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DEONÍSIO SCHMITT A HISTÓRIA DA LÍNGUA DE SINAIS EM SANTA CATARINA: Contextos sócio-históricos e sociolinguísticos de surdos de 1946 a 2010 Orientadora: Profª. Dra. Izete Lehmkuhl Coelho Coorientador: Prof. Dr. Tarcísio de Arantes Leite Tese apresentada ao programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal de Santa Catarina UFSC, para obtenção do título de doutor em Linguística. Florianópolis, 2013.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA · 2016. 3. 5. · período já referido. A partir da teoria laboviana, analisam-se certos padrões sociolinguísticos verificados nesta pesquisa

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Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA · 2016. 3. 5. · período já referido. A partir da teoria laboviana, analisam-se certos padrões sociolinguísticos verificados nesta pesquisa

DEONIacuteSIO SCHMITT

A HISTOacuteRIA DA LIacuteNGUA DE SINAIS EM SANTA CATARINA

Contextos soacutecio-histoacutericos e sociolinguiacutesticos de surdos de 1946 a 2010

Orientadora Profordf Dra Izete Lehmkuhl Coelho

Coorientador Prof Dr Tarciacutesio de Arantes Leite

Tese apresentada ao programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo

em Linguiacutestica da Universidade Federal de Santa

Catarina ndash UFSC para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de

doutor em Linguiacutestica

Florianoacutepolis 2013

Ficha de identificaccedilatildeo da obra elaborada pelo autor atraveacutes do Programa de Geraccedilatildeo Automaacutetica da Biblioteca Universitaacuteria da UFSC

Schmitt Deonisio

A HISTOacuteRIA DA LIacuteNGUA DE SINAIS EM SANTA CATARINA Contextos soacutecio-histoacutericos e sociolinguiacutesticos de surdos de 1946 a 2010 Deonisio Schmitt orientadora Izete Lehmkuhl Coelho co-orientador Tarciacutesio de Arantes Leite - Florianoacutepolis SC 2013 228 p

Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa

Catarina Centro de Comunicaccedilatildeo e Expressatildeo Programa de Poacutes- Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica

Inclui referecircncias

1 Linguiacutestica 2 Histoacuteria da LIBRAS 3

Sociolinguiacutestica 4 Soacutecio-histoacuterico 5 Variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas I Izete Lehmkuhl Coelho II Tarciacutesio de Arantes Leite III Universidade Federal de Santa Catarina Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica IV Tiacutetulo

A HISTOacuteRIA DA LIacuteNGUA DE SINAIS EM SANTA CATARINA

Contextos soacutecio-histoacutericos e sociolinguiacutesticos de surdos de 1946 a 2010

Orientadora Profordf Dra Izete Lehmkuhl Coelho

Coorientador Prof Dr Tarciacutesio de Arantes Leite

Banca Examinadora

Profordf Dra Fabiacuteola Sucupira Ferreira Sell ndash UDESC (Membro Externo)

Profordf Dra Lodenir Becker Karnopp ndash UFRGS (Membro Externo)

Profordf Dra Ronice Muller de Quadros ndash UFSC (Membro Interno)

Profordf Dra Edair Maria Goumlrski ndash UFSC (Membro Interno)

Profordf Dra Karin Liacutelian Strobel ndash UFSC (Membro Interno)

Profordf Dra Aline Lemos Pizzio ndash UFSC (Membro Suplente Interno)

Profordf Dra Sueli Costa ndash IFSC (Membro Suplente Externo)

Florianoacutepolis 2013

ldquoOs procedimentos da linguiacutestica descritiva se

baseiam no entendimento de que a liacutengua eacute um

conjunto estruturado de normas sociais No

passado foi uacutetil considerar que tais normas eram

invariantes e compartilhadas por todos os

membros da comunidade linguiacutestica Todavia as

anaacutelises do contexto social em que a liacutengua eacute

utilizada vieram demonstrar que muitos

elementos da estrutura linguiacutestica estatildeo

implicados na variaccedilatildeo sistemaacutetica que reflete

tanto a mudanccedila no tempo quanto os processos

sociais extralinguumliacutesticosrdquo (LABOV 1968 p

241)

ldquoQuando eu aceito a liacutengua de outra pessoa eu

aceitei a pessoa Quando eu rejeito a liacutengua eu

rejeitei a pessoa porque a liacutengua eacute parte de noacutes

mesmos Quando eu aceito a Liacutengua de Sinais

eu aceito o surdo e eacute importante ter sempre em

mente que o surdo tem o direito de ser surdo

Devemos ensinaacute-los ajudaacute-los mas temos que

permitir-lhe ser surdordquo (TERJE BASILIER

psiquiatra norueguecircs)

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais por terem me acompanhado e me dado forccedila para

essa caminhada

A minha amada esposa por ter paciecircncia comigo durante todos

esses anos

Aos meus filhos Eduardo Espiacutendola Schmitt e Mocircnica Espiacutendola

Schmitt que sofreu juntamente com minha esposa cuidando dele nas

cansativas muito correria de trabalho por motivo de paciecircncia comigo

durante do estudo e trabalho

Ao Sr Francisco Lima Juacutenior guerreiro no movimento de surdos

pela primeira escola e associaccedilatildeo que marca o registro histoacuterico na

liacutengua de sinais sofreram a mudanccedila o tempo em Santa Catarina

A Associaccedilatildeo de Surdos da Grande Florianoacutepolis Sociedade de

Surdos de Satildeo Joseacute Universidade Federal de Santa Catarina

Universidade do Estado de Santa Catarina Grupo de Estudos Surdos e

Comunidade Surda pelo seu apoio

Agrave professora Dra Izete Lehmkul Coelho (UFSC) pela sua

orientaccedilatildeo de pesquisa na aacuterea em sociolinguiacutestica e me dava a

disciplina no estudo referecircncia teoacuterico

Ao meu co-orientador Dr Tarciacutesio de Arantes Leite pela sua

orientaccedilatildeo muito detalhe no estudo as liacutenguas de sinais

Aos colegas de LetrasLIBRAS pelo incentivo e forccedila de vontade

no compartilhamento das experiecircncias no estudo linguiacutestico dos surdos

A Dra Ronice Muller de Quadros abriu a oportunidade de espaccedilo

acadecircmico na liacutengua de sinais na Universidade Federal de Santa

Catarina ndash UFSC

A Prof Dra Edair Maria Goumlrski convidado especial na disciplina

sociolinguiacutestica na banca de examinadora e antes tambeacutem esteve na

minha qualificaccedilatildeo em 2012

Aos colegas surdos na faixa etaacuteria que compartilharam comigo

durante as entrevistas de gravaccedilotildees sobre a histoacuteria de surdos em Santa

Catarina

A CAPES e REUNI pelo fornecimento de bolsa no programa de

poacutes-graduaccedilatildeo - PGL oferecendo-me a oportunidade de desenvolver

meu estudo e pesquisa

Convidado especial nas bancas de examinadoras Fabiacuteola Sucupira

Ferreira Sell Karin Liacutelian Strobel e Lodenir Becker Karnopp membro e

suplente Aline Lemos Pizzio e Suelli Costa

Aacutes colegas Edgar Correa Veras Nataacutelia Schleder Rigo e Tiago

Coimbra Nogueira que me interpretaram na banca de qualificaccedilatildeo em

2012 Daniela Bieleski Diego Mauricio Barbosa e Gisele Iandra Pessini

Anater que me interpretaram na banca avaliaccedilatildeo de defesa

A Maria Eloiza de Macedo por nos ajudar com discussotildees na

revisatildeo e pela paciecircncia e comprometimento e

Apoio a ediccedilatildeo de filmagem satildeo Marcos Luchi Joatildeo Paulo

Ampessan e Marcos Alexandre Marquioto

RESUMO

Esta pesquisa visa identificar possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas

linguiacutesticas ocorridas na Liacutengua Brasileira de Sinais (LIBRAS) no periacuteodo

histoacuterico de 1946 a 2010 analisando narrativas filmadas de trecircs geraccedilotildees de

sujeitos surdos usuaacuterios dessa liacutengua O Grupo I eacute formado por indiviacuteduos

com mais de 60 anos o Grupo II por indiviacuteduos de 30 a 60 anos o Grupo

III eacute formado por indiviacuteduos de 15 a 30 anos Na primeira parte do trabalho

apresentamos uma revisatildeo de base teoacuterico-metodoloacutegica fundamentada nos

estudos de Labov (2008 [1972]) sobre mudanccedilas linguiacutesticas no contexto

social observadas em tempo aparente na ilha de Martha‟s Vineyard e em

Nova York A concepccedilatildeo da variaccedilatildeo sociolinguiacutestica pode nos ajudar nesta

investigaccedilatildeo que versa sobre a histoacuteria da LIBRAS em Santa Catarina no

periacuteodo jaacute referido A partir da teoria laboviana analisam-se certos padrotildees

sociolinguiacutesticos verificados nesta pesquisa Considera-se o fato de apenas

uma pessoa ter influenciado toda uma comunidade de surdos em Santa

Catarina o professor Francisco Lima Juacutenior que veio do Rio de Janeiro

para Florianoacutepolis em 1946 Baseando-nos nesta data escolhemos o periacuteodo

acima citado para traccedilar um percurso de possiacuteveis transformaccedilotildees

linguiacutesticas de natureza interna e externa ocorridas na LIBRAS em Santa

Catarina Os resultados desta pesquisa apontam que haacute variaccedilatildeo e mudanccedila

em tempo aparente na LIBRAS relacionando o contexto linguiacutestico atual

dos jovens (Grupo III) a transformaccedilotildees histoacutericas e sociais observadas na

comunidade surda em Santa Catarina

Palavras-chave Histoacuteria da LIBRAS sociolinguiacutestica soacutecio-histoacuterico

variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas

ABSTRACT

This research aims to identify eventual linguistic variations and

changes in Brazilian Sign Language (LIBRAS) in the period from 1946 to

2010 through the analysis of the filmed narratives of three generations of

deaf people users of that language Group I is formed by individuals over

60 years-old Group II by individuals between 30 and 60 years-old and

Group III individuals between 15 and 30 years-old In the first part of this

research we present a theoretical-methodological review based on the

studies of Labov (2008 [1972]) about the social context of changes

observed in apparent time in Martha‟s Vineyard and in New York City We

believe the theory of language variation and change can help us in this

research which deals with the history of LIBRAS in Santa Catarina in the

period mentioned above Based on Labov‟s theory we analize certain

sociolinguistic patterns that were verified in this research We consider the

fact that only one person had influence on a whole deaf community in its

linguistic development teacher Francisco Lima Juacutenior who came from Rio

de Janeiro to Florianoacutepolis in 1946 Considering this date we chose the

period from 1946 to 2010 to trace back the path of eventual linguistic

transformations both internal and external in LIBRAS in Santa Catarina

We expect that in the outcome of this research there is variation and change

in apparent time of LIBRAS relating the present context linguistic to youth

(Group III) to the historical and social transformations observed the deaf

community in Santa Catarina

Keywords History of LIBRAS sociolinguistics sociohistory language

variation and change

RESUMEN

El objetivo de esta investigacioacuten es identificar posibles variaciones y

cambios linguiacutesticos ocurridos en la Lengua Brasilentildea de Sentildeales

(LIBRAS) en el periodo comprendido entre 1946 y 2010 analizando

narrativas grabadas de tres generaciones de individuos sordos usuarios de

esa lengua El Grupo I esta formado por individuos con maacutes de 60 antildeos el

Grupo II por individuos de 30 a 60 antildeos el Grupo III es formado por

individuos de 15 a 30 antildeos Se presenta en la primera etapa de la

investigacioacuten un repaso teoacuterico-metodoloacutegico fundamentado en los estudios

de Labov (2008 [1972]) acerca de cambios linguiacutesticos en el contexto

social observados en tiempo aparente en la Isla de Martha‟s Vineyard y en

Nueva York La concepcioacuten de la variacioacuten sociolinguiacutestica nos puede

ayudar en este estudio el cual trata de la historia de la LIBRAS en Santa

Catarina en el periodo mencionado A partir de la teoriacutea laboviana se

analizan ciertos patrones sociolinguiacutesticos verificados en esta investigacioacuten

Se considera el hecho de solo una persona haber influenciado toda la

comunidad de sordos en Santa Catarina el profesor Francisco Lima Juacutenior

que partioacute del Rio de Janeiro para Florianoacutepolis en el antildeo de 1946 Con base

en esta fecha elegimos el periodo antes mencionado para disentildear una

trayectoria de las posibles transformaciones linguiacutesticas de caraacutecter interno

y externo ocurridas en la lengua de sentildeales en Santa Catarina Se espera que

los resultados de esta investigacioacuten indiquen que existe una variacion y

cambio en el tiempo aparente en LIBRAS relacionando el contexto

linguiacutesticas actual a joacutevenes (Grupo III) las transformaciones historicas y

sociales observados la comunidad sorda de Santa Catarina

Palabras-clave Historia de la LIBRAS sociolinguiacutestica sociohistorio

variacioacuten y cambio linguiacutesticos

LISTA DE ABREVIATURAS

ACT ndash Admissatildeo em Caraacuteter Temporaacuterio

ASL ndash Liacutengua de Sinais Americana

ASURJ ndash Associaccedilatildeo dos Surdos de Rio de Janeiro

BESC ndash Banco do Estado de Santa Catarina

BSL ndash Liacutengua de Sinais Britacircnica

CAPES ndash Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel

Superior

CELESC ndash Centrais Eleacutetricas de Santa Catarina SA

CSMSC ndash Ciacuterculo de Surdos-Mudos de Santa Catarina

FCEE ndash Fundaccedilatildeo Catarinense de Educaccedilatildeo Especial

FENEIS ndash Federaccedilatildeo Nacional de Educaccedilatildeo e Integraccedilatildeo dos Surdos

FUTSAL ndash Futebol de Salatildeo

IATEL ndash Instituto de Audiccedilatildeo e Terapia da Linguagem

INES ndash Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos

INSM ndash Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos-Mudos

IPS ndash Instituto Paulista de Surdos

LIBRAS ndash Liacutengua Brasileira de Sinais

LSB ndash Liacutengua de Sinais Brasileiras

LSF ndash Liacutengua de Sinais Francesa

MEC ndash Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

NEESPI ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo Especial e Inclusiva

PGL ndash Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica

REUNI ndash Programa de Apoio a Planos de Reestruturaccedilatildeo e Expansatildeo

das Universidades Federais Brasileiras

UFSC ndash Universidade Federal de Santa Catarina

UNIVALI ndash Universidade do Vale do Itajaiacute

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 ndash Sinal de Matildee35

Figura 02 ndash Sinal de Matildee37

Figura 03 ndash Retirado do livro de GROCE Nora Ellen Everyone Here

Spoke Sign Language Hereditary Deafness on Martha‟s Vineyard

Printed in the United States of America 195244

Figura 04 ndash Retirado do livro de LABOV Willian Padrotildees

Sociolinguiacutesticos45

Figura 05 ndash Retirado no site

httpcawikipediaorgwikiMartha27s_Vineyard45

Figura 06 ndash O trapezoacuteide das vogais a flecha indica a direccedilatildeo de

movimento do primeiro elemento de (aw)62

Figura 07 ndash Sinal de Porco67

Figura 08 ndash Abade L‟Epeacutee ensinando os surdos na liacutengua de sinais

francesa72

Figura 09 ndash Acervo na Revista da FENEIS81

Figura 10 ndash Acervo de Ana Regina e Souza Campello ndash UFSC83

Figura 11 ndash Acervo da Heloise Gripp Diniz ndash UFSC 0184

Figura 12 ndash Acervo da Heloise Gripp Diniz ndash UFSC 0284

Figura 13 ndash Acervo do Francisco - eacute o primeiro dicionaacuterio na liacutengua de

sinais em Santa Catarina em 194793

Figura 14 ndash Acervo do Profdeg Francisco - fotografia de Jornal que traz

reportagem sobre o livro ldquoLinguagem das Matildeosrdquo96

Figura 15 ndash Mostrar os Sinais106

Figura 16 ndash Variaccedilatildeo Fonoloacutegica108

Figura 17 ndash Mostrar os sinais com uma matildeo e com duas matildeos108

Figura 18 ndash Sinal de Paacutessaro110

Figura 19 e 20 ndash Ferreira-Brito e Langevin112

Figura 21 ndash httpwwwinesgovbrlibrasprincipalaspASSU_id=3112

Figura 22 ndash Quadro de CMs da LSB por Pimenta e Quadros112

Figura 23 ndash Sinal - ldquoCultura em SCrdquo115

Figura 24 ndash Sinal - ldquoCultura em SPrdquo115

Figura 25 ndash Sinal - ldquoCultura em RJrdquo115

Figura 26 ndash Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo ndash Depto Educaccedilatildeo

Especial ndash CuritibaPR SEEDSUEDDEE117

Figura 27 ndash Sinal de Ajudar118

Figura 28 ndash Sinal de Faltar119

Figura 29 ndash Sinal de Ocircnibus119

Figura 30 ndash Sinal de Sonhar119

Figura 31 CM ndash 01 11154

Figura 32 CM ndash 02 57154

Figura 33 CM ndash 07155

Figura 34 CM ndash 01 11154

Figura 35 CM ndash 02 57154

Figura 36 CM ndash 01 11154

Figura 37 CM ndash 53a156

Figura 38 CM ndash 36156

Figura 39 CM ndash 37a156

Figura 40 CM ndash 40156

Figura 41 CM ndash 40156

Figura 42 CM ndash 02157

Figura 43 CM ndash 14158

Figura 44 CM ndash 63158

Figura 45 CM ndash 02157

Figura 46 CM ndash 14158

Figura 47 CM ndash 63158

Figura 48 CM ndash 02 07157

Figura 49 CM ndash 14158

Figura 50 CM ndash 11159

Figura 51 CM ndash 14160

Figura 52 CM ndash 16160

Figura 53 CM ndash 16159

Figura 54 CM ndash 02 45160

Figura 55 CM ndash 11 38159

Figura 56 CM ndash 16160

Figura 57 CM ndash 02 45160

Figura 58 CM ndash 11 51a162

Figura 59 CM ndash 11162

Figura 60 CM ndash 14162

Figura 61 CM ndash 11162

Figura 62 CM ndash 34 62163

Figura 63 CM ndash 05163

Figura 64 CM ndash 05163

Figura 65 CM ndash 05163

Figura 66 CM ndash 14164

Figura 67 CM ndash 25164

Figura 68 CM ndash 14164

Figura 69 CM ndash 15165

Figura 70 CM ndash 25164

Figura 71 CM ndash 08a 64166

Figura 72 CM ndash 10166

Figura 73 CM ndash 10166

Figura 74 CM ndash 10166

Figura 75 CM ndash 53a168

Figura 76 CM ndash 61168

Figura 77 CM ndash 53a168

Figura 78 CM ndash 61168

Figura 79 CM ndash 53a168

Figura 80 CM ndash 07 64169

Figura 81 CM ndash 08a169

Figura 82 CM ndash 08a169

Figura 83 CM ndash 16170

Figura 84 CM ndash 44170

Figura 85 CM ndash 16170

Figura 86 CM ndash 44170

Figura 87 CM ndash 16170

Figura 88 CM ndash 21171

Figura 89 CM ndash 24171

Figura 90 CM ndash 24171

Figura 91 CM ndash 24171

Figura 92 CM ndash 14172

Figura 93 CM ndash 15173

Figura 94 CM ndash 14172

Figura 95 CM ndash 15173

Figura 96 CM ndash 14172

Figura 97 CM ndash 53a 63175

Figura 98 CM ndash 08a175

Figura 99 CM ndash 08a175

Figura 100 CM ndash 08a175

Figura 101 CM ndash 63177

Figura 102 CM ndash 14 24177

Figura 103 CM ndash 14177

Figura 104 CM ndash 14177

Figura 105 CM ndash 24177

Figura 106 CM ndash 24177

Figura 107 CM ndash 62180

Figura 108 CM ndash 24180

Figura 109 CM ndash 21181

Figura 110 CM ndash 11180

Figura 111 CM ndash 24180

Figura 112 CM ndash 21181

Figura 113 CM ndash 24180

Figura 114 CM ndash 63182

Figura 115 CM ndash 08a182

Figura 116 CM ndash 63182

Figura 117 CM ndash 08a182

Figura 118 CM ndash 08a182

LISTA DE QUADROS

Quadro 01 Sinal de Aposentar155

Quadro 02 Sinal de Aviatildeo156

Quadro 03 Sinal de Matildee158

Quadro 04 Sinal de Pai160

Quadro 05 Sinal de Poliacutetica162

Quadro 06 Sinal de Preto163

Quadro 07 Sinal de Reuniatildeo165

Quadro 08 Sinal de Semana166

Quadro 09 Sinal de Banco168

Quadro 10 Sinal de Feio169

Quadro 11 Sinal de Meacutedico170

Quadro 12 Sinal de Nome171

Quadro 13 Sinal de Porque173

Quadro 14 Sinal de Antes175

Quadro 15 Sinal de Cortar177

Quadro 16 Sinal de Padre181

Quadro 17 Sinal de Ter182

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 Centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por grupos

ocupacionais51

Tabela 02 Centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por faixa etaacuteria51

Tabela 03 Distribuiccedilatildeo geograacutefica da centralizaccedilatildeo53

Tabela 04 Cruzamento de fatores 6 falantes com o maior grau de

centralizaccedilatildeo55

Tabela 05 Centralizaccedilatildeo por grupos eacutetnicos56

Tabela 06 Centralizaccedilatildeo e atitude com relaccedilatildeo a Martha‟s Vineyard58

Tabela 07 A escala em tempo aparente eacute chamada de ldquogradaccedilatildeo

etaacuteriardquo61

Tabela 08 Mudanccedila de (aw) e (ay) em tempo aparente atraveacutes de duas

geraccedilotildees em Martha‟s Vineyard62

Tabela 09 Preliminar dos dados ndash variaccedilotildees ou mudanccedilas

linguiacutesticas151

SUMAacuteRIO

Introduzindo a pesquisa na liacutengua de sinais25 CAPIacuteTULO I ndash Delimitaccedilatildeo do objeto de pesquisa31

11 Introduccedilatildeo31

12 Mudanccedilas histoacutericas na LIBRAS e variaccedilotildees linguiacutesticas de

1946 a 2010 em Santa Catarina31

13 Objetivo Geral33

14 Objetivos especiacuteficos33

15 Questotildees e Hipoacuteteses de pesquisa na liacutengua de sinais37

CAPIacuteTULO II ndash Pressupostos teoacuterico-metodoloacutegicos da sociolinguiacutestica

laboviana39

21 Introduccedilatildeo39

22 A liacutengua em seu contexto social40

221 LABOV pesquisador pioneiro em sociolinguiacutestica40

222 A Ilha de Martha‟s Vineyard42

223 Seleccedilatildeo da variaacutevel linguiacutestica47

224 Distribuiccedilatildeo por idade e tempo50

225 Uma explicaccedilatildeo possiacutevel para o aumento da centralizaccedilatildeo52

226 A interaccedilatildeo de padrotildees linguiacutesticos e sociais54

23 Os princiacutepios da mudanccedila linguiacutestica59

231 A idade e a variaccedilatildeo estaacutevel60

232 A idade e a mudanccedila linguiacutestica61

233 Aplicando os conhecimentos da sociolinguiacutestica64

CAPIacuteTULO III ndash A histoacuteria social da liacutengua69

31 Introduccedilatildeo69

32 Charles Michel de LEpeacutee - Instituto Nacional de Surdos-Mudos

em Paris69

33 Eacutedouard Huet ndash Instituto Nacional Educaccedilatildeo de Surdos

(INESRJ)74

34 Francisco Lima Juacutenior - O Primeiro Professor Surdo na liacutengua

de sinais em Santa Catarina87

CAPIacuteTULO IV ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila na liacutengua de sinais101

41 Introduccedilatildeo101

42 A liacutengua de sinais pelo surdo indiacutecios de variaccedilatildeo e mudanccedila

linguiacutestica101

43 As variaccedilotildees linguiacutesticas na liacutengua de sinais116

44 O surdo se comunica a liacutengua de sinais no contexto social118

CAPIacuteTULO V ndash Metodologia121

51 Introduccedilatildeo121

52 A coleta de dados123

53 O meacutetodo de entrevista sociolinguiacutestica a coleta de narrativas

de experiecircncia pessoal124

54 A transcriccedilatildeo de dados dos trecircs grupos compostos de

informantes surdos na liacutengua de sinais126

55 Informantes do grupo surdo na liacutengua de sinais126

56 Descriccedilatildeo dos informantes quanto aos dados129

561 Grupo I - Informantes130

5611 Informante G130

5612 Informante H132

5613 Informante I134

562 Grupo II - Informantes135

5621 Informante D136

5622 Informante E137

5623 Informante F139

563 Grupo III - Informantes140

5631 Informante A140

5632 Informante B141

5633 Informante C143

564 ndash Algumas consideraccedilotildees finais146

CAPITULO VI ndash Descriccedilatildeo e anaacutelise dos resultados149

61 Introduccedilatildeo149

62 A comparaccedilatildeo dos dados o grupo de trecircs geraccedilotildees de surdos na

liacutengua de sinais149

63 Variaccedilatildeo e Mudanccedila lexical na Liacutengua Brasileira de Sinais152

64 Variaccedilatildeo e Mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua Brasileira de

Sinais173

65 O que dizem os resultados das trecircs geraccedilotildees dos informantes na

Liacutengua Brasileira de Sinais 183

Consideraccedilotildees Finais187

Referecircncias Bibliograacuteficas191

Anexos199

25

Introduzindo a pesquisa na liacutengua de sinais

Sou Surdo Pretendo investigar a variaccedilatildeo e a mudanccedila linguiacutestica

na liacutengua de sinais como trabalho final do curso de poacutes-graduaccedilatildeo em

Linguiacutestica niacutevel Doutorado e aprofundar os conceitos adquiridos no

meu mestrado Realizei a defesa do mestrado em 2008 na UFSC O

estudo foi feito na linha de pesquisa em Educaccedilatildeo e Processos

Inclusivos O tema abordado foi ldquoContextualizaccedilatildeo da Trajetoacuteria dos

Surdos e Educaccedilatildeo de Surdos em Santa Catarinardquo

Iniciei no mestrado pesquisando a Educaccedilatildeo de Surdos em SC

Como natildeo haacute documentaccedilatildeo histoacuterica busquei atraveacutes do depoimento

do professor surdo Francisco1 e tambeacutem de documentos e fotografias

que ele tinha resgatar um pouco da trajetoacuteria da Educaccedilatildeo de Surdos em

SC

Aquela pesquisa visava introduzir as narrativas de sujeitos surdos

no que tange a sua histoacuteria memoacuteria e identidade Minha posiccedilatildeo eacute que

atraveacutes dela eacute possiacutevel conseguir elucidar a caminhada realizada pelos

surdos de Santa Catarina E tambeacutem atraveacutes de narrativas captadas com

o professor Francisco Lima Juacutenior (Chiquito) e de alguns de seus ex-

alunos bem como de alguns dados de Jornais fotos e filmagens

consegue-se chegar a escrever a histoacuteria do movimento surdo de Santa

Catarina com respeito agrave organizaccedilatildeo e agrave educaccedilatildeo de surdos O tema foi

muito amplo para pesquisar no mestrado Entatildeo optei por pesquisar a

parte histoacuterica da liacutengua de sinais no mestrado e a parte linguiacutestica no

doutorado numa perspectiva sociolinguiacutestica

Na pesquisa de mestrado percebi que apareceram sinais

diferentes no depoimento de dois surdos que sinalizaram sobre a

Educaccedilatildeo de surdos Refleti sobre esses sinais diferentes e natildeo

conseguia explicaacute-los Entatildeo realizei o projeto de doutorado para

entender melhor essa diferenccedila de sinais estudando um tema mais

1 SCHMITT (2008) dissertaccedilatildeo de mestrado na UFSC Em 1928 nasceu em FlorianoacutepolisSC e inicia a vida de Francisco Lima Juacutenior Em 1937 a 1946 no INSMRJ Francisco inicia seus

estudos No ano de 1947 primeiro espaccedilo de educaccedilatildeo de surdos na garagem na casa dos pais

(Francisco) Em 1954 o encontro de surdos organiza a fundaccedilatildeo do Ciacuterculo Surdos-Mudos em Santa Catarina ndash CSMSC Em 1955 funda o Ciacuterculo Surdos-Mudos em Santa Catarina ndash

CSMSC e tambeacutem foi delegado na regiatildeo do sul Em 1960 teve iniacutecio o governo de Celso

Ramos Em 1963 iniciou a construccedilatildeo Escola Governador Celso Ramos Em 1964 a primeira turma de surdos na Escola Governador Celso Ramos Ex-alunos Surdos na primeira Turma

Escola Governador Celso Ramos em 1964 e 1969 Fundado em 25 de marccedilo de 1969 o

Instituto de Audiccedilatildeo e Terapia da Linguagem ndash IATEL e em 1997 o Francisco entregou o documento no Ciacuterculo Surdos-Mudos em Santa Catarina ndash CSMSC para a Sandra L Amorim e

atualmente ASGF Isso foi apresentado a minha pesquisa de biografia

26

especiacutefico ldquoA Histoacuteria da Liacutengua de Sinais em Santa Catarina

Contextos soacutecio-histoacutericos e sociolinguiacutesticos de surdos de 1946 a

2010rdquo

O trabalho de coleta de dados para esta pesquisa acontece em

forma de relatos filmados sobre a histoacuteria e as experiecircncias de vida de

cada indiviacuteduo em liacutengua de sinais de trecircs geraccedilotildees nas seguintes faixas

etaacuterias o Grupo I eacute formado por indiviacuteduos com mais de 60 anos o

Grupo II por indiviacuteduos de 30 a 60 anos e o Grupo III eacute formado por

indiviacuteduos de 15 a 30 anos Pretende-se investigar nos dados de que

dispomos se aconteceu alguma transformaccedilatildeo linguiacutestica e em caso

positivo qual foi esta transformaccedilatildeo Se a economia a poliacutetica a

questatildeo social e cultural influenciam as mudanccedilas linguiacutesticas que

ocorrem e quais as possiacuteveis influecircncias que estes fatores tiveram em

relaccedilatildeo agraves mudanccedilas na liacutengua de sinais de Santa Catarina no periacuteodo

de 1946 a 2010

A pesquisa e a leitura de histoacuterias da liacutengua de sinais no mundo

no Brasil e em Santa Catarina em diferentes comunidades surdas

propiciaratildeo um maior conhecimento linguiacutestico e melhor entendimento

das diferentes culturas surdas Jaacute posso adiantar que as narrativas

coletadas contadas e vividas pelos trecircs grupos pesquisados em

diferentes momentos da sociedade brasileira ampliaram minha forma de

ver e perceber o mundo

Meu estudo de pesquisa no mestrado apresentou dados sobre a

histoacuteria da liacutengua de sinais de Santa Catarina e as dificuldades

encontradas da comunidade surda nos contatos sociais das vaacuterias regiotildees

de Santa Catarina e ateacute mesmo com outros estados (PR RS SP RJ e

MG) Acredita-se que a ampliaccedilatildeo de sinais aqui em Santa Catarina teve

a influecircncia do professor Francisco Lima Juacutenior porque ele estudou no

INESRJ (Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos) e no IPSSP

(Instituto Paulista de Surdos) e trouxe sinais utilizados nesses estados

aleacutem de outros sinais aprendidos em contatos com surdos de outros

estados (PR RS SP RJ e MG) e ensinou tais sinais aos seus alunos

surdos enriquecendo assim a liacutengua de sinais

Ateacute agora as pesquisas sobre a liacutengua de sinais em Santa Catarina

natildeo tecircm registro da histoacuteria do sujeito surdo na escola e nem nas

associaccedilotildees de surdos ou na comunidade surda na deacutecada de 1950 Pela

pesquisa percebi que antes da vinda do professor Francisco para Santa

Catarina natildeo havia registrodocumentaccedilatildeo sobre a liacutengua de sinais A

histoacuteria que pesquisei sobre a liacutengua de sinais em Santa Catarina surge

de conversas com o professor Francisco e com outros indiviacuteduos surdos

Atualmente haacute mais registros sobre a liacutengua de sinais mas ainda eacute

27

muito pouco pois eacute uma liacutengua na modalidade visual espacial e sua

forma de registro ainda eacute precaacuteria A histoacuteria da liacutengua de sinais tem sido narrada por instituiccedilotildees de

indiviacuteduos ouvintes uma dessas eacute o INESRJ onde estudou o professor

Francisco Essas narraccedilotildees tecircm como base a educaccedilatildeo oralista que natildeo

utilizava nenhum tipo de sinalizaccedilatildeo e a comunidade surda que

utilizava a LIBRAS natildeo deixou informaccedilotildeesregistros sobre a histoacuteria da

comunidade surda daquela eacutepoca (1940) O pouco que ficou eacute

superficial deixando de mostrar informaccedilotildees de maior valor sobre esta

liacutengua que eacute muito importante para que com os registros possamos

entender melhor as variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas que ocorreram e

ocorrem Para isso eacute preciso que indiviacuteduos surdos pesquisem sobre a

histoacuteria cultura identidade e liacutengua de sinais da comunidade surda

Os dados desta pesquisa considerados importantes foram

analisados com o objetivo principal de pesquisar as variaccedilotildees e

possiacuteveis mudanccedilas em tempo aparente na liacutengua de sinais em Santa

Catarina atraveacutes das narrativas de sujeitos surdos

Percebi que o professor Francisco influenciou a liacutengua de sinais

em Santa Catarina e resgatando parte da histoacuteria dessa liacutengua pesquisei

variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas no periacuteodo de 1946 ateacute a

atualidade (2010) A falta de pesquisa histoacuterica da liacutengua de sinais

2 entre 1930 a

1980 no Brasil com referecircncia agrave variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica com o

foco no estudo sociolinguiacutestico e soacutecio-histoacuterico dificultou vislumbrar

o desenvolvimento desta liacutengua durante esse periacuteodo as mudanccedilas

ocorridas e o uso da liacutengua de sinais pela comunidade surda Natildeo houve

registro de pesquisa sobre este tema na liacutengua de sinais atraveacutes de

registro espaccedilo-visual (filmagem viacutedeos fotos etc) nas uacuteltimas deacutecadas

e parece que muitos dados que satildeo importantes sobre o sujeito surdo se

perderam Vale registrar no entanto trabalhos importantes que

procuraram resgatar parte da histoacuteria da liacutengua de sinais no Brasil a

dissertaccedilatildeo defendida em 2010 por Heloise Gripp Diniz sobre o tema

ldquoA histoacuteria da liacutengua de sinais brasileira (Libras) um estudo descritivo

de mudanccedilas fonoloacutegicas e lexicaisrdquo e os trabalhos de Perlin (1998)

Miranda (2001) Karnopp e Quadros (2004) Brito (1990 1991 1993 e

1995) Felipe (1988 1991 1993 1994 1995 1996 e 1997) Campello

(2011) entre outros

2 SCHMITT (2008) relata que ldquoa liacutengua de sinais ou seja a liacutengua dos sujeitos surdos eacute o

espaccedilo que mais eacute atingido pelo diferencialismordquo

28

Com relaccedilatildeo ao oralismo que exigia que os surdos falassem e natildeo

podiam sinalizar essa praacutetica trouxe grandes problemas uma delas foi a

dificuldade na criaccedilatildeo de espaccedilos (escola associaccedilatildeo etc) pelos

proacuteprios surdos Com a criaccedilatildeo das Associaccedilotildees de Surdos em Santa

Catarina os surdos puderam defender seus interesses E a partir de

2001 em Santa Catarina quando foi criada a Lei Estadual Nordm 118693

oficializou a LIBRAS como forma de comunicaccedilatildeo dos surdos

Haacute dez anos surgiu a LEI Nordm 10436 DE 24 DE ABRIL DE

2002 ldquoreconhecida como meio legal de comunicaccedilatildeo e expressatildeo da

Liacutengua Brasileira de Sinais - LIBRAS e outros recursos de expressatildeo a

ela associadosrdquo e o DECRETO Nordm 5626 DE 22 DE DEZEMBRO DE

2005

Em SC a primeira conquista educacional dos surdos aconteceu na

escola Governador Celso Ramos no centro de Florianoacutepolis em 1964

com a primeira turma de surdos a frequentar uma escola Nesta escola

eles tiveram acesso ao uso da liacutengua de sinais com a mediaccedilatildeo do

professor Francisco que tinha o apelido de ldquoChiquitordquo Com o

aprendizado da liacutengua de sinais os surdos comeccedilaram uma nova histoacuteria

e foram aprimorando sua liacutengua

Os alunos surdos adquiriam mais expressatildeo na comunicaccedilatildeo da

liacutengua de sinais e na interaccedilatildeo com o professor de liacutengua de sinais

surdo aprendiam mais raacutepido a se comunicar e a entender os conceitos

(sinaispalavras) Eles aprenderam e foram influenciados pelo professor

Francisco com quem tiveram o primeiro contato com a liacutengua de sinais

Os surdos comeccedilaram a utilizar a liacutengua de sinais na comunidade

surda ampliando este aprendizado Assim indaguei-me sobre qual era a

liacutengua de sinais ensinada naquele contexto social e as mudanccedilas

ocorridas por causa disto Entatildeo procurei o professor Francisco para

entender quais os sinais diferentes que havia em 1950 e que ele trouxe

para Santa Catarina Soube que o professor em seus estudos no INES foi

influenciado pela Liacutengua de Sinais Francesa (Europa) e pela Liacutengua de

Sinais Americana (Estados Unidos) na deacutecada de 1940 retornou para

Santa Catarina por volta de 1947 Essa contextualizaccedilatildeo sobre a liacutengua

de sinais eacute importante para a anaacutelise e pesquisa desta liacutengua em nosso

Estado

O professor Francisco estudou no Rio de Janeiro de 1937 a 1946

3 Em Santa Catarina foi criada a Lei no 11869 de 06 de setembro de 2001 reconhece oficialmente no Estado de Santa Catarina a linguagem gestual codificada na Liacutengua Brasileira

de Sinais LIBRAS ndash e outros recursos a ela associados como meio de comunicaccedilatildeo objetiva e

de uso corrente

29

Trouxe a experiecircncia dos sinais emergentes do Instituto Nacional de

Educaccedilatildeo de Surdos ndash INESRJ e influenciou a Regiatildeo Sul

protagonizando a histoacuteria da liacutengua de sinais por toda comunidade surda

catarinense

Eacute preciso pensar como na realidade a comunidade surda

catarinense resolveu seus problemas nas diferentes fases da histoacuteria da

liacutengua de sinais e em diferentes geraccedilotildees dos surdos Algumas sugestotildees

propostas dizem respeito ao Ciacuterculo de Surdos-Mudos de Santa Catarina

- CSMSC4 fundado pelo professor Francisco tambeacutem professor da

Escola Governador Celso Ramos Tais fatos trouxeram uma maior

interaccedilatildeo entre os surdos catarinenses e o contexto social vivido entre

1946 a 1955 proporcionando a criaccedilatildeo de Associaccedilotildees de Surdos em

vaacuterias regiotildees do estado de Santa Catarina em especial na Escola G

Celso Ramos de 1964 a 1973

Com o intuito de cumprir os objetivos a que esta pesquisa se

propocircs o trabalho seraacute organizado da seguinte forma

Nesta Introduccedilatildeo fiz um breve relato da construccedilatildeo deste

trabalho de pesquisa destacando pontos que acredito serem relevantes

com relaccedilatildeo agrave liacutengua de sinais em Santa Catarina

No primeiro capiacutetulo apresento a delimitaccedilatildeo do objeto de

pesquisa a contextualizaccedilatildeo dos sujeitos surdos na liacutengua de sinais com

o objetivo de pesquisar as mudanccedilas histoacutericas na LIBRAS e possiacuteveis

variaccedilotildees linguiacutesticas que ocorrem na trajetoacuteria percorrida desde o

projeto ateacute a concretizaccedilatildeo da pesquisa de campo realizada

No segundo capiacutetulo apresento alguns pressupostos teoacuterico-

metodoloacutegicos da sociolinguiacutestica laboviana apresento estudos de

Labov sobre a centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) na comunidade de fala da

Ilha de Marthas Vineyard bem como sobre a liacutengua em seu contexto

social a variaccedilatildeo e a mudanccedila linguiacutestica

No terceiro capiacutetulo apresento a contextualizaccedilatildeo da histoacuteria

social da liacutengua em organizaccedilotildees surdas no paiacutes com base na trajetoacuteria

dos surdos na Europa Ameacuterica Brasil e regiotildees de Santa Catarina

No quarto capiacutetulo apresento explicaccedilotildees sobre a variaccedilatildeo

encontrada na liacutengua de sinais e discutida por diversos linguistas

No quinto capiacutetulo apresento a metodologia de coleta das

narrativas dos sujeitos surdos por faixa etaacuteria e a descriccedilatildeo dos

4 O CSMSC professor Francisco comeccedilou a reunir todos os surdos de Santa Catarina

buscando as pessoas surdas que ficavam isoladas na sociedade Fazia reuniotildees perioacutedicas em

sua casa com atividade social alfabetizaccedilatildeo e oficinas de artes e trabalhos artesanais Entatildeo em 18 de agosto de 1955 com 30 associados fundou o Ciacuterculo dos Surdos e Mudos de Santa

Catarina Atualmente chamado de Associaccedilatildeo de Surdos da Grande Florianoacutepolis - ASGF

30

informantes quanto aos dados colhidos na liacutengua de sinais nas trecircs

geraccedilotildees controladas

No sexto capiacutetulo apresento a descriccedilatildeo e a anaacutelise dos

resultados a comparaccedilatildeo dos dados de cada grupo nas trecircs geraccedilotildees de

surdos que utilizaram a liacutengua de sinais

Por fim nas consideraccedilotildees finais mostro que esta pesquisa

pretende contribuir com resultados sobre a variaccedilatildeo e a mudanccedila

linguiacutestica na Liacutengua de Sinais e talvez contribuir com o registro dos

dados coletados no curso de LetrasLIBRAS como referecircncia

bibliograacutefica para auxiliar outras pesquisas

31

CAPIacuteTULO I ndash Delimitaccedilatildeo do objeto de pesquisa

11 ndash Introduccedilatildeo

Pretendo pesquisar parte da histoacuteria da LIBRAS em Santa

Catarina de indiviacuteduos surdos em contextos soacutecio-histoacutericos e

sociolinguiacutesticos de diferentes regiotildees do estado com comunicaccedilatildeo de

sinais diferentes idades variadas gecircnero diferente costumes proacuteprios

escolaridade variada exercendo trabalhos e crenccedilas diferentes

vivenciando fatos histoacutericos tudo isso acontecendo em contextos

distintos Escolhi o periacuteodo de 1946 a 2010 para a pesquisa porque o

professor Francisco Lima Juacutenior que nasceu em 1928 foi estudar fora

da cidade retornou para Florianoacutepolis em 1946 de seus estudos no

Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos (INES) no Rio de Janeiro e

acredito que ele influenciou o ensino da LIBRAS em Santa Catarina

Realizar esta pesquisa eacute um grande desafio pela dificuldade para

encontrar o registro da histoacuteria da liacutengua de sinais e das variaccedilotildees e

mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas Para desenvolver este trabalho eacute

importante saber as influecircncias lexicais e fonoloacutegicas ocorridas nessa

liacutengua em Santa Catarina de onde vieram as influecircncias e qual seu

reflexo na comunidade surda E ainda se essa liacutengua trouxe uma

valorizaccedilatildeo maior para o grupo de surdos I (mais velhos) e se foi

influenciada por fatores sociais e histoacutericos da comunidade surda de

Santa Catarina

Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os seguintes toacutepicos a

delimitaccedilatildeo da pesquisa mudanccedilas histoacutericas na LIBRAS e variaccedilotildees

linguiacutesticas nas deacutecadas de 1940 a 2010 uma contextualizaccedilatildeo sobre a

influecircncia do professor Francisco na comunidade surda a justificativa

sobre a pesquisa feita com as pessoas surdas o objetivo geral desta

pesquisa e por fim a hipoacutetese levantada sobre a influecircncia do professor

Francisco na comunidade surda de Santa Catarina com relaccedilatildeo agrave liacutengua

de sinais

12 ndash Mudanccedilas histoacutericas na LIBRAS e variaccedilotildees linguiacutesticas de

1946 a 2010 em Santa Catarina

A metodologia utilizada nesta pesquisa eacute de base empiacuterica

atraveacutes de coleta de narrativas de sujeitos surdos na faixa etaacuteria de 15 a

80 anos divididos em trecircs grupos os quais responderam agrave seguinte

pergunta ldquoExplique a histoacuteria da educaccedilatildeo do sujeito surdo em Santa

32

Catarinardquo As respostas estatildeo registradas em viacutedeos por se tratar de uma

liacutengua visual-espacial

Os dados colhidos satildeo descritos e analisados com o objetivo de

verificar se ocorreram variaccedilotildees e possiacuteveis mudanccedilas em tempo

aparente em sinais da LIBRAS identificando linguiacutestica e

historicamente cada caso

Nesta pesquisa pretendo aprofundar a histoacuteria da LIBRAS em

Santa Catarina e verificar as variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas

entre 1946 a 2010 bem como a influecircncia do professor Francisco na

comunidade surda do estado de Santa Catarina

Temos poucos registros histoacutericos no Brasil sobre a comunidade

surda e a LIBRAS e esses em sua maioria satildeo escritos por pessoas

ouvintes uma histoacuteria oral5

Em Santa Catarina a realidade eacute a mesma natildeo haacute registros

escritos documentados sobre a comunidade surda A LIBRAS foi

oficializada em 2001 em Santa Catarina e em 2002 no Brasil Ainda eacute

recente e poucos registros temos Eacute necessaacuterio pesquisar mais sobre a

LIBRAS em seus aspectos histoacuterico e linguiacutestico pois atualmente

poucos surdos conhecem sua liacutengua em seus aspectos linguiacutesticos e

gramaticais apenas sinalizam e se comunicam mas se pedirmos

explicaccedilotildees poucos saberatildeo daacute-las ateacute porque isso natildeo eacute mateacuteria

escolar

Com os dados coletados e analisados acredito que poderei

entender melhor qual foi a influecircncia ou natildeo do professor Francisco

junto agrave comunidade surda de Santa Catarina Aleacutem dos dados pretendo

fazer isso com o auxiacutelio de reportagens jornais e revistas catarinenses

bem como atraveacutes de documentos das instituiccedilotildees que trabalharam ou

trabalham com pessoas surdas Tambeacutem pretendo verificar informaccedilotildees

no arquivo Puacuteblico Catarinense Espero que com os depoimentos em

viacutedeos consiga encontrar evidecircncias de variaccedilotildees e mudanccedilas

linguiacutesticas lexicais e fonoloacutegicas em LIBRAS que ocorreram desde a

deacutecada de 1940 Os surdos que deram seu depoimento fazem parte da

comunidade surda que participou do movimento surdo catarinense nas

uacuteltimas deacutecadas Para analisar as transformaccedilotildees ocorridas eles foram

observados por faixas etaacuterias Considerando o uso de narrativas sobre a

5 SCHMITT (2008) na dissertaccedilatildeo de mestrado apresenta O que eacute Histoacuteria Oral ndash Eacute o estudo das narrativas dos sujeitos da pesquisa sua versatildeo e memoacuterias do fato pesquisado ocupa-se em

registrar essas narrativas (gravaccedilotildees filmagens transcriccedilatildeo das entrevistas recortes da

imprensa) como metodologia de pesquisa

33

histoacuteria dessas pessoas utilizei as discussotildees sobre histoacuteria oral para

realizar as entrevistas conforme Alberti (2005)

A histoacuteria oral tem uma natureza especifica que

condiciona as perguntas que o pesquisador pode fazer

Em se tratando de uma forma de recuperaccedilatildeo do passado

conforme concebido pelos que viveram eacute fundamental

que tal abordagem seja efetivamente relevante para a

investigaccedilatildeo que se pretende realizar (ALBERTI 2005

p 30)

13 ndash Objetivo Geral

Verificar a influecircncia do professor Francisco Lima Juacutenior sobre a

liacutengua de sinais de Santa Catarina e pesquisar variaccedilotildees e possiacuteveis

mudanccedilas em tempo aparente na liacutengua de sinais desse educador e de

outros oito sujeitos surdos reunidos por faixa etaacuteria diferente em trecircs

grupos de indiviacuteduos Grupo I (de 60 a 80 anos) Grupo II (de 30 a 60

anos) e Grupo III (de 15 a 30 anos) A narrativa desses nove sujeitos

surdos seraacute analisada com o propoacutesito de verificar quais as

transformaccedilotildees linguiacutesticas ocorridas na comunidade surda atual e quais

as diferenccedilas lexicais e fonoloacutegicas de uso da LIBRAS nas faixas etaacuterias

desses trecircs grupos de geraccedilotildees investigados

14 ndash Objetivos especiacuteficos

Identificar as alteraccedilotildees de alguns sinais quanto agrave

variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica e lexical dentro da liacutengua

de sinais e outros sinais que permanecem ateacute a atualidade

sem influecircncias externas

Comparar a variaccedilatildeo e a mudanccedila encontradas na

liacutengua de sinais utilizada pelos indiviacuteduos surdos

pertencentes a diferentes faixas etaacuterias representantes de

trecircs geraccedilotildees de sinalizadores

Identificar possiacuteveis fatores que condicionam a

variaccedilatildeo e a mudanccedila linguiacutesticas observadas nos trecircs

grupos pesquisados

34

Pretendemos pesquisar a liacutengua de sinais em Santa Catarina

observando a narrativa (depoimento) do sujeito surdo coletada na

escola e na associaccedilatildeo Com o surgimento do primeiro espaccedilo de

identidade cultural6 do surdo em contato com o professor Francisco

quando retornou do Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos

(INESRJ) para Florianoacutepolis que contribuiu para a melhoria do ensino

de liacutengua de sinais aos surdos Observe-se o que disse Felipe (2001)

sobre isso

Assim o antigo Instituto continuou como um centro de

integraccedilatildeo para o fortalecimento do desenvolvimento da

LIBRAS pois segundo Relatoacuterio do Diretor Dr Tobias

Rabello Leite de 1871 esta escola jaacute possuiacutea alunos

vindos de vaacuterias partes do paiacutes dezoito anos retornavam

agraves cidades de origem levando com eles a LIBRAS

(FELIPE 2001 p 121)

Quando o professor Francisco retornou de seu estudo no INES

percebe-se que influenciou o aprendizado da LIBRAS em Santa

Catarina pois a geraccedilatildeo mais nova buscava aprender a liacutengua com os

liacutederes surdos da geraccedilatildeo do professor Francisco Esse espaccedilo foi

conquistado pela poliacutetica de educaccedilatildeo de surdos que assegurava o

envolvimento com a liacutengua de sinais que atualmente estaacute se expandindo

na comunidade surda em nosso estado catarinense

Esse caminho foi aberto pelo professor Francisco Lima Juacutenior

que motivou os sujeitos surdos a aprenderem a LIBRAS num periacuteodo de

escolas oralistas a valorizarem o contato com outros sujeitos surdos e as

conversas nas comunidades surdas e associaccedilotildees levando os surdos da

atualidade a lutarem pelos seus direitos e deveres e a aprimorarem os

espaccedilos cultural e linguiacutestico criando assim lideranccedilas nessas

comunidades Isto proporcionou troca de ideias e experiecircncias

necessidade de mais estudos e melhor compreensatildeo da poliacutetica brasileira

para a busca desses direitos Os surdos da atualidade tambeacutem criaram

uma identidade nessa comunidade com as trocas aprenderam mais

criaram sinais para palavras novas melhoraram sinais antigos etc Para a

autora Tanya A Felipe

6 SCHMITT (2008) relata que ldquoA pesquisa acadecircmica na universidade sobre os problemas na

fase de histoacuteria de ouvinte e a pesquisa na educaccedilatildeo de surdos introduz a identidade cultural

surda no espaccedilo de conflito que eacute a educaccedilatildeo de surdo Esse momento cultural do surdo e a aacuterea de conhecimento sobre a cultura surda satildeo importantes na realidade das pesquisas que

apresentam o sujeito surdo no ensinordquo

35

Como toda liacutengua as liacutenguas de sinais aumentam seus

vocabulaacuterios com novos sinais introduzidos pelas

comunidades surdas em resposta as mudanccedilas culturais e

tecnoloacutegicas Assim a cada necessidade surge um novo

sinal e desde que se torne aceito seraacute utilizado pela

comunidade (FELIPE 2001 p 19)

Percebe-se na citaccedilatildeo da autora que o contato da comunidade

surda7 acontece atraveacutes da comunicaccedilatildeo visual-espacial As mudanccedilas

tecnoloacutegicas a busca de conhecimento e a cultura influenciam a

LIBRAS fazendo com que a comunidade crie novos sinais e modifique

outros sinais mais antigos

A LIBRAS eacute considerada uma liacutengua assim como as outras

liacutenguas orais e apresenta variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica Um dos

exemplos de mudanccedila em LIBRAS foi uma mudanccedila discreta8 do sinal

de ldquoMAtildeErdquo A mudanccedila fonoloacutegica atinge um dos cinco paracircmetros

fonoloacutegicos da formaccedilatildeo de sinais O ponto de articulaccedilatildeo eacute preservado

na mudanccedila do sinal MAtildeE a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) muda e eacute

acrescentado o sinal de MULHER tornando o sinal composto

Figura 01 ndash Sinal de Matildee

Eacute importante retomar aqui quais satildeo esses cinco paracircmetros

Stokoe que por volta de 1960 e 1965 apontou trecircs paracircmetros que

constituem os sinais e nomeou-os configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ponto

de articulaccedilatildeo (PA) ou locaccedilatildeo (L) e movimento (M) Satildeo eles

7 Para Felipe (2001 p 38) ldquouma comunidade eacute um sistema social geral no qual pessoas vivem

juntas compartilham metas comuns e partilham certas responsabilidades umas com as outrasrdquo PADDEN (19895) Para esta pesquisadora ldquouma Comunidade Surda eacute um grupo de pessoas

que mora em uma localizaccedilatildeo particular compartilha as metas comuns de seus membros e de

vaacuterios modos trabalha para alcanccedilar estas metasrdquo Portanto nessa Comunidade pode ter tambeacutem ouvintes e surdos que natildeo satildeo culturalmente Surdos 8 Ocorre quando uma forma (ou sinal) eacute substituiacuteda por outra de modo natildeo gradual

36

Configuraccedilatildeo de matildeos ndash satildeo as diferentes formas que as

matildeos assumem na representaccedilatildeo do sinal

Ponto de articulaccedilatildeo ndash eacute a posiccedilatildeo onde as matildeos satildeo

posicionadas no momento da sinalizaccedilatildeo

Movimento ndash eacute o deslocamento das matildeos no espaccedilo e

em diferentes partes do corpo

Karnopp (1999) apresenta como resultado de pesquisa que a

configuraccedilatildeo de matildeos se diferencia pela seleccedilatildeo de dedos e a

configuraccedilatildeo ou posiccedilatildeo destes para efetuar o sinal Em ASL os dedos

selecionados devem permanecer na mesma disposiccedilatildeo ou quando tem

mudanccedila de posiccedilatildeo os dedos selecionados devem continuar iguais ateacute

o teacutermino do sinal As posiccedilotildees e configuraccedilotildees dos dedos diferenciam-

se em a) difusatildeo dos dedos aduccedilatildeo b) junccedilatildeo entre os dedos e o

polegar abertura e c) tipo e grau de flexatildeo apresentando a organizaccedilatildeo

fonoloacutegica dos sinais com ecircnfase nos articuladores dos itens lexicais e

das restriccedilotildees na formaccedilatildeo de sinais

A partir de 1970 outros linguistas conduziram estudos mais

aprofundados sobre os aspectos fonoloacutegicos Robbin Battison (1974)

Edward S Klima e Ursulla Bellugi (1979) descreveram o quarto

paracircmetro

Orientaccedilatildeo ndash que eacute a posiccedilatildeo da palma da matildeo se pra

frente ou pra traacutes para cima ou para baixo para o lado

esquerdo ou direito

O quinto paracircmetro eacute a expressatildeo facialcorporal foi adicionado

por Ferreira Brito em 1995 no Brasil

Expressotildees faciais e corporais satildeo elementos

gramaticais que compotildeem a estrutura da liacutengua Tambeacutem

chamados de marcadores natildeo manuais Ex a fisionomia

para expressar uma pessoa chata e muito chata eacute

intensificada para expressar o que eacute desejado Alguns sinais

podem ter uma direccedilatildeo e a inversatildeo deste pode significar

oposiccedilatildeo contraacuterio ou concordacircncia nuacutemero-pessoal

37

Figura 02 ndash Sinal de Matildee

Para Quadros (1997) pesquisas evidenciam a perda completa da

motivaccedilatildeo do sinal na crianccedila surda em fase de aquisiccedilatildeo da liacutengua de

sinais Tais sinais como ldquobenccedilatildeordquo para matildee e pai para o surdo adulto ateacute

podem ser resgatados Entretanto a crianccedila que estaacute adquirindo a liacutengua de

sinais e nunca viu esta accedilatildeo natildeo repete a mesma atitude beijando a matildeo

A liacutengua de sinais eacute diferente em diversos paiacuteses e ateacute mesmo em

diferentes regiotildees dentro de um mesmo paiacutes A liacutengua de sinais eacute o que

permite a comunicaccedilatildeo entre as pessoas surdas desta forma os surdos

que conhecem a liacutengua de sinais de outras regiotildees com certeza teratildeo

maior facilidade de comunicaccedilatildeo e tambeacutem de conhecimento

Vale ressaltar que toda forma de liacutengua ldquofaladardquo no contexto

social e tudo o que noacutes vivemos sofre mudanccedilas Todas as liacutenguas tecircm

influecircncia do tempo decorrido Na LIBRAS tambeacutem existem mudanccedilas

culturais e linguiacutesticas

15 ndash Questotildees e Hipoacuteteses de pesquisa na liacutengua de sinais

Nesta pesquisa parto das seguintes questotildees 1) O professor

Francisco influenciou a LIBRAS em SC 2) Que variaccedilotildees e mudanccedila

linguiacutestica vamos encontrar na liacutengua dos nove sujeitos surdos

Acredito que (hipoacutetese) o professor Francisco teve grande influecircncia na

comunidade surda de Santa Catarina com relaccedilatildeo agrave Liacutengua de Sinais

Acredito tambeacutem (hipoacutetese) que muitos dos sinais utilizados pelos

Grupos I e II natildeo satildeo conhecidos pelo Grupo III dos mais jovens Penso

que (hipoacutetese) alguns sinais tiveram alteraccedilotildees quanto a variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica como tambeacutem lexical nos trecircs grupos pesquisados

Quando comparar a liacutengua de sinais nos Grupos I II e III nas diferentes

faixas etaacuterias espero (hipoacutetese) encontrar vaacuterios sinais que comprovem

variaccedilotildees e mudanccedilas fonoloacutegicas e lexicais Essas hipoacuteteses surgiram

de observaccedilotildees como usuaacuterio da LIBRAS

38

Em relaccedilatildeo aos fatores internos e externos que condicionam a

variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica e lexical acredito (hipoacutetese) que o

professor Francisco eacute o precursor do ensino de sinais em Santa Catarina

(fator externo) No Grupo II temos a influecircncia do professor Francisco e

de seus primeiros alunos e das associaccedilotildees de surdos e no Grupo III

temos um maior nuacutemero de surdos nas universidades precisando criar

novos sinais para os novos conhecimentos aprendidos

Labov em sua pesquisa cita ldquo o objetivo da pesquisa linguiacutestica

na comunidade deve ser descobrir como as pessoas falam quando natildeo

estatildeo sendo monitoradasrdquo (LABOV 2008 [1972] p 244) Nesta

pesquisa a observaccedilatildeo aos indiviacuteduos surdos dos trecircs grupos

pesquisados acontece de forma diferente eles sabem que estatildeo

respondendo perguntas e que estatildeo sendo filmados

Pela anaacutelise das respostas em liacutengua de sinais e descriccedilatildeo dos

surdos seraacute possiacutevel descobrir atraveacutes das descriccedilotildees aspectos

culturais9 individuais e tambeacutem obter dados quanto agraves variaccedilotildees e

mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas na liacutengua de sinais neste periacuteodo de

tempo que acontece desde 1946

Finalmente esta tese teraacute o registro dos dados colhidos nos trecircs

grupos pesquisados de diferentes geraccedilotildees mostrando variaccedilotildees e

mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas com os contatos culturais da

comunidade surda

Os fatos sociais desta liacutengua como de qualquer outra podem

acontecer em qualquer tempo e em diferentes situaccedilotildees e quando

analisados neste caso podemos perceber a mudanccedila dos indiviacuteduos

surdos num determinado contexto soacutecio-histoacuterico e linguiacutestico A amostra eou dados para a tese de doutorado na UFSC

proporcionaraacute anaacutelises sobre aspectos variaacuteveis da LIBRAS (variaccedilatildeo e

mudanccedila fonoloacutegica e lexical) com o apoio de autores como Labov

2008 [1972] Naro 2003 Weinreich Labov e Herzog 2006 [1968]

Calvet 2002 entre outros

O periacuteodo indicado para a pesquisa que eacute de 1946 a 2010 pode

revelar parte da histoacuteria da comunidade surda de Santa Catarina e a

influecircncia que o professor Francisco Lima Juacutenior trouxe de contribuiccedilatildeo

para a liacutengua de sinais de Santa Catarina e para a comunidade surda do

estado

9 PERLIN (2006 p 65) Cultura Surda ndash o livro a Invenccedilatildeo da Surdez II explica que a cultura surda esta aiacute enfatizando oferecendo transparentemente sua possessatildeo simboacutelica sobressaindo

com seus discursos narrativos afirmando a necessidade da reinscriccedilatildeo da diferenccedila cultural e

consequente diferenccedila pedagoacutegica

39

CAPIacuteTULO II ndash Pressupostos teoacuterico-metodoloacutegicos da

sociolinguiacutestica laboviana

21 ndash Introduccedilatildeo

A Sociolinguiacutestica se dedica ao estudo da liacutengua falada e do

contexto social de uso da liacutengua ou seja estuda como os membros de

uma sociedade se comunicam em diversas situaccedilotildees em funccedilatildeo por

exemplo do lugar onde cresceram ou de sua posiccedilatildeo socioeconocircmica A

liacutengua surge e tambeacutem se transforma em funccedilatildeo do contexto soacutecio-

histoacuterico

Como seraacute visto mais adiante para essa aacuterea de conhecimento satildeo

fundamentais os conceitos de variaccedilatildeo e mudanccedila O primeiro envolve a

coexistecircncia de diferentes formas linguiacutesticas para a expressatildeo de um

significado e o segundo diz respeito agrave substituiccedilatildeo de formas com o

passar do tempo Esses estudos satildeo fundamentados na sociolinguiacutestica

variacionista que teve iniacutecio com as pesquisas de Labov

Este capiacutetulo traz relatos da pesquisa de Labov que foi pioneiro

na sociolinguiacutestica e realizou estudo linguiacutestico na comunidade de fala

da Ilha de Marthas Vineyard associando a influecircncia dos povos que

imigraram e colonizaram a ilha agraves mudanccedilas ocorridas na fala bem

como o turismo que eacute frequente no veratildeo com visitantes que falam

variedades de uma mesma liacutengua e outras liacutenguas e influenciam o

comeacutercio da ilha fazendo com que variedades e liacutenguas diferentes se

misturem quando as pessoas conversam Num dado momento Labov

investigou a centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) na comunidade de fala da ilha

Foram entrevistados diferentes grupos eacutetnicos ingleses portugueses e

iacutendios Isso foi importante para entender mudanccedilas linguiacutesticas

ocorridas nessa ilha dos Estados Unidos

Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os seguintes toacutepicos a liacutengua

em seu contexto social a partir da teoria laboviana Labov como

pesquisador pioneiro em sociolinguiacutestica o iniacutecio da pesquisa de Labov

na Ilha de Martha‟s Vineyard com ingleses portugueses e iacutendios a

maneira como Labov realizou a pesquisa para escolher a variaacutevel

linguiacutestica a ser estudada a explicaccedilatildeo dos dados obtidos por grupos

ocupacionais e por idade a explicaccedilatildeo da pesquisa realizada por Labov

sobre o aumento da centralizaccedilatildeo comentaacuterios sobre a interaccedilatildeo de

padrotildees linguiacutesticos e sociais na Ilha de Martha‟s Vineyard os

princiacutepios da mudanccedila linguiacutestica a idade e a variaccedilatildeo estaacutevel e por

fim algumas reflexotildees sobre a idade e a mudanccedila linguiacutestica

40

22 ndash A liacutengua em seu contexto social

A liacutengua eacute uma forma de comportamento eacute usada por seres

humanos num contexto social ao comunicarem uns aos outros suas

ideias suas necessidades e emoccedilotildees Sendo assim o comportamento

linguiacutestico de um grupo pode variar de acordo com as experiecircncias

vividas numa comunidade Para Labov (1972) o estudo da origem da

evoluccedilatildeo da linguagem que eacute a ciecircncia que estuda a parte da linguiacutestica

incluiacuteda no contexto social eacute buscado no comportamento linguiacutestico de

um grupo social isto eacute de uma comunidade de fala10

Natildeo se trata de um grupo de falantes que utilizava a mesma forma

de fala mas do grupo que segue as mesmas normas quanto ao uso da

linguagem No caso da linguagem gestual um exemplo disso seria de

um surdo com uma famiacutelia de ouvintesfalantes que natildeo fica isolado na

questatildeo da liacutengua pois comeccedila a frequentar uma associaccedilatildeo de surdos e

aprende a liacutengua de sinais Neste espaccedilo ele aprende a comunicar-se na

liacutengua de sinais e natildeo apenas numa liacutengua gestual caseira

Para entender o comportamento linguiacutestico de uma comunidade

de fala vatildeo ser retomados alguns estudos pioneiros de Labov da deacutecada

de 1960 Antes poreacutem eacute importante entender quem eacute esse pesquisador e

alguns dos trabalhos que ele fez 221 ndash LABOV pesquisador pioneiro em sociolinguiacutestica

William Labov nasceu na cidade de Rutherford em Nova Jersey

no dia 4 de dezembro em 1927 Comeccedilou sua carreira de estudo em

Harvard em 1948 quiacutemico trabalhou na aacuterea industrial de 1949 a 1961

Ele iniciou suas pesquisas como linguista nos Estados Unidos com foco

de estudo direcionado ao contexto social agrave comunidade de fala e agraves

mudanccedilas sonoras da liacutengua

A observaccedilatildeo de Labov sobre os padrotildees sociolinguiacutesticos na ilha

de Marthas Vineyard resultou na publicaccedilatildeo do seu trabalho

apresentado no 37ordm Encontro Anual da Sociedade Americana de

Linguiacutestica em Nova York nos Estados Unidos em 1963 Nesse

trabalho o pesquisador apresentou suas consideraccedilotildees sobre a mudanccedila

sonora dos ditongos (ay) e (aw) no contexto da comunidade de fala da

10 Segundo COELHO et al (2010 p 163) Comunidade de fala ndash ldquonoccedilatildeo que recobre tanto aspectos sociais quanto linguiacutesticos envolvendo atitudesnorma sociais compartilhadas pelos

falantes que por sua vez compartilham caracteriacutesticas linguiacutesticas que os diferem de outros

grupos sociaisrdquo

41

ilha

O autor estudou tambeacutem na Columbia University sob a

orientaccedilatildeo do Professor Uriel Weinreich - doutorado em linguiacutestica em

1964 ndash com quem realizou e aprofundou sua pesquisa em

sociolinguiacutestica sobre a liacutengua falada

Eacute um pesquisador amplamente considerado na aacuterea da pesquisa

linguiacutestica por sua metodologia em sociolinguiacutestica Em seus trabalhos

o autor mostra aspectos de variaccedilatildeo dialetal e mudanccedila da liacutengua inglesa

na sociedade da Ilha de Marthas Vineyard e em Nova York11

atraveacutes de

estudos de variaccedilatildeo fonoloacutegica

Em 1972 Labov publicou seu livro Sociolinguistic Patterns

University of Pennsylvania Press original em Inglecircs o qual teve seu

volume traduzido para o portuguecircs e publicado em 2008 no Brasil

Ele pesquisou durante meses na Ilha de Martha‟s Vineyard

estado de Massachusetts as variaacuteveis foneacuteticas (ay) e (aw) em diferentes

localidades faixas etaacuterias12

grupos profissionais e eacutetnicos da ilha Com

esse estudo conseguiu reconstruir a histoacuteria social da comunidade

daquela ilha a partir da frequecircncia e distribuiccedilatildeo dessas duas variaacuteveis

para verificar se ocorreu mudanccedila sonora correlacionando o complexo

padratildeo linguiacutestico com a estrutura social atraveacutes da investigaccedilatildeo de

fatores sociais que incidem diretamente sobre o processo linguiacutestico

Sobre a mudanccedila linguiacutestica podemos destacar trecircs principais

caracteriacutesticas relevantes na pesquisa que Labov (2008 [1972] p 19)

desenvolveu na Ilha

a origem das variaccedilotildees linguiacutesticas

a difusatildeo e a propagaccedilatildeo das mudanccedilas linguiacutesticas e

a regularidade da mudanccedila linguiacutestica

Labov investigou como aconteceu a variaccedilatildeo do inglecircs americano

em uma determinada comunidade a partir das influecircncias sociais que

vieram do contato entre os indiviacuteduos das localidades pesquisadas

11 A pesquisa de Labov na ilha de Martha‟s Vineyard foi escolhida por mim porque Francisco

viveu em Florianoacutepolis e agrupou os surdos de SC tendo como referecircncia uma ilha que se

parece muito com Martha‟s nas temporadas de veratildeo os turistas do paiacutes e do exterior lotam a cidade fortalecendo a economia do lugar

12 Ao analisar faixa etaacuteria podemos detectar mudanccedila em tempo aparente atraveacutes da

comparaccedilatildeo entre grupo dos falantes mais velhos e jovens ou variaccedilatildeo estaacutevel

42

Pela induccedilatildeo as variaccedilotildees fonoloacutegicas podem ocorrer pelos

processos de assimilaccedilatildeo ou dissimilaccedilatildeo por analogia empreacutestimo

fusatildeo contaminaccedilatildeo variaccedilatildeo aleatoacuteria ou outros processos linguiacutesticos

em que haja a interaccedilatildeo entre o sistema linguiacutestico de caracteriacutesticas

fisioloacutegicas ou psicoloacutegicas do indiviacuteduo

O autor realizou a pesquisa na comunidade de falantes de

Martha‟s Vineyard nos EUA em Massachusetts para verificar o grau de

centralizaccedilatildeo de sons no caso (ay) e (aw) em diferentes momentos e

situaccedilotildees daquela comunidade como veremos nas proacuteximas seccedilotildees

222 ndash A Ilha de Martharsquos Vineyard

Martha`s Vineyard eacute a maior ilha ao largo da costa da Nova

Inglaterra abrange quase uma centena de quilocircmetros quadrados de

aacuterea

A ilha antigamente era povoada por grupos de iacutendios que estavam

relacionados com a Wampanoags no estado sudeste de Massachusetts

Num primeiro momento os europeus ocuparam a ilha e com o passar

do tempo aprenderam com os iacutendios de diferentes tribos de Martha`s

Vineyard a pescar e a utilizar a agricultura

O primeiro assentamento europeu aconteceu em 1644 na ilha O

governador de Winthrop de Boston norte dos Estados Unidos nessa

eacutepoca anotou em seu jornal local que algumas pessoas de Watertown

eram surdas e se comunicavam atraveacutes de sinais13

isso ajudou na

divulgaccedilatildeo da liacutengua inglesa que comeccedilou a ser usada pelos habitantes

de Martha`s Vineyard Este grupo vinha de famiacutelias do estado de

Massachusetts em Bay Colony que resolveu morar na Ilha

A Ilha de Martha‟s Vineyard na deacutecada de 1960 era formada por

uma pequena populaccedilatildeo de 6000 falantes nativos dividida em trecircs

grupos eacutetnicos ingleses portugueses e iacutendios A pesquisa de Labov

levou em consideraccedilatildeo as trecircs etnias Foram entrevistados 69 indiviacuteduos

daquela sociedade Dentre eles os nuacutemeros entrevistados foram 42

13 Realizei a pesquisa no livro que se chama ldquoEveryone Here Spoke Sign Languagerdquo da autora

(Groce 1952) achei interessante a leitura mas fui riscando e analisando de acordo com minha compreensatildeo do texto e comparando com o que Labov (2008) apresentou no livro Padrotildees

Sociolinguiacutesticos Eacute importante salientar que a pesquisa apresentada no livro de Groce eacute

interessante para realizar estudos na comunidade surda na liacutengua de sinais

43

ingleses 16 portugueses e 9 iacutendios de grupos eacutetnicos essencialmente

endoacutegamos14

Labov controlou tambeacutem diferentes grupos ocupacionais

14 na pesca 8 na agricultura 6 na construccedilatildeo 19 no ramo de serviccedilos 3

profissionais liberais 5 donas de casa e 14 estudantes Fez entrevista

formal e observaccedilotildees em muitas situaccedilotildees espontacircneas nas ruas de

Vineyard Haven e Edgartown em lanchonetes restaurantes bares

embarcadouros e diversos lugares onde o som geral da conversa puacuteblica

podia ser anotado quando natildeo gravado As anotaccedilotildees serviam apenas

como controles suplementares sobre as entrevistas gravadas As

entrevistas aconteceram em trecircs periacuteodos agosto final de

setembrooutubro de 1961 e janeiro de 1962 com pessoas de idades que

variaram de 14 a 75 anos

As duas principais variaacuteveis estudadas na ilha foram (ay) e (aw)

O significado linguiacutestico das formas em variaccedilatildeo era o mesmo mas a

situaccedilatildeo de fala era diferente na comunidade Como resultado das

entrevistas o autor obteve aproximadamente 3500 ocorrecircncias de (ay) e

1500 ocorrecircncias de (aw) como base de dados para sua pesquisa

O primeiro grupo eacutetnico formado por descendentes das famiacutelias

mais velhas de origem inglesa foi para a ilha nos seacuteculos XVII e XVIII

As famiacutelias inglesas eram os Mayhews Nortons Hancocks Allens

Tiltons Vincents Wests e Pooles que com o passar dos anos

influenciaram a liacutengua inglesa falada na ilha e a cultura da comunidade

O segundo grupo eacutetnico era formado por famiacutelias de imigrantes

accedilorianos vindos de Cabo Verde em Portugal Esses imigrantes

portugueses ao longo de toda costa da Nova Inglaterra representaram o

percentual mais alto de centralizaccedilatildeo em Martha‟s Vineyard

A ilha foi dividida em duas partes mais relevantes para a

pesquisa a ilha alta (up-island) e a ilha baixa (down-island) num total

de 5563 (cinco mil quinhentos e sessenta e trecircs) habitantes na deacutecada

de 1960 A ilha alta era organizada por pessoas que viviam em meio

rural poucos lugares fazendas casas de veraneio abandonadas lagoas

de aacutegua salgada e pacircntanos era uma aacuterea geograacutefica central desabitada e

com pinheirais improdutivos A ilha baixa era uma regiatildeo formada por

trecircs pequenos centros urbanos onde vivia cerca de trecircs quartos da

populaccedilatildeo A populaccedilatildeo de Martha‟s Vineyard na deacutecada de 1970 era de

11725 habitantes na parte alta da Ilha (rural) era de 3846 Edgartown

14 Eacute o indiviacuteduo que se casa com membros da mesma tribo para conservaccedilatildeo de sua nobreza e

raccedila

44

1118 Oak Bluffs 1027 Vineyard Haven 1701 e na parte baixa da Ilha

(Vilarejos) 1717 Edgartown 256 Oak Bluffs 292 Tisbury 468 West

Tisbury 360 Chilmark 238 Gay Head 103

Mapeamento da Ilha de Martharsquos Vineyard

Em 1960

Figura 03 ndash Retirado do livro de GROCE Nora Ellen Everyone Here

Spoke Sign Language Hereditary Deafness on Martha‟s Vineyard

Printed in the United States of America 1952

45

Em 1960

Figura 04 ndash Retirado do livro de LABOV Willian Padrotildees

Sociolinguiacutesticos 2008 [1972]

Atualmente em 2012

Figura 05 ndash 10092011 retirado no site

httpcawikipediaorgwikiMartha27s_Vineyard

46

A populaccedilatildeo na Ilha no ano de 1960 estava constituiacuteda de 11

de descendentes da primeira ou da segunda geraccedilatildeo de imigrantes

portugueses Das terceiras e quartas geraccedilotildees provavelmente chegaria

proacuteximo aos 20 Quanto ao terceiro grupo eacutetnico eram remanescentes de

indiacutegenas de GAY HEAD O quarto grupo eacute uma Miscelacircnea de

famiacutelias de imigrantes europeus que vieram da Inglaterra Franccedila-

Canadaacute Irlanda Alemanha e Polocircnia Apesar de que a soma desses

imigrantes seja de aproximadamente 15 natildeo foi levada em conta por

natildeo ser uma forccedila social coesa Segundo Labov todos os anos no veratildeo muitos turistas

chegavam agrave ilha nos meses de junhojulho passando de 6000

habitantes para 42000 habitantes representando um nuacutemero expressivo

mas natildeo foi diretamente analisado porque a influecircncia direta destes

veranistas sobre o falar em Vineyard era relativamente pequena A

constante pressatildeo vinda na comunicaccedilatildeo junto agrave crescente dependecircncia

econocircmica criada pelo turismo gera indiretamente mudanccedilas

linguiacutesticas

Os veranistas estrangeiros falam uma liacutengua proacutepria em seu paiacutes

vatildeo a passeio agrave Ilha para conhecer e explorar a cidade e tambeacutem o povo

daquela ilha fazendo trocas neste conviacutevio e de alguma forma

promovem mudanccedilas econocircmicas poliacuteticas culturais sociais e

linguiacutesticas

O autor constatou que a Ilha de Martha‟s Vineyard aleacutem da

variaccedilatildeo estudada que eacute a centralizaccedilatildeo dos ditongos os falantes

tambeacutem usam as formas variaacuteveis do ndashr poacutes-vocaacutelico em palavras como

car (carro) four (quatro) card (cartatildeo) fourth (quarto) (podemos

verificar ocorrecircncia semelhante na liacutengua falada oral com o sotaque que

se modifica) Diferente do padratildeo comum do sudeste da Nova

Inglaterra [ai] e [au] com frequecircncia se ouve na ilha [ɐi] e [ɐu] ou

mesmo [əi] e [əu] Labov (2008 [1972] p 27) escreve o seguinte

ldquoEsse aspecto dos ditongos centralizados eacute saliente para

o linguumlista mas natildeo para os falantes eacute claramente imune

agrave distorccedilatildeo consciente jaacute que os vineyardenses nativos

natildeo se datildeo conta dele nem conseguem controlaacute-lo

conscientemente No que diz respeito agrave estrutura natildeo

podemos desprezar o paralelismo estrutural de ay e

aw por outro lado esses ditongos satildeo marcados por

grande liberdade estrutural na gama de alofones

permitida pelo sistema Essas satildeo diferenccedilas estritamente

subfonecircmicas Uma vez que natildeo existem outros ditongos

47

crescentes com primeiros elementos baixo ou central

nesse sistema natildeo eacute provaacutevel que o alccedilamento

continuando ou ate a posteriorizaccedilatildeo ou anterioriazaccedilatildeo

resultasse em confusatildeo com qualquer outro fonemardquo

Labov em sua pesquisa mostrou a pronuacutencia variaacutevel dos

ditongos (ay) e (aw) na comunidade de fala considerando traccedilos sociais

dos moradores da localizaccedilatildeo alta (rural) e baixa (vilarejos) da Ilha

atraveacutes de um mapeamento da fala Ele investigou (ay) como o ditongo

em palavras do inglecircs (ex right white pride wine ou wife) e (aw)

ditongo encontrado nas palavras do inglecircs como house out e doubt por

exemplo

Ele realizou procedimentos de observaccedilatildeo e identificaccedilatildeo da

comunidade de fala em duas localizaccedilotildees diferentes em Marthas

Vineyard e Nova York Estudou as realizaccedilotildees de (ay) e (aw) em vaacuterias

regiotildees da ilha e do estado entre as faixas etaacuterias dos informantes entre

grupos de profissionais e tambeacutem entre os grupos eacutetnicos (raccedila e cor)

E em Nova York pesquisou em trecircs lojas de departamento sobre a

realizaccedilatildeo de [r] em posiccedilatildeo final e preacute-consonantal na fala de

funcionaacuterios destas lojas Labov (1994) analisou o uso de [r] que

poderia ser pronunciado ou natildeo na fala de 264 pessoas levando-os a

responder de forma que aparecesse na fala a expressatildeo fourth floor

(quarto andar) porque essa expressatildeo contem [r] nas duas proposiccedilotildees

pretendidas preacute-consonantal (fourth) e final (floor) Labov com essa

pesquisa nos Estados Unidos mostrou que o vernaacuteculo de Nova York

continuou sem o [r] por muito tempo mas como a pronuacutencia do [r] era

prestigiada passou a ser usada pelas classes mais altas e pelos jovens

sensiacuteveis pela questatildeo do status social

Desse modo Labov desenvolveu suas pesquisas com base em

procedimentos metodoloacutegicos que pudessem reconstruir a histoacuteria

recente da mudanccedila linguiacutestica da pronuacutencia dos ditongos e do [r] poacutes-

vocaacutelico Neste trabalho vatildeo ser detalhados os resultados da pesquisa em

Marthas Vineyard

223 ndash Seleccedilatildeo da variaacutevel linguiacutestica

Na seleccedilatildeo da variaacutevel linguiacutestica eacute importante perguntar quais

satildeo as propriedades mais uacuteteis de uma variaacutevel linguiacutestica servindo de

foco de pesquisa de uma determinada comunidade de falantes

Labov pensou como primeiro passo da pesquisa em verificar um

item que ocorra com frequecircncia numa conversaccedilatildeo espontacircnea e que

48

possa ser mapeado Em segundo deve ser estrutural ou seja quanto

mais integrado o item estiver num sistema mais amplo de unidades

funcionais maior seraacute o interesse linguiacutestico intriacutenseco ao estudo E

finalmente em terceiro a distribuiccedilatildeo do traccedilo deve ser estratificada

observando a faixa etaacuteria o grupo de profissionais ou outros

extratos da comunidade de fala Labov apresentou a pesquisa

preliminar sobre o estudo do som na fala da comunidade em vaacuterias

categorias buscando os dados das pessoas que falavam em

diferentes situaccedilotildees linguiacutesticas na ilha como mostra a citaccedilatildeo

abaixo Nas entrevistas preliminares conduzidas em Martha‟s

Vineyard em 1961 foram observadas diversas

mudanccedilas estruturais que eram claramente paralelas a

mudanccedilas que ocorreriam no continente sob a

influecircncia do padratildeo do sudeste da Nova Inglaterra

(LABOV 2008 [1972] p 26)

Eacute importante ressaltar que a Ilha de Marthas‟s Vineyard tem

conservado traccedilos arcaicos provavelmente a populaccedilatildeo era do sudeste

da Nova Inglaterra antes de 1800 Estudos preliminares em 1961

mostraram que a maior parte dos traccedilos especiais do falar da ilha

apresentado nos mapas do LANE15

ainda podiam ser encontrados entre

os falantes de 50 a 95 anos de idade

Labov queria entender a estrutura interna do inglecircs Vineyardense

as diferenccedilas sistemaacuteticas que jaacute haviam ocorrido e as mudanccedilas que

estavam ocorrendo por isso selecionou um aspecto linguiacutestico

caracteriacutestico da ilha com o maior nuacutemero possiacutevel de variaccedilatildeo e o mais

complexo padratildeo de distribuiccedilatildeo Ele comeccedilava a pesquisa

entrevistando indiviacuteduos falantes na comunidade com o objetivo de

detectar variaccedilotildees linguiacutesticas16

geograacuteficas sociais e estiliacutesticas

15 Linguistic Atlas of New England Trata-se de um projeto que registrou a fala de habitantes da Nova Inglaterra nos Estados Unidos na deacutecada de 1930 Segundo O‟Cain (1979 p 243)

ldquoLANE samples the speech of the older and rural representatives of the culture thus

establishing late nineteenth-century bench marks for the study of the New England dialects and also samples younger and urban speakers thus indicating general and particular trends of

changerdquo

16 COELHO et al (2010 p 166) lembram que variaccedilatildeo eacute o ldquoprocesso pelo qual duas formas

podem ocorrer no mesmo contexto linguiacutestico com o mesmo valor referencial ou com o mesmo valor de verdade ie com o mesmo significado Dois requisitos precisam pois ser

cumpridos para que ocorra variaccedilatildeo as formas envolvidas precisam (i) ser intercambiaacuteveis no

mesmo contexto e (ii) manter o mesmo significadordquo

49

Na comunidade linguiacutestica17

de falantes atraveacutes da forma de

falar na conversa espontacircnea e no comportamento o autor mostrou

que havia diferenccedilas linguiacutesticas na ilha de Martha‟s Vineyard e no

sudeste da Nova Inglaterra de onde migraram pessoas para a

colonizaccedilatildeo da ilha

Em sua pesquisa Labov observou que ldquono caso do r poacutes-

vocaacutelico os falantes apresentavam uma variaacutevel linguiacutestica definida

pelos limites geograacuteficos da ilha e que segue um padratildeo social

idiossincraacutetico a Marthas Vineyardrdquo (LABOV 2008 [1972] p 27) Em

algumas aacutereas a retroflexatildeo estava diminuindo e em outras aumentando

As variaccedilotildees do r eram frequentes salientes e envolviam

consequecircncias estruturais determinantes para o sistema vocaacutelico inteiro

Labov em sua pesquisa mostrou variaccedilotildees linguiacutesticas que

ocorreriam na Ilha em uma mesma palavra com ditongos centralizados

como no caso do (ay) e do (aw) na fala dos grupos pesquisados Para

Labov A propriedade deste traccedilo de centralizaccedilatildeo que o faz

parecer excepcionalmente atraente ateacute mesmo agrave

primeira vista eacute a indicaccedilatildeo de um complexo e sutil

padratildeo de estratificaccedilatildeo Essa mesma complexidade

daacute provas de ser recompensadora pois quando a

tendecircncia centralizante eacute mapeada nos haacutebitos de

vaacuterios falantes e a influecircncia do ambiente foneacutetico

prosoacutedico e estiliacutestico eacute considerada permanece uma

ampla aacuterea de variaccedilatildeo (LABOV 2008 [1972] p 27

e 28)

Na comunidade de fala o ambiente o espaccedilo os diferentes

interlocutores as diferentes situaccedilotildees no modo de falar interferem no

sistema foneacutetico prosoacutedico e estiliacutestico da liacutengua falada

As mudanccedilas sonoras satildeo estudadas no momento presente e no

passado buscando novos conhecimentosexplicaccedilotildees sobre uma

17 DUBOIS J et al (2006 p 133) entendem por ldquocomunidade linguiacutestica um grupo de seres

humanos que usam a mesma liacutengua ou o mesmo dialeto num dado momento e que podem comunicar-se entre si Quando uma naccedilatildeo eacute monoliacutengue constitui uma comunidade linguiacutestica

Mas a comunidade linguiacutestica natildeo eacute homogecircnea compotildee-se sempre de um grande nuacutemero de

grupos que tem comportamentos linguiacutesticos diferentes A forma de liacutengua que os membros desses grupos usam tende a reproduzir de uma maneira ou de outra na foneacutetica na sintaxe ou

no leacutexico as diferenccedilas de geraccedilatildeo de origem de residecircncia de profissatildeo ou de formaccedilatildeo

(diferenccedilas socioculturais)rdquo

50

determinada aacuterea da comunidade falada as influecircncias as mudanccedilas

fonecircmicas ocorridas e suposiccedilotildees de como seraacute no futuro

Labov escreve que na Ilha de Marthas‟s Vineyard os veranistas

tecircm apenas uma leve impressatildeo da fala dos nativos pois de cada oito

pessoas na ilha sete satildeo visitantes Para Labov os veranistas natildeo tinham

muita importacircncia naquela comunidade pois na primeira semana de

setembro eles voltavam para seu lugar de origem E apenas ficavam os

moradores da ilha Continuavam a utilizar um alto grau de centralizaccedilatildeo

de (ay) e (aw) na ilha alta e tambeacutem nas aacutereas do vilarejo da ilha baixa

o turismo natildeo interferia nesse aspecto

Labov escreve que

A fim de estudar sistematicamente esse traccedilo foi

necessaacuterio conceber um modelo de entrevista que

fornecesse vaacuterios exemplos de (ay) e (aw) na fala

espontacircnea na fala emocionalmente carregada na fala

monitorada e no estilo de leitura O primeiro desses

ditongos tem mais do dobro da frequumlecircncia de uso do

segundo mas mesmo assim diversas estrateacutegias foram

necessaacuterias para aumentar a concentraccedilatildeo de ocorrecircncias

de ambos (LABOV 2008 [1972] p 31)

Para pesquisar a frequecircncia dos ditongos de (ay) e (aw) Labov

utilizou como estrateacutegia um questionaacuterio lexical concentrando-se em

algumas palavras e utilizando os mapas de LANE Aleacutem disso

formulou perguntas acerca de juiacutezos de valores e orientaccedilatildeo social do

informante e por fim um texto para leitura especial como um teste de

habilidade para ler uma histoacuteria

224 ndash Distribuiccedilatildeo por idade e tempo

Para cada falante o grau geral de centralizaccedilatildeo foi expresso por

valores numeacutericos multiplicados por 100 Veja a tabela 01

Centralizaccedilatildeo por grupos ocupacionais

Na centralizaccedilatildeo por grupos ocupacionais Labov chegou agrave

conclusatildeo de que o grupo dos pescadores na fala centralizava mais os

ditongos (ay) e (aw) do que os fazendeiros e outros pesquisados

51

Ocupaccedilatildeo (ay) (aw)

Pescadores 100 79

Fazendeiros 32 22

Outros 41 57

Tabela 01 ndash Centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por grupos ocupacionais

(LABOV 2008 [1972] p 46)

A tabela 01 mostra as tendecircncias de centralizaccedilatildeo dos ditongos

em funccedilatildeo dos grupos profissionais Os resultados apontam que os

pescadores usam mais centralizaccedilatildeo de (ay) e de (aw) num total

numeacuterico de 100 e de 79 respectivamente Para os fazendeiros os

resultados apontam 32 para (ay) e 22 para (aw) e para as outras

ocupaccedilotildees 41 para (ay) e 57 para (aw) A diferenccedila de resultados com

relaccedilatildeo agrave centralizaccedilatildeo dos ditongos pelos falantes na ilha em Martha‟s

Vineyard confirma o fato de pescadores usarem mais centralizaccedilatildeo do

que os demais informantes

Na centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por faixa etaacuteria Labov escreve

A centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) parece exibir um aumento

regular em faixas etaacuterias sucessivas alcanccedilando um pico

no grupo de 31 a 45 anos Temos agora de examinar as

razotildees para considerarmos esse padratildeo como uma

evidecircncia de mudanccedila histoacuterica no desenvolvimento de

Martha‟s Vineyard (LABOV 2008 [1972] p 41)

Vejamos a tabela

Idade (ay) (aw)

75 25 22

61 ndash 75 35 37

46 ndash 60 62 44

31 ndash 45 81 88

14 ndash 30 37 46

Tabela 02 ndash Centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por faixa etaacuteria (LABOV 2008

[1972] p 41)

52

Na tabela 02 Labov apresenta na coluna agrave esquerda a variaacutevel

independente18

ldquoidaderdquo (externa) distribuiacuteda em diferentes faixas

etaacuterias tendo iniacutecio a partir de 14 anos ateacute acima de 75 anos A coluna

central e a da direita apresentam as duas variaacuteveis dependentes19

fonoloacutegicas (internas) ndash os ditongos (ay) e (aw) Finalmente a tabela

apresenta a centralizaccedilatildeo de cada um dos ditongos de acordo com a

faixa etaacuteria do falante na Ilha de Martha‟s Vineyard

O fato de ser miacutenimo o percentual de centralizaccedilatildeo para

os muito velhos e para os muito jovens mostra que o

efeito da idade natildeo pode ser inteiramente descartado e

que de fato pode ser um fator secundaacuterio na distribuiccedilatildeo

pelas faixas etaacuterias (LABOV 2008 [1972] p 44)

Labov analisou em sua pesquisa iacutendices calculados por ele a

partir da centralizaccedilatildeo dos ditongos num total de 477 centralizaccedilatildeo de

(ay) e (aw) sendo 240 de (ay) e 237 de (aw) Ele percebeu na

distribuiccedilatildeo entre as cinco faixas etaacuterias um aumento percentual

gradativo com o resultado maior de centralizaccedilatildeo no grupo de 31 a 45

anos Por fim Labov em suas pesquisas sociolinguiacutesticas observou uma

possiacutevel mudanccedila da liacutengua nas diferentes faixas etaacuterias da comunidade

de fala de Martha‟s Vineyard com o controle da atuaccedilatildeo de vaacuterios

fatores internos e externos na centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw)

225 ndash Uma explicaccedilatildeo possiacutevel para o aumento da centralizaccedilatildeo

O exame da centralizaccedilatildeo segundo Labov da variaacutevel

dependente em estudo foi meramente descritivo e quando Labov tentou

explicar o fenocircmeno deparou-se com a seguinte questatildeo quais variaacuteveis

independentes seria importante examinarmos Labov supotildee que a

centralizaccedilatildeo desceu a um ponto baixo no final da deacutecada de 1930 e no

poacutes-guerra iniciou a subida Observe

18 COELHO et al (2010 p 166) ldquoVariaacuteveis independentes ndash fatores que condicionam nossa

escolha entre uma ou outra variante e que permitem ao linguista sugerir em que tipo de ambiente tanto linguiacutestico quanto extralinguiacutestico uma variante tem maior probabilidade de

ser escolhida em detrimento de sua (s) ldquorival (is)rdquordquo

19 COELHO et al (2010 p 166) ldquoVariaacutevel dependente ndash aspecto ou categoria da liacutengua que se

encontra em variaccedilatildeordquo

53

Permanece a questatildeo inicial a de explicar (ou de

oferecer um contexto mais amplo para) o aumento geral

da centralizaccedilatildeo na ilha Por que Martha‟s Vineyard deu

as costas para a histoacuteria da liacutengua inglesa Acredito que

podemos encontrar uma explicaccedilatildeo especifica se

estudarmos a configuraccedilatildeo detalhada desta mudanccedila

sonora em funccedilatildeo das forccedilas sociais que afetam mais

profundamente a vida da ilha (LABOV 2008 [1972] p

45)

As primeiras anaacutelises revelaram algumas correlaccedilotildees sociais

notaacuteveis A tabela 03 distribuiccedilatildeo geograacutefica da centralizaccedilatildeo mostra

as tendecircncias nas aacutereas da ilha alta rural a favorecer mais a centralizaccedilatildeo

do que nas aacutereas dos vilarejos da ilha baixa A tabela 03 mostra os

resultados sobre diferenccedilas geograacuteficas entre os moradores da ilha com

relaccedilatildeo agrave centralizaccedilatildeo dos ditongos nas duas principais partes da ilha

nas aacutereas da ilha alta rural e vilarejos na parte da ilha baixa

Os resultados de pesquisa sobre a centralizaccedilatildeo podem ser vistos

na tabela a seguir

(ay) (aw)

Ilha baixa 35 33

Edgartown 48 55

Oak Bluffs 33 10

Vineyard Haven 24 33

Ilha alta 61 66

Oak Bluffs 71 99

N Tisbury 35 13

West Tisbury 51 51

Chilmark 100 81

Gay Head 51 81

Tabela 03 ndash Distribuiccedilatildeo geograacutefica da centralizaccedilatildeo (LABOV 2008

[1972] p 45)

Estaratildeo essas variaacuteveis sociais vinculadas de algum

modo demonstraacutevel agrave mudanccedila linguumliacutestica Seratildeo

realmente independentes umas das outras ou algumas

das correlaccedilotildees estatildeo equivocadas e satildeo dependentes de

algum fator mais amplo que eacute logicamente preacutevio a elas

Se tal fator mais amplo existe precisamos indagar como

ele se originou e de que modo estaacute vinculado aos eventos

linguumliacutesticos Uma abordagem simplista e contabiliacutestica

54

natildeo responderaacute a essas perguntas Teremos de buscar

respostas na estrutura social da ilha e nas pressotildees que

motivam as mudanccedilas sociais da Martha‟s Vineyard

contemporacircnea (LABOV 2008 [1972] p 46)

A mudanccedila linguiacutestica dos grupos era identificada com os

costumes da ilha de Martha‟s Vineyard e Labov conduziu sua pesquisa

com pessoas que habitavam este local e viviam mais de acordo com os

seus costumes tradicionais Labov acreditava que as mudanccedilas

linguiacutesticas poderiam ser correlacionadas agraves relaccedilotildees sociais dos

moradores da ilha e por isso realizou sua pesquisa observando os

comportamentos linguiacutesticos somente das pessoas nativas da ilha

226 ndash A interaccedilatildeo de padrotildees linguiacutesticos e sociais

A Ilha de Martha‟s Vineyard ateacute hoje em dia eacute um lugar

beliacutessimo atrai muitos turistas inclusive poliacuteticos americanos As

pessoas que viviam laacute na deacutecada de 1960 natildeo tinham vida faacutecil na

sociedade americana Era o local com renda mais baixa no municiacutepio de

Massachusetts Labov traz essas informaccedilotildees do Censo de 196020

Os

moradores da ilha dependiam do turista a economia melhorava muito na

temporada Na Ilha de Florianoacutepolis acontece algo parecido Na

temporada de veratildeo o turista do paiacutes e do exterior lota a cidade

fortalecendo a economia do lugar

Florianoacutepolis tambeacutem eacute uma ilha beliacutessima com temporadas de

turistas que vecircm conhecer e aproveitar os lugares ir agraves praias passear

nos Shopping comprar nas lojas ir a restaurantes etc Labov quando

relata sua pesquisa na Ilha de Martha‟s Vineyard parece estar

comentando de Florianoacutepolis Os moradores da ilha aproveitam para

alugar suas casas vender seus produtos principalmente para os turistas

mais ricos Entatildeo haacute uma movimentaccedilatildeo econocircmica muito grande

assim como uma troca com relaccedilatildeo agrave liacutengua falada Como diz Labov (2008 [1972] p 49) ldquoOs chilmarkenses se

orgulham muito de suas diferenccedilas em relaccedilatildeo aos moradores do

continenterdquo

20 O Censo de 1960 mostra que a ilha de Martha‟s Vineyard se trata do municiacutepio mais pobre

de Massachusetts tem a meacutedia de renda mais baixa o mais alto nuacutemero de pessoas pobres e o

menor nuacutemero de pessoas ricas (LABOV 2008 [1972] p 47)

55

Vocecircs que vecircm para caacute para Martha‟s Vineyard natildeo

entendem os costumes das velhas famiacutelias da ilha

costumes e tradiccedilotildees estritamente mariacutetimos e aquilo

que nos interessa o resto da Ameacuterica essa parte do outro

lado aqui da aacutegua que pertence a vocecircs e com que noacutes

natildeo temos nada a ver se esqueceu completamente

Acho ateacute que noacutes usamos um tipo de liacutengua inglesa

totalmente diferente pensamos diferente aqui na ilha

eacute quase uma liacutengua separada dentro da liacutengua inglesa

Interessante se faz notar que no lugar de Chilmark a comunidade

na ilha vive a tradiccedilatildeo da famiacutelia os costumes vecircm de geraccedilatildeo em

geraccedilatildeo O estrangeiro de liacutengua inglesa quando conhece o lugar pode

influenciar a liacutengua falada na ilha pois seu inglecircs eacute diferente

Os resultados reunidos com o maior grau de centralizaccedilatildeo de (ay)

e de (aw) satildeo mostrados na tabela 04 organizados por ocupaccedilatildeo regiatildeo

ou localidade em que moram e faixa etaacuteria

Tabela 04 ndash Cruzamento de fatores 6 falantes com o maior grau de

centralizaccedilatildeo (LABOV 2008 [1972] p 50)

Na regiatildeo Edgartown dois pescadores que satildeo irmatildeos

descendentes de famiacutelias antigas mantecircm sua posiccedilatildeo agrave beira mar de Edgartown trabalhando mesmo frente agrave invasatildeo dos veranistas

Nas tabelas 01 e 04 verifica-se que de todos os grupos

ocupacionais o de pescadores eacute o que utiliza um maior iacutendice de

centralizaccedilatildeo Labov tentou fazer tabulaccedilotildees cruzadas extensas entre as

tabelas 04 e 05 mas chegou agrave conclusatildeo que o nuacutemero era pequeno

Ocupaccedilatildeo Regiatildeo Idade (ay) (aw)

Pescador de Chilmark 60 anos 170 111

Pescador de Chilmark 31 anos 165 211

Pescador de Chilmark 55 anos 150 124

Pescador de Edgartown 61 anos 143 107

Pescador de Chilmark 33 anos 133 79

Pescador de Edgartown 52 anos 131 131

56

demais Exemplificou com o grupo de pescadores de Chilmark na faixa

etaacuteria de 30 a 60 anos Percebeu que cinco informantes tecircm iacutendices

meacutedios de 148 para (ay) e 118 para (aw) o mais elevado do que

qualquer outro grupo social da ilha Labov concluiu entatildeo que a grande

escalada da centralizaccedilatildeo comeccedilou na ilha alta entre os pescadores de

Chilmark

Veja agora os resultados da faixa etaacuteria por grupo eacutetnico

Tabela 05 ndash Centralizaccedilatildeo por grupos eacutetnicos (LABOV 2008

[1972] p 46)

A tabela 5 apresenta a centralizaccedilatildeo por faixa etaacuteria em cada um

dos grupos eacutetnicos principais (ingleses portugueses e indiacutegenas)

Labov concluiu que

Vemos que a centralizaccedilatildeo atinge o aacutepice na faixa etaacuteria

de 30 a 45 anos e que a centralizaccedilatildeo de (aw) alcanccedilou

ou ultrapassou (ay) neste ponto Essa faixa etaacuteria tem

estado sob uma pressatildeo muito mais forte do que qualquer

outra os homens cresceram numa economia declinante

depois de fazerem uma escolha mais ou menos

deliberada de permanecer na ilha em vez de abandonaacute-la

A maioria deles esteve nas forccedilas armadas durante a

Segunda Guerra Mundial ou no conflito da Coreacuteia

Muitos frequumlentaram uma faculdade pois o grupo de

ascendecircncia inglesa tem um grande apreccedilo pela educaccedilatildeo

superior Em algum momento cada um desses homens

escolheu levar uma vida apertada em Martha‟s Vineyard

enquanto muitos de seus contemporacircneos partiram para

ganhar mais dinheiro ou mais reconhecimento em outro

lugar (LABOV 2008 [1972] p 50 e 51)

Exemplificou com relatos as interferecircncias que ocorreram no

modo de falar na ilha Uma delas ldquoSabe o E nem sempre falou desse

jeito foi soacute depois que ele voltou da faculdade Acho que ele queria

Ingleses Portugueses Indiacutegenas

Faixa etaacuteria (ay) (aw) (ay) (aw) (ay) (aw)

Mais de 60 36 34 26 26 32 40

46 a 60 85 63 37 59 71 100

31 a 45 108 109 73 83 80 133

Menos de 30 35 31 34 52 47 88

Todas as idades 67 60 42 54 56 90

57

ficar mais parecido com os homens das docasrdquo

Labov concluiu

Aqui vemos um caso niacutetido de hipercorreccedilatildeo atuando e

com base em outros indiacutecios tambeacutem eacute razoaacutevel supor

que essa eacute uma forccedila muito regular de implementaccedilatildeo da

tendecircncia foneacutetica que estamos estudando (LABOV

2008 [1972] p 52)

Muitos dos jovens de antigas famiacutelias natildeo permaneceratildeo na ilha e

isto reflete nos iacutendices da tabela Atraveacutes de uma leitura padronizada de

um texto com os jovens Labov observou que existia diferenccedila na fala

dos que permaneciam na ilha exibiam forte centralizaccedilatildeo enquanto os

que queriam sair mostravam pouca ou nenhuma centralizaccedilatildeo

Das informaccedilotildees obtidas surgiu um padratildeo unificado que

exprimia o significado social dos ditongos centralizados evidenciando

ldquoque o significado imediato desse traccedilo era o Vineyardenserdquo Labov

esclarece que pelo fato de os grupos terem que responder a desafios

diferentes a seu status nativo desenvolvia-se um modo complexo no

traccedilo fonecircmico

Labov exemplifica isso abaixo

O grupo das antigas famiacutelias de origem inglesa tem sido

submetido a pressotildees vindas de fora seus membros estatildeo

lutando para manter sua posiccedilatildeo independente diante de

um persistente decliacutenio da economia e diante do asseacutedio

ininterrupto dos veranistas O membro da comunidade de

orientaccedilatildeo tradicional naturalmente busca seus valores

nas geraccedilotildees passadas essas geraccedilotildees passadas formam

um grupo de referecircncia para ele (LABOV 2008 [1972]

p 57)

