da
identificaccedilatildeo de classe do grupo informante Outro fator externo eacute
percebido nos Grupos II e I que mostram sinais aprendidos no contato
com o professor surdo na escola e tambeacutem no Ciacuterculo de Surdo-Mudo
em Santa Catarina sendo que o Grupo II influenciou o Grupo III
Na tabela em anexo percebe-se que dos 255 sinais coletados o
Grupo I apresentou mais sinais do que os Grupos II e III Talvez os
sinais natildeo conhecidos pelo Grupo III sejam os sinais criados
recentemente pela comunidade surda acadecircmica
Nas quatro tabelas gerais dos dados (paacuteg153 167 174 e 176)
tambeacutem apresenta na coluna agrave esquerda dos informantes o sinal (leacutexico)
e na direita os trecircs grupos de diferentes geraccedilotildees com diferentes faixas
etaacuterias que variam de 25 a mais de 80 anos e totalizam nove (9) indiviacuteduos Na coluna sinal (leacutexico) apresentam-se os dados que foram
escolhidos para realizar a pesquisa nos Grupos I II e III as variaacuteveis
independentes (homem mulher idade escolaridade e profissatildeo) que
152
podem mostrar tambeacutem variaccedilatildeo e mudanccedila na liacutengua de sinais usada
pelos informantes
63 ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na Liacutengua Brasileira de Sinais
Nesta seccedilatildeo vatildeo ser observados os itens lexicais que estatildeo em
variaccedilatildeo nas trecircs geraccedilotildees Comparando os sinais eles podem ser
produzidos atraveacutes de um sinal ou mais por exemplo o sinal de ldquomatildeerdquo
no passado tinha apenas um sinal (simples) atualmente utilizam-se dois
sinais (composto) para esta representaccedilatildeo Isto mostra que acontece
variaccedilatildeo lexical em LIBRAS Outros exemplos de sinais em variaccedilatildeo
satildeo ldquoaposentarrdquo ldquoaviatildeordquo ldquomatildeerdquo ldquopairdquo ldquopoliacuteticardquo ldquopretordquo
ldquoreuniatildeordquo e ldquosemanardquo (Tabela geral dos dados a seguir)
Nos Grupos I e II nos sinais de banco feio meacutedico porque
padre e ter tambeacutem acontece variaccedilatildeo lexical pois tem mais de um
sinal que existe na liacutengua ao mesmo tempo Nos Grupos I e III o sinal de
nome aponta variaccedilatildeo lexical
Foi apresentada na discussatildeo sobre mudanccedila lexical de alguns
sinais na Liacutengua Brasileira de Sinais (MAtildeE e PAI) Agora seraacute mostrada
a variaccedilatildeo lexical encontrada nos sinais utilizados pelos informantes das
trecircs geraccedilotildees (Grupos I II e III)
Veja a tabela a seguir elaborada para descrever os resultados
obtidos dos informantes dos Grupos I II e III Os nuacutemeros que
aparecem na tabela correspondem agrave configuraccedilatildeo de matildeos (CM) num
total de 64 posiccedilotildees diferentes que as matildeos podem assumir (ver anexo
paacutegina 225)
153
Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na Liacutengua
Brasileira de Sinais
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
APOSENTAR CM ndash 01 02
07 11 57
CM ndash 01 02
11 57
CM ndash 01 11
AVIAtildeO CM ndash 53a CM ndash 36 37a
40
CM ndash 40
MAtildeE CM ndash 02 14
63
CM ndash 01 02
06 14 60 63
CM ndash 02 07
14
PAI CM ndash 01 11
14 16 38
CM ndash 01 02
11 16 38 45
CM ndash 02 11
16 38 45
POLIacuteTICA CM ndash 11 51a CM ndash 11 14 CM ndash 11
PRETO CM ndash 05 34
62
CM ndash 05 CM ndash 05
REUNIAtildeO CM ndash 14 CM ndash 14 15
25
CM ndash 25
SEMANA CM ndash 08a 10
64
CM ndash 10 CM ndash 10
Os quadros a seguir mostram a sequecircncia dos sinais lexicais
utilizados pelos informantes desta pesquisa na liacutengua de sinais nas trecircs
geraccedilotildees
Observe-se inicialmente o item lexical APOSENTAR
154
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Aposentar
(1)
Figura 31
CM ndash 01 11
(2)
Figura 32
CM ndash 02 57
(1)
Figura 34
CM ndash 01 11
(2)
Figura 35
CM ndash 02 57
Figura 36
CM ndash 01 11
155
(3)
Figura 33
CM ndash 07
Quadro 01 ndash Sinal de Aposentar
O sinal de aposentar apresentado no quadro 01 no Grupo I (mais
velhos) apareceu com trecircs sinais diferentes o que indica variaccedilatildeo
lexical O Grupo III (mais jovem) utiliza o sinal com a configuraccedilatildeo de
matildeos (CM) - 01 e 11 com o movimento no espaccedilo neutro
consecutivamente para frente Os Grupos I e II utilizaram a CM - 02 57
(palma da matildeo aberta se fechando agrave medida que o antebraccedilo puxa para
traacutes junto ao lado do corpo no espaccedilo neutro) O Grupo I apresentou o
sinal de aposentar com a CM ndash 07 ambas as matildeos saiacutedas do espaccedilo
neutro na frente do corpo indo ateacute o peito Esse sinal atualmente eacute
produzido para indicar folga descanso e acomodar O Grupo III natildeo
conhece o sinal de aposentar do Grupo I talvez por isso eles utilizam
com outro significado O Grupo I tem trecircs sinais diferentes para
ldquoaposentarrdquo como mostram as figuras 31 32 e 33 mas o significado eacute o
mesmo isso pode ser variaccedilatildeo lexical mas tudo indica que ocorre
tambeacutem mudanccedila lexical O Grupo I tem um uacutenico sinal diferente do
Grupo III Parece que atualmente o sinal tem outro significado
Inicialmente observe-se o item lexical AVIAtildeO
156
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Aviatildeo
Figura 37
CM ndash 53a
(1)
Figura 38
CM ndash 36
(2)
Figura 39
CM ndash 37a
(3)
Figura 40
CM ndash 40
Figura 41
CM ndash 40
Quadro 02 ndash Sinal de Aviatildeo
157
Sabe-se que o professor Francisco iniciou o ensino para alguns
surdos utilizando a soletraccedilatildeo no alfabeto digital em Portuguecircs
Observando os trecircs grupos foi possiacutevel identificar as
modificaccedilotildees graduais deste sinal que iniciou com a soletraccedilatildeo Depois
foi apresentada como em CM ndash 53a a matildeo parte do lado do corpo em
linha reta e ascendente imitando a decolagem do aviatildeo usada pelo
Grupo I (mais velhos) O Grupo II apresentou as configuraccedilotildees CM ndash
36 CM ndash 37a CM - 40 tambeacutem imitando a decolagem do aviatildeo No
Grupo III apareceu apenas o sinal com a CM ndash 40 ou seja continuou
igual ao utilizado pelo Grupo II
Veja a seguir o item lexical MAtildeE
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Matildee
(1)
Figura 42
CM ndash 02
(1)
Figura 45
CM ndash 02
(1)
Figura 48
CM ndash 02 07
158
(2)
Figura 43
CM ndash 14
(3)
Figura 44
CM ndash 63
(2)
Figura 46
CM ndash 14
(3)
Figura 47
CM ndash 63
(4)
(2)
Figura 49
CM ndash 14
Quadro 03 ndash Sinal de Matildee
No quadro 03 aparece na figura 43 46 e 49 nos Grupos I II e III
o sinal de matildee que tem variaccedilatildeo lexical ao mesmo tempo Entatildeo os
Grupos I e II tambeacutem mostram o mesmo sinal No Grupo III a figura 48
mostra o sinal de matildee (mulher^benccedilatildeo = matildee) o que acontece eacute um sinal
composto em variaccedilatildeo lexical Nas figuras 42 45 e 48 a configuraccedilatildeo de
matildeos acontece (igualmente) nos trecircs grupos As figuras 44 e 47 nos Grupos I e II mostram a palma da matildeo aberta para frente e o dorso da
matildeo colocado na boca para o sinal de matildee o que tambeacutem indica
variaccedilatildeo lexical
No quadro 03 tambeacutem mostra mudanccedila lexical O sinal de ldquoM-Atilde-
Erdquo aparece soletrado no alfabeto digital e outro com a configuraccedilatildeo de
159
matildeos (CM) em ldquoMrdquo (nuacutemero da CM ndash 01 06 60) com ponto de
articulaccedilatildeo (PA) na boca num movimento (M) de roccedilar a matildeo para
frente (reto) Atualmente o sinal de MAtildeE eacute realizado da seguinte forma
o sinal de mulher (matildeo fechada e polegar riscando o rosto de cima para
baixo) junto com a matildeo fechada sendo beijada no dorso (mulher^benccedilatildeo
= MAtildeE) representando um sinal composto
Comparando o sinal de MAtildeE apresentado pelos informantes dos
trecircs Grupos (I II e III) nota-se que ocorreu mudanccedila lexical a forma de
configuraccedilatildeo de matildeos (CM) modificou-se
Pode ser que a distinccedilatildeo entre variaccedilatildeo lexical e mudanccedila lexical
nem sempre estaacute clara mas pode ser estabelecida em alguns casos dos
sinais
O quadro a seguir mostra variaccedilatildeo e mudanccedila do item lexical
PAI
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Pai
(1)
Figura 50
CM ndash 11
(1)
Figura 53
CM ndash 16
(1)
Figura 55
CM ndash 11 38
160
(2)
Figura 51
CM ndash 14
(3)
Figura 52
CM ndash 16
(4)
(2)
Figura 54
CM ndash 02 45
(3)
(2)
Figura 56
CM ndash 16
(3)
Figura 57
CM ndash 02 45
Quadro 04 ndash Sinal de Pai
Nas figuras 52 53 e 56 dos Grupos I II e III na configuraccedilatildeo de
matildeos (CM) o dedo indicador curvado colocado como se fosse um
bigode movimenta-se para frente e para traacutes significando sinal de pai
Os Grupos II e III mostram o sinal composto (homem^benccedilatildeo = pai)
Nas figuras 54 e 57 tambeacutem temos variaccedilatildeo e mudanccedila lexical Na
figura 51 o dedo indicador reto eacute colocado como se fosse um bigode
fazendo movimento para a direita no Grupo I Nas figuras 50 e 55 nos
Grupos I e III mostra-se a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) - 11 tambeacutem
161
imitando um bigode fazendo movimento para a direita e no Grupo III
mostra-se o empreacutestimo linguiacutestico ldquoP-Irdquo (CM) -11 38 o sinal de pai
No quadro 04 tambeacutem aparece mudanccedila lexical O sinal de
famiacutelia que mostra a palavra ldquoP-A-Irdquo eacute apresentado na soletraccedilatildeo de
matildeos Haacute uma mudanccedila linguiacutestica porque inicia com o sinal ldquoPrdquo (CM ndash
11) passando sobre os laacutebios depois o sinal de bigode realizado de duas
formas diferentes (o dedo indicador em cima do laacutebio superior e o dedo
indicador flexionado tambeacutem em cima do laacutebio superior) e ainda o sinal
ldquoPrdquo saindo dos laacutebios indo para frente formando o sinal ldquoIrdquo (CM ndash 38)
e atualmente o sinal de homem (CM ndash 45) fechar a matildeo e beijar as
costas da mesma (CM ndash 02) Observam-se nesse caso cinco diferentes
sinais ilustrando as variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas Acredita-se que
o contado dos diferentes surdos em comunicaccedilatildeo com gestos familiares
proporcionou uma troca entre eles influenciando a comunidade surda e
a escola com uma classe de surdos onde os alunos tiveram contato com
a soletraccedilatildeo de palavras em Portuguecircs e nos respectivos sinais
O Grupo I apresentou trecircs sinais diferentes nas figuras 50 51 e 52
ldquopaisrdquo o que pode indicar variaccedilatildeo lexical O Grupo II mostra dois
sinais diferentes nas figuras 53 e 54 tem um sinal composto
homem^benccedilatildeo = pai que foi utilizado pelo Grupo III
Observe agora no quadro a seguir o item lexical POLIacuteTICA
162
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Poliacutetica
Figura 58
CM ndash 11 51a
(1)
Figura 59
CM ndash 11
(2)
Figura 60
CM ndash 14
Figura 61
CM ndash 1 1
Quadro 05 ndash Sinal de Poliacutetica
No quadro 05 o sinal de POLIacuteTICA se daacute atraveacutes da matildeo direita
na configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 11 colocada em movimento circular
(girando) no lado do rosto com a bochecha insuflada sinal apresentado
pelos Grupos II e III O Grupo I apresenta um sinal icocircnico porque eacute a
representaccedilatildeo da sede do congresso em Brasiacutelia O Grupo II mostra
tambeacutem outro sinal para poliacutetica com CM ndash 14 o dedo indicador das matildeos com as extremidades proacuteximas em frente do corpo em movimento
alternado para cima e para baixo localizado no espaccedilo neutro
No Grupo III na figura 61 com CM ndash 14 eacute o uacutenico sinal com
configuraccedilatildeo diferente e que o significado tambeacutem pode ser entendido
163
como discutir a poliacutetica aparecendo nesse caso com sentido
abrangente
Veja a seguir o item lexical PRETO
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Preto
(1)
Figura 62
CM ndash 34 62
(2)
Figura 63
CM ndash 05
Figura 64
CM ndash 05
Figura 65
CM ndash 05
Quadro 06 ndash Sinal de Preto
No quadro 06 aparece o sinal de PRETO com a matildeo direita com
CM ndash 05 palma para baixo simulando girar uma chave ao lado da
cabeccedila Um dos informantes do Grupo I utilizou o sinal de preto que
acredito teve influecircncia da liacutengua de sinais produzida no Rio de janeiro
Os Grupos II e III apresentaram o sinal regional utilizado na grande
Florianoacutepolis Os Grupos I II e III mostram o mesmo sinal para preto
164
nas figuras 63 64 e 65 mas tem um sinal diferente apresentado pelo
Grupo I nas figuras 62 e 63
O sinal produzido pelo Grupo I na figura 62 eacute utilizado ateacute hoje
no Rio de Janeiro e percebo que tambeacutem eacute utilizado por interpretes e
estudantes surdos da UFSC
Veja a seguir o item lexical REUNIAtildeO
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Reuniatildeo
Figura 66
CM ndash 14
(1)
Figura 67
CM ndash 25
(2)
Figura 68
CM ndash 14
Figura 70
CM ndash 25
165
(3)
Figura 69
CM ndash 15
Quadro 07 ndash Sinal de Reuniatildeo
No quadro 07 o sinal de REUNIAtildeO mostrado pelos Grupos II e
III com CM ndash 25 nas matildeos estaacute localizado no espaccedilo neutro com as
palmas das matildeos para frente as matildeos em movimento semicircular
fechando em ciacuterculo Os Grupos I e II mostram como em CM ndash 14
realizado da mesma forma que o descrito anteriormente sinal este que o
grupo jovem natildeo conhece O Grupo II apresenta um sinal de REUNIAtildeO
com as matildeos como em CM ndash 15 em espaccedilo neutro movendo-se
alternadamente para frente e para traacutes com a palma das matildeos proacuteximas
este grupo apresentou trecircs sinais diferentes enquanto os Grupos I e III
mostraram apenas um
No Grupo II na figura 69 o sinal eacute diferente e natildeo aparece no
Grupo I e no Grupo III mas o significado deste eacute REUNIAtildeO particular
com poucas pessoas Talvez por isso natildeo apareceu nos outros dois
grupos Nas figuras 68 e 69 os sinais apresentam variaccedilatildeo fonoloacutegica
porque mudou o traccedilo linguiacutestico o ponto de articulaccedilatildeo da sinalizaccedilatildeo
no espaccedilo neutro eacute o mesmo mas a CM e o movimento se alteram
Veja a seguir o item lexical SEMANA
166
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Semana
(1)
Figura 71
CM ndash 08a 64
(2)
Figura 72
CM ndash 10
Figura 73
CM ndash 10
Figura 74
CM ndash 10
Quadro 08 ndash Sinal de Semana
No quadro 08 aparece o sinal de SEMANA com a matildeo esquerda
aberta palma para fora (CM ndash 08a ldquoLrdquo) matildeo direita CM - 64 palma
para fora direcionando as duas matildeos para o lado direito O grupo de
informante III (terceira geraccedilatildeo) apresentou a variaccedilatildeo do sinal descrita
anteriormente mas o Grupo II apresentou o sinal a matildeo direita com
forma de configuraccedilatildeo CM - 10 direcionando a matildeo direita para o lado
direito ponto de articulaccedilatildeo no espaccedilo neutro O Grupo I (primeira
geraccedilatildeo) apresentou no queixo o sinal de semana como em CM ndash 10
Isso mostra a variaccedilatildeo do sinal apresentado pelos informantes nas trecircs
geraccedilotildees por faixa etaacuteria Os trecircs grupos sinalizam semana de forma
diferente nas figuras 71 72 e 74 Os Grupos I e II sinalizam semana nas
167
figuras 72 e 73 de forma igual O Grupo I eacute o uacutenico que realiza o sinal
no espaccedilo neutro e o Grupo III inicia o sinal no queixo e termina-o no
espaccedilo neutro
Uma das razotildees para variaccedilatildeo e mudanccedila lexical acontecer eacute por
influecircncia tecnoloacutegica que transforma a sociedade que cresce no
cotidiano por necessidade na liacutengua usada na conversa No caso da
pessoa surda em contato com a liacutengua de sinais ela acaba valorizando
mais a liacutengua de sinais que torna a cultura surda dinacircmica e proporciona
uma nova forma de comunicaccedilatildeo para o indiviacuteduo surdo Na
comunidade surda precisamos buscar o conhecimento cada vez maior
para aumentar o leacutexico da liacutengua em sinais
Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na Liacutengua
Brasileira de Sinais
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
BANCO CM ndash 53a 61 CM ndash 53a 61 CM ndash 53a
FEIO CM ndash 07 64 CM ndash 8a CM ndash 08a
MEacuteDICO CM ndash 16 44 CM ndash 16 44 CM ndash 16
NOME CM ndash 21 24 CM ndash 24 CM ndash 24
PORQUE CM ndash 14 15 CM ndash 14 15 CM ndash 14
O quadro a seguir apresenta a sequecircncia dos sinais lexicais que
sofreram mudanccedila na liacutengua de sinais dos informantes dos Grupos I II e
III nas trecircs geraccedilotildees Inicialmente seraacute descrito o item lexical BANCO
168
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Banco
(1)
Figura 75
CM ndash 53a
(2)
Figura 76
CM ndash 61
(1)
Figura 77
CM ndash 53a
(2)
Figura 78
CM ndash 61
Figura 79
CM ndash 53a
Quadro 09 ndash Sinal de Banco
No quadro 09 a CM ndash 61 corresponde agrave letra B no alfabeto
digital palma da matildeo voltada para a esquerda batendo suavemente em
cima do peito esquerdo Este sinal foi utilizado pelos Grupos II e I
sofrendo uma mudanccedila lexical pois modificou o ponto de articulaccedilatildeo e
a CM com o mesmo movimento Os informantes do Grupo III (jovens)
natildeo utilizam e talvez natildeo conheccedilam o sinal de BANCO utilizado pelos
Grupos II e I Podemos chamar de mudanccedila em tempo aparente
Nos Grupos I II e III apresentam variaccedilatildeo lexical os sinais das
figuras 75 77 e 79 pois se realizam da mesma forma Nos Grupos I e II
169
as figuras 76 e 78 apresentam um sinal que natildeo eacute mais utilizado
caracterizando uma mudanccedila lexical
Observe-se agora o sinal do item lexical FEIO
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Feio
Figura 80
CM ndash 07 64
64
Figura 81
CM ndash 08a
Figura 82
CM ndash 08a
Quadro 10 ndash Sinal de Feio
No quadro 10 a CM ndash 08a (L) usa palma da matildeo em frente da
boca o dedo indicador apontando para a esquerda em seguida abaixa-
se a matildeo ateacute a altura do peito O sinal utilizado pelo Grupo I mostra uma
mudanccedila lexical no sinal de FEIO o sinal de bonito (matildeo aberta com
palma da matildeo voltada para o rosto na frente fazendo um ciacuterculo e se
fechando) e mais o sinal de negaccedilatildeo matildeo fechada com polegar para
baixo Houve uma troca na configuraccedilatildeo de matildeos (CM) de ponto de
articulaccedilatildeo (PA) e movimento (M) do sinal pelos surdos do Grupo III
(mais jovens de 15 a 30 anos de idade) O Grupo I faz dois sinais
bonito^ruim = feio na figura 80 como se fosse o contraacuterio de bonito O
Grupo II faz o sinal de feio para pessoas enquanto o Grupo III sinaliza
com significado de feio para objetos
64 A imagem da CM segue a ordem da tabela com as configuraccedilotildees
170
Observe-se a seguir o item lexical MEacuteDICO
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Meacutedico
(1)
Figura 83
CM ndash 16
(2)
Figura 84
CM ndash 44
(1)
Figura 85
CM ndash 16
(2)
Figura 86
CM ndash 44
Figura 87
CM ndash 16
Quadro 11 ndash Sinal de Meacutedico
No quadro 11 o sinal de MEacuteDICO aparece diferenciado no Grupo
I (geraccedilatildeo G H e I) O sinal de MEacuteDICO eacute produzido com a
configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 44 com ponto de articulaccedilatildeo (PA) no
peito em cima do coraccedilatildeo movimentando-se semicircularmente ateacute o
lado direito Esse sinal mostra mudanccedila lexical pois o Grupo III
(jovens) inovou com relaccedilatildeo ao espaccedilo neutro65
o sinal eacute produzido
65 Espaccedilo Neutro ndash ldquono caso do uso de pontos arbitraacuterios o estabelecimento ocorre em um
local neutro do espaccedilo da sinalizaccedilatildeo e em geral satildeo distribuiacutedos no espaccedilo de forma a serem
171
com a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 16 em ambas as matildeos onde uma eacute
ativa e outra passiva e o dedo indicador direito bate na 2a falange do
dedo esquerdo
Podemos dizer que o sinal que aparece nos Grupos I e II e que
natildeo aparece no Grupo III eacute um sinal icocircnico Acredito que ainda eacute
utilizado apenas natildeo apareceu nas sinalizaccedilotildees do grupo dos mais
jovens que apresentam uma fluecircncia maior na LIBRAS
Veja a seguir a configuraccedilatildeo do item lexical NOME
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Nome
(1)
Figura 88
CM ndash 21
(2)
Figura 89
CM ndash 24
Figura 90
CM ndash 24
Figura 91
CM ndash 24
Quadro 12 ndash Sinal de Nome
amplamente diferenciados Os pontos podem estar acima ou abaixo do espaccedilo neutro se esses apresentarem uma imagem apropriada (por ex um aviatildeo seraacute apontado acima do espaccedilo
neutro)rdquo QUADROS et al (2008 p 07)
172
No quadro 12 mostra o sinal de NOME com a configuraccedilatildeo de
matildeos (CM) ndash 24 (matildeo direita em ldquoUrdquo no Alfabeto Digital) palma da
matildeo para frente dedos apontados para cima na altura do peito movem-
se os dedos do lado esquerdo para o lado direito Na leitura dos
resultados encontrados apareceu uma mudanccedila lexical na liacutengua de
sinais o Grupo I utiliza a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 21 24 na (CM)
ndash 21 representa o nome do crachaacute (sinal icocircnico) Acontece mudanccedila
lexical pois as configuraccedilotildees de matildeos (CM) os pontos de articulaccedilotildees
(PA) os movimentos (M) e a orientaccedilatildeo satildeo diferentes (OP) Aqui
temos tambeacutem mudanccedila fonoloacutegica as configuraccedilotildees de matildeos satildeo
diferentes
O quadro a seguir mostra a configuraccedilatildeo do item lexical
PORQUE
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Porque
(1)
Figura 92
CM ndash 14
(1)
Figura 94
CM ndash 14
Figura 96
CM ndash 14
173
(2)
Figura 93
CM ndash 15
(2)
Figura 95
CM ndash 15
Quadro 13 ndash Sinal de Porque
No quadro 13 o sinal de PORQUE no Grupo I e II aparece com
CM ndash 15 (dedo indicador flexionado saindo da tecircmpora em diagonal) e
nos trecircs grupos aparece o sinal com a CM ndash 14 dedo indicador direito e
esquerdo em diagonal bater o indicador direito sobre o esquerdo vaacuterias
vezes no espaccedilo neutro O sinal com a CM ndash 14 aparece na sinalizaccedilatildeo
dos informantes das trecircs geraccedilotildees permanecendo ateacute a atualidade
O sinal que os Grupos I e II fizeram nas figuras 93 e 95 natildeo eacute
mais realizado pelo grupo dos mais jovens que tambeacutem natildeo conhece o
significado
64 ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua Brasileira de Sinais
A variaccedilatildeo e a mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua Brasileira de
Sinais satildeo observadas na semelhanccedila entre somfala ou sinais foneacutetico-
fonoloacutegicos Na Liacutengua Brasileira de Sinais encontram-se modificaccedilotildees
de pronuacutencia de certos itens lexicais atestando variaccedilatildeo e mudanccedila
fonoloacutegica Essa variaccedilatildeo depende da unidade lexical e pode decorrer de
diferentes paracircmetros a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) movimento (M)
ponto de articulaccedilatildeo (PA) e orientaccedilatildeo das matildeos Nesses casos a
configuraccedilatildeo de matildeos pode modificar mas o significado dos sinais
permanece o mesmo mostrando variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica As
autoras Quadros e Karnopp (2004 p47) definem a fonologia das
liacutenguas de sinais da seguinte forma
Fonologia das liacutenguas de sinais eacute o ramo da linguumliacutestica
que objetiva identificar a estrutura e a organizaccedilatildeo dos
constituintes fonoloacutegicos propondo modelos descritivos
e explanatoacuterios A primeira tarefa da fonologia para
174
liacutengua de sinais eacute determinar quais satildeo as unidades
miacutenimas que formam os sinais A segunda tarefa eacute
estabelecer quais satildeo os padrotildees possiacuteveis de
combinaccedilatildeo entre essas unidades e as variaccedilotildees possiacuteveis
no ambiente fonoloacutegico
Haacute pouca pesquisa cientiacutefica sobre variaccedilatildeo e mudanccedila
fonoloacutegica na LIBRAS no Brasil Pode-se verificar atraveacutes dos dados
dos informantes apresentados a cada pronuacutencia dos sinais diferentes de
uso a unidade miacutenima lexical pode se modificar (configuraccedilatildeo de matildeos
movimento e ponto de articulaccedilatildeo) No quadro 07 apresenta-se o sinal
de semana mostrando mudanccedila no ponto de articulaccedilatildeo e variaccedilatildeo e
mudanccedila fonoloacutegica nos Grupos I II e III
Veja a Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica
na Liacutengua Brasileira de Sinais com os resultados que foram escolhidos
nesta pesquisa para realizar a descriccedilatildeo e a anaacutelise
Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua
Brasileira de Sinais
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
ANTES CM ndash 08a 53a
63
CM ndash 08a CM ndash 08a
Veja agora os sinais para o item lexical ANTES
175
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Antes
(1)
Figura 97
CM ndash 53a 63
(2)
Figura 98
CM ndash 08a
Figura 99
CM ndash 08a
Figura 100
CM ndash 08a
Quadro 14 ndash Sinal de Antes
No quadro 14 aparece o sinal de ANTES com a seguinte
configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 08a a matildeo direita em L horizontal
(alfabeto digital) palma para baixo na frente do corpo no espaccedilo neutro
levantar o antebraccedilo da matildeo direita para cima Outro sinal aparece com
a (CM) ndash 53a e 63 inicia com a CM 63 e finaliza com a CM 53a com o
mesmo movimento do antebraccedilo descrito anteriormente Ambos os
informantes utilizam a expressatildeo facial necessaacuteria para a compreensatildeo
do sinal As trecircs geraccedilotildees apresentaram variaccedilatildeo fonoloacutegica o sinal eacute
produzido com diferentes configuraccedilotildees de matildeos mas os paracircmetros
movimento (M) e ponto de articulaccedilatildeo (PA) satildeo os mesmos
176
Nos Grupos I II e III apresentam os mesmos sinais com a mesma
CM ndash 08a mas temos com essa mesma CM o mesmo significado soacute
que com ponto de articulaccedilatildeo diferente acontecendo na palma da matildeo e
no dorso da matildeo e que tambeacutem pode ter significado de ldquoQue horasrdquo ou
pode estar atrasado para trabalhar ou ainda precisa agendar uma reuniatildeo
antes
Os dados coletados tambeacutem mostram mudanccedila e variaccedilatildeo
fonoloacutegica na liacutengua brasileira de sinais Sinais foram modificados com
o passar dos anos Observando os informantes percebe-se que os
paracircmetros mudaram da geraccedilatildeo mais antiga (Grupo I) em relaccedilatildeo agrave
geraccedilatildeo atual (Grupo III)
Observe na tabela a seguir os dados que foram escolhidos para
realizar a descriccedilatildeo e a anaacutelise dos resultados Ela apresenta a sequecircncia
das mudanccedilas e variaccedilotildees dos sinais lexicais na LIBRAS usados pelos
informantes nas trecircs geraccedilotildees
Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua
Brasileira de Sinais
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
CORTAR CM ndash 14 24
63
CM ndash 14 24 CM ndash 24
PADRE CM ndash 21 24
62
CM ndash 11 21
24
CM ndash 24
TER CM ndash 08a 63 CM ndash 08a 63 CM ndash 08a
Acompanhe agora a descriccedilatildeo do item lexical CORTAR
177
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Cortar
(1)
Figura 101
CM ndash 63
(2)
Figura 102
CM ndash 14 24
(3)
Figura 103
CM ndash 14
(1)
Figura 104
CM ndash 14
(2)
Figura 105
CM ndash 24
Figura 106
CM ndash 24
Quadro 15 ndash Sinal de Cortar
178
No quadro 15 observa-se que o Grupo I apresentou a
configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 63 (U) raspando o dedo meacutedio da matildeo
direita no dedo indicador da matildeo esquerda simulando cortar algo
Depois a CM ndash 14 junto com a CM 24 mostraram um movimento
simulando o corte com uma faca e tambeacutem a CM ndash 14 em ambas as
matildeos simulando o movimento de cortar O Grupo II apresentou a CM ndash
14 (igual a do Grupo I) e a CM ndash 24 simulando o movimento de cortar
O Grupo III (jovem) utilizou apenas a CM ndash 24
Exemplos das figuras apresentadas no quadro 15 mostrando
sinais de CORTAR66
em diferentes contextos satildeo apresentados a seguir
a) Em LIBRAS Grupo I - EU ANTES ESTUDAR LAacute INES
DEPOIS CORTAR MARCENEIRO (Figura 101)
Em Portuguecircs Grupo I ndash Eu era crianccedila estudava no INES
fomos cortar madeira com supervisatildeo de um marceneiro (Figura 101)
b) Em LIBRAS Grupo I - SURDOS LAacute INES CORTAR
PAPELAtildeO (Figura 102)
Em Portuguecircs Grupo I ndash Os alunos surdos do INES foram
cortar papelatildeo (Figura 102)
c) Em LIBRAS Grupo I - EU AIacute (FOGO) FOGO COMER
CARNE CORTAR UM (CADA) IRMAtildeO SENTAR COMER TODOS
COMER ARROZ BATATA AIPIM TODOS (Figura 103)
Em Portuguecircs Grupo I ndash Eu fiquei assustada com o fogo Eu e
meus irmatildeos sentados juntos a mesa cortei a carne e dei um pedaccedilo para
cada irmatildeo Todos comeram arroz batata e aipim aleacutem da carne
(Figura 103)
d) Em LIBRAS Grupo II ndash ANTES ERA PEQUENO
BRINCAR LAacute ESCOLA BALANCcedilO CORRENTE CORTAR DEDO
DOR (Figura 104)
Em Portuguecircs Grupo II ndash Quando era crianccedila fomos brincar no
parque da escola cortei o dedo na corrente (Figura 104)
e) Em LIBRAS Grupo II - FESTA CSMSC SURDOS CORTAR
CARNE BOLO TODOS SURDOS (Figura 105)
Em Portuguecircs Grupo II ndash Teve uma festa do Ciacuterculo de Surdos-
Mudos de Santa Catarina (CSMSC) para comemoraccedilatildeo dos surdos Foi
cortada a carne e o bolo para os surdos que foram a associaccedilatildeo (Figura
105)
66 Nesses casos noacutes temos sinais diferentes para o mesmo significado de ldquocortarrdquo que satildeo as imagens do quadro 15
179
f) Em LIBRAS Grupo III ndash EU LAacute CASA AMIGO SURDO
ALMOCcedilAR COMER PEDIR CORTAR CARNE CONVERSAR
AMIGO (Figura 106)
Em Portuguecircs Grupo III - Eu fui agrave casa do meu amigo surdo
almoccedilar pedi a ele para cortar a carne e tambeacutem conversei com os
amigos surdos (Figura 106)
O Grupo I eacute o uacutenico que utiliza para o sinal de cortar CM ndash 63 um
sinal diferente dos outros grupos mas com o mesmo significado Parece
que o Grupo I foi evoluindo o sinal comeccedilou com CM diferente em
cada matildeo e por fim uma mesma CM para ambas as matildeos O Grupo II
utilizou duas CM diferentes como o Grupo I mas realizava o sinal de
duas formas diferentes CM ndash 14 ou 24 mas a mesma CM para ambas as
matildeos O Grupo III realiza o sinal somente com a CM ndash 24 em ambas as
matildeos Como se observa parece que ocorreu mudanccedila fonoloacutegica nos
trecircs grupos pesquisados
Veja na sequecircncia a mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua brasileira de
sinais
A tabela a seguir traz os sinais do item lexical PADRE
180
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Padre
(1)
Figura 107
CM ndash 62
(2)
Figura 108
CM ndash 24
(1)
Figura 110
CM ndash 11
(2)
Figura 111
CM ndash 24
Figura 113
CM - 24
181
(3)
Figura 109
CM ndash 21
(3)
Figura 112
CM ndash 21
Quadro 16 ndash Sinal de Padre
Nos trecircs grupos apareceu o sinal com CM ndash 24 matildeo na frente do
peito no espaccedilo neutro desenhando uma cruz com a matildeo (Representaccedilatildeo
icocircnica) Os Grupos I e II apresentaram o mesmo sinal CM ndash 21
produzido na base do pescoccedilo iniciando do lado esquerdo indo ateacute o
lado direito como se estivesse desenhando a gola da batina (Icocircnico) O
Grupo I apresentou um sinal diferente com CM ndash 62 matildeo na frente do
peito no espaccedilo neutro desenhando uma cruz com a matildeo O Grupo II
tambeacutem mostra um sinal uacutenico com CM ndash 11 matildeo na frente do peito no
espaccedilo neutro desenhando uma cruz com a matildeo A configuraccedilatildeo de
matildeos (CM) foi sendo alterada no espaccedilo neutro Os informantes do
Grupo I II e III (nas trecircs geraccedilotildees) apresentaram sinais que podem ser
considerados como variaccedilatildeo ou mudanccedila fonoloacutegica
Na figura 107 o sinal parece ser igual ao que um padre faz na
missa ao despedir-se dos fieacuteis e na figura 110 parece que a CM ndash 11 (P)
recebe influecircncia do oralismo Um uacutenico sinal aparece nos trecircs grupos
satildeo das figuras 108 111 e 113 sendo o uacutenico utilizado pelo Grupo III
(jovens)
Veja na sequecircncia a mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua brasileira de
sinais
Agora observe o sinal variaacutevel do item lexical TER
182
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Ter
(1)
Figura 114
CM ndash 63
(2)
Figura 115
CM ndash 08a
(1)
Figura 116
CM ndash 63
(2)
Figura 117
CM ndash 08a
Figura 118
CM ndash 08a
Quadro 17 ndash Sinal de Ter
No quadro 17 aparecem os dados apresentados pelo Grupo I dos
trecircs informantes G H e I
Em conversa natildeo filmada com o informante G ele deu a seguinte
explicaccedilatildeo para a variaccedilatildeo do item ldquoTERrdquo antigamente o professor
Francisco Lima Juacutenior usava o sinal ldquoTERrdquo fazendo a soletraccedilatildeo do
sinal depois utilizou a configuraccedilatildeo de matildeo com todos os dedos
fechados (CM ndash 63) colocados no peito em seguida outra oposiccedilatildeo
seria a matildeo e os dedos abertos tambeacutem colocados no peito (CM ndash 64)
183
Atualmente o sinal ldquoTERrdquo eacute realizado como CM - 08a tambeacutem
colocado no peito Observa-se uma mudanccedila fonoloacutegica com alteraccedilatildeo
na liacutengua de sinais ao longo de algumas deacutecadas O dedo em ldquoLrdquo (08a) eacute
batido no meio do peito com a ponta do polegar
Os Grupos I e II mostram os sinais de ter nas figuras 114 e 116
com mesma CM ndash 63 Nas figuras 115 117 e 118 os sinais satildeo
realizados com a mesma CM ndash 08a O Grupo III permanece apenas com
um sinal
Veja na sequecircncia a mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua brasileira de
sinais
Na eacutepoca em que o professor Francisco foi professor era outro
tempo na comunicaccedilatildeo em liacutengua de sinais diferentemente de hoje tal
como se observa na comunicaccedilatildeo entre as pessoas mais jovens com
contato cultural maior O professor Francisco aprendeu no RJ a escrever
com o alfabeto digital (soletraccedilatildeo) e assim ele comeccedilou a ensinar Aleacutem
de ensinar o contato do aluno surdo com a comunidade de surdos fez
com que houvesse uma troca o Sr Francisco ensinou a soletraccedilatildeo no
alfabeto digital (alfabetizaccedilatildeo em Liacutengua Portuguesa) e aprendeu sinais
familiares dos diversos surdos com quem teve contato Todos
aprenderam e isso influenciou para que ocorresse mudanccedila fonoloacutegica
Pesquisando a LIBRAS nos Grupos I II e III confirmamos portanto
algumas mudanccedilas fonoloacutegicas
65 ndash O que dizem os resultados das trecircs geraccedilotildees dos informantes
na Liacutengua Brasileira de Sinais
A comunidade surda principalmente na associaccedilatildeo de surdo de
Santa Catarina abriu espaccedilo para o encontro de surdos proporcionando
a troca de informaccedilotildees e experiecircncias na liacutengua de sinais (visuais)
promovendo eventos na aacuterea esportiva cultural poliacutetica e na educaccedilatildeo
de surdo Todos esses espaccedilos sociais devem ter contribuiacutedo para o que
esta pesquisa jaacute aponta variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica em LIBRAS
Os resultados de certos itens lexicais usados pelos grupos de
indiviacuteduos investigados apontam que os Grupos I e II se distinguem do
184
Grupo III
Os resultados mostram que com passar do tempo os sinais entre
os grupos se modificam apresentando indiacutecios de mudanccedila em tempo
aparente na liacutengua de sinais nas trecircs geraccedilotildees O grupo dos mais jovens
de 15 a 30 anos (Grupo III) diferentemente dos outros dois grupos
(Grupo I e Grupo II) apresenta um sinal para cada palavra Acreditamos
que antes havia mais sinais porque eram familiares ou caseiros os quais
foram substituiacutedos eou modificados com o contato social maior que a
comunidade surda tem nos dias atuais Acreditamos que outros sinais
estatildeo sendo criados com o passar do tempo o que pode ser fruto de um
maior contato social entre os surdos jovens
Os resultados apontam que os trecircs grupos investigados (Grupos I
II e III) usaram vaacuterios sinais idecircnticos para algumas palavras os Grupos
I e II usaram outros e os Grupos II e III usaram palavras idecircnticas em
menor nuacutemero Entretanto os Grupos I e III (dos mais velhos e dos mais
jovens) natildeo usaram nenhuma palavra comum que se distinguisse do
Grupo II Os resultados apontam portanto que na LIBRAS haacute variaccedilatildeo
lexical e fonoloacutegica
Como eacute possiacutevel perceber a partir dos resultados apresentados o
contato entre as pessoas surdas transforma a liacutengua de sinais que jaacute
apresenta indiacutecios de variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica entre diferentes
geraccedilotildees como acontece em qualquer liacutengua natural
Nota-se nas narrativas contadas que os surdos tecircm consciecircncia de
seu papel nas trecircs geraccedilotildees de informantes e reconhecem a influecircncia
exercida pelo contato com outros surdos e com os surdos mais velhos
Certamente o Grupo III seraacute disseminador de conhecimento
aumentando cada vez mais o interesse de outros surdos pela liacutengua de
sinais e com a expansatildeo de seu uso naturalmente outras mudanccedilas vatildeo
acontecer transformando mais uma vez a liacutengua de sinais Aleacutem disso
pode-se identificar nas narrativas de todos os sujeitos a total
consciecircncia das pessoas envolvidas no processo de ampliaccedilatildeo do espaccedilo
de conforto do surdo Eacute mais uma parte da histoacuteria surda que se registra
tendo como personagem principalmente a pesquisa sobre a variaccedilatildeo e a
mudanccedila linguiacutestica na liacutengua de sinais em Santa Catarina
Eacute importante registrar o momento de pouco acesso dos surdos agrave
pesquisa a respeito da liacutengua brasileira de sinais seja no domiacutenio
puacuteblico ou privado Assim julga-se necessaacuterio o desenvolvimento de
mais estudos e de um contato mais intenso de sujeitos surdos com as
reflexotildees e conhecimentos que satildeo produzidos sobre essa liacutengua
refletindo o que dizem os informantes surdos nas trecircs geraccedilotildees da liacutengua
de sinais Sabe-se que em parte isso ocorre porque eacute uma liacutengua
185
oficializada recentemente
Os estudos tecircm apontado atraveacutes de recentes pesquisas que a
liacutengua de sinais eacute a forma mais adequada de comunicaccedilatildeo para a
educaccedilatildeo do surdo tendo em vista que como as outras liacutenguas
humanas a liacutengua de sinais eacute uma liacutengua natural podendo servir de base
para o ensino da liacutengua escrita
Finalmente espero que os resultados desta pesquisa possam
motivar-me e motivar outras pessoas a aprofundar o tema aqui
pesquisado
186
187
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Concluiacutemos que eacute importante pesquisar sobre a histoacuteria na liacutengua
de sinais em Santa Catarina em encontros sociais ou nas associaccedilotildees de
surdo Aleacutem de aprender a liacutengua de sinais os surdos que fazem parte
dessas associaccedilotildees acabam criando uma identidade surda trocam
experiecircncias evoluindo na proacutepria liacutengua criando e valorizando o seu
espaccedilo linguiacutesticocultural
Na liacutengua de sinais aqui no Brasil acontece a mesma coisa que
se observa no portuguecircs quanto agraves regras da liacutengua que satildeo oficiais
para todo o Brasil mas vaacuterios sinais satildeo diferentes para expressar a
mesma coisa Podemos utilizar no sul do Brasil um sinal e outro
sinal totalmente diferente na regiatildeo sudeste com o mesmo
significado
Surdos se encontram em associaccedilotildees ou outros espaccedilos
culturais para poder conversar trocar experiecircncia e aprender sua
liacutengua mas com o ouvinte acontece diferente eles natildeo precisam de
um local para esses encontros isso acontece em seu dia-a-dia todos
se falam O surdo necessita marcar encontros com outros surdos
para que aconteccedila a comunicaccedilatildeo pois poucos ouvintes sabem se
comunicar em LIBRAS Eles vatildeo para a associaccedilatildeo de surdos
aprender LIBRAS e com o passar do tempo podem se tornar
biliacutengues
Haacute falta de pesquisa em variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica das
liacutenguas de sinais e sobre o desenvolvimento e o domiacutenio desta liacutengua
Nada foi registrado nas uacuteltimas deacutecadas e parece que muitos dados sobre
os sujeitos surdos e sua histoacuteria da liacutengua de sinais foram prejudicados e
perdidos
Na UFSC por exemplo temos no curso de LETRASLIBRAS
a distacircncia que eacute pioneiro uma vitoacuteria do surdo acessando a
primeira Universidade Brasileira que estuda a liacutengua de sinais e que
oferece oportunidade de acesso ao estudo e aprofundamento
linguiacutestico da LIBRAS aleacutem das trocas de sinais em diferentes
regiotildees do paiacutes
Temos um grupo de surdos responsaacuteveis por criar sinais novos
de acordo com as necessidades encontradas pelas comunidades
surdas para diminuir a influecircncia da Liacutengua Portuguesa na
LIBRAS e possibilitar outros contatos fora do Brasil trazendo
relatos de experiecircncias de comunidades surdas de outros paiacuteses bem
como apresentaccedilotildees de pesquisas mais avanccediladas nas liacutenguas de
sinais
188
Eacute importante reforccedilar que a LIBRAS eacute uma liacutengua natural pois
possui estrutura gramatical eacute utilizada por um grande grupo social com
funccedilatildeo ativa e provedora de opiniatildeo Este tipo de liacutengua soacute se diferencia
das liacutenguas orais pela forma de se comunicar pois esta utiliza a accedilatildeo
gestual o que difere das demais liacutenguas que utilizam a accedilatildeo oral na
comunicaccedilatildeo
As pessoas falam que na ilha de Santa Catarina o dialeto falado eacute
o manezinho que vem sofrendo modificaccedilotildees com o passar dos anos
devido ao turismo que eacute forte na temporada de veratildeo O professor
Francisco e a comunidade surda na deacutecada de 1950 usavam o sinal de
dactilologia no mesmo sentido da liacutengua nativa mas com dialeto
proacuteprio Depois outros surdos vieram para Santa Catarina e sinalizaram
diferentemente Isso mostra que nas duas liacutenguas ndash LIBRAS e Portuguecircs
ndash haacute variaccedilatildeo dialetal
Observando os trecircs grupos de surdos investigados nesta tese
podemos dizer que o Grupo I mostra o primeiro contato com a liacutengua de
sinais desenvolvida com pouco conhecimento linguiacutestico porque
adquirir a liacutengua de sinais em contexto social na eacutepoca era difiacutecil Mas
este Grupo I foi buscando surdos que participavam de associaccedilotildees que
estudavam na garagem da casa do professor Francisco e na Escola Celso
Ramos onde tinha o grupo de surdos aprendendo a liacutengua de sinais que
se modificava O Grupo III demonstrou mais qualidade na sinalizaccedilatildeo
da liacutengua de sinais e maior fluecircncia mas natildeo conhece alguns dos sinais
(antigos) realizados pelos Grupos I e II O contexto social dos Grupos
nas trecircs geraccedilotildees eacute bem diferente e a liacutengua de sinais do Grupo III (mais
jovens) apresentou menor nuacutemero de sinais que os demais grupos
Acreditamos que antes havia mais sinais porque eram familiares
Os resultados do trabalho mostraram que algumas variaccedilotildees e
mudanccedilas linguiacutesticas (variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na liacutengua de sinais e
variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua de sinais) aconteceram nos trecircs
grupos quando um mesmo sinal eacute produzido pelos diferentes grupos de
maneira diferente Alguns sinais que antigamente eram produzidos no
corpo agora acontecem no espaccedilo neutro na liacutengua de sinais Os grupos
mostraram sinais que antes eram produzidos com uma matildeo e agora satildeo
produzidos com ambas as matildeos ao mesmo tempo O Grupo I utilizava
sinalizaccedilatildeo manual sinais familiares (caseiros) ou aqueles aprendidos e
trazidos pelo professor Francisco do INES o que talvez explique o fato
de que este grupo tinha um nuacutemero maior de sinais para uma mesma
palavra
Concluiacutemos que os trecircs grupos de nove informantes nas
diferentes geraccedilotildees apresentaram sinais compartilhados e outros que se
189
transformaram com o tempo na liacutengua de sinais Cada grupo pertence a
um contexto social diferente A liacutengua de sinais transforma e desenvolve
o conhecimento caseiro bem como a troca de informaccedilotildees a
participaccedilatildeo na associaccedilatildeo de surdos e na busca de mais contato com
outros surdos Na escola o surdo conseguia aprender mais quando o
professor surdo (Francisco) ensinava na liacutengua de sinais e tambeacutem
quando proporcionava aos seus alunos um contato social que antes natildeo
existia
190
191
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Handshape Dictionary Illustrated by Valerie Nelson-Metlay
Washington DC Gallaudet University Press 1998 (fourth printing
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WEINREICH Uriel LABOV William amp HERZOG Marvin I
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Linguiacutestica Traduccedilatildeo em portuguecircs Marcos Bagno Satildeo Paulo
Paraacutebola Editorial 2006
WRIGLEY Owen ndash The politics of deafness Washington Gallaudet
University Press 1996
198
199
ANEXOS
Anaacutelise Comparativa dos Dados Variaccedilatildeo e Mudanccedila Linguiacutestica
Sinais
(Leacutexico)
Forma do
Sinal
(Configuraccedilatildeo
de Matildeos)
Identificaccedilatildeo
de Classe
Faixa
Etaacuteria
(Grupo)
Geraccedilatildeo
Ajudar1
CM ndash 63
Informante
H D E F A
C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Ajudar2
CM ndash 02 63
Informante
D E B
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Ajudar3
CM ndash 01 63
Informante
H I F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Ajudar4
CM ndash 14 63
Informante
I E F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Aluno1
CM ndash 01
Informante
G I A B C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Aluno2
CM ndash 63
Informante
G H I D B
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Amanhatilde1 CM ndash 14 Informante 60 a 80 I
200
H Anos
Amanhatilde2 CM ndash 63 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Amanhatilde3
CM ndash 35a
Informante
I A B
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Antes1 CM ndash 53a Informante
I
60 a 80
Anos
I
Antes2 CM ndash 63 Informante
I
60 a 80
Anos
I
Antes3
CM ndash 08a 63
Informante
G E F B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Aposentar1
CM ndash 02 57
Informante
G I F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Aposentar2
CM ndash 01 11
Informante
G I F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Aposentar3 CM ndash 07 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Associaccedilatildeo1
CM ndash 01
(2 matildeos)
Informante
G I F D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Associaccedilatildeo2
CM ndash 01
(1 matildeo)
Informante
I D E F A
B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
60 a 80
201
Aula1 CM ndash 63 Informante
G H I E D
A C
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Aviatildeo1 CM ndash 53a Informante
G
60 a 80
Anos
I
Aviatildeo2 CM ndash 36 37a Informante
E F
30 a 60
Anos
II
Aviatildeo3
CM ndash 40
Informante
D E F A B
C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Avocirc1 CM ndash 30 31 Informante
G I
60 a 80
Anos
I
Avocirc2 CM ndash 02 57 Informante
H I
60 a 80
Anos
I
Avocirc3
CM ndash 02
Informante
H I D E F
A
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Azul1 CM ndash 01 Informante
G I
60 a 80
Anos
I
A-z-u-l2 CM ndash 01 08a
14 24
Informante
G I
60 a 80
Anos
I
Azul3
CM ndash 01 08a
Informante
D E F A B
C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Bairro CM ndash 14 63 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Banco1
CM ndash 61
Informante
G H I F
60 a 80 Anos
30 a 60
Anos
I II
Banco2
CM ndash 53a
Informante
60 a 80
Anos
I II III
202
G I F C 30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
Batata1 CM ndash 62 Informante
H
60 a 80
Anos
I
Batata2 CM ndash 63 Informante
H
60 a 80
Anos
I
Branco1
CM ndash 63
Informante
H I B
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Branco2 CM ndash 35a Informante
G
60 a 80
Anos
I
Cafeacute
CM ndash 49
Informante
G F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Calma1
CM ndash 63
(2 matildeos)
Informante
G H I D E
F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Calma2
CM ndash 63
(1 matildeo)
Informante
H I E B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Cama1 CM ndash 37a Informante
G
60 a 80
Anos
I
Cama2 CM ndash 63 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Cavalo1 CM ndash 02 Informante
H
60 a 80
Anos
I
Cavalo2 CM ndash 27 Informante
H I
60 a 80
Anos
I
Chorar1 CM ndash 14 Informante
D
30 a 60
Anos
II
203
Chorar2 CM ndash 18a Informante
H I
60 a 80
Anos
I
Crianccedila1
CM ndash 63
(pequeno)
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Crianccedila2 CM ndash 64 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Crianccedila3
CM ndash 14 63
Informante
D E A C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Crianccedila4 CM ndash 57 63 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Cobra1 CM ndash 14 Informante
H
60 a 80
Anos
I
Cobra2
CM ndash 31
Informante
E F A B
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Conversar1
CM ndash 14
Informante
G H F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Conversar2 CM ndash 63
(2 matildeos)
Informante
G H I D E
F A
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Conversar3 CM ndash 28 Informante
D
30 a 60
Anos
II
Conversar4 CM ndash 44 Informante
D E F
30 a 60
Anos
II
Conversar5 CM ndash 21 Informante
H
60 a 80
Anos
I
Cortar1 CM ndash 14 Informante
H
60 a 80
Anos
I
204
Cortar2 CM ndash 63 Informante
H
60 a 80
Anos
I
Cortar3
CM ndash 14 24
Informante
E B
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Cultura CM - 31 Informante
A B C
15 a 30
Anos
III
Dormir1
CM ndash 63
(1 matildeos e 2
matildeos)
Informante
G H I F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Dormir2 CM ndash 02 47 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Dormir3
CM ndash 21 24
32
Informante
G D F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Depois1 CM ndash 53a
(2 matildeos)
Informante
H I A B C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Depois2
CM ndash 14
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Depois3
CM ndash 53a
(1 matildeo)
Informante
G D E F A
B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Educaccedilatildeo1 CM ndash 46a Informante
H
60 a 80
Anos
I
Educaccedilatildeo2 CM ndash 45 57 Informante
G
60 a 80
Anos
I
205
Escola1
CM ndash 63
Informante
G H I D E
F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Escola2
CM ndash 63
(duas matildeos)
Informante
D E A B C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Estudar
CM ndash 63
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Emagrecer1 CM ndash 39 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Emagrecer2 CM ndash 47 ou 57 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Engordar1 CM ndash 02 Informante
G H
60 a 80
Anos
I
Engordar2 CM ndash 47 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Engravidar1 CM ndash 14 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Engravidar2 CM ndash 53a Informante
H
60 a 80
Anos
I
Faacutecil1 CM ndash 63 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Faacutecil2 CM ndash 48 Informante
I
60 a 80
Anos
I
Faacutecil3 CM ndash 35a Informante
C
15 a 30
Anos
III
Faculdade1
CM ndash 54
Informante
F A C
30 a 60
Anos
15 a 30 Anos
II III
Faculdade2 CM ndash 21 Informante
I
60 a 80
Anos
I
Faculdade3 CM ndash 55 Informante
A B
15 a 30
Anos
III
206
Falar1
CM ndash 14
Informante
G H D E F
C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Falar2
CM ndash 49
Informante
H D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Falar3
CM ndash 11
(E 1 matildeo e 2
matildeos)
Informante
G H I D E
A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Falar4 CM ndash 21 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Falar5 CM ndash 44 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Feio1
CM ndash 08a
Informante
F B
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Feio2
CM ndash 08a
Informante
D E A
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Feio3 CM ndash 07 64 Informante
G H I
60 a 80
Anos
I
Flor1 CM ndash 57 Informante
D
30 a 60
Anos
II
Flor2 CM ndash 54 Informante
I
60 a 80
Anos
I
Forte1 CM ndash 14 Informante
F
30 a 60
Anos
II
Forte2
CM ndash 02
(2 matildeos)
Informante
G H I D C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II III
207
15 a 30
Anos
Forte3 CM ndash 32
(1 matildeo)
Informante
I
60 a 80
Anos
I
Gato1
CM ndash 08b 20
Informante
G H C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Gato2 CM ndash 59a Informante
I
60 a 80
Anos
I
Gato3 CM ndash 20 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Gostar1 CM ndash 44 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Gostar2 CM ndash 63 Informante
E F
30 a 60
Anos
II
Homem1
CM ndash 50
Informante
G H I D F
A B
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Homem2
CM ndash 21
Informante
H I D F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Hospital1
CM ndash 14
(1 matildeo e 2
matildeos) cruz
Informante
H I C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Hospiatl2
CM ndash 16
Informante
D E F B C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Igreja1 CM ndash 14
(cruz)
Informante
F
30 a 60
Anos
II
Igreja2
CM ndash 14 15
Informante
60 a 80
Anos
I II III
208
H I D E F
A B C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
Igual1
CM ndash 14
Informante
G H I D E
F B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Igual2
CM ndash 14 ( )
Informante
H B
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Igual3
CM ndash 14
(mesmo)
Informante
F C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Igual4 CM ndash 24
(1 matildeo)
Informante
G I A B C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Igual5
CM ndash 24
(2 matildeos)
Informante
I D E F A
B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Igual6 CM ndash 53a Informante
A
15 a 30
Anos
III
Igual7
CM ndash 61
Informante
I A C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Irmatildeo1
CM ndash 14
Informante G H D F
60 a 80
Anos 30 a 60
Anos
I II
Irmatildeo2 CM ndash 24 Informante
D E F
30 a 60
Anos
II
209
Lembrar1
CM ndash 14
Informante
G H D E A
B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Lembrar2
CM ndash 32
Informante
D E F A B
C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Limpar1 CM ndash 02 Informante
H D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Limpar2
CM ndash 64
Informante
H E
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Limpar3
CM ndash 08a
Informante
H D E F A
B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Livro1 CM ndash 63
(duas matildeos)
Informante
G
60 a 80
Anos
I
Livro2
CM ndash 63 08a
Informante
H D E F A
B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Lutar1
CM ndash 08a
Informante
I A B
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Lutar2 CM ndash 02 63 Informante
I D E A B
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II III
210
15 a 30
Anos
Matildee1
CM ndash 63
Informante
H E F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Matildee2 CM ndash 02 07 Informante
A B C
15 a 30
Anos
III
Matildee3
CM ndash 14
Informante I
D B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Matildee4 CM ndash 63
(m)
Informante
G
60 a 80
Anos
I
Matildee5
CM ndash 02
Informante
I D F A
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
M-atilde-e6 CM ndash 01 06
60
Informante
F
30 a 60
Anos
II
Matildee7 CM ndash 02 Informante
F
30 a 60
Anos
II
Mais1
CM ndash 63
Informante
G I E A B
C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Mais2
CM ndash 63
(2 matildeos)
Informante
I D E A
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos 15 a 30
Anos
I II III
Mais3 CM ndash 08a Informante
G I E F
60 a 80
Anos
I II
211
30 a 60
Anos
Mais4
CM ndash 14
Informante
I E C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Matemaacutetica1
CM ndash 02
Informante
G H I D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Matemaacutetica2
CM ndash 58
Informante
G H I F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Meacutedico1
CM ndash 44
Informante
G F B
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Meacutedico2
CM ndash 16
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Medo1
CM ndash 34 64
Informante
H D F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
III
Medo2 CM ndash 02 Informante
E F
30 a 60
Anos
II
Medo3 CM ndash 33 Informante
F
30 a 60
Anos
II
Melhor1
CM ndash 45
Informante
G H I E
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
212
Melhor2
CM ndash 07
Informante
H I E A B
C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Melhor3
CM ndash 63
Informante
H A C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Morrer1 CM ndash 63 63
(2 matildeos)
Informante
H
60 a 80
Anos
I
Morrer2
CM ndash 63
Informante
H I D E F
C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Mudar1
CM ndash 07
Informante
G H E A B
C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
30 a 60
Anos
I II III
Mudar2 CM ndash 44
(1 matildeo e 2
matildeos)
Informante
H I E F B
C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Mulher1 CM ndash 07
(menina) (oral)
Informante
H
60 a 80
Anos
I
Mulher2
CM ndash 07 63
Informante
H D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Mulher3
CM ndash 07
Informante
G I D E F
B
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II III
213
15 a 30
Anos
Noite1
CM ndash 57 44
Informante
G D F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Noite2
CM ndash 53
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Nome1
CM ndash 21
Informante
G H I A
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Nome2
CM ndash 24
Informante
G H I D E
F A C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Noacutes1
CM ndash 14
Informante
G D E F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Noacutes2
CM ndash 14
Informante
E A
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
N-u-n1
CM ndash 24
Informante
I D E
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
N-u-n-c-a2
CM ndash 01 24
51a
Informante
I D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
214
Nunca3
CM ndash 14
(2 matildeos)
Informante
I D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Objetivo1 CM ndash 42 58 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Objetivo2 CM ndash 14 Informante
B
15 a 30
Anos
III
Ocircnibus1 CM ndash 07 Informante
F
30 a 60
Anos
II
Ocircnibus2 CM ndash 31 Informante
I B
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Ovo1 CM ndash 44 57 Informante
I
60 a 80
Anos
I
O-v-o2 CM ndash 42 32 Informante
G H
60 a 80
Anos
I
Padre1 CM ndash 11 Informante
G
30 a 60
Anos
II
Padre2
CM ndash 21
Informante
G H D F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Padre3
CM ndash 24
Informante
I F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
P-a-i1
CM ndash 01 11
38
Informante
G H I D E
F A
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Pai2
CM ndash 11 (p)
Informante
G H F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II III
215
15 a 30
Anos
Pai3 CM ndash 14 Informante
G H I
60 a 80
Anos
I
Pai4
CM ndash 16
Informante
I F B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Pai5
CM ndash 02 45
Informante
E A B C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Patildeo1 CM ndash 02 47
57
Informante
H
60 a 80
Anos
I
Patildeo2 CM ndash 63 Informante
H
60 a 80
Anos
I
Patildeo3
CM ndash 01
Informante
I F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Peixe1 CM ndash 16 Informante
G I
60 a 80
Anos
I
Peixe2
CM ndash 63
Informante
I F A
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Pessoa1
CM ndash 11
Informante
G I C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Pessoa2
CM ndash 35a
Informante
I D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Pessoa3
CM ndash 18a
Informante
F A C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
216
Pode-Natildeo1 CM ndash 14
(2 matildeos)
Informante
D E
30 a 60
Anos
II
Pode-Natildeo2 CM ndash 14
(1 matildeo)
Informante
F
30 a 60
Anos
II
Poliacutetica1 CM ndash 11 51a Informante
G I
60 a 80
Anos
I
Poliacutetica2
CM ndash 11
Informante
I E B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Poliacutetica3 CM ndash 14 Informante
D E
30 a 60
Anos
II
Porque1
CM ndash 15
Informante
G H I D F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Porque2 CM ndash 14 Informante
G H I E F
A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Povo1 CM ndash 02 64 Informante
G I
60 a 80
Anos
I
Povo2 CM ndash 11 Informante
I
60 a 80
Anos
I
P-o-v-o3 CM ndash 11 32
42
Informante
I
60 a 80
Anos
I
Preto1
CM ndash 05
Informante
G H I F B
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Preto2 CM ndash 34 62 Informante
G H I
60 a 80
Anos
I
Primeiro1
CM ndash 07 14
Informante
60 a 80
Anos
I II III
217
G I E F C 30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
Primeiro2
CM ndash 14
Informante
H F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Primeiro3 CM ndash 14
(duas matildeos)
Informante
D
30 a 60
Anos
II
Primeiro4
CM ndash 07
Informante
F E C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Profissional
1
CM ndash 11 Informante
I
60 a 80
Anos
I
Profissional
2
CM ndash 63 Informante
C
15 a 30
Anos
III
Prova1 CM ndash 63 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Prova2
CM ndash 53a
(duas matildeos)
Informante
E F A B C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Respeitar1 CM ndash 53a Informante
D E
30 a 60
Anos
II
Respeitar2 CM ndash 25 Informante
E F
30 a 60
Anos
II
Responsaacutevel
1
CM ndash 25
Informante
I D E B
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Responsaacutevel
2
CM ndash 25
(duas matildeos)
Informante
I D E F A
B
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II III
218
15 a 30
Anos
Responsaacutevel
3
CM ndash 63
(duas matildeos)
Informante
G I
60 a 80
Anos
I
Reuniatildeo1 CM ndash 15 Informante
D
30 a 60
Anos
II
Reuniatildeo2
CM ndash 25
Informante
D E A
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Reuniatildeo3 CM ndash 14 Informante
G H D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Saber1
CM ndash 63
Informante
D B C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Saber2
CM ndash 14
Informante
G H I D E
F A C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Saber3
CM ndash 44 53a
Informante
G H I F A
B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Saber4
CM ndash 11
Informante
E F C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Semana1 CM ndash 10 Informante
D E
30 a 60
Anos
II
Semana2 CM ndash 10 Informante
B
15 a 30
Anos
III
Semana3 CM ndash 08a 64 Informante
I
60 a 80
Anos
I
219
Sim1
CM ndash 02
Informante
H D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
S-i-m2 CM ndash 02 38
60
Informante
H I
60 a 80
Anos
I
Sim3 CM ndash 59a 63 Informante
G H
60 a 80
Anos
I
Surdo1
CM ndash 14
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Surdo2
CM ndash 25
Informante
G I D E B
C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Tambeacutem1
CM ndash 61
Informante
G H I D E
A
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Tambeacutem2
CM ndash 14
Informante
G H I D E
F B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Tarde1 CM ndash 63 Informante
G H I
60 a 80
Anos
I
Tarde2 CM ndash 44 47
63
Informante
H
60 a 80
Anos
I
Tarde3 CM ndash 63 Informante
G H
60 a 80
Anos
I
Teatro1 CM ndash 57 Informante
I
60 a 80
Anos
I
220
Teatro2 CM ndash 49 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Tempo1
CM ndash 14
Informante
H I D E A
B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Tempo2
CM ndash 57
Informante
H I D E
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Tempo3
CM ndash 63
Informante
G I D E C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Tempo4
CM ndash 45
Informante
G D E F A
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Ter1
CM ndash 63 64
Informante
G H I D F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Ter2
CM ndash 08a
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Tio1
CM ndash 56
Informante
H F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Tio2
CM ndash 51b
Informante
30 a 60
Anos
II III
221
D E F A B
C
15 a 30
Anos
Trabalhar1
CM ndash 08a
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Trabalhar2
CM ndash 14
Informante
H I F A
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Trabalhar3 CM ndash 24 Informante
I
60 a 80
Anos
I
Tudo CM ndash 63
(duas matildeos)
Informante
F
30 a 60
Anos
II
Vagabundo1 CM ndash 63 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Vagabundo2 CM ndash 64 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Ver1 CM ndash 14 Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Ver2
CM ndash 32
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Ver3
CM ndash 64
Informante D E B C
30 a 60
Anos 15 a 30
Anos
II III
Vergonha1
CM ndash 64
Informante
60 a 80
Anos
I II
222
I E 30 a 60
Anos
Vergonha2 CM ndash 11 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Vermelho1 CM ndash 32 Informante
G H I
60 a 80
Anos
I
Vermelho2 CM ndash 14 Informante
G H I
60 a 80
Anos
I
Viajar1 CM ndash 63 Informante
D E F
30 a 60
Anos
II
Viajar2 CM ndash 45 Informante
F
30 a 60
Anos
II
WC CM ndash 48 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Palavras no total 255 sinais lexicais
Palavra Ajudar 4 Sinais Palavra Mais 4 Sinais
Palavra Aluno 2 Sinais Palavra Matemaacutetica 2 Sinais
Palavra Amanhatilde 3 Sinais Palavra Meacutedico 2 Sinais
Palavra Antes 3 Sinais Palavra Medo 3 Sinais
palavra Aposentar 3 Sinais Palavra Melhor 3 Sinais
Palavra Associaccedilatildeo 2 Sinais Palavra Morrer 2 Sinais
Palavra Aula 1 Sinal Palavra Mudar 2 Sinais
Palavra Aviatildeo 3 Sinais Palavra Mulher 3 Sinais
Palavra Avocirc 3 Sinais Palavra Noite 2 Sinais
Palavra Azul 3 Sinais Palavra Nome 2 Sinais
Palavra Bairro 1 Sinal Palavra Noacutes 2 Sinais
Palavra Banco 2 Sinais Palavra Nunca 3 Sinais
Palavra Batata 2 Sinais Palavra Objetivo 2 Sinais
Palavra Branco 2 Sinais Palavra Ocircnibus 2 Sinais
Palavra Cafeacute 1 Sinal Palavra Ovo 2 Sinais
Palavra Calma 2 Sinais Palavra Padre 3 Sinais
Palavra Cama 2 Sinais Palavra Pai 5 Sinais
Palavra Cavalo 2 Sinais Palavra Patildeo 3 Sinais
Palavra Chorar 2 Sinais Palavra Peixe 2 Sinais
Palavra Crianccedila 4 Sinais Palavra Pessoa 3 Sinais
Palavra Cobra 2 Sinais Palavra Pode-natildeo 2 Sinais
Palavra Conversar 5 Sinais Palavra Poliacutetica 3 Sinais
Palavra Cortar 3 Sinais Palavra Porque 2 Sinais
223
Palavra Cultura 1 Sinal Palavra Povo 3 Sinais
Palavra Dormir 3 Sinais Palavra Preto 2 Sinais
Palavra Depois 3 Sinais Palavra Primeiro 4 Sinais
Palavra Educaccedilatildeo 2 Sinais Palavra Profissional 2 Sinais
Palavra Escola 2 Sinais Palavra Prova 2 Sinais
Palavra Estudar 1 Sinal Palavra Respeitar 2 Sinais
Palavra Emagrecer 2 Sinais Palavra Responsaacutevel 3 Sinais
Palavra Engordar 2 Sinais Palavra Reuniatildeo 3 Sinais
Palavra Engravidar 2 Sinais Palavra Saber 4 Sinais
Palavra Faacutecil 3 Sinais Palavra Semana 3 Sinais
Palavra Faculdade 3 Sinais Palavra Sim 3 Sinais
Palavra Falar 5 Sinais Palavra Surdo 2 Sinais
Palavra Feio 3 Sinais Palavra Tambeacutem 2 Sinais
Palavra Flor 2 Sinais Palavra Tarde 3 Sinais
Palavra Forte 3 Sinais Palavra Teatro 2 Sinais
Palavra Gato 3 Sinais Palavra Tempo 4 Sinais
Palavra Gostar 2 Sinais Palavra Ter 2 Sinais
Palavra Homem 2 Sinais Palavra Tio 2 Sinais
Palavra Hospital 2 Sinais Palavra Trabalhar 3 Sinais
Palavra Igreja 2 Sinais Palavra Tudo 1 Sinal
Palavra Igual 7 Sinais Palavra Vagabundo 2 Sinais
Palavra Irmatildeo 2 Sinais Palavra Ver 3 Sinais
Palavra Lembrar 2 Sinais Palavra Vergonha 2 Sinais
Palavra Limpar 3 Sinais Palavra Vermelho 2 Sinais
Palavra Livro 2 Sinais Palavra Viajar 2 Sinais
Palavra Lutar 2 Sinais Palavra WC 1 Sinal
Palavra Matildee 7 Sinais
224
225
AS CONFIGURACcedilOtildeES DE MAtildeOS
Cm 01
Cm 02
Cm 03
Cm 04
Cm 05
Cm 06
Cm 07
Cm 08a
Cm 08b
Cm 09
Cm 10
Cm 11
Cm 12
Cm 13
Cm 14
Cm 15
Cm 16
Cm 17
Cm 18a
Cm 18b
Cm 19
Cm 20
Cm 21
Cm 22a
Cm 22b
Cm 23
Cm 24
Cm 25
Cm 26
Cm 27
226
Cm 28
Cm 29a
Cm 29b
Cm 30
Cm 31
Cm 32
Cm 33
Cm 34
Cm 35a
Cm 35b
Cm 36
Cm 37a
Cm 37b
Cm 38
Cm 39
Cm 40
Cm 41
Cm 42
Cm 43
Cm 44
Cm 45
Cm 46a
Cm 46b
Cm 47
Cm 48
Cm 49
Cm 50
Cm 51a
Cm 51b
Cm 52
Cm 53a
Cm 53b
Cm 54
Cm 55
Cm 56
227
Cm 57
Cm 58
Cm 59a
Cm 60
Cm 61
Cm 62
Cm 63
Cm 64
228
A HISTOacuteRIA DA LIacuteNGUA DE SINAIS EM SANTA CATARINA
Contextos soacutecio-histoacutericos e sociolinguiacutesticos de surdos de 1946 a 2010
Orientadora Profordf Dra Izete Lehmkuhl Coelho
Coorientador Prof Dr Tarciacutesio de Arantes Leite
Banca Examinadora
Profordf Dra Fabiacuteola Sucupira Ferreira Sell ndash UDESC (Membro Externo)
Profordf Dra Lodenir Becker Karnopp ndash UFRGS (Membro Externo)
Profordf Dra Ronice Muller de Quadros ndash UFSC (Membro Interno)
Profordf Dra Edair Maria Goumlrski ndash UFSC (Membro Interno)
Profordf Dra Karin Liacutelian Strobel ndash UFSC (Membro Interno)
Profordf Dra Aline Lemos Pizzio ndash UFSC (Membro Suplente Interno)
Profordf Dra Sueli Costa ndash IFSC (Membro Suplente Externo)
Florianoacutepolis 2013
ldquoOs procedimentos da linguiacutestica descritiva se
baseiam no entendimento de que a liacutengua eacute um
conjunto estruturado de normas sociais No
passado foi uacutetil considerar que tais normas eram
invariantes e compartilhadas por todos os
membros da comunidade linguiacutestica Todavia as
anaacutelises do contexto social em que a liacutengua eacute
utilizada vieram demonstrar que muitos
elementos da estrutura linguiacutestica estatildeo
implicados na variaccedilatildeo sistemaacutetica que reflete
tanto a mudanccedila no tempo quanto os processos
sociais extralinguumliacutesticosrdquo (LABOV 1968 p
241)
ldquoQuando eu aceito a liacutengua de outra pessoa eu
aceitei a pessoa Quando eu rejeito a liacutengua eu
rejeitei a pessoa porque a liacutengua eacute parte de noacutes
mesmos Quando eu aceito a Liacutengua de Sinais
eu aceito o surdo e eacute importante ter sempre em
mente que o surdo tem o direito de ser surdo
Devemos ensinaacute-los ajudaacute-los mas temos que
permitir-lhe ser surdordquo (TERJE BASILIER
psiquiatra norueguecircs)
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais por terem me acompanhado e me dado forccedila para
essa caminhada
A minha amada esposa por ter paciecircncia comigo durante todos
esses anos
Aos meus filhos Eduardo Espiacutendola Schmitt e Mocircnica Espiacutendola
Schmitt que sofreu juntamente com minha esposa cuidando dele nas
cansativas muito correria de trabalho por motivo de paciecircncia comigo
durante do estudo e trabalho
Ao Sr Francisco Lima Juacutenior guerreiro no movimento de surdos
pela primeira escola e associaccedilatildeo que marca o registro histoacuterico na
liacutengua de sinais sofreram a mudanccedila o tempo em Santa Catarina
A Associaccedilatildeo de Surdos da Grande Florianoacutepolis Sociedade de
Surdos de Satildeo Joseacute Universidade Federal de Santa Catarina
Universidade do Estado de Santa Catarina Grupo de Estudos Surdos e
Comunidade Surda pelo seu apoio
Agrave professora Dra Izete Lehmkul Coelho (UFSC) pela sua
orientaccedilatildeo de pesquisa na aacuterea em sociolinguiacutestica e me dava a
disciplina no estudo referecircncia teoacuterico
Ao meu co-orientador Dr Tarciacutesio de Arantes Leite pela sua
orientaccedilatildeo muito detalhe no estudo as liacutenguas de sinais
Aos colegas de LetrasLIBRAS pelo incentivo e forccedila de vontade
no compartilhamento das experiecircncias no estudo linguiacutestico dos surdos
A Dra Ronice Muller de Quadros abriu a oportunidade de espaccedilo
acadecircmico na liacutengua de sinais na Universidade Federal de Santa
Catarina ndash UFSC
A Prof Dra Edair Maria Goumlrski convidado especial na disciplina
sociolinguiacutestica na banca de examinadora e antes tambeacutem esteve na
minha qualificaccedilatildeo em 2012
Aos colegas surdos na faixa etaacuteria que compartilharam comigo
durante as entrevistas de gravaccedilotildees sobre a histoacuteria de surdos em Santa
Catarina
A CAPES e REUNI pelo fornecimento de bolsa no programa de
poacutes-graduaccedilatildeo - PGL oferecendo-me a oportunidade de desenvolver
meu estudo e pesquisa
Convidado especial nas bancas de examinadoras Fabiacuteola Sucupira
Ferreira Sell Karin Liacutelian Strobel e Lodenir Becker Karnopp membro e
suplente Aline Lemos Pizzio e Suelli Costa
Aacutes colegas Edgar Correa Veras Nataacutelia Schleder Rigo e Tiago
Coimbra Nogueira que me interpretaram na banca de qualificaccedilatildeo em
2012 Daniela Bieleski Diego Mauricio Barbosa e Gisele Iandra Pessini
Anater que me interpretaram na banca avaliaccedilatildeo de defesa
A Maria Eloiza de Macedo por nos ajudar com discussotildees na
revisatildeo e pela paciecircncia e comprometimento e
Apoio a ediccedilatildeo de filmagem satildeo Marcos Luchi Joatildeo Paulo
Ampessan e Marcos Alexandre Marquioto
RESUMO
Esta pesquisa visa identificar possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas
linguiacutesticas ocorridas na Liacutengua Brasileira de Sinais (LIBRAS) no periacuteodo
histoacuterico de 1946 a 2010 analisando narrativas filmadas de trecircs geraccedilotildees de
sujeitos surdos usuaacuterios dessa liacutengua O Grupo I eacute formado por indiviacuteduos
com mais de 60 anos o Grupo II por indiviacuteduos de 30 a 60 anos o Grupo
III eacute formado por indiviacuteduos de 15 a 30 anos Na primeira parte do trabalho
apresentamos uma revisatildeo de base teoacuterico-metodoloacutegica fundamentada nos
estudos de Labov (2008 [1972]) sobre mudanccedilas linguiacutesticas no contexto
social observadas em tempo aparente na ilha de Martha‟s Vineyard e em
Nova York A concepccedilatildeo da variaccedilatildeo sociolinguiacutestica pode nos ajudar nesta
investigaccedilatildeo que versa sobre a histoacuteria da LIBRAS em Santa Catarina no
periacuteodo jaacute referido A partir da teoria laboviana analisam-se certos padrotildees
sociolinguiacutesticos verificados nesta pesquisa Considera-se o fato de apenas
uma pessoa ter influenciado toda uma comunidade de surdos em Santa
Catarina o professor Francisco Lima Juacutenior que veio do Rio de Janeiro
para Florianoacutepolis em 1946 Baseando-nos nesta data escolhemos o periacuteodo
acima citado para traccedilar um percurso de possiacuteveis transformaccedilotildees
linguiacutesticas de natureza interna e externa ocorridas na LIBRAS em Santa
Catarina Os resultados desta pesquisa apontam que haacute variaccedilatildeo e mudanccedila
em tempo aparente na LIBRAS relacionando o contexto linguiacutestico atual
dos jovens (Grupo III) a transformaccedilotildees histoacutericas e sociais observadas na
comunidade surda em Santa Catarina
Palavras-chave Histoacuteria da LIBRAS sociolinguiacutestica soacutecio-histoacuterico
variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas
ABSTRACT
This research aims to identify eventual linguistic variations and
changes in Brazilian Sign Language (LIBRAS) in the period from 1946 to
2010 through the analysis of the filmed narratives of three generations of
deaf people users of that language Group I is formed by individuals over
60 years-old Group II by individuals between 30 and 60 years-old and
Group III individuals between 15 and 30 years-old In the first part of this
research we present a theoretical-methodological review based on the
studies of Labov (2008 [1972]) about the social context of changes
observed in apparent time in Martha‟s Vineyard and in New York City We
believe the theory of language variation and change can help us in this
research which deals with the history of LIBRAS in Santa Catarina in the
period mentioned above Based on Labov‟s theory we analize certain
sociolinguistic patterns that were verified in this research We consider the
fact that only one person had influence on a whole deaf community in its
linguistic development teacher Francisco Lima Juacutenior who came from Rio
de Janeiro to Florianoacutepolis in 1946 Considering this date we chose the
period from 1946 to 2010 to trace back the path of eventual linguistic
transformations both internal and external in LIBRAS in Santa Catarina
We expect that in the outcome of this research there is variation and change
in apparent time of LIBRAS relating the present context linguistic to youth
(Group III) to the historical and social transformations observed the deaf
community in Santa Catarina
Keywords History of LIBRAS sociolinguistics sociohistory language
variation and change
RESUMEN
El objetivo de esta investigacioacuten es identificar posibles variaciones y
cambios linguiacutesticos ocurridos en la Lengua Brasilentildea de Sentildeales
(LIBRAS) en el periodo comprendido entre 1946 y 2010 analizando
narrativas grabadas de tres generaciones de individuos sordos usuarios de
esa lengua El Grupo I esta formado por individuos con maacutes de 60 antildeos el
Grupo II por individuos de 30 a 60 antildeos el Grupo III es formado por
individuos de 15 a 30 antildeos Se presenta en la primera etapa de la
investigacioacuten un repaso teoacuterico-metodoloacutegico fundamentado en los estudios
de Labov (2008 [1972]) acerca de cambios linguiacutesticos en el contexto
social observados en tiempo aparente en la Isla de Martha‟s Vineyard y en
Nueva York La concepcioacuten de la variacioacuten sociolinguiacutestica nos puede
ayudar en este estudio el cual trata de la historia de la LIBRAS en Santa
Catarina en el periodo mencionado A partir de la teoriacutea laboviana se
analizan ciertos patrones sociolinguiacutesticos verificados en esta investigacioacuten
Se considera el hecho de solo una persona haber influenciado toda la
comunidad de sordos en Santa Catarina el profesor Francisco Lima Juacutenior
que partioacute del Rio de Janeiro para Florianoacutepolis en el antildeo de 1946 Con base
en esta fecha elegimos el periodo antes mencionado para disentildear una
trayectoria de las posibles transformaciones linguiacutesticas de caraacutecter interno
y externo ocurridas en la lengua de sentildeales en Santa Catarina Se espera que
los resultados de esta investigacioacuten indiquen que existe una variacion y
cambio en el tiempo aparente en LIBRAS relacionando el contexto
linguiacutesticas actual a joacutevenes (Grupo III) las transformaciones historicas y
sociales observados la comunidad sorda de Santa Catarina
Palabras-clave Historia de la LIBRAS sociolinguiacutestica sociohistorio
variacioacuten y cambio linguiacutesticos
LISTA DE ABREVIATURAS
ACT ndash Admissatildeo em Caraacuteter Temporaacuterio
ASL ndash Liacutengua de Sinais Americana
ASURJ ndash Associaccedilatildeo dos Surdos de Rio de Janeiro
BESC ndash Banco do Estado de Santa Catarina
BSL ndash Liacutengua de Sinais Britacircnica
CAPES ndash Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel
Superior
CELESC ndash Centrais Eleacutetricas de Santa Catarina SA
CSMSC ndash Ciacuterculo de Surdos-Mudos de Santa Catarina
FCEE ndash Fundaccedilatildeo Catarinense de Educaccedilatildeo Especial
FENEIS ndash Federaccedilatildeo Nacional de Educaccedilatildeo e Integraccedilatildeo dos Surdos
FUTSAL ndash Futebol de Salatildeo
IATEL ndash Instituto de Audiccedilatildeo e Terapia da Linguagem
INES ndash Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos
INSM ndash Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos-Mudos
IPS ndash Instituto Paulista de Surdos
LIBRAS ndash Liacutengua Brasileira de Sinais
LSB ndash Liacutengua de Sinais Brasileiras
LSF ndash Liacutengua de Sinais Francesa
MEC ndash Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
NEESPI ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo Especial e Inclusiva
PGL ndash Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica
REUNI ndash Programa de Apoio a Planos de Reestruturaccedilatildeo e Expansatildeo
das Universidades Federais Brasileiras
UFSC ndash Universidade Federal de Santa Catarina
UNIVALI ndash Universidade do Vale do Itajaiacute
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 ndash Sinal de Matildee35
Figura 02 ndash Sinal de Matildee37
Figura 03 ndash Retirado do livro de GROCE Nora Ellen Everyone Here
Spoke Sign Language Hereditary Deafness on Martha‟s Vineyard
Printed in the United States of America 195244
Figura 04 ndash Retirado do livro de LABOV Willian Padrotildees
Sociolinguiacutesticos45
Figura 05 ndash Retirado no site
httpcawikipediaorgwikiMartha27s_Vineyard45
Figura 06 ndash O trapezoacuteide das vogais a flecha indica a direccedilatildeo de
movimento do primeiro elemento de (aw)62
Figura 07 ndash Sinal de Porco67
Figura 08 ndash Abade L‟Epeacutee ensinando os surdos na liacutengua de sinais
francesa72
Figura 09 ndash Acervo na Revista da FENEIS81
Figura 10 ndash Acervo de Ana Regina e Souza Campello ndash UFSC83
Figura 11 ndash Acervo da Heloise Gripp Diniz ndash UFSC 0184
Figura 12 ndash Acervo da Heloise Gripp Diniz ndash UFSC 0284
Figura 13 ndash Acervo do Francisco - eacute o primeiro dicionaacuterio na liacutengua de
sinais em Santa Catarina em 194793
Figura 14 ndash Acervo do Profdeg Francisco - fotografia de Jornal que traz
reportagem sobre o livro ldquoLinguagem das Matildeosrdquo96
Figura 15 ndash Mostrar os Sinais106
Figura 16 ndash Variaccedilatildeo Fonoloacutegica108
Figura 17 ndash Mostrar os sinais com uma matildeo e com duas matildeos108
Figura 18 ndash Sinal de Paacutessaro110
Figura 19 e 20 ndash Ferreira-Brito e Langevin112
Figura 21 ndash httpwwwinesgovbrlibrasprincipalaspASSU_id=3112
Figura 22 ndash Quadro de CMs da LSB por Pimenta e Quadros112
Figura 23 ndash Sinal - ldquoCultura em SCrdquo115
Figura 24 ndash Sinal - ldquoCultura em SPrdquo115
Figura 25 ndash Sinal - ldquoCultura em RJrdquo115
Figura 26 ndash Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo ndash Depto Educaccedilatildeo
Especial ndash CuritibaPR SEEDSUEDDEE117
Figura 27 ndash Sinal de Ajudar118
Figura 28 ndash Sinal de Faltar119
Figura 29 ndash Sinal de Ocircnibus119
Figura 30 ndash Sinal de Sonhar119
Figura 31 CM ndash 01 11154
Figura 32 CM ndash 02 57154
Figura 33 CM ndash 07155
Figura 34 CM ndash 01 11154
Figura 35 CM ndash 02 57154
Figura 36 CM ndash 01 11154
Figura 37 CM ndash 53a156
Figura 38 CM ndash 36156
Figura 39 CM ndash 37a156
Figura 40 CM ndash 40156
Figura 41 CM ndash 40156
Figura 42 CM ndash 02157
Figura 43 CM ndash 14158
Figura 44 CM ndash 63158
Figura 45 CM ndash 02157
Figura 46 CM ndash 14158
Figura 47 CM ndash 63158
Figura 48 CM ndash 02 07157
Figura 49 CM ndash 14158
Figura 50 CM ndash 11159
Figura 51 CM ndash 14160
Figura 52 CM ndash 16160
Figura 53 CM ndash 16159
Figura 54 CM ndash 02 45160
Figura 55 CM ndash 11 38159
Figura 56 CM ndash 16160
Figura 57 CM ndash 02 45160
Figura 58 CM ndash 11 51a162
Figura 59 CM ndash 11162
Figura 60 CM ndash 14162
Figura 61 CM ndash 11162
Figura 62 CM ndash 34 62163
Figura 63 CM ndash 05163
Figura 64 CM ndash 05163
Figura 65 CM ndash 05163
Figura 66 CM ndash 14164
Figura 67 CM ndash 25164
Figura 68 CM ndash 14164
Figura 69 CM ndash 15165
Figura 70 CM ndash 25164
Figura 71 CM ndash 08a 64166
Figura 72 CM ndash 10166
Figura 73 CM ndash 10166
Figura 74 CM ndash 10166
Figura 75 CM ndash 53a168
Figura 76 CM ndash 61168
Figura 77 CM ndash 53a168
Figura 78 CM ndash 61168
Figura 79 CM ndash 53a168
Figura 80 CM ndash 07 64169
Figura 81 CM ndash 08a169
Figura 82 CM ndash 08a169
Figura 83 CM ndash 16170
Figura 84 CM ndash 44170
Figura 85 CM ndash 16170
Figura 86 CM ndash 44170
Figura 87 CM ndash 16170
Figura 88 CM ndash 21171
Figura 89 CM ndash 24171
Figura 90 CM ndash 24171
Figura 91 CM ndash 24171
Figura 92 CM ndash 14172
Figura 93 CM ndash 15173
Figura 94 CM ndash 14172
Figura 95 CM ndash 15173
Figura 96 CM ndash 14172
Figura 97 CM ndash 53a 63175
Figura 98 CM ndash 08a175
Figura 99 CM ndash 08a175
Figura 100 CM ndash 08a175
Figura 101 CM ndash 63177
Figura 102 CM ndash 14 24177
Figura 103 CM ndash 14177
Figura 104 CM ndash 14177
Figura 105 CM ndash 24177
Figura 106 CM ndash 24177
Figura 107 CM ndash 62180
Figura 108 CM ndash 24180
Figura 109 CM ndash 21181
Figura 110 CM ndash 11180
Figura 111 CM ndash 24180
Figura 112 CM ndash 21181
Figura 113 CM ndash 24180
Figura 114 CM ndash 63182
Figura 115 CM ndash 08a182
Figura 116 CM ndash 63182
Figura 117 CM ndash 08a182
Figura 118 CM ndash 08a182
LISTA DE QUADROS
Quadro 01 Sinal de Aposentar155
Quadro 02 Sinal de Aviatildeo156
Quadro 03 Sinal de Matildee158
Quadro 04 Sinal de Pai160
Quadro 05 Sinal de Poliacutetica162
Quadro 06 Sinal de Preto163
Quadro 07 Sinal de Reuniatildeo165
Quadro 08 Sinal de Semana166
Quadro 09 Sinal de Banco168
Quadro 10 Sinal de Feio169
Quadro 11 Sinal de Meacutedico170
Quadro 12 Sinal de Nome171
Quadro 13 Sinal de Porque173
Quadro 14 Sinal de Antes175
Quadro 15 Sinal de Cortar177
Quadro 16 Sinal de Padre181
Quadro 17 Sinal de Ter182
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 Centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por grupos
ocupacionais51
Tabela 02 Centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por faixa etaacuteria51
Tabela 03 Distribuiccedilatildeo geograacutefica da centralizaccedilatildeo53
Tabela 04 Cruzamento de fatores 6 falantes com o maior grau de
centralizaccedilatildeo55
Tabela 05 Centralizaccedilatildeo por grupos eacutetnicos56
Tabela 06 Centralizaccedilatildeo e atitude com relaccedilatildeo a Martha‟s Vineyard58
Tabela 07 A escala em tempo aparente eacute chamada de ldquogradaccedilatildeo
etaacuteriardquo61
Tabela 08 Mudanccedila de (aw) e (ay) em tempo aparente atraveacutes de duas
geraccedilotildees em Martha‟s Vineyard62
Tabela 09 Preliminar dos dados ndash variaccedilotildees ou mudanccedilas
linguiacutesticas151
SUMAacuteRIO
Introduzindo a pesquisa na liacutengua de sinais25 CAPIacuteTULO I ndash Delimitaccedilatildeo do objeto de pesquisa31
11 Introduccedilatildeo31
12 Mudanccedilas histoacutericas na LIBRAS e variaccedilotildees linguiacutesticas de
1946 a 2010 em Santa Catarina31
13 Objetivo Geral33
14 Objetivos especiacuteficos33
15 Questotildees e Hipoacuteteses de pesquisa na liacutengua de sinais37
CAPIacuteTULO II ndash Pressupostos teoacuterico-metodoloacutegicos da sociolinguiacutestica
laboviana39
21 Introduccedilatildeo39
22 A liacutengua em seu contexto social40
221 LABOV pesquisador pioneiro em sociolinguiacutestica40
222 A Ilha de Martha‟s Vineyard42
223 Seleccedilatildeo da variaacutevel linguiacutestica47
224 Distribuiccedilatildeo por idade e tempo50
225 Uma explicaccedilatildeo possiacutevel para o aumento da centralizaccedilatildeo52
226 A interaccedilatildeo de padrotildees linguiacutesticos e sociais54
23 Os princiacutepios da mudanccedila linguiacutestica59
231 A idade e a variaccedilatildeo estaacutevel60
232 A idade e a mudanccedila linguiacutestica61
233 Aplicando os conhecimentos da sociolinguiacutestica64
CAPIacuteTULO III ndash A histoacuteria social da liacutengua69
31 Introduccedilatildeo69
32 Charles Michel de LEpeacutee - Instituto Nacional de Surdos-Mudos
em Paris69
33 Eacutedouard Huet ndash Instituto Nacional Educaccedilatildeo de Surdos
(INESRJ)74
34 Francisco Lima Juacutenior - O Primeiro Professor Surdo na liacutengua
de sinais em Santa Catarina87
CAPIacuteTULO IV ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila na liacutengua de sinais101
41 Introduccedilatildeo101
42 A liacutengua de sinais pelo surdo indiacutecios de variaccedilatildeo e mudanccedila
linguiacutestica101
43 As variaccedilotildees linguiacutesticas na liacutengua de sinais116
44 O surdo se comunica a liacutengua de sinais no contexto social118
CAPIacuteTULO V ndash Metodologia121
51 Introduccedilatildeo121
52 A coleta de dados123
53 O meacutetodo de entrevista sociolinguiacutestica a coleta de narrativas
de experiecircncia pessoal124
54 A transcriccedilatildeo de dados dos trecircs grupos compostos de
informantes surdos na liacutengua de sinais126
55 Informantes do grupo surdo na liacutengua de sinais126
56 Descriccedilatildeo dos informantes quanto aos dados129
561 Grupo I - Informantes130
5611 Informante G130
5612 Informante H132
5613 Informante I134
562 Grupo II - Informantes135
5621 Informante D136
5622 Informante E137
5623 Informante F139
563 Grupo III - Informantes140
5631 Informante A140
5632 Informante B141
5633 Informante C143
564 ndash Algumas consideraccedilotildees finais146
CAPITULO VI ndash Descriccedilatildeo e anaacutelise dos resultados149
61 Introduccedilatildeo149
62 A comparaccedilatildeo dos dados o grupo de trecircs geraccedilotildees de surdos na
liacutengua de sinais149
63 Variaccedilatildeo e Mudanccedila lexical na Liacutengua Brasileira de Sinais152
64 Variaccedilatildeo e Mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua Brasileira de
Sinais173
65 O que dizem os resultados das trecircs geraccedilotildees dos informantes na
Liacutengua Brasileira de Sinais 183
Consideraccedilotildees Finais187
Referecircncias Bibliograacuteficas191
Anexos199
25
Introduzindo a pesquisa na liacutengua de sinais
Sou Surdo Pretendo investigar a variaccedilatildeo e a mudanccedila linguiacutestica
na liacutengua de sinais como trabalho final do curso de poacutes-graduaccedilatildeo em
Linguiacutestica niacutevel Doutorado e aprofundar os conceitos adquiridos no
meu mestrado Realizei a defesa do mestrado em 2008 na UFSC O
estudo foi feito na linha de pesquisa em Educaccedilatildeo e Processos
Inclusivos O tema abordado foi ldquoContextualizaccedilatildeo da Trajetoacuteria dos
Surdos e Educaccedilatildeo de Surdos em Santa Catarinardquo
Iniciei no mestrado pesquisando a Educaccedilatildeo de Surdos em SC
Como natildeo haacute documentaccedilatildeo histoacuterica busquei atraveacutes do depoimento
do professor surdo Francisco1 e tambeacutem de documentos e fotografias
que ele tinha resgatar um pouco da trajetoacuteria da Educaccedilatildeo de Surdos em
SC
Aquela pesquisa visava introduzir as narrativas de sujeitos surdos
no que tange a sua histoacuteria memoacuteria e identidade Minha posiccedilatildeo eacute que
atraveacutes dela eacute possiacutevel conseguir elucidar a caminhada realizada pelos
surdos de Santa Catarina E tambeacutem atraveacutes de narrativas captadas com
o professor Francisco Lima Juacutenior (Chiquito) e de alguns de seus ex-
alunos bem como de alguns dados de Jornais fotos e filmagens
consegue-se chegar a escrever a histoacuteria do movimento surdo de Santa
Catarina com respeito agrave organizaccedilatildeo e agrave educaccedilatildeo de surdos O tema foi
muito amplo para pesquisar no mestrado Entatildeo optei por pesquisar a
parte histoacuterica da liacutengua de sinais no mestrado e a parte linguiacutestica no
doutorado numa perspectiva sociolinguiacutestica
Na pesquisa de mestrado percebi que apareceram sinais
diferentes no depoimento de dois surdos que sinalizaram sobre a
Educaccedilatildeo de surdos Refleti sobre esses sinais diferentes e natildeo
conseguia explicaacute-los Entatildeo realizei o projeto de doutorado para
entender melhor essa diferenccedila de sinais estudando um tema mais
1 SCHMITT (2008) dissertaccedilatildeo de mestrado na UFSC Em 1928 nasceu em FlorianoacutepolisSC e inicia a vida de Francisco Lima Juacutenior Em 1937 a 1946 no INSMRJ Francisco inicia seus
estudos No ano de 1947 primeiro espaccedilo de educaccedilatildeo de surdos na garagem na casa dos pais
(Francisco) Em 1954 o encontro de surdos organiza a fundaccedilatildeo do Ciacuterculo Surdos-Mudos em Santa Catarina ndash CSMSC Em 1955 funda o Ciacuterculo Surdos-Mudos em Santa Catarina ndash
CSMSC e tambeacutem foi delegado na regiatildeo do sul Em 1960 teve iniacutecio o governo de Celso
Ramos Em 1963 iniciou a construccedilatildeo Escola Governador Celso Ramos Em 1964 a primeira turma de surdos na Escola Governador Celso Ramos Ex-alunos Surdos na primeira Turma
Escola Governador Celso Ramos em 1964 e 1969 Fundado em 25 de marccedilo de 1969 o
Instituto de Audiccedilatildeo e Terapia da Linguagem ndash IATEL e em 1997 o Francisco entregou o documento no Ciacuterculo Surdos-Mudos em Santa Catarina ndash CSMSC para a Sandra L Amorim e
atualmente ASGF Isso foi apresentado a minha pesquisa de biografia
26
especiacutefico ldquoA Histoacuteria da Liacutengua de Sinais em Santa Catarina
Contextos soacutecio-histoacutericos e sociolinguiacutesticos de surdos de 1946 a
2010rdquo
O trabalho de coleta de dados para esta pesquisa acontece em
forma de relatos filmados sobre a histoacuteria e as experiecircncias de vida de
cada indiviacuteduo em liacutengua de sinais de trecircs geraccedilotildees nas seguintes faixas
etaacuterias o Grupo I eacute formado por indiviacuteduos com mais de 60 anos o
Grupo II por indiviacuteduos de 30 a 60 anos e o Grupo III eacute formado por
indiviacuteduos de 15 a 30 anos Pretende-se investigar nos dados de que
dispomos se aconteceu alguma transformaccedilatildeo linguiacutestica e em caso
positivo qual foi esta transformaccedilatildeo Se a economia a poliacutetica a
questatildeo social e cultural influenciam as mudanccedilas linguiacutesticas que
ocorrem e quais as possiacuteveis influecircncias que estes fatores tiveram em
relaccedilatildeo agraves mudanccedilas na liacutengua de sinais de Santa Catarina no periacuteodo
de 1946 a 2010
A pesquisa e a leitura de histoacuterias da liacutengua de sinais no mundo
no Brasil e em Santa Catarina em diferentes comunidades surdas
propiciaratildeo um maior conhecimento linguiacutestico e melhor entendimento
das diferentes culturas surdas Jaacute posso adiantar que as narrativas
coletadas contadas e vividas pelos trecircs grupos pesquisados em
diferentes momentos da sociedade brasileira ampliaram minha forma de
ver e perceber o mundo
Meu estudo de pesquisa no mestrado apresentou dados sobre a
histoacuteria da liacutengua de sinais de Santa Catarina e as dificuldades
encontradas da comunidade surda nos contatos sociais das vaacuterias regiotildees
de Santa Catarina e ateacute mesmo com outros estados (PR RS SP RJ e
MG) Acredita-se que a ampliaccedilatildeo de sinais aqui em Santa Catarina teve
a influecircncia do professor Francisco Lima Juacutenior porque ele estudou no
INESRJ (Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos) e no IPSSP
(Instituto Paulista de Surdos) e trouxe sinais utilizados nesses estados
aleacutem de outros sinais aprendidos em contatos com surdos de outros
estados (PR RS SP RJ e MG) e ensinou tais sinais aos seus alunos
surdos enriquecendo assim a liacutengua de sinais
Ateacute agora as pesquisas sobre a liacutengua de sinais em Santa Catarina
natildeo tecircm registro da histoacuteria do sujeito surdo na escola e nem nas
associaccedilotildees de surdos ou na comunidade surda na deacutecada de 1950 Pela
pesquisa percebi que antes da vinda do professor Francisco para Santa
Catarina natildeo havia registrodocumentaccedilatildeo sobre a liacutengua de sinais A
histoacuteria que pesquisei sobre a liacutengua de sinais em Santa Catarina surge
de conversas com o professor Francisco e com outros indiviacuteduos surdos
Atualmente haacute mais registros sobre a liacutengua de sinais mas ainda eacute
27
muito pouco pois eacute uma liacutengua na modalidade visual espacial e sua
forma de registro ainda eacute precaacuteria A histoacuteria da liacutengua de sinais tem sido narrada por instituiccedilotildees de
indiviacuteduos ouvintes uma dessas eacute o INESRJ onde estudou o professor
Francisco Essas narraccedilotildees tecircm como base a educaccedilatildeo oralista que natildeo
utilizava nenhum tipo de sinalizaccedilatildeo e a comunidade surda que
utilizava a LIBRAS natildeo deixou informaccedilotildeesregistros sobre a histoacuteria da
comunidade surda daquela eacutepoca (1940) O pouco que ficou eacute
superficial deixando de mostrar informaccedilotildees de maior valor sobre esta
liacutengua que eacute muito importante para que com os registros possamos
entender melhor as variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas que ocorreram e
ocorrem Para isso eacute preciso que indiviacuteduos surdos pesquisem sobre a
histoacuteria cultura identidade e liacutengua de sinais da comunidade surda
Os dados desta pesquisa considerados importantes foram
analisados com o objetivo principal de pesquisar as variaccedilotildees e
possiacuteveis mudanccedilas em tempo aparente na liacutengua de sinais em Santa
Catarina atraveacutes das narrativas de sujeitos surdos
Percebi que o professor Francisco influenciou a liacutengua de sinais
em Santa Catarina e resgatando parte da histoacuteria dessa liacutengua pesquisei
variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas no periacuteodo de 1946 ateacute a
atualidade (2010) A falta de pesquisa histoacuterica da liacutengua de sinais
2 entre 1930 a
1980 no Brasil com referecircncia agrave variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica com o
foco no estudo sociolinguiacutestico e soacutecio-histoacuterico dificultou vislumbrar
o desenvolvimento desta liacutengua durante esse periacuteodo as mudanccedilas
ocorridas e o uso da liacutengua de sinais pela comunidade surda Natildeo houve
registro de pesquisa sobre este tema na liacutengua de sinais atraveacutes de
registro espaccedilo-visual (filmagem viacutedeos fotos etc) nas uacuteltimas deacutecadas
e parece que muitos dados que satildeo importantes sobre o sujeito surdo se
perderam Vale registrar no entanto trabalhos importantes que
procuraram resgatar parte da histoacuteria da liacutengua de sinais no Brasil a
dissertaccedilatildeo defendida em 2010 por Heloise Gripp Diniz sobre o tema
ldquoA histoacuteria da liacutengua de sinais brasileira (Libras) um estudo descritivo
de mudanccedilas fonoloacutegicas e lexicaisrdquo e os trabalhos de Perlin (1998)
Miranda (2001) Karnopp e Quadros (2004) Brito (1990 1991 1993 e
1995) Felipe (1988 1991 1993 1994 1995 1996 e 1997) Campello
(2011) entre outros
2 SCHMITT (2008) relata que ldquoa liacutengua de sinais ou seja a liacutengua dos sujeitos surdos eacute o
espaccedilo que mais eacute atingido pelo diferencialismordquo
28
Com relaccedilatildeo ao oralismo que exigia que os surdos falassem e natildeo
podiam sinalizar essa praacutetica trouxe grandes problemas uma delas foi a
dificuldade na criaccedilatildeo de espaccedilos (escola associaccedilatildeo etc) pelos
proacuteprios surdos Com a criaccedilatildeo das Associaccedilotildees de Surdos em Santa
Catarina os surdos puderam defender seus interesses E a partir de
2001 em Santa Catarina quando foi criada a Lei Estadual Nordm 118693
oficializou a LIBRAS como forma de comunicaccedilatildeo dos surdos
Haacute dez anos surgiu a LEI Nordm 10436 DE 24 DE ABRIL DE
2002 ldquoreconhecida como meio legal de comunicaccedilatildeo e expressatildeo da
Liacutengua Brasileira de Sinais - LIBRAS e outros recursos de expressatildeo a
ela associadosrdquo e o DECRETO Nordm 5626 DE 22 DE DEZEMBRO DE
2005
Em SC a primeira conquista educacional dos surdos aconteceu na
escola Governador Celso Ramos no centro de Florianoacutepolis em 1964
com a primeira turma de surdos a frequentar uma escola Nesta escola
eles tiveram acesso ao uso da liacutengua de sinais com a mediaccedilatildeo do
professor Francisco que tinha o apelido de ldquoChiquitordquo Com o
aprendizado da liacutengua de sinais os surdos comeccedilaram uma nova histoacuteria
e foram aprimorando sua liacutengua
Os alunos surdos adquiriam mais expressatildeo na comunicaccedilatildeo da
liacutengua de sinais e na interaccedilatildeo com o professor de liacutengua de sinais
surdo aprendiam mais raacutepido a se comunicar e a entender os conceitos
(sinaispalavras) Eles aprenderam e foram influenciados pelo professor
Francisco com quem tiveram o primeiro contato com a liacutengua de sinais
Os surdos comeccedilaram a utilizar a liacutengua de sinais na comunidade
surda ampliando este aprendizado Assim indaguei-me sobre qual era a
liacutengua de sinais ensinada naquele contexto social e as mudanccedilas
ocorridas por causa disto Entatildeo procurei o professor Francisco para
entender quais os sinais diferentes que havia em 1950 e que ele trouxe
para Santa Catarina Soube que o professor em seus estudos no INES foi
influenciado pela Liacutengua de Sinais Francesa (Europa) e pela Liacutengua de
Sinais Americana (Estados Unidos) na deacutecada de 1940 retornou para
Santa Catarina por volta de 1947 Essa contextualizaccedilatildeo sobre a liacutengua
de sinais eacute importante para a anaacutelise e pesquisa desta liacutengua em nosso
Estado
O professor Francisco estudou no Rio de Janeiro de 1937 a 1946
3 Em Santa Catarina foi criada a Lei no 11869 de 06 de setembro de 2001 reconhece oficialmente no Estado de Santa Catarina a linguagem gestual codificada na Liacutengua Brasileira
de Sinais LIBRAS ndash e outros recursos a ela associados como meio de comunicaccedilatildeo objetiva e
de uso corrente
29
Trouxe a experiecircncia dos sinais emergentes do Instituto Nacional de
Educaccedilatildeo de Surdos ndash INESRJ e influenciou a Regiatildeo Sul
protagonizando a histoacuteria da liacutengua de sinais por toda comunidade surda
catarinense
Eacute preciso pensar como na realidade a comunidade surda
catarinense resolveu seus problemas nas diferentes fases da histoacuteria da
liacutengua de sinais e em diferentes geraccedilotildees dos surdos Algumas sugestotildees
propostas dizem respeito ao Ciacuterculo de Surdos-Mudos de Santa Catarina
- CSMSC4 fundado pelo professor Francisco tambeacutem professor da
Escola Governador Celso Ramos Tais fatos trouxeram uma maior
interaccedilatildeo entre os surdos catarinenses e o contexto social vivido entre
1946 a 1955 proporcionando a criaccedilatildeo de Associaccedilotildees de Surdos em
vaacuterias regiotildees do estado de Santa Catarina em especial na Escola G
Celso Ramos de 1964 a 1973
Com o intuito de cumprir os objetivos a que esta pesquisa se
propocircs o trabalho seraacute organizado da seguinte forma
Nesta Introduccedilatildeo fiz um breve relato da construccedilatildeo deste
trabalho de pesquisa destacando pontos que acredito serem relevantes
com relaccedilatildeo agrave liacutengua de sinais em Santa Catarina
No primeiro capiacutetulo apresento a delimitaccedilatildeo do objeto de
pesquisa a contextualizaccedilatildeo dos sujeitos surdos na liacutengua de sinais com
o objetivo de pesquisar as mudanccedilas histoacutericas na LIBRAS e possiacuteveis
variaccedilotildees linguiacutesticas que ocorrem na trajetoacuteria percorrida desde o
projeto ateacute a concretizaccedilatildeo da pesquisa de campo realizada
No segundo capiacutetulo apresento alguns pressupostos teoacuterico-
metodoloacutegicos da sociolinguiacutestica laboviana apresento estudos de
Labov sobre a centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) na comunidade de fala da
Ilha de Marthas Vineyard bem como sobre a liacutengua em seu contexto
social a variaccedilatildeo e a mudanccedila linguiacutestica
No terceiro capiacutetulo apresento a contextualizaccedilatildeo da histoacuteria
social da liacutengua em organizaccedilotildees surdas no paiacutes com base na trajetoacuteria
dos surdos na Europa Ameacuterica Brasil e regiotildees de Santa Catarina
No quarto capiacutetulo apresento explicaccedilotildees sobre a variaccedilatildeo
encontrada na liacutengua de sinais e discutida por diversos linguistas
No quinto capiacutetulo apresento a metodologia de coleta das
narrativas dos sujeitos surdos por faixa etaacuteria e a descriccedilatildeo dos
4 O CSMSC professor Francisco comeccedilou a reunir todos os surdos de Santa Catarina
buscando as pessoas surdas que ficavam isoladas na sociedade Fazia reuniotildees perioacutedicas em
sua casa com atividade social alfabetizaccedilatildeo e oficinas de artes e trabalhos artesanais Entatildeo em 18 de agosto de 1955 com 30 associados fundou o Ciacuterculo dos Surdos e Mudos de Santa
Catarina Atualmente chamado de Associaccedilatildeo de Surdos da Grande Florianoacutepolis - ASGF
30
informantes quanto aos dados colhidos na liacutengua de sinais nas trecircs
geraccedilotildees controladas
No sexto capiacutetulo apresento a descriccedilatildeo e a anaacutelise dos
resultados a comparaccedilatildeo dos dados de cada grupo nas trecircs geraccedilotildees de
surdos que utilizaram a liacutengua de sinais
Por fim nas consideraccedilotildees finais mostro que esta pesquisa
pretende contribuir com resultados sobre a variaccedilatildeo e a mudanccedila
linguiacutestica na Liacutengua de Sinais e talvez contribuir com o registro dos
dados coletados no curso de LetrasLIBRAS como referecircncia
bibliograacutefica para auxiliar outras pesquisas
31
CAPIacuteTULO I ndash Delimitaccedilatildeo do objeto de pesquisa
11 ndash Introduccedilatildeo
Pretendo pesquisar parte da histoacuteria da LIBRAS em Santa
Catarina de indiviacuteduos surdos em contextos soacutecio-histoacutericos e
sociolinguiacutesticos de diferentes regiotildees do estado com comunicaccedilatildeo de
sinais diferentes idades variadas gecircnero diferente costumes proacuteprios
escolaridade variada exercendo trabalhos e crenccedilas diferentes
vivenciando fatos histoacutericos tudo isso acontecendo em contextos
distintos Escolhi o periacuteodo de 1946 a 2010 para a pesquisa porque o
professor Francisco Lima Juacutenior que nasceu em 1928 foi estudar fora
da cidade retornou para Florianoacutepolis em 1946 de seus estudos no
Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos (INES) no Rio de Janeiro e
acredito que ele influenciou o ensino da LIBRAS em Santa Catarina
Realizar esta pesquisa eacute um grande desafio pela dificuldade para
encontrar o registro da histoacuteria da liacutengua de sinais e das variaccedilotildees e
mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas Para desenvolver este trabalho eacute
importante saber as influecircncias lexicais e fonoloacutegicas ocorridas nessa
liacutengua em Santa Catarina de onde vieram as influecircncias e qual seu
reflexo na comunidade surda E ainda se essa liacutengua trouxe uma
valorizaccedilatildeo maior para o grupo de surdos I (mais velhos) e se foi
influenciada por fatores sociais e histoacutericos da comunidade surda de
Santa Catarina
Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os seguintes toacutepicos a
delimitaccedilatildeo da pesquisa mudanccedilas histoacutericas na LIBRAS e variaccedilotildees
linguiacutesticas nas deacutecadas de 1940 a 2010 uma contextualizaccedilatildeo sobre a
influecircncia do professor Francisco na comunidade surda a justificativa
sobre a pesquisa feita com as pessoas surdas o objetivo geral desta
pesquisa e por fim a hipoacutetese levantada sobre a influecircncia do professor
Francisco na comunidade surda de Santa Catarina com relaccedilatildeo agrave liacutengua
de sinais
12 ndash Mudanccedilas histoacutericas na LIBRAS e variaccedilotildees linguiacutesticas de
1946 a 2010 em Santa Catarina
A metodologia utilizada nesta pesquisa eacute de base empiacuterica
atraveacutes de coleta de narrativas de sujeitos surdos na faixa etaacuteria de 15 a
80 anos divididos em trecircs grupos os quais responderam agrave seguinte
pergunta ldquoExplique a histoacuteria da educaccedilatildeo do sujeito surdo em Santa
32
Catarinardquo As respostas estatildeo registradas em viacutedeos por se tratar de uma
liacutengua visual-espacial
Os dados colhidos satildeo descritos e analisados com o objetivo de
verificar se ocorreram variaccedilotildees e possiacuteveis mudanccedilas em tempo
aparente em sinais da LIBRAS identificando linguiacutestica e
historicamente cada caso
Nesta pesquisa pretendo aprofundar a histoacuteria da LIBRAS em
Santa Catarina e verificar as variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas
entre 1946 a 2010 bem como a influecircncia do professor Francisco na
comunidade surda do estado de Santa Catarina
Temos poucos registros histoacutericos no Brasil sobre a comunidade
surda e a LIBRAS e esses em sua maioria satildeo escritos por pessoas
ouvintes uma histoacuteria oral5
Em Santa Catarina a realidade eacute a mesma natildeo haacute registros
escritos documentados sobre a comunidade surda A LIBRAS foi
oficializada em 2001 em Santa Catarina e em 2002 no Brasil Ainda eacute
recente e poucos registros temos Eacute necessaacuterio pesquisar mais sobre a
LIBRAS em seus aspectos histoacuterico e linguiacutestico pois atualmente
poucos surdos conhecem sua liacutengua em seus aspectos linguiacutesticos e
gramaticais apenas sinalizam e se comunicam mas se pedirmos
explicaccedilotildees poucos saberatildeo daacute-las ateacute porque isso natildeo eacute mateacuteria
escolar
Com os dados coletados e analisados acredito que poderei
entender melhor qual foi a influecircncia ou natildeo do professor Francisco
junto agrave comunidade surda de Santa Catarina Aleacutem dos dados pretendo
fazer isso com o auxiacutelio de reportagens jornais e revistas catarinenses
bem como atraveacutes de documentos das instituiccedilotildees que trabalharam ou
trabalham com pessoas surdas Tambeacutem pretendo verificar informaccedilotildees
no arquivo Puacuteblico Catarinense Espero que com os depoimentos em
viacutedeos consiga encontrar evidecircncias de variaccedilotildees e mudanccedilas
linguiacutesticas lexicais e fonoloacutegicas em LIBRAS que ocorreram desde a
deacutecada de 1940 Os surdos que deram seu depoimento fazem parte da
comunidade surda que participou do movimento surdo catarinense nas
uacuteltimas deacutecadas Para analisar as transformaccedilotildees ocorridas eles foram
observados por faixas etaacuterias Considerando o uso de narrativas sobre a
5 SCHMITT (2008) na dissertaccedilatildeo de mestrado apresenta O que eacute Histoacuteria Oral ndash Eacute o estudo das narrativas dos sujeitos da pesquisa sua versatildeo e memoacuterias do fato pesquisado ocupa-se em
registrar essas narrativas (gravaccedilotildees filmagens transcriccedilatildeo das entrevistas recortes da
imprensa) como metodologia de pesquisa
33
histoacuteria dessas pessoas utilizei as discussotildees sobre histoacuteria oral para
realizar as entrevistas conforme Alberti (2005)
A histoacuteria oral tem uma natureza especifica que
condiciona as perguntas que o pesquisador pode fazer
Em se tratando de uma forma de recuperaccedilatildeo do passado
conforme concebido pelos que viveram eacute fundamental
que tal abordagem seja efetivamente relevante para a
investigaccedilatildeo que se pretende realizar (ALBERTI 2005
p 30)
13 ndash Objetivo Geral
Verificar a influecircncia do professor Francisco Lima Juacutenior sobre a
liacutengua de sinais de Santa Catarina e pesquisar variaccedilotildees e possiacuteveis
mudanccedilas em tempo aparente na liacutengua de sinais desse educador e de
outros oito sujeitos surdos reunidos por faixa etaacuteria diferente em trecircs
grupos de indiviacuteduos Grupo I (de 60 a 80 anos) Grupo II (de 30 a 60
anos) e Grupo III (de 15 a 30 anos) A narrativa desses nove sujeitos
surdos seraacute analisada com o propoacutesito de verificar quais as
transformaccedilotildees linguiacutesticas ocorridas na comunidade surda atual e quais
as diferenccedilas lexicais e fonoloacutegicas de uso da LIBRAS nas faixas etaacuterias
desses trecircs grupos de geraccedilotildees investigados
14 ndash Objetivos especiacuteficos
Identificar as alteraccedilotildees de alguns sinais quanto agrave
variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica e lexical dentro da liacutengua
de sinais e outros sinais que permanecem ateacute a atualidade
sem influecircncias externas
Comparar a variaccedilatildeo e a mudanccedila encontradas na
liacutengua de sinais utilizada pelos indiviacuteduos surdos
pertencentes a diferentes faixas etaacuterias representantes de
trecircs geraccedilotildees de sinalizadores
Identificar possiacuteveis fatores que condicionam a
variaccedilatildeo e a mudanccedila linguiacutesticas observadas nos trecircs
grupos pesquisados
34
Pretendemos pesquisar a liacutengua de sinais em Santa Catarina
observando a narrativa (depoimento) do sujeito surdo coletada na
escola e na associaccedilatildeo Com o surgimento do primeiro espaccedilo de
identidade cultural6 do surdo em contato com o professor Francisco
quando retornou do Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos
(INESRJ) para Florianoacutepolis que contribuiu para a melhoria do ensino
de liacutengua de sinais aos surdos Observe-se o que disse Felipe (2001)
sobre isso
Assim o antigo Instituto continuou como um centro de
integraccedilatildeo para o fortalecimento do desenvolvimento da
LIBRAS pois segundo Relatoacuterio do Diretor Dr Tobias
Rabello Leite de 1871 esta escola jaacute possuiacutea alunos
vindos de vaacuterias partes do paiacutes dezoito anos retornavam
agraves cidades de origem levando com eles a LIBRAS
(FELIPE 2001 p 121)
Quando o professor Francisco retornou de seu estudo no INES
percebe-se que influenciou o aprendizado da LIBRAS em Santa
Catarina pois a geraccedilatildeo mais nova buscava aprender a liacutengua com os
liacutederes surdos da geraccedilatildeo do professor Francisco Esse espaccedilo foi
conquistado pela poliacutetica de educaccedilatildeo de surdos que assegurava o
envolvimento com a liacutengua de sinais que atualmente estaacute se expandindo
na comunidade surda em nosso estado catarinense
Esse caminho foi aberto pelo professor Francisco Lima Juacutenior
que motivou os sujeitos surdos a aprenderem a LIBRAS num periacuteodo de
escolas oralistas a valorizarem o contato com outros sujeitos surdos e as
conversas nas comunidades surdas e associaccedilotildees levando os surdos da
atualidade a lutarem pelos seus direitos e deveres e a aprimorarem os
espaccedilos cultural e linguiacutestico criando assim lideranccedilas nessas
comunidades Isto proporcionou troca de ideias e experiecircncias
necessidade de mais estudos e melhor compreensatildeo da poliacutetica brasileira
para a busca desses direitos Os surdos da atualidade tambeacutem criaram
uma identidade nessa comunidade com as trocas aprenderam mais
criaram sinais para palavras novas melhoraram sinais antigos etc Para a
autora Tanya A Felipe
6 SCHMITT (2008) relata que ldquoA pesquisa acadecircmica na universidade sobre os problemas na
fase de histoacuteria de ouvinte e a pesquisa na educaccedilatildeo de surdos introduz a identidade cultural
surda no espaccedilo de conflito que eacute a educaccedilatildeo de surdo Esse momento cultural do surdo e a aacuterea de conhecimento sobre a cultura surda satildeo importantes na realidade das pesquisas que
apresentam o sujeito surdo no ensinordquo
35
Como toda liacutengua as liacutenguas de sinais aumentam seus
vocabulaacuterios com novos sinais introduzidos pelas
comunidades surdas em resposta as mudanccedilas culturais e
tecnoloacutegicas Assim a cada necessidade surge um novo
sinal e desde que se torne aceito seraacute utilizado pela
comunidade (FELIPE 2001 p 19)
Percebe-se na citaccedilatildeo da autora que o contato da comunidade
surda7 acontece atraveacutes da comunicaccedilatildeo visual-espacial As mudanccedilas
tecnoloacutegicas a busca de conhecimento e a cultura influenciam a
LIBRAS fazendo com que a comunidade crie novos sinais e modifique
outros sinais mais antigos
A LIBRAS eacute considerada uma liacutengua assim como as outras
liacutenguas orais e apresenta variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica Um dos
exemplos de mudanccedila em LIBRAS foi uma mudanccedila discreta8 do sinal
de ldquoMAtildeErdquo A mudanccedila fonoloacutegica atinge um dos cinco paracircmetros
fonoloacutegicos da formaccedilatildeo de sinais O ponto de articulaccedilatildeo eacute preservado
na mudanccedila do sinal MAtildeE a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) muda e eacute
acrescentado o sinal de MULHER tornando o sinal composto
Figura 01 ndash Sinal de Matildee
Eacute importante retomar aqui quais satildeo esses cinco paracircmetros
Stokoe que por volta de 1960 e 1965 apontou trecircs paracircmetros que
constituem os sinais e nomeou-os configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ponto
de articulaccedilatildeo (PA) ou locaccedilatildeo (L) e movimento (M) Satildeo eles
7 Para Felipe (2001 p 38) ldquouma comunidade eacute um sistema social geral no qual pessoas vivem
juntas compartilham metas comuns e partilham certas responsabilidades umas com as outrasrdquo PADDEN (19895) Para esta pesquisadora ldquouma Comunidade Surda eacute um grupo de pessoas
que mora em uma localizaccedilatildeo particular compartilha as metas comuns de seus membros e de
vaacuterios modos trabalha para alcanccedilar estas metasrdquo Portanto nessa Comunidade pode ter tambeacutem ouvintes e surdos que natildeo satildeo culturalmente Surdos 8 Ocorre quando uma forma (ou sinal) eacute substituiacuteda por outra de modo natildeo gradual
36
Configuraccedilatildeo de matildeos ndash satildeo as diferentes formas que as
matildeos assumem na representaccedilatildeo do sinal
Ponto de articulaccedilatildeo ndash eacute a posiccedilatildeo onde as matildeos satildeo
posicionadas no momento da sinalizaccedilatildeo
Movimento ndash eacute o deslocamento das matildeos no espaccedilo e
em diferentes partes do corpo
Karnopp (1999) apresenta como resultado de pesquisa que a
configuraccedilatildeo de matildeos se diferencia pela seleccedilatildeo de dedos e a
configuraccedilatildeo ou posiccedilatildeo destes para efetuar o sinal Em ASL os dedos
selecionados devem permanecer na mesma disposiccedilatildeo ou quando tem
mudanccedila de posiccedilatildeo os dedos selecionados devem continuar iguais ateacute
o teacutermino do sinal As posiccedilotildees e configuraccedilotildees dos dedos diferenciam-
se em a) difusatildeo dos dedos aduccedilatildeo b) junccedilatildeo entre os dedos e o
polegar abertura e c) tipo e grau de flexatildeo apresentando a organizaccedilatildeo
fonoloacutegica dos sinais com ecircnfase nos articuladores dos itens lexicais e
das restriccedilotildees na formaccedilatildeo de sinais
A partir de 1970 outros linguistas conduziram estudos mais
aprofundados sobre os aspectos fonoloacutegicos Robbin Battison (1974)
Edward S Klima e Ursulla Bellugi (1979) descreveram o quarto
paracircmetro
Orientaccedilatildeo ndash que eacute a posiccedilatildeo da palma da matildeo se pra
frente ou pra traacutes para cima ou para baixo para o lado
esquerdo ou direito
O quinto paracircmetro eacute a expressatildeo facialcorporal foi adicionado
por Ferreira Brito em 1995 no Brasil
Expressotildees faciais e corporais satildeo elementos
gramaticais que compotildeem a estrutura da liacutengua Tambeacutem
chamados de marcadores natildeo manuais Ex a fisionomia
para expressar uma pessoa chata e muito chata eacute
intensificada para expressar o que eacute desejado Alguns sinais
podem ter uma direccedilatildeo e a inversatildeo deste pode significar
oposiccedilatildeo contraacuterio ou concordacircncia nuacutemero-pessoal
37
Figura 02 ndash Sinal de Matildee
Para Quadros (1997) pesquisas evidenciam a perda completa da
motivaccedilatildeo do sinal na crianccedila surda em fase de aquisiccedilatildeo da liacutengua de
sinais Tais sinais como ldquobenccedilatildeordquo para matildee e pai para o surdo adulto ateacute
podem ser resgatados Entretanto a crianccedila que estaacute adquirindo a liacutengua de
sinais e nunca viu esta accedilatildeo natildeo repete a mesma atitude beijando a matildeo
A liacutengua de sinais eacute diferente em diversos paiacuteses e ateacute mesmo em
diferentes regiotildees dentro de um mesmo paiacutes A liacutengua de sinais eacute o que
permite a comunicaccedilatildeo entre as pessoas surdas desta forma os surdos
que conhecem a liacutengua de sinais de outras regiotildees com certeza teratildeo
maior facilidade de comunicaccedilatildeo e tambeacutem de conhecimento
Vale ressaltar que toda forma de liacutengua ldquofaladardquo no contexto
social e tudo o que noacutes vivemos sofre mudanccedilas Todas as liacutenguas tecircm
influecircncia do tempo decorrido Na LIBRAS tambeacutem existem mudanccedilas
culturais e linguiacutesticas
15 ndash Questotildees e Hipoacuteteses de pesquisa na liacutengua de sinais
Nesta pesquisa parto das seguintes questotildees 1) O professor
Francisco influenciou a LIBRAS em SC 2) Que variaccedilotildees e mudanccedila
linguiacutestica vamos encontrar na liacutengua dos nove sujeitos surdos
Acredito que (hipoacutetese) o professor Francisco teve grande influecircncia na
comunidade surda de Santa Catarina com relaccedilatildeo agrave Liacutengua de Sinais
Acredito tambeacutem (hipoacutetese) que muitos dos sinais utilizados pelos
Grupos I e II natildeo satildeo conhecidos pelo Grupo III dos mais jovens Penso
que (hipoacutetese) alguns sinais tiveram alteraccedilotildees quanto a variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica como tambeacutem lexical nos trecircs grupos pesquisados
Quando comparar a liacutengua de sinais nos Grupos I II e III nas diferentes
faixas etaacuterias espero (hipoacutetese) encontrar vaacuterios sinais que comprovem
variaccedilotildees e mudanccedilas fonoloacutegicas e lexicais Essas hipoacuteteses surgiram
de observaccedilotildees como usuaacuterio da LIBRAS
38
Em relaccedilatildeo aos fatores internos e externos que condicionam a
variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica e lexical acredito (hipoacutetese) que o
professor Francisco eacute o precursor do ensino de sinais em Santa Catarina
(fator externo) No Grupo II temos a influecircncia do professor Francisco e
de seus primeiros alunos e das associaccedilotildees de surdos e no Grupo III
temos um maior nuacutemero de surdos nas universidades precisando criar
novos sinais para os novos conhecimentos aprendidos
Labov em sua pesquisa cita ldquo o objetivo da pesquisa linguiacutestica
na comunidade deve ser descobrir como as pessoas falam quando natildeo
estatildeo sendo monitoradasrdquo (LABOV 2008 [1972] p 244) Nesta
pesquisa a observaccedilatildeo aos indiviacuteduos surdos dos trecircs grupos
pesquisados acontece de forma diferente eles sabem que estatildeo
respondendo perguntas e que estatildeo sendo filmados
Pela anaacutelise das respostas em liacutengua de sinais e descriccedilatildeo dos
surdos seraacute possiacutevel descobrir atraveacutes das descriccedilotildees aspectos
culturais9 individuais e tambeacutem obter dados quanto agraves variaccedilotildees e
mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas na liacutengua de sinais neste periacuteodo de
tempo que acontece desde 1946
Finalmente esta tese teraacute o registro dos dados colhidos nos trecircs
grupos pesquisados de diferentes geraccedilotildees mostrando variaccedilotildees e
mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas com os contatos culturais da
comunidade surda
Os fatos sociais desta liacutengua como de qualquer outra podem
acontecer em qualquer tempo e em diferentes situaccedilotildees e quando
analisados neste caso podemos perceber a mudanccedila dos indiviacuteduos
surdos num determinado contexto soacutecio-histoacuterico e linguiacutestico A amostra eou dados para a tese de doutorado na UFSC
proporcionaraacute anaacutelises sobre aspectos variaacuteveis da LIBRAS (variaccedilatildeo e
mudanccedila fonoloacutegica e lexical) com o apoio de autores como Labov
2008 [1972] Naro 2003 Weinreich Labov e Herzog 2006 [1968]
Calvet 2002 entre outros
O periacuteodo indicado para a pesquisa que eacute de 1946 a 2010 pode
revelar parte da histoacuteria da comunidade surda de Santa Catarina e a
influecircncia que o professor Francisco Lima Juacutenior trouxe de contribuiccedilatildeo
para a liacutengua de sinais de Santa Catarina e para a comunidade surda do
estado
9 PERLIN (2006 p 65) Cultura Surda ndash o livro a Invenccedilatildeo da Surdez II explica que a cultura surda esta aiacute enfatizando oferecendo transparentemente sua possessatildeo simboacutelica sobressaindo
com seus discursos narrativos afirmando a necessidade da reinscriccedilatildeo da diferenccedila cultural e
consequente diferenccedila pedagoacutegica
39
CAPIacuteTULO II ndash Pressupostos teoacuterico-metodoloacutegicos da
sociolinguiacutestica laboviana
21 ndash Introduccedilatildeo
A Sociolinguiacutestica se dedica ao estudo da liacutengua falada e do
contexto social de uso da liacutengua ou seja estuda como os membros de
uma sociedade se comunicam em diversas situaccedilotildees em funccedilatildeo por
exemplo do lugar onde cresceram ou de sua posiccedilatildeo socioeconocircmica A
liacutengua surge e tambeacutem se transforma em funccedilatildeo do contexto soacutecio-
histoacuterico
Como seraacute visto mais adiante para essa aacuterea de conhecimento satildeo
fundamentais os conceitos de variaccedilatildeo e mudanccedila O primeiro envolve a
coexistecircncia de diferentes formas linguiacutesticas para a expressatildeo de um
significado e o segundo diz respeito agrave substituiccedilatildeo de formas com o
passar do tempo Esses estudos satildeo fundamentados na sociolinguiacutestica
variacionista que teve iniacutecio com as pesquisas de Labov
Este capiacutetulo traz relatos da pesquisa de Labov que foi pioneiro
na sociolinguiacutestica e realizou estudo linguiacutestico na comunidade de fala
da Ilha de Marthas Vineyard associando a influecircncia dos povos que
imigraram e colonizaram a ilha agraves mudanccedilas ocorridas na fala bem
como o turismo que eacute frequente no veratildeo com visitantes que falam
variedades de uma mesma liacutengua e outras liacutenguas e influenciam o
comeacutercio da ilha fazendo com que variedades e liacutenguas diferentes se
misturem quando as pessoas conversam Num dado momento Labov
investigou a centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) na comunidade de fala da ilha
Foram entrevistados diferentes grupos eacutetnicos ingleses portugueses e
iacutendios Isso foi importante para entender mudanccedilas linguiacutesticas
ocorridas nessa ilha dos Estados Unidos
Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os seguintes toacutepicos a liacutengua
em seu contexto social a partir da teoria laboviana Labov como
pesquisador pioneiro em sociolinguiacutestica o iniacutecio da pesquisa de Labov
na Ilha de Martha‟s Vineyard com ingleses portugueses e iacutendios a
maneira como Labov realizou a pesquisa para escolher a variaacutevel
linguiacutestica a ser estudada a explicaccedilatildeo dos dados obtidos por grupos
ocupacionais e por idade a explicaccedilatildeo da pesquisa realizada por Labov
sobre o aumento da centralizaccedilatildeo comentaacuterios sobre a interaccedilatildeo de
padrotildees linguiacutesticos e sociais na Ilha de Martha‟s Vineyard os
princiacutepios da mudanccedila linguiacutestica a idade e a variaccedilatildeo estaacutevel e por
fim algumas reflexotildees sobre a idade e a mudanccedila linguiacutestica
40
22 ndash A liacutengua em seu contexto social
A liacutengua eacute uma forma de comportamento eacute usada por seres
humanos num contexto social ao comunicarem uns aos outros suas
ideias suas necessidades e emoccedilotildees Sendo assim o comportamento
linguiacutestico de um grupo pode variar de acordo com as experiecircncias
vividas numa comunidade Para Labov (1972) o estudo da origem da
evoluccedilatildeo da linguagem que eacute a ciecircncia que estuda a parte da linguiacutestica
incluiacuteda no contexto social eacute buscado no comportamento linguiacutestico de
um grupo social isto eacute de uma comunidade de fala10
Natildeo se trata de um grupo de falantes que utilizava a mesma forma
de fala mas do grupo que segue as mesmas normas quanto ao uso da
linguagem No caso da linguagem gestual um exemplo disso seria de
um surdo com uma famiacutelia de ouvintesfalantes que natildeo fica isolado na
questatildeo da liacutengua pois comeccedila a frequentar uma associaccedilatildeo de surdos e
aprende a liacutengua de sinais Neste espaccedilo ele aprende a comunicar-se na
liacutengua de sinais e natildeo apenas numa liacutengua gestual caseira
Para entender o comportamento linguiacutestico de uma comunidade
de fala vatildeo ser retomados alguns estudos pioneiros de Labov da deacutecada
de 1960 Antes poreacutem eacute importante entender quem eacute esse pesquisador e
alguns dos trabalhos que ele fez 221 ndash LABOV pesquisador pioneiro em sociolinguiacutestica
William Labov nasceu na cidade de Rutherford em Nova Jersey
no dia 4 de dezembro em 1927 Comeccedilou sua carreira de estudo em
Harvard em 1948 quiacutemico trabalhou na aacuterea industrial de 1949 a 1961
Ele iniciou suas pesquisas como linguista nos Estados Unidos com foco
de estudo direcionado ao contexto social agrave comunidade de fala e agraves
mudanccedilas sonoras da liacutengua
A observaccedilatildeo de Labov sobre os padrotildees sociolinguiacutesticos na ilha
de Marthas Vineyard resultou na publicaccedilatildeo do seu trabalho
apresentado no 37ordm Encontro Anual da Sociedade Americana de
Linguiacutestica em Nova York nos Estados Unidos em 1963 Nesse
trabalho o pesquisador apresentou suas consideraccedilotildees sobre a mudanccedila
sonora dos ditongos (ay) e (aw) no contexto da comunidade de fala da
10 Segundo COELHO et al (2010 p 163) Comunidade de fala ndash ldquonoccedilatildeo que recobre tanto aspectos sociais quanto linguiacutesticos envolvendo atitudesnorma sociais compartilhadas pelos
falantes que por sua vez compartilham caracteriacutesticas linguiacutesticas que os diferem de outros
grupos sociaisrdquo
41
ilha
O autor estudou tambeacutem na Columbia University sob a
orientaccedilatildeo do Professor Uriel Weinreich - doutorado em linguiacutestica em
1964 ndash com quem realizou e aprofundou sua pesquisa em
sociolinguiacutestica sobre a liacutengua falada
Eacute um pesquisador amplamente considerado na aacuterea da pesquisa
linguiacutestica por sua metodologia em sociolinguiacutestica Em seus trabalhos
o autor mostra aspectos de variaccedilatildeo dialetal e mudanccedila da liacutengua inglesa
na sociedade da Ilha de Marthas Vineyard e em Nova York11
atraveacutes de
estudos de variaccedilatildeo fonoloacutegica
Em 1972 Labov publicou seu livro Sociolinguistic Patterns
University of Pennsylvania Press original em Inglecircs o qual teve seu
volume traduzido para o portuguecircs e publicado em 2008 no Brasil
Ele pesquisou durante meses na Ilha de Martha‟s Vineyard
estado de Massachusetts as variaacuteveis foneacuteticas (ay) e (aw) em diferentes
localidades faixas etaacuterias12
grupos profissionais e eacutetnicos da ilha Com
esse estudo conseguiu reconstruir a histoacuteria social da comunidade
daquela ilha a partir da frequecircncia e distribuiccedilatildeo dessas duas variaacuteveis
para verificar se ocorreu mudanccedila sonora correlacionando o complexo
padratildeo linguiacutestico com a estrutura social atraveacutes da investigaccedilatildeo de
fatores sociais que incidem diretamente sobre o processo linguiacutestico
Sobre a mudanccedila linguiacutestica podemos destacar trecircs principais
caracteriacutesticas relevantes na pesquisa que Labov (2008 [1972] p 19)
desenvolveu na Ilha
a origem das variaccedilotildees linguiacutesticas
a difusatildeo e a propagaccedilatildeo das mudanccedilas linguiacutesticas e
a regularidade da mudanccedila linguiacutestica
Labov investigou como aconteceu a variaccedilatildeo do inglecircs americano
em uma determinada comunidade a partir das influecircncias sociais que
vieram do contato entre os indiviacuteduos das localidades pesquisadas
11 A pesquisa de Labov na ilha de Martha‟s Vineyard foi escolhida por mim porque Francisco
viveu em Florianoacutepolis e agrupou os surdos de SC tendo como referecircncia uma ilha que se
parece muito com Martha‟s nas temporadas de veratildeo os turistas do paiacutes e do exterior lotam a cidade fortalecendo a economia do lugar
12 Ao analisar faixa etaacuteria podemos detectar mudanccedila em tempo aparente atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre grupo dos falantes mais velhos e jovens ou variaccedilatildeo estaacutevel
42
Pela induccedilatildeo as variaccedilotildees fonoloacutegicas podem ocorrer pelos
processos de assimilaccedilatildeo ou dissimilaccedilatildeo por analogia empreacutestimo
fusatildeo contaminaccedilatildeo variaccedilatildeo aleatoacuteria ou outros processos linguiacutesticos
em que haja a interaccedilatildeo entre o sistema linguiacutestico de caracteriacutesticas
fisioloacutegicas ou psicoloacutegicas do indiviacuteduo
O autor realizou a pesquisa na comunidade de falantes de
Martha‟s Vineyard nos EUA em Massachusetts para verificar o grau de
centralizaccedilatildeo de sons no caso (ay) e (aw) em diferentes momentos e
situaccedilotildees daquela comunidade como veremos nas proacuteximas seccedilotildees
222 ndash A Ilha de Martharsquos Vineyard
Martha`s Vineyard eacute a maior ilha ao largo da costa da Nova
Inglaterra abrange quase uma centena de quilocircmetros quadrados de
aacuterea
A ilha antigamente era povoada por grupos de iacutendios que estavam
relacionados com a Wampanoags no estado sudeste de Massachusetts
Num primeiro momento os europeus ocuparam a ilha e com o passar
do tempo aprenderam com os iacutendios de diferentes tribos de Martha`s
Vineyard a pescar e a utilizar a agricultura
O primeiro assentamento europeu aconteceu em 1644 na ilha O
governador de Winthrop de Boston norte dos Estados Unidos nessa
eacutepoca anotou em seu jornal local que algumas pessoas de Watertown
eram surdas e se comunicavam atraveacutes de sinais13
isso ajudou na
divulgaccedilatildeo da liacutengua inglesa que comeccedilou a ser usada pelos habitantes
de Martha`s Vineyard Este grupo vinha de famiacutelias do estado de
Massachusetts em Bay Colony que resolveu morar na Ilha
A Ilha de Martha‟s Vineyard na deacutecada de 1960 era formada por
uma pequena populaccedilatildeo de 6000 falantes nativos dividida em trecircs
grupos eacutetnicos ingleses portugueses e iacutendios A pesquisa de Labov
levou em consideraccedilatildeo as trecircs etnias Foram entrevistados 69 indiviacuteduos
daquela sociedade Dentre eles os nuacutemeros entrevistados foram 42
13 Realizei a pesquisa no livro que se chama ldquoEveryone Here Spoke Sign Languagerdquo da autora
(Groce 1952) achei interessante a leitura mas fui riscando e analisando de acordo com minha compreensatildeo do texto e comparando com o que Labov (2008) apresentou no livro Padrotildees
Sociolinguiacutesticos Eacute importante salientar que a pesquisa apresentada no livro de Groce eacute
interessante para realizar estudos na comunidade surda na liacutengua de sinais
43
ingleses 16 portugueses e 9 iacutendios de grupos eacutetnicos essencialmente
endoacutegamos14
Labov controlou tambeacutem diferentes grupos ocupacionais
14 na pesca 8 na agricultura 6 na construccedilatildeo 19 no ramo de serviccedilos 3
profissionais liberais 5 donas de casa e 14 estudantes Fez entrevista
formal e observaccedilotildees em muitas situaccedilotildees espontacircneas nas ruas de
Vineyard Haven e Edgartown em lanchonetes restaurantes bares
embarcadouros e diversos lugares onde o som geral da conversa puacuteblica
podia ser anotado quando natildeo gravado As anotaccedilotildees serviam apenas
como controles suplementares sobre as entrevistas gravadas As
entrevistas aconteceram em trecircs periacuteodos agosto final de
setembrooutubro de 1961 e janeiro de 1962 com pessoas de idades que
variaram de 14 a 75 anos
As duas principais variaacuteveis estudadas na ilha foram (ay) e (aw)
O significado linguiacutestico das formas em variaccedilatildeo era o mesmo mas a
situaccedilatildeo de fala era diferente na comunidade Como resultado das
entrevistas o autor obteve aproximadamente 3500 ocorrecircncias de (ay) e
1500 ocorrecircncias de (aw) como base de dados para sua pesquisa
O primeiro grupo eacutetnico formado por descendentes das famiacutelias
mais velhas de origem inglesa foi para a ilha nos seacuteculos XVII e XVIII
As famiacutelias inglesas eram os Mayhews Nortons Hancocks Allens
Tiltons Vincents Wests e Pooles que com o passar dos anos
influenciaram a liacutengua inglesa falada na ilha e a cultura da comunidade
O segundo grupo eacutetnico era formado por famiacutelias de imigrantes
accedilorianos vindos de Cabo Verde em Portugal Esses imigrantes
portugueses ao longo de toda costa da Nova Inglaterra representaram o
percentual mais alto de centralizaccedilatildeo em Martha‟s Vineyard
A ilha foi dividida em duas partes mais relevantes para a
pesquisa a ilha alta (up-island) e a ilha baixa (down-island) num total
de 5563 (cinco mil quinhentos e sessenta e trecircs) habitantes na deacutecada
de 1960 A ilha alta era organizada por pessoas que viviam em meio
rural poucos lugares fazendas casas de veraneio abandonadas lagoas
de aacutegua salgada e pacircntanos era uma aacuterea geograacutefica central desabitada e
com pinheirais improdutivos A ilha baixa era uma regiatildeo formada por
trecircs pequenos centros urbanos onde vivia cerca de trecircs quartos da
populaccedilatildeo A populaccedilatildeo de Martha‟s Vineyard na deacutecada de 1970 era de
11725 habitantes na parte alta da Ilha (rural) era de 3846 Edgartown
14 Eacute o indiviacuteduo que se casa com membros da mesma tribo para conservaccedilatildeo de sua nobreza e
raccedila
44
1118 Oak Bluffs 1027 Vineyard Haven 1701 e na parte baixa da Ilha
(Vilarejos) 1717 Edgartown 256 Oak Bluffs 292 Tisbury 468 West
Tisbury 360 Chilmark 238 Gay Head 103
Mapeamento da Ilha de Martharsquos Vineyard
Em 1960
Figura 03 ndash Retirado do livro de GROCE Nora Ellen Everyone Here
Spoke Sign Language Hereditary Deafness on Martha‟s Vineyard
Printed in the United States of America 1952
45
Em 1960
Figura 04 ndash Retirado do livro de LABOV Willian Padrotildees
Sociolinguiacutesticos 2008 [1972]
Atualmente em 2012
Figura 05 ndash 10092011 retirado no site
httpcawikipediaorgwikiMartha27s_Vineyard
46
A populaccedilatildeo na Ilha no ano de 1960 estava constituiacuteda de 11
de descendentes da primeira ou da segunda geraccedilatildeo de imigrantes
portugueses Das terceiras e quartas geraccedilotildees provavelmente chegaria
proacuteximo aos 20 Quanto ao terceiro grupo eacutetnico eram remanescentes de
indiacutegenas de GAY HEAD O quarto grupo eacute uma Miscelacircnea de
famiacutelias de imigrantes europeus que vieram da Inglaterra Franccedila-
Canadaacute Irlanda Alemanha e Polocircnia Apesar de que a soma desses
imigrantes seja de aproximadamente 15 natildeo foi levada em conta por
natildeo ser uma forccedila social coesa Segundo Labov todos os anos no veratildeo muitos turistas
chegavam agrave ilha nos meses de junhojulho passando de 6000
habitantes para 42000 habitantes representando um nuacutemero expressivo
mas natildeo foi diretamente analisado porque a influecircncia direta destes
veranistas sobre o falar em Vineyard era relativamente pequena A
constante pressatildeo vinda na comunicaccedilatildeo junto agrave crescente dependecircncia
econocircmica criada pelo turismo gera indiretamente mudanccedilas
linguiacutesticas
Os veranistas estrangeiros falam uma liacutengua proacutepria em seu paiacutes
vatildeo a passeio agrave Ilha para conhecer e explorar a cidade e tambeacutem o povo
daquela ilha fazendo trocas neste conviacutevio e de alguma forma
promovem mudanccedilas econocircmicas poliacuteticas culturais sociais e
linguiacutesticas
O autor constatou que a Ilha de Martha‟s Vineyard aleacutem da
variaccedilatildeo estudada que eacute a centralizaccedilatildeo dos ditongos os falantes
tambeacutem usam as formas variaacuteveis do ndashr poacutes-vocaacutelico em palavras como
car (carro) four (quatro) card (cartatildeo) fourth (quarto) (podemos
verificar ocorrecircncia semelhante na liacutengua falada oral com o sotaque que
se modifica) Diferente do padratildeo comum do sudeste da Nova
Inglaterra [ai] e [au] com frequecircncia se ouve na ilha [ɐi] e [ɐu] ou
mesmo [əi] e [əu] Labov (2008 [1972] p 27) escreve o seguinte
ldquoEsse aspecto dos ditongos centralizados eacute saliente para
o linguumlista mas natildeo para os falantes eacute claramente imune
agrave distorccedilatildeo consciente jaacute que os vineyardenses nativos
natildeo se datildeo conta dele nem conseguem controlaacute-lo
conscientemente No que diz respeito agrave estrutura natildeo
podemos desprezar o paralelismo estrutural de ay e
aw por outro lado esses ditongos satildeo marcados por
grande liberdade estrutural na gama de alofones
permitida pelo sistema Essas satildeo diferenccedilas estritamente
subfonecircmicas Uma vez que natildeo existem outros ditongos
47
crescentes com primeiros elementos baixo ou central
nesse sistema natildeo eacute provaacutevel que o alccedilamento
continuando ou ate a posteriorizaccedilatildeo ou anterioriazaccedilatildeo
resultasse em confusatildeo com qualquer outro fonemardquo
Labov em sua pesquisa mostrou a pronuacutencia variaacutevel dos
ditongos (ay) e (aw) na comunidade de fala considerando traccedilos sociais
dos moradores da localizaccedilatildeo alta (rural) e baixa (vilarejos) da Ilha
atraveacutes de um mapeamento da fala Ele investigou (ay) como o ditongo
em palavras do inglecircs (ex right white pride wine ou wife) e (aw)
ditongo encontrado nas palavras do inglecircs como house out e doubt por
exemplo
Ele realizou procedimentos de observaccedilatildeo e identificaccedilatildeo da
comunidade de fala em duas localizaccedilotildees diferentes em Marthas
Vineyard e Nova York Estudou as realizaccedilotildees de (ay) e (aw) em vaacuterias
regiotildees da ilha e do estado entre as faixas etaacuterias dos informantes entre
grupos de profissionais e tambeacutem entre os grupos eacutetnicos (raccedila e cor)
E em Nova York pesquisou em trecircs lojas de departamento sobre a
realizaccedilatildeo de [r] em posiccedilatildeo final e preacute-consonantal na fala de
funcionaacuterios destas lojas Labov (1994) analisou o uso de [r] que
poderia ser pronunciado ou natildeo na fala de 264 pessoas levando-os a
responder de forma que aparecesse na fala a expressatildeo fourth floor
(quarto andar) porque essa expressatildeo contem [r] nas duas proposiccedilotildees
pretendidas preacute-consonantal (fourth) e final (floor) Labov com essa
pesquisa nos Estados Unidos mostrou que o vernaacuteculo de Nova York
continuou sem o [r] por muito tempo mas como a pronuacutencia do [r] era
prestigiada passou a ser usada pelas classes mais altas e pelos jovens
sensiacuteveis pela questatildeo do status social
Desse modo Labov desenvolveu suas pesquisas com base em
procedimentos metodoloacutegicos que pudessem reconstruir a histoacuteria
recente da mudanccedila linguiacutestica da pronuacutencia dos ditongos e do [r] poacutes-
vocaacutelico Neste trabalho vatildeo ser detalhados os resultados da pesquisa em
Marthas Vineyard
223 ndash Seleccedilatildeo da variaacutevel linguiacutestica
Na seleccedilatildeo da variaacutevel linguiacutestica eacute importante perguntar quais
satildeo as propriedades mais uacuteteis de uma variaacutevel linguiacutestica servindo de
foco de pesquisa de uma determinada comunidade de falantes
Labov pensou como primeiro passo da pesquisa em verificar um
item que ocorra com frequecircncia numa conversaccedilatildeo espontacircnea e que
48
possa ser mapeado Em segundo deve ser estrutural ou seja quanto
mais integrado o item estiver num sistema mais amplo de unidades
funcionais maior seraacute o interesse linguiacutestico intriacutenseco ao estudo E
finalmente em terceiro a distribuiccedilatildeo do traccedilo deve ser estratificada
observando a faixa etaacuteria o grupo de profissionais ou outros
extratos da comunidade de fala Labov apresentou a pesquisa
preliminar sobre o estudo do som na fala da comunidade em vaacuterias
categorias buscando os dados das pessoas que falavam em
diferentes situaccedilotildees linguiacutesticas na ilha como mostra a citaccedilatildeo
abaixo Nas entrevistas preliminares conduzidas em Martha‟s
Vineyard em 1961 foram observadas diversas
mudanccedilas estruturais que eram claramente paralelas a
mudanccedilas que ocorreriam no continente sob a
influecircncia do padratildeo do sudeste da Nova Inglaterra
(LABOV 2008 [1972] p 26)
Eacute importante ressaltar que a Ilha de Marthas‟s Vineyard tem
conservado traccedilos arcaicos provavelmente a populaccedilatildeo era do sudeste
da Nova Inglaterra antes de 1800 Estudos preliminares em 1961
mostraram que a maior parte dos traccedilos especiais do falar da ilha
apresentado nos mapas do LANE15
ainda podiam ser encontrados entre
os falantes de 50 a 95 anos de idade
Labov queria entender a estrutura interna do inglecircs Vineyardense
as diferenccedilas sistemaacuteticas que jaacute haviam ocorrido e as mudanccedilas que
estavam ocorrendo por isso selecionou um aspecto linguiacutestico
caracteriacutestico da ilha com o maior nuacutemero possiacutevel de variaccedilatildeo e o mais
complexo padratildeo de distribuiccedilatildeo Ele comeccedilava a pesquisa
entrevistando indiviacuteduos falantes na comunidade com o objetivo de
detectar variaccedilotildees linguiacutesticas16
geograacuteficas sociais e estiliacutesticas
15 Linguistic Atlas of New England Trata-se de um projeto que registrou a fala de habitantes da Nova Inglaterra nos Estados Unidos na deacutecada de 1930 Segundo O‟Cain (1979 p 243)
ldquoLANE samples the speech of the older and rural representatives of the culture thus
establishing late nineteenth-century bench marks for the study of the New England dialects and also samples younger and urban speakers thus indicating general and particular trends of
changerdquo
16 COELHO et al (2010 p 166) lembram que variaccedilatildeo eacute o ldquoprocesso pelo qual duas formas
podem ocorrer no mesmo contexto linguiacutestico com o mesmo valor referencial ou com o mesmo valor de verdade ie com o mesmo significado Dois requisitos precisam pois ser
cumpridos para que ocorra variaccedilatildeo as formas envolvidas precisam (i) ser intercambiaacuteveis no
mesmo contexto e (ii) manter o mesmo significadordquo
49
Na comunidade linguiacutestica17
de falantes atraveacutes da forma de
falar na conversa espontacircnea e no comportamento o autor mostrou
que havia diferenccedilas linguiacutesticas na ilha de Martha‟s Vineyard e no
sudeste da Nova Inglaterra de onde migraram pessoas para a
colonizaccedilatildeo da ilha
Em sua pesquisa Labov observou que ldquono caso do r poacutes-
vocaacutelico os falantes apresentavam uma variaacutevel linguiacutestica definida
pelos limites geograacuteficos da ilha e que segue um padratildeo social
idiossincraacutetico a Marthas Vineyardrdquo (LABOV 2008 [1972] p 27) Em
algumas aacutereas a retroflexatildeo estava diminuindo e em outras aumentando
As variaccedilotildees do r eram frequentes salientes e envolviam
consequecircncias estruturais determinantes para o sistema vocaacutelico inteiro
Labov em sua pesquisa mostrou variaccedilotildees linguiacutesticas que
ocorreriam na Ilha em uma mesma palavra com ditongos centralizados
como no caso do (ay) e do (aw) na fala dos grupos pesquisados Para
Labov A propriedade deste traccedilo de centralizaccedilatildeo que o faz