Na geraccedilatildeo mais jovem dos ingleses o efeito diferencial no grau

de centralizaccedilatildeo manteve-se na tradiccedilatildeo eles tinham os ancestrais como

referecircncia se consideravam independentes enquanto pescadores

acreditavam que a ilha lhes pertencia Mantinham sua posiccedilatildeo

econocircmica Se pretendiam sair da ilha a influecircncia dos antepassados

diminuiacutea consideravelmente

No grupo de portugueses eles natildeo enfrentavam o dilema de partir ou ficar na ilha o principal desafio a que esse grupo tinha reagido

provinha do grupo inglecircs que tinha servido de referecircncia ateacute pouco

tempo Para os portugueses o mais urgente era afirmar-se em sua

identidade como ilheacuteu Os indiacutegenas se ressentiam dos obstaacuteculos que

58

enfrentavam na ilha mas tinham adotado muito dos valores dos

Chilmarkenses Com poucos recursos linguiacutesticos ficava difiacutecil insistir

em sua identidade indiacutegena

Labov (2008 [1972] p 59) examinando as entrevistas de cada

informante situou-as em trecircs categorias

Positivo ndash exprime sentimentos definitivamente positivos

acerca de Martha‟s Vineyard neutra ndash expressa

sentimentos nem positivos nem negativos acerca de

Martha‟s Vineyard negativa ndash indicada o desejo de ir

viver em outro lugar

Agora observe na tabela 06 o resultado da centralizaccedilatildeo segundo

a atitude dos trecircs grupos de falantes quanto agrave ilha

Pessoas (ay) (aw)

40 Positiva 63 62

19 Neutra 32 42

6 Negativa 09 08

Tabela 06 ndash Centralizaccedilatildeo e atitude com relaccedilatildeo a Martha‟s Vineyard

(LABOV 2008 [1972] p 59)

Labov agrupou os vaacuterios informantes em uma escala social

quanto ao uso dos ditongos centralizados Primeiro mostravam-se com

atitudes positivas 40 pessoas entrevistadas o iacutendice de centralizaccedilatildeo era

de 63 para (ay) e 62 para (aw) as duas comparaccedilotildees de centralizaccedilotildees

mais altas Segundo o ponto neutro realizado por 19 pessoas

entrevistadas o iacutendice de centralizaccedilatildeo ficava na faixa de 30 32 para

(ay) e 42 para (aw) nem positivo nem negativo Terceiro o ponto

negativo O autor encontrou 6 pessoas entrevistadas que tinham atitudes

negativas com relaccedilatildeo agrave ilha O iacutendice de centralizaccedilatildeo nesse caso era

apenas de 09 para (ay) e de 08 para (aw) Essas pessoas diziam que queriam

viver em outros lugares e natildeo na ilha de Martha‟s Vineyard O autor

mostrou a estratificaccedilatildeo de todos e como ele conseguiu explicar a

distribuiccedilatildeo dos ditongos centralizados de forma vaacutelida fazendo as

relaccedilotildees necessaacuterias para as explicaccedilotildees

59

23 ndash Os princiacutepios da mudanccedila linguiacutestica

Num primeiro estudo relacionado agrave mudanccedila linguiacutestica em

progresso (em curso) eacute necessaacuterio entender como as variaccedilotildees

linguiacutesticas estatildeo distribuiacutedas por faixa etaacuteria Entatildeo percebemos a

mudanccedila linguiacutestica relacionando a variaacutevel linguiacutestica com a idade

pesquisando indiviacuteduos de diferentes geraccedilotildees Segue abaixo a citaccedilatildeo

de Labov sobre mudanccedila linguiacutestica observada entre as faixas etaacuterias

conhecida como mudanccedila em tempo aparente21

A primeira abordagem e mais simples para estudar a

mudanccedila linguiacutestica em andamento eacute traccedilar mudanccedila no

tempo aparente isto eacute a distribuiccedilatildeo das variaacuteveis

linguiacutesticas entre os diferentes niacuteveis etaacuterios Se

descobrirmos uma relaccedilatildeo monotocircnica entre a idade e a

variaacutevel linguiacutestica ou uma correlaccedilatildeo significativa entre

as duas entatildeo trata-se de decidir se estamos lidando com

uma verdadeira mudanccedila em progresso ou de gradaccedilatildeo

etaacuteria (Hockett 1950) uma mudanccedila regular de

comportamento linguiacutestico com a idade que se repete em

cada geraccedilatildeo (LABOV 1994 p 47)22

A primeira e mais simples aproximaccedilatildeo entre as variaccedilotildees

encontradas na sincronia ao estudo da mudanccedila linguiacutestica em curso eacute

seguir a pista da mudanccedila em tempo aparente isto eacute a distribuiccedilatildeo das

variaacuteveis linguiacutesticas por faixa etaacuteria Na variaccedilatildeo encontrada entre o

grupo dos indiviacuteduos mais velhos de uma geraccedilatildeo e outro grupo de

21 SILVA (2004) faz um recorte transversal da amostra sincrocircnica em funccedilatildeo da faixa etaacuteria

dos informantes Por exemplo utilizamos no nosso estudo trecircs grupos etaacuterios jovens meia idade e idosos

COELHO et al (2010 p 164) apontam que mudanccedila em tempo aparente eacute uma ldquomudanccedila

linguiacutestica captada em estudo do comportamento linguiacutestico de indiviacuteduos de diferentes

geraccedilotildees numa comunidade num dado periacuteodo de tempo Tal estudo possibilita identificar correlaccedilotildees entre a variaacutevel social idade e a variaacutevel linguiacutestica em estudo revelando indiacutecios

de (i) uma mudanccedila concernente agrave idade que ocorre regularmente em cada geraccedilatildeo (gradaccedilatildeo

etaacuteria) ou de (ii) uma mudanccedila efetiva em progressordquo

22 Traduccedilatildeo minha do texto original em Inglecircs de Labov ldquoThe first and most straightforward approach to studying linguistic change in progress is to trace change in apparent time that is

the distribution of linguistic variables across age levels If we discover a monotonic

relationship between age and the linguistic variable or a significant correlation between the two then issue is to decide whether we are dealing with a true change in progress or with age-

grading (Hockett 1950) a regular change of linguistic behavior with age that repeats in each

generationrdquo

60

indiviacuteduos mais jovens em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria percebe-se muitas

vezes mudanccedila linguiacutestica em progresso nas liacutenguas

Na estratificaccedilatildeo por idade muitas vezes se percebe que os

indiviacuteduos mudam seu comportamento linguiacutestico durante toda a sua

vida mas a comunidade nem sempre muda

231 ndash A idade e a variaccedilatildeo estaacutevel

Mas nem sempre o estudo da faixa etaacuteria vai indicar mudanccedila em

progresso A meacutedia do grau de realizaccedilatildeo de uma variaccedilatildeo estaacutevel23

pode ser tambeacutem observada entre as faixas etaacuterias dos falantes em que

os grupos extremos (jovens e velhos) apresentam o mesmo

comportamento ao contraacuterio do grupo de meia idade cujo

comportamento se diferencia devido agraves pressotildees sociais Eacute considerando

a variaacutevel idade que vai ser observado no conjunto de dados

investigados se temos mudanccedila em tempo aparente ou variaccedilatildeo estaacutevel

A variaccedilatildeo estaacutevel pode ser observada considerando a

combinaccedilatildeo dos resultados das variaacuteveis bdquoidade‟ bdquosexo‟ bdquoclasse social‟ e

bdquoniacutevel de escolaridade‟ Com relaccedilatildeo agrave bdquofaixa etaacuteria‟ a variaccedilatildeo estaacutevel

diz respeito a variantes que coexistem por um longo periacuteodo mas sem

ter necessariamente predominacircncia de uma sobre a outra

Uma outra possibilidade eacute a visatildeo claacutessica que prevecirc estabilidade

do falante mas instabilidade da comunidade Ex daqui a 20 anos os

falantes de 70 anos estaratildeo falando como os de 50 anos de hoje Outra

possibilidade admite que o sistema linguiacutestico do indiviacuteduo modifica

mas o da comunidade permanece o mesmo Ex daqui a 20 anos os

falantes de 70 anos teratildeo o mesmo sistema que os de 70 anos hoje

Resultados recentes apontam para uma terceira possibilidade o

indiviacuteduo muda com o passar do tempo mas natildeo atinge precisamente a

mesma posiccedilatildeo em que estatildeo os falantes mais velhos atualmente

23 COELHO et al (2010 p 166) apontam que variaccedilatildeo estaacutevel eacute conhecida como a ldquosituaccedilatildeo

de variaccedilatildeo entre duas ou mais formas linguiacutesticas que se estende numa comunidade ao longo

do tempo sem que uma variante ceda seu espaccedilo agrave outrardquo

61

232 ndash A idade e a mudanccedila linguiacutestica

Segundo Naro (2003 p 44) no portuguecircs atual do RJ haacute

fenocircmenos em que a idade atua fortemente

Seudele a forma seu para a 3ordf pessoa eacute pouquiacutessimo

recorrente na fala dos mais jovens

Noacutesa gente os jovens estatildeo evitando a forma noacutes

Ir os jovens estatildeo evitando as regecircncias ir a e ir para

preferindo ir em

Sob a hipoacutetese claacutessica o estado atual da liacutengua de um falante

adulto reflete o estado da liacutengua adquirida mais ou menos ateacute os 15 anos

de idade Logo um indiviacuteduo falante com 60 anos representa a liacutengua de

45 anos atraacutes Falantes adultos tendem a usar as formas antigas Os pais

e filhos apesar de estarem em interaccedilatildeo constante usam formas

distintas na comunicaccedilatildeo Pais e filhos tecircm um vocabulaacuterio e uma fala

proacuteprios de sua eacutepoca Com o passar do tempo eacute provaacutevel que a forma

nova seja adotada por pais e filhos

Naro (2003) apresenta a escala em tempo aparente obtida atraveacutes

do estudo de falantes com idades diferentes ndash chamada de ldquogradaccedilatildeo

etaacuteriardquo ndash que corresponde sempre sob a hipoacutetese claacutessica a uma escala

de mudanccedila em tempo real Observamos a tabela apresentada a seguir

Idade atual

(em anos)

Estado da liacutengua

(anos atraacutes)

70

60

50

40

30

20

55

45

35

25

15

5

Tabela 07 ndash A escala em tempo aparente eacute chamada de ldquogradaccedilatildeo etaacuteriardquo (NARO 2003 p 45)

A tabela ajuda a explicar os dados da pesquisa realizada por

Labov (atraveacutes de gravaccedilatildeo no ano de 1990) mostrando que a fala de

62

um indiviacuteduo de 70 anos de idade representaria o estado da liacutengua

adquirida em 1935

Segundo Naro (2003) Labov conseguiu distinguir quatro graus de

ditongos centralizados denotados (aw) ndash 0 (a posiccedilatildeo mais baixa

correspondendo a ldquoshwardquo) As trecircs posiccedilotildees centrais claacutessicas do

alfabeto foneacutetico estatildeo representadas por ele no seguinte graacutefico

Figura 06 ndash O trapezoacuteide das vogais a flecha indica a direccedilatildeo de

movimento do primeiro elemento de (aw) (NARO 2003 p 49)

A pesquisa em Martha‟s Vineyard revelou que os velhos

preservavam mais a forma original natildeo-centralizada os jovens por

outro lado centralizavam mais Segue a tabela

Geraccedilatildeo Idade Iacutendice de (aw) Iacutendice de (ay)

I (pais) 75+

61 - 75

22

37 25

35

II (filhos) 46 ndash 60

31 ndash 45

44

88 62

88

Tabela 08 ndash Mudanccedila de (aw) e (ay) em tempo aparente atraveacutes de duas

geraccedilotildees em Martha‟s Vineyard (Labov 1972 apud Naro 2003 p 22)

Algumas observaccedilotildees de Naro sobre a pesquisa de Labov satildeo (i) a centralizaccedilatildeo estaacute se espalhando com forccedila e rapidez (ii) os indiviacuteduos

mais velhos (80 anos) praticamente apenas usavam o grau zero o mais

aberto da escala com ocorrecircncias esporaacutedicas do grau um a faixa de 60

anos estava concentrada no grau dois antes de consoante surda (out

63

ldquoforardquo) e no grau zero ou um em outros contextos (round ldquoredondordquo

now ldquoagorardquo) na faixa de 30 anos o condicionamento se tornava quase

categoacuterico grau dois ou trecircs antes de consoante surda grau zero ou um

nos demais contextos ndash resultados obtidos atraveacutes do estudo da variaccedilatildeo

no indiviacuteduo Observa-se assim detalhadamente a mudanccedila em

progresso desde o comeccedilo (ocorrecircncia esporaacutedica de variantes mais

altas) ateacute a instauraccedilatildeo do condicionamento categoacuterico (variantes mais

altas antes de consoante surda variantes mais baixas nos outros

contextos)

De acordo com Naro

O que permite esta visatildeo simultacircnea das diversas etapas

do processo dinacircmico de mudanccedila eacute o congelamento do

sistema linguiacutestico do falante na eacutepoca da puberdade e eacute

justamente este o postulado fundamental que subjaz agrave

hipoacutetese claacutessica do relacionamento entre mudanccedila

linguiacutestica e idade o processo da mudanccedila se espelha na

fala das sucessivas faixas etaacuterias (NARO 2003 p 46)

Sabemos que nem toda variaccedilatildeo na fala representa mudanccedila em

progresso Um exemplo pronuacutencia do morfema ing em inglecircs (walking

ldquoandandordquo) que pode ser realizado como velar ou dental ndash eacute uma

variaccedilatildeo atestada haacute seacuteculos poreacutem ainda existente em praticamente

todos os dialetos e nas diferentes faixas etaacuterias

Labov realizava pesquisas sobre o desenvolvimento diacrocircnico24

da liacutengua a partir de anaacutelises sincrocircnicas25

primeiro foi na ilha de

Marthas Vineyard (1963) e depois foi na cidade de Nova York (1966)

Quando a mudanccedila estaacute envolvida certa variante

ocorreraacute na fala da crianccedila embora esteja ausente na fala

de seus pais ou mais tipicamente uma variante na fala

24 JOTA (1981 p 103) ldquoEstudo da liacutengua atraveacutes dos tempos e consequentemente estudo das transformaccedilotildees que sofre a liacutengua em sua evoluccedilatildeo Opotildee-se agrave sincronia A linguiacutestica

portanto jaacute que pode estudar a liacutengua diacronicamente ou se limitar ao seu estudo em

determinado tempo de sua evoluccedilatildeo (sincronia) se divide em diacrocircnica e sincrocircnicardquo

25 JOTA (1981 p 307) ldquoConjunto dos fatos linguiacutesticos num dado estaacutegio de sua evoluccedilatildeo A sincronia eacute objeto de estudo da linguiacutestica sincrocircnica ou estaacutetica Como um estado de liacutengua

abrange determinado espaccedilo de tempo tempo suficiente para que haja alguma variaccedilatildeo

sincrocircnica eacute claro que esta sob certo ponto-de-vista natildeo se distingue da evoluccedilatildeo diacrocircnicardquo

64

dos pais ocorreraacute na fala de seus filhos com frequecircncia

maior e na fala de seus netos com frequecircncia ainda

maior (CHAMBERS 1995 p185)26

Numa comunidade em geral as geraccedilotildees sucessivas apresentaratildeo

uma frequecircncia de uso maior da variante inovadora A conclusatildeo loacutegica

eacute que com o passar do tempo haveraacute um uso categorial da forma

inovadora e a eliminaccedilatildeo da variante antiga

233 ndash Aplicando os conhecimentos da sociolinguiacutestica

Eacute importante ressaltar que todas as liacutenguas mudam com o tempo

Como exemplo o portuguecircs eacute originaacuterio do latim considerado liacutengua

matildee Entretanto atualmente natildeo haacute semelhanccedila entre as duas liacutenguas

As diferenccedilas satildeo profundas e afetam toda a gramaacutetica da liacutengua essas

diferenccedilas apareceram e cresceram ao longo de mais de mil anos Tanto

na liacutengua falada quanto na liacutengua escrita ocorrem mudanccedilas que satildeo

observadas quando satildeo feitas pesquisas que nos mostram em que alguns

fenocircmenos mudaram Este assunto eacute explicado por Naro (2003)

A mudanccedila linguiacutestica natildeo eacute abrupta normalmente se processa de

maneira gradual em vaacuterias dimensotildees Sob o eixo social eacute observaacutevel

que falantes mais velhos costumam preservar mais as formas antigas o

mesmo ocorre com pessoas mais escolarizadas com camadas da

populaccedilatildeo que gozam de maior prestiacutegio social com o grupo feminino e

com as pessoas que exercem atividades que exigem boa apresentaccedilatildeo

para o puacuteblico Uma mesma pessoa pode escolher diferentes formas em

diferentes situaccedilotildees

Com base nisso pretendo fazer uma comparaccedilatildeo das mudanccedilas

ocorridas num curto espaccedilo de tempo tendo como referecircncia um

professor surdo para investigar as possiacuteveis mudanccedilas da liacutengua de

sinais depois de seu estudo no INES ateacute o momento atual envolvendo

um grupo de surdos mais velhos e outros dois grupos mais jovens Os

dados obtidos na pesquisa podem mostrar como ocorreram algumas

mudanccedilas na liacutengua de sinais e se realmente ocorreram aleacutem disso

podem criar um registro deste periacuteodo para futuras pesquisas Para

Labov (2008 [1972] p 21) ldquoseria de esperar que a aplicaccedilatildeo da

26 Traduccedilatildeo minha do texto original em Inglecircs ldquoWhere change is involved a certain variant will occur in the speech of children though it is absent in the speech of their parents or more

typically a variant in the parents‟ speech will occur in the speech of their children with greater

frequency and in the speech of their granchildren with even greater frequencyrdquo

65

linguiacutestica estrutural a problemas diacrocircnicos levasse ao enriquecimento

dos dados mais do que ao seu empobrecimentordquo

Vale lembrar que em 1970 a educaccedilatildeo dos surdos em Santa

Catarina era baseada em metodologia oralista Poucos sinalizavam

porque natildeo podiam tinham que falar Os sinais eram usados na

comunicaccedilatildeo entre surdos mas esporadicamente pois nesta eacutepoca aleacutem

de serem proibidos de utilizarem sinais para a comunicaccedilatildeo tambeacutem

natildeo podiam fazer reuniotildees soacute de indiviacuteduos surdos como acontece

atualmente Segue a citaccedilatildeo de Labov 2008 [1972] que considero

pressuposto para o desenvolvimento da presente pesquisa

O ponto de vista do presente estudo eacute o de que natildeo se

pode entender o desenvolvimento de uma mudanccedila

linguumliacutestica sem levar em conta a vida social da

comunidade em que ela ocorre Ou dizendo de outro

modo as pressotildees sociais estatildeo operando continuamente

sobre a liacutengua natildeo de algum ponto remoto no passado

mas como uma forccedila social imanente agindo no presente

vivo (LABOV 2008 [1972] p 21)

O maior problema a meu ver eacute que o grupo dos mais velhos que

usava a liacutengua falada natildeo entendia a importacircncia da liacutengua de sinais

para o indiviacuteduo surdo restringindo muito a sinalizaccedilatildeo e os sinais no

ano de 1950 Sabemos que pessoas de diferentes lugares que vecircm para

uma determinada comunidade acabam trocando experiecircncias e palavras

influenciando essa comunidade Isto pouco acontecia com o grupo dos

surdos mais velhos Diferentemente do que se observava com os

antigos os surdos mais novos tinham um maior contato social com a

liacutengua de sinais brasileira permitindo mais trocas de conhecimentos

criando novos sinais tornando a liacutengua de sinais mais ldquovivardquo e

ldquodinacircmicardquo

Por exemplo em comparaccedilatildeo com falantes da ilha em

Florianoacutepolis quanto agrave situaccedilatildeo estiliacutestica27

o grupo mais velho de

surdos usava mais a liacutengua falada do que a sinalizada pouco contato

eles tinham entre si pois era proibida28

a sinalizaccedilatildeo pelas instituiccedilotildees

27 Eacute o jeito de falar nas diferentes situaccedilotildees com os diferentes interlocutores e nos variados

contextos

28 SCHMITT (2008) A representaccedilatildeo de surdo na histoacuteria antiga registra a passagem que os

surdos realizaram na sociedade onde predominavam os ouvintes Entatildeo a hegemonia dos ouvintes manteve sempre o surdo como excluiacutedo atraveacutes de estereoacutetipos e depreciaccedilotildees A

sociedade antiga natildeo permitia a capacitaccedilatildeo dos surdos como sujeitos normais o uso da liacutengua

66

que trabalhavam com os surdos e tambeacutem pelas famiacutelias Conta-se que

em algumas escolas amarravam as matildeos dos indiviacuteduos surdos para que

natildeo sinalizassem Com o grupo mais jovem eacute diferente o contato deles

com outros surdos eacute maior trocam mais experiecircncias e sinais

propiciando assim mais mudanccedilas na liacutengua de sinais tornando-se hoje

mais usada e mais dinacircmica na comunidade surda Isso acontece aqui

em Florianoacutepolis tambeacutem A influecircncia accediloriana trazida pelos

imigrantes portugueses atualmente com a visita de turistas brasileiros

(ex vindos dos estados de RS SP PR e MG) e estrangeiros (ex

Argentinos Paraguaios Uruguaios Chilenos dentre outros) a

Florianoacutepolis acaba interferindo e modificando a liacutengua falada na ilha

Acredita-se que existe variaccedilatildeo linguiacutestica na liacutengua de sinais

em Santa Catarina por influecircncia da comunidade de falantes nas

diferentes regiotildees do estado A liacutengua de sinais acaba incorporando

parte da cultura dessas comunidades a sua liacutengua

Existem pesquisas na liacutengua de sinais mostrando diferenccedilas

nas liacutenguas visual-espacial de acordo com o paiacutes de origem com

diferenccedilas culturais diferentes configuraccedilotildees de matildeos etc Estas

pesquisas ajudam a compreender melhor a estrutura das liacutenguas de

sinais seu aspecto linguiacutestico e gramatical

Em Santa Catarina na comunidade de falantes no municiacutepio de

Itaacute na regiatildeo oeste do estado muitos descendentes de europeus

(Italianos alematildees poloneses etc) falam usando um r brando por

exemplo barragem mas na fala fica baragem

Na liacutengua portuguesa existem diferentes sons e diferentes formas

de falar esses sons No caso do exemplo citado anteriormente do

municiacutepio de Itaacute o som do r falado eacute diferente mas o significado da

palavra eacute o mesmo Na LIBRAS acontece isto um determinado sinal

pode ser pronunciado de diferentes maneiras com relaccedilatildeo agrave

configuraccedilatildeo de matildeos (CM)29

ao ponto de articulaccedilatildeo (PA) e ao

movimento (M) Segue abaixo a foto de trecircs principais paracircmetros

fonoloacutegicos

de sinais e nem aceitava a cultura do surdo Como A liacutengua de sinais foi banida das escolas

pelas decisotildees do Congresso de Milatildeo em 1880

29 Configuraccedilatildeo de matildeo e segue a foto

67

Figura 07 ndash Sinal de Porco

Por exemplo os sinais para as palavras amanhatilde

30 e faacutecil

31 satildeo

diferentes quanto ao ponto de articulaccedilatildeo e ao movimento mas a

configuraccedilatildeo de matildeos eacute a mesma para as duas palavras Ė importante

ressaltar que Labov em sua pesquisa mostrou variaacuteveis linguiacutesticas com

relaccedilatildeo agrave comunidade de fala e o exemplo na liacutengua de sinais eacute visual e

natildeo sonoro Entatildeo a fonologia das liacutenguas de sinais eacute um ramo da

linguiacutestica que objetiva identificar a estrutura e a organizaccedilatildeo dos

constituintes fonoloacutegicos propondo descriccedilotildees e explicaccedilotildees

Labov (1982) no entanto acreditava que eacute possiacutevel que uma

mudanccedila linguiacutestica possa ser o resultado de uma causa particular

isolada do sistema linguiacutestico ou social Por exemplo em Marthas

Vineyard um alto nuacutemero de casamento entre surdos e ouvintes e entre

surdos foi responsaacutevel pelo nascimento de centenas de surdos no seacuteculo

XIX Como resultado quase todos os membros ouvintes da comunidade

aprenderam a liacutengua de sinais e a utilizaram com muitos outros

propoacutesitos aleacutem da comunicaccedilatildeo com surdos (GROCE 1952)

Concluo este capiacutetulo que apresenta a pesquisa de Labov na ilha

30 Sinal de amanhatilde e segue a foto

31 Sinal de faacutecil e segue a foto

68

de Marthas Vineyard verificando a ocorrecircncia de centralizaccedilatildeo de

ditongos com algumas consideraccedilotildees A metodologia de pesquisa que

Labov abriu um campo de estudos que relaciona variaccedilatildeo e a mudanccedila

linguiacutestica ao contexto social utilizando-se de fatores como gecircnero

escolaridade classe social faixa etaacuteria local de residecircncia apoiando-se

em conhecimento de antropologia e liacutengua e de teacutecnicas computacionais

e matemaacuteticas Essa forma de pesquisa deu iniacutecio ao ramo da linguiacutestica

que conhecemos como sociolinguiacutestica variacionista ou quantitativa em

que a liacutengua natildeo eacute vista como uma estrutura estaacutetica e sim como um

sistema em variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica constante ligado agrave estrutura

social

69

CAPIacuteTULO III ndash A histoacuteria social da liacutengua

31 ndash Introduccedilatildeo

Inicialmente este capiacutetulo apresenta a histoacuteria contextualizada da

liacutengua de sinais da Franccedila depois no Brasil e finalmente em Santa

Catarina No primeiro momento apresenta-se o perfil do fundador da

primeira escola de surdos no mundo localizada na Franccedila o Abade de

LacuteEacutepeacutee Em seguida aponta-se qual foi o fundador da primeira

instituiccedilatildeo de surdos na cidade do Rio de Janeiro o Eacutedouard Huet32

e

traz consideraccedilotildees sobre o primeiro professor surdo a trabalhar em sala

de aula com alunos surdos em Santa Catarina Francisco Lima Juacutenior

Este uacuteltimo estudou a liacutengua de sinais na cidade do Rio de Janeiro e

proporcionou aos surdos de Santa Catarina uma comunicaccedilatildeo em liacutengua

de sinais mais aprofundada e abrangente Ele tambeacutem divulgou a liacutengua

de sinais na comunidade surda criando espaccedilos culturais e uma

identidade para a comunidade surda catarinense

Este capiacutetulo apresentada a seguinte estrutura comenta sobre o

primeiro fundador do Instituto Nacional de Surdos de Paris Abade

LacuteEacutepeacutee apresenta Eacutedouard Huet e sua vinda para o INESRJ e por fim

relata a histoacuteria do primeiro professor surdo (Francisco Lima Juacutenior) em

Santa Catarina na liacutengua de sinais

32 ndash Charles Michel de LacuteEacutepeacutee - Instituto Nacional de Surdos-

Mudos33

em Paris

Na Franccedila Abade de LacuteEacutepeacutee34

foi o primeiro fundador de uma

escola com classes para a educaccedilatildeo de surdos e tambeacutem criou a

32 No Brasil escreve-se Eduard mas na Franccedila seu nome e escrito Eacutedouard Huet

33 Surdos-Mudos ndash terminologia utilizada nessa eacutepoca atualmente utilizamos ser surdo

34 Abade de LacuteEacutepeacutee foi o criador de um meacutetodo empregado na educaccedilatildeo de surdos

denominado de ldquosinais metoacutedicosrdquo A justificativa para a criaccedilatildeo desse meacutetodo se deu pelo fato de que L‟Epeacutee acreditava que a Liacutengua de Sinais utilizada pelos surdos era incompleta

devendo ser melhorada e universalizada Seu meacutetodo consistia em conservar o ldquonuacutecleo central

dos gestosrdquo utilizados por seus alunos adicionando poreacutem a estes gestos outros sinais para designar objetos qualidades fatos ou situaccedilotildees No entanto como seu principal objetivo era o

ensino da liacutengua francesa natildeo se deu por satisfeito criou uma seacuterie de sinais que natildeo existiam

na codificaccedilatildeo gestual referente a preposiccedilotildees artigos tempo e pessoa verbal entre outros

70

linguagem de gestos que se chamava ldquoLINGUAGEM DE SINAIS

METOacuteDICOSrdquo e o alfabeto manual que eacute bem diferente dos coacutedigos de

significados na estrutura frasal e no gesto que representava a palavra

para o surdo

Moura (2000 p 22) relatou que o Abade Charles-Michel de

L‟Epeacutee nasceu em 1712 na cidade de Versalhes na Franccedila O Abade

comeccedilou a ensinar os surdos em 1760 por razotildees religiosas iniciando

seu trabalho com duas freiras surdas Com grande desafio transformou

sua casa na primeira escola puacuteblica para surdos (Instituto de Surdos e

Mudos de Paris) utilizando a comunicaccedilatildeo gestual A autora Perlin

(2002) lembra que

As escolas fundadas em outros paiacuteses nos moldes da

Franccedila passaram a usar as liacutenguas de sinais nacionais e a

explorar novos recursos na educaccedilatildeo de surdos O

curriacuteculo da escola para surdos em Paris passou a

conter liacutengua de sinais religiatildeo liacutengua nacional e

formaccedilatildeo profissional

O Abade de L‟Epeacutee comeccedilou a sua pesquisa observando um

grupo de surdos de laacute que se comunicava nas ruas da cidade (cuidando

para que as pessoas natildeo os vissem fazendo gestos) na liacutengua de sinais

francesa O Abade LacuteEacutepeacutee teve a ideia de conhecer mais sobre a liacutengua

gestual daqueles surdos e mais tarde pensou em como poderia ajudaacute-los

nessa comunicaccedilatildeo Ele ensinava religiatildeo na igreja para os surdos Entatildeo

LacuteEacutepeacutee comeccedilou a investir em seu projeto de melhorias para esta forma

de comunicaccedilatildeo Chamou o grupo de surdos e mostrou a liacutengua gestual

com gramaacutetica proacutepria e o alfabeto manual para o auxiacutelio na

comunicaccedilatildeo

A oportunidade de melhorar a linguagem dos surdos na eacutepoca foi

essencial para que fosse desenvolvida a base da liacutengua de sinais dos

surdos de Paris fortalecendo a cultura e a comunidade surda Isso

permitia tambeacutem que os surdos tivessem acesso a uma filosofia

religiosa aprendendo com isso novos vocabulaacuterios aleacutem da crenccedila e de

um modelo educacional diferente Segue o autor

Todo surdo-mudo enviando ateacute noacutes jaacute tem uma

linguagem () Tem o haacutebito de usaacute-la e compreende os

outros que a fazem Com essa linguagem expressa as

suas necessidades desejos duacutevidas dores etc e natildeo

erra quando os outros se expressam da mesma forma

Noacutes desejamos instruiacute-los e assim ensinar-lhes o francecircs

71

Qual eacute o meacutetodo mais simples e mais curto Natildeo seria

expressando-nos na sua liacutengua Adaptando a sua liacutengua e

fazendo com que ela se adapte a regras claras natildeo

seriacuteamos capazes de conduzir a sua instruccedilatildeo como

desejamos (citado por Harlan Lane Instituon des

Sourds-Muets par la Voie des Signes Meacutethodies part 1

cap IV p 36) apud (CARVALHO 2007 p 24)

Para o surdo comeccedilou a existir uma linguagem atraveacutes da

comunicaccedilatildeo gestual Assim os surdos trocavam informaccedilotildees entre eles

na liacutengua de sinais essencial para o acesso do surdo a sua identidade

Essa convenccedilatildeo social da liacutengua de sinais nesse primeiro grupo de

surdos foi a base da liacutengua Entatildeo o surdo podia aprender a liacutengua

francesa escrita e ter contato com a gramaacutetica dessa liacutengua que foi

essencial para a comunicaccedilatildeo dos surdos transformando a representaccedilatildeo

do gestual O surdo podia alfabetizar-se em francecircs e entender melhor a

sociedade em que vivia e assim adaptar-se agraves mudanccedilas ocorridas em

sua liacutengua gestual Segue a discussatildeo do autor

O Abade L‟Epeacutee iniciou do ano em 1760 conheceu o

grupo de surdo na liacutengua de sinais francesa e estudou

junto com os surdos Mas ele teve a ideacuteia de ajudar o

surdo valorizar a liacutengua de sinais francesa Quem fundou

o Instituto no Paris Foi Abade L‟Epeacutee Laacute foi ensinada

a liacutengua de sinais francesa para os alunos surdos mais

pobres Berthier escreveu a biografia do Abade L‟Epeacutee

(1712 ndash 1789) (SCHMITT 2008 p 50)

O Abade L‟Epeacutee com sua experiecircncia e pesquisa ajudava os

surdos franceses na liacutengua francesa escrita e na liacutengua de sinais em

Paris Com sua pesquisa ele mostrou para a comunidade da eacutepoca uma

nova forma de ensinar os surdos desenvolvendo estrateacutegias de ensino

nas duas liacutenguas Acreditava-se que um dos motivos que levou o Abade

a demonstrar interesse pela educaccedilatildeo de surdos foi o fato de ele ter duas

freiras surdas Seguem imagens mostrando o Abade L‟Epeacutee ensinando o

primeiro grupo de surdos franceses (SCHMITT 2008 p 51)

72

Figura 08 ndash Abade L‟Epeacutee ensinando os surdos na liacutengua de sinais

francesa

Schmitt (2008) realizou pesquisa na liacutengua de sinais na

identificaccedilatildeo do surdo e na adaptaccedilatildeo do conhecimento pelo surdo

Sobre L‟Epeacutee ensinando o grupo de surdos na imagem anterior Schmitt

comenta

O Abade L‟ Epeacutee ajudou ensinando os surdos na liacutengua

de sinais valorizando o aspecto viso-espacial na relaccedilatildeo

das matildeos compartilhando e mostrando a loacutegica de sinais

do surdo compreende-se envolve a capacidade no uso o

alfabeto na cultura do surdo Entatildeo na realidade

possibilitou a liacutengua do surdo na comunicaccedilatildeo com outro

surdo e na relaccedilatildeo com professor francecircs (SCHMITT

2008 p 51)

Segundo Frishberg (1975) na Franccedila escreveu que Abbe Charles-

Michel LacuteEpeacutee descreveu o uso da liacutengua de sinais que havia aprendido

com seus alunos ou em contato com as pessoas Era uma forma natural

de comunicaccedilatildeo que veio dar origem agrave gramaacutetica francesa de sinais

Essa gramaacutetica francesa se espalhou e foi disseminada por toda a

Europa cada paiacutes com suas especificidades como ocorre na liacutengua

falada

Percebemos que o Abade L‟Epeacutee ensinava a gramaacutetica do francecircs

no Instituto para Surdos de Paris para que os alunos surdos aprendessem

a histoacuteria e a liacutengua de sinais O L`Epee foi o antecessor em Paris do

Abade Sicard que escreveu o primeiro dicionaacuterio na liacutengua de sinais no

seacuteculo XVIII

Quando o Abade apresentou a comunicaccedilatildeo em liacutengua de sinais

ao grupo para que aprendessem vocabulaacuterio na liacutengua de sinais mostrou

os sinais de COMER AacuteGUA e tambeacutem o sinal de BEBER apontando

para vaacuterios objetos para que o grupo memorizasse e aprendesse o nome

73

de cada um deles Isso com o grupo de alunos e tambeacutem com as duas

irmatildes Foi crescendo o nuacutemero de sinais usados na linguagem gestual

francesa daquela eacutepoca pelos alunos surdos da instituiccedilatildeo onde ensinava

L‟Epeacutee

Entatildeo percebi atraveacutes de leituras que o Abade L‟Epeacutee ensinava a

gramaacutetica do francecircs no Instituto para Surdos de Paris para que os

alunos surdos aprendessem dentre outras coisas a histoacuteria e a liacutengua de

sinais Isso foi interessante para o grupo pois desenvolveram um padratildeo

para a linguagem gestual

Em 1755 Abade L‟Epeacutee iniciou com o primeiro grupo de surdos

no Instituto em Paris onde ensinava a vaacuterios alunos de classes

diferentes ricos e pobres Ele apresentou para os alunos a importacircncia

dos sinais padronizados que ajudavam na comunicaccedilatildeo Em contato

com a liacutengua de sinais convencionada o grupo de surdos na Franccedila

cada vez mais dominava os sinais e aperfeiccediloava o seu meacutetodo de sinais

metoacutedicos

Em ldquoA Maacutescara da Benevolecircnciardquo Lane (1992) apresenta relatos

interessantes de pesquisa com entrevistas de alunos surdos Sua

descriccedilatildeo sobre os sinais indicando os tempos segue na citaccedilatildeo

ldquoO aluno apesar de surdo e mudo tinha tal como noacutes

uma ideacuteia de passado presente e futuro antes de ser

colocado sob a nossa tutela mas eram incapazes de fazer

os sinais para exprimir as diferenccedilas Se quisesse

exprimir uma acccedilatildeo presente Fazia um sinal impelido

pela natureza que consiste em atrair o olhar do

interlocutor para testemunhar a nossa actividade actual

mas se a acccedilatildeo natildeo tivesse lugar na sua vista estendia as

matildeos sobre a mesa tal como estamos todos aptos a fazer

em situaccedilotildees semelhantes e estes satildeo os sinais que

voltou a aprender na aula para indicar o presente de um

verbo Se quisesse indicar que uma acccedilatildeo pertence ao

passado Atirava despreocupadamente o braccedilo sobre o

ombro duas ou trecircs vezes adoptamos estes sinais para

indicar o passado dos verbos E finalmente quando

tivesse a intenccedilatildeo de anunciar o futuro projectava a Matildeo

direita uma vez mais neste caso seleccionaacutemos este

sinal para representar o tempo futuro de um verbordquo

(LANE 1992 p 107 e 108)

Observa-se que havia diferenccedilas na gramaacutetica dos sinais que os

surdos utilizavam no passado A linguagem gestual francesa mudava

com o tempo na realidade da comunidade surda de Paris O contato com

74

sinais na escola eram muito diferentes daqueles que usavam nas

conversas de ruas Os alunos aprenderam formas verbais (passado

presente e futuro) que interferiram na liacutengua Quando a comunidade

surda que utiliza um espaccedilo cultural aprende o contexto cultural se

modifica e a liacutengua de sinais que tambeacutem eacute social se modifica

A liacutengua de sinais francesa serve de origem para muitos dos sinais

usados na ASL No comeccedilo do seacuteculo XIX um professor de surdo

chamado Thomas Hopkins Gallaudet foi da Ameacuterica para a Europa a

fim de aprender teacutecnicas de ensino Na Inglaterra ele conheceu Roch-

Ambroise Cucurron e Abbe Sicard o diretor de uma escola para surdos

em Paris Gallaudet aprendeu meacutetodos de ensino e muitos sinais para

usar na comunicaccedilatildeo com os surdos com Abbe Sicard Tambeacutem

Gallaudet convenceu Laurent Clerc um dos alunos de Sicard a ajudaacute-lo

a fundar uma escola para surdos na Ameacuterica

Gallaudet e Clerc fundaram a Escola Americana para Surdos

(ASD) em 1816 em Hartford Connecticut A escola combinava sinais

da LSF com os que jaacute eram usados pela comunidade de surdos da

Ameacuterica para criar uma linguagem padronizada Nesta eacutepoca esta

linguagem evoluiu para a ASL considerada atualmente a liacutengua de

sinais mais geneacuterica do mundo O filho de Thomas Gallaudet Edward

fundou a Universidade de Gallaudet em Washington DC A Gallaudet

foi a primeira faculdade para surdos

33 ndash Eacutedouard Huet - Instituto Nacional Educaccedilatildeo de Surdos

(INESRJ)

Segundo Ceacutesar Delgado (Revista da FENEIS 2002) Huet nasceu

em 1822 em Paris na Franccedila Comeccedilou seus estudos desde a infacircncia

ouvia normalmente jaacute se comunicava na fala nos idiomas francecircs (sua

liacutengua natural) alematildeo e portuguecircs mais tarde estudava outra liacutengua

que era o espanhol Ficou surdo aos doze anos de idade por

consequecircncia de um sarampo Como ele pertencia agrave nobreza estudou no

Instituto em Bourges e seu aprendizado na liacutengua de sinais francesa

proporcionou muitas oportunidades tornou-se professor de francecircs para

um grupo de surdos na Europa Ele foi convidado pelo imperador Dom Pedro II

35 para que

35 Deste que Eduard Huet fundou o imperial Instituto de Surdos-Mudos com autorizaccedilatildeo do

Imperador Dom Pedro II a Liacutengua de Sinais passou a fazer parte da educaccedilatildeo dos indiviacuteduos

surdos como forma de comunicaccedilatildeo e expressatildeo No iniacutecio a Liacutengua de Sinais teve sua origem na Franccedila mas aos poucos ela foi se desenvolvendo e se adaptando agrave realidade do

Brasil Isso comprova entatildeo que a Liacutengua de Sinais natildeo eacute universal mas ela possui pequenas

75

ajudasse a trabalhar na criaccedilatildeo do Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de

Surdos-Mudos com sede no Rio de Janeiro Iniciou ensinando na sua

liacutengua francesa depois aprendeu os sinais usados no Brasil e acabou

misturando as duas liacutenguas Trouxe um meacutetodo de ensino para a

Educaccedilatildeo de Surdos influenciando a Liacutengua de Sinais Brasileira com

sua liacutengua de sinais (francesa)

Eacutedouard Huet foi o primeiro professor surdo do Brasil

Apresentou em 1855 um projeto ao Imperador D Pedro II para uma

escola de surdos e assim foi fundado o Instituto Nacional de Educaccedilatildeo

de Surdos-Mudos no Rio de Janeiro Ele foi o responsaacutevel por trazer a

liacutengua de sinais francesa para o Instituto fundado em 1857 na cidade

do Rio de JaneiroRJ Com isso temos a origem da influecircncia da liacutengua

de sinais francesa (LSF) trazida por ele da Europa sobre a liacutengua de

sinais brasileira (LSB)36

Segue citaccedilatildeo de Campello que fala sobre a

constituiccedilatildeo da LSB no Brasil

a Constituiccedilatildeo Histoacuterica da Liacutengua de Sinais Brasileira

registro aqui ldquoa viagemrdquo da LSF ateacute o Brasil Essa

viagem tem a sua cronologia histoacuterica quando em 1855

o Ministro de Instruccedilatildeo Puacuteblica Drouyn de Louys e o

embaixador da Franccedila Monsieur Saint George junto

com a corte do Rio de Janeiro apresentou o Conde e

Professor surdo D E Huet37 ex-diretor do Instituto de

Bourges ao ex-Imperador Dom Pedro II e o mesmo

concedeu todas as honrarias inclusive com o salaacuterio e

hospedagem e incentivou a criaccedilatildeo de um educandaacuterio38

semelhanccedilas variando tanto de estado para estado dentro de um mesmo paiacutes quanto de um paiacutes para o outro com algumas semelhanccedilas

36 Campello usa a sigla LSB Nesta tese a sigla usada eacute LIBRAS

37 Haacute muita controveacutersia em torno do seu nome Inicialmente foi registrado na ldquoRevista

Espaccedilordquo do INES como E Huet Mas nos outros documentos pesquisados por mim assinava

como D E Huet sem complementar ou acrescentar o nome proacuteprio completo Recentemente atraveacutes da pesquisa pelo dirigente da FENEIS e da publicaccedilatildeo da Revista FENEIS confirmou

o nome completo de EHuet como Edward Huet Haacute pouco tempo o Grupo de Sinais

Mexicano anexou a coacutepia do email da bisneta que confirmou o nome dele como D Edward Huet M

38 Esse processo jaacute havia acontecido de forma similar com a educaccedilatildeo dos cegos O cego Patriacutecio Aacutelvares de Azevedo brasileiro educado em Paris e que ao regressar ao Rio de Janeiro

em 1851 pensou em fundar um instituto de ensino para cegos A realidade se concretizou em

1854 na fundaccedilatildeo de Instituto Benjamin Constant para cegos

76

destinado ao ensino de surdos mudos39 seria mais uma

poliacutetica puacuteblica com uma tendecircncia mundial a criaccedilatildeo de

escolas de ensino e tambeacutem de residenciais para abrigar

ldquodeficientes40 Haacute a hipoacutetese de que a princesa Isabel

filha do D Pedro II teria um filho surdo41 e tambeacutem que

o marido dela o Conde dacuteEu era portador de deficiecircncia

auditiva42 Mesmo com ou sem comprovaccedilatildeo histoacuterica

eacute difiacutecil transpor a histoacuteria da criaccedilatildeo e do interesse de

Dom Pedro II em abrir a escola de surdos

(CAMPELLO 2011)

O professor surdo Huet lutou pelo direito agrave liacutengua de sinais na

Instituiccedilatildeo com o imperador Dom Pedro II a fim de abrir espaccedilo na

escola de surdo em 1857 O INES era a uacutenica instituiccedilatildeo puacuteblica federal

do Brasil localizada no Rio de Janeiro Vieram alunos de outros estados

brasileiros para estudar com o professor Huet e ficavam hospedados no

Instituto Depois aprendiam a Liacutengua de Sinais Francesa da mesma

maneira que o professor aprendeu na escola francesa

A liacutengua de sinais foi transformada com o tempo tendo influecircncia

do professor surdo Huet Moura (2000 p 81 e 82) comenta o

seguinte

Se deu atraveacutes de Liacutengua de Sinais pode-se deduzir que

ele utilizava os Sinais e a escrita sendo considerado

inclusive o introdutor de Liacutengua de Sinais Francesa no

Brasil onde ela acabou por mesclar-se com a Liacutengua de

Sinais utilizada pelos Surdos em nosso paiacutes O

39 Relatoacuterio do E d Huet aos membros da Comissatildeo Diretora em abril de 1856 no Instituto de

Surdos Mudos

40 Deficientes satildeo as denominaccedilotildees daqueles que mentalmente e fisicamente satildeo incapazes para fazer qualquer atividade

41 Reis (1992) relata que o professor Geraldo Cavalcanti de Albuquerque disciacutepulo do professor Joatildeo Brasil Silvado (diretor do INSM ndash Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos-

Mudos em 1907) informou-lhe em entrevista que o interesse do imperador D Pedro II em

educaccedilatildeo de surdos viria do fato de ser a princesa Isabel matildee de um filho surdo e casada com o Conde D‟Eu parcialmente surdo

42 Nos documentos escritos pelo Francisco de Souza Brasil e Medeiros e Albuquerque (1932)

atestava a surdez do Conde DacuteEu ldquoO Conde DacuteEu tinha ainda o inconveniente de ser surdo A

surdez alheando os indiviacuteduos do meio em que estatildeo lhes daacute agraves vezes a imputaccedilatildeo de orgulhosos porque natildeo lhes permite tomar parte na conversa com a cordialidade que todos

desejariamrdquo (grifo meu)

77

Curriculum por ele apresentado em 1856 colocava

disciplinas como portuguecircs aritmeacutetica histoacuteria

geografia e incluiacutea ldquolinguagem articuladardquo e ldquoleitura

sobre os laacutebiosrdquo para os que tivessem aptidatildeo para tanto

O professor Huet planejava as vaacuterias disciplinas que ensinava

para os alunos surdos desta Instituiccedilatildeo obedecendo ao curriacuteculo escolar

da eacutepoca oferecido nas escolas de ouvintes Infelizmente natildeo foram

registrados os vocabulaacuterios da liacutengua de sinais brasileira desta eacutepoca No

Brasil foi lanccedilada a primeira publicaccedilatildeo sobre liacutengua de sinais em 1873

pelo aluno surdo Flausino Joseacute da Gama do Instituto de Surdos-Mudos43

do Rio de Janeiro O estudo resultou na obra ldquoIconographia dos Signaes

dos Surdos-Mudosrdquo foi publicado o dicionaacuterio em 1875 Poreacutem em

1880 no Congresso Internacional de Educaccedilatildeo de Surdo (Milatildeo)44

a

liacutengua de sinais foi rejeitada nas escolas focando apenas a liacutengua oral

Contudo os alunos do INES continuaram a estudar desenvolver e

disseminar a LIBRAS que por volta de 1980 voltou a ter sua

importacircncia intensificada

Como eacute explicado no prefaacutecio a inspiraccedilatildeo para o

trabalho foi dita pelo estudante ao ver na biblioteca da

instituiccedilatildeo um livro francecircs do Instituto Nacional de

Paris produzindo pelo surdo Francecircs Pellisier Natildeo havia

oficina litografia (o desenho eacute feito em uma pedra ou

placa de metal) no INES e na eacutepoca essa era a uacutenica

maneira de se reproduzir um desenho A ajuda veio do

Sr Eduard Rensburg que se dispotildee a ensinar a Flausino

trabalhar com essa difiacutecil teacutecnica Bastaram poucos dias

de aula e o Surdo tornou-se um exiacutemio litoacutegrafo

(REVISTA DA FENEIS n0 10 2001)

Segundo Campello (2011) Flausino Joseacute da Gama criou com seu

trabalho o dicionaacuterio ldquoIconographia dos Signaes dos Surdos-Mudosrdquo

com o prefaacutecio do Dr Tobias Leite ex-diretor no Instituto Nacional dos

Surdos-Mudos que no passado registrou sobre a pesquisa de Flausino e

a seguir o que escreveu Tobias no dicionaacuterio do INES em 1875

43 Atual Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos ndash INESRJ

44 REacuteE (2005) ldquo() essa data ainda eacute lembrada como a mais sinistra de sua histoacuteria como se fosse mesmo o ldquo11 de setembrordquo deles quando desabaram as torres gecircmeas da cultura e da

liacutengua de sinais a do meacutetodo misto e a do meacutetodo manualista para educaccedilatildeo dos surdos Ali

comeccedilou uma longa e amarga batalha para defender o direito de vida de liacutengua de sinaisrdquo

78

Este livro tem dous fins

Vulgarisar a linguagem dos signaes meio predilecto dos

surdos mudos para a manifestaccedilatildeo dos seus pensamentos

Os pais os professores primaacuterios e todos os eu se

interessarem por esses infelizes ficaratildeo habilitados para

os entender e se fazerem entender

Mostrar o quanto deve ser apreciado um surdo mudo

educado

O alumno deste Instituto Flausino Joseacute da Gama vendo

entre os livros da biblioteca a obra do illustre surdo-

mudo Pellisier professor do Instituto de Pariz

manifestou desejo de reproduzir as estampas para os

fallantes conversarem com os surdos-mudos dizia-me

elle repetidas vezes

Natildeo obstante ser elle haacutebil desenhista a realizaccedilatildeo do

seu desejo era difficil porque natildeo haacute no Instituto officina

de lihtographia e a despeza nas officinas do commercio

seria grande

Referindo o facto ao Sr Eduard Rensburg este senhor

generosamente offereceu-se para ensinar a Flausino o

desenho lithographico e as suas officinas para a

execuccedilatildeo da obra Aceitei immediatamente o

offerecimento e em poucos dias sahio o livro que tenho

a satisfacccedilatildeo de apresentar a todos os que se interessarem

por essa numerosa classe de nossos compatriotas

A Flausino os louvores e ao Sr Rensburg os

agradecimentos de todos os que se interessatildeo pela

instrucccedilatildeo popular

Tobias Leiterdquo

Campello (2011) pesquisou sobre o dicionaacuterio da liacutengua de sinais

registrado e documentado por Flausino que foi apresentado na escrita

pelo ex-diretor do INES que escrevia a palavra ldquoVulgarisarrdquo45

(p 79)

Segundo Delaporte (2005) a Escola Parisiense ldquoSaint-Jacquesrdquo era um

lugar de prestigio onde todas as pessoas que desejavam ensinar os

surdos precisavam obrigatoriamente passar Eacutedouard Huet realizou seus

estudos laacute Flausino inspirou-se no dicionaacuterio de Pierre Peacutelissier que foi

trazido para o Brasil por Eacutedouard Huet Os alunos do INES tinham

muita dificuldade pois os sinais eram muito antigos e eles precisavam

45 CAMPELLO mostrou a pesquisa ldquo que naquela eacutepoca significava colocar a disposiccedilatildeo do

povo e por isso o dicionaacuterio se apresentava como instruccedilatildeo popularrdquo

79

se comunicar com surdos do Instituto de Paris Campello diz que foi

copiado o dicionaacuterio no Instituto Imperial de Paris

Comparado com o original ldquoIcnographie des signesrdquo de

P Pelissier membro ativo de ldquola Socieacuteteacute Centrale

dacuteEducation et dacuteAssistance decircs Sourds-Muetsrdquo e

professor de surdos mudos do Instituto Imperial de Paris

em 1856 obra ldquoIconographia dos signaes dos surdos

mudosrdquo pelo surdo Flausino Joseacute da Gama em 1875 eacute

uma coacutepia na iacutentegra do material com a traduccedilatildeo do

francecircs para o portuguecircs ou seja os sinais foram

copiados um a um traduzindo-se apenas as palavras do

francecircs que identificavam os sinais (CAMPELLO

2011)

Verificando a explicaccedilatildeo anterior da citaccedilatildeo a autora mostrou

uma comparaccedilatildeo do dicionaacuterio em Paris e no Brasil foi copiado o

material para ser utilizado aqui no INES e soacute foi mudado o vocabulaacuterio

eou palavra na traduccedilatildeo do francecircs para o portuguecircs Atualmente a

LIBRAS estaacute bem diferente da eacutepoca de Flausino mas a influecircncia da

Liacutengua de Sinais Francesa eacute inegaacutevel na comunicaccedilatildeo dos surdos

brasileiros pois foi a primeira liacutengua de sinais traduzida e ensinada no

INES

Com o uso e a difusatildeo da liacutengua de sinais surgiu o primeiro

dicionaacuterio do Brasil e as seguintes obras dos autores i) Iconographia

dos Signaes dos Surdos-Mudos de Flausino Joseacute da Gama em 1875 ii)

Linguagem das Matildeos de Eugecircnio Oates em 1969 e iii) O Dicionaacuterio

Enciclopeacutedico Ilustrado Triliacutengue Liacutengua de Sinais Brasileira de

Fernando C Capovilla e Walkiria D Raphael em 2001

Felipe (2000) fala sobre o surgimento da LIBRAS sobre

Flausino Joseacute da Gama e outros dicionaacuterios da LIBRAS

Aqui no Brasil a primeira publicaccedilatildeo sobre a liacutengua

de sinais brasileira data de 1875 trata-se de um livro

Iconografia dos Signaes dos Surdos-Mudos de Flausino

da Gama um ex-aluno do Instituto de Surdos que se

tornou repetidor dessa escola quando terminou seu

periacuteodo de estudo Quase um seacuteculo depois em 1969

com a publicaccedilatildeo do artigo de KAKUMUSU J Urubu

Sign Language foi constatado que haveria pelo menos

outra liacutengua de sinais no Brasil utilizada pelos iacutendios

Urubus-Kaapor

80

Somente em 1969 por iniciativa estrangeira foi

publicado outro livro sobre a liacutengua de sinais brasileira

Linguagem das Matildeos de DATES E mas devido agrave

influecircncia da ASL muitos sinais nessa obra como

tambeacutem na de HOEMAN H et al Linguagem de Sinais

do Brasil satildeo sinais dessa liacutengua Esses dois livros

foram durante deacutecadas o material didaacutetico utilizado

pelos instrutores surdos para ensinarem sua liacutengua e

talvez por essas obras trazerem uma seleccedilatildeo de

fotografias ou desenhos de sinais da LIBRAS com

explicaccedilotildees a metodologia que vem sendo utilizada para

ensinar esta liacutengua tem sido somente a apresentaccedilatildeo de

sinais e traduccedilatildeo dos mesmos

Em 1960 Willian Stokoe

46 iniciou a pesquisa na liacutengua de sinais

americana com publicaccedilatildeo de estudo linguiacutestico mostrando que esta

liacutengua de sinais tinha uma gramaacutetica proacutepria e tambeacutem apresentava

todos os aspectos linguiacutesticos das liacutenguas orais A partir desta

divulgaccedilatildeo do Stokoe o mundo comeccedilou a pesquisar mais sobre as

liacutenguas de sinais Estudou cientificamente a Liacutengua de Sinais Americana

comparando com a Liacutengua Inglesa observou que ambas tinham

caracteriacutesticas equivalentes auxiliando na concepccedilatildeo sobre a educaccedilatildeo

de surdos na liacutengua de sinais

Felipe (2000) apresentou na pesquisa o surgimento da LIBRAS

Seguem agora ilustraccedilotildees sobre os dicionaacuterios antigos ldquoIconographia

dos Signaes dos Surdos Mudos de Flausino Joseacute da Gamardquo ldquoLinguagem

das Matildeos de Eugecircnio Oatesrdquo ldquoEnciclopeacutedico Ilustrado Triliacutengue

Liacutengua de Sinais Brasileira Vol I e II de Fernando C Capovilla e

Walkiria D Raphael

46 STOKOE (1920-2000) foi um dos primeiros linguistas a estudar uma liacutengua de sinais com

tratamento linguiacutestico Considerado o pai da linguiacutestica da liacutengua de sinais americana ndash ASL Ele ensinando e pesquisando revolucionou a Liacutengua de Sinais e mostrou que ela possuiacutea

regras gramaticais proacuteprias A partir daiacute o mundo inteiro passou a aceitar a Liacutengua de Sinais

como uma Liacutengua

81

Figura 09 ndash Acervo na Revista da FENEIS

Interessante a pesquisa das primeiras publicaccedilotildees dos autores

sobre a liacutengua de sinais Trouxe para noacutes surdos brasileiros

documentos para outras pesquisas valorizando o contexto social e a

liacutengua de sinais Campello (2007)

47 apresentou a pesquisa ldquoMudanccedilas fonoloacutegicas

47 Retirado a fonte com autora CAMPELLO 2007 SINPEL ndash I0 Seminaacuterio Integrado de

Pesquisas em Linguiacutestica na UFSC ldquoMudanccedilas fonoloacutegicas dos registros do seacuteculo XVIII ao seacuteculo XXI na liacutengua de sinais brasileirardquo

82

dos registros do seacuteculo XVIII ao seacuteculo XXI na Liacutengua de Sinais

Brasileira elementos novos sobre a liacutengua de sinais brasileirardquo Foi o

primeiro trabalho desse tipo com a LIBRAS desenvolvido no Brasil A

autora destacou inicialmente as justificativas para sua pesquisa

a) Natildeo haacute registro a respeito do desenvolvimento

histoacuterico da liacutengua de sinais brasileira nos livros

brasileiros b) Os surdos brasileiros tecircm muito interesse

em saber mais sobre a origem desta liacutengua c) A liacutengua

de sinais passou a ser reconhecida como liacutengua de

instruccedilatildeo dos surdos brasileiros por meio da Lei 10436

de 2002 regulamentada pelo decreto 5626 de 2005 d) A

liacutengua de sinais passa a ser objeto de ensino Antes de

iniciar a pesquisa em si considero importante situar as

influecircncias da liacutengua de sinais dos Surdos que moldaram

o primeiro dicionaacuterio de liacutengua de sinais brasileira o

movimento poliacutetico social cultural e educacional Com

o ldquoobjeto de pesquisardquo apresento a justificativa visto que

ateacute o presente momento natildeo se sabe se esta liacutengua jaacute

existia antes da fundaccedilatildeo do INES eou natildeo foi

reconhecida por causa da homogeneidade da liacutengua

nacional que eacute a liacutengua portuguesa Tambeacutem visa a

coleta dos sinais e suas mudanccedilas em niacutevel foneacutetico-

fonoloacutegico da Liacutengua de Sinais Francesa para a Liacutengua

de Sinais Brasileira e apresenta a metodologia de

investigaccedilatildeo problematizando a origem da liacutengua de

sinais brasileira jaacute que foi mesclada com a liacutengua de

sinais francesa Muita pesquisa foi deixada de lado pelo

estigma e desconhecimento da liacutengua em estudo nesse

projeto (CAMPELLO 2007)

Observe a figura do painel que Campello apresentou no

Seminaacuterio e eu fotografei

83

Figura 10 ndash Acervo de Ana Regina e Souza Campello ndash UFSC

Diniz (2010) realizou a pesquisa sobre o estudo descritivo das

mudanccedilas fonoloacutegicas e lexicais da Liacutengua de Sinais Brasileira

identificando e analisando os tipos de sinais que mais levam agrave variaccedilatildeo e

agrave mudanccedila e os possiacuteveis motivos que ao longo do tempo culminam

em tais variaccedilotildees Observou-se que o estudo elaborado na histoacuteria da

liacutengua de sinais teve como objetivo principal identificar as mudanccedilas

ocorridas na forma de comunicaccedilatildeo das comunidades surdas bem como

a influecircncia da liacutengua escrita no caso o portuguecircs neste processo

A autora apresenta sua pesquisa de modo a contribuir com os

registros histoacutericos da comunidade surda geral e da liacutengua de sinais As

suas anaacutelises ampliam os conhecimentos sobre a estrutura linguiacutestica da

LIBRAS e seu processo de mudanccedila assim como permitem contrastar

as variaccedilotildees que ocorrem com as liacutenguas orais e as liacutenguas de sinais

Mais amplamente o estudo objetiva valorizar socialmente a Liacutengua

Brasileira de Sinais difundir suas vertentes propiciando agrave populaccedilatildeo

surda o resgate de suas origens tradiccedilotildees e identidade proacutepria

Ela analisou trecircs documentos histoacutericos mais especificamente

trecircs dicionaacuterios de sinais foram os instrumentos de base na pesquisa da

autora acerca do processo de variaccedilatildeo na LIBRAS satildeo eles

Iconographia dos Signaes dos Surdos-Mudos de 1875 (primeiro

documento a fazer referecircncia agrave LIBRAS trata-se de uma reproduccedilatildeo fiel

do dicionaacuterio de sinais Francecircs que envolve representaccedilatildeo de sinais por

meio de desenhos (ilustraccedilotildees)) Linguagem das Matildeos de 1969

(produzido pelo padre Eugecircnio Oates missionaacuterio americano que

trabalhou com surdos em vaacuterias regiotildees brasileiras) e o terceiro

Dicionaacuterio Digital da LIBRAS do Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de

84

Surdos (INES) de 2006 (em CD-ROM produzido no Rio de Janeiro

por profissionais surdos e ouvintes)

Os resultados da pesquisa de Diniz apresentam na anaacutelise dos

dados indiacutecios de mudanccedila fonoloacutegica e lexical

A figura 11 a seguir mostra a forma como o sinal de FACA eacute

produzido utilizando a configuraccedilatildeo de matildeos que se altera nas trecircs

imagens apresentadas

GLOSA ICON OATES INES

Est 2

FACA

FACA

FACA

FACA

Figura 11 ndash Acervo da Heloise Gripp Diniz ndash UFSC 01

A figura 12 apresenta um exemplo de mudanccedila lexical com

configuraccedilotildees de matildeos mostrando o sinal de PUNIR apresentado no

dicionaacuterio em trecircs momentos (Icon Oates e INES) Segue a figura

GLOSA ICON OATES INES

Est 16

PUNIR

PUNIR

CASTIGAR

CASTIGAR

Figura 12 ndash Acervo da Heloise Gripp Diniz ndash UFSC 02

Diante da anaacutelise comparativa dos referidos dicionaacuterios a autora

classificou os sinais em trecircs categorias os que permanecem idecircnticos

(sem alteraccedilotildees) os que sofreram mudanccedilas fonoloacutegicas em alguns de

seus paracircmetros (que se mostrou a maior das trecircs categorias) e os que

sofreram mudanccedilas lexicais alterando por completo as formas dos sinais

originais Dentre os fatores internos que contribuiacuteram para tais variaccedilotildees destacam-se conforto linguiacutestico na articulaccedilatildeo das matildeos e

do corpo e a acuidade visual no espaccedilo da sinalizaccedilatildeo Haacute tambeacutem a

contribuiccedilatildeo dos fatores socioculturais como influecircncia das liacutenguas em

contato empreacutestimo linguiacutestico bilinguismo preconceito linguiacutestico e

85

influecircncia da liacutengua portuguesa e dos falantes ouvintes

Em outras palavras nota-se que o estudo procura resgatar a

histoacuteria das mudanccedilas dos sinais da LIBRAS e de como surgiram as

mudanccedilas influenciadas pelo advento da Instituto Nacional de Educaccedilatildeo

de Surdos (INES) bem como o viacutenculo existente entre o instituto e os

diferentes dicionaacuterios de liacutenguas de sinais da eacutepoca que mostram a

existecircncia de fortes mudanccedilas linguiacutesticas ao longo do tempo entre as

pessoas de mais idade com as famiacutelias e as novas geraccedilotildees que surgem

dispostas a encontrar sinais de configuraccedilotildees de matildeos que possibilitem

facilitar cada vez mais a interaccedilatildeo das comunidades surdas com a

sociedade em geral

Percebe-se entatildeo vaacuterios dialetos utilizados entre grupos de

amigos e familiares na busca de uma melhor compreensatildeo da

comunicaccedilatildeo atraveacutes da liacutengua de sinais Nota-se que apesar da

evoluccedilatildeo da liacutengua de sinais haacute existecircncia de vaacuterios sinais

desconhecidos entre as associaccedilotildees de surdos Existe uma seacuterie de

variaacuteveis diferentes que funcionam como preacute-requisito influenciando

diretamente os processos de variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica

Segundo Diniz (2010) natildeo eacute aconselhaacutevel fazer traduccedilatildeo do

portuguecircs para LIBRAS pois tal conversatildeo acaba dificultando ainda

mais a compreensatildeo e a comunicaccedilatildeo com a comunidade dos surdos

Assim pode-se notar que natildeo eacute apropriado misturar duas liacutenguas (uma

oral outra visual) ao mesmo tempo pois haacute uma diferenccedila muito grande

entre elas Dessa forma torna-se mais faacutecil a compreensatildeo para o surdo

quando eacute explicado diretamente na liacutengua de sinais

Sempre eacute conveniente ressaltar que a LIBRAS eacute uma liacutengua

humana da mesma forma que as liacutenguas faladas nesse sentido a liacutengua

de sinais possui sua proacutepria estrutura linguiacutestica embora com

modalidades diferentes e passa por processos de mudanccedilas contiacutenuas e

deve ser considerada pela comunidade cientiacutefica como sendo de grande

importacircncia para a sociedade em geral As liacutenguas de sinais satildeo

humanas naturais e com estruturas linguiacutesticas proacuteprias fazendo uso do

canal de comunicaccedilatildeo visual-espacial Portanto satildeo mitos48

as

48 FRISHBERG (1975 p 696 - 697) Alguns mitos satildeo derrubados por no que se refere agrave ASL

O primeiro deles diz respeito agrave falsa crenccedila de que a linguagem gestual eacute universal Pelo

contraacuterio as pessoas surdas da China natildeo conseguem entender a ASL tampouco os surdos americanos conseguem entender a CSL a Liacutengua de Sinais Chinesa Os surdos ingleses

tambeacutem natildeo conseguem entender a Liacutengua de Sinais Francesa (LSF) e vice-versa O segundo

mito esclarecido eacute de que a liacutengua de sinais tem muito pouco ou nada a ver com a liacutengua falada da comunidade em sua volta Neste sentido a autora esclarece que a liacutengua de sinais natildeo

significa uma representaccedilatildeo manual traduzida diretamente do inglecircs O terceiro mito elucidado

86

afirmaccedilotildees de que a liacutengua de sinais eacute universal miacutemica coacutedigos

gestos ou apenas uma representaccedilatildeo manual das liacutenguas orais

Cabe ressaltar que a representaccedilatildeo atraveacutes de imagens figuras

gestos configuraccedilatildeo de matildeos e expressotildees faciais satildeo fundamentais para

a fluecircncia da comunicaccedilatildeo entre os membros da comunidade surda e

tambeacutem com a sociedade tornando a compreensatildeo mais acessiacutevel a

todas as pessoas Por meio de estudos nos dicionaacuterios de LIBRAS

percebe-se a existecircncia de algumas categorias distintas de algumas que

permanecem idecircnticas ateacute os dias de hoje e de outras que vecircm sofrendo

mudanccedilas fonoloacutegicas gradativamente com ideias inovadoras

influenciadas pelos estudos efetuados a partir da histoacuteria da liacutengua de

sinais e sua evoluccedilatildeo no processo de mudanccedila ateacute os dias atuais Tais

descobertas satildeo importantiacutessimas para a academia e para os aspectos

socioculturais como forma de resgatar a histoacuteria bem como os valores

das comunidades surdas esquecidas no passado recuperando sua proacutepria

identidade frente agravequeles que utilizam a liacutengua oral

Em geral eacute muito difiacutecil de recuperar nos registros dos

dicionaacuterios os detalhes das articulaccedilotildees movimentos entre outros Isso

ocorre porque na maioria das vezes eles apresentam uma uacutenica palavra

em portuguecircs associada a cada sinal de forma intuitiva quase sempre

indicando um sinal preciso e natildeo uma possiacutevel traduccedilatildeo De qualquer

maneira a partir das evidecircncias que estatildeo nos dicionaacuterios pode-se

analisar como era a liacutengua de sinais antigamente e como ela se

modificou ateacute os dias de hoje bem como qual a sua importacircncia para a

valorizaccedilatildeo social da comunidade surda

Diniz (2010) percebeu que ao passar dos anos existe uma

evoluccedilatildeo no desenvolvimento dos dicionaacuterios trazendo uma forma mais

faacutecil e aacutegil de comunicaccedilatildeo entre os escritores e leitores Hoje a

preocupaccedilatildeo natildeo eacute apenas em fazer dicionaacuterios mas tambeacutem em

analisar as metodologias de produccedilatildeo lexicograacutefica isto eacute como e para

que os dicionaacuterios tecircm sido feitos

Diniz (2010) tambeacutem observou uma pequena mudanccedila no

alfabeto manual que aparece nos trecircs dicionaacuterios Houve uma mudanccedila

fonoloacutegica na estampa ldquoIrdquo referente ao alfabeto de 26 letras no

dicionaacuterio Iconographia Em Oates o alfabeto permanece semelhante

ateacute os dias de hoje mudando apenas a configuraccedilatildeo de matildeos da letra H

No dicionaacuterio INES o alfabeto eacute idecircntico aos dias de hoje

pela pesquisadora refuta a ideia de que as liacutenguas de sinais satildeo apenas gestos teatrais ou

miacutemicos

87

Segundo Diniz (2010) identificam-se tendecircncias de mudanccedilas na

LIBRAS nos trecircs dicionaacuterios a saber simetria de duas matildeos

deslocamento locativo conteuacutedo lexical para as matildeos assimilaccedilatildeo

deletaccedilatildeo de uma matildeo de sinais de duas matildeos e deletaccedilatildeo de uma parte

do sinal composto Dos resultados das anaacutelises pode-se verificar que

alguns sinais da LIBRAS permaneceram idecircnticos ateacute os dias de hoje

enquanto outros sofreram mudanccedilas nas partes fonoloacutegicas e lexicais A

autora concluiu que diversos fatores influenciaram tais mudanccedilas como

por exemplo a influecircncia dos falantes ouvintes sobre a LIBRAS a

influecircncia da Liacutengua portuguesa na estrutura da LIBRAS o

desconhecimento sobre as liacutenguas de sinais a organizaccedilatildeo lexicograacutefica

nos dicionaacuterios de sinais a discriminaccedilatildeo ouvinte sobre a LIBRAS o

contato contiacutenuo dos surdos com ouvinte e a inseguranccedila na

consciecircncia linguiacutestica dos surdos em relaccedilatildeo agrave LIBRAS Outra

conclusatildeo foi a descoberta de sinais da Iconographia idecircnticos na ASL e

na LSF hoje em dia mais do que nos dicionaacuterios Oates e dos INES

34 ndash Francisco Lima Juacutenior ndash O Primeiro Professor Surdo em

Santa Catarina na liacutengua de sinais

Segundo Schmitt (2008) Francisco Lima Juacutenior tem lembranccedilas

do avocirc Germano tias Erna Irude e Isabel o pai Francisco matildee Augusta

e o irmatildeo Reinoldo Francisco Lima Juacutenior chamado pelo apelido

(chiquito) eacute o uacutenico surdo desta famiacutelia Ele nasceu no dia 01 de junho

de 1928 em casa na Rua Duarte Schutel no 16 em Florianoacutepolis A tia

Erna disse que o Francisco foi ateacute os 36 meses de idade uma crianccedila

normal e perfeita mas nesta idade foi um susto para os familiares do

Francisco ele ter ficado surdo

Atraveacutes de contatos com o senhor Francisco Lima Juacutenior

estive presente na casa dele investigando sobre a

primeira turma de surdo Catarinense No dia 04082006

foi entrevistado o senhor Francisco Lima Juacutenior Ele

nasceu no dia 01061928 em Florianoacutepolis no Estado de

Santa Catarina e ateacute a idade de 03 anos ouvia

normalmente A famiacutelia do Francisco sempre conversava

com ele sobre cinema ou noticias que ouviam o raacutedio O

Francisco estava sentado no chatildeo brincando com o

carrinho na sala de estar assistindo o cinema com a

famiacutelia dele A famiacutelia chamou atenccedilatildeo do seu filho

Francisco mas ele natildeo ouvia a voz dos seus pais falando

Franciscooooo e tambeacutem batendo palmas O Francisco

natildeo ouvia nada e quando o pai tocou no ombro do

88

Francisco ele entendeu O que pai (SCHMITT 2008 p

86)

Seus pais natildeo se aperceberam ao longo deste tempo que Francisco

estava ficando surdo porque ele ainda natildeo havia aprendido a falar

compreender palavras e a se comunicar por gestos O pai de Francisco

levou-o para o meacutedico que falou que o menino teve um problema no

nervo auditivo e ficou surdo (Consultas ao meacutedico com frequecircncia

dificuldade de se comunicar com a famiacutelia sentia-se muito pressionado

foram tempos difiacuteceis ele conta) O pai queria ensinar a liccedilatildeo para

Francisco que aprendia vocabulaacuterio e a gramaacutetica juntamente com os

nuacutemeros cardinais desenho e a palavra correspondente e tambeacutem a

linguagem gestual da comunicaccedilatildeo dele O pai levou-o para o

tratamento meacutedico com o Dr Djalma Moellmann que informou aos

pais que pela idade do Francisco ele poderia estudar no Instituto

Nacional de Surdos-Mudos do Rio de Janeiro Segue o depoimento

Os pais resolveram levar seu filho para tratamento

meacutedico e fonoaudioloacutegico no centro de Florianoacutepolis

para saber o que aconteceu com a audiccedilatildeo do Francisco

que natildeo ouvia nada O meacutedico fonoaudioloacutegico dizia que

ele era deficiente auditivo e tambeacutem chamou-o de Surdo-

Mudo naquela eacutepoca ˝Ai Como fazer agora Os pais

perguntaram O que O meu filho natildeo podia estudar na

escola dos ouvintes e na eacutepoca aqui natildeo existia escola

para surdos˝ O meacutedico fonoaudioloacutegico informou sobre

a escola no INSM - Instituto Nacional de Surdos-Mudos

no Rio de JaneiroRJ Eles verificaram que laacute existia

escola para surdos-mudos mas resolveram permanecer

morando naquela cidade Entatildeo o pai resolveu levar o

seu filho Francisco para o Rio de JaneiroRJ Quando o

Francisco era crianccedila tinha ocircnibus carro caminhatildeo

bicicleta e aviatildeo Foi viagem de navio O tio do

Francisco trabalhava como marinheiro e levou o

Francisco para o Rio acompanhando do pai e do tio dele

(SCHMITT 2008 p 86)

Francisco realizou exames meacutedicos onde foi avaliada sua sauacutede

se podia estudar no Instituto Nacional de Surdos-Mudos que era um

grande desafio Nesse lugar havia modernas oficinas e ginaacutesio tinha 109

surdos internos Era comum observar um grupo de surdos que se

comunicava na liacutengua de sinais no corredor do Instituto Laacute tambeacutem os

alunos surdos podiam entrar em contato com os primeiros surdos que

89

vieram de diferentes estados e regiotildees do Brasil Em 1937 o pai

acompanhou Francisco em uma viagem de navio para o Rio de Janeiro e

matriculou-o no Instituto Nacional de Surdos-Mudos Laacute conheceu o Dr

Armando ex-diretor de INSM na deacutecada de 1940

Em 1937 Francisco foi levado pelos primos Paulo e Hugo e pelo

seu tio para conhecer o INSM Eles levavam Francisco ao Instituto nos

saacutebados e voltavam nas segundas-feiras de 1937 a 1939 Hugo

trabalhava no navio ldquoDuque de Caxiasrdquo que saiacutea do Rio de Janeiro O

outro navio onde estava o tio voltava da Bahia quando avistou um

submarino de guerra (alematildeo) que era dotado de canhotildees Os dois

navios chocaram-se agrave noite neles tinha bombas nucleares Hugo o tio

passageiros e marinheiros morreram no mar e um outro navio onde seu

tio Paulo trabalhava desapareceu na Europa em 1945

Na segunda guerra Hitler se armou poderosamente para dominar

a Europa mas com sua derrota em 1939 a 1945 a Alemanha perdeu

cerca de um quarto do seu territoacuterio que por alguns anos foi ocupado

pelas forcas aliadas russas americanas inglesas e francesas Das cinzas

surgem os novos navios Um navio a vapor com o nome de Carlos

Hoepcke e Anna navio este de carga e passageiros que transportou

Francisco ateacute o Rio de Janeiro O capitatildeo deste navio era seu tio Ceacutelio

Viana Os passageiros eram atenciosos para com Francisco e o

ajudavam quando ele precisava

Era oferecido abrigo aos navios aportados no porto de SantosSP

Rio de Janeiro Satildeo Francisco do Sul e Itajaiacute Iam de navio e na volta

vinham de aviatildeo com destino a Florianoacutepolis e Rio de Janeiro O pai

Francisco Candido de Souza Lima era gerente contador homem de

bom coraccedilatildeo que fazia a contabilidade de Carlos Hoepcke era uma

amizade de marinha mercante

Em suas viagens o professor Francisco Lima Juacutenior viu o Sr

Ademar Barros que era intendente de comeacutercio do vapor Carlos

Hoepcke Viajaram num submarino guiados por buacutessola para ajudar os

navegantes em 1937 a 1946 Ao fim do ano letivo no Instituto o pai e

Francisco voltavam para Florianoacutepolis em 1947 O Professor Francisco

trabalhou auxiliando a contabilidade e os lanccedilamentos na filial de Carlos

Hoepcke SA Ele aproveitou o aprendizado nas oficinas do Instituto

Nacional de Surdos-Mudos onde aprendeu uma seacuterie de profissotildees

como a de marcenaria encadernaccedilatildeo e sapataria aleacutem de participar de

um curso de Desenho Segue a explicaccedilatildeo do autor

Os alunos de vaacuterios estados no Brasil tambeacutem estudavam

no INSM junto com o Francisco e fizeram amizade

90

jogando o futebol na quadra Depois o Francisco foi para

os alojamentos no Instituto e dormiu cada um num

beliche todos os alunos surdos eram brasileiros Os

alunos surdos acordavam agraves 05h30min nas madrugadas

para arrumar e ficavam esperando na fila de outros

alunos faziam relaxamento e educaccedilatildeo fiacutesica para depois

tomar o banho Depois estudavam de manhatilde e agrave tarde agraves

vezes agrave noite e voltavam para o alojamento no Instituto

O professor no Instituto dava aula de oralizaccedilatildeo para os

alunos surdos na sala de aula explicando o conteuacutedo de

mateacuteria no quadro negro e tambeacutem com vareta Depois o

professor anotava no quadro a escrita de portuguecircs

avisava para o aluno surdo que natildeo podia copiar no

quadro e prestar atenccedilatildeo agrave escrita no quadro O professor

apagava no quadro para o aluno surdo memorizar a

escrita da fala O que aconteceu Os alunos ficaram com

dificuldade de entender a escrita no quadro (SCHMITT

2008 p 92 e 93)

Os professores mostravam vaacuterias figuras de objetos com os

respectivos nomes e individualmente faziam o trabalho de repeticcedilatildeo

com o aluno Francisco que escrevia e falava Mas existia a liacutengua de

sinais no lado de fora No paacutetio a comunicaccedilatildeo dele e o grupo de surdo

no Instituto apresentava a liacutengua de sinais Dr Armando Lacerda diretor

do Instituto Nacional de Surdos-Mudos ndash INSM acampanhou a

comemoraccedilatildeo de sua fundaccedilatildeo e seguiram-se demonstraccedilotildees de

ginaacutestica representaccedilatildeo de uma peccedila teatral nuacutemeros de bailado pelo

corpo etc

Os surdos da marcenaria da encadernaccedilatildeo e da sapataria eram

jogadores e participaram da competiccedilatildeo de futebol de campo no

instituto Venceram os surdos da encadernaccedilatildeo que receberam

medalhas e trofeacuteu O grupo de alunos que ganhou a competiccedilatildeo foi

viajar e passear na praia da Ilha de PaquetaacuteRJ Dois alunos deste grupo

mais tarde tornaram-se professores do Instituto Um deles era o

professor Heacutelio ensinava ginaacutestica futebol e voleibol na quadra de

esportivo e o outro era professor Francisco

Na eacutepoca foi feita uma reportagem com depoimentos do Dr

Armando Lacerda dos professores Joatildeo Brasil Silvado Juacutenior Saul Borges Carneiro e Geraldo Cavalcantil todos eles ouvintes Essa

reportagem foi riquiacutessima detalhada cheia de fotografias eacute uma

importante fonte de pesquisa Francisco desenvolveu sua aprendizagem

na liacutengua de sinais aproveitando essas atividades comemorativas que

aconteciam no instituto aleacutem do curriacuteculo da escola

91

Os professores acima citados todos oralistas impressionam pela

cultura e a quantidade de informaccedilotildees com que discorrem sobre a

educaccedilatildeo do surdo e a histoacuteria na liacutengua de sinais Sendo recebido pelo

ministro da educaccedilatildeo e sauacutede naquela eacutepoca foi oferecido um meacuterito ao

ex-aluno Francisco Lima Juacutenior conforme mostra a citaccedilatildeo

O Francisco Lima Juacutenior recebeu o meacuterito do segundo

melhor no Instituto Nacional de Surdos-Mudos (INSM)

no Rio de JaneiroRJ por a maior nota de avaliaccedilatildeo na

prova e tambeacutem em todas as disciplinas Vejam os

nomes ndash primeiro lugar (Odil Soares em Satildeo Paulo)

segundo lugar (Francisco Lima Juacutenior em Santa

Catarina) e terceiro lugar (Miriam S Rio de Janeiro)

Parabenizamos o senhor Francisco Lima Juacutenior do nosso

Estado de Santa Catarina eacute vitorioso e orgulhoso

(SCHMITT 2008 p 96)

Ele foi aluno interno do Instituto Nacional de Surdos-Mudos do

Rio de Janeiro e do Instituto Paulista de Surdos em Satildeo Paulo em 1940 e

natildeo gostava de Satildeo Paulo A professora Helena (INES) era de origem

Italiana ensinava a fazer ditado em portuguecircs (oralismo) mas a liacutengua

de sinais natildeo existia na comunicaccedilatildeo e o grupo surdo teve pouco contato

com a liacutengua materna (liacutengua de sinais)

Para a inauguraccedilatildeo do Instituto Nacional de Surdos-Mudos foram

convidadas vaacuterias autoridades entre elas o ministro da educaccedilatildeo

diretores de escolas e outros Esta aconteceu no teatro do Instituto e

ofereceram trecircs certificados para o curso de desenho para a oficina de

encadernaccedilatildeo e linguagem que foram ganhos pelo Francisco Lima

Juacutenior em 1946 No ano seguinte ele voltou para Florianoacutepolis

Em 1946 com 18 anos de idade voltou para

FlorianoacutepolisSC quando passou a procurar por pessoas

surdas nas vaacuterias cidades do estado de Santa Catarina e

demorou um tempo para ter contato com os surdos

catarinenses Ele comeccedilou a dar aulas numa garagem

situada agrave Rua Francisco Tolentino passando ser ali a

primeira escola para surdos de Florianoacutepolis O

Francisco ensinava desenho linguagem escrita

vocabulaacuterio baacutesico gramaacutetica geograacutefia histoacuteria do

Brasil e conhecimentos gerais Ele trouxe para o nosso

estado o modelo de associaccedilatildeo e fez um projeto de escola

para surdos com a esposa de ouvinte que ajudou o

Francisco Apoacutes a conclusatildeo dos cursos em 1947

retorna definitivamente para casa dos pais em

92

Florianoacutepolis agrave Rua Duarte Schutel nordm 16 (SCHMITT

2008 p 104)

Em 1947 morava com o pai em sua casa em Florianoacutepolis Ele

foi habilitado em contabilidade pelo Instituto e fez o curso de

Contabilidade do Instituto Radio Teacutecnico RT Monitor SA ndash nuacutecleo de

ensino profissional livre por correspondecircncia (1 liccedilatildeo ateacute 28 liccedilatildeo) Satildeo

Paulo ndash SP Apoacutes Francisco conhecer os surdos em vaacuterias cidades de

Santa Catarina ele ficou com vontade de auxiliar o surdo que ficava

isolado em casa e na famiacutelia sem o uso da comunicaccedilatildeo gestual Veja a

seguir a imagem apresentada do Francisco Lima Juacutenior em 1947

93

Figura 13 ndash Acervo do Francisco eacute o primeiro dicionaacuterio na liacutengua de

sinais em Santa Catarina em 1947

O primeiro dicionaacuterio em Santa Catarina tinha imagens do

proacuteprio Francisco que demonstrava a preocupaccedilatildeo culturallinguiacutestica

para com os surdos e a difusatildeo da liacutengua de sinais procurava uma forma

de o grupo de surdo ter contato com a liacutengua de sinais e ensinava em sua casa (na garagem) onde tambeacutem ficava a associaccedilatildeo

As aulas continuavam com o professor Francisco que ia

ensinando cada vez mais sinais e com qualidade pois dali faziam as

provas finais O professor ensinava conteuacutedos de matemaacutetica geografia

94

conhecimento geral ciecircncias e portuguecircs No uacuteltimo mecircs de aula apoacutes o

encerramento das aulas o professor entregava os boletins com as meacutedias

de todos os surdos que ficaram alegres pois nenhum deles tinha sido

reprovado

Francisco viajou para Satildeo Paulo em 1954 iniciou sua amizade

com o primeiro presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos de Satildeo

Paulo senhor Maacuterio Devisate que natildeo tinha o conhecimento da

existecircncia de uma associaccedilatildeo de surdos em Florianoacutepolis O senhor

Maacuterio Devisate deu um documento de uma Associaccedilatildeo de Surdos-

Mudos com acircmbito nacional e Francisco veio como delegado para a

regiatildeo do sul passando a residir nessa capital

Foi o primeiro encontro com o presidente da Sociedade dos

Surdos-Mudos do Distrito Federal49

que mudou a Associaccedilatildeo de Surdos-

Mudos do Rio de Janeiro o senhor Miguel da Fonseca Seabra de Melo

grande colega jaacute falecido Francisco em meio agrave conversa na liacutengua de

sinais conheceu o presidente da ASURJ que comentou ldquoaquele tambeacutem

eacute surdordquo O colega dele sorriu ao sair cumprimentou o senhor Miguel

da Fonseca Seabra de Melo que agradecendo estendeu-lhe a matildeo Isso

aconteceu no Instituto Nacional de Surdos-Mudos

Francisco nunca mais se esqueceu dessa cena bem da verdade

ele conversava com o senhor Salomatildeo Watnick (jaacute falecido em Porto

Alegre) que foi o primeiro presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos

do Rio Grande do Sul e foi uma grande amizade Como pode estudar

desde cedo em escola especial para Surdos Mudos em Satildeo Paulo e Rio

de Janeiro conhecia muitos surdos tinha amizade e intimidade

oportunizando contato com surdos que tinham lideranccedila e outros grupos

de surdos tendo como consequecircncia aprendido expressotildees palavras

novas da liacutengua de sinais inclusive as variaccedilotildees linguiacutesticas de outras

regiotildees

Francisco foi tratado como amigo pelos senhores Vivaldo Leal de

Merelles e Ciro Garcia de Souza jaacute falecidos que escreveram o

primeiro estatuto da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos do Paranaacute Eles

perguntaram como ganhavam a vida os surdos-mudos que natildeo tiveram a

felicidade de cursar escolas especiais Entatildeo nesta pergunta

encontraram o motivo da existecircncia da associaccedilatildeo e da escola

Francisco fundou o Ciacuterculo dos Surdos-Mudos de Santa Catarina

ndash CSMSC no ano de 1955 Naquele aniversaacuterio de sua entidade os

surdos-mudos de Florianoacutepolis receberam a visita de delegaccedilotildees de

49 O Distrito Federal nessa eacutepoca era o Rio de Janeiro

95

outros Estados No primeiro jogo o CSMSC jaacute ganhou um trofeacuteu no

futebol de campo Outro ganho foi com a Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos

do Paranaacute onde havia muitas variaccedilotildees na liacutengua de sinais e o contato

proporcionou o aprendizado de novos sinais para todos

Em 1961 o Governador Celso Ramos atendia o presidente O

Ciacuterculo dos Surdos-Mudos de Santa Catarina o professor Francisco

Lima Juacutenior acompanhado de outros membros daquela associaccedilatildeo

pleiteava a construccedilatildeo de uma escola para surdos-mudos em nosso

Estado porque ainda natildeo existia nenhuma O ensino de Francisco

desenvolvia o domiacutenio da liacutengua de sinais dos surdos em Santa Catarina

Em Santa Catarina o processo de educaccedilatildeo de surdos se

deu na deacutecada de 50 com serviccedilos implementados na

rede regular de ensino Aconteceu que os surdos

estudaram na escola regular juntamente com alunos

ouvintes e eles natildeo se compreenderam na sala de aula

porque o professor falava a liacutengua portuguesa e oralismo

A liacutengua de sinais era proibida por influecircncia do

congresso de Milatildeo na Itaacutelia em 1880 Os alunos surdos

ficaram isolados dos alunos ouvintes por causa das

barreiras de comunicaccedilatildeo Os ouvintes natildeo conheciam a

cultura e a identidade surda Por exemplo na sala de aula

muitos alunos ouvintes se comunicam em portuguecircs e os

surdos ficam isolados e excluiacutedos na escola dos ouvintes

Porque o surdo procura a intervenccedilatildeo da cultura que se

vive na liacutengua de sinais encontra outros surdos na

comunicaccedilatildeo nos contados entre outros surdos e

consegue juntamente na forccedila poliacutetica dos movimentos

surdos Na verdade o Francisco teve forccedila de vontade

para estudar no INES Ele eacute uma pessoa boa com a

responsabilidade de fundar associaccedilatildeo de surdo A

trajetoacuteria de vida desde a infacircncia marca e registra que

Francisco tem procuraccedilatildeo com o povo surdo do interior

com os contatos na liacutengua de sinais e mais valorizaccedilatildeo da

cultura surda (SCHMITT 2008 p 105)

Foi apresentado para Francisco Lima Juacutenior pelo Governador

Celso Ramos o termo aprovado para contrataccedilatildeo de profissionais para

funcionamento da sala para surdos-mudos em Florianoacutepolis que

funcionou na Escola Celso Ramos localizada na Rua Francisco

Tolentino n0 12 Centro de Florianoacutepolis Esse empreendimento veio

dotar a capital de mais uma escola desta vez destinada aos surdos-

mudos que tambeacutem necessitavam ser atendidos quando se promovia o

crescimento no nuacutemero de escola em nossa terra

96

Em Florianoacutepolis existiam duas escolas para crianccedilas surdas

uma funcionando no grupo Escolar Celso Ramos e outra no grupo

Escolar Barreiros Filho todos a cargos de professores especializados

Nessa eacutepoca os surdos de Florianoacutepolis receberam a visita de um

sacerdote surdo o Padre Vicente de Paulo Penido Burnier natural de

Juiz de Fora Estado de Minas Gerais e tambeacutem do Padre Eugecircnio Oates

nascido em Missouir Estados Unidos Atraiacutedo pela personalidade e pelo

trabalho do padre Vicente o padre Eugecircnio Oates veio para o Brasil em

1946 como missionaacuterio dirigindo-se agrave igreja dos padres redentoristas

sediada em Manaus

Integrou-se na vida brasileira o padre Eugecircnio Oates realizando

campanhas em todo o paiacutes em favor da difusatildeo da linguagem das matildeos

no Rio de Janeiro onde lanccedilou o primeiro livro em 1969

Figura 14 ndash Acervo do Francisco fotografia de Jornal que traz

reportagem sobre o livro Linguagem das Matildeos

Em Florianoacutepolis encaminhavam os surdos-mudos para a

instituiccedilatildeo especializada podia-se procurar o Ciacuterculo dos Surdos-Mudos

de Santa Catarina no grupo escolar Barreiros Filho e no Instituto de

Audiccedilatildeo e Terapia de Linguagem ndash IATEL Fundado no dia 05 de julho

de 1969 o IATEL jaacute funcionava no hospital infantil em instalaccedilotildees

precaacuterias Para que crianccedilas surdas pudessem ter uma vida normal o

professor Francisco Lima Juacutenior trabalhava haacute muitos anos

O Ciacuterculo dos Surdos-Mudos de Santa Catarina comeccedilou a se

movimentar pois na reuniatildeo teve contato com a liacutengua de sinais que

comeccedilou com o discurso depois um jogo divertido que o CSMSC

97

promovia no encontro desta reuniatildeo Tambeacutem ofereceu a renovaccedilatildeo de

matriacuteculas para menores e adultos surdos Reabriu a escola para surdos

menores no periacuteodo da manhatilde e agrave noite para adultos analfabetos Teve

tambeacutem outra reuniatildeo que iniciou com um discurso e apoacutes isso

aconteceu o jogo com os associados

As aulas continuavam normalmente e as reuniotildees tambeacutem

Francisco Lima Juacutenior que era o presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos

do Estado de Santa Catarina era quem organizava o encontro com as

associaccedilotildees de surdos de vaacuterias cidades do estado Havia aleacutem dos

discursos escolha da rainha dos surdos e competiccedilotildees de jogos (futebol

vocirclei) aleacutem de viagens Numa dessas viagens os surdos de Santa

Catarina foram para Satildeo Paulo no festival esportivo numa viagem de

dois dias onde ocorria a silenciosa festividade

O presidente do CSMSC nesta festa fez um discurso para os

amigos surdos de Satildeo Paulo e o vice-presidente do CSMSC deixou seu

cargo porque natildeo quis mais participar destas associaccedilotildees Entatildeo as

aulas continuaram Foi um mecircs em que muitos soacutecios ou alguns estavam

com muito trabalho vinham alguns soacutecios da associaccedilatildeo dos surdos-

mudos para saber das informaccedilotildees da semana no CSMSC Por isso

continuaram alguns surdos realizando o encontro para bate-papo na

liacutengua de sinais todas as quartas-feiras Realizou-se a primeira

comunhatildeo pascoal na capela do Coleacutegio Catarinense rezada pelo padre

Vicente que era surdo no mesmo dia apoacutes a missa de aniversaacuterio do

presidente Francisco

Os alunos surdos entraram em feacuterias mas continuaram os

encontros e reuniotildees onde discursavam e planejavam as atividades

esportivas para o CSMSC apoacutes os jogos que eles faziam todos os

meses Havia reuniotildees com bate-papos na liacutengua de sinais no CSMSC

Numa destas reuniotildees aconteceu um evento importante para os surdos-

mudos que eram associados do CSMSC pois comemoraram a data de

sua inauguraccedilatildeo

Francisco continuava a dar aulas e palestras principalmente sobre

a Independecircncia do Brasil sobre D Pedro I e outros assuntos Na

comemoraccedilatildeo da Independecircncia do Brasil os associados da CSMSC

viajaram para Curitiba e encontraram os amigos surdos de laacute E todos

fizeram um discurso que iniciou com o presidente da CSMSC apoacutes os

representantes de cada sociedade e depois do discurso foi eleita a rainha

da Associaccedilatildeo dos Surdos de Curitiba senhorita Anair Budel Em

seguida o presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos de Curitiba convidou o

professor Francisco Lima Juacutenior presidente do CSMSC para danccedilar a

valsa com a rainha das prendas Anair Budel

98

Francisco contou que o baile foi muito divertido e durou ateacute a

madrugada com o grupo de surdos que conversava muito no encontro

de associaccedilotildees regionais Apoacutes o encerramento do evento visitaram

uma escola de crianccedilas surdas em Curitiba Em 1972 o professor deu

para cada aluno uma cartolina e assim cada um ia imaginar e pintar seu

conhecimento do trabalho para a difusatildeo da liacutengua de sinais Depois na

comemoraccedilatildeo do dia do professor os alunos fizeram uma pequena

homenagem ao professor Francisco

O professor falou sobre o dia do Iacutendio descobrimento do Brasil a

morte de Tiradentes entre outros Na paacutescoa os alunos receberam

presentes de chocolate na semana da paixatildeo foi apresentado o teatro ldquoa

morte de Jesus Cristordquo na liacutengua de sinais por um grupo de surdos para

difundir sua liacutengua

O ensino da liacutengua de sinais em Santa Catarina com os

ensinamentos do professor Francisco proporcionou uma nova fase da

liacutengua de sinais trazendo influecircncias de outras comunidades surdas do

Brasil A partir desse contato o modelo linguiacutestico trazido do Rio de

Janeiro eacute aperfeiccediloado a cada geraccedilatildeo

O Imperial Instituto dos Surdos-Mudos foi de extrema

importacircncia na propagaccedilatildeo da liacutengua de sinais em grande

parte das regiotildees brasileiras O Sr Francisco cidadatildeo

Catarinense foi um aluno desta instituiccedilatildeo apoacutes retornar

ao seu estado de origem ele foi educador de surdos e

responsaacuteveis pela difusatildeo da liacutengua sinalizada usada

nesse instituto (CORREA e SEGALA 2009 p 32)

Durante todo esse tempo o professor Francisco Lima Juacutenior

orienta auxilia e direciona todas as atividades escolares das crianccedilas

jovens e adultos surdos tornando-se assim o primeiro professor dessa

metodologia de ensino - A Linguagem das Matildeos com o objetivo de

criar um alfabeto uacutenico para todos os Surdos do Estado de Santa

Catarina Suas aulas e palestras em LIBRAS tornaram-se muito

populares entre os surdos catarinenses

Eacute importante registrar na histoacuteria da liacutengua de sinais em Santa

Catarina um estudo linguiacutestico e possibilitar a pesquisa sobre o primeiro

professor surdo Francisco que criou o primeiro dicionaacuterio aqui em

Santa Catarina Ele trouxe o modelo do INESRJ (uma experiecircncia na liacutengua de sinais) para nosso estado de Santa Catarina e influenciou a

comunidade surda catarinense

Uma das pessoas surdas da nova geraccedilatildeo eacute a Sandra Luacutecia

Amorim que escreveu um pequeno dicionaacuterio chamado ldquoComunicando

99

a Liberdade - A Liacutengua das Matildeosrdquo em 2000

Concluiacutemos que a Liacutengua Brasileira de Sinais teve forte

influecircncia da liacutengua de sinais francesa (LSF) que tambeacutem influenciou a

liacutengua de sinais em Santa Catarina atraveacutes do professor Francisco que

estudou no INES A LSF eacute uma liacutengua mais antiga do que a LIBRAS

com um acervo bibliograacutefico maior A LIBRAS tem caracteriacutesticas

proacuteprias e estaacute em expansatildeo a partir de sua oficializaccedilatildeo em 2002 pela

necessidade de incluir novos sinais ao aprendizado da comunidade surda

que passou a ter uma maior abertura nas universidades

100

101

CAPIacuteTULO IV ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila na liacutengua de sinais

41 ndash Introduccedilatildeo

Nesta pesquisa tomamos como base teoacuterica os estudos

sociolinguiacutesticos de Labov (2008 [1972]) na concepccedilatildeo de que seu texto

pode nos ajudar a embasar o trabalho de pesquisa Assim tomamos

como base os estudos das liacutenguas orais do autor adaptando-os agraves

variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas das liacutenguas de sinais

O estudo desenvolvido aqui mostra os sujeitos surdos a liacutengua de

sinais algumas possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas Traz

explicaccedilotildees da liacutengua de sinais pelo surdo indiacutecios de variaccedilatildeo e

mudanccedila linguiacutestica apresenta variaccedilotildees linguiacutesticas na liacutengua de sinais

utilizadas pelos surdos e por fim como o surdo se comunica a liacutengua

de sinais em seu contexto social

42 ndash A liacutengua de sinais pelo surdo indiacutecios de variaccedilatildeo e mudanccedila

linguiacutestica

A LIBRAS

50 eacute uma liacutengua usada entre os surdos assim como

entre os ouvintes desde que queiram interagir com esta forma de

comunicaccedilatildeo Ao verificar o acesso dos surdos agrave comunicaccedilatildeo e agrave

expressatildeo de forma criativa pode-se encontrar respostas sobre

mudanccedilas na gramaacutetica em palavras em frases e em seu contexto

social

As liacutenguas mudam todos os dias evoluem mas a essa

mudanccedila diacrocircnica se acrescenta uma outra sincrocircnica

pode-se perceber numa liacutengua continuamente a

coexistecircncia de formas diferentes de um mesmo

significado Essas variaacuteveis podem ser geograacuteficas a

mesma liacutengua pode ser pronunciado diferentemente ou

ter um leacutexico diferente em diferentes pontos do territoacuterio

(CALVET 2002 p 89)

Queremos apresentar algumas variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas a

que os surdos estiveram expostos no primeiro espaccedilo de ensino

promovido pelo professor Francisco Lima Juacutenior (Chiquito) Ele

influenciou para a expansatildeo da liacutengua de sinais da comunidade surda na

50 ldquoEacute uma liacutengua natural eacute atraveacutes dela que os surdos tecircm acesso ao mundo em que vivem No

entanto ela natildeo eacute uma liacutengua que o surdo aprende sozinho Ele pode desenvolver uma liacutengua

102

histoacuteria de Santa Catarina Entatildeo queremos perceber se haacute diferenccedilas

durante sua trajetoacuteria entre a variaccedilatildeo linguiacutestica daquela eacutepoca (1950)

ateacute a atualidade se aconteceram mudanccedilas por influecircncia da

transformaccedilatildeo tecnoloacutegica da sociedade Acreditamos que com o passar

do tempo ocorrem mudanccedilas na liacutengua de sinais histoacuterica e

culturalmente na comunidade surda

As liacutenguas de sinais como todas as liacutenguas satildeo dinacircmicas Em

contato com grupos surdos na comunidade modificam-se ao longo do

tempo como qualquer outra liacutengua A mudanccedila pode ser percebida em

diferentes regiotildees onde o surdo busca a informaccedilatildeo utilizando a liacutengua

de sinais que vem de outro lugar com algumas diferenccedilas entre palavras

e seu significado entre sinais

Quando as pessoas surdas evoluem culturalmente a liacutengua de

sinais se transforma Com o passar do tempo a ldquoLIBRASrdquo tambeacutem se

modifica Na interaccedilatildeo do indiviacuteduo surdo na comunidade surda e na

sociedade essas relaccedilotildees de contato fazem com que se criem novos

sinais pois aparecem palavras novas e outros sinais sofrem adaptaccedilotildees

ocorrem mudanccedilas na configuraccedilatildeo de matildeos no ponto de articulaccedilatildeo

no movimento na orientaccedilatildeodirecional na expressatildeo facial e corporal

Essas adaptaccedilotildees satildeo criadas pela necessidade no contato e na situaccedilatildeo

de uso A comunidade surda como qualquer outra vem evoluindo e se

transformando firmando uma identidade surda

Como jaacute ressaltamos a origem da liacutengua de sinais no Brasil eacute

europeacuteia Sua maior influecircncia foi no Rio de Janeiro no Instituto

Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos ndash INESRJ onde se expandiu para os

demais estados brasileiros Recebeu influecircncia tambeacutem do Francecircs do

Portuguecircs (Portugal) e dos Estados Unidos O Instituto pesquisou a

influecircncia cultural dos surdos e as influecircncias sofridas quanto a

LIBRAS Assim como na Liacutengua Portuguesa acontecem modificaccedilotildees

na escrita e na fala com o tempo na liacutengua de sinais tambeacutem ocorrem

transformaccedilotildees quanto agrave configuraccedilatildeo de matildeos A liacutengua de sinais

evolui com mudanccedila constante em cada regiatildeo e a comunicaccedilatildeo do

surdo acompanha e qualifica mais a liacutengua de sinais A LIBRAS sofre

modificaccedilotildees com o tempo e tambeacutem como na liacutengua falada apresenta

palavras ou expressotildees proacuteprias do lugar onde acontece a comunicaccedilatildeo

Sendo assim o surdo natildeo tem o contato com a LIBRAS longe da

sociedade ou na zona rural nesse caso pode se apropriar de sinais

proacuteprios para a comunicaccedilatildeo ex Francisco buscava os surdos nas

regiotildees de Santa Catarina pois o contato com a LIBRAS eacute importante

para a sua identidade cultural

103

Realmente pode-se considerar que essas diferentes

palavras se dividem em seu uso em uma escala de faixas

etaacuterias os jovens diriam banheiro seus pais wc e seus

avoacutes reservados por exemplo Pode-se entatildeo imaginar

que eles se dividam segundo o sexo dos falantes os

homens dizendo mais banheiro e wc e as mulheres

toalete e reservado (CALVET 2002 p 103)

A LIBRAS eacute uma liacutengua porque possui estrutura gramatical

proacutepria eacute essencial para o surdo o contato em relaccedilatildeo ao outro como

em qualquer outra liacutengua que tem diferenccedilas gramaticais Utilizando o

movimento de sinal e a expressatildeo facial como meio de comunicaccedilatildeo o

surdo se comunica tanto com a comunidade surda quanto com a ouvinte

O contato dos jovens com os ensinamentos do professor

Francisco proporcionou uma nova fase da liacutengua de sinais A partir

desse contato o modelo linguiacutestico trazido do Rio de Janeiro eacute

aperfeiccediloado pela geraccedilatildeo mais nova do mesmo modo que descreve

Calvet (2002) nos estudos de liacutengua oral

- a ideacuteia de pesquisa uma (s) variaacutevel (eis) frequente (s)

que geralmente aparecem na estrutura linguumliacutestica

variaacuteveis cuja distribuiccedilatildeo deve ser fortemente

estratificada ldquoIsso equivale a dizer que as pesquisas

preliminares deveriam indicar a seu respeito uma

distribuiccedilatildeo assimeacutetrica entre as mais diversas faixas

etaacuterias ou entre outras categorias mais hierarquizadas da

sociedaderdquo - o estabelecimento de uma metodologia que

extrai essas variaacuteveis dos textos produzidos pelos

falantes - a pesquisa da correlaccedilatildeo entre essa

distribuiccedilatildeo de traccedilos linguiacutesticos e uma distribuiccedilatildeo de

traccedilos socioloacutegicos (CALVET 2002 p 93)

Na citaccedilatildeo acima o autor relata que eacute preciso pensar a construccedilatildeo

de identidade levando em conta diferentes faixas etaacuterias e a variaccedilatildeo

linguiacutestica Entendemos assim a necessidade de pesquisarmos as

variaccedilotildees ocorridas em Santa Catarina

A LIBRAS possui uma forma de comunicaccedilatildeo proacutepria Eacute

independente como qualquer outra liacutengua escrita ou falada Tem o

formato proacuteprio na sua comunicaccedilatildeo que eacute o visual pois se utiliza de

sinaisgestos e expressotildees Todos os seres humanos usam um

determinado tipo de liacutengua e linguagem para se comunicar e tanto a

liacutengua falada quanto a sinalizada apresentam sentidos de expressotildees

104

diferentes na comunicaccedilatildeo A liacutengua de sinais muda histoacuterica e

linguisticamente conforme as variaccedilotildees de cada lugar ou regiatildeo Entatildeo

eacute importante a relaccedilatildeo estabelecida com outras pessoas na sociedade na

troca de informaccedilatildeo ideias experiecircncias ensinamentos e aprendizagem

quando se fala uma liacutengua Quando pensamos as liacutenguas percebemos

que existem diferenccedilas na LIBRAS e no Portuguecircs

Frishberg (1975)51

no seu estudo pesquisado no Instituto Teacutecnico

Nacional para Surdos de Nova Iorque aborda como a Liacutengua de Sinais

Americana (ASL) tem mudado gradativamente ao longo do tempo de

uma linguagem mais icocircnica para uma linguagem mais arbitraacuteria Eacute a

liacutengua natural da comunidade surda nos Estados Unidos e em partes do

Canadaacute onde o inglecircs eacute falado Difere das duas liacutenguas que a maioria

das pessoas conhece no sentido de que eacute produzida com as matildeos e

percebida pelos olhos em vez de pronunciado e percebido pelos

ouvidos Entatildeo ela realizou a sua pesquisa sobre alguns processos

histoacutericos em Liacutengua de Sinais onde havia uma forte tendecircncia para

certas mudanccedilas Como toda liacutengua as liacutenguas de sinais aumentam seu

inventaacuterio lexical com novos sinais introduzidos pelas comunidades

surdas em respostas agraves mudanccedilas culturais e tecnoloacutegicas

A liacutengua de sinais possui estrutura gramatical como qualquer

liacutengua utiliza paracircmetros e como todas as liacutenguas tem variaccedilotildees no

niacutevel fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico e pragmaacutetico Por

isso pode-se perceber a mudanccedila cotidiana na liacutengua de sinais A pessoa

surda traz do seu contato cultural dos grupos nos quais estaacute inserida

novos olhares desta liacutengua muitas vezes transformando sinais jaacute

existentes em novos sinais

Quadros e Karnopp (2004) dizem que as liacutenguas de sinais

recebem informaccedilotildees linguiacutesticas pelos olhos e satildeo produzidas pelas

matildeos O termo fonologia tem sido muito usado para estudar os

elementos das liacutenguas de sinais Apesar da diferenccedila com as liacutenguas

orais as duas liacutenguas tecircm os mesmos princiacutepios subjacentes de

construccedilatildeo Poreacutem existe um esquema linguiacutestico estrutural nas liacutenguas

de sinais que natildeo tem significado se feito isoladamente que eacute

51 Nancy Frishberg eacute consultora em Liacutengua de Sinais e Interpretaccedilatildeo Ela tem PhD em

linguiacutestica pela Universidade da Califoacuternia San Diego onde sua pesquisa de doutorado focada

em mudanccedila histoacuterica em Liacutengua de Sinais Americana ndash ASL Seu trabalho de dissertaccedilatildeo demostrou que os sinais seguem princiacutepios linguiacutesticos como elas mudam ao longo do tempo

com o uso Seu livro de 1986 ldquoInterpretaccedilatildeo Um Introduccedilatildeordquo que ainda estaacute em versatildeo

impressa eacute o texto principal em muitos programas de treinamento inteacuterprete e serve como base para o exame escrito (primeira etapa) para certificaccedilatildeo pelo Registro de Inteacuterpretes para

Surdos

105

Configuraccedilatildeo de Matildeos (CM) Locaccedilatildeo (L) e Movimento (M) A

LIBRAS eacute basicamente feita com as matildeos (direita ou esquerda) tendo

tambeacutem movimento do corpo e da face A CM L e M se contrastam

minimamente alterando o significado dos sinais

A ASL tem a sua proacutepria gramaacutetica e fonologia Na liacutengua de

sinais eacute o estudo dos movimentos manuais baacutesicos que fornece a base

para todos os sinais sintaxe e morfologia na liacutengua falada A morfologia

estuda como as palavras satildeo formadas a partir de sons e palavras

baacutesicas Na liacutengua de sinais eacute o estudo de como os sinais manuais

baacutesicos representam conceitos A liacutengua americana de sinais eacute uma

liacutengua visual que incorpora gestos expressotildees faciais movimentos da

cabeccedila linguagem corporal e ateacute o espaccedilo ao redor do falante Os sinais

manuais satildeo a base desta liacutengua Muitos deles satildeo icocircnicos o que

significa dizer que o sinal usa uma imagem visual que se parece com o

conceito que representa

Wescott (1971 Frishberg) sugere que todas as formas de liacutengua

(oral escrita e gestual) usam iconicidade Ele diz que a iconicidade eacute um

sinal familiar (caseiro) em vez de uma caracteriacutestica absoluta de

qualquer sistema de comunicaccedilatildeo incluindo a liacutengua

Segundo Frishberg um sinal pode ser especificado atraveacutes de

quatro paracircmetros simultaneamente configuraccedilatildeo de matildeo movimento

ponto de articulaccedilatildeo (ou localizaccedilatildeo) e orientaccedilatildeo Essas descriccedilotildees de

paracircmetro servem para poder distinguir alguns sinais de outros similares

e dar sentido agrave frase num todo como por exemplo os sinais HOJE e

AGORA diferem no paracircmetro movimento mas satildeo iguais na

configuraccedilatildeo de matildeos e na localizaccedilatildeo A alteraccedilatildeo entre esses

paracircmetros pode significar uma completa alteraccedilatildeo no sentido de

algumas palavras Por exemplo o sinal correspondente agrave ldquoMACcedilAtilderdquo pode

significar ldquoQUEIJOrdquo se houver apenas uma mudanccedila na configuraccedilatildeo

de matildeos novamente ldquoMACcedilAtilderdquo pode significar ldquoCURSOrdquo se houver

diferenccedila no local e por fim ldquoMACcedilAtilderdquo pode significar ldquoCUBArdquo se

houver variaccedilatildeo no movimento Esses satildeo pares-miacutenimos encontrados

na LIBRAS A orientaccedilatildeo conforme aplicada tambeacutem pode alterar o

significado de uma palavra Seguem os exemplos na liacutengua de sinais

106

Figura 15 ndash Mostrar os Sinais

As autoras Quadros e Karnopp (2004 p 78) dizem que as

restriccedilotildees fonoloacutegicas requeridas para a boa formaccedilatildeo de sinais podem

ser produzidas pelas matildeos como a) sinais produzidos com uma das

matildeos b) sinais produzidos com as duas matildeos ambas ativas e c) sinais produzidos com as duas matildeos em que a matildeo dominante eacute ativa e a matildeo

natildeo-dominante serve como locaccedilatildeo

Para Battison (1978 Quadros e Karnopp (2004)) haacute duas

restriccedilotildees fonoloacutegicas na produccedilatildeo dos tipos de sinais a) a condiccedilatildeo de

107

simetria e b) a condiccedilatildeo de dominacircncia Quando as duas matildeos se

movem na produccedilatildeo de um uacutenico sinal CM deve ser a mesma para as

duas matildeos a locaccedilatildeo deve ser a mesma ou simeacutetrica o movimento deve

ser simultacircneo ou alternado Jaacute na condiccedilatildeo de dominacircncia as matildeos

apresentam diferentes configuraccedilotildees e entatildeo a matildeo ativa produz o

movimento e a matildeo passiva serve de apoio

A importacircncia dessa transferecircncia de movimento do rosto ou

corpo para as matildeos deve ser ressaltada bem como a concentraccedilatildeo para

uma sinalizaccedilatildeo de faacutecil entendimento Alguns sinais continuam sendo

motivados para uma mudanccedila dentre eles WILL (indica o futuro)

CARE (cuidado) TEDIOUS (tedioso) FINDFAULT (criticar) e

MEET (encontrar) Nessas mudanccedilas satildeo observadas algumas

caracteriacutesticas corporais tais como movimentos ordenados dos dedos e

matildeos deslocamento lateral da cabeccedila e movimentos do toacuterax

Pesquisei outro exemplo no curso de LetrasLIBRAS sobre a

variaccedilatildeo fonoloacutegica ldquoOs sinais FUNNY (engraccedilado) BLACK (preto)

e BORING (chato) satildeo exemplos de variaccedilatildeo fonoloacutegica pois esses

sinais podem ser realizados de duas formas soacute com o indicador

distendido e os outros dedos fechados ou com o

indicador e o polegar distendidos e os demais dedos fechadosrdquo

108

Figura 16 ndash Variaccedilatildeo fonoloacutegica

Outro exemplo interessante dos autores Woodward e Desantis

(1976) satildeo sinais que podem ser realizados tanto com uma matildeo quanto

com duas matildeos como os sinais CAT (gato) COW (vaca) e FAMOUS

(famoso) que satildeo produzidos no rosto

CAT COW

FAMOUS

(TENNANT amp BROWN 2004)

Figura 17 ndash Mostrar os sinais com uma matildeo e com duas matildeos

109

Vamos conhecer e refletir sobre as variaccedilotildees dos surdos

essencialmente com relaccedilatildeo agrave liacutengua de sinais

Klima e Bellugi (1979) representam uma pesquisa fonoloacutegica na

liacutengua de sinais do ASL A ASL ndash American Sign Language eacute a liacutengua

natural da comunidade surda nos Estados Unidos Os autores

identificam na liacutengua de sinais apenas trecircs paracircmetros configuraccedilatildeo de

matildeo (CM) ponto de articulaccedilatildeo (ou localizaccedilatildeo) (L) movimento (M)

que ao serem analisados individualmente natildeo satildeo possuidores de

significado e a outra autora Brito (1995) no Brasil pesquisou partes dos

paracircmetros primaacuterios a configuraccedilatildeo das matildeos o ponto de articulaccedilatildeo e

o movimento e tambeacutem os paracircmetros secundaacuterios52

a regiatildeo de

contato a orientaccedilatildeo das matildeos e a disposiccedilatildeo das matildeos

Segundo Frishberg em se tratando de tendecircncia para a simetria a

liacutengua toma vaacuterias formas Examinando o seu desenvolvimento em dois

paracircmetros matildeo-forma e movimento nota-se que ambas as matildeos agem

em uniacutessono e uma matildeo age sobre a outra As matildeos assumiram a mesma

configuraccedilatildeo Pode-se ver que alguns sinais mudam sua forma de

expressatildeo antes era com apenas uma das matildeos e agora se tornam as

duas

Eacute claro que os sinais tendem a seguir mudanccedilas ao longo da

histoacuteria Por exemplo para sinais no rosto tendem a utilizar apenas uma

matildeo deixando a face mais visiacutevel e permitindo que os olhos expressem

uma variedade de fins gramaticais Jaacute para os sinais na aacuterea do tronco

geralmente usam as duas matildeos ndash o que muitas vezes eacute sinal de

redundacircncia e simetria

Segue o exemplo da liacutengua de sinais do ASL

52 BRITO (1995) Regiatildeo de Contato ldquoRefere-se agrave parte da matildeo que entra em contato com o corpo Esse contato pode-ser dar maneiras diferentes atraveacutes de um toque de um risco de um

deslizamento etcrdquo

Orientaccedilatildeo das Matildeos ldquoEacute a direccedilatildeo da palma da matildeo durante o sinal voltada para cima para

baixo para o corpo para frente para esquerda ou para a direita Pode haver mudanccedila na

orientaccedilatildeo durante a execuccedilatildeo do Movimentordquo

Disposiccedilatildeo das Matildeos ldquoA articulaccedilatildeo dos sinais pode ser feita apenas pela matildeo dominante ou

pelas duas matildeos Neste uacuteltimo caso as duas matildeos podem se movimentar para formar o sinal ou entatildeo apenas a matildeo dominante se movimenta e a outra funciona como Ponto de

Articulaccedilatildeordquo

110

Figura 18 ndash Sinal de Paacutessaro

Para o sinal de PAacuteSSARO em um primeiro momento utiliza-se

uma das matildeos na aacuterea da face para o sinal ldquobicordquo e em seguida as duas

matildeos (uma para cada lado) em forma de asas Por fim o sinal

PAacuteSSARO hoje eacute apenas representado pela primeira parte (bico em

matildeo uacutenica)

A histoacuteria documentada da liacutengua americana de sinais natildeo eacute

longa existe uma seacuterie de gestos registrados ao longo da histoacuteria mas

foi somente no final do seacuteculo XVIII que os surdos foram considerados

educaacuteveis

Segundo Frishberg ldquoHomesignrdquo (sinais caseiros) eacute um termo

geral utilizado pela comunidade surda para se comunicar poreacutem eacute uma

forma bastante utilizada principalmente pelas matildees em aacutereas rurais que

tecircm filhos surdos Dados estatiacutesticos mostram que 80 a 90 dos surdos

nascem de pais ouvintes por essa razatildeo haacute uma necessidade inevitaacutevel

de comunicaccedilatildeo A partir dessa necessidade as matildees principalmente

precisam encontrar maneiras de se comunicar com os filhos e passam a

criar sinais de forma empiacuterica sem qualquer regra ou seja sinais natildeo

padronizados Tais sinais inventados passam a criar certas dificuldades

111

de comunicaccedilatildeo entre as diferentes comunidades de surdos Existe a

ASL (Liacutengua de Sinais Americana) com uma linguagem jaacute padronizada

que comeccedila a ser difundida e ensinada atraveacutes das escolas americanas

com sinais padronizados

A liacutengua de sinais padronizada enfrenta ainda dificuldade pois

algumas escolas eram proibidas politicamente de ensinar atraveacutes da

metodologia da ASL O fato eacute que outras escolas mesmo sem a devida

autorizaccedilatildeo comeccedilam a ensinar a liacutengua padronizada Os surdos

comeccedilam a aprender a liacutengua padratildeo mas continuam a se comunicar em

casa com os familiares usando o ldquohomesignrdquo (sinais caseiros) A

comunicaccedilatildeo ensinada em casa requeria a utilizaccedilatildeo de vaacuterios recursos

ambientais para a comunicaccedilatildeo entretanto havia a dificuldade de

encontrar referecircncia para as cores nos recursos ambientais pois para se

referir a uma cor eles deveriam encontraacute-lo na natureza aproximar-se o

suficiente para apontar e fazer a associaccedilatildeo com a cor

Historicamente pode-se afirmar que ao longo do tempo a forma

de comunicaccedilatildeo entre a comunidade surda vem mudando

constantemente teacutecnicas e sinais vecircm sendo aperfeiccediloados Ao inveacutes de

gestos natildeo-estruturados o que encontramos eacute uma gama de sinais e

movimentos de matildeos regularizados ou seja inter-relacionados

conjunto sistematizado de sinais que estaacute passando por mudanccedilas de

forma regular e formal

Quadros e Karnopp (2004 p 51) observam que os articuladores

primaacuterios das liacutenguas de sinais satildeo as matildeos estas se movimentam em

um espaccedilo determinado em frente ao corpo Um sinal pode ser

articulado com uma ou duas matildeos ou seja um mesmo sinal pode ser

articulado tanto com a matildeo direita quanto com a esquerda Mas precisa-

se levar em conta que sinais efetuados com as duas matildeos apresentam

restriccedilotildees em relaccedilatildeo ao tipo de interaccedilatildeo entre as matildeos De acordo

com Brito (1995) a LIBRAS apresenta 46 Configuraccedilotildees de Matildeos

(CMs) mas nem todas as liacutenguas de sinais partilham do mesmo nuacutemero

de configuraccedilotildees de matildeos Seguem quatro imagens de configuraccedilotildees de

matildeos difundidas no Brasil

112

As Configuraccedilotildees de Matildeos da LIBRAS

Figura 19 Figura 20

Figura 19 e 20 ndash Ferreira-Brito e Langevin (1995 p220)

Figura 21 Figura 22

Figura 21 ndash httpwwwinesgovbrlibrasprincipalaspASSU_id=3

Figura 22 ndash Quadro de CMs da LSB por Pimenta e Quadros (2006 p 73)

113

Um aspecto recorrentemente discutido eacute a iconicidade dos sinais

ndash em oposiccedilatildeo agrave arbitrariedade da relaccedilatildeo entre significado e

significante observada na constituiccedilatildeo do signo linguiacutestico em liacutenguas

orais Reconhecendo nas liacutenguas de sinais a iconicidade a par da

arbitrariedade (e remetendo a estudos que demonstram por exemplo a

dificuldade por parte de informantes de deduzirem significados em

relaccedilatildeo a muitas formas aparentemente icocircnicas) as autoras (Ferreira-

Brito e Langevin Pimenta e Quadros) destacam o fato de que signos

icocircnicos sofrem mudanccedilas as quais frequentemente ldquotendem a inibir a

natureza icocircnica dos sinais tornando-os mais arbitraacuterios atraveacutes dos

temposrdquo

Embora os demais sinais natildeo-manuais sejam realizados de forma

muitas vezes equivocada quando estes satildeo de forma simples como

afirmativa negativa e exclamativa natildeo haacute um comprometimento do

significado na sentenccedila Mas quando associados a outras formas o

equiacutevoco na execuccedilatildeo da expressatildeo facial provoca uma mudanccedila no

significado da sentenccedila passando esta a pertencer a outra classe

As liacutenguas orais modificam-se como no caso das palavras que

caem em desuso outras que satildeo adquiridas aumentando o vocabulaacuterio

e ainda mudando de significado das palavras O mesmo acontece nas

liacutenguas de sinais a fim de responder agraves necessidades que a evoluccedilatildeo

soacutecio-cultural impotildee

A ASL por sua vez estaacute seguindo a teoria citada acima

substituindo seus iacutecones por siacutembolos que de maneira geral tendem a

ser menos transparentes e icocircnicos pois se tornam mais arbitraacuterios

siacutembolos convencionais

Com o passar do tempo ocorrem muitas mudanccedilas nas liacutenguas

para suprir as necessidades de comunicaccedilatildeo e as modificaccedilotildees de

costumes de cada geraccedilatildeo Assim novos sinais satildeo criados de acordo

com a necessidade de cada grupo

Na verdade temos que pesquisar a liacutengua de sinais em Santa

Catarina observar o sujeito surdo em diferentes faixas etaacuterias

investigando o surgimento do primeiro espaccedilo de identidade cultural do

surdo em contexto social e acessando gramaticalmente a liacutengua de

sinais Esse espaccedilo foi conquistado pela poliacutetica linguiacutestica que assegura

o envolvimento com a liacutengua de sinais que estaacute se expandindo na

sociedade em nosso estado catarinense

Como toda liacutengua a LIBRAS sofre influecircncia das mudanccedilas

histoacutericas e culturais as liacutenguas satildeo dinacircmicas e natildeo estaacuteticas por isso

elas vivem sofrendo alteraccedilotildees e com as liacutenguas de sinais ocorre o

mesmo Essas mudanccedilas podem ser percebidas nas diferentes regiotildees

114

onde satildeo utilizadas as mesmas liacutenguas em que haacute algumas diferenccedilas

em algumas palavras ou expressotildees Mas como tem sido a participaccedilatildeo

do registro na comunicaccedilatildeo do surdo neste espaccedilo linguiacutestico e histoacuterico

cultural na liacutengua de sinais

Calvet (2002) mostra relaccedilotildees entre a liacutengua e a sociedade

fornecendo embasamento agraves explicaccedilotildees sobre as variaccedilotildees

sociolinguiacutesticas o que nos permite fazer uma comparaccedilatildeo das

descriccedilotildees agraves influecircncias externas e internas que a liacutengua de sinais de

Santa Catarina sofreu ateacute chegar ao estaacutegio em que se encontra

atualmente expandido em LIBRAS

Eacute importante registrar a nova histoacuteria da liacutengua de sinais suas

variaccedilotildees e o seu potencial transformador na realidade da comunidade

surda

O sistema linguiacutestico eacute heterogecircneo e as variaccedilotildees podem ser

observadas sob vaacuterios aspectos Sob o ponto de vista diacrocircnico

podemos observar o processo de sistematizaccedilatildeo linguiacutestico de alguns

gestos extralinguiacutesticos usados por usuaacuterios de liacutengua oral auditiva

que foram lexicalizados na LIBRAS tais como os gestuais que

correspondem ao significado de LOUCO ADEUS POSITIVO etc

Por outro lado sob uma perspectiva sincrocircnica vaacuterias formas

podem ser alternadas e podem representar aleacutem disso uma variaccedilatildeo

diatoacutepica53

e a variaccedilatildeo diafaacutesica54

Essas variaccedilotildees referem-se a

variaacuteveis geograacuteficas podem coexistir duas ou mais formas com um

mesmo significado Eacute o caso do sinal CULTURA (matildeo em ldquo5rdquo na testa

ou matildeo em ldquoCrdquo ao longo do braccedilo de apoio) Essas variantes podem

identificar usuaacuterios provindos do Sul e Centro-Oeste respectivamente e

em outras regiotildees por apresentarem sinais diferentes

Em geral um dialeto abrange uma zona ou regiatildeo territorial que

pode ou natildeo coincidir com as fronteiras ou barreiras geograacuteficas No

53 Variaccedilatildeo diatoacutepica eacute a regional quando haacute elementos diferentes dentro de um mesmo territoacuterio linguiacutestico mas natildeo necessariamente dentro de um mesmo dialeto Nem sempre os

elementos detentos de variaccedilotildees diatoacutepicas concorrem a menos quando haacute fortes migraccedilotildees

dentro de um mesmo territoacuterio Podem ocorrer interferecircncias mais incisivas quando determinadas regiotildees possuem destaque econocircmico poliacutetico social e cultural

54 Variaccedilatildeo diafaacutesica eacute a situacional relativa agraves diferentes monitoraccedilotildees do falante nas diferentes situaccedilotildees de interaccedilatildeo Exemplo uma pessoa estaraacute mais monitorada em seu

ambiente de trabalho do que nas interaccedilotildees realizadas em ambiente domeacutestico A variaccedilatildeo

diafaacutesica vem da afirmaccedilatildeo LABOVIANA de que natildeo haacute falante de estilo uacutenico A produccedilatildeo linguiacutestica eacute dependente do contexto social

115

Brasil existem vaacuterios dialetos55

(ou variedades) em comunidades de

ouvintes onde se fala a Liacutengua Portuguesa com diferentes usos Ex

bergamota vergamota e tangerina Palavras variaacuteveis acontecem em

vaacuterias regiotildees e podem ser usadas por motivaccedilatildeo social e ou regional A

seguir algumas variaccedilotildees linguiacutesticas que ocorrem na LIBRAS Ex o

sinal de Cultura SC SP e RJ Seguem os sinais

Figura 23 ndash Sinal ldquoCultura em SCrdquo

Figura 24 ndash Sinal ldquoCultura em SPrdquo

Figura 25 ndash Sinal ldquoCultura em RJrdquo

55 Variedade ndash ldquoa fala de uma comunidade de modo global considerando-se todas as suas particularidades tanto categoacutericas quanto variaacuteveis o mesmo que dialeto ou falarrdquo COELHO

et al (2010 p 166)

116

Um outro exemplo de variaccedilatildeo diatoacutepica no leacutexico do portuguecircs

pode ser observado na diferenccedila entre MACAXEIRA (Norte e

Nordeste) MANDIOCA (Sudeste e Centro-Oeste) e AIPIM (Sul)

A liacutengua de sinais tem uma importacircncia muito significativa para a

comunicaccedilatildeo entre surdos e tambeacutem entre surdos e ouvinte pois sem a

liacutengua de sinais dificultaria a comunicaccedilatildeo e os surdos natildeo conseguiriam

viver na comunidade

A LIBRAS possui forma clara e definida em sua estrutura

gramatical que se estabelece no dia a dia dos que a utilizam Suas vaacuterias

formas sua estrutura o grupo que a utiliza a influecircncia social e

geograacutefica torna a LIBRAS uma liacutengua como qualquer outra pois

realiza a verdadeira funccedilatildeo de comunicar Como Calvet (2002 p 89)

explica variaacuteveis linguiacutesticas satildeo muito usadas em todas as liacutenguas

ldquoDeste modo um reacuteptil comum em todo o Brasil eacute chamado de ldquoosgardquo

na regiatildeo Norte ldquobribardquo ou ldquoviacuteborardquo no Nordeste e ldquolagartixardquo no

Centro-Sul56

rdquo

43 ndash As variaccedilotildees linguiacutesticas na liacutengua de sinais

Uma definiccedilatildeo geral sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica na liacutengua de

sinais torna-se necessaacuteria para melhor aproveitamento desta pesquisa Eacute

importante considerar os dialetos regionais natildeo soacute usados em regiotildees

diferentes no contato social mas no espaccedilo de uso cultural da liacutengua

influenciando o surdo

A Liacutengua de Sinais Americana (ASL) eacute diferente da Liacutengua de

Sinais Britacircnica (BSL) que por sua vez eacute diferente da Liacutengua de Sinais

Argentina e tambeacutem da Liacutengua de Sinais Francesa (LSF) Verificamos

que nos demais paiacuteses tambeacutem satildeo diferentes as liacutenguas de sinais e as

variaccedilotildees linguiacutesticas no contexto social dos surdos no mundo

(STROBEL e FERNANDES 1998) Observe

Ex

56 O exemplo do autor eacute o seguinte ldquoDesse modo um objeto simples como a serpiliegravere peccedila de pano usada para limpar o chatildeo pode tambeacutem ser chamada de panosse (na Saboacuteia e na

Suiacuteccedila) wassingue (no Norte) torchon (no leste) since (no sudeste)rdquo

117

NOME

ASL LIBRAS

Figura 26 ndash Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo ndash Depto Educaccedilatildeo

Especial ndash CuritibaPR SEEDSUEDDEE

Aleacutem disso dentro de um mesmo paiacutes haacute as variaccedilotildees regionais

Na LIBRAS tambeacutem existem dialetos regionais salientando assim uma

vez mais o seu caraacuteter de liacutengua natural

Os povos57

surdos satildeo influenciados pelos contatos nas liacutenguas de

sinais Em cada regiatildeo o surdo se comunica A liacutengua difere quanto ao

dialeto social e cultural Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica em LIBRAS

As variaccedilotildees linguiacutesticas relacionadas ao contexto satildeo chamadas

de variaccedilotildees estiliacutesticas ou registro Os paracircmetros de variaccedilatildeo

linguiacutestica satildeo diversos no ato de interagir verbalmente um falante

utilizaraacute a variedade linguiacutestica relativa agrave sua regiatildeo de origem classe

social idade escolaridade sexo ou ainda acrescenta-se sua condiccedilatildeo

adaptativa de origem como no caso da pessoa surda

O professor Francisco participou do grupo surdo de outras regiotildees

dos estados de Santa Catarina Paranaacute Rio Grande do Sul Satildeo Paulo

Rio de Janeiro e Minas Gerais em contato com a liacutengua de sinais e suas

variaccedilotildees linguiacutesticas No dialeto regional haacute variaccedilatildeo linguiacutestica

diferenccedilas percebidas no espaccedilo cultural do surdo nas situaccedilotildees de

conversa na associaccedilatildeo escola e comunidade Os sujeitos surdos que

relataram o depoimento para a pesquisa sobre a liacutengua de sinais falavam da importacircncia do Francisco para a comunidade surda de SC

57 O povo surdo segundo STROBEL (2006) refere-se ao conjunto de sujeitos que natildeo habitam

no mesmo local mas que estatildeo ligados por uma origem tais como a cultura surda costumes e interesses semelhantes histoacuterias e tradiccedilotildees comuns e qualquer outro laccedilo

118

No mundo haacute pelo menos uma liacutengua de sinais usada

amplamente na comunidade surda de cada paiacutes diferente da liacutengua

falada utilizada na mesma aacuterea geograacutefica Isto se daacute porque essas

liacutenguas de sinais satildeo independentes das liacutenguas orais pois foram

produzidas dentro das comunidades surdas (STROBEL e

FERNANDES 1998)

Pode ser considerado como sotaque na liacutengua de sinais as

variaccedilotildees linguiacutesticas e costume cultural diferentes de cada regiatildeo

Entatildeo Francisco trouxe a experiecircncia do contato com outras regiotildees

para o grupo de surdos de SC na comunicaccedilatildeo em liacutengua de sinais

44 ndash O surdo se comunica a liacutengua de sinais no contexto social

O dialeto social refere-se a variaccedilotildees de configuraccedilatildeo das matildeos

eou de movimento natildeo modificando o sentido do sinal (STROBEL e

FERNANDES 1998) Dependendo da situaccedilatildeo de uso da comunicaccedilatildeo

do surdo na liacutengua de sinais a variaccedilatildeo pode ser observada atraveacutes da

configuraccedilatildeo das matildeos como em

Ex

Figura 27 ndash Sinal de Ajudar

119

Figura 28 ndash Sinal de Faltar

Figura 29 ndash Sinal de Ocircnibus

Figura 30 ndash Sinal de Sonhar

120

Nem todos os usuaacuterios de uma liacutengua falam do mesmo

jeito por isto todas as liacutenguas naturais possuem

variaccedilotildees linguiacutesticas A LIBRAS tambeacutem apresenta

dialetos regionais reforccedilando seu caraacuteter de liacutengua

natural As variaccedilotildees na LIBRAS ocorrem de vaacuterias

formas como alteraccedilotildees na configuraccedilatildeo de matildeos (forma

que a matildeo assume na realizaccedilatildeo do sinal) ou na

localizaccedilatildeo espacial do sinal (local onde o sinal eacute

realizado) sem que seu sentido e significado sejam

perdido ou modificados Tambeacutem haacute sinais diferentes

para representar um mesmo referente usando em

diferentes regiotildees do paiacutes agraves vezes do mesmo estado

(BASSO e SCHMITT 2007 p 50 e 51)

O valor social58

das formas em variaccedilatildeo se estabelece nas

relaccedilotildees sociais e na avaliaccedilatildeo do que pode ser considerada uma

variedade de prestiacutegio ou uma variedade estigmatizada Estilos formais

ou distensos podem ser identificados a partir de um estudo da variaccedilatildeo

das formas no contexto social Estudos sobre o portuguecircs falado

mostram por exemplo que jovens mais favorecidos tendem a fazer

mais concordacircncia verbal em oposiccedilatildeo aos menos favorecidos que

tendem a usar menos concordacircncia Isso mostra o fator externo

(mercado de trabalho ou situaccedilatildeo) e a necessidade de o falante se

adequar ao valor linguiacutestico de concordacircncia considerado como de

prestiacutegio nesse espaccedilo Podemos concluir que a LIBRAS como

qualquer outra liacutengua apresenta variaccedilatildeo e mudanccedila mas ainda

precisamos aprofundar os estudos linguiacutesticos dessa liacutengua para melhor

conhececirc-la em seus diferentes aspectos (lexicais fonoloacutegicos

morfoloacutegicos e sintaacuteticos) O capiacutetulo 6 traraacute uma descriccedilatildeo sobre

alguns desses aspectos em variaccedilatildeo e mudanccedila Acreditamos que com a

proposta biliacutengue para a educaccedilatildeo de surdos a liacutengua portuguesa e a

LIBRAS teratildeo uma relaccedilatildeo cada vez mais intensa e o contato dessas

duas liacutenguas pelos surdos vai acarretar com toda a certeza trocas

linguiacutesticas entre elas o que pode provocar novas transformaccedilotildees

58 Valor social eacute relativo aos problemas de avaliaccedilatildeo e eacute atribuiacutedo pelos proacuteprios falantes e

usuaacuterios de liacutengua de sinais ou seja eacute sempre de ordem social (nunca linguiacutestica) Valor

atribuiacutedo desenha o futuro das formas concorrentes jaacute que a forma eleita eacute sempre a que recebe maior valor e que muitas vezes corresponde agraves formas adotadas pela elite econocircmica poliacutetica

social ou cultural de uma dada comunidade (surda)

121

CAPIacuteTULO V ndash Metodologia

51 ndash Introduccedilatildeo

Investigarei a histoacuteria da liacutengua de sinais em Santa Catarina e as

variaccedilotildees e mudanccedilas fonoloacutegicas e lexicais ocorridas no periacuteodo que

compreende 1946 aos dias atuais fazendo comparaccedilotildees entre sinais que

aparecem nos relatos de experiecircncias em trecircs geraccedilotildees de surdos

pesquisadas

A metodologia utilizada para esta pesquisa foi a de coleta de

dados atraveacutes de perguntas e depoimentos dos surdos envolvidos nas

trecircs geraccedilotildees das uacuteltimas deacutecadas A coleta de dados de informantes59

foi realizada com o objetivo de solicitar depoimentos sobre fatos

histoacutericos e sobre o contato que os surdos tiveram com a liacutengua de

sinais

Os depoimentos dos ex-alunos surdos bem como dos surdos

envolvidos na comunidade surda catarinense nas uacuteltimas deacutecadas foram

realizados por meio de entrevistas filmadas Eu mesmo fiz os viacutedeos

Mas antes conversei com cada um dos surdos explicando porque

precisava de seu depoimento Apoacutes a aceitaccedilatildeo de cada um formei os

trecircs grupos por idade Cada um assinou uma ficha do informante para

realizar a pesquisa (em anexo) com dados pessoais e autorizaccedilatildeo

Foram utilizadas trecircs cacircmeras para a filmagem colocadas de forma a

gravar o depoimento dos trecircs surdos simultaneamente Primeiro filmei o

Grupo I Os informantes ficaram sentados na frente de cada cacircmera um

ao lado do outro Depois fiz a pergunta e eles teriam trinta minutos para

dar a resposta e mais vinte minutos para conversarem entre eles Liguei

as trecircs cacircmeras e saiacute da sala Voltei aproximadamente apoacutes uma hora e

desliguei as cacircmeras Fiz o mesmo com o Grupo II e com o Grupo III O

Grupo III foi filmado na UFSC os outros dois numa sala da Associaccedilatildeo

de Surdos A resposta sobre a histoacuteria da educaccedilatildeo de surdos em SC

mais a conversa espontacircnea em LIBRAS trouxe material de qualidade

para a pesquisa A escolha dos surdos levou em conta o fato de os

escolhidos terem frequentado a escola na deacutecada de 1950 quando surgiu

tambeacutem uma associaccedilatildeo de surdos catarinenses

Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os seguintes toacutepicos a coleta

59 COELHO et al (2010 p 164) ldquosujeito da pesquisa sociolinguiacutestica aquele que fornece seus

dados linguiacutesticos para que o pesquisador analiserdquo

122

de dados das trecircs geraccedilotildees com as diferentes faixas etaacuterias o meacutetodo de

entrevista sociolinguiacutestica a coleta de narrativa de experiecircncia pessoal

a transcriccedilatildeo de dados dos trecircs grupos compostos de informantes surdos

na liacutengua de sinais os informantes do grupo surdo na liacutengua de sinais e

por fim a descriccedilatildeo dos informantes quanto aos dados

Como procedimento metodoloacutegico no primeiro momento

realizamos uma coleta inicial de dados na liacutengua de sinais observando

uma diferenccedila de 30 anos entre um grupo e outro Cada grupo eacute

composto de trecircs indiviacuteduos

O Grupo I eacute formado por pessoas mais velhas na faixa

etaacuteria entre 60 a 80 anos

O Grupo II eacute formado por pessoas entre 30 a 60 anos e

O Grupo III eacute formado por indiviacuteduos na faixa etaacuteria de

15 a 30 anos

Com a anaacutelise da LIBRAS usada pelos indiviacuteduos dessas trecircs

faixas etaacuterias esperamos poder detectar se nas trecircs geraccedilotildees de

sinalizadores da liacutengua de sinais em Santa Catarina vamos encontrar

mudanccedila em tempo aparente

Entatildeo foram entrevistados os trecircs informantes do Grupo III na

situaccedilatildeo de mais jovem em idade na faixa etaacuteria de 15 a 30 anos 1)

Informante A 2) Informante B e 3) Informante C

No segundo momento foi feita a coleta dos dados do Grupo I

Para saber o que existe no primeiro grupo de diferente precisamos

identificar os sinais antigos para depois fazermos uma comparaccedilatildeo com

as liacutenguas de sinais da atualidade Assim foram entrevistados trecircs

sujeitos surdos mais velhos na faixa etaacuteria de 60 a 80 anos 1)

Informante G 2) Informante H e 3) Informante I

No terceiro momento foram entrevistados os informantes do

Grupo II outros trecircs alunos de Francisco na faixa etaacuteria de 30 a 60

anos 1) Informante D 2) Informante E e 3) Informante F Acreditamos

que as formas usadas pelo professor Francisco serviram e servem de

modelo influenciando os alunos E que agraves vezes os alunos do professor

Francisco podem usar alguns sinais proacuteprios do professor surdo em

conversas na escola na associaccedilatildeo e na comunidade surda das regiotildees

de Santa Catarina Eacute possiacutevel tambeacutem que o ex-professor Francisco

usasse outros sinais quando conversava com os amigos os ex-alunos

surdos na escola e associaccedilatildeo em Santa Catarina

123

Foi levado em consideraccedilatildeo na coleta o que sugere Tarallo

(2000)

O pesquisador ao selecionar seus informantes estaraacute em

contato com falantes que variam segundo classe social

faixa etaacuteria etnia e sexo Seja qual for a natureza da

situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo seja qual for o toacutepico central

da conversa seja quem for o informante o pesquisador

deveraacute tentar neutralizar a forccedila exercida pela presenccedila

do gravador e por sua proacutepria presenccedila como elemento

estranho a comunidade Tal neutralizaccedilatildeo pode ser

alcanccedilada no momento em que o pesquisador se decide a

representar o papel de aprendiz-interessado na

comunidade de falantes e em seus problemas e

peculiaridades (TARALLO 2000 p 21)

Ė importante selecionar os informantes dos grupos que tecircm

contato entre si e utilizam a liacutengua de sinais de classes sociais

diferentes dentro da comunidade surda faixa etaacuteria diferente etc A

geraccedilatildeo do grupo dos mais velhos tem influecircncia sobre o grupo dos mais

novos que tem menos contato experiecircncia com a liacutengua Isso pode ser

observado na liacutengua usada pelos informantes pois seus objetivos satildeo

diferentes na fase de aprendizagem em situaccedilatildeo de comunidade surda

O pesquisador aproveita para pensar e planejar como seraacute realizada a

coleta de dados Por se tratar de uma liacutengua visualespacial tentei

diversificar os lugares para a conversa espontacircnea dos informantes

52 ndash A coleta de dados

Na coleta dos dados desta pesquisa espera-se que as trecircs geraccedilotildees

com faixas etaacuterias distintas de informantes relatem sua experiecircncia de

vida na liacutengua de sinais possibilitando uma anaacutelise dos sinais gravados

para que possamos identificar possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas

linguiacutesticas

Na primeira parte assisti aos viacutedeos no programa Transcriccedilatildeo de

Liacutengua de Sinais ndash ELAN60

No segundo momento verifiquei e analisei

60 McCLEARY e VIOTTI 2007 - Eacute a caraacuteter eminentemente descritivo buscando a captaccedilatildeo

do maior nuacutemero de detalhes de sinalizaccedilatildeo As narrativas que estatildeo sendo transcritas foram

baseadas no filme ldquoHistoacuteria da pecircrardquo criado pelo de pesquisa de Wallace Chafe na deacutecada de 1970 com o objetivo de eliciar narrativas para anaacutelise e comparaccedilatildeo translinguiacutestica Visando

a produccedilatildeo de narrativas em liacutengua de sinais brasileira o grupo ECS fez a gravaccedilatildeo de

narrativas produzidas por surdos que assistiram ao filme e relataram a histoacuteria para outra pessoa fluente na liacutengua

124

a coleta de dados dos grupos de informantes das trecircs geraccedilotildees com

relaccedilatildeo agraves mudanccedilas histoacutericas e linguiacutesticas Depois realizei a

descriccedilatildeo dos grupos nas diferentes faixas etaacuterias que mostram se os

sinais se modificam nas possiacuteveis narrativas Espero com esses sinais

observados alcanccedilar o objetivo principal da pesquisa o de comparar os

sinais encontrados nos trecircs grupos e verificar se ocorreram variaccedilotildees e

mudanccedilas linguiacutesticas em tempo aparente

Realizei a coleta de dados da seguinte forma coloquei todos os

depoimentos filmados dos surdos no programa ELAN Escolhi os sinais

que apareciam nos trecircs grupos e fiz uma tabela com esses sinais depois

fiz anaacutelise e descriccedilatildeo dos resultados finais

53 ndash O meacutetodo de entrevista sociolinguiacutestica a coleta de narrativas

de experiecircncia pessoal

A coleta de dados realizada numa entrevista deve ocorrer de

forma espontacircnea Antes de realizar a pesquisa para recolher os dados eacute

importante conhecer as diferentes abordagens que identificam os grupos

e sua relaccedilatildeo com a liacutengua Segundo Tarallo (2000)

De gravador em punho o pesquisador-sociolinguista

como afirmamos deve coletar 1 situaccedilatildeo natural de

comunicaccedilatildeo linguumliacutestica e 2 grande quantidade de

material de boa qualidade sonora (TARALLO 2000 p

21)

Para realizar a pesquisa empiacuterica foi necessaacuterio um planejamento

anterior utilizando viacutedeo de filmagem com boa qualidade visual pois

observamos indiviacuteduos que utilizam a comunicaccedilatildeo visual espacial com

o objetivo de melhor descrevermos os grupos e verificar questotildees

linguiacutesticas desses indiviacuteduos

Para a coleta seguimos os procedimentos metodoloacutegicos

indicados por Tarallo

Este software foi desenvolvido no Instituto Max Planck de Psycholinguistics na Holanda e

mostra no site wwwmpinl na transcriccedilatildeo o ELAN (Eudico Language Annotator) eacute um

programa que permite adicionar anotaccedilotildees para um arquivo de viacutedeo o que pode tornaacute-lo muito mais faacutecil de estudar assistir o viacutedeo na liacutengua de sinais Ele tambeacutem pode ser utilizado

com as liacutenguas faladas (com ou aacuteudio ou viacutedeo) mas este foi apresentado na minha pesquisa e

utilizado na liacutenguas de sinais das trecircs geraccedilotildees

125

Para atingir tais propoacutesitos metodoloacutegicos podem-se

formular moacutedulos (ou roteiros) de perguntas um

questionaacuterio-guia de entrevista Esses moacutedulos tecircm por

objetivo homogeneizar os dados de vaacuterios informantes

para posterior comparaccedilatildeo controlar os toacutepicos de

conversaccedilatildeo e em especial provocar narrativas de

experiecircncia pessoal (TARALLO 2000 p 22)

Ė permitido ressaltar na pesquisa sociolinguiacutestica que para

realizaacute-la seraacute feita uma seleccedilatildeo de um grupo ou indiviacuteduo dependendo

da situaccedilatildeo como por exemplo quanto agrave classe social pode ser

verificado o gecircnero a etnia faixa etaacuteria e costumes A situaccedilatildeo de

pesquisa pode acontecer em qualquer lugarambiente O pesquisador

observa de forma neutra o grupo de falantes que estaacute pesquisando em

um determinado local e faz anaacutelises com base nos fatos linguiacutesticos

observando-os em conversas espontacircneas procurando especificaacute-las

A metodologia de coleta laboviana mostra que encontramos a

variedade mais espontacircnea em narrativa de experiecircncia pessoal pois o

indiviacuteduo quando estaacute envolvido emocionalmente faz relatos sem se

preocupar com o modo como estaacute contando De acordo com Tarallo

Os estudos de narrativas de experiecircncia pessoal tecircm

demonstrado que ao relataacute-las o informante estaacute tatildeo

envolvido emocionalmente com o que relata que presta o

miacutenimo de atenccedilatildeo ao como E eacute precisamente esta a

situaccedilatildeo natural de comunicaccedilatildeo almejada pelo

pesquisador-sociolinguista

Os moacutedulos cobrem uma seacuterie de toacutepicos para fins de

conversaccedilatildeo dados pessoais do informante (sua

histoacuteria) jogo e brincadeira de infacircncia brigas namoro e

encontros amorosos casamento perigo de morte medo

famiacutelia religiatildeo amigos turmas serviccedilos puacuteblicos o

crime nas ruas escola e trabalho interaccedilatildeo com outros

membros da comunidade esportes etc (TARALLO

2000 p 22)

As pessoas ouvintes falam sobre fatos ocorridos de sua experiecircncia pessoal com famiacutelia amigos etc de forma natural Isto

tambeacutem acontece na comunidade surda e ao coletar narrativas em

liacutengua de sinais acredita-se que vamos encontrar diferentes situaccedilotildees do

cotidiano e parte da histoacuteria da comunidade que mostraratildeo variaccedilotildees e

tambeacutem mudanccedilas linguiacutesticas

126

Podem ser escolhidas diferentes maneiras de realizar uma

pesquisa de campo mas a experiecircncia pessoal deve ser levada em

consideraccedilatildeo A pesquisa pode ser realizada com diferentes informantes

ou grupos de informantes de qualquer categoria para verificar as

possiacuteveis variaccedilotildees da liacutengua falada sem qualquer preocupaccedilatildeo com a

forma como indica Tarallo

A narrativa de experiecircncia pessoal eacute a mina de ouro que

o pesquisador-sociolinguistica procura Ao narrar suas

experiecircncias pessoais mais envolventes ao colocaacute-las no

gecircnero narrativa o informante desvencilha-se

praticamente de qualquer preocupaccedilatildeo com a forma A

desatenccedilatildeo agrave forma no entanto vem sempre embutida

numa linha de relato a que chamaremos ldquoestrutura

narrativardquo (TARALLO 2000 p 23)

Nesta citaccedilatildeo o autor explica a importacircncia da coleta de narrativa

pessoal de cada um dos informantes porque apenas fazem a narraccedilatildeo

sem preocupaccedilatildeo com a forma como estatildeo contando

54 ndash A transcriccedilatildeo de dados dos trecircs grupos compostos de

informantes surdos na liacutengua de sinais

Estes dados foram organizados no sistema de transcriccedilatildeo na

liacutengua de sinais ndash ELAN As identificaccedilotildees dos sujeitos surdos que

apresentavam cada um o seu relato em viacutedeo mostram a sua forma de se

comunicar na liacutengua de sinais Verificar se a variaccedilatildeo fonoloacutegica e

mudanccedila lexical pode acontecer nesta liacutengua de sinais em trecircs geraccedilotildees

eacute um dos propoacutesitos deste trabalho

55 ndash Informantes do grupo surdo na liacutengua de sinais

Os informantes do grupo que participaram da minha pesquisa

foram escolhidos de forma aleatoacuteria pela facilidade de contato e

separados em trecircs geraccedilotildees que usavam a liacutengua de sinais

Labov em suas pesquisas elaborava entrevistas de modo a

elicitar nos entrevistados uma fala menos monitorada ndash o vernaacuteculo61

Ele afirma que

61 ldquoEstilo em que pouco monitoramento eacute dispensado agrave fala fala ldquonaturalrdquordquo COELHO et al

(2010 p 166)

127

As narrativas produzidas em resposta a essa pergunta

[ldquoVocecirc jaacute viveu uma situaccedilatildeo em que correu seacuterio risco

de morrerrdquo] quase sempre exibem uma mudanccedila de

estilo que se distancia da fala monitorada e se aproxima

do vernaacuteculo62 (LABOV 2008 [1972] p 245)

Da mesma forma na pesquisa sobre o grupo de surdo que o

senhor Francisco ensinou utilizei um questionaacuterio com uma pergunta

que era explique a histoacuteria da educaccedilatildeo de surdo em Santa

Catarina para que pessoas surdas respondessem As perguntas foram

feitas em LIBRAS e as respostas foram filmadas num total de nove

pessoas

O foco do agrupamento dos sujeitos foi a idade portanto houve

variabilidade quanto ao gecircnero e agraves atividades exercidas pelos

participantes

Na primeira etapa o objetivo foi a escolha dos trecircs indiviacuteduos dos

grupos informantes surdos mais jovens A B e C Neste grupo o fator

escolhido quanto ao sexo foi trecircs masculinos pois natildeo encontrei jovem

do sexo feminino

Na segunda etapa os trecircs indiviacuteduos do grupo de informantes

surdos intermediaacuterio D E e F foram quanto ao sexo dois masculinos e

um feminino

Na uacuteltima etapa os trecircs indiviacuteduos do grupo de informantes

surdos mais velhos G H e I foram escolhidos quanto ao sexo um

masculino e dois femininos Entatildeo escolhi a faixa etaacuteria deste grupo que

apresentava o documentaacuterio em viacutedeo que a partir do qual foi extraiacuteda

amostra de uma experiecircncia de cada uma das narrativas de sujeitos

surdos que usavam a liacutengua de sinais espontacircnea Seguem os quadros de

amostras dos grupos em trecircs geraccedilotildees contemplados nesta pesquisa

62 Um dos aspectos mais interessantes dessa pergunta eacute que ela implica uma resposta sim-ou-

natildeo do tipo que em geral evitamos O mecanismo parece ser o seguinte o informante estaacute

disposto a reconhecer o fato de ter estado numa situaccedilatildeo assim embora possa natildeo estar disposto a fazer um relato Mas uma vez que reconheceu o fato acha muito difiacutecil deixar de

fazer um relato completo quando o entrevistador pergunta depois de alguns instantes ldquoO que

aconteceurdquo Do contraacuterio ficaria parecendo que ele fez uma afirmaccedilatildeo falsa

128

Quadros de amostras dos Grupos I II e III

Grupo I

Identificaccedilatildeo

de Classe

Sexo Idade Faixa

Etaacuteria

Profissotildees

Informante G Masculino 82

anos

60 a 80

anos

ProfessorAposentado

Informante H Feminino 64

anos

60 a 80

anos

CostureiraAposentado

Informante I Feminino 62

anos

60 a 80

anos

BancaacuterioAposentado

Grupo II

Identificaccedilatilde

o de Classe

Sexo Idade Faixa

Etaacuteria

Profissotildees

Informante D Feminino 56

anos

30 a 60

anos

BancaacuterioAposentado

Informante E Masculino 53

anos

30 a 60

anos

Autocircnomo

Informante F Masculino 52

anos

30 a 60

anos

MotoristaAposentado

Grupo III

Identificaccedilatildeo

de Classe

Sexo Idade Faixa

Etaacuteria

Profissotildees

Informante A Masculino 29

anos

15 a 30

anos

Professor

Informante B Masculino 25

anos

15 a 30

anos

Professor

Informante C Masculino 24

anos

15 a 30

anos

Estudante

129

Os Grupos I e II foram alunos de profdeg Francisco jaacute os

informantes do Grupo III foram escolhidos na universidade porque eacute

difiacutecil de ser ter contato com surdo na faixa etaacuteria de 15 anos

Cada um dos 9 (nove) informantes da amostra nos trecircs (3) grupos

com relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria poderaacute trazer indicativos sobre a trajetoacuteria da

liacutengua de sinais e a influecircncia da geraccedilatildeo dos surdos mais velhos (Grupo

I) com relaccedilatildeo agrave sinalizaccedilatildeo utilizada na atualidade pelos surdos mais

jovens (Grupo III) Segundo a citaccedilatildeo de Tarallo

a primeira tentativa de definiccedilatildeo a liacutengua falada a que

nos temos referido eacute o veiculo linguumliacutestico de

comunicaccedilatildeo usado em situaccedilotildees naturais de interaccedilatildeo

social do tipo comunicaccedilatildeo face a face Ė a liacutengua que

usamos em nossos lares ao interagir com os demais

membros de nossas famiacutelias Ė a liacutengua usada nos

botequins clubes parques rodas de amigos nos

corredores e paacutetios das escolas longe da tutela dos

professores Ė a liacutengua falada entre amigos inimigos

amantes e apaixonados (TARALLO 2000 p 19)

Na interaccedilatildeo social desta liacutengua que o surdo utiliza para se

comunicar em diversos lugares com os amigos na associaccedilatildeo na escola

etc haacute uma valorizaccedilatildeo cultural aleacutem da troca de conhecimentos

necessidades de criaccedilatildeo de novos sinais modificaccedilatildeo eou

aperfeiccediloamento de outros trazendo modificaccedilotildees linguiacutesticas

Concluiacutemos a explicaccedilatildeo do procedimento da metodologia desta

pesquisa trazendo consideraccedilotildees sobre os registros dos dados dos

informantes para posterior verificaccedilatildeo da variaccedilatildeo e mudanccedila

linguiacutestica observada nos trecircs grupos de surdos nas diferentes geraccedilotildees

referentes agrave liacutengua de sinais Atraveacutes das informaccedilotildees encontradas nas

narrativas seraacute feita uma trajetoacuteria histoacuterica da liacutengua de sinais e seratildeo

observadas as mudanccedilas ocorridas com relaccedilatildeo agrave liacutengua na comunidade

surda de Santa Catarina

56 ndash Descriccedilatildeo dos informantes quanto aos dados

Nesta seccedilatildeo apresentamos descriccedilotildees dos dados coletados na

liacutengua de sinais espontacircnea de informantes conforme amostras dos

Grupos I II e III Os dados foram observados pelo programa de

transcriccedilatildeo de ELAN Realizei os trabalhos comparando a liacutengua usada

pelas geraccedilotildees e as informaccedilotildees dadas pelos informantes

Os fatos sociolinguiacutesticos apresentados pelos informantes atraveacutes

130

de seus depoimentos mostrando suas trajetoacuterias e vivecircncias na

comunidade surda nas diferentes regiotildees do estado de SC seratildeo

analisados para saber se o professor surdo influenciou a comunidade

surda do estado no ensino da LIBRAS

A questatildeo que tentarei responder com os dados eacute a seguinte Os

informantes de cada grupo de comunidades surdas de diferentes regiotildees

do estado de Santa Catarina relatando sua trajetoacuteria com experiecircncias

relacionadas agrave liacutengua de sinais ora sofreram ora natildeo a influecircncia do

professor surdo com relaccedilatildeo ao aprendizado desta liacutengua

Pretendo verificar se haacute algum sinal de que a liacutengua sofreu

variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica em cada uma das trecircs geraccedilotildees dos

informantes Essas trecircs geraccedilotildees vatildeo ser acompanhadas pelas glosas de

sinais A descriccedilatildeo de experiecircncias dos informantes surdos nos trecircs

grupos observados eacute a estrateacutegia para se pesquisar o processo de

mudanccedila

A pesquisa vai analisar os trecircs comparativos dos informantes

surdos com a descriccedilatildeo de dados de cada geraccedilatildeo apoacutes verificar os

resultados de cada uma das trecircs geraccedilotildees de informantes Grupo III A

B C Grupo II D E F Grupo I G H e I As narrativas na liacutengua de

sinais que os informantes apresentaram foram coletadas e vatildeo ser

descritas nas proacuteximas seccedilotildees

561 ndash Grupo I ndash Informantes

Nas narrativas dos sujeitos63

do grupo de informantes na faixa

etaacuteria dos surdos de 60 a 80 anos os mais velhos mesmo grupo do

professor surdo foram expressas algumas opiniotildees dos surdos

nomeados de informantes G H e I Seguem as informaccedilotildees

5611 ndash Informante G

Francisco eacute o informante G e sua identidade estaacute expliacutecita porque

ele autorizou O informante G mostra sua experiecircncia na liacutengua de

63 Os sujeitos surdos SCHMITT (2008) mostram a participaccedilatildeo no amplo espaccedilo da sociedade

em que vivem No momento eles se identificam como um ldquooutrordquo como surdo Esta mudanccedila

eacute mostrada pelas lutas seja na sociedade em encontros eventos seminaacuterios congressos e outros Isso eacute o povo surdo participando no movimento na luta pela educaccedilatildeo pelos direitos

culturais

131

sinais e sua opiniatildeo sobre como aconteceu essa experiecircncia Segue um

comentaacuterio ldquoSabemos que as liacutenguas mudam com o tempo e se

transformam conforme as culturas dos paiacuteses regiotildees ou mesmo em

situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo em que estaacute participando (numa conversa

informal na sala de aula na famiacutelia etc) estas mudanccedilas ocorrem com

as configuraccedilotildees de matildeos articulaccedilotildees movimentos expressotildees faciais e

ou corporais essas mudanccedilas satildeo recicladas para se adaptar a realidade e

conceitos na sociedade tendo os traccedilos de identificaccedilatildeo proacutepriardquo

O informante G nasceu no dia 01061928 em Florianoacutepolis SC

foi aluno interino do Instituto Nacional de Surdos-Mudos do Rio de

Janeiro e do Instituto Paulista de Surdos em Satildeo Paulo de 1937 a 1946

Ele realizou o curso fundamental e meacutedio tinha habilitaccedilatildeo em ensino

especial desenho encadernaccedilatildeo ginaacutestica datilografia frequentou da

1a a 8

a seacuterie do ensino fundamental no Instituto Nacional de Surdos-

Mudos e sua habilitaccedilatildeo eacute em Contabilidade pelo Instituto Monitor e

Nuacutecleo de ensino profissional

Em 1952 ele conheceu quinze surdos-mudos em Florianoacutepolis

que natildeo sabiam ler e escrever Ele ensinava algumas palavras e sinais

para esses surdos-mudos De outra feita entre 1953 a 1954 iniciava a

amizade com o primeiro presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos de

Satildeo Paulo senhor Maacuterio Devisate Ele natildeo tinha o conhecimento da

existecircncia de uma Associaccedilatildeo de Surdos em Florianoacutepolis o senhor

Devisate entregava um documento para Associaccedilatildeo de Surdos-Mudos

de acircmbito nacional e o professor Francisco Lima Juacutenior veio como

delegado e responsaacutevel pela regiatildeo do Sul passando a residir nesta

capital (Florianoacutepolis)

O primeiro presidente da Sociedade dos Surdos-Mudos do

Distrito Federal que na eacutepoca era Rio de Janeiro foi o senhor Miguel

da Fonseca Seabra de Melo era grande colega do Francisco Mais tarde

com a construccedilatildeo de Brasiacutelia a associaccedilatildeo continuou no RJ soacute que

naquele momento natildeo mais como capital com o nome Sociedade dos

Surdos-Mudos do Brasil para finalmente Associaccedilatildeo dos Surdos do Rio

de Janeiro (ASURJ)

O grupo conversava na liacutengua de sinais numa reuniatildeo quando

chegou o presidente da ASURJ que tambeacutem era surdo O professor

Francisco foi apresentado e cumprimentou o senhor Miguel da Fonseca

Seabra de Melo que estava acompanhado de uma colega que ao ver o

professor Francisco sorriu O professor Francisco agradeceu pela ajuda

que o senhor Miguel deu ao Instituto Nacional de Surdos-Mudos e as

informaccedilotildees referentes agrave associaccedilatildeo

Na verdade o professor Francisco tinha contato e conversava

132

sempre com o amigo que estudou com ele no INES o senhor Salomatildeo

Watnick que foi primeiro presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos

do Rio Grande do Sul seu grande amigo que morava em Porto Alegre

Como o INES estava passando por reforma o professor

Francisco como tinha muitos amigos dos diferentes cursos e viagens

que fez conseguiu estudar na Escola Especial para Surdos-Mudos em

Satildeo Paulo que para ele era uma escola maravilhosa e excepcional onde

aprendeu muito

O grupo dos surdos de SC se perguntava como ganharia a vida

pois natildeo estavam felizes nas escolas especiais que na eacutepoca utilizavam

os meacutetodos oralistas onde os surdos natildeo podiam utilizar sinais Mas

encontraram o motivo da existecircncia na associaccedilatildeo do estado podendo

assim discutir e abrir caminhos para os surdos

5612 ndash Informante H

A informante H mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua

opiniatildeo sobre como aconteceu essa experiecircncia ldquoMudam porque as

pessoas mudam os tempos mudam assim como mudam as culturas e

diversas outras formas de liacutengua existentes entre elas Sendo a LIBRAS

tambeacutem uma forma de liacutengua ela acompanha estas mudanccedilas para que

os indiviacuteduos que dela fazem uso possam acompanhar a sociedade e

mundo do qual fazem parterdquo

A informante H nasceu em 26051946 em Satildeo Pedro de

Alcacircntara em Santa Catarina Durante sua infacircncia e adolescecircncia

morou com seus pais que eram agricultores

Ela teve que trabalhar na lavoura dos 6 ateacute os 18 anos de idade

cortava o capim que alimentava o gado roccedilava para limpar um paacutetio do

terreno e uma plantaccedilatildeo cercada onde se criavam vaacuterias galinhas patos

etc Plantavam vaacuterios tipos de flores e tinham uma horta Ela penteava

os cabelos dos cavalos para depois montaacute-lo corria e caiacutea no chatildeo num

desses passeios quebrou o braccedilo e diz que doeu muito Quando o

cunhado viu o braccedilo dela quebrado levou-a de carroccedila para o hospital

na cidade de Vidal Ramos em Santa Catarina Depois ela tinha que

ficar um mecircs com o gesso no braccedilo mas 15 dias depois na casa da

irmatilde olhava o rio e pulava no rio que brilhava acabou ficando coberta

de aacutegua e quase se afogou Para natildeo se afogar colocou as matildeos em cima

de uma pedra do rio ficou muito assustada e chorou muito o tio dela foi

quem a ajudou

O pai de H eacute brasileiro e lavrador Dedicava-se agrave criaccedilatildeo de gado

aves e na fabricaccedilatildeo de cachaccedilas que preparava das plantas que

133

produziam cana-de-accediluacutecar cafeacute e frutas Na casa natildeo tinha luz e era

utilizada a vela a fogueira e a lacircmpada de querosene

A matildee de H tambeacutem era brasileira costureira e lavradora

Trabalhava na propriedade na plantaccedilatildeo de milho feijatildeo arroz aipim e

verduras Os Pais de H tiveram 13 filhos 1 filha jaacute falecida com 1 ano e

um mecircs de gravidez gemular 3 filhas eram ouvintes 3 filhas eram

surdas 6 filhos eram ouvintes 1 filho era surdo A terra lavrada e

cultivada estaacute localizada em Satildeo Pedro de Alcacircntara Depois que o pai

morreu o terreno foi loteado e a informante H ficou com um dos lotes e

os irmatildeos deram a casa

O irmatildeo da informante H que era surdo jaacute falecido em 1976 foi

mordido por uma cobra venenosa Seu pai faleceu em 1989 e a matildee

faleceu em 1998

Em 1966 ajudava lavando roupas para fora nesta eacutepoca morava

com o primo numa casa localizada no bairro do Estreito ndash

FlorianoacutepolisSC Tinha trecircs vizinhos surdos e com eles conversava com

os sinais eou gestualidade Ela natildeo sabia conversar em LIBRAS com

outro surdo aprendeu com os vizinhos surdos que a avisavam das

reuniotildees de surdos que aconteciam no salatildeo do grupo Escolar Celso

Ramos

O professor Francisco ensinou aos surdos as regras do jogo de

bingo depois foram oferecidos cinco brindes para o jogo de bingo que

aconteceu no bairro de Capoeiras Ele perguntava para ela de onde vocecirc

eacute E ela respondia que morava em Satildeo Pedro de Alcacircntara Entatildeo o

Francisco foi junto com a informante H conhecer sua casa localizada no

siacutetio de Satildeo Pedro de Alcacircntara

Ela apresentou sua matildee para o senhor Francisco queria estudar e

aprender a liacutengua de sinais com Francisco presidente da associaccedilatildeo e

professor na escola para surdos Ela veio para a capital em 1966 aos 19

anos de idade onde aprendeu a Liacutengua Portuguesa Escrita matemaacutetica e

liacutengua de sinais na Escola Celso Ramos em Florianoacutepolis numa classe

de alunos surdos Alguns anos mais tarde ela trabalhou como costureira

na faacutebrica de renda e bordados Hoepcke

Ela fez alguns cursos de pintura em tecido bordado a maacutequina

Ela conta que sempre foi uma pessoa esforccedilada que buscava desafios na

sua aprendizagem o tempo todo e cada vez mais como autodidata que

aprendia muitas coisas como por exemplo cozinhar e alta costura

Passava sempre na escola era muito esforccedilada aprimorava muito a sua

aprendizagem de vida

O professor Francisco e ela viajavam pelo estado verificavam e

encontravam os surdos no interior do estado Ela entregou um anel para

134

a ex-rainha do Ciacuterculo de Surdo-Mudos de Santa Catarina ndash CSMSC

que era Catarina Ceciacutelia Schveitzer em 1993

5613 ndash Informante I

A informante I mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua

opiniatildeo sobre como aconteceu essa experiecircncia ldquoMudam a ldquoformardquo de

vida das pessoas na sociedade para que se adaptem a nova realidade e

as liacutenguas tambeacutem se modificam As liacutenguas de sinais tambeacutem mudam

criam-se palavras novas satildeo influenciadas por outras liacutenguas etc A

evoluccedilatildeo das coisas em geral estaacute acontecendo de forma muito raacutepida e

a LIBRAS sendo uma forma de comunicaccedilatildeo entre cultura surda e

ouvinte precisa acompanhar essa evoluccedilatildeo Quando uma determinada

coisa natildeo acompanha o desenvolvimento onde estaacute inserida a

tendecircncia eacute de ficar do lado de forardquo

A informante I nasceu em 01041948 em Blumenau veio de

uma famiacutelia de 6 irmatildeos onde 3 satildeo surdos e 3 satildeo ouvintes A matildee do

informante I descobriu que era surda quando tinha mais ou menos dois

anos de idade Apoacutes essa descoberta teve uma infacircncia normal era uma

crianccedila super ativa

Aos 7 anos de idade entrava na escola onde havia outras crianccedilas

surdas como ela Foi alfabetizada em Blumenau Depois lembrou que

tentava usar o seu aparelho auditivo mas como natildeo escutava nada

acabou rejeitando o aparelho

Tinha muita preocupaccedilatildeo com a educaccedilatildeo dos surdos Os pais

mandaram-na estudar num internato de crianccedilas surdas no Rio de

Janeiro aos 9 ou 10 anos de idade Ela natildeo se adaptou e retornou para

Blumenau A escola para surdos que frequentava em Blumenau ficou

sem a professora especializada e ela teve que ir para uma escola regular

O pai que era bancaacuterio pediu transferecircncia do banco para a cidade

de Florianoacutepolis para que a informante I e seus irmatildeos pudessem

continuar os estudos

Em Florianoacutepolis frequentaram a escola Celso Ramos onde a sala

dos surdos era de responsabilidade do professor Francisco Lima Juacutenior

O professor Francisco era uma pessoa muito importante nesta

eacutepoca a vida dele era ajudar o grupo de surdos atraveacutes da liacutengua de

sinais e ele lecionava no ensino fundamental e no curso primaacuterio

A informante I sempre foi muito curiosa queria mais e resolveu

fazer o curso ginasial por correspondecircncia pois na eacutepoca fazia o

segundo grau na escola de ouvintes tinha dificuldade tinha que aprender

tudo sozinha porque na escola o ensino era em portuguecircs falado difiacutecil

135

para o surdo entender (problema de comunicaccedilatildeo) Ela tinha vontade de

estudar na escola com o professor Francisco que ensinava na liacutengua de

sinais

Relembrou que naquela eacutepoca viu que foi muito difiacutecil quando

ela tinha duacutevidas os pais pagavam um professor para dar aulas

particulares Enfim venceu mas natildeo foi faacutecil Depois fez vaacuterios cursos

profissionalizantes como datilografia correspondecircncia comercial curso

de cabeleireira manicure pintura em tela corte e costura e tantos outros

que agora natildeo lembrava mais

Depois de tudo isso resolveu fazer o concurso para uma vaga de

escrituraacuterio no Banco do Estado de Santa Catarina ndash BESC e foi

aprovada trabalhou laacute por vaacuterios anos e agora jaacute estava aposentada

A informante I eacute casada e o companheiro tambeacutem eacute surdo

funcionaacuterio aposentado da Imprensa Oficial Queria muito ter filhos e

acabou tendo um filho que eacute ouvinte e hoje estaacute com 27 anos e tem

formaccedilatildeo acadecircmica com poacutes-graduaccedilatildeo Diz sentir-se realizada

Sua matildee tem hoje 87 anos e eacute a grande incentivadora de sua vida

eacute tambeacutem um grande exemplo de vida guerreira batalhadora e muito

religiosa Foi ela que ensinou o que eacute amor respeito e outros valores

morais tudo isso dentro da doutrina espiacuterita

A informante I diz ser uma pessoa realizada porque venceu

muitas barreiras conseguiu tirar a carteira de motorista e tambeacutem

aprendeu a utilizar a comunicaccedilatildeo no celular Internet MSN e e-mail

Nada foi faacutecil considera-se uma pessoa feliz adora assistir aos

filmes legendados os noticiaacuterios novelas enfim gosta de estar bem

informada

Contando a histoacuteria de sua vida quer mostrar agraves pessoas que pode

alcanccedilar qualquer coisa na vida e que natildeo eacute diferente dos outros A

diferenccedila estaacute na audiccedilatildeo mas pode usar os outros sentidos para se

comunicar e utilizar a liacutengua de sinais visual

562 ndash Grupo II ndash Informantes

Nas narrativas dos sujeitos surdos para a pesquisa no Grupo II

com idade intermediaacuteria de 30 anos a 60 anos de idade em

intermediaacuterio verificou-se que todos foram alunos do professor surdo

Francisco A seguir estatildeo expressas algumas opiniotildees destes surdos

nomeados de informantes D E e F

136

5621 ndash Informante D

A informante D mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua

opiniatildeo a respeito de como aconteceu essa experiecircncia ldquoCom o passar

do tempo ocorrem muitas mudanccedilas nas liacutenguas de sinais para suprir as

necessidades de comunicaccedilatildeo e as modificaccedilotildees de costumes de cada

geraccedilatildeo Os sinais satildeo criados de acordo com a necessidade de cada

grupordquo

A informante D nasceu em Florianoacutepolis num domingo no dia

quatro de outubro de mil novecentos e cinquenta e trecircs (04101953) em

casa sob os cuidados de uma parteira chamada de Dona Oliacutevia Nasceu

com audiccedilatildeo perfeita segundo diagnoacutestico de um meacutedico do hospital

das cliacutenicas em Satildeo PauloSP em 1961 O responsaacutevel pela sua perda de

audiccedilatildeo foi um medicamento chamado de trepdomicina usado para

acalmar a ldquotosse compridardquo ou Coqueluche Nessa eacutepoca natildeo havia

vacina para a doenccedila nos postos de sauacutede Sua matildee levou os filhos para

vacinar e constatou isso

A famiacutelia dela descobriu a surdez aos nove meses de idade Ela

tinha seis meses de idade quando foi acometida pelo viacuterus da

coqueluche e a irmatilde tambeacutem que na eacutepoca tinha 9 anos de idade

A matildee dela quando estava graacutevida tomou uma injeccedilatildeo

denominada 914 para curar infecccedilatildeo no aparelho genital feminino Esse

medicamento agiu negativamente na formaccedilatildeo dos ossos deixando-a

com o andar defeituoso parecendo que uma perna era mais curta que a

outra Ela foi para Satildeo Paulo levada pelo irmatildeo e pelo padrinho para

tratamento Foi submetida a quatro cirurgias entre 1961 a 1963 mas

que surtiram pouco resultado comprovado em 1980 Daiacute para frente

voltava a ter uma perna mais curta e sente muitas dores ao andar e

sentar

Em 1964 iniciava seus estudos na escola para surdos de

Florianoacutepolis no grupo Celso Ramos Seu primeiro professor surdo foi

o Francisco que lhe dava aula na liacutengua de sinais Francisco tambeacutem

ensinava LIBRAS no Ciacuterculo dos Surdos Mudos de Santa Catarina na

escola primaacuteria e na associaccedilatildeo de surdos

Em 1975 fazia teste para ingressar como funcionaacuteria no BESC

sendo admitida como escrituraria em 18091975 e se aposentou em

19112002 Ela aprendeu a dirigir automoacutevel fez curso de datilografia

e por uacuteltimo fez curso baacutesico de computador para saber operaacute-lo Fez

curso de pintura a oacuteleo em tela e em tecido Procurava cuidar de sua

sauacutede indo ao meacutedico regularmente

Ela eacute associada e participa da diretoria da Associaccedilatildeo de Surdos

137

da Grande Florianoacutepolis ndash ASGF eacute tambeacutem voluntaacuteria nas atividades

que a associaccedilatildeo desenvolve em benefiacutecio de seus amigos surdos que

frequentam a mesma associaccedilatildeo Hoje ensina LIBRAS para os

associados de qualquer idade

5622 ndash Informante E

O informante E mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua

opiniatildeo de como aconteceu essa experiecircncia ldquoAssim como a liacutengua

portuguesa evolui ou muda com o passar do tempo LIBRAS tambeacutem

passa por mudanccedilas constantes estas podem ser de regiatildeo para regiatildeo

por exemplo a liacutengua de LIBRAS acompanha a evoluccedilatildeo do mundo

sendo hoje uma liacutengua para a comunicaccedilatildeo dos surdosrdquo

O informante E nasceu na maternidade Carmela Dutra no Centro

de Florianoacutepolis no dia 03 de Novembro de 1957 Ele ficou surdo aos

quatro anos de idade (causado por remeacutedios ministrados errados por sua

matildee nos ouvidos quando estava com febre dor de ouvidos e caxumba)

Com 53 anos eacute presidente de entidade esportiva de Santa

Catarina desde 1999 reeleito pela segunda vez com gestatildeo ateacute 2011

sendo um dos liacutederes dos surdos de Santa Catarina Foi um dos

fundadores da Sociedade de Surdos de Satildeo Joseacute atuou nela de 1990 a

1996 uma entidade que crescia muito e eacute considerada a mais organizada

no estado de Santa Catarina

Ele escolheu o sobrenome diferente na campanha poliacutetica que

concorreu para vereador de Satildeo Joseacute de 2003 a 2007 em homenagem agrave

sua avoacute-materna jaacute falecida descendente de alematildees que lhe criou por

mais de 10 anos junto com o marido descendente de portugueses que

natildeo conhecera pois a avoacute dele ficara viuacuteva quando o pai dele era

solteiro Portanto queria preservar o sobrenome da avoacute-matildee dele como

lembranccedila

Os pais dele estavam preocupados com sua infacircncia com sua

situaccedilatildeo futura e por isso procuravam incansavelmente a existecircncia de

uma escola especial para surdos

Finalmente acharam a escola localizada na Rua Conselheiro

Mafra no Centro de Florianoacutepolis Era uma sala comercial tipo garagem

grande (perto do antigo terminal urbano hoje Terminal Cidade de

Florianoacutepolis) foi ali onde encontraram a primeira escola para surdos

onde ele aprendeu a liacutengua de sinais aos 6 anos de idade

Ele estudou com o primeiro professor surdo do estado de Santa

Catarina O professor Francisco e sua esposa que era ouvinte e tambeacutem

professora chamava-se Mercedes e foi a primeira inteacuterprete dele Neste

138

momento existiam outros alunos surdos que eram Niro Paulo Percy

Socircnia Maria da Graccedila Maria Bernadete Aldenei Rita Reinoldo

Edson Ivo (falecido) Arnoldo e outros que ele natildeo lembrava

No comeccedilo do aprendizado dele da liacutengua de sinais achava

estranho e natildeo lhe agradava muito fazendo com que ele natildeo quisesse

estudar ali mas foi a matildee dele que o incentivou a continuar estudando

e com o tempo foi gostando da escola e do grupo de amigos surdos

isto foi em 1971

Essa escola foi transferida de local e foi para a EEB

Governador Celso Ramos no bairro Prainha em Florianoacutepolis no ano

de 1972 Esta nova escola ele adorava muito e guarda boas recordaccedilotildees

vividas nela

Infelizmente ele natildeo lembrava do ano em que foi transferido para

o Instituto de Audiccedilatildeo e Terapia da Linguagem ndash IATEL situado na

Rua Liberato Bittencourt no Centro de Florianoacutepolis numa casa

simples e alugada Ficou muito contrariado com esta transferecircncia

Nessa eacutepoca tinha mais ou menos 13 anos Proacuteximo aos 15 anos ele

abandonou o IATEL porque tinha que trabalhar para sustentar a avoacute

dele que era viuacuteva e pobre Sua avoacute tambeacutem natildeo gostava desta escola e

tambeacutem das novas professoras que eram ouvintes e que natildeo sabiam usar

a liacutengua de sinais obrigando os surdos a oralizarem

Aos 14 anos ele jaacute trabalhava em uma empresa de comunicaccedilatildeo

visual (luminosos) Apoacutes um ano ele mudava de ramo para a funccedilatildeo de

auxiliar de escritoacuterio em duas empresas de contabilidade Depois disso

ele fundou uma empresa proacutepria de comunicaccedilatildeo visual em sociedade

com seu pai no ramo de letreiros em placas paredes e etc O nome da

empresa comprada foi modificado e mais tarde fez sociedade com o

irmatildeo caccedilula Para seu irmatildeo caccedilula foi um aprendizado e hoje ele eacute

proprietaacuterio de uma empresa no mesmo ramo residindo em Blumenau

Em 2000 deixava este ramo e comeccedilava a estudar para ter a

formaccedilatildeo de professor na Liacutengua de Sinais aos 43 anos Ele Trabalhou

como professor em Admissatildeo em Caraacuteter Temporaacuterio ndash ACT e na

Fundaccedilatildeo Catarinense de Educaccedilatildeo Especial - FCEE como assessor

teacutecnico na Educaccedilatildeo de Surdos de 2003 a 2005 Trabalhou tambeacutem

como ACT no Centro Educacional Municipal Interativo Floresta em Satildeo

Joseacute no Nuacutecleo de Educaccedilatildeo Especial e Inclusiva - NEESPI como

professor de LIBRAS de 2006 a 2007 Foi docente dos cursos de

LIBRAS de 2000 a 2007

A partir de 2008 deixava o cargo de professor de LIBRAS para

focar os compromissos somente nos esportes Atualmente atua numa

entidade esportiva de surdos desde 1999 nesta com 12 associaccedilotildees

139

filiadas organizando em meacutedia sete (7) eventos esportivos por ano

Portanto os pensamentos deles e seus compromissos satildeo voltados para a

comunidade surda

5623 ndash Informante F

O informante F mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua

opiniatildeo de como aconteceu essa experiecircncia ldquoPorque assim como toda

liacutengua ela sofre das mudanccedilas histoacutericas e culturais as liacutenguas satildeo

dinacircmicas e natildeo estaacuteticas por isso elas vivem sofrendo alteraccedilotildees e com

as liacutenguas de sinais ocorre o mesmo Essas mudanccedilas podem ser

percebidas nas diferentes regiotildees onde satildeo utilizadas a mesma liacutengua

mesmo sendo a mesma liacutengua ela possui algumas diferenccedilas em

algumas palavras ou expressotildeesrdquo

O informante F nasceu 04071958 em Florianoacutepolis eacute casado e

tem 52 anos Nasceu surdo a famiacutelia dele sempre lhe deu apoio

levaram-no a vaacuterios lugares para consultar com meacutedicos procuravam

um tratamento mas de acordo com os meacutedicos ele natildeo tinha muita

chance de desenvolver audiccedilatildeo e a fala Nesta eacutepoca natildeo existiam no

Estado de Santa Catarina escolas especializadas para surdos e como o

pai dele era militar natildeo podia morar em outro Estado Entatildeo seu pai

matriculou-o numa escola regular mas as professoras natildeo sabiam a

liacutengua de sinais e era muito difiacutecil para ele aprender

A alfabetizaccedilatildeo dele natildeo foi muito boa e para melhorar um pouco

o aprendizado tinha aulas com o professor surdo Francisco Lima Juacutenior

que lhe ensinava as palavras utilizando o alfabeto manual e a liacutengua de

sinais para o aprendizado da Liacutengua Portuguesa Escrita e tambeacutem para

alguns alunos surdos

Em sua famiacutelia se comunicava atraveacutes de sinais caseiros que de

acordo com ele foi muito bom e os utiliza ateacute hoje

Apesar das dificuldades nos estudos tinha sorte pois conseguiu

emprego Neste emprego que era na Central de Luz Eleacutetrica de Santa

Catarina ndash CELESC sempre foi muito bem tratado Tinha muitos

amigos na associaccedilatildeo de surdos na escola e no trabalho e para se

comunicar ensinava alguns sinais bem baacutesicos para os amigos para que

assim natildeo tivessem problemas quanto agrave comunicaccedilatildeo

Ele trabalhou sempre na CELESC na cidade de Florianoacutepolis

pois foi aprovado em um teste naquela eacutepoca natildeo havia concursos

Depois foi transferido algumas vezes para outras cidades como

Blumenau Joinville e Jaraguaacute do Sul Iniciou como auxiliar de serviccedilos

gerais depois passou a auxiliar administrativo e por uacuteltimo como

140

motorista

Foi presidente de vaacuterias Associaccedilotildees de Surdos uma dessas em

1989 que foi fechada neste mesmo ano e outra em dois mandatos

20052008 Ele jogou em vaacuterios times nas associaccedilotildees de surdo de Santa

Catarina Ele preferia jogar futebol de salatildeo - FUTSAL

Ele sempre participou e ateacute hoje participa de encontros com

surdos na liacutengua de sinais seja em associaccedilotildees ou outros eventos

Atualmente mora na cidade de Londrina ndash Paranaacute

563 ndash Grupo III ndash Informantes

Nas narrativas dos sujeitos surdos do Grupo III com idades entre

15 a 30 anos sendo o grupo dos mais jovens e que participam de

associaccedilotildees de surdos em Santa Catarina foram expressas algumas

opiniotildees desses surdos aqui nomeados de informantes A B e C

Seguem abaixo relatos e experiecircncias dos informantes

5631 ndash Informante A

O informante A mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua

opiniatildeo a respeito de como aconteceu essa experiecircncia ldquoNatildeo diria que

ldquomudardquo mas sim sofre modificaccedilotildeesalteraccedilotildees com o tempo e como

qualquer outra liacutengua dependendo do estadopaiacutes em que eacute ldquofaladardquo teraacute

adaptaccedilotildees conforme a necessidade de cada lugar Sendo que ateacute mesmo

em casa quando a crianccedila natildeo tem contato com LIBRAS em um

primeiro momento ela e sua famiacutelia se apropriam de sinais proacuteprios para

a comunicaccedilatildeordquo

O informante A nasceu em 18121980 no Balneaacuterio Camboriuacute

nasceu surdo comunica-se por meio de gestos com a famiacutelia Sua

famiacutelia sempre mostrou preocupaccedilatildeo com ele levaram-no a atendimento

fonoaudioloacutegico para que aprendesse a falar mas tinha dificuldades

poreacutem era esforccedilado Somente mais tarde encontrava a comunidade

surda na escola Quando ele teve atendimento especial e natildeo era

utilizada a liacutengua de sinais somente alguns gestos acabava desistindo e

parava de estudar Retornando agrave escola com ouvintes quando ele tinha

17 anos de idade encontrava os surdos que o convidaram a participar

de uma festa na associaccedilatildeo de surdos foi quando comeccedilou a aprender a

LIBRAS e ficou feliz pois comunicava-se com todos na LIBRAS jaacute

que era um modo mais faacutecil de aprender e memorizar os conteuacutedos jaacute

com o oralismo era muito sofrido

Ele fundou uma Associaccedilatildeo de Surdos na cidade onde mora Na

141

associaccedilatildeo motivou o uso da LIBRAS valorizou o contato entre os

membros da comunidade surda e a LIBRAS assim como a educaccedilatildeo

formal Ele sentia-se satisfeito pois se comunicava com os amigos

usando a leitura labial e os gestos mesmo assim perdia algumas

informaccedilotildees por natildeo ouvir Mais tarde encontrava-se com grupos de

surdos e comeccedilou entatildeo o contato da LIBRAS e percebia que por meio

da LIBRAS ele poderia receber mais informaccedilotildees do que pela leitura

labial e a partir de entatildeo conseguiu viver melhor na sociedade Lutou

para inserir a LIBRAS no ensino dos surdos porque sabia na praacutetica que

facilita o aprendizado do surdo

Hoje estaacute casado e sua esposa eacute surda Formou-se na faculdade de

gastronomia pela UNIVALI e tem o curso de especializaccedilatildeo em

educaccedilatildeo especial Atualmente faz curso de LetrasLIBRAS e sua

turma eacute composta na maioria por surdos que estatildeo gostando do curso

tendo a oportunidade de trocar ideacuteias experiecircncias bem como buscar

novos conhecimentos

Ele eacute Instrutor de LIBRAS efetivado pela prefeitura de Itajaiacute

aleacutem de trabalhar como professor de LIBRAS em outros lugares

Tambeacutem realiza trabalhos voluntaacuterios em algumas entidades

(Associaccedilatildeo FENEIS Federaccedilatildeo etc) Jaacute atuou em vaacuterios cargos de

diretoria na Associaccedilatildeo de Surdos de Balneaacuterio Camboriuacute isso foi bom

porque ele aprendeu sobre poliacutetica sobre organizaccedilatildeo e tambeacutem a

utilizar estrateacutegias diferentes para as accedilotildees etc

5632 ndash Informante B

O informante B mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua

opiniatildeo sobre como aconteceu essa experiecircncia ldquoA LIBRAS eacute uma

liacutengua porque possui uma forma de comunicaccedilatildeo proacutepria Ė

independente como qualquer outra liacutengua escrita ou falada Tem

formato proacuteprio sua comunicaccedilatildeo eacute visual pois se utiliza de gestos e

expressotildees Como todas as liacutenguas tem variaccedilotildees conforme a regiatildeordquo

O informante B nasceu em 08011985 na cidade de Tijucas em

Santa Catarina Atualmente mora em Itapema e tem 25 anos Ele nasceu

surdo mas seus pais soacute descobriram sua surdez aos nove meses de

idade entatildeo ficaram apavorados e natildeo sabiam como ele iria se

comunicar na sociedade Depois o pai dele levou-o para uma escola em

Florianoacutepolis chamada de IATEL onde ateacute a 3ordf seacuterie utilizavam a

linguagem oral e muito pouco gestual Na eacutepoca os gestos (sinais) natildeo

eram reconhecidos como uma liacutengua

Os pais dele escolheram uma escola da Rede Regular de Ensino

142

na eacutepoca nem era pensado em inteacuterprete de LIBRAS ateacute porque essa

natildeo era uma liacutengua oficializada Eles natildeo conheciam a comunidade

surda e sua cultura entatildeo decidiram que seu filho frequentaria

atendimento fonoaudioloacutegico dois dias por semana

Para o informante B seus pais tentavam criaacute-lo como ouvinte o

que para ele caracteriza uma tentava de modificar sua identidade surda

Ele relata que tinha muita dificuldade de comunicar-se com as pessoas

na sociedade que utilizava a liacutengua falada

Mais tarde aos 16 anos de idade foi para uma escola de educaccedilatildeo

especial onde teve aulas de informaacutetica com outros surdos entatildeo podia

utilizar a LIBRAS Antes ele ficava isolado natildeo gostava e natildeo podia

usar a liacutengua de sinais comeccedilava a aprender a falar mas demorava

muito Agora aceita sua identidade surda sente-se mais feliz e melhor

Participa de uma associaccedilatildeo de surdos e viaja para vaacuterios lugares nas

diferentes regiotildees de Santa Catarina

Ele trabalhou como analista de sistemas na aacuterea de informaacutetica da

empresa Ceracircmica Portobello em Tijucas ficava muito incomodado

com a barreira de comunicaccedilatildeo com os funcionaacuterios em virtude de terem

muito trabalho pois o surdo precisa das matildeos para falar e se estaacute com

elas ocupadas trabalhando fica impossiacutevel comunicar-se diferente dos

ouvintes Tentou ensinar alguns sinais para os funcionaacuterios para que lhe

entendessem e pudessem se comunicar com ele mas os funcionaacuterios

desviavam para outro assunto natildeo demonstravam interesse em aprender

sinais Sofria por passar o dia inteiro de trabalho sem poder se

comunicar com outra pessoa disfarccedilava esse sentimento acessando a

Internet para realizar pesquisas de temas relacionados agrave educaccedilatildeo de

surdos (palestras congressos encontros etc) Entatildeo numa destas

pesquisas achou um congresso de surdos anotou a data e mostrou ao

chefe que o liberou para ir ao congresso (encontro surdo)

Ele acredita que as pessoas natildeo tinham culpa pois oralismo era a

forma de ensinar naquela eacutepoca e para os surdos era muito difiacutecil de

compreender e aprender a liacutengua falada Aprendeu LIBRAS na

comunidade surda Apoacutes a liberaccedilatildeo para o congresso pelo seu chefe

comeccedilou a frequentar a associaccedilatildeo de surdos e outros eventos da

comunidade surda

Ele participou de um concurso no municiacutepio de Itajaiacute para o

cargo de instrutor de LIBRAS Foi classificado em terceiro lugar

conseguiu um trabalho e seus pais deixaram que ele morasse sozinho

em Itajaiacute Morou sozinho por um ano trabalhava durante o dia e

estudava na faculdade agrave noite Com o passar do tempo conheceu

pessoas e fez amizade com outros surdos que no segundo ano dividiram

143

o aluguel da casa com ele

Alguns surdos convidaram ele para um encontro de surdo

(nacional congresso e entre outros) Foi possiacutevel fazer novas amizades e

entrar em contato com outros sujeitos surdos pois neste espaccedilo tinha

surdo sentado ao lado surdo no bar e em outros momentos do

congresso

Ao teacutermino do encontro pegou os endereccedilos eletrocircnicos das

pessoas que conheceu e assim pode manter correspondecircncia com outros

surdos atraveacutes de e-mails nas diferentes regiotildees do estado de SC

Depois de algum tempo de troca de e-mails combinou encontros e

viajou para o sul sudeste nordeste norte do Brasil e etc encontrou-se

com muitos surdos que se comunicavam na liacutengua de sinais e aprendeu

muitos sinais novos onde percebeu que havia muitas diferenccedilas nos

sinais que cada regiatildeo tinha sinais especiacuteficos daquele lugar

Quando o curso de LetrasLIBRAS da UFSC foi aprovado pelo

MEC e abriram-se as inscriccedilotildees trecircs instrutores de LIBRAS jaacute haviam

prestado o vestibular tiveram uma prova com 15 questotildees referentes a

LIBRAS utilizaram na apresentaccedilatildeo para seleccedilatildeo dos candidatos slides

e videoconferecircncia com todos os candidatos Ficou admirado e achou

muito legal o grupo de surdo que estava laacute e disse ldquoPassei a ver o

mundo diferente ao teacutermino da provardquo

Ele trabalhou como instrutor de LIBRAS por 4 anos e recebeu 14

alunos surdos para atendimento no processo de aprendizagem da

LIBRAS E tambeacutem ensinou sobre a relaccedilatildeo de aprendizagem do aluno

surdo em LIBRAS para os colegas Ele formou-se no curso de ciecircncias

da computaccedilatildeo e fez poacutes-graduaccedilatildeo no processo de inclusatildeo e educaccedilatildeo

especial Atualmente estaacute cursando a faculdade de LetrasLIBRAS pela

UFSC

5633 ndash Informante C

O informante C mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua

opiniatildeo de como aconteceu essa experiecircncia ldquoA liacutengua de sinais assim

como todo o contexto no qual estamos inseridos sofre mudanccedilas e

adaptaccedilotildees durante o decorrer de nossas vidas por questotildees de

adaptaccedilatildeo comportamento e culturardquo

O informante C nasceu em 12021986 em Santa MariaRS surdo

de nascenccedila morando em Florianoacutepolis haacute pouco tempo Voltando ao

passado dele desde pequeno adorava brincar mexer experimentar as

coisas novas o que tinha por perto Certa vez sua avoacute chamou-o falava

o seu nome mas como ele natildeo escutava nenhuma letra e nenhum som

144

que veio da voz da avoacute natildeo a atendeu Ela estranhou a atitude dele pois

ele nunca deu atenccedilatildeo para ela quando ela gritava ou chamava pelo seu

nome Pra ela era impossiacutevel uma crianccedila que natildeo respondia aos sons

Entatildeo ficou desconfiada que ele poderia ser surdo Resolveu pedir aos

pais dele para levaacute-lo a um meacutedico para descobrir a causa do problema

Mas seus pais tinham dificuldade de aceitar essa ideacuteia e de levaacute-lo para

o meacutedico parecia que tinham medo que ele realmente fosse surdo Ficou

assim sem comunicaccedilatildeo

A matildee dele assustada chorava muito e o pai dele ficou furioso

Pois o medo deles era de jamais se comunicarem com o filho que eles

amavam muito Entatildeo o meacutedico deu um conselho para a matildee dele que

era conhecer as pessoas surdas que se comunicavam atraveacutes da

LIBRAS ou entatildeo fazer atendimento e acompanhamento com

fonoaudioacuteloga para aprender a falar eou melhorar a fala

A matildee dele decidiu em primeiro lugar ir numa escola onde tinham

pessoas surdas laacute conheceu algumas pessoas surdas e achou que eram

pessoas legais Conversou com essas pessoas surdas que conheceu

sobre seu filho que era surdo Queria saber como poderia se comunicar

com uma crianccedila surda pois o objetivo da matildee era poder se comunicar

com o filho Entatildeo pediu ajuda de um surdo jovem Ele explicou para

ela que devia fazer um curso de LIBRAS que eacute a Liacutengua de Sinais

Brasileira que as pessoas surdas utilizam para se comunicarem com

facilidade

Ele crescia e no seu desenvolvimento viveu muita coisa

conseguiu mexer comer tudo A matildee dele comunicava-se com ele

atraveacutes dos sinais ele via as matildeos da matildee que natildeo parava de mexer

estranhava mas repetia para entender aquele conceito o que ela queria

dizer ela sinalizava e mostrava as coisas ateacute que ele entendia o

conceito

A matildee dele era uma pessoa bastante simples e feliz com os filhos

Tem um irmatildeo que eacute um ano mais velho do que ele o irmatildeo aprendeu a

usar sinais com ele e a matildee e podiam se comunicar daiacute eles

melhoraram muito a comunicaccedilatildeo tornaram-se grandes amigos sempre

brincaram juntos brigavam choravam gritavam e reclamavam Mas

eles eram grandes amigos

Ele mais observava as coisas a seu redor e se admirava com o que

via Depois de alguns meses sua irmatilde cresceu um pouco conseguiu

perceber as coisas comeccedilou a falar com ela atraveacutes de sinais ela

aprendeu essa liacutengua com ele como se fosse a primeira liacutengua da vida

dela Uma vez teve uma festinha laacute em sua casa estava toda a famiacutelia

reunida passou um aviatildeo sua irmatilde ouviu o barulho do aviatildeo e sinalizou

145

um aviatildeo todo mundo viu e se assustaram principalmente a matildee dele

pois natildeo sabia que a filha sinalizava sendo tatildeo pequena Sua matildee ficou

tatildeo contente e bateu uma foto dela sinalizando

Como cresceu sempre podendo se comunicar na liacutengua dos sinais

acreditava viver muito ldquonormalizadordquo Tinha uma famiacutelia e amigos

surdos estudou em escolas com outras crianccedilas surdas e relata como ele

se divertia muito

Depois de certo tempo a escola natildeo funcionava somente para

crianccedilas surdas sua matildee ficou muito preocupada com sua educaccedilatildeo

combinou com seu pai e com toda sua famiacutelia a mudanccedila para a cidade

de Florianoacutepolis ndash Santa Catarina pois soube que havia uma escola

especial para ele onde poderia crescer com uma educaccedilatildeo de qualidade

Quando chegou agrave capital de SC Florianoacutepolis simplesmente

amou a cidade porque ele curtia bastante as praias o pai alugou uma

casa bem legal na Barra da Lagoa e todos os dias ia sozinho para a

praia brincava na areia e construiacutea castelos

O informante C relata que curtiu bastante aquele veratildeo

mudaram-se dessa casa para outra que construiacuteram no bairro Carianos

ele natildeo gostava muito do lugar achava meio estranho porque para ele

ficava muito longe das praias Mas com o tempo ele se acostumou ateacute

fez amizades com os vizinhos que eram ouvintes Ele natildeo sabia como

comunicar-se com eles pois usavam a fala ele sentiu vergonha e medo

Ficava atraacutes de sua matildee que explicava para os vizinhos que ele era

surdo que natildeo sabia falar quase nada apenas sabia LIBRAS eles

ficavam admirados e convidavam-no para brincar Tinha amigos que

eram tranquilos porque o pai deles era surdo tambeacutem

O tempo passava e ele brincava sempre com esses amigos curtia

muito mas ele percebeu que se comunicavam soacute oralmente soacute ele natildeo

estranhava Foi falar com sua matildee sobre essa situaccedilatildeo pois ele queria

poder falar tambeacutem sua matildee se surpreendeu com a ideacuteia dele que era

ldquoquerer poderrdquo falar tambeacutem Para sua matildee foi uma surpresa porque

ouvia muito que a maioria das pessoas surdas natildeo aguentava aprender a

falar e seu proacuteprio filho estava querendo aprender a falar

Ele resolveu ser soacutecio de uma associaccedilatildeo de outra cidade natildeo

gostava da anterior e se mudou para Associaccedilatildeo dos Surdos da Grande

Florianoacutepolis ele fez amizade com o pessoal viajou muito se divertia

saiacutea e curtiu bastante Participava das reuniotildees da associaccedilatildeo tambeacutem

Depois virou Conselheiro Fiscal da Associaccedilatildeo gostou da experiecircncia

mas continuou sendo soacutecio Mas por outro lado andava observava e

estudava bastante e percebeu o mundo cada vez mais veloz por causa

da tecnologia e a sociedade que natildeo parava de mudar Depois que

146

terminou o terceiratildeo teve uma formatura incriacutevel em que chorou um

monte pois teve medo de perder o contato com as colegas de sala mas

tambeacutem porque ele aprendeu a amar esses amigos como se fossem de

sua famiacutelia

Comeccedilou uma faculdade na UFSC gostou bastante e fez novas

amizades comeccedilou a trabalhar como AtorTradutor Cinegrafista Editor

de Viacutedeos na UFSC tudo isso como bolsista Ele tornou-se bem

conhecido nacionalmente na comunidade surda comeccedilou a viajar

bastante para congressos e palestras Depois de um ano de sucesso em

sua vida acabou o contrato de bolsista pela UFSC e comeccedilou a

trabalhar como professor na prefeitura foi um grande desafio para ele

pois tinha professoras ouvintes que trabalhavam na educaccedilatildeo especial

que pensavam diferente dele com relaccedilatildeo agrave comunicaccedilatildeo na liacutengua de

sinais

Hoje em dia continua sendo conhecido nacionalmente na

comunidade surda eacute estudante do uacuteltimo periacuteodo da LetrasLIBRAS na

UFSC e estaacute trabalhando em duas escolas da prefeitura como professor

de LIBRAS

564 ndash Algumas consideraccedilotildees finais

Os informantes mostraram sua histoacuteria e nela pude perceber que

sinalizavam diferentemente uma mesma palavra principalmente aqueles

que viveram em lugares diferentes

Sabemos que a histoacuteria humana sofre transformaccedilotildees ao longo do

tempo mas nem sempre os seres humanos se datildeo conta das mudanccedilas

que podem acontecer no passado no presente e no futuro Na sociedade

acontecem transformaccedilotildees tecnoloacutegicas poliacuteticas econocircmicas sociais e

culturais Todas essas transformaccedilotildees influenciam o modo como usamos

a liacutengua E a liacutengua se modifica com o tempo

Noacutes tambeacutem mudamos as ldquocoisas da vidardquo A comunidade surda

tem um jeito proacuteprio de demonstrar as variaccedilotildees regionais e mudanccedilas

quanto agrave liacutengua de sinais a ponto de ser possiacutevel identificar a

procedecircncia de um surdo do nordeste ou do sul com base apenas no seu

gestual

A comunidade surda antigamente apresentava uma forma de

conversar em LIBRAS mais cotidiana e restrita agrave associaccedilatildeo de surdos

mas na atualidade a comunicaccedilatildeo eacute mais ampla acontece em vaacuterios

locais como escolas universidades congressos viagens turiacutesticas etc

ampliando conhecimentos e conhecendo novos sinais em contexto

social

147

Um surdo conversa com outro surdo utilizando a liacutengua de sinais

e qualquer pessoa ouvinte pode aprender LIBRAS e se comunicar na

comunidade surda mesmo natildeo tendo fluecircncia Dessa forma os surdos e

ouvintes podem se comunicar na LIBRAS Aleacutem disso a comunicaccedilatildeo

entre duas ou mais pessoas pode se dar em diferentes contextos sociais

Vale ressaltar que poucos surdos conheciam a gramaacutetica ou tinham

conhecimento linguiacutestico da LIBRAS ateacute porque eacute uma liacutengua que estaacute

sendo ensinada para o surdo nas escolas a partir da LEI de

reconhecimento e ainda natildeo eacute ensinada a parte de reflexatildeo linguiacutestica

estaacute mais voltada para sua praacutetica (o uso)

Segundo Labov

Ao falar do papel de fatores sociais que influenciam a

evoluccedilatildeo linguiacutestica eacute importante natildeo superestimar o

grau de contato ou de superposiccedilatildeo entre valores sociais

e a estrutura da liacutengua A estrutura linguiacutestica e a

estrutura social natildeo satildeo de modo algum coextensivas A

grande maioria das regras linguiacutesticas estatildeo bastante

distantes de qualquer valor social elas fazem parte do

elaborado mecanismo de que o falante precisa para

traduzir seu complexo conjunto de significados ou

intenccedilotildees em forma linear (LABOV 2008 [1972] p

290)

Em vaacuterios lugares (regiotildees) da comunidade surda usar a LIBRAS

em breve vai ser como falar em inglecircs em francecircs em italiano e em

outras liacutenguas Todas as liacutenguas satildeo importantes poreacutem alguma pode

ser mais reconhecida no mundo e influenciar mais Natildeo podemos

descartar a possibilidade de outras liacutenguas serem mais reconhecidas

assim como natildeo podemos prever quais liacutenguas influenciaratildeo mais no

mundo em outras eacutepocas quais dialetos novos teremos e quais variaccedilotildees

e mudanccedilas linguiacutesticas Talvez no futuro tenhamos mais influecircncia das

liacutenguas de sinais na comunicaccedilatildeo do mundo

148

149

CAPIacuteTULO VI ndash Descriccedilatildeo e anaacutelise dos resultados

61 ndash Introduccedilatildeo

Realizei a pesquisa escrita baseado nos relatos dos informantes

das trecircs geraccedilotildees pesquisadas atraveacutes de filmagem Primeiro busquei

nessas filmagens sinais que fossem relevantes para a pesquisa

variaccedilotildees e mudanccedilas lexicais e variaccedilotildees e mudanccedilas fonoloacutegica na

LIBRAS Em seguida fiz uma listagem de sinais com a palavra

correspondente em Liacutengua Portuguesa observando o nuacutemero de vezes

em que o sinal era apresentado aparecia Depois escolhi os sinais que

mais apareciam nos trecircs grupos de informantes e verifiquei as CM (paacuteg

225 e 227) que apareceram Apoacutes isto fiz tabelas gerais para pesquisa

de variaccedilatildeo lexical mudanccedila lexical variaccedilatildeo fonoloacutegica e mudanccedila

fonoloacutegica Foram escolhidos dezessete sinais para anaacutelise porque

apareceram nos trecircs grupos e em maior nuacutemero Apoacutes a escolha dos

sinais construiacute quatro tabelas gerais com os sinais produzidos pelos trecircs

grupos pesquisados com a CM utilizada na sinalizaccedilatildeo Por fim fiz a

anaacutelise dos dados obtidos

Ressalto que a descriccedilatildeo dos informantes que realizaram as

entrevistas nas trecircs geraccedilotildees em diferentes faixas etaacuterias traz

informaccedilotildees de grande importacircncia para a anaacutelise dos dados obtidos

referentes agraves possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas na Liacutengua de