parecer excepcionalmente atraente ateacute mesmo agrave
primeira vista eacute a indicaccedilatildeo de um complexo e sutil
padratildeo de estratificaccedilatildeo Essa mesma complexidade
daacute provas de ser recompensadora pois quando a
tendecircncia centralizante eacute mapeada nos haacutebitos de
vaacuterios falantes e a influecircncia do ambiente foneacutetico
prosoacutedico e estiliacutestico eacute considerada permanece uma
ampla aacuterea de variaccedilatildeo (LABOV 2008 [1972] p 27
e 28)
Na comunidade de fala o ambiente o espaccedilo os diferentes
interlocutores as diferentes situaccedilotildees no modo de falar interferem no
sistema foneacutetico prosoacutedico e estiliacutestico da liacutengua falada
As mudanccedilas sonoras satildeo estudadas no momento presente e no
passado buscando novos conhecimentosexplicaccedilotildees sobre uma
17 DUBOIS J et al (2006 p 133) entendem por ldquocomunidade linguiacutestica um grupo de seres
humanos que usam a mesma liacutengua ou o mesmo dialeto num dado momento e que podem comunicar-se entre si Quando uma naccedilatildeo eacute monoliacutengue constitui uma comunidade linguiacutestica
Mas a comunidade linguiacutestica natildeo eacute homogecircnea compotildee-se sempre de um grande nuacutemero de
grupos que tem comportamentos linguiacutesticos diferentes A forma de liacutengua que os membros desses grupos usam tende a reproduzir de uma maneira ou de outra na foneacutetica na sintaxe ou
no leacutexico as diferenccedilas de geraccedilatildeo de origem de residecircncia de profissatildeo ou de formaccedilatildeo
(diferenccedilas socioculturais)rdquo
50
determinada aacuterea da comunidade falada as influecircncias as mudanccedilas
fonecircmicas ocorridas e suposiccedilotildees de como seraacute no futuro
Labov escreve que na Ilha de Marthas‟s Vineyard os veranistas
tecircm apenas uma leve impressatildeo da fala dos nativos pois de cada oito
pessoas na ilha sete satildeo visitantes Para Labov os veranistas natildeo tinham
muita importacircncia naquela comunidade pois na primeira semana de
setembro eles voltavam para seu lugar de origem E apenas ficavam os
moradores da ilha Continuavam a utilizar um alto grau de centralizaccedilatildeo
de (ay) e (aw) na ilha alta e tambeacutem nas aacutereas do vilarejo da ilha baixa
o turismo natildeo interferia nesse aspecto
Labov escreve que
A fim de estudar sistematicamente esse traccedilo foi
necessaacuterio conceber um modelo de entrevista que
fornecesse vaacuterios exemplos de (ay) e (aw) na fala
espontacircnea na fala emocionalmente carregada na fala
monitorada e no estilo de leitura O primeiro desses
ditongos tem mais do dobro da frequumlecircncia de uso do
segundo mas mesmo assim diversas estrateacutegias foram
necessaacuterias para aumentar a concentraccedilatildeo de ocorrecircncias
de ambos (LABOV 2008 [1972] p 31)
Para pesquisar a frequecircncia dos ditongos de (ay) e (aw) Labov
utilizou como estrateacutegia um questionaacuterio lexical concentrando-se em
algumas palavras e utilizando os mapas de LANE Aleacutem disso
formulou perguntas acerca de juiacutezos de valores e orientaccedilatildeo social do
informante e por fim um texto para leitura especial como um teste de
habilidade para ler uma histoacuteria
224 ndash Distribuiccedilatildeo por idade e tempo
Para cada falante o grau geral de centralizaccedilatildeo foi expresso por
valores numeacutericos multiplicados por 100 Veja a tabela 01
Centralizaccedilatildeo por grupos ocupacionais
Na centralizaccedilatildeo por grupos ocupacionais Labov chegou agrave
conclusatildeo de que o grupo dos pescadores na fala centralizava mais os
ditongos (ay) e (aw) do que os fazendeiros e outros pesquisados
51
Ocupaccedilatildeo (ay) (aw)
Pescadores 100 79
Fazendeiros 32 22
Outros 41 57
Tabela 01 ndash Centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por grupos ocupacionais
(LABOV 2008 [1972] p 46)
A tabela 01 mostra as tendecircncias de centralizaccedilatildeo dos ditongos
em funccedilatildeo dos grupos profissionais Os resultados apontam que os
pescadores usam mais centralizaccedilatildeo de (ay) e de (aw) num total
numeacuterico de 100 e de 79 respectivamente Para os fazendeiros os
resultados apontam 32 para (ay) e 22 para (aw) e para as outras
ocupaccedilotildees 41 para (ay) e 57 para (aw) A diferenccedila de resultados com
relaccedilatildeo agrave centralizaccedilatildeo dos ditongos pelos falantes na ilha em Martha‟s
Vineyard confirma o fato de pescadores usarem mais centralizaccedilatildeo do
que os demais informantes
Na centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por faixa etaacuteria Labov escreve
A centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) parece exibir um aumento
regular em faixas etaacuterias sucessivas alcanccedilando um pico
no grupo de 31 a 45 anos Temos agora de examinar as
razotildees para considerarmos esse padratildeo como uma
evidecircncia de mudanccedila histoacuterica no desenvolvimento de
Martha‟s Vineyard (LABOV 2008 [1972] p 41)
Vejamos a tabela
Idade (ay) (aw)
75 25 22
61 ndash 75 35 37
46 ndash 60 62 44
31 ndash 45 81 88
14 ndash 30 37 46
Tabela 02 ndash Centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por faixa etaacuteria (LABOV 2008
[1972] p 41)
52
Na tabela 02 Labov apresenta na coluna agrave esquerda a variaacutevel
independente18
ldquoidaderdquo (externa) distribuiacuteda em diferentes faixas
etaacuterias tendo iniacutecio a partir de 14 anos ateacute acima de 75 anos A coluna
central e a da direita apresentam as duas variaacuteveis dependentes19
fonoloacutegicas (internas) ndash os ditongos (ay) e (aw) Finalmente a tabela
apresenta a centralizaccedilatildeo de cada um dos ditongos de acordo com a
faixa etaacuteria do falante na Ilha de Martha‟s Vineyard
O fato de ser miacutenimo o percentual de centralizaccedilatildeo para
os muito velhos e para os muito jovens mostra que o
efeito da idade natildeo pode ser inteiramente descartado e
que de fato pode ser um fator secundaacuterio na distribuiccedilatildeo
pelas faixas etaacuterias (LABOV 2008 [1972] p 44)
Labov analisou em sua pesquisa iacutendices calculados por ele a
partir da centralizaccedilatildeo dos ditongos num total de 477 centralizaccedilatildeo de
(ay) e (aw) sendo 240 de (ay) e 237 de (aw) Ele percebeu na
distribuiccedilatildeo entre as cinco faixas etaacuterias um aumento percentual
gradativo com o resultado maior de centralizaccedilatildeo no grupo de 31 a 45
anos Por fim Labov em suas pesquisas sociolinguiacutesticas observou uma
possiacutevel mudanccedila da liacutengua nas diferentes faixas etaacuterias da comunidade
de fala de Martha‟s Vineyard com o controle da atuaccedilatildeo de vaacuterios
fatores internos e externos na centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw)
225 ndash Uma explicaccedilatildeo possiacutevel para o aumento da centralizaccedilatildeo
O exame da centralizaccedilatildeo segundo Labov da variaacutevel
dependente em estudo foi meramente descritivo e quando Labov tentou
explicar o fenocircmeno deparou-se com a seguinte questatildeo quais variaacuteveis
independentes seria importante examinarmos Labov supotildee que a
centralizaccedilatildeo desceu a um ponto baixo no final da deacutecada de 1930 e no
poacutes-guerra iniciou a subida Observe
18 COELHO et al (2010 p 166) ldquoVariaacuteveis independentes ndash fatores que condicionam nossa
escolha entre uma ou outra variante e que permitem ao linguista sugerir em que tipo de ambiente tanto linguiacutestico quanto extralinguiacutestico uma variante tem maior probabilidade de
ser escolhida em detrimento de sua (s) ldquorival (is)rdquordquo
19 COELHO et al (2010 p 166) ldquoVariaacutevel dependente ndash aspecto ou categoria da liacutengua que se
encontra em variaccedilatildeordquo
53
Permanece a questatildeo inicial a de explicar (ou de
oferecer um contexto mais amplo para) o aumento geral
da centralizaccedilatildeo na ilha Por que Martha‟s Vineyard deu
as costas para a histoacuteria da liacutengua inglesa Acredito que
podemos encontrar uma explicaccedilatildeo especifica se
estudarmos a configuraccedilatildeo detalhada desta mudanccedila
sonora em funccedilatildeo das forccedilas sociais que afetam mais
profundamente a vida da ilha (LABOV 2008 [1972] p
45)
As primeiras anaacutelises revelaram algumas correlaccedilotildees sociais
notaacuteveis A tabela 03 distribuiccedilatildeo geograacutefica da centralizaccedilatildeo mostra
as tendecircncias nas aacutereas da ilha alta rural a favorecer mais a centralizaccedilatildeo
do que nas aacutereas dos vilarejos da ilha baixa A tabela 03 mostra os
resultados sobre diferenccedilas geograacuteficas entre os moradores da ilha com
relaccedilatildeo agrave centralizaccedilatildeo dos ditongos nas duas principais partes da ilha
nas aacutereas da ilha alta rural e vilarejos na parte da ilha baixa
Os resultados de pesquisa sobre a centralizaccedilatildeo podem ser vistos
na tabela a seguir
(ay) (aw)
Ilha baixa 35 33
Edgartown 48 55
Oak Bluffs 33 10
Vineyard Haven 24 33
Ilha alta 61 66
Oak Bluffs 71 99
N Tisbury 35 13
West Tisbury 51 51
Chilmark 100 81
Gay Head 51 81
Tabela 03 ndash Distribuiccedilatildeo geograacutefica da centralizaccedilatildeo (LABOV 2008
[1972] p 45)
Estaratildeo essas variaacuteveis sociais vinculadas de algum
modo demonstraacutevel agrave mudanccedila linguumliacutestica Seratildeo
realmente independentes umas das outras ou algumas
das correlaccedilotildees estatildeo equivocadas e satildeo dependentes de
algum fator mais amplo que eacute logicamente preacutevio a elas
Se tal fator mais amplo existe precisamos indagar como
ele se originou e de que modo estaacute vinculado aos eventos
linguumliacutesticos Uma abordagem simplista e contabiliacutestica
54
natildeo responderaacute a essas perguntas Teremos de buscar
respostas na estrutura social da ilha e nas pressotildees que
motivam as mudanccedilas sociais da Martha‟s Vineyard
contemporacircnea (LABOV 2008 [1972] p 46)
A mudanccedila linguiacutestica dos grupos era identificada com os
costumes da ilha de Martha‟s Vineyard e Labov conduziu sua pesquisa
com pessoas que habitavam este local e viviam mais de acordo com os
seus costumes tradicionais Labov acreditava que as mudanccedilas
linguiacutesticas poderiam ser correlacionadas agraves relaccedilotildees sociais dos
moradores da ilha e por isso realizou sua pesquisa observando os
comportamentos linguiacutesticos somente das pessoas nativas da ilha
226 ndash A interaccedilatildeo de padrotildees linguiacutesticos e sociais
A Ilha de Martha‟s Vineyard ateacute hoje em dia eacute um lugar
beliacutessimo atrai muitos turistas inclusive poliacuteticos americanos As
pessoas que viviam laacute na deacutecada de 1960 natildeo tinham vida faacutecil na
sociedade americana Era o local com renda mais baixa no municiacutepio de
Massachusetts Labov traz essas informaccedilotildees do Censo de 196020
Os
moradores da ilha dependiam do turista a economia melhorava muito na
temporada Na Ilha de Florianoacutepolis acontece algo parecido Na
temporada de veratildeo o turista do paiacutes e do exterior lota a cidade
fortalecendo a economia do lugar
Florianoacutepolis tambeacutem eacute uma ilha beliacutessima com temporadas de
turistas que vecircm conhecer e aproveitar os lugares ir agraves praias passear
nos Shopping comprar nas lojas ir a restaurantes etc Labov quando
relata sua pesquisa na Ilha de Martha‟s Vineyard parece estar
comentando de Florianoacutepolis Os moradores da ilha aproveitam para
alugar suas casas vender seus produtos principalmente para os turistas
mais ricos Entatildeo haacute uma movimentaccedilatildeo econocircmica muito grande
assim como uma troca com relaccedilatildeo agrave liacutengua falada Como diz Labov (2008 [1972] p 49) ldquoOs chilmarkenses se
orgulham muito de suas diferenccedilas em relaccedilatildeo aos moradores do
continenterdquo
20 O Censo de 1960 mostra que a ilha de Martha‟s Vineyard se trata do municiacutepio mais pobre
de Massachusetts tem a meacutedia de renda mais baixa o mais alto nuacutemero de pessoas pobres e o
menor nuacutemero de pessoas ricas (LABOV 2008 [1972] p 47)
55
Vocecircs que vecircm para caacute para Martha‟s Vineyard natildeo
entendem os costumes das velhas famiacutelias da ilha
costumes e tradiccedilotildees estritamente mariacutetimos e aquilo
que nos interessa o resto da Ameacuterica essa parte do outro
lado aqui da aacutegua que pertence a vocecircs e com que noacutes
natildeo temos nada a ver se esqueceu completamente
Acho ateacute que noacutes usamos um tipo de liacutengua inglesa
totalmente diferente pensamos diferente aqui na ilha
eacute quase uma liacutengua separada dentro da liacutengua inglesa
Interessante se faz notar que no lugar de Chilmark a comunidade
na ilha vive a tradiccedilatildeo da famiacutelia os costumes vecircm de geraccedilatildeo em
geraccedilatildeo O estrangeiro de liacutengua inglesa quando conhece o lugar pode
influenciar a liacutengua falada na ilha pois seu inglecircs eacute diferente
Os resultados reunidos com o maior grau de centralizaccedilatildeo de (ay)
e de (aw) satildeo mostrados na tabela 04 organizados por ocupaccedilatildeo regiatildeo
ou localidade em que moram e faixa etaacuteria
Tabela 04 ndash Cruzamento de fatores 6 falantes com o maior grau de
centralizaccedilatildeo (LABOV 2008 [1972] p 50)
Na regiatildeo Edgartown dois pescadores que satildeo irmatildeos
descendentes de famiacutelias antigas mantecircm sua posiccedilatildeo agrave beira mar de Edgartown trabalhando mesmo frente agrave invasatildeo dos veranistas
Nas tabelas 01 e 04 verifica-se que de todos os grupos
ocupacionais o de pescadores eacute o que utiliza um maior iacutendice de
centralizaccedilatildeo Labov tentou fazer tabulaccedilotildees cruzadas extensas entre as
tabelas 04 e 05 mas chegou agrave conclusatildeo que o nuacutemero era pequeno
Ocupaccedilatildeo Regiatildeo Idade (ay) (aw)
Pescador de Chilmark 60 anos 170 111
Pescador de Chilmark 31 anos 165 211
Pescador de Chilmark 55 anos 150 124
Pescador de Edgartown 61 anos 143 107
Pescador de Chilmark 33 anos 133 79
Pescador de Edgartown 52 anos 131 131
56
demais Exemplificou com o grupo de pescadores de Chilmark na faixa
etaacuteria de 30 a 60 anos Percebeu que cinco informantes tecircm iacutendices
meacutedios de 148 para (ay) e 118 para (aw) o mais elevado do que
qualquer outro grupo social da ilha Labov concluiu entatildeo que a grande
escalada da centralizaccedilatildeo comeccedilou na ilha alta entre os pescadores de
Chilmark
Veja agora os resultados da faixa etaacuteria por grupo eacutetnico
Tabela 05 ndash Centralizaccedilatildeo por grupos eacutetnicos (LABOV 2008
[1972] p 46)
A tabela 5 apresenta a centralizaccedilatildeo por faixa etaacuteria em cada um
dos grupos eacutetnicos principais (ingleses portugueses e indiacutegenas)
Labov concluiu que
Vemos que a centralizaccedilatildeo atinge o aacutepice na faixa etaacuteria
de 30 a 45 anos e que a centralizaccedilatildeo de (aw) alcanccedilou
ou ultrapassou (ay) neste ponto Essa faixa etaacuteria tem
estado sob uma pressatildeo muito mais forte do que qualquer
outra os homens cresceram numa economia declinante
depois de fazerem uma escolha mais ou menos
deliberada de permanecer na ilha em vez de abandonaacute-la
A maioria deles esteve nas forccedilas armadas durante a
Segunda Guerra Mundial ou no conflito da Coreacuteia
Muitos frequumlentaram uma faculdade pois o grupo de
ascendecircncia inglesa tem um grande apreccedilo pela educaccedilatildeo
superior Em algum momento cada um desses homens
escolheu levar uma vida apertada em Martha‟s Vineyard
enquanto muitos de seus contemporacircneos partiram para
ganhar mais dinheiro ou mais reconhecimento em outro
lugar (LABOV 2008 [1972] p 50 e 51)
Exemplificou com relatos as interferecircncias que ocorreram no
modo de falar na ilha Uma delas ldquoSabe o E nem sempre falou desse
jeito foi soacute depois que ele voltou da faculdade Acho que ele queria
Ingleses Portugueses Indiacutegenas
Faixa etaacuteria (ay) (aw) (ay) (aw) (ay) (aw)
Mais de 60 36 34 26 26 32 40
46 a 60 85 63 37 59 71 100
31 a 45 108 109 73 83 80 133
Menos de 30 35 31 34 52 47 88
Todas as idades 67 60 42 54 56 90
57
ficar mais parecido com os homens das docasrdquo
Labov concluiu
Aqui vemos um caso niacutetido de hipercorreccedilatildeo atuando e
com base em outros indiacutecios tambeacutem eacute razoaacutevel supor
que essa eacute uma forccedila muito regular de implementaccedilatildeo da
tendecircncia foneacutetica que estamos estudando (LABOV
2008 [1972] p 52)
Muitos dos jovens de antigas famiacutelias natildeo permaneceratildeo na ilha e
isto reflete nos iacutendices da tabela Atraveacutes de uma leitura padronizada de
um texto com os jovens Labov observou que existia diferenccedila na fala
dos que permaneciam na ilha exibiam forte centralizaccedilatildeo enquanto os
que queriam sair mostravam pouca ou nenhuma centralizaccedilatildeo
Das informaccedilotildees obtidas surgiu um padratildeo unificado que
exprimia o significado social dos ditongos centralizados evidenciando
ldquoque o significado imediato desse traccedilo era o Vineyardenserdquo Labov
esclarece que pelo fato de os grupos terem que responder a desafios
diferentes a seu status nativo desenvolvia-se um modo complexo no
traccedilo fonecircmico
Labov exemplifica isso abaixo
O grupo das antigas famiacutelias de origem inglesa tem sido
submetido a pressotildees vindas de fora seus membros estatildeo
lutando para manter sua posiccedilatildeo independente diante de
um persistente decliacutenio da economia e diante do asseacutedio
ininterrupto dos veranistas O membro da comunidade de
orientaccedilatildeo tradicional naturalmente busca seus valores
nas geraccedilotildees passadas essas geraccedilotildees passadas formam
um grupo de referecircncia para ele (LABOV 2008 [1972]
p 57)
Na geraccedilatildeo mais jovem dos ingleses o efeito diferencial no grau
de centralizaccedilatildeo manteve-se na tradiccedilatildeo eles tinham os ancestrais como
referecircncia se consideravam independentes enquanto pescadores
acreditavam que a ilha lhes pertencia Mantinham sua posiccedilatildeo
econocircmica Se pretendiam sair da ilha a influecircncia dos antepassados
diminuiacutea consideravelmente
No grupo de portugueses eles natildeo enfrentavam o dilema de partir ou ficar na ilha o principal desafio a que esse grupo tinha reagido
provinha do grupo inglecircs que tinha servido de referecircncia ateacute pouco
tempo Para os portugueses o mais urgente era afirmar-se em sua
identidade como ilheacuteu Os indiacutegenas se ressentiam dos obstaacuteculos que
58
enfrentavam na ilha mas tinham adotado muito dos valores dos
Chilmarkenses Com poucos recursos linguiacutesticos ficava difiacutecil insistir
em sua identidade indiacutegena
Labov (2008 [1972] p 59) examinando as entrevistas de cada
informante situou-as em trecircs categorias
Positivo ndash exprime sentimentos definitivamente positivos
acerca de Martha‟s Vineyard neutra ndash expressa
sentimentos nem positivos nem negativos acerca de
Martha‟s Vineyard negativa ndash indicada o desejo de ir
viver em outro lugar
Agora observe na tabela 06 o resultado da centralizaccedilatildeo segundo
a atitude dos trecircs grupos de falantes quanto agrave ilha
Pessoas (ay) (aw)
40 Positiva 63 62
19 Neutra 32 42
6 Negativa 09 08
Tabela 06 ndash Centralizaccedilatildeo e atitude com relaccedilatildeo a Martha‟s Vineyard
(LABOV 2008 [1972] p 59)
Labov agrupou os vaacuterios informantes em uma escala social
quanto ao uso dos ditongos centralizados Primeiro mostravam-se com
atitudes positivas 40 pessoas entrevistadas o iacutendice de centralizaccedilatildeo era
de 63 para (ay) e 62 para (aw) as duas comparaccedilotildees de centralizaccedilotildees
mais altas Segundo o ponto neutro realizado por 19 pessoas
entrevistadas o iacutendice de centralizaccedilatildeo ficava na faixa de 30 32 para
(ay) e 42 para (aw) nem positivo nem negativo Terceiro o ponto
negativo O autor encontrou 6 pessoas entrevistadas que tinham atitudes
negativas com relaccedilatildeo agrave ilha O iacutendice de centralizaccedilatildeo nesse caso era
apenas de 09 para (ay) e de 08 para (aw) Essas pessoas diziam que queriam
viver em outros lugares e natildeo na ilha de Martha‟s Vineyard O autor
mostrou a estratificaccedilatildeo de todos e como ele conseguiu explicar a
distribuiccedilatildeo dos ditongos centralizados de forma vaacutelida fazendo as
relaccedilotildees necessaacuterias para as explicaccedilotildees
59
23 ndash Os princiacutepios da mudanccedila linguiacutestica
Num primeiro estudo relacionado agrave mudanccedila linguiacutestica em
progresso (em curso) eacute necessaacuterio entender como as variaccedilotildees
linguiacutesticas estatildeo distribuiacutedas por faixa etaacuteria Entatildeo percebemos a
mudanccedila linguiacutestica relacionando a variaacutevel linguiacutestica com a idade
pesquisando indiviacuteduos de diferentes geraccedilotildees Segue abaixo a citaccedilatildeo
de Labov sobre mudanccedila linguiacutestica observada entre as faixas etaacuterias
conhecida como mudanccedila em tempo aparente21
A primeira abordagem e mais simples para estudar a
mudanccedila linguiacutestica em andamento eacute traccedilar mudanccedila no
tempo aparente isto eacute a distribuiccedilatildeo das variaacuteveis
linguiacutesticas entre os diferentes niacuteveis etaacuterios Se
descobrirmos uma relaccedilatildeo monotocircnica entre a idade e a
variaacutevel linguiacutestica ou uma correlaccedilatildeo significativa entre
as duas entatildeo trata-se de decidir se estamos lidando com
uma verdadeira mudanccedila em progresso ou de gradaccedilatildeo
etaacuteria (Hockett 1950) uma mudanccedila regular de
comportamento linguiacutestico com a idade que se repete em
cada geraccedilatildeo (LABOV 1994 p 47)22
A primeira e mais simples aproximaccedilatildeo entre as variaccedilotildees
encontradas na sincronia ao estudo da mudanccedila linguiacutestica em curso eacute
seguir a pista da mudanccedila em tempo aparente isto eacute a distribuiccedilatildeo das
variaacuteveis linguiacutesticas por faixa etaacuteria Na variaccedilatildeo encontrada entre o
grupo dos indiviacuteduos mais velhos de uma geraccedilatildeo e outro grupo de
21 SILVA (2004) faz um recorte transversal da amostra sincrocircnica em funccedilatildeo da faixa etaacuteria
dos informantes Por exemplo utilizamos no nosso estudo trecircs grupos etaacuterios jovens meia idade e idosos
COELHO et al (2010 p 164) apontam que mudanccedila em tempo aparente eacute uma ldquomudanccedila
linguiacutestica captada em estudo do comportamento linguiacutestico de indiviacuteduos de diferentes
geraccedilotildees numa comunidade num dado periacuteodo de tempo Tal estudo possibilita identificar correlaccedilotildees entre a variaacutevel social idade e a variaacutevel linguiacutestica em estudo revelando indiacutecios
de (i) uma mudanccedila concernente agrave idade que ocorre regularmente em cada geraccedilatildeo (gradaccedilatildeo
etaacuteria) ou de (ii) uma mudanccedila efetiva em progressordquo
22 Traduccedilatildeo minha do texto original em Inglecircs de Labov ldquoThe first and most straightforward approach to studying linguistic change in progress is to trace change in apparent time that is
the distribution of linguistic variables across age levels If we discover a monotonic
relationship between age and the linguistic variable or a significant correlation between the two then issue is to decide whether we are dealing with a true change in progress or with age-
grading (Hockett 1950) a regular change of linguistic behavior with age that repeats in each
generationrdquo
60
indiviacuteduos mais jovens em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria percebe-se muitas
vezes mudanccedila linguiacutestica em progresso nas liacutenguas
Na estratificaccedilatildeo por idade muitas vezes se percebe que os
indiviacuteduos mudam seu comportamento linguiacutestico durante toda a sua
vida mas a comunidade nem sempre muda
231 ndash A idade e a variaccedilatildeo estaacutevel
Mas nem sempre o estudo da faixa etaacuteria vai indicar mudanccedila em
progresso A meacutedia do grau de realizaccedilatildeo de uma variaccedilatildeo estaacutevel23
pode ser tambeacutem observada entre as faixas etaacuterias dos falantes em que
os grupos extremos (jovens e velhos) apresentam o mesmo
comportamento ao contraacuterio do grupo de meia idade cujo
comportamento se diferencia devido agraves pressotildees sociais Eacute considerando
a variaacutevel idade que vai ser observado no conjunto de dados
investigados se temos mudanccedila em tempo aparente ou variaccedilatildeo estaacutevel
A variaccedilatildeo estaacutevel pode ser observada considerando a
combinaccedilatildeo dos resultados das variaacuteveis bdquoidade‟ bdquosexo‟ bdquoclasse social‟ e
bdquoniacutevel de escolaridade‟ Com relaccedilatildeo agrave bdquofaixa etaacuteria‟ a variaccedilatildeo estaacutevel
diz respeito a variantes que coexistem por um longo periacuteodo mas sem
ter necessariamente predominacircncia de uma sobre a outra
Uma outra possibilidade eacute a visatildeo claacutessica que prevecirc estabilidade
do falante mas instabilidade da comunidade Ex daqui a 20 anos os
falantes de 70 anos estaratildeo falando como os de 50 anos de hoje Outra
possibilidade admite que o sistema linguiacutestico do indiviacuteduo modifica
mas o da comunidade permanece o mesmo Ex daqui a 20 anos os
falantes de 70 anos teratildeo o mesmo sistema que os de 70 anos hoje
Resultados recentes apontam para uma terceira possibilidade o
indiviacuteduo muda com o passar do tempo mas natildeo atinge precisamente a
mesma posiccedilatildeo em que estatildeo os falantes mais velhos atualmente
23 COELHO et al (2010 p 166) apontam que variaccedilatildeo estaacutevel eacute conhecida como a ldquosituaccedilatildeo
de variaccedilatildeo entre duas ou mais formas linguiacutesticas que se estende numa comunidade ao longo
do tempo sem que uma variante ceda seu espaccedilo agrave outrardquo
61
232 ndash A idade e a mudanccedila linguiacutestica
Segundo Naro (2003 p 44) no portuguecircs atual do RJ haacute
fenocircmenos em que a idade atua fortemente
Seudele a forma seu para a 3ordf pessoa eacute pouquiacutessimo
recorrente na fala dos mais jovens
Noacutesa gente os jovens estatildeo evitando a forma noacutes
Ir os jovens estatildeo evitando as regecircncias ir a e ir para
preferindo ir em
Sob a hipoacutetese claacutessica o estado atual da liacutengua de um falante
adulto reflete o estado da liacutengua adquirida mais ou menos ateacute os 15 anos
de idade Logo um indiviacuteduo falante com 60 anos representa a liacutengua de
45 anos atraacutes Falantes adultos tendem a usar as formas antigas Os pais
e filhos apesar de estarem em interaccedilatildeo constante usam formas
distintas na comunicaccedilatildeo Pais e filhos tecircm um vocabulaacuterio e uma fala
proacuteprios de sua eacutepoca Com o passar do tempo eacute provaacutevel que a forma
nova seja adotada por pais e filhos
Naro (2003) apresenta a escala em tempo aparente obtida atraveacutes
do estudo de falantes com idades diferentes ndash chamada de ldquogradaccedilatildeo
etaacuteriardquo ndash que corresponde sempre sob a hipoacutetese claacutessica a uma escala
de mudanccedila em tempo real Observamos a tabela apresentada a seguir
Idade atual
(em anos)
Estado da liacutengua
(anos atraacutes)
70
60
50
40
30
20
55
45
35
25
15
5
Tabela 07 ndash A escala em tempo aparente eacute chamada de ldquogradaccedilatildeo etaacuteriardquo (NARO 2003 p 45)
A tabela ajuda a explicar os dados da pesquisa realizada por
Labov (atraveacutes de gravaccedilatildeo no ano de 1990) mostrando que a fala de
62
um indiviacuteduo de 70 anos de idade representaria o estado da liacutengua
adquirida em 1935
Segundo Naro (2003) Labov conseguiu distinguir quatro graus de
ditongos centralizados denotados (aw) ndash 0 (a posiccedilatildeo mais baixa
correspondendo a ldquoshwardquo) As trecircs posiccedilotildees centrais claacutessicas do
alfabeto foneacutetico estatildeo representadas por ele no seguinte graacutefico
Figura 06 ndash O trapezoacuteide das vogais a flecha indica a direccedilatildeo de
movimento do primeiro elemento de (aw) (NARO 2003 p 49)
A pesquisa em Martha‟s Vineyard revelou que os velhos
preservavam mais a forma original natildeo-centralizada os jovens por
outro lado centralizavam mais Segue a tabela
Geraccedilatildeo Idade Iacutendice de (aw) Iacutendice de (ay)
I (pais) 75+
61 - 75
22
37 25
35
II (filhos) 46 ndash 60
31 ndash 45
44
88 62
88
Tabela 08 ndash Mudanccedila de (aw) e (ay) em tempo aparente atraveacutes de duas
geraccedilotildees em Martha‟s Vineyard (Labov 1972 apud Naro 2003 p 22)
Algumas observaccedilotildees de Naro sobre a pesquisa de Labov satildeo (i) a centralizaccedilatildeo estaacute se espalhando com forccedila e rapidez (ii) os indiviacuteduos
mais velhos (80 anos) praticamente apenas usavam o grau zero o mais
aberto da escala com ocorrecircncias esporaacutedicas do grau um a faixa de 60
anos estava concentrada no grau dois antes de consoante surda (out
63
ldquoforardquo) e no grau zero ou um em outros contextos (round ldquoredondordquo
now ldquoagorardquo) na faixa de 30 anos o condicionamento se tornava quase
categoacuterico grau dois ou trecircs antes de consoante surda grau zero ou um
nos demais contextos ndash resultados obtidos atraveacutes do estudo da variaccedilatildeo
no indiviacuteduo Observa-se assim detalhadamente a mudanccedila em
progresso desde o comeccedilo (ocorrecircncia esporaacutedica de variantes mais
altas) ateacute a instauraccedilatildeo do condicionamento categoacuterico (variantes mais
altas antes de consoante surda variantes mais baixas nos outros
contextos)
De acordo com Naro
O que permite esta visatildeo simultacircnea das diversas etapas
do processo dinacircmico de mudanccedila eacute o congelamento do
sistema linguiacutestico do falante na eacutepoca da puberdade e eacute
justamente este o postulado fundamental que subjaz agrave
hipoacutetese claacutessica do relacionamento entre mudanccedila
linguiacutestica e idade o processo da mudanccedila se espelha na
fala das sucessivas faixas etaacuterias (NARO 2003 p 46)
Sabemos que nem toda variaccedilatildeo na fala representa mudanccedila em
progresso Um exemplo pronuacutencia do morfema ing em inglecircs (walking
ldquoandandordquo) que pode ser realizado como velar ou dental ndash eacute uma
variaccedilatildeo atestada haacute seacuteculos poreacutem ainda existente em praticamente
todos os dialetos e nas diferentes faixas etaacuterias
Labov realizava pesquisas sobre o desenvolvimento diacrocircnico24
da liacutengua a partir de anaacutelises sincrocircnicas25
primeiro foi na ilha de
Marthas Vineyard (1963) e depois foi na cidade de Nova York (1966)
Quando a mudanccedila estaacute envolvida certa variante
ocorreraacute na fala da crianccedila embora esteja ausente na fala
de seus pais ou mais tipicamente uma variante na fala
24 JOTA (1981 p 103) ldquoEstudo da liacutengua atraveacutes dos tempos e consequentemente estudo das transformaccedilotildees que sofre a liacutengua em sua evoluccedilatildeo Opotildee-se agrave sincronia A linguiacutestica
portanto jaacute que pode estudar a liacutengua diacronicamente ou se limitar ao seu estudo em
determinado tempo de sua evoluccedilatildeo (sincronia) se divide em diacrocircnica e sincrocircnicardquo
25 JOTA (1981 p 307) ldquoConjunto dos fatos linguiacutesticos num dado estaacutegio de sua evoluccedilatildeo A sincronia eacute objeto de estudo da linguiacutestica sincrocircnica ou estaacutetica Como um estado de liacutengua
abrange determinado espaccedilo de tempo tempo suficiente para que haja alguma variaccedilatildeo
sincrocircnica eacute claro que esta sob certo ponto-de-vista natildeo se distingue da evoluccedilatildeo diacrocircnicardquo
64
dos pais ocorreraacute na fala de seus filhos com frequecircncia
maior e na fala de seus netos com frequecircncia ainda
maior (CHAMBERS 1995 p185)26
Numa comunidade em geral as geraccedilotildees sucessivas apresentaratildeo
uma frequecircncia de uso maior da variante inovadora A conclusatildeo loacutegica
eacute que com o passar do tempo haveraacute um uso categorial da forma
inovadora e a eliminaccedilatildeo da variante antiga
233 ndash Aplicando os conhecimentos da sociolinguiacutestica
Eacute importante ressaltar que todas as liacutenguas mudam com o tempo
Como exemplo o portuguecircs eacute originaacuterio do latim considerado liacutengua
matildee Entretanto atualmente natildeo haacute semelhanccedila entre as duas liacutenguas
As diferenccedilas satildeo profundas e afetam toda a gramaacutetica da liacutengua essas
diferenccedilas apareceram e cresceram ao longo de mais de mil anos Tanto
na liacutengua falada quanto na liacutengua escrita ocorrem mudanccedilas que satildeo
observadas quando satildeo feitas pesquisas que nos mostram em que alguns
fenocircmenos mudaram Este assunto eacute explicado por Naro (2003)
A mudanccedila linguiacutestica natildeo eacute abrupta normalmente se processa de
maneira gradual em vaacuterias dimensotildees Sob o eixo social eacute observaacutevel
que falantes mais velhos costumam preservar mais as formas antigas o
mesmo ocorre com pessoas mais escolarizadas com camadas da
populaccedilatildeo que gozam de maior prestiacutegio social com o grupo feminino e
com as pessoas que exercem atividades que exigem boa apresentaccedilatildeo
para o puacuteblico Uma mesma pessoa pode escolher diferentes formas em
diferentes situaccedilotildees
Com base nisso pretendo fazer uma comparaccedilatildeo das mudanccedilas
ocorridas num curto espaccedilo de tempo tendo como referecircncia um
professor surdo para investigar as possiacuteveis mudanccedilas da liacutengua de
sinais depois de seu estudo no INES ateacute o momento atual envolvendo
um grupo de surdos mais velhos e outros dois grupos mais jovens Os
dados obtidos na pesquisa podem mostrar como ocorreram algumas
mudanccedilas na liacutengua de sinais e se realmente ocorreram aleacutem disso
podem criar um registro deste periacuteodo para futuras pesquisas Para
Labov (2008 [1972] p 21) ldquoseria de esperar que a aplicaccedilatildeo da
26 Traduccedilatildeo minha do texto original em Inglecircs ldquoWhere change is involved a certain variant will occur in the speech of children though it is absent in the speech of their parents or more
typically a variant in the parents‟ speech will occur in the speech of their children with greater
frequency and in the speech of their granchildren with even greater frequencyrdquo
65
linguiacutestica estrutural a problemas diacrocircnicos levasse ao enriquecimento
dos dados mais do que ao seu empobrecimentordquo
Vale lembrar que em 1970 a educaccedilatildeo dos surdos em Santa
Catarina era baseada em metodologia oralista Poucos sinalizavam
porque natildeo podiam tinham que falar Os sinais eram usados na
comunicaccedilatildeo entre surdos mas esporadicamente pois nesta eacutepoca aleacutem
de serem proibidos de utilizarem sinais para a comunicaccedilatildeo tambeacutem
natildeo podiam fazer reuniotildees soacute de indiviacuteduos surdos como acontece
atualmente Segue a citaccedilatildeo de Labov 2008 [1972] que considero
pressuposto para o desenvolvimento da presente pesquisa
O ponto de vista do presente estudo eacute o de que natildeo se
pode entender o desenvolvimento de uma mudanccedila
linguumliacutestica sem levar em conta a vida social da
comunidade em que ela ocorre Ou dizendo de outro
modo as pressotildees sociais estatildeo operando continuamente
sobre a liacutengua natildeo de algum ponto remoto no passado
mas como uma forccedila social imanente agindo no presente
vivo (LABOV 2008 [1972] p 21)
O maior problema a meu ver eacute que o grupo dos mais velhos que
usava a liacutengua falada natildeo entendia a importacircncia da liacutengua de sinais
para o indiviacuteduo surdo restringindo muito a sinalizaccedilatildeo e os sinais no
ano de 1950 Sabemos que pessoas de diferentes lugares que vecircm para
uma determinada comunidade acabam trocando experiecircncias e palavras
influenciando essa comunidade Isto pouco acontecia com o grupo dos
surdos mais velhos Diferentemente do que se observava com os
antigos os surdos mais novos tinham um maior contato social com a
liacutengua de sinais brasileira permitindo mais trocas de conhecimentos
criando novos sinais tornando a liacutengua de sinais mais ldquovivardquo e
ldquodinacircmicardquo
Por exemplo em comparaccedilatildeo com falantes da ilha em
Florianoacutepolis quanto agrave situaccedilatildeo estiliacutestica27
o grupo mais velho de
surdos usava mais a liacutengua falada do que a sinalizada pouco contato
eles tinham entre si pois era proibida28
a sinalizaccedilatildeo pelas instituiccedilotildees
27 Eacute o jeito de falar nas diferentes situaccedilotildees com os diferentes interlocutores e nos variados
contextos
28 SCHMITT (2008) A representaccedilatildeo de surdo na histoacuteria antiga registra a passagem que os
surdos realizaram na sociedade onde predominavam os ouvintes Entatildeo a hegemonia dos ouvintes manteve sempre o surdo como excluiacutedo atraveacutes de estereoacutetipos e depreciaccedilotildees A
sociedade antiga natildeo permitia a capacitaccedilatildeo dos surdos como sujeitos normais o uso da liacutengua
66
que trabalhavam com os surdos e tambeacutem pelas famiacutelias Conta-se que
em algumas escolas amarravam as matildeos dos indiviacuteduos surdos para que
natildeo sinalizassem Com o grupo mais jovem eacute diferente o contato deles
com outros surdos eacute maior trocam mais experiecircncias e sinais
propiciando assim mais mudanccedilas na liacutengua de sinais tornando-se hoje
mais usada e mais dinacircmica na comunidade surda Isso acontece aqui
em Florianoacutepolis tambeacutem A influecircncia accediloriana trazida pelos
imigrantes portugueses atualmente com a visita de turistas brasileiros
(ex vindos dos estados de RS SP PR e MG) e estrangeiros (ex
Argentinos Paraguaios Uruguaios Chilenos dentre outros) a
Florianoacutepolis acaba interferindo e modificando a liacutengua falada na ilha
Acredita-se que existe variaccedilatildeo linguiacutestica na liacutengua de sinais
em Santa Catarina por influecircncia da comunidade de falantes nas
diferentes regiotildees do estado A liacutengua de sinais acaba incorporando
parte da cultura dessas comunidades a sua liacutengua
Existem pesquisas na liacutengua de sinais mostrando diferenccedilas
nas liacutenguas visual-espacial de acordo com o paiacutes de origem com
diferenccedilas culturais diferentes configuraccedilotildees de matildeos etc Estas
pesquisas ajudam a compreender melhor a estrutura das liacutenguas de
sinais seu aspecto linguiacutestico e gramatical
Em Santa Catarina na comunidade de falantes no municiacutepio de
Itaacute na regiatildeo oeste do estado muitos descendentes de europeus
(Italianos alematildees poloneses etc) falam usando um r brando por
exemplo barragem mas na fala fica baragem
Na liacutengua portuguesa existem diferentes sons e diferentes formas
de falar esses sons No caso do exemplo citado anteriormente do
municiacutepio de Itaacute o som do r falado eacute diferente mas o significado da
palavra eacute o mesmo Na LIBRAS acontece isto um determinado sinal
pode ser pronunciado de diferentes maneiras com relaccedilatildeo agrave
configuraccedilatildeo de matildeos (CM)29
ao ponto de articulaccedilatildeo (PA) e ao
movimento (M) Segue abaixo a foto de trecircs principais paracircmetros
fonoloacutegicos
de sinais e nem aceitava a cultura do surdo Como A liacutengua de sinais foi banida das escolas
pelas decisotildees do Congresso de Milatildeo em 1880
29 Configuraccedilatildeo de matildeo e segue a foto
67
Figura 07 ndash Sinal de Porco
Por exemplo os sinais para as palavras amanhatilde
30 e faacutecil
31 satildeo
diferentes quanto ao ponto de articulaccedilatildeo e ao movimento mas a
configuraccedilatildeo de matildeos eacute a mesma para as duas palavras Ė importante
ressaltar que Labov em sua pesquisa mostrou variaacuteveis linguiacutesticas com
relaccedilatildeo agrave comunidade de fala e o exemplo na liacutengua de sinais eacute visual e
natildeo sonoro Entatildeo a fonologia das liacutenguas de sinais eacute um ramo da
linguiacutestica que objetiva identificar a estrutura e a organizaccedilatildeo dos
constituintes fonoloacutegicos propondo descriccedilotildees e explicaccedilotildees
Labov (1982) no entanto acreditava que eacute possiacutevel que uma
mudanccedila linguiacutestica possa ser o resultado de uma causa particular
isolada do sistema linguiacutestico ou social Por exemplo em Marthas
Vineyard um alto nuacutemero de casamento entre surdos e ouvintes e entre
surdos foi responsaacutevel pelo nascimento de centenas de surdos no seacuteculo
XIX Como resultado quase todos os membros ouvintes da comunidade
aprenderam a liacutengua de sinais e a utilizaram com muitos outros
propoacutesitos aleacutem da comunicaccedilatildeo com surdos (GROCE 1952)
Concluo este capiacutetulo que apresenta a pesquisa de Labov na ilha
30 Sinal de amanhatilde e segue a foto
31 Sinal de faacutecil e segue a foto
68
de Marthas Vineyard verificando a ocorrecircncia de centralizaccedilatildeo de
ditongos com algumas consideraccedilotildees A metodologia de pesquisa que
Labov abriu um campo de estudos que relaciona variaccedilatildeo e a mudanccedila
linguiacutestica ao contexto social utilizando-se de fatores como gecircnero
escolaridade classe social faixa etaacuteria local de residecircncia apoiando-se
em conhecimento de antropologia e liacutengua e de teacutecnicas computacionais
e matemaacuteticas Essa forma de pesquisa deu iniacutecio ao ramo da linguiacutestica
que conhecemos como sociolinguiacutestica variacionista ou quantitativa em
que a liacutengua natildeo eacute vista como uma estrutura estaacutetica e sim como um
sistema em variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica constante ligado agrave estrutura
social
69
CAPIacuteTULO III ndash A histoacuteria social da liacutengua
31 ndash Introduccedilatildeo
Inicialmente este capiacutetulo apresenta a histoacuteria contextualizada da
liacutengua de sinais da Franccedila depois no Brasil e finalmente em Santa
Catarina No primeiro momento apresenta-se o perfil do fundador da
primeira escola de surdos no mundo localizada na Franccedila o Abade de
LacuteEacutepeacutee Em seguida aponta-se qual foi o fundador da primeira
instituiccedilatildeo de surdos na cidade do Rio de Janeiro o Eacutedouard Huet32
e
traz consideraccedilotildees sobre o primeiro professor surdo a trabalhar em sala
de aula com alunos surdos em Santa Catarina Francisco Lima Juacutenior
Este uacuteltimo estudou a liacutengua de sinais na cidade do Rio de Janeiro e
proporcionou aos surdos de Santa Catarina uma comunicaccedilatildeo em liacutengua
de sinais mais aprofundada e abrangente Ele tambeacutem divulgou a liacutengua
de sinais na comunidade surda criando espaccedilos culturais e uma
identidade para a comunidade surda catarinense
Este capiacutetulo apresentada a seguinte estrutura comenta sobre o
primeiro fundador do Instituto Nacional de Surdos de Paris Abade
LacuteEacutepeacutee apresenta Eacutedouard Huet e sua vinda para o INESRJ e por fim
relata a histoacuteria do primeiro professor surdo (Francisco Lima Juacutenior) em
Santa Catarina na liacutengua de sinais
32 ndash Charles Michel de LacuteEacutepeacutee - Instituto Nacional de Surdos-
Mudos33
em Paris
Na Franccedila Abade de LacuteEacutepeacutee34
foi o primeiro fundador de uma
escola com classes para a educaccedilatildeo de surdos e tambeacutem criou a
32 No Brasil escreve-se Eduard mas na Franccedila seu nome e escrito Eacutedouard Huet
33 Surdos-Mudos ndash terminologia utilizada nessa eacutepoca atualmente utilizamos ser surdo
34 Abade de LacuteEacutepeacutee foi o criador de um meacutetodo empregado na educaccedilatildeo de surdos
denominado de ldquosinais metoacutedicosrdquo A justificativa para a criaccedilatildeo desse meacutetodo se deu pelo fato de que L‟Epeacutee acreditava que a Liacutengua de Sinais utilizada pelos surdos era incompleta
devendo ser melhorada e universalizada Seu meacutetodo consistia em conservar o ldquonuacutecleo central
dos gestosrdquo utilizados por seus alunos adicionando poreacutem a estes gestos outros sinais para designar objetos qualidades fatos ou situaccedilotildees No entanto como seu principal objetivo era o
ensino da liacutengua francesa natildeo se deu por satisfeito criou uma seacuterie de sinais que natildeo existiam
na codificaccedilatildeo gestual referente a preposiccedilotildees artigos tempo e pessoa verbal entre outros
70
linguagem de gestos que se chamava ldquoLINGUAGEM DE SINAIS
METOacuteDICOSrdquo e o alfabeto manual que eacute bem diferente dos coacutedigos de
significados na estrutura frasal e no gesto que representava a palavra
para o surdo
Moura (2000 p 22) relatou que o Abade Charles-Michel de
L‟Epeacutee nasceu em 1712 na cidade de Versalhes na Franccedila O Abade
comeccedilou a ensinar os surdos em 1760 por razotildees religiosas iniciando
seu trabalho com duas freiras surdas Com grande desafio transformou
sua casa na primeira escola puacuteblica para surdos (Instituto de Surdos e
Mudos de Paris) utilizando a comunicaccedilatildeo gestual A autora Perlin
(2002) lembra que
As escolas fundadas em outros paiacuteses nos moldes da
Franccedila passaram a usar as liacutenguas de sinais nacionais e a
explorar novos recursos na educaccedilatildeo de surdos O
curriacuteculo da escola para surdos em Paris passou a
conter liacutengua de sinais religiatildeo liacutengua nacional e
formaccedilatildeo profissional
O Abade de L‟Epeacutee comeccedilou a sua pesquisa observando um
grupo de surdos de laacute que se comunicava nas ruas da cidade (cuidando
para que as pessoas natildeo os vissem fazendo gestos) na liacutengua de sinais
francesa O Abade LacuteEacutepeacutee teve a ideia de conhecer mais sobre a liacutengua
gestual daqueles surdos e mais tarde pensou em como poderia ajudaacute-los
nessa comunicaccedilatildeo Ele ensinava religiatildeo na igreja para os surdos Entatildeo
LacuteEacutepeacutee comeccedilou a investir em seu projeto de melhorias para esta forma
de comunicaccedilatildeo Chamou o grupo de surdos e mostrou a liacutengua gestual
com gramaacutetica proacutepria e o alfabeto manual para o auxiacutelio na
comunicaccedilatildeo
A oportunidade de melhorar a linguagem dos surdos na eacutepoca foi
essencial para que fosse desenvolvida a base da liacutengua de sinais dos
surdos de Paris fortalecendo a cultura e a comunidade surda Isso
permitia tambeacutem que os surdos tivessem acesso a uma filosofia
religiosa aprendendo com isso novos vocabulaacuterios aleacutem da crenccedila e de
um modelo educacional diferente Segue o autor
Todo surdo-mudo enviando ateacute noacutes jaacute tem uma
linguagem () Tem o haacutebito de usaacute-la e compreende os
outros que a fazem Com essa linguagem expressa as
suas necessidades desejos duacutevidas dores etc e natildeo
erra quando os outros se expressam da mesma forma
Noacutes desejamos instruiacute-los e assim ensinar-lhes o francecircs
71
Qual eacute o meacutetodo mais simples e mais curto Natildeo seria
expressando-nos na sua liacutengua Adaptando a sua liacutengua e
fazendo com que ela se adapte a regras claras natildeo
seriacuteamos capazes de conduzir a sua instruccedilatildeo como
desejamos (citado por Harlan Lane Instituon des
Sourds-Muets par la Voie des Signes Meacutethodies part 1
cap IV p 36) apud (CARVALHO 2007 p 24)
Para o surdo comeccedilou a existir uma linguagem atraveacutes da
comunicaccedilatildeo gestual Assim os surdos trocavam informaccedilotildees entre eles
na liacutengua de sinais essencial para o acesso do surdo a sua identidade
Essa convenccedilatildeo social da liacutengua de sinais nesse primeiro grupo de
surdos foi a base da liacutengua Entatildeo o surdo podia aprender a liacutengua
francesa escrita e ter contato com a gramaacutetica dessa liacutengua que foi
essencial para a comunicaccedilatildeo dos surdos transformando a representaccedilatildeo
do gestual O surdo podia alfabetizar-se em francecircs e entender melhor a
sociedade em que vivia e assim adaptar-se agraves mudanccedilas ocorridas em
sua liacutengua gestual Segue a discussatildeo do autor
O Abade L‟Epeacutee iniciou do ano em 1760 conheceu o
grupo de surdo na liacutengua de sinais francesa e estudou
junto com os surdos Mas ele teve a ideacuteia de ajudar o
surdo valorizar a liacutengua de sinais francesa Quem fundou
o Instituto no Paris Foi Abade L‟Epeacutee Laacute foi ensinada
a liacutengua de sinais francesa para os alunos surdos mais
pobres Berthier escreveu a biografia do Abade L‟Epeacutee
(1712 ndash 1789) (SCHMITT 2008 p 50)
O Abade L‟Epeacutee com sua experiecircncia e pesquisa ajudava os
surdos franceses na liacutengua francesa escrita e na liacutengua de sinais em
Paris Com sua pesquisa ele mostrou para a comunidade da eacutepoca uma
nova forma de ensinar os surdos desenvolvendo estrateacutegias de ensino
nas duas liacutenguas Acreditava-se que um dos motivos que levou o Abade
a demonstrar interesse pela educaccedilatildeo de surdos foi o fato de ele ter duas
freiras surdas Seguem imagens mostrando o Abade L‟Epeacutee ensinando o
primeiro grupo de surdos franceses (SCHMITT 2008 p 51)
72
Figura 08 ndash Abade L‟Epeacutee ensinando os surdos na liacutengua de sinais
francesa
Schmitt (2008) realizou pesquisa na liacutengua de sinais na
identificaccedilatildeo do surdo e na adaptaccedilatildeo do conhecimento pelo surdo
Sobre L‟Epeacutee ensinando o grupo de surdos na imagem anterior Schmitt
comenta
O Abade L‟ Epeacutee ajudou ensinando os surdos na liacutengua
de sinais valorizando o aspecto viso-espacial na relaccedilatildeo
das matildeos compartilhando e mostrando a loacutegica de sinais
do surdo compreende-se envolve a capacidade no uso o
alfabeto na cultura do surdo Entatildeo na realidade
possibilitou a liacutengua do surdo na comunicaccedilatildeo com outro
surdo e na relaccedilatildeo com professor francecircs (SCHMITT
2008 p 51)
Segundo Frishberg (1975) na Franccedila escreveu que Abbe Charles-
Michel LacuteEpeacutee descreveu o uso da liacutengua de sinais que havia aprendido
com seus alunos ou em contato com as pessoas Era uma forma natural
de comunicaccedilatildeo que veio dar origem agrave gramaacutetica francesa de sinais
Essa gramaacutetica francesa se espalhou e foi disseminada por toda a
Europa cada paiacutes com suas especificidades como ocorre na liacutengua
falada
Percebemos que o Abade L‟Epeacutee ensinava a gramaacutetica do francecircs
no Instituto para Surdos de Paris para que os alunos surdos aprendessem
a histoacuteria e a liacutengua de sinais O L`Epee foi o antecessor em Paris do
Abade Sicard que escreveu o primeiro dicionaacuterio na liacutengua de sinais no
seacuteculo XVIII
Quando o Abade apresentou a comunicaccedilatildeo em liacutengua de sinais
ao grupo para que aprendessem vocabulaacuterio na liacutengua de sinais mostrou
os sinais de COMER AacuteGUA e tambeacutem o sinal de BEBER apontando
para vaacuterios objetos para que o grupo memorizasse e aprendesse o nome
73
de cada um deles Isso com o grupo de alunos e tambeacutem com as duas
irmatildes Foi crescendo o nuacutemero de sinais usados na linguagem gestual
francesa daquela eacutepoca pelos alunos surdos da instituiccedilatildeo onde ensinava
L‟Epeacutee
Entatildeo percebi atraveacutes de leituras que o Abade L‟Epeacutee ensinava a
gramaacutetica do francecircs no Instituto para Surdos de Paris para que os
alunos surdos aprendessem dentre outras coisas a histoacuteria e a liacutengua de
sinais Isso foi interessante para o grupo pois desenvolveram um padratildeo
para a linguagem gestual
Em 1755 Abade L‟Epeacutee iniciou com o primeiro grupo de surdos
no Instituto em Paris onde ensinava a vaacuterios alunos de classes
diferentes ricos e pobres Ele apresentou para os alunos a importacircncia
dos sinais padronizados que ajudavam na comunicaccedilatildeo Em contato
com a liacutengua de sinais convencionada o grupo de surdos na Franccedila
cada vez mais dominava os sinais e aperfeiccediloava o seu meacutetodo de sinais
metoacutedicos
Em ldquoA Maacutescara da Benevolecircnciardquo Lane (1992) apresenta relatos
interessantes de pesquisa com entrevistas de alunos surdos Sua
descriccedilatildeo sobre os sinais indicando os tempos segue na citaccedilatildeo
ldquoO aluno apesar de surdo e mudo tinha tal como noacutes
uma ideacuteia de passado presente e futuro antes de ser
colocado sob a nossa tutela mas eram incapazes de fazer
os sinais para exprimir as diferenccedilas Se quisesse
exprimir uma acccedilatildeo presente Fazia um sinal impelido
pela natureza que consiste em atrair o olhar do
interlocutor para testemunhar a nossa actividade actual
mas se a acccedilatildeo natildeo tivesse lugar na sua vista estendia as
matildeos sobre a mesa tal como estamos todos aptos a fazer
em situaccedilotildees semelhantes e estes satildeo os sinais que
voltou a aprender na aula para indicar o presente de um
verbo Se quisesse indicar que uma acccedilatildeo pertence ao
passado Atirava despreocupadamente o braccedilo sobre o
ombro duas ou trecircs vezes adoptamos estes sinais para
indicar o passado dos verbos E finalmente quando
tivesse a intenccedilatildeo de anunciar o futuro projectava a Matildeo
direita uma vez mais neste caso seleccionaacutemos este
sinal para representar o tempo futuro de um verbordquo
(LANE 1992 p 107 e 108)
Observa-se que havia diferenccedilas na gramaacutetica dos sinais que os
surdos utilizavam no passado A linguagem gestual francesa mudava
com o tempo na realidade da comunidade surda de Paris O contato com
74
sinais na escola eram muito diferentes daqueles que usavam nas
conversas de ruas Os alunos aprenderam formas verbais (passado
presente e futuro) que interferiram na liacutengua Quando a comunidade
surda que utiliza um espaccedilo cultural aprende o contexto cultural se
modifica e a liacutengua de sinais que tambeacutem eacute social se modifica
A liacutengua de sinais francesa serve de origem para muitos dos sinais
usados na ASL No comeccedilo do seacuteculo XIX um professor de surdo
chamado Thomas Hopkins Gallaudet foi da Ameacuterica para a Europa a
fim de aprender teacutecnicas de ensino Na Inglaterra ele conheceu Roch-
Ambroise Cucurron e Abbe Sicard o diretor de uma escola para surdos
em Paris Gallaudet aprendeu meacutetodos de ensino e muitos sinais para
usar na comunicaccedilatildeo com os surdos com Abbe Sicard Tambeacutem
Gallaudet convenceu Laurent Clerc um dos alunos de Sicard a ajudaacute-lo
a fundar uma escola para surdos na Ameacuterica
Gallaudet e Clerc fundaram a Escola Americana para Surdos
(ASD) em 1816 em Hartford Connecticut A escola combinava sinais
da LSF com os que jaacute eram usados pela comunidade de surdos da
Ameacuterica para criar uma linguagem padronizada Nesta eacutepoca esta
linguagem evoluiu para a ASL considerada atualmente a liacutengua de
sinais mais geneacuterica do mundo O filho de Thomas Gallaudet Edward
fundou a Universidade de Gallaudet em Washington DC A Gallaudet
foi a primeira faculdade para surdos
33 ndash Eacutedouard Huet - Instituto Nacional Educaccedilatildeo de Surdos
(INESRJ)
Segundo Ceacutesar Delgado (Revista da FENEIS 2002) Huet nasceu
em 1822 em Paris na Franccedila Comeccedilou seus estudos desde a infacircncia
ouvia normalmente jaacute se comunicava na fala nos idiomas francecircs (sua
liacutengua natural) alematildeo e portuguecircs mais tarde estudava outra liacutengua
que era o espanhol Ficou surdo aos doze anos de idade por
consequecircncia de um sarampo Como ele pertencia agrave nobreza estudou no
Instituto em Bourges e seu aprendizado na liacutengua de sinais francesa
proporcionou muitas oportunidades tornou-se professor de francecircs para
um grupo de surdos na Europa Ele foi convidado pelo imperador Dom Pedro II
35 para que
35 Deste que Eduard Huet fundou o imperial Instituto de Surdos-Mudos com autorizaccedilatildeo do
Imperador Dom Pedro II a Liacutengua de Sinais passou a fazer parte da educaccedilatildeo dos indiviacuteduos
surdos como forma de comunicaccedilatildeo e expressatildeo No iniacutecio a Liacutengua de Sinais teve sua origem na Franccedila mas aos poucos ela foi se desenvolvendo e se adaptando agrave realidade do
Brasil Isso comprova entatildeo que a Liacutengua de Sinais natildeo eacute universal mas ela possui pequenas
75
ajudasse a trabalhar na criaccedilatildeo do Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de
Surdos-Mudos com sede no Rio de Janeiro Iniciou ensinando na sua
liacutengua francesa depois aprendeu os sinais usados no Brasil e acabou
misturando as duas liacutenguas Trouxe um meacutetodo de ensino para a
Educaccedilatildeo de Surdos influenciando a Liacutengua de Sinais Brasileira com
sua liacutengua de sinais (francesa)
Eacutedouard Huet foi o primeiro professor surdo do Brasil
Apresentou em 1855 um projeto ao Imperador D Pedro II para uma
escola de surdos e assim foi fundado o Instituto Nacional de Educaccedilatildeo
de Surdos-Mudos no Rio de Janeiro Ele foi o responsaacutevel por trazer a
liacutengua de sinais francesa para o Instituto fundado em 1857 na cidade
do Rio de JaneiroRJ Com isso temos a origem da influecircncia da liacutengua
de sinais francesa (LSF) trazida por ele da Europa sobre a liacutengua de
sinais brasileira (LSB)36
Segue citaccedilatildeo de Campello que fala sobre a
constituiccedilatildeo da LSB no Brasil
a Constituiccedilatildeo Histoacuterica da Liacutengua de Sinais Brasileira
registro aqui ldquoa viagemrdquo da LSF ateacute o Brasil Essa
viagem tem a sua cronologia histoacuterica quando em 1855
o Ministro de Instruccedilatildeo Puacuteblica Drouyn de Louys e o
embaixador da Franccedila Monsieur Saint George junto
com a corte do Rio de Janeiro apresentou o Conde e
Professor surdo D E Huet37 ex-diretor do Instituto de
Bourges ao ex-Imperador Dom Pedro II e o mesmo
concedeu todas as honrarias inclusive com o salaacuterio e
hospedagem e incentivou a criaccedilatildeo de um educandaacuterio38
semelhanccedilas variando tanto de estado para estado dentro de um mesmo paiacutes quanto de um paiacutes para o outro com algumas semelhanccedilas
36 Campello usa a sigla LSB Nesta tese a sigla usada eacute LIBRAS
37 Haacute muita controveacutersia em torno do seu nome Inicialmente foi registrado na ldquoRevista
Espaccedilordquo do INES como E Huet Mas nos outros documentos pesquisados por mim assinava
como D E Huet sem complementar ou acrescentar o nome proacuteprio completo Recentemente atraveacutes da pesquisa pelo dirigente da FENEIS e da publicaccedilatildeo da Revista FENEIS confirmou
o nome completo de EHuet como Edward Huet Haacute pouco tempo o Grupo de Sinais
Mexicano anexou a coacutepia do email da bisneta que confirmou o nome dele como D Edward Huet M
38 Esse processo jaacute havia acontecido de forma similar com a educaccedilatildeo dos cegos O cego Patriacutecio Aacutelvares de Azevedo brasileiro educado em Paris e que ao regressar ao Rio de Janeiro
em 1851 pensou em fundar um instituto de ensino para cegos A realidade se concretizou em
1854 na fundaccedilatildeo de Instituto Benjamin Constant para cegos
76
destinado ao ensino de surdos mudos39 seria mais uma
poliacutetica puacuteblica com uma tendecircncia mundial a criaccedilatildeo de
escolas de ensino e tambeacutem de residenciais para abrigar
ldquodeficientes40 Haacute a hipoacutetese de que a princesa Isabel
filha do D Pedro II teria um filho surdo41 e tambeacutem que
o marido dela o Conde dacuteEu era portador de deficiecircncia
auditiva42 Mesmo com ou sem comprovaccedilatildeo histoacuterica
eacute difiacutecil transpor a histoacuteria da criaccedilatildeo e do interesse de
Dom Pedro II em abrir a escola de surdos
(CAMPELLO 2011)
O professor surdo Huet lutou pelo direito agrave liacutengua de sinais na
Instituiccedilatildeo com o imperador Dom Pedro II a fim de abrir espaccedilo na
escola de surdo em 1857 O INES era a uacutenica instituiccedilatildeo puacuteblica federal
do Brasil localizada no Rio de Janeiro Vieram alunos de outros estados
brasileiros para estudar com o professor Huet e ficavam hospedados no
Instituto Depois aprendiam a Liacutengua de Sinais Francesa da mesma
maneira que o professor aprendeu na escola francesa
A liacutengua de sinais foi transformada com o tempo tendo influecircncia
do professor surdo Huet Moura (2000 p 81 e 82) comenta o
seguinte
Se deu atraveacutes de Liacutengua de Sinais pode-se deduzir que
ele utilizava os Sinais e a escrita sendo considerado
inclusive o introdutor de Liacutengua de Sinais Francesa no
Brasil onde ela acabou por mesclar-se com a Liacutengua de
Sinais utilizada pelos Surdos em nosso paiacutes O
39 Relatoacuterio do E d Huet aos membros da Comissatildeo Diretora em abril de 1856 no Instituto de
Surdos Mudos
40 Deficientes satildeo as denominaccedilotildees daqueles que mentalmente e fisicamente satildeo incapazes para fazer qualquer atividade
41 Reis (1992) relata que o professor Geraldo Cavalcanti de Albuquerque disciacutepulo do professor Joatildeo Brasil Silvado (diretor do INSM ndash Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos-
Mudos em 1907) informou-lhe em entrevista que o interesse do imperador D Pedro II em
educaccedilatildeo de surdos viria do fato de ser a princesa Isabel matildee de um filho surdo e casada com o Conde D‟Eu parcialmente surdo
42 Nos documentos escritos pelo Francisco de Souza Brasil e Medeiros e Albuquerque (1932)
atestava a surdez do Conde DacuteEu ldquoO Conde DacuteEu tinha ainda o inconveniente de ser surdo A
surdez alheando os indiviacuteduos do meio em que estatildeo lhes daacute agraves vezes a imputaccedilatildeo de orgulhosos porque natildeo lhes permite tomar parte na conversa com a cordialidade que todos
desejariamrdquo (grifo meu)
77
Curriculum por ele apresentado em 1856 colocava
disciplinas como portuguecircs aritmeacutetica histoacuteria
geografia e incluiacutea ldquolinguagem articuladardquo e ldquoleitura
sobre os laacutebiosrdquo para os que tivessem aptidatildeo para tanto
O professor Huet planejava as vaacuterias disciplinas que ensinava
para os alunos surdos desta Instituiccedilatildeo obedecendo ao curriacuteculo escolar
da eacutepoca oferecido nas escolas de ouvintes Infelizmente natildeo foram
registrados os vocabulaacuterios da liacutengua de sinais brasileira desta eacutepoca No
Brasil foi lanccedilada a primeira publicaccedilatildeo sobre liacutengua de sinais em 1873
pelo aluno surdo Flausino Joseacute da Gama do Instituto de Surdos-Mudos43
do Rio de Janeiro O estudo resultou na obra ldquoIconographia dos Signaes
dos Surdos-Mudosrdquo foi publicado o dicionaacuterio em 1875 Poreacutem em
1880 no Congresso Internacional de Educaccedilatildeo de Surdo (Milatildeo)44
a
liacutengua de sinais foi rejeitada nas escolas focando apenas a liacutengua oral
Contudo os alunos do INES continuaram a estudar desenvolver e
disseminar a LIBRAS que por volta de 1980 voltou a ter sua
importacircncia intensificada
Como eacute explicado no prefaacutecio a inspiraccedilatildeo para o
trabalho foi dita pelo estudante ao ver na biblioteca da
instituiccedilatildeo um livro francecircs do Instituto Nacional de
Paris produzindo pelo surdo Francecircs Pellisier Natildeo havia
oficina litografia (o desenho eacute feito em uma pedra ou
placa de metal) no INES e na eacutepoca essa era a uacutenica
maneira de se reproduzir um desenho A ajuda veio do
Sr Eduard Rensburg que se dispotildee a ensinar a Flausino
trabalhar com essa difiacutecil teacutecnica Bastaram poucos dias
de aula e o Surdo tornou-se um exiacutemio litoacutegrafo
(REVISTA DA FENEIS n0 10 2001)
Segundo Campello (2011) Flausino Joseacute da Gama criou com seu
trabalho o dicionaacuterio ldquoIconographia dos Signaes dos Surdos-Mudosrdquo
com o prefaacutecio do Dr Tobias Leite ex-diretor no Instituto Nacional dos
Surdos-Mudos que no passado registrou sobre a pesquisa de Flausino e
a seguir o que escreveu Tobias no dicionaacuterio do INES em 1875
43 Atual Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos ndash INESRJ
44 REacuteE (2005) ldquo() essa data ainda eacute lembrada como a mais sinistra de sua histoacuteria como se fosse mesmo o ldquo11 de setembrordquo deles quando desabaram as torres gecircmeas da cultura e da
liacutengua de sinais a do meacutetodo misto e a do meacutetodo manualista para educaccedilatildeo dos surdos Ali
comeccedilou uma longa e amarga batalha para defender o direito de vida de liacutengua de sinaisrdquo
78
Este livro tem dous fins
Vulgarisar a linguagem dos signaes meio predilecto dos
surdos mudos para a manifestaccedilatildeo dos seus pensamentos
Os pais os professores primaacuterios e todos os eu se
interessarem por esses infelizes ficaratildeo habilitados para
os entender e se fazerem entender
Mostrar o quanto deve ser apreciado um surdo mudo
educado
O alumno deste Instituto Flausino Joseacute da Gama vendo
entre os livros da biblioteca a obra do illustre surdo-
mudo Pellisier professor do Instituto de Pariz
manifestou desejo de reproduzir as estampas para os
fallantes conversarem com os surdos-mudos dizia-me
elle repetidas vezes
Natildeo obstante ser elle haacutebil desenhista a realizaccedilatildeo do
seu desejo era difficil porque natildeo haacute no Instituto officina
de lihtographia e a despeza nas officinas do commercio
seria grande
Referindo o facto ao Sr Eduard Rensburg este senhor
generosamente offereceu-se para ensinar a Flausino o
desenho lithographico e as suas officinas para a
execuccedilatildeo da obra Aceitei immediatamente o
offerecimento e em poucos dias sahio o livro que tenho
a satisfacccedilatildeo de apresentar a todos os que se interessarem
por essa numerosa classe de nossos compatriotas
A Flausino os louvores e ao Sr Rensburg os
agradecimentos de todos os que se interessatildeo pela
instrucccedilatildeo popular
Tobias Leiterdquo
Campello (2011) pesquisou sobre o dicionaacuterio da liacutengua de sinais
registrado e documentado por Flausino que foi apresentado na escrita
pelo ex-diretor do INES que escrevia a palavra ldquoVulgarisarrdquo45
(p 79)
Segundo Delaporte (2005) a Escola Parisiense ldquoSaint-Jacquesrdquo era um
lugar de prestigio onde todas as pessoas que desejavam ensinar os
surdos precisavam obrigatoriamente passar Eacutedouard Huet realizou seus
estudos laacute Flausino inspirou-se no dicionaacuterio de Pierre Peacutelissier que foi
trazido para o Brasil por Eacutedouard Huet Os alunos do INES tinham
muita dificuldade pois os sinais eram muito antigos e eles precisavam
45 CAMPELLO mostrou a pesquisa ldquo que naquela eacutepoca significava colocar a disposiccedilatildeo do
povo e por isso o dicionaacuterio se apresentava como instruccedilatildeo popularrdquo
79
se comunicar com surdos do Instituto de Paris Campello diz que foi
copiado o dicionaacuterio no Instituto Imperial de Paris
Comparado com o original ldquoIcnographie des signesrdquo de
P Pelissier membro ativo de ldquola Socieacuteteacute Centrale
dacuteEducation et dacuteAssistance decircs Sourds-Muetsrdquo e
professor de surdos mudos do Instituto Imperial de Paris
em 1856 obra ldquoIconographia dos signaes dos surdos
mudosrdquo pelo surdo Flausino Joseacute da Gama em 1875 eacute
uma coacutepia na iacutentegra do material com a traduccedilatildeo do
francecircs para o portuguecircs ou seja os sinais foram
copiados um a um traduzindo-se apenas as palavras do
francecircs que identificavam os sinais (CAMPELLO
2011)
Verificando a explicaccedilatildeo anterior da citaccedilatildeo a autora mostrou
uma comparaccedilatildeo do dicionaacuterio em Paris e no Brasil foi copiado o
material para ser utilizado aqui no INES e soacute foi mudado o vocabulaacuterio
eou palavra na traduccedilatildeo do francecircs para o portuguecircs Atualmente a
LIBRAS estaacute bem diferente da eacutepoca de Flausino mas a influecircncia da
Liacutengua de Sinais Francesa eacute inegaacutevel na comunicaccedilatildeo dos surdos
brasileiros pois foi a primeira liacutengua de sinais traduzida e ensinada no
INES
Com o uso e a difusatildeo da liacutengua de sinais surgiu o primeiro
dicionaacuterio do Brasil e as seguintes obras dos autores i) Iconographia
dos Signaes dos Surdos-Mudos de Flausino Joseacute da Gama em 1875 ii)
Linguagem das Matildeos de Eugecircnio Oates em 1969 e iii) O Dicionaacuterio
Enciclopeacutedico Ilustrado Triliacutengue Liacutengua de Sinais Brasileira de
Fernando C Capovilla e Walkiria D Raphael em 2001
Felipe (2000) fala sobre o surgimento da LIBRAS sobre
Flausino Joseacute da Gama e outros dicionaacuterios da LIBRAS
Aqui no Brasil a primeira publicaccedilatildeo sobre a liacutengua
de sinais brasileira data de 1875 trata-se de um livro
Iconografia dos Signaes dos Surdos-Mudos de Flausino
da Gama um ex-aluno do Instituto de Surdos que se
tornou repetidor dessa escola quando terminou seu
periacuteodo de estudo Quase um seacuteculo depois em 1969
com a publicaccedilatildeo do artigo de KAKUMUSU J Urubu
Sign Language foi constatado que haveria pelo menos
outra liacutengua de sinais no Brasil utilizada pelos iacutendios
Urubus-Kaapor
80
Somente em 1969 por iniciativa estrangeira foi
publicado outro livro sobre a liacutengua de sinais brasileira
Linguagem das Matildeos de DATES E mas devido agrave
influecircncia da ASL muitos sinais nessa obra como
tambeacutem na de HOEMAN H et al Linguagem de Sinais
do Brasil satildeo sinais dessa liacutengua Esses dois livros
foram durante deacutecadas o material didaacutetico utilizado
pelos instrutores surdos para ensinarem sua liacutengua e
talvez por essas obras trazerem uma seleccedilatildeo de
fotografias ou desenhos de sinais da LIBRAS com
explicaccedilotildees a metodologia que vem sendo utilizada para
ensinar esta liacutengua tem sido somente a apresentaccedilatildeo de
sinais e traduccedilatildeo dos mesmos
Em 1960 Willian Stokoe
46 iniciou a pesquisa na liacutengua de sinais
americana com publicaccedilatildeo de estudo linguiacutestico mostrando que esta
liacutengua de sinais tinha uma gramaacutetica proacutepria e tambeacutem apresentava
todos os aspectos linguiacutesticos das liacutenguas orais A partir desta
divulgaccedilatildeo do Stokoe o mundo comeccedilou a pesquisar mais sobre as
liacutenguas de sinais Estudou cientificamente a Liacutengua de Sinais Americana
comparando com a Liacutengua Inglesa observou que ambas tinham
caracteriacutesticas equivalentes auxiliando na concepccedilatildeo sobre a educaccedilatildeo
de surdos na liacutengua de sinais
Felipe (2000) apresentou na pesquisa o surgimento da LIBRAS
Seguem agora ilustraccedilotildees sobre os dicionaacuterios antigos ldquoIconographia
dos Signaes dos Surdos Mudos de Flausino Joseacute da Gamardquo ldquoLinguagem
das Matildeos de Eugecircnio Oatesrdquo ldquoEnciclopeacutedico Ilustrado Triliacutengue
Liacutengua de Sinais Brasileira Vol I e II de Fernando C Capovilla e
Walkiria D Raphael
46 STOKOE (1920-2000) foi um dos primeiros linguistas a estudar uma liacutengua de sinais com
tratamento linguiacutestico Considerado o pai da linguiacutestica da liacutengua de sinais americana ndash ASL Ele ensinando e pesquisando revolucionou a Liacutengua de Sinais e mostrou que ela possuiacutea
regras gramaticais proacuteprias A partir daiacute o mundo inteiro passou a aceitar a Liacutengua de Sinais
como uma Liacutengua
81
Figura 09 ndash Acervo na Revista da FENEIS
Interessante a pesquisa das primeiras publicaccedilotildees dos autores
sobre a liacutengua de sinais Trouxe para noacutes surdos brasileiros
documentos para outras pesquisas valorizando o contexto social e a
liacutengua de sinais Campello (2007)
47 apresentou a pesquisa ldquoMudanccedilas fonoloacutegicas
47 Retirado a fonte com autora CAMPELLO 2007 SINPEL ndash I0 Seminaacuterio Integrado de
Pesquisas em Linguiacutestica na UFSC ldquoMudanccedilas fonoloacutegicas dos registros do seacuteculo XVIII ao seacuteculo XXI na liacutengua de sinais brasileirardquo
82
dos registros do seacuteculo XVIII ao seacuteculo XXI na Liacutengua de Sinais
Brasileira elementos novos sobre a liacutengua de sinais brasileirardquo Foi o
primeiro trabalho desse tipo com a LIBRAS desenvolvido no Brasil A
autora destacou inicialmente as justificativas para sua pesquisa
a) Natildeo haacute registro a respeito do desenvolvimento
histoacuterico da liacutengua de sinais brasileira nos livros
brasileiros b) Os surdos brasileiros tecircm muito interesse
em saber mais sobre a origem desta liacutengua c) A liacutengua
de sinais passou a ser reconhecida como liacutengua de
instruccedilatildeo dos surdos brasileiros por meio da Lei 10436
de 2002 regulamentada pelo decreto 5626 de 2005 d) A
liacutengua de sinais passa a ser objeto de ensino Antes de
iniciar a pesquisa em si considero importante situar as
influecircncias da liacutengua de sinais dos Surdos que moldaram
o primeiro dicionaacuterio de liacutengua de sinais brasileira o
movimento poliacutetico social cultural e educacional Com
o ldquoobjeto de pesquisardquo apresento a justificativa visto que
ateacute o presente momento natildeo se sabe se esta liacutengua jaacute
existia antes da fundaccedilatildeo do INES eou natildeo foi
reconhecida por causa da homogeneidade da liacutengua
nacional que eacute a liacutengua portuguesa Tambeacutem visa a
coleta dos sinais e suas mudanccedilas em niacutevel foneacutetico-
fonoloacutegico da Liacutengua de Sinais Francesa para a Liacutengua
de Sinais Brasileira e apresenta a metodologia de
investigaccedilatildeo problematizando a origem da liacutengua de
sinais brasileira jaacute que foi mesclada com a liacutengua de
sinais francesa Muita pesquisa foi deixada de lado pelo
estigma e desconhecimento da liacutengua em estudo nesse
projeto (CAMPELLO 2007)
Observe a figura do painel que Campello apresentou no
Seminaacuterio e eu fotografei
83
Figura 10 ndash Acervo de Ana Regina e Souza Campello ndash UFSC
Diniz (2010) realizou a pesquisa sobre o estudo descritivo das
mudanccedilas fonoloacutegicas e lexicais da Liacutengua de Sinais Brasileira
identificando e analisando os tipos de sinais que mais levam agrave variaccedilatildeo e
agrave mudanccedila e os possiacuteveis motivos que ao longo do tempo culminam
em tais variaccedilotildees Observou-se que o estudo elaborado na histoacuteria da
liacutengua de sinais teve como objetivo principal identificar as mudanccedilas
ocorridas na forma de comunicaccedilatildeo das comunidades surdas bem como
a influecircncia da liacutengua escrita no caso o portuguecircs neste processo
A autora apresenta sua pesquisa de modo a contribuir com os
registros histoacutericos da comunidade surda geral e da liacutengua de sinais As
suas anaacutelises ampliam os conhecimentos sobre a estrutura linguiacutestica da
LIBRAS e seu processo de mudanccedila assim como permitem contrastar
as variaccedilotildees que ocorrem com as liacutenguas orais e as liacutenguas de sinais
Mais amplamente o estudo objetiva valorizar socialmente a Liacutengua
Brasileira de Sinais difundir suas vertentes propiciando agrave populaccedilatildeo
surda o resgate de suas origens tradiccedilotildees e identidade proacutepria
Ela analisou trecircs documentos histoacutericos mais especificamente
trecircs dicionaacuterios de sinais foram os instrumentos de base na pesquisa da
autora acerca do processo de variaccedilatildeo na LIBRAS satildeo eles
Iconographia dos Signaes dos Surdos-Mudos de 1875 (primeiro
documento a fazer referecircncia agrave LIBRAS trata-se de uma reproduccedilatildeo fiel
do dicionaacuterio de sinais Francecircs que envolve representaccedilatildeo de sinais por
meio de desenhos (ilustraccedilotildees)) Linguagem das Matildeos de 1969
(produzido pelo padre Eugecircnio Oates missionaacuterio americano que
trabalhou com surdos em vaacuterias regiotildees brasileiras) e o terceiro
Dicionaacuterio Digital da LIBRAS do Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de
84
Surdos (INES) de 2006 (em CD-ROM produzido no Rio de Janeiro
por profissionais surdos e ouvintes)
Os resultados da pesquisa de Diniz apresentam na anaacutelise dos
dados indiacutecios de mudanccedila fonoloacutegica e lexical
A figura 11 a seguir mostra a forma como o sinal de FACA eacute
produzido utilizando a configuraccedilatildeo de matildeos que se altera nas trecircs
imagens apresentadas
GLOSA ICON OATES INES
Est 2
FACA
FACA
FACA
FACA
Figura 11 ndash Acervo da Heloise Gripp Diniz ndash UFSC 01
A figura 12 apresenta um exemplo de mudanccedila lexical com
configuraccedilotildees de matildeos mostrando o sinal de PUNIR apresentado no
dicionaacuterio em trecircs momentos (Icon Oates e INES) Segue a figura
GLOSA ICON OATES INES
Est 16
PUNIR
PUNIR
CASTIGAR
CASTIGAR
Figura 12 ndash Acervo da Heloise Gripp Diniz ndash UFSC 02
Diante da anaacutelise comparativa dos referidos dicionaacuterios a autora
classificou os sinais em trecircs categorias os que permanecem idecircnticos
(sem alteraccedilotildees) os que sofreram mudanccedilas fonoloacutegicas em alguns de
seus paracircmetros (que se mostrou a maior das trecircs categorias) e os que
sofreram mudanccedilas lexicais alterando por completo as formas dos sinais
originais Dentre os fatores internos que contribuiacuteram para tais variaccedilotildees destacam-se conforto linguiacutestico na articulaccedilatildeo das matildeos e
do corpo e a acuidade visual no espaccedilo da sinalizaccedilatildeo Haacute tambeacutem a
contribuiccedilatildeo dos fatores socioculturais como influecircncia das liacutenguas em
contato empreacutestimo linguiacutestico bilinguismo preconceito linguiacutestico e
85
influecircncia da liacutengua portuguesa e dos falantes ouvintes
Em outras palavras nota-se que o estudo procura resgatar a
histoacuteria das mudanccedilas dos sinais da LIBRAS e de como surgiram as
mudanccedilas influenciadas pelo advento da Instituto Nacional de Educaccedilatildeo
de Surdos (INES) bem como o viacutenculo existente entre o instituto e os
diferentes dicionaacuterios de liacutenguas de sinais da eacutepoca que mostram a
existecircncia de fortes mudanccedilas linguiacutesticas ao longo do tempo entre as
pessoas de mais idade com as famiacutelias e as novas geraccedilotildees que surgem
dispostas a encontrar sinais de configuraccedilotildees de matildeos que possibilitem
facilitar cada vez mais a interaccedilatildeo das comunidades surdas com a
sociedade em geral
Percebe-se entatildeo vaacuterios dialetos utilizados entre grupos de
amigos e familiares na busca de uma melhor compreensatildeo da
comunicaccedilatildeo atraveacutes da liacutengua de sinais Nota-se que apesar da
evoluccedilatildeo da liacutengua de sinais haacute existecircncia de vaacuterios sinais
desconhecidos entre as associaccedilotildees de surdos Existe uma seacuterie de
variaacuteveis diferentes que funcionam como preacute-requisito influenciando
diretamente os processos de variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica
Segundo Diniz (2010) natildeo eacute aconselhaacutevel fazer traduccedilatildeo do
portuguecircs para LIBRAS pois tal conversatildeo acaba dificultando ainda
mais a compreensatildeo e a comunicaccedilatildeo com a comunidade dos surdos
Assim pode-se notar que natildeo eacute apropriado misturar duas liacutenguas (uma
oral outra visual) ao mesmo tempo pois haacute uma diferenccedila muito grande
entre elas Dessa forma torna-se mais faacutecil a compreensatildeo para o surdo
quando eacute explicado diretamente na liacutengua de sinais
Sempre eacute conveniente ressaltar que a LIBRAS eacute uma liacutengua
humana da mesma forma que as liacutenguas faladas nesse sentido a liacutengua
de sinais possui sua proacutepria estrutura linguiacutestica embora com
modalidades diferentes e passa por processos de mudanccedilas contiacutenuas e
deve ser considerada pela comunidade cientiacutefica como sendo de grande
importacircncia para a sociedade em geral As liacutenguas de sinais satildeo
humanas naturais e com estruturas linguiacutesticas proacuteprias fazendo uso do
canal de comunicaccedilatildeo visual-espacial Portanto satildeo mitos48
as
48 FRISHBERG (1975 p 696 - 697) Alguns mitos satildeo derrubados por no que se refere agrave ASL
O primeiro deles diz respeito agrave falsa crenccedila de que a linguagem gestual eacute universal Pelo
contraacuterio as pessoas surdas da China natildeo conseguem entender a ASL tampouco os surdos americanos conseguem entender a CSL a Liacutengua de Sinais Chinesa Os surdos ingleses
tambeacutem natildeo conseguem entender a Liacutengua de Sinais Francesa (LSF) e vice-versa O segundo
mito esclarecido eacute de que a liacutengua de sinais tem muito pouco ou nada a ver com a liacutengua falada da comunidade em sua volta Neste sentido a autora esclarece que a liacutengua de sinais natildeo
significa uma representaccedilatildeo manual traduzida diretamente do inglecircs O terceiro mito elucidado
86
afirmaccedilotildees de que a liacutengua de sinais eacute universal miacutemica coacutedigos
gestos ou apenas uma representaccedilatildeo manual das liacutenguas orais
Cabe ressaltar que a representaccedilatildeo atraveacutes de imagens figuras
gestos configuraccedilatildeo de matildeos e expressotildees faciais satildeo fundamentais para
a fluecircncia da comunicaccedilatildeo entre os membros da comunidade surda e
tambeacutem com a sociedade tornando a compreensatildeo mais acessiacutevel a
todas as pessoas Por meio de estudos nos dicionaacuterios de LIBRAS
percebe-se a existecircncia de algumas categorias distintas de algumas que
permanecem idecircnticas ateacute os dias de hoje e de outras que vecircm sofrendo
mudanccedilas fonoloacutegicas gradativamente com ideias inovadoras
influenciadas pelos estudos efetuados a partir da histoacuteria da liacutengua de
sinais e sua evoluccedilatildeo no processo de mudanccedila ateacute os dias atuais Tais
descobertas satildeo importantiacutessimas para a academia e para os aspectos
socioculturais como forma de resgatar a histoacuteria bem como os valores
das comunidades surdas esquecidas no passado recuperando sua proacutepria
identidade frente agravequeles que utilizam a liacutengua oral
Em geral eacute muito difiacutecil de recuperar nos registros dos
dicionaacuterios os detalhes das articulaccedilotildees movimentos entre outros Isso
ocorre porque na maioria das vezes eles apresentam uma uacutenica palavra
em portuguecircs associada a cada sinal de forma intuitiva quase sempre
indicando um sinal preciso e natildeo uma possiacutevel traduccedilatildeo De qualquer
maneira a partir das evidecircncias que estatildeo nos dicionaacuterios pode-se
analisar como era a liacutengua de sinais antigamente e como ela se
modificou ateacute os dias de hoje bem como qual a sua importacircncia para a
valorizaccedilatildeo social da comunidade surda
Diniz (2010) percebeu que ao passar dos anos existe uma
evoluccedilatildeo no desenvolvimento dos dicionaacuterios trazendo uma forma mais
faacutecil e aacutegil de comunicaccedilatildeo entre os escritores e leitores Hoje a
preocupaccedilatildeo natildeo eacute apenas em fazer dicionaacuterios mas tambeacutem em
analisar as metodologias de produccedilatildeo lexicograacutefica isto eacute como e para
que os dicionaacuterios tecircm sido feitos
Diniz (2010) tambeacutem observou uma pequena mudanccedila no
alfabeto manual que aparece nos trecircs dicionaacuterios Houve uma mudanccedila
fonoloacutegica na estampa ldquoIrdquo referente ao alfabeto de 26 letras no
dicionaacuterio Iconographia Em Oates o alfabeto permanece semelhante
ateacute os dias de hoje mudando apenas a configuraccedilatildeo de matildeos da letra H
No dicionaacuterio INES o alfabeto eacute idecircntico aos dias de hoje
pela pesquisadora refuta a ideia de que as liacutenguas de sinais satildeo apenas gestos teatrais ou
miacutemicos
87
Segundo Diniz (2010) identificam-se tendecircncias de mudanccedilas na
LIBRAS nos trecircs dicionaacuterios a saber simetria de duas matildeos
deslocamento locativo conteuacutedo lexical para as matildeos assimilaccedilatildeo
deletaccedilatildeo de uma matildeo de sinais de duas matildeos e deletaccedilatildeo de uma parte
do sinal composto Dos resultados das anaacutelises pode-se verificar que
alguns sinais da LIBRAS permaneceram idecircnticos ateacute os dias de hoje
enquanto outros sofreram mudanccedilas nas partes fonoloacutegicas e lexicais A
autora concluiu que diversos fatores influenciaram tais mudanccedilas como
por exemplo a influecircncia dos falantes ouvintes sobre a LIBRAS a
influecircncia da Liacutengua portuguesa na estrutura da LIBRAS o
desconhecimento sobre as liacutenguas de sinais a organizaccedilatildeo lexicograacutefica
nos dicionaacuterios de sinais a discriminaccedilatildeo ouvinte sobre a LIBRAS o
contato contiacutenuo dos surdos com ouvinte e a inseguranccedila na
consciecircncia linguiacutestica dos surdos em relaccedilatildeo agrave LIBRAS Outra
conclusatildeo foi a descoberta de sinais da Iconographia idecircnticos na ASL e
na LSF hoje em dia mais do que nos dicionaacuterios Oates e dos INES
34 ndash Francisco Lima Juacutenior ndash O Primeiro Professor Surdo em
Santa Catarina na liacutengua de sinais
Segundo Schmitt (2008) Francisco Lima Juacutenior tem lembranccedilas
do avocirc Germano tias Erna Irude e Isabel o pai Francisco matildee Augusta
e o irmatildeo Reinoldo Francisco Lima Juacutenior chamado pelo apelido
(chiquito) eacute o uacutenico surdo desta famiacutelia Ele nasceu no dia 01 de junho
de 1928 em casa na Rua Duarte Schutel no 16 em Florianoacutepolis A tia
Erna disse que o Francisco foi ateacute os 36 meses de idade uma crianccedila
normal e perfeita mas nesta idade foi um susto para os familiares do
Francisco ele ter ficado surdo
Atraveacutes de contatos com o senhor Francisco Lima Juacutenior
estive presente na casa dele investigando sobre a
primeira turma de surdo Catarinense No dia 04082006
foi entrevistado o senhor Francisco Lima Juacutenior Ele
nasceu no dia 01061928 em Florianoacutepolis no Estado de
Santa Catarina e ateacute a idade de 03 anos ouvia
normalmente A famiacutelia do Francisco sempre conversava
com ele sobre cinema ou noticias que ouviam o raacutedio O
Francisco estava sentado no chatildeo brincando com o
carrinho na sala de estar assistindo o cinema com a
famiacutelia dele A famiacutelia chamou atenccedilatildeo do seu filho
Francisco mas ele natildeo ouvia a voz dos seus pais falando
Franciscooooo e tambeacutem batendo palmas O Francisco
natildeo ouvia nada e quando o pai tocou no ombro do
88
Francisco ele entendeu O que pai (SCHMITT 2008 p
86)
Seus pais natildeo se aperceberam ao longo deste tempo que Francisco
estava ficando surdo porque ele ainda natildeo havia aprendido a falar
compreender palavras e a se comunicar por gestos O pai de Francisco
levou-o para o meacutedico que falou que o menino teve um problema no
nervo auditivo e ficou surdo (Consultas ao meacutedico com frequecircncia
dificuldade de se comunicar com a famiacutelia sentia-se muito pressionado
foram tempos difiacuteceis ele conta) O pai queria ensinar a liccedilatildeo para
Francisco que aprendia vocabulaacuterio e a gramaacutetica juntamente com os
nuacutemeros cardinais desenho e a palavra correspondente e tambeacutem a
linguagem gestual da comunicaccedilatildeo dele O pai levou-o para o
tratamento meacutedico com o Dr Djalma Moellmann que informou aos
pais que pela idade do Francisco ele poderia estudar no Instituto
Nacional de Surdos-Mudos do Rio de Janeiro Segue o depoimento
Os pais resolveram levar seu filho para tratamento
meacutedico e fonoaudioloacutegico no centro de Florianoacutepolis
para saber o que aconteceu com a audiccedilatildeo do Francisco
que natildeo ouvia nada O meacutedico fonoaudioloacutegico dizia que
ele era deficiente auditivo e tambeacutem chamou-o de Surdo-
Mudo naquela eacutepoca ˝Ai Como fazer agora Os pais
perguntaram O que O meu filho natildeo podia estudar na
escola dos ouvintes e na eacutepoca aqui natildeo existia escola
para surdos˝ O meacutedico fonoaudioloacutegico informou sobre
a escola no INSM - Instituto Nacional de Surdos-Mudos
no Rio de JaneiroRJ Eles verificaram que laacute existia
escola para surdos-mudos mas resolveram permanecer
morando naquela cidade Entatildeo o pai resolveu levar o
seu filho Francisco para o Rio de JaneiroRJ Quando o
Francisco era crianccedila tinha ocircnibus carro caminhatildeo
bicicleta e aviatildeo Foi viagem de navio O tio do
Francisco trabalhava como marinheiro e levou o
Francisco para o Rio acompanhando do pai e do tio dele
(SCHMITT 2008 p 86)
Francisco realizou exames meacutedicos onde foi avaliada sua sauacutede
se podia estudar no Instituto Nacional de Surdos-Mudos que era um
grande desafio Nesse lugar havia modernas oficinas e ginaacutesio tinha 109
surdos internos Era comum observar um grupo de surdos que se
comunicava na liacutengua de sinais no corredor do Instituto Laacute tambeacutem os
alunos surdos podiam entrar em contato com os primeiros surdos que
89
vieram de diferentes estados e regiotildees do Brasil Em 1937 o pai
acompanhou Francisco em uma viagem de navio para o Rio de Janeiro e
matriculou-o no Instituto Nacional de Surdos-Mudos Laacute conheceu o Dr
Armando ex-diretor de INSM na deacutecada de 1940
Em 1937 Francisco foi levado pelos primos Paulo e Hugo e pelo
seu tio para conhecer o INSM Eles levavam Francisco ao Instituto nos
saacutebados e voltavam nas segundas-feiras de 1937 a 1939 Hugo
trabalhava no navio ldquoDuque de Caxiasrdquo que saiacutea do Rio de Janeiro O
outro navio onde estava o tio voltava da Bahia quando avistou um
submarino de guerra (alematildeo) que era dotado de canhotildees Os dois
navios chocaram-se agrave noite neles tinha bombas nucleares Hugo o tio
passageiros e marinheiros morreram no mar e um outro navio onde seu
tio Paulo trabalhava desapareceu na Europa em 1945
Na segunda guerra Hitler se armou poderosamente para dominar
a Europa mas com sua derrota em 1939 a 1945 a Alemanha perdeu
cerca de um quarto do seu territoacuterio que por alguns anos foi ocupado
pelas forcas aliadas russas americanas inglesas e francesas Das cinzas
surgem os novos navios Um navio a vapor com o nome de Carlos
Hoepcke e Anna navio este de carga e passageiros que transportou
Francisco ateacute o Rio de Janeiro O capitatildeo deste navio era seu tio Ceacutelio
Viana Os passageiros eram atenciosos para com Francisco e o
ajudavam quando ele precisava
Era oferecido abrigo aos navios aportados no porto de SantosSP
Rio de Janeiro Satildeo Francisco do Sul e Itajaiacute Iam de navio e na volta
vinham de aviatildeo com destino a Florianoacutepolis e Rio de Janeiro O pai
Francisco Candido de Souza Lima era gerente contador homem de
bom coraccedilatildeo que fazia a contabilidade de Carlos Hoepcke era uma
amizade de marinha mercante
Em suas viagens o professor Francisco Lima Juacutenior viu o Sr
Ademar Barros que era intendente de comeacutercio do vapor Carlos
Hoepcke Viajaram num submarino guiados por buacutessola para ajudar os
navegantes em 1937 a 1946 Ao fim do ano letivo no Instituto o pai e
Francisco voltavam para Florianoacutepolis em 1947 O Professor Francisco
trabalhou auxiliando a contabilidade e os lanccedilamentos na filial de Carlos
Hoepcke SA Ele aproveitou o aprendizado nas oficinas do Instituto
Nacional de Surdos-Mudos onde aprendeu uma seacuterie de profissotildees
como a de marcenaria encadernaccedilatildeo e sapataria aleacutem de participar de
um curso de Desenho Segue a explicaccedilatildeo do autor
Os alunos de vaacuterios estados no Brasil tambeacutem estudavam
no INSM junto com o Francisco e fizeram amizade
90
jogando o futebol na quadra Depois o Francisco foi para
os alojamentos no Instituto e dormiu cada um num
beliche todos os alunos surdos eram brasileiros Os
alunos surdos acordavam agraves 05h30min nas madrugadas
para arrumar e ficavam esperando na fila de outros
alunos faziam relaxamento e educaccedilatildeo fiacutesica para depois
tomar o banho Depois estudavam de manhatilde e agrave tarde agraves
vezes agrave noite e voltavam para o alojamento no Instituto
O professor no Instituto dava aula de oralizaccedilatildeo para os
alunos surdos na sala de aula explicando o conteuacutedo de
mateacuteria no quadro negro e tambeacutem com vareta Depois o
professor anotava no quadro a escrita de portuguecircs
avisava para o aluno surdo que natildeo podia copiar no
quadro e prestar atenccedilatildeo agrave escrita no quadro O professor
apagava no quadro para o aluno surdo memorizar a
escrita da fala O que aconteceu Os alunos ficaram com
dificuldade de entender a escrita no quadro (SCHMITT
2008 p 92 e 93)
Os professores mostravam vaacuterias figuras de objetos com os
respectivos nomes e individualmente faziam o trabalho de repeticcedilatildeo
com o aluno Francisco que escrevia e falava Mas existia a liacutengua de
sinais no lado de fora No paacutetio a comunicaccedilatildeo dele e o grupo de surdo
no Instituto apresentava a liacutengua de sinais Dr Armando Lacerda diretor
do Instituto Nacional de Surdos-Mudos ndash INSM acampanhou a
comemoraccedilatildeo de sua fundaccedilatildeo e seguiram-se demonstraccedilotildees de
ginaacutestica representaccedilatildeo de uma peccedila teatral nuacutemeros de bailado pelo
corpo etc
Os surdos da marcenaria da encadernaccedilatildeo e da sapataria eram
jogadores e participaram da competiccedilatildeo de futebol de campo no
instituto Venceram os surdos da encadernaccedilatildeo que receberam
medalhas e trofeacuteu O grupo de alunos que ganhou a competiccedilatildeo foi
viajar e passear na praia da Ilha de PaquetaacuteRJ Dois alunos deste grupo
mais tarde tornaram-se professores do Instituto Um deles era o
professor Heacutelio ensinava ginaacutestica futebol e voleibol na quadra de
esportivo e o outro era professor Francisco
Na eacutepoca foi feita uma reportagem com depoimentos do Dr
Armando Lacerda dos professores Joatildeo Brasil Silvado Juacutenior Saul Borges Carneiro e Geraldo Cavalcantil todos eles ouvintes Essa
reportagem foi riquiacutessima detalhada cheia de fotografias eacute uma
importante fonte de pesquisa Francisco desenvolveu sua aprendizagem
na liacutengua de sinais aproveitando essas atividades comemorativas que
aconteciam no instituto aleacutem do curriacuteculo da escola
91
Os professores acima citados todos oralistas impressionam pela
cultura e a quantidade de informaccedilotildees com que discorrem sobre a
educaccedilatildeo do surdo e a histoacuteria na liacutengua de sinais Sendo recebido pelo
ministro da educaccedilatildeo e sauacutede naquela eacutepoca foi oferecido um meacuterito ao
ex-aluno Francisco Lima Juacutenior conforme mostra a citaccedilatildeo
O Francisco Lima Juacutenior recebeu o meacuterito do segundo
melhor no Instituto Nacional de Surdos-Mudos (INSM)
no Rio de JaneiroRJ por a maior nota de avaliaccedilatildeo na
prova e tambeacutem em todas as disciplinas Vejam os
nomes ndash primeiro lugar (Odil Soares em Satildeo Paulo)
segundo lugar (Francisco Lima Juacutenior em Santa
Catarina) e terceiro lugar (Miriam S Rio de Janeiro)
Parabenizamos o senhor Francisco Lima Juacutenior do nosso
Estado de Santa Catarina eacute vitorioso e orgulhoso
(SCHMITT 2008 p 96)
Ele foi aluno interno do Instituto Nacional de Surdos-Mudos do
Rio de Janeiro e do Instituto Paulista de Surdos em Satildeo Paulo em 1940 e
natildeo gostava de Satildeo Paulo A professora Helena (INES) era de origem
Italiana ensinava a fazer ditado em portuguecircs (oralismo) mas a liacutengua
de sinais natildeo existia na comunicaccedilatildeo e o grupo surdo teve pouco contato
com a liacutengua materna (liacutengua de sinais)
Para a inauguraccedilatildeo do Instituto Nacional de Surdos-Mudos foram
convidadas vaacuterias autoridades entre elas o ministro da educaccedilatildeo
diretores de escolas e outros Esta aconteceu no teatro do Instituto e
ofereceram trecircs certificados para o curso de desenho para a oficina de
encadernaccedilatildeo e linguagem que foram ganhos pelo Francisco Lima
Juacutenior em 1946 No ano seguinte ele voltou para Florianoacutepolis
Em 1946 com 18 anos de idade voltou para
FlorianoacutepolisSC quando passou a procurar por pessoas
surdas nas vaacuterias cidades do estado de Santa Catarina e
demorou um tempo para ter contato com os surdos
catarinenses Ele comeccedilou a dar aulas numa garagem
situada agrave Rua Francisco Tolentino passando ser ali a
primeira escola para surdos de Florianoacutepolis O
Francisco ensinava desenho linguagem escrita
vocabulaacuterio baacutesico gramaacutetica geograacutefia histoacuteria do
Brasil e conhecimentos gerais Ele trouxe para o nosso
estado o modelo de associaccedilatildeo e fez um projeto de escola
para surdos com a esposa de ouvinte que ajudou o
Francisco Apoacutes a conclusatildeo dos cursos em 1947
retorna definitivamente para casa dos pais em
92
Florianoacutepolis agrave Rua Duarte Schutel nordm 16 (SCHMITT
2008 p 104)
Em 1947 morava com o pai em sua casa em Florianoacutepolis Ele
foi habilitado em contabilidade pelo Instituto e fez o curso de
Contabilidade do Instituto Radio Teacutecnico RT Monitor SA ndash nuacutecleo de
ensino profissional livre por correspondecircncia (1 liccedilatildeo ateacute 28 liccedilatildeo) Satildeo
Paulo ndash SP Apoacutes Francisco conhecer os surdos em vaacuterias cidades de
Santa Catarina ele ficou com vontade de auxiliar o surdo que ficava
isolado em casa e na famiacutelia sem o uso da comunicaccedilatildeo gestual Veja a
seguir a imagem apresentada do Francisco Lima Juacutenior em 1947
93
Figura 13 ndash Acervo do Francisco eacute o primeiro dicionaacuterio na liacutengua de
sinais em Santa Catarina em 1947
O primeiro dicionaacuterio em Santa Catarina tinha imagens do
proacuteprio Francisco que demonstrava a preocupaccedilatildeo culturallinguiacutestica
para com os surdos e a difusatildeo da liacutengua de sinais procurava uma forma
de o grupo de surdo ter contato com a liacutengua de sinais e ensinava em sua casa (na garagem) onde tambeacutem ficava a associaccedilatildeo
As aulas continuavam com o professor Francisco que ia
ensinando cada vez mais sinais e com qualidade pois dali faziam as
provas finais O professor ensinava conteuacutedos de matemaacutetica geografia
94
conhecimento geral ciecircncias e portuguecircs No uacuteltimo mecircs de aula apoacutes o
encerramento das aulas o professor entregava os boletins com as meacutedias
de todos os surdos que ficaram alegres pois nenhum deles tinha sido
reprovado
Francisco viajou para Satildeo Paulo em 1954 iniciou sua amizade
com o primeiro presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos de Satildeo
Paulo senhor Maacuterio Devisate que natildeo tinha o conhecimento da
existecircncia de uma associaccedilatildeo de surdos em Florianoacutepolis O senhor
Maacuterio Devisate deu um documento de uma Associaccedilatildeo de Surdos-
Mudos com acircmbito nacional e Francisco veio como delegado para a
regiatildeo do sul passando a residir nessa capital
Foi o primeiro encontro com o presidente da Sociedade dos
Surdos-Mudos do Distrito Federal49
que mudou a Associaccedilatildeo de Surdos-
Mudos do Rio de Janeiro o senhor Miguel da Fonseca Seabra de Melo
grande colega jaacute falecido Francisco em meio agrave conversa na liacutengua de
sinais conheceu o presidente da ASURJ que comentou ldquoaquele tambeacutem
eacute surdordquo O colega dele sorriu ao sair cumprimentou o senhor Miguel
da Fonseca Seabra de Melo que agradecendo estendeu-lhe a matildeo Isso
aconteceu no Instituto Nacional de Surdos-Mudos
Francisco nunca mais se esqueceu dessa cena bem da verdade
ele conversava com o senhor Salomatildeo Watnick (jaacute falecido em Porto
Alegre) que foi o primeiro presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos
do Rio Grande do Sul e foi uma grande amizade Como pode estudar
desde cedo em escola especial para Surdos Mudos em Satildeo Paulo e Rio
de Janeiro conhecia muitos surdos tinha amizade e intimidade
oportunizando contato com surdos que tinham lideranccedila e outros grupos
de surdos tendo como consequecircncia aprendido expressotildees palavras
novas da liacutengua de sinais inclusive as variaccedilotildees linguiacutesticas de outras
regiotildees
Francisco foi tratado como amigo pelos senhores Vivaldo Leal de
Merelles e Ciro Garcia de Souza jaacute falecidos que escreveram o
primeiro estatuto da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos do Paranaacute Eles
perguntaram como ganhavam a vida os surdos-mudos que natildeo tiveram a
felicidade de cursar escolas especiais Entatildeo nesta pergunta
encontraram o motivo da existecircncia da associaccedilatildeo e da escola
Francisco fundou o Ciacuterculo dos Surdos-Mudos de Santa Catarina
ndash CSMSC no ano de 1955 Naquele aniversaacuterio de sua entidade os
surdos-mudos de Florianoacutepolis receberam a visita de delegaccedilotildees de
49 O Distrito Federal nessa eacutepoca era o Rio de Janeiro
95
outros Estados No primeiro jogo o CSMSC jaacute ganhou um trofeacuteu no
futebol de campo Outro ganho foi com a Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos
do Paranaacute onde havia muitas variaccedilotildees na liacutengua de sinais e o contato
proporcionou o aprendizado de novos sinais para todos
Em 1961 o Governador Celso Ramos atendia o presidente O
Ciacuterculo dos Surdos-Mudos de Santa Catarina o professor Francisco
Lima Juacutenior acompanhado de outros membros daquela associaccedilatildeo
pleiteava a construccedilatildeo de uma escola para surdos-mudos em nosso
Estado porque ainda natildeo existia nenhuma O ensino de Francisco
desenvolvia o domiacutenio da liacutengua de sinais dos surdos em Santa Catarina
Em Santa Catarina o processo de educaccedilatildeo de surdos se
deu na deacutecada de 50 com serviccedilos implementados na
rede regular de ensino Aconteceu que os surdos
estudaram na escola regular juntamente com alunos
ouvintes e eles natildeo se compreenderam na sala de aula
porque o professor falava a liacutengua portuguesa e oralismo
A liacutengua de sinais era proibida por influecircncia do
congresso de Milatildeo na Itaacutelia em 1880 Os alunos surdos
ficaram isolados dos alunos ouvintes por causa das
barreiras de comunicaccedilatildeo Os ouvintes natildeo conheciam a
cultura e a identidade surda Por exemplo na sala de aula
muitos alunos ouvintes se comunicam em portuguecircs e os
surdos ficam isolados e excluiacutedos na escola dos ouvintes
Porque o surdo procura a intervenccedilatildeo da cultura que se
vive na liacutengua de sinais encontra outros surdos na
comunicaccedilatildeo nos contados entre outros surdos e
consegue juntamente na forccedila poliacutetica dos movimentos
surdos Na verdade o Francisco teve forccedila de vontade
para estudar no INES Ele eacute uma pessoa boa com a
responsabilidade de fundar associaccedilatildeo de surdo A
trajetoacuteria de vida desde a infacircncia marca e registra que
Francisco tem procuraccedilatildeo com o povo surdo do interior
com os contatos na liacutengua de sinais e mais valorizaccedilatildeo da
cultura surda (SCHMITT 2008 p 105)
Foi apresentado para Francisco Lima Juacutenior pelo Governador
Celso Ramos o termo aprovado para contrataccedilatildeo de profissionais para
funcionamento da sala para surdos-mudos em Florianoacutepolis que
funcionou na Escola Celso Ramos localizada na Rua Francisco
Tolentino n0 12 Centro de Florianoacutepolis Esse empreendimento veio
dotar a capital de mais uma escola desta vez destinada aos surdos-
mudos que tambeacutem necessitavam ser atendidos quando se promovia o
crescimento no nuacutemero de escola em nossa terra
96
Em Florianoacutepolis existiam duas escolas para crianccedilas surdas
uma funcionando no grupo Escolar Celso Ramos e outra no grupo
Escolar Barreiros Filho todos a cargos de professores especializados
Nessa eacutepoca os surdos de Florianoacutepolis receberam a visita de um
sacerdote surdo o Padre Vicente de Paulo Penido Burnier natural de
Juiz de Fora Estado de Minas Gerais e tambeacutem do Padre Eugecircnio Oates
nascido em Missouir Estados Unidos Atraiacutedo pela personalidade e pelo
trabalho do padre Vicente o padre Eugecircnio Oates veio para o Brasil em
1946 como missionaacuterio dirigindo-se agrave igreja dos padres redentoristas
sediada em Manaus
Integrou-se na vida brasileira o padre Eugecircnio Oates realizando
campanhas em todo o paiacutes em favor da difusatildeo da linguagem das matildeos
no Rio de Janeiro onde lanccedilou o primeiro livro em 1969
Figura 14 ndash Acervo do Francisco fotografia de Jornal que traz
reportagem sobre o livro Linguagem das Matildeos
Em Florianoacutepolis encaminhavam os surdos-mudos para a
instituiccedilatildeo especializada podia-se procurar o Ciacuterculo dos Surdos-Mudos
de Santa Catarina no grupo escolar Barreiros Filho e no Instituto de
Audiccedilatildeo e Terapia de Linguagem ndash IATEL Fundado no dia 05 de julho
de 1969 o IATEL jaacute funcionava no hospital infantil em instalaccedilotildees
precaacuterias Para que crianccedilas surdas pudessem ter uma vida normal o
professor Francisco Lima Juacutenior trabalhava haacute muitos anos
O Ciacuterculo dos Surdos-Mudos de Santa Catarina comeccedilou a se
movimentar pois na reuniatildeo teve contato com a liacutengua de sinais que
comeccedilou com o discurso depois um jogo divertido que o CSMSC
97
promovia no encontro desta reuniatildeo Tambeacutem ofereceu a renovaccedilatildeo de
matriacuteculas para menores e adultos surdos Reabriu a escola para surdos
menores no periacuteodo da manhatilde e agrave noite para adultos analfabetos Teve
tambeacutem outra reuniatildeo que iniciou com um discurso e apoacutes isso
aconteceu o jogo com os associados
As aulas continuavam normalmente e as reuniotildees tambeacutem
Francisco Lima Juacutenior que era o presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos
do Estado de Santa Catarina era quem organizava o encontro com as
associaccedilotildees de surdos de vaacuterias cidades do estado Havia aleacutem dos
discursos escolha da rainha dos surdos e competiccedilotildees de jogos (futebol
vocirclei) aleacutem de viagens Numa dessas viagens os surdos de Santa
Catarina foram para Satildeo Paulo no festival esportivo numa viagem de
dois dias onde ocorria a silenciosa festividade
O presidente do CSMSC nesta festa fez um discurso para os
amigos surdos de Satildeo Paulo e o vice-presidente do CSMSC deixou seu
cargo porque natildeo quis mais participar destas associaccedilotildees Entatildeo as
aulas continuaram Foi um mecircs em que muitos soacutecios ou alguns estavam
com muito trabalho vinham alguns soacutecios da associaccedilatildeo dos surdos-
mudos para saber das informaccedilotildees da semana no CSMSC Por isso
continuaram alguns surdos realizando o encontro para bate-papo na
liacutengua de sinais todas as quartas-feiras Realizou-se a primeira
comunhatildeo pascoal na capela do Coleacutegio Catarinense rezada pelo padre
Vicente que era surdo no mesmo dia apoacutes a missa de aniversaacuterio do
presidente Francisco
Os alunos surdos entraram em feacuterias mas continuaram os
encontros e reuniotildees onde discursavam e planejavam as atividades
esportivas para o CSMSC apoacutes os jogos que eles faziam todos os
meses Havia reuniotildees com bate-papos na liacutengua de sinais no CSMSC
Numa destas reuniotildees aconteceu um evento importante para os surdos-
mudos que eram associados do CSMSC pois comemoraram a data de
sua inauguraccedilatildeo
Francisco continuava a dar aulas e palestras principalmente sobre
a Independecircncia do Brasil sobre D Pedro I e outros assuntos Na
comemoraccedilatildeo da Independecircncia do Brasil os associados da CSMSC
viajaram para Curitiba e encontraram os amigos surdos de laacute E todos
fizeram um discurso que iniciou com o presidente da CSMSC apoacutes os
representantes de cada sociedade e depois do discurso foi eleita a rainha
da Associaccedilatildeo dos Surdos de Curitiba senhorita Anair Budel Em
seguida o presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos de Curitiba convidou o
professor Francisco Lima Juacutenior presidente do CSMSC para danccedilar a
valsa com a rainha das prendas Anair Budel
98
Francisco contou que o baile foi muito divertido e durou ateacute a
madrugada com o grupo de surdos que conversava muito no encontro
de associaccedilotildees regionais Apoacutes o encerramento do evento visitaram
uma escola de crianccedilas surdas em Curitiba Em 1972 o professor deu
para cada aluno uma cartolina e assim cada um ia imaginar e pintar seu
conhecimento do trabalho para a difusatildeo da liacutengua de sinais Depois na
comemoraccedilatildeo do dia do professor os alunos fizeram uma pequena
homenagem ao professor Francisco
O professor falou sobre o dia do Iacutendio descobrimento do Brasil a
morte de Tiradentes entre outros Na paacutescoa os alunos receberam
presentes de chocolate na semana da paixatildeo foi apresentado o teatro ldquoa
morte de Jesus Cristordquo na liacutengua de sinais por um grupo de surdos para
difundir sua liacutengua
O ensino da liacutengua de sinais em Santa Catarina com os
ensinamentos do professor Francisco proporcionou uma nova fase da
liacutengua de sinais trazendo influecircncias de outras comunidades surdas do
Brasil A partir desse contato o modelo linguiacutestico trazido do Rio de
Janeiro eacute aperfeiccediloado a cada geraccedilatildeo
O Imperial Instituto dos Surdos-Mudos foi de extrema
importacircncia na propagaccedilatildeo da liacutengua de sinais em grande
parte das regiotildees brasileiras O Sr Francisco cidadatildeo
Catarinense foi um aluno desta instituiccedilatildeo apoacutes retornar
ao seu estado de origem ele foi educador de surdos e
responsaacuteveis pela difusatildeo da liacutengua sinalizada usada
nesse instituto (CORREA e SEGALA 2009 p 32)
Durante todo esse tempo o professor Francisco Lima Juacutenior
orienta auxilia e direciona todas as atividades escolares das crianccedilas
jovens e adultos surdos tornando-se assim o primeiro professor dessa
metodologia de ensino - A Linguagem das Matildeos com o objetivo de
criar um alfabeto uacutenico para todos os Surdos do Estado de Santa
Catarina Suas aulas e palestras em LIBRAS tornaram-se muito
populares entre os surdos catarinenses
Eacute importante registrar na histoacuteria da liacutengua de sinais em Santa
Catarina um estudo linguiacutestico e possibilitar a pesquisa sobre o primeiro
professor surdo Francisco que criou o primeiro dicionaacuterio aqui em
Santa Catarina Ele trouxe o modelo do INESRJ (uma experiecircncia na liacutengua de sinais) para nosso estado de Santa Catarina e influenciou a
comunidade surda catarinense
Uma das pessoas surdas da nova geraccedilatildeo eacute a Sandra Luacutecia
Amorim que escreveu um pequeno dicionaacuterio chamado ldquoComunicando
99
a Liberdade - A Liacutengua das Matildeosrdquo em 2000
Concluiacutemos que a Liacutengua Brasileira de Sinais teve forte
influecircncia da liacutengua de sinais francesa (LSF) que tambeacutem influenciou a
liacutengua de sinais em Santa Catarina atraveacutes do professor Francisco que
estudou no INES A LSF eacute uma liacutengua mais antiga do que a LIBRAS
com um acervo bibliograacutefico maior A LIBRAS tem caracteriacutesticas
proacuteprias e estaacute em expansatildeo a partir de sua oficializaccedilatildeo em 2002 pela
necessidade de incluir novos sinais ao aprendizado da comunidade surda
que passou a ter uma maior abertura nas universidades
100
101
CAPIacuteTULO IV ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila na liacutengua de sinais
41 ndash Introduccedilatildeo
Nesta pesquisa tomamos como base teoacuterica os estudos
sociolinguiacutesticos de Labov (2008 [1972]) na concepccedilatildeo de que seu texto
pode nos ajudar a embasar o trabalho de pesquisa Assim tomamos
como base os estudos das liacutenguas orais do autor adaptando-os agraves
variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas das liacutenguas de sinais
O estudo desenvolvido aqui mostra os sujeitos surdos a liacutengua de
sinais algumas possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas Traz
explicaccedilotildees da liacutengua de sinais pelo surdo indiacutecios de variaccedilatildeo e
mudanccedila linguiacutestica apresenta variaccedilotildees linguiacutesticas na liacutengua de sinais
utilizadas pelos surdos e por fim como o surdo se comunica a liacutengua
de sinais em seu contexto social
42 ndash A liacutengua de sinais pelo surdo indiacutecios de variaccedilatildeo e mudanccedila
linguiacutestica
A LIBRAS
50 eacute uma liacutengua usada entre os surdos assim como
entre os ouvintes desde que queiram interagir com esta forma de
comunicaccedilatildeo Ao verificar o acesso dos surdos agrave comunicaccedilatildeo e agrave
expressatildeo de forma criativa pode-se encontrar respostas sobre
mudanccedilas na gramaacutetica em palavras em frases e em seu contexto
social
As liacutenguas mudam todos os dias evoluem mas a essa
mudanccedila diacrocircnica se acrescenta uma outra sincrocircnica
pode-se perceber numa liacutengua continuamente a
coexistecircncia de formas diferentes de um mesmo
significado Essas variaacuteveis podem ser geograacuteficas a
mesma liacutengua pode ser pronunciado diferentemente ou
ter um leacutexico diferente em diferentes pontos do territoacuterio
(CALVET 2002 p 89)
Queremos apresentar algumas variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas a
que os surdos estiveram expostos no primeiro espaccedilo de ensino
promovido pelo professor Francisco Lima Juacutenior (Chiquito) Ele
influenciou para a expansatildeo da liacutengua de sinais da comunidade surda na
50 ldquoEacute uma liacutengua natural eacute atraveacutes dela que os surdos tecircm acesso ao mundo em que vivem No
entanto ela natildeo eacute uma liacutengua que o surdo aprende sozinho Ele pode desenvolver uma liacutengua
102
histoacuteria de Santa Catarina Entatildeo queremos perceber se haacute diferenccedilas
durante sua trajetoacuteria entre a variaccedilatildeo linguiacutestica daquela eacutepoca (1950)
ateacute a atualidade se aconteceram mudanccedilas por influecircncia da
transformaccedilatildeo tecnoloacutegica da sociedade Acreditamos que com o passar
do tempo ocorrem mudanccedilas na liacutengua de sinais histoacuterica e
culturalmente na comunidade surda
As liacutenguas de sinais como todas as liacutenguas satildeo dinacircmicas Em
contato com grupos surdos na comunidade modificam-se ao longo do
tempo como qualquer outra liacutengua A mudanccedila pode ser percebida em
diferentes regiotildees onde o surdo busca a informaccedilatildeo utilizando a liacutengua
de sinais que vem de outro lugar com algumas diferenccedilas entre palavras
e seu significado entre sinais
Quando as pessoas surdas evoluem culturalmente a liacutengua de
sinais se transforma Com o passar do tempo a ldquoLIBRASrdquo tambeacutem se
modifica Na interaccedilatildeo do indiviacuteduo surdo na comunidade surda e na
sociedade essas relaccedilotildees de contato fazem com que se criem novos
sinais pois aparecem palavras novas e outros sinais sofrem adaptaccedilotildees
ocorrem mudanccedilas na configuraccedilatildeo de matildeos no ponto de articulaccedilatildeo
no movimento na orientaccedilatildeodirecional na expressatildeo facial e corporal
Essas adaptaccedilotildees satildeo criadas pela necessidade no contato e na situaccedilatildeo
de uso A comunidade surda como qualquer outra vem evoluindo e se
transformando firmando uma identidade surda
Como jaacute ressaltamos a origem da liacutengua de sinais no Brasil eacute
europeacuteia Sua maior influecircncia foi no Rio de Janeiro no Instituto
Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos ndash INESRJ onde se expandiu para os
demais estados brasileiros Recebeu influecircncia tambeacutem do Francecircs do
Portuguecircs (Portugal) e dos Estados Unidos O Instituto pesquisou a
influecircncia cultural dos surdos e as influecircncias sofridas quanto a
LIBRAS Assim como na Liacutengua Portuguesa acontecem modificaccedilotildees
na escrita e na fala com o tempo na liacutengua de sinais tambeacutem ocorrem
transformaccedilotildees quanto agrave configuraccedilatildeo de matildeos A liacutengua de sinais
evolui com mudanccedila constante em cada regiatildeo e a comunicaccedilatildeo do
surdo acompanha e qualifica mais a liacutengua de sinais A LIBRAS sofre
modificaccedilotildees com o tempo e tambeacutem como na liacutengua falada apresenta
palavras ou expressotildees proacuteprias do lugar onde acontece a comunicaccedilatildeo
Sendo assim o surdo natildeo tem o contato com a LIBRAS longe da
sociedade ou na zona rural nesse caso pode se apropriar de sinais
proacuteprios para a comunicaccedilatildeo ex Francisco buscava os surdos nas
regiotildees de Santa Catarina pois o contato com a LIBRAS eacute importante
para a sua identidade cultural
103
Realmente pode-se considerar que essas diferentes
palavras se dividem em seu uso em uma escala de faixas
etaacuterias os jovens diriam banheiro seus pais wc e seus
avoacutes reservados por exemplo Pode-se entatildeo imaginar
que eles se dividam segundo o sexo dos falantes os
homens dizendo mais banheiro e wc e as mulheres
toalete e reservado (CALVET 2002 p 103)
A LIBRAS eacute uma liacutengua porque possui estrutura gramatical
proacutepria eacute essencial para o surdo o contato em relaccedilatildeo ao outro como
em qualquer outra liacutengua que tem diferenccedilas gramaticais Utilizando o
movimento de sinal e a expressatildeo facial como meio de comunicaccedilatildeo o
surdo se comunica tanto com a comunidade surda quanto com a ouvinte
O contato dos jovens com os ensinamentos do professor
Francisco proporcionou uma nova fase da liacutengua de sinais A partir
desse contato o modelo linguiacutestico trazido do Rio de Janeiro eacute
aperfeiccediloado pela geraccedilatildeo mais nova do mesmo modo que descreve
Calvet (2002) nos estudos de liacutengua oral
- a ideacuteia de pesquisa uma (s) variaacutevel (eis) frequente (s)
que geralmente aparecem na estrutura linguumliacutestica
variaacuteveis cuja distribuiccedilatildeo deve ser fortemente
estratificada ldquoIsso equivale a dizer que as pesquisas
preliminares deveriam indicar a seu respeito uma
distribuiccedilatildeo assimeacutetrica entre as mais diversas faixas
etaacuterias ou entre outras categorias mais hierarquizadas da
sociedaderdquo - o estabelecimento de uma metodologia que
extrai essas variaacuteveis dos textos produzidos pelos
falantes - a pesquisa da correlaccedilatildeo entre essa
distribuiccedilatildeo de traccedilos linguiacutesticos e uma distribuiccedilatildeo de
traccedilos socioloacutegicos (CALVET 2002 p 93)
Na citaccedilatildeo acima o autor relata que eacute preciso pensar a construccedilatildeo
de identidade levando em conta diferentes faixas etaacuterias e a variaccedilatildeo
linguiacutestica Entendemos assim a necessidade de pesquisarmos as
variaccedilotildees ocorridas em Santa Catarina
A LIBRAS possui uma forma de comunicaccedilatildeo proacutepria Eacute
independente como qualquer outra liacutengua escrita ou falada Tem o
formato proacuteprio na sua comunicaccedilatildeo que eacute o visual pois se utiliza de
sinaisgestos e expressotildees Todos os seres humanos usam um
determinado tipo de liacutengua e linguagem para se comunicar e tanto a
liacutengua falada quanto a sinalizada apresentam sentidos de expressotildees
104
diferentes na comunicaccedilatildeo A liacutengua de sinais muda histoacuterica e
linguisticamente conforme as variaccedilotildees de cada lugar ou regiatildeo Entatildeo
eacute importante a relaccedilatildeo estabelecida com outras pessoas na sociedade na
troca de informaccedilatildeo ideias experiecircncias ensinamentos e aprendizagem
quando se fala uma liacutengua Quando pensamos as liacutenguas percebemos
que existem diferenccedilas na LIBRAS e no Portuguecircs
Frishberg (1975)51
no seu estudo pesquisado no Instituto Teacutecnico
Nacional para Surdos de Nova Iorque aborda como a Liacutengua de Sinais
Americana (ASL) tem mudado gradativamente ao longo do tempo de
uma linguagem mais icocircnica para uma linguagem mais arbitraacuteria Eacute a
liacutengua natural da comunidade surda nos Estados Unidos e em partes do
Canadaacute onde o inglecircs eacute falado Difere das duas liacutenguas que a maioria
das pessoas conhece no sentido de que eacute produzida com as matildeos e
percebida pelos olhos em vez de pronunciado e percebido pelos
ouvidos Entatildeo ela realizou a sua pesquisa sobre alguns processos
histoacutericos em Liacutengua de Sinais onde havia uma forte tendecircncia para
certas mudanccedilas Como toda liacutengua as liacutenguas de sinais aumentam seu
inventaacuterio lexical com novos sinais introduzidos pelas comunidades
surdas em respostas agraves mudanccedilas culturais e tecnoloacutegicas
A liacutengua de sinais possui estrutura gramatical como qualquer
liacutengua utiliza paracircmetros e como todas as liacutenguas tem variaccedilotildees no
niacutevel fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico e pragmaacutetico Por
isso pode-se perceber a mudanccedila cotidiana na liacutengua de sinais A pessoa
surda traz do seu contato cultural dos grupos nos quais estaacute inserida
novos olhares desta liacutengua muitas vezes transformando sinais jaacute
existentes em novos sinais
Quadros e Karnopp (2004) dizem que as liacutenguas de sinais
recebem informaccedilotildees linguiacutesticas pelos olhos e satildeo produzidas pelas
matildeos O termo fonologia tem sido muito usado para estudar os
elementos das liacutenguas de sinais Apesar da diferenccedila com as liacutenguas
orais as duas liacutenguas tecircm os mesmos princiacutepios subjacentes de
construccedilatildeo Poreacutem existe um esquema linguiacutestico estrutural nas liacutenguas
de sinais que natildeo tem significado se feito isoladamente que eacute
51 Nancy Frishberg eacute consultora em Liacutengua de Sinais e Interpretaccedilatildeo Ela tem PhD em
linguiacutestica pela Universidade da Califoacuternia San Diego onde sua pesquisa de doutorado focada
em mudanccedila histoacuterica em Liacutengua de Sinais Americana ndash ASL Seu trabalho de dissertaccedilatildeo demostrou que os sinais seguem princiacutepios linguiacutesticos como elas mudam ao longo do tempo
com o uso Seu livro de 1986 ldquoInterpretaccedilatildeo Um Introduccedilatildeordquo que ainda estaacute em versatildeo
impressa eacute o texto principal em muitos programas de treinamento inteacuterprete e serve como base para o exame escrito (primeira etapa) para certificaccedilatildeo pelo Registro de Inteacuterpretes para
Surdos
105
Configuraccedilatildeo de Matildeos (CM) Locaccedilatildeo (L) e Movimento (M) A
LIBRAS eacute basicamente feita com as matildeos (direita ou esquerda) tendo
tambeacutem movimento do corpo e da face A CM L e M se contrastam
minimamente alterando o significado dos sinais
A ASL tem a sua proacutepria gramaacutetica e fonologia Na liacutengua de
sinais eacute o estudo dos movimentos manuais baacutesicos que fornece a base
para todos os sinais sintaxe e morfologia na liacutengua falada A morfologia
estuda como as palavras satildeo formadas a partir de sons e palavras
baacutesicas Na liacutengua de sinais eacute o estudo de como os sinais manuais
baacutesicos representam conceitos A liacutengua americana de sinais eacute uma
liacutengua visual que incorpora gestos expressotildees faciais movimentos da
cabeccedila linguagem corporal e ateacute o espaccedilo ao redor do falante Os sinais
manuais satildeo a base desta liacutengua Muitos deles satildeo icocircnicos o que
significa dizer que o sinal usa uma imagem visual que se parece com o
conceito que representa
Wescott (1971 Frishberg) sugere que todas as formas de liacutengua
(oral escrita e gestual) usam iconicidade Ele diz que a iconicidade eacute um
sinal familiar (caseiro) em vez de uma caracteriacutestica absoluta de
qualquer sistema de comunicaccedilatildeo incluindo a liacutengua
Segundo Frishberg um sinal pode ser especificado atraveacutes de
quatro paracircmetros simultaneamente configuraccedilatildeo de matildeo movimento
ponto de articulaccedilatildeo (ou localizaccedilatildeo) e orientaccedilatildeo Essas descriccedilotildees de
paracircmetro servem para poder distinguir alguns sinais de outros similares
e dar sentido agrave frase num todo como por exemplo os sinais HOJE e
AGORA diferem no paracircmetro movimento mas satildeo iguais na
configuraccedilatildeo de matildeos e na localizaccedilatildeo A alteraccedilatildeo entre esses
paracircmetros pode significar uma completa alteraccedilatildeo no sentido de
algumas palavras Por exemplo o sinal correspondente agrave ldquoMACcedilAtilderdquo pode
significar ldquoQUEIJOrdquo se houver apenas uma mudanccedila na configuraccedilatildeo
de matildeos novamente ldquoMACcedilAtilderdquo pode significar ldquoCURSOrdquo se houver
diferenccedila no local e por fim ldquoMACcedilAtilderdquo pode significar ldquoCUBArdquo se
houver variaccedilatildeo no movimento Esses satildeo pares-miacutenimos encontrados
na LIBRAS A orientaccedilatildeo conforme aplicada tambeacutem pode alterar o
significado de uma palavra Seguem os exemplos na liacutengua de sinais
106
Figura 15 ndash Mostrar os Sinais
As autoras Quadros e Karnopp (2004 p 78) dizem que as
restriccedilotildees fonoloacutegicas requeridas para a boa formaccedilatildeo de sinais podem
ser produzidas pelas matildeos como a) sinais produzidos com uma das
matildeos b) sinais produzidos com as duas matildeos ambas ativas e c) sinais produzidos com as duas matildeos em que a matildeo dominante eacute ativa e a matildeo
natildeo-dominante serve como locaccedilatildeo
Para Battison (1978 Quadros e Karnopp (2004)) haacute duas
restriccedilotildees fonoloacutegicas na produccedilatildeo dos tipos de sinais a) a condiccedilatildeo de
107
simetria e b) a condiccedilatildeo de dominacircncia Quando as duas matildeos se
movem na produccedilatildeo de um uacutenico sinal CM deve ser a mesma para as
duas matildeos a locaccedilatildeo deve ser a mesma ou simeacutetrica o movimento deve
ser simultacircneo ou alternado Jaacute na condiccedilatildeo de dominacircncia as matildeos
apresentam diferentes configuraccedilotildees e entatildeo a matildeo ativa produz o
movimento e a matildeo passiva serve de apoio
A importacircncia dessa transferecircncia de movimento do rosto ou
corpo para as matildeos deve ser ressaltada bem como a concentraccedilatildeo para
uma sinalizaccedilatildeo de faacutecil entendimento Alguns sinais continuam sendo
motivados para uma mudanccedila dentre eles WILL (indica o futuro)
CARE (cuidado) TEDIOUS (tedioso) FINDFAULT (criticar) e
MEET (encontrar) Nessas mudanccedilas satildeo observadas algumas
caracteriacutesticas corporais tais como movimentos ordenados dos dedos e
matildeos deslocamento lateral da cabeccedila e movimentos do toacuterax
Pesquisei outro exemplo no curso de LetrasLIBRAS sobre a
variaccedilatildeo fonoloacutegica ldquoOs sinais FUNNY (engraccedilado) BLACK (preto)
e BORING (chato) satildeo exemplos de variaccedilatildeo fonoloacutegica pois esses
sinais podem ser realizados de duas formas soacute com o indicador
distendido e os outros dedos fechados ou com o
indicador e o polegar distendidos e os demais dedos fechadosrdquo
108
Figura 16 ndash Variaccedilatildeo fonoloacutegica
Outro exemplo interessante dos autores Woodward e Desantis
(1976) satildeo sinais que podem ser realizados tanto com uma matildeo quanto
com duas matildeos como os sinais CAT (gato) COW (vaca) e FAMOUS
(famoso) que satildeo produzidos no rosto
CAT COW
FAMOUS
(TENNANT amp BROWN 2004)
Figura 17 ndash Mostrar os sinais com uma matildeo e com duas matildeos
109
Vamos conhecer e refletir sobre as variaccedilotildees dos surdos
essencialmente com relaccedilatildeo agrave liacutengua de sinais
Klima e Bellugi (1979) representam uma pesquisa fonoloacutegica na
liacutengua de sinais do ASL A ASL ndash American Sign Language eacute a liacutengua
natural da comunidade surda nos Estados Unidos Os autores
identificam na liacutengua de sinais apenas trecircs paracircmetros configuraccedilatildeo de
matildeo (CM) ponto de articulaccedilatildeo (ou localizaccedilatildeo) (L) movimento (M)
que ao serem analisados individualmente natildeo satildeo possuidores de
significado e a outra autora Brito (1995) no Brasil pesquisou partes dos
paracircmetros primaacuterios a configuraccedilatildeo das matildeos o ponto de articulaccedilatildeo e
o movimento e tambeacutem os paracircmetros secundaacuterios52
a regiatildeo de
contato a orientaccedilatildeo das matildeos e a disposiccedilatildeo das matildeos
Segundo Frishberg em se tratando de tendecircncia para a simetria a
liacutengua toma vaacuterias formas Examinando o seu desenvolvimento em dois
paracircmetros matildeo-forma e movimento nota-se que ambas as matildeos agem
em uniacutessono e uma matildeo age sobre a outra As matildeos assumiram a mesma
configuraccedilatildeo Pode-se ver que alguns sinais mudam sua forma de
expressatildeo antes era com apenas uma das matildeos e agora se tornam as
duas
Eacute claro que os sinais tendem a seguir mudanccedilas ao longo da
histoacuteria Por exemplo para sinais no rosto tendem a utilizar apenas uma
matildeo deixando a face mais visiacutevel e permitindo que os olhos expressem
uma variedade de fins gramaticais Jaacute para os sinais na aacuterea do tronco
geralmente usam as duas matildeos ndash o que muitas vezes eacute sinal de
redundacircncia e simetria
Segue o exemplo da liacutengua de sinais do ASL
52 BRITO (1995) Regiatildeo de Contato ldquoRefere-se agrave parte da matildeo que entra em contato com o corpo Esse contato pode-ser dar maneiras diferentes atraveacutes de um toque de um risco de um
deslizamento etcrdquo
Orientaccedilatildeo das Matildeos ldquoEacute a direccedilatildeo da palma da matildeo durante o sinal voltada para cima para
baixo para o corpo para frente para esquerda ou para a direita Pode haver mudanccedila na
orientaccedilatildeo durante a execuccedilatildeo do Movimentordquo
Disposiccedilatildeo das Matildeos ldquoA articulaccedilatildeo dos sinais pode ser feita apenas pela matildeo dominante ou
pelas duas matildeos Neste uacuteltimo caso as duas matildeos podem se movimentar para formar o sinal ou entatildeo apenas a matildeo dominante se movimenta e a outra funciona como Ponto de
Articulaccedilatildeordquo
110
Figura 18 ndash Sinal de Paacutessaro
Para o sinal de PAacuteSSARO em um primeiro momento utiliza-se
uma das matildeos na aacuterea da face para o sinal ldquobicordquo e em seguida as duas
matildeos (uma para cada lado) em forma de asas Por fim o sinal
PAacuteSSARO hoje eacute apenas representado pela primeira parte (bico em
matildeo uacutenica)
A histoacuteria documentada da liacutengua americana de sinais natildeo eacute
longa existe uma seacuterie de gestos registrados ao longo da histoacuteria mas
foi somente no final do seacuteculo XVIII que os surdos foram considerados
educaacuteveis
Segundo Frishberg ldquoHomesignrdquo (sinais caseiros) eacute um termo
geral utilizado pela comunidade surda para se comunicar poreacutem eacute uma
forma bastante utilizada principalmente pelas matildees em aacutereas rurais que
tecircm filhos surdos Dados estatiacutesticos mostram que 80 a 90 dos surdos
nascem de pais ouvintes por essa razatildeo haacute uma necessidade inevitaacutevel
de comunicaccedilatildeo A partir dessa necessidade as matildees principalmente
precisam encontrar maneiras de se comunicar com os filhos e passam a
criar sinais de forma empiacuterica sem qualquer regra ou seja sinais natildeo
padronizados Tais sinais inventados passam a criar certas dificuldades
111
de comunicaccedilatildeo entre as diferentes comunidades de surdos Existe a
ASL (Liacutengua de Sinais Americana) com uma linguagem jaacute padronizada
que comeccedila a ser difundida e ensinada atraveacutes das escolas americanas
com sinais padronizados
A liacutengua de sinais padronizada enfrenta ainda dificuldade pois
algumas escolas eram proibidas politicamente de ensinar atraveacutes da
metodologia da ASL O fato eacute que outras escolas mesmo sem a devida
autorizaccedilatildeo comeccedilam a ensinar a liacutengua padronizada Os surdos
comeccedilam a aprender a liacutengua padratildeo mas continuam a se comunicar em
casa com os familiares usando o ldquohomesignrdquo (sinais caseiros) A
comunicaccedilatildeo ensinada em casa requeria a utilizaccedilatildeo de vaacuterios recursos
ambientais para a comunicaccedilatildeo entretanto havia a dificuldade de
encontrar referecircncia para as cores nos recursos ambientais pois para se
referir a uma cor eles deveriam encontraacute-lo na natureza aproximar-se o
suficiente para apontar e fazer a associaccedilatildeo com a cor
Historicamente pode-se afirmar que ao longo do tempo a forma
de comunicaccedilatildeo entre a comunidade surda vem mudando
constantemente teacutecnicas e sinais vecircm sendo aperfeiccediloados Ao inveacutes de
gestos natildeo-estruturados o que encontramos eacute uma gama de sinais e
movimentos de matildeos regularizados ou seja inter-relacionados
conjunto sistematizado de sinais que estaacute passando por mudanccedilas de
forma regular e formal
Quadros e Karnopp (2004 p 51) observam que os articuladores
primaacuterios das liacutenguas de sinais satildeo as matildeos estas se movimentam em
um espaccedilo determinado em frente ao corpo Um sinal pode ser
articulado com uma ou duas matildeos ou seja um mesmo sinal pode ser
articulado tanto com a matildeo direita quanto com a esquerda Mas precisa-
se levar em conta que sinais efetuados com as duas matildeos apresentam
restriccedilotildees em relaccedilatildeo ao tipo de interaccedilatildeo entre as matildeos De acordo
com Brito (1995) a LIBRAS apresenta 46 Configuraccedilotildees de Matildeos
(CMs) mas nem todas as liacutenguas de sinais partilham do mesmo nuacutemero
de configuraccedilotildees de matildeos Seguem quatro imagens de configuraccedilotildees de
matildeos difundidas no Brasil
112
As Configuraccedilotildees de Matildeos da LIBRAS
Figura 19 Figura 20
Figura 19 e 20 ndash Ferreira-Brito e Langevin (1995 p220)
Figura 21 Figura 22
Figura 21 ndash httpwwwinesgovbrlibrasprincipalaspASSU_id=3
Figura 22 ndash Quadro de CMs da LSB por Pimenta e Quadros (2006 p 73)
113
Um aspecto recorrentemente discutido eacute a iconicidade dos sinais
ndash em oposiccedilatildeo agrave arbitrariedade da relaccedilatildeo entre significado e
significante observada na constituiccedilatildeo do signo linguiacutestico em liacutenguas
orais Reconhecendo nas liacutenguas de sinais a iconicidade a par da
arbitrariedade (e remetendo a estudos que demonstram por exemplo a
dificuldade por parte de informantes de deduzirem significados em
relaccedilatildeo a muitas formas aparentemente icocircnicas) as autoras (Ferreira-
Brito e Langevin Pimenta e Quadros) destacam o fato de que signos
icocircnicos sofrem mudanccedilas as quais frequentemente ldquotendem a inibir a
natureza icocircnica dos sinais tornando-os mais arbitraacuterios atraveacutes dos
temposrdquo
Embora os demais sinais natildeo-manuais sejam realizados de forma
muitas vezes equivocada quando estes satildeo de forma simples como
afirmativa negativa e exclamativa natildeo haacute um comprometimento do
significado na sentenccedila Mas quando associados a outras formas o
equiacutevoco na execuccedilatildeo da expressatildeo facial provoca uma mudanccedila no
significado da sentenccedila passando esta a pertencer a outra classe
As liacutenguas orais modificam-se como no caso das palavras que
caem em desuso outras que satildeo adquiridas aumentando o vocabulaacuterio
e ainda mudando de significado das palavras O mesmo acontece nas
liacutenguas de sinais a fim de responder agraves necessidades que a evoluccedilatildeo
soacutecio-cultural impotildee
A ASL por sua vez estaacute seguindo a teoria citada acima
substituindo seus iacutecones por siacutembolos que de maneira geral tendem a
ser menos transparentes e icocircnicos pois se tornam mais arbitraacuterios
siacutembolos convencionais
Com o passar do tempo ocorrem muitas mudanccedilas nas liacutenguas
para suprir as necessidades de comunicaccedilatildeo e as modificaccedilotildees de
costumes de cada geraccedilatildeo Assim novos sinais satildeo criados de acordo
com a necessidade de cada grupo
Na verdade temos que pesquisar a liacutengua de sinais em Santa
Catarina observar o sujeito surdo em diferentes faixas etaacuterias
investigando o surgimento do primeiro espaccedilo de identidade cultural do
surdo em contexto social e acessando gramaticalmente a liacutengua de
sinais Esse espaccedilo foi conquistado pela poliacutetica linguiacutestica que assegura
o envolvimento com a liacutengua de sinais que estaacute se expandindo na
sociedade em nosso estado catarinense
Como toda liacutengua a LIBRAS sofre influecircncia das mudanccedilas
histoacutericas e culturais as liacutenguas satildeo dinacircmicas e natildeo estaacuteticas por isso
elas vivem sofrendo alteraccedilotildees e com as liacutenguas de sinais ocorre o
mesmo Essas mudanccedilas podem ser percebidas nas diferentes regiotildees
114
onde satildeo utilizadas as mesmas liacutenguas em que haacute algumas diferenccedilas
em algumas palavras ou expressotildees Mas como tem sido a participaccedilatildeo
do registro na comunicaccedilatildeo do surdo neste espaccedilo linguiacutestico e histoacuterico
cultural na liacutengua de sinais
Calvet (2002) mostra relaccedilotildees entre a liacutengua e a sociedade
fornecendo embasamento agraves explicaccedilotildees sobre as variaccedilotildees
sociolinguiacutesticas o que nos permite fazer uma comparaccedilatildeo das
descriccedilotildees agraves influecircncias externas e internas que a liacutengua de sinais de
Santa Catarina sofreu ateacute chegar ao estaacutegio em que se encontra
atualmente expandido em LIBRAS
Eacute importante registrar a nova histoacuteria da liacutengua de sinais suas
variaccedilotildees e o seu potencial transformador na realidade da comunidade
surda
O sistema linguiacutestico eacute heterogecircneo e as variaccedilotildees podem ser
observadas sob vaacuterios aspectos Sob o ponto de vista diacrocircnico
podemos observar o processo de sistematizaccedilatildeo linguiacutestico de alguns
gestos extralinguiacutesticos usados por usuaacuterios de liacutengua oral auditiva
que foram lexicalizados na LIBRAS tais como os gestuais que
correspondem ao significado de LOUCO ADEUS POSITIVO etc
Por outro lado sob uma perspectiva sincrocircnica vaacuterias formas
podem ser alternadas e podem representar aleacutem disso uma variaccedilatildeo
diatoacutepica53
e a variaccedilatildeo diafaacutesica54
Essas variaccedilotildees referem-se a
variaacuteveis geograacuteficas podem coexistir duas ou mais formas com um
mesmo significado Eacute o caso do sinal CULTURA (matildeo em ldquo5rdquo na testa
ou matildeo em ldquoCrdquo ao longo do braccedilo de apoio) Essas variantes podem
identificar usuaacuterios provindos do Sul e Centro-Oeste respectivamente e
em outras regiotildees por apresentarem sinais diferentes
Em geral um dialeto abrange uma zona ou regiatildeo territorial que
pode ou natildeo coincidir com as fronteiras ou barreiras geograacuteficas No
53 Variaccedilatildeo diatoacutepica eacute a regional quando haacute elementos diferentes dentro de um mesmo territoacuterio linguiacutestico mas natildeo necessariamente dentro de um mesmo dialeto Nem sempre os
elementos detentos de variaccedilotildees diatoacutepicas concorrem a menos quando haacute fortes migraccedilotildees
dentro de um mesmo territoacuterio Podem ocorrer interferecircncias mais incisivas quando determinadas regiotildees possuem destaque econocircmico poliacutetico social e cultural
54 Variaccedilatildeo diafaacutesica eacute a situacional relativa agraves diferentes monitoraccedilotildees do falante nas diferentes situaccedilotildees de interaccedilatildeo Exemplo uma pessoa estaraacute mais monitorada em seu
ambiente de trabalho do que nas interaccedilotildees realizadas em ambiente domeacutestico A variaccedilatildeo
diafaacutesica vem da afirmaccedilatildeo LABOVIANA de que natildeo haacute falante de estilo uacutenico A produccedilatildeo linguiacutestica eacute dependente do contexto social
115
Brasil existem vaacuterios dialetos55
(ou variedades) em comunidades de
ouvintes onde se fala a Liacutengua Portuguesa com diferentes usos Ex
bergamota vergamota e tangerina Palavras variaacuteveis acontecem em
vaacuterias regiotildees e podem ser usadas por motivaccedilatildeo social e ou regional A
seguir algumas variaccedilotildees linguiacutesticas que ocorrem na LIBRAS Ex o
sinal de Cultura SC SP e RJ Seguem os sinais
Figura 23 ndash Sinal ldquoCultura em SCrdquo
Figura 24 ndash Sinal ldquoCultura em SPrdquo
Figura 25 ndash Sinal ldquoCultura em RJrdquo
55 Variedade ndash ldquoa fala de uma comunidade de modo global considerando-se todas as suas particularidades tanto categoacutericas quanto variaacuteveis o mesmo que dialeto ou falarrdquo COELHO
et al (2010 p 166)
116
Um outro exemplo de variaccedilatildeo diatoacutepica no leacutexico do portuguecircs
pode ser observado na diferenccedila entre MACAXEIRA (Norte e
Nordeste) MANDIOCA (Sudeste e Centro-Oeste) e AIPIM (Sul)
A liacutengua de sinais tem uma importacircncia muito significativa para a
comunicaccedilatildeo entre surdos e tambeacutem entre surdos e ouvinte pois sem a
liacutengua de sinais dificultaria a comunicaccedilatildeo e os surdos natildeo conseguiriam
viver na comunidade
A LIBRAS possui forma clara e definida em sua estrutura
gramatical que se estabelece no dia a dia dos que a utilizam Suas vaacuterias
formas sua estrutura o grupo que a utiliza a influecircncia social e
geograacutefica torna a LIBRAS uma liacutengua como qualquer outra pois
realiza a verdadeira funccedilatildeo de comunicar Como Calvet (2002 p 89)
explica variaacuteveis linguiacutesticas satildeo muito usadas em todas as liacutenguas
ldquoDeste modo um reacuteptil comum em todo o Brasil eacute chamado de ldquoosgardquo
na regiatildeo Norte ldquobribardquo ou ldquoviacuteborardquo no Nordeste e ldquolagartixardquo no
Centro-Sul56
rdquo
43 ndash As variaccedilotildees linguiacutesticas na liacutengua de sinais
Uma definiccedilatildeo geral sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica na liacutengua de
sinais torna-se necessaacuteria para melhor aproveitamento desta pesquisa Eacute
importante considerar os dialetos regionais natildeo soacute usados em regiotildees
diferentes no contato social mas no espaccedilo de uso cultural da liacutengua
influenciando o surdo
A Liacutengua de Sinais Americana (ASL) eacute diferente da Liacutengua de
Sinais Britacircnica (BSL) que por sua vez eacute diferente da Liacutengua de Sinais
Argentina e tambeacutem da Liacutengua de Sinais Francesa (LSF) Verificamos
que nos demais paiacuteses tambeacutem satildeo diferentes as liacutenguas de sinais e as
variaccedilotildees linguiacutesticas no contexto social dos surdos no mundo
(STROBEL e FERNANDES 1998) Observe
Ex
56 O exemplo do autor eacute o seguinte ldquoDesse modo um objeto simples como a serpiliegravere peccedila de pano usada para limpar o chatildeo pode tambeacutem ser chamada de panosse (na Saboacuteia e na
Suiacuteccedila) wassingue (no Norte) torchon (no leste) since (no sudeste)rdquo
117
NOME
ASL LIBRAS
Figura 26 ndash Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo ndash Depto Educaccedilatildeo
Especial ndash CuritibaPR SEEDSUEDDEE
Aleacutem disso dentro de um mesmo paiacutes haacute as variaccedilotildees regionais
Na LIBRAS tambeacutem existem dialetos regionais salientando assim uma
vez mais o seu caraacuteter de liacutengua natural
Os povos57
surdos satildeo influenciados pelos contatos nas liacutenguas de
sinais Em cada regiatildeo o surdo se comunica A liacutengua difere quanto ao
dialeto social e cultural Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica em LIBRAS
As variaccedilotildees linguiacutesticas relacionadas ao contexto satildeo chamadas
de variaccedilotildees estiliacutesticas ou registro Os paracircmetros de variaccedilatildeo
linguiacutestica satildeo diversos no ato de interagir verbalmente um falante
utilizaraacute a variedade linguiacutestica relativa agrave sua regiatildeo de origem classe
social idade escolaridade sexo ou ainda acrescenta-se sua condiccedilatildeo
adaptativa de origem como no caso da pessoa surda
O professor Francisco participou do grupo surdo de outras regiotildees
dos estados de Santa Catarina Paranaacute Rio Grande do Sul Satildeo Paulo
Rio de Janeiro e Minas Gerais em contato com a liacutengua de sinais e suas
variaccedilotildees linguiacutesticas No dialeto regional haacute variaccedilatildeo linguiacutestica
diferenccedilas percebidas no espaccedilo cultural do surdo nas situaccedilotildees de
conversa na associaccedilatildeo escola e comunidade Os sujeitos surdos que
relataram o depoimento para a pesquisa sobre a liacutengua de sinais falavam da importacircncia do Francisco para a comunidade surda de SC
57 O povo surdo segundo STROBEL (2006) refere-se ao conjunto de sujeitos que natildeo habitam
no mesmo local mas que estatildeo ligados por uma origem tais como a cultura surda costumes e interesses semelhantes histoacuterias e tradiccedilotildees comuns e qualquer outro laccedilo
118
No mundo haacute pelo menos uma liacutengua de sinais usada
amplamente na comunidade surda de cada paiacutes diferente da liacutengua
falada utilizada na mesma aacuterea geograacutefica Isto se daacute porque essas
liacutenguas de sinais satildeo independentes das liacutenguas orais pois foram
produzidas dentro das comunidades surdas (STROBEL e
FERNANDES 1998)
Pode ser considerado como sotaque na liacutengua de sinais as
variaccedilotildees linguiacutesticas e costume cultural diferentes de cada regiatildeo
Entatildeo Francisco trouxe a experiecircncia do contato com outras regiotildees
para o grupo de surdos de SC na comunicaccedilatildeo em liacutengua de sinais
44 ndash O surdo se comunica a liacutengua de sinais no contexto social
O dialeto social refere-se a variaccedilotildees de configuraccedilatildeo das matildeos
eou de movimento natildeo modificando o sentido do sinal (STROBEL e
FERNANDES 1998) Dependendo da situaccedilatildeo de uso da comunicaccedilatildeo
do surdo na liacutengua de sinais a variaccedilatildeo pode ser observada atraveacutes da
configuraccedilatildeo das matildeos como em
Ex
Figura 27 ndash Sinal de Ajudar
119
Figura 28 ndash Sinal de Faltar
Figura 29 ndash Sinal de Ocircnibus
Figura 30 ndash Sinal de Sonhar
120
Nem todos os usuaacuterios de uma liacutengua falam do mesmo
jeito por isto todas as liacutenguas naturais possuem
variaccedilotildees linguiacutesticas A LIBRAS tambeacutem apresenta
dialetos regionais reforccedilando seu caraacuteter de liacutengua
natural As variaccedilotildees na LIBRAS ocorrem de vaacuterias
formas como alteraccedilotildees na configuraccedilatildeo de matildeos (forma
que a matildeo assume na realizaccedilatildeo do sinal) ou na
localizaccedilatildeo espacial do sinal (local onde o sinal eacute
realizado) sem que seu sentido e significado sejam
perdido ou modificados Tambeacutem haacute sinais diferentes
para representar um mesmo referente usando em
diferentes regiotildees do paiacutes agraves vezes do mesmo estado
(BASSO e SCHMITT 2007 p 50 e 51)
O valor social58
das formas em variaccedilatildeo se estabelece nas
relaccedilotildees sociais e na avaliaccedilatildeo do que pode ser considerada uma
variedade de prestiacutegio ou uma variedade estigmatizada Estilos formais
ou distensos podem ser identificados a partir de um estudo da variaccedilatildeo
das formas no contexto social Estudos sobre o portuguecircs falado
mostram por exemplo que jovens mais favorecidos tendem a fazer
mais concordacircncia verbal em oposiccedilatildeo aos menos favorecidos que
tendem a usar menos concordacircncia Isso mostra o fator externo
(mercado de trabalho ou situaccedilatildeo) e a necessidade de o falante se
adequar ao valor linguiacutestico de concordacircncia considerado como de
prestiacutegio nesse espaccedilo Podemos concluir que a LIBRAS como
qualquer outra liacutengua apresenta variaccedilatildeo e mudanccedila mas ainda
precisamos aprofundar os estudos linguiacutesticos dessa liacutengua para melhor
conhececirc-la em seus diferentes aspectos (lexicais fonoloacutegicos
morfoloacutegicos e sintaacuteticos) O capiacutetulo 6 traraacute uma descriccedilatildeo sobre
alguns desses aspectos em variaccedilatildeo e mudanccedila Acreditamos que com a
proposta biliacutengue para a educaccedilatildeo de surdos a liacutengua portuguesa e a
LIBRAS teratildeo uma relaccedilatildeo cada vez mais intensa e o contato dessas
duas liacutenguas pelos surdos vai acarretar com toda a certeza trocas
linguiacutesticas entre elas o que pode provocar novas transformaccedilotildees
58 Valor social eacute relativo aos problemas de avaliaccedilatildeo e eacute atribuiacutedo pelos proacuteprios falantes e
usuaacuterios de liacutengua de sinais ou seja eacute sempre de ordem social (nunca linguiacutestica) Valor
atribuiacutedo desenha o futuro das formas concorrentes jaacute que a forma eleita eacute sempre a que recebe maior valor e que muitas vezes corresponde agraves formas adotadas pela elite econocircmica poliacutetica
social ou cultural de uma dada comunidade (surda)
121
CAPIacuteTULO V ndash Metodologia
51 ndash Introduccedilatildeo
Investigarei a histoacuteria da liacutengua de sinais em Santa Catarina e as
variaccedilotildees e mudanccedilas fonoloacutegicas e lexicais ocorridas no periacuteodo que
compreende 1946 aos dias atuais fazendo comparaccedilotildees entre sinais que
aparecem nos relatos de experiecircncias em trecircs geraccedilotildees de surdos
pesquisadas
A metodologia utilizada para esta pesquisa foi a de coleta de
dados atraveacutes de perguntas e depoimentos dos surdos envolvidos nas
trecircs geraccedilotildees das uacuteltimas deacutecadas A coleta de dados de informantes59
foi realizada com o objetivo de solicitar depoimentos sobre fatos
histoacutericos e sobre o contato que os surdos tiveram com a liacutengua de
sinais
Os depoimentos dos ex-alunos surdos bem como dos surdos
envolvidos na comunidade surda catarinense nas uacuteltimas deacutecadas foram
realizados por meio de entrevistas filmadas Eu mesmo fiz os viacutedeos
Mas antes conversei com cada um dos surdos explicando porque
precisava de seu depoimento Apoacutes a aceitaccedilatildeo de cada um formei os
trecircs grupos por idade Cada um assinou uma ficha do informante para
realizar a pesquisa (em anexo) com dados pessoais e autorizaccedilatildeo
Foram utilizadas trecircs cacircmeras para a filmagem colocadas de forma a
gravar o depoimento dos trecircs surdos simultaneamente Primeiro filmei o
Grupo I Os informantes ficaram sentados na frente de cada cacircmera um
ao lado do outro Depois fiz a pergunta e eles teriam trinta minutos para
dar a resposta e mais vinte minutos para conversarem entre eles Liguei
as trecircs cacircmeras e saiacute da sala Voltei aproximadamente apoacutes uma hora e
desliguei as cacircmeras Fiz o mesmo com o Grupo II e com o Grupo III O
Grupo III foi filmado na UFSC os outros dois numa sala da Associaccedilatildeo
de Surdos A resposta sobre a histoacuteria da educaccedilatildeo de surdos em SC
mais a conversa espontacircnea em LIBRAS trouxe material de qualidade
para a pesquisa A escolha dos surdos levou em conta o fato de os
escolhidos terem frequentado a escola na deacutecada de 1950 quando surgiu
tambeacutem uma associaccedilatildeo de surdos catarinenses
Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os seguintes toacutepicos a coleta
59 COELHO et al (2010 p 164) ldquosujeito da pesquisa sociolinguiacutestica aquele que fornece seus
dados linguiacutesticos para que o pesquisador analiserdquo
122
de dados das trecircs geraccedilotildees com as diferentes faixas etaacuterias o meacutetodo de
entrevista sociolinguiacutestica a coleta de narrativa de experiecircncia pessoal
a transcriccedilatildeo de dados dos trecircs grupos compostos de informantes surdos
na liacutengua de sinais os informantes do grupo surdo na liacutengua de sinais e
por fim a descriccedilatildeo dos informantes quanto aos dados
Como procedimento metodoloacutegico no primeiro momento
realizamos uma coleta inicial de dados na liacutengua de sinais observando
uma diferenccedila de 30 anos entre um grupo e outro Cada grupo eacute
composto de trecircs indiviacuteduos
O Grupo I eacute formado por pessoas mais velhas na faixa
etaacuteria entre 60 a 80 anos
O Grupo II eacute formado por pessoas entre 30 a 60 anos e
O Grupo III eacute formado por indiviacuteduos na faixa etaacuteria de
15 a 30 anos
Com a anaacutelise da LIBRAS usada pelos indiviacuteduos dessas trecircs
faixas etaacuterias esperamos poder detectar se nas trecircs geraccedilotildees de
sinalizadores da liacutengua de sinais em Santa Catarina vamos encontrar
mudanccedila em tempo aparente
Entatildeo foram entrevistados os trecircs informantes do Grupo III na
situaccedilatildeo de mais jovem em idade na faixa etaacuteria de 15 a 30 anos 1)
Informante A 2) Informante B e 3) Informante C
No segundo momento foi feita a coleta dos dados do Grupo I
Para saber o que existe no primeiro grupo de diferente precisamos
identificar os sinais antigos para depois fazermos uma comparaccedilatildeo com
as liacutenguas de sinais da atualidade Assim foram entrevistados trecircs
sujeitos surdos mais velhos na faixa etaacuteria de 60 a 80 anos 1)
Informante G 2) Informante H e 3) Informante I
No terceiro momento foram entrevistados os informantes do
Grupo II outros trecircs alunos de Francisco na faixa etaacuteria de 30 a 60
anos 1) Informante D 2) Informante E e 3) Informante F Acreditamos
que as formas usadas pelo professor Francisco serviram e servem de
modelo influenciando os alunos E que agraves vezes os alunos do professor
Francisco podem usar alguns sinais proacuteprios do professor surdo em
conversas na escola na associaccedilatildeo e na comunidade surda das regiotildees
de Santa Catarina Eacute possiacutevel tambeacutem que o ex-professor Francisco
usasse outros sinais quando conversava com os amigos os ex-alunos
surdos na escola e associaccedilatildeo em Santa Catarina
123
Foi levado em consideraccedilatildeo na coleta o que sugere Tarallo
(2000)
O pesquisador ao selecionar seus informantes estaraacute em
contato com falantes que variam segundo classe social
faixa etaacuteria etnia e sexo Seja qual for a natureza da
situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo seja qual for o toacutepico central
da conversa seja quem for o informante o pesquisador
deveraacute tentar neutralizar a forccedila exercida pela presenccedila
do gravador e por sua proacutepria presenccedila como elemento
estranho a comunidade Tal neutralizaccedilatildeo pode ser
alcanccedilada no momento em que o pesquisador se decide a
representar o papel de aprendiz-interessado na
comunidade de falantes e em seus problemas e
peculiaridades (TARALLO 2000 p 21)
Ė importante selecionar os informantes dos grupos que tecircm
contato entre si e utilizam a liacutengua de sinais de classes sociais
diferentes dentro da comunidade surda faixa etaacuteria diferente etc A
geraccedilatildeo do grupo dos mais velhos tem influecircncia sobre o grupo dos mais
novos que tem menos contato experiecircncia com a liacutengua Isso pode ser
observado na liacutengua usada pelos informantes pois seus objetivos satildeo
diferentes na fase de aprendizagem em situaccedilatildeo de comunidade surda
O pesquisador aproveita para pensar e planejar como seraacute realizada a
coleta de dados Por se tratar de uma liacutengua visualespacial tentei
diversificar os lugares para a conversa espontacircnea dos informantes
52 ndash A coleta de dados
Na coleta dos dados desta pesquisa espera-se que as trecircs geraccedilotildees
com faixas etaacuterias distintas de informantes relatem sua experiecircncia de
vida na liacutengua de sinais possibilitando uma anaacutelise dos sinais gravados
para que possamos identificar possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas
linguiacutesticas
Na primeira parte assisti aos viacutedeos no programa Transcriccedilatildeo de
Liacutengua de Sinais ndash ELAN60
No segundo momento verifiquei e analisei
60 McCLEARY e VIOTTI 2007 - Eacute a caraacuteter eminentemente descritivo buscando a captaccedilatildeo
do maior nuacutemero de detalhes de sinalizaccedilatildeo As narrativas que estatildeo sendo transcritas foram
baseadas no filme ldquoHistoacuteria da pecircrardquo criado pelo de pesquisa de Wallace Chafe na deacutecada de 1970 com o objetivo de eliciar narrativas para anaacutelise e comparaccedilatildeo translinguiacutestica Visando
a produccedilatildeo de narrativas em liacutengua de sinais brasileira o grupo ECS fez a gravaccedilatildeo de
narrativas produzidas por surdos que assistiram ao filme e relataram a histoacuteria para outra pessoa fluente na liacutengua
124
a coleta de dados dos grupos de informantes das trecircs geraccedilotildees com
relaccedilatildeo agraves mudanccedilas histoacutericas e linguiacutesticas Depois realizei a
descriccedilatildeo dos grupos nas diferentes faixas etaacuterias que mostram se os
sinais se modificam nas possiacuteveis narrativas Espero com esses sinais
observados alcanccedilar o objetivo principal da pesquisa o de comparar os
sinais encontrados nos trecircs grupos e verificar se ocorreram variaccedilotildees e
mudanccedilas linguiacutesticas em tempo aparente
Realizei a coleta de dados da seguinte forma coloquei todos os
depoimentos filmados dos surdos no programa ELAN Escolhi os sinais
que apareciam nos trecircs grupos e fiz uma tabela com esses sinais depois
fiz anaacutelise e descriccedilatildeo dos resultados finais
53 ndash O meacutetodo de entrevista sociolinguiacutestica a coleta de narrativas
de experiecircncia pessoal
A coleta de dados realizada numa entrevista deve ocorrer de
forma espontacircnea Antes de realizar a pesquisa para recolher os dados eacute
importante conhecer as diferentes abordagens que identificam os grupos
e sua relaccedilatildeo com a liacutengua Segundo Tarallo (2000)
De gravador em punho o pesquisador-sociolinguista
como afirmamos deve coletar 1 situaccedilatildeo natural de
comunicaccedilatildeo linguumliacutestica e 2 grande quantidade de
material de boa qualidade sonora (TARALLO 2000 p
21)
Para realizar a pesquisa empiacuterica foi necessaacuterio um planejamento
anterior utilizando viacutedeo de filmagem com boa qualidade visual pois
observamos indiviacuteduos que utilizam a comunicaccedilatildeo visual espacial com
o objetivo de melhor descrevermos os grupos e verificar questotildees
linguiacutesticas desses indiviacuteduos
Para a coleta seguimos os procedimentos metodoloacutegicos
indicados por Tarallo
Este software foi desenvolvido no Instituto Max Planck de Psycholinguistics na Holanda e
mostra no site wwwmpinl na transcriccedilatildeo o ELAN (Eudico Language Annotator) eacute um
programa que permite adicionar anotaccedilotildees para um arquivo de viacutedeo o que pode tornaacute-lo muito mais faacutecil de estudar assistir o viacutedeo na liacutengua de sinais Ele tambeacutem pode ser utilizado
com as liacutenguas faladas (com ou aacuteudio ou viacutedeo) mas este foi apresentado na minha pesquisa e
utilizado na liacutenguas de sinais das trecircs geraccedilotildees
125
Para atingir tais propoacutesitos metodoloacutegicos podem-se
formular moacutedulos (ou roteiros) de perguntas um
questionaacuterio-guia de entrevista Esses moacutedulos tecircm por
objetivo homogeneizar os dados de vaacuterios informantes
para posterior comparaccedilatildeo controlar os toacutepicos de
conversaccedilatildeo e em especial provocar narrativas de
experiecircncia pessoal (TARALLO 2000 p 22)
Ė permitido ressaltar na pesquisa sociolinguiacutestica que para
realizaacute-la seraacute feita uma seleccedilatildeo de um grupo ou indiviacuteduo dependendo
da situaccedilatildeo como por exemplo quanto agrave classe social pode ser
verificado o gecircnero a etnia faixa etaacuteria e costumes A situaccedilatildeo de
pesquisa pode acontecer em qualquer lugarambiente O pesquisador
observa de forma neutra o grupo de falantes que estaacute pesquisando em
um determinado local e faz anaacutelises com base nos fatos linguiacutesticos
observando-os em conversas espontacircneas procurando especificaacute-las
A metodologia de coleta laboviana mostra que encontramos a
variedade mais espontacircnea em narrativa de experiecircncia pessoal pois o
indiviacuteduo quando estaacute envolvido emocionalmente faz relatos sem se
preocupar com o modo como estaacute contando De acordo com Tarallo
Os estudos de narrativas de experiecircncia pessoal tecircm
demonstrado que ao relataacute-las o informante estaacute tatildeo
envolvido emocionalmente com o que relata que presta o
miacutenimo de atenccedilatildeo ao como E eacute precisamente esta a
situaccedilatildeo natural de comunicaccedilatildeo almejada pelo
pesquisador-sociolinguista
Os moacutedulos cobrem uma seacuterie de toacutepicos para fins de
conversaccedilatildeo dados pessoais do informante (sua
histoacuteria) jogo e brincadeira de infacircncia brigas namoro e
encontros amorosos casamento perigo de morte medo
famiacutelia religiatildeo amigos turmas serviccedilos puacuteblicos o
crime nas ruas escola e trabalho interaccedilatildeo com outros
membros da comunidade esportes etc (TARALLO
2000 p 22)
As pessoas ouvintes falam sobre fatos ocorridos de sua experiecircncia pessoal com famiacutelia amigos etc de forma natural Isto
tambeacutem acontece na comunidade surda e ao coletar narrativas em
liacutengua de sinais acredita-se que vamos encontrar diferentes situaccedilotildees do
cotidiano e parte da histoacuteria da comunidade que mostraratildeo variaccedilotildees e
tambeacutem mudanccedilas linguiacutesticas
126
Podem ser escolhidas diferentes maneiras de realizar uma
pesquisa de campo mas a experiecircncia pessoal deve ser levada em
consideraccedilatildeo A pesquisa pode ser realizada com diferentes informantes
ou grupos de informantes de qualquer categoria para verificar as
possiacuteveis variaccedilotildees da liacutengua falada sem qualquer preocupaccedilatildeo com a
forma como indica Tarallo
A narrativa de experiecircncia pessoal eacute a mina de ouro que
o pesquisador-sociolinguistica procura Ao narrar suas
experiecircncias pessoais mais envolventes ao colocaacute-las no
gecircnero narrativa o informante desvencilha-se
praticamente de qualquer preocupaccedilatildeo com a forma A
desatenccedilatildeo agrave forma no entanto vem sempre embutida
numa linha de relato a que chamaremos ldquoestrutura
narrativardquo (TARALLO 2000 p 23)
Nesta citaccedilatildeo o autor explica a importacircncia da coleta de narrativa
pessoal de cada um dos informantes porque apenas fazem a narraccedilatildeo
sem preocupaccedilatildeo com a forma como estatildeo contando
54 ndash A transcriccedilatildeo de dados dos trecircs grupos compostos de
informantes surdos na liacutengua de sinais
Estes dados foram organizados no sistema de transcriccedilatildeo na
liacutengua de sinais ndash ELAN As identificaccedilotildees dos sujeitos surdos que
apresentavam cada um o seu relato em viacutedeo mostram a sua forma de se
comunicar na liacutengua de sinais Verificar se a variaccedilatildeo fonoloacutegica e
mudanccedila lexical pode acontecer nesta liacutengua de sinais em trecircs geraccedilotildees
eacute um dos propoacutesitos deste trabalho
55 ndash Informantes do grupo surdo na liacutengua de sinais
Os informantes do grupo que participaram da minha pesquisa
foram escolhidos de forma aleatoacuteria pela facilidade de contato e
separados em trecircs geraccedilotildees que usavam a liacutengua de sinais
Labov em suas pesquisas elaborava entrevistas de modo a
elicitar nos entrevistados uma fala menos monitorada ndash o vernaacuteculo61
Ele afirma que
61 ldquoEstilo em que pouco monitoramento eacute dispensado agrave fala fala ldquonaturalrdquordquo COELHO et al
(2010 p 166)
127
As narrativas produzidas em resposta a essa pergunta
[ldquoVocecirc jaacute viveu uma situaccedilatildeo em que correu seacuterio risco
de morrerrdquo] quase sempre exibem uma mudanccedila de
estilo que se distancia da fala monitorada e se aproxima
do vernaacuteculo62 (LABOV 2008 [1972] p 245)
Da mesma forma na pesquisa sobre o grupo de surdo que o
senhor Francisco ensinou utilizei um questionaacuterio com uma pergunta
que era explique a histoacuteria da educaccedilatildeo de surdo em Santa
Catarina para que pessoas surdas respondessem As perguntas foram
feitas em LIBRAS e as respostas foram filmadas num total de nove
pessoas
O foco do agrupamento dos sujeitos foi a idade portanto houve
variabilidade quanto ao gecircnero e agraves atividades exercidas pelos
participantes
Na primeira etapa o objetivo foi a escolha dos trecircs indiviacuteduos dos
grupos informantes surdos mais jovens A B e C Neste grupo o fator
escolhido quanto ao sexo foi trecircs masculinos pois natildeo encontrei jovem
do sexo feminino
Na segunda etapa os trecircs indiviacuteduos do grupo de informantes
surdos intermediaacuterio D E e F foram quanto ao sexo dois masculinos e
um feminino
Na uacuteltima etapa os trecircs indiviacuteduos do grupo de informantes
surdos mais velhos G H e I foram escolhidos quanto ao sexo um
masculino e dois femininos Entatildeo escolhi a faixa etaacuteria deste grupo que
apresentava o documentaacuterio em viacutedeo que a partir do qual foi extraiacuteda
amostra de uma experiecircncia de cada uma das narrativas de sujeitos
surdos que usavam a liacutengua de sinais espontacircnea Seguem os quadros de
amostras dos grupos em trecircs geraccedilotildees contemplados nesta pesquisa
62 Um dos aspectos mais interessantes dessa pergunta eacute que ela implica uma resposta sim-ou-
natildeo do tipo que em geral evitamos O mecanismo parece ser o seguinte o informante estaacute
disposto a reconhecer o fato de ter estado numa situaccedilatildeo assim embora possa natildeo estar disposto a fazer um relato Mas uma vez que reconheceu o fato acha muito difiacutecil deixar de
fazer um relato completo quando o entrevistador pergunta depois de alguns instantes ldquoO que
aconteceurdquo Do contraacuterio ficaria parecendo que ele fez uma afirmaccedilatildeo falsa
128
Quadros de amostras dos Grupos I II e III
Grupo I
Identificaccedilatildeo
de Classe
Sexo Idade Faixa
Etaacuteria
Profissotildees
Informante G Masculino 82
anos
60 a 80
anos
ProfessorAposentado
Informante H Feminino 64
anos
60 a 80
anos
CostureiraAposentado
Informante I Feminino 62
anos
60 a 80
anos
BancaacuterioAposentado
Grupo II
Identificaccedilatilde
o de Classe
Sexo Idade Faixa
Etaacuteria
Profissotildees
Informante D Feminino 56
anos
30 a 60
anos
BancaacuterioAposentado
Informante E Masculino 53
anos
30 a 60
anos
Autocircnomo
Informante F Masculino 52
anos
30 a 60
anos
MotoristaAposentado
Grupo III
Identificaccedilatildeo
de Classe
Sexo Idade Faixa
Etaacuteria
Profissotildees
Informante A Masculino 29
anos
15 a 30
anos
Professor
Informante B Masculino 25
anos
15 a 30
anos
Professor
Informante C Masculino 24
anos
15 a 30
anos
Estudante
129
Os Grupos I e II foram alunos de profdeg Francisco jaacute os
informantes do Grupo III foram escolhidos na universidade porque eacute
difiacutecil de ser ter contato com surdo na faixa etaacuteria de 15 anos
Cada um dos 9 (nove) informantes da amostra nos trecircs (3) grupos
com relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria poderaacute trazer indicativos sobre a trajetoacuteria da
liacutengua de sinais e a influecircncia da geraccedilatildeo dos surdos mais velhos (Grupo
I) com relaccedilatildeo agrave sinalizaccedilatildeo utilizada na atualidade pelos surdos mais
jovens (Grupo III) Segundo a citaccedilatildeo de Tarallo
a primeira tentativa de definiccedilatildeo a liacutengua falada a que
nos temos referido eacute o veiculo linguumliacutestico de
comunicaccedilatildeo usado em situaccedilotildees naturais de interaccedilatildeo
social do tipo comunicaccedilatildeo face a face Ė a liacutengua que
usamos em nossos lares ao interagir com os demais
membros de nossas famiacutelias Ė a liacutengua usada nos
botequins clubes parques rodas de amigos nos
corredores e paacutetios das escolas longe da tutela dos
professores Ė a liacutengua falada entre amigos inimigos
amantes e apaixonados (TARALLO 2000 p 19)
Na interaccedilatildeo social desta liacutengua que o surdo utiliza para se
comunicar em diversos lugares com os amigos na associaccedilatildeo na escola
etc haacute uma valorizaccedilatildeo cultural aleacutem da troca de conhecimentos
necessidades de criaccedilatildeo de novos sinais modificaccedilatildeo eou
aperfeiccediloamento de outros trazendo modificaccedilotildees linguiacutesticas
Concluiacutemos a explicaccedilatildeo do procedimento da metodologia desta
pesquisa trazendo consideraccedilotildees sobre os registros dos dados dos
informantes para posterior verificaccedilatildeo da variaccedilatildeo e mudanccedila
linguiacutestica observada nos trecircs grupos de surdos nas diferentes geraccedilotildees
referentes agrave liacutengua de sinais Atraveacutes das informaccedilotildees encontradas nas
narrativas seraacute feita uma trajetoacuteria histoacuterica da liacutengua de sinais e seratildeo
observadas as mudanccedilas ocorridas com relaccedilatildeo agrave liacutengua na comunidade
surda de Santa Catarina
56 ndash Descriccedilatildeo dos informantes quanto aos dados
Nesta seccedilatildeo apresentamos descriccedilotildees dos dados coletados na
liacutengua de sinais espontacircnea de informantes conforme amostras dos
Grupos I II e III Os dados foram observados pelo programa de
transcriccedilatildeo de ELAN Realizei os trabalhos comparando a liacutengua usada
pelas geraccedilotildees e as informaccedilotildees dadas pelos informantes
Os fatos sociolinguiacutesticos apresentados pelos informantes atraveacutes
130
de seus depoimentos mostrando suas trajetoacuterias e vivecircncias na
comunidade surda nas diferentes regiotildees do estado de SC seratildeo
analisados para saber se o professor surdo influenciou a comunidade
surda do estado no ensino da LIBRAS
A questatildeo que tentarei responder com os dados eacute a seguinte Os
informantes de cada grupo de comunidades surdas de diferentes regiotildees
do estado de Santa Catarina relatando sua trajetoacuteria com experiecircncias
relacionadas agrave liacutengua de sinais ora sofreram ora natildeo a influecircncia do
professor surdo com relaccedilatildeo ao aprendizado desta liacutengua
Pretendo verificar se haacute algum sinal de que a liacutengua sofreu
variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica em cada uma das trecircs geraccedilotildees dos
informantes Essas trecircs geraccedilotildees vatildeo ser acompanhadas pelas glosas de
sinais A descriccedilatildeo de experiecircncias dos informantes surdos nos trecircs
grupos observados eacute a estrateacutegia para se pesquisar o processo de
mudanccedila
A pesquisa vai analisar os trecircs comparativos dos informantes
surdos com a descriccedilatildeo de dados de cada geraccedilatildeo apoacutes verificar os
resultados de cada uma das trecircs geraccedilotildees de informantes Grupo III A
B C Grupo II D E F Grupo I G H e I As narrativas na liacutengua de
sinais que os informantes apresentaram foram coletadas e vatildeo ser
descritas nas proacuteximas seccedilotildees
561 ndash Grupo I ndash Informantes
Nas narrativas dos sujeitos63
do grupo de informantes na faixa
etaacuteria dos surdos de 60 a 80 anos os mais velhos mesmo grupo do
professor surdo foram expressas algumas opiniotildees dos surdos
nomeados de informantes G H e I Seguem as informaccedilotildees
5611 ndash Informante G
Francisco eacute o informante G e sua identidade estaacute expliacutecita porque
ele autorizou O informante G mostra sua experiecircncia na liacutengua de
63 Os sujeitos surdos SCHMITT (2008) mostram a participaccedilatildeo no amplo espaccedilo da sociedade
em que vivem No momento eles se identificam como um ldquooutrordquo como surdo Esta mudanccedila
eacute mostrada pelas lutas seja na sociedade em encontros eventos seminaacuterios congressos e outros Isso eacute o povo surdo participando no movimento na luta pela educaccedilatildeo pelos direitos
culturais
131
sinais e sua opiniatildeo sobre como aconteceu essa experiecircncia Segue um
comentaacuterio ldquoSabemos que as liacutenguas mudam com o tempo e se
transformam conforme as culturas dos paiacuteses regiotildees ou mesmo em
situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo em que estaacute participando (numa conversa
informal na sala de aula na famiacutelia etc) estas mudanccedilas ocorrem com
as configuraccedilotildees de matildeos articulaccedilotildees movimentos expressotildees faciais e
ou corporais essas mudanccedilas satildeo recicladas para se adaptar a realidade e
conceitos na sociedade tendo os traccedilos de identificaccedilatildeo proacutepriardquo
O informante G nasceu no dia 01061928 em Florianoacutepolis SC
foi aluno interino do Instituto Nacional de Surdos-Mudos do Rio de
Janeiro e do Instituto Paulista de Surdos em Satildeo Paulo de 1937 a 1946
Ele realizou o curso fundamental e meacutedio tinha habilitaccedilatildeo em ensino
especial desenho encadernaccedilatildeo ginaacutestica datilografia frequentou da
1a a 8
a seacuterie do ensino fundamental no Instituto Nacional de Surdos-
Mudos e sua habilitaccedilatildeo eacute em Contabilidade pelo Instituto Monitor e
Nuacutecleo de ensino profissional
Em 1952 ele conheceu quinze surdos-mudos em Florianoacutepolis
que natildeo sabiam ler e escrever Ele ensinava algumas palavras e sinais
para esses surdos-mudos De outra feita entre 1953 a 1954 iniciava a
amizade com o primeiro presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos de
Satildeo Paulo senhor Maacuterio Devisate Ele natildeo tinha o conhecimento da
existecircncia de uma Associaccedilatildeo de Surdos em Florianoacutepolis o senhor
Devisate entregava um documento para Associaccedilatildeo de Surdos-Mudos
de acircmbito nacional e o professor Francisco Lima Juacutenior veio como
delegado e responsaacutevel pela regiatildeo do Sul passando a residir nesta
capital (Florianoacutepolis)
O primeiro presidente da Sociedade dos Surdos-Mudos do
Distrito Federal que na eacutepoca era Rio de Janeiro foi o senhor Miguel
da Fonseca Seabra de Melo era grande colega do Francisco Mais tarde
com a construccedilatildeo de Brasiacutelia a associaccedilatildeo continuou no RJ soacute que
naquele momento natildeo mais como capital com o nome Sociedade dos
Surdos-Mudos do Brasil para finalmente Associaccedilatildeo dos Surdos do Rio
de Janeiro (ASURJ)
O grupo conversava na liacutengua de sinais numa reuniatildeo quando
chegou o presidente da ASURJ que tambeacutem era surdo O professor
Francisco foi apresentado e cumprimentou o senhor Miguel da Fonseca
Seabra de Melo que estava acompanhado de uma colega que ao ver o
professor Francisco sorriu O professor Francisco agradeceu pela ajuda
que o senhor Miguel deu ao Instituto Nacional de Surdos-Mudos e as
informaccedilotildees referentes agrave associaccedilatildeo
Na verdade o professor Francisco tinha contato e conversava
132
sempre com o amigo que estudou com ele no INES o senhor Salomatildeo
Watnick que foi primeiro presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos
do Rio Grande do Sul seu grande amigo que morava em Porto Alegre
Como o INES estava passando por reforma o professor
Francisco como tinha muitos amigos dos diferentes cursos e viagens
que fez conseguiu estudar na Escola Especial para Surdos-Mudos em
Satildeo Paulo que para ele era uma escola maravilhosa e excepcional onde
aprendeu muito
O grupo dos surdos de SC se perguntava como ganharia a vida
pois natildeo estavam felizes nas escolas especiais que na eacutepoca utilizavam
os meacutetodos oralistas onde os surdos natildeo podiam utilizar sinais Mas
encontraram o motivo da existecircncia na associaccedilatildeo do estado podendo
assim discutir e abrir caminhos para os surdos
5612 ndash Informante H
A informante H mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua
opiniatildeo sobre como aconteceu essa experiecircncia ldquoMudam porque as
pessoas mudam os tempos mudam assim como mudam as culturas e
diversas outras formas de liacutengua existentes entre elas Sendo a LIBRAS
tambeacutem uma forma de liacutengua ela acompanha estas mudanccedilas para que
os indiviacuteduos que dela fazem uso possam acompanhar a sociedade e
mundo do qual fazem parterdquo
A informante H nasceu em 26051946 em Satildeo Pedro de
Alcacircntara em Santa Catarina Durante sua infacircncia e adolescecircncia
morou com seus pais que eram agricultores
Ela teve que trabalhar na lavoura dos 6 ateacute os 18 anos de idade
cortava o capim que alimentava o gado roccedilava para limpar um paacutetio do
terreno e uma plantaccedilatildeo cercada onde se criavam vaacuterias galinhas patos
etc Plantavam vaacuterios tipos de flores e tinham uma horta Ela penteava
os cabelos dos cavalos para depois montaacute-lo corria e caiacutea no chatildeo num
desses passeios quebrou o braccedilo e diz que doeu muito Quando o
cunhado viu o braccedilo dela quebrado levou-a de carroccedila para o hospital
na cidade de Vidal Ramos em Santa Catarina Depois ela tinha que
ficar um mecircs com o gesso no braccedilo mas 15 dias depois na casa da
irmatilde olhava o rio e pulava no rio que brilhava acabou ficando coberta
de aacutegua e quase se afogou Para natildeo se afogar colocou as matildeos em cima
de uma pedra do rio ficou muito assustada e chorou muito o tio dela foi
quem a ajudou
O pai de H eacute brasileiro e lavrador Dedicava-se agrave criaccedilatildeo de gado
aves e na fabricaccedilatildeo de cachaccedilas que preparava das plantas que
133
produziam cana-de-accediluacutecar cafeacute e frutas Na casa natildeo tinha luz e era
utilizada a vela a fogueira e a lacircmpada de querosene
A matildee de H tambeacutem era brasileira costureira e lavradora
Trabalhava na propriedade na plantaccedilatildeo de milho feijatildeo arroz aipim e
verduras Os Pais de H tiveram 13 filhos 1 filha jaacute falecida com 1 ano e
um mecircs de gravidez gemular 3 filhas eram ouvintes 3 filhas eram
surdas 6 filhos eram ouvintes 1 filho era surdo A terra lavrada e
cultivada estaacute localizada em Satildeo Pedro de Alcacircntara Depois que o pai
morreu o terreno foi loteado e a informante H ficou com um dos lotes e
os irmatildeos deram a casa
O irmatildeo da informante H que era surdo jaacute falecido em 1976 foi
mordido por uma cobra venenosa Seu pai faleceu em 1989 e a matildee
faleceu em 1998
Em 1966 ajudava lavando roupas para fora nesta eacutepoca morava
com o primo numa casa localizada no bairro do Estreito ndash
FlorianoacutepolisSC Tinha trecircs vizinhos surdos e com eles conversava com
os sinais eou gestualidade Ela natildeo sabia conversar em LIBRAS com
outro surdo aprendeu com os vizinhos surdos que a avisavam das
reuniotildees de surdos que aconteciam no salatildeo do grupo Escolar Celso
Ramos
O professor Francisco ensinou aos surdos as regras do jogo de
bingo depois foram oferecidos cinco brindes para o jogo de bingo que
aconteceu no bairro de Capoeiras Ele perguntava para ela de onde vocecirc
eacute E ela respondia que morava em Satildeo Pedro de Alcacircntara Entatildeo o
Francisco foi junto com a informante H conhecer sua casa localizada no
siacutetio de Satildeo Pedro de Alcacircntara
Ela apresentou sua matildee para o senhor Francisco queria estudar e
aprender a liacutengua de sinais com Francisco presidente da associaccedilatildeo e
professor na escola para surdos Ela veio para a capital em 1966 aos 19
anos de idade onde aprendeu a Liacutengua Portuguesa Escrita matemaacutetica e
liacutengua de sinais na Escola Celso Ramos em Florianoacutepolis numa classe
de alunos surdos Alguns anos mais tarde ela trabalhou como costureira
na faacutebrica de renda e bordados Hoepcke
Ela fez alguns cursos de pintura em tecido bordado a maacutequina
Ela conta que sempre foi uma pessoa esforccedilada que buscava desafios na
sua aprendizagem o tempo todo e cada vez mais como autodidata que
aprendia muitas coisas como por exemplo cozinhar e alta costura
Passava sempre na escola era muito esforccedilada aprimorava muito a sua
aprendizagem de vida
O professor Francisco e ela viajavam pelo estado verificavam e
encontravam os surdos no interior do estado Ela entregou um anel para
134
a ex-rainha do Ciacuterculo de Surdo-Mudos de Santa Catarina ndash CSMSC
que era Catarina Ceciacutelia Schveitzer em 1993
5613 ndash Informante I
A informante I mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua
opiniatildeo sobre como aconteceu essa experiecircncia ldquoMudam a ldquoformardquo de
vida das pessoas na sociedade para que se adaptem a nova realidade e
as liacutenguas tambeacutem se modificam As liacutenguas de sinais tambeacutem mudam
criam-se palavras novas satildeo influenciadas por outras liacutenguas etc A
evoluccedilatildeo das coisas em geral estaacute acontecendo de forma muito raacutepida e
a LIBRAS sendo uma forma de comunicaccedilatildeo entre cultura surda e
ouvinte precisa acompanhar essa evoluccedilatildeo Quando uma determinada
coisa natildeo acompanha o desenvolvimento onde estaacute inserida a
tendecircncia eacute de ficar do lado de forardquo
A informante I nasceu em 01041948 em Blumenau veio de
uma famiacutelia de 6 irmatildeos onde 3 satildeo surdos e 3 satildeo ouvintes A matildee do
informante I descobriu que era surda quando tinha mais ou menos dois
anos de idade Apoacutes essa descoberta teve uma infacircncia normal era uma
crianccedila super ativa
Aos 7 anos de idade entrava na escola onde havia outras crianccedilas
surdas como ela Foi alfabetizada em Blumenau Depois lembrou que
tentava usar o seu aparelho auditivo mas como natildeo escutava nada
acabou rejeitando o aparelho
Tinha muita preocupaccedilatildeo com a educaccedilatildeo dos surdos Os pais
mandaram-na estudar num internato de crianccedilas surdas no Rio de
Janeiro aos 9 ou 10 anos de idade Ela natildeo se adaptou e retornou para
Blumenau A escola para surdos que frequentava em Blumenau ficou
sem a professora especializada e ela teve que ir para uma escola regular
O pai que era bancaacuterio pediu transferecircncia do banco para a cidade
de Florianoacutepolis para que a informante I e seus irmatildeos pudessem
continuar os estudos
Em Florianoacutepolis frequentaram a escola Celso Ramos onde a sala
dos surdos era de responsabilidade do professor Francisco Lima Juacutenior
O professor Francisco era uma pessoa muito importante nesta
eacutepoca a vida dele era ajudar o grupo de surdos atraveacutes da liacutengua de
sinais e ele lecionava no ensino fundamental e no curso primaacuterio
A informante I sempre foi muito curiosa queria mais e resolveu
fazer o curso ginasial por correspondecircncia pois na eacutepoca fazia o
segundo grau na escola de ouvintes tinha dificuldade tinha que aprender
tudo sozinha porque na escola o ensino era em portuguecircs falado difiacutecil
135
para o surdo entender (problema de comunicaccedilatildeo) Ela tinha vontade de
estudar na escola com o professor Francisco que ensinava na liacutengua de
sinais
Relembrou que naquela eacutepoca viu que foi muito difiacutecil quando
ela tinha duacutevidas os pais pagavam um professor para dar aulas
particulares Enfim venceu mas natildeo foi faacutecil Depois fez vaacuterios cursos
profissionalizantes como datilografia correspondecircncia comercial curso
de cabeleireira manicure pintura em tela corte e costura e tantos outros
que agora natildeo lembrava mais
Depois de tudo isso resolveu fazer o concurso para uma vaga de
escrituraacuterio no Banco do Estado de Santa Catarina ndash BESC e foi
aprovada trabalhou laacute por vaacuterios anos e agora jaacute estava aposentada
A informante I eacute casada e o companheiro tambeacutem eacute surdo
funcionaacuterio aposentado da Imprensa Oficial Queria muito ter filhos e
acabou tendo um filho que eacute ouvinte e hoje estaacute com 27 anos e tem
formaccedilatildeo acadecircmica com poacutes-graduaccedilatildeo Diz sentir-se realizada
Sua matildee tem hoje 87 anos e eacute a grande incentivadora de sua vida
eacute tambeacutem um grande exemplo de vida guerreira batalhadora e muito
religiosa Foi ela que ensinou o que eacute amor respeito e outros valores
morais tudo isso dentro da doutrina espiacuterita
A informante I diz ser uma pessoa realizada porque venceu
muitas barreiras conseguiu tirar a carteira de motorista e tambeacutem
aprendeu a utilizar a comunicaccedilatildeo no celular Internet MSN e e-mail
Nada foi faacutecil considera-se uma pessoa feliz adora assistir aos
filmes legendados os noticiaacuterios novelas enfim gosta de estar bem
informada
Contando a histoacuteria de sua vida quer mostrar agraves pessoas que pode
alcanccedilar qualquer coisa na vida e que natildeo eacute diferente dos outros A
diferenccedila estaacute na audiccedilatildeo mas pode usar os outros sentidos para se
comunicar e utilizar a liacutengua de sinais visual
562 ndash Grupo II ndash Informantes
Nas narrativas dos sujeitos surdos para a pesquisa no Grupo II
com idade intermediaacuteria de 30 anos a 60 anos de idade em
intermediaacuterio verificou-se que todos foram alunos do professor surdo
Francisco A seguir estatildeo expressas algumas opiniotildees destes surdos
nomeados de informantes D E e F
136
5621 ndash Informante D
A informante D mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua
opiniatildeo a respeito de como aconteceu essa experiecircncia ldquoCom o passar
do tempo ocorrem muitas mudanccedilas nas liacutenguas de sinais para suprir as
necessidades de comunicaccedilatildeo e as modificaccedilotildees de costumes de cada
geraccedilatildeo Os sinais satildeo criados de acordo com a necessidade de cada
grupordquo
A informante D nasceu em Florianoacutepolis num domingo no dia
quatro de outubro de mil novecentos e cinquenta e trecircs (04101953) em
casa sob os cuidados de uma parteira chamada de Dona Oliacutevia Nasceu
com audiccedilatildeo perfeita segundo diagnoacutestico de um meacutedico do hospital
das cliacutenicas em Satildeo PauloSP em 1961 O responsaacutevel pela sua perda de
audiccedilatildeo foi um medicamento chamado de trepdomicina usado para
acalmar a ldquotosse compridardquo ou Coqueluche Nessa eacutepoca natildeo havia
vacina para a doenccedila nos postos de sauacutede Sua matildee levou os filhos para
vacinar e constatou isso
A famiacutelia dela descobriu a surdez aos nove meses de idade Ela
tinha seis meses de idade quando foi acometida pelo viacuterus da
coqueluche e a irmatilde tambeacutem que na eacutepoca tinha 9 anos de idade
A matildee dela quando estava graacutevida tomou uma injeccedilatildeo
denominada 914 para curar infecccedilatildeo no aparelho genital feminino Esse
medicamento agiu negativamente na formaccedilatildeo dos ossos deixando-a
com o andar defeituoso parecendo que uma perna era mais curta que a
outra Ela foi para Satildeo Paulo levada pelo irmatildeo e pelo padrinho para
tratamento Foi submetida a quatro cirurgias entre 1961 a 1963 mas
que surtiram pouco resultado comprovado em 1980 Daiacute para frente
voltava a ter uma perna mais curta e sente muitas dores ao andar e
sentar
Em 1964 iniciava seus estudos na escola para surdos de
Florianoacutepolis no grupo Celso Ramos Seu primeiro professor surdo foi
o Francisco que lhe dava aula na liacutengua de sinais Francisco tambeacutem
ensinava LIBRAS no Ciacuterculo dos Surdos Mudos de Santa Catarina na
escola primaacuteria e na associaccedilatildeo de surdos
Em 1975 fazia teste para ingressar como funcionaacuteria no BESC
sendo admitida como escrituraria em 18091975 e se aposentou em
19112002 Ela aprendeu a dirigir automoacutevel fez curso de datilografia
e por uacuteltimo fez curso baacutesico de computador para saber operaacute-lo Fez
curso de pintura a oacuteleo em tela e em tecido Procurava cuidar de sua
sauacutede indo ao meacutedico regularmente
Ela eacute associada e participa da diretoria da Associaccedilatildeo de Surdos
137
da Grande Florianoacutepolis ndash ASGF eacute tambeacutem voluntaacuteria nas atividades
que a associaccedilatildeo desenvolve em benefiacutecio de seus amigos surdos que
frequentam a mesma associaccedilatildeo Hoje ensina LIBRAS para os
associados de qualquer idade
5622 ndash Informante E
O informante E mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua
opiniatildeo de como aconteceu essa experiecircncia ldquoAssim como a liacutengua
portuguesa evolui ou muda com o passar do tempo LIBRAS tambeacutem
passa por mudanccedilas constantes estas podem ser de regiatildeo para regiatildeo
por exemplo a liacutengua de LIBRAS acompanha a evoluccedilatildeo do mundo
sendo hoje uma liacutengua para a comunicaccedilatildeo dos surdosrdquo
O informante E nasceu na maternidade Carmela Dutra no Centro
de Florianoacutepolis no dia 03 de Novembro de 1957 Ele ficou surdo aos
quatro anos de idade (causado por remeacutedios ministrados errados por sua
matildee nos ouvidos quando estava com febre dor de ouvidos e caxumba)
Com 53 anos eacute presidente de entidade esportiva de Santa
Catarina desde 1999 reeleito pela segunda vez com gestatildeo ateacute 2011
sendo um dos liacutederes dos surdos de Santa Catarina Foi um dos
fundadores da Sociedade de Surdos de Satildeo Joseacute atuou nela de 1990 a
1996 uma entidade que crescia muito e eacute considerada a mais organizada
no estado de Santa Catarina
Ele escolheu o sobrenome diferente na campanha poliacutetica que
concorreu para vereador de Satildeo Joseacute de 2003 a 2007 em homenagem agrave
sua avoacute-materna jaacute falecida descendente de alematildees que lhe criou por
mais de 10 anos junto com o marido descendente de portugueses que
natildeo conhecera pois a avoacute dele ficara viuacuteva quando o pai dele era
solteiro Portanto queria preservar o sobrenome da avoacute-matildee dele como
lembranccedila
Os pais dele estavam preocupados com sua infacircncia com sua
situaccedilatildeo futura e por isso procuravam incansavelmente a existecircncia de
uma escola especial para surdos
Finalmente acharam a escola localizada na Rua Conselheiro
Mafra no Centro de Florianoacutepolis Era uma sala comercial tipo garagem
grande (perto do antigo terminal urbano hoje Terminal Cidade de
Florianoacutepolis) foi ali onde encontraram a primeira escola para surdos
onde ele aprendeu a liacutengua de sinais aos 6 anos de idade
Ele estudou com o primeiro professor surdo do estado de Santa
Catarina O professor Francisco e sua esposa que era ouvinte e tambeacutem
professora chamava-se Mercedes e foi a primeira inteacuterprete dele Neste
138
momento existiam outros alunos surdos que eram Niro Paulo Percy
Socircnia Maria da Graccedila Maria Bernadete Aldenei Rita Reinoldo
Edson Ivo (falecido) Arnoldo e outros que ele natildeo lembrava
No comeccedilo do aprendizado dele da liacutengua de sinais achava
estranho e natildeo lhe agradava muito fazendo com que ele natildeo quisesse
estudar ali mas foi a matildee dele que o incentivou a continuar estudando
e com o tempo foi gostando da escola e do grupo de amigos surdos
isto foi em 1971
Essa escola foi transferida de local e foi para a EEB
Governador Celso Ramos no bairro Prainha em Florianoacutepolis no ano
de 1972 Esta nova escola ele adorava muito e guarda boas recordaccedilotildees
vividas nela
Infelizmente ele natildeo lembrava do ano em que foi transferido para
o Instituto de Audiccedilatildeo e Terapia da Linguagem ndash IATEL situado na
Rua Liberato Bittencourt no Centro de Florianoacutepolis numa casa
simples e alugada Ficou muito contrariado com esta transferecircncia
Nessa eacutepoca tinha mais ou menos 13 anos Proacuteximo aos 15 anos ele
abandonou o IATEL porque tinha que trabalhar para sustentar a avoacute
dele que era viuacuteva e pobre Sua avoacute tambeacutem natildeo gostava desta escola e
tambeacutem das novas professoras que eram ouvintes e que natildeo sabiam usar
a liacutengua de sinais obrigando os surdos a oralizarem
Aos 14 anos ele jaacute trabalhava em uma empresa de comunicaccedilatildeo
visual (luminosos) Apoacutes um ano ele mudava de ramo para a funccedilatildeo de
auxiliar de escritoacuterio em duas empresas de contabilidade Depois disso
ele fundou uma empresa proacutepria de comunicaccedilatildeo visual em sociedade
com seu pai no ramo de letreiros em placas paredes e etc O nome da
empresa comprada foi modificado e mais tarde fez sociedade com o
irmatildeo caccedilula Para seu irmatildeo caccedilula foi um aprendizado e hoje ele eacute
proprietaacuterio de uma empresa no mesmo ramo residindo em Blumenau
Em 2000 deixava este ramo e comeccedilava a estudar para ter a
formaccedilatildeo de professor na Liacutengua de Sinais aos 43 anos Ele Trabalhou
como professor em Admissatildeo em Caraacuteter Temporaacuterio ndash ACT e na
Fundaccedilatildeo Catarinense de Educaccedilatildeo Especial - FCEE como assessor
teacutecnico na Educaccedilatildeo de Surdos de 2003 a 2005 Trabalhou tambeacutem
como ACT no Centro Educacional Municipal Interativo Floresta em Satildeo
Joseacute no Nuacutecleo de Educaccedilatildeo Especial e Inclusiva - NEESPI como
professor de LIBRAS de 2006 a 2007 Foi docente dos cursos de
LIBRAS de 2000 a 2007
A partir de 2008 deixava o cargo de professor de LIBRAS para
focar os compromissos somente nos esportes Atualmente atua numa
entidade esportiva de surdos desde 1999 nesta com 12 associaccedilotildees
139
filiadas organizando em meacutedia sete (7) eventos esportivos por ano
Portanto os pensamentos deles e seus compromissos satildeo voltados para a
comunidade surda
5623 ndash Informante F
O informante F mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua
opiniatildeo de como aconteceu essa experiecircncia ldquoPorque assim como toda
liacutengua ela sofre das mudanccedilas histoacutericas e culturais as liacutenguas satildeo
dinacircmicas e natildeo estaacuteticas por isso elas vivem sofrendo alteraccedilotildees e com
as liacutenguas de sinais ocorre o mesmo Essas mudanccedilas podem ser
percebidas nas diferentes regiotildees onde satildeo utilizadas a mesma liacutengua
mesmo sendo a mesma liacutengua ela possui algumas diferenccedilas em
algumas palavras ou expressotildeesrdquo
O informante F nasceu 04071958 em Florianoacutepolis eacute casado e
tem 52 anos Nasceu surdo a famiacutelia dele sempre lhe deu apoio
levaram-no a vaacuterios lugares para consultar com meacutedicos procuravam
um tratamento mas de acordo com os meacutedicos ele natildeo tinha muita
chance de desenvolver audiccedilatildeo e a fala Nesta eacutepoca natildeo existiam no
Estado de Santa Catarina escolas especializadas para surdos e como o
pai dele era militar natildeo podia morar em outro Estado Entatildeo seu pai
matriculou-o numa escola regular mas as professoras natildeo sabiam a
liacutengua de sinais e era muito difiacutecil para ele aprender
A alfabetizaccedilatildeo dele natildeo foi muito boa e para melhorar um pouco
o aprendizado tinha aulas com o professor surdo Francisco Lima Juacutenior
que lhe ensinava as palavras utilizando o alfabeto manual e a liacutengua de
sinais para o aprendizado da Liacutengua Portuguesa Escrita e tambeacutem para
alguns alunos surdos
Em sua famiacutelia se comunicava atraveacutes de sinais caseiros que de
acordo com ele foi muito bom e os utiliza ateacute hoje
Apesar das dificuldades nos estudos tinha sorte pois conseguiu
emprego Neste emprego que era na Central de Luz Eleacutetrica de Santa
Catarina ndash CELESC sempre foi muito bem tratado Tinha muitos
amigos na associaccedilatildeo de surdos na escola e no trabalho e para se
comunicar ensinava alguns sinais bem baacutesicos para os amigos para que
assim natildeo tivessem problemas quanto agrave comunicaccedilatildeo
Ele trabalhou sempre na CELESC na cidade de Florianoacutepolis
pois foi aprovado em um teste naquela eacutepoca natildeo havia concursos
Depois foi transferido algumas vezes para outras cidades como
Blumenau Joinville e Jaraguaacute do Sul Iniciou como auxiliar de serviccedilos
gerais depois passou a auxiliar administrativo e por uacuteltimo como
140
motorista
Foi presidente de vaacuterias Associaccedilotildees de Surdos uma dessas em
1989 que foi fechada neste mesmo ano e outra em dois mandatos
20052008 Ele jogou em vaacuterios times nas associaccedilotildees de surdo de Santa
Catarina Ele preferia jogar futebol de salatildeo - FUTSAL
Ele sempre participou e ateacute hoje participa de encontros com
surdos na liacutengua de sinais seja em associaccedilotildees ou outros eventos
Atualmente mora na cidade de Londrina ndash Paranaacute
563 ndash Grupo III ndash Informantes
Nas narrativas dos sujeitos surdos do Grupo III com idades entre
15 a 30 anos sendo o grupo dos mais jovens e que participam de
associaccedilotildees de surdos em Santa Catarina foram expressas algumas
opiniotildees desses surdos aqui nomeados de informantes A B e C
Seguem abaixo relatos e experiecircncias dos informantes
5631 ndash Informante A
O informante A mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua
opiniatildeo a respeito de como aconteceu essa experiecircncia ldquoNatildeo diria que
ldquomudardquo mas sim sofre modificaccedilotildeesalteraccedilotildees com o tempo e como
qualquer outra liacutengua dependendo do estadopaiacutes em que eacute ldquofaladardquo teraacute
adaptaccedilotildees conforme a necessidade de cada lugar Sendo que ateacute mesmo
em casa quando a crianccedila natildeo tem contato com LIBRAS em um
primeiro momento ela e sua famiacutelia se apropriam de sinais proacuteprios para
a comunicaccedilatildeordquo
O informante A nasceu em 18121980 no Balneaacuterio Camboriuacute
nasceu surdo comunica-se por meio de gestos com a famiacutelia Sua
famiacutelia sempre mostrou preocupaccedilatildeo com ele levaram-no a atendimento
fonoaudioloacutegico para que aprendesse a falar mas tinha dificuldades
poreacutem era esforccedilado Somente mais tarde encontrava a comunidade
surda na escola Quando ele teve atendimento especial e natildeo era
utilizada a liacutengua de sinais somente alguns gestos acabava desistindo e
parava de estudar Retornando agrave escola com ouvintes quando ele tinha
17 anos de idade encontrava os surdos que o convidaram a participar
de uma festa na associaccedilatildeo de surdos foi quando comeccedilou a aprender a
LIBRAS e ficou feliz pois comunicava-se com todos na LIBRAS jaacute
que era um modo mais faacutecil de aprender e memorizar os conteuacutedos jaacute
com o oralismo era muito sofrido
Ele fundou uma Associaccedilatildeo de Surdos na cidade onde mora Na
141
associaccedilatildeo motivou o uso da LIBRAS valorizou o contato entre os
membros da comunidade surda e a LIBRAS assim como a educaccedilatildeo
formal Ele sentia-se satisfeito pois se comunicava com os amigos
usando a leitura labial e os gestos mesmo assim perdia algumas
informaccedilotildees por natildeo ouvir Mais tarde encontrava-se com grupos de
surdos e comeccedilou entatildeo o contato da LIBRAS e percebia que por meio
da LIBRAS ele poderia receber mais informaccedilotildees do que pela leitura
labial e a partir de entatildeo conseguiu viver melhor na sociedade Lutou
para inserir a LIBRAS no ensino dos surdos porque sabia na praacutetica que
facilita o aprendizado do surdo
Hoje estaacute casado e sua esposa eacute surda Formou-se na faculdade de
gastronomia pela UNIVALI e tem o curso de especializaccedilatildeo em
educaccedilatildeo especial Atualmente faz curso de LetrasLIBRAS e sua
turma eacute composta na maioria por surdos que estatildeo gostando do curso
tendo a oportunidade de trocar ideacuteias experiecircncias bem como buscar
novos conhecimentos
Ele eacute Instrutor de LIBRAS efetivado pela prefeitura de Itajaiacute
aleacutem de trabalhar como professor de LIBRAS em outros lugares
Tambeacutem realiza trabalhos voluntaacuterios em algumas entidades
(Associaccedilatildeo FENEIS Federaccedilatildeo etc) Jaacute atuou em vaacuterios cargos de
diretoria na Associaccedilatildeo de Surdos de Balneaacuterio Camboriuacute isso foi bom
porque ele aprendeu sobre poliacutetica sobre organizaccedilatildeo e tambeacutem a
utilizar estrateacutegias diferentes para as accedilotildees etc
5632 ndash Informante B
O informante B mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua
opiniatildeo sobre como aconteceu essa experiecircncia ldquoA LIBRAS eacute uma
liacutengua porque possui uma forma de comunicaccedilatildeo proacutepria Ė
independente como qualquer outra liacutengua escrita ou falada Tem
formato proacuteprio sua comunicaccedilatildeo eacute visual pois se utiliza de gestos e
expressotildees Como todas as liacutenguas tem variaccedilotildees conforme a regiatildeordquo
O informante B nasceu em 08011985 na cidade de Tijucas em
Santa Catarina Atualmente mora em Itapema e tem 25 anos Ele nasceu
surdo mas seus pais soacute descobriram sua surdez aos nove meses de
idade entatildeo ficaram apavorados e natildeo sabiam como ele iria se
comunicar na sociedade Depois o pai dele levou-o para uma escola em
Florianoacutepolis chamada de IATEL onde ateacute a 3ordf seacuterie utilizavam a
linguagem oral e muito pouco gestual Na eacutepoca os gestos (sinais) natildeo
eram reconhecidos como uma liacutengua
Os pais dele escolheram uma escola da Rede Regular de Ensino
142
na eacutepoca nem era pensado em inteacuterprete de LIBRAS ateacute porque essa
natildeo era uma liacutengua oficializada Eles natildeo conheciam a comunidade
surda e sua cultura entatildeo decidiram que seu filho frequentaria
atendimento fonoaudioloacutegico dois dias por semana
Para o informante B seus pais tentavam criaacute-lo como ouvinte o
que para ele caracteriza uma tentava de modificar sua identidade surda
Ele relata que tinha muita dificuldade de comunicar-se com as pessoas
na sociedade que utilizava a liacutengua falada
Mais tarde aos 16 anos de idade foi para uma escola de educaccedilatildeo
especial onde teve aulas de informaacutetica com outros surdos entatildeo podia
utilizar a LIBRAS Antes ele ficava isolado natildeo gostava e natildeo podia
usar a liacutengua de sinais comeccedilava a aprender a falar mas demorava
muito Agora aceita sua identidade surda sente-se mais feliz e melhor
Participa de uma associaccedilatildeo de surdos e viaja para vaacuterios lugares nas
diferentes regiotildees de Santa Catarina
Ele trabalhou como analista de sistemas na aacuterea de informaacutetica da
empresa Ceracircmica Portobello em Tijucas ficava muito incomodado
com a barreira de comunicaccedilatildeo com os funcionaacuterios em virtude de terem
muito trabalho pois o surdo precisa das matildeos para falar e se estaacute com
elas ocupadas trabalhando fica impossiacutevel comunicar-se diferente dos
ouvintes Tentou ensinar alguns sinais para os funcionaacuterios para que lhe
entendessem e pudessem se comunicar com ele mas os funcionaacuterios
desviavam para outro assunto natildeo demonstravam interesse em aprender
sinais Sofria por passar o dia inteiro de trabalho sem poder se
comunicar com outra pessoa disfarccedilava esse sentimento acessando a
Internet para realizar pesquisas de temas relacionados agrave educaccedilatildeo de
surdos (palestras congressos encontros etc) Entatildeo numa destas
pesquisas achou um congresso de surdos anotou a data e mostrou ao
chefe que o liberou para ir ao congresso (encontro surdo)
Ele acredita que as pessoas natildeo tinham culpa pois oralismo era a
forma de ensinar naquela eacutepoca e para os surdos era muito difiacutecil de
compreender e aprender a liacutengua falada Aprendeu LIBRAS na
comunidade surda Apoacutes a liberaccedilatildeo para o congresso pelo seu chefe
comeccedilou a frequentar a associaccedilatildeo de surdos e outros eventos da
comunidade surda
Ele participou de um concurso no municiacutepio de Itajaiacute para o
cargo de instrutor de LIBRAS Foi classificado em terceiro lugar
conseguiu um trabalho e seus pais deixaram que ele morasse sozinho
em Itajaiacute Morou sozinho por um ano trabalhava durante o dia e
estudava na faculdade agrave noite Com o passar do tempo conheceu
pessoas e fez amizade com outros surdos que no segundo ano dividiram
143
o aluguel da casa com ele
Alguns surdos convidaram ele para um encontro de surdo
(nacional congresso e entre outros) Foi possiacutevel fazer novas amizades e
entrar em contato com outros sujeitos surdos pois neste espaccedilo tinha
surdo sentado ao lado surdo no bar e em outros momentos do
congresso
Ao teacutermino do encontro pegou os endereccedilos eletrocircnicos das
pessoas que conheceu e assim pode manter correspondecircncia com outros
surdos atraveacutes de e-mails nas diferentes regiotildees do estado de SC
Depois de algum tempo de troca de e-mails combinou encontros e
viajou para o sul sudeste nordeste norte do Brasil e etc encontrou-se
com muitos surdos que se comunicavam na liacutengua de sinais e aprendeu
muitos sinais novos onde percebeu que havia muitas diferenccedilas nos
sinais que cada regiatildeo tinha sinais especiacuteficos daquele lugar
Quando o curso de LetrasLIBRAS da UFSC foi aprovado pelo
MEC e abriram-se as inscriccedilotildees trecircs instrutores de LIBRAS jaacute haviam
prestado o vestibular tiveram uma prova com 15 questotildees referentes a
LIBRAS utilizaram na apresentaccedilatildeo para seleccedilatildeo dos candidatos slides
e videoconferecircncia com todos os candidatos Ficou admirado e achou
muito legal o grupo de surdo que estava laacute e disse ldquoPassei a ver o
mundo diferente ao teacutermino da provardquo
Ele trabalhou como instrutor de LIBRAS por 4 anos e recebeu 14
alunos surdos para atendimento no processo de aprendizagem da
LIBRAS E tambeacutem ensinou sobre a relaccedilatildeo de aprendizagem do aluno
surdo em LIBRAS para os colegas Ele formou-se no curso de ciecircncias
da computaccedilatildeo e fez poacutes-graduaccedilatildeo no processo de inclusatildeo e educaccedilatildeo
especial Atualmente estaacute cursando a faculdade de LetrasLIBRAS pela
UFSC
5633 ndash Informante C
O informante C mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua
opiniatildeo de como aconteceu essa experiecircncia ldquoA liacutengua de sinais assim
como todo o contexto no qual estamos inseridos sofre mudanccedilas e
adaptaccedilotildees durante o decorrer de nossas vidas por questotildees de
adaptaccedilatildeo comportamento e culturardquo
O informante C nasceu em 12021986 em Santa MariaRS surdo
de nascenccedila morando em Florianoacutepolis haacute pouco tempo Voltando ao
passado dele desde pequeno adorava brincar mexer experimentar as
coisas novas o que tinha por perto Certa vez sua avoacute chamou-o falava
o seu nome mas como ele natildeo escutava nenhuma letra e nenhum som
144
que veio da voz da avoacute natildeo a atendeu Ela estranhou a atitude dele pois
ele nunca deu atenccedilatildeo para ela quando ela gritava ou chamava pelo seu
nome Pra ela era impossiacutevel uma crianccedila que natildeo respondia aos sons
Entatildeo ficou desconfiada que ele poderia ser surdo Resolveu pedir aos
pais dele para levaacute-lo a um meacutedico para descobrir a causa do problema
Mas seus pais tinham dificuldade de aceitar essa ideacuteia e de levaacute-lo para
o meacutedico parecia que tinham medo que ele realmente fosse surdo Ficou
assim sem comunicaccedilatildeo
A matildee dele assustada chorava muito e o pai dele ficou furioso
Pois o medo deles era de jamais se comunicarem com o filho que eles
amavam muito Entatildeo o meacutedico deu um conselho para a matildee dele que
era conhecer as pessoas surdas que se comunicavam atraveacutes da
LIBRAS ou entatildeo fazer atendimento e acompanhamento com
fonoaudioacuteloga para aprender a falar eou melhorar a fala
A matildee dele decidiu em primeiro lugar ir numa escola onde tinham
pessoas surdas laacute conheceu algumas pessoas surdas e achou que eram
pessoas legais Conversou com essas pessoas surdas que conheceu
sobre seu filho que era surdo Queria saber como poderia se comunicar
com uma crianccedila surda pois o objetivo da matildee era poder se comunicar
com o filho Entatildeo pediu ajuda de um surdo jovem Ele explicou para
ela que devia fazer um curso de LIBRAS que eacute a Liacutengua de Sinais
Brasileira que as pessoas surdas utilizam para se comunicarem com
facilidade
Ele crescia e no seu desenvolvimento viveu muita coisa
conseguiu mexer comer tudo A matildee dele comunicava-se com ele
atraveacutes dos sinais ele via as matildeos da matildee que natildeo parava de mexer
estranhava mas repetia para entender aquele conceito o que ela queria
dizer ela sinalizava e mostrava as coisas ateacute que ele entendia o
conceito
A matildee dele era uma pessoa bastante simples e feliz com os filhos
Tem um irmatildeo que eacute um ano mais velho do que ele o irmatildeo aprendeu a
usar sinais com ele e a matildee e podiam se comunicar daiacute eles
melhoraram muito a comunicaccedilatildeo tornaram-se grandes amigos sempre
brincaram juntos brigavam choravam gritavam e reclamavam Mas
eles eram grandes amigos
Ele mais observava as coisas a seu redor e se admirava com o que
via Depois de alguns meses sua irmatilde cresceu um pouco conseguiu
perceber as coisas comeccedilou a falar com ela atraveacutes de sinais ela
aprendeu essa liacutengua com ele como se fosse a primeira liacutengua da vida
dela Uma vez teve uma festinha laacute em sua casa estava toda a famiacutelia
reunida passou um aviatildeo sua irmatilde ouviu o barulho do aviatildeo e sinalizou
145
um aviatildeo todo mundo viu e se assustaram principalmente a matildee dele
pois natildeo sabia que a filha sinalizava sendo tatildeo pequena Sua matildee ficou
tatildeo contente e bateu uma foto dela sinalizando
Como cresceu sempre podendo se comunicar na liacutengua dos sinais
acreditava viver muito ldquonormalizadordquo Tinha uma famiacutelia e amigos
surdos estudou em escolas com outras crianccedilas surdas e relata como ele
se divertia muito
Depois de certo tempo a escola natildeo funcionava somente para
crianccedilas surdas sua matildee ficou muito preocupada com sua educaccedilatildeo
combinou com seu pai e com toda sua famiacutelia a mudanccedila para a cidade
de Florianoacutepolis ndash Santa Catarina pois soube que havia uma escola
especial para ele onde poderia crescer com uma educaccedilatildeo de qualidade
Quando chegou agrave capital de SC Florianoacutepolis simplesmente
amou a cidade porque ele curtia bastante as praias o pai alugou uma
casa bem legal na Barra da Lagoa e todos os dias ia sozinho para a
praia brincava na areia e construiacutea castelos
O informante C relata que curtiu bastante aquele veratildeo
mudaram-se dessa casa para outra que construiacuteram no bairro Carianos
ele natildeo gostava muito do lugar achava meio estranho porque para ele
ficava muito longe das praias Mas com o tempo ele se acostumou ateacute
fez amizades com os vizinhos que eram ouvintes Ele natildeo sabia como
comunicar-se com eles pois usavam a fala ele sentiu vergonha e medo
Ficava atraacutes de sua matildee que explicava para os vizinhos que ele era
surdo que natildeo sabia falar quase nada apenas sabia LIBRAS eles
ficavam admirados e convidavam-no para brincar Tinha amigos que
eram tranquilos porque o pai deles era surdo tambeacutem
O tempo passava e ele brincava sempre com esses amigos curtia
muito mas ele percebeu que se comunicavam soacute oralmente soacute ele natildeo
estranhava Foi falar com sua matildee sobre essa situaccedilatildeo pois ele queria
poder falar tambeacutem sua matildee se surpreendeu com a ideacuteia dele que era
ldquoquerer poderrdquo falar tambeacutem Para sua matildee foi uma surpresa porque
ouvia muito que a maioria das pessoas surdas natildeo aguentava aprender a
falar e seu proacuteprio filho estava querendo aprender a falar
Ele resolveu ser soacutecio de uma associaccedilatildeo de outra cidade natildeo
gostava da anterior e se mudou para Associaccedilatildeo dos Surdos da Grande
Florianoacutepolis ele fez amizade com o pessoal viajou muito se divertia
saiacutea e curtiu bastante Participava das reuniotildees da associaccedilatildeo tambeacutem
Depois virou Conselheiro Fiscal da Associaccedilatildeo gostou da experiecircncia
mas continuou sendo soacutecio Mas por outro lado andava observava e
estudava bastante e percebeu o mundo cada vez mais veloz por causa
da tecnologia e a sociedade que natildeo parava de mudar Depois que
146
terminou o terceiratildeo teve uma formatura incriacutevel em que chorou um
monte pois teve medo de perder o contato com as colegas de sala mas
tambeacutem porque ele aprendeu a amar esses amigos como se fossem de
sua famiacutelia
Comeccedilou uma faculdade na UFSC gostou bastante e fez novas
amizades comeccedilou a trabalhar como AtorTradutor Cinegrafista Editor
de Viacutedeos na UFSC tudo isso como bolsista Ele tornou-se bem
conhecido nacionalmente na comunidade surda comeccedilou a viajar
bastante para congressos e palestras Depois de um ano de sucesso em
sua vida acabou o contrato de bolsista pela UFSC e comeccedilou a
trabalhar como professor na prefeitura foi um grande desafio para ele
pois tinha professoras ouvintes que trabalhavam na educaccedilatildeo especial
que pensavam diferente dele com relaccedilatildeo agrave comunicaccedilatildeo na liacutengua de
sinais
Hoje em dia continua sendo conhecido nacionalmente na
comunidade surda eacute estudante do uacuteltimo periacuteodo da LetrasLIBRAS na
UFSC e estaacute trabalhando em duas escolas da prefeitura como professor
de LIBRAS
564 ndash Algumas consideraccedilotildees finais
Os informantes mostraram sua histoacuteria e nela pude perceber que
sinalizavam diferentemente uma mesma palavra principalmente aqueles
que viveram em lugares diferentes
Sabemos que a histoacuteria humana sofre transformaccedilotildees ao longo do
tempo mas nem sempre os seres humanos se datildeo conta das mudanccedilas
que podem acontecer no passado no presente e no futuro Na sociedade
acontecem transformaccedilotildees tecnoloacutegicas poliacuteticas econocircmicas sociais e
culturais Todas essas transformaccedilotildees influenciam o modo como usamos
a liacutengua E a liacutengua se modifica com o tempo
Noacutes tambeacutem mudamos as ldquocoisas da vidardquo A comunidade surda
tem um jeito proacuteprio de demonstrar as variaccedilotildees regionais e mudanccedilas
quanto agrave liacutengua de sinais a ponto de ser possiacutevel identificar a
procedecircncia de um surdo do nordeste ou do sul com base apenas no seu
gestual
A comunidade surda antigamente apresentava uma forma de
conversar em LIBRAS mais cotidiana e restrita agrave associaccedilatildeo de surdos
mas na atualidade a comunicaccedilatildeo eacute mais ampla acontece em vaacuterios
locais como escolas universidades congressos viagens turiacutesticas etc
ampliando conhecimentos e conhecendo novos sinais em contexto
social
147
Um surdo conversa com outro surdo utilizando a liacutengua de sinais
e qualquer pessoa ouvinte pode aprender LIBRAS e se comunicar na
comunidade surda mesmo natildeo tendo fluecircncia Dessa forma os surdos e
ouvintes podem se comunicar na LIBRAS Aleacutem disso a comunicaccedilatildeo
entre duas ou mais pessoas pode se dar em diferentes contextos sociais
Vale ressaltar que poucos surdos conheciam a gramaacutetica ou tinham
conhecimento linguiacutestico da LIBRAS ateacute porque eacute uma liacutengua que estaacute
sendo ensinada para o surdo nas escolas a partir da LEI de
reconhecimento e ainda natildeo eacute ensinada a parte de reflexatildeo linguiacutestica
estaacute mais voltada para sua praacutetica (o uso)
Segundo Labov
Ao falar do papel de fatores sociais que influenciam a
evoluccedilatildeo linguiacutestica eacute importante natildeo superestimar o
grau de contato ou de superposiccedilatildeo entre valores sociais
e a estrutura da liacutengua A estrutura linguiacutestica e a
estrutura social natildeo satildeo de modo algum coextensivas A
grande maioria das regras linguiacutesticas estatildeo bastante
distantes de qualquer valor social elas fazem parte do
elaborado mecanismo de que o falante precisa para
traduzir seu complexo conjunto de significados ou
intenccedilotildees em forma linear (LABOV 2008 [1972] p
290)
Em vaacuterios lugares (regiotildees) da comunidade surda usar a LIBRAS
em breve vai ser como falar em inglecircs em francecircs em italiano e em
outras liacutenguas Todas as liacutenguas satildeo importantes poreacutem alguma pode
ser mais reconhecida no mundo e influenciar mais Natildeo podemos
descartar a possibilidade de outras liacutenguas serem mais reconhecidas
assim como natildeo podemos prever quais liacutenguas influenciaratildeo mais no
mundo em outras eacutepocas quais dialetos novos teremos e quais variaccedilotildees
e mudanccedilas linguiacutesticas Talvez no futuro tenhamos mais influecircncia das
liacutenguas de sinais na comunicaccedilatildeo do mundo
148
149
CAPIacuteTULO VI ndash Descriccedilatildeo e anaacutelise dos resultados
61 ndash Introduccedilatildeo
Realizei a pesquisa escrita baseado nos relatos dos informantes
das trecircs geraccedilotildees pesquisadas atraveacutes de filmagem Primeiro busquei
nessas filmagens sinais que fossem relevantes para a pesquisa
variaccedilotildees e mudanccedilas lexicais e variaccedilotildees e mudanccedilas fonoloacutegica na
LIBRAS Em seguida fiz uma listagem de sinais com a palavra
correspondente em Liacutengua Portuguesa observando o nuacutemero de vezes
em que o sinal era apresentado aparecia Depois escolhi os sinais que
mais apareciam nos trecircs grupos de informantes e verifiquei as CM (paacuteg
225 e 227) que apareceram Apoacutes isto fiz tabelas gerais para pesquisa
de variaccedilatildeo lexical mudanccedila lexical variaccedilatildeo fonoloacutegica e mudanccedila
fonoloacutegica Foram escolhidos dezessete sinais para anaacutelise porque
apareceram nos trecircs grupos e em maior nuacutemero Apoacutes a escolha dos
sinais construiacute quatro tabelas gerais com os sinais produzidos pelos trecircs
grupos pesquisados com a CM utilizada na sinalizaccedilatildeo Por fim fiz a
anaacutelise dos dados obtidos
Ressalto que a descriccedilatildeo dos informantes que realizaram as
entrevistas nas trecircs geraccedilotildees em diferentes faixas etaacuterias traz
informaccedilotildees de grande importacircncia para a anaacutelise dos dados obtidos
referentes agraves possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas na Liacutengua de
Sinais em Santa Catarina
Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os seguintes toacutepicos
comparaccedilatildeo dos dados dos grupos das trecircs geraccedilotildees de surdos na liacutengua
de sinais e descriccedilatildeo sobre variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na liacutengua de
sinais com a existecircncia de um ou mais sinais dos informantes das trecircs
geraccedilotildees descriccedilatildeo da variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua de
sinais e explicaccedilatildeo de como o mesmo sinal pode ser utilizado e por
fim anaacutelise dos resultados das trecircs geraccedilotildees dos informantes
considerando as variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas na Liacutengua Brasileira
de Sinais
62 ndash A comparaccedilatildeo dos dados o grupo de trecircs geraccedilotildees de surdos
na liacutengua de sinais
Os dados recolhidos no programa de transcriccedilatildeo na liacutengua de
sinais ndash ELAN foram analisados e comparados com o propoacutesito de
mostrarapontar possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas que
aconteceram na liacutengua de sinais em Santa Catarina Os informantes
150
apresentaram individualmente suas respostas ao questionaacuterio referente a
seu aprendizado escolar e a sua vida Essas apresentaccedilotildees gravadas em
viacutedeo tecircm o objetivo de mostrar a experiecircncia na liacutengua de sinais dos
informantes nas trecircs geraccedilotildees pesquisadas
Para anaacutelise dos dados recolhidos foi feita uma tabela
denominada Preliminar dos dados ndash variaccedilotildees ou mudanccedilas
linguiacutesticas Nessa tabela vemos a transcriccedilatildeo dos depoimentos e a
identificaccedilatildeo dos Grupos (I II e III) de surdos que narraram a sua
experiecircncia na liacutengua de sinais Seguem as principais abordagens
pesquisadas
No primeiro momento investigo a variaccedilatildeo e
mudanccedila lexical na Liacutengua Brasileira de Sinais onde
dois ou mais sinais existem na liacutengua ao mesmo tempo
descrevo a mudanccedila em dois sinais que se daacute quando o
antigo sinal some e um novo entra
No segundo e uacuteltimo momento investigo a variaccedilatildeo e
mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua Brasileira de Sinais em
que um mesmo sinal possui mais de uma forma de
realizaccedilatildeo descrevo a mudanccedila que se observa quando um
sinal altera de caracteriacutesticas com relaccedilatildeo aos paracircmetros
configuraccedilatildeo das matildeos ponto de articulaccedilatildeo e movimento
Foi interessante realizar a pesquisa dos dados dos trecircs grupos
porque eacute um desafio aleacutem de me permitir identificar os sinais das
geraccedilotildees pesquisadas A princiacutepio foram identificados os sinais que
eram utilizados pelos surdos mais velhos e que os jovens natildeo
conheciam Em seguida os sinais com configuraccedilatildeo de matildeos (CM) e
ponto de articulaccedilatildeo (PA) diferentes e tambeacutem os sinais com
configuraccedilatildeo de matildeos (CM) iguais e ponto de articulaccedilatildeo (PA)
diferentes Por uacuteltimo os sinais com configuraccedilatildeo de matildeos (CM)
diferentes e ponto de articulaccedilatildeo (PA) iguais
Os sinais apresentados pelos informantes das trecircs geraccedilotildees
totalizaram 255 sinais Nesse total foram utilizados 17 vocaacutebulos para a
anaacutelise dos resultados e levantamento dos sinais de cada informante dos
trecircs Grupos (I II e III) Alguns sinais foram dispensados porque
tornariam a pesquisa muito ampla Dos 255 sinais encontrados para
anaacutelise 115 foram apresentados pelos surdos do Grupo mais jovem 163
foram apresentados pelo Grupo com idade intermediaacuteria e 183 pelo
Grupo dos mais velhos
Esta distribuiccedilatildeo por faixa etaacuteria compreende 9 informantes trecircs
151
em cada uma das geraccedilotildees formando os trecircs Grupos pesquisados (I II e
III) O resultado mais significativo foi mostrado pelos informantes do
grupo de indiviacuteduos mais velhos (G e I) possibilitando numa primeira
anaacutelise perceber algumas variaccedilotildees e mudanccedila na liacutengua de sinais Ficou
perceptiacutevel que o grupo de surdos dos mais velhos influenciou a liacutengua
de sinais em Santa Catarina na comunidade surda Segue tabela com os
nuacutemeros de sinais levantados em cada um dos trecircs grupos
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Sinais
Analisados
183
163
115
Tabela 09 ndash Preliminar dos dados ndash Variaccedilotildees ou mudanccedilas linguiacutesticas
Como jaacute foi comentado anteriormente a comunidade surda em
Santa Catarina ateacute aproximadamente o ano de 2000 teve um uacutenico
professor surdo no nosso estado e que influenciou a liacutengua de sinais O
fator externo que influenciou a liacutengua de sinais em SC atraveacutes do
professor Francisco foi o agrupamento dos surdos de todo o estado
formando uma comunidade surda que tambeacutem participa da
identificaccedilatildeo de classe do grupo informante Outro fator externo eacute
percebido nos Grupos II e I que mostram sinais aprendidos no contato
com o professor surdo na escola e tambeacutem no Ciacuterculo de Surdo-Mudo
em Santa Catarina sendo que o Grupo II influenciou o Grupo III
Na tabela em anexo percebe-se que dos 255 sinais coletados o
Grupo I apresentou mais sinais do que os Grupos II e III Talvez os
sinais natildeo conhecidos pelo Grupo III sejam os sinais criados
recentemente pela comunidade surda acadecircmica
Nas quatro tabelas gerais dos dados (paacuteg153 167 174 e 176)
tambeacutem apresenta na coluna agrave esquerda dos informantes o sinal (leacutexico)
e na direita os trecircs grupos de diferentes geraccedilotildees com diferentes faixas
etaacuterias que variam de 25 a mais de 80 anos e totalizam nove (9) indiviacuteduos Na coluna sinal (leacutexico) apresentam-se os dados que foram
escolhidos para realizar a pesquisa nos Grupos I II e III as variaacuteveis
independentes (homem mulher idade escolaridade e profissatildeo) que
152
podem mostrar tambeacutem variaccedilatildeo e mudanccedila na liacutengua de sinais usada
pelos informantes
63 ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na Liacutengua Brasileira de Sinais
Nesta seccedilatildeo vatildeo ser observados os itens lexicais que estatildeo em
variaccedilatildeo nas trecircs geraccedilotildees Comparando os sinais eles podem ser
produzidos atraveacutes de um sinal ou mais por exemplo o sinal de ldquomatildeerdquo
no passado tinha apenas um sinal (simples) atualmente utilizam-se dois
sinais (composto) para esta representaccedilatildeo Isto mostra que acontece
variaccedilatildeo lexical em LIBRAS Outros exemplos de sinais em variaccedilatildeo
satildeo ldquoaposentarrdquo ldquoaviatildeordquo ldquomatildeerdquo ldquopairdquo ldquopoliacuteticardquo ldquopretordquo
ldquoreuniatildeordquo e ldquosemanardquo (Tabela geral dos dados a seguir)
Nos Grupos I e II nos sinais de banco feio meacutedico porque
padre e ter tambeacutem acontece variaccedilatildeo lexical pois tem mais de um
sinal que existe na liacutengua ao mesmo tempo Nos Grupos I e III o sinal de
nome aponta variaccedilatildeo lexical
Foi apresentada na discussatildeo sobre mudanccedila lexical de alguns
sinais na Liacutengua Brasileira de Sinais (MAtildeE e PAI) Agora seraacute mostrada
a variaccedilatildeo lexical encontrada nos sinais utilizados pelos informantes das
trecircs geraccedilotildees (Grupos I II e III)
Veja a tabela a seguir elaborada para descrever os resultados
obtidos dos informantes dos Grupos I II e III Os nuacutemeros que
aparecem na tabela correspondem agrave configuraccedilatildeo de matildeos (CM) num
total de 64 posiccedilotildees diferentes que as matildeos podem assumir (ver anexo
paacutegina 225)
153
Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na Liacutengua
Brasileira de Sinais
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
APOSENTAR CM ndash 01 02
07 11 57
CM ndash 01 02
11 57
CM ndash 01 11
AVIAtildeO CM ndash 53a CM ndash 36 37a
40
CM ndash 40
MAtildeE CM ndash 02 14
63
CM ndash 01 02
06 14 60 63
CM ndash 02 07
14
PAI CM ndash 01 11
14 16 38
CM ndash 01 02
11 16 38 45
CM ndash 02 11
16 38 45
POLIacuteTICA CM ndash 11 51a CM ndash 11 14 CM ndash 11
PRETO CM ndash 05 34
62
CM ndash 05 CM ndash 05
REUNIAtildeO CM ndash 14 CM ndash 14 15
25
CM ndash 25
SEMANA CM ndash 08a 10
64
CM ndash 10 CM ndash 10
Os quadros a seguir mostram a sequecircncia dos sinais lexicais
utilizados pelos informantes desta pesquisa na liacutengua de sinais nas trecircs
geraccedilotildees
Observe-se inicialmente o item lexical APOSENTAR
154
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Aposentar
(1)
Figura 31
CM ndash 01 11
(2)
Figura 32
CM ndash 02 57
(1)
Figura 34
CM ndash 01 11
(2)
Figura 35
CM ndash 02 57
Figura 36
CM ndash 01 11
155
(3)
Figura 33
CM ndash 07
Quadro 01 ndash Sinal de Aposentar
O sinal de aposentar apresentado no quadro 01 no Grupo I (mais
velhos) apareceu com trecircs sinais diferentes o que indica variaccedilatildeo
lexical O Grupo III (mais jovem) utiliza o sinal com a configuraccedilatildeo de
matildeos (CM) - 01 e 11 com o movimento no espaccedilo neutro
consecutivamente para frente Os Grupos I e II utilizaram a CM - 02 57
(palma da matildeo aberta se fechando agrave medida que o antebraccedilo puxa para
traacutes junto ao lado do corpo no espaccedilo neutro) O Grupo I apresentou o
sinal de aposentar com a CM ndash 07 ambas as matildeos saiacutedas do espaccedilo
neutro na frente do corpo indo ateacute o peito Esse sinal atualmente eacute
produzido para indicar folga descanso e acomodar O Grupo III natildeo
conhece o sinal de aposentar do Grupo I talvez por isso eles utilizam
com outro significado O Grupo I tem trecircs sinais diferentes para
ldquoaposentarrdquo como mostram as figuras 31 32 e 33 mas o significado eacute o
mesmo isso pode ser variaccedilatildeo lexical mas tudo indica que ocorre
tambeacutem mudanccedila lexical O Grupo I tem um uacutenico sinal diferente do
Grupo III Parece que atualmente o sinal tem outro significado
Inicialmente observe-se o item lexical AVIAtildeO
156
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Aviatildeo
Figura 37
CM ndash 53a
(1)
Figura 38
CM ndash 36
(2)
Figura 39
CM ndash 37a
(3)
Figura 40
CM ndash 40
Figura 41
CM ndash 40
Quadro 02 ndash Sinal de Aviatildeo
157
Sabe-se que o professor Francisco iniciou o ensino para alguns
surdos utilizando a soletraccedilatildeo no alfabeto digital em Portuguecircs
Observando os trecircs grupos foi possiacutevel identificar as
modificaccedilotildees graduais deste sinal que iniciou com a soletraccedilatildeo Depois
foi apresentada como em CM ndash 53a a matildeo parte do lado do corpo em
linha reta e ascendente imitando a decolagem do aviatildeo usada pelo
Grupo I (mais velhos) O Grupo II apresentou as configuraccedilotildees CM ndash
36 CM ndash 37a CM - 40 tambeacutem imitando a decolagem do aviatildeo No
Grupo III apareceu apenas o sinal com a CM ndash 40 ou seja continuou
igual ao utilizado pelo Grupo II
Veja a seguir o item lexical MAtildeE
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Matildee
(1)
Figura 42
CM ndash 02
(1)
Figura 45
CM ndash 02
(1)
Figura 48
CM ndash 02 07
158
(2)
Figura 43
CM ndash 14
(3)
Figura 44
CM ndash 63
(2)
Figura 46
CM ndash 14
(3)
Figura 47
CM ndash 63
(4)
(2)
Figura 49
CM ndash 14
Quadro 03 ndash Sinal de Matildee
No quadro 03 aparece na figura 43 46 e 49 nos Grupos I II e III
o sinal de matildee que tem variaccedilatildeo lexical ao mesmo tempo Entatildeo os
Grupos I e II tambeacutem mostram o mesmo sinal No Grupo III a figura 48
mostra o sinal de matildee (mulher^benccedilatildeo = matildee) o que acontece eacute um sinal
composto em variaccedilatildeo lexical Nas figuras 42 45 e 48 a configuraccedilatildeo de
matildeos acontece (igualmente) nos trecircs grupos As figuras 44 e 47 nos Grupos I e II mostram a palma da matildeo aberta para frente e o dorso da
matildeo colocado na boca para o sinal de matildee o que tambeacutem indica
variaccedilatildeo lexical
No quadro 03 tambeacutem mostra mudanccedila lexical O sinal de ldquoM-Atilde-
Erdquo aparece soletrado no alfabeto digital e outro com a configuraccedilatildeo de
159
matildeos (CM) em ldquoMrdquo (nuacutemero da CM ndash 01 06 60) com ponto de
articulaccedilatildeo (PA) na boca num movimento (M) de roccedilar a matildeo para
frente (reto) Atualmente o sinal de MAtildeE eacute realizado da seguinte forma
o sinal de mulher (matildeo fechada e polegar riscando o rosto de cima para
baixo) junto com a matildeo fechada sendo beijada no dorso (mulher^benccedilatildeo
= MAtildeE) representando um sinal composto
Comparando o sinal de MAtildeE apresentado pelos informantes dos
trecircs Grupos (I II e III) nota-se que ocorreu mudanccedila lexical a forma de
configuraccedilatildeo de matildeos (CM) modificou-se
Pode ser que a distinccedilatildeo entre variaccedilatildeo lexical e mudanccedila lexical
nem sempre estaacute clara mas pode ser estabelecida em alguns casos dos
sinais
O quadro a seguir mostra variaccedilatildeo e mudanccedila do item lexical
PAI
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Pai
(1)
Figura 50
CM ndash 11
(1)
Figura 53
CM ndash 16
(1)
Figura 55
CM ndash 11 38
160
(2)
Figura 51
CM ndash 14
(3)
Figura 52
CM ndash 16
(4)
(2)
Figura 54
CM ndash 02 45
(3)
(2)
Figura 56
CM ndash 16
(3)
Figura 57
CM ndash 02 45
Quadro 04 ndash Sinal de Pai
Nas figuras 52 53 e 56 dos Grupos I II e III na configuraccedilatildeo de
matildeos (CM) o dedo indicador curvado colocado como se fosse um
bigode movimenta-se para frente e para traacutes significando sinal de pai
Os Grupos II e III mostram o sinal composto (homem^benccedilatildeo = pai)
Nas figuras 54 e 57 tambeacutem temos variaccedilatildeo e mudanccedila lexical Na
figura 51 o dedo indicador reto eacute colocado como se fosse um bigode
fazendo movimento para a direita no Grupo I Nas figuras 50 e 55 nos
Grupos I e III mostra-se a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) - 11 tambeacutem
161
imitando um bigode fazendo movimento para a direita e no Grupo III
mostra-se o empreacutestimo linguiacutestico ldquoP-Irdquo (CM) -11 38 o sinal de pai
No quadro 04 tambeacutem aparece mudanccedila lexical O sinal de
famiacutelia que mostra a palavra ldquoP-A-Irdquo eacute apresentado na soletraccedilatildeo de
matildeos Haacute uma mudanccedila linguiacutestica porque inicia com o sinal ldquoPrdquo (CM ndash
11) passando sobre os laacutebios depois o sinal de bigode realizado de duas
formas diferentes (o dedo indicador em cima do laacutebio superior e o dedo
indicador flexionado tambeacutem em cima do laacutebio superior) e ainda o sinal
ldquoPrdquo saindo dos laacutebios indo para frente formando o sinal ldquoIrdquo (CM ndash 38)
e atualmente o sinal de homem (CM ndash 45) fechar a matildeo e beijar as
costas da mesma (CM ndash 02) Observam-se nesse caso cinco diferentes
sinais ilustrando as variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas Acredita-se que
o contado dos diferentes surdos em comunicaccedilatildeo com gestos familiares
proporcionou uma troca entre eles influenciando a comunidade surda e
a escola com uma classe de surdos onde os alunos tiveram contato com
a soletraccedilatildeo de palavras em Portuguecircs e nos respectivos sinais
O Grupo I apresentou trecircs sinais diferentes nas figuras 50 51 e 52
ldquopaisrdquo o que pode indicar variaccedilatildeo lexical O Grupo II mostra dois
sinais diferentes nas figuras 53 e 54 tem um sinal composto
homem^benccedilatildeo = pai que foi utilizado pelo Grupo III
Observe agora no quadro a seguir o item lexical POLIacuteTICA
162
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Poliacutetica
Figura 58
CM ndash 11 51a
(1)
Figura 59
CM ndash 11
(2)
Figura 60
CM ndash 14
Figura 61
CM ndash 1 1
Quadro 05 ndash Sinal de Poliacutetica
No quadro 05 o sinal de POLIacuteTICA se daacute atraveacutes da matildeo direita
na configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 11 colocada em movimento circular
(girando) no lado do rosto com a bochecha insuflada sinal apresentado
pelos Grupos II e III O Grupo I apresenta um sinal icocircnico porque eacute a
representaccedilatildeo da sede do congresso em Brasiacutelia O Grupo II mostra
tambeacutem outro sinal para poliacutetica com CM ndash 14 o dedo indicador das matildeos com as extremidades proacuteximas em frente do corpo em movimento
alternado para cima e para baixo localizado no espaccedilo neutro
No Grupo III na figura 61 com CM ndash 14 eacute o uacutenico sinal com
configuraccedilatildeo diferente e que o significado tambeacutem pode ser entendido
163
como discutir a poliacutetica aparecendo nesse caso com sentido
abrangente
Veja a seguir o item lexical PRETO
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Preto
(1)
Figura 62
CM ndash 34 62
(2)
Figura 63
CM ndash 05
Figura 64
CM ndash 05
Figura 65
CM ndash 05
Quadro 06 ndash Sinal de Preto
No quadro 06 aparece o sinal de PRETO com a matildeo direita com
CM ndash 05 palma para baixo simulando girar uma chave ao lado da
cabeccedila Um dos informantes do Grupo I utilizou o sinal de preto que
acredito teve influecircncia da liacutengua de sinais produzida no Rio de janeiro
Os Grupos II e III apresentaram o sinal regional utilizado na grande
Florianoacutepolis Os Grupos I II e III mostram o mesmo sinal para preto
164
nas figuras 63 64 e 65 mas tem um sinal diferente apresentado pelo
Grupo I nas figuras 62 e 63
O sinal produzido pelo Grupo I na figura 62 eacute utilizado ateacute hoje
no Rio de Janeiro e percebo que tambeacutem eacute utilizado por interpretes e
estudantes surdos da UFSC
Veja a seguir o item lexical REUNIAtildeO
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Reuniatildeo
Figura 66
CM ndash 14
(1)
Figura 67
CM ndash 25
(2)
Figura 68
CM ndash 14
Figura 70
CM ndash 25
165
(3)
Figura 69
CM ndash 15
Quadro 07 ndash Sinal de Reuniatildeo
No quadro 07 o sinal de REUNIAtildeO mostrado pelos Grupos II e
III com CM ndash 25 nas matildeos estaacute localizado no espaccedilo neutro com as
palmas das matildeos para frente as matildeos em movimento semicircular
fechando em ciacuterculo Os Grupos I e II mostram como em CM ndash 14
realizado da mesma forma que o descrito anteriormente sinal este que o
grupo jovem natildeo conhece O Grupo II apresenta um sinal de REUNIAtildeO
com as matildeos como em CM ndash 15 em espaccedilo neutro movendo-se
alternadamente para frente e para traacutes com a palma das matildeos proacuteximas
este grupo apresentou trecircs sinais diferentes enquanto os Grupos I e III
mostraram apenas um
No Grupo II na figura 69 o sinal eacute diferente e natildeo aparece no
Grupo I e no Grupo III mas o significado deste eacute REUNIAtildeO particular
com poucas pessoas Talvez por isso natildeo apareceu nos outros dois
grupos Nas figuras 68 e 69 os sinais apresentam variaccedilatildeo fonoloacutegica
porque mudou o traccedilo linguiacutestico o ponto de articulaccedilatildeo da sinalizaccedilatildeo
no espaccedilo neutro eacute o mesmo mas a CM e o movimento se alteram
Veja a seguir o item lexical SEMANA
166
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Semana
(1)
Figura 71
CM ndash 08a 64
(2)
Figura 72
CM ndash 10
Figura 73
CM ndash 10
Figura 74
CM ndash 10
Quadro 08 ndash Sinal de Semana
No quadro 08 aparece o sinal de SEMANA com a matildeo esquerda
aberta palma para fora (CM ndash 08a ldquoLrdquo) matildeo direita CM - 64 palma
para fora direcionando as duas matildeos para o lado direito O grupo de
informante III (terceira geraccedilatildeo) apresentou a variaccedilatildeo do sinal descrita
anteriormente mas o Grupo II apresentou o sinal a matildeo direita com
forma de configuraccedilatildeo CM - 10 direcionando a matildeo direita para o lado
direito ponto de articulaccedilatildeo no espaccedilo neutro O Grupo I (primeira
geraccedilatildeo) apresentou no queixo o sinal de semana como em CM ndash 10
Isso mostra a variaccedilatildeo do sinal apresentado pelos informantes nas trecircs
geraccedilotildees por faixa etaacuteria Os trecircs grupos sinalizam semana de forma
diferente nas figuras 71 72 e 74 Os Grupos I e II sinalizam semana nas
167
figuras 72 e 73 de forma igual O Grupo I eacute o uacutenico que realiza o sinal
no espaccedilo neutro e o Grupo III inicia o sinal no queixo e termina-o no
espaccedilo neutro
Uma das razotildees para variaccedilatildeo e mudanccedila lexical acontecer eacute por
influecircncia tecnoloacutegica que transforma a sociedade que cresce no
cotidiano por necessidade na liacutengua usada na conversa No caso da
pessoa surda em contato com a liacutengua de sinais ela acaba valorizando
mais a liacutengua de sinais que torna a cultura surda dinacircmica e proporciona
uma nova forma de comunicaccedilatildeo para o indiviacuteduo surdo Na
comunidade surda precisamos buscar o conhecimento cada vez maior
para aumentar o leacutexico da liacutengua em sinais
Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na Liacutengua
Brasileira de Sinais
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
BANCO CM ndash 53a 61 CM ndash 53a 61 CM ndash 53a
FEIO CM ndash 07 64 CM ndash 8a CM ndash 08a
MEacuteDICO CM ndash 16 44 CM ndash 16 44 CM ndash 16
NOME CM ndash 21 24 CM ndash 24 CM ndash 24
PORQUE CM ndash 14 15 CM ndash 14 15 CM ndash 14
O quadro a seguir apresenta a sequecircncia dos sinais lexicais que
sofreram mudanccedila na liacutengua de sinais dos informantes dos Grupos I II e
III nas trecircs geraccedilotildees Inicialmente seraacute descrito o item lexical BANCO
168
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Banco
(1)
Figura 75
CM ndash 53a
(2)
Figura 76
CM ndash 61
(1)
Figura 77
CM ndash 53a
(2)
Figura 78
CM ndash 61
Figura 79
CM ndash 53a
Quadro 09 ndash Sinal de Banco
No quadro 09 a CM ndash 61 corresponde agrave letra B no alfabeto
digital palma da matildeo voltada para a esquerda batendo suavemente em
cima do peito esquerdo Este sinal foi utilizado pelos Grupos II e I
sofrendo uma mudanccedila lexical pois modificou o ponto de articulaccedilatildeo e
a CM com o mesmo movimento Os informantes do Grupo III (jovens)
natildeo utilizam e talvez natildeo conheccedilam o sinal de BANCO utilizado pelos
Grupos II e I Podemos chamar de mudanccedila em tempo aparente
Nos Grupos I II e III apresentam variaccedilatildeo lexical os sinais das
figuras 75 77 e 79 pois se realizam da mesma forma Nos Grupos I e II
169
as figuras 76 e 78 apresentam um sinal que natildeo eacute mais utilizado
caracterizando uma mudanccedila lexical
Observe-se agora o sinal do item lexical FEIO
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Feio
Figura 80
CM ndash 07 64
64
Figura 81
CM ndash 08a
Figura 82
CM ndash 08a
Quadro 10 ndash Sinal de Feio
No quadro 10 a CM ndash 08a (L) usa palma da matildeo em frente da
boca o dedo indicador apontando para a esquerda em seguida abaixa-
se a matildeo ateacute a altura do peito O sinal utilizado pelo Grupo I mostra uma
mudanccedila lexical no sinal de FEIO o sinal de bonito (matildeo aberta com
palma da matildeo voltada para o rosto na frente fazendo um ciacuterculo e se
fechando) e mais o sinal de negaccedilatildeo matildeo fechada com polegar para
baixo Houve uma troca na configuraccedilatildeo de matildeos (CM) de ponto de
articulaccedilatildeo (PA) e movimento (M) do sinal pelos surdos do Grupo III
(mais jovens de 15 a 30 anos de idade) O Grupo I faz dois sinais
bonito^ruim = feio na figura 80 como se fosse o contraacuterio de bonito O
Grupo II faz o sinal de feio para pessoas enquanto o Grupo III sinaliza
com significado de feio para objetos
64 A imagem da CM segue a ordem da tabela com as configuraccedilotildees
170
Observe-se a seguir o item lexical MEacuteDICO
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Meacutedico
(1)
Figura 83
CM ndash 16
(2)
Figura 84
CM ndash 44
(1)
Figura 85
CM ndash 16
(2)
Figura 86
CM ndash 44
Figura 87
CM ndash 16
Quadro 11 ndash Sinal de Meacutedico
No quadro 11 o sinal de MEacuteDICO aparece diferenciado no Grupo
I (geraccedilatildeo G H e I) O sinal de MEacuteDICO eacute produzido com a
configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 44 com ponto de articulaccedilatildeo (PA) no
peito em cima do coraccedilatildeo movimentando-se semicircularmente ateacute o
lado direito Esse sinal mostra mudanccedila lexical pois o Grupo III
(jovens) inovou com relaccedilatildeo ao espaccedilo neutro65
o sinal eacute produzido
65 Espaccedilo Neutro ndash ldquono caso do uso de pontos arbitraacuterios o estabelecimento ocorre em um
local neutro do espaccedilo da sinalizaccedilatildeo e em geral satildeo distribuiacutedos no espaccedilo de forma a serem
171
com a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 16 em ambas as matildeos onde uma eacute
ativa e outra passiva e o dedo indicador direito bate na 2a falange do
dedo esquerdo
Podemos dizer que o sinal que aparece nos Grupos I e II e que
natildeo aparece no Grupo III eacute um sinal icocircnico Acredito que ainda eacute
utilizado apenas natildeo apareceu nas sinalizaccedilotildees do grupo dos mais
jovens que apresentam uma fluecircncia maior na LIBRAS
Veja a seguir a configuraccedilatildeo do item lexical NOME
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Nome
(1)
Figura 88
CM ndash 21
(2)
Figura 89
CM ndash 24
Figura 90
CM ndash 24
Figura 91
CM ndash 24
Quadro 12 ndash Sinal de Nome
amplamente diferenciados Os pontos podem estar acima ou abaixo do espaccedilo neutro se esses apresentarem uma imagem apropriada (por ex um aviatildeo seraacute apontado acima do espaccedilo
neutro)rdquo QUADROS et al (2008 p 07)
172
No quadro 12 mostra o sinal de NOME com a configuraccedilatildeo de
matildeos (CM) ndash 24 (matildeo direita em ldquoUrdquo no Alfabeto Digital) palma da
matildeo para frente dedos apontados para cima na altura do peito movem-
se os dedos do lado esquerdo para o lado direito Na leitura dos
resultados encontrados apareceu uma mudanccedila lexical na liacutengua de
sinais o Grupo I utiliza a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 21 24 na (CM)
ndash 21 representa o nome do crachaacute (sinal icocircnico) Acontece mudanccedila
lexical pois as configuraccedilotildees de matildeos (CM) os pontos de articulaccedilotildees
(PA) os movimentos (M) e a orientaccedilatildeo satildeo diferentes (OP) Aqui
temos tambeacutem mudanccedila fonoloacutegica as configuraccedilotildees de matildeos satildeo
diferentes
O quadro a seguir mostra a configuraccedilatildeo do item lexical
PORQUE
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Porque
(1)
Figura 92
CM ndash 14
(1)
Figura 94
CM ndash 14
Figura 96
CM ndash 14
173
(2)
Figura 93
CM ndash 15
(2)
Figura 95
CM ndash 15
Quadro 13 ndash Sinal de Porque
No quadro 13 o sinal de PORQUE no Grupo I e II aparece com
CM ndash 15 (dedo indicador flexionado saindo da tecircmpora em diagonal) e
nos trecircs grupos aparece o sinal com a CM ndash 14 dedo indicador direito e
esquerdo em diagonal bater o indicador direito sobre o esquerdo vaacuterias
vezes no espaccedilo neutro O sinal com a CM ndash 14 aparece na sinalizaccedilatildeo
dos informantes das trecircs geraccedilotildees permanecendo ateacute a atualidade
O sinal que os Grupos I e II fizeram nas figuras 93 e 95 natildeo eacute
mais realizado pelo grupo dos mais jovens que tambeacutem natildeo conhece o
significado
64 ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua Brasileira de Sinais
A variaccedilatildeo e a mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua Brasileira de
Sinais satildeo observadas na semelhanccedila entre somfala ou sinais foneacutetico-
fonoloacutegicos Na Liacutengua Brasileira de Sinais encontram-se modificaccedilotildees
de pronuacutencia de certos itens lexicais atestando variaccedilatildeo e mudanccedila
fonoloacutegica Essa variaccedilatildeo depende da unidade lexical e pode decorrer de
diferentes paracircmetros a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) movimento (M)
ponto de articulaccedilatildeo (PA) e orientaccedilatildeo das matildeos Nesses casos a
configuraccedilatildeo de matildeos pode modificar mas o significado dos sinais
permanece o mesmo mostrando variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica As
autoras Quadros e Karnopp (2004 p47) definem a fonologia das
liacutenguas de sinais da seguinte forma
Fonologia das liacutenguas de sinais eacute o ramo da linguumliacutestica
que objetiva identificar a estrutura e a organizaccedilatildeo dos
constituintes fonoloacutegicos propondo modelos descritivos
e explanatoacuterios A primeira tarefa da fonologia para
174
liacutengua de sinais eacute determinar quais satildeo as unidades
miacutenimas que formam os sinais A segunda tarefa eacute
estabelecer quais satildeo os padrotildees possiacuteveis de
combinaccedilatildeo entre essas unidades e as variaccedilotildees possiacuteveis
no ambiente fonoloacutegico
Haacute pouca pesquisa cientiacutefica sobre variaccedilatildeo e mudanccedila
fonoloacutegica na LIBRAS no Brasil Pode-se verificar atraveacutes dos dados
dos informantes apresentados a cada pronuacutencia dos sinais diferentes de
uso a unidade miacutenima lexical pode se modificar (configuraccedilatildeo de matildeos
movimento e ponto de articulaccedilatildeo) No quadro 07 apresenta-se o sinal
de semana mostrando mudanccedila no ponto de articulaccedilatildeo e variaccedilatildeo e
mudanccedila fonoloacutegica nos Grupos I II e III
Veja a Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica
na Liacutengua Brasileira de Sinais com os resultados que foram escolhidos
nesta pesquisa para realizar a descriccedilatildeo e a anaacutelise
Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua
Brasileira de Sinais
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
ANTES CM ndash 08a 53a
63
CM ndash 08a CM ndash 08a
Veja agora os sinais para o item lexical ANTES
175
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Antes
(1)
Figura 97
CM ndash 53a 63
(2)
Figura 98
CM ndash 08a
Figura 99
CM ndash 08a
Figura 100
CM ndash 08a
Quadro 14 ndash Sinal de Antes
No quadro 14 aparece o sinal de ANTES com a seguinte
configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 08a a matildeo direita em L horizontal
(alfabeto digital) palma para baixo na frente do corpo no espaccedilo neutro
levantar o antebraccedilo da matildeo direita para cima Outro sinal aparece com
a (CM) ndash 53a e 63 inicia com a CM 63 e finaliza com a CM 53a com o
mesmo movimento do antebraccedilo descrito anteriormente Ambos os
informantes utilizam a expressatildeo facial necessaacuteria para a compreensatildeo
do sinal As trecircs geraccedilotildees apresentaram variaccedilatildeo fonoloacutegica o sinal eacute
produzido com diferentes configuraccedilotildees de matildeos mas os paracircmetros
movimento (M) e ponto de articulaccedilatildeo (PA) satildeo os mesmos
176
Nos Grupos I II e III apresentam os mesmos sinais com a mesma
CM ndash 08a mas temos com essa mesma CM o mesmo significado soacute
que com ponto de articulaccedilatildeo diferente acontecendo na palma da matildeo e
no dorso da matildeo e que tambeacutem pode ter significado de ldquoQue horasrdquo ou
pode estar atrasado para trabalhar ou ainda precisa agendar uma reuniatildeo
antes
Os dados coletados tambeacutem mostram mudanccedila e variaccedilatildeo
fonoloacutegica na liacutengua brasileira de sinais Sinais foram modificados com
o passar dos anos Observando os informantes percebe-se que os
paracircmetros mudaram da geraccedilatildeo mais antiga (Grupo I) em relaccedilatildeo agrave
geraccedilatildeo atual (Grupo III)
Observe na tabela a seguir os dados que foram escolhidos para
realizar a descriccedilatildeo e a anaacutelise dos resultados Ela apresenta a sequecircncia
das mudanccedilas e variaccedilotildees dos sinais lexicais na LIBRAS usados pelos
informantes nas trecircs geraccedilotildees
Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua
Brasileira de Sinais
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
CORTAR CM ndash 14 24
63
CM ndash 14 24 CM ndash 24
PADRE CM ndash 21 24
62
CM ndash 11 21
24
CM ndash 24
TER CM ndash 08a 63 CM ndash 08a 63 CM ndash 08a
Acompanhe agora a descriccedilatildeo do item lexical CORTAR
177
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Cortar
(1)
Figura 101
CM ndash 63
(2)
Figura 102
CM ndash 14 24
(3)
Figura 103
CM ndash 14
(1)
Figura 104
CM ndash 14
(2)
Figura 105
CM ndash 24
Figura 106
CM ndash 24
Quadro 15 ndash Sinal de Cortar
178
No quadro 15 observa-se que o Grupo I apresentou a
configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 63 (U) raspando o dedo meacutedio da matildeo
direita no dedo indicador da matildeo esquerda simulando cortar algo
Depois a CM ndash 14 junto com a CM 24 mostraram um movimento
simulando o corte com uma faca e tambeacutem a CM ndash 14 em ambas as
matildeos simulando o movimento de cortar O Grupo II apresentou a CM ndash
14 (igual a do Grupo I) e a CM ndash 24 simulando o movimento de cortar
O Grupo III (jovem) utilizou apenas a CM ndash 24
Exemplos das figuras apresentadas no quadro 15 mostrando
sinais de CORTAR66
em diferentes contextos satildeo apresentados a seguir
a) Em LIBRAS Grupo I - EU ANTES ESTUDAR LAacute INES
DEPOIS CORTAR MARCENEIRO (Figura 101)
Em Portuguecircs Grupo I ndash Eu era crianccedila estudava no INES
fomos cortar madeira com supervisatildeo de um marceneiro (Figura 101)
b) Em LIBRAS Grupo I - SURDOS LAacute INES CORTAR
PAPELAtildeO (Figura 102)
Em Portuguecircs Grupo I ndash Os alunos surdos do INES foram
cortar papelatildeo (Figura 102)
c) Em LIBRAS Grupo I - EU AIacute (FOGO) FOGO COMER
CARNE CORTAR UM (CADA) IRMAtildeO SENTAR COMER TODOS
COMER ARROZ BATATA AIPIM TODOS (Figura 103)
Em Portuguecircs Grupo I ndash Eu fiquei assustada com o fogo Eu e
meus irmatildeos sentados juntos a mesa cortei a carne e dei um pedaccedilo para
cada irmatildeo Todos comeram arroz batata e aipim aleacutem da carne
(Figura 103)
d) Em LIBRAS Grupo II ndash ANTES ERA PEQUENO
BRINCAR LAacute ESCOLA BALANCcedilO CORRENTE CORTAR DEDO
DOR (Figura 104)
Em Portuguecircs Grupo II ndash Quando era crianccedila fomos brincar no
parque da escola cortei o dedo na corrente (Figura 104)
e) Em LIBRAS Grupo II - FESTA CSMSC SURDOS CORTAR
CARNE BOLO TODOS SURDOS (Figura 105)
Em Portuguecircs Grupo II ndash Teve uma festa do Ciacuterculo de Surdos-
Mudos de Santa Catarina (CSMSC) para comemoraccedilatildeo dos surdos Foi
cortada a carne e o bolo para os surdos que foram a associaccedilatildeo (Figura
105)
66 Nesses casos noacutes temos sinais diferentes para o mesmo significado de ldquocortarrdquo que satildeo as imagens do quadro 15
179
f) Em LIBRAS Grupo III ndash EU LAacute CASA AMIGO SURDO
ALMOCcedilAR COMER PEDIR CORTAR CARNE CONVERSAR
AMIGO (Figura 106)
Em Portuguecircs Grupo III - Eu fui agrave casa do meu amigo surdo
almoccedilar pedi a ele para cortar a carne e tambeacutem conversei com os
amigos surdos (Figura 106)
O Grupo I eacute o uacutenico que utiliza para o sinal de cortar CM ndash 63 um
sinal diferente dos outros grupos mas com o mesmo significado Parece
que o Grupo I foi evoluindo o sinal comeccedilou com CM diferente em
cada matildeo e por fim uma mesma CM para ambas as matildeos O Grupo II
utilizou duas CM diferentes como o Grupo I mas realizava o sinal de
duas formas diferentes CM ndash 14 ou 24 mas a mesma CM para ambas as
matildeos O Grupo III realiza o sinal somente com a CM ndash 24 em ambas as
matildeos Como se observa parece que ocorreu mudanccedila fonoloacutegica nos
trecircs grupos pesquisados
Veja na sequecircncia a mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua brasileira de
sinais
A tabela a seguir traz os sinais do item lexical PADRE
180
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Padre
(1)
Figura 107
CM ndash 62
(2)
Figura 108
CM ndash 24
(1)
Figura 110
CM ndash 11
(2)
Figura 111
CM ndash 24
Figura 113
CM - 24
181
(3)
Figura 109
CM ndash 21
(3)
Figura 112
CM ndash 21
Quadro 16 ndash Sinal de Padre
Nos trecircs grupos apareceu o sinal com CM ndash 24 matildeo na frente do
peito no espaccedilo neutro desenhando uma cruz com a matildeo (Representaccedilatildeo
icocircnica) Os Grupos I e II apresentaram o mesmo sinal CM ndash 21
produzido na base do pescoccedilo iniciando do lado esquerdo indo ateacute o
lado direito como se estivesse desenhando a gola da batina (Icocircnico) O
Grupo I apresentou um sinal diferente com CM ndash 62 matildeo na frente do
peito no espaccedilo neutro desenhando uma cruz com a matildeo O Grupo II
tambeacutem mostra um sinal uacutenico com CM ndash 11 matildeo na frente do peito no
espaccedilo neutro desenhando uma cruz com a matildeo A configuraccedilatildeo de
matildeos (CM) foi sendo alterada no espaccedilo neutro Os informantes do
Grupo I II e III (nas trecircs geraccedilotildees) apresentaram sinais que podem ser
considerados como variaccedilatildeo ou mudanccedila fonoloacutegica
Na figura 107 o sinal parece ser igual ao que um padre faz na
missa ao despedir-se dos fieacuteis e na figura 110 parece que a CM ndash 11 (P)
recebe influecircncia do oralismo Um uacutenico sinal aparece nos trecircs grupos
satildeo das figuras 108 111 e 113 sendo o uacutenico utilizado pelo Grupo III
(jovens)
Veja na sequecircncia a mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua brasileira de
sinais
Agora observe o sinal variaacutevel do item lexical TER
182
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Ter
(1)
Figura 114
CM ndash 63
(2)
Figura 115
CM ndash 08a
(1)
Figura 116
CM ndash 63
(2)
Figura 117
CM ndash 08a
Figura 118
CM ndash 08a
Quadro 17 ndash Sinal de Ter
No quadro 17 aparecem os dados apresentados pelo Grupo I dos
trecircs informantes G H e I
Em conversa natildeo filmada com o informante G ele deu a seguinte
explicaccedilatildeo para a variaccedilatildeo do item ldquoTERrdquo antigamente o professor
Francisco Lima Juacutenior usava o sinal ldquoTERrdquo fazendo a soletraccedilatildeo do
sinal depois utilizou a configuraccedilatildeo de matildeo com todos os dedos
fechados (CM ndash 63) colocados no peito em seguida outra oposiccedilatildeo
seria a matildeo e os dedos abertos tambeacutem colocados no peito (CM ndash 64)
183
Atualmente o sinal ldquoTERrdquo eacute realizado como CM - 08a tambeacutem
colocado no peito Observa-se uma mudanccedila fonoloacutegica com alteraccedilatildeo
na liacutengua de sinais ao longo de algumas deacutecadas O dedo em ldquoLrdquo (08a) eacute
batido no meio do peito com a ponta do polegar
Os Grupos I e II mostram os sinais de ter nas figuras 114 e 116
com mesma CM ndash 63 Nas figuras 115 117 e 118 os sinais satildeo
realizados com a mesma CM ndash 08a O Grupo III permanece apenas com
um sinal
Veja na sequecircncia a mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua brasileira de
sinais
Na eacutepoca em que o professor Francisco foi professor era outro
tempo na comunicaccedilatildeo em liacutengua de sinais diferentemente de hoje tal
como se observa na comunicaccedilatildeo entre as pessoas mais jovens com
contato cultural maior O professor Francisco aprendeu no RJ a escrever
com o alfabeto digital (soletraccedilatildeo) e assim ele comeccedilou a ensinar Aleacutem
de ensinar o contato do aluno surdo com a comunidade de surdos fez
com que houvesse uma troca o Sr Francisco ensinou a soletraccedilatildeo no
alfabeto digital (alfabetizaccedilatildeo em Liacutengua Portuguesa) e aprendeu sinais
familiares dos diversos surdos com quem teve contato Todos
aprenderam e isso influenciou para que ocorresse mudanccedila fonoloacutegica
Pesquisando a LIBRAS nos Grupos I II e III confirmamos portanto
algumas mudanccedilas fonoloacutegicas
65 ndash O que dizem os resultados das trecircs geraccedilotildees dos informantes
na Liacutengua Brasileira de Sinais
A comunidade surda principalmente na associaccedilatildeo de surdo de
Santa Catarina abriu espaccedilo para o encontro de surdos proporcionando
a troca de informaccedilotildees e experiecircncias na liacutengua de sinais (visuais)
promovendo eventos na aacuterea esportiva cultural poliacutetica e na educaccedilatildeo
de surdo Todos esses espaccedilos sociais devem ter contribuiacutedo para o que
esta pesquisa jaacute aponta variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica em LIBRAS
Os resultados de certos itens lexicais usados pelos grupos de
indiviacuteduos investigados apontam que os Grupos I e II se distinguem do
184
Grupo III
Os resultados mostram que com passar do tempo os sinais entre
os grupos se modificam apresentando indiacutecios de mudanccedila em tempo
aparente na liacutengua de sinais nas trecircs geraccedilotildees O grupo dos mais jovens
de 15 a 30 anos (Grupo III) diferentemente dos outros dois grupos
(Grupo I e Grupo II) apresenta um sinal para cada palavra Acreditamos
que antes havia mais sinais porque eram familiares ou caseiros os quais
foram substituiacutedos eou modificados com o contato social maior que a
comunidade surda tem nos dias atuais Acreditamos que outros sinais
estatildeo sendo criados com o passar do tempo o que pode ser fruto de um
maior contato social entre os surdos jovens
Os resultados apontam que os trecircs grupos investigados (Grupos I
II e III) usaram vaacuterios sinais idecircnticos para algumas palavras os Grupos
I e II usaram outros e os Grupos II e III usaram palavras idecircnticas em
menor nuacutemero Entretanto os Grupos I e III (dos mais velhos e dos mais
jovens) natildeo usaram nenhuma palavra comum que se distinguisse do
Grupo II Os resultados apontam portanto que na LIBRAS haacute variaccedilatildeo
lexical e fonoloacutegica
Como eacute possiacutevel perceber a partir dos resultados apresentados o
contato entre as pessoas surdas transforma a liacutengua de sinais que jaacute
apresenta indiacutecios de variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica entre diferentes
geraccedilotildees como acontece em qualquer liacutengua natural
Nota-se nas narrativas contadas que os surdos tecircm consciecircncia de
seu papel nas trecircs geraccedilotildees de informantes e reconhecem a influecircncia
exercida pelo contato com outros surdos e com os surdos mais velhos
Certamente o Grupo III seraacute disseminador de conhecimento
aumentando cada vez mais o interesse de outros surdos pela liacutengua de
sinais e com a expansatildeo de seu uso naturalmente outras mudanccedilas vatildeo
acontecer transformando mais uma vez a liacutengua de sinais Aleacutem disso
pode-se identificar nas narrativas de todos os sujeitos a total
consciecircncia das pessoas envolvidas no processo de ampliaccedilatildeo do espaccedilo
de conforto do surdo Eacute mais uma parte da histoacuteria surda que se registra
tendo como personagem principalmente a pesquisa sobre a variaccedilatildeo e a
mudanccedila linguiacutestica na liacutengua de sinais em Santa Catarina
Eacute importante registrar o momento de pouco acesso dos surdos agrave
pesquisa a respeito da liacutengua brasileira de sinais seja no domiacutenio
puacuteblico ou privado Assim julga-se necessaacuterio o desenvolvimento de
mais estudos e de um contato mais intenso de sujeitos surdos com as
reflexotildees e conhecimentos que satildeo produzidos sobre essa liacutengua
refletindo o que dizem os informantes surdos nas trecircs geraccedilotildees da liacutengua
de sinais Sabe-se que em parte isso ocorre porque eacute uma liacutengua
185
oficializada recentemente
Os estudos tecircm apontado atraveacutes de recentes pesquisas que a
liacutengua de sinais eacute a forma mais adequada de comunicaccedilatildeo para a
educaccedilatildeo do surdo tendo em vista que como as outras liacutenguas
humanas a liacutengua de sinais eacute uma liacutengua natural podendo servir de base
para o ensino da liacutengua escrita
Finalmente espero que os resultados desta pesquisa possam
motivar-me e motivar outras pessoas a aprofundar o tema aqui
pesquisado
186
187
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Concluiacutemos que eacute importante pesquisar sobre a histoacuteria na liacutengua
de sinais em Santa Catarina em encontros sociais ou nas associaccedilotildees de
surdo Aleacutem de aprender a liacutengua de sinais os surdos que fazem parte
dessas associaccedilotildees acabam criando uma identidade surda trocam
experiecircncias evoluindo na proacutepria liacutengua criando e valorizando o seu
espaccedilo linguiacutesticocultural
Na liacutengua de sinais aqui no Brasil acontece a mesma coisa que
se observa no portuguecircs quanto agraves regras da liacutengua que satildeo oficiais
para todo o Brasil mas vaacuterios sinais satildeo diferentes para expressar a
mesma coisa Podemos utilizar no sul do Brasil um sinal e outro
sinal totalmente diferente na regiatildeo sudeste com o mesmo
significado
Surdos se encontram em associaccedilotildees ou outros espaccedilos
culturais para poder conversar trocar experiecircncia e aprender sua
liacutengua mas com o ouvinte acontece diferente eles natildeo precisam de
um local para esses encontros isso acontece em seu dia-a-dia todos
se falam O surdo necessita marcar encontros com outros surdos
para que aconteccedila a comunicaccedilatildeo pois poucos ouvintes sabem se
comunicar em LIBRAS Eles vatildeo para a associaccedilatildeo de surdos
aprender LIBRAS e com o passar do tempo podem se tornar
biliacutengues
Haacute falta de pesquisa em variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica das
liacutenguas de sinais e sobre o desenvolvimento e o domiacutenio desta liacutengua
Nada foi registrado nas uacuteltimas deacutecadas e parece que muitos dados sobre
os sujeitos surdos e sua histoacuteria da liacutengua de sinais foram prejudicados e
perdidos
Na UFSC por exemplo temos no curso de LETRASLIBRAS
a distacircncia que eacute pioneiro uma vitoacuteria do surdo acessando a
primeira Universidade Brasileira que estuda a liacutengua de sinais e que
oferece oportunidade de acesso ao estudo e aprofundamento
linguiacutestico da LIBRAS aleacutem das trocas de sinais em diferentes
regiotildees do paiacutes
Temos um grupo de surdos responsaacuteveis por criar sinais novos
de acordo com as necessidades encontradas pelas comunidades
surdas para diminuir a influecircncia da Liacutengua Portuguesa na
LIBRAS e possibilitar outros contatos fora do Brasil trazendo
relatos de experiecircncias de comunidades surdas de outros paiacuteses bem
como apresentaccedilotildees de pesquisas mais avanccediladas nas liacutenguas de
sinais
188
Eacute importante reforccedilar que a LIBRAS eacute uma liacutengua natural pois
possui estrutura gramatical eacute utilizada por um grande grupo social com
funccedilatildeo ativa e provedora de opiniatildeo Este tipo de liacutengua soacute se diferencia
das liacutenguas orais pela forma de se comunicar pois esta utiliza a accedilatildeo
gestual o que difere das demais liacutenguas que utilizam a accedilatildeo oral na
comunicaccedilatildeo
As pessoas falam que na ilha de Santa Catarina o dialeto falado eacute
o manezinho que vem sofrendo modificaccedilotildees com o passar dos anos
devido ao turismo que eacute forte na temporada de veratildeo O professor
Francisco e a comunidade surda na deacutecada de 1950 usavam o sinal de
dactilologia no mesmo sentido da liacutengua nativa mas com dialeto
proacuteprio Depois outros surdos vieram para Santa Catarina e sinalizaram
diferentemente Isso mostra que nas duas liacutenguas ndash LIBRAS e Portuguecircs
ndash haacute variaccedilatildeo dialetal
Observando os trecircs grupos de surdos investigados nesta tese
podemos dizer que o Grupo I mostra o primeiro contato com a liacutengua de
sinais desenvolvida com pouco conhecimento linguiacutestico porque
adquirir a liacutengua de sinais em contexto social na eacutepoca era difiacutecil Mas
este Grupo I foi buscando surdos que participavam de associaccedilotildees que
estudavam na garagem da casa do professor Francisco e na Escola Celso
Ramos onde tinha o grupo de surdos aprendendo a liacutengua de sinais que
se modificava O Grupo III demonstrou mais qualidade na sinalizaccedilatildeo
da liacutengua de sinais e maior fluecircncia mas natildeo conhece alguns dos sinais
(antigos) realizados pelos Grupos I e II O contexto social dos Grupos
nas trecircs geraccedilotildees eacute bem diferente e a liacutengua de sinais do Grupo III (mais
jovens) apresentou menor nuacutemero de sinais que os demais grupos
Acreditamos que antes havia mais sinais porque eram familiares
Os resultados do trabalho mostraram que algumas variaccedilotildees e
mudanccedilas linguiacutesticas (variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na liacutengua de sinais e
variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua de sinais) aconteceram nos trecircs
grupos quando um mesmo sinal eacute produzido pelos diferentes grupos de
maneira diferente Alguns sinais que antigamente eram produzidos no
corpo agora acontecem no espaccedilo neutro na liacutengua de sinais Os grupos
mostraram sinais que antes eram produzidos com uma matildeo e agora satildeo
produzidos com ambas as matildeos ao mesmo tempo O Grupo I utilizava
sinalizaccedilatildeo manual sinais familiares (caseiros) ou aqueles aprendidos e
trazidos pelo professor Francisco do INES o que talvez explique o fato
de que este grupo tinha um nuacutemero maior de sinais para uma mesma
palavra
Concluiacutemos que os trecircs grupos de nove informantes nas
diferentes geraccedilotildees apresentaram sinais compartilhados e outros que se
189
transformaram com o tempo na liacutengua de sinais Cada grupo pertence a
um contexto social diferente A liacutengua de sinais transforma e desenvolve
o conhecimento caseiro bem como a troca de informaccedilotildees a
participaccedilatildeo na associaccedilatildeo de surdos e na busca de mais contato com
outros surdos Na escola o surdo conseguia aprender mais quando o
professor surdo (Francisco) ensinava na liacutengua de sinais e tambeacutem
quando proporcionava aos seus alunos um contato social que antes natildeo
existia
190
191
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ANEXOS
Anaacutelise Comparativa dos Dados Variaccedilatildeo e Mudanccedila Linguiacutestica
Sinais
(Leacutexico)
Forma do
Sinal
(Configuraccedilatildeo
de Matildeos)
Identificaccedilatildeo
de Classe
Faixa
Etaacuteria
(Grupo)
Geraccedilatildeo
Ajudar1
CM ndash 63
Informante
H D E F A
C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Ajudar2
CM ndash 02 63
Informante
D E B
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Ajudar3
CM ndash 01 63
Informante
H I F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Ajudar4
CM ndash 14 63
Informante
I E F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Aluno1
CM ndash 01
Informante
G I A B C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Aluno2
CM ndash 63
Informante
G H I D B
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Amanhatilde1 CM ndash 14 Informante 60 a 80 I
200
H Anos
Amanhatilde2 CM ndash 63 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Amanhatilde3
CM ndash 35a
Informante
I A B
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Antes1 CM ndash 53a Informante
I
60 a 80
Anos
I
Antes2 CM ndash 63 Informante
I
60 a 80
Anos
I
Antes3
CM ndash 08a 63
Informante
G E F B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Aposentar1
CM ndash 02 57
Informante
G I F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Aposentar2
CM ndash 01 11
Informante
G I F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Aposentar3 CM ndash 07 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Associaccedilatildeo1
CM ndash 01
(2 matildeos)
Informante
G I F D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Associaccedilatildeo2
CM ndash 01
(1 matildeo)
Informante
I D E F A
B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
60 a 80
201
Aula1 CM ndash 63 Informante
G H I E D
A C
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Aviatildeo1 CM ndash 53a Informante
G
60 a 80
Anos
I
Aviatildeo2 CM ndash 36 37a Informante
E F
30 a 60
Anos
II
Aviatildeo3
CM ndash 40
Informante
D E F A B
C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Avocirc1 CM ndash 30 31 Informante
G I
60 a 80
Anos
I
Avocirc2 CM ndash 02 57 Informante
H I
60 a 80
Anos
I
Avocirc3
CM ndash 02
Informante
H I D E F
A
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Azul1 CM ndash 01 Informante
G I
60 a 80
Anos
I
A-z-u-l2 CM ndash 01 08a
14 24
Informante
G I
60 a 80
Anos
I
Azul3
CM ndash 01 08a
Informante
D E F A B
C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Bairro CM ndash 14 63 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Banco1
CM ndash 61
Informante
G H I F
60 a 80 Anos
30 a 60
Anos
I II
Banco2
CM ndash 53a
Informante
60 a 80
Anos
I II III
202
G I F C 30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
Batata1 CM ndash 62 Informante
H
60 a 80
Anos
I
Batata2 CM ndash 63 Informante
H
60 a 80
Anos
I
Branco1
CM ndash 63
Informante
H I B
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Branco2 CM ndash 35a Informante
G
60 a 80
Anos
I
Cafeacute
CM ndash 49
Informante
G F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Calma1
CM ndash 63
(2 matildeos)
Informante
G H I D E
F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Calma2
CM ndash 63
(1 matildeo)
Informante
H I E B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Cama1 CM ndash 37a Informante
G
60 a 80
Anos
I
Cama2 CM ndash 63 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Cavalo1 CM ndash 02 Informante
H
60 a 80
Anos
I
Cavalo2 CM ndash 27 Informante
H I
60 a 80
Anos
I
Chorar1 CM ndash 14 Informante
D
30 a 60
Anos
II
203
Chorar2 CM ndash 18a Informante
H I
60 a 80
Anos
I
Crianccedila1
CM ndash 63
(pequeno)
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Crianccedila2 CM ndash 64 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Crianccedila3
CM ndash 14 63
Informante
D E A C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Crianccedila4 CM ndash 57 63 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Cobra1 CM ndash 14 Informante
H
60 a 80
Anos
I
Cobra2
CM ndash 31
Informante
E F A B
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Conversar1
CM ndash 14
Informante
G H F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Conversar2 CM ndash 63
(2 matildeos)
Informante
G H I D E
F A
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Conversar3 CM ndash 28 Informante
D
30 a 60
Anos
II
Conversar4 CM ndash 44 Informante
D E F
30 a 60
Anos
II
Conversar5 CM ndash 21 Informante
H
60 a 80
Anos
I
Cortar1 CM ndash 14 Informante
H
60 a 80
Anos
I
204
Cortar2 CM ndash 63 Informante
H
60 a 80
Anos
I
Cortar3
CM ndash 14 24
Informante
E B
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Cultura CM - 31 Informante
A B C
15 a 30
Anos
III
Dormir1
CM ndash 63
(1 matildeos e 2
matildeos)
Informante
G H I F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Dormir2 CM ndash 02 47 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Dormir3
CM ndash 21 24
32
Informante
G D F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Depois1 CM ndash 53a
(2 matildeos)
Informante
H I A B C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Depois2
CM ndash 14
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Depois3
CM ndash 53a
(1 matildeo)
Informante
G D E F A
B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Educaccedilatildeo1 CM ndash 46a Informante
H
60 a 80
Anos
I
Educaccedilatildeo2 CM ndash 45 57 Informante
G
60 a 80
Anos
I
205
Escola1
CM ndash 63
Informante
G H I D E
F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Escola2
CM ndash 63
(duas matildeos)
Informante
D E A B C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Estudar
CM ndash 63
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Emagrecer1 CM ndash 39 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Emagrecer2 CM ndash 47 ou 57 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Engordar1 CM ndash 02 Informante
G H
60 a 80
Anos
I
Engordar2 CM ndash 47 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Engravidar1 CM ndash 14 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Engravidar2 CM ndash 53a Informante
H
60 a 80
Anos
I
Faacutecil1 CM ndash 63 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Faacutecil2 CM ndash 48 Informante
I
60 a 80
Anos
I
Faacutecil3 CM ndash 35a Informante
C
15 a 30
Anos
III
Faculdade1
CM ndash 54
Informante
F A C
30 a 60
Anos
15 a 30 Anos
II III
Faculdade2 CM ndash 21 Informante
I
60 a 80
Anos
I
Faculdade3 CM ndash 55 Informante
A B
15 a 30
Anos
III
206
Falar1
CM ndash 14
Informante
G H D E F
C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Falar2
CM ndash 49
Informante
H D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Falar3
CM ndash 11
(E 1 matildeo e 2
matildeos)
Informante
G H I D E
A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Falar4 CM ndash 21 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Falar5 CM ndash 44 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Feio1
CM ndash 08a
Informante
F B
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Feio2
CM ndash 08a
Informante
D E A
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Feio3 CM ndash 07 64 Informante
G H I
60 a 80
Anos
I
Flor1 CM ndash 57 Informante
D
30 a 60
Anos
II
Flor2 CM ndash 54 Informante
I
60 a 80
Anos
I
Forte1 CM ndash 14 Informante
F
30 a 60
Anos
II
Forte2
CM ndash 02
(2 matildeos)
Informante
G H I D C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II III
207
15 a 30
Anos
Forte3 CM ndash 32
(1 matildeo)
Informante
I
60 a 80
Anos
I
Gato1
CM ndash 08b 20
Informante
G H C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Gato2 CM ndash 59a Informante
I
60 a 80
Anos
I
Gato3 CM ndash 20 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Gostar1 CM ndash 44 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Gostar2 CM ndash 63 Informante
E F
30 a 60
Anos
II
Homem1
CM ndash 50
Informante
G H I D F
A B
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Homem2
CM ndash 21
Informante
H I D F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Hospital1
CM ndash 14
(1 matildeo e 2
matildeos) cruz
Informante
H I C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Hospiatl2
CM ndash 16
Informante
D E F B C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Igreja1 CM ndash 14
(cruz)
Informante
F
30 a 60
Anos
II
Igreja2
CM ndash 14 15
Informante
60 a 80
Anos
I II III
208
H I D E F
A B C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
Igual1
CM ndash 14
Informante
G H I D E
F B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Igual2
CM ndash 14 ( )
Informante
H B
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Igual3
CM ndash 14
(mesmo)
Informante
F C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Igual4 CM ndash 24
(1 matildeo)
Informante
G I A B C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Igual5
CM ndash 24
(2 matildeos)
Informante
I D E F A
B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Igual6 CM ndash 53a Informante
A
15 a 30
Anos
III
Igual7
CM ndash 61
Informante
I A C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Irmatildeo1
CM ndash 14
Informante G H D F
60 a 80
Anos 30 a 60
Anos
I II
Irmatildeo2 CM ndash 24 Informante
D E F
30 a 60
Anos
II
209
Lembrar1
CM ndash 14
Informante
G H D E A
B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Lembrar2
CM ndash 32
Informante
D E F A B
C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Limpar1 CM ndash 02 Informante
H D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Limpar2
CM ndash 64
Informante
H E
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Limpar3
CM ndash 08a
Informante
H D E F A
B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Livro1 CM ndash 63
(duas matildeos)
Informante
G
60 a 80
Anos
I
Livro2
CM ndash 63 08a
Informante
H D E F A
B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Lutar1
CM ndash 08a
Informante
I A B
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Lutar2 CM ndash 02 63 Informante
I D E A B
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II III
210
15 a 30
Anos
Matildee1
CM ndash 63
Informante
H E F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Matildee2 CM ndash 02 07 Informante
A B C
15 a 30
Anos
III
Matildee3
CM ndash 14
Informante I
D B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Matildee4 CM ndash 63
(m)
Informante
G
60 a 80
Anos
I
Matildee5
CM ndash 02
Informante
I D F A
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
M-atilde-e6 CM ndash 01 06
60
Informante
F
30 a 60
Anos
II
Matildee7 CM ndash 02 Informante
F
30 a 60
Anos
II
Mais1
CM ndash 63
Informante
G I E A B
C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Mais2
CM ndash 63
(2 matildeos)
Informante
I D E A
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos 15 a 30
Anos
I II III
Mais3 CM ndash 08a Informante
G I E F
60 a 80
Anos
I II
211
30 a 60
Anos
Mais4
CM ndash 14
Informante
I E C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Matemaacutetica1
CM ndash 02
Informante
G H I D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Matemaacutetica2
CM ndash 58
Informante
G H I F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Meacutedico1
CM ndash 44
Informante
G F B
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Meacutedico2
CM ndash 16
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Medo1
CM ndash 34 64
Informante
H D F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
III
Medo2 CM ndash 02 Informante
E F
30 a 60
Anos
II
Medo3 CM ndash 33 Informante
F
30 a 60
Anos
II
Melhor1
CM ndash 45
Informante
G H I E
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
212
Melhor2
CM ndash 07
Informante
H I E A B
C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Melhor3
CM ndash 63
Informante
H A C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Morrer1 CM ndash 63 63
(2 matildeos)
Informante
H
60 a 80
Anos
I
Morrer2
CM ndash 63
Informante
H I D E F
C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Mudar1
CM ndash 07
Informante
G H E A B
C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
30 a 60
Anos
I II III
Mudar2 CM ndash 44
(1 matildeo e 2
matildeos)
Informante
H I E F B
C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Mulher1 CM ndash 07
(menina) (oral)
Informante
H
60 a 80
Anos
I
Mulher2
CM ndash 07 63
Informante
H D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Mulher3
CM ndash 07
Informante
G I D E F
B
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II III
213
15 a 30
Anos
Noite1
CM ndash 57 44
Informante
G D F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Noite2
CM ndash 53
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Nome1
CM ndash 21
Informante
G H I A
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Nome2
CM ndash 24
Informante
G H I D E
F A C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Noacutes1
CM ndash 14
Informante
G D E F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Noacutes2
CM ndash 14
Informante
E A
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
N-u-n1
CM ndash 24
Informante
I D E
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
N-u-n-c-a2
CM ndash 01 24
51a
Informante
I D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
214
Nunca3
CM ndash 14
(2 matildeos)
Informante
I D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Objetivo1 CM ndash 42 58 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Objetivo2 CM ndash 14 Informante
B
15 a 30
Anos
III
Ocircnibus1 CM ndash 07 Informante
F
30 a 60
Anos
II
Ocircnibus2 CM ndash 31 Informante
I B
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Ovo1 CM ndash 44 57 Informante
I
60 a 80
Anos
I
O-v-o2 CM ndash 42 32 Informante
G H
60 a 80
Anos
I
Padre1 CM ndash 11 Informante
G
30 a 60
Anos
II
Padre2
CM ndash 21
Informante
G H D F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Padre3
CM ndash 24
Informante
I F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
P-a-i1
CM ndash 01 11
38
Informante
G H I D E
F A
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Pai2
CM ndash 11 (p)
Informante
G H F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II III
215
15 a 30
Anos
Pai3 CM ndash 14 Informante
G H I
60 a 80
Anos
I
Pai4
CM ndash 16
Informante
I F B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Pai5
CM ndash 02 45
Informante
E A B C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Patildeo1 CM ndash 02 47
57
Informante
H
60 a 80
Anos
I
Patildeo2 CM ndash 63 Informante
H
60 a 80
Anos
I
Patildeo3
CM ndash 01
Informante
I F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Peixe1 CM ndash 16 Informante
G I
60 a 80
Anos
I
Peixe2
CM ndash 63
Informante
I F A
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Pessoa1
CM ndash 11
Informante
G I C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Pessoa2
CM ndash 35a
Informante
I D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Pessoa3
CM ndash 18a
Informante
F A C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
216
Pode-Natildeo1 CM ndash 14
(2 matildeos)
Informante
D E
30 a 60
Anos
II
Pode-Natildeo2 CM ndash 14
(1 matildeo)
Informante
F
30 a 60
Anos
II
Poliacutetica1 CM ndash 11 51a Informante
G I
60 a 80
Anos
I
Poliacutetica2
CM ndash 11
Informante
I E B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Poliacutetica3 CM ndash 14 Informante
D E
30 a 60
Anos
II
Porque1
CM ndash 15
Informante
G H I D F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Porque2 CM ndash 14 Informante
G H I E F
A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Povo1 CM ndash 02 64 Informante
G I
60 a 80
Anos
I
Povo2 CM ndash 11 Informante
I
60 a 80
Anos
I
P-o-v-o3 CM ndash 11 32
42
Informante
I
60 a 80
Anos
I
Preto1
CM ndash 05
Informante
G H I F B
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Preto2 CM ndash 34 62 Informante
G H I
60 a 80
Anos
I
Primeiro1
CM ndash 07 14
Informante
60 a 80
Anos
I II III
217
G I E F C 30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
Primeiro2
CM ndash 14
Informante
H F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Primeiro3 CM ndash 14
(duas matildeos)
Informante
D
30 a 60
Anos
II
Primeiro4
CM ndash 07
Informante
F E C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Profissional
1
CM ndash 11 Informante
I
60 a 80
Anos
I
Profissional
2
CM ndash 63 Informante
C
15 a 30
Anos
III
Prova1 CM ndash 63 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Prova2
CM ndash 53a
(duas matildeos)
Informante
E F A B C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Respeitar1 CM ndash 53a Informante
D E
30 a 60
Anos
II
Respeitar2 CM ndash 25 Informante
E F
30 a 60
Anos
II
Responsaacutevel
1
CM ndash 25
Informante
I D E B
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Responsaacutevel
2
CM ndash 25
(duas matildeos)
Informante
I D E F A
B
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II III
218
15 a 30
Anos
Responsaacutevel
3
CM ndash 63
(duas matildeos)
Informante
G I
60 a 80
Anos
I
Reuniatildeo1 CM ndash 15 Informante
D
30 a 60
Anos
II
Reuniatildeo2
CM ndash 25
Informante
D E A
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Reuniatildeo3 CM ndash 14 Informante
G H D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Saber1
CM ndash 63
Informante
D B C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Saber2
CM ndash 14
Informante
G H I D E
F A C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Saber3
CM ndash 44 53a
Informante
G H I F A
B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Saber4
CM ndash 11
Informante
E F C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Semana1 CM ndash 10 Informante
D E
30 a 60
Anos
II
Semana2 CM ndash 10 Informante
B
15 a 30
Anos
III
Semana3 CM ndash 08a 64 Informante
I
60 a 80
Anos
I
219
Sim1
CM ndash 02
Informante
H D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
S-i-m2 CM ndash 02 38
60
Informante
H I
60 a 80
Anos
I
Sim3 CM ndash 59a 63 Informante
G H
60 a 80
Anos
I
Surdo1
CM ndash 14
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Surdo2
CM ndash 25
Informante
G I D E B
C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Tambeacutem1
CM ndash 61
Informante
G H I D E
A
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Tambeacutem2
CM ndash 14
Informante
G H I D E
F B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Tarde1 CM ndash 63 Informante
G H I
60 a 80
Anos
I
Tarde2 CM ndash 44 47
63
Informante
H
60 a 80
Anos
I
Tarde3 CM ndash 63 Informante
G H
60 a 80
Anos
I
Teatro1 CM ndash 57 Informante
I
60 a 80
Anos
I
220
Teatro2 CM ndash 49 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Tempo1
CM ndash 14
Informante
H I D E A
B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Tempo2
CM ndash 57
Informante
H I D E
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Tempo3
CM ndash 63
Informante
G I D E C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Tempo4
CM ndash 45
Informante
G D E F A
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Ter1
CM ndash 63 64
Informante
G H I D F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Ter2
CM ndash 08a
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Tio1
CM ndash 56
Informante
H F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Tio2
CM ndash 51b
Informante
30 a 60
Anos
II III
221
D E F A B
C
15 a 30
Anos
Trabalhar1
CM ndash 08a
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Trabalhar2
CM ndash 14
Informante
H I F A
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Trabalhar3 CM ndash 24 Informante
I
60 a 80
Anos
I
Tudo CM ndash 63
(duas matildeos)
Informante
F
30 a 60
Anos
II
Vagabundo1 CM ndash 63 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Vagabundo2 CM ndash 64 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Ver1 CM ndash 14 Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Ver2
CM ndash 32
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Ver3
CM ndash 64
Informante D E B C
30 a 60
Anos 15 a 30
Anos
II III
Vergonha1
CM ndash 64
Informante
60 a 80
Anos
I II
222
I E 30 a 60
Anos
Vergonha2 CM ndash 11 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Vermelho1 CM ndash 32 Informante
G H I
60 a 80
Anos
I
Vermelho2 CM ndash 14 Informante
G H I
60 a 80
Anos
I
Viajar1 CM ndash 63 Informante
D E F
30 a 60
Anos
II
Viajar2 CM ndash 45 Informante
F
30 a 60
Anos
II
WC CM ndash 48 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Palavras no total 255 sinais lexicais
Palavra Ajudar 4 Sinais Palavra Mais 4 Sinais
Palavra Aluno 2 Sinais Palavra Matemaacutetica 2 Sinais
Palavra Amanhatilde 3 Sinais Palavra Meacutedico 2 Sinais
Palavra Antes 3 Sinais Palavra Medo 3 Sinais
palavra Aposentar 3 Sinais Palavra Melhor 3 Sinais
Palavra Associaccedilatildeo 2 Sinais Palavra Morrer 2 Sinais
Palavra Aula 1 Sinal Palavra Mudar 2 Sinais
Palavra Aviatildeo 3 Sinais Palavra Mulher 3 Sinais
Palavra Avocirc 3 Sinais Palavra Noite 2 Sinais
Palavra Azul 3 Sinais Palavra Nome 2 Sinais
Palavra Bairro 1 Sinal Palavra Noacutes 2 Sinais
Palavra Banco 2 Sinais Palavra Nunca 3 Sinais
Palavra Batata 2 Sinais Palavra Objetivo 2 Sinais
Palavra Branco 2 Sinais Palavra Ocircnibus 2 Sinais
Palavra Cafeacute 1 Sinal Palavra Ovo 2 Sinais
Palavra Calma 2 Sinais Palavra Padre 3 Sinais
Palavra Cama 2 Sinais Palavra Pai 5 Sinais
Palavra Cavalo 2 Sinais Palavra Patildeo 3 Sinais
Palavra Chorar 2 Sinais Palavra Peixe 2 Sinais
Palavra Crianccedila 4 Sinais Palavra Pessoa 3 Sinais
Palavra Cobra 2 Sinais Palavra Pode-natildeo 2 Sinais
Palavra Conversar 5 Sinais Palavra Poliacutetica 3 Sinais
Palavra Cortar 3 Sinais Palavra Porque 2 Sinais
223
Palavra Cultura 1 Sinal Palavra Povo 3 Sinais
Palavra Dormir 3 Sinais Palavra Preto 2 Sinais
Palavra Depois 3 Sinais Palavra Primeiro 4 Sinais
Palavra Educaccedilatildeo 2 Sinais Palavra Profissional 2 Sinais
Palavra Escola 2 Sinais Palavra Prova 2 Sinais
Palavra Estudar 1 Sinal Palavra Respeitar 2 Sinais
Palavra Emagrecer 2 Sinais Palavra Responsaacutevel 3 Sinais
Palavra Engordar 2 Sinais Palavra Reuniatildeo 3 Sinais
Palavra Engravidar 2 Sinais Palavra Saber 4 Sinais
Palavra Faacutecil 3 Sinais Palavra Semana 3 Sinais
Palavra Faculdade 3 Sinais Palavra Sim 3 Sinais
Palavra Falar 5 Sinais Palavra Surdo 2 Sinais
Palavra Feio 3 Sinais Palavra Tambeacutem 2 Sinais
Palavra Flor 2 Sinais Palavra Tarde 3 Sinais
Palavra Forte 3 Sinais Palavra Teatro 2 Sinais
Palavra Gato 3 Sinais Palavra Tempo 4 Sinais
Palavra Gostar 2 Sinais Palavra Ter 2 Sinais
Palavra Homem 2 Sinais Palavra Tio 2 Sinais
Palavra Hospital 2 Sinais Palavra Trabalhar 3 Sinais
Palavra Igreja 2 Sinais Palavra Tudo 1 Sinal
Palavra Igual 7 Sinais Palavra Vagabundo 2 Sinais
Palavra Irmatildeo 2 Sinais Palavra Ver 3 Sinais
Palavra Lembrar 2 Sinais Palavra Vergonha 2 Sinais
Palavra Limpar 3 Sinais Palavra Vermelho 2 Sinais
Palavra Livro 2 Sinais Palavra Viajar 2 Sinais
Palavra Lutar 2 Sinais Palavra WC 1 Sinal
Palavra Matildee 7 Sinais
224
225
AS CONFIGURACcedilOtildeES DE MAtildeOS
Cm 01
Cm 02
Cm 03
Cm 04
Cm 05
Cm 06
Cm 07
Cm 08a
Cm 08b
Cm 09
Cm 10
Cm 11
Cm 12
Cm 13
Cm 14
Cm 15
Cm 16
Cm 17
Cm 18a
Cm 18b
Cm 19
Cm 20
Cm 21
Cm 22a
Cm 22b
Cm 23
Cm 24
Cm 25
Cm 26
Cm 27
226
Cm 28
Cm 29a
Cm 29b
Cm 30
Cm 31
Cm 32
Cm 33
Cm 34
Cm 35a
Cm 35b
Cm 36
Cm 37a
Cm 37b
Cm 38
Cm 39
Cm 40
Cm 41
Cm 42
Cm 43
Cm 44
Cm 45
Cm 46a
Cm 46b
Cm 47
Cm 48
Cm 49
Cm 50
Cm 51a
Cm 51b
Cm 52
Cm 53a
Cm 53b
Cm 54
Cm 55
Cm 56
227
Cm 57
Cm 58
Cm 59a
Cm 60
Cm 61
Cm 62
Cm 63
Cm 64
228
ldquoOs procedimentos da linguiacutestica descritiva se
baseiam no entendimento de que a liacutengua eacute um
conjunto estruturado de normas sociais No
passado foi uacutetil considerar que tais normas eram
invariantes e compartilhadas por todos os
membros da comunidade linguiacutestica Todavia as
anaacutelises do contexto social em que a liacutengua eacute
utilizada vieram demonstrar que muitos
elementos da estrutura linguiacutestica estatildeo
implicados na variaccedilatildeo sistemaacutetica que reflete
tanto a mudanccedila no tempo quanto os processos
sociais extralinguumliacutesticosrdquo (LABOV 1968 p
241)
ldquoQuando eu aceito a liacutengua de outra pessoa eu
aceitei a pessoa Quando eu rejeito a liacutengua eu
rejeitei a pessoa porque a liacutengua eacute parte de noacutes
mesmos Quando eu aceito a Liacutengua de Sinais
eu aceito o surdo e eacute importante ter sempre em
mente que o surdo tem o direito de ser surdo
Devemos ensinaacute-los ajudaacute-los mas temos que
permitir-lhe ser surdordquo (TERJE BASILIER
psiquiatra norueguecircs)
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais por terem me acompanhado e me dado forccedila para
essa caminhada
A minha amada esposa por ter paciecircncia comigo durante todos
esses anos
Aos meus filhos Eduardo Espiacutendola Schmitt e Mocircnica Espiacutendola
Schmitt que sofreu juntamente com minha esposa cuidando dele nas
cansativas muito correria de trabalho por motivo de paciecircncia comigo
durante do estudo e trabalho
Ao Sr Francisco Lima Juacutenior guerreiro no movimento de surdos
pela primeira escola e associaccedilatildeo que marca o registro histoacuterico na
liacutengua de sinais sofreram a mudanccedila o tempo em Santa Catarina
A Associaccedilatildeo de Surdos da Grande Florianoacutepolis Sociedade de
Surdos de Satildeo Joseacute Universidade Federal de Santa Catarina
Universidade do Estado de Santa Catarina Grupo de Estudos Surdos e
Comunidade Surda pelo seu apoio
Agrave professora Dra Izete Lehmkul Coelho (UFSC) pela sua
orientaccedilatildeo de pesquisa na aacuterea em sociolinguiacutestica e me dava a
disciplina no estudo referecircncia teoacuterico
Ao meu co-orientador Dr Tarciacutesio de Arantes Leite pela sua
orientaccedilatildeo muito detalhe no estudo as liacutenguas de sinais
Aos colegas de LetrasLIBRAS pelo incentivo e forccedila de vontade