Sinais em Santa Catarina

Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os seguintes toacutepicos

comparaccedilatildeo dos dados dos grupos das trecircs geraccedilotildees de surdos na liacutengua

de sinais e descriccedilatildeo sobre variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na liacutengua de

sinais com a existecircncia de um ou mais sinais dos informantes das trecircs

geraccedilotildees descriccedilatildeo da variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua de

sinais e explicaccedilatildeo de como o mesmo sinal pode ser utilizado e por

fim anaacutelise dos resultados das trecircs geraccedilotildees dos informantes

considerando as variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas na Liacutengua Brasileira

de Sinais

62 ndash A comparaccedilatildeo dos dados o grupo de trecircs geraccedilotildees de surdos

na liacutengua de sinais

Os dados recolhidos no programa de transcriccedilatildeo na liacutengua de

sinais ndash ELAN foram analisados e comparados com o propoacutesito de

mostrarapontar possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas que

aconteceram na liacutengua de sinais em Santa Catarina Os informantes

150

apresentaram individualmente suas respostas ao questionaacuterio referente a

seu aprendizado escolar e a sua vida Essas apresentaccedilotildees gravadas em

viacutedeo tecircm o objetivo de mostrar a experiecircncia na liacutengua de sinais dos

informantes nas trecircs geraccedilotildees pesquisadas

Para anaacutelise dos dados recolhidos foi feita uma tabela

denominada Preliminar dos dados ndash variaccedilotildees ou mudanccedilas

linguiacutesticas Nessa tabela vemos a transcriccedilatildeo dos depoimentos e a

identificaccedilatildeo dos Grupos (I II e III) de surdos que narraram a sua

experiecircncia na liacutengua de sinais Seguem as principais abordagens

pesquisadas

No primeiro momento investigo a variaccedilatildeo e

mudanccedila lexical na Liacutengua Brasileira de Sinais onde

dois ou mais sinais existem na liacutengua ao mesmo tempo

descrevo a mudanccedila em dois sinais que se daacute quando o

antigo sinal some e um novo entra

No segundo e uacuteltimo momento investigo a variaccedilatildeo e

mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua Brasileira de Sinais em

que um mesmo sinal possui mais de uma forma de

realizaccedilatildeo descrevo a mudanccedila que se observa quando um

sinal altera de caracteriacutesticas com relaccedilatildeo aos paracircmetros

configuraccedilatildeo das matildeos ponto de articulaccedilatildeo e movimento

Foi interessante realizar a pesquisa dos dados dos trecircs grupos

porque eacute um desafio aleacutem de me permitir identificar os sinais das

geraccedilotildees pesquisadas A princiacutepio foram identificados os sinais que

eram utilizados pelos surdos mais velhos e que os jovens natildeo

conheciam Em seguida os sinais com configuraccedilatildeo de matildeos (CM) e

ponto de articulaccedilatildeo (PA) diferentes e tambeacutem os sinais com

configuraccedilatildeo de matildeos (CM) iguais e ponto de articulaccedilatildeo (PA)

diferentes Por uacuteltimo os sinais com configuraccedilatildeo de matildeos (CM)

diferentes e ponto de articulaccedilatildeo (PA) iguais

Os sinais apresentados pelos informantes das trecircs geraccedilotildees

totalizaram 255 sinais Nesse total foram utilizados 17 vocaacutebulos para a

anaacutelise dos resultados e levantamento dos sinais de cada informante dos

trecircs Grupos (I II e III) Alguns sinais foram dispensados porque

tornariam a pesquisa muito ampla Dos 255 sinais encontrados para

anaacutelise 115 foram apresentados pelos surdos do Grupo mais jovem 163

foram apresentados pelo Grupo com idade intermediaacuteria e 183 pelo

Grupo dos mais velhos

Esta distribuiccedilatildeo por faixa etaacuteria compreende 9 informantes trecircs

151

em cada uma das geraccedilotildees formando os trecircs Grupos pesquisados (I II e

III) O resultado mais significativo foi mostrado pelos informantes do

grupo de indiviacuteduos mais velhos (G e I) possibilitando numa primeira

anaacutelise perceber algumas variaccedilotildees e mudanccedila na liacutengua de sinais Ficou

perceptiacutevel que o grupo de surdos dos mais velhos influenciou a liacutengua

de sinais em Santa Catarina na comunidade surda Segue tabela com os

nuacutemeros de sinais levantados em cada um dos trecircs grupos

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Sinais

Analisados

183

163

115

Tabela 09 ndash Preliminar dos dados ndash Variaccedilotildees ou mudanccedilas linguiacutesticas

Como jaacute foi comentado anteriormente a comunidade surda em

Santa Catarina ateacute aproximadamente o ano de 2000 teve um uacutenico

professor surdo no nosso estado e que influenciou a liacutengua de sinais O

fator externo que influenciou a liacutengua de sinais em SC atraveacutes do

professor Francisco foi o agrupamento dos surdos de todo o estado

formando uma comunidade surda que tambeacutem participa da

identificaccedilatildeo de classe do grupo informante Outro fator externo eacute

percebido nos Grupos II e I que mostram sinais aprendidos no contato

com o professor surdo na escola e tambeacutem no Ciacuterculo de Surdo-Mudo

em Santa Catarina sendo que o Grupo II influenciou o Grupo III

Na tabela em anexo percebe-se que dos 255 sinais coletados o

Grupo I apresentou mais sinais do que os Grupos II e III Talvez os

sinais natildeo conhecidos pelo Grupo III sejam os sinais criados

recentemente pela comunidade surda acadecircmica

Nas quatro tabelas gerais dos dados (paacuteg153 167 174 e 176)

tambeacutem apresenta na coluna agrave esquerda dos informantes o sinal (leacutexico)

e na direita os trecircs grupos de diferentes geraccedilotildees com diferentes faixas

etaacuterias que variam de 25 a mais de 80 anos e totalizam nove (9) indiviacuteduos Na coluna sinal (leacutexico) apresentam-se os dados que foram

escolhidos para realizar a pesquisa nos Grupos I II e III as variaacuteveis

independentes (homem mulher idade escolaridade e profissatildeo) que

152

podem mostrar tambeacutem variaccedilatildeo e mudanccedila na liacutengua de sinais usada

pelos informantes

63 ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na Liacutengua Brasileira de Sinais

Nesta seccedilatildeo vatildeo ser observados os itens lexicais que estatildeo em

variaccedilatildeo nas trecircs geraccedilotildees Comparando os sinais eles podem ser

produzidos atraveacutes de um sinal ou mais por exemplo o sinal de ldquomatildeerdquo

no passado tinha apenas um sinal (simples) atualmente utilizam-se dois

sinais (composto) para esta representaccedilatildeo Isto mostra que acontece

variaccedilatildeo lexical em LIBRAS Outros exemplos de sinais em variaccedilatildeo

satildeo ldquoaposentarrdquo ldquoaviatildeordquo ldquomatildeerdquo ldquopairdquo ldquopoliacuteticardquo ldquopretordquo

ldquoreuniatildeordquo e ldquosemanardquo (Tabela geral dos dados a seguir)

Nos Grupos I e II nos sinais de banco feio meacutedico porque

padre e ter tambeacutem acontece variaccedilatildeo lexical pois tem mais de um

sinal que existe na liacutengua ao mesmo tempo Nos Grupos I e III o sinal de

nome aponta variaccedilatildeo lexical

Foi apresentada na discussatildeo sobre mudanccedila lexical de alguns

sinais na Liacutengua Brasileira de Sinais (MAtildeE e PAI) Agora seraacute mostrada

a variaccedilatildeo lexical encontrada nos sinais utilizados pelos informantes das

trecircs geraccedilotildees (Grupos I II e III)

Veja a tabela a seguir elaborada para descrever os resultados

obtidos dos informantes dos Grupos I II e III Os nuacutemeros que

aparecem na tabela correspondem agrave configuraccedilatildeo de matildeos (CM) num

total de 64 posiccedilotildees diferentes que as matildeos podem assumir (ver anexo

paacutegina 225)

153

Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na Liacutengua

Brasileira de Sinais

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

APOSENTAR CM ndash 01 02

07 11 57

CM ndash 01 02

11 57

CM ndash 01 11

AVIAtildeO CM ndash 53a CM ndash 36 37a

40

CM ndash 40

MAtildeE CM ndash 02 14

63

CM ndash 01 02

06 14 60 63

CM ndash 02 07

14

PAI CM ndash 01 11

14 16 38

CM ndash 01 02

11 16 38 45

CM ndash 02 11

16 38 45

POLIacuteTICA CM ndash 11 51a CM ndash 11 14 CM ndash 11

PRETO CM ndash 05 34

62

CM ndash 05 CM ndash 05

REUNIAtildeO CM ndash 14 CM ndash 14 15

25

CM ndash 25

SEMANA CM ndash 08a 10

64

CM ndash 10 CM ndash 10

Os quadros a seguir mostram a sequecircncia dos sinais lexicais

utilizados pelos informantes desta pesquisa na liacutengua de sinais nas trecircs

geraccedilotildees

Observe-se inicialmente o item lexical APOSENTAR

154

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Aposentar

(1)

Figura 31

CM ndash 01 11

(2)

Figura 32

CM ndash 02 57

(1)

Figura 34

CM ndash 01 11

(2)

Figura 35

CM ndash 02 57

Figura 36

CM ndash 01 11

155

(3)

Figura 33

CM ndash 07

Quadro 01 ndash Sinal de Aposentar

O sinal de aposentar apresentado no quadro 01 no Grupo I (mais

velhos) apareceu com trecircs sinais diferentes o que indica variaccedilatildeo

lexical O Grupo III (mais jovem) utiliza o sinal com a configuraccedilatildeo de

matildeos (CM) - 01 e 11 com o movimento no espaccedilo neutro

consecutivamente para frente Os Grupos I e II utilizaram a CM - 02 57

(palma da matildeo aberta se fechando agrave medida que o antebraccedilo puxa para

traacutes junto ao lado do corpo no espaccedilo neutro) O Grupo I apresentou o

sinal de aposentar com a CM ndash 07 ambas as matildeos saiacutedas do espaccedilo

neutro na frente do corpo indo ateacute o peito Esse sinal atualmente eacute

produzido para indicar folga descanso e acomodar O Grupo III natildeo

conhece o sinal de aposentar do Grupo I talvez por isso eles utilizam

com outro significado O Grupo I tem trecircs sinais diferentes para

ldquoaposentarrdquo como mostram as figuras 31 32 e 33 mas o significado eacute o

mesmo isso pode ser variaccedilatildeo lexical mas tudo indica que ocorre

tambeacutem mudanccedila lexical O Grupo I tem um uacutenico sinal diferente do

Grupo III Parece que atualmente o sinal tem outro significado

Inicialmente observe-se o item lexical AVIAtildeO

156

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Aviatildeo

Figura 37

CM ndash 53a

(1)

Figura 38

CM ndash 36

(2)

Figura 39

CM ndash 37a

(3)

Figura 40

CM ndash 40

Figura 41

CM ndash 40

Quadro 02 ndash Sinal de Aviatildeo

157

Sabe-se que o professor Francisco iniciou o ensino para alguns

surdos utilizando a soletraccedilatildeo no alfabeto digital em Portuguecircs

Observando os trecircs grupos foi possiacutevel identificar as

modificaccedilotildees graduais deste sinal que iniciou com a soletraccedilatildeo Depois

foi apresentada como em CM ndash 53a a matildeo parte do lado do corpo em

linha reta e ascendente imitando a decolagem do aviatildeo usada pelo

Grupo I (mais velhos) O Grupo II apresentou as configuraccedilotildees CM ndash

36 CM ndash 37a CM - 40 tambeacutem imitando a decolagem do aviatildeo No

Grupo III apareceu apenas o sinal com a CM ndash 40 ou seja continuou

igual ao utilizado pelo Grupo II

Veja a seguir o item lexical MAtildeE

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Matildee

(1)

Figura 42

CM ndash 02

(1)

Figura 45

CM ndash 02

(1)

Figura 48

CM ndash 02 07

158

(2)

Figura 43

CM ndash 14

(3)

Figura 44

CM ndash 63

(2)

Figura 46

CM ndash 14

(3)

Figura 47

CM ndash 63

(4)

(2)

Figura 49

CM ndash 14

Quadro 03 ndash Sinal de Matildee

No quadro 03 aparece na figura 43 46 e 49 nos Grupos I II e III

o sinal de matildee que tem variaccedilatildeo lexical ao mesmo tempo Entatildeo os

Grupos I e II tambeacutem mostram o mesmo sinal No Grupo III a figura 48

mostra o sinal de matildee (mulher^benccedilatildeo = matildee) o que acontece eacute um sinal

composto em variaccedilatildeo lexical Nas figuras 42 45 e 48 a configuraccedilatildeo de

matildeos acontece (igualmente) nos trecircs grupos As figuras 44 e 47 nos Grupos I e II mostram a palma da matildeo aberta para frente e o dorso da

matildeo colocado na boca para o sinal de matildee o que tambeacutem indica

variaccedilatildeo lexical

No quadro 03 tambeacutem mostra mudanccedila lexical O sinal de ldquoM-Atilde-

Erdquo aparece soletrado no alfabeto digital e outro com a configuraccedilatildeo de

159

matildeos (CM) em ldquoMrdquo (nuacutemero da CM ndash 01 06 60) com ponto de

articulaccedilatildeo (PA) na boca num movimento (M) de roccedilar a matildeo para

frente (reto) Atualmente o sinal de MAtildeE eacute realizado da seguinte forma

o sinal de mulher (matildeo fechada e polegar riscando o rosto de cima para

baixo) junto com a matildeo fechada sendo beijada no dorso (mulher^benccedilatildeo

= MAtildeE) representando um sinal composto

Comparando o sinal de MAtildeE apresentado pelos informantes dos

trecircs Grupos (I II e III) nota-se que ocorreu mudanccedila lexical a forma de

configuraccedilatildeo de matildeos (CM) modificou-se

Pode ser que a distinccedilatildeo entre variaccedilatildeo lexical e mudanccedila lexical

nem sempre estaacute clara mas pode ser estabelecida em alguns casos dos

sinais

O quadro a seguir mostra variaccedilatildeo e mudanccedila do item lexical

PAI

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Pai

(1)

Figura 50

CM ndash 11

(1)

Figura 53

CM ndash 16

(1)

Figura 55

CM ndash 11 38

160

(2)

Figura 51

CM ndash 14

(3)

Figura 52

CM ndash 16

(4)

(2)

Figura 54

CM ndash 02 45

(3)

(2)

Figura 56

CM ndash 16

(3)

Figura 57

CM ndash 02 45

Quadro 04 ndash Sinal de Pai

Nas figuras 52 53 e 56 dos Grupos I II e III na configuraccedilatildeo de

matildeos (CM) o dedo indicador curvado colocado como se fosse um

bigode movimenta-se para frente e para traacutes significando sinal de pai

Os Grupos II e III mostram o sinal composto (homem^benccedilatildeo = pai)

Nas figuras 54 e 57 tambeacutem temos variaccedilatildeo e mudanccedila lexical Na

figura 51 o dedo indicador reto eacute colocado como se fosse um bigode

fazendo movimento para a direita no Grupo I Nas figuras 50 e 55 nos

Grupos I e III mostra-se a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) - 11 tambeacutem

161

imitando um bigode fazendo movimento para a direita e no Grupo III

mostra-se o empreacutestimo linguiacutestico ldquoP-Irdquo (CM) -11 38 o sinal de pai

No quadro 04 tambeacutem aparece mudanccedila lexical O sinal de

famiacutelia que mostra a palavra ldquoP-A-Irdquo eacute apresentado na soletraccedilatildeo de

matildeos Haacute uma mudanccedila linguiacutestica porque inicia com o sinal ldquoPrdquo (CM ndash

11) passando sobre os laacutebios depois o sinal de bigode realizado de duas

formas diferentes (o dedo indicador em cima do laacutebio superior e o dedo

indicador flexionado tambeacutem em cima do laacutebio superior) e ainda o sinal

ldquoPrdquo saindo dos laacutebios indo para frente formando o sinal ldquoIrdquo (CM ndash 38)

e atualmente o sinal de homem (CM ndash 45) fechar a matildeo e beijar as

costas da mesma (CM ndash 02) Observam-se nesse caso cinco diferentes

sinais ilustrando as variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas Acredita-se que

o contado dos diferentes surdos em comunicaccedilatildeo com gestos familiares

proporcionou uma troca entre eles influenciando a comunidade surda e

a escola com uma classe de surdos onde os alunos tiveram contato com

a soletraccedilatildeo de palavras em Portuguecircs e nos respectivos sinais

O Grupo I apresentou trecircs sinais diferentes nas figuras 50 51 e 52

ldquopaisrdquo o que pode indicar variaccedilatildeo lexical O Grupo II mostra dois

sinais diferentes nas figuras 53 e 54 tem um sinal composto

homem^benccedilatildeo = pai que foi utilizado pelo Grupo III

Observe agora no quadro a seguir o item lexical POLIacuteTICA

162

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Poliacutetica

Figura 58

CM ndash 11 51a

(1)

Figura 59

CM ndash 11

(2)

Figura 60

CM ndash 14

Figura 61

CM ndash 1 1

Quadro 05 ndash Sinal de Poliacutetica

No quadro 05 o sinal de POLIacuteTICA se daacute atraveacutes da matildeo direita

na configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 11 colocada em movimento circular

(girando) no lado do rosto com a bochecha insuflada sinal apresentado

pelos Grupos II e III O Grupo I apresenta um sinal icocircnico porque eacute a

representaccedilatildeo da sede do congresso em Brasiacutelia O Grupo II mostra

tambeacutem outro sinal para poliacutetica com CM ndash 14 o dedo indicador das matildeos com as extremidades proacuteximas em frente do corpo em movimento

alternado para cima e para baixo localizado no espaccedilo neutro

No Grupo III na figura 61 com CM ndash 14 eacute o uacutenico sinal com

configuraccedilatildeo diferente e que o significado tambeacutem pode ser entendido

163

como discutir a poliacutetica aparecendo nesse caso com sentido

abrangente

Veja a seguir o item lexical PRETO

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Preto

(1)

Figura 62

CM ndash 34 62

(2)

Figura 63

CM ndash 05

Figura 64

CM ndash 05

Figura 65

CM ndash 05

Quadro 06 ndash Sinal de Preto

No quadro 06 aparece o sinal de PRETO com a matildeo direita com

CM ndash 05 palma para baixo simulando girar uma chave ao lado da

cabeccedila Um dos informantes do Grupo I utilizou o sinal de preto que

acredito teve influecircncia da liacutengua de sinais produzida no Rio de janeiro

Os Grupos II e III apresentaram o sinal regional utilizado na grande

Florianoacutepolis Os Grupos I II e III mostram o mesmo sinal para preto

164

nas figuras 63 64 e 65 mas tem um sinal diferente apresentado pelo

Grupo I nas figuras 62 e 63

O sinal produzido pelo Grupo I na figura 62 eacute utilizado ateacute hoje

no Rio de Janeiro e percebo que tambeacutem eacute utilizado por interpretes e

estudantes surdos da UFSC

Veja a seguir o item lexical REUNIAtildeO

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Reuniatildeo

Figura 66

CM ndash 14

(1)

Figura 67

CM ndash 25

(2)

Figura 68

CM ndash 14

Figura 70

CM ndash 25

165

(3)

Figura 69

CM ndash 15

Quadro 07 ndash Sinal de Reuniatildeo

No quadro 07 o sinal de REUNIAtildeO mostrado pelos Grupos II e

III com CM ndash 25 nas matildeos estaacute localizado no espaccedilo neutro com as

palmas das matildeos para frente as matildeos em movimento semicircular

fechando em ciacuterculo Os Grupos I e II mostram como em CM ndash 14

realizado da mesma forma que o descrito anteriormente sinal este que o

grupo jovem natildeo conhece O Grupo II apresenta um sinal de REUNIAtildeO

com as matildeos como em CM ndash 15 em espaccedilo neutro movendo-se

alternadamente para frente e para traacutes com a palma das matildeos proacuteximas

este grupo apresentou trecircs sinais diferentes enquanto os Grupos I e III

mostraram apenas um

No Grupo II na figura 69 o sinal eacute diferente e natildeo aparece no

Grupo I e no Grupo III mas o significado deste eacute REUNIAtildeO particular

com poucas pessoas Talvez por isso natildeo apareceu nos outros dois

grupos Nas figuras 68 e 69 os sinais apresentam variaccedilatildeo fonoloacutegica

porque mudou o traccedilo linguiacutestico o ponto de articulaccedilatildeo da sinalizaccedilatildeo

no espaccedilo neutro eacute o mesmo mas a CM e o movimento se alteram

Veja a seguir o item lexical SEMANA

166

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Semana

(1)

Figura 71

CM ndash 08a 64

(2)

Figura 72

CM ndash 10

Figura 73

CM ndash 10

Figura 74

CM ndash 10

Quadro 08 ndash Sinal de Semana

No quadro 08 aparece o sinal de SEMANA com a matildeo esquerda

aberta palma para fora (CM ndash 08a ldquoLrdquo) matildeo direita CM - 64 palma

para fora direcionando as duas matildeos para o lado direito O grupo de

informante III (terceira geraccedilatildeo) apresentou a variaccedilatildeo do sinal descrita

anteriormente mas o Grupo II apresentou o sinal a matildeo direita com

forma de configuraccedilatildeo CM - 10 direcionando a matildeo direita para o lado

direito ponto de articulaccedilatildeo no espaccedilo neutro O Grupo I (primeira

geraccedilatildeo) apresentou no queixo o sinal de semana como em CM ndash 10

Isso mostra a variaccedilatildeo do sinal apresentado pelos informantes nas trecircs

geraccedilotildees por faixa etaacuteria Os trecircs grupos sinalizam semana de forma

diferente nas figuras 71 72 e 74 Os Grupos I e II sinalizam semana nas

167

figuras 72 e 73 de forma igual O Grupo I eacute o uacutenico que realiza o sinal

no espaccedilo neutro e o Grupo III inicia o sinal no queixo e termina-o no

espaccedilo neutro

Uma das razotildees para variaccedilatildeo e mudanccedila lexical acontecer eacute por

influecircncia tecnoloacutegica que transforma a sociedade que cresce no

cotidiano por necessidade na liacutengua usada na conversa No caso da

pessoa surda em contato com a liacutengua de sinais ela acaba valorizando

mais a liacutengua de sinais que torna a cultura surda dinacircmica e proporciona

uma nova forma de comunicaccedilatildeo para o indiviacuteduo surdo Na

comunidade surda precisamos buscar o conhecimento cada vez maior

para aumentar o leacutexico da liacutengua em sinais

Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na Liacutengua

Brasileira de Sinais

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

BANCO CM ndash 53a 61 CM ndash 53a 61 CM ndash 53a

FEIO CM ndash 07 64 CM ndash 8a CM ndash 08a

MEacuteDICO CM ndash 16 44 CM ndash 16 44 CM ndash 16

NOME CM ndash 21 24 CM ndash 24 CM ndash 24

PORQUE CM ndash 14 15 CM ndash 14 15 CM ndash 14

O quadro a seguir apresenta a sequecircncia dos sinais lexicais que

sofreram mudanccedila na liacutengua de sinais dos informantes dos Grupos I II e

III nas trecircs geraccedilotildees Inicialmente seraacute descrito o item lexical BANCO

168

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Banco

(1)

Figura 75

CM ndash 53a

(2)

Figura 76

CM ndash 61

(1)

Figura 77

CM ndash 53a

(2)

Figura 78

CM ndash 61

Figura 79

CM ndash 53a

Quadro 09 ndash Sinal de Banco

No quadro 09 a CM ndash 61 corresponde agrave letra B no alfabeto

digital palma da matildeo voltada para a esquerda batendo suavemente em

cima do peito esquerdo Este sinal foi utilizado pelos Grupos II e I

sofrendo uma mudanccedila lexical pois modificou o ponto de articulaccedilatildeo e

a CM com o mesmo movimento Os informantes do Grupo III (jovens)

natildeo utilizam e talvez natildeo conheccedilam o sinal de BANCO utilizado pelos

Grupos II e I Podemos chamar de mudanccedila em tempo aparente

Nos Grupos I II e III apresentam variaccedilatildeo lexical os sinais das

figuras 75 77 e 79 pois se realizam da mesma forma Nos Grupos I e II

169

as figuras 76 e 78 apresentam um sinal que natildeo eacute mais utilizado

caracterizando uma mudanccedila lexical

Observe-se agora o sinal do item lexical FEIO

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Feio

Figura 80

CM ndash 07 64

64

Figura 81

CM ndash 08a

Figura 82

CM ndash 08a

Quadro 10 ndash Sinal de Feio

No quadro 10 a CM ndash 08a (L) usa palma da matildeo em frente da

boca o dedo indicador apontando para a esquerda em seguida abaixa-

se a matildeo ateacute a altura do peito O sinal utilizado pelo Grupo I mostra uma

mudanccedila lexical no sinal de FEIO o sinal de bonito (matildeo aberta com

palma da matildeo voltada para o rosto na frente fazendo um ciacuterculo e se

fechando) e mais o sinal de negaccedilatildeo matildeo fechada com polegar para

baixo Houve uma troca na configuraccedilatildeo de matildeos (CM) de ponto de

articulaccedilatildeo (PA) e movimento (M) do sinal pelos surdos do Grupo III

(mais jovens de 15 a 30 anos de idade) O Grupo I faz dois sinais

bonito^ruim = feio na figura 80 como se fosse o contraacuterio de bonito O

Grupo II faz o sinal de feio para pessoas enquanto o Grupo III sinaliza

com significado de feio para objetos

64 A imagem da CM segue a ordem da tabela com as configuraccedilotildees

170

Observe-se a seguir o item lexical MEacuteDICO

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Meacutedico

(1)

Figura 83

CM ndash 16

(2)

Figura 84

CM ndash 44

(1)

Figura 85

CM ndash 16

(2)

Figura 86

CM ndash 44

Figura 87

CM ndash 16

Quadro 11 ndash Sinal de Meacutedico

No quadro 11 o sinal de MEacuteDICO aparece diferenciado no Grupo

I (geraccedilatildeo G H e I) O sinal de MEacuteDICO eacute produzido com a

configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 44 com ponto de articulaccedilatildeo (PA) no

peito em cima do coraccedilatildeo movimentando-se semicircularmente ateacute o

lado direito Esse sinal mostra mudanccedila lexical pois o Grupo III

(jovens) inovou com relaccedilatildeo ao espaccedilo neutro65

o sinal eacute produzido

65 Espaccedilo Neutro ndash ldquono caso do uso de pontos arbitraacuterios o estabelecimento ocorre em um

local neutro do espaccedilo da sinalizaccedilatildeo e em geral satildeo distribuiacutedos no espaccedilo de forma a serem

171

com a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 16 em ambas as matildeos onde uma eacute

ativa e outra passiva e o dedo indicador direito bate na 2a falange do

dedo esquerdo

Podemos dizer que o sinal que aparece nos Grupos I e II e que

natildeo aparece no Grupo III eacute um sinal icocircnico Acredito que ainda eacute

utilizado apenas natildeo apareceu nas sinalizaccedilotildees do grupo dos mais

jovens que apresentam uma fluecircncia maior na LIBRAS

Veja a seguir a configuraccedilatildeo do item lexical NOME

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Nome

(1)

Figura 88

CM ndash 21

(2)

Figura 89

CM ndash 24

Figura 90

CM ndash 24

Figura 91

CM ndash 24

Quadro 12 ndash Sinal de Nome

amplamente diferenciados Os pontos podem estar acima ou abaixo do espaccedilo neutro se esses apresentarem uma imagem apropriada (por ex um aviatildeo seraacute apontado acima do espaccedilo

neutro)rdquo QUADROS et al (2008 p 07)

172

No quadro 12 mostra o sinal de NOME com a configuraccedilatildeo de

matildeos (CM) ndash 24 (matildeo direita em ldquoUrdquo no Alfabeto Digital) palma da

matildeo para frente dedos apontados para cima na altura do peito movem-

se os dedos do lado esquerdo para o lado direito Na leitura dos

resultados encontrados apareceu uma mudanccedila lexical na liacutengua de

sinais o Grupo I utiliza a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 21 24 na (CM)

ndash 21 representa o nome do crachaacute (sinal icocircnico) Acontece mudanccedila

lexical pois as configuraccedilotildees de matildeos (CM) os pontos de articulaccedilotildees

(PA) os movimentos (M) e a orientaccedilatildeo satildeo diferentes (OP) Aqui

temos tambeacutem mudanccedila fonoloacutegica as configuraccedilotildees de matildeos satildeo

diferentes

O quadro a seguir mostra a configuraccedilatildeo do item lexical

PORQUE

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Porque

(1)

Figura 92

CM ndash 14

(1)

Figura 94

CM ndash 14

Figura 96

CM ndash 14

173

(2)

Figura 93

CM ndash 15

(2)

Figura 95

CM ndash 15

Quadro 13 ndash Sinal de Porque

No quadro 13 o sinal de PORQUE no Grupo I e II aparece com

CM ndash 15 (dedo indicador flexionado saindo da tecircmpora em diagonal) e

nos trecircs grupos aparece o sinal com a CM ndash 14 dedo indicador direito e

esquerdo em diagonal bater o indicador direito sobre o esquerdo vaacuterias

vezes no espaccedilo neutro O sinal com a CM ndash 14 aparece na sinalizaccedilatildeo

dos informantes das trecircs geraccedilotildees permanecendo ateacute a atualidade

O sinal que os Grupos I e II fizeram nas figuras 93 e 95 natildeo eacute

mais realizado pelo grupo dos mais jovens que tambeacutem natildeo conhece o

significado

64 ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua Brasileira de Sinais

A variaccedilatildeo e a mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua Brasileira de

Sinais satildeo observadas na semelhanccedila entre somfala ou sinais foneacutetico-

fonoloacutegicos Na Liacutengua Brasileira de Sinais encontram-se modificaccedilotildees

de pronuacutencia de certos itens lexicais atestando variaccedilatildeo e mudanccedila

fonoloacutegica Essa variaccedilatildeo depende da unidade lexical e pode decorrer de

diferentes paracircmetros a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) movimento (M)

ponto de articulaccedilatildeo (PA) e orientaccedilatildeo das matildeos Nesses casos a

configuraccedilatildeo de matildeos pode modificar mas o significado dos sinais

permanece o mesmo mostrando variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica As

autoras Quadros e Karnopp (2004 p47) definem a fonologia das

liacutenguas de sinais da seguinte forma

Fonologia das liacutenguas de sinais eacute o ramo da linguumliacutestica

que objetiva identificar a estrutura e a organizaccedilatildeo dos

constituintes fonoloacutegicos propondo modelos descritivos

e explanatoacuterios A primeira tarefa da fonologia para

174

liacutengua de sinais eacute determinar quais satildeo as unidades

miacutenimas que formam os sinais A segunda tarefa eacute

estabelecer quais satildeo os padrotildees possiacuteveis de

combinaccedilatildeo entre essas unidades e as variaccedilotildees possiacuteveis

no ambiente fonoloacutegico

Haacute pouca pesquisa cientiacutefica sobre variaccedilatildeo e mudanccedila

fonoloacutegica na LIBRAS no Brasil Pode-se verificar atraveacutes dos dados

dos informantes apresentados a cada pronuacutencia dos sinais diferentes de

uso a unidade miacutenima lexical pode se modificar (configuraccedilatildeo de matildeos

movimento e ponto de articulaccedilatildeo) No quadro 07 apresenta-se o sinal

de semana mostrando mudanccedila no ponto de articulaccedilatildeo e variaccedilatildeo e

mudanccedila fonoloacutegica nos Grupos I II e III

Veja a Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica

na Liacutengua Brasileira de Sinais com os resultados que foram escolhidos

nesta pesquisa para realizar a descriccedilatildeo e a anaacutelise

Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua

Brasileira de Sinais

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

ANTES CM ndash 08a 53a

63

CM ndash 08a CM ndash 08a

Veja agora os sinais para o item lexical ANTES

175

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Antes

(1)

Figura 97

CM ndash 53a 63

(2)

Figura 98

CM ndash 08a

Figura 99

CM ndash 08a

Figura 100

CM ndash 08a

Quadro 14 ndash Sinal de Antes

No quadro 14 aparece o sinal de ANTES com a seguinte

configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 08a a matildeo direita em L horizontal

(alfabeto digital) palma para baixo na frente do corpo no espaccedilo neutro

levantar o antebraccedilo da matildeo direita para cima Outro sinal aparece com

a (CM) ndash 53a e 63 inicia com a CM 63 e finaliza com a CM 53a com o

mesmo movimento do antebraccedilo descrito anteriormente Ambos os

informantes utilizam a expressatildeo facial necessaacuteria para a compreensatildeo

do sinal As trecircs geraccedilotildees apresentaram variaccedilatildeo fonoloacutegica o sinal eacute

produzido com diferentes configuraccedilotildees de matildeos mas os paracircmetros

movimento (M) e ponto de articulaccedilatildeo (PA) satildeo os mesmos

176

Nos Grupos I II e III apresentam os mesmos sinais com a mesma

CM ndash 08a mas temos com essa mesma CM o mesmo significado soacute

que com ponto de articulaccedilatildeo diferente acontecendo na palma da matildeo e

no dorso da matildeo e que tambeacutem pode ter significado de ldquoQue horasrdquo ou

pode estar atrasado para trabalhar ou ainda precisa agendar uma reuniatildeo

antes

Os dados coletados tambeacutem mostram mudanccedila e variaccedilatildeo

fonoloacutegica na liacutengua brasileira de sinais Sinais foram modificados com

o passar dos anos Observando os informantes percebe-se que os

paracircmetros mudaram da geraccedilatildeo mais antiga (Grupo I) em relaccedilatildeo agrave

geraccedilatildeo atual (Grupo III)

Observe na tabela a seguir os dados que foram escolhidos para

realizar a descriccedilatildeo e a anaacutelise dos resultados Ela apresenta a sequecircncia

das mudanccedilas e variaccedilotildees dos sinais lexicais na LIBRAS usados pelos

informantes nas trecircs geraccedilotildees

Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua

Brasileira de Sinais

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

CORTAR CM ndash 14 24

63

CM ndash 14 24 CM ndash 24

PADRE CM ndash 21 24

62

CM ndash 11 21

24

CM ndash 24

TER CM ndash 08a 63 CM ndash 08a 63 CM ndash 08a

Acompanhe agora a descriccedilatildeo do item lexical CORTAR

177

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Cortar

(1)

Figura 101

CM ndash 63

(2)

Figura 102

CM ndash 14 24

(3)

Figura 103

CM ndash 14

(1)

Figura 104

CM ndash 14

(2)

Figura 105

CM ndash 24

Figura 106

CM ndash 24

Quadro 15 ndash Sinal de Cortar

178

No quadro 15 observa-se que o Grupo I apresentou a

configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 63 (U) raspando o dedo meacutedio da matildeo

direita no dedo indicador da matildeo esquerda simulando cortar algo

Depois a CM ndash 14 junto com a CM 24 mostraram um movimento

simulando o corte com uma faca e tambeacutem a CM ndash 14 em ambas as

matildeos simulando o movimento de cortar O Grupo II apresentou a CM ndash

14 (igual a do Grupo I) e a CM ndash 24 simulando o movimento de cortar

O Grupo III (jovem) utilizou apenas a CM ndash 24

Exemplos das figuras apresentadas no quadro 15 mostrando

sinais de CORTAR66

em diferentes contextos satildeo apresentados a seguir

a) Em LIBRAS Grupo I - EU ANTES ESTUDAR LAacute INES

DEPOIS CORTAR MARCENEIRO (Figura 101)

Em Portuguecircs Grupo I ndash Eu era crianccedila estudava no INES

fomos cortar madeira com supervisatildeo de um marceneiro (Figura 101)

b) Em LIBRAS Grupo I - SURDOS LAacute INES CORTAR

PAPELAtildeO (Figura 102)

Em Portuguecircs Grupo I ndash Os alunos surdos do INES foram

cortar papelatildeo (Figura 102)

c) Em LIBRAS Grupo I - EU AIacute (FOGO) FOGO COMER

CARNE CORTAR UM (CADA) IRMAtildeO SENTAR COMER TODOS

COMER ARROZ BATATA AIPIM TODOS (Figura 103)

Em Portuguecircs Grupo I ndash Eu fiquei assustada com o fogo Eu e

meus irmatildeos sentados juntos a mesa cortei a carne e dei um pedaccedilo para

cada irmatildeo Todos comeram arroz batata e aipim aleacutem da carne

(Figura 103)

d) Em LIBRAS Grupo II ndash ANTES ERA PEQUENO

BRINCAR LAacute ESCOLA BALANCcedilO CORRENTE CORTAR DEDO

DOR (Figura 104)

Em Portuguecircs Grupo II ndash Quando era crianccedila fomos brincar no

parque da escola cortei o dedo na corrente (Figura 104)

e) Em LIBRAS Grupo II - FESTA CSMSC SURDOS CORTAR

CARNE BOLO TODOS SURDOS (Figura 105)

Em Portuguecircs Grupo II ndash Teve uma festa do Ciacuterculo de Surdos-

Mudos de Santa Catarina (CSMSC) para comemoraccedilatildeo dos surdos Foi

cortada a carne e o bolo para os surdos que foram a associaccedilatildeo (Figura

105)

66 Nesses casos noacutes temos sinais diferentes para o mesmo significado de ldquocortarrdquo que satildeo as imagens do quadro 15

179

f) Em LIBRAS Grupo III ndash EU LAacute CASA AMIGO SURDO

ALMOCcedilAR COMER PEDIR CORTAR CARNE CONVERSAR

AMIGO (Figura 106)

Em Portuguecircs Grupo III - Eu fui agrave casa do meu amigo surdo

almoccedilar pedi a ele para cortar a carne e tambeacutem conversei com os

amigos surdos (Figura 106)

O Grupo I eacute o uacutenico que utiliza para o sinal de cortar CM ndash 63 um

sinal diferente dos outros grupos mas com o mesmo significado Parece

que o Grupo I foi evoluindo o sinal comeccedilou com CM diferente em

cada matildeo e por fim uma mesma CM para ambas as matildeos O Grupo II

utilizou duas CM diferentes como o Grupo I mas realizava o sinal de

duas formas diferentes CM ndash 14 ou 24 mas a mesma CM para ambas as

matildeos O Grupo III realiza o sinal somente com a CM ndash 24 em ambas as

matildeos Como se observa parece que ocorreu mudanccedila fonoloacutegica nos

trecircs grupos pesquisados

Veja na sequecircncia a mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua brasileira de

sinais

A tabela a seguir traz os sinais do item lexical PADRE

180

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Padre

(1)

Figura 107

CM ndash 62

(2)

Figura 108

CM ndash 24

(1)

Figura 110

CM ndash 11

(2)

Figura 111

CM ndash 24

Figura 113

CM - 24

181

(3)

Figura 109

CM ndash 21

(3)

Figura 112

CM ndash 21

Quadro 16 ndash Sinal de Padre

Nos trecircs grupos apareceu o sinal com CM ndash 24 matildeo na frente do

peito no espaccedilo neutro desenhando uma cruz com a matildeo (Representaccedilatildeo

icocircnica) Os Grupos I e II apresentaram o mesmo sinal CM ndash 21

produzido na base do pescoccedilo iniciando do lado esquerdo indo ateacute o

lado direito como se estivesse desenhando a gola da batina (Icocircnico) O

Grupo I apresentou um sinal diferente com CM ndash 62 matildeo na frente do

peito no espaccedilo neutro desenhando uma cruz com a matildeo O Grupo II

tambeacutem mostra um sinal uacutenico com CM ndash 11 matildeo na frente do peito no

espaccedilo neutro desenhando uma cruz com a matildeo A configuraccedilatildeo de

matildeos (CM) foi sendo alterada no espaccedilo neutro Os informantes do

Grupo I II e III (nas trecircs geraccedilotildees) apresentaram sinais que podem ser

considerados como variaccedilatildeo ou mudanccedila fonoloacutegica

Na figura 107 o sinal parece ser igual ao que um padre faz na

missa ao despedir-se dos fieacuteis e na figura 110 parece que a CM ndash 11 (P)

recebe influecircncia do oralismo Um uacutenico sinal aparece nos trecircs grupos

satildeo das figuras 108 111 e 113 sendo o uacutenico utilizado pelo Grupo III

(jovens)

Veja na sequecircncia a mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua brasileira de

sinais

Agora observe o sinal variaacutevel do item lexical TER

182

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Ter

(1)

Figura 114

CM ndash 63

(2)

Figura 115

CM ndash 08a

(1)

Figura 116

CM ndash 63

(2)

Figura 117

CM ndash 08a

Figura 118

CM ndash 08a

Quadro 17 ndash Sinal de Ter

No quadro 17 aparecem os dados apresentados pelo Grupo I dos

trecircs informantes G H e I

Em conversa natildeo filmada com o informante G ele deu a seguinte

explicaccedilatildeo para a variaccedilatildeo do item ldquoTERrdquo antigamente o professor

Francisco Lima Juacutenior usava o sinal ldquoTERrdquo fazendo a soletraccedilatildeo do

sinal depois utilizou a configuraccedilatildeo de matildeo com todos os dedos

fechados (CM ndash 63) colocados no peito em seguida outra oposiccedilatildeo

seria a matildeo e os dedos abertos tambeacutem colocados no peito (CM ndash 64)

183

Atualmente o sinal ldquoTERrdquo eacute realizado como CM - 08a tambeacutem

colocado no peito Observa-se uma mudanccedila fonoloacutegica com alteraccedilatildeo

na liacutengua de sinais ao longo de algumas deacutecadas O dedo em ldquoLrdquo (08a) eacute

batido no meio do peito com a ponta do polegar

Os Grupos I e II mostram os sinais de ter nas figuras 114 e 116

com mesma CM ndash 63 Nas figuras 115 117 e 118 os sinais satildeo

realizados com a mesma CM ndash 08a O Grupo III permanece apenas com

um sinal

Veja na sequecircncia a mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua brasileira de

sinais

Na eacutepoca em que o professor Francisco foi professor era outro

tempo na comunicaccedilatildeo em liacutengua de sinais diferentemente de hoje tal

como se observa na comunicaccedilatildeo entre as pessoas mais jovens com

contato cultural maior O professor Francisco aprendeu no RJ a escrever

com o alfabeto digital (soletraccedilatildeo) e assim ele comeccedilou a ensinar Aleacutem

de ensinar o contato do aluno surdo com a comunidade de surdos fez

com que houvesse uma troca o Sr Francisco ensinou a soletraccedilatildeo no

alfabeto digital (alfabetizaccedilatildeo em Liacutengua Portuguesa) e aprendeu sinais

familiares dos diversos surdos com quem teve contato Todos

aprenderam e isso influenciou para que ocorresse mudanccedila fonoloacutegica

Pesquisando a LIBRAS nos Grupos I II e III confirmamos portanto

algumas mudanccedilas fonoloacutegicas

65 ndash O que dizem os resultados das trecircs geraccedilotildees dos informantes

na Liacutengua Brasileira de Sinais

A comunidade surda principalmente na associaccedilatildeo de surdo de

Santa Catarina abriu espaccedilo para o encontro de surdos proporcionando

a troca de informaccedilotildees e experiecircncias na liacutengua de sinais (visuais)

promovendo eventos na aacuterea esportiva cultural poliacutetica e na educaccedilatildeo

de surdo Todos esses espaccedilos sociais devem ter contribuiacutedo para o que

esta pesquisa jaacute aponta variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica em LIBRAS

Os resultados de certos itens lexicais usados pelos grupos de

indiviacuteduos investigados apontam que os Grupos I e II se distinguem do

184

Grupo III

Os resultados mostram que com passar do tempo os sinais entre

os grupos se modificam apresentando indiacutecios de mudanccedila em tempo

aparente na liacutengua de sinais nas trecircs geraccedilotildees O grupo dos mais jovens

de 15 a 30 anos (Grupo III) diferentemente dos outros dois grupos

(Grupo I e Grupo II) apresenta um sinal para cada palavra Acreditamos

que antes havia mais sinais porque eram familiares ou caseiros os quais

foram substituiacutedos eou modificados com o contato social maior que a

comunidade surda tem nos dias atuais Acreditamos que outros sinais

estatildeo sendo criados com o passar do tempo o que pode ser fruto de um

maior contato social entre os surdos jovens

Os resultados apontam que os trecircs grupos investigados (Grupos I

II e III) usaram vaacuterios sinais idecircnticos para algumas palavras os Grupos

I e II usaram outros e os Grupos II e III usaram palavras idecircnticas em

menor nuacutemero Entretanto os Grupos I e III (dos mais velhos e dos mais

jovens) natildeo usaram nenhuma palavra comum que se distinguisse do

Grupo II Os resultados apontam portanto que na LIBRAS haacute variaccedilatildeo

lexical e fonoloacutegica

Como eacute possiacutevel perceber a partir dos resultados apresentados o

contato entre as pessoas surdas transforma a liacutengua de sinais que jaacute

apresenta indiacutecios de variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica entre diferentes

geraccedilotildees como acontece em qualquer liacutengua natural

Nota-se nas narrativas contadas que os surdos tecircm consciecircncia de

seu papel nas trecircs geraccedilotildees de informantes e reconhecem a influecircncia

exercida pelo contato com outros surdos e com os surdos mais velhos

Certamente o Grupo III seraacute disseminador de conhecimento

aumentando cada vez mais o interesse de outros surdos pela liacutengua de

sinais e com a expansatildeo de seu uso naturalmente outras mudanccedilas vatildeo

acontecer transformando mais uma vez a liacutengua de sinais Aleacutem disso

pode-se identificar nas narrativas de todos os sujeitos a total

consciecircncia das pessoas envolvidas no processo de ampliaccedilatildeo do espaccedilo

de conforto do surdo Eacute mais uma parte da histoacuteria surda que se registra

tendo como personagem principalmente a pesquisa sobre a variaccedilatildeo e a

mudanccedila linguiacutestica na liacutengua de sinais em Santa Catarina

Eacute importante registrar o momento de pouco acesso dos surdos agrave

pesquisa a respeito da liacutengua brasileira de sinais seja no domiacutenio

puacuteblico ou privado Assim julga-se necessaacuterio o desenvolvimento de

mais estudos e de um contato mais intenso de sujeitos surdos com as

reflexotildees e conhecimentos que satildeo produzidos sobre essa liacutengua

refletindo o que dizem os informantes surdos nas trecircs geraccedilotildees da liacutengua

de sinais Sabe-se que em parte isso ocorre porque eacute uma liacutengua

185

oficializada recentemente

Os estudos tecircm apontado atraveacutes de recentes pesquisas que a

liacutengua de sinais eacute a forma mais adequada de comunicaccedilatildeo para a

educaccedilatildeo do surdo tendo em vista que como as outras liacutenguas

humanas a liacutengua de sinais eacute uma liacutengua natural podendo servir de base

para o ensino da liacutengua escrita

Finalmente espero que os resultados desta pesquisa possam

motivar-me e motivar outras pessoas a aprofundar o tema aqui

pesquisado

186

187

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Concluiacutemos que eacute importante pesquisar sobre a histoacuteria na liacutengua

de sinais em Santa Catarina em encontros sociais ou nas associaccedilotildees de

surdo Aleacutem de aprender a liacutengua de sinais os surdos que fazem parte

dessas associaccedilotildees acabam criando uma identidade surda trocam

experiecircncias evoluindo na proacutepria liacutengua criando e valorizando o seu

espaccedilo linguiacutesticocultural

Na liacutengua de sinais aqui no Brasil acontece a mesma coisa que

se observa no portuguecircs quanto agraves regras da liacutengua que satildeo oficiais

para todo o Brasil mas vaacuterios sinais satildeo diferentes para expressar a

mesma coisa Podemos utilizar no sul do Brasil um sinal e outro

sinal totalmente diferente na regiatildeo sudeste com o mesmo

significado

Surdos se encontram em associaccedilotildees ou outros espaccedilos

culturais para poder conversar trocar experiecircncia e aprender sua

liacutengua mas com o ouvinte acontece diferente eles natildeo precisam de

um local para esses encontros isso acontece em seu dia-a-dia todos

se falam O surdo necessita marcar encontros com outros surdos

para que aconteccedila a comunicaccedilatildeo pois poucos ouvintes sabem se

comunicar em LIBRAS Eles vatildeo para a associaccedilatildeo de surdos

aprender LIBRAS e com o passar do tempo podem se tornar

biliacutengues

Haacute falta de pesquisa em variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica das

liacutenguas de sinais e sobre o desenvolvimento e o domiacutenio desta liacutengua

Nada foi registrado nas uacuteltimas deacutecadas e parece que muitos dados sobre

os sujeitos surdos e sua histoacuteria da liacutengua de sinais foram prejudicados e

perdidos

Na UFSC por exemplo temos no curso de LETRASLIBRAS

a distacircncia que eacute pioneiro uma vitoacuteria do surdo acessando a

primeira Universidade Brasileira que estuda a liacutengua de sinais e que

oferece oportunidade de acesso ao estudo e aprofundamento

linguiacutestico da LIBRAS aleacutem das trocas de sinais em diferentes

regiotildees do paiacutes

Temos um grupo de surdos responsaacuteveis por criar sinais novos

de acordo com as necessidades encontradas pelas comunidades

surdas para diminuir a influecircncia da Liacutengua Portuguesa na

LIBRAS e possibilitar outros contatos fora do Brasil trazendo

relatos de experiecircncias de comunidades surdas de outros paiacuteses bem

como apresentaccedilotildees de pesquisas mais avanccediladas nas liacutenguas de

sinais

188

Eacute importante reforccedilar que a LIBRAS eacute uma liacutengua natural pois

possui estrutura gramatical eacute utilizada por um grande grupo social com

funccedilatildeo ativa e provedora de opiniatildeo Este tipo de liacutengua soacute se diferencia

das liacutenguas orais pela forma de se comunicar pois esta utiliza a accedilatildeo

gestual o que difere das demais liacutenguas que utilizam a accedilatildeo oral na

comunicaccedilatildeo

As pessoas falam que na ilha de Santa Catarina o dialeto falado eacute

o manezinho que vem sofrendo modificaccedilotildees com o passar dos anos

devido ao turismo que eacute forte na temporada de veratildeo O professor

Francisco e a comunidade surda na deacutecada de 1950 usavam o sinal de

dactilologia no mesmo sentido da liacutengua nativa mas com dialeto

proacuteprio Depois outros surdos vieram para Santa Catarina e sinalizaram

diferentemente Isso mostra que nas duas liacutenguas ndash LIBRAS e Portuguecircs

ndash haacute variaccedilatildeo dialetal

Observando os trecircs grupos de surdos investigados nesta tese

podemos dizer que o Grupo I mostra o primeiro contato com a liacutengua de

sinais desenvolvida com pouco conhecimento linguiacutestico porque

adquirir a liacutengua de sinais em contexto social na eacutepoca era difiacutecil Mas

este Grupo I foi buscando surdos que participavam de associaccedilotildees que

estudavam na garagem da casa do professor Francisco e na Escola Celso

Ramos onde tinha o grupo de surdos aprendendo a liacutengua de sinais que

se modificava O Grupo III demonstrou mais qualidade na sinalizaccedilatildeo

da liacutengua de sinais e maior fluecircncia mas natildeo conhece alguns dos sinais

(antigos) realizados pelos Grupos I e II O contexto social dos Grupos

nas trecircs geraccedilotildees eacute bem diferente e a liacutengua de sinais do Grupo III (mais

jovens) apresentou menor nuacutemero de sinais que os demais grupos

Acreditamos que antes havia mais sinais porque eram familiares

Os resultados do trabalho mostraram que algumas variaccedilotildees e

mudanccedilas linguiacutesticas (variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na liacutengua de sinais e

variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua de sinais) aconteceram nos trecircs

grupos quando um mesmo sinal eacute produzido pelos diferentes grupos de

maneira diferente Alguns sinais que antigamente eram produzidos no

corpo agora acontecem no espaccedilo neutro na liacutengua de sinais Os grupos

mostraram sinais que antes eram produzidos com uma matildeo e agora satildeo

produzidos com ambas as matildeos ao mesmo tempo O Grupo I utilizava

sinalizaccedilatildeo manual sinais familiares (caseiros) ou aqueles aprendidos e

trazidos pelo professor Francisco do INES o que talvez explique o fato

de que este grupo tinha um nuacutemero maior de sinais para uma mesma

palavra

Concluiacutemos que os trecircs grupos de nove informantes nas

diferentes geraccedilotildees apresentaram sinais compartilhados e outros que se

189

transformaram com o tempo na liacutengua de sinais Cada grupo pertence a

um contexto social diferente A liacutengua de sinais transforma e desenvolve

o conhecimento caseiro bem como a troca de informaccedilotildees a

participaccedilatildeo na associaccedilatildeo de surdos e na busca de mais contato com

outros surdos Na escola o surdo conseguia aprender mais quando o

professor surdo (Francisco) ensinava na liacutengua de sinais e tambeacutem

quando proporcionava aos seus alunos um contato social que antes natildeo

existia

190

191

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University Press 1996

198

199

ANEXOS

Anaacutelise Comparativa dos Dados Variaccedilatildeo e Mudanccedila Linguiacutestica

Sinais

(Leacutexico)

Forma do

Sinal

(Configuraccedilatildeo

de Matildeos)

Identificaccedilatildeo

de Classe

Faixa

Etaacuteria

(Grupo)

Geraccedilatildeo

Ajudar1

CM ndash 63

Informante

H D E F A

C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Ajudar2

CM ndash 02 63

Informante

D E B

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Ajudar3

CM ndash 01 63

Informante

H I F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Ajudar4

CM ndash 14 63

Informante

I E F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Aluno1

CM ndash 01

Informante

G I A B C

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Aluno2

CM ndash 63

Informante

G H I D B

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Amanhatilde1 CM ndash 14 Informante 60 a 80 I

200

H Anos

Amanhatilde2 CM ndash 63 Informante

E

30 a 60

Anos

II

Amanhatilde3

CM ndash 35a

Informante

I A B

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Antes1 CM ndash 53a Informante

I

60 a 80

Anos

I

Antes2 CM ndash 63 Informante

I

60 a 80

Anos

I

Antes3

CM ndash 08a 63

Informante

G E F B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Aposentar1

CM ndash 02 57

Informante

G I F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Aposentar2

CM ndash 01 11

Informante

G I F C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Aposentar3 CM ndash 07 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Associaccedilatildeo1

CM ndash 01

(2 matildeos)

Informante

G I F D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Associaccedilatildeo2

CM ndash 01

(1 matildeo)

Informante

I D E F A

B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

60 a 80

201

Aula1 CM ndash 63 Informante

G H I E D

A C

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Aviatildeo1 CM ndash 53a Informante

G

60 a 80

Anos

I

Aviatildeo2 CM ndash 36 37a Informante

E F

30 a 60

Anos

II

Aviatildeo3

CM ndash 40

Informante

D E F A B

C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Avocirc1 CM ndash 30 31 Informante

G I

60 a 80

Anos

I

Avocirc2 CM ndash 02 57 Informante

H I

60 a 80

Anos

I

Avocirc3

CM ndash 02

Informante

H I D E F

A

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Azul1 CM ndash 01 Informante

G I

60 a 80

Anos

I

A-z-u-l2 CM ndash 01 08a

14 24

Informante

G I

60 a 80

Anos

I

Azul3

CM ndash 01 08a

Informante

D E F A B

C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Bairro CM ndash 14 63 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Banco1

CM ndash 61

Informante

G H I F

60 a 80 Anos

30 a 60

Anos

I II

Banco2

CM ndash 53a

Informante

60 a 80

Anos

I II III

202

G I F C 30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

Batata1 CM ndash 62 Informante

H

60 a 80

Anos

I

Batata2 CM ndash 63 Informante

H

60 a 80

Anos

I

Branco1

CM ndash 63

Informante

H I B

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Branco2 CM ndash 35a Informante

G

60 a 80

Anos

I

Cafeacute

CM ndash 49

Informante

G F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Calma1

CM ndash 63

(2 matildeos)

Informante

G H I D E

F C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Calma2

CM ndash 63

(1 matildeo)

Informante

H I E B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Cama1 CM ndash 37a Informante

G

60 a 80

Anos

I

Cama2 CM ndash 63 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Cavalo1 CM ndash 02 Informante

H

60 a 80

Anos

I

Cavalo2 CM ndash 27 Informante

H I

60 a 80

Anos

I

Chorar1 CM ndash 14 Informante

D

30 a 60

Anos

II

203

Chorar2 CM ndash 18a Informante

H I

60 a 80

Anos

I

Crianccedila1

CM ndash 63

(pequeno)

Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Crianccedila2 CM ndash 64 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Crianccedila3

CM ndash 14 63

Informante

D E A C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Crianccedila4 CM ndash 57 63 Informante

E

30 a 60

Anos

II

Cobra1 CM ndash 14 Informante

H

60 a 80

Anos

I

Cobra2

CM ndash 31

Informante

E F A B

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Conversar1

CM ndash 14

Informante

G H F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Conversar2 CM ndash 63

(2 matildeos)

Informante

G H I D E

F A

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Conversar3 CM ndash 28 Informante

D

30 a 60

Anos

II

Conversar4 CM ndash 44 Informante

D E F

30 a 60

Anos

II

Conversar5 CM ndash 21 Informante

H

60 a 80

Anos

I

Cortar1 CM ndash 14 Informante

H

60 a 80

Anos

I

204

Cortar2 CM ndash 63 Informante

H

60 a 80

Anos

I

Cortar3

CM ndash 14 24

Informante

E B

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Cultura CM - 31 Informante

A B C

15 a 30

Anos

III

Dormir1

CM ndash 63

(1 matildeos e 2

matildeos)

Informante

G H I F C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Dormir2 CM ndash 02 47 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Dormir3

CM ndash 21 24

32

Informante

G D F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Depois1 CM ndash 53a

(2 matildeos)

Informante

H I A B C

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Depois2

CM ndash 14

Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Depois3

CM ndash 53a

(1 matildeo)

Informante

G D E F A

B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Educaccedilatildeo1 CM ndash 46a Informante

H

60 a 80

Anos

I

Educaccedilatildeo2 CM ndash 45 57 Informante

G

60 a 80

Anos

I

205

Escola1

CM ndash 63

Informante

G H I D E

F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Escola2

CM ndash 63

(duas matildeos)

Informante

D E A B C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Estudar

CM ndash 63

Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Emagrecer1 CM ndash 39 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Emagrecer2 CM ndash 47 ou 57 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Engordar1 CM ndash 02 Informante

G H

60 a 80

Anos

I

Engordar2 CM ndash 47 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Engravidar1 CM ndash 14 Informante

E

30 a 60

Anos

II

Engravidar2 CM ndash 53a Informante

H

60 a 80

Anos

I

Faacutecil1 CM ndash 63 Informante

E

30 a 60

Anos

II

Faacutecil2 CM ndash 48 Informante

I

60 a 80

Anos

I

Faacutecil3 CM ndash 35a Informante

C

15 a 30

Anos

III

Faculdade1

CM ndash 54

Informante

F A C

30 a 60

Anos

15 a 30 Anos

II III

Faculdade2 CM ndash 21 Informante

I

60 a 80

Anos

I

Faculdade3 CM ndash 55 Informante

A B

15 a 30

Anos

III

206

Falar1

CM ndash 14

Informante

G H D E F

C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Falar2

CM ndash 49

Informante

H D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Falar3

CM ndash 11

(E 1 matildeo e 2

matildeos)

Informante

G H I D E

A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Falar4 CM ndash 21 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Falar5 CM ndash 44 Informante

E

30 a 60

Anos

II

Feio1

CM ndash 08a

Informante

F B

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Feio2

CM ndash 08a

Informante

D E A

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Feio3 CM ndash 07 64 Informante

G H I

60 a 80

Anos

I

Flor1 CM ndash 57 Informante

D

30 a 60

Anos

II

Flor2 CM ndash 54 Informante

I

60 a 80

Anos

I

Forte1 CM ndash 14 Informante

F

30 a 60

Anos

II

Forte2

CM ndash 02

(2 matildeos)

Informante

G H I D C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II III

207

15 a 30

Anos

Forte3 CM ndash 32

(1 matildeo)

Informante

I

60 a 80

Anos

I

Gato1

CM ndash 08b 20

Informante

G H C

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Gato2 CM ndash 59a Informante

I

60 a 80

Anos

I

Gato3 CM ndash 20 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Gostar1 CM ndash 44 Informante

E

30 a 60

Anos

II

Gostar2 CM ndash 63 Informante

E F

30 a 60

Anos

II

Homem1

CM ndash 50

Informante

G H I D F

A B

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Homem2

CM ndash 21

Informante

H I D F C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Hospital1

CM ndash 14

(1 matildeo e 2

matildeos) cruz

Informante

H I C

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Hospiatl2

CM ndash 16

Informante

D E F B C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Igreja1 CM ndash 14

(cruz)

Informante

F

30 a 60

Anos

II

Igreja2

CM ndash 14 15

Informante

60 a 80

Anos

I II III

208

H I D E F

A B C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

Igual1

CM ndash 14

Informante

G H I D E

F B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Igual2

CM ndash 14 ( )

Informante

H B

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Igual3

CM ndash 14

(mesmo)

Informante

F C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Igual4 CM ndash 24

(1 matildeo)

Informante

G I A B C

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Igual5

CM ndash 24

(2 matildeos)

Informante

I D E F A

B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Igual6 CM ndash 53a Informante

A

15 a 30

Anos

III

Igual7

CM ndash 61

Informante

I A C

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Irmatildeo1

CM ndash 14

Informante G H D F

60 a 80

Anos 30 a 60

Anos

I II

Irmatildeo2 CM ndash 24 Informante

D E F

30 a 60

Anos

II

209

Lembrar1

CM ndash 14

Informante

G H D E A

B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Lembrar2

CM ndash 32

Informante

D E F A B

C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Limpar1 CM ndash 02 Informante

H D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Limpar2

CM ndash 64

Informante

H E

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Limpar3

CM ndash 08a

Informante

H D E F A

B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Livro1 CM ndash 63

(duas matildeos)

Informante

G

60 a 80

Anos

I

Livro2

CM ndash 63 08a

Informante

H D E F A

B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Lutar1

CM ndash 08a

Informante

I A B

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Lutar2 CM ndash 02 63 Informante

I D E A B

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II III

210

15 a 30

Anos

Matildee1

CM ndash 63

Informante

H E F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Matildee2 CM ndash 02 07 Informante

A B C

15 a 30

Anos

III

Matildee3

CM ndash 14

Informante I

D B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Matildee4 CM ndash 63

(m)

Informante

G

60 a 80

Anos

I

Matildee5

CM ndash 02

Informante

I D F A

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

M-atilde-e6 CM ndash 01 06

60

Informante

F

30 a 60

Anos

II

Matildee7 CM ndash 02 Informante

F

30 a 60

Anos

II

Mais1

CM ndash 63

Informante

G I E A B

C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Mais2

CM ndash 63

(2 matildeos)

Informante

I D E A

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos 15 a 30

Anos

I II III

Mais3 CM ndash 08a Informante

G I E F

60 a 80

Anos

I II

211

30 a 60

Anos

Mais4

CM ndash 14

Informante

I E C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Matemaacutetica1

CM ndash 02

Informante

G H I D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Matemaacutetica2

CM ndash 58

Informante

G H I F C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Meacutedico1

CM ndash 44

Informante

G F B

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Meacutedico2

CM ndash 16

Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Medo1

CM ndash 34 64

Informante

H D F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

III

Medo2 CM ndash 02 Informante

E F

30 a 60

Anos

II

Medo3 CM ndash 33 Informante

F

30 a 60

Anos

II

Melhor1

CM ndash 45

Informante

G H I E

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

212

Melhor2

CM ndash 07

Informante

H I E A B

C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Melhor3

CM ndash 63

Informante

H A C

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Morrer1 CM ndash 63 63

(2 matildeos)

Informante

H

60 a 80

Anos

I

Morrer2

CM ndash 63

Informante

H I D E F

C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Mudar1

CM ndash 07

Informante

G H E A B

C

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

30 a 60

Anos

I II III

Mudar2 CM ndash 44

(1 matildeo e 2

matildeos)

Informante

H I E F B

C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Mulher1 CM ndash 07

(menina) (oral)

Informante

H

60 a 80

Anos

I

Mulher2

CM ndash 07 63

Informante

H D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Mulher3

CM ndash 07

Informante

G I D E F

B

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II III

213

15 a 30

Anos

Noite1

CM ndash 57 44

Informante

G D F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Noite2

CM ndash 53

Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Nome1

CM ndash 21

Informante

G H I A

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Nome2

CM ndash 24

Informante

G H I D E

F A C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Noacutes1

CM ndash 14

Informante

G D E F C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Noacutes2

CM ndash 14

Informante

E A

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

N-u-n1

CM ndash 24

Informante

I D E

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

N-u-n-c-a2

CM ndash 01 24

51a

Informante

I D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

214

Nunca3

CM ndash 14

(2 matildeos)

Informante

I D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Objetivo1 CM ndash 42 58 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Objetivo2 CM ndash 14 Informante

B

15 a 30

Anos

III

Ocircnibus1 CM ndash 07 Informante

F

30 a 60

Anos

II

Ocircnibus2 CM ndash 31 Informante

I B

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Ovo1 CM ndash 44 57 Informante

I

60 a 80

Anos

I

O-v-o2 CM ndash 42 32 Informante

G H

60 a 80

Anos

I

Padre1 CM ndash 11 Informante

G

30 a 60

Anos

II

Padre2

CM ndash 21

Informante

G H D F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Padre3

CM ndash 24

Informante

I F C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

P-a-i1

CM ndash 01 11

38

Informante

G H I D E

F A

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Pai2

CM ndash 11 (p)

Informante

G H F C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II III

215

15 a 30

Anos

Pai3 CM ndash 14 Informante

G H I

60 a 80

Anos

I

Pai4

CM ndash 16

Informante

I F B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Pai5

CM ndash 02 45

Informante

E A B C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Patildeo1 CM ndash 02 47

57

Informante

H

60 a 80

Anos

I

Patildeo2 CM ndash 63 Informante

H

60 a 80

Anos

I

Patildeo3

CM ndash 01

Informante

I F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Peixe1 CM ndash 16 Informante

G I

60 a 80

Anos

I

Peixe2

CM ndash 63

Informante

I F A

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Pessoa1

CM ndash 11

Informante

G I C

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Pessoa2

CM ndash 35a

Informante

I D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Pessoa3

CM ndash 18a

Informante

F A C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

216

Pode-Natildeo1 CM ndash 14

(2 matildeos)

Informante

D E

30 a 60

Anos

II

Pode-Natildeo2 CM ndash 14

(1 matildeo)

Informante

F

30 a 60

Anos

II

Poliacutetica1 CM ndash 11 51a Informante

G I

60 a 80

Anos

I

Poliacutetica2

CM ndash 11

Informante

I E B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Poliacutetica3 CM ndash 14 Informante

D E

30 a 60

Anos

II

Porque1

CM ndash 15

Informante

G H I D F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Porque2 CM ndash 14 Informante

G H I E F

A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Povo1 CM ndash 02 64 Informante

G I

60 a 80

Anos

I

Povo2 CM ndash 11 Informante

I

60 a 80

Anos

I

P-o-v-o3 CM ndash 11 32

42

Informante

I

60 a 80

Anos

I

Preto1

CM ndash 05

Informante

G H I F B

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Preto2 CM ndash 34 62 Informante

G H I

60 a 80

Anos

I

Primeiro1

CM ndash 07 14

Informante

60 a 80

Anos

I II III

217

G I E F C 30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

Primeiro2

CM ndash 14

Informante

H F C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Primeiro3 CM ndash 14

(duas matildeos)

Informante

D

30 a 60

Anos

II

Primeiro4

CM ndash 07

Informante

F E C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Profissional

1

CM ndash 11 Informante

I

60 a 80

Anos

I

Profissional

2

CM ndash 63 Informante

C

15 a 30

Anos

III

Prova1 CM ndash 63 Informante

E

30 a 60

Anos

II

Prova2

CM ndash 53a

(duas matildeos)

Informante

E F A B C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Respeitar1 CM ndash 53a Informante

D E

30 a 60

Anos

II

Respeitar2 CM ndash 25 Informante

E F

30 a 60

Anos

II

Responsaacutevel

1

CM ndash 25

Informante

I D E B

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Responsaacutevel

2

CM ndash 25

(duas matildeos)

Informante

I D E F A

B

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II III

218

15 a 30

Anos

Responsaacutevel

3

CM ndash 63

(duas matildeos)

Informante

G I

60 a 80

Anos

I

Reuniatildeo1 CM ndash 15 Informante

D

30 a 60

Anos

II

Reuniatildeo2

CM ndash 25

Informante

D E A

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Reuniatildeo3 CM ndash 14 Informante

G H D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Saber1

CM ndash 63

Informante

D B C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Saber2

CM ndash 14

Informante

G H I D E

F A C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Saber3

CM ndash 44 53a

Informante

G H I F A

B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Saber4

CM ndash 11

Informante

E F C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Semana1 CM ndash 10 Informante

D E

30 a 60

Anos

II

Semana2 CM ndash 10 Informante

B

15 a 30

Anos

III

Semana3 CM ndash 08a 64 Informante

I

60 a 80

Anos

I

219

Sim1

CM ndash 02

Informante

H D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

S-i-m2 CM ndash 02 38

60

Informante

H I

60 a 80

Anos

I

Sim3 CM ndash 59a 63 Informante

G H

60 a 80

Anos

I

Surdo1

CM ndash 14

Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Surdo2

CM ndash 25

Informante

G I D E B

C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Tambeacutem1

CM ndash 61

Informante

G H I D E

A

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Tambeacutem2

CM ndash 14

Informante

G H I D E

F B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Tarde1 CM ndash 63 Informante

G H I

60 a 80

Anos

I

Tarde2 CM ndash 44 47

63

Informante

H

60 a 80

Anos

I

Tarde3 CM ndash 63 Informante

G H

60 a 80

Anos

I

Teatro1 CM ndash 57 Informante

I

60 a 80

Anos

I

220

Teatro2 CM ndash 49 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Tempo1

CM ndash 14

Informante

H I D E A

B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Tempo2

CM ndash 57

Informante

H I D E

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Tempo3

CM ndash 63

Informante

G I D E C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Tempo4

CM ndash 45

Informante

G D E F A

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Ter1

CM ndash 63 64

Informante

G H I D F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Ter2

CM ndash 08a

Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Tio1

CM ndash 56

Informante

H F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Tio2

CM ndash 51b

Informante

30 a 60

Anos

II III

221

D E F A B

C

15 a 30

Anos

Trabalhar1

CM ndash 08a

Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Trabalhar2

CM ndash 14

Informante

H I F A

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Trabalhar3 CM ndash 24 Informante

I

60 a 80

Anos

I

Tudo CM ndash 63

(duas matildeos)

Informante

F

30 a 60

Anos

II

Vagabundo1 CM ndash 63 Informante

E

30 a 60

Anos

II

Vagabundo2 CM ndash 64 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Ver1 CM ndash 14 Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Ver2

CM ndash 32

Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Ver3

CM ndash 64

Informante D E B C

30 a 60

Anos 15 a 30

Anos

II III

Vergonha1

CM ndash 64

Informante

60 a 80

Anos

I II

222

I E 30 a 60

Anos

Vergonha2 CM ndash 11 Informante

E

30 a 60

Anos

II

Vermelho1 CM ndash 32 Informante

G H I

60 a 80

Anos

I

Vermelho2 CM ndash 14 Informante

G H I

60 a 80

Anos

I

Viajar1 CM ndash 63 Informante

D E F

30 a 60

Anos

II

Viajar2 CM ndash 45 Informante

F

30 a 60

Anos

II

WC CM ndash 48 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Palavras no total 255 sinais lexicais

Palavra Ajudar 4 Sinais Palavra Mais 4 Sinais

Palavra Aluno 2 Sinais Palavra Matemaacutetica 2 Sinais

Palavra Amanhatilde 3 Sinais Palavra Meacutedico 2 Sinais

Palavra Antes 3 Sinais Palavra Medo 3 Sinais

palavra Aposentar 3 Sinais Palavra Melhor 3 Sinais

Palavra Associaccedilatildeo 2 Sinais Palavra Morrer 2 Sinais

Palavra Aula 1 Sinal Palavra Mudar 2 Sinais

Palavra Aviatildeo 3 Sinais Palavra Mulher 3 Sinais

Palavra Avocirc 3 Sinais Palavra Noite 2 Sinais

Palavra Azul 3 Sinais Palavra Nome 2 Sinais

Palavra Bairro 1 Sinal Palavra Noacutes 2 Sinais

Palavra Banco 2 Sinais Palavra Nunca 3 Sinais

Palavra Batata 2 Sinais Palavra Objetivo 2 Sinais

Palavra Branco 2 Sinais Palavra Ocircnibus 2 Sinais

Palavra Cafeacute 1 Sinal Palavra Ovo 2 Sinais

Palavra Calma 2 Sinais Palavra Padre 3 Sinais

Palavra Cama 2 Sinais Palavra Pai 5 Sinais

Palavra Cavalo 2 Sinais Palavra Patildeo 3 Sinais

Palavra Chorar 2 Sinais Palavra Peixe 2 Sinais

Palavra Crianccedila 4 Sinais Palavra Pessoa 3 Sinais

Palavra Cobra 2 Sinais Palavra Pode-natildeo 2 Sinais

Palavra Conversar 5 Sinais Palavra Poliacutetica 3 Sinais

Palavra Cortar 3 Sinais Palavra Porque 2 Sinais

223

Palavra Cultura 1 Sinal Palavra Povo 3 Sinais

Palavra Dormir 3 Sinais Palavra Preto 2 Sinais

Palavra Depois 3 Sinais Palavra Primeiro 4 Sinais

Palavra Educaccedilatildeo 2 Sinais Palavra Profissional 2 Sinais

Palavra Escola 2 Sinais Palavra Prova 2 Sinais

Palavra Estudar 1 Sinal Palavra Respeitar 2 Sinais

Palavra Emagrecer 2 Sinais Palavra Responsaacutevel 3 Sinais

Palavra Engordar 2 Sinais Palavra Reuniatildeo 3 Sinais

Palavra Engravidar 2 Sinais Palavra Saber 4 Sinais

Palavra Faacutecil 3 Sinais Palavra Semana 3 Sinais

Palavra Faculdade 3 Sinais Palavra Sim 3 Sinais

Palavra Falar 5 Sinais Palavra Surdo 2 Sinais

Palavra Feio 3 Sinais Palavra Tambeacutem 2 Sinais

Palavra Flor 2 Sinais Palavra Tarde 3 Sinais

Palavra Forte 3 Sinais Palavra Teatro 2 Sinais

Palavra Gato 3 Sinais Palavra Tempo 4 Sinais

Palavra Gostar 2 Sinais Palavra Ter 2 Sinais

Palavra Homem 2 Sinais Palavra Tio 2 Sinais

Palavra Hospital 2 Sinais Palavra Trabalhar 3 Sinais

Palavra Igreja 2 Sinais Palavra Tudo 1 Sinal

Palavra Igual 7 Sinais Palavra Vagabundo 2 Sinais

Palavra Irmatildeo 2 Sinais Palavra Ver 3 Sinais

Palavra Lembrar 2 Sinais Palavra Vergonha 2 Sinais

Palavra Limpar 3 Sinais Palavra Vermelho 2 Sinais

Palavra Livro 2 Sinais Palavra Viajar 2 Sinais

Palavra Lutar 2 Sinais Palavra WC 1 Sinal

Palavra Matildee 7 Sinais

224

225

AS CONFIGURACcedilOtildeES DE MAtildeOS

Cm 01

Cm 02

Cm 03

Cm 04

Cm 05

Cm 06

Cm 07

Cm 08a

Cm 08b

Cm 09

Cm 10

Cm 11

Cm 12

Cm 13

Cm 14

Cm 15

Cm 16

Cm 17

Cm 18a

Cm 18b

Cm 19

Cm 20

Cm 21

Cm 22a

Cm 22b

Cm 23

Cm 24

Cm 25

Cm 26

Cm 27

226

Cm 28

Cm 29a

Cm 29b

Cm 30

Cm 31

Cm 32

Cm 33

Cm 34

Cm 35a

Cm 35b

Cm 36

Cm 37a

Cm 37b

Cm 38

Cm 39

Cm 40

Cm 41

Cm 42

Cm 43

Cm 44

Cm 45

Cm 46a

Cm 46b

Cm 47

Cm 48

Cm 49

Cm 50

Cm 51a

Cm 51b

Cm 52

Cm 53a

Cm 53b

Cm 54

Cm 55

Cm 56

227

Cm 57

Cm 58

Cm 59a

Cm 60

Cm 61

Cm 62

Cm 63

Cm 64

228

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA · 2016. 3. 5. · período já referido. A partir da teoria laboviana, analisam-se certos padrões sociolinguísticos verificados nesta pesquisa

Ficha de identificaccedilatildeo da obra elaborada pelo autor atraveacutes do Programa de Geraccedilatildeo Automaacutetica da Biblioteca Universitaacuteria da UFSC

Schmitt Deonisio

A HISTOacuteRIA DA LIacuteNGUA DE SINAIS EM SANTA CATARINA Contextos soacutecio-histoacutericos e sociolinguiacutesticos de surdos de 1946 a 2010 Deonisio Schmitt orientadora Izete Lehmkuhl Coelho co-orientador Tarciacutesio de Arantes Leite - Florianoacutepolis SC 2013 228 p

Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa

Catarina Centro de Comunicaccedilatildeo e Expressatildeo Programa de Poacutes- Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica

Inclui referecircncias

1 Linguiacutestica 2 Histoacuteria da LIBRAS 3

Sociolinguiacutestica 4 Soacutecio-histoacuterico 5 Variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas I Izete Lehmkuhl Coelho II Tarciacutesio de Arantes Leite III Universidade Federal de Santa Catarina Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica IV Tiacutetulo

A HISTOacuteRIA DA LIacuteNGUA DE SINAIS EM SANTA CATARINA

Contextos soacutecio-histoacutericos e sociolinguiacutesticos de surdos de 1946 a 2010

Orientadora Profordf Dra Izete Lehmkuhl Coelho

Coorientador Prof Dr Tarciacutesio de Arantes Leite

Banca Examinadora

Profordf Dra Fabiacuteola Sucupira Ferreira Sell ndash UDESC (Membro Externo)

Profordf Dra Lodenir Becker Karnopp ndash UFRGS (Membro Externo)

Profordf Dra Ronice Muller de Quadros ndash UFSC (Membro Interno)

Profordf Dra Edair Maria Goumlrski ndash UFSC (Membro Interno)

Profordf Dra Karin Liacutelian Strobel ndash UFSC (Membro Interno)

Profordf Dra Aline Lemos Pizzio ndash UFSC (Membro Suplente Interno)

Profordf Dra Sueli Costa ndash IFSC (Membro Suplente Externo)

Florianoacutepolis 2013

ldquoOs procedimentos da linguiacutestica descritiva se

baseiam no entendimento de que a liacutengua eacute um

conjunto estruturado de normas sociais No

passado foi uacutetil considerar que tais normas eram

invariantes e compartilhadas por todos os

membros da comunidade linguiacutestica Todavia as

anaacutelises do contexto social em que a liacutengua eacute

utilizada vieram demonstrar que muitos

elementos da estrutura linguiacutestica estatildeo

implicados na variaccedilatildeo sistemaacutetica que reflete

tanto a mudanccedila no tempo quanto os processos

sociais extralinguumliacutesticosrdquo (LABOV 1968 p

241)

ldquoQuando eu aceito a liacutengua de outra pessoa eu

aceitei a pessoa Quando eu rejeito a liacutengua eu

rejeitei a pessoa porque a liacutengua eacute parte de noacutes

mesmos Quando eu aceito a Liacutengua de Sinais

eu aceito o surdo e eacute importante ter sempre em

mente que o surdo tem o direito de ser surdo

Devemos ensinaacute-los ajudaacute-los mas temos que

permitir-lhe ser surdordquo (TERJE BASILIER

psiquiatra norueguecircs)

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais por terem me acompanhado e me dado forccedila para

essa caminhada

A minha amada esposa por ter paciecircncia comigo durante todos

esses anos

Aos meus filhos Eduardo Espiacutendola Schmitt e Mocircnica Espiacutendola

Schmitt que sofreu juntamente com minha esposa cuidando dele nas

cansativas muito correria de trabalho por motivo de paciecircncia comigo

durante do estudo e trabalho

Ao Sr Francisco Lima Juacutenior guerreiro no movimento de surdos

pela primeira escola e associaccedilatildeo que marca o registro histoacuterico na

liacutengua de sinais sofreram a mudanccedila o tempo em Santa Catarina

A Associaccedilatildeo de Surdos da Grande Florianoacutepolis Sociedade de

Surdos de Satildeo Joseacute Universidade Federal de Santa Catarina

Universidade do Estado de Santa Catarina Grupo de Estudos Surdos e

Comunidade Surda pelo seu apoio

Agrave professora Dra Izete Lehmkul Coelho (UFSC) pela sua

orientaccedilatildeo de pesquisa na aacuterea em sociolinguiacutestica e me dava a

disciplina no estudo referecircncia teoacuterico

Ao meu co-orientador Dr Tarciacutesio de Arantes Leite pela sua

orientaccedilatildeo muito detalhe no estudo as liacutenguas de sinais

Aos colegas de LetrasLIBRAS pelo incentivo e forccedila de vontade

no compartilhamento das experiecircncias no estudo linguiacutestico dos surdos

A Dra Ronice Muller de Quadros abriu a oportunidade de espaccedilo

acadecircmico na liacutengua de sinais na Universidade Federal de Santa

Catarina ndash UFSC

A Prof Dra Edair Maria Goumlrski convidado especial na disciplina

sociolinguiacutestica na banca de examinadora e antes tambeacutem esteve na

minha qualificaccedilatildeo em 2012

Aos colegas surdos na faixa etaacuteria que compartilharam comigo

durante as entrevistas de gravaccedilotildees sobre a histoacuteria de surdos em Santa

Catarina

A CAPES e REUNI pelo fornecimento de bolsa no programa de

poacutes-graduaccedilatildeo - PGL oferecendo-me a oportunidade de desenvolver

meu estudo e pesquisa

Convidado especial nas bancas de examinadoras Fabiacuteola Sucupira

Ferreira Sell Karin Liacutelian Strobel e Lodenir Becker Karnopp membro e

suplente Aline Lemos Pizzio e Suelli Costa

Aacutes colegas Edgar Correa Veras Nataacutelia Schleder Rigo e Tiago

Coimbra Nogueira que me interpretaram na banca de qualificaccedilatildeo em

2012 Daniela Bieleski Diego Mauricio Barbosa e Gisele Iandra Pessini

Anater que me interpretaram na banca avaliaccedilatildeo de defesa

A Maria Eloiza de Macedo por nos ajudar com discussotildees na

revisatildeo e pela paciecircncia e comprometimento e

Apoio a ediccedilatildeo de filmagem satildeo Marcos Luchi Joatildeo Paulo

Ampessan e Marcos Alexandre Marquioto

RESUMO

Esta pesquisa visa identificar possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas

linguiacutesticas ocorridas na Liacutengua Brasileira de Sinais (LIBRAS) no periacuteodo

histoacuterico de 1946 a 2010 analisando narrativas filmadas de trecircs geraccedilotildees de

sujeitos surdos usuaacuterios dessa liacutengua O Grupo I eacute formado por indiviacuteduos

com mais de 60 anos o Grupo II por indiviacuteduos de 30 a 60 anos o Grupo

III eacute formado por indiviacuteduos de 15 a 30 anos Na primeira parte do trabalho

apresentamos uma revisatildeo de base teoacuterico-metodoloacutegica fundamentada nos

estudos de Labov (2008 [1972]) sobre mudanccedilas linguiacutesticas no contexto

social observadas em tempo aparente na ilha de Martha‟s Vineyard e em

Nova York A concepccedilatildeo da variaccedilatildeo sociolinguiacutestica pode nos ajudar nesta

investigaccedilatildeo que versa sobre a histoacuteria da LIBRAS em Santa Catarina no

periacuteodo jaacute referido A partir da teoria laboviana analisam-se certos padrotildees

sociolinguiacutesticos verificados nesta pesquisa Considera-se o fato de apenas

uma pessoa ter influenciado toda uma comunidade de surdos em Santa

Catarina o professor Francisco Lima Juacutenior que veio do Rio de Janeiro

para Florianoacutepolis em 1946 Baseando-nos nesta data escolhemos o periacuteodo

acima citado para traccedilar um percurso de possiacuteveis transformaccedilotildees

linguiacutesticas de natureza interna e externa ocorridas na LIBRAS em Santa

Catarina Os resultados desta pesquisa apontam que haacute variaccedilatildeo e mudanccedila

em tempo aparente na LIBRAS relacionando o contexto linguiacutestico atual

dos jovens (Grupo III) a transformaccedilotildees histoacutericas e sociais observadas na

comunidade surda em Santa Catarina

Palavras-chave Histoacuteria da LIBRAS sociolinguiacutestica soacutecio-histoacuterico

variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas

ABSTRACT

This research aims to identify eventual linguistic variations and

changes in Brazilian Sign Language (LIBRAS) in the period from 1946 to

2010 through the analysis of the filmed narratives of three generations of

deaf people users of that language Group I is formed by individuals over

60 years-old Group II by individuals between 30 and 60 years-old and

Group III individuals between 15 and 30 years-old In the first part of this

research we present a theoretical-methodological review based on the

studies of Labov (2008 [1972]) about the social context of changes

observed in apparent time in Martha‟s Vineyard and in New York City We

believe the theory of language variation and change can help us in this

research which deals with the history of LIBRAS in Santa Catarina in the

period mentioned above Based on Labov‟s theory we analize certain

sociolinguistic patterns that were verified in this research We consider the

fact that only one person had influence on a whole deaf community in its

linguistic development teacher Francisco Lima Juacutenior who came from Rio

de Janeiro to Florianoacutepolis in 1946 Considering this date we chose the

period from 1946 to 2010 to trace back the path of eventual linguistic

transformations both internal and external in LIBRAS in Santa Catarina

We expect that in the outcome of this research there is variation and change

in apparent time of LIBRAS relating the present context linguistic to youth

(Group III) to the historical and social transformations observed the deaf

community in Santa Catarina

Keywords History of LIBRAS sociolinguistics sociohistory language

variation and change

RESUMEN

El objetivo de esta investigacioacuten es identificar posibles variaciones y

cambios linguiacutesticos ocurridos en la Lengua Brasilentildea de Sentildeales

(LIBRAS) en el periodo comprendido entre 1946 y 2010 analizando

narrativas grabadas de tres generaciones de individuos sordos usuarios de

esa lengua El Grupo I esta formado por individuos con maacutes de 60 antildeos el

Grupo II por individuos de 30 a 60 antildeos el Grupo III es formado por

individuos de 15 a 30 antildeos Se presenta en la primera etapa de la

investigacioacuten un repaso teoacuterico-metodoloacutegico fundamentado en los estudios

de Labov (2008 [1972]) acerca de cambios linguiacutesticos en el contexto

social observados en tiempo aparente en la Isla de Martha‟s Vineyard y en

Nueva York La concepcioacuten de la variacioacuten sociolinguiacutestica nos puede

ayudar en este estudio el cual trata de la historia de la LIBRAS en Santa

Catarina en el periodo mencionado A partir de la teoriacutea laboviana se

analizan ciertos patrones sociolinguiacutesticos verificados en esta investigacioacuten

Se considera el hecho de solo una persona haber influenciado toda la

comunidad de sordos en Santa Catarina el profesor Francisco Lima Juacutenior

que partioacute del Rio de Janeiro para Florianoacutepolis en el antildeo de 1946 Con base

en esta fecha elegimos el periodo antes mencionado para disentildear una

trayectoria de las posibles transformaciones linguiacutesticas de caraacutecter interno

y externo ocurridas en la lengua de sentildeales en Santa Catarina Se espera que

los resultados de esta investigacioacuten indiquen que existe una variacion y

cambio en el tiempo aparente en LIBRAS relacionando el contexto

linguiacutesticas actual a joacutevenes (Grupo III) las transformaciones historicas y

sociales observados la comunidad sorda de Santa Catarina

Palabras-clave Historia de la LIBRAS sociolinguiacutestica sociohistorio

variacioacuten y cambio linguiacutesticos

LISTA DE ABREVIATURAS

ACT ndash Admissatildeo em Caraacuteter Temporaacuterio

ASL ndash Liacutengua de Sinais Americana

ASURJ ndash Associaccedilatildeo dos Surdos de Rio de Janeiro

BESC ndash Banco do Estado de Santa Catarina

BSL ndash Liacutengua de Sinais Britacircnica

CAPES ndash Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel

Superior

CELESC ndash Centrais Eleacutetricas de Santa Catarina SA

CSMSC ndash Ciacuterculo de Surdos-Mudos de Santa Catarina

FCEE ndash Fundaccedilatildeo Catarinense de Educaccedilatildeo Especial

FENEIS ndash Federaccedilatildeo Nacional de Educaccedilatildeo e Integraccedilatildeo dos Surdos

FUTSAL ndash Futebol de Salatildeo

IATEL ndash Instituto de Audiccedilatildeo e Terapia da Linguagem

INES ndash Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos

INSM ndash Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos-Mudos

IPS ndash Instituto Paulista de Surdos

LIBRAS ndash Liacutengua Brasileira de Sinais

LSB ndash Liacutengua de Sinais Brasileiras

LSF ndash Liacutengua de Sinais Francesa

MEC ndash Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

NEESPI ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo Especial e Inclusiva

PGL ndash Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica

REUNI ndash Programa de Apoio a Planos de Reestruturaccedilatildeo e Expansatildeo

das Universidades Federais Brasileiras

UFSC ndash Universidade Federal de Santa Catarina

UNIVALI ndash Universidade do Vale do Itajaiacute

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 ndash Sinal de Matildee35

Figura 02 ndash Sinal de Matildee37

Figura 03 ndash Retirado do livro de GROCE Nora Ellen Everyone Here

Spoke Sign Language Hereditary Deafness on Martha‟s Vineyard

Printed in the United States of America 195244

Figura 04 ndash Retirado do livro de LABOV Willian Padrotildees

Sociolinguiacutesticos45

Figura 05 ndash Retirado no site

httpcawikipediaorgwikiMartha27s_Vineyard45

Figura 06 ndash O trapezoacuteide das vogais a flecha indica a direccedilatildeo de

movimento do primeiro elemento de (aw)62

Figura 07 ndash Sinal de Porco67

Figura 08 ndash Abade L‟Epeacutee ensinando os surdos na liacutengua de sinais

francesa72

Figura 09 ndash Acervo na Revista da FENEIS81

Figura 10 ndash Acervo de Ana Regina e Souza Campello ndash UFSC83

Figura 11 ndash Acervo da Heloise Gripp Diniz ndash UFSC 0184

Figura 12 ndash Acervo da Heloise Gripp Diniz ndash UFSC 0284

Figura 13 ndash Acervo do Francisco - eacute o primeiro dicionaacuterio na liacutengua de

sinais em Santa Catarina em 194793

Figura 14 ndash Acervo do Profdeg Francisco - fotografia de Jornal que traz

reportagem sobre o livro ldquoLinguagem das Matildeosrdquo96

Figura 15 ndash Mostrar os Sinais106

Figura 16 ndash Variaccedilatildeo Fonoloacutegica108

Figura 17 ndash Mostrar os sinais com uma matildeo e com duas matildeos108

Figura 18 ndash Sinal de Paacutessaro110

Figura 19 e 20 ndash Ferreira-Brito e Langevin112

Figura 21 ndash httpwwwinesgovbrlibrasprincipalaspASSU_id=3112

Figura 22 ndash Quadro de CMs da LSB por Pimenta e Quadros112

Figura 23 ndash Sinal - ldquoCultura em SCrdquo115

Figura 24 ndash Sinal - ldquoCultura em SPrdquo115

Figura 25 ndash Sinal - ldquoCultura em RJrdquo115

Figura 26 ndash Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo ndash Depto Educaccedilatildeo

Especial ndash CuritibaPR SEEDSUEDDEE117

Figura 27 ndash Sinal de Ajudar118

Figura 28 ndash Sinal de Faltar119

Figura 29 ndash Sinal de Ocircnibus119

Figura 30 ndash Sinal de Sonhar119

Figura 31 CM ndash 01 11154

Figura 32 CM ndash 02 57154

Figura 33 CM ndash 07155

Figura 34 CM ndash 01 11154

Figura 35 CM ndash 02 57154

Figura 36 CM ndash 01 11154

Figura 37 CM ndash 53a156

Figura 38 CM ndash 36156

Figura 39 CM ndash 37a156

Figura 40 CM ndash 40156

Figura 41 CM ndash 40156

Figura 42 CM ndash 02157

Figura 43 CM ndash 14158

Figura 44 CM ndash 63158

Figura 45 CM ndash 02157

Figura 46 CM ndash 14158

Figura 47 CM ndash 63158

Figura 48 CM ndash 02 07157

Figura 49 CM ndash 14158

Figura 50 CM ndash 11159

Figura 51 CM ndash 14160

Figura 52 CM ndash 16160

Figura 53 CM ndash 16159

Figura 54 CM ndash 02 45160

Figura 55 CM ndash 11 38159

Figura 56 CM ndash 16160

Figura 57 CM ndash 02 45160

Figura 58 CM ndash 11 51a162

Figura 59 CM ndash 11162

Figura 60 CM ndash 14162

Figura 61 CM ndash 11162

Figura 62 CM ndash 34 62163

Figura 63 CM ndash 05163

Figura 64 CM ndash 05163

Figura 65 CM ndash 05163

Figura 66 CM ndash 14164

Figura 67 CM ndash 25164

Figura 68 CM ndash 14164

Figura 69 CM ndash 15165

Figura 70 CM ndash 25164

Figura 71 CM ndash 08a 64166

Figura 72 CM ndash 10166

Figura 73 CM ndash 10166

Figura 74 CM ndash 10166

Figura 75 CM ndash 53a168

Figura 76 CM ndash 61168

Figura 77 CM ndash 53a168

Figura 78 CM ndash 61168

Figura 79 CM ndash 53a168

Figura 80 CM ndash 07 64169

Figura 81 CM ndash 08a169

Figura 82 CM ndash 08a169

Figura 83 CM ndash 16170

Figura 84 CM ndash 44170

Figura 85 CM ndash 16170

Figura 86 CM ndash 44170

Figura 87 CM ndash 16170

Figura 88 CM ndash 21171

Figura 89 CM ndash 24171

Figura 90 CM ndash 24171

Figura 91 CM ndash 24171

Figura 92 CM ndash 14172

Figura 93 CM ndash 15173

Figura 94 CM ndash 14172

Figura 95 CM ndash 15173

Figura 96 CM ndash 14172

Figura 97 CM ndash 53a 63175

Figura 98 CM ndash 08a175

Figura 99 CM ndash 08a175

Figura 100 CM ndash 08a175

Figura 101 CM ndash 63177

Figura 102 CM ndash 14 24177

Figura 103 CM ndash 14177

Figura 104 CM ndash 14177

Figura 105 CM ndash 24177

Figura 106 CM ndash 24177

Figura 107 CM ndash 62180

Figura 108 CM ndash 24180

Figura 109 CM ndash 21181

Figura 110 CM ndash 11180

Figura 111 CM ndash 24180

Figura 112 CM ndash 21181

Figura 113 CM ndash 24180

Figura 114 CM ndash 63182

Figura 115 CM ndash 08a182

Figura 116 CM ndash 63182

Figura 117 CM ndash 08a182

Figura 118 CM ndash 08a182

LISTA DE QUADROS

Quadro 01 Sinal de Aposentar155

Quadro 02 Sinal de Aviatildeo156

Quadro 03 Sinal de Matildee158

Quadro 04 Sinal de Pai160

Quadro 05 Sinal de Poliacutetica162

Quadro 06 Sinal de Preto163

Quadro 07 Sinal de Reuniatildeo165

Quadro 08 Sinal de Semana166

Quadro 09 Sinal de Banco168

Quadro 10 Sinal de Feio169

Quadro 11 Sinal de Meacutedico170

Quadro 12 Sinal de Nome171

Quadro 13 Sinal de Porque173

Quadro 14 Sinal de Antes175

Quadro 15 Sinal de Cortar177

Quadro 16 Sinal de Padre181

Quadro 17 Sinal de Ter182

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 Centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por grupos

ocupacionais51

Tabela 02 Centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por faixa etaacuteria51

Tabela 03 Distribuiccedilatildeo geograacutefica da centralizaccedilatildeo53

Tabela 04 Cruzamento de fatores 6 falantes com o maior grau de

centralizaccedilatildeo55

Tabela 05 Centralizaccedilatildeo por grupos eacutetnicos56

Tabela 06 Centralizaccedilatildeo e atitude com relaccedilatildeo a Martha‟s Vineyard58

Tabela 07 A escala em tempo aparente eacute chamada de ldquogradaccedilatildeo

etaacuteriardquo61

Tabela 08 Mudanccedila de (aw) e (ay) em tempo aparente atraveacutes de duas

geraccedilotildees em Martha‟s Vineyard62

Tabela 09 Preliminar dos dados ndash variaccedilotildees ou mudanccedilas

linguiacutesticas151

SUMAacuteRIO

Introduzindo a pesquisa na liacutengua de sinais25 CAPIacuteTULO I ndash Delimitaccedilatildeo do objeto de pesquisa31

11 Introduccedilatildeo31

12 Mudanccedilas histoacutericas na LIBRAS e variaccedilotildees linguiacutesticas de

1946 a 2010 em Santa Catarina31

13 Objetivo Geral33

14 Objetivos especiacuteficos33

15 Questotildees e Hipoacuteteses de pesquisa na liacutengua de sinais37

CAPIacuteTULO II ndash Pressupostos teoacuterico-metodoloacutegicos da sociolinguiacutestica

laboviana39

21 Introduccedilatildeo39

22 A liacutengua em seu contexto social40

221 LABOV pesquisador pioneiro em sociolinguiacutestica40

222 A Ilha de Martha‟s Vineyard42

223 Seleccedilatildeo da variaacutevel linguiacutestica47

224 Distribuiccedilatildeo por idade e tempo50

225 Uma explicaccedilatildeo possiacutevel para o aumento da centralizaccedilatildeo52

226 A interaccedilatildeo de padrotildees linguiacutesticos e sociais54

23 Os princiacutepios da mudanccedila linguiacutestica59

231 A idade e a variaccedilatildeo estaacutevel60

232 A idade e a mudanccedila linguiacutestica61

233 Aplicando os conhecimentos da sociolinguiacutestica64

CAPIacuteTULO III ndash A histoacuteria social da liacutengua69

31 Introduccedilatildeo69

32 Charles Michel de LEpeacutee - Instituto Nacional de Surdos-Mudos

em Paris69

33 Eacutedouard Huet ndash Instituto Nacional Educaccedilatildeo de Surdos

(INESRJ)74

34 Francisco Lima Juacutenior - O Primeiro Professor Surdo na liacutengua

de sinais em Santa Catarina87

CAPIacuteTULO IV ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila na liacutengua de sinais101

41 Introduccedilatildeo101

42 A liacutengua de sinais pelo surdo indiacutecios de variaccedilatildeo e mudanccedila

linguiacutestica101

43 As variaccedilotildees linguiacutesticas na liacutengua de sinais116

44 O surdo se comunica a liacutengua de sinais no contexto social118

CAPIacuteTULO V ndash Metodologia121

51 Introduccedilatildeo121

52 A coleta de dados123

53 O meacutetodo de entrevista sociolinguiacutestica a coleta de narrativas

de experiecircncia pessoal124

54 A transcriccedilatildeo de dados dos trecircs grupos compostos de

informantes surdos na liacutengua de sinais126

55 Informantes do grupo surdo na liacutengua de sinais126

56 Descriccedilatildeo dos informantes quanto aos dados129

561 Grupo I - Informantes130

5611 Informante G130

5612 Informante H132

5613 Informante I134

562 Grupo II - Informantes135

5621 Informante D136

5622 Informante E137

5623 Informante F139

563 Grupo III - Informantes140

5631 Informante A140

5632 Informante B141

5633 Informante C143

564 ndash Algumas consideraccedilotildees finais146

CAPITULO VI ndash Descriccedilatildeo e anaacutelise dos resultados149

61 Introduccedilatildeo149

62 A comparaccedilatildeo dos dados o grupo de trecircs geraccedilotildees de surdos na

liacutengua de sinais149

63 Variaccedilatildeo e Mudanccedila lexical na Liacutengua Brasileira de Sinais152

64 Variaccedilatildeo e Mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua Brasileira de

Sinais173

65 O que dizem os resultados das trecircs geraccedilotildees dos informantes na

Liacutengua Brasileira de Sinais 183

Consideraccedilotildees Finais187

Referecircncias Bibliograacuteficas191

Anexos199

25

Introduzindo a pesquisa na liacutengua de sinais

Sou Surdo Pretendo investigar a variaccedilatildeo e a mudanccedila linguiacutestica

na liacutengua de sinais como trabalho final do curso de poacutes-graduaccedilatildeo em

Linguiacutestica niacutevel Doutorado e aprofundar os conceitos adquiridos no

meu mestrado Realizei a defesa do mestrado em 2008 na UFSC O

estudo foi feito na linha de pesquisa em Educaccedilatildeo e Processos

Inclusivos O tema abordado foi ldquoContextualizaccedilatildeo da Trajetoacuteria dos

Surdos e Educaccedilatildeo de Surdos em Santa Catarinardquo

Iniciei no mestrado pesquisando a Educaccedilatildeo de Surdos em SC

Como natildeo haacute documentaccedilatildeo histoacuterica busquei atraveacutes do depoimento

do professor surdo Francisco1 e tambeacutem de documentos e fotografias

que ele tinha resgatar um pouco da trajetoacuteria da Educaccedilatildeo de Surdos em

SC

Aquela pesquisa visava introduzir as narrativas de sujeitos surdos

no que tange a sua histoacuteria memoacuteria e identidade Minha posiccedilatildeo eacute que

atraveacutes dela eacute possiacutevel conseguir elucidar a caminhada realizada pelos

surdos de Santa Catarina E tambeacutem atraveacutes de narrativas captadas com

o professor Francisco Lima Juacutenior (Chiquito) e de alguns de seus ex-

alunos bem como de alguns dados de Jornais fotos e filmagens

consegue-se chegar a escrever a histoacuteria do movimento surdo de Santa

Catarina com respeito agrave organizaccedilatildeo e agrave educaccedilatildeo de surdos O tema foi

muito amplo para pesquisar no mestrado Entatildeo optei por pesquisar a

parte histoacuterica da liacutengua de sinais no mestrado e a parte linguiacutestica no

doutorado numa perspectiva sociolinguiacutestica

Na pesquisa de mestrado percebi que apareceram sinais

diferentes no depoimento de dois surdos que sinalizaram sobre a

Educaccedilatildeo de surdos Refleti sobre esses sinais diferentes e natildeo

conseguia explicaacute-los Entatildeo realizei o projeto de doutorado para

entender melhor essa diferenccedila de sinais estudando um tema mais

1 SCHMITT (2008) dissertaccedilatildeo de mestrado na UFSC Em 1928 nasceu em FlorianoacutepolisSC e inicia a vida de Francisco Lima Juacutenior Em 1937 a 1946 no INSMRJ Francisco inicia seus

estudos No ano de 1947 primeiro espaccedilo de educaccedilatildeo de surdos na garagem na casa dos pais

(Francisco) Em 1954 o encontro de surdos organiza a fundaccedilatildeo do Ciacuterculo Surdos-Mudos em Santa Catarina ndash CSMSC Em 1955 funda o Ciacuterculo Surdos-Mudos em Santa Catarina ndash

CSMSC e tambeacutem foi delegado na regiatildeo do sul Em 1960 teve iniacutecio o governo de Celso

Ramos Em 1963 iniciou a construccedilatildeo Escola Governador Celso Ramos Em 1964 a primeira turma de surdos na Escola Governador Celso Ramos Ex-alunos Surdos na primeira Turma

Escola Governador Celso Ramos em 1964 e 1969 Fundado em 25 de marccedilo de 1969 o

Instituto de Audiccedilatildeo e Terapia da Linguagem ndash IATEL e em 1997 o Francisco entregou o documento no Ciacuterculo Surdos-Mudos em Santa Catarina ndash CSMSC para a Sandra L Amorim e

atualmente ASGF Isso foi apresentado a minha pesquisa de biografia

26

especiacutefico ldquoA Histoacuteria da Liacutengua de Sinais em Santa Catarina

Contextos soacutecio-histoacutericos e sociolinguiacutesticos de surdos de 1946 a