no compartilhamento das experiecircncias no estudo linguiacutestico dos surdos
A Dra Ronice Muller de Quadros abriu a oportunidade de espaccedilo
acadecircmico na liacutengua de sinais na Universidade Federal de Santa
Catarina ndash UFSC
A Prof Dra Edair Maria Goumlrski convidado especial na disciplina
sociolinguiacutestica na banca de examinadora e antes tambeacutem esteve na
minha qualificaccedilatildeo em 2012
Aos colegas surdos na faixa etaacuteria que compartilharam comigo
durante as entrevistas de gravaccedilotildees sobre a histoacuteria de surdos em Santa
Catarina
A CAPES e REUNI pelo fornecimento de bolsa no programa de
poacutes-graduaccedilatildeo - PGL oferecendo-me a oportunidade de desenvolver
meu estudo e pesquisa
Convidado especial nas bancas de examinadoras Fabiacuteola Sucupira
Ferreira Sell Karin Liacutelian Strobel e Lodenir Becker Karnopp membro e
suplente Aline Lemos Pizzio e Suelli Costa
Aacutes colegas Edgar Correa Veras Nataacutelia Schleder Rigo e Tiago
Coimbra Nogueira que me interpretaram na banca de qualificaccedilatildeo em
2012 Daniela Bieleski Diego Mauricio Barbosa e Gisele Iandra Pessini
Anater que me interpretaram na banca avaliaccedilatildeo de defesa
A Maria Eloiza de Macedo por nos ajudar com discussotildees na
revisatildeo e pela paciecircncia e comprometimento e
Apoio a ediccedilatildeo de filmagem satildeo Marcos Luchi Joatildeo Paulo
Ampessan e Marcos Alexandre Marquioto
RESUMO
Esta pesquisa visa identificar possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas
linguiacutesticas ocorridas na Liacutengua Brasileira de Sinais (LIBRAS) no periacuteodo
histoacuterico de 1946 a 2010 analisando narrativas filmadas de trecircs geraccedilotildees de
sujeitos surdos usuaacuterios dessa liacutengua O Grupo I eacute formado por indiviacuteduos
com mais de 60 anos o Grupo II por indiviacuteduos de 30 a 60 anos o Grupo
III eacute formado por indiviacuteduos de 15 a 30 anos Na primeira parte do trabalho
apresentamos uma revisatildeo de base teoacuterico-metodoloacutegica fundamentada nos
estudos de Labov (2008 [1972]) sobre mudanccedilas linguiacutesticas no contexto
social observadas em tempo aparente na ilha de Martha‟s Vineyard e em
Nova York A concepccedilatildeo da variaccedilatildeo sociolinguiacutestica pode nos ajudar nesta
investigaccedilatildeo que versa sobre a histoacuteria da LIBRAS em Santa Catarina no
periacuteodo jaacute referido A partir da teoria laboviana analisam-se certos padrotildees
sociolinguiacutesticos verificados nesta pesquisa Considera-se o fato de apenas
uma pessoa ter influenciado toda uma comunidade de surdos em Santa
Catarina o professor Francisco Lima Juacutenior que veio do Rio de Janeiro
para Florianoacutepolis em 1946 Baseando-nos nesta data escolhemos o periacuteodo
acima citado para traccedilar um percurso de possiacuteveis transformaccedilotildees
linguiacutesticas de natureza interna e externa ocorridas na LIBRAS em Santa
Catarina Os resultados desta pesquisa apontam que haacute variaccedilatildeo e mudanccedila
em tempo aparente na LIBRAS relacionando o contexto linguiacutestico atual
dos jovens (Grupo III) a transformaccedilotildees histoacutericas e sociais observadas na
comunidade surda em Santa Catarina
Palavras-chave Histoacuteria da LIBRAS sociolinguiacutestica soacutecio-histoacuterico
variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas
ABSTRACT
This research aims to identify eventual linguistic variations and
changes in Brazilian Sign Language (LIBRAS) in the period from 1946 to
2010 through the analysis of the filmed narratives of three generations of
deaf people users of that language Group I is formed by individuals over
60 years-old Group II by individuals between 30 and 60 years-old and
Group III individuals between 15 and 30 years-old In the first part of this
research we present a theoretical-methodological review based on the
studies of Labov (2008 [1972]) about the social context of changes
observed in apparent time in Martha‟s Vineyard and in New York City We
believe the theory of language variation and change can help us in this
research which deals with the history of LIBRAS in Santa Catarina in the
period mentioned above Based on Labov‟s theory we analize certain
sociolinguistic patterns that were verified in this research We consider the
fact that only one person had influence on a whole deaf community in its
linguistic development teacher Francisco Lima Juacutenior who came from Rio
de Janeiro to Florianoacutepolis in 1946 Considering this date we chose the
period from 1946 to 2010 to trace back the path of eventual linguistic
transformations both internal and external in LIBRAS in Santa Catarina
We expect that in the outcome of this research there is variation and change
in apparent time of LIBRAS relating the present context linguistic to youth
(Group III) to the historical and social transformations observed the deaf
community in Santa Catarina
Keywords History of LIBRAS sociolinguistics sociohistory language
variation and change
RESUMEN
El objetivo de esta investigacioacuten es identificar posibles variaciones y
cambios linguiacutesticos ocurridos en la Lengua Brasilentildea de Sentildeales
(LIBRAS) en el periodo comprendido entre 1946 y 2010 analizando
narrativas grabadas de tres generaciones de individuos sordos usuarios de
esa lengua El Grupo I esta formado por individuos con maacutes de 60 antildeos el
Grupo II por individuos de 30 a 60 antildeos el Grupo III es formado por
individuos de 15 a 30 antildeos Se presenta en la primera etapa de la
investigacioacuten un repaso teoacuterico-metodoloacutegico fundamentado en los estudios
de Labov (2008 [1972]) acerca de cambios linguiacutesticos en el contexto
social observados en tiempo aparente en la Isla de Martha‟s Vineyard y en
Nueva York La concepcioacuten de la variacioacuten sociolinguiacutestica nos puede
ayudar en este estudio el cual trata de la historia de la LIBRAS en Santa
Catarina en el periodo mencionado A partir de la teoriacutea laboviana se
analizan ciertos patrones sociolinguiacutesticos verificados en esta investigacioacuten
Se considera el hecho de solo una persona haber influenciado toda la
comunidad de sordos en Santa Catarina el profesor Francisco Lima Juacutenior
que partioacute del Rio de Janeiro para Florianoacutepolis en el antildeo de 1946 Con base
en esta fecha elegimos el periodo antes mencionado para disentildear una
trayectoria de las posibles transformaciones linguiacutesticas de caraacutecter interno
y externo ocurridas en la lengua de sentildeales en Santa Catarina Se espera que
los resultados de esta investigacioacuten indiquen que existe una variacion y
cambio en el tiempo aparente en LIBRAS relacionando el contexto
linguiacutesticas actual a joacutevenes (Grupo III) las transformaciones historicas y
sociales observados la comunidad sorda de Santa Catarina
Palabras-clave Historia de la LIBRAS sociolinguiacutestica sociohistorio
variacioacuten y cambio linguiacutesticos
LISTA DE ABREVIATURAS
ACT ndash Admissatildeo em Caraacuteter Temporaacuterio
ASL ndash Liacutengua de Sinais Americana
ASURJ ndash Associaccedilatildeo dos Surdos de Rio de Janeiro
BESC ndash Banco do Estado de Santa Catarina
BSL ndash Liacutengua de Sinais Britacircnica
CAPES ndash Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel
Superior
CELESC ndash Centrais Eleacutetricas de Santa Catarina SA
CSMSC ndash Ciacuterculo de Surdos-Mudos de Santa Catarina
FCEE ndash Fundaccedilatildeo Catarinense de Educaccedilatildeo Especial
FENEIS ndash Federaccedilatildeo Nacional de Educaccedilatildeo e Integraccedilatildeo dos Surdos
FUTSAL ndash Futebol de Salatildeo
IATEL ndash Instituto de Audiccedilatildeo e Terapia da Linguagem
INES ndash Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos
INSM ndash Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos-Mudos
IPS ndash Instituto Paulista de Surdos
LIBRAS ndash Liacutengua Brasileira de Sinais
LSB ndash Liacutengua de Sinais Brasileiras
LSF ndash Liacutengua de Sinais Francesa
MEC ndash Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
NEESPI ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo Especial e Inclusiva
PGL ndash Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica
REUNI ndash Programa de Apoio a Planos de Reestruturaccedilatildeo e Expansatildeo
das Universidades Federais Brasileiras
UFSC ndash Universidade Federal de Santa Catarina
UNIVALI ndash Universidade do Vale do Itajaiacute
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 ndash Sinal de Matildee35
Figura 02 ndash Sinal de Matildee37
Figura 03 ndash Retirado do livro de GROCE Nora Ellen Everyone Here
Spoke Sign Language Hereditary Deafness on Martha‟s Vineyard
Printed in the United States of America 195244
Figura 04 ndash Retirado do livro de LABOV Willian Padrotildees
Sociolinguiacutesticos45
Figura 05 ndash Retirado no site
httpcawikipediaorgwikiMartha27s_Vineyard45
Figura 06 ndash O trapezoacuteide das vogais a flecha indica a direccedilatildeo de
movimento do primeiro elemento de (aw)62
Figura 07 ndash Sinal de Porco67
Figura 08 ndash Abade L‟Epeacutee ensinando os surdos na liacutengua de sinais
francesa72
Figura 09 ndash Acervo na Revista da FENEIS81
Figura 10 ndash Acervo de Ana Regina e Souza Campello ndash UFSC83
Figura 11 ndash Acervo da Heloise Gripp Diniz ndash UFSC 0184
Figura 12 ndash Acervo da Heloise Gripp Diniz ndash UFSC 0284
Figura 13 ndash Acervo do Francisco - eacute o primeiro dicionaacuterio na liacutengua de
sinais em Santa Catarina em 194793
Figura 14 ndash Acervo do Profdeg Francisco - fotografia de Jornal que traz
reportagem sobre o livro ldquoLinguagem das Matildeosrdquo96
Figura 15 ndash Mostrar os Sinais106
Figura 16 ndash Variaccedilatildeo Fonoloacutegica108
Figura 17 ndash Mostrar os sinais com uma matildeo e com duas matildeos108
Figura 18 ndash Sinal de Paacutessaro110
Figura 19 e 20 ndash Ferreira-Brito e Langevin112
Figura 21 ndash httpwwwinesgovbrlibrasprincipalaspASSU_id=3112
Figura 22 ndash Quadro de CMs da LSB por Pimenta e Quadros112
Figura 23 ndash Sinal - ldquoCultura em SCrdquo115
Figura 24 ndash Sinal - ldquoCultura em SPrdquo115
Figura 25 ndash Sinal - ldquoCultura em RJrdquo115
Figura 26 ndash Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo ndash Depto Educaccedilatildeo
Especial ndash CuritibaPR SEEDSUEDDEE117
Figura 27 ndash Sinal de Ajudar118
Figura 28 ndash Sinal de Faltar119
Figura 29 ndash Sinal de Ocircnibus119
Figura 30 ndash Sinal de Sonhar119
Figura 31 CM ndash 01 11154
Figura 32 CM ndash 02 57154
Figura 33 CM ndash 07155
Figura 34 CM ndash 01 11154
Figura 35 CM ndash 02 57154
Figura 36 CM ndash 01 11154
Figura 37 CM ndash 53a156
Figura 38 CM ndash 36156
Figura 39 CM ndash 37a156
Figura 40 CM ndash 40156
Figura 41 CM ndash 40156
Figura 42 CM ndash 02157
Figura 43 CM ndash 14158
Figura 44 CM ndash 63158
Figura 45 CM ndash 02157
Figura 46 CM ndash 14158
Figura 47 CM ndash 63158
Figura 48 CM ndash 02 07157
Figura 49 CM ndash 14158
Figura 50 CM ndash 11159
Figura 51 CM ndash 14160
Figura 52 CM ndash 16160
Figura 53 CM ndash 16159
Figura 54 CM ndash 02 45160
Figura 55 CM ndash 11 38159
Figura 56 CM ndash 16160
Figura 57 CM ndash 02 45160
Figura 58 CM ndash 11 51a162
Figura 59 CM ndash 11162
Figura 60 CM ndash 14162
Figura 61 CM ndash 11162
Figura 62 CM ndash 34 62163
Figura 63 CM ndash 05163
Figura 64 CM ndash 05163
Figura 65 CM ndash 05163
Figura 66 CM ndash 14164
Figura 67 CM ndash 25164
Figura 68 CM ndash 14164
Figura 69 CM ndash 15165
Figura 70 CM ndash 25164
Figura 71 CM ndash 08a 64166
Figura 72 CM ndash 10166
Figura 73 CM ndash 10166
Figura 74 CM ndash 10166
Figura 75 CM ndash 53a168
Figura 76 CM ndash 61168
Figura 77 CM ndash 53a168
Figura 78 CM ndash 61168
Figura 79 CM ndash 53a168
Figura 80 CM ndash 07 64169
Figura 81 CM ndash 08a169
Figura 82 CM ndash 08a169
Figura 83 CM ndash 16170
Figura 84 CM ndash 44170
Figura 85 CM ndash 16170
Figura 86 CM ndash 44170
Figura 87 CM ndash 16170
Figura 88 CM ndash 21171
Figura 89 CM ndash 24171
Figura 90 CM ndash 24171
Figura 91 CM ndash 24171
Figura 92 CM ndash 14172
Figura 93 CM ndash 15173
Figura 94 CM ndash 14172
Figura 95 CM ndash 15173
Figura 96 CM ndash 14172
Figura 97 CM ndash 53a 63175
Figura 98 CM ndash 08a175
Figura 99 CM ndash 08a175
Figura 100 CM ndash 08a175
Figura 101 CM ndash 63177
Figura 102 CM ndash 14 24177
Figura 103 CM ndash 14177
Figura 104 CM ndash 14177
Figura 105 CM ndash 24177
Figura 106 CM ndash 24177
Figura 107 CM ndash 62180
Figura 108 CM ndash 24180
Figura 109 CM ndash 21181
Figura 110 CM ndash 11180
Figura 111 CM ndash 24180
Figura 112 CM ndash 21181
Figura 113 CM ndash 24180
Figura 114 CM ndash 63182
Figura 115 CM ndash 08a182
Figura 116 CM ndash 63182
Figura 117 CM ndash 08a182
Figura 118 CM ndash 08a182
LISTA DE QUADROS
Quadro 01 Sinal de Aposentar155
Quadro 02 Sinal de Aviatildeo156
Quadro 03 Sinal de Matildee158
Quadro 04 Sinal de Pai160
Quadro 05 Sinal de Poliacutetica162
Quadro 06 Sinal de Preto163
Quadro 07 Sinal de Reuniatildeo165
Quadro 08 Sinal de Semana166
Quadro 09 Sinal de Banco168
Quadro 10 Sinal de Feio169
Quadro 11 Sinal de Meacutedico170
Quadro 12 Sinal de Nome171
Quadro 13 Sinal de Porque173
Quadro 14 Sinal de Antes175
Quadro 15 Sinal de Cortar177
Quadro 16 Sinal de Padre181
Quadro 17 Sinal de Ter182
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 Centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por grupos
ocupacionais51
Tabela 02 Centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por faixa etaacuteria51
Tabela 03 Distribuiccedilatildeo geograacutefica da centralizaccedilatildeo53
Tabela 04 Cruzamento de fatores 6 falantes com o maior grau de
centralizaccedilatildeo55
Tabela 05 Centralizaccedilatildeo por grupos eacutetnicos56
Tabela 06 Centralizaccedilatildeo e atitude com relaccedilatildeo a Martha‟s Vineyard58
Tabela 07 A escala em tempo aparente eacute chamada de ldquogradaccedilatildeo
etaacuteriardquo61
Tabela 08 Mudanccedila de (aw) e (ay) em tempo aparente atraveacutes de duas
geraccedilotildees em Martha‟s Vineyard62
Tabela 09 Preliminar dos dados ndash variaccedilotildees ou mudanccedilas
linguiacutesticas151
SUMAacuteRIO
Introduzindo a pesquisa na liacutengua de sinais25 CAPIacuteTULO I ndash Delimitaccedilatildeo do objeto de pesquisa31
11 Introduccedilatildeo31
12 Mudanccedilas histoacutericas na LIBRAS e variaccedilotildees linguiacutesticas de
1946 a 2010 em Santa Catarina31
13 Objetivo Geral33
14 Objetivos especiacuteficos33
15 Questotildees e Hipoacuteteses de pesquisa na liacutengua de sinais37
CAPIacuteTULO II ndash Pressupostos teoacuterico-metodoloacutegicos da sociolinguiacutestica
laboviana39
21 Introduccedilatildeo39
22 A liacutengua em seu contexto social40
221 LABOV pesquisador pioneiro em sociolinguiacutestica40
222 A Ilha de Martha‟s Vineyard42
223 Seleccedilatildeo da variaacutevel linguiacutestica47
224 Distribuiccedilatildeo por idade e tempo50
225 Uma explicaccedilatildeo possiacutevel para o aumento da centralizaccedilatildeo52
226 A interaccedilatildeo de padrotildees linguiacutesticos e sociais54
23 Os princiacutepios da mudanccedila linguiacutestica59
231 A idade e a variaccedilatildeo estaacutevel60
232 A idade e a mudanccedila linguiacutestica61
233 Aplicando os conhecimentos da sociolinguiacutestica64
CAPIacuteTULO III ndash A histoacuteria social da liacutengua69
31 Introduccedilatildeo69
32 Charles Michel de LEpeacutee - Instituto Nacional de Surdos-Mudos
em Paris69
33 Eacutedouard Huet ndash Instituto Nacional Educaccedilatildeo de Surdos
(INESRJ)74
34 Francisco Lima Juacutenior - O Primeiro Professor Surdo na liacutengua
de sinais em Santa Catarina87
CAPIacuteTULO IV ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila na liacutengua de sinais101
41 Introduccedilatildeo101
42 A liacutengua de sinais pelo surdo indiacutecios de variaccedilatildeo e mudanccedila
linguiacutestica101
43 As variaccedilotildees linguiacutesticas na liacutengua de sinais116
44 O surdo se comunica a liacutengua de sinais no contexto social118
CAPIacuteTULO V ndash Metodologia121
51 Introduccedilatildeo121
52 A coleta de dados123
53 O meacutetodo de entrevista sociolinguiacutestica a coleta de narrativas
de experiecircncia pessoal124
54 A transcriccedilatildeo de dados dos trecircs grupos compostos de
informantes surdos na liacutengua de sinais126
55 Informantes do grupo surdo na liacutengua de sinais126
56 Descriccedilatildeo dos informantes quanto aos dados129
561 Grupo I - Informantes130
5611 Informante G130
5612 Informante H132
5613 Informante I134
562 Grupo II - Informantes135
5621 Informante D136
5622 Informante E137
5623 Informante F139
563 Grupo III - Informantes140
5631 Informante A140
5632 Informante B141
5633 Informante C143
564 ndash Algumas consideraccedilotildees finais146
CAPITULO VI ndash Descriccedilatildeo e anaacutelise dos resultados149
61 Introduccedilatildeo149
62 A comparaccedilatildeo dos dados o grupo de trecircs geraccedilotildees de surdos na
liacutengua de sinais149
63 Variaccedilatildeo e Mudanccedila lexical na Liacutengua Brasileira de Sinais152
64 Variaccedilatildeo e Mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua Brasileira de
Sinais173
65 O que dizem os resultados das trecircs geraccedilotildees dos informantes na
Liacutengua Brasileira de Sinais 183
Consideraccedilotildees Finais187
Referecircncias Bibliograacuteficas191
Anexos199
25
Introduzindo a pesquisa na liacutengua de sinais
Sou Surdo Pretendo investigar a variaccedilatildeo e a mudanccedila linguiacutestica
na liacutengua de sinais como trabalho final do curso de poacutes-graduaccedilatildeo em
Linguiacutestica niacutevel Doutorado e aprofundar os conceitos adquiridos no
meu mestrado Realizei a defesa do mestrado em 2008 na UFSC O
estudo foi feito na linha de pesquisa em Educaccedilatildeo e Processos
Inclusivos O tema abordado foi ldquoContextualizaccedilatildeo da Trajetoacuteria dos
Surdos e Educaccedilatildeo de Surdos em Santa Catarinardquo
Iniciei no mestrado pesquisando a Educaccedilatildeo de Surdos em SC
Como natildeo haacute documentaccedilatildeo histoacuterica busquei atraveacutes do depoimento
do professor surdo Francisco1 e tambeacutem de documentos e fotografias
que ele tinha resgatar um pouco da trajetoacuteria da Educaccedilatildeo de Surdos em
SC
Aquela pesquisa visava introduzir as narrativas de sujeitos surdos
no que tange a sua histoacuteria memoacuteria e identidade Minha posiccedilatildeo eacute que
atraveacutes dela eacute possiacutevel conseguir elucidar a caminhada realizada pelos
surdos de Santa Catarina E tambeacutem atraveacutes de narrativas captadas com
o professor Francisco Lima Juacutenior (Chiquito) e de alguns de seus ex-
alunos bem como de alguns dados de Jornais fotos e filmagens
consegue-se chegar a escrever a histoacuteria do movimento surdo de Santa
Catarina com respeito agrave organizaccedilatildeo e agrave educaccedilatildeo de surdos O tema foi
muito amplo para pesquisar no mestrado Entatildeo optei por pesquisar a
parte histoacuterica da liacutengua de sinais no mestrado e a parte linguiacutestica no
doutorado numa perspectiva sociolinguiacutestica
Na pesquisa de mestrado percebi que apareceram sinais
diferentes no depoimento de dois surdos que sinalizaram sobre a
Educaccedilatildeo de surdos Refleti sobre esses sinais diferentes e natildeo
conseguia explicaacute-los Entatildeo realizei o projeto de doutorado para
entender melhor essa diferenccedila de sinais estudando um tema mais
1 SCHMITT (2008) dissertaccedilatildeo de mestrado na UFSC Em 1928 nasceu em FlorianoacutepolisSC e inicia a vida de Francisco Lima Juacutenior Em 1937 a 1946 no INSMRJ Francisco inicia seus
estudos No ano de 1947 primeiro espaccedilo de educaccedilatildeo de surdos na garagem na casa dos pais
(Francisco) Em 1954 o encontro de surdos organiza a fundaccedilatildeo do Ciacuterculo Surdos-Mudos em Santa Catarina ndash CSMSC Em 1955 funda o Ciacuterculo Surdos-Mudos em Santa Catarina ndash
CSMSC e tambeacutem foi delegado na regiatildeo do sul Em 1960 teve iniacutecio o governo de Celso
Ramos Em 1963 iniciou a construccedilatildeo Escola Governador Celso Ramos Em 1964 a primeira turma de surdos na Escola Governador Celso Ramos Ex-alunos Surdos na primeira Turma
Escola Governador Celso Ramos em 1964 e 1969 Fundado em 25 de marccedilo de 1969 o
Instituto de Audiccedilatildeo e Terapia da Linguagem ndash IATEL e em 1997 o Francisco entregou o documento no Ciacuterculo Surdos-Mudos em Santa Catarina ndash CSMSC para a Sandra L Amorim e
atualmente ASGF Isso foi apresentado a minha pesquisa de biografia
26
especiacutefico ldquoA Histoacuteria da Liacutengua de Sinais em Santa Catarina
Contextos soacutecio-histoacutericos e sociolinguiacutesticos de surdos de 1946 a
2010rdquo
O trabalho de coleta de dados para esta pesquisa acontece em
forma de relatos filmados sobre a histoacuteria e as experiecircncias de vida de
cada indiviacuteduo em liacutengua de sinais de trecircs geraccedilotildees nas seguintes faixas
etaacuterias o Grupo I eacute formado por indiviacuteduos com mais de 60 anos o
Grupo II por indiviacuteduos de 30 a 60 anos e o Grupo III eacute formado por
indiviacuteduos de 15 a 30 anos Pretende-se investigar nos dados de que
dispomos se aconteceu alguma transformaccedilatildeo linguiacutestica e em caso
positivo qual foi esta transformaccedilatildeo Se a economia a poliacutetica a
questatildeo social e cultural influenciam as mudanccedilas linguiacutesticas que
ocorrem e quais as possiacuteveis influecircncias que estes fatores tiveram em
relaccedilatildeo agraves mudanccedilas na liacutengua de sinais de Santa Catarina no periacuteodo
de 1946 a 2010
A pesquisa e a leitura de histoacuterias da liacutengua de sinais no mundo
no Brasil e em Santa Catarina em diferentes comunidades surdas
propiciaratildeo um maior conhecimento linguiacutestico e melhor entendimento
das diferentes culturas surdas Jaacute posso adiantar que as narrativas
coletadas contadas e vividas pelos trecircs grupos pesquisados em
diferentes momentos da sociedade brasileira ampliaram minha forma de
ver e perceber o mundo
Meu estudo de pesquisa no mestrado apresentou dados sobre a
histoacuteria da liacutengua de sinais de Santa Catarina e as dificuldades
encontradas da comunidade surda nos contatos sociais das vaacuterias regiotildees
de Santa Catarina e ateacute mesmo com outros estados (PR RS SP RJ e
MG) Acredita-se que a ampliaccedilatildeo de sinais aqui em Santa Catarina teve
a influecircncia do professor Francisco Lima Juacutenior porque ele estudou no
INESRJ (Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos) e no IPSSP
(Instituto Paulista de Surdos) e trouxe sinais utilizados nesses estados
aleacutem de outros sinais aprendidos em contatos com surdos de outros
estados (PR RS SP RJ e MG) e ensinou tais sinais aos seus alunos
surdos enriquecendo assim a liacutengua de sinais
Ateacute agora as pesquisas sobre a liacutengua de sinais em Santa Catarina
natildeo tecircm registro da histoacuteria do sujeito surdo na escola e nem nas
associaccedilotildees de surdos ou na comunidade surda na deacutecada de 1950 Pela
pesquisa percebi que antes da vinda do professor Francisco para Santa
Catarina natildeo havia registrodocumentaccedilatildeo sobre a liacutengua de sinais A
histoacuteria que pesquisei sobre a liacutengua de sinais em Santa Catarina surge
de conversas com o professor Francisco e com outros indiviacuteduos surdos
Atualmente haacute mais registros sobre a liacutengua de sinais mas ainda eacute
27
muito pouco pois eacute uma liacutengua na modalidade visual espacial e sua
forma de registro ainda eacute precaacuteria A histoacuteria da liacutengua de sinais tem sido narrada por instituiccedilotildees de
indiviacuteduos ouvintes uma dessas eacute o INESRJ onde estudou o professor
Francisco Essas narraccedilotildees tecircm como base a educaccedilatildeo oralista que natildeo
utilizava nenhum tipo de sinalizaccedilatildeo e a comunidade surda que
utilizava a LIBRAS natildeo deixou informaccedilotildeesregistros sobre a histoacuteria da
comunidade surda daquela eacutepoca (1940) O pouco que ficou eacute
superficial deixando de mostrar informaccedilotildees de maior valor sobre esta
liacutengua que eacute muito importante para que com os registros possamos
entender melhor as variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas que ocorreram e
ocorrem Para isso eacute preciso que indiviacuteduos surdos pesquisem sobre a
histoacuteria cultura identidade e liacutengua de sinais da comunidade surda
Os dados desta pesquisa considerados importantes foram
analisados com o objetivo principal de pesquisar as variaccedilotildees e
possiacuteveis mudanccedilas em tempo aparente na liacutengua de sinais em Santa
Catarina atraveacutes das narrativas de sujeitos surdos
Percebi que o professor Francisco influenciou a liacutengua de sinais
em Santa Catarina e resgatando parte da histoacuteria dessa liacutengua pesquisei
variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas no periacuteodo de 1946 ateacute a
atualidade (2010) A falta de pesquisa histoacuterica da liacutengua de sinais
2 entre 1930 a
1980 no Brasil com referecircncia agrave variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica com o
foco no estudo sociolinguiacutestico e soacutecio-histoacuterico dificultou vislumbrar
o desenvolvimento desta liacutengua durante esse periacuteodo as mudanccedilas
ocorridas e o uso da liacutengua de sinais pela comunidade surda Natildeo houve
registro de pesquisa sobre este tema na liacutengua de sinais atraveacutes de
registro espaccedilo-visual (filmagem viacutedeos fotos etc) nas uacuteltimas deacutecadas
e parece que muitos dados que satildeo importantes sobre o sujeito surdo se
perderam Vale registrar no entanto trabalhos importantes que
procuraram resgatar parte da histoacuteria da liacutengua de sinais no Brasil a
dissertaccedilatildeo defendida em 2010 por Heloise Gripp Diniz sobre o tema
ldquoA histoacuteria da liacutengua de sinais brasileira (Libras) um estudo descritivo
de mudanccedilas fonoloacutegicas e lexicaisrdquo e os trabalhos de Perlin (1998)
Miranda (2001) Karnopp e Quadros (2004) Brito (1990 1991 1993 e
1995) Felipe (1988 1991 1993 1994 1995 1996 e 1997) Campello
(2011) entre outros
2 SCHMITT (2008) relata que ldquoa liacutengua de sinais ou seja a liacutengua dos sujeitos surdos eacute o
espaccedilo que mais eacute atingido pelo diferencialismordquo
28
Com relaccedilatildeo ao oralismo que exigia que os surdos falassem e natildeo
podiam sinalizar essa praacutetica trouxe grandes problemas uma delas foi a
dificuldade na criaccedilatildeo de espaccedilos (escola associaccedilatildeo etc) pelos
proacuteprios surdos Com a criaccedilatildeo das Associaccedilotildees de Surdos em Santa
Catarina os surdos puderam defender seus interesses E a partir de
2001 em Santa Catarina quando foi criada a Lei Estadual Nordm 118693
oficializou a LIBRAS como forma de comunicaccedilatildeo dos surdos
Haacute dez anos surgiu a LEI Nordm 10436 DE 24 DE ABRIL DE
2002 ldquoreconhecida como meio legal de comunicaccedilatildeo e expressatildeo da
Liacutengua Brasileira de Sinais - LIBRAS e outros recursos de expressatildeo a
ela associadosrdquo e o DECRETO Nordm 5626 DE 22 DE DEZEMBRO DE
2005
Em SC a primeira conquista educacional dos surdos aconteceu na
escola Governador Celso Ramos no centro de Florianoacutepolis em 1964
com a primeira turma de surdos a frequentar uma escola Nesta escola
eles tiveram acesso ao uso da liacutengua de sinais com a mediaccedilatildeo do
professor Francisco que tinha o apelido de ldquoChiquitordquo Com o
aprendizado da liacutengua de sinais os surdos comeccedilaram uma nova histoacuteria
e foram aprimorando sua liacutengua
Os alunos surdos adquiriam mais expressatildeo na comunicaccedilatildeo da
liacutengua de sinais e na interaccedilatildeo com o professor de liacutengua de sinais
surdo aprendiam mais raacutepido a se comunicar e a entender os conceitos
(sinaispalavras) Eles aprenderam e foram influenciados pelo professor
Francisco com quem tiveram o primeiro contato com a liacutengua de sinais
Os surdos comeccedilaram a utilizar a liacutengua de sinais na comunidade
surda ampliando este aprendizado Assim indaguei-me sobre qual era a
liacutengua de sinais ensinada naquele contexto social e as mudanccedilas
ocorridas por causa disto Entatildeo procurei o professor Francisco para
entender quais os sinais diferentes que havia em 1950 e que ele trouxe
para Santa Catarina Soube que o professor em seus estudos no INES foi
influenciado pela Liacutengua de Sinais Francesa (Europa) e pela Liacutengua de
Sinais Americana (Estados Unidos) na deacutecada de 1940 retornou para
Santa Catarina por volta de 1947 Essa contextualizaccedilatildeo sobre a liacutengua
de sinais eacute importante para a anaacutelise e pesquisa desta liacutengua em nosso
Estado
O professor Francisco estudou no Rio de Janeiro de 1937 a 1946
3 Em Santa Catarina foi criada a Lei no 11869 de 06 de setembro de 2001 reconhece oficialmente no Estado de Santa Catarina a linguagem gestual codificada na Liacutengua Brasileira
de Sinais LIBRAS ndash e outros recursos a ela associados como meio de comunicaccedilatildeo objetiva e
de uso corrente
29
Trouxe a experiecircncia dos sinais emergentes do Instituto Nacional de
Educaccedilatildeo de Surdos ndash INESRJ e influenciou a Regiatildeo Sul
protagonizando a histoacuteria da liacutengua de sinais por toda comunidade surda
catarinense
Eacute preciso pensar como na realidade a comunidade surda
catarinense resolveu seus problemas nas diferentes fases da histoacuteria da
liacutengua de sinais e em diferentes geraccedilotildees dos surdos Algumas sugestotildees
propostas dizem respeito ao Ciacuterculo de Surdos-Mudos de Santa Catarina
- CSMSC4 fundado pelo professor Francisco tambeacutem professor da
Escola Governador Celso Ramos Tais fatos trouxeram uma maior
interaccedilatildeo entre os surdos catarinenses e o contexto social vivido entre
1946 a 1955 proporcionando a criaccedilatildeo de Associaccedilotildees de Surdos em
vaacuterias regiotildees do estado de Santa Catarina em especial na Escola G
Celso Ramos de 1964 a 1973
Com o intuito de cumprir os objetivos a que esta pesquisa se
propocircs o trabalho seraacute organizado da seguinte forma
Nesta Introduccedilatildeo fiz um breve relato da construccedilatildeo deste
trabalho de pesquisa destacando pontos que acredito serem relevantes
com relaccedilatildeo agrave liacutengua de sinais em Santa Catarina
No primeiro capiacutetulo apresento a delimitaccedilatildeo do objeto de
pesquisa a contextualizaccedilatildeo dos sujeitos surdos na liacutengua de sinais com
o objetivo de pesquisar as mudanccedilas histoacutericas na LIBRAS e possiacuteveis
variaccedilotildees linguiacutesticas que ocorrem na trajetoacuteria percorrida desde o
projeto ateacute a concretizaccedilatildeo da pesquisa de campo realizada
No segundo capiacutetulo apresento alguns pressupostos teoacuterico-
metodoloacutegicos da sociolinguiacutestica laboviana apresento estudos de
Labov sobre a centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) na comunidade de fala da
Ilha de Marthas Vineyard bem como sobre a liacutengua em seu contexto
social a variaccedilatildeo e a mudanccedila linguiacutestica
No terceiro capiacutetulo apresento a contextualizaccedilatildeo da histoacuteria
social da liacutengua em organizaccedilotildees surdas no paiacutes com base na trajetoacuteria
dos surdos na Europa Ameacuterica Brasil e regiotildees de Santa Catarina
No quarto capiacutetulo apresento explicaccedilotildees sobre a variaccedilatildeo
encontrada na liacutengua de sinais e discutida por diversos linguistas
No quinto capiacutetulo apresento a metodologia de coleta das
narrativas dos sujeitos surdos por faixa etaacuteria e a descriccedilatildeo dos
4 O CSMSC professor Francisco comeccedilou a reunir todos os surdos de Santa Catarina
buscando as pessoas surdas que ficavam isoladas na sociedade Fazia reuniotildees perioacutedicas em
sua casa com atividade social alfabetizaccedilatildeo e oficinas de artes e trabalhos artesanais Entatildeo em 18 de agosto de 1955 com 30 associados fundou o Ciacuterculo dos Surdos e Mudos de Santa
Catarina Atualmente chamado de Associaccedilatildeo de Surdos da Grande Florianoacutepolis - ASGF
30
informantes quanto aos dados colhidos na liacutengua de sinais nas trecircs
geraccedilotildees controladas
No sexto capiacutetulo apresento a descriccedilatildeo e a anaacutelise dos
resultados a comparaccedilatildeo dos dados de cada grupo nas trecircs geraccedilotildees de
surdos que utilizaram a liacutengua de sinais
Por fim nas consideraccedilotildees finais mostro que esta pesquisa
pretende contribuir com resultados sobre a variaccedilatildeo e a mudanccedila
linguiacutestica na Liacutengua de Sinais e talvez contribuir com o registro dos
dados coletados no curso de LetrasLIBRAS como referecircncia
bibliograacutefica para auxiliar outras pesquisas
31
CAPIacuteTULO I ndash Delimitaccedilatildeo do objeto de pesquisa
11 ndash Introduccedilatildeo
Pretendo pesquisar parte da histoacuteria da LIBRAS em Santa
Catarina de indiviacuteduos surdos em contextos soacutecio-histoacutericos e
sociolinguiacutesticos de diferentes regiotildees do estado com comunicaccedilatildeo de
sinais diferentes idades variadas gecircnero diferente costumes proacuteprios
escolaridade variada exercendo trabalhos e crenccedilas diferentes
vivenciando fatos histoacutericos tudo isso acontecendo em contextos
distintos Escolhi o periacuteodo de 1946 a 2010 para a pesquisa porque o
professor Francisco Lima Juacutenior que nasceu em 1928 foi estudar fora
da cidade retornou para Florianoacutepolis em 1946 de seus estudos no
Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos (INES) no Rio de Janeiro e
acredito que ele influenciou o ensino da LIBRAS em Santa Catarina
Realizar esta pesquisa eacute um grande desafio pela dificuldade para
encontrar o registro da histoacuteria da liacutengua de sinais e das variaccedilotildees e
mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas Para desenvolver este trabalho eacute
importante saber as influecircncias lexicais e fonoloacutegicas ocorridas nessa
liacutengua em Santa Catarina de onde vieram as influecircncias e qual seu
reflexo na comunidade surda E ainda se essa liacutengua trouxe uma
valorizaccedilatildeo maior para o grupo de surdos I (mais velhos) e se foi
influenciada por fatores sociais e histoacutericos da comunidade surda de
Santa Catarina
Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os seguintes toacutepicos a
delimitaccedilatildeo da pesquisa mudanccedilas histoacutericas na LIBRAS e variaccedilotildees
linguiacutesticas nas deacutecadas de 1940 a 2010 uma contextualizaccedilatildeo sobre a
influecircncia do professor Francisco na comunidade surda a justificativa
sobre a pesquisa feita com as pessoas surdas o objetivo geral desta
pesquisa e por fim a hipoacutetese levantada sobre a influecircncia do professor
Francisco na comunidade surda de Santa Catarina com relaccedilatildeo agrave liacutengua
de sinais
12 ndash Mudanccedilas histoacutericas na LIBRAS e variaccedilotildees linguiacutesticas de
1946 a 2010 em Santa Catarina
A metodologia utilizada nesta pesquisa eacute de base empiacuterica
atraveacutes de coleta de narrativas de sujeitos surdos na faixa etaacuteria de 15 a
80 anos divididos em trecircs grupos os quais responderam agrave seguinte
pergunta ldquoExplique a histoacuteria da educaccedilatildeo do sujeito surdo em Santa
32
Catarinardquo As respostas estatildeo registradas em viacutedeos por se tratar de uma
liacutengua visual-espacial
Os dados colhidos satildeo descritos e analisados com o objetivo de
verificar se ocorreram variaccedilotildees e possiacuteveis mudanccedilas em tempo
aparente em sinais da LIBRAS identificando linguiacutestica e
historicamente cada caso
Nesta pesquisa pretendo aprofundar a histoacuteria da LIBRAS em
Santa Catarina e verificar as variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas
entre 1946 a 2010 bem como a influecircncia do professor Francisco na
comunidade surda do estado de Santa Catarina
Temos poucos registros histoacutericos no Brasil sobre a comunidade
surda e a LIBRAS e esses em sua maioria satildeo escritos por pessoas
ouvintes uma histoacuteria oral5
Em Santa Catarina a realidade eacute a mesma natildeo haacute registros
escritos documentados sobre a comunidade surda A LIBRAS foi
oficializada em 2001 em Santa Catarina e em 2002 no Brasil Ainda eacute
recente e poucos registros temos Eacute necessaacuterio pesquisar mais sobre a
LIBRAS em seus aspectos histoacuterico e linguiacutestico pois atualmente
poucos surdos conhecem sua liacutengua em seus aspectos linguiacutesticos e
gramaticais apenas sinalizam e se comunicam mas se pedirmos
explicaccedilotildees poucos saberatildeo daacute-las ateacute porque isso natildeo eacute mateacuteria
escolar
Com os dados coletados e analisados acredito que poderei
entender melhor qual foi a influecircncia ou natildeo do professor Francisco
junto agrave comunidade surda de Santa Catarina Aleacutem dos dados pretendo
fazer isso com o auxiacutelio de reportagens jornais e revistas catarinenses
bem como atraveacutes de documentos das instituiccedilotildees que trabalharam ou
trabalham com pessoas surdas Tambeacutem pretendo verificar informaccedilotildees
no arquivo Puacuteblico Catarinense Espero que com os depoimentos em
viacutedeos consiga encontrar evidecircncias de variaccedilotildees e mudanccedilas
linguiacutesticas lexicais e fonoloacutegicas em LIBRAS que ocorreram desde a
deacutecada de 1940 Os surdos que deram seu depoimento fazem parte da
comunidade surda que participou do movimento surdo catarinense nas
uacuteltimas deacutecadas Para analisar as transformaccedilotildees ocorridas eles foram
observados por faixas etaacuterias Considerando o uso de narrativas sobre a
5 SCHMITT (2008) na dissertaccedilatildeo de mestrado apresenta O que eacute Histoacuteria Oral ndash Eacute o estudo das narrativas dos sujeitos da pesquisa sua versatildeo e memoacuterias do fato pesquisado ocupa-se em
registrar essas narrativas (gravaccedilotildees filmagens transcriccedilatildeo das entrevistas recortes da
imprensa) como metodologia de pesquisa
33
histoacuteria dessas pessoas utilizei as discussotildees sobre histoacuteria oral para
realizar as entrevistas conforme Alberti (2005)
A histoacuteria oral tem uma natureza especifica que
condiciona as perguntas que o pesquisador pode fazer
Em se tratando de uma forma de recuperaccedilatildeo do passado
conforme concebido pelos que viveram eacute fundamental
que tal abordagem seja efetivamente relevante para a
investigaccedilatildeo que se pretende realizar (ALBERTI 2005
p 30)
13 ndash Objetivo Geral
Verificar a influecircncia do professor Francisco Lima Juacutenior sobre a
liacutengua de sinais de Santa Catarina e pesquisar variaccedilotildees e possiacuteveis
mudanccedilas em tempo aparente na liacutengua de sinais desse educador e de
outros oito sujeitos surdos reunidos por faixa etaacuteria diferente em trecircs
grupos de indiviacuteduos Grupo I (de 60 a 80 anos) Grupo II (de 30 a 60
anos) e Grupo III (de 15 a 30 anos) A narrativa desses nove sujeitos
surdos seraacute analisada com o propoacutesito de verificar quais as
transformaccedilotildees linguiacutesticas ocorridas na comunidade surda atual e quais
as diferenccedilas lexicais e fonoloacutegicas de uso da LIBRAS nas faixas etaacuterias
desses trecircs grupos de geraccedilotildees investigados
14 ndash Objetivos especiacuteficos
Identificar as alteraccedilotildees de alguns sinais quanto agrave
variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica e lexical dentro da liacutengua
de sinais e outros sinais que permanecem ateacute a atualidade
sem influecircncias externas
Comparar a variaccedilatildeo e a mudanccedila encontradas na
liacutengua de sinais utilizada pelos indiviacuteduos surdos
pertencentes a diferentes faixas etaacuterias representantes de
trecircs geraccedilotildees de sinalizadores
Identificar possiacuteveis fatores que condicionam a
variaccedilatildeo e a mudanccedila linguiacutesticas observadas nos trecircs
grupos pesquisados
34
Pretendemos pesquisar a liacutengua de sinais em Santa Catarina
observando a narrativa (depoimento) do sujeito surdo coletada na
escola e na associaccedilatildeo Com o surgimento do primeiro espaccedilo de
identidade cultural6 do surdo em contato com o professor Francisco
quando retornou do Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos
(INESRJ) para Florianoacutepolis que contribuiu para a melhoria do ensino
de liacutengua de sinais aos surdos Observe-se o que disse Felipe (2001)
sobre isso
Assim o antigo Instituto continuou como um centro de
integraccedilatildeo para o fortalecimento do desenvolvimento da
LIBRAS pois segundo Relatoacuterio do Diretor Dr Tobias
Rabello Leite de 1871 esta escola jaacute possuiacutea alunos
vindos de vaacuterias partes do paiacutes dezoito anos retornavam
agraves cidades de origem levando com eles a LIBRAS
(FELIPE 2001 p 121)
Quando o professor Francisco retornou de seu estudo no INES
percebe-se que influenciou o aprendizado da LIBRAS em Santa
Catarina pois a geraccedilatildeo mais nova buscava aprender a liacutengua com os
liacutederes surdos da geraccedilatildeo do professor Francisco Esse espaccedilo foi
conquistado pela poliacutetica de educaccedilatildeo de surdos que assegurava o
envolvimento com a liacutengua de sinais que atualmente estaacute se expandindo
na comunidade surda em nosso estado catarinense
Esse caminho foi aberto pelo professor Francisco Lima Juacutenior
que motivou os sujeitos surdos a aprenderem a LIBRAS num periacuteodo de
escolas oralistas a valorizarem o contato com outros sujeitos surdos e as
conversas nas comunidades surdas e associaccedilotildees levando os surdos da
atualidade a lutarem pelos seus direitos e deveres e a aprimorarem os
espaccedilos cultural e linguiacutestico criando assim lideranccedilas nessas
comunidades Isto proporcionou troca de ideias e experiecircncias
necessidade de mais estudos e melhor compreensatildeo da poliacutetica brasileira
para a busca desses direitos Os surdos da atualidade tambeacutem criaram
uma identidade nessa comunidade com as trocas aprenderam mais
criaram sinais para palavras novas melhoraram sinais antigos etc Para a
autora Tanya A Felipe
6 SCHMITT (2008) relata que ldquoA pesquisa acadecircmica na universidade sobre os problemas na
fase de histoacuteria de ouvinte e a pesquisa na educaccedilatildeo de surdos introduz a identidade cultural
surda no espaccedilo de conflito que eacute a educaccedilatildeo de surdo Esse momento cultural do surdo e a aacuterea de conhecimento sobre a cultura surda satildeo importantes na realidade das pesquisas que
apresentam o sujeito surdo no ensinordquo
35
Como toda liacutengua as liacutenguas de sinais aumentam seus
vocabulaacuterios com novos sinais introduzidos pelas
comunidades surdas em resposta as mudanccedilas culturais e
tecnoloacutegicas Assim a cada necessidade surge um novo
sinal e desde que se torne aceito seraacute utilizado pela
comunidade (FELIPE 2001 p 19)
Percebe-se na citaccedilatildeo da autora que o contato da comunidade
surda7 acontece atraveacutes da comunicaccedilatildeo visual-espacial As mudanccedilas
tecnoloacutegicas a busca de conhecimento e a cultura influenciam a
LIBRAS fazendo com que a comunidade crie novos sinais e modifique
outros sinais mais antigos
A LIBRAS eacute considerada uma liacutengua assim como as outras
liacutenguas orais e apresenta variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica Um dos
exemplos de mudanccedila em LIBRAS foi uma mudanccedila discreta8 do sinal
de ldquoMAtildeErdquo A mudanccedila fonoloacutegica atinge um dos cinco paracircmetros
fonoloacutegicos da formaccedilatildeo de sinais O ponto de articulaccedilatildeo eacute preservado
na mudanccedila do sinal MAtildeE a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) muda e eacute
acrescentado o sinal de MULHER tornando o sinal composto
Figura 01 ndash Sinal de Matildee
Eacute importante retomar aqui quais satildeo esses cinco paracircmetros
Stokoe que por volta de 1960 e 1965 apontou trecircs paracircmetros que
constituem os sinais e nomeou-os configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ponto
de articulaccedilatildeo (PA) ou locaccedilatildeo (L) e movimento (M) Satildeo eles
7 Para Felipe (2001 p 38) ldquouma comunidade eacute um sistema social geral no qual pessoas vivem
juntas compartilham metas comuns e partilham certas responsabilidades umas com as outrasrdquo PADDEN (19895) Para esta pesquisadora ldquouma Comunidade Surda eacute um grupo de pessoas
que mora em uma localizaccedilatildeo particular compartilha as metas comuns de seus membros e de
vaacuterios modos trabalha para alcanccedilar estas metasrdquo Portanto nessa Comunidade pode ter tambeacutem ouvintes e surdos que natildeo satildeo culturalmente Surdos 8 Ocorre quando uma forma (ou sinal) eacute substituiacuteda por outra de modo natildeo gradual
36
Configuraccedilatildeo de matildeos ndash satildeo as diferentes formas que as
matildeos assumem na representaccedilatildeo do sinal
Ponto de articulaccedilatildeo ndash eacute a posiccedilatildeo onde as matildeos satildeo
posicionadas no momento da sinalizaccedilatildeo
Movimento ndash eacute o deslocamento das matildeos no espaccedilo e
em diferentes partes do corpo
Karnopp (1999) apresenta como resultado de pesquisa que a
configuraccedilatildeo de matildeos se diferencia pela seleccedilatildeo de dedos e a
configuraccedilatildeo ou posiccedilatildeo destes para efetuar o sinal Em ASL os dedos
selecionados devem permanecer na mesma disposiccedilatildeo ou quando tem
mudanccedila de posiccedilatildeo os dedos selecionados devem continuar iguais ateacute
o teacutermino do sinal As posiccedilotildees e configuraccedilotildees dos dedos diferenciam-
se em a) difusatildeo dos dedos aduccedilatildeo b) junccedilatildeo entre os dedos e o
polegar abertura e c) tipo e grau de flexatildeo apresentando a organizaccedilatildeo
fonoloacutegica dos sinais com ecircnfase nos articuladores dos itens lexicais e
das restriccedilotildees na formaccedilatildeo de sinais
A partir de 1970 outros linguistas conduziram estudos mais
aprofundados sobre os aspectos fonoloacutegicos Robbin Battison (1974)
Edward S Klima e Ursulla Bellugi (1979) descreveram o quarto
paracircmetro
Orientaccedilatildeo ndash que eacute a posiccedilatildeo da palma da matildeo se pra
frente ou pra traacutes para cima ou para baixo para o lado
esquerdo ou direito
O quinto paracircmetro eacute a expressatildeo facialcorporal foi adicionado
por Ferreira Brito em 1995 no Brasil
Expressotildees faciais e corporais satildeo elementos
gramaticais que compotildeem a estrutura da liacutengua Tambeacutem
chamados de marcadores natildeo manuais Ex a fisionomia
para expressar uma pessoa chata e muito chata eacute
intensificada para expressar o que eacute desejado Alguns sinais
podem ter uma direccedilatildeo e a inversatildeo deste pode significar
oposiccedilatildeo contraacuterio ou concordacircncia nuacutemero-pessoal
37
Figura 02 ndash Sinal de Matildee
Para Quadros (1997) pesquisas evidenciam a perda completa da
motivaccedilatildeo do sinal na crianccedila surda em fase de aquisiccedilatildeo da liacutengua de
sinais Tais sinais como ldquobenccedilatildeordquo para matildee e pai para o surdo adulto ateacute
podem ser resgatados Entretanto a crianccedila que estaacute adquirindo a liacutengua de
sinais e nunca viu esta accedilatildeo natildeo repete a mesma atitude beijando a matildeo
A liacutengua de sinais eacute diferente em diversos paiacuteses e ateacute mesmo em
diferentes regiotildees dentro de um mesmo paiacutes A liacutengua de sinais eacute o que
permite a comunicaccedilatildeo entre as pessoas surdas desta forma os surdos
que conhecem a liacutengua de sinais de outras regiotildees com certeza teratildeo
maior facilidade de comunicaccedilatildeo e tambeacutem de conhecimento
Vale ressaltar que toda forma de liacutengua ldquofaladardquo no contexto
social e tudo o que noacutes vivemos sofre mudanccedilas Todas as liacutenguas tecircm
influecircncia do tempo decorrido Na LIBRAS tambeacutem existem mudanccedilas
culturais e linguiacutesticas
15 ndash Questotildees e Hipoacuteteses de pesquisa na liacutengua de sinais
Nesta pesquisa parto das seguintes questotildees 1) O professor
Francisco influenciou a LIBRAS em SC 2) Que variaccedilotildees e mudanccedila
linguiacutestica vamos encontrar na liacutengua dos nove sujeitos surdos
Acredito que (hipoacutetese) o professor Francisco teve grande influecircncia na
comunidade surda de Santa Catarina com relaccedilatildeo agrave Liacutengua de Sinais
Acredito tambeacutem (hipoacutetese) que muitos dos sinais utilizados pelos
Grupos I e II natildeo satildeo conhecidos pelo Grupo III dos mais jovens Penso
que (hipoacutetese) alguns sinais tiveram alteraccedilotildees quanto a variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica como tambeacutem lexical nos trecircs grupos pesquisados
Quando comparar a liacutengua de sinais nos Grupos I II e III nas diferentes
faixas etaacuterias espero (hipoacutetese) encontrar vaacuterios sinais que comprovem
variaccedilotildees e mudanccedilas fonoloacutegicas e lexicais Essas hipoacuteteses surgiram
de observaccedilotildees como usuaacuterio da LIBRAS
38
Em relaccedilatildeo aos fatores internos e externos que condicionam a
variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica e lexical acredito (hipoacutetese) que o
professor Francisco eacute o precursor do ensino de sinais em Santa Catarina
(fator externo) No Grupo II temos a influecircncia do professor Francisco e
de seus primeiros alunos e das associaccedilotildees de surdos e no Grupo III
temos um maior nuacutemero de surdos nas universidades precisando criar
novos sinais para os novos conhecimentos aprendidos
Labov em sua pesquisa cita ldquo o objetivo da pesquisa linguiacutestica
na comunidade deve ser descobrir como as pessoas falam quando natildeo
estatildeo sendo monitoradasrdquo (LABOV 2008 [1972] p 244) Nesta
pesquisa a observaccedilatildeo aos indiviacuteduos surdos dos trecircs grupos
pesquisados acontece de forma diferente eles sabem que estatildeo
respondendo perguntas e que estatildeo sendo filmados
Pela anaacutelise das respostas em liacutengua de sinais e descriccedilatildeo dos
surdos seraacute possiacutevel descobrir atraveacutes das descriccedilotildees aspectos
culturais9 individuais e tambeacutem obter dados quanto agraves variaccedilotildees e
mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas na liacutengua de sinais neste periacuteodo de
tempo que acontece desde 1946
Finalmente esta tese teraacute o registro dos dados colhidos nos trecircs
grupos pesquisados de diferentes geraccedilotildees mostrando variaccedilotildees e
mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas com os contatos culturais da
comunidade surda
Os fatos sociais desta liacutengua como de qualquer outra podem
acontecer em qualquer tempo e em diferentes situaccedilotildees e quando
analisados neste caso podemos perceber a mudanccedila dos indiviacuteduos
surdos num determinado contexto soacutecio-histoacuterico e linguiacutestico A amostra eou dados para a tese de doutorado na UFSC
proporcionaraacute anaacutelises sobre aspectos variaacuteveis da LIBRAS (variaccedilatildeo e
mudanccedila fonoloacutegica e lexical) com o apoio de autores como Labov
2008 [1972] Naro 2003 Weinreich Labov e Herzog 2006 [1968]
Calvet 2002 entre outros
O periacuteodo indicado para a pesquisa que eacute de 1946 a 2010 pode
revelar parte da histoacuteria da comunidade surda de Santa Catarina e a
influecircncia que o professor Francisco Lima Juacutenior trouxe de contribuiccedilatildeo
para a liacutengua de sinais de Santa Catarina e para a comunidade surda do
estado
9 PERLIN (2006 p 65) Cultura Surda ndash o livro a Invenccedilatildeo da Surdez II explica que a cultura surda esta aiacute enfatizando oferecendo transparentemente sua possessatildeo simboacutelica sobressaindo
com seus discursos narrativos afirmando a necessidade da reinscriccedilatildeo da diferenccedila cultural e
consequente diferenccedila pedagoacutegica
39
CAPIacuteTULO II ndash Pressupostos teoacuterico-metodoloacutegicos da
sociolinguiacutestica laboviana
21 ndash Introduccedilatildeo
A Sociolinguiacutestica se dedica ao estudo da liacutengua falada e do
contexto social de uso da liacutengua ou seja estuda como os membros de
uma sociedade se comunicam em diversas situaccedilotildees em funccedilatildeo por
exemplo do lugar onde cresceram ou de sua posiccedilatildeo socioeconocircmica A
liacutengua surge e tambeacutem se transforma em funccedilatildeo do contexto soacutecio-
histoacuterico
Como seraacute visto mais adiante para essa aacuterea de conhecimento satildeo
fundamentais os conceitos de variaccedilatildeo e mudanccedila O primeiro envolve a
coexistecircncia de diferentes formas linguiacutesticas para a expressatildeo de um
significado e o segundo diz respeito agrave substituiccedilatildeo de formas com o
passar do tempo Esses estudos satildeo fundamentados na sociolinguiacutestica
variacionista que teve iniacutecio com as pesquisas de Labov
Este capiacutetulo traz relatos da pesquisa de Labov que foi pioneiro
na sociolinguiacutestica e realizou estudo linguiacutestico na comunidade de fala
da Ilha de Marthas Vineyard associando a influecircncia dos povos que
imigraram e colonizaram a ilha agraves mudanccedilas ocorridas na fala bem
como o turismo que eacute frequente no veratildeo com visitantes que falam
variedades de uma mesma liacutengua e outras liacutenguas e influenciam o
comeacutercio da ilha fazendo com que variedades e liacutenguas diferentes se
misturem quando as pessoas conversam Num dado momento Labov
investigou a centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) na comunidade de fala da ilha
Foram entrevistados diferentes grupos eacutetnicos ingleses portugueses e
iacutendios Isso foi importante para entender mudanccedilas linguiacutesticas
ocorridas nessa ilha dos Estados Unidos
Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os seguintes toacutepicos a liacutengua
em seu contexto social a partir da teoria laboviana Labov como
pesquisador pioneiro em sociolinguiacutestica o iniacutecio da pesquisa de Labov
na Ilha de Martha‟s Vineyard com ingleses portugueses e iacutendios a
maneira como Labov realizou a pesquisa para escolher a variaacutevel
linguiacutestica a ser estudada a explicaccedilatildeo dos dados obtidos por grupos
ocupacionais e por idade a explicaccedilatildeo da pesquisa realizada por Labov
sobre o aumento da centralizaccedilatildeo comentaacuterios sobre a interaccedilatildeo de
padrotildees linguiacutesticos e sociais na Ilha de Martha‟s Vineyard os
princiacutepios da mudanccedila linguiacutestica a idade e a variaccedilatildeo estaacutevel e por
fim algumas reflexotildees sobre a idade e a mudanccedila linguiacutestica
40
22 ndash A liacutengua em seu contexto social
A liacutengua eacute uma forma de comportamento eacute usada por seres
humanos num contexto social ao comunicarem uns aos outros suas
ideias suas necessidades e emoccedilotildees Sendo assim o comportamento
linguiacutestico de um grupo pode variar de acordo com as experiecircncias
vividas numa comunidade Para Labov (1972) o estudo da origem da
evoluccedilatildeo da linguagem que eacute a ciecircncia que estuda a parte da linguiacutestica
incluiacuteda no contexto social eacute buscado no comportamento linguiacutestico de
um grupo social isto eacute de uma comunidade de fala10
Natildeo se trata de um grupo de falantes que utilizava a mesma forma
de fala mas do grupo que segue as mesmas normas quanto ao uso da
linguagem No caso da linguagem gestual um exemplo disso seria de
um surdo com uma famiacutelia de ouvintesfalantes que natildeo fica isolado na
questatildeo da liacutengua pois comeccedila a frequentar uma associaccedilatildeo de surdos e
aprende a liacutengua de sinais Neste espaccedilo ele aprende a comunicar-se na
liacutengua de sinais e natildeo apenas numa liacutengua gestual caseira
Para entender o comportamento linguiacutestico de uma comunidade
de fala vatildeo ser retomados alguns estudos pioneiros de Labov da deacutecada
de 1960 Antes poreacutem eacute importante entender quem eacute esse pesquisador e
alguns dos trabalhos que ele fez 221 ndash LABOV pesquisador pioneiro em sociolinguiacutestica
William Labov nasceu na cidade de Rutherford em Nova Jersey
no dia 4 de dezembro em 1927 Comeccedilou sua carreira de estudo em
Harvard em 1948 quiacutemico trabalhou na aacuterea industrial de 1949 a 1961
Ele iniciou suas pesquisas como linguista nos Estados Unidos com foco
de estudo direcionado ao contexto social agrave comunidade de fala e agraves
mudanccedilas sonoras da liacutengua
A observaccedilatildeo de Labov sobre os padrotildees sociolinguiacutesticos na ilha
de Marthas Vineyard resultou na publicaccedilatildeo do seu trabalho
apresentado no 37ordm Encontro Anual da Sociedade Americana de
Linguiacutestica em Nova York nos Estados Unidos em 1963 Nesse
trabalho o pesquisador apresentou suas consideraccedilotildees sobre a mudanccedila
sonora dos ditongos (ay) e (aw) no contexto da comunidade de fala da
10 Segundo COELHO et al (2010 p 163) Comunidade de fala ndash ldquonoccedilatildeo que recobre tanto aspectos sociais quanto linguiacutesticos envolvendo atitudesnorma sociais compartilhadas pelos
falantes que por sua vez compartilham caracteriacutesticas linguiacutesticas que os diferem de outros
grupos sociaisrdquo
41
ilha
O autor estudou tambeacutem na Columbia University sob a
orientaccedilatildeo do Professor Uriel Weinreich - doutorado em linguiacutestica em
1964 ndash com quem realizou e aprofundou sua pesquisa em
sociolinguiacutestica sobre a liacutengua falada
Eacute um pesquisador amplamente considerado na aacuterea da pesquisa
linguiacutestica por sua metodologia em sociolinguiacutestica Em seus trabalhos
o autor mostra aspectos de variaccedilatildeo dialetal e mudanccedila da liacutengua inglesa
na sociedade da Ilha de Marthas Vineyard e em Nova York11
atraveacutes de
estudos de variaccedilatildeo fonoloacutegica
Em 1972 Labov publicou seu livro Sociolinguistic Patterns
University of Pennsylvania Press original em Inglecircs o qual teve seu
volume traduzido para o portuguecircs e publicado em 2008 no Brasil
Ele pesquisou durante meses na Ilha de Martha‟s Vineyard
estado de Massachusetts as variaacuteveis foneacuteticas (ay) e (aw) em diferentes
localidades faixas etaacuterias12
grupos profissionais e eacutetnicos da ilha Com
esse estudo conseguiu reconstruir a histoacuteria social da comunidade
daquela ilha a partir da frequecircncia e distribuiccedilatildeo dessas duas variaacuteveis
para verificar se ocorreu mudanccedila sonora correlacionando o complexo
padratildeo linguiacutestico com a estrutura social atraveacutes da investigaccedilatildeo de
fatores sociais que incidem diretamente sobre o processo linguiacutestico
Sobre a mudanccedila linguiacutestica podemos destacar trecircs principais
caracteriacutesticas relevantes na pesquisa que Labov (2008 [1972] p 19)
desenvolveu na Ilha
a origem das variaccedilotildees linguiacutesticas
a difusatildeo e a propagaccedilatildeo das mudanccedilas linguiacutesticas e
a regularidade da mudanccedila linguiacutestica
Labov investigou como aconteceu a variaccedilatildeo do inglecircs americano
em uma determinada comunidade a partir das influecircncias sociais que
vieram do contato entre os indiviacuteduos das localidades pesquisadas
11 A pesquisa de Labov na ilha de Martha‟s Vineyard foi escolhida por mim porque Francisco
viveu em Florianoacutepolis e agrupou os surdos de SC tendo como referecircncia uma ilha que se
parece muito com Martha‟s nas temporadas de veratildeo os turistas do paiacutes e do exterior lotam a cidade fortalecendo a economia do lugar
12 Ao analisar faixa etaacuteria podemos detectar mudanccedila em tempo aparente atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre grupo dos falantes mais velhos e jovens ou variaccedilatildeo estaacutevel
42
Pela induccedilatildeo as variaccedilotildees fonoloacutegicas podem ocorrer pelos
processos de assimilaccedilatildeo ou dissimilaccedilatildeo por analogia empreacutestimo
fusatildeo contaminaccedilatildeo variaccedilatildeo aleatoacuteria ou outros processos linguiacutesticos
em que haja a interaccedilatildeo entre o sistema linguiacutestico de caracteriacutesticas
fisioloacutegicas ou psicoloacutegicas do indiviacuteduo
O autor realizou a pesquisa na comunidade de falantes de
Martha‟s Vineyard nos EUA em Massachusetts para verificar o grau de
centralizaccedilatildeo de sons no caso (ay) e (aw) em diferentes momentos e
situaccedilotildees daquela comunidade como veremos nas proacuteximas seccedilotildees
222 ndash A Ilha de Martharsquos Vineyard
Martha`s Vineyard eacute a maior ilha ao largo da costa da Nova
Inglaterra abrange quase uma centena de quilocircmetros quadrados de
aacuterea
A ilha antigamente era povoada por grupos de iacutendios que estavam
relacionados com a Wampanoags no estado sudeste de Massachusetts
Num primeiro momento os europeus ocuparam a ilha e com o passar
do tempo aprenderam com os iacutendios de diferentes tribos de Martha`s
Vineyard a pescar e a utilizar a agricultura
O primeiro assentamento europeu aconteceu em 1644 na ilha O
governador de Winthrop de Boston norte dos Estados Unidos nessa
eacutepoca anotou em seu jornal local que algumas pessoas de Watertown
eram surdas e se comunicavam atraveacutes de sinais13
isso ajudou na
divulgaccedilatildeo da liacutengua inglesa que comeccedilou a ser usada pelos habitantes
de Martha`s Vineyard Este grupo vinha de famiacutelias do estado de
Massachusetts em Bay Colony que resolveu morar na Ilha
A Ilha de Martha‟s Vineyard na deacutecada de 1960 era formada por
uma pequena populaccedilatildeo de 6000 falantes nativos dividida em trecircs
grupos eacutetnicos ingleses portugueses e iacutendios A pesquisa de Labov
levou em consideraccedilatildeo as trecircs etnias Foram entrevistados 69 indiviacuteduos
daquela sociedade Dentre eles os nuacutemeros entrevistados foram 42
13 Realizei a pesquisa no livro que se chama ldquoEveryone Here Spoke Sign Languagerdquo da autora
(Groce 1952) achei interessante a leitura mas fui riscando e analisando de acordo com minha compreensatildeo do texto e comparando com o que Labov (2008) apresentou no livro Padrotildees
Sociolinguiacutesticos Eacute importante salientar que a pesquisa apresentada no livro de Groce eacute
interessante para realizar estudos na comunidade surda na liacutengua de sinais
43
ingleses 16 portugueses e 9 iacutendios de grupos eacutetnicos essencialmente
endoacutegamos14
Labov controlou tambeacutem diferentes grupos ocupacionais
14 na pesca 8 na agricultura 6 na construccedilatildeo 19 no ramo de serviccedilos 3
profissionais liberais 5 donas de casa e 14 estudantes Fez entrevista
formal e observaccedilotildees em muitas situaccedilotildees espontacircneas nas ruas de
Vineyard Haven e Edgartown em lanchonetes restaurantes bares
embarcadouros e diversos lugares onde o som geral da conversa puacuteblica
podia ser anotado quando natildeo gravado As anotaccedilotildees serviam apenas
como controles suplementares sobre as entrevistas gravadas As
entrevistas aconteceram em trecircs periacuteodos agosto final de
setembrooutubro de 1961 e janeiro de 1962 com pessoas de idades que
variaram de 14 a 75 anos
As duas principais variaacuteveis estudadas na ilha foram (ay) e (aw)
O significado linguiacutestico das formas em variaccedilatildeo era o mesmo mas a
situaccedilatildeo de fala era diferente na comunidade Como resultado das
entrevistas o autor obteve aproximadamente 3500 ocorrecircncias de (ay) e
1500 ocorrecircncias de (aw) como base de dados para sua pesquisa
O primeiro grupo eacutetnico formado por descendentes das famiacutelias
mais velhas de origem inglesa foi para a ilha nos seacuteculos XVII e XVIII
As famiacutelias inglesas eram os Mayhews Nortons Hancocks Allens
Tiltons Vincents Wests e Pooles que com o passar dos anos
influenciaram a liacutengua inglesa falada na ilha e a cultura da comunidade
O segundo grupo eacutetnico era formado por famiacutelias de imigrantes
accedilorianos vindos de Cabo Verde em Portugal Esses imigrantes
portugueses ao longo de toda costa da Nova Inglaterra representaram o
percentual mais alto de centralizaccedilatildeo em Martha‟s Vineyard
A ilha foi dividida em duas partes mais relevantes para a
pesquisa a ilha alta (up-island) e a ilha baixa (down-island) num total
de 5563 (cinco mil quinhentos e sessenta e trecircs) habitantes na deacutecada
de 1960 A ilha alta era organizada por pessoas que viviam em meio
rural poucos lugares fazendas casas de veraneio abandonadas lagoas
de aacutegua salgada e pacircntanos era uma aacuterea geograacutefica central desabitada e
com pinheirais improdutivos A ilha baixa era uma regiatildeo formada por
trecircs pequenos centros urbanos onde vivia cerca de trecircs quartos da
populaccedilatildeo A populaccedilatildeo de Martha‟s Vineyard na deacutecada de 1970 era de
11725 habitantes na parte alta da Ilha (rural) era de 3846 Edgartown
14 Eacute o indiviacuteduo que se casa com membros da mesma tribo para conservaccedilatildeo de sua nobreza e
raccedila
44
1118 Oak Bluffs 1027 Vineyard Haven 1701 e na parte baixa da Ilha
(Vilarejos) 1717 Edgartown 256 Oak Bluffs 292 Tisbury 468 West
Tisbury 360 Chilmark 238 Gay Head 103
Mapeamento da Ilha de Martharsquos Vineyard
Em 1960
Figura 03 ndash Retirado do livro de GROCE Nora Ellen Everyone Here
Spoke Sign Language Hereditary Deafness on Martha‟s Vineyard
Printed in the United States of America 1952
45
Em 1960
Figura 04 ndash Retirado do livro de LABOV Willian Padrotildees
Sociolinguiacutesticos 2008 [1972]
Atualmente em 2012
Figura 05 ndash 10092011 retirado no site
httpcawikipediaorgwikiMartha27s_Vineyard
46
A populaccedilatildeo na Ilha no ano de 1960 estava constituiacuteda de 11
de descendentes da primeira ou da segunda geraccedilatildeo de imigrantes
portugueses Das terceiras e quartas geraccedilotildees provavelmente chegaria
proacuteximo aos 20 Quanto ao terceiro grupo eacutetnico eram remanescentes de
indiacutegenas de GAY HEAD O quarto grupo eacute uma Miscelacircnea de
famiacutelias de imigrantes europeus que vieram da Inglaterra Franccedila-
Canadaacute Irlanda Alemanha e Polocircnia Apesar de que a soma desses
imigrantes seja de aproximadamente 15 natildeo foi levada em conta por
natildeo ser uma forccedila social coesa Segundo Labov todos os anos no veratildeo muitos turistas
chegavam agrave ilha nos meses de junhojulho passando de 6000
habitantes para 42000 habitantes representando um nuacutemero expressivo
mas natildeo foi diretamente analisado porque a influecircncia direta destes
veranistas sobre o falar em Vineyard era relativamente pequena A
constante pressatildeo vinda na comunicaccedilatildeo junto agrave crescente dependecircncia
econocircmica criada pelo turismo gera indiretamente mudanccedilas
linguiacutesticas
Os veranistas estrangeiros falam uma liacutengua proacutepria em seu paiacutes
vatildeo a passeio agrave Ilha para conhecer e explorar a cidade e tambeacutem o povo
daquela ilha fazendo trocas neste conviacutevio e de alguma forma
promovem mudanccedilas econocircmicas poliacuteticas culturais sociais e
linguiacutesticas
O autor constatou que a Ilha de Martha‟s Vineyard aleacutem da
variaccedilatildeo estudada que eacute a centralizaccedilatildeo dos ditongos os falantes
tambeacutem usam as formas variaacuteveis do ndashr poacutes-vocaacutelico em palavras como
car (carro) four (quatro) card (cartatildeo) fourth (quarto) (podemos
verificar ocorrecircncia semelhante na liacutengua falada oral com o sotaque que
se modifica) Diferente do padratildeo comum do sudeste da Nova
Inglaterra [ai] e [au] com frequecircncia se ouve na ilha [ɐi] e [ɐu] ou
mesmo [əi] e [əu] Labov (2008 [1972] p 27) escreve o seguinte
ldquoEsse aspecto dos ditongos centralizados eacute saliente para
o linguumlista mas natildeo para os falantes eacute claramente imune
agrave distorccedilatildeo consciente jaacute que os vineyardenses nativos
natildeo se datildeo conta dele nem conseguem controlaacute-lo
conscientemente No que diz respeito agrave estrutura natildeo
podemos desprezar o paralelismo estrutural de ay e
aw por outro lado esses ditongos satildeo marcados por
grande liberdade estrutural na gama de alofones
permitida pelo sistema Essas satildeo diferenccedilas estritamente
subfonecircmicas Uma vez que natildeo existem outros ditongos
47
crescentes com primeiros elementos baixo ou central
nesse sistema natildeo eacute provaacutevel que o alccedilamento
continuando ou ate a posteriorizaccedilatildeo ou anterioriazaccedilatildeo
resultasse em confusatildeo com qualquer outro fonemardquo
Labov em sua pesquisa mostrou a pronuacutencia variaacutevel dos
ditongos (ay) e (aw) na comunidade de fala considerando traccedilos sociais
dos moradores da localizaccedilatildeo alta (rural) e baixa (vilarejos) da Ilha
atraveacutes de um mapeamento da fala Ele investigou (ay) como o ditongo
em palavras do inglecircs (ex right white pride wine ou wife) e (aw)
ditongo encontrado nas palavras do inglecircs como house out e doubt por
exemplo
Ele realizou procedimentos de observaccedilatildeo e identificaccedilatildeo da
comunidade de fala em duas localizaccedilotildees diferentes em Marthas
Vineyard e Nova York Estudou as realizaccedilotildees de (ay) e (aw) em vaacuterias
regiotildees da ilha e do estado entre as faixas etaacuterias dos informantes entre
grupos de profissionais e tambeacutem entre os grupos eacutetnicos (raccedila e cor)
E em Nova York pesquisou em trecircs lojas de departamento sobre a
realizaccedilatildeo de [r] em posiccedilatildeo final e preacute-consonantal na fala de
funcionaacuterios destas lojas Labov (1994) analisou o uso de [r] que
poderia ser pronunciado ou natildeo na fala de 264 pessoas levando-os a
responder de forma que aparecesse na fala a expressatildeo fourth floor
(quarto andar) porque essa expressatildeo contem [r] nas duas proposiccedilotildees
pretendidas preacute-consonantal (fourth) e final (floor) Labov com essa
pesquisa nos Estados Unidos mostrou que o vernaacuteculo de Nova York
continuou sem o [r] por muito tempo mas como a pronuacutencia do [r] era
prestigiada passou a ser usada pelas classes mais altas e pelos jovens
sensiacuteveis pela questatildeo do status social
Desse modo Labov desenvolveu suas pesquisas com base em
procedimentos metodoloacutegicos que pudessem reconstruir a histoacuteria
recente da mudanccedila linguiacutestica da pronuacutencia dos ditongos e do [r] poacutes-
vocaacutelico Neste trabalho vatildeo ser detalhados os resultados da pesquisa em
Marthas Vineyard
223 ndash Seleccedilatildeo da variaacutevel linguiacutestica
Na seleccedilatildeo da variaacutevel linguiacutestica eacute importante perguntar quais
satildeo as propriedades mais uacuteteis de uma variaacutevel linguiacutestica servindo de
foco de pesquisa de uma determinada comunidade de falantes
Labov pensou como primeiro passo da pesquisa em verificar um
item que ocorra com frequecircncia numa conversaccedilatildeo espontacircnea e que
48
possa ser mapeado Em segundo deve ser estrutural ou seja quanto
mais integrado o item estiver num sistema mais amplo de unidades
funcionais maior seraacute o interesse linguiacutestico intriacutenseco ao estudo E
finalmente em terceiro a distribuiccedilatildeo do traccedilo deve ser estratificada
observando a faixa etaacuteria o grupo de profissionais ou outros
extratos da comunidade de fala Labov apresentou a pesquisa
preliminar sobre o estudo do som na fala da comunidade em vaacuterias
categorias buscando os dados das pessoas que falavam em
diferentes situaccedilotildees linguiacutesticas na ilha como mostra a citaccedilatildeo
abaixo Nas entrevistas preliminares conduzidas em Martha‟s
Vineyard em 1961 foram observadas diversas
mudanccedilas estruturais que eram claramente paralelas a
mudanccedilas que ocorreriam no continente sob a
influecircncia do padratildeo do sudeste da Nova Inglaterra
(LABOV 2008 [1972] p 26)
Eacute importante ressaltar que a Ilha de Marthas‟s Vineyard tem
conservado traccedilos arcaicos provavelmente a populaccedilatildeo era do sudeste
da Nova Inglaterra antes de 1800 Estudos preliminares em 1961
mostraram que a maior parte dos traccedilos especiais do falar da ilha
apresentado nos mapas do LANE15
ainda podiam ser encontrados entre
os falantes de 50 a 95 anos de idade
Labov queria entender a estrutura interna do inglecircs Vineyardense
as diferenccedilas sistemaacuteticas que jaacute haviam ocorrido e as mudanccedilas que
estavam ocorrendo por isso selecionou um aspecto linguiacutestico
caracteriacutestico da ilha com o maior nuacutemero possiacutevel de variaccedilatildeo e o mais
complexo padratildeo de distribuiccedilatildeo Ele comeccedilava a pesquisa
entrevistando indiviacuteduos falantes na comunidade com o objetivo de
detectar variaccedilotildees linguiacutesticas16
geograacuteficas sociais e estiliacutesticas
15 Linguistic Atlas of New England Trata-se de um projeto que registrou a fala de habitantes da Nova Inglaterra nos Estados Unidos na deacutecada de 1930 Segundo O‟Cain (1979 p 243)
ldquoLANE samples the speech of the older and rural representatives of the culture thus
establishing late nineteenth-century bench marks for the study of the New England dialects and also samples younger and urban speakers thus indicating general and particular trends of
changerdquo
16 COELHO et al (2010 p 166) lembram que variaccedilatildeo eacute o ldquoprocesso pelo qual duas formas
podem ocorrer no mesmo contexto linguiacutestico com o mesmo valor referencial ou com o mesmo valor de verdade ie com o mesmo significado Dois requisitos precisam pois ser
cumpridos para que ocorra variaccedilatildeo as formas envolvidas precisam (i) ser intercambiaacuteveis no
mesmo contexto e (ii) manter o mesmo significadordquo
49
Na comunidade linguiacutestica17
de falantes atraveacutes da forma de
falar na conversa espontacircnea e no comportamento o autor mostrou
que havia diferenccedilas linguiacutesticas na ilha de Martha‟s Vineyard e no
sudeste da Nova Inglaterra de onde migraram pessoas para a
colonizaccedilatildeo da ilha
Em sua pesquisa Labov observou que ldquono caso do r poacutes-
vocaacutelico os falantes apresentavam uma variaacutevel linguiacutestica definida
pelos limites geograacuteficos da ilha e que segue um padratildeo social
idiossincraacutetico a Marthas Vineyardrdquo (LABOV 2008 [1972] p 27) Em
algumas aacutereas a retroflexatildeo estava diminuindo e em outras aumentando
As variaccedilotildees do r eram frequentes salientes e envolviam
consequecircncias estruturais determinantes para o sistema vocaacutelico inteiro
Labov em sua pesquisa mostrou variaccedilotildees linguiacutesticas que
ocorreriam na Ilha em uma mesma palavra com ditongos centralizados
como no caso do (ay) e do (aw) na fala dos grupos pesquisados Para
Labov A propriedade deste traccedilo de centralizaccedilatildeo que o faz
parecer excepcionalmente atraente ateacute mesmo agrave
primeira vista eacute a indicaccedilatildeo de um complexo e sutil
padratildeo de estratificaccedilatildeo Essa mesma complexidade
daacute provas de ser recompensadora pois quando a
tendecircncia centralizante eacute mapeada nos haacutebitos de
vaacuterios falantes e a influecircncia do ambiente foneacutetico
prosoacutedico e estiliacutestico eacute considerada permanece uma
ampla aacuterea de variaccedilatildeo (LABOV 2008 [1972] p 27
e 28)
Na comunidade de fala o ambiente o espaccedilo os diferentes
interlocutores as diferentes situaccedilotildees no modo de falar interferem no
sistema foneacutetico prosoacutedico e estiliacutestico da liacutengua falada
As mudanccedilas sonoras satildeo estudadas no momento presente e no
passado buscando novos conhecimentosexplicaccedilotildees sobre uma
17 DUBOIS J et al (2006 p 133) entendem por ldquocomunidade linguiacutestica um grupo de seres
humanos que usam a mesma liacutengua ou o mesmo dialeto num dado momento e que podem comunicar-se entre si Quando uma naccedilatildeo eacute monoliacutengue constitui uma comunidade linguiacutestica
Mas a comunidade linguiacutestica natildeo eacute homogecircnea compotildee-se sempre de um grande nuacutemero de
grupos que tem comportamentos linguiacutesticos diferentes A forma de liacutengua que os membros desses grupos usam tende a reproduzir de uma maneira ou de outra na foneacutetica na sintaxe ou
no leacutexico as diferenccedilas de geraccedilatildeo de origem de residecircncia de profissatildeo ou de formaccedilatildeo
(diferenccedilas socioculturais)rdquo
50
determinada aacuterea da comunidade falada as influecircncias as mudanccedilas
fonecircmicas ocorridas e suposiccedilotildees de como seraacute no futuro
Labov escreve que na Ilha de Marthas‟s Vineyard os veranistas
tecircm apenas uma leve impressatildeo da fala dos nativos pois de cada oito
pessoas na ilha sete satildeo visitantes Para Labov os veranistas natildeo tinham
muita importacircncia naquela comunidade pois na primeira semana de
setembro eles voltavam para seu lugar de origem E apenas ficavam os
moradores da ilha Continuavam a utilizar um alto grau de centralizaccedilatildeo
de (ay) e (aw) na ilha alta e tambeacutem nas aacutereas do vilarejo da ilha baixa
o turismo natildeo interferia nesse aspecto
Labov escreve que
A fim de estudar sistematicamente esse traccedilo foi
necessaacuterio conceber um modelo de entrevista que
fornecesse vaacuterios exemplos de (ay) e (aw) na fala
espontacircnea na fala emocionalmente carregada na fala
monitorada e no estilo de leitura O primeiro desses
ditongos tem mais do dobro da frequumlecircncia de uso do
segundo mas mesmo assim diversas estrateacutegias foram
necessaacuterias para aumentar a concentraccedilatildeo de ocorrecircncias
de ambos (LABOV 2008 [1972] p 31)
Para pesquisar a frequecircncia dos ditongos de (ay) e (aw) Labov
utilizou como estrateacutegia um questionaacuterio lexical concentrando-se em
algumas palavras e utilizando os mapas de LANE Aleacutem disso
formulou perguntas acerca de juiacutezos de valores e orientaccedilatildeo social do
informante e por fim um texto para leitura especial como um teste de
habilidade para ler uma histoacuteria
224 ndash Distribuiccedilatildeo por idade e tempo
Para cada falante o grau geral de centralizaccedilatildeo foi expresso por
valores numeacutericos multiplicados por 100 Veja a tabela 01
Centralizaccedilatildeo por grupos ocupacionais
Na centralizaccedilatildeo por grupos ocupacionais Labov chegou agrave
conclusatildeo de que o grupo dos pescadores na fala centralizava mais os
ditongos (ay) e (aw) do que os fazendeiros e outros pesquisados
51
Ocupaccedilatildeo (ay) (aw)
Pescadores 100 79
Fazendeiros 32 22
Outros 41 57
Tabela 01 ndash Centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por grupos ocupacionais
(LABOV 2008 [1972] p 46)
A tabela 01 mostra as tendecircncias de centralizaccedilatildeo dos ditongos
em funccedilatildeo dos grupos profissionais Os resultados apontam que os
pescadores usam mais centralizaccedilatildeo de (ay) e de (aw) num total
numeacuterico de 100 e de 79 respectivamente Para os fazendeiros os
resultados apontam 32 para (ay) e 22 para (aw) e para as outras
ocupaccedilotildees 41 para (ay) e 57 para (aw) A diferenccedila de resultados com
relaccedilatildeo agrave centralizaccedilatildeo dos ditongos pelos falantes na ilha em Martha‟s
Vineyard confirma o fato de pescadores usarem mais centralizaccedilatildeo do
que os demais informantes
Na centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por faixa etaacuteria Labov escreve
A centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) parece exibir um aumento
regular em faixas etaacuterias sucessivas alcanccedilando um pico
no grupo de 31 a 45 anos Temos agora de examinar as
razotildees para considerarmos esse padratildeo como uma
evidecircncia de mudanccedila histoacuterica no desenvolvimento de
Martha‟s Vineyard (LABOV 2008 [1972] p 41)
Vejamos a tabela
Idade (ay) (aw)
75 25 22
61 ndash 75 35 37
46 ndash 60 62 44
31 ndash 45 81 88
14 ndash 30 37 46
Tabela 02 ndash Centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por faixa etaacuteria (LABOV 2008
[1972] p 41)
52
Na tabela 02 Labov apresenta na coluna agrave esquerda a variaacutevel
independente18
ldquoidaderdquo (externa) distribuiacuteda em diferentes faixas
etaacuterias tendo iniacutecio a partir de 14 anos ateacute acima de 75 anos A coluna
central e a da direita apresentam as duas variaacuteveis dependentes19
fonoloacutegicas (internas) ndash os ditongos (ay) e (aw) Finalmente a tabela
apresenta a centralizaccedilatildeo de cada um dos ditongos de acordo com a
faixa etaacuteria do falante na Ilha de Martha‟s Vineyard
O fato de ser miacutenimo o percentual de centralizaccedilatildeo para
os muito velhos e para os muito jovens mostra que o
efeito da idade natildeo pode ser inteiramente descartado e
que de fato pode ser um fator secundaacuterio na distribuiccedilatildeo
pelas faixas etaacuterias (LABOV 2008 [1972] p 44)
Labov analisou em sua pesquisa iacutendices calculados por ele a
partir da centralizaccedilatildeo dos ditongos num total de 477 centralizaccedilatildeo de
(ay) e (aw) sendo 240 de (ay) e 237 de (aw) Ele percebeu na
distribuiccedilatildeo entre as cinco faixas etaacuterias um aumento percentual
gradativo com o resultado maior de centralizaccedilatildeo no grupo de 31 a 45
anos Por fim Labov em suas pesquisas sociolinguiacutesticas observou uma
possiacutevel mudanccedila da liacutengua nas diferentes faixas etaacuterias da comunidade
de fala de Martha‟s Vineyard com o controle da atuaccedilatildeo de vaacuterios
fatores internos e externos na centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw)
225 ndash Uma explicaccedilatildeo possiacutevel para o aumento da centralizaccedilatildeo
O exame da centralizaccedilatildeo segundo Labov da variaacutevel
dependente em estudo foi meramente descritivo e quando Labov tentou
explicar o fenocircmeno deparou-se com a seguinte questatildeo quais variaacuteveis
independentes seria importante examinarmos Labov supotildee que a
centralizaccedilatildeo desceu a um ponto baixo no final da deacutecada de 1930 e no
poacutes-guerra iniciou a subida Observe
18 COELHO et al (2010 p 166) ldquoVariaacuteveis independentes ndash fatores que condicionam nossa
escolha entre uma ou outra variante e que permitem ao linguista sugerir em que tipo de ambiente tanto linguiacutestico quanto extralinguiacutestico uma variante tem maior probabilidade de
ser escolhida em detrimento de sua (s) ldquorival (is)rdquordquo
19 COELHO et al (2010 p 166) ldquoVariaacutevel dependente ndash aspecto ou categoria da liacutengua que se
encontra em variaccedilatildeordquo
53
Permanece a questatildeo inicial a de explicar (ou de
oferecer um contexto mais amplo para) o aumento geral
da centralizaccedilatildeo na ilha Por que Martha‟s Vineyard deu
as costas para a histoacuteria da liacutengua inglesa Acredito que
podemos encontrar uma explicaccedilatildeo especifica se
estudarmos a configuraccedilatildeo detalhada desta mudanccedila
sonora em funccedilatildeo das forccedilas sociais que afetam mais
profundamente a vida da ilha (LABOV 2008 [1972] p
45)
As primeiras anaacutelises revelaram algumas correlaccedilotildees sociais
notaacuteveis A tabela 03 distribuiccedilatildeo geograacutefica da centralizaccedilatildeo mostra
as tendecircncias nas aacutereas da ilha alta rural a favorecer mais a centralizaccedilatildeo
do que nas aacutereas dos vilarejos da ilha baixa A tabela 03 mostra os
resultados sobre diferenccedilas geograacuteficas entre os moradores da ilha com
relaccedilatildeo agrave centralizaccedilatildeo dos ditongos nas duas principais partes da ilha
nas aacutereas da ilha alta rural e vilarejos na parte da ilha baixa
Os resultados de pesquisa sobre a centralizaccedilatildeo podem ser vistos
na tabela a seguir
(ay) (aw)
Ilha baixa 35 33
Edgartown 48 55
Oak Bluffs 33 10
Vineyard Haven 24 33
Ilha alta 61 66
Oak Bluffs 71 99
N Tisbury 35 13
West Tisbury 51 51
Chilmark 100 81
Gay Head 51 81
Tabela 03 ndash Distribuiccedilatildeo geograacutefica da centralizaccedilatildeo (LABOV 2008
[1972] p 45)
Estaratildeo essas variaacuteveis sociais vinculadas de algum
modo demonstraacutevel agrave mudanccedila linguumliacutestica Seratildeo
realmente independentes umas das outras ou algumas
das correlaccedilotildees estatildeo equivocadas e satildeo dependentes de
algum fator mais amplo que eacute logicamente preacutevio a elas
Se tal fator mais amplo existe precisamos indagar como
ele se originou e de que modo estaacute vinculado aos eventos
linguumliacutesticos Uma abordagem simplista e contabiliacutestica
54
natildeo responderaacute a essas perguntas Teremos de buscar
respostas na estrutura social da ilha e nas pressotildees que
motivam as mudanccedilas sociais da Martha‟s Vineyard
contemporacircnea (LABOV 2008 [1972] p 46)
A mudanccedila linguiacutestica dos grupos era identificada com os
costumes da ilha de Martha‟s Vineyard e Labov conduziu sua pesquisa
com pessoas que habitavam este local e viviam mais de acordo com os
seus costumes tradicionais Labov acreditava que as mudanccedilas
linguiacutesticas poderiam ser correlacionadas agraves relaccedilotildees sociais dos
moradores da ilha e por isso realizou sua pesquisa observando os
comportamentos linguiacutesticos somente das pessoas nativas da ilha
226 ndash A interaccedilatildeo de padrotildees linguiacutesticos e sociais
A Ilha de Martha‟s Vineyard ateacute hoje em dia eacute um lugar
beliacutessimo atrai muitos turistas inclusive poliacuteticos americanos As
pessoas que viviam laacute na deacutecada de 1960 natildeo tinham vida faacutecil na
sociedade americana Era o local com renda mais baixa no municiacutepio de
Massachusetts Labov traz essas informaccedilotildees do Censo de 196020
Os
moradores da ilha dependiam do turista a economia melhorava muito na
temporada Na Ilha de Florianoacutepolis acontece algo parecido Na
temporada de veratildeo o turista do paiacutes e do exterior lota a cidade
fortalecendo a economia do lugar
Florianoacutepolis tambeacutem eacute uma ilha beliacutessima com temporadas de
turistas que vecircm conhecer e aproveitar os lugares ir agraves praias passear
nos Shopping comprar nas lojas ir a restaurantes etc Labov quando
relata sua pesquisa na Ilha de Martha‟s Vineyard parece estar
comentando de Florianoacutepolis Os moradores da ilha aproveitam para
alugar suas casas vender seus produtos principalmente para os turistas
mais ricos Entatildeo haacute uma movimentaccedilatildeo econocircmica muito grande
assim como uma troca com relaccedilatildeo agrave liacutengua falada Como diz Labov (2008 [1972] p 49) ldquoOs chilmarkenses se
orgulham muito de suas diferenccedilas em relaccedilatildeo aos moradores do
continenterdquo
20 O Censo de 1960 mostra que a ilha de Martha‟s Vineyard se trata do municiacutepio mais pobre
de Massachusetts tem a meacutedia de renda mais baixa o mais alto nuacutemero de pessoas pobres e o
menor nuacutemero de pessoas ricas (LABOV 2008 [1972] p 47)
55
Vocecircs que vecircm para caacute para Martha‟s Vineyard natildeo
entendem os costumes das velhas famiacutelias da ilha
costumes e tradiccedilotildees estritamente mariacutetimos e aquilo
que nos interessa o resto da Ameacuterica essa parte do outro
lado aqui da aacutegua que pertence a vocecircs e com que noacutes
natildeo temos nada a ver se esqueceu completamente
Acho ateacute que noacutes usamos um tipo de liacutengua inglesa
totalmente diferente pensamos diferente aqui na ilha
eacute quase uma liacutengua separada dentro da liacutengua inglesa
Interessante se faz notar que no lugar de Chilmark a comunidade
na ilha vive a tradiccedilatildeo da famiacutelia os costumes vecircm de geraccedilatildeo em
geraccedilatildeo O estrangeiro de liacutengua inglesa quando conhece o lugar pode
influenciar a liacutengua falada na ilha pois seu inglecircs eacute diferente
Os resultados reunidos com o maior grau de centralizaccedilatildeo de (ay)
e de (aw) satildeo mostrados na tabela 04 organizados por ocupaccedilatildeo regiatildeo
ou localidade em que moram e faixa etaacuteria
Tabela 04 ndash Cruzamento de fatores 6 falantes com o maior grau de
centralizaccedilatildeo (LABOV 2008 [1972] p 50)
Na regiatildeo Edgartown dois pescadores que satildeo irmatildeos
descendentes de famiacutelias antigas mantecircm sua posiccedilatildeo agrave beira mar de Edgartown trabalhando mesmo frente agrave invasatildeo dos veranistas
Nas tabelas 01 e 04 verifica-se que de todos os grupos
ocupacionais o de pescadores eacute o que utiliza um maior iacutendice de
centralizaccedilatildeo Labov tentou fazer tabulaccedilotildees cruzadas extensas entre as
tabelas 04 e 05 mas chegou agrave conclusatildeo que o nuacutemero era pequeno
Ocupaccedilatildeo Regiatildeo Idade (ay) (aw)
Pescador de Chilmark 60 anos 170 111
Pescador de Chilmark 31 anos 165 211
Pescador de Chilmark 55 anos 150 124
Pescador de Edgartown 61 anos 143 107
Pescador de Chilmark 33 anos 133 79
Pescador de Edgartown 52 anos 131 131
56
demais Exemplificou com o grupo de pescadores de Chilmark na faixa
etaacuteria de 30 a 60 anos Percebeu que cinco informantes tecircm iacutendices
meacutedios de 148 para (ay) e 118 para (aw) o mais elevado do que
qualquer outro grupo social da ilha Labov concluiu entatildeo que a grande
escalada da centralizaccedilatildeo comeccedilou na ilha alta entre os pescadores de
Chilmark
Veja agora os resultados da faixa etaacuteria por grupo eacutetnico
Tabela 05 ndash Centralizaccedilatildeo por grupos eacutetnicos (LABOV 2008
[1972] p 46)
A tabela 5 apresenta a centralizaccedilatildeo por faixa etaacuteria em cada um
dos grupos eacutetnicos principais (ingleses portugueses e indiacutegenas)
Labov concluiu que
Vemos que a centralizaccedilatildeo atinge o aacutepice na faixa etaacuteria
de 30 a 45 anos e que a centralizaccedilatildeo de (aw) alcanccedilou
ou ultrapassou (ay) neste ponto Essa faixa etaacuteria tem
estado sob uma pressatildeo muito mais forte do que qualquer
outra os homens cresceram numa economia declinante
depois de fazerem uma escolha mais ou menos
deliberada de permanecer na ilha em vez de abandonaacute-la
A maioria deles esteve nas forccedilas armadas durante a
Segunda Guerra Mundial ou no conflito da Coreacuteia
Muitos frequumlentaram uma faculdade pois o grupo de
ascendecircncia inglesa tem um grande apreccedilo pela educaccedilatildeo
superior Em algum momento cada um desses homens
escolheu levar uma vida apertada em Martha‟s Vineyard
enquanto muitos de seus contemporacircneos partiram para
ganhar mais dinheiro ou mais reconhecimento em outro
lugar (LABOV 2008 [1972] p 50 e 51)
Exemplificou com relatos as interferecircncias que ocorreram no
modo de falar na ilha Uma delas ldquoSabe o E nem sempre falou desse
jeito foi soacute depois que ele voltou da faculdade Acho que ele queria
Ingleses Portugueses Indiacutegenas
Faixa etaacuteria (ay) (aw) (ay) (aw) (ay) (aw)
Mais de 60 36 34 26 26 32 40
46 a 60 85 63 37 59 71 100
31 a 45 108 109 73 83 80 133
Menos de 30 35 31 34 52 47 88
Todas as idades 67 60 42 54 56 90
57
ficar mais parecido com os homens das docasrdquo
Labov concluiu
Aqui vemos um caso niacutetido de hipercorreccedilatildeo atuando e
com base em outros indiacutecios tambeacutem eacute razoaacutevel supor
que essa eacute uma forccedila muito regular de implementaccedilatildeo da
tendecircncia foneacutetica que estamos estudando (LABOV
2008 [1972] p 52)
Muitos dos jovens de antigas famiacutelias natildeo permaneceratildeo na ilha e
isto reflete nos iacutendices da tabela Atraveacutes de uma leitura padronizada de
um texto com os jovens Labov observou que existia diferenccedila na fala
dos que permaneciam na ilha exibiam forte centralizaccedilatildeo enquanto os
que queriam sair mostravam pouca ou nenhuma centralizaccedilatildeo
Das informaccedilotildees obtidas surgiu um padratildeo unificado que
exprimia o significado social dos ditongos centralizados evidenciando
ldquoque o significado imediato desse traccedilo era o Vineyardenserdquo Labov
esclarece que pelo fato de os grupos terem que responder a desafios
diferentes a seu status nativo desenvolvia-se um modo complexo no
traccedilo fonecircmico
Labov exemplifica isso abaixo
O grupo das antigas famiacutelias de origem inglesa tem sido
submetido a pressotildees vindas de fora seus membros estatildeo
lutando para manter sua posiccedilatildeo independente diante de
um persistente decliacutenio da economia e diante do asseacutedio
ininterrupto dos veranistas O membro da comunidade de
orientaccedilatildeo tradicional naturalmente busca seus valores
nas geraccedilotildees passadas essas geraccedilotildees passadas formam
um grupo de referecircncia para ele (LABOV 2008 [1972]
p 57)
Na geraccedilatildeo mais jovem dos ingleses o efeito diferencial no grau
de centralizaccedilatildeo manteve-se na tradiccedilatildeo eles tinham os ancestrais como
referecircncia se consideravam independentes enquanto pescadores
acreditavam que a ilha lhes pertencia Mantinham sua posiccedilatildeo
econocircmica Se pretendiam sair da ilha a influecircncia dos antepassados
diminuiacutea consideravelmente
No grupo de portugueses eles natildeo enfrentavam o dilema de partir ou ficar na ilha o principal desafio a que esse grupo tinha reagido
provinha do grupo inglecircs que tinha servido de referecircncia ateacute pouco
tempo Para os portugueses o mais urgente era afirmar-se em sua
identidade como ilheacuteu Os indiacutegenas se ressentiam dos obstaacuteculos que
58
enfrentavam na ilha mas tinham adotado muito dos valores dos
Chilmarkenses Com poucos recursos linguiacutesticos ficava difiacutecil insistir
em sua identidade indiacutegena
Labov (2008 [1972] p 59) examinando as entrevistas de cada
informante situou-as em trecircs categorias
Positivo ndash exprime sentimentos definitivamente positivos
acerca de Martha‟s Vineyard neutra ndash expressa
sentimentos nem positivos nem negativos acerca de
Martha‟s Vineyard negativa ndash indicada o desejo de ir
viver em outro lugar
Agora observe na tabela 06 o resultado da centralizaccedilatildeo segundo
a atitude dos trecircs grupos de falantes quanto agrave ilha
Pessoas (ay) (aw)
40 Positiva 63 62
19 Neutra 32 42
6 Negativa 09 08
Tabela 06 ndash Centralizaccedilatildeo e atitude com relaccedilatildeo a Martha‟s Vineyard
(LABOV 2008 [1972] p 59)
Labov agrupou os vaacuterios informantes em uma escala social
quanto ao uso dos ditongos centralizados Primeiro mostravam-se com
atitudes positivas 40 pessoas entrevistadas o iacutendice de centralizaccedilatildeo era
de 63 para (ay) e 62 para (aw) as duas comparaccedilotildees de centralizaccedilotildees
mais altas Segundo o ponto neutro realizado por 19 pessoas
entrevistadas o iacutendice de centralizaccedilatildeo ficava na faixa de 30 32 para
(ay) e 42 para (aw) nem positivo nem negativo Terceiro o ponto
negativo O autor encontrou 6 pessoas entrevistadas que tinham atitudes
negativas com relaccedilatildeo agrave ilha O iacutendice de centralizaccedilatildeo nesse caso era
apenas de 09 para (ay) e de 08 para (aw) Essas pessoas diziam que queriam
viver em outros lugares e natildeo na ilha de Martha‟s Vineyard O autor
mostrou a estratificaccedilatildeo de todos e como ele conseguiu explicar a
distribuiccedilatildeo dos ditongos centralizados de forma vaacutelida fazendo as
relaccedilotildees necessaacuterias para as explicaccedilotildees
59
23 ndash Os princiacutepios da mudanccedila linguiacutestica
Num primeiro estudo relacionado agrave mudanccedila linguiacutestica em
progresso (em curso) eacute necessaacuterio entender como as variaccedilotildees
linguiacutesticas estatildeo distribuiacutedas por faixa etaacuteria Entatildeo percebemos a
mudanccedila linguiacutestica relacionando a variaacutevel linguiacutestica com a idade
pesquisando indiviacuteduos de diferentes geraccedilotildees Segue abaixo a citaccedilatildeo
de Labov sobre mudanccedila linguiacutestica observada entre as faixas etaacuterias
conhecida como mudanccedila em tempo aparente21
A primeira abordagem e mais simples para estudar a
mudanccedila linguiacutestica em andamento eacute traccedilar mudanccedila no
tempo aparente isto eacute a distribuiccedilatildeo das variaacuteveis
linguiacutesticas entre os diferentes niacuteveis etaacuterios Se
descobrirmos uma relaccedilatildeo monotocircnica entre a idade e a
variaacutevel linguiacutestica ou uma correlaccedilatildeo significativa entre
as duas entatildeo trata-se de decidir se estamos lidando com
uma verdadeira mudanccedila em progresso ou de gradaccedilatildeo
etaacuteria (Hockett 1950) uma mudanccedila regular de
comportamento linguiacutestico com a idade que se repete em
cada geraccedilatildeo (LABOV 1994 p 47)22
A primeira e mais simples aproximaccedilatildeo entre as variaccedilotildees
encontradas na sincronia ao estudo da mudanccedila linguiacutestica em curso eacute
seguir a pista da mudanccedila em tempo aparente isto eacute a distribuiccedilatildeo das
variaacuteveis linguiacutesticas por faixa etaacuteria Na variaccedilatildeo encontrada entre o
grupo dos indiviacuteduos mais velhos de uma geraccedilatildeo e outro grupo de
21 SILVA (2004) faz um recorte transversal da amostra sincrocircnica em funccedilatildeo da faixa etaacuteria
dos informantes Por exemplo utilizamos no nosso estudo trecircs grupos etaacuterios jovens meia idade e idosos
COELHO et al (2010 p 164) apontam que mudanccedila em tempo aparente eacute uma ldquomudanccedila
linguiacutestica captada em estudo do comportamento linguiacutestico de indiviacuteduos de diferentes
geraccedilotildees numa comunidade num dado periacuteodo de tempo Tal estudo possibilita identificar correlaccedilotildees entre a variaacutevel social idade e a variaacutevel linguiacutestica em estudo revelando indiacutecios
de (i) uma mudanccedila concernente agrave idade que ocorre regularmente em cada geraccedilatildeo (gradaccedilatildeo
etaacuteria) ou de (ii) uma mudanccedila efetiva em progressordquo
22 Traduccedilatildeo minha do texto original em Inglecircs de Labov ldquoThe first and most straightforward approach to studying linguistic change in progress is to trace change in apparent time that is
the distribution of linguistic variables across age levels If we discover a monotonic
relationship between age and the linguistic variable or a significant correlation between the two then issue is to decide whether we are dealing with a true change in progress or with age-
grading (Hockett 1950) a regular change of linguistic behavior with age that repeats in each
generationrdquo
60
indiviacuteduos mais jovens em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria percebe-se muitas
vezes mudanccedila linguiacutestica em progresso nas liacutenguas
Na estratificaccedilatildeo por idade muitas vezes se percebe que os
indiviacuteduos mudam seu comportamento linguiacutestico durante toda a sua
vida mas a comunidade nem sempre muda
231 ndash A idade e a variaccedilatildeo estaacutevel
Mas nem sempre o estudo da faixa etaacuteria vai indicar mudanccedila em
progresso A meacutedia do grau de realizaccedilatildeo de uma variaccedilatildeo estaacutevel23
pode ser tambeacutem observada entre as faixas etaacuterias dos falantes em que
os grupos extremos (jovens e velhos) apresentam o mesmo
comportamento ao contraacuterio do grupo de meia idade cujo
comportamento se diferencia devido agraves pressotildees sociais Eacute considerando
a variaacutevel idade que vai ser observado no conjunto de dados
investigados se temos mudanccedila em tempo aparente ou variaccedilatildeo estaacutevel
A variaccedilatildeo estaacutevel pode ser observada considerando a
combinaccedilatildeo dos resultados das variaacuteveis bdquoidade‟ bdquosexo‟ bdquoclasse social‟ e
bdquoniacutevel de escolaridade‟ Com relaccedilatildeo agrave bdquofaixa etaacuteria‟ a variaccedilatildeo estaacutevel
diz respeito a variantes que coexistem por um longo periacuteodo mas sem
ter necessariamente predominacircncia de uma sobre a outra
Uma outra possibilidade eacute a visatildeo claacutessica que prevecirc estabilidade
do falante mas instabilidade da comunidade Ex daqui a 20 anos os
falantes de 70 anos estaratildeo falando como os de 50 anos de hoje Outra
possibilidade admite que o sistema linguiacutestico do indiviacuteduo modifica
mas o da comunidade permanece o mesmo Ex daqui a 20 anos os
falantes de 70 anos teratildeo o mesmo sistema que os de 70 anos hoje
Resultados recentes apontam para uma terceira possibilidade o
indiviacuteduo muda com o passar do tempo mas natildeo atinge precisamente a
mesma posiccedilatildeo em que estatildeo os falantes mais velhos atualmente
23 COELHO et al (2010 p 166) apontam que variaccedilatildeo estaacutevel eacute conhecida como a ldquosituaccedilatildeo
de variaccedilatildeo entre duas ou mais formas linguiacutesticas que se estende numa comunidade ao longo
do tempo sem que uma variante ceda seu espaccedilo agrave outrardquo
61
232 ndash A idade e a mudanccedila linguiacutestica
Segundo Naro (2003 p 44) no portuguecircs atual do RJ haacute
fenocircmenos em que a idade atua fortemente
Seudele a forma seu para a 3ordf pessoa eacute pouquiacutessimo
recorrente na fala dos mais jovens
Noacutesa gente os jovens estatildeo evitando a forma noacutes
Ir os jovens estatildeo evitando as regecircncias ir a e ir para
preferindo ir em
Sob a hipoacutetese claacutessica o estado atual da liacutengua de um falante
adulto reflete o estado da liacutengua adquirida mais ou menos ateacute os 15 anos
de idade Logo um indiviacuteduo falante com 60 anos representa a liacutengua de
45 anos atraacutes Falantes adultos tendem a usar as formas antigas Os pais
e filhos apesar de estarem em interaccedilatildeo constante usam formas
distintas na comunicaccedilatildeo Pais e filhos tecircm um vocabulaacuterio e uma fala
proacuteprios de sua eacutepoca Com o passar do tempo eacute provaacutevel que a forma
nova seja adotada por pais e filhos
Naro (2003) apresenta a escala em tempo aparente obtida atraveacutes
do estudo de falantes com idades diferentes ndash chamada de ldquogradaccedilatildeo
etaacuteriardquo ndash que corresponde sempre sob a hipoacutetese claacutessica a uma escala
de mudanccedila em tempo real Observamos a tabela apresentada a seguir
Idade atual
(em anos)
Estado da liacutengua
(anos atraacutes)
70
60
50
40
30
20
55
45
35
25
15
5
Tabela 07 ndash A escala em tempo aparente eacute chamada de ldquogradaccedilatildeo etaacuteriardquo (NARO 2003 p 45)
A tabela ajuda a explicar os dados da pesquisa realizada por
Labov (atraveacutes de gravaccedilatildeo no ano de 1990) mostrando que a fala de
62
um indiviacuteduo de 70 anos de idade representaria o estado da liacutengua
adquirida em 1935
Segundo Naro (2003) Labov conseguiu distinguir quatro graus de
ditongos centralizados denotados (aw) ndash 0 (a posiccedilatildeo mais baixa
correspondendo a ldquoshwardquo) As trecircs posiccedilotildees centrais claacutessicas do
alfabeto foneacutetico estatildeo representadas por ele no seguinte graacutefico
Figura 06 ndash O trapezoacuteide das vogais a flecha indica a direccedilatildeo de
movimento do primeiro elemento de (aw) (NARO 2003 p 49)
A pesquisa em Martha‟s Vineyard revelou que os velhos
preservavam mais a forma original natildeo-centralizada os jovens por
outro lado centralizavam mais Segue a tabela
Geraccedilatildeo Idade Iacutendice de (aw) Iacutendice de (ay)
I (pais) 75+
61 - 75
22
37 25
35
II (filhos) 46 ndash 60
31 ndash 45
44
88 62
88
Tabela 08 ndash Mudanccedila de (aw) e (ay) em tempo aparente atraveacutes de duas
geraccedilotildees em Martha‟s Vineyard (Labov 1972 apud Naro 2003 p 22)
Algumas observaccedilotildees de Naro sobre a pesquisa de Labov satildeo (i) a centralizaccedilatildeo estaacute se espalhando com forccedila e rapidez (ii) os indiviacuteduos
mais velhos (80 anos) praticamente apenas usavam o grau zero o mais
aberto da escala com ocorrecircncias esporaacutedicas do grau um a faixa de 60
anos estava concentrada no grau dois antes de consoante surda (out
63
ldquoforardquo) e no grau zero ou um em outros contextos (round ldquoredondordquo
now ldquoagorardquo) na faixa de 30 anos o condicionamento se tornava quase
categoacuterico grau dois ou trecircs antes de consoante surda grau zero ou um
nos demais contextos ndash resultados obtidos atraveacutes do estudo da variaccedilatildeo
no indiviacuteduo Observa-se assim detalhadamente a mudanccedila em
progresso desde o comeccedilo (ocorrecircncia esporaacutedica de variantes mais
altas) ateacute a instauraccedilatildeo do condicionamento categoacuterico (variantes mais
altas antes de consoante surda variantes mais baixas nos outros
contextos)
De acordo com Naro
O que permite esta visatildeo simultacircnea das diversas etapas
do processo dinacircmico de mudanccedila eacute o congelamento do
sistema linguiacutestico do falante na eacutepoca da puberdade e eacute
justamente este o postulado fundamental que subjaz agrave
hipoacutetese claacutessica do relacionamento entre mudanccedila
linguiacutestica e idade o processo da mudanccedila se espelha na
fala das sucessivas faixas etaacuterias (NARO 2003 p 46)
Sabemos que nem toda variaccedilatildeo na fala representa mudanccedila em
progresso Um exemplo pronuacutencia do morfema ing em inglecircs (walking
ldquoandandordquo) que pode ser realizado como velar ou dental ndash eacute uma
variaccedilatildeo atestada haacute seacuteculos poreacutem ainda existente em praticamente
todos os dialetos e nas diferentes faixas etaacuterias
Labov realizava pesquisas sobre o desenvolvimento diacrocircnico24
da liacutengua a partir de anaacutelises sincrocircnicas25
primeiro foi na ilha de
Marthas Vineyard (1963) e depois foi na cidade de Nova York (1966)
Quando a mudanccedila estaacute envolvida certa variante
ocorreraacute na fala da crianccedila embora esteja ausente na fala
de seus pais ou mais tipicamente uma variante na fala
24 JOTA (1981 p 103) ldquoEstudo da liacutengua atraveacutes dos tempos e consequentemente estudo das transformaccedilotildees que sofre a liacutengua em sua evoluccedilatildeo Opotildee-se agrave sincronia A linguiacutestica
portanto jaacute que pode estudar a liacutengua diacronicamente ou se limitar ao seu estudo em
determinado tempo de sua evoluccedilatildeo (sincronia) se divide em diacrocircnica e sincrocircnicardquo
25 JOTA (1981 p 307) ldquoConjunto dos fatos linguiacutesticos num dado estaacutegio de sua evoluccedilatildeo A sincronia eacute objeto de estudo da linguiacutestica sincrocircnica ou estaacutetica Como um estado de liacutengua
abrange determinado espaccedilo de tempo tempo suficiente para que haja alguma variaccedilatildeo
sincrocircnica eacute claro que esta sob certo ponto-de-vista natildeo se distingue da evoluccedilatildeo diacrocircnicardquo
64
dos pais ocorreraacute na fala de seus filhos com frequecircncia
maior e na fala de seus netos com frequecircncia ainda
maior (CHAMBERS 1995 p185)26
Numa comunidade em geral as geraccedilotildees sucessivas apresentaratildeo
uma frequecircncia de uso maior da variante inovadora A conclusatildeo loacutegica
eacute que com o passar do tempo haveraacute um uso categorial da forma
inovadora e a eliminaccedilatildeo da variante antiga
233 ndash Aplicando os conhecimentos da sociolinguiacutestica
Eacute importante ressaltar que todas as liacutenguas mudam com o tempo
Como exemplo o portuguecircs eacute originaacuterio do latim considerado liacutengua
matildee Entretanto atualmente natildeo haacute semelhanccedila entre as duas liacutenguas
As diferenccedilas satildeo profundas e afetam toda a gramaacutetica da liacutengua essas
diferenccedilas apareceram e cresceram ao longo de mais de mil anos Tanto
na liacutengua falada quanto na liacutengua escrita ocorrem mudanccedilas que satildeo
observadas quando satildeo feitas pesquisas que nos mostram em que alguns
fenocircmenos mudaram Este assunto eacute explicado por Naro (2003)
A mudanccedila linguiacutestica natildeo eacute abrupta normalmente se processa de
maneira gradual em vaacuterias dimensotildees Sob o eixo social eacute observaacutevel
que falantes mais velhos costumam preservar mais as formas antigas o
mesmo ocorre com pessoas mais escolarizadas com camadas da
populaccedilatildeo que gozam de maior prestiacutegio social com o grupo feminino e
com as pessoas que exercem atividades que exigem boa apresentaccedilatildeo
para o puacuteblico Uma mesma pessoa pode escolher diferentes formas em
diferentes situaccedilotildees
Com base nisso pretendo fazer uma comparaccedilatildeo das mudanccedilas
ocorridas num curto espaccedilo de tempo tendo como referecircncia um
professor surdo para investigar as possiacuteveis mudanccedilas da liacutengua de
sinais depois de seu estudo no INES ateacute o momento atual envolvendo
um grupo de surdos mais velhos e outros dois grupos mais jovens Os
dados obtidos na pesquisa podem mostrar como ocorreram algumas
mudanccedilas na liacutengua de sinais e se realmente ocorreram aleacutem disso
podem criar um registro deste periacuteodo para futuras pesquisas Para
Labov (2008 [1972] p 21) ldquoseria de esperar que a aplicaccedilatildeo da
26 Traduccedilatildeo minha do texto original em Inglecircs ldquoWhere change is involved a certain variant will occur in the speech of children though it is absent in the speech of their parents or more
typically a variant in the parents‟ speech will occur in the speech of their children with greater
frequency and in the speech of their granchildren with even greater frequencyrdquo
65
linguiacutestica estrutural a problemas diacrocircnicos levasse ao enriquecimento
dos dados mais do que ao seu empobrecimentordquo
Vale lembrar que em 1970 a educaccedilatildeo dos surdos em Santa
Catarina era baseada em metodologia oralista Poucos sinalizavam
porque natildeo podiam tinham que falar Os sinais eram usados na
comunicaccedilatildeo entre surdos mas esporadicamente pois nesta eacutepoca aleacutem
de serem proibidos de utilizarem sinais para a comunicaccedilatildeo tambeacutem
natildeo podiam fazer reuniotildees soacute de indiviacuteduos surdos como acontece
atualmente Segue a citaccedilatildeo de Labov 2008 [1972] que considero
pressuposto para o desenvolvimento da presente pesquisa
O ponto de vista do presente estudo eacute o de que natildeo se
pode entender o desenvolvimento de uma mudanccedila
linguumliacutestica sem levar em conta a vida social da
comunidade em que ela ocorre Ou dizendo de outro
modo as pressotildees sociais estatildeo operando continuamente
sobre a liacutengua natildeo de algum ponto remoto no passado
mas como uma forccedila social imanente agindo no presente
vivo (LABOV 2008 [1972] p 21)
O maior problema a meu ver eacute que o grupo dos mais velhos que
usava a liacutengua falada natildeo entendia a importacircncia da liacutengua de sinais
para o indiviacuteduo surdo restringindo muito a sinalizaccedilatildeo e os sinais no
ano de 1950 Sabemos que pessoas de diferentes lugares que vecircm para
uma determinada comunidade acabam trocando experiecircncias e palavras
influenciando essa comunidade Isto pouco acontecia com o grupo dos
surdos mais velhos Diferentemente do que se observava com os
antigos os surdos mais novos tinham um maior contato social com a
liacutengua de sinais brasileira permitindo mais trocas de conhecimentos
criando novos sinais tornando a liacutengua de sinais mais ldquovivardquo e
ldquodinacircmicardquo
Por exemplo em comparaccedilatildeo com falantes da ilha em
Florianoacutepolis quanto agrave situaccedilatildeo estiliacutestica27
o grupo mais velho de
surdos usava mais a liacutengua falada do que a sinalizada pouco contato
eles tinham entre si pois era proibida28
a sinalizaccedilatildeo pelas instituiccedilotildees
27 Eacute o jeito de falar nas diferentes situaccedilotildees com os diferentes interlocutores e nos variados
contextos
28 SCHMITT (2008) A representaccedilatildeo de surdo na histoacuteria antiga registra a passagem que os
surdos realizaram na sociedade onde predominavam os ouvintes Entatildeo a hegemonia dos ouvintes manteve sempre o surdo como excluiacutedo atraveacutes de estereoacutetipos e depreciaccedilotildees A
sociedade antiga natildeo permitia a capacitaccedilatildeo dos surdos como sujeitos normais o uso da liacutengua
66
que trabalhavam com os surdos e tambeacutem pelas famiacutelias Conta-se que
em algumas escolas amarravam as matildeos dos indiviacuteduos surdos para que
natildeo sinalizassem Com o grupo mais jovem eacute diferente o contato deles
com outros surdos eacute maior trocam mais experiecircncias e sinais
propiciando assim mais mudanccedilas na liacutengua de sinais tornando-se hoje
mais usada e mais dinacircmica na comunidade surda Isso acontece aqui
em Florianoacutepolis tambeacutem A influecircncia accediloriana trazida pelos
imigrantes portugueses atualmente com a visita de turistas brasileiros
(ex vindos dos estados de RS SP PR e MG) e estrangeiros (ex
Argentinos Paraguaios Uruguaios Chilenos dentre outros) a
Florianoacutepolis acaba interferindo e modificando a liacutengua falada na ilha
Acredita-se que existe variaccedilatildeo linguiacutestica na liacutengua de sinais
em Santa Catarina por influecircncia da comunidade de falantes nas
diferentes regiotildees do estado A liacutengua de sinais acaba incorporando
parte da cultura dessas comunidades a sua liacutengua
Existem pesquisas na liacutengua de sinais mostrando diferenccedilas
nas liacutenguas visual-espacial de acordo com o paiacutes de origem com
diferenccedilas culturais diferentes configuraccedilotildees de matildeos etc Estas
pesquisas ajudam a compreender melhor a estrutura das liacutenguas de
sinais seu aspecto linguiacutestico e gramatical
Em Santa Catarina na comunidade de falantes no municiacutepio de
Itaacute na regiatildeo oeste do estado muitos descendentes de europeus
(Italianos alematildees poloneses etc) falam usando um r brando por
exemplo barragem mas na fala fica baragem
Na liacutengua portuguesa existem diferentes sons e diferentes formas
de falar esses sons No caso do exemplo citado anteriormente do
municiacutepio de Itaacute o som do r falado eacute diferente mas o significado da
palavra eacute o mesmo Na LIBRAS acontece isto um determinado sinal
pode ser pronunciado de diferentes maneiras com relaccedilatildeo agrave
configuraccedilatildeo de matildeos (CM)29
ao ponto de articulaccedilatildeo (PA) e ao
movimento (M) Segue abaixo a foto de trecircs principais paracircmetros
fonoloacutegicos
de sinais e nem aceitava a cultura do surdo Como A liacutengua de sinais foi banida das escolas
pelas decisotildees do Congresso de Milatildeo em 1880
29 Configuraccedilatildeo de matildeo e segue a foto
67
Figura 07 ndash Sinal de Porco
Por exemplo os sinais para as palavras amanhatilde
30 e faacutecil
31 satildeo
diferentes quanto ao ponto de articulaccedilatildeo e ao movimento mas a
configuraccedilatildeo de matildeos eacute a mesma para as duas palavras Ė importante
ressaltar que Labov em sua pesquisa mostrou variaacuteveis linguiacutesticas com
relaccedilatildeo agrave comunidade de fala e o exemplo na liacutengua de sinais eacute visual e
natildeo sonoro Entatildeo a fonologia das liacutenguas de sinais eacute um ramo da
linguiacutestica que objetiva identificar a estrutura e a organizaccedilatildeo dos
constituintes fonoloacutegicos propondo descriccedilotildees e explicaccedilotildees
Labov (1982) no entanto acreditava que eacute possiacutevel que uma
mudanccedila linguiacutestica possa ser o resultado de uma causa particular
isolada do sistema linguiacutestico ou social Por exemplo em Marthas
Vineyard um alto nuacutemero de casamento entre surdos e ouvintes e entre
surdos foi responsaacutevel pelo nascimento de centenas de surdos no seacuteculo
XIX Como resultado quase todos os membros ouvintes da comunidade
aprenderam a liacutengua de sinais e a utilizaram com muitos outros
propoacutesitos aleacutem da comunicaccedilatildeo com surdos (GROCE 1952)
Concluo este capiacutetulo que apresenta a pesquisa de Labov na ilha
30 Sinal de amanhatilde e segue a foto
31 Sinal de faacutecil e segue a foto
68
de Marthas Vineyard verificando a ocorrecircncia de centralizaccedilatildeo de
ditongos com algumas consideraccedilotildees A metodologia de pesquisa que
Labov abriu um campo de estudos que relaciona variaccedilatildeo e a mudanccedila
linguiacutestica ao contexto social utilizando-se de fatores como gecircnero
escolaridade classe social faixa etaacuteria local de residecircncia apoiando-se
em conhecimento de antropologia e liacutengua e de teacutecnicas computacionais
e matemaacuteticas Essa forma de pesquisa deu iniacutecio ao ramo da linguiacutestica
que conhecemos como sociolinguiacutestica variacionista ou quantitativa em
que a liacutengua natildeo eacute vista como uma estrutura estaacutetica e sim como um
sistema em variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica constante ligado agrave estrutura
social
69
CAPIacuteTULO III ndash A histoacuteria social da liacutengua
31 ndash Introduccedilatildeo
Inicialmente este capiacutetulo apresenta a histoacuteria contextualizada da
liacutengua de sinais da Franccedila depois no Brasil e finalmente em Santa
Catarina No primeiro momento apresenta-se o perfil do fundador da
primeira escola de surdos no mundo localizada na Franccedila o Abade de
LacuteEacutepeacutee Em seguida aponta-se qual foi o fundador da primeira
instituiccedilatildeo de surdos na cidade do Rio de Janeiro o Eacutedouard Huet32
e
traz consideraccedilotildees sobre o primeiro professor surdo a trabalhar em sala
de aula com alunos surdos em Santa Catarina Francisco Lima Juacutenior
Este uacuteltimo estudou a liacutengua de sinais na cidade do Rio de Janeiro e
proporcionou aos surdos de Santa Catarina uma comunicaccedilatildeo em liacutengua
de sinais mais aprofundada e abrangente Ele tambeacutem divulgou a liacutengua
de sinais na comunidade surda criando espaccedilos culturais e uma
identidade para a comunidade surda catarinense
Este capiacutetulo apresentada a seguinte estrutura comenta sobre o
primeiro fundador do Instituto Nacional de Surdos de Paris Abade
LacuteEacutepeacutee apresenta Eacutedouard Huet e sua vinda para o INESRJ e por fim
relata a histoacuteria do primeiro professor surdo (Francisco Lima Juacutenior) em
Santa Catarina na liacutengua de sinais
32 ndash Charles Michel de LacuteEacutepeacutee - Instituto Nacional de Surdos-
Mudos33
em Paris
Na Franccedila Abade de LacuteEacutepeacutee34
foi o primeiro fundador de uma
escola com classes para a educaccedilatildeo de surdos e tambeacutem criou a
32 No Brasil escreve-se Eduard mas na Franccedila seu nome e escrito Eacutedouard Huet
33 Surdos-Mudos ndash terminologia utilizada nessa eacutepoca atualmente utilizamos ser surdo
34 Abade de LacuteEacutepeacutee foi o criador de um meacutetodo empregado na educaccedilatildeo de surdos
denominado de ldquosinais metoacutedicosrdquo A justificativa para a criaccedilatildeo desse meacutetodo se deu pelo fato de que L‟Epeacutee acreditava que a Liacutengua de Sinais utilizada pelos surdos era incompleta
devendo ser melhorada e universalizada Seu meacutetodo consistia em conservar o ldquonuacutecleo central
dos gestosrdquo utilizados por seus alunos adicionando poreacutem a estes gestos outros sinais para designar objetos qualidades fatos ou situaccedilotildees No entanto como seu principal objetivo era o
ensino da liacutengua francesa natildeo se deu por satisfeito criou uma seacuterie de sinais que natildeo existiam
na codificaccedilatildeo gestual referente a preposiccedilotildees artigos tempo e pessoa verbal entre outros
70
linguagem de gestos que se chamava ldquoLINGUAGEM DE SINAIS
METOacuteDICOSrdquo e o alfabeto manual que eacute bem diferente dos coacutedigos de
significados na estrutura frasal e no gesto que representava a palavra
para o surdo
Moura (2000 p 22) relatou que o Abade Charles-Michel de
L‟Epeacutee nasceu em 1712 na cidade de Versalhes na Franccedila O Abade
comeccedilou a ensinar os surdos em 1760 por razotildees religiosas iniciando
seu trabalho com duas freiras surdas Com grande desafio transformou
sua casa na primeira escola puacuteblica para surdos (Instituto de Surdos e
Mudos de Paris) utilizando a comunicaccedilatildeo gestual A autora Perlin
(2002) lembra que
As escolas fundadas em outros paiacuteses nos moldes da
Franccedila passaram a usar as liacutenguas de sinais nacionais e a
explorar novos recursos na educaccedilatildeo de surdos O
curriacuteculo da escola para surdos em Paris passou a
conter liacutengua de sinais religiatildeo liacutengua nacional e
formaccedilatildeo profissional
O Abade de L‟Epeacutee comeccedilou a sua pesquisa observando um
grupo de surdos de laacute que se comunicava nas ruas da cidade (cuidando
para que as pessoas natildeo os vissem fazendo gestos) na liacutengua de sinais
francesa O Abade LacuteEacutepeacutee teve a ideia de conhecer mais sobre a liacutengua
gestual daqueles surdos e mais tarde pensou em como poderia ajudaacute-los
nessa comunicaccedilatildeo Ele ensinava religiatildeo na igreja para os surdos Entatildeo
LacuteEacutepeacutee comeccedilou a investir em seu projeto de melhorias para esta forma
de comunicaccedilatildeo Chamou o grupo de surdos e mostrou a liacutengua gestual
com gramaacutetica proacutepria e o alfabeto manual para o auxiacutelio na
comunicaccedilatildeo
A oportunidade de melhorar a linguagem dos surdos na eacutepoca foi
essencial para que fosse desenvolvida a base da liacutengua de sinais dos
surdos de Paris fortalecendo a cultura e a comunidade surda Isso
permitia tambeacutem que os surdos tivessem acesso a uma filosofia
religiosa aprendendo com isso novos vocabulaacuterios aleacutem da crenccedila e de
um modelo educacional diferente Segue o autor
Todo surdo-mudo enviando ateacute noacutes jaacute tem uma
linguagem () Tem o haacutebito de usaacute-la e compreende os
outros que a fazem Com essa linguagem expressa as
suas necessidades desejos duacutevidas dores etc e natildeo
erra quando os outros se expressam da mesma forma
Noacutes desejamos instruiacute-los e assim ensinar-lhes o francecircs
71
Qual eacute o meacutetodo mais simples e mais curto Natildeo seria
expressando-nos na sua liacutengua Adaptando a sua liacutengua e
fazendo com que ela se adapte a regras claras natildeo
seriacuteamos capazes de conduzir a sua instruccedilatildeo como
desejamos (citado por Harlan Lane Instituon des
Sourds-Muets par la Voie des Signes Meacutethodies part 1
cap IV p 36) apud (CARVALHO 2007 p 24)
Para o surdo comeccedilou a existir uma linguagem atraveacutes da
comunicaccedilatildeo gestual Assim os surdos trocavam informaccedilotildees entre eles
na liacutengua de sinais essencial para o acesso do surdo a sua identidade
Essa convenccedilatildeo social da liacutengua de sinais nesse primeiro grupo de
surdos foi a base da liacutengua Entatildeo o surdo podia aprender a liacutengua
francesa escrita e ter contato com a gramaacutetica dessa liacutengua que foi
essencial para a comunicaccedilatildeo dos surdos transformando a representaccedilatildeo
do gestual O surdo podia alfabetizar-se em francecircs e entender melhor a
sociedade em que vivia e assim adaptar-se agraves mudanccedilas ocorridas em
sua liacutengua gestual Segue a discussatildeo do autor
O Abade L‟Epeacutee iniciou do ano em 1760 conheceu o
grupo de surdo na liacutengua de sinais francesa e estudou
junto com os surdos Mas ele teve a ideacuteia de ajudar o
surdo valorizar a liacutengua de sinais francesa Quem fundou
o Instituto no Paris Foi Abade L‟Epeacutee Laacute foi ensinada
a liacutengua de sinais francesa para os alunos surdos mais
pobres Berthier escreveu a biografia do Abade L‟Epeacutee
(1712 ndash 1789) (SCHMITT 2008 p 50)
O Abade L‟Epeacutee com sua experiecircncia e pesquisa ajudava os
surdos franceses na liacutengua francesa escrita e na liacutengua de sinais em
Paris Com sua pesquisa ele mostrou para a comunidade da eacutepoca uma
nova forma de ensinar os surdos desenvolvendo estrateacutegias de ensino
nas duas liacutenguas Acreditava-se que um dos motivos que levou o Abade
a demonstrar interesse pela educaccedilatildeo de surdos foi o fato de ele ter duas
freiras surdas Seguem imagens mostrando o Abade L‟Epeacutee ensinando o
primeiro grupo de surdos franceses (SCHMITT 2008 p 51)
72
Figura 08 ndash Abade L‟Epeacutee ensinando os surdos na liacutengua de sinais
francesa
Schmitt (2008) realizou pesquisa na liacutengua de sinais na
identificaccedilatildeo do surdo e na adaptaccedilatildeo do conhecimento pelo surdo
Sobre L‟Epeacutee ensinando o grupo de surdos na imagem anterior Schmitt
comenta
O Abade L‟ Epeacutee ajudou ensinando os surdos na liacutengua
de sinais valorizando o aspecto viso-espacial na relaccedilatildeo
das matildeos compartilhando e mostrando a loacutegica de sinais
do surdo compreende-se envolve a capacidade no uso o
alfabeto na cultura do surdo Entatildeo na realidade
possibilitou a liacutengua do surdo na comunicaccedilatildeo com outro
surdo e na relaccedilatildeo com professor francecircs (SCHMITT
2008 p 51)
Segundo Frishberg (1975) na Franccedila escreveu que Abbe Charles-
Michel LacuteEpeacutee descreveu o uso da liacutengua de sinais que havia aprendido
com seus alunos ou em contato com as pessoas Era uma forma natural
de comunicaccedilatildeo que veio dar origem agrave gramaacutetica francesa de sinais
Essa gramaacutetica francesa se espalhou e foi disseminada por toda a
Europa cada paiacutes com suas especificidades como ocorre na liacutengua
falada
Percebemos que o Abade L‟Epeacutee ensinava a gramaacutetica do francecircs
no Instituto para Surdos de Paris para que os alunos surdos aprendessem
a histoacuteria e a liacutengua de sinais O L`Epee foi o antecessor em Paris do
Abade Sicard que escreveu o primeiro dicionaacuterio na liacutengua de sinais no
seacuteculo XVIII
Quando o Abade apresentou a comunicaccedilatildeo em liacutengua de sinais
ao grupo para que aprendessem vocabulaacuterio na liacutengua de sinais mostrou
os sinais de COMER AacuteGUA e tambeacutem o sinal de BEBER apontando
para vaacuterios objetos para que o grupo memorizasse e aprendesse o nome
73
de cada um deles Isso com o grupo de alunos e tambeacutem com as duas
irmatildes Foi crescendo o nuacutemero de sinais usados na linguagem gestual
francesa daquela eacutepoca pelos alunos surdos da instituiccedilatildeo onde ensinava
L‟Epeacutee
Entatildeo percebi atraveacutes de leituras que o Abade L‟Epeacutee ensinava a
gramaacutetica do francecircs no Instituto para Surdos de Paris para que os
alunos surdos aprendessem dentre outras coisas a histoacuteria e a liacutengua de
sinais Isso foi interessante para o grupo pois desenvolveram um padratildeo
para a linguagem gestual
Em 1755 Abade L‟Epeacutee iniciou com o primeiro grupo de surdos
no Instituto em Paris onde ensinava a vaacuterios alunos de classes
diferentes ricos e pobres Ele apresentou para os alunos a importacircncia
dos sinais padronizados que ajudavam na comunicaccedilatildeo Em contato
com a liacutengua de sinais convencionada o grupo de surdos na Franccedila
cada vez mais dominava os sinais e aperfeiccediloava o seu meacutetodo de sinais
metoacutedicos
Em ldquoA Maacutescara da Benevolecircnciardquo Lane (1992) apresenta relatos
interessantes de pesquisa com entrevistas de alunos surdos Sua
descriccedilatildeo sobre os sinais indicando os tempos segue na citaccedilatildeo
ldquoO aluno apesar de surdo e mudo tinha tal como noacutes
uma ideacuteia de passado presente e futuro antes de ser
colocado sob a nossa tutela mas eram incapazes de fazer
os sinais para exprimir as diferenccedilas Se quisesse
exprimir uma acccedilatildeo presente Fazia um sinal impelido
pela natureza que consiste em atrair o olhar do
interlocutor para testemunhar a nossa actividade actual
mas se a acccedilatildeo natildeo tivesse lugar na sua vista estendia as
matildeos sobre a mesa tal como estamos todos aptos a fazer
em situaccedilotildees semelhantes e estes satildeo os sinais que
voltou a aprender na aula para indicar o presente de um
verbo Se quisesse indicar que uma acccedilatildeo pertence ao
passado Atirava despreocupadamente o braccedilo sobre o
ombro duas ou trecircs vezes adoptamos estes sinais para
indicar o passado dos verbos E finalmente quando
tivesse a intenccedilatildeo de anunciar o futuro projectava a Matildeo
direita uma vez mais neste caso seleccionaacutemos este
sinal para representar o tempo futuro de um verbordquo
(LANE 1992 p 107 e 108)
Observa-se que havia diferenccedilas na gramaacutetica dos sinais que os
surdos utilizavam no passado A linguagem gestual francesa mudava
com o tempo na realidade da comunidade surda de Paris O contato com
74
sinais na escola eram muito diferentes daqueles que usavam nas
conversas de ruas Os alunos aprenderam formas verbais (passado
presente e futuro) que interferiram na liacutengua Quando a comunidade
surda que utiliza um espaccedilo cultural aprende o contexto cultural se
modifica e a liacutengua de sinais que tambeacutem eacute social se modifica
A liacutengua de sinais francesa serve de origem para muitos dos sinais
usados na ASL No comeccedilo do seacuteculo XIX um professor de surdo
chamado Thomas Hopkins Gallaudet foi da Ameacuterica para a Europa a
fim de aprender teacutecnicas de ensino Na Inglaterra ele conheceu Roch-
Ambroise Cucurron e Abbe Sicard o diretor de uma escola para surdos
em Paris Gallaudet aprendeu meacutetodos de ensino e muitos sinais para
usar na comunicaccedilatildeo com os surdos com Abbe Sicard Tambeacutem
Gallaudet convenceu Laurent Clerc um dos alunos de Sicard a ajudaacute-lo
a fundar uma escola para surdos na Ameacuterica
Gallaudet e Clerc fundaram a Escola Americana para Surdos
(ASD) em 1816 em Hartford Connecticut A escola combinava sinais
da LSF com os que jaacute eram usados pela comunidade de surdos da
Ameacuterica para criar uma linguagem padronizada Nesta eacutepoca esta
linguagem evoluiu para a ASL considerada atualmente a liacutengua de
sinais mais geneacuterica do mundo O filho de Thomas Gallaudet Edward
fundou a Universidade de Gallaudet em Washington DC A Gallaudet
foi a primeira faculdade para surdos
33 ndash Eacutedouard Huet - Instituto Nacional Educaccedilatildeo de Surdos
(INESRJ)
Segundo Ceacutesar Delgado (Revista da FENEIS 2002) Huet nasceu
em 1822 em Paris na Franccedila Comeccedilou seus estudos desde a infacircncia
ouvia normalmente jaacute se comunicava na fala nos idiomas francecircs (sua
liacutengua natural) alematildeo e portuguecircs mais tarde estudava outra liacutengua
que era o espanhol Ficou surdo aos doze anos de idade por
consequecircncia de um sarampo Como ele pertencia agrave nobreza estudou no
Instituto em Bourges e seu aprendizado na liacutengua de sinais francesa
proporcionou muitas oportunidades tornou-se professor de francecircs para
um grupo de surdos na Europa Ele foi convidado pelo imperador Dom Pedro II
35 para que
35 Deste que Eduard Huet fundou o imperial Instituto de Surdos-Mudos com autorizaccedilatildeo do
Imperador Dom Pedro II a Liacutengua de Sinais passou a fazer parte da educaccedilatildeo dos indiviacuteduos
surdos como forma de comunicaccedilatildeo e expressatildeo No iniacutecio a Liacutengua de Sinais teve sua origem na Franccedila mas aos poucos ela foi se desenvolvendo e se adaptando agrave realidade do
Brasil Isso comprova entatildeo que a Liacutengua de Sinais natildeo eacute universal mas ela possui pequenas
75
ajudasse a trabalhar na criaccedilatildeo do Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de
Surdos-Mudos com sede no Rio de Janeiro Iniciou ensinando na sua
liacutengua francesa depois aprendeu os sinais usados no Brasil e acabou
misturando as duas liacutenguas Trouxe um meacutetodo de ensino para a
Educaccedilatildeo de Surdos influenciando a Liacutengua de Sinais Brasileira com
sua liacutengua de sinais (francesa)
Eacutedouard Huet foi o primeiro professor surdo do Brasil
Apresentou em 1855 um projeto ao Imperador D Pedro II para uma
escola de surdos e assim foi fundado o Instituto Nacional de Educaccedilatildeo
de Surdos-Mudos no Rio de Janeiro Ele foi o responsaacutevel por trazer a
liacutengua de sinais francesa para o Instituto fundado em 1857 na cidade
do Rio de JaneiroRJ Com isso temos a origem da influecircncia da liacutengua
de sinais francesa (LSF) trazida por ele da Europa sobre a liacutengua de
sinais brasileira (LSB)36
Segue citaccedilatildeo de Campello que fala sobre a
constituiccedilatildeo da LSB no Brasil
a Constituiccedilatildeo Histoacuterica da Liacutengua de Sinais Brasileira
registro aqui ldquoa viagemrdquo da LSF ateacute o Brasil Essa
viagem tem a sua cronologia histoacuterica quando em 1855
o Ministro de Instruccedilatildeo Puacuteblica Drouyn de Louys e o
embaixador da Franccedila Monsieur Saint George junto
com a corte do Rio de Janeiro apresentou o Conde e
Professor surdo D E Huet37 ex-diretor do Instituto de
Bourges ao ex-Imperador Dom Pedro II e o mesmo
concedeu todas as honrarias inclusive com o salaacuterio e
hospedagem e incentivou a criaccedilatildeo de um educandaacuterio38
semelhanccedilas variando tanto de estado para estado dentro de um mesmo paiacutes quanto de um paiacutes para o outro com algumas semelhanccedilas
36 Campello usa a sigla LSB Nesta tese a sigla usada eacute LIBRAS
37 Haacute muita controveacutersia em torno do seu nome Inicialmente foi registrado na ldquoRevista
Espaccedilordquo do INES como E Huet Mas nos outros documentos pesquisados por mim assinava
como D E Huet sem complementar ou acrescentar o nome proacuteprio completo Recentemente atraveacutes da pesquisa pelo dirigente da FENEIS e da publicaccedilatildeo da Revista FENEIS confirmou
o nome completo de EHuet como Edward Huet Haacute pouco tempo o Grupo de Sinais
Mexicano anexou a coacutepia do email da bisneta que confirmou o nome dele como D Edward Huet M
38 Esse processo jaacute havia acontecido de forma similar com a educaccedilatildeo dos cegos O cego Patriacutecio Aacutelvares de Azevedo brasileiro educado em Paris e que ao regressar ao Rio de Janeiro
em 1851 pensou em fundar um instituto de ensino para cegos A realidade se concretizou em
1854 na fundaccedilatildeo de Instituto Benjamin Constant para cegos
76
destinado ao ensino de surdos mudos39 seria mais uma
poliacutetica puacuteblica com uma tendecircncia mundial a criaccedilatildeo de
escolas de ensino e tambeacutem de residenciais para abrigar
ldquodeficientes40 Haacute a hipoacutetese de que a princesa Isabel
filha do D Pedro II teria um filho surdo41 e tambeacutem que
o marido dela o Conde dacuteEu era portador de deficiecircncia
auditiva42 Mesmo com ou sem comprovaccedilatildeo histoacuterica
eacute difiacutecil transpor a histoacuteria da criaccedilatildeo e do interesse de
Dom Pedro II em abrir a escola de surdos
(CAMPELLO 2011)
O professor surdo Huet lutou pelo direito agrave liacutengua de sinais na
Instituiccedilatildeo com o imperador Dom Pedro II a fim de abrir espaccedilo na
escola de surdo em 1857 O INES era a uacutenica instituiccedilatildeo puacuteblica federal
do Brasil localizada no Rio de Janeiro Vieram alunos de outros estados
brasileiros para estudar com o professor Huet e ficavam hospedados no
Instituto Depois aprendiam a Liacutengua de Sinais Francesa da mesma
maneira que o professor aprendeu na escola francesa
A liacutengua de sinais foi transformada com o tempo tendo influecircncia
do professor surdo Huet Moura (2000 p 81 e 82) comenta o
seguinte
Se deu atraveacutes de Liacutengua de Sinais pode-se deduzir que
ele utilizava os Sinais e a escrita sendo considerado
inclusive o introdutor de Liacutengua de Sinais Francesa no
Brasil onde ela acabou por mesclar-se com a Liacutengua de
Sinais utilizada pelos Surdos em nosso paiacutes O
39 Relatoacuterio do E d Huet aos membros da Comissatildeo Diretora em abril de 1856 no Instituto de
Surdos Mudos
40 Deficientes satildeo as denominaccedilotildees daqueles que mentalmente e fisicamente satildeo incapazes para fazer qualquer atividade
41 Reis (1992) relata que o professor Geraldo Cavalcanti de Albuquerque disciacutepulo do professor Joatildeo Brasil Silvado (diretor do INSM ndash Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos-
Mudos em 1907) informou-lhe em entrevista que o interesse do imperador D Pedro II em
educaccedilatildeo de surdos viria do fato de ser a princesa Isabel matildee de um filho surdo e casada com o Conde D‟Eu parcialmente surdo
42 Nos documentos escritos pelo Francisco de Souza Brasil e Medeiros e Albuquerque (1932)
atestava a surdez do Conde DacuteEu ldquoO Conde DacuteEu tinha ainda o inconveniente de ser surdo A
surdez alheando os indiviacuteduos do meio em que estatildeo lhes daacute agraves vezes a imputaccedilatildeo de orgulhosos porque natildeo lhes permite tomar parte na conversa com a cordialidade que todos
desejariamrdquo (grifo meu)
77
Curriculum por ele apresentado em 1856 colocava
disciplinas como portuguecircs aritmeacutetica histoacuteria
geografia e incluiacutea ldquolinguagem articuladardquo e ldquoleitura
sobre os laacutebiosrdquo para os que tivessem aptidatildeo para tanto
O professor Huet planejava as vaacuterias disciplinas que ensinava
para os alunos surdos desta Instituiccedilatildeo obedecendo ao curriacuteculo escolar
da eacutepoca oferecido nas escolas de ouvintes Infelizmente natildeo foram
registrados os vocabulaacuterios da liacutengua de sinais brasileira desta eacutepoca No
Brasil foi lanccedilada a primeira publicaccedilatildeo sobre liacutengua de sinais em 1873
pelo aluno surdo Flausino Joseacute da Gama do Instituto de Surdos-Mudos43
do Rio de Janeiro O estudo resultou na obra ldquoIconographia dos Signaes
dos Surdos-Mudosrdquo foi publicado o dicionaacuterio em 1875 Poreacutem em
1880 no Congresso Internacional de Educaccedilatildeo de Surdo (Milatildeo)44
a
liacutengua de sinais foi rejeitada nas escolas focando apenas a liacutengua oral
Contudo os alunos do INES continuaram a estudar desenvolver e
disseminar a LIBRAS que por volta de 1980 voltou a ter sua
importacircncia intensificada
Como eacute explicado no prefaacutecio a inspiraccedilatildeo para o
trabalho foi dita pelo estudante ao ver na biblioteca da
instituiccedilatildeo um livro francecircs do Instituto Nacional de
Paris produzindo pelo surdo Francecircs Pellisier Natildeo havia
oficina litografia (o desenho eacute feito em uma pedra ou
placa de metal) no INES e na eacutepoca essa era a uacutenica
maneira de se reproduzir um desenho A ajuda veio do
Sr Eduard Rensburg que se dispotildee a ensinar a Flausino
trabalhar com essa difiacutecil teacutecnica Bastaram poucos dias
de aula e o Surdo tornou-se um exiacutemio litoacutegrafo
(REVISTA DA FENEIS n0 10 2001)
Segundo Campello (2011) Flausino Joseacute da Gama criou com seu
trabalho o dicionaacuterio ldquoIconographia dos Signaes dos Surdos-Mudosrdquo
com o prefaacutecio do Dr Tobias Leite ex-diretor no Instituto Nacional dos
Surdos-Mudos que no passado registrou sobre a pesquisa de Flausino e
a seguir o que escreveu Tobias no dicionaacuterio do INES em 1875
43 Atual Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos ndash INESRJ
44 REacuteE (2005) ldquo() essa data ainda eacute lembrada como a mais sinistra de sua histoacuteria como se fosse mesmo o ldquo11 de setembrordquo deles quando desabaram as torres gecircmeas da cultura e da
liacutengua de sinais a do meacutetodo misto e a do meacutetodo manualista para educaccedilatildeo dos surdos Ali
comeccedilou uma longa e amarga batalha para defender o direito de vida de liacutengua de sinaisrdquo
78
Este livro tem dous fins
Vulgarisar a linguagem dos signaes meio predilecto dos
surdos mudos para a manifestaccedilatildeo dos seus pensamentos
Os pais os professores primaacuterios e todos os eu se
interessarem por esses infelizes ficaratildeo habilitados para
os entender e se fazerem entender
Mostrar o quanto deve ser apreciado um surdo mudo
educado
O alumno deste Instituto Flausino Joseacute da Gama vendo
entre os livros da biblioteca a obra do illustre surdo-
mudo Pellisier professor do Instituto de Pariz
manifestou desejo de reproduzir as estampas para os
fallantes conversarem com os surdos-mudos dizia-me
elle repetidas vezes
Natildeo obstante ser elle haacutebil desenhista a realizaccedilatildeo do
seu desejo era difficil porque natildeo haacute no Instituto officina
de lihtographia e a despeza nas officinas do commercio
seria grande
Referindo o facto ao Sr Eduard Rensburg este senhor
generosamente offereceu-se para ensinar a Flausino o
desenho lithographico e as suas officinas para a
execuccedilatildeo da obra Aceitei immediatamente o
offerecimento e em poucos dias sahio o livro que tenho
a satisfacccedilatildeo de apresentar a todos os que se interessarem
por essa numerosa classe de nossos compatriotas
A Flausino os louvores e ao Sr Rensburg os
agradecimentos de todos os que se interessatildeo pela
instrucccedilatildeo popular
Tobias Leiterdquo
Campello (2011) pesquisou sobre o dicionaacuterio da liacutengua de sinais
registrado e documentado por Flausino que foi apresentado na escrita
pelo ex-diretor do INES que escrevia a palavra ldquoVulgarisarrdquo45
(p 79)
Segundo Delaporte (2005) a Escola Parisiense ldquoSaint-Jacquesrdquo era um
lugar de prestigio onde todas as pessoas que desejavam ensinar os
surdos precisavam obrigatoriamente passar Eacutedouard Huet realizou seus
estudos laacute Flausino inspirou-se no dicionaacuterio de Pierre Peacutelissier que foi
trazido para o Brasil por Eacutedouard Huet Os alunos do INES tinham
muita dificuldade pois os sinais eram muito antigos e eles precisavam
45 CAMPELLO mostrou a pesquisa ldquo que naquela eacutepoca significava colocar a disposiccedilatildeo do
povo e por isso o dicionaacuterio se apresentava como instruccedilatildeo popularrdquo
79
se comunicar com surdos do Instituto de Paris Campello diz que foi
copiado o dicionaacuterio no Instituto Imperial de Paris
Comparado com o original ldquoIcnographie des signesrdquo de
P Pelissier membro ativo de ldquola Socieacuteteacute Centrale
dacuteEducation et dacuteAssistance decircs Sourds-Muetsrdquo e
professor de surdos mudos do Instituto Imperial de Paris
em 1856 obra ldquoIconographia dos signaes dos surdos
mudosrdquo pelo surdo Flausino Joseacute da Gama em 1875 eacute
uma coacutepia na iacutentegra do material com a traduccedilatildeo do
francecircs para o portuguecircs ou seja os sinais foram
copiados um a um traduzindo-se apenas as palavras do
francecircs que identificavam os sinais (CAMPELLO
2011)
Verificando a explicaccedilatildeo anterior da citaccedilatildeo a autora mostrou
uma comparaccedilatildeo do dicionaacuterio em Paris e no Brasil foi copiado o
material para ser utilizado aqui no INES e soacute foi mudado o vocabulaacuterio
eou palavra na traduccedilatildeo do francecircs para o portuguecircs Atualmente a
LIBRAS estaacute bem diferente da eacutepoca de Flausino mas a influecircncia da
Liacutengua de Sinais Francesa eacute inegaacutevel na comunicaccedilatildeo dos surdos
brasileiros pois foi a primeira liacutengua de sinais traduzida e ensinada no
INES
Com o uso e a difusatildeo da liacutengua de sinais surgiu o primeiro
dicionaacuterio do Brasil e as seguintes obras dos autores i) Iconographia
dos Signaes dos Surdos-Mudos de Flausino Joseacute da Gama em 1875 ii)
Linguagem das Matildeos de Eugecircnio Oates em 1969 e iii) O Dicionaacuterio
Enciclopeacutedico Ilustrado Triliacutengue Liacutengua de Sinais Brasileira de
Fernando C Capovilla e Walkiria D Raphael em 2001
Felipe (2000) fala sobre o surgimento da LIBRAS sobre
Flausino Joseacute da Gama e outros dicionaacuterios da LIBRAS
Aqui no Brasil a primeira publicaccedilatildeo sobre a liacutengua
de sinais brasileira data de 1875 trata-se de um livro
Iconografia dos Signaes dos Surdos-Mudos de Flausino
da Gama um ex-aluno do Instituto de Surdos que se
tornou repetidor dessa escola quando terminou seu
periacuteodo de estudo Quase um seacuteculo depois em 1969
com a publicaccedilatildeo do artigo de KAKUMUSU J Urubu
Sign Language foi constatado que haveria pelo menos
outra liacutengua de sinais no Brasil utilizada pelos iacutendios
Urubus-Kaapor
80
Somente em 1969 por iniciativa estrangeira foi
publicado outro livro sobre a liacutengua de sinais brasileira
Linguagem das Matildeos de DATES E mas devido agrave
influecircncia da ASL muitos sinais nessa obra como
tambeacutem na de HOEMAN H et al Linguagem de Sinais
do Brasil satildeo sinais dessa liacutengua Esses dois livros
foram durante deacutecadas o material didaacutetico utilizado
pelos instrutores surdos para ensinarem sua liacutengua e
talvez por essas obras trazerem uma seleccedilatildeo de
fotografias ou desenhos de sinais da LIBRAS com
explicaccedilotildees a metodologia que vem sendo utilizada para
ensinar esta liacutengua tem sido somente a apresentaccedilatildeo de
sinais e traduccedilatildeo dos mesmos
Em 1960 Willian Stokoe
46 iniciou a pesquisa na liacutengua de sinais
americana com publicaccedilatildeo de estudo linguiacutestico mostrando que esta
liacutengua de sinais tinha uma gramaacutetica proacutepria e tambeacutem apresentava
todos os aspectos linguiacutesticos das liacutenguas orais A partir desta
divulgaccedilatildeo do Stokoe o mundo comeccedilou a pesquisar mais sobre as
liacutenguas de sinais Estudou cientificamente a Liacutengua de Sinais Americana
comparando com a Liacutengua Inglesa observou que ambas tinham
caracteriacutesticas equivalentes auxiliando na concepccedilatildeo sobre a educaccedilatildeo
de surdos na liacutengua de sinais
Felipe (2000) apresentou na pesquisa o surgimento da LIBRAS
Seguem agora ilustraccedilotildees sobre os dicionaacuterios antigos ldquoIconographia
dos Signaes dos Surdos Mudos de Flausino Joseacute da Gamardquo ldquoLinguagem
das Matildeos de Eugecircnio Oatesrdquo ldquoEnciclopeacutedico Ilustrado Triliacutengue
Liacutengua de Sinais Brasileira Vol I e II de Fernando C Capovilla e
Walkiria D Raphael
46 STOKOE (1920-2000) foi um dos primeiros linguistas a estudar uma liacutengua de sinais com
tratamento linguiacutestico Considerado o pai da linguiacutestica da liacutengua de sinais americana ndash ASL Ele ensinando e pesquisando revolucionou a Liacutengua de Sinais e mostrou que ela possuiacutea
regras gramaticais proacuteprias A partir daiacute o mundo inteiro passou a aceitar a Liacutengua de Sinais
como uma Liacutengua
81
Figura 09 ndash Acervo na Revista da FENEIS
Interessante a pesquisa das primeiras publicaccedilotildees dos autores
sobre a liacutengua de sinais Trouxe para noacutes surdos brasileiros
documentos para outras pesquisas valorizando o contexto social e a
liacutengua de sinais Campello (2007)
47 apresentou a pesquisa ldquoMudanccedilas fonoloacutegicas
47 Retirado a fonte com autora CAMPELLO 2007 SINPEL ndash I0 Seminaacuterio Integrado de
Pesquisas em Linguiacutestica na UFSC ldquoMudanccedilas fonoloacutegicas dos registros do seacuteculo XVIII ao seacuteculo XXI na liacutengua de sinais brasileirardquo
82
dos registros do seacuteculo XVIII ao seacuteculo XXI na Liacutengua de Sinais
Brasileira elementos novos sobre a liacutengua de sinais brasileirardquo Foi o
primeiro trabalho desse tipo com a LIBRAS desenvolvido no Brasil A
autora destacou inicialmente as justificativas para sua pesquisa
a) Natildeo haacute registro a respeito do desenvolvimento
histoacuterico da liacutengua de sinais brasileira nos livros
brasileiros b) Os surdos brasileiros tecircm muito interesse
em saber mais sobre a origem desta liacutengua c) A liacutengua
de sinais passou a ser reconhecida como liacutengua de
instruccedilatildeo dos surdos brasileiros por meio da Lei 10436
de 2002 regulamentada pelo decreto 5626 de 2005 d) A
liacutengua de sinais passa a ser objeto de ensino Antes de
iniciar a pesquisa em si considero importante situar as
influecircncias da liacutengua de sinais dos Surdos que moldaram
o primeiro dicionaacuterio de liacutengua de sinais brasileira o
movimento poliacutetico social cultural e educacional Com
o ldquoobjeto de pesquisardquo apresento a justificativa visto que
ateacute o presente momento natildeo se sabe se esta liacutengua jaacute
existia antes da fundaccedilatildeo do INES eou natildeo foi
reconhecida por causa da homogeneidade da liacutengua
nacional que eacute a liacutengua portuguesa Tambeacutem visa a
coleta dos sinais e suas mudanccedilas em niacutevel foneacutetico-
fonoloacutegico da Liacutengua de Sinais Francesa para a Liacutengua
de Sinais Brasileira e apresenta a metodologia de
investigaccedilatildeo problematizando a origem da liacutengua de
sinais brasileira jaacute que foi mesclada com a liacutengua de
sinais francesa Muita pesquisa foi deixada de lado pelo
estigma e desconhecimento da liacutengua em estudo nesse
projeto (CAMPELLO 2007)
Observe a figura do painel que Campello apresentou no
Seminaacuterio e eu fotografei
83
Figura 10 ndash Acervo de Ana Regina e Souza Campello ndash UFSC
Diniz (2010) realizou a pesquisa sobre o estudo descritivo das
mudanccedilas fonoloacutegicas e lexicais da Liacutengua de Sinais Brasileira
identificando e analisando os tipos de sinais que mais levam agrave variaccedilatildeo e
agrave mudanccedila e os possiacuteveis motivos que ao longo do tempo culminam
em tais variaccedilotildees Observou-se que o estudo elaborado na histoacuteria da
liacutengua de sinais teve como objetivo principal identificar as mudanccedilas
ocorridas na forma de comunicaccedilatildeo das comunidades surdas bem como
a influecircncia da liacutengua escrita no caso o portuguecircs neste processo
A autora apresenta sua pesquisa de modo a contribuir com os
registros histoacutericos da comunidade surda geral e da liacutengua de sinais As
suas anaacutelises ampliam os conhecimentos sobre a estrutura linguiacutestica da
LIBRAS e seu processo de mudanccedila assim como permitem contrastar
as variaccedilotildees que ocorrem com as liacutenguas orais e as liacutenguas de sinais
Mais amplamente o estudo objetiva valorizar socialmente a Liacutengua
Brasileira de Sinais difundir suas vertentes propiciando agrave populaccedilatildeo
surda o resgate de suas origens tradiccedilotildees e identidade proacutepria
Ela analisou trecircs documentos histoacutericos mais especificamente
trecircs dicionaacuterios de sinais foram os instrumentos de base na pesquisa da
autora acerca do processo de variaccedilatildeo na LIBRAS satildeo eles
Iconographia dos Signaes dos Surdos-Mudos de 1875 (primeiro
documento a fazer referecircncia agrave LIBRAS trata-se de uma reproduccedilatildeo fiel
do dicionaacuterio de sinais Francecircs que envolve representaccedilatildeo de sinais por
meio de desenhos (ilustraccedilotildees)) Linguagem das Matildeos de 1969
(produzido pelo padre Eugecircnio Oates missionaacuterio americano que
trabalhou com surdos em vaacuterias regiotildees brasileiras) e o terceiro
Dicionaacuterio Digital da LIBRAS do Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de
84
Surdos (INES) de 2006 (em CD-ROM produzido no Rio de Janeiro
por profissionais surdos e ouvintes)
Os resultados da pesquisa de Diniz apresentam na anaacutelise dos
dados indiacutecios de mudanccedila fonoloacutegica e lexical
A figura 11 a seguir mostra a forma como o sinal de FACA eacute
produzido utilizando a configuraccedilatildeo de matildeos que se altera nas trecircs
imagens apresentadas
GLOSA ICON OATES INES
Est 2
FACA
FACA
FACA
FACA
Figura 11 ndash Acervo da Heloise Gripp Diniz ndash UFSC 01
A figura 12 apresenta um exemplo de mudanccedila lexical com
configuraccedilotildees de matildeos mostrando o sinal de PUNIR apresentado no
dicionaacuterio em trecircs momentos (Icon Oates e INES) Segue a figura
GLOSA ICON OATES INES
Est 16
PUNIR
PUNIR
CASTIGAR
CASTIGAR
Figura 12 ndash Acervo da Heloise Gripp Diniz ndash UFSC 02
Diante da anaacutelise comparativa dos referidos dicionaacuterios a autora
classificou os sinais em trecircs categorias os que permanecem idecircnticos
(sem alteraccedilotildees) os que sofreram mudanccedilas fonoloacutegicas em alguns de
seus paracircmetros (que se mostrou a maior das trecircs categorias) e os que
sofreram mudanccedilas lexicais alterando por completo as formas dos sinais
originais Dentre os fatores internos que contribuiacuteram para tais variaccedilotildees destacam-se conforto linguiacutestico na articulaccedilatildeo das matildeos e
do corpo e a acuidade visual no espaccedilo da sinalizaccedilatildeo Haacute tambeacutem a
contribuiccedilatildeo dos fatores socioculturais como influecircncia das liacutenguas em
contato empreacutestimo linguiacutestico bilinguismo preconceito linguiacutestico e
85
influecircncia da liacutengua portuguesa e dos falantes ouvintes
Em outras palavras nota-se que o estudo procura resgatar a
histoacuteria das mudanccedilas dos sinais da LIBRAS e de como surgiram as
mudanccedilas influenciadas pelo advento da Instituto Nacional de Educaccedilatildeo
de Surdos (INES) bem como o viacutenculo existente entre o instituto e os
diferentes dicionaacuterios de liacutenguas de sinais da eacutepoca que mostram a
existecircncia de fortes mudanccedilas linguiacutesticas ao longo do tempo entre as
pessoas de mais idade com as famiacutelias e as novas geraccedilotildees que surgem
dispostas a encontrar sinais de configuraccedilotildees de matildeos que possibilitem
facilitar cada vez mais a interaccedilatildeo das comunidades surdas com a
sociedade em geral
Percebe-se entatildeo vaacuterios dialetos utilizados entre grupos de
amigos e familiares na busca de uma melhor compreensatildeo da
comunicaccedilatildeo atraveacutes da liacutengua de sinais Nota-se que apesar da
evoluccedilatildeo da liacutengua de sinais haacute existecircncia de vaacuterios sinais
desconhecidos entre as associaccedilotildees de surdos Existe uma seacuterie de
variaacuteveis diferentes que funcionam como preacute-requisito influenciando
diretamente os processos de variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica
Segundo Diniz (2010) natildeo eacute aconselhaacutevel fazer traduccedilatildeo do
portuguecircs para LIBRAS pois tal conversatildeo acaba dificultando ainda
mais a compreensatildeo e a comunicaccedilatildeo com a comunidade dos surdos
Assim pode-se notar que natildeo eacute apropriado misturar duas liacutenguas (uma
oral outra visual) ao mesmo tempo pois haacute uma diferenccedila muito grande
entre elas Dessa forma torna-se mais faacutecil a compreensatildeo para o surdo
quando eacute explicado diretamente na liacutengua de sinais
Sempre eacute conveniente ressaltar que a LIBRAS eacute uma liacutengua
humana da mesma forma que as liacutenguas faladas nesse sentido a liacutengua
de sinais possui sua proacutepria estrutura linguiacutestica embora com
modalidades diferentes e passa por processos de mudanccedilas contiacutenuas e
deve ser considerada pela comunidade cientiacutefica como sendo de grande
importacircncia para a sociedade em geral As liacutenguas de sinais satildeo
humanas naturais e com estruturas linguiacutesticas proacuteprias fazendo uso do
canal de comunicaccedilatildeo visual-espacial Portanto satildeo mitos48
as
48 FRISHBERG (1975 p 696 - 697) Alguns mitos satildeo derrubados por no que se refere agrave ASL
O primeiro deles diz respeito agrave falsa crenccedila de que a linguagem gestual eacute universal Pelo
contraacuterio as pessoas surdas da China natildeo conseguem entender a ASL tampouco os surdos americanos conseguem entender a CSL a Liacutengua de Sinais Chinesa Os surdos ingleses
tambeacutem natildeo conseguem entender a Liacutengua de Sinais Francesa (LSF) e vice-versa O segundo
mito esclarecido eacute de que a liacutengua de sinais tem muito pouco ou nada a ver com a liacutengua falada da comunidade em sua volta Neste sentido a autora esclarece que a liacutengua de sinais natildeo
significa uma representaccedilatildeo manual traduzida diretamente do inglecircs O terceiro mito elucidado
86
afirmaccedilotildees de que a liacutengua de sinais eacute universal miacutemica coacutedigos
gestos ou apenas uma representaccedilatildeo manual das liacutenguas orais
Cabe ressaltar que a representaccedilatildeo atraveacutes de imagens figuras
gestos configuraccedilatildeo de matildeos e expressotildees faciais satildeo fundamentais para
a fluecircncia da comunicaccedilatildeo entre os membros da comunidade surda e
tambeacutem com a sociedade tornando a compreensatildeo mais acessiacutevel a
todas as pessoas Por meio de estudos nos dicionaacuterios de LIBRAS
percebe-se a existecircncia de algumas categorias distintas de algumas que
permanecem idecircnticas ateacute os dias de hoje e de outras que vecircm sofrendo
mudanccedilas fonoloacutegicas gradativamente com ideias inovadoras
influenciadas pelos estudos efetuados a partir da histoacuteria da liacutengua de
sinais e sua evoluccedilatildeo no processo de mudanccedila ateacute os dias atuais Tais
descobertas satildeo importantiacutessimas para a academia e para os aspectos
socioculturais como forma de resgatar a histoacuteria bem como os valores
das comunidades surdas esquecidas no passado recuperando sua proacutepria
identidade frente agravequeles que utilizam a liacutengua oral
Em geral eacute muito difiacutecil de recuperar nos registros dos
dicionaacuterios os detalhes das articulaccedilotildees movimentos entre outros Isso
ocorre porque na maioria das vezes eles apresentam uma uacutenica palavra
em portuguecircs associada a cada sinal de forma intuitiva quase sempre
indicando um sinal preciso e natildeo uma possiacutevel traduccedilatildeo De qualquer
maneira a partir das evidecircncias que estatildeo nos dicionaacuterios pode-se
analisar como era a liacutengua de sinais antigamente e como ela se
modificou ateacute os dias de hoje bem como qual a sua importacircncia para a
valorizaccedilatildeo social da comunidade surda
Diniz (2010) percebeu que ao passar dos anos existe uma
evoluccedilatildeo no desenvolvimento dos dicionaacuterios trazendo uma forma mais
faacutecil e aacutegil de comunicaccedilatildeo entre os escritores e leitores Hoje a
preocupaccedilatildeo natildeo eacute apenas em fazer dicionaacuterios mas tambeacutem em
analisar as metodologias de produccedilatildeo lexicograacutefica isto eacute como e para
que os dicionaacuterios tecircm sido feitos
Diniz (2010) tambeacutem observou uma pequena mudanccedila no
alfabeto manual que aparece nos trecircs dicionaacuterios Houve uma mudanccedila
fonoloacutegica na estampa ldquoIrdquo referente ao alfabeto de 26 letras no
dicionaacuterio Iconographia Em Oates o alfabeto permanece semelhante
ateacute os dias de hoje mudando apenas a configuraccedilatildeo de matildeos da letra H
No dicionaacuterio INES o alfabeto eacute idecircntico aos dias de hoje
pela pesquisadora refuta a ideia de que as liacutenguas de sinais satildeo apenas gestos teatrais ou
miacutemicos
87
Segundo Diniz (2010) identificam-se tendecircncias de mudanccedilas na
LIBRAS nos trecircs dicionaacuterios a saber simetria de duas matildeos
deslocamento locativo conteuacutedo lexical para as matildeos assimilaccedilatildeo
deletaccedilatildeo de uma matildeo de sinais de duas matildeos e deletaccedilatildeo de uma parte
do sinal composto Dos resultados das anaacutelises pode-se verificar que
alguns sinais da LIBRAS permaneceram idecircnticos ateacute os dias de hoje
enquanto outros sofreram mudanccedilas nas partes fonoloacutegicas e lexicais A
autora concluiu que diversos fatores influenciaram tais mudanccedilas como
por exemplo a influecircncia dos falantes ouvintes sobre a LIBRAS a
influecircncia da Liacutengua portuguesa na estrutura da LIBRAS o
desconhecimento sobre as liacutenguas de sinais a organizaccedilatildeo lexicograacutefica
nos dicionaacuterios de sinais a discriminaccedilatildeo ouvinte sobre a LIBRAS o
contato contiacutenuo dos surdos com ouvinte e a inseguranccedila na
consciecircncia linguiacutestica dos surdos em relaccedilatildeo agrave LIBRAS Outra
conclusatildeo foi a descoberta de sinais da Iconographia idecircnticos na ASL e
na LSF hoje em dia mais do que nos dicionaacuterios Oates e dos INES
34 ndash Francisco Lima Juacutenior ndash O Primeiro Professor Surdo em
Santa Catarina na liacutengua de sinais
Segundo Schmitt (2008) Francisco Lima Juacutenior tem lembranccedilas
do avocirc Germano tias Erna Irude e Isabel o pai Francisco matildee Augusta
e o irmatildeo Reinoldo Francisco Lima Juacutenior chamado pelo apelido
(chiquito) eacute o uacutenico surdo desta famiacutelia Ele nasceu no dia 01 de junho
de 1928 em casa na Rua Duarte Schutel no 16 em Florianoacutepolis A tia
Erna disse que o Francisco foi ateacute os 36 meses de idade uma crianccedila
normal e perfeita mas nesta idade foi um susto para os familiares do
Francisco ele ter ficado surdo
Atraveacutes de contatos com o senhor Francisco Lima Juacutenior
estive presente na casa dele investigando sobre a
primeira turma de surdo Catarinense No dia 04082006
foi entrevistado o senhor Francisco Lima Juacutenior Ele
nasceu no dia 01061928 em Florianoacutepolis no Estado de
Santa Catarina e ateacute a idade de 03 anos ouvia
normalmente A famiacutelia do Francisco sempre conversava
com ele sobre cinema ou noticias que ouviam o raacutedio O
Francisco estava sentado no chatildeo brincando com o
carrinho na sala de estar assistindo o cinema com a
famiacutelia dele A famiacutelia chamou atenccedilatildeo do seu filho
Francisco mas ele natildeo ouvia a voz dos seus pais falando
Franciscooooo e tambeacutem batendo palmas O Francisco
natildeo ouvia nada e quando o pai tocou no ombro do
88
Francisco ele entendeu O que pai (SCHMITT 2008 p
86)
Seus pais natildeo se aperceberam ao longo deste tempo que Francisco
estava ficando surdo porque ele ainda natildeo havia aprendido a falar
compreender palavras e a se comunicar por gestos O pai de Francisco
levou-o para o meacutedico que falou que o menino teve um problema no
nervo auditivo e ficou surdo (Consultas ao meacutedico com frequecircncia
dificuldade de se comunicar com a famiacutelia sentia-se muito pressionado
foram tempos difiacuteceis ele conta) O pai queria ensinar a liccedilatildeo para
Francisco que aprendia vocabulaacuterio e a gramaacutetica juntamente com os
nuacutemeros cardinais desenho e a palavra correspondente e tambeacutem a
linguagem gestual da comunicaccedilatildeo dele O pai levou-o para o
tratamento meacutedico com o Dr Djalma Moellmann que informou aos
pais que pela idade do Francisco ele poderia estudar no Instituto
Nacional de Surdos-Mudos do Rio de Janeiro Segue o depoimento
Os pais resolveram levar seu filho para tratamento
meacutedico e fonoaudioloacutegico no centro de Florianoacutepolis
para saber o que aconteceu com a audiccedilatildeo do Francisco
que natildeo ouvia nada O meacutedico fonoaudioloacutegico dizia que
ele era deficiente auditivo e tambeacutem chamou-o de Surdo-
Mudo naquela eacutepoca ˝Ai Como fazer agora Os pais
perguntaram O que O meu filho natildeo podia estudar na
escola dos ouvintes e na eacutepoca aqui natildeo existia escola
para surdos˝ O meacutedico fonoaudioloacutegico informou sobre
a escola no INSM - Instituto Nacional de Surdos-Mudos
no Rio de JaneiroRJ Eles verificaram que laacute existia
escola para surdos-mudos mas resolveram permanecer
morando naquela cidade Entatildeo o pai resolveu levar o
seu filho Francisco para o Rio de JaneiroRJ Quando o
Francisco era crianccedila tinha ocircnibus carro caminhatildeo
bicicleta e aviatildeo Foi viagem de navio O tio do
Francisco trabalhava como marinheiro e levou o
Francisco para o Rio acompanhando do pai e do tio dele
(SCHMITT 2008 p 86)
Francisco realizou exames meacutedicos onde foi avaliada sua sauacutede
se podia estudar no Instituto Nacional de Surdos-Mudos que era um
grande desafio Nesse lugar havia modernas oficinas e ginaacutesio tinha 109
surdos internos Era comum observar um grupo de surdos que se
comunicava na liacutengua de sinais no corredor do Instituto Laacute tambeacutem os
alunos surdos podiam entrar em contato com os primeiros surdos que
89
vieram de diferentes estados e regiotildees do Brasil Em 1937 o pai
acompanhou Francisco em uma viagem de navio para o Rio de Janeiro e
matriculou-o no Instituto Nacional de Surdos-Mudos Laacute conheceu o Dr
Armando ex-diretor de INSM na deacutecada de 1940
Em 1937 Francisco foi levado pelos primos Paulo e Hugo e pelo
seu tio para conhecer o INSM Eles levavam Francisco ao Instituto nos
saacutebados e voltavam nas segundas-feiras de 1937 a 1939 Hugo
trabalhava no navio ldquoDuque de Caxiasrdquo que saiacutea do Rio de Janeiro O
outro navio onde estava o tio voltava da Bahia quando avistou um
submarino de guerra (alematildeo) que era dotado de canhotildees Os dois
navios chocaram-se agrave noite neles tinha bombas nucleares Hugo o tio
passageiros e marinheiros morreram no mar e um outro navio onde seu
tio Paulo trabalhava desapareceu na Europa em 1945
Na segunda guerra Hitler se armou poderosamente para dominar
a Europa mas com sua derrota em 1939 a 1945 a Alemanha perdeu
cerca de um quarto do seu territoacuterio que por alguns anos foi ocupado
pelas forcas aliadas russas americanas inglesas e francesas Das cinzas
surgem os novos navios Um navio a vapor com o nome de Carlos
Hoepcke e Anna navio este de carga e passageiros que transportou
Francisco ateacute o Rio de Janeiro O capitatildeo deste navio era seu tio Ceacutelio
Viana Os passageiros eram atenciosos para com Francisco e o
ajudavam quando ele precisava
Era oferecido abrigo aos navios aportados no porto de SantosSP
Rio de Janeiro Satildeo Francisco do Sul e Itajaiacute Iam de navio e na volta
vinham de aviatildeo com destino a Florianoacutepolis e Rio de Janeiro O pai
Francisco Candido de Souza Lima era gerente contador homem de
bom coraccedilatildeo que fazia a contabilidade de Carlos Hoepcke era uma
amizade de marinha mercante
Em suas viagens o professor Francisco Lima Juacutenior viu o Sr
Ademar Barros que era intendente de comeacutercio do vapor Carlos
Hoepcke Viajaram num submarino guiados por buacutessola para ajudar os
navegantes em 1937 a 1946 Ao fim do ano letivo no Instituto o pai e
Francisco voltavam para Florianoacutepolis em 1947 O Professor Francisco
trabalhou auxiliando a contabilidade e os lanccedilamentos na filial de Carlos
Hoepcke SA Ele aproveitou o aprendizado nas oficinas do Instituto
Nacional de Surdos-Mudos onde aprendeu uma seacuterie de profissotildees
como a de marcenaria encadernaccedilatildeo e sapataria aleacutem de participar de
um curso de Desenho Segue a explicaccedilatildeo do autor
Os alunos de vaacuterios estados no Brasil tambeacutem estudavam
no INSM junto com o Francisco e fizeram amizade
90
jogando o futebol na quadra Depois o Francisco foi para
os alojamentos no Instituto e dormiu cada um num
beliche todos os alunos surdos eram brasileiros Os
alunos surdos acordavam agraves 05h30min nas madrugadas
para arrumar e ficavam esperando na fila de outros
alunos faziam relaxamento e educaccedilatildeo fiacutesica para depois
tomar o banho Depois estudavam de manhatilde e agrave tarde agraves
vezes agrave noite e voltavam para o alojamento no Instituto
O professor no Instituto dava aula de oralizaccedilatildeo para os
alunos surdos na sala de aula explicando o conteuacutedo de
mateacuteria no quadro negro e tambeacutem com vareta Depois o
professor anotava no quadro a escrita de portuguecircs
avisava para o aluno surdo que natildeo podia copiar no
quadro e prestar atenccedilatildeo agrave escrita no quadro O professor
apagava no quadro para o aluno surdo memorizar a
escrita da fala O que aconteceu Os alunos ficaram com
dificuldade de entender a escrita no quadro (SCHMITT
2008 p 92 e 93)
Os professores mostravam vaacuterias figuras de objetos com os
respectivos nomes e individualmente faziam o trabalho de repeticcedilatildeo
com o aluno Francisco que escrevia e falava Mas existia a liacutengua de
sinais no lado de fora No paacutetio a comunicaccedilatildeo dele e o grupo de surdo
no Instituto apresentava a liacutengua de sinais Dr Armando Lacerda diretor
do Instituto Nacional de Surdos-Mudos ndash INSM acampanhou a
comemoraccedilatildeo de sua fundaccedilatildeo e seguiram-se demonstraccedilotildees de
ginaacutestica representaccedilatildeo de uma peccedila teatral nuacutemeros de bailado pelo
corpo etc
Os surdos da marcenaria da encadernaccedilatildeo e da sapataria eram
jogadores e participaram da competiccedilatildeo de futebol de campo no
instituto Venceram os surdos da encadernaccedilatildeo que receberam
medalhas e trofeacuteu O grupo de alunos que ganhou a competiccedilatildeo foi
viajar e passear na praia da Ilha de PaquetaacuteRJ Dois alunos deste grupo
mais tarde tornaram-se professores do Instituto Um deles era o
professor Heacutelio ensinava ginaacutestica futebol e voleibol na quadra de
esportivo e o outro era professor Francisco
Na eacutepoca foi feita uma reportagem com depoimentos do Dr
Armando Lacerda dos professores Joatildeo Brasil Silvado Juacutenior Saul Borges Carneiro e Geraldo Cavalcantil todos eles ouvintes Essa
reportagem foi riquiacutessima detalhada cheia de fotografias eacute uma
importante fonte de pesquisa Francisco desenvolveu sua aprendizagem
na liacutengua de sinais aproveitando essas atividades comemorativas que
aconteciam no instituto aleacutem do curriacuteculo da escola
91
Os professores acima citados todos oralistas impressionam pela
cultura e a quantidade de informaccedilotildees com que discorrem sobre a
educaccedilatildeo do surdo e a histoacuteria na liacutengua de sinais Sendo recebido pelo
ministro da educaccedilatildeo e sauacutede naquela eacutepoca foi oferecido um meacuterito ao
ex-aluno Francisco Lima Juacutenior conforme mostra a citaccedilatildeo
O Francisco Lima Juacutenior recebeu o meacuterito do segundo
melhor no Instituto Nacional de Surdos-Mudos (INSM)
no Rio de JaneiroRJ por a maior nota de avaliaccedilatildeo na
prova e tambeacutem em todas as disciplinas Vejam os
nomes ndash primeiro lugar (Odil Soares em Satildeo Paulo)
segundo lugar (Francisco Lima Juacutenior em Santa
Catarina) e terceiro lugar (Miriam S Rio de Janeiro)
Parabenizamos o senhor Francisco Lima Juacutenior do nosso
Estado de Santa Catarina eacute vitorioso e orgulhoso
(SCHMITT 2008 p 96)
Ele foi aluno interno do Instituto Nacional de Surdos-Mudos do
Rio de Janeiro e do Instituto Paulista de Surdos em Satildeo Paulo em 1940 e
natildeo gostava de Satildeo Paulo A professora Helena (INES) era de origem
Italiana ensinava a fazer ditado em portuguecircs (oralismo) mas a liacutengua
de sinais natildeo existia na comunicaccedilatildeo e o grupo surdo teve pouco contato
com a liacutengua materna (liacutengua de sinais)
Para a inauguraccedilatildeo do Instituto Nacional de Surdos-Mudos foram
convidadas vaacuterias autoridades entre elas o ministro da educaccedilatildeo
diretores de escolas e outros Esta aconteceu no teatro do Instituto e
ofereceram trecircs certificados para o curso de desenho para a oficina de
encadernaccedilatildeo e linguagem que foram ganhos pelo Francisco Lima
Juacutenior em 1946 No ano seguinte ele voltou para Florianoacutepolis
Em 1946 com 18 anos de idade voltou para
FlorianoacutepolisSC quando passou a procurar por pessoas
surdas nas vaacuterias cidades do estado de Santa Catarina e
demorou um tempo para ter contato com os surdos
catarinenses Ele comeccedilou a dar aulas numa garagem
situada agrave Rua Francisco Tolentino passando ser ali a
primeira escola para surdos de Florianoacutepolis O
Francisco ensinava desenho linguagem escrita
vocabulaacuterio baacutesico gramaacutetica geograacutefia histoacuteria do
Brasil e conhecimentos gerais Ele trouxe para o nosso
estado o modelo de associaccedilatildeo e fez um projeto de escola
para surdos com a esposa de ouvinte que ajudou o
Francisco Apoacutes a conclusatildeo dos cursos em 1947
retorna definitivamente para casa dos pais em
92
Florianoacutepolis agrave Rua Duarte Schutel nordm 16 (SCHMITT
2008 p 104)
Em 1947 morava com o pai em sua casa em Florianoacutepolis Ele
foi habilitado em contabilidade pelo Instituto e fez o curso de
Contabilidade do Instituto Radio Teacutecnico RT Monitor SA ndash nuacutecleo de
ensino profissional livre por correspondecircncia (1 liccedilatildeo ateacute 28 liccedilatildeo) Satildeo
Paulo ndash SP Apoacutes Francisco conhecer os surdos em vaacuterias cidades de
Santa Catarina ele ficou com vontade de auxiliar o surdo que ficava
isolado em casa e na famiacutelia sem o uso da comunicaccedilatildeo gestual Veja a
seguir a imagem apresentada do Francisco Lima Juacutenior em 1947
93
Figura 13 ndash Acervo do Francisco eacute o primeiro dicionaacuterio na liacutengua de
sinais em Santa Catarina em 1947
O primeiro dicionaacuterio em Santa Catarina tinha imagens do
proacuteprio Francisco que demonstrava a preocupaccedilatildeo culturallinguiacutestica
para com os surdos e a difusatildeo da liacutengua de sinais procurava uma forma
de o grupo de surdo ter contato com a liacutengua de sinais e ensinava em sua casa (na garagem) onde tambeacutem ficava a associaccedilatildeo
As aulas continuavam com o professor Francisco que ia
ensinando cada vez mais sinais e com qualidade pois dali faziam as
provas finais O professor ensinava conteuacutedos de matemaacutetica geografia
94
conhecimento geral ciecircncias e portuguecircs No uacuteltimo mecircs de aula apoacutes o
encerramento das aulas o professor entregava os boletins com as meacutedias
de todos os surdos que ficaram alegres pois nenhum deles tinha sido
reprovado
Francisco viajou para Satildeo Paulo em 1954 iniciou sua amizade
com o primeiro presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos de Satildeo
Paulo senhor Maacuterio Devisate que natildeo tinha o conhecimento da
existecircncia de uma associaccedilatildeo de surdos em Florianoacutepolis O senhor
Maacuterio Devisate deu um documento de uma Associaccedilatildeo de Surdos-
Mudos com acircmbito nacional e Francisco veio como delegado para a
regiatildeo do sul passando a residir nessa capital
Foi o primeiro encontro com o presidente da Sociedade dos
Surdos-Mudos do Distrito Federal49
que mudou a Associaccedilatildeo de Surdos-
Mudos do Rio de Janeiro o senhor Miguel da Fonseca Seabra de Melo
grande colega jaacute falecido Francisco em meio agrave conversa na liacutengua de
sinais conheceu o presidente da ASURJ que comentou ldquoaquele tambeacutem
eacute surdordquo O colega dele sorriu ao sair cumprimentou o senhor Miguel
da Fonseca Seabra de Melo que agradecendo estendeu-lhe a matildeo Isso
aconteceu no Instituto Nacional de Surdos-Mudos
Francisco nunca mais se esqueceu dessa cena bem da verdade
ele conversava com o senhor Salomatildeo Watnick (jaacute falecido em Porto
Alegre) que foi o primeiro presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos
do Rio Grande do Sul e foi uma grande amizade Como pode estudar
desde cedo em escola especial para Surdos Mudos em Satildeo Paulo e Rio
de Janeiro conhecia muitos surdos tinha amizade e intimidade
oportunizando contato com surdos que tinham lideranccedila e outros grupos
de surdos tendo como consequecircncia aprendido expressotildees palavras
novas da liacutengua de sinais inclusive as variaccedilotildees linguiacutesticas de outras
regiotildees
Francisco foi tratado como amigo pelos senhores Vivaldo Leal de
Merelles e Ciro Garcia de Souza jaacute falecidos que escreveram o
primeiro estatuto da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos do Paranaacute Eles
perguntaram como ganhavam a vida os surdos-mudos que natildeo tiveram a
felicidade de cursar escolas especiais Entatildeo nesta pergunta
encontraram o motivo da existecircncia da associaccedilatildeo e da escola
Francisco fundou o Ciacuterculo dos Surdos-Mudos de Santa Catarina
ndash CSMSC no ano de 1955 Naquele aniversaacuterio de sua entidade os
surdos-mudos de Florianoacutepolis receberam a visita de delegaccedilotildees de
49 O Distrito Federal nessa eacutepoca era o Rio de Janeiro
95
outros Estados No primeiro jogo o CSMSC jaacute ganhou um trofeacuteu no
futebol de campo Outro ganho foi com a Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos
do Paranaacute onde havia muitas variaccedilotildees na liacutengua de sinais e o contato
proporcionou o aprendizado de novos sinais para todos
Em 1961 o Governador Celso Ramos atendia o presidente O
Ciacuterculo dos Surdos-Mudos de Santa Catarina o professor Francisco
Lima Juacutenior acompanhado de outros membros daquela associaccedilatildeo
pleiteava a construccedilatildeo de uma escola para surdos-mudos em nosso
Estado porque ainda natildeo existia nenhuma O ensino de Francisco
desenvolvia o domiacutenio da liacutengua de sinais dos surdos em Santa Catarina
Em Santa Catarina o processo de educaccedilatildeo de surdos se
deu na deacutecada de 50 com serviccedilos implementados na
rede regular de ensino Aconteceu que os surdos
estudaram na escola regular juntamente com alunos
ouvintes e eles natildeo se compreenderam na sala de aula
porque o professor falava a liacutengua portuguesa e oralismo
A liacutengua de sinais era proibida por influecircncia do
congresso de Milatildeo na Itaacutelia em 1880 Os alunos surdos
ficaram isolados dos alunos ouvintes por causa das
barreiras de comunicaccedilatildeo Os ouvintes natildeo conheciam a
cultura e a identidade surda Por exemplo na sala de aula
muitos alunos ouvintes se comunicam em portuguecircs e os
surdos ficam isolados e excluiacutedos na escola dos ouvintes
Porque o surdo procura a intervenccedilatildeo da cultura que se
vive na liacutengua de sinais encontra outros surdos na
comunicaccedilatildeo nos contados entre outros surdos e
consegue juntamente na forccedila poliacutetica dos movimentos
surdos Na verdade o Francisco teve forccedila de vontade
para estudar no INES Ele eacute uma pessoa boa com a
responsabilidade de fundar associaccedilatildeo de surdo A
trajetoacuteria de vida desde a infacircncia marca e registra que
Francisco tem procuraccedilatildeo com o povo surdo do interior
com os contatos na liacutengua de sinais e mais valorizaccedilatildeo da
cultura surda (SCHMITT 2008 p 105)
Foi apresentado para Francisco Lima Juacutenior pelo Governador
Celso Ramos o termo aprovado para contrataccedilatildeo de profissionais para
funcionamento da sala para surdos-mudos em Florianoacutepolis que
funcionou na Escola Celso Ramos localizada na Rua Francisco
Tolentino n0 12 Centro de Florianoacutepolis Esse empreendimento veio
dotar a capital de mais uma escola desta vez destinada aos surdos-
mudos que tambeacutem necessitavam ser atendidos quando se promovia o
crescimento no nuacutemero de escola em nossa terra
96
Em Florianoacutepolis existiam duas escolas para crianccedilas surdas
uma funcionando no grupo Escolar Celso Ramos e outra no grupo
Escolar Barreiros Filho todos a cargos de professores especializados
Nessa eacutepoca os surdos de Florianoacutepolis receberam a visita de um
sacerdote surdo o Padre Vicente de Paulo Penido Burnier natural de
Juiz de Fora Estado de Minas Gerais e tambeacutem do Padre Eugecircnio Oates
nascido em Missouir Estados Unidos Atraiacutedo pela personalidade e pelo
trabalho do padre Vicente o padre Eugecircnio Oates veio para o Brasil em
1946 como missionaacuterio dirigindo-se agrave igreja dos padres redentoristas
sediada em Manaus
Integrou-se na vida brasileira o padre Eugecircnio Oates realizando
campanhas em todo o paiacutes em favor da difusatildeo da linguagem das matildeos
no Rio de Janeiro onde lanccedilou o primeiro livro em 1969
Figura 14 ndash Acervo do Francisco fotografia de Jornal que traz
reportagem sobre o livro Linguagem das Matildeos
Em Florianoacutepolis encaminhavam os surdos-mudos para a
instituiccedilatildeo especializada podia-se procurar o Ciacuterculo dos Surdos-Mudos
de Santa Catarina no grupo escolar Barreiros Filho e no Instituto de
Audiccedilatildeo e Terapia de Linguagem ndash IATEL Fundado no dia 05 de julho
de 1969 o IATEL jaacute funcionava no hospital infantil em instalaccedilotildees
precaacuterias Para que crianccedilas surdas pudessem ter uma vida normal o
professor Francisco Lima Juacutenior trabalhava haacute muitos anos
O Ciacuterculo dos Surdos-Mudos de Santa Catarina comeccedilou a se
movimentar pois na reuniatildeo teve contato com a liacutengua de sinais que
comeccedilou com o discurso depois um jogo divertido que o CSMSC
97
promovia no encontro desta reuniatildeo Tambeacutem ofereceu a renovaccedilatildeo de
matriacuteculas para menores e adultos surdos Reabriu a escola para surdos
menores no periacuteodo da manhatilde e agrave noite para adultos analfabetos Teve
tambeacutem outra reuniatildeo que iniciou com um discurso e apoacutes isso
aconteceu o jogo com os associados
As aulas continuavam normalmente e as reuniotildees tambeacutem
Francisco Lima Juacutenior que era o presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos
do Estado de Santa Catarina era quem organizava o encontro com as
associaccedilotildees de surdos de vaacuterias cidades do estado Havia aleacutem dos
discursos escolha da rainha dos surdos e competiccedilotildees de jogos (futebol
vocirclei) aleacutem de viagens Numa dessas viagens os surdos de Santa
Catarina foram para Satildeo Paulo no festival esportivo numa viagem de
dois dias onde ocorria a silenciosa festividade
O presidente do CSMSC nesta festa fez um discurso para os
amigos surdos de Satildeo Paulo e o vice-presidente do CSMSC deixou seu
cargo porque natildeo quis mais participar destas associaccedilotildees Entatildeo as
aulas continuaram Foi um mecircs em que muitos soacutecios ou alguns estavam
com muito trabalho vinham alguns soacutecios da associaccedilatildeo dos surdos-
mudos para saber das informaccedilotildees da semana no CSMSC Por isso
continuaram alguns surdos realizando o encontro para bate-papo na
liacutengua de sinais todas as quartas-feiras Realizou-se a primeira
comunhatildeo pascoal na capela do Coleacutegio Catarinense rezada pelo padre
Vicente que era surdo no mesmo dia apoacutes a missa de aniversaacuterio do
presidente Francisco
Os alunos surdos entraram em feacuterias mas continuaram os
encontros e reuniotildees onde discursavam e planejavam as atividades
esportivas para o CSMSC apoacutes os jogos que eles faziam todos os
meses Havia reuniotildees com bate-papos na liacutengua de sinais no CSMSC
Numa destas reuniotildees aconteceu um evento importante para os surdos-
mudos que eram associados do CSMSC pois comemoraram a data de
sua inauguraccedilatildeo
Francisco continuava a dar aulas e palestras principalmente sobre
a Independecircncia do Brasil sobre D Pedro I e outros assuntos Na
comemoraccedilatildeo da Independecircncia do Brasil os associados da CSMSC
viajaram para Curitiba e encontraram os amigos surdos de laacute E todos
fizeram um discurso que iniciou com o presidente da CSMSC apoacutes os
representantes de cada sociedade e depois do discurso foi eleita a rainha
da Associaccedilatildeo dos Surdos de Curitiba senhorita Anair Budel Em
seguida o presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos de Curitiba convidou o
professor Francisco Lima Juacutenior presidente do CSMSC para danccedilar a
valsa com a rainha das prendas Anair Budel
98
Francisco contou que o baile foi muito divertido e durou ateacute a
madrugada com o grupo de surdos que conversava muito no encontro
de associaccedilotildees regionais Apoacutes o encerramento do evento visitaram
uma escola de crianccedilas surdas em Curitiba Em 1972 o professor deu
para cada aluno uma cartolina e assim cada um ia imaginar e pintar seu
conhecimento do trabalho para a difusatildeo da liacutengua de sinais Depois na
comemoraccedilatildeo do dia do professor os alunos fizeram uma pequena
homenagem ao professor Francisco
O professor falou sobre o dia do Iacutendio descobrimento do Brasil a
morte de Tiradentes entre outros Na paacutescoa os alunos receberam
presentes de chocolate na semana da paixatildeo foi apresentado o teatro ldquoa
morte de Jesus Cristordquo na liacutengua de sinais por um grupo de surdos para
difundir sua liacutengua
O ensino da liacutengua de sinais em Santa Catarina com os
ensinamentos do professor Francisco proporcionou uma nova fase da
liacutengua de sinais trazendo influecircncias de outras comunidades surdas do
Brasil A partir desse contato o modelo linguiacutestico trazido do Rio de
Janeiro eacute aperfeiccediloado a cada geraccedilatildeo
O Imperial Instituto dos Surdos-Mudos foi de extrema
importacircncia na propagaccedilatildeo da liacutengua de sinais em grande
parte das regiotildees brasileiras O Sr Francisco cidadatildeo
Catarinense foi um aluno desta instituiccedilatildeo apoacutes retornar
ao seu estado de origem ele foi educador de surdos e
responsaacuteveis pela difusatildeo da liacutengua sinalizada usada
nesse instituto (CORREA e SEGALA 2009 p 32)
Durante todo esse tempo o professor Francisco Lima Juacutenior
orienta auxilia e direciona todas as atividades escolares das crianccedilas
jovens e adultos surdos tornando-se assim o primeiro professor dessa
metodologia de ensino - A Linguagem das Matildeos com o objetivo de
criar um alfabeto uacutenico para todos os Surdos do Estado de Santa
Catarina Suas aulas e palestras em LIBRAS tornaram-se muito
populares entre os surdos catarinenses
Eacute importante registrar na histoacuteria da liacutengua de sinais em Santa
Catarina um estudo linguiacutestico e possibilitar a pesquisa sobre o primeiro
professor surdo Francisco que criou o primeiro dicionaacuterio aqui em
Santa Catarina Ele trouxe o modelo do INESRJ (uma experiecircncia na liacutengua de sinais) para nosso estado de Santa Catarina e influenciou a
comunidade surda catarinense
Uma das pessoas surdas da nova geraccedilatildeo eacute a Sandra Luacutecia
Amorim que escreveu um pequeno dicionaacuterio chamado ldquoComunicando
99
a Liberdade - A Liacutengua das Matildeosrdquo em 2000
Concluiacutemos que a Liacutengua Brasileira de Sinais teve forte
influecircncia da liacutengua de sinais francesa (LSF) que tambeacutem influenciou a
liacutengua de sinais em Santa Catarina atraveacutes do professor Francisco que
estudou no INES A LSF eacute uma liacutengua mais antiga do que a LIBRAS
com um acervo bibliograacutefico maior A LIBRAS tem caracteriacutesticas
proacuteprias e estaacute em expansatildeo a partir de sua oficializaccedilatildeo em 2002 pela
necessidade de incluir novos sinais ao aprendizado da comunidade surda
que passou a ter uma maior abertura nas universidades
100
101
CAPIacuteTULO IV ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila na liacutengua de sinais
41 ndash Introduccedilatildeo
Nesta pesquisa tomamos como base teoacuterica os estudos
sociolinguiacutesticos de Labov (2008 [1972]) na concepccedilatildeo de que seu texto
pode nos ajudar a embasar o trabalho de pesquisa Assim tomamos
como base os estudos das liacutenguas orais do autor adaptando-os agraves
variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas das liacutenguas de sinais
O estudo desenvolvido aqui mostra os sujeitos surdos a liacutengua de
sinais algumas possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas Traz
explicaccedilotildees da liacutengua de sinais pelo surdo indiacutecios de variaccedilatildeo e
mudanccedila linguiacutestica apresenta variaccedilotildees linguiacutesticas na liacutengua de sinais
utilizadas pelos surdos e por fim como o surdo se comunica a liacutengua
de sinais em seu contexto social
42 ndash A liacutengua de sinais pelo surdo indiacutecios de variaccedilatildeo e mudanccedila
linguiacutestica
A LIBRAS
50 eacute uma liacutengua usada entre os surdos assim como
entre os ouvintes desde que queiram interagir com esta forma de
comunicaccedilatildeo Ao verificar o acesso dos surdos agrave comunicaccedilatildeo e agrave
expressatildeo de forma criativa pode-se encontrar respostas sobre
mudanccedilas na gramaacutetica em palavras em frases e em seu contexto
social
As liacutenguas mudam todos os dias evoluem mas a essa
mudanccedila diacrocircnica se acrescenta uma outra sincrocircnica
pode-se perceber numa liacutengua continuamente a
coexistecircncia de formas diferentes de um mesmo
significado Essas variaacuteveis podem ser geograacuteficas a
mesma liacutengua pode ser pronunciado diferentemente ou
ter um leacutexico diferente em diferentes pontos do territoacuterio
(CALVET 2002 p 89)
Queremos apresentar algumas variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas a
que os surdos estiveram expostos no primeiro espaccedilo de ensino
promovido pelo professor Francisco Lima Juacutenior (Chiquito) Ele
influenciou para a expansatildeo da liacutengua de sinais da comunidade surda na
50 ldquoEacute uma liacutengua natural eacute atraveacutes dela que os surdos tecircm acesso ao mundo em que vivem No
entanto ela natildeo eacute uma liacutengua que o surdo aprende sozinho Ele pode desenvolver uma liacutengua
102
histoacuteria de Santa Catarina Entatildeo queremos perceber se haacute diferenccedilas
durante sua trajetoacuteria entre a variaccedilatildeo linguiacutestica daquela eacutepoca (1950)
ateacute a atualidade se aconteceram mudanccedilas por influecircncia da
transformaccedilatildeo tecnoloacutegica da sociedade Acreditamos que com o passar
do tempo ocorrem mudanccedilas na liacutengua de sinais histoacuterica e
culturalmente na comunidade surda
As liacutenguas de sinais como todas as liacutenguas satildeo dinacircmicas Em
contato com grupos surdos na comunidade modificam-se ao longo do
tempo como qualquer outra liacutengua A mudanccedila pode ser percebida em
diferentes regiotildees onde o surdo busca a informaccedilatildeo utilizando a liacutengua
de sinais que vem de outro lugar com algumas diferenccedilas entre palavras
e seu significado entre sinais
Quando as pessoas surdas evoluem culturalmente a liacutengua de
sinais se transforma Com o passar do tempo a ldquoLIBRASrdquo tambeacutem se
modifica Na interaccedilatildeo do indiviacuteduo surdo na comunidade surda e na
sociedade essas relaccedilotildees de contato fazem com que se criem novos
sinais pois aparecem palavras novas e outros sinais sofrem adaptaccedilotildees
ocorrem mudanccedilas na configuraccedilatildeo de matildeos no ponto de articulaccedilatildeo
no movimento na orientaccedilatildeodirecional na expressatildeo facial e corporal
Essas adaptaccedilotildees satildeo criadas pela necessidade no contato e na situaccedilatildeo
de uso A comunidade surda como qualquer outra vem evoluindo e se
transformando firmando uma identidade surda
Como jaacute ressaltamos a origem da liacutengua de sinais no Brasil eacute
europeacuteia Sua maior influecircncia foi no Rio de Janeiro no Instituto
Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos ndash INESRJ onde se expandiu para os
demais estados brasileiros Recebeu influecircncia tambeacutem do Francecircs do
Portuguecircs (Portugal) e dos Estados Unidos O Instituto pesquisou a
influecircncia cultural dos surdos e as influecircncias sofridas quanto a
LIBRAS Assim como na Liacutengua Portuguesa acontecem modificaccedilotildees
na escrita e na fala com o tempo na liacutengua de sinais tambeacutem ocorrem
transformaccedilotildees quanto agrave configuraccedilatildeo de matildeos A liacutengua de sinais
evolui com mudanccedila constante em cada regiatildeo e a comunicaccedilatildeo do
surdo acompanha e qualifica mais a liacutengua de sinais A LIBRAS sofre
modificaccedilotildees com o tempo e tambeacutem como na liacutengua falada apresenta
palavras ou expressotildees proacuteprias do lugar onde acontece a comunicaccedilatildeo
Sendo assim o surdo natildeo tem o contato com a LIBRAS longe da
sociedade ou na zona rural nesse caso pode se apropriar de sinais
proacuteprios para a comunicaccedilatildeo ex Francisco buscava os surdos nas
regiotildees de Santa Catarina pois o contato com a LIBRAS eacute importante
para a sua identidade cultural
103
Realmente pode-se considerar que essas diferentes
palavras se dividem em seu uso em uma escala de faixas
etaacuterias os jovens diriam banheiro seus pais wc e seus
avoacutes reservados por exemplo Pode-se entatildeo imaginar
que eles se dividam segundo o sexo dos falantes os
homens dizendo mais banheiro e wc e as mulheres
toalete e reservado (CALVET 2002 p 103)
A LIBRAS eacute uma liacutengua porque possui estrutura gramatical
proacutepria eacute essencial para o surdo o contato em relaccedilatildeo ao outro como
em qualquer outra liacutengua que tem diferenccedilas gramaticais Utilizando o
movimento de sinal e a expressatildeo facial como meio de comunicaccedilatildeo o
surdo se comunica tanto com a comunidade surda quanto com a ouvinte
O contato dos jovens com os ensinamentos do professor
Francisco proporcionou uma nova fase da liacutengua de sinais A partir
desse contato o modelo linguiacutestico trazido do Rio de Janeiro eacute
aperfeiccediloado pela geraccedilatildeo mais nova do mesmo modo que descreve
Calvet (2002) nos estudos de liacutengua oral
- a ideacuteia de pesquisa uma (s) variaacutevel (eis) frequente (s)
que geralmente aparecem na estrutura linguumliacutestica
variaacuteveis cuja distribuiccedilatildeo deve ser fortemente
estratificada ldquoIsso equivale a dizer que as pesquisas
preliminares deveriam indicar a seu respeito uma
distribuiccedilatildeo assimeacutetrica entre as mais diversas faixas
etaacuterias ou entre outras categorias mais hierarquizadas da
sociedaderdquo - o estabelecimento de uma metodologia que
extrai essas variaacuteveis dos textos produzidos pelos
falantes - a pesquisa da correlaccedilatildeo entre essa
distribuiccedilatildeo de traccedilos linguiacutesticos e uma distribuiccedilatildeo de
traccedilos socioloacutegicos (CALVET 2002 p 93)
Na citaccedilatildeo acima o autor relata que eacute preciso pensar a construccedilatildeo
de identidade levando em conta diferentes faixas etaacuterias e a variaccedilatildeo
linguiacutestica Entendemos assim a necessidade de pesquisarmos as
variaccedilotildees ocorridas em Santa Catarina
A LIBRAS possui uma forma de comunicaccedilatildeo proacutepria Eacute
independente como qualquer outra liacutengua escrita ou falada Tem o
formato proacuteprio na sua comunicaccedilatildeo que eacute o visual pois se utiliza de
sinaisgestos e expressotildees Todos os seres humanos usam um
determinado tipo de liacutengua e linguagem para se comunicar e tanto a
liacutengua falada quanto a sinalizada apresentam sentidos de expressotildees
104
diferentes na comunicaccedilatildeo A liacutengua de sinais muda histoacuterica e
linguisticamente conforme as variaccedilotildees de cada lugar ou regiatildeo Entatildeo
eacute importante a relaccedilatildeo estabelecida com outras pessoas na sociedade na
troca de informaccedilatildeo ideias experiecircncias ensinamentos e aprendizagem
quando se fala uma liacutengua Quando pensamos as liacutenguas percebemos
que existem diferenccedilas na LIBRAS e no Portuguecircs
Frishberg (1975)51
no seu estudo pesquisado no Instituto Teacutecnico
Nacional para Surdos de Nova Iorque aborda como a Liacutengua de Sinais
Americana (ASL) tem mudado gradativamente ao longo do tempo de
uma linguagem mais icocircnica para uma linguagem mais arbitraacuteria Eacute a
liacutengua natural da comunidade surda nos Estados Unidos e em partes do
Canadaacute onde o inglecircs eacute falado Difere das duas liacutenguas que a maioria
das pessoas conhece no sentido de que eacute produzida com as matildeos e
percebida pelos olhos em vez de pronunciado e percebido pelos
ouvidos Entatildeo ela realizou a sua pesquisa sobre alguns processos
histoacutericos em Liacutengua de Sinais onde havia uma forte tendecircncia para
certas mudanccedilas Como toda liacutengua as liacutenguas de sinais aumentam seu
inventaacuterio lexical com novos sinais introduzidos pelas comunidades
surdas em respostas agraves mudanccedilas culturais e tecnoloacutegicas
A liacutengua de sinais possui estrutura gramatical como qualquer
liacutengua utiliza paracircmetros e como todas as liacutenguas tem variaccedilotildees no
niacutevel fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico e pragmaacutetico Por
isso pode-se perceber a mudanccedila cotidiana na liacutengua de sinais A pessoa
surda traz do seu contato cultural dos grupos nos quais estaacute inserida
novos olhares desta liacutengua muitas vezes transformando sinais jaacute
existentes em novos sinais
Quadros e Karnopp (2004) dizem que as liacutenguas de sinais
recebem informaccedilotildees linguiacutesticas pelos olhos e satildeo produzidas pelas
matildeos O termo fonologia tem sido muito usado para estudar os
elementos das liacutenguas de sinais Apesar da diferenccedila com as liacutenguas
orais as duas liacutenguas tecircm os mesmos princiacutepios subjacentes de
construccedilatildeo Poreacutem existe um esquema linguiacutestico estrutural nas liacutenguas
de sinais que natildeo tem significado se feito isoladamente que eacute
51 Nancy Frishberg eacute consultora em Liacutengua de Sinais e Interpretaccedilatildeo Ela tem PhD em
linguiacutestica pela Universidade da Califoacuternia San Diego onde sua pesquisa de doutorado focada
em mudanccedila histoacuterica em Liacutengua de Sinais Americana ndash ASL Seu trabalho de dissertaccedilatildeo demostrou que os sinais seguem princiacutepios linguiacutesticos como elas mudam ao longo do tempo
com o uso Seu livro de 1986 ldquoInterpretaccedilatildeo Um Introduccedilatildeordquo que ainda estaacute em versatildeo
impressa eacute o texto principal em muitos programas de treinamento inteacuterprete e serve como base para o exame escrito (primeira etapa) para certificaccedilatildeo pelo Registro de Inteacuterpretes para
Surdos
105
Configuraccedilatildeo de Matildeos (CM) Locaccedilatildeo (L) e Movimento (M) A
LIBRAS eacute basicamente feita com as matildeos (direita ou esquerda) tendo
tambeacutem movimento do corpo e da face A CM L e M se contrastam
minimamente alterando o significado dos sinais
A ASL tem a sua proacutepria gramaacutetica e fonologia Na liacutengua de
sinais eacute o estudo dos movimentos manuais baacutesicos que fornece a base
para todos os sinais sintaxe e morfologia na liacutengua falada A morfologia
estuda como as palavras satildeo formadas a partir de sons e palavras
baacutesicas Na liacutengua de sinais eacute o estudo de como os sinais manuais
baacutesicos representam conceitos A liacutengua americana de sinais eacute uma
liacutengua visual que incorpora gestos expressotildees faciais movimentos da
cabeccedila linguagem corporal e ateacute o espaccedilo ao redor do falante Os sinais
manuais satildeo a base desta liacutengua Muitos deles satildeo icocircnicos o que
significa dizer que o sinal usa uma imagem visual que se parece com o
conceito que representa
Wescott (1971 Frishberg) sugere que todas as formas de liacutengua
(oral escrita e gestual) usam iconicidade Ele diz que a iconicidade eacute um
sinal familiar (caseiro) em vez de uma caracteriacutestica absoluta de
qualquer sistema de comunicaccedilatildeo incluindo a liacutengua
Segundo Frishberg um sinal pode ser especificado atraveacutes de
quatro paracircmetros simultaneamente configuraccedilatildeo de matildeo movimento
ponto de articulaccedilatildeo (ou localizaccedilatildeo) e orientaccedilatildeo Essas descriccedilotildees de
paracircmetro servem para poder distinguir alguns sinais de outros similares
e dar sentido agrave frase num todo como por exemplo os sinais HOJE e
AGORA diferem no paracircmetro movimento mas satildeo iguais na
configuraccedilatildeo de matildeos e na localizaccedilatildeo A alteraccedilatildeo entre esses
paracircmetros pode significar uma completa alteraccedilatildeo no sentido de
algumas palavras Por exemplo o sinal correspondente agrave ldquoMACcedilAtilderdquo pode
significar ldquoQUEIJOrdquo se houver apenas uma mudanccedila na configuraccedilatildeo
de matildeos novamente ldquoMACcedilAtilderdquo pode significar ldquoCURSOrdquo se houver
diferenccedila no local e por fim ldquoMACcedilAtilderdquo pode significar ldquoCUBArdquo se
houver variaccedilatildeo no movimento Esses satildeo pares-miacutenimos encontrados
na LIBRAS A orientaccedilatildeo conforme aplicada tambeacutem pode alterar o
significado de uma palavra Seguem os exemplos na liacutengua de sinais
106
Figura 15 ndash Mostrar os Sinais
As autoras Quadros e Karnopp (2004 p 78) dizem que as
restriccedilotildees fonoloacutegicas requeridas para a boa formaccedilatildeo de sinais podem
ser produzidas pelas matildeos como a) sinais produzidos com uma das
matildeos b) sinais produzidos com as duas matildeos ambas ativas e c) sinais produzidos com as duas matildeos em que a matildeo dominante eacute ativa e a matildeo
natildeo-dominante serve como locaccedilatildeo
Para Battison (1978 Quadros e Karnopp (2004)) haacute duas
restriccedilotildees fonoloacutegicas na produccedilatildeo dos tipos de sinais a) a condiccedilatildeo de
107
simetria e b) a condiccedilatildeo de dominacircncia Quando as duas matildeos se
movem na produccedilatildeo de um uacutenico sinal CM deve ser a mesma para as
duas matildeos a locaccedilatildeo deve ser a mesma ou simeacutetrica o movimento deve
ser simultacircneo ou alternado Jaacute na condiccedilatildeo de dominacircncia as matildeos
apresentam diferentes configuraccedilotildees e entatildeo a matildeo ativa produz o
movimento e a matildeo passiva serve de apoio
A importacircncia dessa transferecircncia de movimento do rosto ou
corpo para as matildeos deve ser ressaltada bem como a concentraccedilatildeo para
uma sinalizaccedilatildeo de faacutecil entendimento Alguns sinais continuam sendo
motivados para uma mudanccedila dentre eles WILL (indica o futuro)
CARE (cuidado) TEDIOUS (tedioso) FINDFAULT (criticar) e
MEET (encontrar) Nessas mudanccedilas satildeo observadas algumas
caracteriacutesticas corporais tais como movimentos ordenados dos dedos e
matildeos deslocamento lateral da cabeccedila e movimentos do toacuterax
Pesquisei outro exemplo no curso de LetrasLIBRAS sobre a
variaccedilatildeo fonoloacutegica ldquoOs sinais FUNNY (engraccedilado) BLACK (preto)
e BORING (chato) satildeo exemplos de variaccedilatildeo fonoloacutegica pois esses
sinais podem ser realizados de duas formas soacute com o indicador
distendido e os outros dedos fechados ou com o
indicador e o polegar distendidos e os demais dedos fechadosrdquo
108
Figura 16 ndash Variaccedilatildeo fonoloacutegica
Outro exemplo interessante dos autores Woodward e Desantis
(1976) satildeo sinais que podem ser realizados tanto com uma matildeo quanto
com duas matildeos como os sinais CAT (gato) COW (vaca) e FAMOUS
(famoso) que satildeo produzidos no rosto
CAT COW
FAMOUS
(TENNANT amp BROWN 2004)
Figura 17 ndash Mostrar os sinais com uma matildeo e com duas matildeos
109
Vamos conhecer e refletir sobre as variaccedilotildees dos surdos
essencialmente com relaccedilatildeo agrave liacutengua de sinais
Klima e Bellugi (1979) representam uma pesquisa fonoloacutegica na
liacutengua de sinais do ASL A ASL ndash American Sign Language eacute a liacutengua
natural da comunidade surda nos Estados Unidos Os autores
identificam na liacutengua de sinais apenas trecircs paracircmetros configuraccedilatildeo de
matildeo (CM) ponto de articulaccedilatildeo (ou localizaccedilatildeo) (L) movimento (M)
que ao serem analisados individualmente natildeo satildeo possuidores de
significado e a outra autora Brito (1995) no Brasil pesquisou partes dos
paracircmetros primaacuterios a configuraccedilatildeo das matildeos o ponto de articulaccedilatildeo e
o movimento e tambeacutem os paracircmetros secundaacuterios52
a regiatildeo de
contato a orientaccedilatildeo das matildeos e a disposiccedilatildeo das matildeos
Segundo Frishberg em se tratando de tendecircncia para a simetria a
liacutengua toma vaacuterias formas Examinando o seu desenvolvimento em dois
paracircmetros matildeo-forma e movimento nota-se que ambas as matildeos agem
em uniacutessono e uma matildeo age sobre a outra As matildeos assumiram a mesma
configuraccedilatildeo Pode-se ver que alguns sinais mudam sua forma de
expressatildeo antes era com apenas uma das matildeos e agora se tornam as
duas
Eacute claro que os sinais tendem a seguir mudanccedilas ao longo da
histoacuteria Por exemplo para sinais no rosto tendem a utilizar apenas uma
matildeo deixando a face mais visiacutevel e permitindo que os olhos expressem
uma variedade de fins gramaticais Jaacute para os sinais na aacuterea do tronco
geralmente usam as duas matildeos ndash o que muitas vezes eacute sinal de
redundacircncia e simetria
Segue o exemplo da liacutengua de sinais do ASL
52 BRITO (1995) Regiatildeo de Contato ldquoRefere-se agrave parte da matildeo que entra em contato com o corpo Esse contato pode-ser dar maneiras diferentes atraveacutes de um toque de um risco de um
deslizamento etcrdquo
Orientaccedilatildeo das Matildeos ldquoEacute a direccedilatildeo da palma da matildeo durante o sinal voltada para cima para
baixo para o corpo para frente para esquerda ou para a direita Pode haver mudanccedila na
orientaccedilatildeo durante a execuccedilatildeo do Movimentordquo
Disposiccedilatildeo das Matildeos ldquoA articulaccedilatildeo dos sinais pode ser feita apenas pela matildeo dominante ou
pelas duas matildeos Neste uacuteltimo caso as duas matildeos podem se movimentar para formar o sinal ou entatildeo apenas a matildeo dominante se movimenta e a outra funciona como Ponto de
Articulaccedilatildeordquo
110
Figura 18 ndash Sinal de Paacutessaro
Para o sinal de PAacuteSSARO em um primeiro momento utiliza-se
uma das matildeos na aacuterea da face para o sinal ldquobicordquo e em seguida as duas
matildeos (uma para cada lado) em forma de asas Por fim o sinal
PAacuteSSARO hoje eacute apenas representado pela primeira parte (bico em
matildeo uacutenica)
A histoacuteria documentada da liacutengua americana de sinais natildeo eacute
longa existe uma seacuterie de gestos registrados ao longo da histoacuteria mas
foi somente no final do seacuteculo XVIII que os surdos foram considerados
educaacuteveis
Segundo Frishberg ldquoHomesignrdquo (sinais caseiros) eacute um termo
geral utilizado pela comunidade surda para se comunicar poreacutem eacute uma
forma bastante utilizada principalmente pelas matildees em aacutereas rurais que
tecircm filhos surdos Dados estatiacutesticos mostram que 80 a 90 dos surdos
nascem de pais ouvintes por essa razatildeo haacute uma necessidade inevitaacutevel
de comunicaccedilatildeo A partir dessa necessidade as matildees principalmente
precisam encontrar maneiras de se comunicar com os filhos e passam a
criar sinais de forma empiacuterica sem qualquer regra ou seja sinais natildeo
padronizados Tais sinais inventados passam a criar certas dificuldades
111
de comunicaccedilatildeo entre as diferentes comunidades de surdos Existe a
ASL (Liacutengua de Sinais Americana) com uma linguagem jaacute padronizada
que comeccedila a ser difundida e ensinada atraveacutes das escolas americanas
com sinais padronizados
A liacutengua de sinais padronizada enfrenta ainda dificuldade pois
algumas escolas eram proibidas politicamente de ensinar atraveacutes da
metodologia da ASL O fato eacute que outras escolas mesmo sem a devida
autorizaccedilatildeo comeccedilam a ensinar a liacutengua padronizada Os surdos
comeccedilam a aprender a liacutengua padratildeo mas continuam a se comunicar em
casa com os familiares usando o ldquohomesignrdquo (sinais caseiros) A
comunicaccedilatildeo ensinada em casa requeria a utilizaccedilatildeo de vaacuterios recursos
ambientais para a comunicaccedilatildeo entretanto havia a dificuldade de
encontrar referecircncia para as cores nos recursos ambientais pois para se
referir a uma cor eles deveriam encontraacute-lo na natureza aproximar-se o
suficiente para apontar e fazer a associaccedilatildeo com a cor
Historicamente pode-se afirmar que ao longo do tempo a forma
de comunicaccedilatildeo entre a comunidade surda vem mudando
constantemente teacutecnicas e sinais vecircm sendo aperfeiccediloados Ao inveacutes de
gestos natildeo-estruturados o que encontramos eacute uma gama de sinais e
movimentos de matildeos regularizados ou seja inter-relacionados
conjunto sistematizado de sinais que estaacute passando por mudanccedilas de
forma regular e formal
Quadros e Karnopp (2004 p 51) observam que os articuladores
primaacuterios das liacutenguas de sinais satildeo as matildeos estas se movimentam em
um espaccedilo determinado em frente ao corpo Um sinal pode ser
articulado com uma ou duas matildeos ou seja um mesmo sinal pode ser
articulado tanto com a matildeo direita quanto com a esquerda Mas precisa-
se levar em conta que sinais efetuados com as duas matildeos apresentam
restriccedilotildees em relaccedilatildeo ao tipo de interaccedilatildeo entre as matildeos De acordo
com Brito (1995) a LIBRAS apresenta 46 Configuraccedilotildees de Matildeos
(CMs) mas nem todas as liacutenguas de sinais partilham do mesmo nuacutemero
de configuraccedilotildees de matildeos Seguem quatro imagens de configuraccedilotildees de
matildeos difundidas no Brasil
112
As Configuraccedilotildees de Matildeos da LIBRAS
Figura 19 Figura 20
Figura 19 e 20 ndash Ferreira-Brito e Langevin (1995 p220)
Figura 21 Figura 22
Figura 21 ndash httpwwwinesgovbrlibrasprincipalaspASSU_id=3
Figura 22 ndash Quadro de CMs da LSB por Pimenta e Quadros (2006 p 73)
113
Um aspecto recorrentemente discutido eacute a iconicidade dos sinais
ndash em oposiccedilatildeo agrave arbitrariedade da relaccedilatildeo entre significado e
significante observada na constituiccedilatildeo do signo linguiacutestico em liacutenguas
orais Reconhecendo nas liacutenguas de sinais a iconicidade a par da
arbitrariedade (e remetendo a estudos que demonstram por exemplo a
dificuldade por parte de informantes de deduzirem significados em
relaccedilatildeo a muitas formas aparentemente icocircnicas) as autoras (Ferreira-
Brito e Langevin Pimenta e Quadros) destacam o fato de que signos
icocircnicos sofrem mudanccedilas as quais frequentemente ldquotendem a inibir a
natureza icocircnica dos sinais tornando-os mais arbitraacuterios atraveacutes dos
temposrdquo
Embora os demais sinais natildeo-manuais sejam realizados de forma
muitas vezes equivocada quando estes satildeo de forma simples como
afirmativa negativa e exclamativa natildeo haacute um comprometimento do
significado na sentenccedila Mas quando associados a outras formas o
equiacutevoco na execuccedilatildeo da expressatildeo facial provoca uma mudanccedila no
significado da sentenccedila passando esta a pertencer a outra classe
As liacutenguas orais modificam-se como no caso das palavras que
caem em desuso outras que satildeo adquiridas aumentando o vocabulaacuterio
e ainda mudando de significado das palavras O mesmo acontece nas
liacutenguas de sinais a fim de responder agraves necessidades que a evoluccedilatildeo
soacutecio-cultural impotildee
A ASL por sua vez estaacute seguindo a teoria citada acima
substituindo seus iacutecones por siacutembolos que de maneira geral tendem a
ser menos transparentes e icocircnicos pois se tornam mais arbitraacuterios
siacutembolos convencionais
Com o passar do tempo ocorrem muitas mudanccedilas nas liacutenguas
para suprir as necessidades de comunicaccedilatildeo e as modificaccedilotildees de
costumes de cada geraccedilatildeo Assim novos sinais satildeo criados de acordo
com a necessidade de cada grupo
Na verdade temos que pesquisar a liacutengua de sinais em Santa
Catarina observar o sujeito surdo em diferentes faixas etaacuterias
investigando o surgimento do primeiro espaccedilo de identidade cultural do
surdo em contexto social e acessando gramaticalmente a liacutengua de
sinais Esse espaccedilo foi conquistado pela poliacutetica linguiacutestica que assegura
o envolvimento com a liacutengua de sinais que estaacute se expandindo na
sociedade em nosso estado catarinense
Como toda liacutengua a LIBRAS sofre influecircncia das mudanccedilas
histoacutericas e culturais as liacutenguas satildeo dinacircmicas e natildeo estaacuteticas por isso
elas vivem sofrendo alteraccedilotildees e com as liacutenguas de sinais ocorre o
mesmo Essas mudanccedilas podem ser percebidas nas diferentes regiotildees
114
onde satildeo utilizadas as mesmas liacutenguas em que haacute algumas diferenccedilas
em algumas palavras ou expressotildees Mas como tem sido a participaccedilatildeo
do registro na comunicaccedilatildeo do surdo neste espaccedilo linguiacutestico e histoacuterico
cultural na liacutengua de sinais
Calvet (2002) mostra relaccedilotildees entre a liacutengua e a sociedade
fornecendo embasamento agraves explicaccedilotildees sobre as variaccedilotildees
sociolinguiacutesticas o que nos permite fazer uma comparaccedilatildeo das
descriccedilotildees agraves influecircncias externas e internas que a liacutengua de sinais de
Santa Catarina sofreu ateacute chegar ao estaacutegio em que se encontra
atualmente expandido em LIBRAS
Eacute importante registrar a nova histoacuteria da liacutengua de sinais suas
variaccedilotildees e o seu potencial transformador na realidade da comunidade
surda
O sistema linguiacutestico eacute heterogecircneo e as variaccedilotildees podem ser
observadas sob vaacuterios aspectos Sob o ponto de vista diacrocircnico
podemos observar o processo de sistematizaccedilatildeo linguiacutestico de alguns
gestos extralinguiacutesticos usados por usuaacuterios de liacutengua oral auditiva
que foram lexicalizados na LIBRAS tais como os gestuais que
correspondem ao significado de LOUCO ADEUS POSITIVO etc
Por outro lado sob uma perspectiva sincrocircnica vaacuterias formas
podem ser alternadas e podem representar aleacutem disso uma variaccedilatildeo
diatoacutepica53
e a variaccedilatildeo diafaacutesica54
Essas variaccedilotildees referem-se a
variaacuteveis geograacuteficas podem coexistir duas ou mais formas com um
mesmo significado Eacute o caso do sinal CULTURA (matildeo em ldquo5rdquo na testa
ou matildeo em ldquoCrdquo ao longo do braccedilo de apoio) Essas variantes podem
identificar usuaacuterios provindos do Sul e Centro-Oeste respectivamente e
em outras regiotildees por apresentarem sinais diferentes
Em geral um dialeto abrange uma zona ou regiatildeo territorial que
pode ou natildeo coincidir com as fronteiras ou barreiras geograacuteficas No
53 Variaccedilatildeo diatoacutepica eacute a regional quando haacute elementos diferentes dentro de um mesmo territoacuterio linguiacutestico mas natildeo necessariamente dentro de um mesmo dialeto Nem sempre os
elementos detentos de variaccedilotildees diatoacutepicas concorrem a menos quando haacute fortes migraccedilotildees
dentro de um mesmo territoacuterio Podem ocorrer interferecircncias mais incisivas quando determinadas regiotildees possuem destaque econocircmico poliacutetico social e cultural
54 Variaccedilatildeo diafaacutesica eacute a situacional relativa agraves diferentes monitoraccedilotildees do falante nas diferentes situaccedilotildees de interaccedilatildeo Exemplo uma pessoa estaraacute mais monitorada em seu
ambiente de trabalho do que nas interaccedilotildees realizadas em ambiente domeacutestico A variaccedilatildeo
diafaacutesica vem da afirmaccedilatildeo LABOVIANA de que natildeo haacute falante de estilo uacutenico A produccedilatildeo linguiacutestica eacute dependente do contexto social
115
Brasil existem vaacuterios dialetos55
(ou variedades) em comunidades de
ouvintes onde se fala a Liacutengua Portuguesa com diferentes usos Ex
bergamota vergamota e tangerina Palavras variaacuteveis acontecem em
vaacuterias regiotildees e podem ser usadas por motivaccedilatildeo social e ou regional A
seguir algumas variaccedilotildees linguiacutesticas que ocorrem na LIBRAS Ex o
sinal de Cultura SC SP e RJ Seguem os sinais
Figura 23 ndash Sinal ldquoCultura em SCrdquo
Figura 24 ndash Sinal ldquoCultura em SPrdquo
Figura 25 ndash Sinal ldquoCultura em RJrdquo
55 Variedade ndash ldquoa fala de uma comunidade de modo global considerando-se todas as suas particularidades tanto categoacutericas quanto variaacuteveis o mesmo que dialeto ou falarrdquo COELHO
et al (2010 p 166)
116
Um outro exemplo de variaccedilatildeo diatoacutepica no leacutexico do portuguecircs
pode ser observado na diferenccedila entre MACAXEIRA (Norte e
Nordeste) MANDIOCA (Sudeste e Centro-Oeste) e AIPIM (Sul)
A liacutengua de sinais tem uma importacircncia muito significativa para a
comunicaccedilatildeo entre surdos e tambeacutem entre surdos e ouvinte pois sem a
liacutengua de sinais dificultaria a comunicaccedilatildeo e os surdos natildeo conseguiriam
viver na comunidade
A LIBRAS possui forma clara e definida em sua estrutura
gramatical que se estabelece no dia a dia dos que a utilizam Suas vaacuterias
formas sua estrutura o grupo que a utiliza a influecircncia social e
geograacutefica torna a LIBRAS uma liacutengua como qualquer outra pois
realiza a verdadeira funccedilatildeo de comunicar Como Calvet (2002 p 89)
explica variaacuteveis linguiacutesticas satildeo muito usadas em todas as liacutenguas
ldquoDeste modo um reacuteptil comum em todo o Brasil eacute chamado de ldquoosgardquo
na regiatildeo Norte ldquobribardquo ou ldquoviacuteborardquo no Nordeste e ldquolagartixardquo no
Centro-Sul56
rdquo
43 ndash As variaccedilotildees linguiacutesticas na liacutengua de sinais
Uma definiccedilatildeo geral sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica na liacutengua de
sinais torna-se necessaacuteria para melhor aproveitamento desta pesquisa Eacute
importante considerar os dialetos regionais natildeo soacute usados em regiotildees
diferentes no contato social mas no espaccedilo de uso cultural da liacutengua
influenciando o surdo
A Liacutengua de Sinais Americana (ASL) eacute diferente da Liacutengua de
Sinais Britacircnica (BSL) que por sua vez eacute diferente da Liacutengua de Sinais
Argentina e tambeacutem da Liacutengua de Sinais Francesa (LSF) Verificamos
que nos demais paiacuteses tambeacutem satildeo diferentes as liacutenguas de sinais e as
variaccedilotildees linguiacutesticas no contexto social dos surdos no mundo
(STROBEL e FERNANDES 1998) Observe
Ex
56 O exemplo do autor eacute o seguinte ldquoDesse modo um objeto simples como a serpiliegravere peccedila de pano usada para limpar o chatildeo pode tambeacutem ser chamada de panosse (na Saboacuteia e na
Suiacuteccedila) wassingue (no Norte) torchon (no leste) since (no sudeste)rdquo
117
NOME
ASL LIBRAS
Figura 26 ndash Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo ndash Depto Educaccedilatildeo
Especial ndash CuritibaPR SEEDSUEDDEE
Aleacutem disso dentro de um mesmo paiacutes haacute as variaccedilotildees regionais
Na LIBRAS tambeacutem existem dialetos regionais salientando assim uma
vez mais o seu caraacuteter de liacutengua natural
Os povos57
surdos satildeo influenciados pelos contatos nas liacutenguas de
sinais Em cada regiatildeo o surdo se comunica A liacutengua difere quanto ao
dialeto social e cultural Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica em LIBRAS
As variaccedilotildees linguiacutesticas relacionadas ao contexto satildeo chamadas
de variaccedilotildees estiliacutesticas ou registro Os paracircmetros de variaccedilatildeo
linguiacutestica satildeo diversos no ato de interagir verbalmente um falante
utilizaraacute a variedade linguiacutestica relativa agrave sua regiatildeo de origem classe
social idade escolaridade sexo ou ainda acrescenta-se sua condiccedilatildeo
adaptativa de origem como no caso da pessoa surda
O professor Francisco participou do grupo surdo de outras regiotildees
dos estados de Santa Catarina Paranaacute Rio Grande do Sul Satildeo Paulo
Rio de Janeiro e Minas Gerais em contato com a liacutengua de sinais e suas
variaccedilotildees linguiacutesticas No dialeto regional haacute variaccedilatildeo linguiacutestica
diferenccedilas percebidas no espaccedilo cultural do surdo nas situaccedilotildees de
conversa na associaccedilatildeo escola e comunidade Os sujeitos surdos que
relataram o depoimento para a pesquisa sobre a liacutengua de sinais falavam da importacircncia do Francisco para a comunidade surda de SC
57 O povo surdo segundo STROBEL (2006) refere-se ao conjunto de sujeitos que natildeo habitam
no mesmo local mas que estatildeo ligados por uma origem tais como a cultura surda costumes e interesses semelhantes histoacuterias e tradiccedilotildees comuns e qualquer outro laccedilo
118
No mundo haacute pelo menos uma liacutengua de sinais usada
amplamente na comunidade surda de cada paiacutes diferente da liacutengua
falada utilizada na mesma aacuterea geograacutefica Isto se daacute porque essas
liacutenguas de sinais satildeo independentes das liacutenguas orais pois foram
produzidas dentro das comunidades surdas (STROBEL e
FERNANDES 1998)
Pode ser considerado como sotaque na liacutengua de sinais as
variaccedilotildees linguiacutesticas e costume cultural diferentes de cada regiatildeo
Entatildeo Francisco trouxe a experiecircncia do contato com outras regiotildees
para o grupo de surdos de SC na comunicaccedilatildeo em liacutengua de sinais
44 ndash O surdo se comunica a liacutengua de sinais no contexto social
O dialeto social refere-se a variaccedilotildees de configuraccedilatildeo das matildeos
eou de movimento natildeo modificando o sentido do sinal (STROBEL e
FERNANDES 1998) Dependendo da situaccedilatildeo de uso da comunicaccedilatildeo
do surdo na liacutengua de sinais a variaccedilatildeo pode ser observada atraveacutes da
configuraccedilatildeo das matildeos como em
Ex
Figura 27 ndash Sinal de Ajudar
119
Figura 28 ndash Sinal de Faltar
Figura 29 ndash Sinal de Ocircnibus
Figura 30 ndash Sinal de Sonhar
120
Nem todos os usuaacuterios de uma liacutengua falam do mesmo
jeito por isto todas as liacutenguas naturais possuem
variaccedilotildees linguiacutesticas A LIBRAS tambeacutem apresenta
dialetos regionais reforccedilando seu caraacuteter de liacutengua
natural As variaccedilotildees na LIBRAS ocorrem de vaacuterias
formas como alteraccedilotildees na configuraccedilatildeo de matildeos (forma
que a matildeo assume na realizaccedilatildeo do sinal) ou na
localizaccedilatildeo espacial do sinal (local onde o sinal eacute
realizado) sem que seu sentido e significado sejam
perdido ou modificados Tambeacutem haacute sinais diferentes
para representar um mesmo referente usando em
diferentes regiotildees do paiacutes agraves vezes do mesmo estado
(BASSO e SCHMITT 2007 p 50 e 51)
O valor social58
das formas em variaccedilatildeo se estabelece nas
relaccedilotildees sociais e na avaliaccedilatildeo do que pode ser considerada uma
variedade de prestiacutegio ou uma variedade estigmatizada Estilos formais
ou distensos podem ser identificados a partir de um estudo da variaccedilatildeo
das formas no contexto social Estudos sobre o portuguecircs falado
mostram por exemplo que jovens mais favorecidos tendem a fazer
mais concordacircncia verbal em oposiccedilatildeo aos menos favorecidos que
tendem a usar menos concordacircncia Isso mostra o fator externo
(mercado de trabalho ou situaccedilatildeo) e a necessidade de o falante se
adequar ao valor linguiacutestico de concordacircncia considerado como de
prestiacutegio nesse espaccedilo Podemos concluir que a LIBRAS como
qualquer outra liacutengua apresenta variaccedilatildeo e mudanccedila mas ainda
precisamos aprofundar os estudos linguiacutesticos dessa liacutengua para melhor
conhececirc-la em seus diferentes aspectos (lexicais fonoloacutegicos
morfoloacutegicos e sintaacuteticos) O capiacutetulo 6 traraacute uma descriccedilatildeo sobre
alguns desses aspectos em variaccedilatildeo e mudanccedila Acreditamos que com a
proposta biliacutengue para a educaccedilatildeo de surdos a liacutengua portuguesa e a
LIBRAS teratildeo uma relaccedilatildeo cada vez mais intensa e o contato dessas
duas liacutenguas pelos surdos vai acarretar com toda a certeza trocas
linguiacutesticas entre elas o que pode provocar novas transformaccedilotildees
58 Valor social eacute relativo aos problemas de avaliaccedilatildeo e eacute atribuiacutedo pelos proacuteprios falantes e
usuaacuterios de liacutengua de sinais ou seja eacute sempre de ordem social (nunca linguiacutestica) Valor
atribuiacutedo desenha o futuro das formas concorrentes jaacute que a forma eleita eacute sempre a que recebe maior valor e que muitas vezes corresponde agraves formas adotadas pela elite econocircmica poliacutetica
social ou cultural de uma dada comunidade (surda)
121
CAPIacuteTULO V ndash Metodologia
51 ndash Introduccedilatildeo
Investigarei a histoacuteria da liacutengua de sinais em Santa Catarina e as
variaccedilotildees e mudanccedilas fonoloacutegicas e lexicais ocorridas no periacuteodo que
compreende 1946 aos dias atuais fazendo comparaccedilotildees entre sinais que
aparecem nos relatos de experiecircncias em trecircs geraccedilotildees de surdos
pesquisadas
A metodologia utilizada para esta pesquisa foi a de coleta de
dados atraveacutes de perguntas e depoimentos dos surdos envolvidos nas
trecircs geraccedilotildees das uacuteltimas deacutecadas A coleta de dados de informantes59
foi realizada com o objetivo de solicitar depoimentos sobre fatos
histoacutericos e sobre o contato que os surdos tiveram com a liacutengua de
sinais
Os depoimentos dos ex-alunos surdos bem como dos surdos
envolvidos na comunidade surda catarinense nas uacuteltimas deacutecadas foram
realizados por meio de entrevistas filmadas Eu mesmo fiz os viacutedeos
Mas antes conversei com cada um dos surdos explicando porque
precisava de seu depoimento Apoacutes a aceitaccedilatildeo de cada um formei os
trecircs grupos por idade Cada um assinou uma ficha do informante para
realizar a pesquisa (em anexo) com dados pessoais e autorizaccedilatildeo
Foram utilizadas trecircs cacircmeras para a filmagem colocadas de forma a
gravar o depoimento dos trecircs surdos simultaneamente Primeiro filmei o
Grupo I Os informantes ficaram sentados na frente de cada cacircmera um
ao lado do outro Depois fiz a pergunta e eles teriam trinta minutos para
dar a resposta e mais vinte minutos para conversarem entre eles Liguei
as trecircs cacircmeras e saiacute da sala Voltei aproximadamente apoacutes uma hora e
desliguei as cacircmeras Fiz o mesmo com o Grupo II e com o Grupo III O
Grupo III foi filmado na UFSC os outros dois numa sala da Associaccedilatildeo
de Surdos A resposta sobre a histoacuteria da educaccedilatildeo de surdos em SC
mais a conversa espontacircnea em LIBRAS trouxe material de qualidade
para a pesquisa A escolha dos surdos levou em conta o fato de os
escolhidos terem frequentado a escola na deacutecada de 1950 quando surgiu
tambeacutem uma associaccedilatildeo de surdos catarinenses
Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os seguintes toacutepicos a coleta
59 COELHO et al (2010 p 164) ldquosujeito da pesquisa sociolinguiacutestica aquele que fornece seus
dados linguiacutesticos para que o pesquisador analiserdquo
122
de dados das trecircs geraccedilotildees com as diferentes faixas etaacuterias o meacutetodo de
entrevista sociolinguiacutestica a coleta de narrativa de experiecircncia pessoal
a transcriccedilatildeo de dados dos trecircs grupos compostos de informantes surdos
na liacutengua de sinais os informantes do grupo surdo na liacutengua de sinais e
por fim a descriccedilatildeo dos informantes quanto aos dados
Como procedimento metodoloacutegico no primeiro momento
realizamos uma coleta inicial de dados na liacutengua de sinais observando
uma diferenccedila de 30 anos entre um grupo e outro Cada grupo eacute
composto de trecircs indiviacuteduos
O Grupo I eacute formado por pessoas mais velhas na faixa
etaacuteria entre 60 a 80 anos
O Grupo II eacute formado por pessoas entre 30 a 60 anos e
O Grupo III eacute formado por indiviacuteduos na faixa etaacuteria de
15 a 30 anos
Com a anaacutelise da LIBRAS usada pelos indiviacuteduos dessas trecircs
faixas etaacuterias esperamos poder detectar se nas trecircs geraccedilotildees de
sinalizadores da liacutengua de sinais em Santa Catarina vamos encontrar
mudanccedila em tempo aparente
Entatildeo foram entrevistados os trecircs informantes do Grupo III na
situaccedilatildeo de mais jovem em idade na faixa etaacuteria de 15 a 30 anos 1)
Informante A 2) Informante B e 3) Informante C
No segundo momento foi feita a coleta dos dados do Grupo I
Para saber o que existe no primeiro grupo de diferente precisamos
identificar os sinais antigos para depois fazermos uma comparaccedilatildeo com
as liacutenguas de sinais da atualidade Assim foram entrevistados trecircs
sujeitos surdos mais velhos na faixa etaacuteria de 60 a 80 anos 1)
Informante G 2) Informante H e 3) Informante I
No terceiro momento foram entrevistados os informantes do
Grupo II outros trecircs alunos de Francisco na faixa etaacuteria de 30 a 60
anos 1) Informante D 2) Informante E e 3) Informante F Acreditamos
que as formas usadas pelo professor Francisco serviram e servem de
modelo influenciando os alunos E que agraves vezes os alunos do professor
Francisco podem usar alguns sinais proacuteprios do professor surdo em
conversas na escola na associaccedilatildeo e na comunidade surda das regiotildees
de Santa Catarina Eacute possiacutevel tambeacutem que o ex-professor Francisco
usasse outros sinais quando conversava com os amigos os ex-alunos
surdos na escola e associaccedilatildeo em Santa Catarina
123
Foi levado em consideraccedilatildeo na coleta o que sugere Tarallo
(2000)
O pesquisador ao selecionar seus informantes estaraacute em
contato com falantes que variam segundo classe social
faixa etaacuteria etnia e sexo Seja qual for a natureza da
situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo seja qual for o toacutepico central
da conversa seja quem for o informante o pesquisador
deveraacute tentar neutralizar a forccedila exercida pela presenccedila
do gravador e por sua proacutepria presenccedila como elemento
estranho a comunidade Tal neutralizaccedilatildeo pode ser
alcanccedilada no momento em que o pesquisador se decide a
representar o papel de aprendiz-interessado na
comunidade de falantes e em seus problemas e
peculiaridades (TARALLO 2000 p 21)
Ė importante selecionar os informantes dos grupos que tecircm
contato entre si e utilizam a liacutengua de sinais de classes sociais
diferentes dentro da comunidade surda faixa etaacuteria diferente etc A
geraccedilatildeo do grupo dos mais velhos tem influecircncia sobre o grupo dos mais
novos que tem menos contato experiecircncia com a liacutengua Isso pode ser
observado na liacutengua usada pelos informantes pois seus objetivos satildeo
diferentes na fase de aprendizagem em situaccedilatildeo de comunidade surda
O pesquisador aproveita para pensar e planejar como seraacute realizada a
coleta de dados Por se tratar de uma liacutengua visualespacial tentei
diversificar os lugares para a conversa espontacircnea dos informantes
52 ndash A coleta de dados
Na coleta dos dados desta pesquisa espera-se que as trecircs geraccedilotildees
com faixas etaacuterias distintas de informantes relatem sua experiecircncia de
vida na liacutengua de sinais possibilitando uma anaacutelise dos sinais gravados
para que possamos identificar possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas
linguiacutesticas
Na primeira parte assisti aos viacutedeos no programa Transcriccedilatildeo de
Liacutengua de Sinais ndash ELAN60
No segundo momento verifiquei e analisei
60 McCLEARY e VIOTTI 2007 - Eacute a caraacuteter eminentemente descritivo buscando a captaccedilatildeo
do maior nuacutemero de detalhes de sinalizaccedilatildeo As narrativas que estatildeo sendo transcritas foram
baseadas no filme ldquoHistoacuteria da pecircrardquo criado pelo de pesquisa de Wallace Chafe na deacutecada de 1970 com o objetivo de eliciar narrativas para anaacutelise e comparaccedilatildeo translinguiacutestica Visando
a produccedilatildeo de narrativas em liacutengua de sinais brasileira o grupo ECS fez a gravaccedilatildeo de
narrativas produzidas por surdos que assistiram ao filme e relataram a histoacuteria para outra pessoa fluente na liacutengua
124
a coleta de dados dos grupos de informantes das trecircs geraccedilotildees com
relaccedilatildeo agraves mudanccedilas histoacutericas e linguiacutesticas Depois realizei a
descriccedilatildeo dos grupos nas diferentes faixas etaacuterias que mostram se os
sinais se modificam nas possiacuteveis narrativas Espero com esses sinais
observados alcanccedilar o objetivo principal da pesquisa o de comparar os
sinais encontrados nos trecircs grupos e verificar se ocorreram variaccedilotildees e
mudanccedilas linguiacutesticas em tempo aparente
Realizei a coleta de dados da seguinte forma coloquei todos os
depoimentos filmados dos surdos no programa ELAN Escolhi os sinais
que apareciam nos trecircs grupos e fiz uma tabela com esses sinais depois
fiz anaacutelise e descriccedilatildeo dos resultados finais
53 ndash O meacutetodo de entrevista sociolinguiacutestica a coleta de narrativas
de experiecircncia pessoal
A coleta de dados realizada numa entrevista deve ocorrer de
forma espontacircnea Antes de realizar a pesquisa para recolher os dados eacute
importante conhecer as diferentes abordagens que identificam os grupos
e sua relaccedilatildeo com a liacutengua Segundo Tarallo (2000)
De gravador em punho o pesquisador-sociolinguista
como afirmamos deve coletar 1 situaccedilatildeo natural de
comunicaccedilatildeo linguumliacutestica e 2 grande quantidade de
material de boa qualidade sonora (TARALLO 2000 p
21)
Para realizar a pesquisa empiacuterica foi necessaacuterio um planejamento
anterior utilizando viacutedeo de filmagem com boa qualidade visual pois
observamos indiviacuteduos que utilizam a comunicaccedilatildeo visual espacial com
o objetivo de melhor descrevermos os grupos e verificar questotildees
linguiacutesticas desses indiviacuteduos
Para a coleta seguimos os procedimentos metodoloacutegicos
indicados por Tarallo
Este software foi desenvolvido no Instituto Max Planck de Psycholinguistics na Holanda e
mostra no site wwwmpinl na transcriccedilatildeo o ELAN (Eudico Language Annotator) eacute um
programa que permite adicionar anotaccedilotildees para um arquivo de viacutedeo o que pode tornaacute-lo muito mais faacutecil de estudar assistir o viacutedeo na liacutengua de sinais Ele tambeacutem pode ser utilizado
com as liacutenguas faladas (com ou aacuteudio ou viacutedeo) mas este foi apresentado na minha pesquisa e
utilizado na liacutenguas de sinais das trecircs geraccedilotildees
125
Para atingir tais propoacutesitos metodoloacutegicos podem-se
formular moacutedulos (ou roteiros) de perguntas um
questionaacuterio-guia de entrevista Esses moacutedulos tecircm por
objetivo homogeneizar os dados de vaacuterios informantes
para posterior comparaccedilatildeo controlar os toacutepicos de
conversaccedilatildeo e em especial provocar narrativas de
experiecircncia pessoal (TARALLO 2000 p 22)
Ė permitido ressaltar na pesquisa sociolinguiacutestica que para
realizaacute-la seraacute feita uma seleccedilatildeo de um grupo ou indiviacuteduo dependendo
da situaccedilatildeo como por exemplo quanto agrave classe social pode ser
verificado o gecircnero a etnia faixa etaacuteria e costumes A situaccedilatildeo de
pesquisa pode acontecer em qualquer lugarambiente O pesquisador
observa de forma neutra o grupo de falantes que estaacute pesquisando em
um determinado local e faz anaacutelises com base nos fatos linguiacutesticos
observando-os em conversas espontacircneas procurando especificaacute-las
A metodologia de coleta laboviana mostra que encontramos a
variedade mais espontacircnea em narrativa de experiecircncia pessoal pois o
indiviacuteduo quando estaacute envolvido emocionalmente faz relatos sem se
preocupar com o modo como estaacute contando De acordo com Tarallo
Os estudos de narrativas de experiecircncia pessoal tecircm
demonstrado que ao relataacute-las o informante estaacute tatildeo
envolvido emocionalmente com o que relata que presta o
miacutenimo de atenccedilatildeo ao como E eacute precisamente esta a
situaccedilatildeo natural de comunicaccedilatildeo almejada pelo
pesquisador-sociolinguista
Os moacutedulos cobrem uma seacuterie de toacutepicos para fins de
conversaccedilatildeo dados pessoais do informante (sua
histoacuteria) jogo e brincadeira de infacircncia brigas namoro e
encontros amorosos casamento perigo de morte medo
famiacutelia religiatildeo amigos turmas serviccedilos puacuteblicos o
crime nas ruas escola e trabalho interaccedilatildeo com outros
membros da comunidade esportes etc (TARALLO
2000 p 22)
As pessoas ouvintes falam sobre fatos ocorridos de sua experiecircncia pessoal com famiacutelia amigos etc de forma natural Isto
tambeacutem acontece na comunidade surda e ao coletar narrativas em
liacutengua de sinais acredita-se que vamos encontrar diferentes situaccedilotildees do
cotidiano e parte da histoacuteria da comunidade que mostraratildeo variaccedilotildees e
tambeacutem mudanccedilas linguiacutesticas
126
Podem ser escolhidas diferentes maneiras de realizar uma
pesquisa de campo mas a experiecircncia pessoal deve ser levada em
consideraccedilatildeo A pesquisa pode ser realizada com diferentes informantes
ou grupos de informantes de qualquer categoria para verificar as
possiacuteveis variaccedilotildees da liacutengua falada sem qualquer preocupaccedilatildeo com a
forma como indica Tarallo
A narrativa de experiecircncia pessoal eacute a mina de ouro que
o pesquisador-sociolinguistica procura Ao narrar suas
experiecircncias pessoais mais envolventes ao colocaacute-las no
gecircnero narrativa o informante desvencilha-se
praticamente de qualquer preocupaccedilatildeo com a forma A
desatenccedilatildeo agrave forma no entanto vem sempre embutida
numa linha de relato a que chamaremos ldquoestrutura
narrativardquo (TARALLO 2000 p 23)
Nesta citaccedilatildeo o autor explica a importacircncia da coleta de narrativa
pessoal de cada um dos informantes porque apenas fazem a narraccedilatildeo
sem preocupaccedilatildeo com a forma como estatildeo contando
54 ndash A transcriccedilatildeo de dados dos trecircs grupos compostos de
informantes surdos na liacutengua de sinais
Estes dados foram organizados no sistema de transcriccedilatildeo na
liacutengua de sinais ndash ELAN As identificaccedilotildees dos sujeitos surdos que
apresentavam cada um o seu relato em viacutedeo mostram a sua forma de se
comunicar na liacutengua de sinais Verificar se a variaccedilatildeo fonoloacutegica e
mudanccedila lexical pode acontecer nesta liacutengua de sinais em trecircs geraccedilotildees
eacute um dos propoacutesitos deste trabalho
55 ndash Informantes do grupo surdo na liacutengua de sinais
Os informantes do grupo que participaram da minha pesquisa
foram escolhidos de forma aleatoacuteria pela facilidade de contato e
separados em trecircs geraccedilotildees que usavam a liacutengua de sinais
Labov em suas pesquisas elaborava entrevistas de modo a
elicitar nos entrevistados uma fala menos monitorada ndash o vernaacuteculo61
Ele afirma que
61 ldquoEstilo em que pouco monitoramento eacute dispensado agrave fala fala ldquonaturalrdquordquo COELHO et al
(2010 p 166)
127
As narrativas produzidas em resposta a essa pergunta
[ldquoVocecirc jaacute viveu uma situaccedilatildeo em que correu seacuterio risco
de morrerrdquo] quase sempre exibem uma mudanccedila de
estilo que se distancia da fala monitorada e se aproxima
do vernaacuteculo62 (LABOV 2008 [1972] p 245)
Da mesma forma na pesquisa sobre o grupo de surdo que o
senhor Francisco ensinou utilizei um questionaacuterio com uma pergunta
que era explique a histoacuteria da educaccedilatildeo de surdo em Santa
Catarina para que pessoas surdas respondessem As perguntas foram
feitas em LIBRAS e as respostas foram filmadas num total de nove
pessoas
O foco do agrupamento dos sujeitos foi a idade portanto houve
variabilidade quanto ao gecircnero e agraves atividades exercidas pelos
participantes
Na primeira etapa o objetivo foi a escolha dos trecircs indiviacuteduos dos
grupos informantes surdos mais jovens A B e C Neste grupo o fator
escolhido quanto ao sexo foi trecircs masculinos pois natildeo encontrei jovem
do sexo feminino
Na segunda etapa os trecircs indiviacuteduos do grupo de informantes
surdos intermediaacuterio D E e F foram quanto ao sexo dois masculinos e
um feminino
Na uacuteltima etapa os trecircs indiviacuteduos do grupo de informantes
surdos mais velhos G H e I foram escolhidos quanto ao sexo um
masculino e dois femininos Entatildeo escolhi a faixa etaacuteria deste grupo que
apresentava o documentaacuterio em viacutedeo que a partir do qual foi extraiacuteda
amostra de uma experiecircncia de cada uma das narrativas de sujeitos
surdos que usavam a liacutengua de sinais espontacircnea Seguem os quadros de
amostras dos grupos em trecircs geraccedilotildees contemplados nesta pesquisa
62 Um dos aspectos mais interessantes dessa pergunta eacute que ela implica uma resposta sim-ou-
natildeo do tipo que em geral evitamos O mecanismo parece ser o seguinte o informante estaacute
disposto a reconhecer o fato de ter estado numa situaccedilatildeo assim embora possa natildeo estar disposto a fazer um relato Mas uma vez que reconheceu o fato acha muito difiacutecil deixar de
fazer um relato completo quando o entrevistador pergunta depois de alguns instantes ldquoO que
aconteceurdquo Do contraacuterio ficaria parecendo que ele fez uma afirmaccedilatildeo falsa
128
Quadros de amostras dos Grupos I II e III
Grupo I
Identificaccedilatildeo
de Classe
Sexo Idade Faixa
Etaacuteria
Profissotildees
Informante G Masculino 82
anos
60 a 80
anos
ProfessorAposentado
Informante H Feminino 64
anos
60 a 80
anos
CostureiraAposentado
Informante I Feminino 62
anos
60 a 80
anos
BancaacuterioAposentado
Grupo II
Identificaccedilatilde
o de Classe
Sexo Idade Faixa
Etaacuteria
Profissotildees
Informante D Feminino 56
anos
30 a 60
anos
BancaacuterioAposentado
Informante E Masculino 53
anos
30 a 60
anos
Autocircnomo
Informante F Masculino 52
anos
30 a 60
anos
MotoristaAposentado
Grupo III
Identificaccedilatildeo
de Classe
Sexo Idade Faixa
Etaacuteria
Profissotildees
Informante A Masculino 29
anos
15 a 30
anos
Professor
Informante B Masculino 25
anos
15 a 30
anos
Professor
Informante C Masculino 24
anos
15 a 30
anos
Estudante
129
Os Grupos I e II foram alunos de profdeg Francisco jaacute os
informantes do Grupo III foram escolhidos na universidade porque eacute
difiacutecil de ser ter contato com surdo na faixa etaacuteria de 15 anos
Cada um dos 9 (nove) informantes da amostra nos trecircs (3) grupos
com relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria poderaacute trazer indicativos sobre a trajetoacuteria da
liacutengua de sinais e a influecircncia da geraccedilatildeo dos surdos mais velhos (Grupo
I) com relaccedilatildeo agrave sinalizaccedilatildeo utilizada na atualidade pelos surdos mais
jovens (Grupo III) Segundo a citaccedilatildeo de Tarallo
a primeira tentativa de definiccedilatildeo a liacutengua falada a que
nos temos referido eacute o veiculo linguumliacutestico de
comunicaccedilatildeo usado em situaccedilotildees naturais de interaccedilatildeo
social do tipo comunicaccedilatildeo face a face Ė a liacutengua que
usamos em nossos lares ao interagir com os demais
membros de nossas famiacutelias Ė a liacutengua usada nos
botequins clubes parques rodas de amigos nos
corredores e paacutetios das escolas longe da tutela dos
professores Ė a liacutengua falada entre amigos inimigos
amantes e apaixonados (TARALLO 2000 p 19)
Na interaccedilatildeo social desta liacutengua que o surdo utiliza para se
comunicar em diversos lugares com os amigos na associaccedilatildeo na escola
etc haacute uma valorizaccedilatildeo cultural aleacutem da troca de conhecimentos
necessidades de criaccedilatildeo de novos sinais modificaccedilatildeo eou
aperfeiccediloamento de outros trazendo modificaccedilotildees linguiacutesticas
Concluiacutemos a explicaccedilatildeo do procedimento da metodologia desta
pesquisa trazendo consideraccedilotildees sobre os registros dos dados dos
informantes para posterior verificaccedilatildeo da variaccedilatildeo e mudanccedila
linguiacutestica observada nos trecircs grupos de surdos nas diferentes geraccedilotildees
referentes agrave liacutengua de sinais Atraveacutes das informaccedilotildees encontradas nas
narrativas seraacute feita uma trajetoacuteria histoacuterica da liacutengua de sinais e seratildeo
observadas as mudanccedilas ocorridas com relaccedilatildeo agrave liacutengua na comunidade
surda de Santa Catarina
56 ndash Descriccedilatildeo dos informantes quanto aos dados
Nesta seccedilatildeo apresentamos descriccedilotildees dos dados coletados na
liacutengua de sinais espontacircnea de informantes conforme amostras dos
Grupos I II e III Os dados foram observados pelo programa de
transcriccedilatildeo de ELAN Realizei os trabalhos comparando a liacutengua usada
pelas geraccedilotildees e as informaccedilotildees dadas pelos informantes
Os fatos sociolinguiacutesticos apresentados pelos informantes atraveacutes
130
de seus depoimentos mostrando suas trajetoacuterias e vivecircncias na
comunidade surda nas diferentes regiotildees do estado de SC seratildeo
analisados para saber se o professor surdo influenciou a comunidade
surda do estado no ensino da LIBRAS
A questatildeo que tentarei responder com os dados eacute a seguinte Os
informantes de cada grupo de comunidades surdas de diferentes regiotildees
do estado de Santa Catarina relatando sua trajetoacuteria com experiecircncias
relacionadas agrave liacutengua de sinais ora sofreram ora natildeo a influecircncia do
professor surdo com relaccedilatildeo ao aprendizado desta liacutengua
Pretendo verificar se haacute algum sinal de que a liacutengua sofreu
variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica em cada uma das trecircs geraccedilotildees dos
informantes Essas trecircs geraccedilotildees vatildeo ser acompanhadas pelas glosas de
sinais A descriccedilatildeo de experiecircncias dos informantes surdos nos trecircs
grupos observados eacute a estrateacutegia para se pesquisar o processo de
mudanccedila
A pesquisa vai analisar os trecircs comparativos dos informantes
surdos com a descriccedilatildeo de dados de cada geraccedilatildeo apoacutes verificar os
resultados de cada uma das trecircs geraccedilotildees de informantes Grupo III A
B C Grupo II D E F Grupo I G H e I As narrativas na liacutengua de
sinais que os informantes apresentaram foram coletadas e vatildeo ser
descritas nas proacuteximas seccedilotildees
561 ndash Grupo I ndash Informantes
Nas narrativas dos sujeitos63
do grupo de informantes na faixa
etaacuteria dos surdos de 60 a 80 anos os mais velhos mesmo grupo do
professor surdo foram expressas algumas opiniotildees dos surdos
nomeados de informantes G H e I Seguem as informaccedilotildees
5611 ndash Informante G
Francisco eacute o informante G e sua identidade estaacute expliacutecita porque
ele autorizou O informante G mostra sua experiecircncia na liacutengua de
63 Os sujeitos surdos SCHMITT (2008) mostram a participaccedilatildeo no amplo espaccedilo da sociedade
em que vivem No momento eles se identificam como um ldquooutrordquo como surdo Esta mudanccedila
eacute mostrada pelas lutas seja na sociedade em encontros eventos seminaacuterios congressos e outros Isso eacute o povo surdo participando no movimento na luta pela educaccedilatildeo pelos direitos
culturais
131
sinais e sua opiniatildeo sobre como aconteceu essa experiecircncia Segue um
comentaacuterio ldquoSabemos que as liacutenguas mudam com o tempo e se
transformam conforme as culturas dos paiacuteses regiotildees ou mesmo em
situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo em que estaacute participando (numa conversa
informal na sala de aula na famiacutelia etc) estas mudanccedilas ocorrem com
as configuraccedilotildees de matildeos articulaccedilotildees movimentos expressotildees faciais e
ou corporais essas mudanccedilas satildeo recicladas para se adaptar a realidade e
conceitos na sociedade tendo os traccedilos de identificaccedilatildeo proacutepriardquo
O informante G nasceu no dia 01061928 em Florianoacutepolis SC
foi aluno interino do Instituto Nacional de Surdos-Mudos do Rio de
Janeiro e do Instituto Paulista de Surdos em Satildeo Paulo de 1937 a 1946
Ele realizou o curso fundamental e meacutedio tinha habilitaccedilatildeo em ensino
especial desenho encadernaccedilatildeo ginaacutestica datilografia frequentou da
1a a 8
a seacuterie do ensino fundamental no Instituto Nacional de Surdos-
Mudos e sua habilitaccedilatildeo eacute em Contabilidade pelo Instituto Monitor e
Nuacutecleo de ensino profissional
Em 1952 ele conheceu quinze surdos-mudos em Florianoacutepolis
que natildeo sabiam ler e escrever Ele ensinava algumas palavras e sinais
para esses surdos-mudos De outra feita entre 1953 a 1954 iniciava a
amizade com o primeiro presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos de
Satildeo Paulo senhor Maacuterio Devisate Ele natildeo tinha o conhecimento da
existecircncia de uma Associaccedilatildeo de Surdos em Florianoacutepolis o senhor
Devisate entregava um documento para Associaccedilatildeo de Surdos-Mudos
de acircmbito nacional e o professor Francisco Lima Juacutenior veio como
delegado e responsaacutevel pela regiatildeo do Sul passando a residir nesta
capital (Florianoacutepolis)
O primeiro presidente da Sociedade dos Surdos-Mudos do
Distrito Federal que na eacutepoca era Rio de Janeiro foi o senhor Miguel
da Fonseca Seabra de Melo era grande colega do Francisco Mais tarde
com a construccedilatildeo de Brasiacutelia a associaccedilatildeo continuou no RJ soacute que
naquele momento natildeo mais como capital com o nome Sociedade dos
Surdos-Mudos do Brasil para finalmente Associaccedilatildeo dos Surdos do Rio
de Janeiro (ASURJ)
O grupo conversava na liacutengua de sinais numa reuniatildeo quando
chegou o presidente da ASURJ que tambeacutem era surdo O professor
Francisco foi apresentado e cumprimentou o senhor Miguel da Fonseca
Seabra de Melo que estava acompanhado de uma colega que ao ver o
professor Francisco sorriu O professor Francisco agradeceu pela ajuda
que o senhor Miguel deu ao Instituto Nacional de Surdos-Mudos e as
informaccedilotildees referentes agrave associaccedilatildeo
Na verdade o professor Francisco tinha contato e conversava
132
sempre com o amigo que estudou com ele no INES o senhor Salomatildeo
Watnick que foi primeiro presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos
do Rio Grande do Sul seu grande amigo que morava em Porto Alegre
Como o INES estava passando por reforma o professor
Francisco como tinha muitos amigos dos diferentes cursos e viagens
que fez conseguiu estudar na Escola Especial para Surdos-Mudos em
Satildeo Paulo que para ele era uma escola maravilhosa e excepcional onde
aprendeu muito
O grupo dos surdos de SC se perguntava como ganharia a vida
pois natildeo estavam felizes nas escolas especiais que na eacutepoca utilizavam
os meacutetodos oralistas onde os surdos natildeo podiam utilizar sinais Mas
encontraram o motivo da existecircncia na associaccedilatildeo do estado podendo
assim discutir e abrir caminhos para os surdos
5612 ndash Informante H
A informante H mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua
opiniatildeo sobre como aconteceu essa experiecircncia ldquoMudam porque as
pessoas mudam os tempos mudam assim como mudam as culturas e
diversas outras formas de liacutengua existentes entre elas Sendo a LIBRAS
tambeacutem uma forma de liacutengua ela acompanha estas mudanccedilas para que
os indiviacuteduos que dela fazem uso possam acompanhar a sociedade e
mundo do qual fazem parterdquo
A informante H nasceu em 26051946 em Satildeo Pedro de
Alcacircntara em Santa Catarina Durante sua infacircncia e adolescecircncia
morou com seus pais que eram agricultores
Ela teve que trabalhar na lavoura dos 6 ateacute os 18 anos de idade
cortava o capim que alimentava o gado roccedilava para limpar um paacutetio do
terreno e uma plantaccedilatildeo cercada onde se criavam vaacuterias galinhas patos
etc Plantavam vaacuterios tipos de flores e tinham uma horta Ela penteava
os cabelos dos cavalos para depois montaacute-lo corria e caiacutea no chatildeo num
desses passeios quebrou o braccedilo e diz que doeu muito Quando o
cunhado viu o braccedilo dela quebrado levou-a de carroccedila para o hospital
na cidade de Vidal Ramos em Santa Catarina Depois ela tinha que
ficar um mecircs com o gesso no braccedilo mas 15 dias depois na casa da
irmatilde olhava o rio e pulava no rio que brilhava acabou ficando coberta
de aacutegua e quase se afogou Para natildeo se afogar colocou as matildeos em cima
de uma pedra do rio ficou muito assustada e chorou muito o tio dela foi
quem a ajudou
O pai de H eacute brasileiro e lavrador Dedicava-se agrave criaccedilatildeo de gado
aves e na fabricaccedilatildeo de cachaccedilas que preparava das plantas que
133
produziam cana-de-accediluacutecar cafeacute e frutas Na casa natildeo tinha luz e era
utilizada a vela a fogueira e a lacircmpada de querosene
A matildee de H tambeacutem era brasileira costureira e lavradora
Trabalhava na propriedade na plantaccedilatildeo de milho feijatildeo arroz aipim e
verduras Os Pais de H tiveram 13 filhos 1 filha jaacute falecida com 1 ano e
um mecircs de gravidez gemular 3 filhas eram ouvintes 3 filhas eram
surdas 6 filhos eram ouvintes 1 filho era surdo A terra lavrada e
cultivada estaacute localizada em Satildeo Pedro de Alcacircntara Depois que o pai
morreu o terreno foi loteado e a informante H ficou com um dos lotes e
os irmatildeos deram a casa
O irmatildeo da informante H que era surdo jaacute falecido em 1976 foi
mordido por uma cobra venenosa Seu pai faleceu em 1989 e a matildee
faleceu em 1998
Em 1966 ajudava lavando roupas para fora nesta eacutepoca morava
com o primo numa casa localizada no bairro do Estreito ndash
FlorianoacutepolisSC Tinha trecircs vizinhos surdos e com eles conversava com
os sinais eou gestualidade Ela natildeo sabia conversar em LIBRAS com
outro surdo aprendeu com os vizinhos surdos que a avisavam das
reuniotildees de surdos que aconteciam no salatildeo do grupo Escolar Celso
Ramos
O professor Francisco ensinou aos surdos as regras do jogo de
bingo depois foram oferecidos cinco brindes para o jogo de bingo que
aconteceu no bairro de Capoeiras Ele perguntava para ela de onde vocecirc
eacute E ela respondia que morava em Satildeo Pedro de Alcacircntara Entatildeo o
Francisco foi junto com a informante H conhecer sua casa localizada no
siacutetio de Satildeo Pedro de Alcacircntara
Ela apresentou sua matildee para o senhor Francisco queria estudar e
aprender a liacutengua de sinais com Francisco presidente da associaccedilatildeo e
professor na escola para surdos Ela veio para a capital em 1966 aos 19
anos de idade onde aprendeu a Liacutengua Portuguesa Escrita matemaacutetica e
liacutengua de sinais na Escola Celso Ramos em Florianoacutepolis numa classe
de alunos surdos Alguns anos mais tarde ela trabalhou como costureira
na faacutebrica de renda e bordados Hoepcke
Ela fez alguns cursos de pintura em tecido bordado a maacutequina
Ela conta que sempre foi uma pessoa esforccedilada que buscava desafios na
sua aprendizagem o tempo todo e cada vez mais como autodidata que
aprendia muitas coisas como por exemplo cozinhar e alta costura
Passava sempre na escola era muito esforccedilada aprimorava muito a sua
aprendizagem de vida
O professor Francisco e ela viajavam pelo estado verificavam e
encontravam os surdos no interior do estado Ela entregou um anel para
134
a ex-rainha do Ciacuterculo de Surdo-Mudos de Santa Catarina ndash CSMSC
que era Catarina Ceciacutelia Schveitzer em 1993
5613 ndash Informante I
A informante I mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua
opiniatildeo sobre como aconteceu essa experiecircncia ldquoMudam a ldquoformardquo de
vida das pessoas na sociedade para que se adaptem a nova realidade e
as liacutenguas tambeacutem se modificam As liacutenguas de sinais tambeacutem mudam
criam-se palavras novas satildeo influenciadas por outras liacutenguas etc A
evoluccedilatildeo das coisas em geral estaacute acontecendo de forma muito raacutepida e
a LIBRAS sendo uma forma de comunicaccedilatildeo entre cultura surda e
ouvinte precisa acompanhar essa evoluccedilatildeo Quando uma determinada
coisa natildeo acompanha o desenvolvimento onde estaacute inserida a
tendecircncia eacute de ficar do lado de forardquo
A informante I nasceu em 01041948 em Blumenau veio de
uma famiacutelia de 6 irmatildeos onde 3 satildeo surdos e 3 satildeo ouvintes A matildee do
informante I descobriu que era surda quando tinha mais ou menos dois
anos de idade Apoacutes essa descoberta teve uma infacircncia normal era uma
crianccedila super ativa
Aos 7 anos de idade entrava na escola onde havia outras crianccedilas
surdas como ela Foi alfabetizada em Blumenau Depois lembrou que
tentava usar o seu aparelho auditivo mas como natildeo escutava nada
acabou rejeitando o aparelho
Tinha muita preocupaccedilatildeo com a educaccedilatildeo dos surdos Os pais
mandaram-na estudar num internato de crianccedilas surdas no Rio de
Janeiro aos 9 ou 10 anos de idade Ela natildeo se adaptou e retornou para
Blumenau A escola para surdos que frequentava em Blumenau ficou
sem a professora especializada e ela teve que ir para uma escola regular
O pai que era bancaacuterio pediu transferecircncia do banco para a cidade
de Florianoacutepolis para que a informante I e seus irmatildeos pudessem
continuar os estudos
Em Florianoacutepolis frequentaram a escola Celso Ramos onde a sala
dos surdos era de responsabilidade do professor Francisco Lima Juacutenior
O professor Francisco era uma pessoa muito importante nesta
eacutepoca a vida dele era ajudar o grupo de surdos atraveacutes da liacutengua de
sinais e ele lecionava no ensino fundamental e no curso primaacuterio
A informante I sempre foi muito curiosa queria mais e resolveu
fazer o curso ginasial por correspondecircncia pois na eacutepoca fazia o
segundo grau na escola de ouvintes tinha dificuldade tinha que aprender
tudo sozinha porque na escola o ensino era em portuguecircs falado difiacutecil
135
para o surdo entender (problema de comunicaccedilatildeo) Ela tinha vontade de
estudar na escola com o professor Francisco que ensinava na liacutengua de
sinais
Relembrou que naquela eacutepoca viu que foi muito difiacutecil quando
ela tinha duacutevidas os pais pagavam um professor para dar aulas
particulares Enfim venceu mas natildeo foi faacutecil Depois fez vaacuterios cursos
profissionalizantes como datilografia correspondecircncia comercial curso
de cabeleireira manicure pintura em tela corte e costura e tantos outros
que agora natildeo lembrava mais
Depois de tudo isso resolveu fazer o concurso para uma vaga de
escrituraacuterio no Banco do Estado de Santa Catarina ndash BESC e foi
aprovada trabalhou laacute por vaacuterios anos e agora jaacute estava aposentada
A informante I eacute casada e o companheiro tambeacutem eacute surdo
funcionaacuterio aposentado da Imprensa Oficial Queria muito ter filhos e
acabou tendo um filho que eacute ouvinte e hoje estaacute com 27 anos e tem
formaccedilatildeo acadecircmica com poacutes-graduaccedilatildeo Diz sentir-se realizada
Sua matildee tem hoje 87 anos e eacute a grande incentivadora de sua vida
eacute tambeacutem um grande exemplo de vida guerreira batalhadora e muito
religiosa Foi ela que ensinou o que eacute amor respeito e outros valores
morais tudo isso dentro da doutrina espiacuterita
A informante I diz ser uma pessoa realizada porque venceu
muitas barreiras conseguiu tirar a carteira de motorista e tambeacutem
aprendeu a utilizar a comunicaccedilatildeo no celular Internet MSN e e-mail
Nada foi faacutecil considera-se uma pessoa feliz adora assistir aos
filmes legendados os noticiaacuterios novelas enfim gosta de estar bem
informada
Contando a histoacuteria de sua vida quer mostrar agraves pessoas que pode
alcanccedilar qualquer coisa na vida e que natildeo eacute diferente dos outros A
diferenccedila estaacute na audiccedilatildeo mas pode usar os outros sentidos para se
comunicar e utilizar a liacutengua de sinais visual
562 ndash Grupo II ndash Informantes
Nas narrativas dos sujeitos surdos para a pesquisa no Grupo II
com idade intermediaacuteria de 30 anos a 60 anos de idade em
intermediaacuterio verificou-se que todos foram alunos do professor surdo
Francisco A seguir estatildeo expressas algumas opiniotildees destes surdos
nomeados de informantes D E e F
136
5621 ndash Informante D
A informante D mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua
opiniatildeo a respeito de como aconteceu essa experiecircncia ldquoCom o passar
do tempo ocorrem muitas mudanccedilas nas liacutenguas de sinais para suprir as
necessidades de comunicaccedilatildeo e as modificaccedilotildees de costumes de cada
geraccedilatildeo Os sinais satildeo criados de acordo com a necessidade de cada
grupordquo
A informante D nasceu em Florianoacutepolis num domingo no dia
quatro de outubro de mil novecentos e cinquenta e trecircs (04101953) em
casa sob os cuidados de uma parteira chamada de Dona Oliacutevia Nasceu
com audiccedilatildeo perfeita segundo diagnoacutestico de um meacutedico do hospital
das cliacutenicas em Satildeo PauloSP em 1961 O responsaacutevel pela sua perda de
audiccedilatildeo foi um medicamento chamado de trepdomicina usado para
acalmar a ldquotosse compridardquo ou Coqueluche Nessa eacutepoca natildeo havia
vacina para a doenccedila nos postos de sauacutede Sua matildee levou os filhos para
vacinar e constatou isso
A famiacutelia dela descobriu a surdez aos nove meses de idade Ela
tinha seis meses de idade quando foi acometida pelo viacuterus da
coqueluche e a irmatilde tambeacutem que na eacutepoca tinha 9 anos de idade
A matildee dela quando estava graacutevida tomou uma injeccedilatildeo
denominada 914 para curar infecccedilatildeo no aparelho genital feminino Esse
medicamento agiu negativamente na formaccedilatildeo dos ossos deixando-a
com o andar defeituoso parecendo que uma perna era mais curta que a
outra Ela foi para Satildeo Paulo levada pelo irmatildeo e pelo padrinho para
tratamento Foi submetida a quatro cirurgias entre 1961 a 1963 mas
que surtiram pouco resultado comprovado em 1980 Daiacute para frente
voltava a ter uma perna mais curta e sente muitas dores ao andar e
sentar
Em 1964 iniciava seus estudos na escola para surdos de
Florianoacutepolis no grupo Celso Ramos Seu primeiro professor surdo foi
o Francisco que lhe dava aula na liacutengua de sinais Francisco tambeacutem
ensinava LIBRAS no Ciacuterculo dos Surdos Mudos de Santa Catarina na
escola primaacuteria e na associaccedilatildeo de surdos
Em 1975 fazia teste para ingressar como funcionaacuteria no BESC
sendo admitida como escrituraria em 18091975 e se aposentou em
19112002 Ela aprendeu a dirigir automoacutevel fez curso de datilografia
e por uacuteltimo fez curso baacutesico de computador para saber operaacute-lo Fez
curso de pintura a oacuteleo em tela e em tecido Procurava cuidar de sua
sauacutede indo ao meacutedico regularmente
Ela eacute associada e participa da diretoria da Associaccedilatildeo de Surdos
137
da Grande Florianoacutepolis ndash ASGF eacute tambeacutem voluntaacuteria nas atividades
que a associaccedilatildeo desenvolve em benefiacutecio de seus amigos surdos que
frequentam a mesma associaccedilatildeo Hoje ensina LIBRAS para os
associados de qualquer idade
5622 ndash Informante E
O informante E mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua
opiniatildeo de como aconteceu essa experiecircncia ldquoAssim como a liacutengua
portuguesa evolui ou muda com o passar do tempo LIBRAS tambeacutem
passa por mudanccedilas constantes estas podem ser de regiatildeo para regiatildeo
por exemplo a liacutengua de LIBRAS acompanha a evoluccedilatildeo do mundo
sendo hoje uma liacutengua para a comunicaccedilatildeo dos surdosrdquo
O informante E nasceu na maternidade Carmela Dutra no Centro
de Florianoacutepolis no dia 03 de Novembro de 1957 Ele ficou surdo aos
quatro anos de idade (causado por remeacutedios ministrados errados por sua
matildee nos ouvidos quando estava com febre dor de ouvidos e caxumba)
Com 53 anos eacute presidente de entidade esportiva de Santa
Catarina desde 1999 reeleito pela segunda vez com gestatildeo ateacute 2011
sendo um dos liacutederes dos surdos de Santa Catarina Foi um dos
fundadores da Sociedade de Surdos de Satildeo Joseacute atuou nela de 1990 a
1996 uma entidade que crescia muito e eacute considerada a mais organizada
no estado de Santa Catarina
Ele escolheu o sobrenome diferente na campanha poliacutetica que
concorreu para vereador de Satildeo Joseacute de 2003 a 2007 em homenagem agrave
sua avoacute-materna jaacute falecida descendente de alematildees que lhe criou por
mais de 10 anos junto com o marido descendente de portugueses que
natildeo conhecera pois a avoacute dele ficara viuacuteva quando o pai dele era
solteiro Portanto queria preservar o sobrenome da avoacute-matildee dele como
lembranccedila
Os pais dele estavam preocupados com sua infacircncia com sua
situaccedilatildeo futura e por isso procuravam incansavelmente a existecircncia de
uma escola especial para surdos
Finalmente acharam a escola localizada na Rua Conselheiro
Mafra no Centro de Florianoacutepolis Era uma sala comercial tipo garagem
grande (perto do antigo terminal urbano hoje Terminal Cidade de
Florianoacutepolis) foi ali onde encontraram a primeira escola para surdos
onde ele aprendeu a liacutengua de sinais aos 6 anos de idade
Ele estudou com o primeiro professor surdo do estado de Santa
Catarina O professor Francisco e sua esposa que era ouvinte e tambeacutem
professora chamava-se Mercedes e foi a primeira inteacuterprete dele Neste
138
momento existiam outros alunos surdos que eram Niro Paulo Percy
Socircnia Maria da Graccedila Maria Bernadete Aldenei Rita Reinoldo
Edson Ivo (falecido) Arnoldo e outros que ele natildeo lembrava
No comeccedilo do aprendizado dele da liacutengua de sinais achava
estranho e natildeo lhe agradava muito fazendo com que ele natildeo quisesse
estudar ali mas foi a matildee dele que o incentivou a continuar estudando
e com o tempo foi gostando da escola e do grupo de amigos surdos
isto foi em 1971
Essa escola foi transferida de local e foi para a EEB
Governador Celso Ramos no bairro Prainha em Florianoacutepolis no ano
de 1972 Esta nova escola ele adorava muito e guarda boas recordaccedilotildees
vividas nela
Infelizmente ele natildeo lembrava do ano em que foi transferido para
o Instituto de Audiccedilatildeo e Terapia da Linguagem ndash IATEL situado na
Rua Liberato Bittencourt no Centro de Florianoacutepolis numa casa
simples e alugada Ficou muito contrariado com esta transferecircncia
Nessa eacutepoca tinha mais ou menos 13 anos Proacuteximo aos 15 anos ele
abandonou o IATEL porque tinha que trabalhar para sustentar a avoacute
dele que era viuacuteva e pobre Sua avoacute tambeacutem natildeo gostava desta escola e
tambeacutem das novas professoras que eram ouvintes e que natildeo sabiam usar
a liacutengua de sinais obrigando os surdos a oralizarem
Aos 14 anos ele jaacute trabalhava em uma empresa de comunicaccedilatildeo
visual (luminosos) Apoacutes um ano ele mudava de ramo para a funccedilatildeo de
auxiliar de escritoacuterio em duas empresas de contabilidade Depois disso
ele fundou uma empresa proacutepria de comunicaccedilatildeo visual em sociedade
com seu pai no ramo de letreiros em placas paredes e etc O nome da
empresa comprada foi modificado e mais tarde fez sociedade com o
irmatildeo caccedilula Para seu irmatildeo caccedilula foi um aprendizado e hoje ele eacute
proprietaacuterio de uma empresa no mesmo ramo residindo em Blumenau
Em 2000 deixava este ramo e comeccedilava a estudar para ter a
formaccedilatildeo de professor na Liacutengua de Sinais aos 43 anos Ele Trabalhou
como professor em Admissatildeo em Caraacuteter Temporaacuterio ndash ACT e na
Fundaccedilatildeo Catarinense de Educaccedilatildeo Especial - FCEE como assessor
teacutecnico na Educaccedilatildeo de Surdos de 2003 a 2005 Trabalhou tambeacutem
como ACT no Centro Educacional Municipal Interativo Floresta em Satildeo
Joseacute no Nuacutecleo de Educaccedilatildeo Especial e Inclusiva - NEESPI como
professor de LIBRAS de 2006 a 2007 Foi docente dos cursos de
LIBRAS de 2000 a 2007
A partir de 2008 deixava o cargo de professor de LIBRAS para
focar os compromissos somente nos esportes Atualmente atua numa
entidade esportiva de surdos desde 1999 nesta com 12 associaccedilotildees
139
filiadas organizando em meacutedia sete (7) eventos esportivos por ano
Portanto os pensamentos deles e seus compromissos satildeo voltados para a
comunidade surda
5623 ndash Informante F
O informante F mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua
opiniatildeo de como aconteceu essa experiecircncia ldquoPorque assim como toda
liacutengua ela sofre das mudanccedilas histoacutericas e culturais as liacutenguas satildeo
dinacircmicas e natildeo estaacuteticas por isso elas vivem sofrendo alteraccedilotildees e com
as liacutenguas de sinais ocorre o mesmo Essas mudanccedilas podem ser
percebidas nas diferentes regiotildees onde satildeo utilizadas a mesma liacutengua
mesmo sendo a mesma liacutengua ela possui algumas diferenccedilas em
algumas palavras ou expressotildeesrdquo
O informante F nasceu 04071958 em Florianoacutepolis eacute casado e
tem 52 anos Nasceu surdo a famiacutelia dele sempre lhe deu apoio
levaram-no a vaacuterios lugares para consultar com meacutedicos procuravam
um tratamento mas de acordo com os meacutedicos ele natildeo tinha muita
chance de desenvolver audiccedilatildeo e a fala Nesta eacutepoca natildeo existiam no
Estado de Santa Catarina escolas especializadas para surdos e como o
pai dele era militar natildeo podia morar em outro Estado Entatildeo seu pai
matriculou-o numa escola regular mas as professoras natildeo sabiam a
liacutengua de sinais e era muito difiacutecil para ele aprender
A alfabetizaccedilatildeo dele natildeo foi muito boa e para melhorar um pouco
o aprendizado tinha aulas com o professor surdo Francisco Lima Juacutenior
que lhe ensinava as palavras utilizando o alfabeto manual e a liacutengua de
sinais para o aprendizado da Liacutengua Portuguesa Escrita e tambeacutem para
alguns alunos surdos
Em sua famiacutelia se comunicava atraveacutes de sinais caseiros que de
acordo com ele foi muito bom e os utiliza ateacute hoje
Apesar das dificuldades nos estudos tinha sorte pois conseguiu
emprego Neste emprego que era na Central de Luz Eleacutetrica de Santa
Catarina ndash CELESC sempre foi muito bem tratado Tinha muitos
amigos na associaccedilatildeo de surdos na escola e no trabalho e para se
comunicar ensinava alguns sinais bem baacutesicos para os amigos para que
assim natildeo tivessem problemas quanto agrave comunicaccedilatildeo
Ele trabalhou sempre na CELESC na cidade de Florianoacutepolis
pois foi aprovado em um teste naquela eacutepoca natildeo havia concursos
Depois foi transferido algumas vezes para outras cidades como
Blumenau Joinville e Jaraguaacute do Sul Iniciou como auxiliar de serviccedilos
gerais depois passou a auxiliar administrativo e por uacuteltimo como
140
motorista
Foi presidente de vaacuterias Associaccedilotildees de Surdos uma dessas em
1989 que foi fechada neste mesmo ano e outra em dois mandatos
20052008 Ele jogou em vaacuterios times nas associaccedilotildees de surdo de Santa
Catarina Ele preferia jogar futebol de salatildeo - FUTSAL
Ele sempre participou e ateacute hoje participa de encontros com
surdos na liacutengua de sinais seja em associaccedilotildees ou outros eventos
Atualmente mora na cidade de Londrina ndash Paranaacute
563 ndash Grupo III ndash Informantes
Nas narrativas dos sujeitos surdos do Grupo III com idades entre
15 a 30 anos sendo o grupo dos mais jovens e que participam de
associaccedilotildees de surdos em Santa Catarina foram expressas algumas
opiniotildees desses surdos aqui nomeados de informantes A B e C
Seguem abaixo relatos e experiecircncias dos informantes
5631 ndash Informante A
O informante A mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua
opiniatildeo a respeito de como aconteceu essa experiecircncia ldquoNatildeo diria que
ldquomudardquo mas sim sofre modificaccedilotildeesalteraccedilotildees com o tempo e como
qualquer outra liacutengua dependendo do estadopaiacutes em que eacute ldquofaladardquo teraacute
adaptaccedilotildees conforme a necessidade de cada lugar Sendo que ateacute mesmo
em casa quando a crianccedila natildeo tem contato com LIBRAS em um
primeiro momento ela e sua famiacutelia se apropriam de sinais proacuteprios para
a comunicaccedilatildeordquo
O informante A nasceu em 18121980 no Balneaacuterio Camboriuacute
nasceu surdo comunica-se por meio de gestos com a famiacutelia Sua
famiacutelia sempre mostrou preocupaccedilatildeo com ele levaram-no a atendimento
fonoaudioloacutegico para que aprendesse a falar mas tinha dificuldades
poreacutem era esforccedilado Somente mais tarde encontrava a comunidade
surda na escola Quando ele teve atendimento especial e natildeo era
utilizada a liacutengua de sinais somente alguns gestos acabava desistindo e
parava de estudar Retornando agrave escola com ouvintes quando ele tinha
17 anos de idade encontrava os surdos que o convidaram a participar
de uma festa na associaccedilatildeo de surdos foi quando comeccedilou a aprender a
LIBRAS e ficou feliz pois comunicava-se com todos na LIBRAS jaacute
que era um modo mais faacutecil de aprender e memorizar os conteuacutedos jaacute
com o oralismo era muito sofrido
Ele fundou uma Associaccedilatildeo de Surdos na cidade onde mora Na
141
associaccedilatildeo motivou o uso da LIBRAS valorizou o contato entre os
membros da comunidade surda e a LIBRAS assim como a educaccedilatildeo
formal Ele sentia-se satisfeito pois se comunicava com os amigos
usando a leitura labial e os gestos mesmo assim perdia algumas
informaccedilotildees por natildeo ouvir Mais tarde encontrava-se com grupos de
surdos e comeccedilou entatildeo o contato da LIBRAS e percebia que por meio
da LIBRAS ele poderia receber mais informaccedilotildees do que pela leitura
labial e a partir de entatildeo conseguiu viver melhor na sociedade Lutou
para inserir a LIBRAS no ensino dos surdos porque sabia na praacutetica que
facilita o aprendizado do surdo
Hoje estaacute casado e sua esposa eacute surda Formou-se na faculdade de
gastronomia pela UNIVALI e tem o curso de especializaccedilatildeo em
educaccedilatildeo especial Atualmente faz curso de LetrasLIBRAS e sua
turma eacute composta na maioria por surdos que estatildeo gostando do curso
tendo a oportunidade de trocar ideacuteias experiecircncias bem como buscar
novos conhecimentos
Ele eacute Instrutor de LIBRAS efetivado pela prefeitura de Itajaiacute
aleacutem de trabalhar como professor de LIBRAS em outros lugares
Tambeacutem realiza trabalhos voluntaacuterios em algumas entidades
(Associaccedilatildeo FENEIS Federaccedilatildeo etc) Jaacute atuou em vaacuterios cargos de
diretoria na Associaccedilatildeo de Surdos de Balneaacuterio Camboriuacute isso foi bom
porque ele aprendeu sobre poliacutetica sobre organizaccedilatildeo e tambeacutem a
utilizar estrateacutegias diferentes para as accedilotildees etc
5632 ndash Informante B
O informante B mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua
opiniatildeo sobre como aconteceu essa experiecircncia ldquoA LIBRAS eacute uma
liacutengua porque possui uma forma de comunicaccedilatildeo proacutepria Ė
independente como qualquer outra liacutengua escrita ou falada Tem
formato proacuteprio sua comunicaccedilatildeo eacute visual pois se utiliza de gestos e
expressotildees Como todas as liacutenguas tem variaccedilotildees conforme a regiatildeordquo
O informante B nasceu em 08011985 na cidade de Tijucas em
Santa Catarina Atualmente mora em Itapema e tem 25 anos Ele nasceu
surdo mas seus pais soacute descobriram sua surdez aos nove meses de
idade entatildeo ficaram apavorados e natildeo sabiam como ele iria se
comunicar na sociedade Depois o pai dele levou-o para uma escola em
Florianoacutepolis chamada de IATEL onde ateacute a 3ordf seacuterie utilizavam a
linguagem oral e muito pouco gestual Na eacutepoca os gestos (sinais) natildeo
eram reconhecidos como uma liacutengua
Os pais dele escolheram uma escola da Rede Regular de Ensino
142
na eacutepoca nem era pensado em inteacuterprete de LIBRAS ateacute porque essa
natildeo era uma liacutengua oficializada Eles natildeo conheciam a comunidade
surda e sua cultura entatildeo decidiram que seu filho frequentaria
atendimento fonoaudioloacutegico dois dias por semana
Para o informante B seus pais tentavam criaacute-lo como ouvinte o
que para ele caracteriza uma tentava de modificar sua identidade surda
Ele relata que tinha muita dificuldade de comunicar-se com as pessoas
na sociedade que utilizava a liacutengua falada
Mais tarde aos 16 anos de idade foi para uma escola de educaccedilatildeo
especial onde teve aulas de informaacutetica com outros surdos entatildeo podia
utilizar a LIBRAS Antes ele ficava isolado natildeo gostava e natildeo podia
usar a liacutengua de sinais comeccedilava a aprender a falar mas demorava
muito Agora aceita sua identidade surda sente-se mais feliz e melhor
Participa de uma associaccedilatildeo de surdos e viaja para vaacuterios lugares nas
diferentes regiotildees de Santa Catarina
Ele trabalhou como analista de sistemas na aacuterea de informaacutetica da
empresa Ceracircmica Portobello em Tijucas ficava muito incomodado
com a barreira de comunicaccedilatildeo com os funcionaacuterios em virtude de terem
muito trabalho pois o surdo precisa das matildeos para falar e se estaacute com
elas ocupadas trabalhando fica impossiacutevel comunicar-se diferente dos
ouvintes Tentou ensinar alguns sinais para os funcionaacuterios para que lhe
entendessem e pudessem se comunicar com ele mas os funcionaacuterios
desviavam para outro assunto natildeo demonstravam interesse em aprender
sinais Sofria por passar o dia inteiro de trabalho sem poder se
comunicar com outra pessoa disfarccedilava esse sentimento acessando a
Internet para realizar pesquisas de temas relacionados agrave educaccedilatildeo de
surdos (palestras congressos encontros etc) Entatildeo numa destas
pesquisas achou um congresso de surdos anotou a data e mostrou ao
chefe que o liberou para ir ao congresso (encontro surdo)
Ele acredita que as pessoas natildeo tinham culpa pois oralismo era a
forma de ensinar naquela eacutepoca e para os surdos era muito difiacutecil de
compreender e aprender a liacutengua falada Aprendeu LIBRAS na
comunidade surda Apoacutes a liberaccedilatildeo para o congresso pelo seu chefe
comeccedilou a frequentar a associaccedilatildeo de surdos e outros eventos da
comunidade surda
Ele participou de um concurso no municiacutepio de Itajaiacute para o
cargo de instrutor de LIBRAS Foi classificado em terceiro lugar
conseguiu um trabalho e seus pais deixaram que ele morasse sozinho
em Itajaiacute Morou sozinho por um ano trabalhava durante o dia e
estudava na faculdade agrave noite Com o passar do tempo conheceu
pessoas e fez amizade com outros surdos que no segundo ano dividiram
143
o aluguel da casa com ele
Alguns surdos convidaram ele para um encontro de surdo
(nacional congresso e entre outros) Foi possiacutevel fazer novas amizades e
entrar em contato com outros sujeitos surdos pois neste espaccedilo tinha
surdo sentado ao lado surdo no bar e em outros momentos do
congresso
Ao teacutermino do encontro pegou os endereccedilos eletrocircnicos das
pessoas que conheceu e assim pode manter correspondecircncia com outros
surdos atraveacutes de e-mails nas diferentes regiotildees do estado de SC
Depois de algum tempo de troca de e-mails combinou encontros e
viajou para o sul sudeste nordeste norte do Brasil e etc encontrou-se
com muitos surdos que se comunicavam na liacutengua de sinais e aprendeu
muitos sinais novos onde percebeu que havia muitas diferenccedilas nos
sinais que cada regiatildeo tinha sinais especiacuteficos daquele lugar
Quando o curso de LetrasLIBRAS da UFSC foi aprovado pelo
MEC e abriram-se as inscriccedilotildees trecircs instrutores de LIBRAS jaacute haviam
prestado o vestibular tiveram uma prova com 15 questotildees referentes a
LIBRAS utilizaram na apresentaccedilatildeo para seleccedilatildeo dos candidatos slides
e videoconferecircncia com todos os candidatos Ficou admirado e achou
muito legal o grupo de surdo que estava laacute e disse ldquoPassei a ver o
mundo diferente ao teacutermino da provardquo
Ele trabalhou como instrutor de LIBRAS por 4 anos e recebeu 14
alunos surdos para atendimento no processo de aprendizagem da
LIBRAS E tambeacutem ensinou sobre a relaccedilatildeo de aprendizagem do aluno
surdo em LIBRAS para os colegas Ele formou-se no curso de ciecircncias
da computaccedilatildeo e fez poacutes-graduaccedilatildeo no processo de inclusatildeo e educaccedilatildeo
especial Atualmente estaacute cursando a faculdade de LetrasLIBRAS pela
UFSC
5633 ndash Informante C
O informante C mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua
opiniatildeo de como aconteceu essa experiecircncia ldquoA liacutengua de sinais assim
como todo o contexto no qual estamos inseridos sofre mudanccedilas e
adaptaccedilotildees durante o decorrer de nossas vidas por questotildees de
adaptaccedilatildeo comportamento e culturardquo
O informante C nasceu em 12021986 em Santa MariaRS surdo
de nascenccedila morando em Florianoacutepolis haacute pouco tempo Voltando ao
passado dele desde pequeno adorava brincar mexer experimentar as
coisas novas o que tinha por perto Certa vez sua avoacute chamou-o falava
o seu nome mas como ele natildeo escutava nenhuma letra e nenhum som
144
que veio da voz da avoacute natildeo a atendeu Ela estranhou a atitude dele pois
ele nunca deu atenccedilatildeo para ela quando ela gritava ou chamava pelo seu
nome Pra ela era impossiacutevel uma crianccedila que natildeo respondia aos sons
Entatildeo ficou desconfiada que ele poderia ser surdo Resolveu pedir aos
pais dele para levaacute-lo a um meacutedico para descobrir a causa do problema
Mas seus pais tinham dificuldade de aceitar essa ideacuteia e de levaacute-lo para
o meacutedico parecia que tinham medo que ele realmente fosse surdo Ficou
assim sem comunicaccedilatildeo
A matildee dele assustada chorava muito e o pai dele ficou furioso
Pois o medo deles era de jamais se comunicarem com o filho que eles
amavam muito Entatildeo o meacutedico deu um conselho para a matildee dele que
era conhecer as pessoas surdas que se comunicavam atraveacutes da
LIBRAS ou entatildeo fazer atendimento e acompanhamento com
fonoaudioacuteloga para aprender a falar eou melhorar a fala
A matildee dele decidiu em primeiro lugar ir numa escola onde tinham
pessoas surdas laacute conheceu algumas pessoas surdas e achou que eram
pessoas legais Conversou com essas pessoas surdas que conheceu
sobre seu filho que era surdo Queria saber como poderia se comunicar
com uma crianccedila surda pois o objetivo da matildee era poder se comunicar
com o filho Entatildeo pediu ajuda de um surdo jovem Ele explicou para
ela que devia fazer um curso de LIBRAS que eacute a Liacutengua de Sinais
Brasileira que as pessoas surdas utilizam para se comunicarem com
facilidade
Ele crescia e no seu desenvolvimento viveu muita coisa
conseguiu mexer comer tudo A matildee dele comunicava-se com ele
atraveacutes dos sinais ele via as matildeos da matildee que natildeo parava de mexer
estranhava mas repetia para entender aquele conceito o que ela queria
dizer ela sinalizava e mostrava as coisas ateacute que ele entendia o
conceito
A matildee dele era uma pessoa bastante simples e feliz com os filhos
Tem um irmatildeo que eacute um ano mais velho do que ele o irmatildeo aprendeu a
usar sinais com ele e a matildee e podiam se comunicar daiacute eles
melhoraram muito a comunicaccedilatildeo tornaram-se grandes amigos sempre
brincaram juntos brigavam choravam gritavam e reclamavam Mas
eles eram grandes amigos
Ele mais observava as coisas a seu redor e se admirava com o que
via Depois de alguns meses sua irmatilde cresceu um pouco conseguiu
perceber as coisas comeccedilou a falar com ela atraveacutes de sinais ela
aprendeu essa liacutengua com ele como se fosse a primeira liacutengua da vida
dela Uma vez teve uma festinha laacute em sua casa estava toda a famiacutelia
reunida passou um aviatildeo sua irmatilde ouviu o barulho do aviatildeo e sinalizou
145
um aviatildeo todo mundo viu e se assustaram principalmente a matildee dele
pois natildeo sabia que a filha sinalizava sendo tatildeo pequena Sua matildee ficou
tatildeo contente e bateu uma foto dela sinalizando
Como cresceu sempre podendo se comunicar na liacutengua dos sinais
acreditava viver muito ldquonormalizadordquo Tinha uma famiacutelia e amigos
surdos estudou em escolas com outras crianccedilas surdas e relata como ele
se divertia muito
Depois de certo tempo a escola natildeo funcionava somente para
crianccedilas surdas sua matildee ficou muito preocupada com sua educaccedilatildeo
combinou com seu pai e com toda sua famiacutelia a mudanccedila para a cidade
de Florianoacutepolis ndash Santa Catarina pois soube que havia uma escola
especial para ele onde poderia crescer com uma educaccedilatildeo de qualidade
Quando chegou agrave capital de SC Florianoacutepolis simplesmente
amou a cidade porque ele curtia bastante as praias o pai alugou uma
casa bem legal na Barra da Lagoa e todos os dias ia sozinho para a
praia brincava na areia e construiacutea castelos
O informante C relata que curtiu bastante aquele veratildeo
mudaram-se dessa casa para outra que construiacuteram no bairro Carianos
ele natildeo gostava muito do lugar achava meio estranho porque para ele
ficava muito longe das praias Mas com o tempo ele se acostumou ateacute
fez amizades com os vizinhos que eram ouvintes Ele natildeo sabia como
comunicar-se com eles pois usavam a fala ele sentiu vergonha e medo
Ficava atraacutes de sua matildee que explicava para os vizinhos que ele era
surdo que natildeo sabia falar quase nada apenas sabia LIBRAS eles
ficavam admirados e convidavam-no para brincar Tinha amigos que
eram tranquilos porque o pai deles era surdo tambeacutem
O tempo passava e ele brincava sempre com esses amigos curtia
muito mas ele percebeu que se comunicavam soacute oralmente soacute ele natildeo
estranhava Foi falar com sua matildee sobre essa situaccedilatildeo pois ele queria
poder falar tambeacutem sua matildee se surpreendeu com a ideacuteia dele que era
ldquoquerer poderrdquo falar tambeacutem Para sua matildee foi uma surpresa porque
ouvia muito que a maioria das pessoas surdas natildeo aguentava aprender a
falar e seu proacuteprio filho estava querendo aprender a falar
Ele resolveu ser soacutecio de uma associaccedilatildeo de outra cidade natildeo
gostava da anterior e se mudou para Associaccedilatildeo dos Surdos da Grande
Florianoacutepolis ele fez amizade com o pessoal viajou muito se divertia
saiacutea e curtiu bastante Participava das reuniotildees da associaccedilatildeo tambeacutem
Depois virou Conselheiro Fiscal da Associaccedilatildeo gostou da experiecircncia
mas continuou sendo soacutecio Mas por outro lado andava observava e
estudava bastante e percebeu o mundo cada vez mais veloz por causa
da tecnologia e a sociedade que natildeo parava de mudar Depois que
146
terminou o terceiratildeo teve uma formatura incriacutevel em que chorou um
monte pois teve medo de perder o contato com as colegas de sala mas
tambeacutem porque ele aprendeu a amar esses amigos como se fossem de
sua famiacutelia
Comeccedilou uma faculdade na UFSC gostou bastante e fez novas
amizades comeccedilou a trabalhar como AtorTradutor Cinegrafista Editor
de Viacutedeos na UFSC tudo isso como bolsista Ele tornou-se bem
conhecido nacionalmente na comunidade surda comeccedilou a viajar
bastante para congressos e palestras Depois de um ano de sucesso em
sua vida acabou o contrato de bolsista pela UFSC e comeccedilou a
trabalhar como professor na prefeitura foi um grande desafio para ele
pois tinha professoras ouvintes que trabalhavam na educaccedilatildeo especial
que pensavam diferente dele com relaccedilatildeo agrave comunicaccedilatildeo na liacutengua de
sinais
Hoje em dia continua sendo conhecido nacionalmente na
comunidade surda eacute estudante do uacuteltimo periacuteodo da LetrasLIBRAS na
UFSC e estaacute trabalhando em duas escolas da prefeitura como professor
de LIBRAS
564 ndash Algumas consideraccedilotildees finais
Os informantes mostraram sua histoacuteria e nela pude perceber que
sinalizavam diferentemente uma mesma palavra principalmente aqueles
que viveram em lugares diferentes
Sabemos que a histoacuteria humana sofre transformaccedilotildees ao longo do
tempo mas nem sempre os seres humanos se datildeo conta das mudanccedilas
que podem acontecer no passado no presente e no futuro Na sociedade
acontecem transformaccedilotildees tecnoloacutegicas poliacuteticas econocircmicas sociais e
culturais Todas essas transformaccedilotildees influenciam o modo como usamos
a liacutengua E a liacutengua se modifica com o tempo
Noacutes tambeacutem mudamos as ldquocoisas da vidardquo A comunidade surda
tem um jeito proacuteprio de demonstrar as variaccedilotildees regionais e mudanccedilas
quanto agrave liacutengua de sinais a ponto de ser possiacutevel identificar a
procedecircncia de um surdo do nordeste ou do sul com base apenas no seu
gestual
A comunidade surda antigamente apresentava uma forma de
conversar em LIBRAS mais cotidiana e restrita agrave associaccedilatildeo de surdos
mas na atualidade a comunicaccedilatildeo eacute mais ampla acontece em vaacuterios
locais como escolas universidades congressos viagens turiacutesticas etc
ampliando conhecimentos e conhecendo novos sinais em contexto
social
147
Um surdo conversa com outro surdo utilizando a liacutengua de sinais
e qualquer pessoa ouvinte pode aprender LIBRAS e se comunicar na
comunidade surda mesmo natildeo tendo fluecircncia Dessa forma os surdos e
ouvintes podem se comunicar na LIBRAS Aleacutem disso a comunicaccedilatildeo
entre duas ou mais pessoas pode se dar em diferentes contextos sociais
Vale ressaltar que poucos surdos conheciam a gramaacutetica ou tinham
conhecimento linguiacutestico da LIBRAS ateacute porque eacute uma liacutengua que estaacute
sendo ensinada para o surdo nas escolas a partir da LEI de
reconhecimento e ainda natildeo eacute ensinada a parte de reflexatildeo linguiacutestica
estaacute mais voltada para sua praacutetica (o uso)
Segundo Labov
Ao falar do papel de fatores sociais que influenciam a
evoluccedilatildeo linguiacutestica eacute importante natildeo superestimar o
grau de contato ou de superposiccedilatildeo entre valores sociais
e a estrutura da liacutengua A estrutura linguiacutestica e a
estrutura social natildeo satildeo de modo algum coextensivas A
grande maioria das regras linguiacutesticas estatildeo bastante
distantes de qualquer valor social elas fazem parte do
elaborado mecanismo de que o falante precisa para
traduzir seu complexo conjunto de significados ou
intenccedilotildees em forma linear (LABOV 2008 [1972] p
290)
Em vaacuterios lugares (regiotildees) da comunidade surda usar a LIBRAS
em breve vai ser como falar em inglecircs em francecircs em italiano e em
outras liacutenguas Todas as liacutenguas satildeo importantes poreacutem alguma pode
ser mais reconhecida no mundo e influenciar mais Natildeo podemos
descartar a possibilidade de outras liacutenguas serem mais reconhecidas
assim como natildeo podemos prever quais liacutenguas influenciaratildeo mais no
mundo em outras eacutepocas quais dialetos novos teremos e quais variaccedilotildees
e mudanccedilas linguiacutesticas Talvez no futuro tenhamos mais influecircncia das
liacutenguas de sinais na comunicaccedilatildeo do mundo
148
149
CAPIacuteTULO VI ndash Descriccedilatildeo e anaacutelise dos resultados
61 ndash Introduccedilatildeo
Realizei a pesquisa escrita baseado nos relatos dos informantes
das trecircs geraccedilotildees pesquisadas atraveacutes de filmagem Primeiro busquei
nessas filmagens sinais que fossem relevantes para a pesquisa
variaccedilotildees e mudanccedilas lexicais e variaccedilotildees e mudanccedilas fonoloacutegica na
LIBRAS Em seguida fiz uma listagem de sinais com a palavra
correspondente em Liacutengua Portuguesa observando o nuacutemero de vezes
em que o sinal era apresentado aparecia Depois escolhi os sinais que
mais apareciam nos trecircs grupos de informantes e verifiquei as CM (paacuteg
225 e 227) que apareceram Apoacutes isto fiz tabelas gerais para pesquisa
de variaccedilatildeo lexical mudanccedila lexical variaccedilatildeo fonoloacutegica e mudanccedila
fonoloacutegica Foram escolhidos dezessete sinais para anaacutelise porque
apareceram nos trecircs grupos e em maior nuacutemero Apoacutes a escolha dos
sinais construiacute quatro tabelas gerais com os sinais produzidos pelos trecircs
grupos pesquisados com a CM utilizada na sinalizaccedilatildeo Por fim fiz a
anaacutelise dos dados obtidos
Ressalto que a descriccedilatildeo dos informantes que realizaram as
entrevistas nas trecircs geraccedilotildees em diferentes faixas etaacuterias traz
informaccedilotildees de grande importacircncia para a anaacutelise dos dados obtidos
referentes agraves possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas na Liacutengua de
Sinais em Santa Catarina
Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os seguintes toacutepicos
comparaccedilatildeo dos dados dos grupos das trecircs geraccedilotildees de surdos na liacutengua
de sinais e descriccedilatildeo sobre variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na liacutengua de