2010rdquo

O trabalho de coleta de dados para esta pesquisa acontece em

forma de relatos filmados sobre a histoacuteria e as experiecircncias de vida de

cada indiviacuteduo em liacutengua de sinais de trecircs geraccedilotildees nas seguintes faixas

etaacuterias o Grupo I eacute formado por indiviacuteduos com mais de 60 anos o

Grupo II por indiviacuteduos de 30 a 60 anos e o Grupo III eacute formado por

indiviacuteduos de 15 a 30 anos Pretende-se investigar nos dados de que

dispomos se aconteceu alguma transformaccedilatildeo linguiacutestica e em caso

positivo qual foi esta transformaccedilatildeo Se a economia a poliacutetica a

questatildeo social e cultural influenciam as mudanccedilas linguiacutesticas que

ocorrem e quais as possiacuteveis influecircncias que estes fatores tiveram em

relaccedilatildeo agraves mudanccedilas na liacutengua de sinais de Santa Catarina no periacuteodo

de 1946 a 2010

A pesquisa e a leitura de histoacuterias da liacutengua de sinais no mundo

no Brasil e em Santa Catarina em diferentes comunidades surdas

propiciaratildeo um maior conhecimento linguiacutestico e melhor entendimento

das diferentes culturas surdas Jaacute posso adiantar que as narrativas

coletadas contadas e vividas pelos trecircs grupos pesquisados em

diferentes momentos da sociedade brasileira ampliaram minha forma de

ver e perceber o mundo

Meu estudo de pesquisa no mestrado apresentou dados sobre a

histoacuteria da liacutengua de sinais de Santa Catarina e as dificuldades

encontradas da comunidade surda nos contatos sociais das vaacuterias regiotildees

de Santa Catarina e ateacute mesmo com outros estados (PR RS SP RJ e

MG) Acredita-se que a ampliaccedilatildeo de sinais aqui em Santa Catarina teve

a influecircncia do professor Francisco Lima Juacutenior porque ele estudou no

INESRJ (Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos) e no IPSSP

(Instituto Paulista de Surdos) e trouxe sinais utilizados nesses estados

aleacutem de outros sinais aprendidos em contatos com surdos de outros

estados (PR RS SP RJ e MG) e ensinou tais sinais aos seus alunos

surdos enriquecendo assim a liacutengua de sinais

Ateacute agora as pesquisas sobre a liacutengua de sinais em Santa Catarina

natildeo tecircm registro da histoacuteria do sujeito surdo na escola e nem nas

associaccedilotildees de surdos ou na comunidade surda na deacutecada de 1950 Pela

pesquisa percebi que antes da vinda do professor Francisco para Santa

Catarina natildeo havia registrodocumentaccedilatildeo sobre a liacutengua de sinais A

histoacuteria que pesquisei sobre a liacutengua de sinais em Santa Catarina surge

de conversas com o professor Francisco e com outros indiviacuteduos surdos

Atualmente haacute mais registros sobre a liacutengua de sinais mas ainda eacute

27

muito pouco pois eacute uma liacutengua na modalidade visual espacial e sua

forma de registro ainda eacute precaacuteria A histoacuteria da liacutengua de sinais tem sido narrada por instituiccedilotildees de

indiviacuteduos ouvintes uma dessas eacute o INESRJ onde estudou o professor

Francisco Essas narraccedilotildees tecircm como base a educaccedilatildeo oralista que natildeo

utilizava nenhum tipo de sinalizaccedilatildeo e a comunidade surda que

utilizava a LIBRAS natildeo deixou informaccedilotildeesregistros sobre a histoacuteria da

comunidade surda daquela eacutepoca (1940) O pouco que ficou eacute

superficial deixando de mostrar informaccedilotildees de maior valor sobre esta

liacutengua que eacute muito importante para que com os registros possamos

entender melhor as variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas que ocorreram e

ocorrem Para isso eacute preciso que indiviacuteduos surdos pesquisem sobre a

histoacuteria cultura identidade e liacutengua de sinais da comunidade surda

Os dados desta pesquisa considerados importantes foram

analisados com o objetivo principal de pesquisar as variaccedilotildees e

possiacuteveis mudanccedilas em tempo aparente na liacutengua de sinais em Santa

Catarina atraveacutes das narrativas de sujeitos surdos

Percebi que o professor Francisco influenciou a liacutengua de sinais

em Santa Catarina e resgatando parte da histoacuteria dessa liacutengua pesquisei

variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas no periacuteodo de 1946 ateacute a

atualidade (2010) A falta de pesquisa histoacuterica da liacutengua de sinais

2 entre 1930 a

1980 no Brasil com referecircncia agrave variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica com o

foco no estudo sociolinguiacutestico e soacutecio-histoacuterico dificultou vislumbrar

o desenvolvimento desta liacutengua durante esse periacuteodo as mudanccedilas

ocorridas e o uso da liacutengua de sinais pela comunidade surda Natildeo houve

registro de pesquisa sobre este tema na liacutengua de sinais atraveacutes de

registro espaccedilo-visual (filmagem viacutedeos fotos etc) nas uacuteltimas deacutecadas

e parece que muitos dados que satildeo importantes sobre o sujeito surdo se

perderam Vale registrar no entanto trabalhos importantes que

procuraram resgatar parte da histoacuteria da liacutengua de sinais no Brasil a

dissertaccedilatildeo defendida em 2010 por Heloise Gripp Diniz sobre o tema

ldquoA histoacuteria da liacutengua de sinais brasileira (Libras) um estudo descritivo

de mudanccedilas fonoloacutegicas e lexicaisrdquo e os trabalhos de Perlin (1998)

Miranda (2001) Karnopp e Quadros (2004) Brito (1990 1991 1993 e

1995) Felipe (1988 1991 1993 1994 1995 1996 e 1997) Campello

(2011) entre outros

2 SCHMITT (2008) relata que ldquoa liacutengua de sinais ou seja a liacutengua dos sujeitos surdos eacute o

espaccedilo que mais eacute atingido pelo diferencialismordquo

28

Com relaccedilatildeo ao oralismo que exigia que os surdos falassem e natildeo

podiam sinalizar essa praacutetica trouxe grandes problemas uma delas foi a

dificuldade na criaccedilatildeo de espaccedilos (escola associaccedilatildeo etc) pelos

proacuteprios surdos Com a criaccedilatildeo das Associaccedilotildees de Surdos em Santa

Catarina os surdos puderam defender seus interesses E a partir de

2001 em Santa Catarina quando foi criada a Lei Estadual Nordm 118693

oficializou a LIBRAS como forma de comunicaccedilatildeo dos surdos

Haacute dez anos surgiu a LEI Nordm 10436 DE 24 DE ABRIL DE

2002 ldquoreconhecida como meio legal de comunicaccedilatildeo e expressatildeo da

Liacutengua Brasileira de Sinais - LIBRAS e outros recursos de expressatildeo a

ela associadosrdquo e o DECRETO Nordm 5626 DE 22 DE DEZEMBRO DE

2005

Em SC a primeira conquista educacional dos surdos aconteceu na

escola Governador Celso Ramos no centro de Florianoacutepolis em 1964

com a primeira turma de surdos a frequentar uma escola Nesta escola

eles tiveram acesso ao uso da liacutengua de sinais com a mediaccedilatildeo do

professor Francisco que tinha o apelido de ldquoChiquitordquo Com o

aprendizado da liacutengua de sinais os surdos comeccedilaram uma nova histoacuteria

e foram aprimorando sua liacutengua

Os alunos surdos adquiriam mais expressatildeo na comunicaccedilatildeo da

liacutengua de sinais e na interaccedilatildeo com o professor de liacutengua de sinais

surdo aprendiam mais raacutepido a se comunicar e a entender os conceitos

(sinaispalavras) Eles aprenderam e foram influenciados pelo professor

Francisco com quem tiveram o primeiro contato com a liacutengua de sinais

Os surdos comeccedilaram a utilizar a liacutengua de sinais na comunidade

surda ampliando este aprendizado Assim indaguei-me sobre qual era a

liacutengua de sinais ensinada naquele contexto social e as mudanccedilas

ocorridas por causa disto Entatildeo procurei o professor Francisco para

entender quais os sinais diferentes que havia em 1950 e que ele trouxe

para Santa Catarina Soube que o professor em seus estudos no INES foi

influenciado pela Liacutengua de Sinais Francesa (Europa) e pela Liacutengua de

Sinais Americana (Estados Unidos) na deacutecada de 1940 retornou para

Santa Catarina por volta de 1947 Essa contextualizaccedilatildeo sobre a liacutengua

de sinais eacute importante para a anaacutelise e pesquisa desta liacutengua em nosso

Estado

O professor Francisco estudou no Rio de Janeiro de 1937 a 1946

3 Em Santa Catarina foi criada a Lei no 11869 de 06 de setembro de 2001 reconhece oficialmente no Estado de Santa Catarina a linguagem gestual codificada na Liacutengua Brasileira

de Sinais LIBRAS ndash e outros recursos a ela associados como meio de comunicaccedilatildeo objetiva e

de uso corrente

29

Trouxe a experiecircncia dos sinais emergentes do Instituto Nacional de

Educaccedilatildeo de Surdos ndash INESRJ e influenciou a Regiatildeo Sul

protagonizando a histoacuteria da liacutengua de sinais por toda comunidade surda

catarinense

Eacute preciso pensar como na realidade a comunidade surda

catarinense resolveu seus problemas nas diferentes fases da histoacuteria da

liacutengua de sinais e em diferentes geraccedilotildees dos surdos Algumas sugestotildees

propostas dizem respeito ao Ciacuterculo de Surdos-Mudos de Santa Catarina

- CSMSC4 fundado pelo professor Francisco tambeacutem professor da

Escola Governador Celso Ramos Tais fatos trouxeram uma maior

interaccedilatildeo entre os surdos catarinenses e o contexto social vivido entre

1946 a 1955 proporcionando a criaccedilatildeo de Associaccedilotildees de Surdos em

vaacuterias regiotildees do estado de Santa Catarina em especial na Escola G

Celso Ramos de 1964 a 1973

Com o intuito de cumprir os objetivos a que esta pesquisa se

propocircs o trabalho seraacute organizado da seguinte forma

Nesta Introduccedilatildeo fiz um breve relato da construccedilatildeo deste

trabalho de pesquisa destacando pontos que acredito serem relevantes

com relaccedilatildeo agrave liacutengua de sinais em Santa Catarina

No primeiro capiacutetulo apresento a delimitaccedilatildeo do objeto de

pesquisa a contextualizaccedilatildeo dos sujeitos surdos na liacutengua de sinais com

o objetivo de pesquisar as mudanccedilas histoacutericas na LIBRAS e possiacuteveis

variaccedilotildees linguiacutesticas que ocorrem na trajetoacuteria percorrida desde o

projeto ateacute a concretizaccedilatildeo da pesquisa de campo realizada

No segundo capiacutetulo apresento alguns pressupostos teoacuterico-

metodoloacutegicos da sociolinguiacutestica laboviana apresento estudos de

Labov sobre a centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) na comunidade de fala da

Ilha de Marthas Vineyard bem como sobre a liacutengua em seu contexto

social a variaccedilatildeo e a mudanccedila linguiacutestica

No terceiro capiacutetulo apresento a contextualizaccedilatildeo da histoacuteria

social da liacutengua em organizaccedilotildees surdas no paiacutes com base na trajetoacuteria

dos surdos na Europa Ameacuterica Brasil e regiotildees de Santa Catarina

No quarto capiacutetulo apresento explicaccedilotildees sobre a variaccedilatildeo

encontrada na liacutengua de sinais e discutida por diversos linguistas

No quinto capiacutetulo apresento a metodologia de coleta das

narrativas dos sujeitos surdos por faixa etaacuteria e a descriccedilatildeo dos

4 O CSMSC professor Francisco comeccedilou a reunir todos os surdos de Santa Catarina

buscando as pessoas surdas que ficavam isoladas na sociedade Fazia reuniotildees perioacutedicas em

sua casa com atividade social alfabetizaccedilatildeo e oficinas de artes e trabalhos artesanais Entatildeo em 18 de agosto de 1955 com 30 associados fundou o Ciacuterculo dos Surdos e Mudos de Santa

Catarina Atualmente chamado de Associaccedilatildeo de Surdos da Grande Florianoacutepolis - ASGF

30

informantes quanto aos dados colhidos na liacutengua de sinais nas trecircs

geraccedilotildees controladas

No sexto capiacutetulo apresento a descriccedilatildeo e a anaacutelise dos

resultados a comparaccedilatildeo dos dados de cada grupo nas trecircs geraccedilotildees de

surdos que utilizaram a liacutengua de sinais

Por fim nas consideraccedilotildees finais mostro que esta pesquisa

pretende contribuir com resultados sobre a variaccedilatildeo e a mudanccedila

linguiacutestica na Liacutengua de Sinais e talvez contribuir com o registro dos

dados coletados no curso de LetrasLIBRAS como referecircncia

bibliograacutefica para auxiliar outras pesquisas

31

CAPIacuteTULO I ndash Delimitaccedilatildeo do objeto de pesquisa

11 ndash Introduccedilatildeo

Pretendo pesquisar parte da histoacuteria da LIBRAS em Santa

Catarina de indiviacuteduos surdos em contextos soacutecio-histoacutericos e

sociolinguiacutesticos de diferentes regiotildees do estado com comunicaccedilatildeo de

sinais diferentes idades variadas gecircnero diferente costumes proacuteprios

escolaridade variada exercendo trabalhos e crenccedilas diferentes

vivenciando fatos histoacutericos tudo isso acontecendo em contextos

distintos Escolhi o periacuteodo de 1946 a 2010 para a pesquisa porque o

professor Francisco Lima Juacutenior que nasceu em 1928 foi estudar fora

da cidade retornou para Florianoacutepolis em 1946 de seus estudos no

Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos (INES) no Rio de Janeiro e

acredito que ele influenciou o ensino da LIBRAS em Santa Catarina

Realizar esta pesquisa eacute um grande desafio pela dificuldade para

encontrar o registro da histoacuteria da liacutengua de sinais e das variaccedilotildees e

mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas Para desenvolver este trabalho eacute

importante saber as influecircncias lexicais e fonoloacutegicas ocorridas nessa

liacutengua em Santa Catarina de onde vieram as influecircncias e qual seu

reflexo na comunidade surda E ainda se essa liacutengua trouxe uma

valorizaccedilatildeo maior para o grupo de surdos I (mais velhos) e se foi

influenciada por fatores sociais e histoacutericos da comunidade surda de

Santa Catarina

Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os seguintes toacutepicos a

delimitaccedilatildeo da pesquisa mudanccedilas histoacutericas na LIBRAS e variaccedilotildees

linguiacutesticas nas deacutecadas de 1940 a 2010 uma contextualizaccedilatildeo sobre a

influecircncia do professor Francisco na comunidade surda a justificativa

sobre a pesquisa feita com as pessoas surdas o objetivo geral desta

pesquisa e por fim a hipoacutetese levantada sobre a influecircncia do professor

Francisco na comunidade surda de Santa Catarina com relaccedilatildeo agrave liacutengua

de sinais

12 ndash Mudanccedilas histoacutericas na LIBRAS e variaccedilotildees linguiacutesticas de

1946 a 2010 em Santa Catarina

A metodologia utilizada nesta pesquisa eacute de base empiacuterica

atraveacutes de coleta de narrativas de sujeitos surdos na faixa etaacuteria de 15 a

80 anos divididos em trecircs grupos os quais responderam agrave seguinte

pergunta ldquoExplique a histoacuteria da educaccedilatildeo do sujeito surdo em Santa

32

Catarinardquo As respostas estatildeo registradas em viacutedeos por se tratar de uma

liacutengua visual-espacial

Os dados colhidos satildeo descritos e analisados com o objetivo de

verificar se ocorreram variaccedilotildees e possiacuteveis mudanccedilas em tempo

aparente em sinais da LIBRAS identificando linguiacutestica e

historicamente cada caso

Nesta pesquisa pretendo aprofundar a histoacuteria da LIBRAS em

Santa Catarina e verificar as variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas

entre 1946 a 2010 bem como a influecircncia do professor Francisco na

comunidade surda do estado de Santa Catarina

Temos poucos registros histoacutericos no Brasil sobre a comunidade

surda e a LIBRAS e esses em sua maioria satildeo escritos por pessoas

ouvintes uma histoacuteria oral5

Em Santa Catarina a realidade eacute a mesma natildeo haacute registros

escritos documentados sobre a comunidade surda A LIBRAS foi

oficializada em 2001 em Santa Catarina e em 2002 no Brasil Ainda eacute

recente e poucos registros temos Eacute necessaacuterio pesquisar mais sobre a

LIBRAS em seus aspectos histoacuterico e linguiacutestico pois atualmente

poucos surdos conhecem sua liacutengua em seus aspectos linguiacutesticos e

gramaticais apenas sinalizam e se comunicam mas se pedirmos

explicaccedilotildees poucos saberatildeo daacute-las ateacute porque isso natildeo eacute mateacuteria

escolar

Com os dados coletados e analisados acredito que poderei

entender melhor qual foi a influecircncia ou natildeo do professor Francisco

junto agrave comunidade surda de Santa Catarina Aleacutem dos dados pretendo

fazer isso com o auxiacutelio de reportagens jornais e revistas catarinenses

bem como atraveacutes de documentos das instituiccedilotildees que trabalharam ou

trabalham com pessoas surdas Tambeacutem pretendo verificar informaccedilotildees

no arquivo Puacuteblico Catarinense Espero que com os depoimentos em

viacutedeos consiga encontrar evidecircncias de variaccedilotildees e mudanccedilas

linguiacutesticas lexicais e fonoloacutegicas em LIBRAS que ocorreram desde a

deacutecada de 1940 Os surdos que deram seu depoimento fazem parte da

comunidade surda que participou do movimento surdo catarinense nas

uacuteltimas deacutecadas Para analisar as transformaccedilotildees ocorridas eles foram

observados por faixas etaacuterias Considerando o uso de narrativas sobre a

5 SCHMITT (2008) na dissertaccedilatildeo de mestrado apresenta O que eacute Histoacuteria Oral ndash Eacute o estudo das narrativas dos sujeitos da pesquisa sua versatildeo e memoacuterias do fato pesquisado ocupa-se em

registrar essas narrativas (gravaccedilotildees filmagens transcriccedilatildeo das entrevistas recortes da

imprensa) como metodologia de pesquisa

33

histoacuteria dessas pessoas utilizei as discussotildees sobre histoacuteria oral para

realizar as entrevistas conforme Alberti (2005)

A histoacuteria oral tem uma natureza especifica que

condiciona as perguntas que o pesquisador pode fazer

Em se tratando de uma forma de recuperaccedilatildeo do passado

conforme concebido pelos que viveram eacute fundamental

que tal abordagem seja efetivamente relevante para a

investigaccedilatildeo que se pretende realizar (ALBERTI 2005

p 30)

13 ndash Objetivo Geral

Verificar a influecircncia do professor Francisco Lima Juacutenior sobre a

liacutengua de sinais de Santa Catarina e pesquisar variaccedilotildees e possiacuteveis

mudanccedilas em tempo aparente na liacutengua de sinais desse educador e de

outros oito sujeitos surdos reunidos por faixa etaacuteria diferente em trecircs

grupos de indiviacuteduos Grupo I (de 60 a 80 anos) Grupo II (de 30 a 60

anos) e Grupo III (de 15 a 30 anos) A narrativa desses nove sujeitos

surdos seraacute analisada com o propoacutesito de verificar quais as

transformaccedilotildees linguiacutesticas ocorridas na comunidade surda atual e quais

as diferenccedilas lexicais e fonoloacutegicas de uso da LIBRAS nas faixas etaacuterias

desses trecircs grupos de geraccedilotildees investigados

14 ndash Objetivos especiacuteficos

Identificar as alteraccedilotildees de alguns sinais quanto agrave

variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica e lexical dentro da liacutengua

de sinais e outros sinais que permanecem ateacute a atualidade

sem influecircncias externas

Comparar a variaccedilatildeo e a mudanccedila encontradas na

liacutengua de sinais utilizada pelos indiviacuteduos surdos

pertencentes a diferentes faixas etaacuterias representantes de

trecircs geraccedilotildees de sinalizadores

Identificar possiacuteveis fatores que condicionam a

variaccedilatildeo e a mudanccedila linguiacutesticas observadas nos trecircs

grupos pesquisados

34

Pretendemos pesquisar a liacutengua de sinais em Santa Catarina

observando a narrativa (depoimento) do sujeito surdo coletada na

escola e na associaccedilatildeo Com o surgimento do primeiro espaccedilo de

identidade cultural6 do surdo em contato com o professor Francisco

quando retornou do Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos

(INESRJ) para Florianoacutepolis que contribuiu para a melhoria do ensino

de liacutengua de sinais aos surdos Observe-se o que disse Felipe (2001)

sobre isso

Assim o antigo Instituto continuou como um centro de

integraccedilatildeo para o fortalecimento do desenvolvimento da

LIBRAS pois segundo Relatoacuterio do Diretor Dr Tobias

Rabello Leite de 1871 esta escola jaacute possuiacutea alunos

vindos de vaacuterias partes do paiacutes dezoito anos retornavam

agraves cidades de origem levando com eles a LIBRAS

(FELIPE 2001 p 121)

Quando o professor Francisco retornou de seu estudo no INES

percebe-se que influenciou o aprendizado da LIBRAS em Santa

Catarina pois a geraccedilatildeo mais nova buscava aprender a liacutengua com os

liacutederes surdos da geraccedilatildeo do professor Francisco Esse espaccedilo foi

conquistado pela poliacutetica de educaccedilatildeo de surdos que assegurava o

envolvimento com a liacutengua de sinais que atualmente estaacute se expandindo

na comunidade surda em nosso estado catarinense

Esse caminho foi aberto pelo professor Francisco Lima Juacutenior

que motivou os sujeitos surdos a aprenderem a LIBRAS num periacuteodo de

escolas oralistas a valorizarem o contato com outros sujeitos surdos e as

conversas nas comunidades surdas e associaccedilotildees levando os surdos da

atualidade a lutarem pelos seus direitos e deveres e a aprimorarem os

espaccedilos cultural e linguiacutestico criando assim lideranccedilas nessas

comunidades Isto proporcionou troca de ideias e experiecircncias

necessidade de mais estudos e melhor compreensatildeo da poliacutetica brasileira

para a busca desses direitos Os surdos da atualidade tambeacutem criaram

uma identidade nessa comunidade com as trocas aprenderam mais

criaram sinais para palavras novas melhoraram sinais antigos etc Para a

autora Tanya A Felipe

6 SCHMITT (2008) relata que ldquoA pesquisa acadecircmica na universidade sobre os problemas na

fase de histoacuteria de ouvinte e a pesquisa na educaccedilatildeo de surdos introduz a identidade cultural

surda no espaccedilo de conflito que eacute a educaccedilatildeo de surdo Esse momento cultural do surdo e a aacuterea de conhecimento sobre a cultura surda satildeo importantes na realidade das pesquisas que

apresentam o sujeito surdo no ensinordquo

35

Como toda liacutengua as liacutenguas de sinais aumentam seus

vocabulaacuterios com novos sinais introduzidos pelas

comunidades surdas em resposta as mudanccedilas culturais e

tecnoloacutegicas Assim a cada necessidade surge um novo

sinal e desde que se torne aceito seraacute utilizado pela

comunidade (FELIPE 2001 p 19)

Percebe-se na citaccedilatildeo da autora que o contato da comunidade

surda7 acontece atraveacutes da comunicaccedilatildeo visual-espacial As mudanccedilas

tecnoloacutegicas a busca de conhecimento e a cultura influenciam a

LIBRAS fazendo com que a comunidade crie novos sinais e modifique

outros sinais mais antigos

A LIBRAS eacute considerada uma liacutengua assim como as outras

liacutenguas orais e apresenta variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica Um dos

exemplos de mudanccedila em LIBRAS foi uma mudanccedila discreta8 do sinal

de ldquoMAtildeErdquo A mudanccedila fonoloacutegica atinge um dos cinco paracircmetros

fonoloacutegicos da formaccedilatildeo de sinais O ponto de articulaccedilatildeo eacute preservado

na mudanccedila do sinal MAtildeE a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) muda e eacute

acrescentado o sinal de MULHER tornando o sinal composto

Figura 01 ndash Sinal de Matildee

Eacute importante retomar aqui quais satildeo esses cinco paracircmetros

Stokoe que por volta de 1960 e 1965 apontou trecircs paracircmetros que

constituem os sinais e nomeou-os configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ponto

de articulaccedilatildeo (PA) ou locaccedilatildeo (L) e movimento (M) Satildeo eles

7 Para Felipe (2001 p 38) ldquouma comunidade eacute um sistema social geral no qual pessoas vivem

juntas compartilham metas comuns e partilham certas responsabilidades umas com as outrasrdquo PADDEN (19895) Para esta pesquisadora ldquouma Comunidade Surda eacute um grupo de pessoas

que mora em uma localizaccedilatildeo particular compartilha as metas comuns de seus membros e de

vaacuterios modos trabalha para alcanccedilar estas metasrdquo Portanto nessa Comunidade pode ter tambeacutem ouvintes e surdos que natildeo satildeo culturalmente Surdos 8 Ocorre quando uma forma (ou sinal) eacute substituiacuteda por outra de modo natildeo gradual

36

Configuraccedilatildeo de matildeos ndash satildeo as diferentes formas que as

matildeos assumem na representaccedilatildeo do sinal

Ponto de articulaccedilatildeo ndash eacute a posiccedilatildeo onde as matildeos satildeo

posicionadas no momento da sinalizaccedilatildeo

Movimento ndash eacute o deslocamento das matildeos no espaccedilo e

em diferentes partes do corpo

Karnopp (1999) apresenta como resultado de pesquisa que a

configuraccedilatildeo de matildeos se diferencia pela seleccedilatildeo de dedos e a

configuraccedilatildeo ou posiccedilatildeo destes para efetuar o sinal Em ASL os dedos

selecionados devem permanecer na mesma disposiccedilatildeo ou quando tem

mudanccedila de posiccedilatildeo os dedos selecionados devem continuar iguais ateacute

o teacutermino do sinal As posiccedilotildees e configuraccedilotildees dos dedos diferenciam-

se em a) difusatildeo dos dedos aduccedilatildeo b) junccedilatildeo entre os dedos e o

polegar abertura e c) tipo e grau de flexatildeo apresentando a organizaccedilatildeo

fonoloacutegica dos sinais com ecircnfase nos articuladores dos itens lexicais e

das restriccedilotildees na formaccedilatildeo de sinais

A partir de 1970 outros linguistas conduziram estudos mais

aprofundados sobre os aspectos fonoloacutegicos Robbin Battison (1974)

Edward S Klima e Ursulla Bellugi (1979) descreveram o quarto

paracircmetro

Orientaccedilatildeo ndash que eacute a posiccedilatildeo da palma da matildeo se pra

frente ou pra traacutes para cima ou para baixo para o lado

esquerdo ou direito

O quinto paracircmetro eacute a expressatildeo facialcorporal foi adicionado

por Ferreira Brito em 1995 no Brasil

Expressotildees faciais e corporais satildeo elementos

gramaticais que compotildeem a estrutura da liacutengua Tambeacutem

chamados de marcadores natildeo manuais Ex a fisionomia

para expressar uma pessoa chata e muito chata eacute

intensificada para expressar o que eacute desejado Alguns sinais

podem ter uma direccedilatildeo e a inversatildeo deste pode significar

oposiccedilatildeo contraacuterio ou concordacircncia nuacutemero-pessoal

37

Figura 02 ndash Sinal de Matildee

Para Quadros (1997) pesquisas evidenciam a perda completa da

motivaccedilatildeo do sinal na crianccedila surda em fase de aquisiccedilatildeo da liacutengua de

sinais Tais sinais como ldquobenccedilatildeordquo para matildee e pai para o surdo adulto ateacute

podem ser resgatados Entretanto a crianccedila que estaacute adquirindo a liacutengua de

sinais e nunca viu esta accedilatildeo natildeo repete a mesma atitude beijando a matildeo

A liacutengua de sinais eacute diferente em diversos paiacuteses e ateacute mesmo em

diferentes regiotildees dentro de um mesmo paiacutes A liacutengua de sinais eacute o que

permite a comunicaccedilatildeo entre as pessoas surdas desta forma os surdos

que conhecem a liacutengua de sinais de outras regiotildees com certeza teratildeo

maior facilidade de comunicaccedilatildeo e tambeacutem de conhecimento

Vale ressaltar que toda forma de liacutengua ldquofaladardquo no contexto

social e tudo o que noacutes vivemos sofre mudanccedilas Todas as liacutenguas tecircm

influecircncia do tempo decorrido Na LIBRAS tambeacutem existem mudanccedilas

culturais e linguiacutesticas

15 ndash Questotildees e Hipoacuteteses de pesquisa na liacutengua de sinais

Nesta pesquisa parto das seguintes questotildees 1) O professor

Francisco influenciou a LIBRAS em SC 2) Que variaccedilotildees e mudanccedila

linguiacutestica vamos encontrar na liacutengua dos nove sujeitos surdos

Acredito que (hipoacutetese) o professor Francisco teve grande influecircncia na

comunidade surda de Santa Catarina com relaccedilatildeo agrave Liacutengua de Sinais

Acredito tambeacutem (hipoacutetese) que muitos dos sinais utilizados pelos

Grupos I e II natildeo satildeo conhecidos pelo Grupo III dos mais jovens Penso

que (hipoacutetese) alguns sinais tiveram alteraccedilotildees quanto a variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica como tambeacutem lexical nos trecircs grupos pesquisados

Quando comparar a liacutengua de sinais nos Grupos I II e III nas diferentes

faixas etaacuterias espero (hipoacutetese) encontrar vaacuterios sinais que comprovem

variaccedilotildees e mudanccedilas fonoloacutegicas e lexicais Essas hipoacuteteses surgiram

de observaccedilotildees como usuaacuterio da LIBRAS

38

Em relaccedilatildeo aos fatores internos e externos que condicionam a

variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica e lexical acredito (hipoacutetese) que o

professor Francisco eacute o precursor do ensino de sinais em Santa Catarina

(fator externo) No Grupo II temos a influecircncia do professor Francisco e

de seus primeiros alunos e das associaccedilotildees de surdos e no Grupo III

temos um maior nuacutemero de surdos nas universidades precisando criar

novos sinais para os novos conhecimentos aprendidos

Labov em sua pesquisa cita ldquo o objetivo da pesquisa linguiacutestica

na comunidade deve ser descobrir como as pessoas falam quando natildeo

estatildeo sendo monitoradasrdquo (LABOV 2008 [1972] p 244) Nesta

pesquisa a observaccedilatildeo aos indiviacuteduos surdos dos trecircs grupos

pesquisados acontece de forma diferente eles sabem que estatildeo

respondendo perguntas e que estatildeo sendo filmados

Pela anaacutelise das respostas em liacutengua de sinais e descriccedilatildeo dos

surdos seraacute possiacutevel descobrir atraveacutes das descriccedilotildees aspectos

culturais9 individuais e tambeacutem obter dados quanto agraves variaccedilotildees e

mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas na liacutengua de sinais neste periacuteodo de

tempo que acontece desde 1946

Finalmente esta tese teraacute o registro dos dados colhidos nos trecircs

grupos pesquisados de diferentes geraccedilotildees mostrando variaccedilotildees e

mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas com os contatos culturais da

comunidade surda

Os fatos sociais desta liacutengua como de qualquer outra podem

acontecer em qualquer tempo e em diferentes situaccedilotildees e quando

analisados neste caso podemos perceber a mudanccedila dos indiviacuteduos

surdos num determinado contexto soacutecio-histoacuterico e linguiacutestico A amostra eou dados para a tese de doutorado na UFSC

proporcionaraacute anaacutelises sobre aspectos variaacuteveis da LIBRAS (variaccedilatildeo e

mudanccedila fonoloacutegica e lexical) com o apoio de autores como Labov

2008 [1972] Naro 2003 Weinreich Labov e Herzog 2006 [1968]

Calvet 2002 entre outros

O periacuteodo indicado para a pesquisa que eacute de 1946 a 2010 pode

revelar parte da histoacuteria da comunidade surda de Santa Catarina e a

influecircncia que o professor Francisco Lima Juacutenior trouxe de contribuiccedilatildeo

para a liacutengua de sinais de Santa Catarina e para a comunidade surda do

estado

9 PERLIN (2006 p 65) Cultura Surda ndash o livro a Invenccedilatildeo da Surdez II explica que a cultura surda esta aiacute enfatizando oferecendo transparentemente sua possessatildeo simboacutelica sobressaindo

com seus discursos narrativos afirmando a necessidade da reinscriccedilatildeo da diferenccedila cultural e

consequente diferenccedila pedagoacutegica

39

CAPIacuteTULO II ndash Pressupostos teoacuterico-metodoloacutegicos da

sociolinguiacutestica laboviana

21 ndash Introduccedilatildeo

A Sociolinguiacutestica se dedica ao estudo da liacutengua falada e do

contexto social de uso da liacutengua ou seja estuda como os membros de

uma sociedade se comunicam em diversas situaccedilotildees em funccedilatildeo por

exemplo do lugar onde cresceram ou de sua posiccedilatildeo socioeconocircmica A

liacutengua surge e tambeacutem se transforma em funccedilatildeo do contexto soacutecio-

histoacuterico

Como seraacute visto mais adiante para essa aacuterea de conhecimento satildeo

fundamentais os conceitos de variaccedilatildeo e mudanccedila O primeiro envolve a

coexistecircncia de diferentes formas linguiacutesticas para a expressatildeo de um

significado e o segundo diz respeito agrave substituiccedilatildeo de formas com o

passar do tempo Esses estudos satildeo fundamentados na sociolinguiacutestica

variacionista que teve iniacutecio com as pesquisas de Labov

Este capiacutetulo traz relatos da pesquisa de Labov que foi pioneiro

na sociolinguiacutestica e realizou estudo linguiacutestico na comunidade de fala

da Ilha de Marthas Vineyard associando a influecircncia dos povos que

imigraram e colonizaram a ilha agraves mudanccedilas ocorridas na fala bem

como o turismo que eacute frequente no veratildeo com visitantes que falam

variedades de uma mesma liacutengua e outras liacutenguas e influenciam o

comeacutercio da ilha fazendo com que variedades e liacutenguas diferentes se

misturem quando as pessoas conversam Num dado momento Labov

investigou a centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) na comunidade de fala da ilha

Foram entrevistados diferentes grupos eacutetnicos ingleses portugueses e

iacutendios Isso foi importante para entender mudanccedilas linguiacutesticas

ocorridas nessa ilha dos Estados Unidos

Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os seguintes toacutepicos a liacutengua

em seu contexto social a partir da teoria laboviana Labov como

pesquisador pioneiro em sociolinguiacutestica o iniacutecio da pesquisa de Labov

na Ilha de Martha‟s Vineyard com ingleses portugueses e iacutendios a

maneira como Labov realizou a pesquisa para escolher a variaacutevel

linguiacutestica a ser estudada a explicaccedilatildeo dos dados obtidos por grupos

ocupacionais e por idade a explicaccedilatildeo da pesquisa realizada por Labov

sobre o aumento da centralizaccedilatildeo comentaacuterios sobre a interaccedilatildeo de

padrotildees linguiacutesticos e sociais na Ilha de Martha‟s Vineyard os

princiacutepios da mudanccedila linguiacutestica a idade e a variaccedilatildeo estaacutevel e por

fim algumas reflexotildees sobre a idade e a mudanccedila linguiacutestica

40

22 ndash A liacutengua em seu contexto social

A liacutengua eacute uma forma de comportamento eacute usada por seres

humanos num contexto social ao comunicarem uns aos outros suas

ideias suas necessidades e emoccedilotildees Sendo assim o comportamento

linguiacutestico de um grupo pode variar de acordo com as experiecircncias

vividas numa comunidade Para Labov (1972) o estudo da origem da

evoluccedilatildeo da linguagem que eacute a ciecircncia que estuda a parte da linguiacutestica

incluiacuteda no contexto social eacute buscado no comportamento linguiacutestico de

um grupo social isto eacute de uma comunidade de fala10

Natildeo se trata de um grupo de falantes que utilizava a mesma forma

de fala mas do grupo que segue as mesmas normas quanto ao uso da

linguagem No caso da linguagem gestual um exemplo disso seria de

um surdo com uma famiacutelia de ouvintesfalantes que natildeo fica isolado na

questatildeo da liacutengua pois comeccedila a frequentar uma associaccedilatildeo de surdos e

aprende a liacutengua de sinais Neste espaccedilo ele aprende a comunicar-se na

liacutengua de sinais e natildeo apenas numa liacutengua gestual caseira

Para entender o comportamento linguiacutestico de uma comunidade

de fala vatildeo ser retomados alguns estudos pioneiros de Labov da deacutecada

de 1960 Antes poreacutem eacute importante entender quem eacute esse pesquisador e

alguns dos trabalhos que ele fez 221 ndash LABOV pesquisador pioneiro em sociolinguiacutestica

William Labov nasceu na cidade de Rutherford em Nova Jersey

no dia 4 de dezembro em 1927 Comeccedilou sua carreira de estudo em

Harvard em 1948 quiacutemico trabalhou na aacuterea industrial de 1949 a 1961

Ele iniciou suas pesquisas como linguista nos Estados Unidos com foco

de estudo direcionado ao contexto social agrave comunidade de fala e agraves

mudanccedilas sonoras da liacutengua

A observaccedilatildeo de Labov sobre os padrotildees sociolinguiacutesticos na ilha

de Marthas Vineyard resultou na publicaccedilatildeo do seu trabalho

apresentado no 37ordm Encontro Anual da Sociedade Americana de

Linguiacutestica em Nova York nos Estados Unidos em 1963 Nesse

trabalho o pesquisador apresentou suas consideraccedilotildees sobre a mudanccedila

sonora dos ditongos (ay) e (aw) no contexto da comunidade de fala da

10 Segundo COELHO et al (2010 p 163) Comunidade de fala ndash ldquonoccedilatildeo que recobre tanto aspectos sociais quanto linguiacutesticos envolvendo atitudesnorma sociais compartilhadas pelos

falantes que por sua vez compartilham caracteriacutesticas linguiacutesticas que os diferem de outros

grupos sociaisrdquo

41

ilha

O autor estudou tambeacutem na Columbia University sob a

orientaccedilatildeo do Professor Uriel Weinreich - doutorado em linguiacutestica em

1964 ndash com quem realizou e aprofundou sua pesquisa em

sociolinguiacutestica sobre a liacutengua falada

Eacute um pesquisador amplamente considerado na aacuterea da pesquisa

linguiacutestica por sua metodologia em sociolinguiacutestica Em seus trabalhos

o autor mostra aspectos de variaccedilatildeo dialetal e mudanccedila da liacutengua inglesa

na sociedade da Ilha de Marthas Vineyard e em Nova York11

atraveacutes de

estudos de variaccedilatildeo fonoloacutegica

Em 1972 Labov publicou seu livro Sociolinguistic Patterns

University of Pennsylvania Press original em Inglecircs o qual teve seu

volume traduzido para o portuguecircs e publicado em 2008 no Brasil

Ele pesquisou durante meses na Ilha de Martha‟s Vineyard

estado de Massachusetts as variaacuteveis foneacuteticas (ay) e (aw) em diferentes

localidades faixas etaacuterias12

grupos profissionais e eacutetnicos da ilha Com

esse estudo conseguiu reconstruir a histoacuteria social da comunidade

daquela ilha a partir da frequecircncia e distribuiccedilatildeo dessas duas variaacuteveis

para verificar se ocorreu mudanccedila sonora correlacionando o complexo

padratildeo linguiacutestico com a estrutura social atraveacutes da investigaccedilatildeo de

fatores sociais que incidem diretamente sobre o processo linguiacutestico

Sobre a mudanccedila linguiacutestica podemos destacar trecircs principais

caracteriacutesticas relevantes na pesquisa que Labov (2008 [1972] p 19)

desenvolveu na Ilha

a origem das variaccedilotildees linguiacutesticas

a difusatildeo e a propagaccedilatildeo das mudanccedilas linguiacutesticas e

a regularidade da mudanccedila linguiacutestica

Labov investigou como aconteceu a variaccedilatildeo do inglecircs americano

em uma determinada comunidade a partir das influecircncias sociais que

vieram do contato entre os indiviacuteduos das localidades pesquisadas

11 A pesquisa de Labov na ilha de Martha‟s Vineyard foi escolhida por mim porque Francisco

viveu em Florianoacutepolis e agrupou os surdos de SC tendo como referecircncia uma ilha que se

parece muito com Martha‟s nas temporadas de veratildeo os turistas do paiacutes e do exterior lotam a cidade fortalecendo a economia do lugar

12 Ao analisar faixa etaacuteria podemos detectar mudanccedila em tempo aparente atraveacutes da

comparaccedilatildeo entre grupo dos falantes mais velhos e jovens ou variaccedilatildeo estaacutevel

42

Pela induccedilatildeo as variaccedilotildees fonoloacutegicas podem ocorrer pelos

processos de assimilaccedilatildeo ou dissimilaccedilatildeo por analogia empreacutestimo

fusatildeo contaminaccedilatildeo variaccedilatildeo aleatoacuteria ou outros processos linguiacutesticos

em que haja a interaccedilatildeo entre o sistema linguiacutestico de caracteriacutesticas

fisioloacutegicas ou psicoloacutegicas do indiviacuteduo

O autor realizou a pesquisa na comunidade de falantes de

Martha‟s Vineyard nos EUA em Massachusetts para verificar o grau de

centralizaccedilatildeo de sons no caso (ay) e (aw) em diferentes momentos e

situaccedilotildees daquela comunidade como veremos nas proacuteximas seccedilotildees

222 ndash A Ilha de Martharsquos Vineyard

Martha`s Vineyard eacute a maior ilha ao largo da costa da Nova

Inglaterra abrange quase uma centena de quilocircmetros quadrados de

aacuterea

A ilha antigamente era povoada por grupos de iacutendios que estavam

relacionados com a Wampanoags no estado sudeste de Massachusetts

Num primeiro momento os europeus ocuparam a ilha e com o passar

do tempo aprenderam com os iacutendios de diferentes tribos de Martha`s

Vineyard a pescar e a utilizar a agricultura

O primeiro assentamento europeu aconteceu em 1644 na ilha O

governador de Winthrop de Boston norte dos Estados Unidos nessa

eacutepoca anotou em seu jornal local que algumas pessoas de Watertown

eram surdas e se comunicavam atraveacutes de sinais13

isso ajudou na

divulgaccedilatildeo da liacutengua inglesa que comeccedilou a ser usada pelos habitantes

de Martha`s Vineyard Este grupo vinha de famiacutelias do estado de

Massachusetts em Bay Colony que resolveu morar na Ilha

A Ilha de Martha‟s Vineyard na deacutecada de 1960 era formada por

uma pequena populaccedilatildeo de 6000 falantes nativos dividida em trecircs

grupos eacutetnicos ingleses portugueses e iacutendios A pesquisa de Labov

levou em consideraccedilatildeo as trecircs etnias Foram entrevistados 69 indiviacuteduos

daquela sociedade Dentre eles os nuacutemeros entrevistados foram 42

13 Realizei a pesquisa no livro que se chama ldquoEveryone Here Spoke Sign Languagerdquo da autora

(Groce 1952) achei interessante a leitura mas fui riscando e analisando de acordo com minha compreensatildeo do texto e comparando com o que Labov (2008) apresentou no livro Padrotildees

Sociolinguiacutesticos Eacute importante salientar que a pesquisa apresentada no livro de Groce eacute

interessante para realizar estudos na comunidade surda na liacutengua de sinais

43

ingleses 16 portugueses e 9 iacutendios de grupos eacutetnicos essencialmente

endoacutegamos14

Labov controlou tambeacutem diferentes grupos ocupacionais

14 na pesca 8 na agricultura 6 na construccedilatildeo 19 no ramo de serviccedilos 3

profissionais liberais 5 donas de casa e 14 estudantes Fez entrevista

formal e observaccedilotildees em muitas situaccedilotildees espontacircneas nas ruas de

Vineyard Haven e Edgartown em lanchonetes restaurantes bares

embarcadouros e diversos lugares onde o som geral da conversa puacuteblica

podia ser anotado quando natildeo gravado As anotaccedilotildees serviam apenas

como controles suplementares sobre as entrevistas gravadas As

entrevistas aconteceram em trecircs periacuteodos agosto final de

setembrooutubro de 1961 e janeiro de 1962 com pessoas de idades que

variaram de 14 a 75 anos

As duas principais variaacuteveis estudadas na ilha foram (ay) e (aw)

O significado linguiacutestico das formas em variaccedilatildeo era o mesmo mas a

situaccedilatildeo de fala era diferente na comunidade Como resultado das

entrevistas o autor obteve aproximadamente 3500 ocorrecircncias de (ay) e

1500 ocorrecircncias de (aw) como base de dados para sua pesquisa

O primeiro grupo eacutetnico formado por descendentes das famiacutelias

mais velhas de origem inglesa foi para a ilha nos seacuteculos XVII e XVIII

As famiacutelias inglesas eram os Mayhews Nortons Hancocks Allens

Tiltons Vincents Wests e Pooles que com o passar dos anos

influenciaram a liacutengua inglesa falada na ilha e a cultura da comunidade

O segundo grupo eacutetnico era formado por famiacutelias de imigrantes

accedilorianos vindos de Cabo Verde em Portugal Esses imigrantes

portugueses ao longo de toda costa da Nova Inglaterra representaram o

percentual mais alto de centralizaccedilatildeo em Martha‟s Vineyard

A ilha foi dividida em duas partes mais relevantes para a

pesquisa a ilha alta (up-island) e a ilha baixa (down-island) num total

de 5563 (cinco mil quinhentos e sessenta e trecircs) habitantes na deacutecada

de 1960 A ilha alta era organizada por pessoas que viviam em meio

rural poucos lugares fazendas casas de veraneio abandonadas lagoas

de aacutegua salgada e pacircntanos era uma aacuterea geograacutefica central desabitada e

com pinheirais improdutivos A ilha baixa era uma regiatildeo formada por

trecircs pequenos centros urbanos onde vivia cerca de trecircs quartos da

populaccedilatildeo A populaccedilatildeo de Martha‟s Vineyard na deacutecada de 1970 era de

11725 habitantes na parte alta da Ilha (rural) era de 3846 Edgartown

14 Eacute o indiviacuteduo que se casa com membros da mesma tribo para conservaccedilatildeo de sua nobreza e

raccedila

44

1118 Oak Bluffs 1027 Vineyard Haven 1701 e na parte baixa da Ilha

(Vilarejos) 1717 Edgartown 256 Oak Bluffs 292 Tisbury 468 West

Tisbury 360 Chilmark 238 Gay Head 103

Mapeamento da Ilha de Martharsquos Vineyard

Em 1960

Figura 03 ndash Retirado do livro de GROCE Nora Ellen Everyone Here

Spoke Sign Language Hereditary Deafness on Martha‟s Vineyard

Printed in the United States of America 1952

45

Em 1960

Figura 04 ndash Retirado do livro de LABOV Willian Padrotildees

Sociolinguiacutesticos 2008 [1972]

Atualmente em 2012

Figura 05 ndash 10092011 retirado no site

httpcawikipediaorgwikiMartha27s_Vineyard

46

A populaccedilatildeo na Ilha no ano de 1960 estava constituiacuteda de 11

de descendentes da primeira ou da segunda geraccedilatildeo de imigrantes

portugueses Das terceiras e quartas geraccedilotildees provavelmente chegaria

proacuteximo aos 20 Quanto ao terceiro grupo eacutetnico eram remanescentes de

indiacutegenas de GAY HEAD O quarto grupo eacute uma Miscelacircnea de

famiacutelias de imigrantes europeus que vieram da Inglaterra Franccedila-

Canadaacute Irlanda Alemanha e Polocircnia Apesar de que a soma desses

imigrantes seja de aproximadamente 15 natildeo foi levada em conta por

natildeo ser uma forccedila social coesa Segundo Labov todos os anos no veratildeo muitos turistas

chegavam agrave ilha nos meses de junhojulho passando de 6000

habitantes para 42000 habitantes representando um nuacutemero expressivo

mas natildeo foi diretamente analisado porque a influecircncia direta destes

veranistas sobre o falar em Vineyard era relativamente pequena A

constante pressatildeo vinda na comunicaccedilatildeo junto agrave crescente dependecircncia

econocircmica criada pelo turismo gera indiretamente mudanccedilas

linguiacutesticas

Os veranistas estrangeiros falam uma liacutengua proacutepria em seu paiacutes

vatildeo a passeio agrave Ilha para conhecer e explorar a cidade e tambeacutem o povo

daquela ilha fazendo trocas neste conviacutevio e de alguma forma

promovem mudanccedilas econocircmicas poliacuteticas culturais sociais e

linguiacutesticas

O autor constatou que a Ilha de Martha‟s Vineyard aleacutem da

variaccedilatildeo estudada que eacute a centralizaccedilatildeo dos ditongos os falantes

tambeacutem usam as formas variaacuteveis do ndashr poacutes-vocaacutelico em palavras como

car (carro) four (quatro) card (cartatildeo) fourth (quarto) (podemos

verificar ocorrecircncia semelhante na liacutengua falada oral com o sotaque que

se modifica) Diferente do padratildeo comum do sudeste da Nova

Inglaterra [ai] e [au] com frequecircncia se ouve na ilha [ɐi] e [ɐu] ou

mesmo [əi] e [əu] Labov (2008 [1972] p 27) escreve o seguinte

ldquoEsse aspecto dos ditongos centralizados eacute saliente para

o linguumlista mas natildeo para os falantes eacute claramente imune

agrave distorccedilatildeo consciente jaacute que os vineyardenses nativos

natildeo se datildeo conta dele nem conseguem controlaacute-lo

conscientemente No que diz respeito agrave estrutura natildeo

podemos desprezar o paralelismo estrutural de ay e

aw por outro lado esses ditongos satildeo marcados por

grande liberdade estrutural na gama de alofones

permitida pelo sistema Essas satildeo diferenccedilas estritamente

subfonecircmicas Uma vez que natildeo existem outros ditongos

47

crescentes com primeiros elementos baixo ou central

nesse sistema natildeo eacute provaacutevel que o alccedilamento

continuando ou ate a posteriorizaccedilatildeo ou anterioriazaccedilatildeo

resultasse em confusatildeo com qualquer outro fonemardquo

Labov em sua pesquisa mostrou a pronuacutencia variaacutevel dos

ditongos (ay) e (aw) na comunidade de fala considerando traccedilos sociais

dos moradores da localizaccedilatildeo alta (rural) e baixa (vilarejos) da Ilha

atraveacutes de um mapeamento da fala Ele investigou (ay) como o ditongo

em palavras do inglecircs (ex right white pride wine ou wife) e (aw)

ditongo encontrado nas palavras do inglecircs como house out e doubt por

exemplo

Ele realizou procedimentos de observaccedilatildeo e identificaccedilatildeo da

comunidade de fala em duas localizaccedilotildees diferentes em Marthas

Vineyard e Nova York Estudou as realizaccedilotildees de (ay) e (aw) em vaacuterias

regiotildees da ilha e do estado entre as faixas etaacuterias dos informantes entre

grupos de profissionais e tambeacutem entre os grupos eacutetnicos (raccedila e cor)

E em Nova York pesquisou em trecircs lojas de departamento sobre a

realizaccedilatildeo de [r] em posiccedilatildeo final e preacute-consonantal na fala de

funcionaacuterios destas lojas Labov (1994) analisou o uso de [r] que

poderia ser pronunciado ou natildeo na fala de 264 pessoas levando-os a

responder de forma que aparecesse na fala a expressatildeo fourth floor

(quarto andar) porque essa expressatildeo contem [r] nas duas proposiccedilotildees

pretendidas preacute-consonantal (fourth) e final (floor) Labov com essa

pesquisa nos Estados Unidos mostrou que o vernaacuteculo de Nova York

continuou sem o [r] por muito tempo mas como a pronuacutencia do [r] era

prestigiada passou a ser usada pelas classes mais altas e pelos jovens

sensiacuteveis pela questatildeo do status social

Desse modo Labov desenvolveu suas pesquisas com base em

procedimentos metodoloacutegicos que pudessem reconstruir a histoacuteria

recente da mudanccedila linguiacutestica da pronuacutencia dos ditongos e do [r] poacutes-

vocaacutelico Neste trabalho vatildeo ser detalhados os resultados da pesquisa em

Marthas Vineyard

223 ndash Seleccedilatildeo da variaacutevel linguiacutestica

Na seleccedilatildeo da variaacutevel linguiacutestica eacute importante perguntar quais

satildeo as propriedades mais uacuteteis de uma variaacutevel linguiacutestica servindo de

foco de pesquisa de uma determinada comunidade de falantes

Labov pensou como primeiro passo da pesquisa em verificar um

item que ocorra com frequecircncia numa conversaccedilatildeo espontacircnea e que

48

possa ser mapeado Em segundo deve ser estrutural ou seja quanto

mais integrado o item estiver num sistema mais amplo de unidades

funcionais maior seraacute o interesse linguiacutestico intriacutenseco ao estudo E

finalmente em terceiro a distribuiccedilatildeo do traccedilo deve ser estratificada

observando a faixa etaacuteria o grupo de profissionais ou outros

extratos da comunidade de fala Labov apresentou a pesquisa

preliminar sobre o estudo do som na fala da comunidade em vaacuterias

categorias buscando os dados das pessoas que falavam em

diferentes situaccedilotildees linguiacutesticas na ilha como mostra a citaccedilatildeo

abaixo Nas entrevistas preliminares conduzidas em Martha‟s

Vineyard em 1961 foram observadas diversas

mudanccedilas estruturais que eram claramente paralelas a

mudanccedilas que ocorreriam no continente sob a

influecircncia do padratildeo do sudeste da Nova Inglaterra

(LABOV 2008 [1972] p 26)

Eacute importante ressaltar que a Ilha de Marthas‟s Vineyard tem

conservado traccedilos arcaicos provavelmente a populaccedilatildeo era do sudeste

da Nova Inglaterra antes de 1800 Estudos preliminares em 1961

mostraram que a maior parte dos traccedilos especiais do falar da ilha

apresentado nos mapas do LANE15

ainda podiam ser encontrados entre

os falantes de 50 a 95 anos de idade

Labov queria entender a estrutura interna do inglecircs Vineyardense

as diferenccedilas sistemaacuteticas que jaacute haviam ocorrido e as mudanccedilas que

estavam ocorrendo por isso selecionou um aspecto linguiacutestico

caracteriacutestico da ilha com o maior nuacutemero possiacutevel de variaccedilatildeo e o mais

complexo padratildeo de distribuiccedilatildeo Ele comeccedilava a pesquisa

entrevistando indiviacuteduos falantes na comunidade com o objetivo de

detectar variaccedilotildees linguiacutesticas16

geograacuteficas sociais e estiliacutesticas

15 Linguistic Atlas of New England Trata-se de um projeto que registrou a fala de habitantes da Nova Inglaterra nos Estados Unidos na deacutecada de 1930 Segundo O‟Cain (1979 p 243)

ldquoLANE samples the speech of the older and rural representatives of the culture thus

establishing late nineteenth-century bench marks for the study of the New England dialects and also samples younger and urban speakers thus indicating general and particular trends of

changerdquo

16 COELHO et al (2010 p 166) lembram que variaccedilatildeo eacute o ldquoprocesso pelo qual duas formas

podem ocorrer no mesmo contexto linguiacutestico com o mesmo valor referencial ou com o mesmo valor de verdade ie com o mesmo significado Dois requisitos precisam pois ser

cumpridos para que ocorra variaccedilatildeo as formas envolvidas precisam (i) ser intercambiaacuteveis no

mesmo contexto e (ii) manter o mesmo significadordquo

49

Na comunidade linguiacutestica17

de falantes atraveacutes da forma de

falar na conversa espontacircnea e no comportamento o autor mostrou

que havia diferenccedilas linguiacutesticas na ilha de Martha‟s Vineyard e no

sudeste da Nova Inglaterra de onde migraram pessoas para a

colonizaccedilatildeo da ilha

Em sua pesquisa Labov observou que ldquono caso do r poacutes-

vocaacutelico os falantes apresentavam uma variaacutevel linguiacutestica definida

pelos limites geograacuteficos da ilha e que segue um padratildeo social

idiossincraacutetico a Marthas Vineyardrdquo (LABOV 2008 [1972] p 27) Em

algumas aacutereas a retroflexatildeo estava diminuindo e em outras aumentando

As variaccedilotildees do r eram frequentes salientes e envolviam

consequecircncias estruturais determinantes para o sistema vocaacutelico inteiro

Labov em sua pesquisa mostrou variaccedilotildees linguiacutesticas que

ocorreriam na Ilha em uma mesma palavra com ditongos centralizados

como no caso do (ay) e do (aw) na fala dos grupos pesquisados Para

Labov A propriedade deste traccedilo de centralizaccedilatildeo que o faz

parecer excepcionalmente atraente ateacute mesmo agrave

primeira vista eacute a indicaccedilatildeo de um complexo e sutil

padratildeo de estratificaccedilatildeo Essa mesma complexidade

daacute provas de ser recompensadora pois quando a

tendecircncia centralizante eacute mapeada nos haacutebitos de

vaacuterios falantes e a influecircncia do ambiente foneacutetico

prosoacutedico e estiliacutestico eacute considerada permanece uma

ampla aacuterea de variaccedilatildeo (LABOV 2008 [1972] p 27

e 28)

Na comunidade de fala o ambiente o espaccedilo os diferentes

interlocutores as diferentes situaccedilotildees no modo de falar interferem no

sistema foneacutetico prosoacutedico e estiliacutestico da liacutengua falada

As mudanccedilas sonoras satildeo estudadas no momento presente e no

passado buscando novos conhecimentosexplicaccedilotildees sobre uma

17 DUBOIS J et al (2006 p 133) entendem por ldquocomunidade linguiacutestica um grupo de seres

humanos que usam a mesma liacutengua ou o mesmo dialeto num dado momento e que podem comunicar-se entre si Quando uma naccedilatildeo eacute monoliacutengue constitui uma comunidade linguiacutestica

Mas a comunidade linguiacutestica natildeo eacute homogecircnea compotildee-se sempre de um grande nuacutemero de

grupos que tem comportamentos linguiacutesticos diferentes A forma de liacutengua que os membros desses grupos usam tende a reproduzir de uma maneira ou de outra na foneacutetica na sintaxe ou

no leacutexico as diferenccedilas de geraccedilatildeo de origem de residecircncia de profissatildeo ou de formaccedilatildeo

(diferenccedilas socioculturais)rdquo

50

determinada aacuterea da comunidade falada as influecircncias as mudanccedilas

fonecircmicas ocorridas e suposiccedilotildees de como seraacute no futuro

Labov escreve que na Ilha de Marthas‟s Vineyard os veranistas

tecircm apenas uma leve impressatildeo da fala dos nativos pois de cada oito

pessoas na ilha sete satildeo visitantes Para Labov os veranistas natildeo tinham

muita importacircncia naquela comunidade pois na primeira semana de

setembro eles voltavam para seu lugar de origem E apenas ficavam os

moradores da ilha Continuavam a utilizar um alto grau de centralizaccedilatildeo

de (ay) e (aw) na ilha alta e tambeacutem nas aacutereas do vilarejo da ilha baixa

o turismo natildeo interferia nesse aspecto

Labov escreve que

A fim de estudar sistematicamente esse traccedilo foi

necessaacuterio conceber um modelo de entrevista que

fornecesse vaacuterios exemplos de (ay) e (aw) na fala

espontacircnea na fala emocionalmente carregada na fala

monitorada e no estilo de leitura O primeiro desses

ditongos tem mais do dobro da frequumlecircncia de uso do

segundo mas mesmo assim diversas estrateacutegias foram

necessaacuterias para aumentar a concentraccedilatildeo de ocorrecircncias

de ambos (LABOV 2008 [1972] p 31)

Para pesquisar a frequecircncia dos ditongos de (ay) e (aw) Labov

utilizou como estrateacutegia um questionaacuterio lexical concentrando-se em

algumas palavras e utilizando os mapas de LANE Aleacutem disso

formulou perguntas acerca de juiacutezos de valores e orientaccedilatildeo social do

informante e por fim um texto para leitura especial como um teste de

habilidade para ler uma histoacuteria

224 ndash Distribuiccedilatildeo por idade e tempo

Para cada falante o grau geral de centralizaccedilatildeo foi expresso por

valores numeacutericos multiplicados por 100 Veja a tabela 01

Centralizaccedilatildeo por grupos ocupacionais

Na centralizaccedilatildeo por grupos ocupacionais Labov chegou agrave

conclusatildeo de que o grupo dos pescadores na fala centralizava mais os

ditongos (ay) e (aw) do que os fazendeiros e outros pesquisados

51

Ocupaccedilatildeo (ay) (aw)

Pescadores 100 79

Fazendeiros 32 22

Outros 41 57

Tabela 01 ndash Centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por grupos ocupacionais

(LABOV 2008 [1972] p 46)

A tabela 01 mostra as tendecircncias de centralizaccedilatildeo dos ditongos

em funccedilatildeo dos grupos profissionais Os resultados apontam que os

pescadores usam mais centralizaccedilatildeo de (ay) e de (aw) num total

numeacuterico de 100 e de 79 respectivamente Para os fazendeiros os

resultados apontam 32 para (ay) e 22 para (aw) e para as outras

ocupaccedilotildees 41 para (ay) e 57 para (aw) A diferenccedila de resultados com

relaccedilatildeo agrave centralizaccedilatildeo dos ditongos pelos falantes na ilha em Martha‟s

Vineyard confirma o fato de pescadores usarem mais centralizaccedilatildeo do

que os demais informantes

Na centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por faixa etaacuteria Labov escreve

A centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) parece exibir um aumento

regular em faixas etaacuterias sucessivas alcanccedilando um pico

no grupo de 31 a 45 anos Temos agora de examinar as

razotildees para considerarmos esse padratildeo como uma

evidecircncia de mudanccedila histoacuterica no desenvolvimento de

Martha‟s Vineyard (LABOV 2008 [1972] p 41)

Vejamos a tabela

Idade (ay) (aw)

75 25 22

61 ndash 75 35 37

46 ndash 60 62 44

31 ndash 45 81 88

14 ndash 30 37 46

Tabela 02 ndash Centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por faixa etaacuteria (LABOV 2008

[1972] p 41)

52

Na tabela 02 Labov apresenta na coluna agrave esquerda a variaacutevel

independente18

ldquoidaderdquo (externa) distribuiacuteda em diferentes faixas

etaacuterias tendo iniacutecio a partir de 14 anos ateacute acima de 75 anos A coluna

central e a da direita apresentam as duas variaacuteveis dependentes19

fonoloacutegicas (internas) ndash os ditongos (ay) e (aw) Finalmente a tabela

apresenta a centralizaccedilatildeo de cada um dos ditongos de acordo com a

faixa etaacuteria do falante na Ilha de Martha‟s Vineyard

O fato de ser miacutenimo o percentual de centralizaccedilatildeo para

os muito velhos e para os muito jovens mostra que o

efeito da idade natildeo pode ser inteiramente descartado e

que de fato pode ser um fator secundaacuterio na distribuiccedilatildeo

pelas faixas etaacuterias (LABOV 2008 [1972] p 44)

Labov analisou em sua pesquisa iacutendices calculados por ele a

partir da centralizaccedilatildeo dos ditongos num total de 477 centralizaccedilatildeo de

(ay) e (aw) sendo 240 de (ay) e 237 de (aw) Ele percebeu na

distribuiccedilatildeo entre as cinco faixas etaacuterias um aumento percentual

gradativo com o resultado maior de centralizaccedilatildeo no grupo de 31 a 45

anos Por fim Labov em suas pesquisas sociolinguiacutesticas observou uma

possiacutevel mudanccedila da liacutengua nas diferentes faixas etaacuterias da comunidade

de fala de Martha‟s Vineyard com o controle da atuaccedilatildeo de vaacuterios

fatores internos e externos na centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw)

225 ndash Uma explicaccedilatildeo possiacutevel para o aumento da centralizaccedilatildeo

O exame da centralizaccedilatildeo segundo Labov da variaacutevel

dependente em estudo foi meramente descritivo e quando Labov tentou

explicar o fenocircmeno deparou-se com a seguinte questatildeo quais variaacuteveis

independentes seria importante examinarmos Labov supotildee que a

centralizaccedilatildeo desceu a um ponto baixo no final da deacutecada de 1930 e no

poacutes-guerra iniciou a subida Observe

18 COELHO et al (2010 p 166) ldquoVariaacuteveis independentes ndash fatores que condicionam nossa

escolha entre uma ou outra variante e que permitem ao linguista sugerir em que tipo de ambiente tanto linguiacutestico quanto extralinguiacutestico uma variante tem maior probabilidade de

ser escolhida em detrimento de sua (s) ldquorival (is)rdquordquo

19 COELHO et al (2010 p 166) ldquoVariaacutevel dependente ndash aspecto ou categoria da liacutengua que se

encontra em variaccedilatildeordquo

53

Permanece a questatildeo inicial a de explicar (ou de

oferecer um contexto mais amplo para) o aumento geral

da centralizaccedilatildeo na ilha Por que Martha‟s Vineyard deu

as costas para a histoacuteria da liacutengua inglesa Acredito que

podemos encontrar uma explicaccedilatildeo especifica se

estudarmos a configuraccedilatildeo detalhada desta mudanccedila

sonora em funccedilatildeo das forccedilas sociais que afetam mais

profundamente a vida da ilha (LABOV 2008 [1972] p

45)

As primeiras anaacutelises revelaram algumas correlaccedilotildees sociais

notaacuteveis A tabela 03 distribuiccedilatildeo geograacutefica da centralizaccedilatildeo mostra

as tendecircncias nas aacutereas da ilha alta rural a favorecer mais a centralizaccedilatildeo

do que nas aacutereas dos vilarejos da ilha baixa A tabela 03 mostra os

resultados sobre diferenccedilas geograacuteficas entre os moradores da ilha com

relaccedilatildeo agrave centralizaccedilatildeo dos ditongos nas duas principais partes da ilha

nas aacutereas da ilha alta rural e vilarejos na parte da ilha baixa

Os resultados de pesquisa sobre a centralizaccedilatildeo podem ser vistos

na tabela a seguir

(ay) (aw)

Ilha baixa 35 33

Edgartown 48 55

Oak Bluffs 33 10

Vineyard Haven 24 33

Ilha alta 61 66

Oak Bluffs 71 99

N Tisbury 35 13

West Tisbury 51 51

Chilmark 100 81

Gay Head 51 81

Tabela 03 ndash Distribuiccedilatildeo geograacutefica da centralizaccedilatildeo (LABOV 2008

[1972] p 45)

Estaratildeo essas variaacuteveis sociais vinculadas de algum

modo demonstraacutevel agrave mudanccedila linguumliacutestica Seratildeo

realmente independentes umas das outras ou algumas

das correlaccedilotildees estatildeo equivocadas e satildeo dependentes de

algum fator mais amplo que eacute logicamente preacutevio a elas

Se tal fator mais amplo existe precisamos indagar como

ele se originou e de que modo estaacute vinculado aos eventos

linguumliacutesticos Uma abordagem simplista e contabiliacutestica

54

natildeo responderaacute a essas perguntas Teremos de buscar

respostas na estrutura social da ilha e nas pressotildees que

motivam as mudanccedilas sociais da Martha‟s Vineyard

contemporacircnea (LABOV 2008 [1972] p 46)

A mudanccedila linguiacutestica dos grupos era identificada com os

costumes da ilha de Martha‟s Vineyard e Labov conduziu sua pesquisa

com pessoas que habitavam este local e viviam mais de acordo com os

seus costumes tradicionais Labov acreditava que as mudanccedilas

linguiacutesticas poderiam ser correlacionadas agraves relaccedilotildees sociais dos

moradores da ilha e por isso realizou sua pesquisa observando os

comportamentos linguiacutesticos somente das pessoas nativas da ilha

226 ndash A interaccedilatildeo de padrotildees linguiacutesticos e sociais

A Ilha de Martha‟s Vineyard ateacute hoje em dia eacute um lugar

beliacutessimo atrai muitos turistas inclusive poliacuteticos americanos As

pessoas que viviam laacute na deacutecada de 1960 natildeo tinham vida faacutecil na

sociedade americana Era o local com renda mais baixa no municiacutepio de

Massachusetts Labov traz essas informaccedilotildees do Censo de 196020

Os

moradores da ilha dependiam do turista a economia melhorava muito na

temporada Na Ilha de Florianoacutepolis acontece algo parecido Na

temporada de veratildeo o turista do paiacutes e do exterior lota a cidade

fortalecendo a economia do lugar

Florianoacutepolis tambeacutem eacute uma ilha beliacutessima com temporadas de

turistas que vecircm conhecer e aproveitar os lugares ir agraves praias passear

nos Shopping comprar nas lojas ir a restaurantes etc Labov quando

relata sua pesquisa na Ilha de Martha‟s Vineyard parece estar

comentando de Florianoacutepolis Os moradores da ilha aproveitam para

alugar suas casas vender seus produtos principalmente para os turistas

mais ricos Entatildeo haacute uma movimentaccedilatildeo econocircmica muito grande

assim como uma troca com relaccedilatildeo agrave liacutengua falada Como diz Labov (2008 [1972] p 49) ldquoOs chilmarkenses se

orgulham muito de suas diferenccedilas em relaccedilatildeo aos moradores do

continenterdquo

20 O Censo de 1960 mostra que a ilha de Martha‟s Vineyard se trata do municiacutepio mais pobre

de Massachusetts tem a meacutedia de renda mais baixa o mais alto nuacutemero de pessoas pobres e o

menor nuacutemero de pessoas ricas (LABOV 2008 [1972] p 47)

55

Vocecircs que vecircm para caacute para Martha‟s Vineyard natildeo

entendem os costumes das velhas famiacutelias da ilha

costumes e tradiccedilotildees estritamente mariacutetimos e aquilo

que nos interessa o resto da Ameacuterica essa parte do outro

lado aqui da aacutegua que pertence a vocecircs e com que noacutes

natildeo temos nada a ver se esqueceu completamente

Acho ateacute que noacutes usamos um tipo de liacutengua inglesa

totalmente diferente pensamos diferente aqui na ilha

eacute quase uma liacutengua separada dentro da liacutengua inglesa

Interessante se faz notar que no lugar de Chilmark a comunidade

na ilha vive a tradiccedilatildeo da famiacutelia os costumes vecircm de geraccedilatildeo em

geraccedilatildeo O estrangeiro de liacutengua inglesa quando conhece o lugar pode

influenciar a liacutengua falada na ilha pois seu inglecircs eacute diferente

Os resultados reunidos com o maior grau de centralizaccedilatildeo de (ay)

e de (aw) satildeo mostrados na tabela 04 organizados por ocupaccedilatildeo regiatildeo

ou localidade em que moram e faixa etaacuteria

Tabela 04 ndash Cruzamento de fatores 6 falantes com o maior grau de

centralizaccedilatildeo (LABOV 2008 [1972] p 50)

Na regiatildeo Edgartown dois pescadores que satildeo irmatildeos

descendentes de famiacutelias antigas mantecircm sua posiccedilatildeo agrave beira mar de Edgartown trabalhando mesmo frente agrave invasatildeo dos veranistas

Nas tabelas 01 e 04 verifica-se que de todos os grupos

ocupacionais o de pescadores eacute o que utiliza um maior iacutendice de

centralizaccedilatildeo Labov tentou fazer tabulaccedilotildees cruzadas extensas entre as

tabelas 04 e 05 mas chegou agrave conclusatildeo que o nuacutemero era pequeno

Ocupaccedilatildeo Regiatildeo Idade (ay) (aw)

Pescador de Chilmark 60 anos 170 111

Pescador de Chilmark 31 anos 165 211

Pescador de Chilmark 55 anos 150 124

Pescador de Edgartown 61 anos 143 107

Pescador de Chilmark 33 anos 133 79

Pescador de Edgartown 52 anos 131 131

56

demais Exemplificou com o grupo de pescadores de Chilmark na faixa

etaacuteria de 30 a 60 anos Percebeu que cinco informantes tecircm iacutendices

meacutedios de 148 para (ay) e 118 para (aw) o mais elevado do que

qualquer outro grupo social da ilha Labov concluiu entatildeo que a grande

escalada da centralizaccedilatildeo comeccedilou na ilha alta entre os pescadores de

Chilmark

Veja agora os resultados da faixa etaacuteria por grupo eacutetnico

Tabela 05 ndash Centralizaccedilatildeo por grupos eacutetnicos (LABOV 2008

[1972] p 46)

A tabela 5 apresenta a centralizaccedilatildeo por faixa etaacuteria em cada um

dos grupos eacutetnicos principais (ingleses portugueses e indiacutegenas)

Labov concluiu que

Vemos que a centralizaccedilatildeo atinge o aacutepice na faixa etaacuteria

de 30 a 45 anos e que a centralizaccedilatildeo de (aw) alcanccedilou

ou ultrapassou (ay) neste ponto Essa faixa etaacuteria tem

estado sob uma pressatildeo muito mais forte do que qualquer

outra os homens cresceram numa economia declinante

depois de fazerem uma escolha mais ou menos

deliberada de permanecer na ilha em vez de abandonaacute-la

A maioria deles esteve nas forccedilas armadas durante a

Segunda Guerra Mundial ou no conflito da Coreacuteia

Muitos frequumlentaram uma faculdade pois o grupo de

ascendecircncia inglesa tem um grande apreccedilo pela educaccedilatildeo

superior Em algum momento cada um desses homens

escolheu levar uma vida apertada em Martha‟s Vineyard

enquanto muitos de seus contemporacircneos partiram para

ganhar mais dinheiro ou mais reconhecimento em outro

lugar (LABOV 2008 [1972] p 50 e 51)

Exemplificou com relatos as interferecircncias que ocorreram no

modo de falar na ilha Uma delas ldquoSabe o E nem sempre falou desse

jeito foi soacute depois que ele voltou da faculdade Acho que ele queria

Ingleses Portugueses Indiacutegenas

Faixa etaacuteria (ay) (aw) (ay) (aw) (ay) (aw)

Mais de 60 36 34 26 26 32 40

46 a 60 85 63 37 59 71 100

31 a 45 108 109 73 83 80 133

Menos de 30 35 31 34 52 47 88

Todas as idades 67 60 42 54 56 90

57

ficar mais parecido com os homens das docasrdquo

Labov concluiu

Aqui vemos um caso niacutetido de hipercorreccedilatildeo atuando e

com base em outros indiacutecios tambeacutem eacute razoaacutevel supor

que essa eacute uma forccedila muito regular de implementaccedilatildeo da

tendecircncia foneacutetica que estamos estudando (LABOV

2008 [1972] p 52)

Muitos dos jovens de antigas famiacutelias natildeo permaneceratildeo na ilha e

isto reflete nos iacutendices da tabela Atraveacutes de uma leitura padronizada de

um texto com os jovens Labov observou que existia diferenccedila na fala

dos que permaneciam na ilha exibiam forte centralizaccedilatildeo enquanto os

que queriam sair mostravam pouca ou nenhuma centralizaccedilatildeo

Das informaccedilotildees obtidas surgiu um padratildeo unificado que

exprimia o significado social dos ditongos centralizados evidenciando

ldquoque o significado imediato desse traccedilo era o Vineyardenserdquo Labov

esclarece que pelo fato de os grupos terem que responder a desafios

diferentes a seu status nativo desenvolvia-se um modo complexo no

traccedilo fonecircmico

Labov exemplifica isso abaixo

O grupo das antigas famiacutelias de origem inglesa tem sido

submetido a pressotildees vindas de fora seus membros estatildeo

lutando para manter sua posiccedilatildeo independente diante de

um persistente decliacutenio da economia e diante do asseacutedio

ininterrupto dos veranistas O membro da comunidade de

orientaccedilatildeo tradicional naturalmente busca seus valores

nas geraccedilotildees passadas essas geraccedilotildees passadas formam

um grupo de referecircncia para ele (LABOV 2008 [1972]

p 57)

Na geraccedilatildeo mais jovem dos ingleses o efeito diferencial no grau

de centralizaccedilatildeo manteve-se na tradiccedilatildeo eles tinham os ancestrais como

referecircncia se consideravam independentes enquanto pescadores

acreditavam que a ilha lhes pertencia Mantinham sua posiccedilatildeo

econocircmica Se pretendiam sair da ilha a influecircncia dos antepassados

diminuiacutea consideravelmente

No grupo de portugueses eles natildeo enfrentavam o dilema de partir ou ficar na ilha o principal desafio a que esse grupo tinha reagido

provinha do grupo inglecircs que tinha servido de referecircncia ateacute pouco

tempo Para os portugueses o mais urgente era afirmar-se em sua

identidade como ilheacuteu Os indiacutegenas se ressentiam dos obstaacuteculos que

58

enfrentavam na ilha mas tinham adotado muito dos valores dos

Chilmarkenses Com poucos recursos linguiacutesticos ficava difiacutecil insistir

em sua identidade indiacutegena

Labov (2008 [1972] p 59) examinando as entrevistas de cada

informante situou-as em trecircs categorias

Positivo ndash exprime sentimentos definitivamente positivos

acerca de Martha‟s Vineyard neutra ndash expressa

sentimentos nem positivos nem negativos acerca de

Martha‟s Vineyard negativa ndash indicada o desejo de ir

viver em outro lugar

Agora observe na tabela 06 o resultado da centralizaccedilatildeo segundo

a atitude dos trecircs grupos de falantes quanto agrave ilha

Pessoas (ay) (aw)

40 Positiva 63 62

19 Neutra 32 42

6 Negativa 09 08

Tabela 06 ndash Centralizaccedilatildeo e atitude com relaccedilatildeo a Martha‟s Vineyard

(LABOV 2008 [1972] p 59)

Labov agrupou os vaacuterios informantes em uma escala social

quanto ao uso dos ditongos centralizados Primeiro mostravam-se com

atitudes positivas 40 pessoas entrevistadas o iacutendice de centralizaccedilatildeo era

de 63 para (ay) e 62 para (aw) as duas comparaccedilotildees de centralizaccedilotildees

mais altas Segundo o ponto neutro realizado por 19 pessoas

entrevistadas o iacutendice de centralizaccedilatildeo ficava na faixa de 30 32 para

(ay) e 42 para (aw) nem positivo nem negativo Terceiro o ponto

negativo O autor encontrou 6 pessoas entrevistadas que tinham atitudes

negativas com relaccedilatildeo agrave ilha O iacutendice de centralizaccedilatildeo nesse caso era

apenas de 09 para (ay) e de 08 para (aw) Essas pessoas diziam que queriam

viver em outros lugares e natildeo na ilha de Martha‟s Vineyard O autor

mostrou a estratificaccedilatildeo de todos e como ele conseguiu explicar a

distribuiccedilatildeo dos ditongos centralizados de forma vaacutelida fazendo as

relaccedilotildees necessaacuterias para as explicaccedilotildees

59

23 ndash Os princiacutepios da mudanccedila linguiacutestica

Num primeiro estudo relacionado agrave mudanccedila linguiacutestica em

progresso (em curso) eacute necessaacuterio entender como as variaccedilotildees

linguiacutesticas estatildeo distribuiacutedas por faixa etaacuteria Entatildeo percebemos a

mudanccedila linguiacutestica relacionando a variaacutevel linguiacutestica com a idade

pesquisando indiviacuteduos de diferentes geraccedilotildees Segue abaixo a citaccedilatildeo

de Labov sobre mudanccedila linguiacutestica observada entre as faixas etaacuterias

conhecida como mudanccedila em tempo aparente21

A primeira abordagem e mais simples para estudar a

mudanccedila linguiacutestica em andamento eacute traccedilar mudanccedila no

tempo aparente isto eacute a distribuiccedilatildeo das variaacuteveis

linguiacutesticas entre os diferentes niacuteveis etaacuterios Se

descobrirmos uma relaccedilatildeo monotocircnica entre a idade e a

variaacutevel linguiacutestica ou uma correlaccedilatildeo significativa entre

as duas entatildeo trata-se de decidir se estamos lidando com

uma verdadeira mudanccedila em progresso ou de gradaccedilatildeo

etaacuteria (Hockett 1950) uma mudanccedila regular de

comportamento linguiacutestico com a idade que se repete em

cada geraccedilatildeo (LABOV 1994 p 47)22

A primeira e mais simples aproximaccedilatildeo entre as variaccedilotildees

encontradas na sincronia ao estudo da mudanccedila linguiacutestica em curso eacute

seguir a pista da mudanccedila em tempo aparente isto eacute a distribuiccedilatildeo das

variaacuteveis linguiacutesticas por faixa etaacuteria Na variaccedilatildeo encontrada entre o

grupo dos indiviacuteduos mais velhos de uma geraccedilatildeo e outro grupo de

21 SILVA (2004) faz um recorte transversal da amostra sincrocircnica em funccedilatildeo da faixa etaacuteria

dos informantes Por exemplo utilizamos no nosso estudo trecircs grupos etaacuterios jovens meia idade e idosos

COELHO et al (2010 p 164) apontam que mudanccedila em tempo aparente eacute uma ldquomudanccedila

linguiacutestica captada em estudo do comportamento linguiacutestico de indiviacuteduos de diferentes

geraccedilotildees numa comunidade num dado periacuteodo de tempo Tal estudo possibilita identificar correlaccedilotildees entre a variaacutevel social idade e a variaacutevel linguiacutestica em estudo revelando indiacutecios

de (i) uma mudanccedila concernente agrave idade que ocorre regularmente em cada geraccedilatildeo (gradaccedilatildeo

etaacuteria) ou de (ii) uma mudanccedila efetiva em progressordquo

22 Traduccedilatildeo minha do texto original em Inglecircs de Labov ldquoThe first and most straightforward approach to studying linguistic change in progress is to trace change in apparent time that is

the distribution of linguistic variables across age levels If we discover a monotonic

relationship between age and the linguistic variable or a significant correlation between the two then issue is to decide whether we are dealing with a true change in progress or with age-

grading (Hockett 1950) a regular change of linguistic behavior with age that repeats in each

generationrdquo

60

indiviacuteduos mais jovens em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria percebe-se muitas

vezes mudanccedila linguiacutestica em progresso nas liacutenguas

Na estratificaccedilatildeo por idade muitas vezes se percebe que os

indiviacuteduos mudam seu comportamento linguiacutestico durante toda a sua

vida mas a comunidade nem sempre muda

231 ndash A idade e a variaccedilatildeo estaacutevel

Mas nem sempre o estudo da faixa etaacuteria vai indicar mudanccedila em

progresso A meacutedia do grau de realizaccedilatildeo de uma variaccedilatildeo estaacutevel23

pode ser tambeacutem observada entre as faixas etaacuterias dos falantes em que

os grupos extremos (jovens e velhos) apresentam o mesmo

comportamento ao contraacuterio do grupo de meia idade cujo

comportamento se diferencia devido agraves pressotildees sociais Eacute considerando

a variaacutevel idade que vai ser observado no conjunto de dados

investigados se temos mudanccedila em tempo aparente ou variaccedilatildeo estaacutevel

A variaccedilatildeo estaacutevel pode ser observada considerando a

combinaccedilatildeo dos resultados das variaacuteveis bdquoidade‟ bdquosexo‟ bdquoclasse social‟ e

bdquoniacutevel de escolaridade‟ Com relaccedilatildeo agrave bdquofaixa etaacuteria‟ a variaccedilatildeo estaacutevel

diz respeito a variantes que coexistem por um longo periacuteodo mas sem

ter necessariamente predominacircncia de uma sobre a outra

Uma outra possibilidade eacute a visatildeo claacutessica que prevecirc estabilidade

do falante mas instabilidade da comunidade Ex daqui a 20 anos os

falantes de 70 anos estaratildeo falando como os de 50 anos de hoje Outra

possibilidade admite que o sistema linguiacutestico do indiviacuteduo modifica

mas o da comunidade permanece o mesmo Ex daqui a 20 anos os

falantes de 70 anos teratildeo o mesmo sistema que os de 70 anos hoje

Resultados recentes apontam para uma terceira possibilidade o

indiviacuteduo muda com o passar do tempo mas natildeo atinge precisamente a

mesma posiccedilatildeo em que estatildeo os falantes mais velhos atualmente

23 COELHO et al (2010 p 166) apontam que variaccedilatildeo estaacutevel eacute conhecida como a ldquosituaccedilatildeo

de variaccedilatildeo entre duas ou mais formas linguiacutesticas que se estende numa comunidade ao longo

do tempo sem que uma variante ceda seu espaccedilo agrave outrardquo

61

232 ndash A idade e a mudanccedila linguiacutestica

Segundo Naro (2003 p 44) no portuguecircs atual do RJ haacute

fenocircmenos em que a idade atua fortemente

Seudele a forma seu para a 3ordf pessoa eacute pouquiacutessimo

recorrente na fala dos mais jovens

Noacutesa gente os jovens estatildeo evitando a forma noacutes

Ir os jovens estatildeo evitando as regecircncias ir a e ir para

preferindo ir em

Sob a hipoacutetese claacutessica o estado atual da liacutengua de um falante

adulto reflete o estado da liacutengua adquirida mais ou menos ateacute os 15 anos

de idade Logo um indiviacuteduo falante com 60 anos representa a liacutengua de

45 anos atraacutes Falantes adultos tendem a usar as formas antigas Os pais

e filhos apesar de estarem em interaccedilatildeo constante usam formas

distintas na comunicaccedilatildeo Pais e filhos tecircm um vocabulaacuterio e uma fala

proacuteprios de sua eacutepoca Com o passar do tempo eacute provaacutevel que a forma

nova seja adotada por pais e filhos

Naro (2003) apresenta a escala em tempo aparente obtida atraveacutes

do estudo de falantes com idades diferentes ndash chamada de ldquogradaccedilatildeo

etaacuteriardquo ndash que corresponde sempre sob a hipoacutetese claacutessica a uma escala

de mudanccedila em tempo real Observamos a tabela apresentada a seguir

Idade atual

(em anos)

Estado da liacutengua

(anos atraacutes)

70

60

50

40

30

20

55

45

35

25

15

5

Tabela 07 ndash A escala em tempo aparente eacute chamada de ldquogradaccedilatildeo etaacuteriardquo (NARO 2003 p 45)

A tabela ajuda a explicar os dados da pesquisa realizada por

Labov (atraveacutes de gravaccedilatildeo no ano de 1990) mostrando que a fala de

62

um indiviacuteduo de 70 anos de idade representaria o estado da liacutengua

adquirida em 1935

Segundo Naro (2003) Labov conseguiu distinguir quatro graus de

ditongos centralizados denotados (aw) ndash 0 (a posiccedilatildeo mais baixa

correspondendo a ldquoshwardquo) As trecircs posiccedilotildees centrais claacutessicas do

alfabeto foneacutetico estatildeo representadas por ele no seguinte graacutefico

Figura 06 ndash O trapezoacuteide das vogais a flecha indica a direccedilatildeo de

movimento do primeiro elemento de (aw) (NARO 2003 p 49)

A pesquisa em Martha‟s Vineyard revelou que os velhos

preservavam mais a forma original natildeo-centralizada os jovens por

outro lado centralizavam mais Segue a tabela

Geraccedilatildeo Idade Iacutendice de (aw) Iacutendice de (ay)

I (pais) 75+

61 - 75

22

37 25

35

II (filhos) 46 ndash 60

31 ndash 45

44

88 62

88

Tabela 08 ndash Mudanccedila de (aw) e (ay) em tempo aparente atraveacutes de duas

geraccedilotildees em Martha‟s Vineyard (Labov 1972 apud Naro 2003 p 22)

Algumas observaccedilotildees de Naro sobre a pesquisa de Labov satildeo (i) a centralizaccedilatildeo estaacute se espalhando com forccedila e rapidez (ii) os indiviacuteduos

mais velhos (80 anos) praticamente apenas usavam o grau zero o mais

aberto da escala com ocorrecircncias esporaacutedicas do grau um a faixa de 60

anos estava concentrada no grau dois antes de consoante surda (out

63

ldquoforardquo) e no grau zero ou um em outros contextos (round ldquoredondordquo

now ldquoagorardquo) na faixa de 30 anos o condicionamento se tornava quase

categoacuterico grau dois ou trecircs antes de consoante surda grau zero ou um

nos demais contextos ndash resultados obtidos atraveacutes do estudo da variaccedilatildeo

no indiviacuteduo Observa-se assim detalhadamente a mudanccedila em

progresso desde o comeccedilo (ocorrecircncia esporaacutedica de variantes mais

altas) ateacute a instauraccedilatildeo do condicionamento categoacuterico (variantes mais

altas antes de consoante surda variantes mais baixas nos outros

contextos)

De acordo com Naro

O que permite esta visatildeo simultacircnea das diversas etapas

do processo dinacircmico de mudanccedila eacute o congelamento do

sistema linguiacutestico do falante na eacutepoca da puberdade e eacute

justamente este o postulado fundamental que subjaz agrave

hipoacutetese claacutessica do relacionamento entre mudanccedila

linguiacutestica e idade o processo da mudanccedila se espelha na

fala das sucessivas faixas etaacuterias (NARO 2003 p 46)

Sabemos que nem toda variaccedilatildeo na fala representa mudanccedila em

progresso Um exemplo pronuacutencia do morfema ing em inglecircs (walking

ldquoandandordquo) que pode ser realizado como velar ou dental ndash eacute uma

variaccedilatildeo atestada haacute seacuteculos poreacutem ainda existente em praticamente

todos os dialetos e nas diferentes faixas etaacuterias

Labov realizava pesquisas sobre o desenvolvimento diacrocircnico24

da liacutengua a partir de anaacutelises sincrocircnicas25

primeiro foi na ilha de

Marthas Vineyard (1963) e depois foi na cidade de Nova York (1966)

Quando a mudanccedila estaacute envolvida certa variante

ocorreraacute na fala da crianccedila embora esteja ausente na fala

de seus pais ou mais tipicamente uma variante na fala

24 JOTA (1981 p 103) ldquoEstudo da liacutengua atraveacutes dos tempos e consequentemente estudo das transformaccedilotildees que sofre a liacutengua em sua evoluccedilatildeo Opotildee-se agrave sincronia A linguiacutestica

portanto jaacute que pode estudar a liacutengua diacronicamente ou se limitar ao seu estudo em

determinado tempo de sua evoluccedilatildeo (sincronia) se divide em diacrocircnica e sincrocircnicardquo

25 JOTA (1981 p 307) ldquoConjunto dos fatos linguiacutesticos num dado estaacutegio de sua evoluccedilatildeo A sincronia eacute objeto de estudo da linguiacutestica sincrocircnica ou estaacutetica Como um estado de liacutengua

abrange determinado espaccedilo de tempo tempo suficiente para que haja alguma variaccedilatildeo

sincrocircnica eacute claro que esta sob certo ponto-de-vista natildeo se distingue da evoluccedilatildeo diacrocircnicardquo

64

dos pais ocorreraacute na fala de seus filhos com frequecircncia

maior e na fala de seus netos com frequecircncia ainda

maior (CHAMBERS 1995 p185)26

Numa comunidade em geral as geraccedilotildees sucessivas apresentaratildeo

uma frequecircncia de uso maior da variante inovadora A conclusatildeo loacutegica

eacute que com o passar do tempo haveraacute um uso categorial da forma

inovadora e a eliminaccedilatildeo da variante antiga

233 ndash Aplicando os conhecimentos da sociolinguiacutestica

Eacute importante ressaltar que todas as liacutenguas mudam com o tempo

Como exemplo o portuguecircs eacute originaacuterio do latim considerado liacutengua

matildee Entretanto atualmente natildeo haacute semelhanccedila entre as duas liacutenguas

As diferenccedilas satildeo profundas e afetam toda a gramaacutetica da liacutengua essas

diferenccedilas apareceram e cresceram ao longo de mais de mil anos Tanto

na liacutengua falada quanto na liacutengua escrita ocorrem mudanccedilas que satildeo

observadas quando satildeo feitas pesquisas que nos mostram em que alguns

fenocircmenos mudaram Este assunto eacute explicado por Naro (2003)

A mudanccedila linguiacutestica natildeo eacute abrupta normalmente se processa de

maneira gradual em vaacuterias dimensotildees Sob o eixo social eacute observaacutevel

que falantes mais velhos costumam preservar mais as formas antigas o

mesmo ocorre com pessoas mais escolarizadas com camadas da

populaccedilatildeo que gozam de maior prestiacutegio social com o grupo feminino e

com as pessoas que exercem atividades que exigem boa apresentaccedilatildeo

para o puacuteblico Uma mesma pessoa pode escolher diferentes formas em

diferentes situaccedilotildees

Com base nisso pretendo fazer uma comparaccedilatildeo das mudanccedilas

ocorridas num curto espaccedilo de tempo tendo como referecircncia um

professor surdo para investigar as possiacuteveis mudanccedilas da liacutengua de

sinais depois de seu estudo no INES ateacute o momento atual envolvendo

um grupo de surdos mais velhos e outros dois grupos mais jovens Os

dados obtidos na pesquisa podem mostrar como ocorreram algumas

mudanccedilas na liacutengua de sinais e se realmente ocorreram aleacutem disso

podem criar um registro deste periacuteodo para futuras pesquisas Para

Labov (2008 [1972] p 21) ldquoseria de esperar que a aplicaccedilatildeo da

26 Traduccedilatildeo minha do texto original em Inglecircs ldquoWhere change is involved a certain variant will occur in the speech of children though it is absent in the speech of their parents or more

typically a variant in the parents‟ speech will occur in the speech of their children with greater

frequency and in the speech of their granchildren with even greater frequencyrdquo

65

linguiacutestica estrutural a problemas diacrocircnicos levasse ao enriquecimento

dos dados mais do que ao seu empobrecimentordquo

Vale lembrar que em 1970 a educaccedilatildeo dos surdos em Santa

Catarina era baseada em metodologia oralista Poucos sinalizavam

porque natildeo podiam tinham que falar Os sinais eram usados na

comunicaccedilatildeo entre surdos mas esporadicamente pois nesta eacutepoca aleacutem

de serem proibidos de utilizarem sinais para a comunicaccedilatildeo tambeacutem

natildeo podiam fazer reuniotildees soacute de indiviacuteduos surdos como acontece

atualmente Segue a citaccedilatildeo de Labov 2008 [1972] que considero

pressuposto para o desenvolvimento da presente pesquisa

O ponto de vista do presente estudo eacute o de que natildeo se

pode entender o desenvolvimento de uma mudanccedila

linguumliacutestica sem levar em conta a vida social da

comunidade em que ela ocorre Ou dizendo de outro

modo as pressotildees sociais estatildeo operando continuamente

sobre a liacutengua natildeo de algum ponto remoto no passado

mas como uma forccedila social imanente agindo no presente

vivo (LABOV 2008 [1972] p 21)

O maior problema a meu ver eacute que o grupo dos mais velhos que

usava a liacutengua falada natildeo entendia a importacircncia da liacutengua de sinais

para o indiviacuteduo surdo restringindo muito a sinalizaccedilatildeo e os sinais no

ano de 1950 Sabemos que pessoas de diferentes lugares que vecircm para

uma determinada comunidade acabam trocando experiecircncias e palavras

influenciando essa comunidade Isto pouco acontecia com o grupo dos

surdos mais velhos Diferentemente do que se observava com os

antigos os surdos mais novos tinham um maior contato social com a

liacutengua de sinais brasileira permitindo mais trocas de conhecimentos

criando novos sinais tornando a liacutengua de sinais mais ldquovivardquo e

ldquodinacircmicardquo

Por exemplo em comparaccedilatildeo com falantes da ilha em

Florianoacutepolis quanto agrave situaccedilatildeo estiliacutestica27

o grupo mais velho de

surdos usava mais a liacutengua falada do que a sinalizada pouco contato

eles tinham entre si pois era proibida28

a sinalizaccedilatildeo pelas instituiccedilotildees

27 Eacute o jeito de falar nas diferentes situaccedilotildees com os diferentes interlocutores e nos variados

contextos

28 SCHMITT (2008) A representaccedilatildeo de surdo na histoacuteria antiga registra a passagem que os

surdos realizaram na sociedade onde predominavam os ouvintes Entatildeo a hegemonia dos ouvintes manteve sempre o surdo como excluiacutedo atraveacutes de estereoacutetipos e depreciaccedilotildees A

sociedade antiga natildeo permitia a capacitaccedilatildeo dos surdos como sujeitos normais o uso da liacutengua

66

que trabalhavam com os surdos e tambeacutem pelas famiacutelias Conta-se que

em algumas escolas amarravam as matildeos dos indiviacuteduos surdos para que

natildeo sinalizassem Com o grupo mais jovem eacute diferente o contato deles

com outros surdos eacute maior trocam mais experiecircncias e sinais

propiciando assim mais mudanccedilas na liacutengua de sinais tornando-se hoje

mais usada e mais dinacircmica na comunidade surda Isso acontece aqui

em Florianoacutepolis tambeacutem A influecircncia accediloriana trazida pelos

imigrantes portugueses atualmente com a visita de turistas brasileiros

(ex vindos dos estados de RS SP PR e MG) e estrangeiros (ex

Argentinos Paraguaios Uruguaios Chilenos dentre outros) a

Florianoacutepolis acaba interferindo e modificando a liacutengua falada na ilha

Acredita-se que existe variaccedilatildeo linguiacutestica na liacutengua de sinais

em Santa Catarina por influecircncia da comunidade de falantes nas

diferentes regiotildees do estado A liacutengua de sinais acaba incorporando

parte da cultura dessas comunidades a sua liacutengua

Existem pesquisas na liacutengua de sinais mostrando diferenccedilas

nas liacutenguas visual-espacial de acordo com o paiacutes de origem com

diferenccedilas culturais diferentes configuraccedilotildees de matildeos etc Estas

pesquisas ajudam a compreender melhor a estrutura das liacutenguas de

sinais seu aspecto linguiacutestico e gramatical

Em Santa Catarina na comunidade de falantes no municiacutepio de

Itaacute na regiatildeo oeste do estado muitos descendentes de europeus

(Italianos alematildees poloneses etc) falam usando um r brando por

exemplo barragem mas na fala fica baragem

Na liacutengua portuguesa existem diferentes sons e diferentes formas

de falar esses sons No caso do exemplo citado anteriormente do

municiacutepio de Itaacute o som do r falado eacute diferente mas o significado da

palavra eacute o mesmo Na LIBRAS acontece isto um determinado sinal

pode ser pronunciado de diferentes maneiras com relaccedilatildeo agrave

configuraccedilatildeo de matildeos (CM)29

ao ponto de articulaccedilatildeo (PA) e ao

movimento (M) Segue abaixo a foto de trecircs principais paracircmetros

fonoloacutegicos

de sinais e nem aceitava a cultura do surdo Como A liacutengua de sinais foi banida das escolas

pelas decisotildees do Congresso de Milatildeo em 1880

29 Configuraccedilatildeo de matildeo e segue a foto

67

Figura 07 ndash Sinal de Porco

Por exemplo os sinais para as palavras amanhatilde

30 e faacutecil

31 satildeo

diferentes quanto ao ponto de articulaccedilatildeo e ao movimento mas a

configuraccedilatildeo de matildeos eacute a mesma para as duas palavras Ė importante

ressaltar que Labov em sua pesquisa mostrou variaacuteveis linguiacutesticas com

relaccedilatildeo agrave comunidade de fala e o exemplo na liacutengua de sinais eacute visual e

natildeo sonoro Entatildeo a fonologia das liacutenguas de sinais eacute um ramo da

linguiacutestica que objetiva identificar a estrutura e a organizaccedilatildeo dos

constituintes fonoloacutegicos propondo descriccedilotildees e explicaccedilotildees

Labov (1982) no entanto acreditava que eacute possiacutevel que uma

mudanccedila linguiacutestica possa ser o resultado de uma causa particular

isolada do sistema linguiacutestico ou social Por exemplo em Marthas

Vineyard um alto nuacutemero de casamento entre surdos e ouvintes e entre

surdos foi responsaacutevel pelo nascimento de centenas de surdos no seacuteculo

XIX Como resultado quase todos os membros ouvintes da comunidade

aprenderam a liacutengua de sinais e a utilizaram com muitos outros

propoacutesitos aleacutem da comunicaccedilatildeo com surdos (GROCE 1952)

Concluo este capiacutetulo que apresenta a pesquisa de Labov na ilha

30 Sinal de amanhatilde e segue a foto

31 Sinal de faacutecil e segue a foto

68

de Marthas Vineyard verificando a ocorrecircncia de centralizaccedilatildeo de

ditongos com algumas consideraccedilotildees A metodologia de pesquisa que

Labov abriu um campo de estudos que relaciona variaccedilatildeo e a mudanccedila

linguiacutestica ao contexto social utilizando-se de fatores como gecircnero

escolaridade classe social faixa etaacuteria local de residecircncia apoiando-se

em conhecimento de antropologia e liacutengua e de teacutecnicas computacionais

e matemaacuteticas Essa forma de pesquisa deu iniacutecio ao ramo da linguiacutestica

que conhecemos como sociolinguiacutestica variacionista ou quantitativa em

que a liacutengua natildeo eacute vista como uma estrutura estaacutetica e sim como um

sistema em variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica constante ligado agrave estrutura

social

69

CAPIacuteTULO III ndash A histoacuteria social da liacutengua

31 ndash Introduccedilatildeo

Inicialmente este capiacutetulo apresenta a histoacuteria contextualizada da

liacutengua de sinais da Franccedila depois no Brasil e finalmente em Santa

Catarina No primeiro momento apresenta-se o perfil do fundador da

primeira escola de surdos no mundo localizada na Franccedila o Abade de

LacuteEacutepeacutee Em seguida aponta-se qual foi o fundador da primeira

instituiccedilatildeo de surdos na cidade do Rio de Janeiro o Eacutedouard Huet32

e

traz consideraccedilotildees sobre o primeiro professor surdo a trabalhar em sala

de aula com alunos surdos em Santa Catarina Francisco Lima Juacutenior

Este uacuteltimo estudou a liacutengua de sinais na cidade do Rio de Janeiro e

proporcionou aos surdos de Santa Catarina uma comunicaccedilatildeo em liacutengua

de sinais mais aprofundada e abrangente Ele tambeacutem divulgou a liacutengua

de sinais na comunidade surda criando espaccedilos culturais e uma

identidade para a comunidade surda catarinense

Este capiacutetulo apresentada a seguinte estrutura comenta sobre o

primeiro fundador do Instituto Nacional de Surdos de Paris Abade

LacuteEacutepeacutee apresenta Eacutedouard Huet e sua vinda para o INESRJ e por fim

relata a histoacuteria do primeiro professor surdo (Francisco Lima Juacutenior) em

Santa Catarina na liacutengua de sinais

32 ndash Charles Michel de LacuteEacutepeacutee - Instituto Nacional de Surdos-

Mudos33

em Paris

Na Franccedila Abade de LacuteEacutepeacutee34

foi o primeiro fundador de uma

escola com classes para a educaccedilatildeo de surdos e tambeacutem criou a

32 No Brasil escreve-se Eduard mas na Franccedila seu nome e escrito Eacutedouard Huet

33 Surdos-Mudos ndash terminologia utilizada nessa eacutepoca atualmente utilizamos ser surdo

34 Abade de LacuteEacutepeacutee foi o criador de um meacutetodo empregado na educaccedilatildeo de surdos

denominado de ldquosinais metoacutedicosrdquo A justificativa para a criaccedilatildeo desse meacutetodo se deu pelo fato de que L‟Epeacutee acreditava que a Liacutengua de Sinais utilizada pelos surdos era incompleta

devendo ser melhorada e universalizada Seu meacutetodo consistia em conservar o ldquonuacutecleo central

dos gestosrdquo utilizados por seus alunos adicionando poreacutem a estes gestos outros sinais para designar objetos qualidades fatos ou situaccedilotildees No entanto como seu principal objetivo era o

ensino da liacutengua francesa natildeo se deu por satisfeito criou uma seacuterie de sinais que natildeo existiam

na codificaccedilatildeo gestual referente a preposiccedilotildees artigos tempo e pessoa verbal entre outros

70

linguagem de gestos que se chamava ldquoLINGUAGEM DE SINAIS

METOacuteDICOSrdquo e o alfabeto manual que eacute bem diferente dos coacutedigos de

significados na estrutura frasal e no gesto que representava a palavra

para o surdo

Moura (2000 p 22) relatou que o Abade Charles-Michel de

L‟Epeacutee nasceu em 1712 na cidade de Versalhes na Franccedila O Abade

comeccedilou a ensinar os surdos em 1760 por razotildees religiosas iniciando

seu trabalho com duas freiras surdas Com grande desafio transformou

sua casa na primeira escola puacuteblica para surdos (Instituto de Surdos e

Mudos de Paris) utilizando a comunicaccedilatildeo gestual A autora Perlin

(2002) lembra que

As escolas fundadas em outros paiacuteses nos moldes da

Franccedila passaram a usar as liacutenguas de sinais nacionais e a

explorar novos recursos na educaccedilatildeo de surdos O

curriacuteculo da escola para surdos em Paris passou a

conter liacutengua de sinais religiatildeo liacutengua nacional e

formaccedilatildeo profissional

O Abade de L‟Epeacutee comeccedilou a sua pesquisa observando um

grupo de surdos de laacute que se comunicava nas ruas da cidade (cuidando

para que as pessoas natildeo os vissem fazendo gestos) na liacutengua de sinais

francesa O Abade LacuteEacutepeacutee teve a ideia de conhecer mais sobre a liacutengua

gestual daqueles surdos e mais tarde pensou em como poderia ajudaacute-los

nessa comunicaccedilatildeo Ele ensinava religiatildeo na igreja para os surdos Entatildeo

LacuteEacutepeacutee comeccedilou a investir em seu projeto de melhorias para esta forma

de comunicaccedilatildeo Chamou o grupo de surdos e mostrou a liacutengua gestual

com gramaacutetica proacutepria e o alfabeto manual para o auxiacutelio na

comunicaccedilatildeo

A oportunidade de melhorar a linguagem dos surdos na eacutepoca foi

essencial para que fosse desenvolvida a base da liacutengua de sinais dos

surdos de Paris fortalecendo a cultura e a comunidade surda Isso

permitia tambeacutem que os surdos tivessem acesso a uma filosofia

religiosa aprendendo com isso novos vocabulaacuterios aleacutem da crenccedila e de

um modelo educacional diferente Segue o autor

Todo surdo-mudo enviando ateacute noacutes jaacute tem uma

linguagem () Tem o haacutebito de usaacute-la e compreende os

outros que a fazem Com essa linguagem expressa as

suas necessidades desejos duacutevidas dores etc e natildeo

erra quando os outros se expressam da mesma forma

Noacutes desejamos instruiacute-los e assim ensinar-lhes o francecircs

71

Qual eacute o meacutetodo mais simples e mais curto Natildeo seria

expressando-nos na sua liacutengua Adaptando a sua liacutengua e

fazendo com que ela se adapte a regras claras natildeo

seriacuteamos capazes de conduzir a sua instruccedilatildeo como

desejamos (citado por Harlan Lane Instituon des

Sourds-Muets par la Voie des Signes Meacutethodies part 1

cap IV p 36) apud (CARVALHO 2007 p 24)