sinais com a existecircncia de um ou mais sinais dos informantes das trecircs
geraccedilotildees descriccedilatildeo da variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua de
sinais e explicaccedilatildeo de como o mesmo sinal pode ser utilizado e por
fim anaacutelise dos resultados das trecircs geraccedilotildees dos informantes
considerando as variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas na Liacutengua Brasileira
de Sinais
62 ndash A comparaccedilatildeo dos dados o grupo de trecircs geraccedilotildees de surdos
na liacutengua de sinais
Os dados recolhidos no programa de transcriccedilatildeo na liacutengua de
sinais ndash ELAN foram analisados e comparados com o propoacutesito de
mostrarapontar possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas que
aconteceram na liacutengua de sinais em Santa Catarina Os informantes
150
apresentaram individualmente suas respostas ao questionaacuterio referente a
seu aprendizado escolar e a sua vida Essas apresentaccedilotildees gravadas em
viacutedeo tecircm o objetivo de mostrar a experiecircncia na liacutengua de sinais dos
informantes nas trecircs geraccedilotildees pesquisadas
Para anaacutelise dos dados recolhidos foi feita uma tabela
denominada Preliminar dos dados ndash variaccedilotildees ou mudanccedilas
linguiacutesticas Nessa tabela vemos a transcriccedilatildeo dos depoimentos e a
identificaccedilatildeo dos Grupos (I II e III) de surdos que narraram a sua
experiecircncia na liacutengua de sinais Seguem as principais abordagens
pesquisadas
No primeiro momento investigo a variaccedilatildeo e
mudanccedila lexical na Liacutengua Brasileira de Sinais onde
dois ou mais sinais existem na liacutengua ao mesmo tempo
descrevo a mudanccedila em dois sinais que se daacute quando o
antigo sinal some e um novo entra
No segundo e uacuteltimo momento investigo a variaccedilatildeo e
mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua Brasileira de Sinais em
que um mesmo sinal possui mais de uma forma de
realizaccedilatildeo descrevo a mudanccedila que se observa quando um
sinal altera de caracteriacutesticas com relaccedilatildeo aos paracircmetros
configuraccedilatildeo das matildeos ponto de articulaccedilatildeo e movimento
Foi interessante realizar a pesquisa dos dados dos trecircs grupos
porque eacute um desafio aleacutem de me permitir identificar os sinais das
geraccedilotildees pesquisadas A princiacutepio foram identificados os sinais que
eram utilizados pelos surdos mais velhos e que os jovens natildeo
conheciam Em seguida os sinais com configuraccedilatildeo de matildeos (CM) e
ponto de articulaccedilatildeo (PA) diferentes e tambeacutem os sinais com
configuraccedilatildeo de matildeos (CM) iguais e ponto de articulaccedilatildeo (PA)
diferentes Por uacuteltimo os sinais com configuraccedilatildeo de matildeos (CM)
diferentes e ponto de articulaccedilatildeo (PA) iguais
Os sinais apresentados pelos informantes das trecircs geraccedilotildees
totalizaram 255 sinais Nesse total foram utilizados 17 vocaacutebulos para a
anaacutelise dos resultados e levantamento dos sinais de cada informante dos
trecircs Grupos (I II e III) Alguns sinais foram dispensados porque
tornariam a pesquisa muito ampla Dos 255 sinais encontrados para
anaacutelise 115 foram apresentados pelos surdos do Grupo mais jovem 163
foram apresentados pelo Grupo com idade intermediaacuteria e 183 pelo
Grupo dos mais velhos
Esta distribuiccedilatildeo por faixa etaacuteria compreende 9 informantes trecircs
151
em cada uma das geraccedilotildees formando os trecircs Grupos pesquisados (I II e
III) O resultado mais significativo foi mostrado pelos informantes do
grupo de indiviacuteduos mais velhos (G e I) possibilitando numa primeira
anaacutelise perceber algumas variaccedilotildees e mudanccedila na liacutengua de sinais Ficou
perceptiacutevel que o grupo de surdos dos mais velhos influenciou a liacutengua
de sinais em Santa Catarina na comunidade surda Segue tabela com os
nuacutemeros de sinais levantados em cada um dos trecircs grupos
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Sinais
Analisados
183
163
115
Tabela 09 ndash Preliminar dos dados ndash Variaccedilotildees ou mudanccedilas linguiacutesticas
Como jaacute foi comentado anteriormente a comunidade surda em
Santa Catarina ateacute aproximadamente o ano de 2000 teve um uacutenico
professor surdo no nosso estado e que influenciou a liacutengua de sinais O
fator externo que influenciou a liacutengua de sinais em SC atraveacutes do
professor Francisco foi o agrupamento dos surdos de todo o estado
formando uma comunidade surda que tambeacutem participa da
identificaccedilatildeo de classe do grupo informante Outro fator externo eacute
percebido nos Grupos II e I que mostram sinais aprendidos no contato
com o professor surdo na escola e tambeacutem no Ciacuterculo de Surdo-Mudo
em Santa Catarina sendo que o Grupo II influenciou o Grupo III
Na tabela em anexo percebe-se que dos 255 sinais coletados o
Grupo I apresentou mais sinais do que os Grupos II e III Talvez os
sinais natildeo conhecidos pelo Grupo III sejam os sinais criados
recentemente pela comunidade surda acadecircmica
Nas quatro tabelas gerais dos dados (paacuteg153 167 174 e 176)
tambeacutem apresenta na coluna agrave esquerda dos informantes o sinal (leacutexico)
e na direita os trecircs grupos de diferentes geraccedilotildees com diferentes faixas
etaacuterias que variam de 25 a mais de 80 anos e totalizam nove (9) indiviacuteduos Na coluna sinal (leacutexico) apresentam-se os dados que foram
escolhidos para realizar a pesquisa nos Grupos I II e III as variaacuteveis
independentes (homem mulher idade escolaridade e profissatildeo) que
152
podem mostrar tambeacutem variaccedilatildeo e mudanccedila na liacutengua de sinais usada
pelos informantes
63 ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na Liacutengua Brasileira de Sinais
Nesta seccedilatildeo vatildeo ser observados os itens lexicais que estatildeo em
variaccedilatildeo nas trecircs geraccedilotildees Comparando os sinais eles podem ser
produzidos atraveacutes de um sinal ou mais por exemplo o sinal de ldquomatildeerdquo
no passado tinha apenas um sinal (simples) atualmente utilizam-se dois
sinais (composto) para esta representaccedilatildeo Isto mostra que acontece
variaccedilatildeo lexical em LIBRAS Outros exemplos de sinais em variaccedilatildeo
satildeo ldquoaposentarrdquo ldquoaviatildeordquo ldquomatildeerdquo ldquopairdquo ldquopoliacuteticardquo ldquopretordquo
ldquoreuniatildeordquo e ldquosemanardquo (Tabela geral dos dados a seguir)
Nos Grupos I e II nos sinais de banco feio meacutedico porque
padre e ter tambeacutem acontece variaccedilatildeo lexical pois tem mais de um
sinal que existe na liacutengua ao mesmo tempo Nos Grupos I e III o sinal de
nome aponta variaccedilatildeo lexical
Foi apresentada na discussatildeo sobre mudanccedila lexical de alguns
sinais na Liacutengua Brasileira de Sinais (MAtildeE e PAI) Agora seraacute mostrada
a variaccedilatildeo lexical encontrada nos sinais utilizados pelos informantes das
trecircs geraccedilotildees (Grupos I II e III)
Veja a tabela a seguir elaborada para descrever os resultados
obtidos dos informantes dos Grupos I II e III Os nuacutemeros que
aparecem na tabela correspondem agrave configuraccedilatildeo de matildeos (CM) num
total de 64 posiccedilotildees diferentes que as matildeos podem assumir (ver anexo
paacutegina 225)
153
Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na Liacutengua
Brasileira de Sinais
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
APOSENTAR CM ndash 01 02
07 11 57
CM ndash 01 02
11 57
CM ndash 01 11
AVIAtildeO CM ndash 53a CM ndash 36 37a
40
CM ndash 40
MAtildeE CM ndash 02 14
63
CM ndash 01 02
06 14 60 63
CM ndash 02 07
14
PAI CM ndash 01 11
14 16 38
CM ndash 01 02
11 16 38 45
CM ndash 02 11
16 38 45
POLIacuteTICA CM ndash 11 51a CM ndash 11 14 CM ndash 11
PRETO CM ndash 05 34
62
CM ndash 05 CM ndash 05
REUNIAtildeO CM ndash 14 CM ndash 14 15
25
CM ndash 25
SEMANA CM ndash 08a 10
64
CM ndash 10 CM ndash 10
Os quadros a seguir mostram a sequecircncia dos sinais lexicais
utilizados pelos informantes desta pesquisa na liacutengua de sinais nas trecircs
geraccedilotildees
Observe-se inicialmente o item lexical APOSENTAR
154
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Aposentar
(1)
Figura 31
CM ndash 01 11
(2)
Figura 32
CM ndash 02 57
(1)
Figura 34
CM ndash 01 11
(2)
Figura 35
CM ndash 02 57
Figura 36
CM ndash 01 11
155
(3)
Figura 33
CM ndash 07
Quadro 01 ndash Sinal de Aposentar
O sinal de aposentar apresentado no quadro 01 no Grupo I (mais
velhos) apareceu com trecircs sinais diferentes o que indica variaccedilatildeo
lexical O Grupo III (mais jovem) utiliza o sinal com a configuraccedilatildeo de
matildeos (CM) - 01 e 11 com o movimento no espaccedilo neutro
consecutivamente para frente Os Grupos I e II utilizaram a CM - 02 57
(palma da matildeo aberta se fechando agrave medida que o antebraccedilo puxa para
traacutes junto ao lado do corpo no espaccedilo neutro) O Grupo I apresentou o
sinal de aposentar com a CM ndash 07 ambas as matildeos saiacutedas do espaccedilo
neutro na frente do corpo indo ateacute o peito Esse sinal atualmente eacute
produzido para indicar folga descanso e acomodar O Grupo III natildeo
conhece o sinal de aposentar do Grupo I talvez por isso eles utilizam
com outro significado O Grupo I tem trecircs sinais diferentes para
ldquoaposentarrdquo como mostram as figuras 31 32 e 33 mas o significado eacute o
mesmo isso pode ser variaccedilatildeo lexical mas tudo indica que ocorre
tambeacutem mudanccedila lexical O Grupo I tem um uacutenico sinal diferente do
Grupo III Parece que atualmente o sinal tem outro significado
Inicialmente observe-se o item lexical AVIAtildeO
156
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Aviatildeo
Figura 37
CM ndash 53a
(1)
Figura 38
CM ndash 36
(2)
Figura 39
CM ndash 37a
(3)
Figura 40
CM ndash 40
Figura 41
CM ndash 40
Quadro 02 ndash Sinal de Aviatildeo
157
Sabe-se que o professor Francisco iniciou o ensino para alguns
surdos utilizando a soletraccedilatildeo no alfabeto digital em Portuguecircs
Observando os trecircs grupos foi possiacutevel identificar as
modificaccedilotildees graduais deste sinal que iniciou com a soletraccedilatildeo Depois
foi apresentada como em CM ndash 53a a matildeo parte do lado do corpo em
linha reta e ascendente imitando a decolagem do aviatildeo usada pelo
Grupo I (mais velhos) O Grupo II apresentou as configuraccedilotildees CM ndash
36 CM ndash 37a CM - 40 tambeacutem imitando a decolagem do aviatildeo No
Grupo III apareceu apenas o sinal com a CM ndash 40 ou seja continuou
igual ao utilizado pelo Grupo II
Veja a seguir o item lexical MAtildeE
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Matildee
(1)
Figura 42
CM ndash 02
(1)
Figura 45
CM ndash 02
(1)
Figura 48
CM ndash 02 07
158
(2)
Figura 43
CM ndash 14
(3)
Figura 44
CM ndash 63
(2)
Figura 46
CM ndash 14
(3)
Figura 47
CM ndash 63
(4)
(2)
Figura 49
CM ndash 14
Quadro 03 ndash Sinal de Matildee
No quadro 03 aparece na figura 43 46 e 49 nos Grupos I II e III
o sinal de matildee que tem variaccedilatildeo lexical ao mesmo tempo Entatildeo os
Grupos I e II tambeacutem mostram o mesmo sinal No Grupo III a figura 48
mostra o sinal de matildee (mulher^benccedilatildeo = matildee) o que acontece eacute um sinal
composto em variaccedilatildeo lexical Nas figuras 42 45 e 48 a configuraccedilatildeo de
matildeos acontece (igualmente) nos trecircs grupos As figuras 44 e 47 nos Grupos I e II mostram a palma da matildeo aberta para frente e o dorso da
matildeo colocado na boca para o sinal de matildee o que tambeacutem indica
variaccedilatildeo lexical
No quadro 03 tambeacutem mostra mudanccedila lexical O sinal de ldquoM-Atilde-
Erdquo aparece soletrado no alfabeto digital e outro com a configuraccedilatildeo de
159
matildeos (CM) em ldquoMrdquo (nuacutemero da CM ndash 01 06 60) com ponto de
articulaccedilatildeo (PA) na boca num movimento (M) de roccedilar a matildeo para
frente (reto) Atualmente o sinal de MAtildeE eacute realizado da seguinte forma
o sinal de mulher (matildeo fechada e polegar riscando o rosto de cima para
baixo) junto com a matildeo fechada sendo beijada no dorso (mulher^benccedilatildeo
= MAtildeE) representando um sinal composto
Comparando o sinal de MAtildeE apresentado pelos informantes dos
trecircs Grupos (I II e III) nota-se que ocorreu mudanccedila lexical a forma de
configuraccedilatildeo de matildeos (CM) modificou-se
Pode ser que a distinccedilatildeo entre variaccedilatildeo lexical e mudanccedila lexical
nem sempre estaacute clara mas pode ser estabelecida em alguns casos dos
sinais
O quadro a seguir mostra variaccedilatildeo e mudanccedila do item lexical
PAI
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Pai
(1)
Figura 50
CM ndash 11
(1)
Figura 53
CM ndash 16
(1)
Figura 55
CM ndash 11 38
160
(2)
Figura 51
CM ndash 14
(3)
Figura 52
CM ndash 16
(4)
(2)
Figura 54
CM ndash 02 45
(3)
(2)
Figura 56
CM ndash 16
(3)
Figura 57
CM ndash 02 45
Quadro 04 ndash Sinal de Pai
Nas figuras 52 53 e 56 dos Grupos I II e III na configuraccedilatildeo de
matildeos (CM) o dedo indicador curvado colocado como se fosse um
bigode movimenta-se para frente e para traacutes significando sinal de pai
Os Grupos II e III mostram o sinal composto (homem^benccedilatildeo = pai)
Nas figuras 54 e 57 tambeacutem temos variaccedilatildeo e mudanccedila lexical Na
figura 51 o dedo indicador reto eacute colocado como se fosse um bigode
fazendo movimento para a direita no Grupo I Nas figuras 50 e 55 nos
Grupos I e III mostra-se a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) - 11 tambeacutem
161
imitando um bigode fazendo movimento para a direita e no Grupo III
mostra-se o empreacutestimo linguiacutestico ldquoP-Irdquo (CM) -11 38 o sinal de pai
No quadro 04 tambeacutem aparece mudanccedila lexical O sinal de
famiacutelia que mostra a palavra ldquoP-A-Irdquo eacute apresentado na soletraccedilatildeo de
matildeos Haacute uma mudanccedila linguiacutestica porque inicia com o sinal ldquoPrdquo (CM ndash
11) passando sobre os laacutebios depois o sinal de bigode realizado de duas
formas diferentes (o dedo indicador em cima do laacutebio superior e o dedo
indicador flexionado tambeacutem em cima do laacutebio superior) e ainda o sinal
ldquoPrdquo saindo dos laacutebios indo para frente formando o sinal ldquoIrdquo (CM ndash 38)
e atualmente o sinal de homem (CM ndash 45) fechar a matildeo e beijar as
costas da mesma (CM ndash 02) Observam-se nesse caso cinco diferentes
sinais ilustrando as variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas Acredita-se que
o contado dos diferentes surdos em comunicaccedilatildeo com gestos familiares
proporcionou uma troca entre eles influenciando a comunidade surda e
a escola com uma classe de surdos onde os alunos tiveram contato com
a soletraccedilatildeo de palavras em Portuguecircs e nos respectivos sinais
O Grupo I apresentou trecircs sinais diferentes nas figuras 50 51 e 52
ldquopaisrdquo o que pode indicar variaccedilatildeo lexical O Grupo II mostra dois
sinais diferentes nas figuras 53 e 54 tem um sinal composto
homem^benccedilatildeo = pai que foi utilizado pelo Grupo III
Observe agora no quadro a seguir o item lexical POLIacuteTICA
162
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Poliacutetica
Figura 58
CM ndash 11 51a
(1)
Figura 59
CM ndash 11
(2)
Figura 60
CM ndash 14
Figura 61
CM ndash 1 1
Quadro 05 ndash Sinal de Poliacutetica
No quadro 05 o sinal de POLIacuteTICA se daacute atraveacutes da matildeo direita
na configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 11 colocada em movimento circular
(girando) no lado do rosto com a bochecha insuflada sinal apresentado
pelos Grupos II e III O Grupo I apresenta um sinal icocircnico porque eacute a
representaccedilatildeo da sede do congresso em Brasiacutelia O Grupo II mostra
tambeacutem outro sinal para poliacutetica com CM ndash 14 o dedo indicador das matildeos com as extremidades proacuteximas em frente do corpo em movimento
alternado para cima e para baixo localizado no espaccedilo neutro
No Grupo III na figura 61 com CM ndash 14 eacute o uacutenico sinal com
configuraccedilatildeo diferente e que o significado tambeacutem pode ser entendido
163
como discutir a poliacutetica aparecendo nesse caso com sentido
abrangente
Veja a seguir o item lexical PRETO
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Preto
(1)
Figura 62
CM ndash 34 62
(2)
Figura 63
CM ndash 05
Figura 64
CM ndash 05
Figura 65
CM ndash 05
Quadro 06 ndash Sinal de Preto
No quadro 06 aparece o sinal de PRETO com a matildeo direita com
CM ndash 05 palma para baixo simulando girar uma chave ao lado da
cabeccedila Um dos informantes do Grupo I utilizou o sinal de preto que
acredito teve influecircncia da liacutengua de sinais produzida no Rio de janeiro
Os Grupos II e III apresentaram o sinal regional utilizado na grande
Florianoacutepolis Os Grupos I II e III mostram o mesmo sinal para preto
164
nas figuras 63 64 e 65 mas tem um sinal diferente apresentado pelo
Grupo I nas figuras 62 e 63
O sinal produzido pelo Grupo I na figura 62 eacute utilizado ateacute hoje
no Rio de Janeiro e percebo que tambeacutem eacute utilizado por interpretes e
estudantes surdos da UFSC
Veja a seguir o item lexical REUNIAtildeO
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Reuniatildeo
Figura 66
CM ndash 14
(1)
Figura 67
CM ndash 25
(2)
Figura 68
CM ndash 14
Figura 70
CM ndash 25
165
(3)
Figura 69
CM ndash 15
Quadro 07 ndash Sinal de Reuniatildeo
No quadro 07 o sinal de REUNIAtildeO mostrado pelos Grupos II e
III com CM ndash 25 nas matildeos estaacute localizado no espaccedilo neutro com as
palmas das matildeos para frente as matildeos em movimento semicircular
fechando em ciacuterculo Os Grupos I e II mostram como em CM ndash 14
realizado da mesma forma que o descrito anteriormente sinal este que o
grupo jovem natildeo conhece O Grupo II apresenta um sinal de REUNIAtildeO
com as matildeos como em CM ndash 15 em espaccedilo neutro movendo-se
alternadamente para frente e para traacutes com a palma das matildeos proacuteximas
este grupo apresentou trecircs sinais diferentes enquanto os Grupos I e III
mostraram apenas um
No Grupo II na figura 69 o sinal eacute diferente e natildeo aparece no
Grupo I e no Grupo III mas o significado deste eacute REUNIAtildeO particular
com poucas pessoas Talvez por isso natildeo apareceu nos outros dois
grupos Nas figuras 68 e 69 os sinais apresentam variaccedilatildeo fonoloacutegica
porque mudou o traccedilo linguiacutestico o ponto de articulaccedilatildeo da sinalizaccedilatildeo
no espaccedilo neutro eacute o mesmo mas a CM e o movimento se alteram
Veja a seguir o item lexical SEMANA
166
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Semana
(1)
Figura 71
CM ndash 08a 64
(2)
Figura 72
CM ndash 10
Figura 73
CM ndash 10
Figura 74
CM ndash 10
Quadro 08 ndash Sinal de Semana
No quadro 08 aparece o sinal de SEMANA com a matildeo esquerda
aberta palma para fora (CM ndash 08a ldquoLrdquo) matildeo direita CM - 64 palma
para fora direcionando as duas matildeos para o lado direito O grupo de
informante III (terceira geraccedilatildeo) apresentou a variaccedilatildeo do sinal descrita
anteriormente mas o Grupo II apresentou o sinal a matildeo direita com
forma de configuraccedilatildeo CM - 10 direcionando a matildeo direita para o lado
direito ponto de articulaccedilatildeo no espaccedilo neutro O Grupo I (primeira
geraccedilatildeo) apresentou no queixo o sinal de semana como em CM ndash 10
Isso mostra a variaccedilatildeo do sinal apresentado pelos informantes nas trecircs
geraccedilotildees por faixa etaacuteria Os trecircs grupos sinalizam semana de forma
diferente nas figuras 71 72 e 74 Os Grupos I e II sinalizam semana nas
167
figuras 72 e 73 de forma igual O Grupo I eacute o uacutenico que realiza o sinal
no espaccedilo neutro e o Grupo III inicia o sinal no queixo e termina-o no
espaccedilo neutro
Uma das razotildees para variaccedilatildeo e mudanccedila lexical acontecer eacute por
influecircncia tecnoloacutegica que transforma a sociedade que cresce no
cotidiano por necessidade na liacutengua usada na conversa No caso da
pessoa surda em contato com a liacutengua de sinais ela acaba valorizando
mais a liacutengua de sinais que torna a cultura surda dinacircmica e proporciona
uma nova forma de comunicaccedilatildeo para o indiviacuteduo surdo Na
comunidade surda precisamos buscar o conhecimento cada vez maior
para aumentar o leacutexico da liacutengua em sinais
Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na Liacutengua
Brasileira de Sinais
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
BANCO CM ndash 53a 61 CM ndash 53a 61 CM ndash 53a
FEIO CM ndash 07 64 CM ndash 8a CM ndash 08a
MEacuteDICO CM ndash 16 44 CM ndash 16 44 CM ndash 16
NOME CM ndash 21 24 CM ndash 24 CM ndash 24
PORQUE CM ndash 14 15 CM ndash 14 15 CM ndash 14
O quadro a seguir apresenta a sequecircncia dos sinais lexicais que
sofreram mudanccedila na liacutengua de sinais dos informantes dos Grupos I II e
III nas trecircs geraccedilotildees Inicialmente seraacute descrito o item lexical BANCO
168
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Banco
(1)
Figura 75
CM ndash 53a
(2)
Figura 76
CM ndash 61
(1)
Figura 77
CM ndash 53a
(2)
Figura 78
CM ndash 61
Figura 79
CM ndash 53a
Quadro 09 ndash Sinal de Banco
No quadro 09 a CM ndash 61 corresponde agrave letra B no alfabeto
digital palma da matildeo voltada para a esquerda batendo suavemente em
cima do peito esquerdo Este sinal foi utilizado pelos Grupos II e I
sofrendo uma mudanccedila lexical pois modificou o ponto de articulaccedilatildeo e
a CM com o mesmo movimento Os informantes do Grupo III (jovens)
natildeo utilizam e talvez natildeo conheccedilam o sinal de BANCO utilizado pelos
Grupos II e I Podemos chamar de mudanccedila em tempo aparente
Nos Grupos I II e III apresentam variaccedilatildeo lexical os sinais das
figuras 75 77 e 79 pois se realizam da mesma forma Nos Grupos I e II
169
as figuras 76 e 78 apresentam um sinal que natildeo eacute mais utilizado
caracterizando uma mudanccedila lexical
Observe-se agora o sinal do item lexical FEIO
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Feio
Figura 80
CM ndash 07 64
64
Figura 81
CM ndash 08a
Figura 82
CM ndash 08a
Quadro 10 ndash Sinal de Feio
No quadro 10 a CM ndash 08a (L) usa palma da matildeo em frente da
boca o dedo indicador apontando para a esquerda em seguida abaixa-
se a matildeo ateacute a altura do peito O sinal utilizado pelo Grupo I mostra uma
mudanccedila lexical no sinal de FEIO o sinal de bonito (matildeo aberta com
palma da matildeo voltada para o rosto na frente fazendo um ciacuterculo e se
fechando) e mais o sinal de negaccedilatildeo matildeo fechada com polegar para
baixo Houve uma troca na configuraccedilatildeo de matildeos (CM) de ponto de
articulaccedilatildeo (PA) e movimento (M) do sinal pelos surdos do Grupo III
(mais jovens de 15 a 30 anos de idade) O Grupo I faz dois sinais
bonito^ruim = feio na figura 80 como se fosse o contraacuterio de bonito O
Grupo II faz o sinal de feio para pessoas enquanto o Grupo III sinaliza
com significado de feio para objetos
64 A imagem da CM segue a ordem da tabela com as configuraccedilotildees
170
Observe-se a seguir o item lexical MEacuteDICO
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Meacutedico
(1)
Figura 83
CM ndash 16
(2)
Figura 84
CM ndash 44
(1)
Figura 85
CM ndash 16
(2)
Figura 86
CM ndash 44
Figura 87
CM ndash 16
Quadro 11 ndash Sinal de Meacutedico
No quadro 11 o sinal de MEacuteDICO aparece diferenciado no Grupo
I (geraccedilatildeo G H e I) O sinal de MEacuteDICO eacute produzido com a
configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 44 com ponto de articulaccedilatildeo (PA) no
peito em cima do coraccedilatildeo movimentando-se semicircularmente ateacute o
lado direito Esse sinal mostra mudanccedila lexical pois o Grupo III
(jovens) inovou com relaccedilatildeo ao espaccedilo neutro65
o sinal eacute produzido
65 Espaccedilo Neutro ndash ldquono caso do uso de pontos arbitraacuterios o estabelecimento ocorre em um
local neutro do espaccedilo da sinalizaccedilatildeo e em geral satildeo distribuiacutedos no espaccedilo de forma a serem
171
com a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 16 em ambas as matildeos onde uma eacute
ativa e outra passiva e o dedo indicador direito bate na 2a falange do
dedo esquerdo
Podemos dizer que o sinal que aparece nos Grupos I e II e que
natildeo aparece no Grupo III eacute um sinal icocircnico Acredito que ainda eacute
utilizado apenas natildeo apareceu nas sinalizaccedilotildees do grupo dos mais
jovens que apresentam uma fluecircncia maior na LIBRAS
Veja a seguir a configuraccedilatildeo do item lexical NOME
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Nome
(1)
Figura 88
CM ndash 21
(2)
Figura 89
CM ndash 24
Figura 90
CM ndash 24
Figura 91
CM ndash 24
Quadro 12 ndash Sinal de Nome
amplamente diferenciados Os pontos podem estar acima ou abaixo do espaccedilo neutro se esses apresentarem uma imagem apropriada (por ex um aviatildeo seraacute apontado acima do espaccedilo
neutro)rdquo QUADROS et al (2008 p 07)
172
No quadro 12 mostra o sinal de NOME com a configuraccedilatildeo de
matildeos (CM) ndash 24 (matildeo direita em ldquoUrdquo no Alfabeto Digital) palma da
matildeo para frente dedos apontados para cima na altura do peito movem-
se os dedos do lado esquerdo para o lado direito Na leitura dos
resultados encontrados apareceu uma mudanccedila lexical na liacutengua de
sinais o Grupo I utiliza a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 21 24 na (CM)
ndash 21 representa o nome do crachaacute (sinal icocircnico) Acontece mudanccedila
lexical pois as configuraccedilotildees de matildeos (CM) os pontos de articulaccedilotildees
(PA) os movimentos (M) e a orientaccedilatildeo satildeo diferentes (OP) Aqui
temos tambeacutem mudanccedila fonoloacutegica as configuraccedilotildees de matildeos satildeo
diferentes
O quadro a seguir mostra a configuraccedilatildeo do item lexical
PORQUE
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Porque
(1)
Figura 92
CM ndash 14
(1)
Figura 94
CM ndash 14
Figura 96
CM ndash 14
173
(2)
Figura 93
CM ndash 15
(2)
Figura 95
CM ndash 15
Quadro 13 ndash Sinal de Porque
No quadro 13 o sinal de PORQUE no Grupo I e II aparece com
CM ndash 15 (dedo indicador flexionado saindo da tecircmpora em diagonal) e
nos trecircs grupos aparece o sinal com a CM ndash 14 dedo indicador direito e
esquerdo em diagonal bater o indicador direito sobre o esquerdo vaacuterias
vezes no espaccedilo neutro O sinal com a CM ndash 14 aparece na sinalizaccedilatildeo
dos informantes das trecircs geraccedilotildees permanecendo ateacute a atualidade
O sinal que os Grupos I e II fizeram nas figuras 93 e 95 natildeo eacute
mais realizado pelo grupo dos mais jovens que tambeacutem natildeo conhece o
significado
64 ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua Brasileira de Sinais
A variaccedilatildeo e a mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua Brasileira de
Sinais satildeo observadas na semelhanccedila entre somfala ou sinais foneacutetico-
fonoloacutegicos Na Liacutengua Brasileira de Sinais encontram-se modificaccedilotildees
de pronuacutencia de certos itens lexicais atestando variaccedilatildeo e mudanccedila
fonoloacutegica Essa variaccedilatildeo depende da unidade lexical e pode decorrer de
diferentes paracircmetros a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) movimento (M)
ponto de articulaccedilatildeo (PA) e orientaccedilatildeo das matildeos Nesses casos a
configuraccedilatildeo de matildeos pode modificar mas o significado dos sinais
permanece o mesmo mostrando variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica As
autoras Quadros e Karnopp (2004 p47) definem a fonologia das
liacutenguas de sinais da seguinte forma
Fonologia das liacutenguas de sinais eacute o ramo da linguumliacutestica
que objetiva identificar a estrutura e a organizaccedilatildeo dos
constituintes fonoloacutegicos propondo modelos descritivos
e explanatoacuterios A primeira tarefa da fonologia para
174
liacutengua de sinais eacute determinar quais satildeo as unidades
miacutenimas que formam os sinais A segunda tarefa eacute
estabelecer quais satildeo os padrotildees possiacuteveis de
combinaccedilatildeo entre essas unidades e as variaccedilotildees possiacuteveis
no ambiente fonoloacutegico
Haacute pouca pesquisa cientiacutefica sobre variaccedilatildeo e mudanccedila
fonoloacutegica na LIBRAS no Brasil Pode-se verificar atraveacutes dos dados
dos informantes apresentados a cada pronuacutencia dos sinais diferentes de
uso a unidade miacutenima lexical pode se modificar (configuraccedilatildeo de matildeos
movimento e ponto de articulaccedilatildeo) No quadro 07 apresenta-se o sinal
de semana mostrando mudanccedila no ponto de articulaccedilatildeo e variaccedilatildeo e
mudanccedila fonoloacutegica nos Grupos I II e III
Veja a Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica
na Liacutengua Brasileira de Sinais com os resultados que foram escolhidos
nesta pesquisa para realizar a descriccedilatildeo e a anaacutelise
Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua
Brasileira de Sinais
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
ANTES CM ndash 08a 53a
63
CM ndash 08a CM ndash 08a
Veja agora os sinais para o item lexical ANTES
175
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Antes
(1)
Figura 97
CM ndash 53a 63
(2)
Figura 98
CM ndash 08a
Figura 99
CM ndash 08a
Figura 100
CM ndash 08a
Quadro 14 ndash Sinal de Antes
No quadro 14 aparece o sinal de ANTES com a seguinte
configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 08a a matildeo direita em L horizontal
(alfabeto digital) palma para baixo na frente do corpo no espaccedilo neutro
levantar o antebraccedilo da matildeo direita para cima Outro sinal aparece com
a (CM) ndash 53a e 63 inicia com a CM 63 e finaliza com a CM 53a com o
mesmo movimento do antebraccedilo descrito anteriormente Ambos os
informantes utilizam a expressatildeo facial necessaacuteria para a compreensatildeo
do sinal As trecircs geraccedilotildees apresentaram variaccedilatildeo fonoloacutegica o sinal eacute
produzido com diferentes configuraccedilotildees de matildeos mas os paracircmetros
movimento (M) e ponto de articulaccedilatildeo (PA) satildeo os mesmos
176
Nos Grupos I II e III apresentam os mesmos sinais com a mesma
CM ndash 08a mas temos com essa mesma CM o mesmo significado soacute
que com ponto de articulaccedilatildeo diferente acontecendo na palma da matildeo e
no dorso da matildeo e que tambeacutem pode ter significado de ldquoQue horasrdquo ou
pode estar atrasado para trabalhar ou ainda precisa agendar uma reuniatildeo
antes
Os dados coletados tambeacutem mostram mudanccedila e variaccedilatildeo
fonoloacutegica na liacutengua brasileira de sinais Sinais foram modificados com
o passar dos anos Observando os informantes percebe-se que os
paracircmetros mudaram da geraccedilatildeo mais antiga (Grupo I) em relaccedilatildeo agrave
geraccedilatildeo atual (Grupo III)
Observe na tabela a seguir os dados que foram escolhidos para
realizar a descriccedilatildeo e a anaacutelise dos resultados Ela apresenta a sequecircncia
das mudanccedilas e variaccedilotildees dos sinais lexicais na LIBRAS usados pelos
informantes nas trecircs geraccedilotildees
Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua
Brasileira de Sinais
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
CORTAR CM ndash 14 24
63
CM ndash 14 24 CM ndash 24
PADRE CM ndash 21 24
62
CM ndash 11 21
24
CM ndash 24
TER CM ndash 08a 63 CM ndash 08a 63 CM ndash 08a
Acompanhe agora a descriccedilatildeo do item lexical CORTAR
177
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Cortar
(1)
Figura 101
CM ndash 63
(2)
Figura 102
CM ndash 14 24
(3)
Figura 103
CM ndash 14
(1)
Figura 104
CM ndash 14
(2)
Figura 105
CM ndash 24
Figura 106
CM ndash 24
Quadro 15 ndash Sinal de Cortar
178
No quadro 15 observa-se que o Grupo I apresentou a
configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 63 (U) raspando o dedo meacutedio da matildeo
direita no dedo indicador da matildeo esquerda simulando cortar algo
Depois a CM ndash 14 junto com a CM 24 mostraram um movimento
simulando o corte com uma faca e tambeacutem a CM ndash 14 em ambas as
matildeos simulando o movimento de cortar O Grupo II apresentou a CM ndash
14 (igual a do Grupo I) e a CM ndash 24 simulando o movimento de cortar
O Grupo III (jovem) utilizou apenas a CM ndash 24
Exemplos das figuras apresentadas no quadro 15 mostrando
sinais de CORTAR66
em diferentes contextos satildeo apresentados a seguir
a) Em LIBRAS Grupo I - EU ANTES ESTUDAR LAacute INES
DEPOIS CORTAR MARCENEIRO (Figura 101)
Em Portuguecircs Grupo I ndash Eu era crianccedila estudava no INES
fomos cortar madeira com supervisatildeo de um marceneiro (Figura 101)
b) Em LIBRAS Grupo I - SURDOS LAacute INES CORTAR
PAPELAtildeO (Figura 102)
Em Portuguecircs Grupo I ndash Os alunos surdos do INES foram
cortar papelatildeo (Figura 102)
c) Em LIBRAS Grupo I - EU AIacute (FOGO) FOGO COMER
CARNE CORTAR UM (CADA) IRMAtildeO SENTAR COMER TODOS
COMER ARROZ BATATA AIPIM TODOS (Figura 103)
Em Portuguecircs Grupo I ndash Eu fiquei assustada com o fogo Eu e
meus irmatildeos sentados juntos a mesa cortei a carne e dei um pedaccedilo para
cada irmatildeo Todos comeram arroz batata e aipim aleacutem da carne
(Figura 103)
d) Em LIBRAS Grupo II ndash ANTES ERA PEQUENO
BRINCAR LAacute ESCOLA BALANCcedilO CORRENTE CORTAR DEDO
DOR (Figura 104)
Em Portuguecircs Grupo II ndash Quando era crianccedila fomos brincar no
parque da escola cortei o dedo na corrente (Figura 104)
e) Em LIBRAS Grupo II - FESTA CSMSC SURDOS CORTAR
CARNE BOLO TODOS SURDOS (Figura 105)
Em Portuguecircs Grupo II ndash Teve uma festa do Ciacuterculo de Surdos-
Mudos de Santa Catarina (CSMSC) para comemoraccedilatildeo dos surdos Foi
cortada a carne e o bolo para os surdos que foram a associaccedilatildeo (Figura
105)
66 Nesses casos noacutes temos sinais diferentes para o mesmo significado de ldquocortarrdquo que satildeo as imagens do quadro 15
179
f) Em LIBRAS Grupo III ndash EU LAacute CASA AMIGO SURDO
ALMOCcedilAR COMER PEDIR CORTAR CARNE CONVERSAR
AMIGO (Figura 106)
Em Portuguecircs Grupo III - Eu fui agrave casa do meu amigo surdo
almoccedilar pedi a ele para cortar a carne e tambeacutem conversei com os
amigos surdos (Figura 106)
O Grupo I eacute o uacutenico que utiliza para o sinal de cortar CM ndash 63 um
sinal diferente dos outros grupos mas com o mesmo significado Parece
que o Grupo I foi evoluindo o sinal comeccedilou com CM diferente em
cada matildeo e por fim uma mesma CM para ambas as matildeos O Grupo II
utilizou duas CM diferentes como o Grupo I mas realizava o sinal de
duas formas diferentes CM ndash 14 ou 24 mas a mesma CM para ambas as
matildeos O Grupo III realiza o sinal somente com a CM ndash 24 em ambas as
matildeos Como se observa parece que ocorreu mudanccedila fonoloacutegica nos
trecircs grupos pesquisados
Veja na sequecircncia a mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua brasileira de
sinais
A tabela a seguir traz os sinais do item lexical PADRE
180
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Padre
(1)
Figura 107
CM ndash 62
(2)
Figura 108
CM ndash 24
(1)
Figura 110
CM ndash 11
(2)
Figura 111
CM ndash 24
Figura 113
CM - 24
181
(3)
Figura 109
CM ndash 21
(3)
Figura 112
CM ndash 21
Quadro 16 ndash Sinal de Padre
Nos trecircs grupos apareceu o sinal com CM ndash 24 matildeo na frente do
peito no espaccedilo neutro desenhando uma cruz com a matildeo (Representaccedilatildeo
icocircnica) Os Grupos I e II apresentaram o mesmo sinal CM ndash 21
produzido na base do pescoccedilo iniciando do lado esquerdo indo ateacute o
lado direito como se estivesse desenhando a gola da batina (Icocircnico) O
Grupo I apresentou um sinal diferente com CM ndash 62 matildeo na frente do
peito no espaccedilo neutro desenhando uma cruz com a matildeo O Grupo II
tambeacutem mostra um sinal uacutenico com CM ndash 11 matildeo na frente do peito no
espaccedilo neutro desenhando uma cruz com a matildeo A configuraccedilatildeo de
matildeos (CM) foi sendo alterada no espaccedilo neutro Os informantes do
Grupo I II e III (nas trecircs geraccedilotildees) apresentaram sinais que podem ser
considerados como variaccedilatildeo ou mudanccedila fonoloacutegica
Na figura 107 o sinal parece ser igual ao que um padre faz na
missa ao despedir-se dos fieacuteis e na figura 110 parece que a CM ndash 11 (P)
recebe influecircncia do oralismo Um uacutenico sinal aparece nos trecircs grupos
satildeo das figuras 108 111 e 113 sendo o uacutenico utilizado pelo Grupo III
(jovens)
Veja na sequecircncia a mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua brasileira de
sinais
Agora observe o sinal variaacutevel do item lexical TER
182
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Ter
(1)
Figura 114
CM ndash 63
(2)
Figura 115
CM ndash 08a
(1)
Figura 116
CM ndash 63
(2)
Figura 117
CM ndash 08a
Figura 118
CM ndash 08a
Quadro 17 ndash Sinal de Ter
No quadro 17 aparecem os dados apresentados pelo Grupo I dos
trecircs informantes G H e I
Em conversa natildeo filmada com o informante G ele deu a seguinte
explicaccedilatildeo para a variaccedilatildeo do item ldquoTERrdquo antigamente o professor
Francisco Lima Juacutenior usava o sinal ldquoTERrdquo fazendo a soletraccedilatildeo do
sinal depois utilizou a configuraccedilatildeo de matildeo com todos os dedos
fechados (CM ndash 63) colocados no peito em seguida outra oposiccedilatildeo
seria a matildeo e os dedos abertos tambeacutem colocados no peito (CM ndash 64)
183
Atualmente o sinal ldquoTERrdquo eacute realizado como CM - 08a tambeacutem
colocado no peito Observa-se uma mudanccedila fonoloacutegica com alteraccedilatildeo
na liacutengua de sinais ao longo de algumas deacutecadas O dedo em ldquoLrdquo (08a) eacute
batido no meio do peito com a ponta do polegar
Os Grupos I e II mostram os sinais de ter nas figuras 114 e 116
com mesma CM ndash 63 Nas figuras 115 117 e 118 os sinais satildeo
realizados com a mesma CM ndash 08a O Grupo III permanece apenas com
um sinal
Veja na sequecircncia a mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua brasileira de
sinais
Na eacutepoca em que o professor Francisco foi professor era outro
tempo na comunicaccedilatildeo em liacutengua de sinais diferentemente de hoje tal
como se observa na comunicaccedilatildeo entre as pessoas mais jovens com
contato cultural maior O professor Francisco aprendeu no RJ a escrever
com o alfabeto digital (soletraccedilatildeo) e assim ele comeccedilou a ensinar Aleacutem
de ensinar o contato do aluno surdo com a comunidade de surdos fez
com que houvesse uma troca o Sr Francisco ensinou a soletraccedilatildeo no
alfabeto digital (alfabetizaccedilatildeo em Liacutengua Portuguesa) e aprendeu sinais
familiares dos diversos surdos com quem teve contato Todos
aprenderam e isso influenciou para que ocorresse mudanccedila fonoloacutegica
Pesquisando a LIBRAS nos Grupos I II e III confirmamos portanto
algumas mudanccedilas fonoloacutegicas
65 ndash O que dizem os resultados das trecircs geraccedilotildees dos informantes
na Liacutengua Brasileira de Sinais
A comunidade surda principalmente na associaccedilatildeo de surdo de
Santa Catarina abriu espaccedilo para o encontro de surdos proporcionando
a troca de informaccedilotildees e experiecircncias na liacutengua de sinais (visuais)
promovendo eventos na aacuterea esportiva cultural poliacutetica e na educaccedilatildeo
de surdo Todos esses espaccedilos sociais devem ter contribuiacutedo para o que
esta pesquisa jaacute aponta variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica em LIBRAS
Os resultados de certos itens lexicais usados pelos grupos de
indiviacuteduos investigados apontam que os Grupos I e II se distinguem do
184
Grupo III
Os resultados mostram que com passar do tempo os sinais entre
os grupos se modificam apresentando indiacutecios de mudanccedila em tempo
aparente na liacutengua de sinais nas trecircs geraccedilotildees O grupo dos mais jovens
de 15 a 30 anos (Grupo III) diferentemente dos outros dois grupos
(Grupo I e Grupo II) apresenta um sinal para cada palavra Acreditamos
que antes havia mais sinais porque eram familiares ou caseiros os quais
foram substituiacutedos eou modificados com o contato social maior que a
comunidade surda tem nos dias atuais Acreditamos que outros sinais
estatildeo sendo criados com o passar do tempo o que pode ser fruto de um
maior contato social entre os surdos jovens
Os resultados apontam que os trecircs grupos investigados (Grupos I
II e III) usaram vaacuterios sinais idecircnticos para algumas palavras os Grupos
I e II usaram outros e os Grupos II e III usaram palavras idecircnticas em
menor nuacutemero Entretanto os Grupos I e III (dos mais velhos e dos mais
jovens) natildeo usaram nenhuma palavra comum que se distinguisse do
Grupo II Os resultados apontam portanto que na LIBRAS haacute variaccedilatildeo
lexical e fonoloacutegica
Como eacute possiacutevel perceber a partir dos resultados apresentados o
contato entre as pessoas surdas transforma a liacutengua de sinais que jaacute
apresenta indiacutecios de variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica entre diferentes
geraccedilotildees como acontece em qualquer liacutengua natural
Nota-se nas narrativas contadas que os surdos tecircm consciecircncia de
seu papel nas trecircs geraccedilotildees de informantes e reconhecem a influecircncia
exercida pelo contato com outros surdos e com os surdos mais velhos
Certamente o Grupo III seraacute disseminador de conhecimento
aumentando cada vez mais o interesse de outros surdos pela liacutengua de
sinais e com a expansatildeo de seu uso naturalmente outras mudanccedilas vatildeo
acontecer transformando mais uma vez a liacutengua de sinais Aleacutem disso
pode-se identificar nas narrativas de todos os sujeitos a total
consciecircncia das pessoas envolvidas no processo de ampliaccedilatildeo do espaccedilo
de conforto do surdo Eacute mais uma parte da histoacuteria surda que se registra
tendo como personagem principalmente a pesquisa sobre a variaccedilatildeo e a
mudanccedila linguiacutestica na liacutengua de sinais em Santa Catarina
Eacute importante registrar o momento de pouco acesso dos surdos agrave
pesquisa a respeito da liacutengua brasileira de sinais seja no domiacutenio
puacuteblico ou privado Assim julga-se necessaacuterio o desenvolvimento de
mais estudos e de um contato mais intenso de sujeitos surdos com as
reflexotildees e conhecimentos que satildeo produzidos sobre essa liacutengua
refletindo o que dizem os informantes surdos nas trecircs geraccedilotildees da liacutengua
de sinais Sabe-se que em parte isso ocorre porque eacute uma liacutengua
185
oficializada recentemente
Os estudos tecircm apontado atraveacutes de recentes pesquisas que a
liacutengua de sinais eacute a forma mais adequada de comunicaccedilatildeo para a
educaccedilatildeo do surdo tendo em vista que como as outras liacutenguas
humanas a liacutengua de sinais eacute uma liacutengua natural podendo servir de base
para o ensino da liacutengua escrita
Finalmente espero que os resultados desta pesquisa possam
motivar-me e motivar outras pessoas a aprofundar o tema aqui
pesquisado
186
187
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Concluiacutemos que eacute importante pesquisar sobre a histoacuteria na liacutengua
de sinais em Santa Catarina em encontros sociais ou nas associaccedilotildees de
surdo Aleacutem de aprender a liacutengua de sinais os surdos que fazem parte
dessas associaccedilotildees acabam criando uma identidade surda trocam
experiecircncias evoluindo na proacutepria liacutengua criando e valorizando o seu
espaccedilo linguiacutesticocultural
Na liacutengua de sinais aqui no Brasil acontece a mesma coisa que
se observa no portuguecircs quanto agraves regras da liacutengua que satildeo oficiais
para todo o Brasil mas vaacuterios sinais satildeo diferentes para expressar a
mesma coisa Podemos utilizar no sul do Brasil um sinal e outro
sinal totalmente diferente na regiatildeo sudeste com o mesmo
significado
Surdos se encontram em associaccedilotildees ou outros espaccedilos
culturais para poder conversar trocar experiecircncia e aprender sua
liacutengua mas com o ouvinte acontece diferente eles natildeo precisam de
um local para esses encontros isso acontece em seu dia-a-dia todos
se falam O surdo necessita marcar encontros com outros surdos
para que aconteccedila a comunicaccedilatildeo pois poucos ouvintes sabem se
comunicar em LIBRAS Eles vatildeo para a associaccedilatildeo de surdos
aprender LIBRAS e com o passar do tempo podem se tornar
biliacutengues
Haacute falta de pesquisa em variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica das
liacutenguas de sinais e sobre o desenvolvimento e o domiacutenio desta liacutengua
Nada foi registrado nas uacuteltimas deacutecadas e parece que muitos dados sobre
os sujeitos surdos e sua histoacuteria da liacutengua de sinais foram prejudicados e
perdidos
Na UFSC por exemplo temos no curso de LETRASLIBRAS
a distacircncia que eacute pioneiro uma vitoacuteria do surdo acessando a
primeira Universidade Brasileira que estuda a liacutengua de sinais e que
oferece oportunidade de acesso ao estudo e aprofundamento
linguiacutestico da LIBRAS aleacutem das trocas de sinais em diferentes
regiotildees do paiacutes
Temos um grupo de surdos responsaacuteveis por criar sinais novos
de acordo com as necessidades encontradas pelas comunidades
surdas para diminuir a influecircncia da Liacutengua Portuguesa na
LIBRAS e possibilitar outros contatos fora do Brasil trazendo
relatos de experiecircncias de comunidades surdas de outros paiacuteses bem
como apresentaccedilotildees de pesquisas mais avanccediladas nas liacutenguas de
sinais
188
Eacute importante reforccedilar que a LIBRAS eacute uma liacutengua natural pois
possui estrutura gramatical eacute utilizada por um grande grupo social com
funccedilatildeo ativa e provedora de opiniatildeo Este tipo de liacutengua soacute se diferencia
das liacutenguas orais pela forma de se comunicar pois esta utiliza a accedilatildeo
gestual o que difere das demais liacutenguas que utilizam a accedilatildeo oral na
comunicaccedilatildeo
As pessoas falam que na ilha de Santa Catarina o dialeto falado eacute
o manezinho que vem sofrendo modificaccedilotildees com o passar dos anos
devido ao turismo que eacute forte na temporada de veratildeo O professor
Francisco e a comunidade surda na deacutecada de 1950 usavam o sinal de
dactilologia no mesmo sentido da liacutengua nativa mas com dialeto
proacuteprio Depois outros surdos vieram para Santa Catarina e sinalizaram
diferentemente Isso mostra que nas duas liacutenguas ndash LIBRAS e Portuguecircs
ndash haacute variaccedilatildeo dialetal
Observando os trecircs grupos de surdos investigados nesta tese
podemos dizer que o Grupo I mostra o primeiro contato com a liacutengua de
sinais desenvolvida com pouco conhecimento linguiacutestico porque
adquirir a liacutengua de sinais em contexto social na eacutepoca era difiacutecil Mas
este Grupo I foi buscando surdos que participavam de associaccedilotildees que
estudavam na garagem da casa do professor Francisco e na Escola Celso
Ramos onde tinha o grupo de surdos aprendendo a liacutengua de sinais que
se modificava O Grupo III demonstrou mais qualidade na sinalizaccedilatildeo
da liacutengua de sinais e maior fluecircncia mas natildeo conhece alguns dos sinais
(antigos) realizados pelos Grupos I e II O contexto social dos Grupos
nas trecircs geraccedilotildees eacute bem diferente e a liacutengua de sinais do Grupo III (mais
jovens) apresentou menor nuacutemero de sinais que os demais grupos
Acreditamos que antes havia mais sinais porque eram familiares
Os resultados do trabalho mostraram que algumas variaccedilotildees e
mudanccedilas linguiacutesticas (variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na liacutengua de sinais e
variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua de sinais) aconteceram nos trecircs
grupos quando um mesmo sinal eacute produzido pelos diferentes grupos de
maneira diferente Alguns sinais que antigamente eram produzidos no
corpo agora acontecem no espaccedilo neutro na liacutengua de sinais Os grupos
mostraram sinais que antes eram produzidos com uma matildeo e agora satildeo
produzidos com ambas as matildeos ao mesmo tempo O Grupo I utilizava
sinalizaccedilatildeo manual sinais familiares (caseiros) ou aqueles aprendidos e
trazidos pelo professor Francisco do INES o que talvez explique o fato
de que este grupo tinha um nuacutemero maior de sinais para uma mesma
palavra
Concluiacutemos que os trecircs grupos de nove informantes nas
diferentes geraccedilotildees apresentaram sinais compartilhados e outros que se
189
transformaram com o tempo na liacutengua de sinais Cada grupo pertence a
um contexto social diferente A liacutengua de sinais transforma e desenvolve
o conhecimento caseiro bem como a troca de informaccedilotildees a
participaccedilatildeo na associaccedilatildeo de surdos e na busca de mais contato com
outros surdos Na escola o surdo conseguia aprender mais quando o
professor surdo (Francisco) ensinava na liacutengua de sinais e tambeacutem
quando proporcionava aos seus alunos um contato social que antes natildeo
existia
190
191
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ANEXOS
Anaacutelise Comparativa dos Dados Variaccedilatildeo e Mudanccedila Linguiacutestica
Sinais
(Leacutexico)
Forma do
Sinal
(Configuraccedilatildeo
de Matildeos)
Identificaccedilatildeo
de Classe
Faixa
Etaacuteria
(Grupo)
Geraccedilatildeo
Ajudar1
CM ndash 63
Informante
H D E F A
C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Ajudar2
CM ndash 02 63
Informante
D E B
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Ajudar3
CM ndash 01 63
Informante
H I F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Ajudar4
CM ndash 14 63
Informante
I E F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Aluno1
CM ndash 01
Informante
G I A B C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Aluno2
CM ndash 63
Informante
G H I D B
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Amanhatilde1 CM ndash 14 Informante 60 a 80 I
200
H Anos
Amanhatilde2 CM ndash 63 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Amanhatilde3
CM ndash 35a
Informante
I A B
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Antes1 CM ndash 53a Informante
I
60 a 80
Anos
I
Antes2 CM ndash 63 Informante
I
60 a 80
Anos
I
Antes3
CM ndash 08a 63
Informante
G E F B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Aposentar1
CM ndash 02 57
Informante
G I F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Aposentar2
CM ndash 01 11
Informante
G I F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Aposentar3 CM ndash 07 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Associaccedilatildeo1
CM ndash 01
(2 matildeos)
Informante
G I F D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Associaccedilatildeo2
CM ndash 01
(1 matildeo)
Informante
I D E F A
B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
60 a 80
201
Aula1 CM ndash 63 Informante
G H I E D
A C
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Aviatildeo1 CM ndash 53a Informante
G
60 a 80
Anos
I
Aviatildeo2 CM ndash 36 37a Informante
E F
30 a 60
Anos
II
Aviatildeo3
CM ndash 40
Informante
D E F A B
C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Avocirc1 CM ndash 30 31 Informante
G I
60 a 80
Anos
I
Avocirc2 CM ndash 02 57 Informante
H I
60 a 80
Anos
I
Avocirc3
CM ndash 02
Informante
H I D E F
A
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Azul1 CM ndash 01 Informante
G I
60 a 80
Anos
I
A-z-u-l2 CM ndash 01 08a
14 24
Informante
G I
60 a 80
Anos
I
Azul3
CM ndash 01 08a
Informante
D E F A B
C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Bairro CM ndash 14 63 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Banco1
CM ndash 61
Informante
G H I F
60 a 80 Anos
30 a 60
Anos
I II
Banco2
CM ndash 53a
Informante
60 a 80
Anos
I II III
202
G I F C 30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
Batata1 CM ndash 62 Informante
H
60 a 80
Anos
I
Batata2 CM ndash 63 Informante
H
60 a 80
Anos
I
Branco1
CM ndash 63
Informante
H I B
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Branco2 CM ndash 35a Informante
G
60 a 80
Anos
I
Cafeacute
CM ndash 49
Informante
G F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Calma1
CM ndash 63
(2 matildeos)
Informante
G H I D E
F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Calma2
CM ndash 63
(1 matildeo)
Informante
H I E B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Cama1 CM ndash 37a Informante
G
60 a 80
Anos
I
Cama2 CM ndash 63 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Cavalo1 CM ndash 02 Informante
H
60 a 80
Anos
I
Cavalo2 CM ndash 27 Informante
H I
60 a 80
Anos
I
Chorar1 CM ndash 14 Informante
D
30 a 60
Anos
II
203
Chorar2 CM ndash 18a Informante
H I
60 a 80
Anos
I
Crianccedila1
CM ndash 63
(pequeno)
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Crianccedila2 CM ndash 64 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Crianccedila3
CM ndash 14 63
Informante
D E A C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Crianccedila4 CM ndash 57 63 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Cobra1 CM ndash 14 Informante
H
60 a 80
Anos
I
Cobra2
CM ndash 31
Informante
E F A B
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Conversar1
CM ndash 14
Informante
G H F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Conversar2 CM ndash 63
(2 matildeos)
Informante
G H I D E
F A
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Conversar3 CM ndash 28 Informante
D
30 a 60
Anos
II
Conversar4 CM ndash 44 Informante
D E F
30 a 60
Anos
II
Conversar5 CM ndash 21 Informante
H
60 a 80
Anos
I
Cortar1 CM ndash 14 Informante
H
60 a 80
Anos
I
204
Cortar2 CM ndash 63 Informante
H
60 a 80
Anos
I
Cortar3
CM ndash 14 24
Informante
E B
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Cultura CM - 31 Informante
A B C
15 a 30
Anos
III
Dormir1
CM ndash 63
(1 matildeos e 2
matildeos)
Informante
G H I F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Dormir2 CM ndash 02 47 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Dormir3
CM ndash 21 24
32
Informante
G D F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Depois1 CM ndash 53a
(2 matildeos)
Informante
H I A B C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Depois2
CM ndash 14
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Depois3
CM ndash 53a
(1 matildeo)
Informante
G D E F A
B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Educaccedilatildeo1 CM ndash 46a Informante
H
60 a 80
Anos
I
Educaccedilatildeo2 CM ndash 45 57 Informante
G
60 a 80
Anos
I
205
Escola1
CM ndash 63
Informante
G H I D E
F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Escola2
CM ndash 63
(duas matildeos)
Informante
D E A B C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Estudar
CM ndash 63
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Emagrecer1 CM ndash 39 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Emagrecer2 CM ndash 47 ou 57 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Engordar1 CM ndash 02 Informante
G H
60 a 80
Anos
I
Engordar2 CM ndash 47 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Engravidar1 CM ndash 14 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Engravidar2 CM ndash 53a Informante
H
60 a 80
Anos
I
Faacutecil1 CM ndash 63 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Faacutecil2 CM ndash 48 Informante
I
60 a 80
Anos
I
Faacutecil3 CM ndash 35a Informante
C
15 a 30
Anos
III
Faculdade1
CM ndash 54
Informante
F A C
30 a 60
Anos
15 a 30 Anos
II III
Faculdade2 CM ndash 21 Informante
I
60 a 80
Anos
I
Faculdade3 CM ndash 55 Informante
A B
15 a 30
Anos
III
206
Falar1
CM ndash 14
Informante
G H D E F
C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Falar2
CM ndash 49
Informante
H D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Falar3
CM ndash 11
(E 1 matildeo e 2
matildeos)
Informante
G H I D E
A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Falar4 CM ndash 21 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Falar5 CM ndash 44 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Feio1
CM ndash 08a
Informante
F B
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Feio2
CM ndash 08a
Informante
D E A
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Feio3 CM ndash 07 64 Informante
G H I
60 a 80
Anos
I
Flor1 CM ndash 57 Informante
D
30 a 60
Anos
II
Flor2 CM ndash 54 Informante
I
60 a 80
Anos
I
Forte1 CM ndash 14 Informante
F
30 a 60
Anos
II
Forte2
CM ndash 02
(2 matildeos)
Informante
G H I D C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II III
207
15 a 30
Anos
Forte3 CM ndash 32
(1 matildeo)
Informante
I
60 a 80
Anos
I
Gato1
CM ndash 08b 20
Informante
G H C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Gato2 CM ndash 59a Informante
I
60 a 80
Anos
I
Gato3 CM ndash 20 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Gostar1 CM ndash 44 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Gostar2 CM ndash 63 Informante
E F
30 a 60
Anos
II
Homem1
CM ndash 50
Informante
G H I D F
A B
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Homem2
CM ndash 21
Informante
H I D F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Hospital1
CM ndash 14
(1 matildeo e 2
matildeos) cruz
Informante
H I C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Hospiatl2
CM ndash 16
Informante
D E F B C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Igreja1 CM ndash 14
(cruz)
Informante
F
30 a 60
Anos
II
Igreja2
CM ndash 14 15
Informante
60 a 80
Anos
I II III
208
H I D E F
A B C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
Igual1
CM ndash 14
Informante
G H I D E
F B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Igual2
CM ndash 14 ( )
Informante
H B
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Igual3
CM ndash 14
(mesmo)
Informante
F C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Igual4 CM ndash 24
(1 matildeo)
Informante
G I A B C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Igual5
CM ndash 24
(2 matildeos)
Informante
I D E F A
B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Igual6 CM ndash 53a Informante
A
15 a 30
Anos
III
Igual7
CM ndash 61
Informante
I A C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Irmatildeo1
CM ndash 14
Informante G H D F
60 a 80
Anos 30 a 60
Anos
I II
Irmatildeo2 CM ndash 24 Informante
D E F
30 a 60
Anos
II
209
Lembrar1
CM ndash 14
Informante
G H D E A
B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Lembrar2
CM ndash 32
Informante
D E F A B
C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Limpar1 CM ndash 02 Informante
H D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Limpar2
CM ndash 64
Informante
H E
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Limpar3
CM ndash 08a
Informante
H D E F A
B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Livro1 CM ndash 63
(duas matildeos)
Informante
G
60 a 80
Anos
I
Livro2
CM ndash 63 08a
Informante
H D E F A
B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Lutar1
CM ndash 08a
Informante
I A B
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Lutar2 CM ndash 02 63 Informante
I D E A B
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II III
210
15 a 30
Anos
Matildee1
CM ndash 63
Informante
H E F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Matildee2 CM ndash 02 07 Informante
A B C
15 a 30
Anos
III
Matildee3
CM ndash 14
Informante I
D B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Matildee4 CM ndash 63
(m)
Informante
G
60 a 80
Anos
I
Matildee5
CM ndash 02
Informante
I D F A
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
M-atilde-e6 CM ndash 01 06
60
Informante
F
30 a 60
Anos
II
Matildee7 CM ndash 02 Informante
F
30 a 60
Anos
II
Mais1
CM ndash 63
Informante
G I E A B
C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Mais2
CM ndash 63
(2 matildeos)
Informante
I D E A
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos 15 a 30
Anos
I II III
Mais3 CM ndash 08a Informante
G I E F
60 a 80
Anos
I II
211
30 a 60
Anos
Mais4
CM ndash 14
Informante
I E C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Matemaacutetica1
CM ndash 02
Informante
G H I D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Matemaacutetica2
CM ndash 58
Informante
G H I F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Meacutedico1
CM ndash 44
Informante
G F B
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Meacutedico2
CM ndash 16
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Medo1
CM ndash 34 64
Informante
H D F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
III
Medo2 CM ndash 02 Informante
E F
30 a 60
Anos
II
Medo3 CM ndash 33 Informante
F
30 a 60
Anos
II
Melhor1
CM ndash 45
Informante
G H I E
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
212
Melhor2
CM ndash 07
Informante
H I E A B
C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Melhor3
CM ndash 63
Informante
H A C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Morrer1 CM ndash 63 63
(2 matildeos)
Informante
H
60 a 80
Anos
I
Morrer2
CM ndash 63
Informante
H I D E F
C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Mudar1
CM ndash 07
Informante
G H E A B
C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
30 a 60
Anos
I II III
Mudar2 CM ndash 44
(1 matildeo e 2
matildeos)
Informante
H I E F B
C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Mulher1 CM ndash 07
(menina) (oral)
Informante
H
60 a 80
Anos
I
Mulher2
CM ndash 07 63
Informante
H D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Mulher3
CM ndash 07
Informante
G I D E F
B
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II III
213
15 a 30
Anos
Noite1
CM ndash 57 44
Informante
G D F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Noite2
CM ndash 53
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Nome1
CM ndash 21
Informante
G H I A
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Nome2
CM ndash 24
Informante
G H I D E
F A C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Noacutes1
CM ndash 14
Informante
G D E F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Noacutes2
CM ndash 14
Informante
E A
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
N-u-n1
CM ndash 24
Informante
I D E
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
N-u-n-c-a2
CM ndash 01 24
51a
Informante
I D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
214
Nunca3
CM ndash 14
(2 matildeos)
Informante
I D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Objetivo1 CM ndash 42 58 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Objetivo2 CM ndash 14 Informante
B
15 a 30
Anos
III
Ocircnibus1 CM ndash 07 Informante
F
30 a 60
Anos
II
Ocircnibus2 CM ndash 31 Informante
I B
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Ovo1 CM ndash 44 57 Informante
I
60 a 80
Anos
I
O-v-o2 CM ndash 42 32 Informante
G H
60 a 80
Anos
I
Padre1 CM ndash 11 Informante
G
30 a 60
Anos
II
Padre2
CM ndash 21
Informante
G H D F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Padre3
CM ndash 24
Informante
I F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
P-a-i1
CM ndash 01 11
38
Informante
G H I D E
F A
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Pai2
CM ndash 11 (p)
Informante
G H F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II III
215
15 a 30
Anos
Pai3 CM ndash 14 Informante
G H I
60 a 80
Anos
I
Pai4
CM ndash 16
Informante
I F B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Pai5
CM ndash 02 45
Informante
E A B C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Patildeo1 CM ndash 02 47
57
Informante
H
60 a 80
Anos
I
Patildeo2 CM ndash 63 Informante
H
60 a 80
Anos
I
Patildeo3
CM ndash 01
Informante
I F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Peixe1 CM ndash 16 Informante
G I
60 a 80
Anos
I
Peixe2
CM ndash 63
Informante
I F A
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Pessoa1
CM ndash 11
Informante
G I C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Pessoa2
CM ndash 35a
Informante
I D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Pessoa3
CM ndash 18a
Informante
F A C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
216
Pode-Natildeo1 CM ndash 14
(2 matildeos)
Informante
D E
30 a 60
Anos
II
Pode-Natildeo2 CM ndash 14
(1 matildeo)
Informante
F
30 a 60
Anos
II
Poliacutetica1 CM ndash 11 51a Informante
G I
60 a 80
Anos
I
Poliacutetica2
CM ndash 11
Informante
I E B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Poliacutetica3 CM ndash 14 Informante
D E
30 a 60
Anos
II
Porque1
CM ndash 15
Informante
G H I D F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Porque2 CM ndash 14 Informante
G H I E F
A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Povo1 CM ndash 02 64 Informante
G I
60 a 80
Anos
I
Povo2 CM ndash 11 Informante
I
60 a 80
Anos
I
P-o-v-o3 CM ndash 11 32
42
Informante
I
60 a 80
Anos
I
Preto1
CM ndash 05
Informante
G H I F B
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Preto2 CM ndash 34 62 Informante
G H I
60 a 80
Anos
I
Primeiro1
CM ndash 07 14
Informante
60 a 80
Anos
I II III
217
G I E F C 30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
Primeiro2
CM ndash 14
Informante
H F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Primeiro3 CM ndash 14
(duas matildeos)
Informante
D
30 a 60
Anos
II
Primeiro4
CM ndash 07
Informante
F E C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Profissional
1
CM ndash 11 Informante
I
60 a 80
Anos
I
Profissional
2
CM ndash 63 Informante
C
15 a 30
Anos
III
Prova1 CM ndash 63 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Prova2
CM ndash 53a
(duas matildeos)
Informante
E F A B C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Respeitar1 CM ndash 53a Informante
D E
30 a 60
Anos
II
Respeitar2 CM ndash 25 Informante
E F
30 a 60
Anos
II
Responsaacutevel
1
CM ndash 25
Informante
I D E B
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Responsaacutevel
2
CM ndash 25
(duas matildeos)
Informante
I D E F A
B
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II III
218
15 a 30
Anos
Responsaacutevel
3
CM ndash 63
(duas matildeos)
Informante
G I
60 a 80
Anos
I
Reuniatildeo1 CM ndash 15 Informante
D
30 a 60
Anos
II
Reuniatildeo2
CM ndash 25
Informante
D E A
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Reuniatildeo3 CM ndash 14 Informante
G H D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Saber1
CM ndash 63
Informante
D B C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Saber2
CM ndash 14
Informante
G H I D E
F A C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Saber3
CM ndash 44 53a
Informante
G H I F A
B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Saber4
CM ndash 11
Informante
E F C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Semana1 CM ndash 10 Informante
D E
30 a 60
Anos
II
Semana2 CM ndash 10 Informante
B
15 a 30
Anos
III
Semana3 CM ndash 08a 64 Informante
I
60 a 80
Anos
I
219
Sim1
CM ndash 02
Informante
H D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
S-i-m2 CM ndash 02 38
60
Informante
H I
60 a 80
Anos
I
Sim3 CM ndash 59a 63 Informante
G H
60 a 80
Anos
I
Surdo1
CM ndash 14
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Surdo2
CM ndash 25
Informante
G I D E B
C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Tambeacutem1
CM ndash 61
Informante
G H I D E
A
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Tambeacutem2
CM ndash 14
Informante
G H I D E
F B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Tarde1 CM ndash 63 Informante
G H I
60 a 80
Anos
I
Tarde2 CM ndash 44 47
63
Informante
H
60 a 80
Anos
I
Tarde3 CM ndash 63 Informante
G H
60 a 80
Anos
I
Teatro1 CM ndash 57 Informante
I
60 a 80
Anos
I
220
Teatro2 CM ndash 49 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Tempo1
CM ndash 14
Informante
H I D E A
B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Tempo2
CM ndash 57
Informante
H I D E
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Tempo3
CM ndash 63
Informante
G I D E C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Tempo4
CM ndash 45
Informante
G D E F A
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Ter1
CM ndash 63 64
Informante
G H I D F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Ter2
CM ndash 08a
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Tio1
CM ndash 56
Informante
H F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Tio2
CM ndash 51b
Informante
30 a 60
Anos
II III
221
D E F A B
C
15 a 30
Anos
Trabalhar1
CM ndash 08a
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Trabalhar2
CM ndash 14
Informante
H I F A
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Trabalhar3 CM ndash 24 Informante
I
60 a 80
Anos
I
Tudo CM ndash 63
(duas matildeos)
Informante
F
30 a 60
Anos
II
Vagabundo1 CM ndash 63 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Vagabundo2 CM ndash 64 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Ver1 CM ndash 14 Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Ver2
CM ndash 32
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Ver3
CM ndash 64
Informante D E B C
30 a 60
Anos 15 a 30
Anos
II III
Vergonha1
CM ndash 64
Informante
60 a 80
Anos
I II
222
I E 30 a 60
Anos
Vergonha2 CM ndash 11 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Vermelho1 CM ndash 32 Informante
G H I
60 a 80
Anos
I
Vermelho2 CM ndash 14 Informante
G H I
60 a 80
Anos
I
Viajar1 CM ndash 63 Informante
D E F
30 a 60
Anos
II
Viajar2 CM ndash 45 Informante
F
30 a 60
Anos
II
WC CM ndash 48 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Palavras no total 255 sinais lexicais
Palavra Ajudar 4 Sinais Palavra Mais 4 Sinais
Palavra Aluno 2 Sinais Palavra Matemaacutetica 2 Sinais
Palavra Amanhatilde 3 Sinais Palavra Meacutedico 2 Sinais
Palavra Antes 3 Sinais Palavra Medo 3 Sinais
palavra Aposentar 3 Sinais Palavra Melhor 3 Sinais
Palavra Associaccedilatildeo 2 Sinais Palavra Morrer 2 Sinais
Palavra Aula 1 Sinal Palavra Mudar 2 Sinais
Palavra Aviatildeo 3 Sinais Palavra Mulher 3 Sinais
Palavra Avocirc 3 Sinais Palavra Noite 2 Sinais
Palavra Azul 3 Sinais Palavra Nome 2 Sinais
Palavra Bairro 1 Sinal Palavra Noacutes 2 Sinais
Palavra Banco 2 Sinais Palavra Nunca 3 Sinais
Palavra Batata 2 Sinais Palavra Objetivo 2 Sinais
Palavra Branco 2 Sinais Palavra Ocircnibus 2 Sinais
Palavra Cafeacute 1 Sinal Palavra Ovo 2 Sinais
Palavra Calma 2 Sinais Palavra Padre 3 Sinais
Palavra Cama 2 Sinais Palavra Pai 5 Sinais
Palavra Cavalo 2 Sinais Palavra Patildeo 3 Sinais
Palavra Chorar 2 Sinais Palavra Peixe 2 Sinais
Palavra Crianccedila 4 Sinais Palavra Pessoa 3 Sinais
Palavra Cobra 2 Sinais Palavra Pode-natildeo 2 Sinais
Palavra Conversar 5 Sinais Palavra Poliacutetica 3 Sinais
Palavra Cortar 3 Sinais Palavra Porque 2 Sinais
223
Palavra Cultura 1 Sinal Palavra Povo 3 Sinais
Palavra Dormir 3 Sinais Palavra Preto 2 Sinais
Palavra Depois 3 Sinais Palavra Primeiro 4 Sinais
Palavra Educaccedilatildeo 2 Sinais Palavra Profissional 2 Sinais
Palavra Escola 2 Sinais Palavra Prova 2 Sinais
Palavra Estudar 1 Sinal Palavra Respeitar 2 Sinais
Palavra Emagrecer 2 Sinais Palavra Responsaacutevel 3 Sinais
Palavra Engordar 2 Sinais Palavra Reuniatildeo 3 Sinais
Palavra Engravidar 2 Sinais Palavra Saber 4 Sinais
Palavra Faacutecil 3 Sinais Palavra Semana 3 Sinais
Palavra Faculdade 3 Sinais Palavra Sim 3 Sinais
Palavra Falar 5 Sinais Palavra Surdo 2 Sinais
Palavra Feio 3 Sinais Palavra Tambeacutem 2 Sinais
Palavra Flor 2 Sinais Palavra Tarde 3 Sinais
Palavra Forte 3 Sinais Palavra Teatro 2 Sinais
Palavra Gato 3 Sinais Palavra Tempo 4 Sinais
Palavra Gostar 2 Sinais Palavra Ter 2 Sinais
Palavra Homem 2 Sinais Palavra Tio 2 Sinais
Palavra Hospital 2 Sinais Palavra Trabalhar 3 Sinais
Palavra Igreja 2 Sinais Palavra Tudo 1 Sinal
Palavra Igual 7 Sinais Palavra Vagabundo 2 Sinais
Palavra Irmatildeo 2 Sinais Palavra Ver 3 Sinais
Palavra Lembrar 2 Sinais Palavra Vergonha 2 Sinais
Palavra Limpar 3 Sinais Palavra Vermelho 2 Sinais
Palavra Livro 2 Sinais Palavra Viajar 2 Sinais
Palavra Lutar 2 Sinais Palavra WC 1 Sinal
Palavra Matildee 7 Sinais
224
225
AS CONFIGURACcedilOtildeES DE MAtildeOS
Cm 01
Cm 02
Cm 03
Cm 04
Cm 05
Cm 06
Cm 07
Cm 08a
Cm 08b
Cm 09
Cm 10
Cm 11
Cm 12
Cm 13
Cm 14
Cm 15
Cm 16
Cm 17
Cm 18a
Cm 18b
Cm 19
Cm 20
Cm 21
Cm 22a
Cm 22b
Cm 23
Cm 24
Cm 25
Cm 26
Cm 27
226
Cm 28
Cm 29a
Cm 29b
Cm 30
Cm 31
Cm 32
Cm 33
Cm 34
Cm 35a
Cm 35b
Cm 36
Cm 37a
Cm 37b
Cm 38
Cm 39
Cm 40
Cm 41
Cm 42
Cm 43
Cm 44
Cm 45
Cm 46a
Cm 46b
Cm 47
Cm 48
Cm 49
Cm 50
Cm 51a
Cm 51b
Cm 52
Cm 53a
Cm 53b
Cm 54
Cm 55
Cm 56
227
Cm 57
Cm 58
Cm 59a
Cm 60
Cm 61
Cm 62
Cm 63
Cm 64
228
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais por terem me acompanhado e me dado forccedila para
essa caminhada
A minha amada esposa por ter paciecircncia comigo durante todos
esses anos
Aos meus filhos Eduardo Espiacutendola Schmitt e Mocircnica Espiacutendola
Schmitt que sofreu juntamente com minha esposa cuidando dele nas
cansativas muito correria de trabalho por motivo de paciecircncia comigo
durante do estudo e trabalho
Ao Sr Francisco Lima Juacutenior guerreiro no movimento de surdos
pela primeira escola e associaccedilatildeo que marca o registro histoacuterico na
liacutengua de sinais sofreram a mudanccedila o tempo em Santa Catarina
A Associaccedilatildeo de Surdos da Grande Florianoacutepolis Sociedade de
Surdos de Satildeo Joseacute Universidade Federal de Santa Catarina
Universidade do Estado de Santa Catarina Grupo de Estudos Surdos e
Comunidade Surda pelo seu apoio
Agrave professora Dra Izete Lehmkul Coelho (UFSC) pela sua
orientaccedilatildeo de pesquisa na aacuterea em sociolinguiacutestica e me dava a
disciplina no estudo referecircncia teoacuterico
Ao meu co-orientador Dr Tarciacutesio de Arantes Leite pela sua
orientaccedilatildeo muito detalhe no estudo as liacutenguas de sinais
Aos colegas de LetrasLIBRAS pelo incentivo e forccedila de vontade
no compartilhamento das experiecircncias no estudo linguiacutestico dos surdos
A Dra Ronice Muller de Quadros abriu a oportunidade de espaccedilo
acadecircmico na liacutengua de sinais na Universidade Federal de Santa
Catarina ndash UFSC
A Prof Dra Edair Maria Goumlrski convidado especial na disciplina
sociolinguiacutestica na banca de examinadora e antes tambeacutem esteve na
minha qualificaccedilatildeo em 2012
Aos colegas surdos na faixa etaacuteria que compartilharam comigo
durante as entrevistas de gravaccedilotildees sobre a histoacuteria de surdos em Santa
Catarina
A CAPES e REUNI pelo fornecimento de bolsa no programa de
poacutes-graduaccedilatildeo - PGL oferecendo-me a oportunidade de desenvolver
meu estudo e pesquisa
Convidado especial nas bancas de examinadoras Fabiacuteola Sucupira
Ferreira Sell Karin Liacutelian Strobel e Lodenir Becker Karnopp membro e
suplente Aline Lemos Pizzio e Suelli Costa
Aacutes colegas Edgar Correa Veras Nataacutelia Schleder Rigo e Tiago
Coimbra Nogueira que me interpretaram na banca de qualificaccedilatildeo em
2012 Daniela Bieleski Diego Mauricio Barbosa e Gisele Iandra Pessini
Anater que me interpretaram na banca avaliaccedilatildeo de defesa
A Maria Eloiza de Macedo por nos ajudar com discussotildees na
revisatildeo e pela paciecircncia e comprometimento e
Apoio a ediccedilatildeo de filmagem satildeo Marcos Luchi Joatildeo Paulo
Ampessan e Marcos Alexandre Marquioto
RESUMO
Esta pesquisa visa identificar possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas
linguiacutesticas ocorridas na Liacutengua Brasileira de Sinais (LIBRAS) no periacuteodo
histoacuterico de 1946 a 2010 analisando narrativas filmadas de trecircs geraccedilotildees de
sujeitos surdos usuaacuterios dessa liacutengua O Grupo I eacute formado por indiviacuteduos
com mais de 60 anos o Grupo II por indiviacuteduos de 30 a 60 anos o Grupo
III eacute formado por indiviacuteduos de 15 a 30 anos Na primeira parte do trabalho
apresentamos uma revisatildeo de base teoacuterico-metodoloacutegica fundamentada nos
estudos de Labov (2008 [1972]) sobre mudanccedilas linguiacutesticas no contexto
social observadas em tempo aparente na ilha de Martha‟s Vineyard e em
Nova York A concepccedilatildeo da variaccedilatildeo sociolinguiacutestica pode nos ajudar nesta
investigaccedilatildeo que versa sobre a histoacuteria da LIBRAS em Santa Catarina no
periacuteodo jaacute referido A partir da teoria laboviana analisam-se certos padrotildees
sociolinguiacutesticos verificados nesta pesquisa Considera-se o fato de apenas
uma pessoa ter influenciado toda uma comunidade de surdos em Santa
Catarina o professor Francisco Lima Juacutenior que veio do Rio de Janeiro
para Florianoacutepolis em 1946 Baseando-nos nesta data escolhemos o periacuteodo
acima citado para traccedilar um percurso de possiacuteveis transformaccedilotildees
linguiacutesticas de natureza interna e externa ocorridas na LIBRAS em Santa
Catarina Os resultados desta pesquisa apontam que haacute variaccedilatildeo e mudanccedila
em tempo aparente na LIBRAS relacionando o contexto linguiacutestico atual
dos jovens (Grupo III) a transformaccedilotildees histoacutericas e sociais observadas na
comunidade surda em Santa Catarina
Palavras-chave Histoacuteria da LIBRAS sociolinguiacutestica soacutecio-histoacuterico
variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas
ABSTRACT
This research aims to identify eventual linguistic variations and
changes in Brazilian Sign Language (LIBRAS) in the period from 1946 to
2010 through the analysis of the filmed narratives of three generations of
deaf people users of that language Group I is formed by individuals over
60 years-old Group II by individuals between 30 and 60 years-old and
Group III individuals between 15 and 30 years-old In the first part of this
research we present a theoretical-methodological review based on the
studies of Labov (2008 [1972]) about the social context of changes
observed in apparent time in Martha‟s Vineyard and in New York City We
believe the theory of language variation and change can help us in this
research which deals with the history of LIBRAS in Santa Catarina in the
period mentioned above Based on Labov‟s theory we analize certain
sociolinguistic patterns that were verified in this research We consider the
fact that only one person had influence on a whole deaf community in its
linguistic development teacher Francisco Lima Juacutenior who came from Rio
de Janeiro to Florianoacutepolis in 1946 Considering this date we chose the
period from 1946 to 2010 to trace back the path of eventual linguistic
transformations both internal and external in LIBRAS in Santa Catarina
We expect that in the outcome of this research there is variation and change
in apparent time of LIBRAS relating the present context linguistic to youth
(Group III) to the historical and social transformations observed the deaf
community in Santa Catarina
Keywords History of LIBRAS sociolinguistics sociohistory language
variation and change
RESUMEN
El objetivo de esta investigacioacuten es identificar posibles variaciones y
cambios linguiacutesticos ocurridos en la Lengua Brasilentildea de Sentildeales
(LIBRAS) en el periodo comprendido entre 1946 y 2010 analizando
narrativas grabadas de tres generaciones de individuos sordos usuarios de
esa lengua El Grupo I esta formado por individuos con maacutes de 60 antildeos el
Grupo II por individuos de 30 a 60 antildeos el Grupo III es formado por
individuos de 15 a 30 antildeos Se presenta en la primera etapa de la
investigacioacuten un repaso teoacuterico-metodoloacutegico fundamentado en los estudios
de Labov (2008 [1972]) acerca de cambios linguiacutesticos en el contexto
social observados en tiempo aparente en la Isla de Martha‟s Vineyard y en
Nueva York La concepcioacuten de la variacioacuten sociolinguiacutestica nos puede
ayudar en este estudio el cual trata de la historia de la LIBRAS en Santa
Catarina en el periodo mencionado A partir de la teoriacutea laboviana se
analizan ciertos patrones sociolinguiacutesticos verificados en esta investigacioacuten
Se considera el hecho de solo una persona haber influenciado toda la
comunidad de sordos en Santa Catarina el profesor Francisco Lima Juacutenior
que partioacute del Rio de Janeiro para Florianoacutepolis en el antildeo de 1946 Con base
en esta fecha elegimos el periodo antes mencionado para disentildear una
trayectoria de las posibles transformaciones linguiacutesticas de caraacutecter interno
y externo ocurridas en la lengua de sentildeales en Santa Catarina Se espera que
los resultados de esta investigacioacuten indiquen que existe una variacion y
cambio en el tiempo aparente en LIBRAS relacionando el contexto
linguiacutesticas actual a joacutevenes (Grupo III) las transformaciones historicas y
sociales observados la comunidad sorda de Santa Catarina
Palabras-clave Historia de la LIBRAS sociolinguiacutestica sociohistorio
variacioacuten y cambio linguiacutesticos
LISTA DE ABREVIATURAS
ACT ndash Admissatildeo em Caraacuteter Temporaacuterio
ASL ndash Liacutengua de Sinais Americana
ASURJ ndash Associaccedilatildeo dos Surdos de Rio de Janeiro
BESC ndash Banco do Estado de Santa Catarina
BSL ndash Liacutengua de Sinais Britacircnica
CAPES ndash Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel
Superior
CELESC ndash Centrais Eleacutetricas de Santa Catarina SA
CSMSC ndash Ciacuterculo de Surdos-Mudos de Santa Catarina
FCEE ndash Fundaccedilatildeo Catarinense de Educaccedilatildeo Especial
FENEIS ndash Federaccedilatildeo Nacional de Educaccedilatildeo e Integraccedilatildeo dos Surdos
FUTSAL ndash Futebol de Salatildeo
IATEL ndash Instituto de Audiccedilatildeo e Terapia da Linguagem
INES ndash Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos
INSM ndash Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos-Mudos
IPS ndash Instituto Paulista de Surdos
LIBRAS ndash Liacutengua Brasileira de Sinais
LSB ndash Liacutengua de Sinais Brasileiras
LSF ndash Liacutengua de Sinais Francesa
MEC ndash Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
NEESPI ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo Especial e Inclusiva
PGL ndash Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica
REUNI ndash Programa de Apoio a Planos de Reestruturaccedilatildeo e Expansatildeo
das Universidades Federais Brasileiras
UFSC ndash Universidade Federal de Santa Catarina
UNIVALI ndash Universidade do Vale do Itajaiacute
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 ndash Sinal de Matildee35
Figura 02 ndash Sinal de Matildee37
Figura 03 ndash Retirado do livro de GROCE Nora Ellen Everyone Here
Spoke Sign Language Hereditary Deafness on Martha‟s Vineyard
Printed in the United States of America 195244
Figura 04 ndash Retirado do livro de LABOV Willian Padrotildees
Sociolinguiacutesticos45
Figura 05 ndash Retirado no site
httpcawikipediaorgwikiMartha27s_Vineyard45
Figura 06 ndash O trapezoacuteide das vogais a flecha indica a direccedilatildeo de
movimento do primeiro elemento de (aw)62
Figura 07 ndash Sinal de Porco67
Figura 08 ndash Abade L‟Epeacutee ensinando os surdos na liacutengua de sinais
francesa72
Figura 09 ndash Acervo na Revista da FENEIS81
Figura 10 ndash Acervo de Ana Regina e Souza Campello ndash UFSC83
Figura 11 ndash Acervo da Heloise Gripp Diniz ndash UFSC 0184
Figura 12 ndash Acervo da Heloise Gripp Diniz ndash UFSC 0284
Figura 13 ndash Acervo do Francisco - eacute o primeiro dicionaacuterio na liacutengua de
sinais em Santa Catarina em 194793
Figura 14 ndash Acervo do Profdeg Francisco - fotografia de Jornal que traz
reportagem sobre o livro ldquoLinguagem das Matildeosrdquo96
Figura 15 ndash Mostrar os Sinais106
Figura 16 ndash Variaccedilatildeo Fonoloacutegica108
Figura 17 ndash Mostrar os sinais com uma matildeo e com duas matildeos108
Figura 18 ndash Sinal de Paacutessaro110
Figura 19 e 20 ndash Ferreira-Brito e Langevin112
Figura 21 ndash httpwwwinesgovbrlibrasprincipalaspASSU_id=3112
Figura 22 ndash Quadro de CMs da LSB por Pimenta e Quadros112
Figura 23 ndash Sinal - ldquoCultura em SCrdquo115
Figura 24 ndash Sinal - ldquoCultura em SPrdquo115
Figura 25 ndash Sinal - ldquoCultura em RJrdquo115
Figura 26 ndash Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo ndash Depto Educaccedilatildeo
Especial ndash CuritibaPR SEEDSUEDDEE117
Figura 27 ndash Sinal de Ajudar118
Figura 28 ndash Sinal de Faltar119
Figura 29 ndash Sinal de Ocircnibus119
Figura 30 ndash Sinal de Sonhar119
Figura 31 CM ndash 01 11154
Figura 32 CM ndash 02 57154
Figura 33 CM ndash 07155
Figura 34 CM ndash 01 11154
Figura 35 CM ndash 02 57154
Figura 36 CM ndash 01 11154
Figura 37 CM ndash 53a156
Figura 38 CM ndash 36156
Figura 39 CM ndash 37a156
Figura 40 CM ndash 40156
Figura 41 CM ndash 40156
Figura 42 CM ndash 02157
Figura 43 CM ndash 14158
Figura 44 CM ndash 63158
Figura 45 CM ndash 02157
Figura 46 CM ndash 14158
Figura 47 CM ndash 63158
Figura 48 CM ndash 02 07157
Figura 49 CM ndash 14158
Figura 50 CM ndash 11159
Figura 51 CM ndash 14160
Figura 52 CM ndash 16160
Figura 53 CM ndash 16159
Figura 54 CM ndash 02 45160
Figura 55 CM ndash 11 38159
Figura 56 CM ndash 16160
Figura 57 CM ndash 02 45160
Figura 58 CM ndash 11 51a162
Figura 59 CM ndash 11162
Figura 60 CM ndash 14162
Figura 61 CM ndash 11162
Figura 62 CM ndash 34 62163
Figura 63 CM ndash 05163
Figura 64 CM ndash 05163
Figura 65 CM ndash 05163
Figura 66 CM ndash 14164
Figura 67 CM ndash 25164
Figura 68 CM ndash 14164
Figura 69 CM ndash 15165
Figura 70 CM ndash 25164
Figura 71 CM ndash 08a 64166
Figura 72 CM ndash 10166
Figura 73 CM ndash 10166
Figura 74 CM ndash 10166
Figura 75 CM ndash 53a168
Figura 76 CM ndash 61168
Figura 77 CM ndash 53a168
Figura 78 CM ndash 61168
Figura 79 CM ndash 53a168
Figura 80 CM ndash 07 64169
Figura 81 CM ndash 08a169
Figura 82 CM ndash 08a169
Figura 83 CM ndash 16170
Figura 84 CM ndash 44170
Figura 85 CM ndash 16170
Figura 86 CM ndash 44170
Figura 87 CM ndash 16170
Figura 88 CM ndash 21171
Figura 89 CM ndash 24171
Figura 90 CM ndash 24171
Figura 91 CM ndash 24171
Figura 92 CM ndash 14172
Figura 93 CM ndash 15173
Figura 94 CM ndash 14172
Figura 95 CM ndash 15173
Figura 96 CM ndash 14172
Figura 97 CM ndash 53a 63175
Figura 98 CM ndash 08a175
Figura 99 CM ndash 08a175
Figura 100 CM ndash 08a175
Figura 101 CM ndash 63177
Figura 102 CM ndash 14 24177
Figura 103 CM ndash 14177
Figura 104 CM ndash 14177
Figura 105 CM ndash 24177
Figura 106 CM ndash 24177
Figura 107 CM ndash 62180
Figura 108 CM ndash 24180
Figura 109 CM ndash 21181
Figura 110 CM ndash 11180
Figura 111 CM ndash 24180
Figura 112 CM ndash 21181
Figura 113 CM ndash 24180
Figura 114 CM ndash 63182
Figura 115 CM ndash 08a182
Figura 116 CM ndash 63182
Figura 117 CM ndash 08a182
Figura 118 CM ndash 08a182
LISTA DE QUADROS
Quadro 01 Sinal de Aposentar155
Quadro 02 Sinal de Aviatildeo156
Quadro 03 Sinal de Matildee158
Quadro 04 Sinal de Pai160
Quadro 05 Sinal de Poliacutetica162
Quadro 06 Sinal de Preto163
Quadro 07 Sinal de Reuniatildeo165
Quadro 08 Sinal de Semana166
Quadro 09 Sinal de Banco168
Quadro 10 Sinal de Feio169
Quadro 11 Sinal de Meacutedico170
Quadro 12 Sinal de Nome171
Quadro 13 Sinal de Porque173
Quadro 14 Sinal de Antes175
Quadro 15 Sinal de Cortar177
Quadro 16 Sinal de Padre181
Quadro 17 Sinal de Ter182
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 Centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por grupos
ocupacionais51
Tabela 02 Centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por faixa etaacuteria51
Tabela 03 Distribuiccedilatildeo geograacutefica da centralizaccedilatildeo53
Tabela 04 Cruzamento de fatores 6 falantes com o maior grau de
centralizaccedilatildeo55
Tabela 05 Centralizaccedilatildeo por grupos eacutetnicos56
Tabela 06 Centralizaccedilatildeo e atitude com relaccedilatildeo a Martha‟s Vineyard58
Tabela 07 A escala em tempo aparente eacute chamada de ldquogradaccedilatildeo
etaacuteriardquo61
Tabela 08 Mudanccedila de (aw) e (ay) em tempo aparente atraveacutes de duas
geraccedilotildees em Martha‟s Vineyard62
Tabela 09 Preliminar dos dados ndash variaccedilotildees ou mudanccedilas
linguiacutesticas151
SUMAacuteRIO
Introduzindo a pesquisa na liacutengua de sinais25 CAPIacuteTULO I ndash Delimitaccedilatildeo do objeto de pesquisa31
11 Introduccedilatildeo31
12 Mudanccedilas histoacutericas na LIBRAS e variaccedilotildees linguiacutesticas de
1946 a 2010 em Santa Catarina31
13 Objetivo Geral33
14 Objetivos especiacuteficos33
15 Questotildees e Hipoacuteteses de pesquisa na liacutengua de sinais37
CAPIacuteTULO II ndash Pressupostos teoacuterico-metodoloacutegicos da sociolinguiacutestica
laboviana39
21 Introduccedilatildeo39
22 A liacutengua em seu contexto social40
221 LABOV pesquisador pioneiro em sociolinguiacutestica40
222 A Ilha de Martha‟s Vineyard42
223 Seleccedilatildeo da variaacutevel linguiacutestica47
224 Distribuiccedilatildeo por idade e tempo50
225 Uma explicaccedilatildeo possiacutevel para o aumento da centralizaccedilatildeo52
226 A interaccedilatildeo de padrotildees linguiacutesticos e sociais54
23 Os princiacutepios da mudanccedila linguiacutestica59
231 A idade e a variaccedilatildeo estaacutevel60
232 A idade e a mudanccedila linguiacutestica61
233 Aplicando os conhecimentos da sociolinguiacutestica64
CAPIacuteTULO III ndash A histoacuteria social da liacutengua69
31 Introduccedilatildeo69
32 Charles Michel de LEpeacutee - Instituto Nacional de Surdos-Mudos
em Paris69
33 Eacutedouard Huet ndash Instituto Nacional Educaccedilatildeo de Surdos
(INESRJ)74
34 Francisco Lima Juacutenior - O Primeiro Professor Surdo na liacutengua
de sinais em Santa Catarina87
CAPIacuteTULO IV ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila na liacutengua de sinais101
41 Introduccedilatildeo101
42 A liacutengua de sinais pelo surdo indiacutecios de variaccedilatildeo e mudanccedila
linguiacutestica101
43 As variaccedilotildees linguiacutesticas na liacutengua de sinais116
44 O surdo se comunica a liacutengua de sinais no contexto social118
CAPIacuteTULO V ndash Metodologia121
51 Introduccedilatildeo121
52 A coleta de dados123
53 O meacutetodo de entrevista sociolinguiacutestica a coleta de narrativas
de experiecircncia pessoal124
54 A transcriccedilatildeo de dados dos trecircs grupos compostos de
informantes surdos na liacutengua de sinais126
55 Informantes do grupo surdo na liacutengua de sinais126
56 Descriccedilatildeo dos informantes quanto aos dados129
561 Grupo I - Informantes130
5611 Informante G130
5612 Informante H132
5613 Informante I134
562 Grupo II - Informantes135
5621 Informante D136
5622 Informante E137
5623 Informante F139
563 Grupo III - Informantes140
5631 Informante A140
5632 Informante B141
5633 Informante C143
564 ndash Algumas consideraccedilotildees finais146
CAPITULO VI ndash Descriccedilatildeo e anaacutelise dos resultados149
61 Introduccedilatildeo149
62 A comparaccedilatildeo dos dados o grupo de trecircs geraccedilotildees de surdos na
liacutengua de sinais149
63 Variaccedilatildeo e Mudanccedila lexical na Liacutengua Brasileira de Sinais152
64 Variaccedilatildeo e Mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua Brasileira de
Sinais173
65 O que dizem os resultados das trecircs geraccedilotildees dos informantes na
Liacutengua Brasileira de Sinais 183
Consideraccedilotildees Finais187
Referecircncias Bibliograacuteficas191
Anexos199
25
Introduzindo a pesquisa na liacutengua de sinais
Sou Surdo Pretendo investigar a variaccedilatildeo e a mudanccedila linguiacutestica
na liacutengua de sinais como trabalho final do curso de poacutes-graduaccedilatildeo em
Linguiacutestica niacutevel Doutorado e aprofundar os conceitos adquiridos no
meu mestrado Realizei a defesa do mestrado em 2008 na UFSC O
estudo foi feito na linha de pesquisa em Educaccedilatildeo e Processos
Inclusivos O tema abordado foi ldquoContextualizaccedilatildeo da Trajetoacuteria dos
Surdos e Educaccedilatildeo de Surdos em Santa Catarinardquo
Iniciei no mestrado pesquisando a Educaccedilatildeo de Surdos em SC
Como natildeo haacute documentaccedilatildeo histoacuterica busquei atraveacutes do depoimento
do professor surdo Francisco1 e tambeacutem de documentos e fotografias
que ele tinha resgatar um pouco da trajetoacuteria da Educaccedilatildeo de Surdos em
SC
Aquela pesquisa visava introduzir as narrativas de sujeitos surdos
no que tange a sua histoacuteria memoacuteria e identidade Minha posiccedilatildeo eacute que
atraveacutes dela eacute possiacutevel conseguir elucidar a caminhada realizada pelos
surdos de Santa Catarina E tambeacutem atraveacutes de narrativas captadas com
o professor Francisco Lima Juacutenior (Chiquito) e de alguns de seus ex-
alunos bem como de alguns dados de Jornais fotos e filmagens
consegue-se chegar a escrever a histoacuteria do movimento surdo de Santa
Catarina com respeito agrave organizaccedilatildeo e agrave educaccedilatildeo de surdos O tema foi
muito amplo para pesquisar no mestrado Entatildeo optei por pesquisar a
parte histoacuterica da liacutengua de sinais no mestrado e a parte linguiacutestica no
doutorado numa perspectiva sociolinguiacutestica
Na pesquisa de mestrado percebi que apareceram sinais
diferentes no depoimento de dois surdos que sinalizaram sobre a
Educaccedilatildeo de surdos Refleti sobre esses sinais diferentes e natildeo
conseguia explicaacute-los Entatildeo realizei o projeto de doutorado para
entender melhor essa diferenccedila de sinais estudando um tema mais
1 SCHMITT (2008) dissertaccedilatildeo de mestrado na UFSC Em 1928 nasceu em FlorianoacutepolisSC e inicia a vida de Francisco Lima Juacutenior Em 1937 a 1946 no INSMRJ Francisco inicia seus
estudos No ano de 1947 primeiro espaccedilo de educaccedilatildeo de surdos na garagem na casa dos pais
(Francisco) Em 1954 o encontro de surdos organiza a fundaccedilatildeo do Ciacuterculo Surdos-Mudos em Santa Catarina ndash CSMSC Em 1955 funda o Ciacuterculo Surdos-Mudos em Santa Catarina ndash
CSMSC e tambeacutem foi delegado na regiatildeo do sul Em 1960 teve iniacutecio o governo de Celso
Ramos Em 1963 iniciou a construccedilatildeo Escola Governador Celso Ramos Em 1964 a primeira turma de surdos na Escola Governador Celso Ramos Ex-alunos Surdos na primeira Turma
Escola Governador Celso Ramos em 1964 e 1969 Fundado em 25 de marccedilo de 1969 o
Instituto de Audiccedilatildeo e Terapia da Linguagem ndash IATEL e em 1997 o Francisco entregou o documento no Ciacuterculo Surdos-Mudos em Santa Catarina ndash CSMSC para a Sandra L Amorim e
atualmente ASGF Isso foi apresentado a minha pesquisa de biografia
26
especiacutefico ldquoA Histoacuteria da Liacutengua de Sinais em Santa Catarina
Contextos soacutecio-histoacutericos e sociolinguiacutesticos de surdos de 1946 a
2010rdquo
O trabalho de coleta de dados para esta pesquisa acontece em
forma de relatos filmados sobre a histoacuteria e as experiecircncias de vida de
cada indiviacuteduo em liacutengua de sinais de trecircs geraccedilotildees nas seguintes faixas
etaacuterias o Grupo I eacute formado por indiviacuteduos com mais de 60 anos o
Grupo II por indiviacuteduos de 30 a 60 anos e o Grupo III eacute formado por
indiviacuteduos de 15 a 30 anos Pretende-se investigar nos dados de que
dispomos se aconteceu alguma transformaccedilatildeo linguiacutestica e em caso
positivo qual foi esta transformaccedilatildeo Se a economia a poliacutetica a
questatildeo social e cultural influenciam as mudanccedilas linguiacutesticas que
ocorrem e quais as possiacuteveis influecircncias que estes fatores tiveram em
relaccedilatildeo agraves mudanccedilas na liacutengua de sinais de Santa Catarina no periacuteodo
de 1946 a 2010
A pesquisa e a leitura de histoacuterias da liacutengua de sinais no mundo
no Brasil e em Santa Catarina em diferentes comunidades surdas
propiciaratildeo um maior conhecimento linguiacutestico e melhor entendimento
das diferentes culturas surdas Jaacute posso adiantar que as narrativas
coletadas contadas e vividas pelos trecircs grupos pesquisados em
diferentes momentos da sociedade brasileira ampliaram minha forma de
ver e perceber o mundo
Meu estudo de pesquisa no mestrado apresentou dados sobre a
histoacuteria da liacutengua de sinais de Santa Catarina e as dificuldades
encontradas da comunidade surda nos contatos sociais das vaacuterias regiotildees
de Santa Catarina e ateacute mesmo com outros estados (PR RS SP RJ e
MG) Acredita-se que a ampliaccedilatildeo de sinais aqui em Santa Catarina teve
a influecircncia do professor Francisco Lima Juacutenior porque ele estudou no
INESRJ (Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos) e no IPSSP
(Instituto Paulista de Surdos) e trouxe sinais utilizados nesses estados
aleacutem de outros sinais aprendidos em contatos com surdos de outros
estados (PR RS SP RJ e MG) e ensinou tais sinais aos seus alunos
surdos enriquecendo assim a liacutengua de sinais
Ateacute agora as pesquisas sobre a liacutengua de sinais em Santa Catarina
natildeo tecircm registro da histoacuteria do sujeito surdo na escola e nem nas
associaccedilotildees de surdos ou na comunidade surda na deacutecada de 1950 Pela
pesquisa percebi que antes da vinda do professor Francisco para Santa
Catarina natildeo havia registrodocumentaccedilatildeo sobre a liacutengua de sinais A
histoacuteria que pesquisei sobre a liacutengua de sinais em Santa Catarina surge
de conversas com o professor Francisco e com outros indiviacuteduos surdos
Atualmente haacute mais registros sobre a liacutengua de sinais mas ainda eacute
27
muito pouco pois eacute uma liacutengua na modalidade visual espacial e sua
forma de registro ainda eacute precaacuteria A histoacuteria da liacutengua de sinais tem sido narrada por instituiccedilotildees de
indiviacuteduos ouvintes uma dessas eacute o INESRJ onde estudou o professor
Francisco Essas narraccedilotildees tecircm como base a educaccedilatildeo oralista que natildeo
utilizava nenhum tipo de sinalizaccedilatildeo e a comunidade surda que
utilizava a LIBRAS natildeo deixou informaccedilotildeesregistros sobre a histoacuteria da
comunidade surda daquela eacutepoca (1940) O pouco que ficou eacute
superficial deixando de mostrar informaccedilotildees de maior valor sobre esta
liacutengua que eacute muito importante para que com os registros possamos
entender melhor as variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas que ocorreram e
ocorrem Para isso eacute preciso que indiviacuteduos surdos pesquisem sobre a
histoacuteria cultura identidade e liacutengua de sinais da comunidade surda
Os dados desta pesquisa considerados importantes foram
analisados com o objetivo principal de pesquisar as variaccedilotildees e
possiacuteveis mudanccedilas em tempo aparente na liacutengua de sinais em Santa
Catarina atraveacutes das narrativas de sujeitos surdos
Percebi que o professor Francisco influenciou a liacutengua de sinais
em Santa Catarina e resgatando parte da histoacuteria dessa liacutengua pesquisei
variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas no periacuteodo de 1946 ateacute a
atualidade (2010) A falta de pesquisa histoacuterica da liacutengua de sinais
2 entre 1930 a
1980 no Brasil com referecircncia agrave variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica com o
foco no estudo sociolinguiacutestico e soacutecio-histoacuterico dificultou vislumbrar
o desenvolvimento desta liacutengua durante esse periacuteodo as mudanccedilas
ocorridas e o uso da liacutengua de sinais pela comunidade surda Natildeo houve
registro de pesquisa sobre este tema na liacutengua de sinais atraveacutes de
registro espaccedilo-visual (filmagem viacutedeos fotos etc) nas uacuteltimas deacutecadas
e parece que muitos dados que satildeo importantes sobre o sujeito surdo se
perderam Vale registrar no entanto trabalhos importantes que
procuraram resgatar parte da histoacuteria da liacutengua de sinais no Brasil a
dissertaccedilatildeo defendida em 2010 por Heloise Gripp Diniz sobre o tema
ldquoA histoacuteria da liacutengua de sinais brasileira (Libras) um estudo descritivo
de mudanccedilas fonoloacutegicas e lexicaisrdquo e os trabalhos de Perlin (1998)
Miranda (2001) Karnopp e Quadros (2004) Brito (1990 1991 1993 e
1995) Felipe (1988 1991 1993 1994 1995 1996 e 1997) Campello
(2011) entre outros
2 SCHMITT (2008) relata que ldquoa liacutengua de sinais ou seja a liacutengua dos sujeitos surdos eacute o
espaccedilo que mais eacute atingido pelo diferencialismordquo
28
Com relaccedilatildeo ao oralismo que exigia que os surdos falassem e natildeo
podiam sinalizar essa praacutetica trouxe grandes problemas uma delas foi a
dificuldade na criaccedilatildeo de espaccedilos (escola associaccedilatildeo etc) pelos
proacuteprios surdos Com a criaccedilatildeo das Associaccedilotildees de Surdos em Santa
Catarina os surdos puderam defender seus interesses E a partir de
2001 em Santa Catarina quando foi criada a Lei Estadual Nordm 118693
oficializou a LIBRAS como forma de comunicaccedilatildeo dos surdos
Haacute dez anos surgiu a LEI Nordm 10436 DE 24 DE ABRIL DE
2002 ldquoreconhecida como meio legal de comunicaccedilatildeo e expressatildeo da
Liacutengua Brasileira de Sinais - LIBRAS e outros recursos de expressatildeo a
ela associadosrdquo e o DECRETO Nordm 5626 DE 22 DE DEZEMBRO DE
2005
Em SC a primeira conquista educacional dos surdos aconteceu na
escola Governador Celso Ramos no centro de Florianoacutepolis em 1964
com a primeira turma de surdos a frequentar uma escola Nesta escola
eles tiveram acesso ao uso da liacutengua de sinais com a mediaccedilatildeo do
professor Francisco que tinha o apelido de ldquoChiquitordquo Com o
aprendizado da liacutengua de sinais os surdos comeccedilaram uma nova histoacuteria
e foram aprimorando sua liacutengua
Os alunos surdos adquiriam mais expressatildeo na comunicaccedilatildeo da
liacutengua de sinais e na interaccedilatildeo com o professor de liacutengua de sinais
surdo aprendiam mais raacutepido a se comunicar e a entender os conceitos
(sinaispalavras) Eles aprenderam e foram influenciados pelo professor
Francisco com quem tiveram o primeiro contato com a liacutengua de sinais
Os surdos comeccedilaram a utilizar a liacutengua de sinais na comunidade
surda ampliando este aprendizado Assim indaguei-me sobre qual era a
liacutengua de sinais ensinada naquele contexto social e as mudanccedilas
ocorridas por causa disto Entatildeo procurei o professor Francisco para
entender quais os sinais diferentes que havia em 1950 e que ele trouxe
para Santa Catarina Soube que o professor em seus estudos no INES foi
influenciado pela Liacutengua de Sinais Francesa (Europa) e pela Liacutengua de
Sinais Americana (Estados Unidos) na deacutecada de 1940 retornou para
Santa Catarina por volta de 1947 Essa contextualizaccedilatildeo sobre a liacutengua
de sinais eacute importante para a anaacutelise e pesquisa desta liacutengua em nosso
Estado
O professor Francisco estudou no Rio de Janeiro de 1937 a 1946
3 Em Santa Catarina foi criada a Lei no 11869 de 06 de setembro de 2001 reconhece oficialmente no Estado de Santa Catarina a linguagem gestual codificada na Liacutengua Brasileira
de Sinais LIBRAS ndash e outros recursos a ela associados como meio de comunicaccedilatildeo objetiva e
de uso corrente
29
Trouxe a experiecircncia dos sinais emergentes do Instituto Nacional de
Educaccedilatildeo de Surdos ndash INESRJ e influenciou a Regiatildeo Sul
protagonizando a histoacuteria da liacutengua de sinais por toda comunidade surda
catarinense
Eacute preciso pensar como na realidade a comunidade surda
catarinense resolveu seus problemas nas diferentes fases da histoacuteria da
liacutengua de sinais e em diferentes geraccedilotildees dos surdos Algumas sugestotildees
propostas dizem respeito ao Ciacuterculo de Surdos-Mudos de Santa Catarina
- CSMSC4 fundado pelo professor Francisco tambeacutem professor da
Escola Governador Celso Ramos Tais fatos trouxeram uma maior
interaccedilatildeo entre os surdos catarinenses e o contexto social vivido entre
1946 a 1955 proporcionando a criaccedilatildeo de Associaccedilotildees de Surdos em
vaacuterias regiotildees do estado de Santa Catarina em especial na Escola G
Celso Ramos de 1964 a 1973
Com o intuito de cumprir os objetivos a que esta pesquisa se
propocircs o trabalho seraacute organizado da seguinte forma
Nesta Introduccedilatildeo fiz um breve relato da construccedilatildeo deste
trabalho de pesquisa destacando pontos que acredito serem relevantes
com relaccedilatildeo agrave liacutengua de sinais em Santa Catarina
No primeiro capiacutetulo apresento a delimitaccedilatildeo do objeto de
pesquisa a contextualizaccedilatildeo dos sujeitos surdos na liacutengua de sinais com
o objetivo de pesquisar as mudanccedilas histoacutericas na LIBRAS e possiacuteveis
variaccedilotildees linguiacutesticas que ocorrem na trajetoacuteria percorrida desde o
projeto ateacute a concretizaccedilatildeo da pesquisa de campo realizada
No segundo capiacutetulo apresento alguns pressupostos teoacuterico-
metodoloacutegicos da sociolinguiacutestica laboviana apresento estudos de
Labov sobre a centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) na comunidade de fala da
Ilha de Marthas Vineyard bem como sobre a liacutengua em seu contexto
social a variaccedilatildeo e a mudanccedila linguiacutestica
No terceiro capiacutetulo apresento a contextualizaccedilatildeo da histoacuteria
social da liacutengua em organizaccedilotildees surdas no paiacutes com base na trajetoacuteria
dos surdos na Europa Ameacuterica Brasil e regiotildees de Santa Catarina
No quarto capiacutetulo apresento explicaccedilotildees sobre a variaccedilatildeo
encontrada na liacutengua de sinais e discutida por diversos linguistas
No quinto capiacutetulo apresento a metodologia de coleta das
narrativas dos sujeitos surdos por faixa etaacuteria e a descriccedilatildeo dos
4 O CSMSC professor Francisco comeccedilou a reunir todos os surdos de Santa Catarina
buscando as pessoas surdas que ficavam isoladas na sociedade Fazia reuniotildees perioacutedicas em
sua casa com atividade social alfabetizaccedilatildeo e oficinas de artes e trabalhos artesanais Entatildeo em 18 de agosto de 1955 com 30 associados fundou o Ciacuterculo dos Surdos e Mudos de Santa
Catarina Atualmente chamado de Associaccedilatildeo de Surdos da Grande Florianoacutepolis - ASGF
30
informantes quanto aos dados colhidos na liacutengua de sinais nas trecircs
geraccedilotildees controladas
No sexto capiacutetulo apresento a descriccedilatildeo e a anaacutelise dos
resultados a comparaccedilatildeo dos dados de cada grupo nas trecircs geraccedilotildees de
surdos que utilizaram a liacutengua de sinais
Por fim nas consideraccedilotildees finais mostro que esta pesquisa
pretende contribuir com resultados sobre a variaccedilatildeo e a mudanccedila
linguiacutestica na Liacutengua de Sinais e talvez contribuir com o registro dos
dados coletados no curso de LetrasLIBRAS como referecircncia
bibliograacutefica para auxiliar outras pesquisas
31
CAPIacuteTULO I ndash Delimitaccedilatildeo do objeto de pesquisa
11 ndash Introduccedilatildeo
Pretendo pesquisar parte da histoacuteria da LIBRAS em Santa
Catarina de indiviacuteduos surdos em contextos soacutecio-histoacutericos e
sociolinguiacutesticos de diferentes regiotildees do estado com comunicaccedilatildeo de
sinais diferentes idades variadas gecircnero diferente costumes proacuteprios
escolaridade variada exercendo trabalhos e crenccedilas diferentes
vivenciando fatos histoacutericos tudo isso acontecendo em contextos
distintos Escolhi o periacuteodo de 1946 a 2010 para a pesquisa porque o
professor Francisco Lima Juacutenior que nasceu em 1928 foi estudar fora
da cidade retornou para Florianoacutepolis em 1946 de seus estudos no
Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos (INES) no Rio de Janeiro e
acredito que ele influenciou o ensino da LIBRAS em Santa Catarina
Realizar esta pesquisa eacute um grande desafio pela dificuldade para
encontrar o registro da histoacuteria da liacutengua de sinais e das variaccedilotildees e
mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas Para desenvolver este trabalho eacute
importante saber as influecircncias lexicais e fonoloacutegicas ocorridas nessa
liacutengua em Santa Catarina de onde vieram as influecircncias e qual seu
reflexo na comunidade surda E ainda se essa liacutengua trouxe uma
valorizaccedilatildeo maior para o grupo de surdos I (mais velhos) e se foi
influenciada por fatores sociais e histoacutericos da comunidade surda de
Santa Catarina
Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os seguintes toacutepicos a
delimitaccedilatildeo da pesquisa mudanccedilas histoacutericas na LIBRAS e variaccedilotildees
linguiacutesticas nas deacutecadas de 1940 a 2010 uma contextualizaccedilatildeo sobre a
influecircncia do professor Francisco na comunidade surda a justificativa
sobre a pesquisa feita com as pessoas surdas o objetivo geral desta
pesquisa e por fim a hipoacutetese levantada sobre a influecircncia do professor
Francisco na comunidade surda de Santa Catarina com relaccedilatildeo agrave liacutengua
de sinais
12 ndash Mudanccedilas histoacutericas na LIBRAS e variaccedilotildees linguiacutesticas de
1946 a 2010 em Santa Catarina
A metodologia utilizada nesta pesquisa eacute de base empiacuterica
atraveacutes de coleta de narrativas de sujeitos surdos na faixa etaacuteria de 15 a
80 anos divididos em trecircs grupos os quais responderam agrave seguinte
pergunta ldquoExplique a histoacuteria da educaccedilatildeo do sujeito surdo em Santa
32
Catarinardquo As respostas estatildeo registradas em viacutedeos por se tratar de uma
liacutengua visual-espacial
Os dados colhidos satildeo descritos e analisados com o objetivo de
verificar se ocorreram variaccedilotildees e possiacuteveis mudanccedilas em tempo
aparente em sinais da LIBRAS identificando linguiacutestica e
historicamente cada caso
Nesta pesquisa pretendo aprofundar a histoacuteria da LIBRAS em
Santa Catarina e verificar as variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas
entre 1946 a 2010 bem como a influecircncia do professor Francisco na
comunidade surda do estado de Santa Catarina
Temos poucos registros histoacutericos no Brasil sobre a comunidade
surda e a LIBRAS e esses em sua maioria satildeo escritos por pessoas
ouvintes uma histoacuteria oral5
Em Santa Catarina a realidade eacute a mesma natildeo haacute registros
escritos documentados sobre a comunidade surda A LIBRAS foi
oficializada em 2001 em Santa Catarina e em 2002 no Brasil Ainda eacute
recente e poucos registros temos Eacute necessaacuterio pesquisar mais sobre a
LIBRAS em seus aspectos histoacuterico e linguiacutestico pois atualmente
poucos surdos conhecem sua liacutengua em seus aspectos linguiacutesticos e
gramaticais apenas sinalizam e se comunicam mas se pedirmos
explicaccedilotildees poucos saberatildeo daacute-las ateacute porque isso natildeo eacute mateacuteria
escolar
Com os dados coletados e analisados acredito que poderei
entender melhor qual foi a influecircncia ou natildeo do professor Francisco
junto agrave comunidade surda de Santa Catarina Aleacutem dos dados pretendo
fazer isso com o auxiacutelio de reportagens jornais e revistas catarinenses
bem como atraveacutes de documentos das instituiccedilotildees que trabalharam ou
trabalham com pessoas surdas Tambeacutem pretendo verificar informaccedilotildees
no arquivo Puacuteblico Catarinense Espero que com os depoimentos em
viacutedeos consiga encontrar evidecircncias de variaccedilotildees e mudanccedilas
linguiacutesticas lexicais e fonoloacutegicas em LIBRAS que ocorreram desde a
deacutecada de 1940 Os surdos que deram seu depoimento fazem parte da
comunidade surda que participou do movimento surdo catarinense nas
uacuteltimas deacutecadas Para analisar as transformaccedilotildees ocorridas eles foram
observados por faixas etaacuterias Considerando o uso de narrativas sobre a
5 SCHMITT (2008) na dissertaccedilatildeo de mestrado apresenta O que eacute Histoacuteria Oral ndash Eacute o estudo das narrativas dos sujeitos da pesquisa sua versatildeo e memoacuterias do fato pesquisado ocupa-se em
registrar essas narrativas (gravaccedilotildees filmagens transcriccedilatildeo das entrevistas recortes da
imprensa) como metodologia de pesquisa
33
histoacuteria dessas pessoas utilizei as discussotildees sobre histoacuteria oral para
realizar as entrevistas conforme Alberti (2005)
A histoacuteria oral tem uma natureza especifica que
condiciona as perguntas que o pesquisador pode fazer
Em se tratando de uma forma de recuperaccedilatildeo do passado
conforme concebido pelos que viveram eacute fundamental
que tal abordagem seja efetivamente relevante para a
investigaccedilatildeo que se pretende realizar (ALBERTI 2005
p 30)
13 ndash Objetivo Geral
Verificar a influecircncia do professor Francisco Lima Juacutenior sobre a
liacutengua de sinais de Santa Catarina e pesquisar variaccedilotildees e possiacuteveis
mudanccedilas em tempo aparente na liacutengua de sinais desse educador e de
outros oito sujeitos surdos reunidos por faixa etaacuteria diferente em trecircs
grupos de indiviacuteduos Grupo I (de 60 a 80 anos) Grupo II (de 30 a 60
anos) e Grupo III (de 15 a 30 anos) A narrativa desses nove sujeitos
surdos seraacute analisada com o propoacutesito de verificar quais as
transformaccedilotildees linguiacutesticas ocorridas na comunidade surda atual e quais
as diferenccedilas lexicais e fonoloacutegicas de uso da LIBRAS nas faixas etaacuterias
desses trecircs grupos de geraccedilotildees investigados
14 ndash Objetivos especiacuteficos
Identificar as alteraccedilotildees de alguns sinais quanto agrave
variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica e lexical dentro da liacutengua
de sinais e outros sinais que permanecem ateacute a atualidade
sem influecircncias externas
Comparar a variaccedilatildeo e a mudanccedila encontradas na
liacutengua de sinais utilizada pelos indiviacuteduos surdos
pertencentes a diferentes faixas etaacuterias representantes de
trecircs geraccedilotildees de sinalizadores
Identificar possiacuteveis fatores que condicionam a
variaccedilatildeo e a mudanccedila linguiacutesticas observadas nos trecircs
grupos pesquisados
34
Pretendemos pesquisar a liacutengua de sinais em Santa Catarina
observando a narrativa (depoimento) do sujeito surdo coletada na
escola e na associaccedilatildeo Com o surgimento do primeiro espaccedilo de
identidade cultural6 do surdo em contato com o professor Francisco
quando retornou do Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos
(INESRJ) para Florianoacutepolis que contribuiu para a melhoria do ensino
de liacutengua de sinais aos surdos Observe-se o que disse Felipe (2001)
sobre isso
Assim o antigo Instituto continuou como um centro de
integraccedilatildeo para o fortalecimento do desenvolvimento da
LIBRAS pois segundo Relatoacuterio do Diretor Dr Tobias
Rabello Leite de 1871 esta escola jaacute possuiacutea alunos
vindos de vaacuterias partes do paiacutes dezoito anos retornavam
agraves cidades de origem levando com eles a LIBRAS
(FELIPE 2001 p 121)
Quando o professor Francisco retornou de seu estudo no INES
percebe-se que influenciou o aprendizado da LIBRAS em Santa
Catarina pois a geraccedilatildeo mais nova buscava aprender a liacutengua com os
liacutederes surdos da geraccedilatildeo do professor Francisco Esse espaccedilo foi
conquistado pela poliacutetica de educaccedilatildeo de surdos que assegurava o
envolvimento com a liacutengua de sinais que atualmente estaacute se expandindo
na comunidade surda em nosso estado catarinense
Esse caminho foi aberto pelo professor Francisco Lima Juacutenior
que motivou os sujeitos surdos a aprenderem a LIBRAS num periacuteodo de
escolas oralistas a valorizarem o contato com outros sujeitos surdos e as
conversas nas comunidades surdas e associaccedilotildees levando os surdos da
atualidade a lutarem pelos seus direitos e deveres e a aprimorarem os
espaccedilos cultural e linguiacutestico criando assim lideranccedilas nessas
comunidades Isto proporcionou troca de ideias e experiecircncias
necessidade de mais estudos e melhor compreensatildeo da poliacutetica brasileira
para a busca desses direitos Os surdos da atualidade tambeacutem criaram
uma identidade nessa comunidade com as trocas aprenderam mais
criaram sinais para palavras novas melhoraram sinais antigos etc Para a
autora Tanya A Felipe
6 SCHMITT (2008) relata que ldquoA pesquisa acadecircmica na universidade sobre os problemas na
fase de histoacuteria de ouvinte e a pesquisa na educaccedilatildeo de surdos introduz a identidade cultural
surda no espaccedilo de conflito que eacute a educaccedilatildeo de surdo Esse momento cultural do surdo e a aacuterea de conhecimento sobre a cultura surda satildeo importantes na realidade das pesquisas que
apresentam o sujeito surdo no ensinordquo
35
Como toda liacutengua as liacutenguas de sinais aumentam seus
vocabulaacuterios com novos sinais introduzidos pelas
comunidades surdas em resposta as mudanccedilas culturais e
tecnoloacutegicas Assim a cada necessidade surge um novo
sinal e desde que se torne aceito seraacute utilizado pela
comunidade (FELIPE 2001 p 19)
Percebe-se na citaccedilatildeo da autora que o contato da comunidade
surda7 acontece atraveacutes da comunicaccedilatildeo visual-espacial As mudanccedilas
tecnoloacutegicas a busca de conhecimento e a cultura influenciam a
LIBRAS fazendo com que a comunidade crie novos sinais e modifique
outros sinais mais antigos
A LIBRAS eacute considerada uma liacutengua assim como as outras
liacutenguas orais e apresenta variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica Um dos
exemplos de mudanccedila em LIBRAS foi uma mudanccedila discreta8 do sinal
de ldquoMAtildeErdquo A mudanccedila fonoloacutegica atinge um dos cinco paracircmetros
fonoloacutegicos da formaccedilatildeo de sinais O ponto de articulaccedilatildeo eacute preservado
na mudanccedila do sinal MAtildeE a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) muda e eacute
acrescentado o sinal de MULHER tornando o sinal composto
Figura 01 ndash Sinal de Matildee
Eacute importante retomar aqui quais satildeo esses cinco paracircmetros
Stokoe que por volta de 1960 e 1965 apontou trecircs paracircmetros que
constituem os sinais e nomeou-os configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ponto
de articulaccedilatildeo (PA) ou locaccedilatildeo (L) e movimento (M) Satildeo eles
7 Para Felipe (2001 p 38) ldquouma comunidade eacute um sistema social geral no qual pessoas vivem
juntas compartilham metas comuns e partilham certas responsabilidades umas com as outrasrdquo PADDEN (19895) Para esta pesquisadora ldquouma Comunidade Surda eacute um grupo de pessoas
que mora em uma localizaccedilatildeo particular compartilha as metas comuns de seus membros e de
vaacuterios modos trabalha para alcanccedilar estas metasrdquo Portanto nessa Comunidade pode ter tambeacutem ouvintes e surdos que natildeo satildeo culturalmente Surdos 8 Ocorre quando uma forma (ou sinal) eacute substituiacuteda por outra de modo natildeo gradual
36
Configuraccedilatildeo de matildeos ndash satildeo as diferentes formas que as
matildeos assumem na representaccedilatildeo do sinal
Ponto de articulaccedilatildeo ndash eacute a posiccedilatildeo onde as matildeos satildeo
posicionadas no momento da sinalizaccedilatildeo
Movimento ndash eacute o deslocamento das matildeos no espaccedilo e
em diferentes partes do corpo
Karnopp (1999) apresenta como resultado de pesquisa que a
configuraccedilatildeo de matildeos se diferencia pela seleccedilatildeo de dedos e a
configuraccedilatildeo ou posiccedilatildeo destes para efetuar o sinal Em ASL os dedos
selecionados devem permanecer na mesma disposiccedilatildeo ou quando tem
mudanccedila de posiccedilatildeo os dedos selecionados devem continuar iguais ateacute
o teacutermino do sinal As posiccedilotildees e configuraccedilotildees dos dedos diferenciam-
se em a) difusatildeo dos dedos aduccedilatildeo b) junccedilatildeo entre os dedos e o
polegar abertura e c) tipo e grau de flexatildeo apresentando a organizaccedilatildeo
fonoloacutegica dos sinais com ecircnfase nos articuladores dos itens lexicais e
das restriccedilotildees na formaccedilatildeo de sinais
A partir de 1970 outros linguistas conduziram estudos mais
aprofundados sobre os aspectos fonoloacutegicos Robbin Battison (1974)
Edward S Klima e Ursulla Bellugi (1979) descreveram o quarto
paracircmetro
Orientaccedilatildeo ndash que eacute a posiccedilatildeo da palma da matildeo se pra
frente ou pra traacutes para cima ou para baixo para o lado
esquerdo ou direito
O quinto paracircmetro eacute a expressatildeo facialcorporal foi adicionado
por Ferreira Brito em 1995 no Brasil
Expressotildees faciais e corporais satildeo elementos
gramaticais que compotildeem a estrutura da liacutengua Tambeacutem
chamados de marcadores natildeo manuais Ex a fisionomia
para expressar uma pessoa chata e muito chata eacute
intensificada para expressar o que eacute desejado Alguns sinais
podem ter uma direccedilatildeo e a inversatildeo deste pode significar
oposiccedilatildeo contraacuterio ou concordacircncia nuacutemero-pessoal
37
Figura 02 ndash Sinal de Matildee
Para Quadros (1997) pesquisas evidenciam a perda completa da
motivaccedilatildeo do sinal na crianccedila surda em fase de aquisiccedilatildeo da liacutengua de
sinais Tais sinais como ldquobenccedilatildeordquo para matildee e pai para o surdo adulto ateacute
podem ser resgatados Entretanto a crianccedila que estaacute adquirindo a liacutengua de
sinais e nunca viu esta accedilatildeo natildeo repete a mesma atitude beijando a matildeo
A liacutengua de sinais eacute diferente em diversos paiacuteses e ateacute mesmo em
diferentes regiotildees dentro de um mesmo paiacutes A liacutengua de sinais eacute o que
permite a comunicaccedilatildeo entre as pessoas surdas desta forma os surdos
que conhecem a liacutengua de sinais de outras regiotildees com certeza teratildeo
maior facilidade de comunicaccedilatildeo e tambeacutem de conhecimento
Vale ressaltar que toda forma de liacutengua ldquofaladardquo no contexto
social e tudo o que noacutes vivemos sofre mudanccedilas Todas as liacutenguas tecircm
influecircncia do tempo decorrido Na LIBRAS tambeacutem existem mudanccedilas
culturais e linguiacutesticas
15 ndash Questotildees e Hipoacuteteses de pesquisa na liacutengua de sinais
Nesta pesquisa parto das seguintes questotildees 1) O professor
Francisco influenciou a LIBRAS em SC 2) Que variaccedilotildees e mudanccedila
linguiacutestica vamos encontrar na liacutengua dos nove sujeitos surdos
Acredito que (hipoacutetese) o professor Francisco teve grande influecircncia na
comunidade surda de Santa Catarina com relaccedilatildeo agrave Liacutengua de Sinais
Acredito tambeacutem (hipoacutetese) que muitos dos sinais utilizados pelos
Grupos I e II natildeo satildeo conhecidos pelo Grupo III dos mais jovens Penso
que (hipoacutetese) alguns sinais tiveram alteraccedilotildees quanto a variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica como tambeacutem lexical nos trecircs grupos pesquisados
Quando comparar a liacutengua de sinais nos Grupos I II e III nas diferentes
faixas etaacuterias espero (hipoacutetese) encontrar vaacuterios sinais que comprovem
variaccedilotildees e mudanccedilas fonoloacutegicas e lexicais Essas hipoacuteteses surgiram
de observaccedilotildees como usuaacuterio da LIBRAS
38
Em relaccedilatildeo aos fatores internos e externos que condicionam a
variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica e lexical acredito (hipoacutetese) que o
professor Francisco eacute o precursor do ensino de sinais em Santa Catarina
(fator externo) No Grupo II temos a influecircncia do professor Francisco e
de seus primeiros alunos e das associaccedilotildees de surdos e no Grupo III
temos um maior nuacutemero de surdos nas universidades precisando criar
novos sinais para os novos conhecimentos aprendidos
Labov em sua pesquisa cita ldquo o objetivo da pesquisa linguiacutestica
na comunidade deve ser descobrir como as pessoas falam quando natildeo
estatildeo sendo monitoradasrdquo (LABOV 2008 [1972] p 244) Nesta
pesquisa a observaccedilatildeo aos indiviacuteduos surdos dos trecircs grupos
pesquisados acontece de forma diferente eles sabem que estatildeo
respondendo perguntas e que estatildeo sendo filmados
Pela anaacutelise das respostas em liacutengua de sinais e descriccedilatildeo dos
surdos seraacute possiacutevel descobrir atraveacutes das descriccedilotildees aspectos
culturais9 individuais e tambeacutem obter dados quanto agraves variaccedilotildees e
mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas na liacutengua de sinais neste periacuteodo de
tempo que acontece desde 1946
Finalmente esta tese teraacute o registro dos dados colhidos nos trecircs
grupos pesquisados de diferentes geraccedilotildees mostrando variaccedilotildees e
mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas com os contatos culturais da
comunidade surda
Os fatos sociais desta liacutengua como de qualquer outra podem
acontecer em qualquer tempo e em diferentes situaccedilotildees e quando
analisados neste caso podemos perceber a mudanccedila dos indiviacuteduos
surdos num determinado contexto soacutecio-histoacuterico e linguiacutestico A amostra eou dados para a tese de doutorado na UFSC
proporcionaraacute anaacutelises sobre aspectos variaacuteveis da LIBRAS (variaccedilatildeo e
mudanccedila fonoloacutegica e lexical) com o apoio de autores como Labov
2008 [1972] Naro 2003 Weinreich Labov e Herzog 2006 [1968]
Calvet 2002 entre outros
O periacuteodo indicado para a pesquisa que eacute de 1946 a 2010 pode
revelar parte da histoacuteria da comunidade surda de Santa Catarina e a
influecircncia que o professor Francisco Lima Juacutenior trouxe de contribuiccedilatildeo
para a liacutengua de sinais de Santa Catarina e para a comunidade surda do
estado
9 PERLIN (2006 p 65) Cultura Surda ndash o livro a Invenccedilatildeo da Surdez II explica que a cultura surda esta aiacute enfatizando oferecendo transparentemente sua possessatildeo simboacutelica sobressaindo
com seus discursos narrativos afirmando a necessidade da reinscriccedilatildeo da diferenccedila cultural e
consequente diferenccedila pedagoacutegica
39
CAPIacuteTULO II ndash Pressupostos teoacuterico-metodoloacutegicos da
sociolinguiacutestica laboviana
21 ndash Introduccedilatildeo
A Sociolinguiacutestica se dedica ao estudo da liacutengua falada e do
contexto social de uso da liacutengua ou seja estuda como os membros de
uma sociedade se comunicam em diversas situaccedilotildees em funccedilatildeo por
exemplo do lugar onde cresceram ou de sua posiccedilatildeo socioeconocircmica A
liacutengua surge e tambeacutem se transforma em funccedilatildeo do contexto soacutecio-
histoacuterico
Como seraacute visto mais adiante para essa aacuterea de conhecimento satildeo
fundamentais os conceitos de variaccedilatildeo e mudanccedila O primeiro envolve a
coexistecircncia de diferentes formas linguiacutesticas para a expressatildeo de um
significado e o segundo diz respeito agrave substituiccedilatildeo de formas com o
passar do tempo Esses estudos satildeo fundamentados na sociolinguiacutestica
variacionista que teve iniacutecio com as pesquisas de Labov
Este capiacutetulo traz relatos da pesquisa de Labov que foi pioneiro
na sociolinguiacutestica e realizou estudo linguiacutestico na comunidade de fala
da Ilha de Marthas Vineyard associando a influecircncia dos povos que
imigraram e colonizaram a ilha agraves mudanccedilas ocorridas na fala bem
como o turismo que eacute frequente no veratildeo com visitantes que falam
variedades de uma mesma liacutengua e outras liacutenguas e influenciam o
comeacutercio da ilha fazendo com que variedades e liacutenguas diferentes se
misturem quando as pessoas conversam Num dado momento Labov
investigou a centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) na comunidade de fala da ilha
Foram entrevistados diferentes grupos eacutetnicos ingleses portugueses e
iacutendios Isso foi importante para entender mudanccedilas linguiacutesticas
ocorridas nessa ilha dos Estados Unidos
Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os seguintes toacutepicos a liacutengua
em seu contexto social a partir da teoria laboviana Labov como
pesquisador pioneiro em sociolinguiacutestica o iniacutecio da pesquisa de Labov
na Ilha de Martha‟s Vineyard com ingleses portugueses e iacutendios a
maneira como Labov realizou a pesquisa para escolher a variaacutevel
linguiacutestica a ser estudada a explicaccedilatildeo dos dados obtidos por grupos
ocupacionais e por idade a explicaccedilatildeo da pesquisa realizada por Labov
sobre o aumento da centralizaccedilatildeo comentaacuterios sobre a interaccedilatildeo de
padrotildees linguiacutesticos e sociais na Ilha de Martha‟s Vineyard os
princiacutepios da mudanccedila linguiacutestica a idade e a variaccedilatildeo estaacutevel e por
fim algumas reflexotildees sobre a idade e a mudanccedila linguiacutestica
40
22 ndash A liacutengua em seu contexto social
A liacutengua eacute uma forma de comportamento eacute usada por seres
humanos num contexto social ao comunicarem uns aos outros suas
ideias suas necessidades e emoccedilotildees Sendo assim o comportamento
linguiacutestico de um grupo pode variar de acordo com as experiecircncias
vividas numa comunidade Para Labov (1972) o estudo da origem da
evoluccedilatildeo da linguagem que eacute a ciecircncia que estuda a parte da linguiacutestica
incluiacuteda no contexto social eacute buscado no comportamento linguiacutestico de
um grupo social isto eacute de uma comunidade de fala10
Natildeo se trata de um grupo de falantes que utilizava a mesma forma
de fala mas do grupo que segue as mesmas normas quanto ao uso da
linguagem No caso da linguagem gestual um exemplo disso seria de
um surdo com uma famiacutelia de ouvintesfalantes que natildeo fica isolado na
questatildeo da liacutengua pois comeccedila a frequentar uma associaccedilatildeo de surdos e
aprende a liacutengua de sinais Neste espaccedilo ele aprende a comunicar-se na
liacutengua de sinais e natildeo apenas numa liacutengua gestual caseira
Para entender o comportamento linguiacutestico de uma comunidade
de fala vatildeo ser retomados alguns estudos pioneiros de Labov da deacutecada
de 1960 Antes poreacutem eacute importante entender quem eacute esse pesquisador e
alguns dos trabalhos que ele fez 221 ndash LABOV pesquisador pioneiro em sociolinguiacutestica
William Labov nasceu na cidade de Rutherford em Nova Jersey
no dia 4 de dezembro em 1927 Comeccedilou sua carreira de estudo em
Harvard em 1948 quiacutemico trabalhou na aacuterea industrial de 1949 a 1961
Ele iniciou suas pesquisas como linguista nos Estados Unidos com foco
de estudo direcionado ao contexto social agrave comunidade de fala e agraves
mudanccedilas sonoras da liacutengua
A observaccedilatildeo de Labov sobre os padrotildees sociolinguiacutesticos na ilha
de Marthas Vineyard resultou na publicaccedilatildeo do seu trabalho
apresentado no 37ordm Encontro Anual da Sociedade Americana de
Linguiacutestica em Nova York nos Estados Unidos em 1963 Nesse
trabalho o pesquisador apresentou suas consideraccedilotildees sobre a mudanccedila
sonora dos ditongos (ay) e (aw) no contexto da comunidade de fala da
10 Segundo COELHO et al (2010 p 163) Comunidade de fala ndash ldquonoccedilatildeo que recobre tanto aspectos sociais quanto linguiacutesticos envolvendo atitudesnorma sociais compartilhadas pelos
falantes que por sua vez compartilham caracteriacutesticas linguiacutesticas que os diferem de outros
grupos sociaisrdquo
41
ilha
O autor estudou tambeacutem na Columbia University sob a
orientaccedilatildeo do Professor Uriel Weinreich - doutorado em linguiacutestica em
1964 ndash com quem realizou e aprofundou sua pesquisa em
sociolinguiacutestica sobre a liacutengua falada
Eacute um pesquisador amplamente considerado na aacuterea da pesquisa
linguiacutestica por sua metodologia em sociolinguiacutestica Em seus trabalhos
o autor mostra aspectos de variaccedilatildeo dialetal e mudanccedila da liacutengua inglesa
na sociedade da Ilha de Marthas Vineyard e em Nova York11
atraveacutes de
estudos de variaccedilatildeo fonoloacutegica
Em 1972 Labov publicou seu livro Sociolinguistic Patterns
University of Pennsylvania Press original em Inglecircs o qual teve seu
volume traduzido para o portuguecircs e publicado em 2008 no Brasil
Ele pesquisou durante meses na Ilha de Martha‟s Vineyard
estado de Massachusetts as variaacuteveis foneacuteticas (ay) e (aw) em diferentes
localidades faixas etaacuterias12
grupos profissionais e eacutetnicos da ilha Com
esse estudo conseguiu reconstruir a histoacuteria social da comunidade
daquela ilha a partir da frequecircncia e distribuiccedilatildeo dessas duas variaacuteveis
para verificar se ocorreu mudanccedila sonora correlacionando o complexo
padratildeo linguiacutestico com a estrutura social atraveacutes da investigaccedilatildeo de
fatores sociais que incidem diretamente sobre o processo linguiacutestico
Sobre a mudanccedila linguiacutestica podemos destacar trecircs principais
caracteriacutesticas relevantes na pesquisa que Labov (2008 [1972] p 19)
desenvolveu na Ilha
a origem das variaccedilotildees linguiacutesticas
a difusatildeo e a propagaccedilatildeo das mudanccedilas linguiacutesticas e
a regularidade da mudanccedila linguiacutestica
Labov investigou como aconteceu a variaccedilatildeo do inglecircs americano
em uma determinada comunidade a partir das influecircncias sociais que
vieram do contato entre os indiviacuteduos das localidades pesquisadas
11 A pesquisa de Labov na ilha de Martha‟s Vineyard foi escolhida por mim porque Francisco
viveu em Florianoacutepolis e agrupou os surdos de SC tendo como referecircncia uma ilha que se
parece muito com Martha‟s nas temporadas de veratildeo os turistas do paiacutes e do exterior lotam a cidade fortalecendo a economia do lugar
12 Ao analisar faixa etaacuteria podemos detectar mudanccedila em tempo aparente atraveacutes da
comparaccedilatildeo entre grupo dos falantes mais velhos e jovens ou variaccedilatildeo estaacutevel
42
Pela induccedilatildeo as variaccedilotildees fonoloacutegicas podem ocorrer pelos
processos de assimilaccedilatildeo ou dissimilaccedilatildeo por analogia empreacutestimo
fusatildeo contaminaccedilatildeo variaccedilatildeo aleatoacuteria ou outros processos linguiacutesticos
em que haja a interaccedilatildeo entre o sistema linguiacutestico de caracteriacutesticas
fisioloacutegicas ou psicoloacutegicas do indiviacuteduo
O autor realizou a pesquisa na comunidade de falantes de
Martha‟s Vineyard nos EUA em Massachusetts para verificar o grau de
centralizaccedilatildeo de sons no caso (ay) e (aw) em diferentes momentos e
situaccedilotildees daquela comunidade como veremos nas proacuteximas seccedilotildees
222 ndash A Ilha de Martharsquos Vineyard
Martha`s Vineyard eacute a maior ilha ao largo da costa da Nova
Inglaterra abrange quase uma centena de quilocircmetros quadrados de
aacuterea
A ilha antigamente era povoada por grupos de iacutendios que estavam
relacionados com a Wampanoags no estado sudeste de Massachusetts
Num primeiro momento os europeus ocuparam a ilha e com o passar
do tempo aprenderam com os iacutendios de diferentes tribos de Martha`s
Vineyard a pescar e a utilizar a agricultura
O primeiro assentamento europeu aconteceu em 1644 na ilha O
governador de Winthrop de Boston norte dos Estados Unidos nessa
eacutepoca anotou em seu jornal local que algumas pessoas de Watertown
eram surdas e se comunicavam atraveacutes de sinais13
isso ajudou na
divulgaccedilatildeo da liacutengua inglesa que comeccedilou a ser usada pelos habitantes
de Martha`s Vineyard Este grupo vinha de famiacutelias do estado de
Massachusetts em Bay Colony que resolveu morar na Ilha
A Ilha de Martha‟s Vineyard na deacutecada de 1960 era formada por
uma pequena populaccedilatildeo de 6000 falantes nativos dividida em trecircs
grupos eacutetnicos ingleses portugueses e iacutendios A pesquisa de Labov
levou em consideraccedilatildeo as trecircs etnias Foram entrevistados 69 indiviacuteduos
daquela sociedade Dentre eles os nuacutemeros entrevistados foram 42
13 Realizei a pesquisa no livro que se chama ldquoEveryone Here Spoke Sign Languagerdquo da autora
(Groce 1952) achei interessante a leitura mas fui riscando e analisando de acordo com minha compreensatildeo do texto e comparando com o que Labov (2008) apresentou no livro Padrotildees
Sociolinguiacutesticos Eacute importante salientar que a pesquisa apresentada no livro de Groce eacute
interessante para realizar estudos na comunidade surda na liacutengua de sinais
43
ingleses 16 portugueses e 9 iacutendios de grupos eacutetnicos essencialmente
endoacutegamos14
Labov controlou tambeacutem diferentes grupos ocupacionais
14 na pesca 8 na agricultura 6 na construccedilatildeo 19 no ramo de serviccedilos 3
profissionais liberais 5 donas de casa e 14 estudantes Fez entrevista
formal e observaccedilotildees em muitas situaccedilotildees espontacircneas nas ruas de
Vineyard Haven e Edgartown em lanchonetes restaurantes bares
embarcadouros e diversos lugares onde o som geral da conversa puacuteblica
podia ser anotado quando natildeo gravado As anotaccedilotildees serviam apenas
como controles suplementares sobre as entrevistas gravadas As
entrevistas aconteceram em trecircs periacuteodos agosto final de
setembrooutubro de 1961 e janeiro de 1962 com pessoas de idades que
variaram de 14 a 75 anos
As duas principais variaacuteveis estudadas na ilha foram (ay) e (aw)
O significado linguiacutestico das formas em variaccedilatildeo era o mesmo mas a
situaccedilatildeo de fala era diferente na comunidade Como resultado das
entrevistas o autor obteve aproximadamente 3500 ocorrecircncias de (ay) e
1500 ocorrecircncias de (aw) como base de dados para sua pesquisa
O primeiro grupo eacutetnico formado por descendentes das famiacutelias
mais velhas de origem inglesa foi para a ilha nos seacuteculos XVII e XVIII
As famiacutelias inglesas eram os Mayhews Nortons Hancocks Allens
Tiltons Vincents Wests e Pooles que com o passar dos anos
influenciaram a liacutengua inglesa falada na ilha e a cultura da comunidade
O segundo grupo eacutetnico era formado por famiacutelias de imigrantes
accedilorianos vindos de Cabo Verde em Portugal Esses imigrantes
portugueses ao longo de toda costa da Nova Inglaterra representaram o
percentual mais alto de centralizaccedilatildeo em Martha‟s Vineyard
A ilha foi dividida em duas partes mais relevantes para a
pesquisa a ilha alta (up-island) e a ilha baixa (down-island) num total
de 5563 (cinco mil quinhentos e sessenta e trecircs) habitantes na deacutecada
de 1960 A ilha alta era organizada por pessoas que viviam em meio
rural poucos lugares fazendas casas de veraneio abandonadas lagoas
de aacutegua salgada e pacircntanos era uma aacuterea geograacutefica central desabitada e
com pinheirais improdutivos A ilha baixa era uma regiatildeo formada por
trecircs pequenos centros urbanos onde vivia cerca de trecircs quartos da
populaccedilatildeo A populaccedilatildeo de Martha‟s Vineyard na deacutecada de 1970 era de
11725 habitantes na parte alta da Ilha (rural) era de 3846 Edgartown
14 Eacute o indiviacuteduo que se casa com membros da mesma tribo para conservaccedilatildeo de sua nobreza e
raccedila
44
1118 Oak Bluffs 1027 Vineyard Haven 1701 e na parte baixa da Ilha
(Vilarejos) 1717 Edgartown 256 Oak Bluffs 292 Tisbury 468 West
Tisbury 360 Chilmark 238 Gay Head 103
Mapeamento da Ilha de Martharsquos Vineyard
Em 1960
Figura 03 ndash Retirado do livro de GROCE Nora Ellen Everyone Here
Spoke Sign Language Hereditary Deafness on Martha‟s Vineyard
Printed in the United States of America 1952
45
Em 1960
Figura 04 ndash Retirado do livro de LABOV Willian Padrotildees
Sociolinguiacutesticos 2008 [1972]
Atualmente em 2012
Figura 05 ndash 10092011 retirado no site
httpcawikipediaorgwikiMartha27s_Vineyard
46
A populaccedilatildeo na Ilha no ano de 1960 estava constituiacuteda de 11
de descendentes da primeira ou da segunda geraccedilatildeo de imigrantes
portugueses Das terceiras e quartas geraccedilotildees provavelmente chegaria
proacuteximo aos 20 Quanto ao terceiro grupo eacutetnico eram remanescentes de
indiacutegenas de GAY HEAD O quarto grupo eacute uma Miscelacircnea de
famiacutelias de imigrantes europeus que vieram da Inglaterra Franccedila-
Canadaacute Irlanda Alemanha e Polocircnia Apesar de que a soma desses
imigrantes seja de aproximadamente 15 natildeo foi levada em conta por
natildeo ser uma forccedila social coesa Segundo Labov todos os anos no veratildeo muitos turistas
chegavam agrave ilha nos meses de junhojulho passando de 6000
habitantes para 42000 habitantes representando um nuacutemero expressivo
mas natildeo foi diretamente analisado porque a influecircncia direta destes
veranistas sobre o falar em Vineyard era relativamente pequena A
constante pressatildeo vinda na comunicaccedilatildeo junto agrave crescente dependecircncia
econocircmica criada pelo turismo gera indiretamente mudanccedilas
linguiacutesticas
Os veranistas estrangeiros falam uma liacutengua proacutepria em seu paiacutes
vatildeo a passeio agrave Ilha para conhecer e explorar a cidade e tambeacutem o povo
daquela ilha fazendo trocas neste conviacutevio e de alguma forma
promovem mudanccedilas econocircmicas poliacuteticas culturais sociais e
linguiacutesticas
O autor constatou que a Ilha de Martha‟s Vineyard aleacutem da
variaccedilatildeo estudada que eacute a centralizaccedilatildeo dos ditongos os falantes
tambeacutem usam as formas variaacuteveis do ndashr poacutes-vocaacutelico em palavras como
car (carro) four (quatro) card (cartatildeo) fourth (quarto) (podemos
verificar ocorrecircncia semelhante na liacutengua falada oral com o sotaque que
se modifica) Diferente do padratildeo comum do sudeste da Nova
Inglaterra [ai] e [au] com frequecircncia se ouve na ilha [ɐi] e [ɐu] ou
mesmo [əi] e [əu] Labov (2008 [1972] p 27) escreve o seguinte
ldquoEsse aspecto dos ditongos centralizados eacute saliente para
o linguumlista mas natildeo para os falantes eacute claramente imune
agrave distorccedilatildeo consciente jaacute que os vineyardenses nativos
natildeo se datildeo conta dele nem conseguem controlaacute-lo
conscientemente No que diz respeito agrave estrutura natildeo
podemos desprezar o paralelismo estrutural de ay e
aw por outro lado esses ditongos satildeo marcados por
grande liberdade estrutural na gama de alofones
permitida pelo sistema Essas satildeo diferenccedilas estritamente
subfonecircmicas Uma vez que natildeo existem outros ditongos
47
crescentes com primeiros elementos baixo ou central
nesse sistema natildeo eacute provaacutevel que o alccedilamento
continuando ou ate a posteriorizaccedilatildeo ou anterioriazaccedilatildeo
resultasse em confusatildeo com qualquer outro fonemardquo
Labov em sua pesquisa mostrou a pronuacutencia variaacutevel dos
ditongos (ay) e (aw) na comunidade de fala considerando traccedilos sociais
dos moradores da localizaccedilatildeo alta (rural) e baixa (vilarejos) da Ilha
atraveacutes de um mapeamento da fala Ele investigou (ay) como o ditongo
em palavras do inglecircs (ex right white pride wine ou wife) e (aw)
ditongo encontrado nas palavras do inglecircs como house out e doubt por
exemplo
Ele realizou procedimentos de observaccedilatildeo e identificaccedilatildeo da
comunidade de fala em duas localizaccedilotildees diferentes em Marthas
Vineyard e Nova York Estudou as realizaccedilotildees de (ay) e (aw) em vaacuterias
regiotildees da ilha e do estado entre as faixas etaacuterias dos informantes entre
grupos de profissionais e tambeacutem entre os grupos eacutetnicos (raccedila e cor)
E em Nova York pesquisou em trecircs lojas de departamento sobre a
realizaccedilatildeo de [r] em posiccedilatildeo final e preacute-consonantal na fala de
funcionaacuterios destas lojas Labov (1994) analisou o uso de [r] que
poderia ser pronunciado ou natildeo na fala de 264 pessoas levando-os a
responder de forma que aparecesse na fala a expressatildeo fourth floor
(quarto andar) porque essa expressatildeo contem [r] nas duas proposiccedilotildees
pretendidas preacute-consonantal (fourth) e final (floor) Labov com essa
pesquisa nos Estados Unidos mostrou que o vernaacuteculo de Nova York
continuou sem o [r] por muito tempo mas como a pronuacutencia do [r] era
prestigiada passou a ser usada pelas classes mais altas e pelos jovens
sensiacuteveis pela questatildeo do status social
Desse modo Labov desenvolveu suas pesquisas com base em
procedimentos metodoloacutegicos que pudessem reconstruir a histoacuteria
recente da mudanccedila linguiacutestica da pronuacutencia dos ditongos e do [r] poacutes-
vocaacutelico Neste trabalho vatildeo ser detalhados os resultados da pesquisa em
Marthas Vineyard
223 ndash Seleccedilatildeo da variaacutevel linguiacutestica
Na seleccedilatildeo da variaacutevel linguiacutestica eacute importante perguntar quais
satildeo as propriedades mais uacuteteis de uma variaacutevel linguiacutestica servindo de
foco de pesquisa de uma determinada comunidade de falantes
Labov pensou como primeiro passo da pesquisa em verificar um
item que ocorra com frequecircncia numa conversaccedilatildeo espontacircnea e que
48
possa ser mapeado Em segundo deve ser estrutural ou seja quanto
mais integrado o item estiver num sistema mais amplo de unidades
funcionais maior seraacute o interesse linguiacutestico intriacutenseco ao estudo E
finalmente em terceiro a distribuiccedilatildeo do traccedilo deve ser estratificada
observando a faixa etaacuteria o grupo de profissionais ou outros
extratos da comunidade de fala Labov apresentou a pesquisa
preliminar sobre o estudo do som na fala da comunidade em vaacuterias
categorias buscando os dados das pessoas que falavam em
diferentes situaccedilotildees linguiacutesticas na ilha como mostra a citaccedilatildeo
abaixo Nas entrevistas preliminares conduzidas em Martha‟s
Vineyard em 1961 foram observadas diversas
mudanccedilas estruturais que eram claramente paralelas a
mudanccedilas que ocorreriam no continente sob a
influecircncia do padratildeo do sudeste da Nova Inglaterra
(LABOV 2008 [1972] p 26)
Eacute importante ressaltar que a Ilha de Marthas‟s Vineyard tem
conservado traccedilos arcaicos provavelmente a populaccedilatildeo era do sudeste
da Nova Inglaterra antes de 1800 Estudos preliminares em 1961
mostraram que a maior parte dos traccedilos especiais do falar da ilha
apresentado nos mapas do LANE15
ainda podiam ser encontrados entre
os falantes de 50 a 95 anos de idade
Labov queria entender a estrutura interna do inglecircs Vineyardense
as diferenccedilas sistemaacuteticas que jaacute haviam ocorrido e as mudanccedilas que
estavam ocorrendo por isso selecionou um aspecto linguiacutestico
caracteriacutestico da ilha com o maior nuacutemero possiacutevel de variaccedilatildeo e o mais
complexo padratildeo de distribuiccedilatildeo Ele comeccedilava a pesquisa
entrevistando indiviacuteduos falantes na comunidade com o objetivo de
detectar variaccedilotildees linguiacutesticas16
geograacuteficas sociais e estiliacutesticas
15 Linguistic Atlas of New England Trata-se de um projeto que registrou a fala de habitantes da Nova Inglaterra nos Estados Unidos na deacutecada de 1930 Segundo O‟Cain (1979 p 243)
ldquoLANE samples the speech of the older and rural representatives of the culture thus
establishing late nineteenth-century bench marks for the study of the New England dialects and also samples younger and urban speakers thus indicating general and particular trends of
changerdquo
16 COELHO et al (2010 p 166) lembram que variaccedilatildeo eacute o ldquoprocesso pelo qual duas formas
podem ocorrer no mesmo contexto linguiacutestico com o mesmo valor referencial ou com o mesmo valor de verdade ie com o mesmo significado Dois requisitos precisam pois ser
cumpridos para que ocorra variaccedilatildeo as formas envolvidas precisam (i) ser intercambiaacuteveis no
mesmo contexto e (ii) manter o mesmo significadordquo
49
Na comunidade linguiacutestica17
de falantes atraveacutes da forma de
falar na conversa espontacircnea e no comportamento o autor mostrou
que havia diferenccedilas linguiacutesticas na ilha de Martha‟s Vineyard e no
sudeste da Nova Inglaterra de onde migraram pessoas para a
colonizaccedilatildeo da ilha
Em sua pesquisa Labov observou que ldquono caso do r poacutes-
vocaacutelico os falantes apresentavam uma variaacutevel linguiacutestica definida
pelos limites geograacuteficos da ilha e que segue um padratildeo social
idiossincraacutetico a Marthas Vineyardrdquo (LABOV 2008 [1972] p 27) Em
algumas aacutereas a retroflexatildeo estava diminuindo e em outras aumentando
As variaccedilotildees do r eram frequentes salientes e envolviam
consequecircncias estruturais determinantes para o sistema vocaacutelico inteiro
Labov em sua pesquisa mostrou variaccedilotildees linguiacutesticas que
ocorreriam na Ilha em uma mesma palavra com ditongos centralizados
como no caso do (ay) e do (aw) na fala dos grupos pesquisados Para
Labov A propriedade deste traccedilo de centralizaccedilatildeo que o faz
parecer excepcionalmente atraente ateacute mesmo agrave
primeira vista eacute a indicaccedilatildeo de um complexo e sutil
padratildeo de estratificaccedilatildeo Essa mesma complexidade
daacute provas de ser recompensadora pois quando a
tendecircncia centralizante eacute mapeada nos haacutebitos de
vaacuterios falantes e a influecircncia do ambiente foneacutetico
prosoacutedico e estiliacutestico eacute considerada permanece uma
ampla aacuterea de variaccedilatildeo (LABOV 2008 [1972] p 27
e 28)
Na comunidade de fala o ambiente o espaccedilo os diferentes
interlocutores as diferentes situaccedilotildees no modo de falar interferem no
sistema foneacutetico prosoacutedico e estiliacutestico da liacutengua falada
As mudanccedilas sonoras satildeo estudadas no momento presente e no
passado buscando novos conhecimentosexplicaccedilotildees sobre uma
17 DUBOIS J et al (2006 p 133) entendem por ldquocomunidade linguiacutestica um grupo de seres
humanos que usam a mesma liacutengua ou o mesmo dialeto num dado momento e que podem comunicar-se entre si Quando uma naccedilatildeo eacute monoliacutengue constitui uma comunidade linguiacutestica
Mas a comunidade linguiacutestica natildeo eacute homogecircnea compotildee-se sempre de um grande nuacutemero de
grupos que tem comportamentos linguiacutesticos diferentes A forma de liacutengua que os membros desses grupos usam tende a reproduzir de uma maneira ou de outra na foneacutetica na sintaxe ou
no leacutexico as diferenccedilas de geraccedilatildeo de origem de residecircncia de profissatildeo ou de formaccedilatildeo
(diferenccedilas socioculturais)rdquo
50
determinada aacuterea da comunidade falada as influecircncias as mudanccedilas
fonecircmicas ocorridas e suposiccedilotildees de como seraacute no futuro
Labov escreve que na Ilha de Marthas‟s Vineyard os veranistas
tecircm apenas uma leve impressatildeo da fala dos nativos pois de cada oito
pessoas na ilha sete satildeo visitantes Para Labov os veranistas natildeo tinham
muita importacircncia naquela comunidade pois na primeira semana de
setembro eles voltavam para seu lugar de origem E apenas ficavam os
moradores da ilha Continuavam a utilizar um alto grau de centralizaccedilatildeo
de (ay) e (aw) na ilha alta e tambeacutem nas aacutereas do vilarejo da ilha baixa
o turismo natildeo interferia nesse aspecto
Labov escreve que
A fim de estudar sistematicamente esse traccedilo foi
necessaacuterio conceber um modelo de entrevista que
fornecesse vaacuterios exemplos de (ay) e (aw) na fala
espontacircnea na fala emocionalmente carregada na fala
monitorada e no estilo de leitura O primeiro desses
ditongos tem mais do dobro da frequumlecircncia de uso do
segundo mas mesmo assim diversas estrateacutegias foram
necessaacuterias para aumentar a concentraccedilatildeo de ocorrecircncias
de ambos (LABOV 2008 [1972] p 31)
Para pesquisar a frequecircncia dos ditongos de (ay) e (aw) Labov
utilizou como estrateacutegia um questionaacuterio lexical concentrando-se em
algumas palavras e utilizando os mapas de LANE Aleacutem disso
formulou perguntas acerca de juiacutezos de valores e orientaccedilatildeo social do
informante e por fim um texto para leitura especial como um teste de
habilidade para ler uma histoacuteria
224 ndash Distribuiccedilatildeo por idade e tempo
Para cada falante o grau geral de centralizaccedilatildeo foi expresso por
valores numeacutericos multiplicados por 100 Veja a tabela 01
Centralizaccedilatildeo por grupos ocupacionais
Na centralizaccedilatildeo por grupos ocupacionais Labov chegou agrave
conclusatildeo de que o grupo dos pescadores na fala centralizava mais os
ditongos (ay) e (aw) do que os fazendeiros e outros pesquisados
51
Ocupaccedilatildeo (ay) (aw)
Pescadores 100 79
Fazendeiros 32 22
Outros 41 57
Tabela 01 ndash Centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por grupos ocupacionais
(LABOV 2008 [1972] p 46)
A tabela 01 mostra as tendecircncias de centralizaccedilatildeo dos ditongos
em funccedilatildeo dos grupos profissionais Os resultados apontam que os
pescadores usam mais centralizaccedilatildeo de (ay) e de (aw) num total
numeacuterico de 100 e de 79 respectivamente Para os fazendeiros os
resultados apontam 32 para (ay) e 22 para (aw) e para as outras
ocupaccedilotildees 41 para (ay) e 57 para (aw) A diferenccedila de resultados com
relaccedilatildeo agrave centralizaccedilatildeo dos ditongos pelos falantes na ilha em Martha‟s
Vineyard confirma o fato de pescadores usarem mais centralizaccedilatildeo do
que os demais informantes
Na centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por faixa etaacuteria Labov escreve
A centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) parece exibir um aumento
regular em faixas etaacuterias sucessivas alcanccedilando um pico
no grupo de 31 a 45 anos Temos agora de examinar as
razotildees para considerarmos esse padratildeo como uma
evidecircncia de mudanccedila histoacuterica no desenvolvimento de
Martha‟s Vineyard (LABOV 2008 [1972] p 41)
Vejamos a tabela
Idade (ay) (aw)
75 25 22
61 ndash 75 35 37
46 ndash 60 62 44
31 ndash 45 81 88
14 ndash 30 37 46
Tabela 02 ndash Centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por faixa etaacuteria (LABOV 2008
[1972] p 41)
52
Na tabela 02 Labov apresenta na coluna agrave esquerda a variaacutevel
independente18
ldquoidaderdquo (externa) distribuiacuteda em diferentes faixas
etaacuterias tendo iniacutecio a partir de 14 anos ateacute acima de 75 anos A coluna
central e a da direita apresentam as duas variaacuteveis dependentes19
fonoloacutegicas (internas) ndash os ditongos (ay) e (aw) Finalmente a tabela
apresenta a centralizaccedilatildeo de cada um dos ditongos de acordo com a
faixa etaacuteria do falante na Ilha de Martha‟s Vineyard
O fato de ser miacutenimo o percentual de centralizaccedilatildeo para
os muito velhos e para os muito jovens mostra que o
efeito da idade natildeo pode ser inteiramente descartado e
que de fato pode ser um fator secundaacuterio na distribuiccedilatildeo
pelas faixas etaacuterias (LABOV 2008 [1972] p 44)
Labov analisou em sua pesquisa iacutendices calculados por ele a
partir da centralizaccedilatildeo dos ditongos num total de 477 centralizaccedilatildeo de
(ay) e (aw) sendo 240 de (ay) e 237 de (aw) Ele percebeu na
distribuiccedilatildeo entre as cinco faixas etaacuterias um aumento percentual
gradativo com o resultado maior de centralizaccedilatildeo no grupo de 31 a 45
anos Por fim Labov em suas pesquisas sociolinguiacutesticas observou uma
possiacutevel mudanccedila da liacutengua nas diferentes faixas etaacuterias da comunidade
de fala de Martha‟s Vineyard com o controle da atuaccedilatildeo de vaacuterios
fatores internos e externos na centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw)
225 ndash Uma explicaccedilatildeo possiacutevel para o aumento da centralizaccedilatildeo
O exame da centralizaccedilatildeo segundo Labov da variaacutevel
dependente em estudo foi meramente descritivo e quando Labov tentou
explicar o fenocircmeno deparou-se com a seguinte questatildeo quais variaacuteveis
independentes seria importante examinarmos Labov supotildee que a
centralizaccedilatildeo desceu a um ponto baixo no final da deacutecada de 1930 e no
poacutes-guerra iniciou a subida Observe
18 COELHO et al (2010 p 166) ldquoVariaacuteveis independentes ndash fatores que condicionam nossa
escolha entre uma ou outra variante e que permitem ao linguista sugerir em que tipo de ambiente tanto linguiacutestico quanto extralinguiacutestico uma variante tem maior probabilidade de
ser escolhida em detrimento de sua (s) ldquorival (is)rdquordquo
19 COELHO et al (2010 p 166) ldquoVariaacutevel dependente ndash aspecto ou categoria da liacutengua que se
encontra em variaccedilatildeordquo
53
Permanece a questatildeo inicial a de explicar (ou de
oferecer um contexto mais amplo para) o aumento geral
da centralizaccedilatildeo na ilha Por que Martha‟s Vineyard deu
as costas para a histoacuteria da liacutengua inglesa Acredito que
podemos encontrar uma explicaccedilatildeo especifica se
estudarmos a configuraccedilatildeo detalhada desta mudanccedila
sonora em funccedilatildeo das forccedilas sociais que afetam mais
profundamente a vida da ilha (LABOV 2008 [1972] p
45)
As primeiras anaacutelises revelaram algumas correlaccedilotildees sociais
notaacuteveis A tabela 03 distribuiccedilatildeo geograacutefica da centralizaccedilatildeo mostra
as tendecircncias nas aacutereas da ilha alta rural a favorecer mais a centralizaccedilatildeo
do que nas aacutereas dos vilarejos da ilha baixa A tabela 03 mostra os
resultados sobre diferenccedilas geograacuteficas entre os moradores da ilha com
relaccedilatildeo agrave centralizaccedilatildeo dos ditongos nas duas principais partes da ilha
nas aacutereas da ilha alta rural e vilarejos na parte da ilha baixa
Os resultados de pesquisa sobre a centralizaccedilatildeo podem ser vistos
na tabela a seguir
(ay) (aw)
Ilha baixa 35 33
Edgartown 48 55
Oak Bluffs 33 10
Vineyard Haven 24 33
Ilha alta 61 66
Oak Bluffs 71 99
N Tisbury 35 13
West Tisbury 51 51
Chilmark 100 81
Gay Head 51 81
Tabela 03 ndash Distribuiccedilatildeo geograacutefica da centralizaccedilatildeo (LABOV 2008
[1972] p 45)
Estaratildeo essas variaacuteveis sociais vinculadas de algum
modo demonstraacutevel agrave mudanccedila linguumliacutestica Seratildeo
realmente independentes umas das outras ou algumas
das correlaccedilotildees estatildeo equivocadas e satildeo dependentes de
algum fator mais amplo que eacute logicamente preacutevio a elas
Se tal fator mais amplo existe precisamos indagar como
ele se originou e de que modo estaacute vinculado aos eventos
linguumliacutesticos Uma abordagem simplista e contabiliacutestica
54
natildeo responderaacute a essas perguntas Teremos de buscar
respostas na estrutura social da ilha e nas pressotildees que
motivam as mudanccedilas sociais da Martha‟s Vineyard
contemporacircnea (LABOV 2008 [1972] p 46)
A mudanccedila linguiacutestica dos grupos era identificada com os
costumes da ilha de Martha‟s Vineyard e Labov conduziu sua pesquisa
com pessoas que habitavam este local e viviam mais de acordo com os
seus costumes tradicionais Labov acreditava que as mudanccedilas
linguiacutesticas poderiam ser correlacionadas agraves relaccedilotildees sociais dos
moradores da ilha e por isso realizou sua pesquisa observando os
comportamentos linguiacutesticos somente das pessoas nativas da ilha
226 ndash A interaccedilatildeo de padrotildees linguiacutesticos e sociais
A Ilha de Martha‟s Vineyard ateacute hoje em dia eacute um lugar
beliacutessimo atrai muitos turistas inclusive poliacuteticos americanos As
pessoas que viviam laacute na deacutecada de 1960 natildeo tinham vida faacutecil na
sociedade americana Era o local com renda mais baixa no municiacutepio de
Massachusetts Labov traz essas informaccedilotildees do Censo de 196020
Os
moradores da ilha dependiam do turista a economia melhorava muito na
temporada Na Ilha de Florianoacutepolis acontece algo parecido Na
temporada de veratildeo o turista do paiacutes e do exterior lota a cidade
fortalecendo a economia do lugar
Florianoacutepolis tambeacutem eacute uma ilha beliacutessima com temporadas de
turistas que vecircm conhecer e aproveitar os lugares ir agraves praias passear
nos Shopping comprar nas lojas ir a restaurantes etc Labov quando
relata sua pesquisa na Ilha de Martha‟s Vineyard parece estar
comentando de Florianoacutepolis Os moradores da ilha aproveitam para
alugar suas casas vender seus produtos principalmente para os turistas
mais ricos Entatildeo haacute uma movimentaccedilatildeo econocircmica muito grande
assim como uma troca com relaccedilatildeo agrave liacutengua falada Como diz Labov (2008 [1972] p 49) ldquoOs chilmarkenses se
orgulham muito de suas diferenccedilas em relaccedilatildeo aos moradores do
continenterdquo
20 O Censo de 1960 mostra que a ilha de Martha‟s Vineyard se trata do municiacutepio mais pobre
de Massachusetts tem a meacutedia de renda mais baixa o mais alto nuacutemero de pessoas pobres e o
menor nuacutemero de pessoas ricas (LABOV 2008 [1972] p 47)
55
Vocecircs que vecircm para caacute para Martha‟s Vineyard natildeo
entendem os costumes das velhas famiacutelias da ilha
costumes e tradiccedilotildees estritamente mariacutetimos e aquilo
que nos interessa o resto da Ameacuterica essa parte do outro
lado aqui da aacutegua que pertence a vocecircs e com que noacutes
natildeo temos nada a ver se esqueceu completamente
Acho ateacute que noacutes usamos um tipo de liacutengua inglesa
totalmente diferente pensamos diferente aqui na ilha
eacute quase uma liacutengua separada dentro da liacutengua inglesa
Interessante se faz notar que no lugar de Chilmark a comunidade
na ilha vive a tradiccedilatildeo da famiacutelia os costumes vecircm de geraccedilatildeo em
geraccedilatildeo O estrangeiro de liacutengua inglesa quando conhece o lugar pode
influenciar a liacutengua falada na ilha pois seu inglecircs eacute diferente
Os resultados reunidos com o maior grau de centralizaccedilatildeo de (ay)
e de (aw) satildeo mostrados na tabela 04 organizados por ocupaccedilatildeo regiatildeo
ou localidade em que moram e faixa etaacuteria
Tabela 04 ndash Cruzamento de fatores 6 falantes com o maior grau de
centralizaccedilatildeo (LABOV 2008 [1972] p 50)
Na regiatildeo Edgartown dois pescadores que satildeo irmatildeos
descendentes de famiacutelias antigas mantecircm sua posiccedilatildeo agrave beira mar de Edgartown trabalhando mesmo frente agrave invasatildeo dos veranistas
Nas tabelas 01 e 04 verifica-se que de todos os grupos
ocupacionais o de pescadores eacute o que utiliza um maior iacutendice de
centralizaccedilatildeo Labov tentou fazer tabulaccedilotildees cruzadas extensas entre as
tabelas 04 e 05 mas chegou agrave conclusatildeo que o nuacutemero era pequeno
Ocupaccedilatildeo Regiatildeo Idade (ay) (aw)
Pescador de Chilmark 60 anos 170 111
Pescador de Chilmark 31 anos 165 211
Pescador de Chilmark 55 anos 150 124
Pescador de Edgartown 61 anos 143 107
Pescador de Chilmark 33 anos 133 79
Pescador de Edgartown 52 anos 131 131
56
demais Exemplificou com o grupo de pescadores de Chilmark na faixa
etaacuteria de 30 a 60 anos Percebeu que cinco informantes tecircm iacutendices
meacutedios de 148 para (ay) e 118 para (aw) o mais elevado do que
qualquer outro grupo social da ilha Labov concluiu entatildeo que a grande
escalada da centralizaccedilatildeo comeccedilou na ilha alta entre os pescadores de
Chilmark
Veja agora os resultados da faixa etaacuteria por grupo eacutetnico
Tabela 05 ndash Centralizaccedilatildeo por grupos eacutetnicos (LABOV 2008
[1972] p 46)
A tabela 5 apresenta a centralizaccedilatildeo por faixa etaacuteria em cada um
dos grupos eacutetnicos principais (ingleses portugueses e indiacutegenas)
Labov concluiu que
Vemos que a centralizaccedilatildeo atinge o aacutepice na faixa etaacuteria
de 30 a 45 anos e que a centralizaccedilatildeo de (aw) alcanccedilou
ou ultrapassou (ay) neste ponto Essa faixa etaacuteria tem
estado sob uma pressatildeo muito mais forte do que qualquer
outra os homens cresceram numa economia declinante
depois de fazerem uma escolha mais ou menos
deliberada de permanecer na ilha em vez de abandonaacute-la
A maioria deles esteve nas forccedilas armadas durante a
Segunda Guerra Mundial ou no conflito da Coreacuteia
Muitos frequumlentaram uma faculdade pois o grupo de
ascendecircncia inglesa tem um grande apreccedilo pela educaccedilatildeo
superior Em algum momento cada um desses homens
escolheu levar uma vida apertada em Martha‟s Vineyard
enquanto muitos de seus contemporacircneos partiram para
ganhar mais dinheiro ou mais reconhecimento em outro
lugar (LABOV 2008 [1972] p 50 e 51)
Exemplificou com relatos as interferecircncias que ocorreram no
modo de falar na ilha Uma delas ldquoSabe o E nem sempre falou desse
jeito foi soacute depois que ele voltou da faculdade Acho que ele queria
Ingleses Portugueses Indiacutegenas
Faixa etaacuteria (ay) (aw) (ay) (aw) (ay) (aw)
Mais de 60 36 34 26 26 32 40
46 a 60 85 63 37 59 71 100
31 a 45 108 109 73 83 80 133
Menos de 30 35 31 34 52 47 88
Todas as idades 67 60 42 54 56 90
57
ficar mais parecido com os homens das docasrdquo
Labov concluiu
Aqui vemos um caso niacutetido de hipercorreccedilatildeo atuando e
com base em outros indiacutecios tambeacutem eacute razoaacutevel supor
que essa eacute uma forccedila muito regular de implementaccedilatildeo da
tendecircncia foneacutetica que estamos estudando (LABOV
2008 [1972] p 52)
Muitos dos jovens de antigas famiacutelias natildeo permaneceratildeo na ilha e
isto reflete nos iacutendices da tabela Atraveacutes de uma leitura padronizada de
um texto com os jovens Labov observou que existia diferenccedila na fala
dos que permaneciam na ilha exibiam forte centralizaccedilatildeo enquanto os
que queriam sair mostravam pouca ou nenhuma centralizaccedilatildeo
Das informaccedilotildees obtidas surgiu um padratildeo unificado que
exprimia o significado social dos ditongos centralizados evidenciando
ldquoque o significado imediato desse traccedilo era o Vineyardenserdquo Labov
esclarece que pelo fato de os grupos terem que responder a desafios
diferentes a seu status nativo desenvolvia-se um modo complexo no
traccedilo fonecircmico
Labov exemplifica isso abaixo
O grupo das antigas famiacutelias de origem inglesa tem sido
submetido a pressotildees vindas de fora seus membros estatildeo
lutando para manter sua posiccedilatildeo independente diante de
um persistente decliacutenio da economia e diante do asseacutedio
ininterrupto dos veranistas O membro da comunidade de
orientaccedilatildeo tradicional naturalmente busca seus valores
nas geraccedilotildees passadas essas geraccedilotildees passadas formam
um grupo de referecircncia para ele (LABOV 2008 [1972]
p 57)
Na geraccedilatildeo mais jovem dos ingleses o efeito diferencial no grau
de centralizaccedilatildeo manteve-se na tradiccedilatildeo eles tinham os ancestrais como
referecircncia se consideravam independentes enquanto pescadores
acreditavam que a ilha lhes pertencia Mantinham sua posiccedilatildeo
econocircmica Se pretendiam sair da ilha a influecircncia dos antepassados
diminuiacutea consideravelmente
No grupo de portugueses eles natildeo enfrentavam o dilema de partir ou ficar na ilha o principal desafio a que esse grupo tinha reagido
provinha do grupo inglecircs que tinha servido de referecircncia ateacute pouco
tempo Para os portugueses o mais urgente era afirmar-se em sua
identidade como ilheacuteu Os indiacutegenas se ressentiam dos obstaacuteculos que
58
enfrentavam na ilha mas tinham adotado muito dos valores dos
Chilmarkenses Com poucos recursos linguiacutesticos ficava difiacutecil insistir
em sua identidade indiacutegena
Labov (2008 [1972] p 59) examinando as entrevistas de cada
informante situou-as em trecircs categorias
Positivo ndash exprime sentimentos definitivamente positivos
acerca de Martha‟s Vineyard neutra ndash expressa
sentimentos nem positivos nem negativos acerca de
Martha‟s Vineyard negativa ndash indicada o desejo de ir
viver em outro lugar
Agora observe na tabela 06 o resultado da centralizaccedilatildeo segundo
a atitude dos trecircs grupos de falantes quanto agrave ilha
Pessoas (ay) (aw)
40 Positiva 63 62
19 Neutra 32 42
6 Negativa 09 08
Tabela 06 ndash Centralizaccedilatildeo e atitude com relaccedilatildeo a Martha‟s Vineyard
(LABOV 2008 [1972] p 59)
Labov agrupou os vaacuterios informantes em uma escala social
quanto ao uso dos ditongos centralizados Primeiro mostravam-se com
atitudes positivas 40 pessoas entrevistadas o iacutendice de centralizaccedilatildeo era
de 63 para (ay) e 62 para (aw) as duas comparaccedilotildees de centralizaccedilotildees
mais altas Segundo o ponto neutro realizado por 19 pessoas
entrevistadas o iacutendice de centralizaccedilatildeo ficava na faixa de 30 32 para
(ay) e 42 para (aw) nem positivo nem negativo Terceiro o ponto
negativo O autor encontrou 6 pessoas entrevistadas que tinham atitudes
negativas com relaccedilatildeo agrave ilha O iacutendice de centralizaccedilatildeo nesse caso era
apenas de 09 para (ay) e de 08 para (aw) Essas pessoas diziam que queriam
viver em outros lugares e natildeo na ilha de Martha‟s Vineyard O autor
mostrou a estratificaccedilatildeo de todos e como ele conseguiu explicar a
distribuiccedilatildeo dos ditongos centralizados de forma vaacutelida fazendo as
relaccedilotildees necessaacuterias para as explicaccedilotildees
59
23 ndash Os princiacutepios da mudanccedila linguiacutestica
Num primeiro estudo relacionado agrave mudanccedila linguiacutestica em
progresso (em curso) eacute necessaacuterio entender como as variaccedilotildees
linguiacutesticas estatildeo distribuiacutedas por faixa etaacuteria Entatildeo percebemos a
mudanccedila linguiacutestica relacionando a variaacutevel linguiacutestica com a idade
pesquisando indiviacuteduos de diferentes geraccedilotildees Segue abaixo a citaccedilatildeo
de Labov sobre mudanccedila linguiacutestica observada entre as faixas etaacuterias
conhecida como mudanccedila em tempo aparente21
A primeira abordagem e mais simples para estudar a
mudanccedila linguiacutestica em andamento eacute traccedilar mudanccedila no
tempo aparente isto eacute a distribuiccedilatildeo das variaacuteveis
linguiacutesticas entre os diferentes niacuteveis etaacuterios Se
descobrirmos uma relaccedilatildeo monotocircnica entre a idade e a
variaacutevel linguiacutestica ou uma correlaccedilatildeo significativa entre
as duas entatildeo trata-se de decidir se estamos lidando com
uma verdadeira mudanccedila em progresso ou de gradaccedilatildeo
etaacuteria (Hockett 1950) uma mudanccedila regular de
comportamento linguiacutestico com a idade que se repete em
cada geraccedilatildeo (LABOV 1994 p 47)22
A primeira e mais simples aproximaccedilatildeo entre as variaccedilotildees
encontradas na sincronia ao estudo da mudanccedila linguiacutestica em curso eacute
seguir a pista da mudanccedila em tempo aparente isto eacute a distribuiccedilatildeo das
variaacuteveis linguiacutesticas por faixa etaacuteria Na variaccedilatildeo encontrada entre o
grupo dos indiviacuteduos mais velhos de uma geraccedilatildeo e outro grupo de
21 SILVA (2004) faz um recorte transversal da amostra sincrocircnica em funccedilatildeo da faixa etaacuteria
dos informantes Por exemplo utilizamos no nosso estudo trecircs grupos etaacuterios jovens meia idade e idosos
COELHO et al (2010 p 164) apontam que mudanccedila em tempo aparente eacute uma ldquomudanccedila
linguiacutestica captada em estudo do comportamento linguiacutestico de indiviacuteduos de diferentes
geraccedilotildees numa comunidade num dado periacuteodo de tempo Tal estudo possibilita identificar correlaccedilotildees entre a variaacutevel social idade e a variaacutevel linguiacutestica em estudo revelando indiacutecios
de (i) uma mudanccedila concernente agrave idade que ocorre regularmente em cada geraccedilatildeo (gradaccedilatildeo
etaacuteria) ou de (ii) uma mudanccedila efetiva em progressordquo
22 Traduccedilatildeo minha do texto original em Inglecircs de Labov ldquoThe first and most straightforward approach to studying linguistic change in progress is to trace change in apparent time that is
the distribution of linguistic variables across age levels If we discover a monotonic
relationship between age and the linguistic variable or a significant correlation between the two then issue is to decide whether we are dealing with a true change in progress or with age-
grading (Hockett 1950) a regular change of linguistic behavior with age that repeats in each
generationrdquo
60
indiviacuteduos mais jovens em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria percebe-se muitas
vezes mudanccedila linguiacutestica em progresso nas liacutenguas
Na estratificaccedilatildeo por idade muitas vezes se percebe que os
indiviacuteduos mudam seu comportamento linguiacutestico durante toda a sua
vida mas a comunidade nem sempre muda
231 ndash A idade e a variaccedilatildeo estaacutevel
Mas nem sempre o estudo da faixa etaacuteria vai indicar mudanccedila em
progresso A meacutedia do grau de realizaccedilatildeo de uma variaccedilatildeo estaacutevel23
pode ser tambeacutem observada entre as faixas etaacuterias dos falantes em que
os grupos extremos (jovens e velhos) apresentam o mesmo
comportamento ao contraacuterio do grupo de meia idade cujo
comportamento se diferencia devido agraves pressotildees sociais Eacute considerando
a variaacutevel idade que vai ser observado no conjunto de dados
investigados se temos mudanccedila em tempo aparente ou variaccedilatildeo estaacutevel
A variaccedilatildeo estaacutevel pode ser observada considerando a
combinaccedilatildeo dos resultados das variaacuteveis bdquoidade‟ bdquosexo‟ bdquoclasse social‟ e
bdquoniacutevel de escolaridade‟ Com relaccedilatildeo agrave bdquofaixa etaacuteria‟ a variaccedilatildeo estaacutevel
diz respeito a variantes que coexistem por um longo periacuteodo mas sem
ter necessariamente predominacircncia de uma sobre a outra
Uma outra possibilidade eacute a visatildeo claacutessica que prevecirc estabilidade
do falante mas instabilidade da comunidade Ex daqui a 20 anos os
falantes de 70 anos estaratildeo falando como os de 50 anos de hoje Outra
possibilidade admite que o sistema linguiacutestico do indiviacuteduo modifica
mas o da comunidade permanece o mesmo Ex daqui a 20 anos os
falantes de 70 anos teratildeo o mesmo sistema que os de 70 anos hoje
Resultados recentes apontam para uma terceira possibilidade o
indiviacuteduo muda com o passar do tempo mas natildeo atinge precisamente a
mesma posiccedilatildeo em que estatildeo os falantes mais velhos atualmente
23 COELHO et al (2010 p 166) apontam que variaccedilatildeo estaacutevel eacute conhecida como a ldquosituaccedilatildeo
de variaccedilatildeo entre duas ou mais formas linguiacutesticas que se estende numa comunidade ao longo
do tempo sem que uma variante ceda seu espaccedilo agrave outrardquo
61
232 ndash A idade e a mudanccedila linguiacutestica
Segundo Naro (2003 p 44) no portuguecircs atual do RJ haacute
fenocircmenos em que a idade atua fortemente
Seudele a forma seu para a 3ordf pessoa eacute pouquiacutessimo
recorrente na fala dos mais jovens
Noacutesa gente os jovens estatildeo evitando a forma noacutes
Ir os jovens estatildeo evitando as regecircncias ir a e ir para
preferindo ir em
Sob a hipoacutetese claacutessica o estado atual da liacutengua de um falante
adulto reflete o estado da liacutengua adquirida mais ou menos ateacute os 15 anos
de idade Logo um indiviacuteduo falante com 60 anos representa a liacutengua de
45 anos atraacutes Falantes adultos tendem a usar as formas antigas Os pais
e filhos apesar de estarem em interaccedilatildeo constante usam formas
distintas na comunicaccedilatildeo Pais e filhos tecircm um vocabulaacuterio e uma fala
proacuteprios de sua eacutepoca Com o passar do tempo eacute provaacutevel que a forma
nova seja adotada por pais e filhos
Naro (2003) apresenta a escala em tempo aparente obtida atraveacutes
do estudo de falantes com idades diferentes ndash chamada de ldquogradaccedilatildeo
etaacuteriardquo ndash que corresponde sempre sob a hipoacutetese claacutessica a uma escala
de mudanccedila em tempo real Observamos a tabela apresentada a seguir
Idade atual
(em anos)
Estado da liacutengua
(anos atraacutes)
70
60
50
40
30
20
55
45
35
25
15
5
Tabela 07 ndash A escala em tempo aparente eacute chamada de ldquogradaccedilatildeo etaacuteriardquo (NARO 2003 p 45)
A tabela ajuda a explicar os dados da pesquisa realizada por
Labov (atraveacutes de gravaccedilatildeo no ano de 1990) mostrando que a fala de
62
um indiviacuteduo de 70 anos de idade representaria o estado da liacutengua
adquirida em 1935
Segundo Naro (2003) Labov conseguiu distinguir quatro graus de
ditongos centralizados denotados (aw) ndash 0 (a posiccedilatildeo mais baixa
correspondendo a ldquoshwardquo) As trecircs posiccedilotildees centrais claacutessicas do
alfabeto foneacutetico estatildeo representadas por ele no seguinte graacutefico
Figura 06 ndash O trapezoacuteide das vogais a flecha indica a direccedilatildeo de
movimento do primeiro elemento de (aw) (NARO 2003 p 49)
A pesquisa em Martha‟s Vineyard revelou que os velhos
preservavam mais a forma original natildeo-centralizada os jovens por
outro lado centralizavam mais Segue a tabela
Geraccedilatildeo Idade Iacutendice de (aw) Iacutendice de (ay)
I (pais) 75+
61 - 75
22
37 25
35
II (filhos) 46 ndash 60
31 ndash 45
44
88 62
88
Tabela 08 ndash Mudanccedila de (aw) e (ay) em tempo aparente atraveacutes de duas
geraccedilotildees em Martha‟s Vineyard (Labov 1972 apud Naro 2003 p 22)
Algumas observaccedilotildees de Naro sobre a pesquisa de Labov satildeo (i) a centralizaccedilatildeo estaacute se espalhando com forccedila e rapidez (ii) os indiviacuteduos
mais velhos (80 anos) praticamente apenas usavam o grau zero o mais
aberto da escala com ocorrecircncias esporaacutedicas do grau um a faixa de 60
anos estava concentrada no grau dois antes de consoante surda (out
63
ldquoforardquo) e no grau zero ou um em outros contextos (round ldquoredondordquo
now ldquoagorardquo) na faixa de 30 anos o condicionamento se tornava quase
categoacuterico grau dois ou trecircs antes de consoante surda grau zero ou um
nos demais contextos ndash resultados obtidos atraveacutes do estudo da variaccedilatildeo
no indiviacuteduo Observa-se assim detalhadamente a mudanccedila em
progresso desde o comeccedilo (ocorrecircncia esporaacutedica de variantes mais
altas) ateacute a instauraccedilatildeo do condicionamento categoacuterico (variantes mais
altas antes de consoante surda variantes mais baixas nos outros
contextos)
De acordo com Naro
O que permite esta visatildeo simultacircnea das diversas etapas
do processo dinacircmico de mudanccedila eacute o congelamento do
sistema linguiacutestico do falante na eacutepoca da puberdade e eacute
justamente este o postulado fundamental que subjaz agrave
hipoacutetese claacutessica do relacionamento entre mudanccedila
linguiacutestica e idade o processo da mudanccedila se espelha na
fala das sucessivas faixas etaacuterias (NARO 2003 p 46)
Sabemos que nem toda variaccedilatildeo na fala representa mudanccedila em
progresso Um exemplo pronuacutencia do morfema ing em inglecircs (walking
ldquoandandordquo) que pode ser realizado como velar ou dental ndash eacute uma
variaccedilatildeo atestada haacute seacuteculos poreacutem ainda existente em praticamente
todos os dialetos e nas diferentes faixas etaacuterias
Labov realizava pesquisas sobre o desenvolvimento diacrocircnico24
da liacutengua a partir de anaacutelises sincrocircnicas25
primeiro foi na ilha de
Marthas Vineyard (1963) e depois foi na cidade de Nova York (1966)
Quando a mudanccedila estaacute envolvida certa variante
ocorreraacute na fala da crianccedila embora esteja ausente na fala
de seus pais ou mais tipicamente uma variante na fala
24 JOTA (1981 p 103) ldquoEstudo da liacutengua atraveacutes dos tempos e consequentemente estudo das transformaccedilotildees que sofre a liacutengua em sua evoluccedilatildeo Opotildee-se agrave sincronia A linguiacutestica
portanto jaacute que pode estudar a liacutengua diacronicamente ou se limitar ao seu estudo em
determinado tempo de sua evoluccedilatildeo (sincronia) se divide em diacrocircnica e sincrocircnicardquo
25 JOTA (1981 p 307) ldquoConjunto dos fatos linguiacutesticos num dado estaacutegio de sua evoluccedilatildeo A sincronia eacute objeto de estudo da linguiacutestica sincrocircnica ou estaacutetica Como um estado de liacutengua
abrange determinado espaccedilo de tempo tempo suficiente para que haja alguma variaccedilatildeo
sincrocircnica eacute claro que esta sob certo ponto-de-vista natildeo se distingue da evoluccedilatildeo diacrocircnicardquo
64
dos pais ocorreraacute na fala de seus filhos com frequecircncia
maior e na fala de seus netos com frequecircncia ainda
maior (CHAMBERS 1995 p185)26
Numa comunidade em geral as geraccedilotildees sucessivas apresentaratildeo
uma frequecircncia de uso maior da variante inovadora A conclusatildeo loacutegica
eacute que com o passar do tempo haveraacute um uso categorial da forma
inovadora e a eliminaccedilatildeo da variante antiga
233 ndash Aplicando os conhecimentos da sociolinguiacutestica
Eacute importante ressaltar que todas as liacutenguas mudam com o tempo
Como exemplo o portuguecircs eacute originaacuterio do latim considerado liacutengua
matildee Entretanto atualmente natildeo haacute semelhanccedila entre as duas liacutenguas
As diferenccedilas satildeo profundas e afetam toda a gramaacutetica da liacutengua essas
diferenccedilas apareceram e cresceram ao longo de mais de mil anos Tanto
na liacutengua falada quanto na liacutengua escrita ocorrem mudanccedilas que satildeo
observadas quando satildeo feitas pesquisas que nos mostram em que alguns
fenocircmenos mudaram Este assunto eacute explicado por Naro (2003)
A mudanccedila linguiacutestica natildeo eacute abrupta normalmente se processa de
maneira gradual em vaacuterias dimensotildees Sob o eixo social eacute observaacutevel
que falantes mais velhos costumam preservar mais as formas antigas o
mesmo ocorre com pessoas mais escolarizadas com camadas da
populaccedilatildeo que gozam de maior prestiacutegio social com o grupo feminino e
com as pessoas que exercem atividades que exigem boa apresentaccedilatildeo
para o puacuteblico Uma mesma pessoa pode escolher diferentes formas em
diferentes situaccedilotildees
Com base nisso pretendo fazer uma comparaccedilatildeo das mudanccedilas
ocorridas num curto espaccedilo de tempo tendo como referecircncia um
professor surdo para investigar as possiacuteveis mudanccedilas da liacutengua de
sinais depois de seu estudo no INES ateacute o momento atual envolvendo
um grupo de surdos mais velhos e outros dois grupos mais jovens Os
dados obtidos na pesquisa podem mostrar como ocorreram algumas
mudanccedilas na liacutengua de sinais e se realmente ocorreram aleacutem disso
podem criar um registro deste periacuteodo para futuras pesquisas Para
Labov (2008 [1972] p 21) ldquoseria de esperar que a aplicaccedilatildeo da
26 Traduccedilatildeo minha do texto original em Inglecircs ldquoWhere change is involved a certain variant will occur in the speech of children though it is absent in the speech of their parents or more
typically a variant in the parents‟ speech will occur in the speech of their children with greater
frequency and in the speech of their granchildren with even greater frequencyrdquo
65
linguiacutestica estrutural a problemas diacrocircnicos levasse ao enriquecimento
dos dados mais do que ao seu empobrecimentordquo
Vale lembrar que em 1970 a educaccedilatildeo dos surdos em Santa
Catarina era baseada em metodologia oralista Poucos sinalizavam
porque natildeo podiam tinham que falar Os sinais eram usados na
comunicaccedilatildeo entre surdos mas esporadicamente pois nesta eacutepoca aleacutem
de serem proibidos de utilizarem sinais para a comunicaccedilatildeo tambeacutem
natildeo podiam fazer reuniotildees soacute de indiviacuteduos surdos como acontece
atualmente Segue a citaccedilatildeo de Labov 2008 [1972] que considero
pressuposto para o desenvolvimento da presente pesquisa
O ponto de vista do presente estudo eacute o de que natildeo se
pode entender o desenvolvimento de uma mudanccedila
linguumliacutestica sem levar em conta a vida social da
comunidade em que ela ocorre Ou dizendo de outro
modo as pressotildees sociais estatildeo operando continuamente
sobre a liacutengua natildeo de algum ponto remoto no passado
mas como uma forccedila social imanente agindo no presente
vivo (LABOV 2008 [1972] p 21)
O maior problema a meu ver eacute que o grupo dos mais velhos que
usava a liacutengua falada natildeo entendia a importacircncia da liacutengua de sinais
para o indiviacuteduo surdo restringindo muito a sinalizaccedilatildeo e os sinais no
ano de 1950 Sabemos que pessoas de diferentes lugares que vecircm para
uma determinada comunidade acabam trocando experiecircncias e palavras
influenciando essa comunidade Isto pouco acontecia com o grupo dos
surdos mais velhos Diferentemente do que se observava com os
antigos os surdos mais novos tinham um maior contato social com a
liacutengua de sinais brasileira permitindo mais trocas de conhecimentos
criando novos sinais tornando a liacutengua de sinais mais ldquovivardquo e
ldquodinacircmicardquo
Por exemplo em comparaccedilatildeo com falantes da ilha em
Florianoacutepolis quanto agrave situaccedilatildeo estiliacutestica27
o grupo mais velho de
surdos usava mais a liacutengua falada do que a sinalizada pouco contato
eles tinham entre si pois era proibida28
a sinalizaccedilatildeo pelas instituiccedilotildees
27 Eacute o jeito de falar nas diferentes situaccedilotildees com os diferentes interlocutores e nos variados
contextos
28 SCHMITT (2008) A representaccedilatildeo de surdo na histoacuteria antiga registra a passagem que os
surdos realizaram na sociedade onde predominavam os ouvintes Entatildeo a hegemonia dos ouvintes manteve sempre o surdo como excluiacutedo atraveacutes de estereoacutetipos e depreciaccedilotildees A
sociedade antiga natildeo permitia a capacitaccedilatildeo dos surdos como sujeitos normais o uso da liacutengua
66
que trabalhavam com os surdos e tambeacutem pelas famiacutelias Conta-se que
em algumas escolas amarravam as matildeos dos indiviacuteduos surdos para que
natildeo sinalizassem Com o grupo mais jovem eacute diferente o contato deles
com outros surdos eacute maior trocam mais experiecircncias e sinais
propiciando assim mais mudanccedilas na liacutengua de sinais tornando-se hoje
mais usada e mais dinacircmica na comunidade surda Isso acontece aqui
em Florianoacutepolis tambeacutem A influecircncia accediloriana trazida pelos
imigrantes portugueses atualmente com a visita de turistas brasileiros
(ex vindos dos estados de RS SP PR e MG) e estrangeiros (ex
Argentinos Paraguaios Uruguaios Chilenos dentre outros) a
Florianoacutepolis acaba interferindo e modificando a liacutengua falada na ilha
Acredita-se que existe variaccedilatildeo linguiacutestica na liacutengua de sinais
em Santa Catarina por influecircncia da comunidade de falantes nas
diferentes regiotildees do estado A liacutengua de sinais acaba incorporando
parte da cultura dessas comunidades a sua liacutengua
Existem pesquisas na liacutengua de sinais mostrando diferenccedilas
nas liacutenguas visual-espacial de acordo com o paiacutes de origem com
diferenccedilas culturais diferentes configuraccedilotildees de matildeos etc Estas
pesquisas ajudam a compreender melhor a estrutura das liacutenguas de
sinais seu aspecto linguiacutestico e gramatical
Em Santa Catarina na comunidade de falantes no municiacutepio de
Itaacute na regiatildeo oeste do estado muitos descendentes de europeus
(Italianos alematildees poloneses etc) falam usando um r brando por
exemplo barragem mas na fala fica baragem
Na liacutengua portuguesa existem diferentes sons e diferentes formas
de falar esses sons No caso do exemplo citado anteriormente do
municiacutepio de Itaacute o som do r falado eacute diferente mas o significado da
palavra eacute o mesmo Na LIBRAS acontece isto um determinado sinal
pode ser pronunciado de diferentes maneiras com relaccedilatildeo agrave
configuraccedilatildeo de matildeos (CM)29
ao ponto de articulaccedilatildeo (PA) e ao
movimento (M) Segue abaixo a foto de trecircs principais paracircmetros
fonoloacutegicos
de sinais e nem aceitava a cultura do surdo Como A liacutengua de sinais foi banida das escolas
pelas decisotildees do Congresso de Milatildeo em 1880
29 Configuraccedilatildeo de matildeo e segue a foto
67
Figura 07 ndash Sinal de Porco
Por exemplo os sinais para as palavras amanhatilde
30 e faacutecil
31 satildeo
diferentes quanto ao ponto de articulaccedilatildeo e ao movimento mas a
configuraccedilatildeo de matildeos eacute a mesma para as duas palavras Ė importante
ressaltar que Labov em sua pesquisa mostrou variaacuteveis linguiacutesticas com
relaccedilatildeo agrave comunidade de fala e o exemplo na liacutengua de sinais eacute visual e
natildeo sonoro Entatildeo a fonologia das liacutenguas de sinais eacute um ramo da
linguiacutestica que objetiva identificar a estrutura e a organizaccedilatildeo dos
constituintes fonoloacutegicos propondo descriccedilotildees e explicaccedilotildees
Labov (1982) no entanto acreditava que eacute possiacutevel que uma
mudanccedila linguiacutestica possa ser o resultado de uma causa particular
isolada do sistema linguiacutestico ou social Por exemplo em Marthas
Vineyard um alto nuacutemero de casamento entre surdos e ouvintes e entre
surdos foi responsaacutevel pelo nascimento de centenas de surdos no seacuteculo
XIX Como resultado quase todos os membros ouvintes da comunidade
aprenderam a liacutengua de sinais e a utilizaram com muitos outros
propoacutesitos aleacutem da comunicaccedilatildeo com surdos (GROCE 1952)
Concluo este capiacutetulo que apresenta a pesquisa de Labov na ilha
30 Sinal de amanhatilde e segue a foto
31 Sinal de faacutecil e segue a foto
68
de Marthas Vineyard verificando a ocorrecircncia de centralizaccedilatildeo de
ditongos com algumas consideraccedilotildees A metodologia de pesquisa que
Labov abriu um campo de estudos que relaciona variaccedilatildeo e a mudanccedila
linguiacutestica ao contexto social utilizando-se de fatores como gecircnero
escolaridade classe social faixa etaacuteria local de residecircncia apoiando-se
em conhecimento de antropologia e liacutengua e de teacutecnicas computacionais
e matemaacuteticas Essa forma de pesquisa deu iniacutecio ao ramo da linguiacutestica
que conhecemos como sociolinguiacutestica variacionista ou quantitativa em
que a liacutengua natildeo eacute vista como uma estrutura estaacutetica e sim como um
sistema em variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica constante ligado agrave estrutura
social
69
CAPIacuteTULO III ndash A histoacuteria social da liacutengua
31 ndash Introduccedilatildeo
Inicialmente este capiacutetulo apresenta a histoacuteria contextualizada da
liacutengua de sinais da Franccedila depois no Brasil e finalmente em Santa
Catarina No primeiro momento apresenta-se o perfil do fundador da
primeira escola de surdos no mundo localizada na Franccedila o Abade de
LacuteEacutepeacutee Em seguida aponta-se qual foi o fundador da primeira
instituiccedilatildeo de surdos na cidade do Rio de Janeiro o Eacutedouard Huet32
e
traz consideraccedilotildees sobre o primeiro professor surdo a trabalhar em sala
de aula com alunos surdos em Santa Catarina Francisco Lima Juacutenior
Este uacuteltimo estudou a liacutengua de sinais na cidade do Rio de Janeiro e
proporcionou aos surdos de Santa Catarina uma comunicaccedilatildeo em liacutengua
de sinais mais aprofundada e abrangente Ele tambeacutem divulgou a liacutengua
de sinais na comunidade surda criando espaccedilos culturais e uma
identidade para a comunidade surda catarinense
Este capiacutetulo apresentada a seguinte estrutura comenta sobre o
primeiro fundador do Instituto Nacional de Surdos de Paris Abade
LacuteEacutepeacutee apresenta Eacutedouard Huet e sua vinda para o INESRJ e por fim
relata a histoacuteria do primeiro professor surdo (Francisco Lima Juacutenior) em
Santa Catarina na liacutengua de sinais
32 ndash Charles Michel de LacuteEacutepeacutee - Instituto Nacional de Surdos-
Mudos33
em Paris
Na Franccedila Abade de LacuteEacutepeacutee34
foi o primeiro fundador de uma
escola com classes para a educaccedilatildeo de surdos e tambeacutem criou a
32 No Brasil escreve-se Eduard mas na Franccedila seu nome e escrito Eacutedouard Huet
33 Surdos-Mudos ndash terminologia utilizada nessa eacutepoca atualmente utilizamos ser surdo
34 Abade de LacuteEacutepeacutee foi o criador de um meacutetodo empregado na educaccedilatildeo de surdos
denominado de ldquosinais metoacutedicosrdquo A justificativa para a criaccedilatildeo desse meacutetodo se deu pelo fato de que L‟Epeacutee acreditava que a Liacutengua de Sinais utilizada pelos surdos era incompleta
devendo ser melhorada e universalizada Seu meacutetodo consistia em conservar o ldquonuacutecleo central
dos gestosrdquo utilizados por seus alunos adicionando poreacutem a estes gestos outros sinais para designar objetos qualidades fatos ou situaccedilotildees No entanto como seu principal objetivo era o
ensino da liacutengua francesa natildeo se deu por satisfeito criou uma seacuterie de sinais que natildeo existiam
na codificaccedilatildeo gestual referente a preposiccedilotildees artigos tempo e pessoa verbal entre outros
70
linguagem de gestos que se chamava ldquoLINGUAGEM DE SINAIS
METOacuteDICOSrdquo e o alfabeto manual que eacute bem diferente dos coacutedigos de
significados na estrutura frasal e no gesto que representava a palavra
para o surdo
Moura (2000 p 22) relatou que o Abade Charles-Michel de
L‟Epeacutee nasceu em 1712 na cidade de Versalhes na Franccedila O Abade
comeccedilou a ensinar os surdos em 1760 por razotildees religiosas iniciando
seu trabalho com duas freiras surdas Com grande desafio transformou
sua casa na primeira escola puacuteblica para surdos (Instituto de Surdos e
Mudos de Paris) utilizando a comunicaccedilatildeo gestual A autora Perlin
(2002) lembra que
As escolas fundadas em outros paiacuteses nos moldes da
Franccedila passaram a usar as liacutenguas de sinais nacionais e a
explorar novos recursos na educaccedilatildeo de surdos O
curriacuteculo da escola para surdos em Paris passou a
conter liacutengua de sinais religiatildeo liacutengua nacional e
formaccedilatildeo profissional
O Abade de L‟Epeacutee comeccedilou a sua pesquisa observando um
grupo de surdos de laacute que se comunicava nas ruas da cidade (cuidando
para que as pessoas natildeo os vissem fazendo gestos) na liacutengua de sinais
francesa O Abade LacuteEacutepeacutee teve a ideia de conhecer mais sobre a liacutengua
gestual daqueles surdos e mais tarde pensou em como poderia ajudaacute-los
nessa comunicaccedilatildeo Ele ensinava religiatildeo na igreja para os surdos Entatildeo
LacuteEacutepeacutee comeccedilou a investir em seu projeto de melhorias para esta forma
de comunicaccedilatildeo Chamou o grupo de surdos e mostrou a liacutengua gestual
com gramaacutetica proacutepria e o alfabeto manual para o auxiacutelio na
comunicaccedilatildeo
A oportunidade de melhorar a linguagem dos surdos na eacutepoca foi
essencial para que fosse desenvolvida a base da liacutengua de sinais dos
surdos de Paris fortalecendo a cultura e a comunidade surda Isso
permitia tambeacutem que os surdos tivessem acesso a uma filosofia
religiosa aprendendo com isso novos vocabulaacuterios aleacutem da crenccedila e de
um modelo educacional diferente Segue o autor
Todo surdo-mudo enviando ateacute noacutes jaacute tem uma
linguagem () Tem o haacutebito de usaacute-la e compreende os
outros que a fazem Com essa linguagem expressa as
suas necessidades desejos duacutevidas dores etc e natildeo
erra quando os outros se expressam da mesma forma
Noacutes desejamos instruiacute-los e assim ensinar-lhes o francecircs
71
Qual eacute o meacutetodo mais simples e mais curto Natildeo seria
expressando-nos na sua liacutengua Adaptando a sua liacutengua e
fazendo com que ela se adapte a regras claras natildeo
seriacuteamos capazes de conduzir a sua instruccedilatildeo como
desejamos (citado por Harlan Lane Instituon des
Sourds-Muets par la Voie des Signes Meacutethodies part 1
cap IV p 36) apud (CARVALHO 2007 p 24)
Para o surdo comeccedilou a existir uma linguagem atraveacutes da
comunicaccedilatildeo gestual Assim os surdos trocavam informaccedilotildees entre eles
na liacutengua de sinais essencial para o acesso do surdo a sua identidade
Essa convenccedilatildeo social da liacutengua de sinais nesse primeiro grupo de
surdos foi a base da liacutengua Entatildeo o surdo podia aprender a liacutengua
francesa escrita e ter contato com a gramaacutetica dessa liacutengua que foi
essencial para a comunicaccedilatildeo dos surdos transformando a representaccedilatildeo
do gestual O surdo podia alfabetizar-se em francecircs e entender melhor a
sociedade em que vivia e assim adaptar-se agraves mudanccedilas ocorridas em
sua liacutengua gestual Segue a discussatildeo do autor
O Abade L‟Epeacutee iniciou do ano em 1760 conheceu o
grupo de surdo na liacutengua de sinais francesa e estudou
junto com os surdos Mas ele teve a ideacuteia de ajudar o
surdo valorizar a liacutengua de sinais francesa Quem fundou
o Instituto no Paris Foi Abade L‟Epeacutee Laacute foi ensinada
a liacutengua de sinais francesa para os alunos surdos mais
pobres Berthier escreveu a biografia do Abade L‟Epeacutee
(1712 ndash 1789) (SCHMITT 2008 p 50)
O Abade L‟Epeacutee com sua experiecircncia e pesquisa ajudava os
surdos franceses na liacutengua francesa escrita e na liacutengua de sinais em
Paris Com sua pesquisa ele mostrou para a comunidade da eacutepoca uma
nova forma de ensinar os surdos desenvolvendo estrateacutegias de ensino
nas duas liacutenguas Acreditava-se que um dos motivos que levou o Abade
a demonstrar interesse pela educaccedilatildeo de surdos foi o fato de ele ter duas
freiras surdas Seguem imagens mostrando o Abade L‟Epeacutee ensinando o
primeiro grupo de surdos franceses (SCHMITT 2008 p 51)
72
Figura 08 ndash Abade L‟Epeacutee ensinando os surdos na liacutengua de sinais
francesa
Schmitt (2008) realizou pesquisa na liacutengua de sinais na
identificaccedilatildeo do surdo e na adaptaccedilatildeo do conhecimento pelo surdo
Sobre L‟Epeacutee ensinando o grupo de surdos na imagem anterior Schmitt
comenta
O Abade L‟ Epeacutee ajudou ensinando os surdos na liacutengua
de sinais valorizando o aspecto viso-espacial na relaccedilatildeo
das matildeos compartilhando e mostrando a loacutegica de sinais
do surdo compreende-se envolve a capacidade no uso o
alfabeto na cultura do surdo Entatildeo na realidade
possibilitou a liacutengua do surdo na comunicaccedilatildeo com outro
surdo e na relaccedilatildeo com professor francecircs (SCHMITT
2008 p 51)
Segundo Frishberg (1975) na Franccedila escreveu que Abbe Charles-
Michel LacuteEpeacutee descreveu o uso da liacutengua de sinais que havia aprendido
com seus alunos ou em contato com as pessoas Era uma forma natural
de comunicaccedilatildeo que veio dar origem agrave gramaacutetica francesa de sinais
Essa gramaacutetica francesa se espalhou e foi disseminada por toda a
Europa cada paiacutes com suas especificidades como ocorre na liacutengua
falada
Percebemos que o Abade L‟Epeacutee ensinava a gramaacutetica do francecircs
no Instituto para Surdos de Paris para que os alunos surdos aprendessem
a histoacuteria e a liacutengua de sinais O L`Epee foi o antecessor em Paris do
Abade Sicard que escreveu o primeiro dicionaacuterio na liacutengua de sinais no
seacuteculo XVIII
Quando o Abade apresentou a comunicaccedilatildeo em liacutengua de sinais
ao grupo para que aprendessem vocabulaacuterio na liacutengua de sinais mostrou
os sinais de COMER AacuteGUA e tambeacutem o sinal de BEBER apontando
para vaacuterios objetos para que o grupo memorizasse e aprendesse o nome
73
de cada um deles Isso com o grupo de alunos e tambeacutem com as duas
irmatildes Foi crescendo o nuacutemero de sinais usados na linguagem gestual
francesa daquela eacutepoca pelos alunos surdos da instituiccedilatildeo onde ensinava
L‟Epeacutee
Entatildeo percebi atraveacutes de leituras que o Abade L‟Epeacutee ensinava a
gramaacutetica do francecircs no Instituto para Surdos de Paris para que os
alunos surdos aprendessem dentre outras coisas a histoacuteria e a liacutengua de
sinais Isso foi interessante para o grupo pois desenvolveram um padratildeo
para a linguagem gestual
Em 1755 Abade L‟Epeacutee iniciou com o primeiro grupo de surdos
no Instituto em Paris onde ensinava a vaacuterios alunos de classes
diferentes ricos e pobres Ele apresentou para os alunos a importacircncia
dos sinais padronizados que ajudavam na comunicaccedilatildeo Em contato
com a liacutengua de sinais convencionada o grupo de surdos na Franccedila
cada vez mais dominava os sinais e aperfeiccediloava o seu meacutetodo de sinais
metoacutedicos
Em ldquoA Maacutescara da Benevolecircnciardquo Lane (1992) apresenta relatos
interessantes de pesquisa com entrevistas de alunos surdos Sua
descriccedilatildeo sobre os sinais indicando os tempos segue na citaccedilatildeo
ldquoO aluno apesar de surdo e mudo tinha tal como noacutes
uma ideacuteia de passado presente e futuro antes de ser
colocado sob a nossa tutela mas eram incapazes de fazer
os sinais para exprimir as diferenccedilas Se quisesse
exprimir uma acccedilatildeo presente Fazia um sinal impelido
pela natureza que consiste em atrair o olhar do
interlocutor para testemunhar a nossa actividade actual
mas se a acccedilatildeo natildeo tivesse lugar na sua vista estendia as
matildeos sobre a mesa tal como estamos todos aptos a fazer
em situaccedilotildees semelhantes e estes satildeo os sinais que
voltou a aprender na aula para indicar o presente de um
verbo Se quisesse indicar que uma acccedilatildeo pertence ao
passado Atirava despreocupadamente o braccedilo sobre o
ombro duas ou trecircs vezes adoptamos estes sinais para
indicar o passado dos verbos E finalmente quando
tivesse a intenccedilatildeo de anunciar o futuro projectava a Matildeo
direita uma vez mais neste caso seleccionaacutemos este
sinal para representar o tempo futuro de um verbordquo
(LANE 1992 p 107 e 108)
Observa-se que havia diferenccedilas na gramaacutetica dos sinais que os
surdos utilizavam no passado A linguagem gestual francesa mudava
com o tempo na realidade da comunidade surda de Paris O contato com
74
sinais na escola eram muito diferentes daqueles que usavam nas
conversas de ruas Os alunos aprenderam formas verbais (passado
presente e futuro) que interferiram na liacutengua Quando a comunidade
surda que utiliza um espaccedilo cultural aprende o contexto cultural se
modifica e a liacutengua de sinais que tambeacutem eacute social se modifica
A liacutengua de sinais francesa serve de origem para muitos dos sinais
usados na ASL No comeccedilo do seacuteculo XIX um professor de surdo
chamado Thomas Hopkins Gallaudet foi da Ameacuterica para a Europa a
fim de aprender teacutecnicas de ensino Na Inglaterra ele conheceu Roch-
Ambroise Cucurron e Abbe Sicard o diretor de uma escola para surdos
em Paris Gallaudet aprendeu meacutetodos de ensino e muitos sinais para
usar na comunicaccedilatildeo com os surdos com Abbe Sicard Tambeacutem
Gallaudet convenceu Laurent Clerc um dos alunos de Sicard a ajudaacute-lo
a fundar uma escola para surdos na Ameacuterica
Gallaudet e Clerc fundaram a Escola Americana para Surdos
(ASD) em 1816 em Hartford Connecticut A escola combinava sinais
da LSF com os que jaacute eram usados pela comunidade de surdos da
Ameacuterica para criar uma linguagem padronizada Nesta eacutepoca esta
linguagem evoluiu para a ASL considerada atualmente a liacutengua de
sinais mais geneacuterica do mundo O filho de Thomas Gallaudet Edward
fundou a Universidade de Gallaudet em Washington DC A Gallaudet
foi a primeira faculdade para surdos
33 ndash Eacutedouard Huet - Instituto Nacional Educaccedilatildeo de Surdos
(INESRJ)
Segundo Ceacutesar Delgado (Revista da FENEIS 2002) Huet nasceu
em 1822 em Paris na Franccedila Comeccedilou seus estudos desde a infacircncia
ouvia normalmente jaacute se comunicava na fala nos idiomas francecircs (sua
liacutengua natural) alematildeo e portuguecircs mais tarde estudava outra liacutengua
que era o espanhol Ficou surdo aos doze anos de idade por
consequecircncia de um sarampo Como ele pertencia agrave nobreza estudou no
Instituto em Bourges e seu aprendizado na liacutengua de sinais francesa
proporcionou muitas oportunidades tornou-se professor de francecircs para
um grupo de surdos na Europa Ele foi convidado pelo imperador Dom Pedro II
35 para que
35 Deste que Eduard Huet fundou o imperial Instituto de Surdos-Mudos com autorizaccedilatildeo do
Imperador Dom Pedro II a Liacutengua de Sinais passou a fazer parte da educaccedilatildeo dos indiviacuteduos
surdos como forma de comunicaccedilatildeo e expressatildeo No iniacutecio a Liacutengua de Sinais teve sua origem na Franccedila mas aos poucos ela foi se desenvolvendo e se adaptando agrave realidade do
Brasil Isso comprova entatildeo que a Liacutengua de Sinais natildeo eacute universal mas ela possui pequenas
75
ajudasse a trabalhar na criaccedilatildeo do Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de
Surdos-Mudos com sede no Rio de Janeiro Iniciou ensinando na sua
liacutengua francesa depois aprendeu os sinais usados no Brasil e acabou
misturando as duas liacutenguas Trouxe um meacutetodo de ensino para a
Educaccedilatildeo de Surdos influenciando a Liacutengua de Sinais Brasileira com
sua liacutengua de sinais (francesa)
Eacutedouard Huet foi o primeiro professor surdo do Brasil
Apresentou em 1855 um projeto ao Imperador D Pedro II para uma
escola de surdos e assim foi fundado o Instituto Nacional de Educaccedilatildeo
de Surdos-Mudos no Rio de Janeiro Ele foi o responsaacutevel por trazer a
liacutengua de sinais francesa para o Instituto fundado em 1857 na cidade
do Rio de JaneiroRJ Com isso temos a origem da influecircncia da liacutengua
de sinais francesa (LSF) trazida por ele da Europa sobre a liacutengua de
sinais brasileira (LSB)36
Segue citaccedilatildeo de Campello que fala sobre a
constituiccedilatildeo da LSB no Brasil
a Constituiccedilatildeo Histoacuterica da Liacutengua de Sinais Brasileira
registro aqui ldquoa viagemrdquo da LSF ateacute o Brasil Essa
viagem tem a sua cronologia histoacuterica quando em 1855
o Ministro de Instruccedilatildeo Puacuteblica Drouyn de Louys e o
embaixador da Franccedila Monsieur Saint George junto
com a corte do Rio de Janeiro apresentou o Conde e
Professor surdo D E Huet37 ex-diretor do Instituto de
Bourges ao ex-Imperador Dom Pedro II e o mesmo
concedeu todas as honrarias inclusive com o salaacuterio e
hospedagem e incentivou a criaccedilatildeo de um educandaacuterio38
semelhanccedilas variando tanto de estado para estado dentro de um mesmo paiacutes quanto de um paiacutes para o outro com algumas semelhanccedilas
36 Campello usa a sigla LSB Nesta tese a sigla usada eacute LIBRAS
37 Haacute muita controveacutersia em torno do seu nome Inicialmente foi registrado na ldquoRevista
Espaccedilordquo do INES como E Huet Mas nos outros documentos pesquisados por mim assinava
como D E Huet sem complementar ou acrescentar o nome proacuteprio completo Recentemente atraveacutes da pesquisa pelo dirigente da FENEIS e da publicaccedilatildeo da Revista FENEIS confirmou
o nome completo de EHuet como Edward Huet Haacute pouco tempo o Grupo de Sinais
Mexicano anexou a coacutepia do email da bisneta que confirmou o nome dele como D Edward Huet M
38 Esse processo jaacute havia acontecido de forma similar com a educaccedilatildeo dos cegos O cego Patriacutecio Aacutelvares de Azevedo brasileiro educado em Paris e que ao regressar ao Rio de Janeiro
em 1851 pensou em fundar um instituto de ensino para cegos A realidade se concretizou em
1854 na fundaccedilatildeo de Instituto Benjamin Constant para cegos
76
destinado ao ensino de surdos mudos39 seria mais uma
poliacutetica puacuteblica com uma tendecircncia mundial a criaccedilatildeo de
escolas de ensino e tambeacutem de residenciais para abrigar
ldquodeficientes40 Haacute a hipoacutetese de que a princesa Isabel
filha do D Pedro II teria um filho surdo41 e tambeacutem que
o marido dela o Conde dacuteEu era portador de deficiecircncia
auditiva42 Mesmo com ou sem comprovaccedilatildeo histoacuterica
eacute difiacutecil transpor a histoacuteria da criaccedilatildeo e do interesse de
Dom Pedro II em abrir a escola de surdos
(CAMPELLO 2011)
O professor surdo Huet lutou pelo direito agrave liacutengua de sinais na
Instituiccedilatildeo com o imperador Dom Pedro II a fim de abrir espaccedilo na
escola de surdo em 1857 O INES era a uacutenica instituiccedilatildeo puacuteblica federal
do Brasil localizada no Rio de Janeiro Vieram alunos de outros estados
brasileiros para estudar com o professor Huet e ficavam hospedados no
Instituto Depois aprendiam a Liacutengua de Sinais Francesa da mesma
maneira que o professor aprendeu na escola francesa
A liacutengua de sinais foi transformada com o tempo tendo influecircncia
do professor surdo Huet Moura (2000 p 81 e 82) comenta o
seguinte
Se deu atraveacutes de Liacutengua de Sinais pode-se deduzir que
ele utilizava os Sinais e a escrita sendo considerado
inclusive o introdutor de Liacutengua de Sinais Francesa no
Brasil onde ela acabou por mesclar-se com a Liacutengua de
Sinais utilizada pelos Surdos em nosso paiacutes O
39 Relatoacuterio do E d Huet aos membros da Comissatildeo Diretora em abril de 1856 no Instituto de
Surdos Mudos
40 Deficientes satildeo as denominaccedilotildees daqueles que mentalmente e fisicamente satildeo incapazes para fazer qualquer atividade
41 Reis (1992) relata que o professor Geraldo Cavalcanti de Albuquerque disciacutepulo do professor Joatildeo Brasil Silvado (diretor do INSM ndash Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos-
Mudos em 1907) informou-lhe em entrevista que o interesse do imperador D Pedro II em
educaccedilatildeo de surdos viria do fato de ser a princesa Isabel matildee de um filho surdo e casada com o Conde D‟Eu parcialmente surdo
42 Nos documentos escritos pelo Francisco de Souza Brasil e Medeiros e Albuquerque (1932)
atestava a surdez do Conde DacuteEu ldquoO Conde DacuteEu tinha ainda o inconveniente de ser surdo A
surdez alheando os indiviacuteduos do meio em que estatildeo lhes daacute agraves vezes a imputaccedilatildeo de orgulhosos porque natildeo lhes permite tomar parte na conversa com a cordialidade que todos
desejariamrdquo (grifo meu)
77
Curriculum por ele apresentado em 1856 colocava
disciplinas como portuguecircs aritmeacutetica histoacuteria
geografia e incluiacutea ldquolinguagem articuladardquo e ldquoleitura
sobre os laacutebiosrdquo para os que tivessem aptidatildeo para tanto
O professor Huet planejava as vaacuterias disciplinas que ensinava
para os alunos surdos desta Instituiccedilatildeo obedecendo ao curriacuteculo escolar
da eacutepoca oferecido nas escolas de ouvintes Infelizmente natildeo foram
registrados os vocabulaacuterios da liacutengua de sinais brasileira desta eacutepoca No
Brasil foi lanccedilada a primeira publicaccedilatildeo sobre liacutengua de sinais em 1873
pelo aluno surdo Flausino Joseacute da Gama do Instituto de Surdos-Mudos43
do Rio de Janeiro O estudo resultou na obra ldquoIconographia dos Signaes
dos Surdos-Mudosrdquo foi publicado o dicionaacuterio em 1875 Poreacutem em
1880 no Congresso Internacional de Educaccedilatildeo de Surdo (Milatildeo)44
a
liacutengua de sinais foi rejeitada nas escolas focando apenas a liacutengua oral
Contudo os alunos do INES continuaram a estudar desenvolver e
disseminar a LIBRAS que por volta de 1980 voltou a ter sua
importacircncia intensificada
Como eacute explicado no prefaacutecio a inspiraccedilatildeo para o
trabalho foi dita pelo estudante ao ver na biblioteca da
instituiccedilatildeo um livro francecircs do Instituto Nacional de
Paris produzindo pelo surdo Francecircs Pellisier Natildeo havia
oficina litografia (o desenho eacute feito em uma pedra ou
placa de metal) no INES e na eacutepoca essa era a uacutenica
maneira de se reproduzir um desenho A ajuda veio do
Sr Eduard Rensburg que se dispotildee a ensinar a Flausino
trabalhar com essa difiacutecil teacutecnica Bastaram poucos dias
de aula e o Surdo tornou-se um exiacutemio litoacutegrafo
(REVISTA DA FENEIS n0 10 2001)
Segundo Campello (2011) Flausino Joseacute da Gama criou com seu
trabalho o dicionaacuterio ldquoIconographia dos Signaes dos Surdos-Mudosrdquo
com o prefaacutecio do Dr Tobias Leite ex-diretor no Instituto Nacional dos
Surdos-Mudos que no passado registrou sobre a pesquisa de Flausino e
a seguir o que escreveu Tobias no dicionaacuterio do INES em 1875
43 Atual Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos ndash INESRJ
44 REacuteE (2005) ldquo() essa data ainda eacute lembrada como a mais sinistra de sua histoacuteria como se fosse mesmo o ldquo11 de setembrordquo deles quando desabaram as torres gecircmeas da cultura e da
liacutengua de sinais a do meacutetodo misto e a do meacutetodo manualista para educaccedilatildeo dos surdos Ali
comeccedilou uma longa e amarga batalha para defender o direito de vida de liacutengua de sinaisrdquo
78
Este livro tem dous fins
Vulgarisar a linguagem dos signaes meio predilecto dos
surdos mudos para a manifestaccedilatildeo dos seus pensamentos
Os pais os professores primaacuterios e todos os eu se
interessarem por esses infelizes ficaratildeo habilitados para
os entender e se fazerem entender
Mostrar o quanto deve ser apreciado um surdo mudo
educado
O alumno deste Instituto Flausino Joseacute da Gama vendo
entre os livros da biblioteca a obra do illustre surdo-
mudo Pellisier professor do Instituto de Pariz
manifestou desejo de reproduzir as estampas para os
fallantes conversarem com os surdos-mudos dizia-me
elle repetidas vezes
Natildeo obstante ser elle haacutebil desenhista a realizaccedilatildeo do
seu desejo era difficil porque natildeo haacute no Instituto officina
de lihtographia e a despeza nas officinas do commercio
seria grande
Referindo o facto ao Sr Eduard Rensburg este senhor
generosamente offereceu-se para ensinar a Flausino o
desenho lithographico e as suas officinas para a
execuccedilatildeo da obra Aceitei immediatamente o
offerecimento e em poucos dias sahio o livro que tenho
a satisfacccedilatildeo de apresentar a todos os que se interessarem
por essa numerosa classe de nossos compatriotas
A Flausino os louvores e ao Sr Rensburg os
agradecimentos de todos os que se interessatildeo pela
instrucccedilatildeo popular
Tobias Leiterdquo
Campello (2011) pesquisou sobre o dicionaacuterio da liacutengua de sinais
registrado e documentado por Flausino que foi apresentado na escrita
pelo ex-diretor do INES que escrevia a palavra ldquoVulgarisarrdquo45
(p 79)
Segundo Delaporte (2005) a Escola Parisiense ldquoSaint-Jacquesrdquo era um
lugar de prestigio onde todas as pessoas que desejavam ensinar os
surdos precisavam obrigatoriamente passar Eacutedouard Huet realizou seus
estudos laacute Flausino inspirou-se no dicionaacuterio de Pierre Peacutelissier que foi
trazido para o Brasil por Eacutedouard Huet Os alunos do INES tinham
muita dificuldade pois os sinais eram muito antigos e eles precisavam
45 CAMPELLO mostrou a pesquisa ldquo que naquela eacutepoca significava colocar a disposiccedilatildeo do
povo e por isso o dicionaacuterio se apresentava como instruccedilatildeo popularrdquo
79
se comunicar com surdos do Instituto de Paris Campello diz que foi
copiado o dicionaacuterio no Instituto Imperial de Paris
Comparado com o original ldquoIcnographie des signesrdquo de
P Pelissier membro ativo de ldquola Socieacuteteacute Centrale
dacuteEducation et dacuteAssistance decircs Sourds-Muetsrdquo e
professor de surdos mudos do Instituto Imperial de Paris
em 1856 obra ldquoIconographia dos signaes dos surdos
mudosrdquo pelo surdo Flausino Joseacute da Gama em 1875 eacute
uma coacutepia na iacutentegra do material com a traduccedilatildeo do
francecircs para o portuguecircs ou seja os sinais foram
copiados um a um traduzindo-se apenas as palavras do
francecircs que identificavam os sinais (CAMPELLO
2011)
Verificando a explicaccedilatildeo anterior da citaccedilatildeo a autora mostrou
uma comparaccedilatildeo do dicionaacuterio em Paris e no Brasil foi copiado o
material para ser utilizado aqui no INES e soacute foi mudado o vocabulaacuterio
eou palavra na traduccedilatildeo do francecircs para o portuguecircs Atualmente a
LIBRAS estaacute bem diferente da eacutepoca de Flausino mas a influecircncia da
Liacutengua de Sinais Francesa eacute inegaacutevel na comunicaccedilatildeo dos surdos
brasileiros pois foi a primeira liacutengua de sinais traduzida e ensinada no
INES
Com o uso e a difusatildeo da liacutengua de sinais surgiu o primeiro
dicionaacuterio do Brasil e as seguintes obras dos autores i) Iconographia
dos Signaes dos Surdos-Mudos de Flausino Joseacute da Gama em 1875 ii)
Linguagem das Matildeos de Eugecircnio Oates em 1969 e iii) O Dicionaacuterio
Enciclopeacutedico Ilustrado Triliacutengue Liacutengua de Sinais Brasileira de
Fernando C Capovilla e Walkiria D Raphael em 2001
Felipe (2000) fala sobre o surgimento da LIBRAS sobre
Flausino Joseacute da Gama e outros dicionaacuterios da LIBRAS
Aqui no Brasil a primeira publicaccedilatildeo sobre a liacutengua
de sinais brasileira data de 1875 trata-se de um livro
Iconografia dos Signaes dos Surdos-Mudos de Flausino
da Gama um ex-aluno do Instituto de Surdos que se
tornou repetidor dessa escola quando terminou seu
periacuteodo de estudo Quase um seacuteculo depois em 1969
com a publicaccedilatildeo do artigo de KAKUMUSU J Urubu
Sign Language foi constatado que haveria pelo menos
outra liacutengua de sinais no Brasil utilizada pelos iacutendios
Urubus-Kaapor
80
Somente em 1969 por iniciativa estrangeira foi
publicado outro livro sobre a liacutengua de sinais brasileira
Linguagem das Matildeos de DATES E mas devido agrave
influecircncia da ASL muitos sinais nessa obra como
tambeacutem na de HOEMAN H et al Linguagem de Sinais
do Brasil satildeo sinais dessa liacutengua Esses dois livros
foram durante deacutecadas o material didaacutetico utilizado
pelos instrutores surdos para ensinarem sua liacutengua e
talvez por essas obras trazerem uma seleccedilatildeo de
fotografias ou desenhos de sinais da LIBRAS com
explicaccedilotildees a metodologia que vem sendo utilizada para
ensinar esta liacutengua tem sido somente a apresentaccedilatildeo de
sinais e traduccedilatildeo dos mesmos
Em 1960 Willian Stokoe
46 iniciou a pesquisa na liacutengua de sinais
americana com publicaccedilatildeo de estudo linguiacutestico mostrando que esta
liacutengua de sinais tinha uma gramaacutetica proacutepria e tambeacutem apresentava
todos os aspectos linguiacutesticos das liacutenguas orais A partir desta
divulgaccedilatildeo do Stokoe o mundo comeccedilou a pesquisar mais sobre as
liacutenguas de sinais Estudou cientificamente a Liacutengua de Sinais Americana
comparando com a Liacutengua Inglesa observou que ambas tinham
caracteriacutesticas equivalentes auxiliando na concepccedilatildeo sobre a educaccedilatildeo
de surdos na liacutengua de sinais
Felipe (2000) apresentou na pesquisa o surgimento da LIBRAS
Seguem agora ilustraccedilotildees sobre os dicionaacuterios antigos ldquoIconographia
dos Signaes dos Surdos Mudos de Flausino Joseacute da Gamardquo ldquoLinguagem
das Matildeos de Eugecircnio Oatesrdquo ldquoEnciclopeacutedico Ilustrado Triliacutengue
Liacutengua de Sinais Brasileira Vol I e II de Fernando C Capovilla e
Walkiria D Raphael
46 STOKOE (1920-2000) foi um dos primeiros linguistas a estudar uma liacutengua de sinais com
tratamento linguiacutestico Considerado o pai da linguiacutestica da liacutengua de sinais americana ndash ASL Ele ensinando e pesquisando revolucionou a Liacutengua de Sinais e mostrou que ela possuiacutea
regras gramaticais proacuteprias A partir daiacute o mundo inteiro passou a aceitar a Liacutengua de Sinais
como uma Liacutengua
81
Figura 09 ndash Acervo na Revista da FENEIS
Interessante a pesquisa das primeiras publicaccedilotildees dos autores
sobre a liacutengua de sinais Trouxe para noacutes surdos brasileiros
documentos para outras pesquisas valorizando o contexto social e a
liacutengua de sinais Campello (2007)
47 apresentou a pesquisa ldquoMudanccedilas fonoloacutegicas
47 Retirado a fonte com autora CAMPELLO 2007 SINPEL ndash I0 Seminaacuterio Integrado de
Pesquisas em Linguiacutestica na UFSC ldquoMudanccedilas fonoloacutegicas dos registros do seacuteculo XVIII ao seacuteculo XXI na liacutengua de sinais brasileirardquo
82
dos registros do seacuteculo XVIII ao seacuteculo XXI na Liacutengua de Sinais
Brasileira elementos novos sobre a liacutengua de sinais brasileirardquo Foi o
primeiro trabalho desse tipo com a LIBRAS desenvolvido no Brasil A
autora destacou inicialmente as justificativas para sua pesquisa
a) Natildeo haacute registro a respeito do desenvolvimento
histoacuterico da liacutengua de sinais brasileira nos livros
brasileiros b) Os surdos brasileiros tecircm muito interesse
em saber mais sobre a origem desta liacutengua c) A liacutengua
de sinais passou a ser reconhecida como liacutengua de
instruccedilatildeo dos surdos brasileiros por meio da Lei 10436
de 2002 regulamentada pelo decreto 5626 de 2005 d) A
liacutengua de sinais passa a ser objeto de ensino Antes de
iniciar a pesquisa em si considero importante situar as
influecircncias da liacutengua de sinais dos Surdos que moldaram
o primeiro dicionaacuterio de liacutengua de sinais brasileira o
movimento poliacutetico social cultural e educacional Com
o ldquoobjeto de pesquisardquo apresento a justificativa visto que
ateacute o presente momento natildeo se sabe se esta liacutengua jaacute
existia antes da fundaccedilatildeo do INES eou natildeo foi
reconhecida por causa da homogeneidade da liacutengua
nacional que eacute a liacutengua portuguesa Tambeacutem visa a
coleta dos sinais e suas mudanccedilas em niacutevel foneacutetico-
fonoloacutegico da Liacutengua de Sinais Francesa para a Liacutengua
de Sinais Brasileira e apresenta a metodologia de
investigaccedilatildeo problematizando a origem da liacutengua de
sinais brasileira jaacute que foi mesclada com a liacutengua de
sinais francesa Muita pesquisa foi deixada de lado pelo
estigma e desconhecimento da liacutengua em estudo nesse
projeto (CAMPELLO 2007)
Observe a figura do painel que Campello apresentou no
Seminaacuterio e eu fotografei
83
Figura 10 ndash Acervo de Ana Regina e Souza Campello ndash UFSC
Diniz (2010) realizou a pesquisa sobre o estudo descritivo das
mudanccedilas fonoloacutegicas e lexicais da Liacutengua de Sinais Brasileira
identificando e analisando os tipos de sinais que mais levam agrave variaccedilatildeo e
agrave mudanccedila e os possiacuteveis motivos que ao longo do tempo culminam
em tais variaccedilotildees Observou-se que o estudo elaborado na histoacuteria da
liacutengua de sinais teve como objetivo principal identificar as mudanccedilas
ocorridas na forma de comunicaccedilatildeo das comunidades surdas bem como
a influecircncia da liacutengua escrita no caso o portuguecircs neste processo
A autora apresenta sua pesquisa de modo a contribuir com os
registros histoacutericos da comunidade surda geral e da liacutengua de sinais As
suas anaacutelises ampliam os conhecimentos sobre a estrutura linguiacutestica da
LIBRAS e seu processo de mudanccedila assim como permitem contrastar
as variaccedilotildees que ocorrem com as liacutenguas orais e as liacutenguas de sinais
Mais amplamente o estudo objetiva valorizar socialmente a Liacutengua
Brasileira de Sinais difundir suas vertentes propiciando agrave populaccedilatildeo
surda o resgate de suas origens tradiccedilotildees e identidade proacutepria
Ela analisou trecircs documentos histoacutericos mais especificamente
trecircs dicionaacuterios de sinais foram os instrumentos de base na pesquisa da
autora acerca do processo de variaccedilatildeo na LIBRAS satildeo eles
Iconographia dos Signaes dos Surdos-Mudos de 1875 (primeiro
documento a fazer referecircncia agrave LIBRAS trata-se de uma reproduccedilatildeo fiel
do dicionaacuterio de sinais Francecircs que envolve representaccedilatildeo de sinais por
meio de desenhos (ilustraccedilotildees)) Linguagem das Matildeos de 1969
(produzido pelo padre Eugecircnio Oates missionaacuterio americano que
trabalhou com surdos em vaacuterias regiotildees brasileiras) e o terceiro
Dicionaacuterio Digital da LIBRAS do Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de
84
Surdos (INES) de 2006 (em CD-ROM produzido no Rio de Janeiro
por profissionais surdos e ouvintes)
Os resultados da pesquisa de Diniz apresentam na anaacutelise dos
dados indiacutecios de mudanccedila fonoloacutegica e lexical
A figura 11 a seguir mostra a forma como o sinal de FACA eacute
produzido utilizando a configuraccedilatildeo de matildeos que se altera nas trecircs
imagens apresentadas
GLOSA ICON OATES INES
Est 2
FACA
FACA
FACA
FACA
Figura 11 ndash Acervo da Heloise Gripp Diniz ndash UFSC 01
A figura 12 apresenta um exemplo de mudanccedila lexical com
configuraccedilotildees de matildeos mostrando o sinal de PUNIR apresentado no
dicionaacuterio em trecircs momentos (Icon Oates e INES) Segue a figura
GLOSA ICON OATES INES
Est 16
PUNIR
PUNIR
CASTIGAR
CASTIGAR
Figura 12 ndash Acervo da Heloise Gripp Diniz ndash UFSC 02
Diante da anaacutelise comparativa dos referidos dicionaacuterios a autora
classificou os sinais em trecircs categorias os que permanecem idecircnticos
(sem alteraccedilotildees) os que sofreram mudanccedilas fonoloacutegicas em alguns de
seus paracircmetros (que se mostrou a maior das trecircs categorias) e os que
sofreram mudanccedilas lexicais alterando por completo as formas dos sinais
originais Dentre os fatores internos que contribuiacuteram para tais variaccedilotildees destacam-se conforto linguiacutestico na articulaccedilatildeo das matildeos e
do corpo e a acuidade visual no espaccedilo da sinalizaccedilatildeo Haacute tambeacutem a
contribuiccedilatildeo dos fatores socioculturais como influecircncia das liacutenguas em
contato empreacutestimo linguiacutestico bilinguismo preconceito linguiacutestico e
85
influecircncia da liacutengua portuguesa e dos falantes ouvintes
Em outras palavras nota-se que o estudo procura resgatar a
histoacuteria das mudanccedilas dos sinais da LIBRAS e de como surgiram as
mudanccedilas influenciadas pelo advento da Instituto Nacional de Educaccedilatildeo
de Surdos (INES) bem como o viacutenculo existente entre o instituto e os
diferentes dicionaacuterios de liacutenguas de sinais da eacutepoca que mostram a
existecircncia de fortes mudanccedilas linguiacutesticas ao longo do tempo entre as
pessoas de mais idade com as famiacutelias e as novas geraccedilotildees que surgem
dispostas a encontrar sinais de configuraccedilotildees de matildeos que possibilitem
facilitar cada vez mais a interaccedilatildeo das comunidades surdas com a
sociedade em geral
Percebe-se entatildeo vaacuterios dialetos utilizados entre grupos de
amigos e familiares na busca de uma melhor compreensatildeo da
comunicaccedilatildeo atraveacutes da liacutengua de sinais Nota-se que apesar da
evoluccedilatildeo da liacutengua de sinais haacute existecircncia de vaacuterios sinais
desconhecidos entre as associaccedilotildees de surdos Existe uma seacuterie de
variaacuteveis diferentes que funcionam como preacute-requisito influenciando
diretamente os processos de variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica
Segundo Diniz (2010) natildeo eacute aconselhaacutevel fazer traduccedilatildeo do
portuguecircs para LIBRAS pois tal conversatildeo acaba dificultando ainda
mais a compreensatildeo e a comunicaccedilatildeo com a comunidade dos surdos
Assim pode-se notar que natildeo eacute apropriado misturar duas liacutenguas (uma
oral outra visual) ao mesmo tempo pois haacute uma diferenccedila muito grande
entre elas Dessa forma torna-se mais faacutecil a compreensatildeo para o surdo
quando eacute explicado diretamente na liacutengua de sinais
Sempre eacute conveniente ressaltar que a LIBRAS eacute uma liacutengua
humana da mesma forma que as liacutenguas faladas nesse sentido a liacutengua
de sinais possui sua proacutepria estrutura linguiacutestica embora com
modalidades diferentes e passa por processos de mudanccedilas contiacutenuas e
deve ser considerada pela comunidade cientiacutefica como sendo de grande
importacircncia para a sociedade em geral As liacutenguas de sinais satildeo
humanas naturais e com estruturas linguiacutesticas proacuteprias fazendo uso do
canal de comunicaccedilatildeo visual-espacial Portanto satildeo mitos48
as
48 FRISHBERG (1975 p 696 - 697) Alguns mitos satildeo derrubados por no que se refere agrave ASL
O primeiro deles diz respeito agrave falsa crenccedila de que a linguagem gestual eacute universal Pelo
contraacuterio as pessoas surdas da China natildeo conseguem entender a ASL tampouco os surdos americanos conseguem entender a CSL a Liacutengua de Sinais Chinesa Os surdos ingleses
tambeacutem natildeo conseguem entender a Liacutengua de Sinais Francesa (LSF) e vice-versa O segundo
mito esclarecido eacute de que a liacutengua de sinais tem muito pouco ou nada a ver com a liacutengua falada da comunidade em sua volta Neste sentido a autora esclarece que a liacutengua de sinais natildeo
significa uma representaccedilatildeo manual traduzida diretamente do inglecircs O terceiro mito elucidado
86
afirmaccedilotildees de que a liacutengua de sinais eacute universal miacutemica coacutedigos
gestos ou apenas uma representaccedilatildeo manual das liacutenguas orais
Cabe ressaltar que a representaccedilatildeo atraveacutes de imagens figuras
gestos configuraccedilatildeo de matildeos e expressotildees faciais satildeo fundamentais para
a fluecircncia da comunicaccedilatildeo entre os membros da comunidade surda e
tambeacutem com a sociedade tornando a compreensatildeo mais acessiacutevel a
todas as pessoas Por meio de estudos nos dicionaacuterios de LIBRAS
percebe-se a existecircncia de algumas categorias distintas de algumas que
permanecem idecircnticas ateacute os dias de hoje e de outras que vecircm sofrendo
mudanccedilas fonoloacutegicas gradativamente com ideias inovadoras
influenciadas pelos estudos efetuados a partir da histoacuteria da liacutengua de
sinais e sua evoluccedilatildeo no processo de mudanccedila ateacute os dias atuais Tais
descobertas satildeo importantiacutessimas para a academia e para os aspectos
socioculturais como forma de resgatar a histoacuteria bem como os valores
das comunidades surdas esquecidas no passado recuperando sua proacutepria
identidade frente agravequeles que utilizam a liacutengua oral
Em geral eacute muito difiacutecil de recuperar nos registros dos
dicionaacuterios os detalhes das articulaccedilotildees movimentos entre outros Isso
ocorre porque na maioria das vezes eles apresentam uma uacutenica palavra
em portuguecircs associada a cada sinal de forma intuitiva quase sempre
indicando um sinal preciso e natildeo uma possiacutevel traduccedilatildeo De qualquer
maneira a partir das evidecircncias que estatildeo nos dicionaacuterios pode-se
analisar como era a liacutengua de sinais antigamente e como ela se
modificou ateacute os dias de hoje bem como qual a sua importacircncia para a
valorizaccedilatildeo social da comunidade surda
Diniz (2010) percebeu que ao passar dos anos existe uma
evoluccedilatildeo no desenvolvimento dos dicionaacuterios trazendo uma forma mais
faacutecil e aacutegil de comunicaccedilatildeo entre os escritores e leitores Hoje a
preocupaccedilatildeo natildeo eacute apenas em fazer dicionaacuterios mas tambeacutem em
analisar as metodologias de produccedilatildeo lexicograacutefica isto eacute como e para
que os dicionaacuterios tecircm sido feitos
Diniz (2010) tambeacutem observou uma pequena mudanccedila no
alfabeto manual que aparece nos trecircs dicionaacuterios Houve uma mudanccedila
fonoloacutegica na estampa ldquoIrdquo referente ao alfabeto de 26 letras no
dicionaacuterio Iconographia Em Oates o alfabeto permanece semelhante
ateacute os dias de hoje mudando apenas a configuraccedilatildeo de matildeos da letra H
No dicionaacuterio INES o alfabeto eacute idecircntico aos dias de hoje
pela pesquisadora refuta a ideia de que as liacutenguas de sinais satildeo apenas gestos teatrais ou
miacutemicos
87
Segundo Diniz (2010) identificam-se tendecircncias de mudanccedilas na
LIBRAS nos trecircs dicionaacuterios a saber simetria de duas matildeos
deslocamento locativo conteuacutedo lexical para as matildeos assimilaccedilatildeo
deletaccedilatildeo de uma matildeo de sinais de duas matildeos e deletaccedilatildeo de uma parte
do sinal composto Dos resultados das anaacutelises pode-se verificar que
alguns sinais da LIBRAS permaneceram idecircnticos ateacute os dias de hoje
enquanto outros sofreram mudanccedilas nas partes fonoloacutegicas e lexicais A
autora concluiu que diversos fatores influenciaram tais mudanccedilas como
por exemplo a influecircncia dos falantes ouvintes sobre a LIBRAS a
influecircncia da Liacutengua portuguesa na estrutura da LIBRAS o
desconhecimento sobre as liacutenguas de sinais a organizaccedilatildeo lexicograacutefica
nos dicionaacuterios de sinais a discriminaccedilatildeo ouvinte sobre a LIBRAS o
contato contiacutenuo dos surdos com ouvinte e a inseguranccedila na
consciecircncia linguiacutestica dos surdos em relaccedilatildeo agrave LIBRAS Outra
conclusatildeo foi a descoberta de sinais da Iconographia idecircnticos na ASL e
na LSF hoje em dia mais do que nos dicionaacuterios Oates e dos INES
34 ndash Francisco Lima Juacutenior ndash O Primeiro Professor Surdo em
Santa Catarina na liacutengua de sinais
Segundo Schmitt (2008) Francisco Lima Juacutenior tem lembranccedilas
do avocirc Germano tias Erna Irude e Isabel o pai Francisco matildee Augusta
e o irmatildeo Reinoldo Francisco Lima Juacutenior chamado pelo apelido
(chiquito) eacute o uacutenico surdo desta famiacutelia Ele nasceu no dia 01 de junho
de 1928 em casa na Rua Duarte Schutel no 16 em Florianoacutepolis A tia
Erna disse que o Francisco foi ateacute os 36 meses de idade uma crianccedila
normal e perfeita mas nesta idade foi um susto para os familiares do
Francisco ele ter ficado surdo
Atraveacutes de contatos com o senhor Francisco Lima Juacutenior
estive presente na casa dele investigando sobre a
primeira turma de surdo Catarinense No dia 04082006
foi entrevistado o senhor Francisco Lima Juacutenior Ele
nasceu no dia 01061928 em Florianoacutepolis no Estado de
Santa Catarina e ateacute a idade de 03 anos ouvia
normalmente A famiacutelia do Francisco sempre conversava
com ele sobre cinema ou noticias que ouviam o raacutedio O
Francisco estava sentado no chatildeo brincando com o
carrinho na sala de estar assistindo o cinema com a
famiacutelia dele A famiacutelia chamou atenccedilatildeo do seu filho
Francisco mas ele natildeo ouvia a voz dos seus pais falando
Franciscooooo e tambeacutem batendo palmas O Francisco
natildeo ouvia nada e quando o pai tocou no ombro do
88
Francisco ele entendeu O que pai (SCHMITT 2008 p
86)
Seus pais natildeo se aperceberam ao longo deste tempo que Francisco
estava ficando surdo porque ele ainda natildeo havia aprendido a falar
compreender palavras e a se comunicar por gestos O pai de Francisco
levou-o para o meacutedico que falou que o menino teve um problema no
nervo auditivo e ficou surdo (Consultas ao meacutedico com frequecircncia
dificuldade de se comunicar com a famiacutelia sentia-se muito pressionado
foram tempos difiacuteceis ele conta) O pai queria ensinar a liccedilatildeo para
Francisco que aprendia vocabulaacuterio e a gramaacutetica juntamente com os
nuacutemeros cardinais desenho e a palavra correspondente e tambeacutem a
linguagem gestual da comunicaccedilatildeo dele O pai levou-o para o
tratamento meacutedico com o Dr Djalma Moellmann que informou aos
pais que pela idade do Francisco ele poderia estudar no Instituto
Nacional de Surdos-Mudos do Rio de Janeiro Segue o depoimento
Os pais resolveram levar seu filho para tratamento
meacutedico e fonoaudioloacutegico no centro de Florianoacutepolis
para saber o que aconteceu com a audiccedilatildeo do Francisco
que natildeo ouvia nada O meacutedico fonoaudioloacutegico dizia que
ele era deficiente auditivo e tambeacutem chamou-o de Surdo-
Mudo naquela eacutepoca ˝Ai Como fazer agora Os pais
perguntaram O que O meu filho natildeo podia estudar na
escola dos ouvintes e na eacutepoca aqui natildeo existia escola
para surdos˝ O meacutedico fonoaudioloacutegico informou sobre
a escola no INSM - Instituto Nacional de Surdos-Mudos
no Rio de JaneiroRJ Eles verificaram que laacute existia
escola para surdos-mudos mas resolveram permanecer
morando naquela cidade Entatildeo o pai resolveu levar o
seu filho Francisco para o Rio de JaneiroRJ Quando o
Francisco era crianccedila tinha ocircnibus carro caminhatildeo
bicicleta e aviatildeo Foi viagem de navio O tio do
Francisco trabalhava como marinheiro e levou o
Francisco para o Rio acompanhando do pai e do tio dele
(SCHMITT 2008 p 86)
Francisco realizou exames meacutedicos onde foi avaliada sua sauacutede
se podia estudar no Instituto Nacional de Surdos-Mudos que era um
grande desafio Nesse lugar havia modernas oficinas e ginaacutesio tinha 109
surdos internos Era comum observar um grupo de surdos que se
comunicava na liacutengua de sinais no corredor do Instituto Laacute tambeacutem os
alunos surdos podiam entrar em contato com os primeiros surdos que
89
vieram de diferentes estados e regiotildees do Brasil Em 1937 o pai
acompanhou Francisco em uma viagem de navio para o Rio de Janeiro e
matriculou-o no Instituto Nacional de Surdos-Mudos Laacute conheceu o Dr
Armando ex-diretor de INSM na deacutecada de 1940
Em 1937 Francisco foi levado pelos primos Paulo e Hugo e pelo
seu tio para conhecer o INSM Eles levavam Francisco ao Instituto nos
saacutebados e voltavam nas segundas-feiras de 1937 a 1939 Hugo
trabalhava no navio ldquoDuque de Caxiasrdquo que saiacutea do Rio de Janeiro O
outro navio onde estava o tio voltava da Bahia quando avistou um
submarino de guerra (alematildeo) que era dotado de canhotildees Os dois
navios chocaram-se agrave noite neles tinha bombas nucleares Hugo o tio
passageiros e marinheiros morreram no mar e um outro navio onde seu
tio Paulo trabalhava desapareceu na Europa em 1945
Na segunda guerra Hitler se armou poderosamente para dominar
a Europa mas com sua derrota em 1939 a 1945 a Alemanha perdeu
cerca de um quarto do seu territoacuterio que por alguns anos foi ocupado
pelas forcas aliadas russas americanas inglesas e francesas Das cinzas
surgem os novos navios Um navio a vapor com o nome de Carlos
Hoepcke e Anna navio este de carga e passageiros que transportou
Francisco ateacute o Rio de Janeiro O capitatildeo deste navio era seu tio Ceacutelio
Viana Os passageiros eram atenciosos para com Francisco e o
ajudavam quando ele precisava
Era oferecido abrigo aos navios aportados no porto de SantosSP
Rio de Janeiro Satildeo Francisco do Sul e Itajaiacute Iam de navio e na volta
vinham de aviatildeo com destino a Florianoacutepolis e Rio de Janeiro O pai
Francisco Candido de Souza Lima era gerente contador homem de
bom coraccedilatildeo que fazia a contabilidade de Carlos Hoepcke era uma
amizade de marinha mercante
Em suas viagens o professor Francisco Lima Juacutenior viu o Sr
Ademar Barros que era intendente de comeacutercio do vapor Carlos
Hoepcke Viajaram num submarino guiados por buacutessola para ajudar os
navegantes em 1937 a 1946 Ao fim do ano letivo no Instituto o pai e
Francisco voltavam para Florianoacutepolis em 1947 O Professor Francisco
trabalhou auxiliando a contabilidade e os lanccedilamentos na filial de Carlos
Hoepcke SA Ele aproveitou o aprendizado nas oficinas do Instituto
Nacional de Surdos-Mudos onde aprendeu uma seacuterie de profissotildees
como a de marcenaria encadernaccedilatildeo e sapataria aleacutem de participar de
um curso de Desenho Segue a explicaccedilatildeo do autor
Os alunos de vaacuterios estados no Brasil tambeacutem estudavam
no INSM junto com o Francisco e fizeram amizade
90
jogando o futebol na quadra Depois o Francisco foi para
os alojamentos no Instituto e dormiu cada um num
beliche todos os alunos surdos eram brasileiros Os
alunos surdos acordavam agraves 05h30min nas madrugadas
para arrumar e ficavam esperando na fila de outros
alunos faziam relaxamento e educaccedilatildeo fiacutesica para depois
tomar o banho Depois estudavam de manhatilde e agrave tarde agraves
vezes agrave noite e voltavam para o alojamento no Instituto
O professor no Instituto dava aula de oralizaccedilatildeo para os
alunos surdos na sala de aula explicando o conteuacutedo de
mateacuteria no quadro negro e tambeacutem com vareta Depois o
professor anotava no quadro a escrita de portuguecircs
avisava para o aluno surdo que natildeo podia copiar no
quadro e prestar atenccedilatildeo agrave escrita no quadro O professor
apagava no quadro para o aluno surdo memorizar a
escrita da fala O que aconteceu Os alunos ficaram com
dificuldade de entender a escrita no quadro (SCHMITT
2008 p 92 e 93)
Os professores mostravam vaacuterias figuras de objetos com os
respectivos nomes e individualmente faziam o trabalho de repeticcedilatildeo
com o aluno Francisco que escrevia e falava Mas existia a liacutengua de
sinais no lado de fora No paacutetio a comunicaccedilatildeo dele e o grupo de surdo
no Instituto apresentava a liacutengua de sinais Dr Armando Lacerda diretor
do Instituto Nacional de Surdos-Mudos ndash INSM acampanhou a
comemoraccedilatildeo de sua fundaccedilatildeo e seguiram-se demonstraccedilotildees de
ginaacutestica representaccedilatildeo de uma peccedila teatral nuacutemeros de bailado pelo
corpo etc
Os surdos da marcenaria da encadernaccedilatildeo e da sapataria eram
jogadores e participaram da competiccedilatildeo de futebol de campo no
instituto Venceram os surdos da encadernaccedilatildeo que receberam
medalhas e trofeacuteu O grupo de alunos que ganhou a competiccedilatildeo foi
viajar e passear na praia da Ilha de PaquetaacuteRJ Dois alunos deste grupo
mais tarde tornaram-se professores do Instituto Um deles era o
professor Heacutelio ensinava ginaacutestica futebol e voleibol na quadra de
esportivo e o outro era professor Francisco
Na eacutepoca foi feita uma reportagem com depoimentos do Dr
Armando Lacerda dos professores Joatildeo Brasil Silvado Juacutenior Saul Borges Carneiro e Geraldo Cavalcantil todos eles ouvintes Essa
reportagem foi riquiacutessima detalhada cheia de fotografias eacute uma
importante fonte de pesquisa Francisco desenvolveu sua aprendizagem
na liacutengua de sinais aproveitando essas atividades comemorativas que
aconteciam no instituto aleacutem do curriacuteculo da escola
91
Os professores acima citados todos oralistas impressionam pela
cultura e a quantidade de informaccedilotildees com que discorrem sobre a
educaccedilatildeo do surdo e a histoacuteria na liacutengua de sinais Sendo recebido pelo
ministro da educaccedilatildeo e sauacutede naquela eacutepoca foi oferecido um meacuterito ao
ex-aluno Francisco Lima Juacutenior conforme mostra a citaccedilatildeo
O Francisco Lima Juacutenior recebeu o meacuterito do segundo
melhor no Instituto Nacional de Surdos-Mudos (INSM)
no Rio de JaneiroRJ por a maior nota de avaliaccedilatildeo na
prova e tambeacutem em todas as disciplinas Vejam os
nomes ndash primeiro lugar (Odil Soares em Satildeo Paulo)
segundo lugar (Francisco Lima Juacutenior em Santa
Catarina) e terceiro lugar (Miriam S Rio de Janeiro)
Parabenizamos o senhor Francisco Lima Juacutenior do nosso
Estado de Santa Catarina eacute vitorioso e orgulhoso
(SCHMITT 2008 p 96)
Ele foi aluno interno do Instituto Nacional de Surdos-Mudos do
Rio de Janeiro e do Instituto Paulista de Surdos em Satildeo Paulo em 1940 e
natildeo gostava de Satildeo Paulo A professora Helena (INES) era de origem
Italiana ensinava a fazer ditado em portuguecircs (oralismo) mas a liacutengua
de sinais natildeo existia na comunicaccedilatildeo e o grupo surdo teve pouco contato
com a liacutengua materna (liacutengua de sinais)
Para a inauguraccedilatildeo do Instituto Nacional de Surdos-Mudos foram
convidadas vaacuterias autoridades entre elas o ministro da educaccedilatildeo
diretores de escolas e outros Esta aconteceu no teatro do Instituto e
ofereceram trecircs certificados para o curso de desenho para a oficina de
encadernaccedilatildeo e linguagem que foram ganhos pelo Francisco Lima
Juacutenior em 1946 No ano seguinte ele voltou para Florianoacutepolis
Em 1946 com 18 anos de idade voltou para
FlorianoacutepolisSC quando passou a procurar por pessoas
surdas nas vaacuterias cidades do estado de Santa Catarina e
demorou um tempo para ter contato com os surdos
catarinenses Ele comeccedilou a dar aulas numa garagem
situada agrave Rua Francisco Tolentino passando ser ali a
primeira escola para surdos de Florianoacutepolis O
Francisco ensinava desenho linguagem escrita
vocabulaacuterio baacutesico gramaacutetica geograacutefia histoacuteria do
Brasil e conhecimentos gerais Ele trouxe para o nosso
estado o modelo de associaccedilatildeo e fez um projeto de escola
para surdos com a esposa de ouvinte que ajudou o
Francisco Apoacutes a conclusatildeo dos cursos em 1947
retorna definitivamente para casa dos pais em
92
Florianoacutepolis agrave Rua Duarte Schutel nordm 16 (SCHMITT
2008 p 104)
Em 1947 morava com o pai em sua casa em Florianoacutepolis Ele
foi habilitado em contabilidade pelo Instituto e fez o curso de
Contabilidade do Instituto Radio Teacutecnico RT Monitor SA ndash nuacutecleo de
ensino profissional livre por correspondecircncia (1 liccedilatildeo ateacute 28 liccedilatildeo) Satildeo
Paulo ndash SP Apoacutes Francisco conhecer os surdos em vaacuterias cidades de
Santa Catarina ele ficou com vontade de auxiliar o surdo que ficava
isolado em casa e na famiacutelia sem o uso da comunicaccedilatildeo gestual Veja a
seguir a imagem apresentada do Francisco Lima Juacutenior em 1947
93
Figura 13 ndash Acervo do Francisco eacute o primeiro dicionaacuterio na liacutengua de
sinais em Santa Catarina em 1947
O primeiro dicionaacuterio em Santa Catarina tinha imagens do
proacuteprio Francisco que demonstrava a preocupaccedilatildeo culturallinguiacutestica
para com os surdos e a difusatildeo da liacutengua de sinais procurava uma forma
de o grupo de surdo ter contato com a liacutengua de sinais e ensinava em sua casa (na garagem) onde tambeacutem ficava a associaccedilatildeo
As aulas continuavam com o professor Francisco que ia
ensinando cada vez mais sinais e com qualidade pois dali faziam as
provas finais O professor ensinava conteuacutedos de matemaacutetica geografia
94
conhecimento geral ciecircncias e portuguecircs No uacuteltimo mecircs de aula apoacutes o
encerramento das aulas o professor entregava os boletins com as meacutedias
de todos os surdos que ficaram alegres pois nenhum deles tinha sido
reprovado
Francisco viajou para Satildeo Paulo em 1954 iniciou sua amizade
com o primeiro presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos de Satildeo
Paulo senhor Maacuterio Devisate que natildeo tinha o conhecimento da
existecircncia de uma associaccedilatildeo de surdos em Florianoacutepolis O senhor
Maacuterio Devisate deu um documento de uma Associaccedilatildeo de Surdos-
Mudos com acircmbito nacional e Francisco veio como delegado para a
regiatildeo do sul passando a residir nessa capital
Foi o primeiro encontro com o presidente da Sociedade dos
Surdos-Mudos do Distrito Federal49
que mudou a Associaccedilatildeo de Surdos-
Mudos do Rio de Janeiro o senhor Miguel da Fonseca Seabra de Melo
grande colega jaacute falecido Francisco em meio agrave conversa na liacutengua de
sinais conheceu o presidente da ASURJ que comentou ldquoaquele tambeacutem
eacute surdordquo O colega dele sorriu ao sair cumprimentou o senhor Miguel
da Fonseca Seabra de Melo que agradecendo estendeu-lhe a matildeo Isso
aconteceu no Instituto Nacional de Surdos-Mudos
Francisco nunca mais se esqueceu dessa cena bem da verdade
ele conversava com o senhor Salomatildeo Watnick (jaacute falecido em Porto
Alegre) que foi o primeiro presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos
do Rio Grande do Sul e foi uma grande amizade Como pode estudar
desde cedo em escola especial para Surdos Mudos em Satildeo Paulo e Rio
de Janeiro conhecia muitos surdos tinha amizade e intimidade
oportunizando contato com surdos que tinham lideranccedila e outros grupos
de surdos tendo como consequecircncia aprendido expressotildees palavras
novas da liacutengua de sinais inclusive as variaccedilotildees linguiacutesticas de outras
regiotildees
Francisco foi tratado como amigo pelos senhores Vivaldo Leal de
Merelles e Ciro Garcia de Souza jaacute falecidos que escreveram o
primeiro estatuto da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos do Paranaacute Eles
perguntaram como ganhavam a vida os surdos-mudos que natildeo tiveram a
felicidade de cursar escolas especiais Entatildeo nesta pergunta
encontraram o motivo da existecircncia da associaccedilatildeo e da escola
Francisco fundou o Ciacuterculo dos Surdos-Mudos de Santa Catarina
ndash CSMSC no ano de 1955 Naquele aniversaacuterio de sua entidade os
surdos-mudos de Florianoacutepolis receberam a visita de delegaccedilotildees de
49 O Distrito Federal nessa eacutepoca era o Rio de Janeiro
95
outros Estados No primeiro jogo o CSMSC jaacute ganhou um trofeacuteu no
futebol de campo Outro ganho foi com a Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos
do Paranaacute onde havia muitas variaccedilotildees na liacutengua de sinais e o contato
proporcionou o aprendizado de novos sinais para todos
Em 1961 o Governador Celso Ramos atendia o presidente O
Ciacuterculo dos Surdos-Mudos de Santa Catarina o professor Francisco
Lima Juacutenior acompanhado de outros membros daquela associaccedilatildeo
pleiteava a construccedilatildeo de uma escola para surdos-mudos em nosso
Estado porque ainda natildeo existia nenhuma O ensino de Francisco
desenvolvia o domiacutenio da liacutengua de sinais dos surdos em Santa Catarina
Em Santa Catarina o processo de educaccedilatildeo de surdos se
deu na deacutecada de 50 com serviccedilos implementados na
rede regular de ensino Aconteceu que os surdos
estudaram na escola regular juntamente com alunos
ouvintes e eles natildeo se compreenderam na sala de aula
porque o professor falava a liacutengua portuguesa e oralismo
A liacutengua de sinais era proibida por influecircncia do
congresso de Milatildeo na Itaacutelia em 1880 Os alunos surdos
ficaram isolados dos alunos ouvintes por causa das
barreiras de comunicaccedilatildeo Os ouvintes natildeo conheciam a
cultura e a identidade surda Por exemplo na sala de aula
muitos alunos ouvintes se comunicam em portuguecircs e os
surdos ficam isolados e excluiacutedos na escola dos ouvintes
Porque o surdo procura a intervenccedilatildeo da cultura que se
vive na liacutengua de sinais encontra outros surdos na
comunicaccedilatildeo nos contados entre outros surdos e
consegue juntamente na forccedila poliacutetica dos movimentos
surdos Na verdade o Francisco teve forccedila de vontade
para estudar no INES Ele eacute uma pessoa boa com a
responsabilidade de fundar associaccedilatildeo de surdo A
trajetoacuteria de vida desde a infacircncia marca e registra que
Francisco tem procuraccedilatildeo com o povo surdo do interior
com os contatos na liacutengua de sinais e mais valorizaccedilatildeo da
cultura surda (SCHMITT 2008 p 105)
Foi apresentado para Francisco Lima Juacutenior pelo Governador
Celso Ramos o termo aprovado para contrataccedilatildeo de profissionais para
funcionamento da sala para surdos-mudos em Florianoacutepolis que
funcionou na Escola Celso Ramos localizada na Rua Francisco
Tolentino n0 12 Centro de Florianoacutepolis Esse empreendimento veio
dotar a capital de mais uma escola desta vez destinada aos surdos-
mudos que tambeacutem necessitavam ser atendidos quando se promovia o
crescimento no nuacutemero de escola em nossa terra
96
Em Florianoacutepolis existiam duas escolas para crianccedilas surdas
uma funcionando no grupo Escolar Celso Ramos e outra no grupo
Escolar Barreiros Filho todos a cargos de professores especializados
Nessa eacutepoca os surdos de Florianoacutepolis receberam a visita de um
sacerdote surdo o Padre Vicente de Paulo Penido Burnier natural de
Juiz de Fora Estado de Minas Gerais e tambeacutem do Padre Eugecircnio Oates
nascido em Missouir Estados Unidos Atraiacutedo pela personalidade e pelo
trabalho do padre Vicente o padre Eugecircnio Oates veio para o Brasil em
1946 como missionaacuterio dirigindo-se agrave igreja dos padres redentoristas
sediada em Manaus
Integrou-se na vida brasileira o padre Eugecircnio Oates realizando
campanhas em todo o paiacutes em favor da difusatildeo da linguagem das matildeos
no Rio de Janeiro onde lanccedilou o primeiro livro em 1969
Figura 14 ndash Acervo do Francisco fotografia de Jornal que traz
reportagem sobre o livro Linguagem das Matildeos
Em Florianoacutepolis encaminhavam os surdos-mudos para a
instituiccedilatildeo especializada podia-se procurar o Ciacuterculo dos Surdos-Mudos
de Santa Catarina no grupo escolar Barreiros Filho e no Instituto de
Audiccedilatildeo e Terapia de Linguagem ndash IATEL Fundado no dia 05 de julho
de 1969 o IATEL jaacute funcionava no hospital infantil em instalaccedilotildees
precaacuterias Para que crianccedilas surdas pudessem ter uma vida normal o
professor Francisco Lima Juacutenior trabalhava haacute muitos anos
O Ciacuterculo dos Surdos-Mudos de Santa Catarina comeccedilou a se
movimentar pois na reuniatildeo teve contato com a liacutengua de sinais que
comeccedilou com o discurso depois um jogo divertido que o CSMSC
97
promovia no encontro desta reuniatildeo Tambeacutem ofereceu a renovaccedilatildeo de
matriacuteculas para menores e adultos surdos Reabriu a escola para surdos
menores no periacuteodo da manhatilde e agrave noite para adultos analfabetos Teve
tambeacutem outra reuniatildeo que iniciou com um discurso e apoacutes isso
aconteceu o jogo com os associados
As aulas continuavam normalmente e as reuniotildees tambeacutem
Francisco Lima Juacutenior que era o presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos
do Estado de Santa Catarina era quem organizava o encontro com as
associaccedilotildees de surdos de vaacuterias cidades do estado Havia aleacutem dos
discursos escolha da rainha dos surdos e competiccedilotildees de jogos (futebol
vocirclei) aleacutem de viagens Numa dessas viagens os surdos de Santa
Catarina foram para Satildeo Paulo no festival esportivo numa viagem de
dois dias onde ocorria a silenciosa festividade
O presidente do CSMSC nesta festa fez um discurso para os
amigos surdos de Satildeo Paulo e o vice-presidente do CSMSC deixou seu
cargo porque natildeo quis mais participar destas associaccedilotildees Entatildeo as
aulas continuaram Foi um mecircs em que muitos soacutecios ou alguns estavam
com muito trabalho vinham alguns soacutecios da associaccedilatildeo dos surdos-
mudos para saber das informaccedilotildees da semana no CSMSC Por isso
continuaram alguns surdos realizando o encontro para bate-papo na
liacutengua de sinais todas as quartas-feiras Realizou-se a primeira
comunhatildeo pascoal na capela do Coleacutegio Catarinense rezada pelo padre
Vicente que era surdo no mesmo dia apoacutes a missa de aniversaacuterio do
presidente Francisco
Os alunos surdos entraram em feacuterias mas continuaram os
encontros e reuniotildees onde discursavam e planejavam as atividades
esportivas para o CSMSC apoacutes os jogos que eles faziam todos os
meses Havia reuniotildees com bate-papos na liacutengua de sinais no CSMSC
Numa destas reuniotildees aconteceu um evento importante para os surdos-
mudos que eram associados do CSMSC pois comemoraram a data de
sua inauguraccedilatildeo
Francisco continuava a dar aulas e palestras principalmente sobre
a Independecircncia do Brasil sobre D Pedro I e outros assuntos Na
comemoraccedilatildeo da Independecircncia do Brasil os associados da CSMSC
viajaram para Curitiba e encontraram os amigos surdos de laacute E todos
fizeram um discurso que iniciou com o presidente da CSMSC apoacutes os
representantes de cada sociedade e depois do discurso foi eleita a rainha
da Associaccedilatildeo dos Surdos de Curitiba senhorita Anair Budel Em
seguida o presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos de Curitiba convidou o
professor Francisco Lima Juacutenior presidente do CSMSC para danccedilar a
valsa com a rainha das prendas Anair Budel
98
Francisco contou que o baile foi muito divertido e durou ateacute a
madrugada com o grupo de surdos que conversava muito no encontro
de associaccedilotildees regionais Apoacutes o encerramento do evento visitaram
uma escola de crianccedilas surdas em Curitiba Em 1972 o professor deu
para cada aluno uma cartolina e assim cada um ia imaginar e pintar seu
conhecimento do trabalho para a difusatildeo da liacutengua de sinais Depois na
comemoraccedilatildeo do dia do professor os alunos fizeram uma pequena
homenagem ao professor Francisco
O professor falou sobre o dia do Iacutendio descobrimento do Brasil a
morte de Tiradentes entre outros Na paacutescoa os alunos receberam
presentes de chocolate na semana da paixatildeo foi apresentado o teatro ldquoa
morte de Jesus Cristordquo na liacutengua de sinais por um grupo de surdos para
difundir sua liacutengua
O ensino da liacutengua de sinais em Santa Catarina com os
ensinamentos do professor Francisco proporcionou uma nova fase da
liacutengua de sinais trazendo influecircncias de outras comunidades surdas do
Brasil A partir desse contato o modelo linguiacutestico trazido do Rio de
Janeiro eacute aperfeiccediloado a cada geraccedilatildeo
O Imperial Instituto dos Surdos-Mudos foi de extrema
importacircncia na propagaccedilatildeo da liacutengua de sinais em grande
parte das regiotildees brasileiras O Sr Francisco cidadatildeo
Catarinense foi um aluno desta instituiccedilatildeo apoacutes retornar
ao seu estado de origem ele foi educador de surdos e
responsaacuteveis pela difusatildeo da liacutengua sinalizada usada
nesse instituto (CORREA e SEGALA 2009 p 32)
Durante todo esse tempo o professor Francisco Lima Juacutenior
orienta auxilia e direciona todas as atividades escolares das crianccedilas
jovens e adultos surdos tornando-se assim o primeiro professor dessa
metodologia de ensino - A Linguagem das Matildeos com o objetivo de
criar um alfabeto uacutenico para todos os Surdos do Estado de Santa
Catarina Suas aulas e palestras em LIBRAS tornaram-se muito
populares entre os surdos catarinenses
Eacute importante registrar na histoacuteria da liacutengua de sinais em Santa
Catarina um estudo linguiacutestico e possibilitar a pesquisa sobre o primeiro
professor surdo Francisco que criou o primeiro dicionaacuterio aqui em
Santa Catarina Ele trouxe o modelo do INESRJ (uma experiecircncia na liacutengua de sinais) para nosso estado de Santa Catarina e influenciou a
comunidade surda catarinense
Uma das pessoas surdas da nova geraccedilatildeo eacute a Sandra Luacutecia
Amorim que escreveu um pequeno dicionaacuterio chamado ldquoComunicando
99
a Liberdade - A Liacutengua das Matildeosrdquo em 2000
Concluiacutemos que a Liacutengua Brasileira de Sinais teve forte
influecircncia da liacutengua de sinais francesa (LSF) que tambeacutem influenciou a
liacutengua de sinais em Santa Catarina atraveacutes do professor Francisco que
estudou no INES A LSF eacute uma liacutengua mais antiga do que a LIBRAS
com um acervo bibliograacutefico maior A LIBRAS tem caracteriacutesticas
proacuteprias e estaacute em expansatildeo a partir de sua oficializaccedilatildeo em 2002 pela
necessidade de incluir novos sinais ao aprendizado da comunidade surda
que passou a ter uma maior abertura nas universidades
100
101
CAPIacuteTULO IV ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila na liacutengua de sinais
41 ndash Introduccedilatildeo
Nesta pesquisa tomamos como base teoacuterica os estudos
sociolinguiacutesticos de Labov (2008 [1972]) na concepccedilatildeo de que seu texto
pode nos ajudar a embasar o trabalho de pesquisa Assim tomamos
como base os estudos das liacutenguas orais do autor adaptando-os agraves
variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas das liacutenguas de sinais
O estudo desenvolvido aqui mostra os sujeitos surdos a liacutengua de
sinais algumas possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas Traz
explicaccedilotildees da liacutengua de sinais pelo surdo indiacutecios de variaccedilatildeo e
mudanccedila linguiacutestica apresenta variaccedilotildees linguiacutesticas na liacutengua de sinais
utilizadas pelos surdos e por fim como o surdo se comunica a liacutengua
de sinais em seu contexto social
42 ndash A liacutengua de sinais pelo surdo indiacutecios de variaccedilatildeo e mudanccedila
linguiacutestica
A LIBRAS
50 eacute uma liacutengua usada entre os surdos assim como
entre os ouvintes desde que queiram interagir com esta forma de
comunicaccedilatildeo Ao verificar o acesso dos surdos agrave comunicaccedilatildeo e agrave
expressatildeo de forma criativa pode-se encontrar respostas sobre
mudanccedilas na gramaacutetica em palavras em frases e em seu contexto
social
As liacutenguas mudam todos os dias evoluem mas a essa
mudanccedila diacrocircnica se acrescenta uma outra sincrocircnica
pode-se perceber numa liacutengua continuamente a
coexistecircncia de formas diferentes de um mesmo
significado Essas variaacuteveis podem ser geograacuteficas a
mesma liacutengua pode ser pronunciado diferentemente ou
ter um leacutexico diferente em diferentes pontos do territoacuterio
(CALVET 2002 p 89)
Queremos apresentar algumas variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas a
que os surdos estiveram expostos no primeiro espaccedilo de ensino
promovido pelo professor Francisco Lima Juacutenior (Chiquito) Ele
influenciou para a expansatildeo da liacutengua de sinais da comunidade surda na
50 ldquoEacute uma liacutengua natural eacute atraveacutes dela que os surdos tecircm acesso ao mundo em que vivem No
entanto ela natildeo eacute uma liacutengua que o surdo aprende sozinho Ele pode desenvolver uma liacutengua
102
histoacuteria de Santa Catarina Entatildeo queremos perceber se haacute diferenccedilas
durante sua trajetoacuteria entre a variaccedilatildeo linguiacutestica daquela eacutepoca (1950)
ateacute a atualidade se aconteceram mudanccedilas por influecircncia da
transformaccedilatildeo tecnoloacutegica da sociedade Acreditamos que com o passar
do tempo ocorrem mudanccedilas na liacutengua de sinais histoacuterica e
culturalmente na comunidade surda
As liacutenguas de sinais como todas as liacutenguas satildeo dinacircmicas Em
contato com grupos surdos na comunidade modificam-se ao longo do
tempo como qualquer outra liacutengua A mudanccedila pode ser percebida em
diferentes regiotildees onde o surdo busca a informaccedilatildeo utilizando a liacutengua
de sinais que vem de outro lugar com algumas diferenccedilas entre palavras
e seu significado entre sinais
Quando as pessoas surdas evoluem culturalmente a liacutengua de
sinais se transforma Com o passar do tempo a ldquoLIBRASrdquo tambeacutem se
modifica Na interaccedilatildeo do indiviacuteduo surdo na comunidade surda e na
sociedade essas relaccedilotildees de contato fazem com que se criem novos
sinais pois aparecem palavras novas e outros sinais sofrem adaptaccedilotildees
ocorrem mudanccedilas na configuraccedilatildeo de matildeos no ponto de articulaccedilatildeo
no movimento na orientaccedilatildeodirecional na expressatildeo facial e corporal
Essas adaptaccedilotildees satildeo criadas pela necessidade no contato e na situaccedilatildeo
de uso A comunidade surda como qualquer outra vem evoluindo e se
transformando firmando uma identidade surda
Como jaacute ressaltamos a origem da liacutengua de sinais no Brasil eacute
europeacuteia Sua maior influecircncia foi no Rio de Janeiro no Instituto
Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos ndash INESRJ onde se expandiu para os
demais estados brasileiros Recebeu influecircncia tambeacutem do Francecircs do
Portuguecircs (Portugal) e dos Estados Unidos O Instituto pesquisou a
influecircncia cultural dos surdos e as influecircncias sofridas quanto a
LIBRAS Assim como na Liacutengua Portuguesa acontecem modificaccedilotildees
na escrita e na fala com o tempo na liacutengua de sinais tambeacutem ocorrem
transformaccedilotildees quanto agrave configuraccedilatildeo de matildeos A liacutengua de sinais
evolui com mudanccedila constante em cada regiatildeo e a comunicaccedilatildeo do
surdo acompanha e qualifica mais a liacutengua de sinais A LIBRAS sofre
modificaccedilotildees com o tempo e tambeacutem como na liacutengua falada apresenta
palavras ou expressotildees proacuteprias do lugar onde acontece a comunicaccedilatildeo
Sendo assim o surdo natildeo tem o contato com a LIBRAS longe da
sociedade ou na zona rural nesse caso pode se apropriar de sinais
proacuteprios para a comunicaccedilatildeo ex Francisco buscava os surdos nas
regiotildees de Santa Catarina pois o contato com a LIBRAS eacute importante
para a sua identidade cultural
103
Realmente pode-se considerar que essas diferentes
palavras se dividem em seu uso em uma escala de faixas
etaacuterias os jovens diriam banheiro seus pais wc e seus
avoacutes reservados por exemplo Pode-se entatildeo imaginar
que eles se dividam segundo o sexo dos falantes os
homens dizendo mais banheiro e wc e as mulheres
toalete e reservado (CALVET 2002 p 103)
A LIBRAS eacute uma liacutengua porque possui estrutura gramatical
proacutepria eacute essencial para o surdo o contato em relaccedilatildeo ao outro como
em qualquer outra liacutengua que tem diferenccedilas gramaticais Utilizando o
movimento de sinal e a expressatildeo facial como meio de comunicaccedilatildeo o
surdo se comunica tanto com a comunidade surda quanto com a ouvinte
O contato dos jovens com os ensinamentos do professor
Francisco proporcionou uma nova fase da liacutengua de sinais A partir
desse contato o modelo linguiacutestico trazido do Rio de Janeiro eacute
aperfeiccediloado pela geraccedilatildeo mais nova do mesmo modo que descreve
Calvet (2002) nos estudos de liacutengua oral
- a ideacuteia de pesquisa uma (s) variaacutevel (eis) frequente (s)
que geralmente aparecem na estrutura linguumliacutestica
variaacuteveis cuja distribuiccedilatildeo deve ser fortemente
estratificada ldquoIsso equivale a dizer que as pesquisas
preliminares deveriam indicar a seu respeito uma
distribuiccedilatildeo assimeacutetrica entre as mais diversas faixas
etaacuterias ou entre outras categorias mais hierarquizadas da
sociedaderdquo - o estabelecimento de uma metodologia que
extrai essas variaacuteveis dos textos produzidos pelos
falantes - a pesquisa da correlaccedilatildeo entre essa
distribuiccedilatildeo de traccedilos linguiacutesticos e uma distribuiccedilatildeo de
traccedilos socioloacutegicos (CALVET 2002 p 93)
Na citaccedilatildeo acima o autor relata que eacute preciso pensar a construccedilatildeo
de identidade levando em conta diferentes faixas etaacuterias e a variaccedilatildeo
linguiacutestica Entendemos assim a necessidade de pesquisarmos as
variaccedilotildees ocorridas em Santa Catarina
A LIBRAS possui uma forma de comunicaccedilatildeo proacutepria Eacute
independente como qualquer outra liacutengua escrita ou falada Tem o
formato proacuteprio na sua comunicaccedilatildeo que eacute o visual pois se utiliza de
sinaisgestos e expressotildees Todos os seres humanos usam um
determinado tipo de liacutengua e linguagem para se comunicar e tanto a
liacutengua falada quanto a sinalizada apresentam sentidos de expressotildees
104
diferentes na comunicaccedilatildeo A liacutengua de sinais muda histoacuterica e
linguisticamente conforme as variaccedilotildees de cada lugar ou regiatildeo Entatildeo
eacute importante a relaccedilatildeo estabelecida com outras pessoas na sociedade na
troca de informaccedilatildeo ideias experiecircncias ensinamentos e aprendizagem
quando se fala uma liacutengua Quando pensamos as liacutenguas percebemos
que existem diferenccedilas na LIBRAS e no Portuguecircs
Frishberg (1975)51
no seu estudo pesquisado no Instituto Teacutecnico
Nacional para Surdos de Nova Iorque aborda como a Liacutengua de Sinais
Americana (ASL) tem mudado gradativamente ao longo do tempo de
uma linguagem mais icocircnica para uma linguagem mais arbitraacuteria Eacute a
liacutengua natural da comunidade surda nos Estados Unidos e em partes do
Canadaacute onde o inglecircs eacute falado Difere das duas liacutenguas que a maioria
das pessoas conhece no sentido de que eacute produzida com as matildeos e
percebida pelos olhos em vez de pronunciado e percebido pelos
ouvidos Entatildeo ela realizou a sua pesquisa sobre alguns processos
histoacutericos em Liacutengua de Sinais onde havia uma forte tendecircncia para
certas mudanccedilas Como toda liacutengua as liacutenguas de sinais aumentam seu
inventaacuterio lexical com novos sinais introduzidos pelas comunidades
surdas em respostas agraves mudanccedilas culturais e tecnoloacutegicas
A liacutengua de sinais possui estrutura gramatical como qualquer
liacutengua utiliza paracircmetros e como todas as liacutenguas tem variaccedilotildees no
niacutevel fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico e pragmaacutetico Por
isso pode-se perceber a mudanccedila cotidiana na liacutengua de sinais A pessoa
surda traz do seu contato cultural dos grupos nos quais estaacute inserida
novos olhares desta liacutengua muitas vezes transformando sinais jaacute
existentes em novos sinais
Quadros e Karnopp (2004) dizem que as liacutenguas de sinais
recebem informaccedilotildees linguiacutesticas pelos olhos e satildeo produzidas pelas
matildeos O termo fonologia tem sido muito usado para estudar os
elementos das liacutenguas de sinais Apesar da diferenccedila com as liacutenguas
orais as duas liacutenguas tecircm os mesmos princiacutepios subjacentes de
construccedilatildeo Poreacutem existe um esquema linguiacutestico estrutural nas liacutenguas
de sinais que natildeo tem significado se feito isoladamente que eacute
51 Nancy Frishberg eacute consultora em Liacutengua de Sinais e Interpretaccedilatildeo Ela tem PhD em
linguiacutestica pela Universidade da Califoacuternia San Diego onde sua pesquisa de doutorado focada
em mudanccedila histoacuterica em Liacutengua de Sinais Americana ndash ASL Seu trabalho de dissertaccedilatildeo demostrou que os sinais seguem princiacutepios linguiacutesticos como elas mudam ao longo do tempo
com o uso Seu livro de 1986 ldquoInterpretaccedilatildeo Um Introduccedilatildeordquo que ainda estaacute em versatildeo
impressa eacute o texto principal em muitos programas de treinamento inteacuterprete e serve como base para o exame escrito (primeira etapa) para certificaccedilatildeo pelo Registro de Inteacuterpretes para
Surdos
105
Configuraccedilatildeo de Matildeos (CM) Locaccedilatildeo (L) e Movimento (M) A
LIBRAS eacute basicamente feita com as matildeos (direita ou esquerda) tendo
tambeacutem movimento do corpo e da face A CM L e M se contrastam
minimamente alterando o significado dos sinais
A ASL tem a sua proacutepria gramaacutetica e fonologia Na liacutengua de
sinais eacute o estudo dos movimentos manuais baacutesicos que fornece a base
para todos os sinais sintaxe e morfologia na liacutengua falada A morfologia
estuda como as palavras satildeo formadas a partir de sons e palavras
baacutesicas Na liacutengua de sinais eacute o estudo de como os sinais manuais
baacutesicos representam conceitos A liacutengua americana de sinais eacute uma
liacutengua visual que incorpora gestos expressotildees faciais movimentos da
cabeccedila linguagem corporal e ateacute o espaccedilo ao redor do falante Os sinais
manuais satildeo a base desta liacutengua Muitos deles satildeo icocircnicos o que
significa dizer que o sinal usa uma imagem visual que se parece com o
conceito que representa
Wescott (1971 Frishberg) sugere que todas as formas de liacutengua
(oral escrita e gestual) usam iconicidade Ele diz que a iconicidade eacute um
sinal familiar (caseiro) em vez de uma caracteriacutestica absoluta de
qualquer sistema de comunicaccedilatildeo incluindo a liacutengua
Segundo Frishberg um sinal pode ser especificado atraveacutes de
quatro paracircmetros simultaneamente configuraccedilatildeo de matildeo movimento
ponto de articulaccedilatildeo (ou localizaccedilatildeo) e orientaccedilatildeo Essas descriccedilotildees de
paracircmetro servem para poder distinguir alguns sinais de outros similares
e dar sentido agrave frase num todo como por exemplo os sinais HOJE e
AGORA diferem no paracircmetro movimento mas satildeo iguais na
configuraccedilatildeo de matildeos e na localizaccedilatildeo A alteraccedilatildeo entre esses
paracircmetros pode significar uma completa alteraccedilatildeo no sentido de
algumas palavras Por exemplo o sinal correspondente agrave ldquoMACcedilAtilderdquo pode
significar ldquoQUEIJOrdquo se houver apenas uma mudanccedila na configuraccedilatildeo
de matildeos novamente ldquoMACcedilAtilderdquo pode significar ldquoCURSOrdquo se houver
diferenccedila no local e por fim ldquoMACcedilAtilderdquo pode significar ldquoCUBArdquo se
houver variaccedilatildeo no movimento Esses satildeo pares-miacutenimos encontrados
na LIBRAS A orientaccedilatildeo conforme aplicada tambeacutem pode alterar o
significado de uma palavra Seguem os exemplos na liacutengua de sinais
106
Figura 15 ndash Mostrar os Sinais
As autoras Quadros e Karnopp (2004 p 78) dizem que as
restriccedilotildees fonoloacutegicas requeridas para a boa formaccedilatildeo de sinais podem
ser produzidas pelas matildeos como a) sinais produzidos com uma das
matildeos b) sinais produzidos com as duas matildeos ambas ativas e c) sinais produzidos com as duas matildeos em que a matildeo dominante eacute ativa e a matildeo
natildeo-dominante serve como locaccedilatildeo
Para Battison (1978 Quadros e Karnopp (2004)) haacute duas
restriccedilotildees fonoloacutegicas na produccedilatildeo dos tipos de sinais a) a condiccedilatildeo de
107
simetria e b) a condiccedilatildeo de dominacircncia Quando as duas matildeos se
movem na produccedilatildeo de um uacutenico sinal CM deve ser a mesma para as
duas matildeos a locaccedilatildeo deve ser a mesma ou simeacutetrica o movimento deve
ser simultacircneo ou alternado Jaacute na condiccedilatildeo de dominacircncia as matildeos
apresentam diferentes configuraccedilotildees e entatildeo a matildeo ativa produz o
movimento e a matildeo passiva serve de apoio
A importacircncia dessa transferecircncia de movimento do rosto ou
corpo para as matildeos deve ser ressaltada bem como a concentraccedilatildeo para
uma sinalizaccedilatildeo de faacutecil entendimento Alguns sinais continuam sendo
motivados para uma mudanccedila dentre eles WILL (indica o futuro)
CARE (cuidado) TEDIOUS (tedioso) FINDFAULT (criticar) e
MEET (encontrar) Nessas mudanccedilas satildeo observadas algumas
caracteriacutesticas corporais tais como movimentos ordenados dos dedos e
matildeos deslocamento lateral da cabeccedila e movimentos do toacuterax
Pesquisei outro exemplo no curso de LetrasLIBRAS sobre a
variaccedilatildeo fonoloacutegica ldquoOs sinais FUNNY (engraccedilado) BLACK (preto)
e BORING (chato) satildeo exemplos de variaccedilatildeo fonoloacutegica pois esses
sinais podem ser realizados de duas formas soacute com o indicador
distendido e os outros dedos fechados ou com o
indicador e o polegar distendidos e os demais dedos fechadosrdquo
108
Figura 16 ndash Variaccedilatildeo fonoloacutegica
Outro exemplo interessante dos autores Woodward e Desantis
(1976) satildeo sinais que podem ser realizados tanto com uma matildeo quanto
com duas matildeos como os sinais CAT (gato) COW (vaca) e FAMOUS
(famoso) que satildeo produzidos no rosto
CAT COW
FAMOUS
(TENNANT amp BROWN 2004)
Figura 17 ndash Mostrar os sinais com uma matildeo e com duas matildeos
109
Vamos conhecer e refletir sobre as variaccedilotildees dos surdos
essencialmente com relaccedilatildeo agrave liacutengua de sinais
Klima e Bellugi (1979) representam uma pesquisa fonoloacutegica na
liacutengua de sinais do ASL A ASL ndash American Sign Language eacute a liacutengua
natural da comunidade surda nos Estados Unidos Os autores
identificam na liacutengua de sinais apenas trecircs paracircmetros configuraccedilatildeo de
matildeo (CM) ponto de articulaccedilatildeo (ou localizaccedilatildeo) (L) movimento (M)
que ao serem analisados individualmente natildeo satildeo possuidores de
significado e a outra autora Brito (1995) no Brasil pesquisou partes dos
paracircmetros primaacuterios a configuraccedilatildeo das matildeos o ponto de articulaccedilatildeo e
o movimento e tambeacutem os paracircmetros secundaacuterios52
a regiatildeo de
contato a orientaccedilatildeo das matildeos e a disposiccedilatildeo das matildeos
Segundo Frishberg em se tratando de tendecircncia para a simetria a
liacutengua toma vaacuterias formas Examinando o seu desenvolvimento em dois
paracircmetros matildeo-forma e movimento nota-se que ambas as matildeos agem
em uniacutessono e uma matildeo age sobre a outra As matildeos assumiram a mesma
configuraccedilatildeo Pode-se ver que alguns sinais mudam sua forma de
expressatildeo antes era com apenas uma das matildeos e agora se tornam as
duas
Eacute claro que os sinais tendem a seguir mudanccedilas ao longo da
histoacuteria Por exemplo para sinais no rosto tendem a utilizar apenas uma
matildeo deixando a face mais visiacutevel e permitindo que os olhos expressem
uma variedade de fins gramaticais Jaacute para os sinais na aacuterea do tronco
geralmente usam as duas matildeos ndash o que muitas vezes eacute sinal de
redundacircncia e simetria
Segue o exemplo da liacutengua de sinais do ASL
52 BRITO (1995) Regiatildeo de Contato ldquoRefere-se agrave parte da matildeo que entra em contato com o corpo Esse contato pode-ser dar maneiras diferentes atraveacutes de um toque de um risco de um
deslizamento etcrdquo
Orientaccedilatildeo das Matildeos ldquoEacute a direccedilatildeo da palma da matildeo durante o sinal voltada para cima para
baixo para o corpo para frente para esquerda ou para a direita Pode haver mudanccedila na
orientaccedilatildeo durante a execuccedilatildeo do Movimentordquo
Disposiccedilatildeo das Matildeos ldquoA articulaccedilatildeo dos sinais pode ser feita apenas pela matildeo dominante ou
pelas duas matildeos Neste uacuteltimo caso as duas matildeos podem se movimentar para formar o sinal ou entatildeo apenas a matildeo dominante se movimenta e a outra funciona como Ponto de
Articulaccedilatildeordquo
110
Figura 18 ndash Sinal de Paacutessaro
Para o sinal de PAacuteSSARO em um primeiro momento utiliza-se
uma das matildeos na aacuterea da face para o sinal ldquobicordquo e em seguida as duas
matildeos (uma para cada lado) em forma de asas Por fim o sinal
PAacuteSSARO hoje eacute apenas representado pela primeira parte (bico em
matildeo uacutenica)
A histoacuteria documentada da liacutengua americana de sinais natildeo eacute
longa existe uma seacuterie de gestos registrados ao longo da histoacuteria mas
foi somente no final do seacuteculo XVIII que os surdos foram considerados
educaacuteveis
Segundo Frishberg ldquoHomesignrdquo (sinais caseiros) eacute um termo
geral utilizado pela comunidade surda para se comunicar poreacutem eacute uma
forma bastante utilizada principalmente pelas matildees em aacutereas rurais que
tecircm filhos surdos Dados estatiacutesticos mostram que 80 a 90 dos surdos
nascem de pais ouvintes por essa razatildeo haacute uma necessidade inevitaacutevel
de comunicaccedilatildeo A partir dessa necessidade as matildees principalmente
precisam encontrar maneiras de se comunicar com os filhos e passam a
criar sinais de forma empiacuterica sem qualquer regra ou seja sinais natildeo
padronizados Tais sinais inventados passam a criar certas dificuldades
111
de comunicaccedilatildeo entre as diferentes comunidades de surdos Existe a
ASL (Liacutengua de Sinais Americana) com uma linguagem jaacute padronizada
que comeccedila a ser difundida e ensinada atraveacutes das escolas americanas
com sinais padronizados
A liacutengua de sinais padronizada enfrenta ainda dificuldade pois
algumas escolas eram proibidas politicamente de ensinar atraveacutes da
metodologia da ASL O fato eacute que outras escolas mesmo sem a devida
autorizaccedilatildeo comeccedilam a ensinar a liacutengua padronizada Os surdos
comeccedilam a aprender a liacutengua padratildeo mas continuam a se comunicar em
casa com os familiares usando o ldquohomesignrdquo (sinais caseiros) A
comunicaccedilatildeo ensinada em casa requeria a utilizaccedilatildeo de vaacuterios recursos
ambientais para a comunicaccedilatildeo entretanto havia a dificuldade de
encontrar referecircncia para as cores nos recursos ambientais pois para se
referir a uma cor eles deveriam encontraacute-lo na natureza aproximar-se o
suficiente para apontar e fazer a associaccedilatildeo com a cor
Historicamente pode-se afirmar que ao longo do tempo a forma
de comunicaccedilatildeo entre a comunidade surda vem mudando
constantemente teacutecnicas e sinais vecircm sendo aperfeiccediloados Ao inveacutes de
gestos natildeo-estruturados o que encontramos eacute uma gama de sinais e
movimentos de matildeos regularizados ou seja inter-relacionados
conjunto sistematizado de sinais que estaacute passando por mudanccedilas de
forma regular e formal
Quadros e Karnopp (2004 p 51) observam que os articuladores
primaacuterios das liacutenguas de sinais satildeo as matildeos estas se movimentam em
um espaccedilo determinado em frente ao corpo Um sinal pode ser
articulado com uma ou duas matildeos ou seja um mesmo sinal pode ser
articulado tanto com a matildeo direita quanto com a esquerda Mas precisa-
se levar em conta que sinais efetuados com as duas matildeos apresentam
restriccedilotildees em relaccedilatildeo ao tipo de interaccedilatildeo entre as matildeos De acordo
com Brito (1995) a LIBRAS apresenta 46 Configuraccedilotildees de Matildeos
(CMs) mas nem todas as liacutenguas de sinais partilham do mesmo nuacutemero
de configuraccedilotildees de matildeos Seguem quatro imagens de configuraccedilotildees de
matildeos difundidas no Brasil
112
As Configuraccedilotildees de Matildeos da LIBRAS
Figura 19 Figura 20
Figura 19 e 20 ndash Ferreira-Brito e Langevin (1995 p220)
Figura 21 Figura 22
Figura 21 ndash httpwwwinesgovbrlibrasprincipalaspASSU_id=3
Figura 22 ndash Quadro de CMs da LSB por Pimenta e Quadros (2006 p 73)
113
Um aspecto recorrentemente discutido eacute a iconicidade dos sinais
ndash em oposiccedilatildeo agrave arbitrariedade da relaccedilatildeo entre significado e
significante observada na constituiccedilatildeo do signo linguiacutestico em liacutenguas
orais Reconhecendo nas liacutenguas de sinais a iconicidade a par da
arbitrariedade (e remetendo a estudos que demonstram por exemplo a
dificuldade por parte de informantes de deduzirem significados em
relaccedilatildeo a muitas formas aparentemente icocircnicas) as autoras (Ferreira-
Brito e Langevin Pimenta e Quadros) destacam o fato de que signos
icocircnicos sofrem mudanccedilas as quais frequentemente ldquotendem a inibir a
natureza icocircnica dos sinais tornando-os mais arbitraacuterios atraveacutes dos
temposrdquo
Embora os demais sinais natildeo-manuais sejam realizados de forma
muitas vezes equivocada quando estes satildeo de forma simples como
afirmativa negativa e exclamativa natildeo haacute um comprometimento do
significado na sentenccedila Mas quando associados a outras formas o
equiacutevoco na execuccedilatildeo da expressatildeo facial provoca uma mudanccedila no
significado da sentenccedila passando esta a pertencer a outra classe
As liacutenguas orais modificam-se como no caso das palavras que
caem em desuso outras que satildeo adquiridas aumentando o vocabulaacuterio
e ainda mudando de significado das palavras O mesmo acontece nas
liacutenguas de sinais a fim de responder agraves necessidades que a evoluccedilatildeo
soacutecio-cultural impotildee
A ASL por sua vez estaacute seguindo a teoria citada acima
substituindo seus iacutecones por siacutembolos que de maneira geral tendem a
ser menos transparentes e icocircnicos pois se tornam mais arbitraacuterios
siacutembolos convencionais
Com o passar do tempo ocorrem muitas mudanccedilas nas liacutenguas
para suprir as necessidades de comunicaccedilatildeo e as modificaccedilotildees de
costumes de cada geraccedilatildeo Assim novos sinais satildeo criados de acordo
com a necessidade de cada grupo
Na verdade temos que pesquisar a liacutengua de sinais em Santa
Catarina observar o sujeito surdo em diferentes faixas etaacuterias
investigando o surgimento do primeiro espaccedilo de identidade cultural do
surdo em contexto social e acessando gramaticalmente a liacutengua de
sinais Esse espaccedilo foi conquistado pela poliacutetica linguiacutestica que assegura
o envolvimento com a liacutengua de sinais que estaacute se expandindo na
sociedade em nosso estado catarinense
Como toda liacutengua a LIBRAS sofre influecircncia das mudanccedilas
histoacutericas e culturais as liacutenguas satildeo dinacircmicas e natildeo estaacuteticas por isso
elas vivem sofrendo alteraccedilotildees e com as liacutenguas de sinais ocorre o
mesmo Essas mudanccedilas podem ser percebidas nas diferentes regiotildees
114
onde satildeo utilizadas as mesmas liacutenguas em que haacute algumas diferenccedilas
em algumas palavras ou expressotildees Mas como tem sido a participaccedilatildeo
do registro na comunicaccedilatildeo do surdo neste espaccedilo linguiacutestico e histoacuterico
cultural na liacutengua de sinais
Calvet (2002) mostra relaccedilotildees entre a liacutengua e a sociedade
fornecendo embasamento agraves explicaccedilotildees sobre as variaccedilotildees
sociolinguiacutesticas o que nos permite fazer uma comparaccedilatildeo das
descriccedilotildees agraves influecircncias externas e internas que a liacutengua de sinais de
Santa Catarina sofreu ateacute chegar ao estaacutegio em que se encontra
atualmente expandido em LIBRAS
Eacute importante registrar a nova histoacuteria da liacutengua de sinais suas
variaccedilotildees e o seu potencial transformador na realidade da comunidade
surda
O sistema linguiacutestico eacute heterogecircneo e as variaccedilotildees podem ser
observadas sob vaacuterios aspectos Sob o ponto de vista diacrocircnico
podemos observar o processo de sistematizaccedilatildeo linguiacutestico de alguns
gestos extralinguiacutesticos usados por usuaacuterios de liacutengua oral auditiva
que foram lexicalizados na LIBRAS tais como os gestuais que
correspondem ao significado de LOUCO ADEUS POSITIVO etc
Por outro lado sob uma perspectiva sincrocircnica vaacuterias formas
podem ser alternadas e podem representar aleacutem disso uma variaccedilatildeo
diatoacutepica53
e a variaccedilatildeo diafaacutesica54
Essas variaccedilotildees referem-se a
variaacuteveis geograacuteficas podem coexistir duas ou mais formas com um
mesmo significado Eacute o caso do sinal CULTURA (matildeo em ldquo5rdquo na testa
ou matildeo em ldquoCrdquo ao longo do braccedilo de apoio) Essas variantes podem
identificar usuaacuterios provindos do Sul e Centro-Oeste respectivamente e
em outras regiotildees por apresentarem sinais diferentes
Em geral um dialeto abrange uma zona ou regiatildeo territorial que
pode ou natildeo coincidir com as fronteiras ou barreiras geograacuteficas No
53 Variaccedilatildeo diatoacutepica eacute a regional quando haacute elementos diferentes dentro de um mesmo territoacuterio linguiacutestico mas natildeo necessariamente dentro de um mesmo dialeto Nem sempre os
elementos detentos de variaccedilotildees diatoacutepicas concorrem a menos quando haacute fortes migraccedilotildees
dentro de um mesmo territoacuterio Podem ocorrer interferecircncias mais incisivas quando determinadas regiotildees possuem destaque econocircmico poliacutetico social e cultural
54 Variaccedilatildeo diafaacutesica eacute a situacional relativa agraves diferentes monitoraccedilotildees do falante nas diferentes situaccedilotildees de interaccedilatildeo Exemplo uma pessoa estaraacute mais monitorada em seu
ambiente de trabalho do que nas interaccedilotildees realizadas em ambiente domeacutestico A variaccedilatildeo
diafaacutesica vem da afirmaccedilatildeo LABOVIANA de que natildeo haacute falante de estilo uacutenico A produccedilatildeo linguiacutestica eacute dependente do contexto social
115
Brasil existem vaacuterios dialetos55
(ou variedades) em comunidades de
ouvintes onde se fala a Liacutengua Portuguesa com diferentes usos Ex
bergamota vergamota e tangerina Palavras variaacuteveis acontecem em
vaacuterias regiotildees e podem ser usadas por motivaccedilatildeo social e ou regional A
seguir algumas variaccedilotildees linguiacutesticas que ocorrem na LIBRAS Ex o
sinal de Cultura SC SP e RJ Seguem os sinais
Figura 23 ndash Sinal ldquoCultura em SCrdquo
Figura 24 ndash Sinal ldquoCultura em SPrdquo
Figura 25 ndash Sinal ldquoCultura em RJrdquo
55 Variedade ndash ldquoa fala de uma comunidade de modo global considerando-se todas as suas particularidades tanto categoacutericas quanto variaacuteveis o mesmo que dialeto ou falarrdquo COELHO
et al (2010 p 166)
116
Um outro exemplo de variaccedilatildeo diatoacutepica no leacutexico do portuguecircs
pode ser observado na diferenccedila entre MACAXEIRA (Norte e
Nordeste) MANDIOCA (Sudeste e Centro-Oeste) e AIPIM (Sul)
A liacutengua de sinais tem uma importacircncia muito significativa para a
comunicaccedilatildeo entre surdos e tambeacutem entre surdos e ouvinte pois sem a
liacutengua de sinais dificultaria a comunicaccedilatildeo e os surdos natildeo conseguiriam
viver na comunidade
A LIBRAS possui forma clara e definida em sua estrutura
gramatical que se estabelece no dia a dia dos que a utilizam Suas vaacuterias
formas sua estrutura o grupo que a utiliza a influecircncia social e
geograacutefica torna a LIBRAS uma liacutengua como qualquer outra pois
realiza a verdadeira funccedilatildeo de comunicar Como Calvet (2002 p 89)
explica variaacuteveis linguiacutesticas satildeo muito usadas em todas as liacutenguas
ldquoDeste modo um reacuteptil comum em todo o Brasil eacute chamado de ldquoosgardquo
na regiatildeo Norte ldquobribardquo ou ldquoviacuteborardquo no Nordeste e ldquolagartixardquo no
Centro-Sul56
rdquo
43 ndash As variaccedilotildees linguiacutesticas na liacutengua de sinais
Uma definiccedilatildeo geral sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica na liacutengua de
sinais torna-se necessaacuteria para melhor aproveitamento desta pesquisa Eacute
importante considerar os dialetos regionais natildeo soacute usados em regiotildees
diferentes no contato social mas no espaccedilo de uso cultural da liacutengua
influenciando o surdo
A Liacutengua de Sinais Americana (ASL) eacute diferente da Liacutengua de
Sinais Britacircnica (BSL) que por sua vez eacute diferente da Liacutengua de Sinais
Argentina e tambeacutem da Liacutengua de Sinais Francesa (LSF) Verificamos
que nos demais paiacuteses tambeacutem satildeo diferentes as liacutenguas de sinais e as
variaccedilotildees linguiacutesticas no contexto social dos surdos no mundo
(STROBEL e FERNANDES 1998) Observe
Ex
56 O exemplo do autor eacute o seguinte ldquoDesse modo um objeto simples como a serpiliegravere peccedila de pano usada para limpar o chatildeo pode tambeacutem ser chamada de panosse (na Saboacuteia e na
Suiacuteccedila) wassingue (no Norte) torchon (no leste) since (no sudeste)rdquo
117
NOME
ASL LIBRAS
Figura 26 ndash Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo ndash Depto Educaccedilatildeo
Especial ndash CuritibaPR SEEDSUEDDEE
Aleacutem disso dentro de um mesmo paiacutes haacute as variaccedilotildees regionais
Na LIBRAS tambeacutem existem dialetos regionais salientando assim uma
vez mais o seu caraacuteter de liacutengua natural
Os povos57
surdos satildeo influenciados pelos contatos nas liacutenguas de
sinais Em cada regiatildeo o surdo se comunica A liacutengua difere quanto ao
dialeto social e cultural Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica em LIBRAS
As variaccedilotildees linguiacutesticas relacionadas ao contexto satildeo chamadas
de variaccedilotildees estiliacutesticas ou registro Os paracircmetros de variaccedilatildeo
linguiacutestica satildeo diversos no ato de interagir verbalmente um falante
utilizaraacute a variedade linguiacutestica relativa agrave sua regiatildeo de origem classe
social idade escolaridade sexo ou ainda acrescenta-se sua condiccedilatildeo
adaptativa de origem como no caso da pessoa surda
O professor Francisco participou do grupo surdo de outras regiotildees
dos estados de Santa Catarina Paranaacute Rio Grande do Sul Satildeo Paulo
Rio de Janeiro e Minas Gerais em contato com a liacutengua de sinais e suas