Para o surdo comeccedilou a existir uma linguagem atraveacutes da

comunicaccedilatildeo gestual Assim os surdos trocavam informaccedilotildees entre eles

na liacutengua de sinais essencial para o acesso do surdo a sua identidade

Essa convenccedilatildeo social da liacutengua de sinais nesse primeiro grupo de

surdos foi a base da liacutengua Entatildeo o surdo podia aprender a liacutengua

francesa escrita e ter contato com a gramaacutetica dessa liacutengua que foi

essencial para a comunicaccedilatildeo dos surdos transformando a representaccedilatildeo

do gestual O surdo podia alfabetizar-se em francecircs e entender melhor a

sociedade em que vivia e assim adaptar-se agraves mudanccedilas ocorridas em

sua liacutengua gestual Segue a discussatildeo do autor

O Abade L‟Epeacutee iniciou do ano em 1760 conheceu o

grupo de surdo na liacutengua de sinais francesa e estudou

junto com os surdos Mas ele teve a ideacuteia de ajudar o

surdo valorizar a liacutengua de sinais francesa Quem fundou

o Instituto no Paris Foi Abade L‟Epeacutee Laacute foi ensinada

a liacutengua de sinais francesa para os alunos surdos mais

pobres Berthier escreveu a biografia do Abade L‟Epeacutee

(1712 ndash 1789) (SCHMITT 2008 p 50)

O Abade L‟Epeacutee com sua experiecircncia e pesquisa ajudava os

surdos franceses na liacutengua francesa escrita e na liacutengua de sinais em

Paris Com sua pesquisa ele mostrou para a comunidade da eacutepoca uma

nova forma de ensinar os surdos desenvolvendo estrateacutegias de ensino

nas duas liacutenguas Acreditava-se que um dos motivos que levou o Abade

a demonstrar interesse pela educaccedilatildeo de surdos foi o fato de ele ter duas

freiras surdas Seguem imagens mostrando o Abade L‟Epeacutee ensinando o

primeiro grupo de surdos franceses (SCHMITT 2008 p 51)

72

Figura 08 ndash Abade L‟Epeacutee ensinando os surdos na liacutengua de sinais

francesa

Schmitt (2008) realizou pesquisa na liacutengua de sinais na

identificaccedilatildeo do surdo e na adaptaccedilatildeo do conhecimento pelo surdo

Sobre L‟Epeacutee ensinando o grupo de surdos na imagem anterior Schmitt

comenta

O Abade L‟ Epeacutee ajudou ensinando os surdos na liacutengua

de sinais valorizando o aspecto viso-espacial na relaccedilatildeo

das matildeos compartilhando e mostrando a loacutegica de sinais

do surdo compreende-se envolve a capacidade no uso o

alfabeto na cultura do surdo Entatildeo na realidade

possibilitou a liacutengua do surdo na comunicaccedilatildeo com outro

surdo e na relaccedilatildeo com professor francecircs (SCHMITT

2008 p 51)

Segundo Frishberg (1975) na Franccedila escreveu que Abbe Charles-

Michel LacuteEpeacutee descreveu o uso da liacutengua de sinais que havia aprendido

com seus alunos ou em contato com as pessoas Era uma forma natural

de comunicaccedilatildeo que veio dar origem agrave gramaacutetica francesa de sinais

Essa gramaacutetica francesa se espalhou e foi disseminada por toda a

Europa cada paiacutes com suas especificidades como ocorre na liacutengua

falada

Percebemos que o Abade L‟Epeacutee ensinava a gramaacutetica do francecircs

no Instituto para Surdos de Paris para que os alunos surdos aprendessem

a histoacuteria e a liacutengua de sinais O L`Epee foi o antecessor em Paris do

Abade Sicard que escreveu o primeiro dicionaacuterio na liacutengua de sinais no

seacuteculo XVIII

Quando o Abade apresentou a comunicaccedilatildeo em liacutengua de sinais

ao grupo para que aprendessem vocabulaacuterio na liacutengua de sinais mostrou

os sinais de COMER AacuteGUA e tambeacutem o sinal de BEBER apontando

para vaacuterios objetos para que o grupo memorizasse e aprendesse o nome

73

de cada um deles Isso com o grupo de alunos e tambeacutem com as duas

irmatildes Foi crescendo o nuacutemero de sinais usados na linguagem gestual

francesa daquela eacutepoca pelos alunos surdos da instituiccedilatildeo onde ensinava

L‟Epeacutee

Entatildeo percebi atraveacutes de leituras que o Abade L‟Epeacutee ensinava a

gramaacutetica do francecircs no Instituto para Surdos de Paris para que os

alunos surdos aprendessem dentre outras coisas a histoacuteria e a liacutengua de

sinais Isso foi interessante para o grupo pois desenvolveram um padratildeo

para a linguagem gestual

Em 1755 Abade L‟Epeacutee iniciou com o primeiro grupo de surdos

no Instituto em Paris onde ensinava a vaacuterios alunos de classes

diferentes ricos e pobres Ele apresentou para os alunos a importacircncia

dos sinais padronizados que ajudavam na comunicaccedilatildeo Em contato

com a liacutengua de sinais convencionada o grupo de surdos na Franccedila

cada vez mais dominava os sinais e aperfeiccediloava o seu meacutetodo de sinais

metoacutedicos

Em ldquoA Maacutescara da Benevolecircnciardquo Lane (1992) apresenta relatos

interessantes de pesquisa com entrevistas de alunos surdos Sua

descriccedilatildeo sobre os sinais indicando os tempos segue na citaccedilatildeo

ldquoO aluno apesar de surdo e mudo tinha tal como noacutes

uma ideacuteia de passado presente e futuro antes de ser

colocado sob a nossa tutela mas eram incapazes de fazer

os sinais para exprimir as diferenccedilas Se quisesse

exprimir uma acccedilatildeo presente Fazia um sinal impelido

pela natureza que consiste em atrair o olhar do

interlocutor para testemunhar a nossa actividade actual

mas se a acccedilatildeo natildeo tivesse lugar na sua vista estendia as

matildeos sobre a mesa tal como estamos todos aptos a fazer

em situaccedilotildees semelhantes e estes satildeo os sinais que

voltou a aprender na aula para indicar o presente de um

verbo Se quisesse indicar que uma acccedilatildeo pertence ao

passado Atirava despreocupadamente o braccedilo sobre o

ombro duas ou trecircs vezes adoptamos estes sinais para

indicar o passado dos verbos E finalmente quando

tivesse a intenccedilatildeo de anunciar o futuro projectava a Matildeo

direita uma vez mais neste caso seleccionaacutemos este

sinal para representar o tempo futuro de um verbordquo

(LANE 1992 p 107 e 108)

Observa-se que havia diferenccedilas na gramaacutetica dos sinais que os

surdos utilizavam no passado A linguagem gestual francesa mudava

com o tempo na realidade da comunidade surda de Paris O contato com

74

sinais na escola eram muito diferentes daqueles que usavam nas

conversas de ruas Os alunos aprenderam formas verbais (passado

presente e futuro) que interferiram na liacutengua Quando a comunidade

surda que utiliza um espaccedilo cultural aprende o contexto cultural se

modifica e a liacutengua de sinais que tambeacutem eacute social se modifica

A liacutengua de sinais francesa serve de origem para muitos dos sinais

usados na ASL No comeccedilo do seacuteculo XIX um professor de surdo

chamado Thomas Hopkins Gallaudet foi da Ameacuterica para a Europa a

fim de aprender teacutecnicas de ensino Na Inglaterra ele conheceu Roch-

Ambroise Cucurron e Abbe Sicard o diretor de uma escola para surdos

em Paris Gallaudet aprendeu meacutetodos de ensino e muitos sinais para

usar na comunicaccedilatildeo com os surdos com Abbe Sicard Tambeacutem

Gallaudet convenceu Laurent Clerc um dos alunos de Sicard a ajudaacute-lo

a fundar uma escola para surdos na Ameacuterica

Gallaudet e Clerc fundaram a Escola Americana para Surdos

(ASD) em 1816 em Hartford Connecticut A escola combinava sinais

da LSF com os que jaacute eram usados pela comunidade de surdos da

Ameacuterica para criar uma linguagem padronizada Nesta eacutepoca esta

linguagem evoluiu para a ASL considerada atualmente a liacutengua de

sinais mais geneacuterica do mundo O filho de Thomas Gallaudet Edward

fundou a Universidade de Gallaudet em Washington DC A Gallaudet

foi a primeira faculdade para surdos

33 ndash Eacutedouard Huet - Instituto Nacional Educaccedilatildeo de Surdos

(INESRJ)

Segundo Ceacutesar Delgado (Revista da FENEIS 2002) Huet nasceu

em 1822 em Paris na Franccedila Comeccedilou seus estudos desde a infacircncia

ouvia normalmente jaacute se comunicava na fala nos idiomas francecircs (sua

liacutengua natural) alematildeo e portuguecircs mais tarde estudava outra liacutengua

que era o espanhol Ficou surdo aos doze anos de idade por

consequecircncia de um sarampo Como ele pertencia agrave nobreza estudou no

Instituto em Bourges e seu aprendizado na liacutengua de sinais francesa

proporcionou muitas oportunidades tornou-se professor de francecircs para

um grupo de surdos na Europa Ele foi convidado pelo imperador Dom Pedro II

35 para que

35 Deste que Eduard Huet fundou o imperial Instituto de Surdos-Mudos com autorizaccedilatildeo do

Imperador Dom Pedro II a Liacutengua de Sinais passou a fazer parte da educaccedilatildeo dos indiviacuteduos

surdos como forma de comunicaccedilatildeo e expressatildeo No iniacutecio a Liacutengua de Sinais teve sua origem na Franccedila mas aos poucos ela foi se desenvolvendo e se adaptando agrave realidade do

Brasil Isso comprova entatildeo que a Liacutengua de Sinais natildeo eacute universal mas ela possui pequenas

75

ajudasse a trabalhar na criaccedilatildeo do Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de

Surdos-Mudos com sede no Rio de Janeiro Iniciou ensinando na sua

liacutengua francesa depois aprendeu os sinais usados no Brasil e acabou

misturando as duas liacutenguas Trouxe um meacutetodo de ensino para a

Educaccedilatildeo de Surdos influenciando a Liacutengua de Sinais Brasileira com

sua liacutengua de sinais (francesa)

Eacutedouard Huet foi o primeiro professor surdo do Brasil

Apresentou em 1855 um projeto ao Imperador D Pedro II para uma

escola de surdos e assim foi fundado o Instituto Nacional de Educaccedilatildeo

de Surdos-Mudos no Rio de Janeiro Ele foi o responsaacutevel por trazer a

liacutengua de sinais francesa para o Instituto fundado em 1857 na cidade

do Rio de JaneiroRJ Com isso temos a origem da influecircncia da liacutengua

de sinais francesa (LSF) trazida por ele da Europa sobre a liacutengua de

sinais brasileira (LSB)36

Segue citaccedilatildeo de Campello que fala sobre a

constituiccedilatildeo da LSB no Brasil

a Constituiccedilatildeo Histoacuterica da Liacutengua de Sinais Brasileira

registro aqui ldquoa viagemrdquo da LSF ateacute o Brasil Essa

viagem tem a sua cronologia histoacuterica quando em 1855

o Ministro de Instruccedilatildeo Puacuteblica Drouyn de Louys e o

embaixador da Franccedila Monsieur Saint George junto

com a corte do Rio de Janeiro apresentou o Conde e

Professor surdo D E Huet37 ex-diretor do Instituto de

Bourges ao ex-Imperador Dom Pedro II e o mesmo

concedeu todas as honrarias inclusive com o salaacuterio e

hospedagem e incentivou a criaccedilatildeo de um educandaacuterio38

semelhanccedilas variando tanto de estado para estado dentro de um mesmo paiacutes quanto de um paiacutes para o outro com algumas semelhanccedilas

36 Campello usa a sigla LSB Nesta tese a sigla usada eacute LIBRAS

37 Haacute muita controveacutersia em torno do seu nome Inicialmente foi registrado na ldquoRevista

Espaccedilordquo do INES como E Huet Mas nos outros documentos pesquisados por mim assinava

como D E Huet sem complementar ou acrescentar o nome proacuteprio completo Recentemente atraveacutes da pesquisa pelo dirigente da FENEIS e da publicaccedilatildeo da Revista FENEIS confirmou

o nome completo de EHuet como Edward Huet Haacute pouco tempo o Grupo de Sinais

Mexicano anexou a coacutepia do email da bisneta que confirmou o nome dele como D Edward Huet M

38 Esse processo jaacute havia acontecido de forma similar com a educaccedilatildeo dos cegos O cego Patriacutecio Aacutelvares de Azevedo brasileiro educado em Paris e que ao regressar ao Rio de Janeiro

em 1851 pensou em fundar um instituto de ensino para cegos A realidade se concretizou em

1854 na fundaccedilatildeo de Instituto Benjamin Constant para cegos

76

destinado ao ensino de surdos mudos39 seria mais uma

poliacutetica puacuteblica com uma tendecircncia mundial a criaccedilatildeo de

escolas de ensino e tambeacutem de residenciais para abrigar

ldquodeficientes40 Haacute a hipoacutetese de que a princesa Isabel

filha do D Pedro II teria um filho surdo41 e tambeacutem que

o marido dela o Conde dacuteEu era portador de deficiecircncia

auditiva42 Mesmo com ou sem comprovaccedilatildeo histoacuterica

eacute difiacutecil transpor a histoacuteria da criaccedilatildeo e do interesse de

Dom Pedro II em abrir a escola de surdos

(CAMPELLO 2011)

O professor surdo Huet lutou pelo direito agrave liacutengua de sinais na

Instituiccedilatildeo com o imperador Dom Pedro II a fim de abrir espaccedilo na

escola de surdo em 1857 O INES era a uacutenica instituiccedilatildeo puacuteblica federal

do Brasil localizada no Rio de Janeiro Vieram alunos de outros estados

brasileiros para estudar com o professor Huet e ficavam hospedados no

Instituto Depois aprendiam a Liacutengua de Sinais Francesa da mesma

maneira que o professor aprendeu na escola francesa

A liacutengua de sinais foi transformada com o tempo tendo influecircncia

do professor surdo Huet Moura (2000 p 81 e 82) comenta o

seguinte

Se deu atraveacutes de Liacutengua de Sinais pode-se deduzir que

ele utilizava os Sinais e a escrita sendo considerado

inclusive o introdutor de Liacutengua de Sinais Francesa no

Brasil onde ela acabou por mesclar-se com a Liacutengua de

Sinais utilizada pelos Surdos em nosso paiacutes O

39 Relatoacuterio do E d Huet aos membros da Comissatildeo Diretora em abril de 1856 no Instituto de

Surdos Mudos

40 Deficientes satildeo as denominaccedilotildees daqueles que mentalmente e fisicamente satildeo incapazes para fazer qualquer atividade

41 Reis (1992) relata que o professor Geraldo Cavalcanti de Albuquerque disciacutepulo do professor Joatildeo Brasil Silvado (diretor do INSM ndash Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos-

Mudos em 1907) informou-lhe em entrevista que o interesse do imperador D Pedro II em

educaccedilatildeo de surdos viria do fato de ser a princesa Isabel matildee de um filho surdo e casada com o Conde D‟Eu parcialmente surdo

42 Nos documentos escritos pelo Francisco de Souza Brasil e Medeiros e Albuquerque (1932)

atestava a surdez do Conde DacuteEu ldquoO Conde DacuteEu tinha ainda o inconveniente de ser surdo A

surdez alheando os indiviacuteduos do meio em que estatildeo lhes daacute agraves vezes a imputaccedilatildeo de orgulhosos porque natildeo lhes permite tomar parte na conversa com a cordialidade que todos

desejariamrdquo (grifo meu)

77

Curriculum por ele apresentado em 1856 colocava

disciplinas como portuguecircs aritmeacutetica histoacuteria

geografia e incluiacutea ldquolinguagem articuladardquo e ldquoleitura

sobre os laacutebiosrdquo para os que tivessem aptidatildeo para tanto

O professor Huet planejava as vaacuterias disciplinas que ensinava

para os alunos surdos desta Instituiccedilatildeo obedecendo ao curriacuteculo escolar

da eacutepoca oferecido nas escolas de ouvintes Infelizmente natildeo foram

registrados os vocabulaacuterios da liacutengua de sinais brasileira desta eacutepoca No

Brasil foi lanccedilada a primeira publicaccedilatildeo sobre liacutengua de sinais em 1873

pelo aluno surdo Flausino Joseacute da Gama do Instituto de Surdos-Mudos43

do Rio de Janeiro O estudo resultou na obra ldquoIconographia dos Signaes

dos Surdos-Mudosrdquo foi publicado o dicionaacuterio em 1875 Poreacutem em

1880 no Congresso Internacional de Educaccedilatildeo de Surdo (Milatildeo)44

a

liacutengua de sinais foi rejeitada nas escolas focando apenas a liacutengua oral

Contudo os alunos do INES continuaram a estudar desenvolver e

disseminar a LIBRAS que por volta de 1980 voltou a ter sua

importacircncia intensificada

Como eacute explicado no prefaacutecio a inspiraccedilatildeo para o

trabalho foi dita pelo estudante ao ver na biblioteca da

instituiccedilatildeo um livro francecircs do Instituto Nacional de

Paris produzindo pelo surdo Francecircs Pellisier Natildeo havia

oficina litografia (o desenho eacute feito em uma pedra ou

placa de metal) no INES e na eacutepoca essa era a uacutenica

maneira de se reproduzir um desenho A ajuda veio do

Sr Eduard Rensburg que se dispotildee a ensinar a Flausino

trabalhar com essa difiacutecil teacutecnica Bastaram poucos dias

de aula e o Surdo tornou-se um exiacutemio litoacutegrafo

(REVISTA DA FENEIS n0 10 2001)

Segundo Campello (2011) Flausino Joseacute da Gama criou com seu

trabalho o dicionaacuterio ldquoIconographia dos Signaes dos Surdos-Mudosrdquo

com o prefaacutecio do Dr Tobias Leite ex-diretor no Instituto Nacional dos

Surdos-Mudos que no passado registrou sobre a pesquisa de Flausino e

a seguir o que escreveu Tobias no dicionaacuterio do INES em 1875

43 Atual Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos ndash INESRJ

44 REacuteE (2005) ldquo() essa data ainda eacute lembrada como a mais sinistra de sua histoacuteria como se fosse mesmo o ldquo11 de setembrordquo deles quando desabaram as torres gecircmeas da cultura e da

liacutengua de sinais a do meacutetodo misto e a do meacutetodo manualista para educaccedilatildeo dos surdos Ali

comeccedilou uma longa e amarga batalha para defender o direito de vida de liacutengua de sinaisrdquo

78

Este livro tem dous fins

Vulgarisar a linguagem dos signaes meio predilecto dos

surdos mudos para a manifestaccedilatildeo dos seus pensamentos

Os pais os professores primaacuterios e todos os eu se

interessarem por esses infelizes ficaratildeo habilitados para

os entender e se fazerem entender

Mostrar o quanto deve ser apreciado um surdo mudo

educado

O alumno deste Instituto Flausino Joseacute da Gama vendo

entre os livros da biblioteca a obra do illustre surdo-

mudo Pellisier professor do Instituto de Pariz

manifestou desejo de reproduzir as estampas para os

fallantes conversarem com os surdos-mudos dizia-me

elle repetidas vezes

Natildeo obstante ser elle haacutebil desenhista a realizaccedilatildeo do

seu desejo era difficil porque natildeo haacute no Instituto officina

de lihtographia e a despeza nas officinas do commercio

seria grande

Referindo o facto ao Sr Eduard Rensburg este senhor

generosamente offereceu-se para ensinar a Flausino o

desenho lithographico e as suas officinas para a

execuccedilatildeo da obra Aceitei immediatamente o

offerecimento e em poucos dias sahio o livro que tenho

a satisfacccedilatildeo de apresentar a todos os que se interessarem

por essa numerosa classe de nossos compatriotas

A Flausino os louvores e ao Sr Rensburg os

agradecimentos de todos os que se interessatildeo pela

instrucccedilatildeo popular

Tobias Leiterdquo

Campello (2011) pesquisou sobre o dicionaacuterio da liacutengua de sinais

registrado e documentado por Flausino que foi apresentado na escrita

pelo ex-diretor do INES que escrevia a palavra ldquoVulgarisarrdquo45

(p 79)

Segundo Delaporte (2005) a Escola Parisiense ldquoSaint-Jacquesrdquo era um

lugar de prestigio onde todas as pessoas que desejavam ensinar os

surdos precisavam obrigatoriamente passar Eacutedouard Huet realizou seus

estudos laacute Flausino inspirou-se no dicionaacuterio de Pierre Peacutelissier que foi

trazido para o Brasil por Eacutedouard Huet Os alunos do INES tinham

muita dificuldade pois os sinais eram muito antigos e eles precisavam

45 CAMPELLO mostrou a pesquisa ldquo que naquela eacutepoca significava colocar a disposiccedilatildeo do

povo e por isso o dicionaacuterio se apresentava como instruccedilatildeo popularrdquo

79

se comunicar com surdos do Instituto de Paris Campello diz que foi

copiado o dicionaacuterio no Instituto Imperial de Paris

Comparado com o original ldquoIcnographie des signesrdquo de

P Pelissier membro ativo de ldquola Socieacuteteacute Centrale

dacuteEducation et dacuteAssistance decircs Sourds-Muetsrdquo e

professor de surdos mudos do Instituto Imperial de Paris

em 1856 obra ldquoIconographia dos signaes dos surdos

mudosrdquo pelo surdo Flausino Joseacute da Gama em 1875 eacute

uma coacutepia na iacutentegra do material com a traduccedilatildeo do

francecircs para o portuguecircs ou seja os sinais foram

copiados um a um traduzindo-se apenas as palavras do

francecircs que identificavam os sinais (CAMPELLO

2011)

Verificando a explicaccedilatildeo anterior da citaccedilatildeo a autora mostrou

uma comparaccedilatildeo do dicionaacuterio em Paris e no Brasil foi copiado o

material para ser utilizado aqui no INES e soacute foi mudado o vocabulaacuterio

eou palavra na traduccedilatildeo do francecircs para o portuguecircs Atualmente a

LIBRAS estaacute bem diferente da eacutepoca de Flausino mas a influecircncia da

Liacutengua de Sinais Francesa eacute inegaacutevel na comunicaccedilatildeo dos surdos

brasileiros pois foi a primeira liacutengua de sinais traduzida e ensinada no

INES

Com o uso e a difusatildeo da liacutengua de sinais surgiu o primeiro

dicionaacuterio do Brasil e as seguintes obras dos autores i) Iconographia

dos Signaes dos Surdos-Mudos de Flausino Joseacute da Gama em 1875 ii)

Linguagem das Matildeos de Eugecircnio Oates em 1969 e iii) O Dicionaacuterio

Enciclopeacutedico Ilustrado Triliacutengue Liacutengua de Sinais Brasileira de

Fernando C Capovilla e Walkiria D Raphael em 2001

Felipe (2000) fala sobre o surgimento da LIBRAS sobre

Flausino Joseacute da Gama e outros dicionaacuterios da LIBRAS

Aqui no Brasil a primeira publicaccedilatildeo sobre a liacutengua

de sinais brasileira data de 1875 trata-se de um livro

Iconografia dos Signaes dos Surdos-Mudos de Flausino

da Gama um ex-aluno do Instituto de Surdos que se

tornou repetidor dessa escola quando terminou seu

periacuteodo de estudo Quase um seacuteculo depois em 1969

com a publicaccedilatildeo do artigo de KAKUMUSU J Urubu

Sign Language foi constatado que haveria pelo menos

outra liacutengua de sinais no Brasil utilizada pelos iacutendios

Urubus-Kaapor

80

Somente em 1969 por iniciativa estrangeira foi

publicado outro livro sobre a liacutengua de sinais brasileira

Linguagem das Matildeos de DATES E mas devido agrave

influecircncia da ASL muitos sinais nessa obra como

tambeacutem na de HOEMAN H et al Linguagem de Sinais

do Brasil satildeo sinais dessa liacutengua Esses dois livros

foram durante deacutecadas o material didaacutetico utilizado

pelos instrutores surdos para ensinarem sua liacutengua e

talvez por essas obras trazerem uma seleccedilatildeo de

fotografias ou desenhos de sinais da LIBRAS com

explicaccedilotildees a metodologia que vem sendo utilizada para

ensinar esta liacutengua tem sido somente a apresentaccedilatildeo de

sinais e traduccedilatildeo dos mesmos

Em 1960 Willian Stokoe

46 iniciou a pesquisa na liacutengua de sinais

americana com publicaccedilatildeo de estudo linguiacutestico mostrando que esta

liacutengua de sinais tinha uma gramaacutetica proacutepria e tambeacutem apresentava

todos os aspectos linguiacutesticos das liacutenguas orais A partir desta

divulgaccedilatildeo do Stokoe o mundo comeccedilou a pesquisar mais sobre as

liacutenguas de sinais Estudou cientificamente a Liacutengua de Sinais Americana

comparando com a Liacutengua Inglesa observou que ambas tinham

caracteriacutesticas equivalentes auxiliando na concepccedilatildeo sobre a educaccedilatildeo

de surdos na liacutengua de sinais

Felipe (2000) apresentou na pesquisa o surgimento da LIBRAS

Seguem agora ilustraccedilotildees sobre os dicionaacuterios antigos ldquoIconographia

dos Signaes dos Surdos Mudos de Flausino Joseacute da Gamardquo ldquoLinguagem

das Matildeos de Eugecircnio Oatesrdquo ldquoEnciclopeacutedico Ilustrado Triliacutengue

Liacutengua de Sinais Brasileira Vol I e II de Fernando C Capovilla e

Walkiria D Raphael

46 STOKOE (1920-2000) foi um dos primeiros linguistas a estudar uma liacutengua de sinais com

tratamento linguiacutestico Considerado o pai da linguiacutestica da liacutengua de sinais americana ndash ASL Ele ensinando e pesquisando revolucionou a Liacutengua de Sinais e mostrou que ela possuiacutea

regras gramaticais proacuteprias A partir daiacute o mundo inteiro passou a aceitar a Liacutengua de Sinais

como uma Liacutengua

81

Figura 09 ndash Acervo na Revista da FENEIS

Interessante a pesquisa das primeiras publicaccedilotildees dos autores

sobre a liacutengua de sinais Trouxe para noacutes surdos brasileiros

documentos para outras pesquisas valorizando o contexto social e a

liacutengua de sinais Campello (2007)

47 apresentou a pesquisa ldquoMudanccedilas fonoloacutegicas

47 Retirado a fonte com autora CAMPELLO 2007 SINPEL ndash I0 Seminaacuterio Integrado de

Pesquisas em Linguiacutestica na UFSC ldquoMudanccedilas fonoloacutegicas dos registros do seacuteculo XVIII ao seacuteculo XXI na liacutengua de sinais brasileirardquo

82

dos registros do seacuteculo XVIII ao seacuteculo XXI na Liacutengua de Sinais

Brasileira elementos novos sobre a liacutengua de sinais brasileirardquo Foi o

primeiro trabalho desse tipo com a LIBRAS desenvolvido no Brasil A

autora destacou inicialmente as justificativas para sua pesquisa

a) Natildeo haacute registro a respeito do desenvolvimento

histoacuterico da liacutengua de sinais brasileira nos livros

brasileiros b) Os surdos brasileiros tecircm muito interesse

em saber mais sobre a origem desta liacutengua c) A liacutengua

de sinais passou a ser reconhecida como liacutengua de

instruccedilatildeo dos surdos brasileiros por meio da Lei 10436

de 2002 regulamentada pelo decreto 5626 de 2005 d) A

liacutengua de sinais passa a ser objeto de ensino Antes de

iniciar a pesquisa em si considero importante situar as

influecircncias da liacutengua de sinais dos Surdos que moldaram

o primeiro dicionaacuterio de liacutengua de sinais brasileira o

movimento poliacutetico social cultural e educacional Com

o ldquoobjeto de pesquisardquo apresento a justificativa visto que

ateacute o presente momento natildeo se sabe se esta liacutengua jaacute

existia antes da fundaccedilatildeo do INES eou natildeo foi

reconhecida por causa da homogeneidade da liacutengua

nacional que eacute a liacutengua portuguesa Tambeacutem visa a

coleta dos sinais e suas mudanccedilas em niacutevel foneacutetico-

fonoloacutegico da Liacutengua de Sinais Francesa para a Liacutengua

de Sinais Brasileira e apresenta a metodologia de

investigaccedilatildeo problematizando a origem da liacutengua de

sinais brasileira jaacute que foi mesclada com a liacutengua de

sinais francesa Muita pesquisa foi deixada de lado pelo

estigma e desconhecimento da liacutengua em estudo nesse

projeto (CAMPELLO 2007)

Observe a figura do painel que Campello apresentou no

Seminaacuterio e eu fotografei

83

Figura 10 ndash Acervo de Ana Regina e Souza Campello ndash UFSC

Diniz (2010) realizou a pesquisa sobre o estudo descritivo das

mudanccedilas fonoloacutegicas e lexicais da Liacutengua de Sinais Brasileira

identificando e analisando os tipos de sinais que mais levam agrave variaccedilatildeo e

agrave mudanccedila e os possiacuteveis motivos que ao longo do tempo culminam

em tais variaccedilotildees Observou-se que o estudo elaborado na histoacuteria da

liacutengua de sinais teve como objetivo principal identificar as mudanccedilas

ocorridas na forma de comunicaccedilatildeo das comunidades surdas bem como

a influecircncia da liacutengua escrita no caso o portuguecircs neste processo

A autora apresenta sua pesquisa de modo a contribuir com os

registros histoacutericos da comunidade surda geral e da liacutengua de sinais As

suas anaacutelises ampliam os conhecimentos sobre a estrutura linguiacutestica da

LIBRAS e seu processo de mudanccedila assim como permitem contrastar

as variaccedilotildees que ocorrem com as liacutenguas orais e as liacutenguas de sinais

Mais amplamente o estudo objetiva valorizar socialmente a Liacutengua

Brasileira de Sinais difundir suas vertentes propiciando agrave populaccedilatildeo

surda o resgate de suas origens tradiccedilotildees e identidade proacutepria

Ela analisou trecircs documentos histoacutericos mais especificamente

trecircs dicionaacuterios de sinais foram os instrumentos de base na pesquisa da

autora acerca do processo de variaccedilatildeo na LIBRAS satildeo eles

Iconographia dos Signaes dos Surdos-Mudos de 1875 (primeiro

documento a fazer referecircncia agrave LIBRAS trata-se de uma reproduccedilatildeo fiel

do dicionaacuterio de sinais Francecircs que envolve representaccedilatildeo de sinais por

meio de desenhos (ilustraccedilotildees)) Linguagem das Matildeos de 1969

(produzido pelo padre Eugecircnio Oates missionaacuterio americano que

trabalhou com surdos em vaacuterias regiotildees brasileiras) e o terceiro

Dicionaacuterio Digital da LIBRAS do Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de

84

Surdos (INES) de 2006 (em CD-ROM produzido no Rio de Janeiro

por profissionais surdos e ouvintes)

Os resultados da pesquisa de Diniz apresentam na anaacutelise dos

dados indiacutecios de mudanccedila fonoloacutegica e lexical

A figura 11 a seguir mostra a forma como o sinal de FACA eacute

produzido utilizando a configuraccedilatildeo de matildeos que se altera nas trecircs

imagens apresentadas

GLOSA ICON OATES INES

Est 2

FACA

FACA

FACA

FACA

Figura 11 ndash Acervo da Heloise Gripp Diniz ndash UFSC 01

A figura 12 apresenta um exemplo de mudanccedila lexical com

configuraccedilotildees de matildeos mostrando o sinal de PUNIR apresentado no

dicionaacuterio em trecircs momentos (Icon Oates e INES) Segue a figura

GLOSA ICON OATES INES

Est 16

PUNIR

PUNIR

CASTIGAR

CASTIGAR

Figura 12 ndash Acervo da Heloise Gripp Diniz ndash UFSC 02

Diante da anaacutelise comparativa dos referidos dicionaacuterios a autora

classificou os sinais em trecircs categorias os que permanecem idecircnticos

(sem alteraccedilotildees) os que sofreram mudanccedilas fonoloacutegicas em alguns de

seus paracircmetros (que se mostrou a maior das trecircs categorias) e os que

sofreram mudanccedilas lexicais alterando por completo as formas dos sinais

originais Dentre os fatores internos que contribuiacuteram para tais variaccedilotildees destacam-se conforto linguiacutestico na articulaccedilatildeo das matildeos e

do corpo e a acuidade visual no espaccedilo da sinalizaccedilatildeo Haacute tambeacutem a

contribuiccedilatildeo dos fatores socioculturais como influecircncia das liacutenguas em

contato empreacutestimo linguiacutestico bilinguismo preconceito linguiacutestico e

85

influecircncia da liacutengua portuguesa e dos falantes ouvintes

Em outras palavras nota-se que o estudo procura resgatar a

histoacuteria das mudanccedilas dos sinais da LIBRAS e de como surgiram as

mudanccedilas influenciadas pelo advento da Instituto Nacional de Educaccedilatildeo

de Surdos (INES) bem como o viacutenculo existente entre o instituto e os

diferentes dicionaacuterios de liacutenguas de sinais da eacutepoca que mostram a

existecircncia de fortes mudanccedilas linguiacutesticas ao longo do tempo entre as

pessoas de mais idade com as famiacutelias e as novas geraccedilotildees que surgem

dispostas a encontrar sinais de configuraccedilotildees de matildeos que possibilitem

facilitar cada vez mais a interaccedilatildeo das comunidades surdas com a

sociedade em geral

Percebe-se entatildeo vaacuterios dialetos utilizados entre grupos de

amigos e familiares na busca de uma melhor compreensatildeo da

comunicaccedilatildeo atraveacutes da liacutengua de sinais Nota-se que apesar da

evoluccedilatildeo da liacutengua de sinais haacute existecircncia de vaacuterios sinais

desconhecidos entre as associaccedilotildees de surdos Existe uma seacuterie de

variaacuteveis diferentes que funcionam como preacute-requisito influenciando

diretamente os processos de variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica

Segundo Diniz (2010) natildeo eacute aconselhaacutevel fazer traduccedilatildeo do

portuguecircs para LIBRAS pois tal conversatildeo acaba dificultando ainda

mais a compreensatildeo e a comunicaccedilatildeo com a comunidade dos surdos

Assim pode-se notar que natildeo eacute apropriado misturar duas liacutenguas (uma

oral outra visual) ao mesmo tempo pois haacute uma diferenccedila muito grande

entre elas Dessa forma torna-se mais faacutecil a compreensatildeo para o surdo

quando eacute explicado diretamente na liacutengua de sinais

Sempre eacute conveniente ressaltar que a LIBRAS eacute uma liacutengua

humana da mesma forma que as liacutenguas faladas nesse sentido a liacutengua

de sinais possui sua proacutepria estrutura linguiacutestica embora com

modalidades diferentes e passa por processos de mudanccedilas contiacutenuas e

deve ser considerada pela comunidade cientiacutefica como sendo de grande

importacircncia para a sociedade em geral As liacutenguas de sinais satildeo

humanas naturais e com estruturas linguiacutesticas proacuteprias fazendo uso do

canal de comunicaccedilatildeo visual-espacial Portanto satildeo mitos48

as

48 FRISHBERG (1975 p 696 - 697) Alguns mitos satildeo derrubados por no que se refere agrave ASL

O primeiro deles diz respeito agrave falsa crenccedila de que a linguagem gestual eacute universal Pelo

contraacuterio as pessoas surdas da China natildeo conseguem entender a ASL tampouco os surdos americanos conseguem entender a CSL a Liacutengua de Sinais Chinesa Os surdos ingleses

tambeacutem natildeo conseguem entender a Liacutengua de Sinais Francesa (LSF) e vice-versa O segundo

mito esclarecido eacute de que a liacutengua de sinais tem muito pouco ou nada a ver com a liacutengua falada da comunidade em sua volta Neste sentido a autora esclarece que a liacutengua de sinais natildeo

significa uma representaccedilatildeo manual traduzida diretamente do inglecircs O terceiro mito elucidado

86

afirmaccedilotildees de que a liacutengua de sinais eacute universal miacutemica coacutedigos

gestos ou apenas uma representaccedilatildeo manual das liacutenguas orais

Cabe ressaltar que a representaccedilatildeo atraveacutes de imagens figuras

gestos configuraccedilatildeo de matildeos e expressotildees faciais satildeo fundamentais para

a fluecircncia da comunicaccedilatildeo entre os membros da comunidade surda e

tambeacutem com a sociedade tornando a compreensatildeo mais acessiacutevel a

todas as pessoas Por meio de estudos nos dicionaacuterios de LIBRAS

percebe-se a existecircncia de algumas categorias distintas de algumas que

permanecem idecircnticas ateacute os dias de hoje e de outras que vecircm sofrendo

mudanccedilas fonoloacutegicas gradativamente com ideias inovadoras

influenciadas pelos estudos efetuados a partir da histoacuteria da liacutengua de

sinais e sua evoluccedilatildeo no processo de mudanccedila ateacute os dias atuais Tais

descobertas satildeo importantiacutessimas para a academia e para os aspectos

socioculturais como forma de resgatar a histoacuteria bem como os valores

das comunidades surdas esquecidas no passado recuperando sua proacutepria

identidade frente agravequeles que utilizam a liacutengua oral

Em geral eacute muito difiacutecil de recuperar nos registros dos

dicionaacuterios os detalhes das articulaccedilotildees movimentos entre outros Isso

ocorre porque na maioria das vezes eles apresentam uma uacutenica palavra

em portuguecircs associada a cada sinal de forma intuitiva quase sempre

indicando um sinal preciso e natildeo uma possiacutevel traduccedilatildeo De qualquer

maneira a partir das evidecircncias que estatildeo nos dicionaacuterios pode-se

analisar como era a liacutengua de sinais antigamente e como ela se

modificou ateacute os dias de hoje bem como qual a sua importacircncia para a

valorizaccedilatildeo social da comunidade surda

Diniz (2010) percebeu que ao passar dos anos existe uma

evoluccedilatildeo no desenvolvimento dos dicionaacuterios trazendo uma forma mais

faacutecil e aacutegil de comunicaccedilatildeo entre os escritores e leitores Hoje a

preocupaccedilatildeo natildeo eacute apenas em fazer dicionaacuterios mas tambeacutem em

analisar as metodologias de produccedilatildeo lexicograacutefica isto eacute como e para

que os dicionaacuterios tecircm sido feitos

Diniz (2010) tambeacutem observou uma pequena mudanccedila no

alfabeto manual que aparece nos trecircs dicionaacuterios Houve uma mudanccedila

fonoloacutegica na estampa ldquoIrdquo referente ao alfabeto de 26 letras no

dicionaacuterio Iconographia Em Oates o alfabeto permanece semelhante

ateacute os dias de hoje mudando apenas a configuraccedilatildeo de matildeos da letra H

No dicionaacuterio INES o alfabeto eacute idecircntico aos dias de hoje

pela pesquisadora refuta a ideia de que as liacutenguas de sinais satildeo apenas gestos teatrais ou

miacutemicos

87

Segundo Diniz (2010) identificam-se tendecircncias de mudanccedilas na

LIBRAS nos trecircs dicionaacuterios a saber simetria de duas matildeos

deslocamento locativo conteuacutedo lexical para as matildeos assimilaccedilatildeo

deletaccedilatildeo de uma matildeo de sinais de duas matildeos e deletaccedilatildeo de uma parte

do sinal composto Dos resultados das anaacutelises pode-se verificar que

alguns sinais da LIBRAS permaneceram idecircnticos ateacute os dias de hoje

enquanto outros sofreram mudanccedilas nas partes fonoloacutegicas e lexicais A

autora concluiu que diversos fatores influenciaram tais mudanccedilas como

por exemplo a influecircncia dos falantes ouvintes sobre a LIBRAS a

influecircncia da Liacutengua portuguesa na estrutura da LIBRAS o

desconhecimento sobre as liacutenguas de sinais a organizaccedilatildeo lexicograacutefica

nos dicionaacuterios de sinais a discriminaccedilatildeo ouvinte sobre a LIBRAS o

contato contiacutenuo dos surdos com ouvinte e a inseguranccedila na

consciecircncia linguiacutestica dos surdos em relaccedilatildeo agrave LIBRAS Outra

conclusatildeo foi a descoberta de sinais da Iconographia idecircnticos na ASL e

na LSF hoje em dia mais do que nos dicionaacuterios Oates e dos INES

34 ndash Francisco Lima Juacutenior ndash O Primeiro Professor Surdo em

Santa Catarina na liacutengua de sinais

Segundo Schmitt (2008) Francisco Lima Juacutenior tem lembranccedilas

do avocirc Germano tias Erna Irude e Isabel o pai Francisco matildee Augusta

e o irmatildeo Reinoldo Francisco Lima Juacutenior chamado pelo apelido

(chiquito) eacute o uacutenico surdo desta famiacutelia Ele nasceu no dia 01 de junho

de 1928 em casa na Rua Duarte Schutel no 16 em Florianoacutepolis A tia

Erna disse que o Francisco foi ateacute os 36 meses de idade uma crianccedila

normal e perfeita mas nesta idade foi um susto para os familiares do

Francisco ele ter ficado surdo

Atraveacutes de contatos com o senhor Francisco Lima Juacutenior

estive presente na casa dele investigando sobre a

primeira turma de surdo Catarinense No dia 04082006

foi entrevistado o senhor Francisco Lima Juacutenior Ele

nasceu no dia 01061928 em Florianoacutepolis no Estado de

Santa Catarina e ateacute a idade de 03 anos ouvia

normalmente A famiacutelia do Francisco sempre conversava

com ele sobre cinema ou noticias que ouviam o raacutedio O

Francisco estava sentado no chatildeo brincando com o

carrinho na sala de estar assistindo o cinema com a

famiacutelia dele A famiacutelia chamou atenccedilatildeo do seu filho

Francisco mas ele natildeo ouvia a voz dos seus pais falando

Franciscooooo e tambeacutem batendo palmas O Francisco

natildeo ouvia nada e quando o pai tocou no ombro do

88

Francisco ele entendeu O que pai (SCHMITT 2008 p

86)

Seus pais natildeo se aperceberam ao longo deste tempo que Francisco

estava ficando surdo porque ele ainda natildeo havia aprendido a falar

compreender palavras e a se comunicar por gestos O pai de Francisco

levou-o para o meacutedico que falou que o menino teve um problema no

nervo auditivo e ficou surdo (Consultas ao meacutedico com frequecircncia

dificuldade de se comunicar com a famiacutelia sentia-se muito pressionado

foram tempos difiacuteceis ele conta) O pai queria ensinar a liccedilatildeo para

Francisco que aprendia vocabulaacuterio e a gramaacutetica juntamente com os

nuacutemeros cardinais desenho e a palavra correspondente e tambeacutem a

linguagem gestual da comunicaccedilatildeo dele O pai levou-o para o

tratamento meacutedico com o Dr Djalma Moellmann que informou aos

pais que pela idade do Francisco ele poderia estudar no Instituto

Nacional de Surdos-Mudos do Rio de Janeiro Segue o depoimento

Os pais resolveram levar seu filho para tratamento

meacutedico e fonoaudioloacutegico no centro de Florianoacutepolis

para saber o que aconteceu com a audiccedilatildeo do Francisco

que natildeo ouvia nada O meacutedico fonoaudioloacutegico dizia que

ele era deficiente auditivo e tambeacutem chamou-o de Surdo-

Mudo naquela eacutepoca ˝Ai Como fazer agora Os pais

perguntaram O que O meu filho natildeo podia estudar na

escola dos ouvintes e na eacutepoca aqui natildeo existia escola

para surdos˝ O meacutedico fonoaudioloacutegico informou sobre

a escola no INSM - Instituto Nacional de Surdos-Mudos

no Rio de JaneiroRJ Eles verificaram que laacute existia

escola para surdos-mudos mas resolveram permanecer

morando naquela cidade Entatildeo o pai resolveu levar o

seu filho Francisco para o Rio de JaneiroRJ Quando o

Francisco era crianccedila tinha ocircnibus carro caminhatildeo

bicicleta e aviatildeo Foi viagem de navio O tio do

Francisco trabalhava como marinheiro e levou o

Francisco para o Rio acompanhando do pai e do tio dele

(SCHMITT 2008 p 86)

Francisco realizou exames meacutedicos onde foi avaliada sua sauacutede

se podia estudar no Instituto Nacional de Surdos-Mudos que era um

grande desafio Nesse lugar havia modernas oficinas e ginaacutesio tinha 109

surdos internos Era comum observar um grupo de surdos que se

comunicava na liacutengua de sinais no corredor do Instituto Laacute tambeacutem os

alunos surdos podiam entrar em contato com os primeiros surdos que

89

vieram de diferentes estados e regiotildees do Brasil Em 1937 o pai

acompanhou Francisco em uma viagem de navio para o Rio de Janeiro e

matriculou-o no Instituto Nacional de Surdos-Mudos Laacute conheceu o Dr

Armando ex-diretor de INSM na deacutecada de 1940

Em 1937 Francisco foi levado pelos primos Paulo e Hugo e pelo

seu tio para conhecer o INSM Eles levavam Francisco ao Instituto nos

saacutebados e voltavam nas segundas-feiras de 1937 a 1939 Hugo

trabalhava no navio ldquoDuque de Caxiasrdquo que saiacutea do Rio de Janeiro O

outro navio onde estava o tio voltava da Bahia quando avistou um

submarino de guerra (alematildeo) que era dotado de canhotildees Os dois

navios chocaram-se agrave noite neles tinha bombas nucleares Hugo o tio

passageiros e marinheiros morreram no mar e um outro navio onde seu

tio Paulo trabalhava desapareceu na Europa em 1945

Na segunda guerra Hitler se armou poderosamente para dominar

a Europa mas com sua derrota em 1939 a 1945 a Alemanha perdeu

cerca de um quarto do seu territoacuterio que por alguns anos foi ocupado

pelas forcas aliadas russas americanas inglesas e francesas Das cinzas

surgem os novos navios Um navio a vapor com o nome de Carlos

Hoepcke e Anna navio este de carga e passageiros que transportou

Francisco ateacute o Rio de Janeiro O capitatildeo deste navio era seu tio Ceacutelio

Viana Os passageiros eram atenciosos para com Francisco e o

ajudavam quando ele precisava

Era oferecido abrigo aos navios aportados no porto de SantosSP

Rio de Janeiro Satildeo Francisco do Sul e Itajaiacute Iam de navio e na volta

vinham de aviatildeo com destino a Florianoacutepolis e Rio de Janeiro O pai

Francisco Candido de Souza Lima era gerente contador homem de

bom coraccedilatildeo que fazia a contabilidade de Carlos Hoepcke era uma

amizade de marinha mercante

Em suas viagens o professor Francisco Lima Juacutenior viu o Sr

Ademar Barros que era intendente de comeacutercio do vapor Carlos

Hoepcke Viajaram num submarino guiados por buacutessola para ajudar os

navegantes em 1937 a 1946 Ao fim do ano letivo no Instituto o pai e

Francisco voltavam para Florianoacutepolis em 1947 O Professor Francisco

trabalhou auxiliando a contabilidade e os lanccedilamentos na filial de Carlos

Hoepcke SA Ele aproveitou o aprendizado nas oficinas do Instituto

Nacional de Surdos-Mudos onde aprendeu uma seacuterie de profissotildees

como a de marcenaria encadernaccedilatildeo e sapataria aleacutem de participar de

um curso de Desenho Segue a explicaccedilatildeo do autor

Os alunos de vaacuterios estados no Brasil tambeacutem estudavam

no INSM junto com o Francisco e fizeram amizade

90

jogando o futebol na quadra Depois o Francisco foi para

os alojamentos no Instituto e dormiu cada um num

beliche todos os alunos surdos eram brasileiros Os

alunos surdos acordavam agraves 05h30min nas madrugadas

para arrumar e ficavam esperando na fila de outros

alunos faziam relaxamento e educaccedilatildeo fiacutesica para depois

tomar o banho Depois estudavam de manhatilde e agrave tarde agraves

vezes agrave noite e voltavam para o alojamento no Instituto

O professor no Instituto dava aula de oralizaccedilatildeo para os

alunos surdos na sala de aula explicando o conteuacutedo de

mateacuteria no quadro negro e tambeacutem com vareta Depois o

professor anotava no quadro a escrita de portuguecircs

avisava para o aluno surdo que natildeo podia copiar no

quadro e prestar atenccedilatildeo agrave escrita no quadro O professor

apagava no quadro para o aluno surdo memorizar a

escrita da fala O que aconteceu Os alunos ficaram com

dificuldade de entender a escrita no quadro (SCHMITT

2008 p 92 e 93)

Os professores mostravam vaacuterias figuras de objetos com os

respectivos nomes e individualmente faziam o trabalho de repeticcedilatildeo

com o aluno Francisco que escrevia e falava Mas existia a liacutengua de

sinais no lado de fora No paacutetio a comunicaccedilatildeo dele e o grupo de surdo

no Instituto apresentava a liacutengua de sinais Dr Armando Lacerda diretor

do Instituto Nacional de Surdos-Mudos ndash INSM acampanhou a

comemoraccedilatildeo de sua fundaccedilatildeo e seguiram-se demonstraccedilotildees de

ginaacutestica representaccedilatildeo de uma peccedila teatral nuacutemeros de bailado pelo

corpo etc

Os surdos da marcenaria da encadernaccedilatildeo e da sapataria eram

jogadores e participaram da competiccedilatildeo de futebol de campo no

instituto Venceram os surdos da encadernaccedilatildeo que receberam

medalhas e trofeacuteu O grupo de alunos que ganhou a competiccedilatildeo foi

viajar e passear na praia da Ilha de PaquetaacuteRJ Dois alunos deste grupo

mais tarde tornaram-se professores do Instituto Um deles era o

professor Heacutelio ensinava ginaacutestica futebol e voleibol na quadra de

esportivo e o outro era professor Francisco

Na eacutepoca foi feita uma reportagem com depoimentos do Dr

Armando Lacerda dos professores Joatildeo Brasil Silvado Juacutenior Saul Borges Carneiro e Geraldo Cavalcantil todos eles ouvintes Essa

reportagem foi riquiacutessima detalhada cheia de fotografias eacute uma

importante fonte de pesquisa Francisco desenvolveu sua aprendizagem

na liacutengua de sinais aproveitando essas atividades comemorativas que

aconteciam no instituto aleacutem do curriacuteculo da escola

91

Os professores acima citados todos oralistas impressionam pela

cultura e a quantidade de informaccedilotildees com que discorrem sobre a

educaccedilatildeo do surdo e a histoacuteria na liacutengua de sinais Sendo recebido pelo

ministro da educaccedilatildeo e sauacutede naquela eacutepoca foi oferecido um meacuterito ao

ex-aluno Francisco Lima Juacutenior conforme mostra a citaccedilatildeo

O Francisco Lima Juacutenior recebeu o meacuterito do segundo

melhor no Instituto Nacional de Surdos-Mudos (INSM)

no Rio de JaneiroRJ por a maior nota de avaliaccedilatildeo na

prova e tambeacutem em todas as disciplinas Vejam os

nomes ndash primeiro lugar (Odil Soares em Satildeo Paulo)

segundo lugar (Francisco Lima Juacutenior em Santa

Catarina) e terceiro lugar (Miriam S Rio de Janeiro)

Parabenizamos o senhor Francisco Lima Juacutenior do nosso

Estado de Santa Catarina eacute vitorioso e orgulhoso

(SCHMITT 2008 p 96)

Ele foi aluno interno do Instituto Nacional de Surdos-Mudos do

Rio de Janeiro e do Instituto Paulista de Surdos em Satildeo Paulo em 1940 e

natildeo gostava de Satildeo Paulo A professora Helena (INES) era de origem

Italiana ensinava a fazer ditado em portuguecircs (oralismo) mas a liacutengua

de sinais natildeo existia na comunicaccedilatildeo e o grupo surdo teve pouco contato

com a liacutengua materna (liacutengua de sinais)

Para a inauguraccedilatildeo do Instituto Nacional de Surdos-Mudos foram

convidadas vaacuterias autoridades entre elas o ministro da educaccedilatildeo

diretores de escolas e outros Esta aconteceu no teatro do Instituto e

ofereceram trecircs certificados para o curso de desenho para a oficina de

encadernaccedilatildeo e linguagem que foram ganhos pelo Francisco Lima

Juacutenior em 1946 No ano seguinte ele voltou para Florianoacutepolis

Em 1946 com 18 anos de idade voltou para

FlorianoacutepolisSC quando passou a procurar por pessoas

surdas nas vaacuterias cidades do estado de Santa Catarina e

demorou um tempo para ter contato com os surdos

catarinenses Ele comeccedilou a dar aulas numa garagem

situada agrave Rua Francisco Tolentino passando ser ali a

primeira escola para surdos de Florianoacutepolis O

Francisco ensinava desenho linguagem escrita

vocabulaacuterio baacutesico gramaacutetica geograacutefia histoacuteria do

Brasil e conhecimentos gerais Ele trouxe para o nosso

estado o modelo de associaccedilatildeo e fez um projeto de escola

para surdos com a esposa de ouvinte que ajudou o

Francisco Apoacutes a conclusatildeo dos cursos em 1947

retorna definitivamente para casa dos pais em

92

Florianoacutepolis agrave Rua Duarte Schutel nordm 16 (SCHMITT

2008 p 104)

Em 1947 morava com o pai em sua casa em Florianoacutepolis Ele

foi habilitado em contabilidade pelo Instituto e fez o curso de

Contabilidade do Instituto Radio Teacutecnico RT Monitor SA ndash nuacutecleo de

ensino profissional livre por correspondecircncia (1 liccedilatildeo ateacute 28 liccedilatildeo) Satildeo

Paulo ndash SP Apoacutes Francisco conhecer os surdos em vaacuterias cidades de

Santa Catarina ele ficou com vontade de auxiliar o surdo que ficava

isolado em casa e na famiacutelia sem o uso da comunicaccedilatildeo gestual Veja a

seguir a imagem apresentada do Francisco Lima Juacutenior em 1947

93

Figura 13 ndash Acervo do Francisco eacute o primeiro dicionaacuterio na liacutengua de

sinais em Santa Catarina em 1947

O primeiro dicionaacuterio em Santa Catarina tinha imagens do

proacuteprio Francisco que demonstrava a preocupaccedilatildeo culturallinguiacutestica

para com os surdos e a difusatildeo da liacutengua de sinais procurava uma forma

de o grupo de surdo ter contato com a liacutengua de sinais e ensinava em sua casa (na garagem) onde tambeacutem ficava a associaccedilatildeo

As aulas continuavam com o professor Francisco que ia

ensinando cada vez mais sinais e com qualidade pois dali faziam as

provas finais O professor ensinava conteuacutedos de matemaacutetica geografia

94

conhecimento geral ciecircncias e portuguecircs No uacuteltimo mecircs de aula apoacutes o

encerramento das aulas o professor entregava os boletins com as meacutedias

de todos os surdos que ficaram alegres pois nenhum deles tinha sido

reprovado

Francisco viajou para Satildeo Paulo em 1954 iniciou sua amizade

com o primeiro presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos de Satildeo

Paulo senhor Maacuterio Devisate que natildeo tinha o conhecimento da

existecircncia de uma associaccedilatildeo de surdos em Florianoacutepolis O senhor

Maacuterio Devisate deu um documento de uma Associaccedilatildeo de Surdos-

Mudos com acircmbito nacional e Francisco veio como delegado para a

regiatildeo do sul passando a residir nessa capital

Foi o primeiro encontro com o presidente da Sociedade dos

Surdos-Mudos do Distrito Federal49

que mudou a Associaccedilatildeo de Surdos-

Mudos do Rio de Janeiro o senhor Miguel da Fonseca Seabra de Melo

grande colega jaacute falecido Francisco em meio agrave conversa na liacutengua de

sinais conheceu o presidente da ASURJ que comentou ldquoaquele tambeacutem

eacute surdordquo O colega dele sorriu ao sair cumprimentou o senhor Miguel

da Fonseca Seabra de Melo que agradecendo estendeu-lhe a matildeo Isso

aconteceu no Instituto Nacional de Surdos-Mudos

Francisco nunca mais se esqueceu dessa cena bem da verdade

ele conversava com o senhor Salomatildeo Watnick (jaacute falecido em Porto

Alegre) que foi o primeiro presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos

do Rio Grande do Sul e foi uma grande amizade Como pode estudar

desde cedo em escola especial para Surdos Mudos em Satildeo Paulo e Rio

de Janeiro conhecia muitos surdos tinha amizade e intimidade

oportunizando contato com surdos que tinham lideranccedila e outros grupos

de surdos tendo como consequecircncia aprendido expressotildees palavras

novas da liacutengua de sinais inclusive as variaccedilotildees linguiacutesticas de outras

regiotildees

Francisco foi tratado como amigo pelos senhores Vivaldo Leal de

Merelles e Ciro Garcia de Souza jaacute falecidos que escreveram o

primeiro estatuto da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos do Paranaacute Eles

perguntaram como ganhavam a vida os surdos-mudos que natildeo tiveram a

felicidade de cursar escolas especiais Entatildeo nesta pergunta

encontraram o motivo da existecircncia da associaccedilatildeo e da escola

Francisco fundou o Ciacuterculo dos Surdos-Mudos de Santa Catarina

ndash CSMSC no ano de 1955 Naquele aniversaacuterio de sua entidade os

surdos-mudos de Florianoacutepolis receberam a visita de delegaccedilotildees de

49 O Distrito Federal nessa eacutepoca era o Rio de Janeiro

95

outros Estados No primeiro jogo o CSMSC jaacute ganhou um trofeacuteu no

futebol de campo Outro ganho foi com a Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos

do Paranaacute onde havia muitas variaccedilotildees na liacutengua de sinais e o contato

proporcionou o aprendizado de novos sinais para todos

Em 1961 o Governador Celso Ramos atendia o presidente O

Ciacuterculo dos Surdos-Mudos de Santa Catarina o professor Francisco

Lima Juacutenior acompanhado de outros membros daquela associaccedilatildeo

pleiteava a construccedilatildeo de uma escola para surdos-mudos em nosso

Estado porque ainda natildeo existia nenhuma O ensino de Francisco

desenvolvia o domiacutenio da liacutengua de sinais dos surdos em Santa Catarina

Em Santa Catarina o processo de educaccedilatildeo de surdos se

deu na deacutecada de 50 com serviccedilos implementados na

rede regular de ensino Aconteceu que os surdos

estudaram na escola regular juntamente com alunos

ouvintes e eles natildeo se compreenderam na sala de aula

porque o professor falava a liacutengua portuguesa e oralismo

A liacutengua de sinais era proibida por influecircncia do

congresso de Milatildeo na Itaacutelia em 1880 Os alunos surdos

ficaram isolados dos alunos ouvintes por causa das

barreiras de comunicaccedilatildeo Os ouvintes natildeo conheciam a

cultura e a identidade surda Por exemplo na sala de aula

muitos alunos ouvintes se comunicam em portuguecircs e os

surdos ficam isolados e excluiacutedos na escola dos ouvintes

Porque o surdo procura a intervenccedilatildeo da cultura que se

vive na liacutengua de sinais encontra outros surdos na

comunicaccedilatildeo nos contados entre outros surdos e

consegue juntamente na forccedila poliacutetica dos movimentos

surdos Na verdade o Francisco teve forccedila de vontade

para estudar no INES Ele eacute uma pessoa boa com a

responsabilidade de fundar associaccedilatildeo de surdo A

trajetoacuteria de vida desde a infacircncia marca e registra que

Francisco tem procuraccedilatildeo com o povo surdo do interior

com os contatos na liacutengua de sinais e mais valorizaccedilatildeo da

cultura surda (SCHMITT 2008 p 105)

Foi apresentado para Francisco Lima Juacutenior pelo Governador

Celso Ramos o termo aprovado para contrataccedilatildeo de profissionais para

funcionamento da sala para surdos-mudos em Florianoacutepolis que

funcionou na Escola Celso Ramos localizada na Rua Francisco

Tolentino n0 12 Centro de Florianoacutepolis Esse empreendimento veio

dotar a capital de mais uma escola desta vez destinada aos surdos-

mudos que tambeacutem necessitavam ser atendidos quando se promovia o

crescimento no nuacutemero de escola em nossa terra

96

Em Florianoacutepolis existiam duas escolas para crianccedilas surdas

uma funcionando no grupo Escolar Celso Ramos e outra no grupo

Escolar Barreiros Filho todos a cargos de professores especializados

Nessa eacutepoca os surdos de Florianoacutepolis receberam a visita de um

sacerdote surdo o Padre Vicente de Paulo Penido Burnier natural de

Juiz de Fora Estado de Minas Gerais e tambeacutem do Padre Eugecircnio Oates

nascido em Missouir Estados Unidos Atraiacutedo pela personalidade e pelo

trabalho do padre Vicente o padre Eugecircnio Oates veio para o Brasil em

1946 como missionaacuterio dirigindo-se agrave igreja dos padres redentoristas

sediada em Manaus

Integrou-se na vida brasileira o padre Eugecircnio Oates realizando

campanhas em todo o paiacutes em favor da difusatildeo da linguagem das matildeos

no Rio de Janeiro onde lanccedilou o primeiro livro em 1969

Figura 14 ndash Acervo do Francisco fotografia de Jornal que traz

reportagem sobre o livro Linguagem das Matildeos

Em Florianoacutepolis encaminhavam os surdos-mudos para a

instituiccedilatildeo especializada podia-se procurar o Ciacuterculo dos Surdos-Mudos

de Santa Catarina no grupo escolar Barreiros Filho e no Instituto de

Audiccedilatildeo e Terapia de Linguagem ndash IATEL Fundado no dia 05 de julho

de 1969 o IATEL jaacute funcionava no hospital infantil em instalaccedilotildees

precaacuterias Para que crianccedilas surdas pudessem ter uma vida normal o

professor Francisco Lima Juacutenior trabalhava haacute muitos anos

O Ciacuterculo dos Surdos-Mudos de Santa Catarina comeccedilou a se

movimentar pois na reuniatildeo teve contato com a liacutengua de sinais que

comeccedilou com o discurso depois um jogo divertido que o CSMSC

97

promovia no encontro desta reuniatildeo Tambeacutem ofereceu a renovaccedilatildeo de

matriacuteculas para menores e adultos surdos Reabriu a escola para surdos

menores no periacuteodo da manhatilde e agrave noite para adultos analfabetos Teve

tambeacutem outra reuniatildeo que iniciou com um discurso e apoacutes isso

aconteceu o jogo com os associados

As aulas continuavam normalmente e as reuniotildees tambeacutem

Francisco Lima Juacutenior que era o presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos

do Estado de Santa Catarina era quem organizava o encontro com as

associaccedilotildees de surdos de vaacuterias cidades do estado Havia aleacutem dos

discursos escolha da rainha dos surdos e competiccedilotildees de jogos (futebol

vocirclei) aleacutem de viagens Numa dessas viagens os surdos de Santa

Catarina foram para Satildeo Paulo no festival esportivo numa viagem de

dois dias onde ocorria a silenciosa festividade

O presidente do CSMSC nesta festa fez um discurso para os

amigos surdos de Satildeo Paulo e o vice-presidente do CSMSC deixou seu

cargo porque natildeo quis mais participar destas associaccedilotildees Entatildeo as

aulas continuaram Foi um mecircs em que muitos soacutecios ou alguns estavam

com muito trabalho vinham alguns soacutecios da associaccedilatildeo dos surdos-

mudos para saber das informaccedilotildees da semana no CSMSC Por isso

continuaram alguns surdos realizando o encontro para bate-papo na

liacutengua de sinais todas as quartas-feiras Realizou-se a primeira

comunhatildeo pascoal na capela do Coleacutegio Catarinense rezada pelo padre

Vicente que era surdo no mesmo dia apoacutes a missa de aniversaacuterio do

presidente Francisco

Os alunos surdos entraram em feacuterias mas continuaram os

encontros e reuniotildees onde discursavam e planejavam as atividades

esportivas para o CSMSC apoacutes os jogos que eles faziam todos os

meses Havia reuniotildees com bate-papos na liacutengua de sinais no CSMSC

Numa destas reuniotildees aconteceu um evento importante para os surdos-

mudos que eram associados do CSMSC pois comemoraram a data de

sua inauguraccedilatildeo

Francisco continuava a dar aulas e palestras principalmente sobre

a Independecircncia do Brasil sobre D Pedro I e outros assuntos Na

comemoraccedilatildeo da Independecircncia do Brasil os associados da CSMSC

viajaram para Curitiba e encontraram os amigos surdos de laacute E todos

fizeram um discurso que iniciou com o presidente da CSMSC apoacutes os

representantes de cada sociedade e depois do discurso foi eleita a rainha

da Associaccedilatildeo dos Surdos de Curitiba senhorita Anair Budel Em

seguida o presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos de Curitiba convidou o

professor Francisco Lima Juacutenior presidente do CSMSC para danccedilar a

valsa com a rainha das prendas Anair Budel

98

Francisco contou que o baile foi muito divertido e durou ateacute a

madrugada com o grupo de surdos que conversava muito no encontro

de associaccedilotildees regionais Apoacutes o encerramento do evento visitaram

uma escola de crianccedilas surdas em Curitiba Em 1972 o professor deu

para cada aluno uma cartolina e assim cada um ia imaginar e pintar seu

conhecimento do trabalho para a difusatildeo da liacutengua de sinais Depois na

comemoraccedilatildeo do dia do professor os alunos fizeram uma pequena

homenagem ao professor Francisco

O professor falou sobre o dia do Iacutendio descobrimento do Brasil a

morte de Tiradentes entre outros Na paacutescoa os alunos receberam

presentes de chocolate na semana da paixatildeo foi apresentado o teatro ldquoa

morte de Jesus Cristordquo na liacutengua de sinais por um grupo de surdos para

difundir sua liacutengua

O ensino da liacutengua de sinais em Santa Catarina com os

ensinamentos do professor Francisco proporcionou uma nova fase da

liacutengua de sinais trazendo influecircncias de outras comunidades surdas do

Brasil A partir desse contato o modelo linguiacutestico trazido do Rio de

Janeiro eacute aperfeiccediloado a cada geraccedilatildeo

O Imperial Instituto dos Surdos-Mudos foi de extrema

importacircncia na propagaccedilatildeo da liacutengua de sinais em grande

parte das regiotildees brasileiras O Sr Francisco cidadatildeo

Catarinense foi um aluno desta instituiccedilatildeo apoacutes retornar

ao seu estado de origem ele foi educador de surdos e

responsaacuteveis pela difusatildeo da liacutengua sinalizada usada

nesse instituto (CORREA e SEGALA 2009 p 32)

Durante todo esse tempo o professor Francisco Lima Juacutenior

orienta auxilia e direciona todas as atividades escolares das crianccedilas

jovens e adultos surdos tornando-se assim o primeiro professor dessa

metodologia de ensino - A Linguagem das Matildeos com o objetivo de

criar um alfabeto uacutenico para todos os Surdos do Estado de Santa

Catarina Suas aulas e palestras em LIBRAS tornaram-se muito

populares entre os surdos catarinenses

Eacute importante registrar na histoacuteria da liacutengua de sinais em Santa

Catarina um estudo linguiacutestico e possibilitar a pesquisa sobre o primeiro

professor surdo Francisco que criou o primeiro dicionaacuterio aqui em

Santa Catarina Ele trouxe o modelo do INESRJ (uma experiecircncia na liacutengua de sinais) para nosso estado de Santa Catarina e influenciou a

comunidade surda catarinense

Uma das pessoas surdas da nova geraccedilatildeo eacute a Sandra Luacutecia

Amorim que escreveu um pequeno dicionaacuterio chamado ldquoComunicando

99

a Liberdade - A Liacutengua das Matildeosrdquo em 2000

Concluiacutemos que a Liacutengua Brasileira de Sinais teve forte

influecircncia da liacutengua de sinais francesa (LSF) que tambeacutem influenciou a

liacutengua de sinais em Santa Catarina atraveacutes do professor Francisco que

estudou no INES A LSF eacute uma liacutengua mais antiga do que a LIBRAS

com um acervo bibliograacutefico maior A LIBRAS tem caracteriacutesticas

proacuteprias e estaacute em expansatildeo a partir de sua oficializaccedilatildeo em 2002 pela

necessidade de incluir novos sinais ao aprendizado da comunidade surda

que passou a ter uma maior abertura nas universidades

100

101

CAPIacuteTULO IV ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila na liacutengua de sinais

41 ndash Introduccedilatildeo

Nesta pesquisa tomamos como base teoacuterica os estudos

sociolinguiacutesticos de Labov (2008 [1972]) na concepccedilatildeo de que seu texto

pode nos ajudar a embasar o trabalho de pesquisa Assim tomamos

como base os estudos das liacutenguas orais do autor adaptando-os agraves

variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas das liacutenguas de sinais

O estudo desenvolvido aqui mostra os sujeitos surdos a liacutengua de

sinais algumas possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas Traz

explicaccedilotildees da liacutengua de sinais pelo surdo indiacutecios de variaccedilatildeo e

mudanccedila linguiacutestica apresenta variaccedilotildees linguiacutesticas na liacutengua de sinais

utilizadas pelos surdos e por fim como o surdo se comunica a liacutengua

de sinais em seu contexto social

42 ndash A liacutengua de sinais pelo surdo indiacutecios de variaccedilatildeo e mudanccedila

linguiacutestica

A LIBRAS

50 eacute uma liacutengua usada entre os surdos assim como

entre os ouvintes desde que queiram interagir com esta forma de

comunicaccedilatildeo Ao verificar o acesso dos surdos agrave comunicaccedilatildeo e agrave

expressatildeo de forma criativa pode-se encontrar respostas sobre

mudanccedilas na gramaacutetica em palavras em frases e em seu contexto

social

As liacutenguas mudam todos os dias evoluem mas a essa

mudanccedila diacrocircnica se acrescenta uma outra sincrocircnica

pode-se perceber numa liacutengua continuamente a

coexistecircncia de formas diferentes de um mesmo

significado Essas variaacuteveis podem ser geograacuteficas a

mesma liacutengua pode ser pronunciado diferentemente ou

ter um leacutexico diferente em diferentes pontos do territoacuterio

(CALVET 2002 p 89)

Queremos apresentar algumas variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas a

que os surdos estiveram expostos no primeiro espaccedilo de ensino

promovido pelo professor Francisco Lima Juacutenior (Chiquito) Ele

influenciou para a expansatildeo da liacutengua de sinais da comunidade surda na

50 ldquoEacute uma liacutengua natural eacute atraveacutes dela que os surdos tecircm acesso ao mundo em que vivem No

entanto ela natildeo eacute uma liacutengua que o surdo aprende sozinho Ele pode desenvolver uma liacutengua

102

histoacuteria de Santa Catarina Entatildeo queremos perceber se haacute diferenccedilas

durante sua trajetoacuteria entre a variaccedilatildeo linguiacutestica daquela eacutepoca (1950)

ateacute a atualidade se aconteceram mudanccedilas por influecircncia da

transformaccedilatildeo tecnoloacutegica da sociedade Acreditamos que com o passar

do tempo ocorrem mudanccedilas na liacutengua de sinais histoacuterica e

culturalmente na comunidade surda

As liacutenguas de sinais como todas as liacutenguas satildeo dinacircmicas Em

contato com grupos surdos na comunidade modificam-se ao longo do

tempo como qualquer outra liacutengua A mudanccedila pode ser percebida em

diferentes regiotildees onde o surdo busca a informaccedilatildeo utilizando a liacutengua

de sinais que vem de outro lugar com algumas diferenccedilas entre palavras

e seu significado entre sinais

Quando as pessoas surdas evoluem culturalmente a liacutengua de

sinais se transforma Com o passar do tempo a ldquoLIBRASrdquo tambeacutem se

modifica Na interaccedilatildeo do indiviacuteduo surdo na comunidade surda e na

sociedade essas relaccedilotildees de contato fazem com que se criem novos

sinais pois aparecem palavras novas e outros sinais sofrem adaptaccedilotildees

ocorrem mudanccedilas na configuraccedilatildeo de matildeos no ponto de articulaccedilatildeo

no movimento na orientaccedilatildeodirecional na expressatildeo facial e corporal

Essas adaptaccedilotildees satildeo criadas pela necessidade no contato e na situaccedilatildeo

de uso A comunidade surda como qualquer outra vem evoluindo e se

transformando firmando uma identidade surda

Como jaacute ressaltamos a origem da liacutengua de sinais no Brasil eacute

europeacuteia Sua maior influecircncia foi no Rio de Janeiro no Instituto

Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos ndash INESRJ onde se expandiu para os

demais estados brasileiros Recebeu influecircncia tambeacutem do Francecircs do

Portuguecircs (Portugal) e dos Estados Unidos O Instituto pesquisou a

influecircncia cultural dos surdos e as influecircncias sofridas quanto a

LIBRAS Assim como na Liacutengua Portuguesa acontecem modificaccedilotildees

na escrita e na fala com o tempo na liacutengua de sinais tambeacutem ocorrem

transformaccedilotildees quanto agrave configuraccedilatildeo de matildeos A liacutengua de sinais

evolui com mudanccedila constante em cada regiatildeo e a comunicaccedilatildeo do

surdo acompanha e qualifica mais a liacutengua de sinais A LIBRAS sofre

modificaccedilotildees com o tempo e tambeacutem como na liacutengua falada apresenta

palavras ou expressotildees proacuteprias do lugar onde acontece a comunicaccedilatildeo

Sendo assim o surdo natildeo tem o contato com a LIBRAS longe da

sociedade ou na zona rural nesse caso pode se apropriar de sinais

proacuteprios para a comunicaccedilatildeo ex Francisco buscava os surdos nas

regiotildees de Santa Catarina pois o contato com a LIBRAS eacute importante

para a sua identidade cultural

103

Realmente pode-se considerar que essas diferentes

palavras se dividem em seu uso em uma escala de faixas

etaacuterias os jovens diriam banheiro seus pais wc e seus

avoacutes reservados por exemplo Pode-se entatildeo imaginar

que eles se dividam segundo o sexo dos falantes os

homens dizendo mais banheiro e wc e as mulheres

toalete e reservado (CALVET 2002 p 103)

A LIBRAS eacute uma liacutengua porque possui estrutura gramatical

proacutepria eacute essencial para o surdo o contato em relaccedilatildeo ao outro como

em qualquer outra liacutengua que tem diferenccedilas gramaticais Utilizando o

movimento de sinal e a expressatildeo facial como meio de comunicaccedilatildeo o

surdo se comunica tanto com a comunidade surda quanto com a ouvinte

O contato dos jovens com os ensinamentos do professor

Francisco proporcionou uma nova fase da liacutengua de sinais A partir

desse contato o modelo linguiacutestico trazido do Rio de Janeiro eacute

aperfeiccediloado pela geraccedilatildeo mais nova do mesmo modo que descreve

Calvet (2002) nos estudos de liacutengua oral

- a ideacuteia de pesquisa uma (s) variaacutevel (eis) frequente (s)

que geralmente aparecem na estrutura linguumliacutestica

variaacuteveis cuja distribuiccedilatildeo deve ser fortemente

estratificada ldquoIsso equivale a dizer que as pesquisas

preliminares deveriam indicar a seu respeito uma

distribuiccedilatildeo assimeacutetrica entre as mais diversas faixas

etaacuterias ou entre outras categorias mais hierarquizadas da

sociedaderdquo - o estabelecimento de uma metodologia que

extrai essas variaacuteveis dos textos produzidos pelos

falantes - a pesquisa da correlaccedilatildeo entre essa

distribuiccedilatildeo de traccedilos linguiacutesticos e uma distribuiccedilatildeo de

traccedilos socioloacutegicos (CALVET 2002 p 93)

Na citaccedilatildeo acima o autor relata que eacute preciso pensar a construccedilatildeo

de identidade levando em conta diferentes faixas etaacuterias e a variaccedilatildeo

linguiacutestica Entendemos assim a necessidade de pesquisarmos as

variaccedilotildees ocorridas em Santa Catarina

A LIBRAS possui uma forma de comunicaccedilatildeo proacutepria Eacute

independente como qualquer outra liacutengua escrita ou falada Tem o

formato proacuteprio na sua comunicaccedilatildeo que eacute o visual pois se utiliza de

sinaisgestos e expressotildees Todos os seres humanos usam um

determinado tipo de liacutengua e linguagem para se comunicar e tanto a

liacutengua falada quanto a sinalizada apresentam sentidos de expressotildees

104

diferentes na comunicaccedilatildeo A liacutengua de sinais muda histoacuterica e

linguisticamente conforme as variaccedilotildees de cada lugar ou regiatildeo Entatildeo

eacute importante a relaccedilatildeo estabelecida com outras pessoas na sociedade na

troca de informaccedilatildeo ideias experiecircncias ensinamentos e aprendizagem

quando se fala uma liacutengua Quando pensamos as liacutenguas percebemos

que existem diferenccedilas na LIBRAS e no Portuguecircs

Frishberg (1975)51

no seu estudo pesquisado no Instituto Teacutecnico

Nacional para Surdos de Nova Iorque aborda como a Liacutengua de Sinais

Americana (ASL) tem mudado gradativamente ao longo do tempo de

uma linguagem mais icocircnica para uma linguagem mais arbitraacuteria Eacute a

liacutengua natural da comunidade surda nos Estados Unidos e em partes do

Canadaacute onde o inglecircs eacute falado Difere das duas liacutenguas que a maioria

das pessoas conhece no sentido de que eacute produzida com as matildeos e

percebida pelos olhos em vez de pronunciado e percebido pelos

ouvidos Entatildeo ela realizou a sua pesquisa sobre alguns processos

histoacutericos em Liacutengua de Sinais onde havia uma forte tendecircncia para

certas mudanccedilas Como toda liacutengua as liacutenguas de sinais aumentam seu

inventaacuterio lexical com novos sinais introduzidos pelas comunidades

surdas em respostas agraves mudanccedilas culturais e tecnoloacutegicas

A liacutengua de sinais possui estrutura gramatical como qualquer

liacutengua utiliza paracircmetros e como todas as liacutenguas tem variaccedilotildees no

niacutevel fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico e pragmaacutetico Por

isso pode-se perceber a mudanccedila cotidiana na liacutengua de sinais A pessoa

surda traz do seu contato cultural dos grupos nos quais estaacute inserida

novos olhares desta liacutengua muitas vezes transformando sinais jaacute

existentes em novos sinais

Quadros e Karnopp (2004) dizem que as liacutenguas de sinais

recebem informaccedilotildees linguiacutesticas pelos olhos e satildeo produzidas pelas

matildeos O termo fonologia tem sido muito usado para estudar os

elementos das liacutenguas de sinais Apesar da diferenccedila com as liacutenguas

orais as duas liacutenguas tecircm os mesmos princiacutepios subjacentes de

construccedilatildeo Poreacutem existe um esquema linguiacutestico estrutural nas liacutenguas

de sinais que natildeo tem significado se feito isoladamente que eacute

51 Nancy Frishberg eacute consultora em Liacutengua de Sinais e Interpretaccedilatildeo Ela tem PhD em

linguiacutestica pela Universidade da Califoacuternia San Diego onde sua pesquisa de doutorado focada

em mudanccedila histoacuterica em Liacutengua de Sinais Americana ndash ASL Seu trabalho de dissertaccedilatildeo demostrou que os sinais seguem princiacutepios linguiacutesticos como elas mudam ao longo do tempo

com o uso Seu livro de 1986 ldquoInterpretaccedilatildeo Um Introduccedilatildeordquo que ainda estaacute em versatildeo

impressa eacute o texto principal em muitos programas de treinamento inteacuterprete e serve como base para o exame escrito (primeira etapa) para certificaccedilatildeo pelo Registro de Inteacuterpretes para

Surdos

105

Configuraccedilatildeo de Matildeos (CM) Locaccedilatildeo (L) e Movimento (M) A

LIBRAS eacute basicamente feita com as matildeos (direita ou esquerda) tendo

tambeacutem movimento do corpo e da face A CM L e M se contrastam

minimamente alterando o significado dos sinais

A ASL tem a sua proacutepria gramaacutetica e fonologia Na liacutengua de

sinais eacute o estudo dos movimentos manuais baacutesicos que fornece a base

para todos os sinais sintaxe e morfologia na liacutengua falada A morfologia

estuda como as palavras satildeo formadas a partir de sons e palavras

baacutesicas Na liacutengua de sinais eacute o estudo de como os sinais manuais

baacutesicos representam conceitos A liacutengua americana de sinais eacute uma

liacutengua visual que incorpora gestos expressotildees faciais movimentos da

cabeccedila linguagem corporal e ateacute o espaccedilo ao redor do falante Os sinais

manuais satildeo a base desta liacutengua Muitos deles satildeo icocircnicos o que

significa dizer que o sinal usa uma imagem visual que se parece com o

conceito que representa

Wescott (1971 Frishberg) sugere que todas as formas de liacutengua

(oral escrita e gestual) usam iconicidade Ele diz que a iconicidade eacute um

sinal familiar (caseiro) em vez de uma caracteriacutestica absoluta de

qualquer sistema de comunicaccedilatildeo incluindo a liacutengua

Segundo Frishberg um sinal pode ser especificado atraveacutes de

quatro paracircmetros simultaneamente configuraccedilatildeo de matildeo movimento

ponto de articulaccedilatildeo (ou localizaccedilatildeo) e orientaccedilatildeo Essas descriccedilotildees de

paracircmetro servem para poder distinguir alguns sinais de outros similares

e dar sentido agrave frase num todo como por exemplo os sinais HOJE e

AGORA diferem no paracircmetro movimento mas satildeo iguais na

configuraccedilatildeo de matildeos e na localizaccedilatildeo A alteraccedilatildeo entre esses

paracircmetros pode significar uma completa alteraccedilatildeo no sentido de

algumas palavras Por exemplo o sinal correspondente agrave ldquoMACcedilAtilderdquo pode

significar ldquoQUEIJOrdquo se houver apenas uma mudanccedila na configuraccedilatildeo

de matildeos novamente ldquoMACcedilAtilderdquo pode significar ldquoCURSOrdquo se houver

diferenccedila no local e por fim ldquoMACcedilAtilderdquo pode significar ldquoCUBArdquo se

houver variaccedilatildeo no movimento Esses satildeo pares-miacutenimos encontrados

na LIBRAS A orientaccedilatildeo conforme aplicada tambeacutem pode alterar o

significado de uma palavra Seguem os exemplos na liacutengua de sinais

106

Figura 15 ndash Mostrar os Sinais

As autoras Quadros e Karnopp (2004 p 78) dizem que as

restriccedilotildees fonoloacutegicas requeridas para a boa formaccedilatildeo de sinais podem

ser produzidas pelas matildeos como a) sinais produzidos com uma das

matildeos b) sinais produzidos com as duas matildeos ambas ativas e c) sinais produzidos com as duas matildeos em que a matildeo dominante eacute ativa e a matildeo

natildeo-dominante serve como locaccedilatildeo

Para Battison (1978 Quadros e Karnopp (2004)) haacute duas

restriccedilotildees fonoloacutegicas na produccedilatildeo dos tipos de sinais a) a condiccedilatildeo de

107

simetria e b) a condiccedilatildeo de dominacircncia Quando as duas matildeos se

movem na produccedilatildeo de um uacutenico sinal CM deve ser a mesma para as

duas matildeos a locaccedilatildeo deve ser a mesma ou simeacutetrica o movimento deve

ser simultacircneo ou alternado Jaacute na condiccedilatildeo de dominacircncia as matildeos

apresentam diferentes configuraccedilotildees e entatildeo a matildeo ativa produz o

movimento e a matildeo passiva serve de apoio

A importacircncia dessa transferecircncia de movimento do rosto ou

corpo para as matildeos deve ser ressaltada bem como a concentraccedilatildeo para

uma sinalizaccedilatildeo de faacutecil entendimento Alguns sinais continuam sendo

motivados para uma mudanccedila dentre eles WILL (indica o futuro)

CARE (cuidado) TEDIOUS (tedioso) FINDFAULT (criticar) e

MEET (encontrar) Nessas mudanccedilas satildeo observadas algumas

caracteriacutesticas corporais tais como movimentos ordenados dos dedos e

matildeos deslocamento lateral da cabeccedila e movimentos do toacuterax

Pesquisei outro exemplo no curso de LetrasLIBRAS sobre a

variaccedilatildeo fonoloacutegica ldquoOs sinais FUNNY (engraccedilado) BLACK (preto)

e BORING (chato) satildeo exemplos de variaccedilatildeo fonoloacutegica pois esses

sinais podem ser realizados de duas formas soacute com o indicador

distendido e os outros dedos fechados ou com o

indicador e o polegar distendidos e os demais dedos fechadosrdquo

108

Figura 16 ndash Variaccedilatildeo fonoloacutegica

Outro exemplo interessante dos autores Woodward e Desantis

(1976) satildeo sinais que podem ser realizados tanto com uma matildeo quanto

com duas matildeos como os sinais CAT (gato) COW (vaca) e FAMOUS

(famoso) que satildeo produzidos no rosto

CAT COW

FAMOUS

(TENNANT amp BROWN 2004)

Figura 17 ndash Mostrar os sinais com uma matildeo e com duas matildeos

109

Vamos conhecer e refletir sobre as variaccedilotildees dos surdos

essencialmente com relaccedilatildeo agrave liacutengua de sinais

Klima e Bellugi (1979) representam uma pesquisa fonoloacutegica na

liacutengua de sinais do ASL A ASL ndash American Sign Language eacute a liacutengua

natural da comunidade surda nos Estados Unidos Os autores

identificam na liacutengua de sinais apenas trecircs paracircmetros configuraccedilatildeo de

matildeo (CM) ponto de articulaccedilatildeo (ou localizaccedilatildeo) (L) movimento (M)

que ao serem analisados individualmente natildeo satildeo possuidores de

significado e a outra autora Brito (1995) no Brasil pesquisou partes dos

paracircmetros primaacuterios a configuraccedilatildeo das matildeos o ponto de articulaccedilatildeo e

o movimento e tambeacutem os paracircmetros secundaacuterios52

a regiatildeo de

contato a orientaccedilatildeo das matildeos e a disposiccedilatildeo das matildeos

Segundo Frishberg em se tratando de tendecircncia para a simetria a

liacutengua toma vaacuterias formas Examinando o seu desenvolvimento em dois

paracircmetros matildeo-forma e movimento nota-se que ambas as matildeos agem

em uniacutessono e uma matildeo age sobre a outra As matildeos assumiram a mesma

configuraccedilatildeo Pode-se ver que alguns sinais mudam sua forma de

expressatildeo antes era com apenas uma das matildeos e agora se tornam as

duas

Eacute claro que os sinais tendem a seguir mudanccedilas ao longo da

histoacuteria Por exemplo para sinais no rosto tendem a utilizar apenas uma

matildeo deixando a face mais visiacutevel e permitindo que os olhos expressem

uma variedade de fins gramaticais Jaacute para os sinais na aacuterea do tronco

geralmente usam as duas matildeos ndash o que muitas vezes eacute sinal de

redundacircncia e simetria

Segue o exemplo da liacutengua de sinais do ASL

52 BRITO (1995) Regiatildeo de Contato ldquoRefere-se agrave parte da matildeo que entra em contato com o corpo Esse contato pode-ser dar maneiras diferentes atraveacutes de um toque de um risco de um

deslizamento etcrdquo

Orientaccedilatildeo das Matildeos ldquoEacute a direccedilatildeo da palma da matildeo durante o sinal voltada para cima para

baixo para o corpo para frente para esquerda ou para a direita Pode haver mudanccedila na

orientaccedilatildeo durante a execuccedilatildeo do Movimentordquo

Disposiccedilatildeo das Matildeos ldquoA articulaccedilatildeo dos sinais pode ser feita apenas pela matildeo dominante ou

pelas duas matildeos Neste uacuteltimo caso as duas matildeos podem se movimentar para formar o sinal ou entatildeo apenas a matildeo dominante se movimenta e a outra funciona como Ponto de

Articulaccedilatildeordquo

110

Figura 18 ndash Sinal de Paacutessaro

Para o sinal de PAacuteSSARO em um primeiro momento utiliza-se

uma das matildeos na aacuterea da face para o sinal ldquobicordquo e em seguida as duas

matildeos (uma para cada lado) em forma de asas Por fim o sinal

PAacuteSSARO hoje eacute apenas representado pela primeira parte (bico em

matildeo uacutenica)

A histoacuteria documentada da liacutengua americana de sinais natildeo eacute

longa existe uma seacuterie de gestos registrados ao longo da histoacuteria mas

foi somente no final do seacuteculo XVIII que os surdos foram considerados

educaacuteveis

Segundo Frishberg ldquoHomesignrdquo (sinais caseiros) eacute um termo

geral utilizado pela comunidade surda para se comunicar poreacutem eacute uma

forma bastante utilizada principalmente pelas matildees em aacutereas rurais que

tecircm filhos surdos Dados estatiacutesticos mostram que 80 a 90 dos surdos

nascem de pais ouvintes por essa razatildeo haacute uma necessidade inevitaacutevel

de comunicaccedilatildeo A partir dessa necessidade as matildees principalmente

precisam encontrar maneiras de se comunicar com os filhos e passam a

criar sinais de forma empiacuterica sem qualquer regra ou seja sinais natildeo

padronizados Tais sinais inventados passam a criar certas dificuldades

111

de comunicaccedilatildeo entre as diferentes comunidades de surdos Existe a

ASL (Liacutengua de Sinais Americana) com uma linguagem jaacute padronizada

que comeccedila a ser difundida e ensinada atraveacutes das escolas americanas

com sinais padronizados

A liacutengua de sinais padronizada enfrenta ainda dificuldade pois

algumas escolas eram proibidas politicamente de ensinar atraveacutes da

metodologia da ASL O fato eacute que outras escolas mesmo sem a devida

autorizaccedilatildeo comeccedilam a ensinar a liacutengua padronizada Os surdos

comeccedilam a aprender a liacutengua padratildeo mas continuam a se comunicar em

casa com os familiares usando o ldquohomesignrdquo (sinais caseiros) A

comunicaccedilatildeo ensinada em casa requeria a utilizaccedilatildeo de vaacuterios recursos

ambientais para a comunicaccedilatildeo entretanto havia a dificuldade de

encontrar referecircncia para as cores nos recursos ambientais pois para se

referir a uma cor eles deveriam encontraacute-lo na natureza aproximar-se o

suficiente para apontar e fazer a associaccedilatildeo com a cor

Historicamente pode-se afirmar que ao longo do tempo a forma

de comunicaccedilatildeo entre a comunidade surda vem mudando

constantemente teacutecnicas e sinais vecircm sendo aperfeiccediloados Ao inveacutes de

gestos natildeo-estruturados o que encontramos eacute uma gama de sinais e

movimentos de matildeos regularizados ou seja inter-relacionados

conjunto sistematizado de sinais que estaacute passando por mudanccedilas de

forma regular e formal

Quadros e Karnopp (2004 p 51) observam que os articuladores

primaacuterios das liacutenguas de sinais satildeo as matildeos estas se movimentam em

um espaccedilo determinado em frente ao corpo Um sinal pode ser

articulado com uma ou duas matildeos ou seja um mesmo sinal pode ser

articulado tanto com a matildeo direita quanto com a esquerda Mas precisa-

se levar em conta que sinais efetuados com as duas matildeos apresentam

restriccedilotildees em relaccedilatildeo ao tipo de interaccedilatildeo entre as matildeos De acordo

com Brito (1995) a LIBRAS apresenta 46 Configuraccedilotildees de Matildeos

(CMs) mas nem todas as liacutenguas de sinais partilham do mesmo nuacutemero

de configuraccedilotildees de matildeos Seguem quatro imagens de configuraccedilotildees de

matildeos difundidas no Brasil

112

As Configuraccedilotildees de Matildeos da LIBRAS

Figura 19 Figura 20

Figura 19 e 20 ndash Ferreira-Brito e Langevin (1995 p220)

Figura 21 Figura 22

Figura 21 ndash httpwwwinesgovbrlibrasprincipalaspASSU_id=3

Figura 22 ndash Quadro de CMs da LSB por Pimenta e Quadros (2006 p 73)

113

Um aspecto recorrentemente discutido eacute a iconicidade dos sinais

ndash em oposiccedilatildeo agrave arbitrariedade da relaccedilatildeo entre significado e

significante observada na constituiccedilatildeo do signo linguiacutestico em liacutenguas

orais Reconhecendo nas liacutenguas de sinais a iconicidade a par da

arbitrariedade (e remetendo a estudos que demonstram por exemplo a

dificuldade por parte de informantes de deduzirem significados em

relaccedilatildeo a muitas formas aparentemente icocircnicas) as autoras (Ferreira-

Brito e Langevin Pimenta e Quadros) destacam o fato de que signos

icocircnicos sofrem mudanccedilas as quais frequentemente ldquotendem a inibir a

natureza icocircnica dos sinais tornando-os mais arbitraacuterios atraveacutes dos

temposrdquo

Embora os demais sinais natildeo-manuais sejam realizados de forma

muitas vezes equivocada quando estes satildeo de forma simples como

afirmativa negativa e exclamativa natildeo haacute um comprometimento do

significado na sentenccedila Mas quando associados a outras formas o

equiacutevoco na execuccedilatildeo da expressatildeo facial provoca uma mudanccedila no

significado da sentenccedila passando esta a pertencer a outra classe

As liacutenguas orais modificam-se como no caso das palavras que

caem em desuso outras que satildeo adquiridas aumentando o vocabulaacuterio

e ainda mudando de significado das palavras O mesmo acontece nas

liacutenguas de sinais a fim de responder agraves necessidades que a evoluccedilatildeo

soacutecio-cultural impotildee

A ASL por sua vez estaacute seguindo a teoria citada acima

substituindo seus iacutecones por siacutembolos que de maneira geral tendem a

ser menos transparentes e icocircnicos pois se tornam mais arbitraacuterios

siacutembolos convencionais

Com o passar do tempo ocorrem muitas mudanccedilas nas liacutenguas

para suprir as necessidades de comunicaccedilatildeo e as modificaccedilotildees de

costumes de cada geraccedilatildeo Assim novos sinais satildeo criados de acordo

com a necessidade de cada grupo

Na verdade temos que pesquisar a liacutengua de sinais em Santa

Catarina observar o sujeito surdo em diferentes faixas etaacuterias

investigando o surgimento do primeiro espaccedilo de identidade cultural do

surdo em contexto social e acessando gramaticalmente a liacutengua de

sinais Esse espaccedilo foi conquistado pela poliacutetica linguiacutestica que assegura

o envolvimento com a liacutengua de sinais que estaacute se expandindo na

sociedade em nosso estado catarinense

Como toda liacutengua a LIBRAS sofre influecircncia das mudanccedilas

histoacutericas e culturais as liacutenguas satildeo dinacircmicas e natildeo estaacuteticas por isso

elas vivem sofrendo alteraccedilotildees e com as liacutenguas de sinais ocorre o

mesmo Essas mudanccedilas podem ser percebidas nas diferentes regiotildees

114

onde satildeo utilizadas as mesmas liacutenguas em que haacute algumas diferenccedilas

em algumas palavras ou expressotildees Mas como tem sido a participaccedilatildeo

do registro na comunicaccedilatildeo do surdo neste espaccedilo linguiacutestico e histoacuterico

cultural na liacutengua de sinais

Calvet (2002) mostra relaccedilotildees entre a liacutengua e a sociedade

fornecendo embasamento agraves explicaccedilotildees sobre as variaccedilotildees

sociolinguiacutesticas o que nos permite fazer uma comparaccedilatildeo das

descriccedilotildees agraves influecircncias externas e internas que a liacutengua de sinais de

Santa Catarina sofreu ateacute chegar ao estaacutegio em que se encontra

atualmente expandido em LIBRAS

Eacute importante registrar a nova histoacuteria da liacutengua de sinais suas

variaccedilotildees e o seu potencial transformador na realidade da comunidade

surda

O sistema linguiacutestico eacute heterogecircneo e as variaccedilotildees podem ser

observadas sob vaacuterios aspectos Sob o ponto de vista diacrocircnico

podemos observar o processo de sistematizaccedilatildeo linguiacutestico de alguns

gestos extralinguiacutesticos usados por usuaacuterios de liacutengua oral auditiva

que foram lexicalizados na LIBRAS tais como os gestuais que

correspondem ao significado de LOUCO ADEUS POSITIVO etc

Por outro lado sob uma perspectiva sincrocircnica vaacuterias formas

podem ser alternadas e podem representar aleacutem disso uma variaccedilatildeo

diatoacutepica53

e a variaccedilatildeo diafaacutesica54

Essas variaccedilotildees referem-se a

variaacuteveis geograacuteficas podem coexistir duas ou mais formas com um

mesmo significado Eacute o caso do sinal CULTURA (matildeo em ldquo5rdquo na testa

ou matildeo em ldquoCrdquo ao longo do braccedilo de apoio) Essas variantes podem

identificar usuaacuterios provindos do Sul e Centro-Oeste respectivamente e

em outras regiotildees por apresentarem sinais diferentes

Em geral um dialeto abrange uma zona ou regiatildeo territorial que

pode ou natildeo coincidir com as fronteiras ou barreiras geograacuteficas No

53 Variaccedilatildeo diatoacutepica eacute a regional quando haacute elementos diferentes dentro de um mesmo territoacuterio linguiacutestico mas natildeo necessariamente dentro de um mesmo dialeto Nem sempre os

elementos detentos de variaccedilotildees diatoacutepicas concorrem a menos quando haacute fortes migraccedilotildees

dentro de um mesmo territoacuterio Podem ocorrer interferecircncias mais incisivas quando determinadas regiotildees possuem destaque econocircmico poliacutetico social e cultural

54 Variaccedilatildeo diafaacutesica eacute a situacional relativa agraves diferentes monitoraccedilotildees do falante nas diferentes situaccedilotildees de interaccedilatildeo Exemplo uma pessoa estaraacute mais monitorada em seu

ambiente de trabalho do que nas interaccedilotildees realizadas em ambiente domeacutestico A variaccedilatildeo

diafaacutesica vem da afirmaccedilatildeo LABOVIANA de que natildeo haacute falante de estilo uacutenico A produccedilatildeo linguiacutestica eacute dependente do contexto social

115

Brasil existem vaacuterios dialetos55

(ou variedades) em comunidades de

ouvintes onde se fala a Liacutengua Portuguesa com diferentes usos Ex

bergamota vergamota e tangerina Palavras variaacuteveis acontecem em

vaacuterias regiotildees e podem ser usadas por motivaccedilatildeo social e ou regional A

seguir algumas variaccedilotildees linguiacutesticas que ocorrem na LIBRAS Ex o

sinal de Cultura SC SP e RJ Seguem os sinais

Figura 23 ndash Sinal ldquoCultura em SCrdquo

Figura 24 ndash Sinal ldquoCultura em SPrdquo

Figura 25 ndash Sinal ldquoCultura em RJrdquo

55 Variedade ndash ldquoa fala de uma comunidade de modo global considerando-se todas as suas particularidades tanto categoacutericas quanto variaacuteveis o mesmo que dialeto ou falarrdquo COELHO

et al (2010 p 166)

116

Um outro exemplo de variaccedilatildeo diatoacutepica no leacutexico do portuguecircs

pode ser observado na diferenccedila entre MACAXEIRA (Norte e

Nordeste) MANDIOCA (Sudeste e Centro-Oeste) e AIPIM (Sul)

A liacutengua de sinais tem uma importacircncia muito significativa para a

comunicaccedilatildeo entre surdos e tambeacutem entre surdos e ouvinte pois sem a

liacutengua de sinais dificultaria a comunicaccedilatildeo e os surdos natildeo conseguiriam

viver na comunidade

A LIBRAS possui forma clara e definida em sua estrutura

gramatical que se estabelece no dia a dia dos que a utilizam Suas vaacuterias

formas sua estrutura o grupo que a utiliza a influecircncia social e

geograacutefica torna a LIBRAS uma liacutengua como qualquer outra pois

realiza a verdadeira funccedilatildeo de comunicar Como Calvet (2002 p 89)

explica variaacuteveis linguiacutesticas satildeo muito usadas em todas as liacutenguas

ldquoDeste modo um reacuteptil comum em todo o Brasil eacute chamado de ldquoosgardquo

na regiatildeo Norte ldquobribardquo ou ldquoviacuteborardquo no Nordeste e ldquolagartixardquo no

Centro-Sul56

rdquo

43 ndash As variaccedilotildees linguiacutesticas na liacutengua de sinais

Uma definiccedilatildeo geral sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica na liacutengua de

sinais torna-se necessaacuteria para melhor aproveitamento desta pesquisa Eacute

importante considerar os dialetos regionais natildeo soacute usados em regiotildees

diferentes no contato social mas no espaccedilo de uso cultural da liacutengua

influenciando o surdo

A Liacutengua de Sinais Americana (ASL) eacute diferente da Liacutengua de

Sinais Britacircnica (BSL) que por sua vez eacute diferente da Liacutengua de Sinais

Argentina e tambeacutem da Liacutengua de Sinais Francesa (LSF) Verificamos

que nos demais paiacuteses tambeacutem satildeo diferentes as liacutenguas de sinais e as

variaccedilotildees linguiacutesticas no contexto social dos surdos no mundo

(STROBEL e FERNANDES 1998) Observe

Ex

56 O exemplo do autor eacute o seguinte ldquoDesse modo um objeto simples como a serpiliegravere peccedila de pano usada para limpar o chatildeo pode tambeacutem ser chamada de panosse (na Saboacuteia e na

Suiacuteccedila) wassingue (no Norte) torchon (no leste) since (no sudeste)rdquo

117

NOME

ASL LIBRAS

Figura 26 ndash Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo ndash Depto Educaccedilatildeo

Especial ndash CuritibaPR SEEDSUEDDEE

Aleacutem disso dentro de um mesmo paiacutes haacute as variaccedilotildees regionais

Na LIBRAS tambeacutem existem dialetos regionais salientando assim uma

vez mais o seu caraacuteter de liacutengua natural

Os povos57

surdos satildeo influenciados pelos contatos nas liacutenguas de

sinais Em cada regiatildeo o surdo se comunica A liacutengua difere quanto ao

dialeto social e cultural Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica em LIBRAS

As variaccedilotildees linguiacutesticas relacionadas ao contexto satildeo chamadas

de variaccedilotildees estiliacutesticas ou registro Os paracircmetros de variaccedilatildeo

linguiacutestica satildeo diversos no ato de interagir verbalmente um falante

utilizaraacute a variedade linguiacutestica relativa agrave sua regiatildeo de origem classe

social idade escolaridade sexo ou ainda acrescenta-se sua condiccedilatildeo

adaptativa de origem como no caso da pessoa surda

O professor Francisco participou do grupo surdo de outras regiotildees

dos estados de Santa Catarina Paranaacute Rio Grande do Sul Satildeo Paulo

Rio de Janeiro e Minas Gerais em contato com a liacutengua de sinais e suas

variaccedilotildees linguiacutesticas No dialeto regional haacute variaccedilatildeo linguiacutestica

diferenccedilas percebidas no espaccedilo cultural do surdo nas situaccedilotildees de

conversa na associaccedilatildeo escola e comunidade Os sujeitos surdos que

relataram o depoimento para a pesquisa sobre a liacutengua de sinais falavam da importacircncia do Francisco para a comunidade surda de SC

57 O povo surdo segundo STROBEL (2006) refere-se ao conjunto de sujeitos que natildeo habitam

no mesmo local mas que estatildeo ligados por uma origem tais como a cultura surda costumes e interesses semelhantes histoacuterias e tradiccedilotildees comuns e qualquer outro laccedilo

118

No mundo haacute pelo menos uma liacutengua de sinais usada

amplamente na comunidade surda de cada paiacutes diferente da liacutengua

falada utilizada na mesma aacuterea geograacutefica Isto se daacute porque essas

liacutenguas de sinais satildeo independentes das liacutenguas orais pois foram

produzidas dentro das comunidades surdas (STROBEL e

FERNANDES 1998)

Pode ser considerado como sotaque na liacutengua de sinais as

variaccedilotildees linguiacutesticas e costume cultural diferentes de cada regiatildeo