variaccedilotildees linguiacutesticas No dialeto regional haacute variaccedilatildeo linguiacutestica
diferenccedilas percebidas no espaccedilo cultural do surdo nas situaccedilotildees de
conversa na associaccedilatildeo escola e comunidade Os sujeitos surdos que
relataram o depoimento para a pesquisa sobre a liacutengua de sinais falavam da importacircncia do Francisco para a comunidade surda de SC
57 O povo surdo segundo STROBEL (2006) refere-se ao conjunto de sujeitos que natildeo habitam
no mesmo local mas que estatildeo ligados por uma origem tais como a cultura surda costumes e interesses semelhantes histoacuterias e tradiccedilotildees comuns e qualquer outro laccedilo
118
No mundo haacute pelo menos uma liacutengua de sinais usada
amplamente na comunidade surda de cada paiacutes diferente da liacutengua
falada utilizada na mesma aacuterea geograacutefica Isto se daacute porque essas
liacutenguas de sinais satildeo independentes das liacutenguas orais pois foram
produzidas dentro das comunidades surdas (STROBEL e
FERNANDES 1998)
Pode ser considerado como sotaque na liacutengua de sinais as
variaccedilotildees linguiacutesticas e costume cultural diferentes de cada regiatildeo
Entatildeo Francisco trouxe a experiecircncia do contato com outras regiotildees
para o grupo de surdos de SC na comunicaccedilatildeo em liacutengua de sinais
44 ndash O surdo se comunica a liacutengua de sinais no contexto social
O dialeto social refere-se a variaccedilotildees de configuraccedilatildeo das matildeos
eou de movimento natildeo modificando o sentido do sinal (STROBEL e
FERNANDES 1998) Dependendo da situaccedilatildeo de uso da comunicaccedilatildeo
do surdo na liacutengua de sinais a variaccedilatildeo pode ser observada atraveacutes da
configuraccedilatildeo das matildeos como em
Ex
Figura 27 ndash Sinal de Ajudar
119
Figura 28 ndash Sinal de Faltar
Figura 29 ndash Sinal de Ocircnibus
Figura 30 ndash Sinal de Sonhar
120
Nem todos os usuaacuterios de uma liacutengua falam do mesmo
jeito por isto todas as liacutenguas naturais possuem
variaccedilotildees linguiacutesticas A LIBRAS tambeacutem apresenta
dialetos regionais reforccedilando seu caraacuteter de liacutengua
natural As variaccedilotildees na LIBRAS ocorrem de vaacuterias
formas como alteraccedilotildees na configuraccedilatildeo de matildeos (forma
que a matildeo assume na realizaccedilatildeo do sinal) ou na
localizaccedilatildeo espacial do sinal (local onde o sinal eacute
realizado) sem que seu sentido e significado sejam
perdido ou modificados Tambeacutem haacute sinais diferentes
para representar um mesmo referente usando em
diferentes regiotildees do paiacutes agraves vezes do mesmo estado
(BASSO e SCHMITT 2007 p 50 e 51)
O valor social58
das formas em variaccedilatildeo se estabelece nas
relaccedilotildees sociais e na avaliaccedilatildeo do que pode ser considerada uma
variedade de prestiacutegio ou uma variedade estigmatizada Estilos formais
ou distensos podem ser identificados a partir de um estudo da variaccedilatildeo
das formas no contexto social Estudos sobre o portuguecircs falado
mostram por exemplo que jovens mais favorecidos tendem a fazer
mais concordacircncia verbal em oposiccedilatildeo aos menos favorecidos que
tendem a usar menos concordacircncia Isso mostra o fator externo
(mercado de trabalho ou situaccedilatildeo) e a necessidade de o falante se
adequar ao valor linguiacutestico de concordacircncia considerado como de
prestiacutegio nesse espaccedilo Podemos concluir que a LIBRAS como
qualquer outra liacutengua apresenta variaccedilatildeo e mudanccedila mas ainda
precisamos aprofundar os estudos linguiacutesticos dessa liacutengua para melhor
conhececirc-la em seus diferentes aspectos (lexicais fonoloacutegicos
morfoloacutegicos e sintaacuteticos) O capiacutetulo 6 traraacute uma descriccedilatildeo sobre
alguns desses aspectos em variaccedilatildeo e mudanccedila Acreditamos que com a
proposta biliacutengue para a educaccedilatildeo de surdos a liacutengua portuguesa e a
LIBRAS teratildeo uma relaccedilatildeo cada vez mais intensa e o contato dessas
duas liacutenguas pelos surdos vai acarretar com toda a certeza trocas
linguiacutesticas entre elas o que pode provocar novas transformaccedilotildees
58 Valor social eacute relativo aos problemas de avaliaccedilatildeo e eacute atribuiacutedo pelos proacuteprios falantes e
usuaacuterios de liacutengua de sinais ou seja eacute sempre de ordem social (nunca linguiacutestica) Valor
atribuiacutedo desenha o futuro das formas concorrentes jaacute que a forma eleita eacute sempre a que recebe maior valor e que muitas vezes corresponde agraves formas adotadas pela elite econocircmica poliacutetica
social ou cultural de uma dada comunidade (surda)
121
CAPIacuteTULO V ndash Metodologia
51 ndash Introduccedilatildeo
Investigarei a histoacuteria da liacutengua de sinais em Santa Catarina e as
variaccedilotildees e mudanccedilas fonoloacutegicas e lexicais ocorridas no periacuteodo que
compreende 1946 aos dias atuais fazendo comparaccedilotildees entre sinais que
aparecem nos relatos de experiecircncias em trecircs geraccedilotildees de surdos
pesquisadas
A metodologia utilizada para esta pesquisa foi a de coleta de
dados atraveacutes de perguntas e depoimentos dos surdos envolvidos nas
trecircs geraccedilotildees das uacuteltimas deacutecadas A coleta de dados de informantes59
foi realizada com o objetivo de solicitar depoimentos sobre fatos
histoacutericos e sobre o contato que os surdos tiveram com a liacutengua de
sinais
Os depoimentos dos ex-alunos surdos bem como dos surdos
envolvidos na comunidade surda catarinense nas uacuteltimas deacutecadas foram
realizados por meio de entrevistas filmadas Eu mesmo fiz os viacutedeos
Mas antes conversei com cada um dos surdos explicando porque
precisava de seu depoimento Apoacutes a aceitaccedilatildeo de cada um formei os
trecircs grupos por idade Cada um assinou uma ficha do informante para
realizar a pesquisa (em anexo) com dados pessoais e autorizaccedilatildeo
Foram utilizadas trecircs cacircmeras para a filmagem colocadas de forma a
gravar o depoimento dos trecircs surdos simultaneamente Primeiro filmei o
Grupo I Os informantes ficaram sentados na frente de cada cacircmera um
ao lado do outro Depois fiz a pergunta e eles teriam trinta minutos para
dar a resposta e mais vinte minutos para conversarem entre eles Liguei
as trecircs cacircmeras e saiacute da sala Voltei aproximadamente apoacutes uma hora e
desliguei as cacircmeras Fiz o mesmo com o Grupo II e com o Grupo III O
Grupo III foi filmado na UFSC os outros dois numa sala da Associaccedilatildeo
de Surdos A resposta sobre a histoacuteria da educaccedilatildeo de surdos em SC
mais a conversa espontacircnea em LIBRAS trouxe material de qualidade
para a pesquisa A escolha dos surdos levou em conta o fato de os
escolhidos terem frequentado a escola na deacutecada de 1950 quando surgiu
tambeacutem uma associaccedilatildeo de surdos catarinenses
Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os seguintes toacutepicos a coleta
59 COELHO et al (2010 p 164) ldquosujeito da pesquisa sociolinguiacutestica aquele que fornece seus
dados linguiacutesticos para que o pesquisador analiserdquo
122
de dados das trecircs geraccedilotildees com as diferentes faixas etaacuterias o meacutetodo de
entrevista sociolinguiacutestica a coleta de narrativa de experiecircncia pessoal
a transcriccedilatildeo de dados dos trecircs grupos compostos de informantes surdos
na liacutengua de sinais os informantes do grupo surdo na liacutengua de sinais e
por fim a descriccedilatildeo dos informantes quanto aos dados
Como procedimento metodoloacutegico no primeiro momento
realizamos uma coleta inicial de dados na liacutengua de sinais observando
uma diferenccedila de 30 anos entre um grupo e outro Cada grupo eacute
composto de trecircs indiviacuteduos
O Grupo I eacute formado por pessoas mais velhas na faixa
etaacuteria entre 60 a 80 anos
O Grupo II eacute formado por pessoas entre 30 a 60 anos e
O Grupo III eacute formado por indiviacuteduos na faixa etaacuteria de
15 a 30 anos
Com a anaacutelise da LIBRAS usada pelos indiviacuteduos dessas trecircs
faixas etaacuterias esperamos poder detectar se nas trecircs geraccedilotildees de
sinalizadores da liacutengua de sinais em Santa Catarina vamos encontrar
mudanccedila em tempo aparente
Entatildeo foram entrevistados os trecircs informantes do Grupo III na
situaccedilatildeo de mais jovem em idade na faixa etaacuteria de 15 a 30 anos 1)
Informante A 2) Informante B e 3) Informante C
No segundo momento foi feita a coleta dos dados do Grupo I
Para saber o que existe no primeiro grupo de diferente precisamos
identificar os sinais antigos para depois fazermos uma comparaccedilatildeo com
as liacutenguas de sinais da atualidade Assim foram entrevistados trecircs
sujeitos surdos mais velhos na faixa etaacuteria de 60 a 80 anos 1)
Informante G 2) Informante H e 3) Informante I
No terceiro momento foram entrevistados os informantes do
Grupo II outros trecircs alunos de Francisco na faixa etaacuteria de 30 a 60
anos 1) Informante D 2) Informante E e 3) Informante F Acreditamos
que as formas usadas pelo professor Francisco serviram e servem de
modelo influenciando os alunos E que agraves vezes os alunos do professor
Francisco podem usar alguns sinais proacuteprios do professor surdo em
conversas na escola na associaccedilatildeo e na comunidade surda das regiotildees
de Santa Catarina Eacute possiacutevel tambeacutem que o ex-professor Francisco
usasse outros sinais quando conversava com os amigos os ex-alunos
surdos na escola e associaccedilatildeo em Santa Catarina
123
Foi levado em consideraccedilatildeo na coleta o que sugere Tarallo
(2000)
O pesquisador ao selecionar seus informantes estaraacute em
contato com falantes que variam segundo classe social
faixa etaacuteria etnia e sexo Seja qual for a natureza da
situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo seja qual for o toacutepico central
da conversa seja quem for o informante o pesquisador
deveraacute tentar neutralizar a forccedila exercida pela presenccedila
do gravador e por sua proacutepria presenccedila como elemento
estranho a comunidade Tal neutralizaccedilatildeo pode ser
alcanccedilada no momento em que o pesquisador se decide a
representar o papel de aprendiz-interessado na
comunidade de falantes e em seus problemas e
peculiaridades (TARALLO 2000 p 21)
Ė importante selecionar os informantes dos grupos que tecircm
contato entre si e utilizam a liacutengua de sinais de classes sociais
diferentes dentro da comunidade surda faixa etaacuteria diferente etc A
geraccedilatildeo do grupo dos mais velhos tem influecircncia sobre o grupo dos mais
novos que tem menos contato experiecircncia com a liacutengua Isso pode ser
observado na liacutengua usada pelos informantes pois seus objetivos satildeo
diferentes na fase de aprendizagem em situaccedilatildeo de comunidade surda
O pesquisador aproveita para pensar e planejar como seraacute realizada a
coleta de dados Por se tratar de uma liacutengua visualespacial tentei
diversificar os lugares para a conversa espontacircnea dos informantes
52 ndash A coleta de dados
Na coleta dos dados desta pesquisa espera-se que as trecircs geraccedilotildees
com faixas etaacuterias distintas de informantes relatem sua experiecircncia de
vida na liacutengua de sinais possibilitando uma anaacutelise dos sinais gravados
para que possamos identificar possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas
linguiacutesticas
Na primeira parte assisti aos viacutedeos no programa Transcriccedilatildeo de
Liacutengua de Sinais ndash ELAN60
No segundo momento verifiquei e analisei
60 McCLEARY e VIOTTI 2007 - Eacute a caraacuteter eminentemente descritivo buscando a captaccedilatildeo
do maior nuacutemero de detalhes de sinalizaccedilatildeo As narrativas que estatildeo sendo transcritas foram
baseadas no filme ldquoHistoacuteria da pecircrardquo criado pelo de pesquisa de Wallace Chafe na deacutecada de 1970 com o objetivo de eliciar narrativas para anaacutelise e comparaccedilatildeo translinguiacutestica Visando
a produccedilatildeo de narrativas em liacutengua de sinais brasileira o grupo ECS fez a gravaccedilatildeo de
narrativas produzidas por surdos que assistiram ao filme e relataram a histoacuteria para outra pessoa fluente na liacutengua
124
a coleta de dados dos grupos de informantes das trecircs geraccedilotildees com
relaccedilatildeo agraves mudanccedilas histoacutericas e linguiacutesticas Depois realizei a
descriccedilatildeo dos grupos nas diferentes faixas etaacuterias que mostram se os
sinais se modificam nas possiacuteveis narrativas Espero com esses sinais
observados alcanccedilar o objetivo principal da pesquisa o de comparar os
sinais encontrados nos trecircs grupos e verificar se ocorreram variaccedilotildees e
mudanccedilas linguiacutesticas em tempo aparente
Realizei a coleta de dados da seguinte forma coloquei todos os
depoimentos filmados dos surdos no programa ELAN Escolhi os sinais
que apareciam nos trecircs grupos e fiz uma tabela com esses sinais depois
fiz anaacutelise e descriccedilatildeo dos resultados finais
53 ndash O meacutetodo de entrevista sociolinguiacutestica a coleta de narrativas
de experiecircncia pessoal
A coleta de dados realizada numa entrevista deve ocorrer de
forma espontacircnea Antes de realizar a pesquisa para recolher os dados eacute
importante conhecer as diferentes abordagens que identificam os grupos
e sua relaccedilatildeo com a liacutengua Segundo Tarallo (2000)
De gravador em punho o pesquisador-sociolinguista
como afirmamos deve coletar 1 situaccedilatildeo natural de
comunicaccedilatildeo linguumliacutestica e 2 grande quantidade de
material de boa qualidade sonora (TARALLO 2000 p
21)
Para realizar a pesquisa empiacuterica foi necessaacuterio um planejamento
anterior utilizando viacutedeo de filmagem com boa qualidade visual pois
observamos indiviacuteduos que utilizam a comunicaccedilatildeo visual espacial com
o objetivo de melhor descrevermos os grupos e verificar questotildees
linguiacutesticas desses indiviacuteduos
Para a coleta seguimos os procedimentos metodoloacutegicos
indicados por Tarallo
Este software foi desenvolvido no Instituto Max Planck de Psycholinguistics na Holanda e
mostra no site wwwmpinl na transcriccedilatildeo o ELAN (Eudico Language Annotator) eacute um
programa que permite adicionar anotaccedilotildees para um arquivo de viacutedeo o que pode tornaacute-lo muito mais faacutecil de estudar assistir o viacutedeo na liacutengua de sinais Ele tambeacutem pode ser utilizado
com as liacutenguas faladas (com ou aacuteudio ou viacutedeo) mas este foi apresentado na minha pesquisa e
utilizado na liacutenguas de sinais das trecircs geraccedilotildees
125
Para atingir tais propoacutesitos metodoloacutegicos podem-se
formular moacutedulos (ou roteiros) de perguntas um
questionaacuterio-guia de entrevista Esses moacutedulos tecircm por
objetivo homogeneizar os dados de vaacuterios informantes
para posterior comparaccedilatildeo controlar os toacutepicos de
conversaccedilatildeo e em especial provocar narrativas de
experiecircncia pessoal (TARALLO 2000 p 22)
Ė permitido ressaltar na pesquisa sociolinguiacutestica que para
realizaacute-la seraacute feita uma seleccedilatildeo de um grupo ou indiviacuteduo dependendo
da situaccedilatildeo como por exemplo quanto agrave classe social pode ser
verificado o gecircnero a etnia faixa etaacuteria e costumes A situaccedilatildeo de
pesquisa pode acontecer em qualquer lugarambiente O pesquisador
observa de forma neutra o grupo de falantes que estaacute pesquisando em
um determinado local e faz anaacutelises com base nos fatos linguiacutesticos
observando-os em conversas espontacircneas procurando especificaacute-las
A metodologia de coleta laboviana mostra que encontramos a
variedade mais espontacircnea em narrativa de experiecircncia pessoal pois o
indiviacuteduo quando estaacute envolvido emocionalmente faz relatos sem se
preocupar com o modo como estaacute contando De acordo com Tarallo
Os estudos de narrativas de experiecircncia pessoal tecircm
demonstrado que ao relataacute-las o informante estaacute tatildeo
envolvido emocionalmente com o que relata que presta o
miacutenimo de atenccedilatildeo ao como E eacute precisamente esta a
situaccedilatildeo natural de comunicaccedilatildeo almejada pelo
pesquisador-sociolinguista
Os moacutedulos cobrem uma seacuterie de toacutepicos para fins de
conversaccedilatildeo dados pessoais do informante (sua
histoacuteria) jogo e brincadeira de infacircncia brigas namoro e
encontros amorosos casamento perigo de morte medo
famiacutelia religiatildeo amigos turmas serviccedilos puacuteblicos o
crime nas ruas escola e trabalho interaccedilatildeo com outros
membros da comunidade esportes etc (TARALLO
2000 p 22)
As pessoas ouvintes falam sobre fatos ocorridos de sua experiecircncia pessoal com famiacutelia amigos etc de forma natural Isto
tambeacutem acontece na comunidade surda e ao coletar narrativas em
liacutengua de sinais acredita-se que vamos encontrar diferentes situaccedilotildees do
cotidiano e parte da histoacuteria da comunidade que mostraratildeo variaccedilotildees e
tambeacutem mudanccedilas linguiacutesticas
126
Podem ser escolhidas diferentes maneiras de realizar uma
pesquisa de campo mas a experiecircncia pessoal deve ser levada em
consideraccedilatildeo A pesquisa pode ser realizada com diferentes informantes
ou grupos de informantes de qualquer categoria para verificar as
possiacuteveis variaccedilotildees da liacutengua falada sem qualquer preocupaccedilatildeo com a
forma como indica Tarallo
A narrativa de experiecircncia pessoal eacute a mina de ouro que
o pesquisador-sociolinguistica procura Ao narrar suas
experiecircncias pessoais mais envolventes ao colocaacute-las no
gecircnero narrativa o informante desvencilha-se
praticamente de qualquer preocupaccedilatildeo com a forma A
desatenccedilatildeo agrave forma no entanto vem sempre embutida
numa linha de relato a que chamaremos ldquoestrutura
narrativardquo (TARALLO 2000 p 23)
Nesta citaccedilatildeo o autor explica a importacircncia da coleta de narrativa
pessoal de cada um dos informantes porque apenas fazem a narraccedilatildeo
sem preocupaccedilatildeo com a forma como estatildeo contando
54 ndash A transcriccedilatildeo de dados dos trecircs grupos compostos de
informantes surdos na liacutengua de sinais
Estes dados foram organizados no sistema de transcriccedilatildeo na
liacutengua de sinais ndash ELAN As identificaccedilotildees dos sujeitos surdos que
apresentavam cada um o seu relato em viacutedeo mostram a sua forma de se
comunicar na liacutengua de sinais Verificar se a variaccedilatildeo fonoloacutegica e
mudanccedila lexical pode acontecer nesta liacutengua de sinais em trecircs geraccedilotildees
eacute um dos propoacutesitos deste trabalho
55 ndash Informantes do grupo surdo na liacutengua de sinais
Os informantes do grupo que participaram da minha pesquisa
foram escolhidos de forma aleatoacuteria pela facilidade de contato e
separados em trecircs geraccedilotildees que usavam a liacutengua de sinais
Labov em suas pesquisas elaborava entrevistas de modo a
elicitar nos entrevistados uma fala menos monitorada ndash o vernaacuteculo61
Ele afirma que
61 ldquoEstilo em que pouco monitoramento eacute dispensado agrave fala fala ldquonaturalrdquordquo COELHO et al
(2010 p 166)
127
As narrativas produzidas em resposta a essa pergunta
[ldquoVocecirc jaacute viveu uma situaccedilatildeo em que correu seacuterio risco
de morrerrdquo] quase sempre exibem uma mudanccedila de
estilo que se distancia da fala monitorada e se aproxima
do vernaacuteculo62 (LABOV 2008 [1972] p 245)
Da mesma forma na pesquisa sobre o grupo de surdo que o
senhor Francisco ensinou utilizei um questionaacuterio com uma pergunta
que era explique a histoacuteria da educaccedilatildeo de surdo em Santa
Catarina para que pessoas surdas respondessem As perguntas foram
feitas em LIBRAS e as respostas foram filmadas num total de nove
pessoas
O foco do agrupamento dos sujeitos foi a idade portanto houve
variabilidade quanto ao gecircnero e agraves atividades exercidas pelos
participantes
Na primeira etapa o objetivo foi a escolha dos trecircs indiviacuteduos dos
grupos informantes surdos mais jovens A B e C Neste grupo o fator
escolhido quanto ao sexo foi trecircs masculinos pois natildeo encontrei jovem
do sexo feminino
Na segunda etapa os trecircs indiviacuteduos do grupo de informantes
surdos intermediaacuterio D E e F foram quanto ao sexo dois masculinos e
um feminino
Na uacuteltima etapa os trecircs indiviacuteduos do grupo de informantes
surdos mais velhos G H e I foram escolhidos quanto ao sexo um
masculino e dois femininos Entatildeo escolhi a faixa etaacuteria deste grupo que
apresentava o documentaacuterio em viacutedeo que a partir do qual foi extraiacuteda
amostra de uma experiecircncia de cada uma das narrativas de sujeitos
surdos que usavam a liacutengua de sinais espontacircnea Seguem os quadros de
amostras dos grupos em trecircs geraccedilotildees contemplados nesta pesquisa
62 Um dos aspectos mais interessantes dessa pergunta eacute que ela implica uma resposta sim-ou-
natildeo do tipo que em geral evitamos O mecanismo parece ser o seguinte o informante estaacute
disposto a reconhecer o fato de ter estado numa situaccedilatildeo assim embora possa natildeo estar disposto a fazer um relato Mas uma vez que reconheceu o fato acha muito difiacutecil deixar de
fazer um relato completo quando o entrevistador pergunta depois de alguns instantes ldquoO que
aconteceurdquo Do contraacuterio ficaria parecendo que ele fez uma afirmaccedilatildeo falsa
128
Quadros de amostras dos Grupos I II e III
Grupo I
Identificaccedilatildeo
de Classe
Sexo Idade Faixa
Etaacuteria
Profissotildees
Informante G Masculino 82
anos
60 a 80
anos
ProfessorAposentado
Informante H Feminino 64
anos
60 a 80
anos
CostureiraAposentado
Informante I Feminino 62
anos
60 a 80
anos
BancaacuterioAposentado
Grupo II
Identificaccedilatilde
o de Classe
Sexo Idade Faixa
Etaacuteria
Profissotildees
Informante D Feminino 56
anos
30 a 60
anos
BancaacuterioAposentado
Informante E Masculino 53
anos
30 a 60
anos
Autocircnomo
Informante F Masculino 52
anos
30 a 60
anos
MotoristaAposentado
Grupo III
Identificaccedilatildeo
de Classe
Sexo Idade Faixa
Etaacuteria
Profissotildees
Informante A Masculino 29
anos
15 a 30
anos
Professor
Informante B Masculino 25
anos
15 a 30
anos
Professor
Informante C Masculino 24
anos
15 a 30
anos
Estudante
129
Os Grupos I e II foram alunos de profdeg Francisco jaacute os
informantes do Grupo III foram escolhidos na universidade porque eacute
difiacutecil de ser ter contato com surdo na faixa etaacuteria de 15 anos
Cada um dos 9 (nove) informantes da amostra nos trecircs (3) grupos
com relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria poderaacute trazer indicativos sobre a trajetoacuteria da
liacutengua de sinais e a influecircncia da geraccedilatildeo dos surdos mais velhos (Grupo
I) com relaccedilatildeo agrave sinalizaccedilatildeo utilizada na atualidade pelos surdos mais
jovens (Grupo III) Segundo a citaccedilatildeo de Tarallo
a primeira tentativa de definiccedilatildeo a liacutengua falada a que
nos temos referido eacute o veiculo linguumliacutestico de
comunicaccedilatildeo usado em situaccedilotildees naturais de interaccedilatildeo
social do tipo comunicaccedilatildeo face a face Ė a liacutengua que
usamos em nossos lares ao interagir com os demais
membros de nossas famiacutelias Ė a liacutengua usada nos
botequins clubes parques rodas de amigos nos
corredores e paacutetios das escolas longe da tutela dos
professores Ė a liacutengua falada entre amigos inimigos
amantes e apaixonados (TARALLO 2000 p 19)
Na interaccedilatildeo social desta liacutengua que o surdo utiliza para se
comunicar em diversos lugares com os amigos na associaccedilatildeo na escola
etc haacute uma valorizaccedilatildeo cultural aleacutem da troca de conhecimentos
necessidades de criaccedilatildeo de novos sinais modificaccedilatildeo eou
aperfeiccediloamento de outros trazendo modificaccedilotildees linguiacutesticas
Concluiacutemos a explicaccedilatildeo do procedimento da metodologia desta
pesquisa trazendo consideraccedilotildees sobre os registros dos dados dos
informantes para posterior verificaccedilatildeo da variaccedilatildeo e mudanccedila
linguiacutestica observada nos trecircs grupos de surdos nas diferentes geraccedilotildees
referentes agrave liacutengua de sinais Atraveacutes das informaccedilotildees encontradas nas
narrativas seraacute feita uma trajetoacuteria histoacuterica da liacutengua de sinais e seratildeo
observadas as mudanccedilas ocorridas com relaccedilatildeo agrave liacutengua na comunidade
surda de Santa Catarina
56 ndash Descriccedilatildeo dos informantes quanto aos dados
Nesta seccedilatildeo apresentamos descriccedilotildees dos dados coletados na
liacutengua de sinais espontacircnea de informantes conforme amostras dos
Grupos I II e III Os dados foram observados pelo programa de
transcriccedilatildeo de ELAN Realizei os trabalhos comparando a liacutengua usada
pelas geraccedilotildees e as informaccedilotildees dadas pelos informantes
Os fatos sociolinguiacutesticos apresentados pelos informantes atraveacutes
130
de seus depoimentos mostrando suas trajetoacuterias e vivecircncias na
comunidade surda nas diferentes regiotildees do estado de SC seratildeo
analisados para saber se o professor surdo influenciou a comunidade
surda do estado no ensino da LIBRAS
A questatildeo que tentarei responder com os dados eacute a seguinte Os
informantes de cada grupo de comunidades surdas de diferentes regiotildees
do estado de Santa Catarina relatando sua trajetoacuteria com experiecircncias
relacionadas agrave liacutengua de sinais ora sofreram ora natildeo a influecircncia do
professor surdo com relaccedilatildeo ao aprendizado desta liacutengua
Pretendo verificar se haacute algum sinal de que a liacutengua sofreu
variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica em cada uma das trecircs geraccedilotildees dos
informantes Essas trecircs geraccedilotildees vatildeo ser acompanhadas pelas glosas de
sinais A descriccedilatildeo de experiecircncias dos informantes surdos nos trecircs
grupos observados eacute a estrateacutegia para se pesquisar o processo de
mudanccedila
A pesquisa vai analisar os trecircs comparativos dos informantes
surdos com a descriccedilatildeo de dados de cada geraccedilatildeo apoacutes verificar os
resultados de cada uma das trecircs geraccedilotildees de informantes Grupo III A
B C Grupo II D E F Grupo I G H e I As narrativas na liacutengua de
sinais que os informantes apresentaram foram coletadas e vatildeo ser
descritas nas proacuteximas seccedilotildees
561 ndash Grupo I ndash Informantes
Nas narrativas dos sujeitos63
do grupo de informantes na faixa
etaacuteria dos surdos de 60 a 80 anos os mais velhos mesmo grupo do
professor surdo foram expressas algumas opiniotildees dos surdos
nomeados de informantes G H e I Seguem as informaccedilotildees
5611 ndash Informante G
Francisco eacute o informante G e sua identidade estaacute expliacutecita porque
ele autorizou O informante G mostra sua experiecircncia na liacutengua de
63 Os sujeitos surdos SCHMITT (2008) mostram a participaccedilatildeo no amplo espaccedilo da sociedade
em que vivem No momento eles se identificam como um ldquooutrordquo como surdo Esta mudanccedila
eacute mostrada pelas lutas seja na sociedade em encontros eventos seminaacuterios congressos e outros Isso eacute o povo surdo participando no movimento na luta pela educaccedilatildeo pelos direitos
culturais
131
sinais e sua opiniatildeo sobre como aconteceu essa experiecircncia Segue um
comentaacuterio ldquoSabemos que as liacutenguas mudam com o tempo e se
transformam conforme as culturas dos paiacuteses regiotildees ou mesmo em
situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo em que estaacute participando (numa conversa
informal na sala de aula na famiacutelia etc) estas mudanccedilas ocorrem com
as configuraccedilotildees de matildeos articulaccedilotildees movimentos expressotildees faciais e
ou corporais essas mudanccedilas satildeo recicladas para se adaptar a realidade e
conceitos na sociedade tendo os traccedilos de identificaccedilatildeo proacutepriardquo
O informante G nasceu no dia 01061928 em Florianoacutepolis SC
foi aluno interino do Instituto Nacional de Surdos-Mudos do Rio de
Janeiro e do Instituto Paulista de Surdos em Satildeo Paulo de 1937 a 1946
Ele realizou o curso fundamental e meacutedio tinha habilitaccedilatildeo em ensino
especial desenho encadernaccedilatildeo ginaacutestica datilografia frequentou da
1a a 8
a seacuterie do ensino fundamental no Instituto Nacional de Surdos-
Mudos e sua habilitaccedilatildeo eacute em Contabilidade pelo Instituto Monitor e
Nuacutecleo de ensino profissional
Em 1952 ele conheceu quinze surdos-mudos em Florianoacutepolis
que natildeo sabiam ler e escrever Ele ensinava algumas palavras e sinais
para esses surdos-mudos De outra feita entre 1953 a 1954 iniciava a
amizade com o primeiro presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos de
Satildeo Paulo senhor Maacuterio Devisate Ele natildeo tinha o conhecimento da
existecircncia de uma Associaccedilatildeo de Surdos em Florianoacutepolis o senhor
Devisate entregava um documento para Associaccedilatildeo de Surdos-Mudos
de acircmbito nacional e o professor Francisco Lima Juacutenior veio como
delegado e responsaacutevel pela regiatildeo do Sul passando a residir nesta
capital (Florianoacutepolis)
O primeiro presidente da Sociedade dos Surdos-Mudos do
Distrito Federal que na eacutepoca era Rio de Janeiro foi o senhor Miguel
da Fonseca Seabra de Melo era grande colega do Francisco Mais tarde
com a construccedilatildeo de Brasiacutelia a associaccedilatildeo continuou no RJ soacute que
naquele momento natildeo mais como capital com o nome Sociedade dos
Surdos-Mudos do Brasil para finalmente Associaccedilatildeo dos Surdos do Rio
de Janeiro (ASURJ)
O grupo conversava na liacutengua de sinais numa reuniatildeo quando
chegou o presidente da ASURJ que tambeacutem era surdo O professor
Francisco foi apresentado e cumprimentou o senhor Miguel da Fonseca
Seabra de Melo que estava acompanhado de uma colega que ao ver o
professor Francisco sorriu O professor Francisco agradeceu pela ajuda
que o senhor Miguel deu ao Instituto Nacional de Surdos-Mudos e as
informaccedilotildees referentes agrave associaccedilatildeo
Na verdade o professor Francisco tinha contato e conversava
132
sempre com o amigo que estudou com ele no INES o senhor Salomatildeo
Watnick que foi primeiro presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos
do Rio Grande do Sul seu grande amigo que morava em Porto Alegre
Como o INES estava passando por reforma o professor
Francisco como tinha muitos amigos dos diferentes cursos e viagens
que fez conseguiu estudar na Escola Especial para Surdos-Mudos em
Satildeo Paulo que para ele era uma escola maravilhosa e excepcional onde
aprendeu muito
O grupo dos surdos de SC se perguntava como ganharia a vida
pois natildeo estavam felizes nas escolas especiais que na eacutepoca utilizavam
os meacutetodos oralistas onde os surdos natildeo podiam utilizar sinais Mas
encontraram o motivo da existecircncia na associaccedilatildeo do estado podendo
assim discutir e abrir caminhos para os surdos
5612 ndash Informante H
A informante H mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua
opiniatildeo sobre como aconteceu essa experiecircncia ldquoMudam porque as
pessoas mudam os tempos mudam assim como mudam as culturas e
diversas outras formas de liacutengua existentes entre elas Sendo a LIBRAS
tambeacutem uma forma de liacutengua ela acompanha estas mudanccedilas para que
os indiviacuteduos que dela fazem uso possam acompanhar a sociedade e
mundo do qual fazem parterdquo
A informante H nasceu em 26051946 em Satildeo Pedro de
Alcacircntara em Santa Catarina Durante sua infacircncia e adolescecircncia
morou com seus pais que eram agricultores
Ela teve que trabalhar na lavoura dos 6 ateacute os 18 anos de idade
cortava o capim que alimentava o gado roccedilava para limpar um paacutetio do
terreno e uma plantaccedilatildeo cercada onde se criavam vaacuterias galinhas patos
etc Plantavam vaacuterios tipos de flores e tinham uma horta Ela penteava
os cabelos dos cavalos para depois montaacute-lo corria e caiacutea no chatildeo num
desses passeios quebrou o braccedilo e diz que doeu muito Quando o
cunhado viu o braccedilo dela quebrado levou-a de carroccedila para o hospital
na cidade de Vidal Ramos em Santa Catarina Depois ela tinha que
ficar um mecircs com o gesso no braccedilo mas 15 dias depois na casa da
irmatilde olhava o rio e pulava no rio que brilhava acabou ficando coberta
de aacutegua e quase se afogou Para natildeo se afogar colocou as matildeos em cima
de uma pedra do rio ficou muito assustada e chorou muito o tio dela foi
quem a ajudou
O pai de H eacute brasileiro e lavrador Dedicava-se agrave criaccedilatildeo de gado
aves e na fabricaccedilatildeo de cachaccedilas que preparava das plantas que
133
produziam cana-de-accediluacutecar cafeacute e frutas Na casa natildeo tinha luz e era
utilizada a vela a fogueira e a lacircmpada de querosene
A matildee de H tambeacutem era brasileira costureira e lavradora
Trabalhava na propriedade na plantaccedilatildeo de milho feijatildeo arroz aipim e
verduras Os Pais de H tiveram 13 filhos 1 filha jaacute falecida com 1 ano e
um mecircs de gravidez gemular 3 filhas eram ouvintes 3 filhas eram
surdas 6 filhos eram ouvintes 1 filho era surdo A terra lavrada e
cultivada estaacute localizada em Satildeo Pedro de Alcacircntara Depois que o pai
morreu o terreno foi loteado e a informante H ficou com um dos lotes e
os irmatildeos deram a casa
O irmatildeo da informante H que era surdo jaacute falecido em 1976 foi
mordido por uma cobra venenosa Seu pai faleceu em 1989 e a matildee
faleceu em 1998
Em 1966 ajudava lavando roupas para fora nesta eacutepoca morava
com o primo numa casa localizada no bairro do Estreito ndash
FlorianoacutepolisSC Tinha trecircs vizinhos surdos e com eles conversava com
os sinais eou gestualidade Ela natildeo sabia conversar em LIBRAS com
outro surdo aprendeu com os vizinhos surdos que a avisavam das
reuniotildees de surdos que aconteciam no salatildeo do grupo Escolar Celso
Ramos
O professor Francisco ensinou aos surdos as regras do jogo de
bingo depois foram oferecidos cinco brindes para o jogo de bingo que
aconteceu no bairro de Capoeiras Ele perguntava para ela de onde vocecirc
eacute E ela respondia que morava em Satildeo Pedro de Alcacircntara Entatildeo o
Francisco foi junto com a informante H conhecer sua casa localizada no
siacutetio de Satildeo Pedro de Alcacircntara
Ela apresentou sua matildee para o senhor Francisco queria estudar e
aprender a liacutengua de sinais com Francisco presidente da associaccedilatildeo e
professor na escola para surdos Ela veio para a capital em 1966 aos 19
anos de idade onde aprendeu a Liacutengua Portuguesa Escrita matemaacutetica e
liacutengua de sinais na Escola Celso Ramos em Florianoacutepolis numa classe
de alunos surdos Alguns anos mais tarde ela trabalhou como costureira
na faacutebrica de renda e bordados Hoepcke
Ela fez alguns cursos de pintura em tecido bordado a maacutequina
Ela conta que sempre foi uma pessoa esforccedilada que buscava desafios na
sua aprendizagem o tempo todo e cada vez mais como autodidata que
aprendia muitas coisas como por exemplo cozinhar e alta costura
Passava sempre na escola era muito esforccedilada aprimorava muito a sua
aprendizagem de vida
O professor Francisco e ela viajavam pelo estado verificavam e
encontravam os surdos no interior do estado Ela entregou um anel para
134
a ex-rainha do Ciacuterculo de Surdo-Mudos de Santa Catarina ndash CSMSC
que era Catarina Ceciacutelia Schveitzer em 1993
5613 ndash Informante I
A informante I mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua
opiniatildeo sobre como aconteceu essa experiecircncia ldquoMudam a ldquoformardquo de
vida das pessoas na sociedade para que se adaptem a nova realidade e
as liacutenguas tambeacutem se modificam As liacutenguas de sinais tambeacutem mudam
criam-se palavras novas satildeo influenciadas por outras liacutenguas etc A
evoluccedilatildeo das coisas em geral estaacute acontecendo de forma muito raacutepida e
a LIBRAS sendo uma forma de comunicaccedilatildeo entre cultura surda e
ouvinte precisa acompanhar essa evoluccedilatildeo Quando uma determinada
coisa natildeo acompanha o desenvolvimento onde estaacute inserida a
tendecircncia eacute de ficar do lado de forardquo
A informante I nasceu em 01041948 em Blumenau veio de
uma famiacutelia de 6 irmatildeos onde 3 satildeo surdos e 3 satildeo ouvintes A matildee do
informante I descobriu que era surda quando tinha mais ou menos dois
anos de idade Apoacutes essa descoberta teve uma infacircncia normal era uma
crianccedila super ativa
Aos 7 anos de idade entrava na escola onde havia outras crianccedilas
surdas como ela Foi alfabetizada em Blumenau Depois lembrou que
tentava usar o seu aparelho auditivo mas como natildeo escutava nada
acabou rejeitando o aparelho
Tinha muita preocupaccedilatildeo com a educaccedilatildeo dos surdos Os pais
mandaram-na estudar num internato de crianccedilas surdas no Rio de
Janeiro aos 9 ou 10 anos de idade Ela natildeo se adaptou e retornou para
Blumenau A escola para surdos que frequentava em Blumenau ficou
sem a professora especializada e ela teve que ir para uma escola regular
O pai que era bancaacuterio pediu transferecircncia do banco para a cidade
de Florianoacutepolis para que a informante I e seus irmatildeos pudessem
continuar os estudos
Em Florianoacutepolis frequentaram a escola Celso Ramos onde a sala
dos surdos era de responsabilidade do professor Francisco Lima Juacutenior
O professor Francisco era uma pessoa muito importante nesta
eacutepoca a vida dele era ajudar o grupo de surdos atraveacutes da liacutengua de
sinais e ele lecionava no ensino fundamental e no curso primaacuterio
A informante I sempre foi muito curiosa queria mais e resolveu
fazer o curso ginasial por correspondecircncia pois na eacutepoca fazia o
segundo grau na escola de ouvintes tinha dificuldade tinha que aprender
tudo sozinha porque na escola o ensino era em portuguecircs falado difiacutecil
135
para o surdo entender (problema de comunicaccedilatildeo) Ela tinha vontade de
estudar na escola com o professor Francisco que ensinava na liacutengua de
sinais
Relembrou que naquela eacutepoca viu que foi muito difiacutecil quando
ela tinha duacutevidas os pais pagavam um professor para dar aulas
particulares Enfim venceu mas natildeo foi faacutecil Depois fez vaacuterios cursos
profissionalizantes como datilografia correspondecircncia comercial curso
de cabeleireira manicure pintura em tela corte e costura e tantos outros
que agora natildeo lembrava mais
Depois de tudo isso resolveu fazer o concurso para uma vaga de
escrituraacuterio no Banco do Estado de Santa Catarina ndash BESC e foi
aprovada trabalhou laacute por vaacuterios anos e agora jaacute estava aposentada
A informante I eacute casada e o companheiro tambeacutem eacute surdo
funcionaacuterio aposentado da Imprensa Oficial Queria muito ter filhos e
acabou tendo um filho que eacute ouvinte e hoje estaacute com 27 anos e tem
formaccedilatildeo acadecircmica com poacutes-graduaccedilatildeo Diz sentir-se realizada
Sua matildee tem hoje 87 anos e eacute a grande incentivadora de sua vida
eacute tambeacutem um grande exemplo de vida guerreira batalhadora e muito
religiosa Foi ela que ensinou o que eacute amor respeito e outros valores
morais tudo isso dentro da doutrina espiacuterita
A informante I diz ser uma pessoa realizada porque venceu
muitas barreiras conseguiu tirar a carteira de motorista e tambeacutem
aprendeu a utilizar a comunicaccedilatildeo no celular Internet MSN e e-mail
Nada foi faacutecil considera-se uma pessoa feliz adora assistir aos
filmes legendados os noticiaacuterios novelas enfim gosta de estar bem
informada
Contando a histoacuteria de sua vida quer mostrar agraves pessoas que pode
alcanccedilar qualquer coisa na vida e que natildeo eacute diferente dos outros A
diferenccedila estaacute na audiccedilatildeo mas pode usar os outros sentidos para se
comunicar e utilizar a liacutengua de sinais visual
562 ndash Grupo II ndash Informantes
Nas narrativas dos sujeitos surdos para a pesquisa no Grupo II
com idade intermediaacuteria de 30 anos a 60 anos de idade em
intermediaacuterio verificou-se que todos foram alunos do professor surdo
Francisco A seguir estatildeo expressas algumas opiniotildees destes surdos
nomeados de informantes D E e F
136
5621 ndash Informante D
A informante D mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua
opiniatildeo a respeito de como aconteceu essa experiecircncia ldquoCom o passar
do tempo ocorrem muitas mudanccedilas nas liacutenguas de sinais para suprir as
necessidades de comunicaccedilatildeo e as modificaccedilotildees de costumes de cada
geraccedilatildeo Os sinais satildeo criados de acordo com a necessidade de cada
grupordquo
A informante D nasceu em Florianoacutepolis num domingo no dia
quatro de outubro de mil novecentos e cinquenta e trecircs (04101953) em
casa sob os cuidados de uma parteira chamada de Dona Oliacutevia Nasceu
com audiccedilatildeo perfeita segundo diagnoacutestico de um meacutedico do hospital
das cliacutenicas em Satildeo PauloSP em 1961 O responsaacutevel pela sua perda de
audiccedilatildeo foi um medicamento chamado de trepdomicina usado para
acalmar a ldquotosse compridardquo ou Coqueluche Nessa eacutepoca natildeo havia
vacina para a doenccedila nos postos de sauacutede Sua matildee levou os filhos para
vacinar e constatou isso
A famiacutelia dela descobriu a surdez aos nove meses de idade Ela
tinha seis meses de idade quando foi acometida pelo viacuterus da
coqueluche e a irmatilde tambeacutem que na eacutepoca tinha 9 anos de idade
A matildee dela quando estava graacutevida tomou uma injeccedilatildeo
denominada 914 para curar infecccedilatildeo no aparelho genital feminino Esse
medicamento agiu negativamente na formaccedilatildeo dos ossos deixando-a
com o andar defeituoso parecendo que uma perna era mais curta que a
outra Ela foi para Satildeo Paulo levada pelo irmatildeo e pelo padrinho para
tratamento Foi submetida a quatro cirurgias entre 1961 a 1963 mas
que surtiram pouco resultado comprovado em 1980 Daiacute para frente
voltava a ter uma perna mais curta e sente muitas dores ao andar e
sentar
Em 1964 iniciava seus estudos na escola para surdos de
Florianoacutepolis no grupo Celso Ramos Seu primeiro professor surdo foi
o Francisco que lhe dava aula na liacutengua de sinais Francisco tambeacutem
ensinava LIBRAS no Ciacuterculo dos Surdos Mudos de Santa Catarina na
escola primaacuteria e na associaccedilatildeo de surdos
Em 1975 fazia teste para ingressar como funcionaacuteria no BESC
sendo admitida como escrituraria em 18091975 e se aposentou em
19112002 Ela aprendeu a dirigir automoacutevel fez curso de datilografia
e por uacuteltimo fez curso baacutesico de computador para saber operaacute-lo Fez
curso de pintura a oacuteleo em tela e em tecido Procurava cuidar de sua
sauacutede indo ao meacutedico regularmente
Ela eacute associada e participa da diretoria da Associaccedilatildeo de Surdos
137
da Grande Florianoacutepolis ndash ASGF eacute tambeacutem voluntaacuteria nas atividades
que a associaccedilatildeo desenvolve em benefiacutecio de seus amigos surdos que
frequentam a mesma associaccedilatildeo Hoje ensina LIBRAS para os
associados de qualquer idade
5622 ndash Informante E
O informante E mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua
opiniatildeo de como aconteceu essa experiecircncia ldquoAssim como a liacutengua
portuguesa evolui ou muda com o passar do tempo LIBRAS tambeacutem
passa por mudanccedilas constantes estas podem ser de regiatildeo para regiatildeo
por exemplo a liacutengua de LIBRAS acompanha a evoluccedilatildeo do mundo
sendo hoje uma liacutengua para a comunicaccedilatildeo dos surdosrdquo
O informante E nasceu na maternidade Carmela Dutra no Centro
de Florianoacutepolis no dia 03 de Novembro de 1957 Ele ficou surdo aos
quatro anos de idade (causado por remeacutedios ministrados errados por sua
matildee nos ouvidos quando estava com febre dor de ouvidos e caxumba)
Com 53 anos eacute presidente de entidade esportiva de Santa
Catarina desde 1999 reeleito pela segunda vez com gestatildeo ateacute 2011
sendo um dos liacutederes dos surdos de Santa Catarina Foi um dos
fundadores da Sociedade de Surdos de Satildeo Joseacute atuou nela de 1990 a
1996 uma entidade que crescia muito e eacute considerada a mais organizada
no estado de Santa Catarina
Ele escolheu o sobrenome diferente na campanha poliacutetica que
concorreu para vereador de Satildeo Joseacute de 2003 a 2007 em homenagem agrave
sua avoacute-materna jaacute falecida descendente de alematildees que lhe criou por
mais de 10 anos junto com o marido descendente de portugueses que
natildeo conhecera pois a avoacute dele ficara viuacuteva quando o pai dele era
solteiro Portanto queria preservar o sobrenome da avoacute-matildee dele como
lembranccedila
Os pais dele estavam preocupados com sua infacircncia com sua
situaccedilatildeo futura e por isso procuravam incansavelmente a existecircncia de
uma escola especial para surdos
Finalmente acharam a escola localizada na Rua Conselheiro
Mafra no Centro de Florianoacutepolis Era uma sala comercial tipo garagem
grande (perto do antigo terminal urbano hoje Terminal Cidade de
Florianoacutepolis) foi ali onde encontraram a primeira escola para surdos
onde ele aprendeu a liacutengua de sinais aos 6 anos de idade
Ele estudou com o primeiro professor surdo do estado de Santa
Catarina O professor Francisco e sua esposa que era ouvinte e tambeacutem
professora chamava-se Mercedes e foi a primeira inteacuterprete dele Neste
138
momento existiam outros alunos surdos que eram Niro Paulo Percy
Socircnia Maria da Graccedila Maria Bernadete Aldenei Rita Reinoldo
Edson Ivo (falecido) Arnoldo e outros que ele natildeo lembrava
No comeccedilo do aprendizado dele da liacutengua de sinais achava
estranho e natildeo lhe agradava muito fazendo com que ele natildeo quisesse
estudar ali mas foi a matildee dele que o incentivou a continuar estudando
e com o tempo foi gostando da escola e do grupo de amigos surdos
isto foi em 1971
Essa escola foi transferida de local e foi para a EEB
Governador Celso Ramos no bairro Prainha em Florianoacutepolis no ano
de 1972 Esta nova escola ele adorava muito e guarda boas recordaccedilotildees
vividas nela
Infelizmente ele natildeo lembrava do ano em que foi transferido para
o Instituto de Audiccedilatildeo e Terapia da Linguagem ndash IATEL situado na
Rua Liberato Bittencourt no Centro de Florianoacutepolis numa casa
simples e alugada Ficou muito contrariado com esta transferecircncia
Nessa eacutepoca tinha mais ou menos 13 anos Proacuteximo aos 15 anos ele
abandonou o IATEL porque tinha que trabalhar para sustentar a avoacute
dele que era viuacuteva e pobre Sua avoacute tambeacutem natildeo gostava desta escola e
tambeacutem das novas professoras que eram ouvintes e que natildeo sabiam usar
a liacutengua de sinais obrigando os surdos a oralizarem
Aos 14 anos ele jaacute trabalhava em uma empresa de comunicaccedilatildeo
visual (luminosos) Apoacutes um ano ele mudava de ramo para a funccedilatildeo de
auxiliar de escritoacuterio em duas empresas de contabilidade Depois disso
ele fundou uma empresa proacutepria de comunicaccedilatildeo visual em sociedade
com seu pai no ramo de letreiros em placas paredes e etc O nome da
empresa comprada foi modificado e mais tarde fez sociedade com o
irmatildeo caccedilula Para seu irmatildeo caccedilula foi um aprendizado e hoje ele eacute
proprietaacuterio de uma empresa no mesmo ramo residindo em Blumenau
Em 2000 deixava este ramo e comeccedilava a estudar para ter a
formaccedilatildeo de professor na Liacutengua de Sinais aos 43 anos Ele Trabalhou
como professor em Admissatildeo em Caraacuteter Temporaacuterio ndash ACT e na
Fundaccedilatildeo Catarinense de Educaccedilatildeo Especial - FCEE como assessor
teacutecnico na Educaccedilatildeo de Surdos de 2003 a 2005 Trabalhou tambeacutem
como ACT no Centro Educacional Municipal Interativo Floresta em Satildeo
Joseacute no Nuacutecleo de Educaccedilatildeo Especial e Inclusiva - NEESPI como
professor de LIBRAS de 2006 a 2007 Foi docente dos cursos de
LIBRAS de 2000 a 2007
A partir de 2008 deixava o cargo de professor de LIBRAS para
focar os compromissos somente nos esportes Atualmente atua numa
entidade esportiva de surdos desde 1999 nesta com 12 associaccedilotildees
139
filiadas organizando em meacutedia sete (7) eventos esportivos por ano
Portanto os pensamentos deles e seus compromissos satildeo voltados para a
comunidade surda
5623 ndash Informante F
O informante F mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua
opiniatildeo de como aconteceu essa experiecircncia ldquoPorque assim como toda
liacutengua ela sofre das mudanccedilas histoacutericas e culturais as liacutenguas satildeo
dinacircmicas e natildeo estaacuteticas por isso elas vivem sofrendo alteraccedilotildees e com
as liacutenguas de sinais ocorre o mesmo Essas mudanccedilas podem ser
percebidas nas diferentes regiotildees onde satildeo utilizadas a mesma liacutengua
mesmo sendo a mesma liacutengua ela possui algumas diferenccedilas em
algumas palavras ou expressotildeesrdquo
O informante F nasceu 04071958 em Florianoacutepolis eacute casado e
tem 52 anos Nasceu surdo a famiacutelia dele sempre lhe deu apoio
levaram-no a vaacuterios lugares para consultar com meacutedicos procuravam
um tratamento mas de acordo com os meacutedicos ele natildeo tinha muita
chance de desenvolver audiccedilatildeo e a fala Nesta eacutepoca natildeo existiam no
Estado de Santa Catarina escolas especializadas para surdos e como o
pai dele era militar natildeo podia morar em outro Estado Entatildeo seu pai
matriculou-o numa escola regular mas as professoras natildeo sabiam a
liacutengua de sinais e era muito difiacutecil para ele aprender
A alfabetizaccedilatildeo dele natildeo foi muito boa e para melhorar um pouco
o aprendizado tinha aulas com o professor surdo Francisco Lima Juacutenior
que lhe ensinava as palavras utilizando o alfabeto manual e a liacutengua de
sinais para o aprendizado da Liacutengua Portuguesa Escrita e tambeacutem para
alguns alunos surdos
Em sua famiacutelia se comunicava atraveacutes de sinais caseiros que de
acordo com ele foi muito bom e os utiliza ateacute hoje
Apesar das dificuldades nos estudos tinha sorte pois conseguiu
emprego Neste emprego que era na Central de Luz Eleacutetrica de Santa
Catarina ndash CELESC sempre foi muito bem tratado Tinha muitos
amigos na associaccedilatildeo de surdos na escola e no trabalho e para se
comunicar ensinava alguns sinais bem baacutesicos para os amigos para que
assim natildeo tivessem problemas quanto agrave comunicaccedilatildeo
Ele trabalhou sempre na CELESC na cidade de Florianoacutepolis
pois foi aprovado em um teste naquela eacutepoca natildeo havia concursos
Depois foi transferido algumas vezes para outras cidades como
Blumenau Joinville e Jaraguaacute do Sul Iniciou como auxiliar de serviccedilos
gerais depois passou a auxiliar administrativo e por uacuteltimo como
140
motorista
Foi presidente de vaacuterias Associaccedilotildees de Surdos uma dessas em
1989 que foi fechada neste mesmo ano e outra em dois mandatos
20052008 Ele jogou em vaacuterios times nas associaccedilotildees de surdo de Santa
Catarina Ele preferia jogar futebol de salatildeo - FUTSAL
Ele sempre participou e ateacute hoje participa de encontros com
surdos na liacutengua de sinais seja em associaccedilotildees ou outros eventos
Atualmente mora na cidade de Londrina ndash Paranaacute
563 ndash Grupo III ndash Informantes
Nas narrativas dos sujeitos surdos do Grupo III com idades entre
15 a 30 anos sendo o grupo dos mais jovens e que participam de
associaccedilotildees de surdos em Santa Catarina foram expressas algumas
opiniotildees desses surdos aqui nomeados de informantes A B e C
Seguem abaixo relatos e experiecircncias dos informantes
5631 ndash Informante A
O informante A mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua
opiniatildeo a respeito de como aconteceu essa experiecircncia ldquoNatildeo diria que
ldquomudardquo mas sim sofre modificaccedilotildeesalteraccedilotildees com o tempo e como
qualquer outra liacutengua dependendo do estadopaiacutes em que eacute ldquofaladardquo teraacute
adaptaccedilotildees conforme a necessidade de cada lugar Sendo que ateacute mesmo
em casa quando a crianccedila natildeo tem contato com LIBRAS em um
primeiro momento ela e sua famiacutelia se apropriam de sinais proacuteprios para
a comunicaccedilatildeordquo
O informante A nasceu em 18121980 no Balneaacuterio Camboriuacute
nasceu surdo comunica-se por meio de gestos com a famiacutelia Sua
famiacutelia sempre mostrou preocupaccedilatildeo com ele levaram-no a atendimento
fonoaudioloacutegico para que aprendesse a falar mas tinha dificuldades
poreacutem era esforccedilado Somente mais tarde encontrava a comunidade
surda na escola Quando ele teve atendimento especial e natildeo era
utilizada a liacutengua de sinais somente alguns gestos acabava desistindo e
parava de estudar Retornando agrave escola com ouvintes quando ele tinha
17 anos de idade encontrava os surdos que o convidaram a participar
de uma festa na associaccedilatildeo de surdos foi quando comeccedilou a aprender a
LIBRAS e ficou feliz pois comunicava-se com todos na LIBRAS jaacute
que era um modo mais faacutecil de aprender e memorizar os conteuacutedos jaacute
com o oralismo era muito sofrido
Ele fundou uma Associaccedilatildeo de Surdos na cidade onde mora Na
141
associaccedilatildeo motivou o uso da LIBRAS valorizou o contato entre os
membros da comunidade surda e a LIBRAS assim como a educaccedilatildeo
formal Ele sentia-se satisfeito pois se comunicava com os amigos
usando a leitura labial e os gestos mesmo assim perdia algumas
informaccedilotildees por natildeo ouvir Mais tarde encontrava-se com grupos de
surdos e comeccedilou entatildeo o contato da LIBRAS e percebia que por meio
da LIBRAS ele poderia receber mais informaccedilotildees do que pela leitura
labial e a partir de entatildeo conseguiu viver melhor na sociedade Lutou
para inserir a LIBRAS no ensino dos surdos porque sabia na praacutetica que
facilita o aprendizado do surdo
Hoje estaacute casado e sua esposa eacute surda Formou-se na faculdade de
gastronomia pela UNIVALI e tem o curso de especializaccedilatildeo em
educaccedilatildeo especial Atualmente faz curso de LetrasLIBRAS e sua
turma eacute composta na maioria por surdos que estatildeo gostando do curso
tendo a oportunidade de trocar ideacuteias experiecircncias bem como buscar
novos conhecimentos
Ele eacute Instrutor de LIBRAS efetivado pela prefeitura de Itajaiacute
aleacutem de trabalhar como professor de LIBRAS em outros lugares
Tambeacutem realiza trabalhos voluntaacuterios em algumas entidades
(Associaccedilatildeo FENEIS Federaccedilatildeo etc) Jaacute atuou em vaacuterios cargos de
diretoria na Associaccedilatildeo de Surdos de Balneaacuterio Camboriuacute isso foi bom
porque ele aprendeu sobre poliacutetica sobre organizaccedilatildeo e tambeacutem a
utilizar estrateacutegias diferentes para as accedilotildees etc
5632 ndash Informante B
O informante B mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua
opiniatildeo sobre como aconteceu essa experiecircncia ldquoA LIBRAS eacute uma
liacutengua porque possui uma forma de comunicaccedilatildeo proacutepria Ė
independente como qualquer outra liacutengua escrita ou falada Tem
formato proacuteprio sua comunicaccedilatildeo eacute visual pois se utiliza de gestos e
expressotildees Como todas as liacutenguas tem variaccedilotildees conforme a regiatildeordquo
O informante B nasceu em 08011985 na cidade de Tijucas em
Santa Catarina Atualmente mora em Itapema e tem 25 anos Ele nasceu
surdo mas seus pais soacute descobriram sua surdez aos nove meses de
idade entatildeo ficaram apavorados e natildeo sabiam como ele iria se
comunicar na sociedade Depois o pai dele levou-o para uma escola em
Florianoacutepolis chamada de IATEL onde ateacute a 3ordf seacuterie utilizavam a
linguagem oral e muito pouco gestual Na eacutepoca os gestos (sinais) natildeo
eram reconhecidos como uma liacutengua
Os pais dele escolheram uma escola da Rede Regular de Ensino
142
na eacutepoca nem era pensado em inteacuterprete de LIBRAS ateacute porque essa
natildeo era uma liacutengua oficializada Eles natildeo conheciam a comunidade
surda e sua cultura entatildeo decidiram que seu filho frequentaria
atendimento fonoaudioloacutegico dois dias por semana
Para o informante B seus pais tentavam criaacute-lo como ouvinte o
que para ele caracteriza uma tentava de modificar sua identidade surda
Ele relata que tinha muita dificuldade de comunicar-se com as pessoas
na sociedade que utilizava a liacutengua falada
Mais tarde aos 16 anos de idade foi para uma escola de educaccedilatildeo
especial onde teve aulas de informaacutetica com outros surdos entatildeo podia
utilizar a LIBRAS Antes ele ficava isolado natildeo gostava e natildeo podia
usar a liacutengua de sinais comeccedilava a aprender a falar mas demorava
muito Agora aceita sua identidade surda sente-se mais feliz e melhor
Participa de uma associaccedilatildeo de surdos e viaja para vaacuterios lugares nas
diferentes regiotildees de Santa Catarina
Ele trabalhou como analista de sistemas na aacuterea de informaacutetica da
empresa Ceracircmica Portobello em Tijucas ficava muito incomodado
com a barreira de comunicaccedilatildeo com os funcionaacuterios em virtude de terem
muito trabalho pois o surdo precisa das matildeos para falar e se estaacute com
elas ocupadas trabalhando fica impossiacutevel comunicar-se diferente dos
ouvintes Tentou ensinar alguns sinais para os funcionaacuterios para que lhe
entendessem e pudessem se comunicar com ele mas os funcionaacuterios
desviavam para outro assunto natildeo demonstravam interesse em aprender
sinais Sofria por passar o dia inteiro de trabalho sem poder se
comunicar com outra pessoa disfarccedilava esse sentimento acessando a
Internet para realizar pesquisas de temas relacionados agrave educaccedilatildeo de
surdos (palestras congressos encontros etc) Entatildeo numa destas
pesquisas achou um congresso de surdos anotou a data e mostrou ao
chefe que o liberou para ir ao congresso (encontro surdo)
Ele acredita que as pessoas natildeo tinham culpa pois oralismo era a
forma de ensinar naquela eacutepoca e para os surdos era muito difiacutecil de
compreender e aprender a liacutengua falada Aprendeu LIBRAS na
comunidade surda Apoacutes a liberaccedilatildeo para o congresso pelo seu chefe
comeccedilou a frequentar a associaccedilatildeo de surdos e outros eventos da
comunidade surda
Ele participou de um concurso no municiacutepio de Itajaiacute para o
cargo de instrutor de LIBRAS Foi classificado em terceiro lugar
conseguiu um trabalho e seus pais deixaram que ele morasse sozinho
em Itajaiacute Morou sozinho por um ano trabalhava durante o dia e
estudava na faculdade agrave noite Com o passar do tempo conheceu
pessoas e fez amizade com outros surdos que no segundo ano dividiram
143
o aluguel da casa com ele
Alguns surdos convidaram ele para um encontro de surdo
(nacional congresso e entre outros) Foi possiacutevel fazer novas amizades e
entrar em contato com outros sujeitos surdos pois neste espaccedilo tinha
surdo sentado ao lado surdo no bar e em outros momentos do
congresso
Ao teacutermino do encontro pegou os endereccedilos eletrocircnicos das
pessoas que conheceu e assim pode manter correspondecircncia com outros
surdos atraveacutes de e-mails nas diferentes regiotildees do estado de SC
Depois de algum tempo de troca de e-mails combinou encontros e
viajou para o sul sudeste nordeste norte do Brasil e etc encontrou-se
com muitos surdos que se comunicavam na liacutengua de sinais e aprendeu
muitos sinais novos onde percebeu que havia muitas diferenccedilas nos
sinais que cada regiatildeo tinha sinais especiacuteficos daquele lugar
Quando o curso de LetrasLIBRAS da UFSC foi aprovado pelo
MEC e abriram-se as inscriccedilotildees trecircs instrutores de LIBRAS jaacute haviam
prestado o vestibular tiveram uma prova com 15 questotildees referentes a
LIBRAS utilizaram na apresentaccedilatildeo para seleccedilatildeo dos candidatos slides
e videoconferecircncia com todos os candidatos Ficou admirado e achou
muito legal o grupo de surdo que estava laacute e disse ldquoPassei a ver o
mundo diferente ao teacutermino da provardquo
Ele trabalhou como instrutor de LIBRAS por 4 anos e recebeu 14
alunos surdos para atendimento no processo de aprendizagem da
LIBRAS E tambeacutem ensinou sobre a relaccedilatildeo de aprendizagem do aluno
surdo em LIBRAS para os colegas Ele formou-se no curso de ciecircncias
da computaccedilatildeo e fez poacutes-graduaccedilatildeo no processo de inclusatildeo e educaccedilatildeo
especial Atualmente estaacute cursando a faculdade de LetrasLIBRAS pela
UFSC
5633 ndash Informante C
O informante C mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua
opiniatildeo de como aconteceu essa experiecircncia ldquoA liacutengua de sinais assim
como todo o contexto no qual estamos inseridos sofre mudanccedilas e
adaptaccedilotildees durante o decorrer de nossas vidas por questotildees de
adaptaccedilatildeo comportamento e culturardquo
O informante C nasceu em 12021986 em Santa MariaRS surdo
de nascenccedila morando em Florianoacutepolis haacute pouco tempo Voltando ao
passado dele desde pequeno adorava brincar mexer experimentar as
coisas novas o que tinha por perto Certa vez sua avoacute chamou-o falava
o seu nome mas como ele natildeo escutava nenhuma letra e nenhum som
144
que veio da voz da avoacute natildeo a atendeu Ela estranhou a atitude dele pois
ele nunca deu atenccedilatildeo para ela quando ela gritava ou chamava pelo seu
nome Pra ela era impossiacutevel uma crianccedila que natildeo respondia aos sons
Entatildeo ficou desconfiada que ele poderia ser surdo Resolveu pedir aos
pais dele para levaacute-lo a um meacutedico para descobrir a causa do problema
Mas seus pais tinham dificuldade de aceitar essa ideacuteia e de levaacute-lo para
o meacutedico parecia que tinham medo que ele realmente fosse surdo Ficou
assim sem comunicaccedilatildeo
A matildee dele assustada chorava muito e o pai dele ficou furioso
Pois o medo deles era de jamais se comunicarem com o filho que eles
amavam muito Entatildeo o meacutedico deu um conselho para a matildee dele que
era conhecer as pessoas surdas que se comunicavam atraveacutes da
LIBRAS ou entatildeo fazer atendimento e acompanhamento com
fonoaudioacuteloga para aprender a falar eou melhorar a fala
A matildee dele decidiu em primeiro lugar ir numa escola onde tinham
pessoas surdas laacute conheceu algumas pessoas surdas e achou que eram
pessoas legais Conversou com essas pessoas surdas que conheceu
sobre seu filho que era surdo Queria saber como poderia se comunicar
com uma crianccedila surda pois o objetivo da matildee era poder se comunicar
com o filho Entatildeo pediu ajuda de um surdo jovem Ele explicou para
ela que devia fazer um curso de LIBRAS que eacute a Liacutengua de Sinais
Brasileira que as pessoas surdas utilizam para se comunicarem com
facilidade
Ele crescia e no seu desenvolvimento viveu muita coisa
conseguiu mexer comer tudo A matildee dele comunicava-se com ele
atraveacutes dos sinais ele via as matildeos da matildee que natildeo parava de mexer
estranhava mas repetia para entender aquele conceito o que ela queria
dizer ela sinalizava e mostrava as coisas ateacute que ele entendia o
conceito
A matildee dele era uma pessoa bastante simples e feliz com os filhos
Tem um irmatildeo que eacute um ano mais velho do que ele o irmatildeo aprendeu a
usar sinais com ele e a matildee e podiam se comunicar daiacute eles
melhoraram muito a comunicaccedilatildeo tornaram-se grandes amigos sempre
brincaram juntos brigavam choravam gritavam e reclamavam Mas
eles eram grandes amigos
Ele mais observava as coisas a seu redor e se admirava com o que
via Depois de alguns meses sua irmatilde cresceu um pouco conseguiu
perceber as coisas comeccedilou a falar com ela atraveacutes de sinais ela
aprendeu essa liacutengua com ele como se fosse a primeira liacutengua da vida
dela Uma vez teve uma festinha laacute em sua casa estava toda a famiacutelia
reunida passou um aviatildeo sua irmatilde ouviu o barulho do aviatildeo e sinalizou
145
um aviatildeo todo mundo viu e se assustaram principalmente a matildee dele
pois natildeo sabia que a filha sinalizava sendo tatildeo pequena Sua matildee ficou
tatildeo contente e bateu uma foto dela sinalizando
Como cresceu sempre podendo se comunicar na liacutengua dos sinais
acreditava viver muito ldquonormalizadordquo Tinha uma famiacutelia e amigos
surdos estudou em escolas com outras crianccedilas surdas e relata como ele
se divertia muito
Depois de certo tempo a escola natildeo funcionava somente para
crianccedilas surdas sua matildee ficou muito preocupada com sua educaccedilatildeo
combinou com seu pai e com toda sua famiacutelia a mudanccedila para a cidade
de Florianoacutepolis ndash Santa Catarina pois soube que havia uma escola
especial para ele onde poderia crescer com uma educaccedilatildeo de qualidade
Quando chegou agrave capital de SC Florianoacutepolis simplesmente
amou a cidade porque ele curtia bastante as praias o pai alugou uma
casa bem legal na Barra da Lagoa e todos os dias ia sozinho para a
praia brincava na areia e construiacutea castelos
O informante C relata que curtiu bastante aquele veratildeo
mudaram-se dessa casa para outra que construiacuteram no bairro Carianos
ele natildeo gostava muito do lugar achava meio estranho porque para ele
ficava muito longe das praias Mas com o tempo ele se acostumou ateacute
fez amizades com os vizinhos que eram ouvintes Ele natildeo sabia como
comunicar-se com eles pois usavam a fala ele sentiu vergonha e medo
Ficava atraacutes de sua matildee que explicava para os vizinhos que ele era
surdo que natildeo sabia falar quase nada apenas sabia LIBRAS eles
ficavam admirados e convidavam-no para brincar Tinha amigos que
eram tranquilos porque o pai deles era surdo tambeacutem
O tempo passava e ele brincava sempre com esses amigos curtia
muito mas ele percebeu que se comunicavam soacute oralmente soacute ele natildeo
estranhava Foi falar com sua matildee sobre essa situaccedilatildeo pois ele queria
poder falar tambeacutem sua matildee se surpreendeu com a ideacuteia dele que era
ldquoquerer poderrdquo falar tambeacutem Para sua matildee foi uma surpresa porque
ouvia muito que a maioria das pessoas surdas natildeo aguentava aprender a
falar e seu proacuteprio filho estava querendo aprender a falar
Ele resolveu ser soacutecio de uma associaccedilatildeo de outra cidade natildeo
gostava da anterior e se mudou para Associaccedilatildeo dos Surdos da Grande
Florianoacutepolis ele fez amizade com o pessoal viajou muito se divertia
saiacutea e curtiu bastante Participava das reuniotildees da associaccedilatildeo tambeacutem
Depois virou Conselheiro Fiscal da Associaccedilatildeo gostou da experiecircncia
mas continuou sendo soacutecio Mas por outro lado andava observava e
estudava bastante e percebeu o mundo cada vez mais veloz por causa
da tecnologia e a sociedade que natildeo parava de mudar Depois que
146
terminou o terceiratildeo teve uma formatura incriacutevel em que chorou um
monte pois teve medo de perder o contato com as colegas de sala mas
tambeacutem porque ele aprendeu a amar esses amigos como se fossem de
sua famiacutelia
Comeccedilou uma faculdade na UFSC gostou bastante e fez novas
amizades comeccedilou a trabalhar como AtorTradutor Cinegrafista Editor
de Viacutedeos na UFSC tudo isso como bolsista Ele tornou-se bem
conhecido nacionalmente na comunidade surda comeccedilou a viajar
bastante para congressos e palestras Depois de um ano de sucesso em
sua vida acabou o contrato de bolsista pela UFSC e comeccedilou a
trabalhar como professor na prefeitura foi um grande desafio para ele
pois tinha professoras ouvintes que trabalhavam na educaccedilatildeo especial
que pensavam diferente dele com relaccedilatildeo agrave comunicaccedilatildeo na liacutengua de
sinais
Hoje em dia continua sendo conhecido nacionalmente na
comunidade surda eacute estudante do uacuteltimo periacuteodo da LetrasLIBRAS na
UFSC e estaacute trabalhando em duas escolas da prefeitura como professor
de LIBRAS
564 ndash Algumas consideraccedilotildees finais
Os informantes mostraram sua histoacuteria e nela pude perceber que
sinalizavam diferentemente uma mesma palavra principalmente aqueles
que viveram em lugares diferentes
Sabemos que a histoacuteria humana sofre transformaccedilotildees ao longo do
tempo mas nem sempre os seres humanos se datildeo conta das mudanccedilas
que podem acontecer no passado no presente e no futuro Na sociedade
acontecem transformaccedilotildees tecnoloacutegicas poliacuteticas econocircmicas sociais e
culturais Todas essas transformaccedilotildees influenciam o modo como usamos
a liacutengua E a liacutengua se modifica com o tempo
Noacutes tambeacutem mudamos as ldquocoisas da vidardquo A comunidade surda
tem um jeito proacuteprio de demonstrar as variaccedilotildees regionais e mudanccedilas
quanto agrave liacutengua de sinais a ponto de ser possiacutevel identificar a
procedecircncia de um surdo do nordeste ou do sul com base apenas no seu
gestual
A comunidade surda antigamente apresentava uma forma de
conversar em LIBRAS mais cotidiana e restrita agrave associaccedilatildeo de surdos
mas na atualidade a comunicaccedilatildeo eacute mais ampla acontece em vaacuterios
locais como escolas universidades congressos viagens turiacutesticas etc
ampliando conhecimentos e conhecendo novos sinais em contexto
social
147
Um surdo conversa com outro surdo utilizando a liacutengua de sinais
e qualquer pessoa ouvinte pode aprender LIBRAS e se comunicar na
comunidade surda mesmo natildeo tendo fluecircncia Dessa forma os surdos e
ouvintes podem se comunicar na LIBRAS Aleacutem disso a comunicaccedilatildeo
entre duas ou mais pessoas pode se dar em diferentes contextos sociais
Vale ressaltar que poucos surdos conheciam a gramaacutetica ou tinham
conhecimento linguiacutestico da LIBRAS ateacute porque eacute uma liacutengua que estaacute
sendo ensinada para o surdo nas escolas a partir da LEI de
reconhecimento e ainda natildeo eacute ensinada a parte de reflexatildeo linguiacutestica
estaacute mais voltada para sua praacutetica (o uso)
Segundo Labov
Ao falar do papel de fatores sociais que influenciam a
evoluccedilatildeo linguiacutestica eacute importante natildeo superestimar o
grau de contato ou de superposiccedilatildeo entre valores sociais
e a estrutura da liacutengua A estrutura linguiacutestica e a
estrutura social natildeo satildeo de modo algum coextensivas A
grande maioria das regras linguiacutesticas estatildeo bastante
distantes de qualquer valor social elas fazem parte do
elaborado mecanismo de que o falante precisa para
traduzir seu complexo conjunto de significados ou
intenccedilotildees em forma linear (LABOV 2008 [1972] p
290)
Em vaacuterios lugares (regiotildees) da comunidade surda usar a LIBRAS
em breve vai ser como falar em inglecircs em francecircs em italiano e em
outras liacutenguas Todas as liacutenguas satildeo importantes poreacutem alguma pode
ser mais reconhecida no mundo e influenciar mais Natildeo podemos
descartar a possibilidade de outras liacutenguas serem mais reconhecidas
assim como natildeo podemos prever quais liacutenguas influenciaratildeo mais no
mundo em outras eacutepocas quais dialetos novos teremos e quais variaccedilotildees
e mudanccedilas linguiacutesticas Talvez no futuro tenhamos mais influecircncia das
liacutenguas de sinais na comunicaccedilatildeo do mundo
148
149
CAPIacuteTULO VI ndash Descriccedilatildeo e anaacutelise dos resultados
61 ndash Introduccedilatildeo
Realizei a pesquisa escrita baseado nos relatos dos informantes
das trecircs geraccedilotildees pesquisadas atraveacutes de filmagem Primeiro busquei
nessas filmagens sinais que fossem relevantes para a pesquisa
variaccedilotildees e mudanccedilas lexicais e variaccedilotildees e mudanccedilas fonoloacutegica na
LIBRAS Em seguida fiz uma listagem de sinais com a palavra
correspondente em Liacutengua Portuguesa observando o nuacutemero de vezes
em que o sinal era apresentado aparecia Depois escolhi os sinais que
mais apareciam nos trecircs grupos de informantes e verifiquei as CM (paacuteg
225 e 227) que apareceram Apoacutes isto fiz tabelas gerais para pesquisa
de variaccedilatildeo lexical mudanccedila lexical variaccedilatildeo fonoloacutegica e mudanccedila
fonoloacutegica Foram escolhidos dezessete sinais para anaacutelise porque
apareceram nos trecircs grupos e em maior nuacutemero Apoacutes a escolha dos
sinais construiacute quatro tabelas gerais com os sinais produzidos pelos trecircs
grupos pesquisados com a CM utilizada na sinalizaccedilatildeo Por fim fiz a
anaacutelise dos dados obtidos
Ressalto que a descriccedilatildeo dos informantes que realizaram as
entrevistas nas trecircs geraccedilotildees em diferentes faixas etaacuterias traz
informaccedilotildees de grande importacircncia para a anaacutelise dos dados obtidos
referentes agraves possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas na Liacutengua de
Sinais em Santa Catarina
Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os seguintes toacutepicos
comparaccedilatildeo dos dados dos grupos das trecircs geraccedilotildees de surdos na liacutengua
de sinais e descriccedilatildeo sobre variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na liacutengua de
sinais com a existecircncia de um ou mais sinais dos informantes das trecircs
geraccedilotildees descriccedilatildeo da variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua de
sinais e explicaccedilatildeo de como o mesmo sinal pode ser utilizado e por
fim anaacutelise dos resultados das trecircs geraccedilotildees dos informantes
considerando as variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas na Liacutengua Brasileira
de Sinais
62 ndash A comparaccedilatildeo dos dados o grupo de trecircs geraccedilotildees de surdos
na liacutengua de sinais
Os dados recolhidos no programa de transcriccedilatildeo na liacutengua de
sinais ndash ELAN foram analisados e comparados com o propoacutesito de
mostrarapontar possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas que
aconteceram na liacutengua de sinais em Santa Catarina Os informantes
150
apresentaram individualmente suas respostas ao questionaacuterio referente a
seu aprendizado escolar e a sua vida Essas apresentaccedilotildees gravadas em
viacutedeo tecircm o objetivo de mostrar a experiecircncia na liacutengua de sinais dos
informantes nas trecircs geraccedilotildees pesquisadas
Para anaacutelise dos dados recolhidos foi feita uma tabela
denominada Preliminar dos dados ndash variaccedilotildees ou mudanccedilas
linguiacutesticas Nessa tabela vemos a transcriccedilatildeo dos depoimentos e a
identificaccedilatildeo dos Grupos (I II e III) de surdos que narraram a sua
experiecircncia na liacutengua de sinais Seguem as principais abordagens
pesquisadas
No primeiro momento investigo a variaccedilatildeo e
mudanccedila lexical na Liacutengua Brasileira de Sinais onde
dois ou mais sinais existem na liacutengua ao mesmo tempo
descrevo a mudanccedila em dois sinais que se daacute quando o
antigo sinal some e um novo entra
No segundo e uacuteltimo momento investigo a variaccedilatildeo e
mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua Brasileira de Sinais em
que um mesmo sinal possui mais de uma forma de
realizaccedilatildeo descrevo a mudanccedila que se observa quando um
sinal altera de caracteriacutesticas com relaccedilatildeo aos paracircmetros
configuraccedilatildeo das matildeos ponto de articulaccedilatildeo e movimento
Foi interessante realizar a pesquisa dos dados dos trecircs grupos
porque eacute um desafio aleacutem de me permitir identificar os sinais das
geraccedilotildees pesquisadas A princiacutepio foram identificados os sinais que
eram utilizados pelos surdos mais velhos e que os jovens natildeo
conheciam Em seguida os sinais com configuraccedilatildeo de matildeos (CM) e
ponto de articulaccedilatildeo (PA) diferentes e tambeacutem os sinais com
configuraccedilatildeo de matildeos (CM) iguais e ponto de articulaccedilatildeo (PA)
diferentes Por uacuteltimo os sinais com configuraccedilatildeo de matildeos (CM)
diferentes e ponto de articulaccedilatildeo (PA) iguais
Os sinais apresentados pelos informantes das trecircs geraccedilotildees
totalizaram 255 sinais Nesse total foram utilizados 17 vocaacutebulos para a
anaacutelise dos resultados e levantamento dos sinais de cada informante dos
trecircs Grupos (I II e III) Alguns sinais foram dispensados porque
tornariam a pesquisa muito ampla Dos 255 sinais encontrados para
anaacutelise 115 foram apresentados pelos surdos do Grupo mais jovem 163
foram apresentados pelo Grupo com idade intermediaacuteria e 183 pelo
Grupo dos mais velhos
Esta distribuiccedilatildeo por faixa etaacuteria compreende 9 informantes trecircs
151
em cada uma das geraccedilotildees formando os trecircs Grupos pesquisados (I II e
III) O resultado mais significativo foi mostrado pelos informantes do
grupo de indiviacuteduos mais velhos (G e I) possibilitando numa primeira
anaacutelise perceber algumas variaccedilotildees e mudanccedila na liacutengua de sinais Ficou
perceptiacutevel que o grupo de surdos dos mais velhos influenciou a liacutengua
de sinais em Santa Catarina na comunidade surda Segue tabela com os
nuacutemeros de sinais levantados em cada um dos trecircs grupos
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Sinais
Analisados
183
163
115
Tabela 09 ndash Preliminar dos dados ndash Variaccedilotildees ou mudanccedilas linguiacutesticas
Como jaacute foi comentado anteriormente a comunidade surda em
Santa Catarina ateacute aproximadamente o ano de 2000 teve um uacutenico
professor surdo no nosso estado e que influenciou a liacutengua de sinais O
fator externo que influenciou a liacutengua de sinais em SC atraveacutes do
professor Francisco foi o agrupamento dos surdos de todo o estado
formando uma comunidade surda que tambeacutem participa da
identificaccedilatildeo de classe do grupo informante Outro fator externo eacute
percebido nos Grupos II e I que mostram sinais aprendidos no contato
com o professor surdo na escola e tambeacutem no Ciacuterculo de Surdo-Mudo
em Santa Catarina sendo que o Grupo II influenciou o Grupo III
Na tabela em anexo percebe-se que dos 255 sinais coletados o
Grupo I apresentou mais sinais do que os Grupos II e III Talvez os
sinais natildeo conhecidos pelo Grupo III sejam os sinais criados
recentemente pela comunidade surda acadecircmica
Nas quatro tabelas gerais dos dados (paacuteg153 167 174 e 176)
tambeacutem apresenta na coluna agrave esquerda dos informantes o sinal (leacutexico)
e na direita os trecircs grupos de diferentes geraccedilotildees com diferentes faixas
etaacuterias que variam de 25 a mais de 80 anos e totalizam nove (9) indiviacuteduos Na coluna sinal (leacutexico) apresentam-se os dados que foram
escolhidos para realizar a pesquisa nos Grupos I II e III as variaacuteveis
independentes (homem mulher idade escolaridade e profissatildeo) que
152
podem mostrar tambeacutem variaccedilatildeo e mudanccedila na liacutengua de sinais usada
pelos informantes
63 ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na Liacutengua Brasileira de Sinais
Nesta seccedilatildeo vatildeo ser observados os itens lexicais que estatildeo em
variaccedilatildeo nas trecircs geraccedilotildees Comparando os sinais eles podem ser
produzidos atraveacutes de um sinal ou mais por exemplo o sinal de ldquomatildeerdquo
no passado tinha apenas um sinal (simples) atualmente utilizam-se dois
sinais (composto) para esta representaccedilatildeo Isto mostra que acontece
variaccedilatildeo lexical em LIBRAS Outros exemplos de sinais em variaccedilatildeo
satildeo ldquoaposentarrdquo ldquoaviatildeordquo ldquomatildeerdquo ldquopairdquo ldquopoliacuteticardquo ldquopretordquo
ldquoreuniatildeordquo e ldquosemanardquo (Tabela geral dos dados a seguir)
Nos Grupos I e II nos sinais de banco feio meacutedico porque
padre e ter tambeacutem acontece variaccedilatildeo lexical pois tem mais de um
sinal que existe na liacutengua ao mesmo tempo Nos Grupos I e III o sinal de
nome aponta variaccedilatildeo lexical
Foi apresentada na discussatildeo sobre mudanccedila lexical de alguns
sinais na Liacutengua Brasileira de Sinais (MAtildeE e PAI) Agora seraacute mostrada
a variaccedilatildeo lexical encontrada nos sinais utilizados pelos informantes das
trecircs geraccedilotildees (Grupos I II e III)
Veja a tabela a seguir elaborada para descrever os resultados
obtidos dos informantes dos Grupos I II e III Os nuacutemeros que
aparecem na tabela correspondem agrave configuraccedilatildeo de matildeos (CM) num
total de 64 posiccedilotildees diferentes que as matildeos podem assumir (ver anexo
paacutegina 225)
153
Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na Liacutengua
Brasileira de Sinais
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
APOSENTAR CM ndash 01 02
07 11 57
CM ndash 01 02
11 57
CM ndash 01 11
AVIAtildeO CM ndash 53a CM ndash 36 37a
40
CM ndash 40
MAtildeE CM ndash 02 14
63
CM ndash 01 02
06 14 60 63
CM ndash 02 07
14
PAI CM ndash 01 11
14 16 38
CM ndash 01 02
11 16 38 45
CM ndash 02 11
16 38 45
POLIacuteTICA CM ndash 11 51a CM ndash 11 14 CM ndash 11
PRETO CM ndash 05 34
62
CM ndash 05 CM ndash 05
REUNIAtildeO CM ndash 14 CM ndash 14 15
25
CM ndash 25
SEMANA CM ndash 08a 10
64
CM ndash 10 CM ndash 10
Os quadros a seguir mostram a sequecircncia dos sinais lexicais
utilizados pelos informantes desta pesquisa na liacutengua de sinais nas trecircs
geraccedilotildees
Observe-se inicialmente o item lexical APOSENTAR
154
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Aposentar
(1)
Figura 31
CM ndash 01 11
(2)
Figura 32
CM ndash 02 57
(1)
Figura 34
CM ndash 01 11
(2)
Figura 35
CM ndash 02 57
Figura 36
CM ndash 01 11
155
(3)
Figura 33
CM ndash 07
Quadro 01 ndash Sinal de Aposentar
O sinal de aposentar apresentado no quadro 01 no Grupo I (mais
velhos) apareceu com trecircs sinais diferentes o que indica variaccedilatildeo
lexical O Grupo III (mais jovem) utiliza o sinal com a configuraccedilatildeo de
matildeos (CM) - 01 e 11 com o movimento no espaccedilo neutro
consecutivamente para frente Os Grupos I e II utilizaram a CM - 02 57
(palma da matildeo aberta se fechando agrave medida que o antebraccedilo puxa para
traacutes junto ao lado do corpo no espaccedilo neutro) O Grupo I apresentou o
sinal de aposentar com a CM ndash 07 ambas as matildeos saiacutedas do espaccedilo
neutro na frente do corpo indo ateacute o peito Esse sinal atualmente eacute
produzido para indicar folga descanso e acomodar O Grupo III natildeo
conhece o sinal de aposentar do Grupo I talvez por isso eles utilizam
com outro significado O Grupo I tem trecircs sinais diferentes para
ldquoaposentarrdquo como mostram as figuras 31 32 e 33 mas o significado eacute o
mesmo isso pode ser variaccedilatildeo lexical mas tudo indica que ocorre
tambeacutem mudanccedila lexical O Grupo I tem um uacutenico sinal diferente do
Grupo III Parece que atualmente o sinal tem outro significado
Inicialmente observe-se o item lexical AVIAtildeO
156
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Aviatildeo
Figura 37
CM ndash 53a
(1)
Figura 38
CM ndash 36
(2)
Figura 39
CM ndash 37a
(3)
Figura 40
CM ndash 40
Figura 41
CM ndash 40
Quadro 02 ndash Sinal de Aviatildeo
157
Sabe-se que o professor Francisco iniciou o ensino para alguns
surdos utilizando a soletraccedilatildeo no alfabeto digital em Portuguecircs
Observando os trecircs grupos foi possiacutevel identificar as
modificaccedilotildees graduais deste sinal que iniciou com a soletraccedilatildeo Depois
foi apresentada como em CM ndash 53a a matildeo parte do lado do corpo em
linha reta e ascendente imitando a decolagem do aviatildeo usada pelo
Grupo I (mais velhos) O Grupo II apresentou as configuraccedilotildees CM ndash
36 CM ndash 37a CM - 40 tambeacutem imitando a decolagem do aviatildeo No
Grupo III apareceu apenas o sinal com a CM ndash 40 ou seja continuou
igual ao utilizado pelo Grupo II
Veja a seguir o item lexical MAtildeE
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Matildee
(1)
Figura 42
CM ndash 02
(1)
Figura 45
CM ndash 02
(1)
Figura 48
CM ndash 02 07
158
(2)
Figura 43
CM ndash 14
(3)
Figura 44
CM ndash 63
(2)
Figura 46
CM ndash 14
(3)
Figura 47
CM ndash 63
(4)
(2)
Figura 49
CM ndash 14
Quadro 03 ndash Sinal de Matildee
No quadro 03 aparece na figura 43 46 e 49 nos Grupos I II e III
o sinal de matildee que tem variaccedilatildeo lexical ao mesmo tempo Entatildeo os
Grupos I e II tambeacutem mostram o mesmo sinal No Grupo III a figura 48
mostra o sinal de matildee (mulher^benccedilatildeo = matildee) o que acontece eacute um sinal
composto em variaccedilatildeo lexical Nas figuras 42 45 e 48 a configuraccedilatildeo de
matildeos acontece (igualmente) nos trecircs grupos As figuras 44 e 47 nos Grupos I e II mostram a palma da matildeo aberta para frente e o dorso da
matildeo colocado na boca para o sinal de matildee o que tambeacutem indica
variaccedilatildeo lexical
No quadro 03 tambeacutem mostra mudanccedila lexical O sinal de ldquoM-Atilde-
Erdquo aparece soletrado no alfabeto digital e outro com a configuraccedilatildeo de
159
matildeos (CM) em ldquoMrdquo (nuacutemero da CM ndash 01 06 60) com ponto de
articulaccedilatildeo (PA) na boca num movimento (M) de roccedilar a matildeo para
frente (reto) Atualmente o sinal de MAtildeE eacute realizado da seguinte forma
o sinal de mulher (matildeo fechada e polegar riscando o rosto de cima para
baixo) junto com a matildeo fechada sendo beijada no dorso (mulher^benccedilatildeo
= MAtildeE) representando um sinal composto
Comparando o sinal de MAtildeE apresentado pelos informantes dos
trecircs Grupos (I II e III) nota-se que ocorreu mudanccedila lexical a forma de
configuraccedilatildeo de matildeos (CM) modificou-se
Pode ser que a distinccedilatildeo entre variaccedilatildeo lexical e mudanccedila lexical
nem sempre estaacute clara mas pode ser estabelecida em alguns casos dos
sinais
O quadro a seguir mostra variaccedilatildeo e mudanccedila do item lexical
PAI
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Pai
(1)
Figura 50
CM ndash 11
(1)
Figura 53
CM ndash 16
(1)
Figura 55
CM ndash 11 38
160
(2)
Figura 51
CM ndash 14
(3)
Figura 52
CM ndash 16
(4)
(2)
Figura 54
CM ndash 02 45
(3)
(2)
Figura 56
CM ndash 16
(3)
Figura 57
CM ndash 02 45
Quadro 04 ndash Sinal de Pai
Nas figuras 52 53 e 56 dos Grupos I II e III na configuraccedilatildeo de
matildeos (CM) o dedo indicador curvado colocado como se fosse um
bigode movimenta-se para frente e para traacutes significando sinal de pai
Os Grupos II e III mostram o sinal composto (homem^benccedilatildeo = pai)
Nas figuras 54 e 57 tambeacutem temos variaccedilatildeo e mudanccedila lexical Na
figura 51 o dedo indicador reto eacute colocado como se fosse um bigode
fazendo movimento para a direita no Grupo I Nas figuras 50 e 55 nos
Grupos I e III mostra-se a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) - 11 tambeacutem
161
imitando um bigode fazendo movimento para a direita e no Grupo III
mostra-se o empreacutestimo linguiacutestico ldquoP-Irdquo (CM) -11 38 o sinal de pai
No quadro 04 tambeacutem aparece mudanccedila lexical O sinal de
famiacutelia que mostra a palavra ldquoP-A-Irdquo eacute apresentado na soletraccedilatildeo de
matildeos Haacute uma mudanccedila linguiacutestica porque inicia com o sinal ldquoPrdquo (CM ndash
11) passando sobre os laacutebios depois o sinal de bigode realizado de duas
formas diferentes (o dedo indicador em cima do laacutebio superior e o dedo
indicador flexionado tambeacutem em cima do laacutebio superior) e ainda o sinal
ldquoPrdquo saindo dos laacutebios indo para frente formando o sinal ldquoIrdquo (CM ndash 38)
e atualmente o sinal de homem (CM ndash 45) fechar a matildeo e beijar as
costas da mesma (CM ndash 02) Observam-se nesse caso cinco diferentes
sinais ilustrando as variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas Acredita-se que
o contado dos diferentes surdos em comunicaccedilatildeo com gestos familiares
proporcionou uma troca entre eles influenciando a comunidade surda e
a escola com uma classe de surdos onde os alunos tiveram contato com
a soletraccedilatildeo de palavras em Portuguecircs e nos respectivos sinais
O Grupo I apresentou trecircs sinais diferentes nas figuras 50 51 e 52
ldquopaisrdquo o que pode indicar variaccedilatildeo lexical O Grupo II mostra dois
sinais diferentes nas figuras 53 e 54 tem um sinal composto
homem^benccedilatildeo = pai que foi utilizado pelo Grupo III
Observe agora no quadro a seguir o item lexical POLIacuteTICA
162
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Poliacutetica
Figura 58
CM ndash 11 51a
(1)
Figura 59
CM ndash 11
(2)
Figura 60
CM ndash 14
Figura 61
CM ndash 1 1
Quadro 05 ndash Sinal de Poliacutetica
No quadro 05 o sinal de POLIacuteTICA se daacute atraveacutes da matildeo direita
na configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 11 colocada em movimento circular
(girando) no lado do rosto com a bochecha insuflada sinal apresentado
pelos Grupos II e III O Grupo I apresenta um sinal icocircnico porque eacute a
representaccedilatildeo da sede do congresso em Brasiacutelia O Grupo II mostra
tambeacutem outro sinal para poliacutetica com CM ndash 14 o dedo indicador das matildeos com as extremidades proacuteximas em frente do corpo em movimento
alternado para cima e para baixo localizado no espaccedilo neutro
No Grupo III na figura 61 com CM ndash 14 eacute o uacutenico sinal com
configuraccedilatildeo diferente e que o significado tambeacutem pode ser entendido
163
como discutir a poliacutetica aparecendo nesse caso com sentido
abrangente
Veja a seguir o item lexical PRETO
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Preto
(1)
Figura 62
CM ndash 34 62
(2)
Figura 63
CM ndash 05
Figura 64
CM ndash 05
Figura 65
CM ndash 05
Quadro 06 ndash Sinal de Preto
No quadro 06 aparece o sinal de PRETO com a matildeo direita com
CM ndash 05 palma para baixo simulando girar uma chave ao lado da
cabeccedila Um dos informantes do Grupo I utilizou o sinal de preto que
acredito teve influecircncia da liacutengua de sinais produzida no Rio de janeiro
Os Grupos II e III apresentaram o sinal regional utilizado na grande
Florianoacutepolis Os Grupos I II e III mostram o mesmo sinal para preto
164
nas figuras 63 64 e 65 mas tem um sinal diferente apresentado pelo
Grupo I nas figuras 62 e 63
O sinal produzido pelo Grupo I na figura 62 eacute utilizado ateacute hoje
no Rio de Janeiro e percebo que tambeacutem eacute utilizado por interpretes e
estudantes surdos da UFSC
Veja a seguir o item lexical REUNIAtildeO
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Reuniatildeo
Figura 66
CM ndash 14
(1)
Figura 67
CM ndash 25
(2)
Figura 68
CM ndash 14
Figura 70
CM ndash 25
165
(3)
Figura 69
CM ndash 15
Quadro 07 ndash Sinal de Reuniatildeo
No quadro 07 o sinal de REUNIAtildeO mostrado pelos Grupos II e
III com CM ndash 25 nas matildeos estaacute localizado no espaccedilo neutro com as
palmas das matildeos para frente as matildeos em movimento semicircular
fechando em ciacuterculo Os Grupos I e II mostram como em CM ndash 14
realizado da mesma forma que o descrito anteriormente sinal este que o
grupo jovem natildeo conhece O Grupo II apresenta um sinal de REUNIAtildeO
com as matildeos como em CM ndash 15 em espaccedilo neutro movendo-se
alternadamente para frente e para traacutes com a palma das matildeos proacuteximas
este grupo apresentou trecircs sinais diferentes enquanto os Grupos I e III
mostraram apenas um
No Grupo II na figura 69 o sinal eacute diferente e natildeo aparece no
Grupo I e no Grupo III mas o significado deste eacute REUNIAtildeO particular
com poucas pessoas Talvez por isso natildeo apareceu nos outros dois
grupos Nas figuras 68 e 69 os sinais apresentam variaccedilatildeo fonoloacutegica
porque mudou o traccedilo linguiacutestico o ponto de articulaccedilatildeo da sinalizaccedilatildeo
no espaccedilo neutro eacute o mesmo mas a CM e o movimento se alteram
Veja a seguir o item lexical SEMANA
166
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Semana
(1)
Figura 71
CM ndash 08a 64
(2)
Figura 72
CM ndash 10
Figura 73
CM ndash 10
Figura 74
CM ndash 10
Quadro 08 ndash Sinal de Semana
No quadro 08 aparece o sinal de SEMANA com a matildeo esquerda
aberta palma para fora (CM ndash 08a ldquoLrdquo) matildeo direita CM - 64 palma
para fora direcionando as duas matildeos para o lado direito O grupo de
informante III (terceira geraccedilatildeo) apresentou a variaccedilatildeo do sinal descrita
anteriormente mas o Grupo II apresentou o sinal a matildeo direita com
forma de configuraccedilatildeo CM - 10 direcionando a matildeo direita para o lado
direito ponto de articulaccedilatildeo no espaccedilo neutro O Grupo I (primeira
geraccedilatildeo) apresentou no queixo o sinal de semana como em CM ndash 10
Isso mostra a variaccedilatildeo do sinal apresentado pelos informantes nas trecircs
geraccedilotildees por faixa etaacuteria Os trecircs grupos sinalizam semana de forma
diferente nas figuras 71 72 e 74 Os Grupos I e II sinalizam semana nas
167
figuras 72 e 73 de forma igual O Grupo I eacute o uacutenico que realiza o sinal
no espaccedilo neutro e o Grupo III inicia o sinal no queixo e termina-o no
espaccedilo neutro
Uma das razotildees para variaccedilatildeo e mudanccedila lexical acontecer eacute por
influecircncia tecnoloacutegica que transforma a sociedade que cresce no
cotidiano por necessidade na liacutengua usada na conversa No caso da
pessoa surda em contato com a liacutengua de sinais ela acaba valorizando
mais a liacutengua de sinais que torna a cultura surda dinacircmica e proporciona
uma nova forma de comunicaccedilatildeo para o indiviacuteduo surdo Na
comunidade surda precisamos buscar o conhecimento cada vez maior
para aumentar o leacutexico da liacutengua em sinais
Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na Liacutengua
Brasileira de Sinais
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
BANCO CM ndash 53a 61 CM ndash 53a 61 CM ndash 53a
FEIO CM ndash 07 64 CM ndash 8a CM ndash 08a
MEacuteDICO CM ndash 16 44 CM ndash 16 44 CM ndash 16
NOME CM ndash 21 24 CM ndash 24 CM ndash 24
PORQUE CM ndash 14 15 CM ndash 14 15 CM ndash 14
O quadro a seguir apresenta a sequecircncia dos sinais lexicais que
sofreram mudanccedila na liacutengua de sinais dos informantes dos Grupos I II e
III nas trecircs geraccedilotildees Inicialmente seraacute descrito o item lexical BANCO
168
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Banco
(1)
Figura 75
CM ndash 53a
(2)
Figura 76
CM ndash 61
(1)
Figura 77
CM ndash 53a
(2)
Figura 78
CM ndash 61
Figura 79
CM ndash 53a
Quadro 09 ndash Sinal de Banco
No quadro 09 a CM ndash 61 corresponde agrave letra B no alfabeto
digital palma da matildeo voltada para a esquerda batendo suavemente em
cima do peito esquerdo Este sinal foi utilizado pelos Grupos II e I
sofrendo uma mudanccedila lexical pois modificou o ponto de articulaccedilatildeo e
a CM com o mesmo movimento Os informantes do Grupo III (jovens)
natildeo utilizam e talvez natildeo conheccedilam o sinal de BANCO utilizado pelos
Grupos II e I Podemos chamar de mudanccedila em tempo aparente
Nos Grupos I II e III apresentam variaccedilatildeo lexical os sinais das
figuras 75 77 e 79 pois se realizam da mesma forma Nos Grupos I e II
169
as figuras 76 e 78 apresentam um sinal que natildeo eacute mais utilizado
caracterizando uma mudanccedila lexical
Observe-se agora o sinal do item lexical FEIO
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Feio
Figura 80
CM ndash 07 64
64
Figura 81
CM ndash 08a
Figura 82
CM ndash 08a
Quadro 10 ndash Sinal de Feio
No quadro 10 a CM ndash 08a (L) usa palma da matildeo em frente da
boca o dedo indicador apontando para a esquerda em seguida abaixa-
se a matildeo ateacute a altura do peito O sinal utilizado pelo Grupo I mostra uma
mudanccedila lexical no sinal de FEIO o sinal de bonito (matildeo aberta com
palma da matildeo voltada para o rosto na frente fazendo um ciacuterculo e se
fechando) e mais o sinal de negaccedilatildeo matildeo fechada com polegar para
baixo Houve uma troca na configuraccedilatildeo de matildeos (CM) de ponto de
articulaccedilatildeo (PA) e movimento (M) do sinal pelos surdos do Grupo III
(mais jovens de 15 a 30 anos de idade) O Grupo I faz dois sinais
bonito^ruim = feio na figura 80 como se fosse o contraacuterio de bonito O
Grupo II faz o sinal de feio para pessoas enquanto o Grupo III sinaliza
com significado de feio para objetos
64 A imagem da CM segue a ordem da tabela com as configuraccedilotildees
170
Observe-se a seguir o item lexical MEacuteDICO
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Meacutedico
(1)
Figura 83
CM ndash 16
(2)
Figura 84
CM ndash 44
(1)
Figura 85
CM ndash 16
(2)
Figura 86
CM ndash 44
Figura 87
CM ndash 16
Quadro 11 ndash Sinal de Meacutedico
No quadro 11 o sinal de MEacuteDICO aparece diferenciado no Grupo
I (geraccedilatildeo G H e I) O sinal de MEacuteDICO eacute produzido com a
configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 44 com ponto de articulaccedilatildeo (PA) no
peito em cima do coraccedilatildeo movimentando-se semicircularmente ateacute o
lado direito Esse sinal mostra mudanccedila lexical pois o Grupo III
(jovens) inovou com relaccedilatildeo ao espaccedilo neutro65
o sinal eacute produzido
65 Espaccedilo Neutro ndash ldquono caso do uso de pontos arbitraacuterios o estabelecimento ocorre em um
local neutro do espaccedilo da sinalizaccedilatildeo e em geral satildeo distribuiacutedos no espaccedilo de forma a serem
171
com a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 16 em ambas as matildeos onde uma eacute
ativa e outra passiva e o dedo indicador direito bate na 2a falange do
dedo esquerdo
Podemos dizer que o sinal que aparece nos Grupos I e II e que
natildeo aparece no Grupo III eacute um sinal icocircnico Acredito que ainda eacute
utilizado apenas natildeo apareceu nas sinalizaccedilotildees do grupo dos mais
jovens que apresentam uma fluecircncia maior na LIBRAS
Veja a seguir a configuraccedilatildeo do item lexical NOME
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Nome
(1)
Figura 88
CM ndash 21
(2)
Figura 89
CM ndash 24
Figura 90
CM ndash 24
Figura 91
CM ndash 24
Quadro 12 ndash Sinal de Nome
amplamente diferenciados Os pontos podem estar acima ou abaixo do espaccedilo neutro se esses apresentarem uma imagem apropriada (por ex um aviatildeo seraacute apontado acima do espaccedilo
neutro)rdquo QUADROS et al (2008 p 07)
172
No quadro 12 mostra o sinal de NOME com a configuraccedilatildeo de
matildeos (CM) ndash 24 (matildeo direita em ldquoUrdquo no Alfabeto Digital) palma da
matildeo para frente dedos apontados para cima na altura do peito movem-
se os dedos do lado esquerdo para o lado direito Na leitura dos
resultados encontrados apareceu uma mudanccedila lexical na liacutengua de
sinais o Grupo I utiliza a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 21 24 na (CM)
ndash 21 representa o nome do crachaacute (sinal icocircnico) Acontece mudanccedila
lexical pois as configuraccedilotildees de matildeos (CM) os pontos de articulaccedilotildees
(PA) os movimentos (M) e a orientaccedilatildeo satildeo diferentes (OP) Aqui
temos tambeacutem mudanccedila fonoloacutegica as configuraccedilotildees de matildeos satildeo
diferentes
O quadro a seguir mostra a configuraccedilatildeo do item lexical
PORQUE
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Porque
(1)
Figura 92
CM ndash 14
(1)
Figura 94
CM ndash 14
Figura 96
CM ndash 14
173
(2)
Figura 93
CM ndash 15
(2)
Figura 95
CM ndash 15
Quadro 13 ndash Sinal de Porque
No quadro 13 o sinal de PORQUE no Grupo I e II aparece com
CM ndash 15 (dedo indicador flexionado saindo da tecircmpora em diagonal) e
nos trecircs grupos aparece o sinal com a CM ndash 14 dedo indicador direito e
esquerdo em diagonal bater o indicador direito sobre o esquerdo vaacuterias
vezes no espaccedilo neutro O sinal com a CM ndash 14 aparece na sinalizaccedilatildeo
dos informantes das trecircs geraccedilotildees permanecendo ateacute a atualidade
O sinal que os Grupos I e II fizeram nas figuras 93 e 95 natildeo eacute
mais realizado pelo grupo dos mais jovens que tambeacutem natildeo conhece o
significado
64 ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua Brasileira de Sinais
A variaccedilatildeo e a mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua Brasileira de
Sinais satildeo observadas na semelhanccedila entre somfala ou sinais foneacutetico-
fonoloacutegicos Na Liacutengua Brasileira de Sinais encontram-se modificaccedilotildees
de pronuacutencia de certos itens lexicais atestando variaccedilatildeo e mudanccedila
fonoloacutegica Essa variaccedilatildeo depende da unidade lexical e pode decorrer de
diferentes paracircmetros a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) movimento (M)
ponto de articulaccedilatildeo (PA) e orientaccedilatildeo das matildeos Nesses casos a
configuraccedilatildeo de matildeos pode modificar mas o significado dos sinais
permanece o mesmo mostrando variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica As
autoras Quadros e Karnopp (2004 p47) definem a fonologia das
liacutenguas de sinais da seguinte forma
Fonologia das liacutenguas de sinais eacute o ramo da linguumliacutestica
que objetiva identificar a estrutura e a organizaccedilatildeo dos
constituintes fonoloacutegicos propondo modelos descritivos
e explanatoacuterios A primeira tarefa da fonologia para
174
liacutengua de sinais eacute determinar quais satildeo as unidades
miacutenimas que formam os sinais A segunda tarefa eacute
estabelecer quais satildeo os padrotildees possiacuteveis de
combinaccedilatildeo entre essas unidades e as variaccedilotildees possiacuteveis
no ambiente fonoloacutegico
Haacute pouca pesquisa cientiacutefica sobre variaccedilatildeo e mudanccedila
fonoloacutegica na LIBRAS no Brasil Pode-se verificar atraveacutes dos dados
dos informantes apresentados a cada pronuacutencia dos sinais diferentes de
uso a unidade miacutenima lexical pode se modificar (configuraccedilatildeo de matildeos
movimento e ponto de articulaccedilatildeo) No quadro 07 apresenta-se o sinal
de semana mostrando mudanccedila no ponto de articulaccedilatildeo e variaccedilatildeo e
mudanccedila fonoloacutegica nos Grupos I II e III
Veja a Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica
na Liacutengua Brasileira de Sinais com os resultados que foram escolhidos
nesta pesquisa para realizar a descriccedilatildeo e a anaacutelise
Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua
Brasileira de Sinais
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
ANTES CM ndash 08a 53a
63
CM ndash 08a CM ndash 08a
Veja agora os sinais para o item lexical ANTES
175
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Antes
(1)
Figura 97
CM ndash 53a 63
(2)
Figura 98
CM ndash 08a
Figura 99
CM ndash 08a
Figura 100
CM ndash 08a
Quadro 14 ndash Sinal de Antes
No quadro 14 aparece o sinal de ANTES com a seguinte
configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 08a a matildeo direita em L horizontal
(alfabeto digital) palma para baixo na frente do corpo no espaccedilo neutro
levantar o antebraccedilo da matildeo direita para cima Outro sinal aparece com
a (CM) ndash 53a e 63 inicia com a CM 63 e finaliza com a CM 53a com o
mesmo movimento do antebraccedilo descrito anteriormente Ambos os
informantes utilizam a expressatildeo facial necessaacuteria para a compreensatildeo
do sinal As trecircs geraccedilotildees apresentaram variaccedilatildeo fonoloacutegica o sinal eacute
produzido com diferentes configuraccedilotildees de matildeos mas os paracircmetros
movimento (M) e ponto de articulaccedilatildeo (PA) satildeo os mesmos
176
Nos Grupos I II e III apresentam os mesmos sinais com a mesma
CM ndash 08a mas temos com essa mesma CM o mesmo significado soacute
que com ponto de articulaccedilatildeo diferente acontecendo na palma da matildeo e
no dorso da matildeo e que tambeacutem pode ter significado de ldquoQue horasrdquo ou
pode estar atrasado para trabalhar ou ainda precisa agendar uma reuniatildeo
antes
Os dados coletados tambeacutem mostram mudanccedila e variaccedilatildeo
fonoloacutegica na liacutengua brasileira de sinais Sinais foram modificados com
o passar dos anos Observando os informantes percebe-se que os
paracircmetros mudaram da geraccedilatildeo mais antiga (Grupo I) em relaccedilatildeo agrave
geraccedilatildeo atual (Grupo III)
Observe na tabela a seguir os dados que foram escolhidos para
realizar a descriccedilatildeo e a anaacutelise dos resultados Ela apresenta a sequecircncia
das mudanccedilas e variaccedilotildees dos sinais lexicais na LIBRAS usados pelos
informantes nas trecircs geraccedilotildees
Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua
Brasileira de Sinais
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
CORTAR CM ndash 14 24
63
CM ndash 14 24 CM ndash 24
PADRE CM ndash 21 24
62
CM ndash 11 21
24
CM ndash 24
TER CM ndash 08a 63 CM ndash 08a 63 CM ndash 08a
Acompanhe agora a descriccedilatildeo do item lexical CORTAR
177
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Cortar
(1)
Figura 101
CM ndash 63
(2)
Figura 102
CM ndash 14 24
(3)
Figura 103
CM ndash 14
(1)
Figura 104
CM ndash 14
(2)
Figura 105
CM ndash 24
Figura 106
CM ndash 24
Quadro 15 ndash Sinal de Cortar
178
No quadro 15 observa-se que o Grupo I apresentou a
configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 63 (U) raspando o dedo meacutedio da matildeo
direita no dedo indicador da matildeo esquerda simulando cortar algo
Depois a CM ndash 14 junto com a CM 24 mostraram um movimento
simulando o corte com uma faca e tambeacutem a CM ndash 14 em ambas as
matildeos simulando o movimento de cortar O Grupo II apresentou a CM ndash
14 (igual a do Grupo I) e a CM ndash 24 simulando o movimento de cortar
O Grupo III (jovem) utilizou apenas a CM ndash 24
Exemplos das figuras apresentadas no quadro 15 mostrando
sinais de CORTAR66
em diferentes contextos satildeo apresentados a seguir
a) Em LIBRAS Grupo I - EU ANTES ESTUDAR LAacute INES
DEPOIS CORTAR MARCENEIRO (Figura 101)
Em Portuguecircs Grupo I ndash Eu era crianccedila estudava no INES
fomos cortar madeira com supervisatildeo de um marceneiro (Figura 101)
b) Em LIBRAS Grupo I - SURDOS LAacute INES CORTAR
PAPELAtildeO (Figura 102)
Em Portuguecircs Grupo I ndash Os alunos surdos do INES foram
cortar papelatildeo (Figura 102)
c) Em LIBRAS Grupo I - EU AIacute (FOGO) FOGO COMER
CARNE CORTAR UM (CADA) IRMAtildeO SENTAR COMER TODOS
COMER ARROZ BATATA AIPIM TODOS (Figura 103)
Em Portuguecircs Grupo I ndash Eu fiquei assustada com o fogo Eu e
meus irmatildeos sentados juntos a mesa cortei a carne e dei um pedaccedilo para
cada irmatildeo Todos comeram arroz batata e aipim aleacutem da carne
(Figura 103)
d) Em LIBRAS Grupo II ndash ANTES ERA PEQUENO
BRINCAR LAacute ESCOLA BALANCcedilO CORRENTE CORTAR DEDO
DOR (Figura 104)
Em Portuguecircs Grupo II ndash Quando era crianccedila fomos brincar no
parque da escola cortei o dedo na corrente (Figura 104)
e) Em LIBRAS Grupo II - FESTA CSMSC SURDOS CORTAR
CARNE BOLO TODOS SURDOS (Figura 105)
Em Portuguecircs Grupo II ndash Teve uma festa do Ciacuterculo de Surdos-
Mudos de Santa Catarina (CSMSC) para comemoraccedilatildeo dos surdos Foi
cortada a carne e o bolo para os surdos que foram a associaccedilatildeo (Figura
105)
66 Nesses casos noacutes temos sinais diferentes para o mesmo significado de ldquocortarrdquo que satildeo as imagens do quadro 15
179
f) Em LIBRAS Grupo III ndash EU LAacute CASA AMIGO SURDO
ALMOCcedilAR COMER PEDIR CORTAR CARNE CONVERSAR
AMIGO (Figura 106)
Em Portuguecircs Grupo III - Eu fui agrave casa do meu amigo surdo
almoccedilar pedi a ele para cortar a carne e tambeacutem conversei com os
amigos surdos (Figura 106)
O Grupo I eacute o uacutenico que utiliza para o sinal de cortar CM ndash 63 um
sinal diferente dos outros grupos mas com o mesmo significado Parece
que o Grupo I foi evoluindo o sinal comeccedilou com CM diferente em
cada matildeo e por fim uma mesma CM para ambas as matildeos O Grupo II
utilizou duas CM diferentes como o Grupo I mas realizava o sinal de
duas formas diferentes CM ndash 14 ou 24 mas a mesma CM para ambas as
matildeos O Grupo III realiza o sinal somente com a CM ndash 24 em ambas as
matildeos Como se observa parece que ocorreu mudanccedila fonoloacutegica nos
trecircs grupos pesquisados
Veja na sequecircncia a mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua brasileira de
sinais
A tabela a seguir traz os sinais do item lexical PADRE
180
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Padre
(1)
Figura 107
CM ndash 62
(2)
Figura 108
CM ndash 24
(1)
Figura 110
CM ndash 11
(2)
Figura 111
CM ndash 24
Figura 113
CM - 24
181
(3)
Figura 109
CM ndash 21
(3)
Figura 112
CM ndash 21
Quadro 16 ndash Sinal de Padre
Nos trecircs grupos apareceu o sinal com CM ndash 24 matildeo na frente do
peito no espaccedilo neutro desenhando uma cruz com a matildeo (Representaccedilatildeo
icocircnica) Os Grupos I e II apresentaram o mesmo sinal CM ndash 21
produzido na base do pescoccedilo iniciando do lado esquerdo indo ateacute o
lado direito como se estivesse desenhando a gola da batina (Icocircnico) O
Grupo I apresentou um sinal diferente com CM ndash 62 matildeo na frente do
peito no espaccedilo neutro desenhando uma cruz com a matildeo O Grupo II
tambeacutem mostra um sinal uacutenico com CM ndash 11 matildeo na frente do peito no
espaccedilo neutro desenhando uma cruz com a matildeo A configuraccedilatildeo de
matildeos (CM) foi sendo alterada no espaccedilo neutro Os informantes do
Grupo I II e III (nas trecircs geraccedilotildees) apresentaram sinais que podem ser
considerados como variaccedilatildeo ou mudanccedila fonoloacutegica
Na figura 107 o sinal parece ser igual ao que um padre faz na
missa ao despedir-se dos fieacuteis e na figura 110 parece que a CM ndash 11 (P)
recebe influecircncia do oralismo Um uacutenico sinal aparece nos trecircs grupos
satildeo das figuras 108 111 e 113 sendo o uacutenico utilizado pelo Grupo III
(jovens)
Veja na sequecircncia a mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua brasileira de
sinais
Agora observe o sinal variaacutevel do item lexical TER
182
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Ter
(1)
Figura 114
CM ndash 63
(2)
Figura 115
CM ndash 08a
(1)
Figura 116
CM ndash 63
(2)
Figura 117
CM ndash 08a
Figura 118
CM ndash 08a
Quadro 17 ndash Sinal de Ter
No quadro 17 aparecem os dados apresentados pelo Grupo I dos
trecircs informantes G H e I
Em conversa natildeo filmada com o informante G ele deu a seguinte
explicaccedilatildeo para a variaccedilatildeo do item ldquoTERrdquo antigamente o professor
Francisco Lima Juacutenior usava o sinal ldquoTERrdquo fazendo a soletraccedilatildeo do
sinal depois utilizou a configuraccedilatildeo de matildeo com todos os dedos
fechados (CM ndash 63) colocados no peito em seguida outra oposiccedilatildeo
seria a matildeo e os dedos abertos tambeacutem colocados no peito (CM ndash 64)
183
Atualmente o sinal ldquoTERrdquo eacute realizado como CM - 08a tambeacutem
colocado no peito Observa-se uma mudanccedila fonoloacutegica com alteraccedilatildeo
na liacutengua de sinais ao longo de algumas deacutecadas O dedo em ldquoLrdquo (08a) eacute
batido no meio do peito com a ponta do polegar
Os Grupos I e II mostram os sinais de ter nas figuras 114 e 116
com mesma CM ndash 63 Nas figuras 115 117 e 118 os sinais satildeo
realizados com a mesma CM ndash 08a O Grupo III permanece apenas com
um sinal
Veja na sequecircncia a mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua brasileira de
sinais
Na eacutepoca em que o professor Francisco foi professor era outro
tempo na comunicaccedilatildeo em liacutengua de sinais diferentemente de hoje tal
como se observa na comunicaccedilatildeo entre as pessoas mais jovens com
contato cultural maior O professor Francisco aprendeu no RJ a escrever
com o alfabeto digital (soletraccedilatildeo) e assim ele comeccedilou a ensinar Aleacutem
de ensinar o contato do aluno surdo com a comunidade de surdos fez
com que houvesse uma troca o Sr Francisco ensinou a soletraccedilatildeo no
alfabeto digital (alfabetizaccedilatildeo em Liacutengua Portuguesa) e aprendeu sinais
familiares dos diversos surdos com quem teve contato Todos
aprenderam e isso influenciou para que ocorresse mudanccedila fonoloacutegica
Pesquisando a LIBRAS nos Grupos I II e III confirmamos portanto
algumas mudanccedilas fonoloacutegicas
65 ndash O que dizem os resultados das trecircs geraccedilotildees dos informantes
na Liacutengua Brasileira de Sinais
A comunidade surda principalmente na associaccedilatildeo de surdo de
Santa Catarina abriu espaccedilo para o encontro de surdos proporcionando
a troca de informaccedilotildees e experiecircncias na liacutengua de sinais (visuais)
promovendo eventos na aacuterea esportiva cultural poliacutetica e na educaccedilatildeo
de surdo Todos esses espaccedilos sociais devem ter contribuiacutedo para o que
esta pesquisa jaacute aponta variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica em LIBRAS
Os resultados de certos itens lexicais usados pelos grupos de
indiviacuteduos investigados apontam que os Grupos I e II se distinguem do
184
Grupo III
Os resultados mostram que com passar do tempo os sinais entre
os grupos se modificam apresentando indiacutecios de mudanccedila em tempo
aparente na liacutengua de sinais nas trecircs geraccedilotildees O grupo dos mais jovens
de 15 a 30 anos (Grupo III) diferentemente dos outros dois grupos
(Grupo I e Grupo II) apresenta um sinal para cada palavra Acreditamos
que antes havia mais sinais porque eram familiares ou caseiros os quais
foram substituiacutedos eou modificados com o contato social maior que a
comunidade surda tem nos dias atuais Acreditamos que outros sinais
estatildeo sendo criados com o passar do tempo o que pode ser fruto de um
maior contato social entre os surdos jovens
Os resultados apontam que os trecircs grupos investigados (Grupos I
II e III) usaram vaacuterios sinais idecircnticos para algumas palavras os Grupos
I e II usaram outros e os Grupos II e III usaram palavras idecircnticas em
menor nuacutemero Entretanto os Grupos I e III (dos mais velhos e dos mais
jovens) natildeo usaram nenhuma palavra comum que se distinguisse do
Grupo II Os resultados apontam portanto que na LIBRAS haacute variaccedilatildeo
lexical e fonoloacutegica
Como eacute possiacutevel perceber a partir dos resultados apresentados o
contato entre as pessoas surdas transforma a liacutengua de sinais que jaacute
apresenta indiacutecios de variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica entre diferentes
geraccedilotildees como acontece em qualquer liacutengua natural
Nota-se nas narrativas contadas que os surdos tecircm consciecircncia de
seu papel nas trecircs geraccedilotildees de informantes e reconhecem a influecircncia
exercida pelo contato com outros surdos e com os surdos mais velhos
Certamente o Grupo III seraacute disseminador de conhecimento
aumentando cada vez mais o interesse de outros surdos pela liacutengua de
sinais e com a expansatildeo de seu uso naturalmente outras mudanccedilas vatildeo
acontecer transformando mais uma vez a liacutengua de sinais Aleacutem disso
pode-se identificar nas narrativas de todos os sujeitos a total
consciecircncia das pessoas envolvidas no processo de ampliaccedilatildeo do espaccedilo
de conforto do surdo Eacute mais uma parte da histoacuteria surda que se registra
tendo como personagem principalmente a pesquisa sobre a variaccedilatildeo e a
mudanccedila linguiacutestica na liacutengua de sinais em Santa Catarina
Eacute importante registrar o momento de pouco acesso dos surdos agrave
pesquisa a respeito da liacutengua brasileira de sinais seja no domiacutenio
puacuteblico ou privado Assim julga-se necessaacuterio o desenvolvimento de
mais estudos e de um contato mais intenso de sujeitos surdos com as
reflexotildees e conhecimentos que satildeo produzidos sobre essa liacutengua
refletindo o que dizem os informantes surdos nas trecircs geraccedilotildees da liacutengua
de sinais Sabe-se que em parte isso ocorre porque eacute uma liacutengua
185
oficializada recentemente
Os estudos tecircm apontado atraveacutes de recentes pesquisas que a
liacutengua de sinais eacute a forma mais adequada de comunicaccedilatildeo para a
educaccedilatildeo do surdo tendo em vista que como as outras liacutenguas
humanas a liacutengua de sinais eacute uma liacutengua natural podendo servir de base
para o ensino da liacutengua escrita
Finalmente espero que os resultados desta pesquisa possam
motivar-me e motivar outras pessoas a aprofundar o tema aqui
pesquisado
186
187
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Concluiacutemos que eacute importante pesquisar sobre a histoacuteria na liacutengua
de sinais em Santa Catarina em encontros sociais ou nas associaccedilotildees de
surdo Aleacutem de aprender a liacutengua de sinais os surdos que fazem parte
dessas associaccedilotildees acabam criando uma identidade surda trocam
experiecircncias evoluindo na proacutepria liacutengua criando e valorizando o seu
espaccedilo linguiacutesticocultural
Na liacutengua de sinais aqui no Brasil acontece a mesma coisa que
se observa no portuguecircs quanto agraves regras da liacutengua que satildeo oficiais
para todo o Brasil mas vaacuterios sinais satildeo diferentes para expressar a
mesma coisa Podemos utilizar no sul do Brasil um sinal e outro
sinal totalmente diferente na regiatildeo sudeste com o mesmo
significado
Surdos se encontram em associaccedilotildees ou outros espaccedilos
culturais para poder conversar trocar experiecircncia e aprender sua
liacutengua mas com o ouvinte acontece diferente eles natildeo precisam de
um local para esses encontros isso acontece em seu dia-a-dia todos
se falam O surdo necessita marcar encontros com outros surdos
para que aconteccedila a comunicaccedilatildeo pois poucos ouvintes sabem se
comunicar em LIBRAS Eles vatildeo para a associaccedilatildeo de surdos
aprender LIBRAS e com o passar do tempo podem se tornar
biliacutengues
Haacute falta de pesquisa em variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica das
liacutenguas de sinais e sobre o desenvolvimento e o domiacutenio desta liacutengua
Nada foi registrado nas uacuteltimas deacutecadas e parece que muitos dados sobre
os sujeitos surdos e sua histoacuteria da liacutengua de sinais foram prejudicados e
perdidos
Na UFSC por exemplo temos no curso de LETRASLIBRAS
a distacircncia que eacute pioneiro uma vitoacuteria do surdo acessando a
primeira Universidade Brasileira que estuda a liacutengua de sinais e que
oferece oportunidade de acesso ao estudo e aprofundamento
linguiacutestico da LIBRAS aleacutem das trocas de sinais em diferentes
regiotildees do paiacutes
Temos um grupo de surdos responsaacuteveis por criar sinais novos
de acordo com as necessidades encontradas pelas comunidades
surdas para diminuir a influecircncia da Liacutengua Portuguesa na
LIBRAS e possibilitar outros contatos fora do Brasil trazendo
relatos de experiecircncias de comunidades surdas de outros paiacuteses bem
como apresentaccedilotildees de pesquisas mais avanccediladas nas liacutenguas de
sinais
188
Eacute importante reforccedilar que a LIBRAS eacute uma liacutengua natural pois
possui estrutura gramatical eacute utilizada por um grande grupo social com
funccedilatildeo ativa e provedora de opiniatildeo Este tipo de liacutengua soacute se diferencia
das liacutenguas orais pela forma de se comunicar pois esta utiliza a accedilatildeo
gestual o que difere das demais liacutenguas que utilizam a accedilatildeo oral na
comunicaccedilatildeo
As pessoas falam que na ilha de Santa Catarina o dialeto falado eacute
o manezinho que vem sofrendo modificaccedilotildees com o passar dos anos
devido ao turismo que eacute forte na temporada de veratildeo O professor
Francisco e a comunidade surda na deacutecada de 1950 usavam o sinal de
dactilologia no mesmo sentido da liacutengua nativa mas com dialeto
proacuteprio Depois outros surdos vieram para Santa Catarina e sinalizaram
diferentemente Isso mostra que nas duas liacutenguas ndash LIBRAS e Portuguecircs
ndash haacute variaccedilatildeo dialetal
Observando os trecircs grupos de surdos investigados nesta tese
podemos dizer que o Grupo I mostra o primeiro contato com a liacutengua de
sinais desenvolvida com pouco conhecimento linguiacutestico porque
adquirir a liacutengua de sinais em contexto social na eacutepoca era difiacutecil Mas
este Grupo I foi buscando surdos que participavam de associaccedilotildees que
estudavam na garagem da casa do professor Francisco e na Escola Celso
Ramos onde tinha o grupo de surdos aprendendo a liacutengua de sinais que
se modificava O Grupo III demonstrou mais qualidade na sinalizaccedilatildeo
da liacutengua de sinais e maior fluecircncia mas natildeo conhece alguns dos sinais
(antigos) realizados pelos Grupos I e II O contexto social dos Grupos
nas trecircs geraccedilotildees eacute bem diferente e a liacutengua de sinais do Grupo III (mais
jovens) apresentou menor nuacutemero de sinais que os demais grupos
Acreditamos que antes havia mais sinais porque eram familiares
Os resultados do trabalho mostraram que algumas variaccedilotildees e
mudanccedilas linguiacutesticas (variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na liacutengua de sinais e
variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua de sinais) aconteceram nos trecircs
grupos quando um mesmo sinal eacute produzido pelos diferentes grupos de
maneira diferente Alguns sinais que antigamente eram produzidos no
corpo agora acontecem no espaccedilo neutro na liacutengua de sinais Os grupos
mostraram sinais que antes eram produzidos com uma matildeo e agora satildeo
produzidos com ambas as matildeos ao mesmo tempo O Grupo I utilizava
sinalizaccedilatildeo manual sinais familiares (caseiros) ou aqueles aprendidos e
trazidos pelo professor Francisco do INES o que talvez explique o fato
de que este grupo tinha um nuacutemero maior de sinais para uma mesma
palavra
Concluiacutemos que os trecircs grupos de nove informantes nas
diferentes geraccedilotildees apresentaram sinais compartilhados e outros que se
189
transformaram com o tempo na liacutengua de sinais Cada grupo pertence a
um contexto social diferente A liacutengua de sinais transforma e desenvolve
o conhecimento caseiro bem como a troca de informaccedilotildees a
participaccedilatildeo na associaccedilatildeo de surdos e na busca de mais contato com
outros surdos Na escola o surdo conseguia aprender mais quando o
professor surdo (Francisco) ensinava na liacutengua de sinais e tambeacutem
quando proporcionava aos seus alunos um contato social que antes natildeo
existia
190
191
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ANEXOS
Anaacutelise Comparativa dos Dados Variaccedilatildeo e Mudanccedila Linguiacutestica
Sinais
(Leacutexico)
Forma do
Sinal
(Configuraccedilatildeo
de Matildeos)
Identificaccedilatildeo
de Classe
Faixa
Etaacuteria
(Grupo)
Geraccedilatildeo
Ajudar1
CM ndash 63
Informante
H D E F A
C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Ajudar2
CM ndash 02 63
Informante
D E B
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Ajudar3
CM ndash 01 63
Informante
H I F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Ajudar4
CM ndash 14 63
Informante
I E F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Aluno1
CM ndash 01
Informante
G I A B C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Aluno2
CM ndash 63
Informante
G H I D B
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Amanhatilde1 CM ndash 14 Informante 60 a 80 I
200
H Anos
Amanhatilde2 CM ndash 63 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Amanhatilde3
CM ndash 35a
Informante
I A B
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Antes1 CM ndash 53a Informante
I
60 a 80
Anos
I
Antes2 CM ndash 63 Informante
I
60 a 80
Anos
I
Antes3
CM ndash 08a 63
Informante
G E F B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Aposentar1
CM ndash 02 57
Informante
G I F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Aposentar2
CM ndash 01 11
Informante
G I F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Aposentar3 CM ndash 07 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Associaccedilatildeo1
CM ndash 01
(2 matildeos)
Informante
G I F D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Associaccedilatildeo2
CM ndash 01
(1 matildeo)
Informante
I D E F A
B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
60 a 80
201
Aula1 CM ndash 63 Informante
G H I E D
A C
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Aviatildeo1 CM ndash 53a Informante
G
60 a 80
Anos
I
Aviatildeo2 CM ndash 36 37a Informante
E F
30 a 60
Anos
II
Aviatildeo3
CM ndash 40
Informante
D E F A B
C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Avocirc1 CM ndash 30 31 Informante
G I
60 a 80
Anos
I
Avocirc2 CM ndash 02 57 Informante
H I
60 a 80
Anos
I
Avocirc3
CM ndash 02
Informante
H I D E F
A
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Azul1 CM ndash 01 Informante
G I
60 a 80
Anos
I
A-z-u-l2 CM ndash 01 08a
14 24
Informante
G I
60 a 80
Anos
I
Azul3
CM ndash 01 08a
Informante
D E F A B
C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Bairro CM ndash 14 63 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Banco1
CM ndash 61
Informante
G H I F
60 a 80 Anos
30 a 60
Anos
I II
Banco2
CM ndash 53a
Informante
60 a 80
Anos
I II III
202
G I F C 30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
Batata1 CM ndash 62 Informante
H
60 a 80
Anos
I
Batata2 CM ndash 63 Informante
H
60 a 80
Anos
I
Branco1
CM ndash 63
Informante
H I B
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Branco2 CM ndash 35a Informante
G
60 a 80
Anos
I
Cafeacute
CM ndash 49
Informante
G F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Calma1
CM ndash 63
(2 matildeos)
Informante
G H I D E
F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Calma2
CM ndash 63
(1 matildeo)
Informante
H I E B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Cama1 CM ndash 37a Informante
G
60 a 80
Anos
I
Cama2 CM ndash 63 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Cavalo1 CM ndash 02 Informante
H
60 a 80
Anos
I
Cavalo2 CM ndash 27 Informante
H I
60 a 80
Anos
I
Chorar1 CM ndash 14 Informante
D
30 a 60
Anos
II
203
Chorar2 CM ndash 18a Informante
H I
60 a 80
Anos
I
Crianccedila1
CM ndash 63
(pequeno)
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Crianccedila2 CM ndash 64 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Crianccedila3
CM ndash 14 63
Informante
D E A C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Crianccedila4 CM ndash 57 63 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Cobra1 CM ndash 14 Informante
H
60 a 80
Anos
I
Cobra2
CM ndash 31
Informante
E F A B
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Conversar1
CM ndash 14
Informante
G H F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Conversar2 CM ndash 63
(2 matildeos)
Informante
G H I D E
F A
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Conversar3 CM ndash 28 Informante
D
30 a 60
Anos
II
Conversar4 CM ndash 44 Informante
D E F
30 a 60
Anos
II
Conversar5 CM ndash 21 Informante
H
60 a 80
Anos
I
Cortar1 CM ndash 14 Informante
H
60 a 80
Anos
I
204
Cortar2 CM ndash 63 Informante
H
60 a 80
Anos
I
Cortar3
CM ndash 14 24
Informante
E B
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Cultura CM - 31 Informante
A B C
15 a 30
Anos
III
Dormir1
CM ndash 63
(1 matildeos e 2
matildeos)
Informante
G H I F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Dormir2 CM ndash 02 47 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Dormir3
CM ndash 21 24
32
Informante
G D F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Depois1 CM ndash 53a
(2 matildeos)
Informante
H I A B C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Depois2
CM ndash 14
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Depois3
CM ndash 53a
(1 matildeo)
Informante
G D E F A
B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Educaccedilatildeo1 CM ndash 46a Informante
H
60 a 80
Anos
I
Educaccedilatildeo2 CM ndash 45 57 Informante
G
60 a 80
Anos
I
205
Escola1
CM ndash 63
Informante
G H I D E
F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Escola2
CM ndash 63
(duas matildeos)
Informante
D E A B C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Estudar
CM ndash 63
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Emagrecer1 CM ndash 39 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Emagrecer2 CM ndash 47 ou 57 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Engordar1 CM ndash 02 Informante
G H
60 a 80
Anos
I
Engordar2 CM ndash 47 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Engravidar1 CM ndash 14 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Engravidar2 CM ndash 53a Informante
H
60 a 80
Anos
I
Faacutecil1 CM ndash 63 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Faacutecil2 CM ndash 48 Informante
I
60 a 80
Anos
I
Faacutecil3 CM ndash 35a Informante
C
15 a 30
Anos
III
Faculdade1
CM ndash 54
Informante
F A C
30 a 60
Anos
15 a 30 Anos
II III
Faculdade2 CM ndash 21 Informante
I
60 a 80
Anos
I
Faculdade3 CM ndash 55 Informante
A B
15 a 30
Anos
III
206
Falar1
CM ndash 14
Informante
G H D E F
C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Falar2
CM ndash 49
Informante
H D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Falar3
CM ndash 11
(E 1 matildeo e 2
matildeos)
Informante
G H I D E
A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Falar4 CM ndash 21 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Falar5 CM ndash 44 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Feio1
CM ndash 08a
Informante
F B
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Feio2
CM ndash 08a
Informante
D E A
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Feio3 CM ndash 07 64 Informante
G H I
60 a 80
Anos
I
Flor1 CM ndash 57 Informante
D
30 a 60
Anos
II
Flor2 CM ndash 54 Informante
I
60 a 80
Anos
I
Forte1 CM ndash 14 Informante
F
30 a 60
Anos
II
Forte2
CM ndash 02
(2 matildeos)
Informante
G H I D C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II III
207
15 a 30
Anos
Forte3 CM ndash 32
(1 matildeo)
Informante
I
60 a 80
Anos
I
Gato1
CM ndash 08b 20
Informante
G H C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Gato2 CM ndash 59a Informante
I
60 a 80
Anos
I
Gato3 CM ndash 20 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Gostar1 CM ndash 44 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Gostar2 CM ndash 63 Informante
E F
30 a 60
Anos
II
Homem1
CM ndash 50
Informante
G H I D F
A B
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Homem2
CM ndash 21
Informante
H I D F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Hospital1
CM ndash 14
(1 matildeo e 2
matildeos) cruz
Informante
H I C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Hospiatl2
CM ndash 16
Informante
D E F B C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Igreja1 CM ndash 14
(cruz)
Informante
F
30 a 60
Anos
II
Igreja2
CM ndash 14 15
Informante
60 a 80
Anos
I II III
208
H I D E F
A B C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
Igual1
CM ndash 14
Informante
G H I D E
F B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Igual2
CM ndash 14 ( )
Informante
H B
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Igual3
CM ndash 14
(mesmo)
Informante
F C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Igual4 CM ndash 24
(1 matildeo)
Informante
G I A B C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Igual5
CM ndash 24
(2 matildeos)
Informante
I D E F A
B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Igual6 CM ndash 53a Informante
A
15 a 30
Anos
III
Igual7
CM ndash 61
Informante
I A C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Irmatildeo1
CM ndash 14
Informante G H D F
60 a 80
Anos 30 a 60
Anos
I II
Irmatildeo2 CM ndash 24 Informante
D E F
30 a 60
Anos
II
209
Lembrar1
CM ndash 14
Informante
G H D E A
B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Lembrar2
CM ndash 32
Informante
D E F A B
C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Limpar1 CM ndash 02 Informante
H D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Limpar2
CM ndash 64
Informante
H E
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Limpar3
CM ndash 08a
Informante
H D E F A
B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Livro1 CM ndash 63
(duas matildeos)
Informante
G
60 a 80
Anos
I
Livro2
CM ndash 63 08a
Informante
H D E F A
B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Lutar1
CM ndash 08a
Informante
I A B
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Lutar2 CM ndash 02 63 Informante
I D E A B
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II III
210
15 a 30
Anos
Matildee1
CM ndash 63
Informante
H E F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Matildee2 CM ndash 02 07 Informante
A B C
15 a 30
Anos
III
Matildee3
CM ndash 14
Informante I
D B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Matildee4 CM ndash 63
(m)
Informante
G
60 a 80
Anos
I
Matildee5
CM ndash 02
Informante
I D F A
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
M-atilde-e6 CM ndash 01 06
60
Informante
F
30 a 60
Anos
II
Matildee7 CM ndash 02 Informante
F
30 a 60
Anos
II
Mais1
CM ndash 63
Informante
G I E A B
C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Mais2
CM ndash 63
(2 matildeos)
Informante
I D E A
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos 15 a 30
Anos
I II III
Mais3 CM ndash 08a Informante
G I E F
60 a 80
Anos
I II
211
30 a 60
Anos
Mais4
CM ndash 14
Informante
I E C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Matemaacutetica1
CM ndash 02
Informante
G H I D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Matemaacutetica2
CM ndash 58
Informante
G H I F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Meacutedico1
CM ndash 44
Informante
G F B
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Meacutedico2
CM ndash 16
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Medo1
CM ndash 34 64
Informante
H D F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
III
Medo2 CM ndash 02 Informante
E F
30 a 60
Anos
II
Medo3 CM ndash 33 Informante
F
30 a 60
Anos
II
Melhor1
CM ndash 45
Informante
G H I E
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
212
Melhor2
CM ndash 07
Informante
H I E A B
C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Melhor3
CM ndash 63
Informante
H A C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Morrer1 CM ndash 63 63
(2 matildeos)
Informante
H
60 a 80
Anos
I
Morrer2
CM ndash 63
Informante
H I D E F
C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Mudar1
CM ndash 07
Informante
G H E A B
C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
30 a 60
Anos
I II III
Mudar2 CM ndash 44
(1 matildeo e 2
matildeos)
Informante
H I E F B
C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Mulher1 CM ndash 07
(menina) (oral)
Informante
H
60 a 80
Anos
I
Mulher2
CM ndash 07 63
Informante
H D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Mulher3
CM ndash 07
Informante
G I D E F
B
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II III
213
15 a 30
Anos
Noite1
CM ndash 57 44
Informante
G D F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Noite2
CM ndash 53
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Nome1
CM ndash 21
Informante
G H I A
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Nome2
CM ndash 24
Informante
G H I D E
F A C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Noacutes1
CM ndash 14
Informante
G D E F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Noacutes2
CM ndash 14
Informante
E A
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
N-u-n1
CM ndash 24
Informante
I D E
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
N-u-n-c-a2
CM ndash 01 24
51a
Informante
I D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
214
Nunca3
CM ndash 14
(2 matildeos)
Informante
I D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Objetivo1 CM ndash 42 58 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Objetivo2 CM ndash 14 Informante
B
15 a 30
Anos
III
Ocircnibus1 CM ndash 07 Informante
F
30 a 60
Anos
II
Ocircnibus2 CM ndash 31 Informante
I B
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Ovo1 CM ndash 44 57 Informante
I
60 a 80
Anos
I
O-v-o2 CM ndash 42 32 Informante
G H
60 a 80
Anos
I
Padre1 CM ndash 11 Informante
G
30 a 60
Anos
II
Padre2
CM ndash 21
Informante
G H D F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Padre3
CM ndash 24
Informante
I F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
P-a-i1
CM ndash 01 11
38
Informante
G H I D E
F A
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Pai2
CM ndash 11 (p)
Informante
G H F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II III
215
15 a 30
Anos
Pai3 CM ndash 14 Informante
G H I
60 a 80
Anos
I
Pai4
CM ndash 16
Informante
I F B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Pai5
CM ndash 02 45
Informante
E A B C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Patildeo1 CM ndash 02 47
57
Informante
H
60 a 80
Anos
I
Patildeo2 CM ndash 63 Informante
H
60 a 80
Anos
I
Patildeo3
CM ndash 01
Informante
I F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Peixe1 CM ndash 16 Informante
G I
60 a 80
Anos
I
Peixe2
CM ndash 63
Informante
I F A
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Pessoa1
CM ndash 11
Informante
G I C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Pessoa2
CM ndash 35a
Informante
I D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Pessoa3
CM ndash 18a
Informante
F A C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
216
Pode-Natildeo1 CM ndash 14
(2 matildeos)
Informante
D E
30 a 60
Anos
II
Pode-Natildeo2 CM ndash 14
(1 matildeo)
Informante
F
30 a 60
Anos
II
Poliacutetica1 CM ndash 11 51a Informante
G I
60 a 80
Anos
I
Poliacutetica2
CM ndash 11
Informante
I E B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Poliacutetica3 CM ndash 14 Informante
D E
30 a 60
Anos
II
Porque1
CM ndash 15
Informante
G H I D F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Porque2 CM ndash 14 Informante
G H I E F
A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Povo1 CM ndash 02 64 Informante
G I
60 a 80
Anos
I
Povo2 CM ndash 11 Informante
I
60 a 80
Anos
I
P-o-v-o3 CM ndash 11 32
42
Informante
I
60 a 80
Anos
I
Preto1
CM ndash 05
Informante
G H I F B
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Preto2 CM ndash 34 62 Informante
G H I
60 a 80
Anos
I
Primeiro1
CM ndash 07 14
Informante
60 a 80
Anos
I II III
217
G I E F C 30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
Primeiro2
CM ndash 14
Informante
H F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Primeiro3 CM ndash 14
(duas matildeos)
Informante
D
30 a 60
Anos
II
Primeiro4
CM ndash 07
Informante
F E C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Profissional
1
CM ndash 11 Informante
I
60 a 80
Anos
I
Profissional
2
CM ndash 63 Informante
C
15 a 30
Anos
III
Prova1 CM ndash 63 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Prova2
CM ndash 53a
(duas matildeos)
Informante
E F A B C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Respeitar1 CM ndash 53a Informante
D E
30 a 60
Anos
II
Respeitar2 CM ndash 25 Informante
E F
30 a 60
Anos
II
Responsaacutevel
1
CM ndash 25
Informante
I D E B
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Responsaacutevel
2
CM ndash 25
(duas matildeos)
Informante
I D E F A
B
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II III
218
15 a 30
Anos
Responsaacutevel
3
CM ndash 63
(duas matildeos)
Informante
G I
60 a 80
Anos
I
Reuniatildeo1 CM ndash 15 Informante
D
30 a 60
Anos
II
Reuniatildeo2
CM ndash 25
Informante
D E A
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Reuniatildeo3 CM ndash 14 Informante
G H D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Saber1
CM ndash 63
Informante
D B C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Saber2
CM ndash 14
Informante
G H I D E
F A C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Saber3
CM ndash 44 53a
Informante
G H I F A
B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Saber4
CM ndash 11
Informante
E F C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Semana1 CM ndash 10 Informante
D E
30 a 60
Anos
II
Semana2 CM ndash 10 Informante
B
15 a 30
Anos
III
Semana3 CM ndash 08a 64 Informante
I
60 a 80
Anos
I
219
Sim1
CM ndash 02
Informante
H D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
S-i-m2 CM ndash 02 38
60
Informante
H I
60 a 80
Anos
I
Sim3 CM ndash 59a 63 Informante
G H
60 a 80
Anos
I
Surdo1
CM ndash 14
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Surdo2
CM ndash 25
Informante
G I D E B
C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Tambeacutem1
CM ndash 61
Informante
G H I D E
A
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Tambeacutem2
CM ndash 14
Informante
G H I D E
F B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Tarde1 CM ndash 63 Informante
G H I
60 a 80
Anos
I
Tarde2 CM ndash 44 47
63
Informante
H
60 a 80
Anos
I
Tarde3 CM ndash 63 Informante
G H
60 a 80
Anos
I
Teatro1 CM ndash 57 Informante
I
60 a 80
Anos
I
220
Teatro2 CM ndash 49 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Tempo1
CM ndash 14
Informante
H I D E A
B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Tempo2
CM ndash 57
Informante
H I D E
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Tempo3
CM ndash 63
Informante
G I D E C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Tempo4
CM ndash 45
Informante
G D E F A
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Ter1
CM ndash 63 64
Informante
G H I D F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Ter2
CM ndash 08a
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Tio1
CM ndash 56
Informante
H F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Tio2
CM ndash 51b
Informante
30 a 60
Anos
II III
221
D E F A B
C
15 a 30
Anos
Trabalhar1
CM ndash 08a
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Trabalhar2
CM ndash 14
Informante
H I F A
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Trabalhar3 CM ndash 24 Informante
I
60 a 80
Anos
I
Tudo CM ndash 63
(duas matildeos)
Informante
F
30 a 60
Anos
II
Vagabundo1 CM ndash 63 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Vagabundo2 CM ndash 64 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Ver1 CM ndash 14 Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Ver2
CM ndash 32
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Ver3
CM ndash 64
Informante D E B C
30 a 60
Anos 15 a 30
Anos
II III
Vergonha1
CM ndash 64
Informante
60 a 80
Anos
I II
222
I E 30 a 60
Anos
Vergonha2 CM ndash 11 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Vermelho1 CM ndash 32 Informante
G H I
60 a 80
Anos
I
Vermelho2 CM ndash 14 Informante
G H I
60 a 80
Anos
I
Viajar1 CM ndash 63 Informante
D E F
30 a 60
Anos
II
Viajar2 CM ndash 45 Informante
F
30 a 60
Anos
II
WC CM ndash 48 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Palavras no total 255 sinais lexicais
Palavra Ajudar 4 Sinais Palavra Mais 4 Sinais
Palavra Aluno 2 Sinais Palavra Matemaacutetica 2 Sinais
Palavra Amanhatilde 3 Sinais Palavra Meacutedico 2 Sinais
Palavra Antes 3 Sinais Palavra Medo 3 Sinais
palavra Aposentar 3 Sinais Palavra Melhor 3 Sinais
Palavra Associaccedilatildeo 2 Sinais Palavra Morrer 2 Sinais
Palavra Aula 1 Sinal Palavra Mudar 2 Sinais
Palavra Aviatildeo 3 Sinais Palavra Mulher 3 Sinais
Palavra Avocirc 3 Sinais Palavra Noite 2 Sinais
Palavra Azul 3 Sinais Palavra Nome 2 Sinais
Palavra Bairro 1 Sinal Palavra Noacutes 2 Sinais
Palavra Banco 2 Sinais Palavra Nunca 3 Sinais
Palavra Batata 2 Sinais Palavra Objetivo 2 Sinais
Palavra Branco 2 Sinais Palavra Ocircnibus 2 Sinais
Palavra Cafeacute 1 Sinal Palavra Ovo 2 Sinais
Palavra Calma 2 Sinais Palavra Padre 3 Sinais
Palavra Cama 2 Sinais Palavra Pai 5 Sinais
Palavra Cavalo 2 Sinais Palavra Patildeo 3 Sinais
Palavra Chorar 2 Sinais Palavra Peixe 2 Sinais
Palavra Crianccedila 4 Sinais Palavra Pessoa 3 Sinais
Palavra Cobra 2 Sinais Palavra Pode-natildeo 2 Sinais
Palavra Conversar 5 Sinais Palavra Poliacutetica 3 Sinais
Palavra Cortar 3 Sinais Palavra Porque 2 Sinais
223
Palavra Cultura 1 Sinal Palavra Povo 3 Sinais
Palavra Dormir 3 Sinais Palavra Preto 2 Sinais
Palavra Depois 3 Sinais Palavra Primeiro 4 Sinais
Palavra Educaccedilatildeo 2 Sinais Palavra Profissional 2 Sinais
Palavra Escola 2 Sinais Palavra Prova 2 Sinais
Palavra Estudar 1 Sinal Palavra Respeitar 2 Sinais
Palavra Emagrecer 2 Sinais Palavra Responsaacutevel 3 Sinais
Palavra Engordar 2 Sinais Palavra Reuniatildeo 3 Sinais
Palavra Engravidar 2 Sinais Palavra Saber 4 Sinais
Palavra Faacutecil 3 Sinais Palavra Semana 3 Sinais
Palavra Faculdade 3 Sinais Palavra Sim 3 Sinais
Palavra Falar 5 Sinais Palavra Surdo 2 Sinais
Palavra Feio 3 Sinais Palavra Tambeacutem 2 Sinais
Palavra Flor 2 Sinais Palavra Tarde 3 Sinais
Palavra Forte 3 Sinais Palavra Teatro 2 Sinais
Palavra Gato 3 Sinais Palavra Tempo 4 Sinais
Palavra Gostar 2 Sinais Palavra Ter 2 Sinais
Palavra Homem 2 Sinais Palavra Tio 2 Sinais
Palavra Hospital 2 Sinais Palavra Trabalhar 3 Sinais
Palavra Igreja 2 Sinais Palavra Tudo 1 Sinal
Palavra Igual 7 Sinais Palavra Vagabundo 2 Sinais
Palavra Irmatildeo 2 Sinais Palavra Ver 3 Sinais
Palavra Lembrar 2 Sinais Palavra Vergonha 2 Sinais
Palavra Limpar 3 Sinais Palavra Vermelho 2 Sinais
Palavra Livro 2 Sinais Palavra Viajar 2 Sinais
Palavra Lutar 2 Sinais Palavra WC 1 Sinal
Palavra Matildee 7 Sinais
224
225
AS CONFIGURACcedilOtildeES DE MAtildeOS
Cm 01
Cm 02
Cm 03
Cm 04
Cm 05
Cm 06
Cm 07
Cm 08a
Cm 08b
Cm 09
Cm 10
Cm 11
Cm 12
Cm 13
Cm 14
Cm 15
Cm 16
Cm 17
Cm 18a
Cm 18b
Cm 19
Cm 20
Cm 21
Cm 22a
Cm 22b
Cm 23
Cm 24
Cm 25
Cm 26
Cm 27
226
Cm 28
Cm 29a
Cm 29b
Cm 30
Cm 31
Cm 32
Cm 33
Cm 34
Cm 35a
Cm 35b
Cm 36
Cm 37a
Cm 37b
Cm 38
Cm 39
Cm 40
Cm 41
Cm 42
Cm 43
Cm 44
Cm 45
Cm 46a
Cm 46b
Cm 47
Cm 48
Cm 49
Cm 50
Cm 51a
Cm 51b
Cm 52
Cm 53a
Cm 53b
Cm 54
Cm 55
Cm 56
227
Cm 57
Cm 58
Cm 59a
Cm 60
Cm 61
Cm 62
Cm 63
Cm 64
228