Entatildeo Francisco trouxe a experiecircncia do contato com outras regiotildees

para o grupo de surdos de SC na comunicaccedilatildeo em liacutengua de sinais

44 ndash O surdo se comunica a liacutengua de sinais no contexto social

O dialeto social refere-se a variaccedilotildees de configuraccedilatildeo das matildeos

eou de movimento natildeo modificando o sentido do sinal (STROBEL e

FERNANDES 1998) Dependendo da situaccedilatildeo de uso da comunicaccedilatildeo

do surdo na liacutengua de sinais a variaccedilatildeo pode ser observada atraveacutes da

configuraccedilatildeo das matildeos como em

Ex

Figura 27 ndash Sinal de Ajudar

119

Figura 28 ndash Sinal de Faltar

Figura 29 ndash Sinal de Ocircnibus

Figura 30 ndash Sinal de Sonhar

120

Nem todos os usuaacuterios de uma liacutengua falam do mesmo

jeito por isto todas as liacutenguas naturais possuem

variaccedilotildees linguiacutesticas A LIBRAS tambeacutem apresenta

dialetos regionais reforccedilando seu caraacuteter de liacutengua

natural As variaccedilotildees na LIBRAS ocorrem de vaacuterias

formas como alteraccedilotildees na configuraccedilatildeo de matildeos (forma

que a matildeo assume na realizaccedilatildeo do sinal) ou na

localizaccedilatildeo espacial do sinal (local onde o sinal eacute

realizado) sem que seu sentido e significado sejam

perdido ou modificados Tambeacutem haacute sinais diferentes

para representar um mesmo referente usando em

diferentes regiotildees do paiacutes agraves vezes do mesmo estado

(BASSO e SCHMITT 2007 p 50 e 51)

O valor social58

das formas em variaccedilatildeo se estabelece nas

relaccedilotildees sociais e na avaliaccedilatildeo do que pode ser considerada uma

variedade de prestiacutegio ou uma variedade estigmatizada Estilos formais

ou distensos podem ser identificados a partir de um estudo da variaccedilatildeo

das formas no contexto social Estudos sobre o portuguecircs falado

mostram por exemplo que jovens mais favorecidos tendem a fazer

mais concordacircncia verbal em oposiccedilatildeo aos menos favorecidos que

tendem a usar menos concordacircncia Isso mostra o fator externo

(mercado de trabalho ou situaccedilatildeo) e a necessidade de o falante se

adequar ao valor linguiacutestico de concordacircncia considerado como de

prestiacutegio nesse espaccedilo Podemos concluir que a LIBRAS como

qualquer outra liacutengua apresenta variaccedilatildeo e mudanccedila mas ainda

precisamos aprofundar os estudos linguiacutesticos dessa liacutengua para melhor

conhececirc-la em seus diferentes aspectos (lexicais fonoloacutegicos

morfoloacutegicos e sintaacuteticos) O capiacutetulo 6 traraacute uma descriccedilatildeo sobre

alguns desses aspectos em variaccedilatildeo e mudanccedila Acreditamos que com a

proposta biliacutengue para a educaccedilatildeo de surdos a liacutengua portuguesa e a

LIBRAS teratildeo uma relaccedilatildeo cada vez mais intensa e o contato dessas

duas liacutenguas pelos surdos vai acarretar com toda a certeza trocas

linguiacutesticas entre elas o que pode provocar novas transformaccedilotildees

58 Valor social eacute relativo aos problemas de avaliaccedilatildeo e eacute atribuiacutedo pelos proacuteprios falantes e

usuaacuterios de liacutengua de sinais ou seja eacute sempre de ordem social (nunca linguiacutestica) Valor

atribuiacutedo desenha o futuro das formas concorrentes jaacute que a forma eleita eacute sempre a que recebe maior valor e que muitas vezes corresponde agraves formas adotadas pela elite econocircmica poliacutetica

social ou cultural de uma dada comunidade (surda)

121

CAPIacuteTULO V ndash Metodologia

51 ndash Introduccedilatildeo

Investigarei a histoacuteria da liacutengua de sinais em Santa Catarina e as

variaccedilotildees e mudanccedilas fonoloacutegicas e lexicais ocorridas no periacuteodo que

compreende 1946 aos dias atuais fazendo comparaccedilotildees entre sinais que

aparecem nos relatos de experiecircncias em trecircs geraccedilotildees de surdos

pesquisadas

A metodologia utilizada para esta pesquisa foi a de coleta de

dados atraveacutes de perguntas e depoimentos dos surdos envolvidos nas

trecircs geraccedilotildees das uacuteltimas deacutecadas A coleta de dados de informantes59

foi realizada com o objetivo de solicitar depoimentos sobre fatos

histoacutericos e sobre o contato que os surdos tiveram com a liacutengua de

sinais

Os depoimentos dos ex-alunos surdos bem como dos surdos

envolvidos na comunidade surda catarinense nas uacuteltimas deacutecadas foram

realizados por meio de entrevistas filmadas Eu mesmo fiz os viacutedeos

Mas antes conversei com cada um dos surdos explicando porque

precisava de seu depoimento Apoacutes a aceitaccedilatildeo de cada um formei os

trecircs grupos por idade Cada um assinou uma ficha do informante para

realizar a pesquisa (em anexo) com dados pessoais e autorizaccedilatildeo

Foram utilizadas trecircs cacircmeras para a filmagem colocadas de forma a

gravar o depoimento dos trecircs surdos simultaneamente Primeiro filmei o

Grupo I Os informantes ficaram sentados na frente de cada cacircmera um

ao lado do outro Depois fiz a pergunta e eles teriam trinta minutos para

dar a resposta e mais vinte minutos para conversarem entre eles Liguei

as trecircs cacircmeras e saiacute da sala Voltei aproximadamente apoacutes uma hora e

desliguei as cacircmeras Fiz o mesmo com o Grupo II e com o Grupo III O

Grupo III foi filmado na UFSC os outros dois numa sala da Associaccedilatildeo

de Surdos A resposta sobre a histoacuteria da educaccedilatildeo de surdos em SC

mais a conversa espontacircnea em LIBRAS trouxe material de qualidade

para a pesquisa A escolha dos surdos levou em conta o fato de os

escolhidos terem frequentado a escola na deacutecada de 1950 quando surgiu

tambeacutem uma associaccedilatildeo de surdos catarinenses

Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os seguintes toacutepicos a coleta

59 COELHO et al (2010 p 164) ldquosujeito da pesquisa sociolinguiacutestica aquele que fornece seus

dados linguiacutesticos para que o pesquisador analiserdquo

122

de dados das trecircs geraccedilotildees com as diferentes faixas etaacuterias o meacutetodo de

entrevista sociolinguiacutestica a coleta de narrativa de experiecircncia pessoal

a transcriccedilatildeo de dados dos trecircs grupos compostos de informantes surdos

na liacutengua de sinais os informantes do grupo surdo na liacutengua de sinais e

por fim a descriccedilatildeo dos informantes quanto aos dados

Como procedimento metodoloacutegico no primeiro momento

realizamos uma coleta inicial de dados na liacutengua de sinais observando

uma diferenccedila de 30 anos entre um grupo e outro Cada grupo eacute

composto de trecircs indiviacuteduos

O Grupo I eacute formado por pessoas mais velhas na faixa

etaacuteria entre 60 a 80 anos

O Grupo II eacute formado por pessoas entre 30 a 60 anos e

O Grupo III eacute formado por indiviacuteduos na faixa etaacuteria de

15 a 30 anos

Com a anaacutelise da LIBRAS usada pelos indiviacuteduos dessas trecircs

faixas etaacuterias esperamos poder detectar se nas trecircs geraccedilotildees de

sinalizadores da liacutengua de sinais em Santa Catarina vamos encontrar

mudanccedila em tempo aparente

Entatildeo foram entrevistados os trecircs informantes do Grupo III na

situaccedilatildeo de mais jovem em idade na faixa etaacuteria de 15 a 30 anos 1)

Informante A 2) Informante B e 3) Informante C

No segundo momento foi feita a coleta dos dados do Grupo I

Para saber o que existe no primeiro grupo de diferente precisamos

identificar os sinais antigos para depois fazermos uma comparaccedilatildeo com

as liacutenguas de sinais da atualidade Assim foram entrevistados trecircs

sujeitos surdos mais velhos na faixa etaacuteria de 60 a 80 anos 1)

Informante G 2) Informante H e 3) Informante I

No terceiro momento foram entrevistados os informantes do

Grupo II outros trecircs alunos de Francisco na faixa etaacuteria de 30 a 60

anos 1) Informante D 2) Informante E e 3) Informante F Acreditamos

que as formas usadas pelo professor Francisco serviram e servem de

modelo influenciando os alunos E que agraves vezes os alunos do professor

Francisco podem usar alguns sinais proacuteprios do professor surdo em

conversas na escola na associaccedilatildeo e na comunidade surda das regiotildees

de Santa Catarina Eacute possiacutevel tambeacutem que o ex-professor Francisco

usasse outros sinais quando conversava com os amigos os ex-alunos

surdos na escola e associaccedilatildeo em Santa Catarina

123

Foi levado em consideraccedilatildeo na coleta o que sugere Tarallo

(2000)

O pesquisador ao selecionar seus informantes estaraacute em

contato com falantes que variam segundo classe social

faixa etaacuteria etnia e sexo Seja qual for a natureza da

situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo seja qual for o toacutepico central

da conversa seja quem for o informante o pesquisador

deveraacute tentar neutralizar a forccedila exercida pela presenccedila

do gravador e por sua proacutepria presenccedila como elemento

estranho a comunidade Tal neutralizaccedilatildeo pode ser

alcanccedilada no momento em que o pesquisador se decide a

representar o papel de aprendiz-interessado na

comunidade de falantes e em seus problemas e

peculiaridades (TARALLO 2000 p 21)

Ė importante selecionar os informantes dos grupos que tecircm

contato entre si e utilizam a liacutengua de sinais de classes sociais

diferentes dentro da comunidade surda faixa etaacuteria diferente etc A

geraccedilatildeo do grupo dos mais velhos tem influecircncia sobre o grupo dos mais

novos que tem menos contato experiecircncia com a liacutengua Isso pode ser

observado na liacutengua usada pelos informantes pois seus objetivos satildeo

diferentes na fase de aprendizagem em situaccedilatildeo de comunidade surda

O pesquisador aproveita para pensar e planejar como seraacute realizada a

coleta de dados Por se tratar de uma liacutengua visualespacial tentei

diversificar os lugares para a conversa espontacircnea dos informantes

52 ndash A coleta de dados

Na coleta dos dados desta pesquisa espera-se que as trecircs geraccedilotildees

com faixas etaacuterias distintas de informantes relatem sua experiecircncia de

vida na liacutengua de sinais possibilitando uma anaacutelise dos sinais gravados

para que possamos identificar possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas

linguiacutesticas

Na primeira parte assisti aos viacutedeos no programa Transcriccedilatildeo de

Liacutengua de Sinais ndash ELAN60

No segundo momento verifiquei e analisei

60 McCLEARY e VIOTTI 2007 - Eacute a caraacuteter eminentemente descritivo buscando a captaccedilatildeo

do maior nuacutemero de detalhes de sinalizaccedilatildeo As narrativas que estatildeo sendo transcritas foram

baseadas no filme ldquoHistoacuteria da pecircrardquo criado pelo de pesquisa de Wallace Chafe na deacutecada de 1970 com o objetivo de eliciar narrativas para anaacutelise e comparaccedilatildeo translinguiacutestica Visando

a produccedilatildeo de narrativas em liacutengua de sinais brasileira o grupo ECS fez a gravaccedilatildeo de

narrativas produzidas por surdos que assistiram ao filme e relataram a histoacuteria para outra pessoa fluente na liacutengua

124

a coleta de dados dos grupos de informantes das trecircs geraccedilotildees com

relaccedilatildeo agraves mudanccedilas histoacutericas e linguiacutesticas Depois realizei a

descriccedilatildeo dos grupos nas diferentes faixas etaacuterias que mostram se os

sinais se modificam nas possiacuteveis narrativas Espero com esses sinais

observados alcanccedilar o objetivo principal da pesquisa o de comparar os

sinais encontrados nos trecircs grupos e verificar se ocorreram variaccedilotildees e

mudanccedilas linguiacutesticas em tempo aparente

Realizei a coleta de dados da seguinte forma coloquei todos os

depoimentos filmados dos surdos no programa ELAN Escolhi os sinais

que apareciam nos trecircs grupos e fiz uma tabela com esses sinais depois

fiz anaacutelise e descriccedilatildeo dos resultados finais

53 ndash O meacutetodo de entrevista sociolinguiacutestica a coleta de narrativas

de experiecircncia pessoal

A coleta de dados realizada numa entrevista deve ocorrer de

forma espontacircnea Antes de realizar a pesquisa para recolher os dados eacute

importante conhecer as diferentes abordagens que identificam os grupos

e sua relaccedilatildeo com a liacutengua Segundo Tarallo (2000)

De gravador em punho o pesquisador-sociolinguista

como afirmamos deve coletar 1 situaccedilatildeo natural de

comunicaccedilatildeo linguumliacutestica e 2 grande quantidade de

material de boa qualidade sonora (TARALLO 2000 p

21)

Para realizar a pesquisa empiacuterica foi necessaacuterio um planejamento

anterior utilizando viacutedeo de filmagem com boa qualidade visual pois

observamos indiviacuteduos que utilizam a comunicaccedilatildeo visual espacial com

o objetivo de melhor descrevermos os grupos e verificar questotildees

linguiacutesticas desses indiviacuteduos

Para a coleta seguimos os procedimentos metodoloacutegicos

indicados por Tarallo

Este software foi desenvolvido no Instituto Max Planck de Psycholinguistics na Holanda e

mostra no site wwwmpinl na transcriccedilatildeo o ELAN (Eudico Language Annotator) eacute um

programa que permite adicionar anotaccedilotildees para um arquivo de viacutedeo o que pode tornaacute-lo muito mais faacutecil de estudar assistir o viacutedeo na liacutengua de sinais Ele tambeacutem pode ser utilizado

com as liacutenguas faladas (com ou aacuteudio ou viacutedeo) mas este foi apresentado na minha pesquisa e

utilizado na liacutenguas de sinais das trecircs geraccedilotildees

125

Para atingir tais propoacutesitos metodoloacutegicos podem-se

formular moacutedulos (ou roteiros) de perguntas um

questionaacuterio-guia de entrevista Esses moacutedulos tecircm por

objetivo homogeneizar os dados de vaacuterios informantes

para posterior comparaccedilatildeo controlar os toacutepicos de

conversaccedilatildeo e em especial provocar narrativas de

experiecircncia pessoal (TARALLO 2000 p 22)

Ė permitido ressaltar na pesquisa sociolinguiacutestica que para

realizaacute-la seraacute feita uma seleccedilatildeo de um grupo ou indiviacuteduo dependendo

da situaccedilatildeo como por exemplo quanto agrave classe social pode ser

verificado o gecircnero a etnia faixa etaacuteria e costumes A situaccedilatildeo de

pesquisa pode acontecer em qualquer lugarambiente O pesquisador

observa de forma neutra o grupo de falantes que estaacute pesquisando em

um determinado local e faz anaacutelises com base nos fatos linguiacutesticos

observando-os em conversas espontacircneas procurando especificaacute-las

A metodologia de coleta laboviana mostra que encontramos a

variedade mais espontacircnea em narrativa de experiecircncia pessoal pois o

indiviacuteduo quando estaacute envolvido emocionalmente faz relatos sem se

preocupar com o modo como estaacute contando De acordo com Tarallo

Os estudos de narrativas de experiecircncia pessoal tecircm

demonstrado que ao relataacute-las o informante estaacute tatildeo

envolvido emocionalmente com o que relata que presta o

miacutenimo de atenccedilatildeo ao como E eacute precisamente esta a

situaccedilatildeo natural de comunicaccedilatildeo almejada pelo

pesquisador-sociolinguista

Os moacutedulos cobrem uma seacuterie de toacutepicos para fins de

conversaccedilatildeo dados pessoais do informante (sua

histoacuteria) jogo e brincadeira de infacircncia brigas namoro e

encontros amorosos casamento perigo de morte medo

famiacutelia religiatildeo amigos turmas serviccedilos puacuteblicos o

crime nas ruas escola e trabalho interaccedilatildeo com outros

membros da comunidade esportes etc (TARALLO

2000 p 22)

As pessoas ouvintes falam sobre fatos ocorridos de sua experiecircncia pessoal com famiacutelia amigos etc de forma natural Isto

tambeacutem acontece na comunidade surda e ao coletar narrativas em

liacutengua de sinais acredita-se que vamos encontrar diferentes situaccedilotildees do

cotidiano e parte da histoacuteria da comunidade que mostraratildeo variaccedilotildees e

tambeacutem mudanccedilas linguiacutesticas

126

Podem ser escolhidas diferentes maneiras de realizar uma

pesquisa de campo mas a experiecircncia pessoal deve ser levada em

consideraccedilatildeo A pesquisa pode ser realizada com diferentes informantes

ou grupos de informantes de qualquer categoria para verificar as

possiacuteveis variaccedilotildees da liacutengua falada sem qualquer preocupaccedilatildeo com a

forma como indica Tarallo

A narrativa de experiecircncia pessoal eacute a mina de ouro que

o pesquisador-sociolinguistica procura Ao narrar suas

experiecircncias pessoais mais envolventes ao colocaacute-las no

gecircnero narrativa o informante desvencilha-se

praticamente de qualquer preocupaccedilatildeo com a forma A

desatenccedilatildeo agrave forma no entanto vem sempre embutida

numa linha de relato a que chamaremos ldquoestrutura

narrativardquo (TARALLO 2000 p 23)

Nesta citaccedilatildeo o autor explica a importacircncia da coleta de narrativa

pessoal de cada um dos informantes porque apenas fazem a narraccedilatildeo

sem preocupaccedilatildeo com a forma como estatildeo contando

54 ndash A transcriccedilatildeo de dados dos trecircs grupos compostos de

informantes surdos na liacutengua de sinais

Estes dados foram organizados no sistema de transcriccedilatildeo na

liacutengua de sinais ndash ELAN As identificaccedilotildees dos sujeitos surdos que

apresentavam cada um o seu relato em viacutedeo mostram a sua forma de se

comunicar na liacutengua de sinais Verificar se a variaccedilatildeo fonoloacutegica e

mudanccedila lexical pode acontecer nesta liacutengua de sinais em trecircs geraccedilotildees

eacute um dos propoacutesitos deste trabalho

55 ndash Informantes do grupo surdo na liacutengua de sinais

Os informantes do grupo que participaram da minha pesquisa

foram escolhidos de forma aleatoacuteria pela facilidade de contato e

separados em trecircs geraccedilotildees que usavam a liacutengua de sinais

Labov em suas pesquisas elaborava entrevistas de modo a

elicitar nos entrevistados uma fala menos monitorada ndash o vernaacuteculo61

Ele afirma que

61 ldquoEstilo em que pouco monitoramento eacute dispensado agrave fala fala ldquonaturalrdquordquo COELHO et al

(2010 p 166)

127

As narrativas produzidas em resposta a essa pergunta

[ldquoVocecirc jaacute viveu uma situaccedilatildeo em que correu seacuterio risco

de morrerrdquo] quase sempre exibem uma mudanccedila de

estilo que se distancia da fala monitorada e se aproxima

do vernaacuteculo62 (LABOV 2008 [1972] p 245)

Da mesma forma na pesquisa sobre o grupo de surdo que o

senhor Francisco ensinou utilizei um questionaacuterio com uma pergunta

que era explique a histoacuteria da educaccedilatildeo de surdo em Santa

Catarina para que pessoas surdas respondessem As perguntas foram

feitas em LIBRAS e as respostas foram filmadas num total de nove

pessoas

O foco do agrupamento dos sujeitos foi a idade portanto houve

variabilidade quanto ao gecircnero e agraves atividades exercidas pelos

participantes

Na primeira etapa o objetivo foi a escolha dos trecircs indiviacuteduos dos

grupos informantes surdos mais jovens A B e C Neste grupo o fator

escolhido quanto ao sexo foi trecircs masculinos pois natildeo encontrei jovem

do sexo feminino

Na segunda etapa os trecircs indiviacuteduos do grupo de informantes

surdos intermediaacuterio D E e F foram quanto ao sexo dois masculinos e

um feminino

Na uacuteltima etapa os trecircs indiviacuteduos do grupo de informantes

surdos mais velhos G H e I foram escolhidos quanto ao sexo um

masculino e dois femininos Entatildeo escolhi a faixa etaacuteria deste grupo que

apresentava o documentaacuterio em viacutedeo que a partir do qual foi extraiacuteda

amostra de uma experiecircncia de cada uma das narrativas de sujeitos

surdos que usavam a liacutengua de sinais espontacircnea Seguem os quadros de

amostras dos grupos em trecircs geraccedilotildees contemplados nesta pesquisa

62 Um dos aspectos mais interessantes dessa pergunta eacute que ela implica uma resposta sim-ou-

natildeo do tipo que em geral evitamos O mecanismo parece ser o seguinte o informante estaacute

disposto a reconhecer o fato de ter estado numa situaccedilatildeo assim embora possa natildeo estar disposto a fazer um relato Mas uma vez que reconheceu o fato acha muito difiacutecil deixar de

fazer um relato completo quando o entrevistador pergunta depois de alguns instantes ldquoO que

aconteceurdquo Do contraacuterio ficaria parecendo que ele fez uma afirmaccedilatildeo falsa

128

Quadros de amostras dos Grupos I II e III

Grupo I

Identificaccedilatildeo

de Classe

Sexo Idade Faixa

Etaacuteria

Profissotildees

Informante G Masculino 82

anos

60 a 80

anos

ProfessorAposentado

Informante H Feminino 64

anos

60 a 80

anos

CostureiraAposentado

Informante I Feminino 62

anos

60 a 80

anos

BancaacuterioAposentado

Grupo II

Identificaccedilatilde

o de Classe

Sexo Idade Faixa

Etaacuteria

Profissotildees

Informante D Feminino 56

anos

30 a 60

anos

BancaacuterioAposentado

Informante E Masculino 53

anos

30 a 60

anos

Autocircnomo

Informante F Masculino 52

anos

30 a 60

anos

MotoristaAposentado

Grupo III

Identificaccedilatildeo

de Classe

Sexo Idade Faixa

Etaacuteria

Profissotildees

Informante A Masculino 29

anos

15 a 30

anos

Professor

Informante B Masculino 25

anos

15 a 30

anos

Professor

Informante C Masculino 24

anos

15 a 30

anos

Estudante

129

Os Grupos I e II foram alunos de profdeg Francisco jaacute os

informantes do Grupo III foram escolhidos na universidade porque eacute

difiacutecil de ser ter contato com surdo na faixa etaacuteria de 15 anos

Cada um dos 9 (nove) informantes da amostra nos trecircs (3) grupos

com relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria poderaacute trazer indicativos sobre a trajetoacuteria da

liacutengua de sinais e a influecircncia da geraccedilatildeo dos surdos mais velhos (Grupo

I) com relaccedilatildeo agrave sinalizaccedilatildeo utilizada na atualidade pelos surdos mais

jovens (Grupo III) Segundo a citaccedilatildeo de Tarallo

a primeira tentativa de definiccedilatildeo a liacutengua falada a que

nos temos referido eacute o veiculo linguumliacutestico de

comunicaccedilatildeo usado em situaccedilotildees naturais de interaccedilatildeo

social do tipo comunicaccedilatildeo face a face Ė a liacutengua que

usamos em nossos lares ao interagir com os demais

membros de nossas famiacutelias Ė a liacutengua usada nos

botequins clubes parques rodas de amigos nos

corredores e paacutetios das escolas longe da tutela dos

professores Ė a liacutengua falada entre amigos inimigos

amantes e apaixonados (TARALLO 2000 p 19)

Na interaccedilatildeo social desta liacutengua que o surdo utiliza para se

comunicar em diversos lugares com os amigos na associaccedilatildeo na escola

etc haacute uma valorizaccedilatildeo cultural aleacutem da troca de conhecimentos

necessidades de criaccedilatildeo de novos sinais modificaccedilatildeo eou

aperfeiccediloamento de outros trazendo modificaccedilotildees linguiacutesticas

Concluiacutemos a explicaccedilatildeo do procedimento da metodologia desta

pesquisa trazendo consideraccedilotildees sobre os registros dos dados dos

informantes para posterior verificaccedilatildeo da variaccedilatildeo e mudanccedila

linguiacutestica observada nos trecircs grupos de surdos nas diferentes geraccedilotildees

referentes agrave liacutengua de sinais Atraveacutes das informaccedilotildees encontradas nas

narrativas seraacute feita uma trajetoacuteria histoacuterica da liacutengua de sinais e seratildeo

observadas as mudanccedilas ocorridas com relaccedilatildeo agrave liacutengua na comunidade

surda de Santa Catarina

56 ndash Descriccedilatildeo dos informantes quanto aos dados

Nesta seccedilatildeo apresentamos descriccedilotildees dos dados coletados na

liacutengua de sinais espontacircnea de informantes conforme amostras dos

Grupos I II e III Os dados foram observados pelo programa de

transcriccedilatildeo de ELAN Realizei os trabalhos comparando a liacutengua usada

pelas geraccedilotildees e as informaccedilotildees dadas pelos informantes

Os fatos sociolinguiacutesticos apresentados pelos informantes atraveacutes

130

de seus depoimentos mostrando suas trajetoacuterias e vivecircncias na

comunidade surda nas diferentes regiotildees do estado de SC seratildeo

analisados para saber se o professor surdo influenciou a comunidade

surda do estado no ensino da LIBRAS

A questatildeo que tentarei responder com os dados eacute a seguinte Os

informantes de cada grupo de comunidades surdas de diferentes regiotildees

do estado de Santa Catarina relatando sua trajetoacuteria com experiecircncias

relacionadas agrave liacutengua de sinais ora sofreram ora natildeo a influecircncia do

professor surdo com relaccedilatildeo ao aprendizado desta liacutengua

Pretendo verificar se haacute algum sinal de que a liacutengua sofreu

variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica em cada uma das trecircs geraccedilotildees dos

informantes Essas trecircs geraccedilotildees vatildeo ser acompanhadas pelas glosas de

sinais A descriccedilatildeo de experiecircncias dos informantes surdos nos trecircs

grupos observados eacute a estrateacutegia para se pesquisar o processo de

mudanccedila

A pesquisa vai analisar os trecircs comparativos dos informantes

surdos com a descriccedilatildeo de dados de cada geraccedilatildeo apoacutes verificar os

resultados de cada uma das trecircs geraccedilotildees de informantes Grupo III A

B C Grupo II D E F Grupo I G H e I As narrativas na liacutengua de

sinais que os informantes apresentaram foram coletadas e vatildeo ser

descritas nas proacuteximas seccedilotildees

561 ndash Grupo I ndash Informantes

Nas narrativas dos sujeitos63

do grupo de informantes na faixa

etaacuteria dos surdos de 60 a 80 anos os mais velhos mesmo grupo do

professor surdo foram expressas algumas opiniotildees dos surdos

nomeados de informantes G H e I Seguem as informaccedilotildees

5611 ndash Informante G

Francisco eacute o informante G e sua identidade estaacute expliacutecita porque

ele autorizou O informante G mostra sua experiecircncia na liacutengua de

63 Os sujeitos surdos SCHMITT (2008) mostram a participaccedilatildeo no amplo espaccedilo da sociedade

em que vivem No momento eles se identificam como um ldquooutrordquo como surdo Esta mudanccedila

eacute mostrada pelas lutas seja na sociedade em encontros eventos seminaacuterios congressos e outros Isso eacute o povo surdo participando no movimento na luta pela educaccedilatildeo pelos direitos

culturais

131

sinais e sua opiniatildeo sobre como aconteceu essa experiecircncia Segue um

comentaacuterio ldquoSabemos que as liacutenguas mudam com o tempo e se

transformam conforme as culturas dos paiacuteses regiotildees ou mesmo em

situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo em que estaacute participando (numa conversa

informal na sala de aula na famiacutelia etc) estas mudanccedilas ocorrem com

as configuraccedilotildees de matildeos articulaccedilotildees movimentos expressotildees faciais e

ou corporais essas mudanccedilas satildeo recicladas para se adaptar a realidade e

conceitos na sociedade tendo os traccedilos de identificaccedilatildeo proacutepriardquo

O informante G nasceu no dia 01061928 em Florianoacutepolis SC

foi aluno interino do Instituto Nacional de Surdos-Mudos do Rio de

Janeiro e do Instituto Paulista de Surdos em Satildeo Paulo de 1937 a 1946

Ele realizou o curso fundamental e meacutedio tinha habilitaccedilatildeo em ensino

especial desenho encadernaccedilatildeo ginaacutestica datilografia frequentou da

1a a 8

a seacuterie do ensino fundamental no Instituto Nacional de Surdos-

Mudos e sua habilitaccedilatildeo eacute em Contabilidade pelo Instituto Monitor e

Nuacutecleo de ensino profissional

Em 1952 ele conheceu quinze surdos-mudos em Florianoacutepolis

que natildeo sabiam ler e escrever Ele ensinava algumas palavras e sinais

para esses surdos-mudos De outra feita entre 1953 a 1954 iniciava a

amizade com o primeiro presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos de

Satildeo Paulo senhor Maacuterio Devisate Ele natildeo tinha o conhecimento da

existecircncia de uma Associaccedilatildeo de Surdos em Florianoacutepolis o senhor

Devisate entregava um documento para Associaccedilatildeo de Surdos-Mudos

de acircmbito nacional e o professor Francisco Lima Juacutenior veio como

delegado e responsaacutevel pela regiatildeo do Sul passando a residir nesta

capital (Florianoacutepolis)

O primeiro presidente da Sociedade dos Surdos-Mudos do

Distrito Federal que na eacutepoca era Rio de Janeiro foi o senhor Miguel

da Fonseca Seabra de Melo era grande colega do Francisco Mais tarde

com a construccedilatildeo de Brasiacutelia a associaccedilatildeo continuou no RJ soacute que

naquele momento natildeo mais como capital com o nome Sociedade dos

Surdos-Mudos do Brasil para finalmente Associaccedilatildeo dos Surdos do Rio

de Janeiro (ASURJ)

O grupo conversava na liacutengua de sinais numa reuniatildeo quando

chegou o presidente da ASURJ que tambeacutem era surdo O professor

Francisco foi apresentado e cumprimentou o senhor Miguel da Fonseca

Seabra de Melo que estava acompanhado de uma colega que ao ver o

professor Francisco sorriu O professor Francisco agradeceu pela ajuda

que o senhor Miguel deu ao Instituto Nacional de Surdos-Mudos e as

informaccedilotildees referentes agrave associaccedilatildeo

Na verdade o professor Francisco tinha contato e conversava

132

sempre com o amigo que estudou com ele no INES o senhor Salomatildeo

Watnick que foi primeiro presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos

do Rio Grande do Sul seu grande amigo que morava em Porto Alegre

Como o INES estava passando por reforma o professor

Francisco como tinha muitos amigos dos diferentes cursos e viagens

que fez conseguiu estudar na Escola Especial para Surdos-Mudos em

Satildeo Paulo que para ele era uma escola maravilhosa e excepcional onde

aprendeu muito

O grupo dos surdos de SC se perguntava como ganharia a vida

pois natildeo estavam felizes nas escolas especiais que na eacutepoca utilizavam

os meacutetodos oralistas onde os surdos natildeo podiam utilizar sinais Mas

encontraram o motivo da existecircncia na associaccedilatildeo do estado podendo

assim discutir e abrir caminhos para os surdos

5612 ndash Informante H

A informante H mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua

opiniatildeo sobre como aconteceu essa experiecircncia ldquoMudam porque as

pessoas mudam os tempos mudam assim como mudam as culturas e

diversas outras formas de liacutengua existentes entre elas Sendo a LIBRAS

tambeacutem uma forma de liacutengua ela acompanha estas mudanccedilas para que

os indiviacuteduos que dela fazem uso possam acompanhar a sociedade e

mundo do qual fazem parterdquo

A informante H nasceu em 26051946 em Satildeo Pedro de

Alcacircntara em Santa Catarina Durante sua infacircncia e adolescecircncia

morou com seus pais que eram agricultores

Ela teve que trabalhar na lavoura dos 6 ateacute os 18 anos de idade

cortava o capim que alimentava o gado roccedilava para limpar um paacutetio do

terreno e uma plantaccedilatildeo cercada onde se criavam vaacuterias galinhas patos

etc Plantavam vaacuterios tipos de flores e tinham uma horta Ela penteava

os cabelos dos cavalos para depois montaacute-lo corria e caiacutea no chatildeo num

desses passeios quebrou o braccedilo e diz que doeu muito Quando o

cunhado viu o braccedilo dela quebrado levou-a de carroccedila para o hospital

na cidade de Vidal Ramos em Santa Catarina Depois ela tinha que

ficar um mecircs com o gesso no braccedilo mas 15 dias depois na casa da

irmatilde olhava o rio e pulava no rio que brilhava acabou ficando coberta

de aacutegua e quase se afogou Para natildeo se afogar colocou as matildeos em cima

de uma pedra do rio ficou muito assustada e chorou muito o tio dela foi

quem a ajudou

O pai de H eacute brasileiro e lavrador Dedicava-se agrave criaccedilatildeo de gado

aves e na fabricaccedilatildeo de cachaccedilas que preparava das plantas que

133

produziam cana-de-accediluacutecar cafeacute e frutas Na casa natildeo tinha luz e era

utilizada a vela a fogueira e a lacircmpada de querosene

A matildee de H tambeacutem era brasileira costureira e lavradora

Trabalhava na propriedade na plantaccedilatildeo de milho feijatildeo arroz aipim e

verduras Os Pais de H tiveram 13 filhos 1 filha jaacute falecida com 1 ano e

um mecircs de gravidez gemular 3 filhas eram ouvintes 3 filhas eram

surdas 6 filhos eram ouvintes 1 filho era surdo A terra lavrada e

cultivada estaacute localizada em Satildeo Pedro de Alcacircntara Depois que o pai

morreu o terreno foi loteado e a informante H ficou com um dos lotes e

os irmatildeos deram a casa

O irmatildeo da informante H que era surdo jaacute falecido em 1976 foi

mordido por uma cobra venenosa Seu pai faleceu em 1989 e a matildee

faleceu em 1998

Em 1966 ajudava lavando roupas para fora nesta eacutepoca morava

com o primo numa casa localizada no bairro do Estreito ndash

FlorianoacutepolisSC Tinha trecircs vizinhos surdos e com eles conversava com

os sinais eou gestualidade Ela natildeo sabia conversar em LIBRAS com

outro surdo aprendeu com os vizinhos surdos que a avisavam das

reuniotildees de surdos que aconteciam no salatildeo do grupo Escolar Celso

Ramos

O professor Francisco ensinou aos surdos as regras do jogo de

bingo depois foram oferecidos cinco brindes para o jogo de bingo que

aconteceu no bairro de Capoeiras Ele perguntava para ela de onde vocecirc

eacute E ela respondia que morava em Satildeo Pedro de Alcacircntara Entatildeo o

Francisco foi junto com a informante H conhecer sua casa localizada no

siacutetio de Satildeo Pedro de Alcacircntara

Ela apresentou sua matildee para o senhor Francisco queria estudar e

aprender a liacutengua de sinais com Francisco presidente da associaccedilatildeo e

professor na escola para surdos Ela veio para a capital em 1966 aos 19

anos de idade onde aprendeu a Liacutengua Portuguesa Escrita matemaacutetica e

liacutengua de sinais na Escola Celso Ramos em Florianoacutepolis numa classe

de alunos surdos Alguns anos mais tarde ela trabalhou como costureira

na faacutebrica de renda e bordados Hoepcke

Ela fez alguns cursos de pintura em tecido bordado a maacutequina

Ela conta que sempre foi uma pessoa esforccedilada que buscava desafios na

sua aprendizagem o tempo todo e cada vez mais como autodidata que

aprendia muitas coisas como por exemplo cozinhar e alta costura

Passava sempre na escola era muito esforccedilada aprimorava muito a sua

aprendizagem de vida

O professor Francisco e ela viajavam pelo estado verificavam e

encontravam os surdos no interior do estado Ela entregou um anel para

134

a ex-rainha do Ciacuterculo de Surdo-Mudos de Santa Catarina ndash CSMSC

que era Catarina Ceciacutelia Schveitzer em 1993

5613 ndash Informante I

A informante I mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua

opiniatildeo sobre como aconteceu essa experiecircncia ldquoMudam a ldquoformardquo de

vida das pessoas na sociedade para que se adaptem a nova realidade e

as liacutenguas tambeacutem se modificam As liacutenguas de sinais tambeacutem mudam

criam-se palavras novas satildeo influenciadas por outras liacutenguas etc A

evoluccedilatildeo das coisas em geral estaacute acontecendo de forma muito raacutepida e

a LIBRAS sendo uma forma de comunicaccedilatildeo entre cultura surda e

ouvinte precisa acompanhar essa evoluccedilatildeo Quando uma determinada

coisa natildeo acompanha o desenvolvimento onde estaacute inserida a

tendecircncia eacute de ficar do lado de forardquo

A informante I nasceu em 01041948 em Blumenau veio de

uma famiacutelia de 6 irmatildeos onde 3 satildeo surdos e 3 satildeo ouvintes A matildee do

informante I descobriu que era surda quando tinha mais ou menos dois

anos de idade Apoacutes essa descoberta teve uma infacircncia normal era uma

crianccedila super ativa

Aos 7 anos de idade entrava na escola onde havia outras crianccedilas

surdas como ela Foi alfabetizada em Blumenau Depois lembrou que

tentava usar o seu aparelho auditivo mas como natildeo escutava nada

acabou rejeitando o aparelho

Tinha muita preocupaccedilatildeo com a educaccedilatildeo dos surdos Os pais

mandaram-na estudar num internato de crianccedilas surdas no Rio de

Janeiro aos 9 ou 10 anos de idade Ela natildeo se adaptou e retornou para

Blumenau A escola para surdos que frequentava em Blumenau ficou

sem a professora especializada e ela teve que ir para uma escola regular

O pai que era bancaacuterio pediu transferecircncia do banco para a cidade

de Florianoacutepolis para que a informante I e seus irmatildeos pudessem

continuar os estudos

Em Florianoacutepolis frequentaram a escola Celso Ramos onde a sala

dos surdos era de responsabilidade do professor Francisco Lima Juacutenior

O professor Francisco era uma pessoa muito importante nesta

eacutepoca a vida dele era ajudar o grupo de surdos atraveacutes da liacutengua de

sinais e ele lecionava no ensino fundamental e no curso primaacuterio

A informante I sempre foi muito curiosa queria mais e resolveu

fazer o curso ginasial por correspondecircncia pois na eacutepoca fazia o

segundo grau na escola de ouvintes tinha dificuldade tinha que aprender

tudo sozinha porque na escola o ensino era em portuguecircs falado difiacutecil

135

para o surdo entender (problema de comunicaccedilatildeo) Ela tinha vontade de

estudar na escola com o professor Francisco que ensinava na liacutengua de

sinais

Relembrou que naquela eacutepoca viu que foi muito difiacutecil quando

ela tinha duacutevidas os pais pagavam um professor para dar aulas

particulares Enfim venceu mas natildeo foi faacutecil Depois fez vaacuterios cursos

profissionalizantes como datilografia correspondecircncia comercial curso

de cabeleireira manicure pintura em tela corte e costura e tantos outros

que agora natildeo lembrava mais

Depois de tudo isso resolveu fazer o concurso para uma vaga de

escrituraacuterio no Banco do Estado de Santa Catarina ndash BESC e foi

aprovada trabalhou laacute por vaacuterios anos e agora jaacute estava aposentada

A informante I eacute casada e o companheiro tambeacutem eacute surdo

funcionaacuterio aposentado da Imprensa Oficial Queria muito ter filhos e

acabou tendo um filho que eacute ouvinte e hoje estaacute com 27 anos e tem

formaccedilatildeo acadecircmica com poacutes-graduaccedilatildeo Diz sentir-se realizada

Sua matildee tem hoje 87 anos e eacute a grande incentivadora de sua vida

eacute tambeacutem um grande exemplo de vida guerreira batalhadora e muito

religiosa Foi ela que ensinou o que eacute amor respeito e outros valores

morais tudo isso dentro da doutrina espiacuterita

A informante I diz ser uma pessoa realizada porque venceu

muitas barreiras conseguiu tirar a carteira de motorista e tambeacutem

aprendeu a utilizar a comunicaccedilatildeo no celular Internet MSN e e-mail

Nada foi faacutecil considera-se uma pessoa feliz adora assistir aos

filmes legendados os noticiaacuterios novelas enfim gosta de estar bem

informada

Contando a histoacuteria de sua vida quer mostrar agraves pessoas que pode

alcanccedilar qualquer coisa na vida e que natildeo eacute diferente dos outros A

diferenccedila estaacute na audiccedilatildeo mas pode usar os outros sentidos para se

comunicar e utilizar a liacutengua de sinais visual

562 ndash Grupo II ndash Informantes

Nas narrativas dos sujeitos surdos para a pesquisa no Grupo II

com idade intermediaacuteria de 30 anos a 60 anos de idade em

intermediaacuterio verificou-se que todos foram alunos do professor surdo

Francisco A seguir estatildeo expressas algumas opiniotildees destes surdos

nomeados de informantes D E e F

136

5621 ndash Informante D

A informante D mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua

opiniatildeo a respeito de como aconteceu essa experiecircncia ldquoCom o passar

do tempo ocorrem muitas mudanccedilas nas liacutenguas de sinais para suprir as

necessidades de comunicaccedilatildeo e as modificaccedilotildees de costumes de cada

geraccedilatildeo Os sinais satildeo criados de acordo com a necessidade de cada

grupordquo

A informante D nasceu em Florianoacutepolis num domingo no dia

quatro de outubro de mil novecentos e cinquenta e trecircs (04101953) em

casa sob os cuidados de uma parteira chamada de Dona Oliacutevia Nasceu

com audiccedilatildeo perfeita segundo diagnoacutestico de um meacutedico do hospital

das cliacutenicas em Satildeo PauloSP em 1961 O responsaacutevel pela sua perda de

audiccedilatildeo foi um medicamento chamado de trepdomicina usado para

acalmar a ldquotosse compridardquo ou Coqueluche Nessa eacutepoca natildeo havia

vacina para a doenccedila nos postos de sauacutede Sua matildee levou os filhos para

vacinar e constatou isso

A famiacutelia dela descobriu a surdez aos nove meses de idade Ela

tinha seis meses de idade quando foi acometida pelo viacuterus da

coqueluche e a irmatilde tambeacutem que na eacutepoca tinha 9 anos de idade

A matildee dela quando estava graacutevida tomou uma injeccedilatildeo

denominada 914 para curar infecccedilatildeo no aparelho genital feminino Esse

medicamento agiu negativamente na formaccedilatildeo dos ossos deixando-a

com o andar defeituoso parecendo que uma perna era mais curta que a

outra Ela foi para Satildeo Paulo levada pelo irmatildeo e pelo padrinho para

tratamento Foi submetida a quatro cirurgias entre 1961 a 1963 mas

que surtiram pouco resultado comprovado em 1980 Daiacute para frente

voltava a ter uma perna mais curta e sente muitas dores ao andar e

sentar

Em 1964 iniciava seus estudos na escola para surdos de

Florianoacutepolis no grupo Celso Ramos Seu primeiro professor surdo foi

o Francisco que lhe dava aula na liacutengua de sinais Francisco tambeacutem

ensinava LIBRAS no Ciacuterculo dos Surdos Mudos de Santa Catarina na

escola primaacuteria e na associaccedilatildeo de surdos

Em 1975 fazia teste para ingressar como funcionaacuteria no BESC

sendo admitida como escrituraria em 18091975 e se aposentou em

19112002 Ela aprendeu a dirigir automoacutevel fez curso de datilografia

e por uacuteltimo fez curso baacutesico de computador para saber operaacute-lo Fez

curso de pintura a oacuteleo em tela e em tecido Procurava cuidar de sua

sauacutede indo ao meacutedico regularmente

Ela eacute associada e participa da diretoria da Associaccedilatildeo de Surdos

137

da Grande Florianoacutepolis ndash ASGF eacute tambeacutem voluntaacuteria nas atividades

que a associaccedilatildeo desenvolve em benefiacutecio de seus amigos surdos que

frequentam a mesma associaccedilatildeo Hoje ensina LIBRAS para os

associados de qualquer idade

5622 ndash Informante E

O informante E mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua

opiniatildeo de como aconteceu essa experiecircncia ldquoAssim como a liacutengua

portuguesa evolui ou muda com o passar do tempo LIBRAS tambeacutem

passa por mudanccedilas constantes estas podem ser de regiatildeo para regiatildeo

por exemplo a liacutengua de LIBRAS acompanha a evoluccedilatildeo do mundo

sendo hoje uma liacutengua para a comunicaccedilatildeo dos surdosrdquo

O informante E nasceu na maternidade Carmela Dutra no Centro

de Florianoacutepolis no dia 03 de Novembro de 1957 Ele ficou surdo aos

quatro anos de idade (causado por remeacutedios ministrados errados por sua

matildee nos ouvidos quando estava com febre dor de ouvidos e caxumba)

Com 53 anos eacute presidente de entidade esportiva de Santa

Catarina desde 1999 reeleito pela segunda vez com gestatildeo ateacute 2011

sendo um dos liacutederes dos surdos de Santa Catarina Foi um dos

fundadores da Sociedade de Surdos de Satildeo Joseacute atuou nela de 1990 a

1996 uma entidade que crescia muito e eacute considerada a mais organizada

no estado de Santa Catarina

Ele escolheu o sobrenome diferente na campanha poliacutetica que

concorreu para vereador de Satildeo Joseacute de 2003 a 2007 em homenagem agrave

sua avoacute-materna jaacute falecida descendente de alematildees que lhe criou por

mais de 10 anos junto com o marido descendente de portugueses que

natildeo conhecera pois a avoacute dele ficara viuacuteva quando o pai dele era

solteiro Portanto queria preservar o sobrenome da avoacute-matildee dele como

lembranccedila

Os pais dele estavam preocupados com sua infacircncia com sua

situaccedilatildeo futura e por isso procuravam incansavelmente a existecircncia de

uma escola especial para surdos

Finalmente acharam a escola localizada na Rua Conselheiro

Mafra no Centro de Florianoacutepolis Era uma sala comercial tipo garagem

grande (perto do antigo terminal urbano hoje Terminal Cidade de

Florianoacutepolis) foi ali onde encontraram a primeira escola para surdos

onde ele aprendeu a liacutengua de sinais aos 6 anos de idade

Ele estudou com o primeiro professor surdo do estado de Santa

Catarina O professor Francisco e sua esposa que era ouvinte e tambeacutem

professora chamava-se Mercedes e foi a primeira inteacuterprete dele Neste

138

momento existiam outros alunos surdos que eram Niro Paulo Percy

Socircnia Maria da Graccedila Maria Bernadete Aldenei Rita Reinoldo

Edson Ivo (falecido) Arnoldo e outros que ele natildeo lembrava

No comeccedilo do aprendizado dele da liacutengua de sinais achava

estranho e natildeo lhe agradava muito fazendo com que ele natildeo quisesse

estudar ali mas foi a matildee dele que o incentivou a continuar estudando

e com o tempo foi gostando da escola e do grupo de amigos surdos

isto foi em 1971

Essa escola foi transferida de local e foi para a EEB

Governador Celso Ramos no bairro Prainha em Florianoacutepolis no ano

de 1972 Esta nova escola ele adorava muito e guarda boas recordaccedilotildees

vividas nela

Infelizmente ele natildeo lembrava do ano em que foi transferido para

o Instituto de Audiccedilatildeo e Terapia da Linguagem ndash IATEL situado na

Rua Liberato Bittencourt no Centro de Florianoacutepolis numa casa

simples e alugada Ficou muito contrariado com esta transferecircncia

Nessa eacutepoca tinha mais ou menos 13 anos Proacuteximo aos 15 anos ele

abandonou o IATEL porque tinha que trabalhar para sustentar a avoacute

dele que era viuacuteva e pobre Sua avoacute tambeacutem natildeo gostava desta escola e

tambeacutem das novas professoras que eram ouvintes e que natildeo sabiam usar

a liacutengua de sinais obrigando os surdos a oralizarem

Aos 14 anos ele jaacute trabalhava em uma empresa de comunicaccedilatildeo

visual (luminosos) Apoacutes um ano ele mudava de ramo para a funccedilatildeo de

auxiliar de escritoacuterio em duas empresas de contabilidade Depois disso

ele fundou uma empresa proacutepria de comunicaccedilatildeo visual em sociedade

com seu pai no ramo de letreiros em placas paredes e etc O nome da

empresa comprada foi modificado e mais tarde fez sociedade com o

irmatildeo caccedilula Para seu irmatildeo caccedilula foi um aprendizado e hoje ele eacute

proprietaacuterio de uma empresa no mesmo ramo residindo em Blumenau

Em 2000 deixava este ramo e comeccedilava a estudar para ter a

formaccedilatildeo de professor na Liacutengua de Sinais aos 43 anos Ele Trabalhou

como professor em Admissatildeo em Caraacuteter Temporaacuterio ndash ACT e na

Fundaccedilatildeo Catarinense de Educaccedilatildeo Especial - FCEE como assessor

teacutecnico na Educaccedilatildeo de Surdos de 2003 a 2005 Trabalhou tambeacutem

como ACT no Centro Educacional Municipal Interativo Floresta em Satildeo

Joseacute no Nuacutecleo de Educaccedilatildeo Especial e Inclusiva - NEESPI como

professor de LIBRAS de 2006 a 2007 Foi docente dos cursos de

LIBRAS de 2000 a 2007

A partir de 2008 deixava o cargo de professor de LIBRAS para

focar os compromissos somente nos esportes Atualmente atua numa

entidade esportiva de surdos desde 1999 nesta com 12 associaccedilotildees

139

filiadas organizando em meacutedia sete (7) eventos esportivos por ano

Portanto os pensamentos deles e seus compromissos satildeo voltados para a

comunidade surda

5623 ndash Informante F

O informante F mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua

opiniatildeo de como aconteceu essa experiecircncia ldquoPorque assim como toda

liacutengua ela sofre das mudanccedilas histoacutericas e culturais as liacutenguas satildeo

dinacircmicas e natildeo estaacuteticas por isso elas vivem sofrendo alteraccedilotildees e com

as liacutenguas de sinais ocorre o mesmo Essas mudanccedilas podem ser

percebidas nas diferentes regiotildees onde satildeo utilizadas a mesma liacutengua

mesmo sendo a mesma liacutengua ela possui algumas diferenccedilas em

algumas palavras ou expressotildeesrdquo

O informante F nasceu 04071958 em Florianoacutepolis eacute casado e

tem 52 anos Nasceu surdo a famiacutelia dele sempre lhe deu apoio

levaram-no a vaacuterios lugares para consultar com meacutedicos procuravam

um tratamento mas de acordo com os meacutedicos ele natildeo tinha muita

chance de desenvolver audiccedilatildeo e a fala Nesta eacutepoca natildeo existiam no

Estado de Santa Catarina escolas especializadas para surdos e como o

pai dele era militar natildeo podia morar em outro Estado Entatildeo seu pai

matriculou-o numa escola regular mas as professoras natildeo sabiam a

liacutengua de sinais e era muito difiacutecil para ele aprender

A alfabetizaccedilatildeo dele natildeo foi muito boa e para melhorar um pouco

o aprendizado tinha aulas com o professor surdo Francisco Lima Juacutenior

que lhe ensinava as palavras utilizando o alfabeto manual e a liacutengua de

sinais para o aprendizado da Liacutengua Portuguesa Escrita e tambeacutem para

alguns alunos surdos

Em sua famiacutelia se comunicava atraveacutes de sinais caseiros que de

acordo com ele foi muito bom e os utiliza ateacute hoje

Apesar das dificuldades nos estudos tinha sorte pois conseguiu

emprego Neste emprego que era na Central de Luz Eleacutetrica de Santa

Catarina ndash CELESC sempre foi muito bem tratado Tinha muitos

amigos na associaccedilatildeo de surdos na escola e no trabalho e para se

comunicar ensinava alguns sinais bem baacutesicos para os amigos para que

assim natildeo tivessem problemas quanto agrave comunicaccedilatildeo

Ele trabalhou sempre na CELESC na cidade de Florianoacutepolis

pois foi aprovado em um teste naquela eacutepoca natildeo havia concursos

Depois foi transferido algumas vezes para outras cidades como

Blumenau Joinville e Jaraguaacute do Sul Iniciou como auxiliar de serviccedilos

gerais depois passou a auxiliar administrativo e por uacuteltimo como

140

motorista

Foi presidente de vaacuterias Associaccedilotildees de Surdos uma dessas em

1989 que foi fechada neste mesmo ano e outra em dois mandatos

20052008 Ele jogou em vaacuterios times nas associaccedilotildees de surdo de Santa

Catarina Ele preferia jogar futebol de salatildeo - FUTSAL

Ele sempre participou e ateacute hoje participa de encontros com

surdos na liacutengua de sinais seja em associaccedilotildees ou outros eventos

Atualmente mora na cidade de Londrina ndash Paranaacute

563 ndash Grupo III ndash Informantes

Nas narrativas dos sujeitos surdos do Grupo III com idades entre

15 a 30 anos sendo o grupo dos mais jovens e que participam de

associaccedilotildees de surdos em Santa Catarina foram expressas algumas

opiniotildees desses surdos aqui nomeados de informantes A B e C

Seguem abaixo relatos e experiecircncias dos informantes

5631 ndash Informante A

O informante A mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua

opiniatildeo a respeito de como aconteceu essa experiecircncia ldquoNatildeo diria que

ldquomudardquo mas sim sofre modificaccedilotildeesalteraccedilotildees com o tempo e como

qualquer outra liacutengua dependendo do estadopaiacutes em que eacute ldquofaladardquo teraacute

adaptaccedilotildees conforme a necessidade de cada lugar Sendo que ateacute mesmo

em casa quando a crianccedila natildeo tem contato com LIBRAS em um

primeiro momento ela e sua famiacutelia se apropriam de sinais proacuteprios para

a comunicaccedilatildeordquo

O informante A nasceu em 18121980 no Balneaacuterio Camboriuacute

nasceu surdo comunica-se por meio de gestos com a famiacutelia Sua

famiacutelia sempre mostrou preocupaccedilatildeo com ele levaram-no a atendimento

fonoaudioloacutegico para que aprendesse a falar mas tinha dificuldades

poreacutem era esforccedilado Somente mais tarde encontrava a comunidade

surda na escola Quando ele teve atendimento especial e natildeo era

utilizada a liacutengua de sinais somente alguns gestos acabava desistindo e

parava de estudar Retornando agrave escola com ouvintes quando ele tinha

17 anos de idade encontrava os surdos que o convidaram a participar

de uma festa na associaccedilatildeo de surdos foi quando comeccedilou a aprender a

LIBRAS e ficou feliz pois comunicava-se com todos na LIBRAS jaacute

que era um modo mais faacutecil de aprender e memorizar os conteuacutedos jaacute

com o oralismo era muito sofrido

Ele fundou uma Associaccedilatildeo de Surdos na cidade onde mora Na

141

associaccedilatildeo motivou o uso da LIBRAS valorizou o contato entre os

membros da comunidade surda e a LIBRAS assim como a educaccedilatildeo

formal Ele sentia-se satisfeito pois se comunicava com os amigos

usando a leitura labial e os gestos mesmo assim perdia algumas

informaccedilotildees por natildeo ouvir Mais tarde encontrava-se com grupos de

surdos e comeccedilou entatildeo o contato da LIBRAS e percebia que por meio

da LIBRAS ele poderia receber mais informaccedilotildees do que pela leitura

labial e a partir de entatildeo conseguiu viver melhor na sociedade Lutou

para inserir a LIBRAS no ensino dos surdos porque sabia na praacutetica que

facilita o aprendizado do surdo

Hoje estaacute casado e sua esposa eacute surda Formou-se na faculdade de

gastronomia pela UNIVALI e tem o curso de especializaccedilatildeo em

educaccedilatildeo especial Atualmente faz curso de LetrasLIBRAS e sua

turma eacute composta na maioria por surdos que estatildeo gostando do curso

tendo a oportunidade de trocar ideacuteias experiecircncias bem como buscar

novos conhecimentos

Ele eacute Instrutor de LIBRAS efetivado pela prefeitura de Itajaiacute

aleacutem de trabalhar como professor de LIBRAS em outros lugares

Tambeacutem realiza trabalhos voluntaacuterios em algumas entidades

(Associaccedilatildeo FENEIS Federaccedilatildeo etc) Jaacute atuou em vaacuterios cargos de

diretoria na Associaccedilatildeo de Surdos de Balneaacuterio Camboriuacute isso foi bom

porque ele aprendeu sobre poliacutetica sobre organizaccedilatildeo e tambeacutem a

utilizar estrateacutegias diferentes para as accedilotildees etc

5632 ndash Informante B

O informante B mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua

opiniatildeo sobre como aconteceu essa experiecircncia ldquoA LIBRAS eacute uma

liacutengua porque possui uma forma de comunicaccedilatildeo proacutepria Ė

independente como qualquer outra liacutengua escrita ou falada Tem

formato proacuteprio sua comunicaccedilatildeo eacute visual pois se utiliza de gestos e

expressotildees Como todas as liacutenguas tem variaccedilotildees conforme a regiatildeordquo

O informante B nasceu em 08011985 na cidade de Tijucas em

Santa Catarina Atualmente mora em Itapema e tem 25 anos Ele nasceu

surdo mas seus pais soacute descobriram sua surdez aos nove meses de

idade entatildeo ficaram apavorados e natildeo sabiam como ele iria se

comunicar na sociedade Depois o pai dele levou-o para uma escola em

Florianoacutepolis chamada de IATEL onde ateacute a 3ordf seacuterie utilizavam a

linguagem oral e muito pouco gestual Na eacutepoca os gestos (sinais) natildeo

eram reconhecidos como uma liacutengua

Os pais dele escolheram uma escola da Rede Regular de Ensino

142

na eacutepoca nem era pensado em inteacuterprete de LIBRAS ateacute porque essa

natildeo era uma liacutengua oficializada Eles natildeo conheciam a comunidade

surda e sua cultura entatildeo decidiram que seu filho frequentaria

atendimento fonoaudioloacutegico dois dias por semana

Para o informante B seus pais tentavam criaacute-lo como ouvinte o

que para ele caracteriza uma tentava de modificar sua identidade surda

Ele relata que tinha muita dificuldade de comunicar-se com as pessoas

na sociedade que utilizava a liacutengua falada

Mais tarde aos 16 anos de idade foi para uma escola de educaccedilatildeo

especial onde teve aulas de informaacutetica com outros surdos entatildeo podia

utilizar a LIBRAS Antes ele ficava isolado natildeo gostava e natildeo podia

usar a liacutengua de sinais comeccedilava a aprender a falar mas demorava

muito Agora aceita sua identidade surda sente-se mais feliz e melhor

Participa de uma associaccedilatildeo de surdos e viaja para vaacuterios lugares nas

diferentes regiotildees de Santa Catarina

Ele trabalhou como analista de sistemas na aacuterea de informaacutetica da

empresa Ceracircmica Portobello em Tijucas ficava muito incomodado

com a barreira de comunicaccedilatildeo com os funcionaacuterios em virtude de terem

muito trabalho pois o surdo precisa das matildeos para falar e se estaacute com

elas ocupadas trabalhando fica impossiacutevel comunicar-se diferente dos

ouvintes Tentou ensinar alguns sinais para os funcionaacuterios para que lhe

entendessem e pudessem se comunicar com ele mas os funcionaacuterios

desviavam para outro assunto natildeo demonstravam interesse em aprender

sinais Sofria por passar o dia inteiro de trabalho sem poder se

comunicar com outra pessoa disfarccedilava esse sentimento acessando a

Internet para realizar pesquisas de temas relacionados agrave educaccedilatildeo de

surdos (palestras congressos encontros etc) Entatildeo numa destas

pesquisas achou um congresso de surdos anotou a data e mostrou ao

chefe que o liberou para ir ao congresso (encontro surdo)

Ele acredita que as pessoas natildeo tinham culpa pois oralismo era a

forma de ensinar naquela eacutepoca e para os surdos era muito difiacutecil de

compreender e aprender a liacutengua falada Aprendeu LIBRAS na

comunidade surda Apoacutes a liberaccedilatildeo para o congresso pelo seu chefe

comeccedilou a frequentar a associaccedilatildeo de surdos e outros eventos da

comunidade surda

Ele participou de um concurso no municiacutepio de Itajaiacute para o

cargo de instrutor de LIBRAS Foi classificado em terceiro lugar

conseguiu um trabalho e seus pais deixaram que ele morasse sozinho

em Itajaiacute Morou sozinho por um ano trabalhava durante o dia e

estudava na faculdade agrave noite Com o passar do tempo conheceu

pessoas e fez amizade com outros surdos que no segundo ano dividiram

143

o aluguel da casa com ele

Alguns surdos convidaram ele para um encontro de surdo

(nacional congresso e entre outros) Foi possiacutevel fazer novas amizades e

entrar em contato com outros sujeitos surdos pois neste espaccedilo tinha

surdo sentado ao lado surdo no bar e em outros momentos do

congresso

Ao teacutermino do encontro pegou os endereccedilos eletrocircnicos das

pessoas que conheceu e assim pode manter correspondecircncia com outros

surdos atraveacutes de e-mails nas diferentes regiotildees do estado de SC

Depois de algum tempo de troca de e-mails combinou encontros e

viajou para o sul sudeste nordeste norte do Brasil e etc encontrou-se

com muitos surdos que se comunicavam na liacutengua de sinais e aprendeu

muitos sinais novos onde percebeu que havia muitas diferenccedilas nos

sinais que cada regiatildeo tinha sinais especiacuteficos daquele lugar

Quando o curso de LetrasLIBRAS da UFSC foi aprovado pelo

MEC e abriram-se as inscriccedilotildees trecircs instrutores de LIBRAS jaacute haviam

prestado o vestibular tiveram uma prova com 15 questotildees referentes a

LIBRAS utilizaram na apresentaccedilatildeo para seleccedilatildeo dos candidatos slides

e videoconferecircncia com todos os candidatos Ficou admirado e achou

muito legal o grupo de surdo que estava laacute e disse ldquoPassei a ver o

mundo diferente ao teacutermino da provardquo

Ele trabalhou como instrutor de LIBRAS por 4 anos e recebeu 14

alunos surdos para atendimento no processo de aprendizagem da

LIBRAS E tambeacutem ensinou sobre a relaccedilatildeo de aprendizagem do aluno

surdo em LIBRAS para os colegas Ele formou-se no curso de ciecircncias

da computaccedilatildeo e fez poacutes-graduaccedilatildeo no processo de inclusatildeo e educaccedilatildeo

especial Atualmente estaacute cursando a faculdade de LetrasLIBRAS pela

UFSC

5633 ndash Informante C

O informante C mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua

opiniatildeo de como aconteceu essa experiecircncia ldquoA liacutengua de sinais assim

como todo o contexto no qual estamos inseridos sofre mudanccedilas e

adaptaccedilotildees durante o decorrer de nossas vidas por questotildees de

adaptaccedilatildeo comportamento e culturardquo

O informante C nasceu em 12021986 em Santa MariaRS surdo

de nascenccedila morando em Florianoacutepolis haacute pouco tempo Voltando ao

passado dele desde pequeno adorava brincar mexer experimentar as

coisas novas o que tinha por perto Certa vez sua avoacute chamou-o falava

o seu nome mas como ele natildeo escutava nenhuma letra e nenhum som

144

que veio da voz da avoacute natildeo a atendeu Ela estranhou a atitude dele pois

ele nunca deu atenccedilatildeo para ela quando ela gritava ou chamava pelo seu

nome Pra ela era impossiacutevel uma crianccedila que natildeo respondia aos sons

Entatildeo ficou desconfiada que ele poderia ser surdo Resolveu pedir aos

pais dele para levaacute-lo a um meacutedico para descobrir a causa do problema

Mas seus pais tinham dificuldade de aceitar essa ideacuteia e de levaacute-lo para

o meacutedico parecia que tinham medo que ele realmente fosse surdo Ficou

assim sem comunicaccedilatildeo

A matildee dele assustada chorava muito e o pai dele ficou furioso

Pois o medo deles era de jamais se comunicarem com o filho que eles

amavam muito Entatildeo o meacutedico deu um conselho para a matildee dele que

era conhecer as pessoas surdas que se comunicavam atraveacutes da

LIBRAS ou entatildeo fazer atendimento e acompanhamento com

fonoaudioacuteloga para aprender a falar eou melhorar a fala

A matildee dele decidiu em primeiro lugar ir numa escola onde tinham

pessoas surdas laacute conheceu algumas pessoas surdas e achou que eram

pessoas legais Conversou com essas pessoas surdas que conheceu

sobre seu filho que era surdo Queria saber como poderia se comunicar

com uma crianccedila surda pois o objetivo da matildee era poder se comunicar

com o filho Entatildeo pediu ajuda de um surdo jovem Ele explicou para

ela que devia fazer um curso de LIBRAS que eacute a Liacutengua de Sinais

Brasileira que as pessoas surdas utilizam para se comunicarem com

facilidade

Ele crescia e no seu desenvolvimento viveu muita coisa

conseguiu mexer comer tudo A matildee dele comunicava-se com ele

atraveacutes dos sinais ele via as matildeos da matildee que natildeo parava de mexer

estranhava mas repetia para entender aquele conceito o que ela queria

dizer ela sinalizava e mostrava as coisas ateacute que ele entendia o

conceito

A matildee dele era uma pessoa bastante simples e feliz com os filhos

Tem um irmatildeo que eacute um ano mais velho do que ele o irmatildeo aprendeu a

usar sinais com ele e a matildee e podiam se comunicar daiacute eles

melhoraram muito a comunicaccedilatildeo tornaram-se grandes amigos sempre

brincaram juntos brigavam choravam gritavam e reclamavam Mas

eles eram grandes amigos

Ele mais observava as coisas a seu redor e se admirava com o que

via Depois de alguns meses sua irmatilde cresceu um pouco conseguiu

perceber as coisas comeccedilou a falar com ela atraveacutes de sinais ela

aprendeu essa liacutengua com ele como se fosse a primeira liacutengua da vida

dela Uma vez teve uma festinha laacute em sua casa estava toda a famiacutelia

reunida passou um aviatildeo sua irmatilde ouviu o barulho do aviatildeo e sinalizou

145

um aviatildeo todo mundo viu e se assustaram principalmente a matildee dele

pois natildeo sabia que a filha sinalizava sendo tatildeo pequena Sua matildee ficou

tatildeo contente e bateu uma foto dela sinalizando

Como cresceu sempre podendo se comunicar na liacutengua dos sinais

acreditava viver muito ldquonormalizadordquo Tinha uma famiacutelia e amigos

surdos estudou em escolas com outras crianccedilas surdas e relata como ele

se divertia muito

Depois de certo tempo a escola natildeo funcionava somente para

crianccedilas surdas sua matildee ficou muito preocupada com sua educaccedilatildeo

combinou com seu pai e com toda sua famiacutelia a mudanccedila para a cidade

de Florianoacutepolis ndash Santa Catarina pois soube que havia uma escola

especial para ele onde poderia crescer com uma educaccedilatildeo de qualidade

Quando chegou agrave capital de SC Florianoacutepolis simplesmente

amou a cidade porque ele curtia bastante as praias o pai alugou uma

casa bem legal na Barra da Lagoa e todos os dias ia sozinho para a

praia brincava na areia e construiacutea castelos

O informante C relata que curtiu bastante aquele veratildeo

mudaram-se dessa casa para outra que construiacuteram no bairro Carianos

ele natildeo gostava muito do lugar achava meio estranho porque para ele

ficava muito longe das praias Mas com o tempo ele se acostumou ateacute

fez amizades com os vizinhos que eram ouvintes Ele natildeo sabia como

comunicar-se com eles pois usavam a fala ele sentiu vergonha e medo

Ficava atraacutes de sua matildee que explicava para os vizinhos que ele era

surdo que natildeo sabia falar quase nada apenas sabia LIBRAS eles

ficavam admirados e convidavam-no para brincar Tinha amigos que

eram tranquilos porque o pai deles era surdo tambeacutem

O tempo passava e ele brincava sempre com esses amigos curtia

muito mas ele percebeu que se comunicavam soacute oralmente soacute ele natildeo

estranhava Foi falar com sua matildee sobre essa situaccedilatildeo pois ele queria

poder falar tambeacutem sua matildee se surpreendeu com a ideacuteia dele que era

ldquoquerer poderrdquo falar tambeacutem Para sua matildee foi uma surpresa porque

ouvia muito que a maioria das pessoas surdas natildeo aguentava aprender a

falar e seu proacuteprio filho estava querendo aprender a falar

Ele resolveu ser soacutecio de uma associaccedilatildeo de outra cidade natildeo

gostava da anterior e se mudou para Associaccedilatildeo dos Surdos da Grande

Florianoacutepolis ele fez amizade com o pessoal viajou muito se divertia

saiacutea e curtiu bastante Participava das reuniotildees da associaccedilatildeo tambeacutem

Depois virou Conselheiro Fiscal da Associaccedilatildeo gostou da experiecircncia

mas continuou sendo soacutecio Mas por outro lado andava observava e

estudava bastante e percebeu o mundo cada vez mais veloz por causa

da tecnologia e a sociedade que natildeo parava de mudar Depois que

146

terminou o terceiratildeo teve uma formatura incriacutevel em que chorou um

monte pois teve medo de perder o contato com as colegas de sala mas

tambeacutem porque ele aprendeu a amar esses amigos como se fossem de

sua famiacutelia

Comeccedilou uma faculdade na UFSC gostou bastante e fez novas

amizades comeccedilou a trabalhar como AtorTradutor Cinegrafista Editor

de Viacutedeos na UFSC tudo isso como bolsista Ele tornou-se bem

conhecido nacionalmente na comunidade surda comeccedilou a viajar

bastante para congressos e palestras Depois de um ano de sucesso em

sua vida acabou o contrato de bolsista pela UFSC e comeccedilou a

trabalhar como professor na prefeitura foi um grande desafio para ele

pois tinha professoras ouvintes que trabalhavam na educaccedilatildeo especial

que pensavam diferente dele com relaccedilatildeo agrave comunicaccedilatildeo na liacutengua de

sinais

Hoje em dia continua sendo conhecido nacionalmente na

comunidade surda eacute estudante do uacuteltimo periacuteodo da LetrasLIBRAS na

UFSC e estaacute trabalhando em duas escolas da prefeitura como professor

de LIBRAS

564 ndash Algumas consideraccedilotildees finais

Os informantes mostraram sua histoacuteria e nela pude perceber que

sinalizavam diferentemente uma mesma palavra principalmente aqueles

que viveram em lugares diferentes

Sabemos que a histoacuteria humana sofre transformaccedilotildees ao longo do

tempo mas nem sempre os seres humanos se datildeo conta das mudanccedilas

que podem acontecer no passado no presente e no futuro Na sociedade

acontecem transformaccedilotildees tecnoloacutegicas poliacuteticas econocircmicas sociais e

culturais Todas essas transformaccedilotildees influenciam o modo como usamos

a liacutengua E a liacutengua se modifica com o tempo

Noacutes tambeacutem mudamos as ldquocoisas da vidardquo A comunidade surda

tem um jeito proacuteprio de demonstrar as variaccedilotildees regionais e mudanccedilas

quanto agrave liacutengua de sinais a ponto de ser possiacutevel identificar a

procedecircncia de um surdo do nordeste ou do sul com base apenas no seu

gestual

A comunidade surda antigamente apresentava uma forma de

conversar em LIBRAS mais cotidiana e restrita agrave associaccedilatildeo de surdos

mas na atualidade a comunicaccedilatildeo eacute mais ampla acontece em vaacuterios

locais como escolas universidades congressos viagens turiacutesticas etc

ampliando conhecimentos e conhecendo novos sinais em contexto

social

147

Um surdo conversa com outro surdo utilizando a liacutengua de sinais

e qualquer pessoa ouvinte pode aprender LIBRAS e se comunicar na

comunidade surda mesmo natildeo tendo fluecircncia Dessa forma os surdos e

ouvintes podem se comunicar na LIBRAS Aleacutem disso a comunicaccedilatildeo

entre duas ou mais pessoas pode se dar em diferentes contextos sociais

Vale ressaltar que poucos surdos conheciam a gramaacutetica ou tinham

conhecimento linguiacutestico da LIBRAS ateacute porque eacute uma liacutengua que estaacute

sendo ensinada para o surdo nas escolas a partir da LEI de

reconhecimento e ainda natildeo eacute ensinada a parte de reflexatildeo linguiacutestica

estaacute mais voltada para sua praacutetica (o uso)

Segundo Labov

Ao falar do papel de fatores sociais que influenciam a

evoluccedilatildeo linguiacutestica eacute importante natildeo superestimar o

grau de contato ou de superposiccedilatildeo entre valores sociais

e a estrutura da liacutengua A estrutura linguiacutestica e a

estrutura social natildeo satildeo de modo algum coextensivas A

grande maioria das regras linguiacutesticas estatildeo bastante

distantes de qualquer valor social elas fazem parte do

elaborado mecanismo de que o falante precisa para

traduzir seu complexo conjunto de significados ou

intenccedilotildees em forma linear (LABOV 2008 [1972] p

290)

Em vaacuterios lugares (regiotildees) da comunidade surda usar a LIBRAS

em breve vai ser como falar em inglecircs em francecircs em italiano e em

outras liacutenguas Todas as liacutenguas satildeo importantes poreacutem alguma pode

ser mais reconhecida no mundo e influenciar mais Natildeo podemos

descartar a possibilidade de outras liacutenguas serem mais reconhecidas

assim como natildeo podemos prever quais liacutenguas influenciaratildeo mais no

mundo em outras eacutepocas quais dialetos novos teremos e quais variaccedilotildees

e mudanccedilas linguiacutesticas Talvez no futuro tenhamos mais influecircncia das

liacutenguas de sinais na comunicaccedilatildeo do mundo

148

149

CAPIacuteTULO VI ndash Descriccedilatildeo e anaacutelise dos resultados

61 ndash Introduccedilatildeo

Realizei a pesquisa escrita baseado nos relatos dos informantes

das trecircs geraccedilotildees pesquisadas atraveacutes de filmagem Primeiro busquei

nessas filmagens sinais que fossem relevantes para a pesquisa

variaccedilotildees e mudanccedilas lexicais e variaccedilotildees e mudanccedilas fonoloacutegica na

LIBRAS Em seguida fiz uma listagem de sinais com a palavra

correspondente em Liacutengua Portuguesa observando o nuacutemero de vezes

em que o sinal era apresentado aparecia Depois escolhi os sinais que

mais apareciam nos trecircs grupos de informantes e verifiquei as CM (paacuteg

225 e 227) que apareceram Apoacutes isto fiz tabelas gerais para pesquisa

de variaccedilatildeo lexical mudanccedila lexical variaccedilatildeo fonoloacutegica e mudanccedila

fonoloacutegica Foram escolhidos dezessete sinais para anaacutelise porque

apareceram nos trecircs grupos e em maior nuacutemero Apoacutes a escolha dos

sinais construiacute quatro tabelas gerais com os sinais produzidos pelos trecircs

grupos pesquisados com a CM utilizada na sinalizaccedilatildeo Por fim fiz a

anaacutelise dos dados obtidos

Ressalto que a descriccedilatildeo dos informantes que realizaram as

entrevistas nas trecircs geraccedilotildees em diferentes faixas etaacuterias traz

informaccedilotildees de grande importacircncia para a anaacutelise dos dados obtidos

referentes agraves possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas na Liacutengua de

Sinais em Santa Catarina

Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os seguintes toacutepicos

comparaccedilatildeo dos dados dos grupos das trecircs geraccedilotildees de surdos na liacutengua

de sinais e descriccedilatildeo sobre variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na liacutengua de

sinais com a existecircncia de um ou mais sinais dos informantes das trecircs

geraccedilotildees descriccedilatildeo da variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua de

sinais e explicaccedilatildeo de como o mesmo sinal pode ser utilizado e por

fim anaacutelise dos resultados das trecircs geraccedilotildees dos informantes

considerando as variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas na Liacutengua Brasileira

de Sinais

62 ndash A comparaccedilatildeo dos dados o grupo de trecircs geraccedilotildees de surdos

na liacutengua de sinais

Os dados recolhidos no programa de transcriccedilatildeo na liacutengua de

sinais ndash ELAN foram analisados e comparados com o propoacutesito de

mostrarapontar possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas que

aconteceram na liacutengua de sinais em Santa Catarina Os informantes

150

apresentaram individualmente suas respostas ao questionaacuterio referente a

seu aprendizado escolar e a sua vida Essas apresentaccedilotildees gravadas em

viacutedeo tecircm o objetivo de mostrar a experiecircncia na liacutengua de sinais dos

informantes nas trecircs geraccedilotildees pesquisadas

Para anaacutelise dos dados recolhidos foi feita uma tabela

denominada Preliminar dos dados ndash variaccedilotildees ou mudanccedilas

linguiacutesticas Nessa tabela vemos a transcriccedilatildeo dos depoimentos e a

identificaccedilatildeo dos Grupos (I II e III) de surdos que narraram a sua

experiecircncia na liacutengua de sinais Seguem as principais abordagens

pesquisadas

No primeiro momento investigo a variaccedilatildeo e

mudanccedila lexical na Liacutengua Brasileira de Sinais onde

dois ou mais sinais existem na liacutengua ao mesmo tempo

descrevo a mudanccedila em dois sinais que se daacute quando o

antigo sinal some e um novo entra

No segundo e uacuteltimo momento investigo a variaccedilatildeo e

mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua Brasileira de Sinais em

que um mesmo sinal possui mais de uma forma de

realizaccedilatildeo descrevo a mudanccedila que se observa quando um

sinal altera de caracteriacutesticas com relaccedilatildeo aos paracircmetros

configuraccedilatildeo das matildeos ponto de articulaccedilatildeo e movimento

Foi interessante realizar a pesquisa dos dados dos trecircs grupos

porque eacute um desafio aleacutem de me permitir identificar os sinais das

geraccedilotildees pesquisadas A princiacutepio foram identificados os sinais que

eram utilizados pelos surdos mais velhos e que os jovens natildeo

conheciam Em seguida os sinais com configuraccedilatildeo de matildeos (CM) e

ponto de articulaccedilatildeo (PA) diferentes e tambeacutem os sinais com

configuraccedilatildeo de matildeos (CM) iguais e ponto de articulaccedilatildeo (PA)

diferentes Por uacuteltimo os sinais com configuraccedilatildeo de matildeos (CM)

diferentes e ponto de articulaccedilatildeo (PA) iguais

Os sinais apresentados pelos informantes das trecircs geraccedilotildees

totalizaram 255 sinais Nesse total foram utilizados 17 vocaacutebulos para a

anaacutelise dos resultados e levantamento dos sinais de cada informante dos

trecircs Grupos (I II e III) Alguns sinais foram dispensados porque

tornariam a pesquisa muito ampla Dos 255 sinais encontrados para

anaacutelise 115 foram apresentados pelos surdos do Grupo mais jovem 163

foram apresentados pelo Grupo com idade intermediaacuteria e 183 pelo

Grupo dos mais velhos

Esta distribuiccedilatildeo por faixa etaacuteria compreende 9 informantes trecircs

151

em cada uma das geraccedilotildees formando os trecircs Grupos pesquisados (I II e

III) O resultado mais significativo foi mostrado pelos informantes do

grupo de indiviacuteduos mais velhos (G e I) possibilitando numa primeira

anaacutelise perceber algumas variaccedilotildees e mudanccedila na liacutengua de sinais Ficou

perceptiacutevel que o grupo de surdos dos mais velhos influenciou a liacutengua

de sinais em Santa Catarina na comunidade surda Segue tabela com os

nuacutemeros de sinais levantados em cada um dos trecircs grupos

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Sinais

Analisados

183

163

115

Tabela 09 ndash Preliminar dos dados ndash Variaccedilotildees ou mudanccedilas linguiacutesticas

Como jaacute foi comentado anteriormente a comunidade surda em

Santa Catarina ateacute aproximadamente o ano de 2000 teve um uacutenico

professor surdo no nosso estado e que influenciou a liacutengua de sinais O

fator externo que influenciou a liacutengua de sinais em SC atraveacutes do

professor Francisco foi o agrupamento dos surdos de todo o estado

formando uma comunidade surda que tambeacutem participa da

identificaccedilatildeo de classe do grupo informante Outro fator externo eacute

percebido nos Grupos II e I que mostram sinais aprendidos no contato

com o professor surdo na escola e tambeacutem no Ciacuterculo de Surdo-Mudo

em Santa Catarina sendo que o Grupo II influenciou o Grupo III

Na tabela em anexo percebe-se que dos 255 sinais coletados o

Grupo I apresentou mais sinais do que os Grupos II e III Talvez os

sinais natildeo conhecidos pelo Grupo III sejam os sinais criados

recentemente pela comunidade surda acadecircmica

Nas quatro tabelas gerais dos dados (paacuteg153 167 174 e 176)

tambeacutem apresenta na coluna agrave esquerda dos informantes o sinal (leacutexico)

e na direita os trecircs grupos de diferentes geraccedilotildees com diferentes faixas

etaacuterias que variam de 25 a mais de 80 anos e totalizam nove (9) indiviacuteduos Na coluna sinal (leacutexico) apresentam-se os dados que foram

escolhidos para realizar a pesquisa nos Grupos I II e III as variaacuteveis

independentes (homem mulher idade escolaridade e profissatildeo) que

152

podem mostrar tambeacutem variaccedilatildeo e mudanccedila na liacutengua de sinais usada

pelos informantes

63 ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na Liacutengua Brasileira de Sinais

Nesta seccedilatildeo vatildeo ser observados os itens lexicais que estatildeo em

variaccedilatildeo nas trecircs geraccedilotildees Comparando os sinais eles podem ser

produzidos atraveacutes de um sinal ou mais por exemplo o sinal de ldquomatildeerdquo

no passado tinha apenas um sinal (simples) atualmente utilizam-se dois

sinais (composto) para esta representaccedilatildeo Isto mostra que acontece

variaccedilatildeo lexical em LIBRAS Outros exemplos de sinais em variaccedilatildeo

satildeo ldquoaposentarrdquo ldquoaviatildeordquo ldquomatildeerdquo ldquopairdquo ldquopoliacuteticardquo ldquopretordquo

ldquoreuniatildeordquo e ldquosemanardquo (Tabela geral dos dados a seguir)

Nos Grupos I e II nos sinais de banco feio meacutedico porque

padre e ter tambeacutem acontece variaccedilatildeo lexical pois tem mais de um

sinal que existe na liacutengua ao mesmo tempo Nos Grupos I e III o sinal de

nome aponta variaccedilatildeo lexical

Foi apresentada na discussatildeo sobre mudanccedila lexical de alguns

sinais na Liacutengua Brasileira de Sinais (MAtildeE e PAI) Agora seraacute mostrada

a variaccedilatildeo lexical encontrada nos sinais utilizados pelos informantes das

trecircs geraccedilotildees (Grupos I II e III)

Veja a tabela a seguir elaborada para descrever os resultados

obtidos dos informantes dos Grupos I II e III Os nuacutemeros que

aparecem na tabela correspondem agrave configuraccedilatildeo de matildeos (CM) num

total de 64 posiccedilotildees diferentes que as matildeos podem assumir (ver anexo

paacutegina 225)

153

Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na Liacutengua

Brasileira de Sinais

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

APOSENTAR CM ndash 01 02

07 11 57

CM ndash 01 02

11 57

CM ndash 01 11

AVIAtildeO CM ndash 53a CM ndash 36 37a

40

CM ndash 40

MAtildeE CM ndash 02 14

63

CM ndash 01 02

06 14 60 63

CM ndash 02 07

14

PAI CM ndash 01 11

14 16 38

CM ndash 01 02

11 16 38 45

CM ndash 02 11

16 38 45

POLIacuteTICA CM ndash 11 51a CM ndash 11 14 CM ndash 11

PRETO CM ndash 05 34

62

CM ndash 05 CM ndash 05

REUNIAtildeO CM ndash 14 CM ndash 14 15

25

CM ndash 25

SEMANA CM ndash 08a 10

64

CM ndash 10 CM ndash 10

Os quadros a seguir mostram a sequecircncia dos sinais lexicais

utilizados pelos informantes desta pesquisa na liacutengua de sinais nas trecircs

geraccedilotildees

Observe-se inicialmente o item lexical APOSENTAR

154

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Aposentar

(1)

Figura 31

CM ndash 01 11

(2)

Figura 32

CM ndash 02 57

(1)

Figura 34

CM ndash 01 11

(2)

Figura 35

CM ndash 02 57

Figura 36

CM ndash 01 11

155

(3)

Figura 33

CM ndash 07

Quadro 01 ndash Sinal de Aposentar

O sinal de aposentar apresentado no quadro 01 no Grupo I (mais

velhos) apareceu com trecircs sinais diferentes o que indica variaccedilatildeo

lexical O Grupo III (mais jovem) utiliza o sinal com a configuraccedilatildeo de

matildeos (CM) - 01 e 11 com o movimento no espaccedilo neutro

consecutivamente para frente Os Grupos I e II utilizaram a CM - 02 57

(palma da matildeo aberta se fechando agrave medida que o antebraccedilo puxa para

traacutes junto ao lado do corpo no espaccedilo neutro) O Grupo I apresentou o

sinal de aposentar com a CM ndash 07 ambas as matildeos saiacutedas do espaccedilo

neutro na frente do corpo indo ateacute o peito Esse sinal atualmente eacute

produzido para indicar folga descanso e acomodar O Grupo III natildeo

conhece o sinal de aposentar do Grupo I talvez por isso eles utilizam

com outro significado O Grupo I tem trecircs sinais diferentes para

ldquoaposentarrdquo como mostram as figuras 31 32 e 33 mas o significado eacute o

mesmo isso pode ser variaccedilatildeo lexical mas tudo indica que ocorre

tambeacutem mudanccedila lexical O Grupo I tem um uacutenico sinal diferente do

Grupo III Parece que atualmente o sinal tem outro significado

Inicialmente observe-se o item lexical AVIAtildeO

156

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Aviatildeo

Figura 37

CM ndash 53a

(1)

Figura 38

CM ndash 36

(2)

Figura 39

CM ndash 37a

(3)

Figura 40

CM ndash 40

Figura 41

CM ndash 40

Quadro 02 ndash Sinal de Aviatildeo

157

Sabe-se que o professor Francisco iniciou o ensino para alguns

surdos utilizando a soletraccedilatildeo no alfabeto digital em Portuguecircs

Observando os trecircs grupos foi possiacutevel identificar as

modificaccedilotildees graduais deste sinal que iniciou com a soletraccedilatildeo Depois

foi apresentada como em CM ndash 53a a matildeo parte do lado do corpo em

linha reta e ascendente imitando a decolagem do aviatildeo usada pelo

Grupo I (mais velhos) O Grupo II apresentou as configuraccedilotildees CM ndash

36 CM ndash 37a CM - 40 tambeacutem imitando a decolagem do aviatildeo No

Grupo III apareceu apenas o sinal com a CM ndash 40 ou seja continuou

igual ao utilizado pelo Grupo II

Veja a seguir o item lexical MAtildeE

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Matildee

(1)

Figura 42

CM ndash 02

(1)

Figura 45

CM ndash 02

(1)

Figura 48

CM ndash 02 07

158

(2)

Figura 43

CM ndash 14

(3)

Figura 44

CM ndash 63

(2)

Figura 46

CM ndash 14

(3)

Figura 47

CM ndash 63

(4)

(2)

Figura 49

CM ndash 14

Quadro 03 ndash Sinal de Matildee

No quadro 03 aparece na figura 43 46 e 49 nos Grupos I II e III

o sinal de matildee que tem variaccedilatildeo lexical ao mesmo tempo Entatildeo os

Grupos I e II tambeacutem mostram o mesmo sinal No Grupo III a figura 48

mostra o sinal de matildee (mulher^benccedilatildeo = matildee) o que acontece eacute um sinal

composto em variaccedilatildeo lexical Nas figuras 42 45 e 48 a configuraccedilatildeo de

matildeos acontece (igualmente) nos trecircs grupos As figuras 44 e 47 nos Grupos I e II mostram a palma da matildeo aberta para frente e o dorso da

matildeo colocado na boca para o sinal de matildee o que tambeacutem indica

variaccedilatildeo lexical

No quadro 03 tambeacutem mostra mudanccedila lexical O sinal de ldquoM-Atilde-

Erdquo aparece soletrado no alfabeto digital e outro com a configuraccedilatildeo de

159

matildeos (CM) em ldquoMrdquo (nuacutemero da CM ndash 01 06 60) com ponto de

articulaccedilatildeo (PA) na boca num movimento (M) de roccedilar a matildeo para

frente (reto) Atualmente o sinal de MAtildeE eacute realizado da seguinte forma

o sinal de mulher (matildeo fechada e polegar riscando o rosto de cima para

baixo) junto com a matildeo fechada sendo beijada no dorso (mulher^benccedilatildeo

= MAtildeE) representando um sinal composto

Comparando o sinal de MAtildeE apresentado pelos informantes dos

trecircs Grupos (I II e III) nota-se que ocorreu mudanccedila lexical a forma de

configuraccedilatildeo de matildeos (CM) modificou-se

Pode ser que a distinccedilatildeo entre variaccedilatildeo lexical e mudanccedila lexical

nem sempre estaacute clara mas pode ser estabelecida em alguns casos dos

sinais

O quadro a seguir mostra variaccedilatildeo e mudanccedila do item lexical

PAI

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Pai

(1)

Figura 50

CM ndash 11

(1)

Figura 53

CM ndash 16

(1)

Figura 55

CM ndash 11 38

160

(2)

Figura 51

CM ndash 14

(3)

Figura 52

CM ndash 16

(4)

(2)

Figura 54

CM ndash 02 45

(3)

(2)

Figura 56

CM ndash 16

(3)

Figura 57

CM ndash 02 45

Quadro 04 ndash Sinal de Pai

Nas figuras 52 53 e 56 dos Grupos I II e III na configuraccedilatildeo de

matildeos (CM) o dedo indicador curvado colocado como se fosse um

bigode movimenta-se para frente e para traacutes significando sinal de pai

Os Grupos II e III mostram o sinal composto (homem^benccedilatildeo = pai)

Nas figuras 54 e 57 tambeacutem temos variaccedilatildeo e mudanccedila lexical Na

figura 51 o dedo indicador reto eacute colocado como se fosse um bigode

fazendo movimento para a direita no Grupo I Nas figuras 50 e 55 nos

Grupos I e III mostra-se a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) - 11 tambeacutem

161

imitando um bigode fazendo movimento para a direita e no Grupo III

mostra-se o empreacutestimo linguiacutestico ldquoP-Irdquo (CM) -11 38 o sinal de pai

No quadro 04 tambeacutem aparece mudanccedila lexical O sinal de

famiacutelia que mostra a palavra ldquoP-A-Irdquo eacute apresentado na soletraccedilatildeo de

matildeos Haacute uma mudanccedila linguiacutestica porque inicia com o sinal ldquoPrdquo (CM ndash

11) passando sobre os laacutebios depois o sinal de bigode realizado de duas

formas diferentes (o dedo indicador em cima do laacutebio superior e o dedo

indicador flexionado tambeacutem em cima do laacutebio superior) e ainda o sinal

ldquoPrdquo saindo dos laacutebios indo para frente formando o sinal ldquoIrdquo (CM ndash 38)

e atualmente o sinal de homem (CM ndash 45) fechar a matildeo e beijar as

costas da mesma (CM ndash 02) Observam-se nesse caso cinco diferentes

sinais ilustrando as variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas Acredita-se que

o contado dos diferentes surdos em comunicaccedilatildeo com gestos familiares

proporcionou uma troca entre eles influenciando a comunidade surda e

a escola com uma classe de surdos onde os alunos tiveram contato com

a soletraccedilatildeo de palavras em Portuguecircs e nos respectivos sinais

O Grupo I apresentou trecircs sinais diferentes nas figuras 50 51 e 52

ldquopaisrdquo o que pode indicar variaccedilatildeo lexical O Grupo II mostra dois

sinais diferentes nas figuras 53 e 54 tem um sinal composto

homem^benccedilatildeo = pai que foi utilizado pelo Grupo III

Observe agora no quadro a seguir o item lexical POLIacuteTICA

162

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Poliacutetica

Figura 58

CM ndash 11 51a

(1)

Figura 59

CM ndash 11

(2)

Figura 60

CM ndash 14

Figura 61

CM ndash 1 1

Quadro 05 ndash Sinal de Poliacutetica

No quadro 05 o sinal de POLIacuteTICA se daacute atraveacutes da matildeo direita

na configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 11 colocada em movimento circular

(girando) no lado do rosto com a bochecha insuflada sinal apresentado

pelos Grupos II e III O Grupo I apresenta um sinal icocircnico porque eacute a

representaccedilatildeo da sede do congresso em Brasiacutelia O Grupo II mostra

tambeacutem outro sinal para poliacutetica com CM ndash 14 o dedo indicador das matildeos com as extremidades proacuteximas em frente do corpo em movimento

alternado para cima e para baixo localizado no espaccedilo neutro

No Grupo III na figura 61 com CM ndash 14 eacute o uacutenico sinal com

configuraccedilatildeo diferente e que o significado tambeacutem pode ser entendido

163

como discutir a poliacutetica aparecendo nesse caso com sentido

abrangente

Veja a seguir o item lexical PRETO

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Preto

(1)

Figura 62

CM ndash 34 62

(2)

Figura 63

CM ndash 05

Figura 64

CM ndash 05

Figura 65

CM ndash 05

Quadro 06 ndash Sinal de Preto

No quadro 06 aparece o sinal de PRETO com a matildeo direita com

CM ndash 05 palma para baixo simulando girar uma chave ao lado da

cabeccedila Um dos informantes do Grupo I utilizou o sinal de preto que

acredito teve influecircncia da liacutengua de sinais produzida no Rio de janeiro

Os Grupos II e III apresentaram o sinal regional utilizado na grande

Florianoacutepolis Os Grupos I II e III mostram o mesmo sinal para preto

164

nas figuras 63 64 e 65 mas tem um sinal diferente apresentado pelo

Grupo I nas figuras 62 e 63

O sinal produzido pelo Grupo I na figura 62 eacute utilizado ateacute hoje

no Rio de Janeiro e percebo que tambeacutem eacute utilizado por interpretes e

estudantes surdos da UFSC

Veja a seguir o item lexical REUNIAtildeO

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Reuniatildeo

Figura 66

CM ndash 14

(1)

Figura 67

CM ndash 25

(2)

Figura 68

CM ndash 14

Figura 70

CM ndash 25

165

(3)

Figura 69

CM ndash 15

Quadro 07 ndash Sinal de Reuniatildeo

No quadro 07 o sinal de REUNIAtildeO mostrado pelos Grupos II e

III com CM ndash 25 nas matildeos estaacute localizado no espaccedilo neutro com as

palmas das matildeos para frente as matildeos em movimento semicircular

fechando em ciacuterculo Os Grupos I e II mostram como em CM ndash 14

realizado da mesma forma que o descrito anteriormente sinal este que o

grupo jovem natildeo conhece O Grupo II apresenta um sinal de REUNIAtildeO

com as matildeos como em CM ndash 15 em espaccedilo neutro movendo-se

alternadamente para frente e para traacutes com a palma das matildeos proacuteximas

este grupo apresentou trecircs sinais diferentes enquanto os Grupos I e III

mostraram apenas um

No Grupo II na figura 69 o sinal eacute diferente e natildeo aparece no

Grupo I e no Grupo III mas o significado deste eacute REUNIAtildeO particular

com poucas pessoas Talvez por isso natildeo apareceu nos outros dois

grupos Nas figuras 68 e 69 os sinais apresentam variaccedilatildeo fonoloacutegica

porque mudou o traccedilo linguiacutestico o ponto de articulaccedilatildeo da sinalizaccedilatildeo

no espaccedilo neutro eacute o mesmo mas a CM e o movimento se alteram

Veja a seguir o item lexical SEMANA

166

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Semana

(1)

Figura 71

CM ndash 08a 64

(2)

Figura 72

CM ndash 10

Figura 73

CM ndash 10

Figura 74

CM ndash 10

Quadro 08 ndash Sinal de Semana

No quadro 08 aparece o sinal de SEMANA com a matildeo esquerda

aberta palma para fora (CM ndash 08a ldquoLrdquo) matildeo direita CM - 64 palma

para fora direcionando as duas matildeos para o lado direito O grupo de

informante III (terceira geraccedilatildeo) apresentou a variaccedilatildeo do sinal descrita

anteriormente mas o Grupo II apresentou o sinal a matildeo direita com

forma de configuraccedilatildeo CM - 10 direcionando a matildeo direita para o lado

direito ponto de articulaccedilatildeo no espaccedilo neutro O Grupo I (primeira

geraccedilatildeo) apresentou no queixo o sinal de semana como em CM ndash 10

Isso mostra a variaccedilatildeo do sinal apresentado pelos informantes nas trecircs

geraccedilotildees por faixa etaacuteria Os trecircs grupos sinalizam semana de forma

diferente nas figuras 71 72 e 74 Os Grupos I e II sinalizam semana nas

167

figuras 72 e 73 de forma igual O Grupo I eacute o uacutenico que realiza o sinal

no espaccedilo neutro e o Grupo III inicia o sinal no queixo e termina-o no

espaccedilo neutro

Uma das razotildees para variaccedilatildeo e mudanccedila lexical acontecer eacute por

influecircncia tecnoloacutegica que transforma a sociedade que cresce no

cotidiano por necessidade na liacutengua usada na conversa No caso da

pessoa surda em contato com a liacutengua de sinais ela acaba valorizando

mais a liacutengua de sinais que torna a cultura surda dinacircmica e proporciona

uma nova forma de comunicaccedilatildeo para o indiviacuteduo surdo Na

comunidade surda precisamos buscar o conhecimento cada vez maior

para aumentar o leacutexico da liacutengua em sinais

Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na Liacutengua

Brasileira de Sinais

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

BANCO CM ndash 53a 61 CM ndash 53a 61 CM ndash 53a

FEIO CM ndash 07 64 CM ndash 8a CM ndash 08a

MEacuteDICO CM ndash 16 44 CM ndash 16 44 CM ndash 16

NOME CM ndash 21 24 CM ndash 24 CM ndash 24

PORQUE CM ndash 14 15 CM ndash 14 15 CM ndash 14

O quadro a seguir apresenta a sequecircncia dos sinais lexicais que

sofreram mudanccedila na liacutengua de sinais dos informantes dos Grupos I II e

III nas trecircs geraccedilotildees Inicialmente seraacute descrito o item lexical BANCO

168

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Banco

(1)

Figura 75

CM ndash 53a

(2)

Figura 76

CM ndash 61

(1)

Figura 77

CM ndash 53a

(2)

Figura 78

CM ndash 61

Figura 79

CM ndash 53a

Quadro 09 ndash Sinal de Banco

No quadro 09 a CM ndash 61 corresponde agrave letra B no alfabeto

digital palma da matildeo voltada para a esquerda batendo suavemente em

cima do peito esquerdo Este sinal foi utilizado pelos Grupos II e I

sofrendo uma mudanccedila lexical pois modificou o ponto de articulaccedilatildeo e

a CM com o mesmo movimento Os informantes do Grupo III (jovens)

natildeo utilizam e talvez natildeo conheccedilam o sinal de BANCO utilizado pelos

Grupos II e I Podemos chamar de mudanccedila em tempo aparente

Nos Grupos I II e III apresentam variaccedilatildeo lexical os sinais das

figuras 75 77 e 79 pois se realizam da mesma forma Nos Grupos I e II

169

as figuras 76 e 78 apresentam um sinal que natildeo eacute mais utilizado

caracterizando uma mudanccedila lexical

Observe-se agora o sinal do item lexical FEIO

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Feio

Figura 80

CM ndash 07 64

64

Figura 81

CM ndash 08a

Figura 82

CM ndash 08a

Quadro 10 ndash Sinal de Feio

No quadro 10 a CM ndash 08a (L) usa palma da matildeo em frente da

boca o dedo indicador apontando para a esquerda em seguida abaixa-

se a matildeo ateacute a altura do peito O sinal utilizado pelo Grupo I mostra uma

mudanccedila lexical no sinal de FEIO o sinal de bonito (matildeo aberta com

palma da matildeo voltada para o rosto na frente fazendo um ciacuterculo e se

fechando) e mais o sinal de negaccedilatildeo matildeo fechada com polegar para

baixo Houve uma troca na configuraccedilatildeo de matildeos (CM) de ponto de

articulaccedilatildeo (PA) e movimento (M) do sinal pelos surdos do Grupo III

(mais jovens de 15 a 30 anos de idade) O Grupo I faz dois sinais

bonito^ruim = feio na figura 80 como se fosse o contraacuterio de bonito O

Grupo II faz o sinal de feio para pessoas enquanto o Grupo III sinaliza

com significado de feio para objetos

64 A imagem da CM segue a ordem da tabela com as configuraccedilotildees

170

Observe-se a seguir o item lexical MEacuteDICO

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Meacutedico

(1)

Figura 83

CM ndash 16

(2)

Figura 84

CM ndash 44

(1)

Figura 85

CM ndash 16

(2)

Figura 86

CM ndash 44

Figura 87

CM ndash 16

Quadro 11 ndash Sinal de Meacutedico

No quadro 11 o sinal de MEacuteDICO aparece diferenciado no Grupo

I (geraccedilatildeo G H e I) O sinal de MEacuteDICO eacute produzido com a

configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 44 com ponto de articulaccedilatildeo (PA) no

peito em cima do coraccedilatildeo movimentando-se semicircularmente ateacute o

lado direito Esse sinal mostra mudanccedila lexical pois o Grupo III

(jovens) inovou com relaccedilatildeo ao espaccedilo neutro65

o sinal eacute produzido

65 Espaccedilo Neutro ndash ldquono caso do uso de pontos arbitraacuterios o estabelecimento ocorre em um

local neutro do espaccedilo da sinalizaccedilatildeo e em geral satildeo distribuiacutedos no espaccedilo de forma a serem

171

com a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 16 em ambas as matildeos onde uma eacute

ativa e outra passiva e o dedo indicador direito bate na 2a falange do

dedo esquerdo

Podemos dizer que o sinal que aparece nos Grupos I e II e que

natildeo aparece no Grupo III eacute um sinal icocircnico Acredito que ainda eacute

utilizado apenas natildeo apareceu nas sinalizaccedilotildees do grupo dos mais

jovens que apresentam uma fluecircncia maior na LIBRAS

Veja a seguir a configuraccedilatildeo do item lexical NOME

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Nome

(1)

Figura 88

CM ndash 21

(2)

Figura 89

CM ndash 24

Figura 90

CM ndash 24

Figura 91

CM ndash 24

Quadro 12 ndash Sinal de Nome

amplamente diferenciados Os pontos podem estar acima ou abaixo do espaccedilo neutro se esses apresentarem uma imagem apropriada (por ex um aviatildeo seraacute apontado acima do espaccedilo

neutro)rdquo QUADROS et al (2008 p 07)

172

No quadro 12 mostra o sinal de NOME com a configuraccedilatildeo de

matildeos (CM) ndash 24 (matildeo direita em ldquoUrdquo no Alfabeto Digital) palma da

matildeo para frente dedos apontados para cima na altura do peito movem-

se os dedos do lado esquerdo para o lado direito Na leitura dos

resultados encontrados apareceu uma mudanccedila lexical na liacutengua de

sinais o Grupo I utiliza a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 21 24 na (CM)

ndash 21 representa o nome do crachaacute (sinal icocircnico) Acontece mudanccedila

lexical pois as configuraccedilotildees de matildeos (CM) os pontos de articulaccedilotildees

(PA) os movimentos (M) e a orientaccedilatildeo satildeo diferentes (OP) Aqui

temos tambeacutem mudanccedila fonoloacutegica as configuraccedilotildees de matildeos satildeo

diferentes

O quadro a seguir mostra a configuraccedilatildeo do item lexical

PORQUE

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Porque

(1)

Figura 92

CM ndash 14

(1)

Figura 94

CM ndash 14

Figura 96

CM ndash 14

173

(2)

Figura 93

CM ndash 15

(2)

Figura 95

CM ndash 15

Quadro 13 ndash Sinal de Porque

No quadro 13 o sinal de PORQUE no Grupo I e II aparece com

CM ndash 15 (dedo indicador flexionado saindo da tecircmpora em diagonal) e

nos trecircs grupos aparece o sinal com a CM ndash 14 dedo indicador direito e

esquerdo em diagonal bater o indicador direito sobre o esquerdo vaacuterias

vezes no espaccedilo neutro O sinal com a CM ndash 14 aparece na sinalizaccedilatildeo

dos informantes das trecircs geraccedilotildees permanecendo ateacute a atualidade

O sinal que os Grupos I e II fizeram nas figuras 93 e 95 natildeo eacute

mais realizado pelo grupo dos mais jovens que tambeacutem natildeo conhece o

significado

64 ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua Brasileira de Sinais

A variaccedilatildeo e a mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua Brasileira de

Sinais satildeo observadas na semelhanccedila entre somfala ou sinais foneacutetico-

fonoloacutegicos Na Liacutengua Brasileira de Sinais encontram-se modificaccedilotildees

de pronuacutencia de certos itens lexicais atestando variaccedilatildeo e mudanccedila

fonoloacutegica Essa variaccedilatildeo depende da unidade lexical e pode decorrer de

diferentes paracircmetros a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) movimento (M)

ponto de articulaccedilatildeo (PA) e orientaccedilatildeo das matildeos Nesses casos a

configuraccedilatildeo de matildeos pode modificar mas o significado dos sinais

permanece o mesmo mostrando variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica As

autoras Quadros e Karnopp (2004 p47) definem a fonologia das

liacutenguas de sinais da seguinte forma

Fonologia das liacutenguas de sinais eacute o ramo da linguumliacutestica

que objetiva identificar a estrutura e a organizaccedilatildeo dos

constituintes fonoloacutegicos propondo modelos descritivos

e explanatoacuterios A primeira tarefa da fonologia para

174

liacutengua de sinais eacute determinar quais satildeo as unidades

miacutenimas que formam os sinais A segunda tarefa eacute

estabelecer quais satildeo os padrotildees possiacuteveis de

combinaccedilatildeo entre essas unidades e as variaccedilotildees possiacuteveis

no ambiente fonoloacutegico

Haacute pouca pesquisa cientiacutefica sobre variaccedilatildeo e mudanccedila

fonoloacutegica na LIBRAS no Brasil Pode-se verificar atraveacutes dos dados

dos informantes apresentados a cada pronuacutencia dos sinais diferentes de

uso a unidade miacutenima lexical pode se modificar (configuraccedilatildeo de matildeos

movimento e ponto de articulaccedilatildeo) No quadro 07 apresenta-se o sinal

de semana mostrando mudanccedila no ponto de articulaccedilatildeo e variaccedilatildeo e

mudanccedila fonoloacutegica nos Grupos I II e III

Veja a Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica

na Liacutengua Brasileira de Sinais com os resultados que foram escolhidos

nesta pesquisa para realizar a descriccedilatildeo e a anaacutelise

Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua

Brasileira de Sinais

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

ANTES CM ndash 08a 53a

63

CM ndash 08a CM ndash 08a

Veja agora os sinais para o item lexical ANTES

175

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Antes

(1)

Figura 97

CM ndash 53a 63

(2)

Figura 98

CM ndash 08a

Figura 99

CM ndash 08a

Figura 100

CM ndash 08a

Quadro 14 ndash Sinal de Antes

No quadro 14 aparece o sinal de ANTES com a seguinte

configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 08a a matildeo direita em L horizontal

(alfabeto digital) palma para baixo na frente do corpo no espaccedilo neutro

levantar o antebraccedilo da matildeo direita para cima Outro sinal aparece com

a (CM) ndash 53a e 63 inicia com a CM 63 e finaliza com a CM 53a com o

mesmo movimento do antebraccedilo descrito anteriormente Ambos os

informantes utilizam a expressatildeo facial necessaacuteria para a compreensatildeo

do sinal As trecircs geraccedilotildees apresentaram variaccedilatildeo fonoloacutegica o sinal eacute

produzido com diferentes configuraccedilotildees de matildeos mas os paracircmetros

movimento (M) e ponto de articulaccedilatildeo (PA) satildeo os mesmos

176

Nos Grupos I II e III apresentam os mesmos sinais com a mesma

CM ndash 08a mas temos com essa mesma CM o mesmo significado soacute

que com ponto de articulaccedilatildeo diferente acontecendo na palma da matildeo e

no dorso da matildeo e que tambeacutem pode ter significado de ldquoQue horasrdquo ou

pode estar atrasado para trabalhar ou ainda precisa agendar uma reuniatildeo

antes

Os dados coletados tambeacutem mostram mudanccedila e variaccedilatildeo

fonoloacutegica na liacutengua brasileira de sinais Sinais foram modificados com

o passar dos anos Observando os informantes percebe-se que os

paracircmetros mudaram da geraccedilatildeo mais antiga (Grupo I) em relaccedilatildeo agrave

geraccedilatildeo atual (Grupo III)

Observe na tabela a seguir os dados que foram escolhidos para

realizar a descriccedilatildeo e a anaacutelise dos resultados Ela apresenta a sequecircncia

das mudanccedilas e variaccedilotildees dos sinais lexicais na LIBRAS usados pelos

informantes nas trecircs geraccedilotildees

Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua

Brasileira de Sinais

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

CORTAR CM ndash 14 24

63

CM ndash 14 24 CM ndash 24

PADRE CM ndash 21 24

62

CM ndash 11 21

24

CM ndash 24

TER CM ndash 08a 63 CM ndash 08a 63 CM ndash 08a

Acompanhe agora a descriccedilatildeo do item lexical CORTAR

177

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Cortar

(1)

Figura 101

CM ndash 63

(2)

Figura 102

CM ndash 14 24

(3)

Figura 103

CM ndash 14

(1)

Figura 104

CM ndash 14

(2)

Figura 105

CM ndash 24

Figura 106

CM ndash 24

Quadro 15 ndash Sinal de Cortar

178

No quadro 15 observa-se que o Grupo I apresentou a

configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 63 (U) raspando o dedo meacutedio da matildeo

direita no dedo indicador da matildeo esquerda simulando cortar algo

Depois a CM ndash 14 junto com a CM 24 mostraram um movimento

simulando o corte com uma faca e tambeacutem a CM ndash 14 em ambas as

matildeos simulando o movimento de cortar O Grupo II apresentou a CM ndash

14 (igual a do Grupo I) e a CM ndash 24 simulando o movimento de cortar

O Grupo III (jovem) utilizou apenas a CM ndash 24

Exemplos das figuras apresentadas no quadro 15 mostrando

sinais de CORTAR66

em diferentes contextos satildeo apresentados a seguir

a) Em LIBRAS Grupo I - EU ANTES ESTUDAR LAacute INES

DEPOIS CORTAR MARCENEIRO (Figura 101)

Em Portuguecircs Grupo I ndash Eu era crianccedila estudava no INES

fomos cortar madeira com supervisatildeo de um marceneiro (Figura 101)

b) Em LIBRAS Grupo I - SURDOS LAacute INES CORTAR

PAPELAtildeO (Figura 102)

Em Portuguecircs Grupo I ndash Os alunos surdos do INES foram

cortar papelatildeo (Figura 102)

c) Em LIBRAS Grupo I - EU AIacute (FOGO) FOGO COMER

CARNE CORTAR UM (CADA) IRMAtildeO SENTAR COMER TODOS

COMER ARROZ BATATA AIPIM TODOS (Figura 103)

Em Portuguecircs Grupo I ndash Eu fiquei assustada com o fogo Eu e

meus irmatildeos sentados juntos a mesa cortei a carne e dei um pedaccedilo para

cada irmatildeo Todos comeram arroz batata e aipim aleacutem da carne

(Figura 103)

d) Em LIBRAS Grupo II ndash ANTES ERA PEQUENO

BRINCAR LAacute ESCOLA BALANCcedilO CORRENTE CORTAR DEDO

DOR (Figura 104)

Em Portuguecircs Grupo II ndash Quando era crianccedila fomos brincar no

parque da escola cortei o dedo na corrente (Figura 104)

e) Em LIBRAS Grupo II - FESTA CSMSC SURDOS CORTAR

CARNE BOLO TODOS SURDOS (Figura 105)

Em Portuguecircs Grupo II ndash Teve uma festa do Ciacuterculo de Surdos-

Mudos de Santa Catarina (CSMSC) para comemoraccedilatildeo dos surdos Foi

cortada a carne e o bolo para os surdos que foram a associaccedilatildeo (Figura

105)

66 Nesses casos noacutes temos sinais diferentes para o mesmo significado de ldquocortarrdquo que satildeo as imagens do quadro 15

179

f) Em LIBRAS Grupo III ndash EU LAacute CASA AMIGO SURDO

ALMOCcedilAR COMER PEDIR CORTAR CARNE CONVERSAR

AMIGO (Figura 106)

Em Portuguecircs Grupo III - Eu fui agrave casa do meu amigo surdo

almoccedilar pedi a ele para cortar a carne e tambeacutem conversei com os

amigos surdos (Figura 106)

O Grupo I eacute o uacutenico que utiliza para o sinal de cortar CM ndash 63 um

sinal diferente dos outros grupos mas com o mesmo significado Parece

que o Grupo I foi evoluindo o sinal comeccedilou com CM diferente em

cada matildeo e por fim uma mesma CM para ambas as matildeos O Grupo II

utilizou duas CM diferentes como o Grupo I mas realizava o sinal de

duas formas diferentes CM ndash 14 ou 24 mas a mesma CM para ambas as

matildeos O Grupo III realiza o sinal somente com a CM ndash 24 em ambas as

matildeos Como se observa parece que ocorreu mudanccedila fonoloacutegica nos

trecircs grupos pesquisados

Veja na sequecircncia a mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua brasileira de

sinais

A tabela a seguir traz os sinais do item lexical PADRE

180

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Padre

(1)

Figura 107

CM ndash 62

(2)

Figura 108

CM ndash 24

(1)

Figura 110

CM ndash 11

(2)

Figura 111

CM ndash 24

Figura 113

CM - 24

181

(3)

Figura 109

CM ndash 21

(3)

Figura 112

CM ndash 21

Quadro 16 ndash Sinal de Padre

Nos trecircs grupos apareceu o sinal com CM ndash 24 matildeo na frente do

peito no espaccedilo neutro desenhando uma cruz com a matildeo (Representaccedilatildeo

icocircnica) Os Grupos I e II apresentaram o mesmo sinal CM ndash 21

produzido na base do pescoccedilo iniciando do lado esquerdo indo ateacute o

lado direito como se estivesse desenhando a gola da batina (Icocircnico) O

Grupo I apresentou um sinal diferente com CM ndash 62 matildeo na frente do

peito no espaccedilo neutro desenhando uma cruz com a matildeo O Grupo II

tambeacutem mostra um sinal uacutenico com CM ndash 11 matildeo na frente do peito no

espaccedilo neutro desenhando uma cruz com a matildeo A configuraccedilatildeo de

matildeos (CM) foi sendo alterada no espaccedilo neutro Os informantes do

Grupo I II e III (nas trecircs geraccedilotildees) apresentaram sinais que podem ser

considerados como variaccedilatildeo ou mudanccedila fonoloacutegica

Na figura 107 o sinal parece ser igual ao que um padre faz na

missa ao despedir-se dos fieacuteis e na figura 110 parece que a CM ndash 11 (P)

recebe influecircncia do oralismo Um uacutenico sinal aparece nos trecircs grupos

satildeo das figuras 108 111 e 113 sendo o uacutenico utilizado pelo Grupo III

(jovens)

Veja na sequecircncia a mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua brasileira de

sinais

Agora observe o sinal variaacutevel do item lexical TER

182

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Ter

(1)

Figura 114

CM ndash 63

(2)

Figura 115

CM ndash 08a

(1)

Figura 116

CM ndash 63

(2)

Figura 117

CM ndash 08a

Figura 118

CM ndash 08a

Quadro 17 ndash Sinal de Ter

No quadro 17 aparecem os dados apresentados pelo Grupo I dos

trecircs informantes G H e I

Em conversa natildeo filmada com o informante G ele deu a seguinte

explicaccedilatildeo para a variaccedilatildeo do item ldquoTERrdquo antigamente o professor

Francisco Lima Juacutenior usava o sinal ldquoTERrdquo fazendo a soletraccedilatildeo do

sinal depois utilizou a configuraccedilatildeo de matildeo com todos os dedos

fechados (CM ndash 63) colocados no peito em seguida outra oposiccedilatildeo

seria a matildeo e os dedos abertos tambeacutem colocados no peito (CM ndash 64)

183

Atualmente o sinal ldquoTERrdquo eacute realizado como CM - 08a tambeacutem

colocado no peito Observa-se uma mudanccedila fonoloacutegica com alteraccedilatildeo

na liacutengua de sinais ao longo de algumas deacutecadas O dedo em ldquoLrdquo (08a) eacute

batido no meio do peito com a ponta do polegar

Os Grupos I e II mostram os sinais de ter nas figuras 114 e 116

com mesma CM ndash 63 Nas figuras 115 117 e 118 os sinais satildeo

realizados com a mesma CM ndash 08a O Grupo III permanece apenas com

um sinal

Veja na sequecircncia a mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua brasileira de

sinais

Na eacutepoca em que o professor Francisco foi professor era outro

tempo na comunicaccedilatildeo em liacutengua de sinais diferentemente de hoje tal

como se observa na comunicaccedilatildeo entre as pessoas mais jovens com

contato cultural maior O professor Francisco aprendeu no RJ a escrever

com o alfabeto digital (soletraccedilatildeo) e assim ele comeccedilou a ensinar Aleacutem

de ensinar o contato do aluno surdo com a comunidade de surdos fez

com que houvesse uma troca o Sr Francisco ensinou a soletraccedilatildeo no

alfabeto digital (alfabetizaccedilatildeo em Liacutengua Portuguesa) e aprendeu sinais

familiares dos diversos surdos com quem teve contato Todos

aprenderam e isso influenciou para que ocorresse mudanccedila fonoloacutegica

Pesquisando a LIBRAS nos Grupos I II e III confirmamos portanto

algumas mudanccedilas fonoloacutegicas

65 ndash O que dizem os resultados das trecircs geraccedilotildees dos informantes

na Liacutengua Brasileira de Sinais

A comunidade surda principalmente na associaccedilatildeo de surdo de

Santa Catarina abriu espaccedilo para o encontro de surdos proporcionando

a troca de informaccedilotildees e experiecircncias na liacutengua de sinais (visuais)

promovendo eventos na aacuterea esportiva cultural poliacutetica e na educaccedilatildeo

de surdo Todos esses espaccedilos sociais devem ter contribuiacutedo para o que

esta pesquisa jaacute aponta variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica em LIBRAS

Os resultados de certos itens lexicais usados pelos grupos de

indiviacuteduos investigados apontam que os Grupos I e II se distinguem do

184

Grupo III

Os resultados mostram que com passar do tempo os sinais entre

os grupos se modificam apresentando indiacutecios de mudanccedila em tempo

aparente na liacutengua de sinais nas trecircs geraccedilotildees O grupo dos mais jovens

de 15 a 30 anos (Grupo III) diferentemente dos outros dois grupos

(Grupo I e Grupo II) apresenta um sinal para cada palavra Acreditamos

que antes havia mais sinais porque eram familiares ou caseiros os quais

foram substituiacutedos eou modificados com o contato social maior que a

comunidade surda tem nos dias atuais Acreditamos que outros sinais

estatildeo sendo criados com o passar do tempo o que pode ser fruto de um

maior contato social entre os surdos jovens

Os resultados apontam que os trecircs grupos investigados (Grupos I

II e III) usaram vaacuterios sinais idecircnticos para algumas palavras os Grupos

I e II usaram outros e os Grupos II e III usaram palavras idecircnticas em

menor nuacutemero Entretanto os Grupos I e III (dos mais velhos e dos mais

jovens) natildeo usaram nenhuma palavra comum que se distinguisse do

Grupo II Os resultados apontam portanto que na LIBRAS haacute variaccedilatildeo

lexical e fonoloacutegica

Como eacute possiacutevel perceber a partir dos resultados apresentados o

contato entre as pessoas surdas transforma a liacutengua de sinais que jaacute

apresenta indiacutecios de variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica entre diferentes

geraccedilotildees como acontece em qualquer liacutengua natural

Nota-se nas narrativas contadas que os surdos tecircm consciecircncia de

seu papel nas trecircs geraccedilotildees de informantes e reconhecem a influecircncia

exercida pelo contato com outros surdos e com os surdos mais velhos

Certamente o Grupo III seraacute disseminador de conhecimento

aumentando cada vez mais o interesse de outros surdos pela liacutengua de

sinais e com a expansatildeo de seu uso naturalmente outras mudanccedilas vatildeo

acontecer transformando mais uma vez a liacutengua de sinais Aleacutem disso

pode-se identificar nas narrativas de todos os sujeitos a total

consciecircncia das pessoas envolvidas no processo de ampliaccedilatildeo do espaccedilo

de conforto do surdo Eacute mais uma parte da histoacuteria surda que se registra

tendo como personagem principalmente a pesquisa sobre a variaccedilatildeo e a

mudanccedila linguiacutestica na liacutengua de sinais em Santa Catarina

Eacute importante registrar o momento de pouco acesso dos surdos agrave

pesquisa a respeito da liacutengua brasileira de sinais seja no domiacutenio

puacuteblico ou privado Assim julga-se necessaacuterio o desenvolvimento de

mais estudos e de um contato mais intenso de sujeitos surdos com as

reflexotildees e conhecimentos que satildeo produzidos sobre essa liacutengua

refletindo o que dizem os informantes surdos nas trecircs geraccedilotildees da liacutengua

de sinais Sabe-se que em parte isso ocorre porque eacute uma liacutengua

185

oficializada recentemente

Os estudos tecircm apontado atraveacutes de recentes pesquisas que a

liacutengua de sinais eacute a forma mais adequada de comunicaccedilatildeo para a

educaccedilatildeo do surdo tendo em vista que como as outras liacutenguas

humanas a liacutengua de sinais eacute uma liacutengua natural podendo servir de base

para o ensino da liacutengua escrita

Finalmente espero que os resultados desta pesquisa possam

motivar-me e motivar outras pessoas a aprofundar o tema aqui

pesquisado

186

187

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Concluiacutemos que eacute importante pesquisar sobre a histoacuteria na liacutengua

de sinais em Santa Catarina em encontros sociais ou nas associaccedilotildees de

surdo Aleacutem de aprender a liacutengua de sinais os surdos que fazem parte

dessas associaccedilotildees acabam criando uma identidade surda trocam

experiecircncias evoluindo na proacutepria liacutengua criando e valorizando o seu

espaccedilo linguiacutesticocultural

Na liacutengua de sinais aqui no Brasil acontece a mesma coisa que

se observa no portuguecircs quanto agraves regras da liacutengua que satildeo oficiais

para todo o Brasil mas vaacuterios sinais satildeo diferentes para expressar a

mesma coisa Podemos utilizar no sul do Brasil um sinal e outro

sinal totalmente diferente na regiatildeo sudeste com o mesmo

significado

Surdos se encontram em associaccedilotildees ou outros espaccedilos

culturais para poder conversar trocar experiecircncia e aprender sua

liacutengua mas com o ouvinte acontece diferente eles natildeo precisam de

um local para esses encontros isso acontece em seu dia-a-dia todos

se falam O surdo necessita marcar encontros com outros surdos

para que aconteccedila a comunicaccedilatildeo pois poucos ouvintes sabem se

comunicar em LIBRAS Eles vatildeo para a associaccedilatildeo de surdos

aprender LIBRAS e com o passar do tempo podem se tornar

biliacutengues

Haacute falta de pesquisa em variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica das

liacutenguas de sinais e sobre o desenvolvimento e o domiacutenio desta liacutengua

Nada foi registrado nas uacuteltimas deacutecadas e parece que muitos dados sobre

os sujeitos surdos e sua histoacuteria da liacutengua de sinais foram prejudicados e

perdidos

Na UFSC por exemplo temos no curso de LETRASLIBRAS

a distacircncia que eacute pioneiro uma vitoacuteria do surdo acessando a

primeira Universidade Brasileira que estuda a liacutengua de sinais e que

oferece oportunidade de acesso ao estudo e aprofundamento

linguiacutestico da LIBRAS aleacutem das trocas de sinais em diferentes

regiotildees do paiacutes

Temos um grupo de surdos responsaacuteveis por criar sinais novos

de acordo com as necessidades encontradas pelas comunidades

surdas para diminuir a influecircncia da Liacutengua Portuguesa na

LIBRAS e possibilitar outros contatos fora do Brasil trazendo

relatos de experiecircncias de comunidades surdas de outros paiacuteses bem

como apresentaccedilotildees de pesquisas mais avanccediladas nas liacutenguas de

sinais

188

Eacute importante reforccedilar que a LIBRAS eacute uma liacutengua natural pois

possui estrutura gramatical eacute utilizada por um grande grupo social com

funccedilatildeo ativa e provedora de opiniatildeo Este tipo de liacutengua soacute se diferencia

das liacutenguas orais pela forma de se comunicar pois esta utiliza a accedilatildeo

gestual o que difere das demais liacutenguas que utilizam a accedilatildeo oral na

comunicaccedilatildeo

As pessoas falam que na ilha de Santa Catarina o dialeto falado eacute

o manezinho que vem sofrendo modificaccedilotildees com o passar dos anos

devido ao turismo que eacute forte na temporada de veratildeo O professor

Francisco e a comunidade surda na deacutecada de 1950 usavam o sinal de

dactilologia no mesmo sentido da liacutengua nativa mas com dialeto

proacuteprio Depois outros surdos vieram para Santa Catarina e sinalizaram

diferentemente Isso mostra que nas duas liacutenguas ndash LIBRAS e Portuguecircs

ndash haacute variaccedilatildeo dialetal

Observando os trecircs grupos de surdos investigados nesta tese

podemos dizer que o Grupo I mostra o primeiro contato com a liacutengua de

sinais desenvolvida com pouco conhecimento linguiacutestico porque

adquirir a liacutengua de sinais em contexto social na eacutepoca era difiacutecil Mas

este Grupo I foi buscando surdos que participavam de associaccedilotildees que

estudavam na garagem da casa do professor Francisco e na Escola Celso

Ramos onde tinha o grupo de surdos aprendendo a liacutengua de sinais que

se modificava O Grupo III demonstrou mais qualidade na sinalizaccedilatildeo

da liacutengua de sinais e maior fluecircncia mas natildeo conhece alguns dos sinais

(antigos) realizados pelos Grupos I e II O contexto social dos Grupos

nas trecircs geraccedilotildees eacute bem diferente e a liacutengua de sinais do Grupo III (mais

jovens) apresentou menor nuacutemero de sinais que os demais grupos

Acreditamos que antes havia mais sinais porque eram familiares

Os resultados do trabalho mostraram que algumas variaccedilotildees e

mudanccedilas linguiacutesticas (variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na liacutengua de sinais e

variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua de sinais) aconteceram nos trecircs

grupos quando um mesmo sinal eacute produzido pelos diferentes grupos de

maneira diferente Alguns sinais que antigamente eram produzidos no

corpo agora acontecem no espaccedilo neutro na liacutengua de sinais Os grupos

mostraram sinais que antes eram produzidos com uma matildeo e agora satildeo

produzidos com ambas as matildeos ao mesmo tempo O Grupo I utilizava

sinalizaccedilatildeo manual sinais familiares (caseiros) ou aqueles aprendidos e

trazidos pelo professor Francisco do INES o que talvez explique o fato

de que este grupo tinha um nuacutemero maior de sinais para uma mesma

palavra

Concluiacutemos que os trecircs grupos de nove informantes nas

diferentes geraccedilotildees apresentaram sinais compartilhados e outros que se

189

transformaram com o tempo na liacutengua de sinais Cada grupo pertence a

um contexto social diferente A liacutengua de sinais transforma e desenvolve

o conhecimento caseiro bem como a troca de informaccedilotildees a

participaccedilatildeo na associaccedilatildeo de surdos e na busca de mais contato com

outros surdos Na escola o surdo conseguia aprender mais quando o

professor surdo (Francisco) ensinava na liacutengua de sinais e tambeacutem

quando proporcionava aos seus alunos um contato social que antes natildeo

existia

190

191

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WRIGLEY Owen ndash The politics of deafness Washington Gallaudet

University Press 1996

198

199

ANEXOS

Anaacutelise Comparativa dos Dados Variaccedilatildeo e Mudanccedila Linguiacutestica

Sinais

(Leacutexico)

Forma do

Sinal

(Configuraccedilatildeo

de Matildeos)

Identificaccedilatildeo

de Classe

Faixa

Etaacuteria

(Grupo)

Geraccedilatildeo

Ajudar1

CM ndash 63

Informante

H D E F A

C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Ajudar2

CM ndash 02 63

Informante

D E B

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Ajudar3

CM ndash 01 63

Informante

H I F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Ajudar4

CM ndash 14 63

Informante

I E F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Aluno1

CM ndash 01

Informante

G I A B C

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Aluno2

CM ndash 63

Informante

G H I D B

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Amanhatilde1 CM ndash 14 Informante 60 a 80 I

200

H Anos

Amanhatilde2 CM ndash 63 Informante

E

30 a 60

Anos

II

Amanhatilde3

CM ndash 35a

Informante

I A B

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Antes1 CM ndash 53a Informante

I

60 a 80

Anos

I

Antes2 CM ndash 63 Informante

I

60 a 80

Anos

I

Antes3

CM ndash 08a 63

Informante

G E F B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Aposentar1

CM ndash 02 57

Informante

G I F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Aposentar2

CM ndash 01 11

Informante

G I F C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Aposentar3 CM ndash 07 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Associaccedilatildeo1

CM ndash 01

(2 matildeos)

Informante

G I F D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Associaccedilatildeo2

CM ndash 01

(1 matildeo)

Informante

I D E F A

B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

60 a 80

201

Aula1 CM ndash 63 Informante

G H I E D

A C

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Aviatildeo1 CM ndash 53a Informante

G

60 a 80

Anos

I

Aviatildeo2 CM ndash 36 37a Informante

E F

30 a 60

Anos

II

Aviatildeo3

CM ndash 40

Informante

D E F A B

C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Avocirc1 CM ndash 30 31 Informante

G I

60 a 80

Anos

I

Avocirc2 CM ndash 02 57 Informante

H I

60 a 80

Anos

I

Avocirc3

CM ndash 02

Informante

H I D E F

A

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Azul1 CM ndash 01 Informante

G I

60 a 80

Anos

I

A-z-u-l2 CM ndash 01 08a

14 24

Informante

G I

60 a 80

Anos

I

Azul3

CM ndash 01 08a

Informante

D E F A B

C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Bairro CM ndash 14 63 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Banco1

CM ndash 61

Informante

G H I F

60 a 80 Anos

30 a 60

Anos

I II

Banco2

CM ndash 53a

Informante

60 a 80

Anos

I II III

202

G I F C 30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

Batata1 CM ndash 62 Informante

H

60 a 80

Anos

I

Batata2 CM ndash 63 Informante

H

60 a 80

Anos

I

Branco1

CM ndash 63

Informante

H I B

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Branco2 CM ndash 35a Informante

G

60 a 80

Anos

I

Cafeacute

CM ndash 49

Informante

G F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Calma1

CM ndash 63

(2 matildeos)

Informante

G H I D E

F C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Calma2

CM ndash 63

(1 matildeo)

Informante

H I E B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Cama1 CM ndash 37a Informante

G

60 a 80

Anos

I

Cama2 CM ndash 63 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Cavalo1 CM ndash 02 Informante

H

60 a 80

Anos

I

Cavalo2 CM ndash 27 Informante

H I

60 a 80

Anos

I

Chorar1 CM ndash 14 Informante

D

30 a 60

Anos

II

203

Chorar2 CM ndash 18a Informante

H I

60 a 80

Anos

I

Crianccedila1

CM ndash 63

(pequeno)

Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Crianccedila2 CM ndash 64 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Crianccedila3

CM ndash 14 63

Informante

D E A C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Crianccedila4 CM ndash 57 63 Informante

E

30 a 60

Anos

II

Cobra1 CM ndash 14 Informante

H

60 a 80

Anos

I

Cobra2

CM ndash 31

Informante

E F A B

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Conversar1

CM ndash 14

Informante

G H F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Conversar2 CM ndash 63

(2 matildeos)

Informante

G H I D E

F A

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Conversar3 CM ndash 28 Informante

D

30 a 60

Anos

II

Conversar4 CM ndash 44 Informante

D E F

30 a 60

Anos

II

Conversar5 CM ndash 21 Informante

H

60 a 80

Anos

I

Cortar1 CM ndash 14 Informante

H

60 a 80

Anos

I

204

Cortar2 CM ndash 63 Informante

H

60 a 80

Anos

I

Cortar3

CM ndash 14 24

Informante

E B

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Cultura CM - 31 Informante

A B C

15 a 30

Anos

III

Dormir1

CM ndash 63

(1 matildeos e 2

matildeos)

Informante

G H I F C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Dormir2 CM ndash 02 47 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Dormir3

CM ndash 21 24

32

Informante

G D F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Depois1 CM ndash 53a

(2 matildeos)

Informante

H I A B C

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Depois2

CM ndash 14

Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Depois3

CM ndash 53a

(1 matildeo)

Informante

G D E F A

B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Educaccedilatildeo1 CM ndash 46a Informante

H

60 a 80

Anos

I

Educaccedilatildeo2 CM ndash 45 57 Informante

G

60 a 80

Anos

I

205

Escola1

CM ndash 63

Informante

G H I D E

F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Escola2

CM ndash 63

(duas matildeos)

Informante

D E A B C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Estudar

CM ndash 63

Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Emagrecer1 CM ndash 39 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Emagrecer2 CM ndash 47 ou 57 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Engordar1 CM ndash 02 Informante

G H

60 a 80

Anos

I

Engordar2 CM ndash 47 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Engravidar1 CM ndash 14 Informante

E

30 a 60

Anos

II

Engravidar2 CM ndash 53a Informante

H

60 a 80

Anos

I

Faacutecil1 CM ndash 63 Informante

E

30 a 60

Anos

II

Faacutecil2 CM ndash 48 Informante

I

60 a 80

Anos

I

Faacutecil3 CM ndash 35a Informante

C

15 a 30

Anos

III

Faculdade1

CM ndash 54

Informante

F A C

30 a 60

Anos

15 a 30 Anos

II III

Faculdade2 CM ndash 21 Informante

I

60 a 80

Anos

I

Faculdade3 CM ndash 55 Informante

A B

15 a 30

Anos

III

206

Falar1

CM ndash 14

Informante

G H D E F

C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Falar2

CM ndash 49

Informante

H D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Falar3

CM ndash 11

(E 1 matildeo e 2

matildeos)

Informante

G H I D E

A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Falar4 CM ndash 21 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Falar5 CM ndash 44 Informante

E

30 a 60

Anos

II

Feio1

CM ndash 08a

Informante

F B

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Feio2

CM ndash 08a

Informante

D E A

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Feio3 CM ndash 07 64 Informante

G H I

60 a 80

Anos

I

Flor1 CM ndash 57 Informante

D

30 a 60

Anos

II

Flor2 CM ndash 54 Informante

I

60 a 80

Anos

I

Forte1 CM ndash 14 Informante

F

30 a 60

Anos

II

Forte2

CM ndash 02

(2 matildeos)

Informante

G H I D C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II III

207

15 a 30

Anos

Forte3 CM ndash 32

(1 matildeo)

Informante

I

60 a 80

Anos

I

Gato1

CM ndash 08b 20

Informante

G H C

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Gato2 CM ndash 59a Informante

I

60 a 80

Anos

I

Gato3 CM ndash 20 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Gostar1 CM ndash 44 Informante

E

30 a 60

Anos

II

Gostar2 CM ndash 63 Informante

E F

30 a 60

Anos

II

Homem1

CM ndash 50

Informante

G H I D F

A B

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Homem2

CM ndash 21

Informante

H I D F C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Hospital1

CM ndash 14

(1 matildeo e 2

matildeos) cruz

Informante

H I C

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Hospiatl2

CM ndash 16

Informante

D E F B C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Igreja1 CM ndash 14

(cruz)

Informante

F

30 a 60

Anos

II

Igreja2

CM ndash 14 15

Informante

60 a 80

Anos

I II III

208

H I D E F

A B C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

Igual1

CM ndash 14

Informante

G H I D E

F B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Igual2

CM ndash 14 ( )

Informante

H B

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Igual3

CM ndash 14

(mesmo)

Informante

F C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Igual4 CM ndash 24

(1 matildeo)

Informante

G I A B C

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Igual5

CM ndash 24

(2 matildeos)

Informante

I D E F A

B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Igual6 CM ndash 53a Informante

A

15 a 30

Anos

III

Igual7

CM ndash 61

Informante

I A C

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Irmatildeo1

CM ndash 14

Informante G H D F

60 a 80

Anos 30 a 60

Anos

I II

Irmatildeo2 CM ndash 24 Informante

D E F

30 a 60

Anos

II

209

Lembrar1

CM ndash 14

Informante

G H D E A

B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Lembrar2

CM ndash 32

Informante

D E F A B

C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Limpar1 CM ndash 02 Informante

H D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Limpar2

CM ndash 64

Informante

H E

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Limpar3

CM ndash 08a

Informante

H D E F A

B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Livro1 CM ndash 63

(duas matildeos)

Informante

G

60 a 80

Anos

I

Livro2

CM ndash 63 08a

Informante

H D E F A

B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Lutar1

CM ndash 08a

Informante

I A B

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Lutar2 CM ndash 02 63 Informante

I D E A B

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II III

210

15 a 30

Anos

Matildee1

CM ndash 63

Informante

H E F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Matildee2 CM ndash 02 07 Informante

A B C

15 a 30

Anos

III

Matildee3

CM ndash 14

Informante I

D B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Matildee4 CM ndash 63

(m)

Informante

G

60 a 80

Anos

I

Matildee5

CM ndash 02

Informante

I D F A

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

M-atilde-e6 CM ndash 01 06

60

Informante

F

30 a 60

Anos

II

Matildee7 CM ndash 02 Informante

F

30 a 60

Anos

II

Mais1

CM ndash 63

Informante

G I E A B

C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Mais2

CM ndash 63

(2 matildeos)

Informante

I D E A

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos 15 a 30

Anos

I II III

Mais3 CM ndash 08a Informante

G I E F

60 a 80

Anos

I II

211

30 a 60

Anos

Mais4

CM ndash 14

Informante

I E C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Matemaacutetica1

CM ndash 02

Informante

G H I D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Matemaacutetica2

CM ndash 58

Informante

G H I F C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Meacutedico1

CM ndash 44

Informante

G F B

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Meacutedico2

CM ndash 16

Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Medo1

CM ndash 34 64

Informante

H D F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

III

Medo2 CM ndash 02 Informante

E F

30 a 60

Anos

II

Medo3 CM ndash 33 Informante

F

30 a 60

Anos

II

Melhor1

CM ndash 45

Informante

G H I E

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

212

Melhor2

CM ndash 07

Informante

H I E A B

C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Melhor3

CM ndash 63

Informante

H A C

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Morrer1 CM ndash 63 63

(2 matildeos)

Informante

H

60 a 80

Anos

I

Morrer2

CM ndash 63

Informante

H I D E F

C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Mudar1

CM ndash 07

Informante

G H E A B

C

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

30 a 60

Anos

I II III

Mudar2 CM ndash 44

(1 matildeo e 2

matildeos)

Informante

H I E F B

C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Mulher1 CM ndash 07

(menina) (oral)

Informante

H

60 a 80

Anos

I

Mulher2

CM ndash 07 63

Informante

H D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Mulher3

CM ndash 07

Informante

G I D E F

B

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II III

213

15 a 30

Anos

Noite1

CM ndash 57 44

Informante

G D F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Noite2

CM ndash 53

Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Nome1

CM ndash 21

Informante

G H I A

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Nome2

CM ndash 24

Informante

G H I D E

F A C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Noacutes1

CM ndash 14

Informante

G D E F C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Noacutes2

CM ndash 14

Informante

E A

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

N-u-n1

CM ndash 24

Informante

I D E

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

N-u-n-c-a2

CM ndash 01 24

51a

Informante

I D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

214

Nunca3

CM ndash 14

(2 matildeos)

Informante

I D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Objetivo1 CM ndash 42 58 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Objetivo2 CM ndash 14 Informante

B

15 a 30

Anos

III

Ocircnibus1 CM ndash 07 Informante

F

30 a 60

Anos

II

Ocircnibus2 CM ndash 31 Informante

I B

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Ovo1 CM ndash 44 57 Informante

I

60 a 80

Anos

I

O-v-o2 CM ndash 42 32 Informante

G H

60 a 80

Anos

I

Padre1 CM ndash 11 Informante

G

30 a 60

Anos

II

Padre2

CM ndash 21

Informante

G H D F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Padre3

CM ndash 24

Informante

I F C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

P-a-i1

CM ndash 01 11

38

Informante

G H I D E

F A

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Pai2

CM ndash 11 (p)

Informante

G H F C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II III

215

15 a 30

Anos

Pai3 CM ndash 14 Informante

G H I

60 a 80

Anos

I

Pai4

CM ndash 16

Informante

I F B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Pai5

CM ndash 02 45

Informante

E A B C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Patildeo1 CM ndash 02 47

57

Informante

H

60 a 80

Anos

I

Patildeo2 CM ndash 63 Informante

H

60 a 80

Anos

I

Patildeo3

CM ndash 01

Informante

I F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Peixe1 CM ndash 16 Informante

G I

60 a 80

Anos

I

Peixe2

CM ndash 63

Informante

I F A

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Pessoa1

CM ndash 11

Informante

G I C

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Pessoa2

CM ndash 35a

Informante

I D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Pessoa3

CM ndash 18a

Informante

F A C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

216

Pode-Natildeo1 CM ndash 14

(2 matildeos)

Informante

D E

30 a 60

Anos

II

Pode-Natildeo2 CM ndash 14

(1 matildeo)

Informante

F

30 a 60

Anos

II

Poliacutetica1 CM ndash 11 51a Informante

G I

60 a 80

Anos

I

Poliacutetica2

CM ndash 11

Informante

I E B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Poliacutetica3 CM ndash 14 Informante

D E

30 a 60

Anos

II

Porque1

CM ndash 15

Informante

G H I D F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Porque2 CM ndash 14 Informante

G H I E F

A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Povo1 CM ndash 02 64 Informante

G I

60 a 80

Anos

I

Povo2 CM ndash 11 Informante

I

60 a 80

Anos

I

P-o-v-o3 CM ndash 11 32

42

Informante

I

60 a 80

Anos

I

Preto1

CM ndash 05

Informante

G H I F B

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Preto2 CM ndash 34 62 Informante

G H I

60 a 80

Anos

I

Primeiro1

CM ndash 07 14

Informante

60 a 80

Anos

I II III

217

G I E F C 30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

Primeiro2

CM ndash 14

Informante

H F C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Primeiro3 CM ndash 14

(duas matildeos)

Informante

D

30 a 60

Anos

II

Primeiro4

CM ndash 07

Informante

F E C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Profissional

1

CM ndash 11 Informante

I

60 a 80

Anos

I

Profissional

2

CM ndash 63 Informante

C

15 a 30

Anos

III

Prova1 CM ndash 63 Informante

E

30 a 60

Anos

II

Prova2

CM ndash 53a

(duas matildeos)

Informante

E F A B C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Respeitar1 CM ndash 53a Informante

D E

30 a 60

Anos

II

Respeitar2 CM ndash 25 Informante

E F

30 a 60

Anos

II

Responsaacutevel

1

CM ndash 25

Informante

I D E B

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Responsaacutevel

2

CM ndash 25

(duas matildeos)

Informante

I D E F A

B

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II III

218

15 a 30

Anos

Responsaacutevel

3

CM ndash 63

(duas matildeos)

Informante

G I

60 a 80

Anos

I

Reuniatildeo1 CM ndash 15 Informante

D

30 a 60

Anos

II

Reuniatildeo2

CM ndash 25

Informante

D E A

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Reuniatildeo3 CM ndash 14 Informante

G H D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Saber1

CM ndash 63

Informante

D B C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Saber2

CM ndash 14

Informante

G H I D E

F A C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Saber3

CM ndash 44 53a

Informante

G H I F A

B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Saber4

CM ndash 11

Informante

E F C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Semana1 CM ndash 10 Informante

D E

30 a 60

Anos

II

Semana2 CM ndash 10 Informante

B

15 a 30

Anos

III

Semana3 CM ndash 08a 64 Informante

I

60 a 80

Anos

I

219

Sim1

CM ndash 02

Informante

H D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

S-i-m2 CM ndash 02 38

60

Informante

H I

60 a 80

Anos

I

Sim3 CM ndash 59a 63 Informante

G H

60 a 80

Anos

I

Surdo1

CM ndash 14

Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Surdo2

CM ndash 25

Informante

G I D E B

C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Tambeacutem1

CM ndash 61

Informante

G H I D E

A

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Tambeacutem2

CM ndash 14

Informante

G H I D E

F B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Tarde1 CM ndash 63 Informante

G H I

60 a 80

Anos

I

Tarde2 CM ndash 44 47

63

Informante

H

60 a 80

Anos

I

Tarde3 CM ndash 63 Informante

G H

60 a 80

Anos

I

Teatro1 CM ndash 57 Informante

I

60 a 80

Anos

I

220

Teatro2 CM ndash 49 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Tempo1

CM ndash 14

Informante

H I D E A

B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Tempo2

CM ndash 57

Informante

H I D E

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Tempo3

CM ndash 63

Informante

G I D E C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Tempo4

CM ndash 45

Informante

G D E F A

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Ter1

CM ndash 63 64

Informante

G H I D F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Ter2

CM ndash 08a

Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Tio1

CM ndash 56

Informante

H F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Tio2

CM ndash 51b

Informante

30 a 60

Anos

II III

221

D E F A B

C

15 a 30

Anos

Trabalhar1

CM ndash 08a

Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Trabalhar2

CM ndash 14

Informante

H I F A

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Trabalhar3 CM ndash 24 Informante

I

60 a 80

Anos

I

Tudo CM ndash 63

(duas matildeos)

Informante

F

30 a 60

Anos

II

Vagabundo1 CM ndash 63 Informante

E

30 a 60

Anos

II

Vagabundo2 CM ndash 64 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Ver1 CM ndash 14 Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Ver2

CM ndash 32

Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Ver3

CM ndash 64

Informante D E B C

30 a 60

Anos 15 a 30

Anos

II III

Vergonha1

CM ndash 64

Informante

60 a 80

Anos

I II

222

I E 30 a 60

Anos

Vergonha2 CM ndash 11 Informante

E

30 a 60

Anos

II

Vermelho1 CM ndash 32 Informante

G H I

60 a 80

Anos

I

Vermelho2 CM ndash 14 Informante

G H I

60 a 80

Anos

I

Viajar1 CM ndash 63 Informante

D E F

30 a 60

Anos

II

Viajar2 CM ndash 45 Informante

F

30 a 60

Anos

II

WC CM ndash 48 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Palavras no total 255 sinais lexicais

Palavra Ajudar 4 Sinais Palavra Mais 4 Sinais

Palavra Aluno 2 Sinais Palavra Matemaacutetica 2 Sinais

Palavra Amanhatilde 3 Sinais Palavra Meacutedico 2 Sinais

Palavra Antes 3 Sinais Palavra Medo 3 Sinais

palavra Aposentar 3 Sinais Palavra Melhor 3 Sinais

Palavra Associaccedilatildeo 2 Sinais Palavra Morrer 2 Sinais

Palavra Aula 1 Sinal Palavra Mudar 2 Sinais

Palavra Aviatildeo 3 Sinais Palavra Mulher 3 Sinais

Palavra Avocirc 3 Sinais Palavra Noite 2 Sinais

Palavra Azul 3 Sinais Palavra Nome 2 Sinais

Palavra Bairro 1 Sinal Palavra Noacutes 2 Sinais

Palavra Banco 2 Sinais Palavra Nunca 3 Sinais

Palavra Batata 2 Sinais Palavra Objetivo 2 Sinais

Palavra Branco 2 Sinais Palavra Ocircnibus 2 Sinais

Palavra Cafeacute 1 Sinal Palavra Ovo 2 Sinais

Palavra Calma 2 Sinais Palavra Padre 3 Sinais

Palavra Cama 2 Sinais Palavra Pai 5 Sinais

Palavra Cavalo 2 Sinais Palavra Patildeo 3 Sinais

Palavra Chorar 2 Sinais Palavra Peixe 2 Sinais

Palavra Crianccedila 4 Sinais Palavra Pessoa 3 Sinais

Palavra Cobra 2 Sinais Palavra Pode-natildeo 2 Sinais

Palavra Conversar 5 Sinais Palavra Poliacutetica 3 Sinais

Palavra Cortar 3 Sinais Palavra Porque 2 Sinais

223

Palavra Cultura 1 Sinal Palavra Povo 3 Sinais

Palavra Dormir 3 Sinais Palavra Preto 2 Sinais

Palavra Depois 3 Sinais Palavra Primeiro 4 Sinais

Palavra Educaccedilatildeo 2 Sinais Palavra Profissional 2 Sinais

Palavra Escola 2 Sinais Palavra Prova 2 Sinais

Palavra Estudar 1 Sinal Palavra Respeitar 2 Sinais

Palavra Emagrecer 2 Sinais Palavra Responsaacutevel 3 Sinais

Palavra Engordar 2 Sinais Palavra Reuniatildeo 3 Sinais

Palavra Engravidar 2 Sinais Palavra Saber 4 Sinais

Palavra Faacutecil 3 Sinais Palavra Semana 3 Sinais

Palavra Faculdade 3 Sinais Palavra Sim 3 Sinais

Palavra Falar 5 Sinais Palavra Surdo 2 Sinais

Palavra Feio 3 Sinais Palavra Tambeacutem 2 Sinais

Palavra Flor 2 Sinais Palavra Tarde 3 Sinais

Palavra Forte 3 Sinais Palavra Teatro 2 Sinais

Palavra Gato 3 Sinais Palavra Tempo 4 Sinais

Palavra Gostar 2 Sinais Palavra Ter 2 Sinais

Palavra Homem 2 Sinais Palavra Tio 2 Sinais

Palavra Hospital 2 Sinais Palavra Trabalhar 3 Sinais

Palavra Igreja 2 Sinais Palavra Tudo 1 Sinal

Palavra Igual 7 Sinais Palavra Vagabundo 2 Sinais

Palavra Irmatildeo 2 Sinais Palavra Ver 3 Sinais

Palavra Lembrar 2 Sinais Palavra Vergonha 2 Sinais

Palavra Limpar 3 Sinais Palavra Vermelho 2 Sinais

Palavra Livro 2 Sinais Palavra Viajar 2 Sinais

Palavra Lutar 2 Sinais Palavra WC 1 Sinal

Palavra Matildee 7 Sinais

224

225

AS CONFIGURACcedilOtildeES DE MAtildeOS

Cm 01

Cm 02

Cm 03

Cm 04

Cm 05

Cm 06

Cm 07

Cm 08a

Cm 08b

Cm 09

Cm 10

Cm 11

Cm 12

Cm 13

Cm 14

Cm 15

Cm 16

Cm 17

Cm 18a

Cm 18b

Cm 19

Cm 20

Cm 21

Cm 22a

Cm 22b

Cm 23

Cm 24

Cm 25

Cm 26

Cm 27

226

Cm 28

Cm 29a

Cm 29b

Cm 30

Cm 31

Cm 32

Cm 33

Cm 34

Cm 35a

Cm 35b

Cm 36

Cm 37a

Cm 37b

Cm 38

Cm 39

Cm 40

Cm 41

Cm 42

Cm 43

Cm 44

Cm 45

Cm 46a

Cm 46b

Cm 47

Cm 48

Cm 49

Cm 50

Cm 51a

Cm 51b

Cm 52

Cm 53a

Cm 53b

Cm 54

Cm 55

Cm 56

227

Cm 57

Cm 58

Cm 59a

Cm 60

Cm 61

Cm 62

Cm 63

Cm 64

228

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA · 2016. 3. 5. · período já referido. A partir da teoria laboviana, analisam-se certos padrões sociolinguísticos verificados nesta pesquisa

A HISTOacuteRIA DA LIacuteNGUA DE SINAIS EM SANTA CATARINA

Contextos soacutecio-histoacutericos e sociolinguiacutesticos de surdos de 1946 a 2010

Orientadora Profordf Dra Izete Lehmkuhl Coelho

Coorientador Prof Dr Tarciacutesio de Arantes Leite

Banca Examinadora

Profordf Dra Fabiacuteola Sucupira Ferreira Sell ndash UDESC (Membro Externo)

Profordf Dra Lodenir Becker Karnopp ndash UFRGS (Membro Externo)

Profordf Dra Ronice Muller de Quadros ndash UFSC (Membro Interno)

Profordf Dra Edair Maria Goumlrski ndash UFSC (Membro Interno)

Profordf Dra Karin Liacutelian Strobel ndash UFSC (Membro Interno)

Profordf Dra Aline Lemos Pizzio ndash UFSC (Membro Suplente Interno)

Profordf Dra Sueli Costa ndash IFSC (Membro Suplente Externo)

Florianoacutepolis 2013

ldquoOs procedimentos da linguiacutestica descritiva se

baseiam no entendimento de que a liacutengua eacute um

conjunto estruturado de normas sociais No

passado foi uacutetil considerar que tais normas eram

invariantes e compartilhadas por todos os

membros da comunidade linguiacutestica Todavia as

anaacutelises do contexto social em que a liacutengua eacute

utilizada vieram demonstrar que muitos

elementos da estrutura linguiacutestica estatildeo

implicados na variaccedilatildeo sistemaacutetica que reflete

tanto a mudanccedila no tempo quanto os processos

sociais extralinguumliacutesticosrdquo (LABOV 1968 p

241)

ldquoQuando eu aceito a liacutengua de outra pessoa eu

aceitei a pessoa Quando eu rejeito a liacutengua eu

rejeitei a pessoa porque a liacutengua eacute parte de noacutes

mesmos Quando eu aceito a Liacutengua de Sinais

eu aceito o surdo e eacute importante ter sempre em

mente que o surdo tem o direito de ser surdo

Devemos ensinaacute-los ajudaacute-los mas temos que

permitir-lhe ser surdordquo (TERJE BASILIER

psiquiatra norueguecircs)

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais por terem me acompanhado e me dado forccedila para

essa caminhada

A minha amada esposa por ter paciecircncia comigo durante todos

esses anos

Aos meus filhos Eduardo Espiacutendola Schmitt e Mocircnica Espiacutendola

Schmitt que sofreu juntamente com minha esposa cuidando dele nas

cansativas muito correria de trabalho por motivo de paciecircncia comigo

durante do estudo e trabalho

Ao Sr Francisco Lima Juacutenior guerreiro no movimento de surdos

pela primeira escola e associaccedilatildeo que marca o registro histoacuterico na

liacutengua de sinais sofreram a mudanccedila o tempo em Santa Catarina

A Associaccedilatildeo de Surdos da Grande Florianoacutepolis Sociedade de

Surdos de Satildeo Joseacute Universidade Federal de Santa Catarina

Universidade do Estado de Santa Catarina Grupo de Estudos Surdos e

Comunidade Surda pelo seu apoio

Agrave professora Dra Izete Lehmkul Coelho (UFSC) pela sua

orientaccedilatildeo de pesquisa na aacuterea em sociolinguiacutestica e me dava a

disciplina no estudo referecircncia teoacuterico

Ao meu co-orientador Dr Tarciacutesio de Arantes Leite pela sua

orientaccedilatildeo muito detalhe no estudo as liacutenguas de sinais

Aos colegas de LetrasLIBRAS pelo incentivo e forccedila de vontade

no compartilhamento das experiecircncias no estudo linguiacutestico dos surdos

A Dra Ronice Muller de Quadros abriu a oportunidade de espaccedilo

acadecircmico na liacutengua de sinais na Universidade Federal de Santa

Catarina ndash UFSC

A Prof Dra Edair Maria Goumlrski convidado especial na disciplina

sociolinguiacutestica na banca de examinadora e antes tambeacutem esteve na

minha qualificaccedilatildeo em 2012

Aos colegas surdos na faixa etaacuteria que compartilharam comigo

durante as entrevistas de gravaccedilotildees sobre a histoacuteria de surdos em Santa

Catarina

A CAPES e REUNI pelo fornecimento de bolsa no programa de

poacutes-graduaccedilatildeo - PGL oferecendo-me a oportunidade de desenvolver

meu estudo e pesquisa

Convidado especial nas bancas de examinadoras Fabiacuteola Sucupira

Ferreira Sell Karin Liacutelian Strobel e Lodenir Becker Karnopp membro e

suplente Aline Lemos Pizzio e Suelli Costa

Aacutes colegas Edgar Correa Veras Nataacutelia Schleder Rigo e Tiago

Coimbra Nogueira que me interpretaram na banca de qualificaccedilatildeo em

2012 Daniela Bieleski Diego Mauricio Barbosa e Gisele Iandra Pessini

Anater que me interpretaram na banca avaliaccedilatildeo de defesa

A Maria Eloiza de Macedo por nos ajudar com discussotildees na

revisatildeo e pela paciecircncia e comprometimento e

Apoio a ediccedilatildeo de filmagem satildeo Marcos Luchi Joatildeo Paulo

Ampessan e Marcos Alexandre Marquioto

RESUMO

Esta pesquisa visa identificar possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas

linguiacutesticas ocorridas na Liacutengua Brasileira de Sinais (LIBRAS) no periacuteodo

histoacuterico de 1946 a 2010 analisando narrativas filmadas de trecircs geraccedilotildees de

sujeitos surdos usuaacuterios dessa liacutengua O Grupo I eacute formado por indiviacuteduos

com mais de 60 anos o Grupo II por indiviacuteduos de 30 a 60 anos o Grupo

III eacute formado por indiviacuteduos de 15 a 30 anos Na primeira parte do trabalho

apresentamos uma revisatildeo de base teoacuterico-metodoloacutegica fundamentada nos

estudos de Labov (2008 [1972]) sobre mudanccedilas linguiacutesticas no contexto

social observadas em tempo aparente na ilha de Martha‟s Vineyard e em

Nova York A concepccedilatildeo da variaccedilatildeo sociolinguiacutestica pode nos ajudar nesta

investigaccedilatildeo que versa sobre a histoacuteria da LIBRAS em Santa Catarina no

periacuteodo jaacute referido A partir da teoria laboviana analisam-se certos padrotildees

sociolinguiacutesticos verificados nesta pesquisa Considera-se o fato de apenas

uma pessoa ter influenciado toda uma comunidade de surdos em Santa

Catarina o professor Francisco Lima Juacutenior que veio do Rio de Janeiro

para Florianoacutepolis em 1946 Baseando-nos nesta data escolhemos o periacuteodo

acima citado para traccedilar um percurso de possiacuteveis transformaccedilotildees

linguiacutesticas de natureza interna e externa ocorridas na LIBRAS em Santa

Catarina Os resultados desta pesquisa apontam que haacute variaccedilatildeo e mudanccedila

em tempo aparente na LIBRAS relacionando o contexto linguiacutestico atual

dos jovens (Grupo III) a transformaccedilotildees histoacutericas e sociais observadas na

comunidade surda em Santa Catarina

Palavras-chave Histoacuteria da LIBRAS sociolinguiacutestica soacutecio-histoacuterico

variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas

ABSTRACT

This research aims to identify eventual linguistic variations and

changes in Brazilian Sign Language (LIBRAS) in the period from 1946 to

2010 through the analysis of the filmed narratives of three generations of

deaf people users of that language Group I is formed by individuals over

60 years-old Group II by individuals between 30 and 60 years-old and

Group III individuals between 15 and 30 years-old In the first part of this

research we present a theoretical-methodological review based on the

studies of Labov (2008 [1972]) about the social context of changes

observed in apparent time in Martha‟s Vineyard and in New York City We

believe the theory of language variation and change can help us in this

research which deals with the history of LIBRAS in Santa Catarina in the

period mentioned above Based on Labov‟s theory we analize certain

sociolinguistic patterns that were verified in this research We consider the

fact that only one person had influence on a whole deaf community in its

linguistic development teacher Francisco Lima Juacutenior who came from Rio

de Janeiro to Florianoacutepolis in 1946 Considering this date we chose the

period from 1946 to 2010 to trace back the path of eventual linguistic

transformations both internal and external in LIBRAS in Santa Catarina

We expect that in the outcome of this research there is variation and change

in apparent time of LIBRAS relating the present context linguistic to youth

(Group III) to the historical and social transformations observed the deaf

community in Santa Catarina

Keywords History of LIBRAS sociolinguistics sociohistory language

variation and change

RESUMEN

El objetivo de esta investigacioacuten es identificar posibles variaciones y

cambios linguiacutesticos ocurridos en la Lengua Brasilentildea de Sentildeales

(LIBRAS) en el periodo comprendido entre 1946 y 2010 analizando

narrativas grabadas de tres generaciones de individuos sordos usuarios de

esa lengua El Grupo I esta formado por individuos con maacutes de 60 antildeos el

Grupo II por individuos de 30 a 60 antildeos el Grupo III es formado por

individuos de 15 a 30 antildeos Se presenta en la primera etapa de la

investigacioacuten un repaso teoacuterico-metodoloacutegico fundamentado en los estudios

de Labov (2008 [1972]) acerca de cambios linguiacutesticos en el contexto

social observados en tiempo aparente en la Isla de Martha‟s Vineyard y en

Nueva York La concepcioacuten de la variacioacuten sociolinguiacutestica nos puede

ayudar en este estudio el cual trata de la historia de la LIBRAS en Santa

Catarina en el periodo mencionado A partir de la teoriacutea laboviana se

analizan ciertos patrones sociolinguiacutesticos verificados en esta investigacioacuten

Se considera el hecho de solo una persona haber influenciado toda la

comunidad de sordos en Santa Catarina el profesor Francisco Lima Juacutenior

que partioacute del Rio de Janeiro para Florianoacutepolis en el antildeo de 1946 Con base

en esta fecha elegimos el periodo antes mencionado para disentildear una

trayectoria de las posibles transformaciones linguiacutesticas de caraacutecter interno

y externo ocurridas en la lengua de sentildeales en Santa Catarina Se espera que

los resultados de esta investigacioacuten indiquen que existe una variacion y

cambio en el tiempo aparente en LIBRAS relacionando el contexto

linguiacutesticas actual a joacutevenes (Grupo III) las transformaciones historicas y

sociales observados la comunidad sorda de Santa Catarina

Palabras-clave Historia de la LIBRAS sociolinguiacutestica sociohistorio

variacioacuten y cambio linguiacutesticos

LISTA DE ABREVIATURAS

ACT ndash Admissatildeo em Caraacuteter Temporaacuterio

ASL ndash Liacutengua de Sinais Americana

ASURJ ndash Associaccedilatildeo dos Surdos de Rio de Janeiro

BESC ndash Banco do Estado de Santa Catarina

BSL ndash Liacutengua de Sinais Britacircnica

CAPES ndash Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel

Superior

CELESC ndash Centrais Eleacutetricas de Santa Catarina SA

CSMSC ndash Ciacuterculo de Surdos-Mudos de Santa Catarina

FCEE ndash Fundaccedilatildeo Catarinense de Educaccedilatildeo Especial

FENEIS ndash Federaccedilatildeo Nacional de Educaccedilatildeo e Integraccedilatildeo dos Surdos

FUTSAL ndash Futebol de Salatildeo

IATEL ndash Instituto de Audiccedilatildeo e Terapia da Linguagem

INES ndash Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos

INSM ndash Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos-Mudos

IPS ndash Instituto Paulista de Surdos

LIBRAS ndash Liacutengua Brasileira de Sinais

LSB ndash Liacutengua de Sinais Brasileiras

LSF ndash Liacutengua de Sinais Francesa

MEC ndash Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

NEESPI ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo Especial e Inclusiva

PGL ndash Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica

REUNI ndash Programa de Apoio a Planos de Reestruturaccedilatildeo e Expansatildeo

das Universidades Federais Brasileiras

UFSC ndash Universidade Federal de Santa Catarina

UNIVALI ndash Universidade do Vale do Itajaiacute

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 ndash Sinal de Matildee35

Figura 02 ndash Sinal de Matildee37

Figura 03 ndash Retirado do livro de GROCE Nora Ellen Everyone Here

Spoke Sign Language Hereditary Deafness on Martha‟s Vineyard

Printed in the United States of America 195244

Figura 04 ndash Retirado do livro de LABOV Willian Padrotildees

Sociolinguiacutesticos45

Figura 05 ndash Retirado no site

httpcawikipediaorgwikiMartha27s_Vineyard45

Figura 06 ndash O trapezoacuteide das vogais a flecha indica a direccedilatildeo de

movimento do primeiro elemento de (aw)62

Figura 07 ndash Sinal de Porco67

Figura 08 ndash Abade L‟Epeacutee ensinando os surdos na liacutengua de sinais

francesa72

Figura 09 ndash Acervo na Revista da FENEIS81

Figura 10 ndash Acervo de Ana Regina e Souza Campello ndash UFSC83

Figura 11 ndash Acervo da Heloise Gripp Diniz ndash UFSC 0184

Figura 12 ndash Acervo da Heloise Gripp Diniz ndash UFSC 0284

Figura 13 ndash Acervo do Francisco - eacute o primeiro dicionaacuterio na liacutengua de

sinais em Santa Catarina em 194793

Figura 14 ndash Acervo do Profdeg Francisco - fotografia de Jornal que traz

reportagem sobre o livro ldquoLinguagem das Matildeosrdquo96

Figura 15 ndash Mostrar os Sinais106

Figura 16 ndash Variaccedilatildeo Fonoloacutegica108

Figura 17 ndash Mostrar os sinais com uma matildeo e com duas matildeos108

Figura 18 ndash Sinal de Paacutessaro110

Figura 19 e 20 ndash Ferreira-Brito e Langevin112

Figura 21 ndash httpwwwinesgovbrlibrasprincipalaspASSU_id=3112

Figura 22 ndash Quadro de CMs da LSB por Pimenta e Quadros112

Figura 23 ndash Sinal - ldquoCultura em SCrdquo115

Figura 24 ndash Sinal - ldquoCultura em SPrdquo115

Figura 25 ndash Sinal - ldquoCultura em RJrdquo115

Figura 26 ndash Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo ndash Depto Educaccedilatildeo

Especial ndash CuritibaPR SEEDSUEDDEE117

Figura 27 ndash Sinal de Ajudar118

Figura 28 ndash Sinal de Faltar119

Figura 29 ndash Sinal de Ocircnibus119

Figura 30 ndash Sinal de Sonhar119

Figura 31 CM ndash 01 11154

Figura 32 CM ndash 02 57154

Figura 33 CM ndash 07155

Figura 34 CM ndash 01 11154

Figura 35 CM ndash 02 57154

Figura 36 CM ndash 01 11154

Figura 37 CM ndash 53a156

Figura 38 CM ndash 36156

Figura 39 CM ndash 37a156

Figura 40 CM ndash 40156

Figura 41 CM ndash 40156

Figura 42 CM ndash 02157

Figura 43 CM ndash 14158

Figura 44 CM ndash 63158

Figura 45 CM ndash 02157

Figura 46 CM ndash 14158

Figura 47 CM ndash 63158

Figura 48 CM ndash 02 07157

Figura 49 CM ndash 14158

Figura 50 CM ndash 11159

Figura 51 CM ndash 14160

Figura 52 CM ndash 16160

Figura 53 CM ndash 16159

Figura 54 CM ndash 02 45160

Figura 55 CM ndash 11 38159

Figura 56 CM ndash 16160

Figura 57 CM ndash 02 45160

Figura 58 CM ndash 11 51a162

Figura 59 CM ndash 11162

Figura 60 CM ndash 14162

Figura 61 CM ndash 11162

Figura 62 CM ndash 34 62163

Figura 63 CM ndash 05163

Figura 64 CM ndash 05163

Figura 65 CM ndash 05163

Figura 66 CM ndash 14164

Figura 67 CM ndash 25164

Figura 68 CM ndash 14164

Figura 69 CM ndash 15165

Figura 70 CM ndash 25164

Figura 71 CM ndash 08a 64166

Figura 72 CM ndash 10166

Figura 73 CM ndash 10166

Figura 74 CM ndash 10166

Figura 75 CM ndash 53a168

Figura 76 CM ndash 61168

Figura 77 CM ndash 53a168

Figura 78 CM ndash 61168

Figura 79 CM ndash 53a168

Figura 80 CM ndash 07 64169

Figura 81 CM ndash 08a169

Figura 82 CM ndash 08a169

Figura 83 CM ndash 16170

Figura 84 CM ndash 44170

Figura 85 CM ndash 16170

Figura 86 CM ndash 44170

Figura 87 CM ndash 16170

Figura 88 CM ndash 21171

Figura 89 CM ndash 24171

Figura 90 CM ndash 24171

Figura 91 CM ndash 24171

Figura 92 CM ndash 14172

Figura 93 CM ndash 15173

Figura 94 CM ndash 14172

Figura 95 CM ndash 15173

Figura 96 CM ndash 14172

Figura 97 CM ndash 53a 63175

Figura 98 CM ndash 08a175

Figura 99 CM ndash 08a175

Figura 100 CM ndash 08a175

Figura 101 CM ndash 63177

Figura 102 CM ndash 14 24177

Figura 103 CM ndash 14177

Figura 104 CM ndash 14177

Figura 105 CM ndash 24177

Figura 106 CM ndash 24177

Figura 107 CM ndash 62180

Figura 108 CM ndash 24180

Figura 109 CM ndash 21181

Figura 110 CM ndash 11180

Figura 111 CM ndash 24180

Figura 112 CM ndash 21181

Figura 113 CM ndash 24180

Figura 114 CM ndash 63182

Figura 115 CM ndash 08a182

Figura 116 CM ndash 63182

Figura 117 CM ndash 08a182

Figura 118 CM ndash 08a182

LISTA DE QUADROS

Quadro 01 Sinal de Aposentar155

Quadro 02 Sinal de Aviatildeo156

Quadro 03 Sinal de Matildee158

Quadro 04 Sinal de Pai160

Quadro 05 Sinal de Poliacutetica162

Quadro 06 Sinal de Preto163

Quadro 07 Sinal de Reuniatildeo165

Quadro 08 Sinal de Semana166

Quadro 09 Sinal de Banco168

Quadro 10 Sinal de Feio169

Quadro 11 Sinal de Meacutedico170

Quadro 12 Sinal de Nome171

Quadro 13 Sinal de Porque173

Quadro 14 Sinal de Antes175

Quadro 15 Sinal de Cortar177

Quadro 16 Sinal de Padre181

Quadro 17 Sinal de Ter182

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 Centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por grupos

ocupacionais51

Tabela 02 Centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por faixa etaacuteria51

Tabela 03 Distribuiccedilatildeo geograacutefica da centralizaccedilatildeo53

Tabela 04 Cruzamento de fatores 6 falantes com o maior grau de

centralizaccedilatildeo55

Tabela 05 Centralizaccedilatildeo por grupos eacutetnicos56

Tabela 06 Centralizaccedilatildeo e atitude com relaccedilatildeo a Martha‟s Vineyard58

Tabela 07 A escala em tempo aparente eacute chamada de ldquogradaccedilatildeo

etaacuteriardquo61

Tabela 08 Mudanccedila de (aw) e (ay) em tempo aparente atraveacutes de duas

geraccedilotildees em Martha‟s Vineyard62

Tabela 09 Preliminar dos dados ndash variaccedilotildees ou mudanccedilas

linguiacutesticas151

SUMAacuteRIO

Introduzindo a pesquisa na liacutengua de sinais25 CAPIacuteTULO I ndash Delimitaccedilatildeo do objeto de pesquisa31

11 Introduccedilatildeo31

12 Mudanccedilas histoacutericas na LIBRAS e variaccedilotildees linguiacutesticas de

1946 a 2010 em Santa Catarina31

13 Objetivo Geral33

14 Objetivos especiacuteficos33

15 Questotildees e Hipoacuteteses de pesquisa na liacutengua de sinais37

CAPIacuteTULO II ndash Pressupostos teoacuterico-metodoloacutegicos da sociolinguiacutestica

laboviana39

21 Introduccedilatildeo39

22 A liacutengua em seu contexto social40

221 LABOV pesquisador pioneiro em sociolinguiacutestica40

222 A Ilha de Martha‟s Vineyard42

223 Seleccedilatildeo da variaacutevel linguiacutestica47

224 Distribuiccedilatildeo por idade e tempo50

225 Uma explicaccedilatildeo possiacutevel para o aumento da centralizaccedilatildeo52

226 A interaccedilatildeo de padrotildees linguiacutesticos e sociais54

23 Os princiacutepios da mudanccedila linguiacutestica59

231 A idade e a variaccedilatildeo estaacutevel60

232 A idade e a mudanccedila linguiacutestica61

233 Aplicando os conhecimentos da sociolinguiacutestica64

CAPIacuteTULO III ndash A histoacuteria social da liacutengua69

31 Introduccedilatildeo69

32 Charles Michel de LEpeacutee - Instituto Nacional de Surdos-Mudos

em Paris69

33 Eacutedouard Huet ndash Instituto Nacional Educaccedilatildeo de Surdos

(INESRJ)74

34 Francisco Lima Juacutenior - O Primeiro Professor Surdo na liacutengua

de sinais em Santa Catarina87

CAPIacuteTULO IV ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila na liacutengua de sinais101

41 Introduccedilatildeo101

42 A liacutengua de sinais pelo surdo indiacutecios de variaccedilatildeo e mudanccedila

linguiacutestica101

43 As variaccedilotildees linguiacutesticas na liacutengua de sinais116

44 O surdo se comunica a liacutengua de sinais no contexto social118

CAPIacuteTULO V ndash Metodologia121

51 Introduccedilatildeo121

52 A coleta de dados123

53 O meacutetodo de entrevista sociolinguiacutestica a coleta de narrativas

de experiecircncia pessoal124

54 A transcriccedilatildeo de dados dos trecircs grupos compostos de

informantes surdos na liacutengua de sinais126

55 Informantes do grupo surdo na liacutengua de sinais126

56 Descriccedilatildeo dos informantes quanto aos dados129

561 Grupo I - Informantes130

5611 Informante G130

5612 Informante H132

5613 Informante I134

562 Grupo II - Informantes135

5621 Informante D136

5622 Informante E137

5623 Informante F139

563 Grupo III - Informantes140

5631 Informante A140

5632 Informante B141

5633 Informante C143

564 ndash Algumas consideraccedilotildees finais146

CAPITULO VI ndash Descriccedilatildeo e anaacutelise dos resultados149

61 Introduccedilatildeo149

62 A comparaccedilatildeo dos dados o grupo de trecircs geraccedilotildees de surdos na

liacutengua de sinais149

63 Variaccedilatildeo e Mudanccedila lexical na Liacutengua Brasileira de Sinais152

64 Variaccedilatildeo e Mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua Brasileira de

Sinais173

65 O que dizem os resultados das trecircs geraccedilotildees dos informantes na

Liacutengua Brasileira de Sinais 183

Consideraccedilotildees Finais187

Referecircncias Bibliograacuteficas191

Anexos199

25

Introduzindo a pesquisa na liacutengua de sinais

Sou Surdo Pretendo investigar a variaccedilatildeo e a mudanccedila linguiacutestica

na liacutengua de sinais como trabalho final do curso de poacutes-graduaccedilatildeo em

Linguiacutestica niacutevel Doutorado e aprofundar os conceitos adquiridos no

meu mestrado Realizei a defesa do mestrado em 2008 na UFSC O

estudo foi feito na linha de pesquisa em Educaccedilatildeo e Processos

Inclusivos O tema abordado foi ldquoContextualizaccedilatildeo da Trajetoacuteria dos

Surdos e Educaccedilatildeo de Surdos em Santa Catarinardquo

Iniciei no mestrado pesquisando a Educaccedilatildeo de Surdos em SC

Como natildeo haacute documentaccedilatildeo histoacuterica busquei atraveacutes do depoimento

do professor surdo Francisco1 e tambeacutem de documentos e fotografias

que ele tinha resgatar um pouco da trajetoacuteria da Educaccedilatildeo de Surdos em

SC

Aquela pesquisa visava introduzir as narrativas de sujeitos surdos

no que tange a sua histoacuteria memoacuteria e identidade Minha posiccedilatildeo eacute que

atraveacutes dela eacute possiacutevel conseguir elucidar a caminhada realizada pelos

surdos de Santa Catarina E tambeacutem atraveacutes de narrativas captadas com

o professor Francisco Lima Juacutenior (Chiquito) e de alguns de seus ex-

alunos bem como de alguns dados de Jornais fotos e filmagens

consegue-se chegar a escrever a histoacuteria do movimento surdo de Santa

Catarina com respeito agrave organizaccedilatildeo e agrave educaccedilatildeo de surdos O tema foi

muito amplo para pesquisar no mestrado Entatildeo optei por pesquisar a

parte histoacuterica da liacutengua de sinais no mestrado e a parte linguiacutestica no

doutorado numa perspectiva sociolinguiacutestica

Na pesquisa de mestrado percebi que apareceram sinais

diferentes no depoimento de dois surdos que sinalizaram sobre a

Educaccedilatildeo de surdos Refleti sobre esses sinais diferentes e natildeo

conseguia explicaacute-los Entatildeo realizei o projeto de doutorado para

entender melhor essa diferenccedila de sinais estudando um tema mais

1 SCHMITT (2008) dissertaccedilatildeo de mestrado na UFSC Em 1928 nasceu em FlorianoacutepolisSC e inicia a vida de Francisco Lima Juacutenior Em 1937 a 1946 no INSMRJ Francisco inicia seus

estudos No ano de 1947 primeiro espaccedilo de educaccedilatildeo de surdos na garagem na casa dos pais

(Francisco) Em 1954 o encontro de surdos organiza a fundaccedilatildeo do Ciacuterculo Surdos-Mudos em Santa Catarina ndash CSMSC Em 1955 funda o Ciacuterculo Surdos-Mudos em Santa Catarina ndash

CSMSC e tambeacutem foi delegado na regiatildeo do sul Em 1960 teve iniacutecio o governo de Celso

Ramos Em 1963 iniciou a construccedilatildeo Escola Governador Celso Ramos Em 1964 a primeira turma de surdos na Escola Governador Celso Ramos Ex-alunos Surdos na primeira Turma

Escola Governador Celso Ramos em 1964 e 1969 Fundado em 25 de marccedilo de 1969 o

Instituto de Audiccedilatildeo e Terapia da Linguagem ndash IATEL e em 1997 o Francisco entregou o documento no Ciacuterculo Surdos-Mudos em Santa Catarina ndash CSMSC para a Sandra L Amorim e

atualmente ASGF Isso foi apresentado a minha pesquisa de biografia

26

especiacutefico ldquoA Histoacuteria da Liacutengua de Sinais em Santa Catarina

Contextos soacutecio-histoacutericos e sociolinguiacutesticos de surdos de 1946 a

2010rdquo

O trabalho de coleta de dados para esta pesquisa acontece em

forma de relatos filmados sobre a histoacuteria e as experiecircncias de vida de

cada indiviacuteduo em liacutengua de sinais de trecircs geraccedilotildees nas seguintes faixas

etaacuterias o Grupo I eacute formado por indiviacuteduos com mais de 60 anos o

Grupo II por indiviacuteduos de 30 a 60 anos e o Grupo III eacute formado por

indiviacuteduos de 15 a 30 anos Pretende-se investigar nos dados de que

dispomos se aconteceu alguma transformaccedilatildeo linguiacutestica e em caso

positivo qual foi esta transformaccedilatildeo Se a economia a poliacutetica a

questatildeo social e cultural influenciam as mudanccedilas linguiacutesticas que

ocorrem e quais as possiacuteveis influecircncias que estes fatores tiveram em

relaccedilatildeo agraves mudanccedilas na liacutengua de sinais de Santa Catarina no periacuteodo

de 1946 a 2010

A pesquisa e a leitura de histoacuterias da liacutengua de sinais no mundo

no Brasil e em Santa Catarina em diferentes comunidades surdas

propiciaratildeo um maior conhecimento linguiacutestico e melhor entendimento

das diferentes culturas surdas Jaacute posso adiantar que as narrativas

coletadas contadas e vividas pelos trecircs grupos pesquisados em

diferentes momentos da sociedade brasileira ampliaram minha forma de

ver e perceber o mundo

Meu estudo de pesquisa no mestrado apresentou dados sobre a

histoacuteria da liacutengua de sinais de Santa Catarina e as dificuldades

encontradas da comunidade surda nos contatos sociais das vaacuterias regiotildees

de Santa Catarina e ateacute mesmo com outros estados (PR RS SP RJ e

MG) Acredita-se que a ampliaccedilatildeo de sinais aqui em Santa Catarina teve

a influecircncia do professor Francisco Lima Juacutenior porque ele estudou no

INESRJ (Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos) e no IPSSP

(Instituto Paulista de Surdos) e trouxe sinais utilizados nesses estados

aleacutem de outros sinais aprendidos em contatos com surdos de outros

estados (PR RS SP RJ e MG) e ensinou tais sinais aos seus alunos

surdos enriquecendo assim a liacutengua de sinais

Ateacute agora as pesquisas sobre a liacutengua de sinais em Santa Catarina

natildeo tecircm registro da histoacuteria do sujeito surdo na escola e nem nas

associaccedilotildees de surdos ou na comunidade surda na deacutecada de 1950 Pela

pesquisa percebi que antes da vinda do professor Francisco para Santa

Catarina natildeo havia registrodocumentaccedilatildeo sobre a liacutengua de sinais A

histoacuteria que pesquisei sobre a liacutengua de sinais em Santa Catarina surge

de conversas com o professor Francisco e com outros indiviacuteduos surdos

Atualmente haacute mais registros sobre a liacutengua de sinais mas ainda eacute

27

muito pouco pois eacute uma liacutengua na modalidade visual espacial e sua

forma de registro ainda eacute precaacuteria A histoacuteria da liacutengua de sinais tem sido narrada por instituiccedilotildees de

indiviacuteduos ouvintes uma dessas eacute o INESRJ onde estudou o professor

Francisco Essas narraccedilotildees tecircm como base a educaccedilatildeo oralista que natildeo

utilizava nenhum tipo de sinalizaccedilatildeo e a comunidade surda que

utilizava a LIBRAS natildeo deixou informaccedilotildeesregistros sobre a histoacuteria da

comunidade surda daquela eacutepoca (1940) O pouco que ficou eacute

superficial deixando de mostrar informaccedilotildees de maior valor sobre esta

liacutengua que eacute muito importante para que com os registros possamos

entender melhor as variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas que ocorreram e

ocorrem Para isso eacute preciso que indiviacuteduos surdos pesquisem sobre a

histoacuteria cultura identidade e liacutengua de sinais da comunidade surda

Os dados desta pesquisa considerados importantes foram

analisados com o objetivo principal de pesquisar as variaccedilotildees e

possiacuteveis mudanccedilas em tempo aparente na liacutengua de sinais em Santa

Catarina atraveacutes das narrativas de sujeitos surdos

Percebi que o professor Francisco influenciou a liacutengua de sinais

em Santa Catarina e resgatando parte da histoacuteria dessa liacutengua pesquisei

variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas no periacuteodo de 1946 ateacute a

atualidade (2010) A falta de pesquisa histoacuterica da liacutengua de sinais

2 entre 1930 a

1980 no Brasil com referecircncia agrave variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica com o

foco no estudo sociolinguiacutestico e soacutecio-histoacuterico dificultou vislumbrar

o desenvolvimento desta liacutengua durante esse periacuteodo as mudanccedilas

ocorridas e o uso da liacutengua de sinais pela comunidade surda Natildeo houve

registro de pesquisa sobre este tema na liacutengua de sinais atraveacutes de

registro espaccedilo-visual (filmagem viacutedeos fotos etc) nas uacuteltimas deacutecadas

e parece que muitos dados que satildeo importantes sobre o sujeito surdo se

perderam Vale registrar no entanto trabalhos importantes que

procuraram resgatar parte da histoacuteria da liacutengua de sinais no Brasil a

dissertaccedilatildeo defendida em 2010 por Heloise Gripp Diniz sobre o tema

ldquoA histoacuteria da liacutengua de sinais brasileira (Libras) um estudo descritivo

de mudanccedilas fonoloacutegicas e lexicaisrdquo e os trabalhos de Perlin (1998)

Miranda (2001) Karnopp e Quadros (2004) Brito (1990 1991 1993 e

1995) Felipe (1988 1991 1993 1994 1995 1996 e 1997) Campello

(2011) entre outros

2 SCHMITT (2008) relata que ldquoa liacutengua de sinais ou seja a liacutengua dos sujeitos surdos eacute o

espaccedilo que mais eacute atingido pelo diferencialismordquo

28

Com relaccedilatildeo ao oralismo que exigia que os surdos falassem e natildeo

podiam sinalizar essa praacutetica trouxe grandes problemas uma delas foi a

dificuldade na criaccedilatildeo de espaccedilos (escola associaccedilatildeo etc) pelos

proacuteprios surdos Com a criaccedilatildeo das Associaccedilotildees de Surdos em Santa

Catarina os surdos puderam defender seus interesses E a partir de

2001 em Santa Catarina quando foi criada a Lei Estadual Nordm 118693

oficializou a LIBRAS como forma de comunicaccedilatildeo dos surdos

Haacute dez anos surgiu a LEI Nordm 10436 DE 24 DE ABRIL DE

2002 ldquoreconhecida como meio legal de comunicaccedilatildeo e expressatildeo da

Liacutengua Brasileira de Sinais - LIBRAS e outros recursos de expressatildeo a

ela associadosrdquo e o DECRETO Nordm 5626 DE 22 DE DEZEMBRO DE

2005

Em SC a primeira conquista educacional dos surdos aconteceu na

escola Governador Celso Ramos no centro de Florianoacutepolis em 1964

com a primeira turma de surdos a frequentar uma escola Nesta escola

eles tiveram acesso ao uso da liacutengua de sinais com a mediaccedilatildeo do

professor Francisco que tinha o apelido de ldquoChiquitordquo Com o

aprendizado da liacutengua de sinais os surdos comeccedilaram uma nova histoacuteria

e foram aprimorando sua liacutengua

Os alunos surdos adquiriam mais expressatildeo na comunicaccedilatildeo da

liacutengua de sinais e na interaccedilatildeo com o professor de liacutengua de sinais

surdo aprendiam mais raacutepido a se comunicar e a entender os conceitos

(sinaispalavras) Eles aprenderam e foram influenciados pelo professor

Francisco com quem tiveram o primeiro contato com a liacutengua de sinais

Os surdos comeccedilaram a utilizar a liacutengua de sinais na comunidade

surda ampliando este aprendizado Assim indaguei-me sobre qual era a

liacutengua de sinais ensinada naquele contexto social e as mudanccedilas

ocorridas por causa disto Entatildeo procurei o professor Francisco para

entender quais os sinais diferentes que havia em 1950 e que ele trouxe

para Santa Catarina Soube que o professor em seus estudos no INES foi

influenciado pela Liacutengua de Sinais Francesa (Europa) e pela Liacutengua de

Sinais Americana (Estados Unidos) na deacutecada de 1940 retornou para

Santa Catarina por volta de 1947 Essa contextualizaccedilatildeo sobre a liacutengua

de sinais eacute importante para a anaacutelise e pesquisa desta liacutengua em nosso

Estado

O professor Francisco estudou no Rio de Janeiro de 1937 a 1946

3 Em Santa Catarina foi criada a Lei no 11869 de 06 de setembro de 2001 reconhece oficialmente no Estado de Santa Catarina a linguagem gestual codificada na Liacutengua Brasileira

de Sinais LIBRAS ndash e outros recursos a ela associados como meio de comunicaccedilatildeo objetiva e

de uso corrente

29

Trouxe a experiecircncia dos sinais emergentes do Instituto Nacional de

Educaccedilatildeo de Surdos ndash INESRJ e influenciou a Regiatildeo Sul

protagonizando a histoacuteria da liacutengua de sinais por toda comunidade surda

catarinense

Eacute preciso pensar como na realidade a comunidade surda

catarinense resolveu seus problemas nas diferentes fases da histoacuteria da

liacutengua de sinais e em diferentes geraccedilotildees dos surdos Algumas sugestotildees

propostas dizem respeito ao Ciacuterculo de Surdos-Mudos de Santa Catarina

- CSMSC4 fundado pelo professor Francisco tambeacutem professor da

Escola Governador Celso Ramos Tais fatos trouxeram uma maior

interaccedilatildeo entre os surdos catarinenses e o contexto social vivido entre

1946 a 1955 proporcionando a criaccedilatildeo de Associaccedilotildees de Surdos em

vaacuterias regiotildees do estado de Santa Catarina em especial na Escola G

Celso Ramos de 1964 a 1973

Com o intuito de cumprir os objetivos a que esta pesquisa se

propocircs o trabalho seraacute organizado da seguinte forma

Nesta Introduccedilatildeo fiz um breve relato da construccedilatildeo deste

trabalho de pesquisa destacando pontos que acredito serem relevantes

com relaccedilatildeo agrave liacutengua de sinais em Santa Catarina

No primeiro capiacutetulo apresento a delimitaccedilatildeo do objeto de

pesquisa a contextualizaccedilatildeo dos sujeitos surdos na liacutengua de sinais com

o objetivo de pesquisar as mudanccedilas histoacutericas na LIBRAS e possiacuteveis

variaccedilotildees linguiacutesticas que ocorrem na trajetoacuteria percorrida desde o

projeto ateacute a concretizaccedilatildeo da pesquisa de campo realizada

No segundo capiacutetulo apresento alguns pressupostos teoacuterico-

metodoloacutegicos da sociolinguiacutestica laboviana apresento estudos de

Labov sobre a centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) na comunidade de fala da

Ilha de Marthas Vineyard bem como sobre a liacutengua em seu contexto

social a variaccedilatildeo e a mudanccedila linguiacutestica

No terceiro capiacutetulo apresento a contextualizaccedilatildeo da histoacuteria

social da liacutengua em organizaccedilotildees surdas no paiacutes com base na trajetoacuteria

dos surdos na Europa Ameacuterica Brasil e regiotildees de Santa Catarina

No quarto capiacutetulo apresento explicaccedilotildees sobre a variaccedilatildeo

encontrada na liacutengua de sinais e discutida por diversos linguistas

No quinto capiacutetulo apresento a metodologia de coleta das

narrativas dos sujeitos surdos por faixa etaacuteria e a descriccedilatildeo dos

4 O CSMSC professor Francisco comeccedilou a reunir todos os surdos de Santa Catarina

buscando as pessoas surdas que ficavam isoladas na sociedade Fazia reuniotildees perioacutedicas em

sua casa com atividade social alfabetizaccedilatildeo e oficinas de artes e trabalhos artesanais Entatildeo em 18 de agosto de 1955 com 30 associados fundou o Ciacuterculo dos Surdos e Mudos de Santa

Catarina Atualmente chamado de Associaccedilatildeo de Surdos da Grande Florianoacutepolis - ASGF

30

informantes quanto aos dados colhidos na liacutengua de sinais nas trecircs

geraccedilotildees controladas

No sexto capiacutetulo apresento a descriccedilatildeo e a anaacutelise dos

resultados a comparaccedilatildeo dos dados de cada grupo nas trecircs geraccedilotildees de

surdos que utilizaram a liacutengua de sinais

Por fim nas consideraccedilotildees finais mostro que esta pesquisa

pretende contribuir com resultados sobre a variaccedilatildeo e a mudanccedila

linguiacutestica na Liacutengua de Sinais e talvez contribuir com o registro dos

dados coletados no curso de LetrasLIBRAS como referecircncia

bibliograacutefica para auxiliar outras pesquisas

31

CAPIacuteTULO I ndash Delimitaccedilatildeo do objeto de pesquisa

11 ndash Introduccedilatildeo

Pretendo pesquisar parte da histoacuteria da LIBRAS em Santa

Catarina de indiviacuteduos surdos em contextos soacutecio-histoacutericos e

sociolinguiacutesticos de diferentes regiotildees do estado com comunicaccedilatildeo de

sinais diferentes idades variadas gecircnero diferente costumes proacuteprios

escolaridade variada exercendo trabalhos e crenccedilas diferentes

vivenciando fatos histoacutericos tudo isso acontecendo em contextos

distintos Escolhi o periacuteodo de 1946 a 2010 para a pesquisa porque o

professor Francisco Lima Juacutenior que nasceu em 1928 foi estudar fora

da cidade retornou para Florianoacutepolis em 1946 de seus estudos no

Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos (INES) no Rio de Janeiro e

acredito que ele influenciou o ensino da LIBRAS em Santa Catarina

Realizar esta pesquisa eacute um grande desafio pela dificuldade para

encontrar o registro da histoacuteria da liacutengua de sinais e das variaccedilotildees e

mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas Para desenvolver este trabalho eacute

importante saber as influecircncias lexicais e fonoloacutegicas ocorridas nessa

liacutengua em Santa Catarina de onde vieram as influecircncias e qual seu

reflexo na comunidade surda E ainda se essa liacutengua trouxe uma

valorizaccedilatildeo maior para o grupo de surdos I (mais velhos) e se foi

influenciada por fatores sociais e histoacutericos da comunidade surda de

Santa Catarina

Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os seguintes toacutepicos a

delimitaccedilatildeo da pesquisa mudanccedilas histoacutericas na LIBRAS e variaccedilotildees

linguiacutesticas nas deacutecadas de 1940 a 2010 uma contextualizaccedilatildeo sobre a

influecircncia do professor Francisco na comunidade surda a justificativa

sobre a pesquisa feita com as pessoas surdas o objetivo geral desta

pesquisa e por fim a hipoacutetese levantada sobre a influecircncia do professor

Francisco na comunidade surda de Santa Catarina com relaccedilatildeo agrave liacutengua

de sinais

12 ndash Mudanccedilas histoacutericas na LIBRAS e variaccedilotildees linguiacutesticas de

1946 a 2010 em Santa Catarina

A metodologia utilizada nesta pesquisa eacute de base empiacuterica

atraveacutes de coleta de narrativas de sujeitos surdos na faixa etaacuteria de 15 a

80 anos divididos em trecircs grupos os quais responderam agrave seguinte

pergunta ldquoExplique a histoacuteria da educaccedilatildeo do sujeito surdo em Santa

32

Catarinardquo As respostas estatildeo registradas em viacutedeos por se tratar de uma

liacutengua visual-espacial

Os dados colhidos satildeo descritos e analisados com o objetivo de

verificar se ocorreram variaccedilotildees e possiacuteveis mudanccedilas em tempo

aparente em sinais da LIBRAS identificando linguiacutestica e

historicamente cada caso

Nesta pesquisa pretendo aprofundar a histoacuteria da LIBRAS em

Santa Catarina e verificar as variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas

entre 1946 a 2010 bem como a influecircncia do professor Francisco na

comunidade surda do estado de Santa Catarina

Temos poucos registros histoacutericos no Brasil sobre a comunidade

surda e a LIBRAS e esses em sua maioria satildeo escritos por pessoas

ouvintes uma histoacuteria oral5

Em Santa Catarina a realidade eacute a mesma natildeo haacute registros

escritos documentados sobre a comunidade surda A LIBRAS foi

oficializada em 2001 em Santa Catarina e em 2002 no Brasil Ainda eacute

recente e poucos registros temos Eacute necessaacuterio pesquisar mais sobre a

LIBRAS em seus aspectos histoacuterico e linguiacutestico pois atualmente

poucos surdos conhecem sua liacutengua em seus aspectos linguiacutesticos e

gramaticais apenas sinalizam e se comunicam mas se pedirmos

explicaccedilotildees poucos saberatildeo daacute-las ateacute porque isso natildeo eacute mateacuteria

escolar

Com os dados coletados e analisados acredito que poderei

entender melhor qual foi a influecircncia ou natildeo do professor Francisco

junto agrave comunidade surda de Santa Catarina Aleacutem dos dados pretendo

fazer isso com o auxiacutelio de reportagens jornais e revistas catarinenses

bem como atraveacutes de documentos das instituiccedilotildees que trabalharam ou

trabalham com pessoas surdas Tambeacutem pretendo verificar informaccedilotildees

no arquivo Puacuteblico Catarinense Espero que com os depoimentos em

viacutedeos consiga encontrar evidecircncias de variaccedilotildees e mudanccedilas

linguiacutesticas lexicais e fonoloacutegicas em LIBRAS que ocorreram desde a

deacutecada de 1940 Os surdos que deram seu depoimento fazem parte da

comunidade surda que participou do movimento surdo catarinense nas

uacuteltimas deacutecadas Para analisar as transformaccedilotildees ocorridas eles foram

observados por faixas etaacuterias Considerando o uso de narrativas sobre a

5 SCHMITT (2008) na dissertaccedilatildeo de mestrado apresenta O que eacute Histoacuteria Oral ndash Eacute o estudo das narrativas dos sujeitos da pesquisa sua versatildeo e memoacuterias do fato pesquisado ocupa-se em

registrar essas narrativas (gravaccedilotildees filmagens transcriccedilatildeo das entrevistas recortes da

imprensa) como metodologia de pesquisa

33

histoacuteria dessas pessoas utilizei as discussotildees sobre histoacuteria oral para

realizar as entrevistas conforme Alberti (2005)

A histoacuteria oral tem uma natureza especifica que

condiciona as perguntas que o pesquisador pode fazer

Em se tratando de uma forma de recuperaccedilatildeo do passado

conforme concebido pelos que viveram eacute fundamental

que tal abordagem seja efetivamente relevante para a

investigaccedilatildeo que se pretende realizar (ALBERTI 2005

p 30)

13 ndash Objetivo Geral

Verificar a influecircncia do professor Francisco Lima Juacutenior sobre a

liacutengua de sinais de Santa Catarina e pesquisar variaccedilotildees e possiacuteveis

mudanccedilas em tempo aparente na liacutengua de sinais desse educador e de

outros oito sujeitos surdos reunidos por faixa etaacuteria diferente em trecircs

grupos de indiviacuteduos Grupo I (de 60 a 80 anos) Grupo II (de 30 a 60

anos) e Grupo III (de 15 a 30 anos) A narrativa desses nove sujeitos

surdos seraacute analisada com o propoacutesito de verificar quais as

transformaccedilotildees linguiacutesticas ocorridas na comunidade surda atual e quais

as diferenccedilas lexicais e fonoloacutegicas de uso da LIBRAS nas faixas etaacuterias

desses trecircs grupos de geraccedilotildees investigados

14 ndash Objetivos especiacuteficos

Identificar as alteraccedilotildees de alguns sinais quanto agrave

variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica e lexical dentro da liacutengua

de sinais e outros sinais que permanecem ateacute a atualidade

sem influecircncias externas

Comparar a variaccedilatildeo e a mudanccedila encontradas na

liacutengua de sinais utilizada pelos indiviacuteduos surdos

pertencentes a diferentes faixas etaacuterias representantes de

trecircs geraccedilotildees de sinalizadores

Identificar possiacuteveis fatores que condicionam a

variaccedilatildeo e a mudanccedila linguiacutesticas observadas nos trecircs

grupos pesquisados

34

Pretendemos pesquisar a liacutengua de sinais em Santa Catarina

observando a narrativa (depoimento) do sujeito surdo coletada na

escola e na associaccedilatildeo Com o surgimento do primeiro espaccedilo de

identidade cultural6 do surdo em contato com o professor Francisco

quando retornou do Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos

(INESRJ) para Florianoacutepolis que contribuiu para a melhoria do ensino

de liacutengua de sinais aos surdos Observe-se o que disse Felipe (2001)

sobre isso

Assim o antigo Instituto continuou como um centro de

integraccedilatildeo para o fortalecimento do desenvolvimento da

LIBRAS pois segundo Relatoacuterio do Diretor Dr Tobias

Rabello Leite de 1871 esta escola jaacute possuiacutea alunos

vindos de vaacuterias partes do paiacutes dezoito anos retornavam

agraves cidades de origem levando com eles a LIBRAS

(FELIPE 2001 p 121)

Quando o professor Francisco retornou de seu estudo no INES

percebe-se que influenciou o aprendizado da LIBRAS em Santa

Catarina pois a geraccedilatildeo mais nova buscava aprender a liacutengua com os

liacutederes surdos da geraccedilatildeo do professor Francisco Esse espaccedilo foi

conquistado pela poliacutetica de educaccedilatildeo de surdos que assegurava o

envolvimento com a liacutengua de sinais que atualmente estaacute se expandindo

na comunidade surda em nosso estado catarinense

Esse caminho foi aberto pelo professor Francisco Lima Juacutenior

que motivou os sujeitos surdos a aprenderem a LIBRAS num periacuteodo de

escolas oralistas a valorizarem o contato com outros sujeitos surdos e as

conversas nas comunidades surdas e associaccedilotildees levando os surdos da

atualidade a lutarem pelos seus direitos e deveres e a aprimorarem os

espaccedilos cultural e linguiacutestico criando assim lideranccedilas nessas

comunidades Isto proporcionou troca de ideias e experiecircncias

necessidade de mais estudos e melhor compreensatildeo da poliacutetica brasileira

para a busca desses direitos Os surdos da atualidade tambeacutem criaram

uma identidade nessa comunidade com as trocas aprenderam mais

criaram sinais para palavras novas melhoraram sinais antigos etc Para a

autora Tanya A Felipe

6 SCHMITT (2008) relata que ldquoA pesquisa acadecircmica na universidade sobre os problemas na

fase de histoacuteria de ouvinte e a pesquisa na educaccedilatildeo de surdos introduz a identidade cultural

surda no espaccedilo de conflito que eacute a educaccedilatildeo de surdo Esse momento cultural do surdo e a aacuterea de conhecimento sobre a cultura surda satildeo importantes na realidade das pesquisas que

apresentam o sujeito surdo no ensinordquo

35

Como toda liacutengua as liacutenguas de sinais aumentam seus

vocabulaacuterios com novos sinais introduzidos pelas

comunidades surdas em resposta as mudanccedilas culturais e

tecnoloacutegicas Assim a cada necessidade surge um novo

sinal e desde que se torne aceito seraacute utilizado pela

comunidade (FELIPE 2001 p 19)

Percebe-se na citaccedilatildeo da autora que o contato da comunidade

surda7 acontece atraveacutes da comunicaccedilatildeo visual-espacial As mudanccedilas

tecnoloacutegicas a busca de conhecimento e a cultura influenciam a

LIBRAS fazendo com que a comunidade crie novos sinais e modifique

outros sinais mais antigos

A LIBRAS eacute considerada uma liacutengua assim como as outras

liacutenguas orais e apresenta variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica Um dos

exemplos de mudanccedila em LIBRAS foi uma mudanccedila discreta8 do sinal

de ldquoMAtildeErdquo A mudanccedila fonoloacutegica atinge um dos cinco paracircmetros

fonoloacutegicos da formaccedilatildeo de sinais O ponto de articulaccedilatildeo eacute preservado

na mudanccedila do sinal MAtildeE a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) muda e eacute

acrescentado o sinal de MULHER tornando o sinal composto

Figura 01 ndash Sinal de Matildee

Eacute importante retomar aqui quais satildeo esses cinco paracircmetros

Stokoe que por volta de 1960 e 1965 apontou trecircs paracircmetros que

constituem os sinais e nomeou-os configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ponto

de articulaccedilatildeo (PA) ou locaccedilatildeo (L) e movimento (M) Satildeo eles

7 Para Felipe (2001 p 38) ldquouma comunidade eacute um sistema social geral no qual pessoas vivem

juntas compartilham metas comuns e partilham certas responsabilidades umas com as outrasrdquo PADDEN (19895) Para esta pesquisadora ldquouma Comunidade Surda eacute um grupo de pessoas

que mora em uma localizaccedilatildeo particular compartilha as metas comuns de seus membros e de

vaacuterios modos trabalha para alcanccedilar estas metasrdquo Portanto nessa Comunidade pode ter tambeacutem ouvintes e surdos que natildeo satildeo culturalmente Surdos 8 Ocorre quando uma forma (ou sinal) eacute substituiacuteda por outra de modo natildeo gradual

36

Configuraccedilatildeo de matildeos ndash satildeo as diferentes formas que as

matildeos assumem na representaccedilatildeo do sinal

Ponto de articulaccedilatildeo ndash eacute a posiccedilatildeo onde as matildeos satildeo

posicionadas no momento da sinalizaccedilatildeo

Movimento ndash eacute o deslocamento das matildeos no espaccedilo e

em diferentes partes do corpo

Karnopp (1999) apresenta como resultado de pesquisa que a

configuraccedilatildeo de matildeos se diferencia pela seleccedilatildeo de dedos e a

configuraccedilatildeo ou posiccedilatildeo destes para efetuar o sinal Em ASL os dedos

selecionados devem permanecer na mesma disposiccedilatildeo ou quando tem

mudanccedila de posiccedilatildeo os dedos selecionados devem continuar iguais ateacute

o teacutermino do sinal As posiccedilotildees e configuraccedilotildees dos dedos diferenciam-

se em a) difusatildeo dos dedos aduccedilatildeo b) junccedilatildeo entre os dedos e o

polegar abertura e c) tipo e grau de flexatildeo apresentando a organizaccedilatildeo

fonoloacutegica dos sinais com ecircnfase nos articuladores dos itens lexicais e

das restriccedilotildees na formaccedilatildeo de sinais

A partir de 1970 outros linguistas conduziram estudos mais

aprofundados sobre os aspectos fonoloacutegicos Robbin Battison (1974)

Edward S Klima e Ursulla Bellugi (1979) descreveram o quarto

paracircmetro

Orientaccedilatildeo ndash que eacute a posiccedilatildeo da palma da matildeo se pra

frente ou pra traacutes para cima ou para baixo para o lado

esquerdo ou direito

O quinto paracircmetro eacute a expressatildeo facialcorporal foi adicionado

por Ferreira Brito em 1995 no Brasil

Expressotildees faciais e corporais satildeo elementos

gramaticais que compotildeem a estrutura da liacutengua Tambeacutem

chamados de marcadores natildeo manuais Ex a fisionomia

para expressar uma pessoa chata e muito chata eacute

intensificada para expressar o que eacute desejado Alguns sinais

podem ter uma direccedilatildeo e a inversatildeo deste pode significar

oposiccedilatildeo contraacuterio ou concordacircncia nuacutemero-pessoal

37

Figura 02 ndash Sinal de Matildee

Para Quadros (1997) pesquisas evidenciam a perda completa da

motivaccedilatildeo do sinal na crianccedila surda em fase de aquisiccedilatildeo da liacutengua de

sinais Tais sinais como ldquobenccedilatildeordquo para matildee e pai para o surdo adulto ateacute

podem ser resgatados Entretanto a crianccedila que estaacute adquirindo a liacutengua de

sinais e nunca viu esta accedilatildeo natildeo repete a mesma atitude beijando a matildeo

A liacutengua de sinais eacute diferente em diversos paiacuteses e ateacute mesmo em

diferentes regiotildees dentro de um mesmo paiacutes A liacutengua de sinais eacute o que

permite a comunicaccedilatildeo entre as pessoas surdas desta forma os surdos

que conhecem a liacutengua de sinais de outras regiotildees com certeza teratildeo

maior facilidade de comunicaccedilatildeo e tambeacutem de conhecimento

Vale ressaltar que toda forma de liacutengua ldquofaladardquo no contexto

social e tudo o que noacutes vivemos sofre mudanccedilas Todas as liacutenguas tecircm

influecircncia do tempo decorrido Na LIBRAS tambeacutem existem mudanccedilas

culturais e linguiacutesticas

15 ndash Questotildees e Hipoacuteteses de pesquisa na liacutengua de sinais

Nesta pesquisa parto das seguintes questotildees 1) O professor

Francisco influenciou a LIBRAS em SC 2) Que variaccedilotildees e mudanccedila

linguiacutestica vamos encontrar na liacutengua dos nove sujeitos surdos

Acredito que (hipoacutetese) o professor Francisco teve grande influecircncia na

comunidade surda de Santa Catarina com relaccedilatildeo agrave Liacutengua de Sinais

Acredito tambeacutem (hipoacutetese) que muitos dos sinais utilizados pelos

Grupos I e II natildeo satildeo conhecidos pelo Grupo III dos mais jovens Penso

que (hipoacutetese) alguns sinais tiveram alteraccedilotildees quanto a variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica como tambeacutem lexical nos trecircs grupos pesquisados

Quando comparar a liacutengua de sinais nos Grupos I II e III nas diferentes

faixas etaacuterias espero (hipoacutetese) encontrar vaacuterios sinais que comprovem

variaccedilotildees e mudanccedilas fonoloacutegicas e lexicais Essas hipoacuteteses surgiram

de observaccedilotildees como usuaacuterio da LIBRAS

38

Em relaccedilatildeo aos fatores internos e externos que condicionam a

variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica e lexical acredito (hipoacutetese) que o

professor Francisco eacute o precursor do ensino de sinais em Santa Catarina

(fator externo) No Grupo II temos a influecircncia do professor Francisco e

de seus primeiros alunos e das associaccedilotildees de surdos e no Grupo III

temos um maior nuacutemero de surdos nas universidades precisando criar

novos sinais para os novos conhecimentos aprendidos

Labov em sua pesquisa cita ldquo o objetivo da pesquisa linguiacutestica

na comunidade deve ser descobrir como as pessoas falam quando natildeo

estatildeo sendo monitoradasrdquo (LABOV 2008 [1972] p 244) Nesta

pesquisa a observaccedilatildeo aos indiviacuteduos surdos dos trecircs grupos

pesquisados acontece de forma diferente eles sabem que estatildeo

respondendo perguntas e que estatildeo sendo filmados

Pela anaacutelise das respostas em liacutengua de sinais e descriccedilatildeo dos

surdos seraacute possiacutevel descobrir atraveacutes das descriccedilotildees aspectos

culturais9 individuais e tambeacutem obter dados quanto agraves variaccedilotildees e

mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas na liacutengua de sinais neste periacuteodo de

tempo que acontece desde 1946

Finalmente esta tese teraacute o registro dos dados colhidos nos trecircs

grupos pesquisados de diferentes geraccedilotildees mostrando variaccedilotildees e

mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas com os contatos culturais da

comunidade surda

Os fatos sociais desta liacutengua como de qualquer outra podem

acontecer em qualquer tempo e em diferentes situaccedilotildees e quando

analisados neste caso podemos perceber a mudanccedila dos indiviacuteduos

surdos num determinado contexto soacutecio-histoacuterico e linguiacutestico A amostra eou dados para a tese de doutorado na UFSC

proporcionaraacute anaacutelises sobre aspectos variaacuteveis da LIBRAS (variaccedilatildeo e

mudanccedila fonoloacutegica e lexical) com o apoio de autores como Labov

2008 [1972] Naro 2003 Weinreich Labov e Herzog 2006 [1968]

Calvet 2002 entre outros

O periacuteodo indicado para a pesquisa que eacute de 1946 a 2010 pode

revelar parte da histoacuteria da comunidade surda de Santa Catarina e a

influecircncia que o professor Francisco Lima Juacutenior trouxe de contribuiccedilatildeo

para a liacutengua de sinais de Santa Catarina e para a comunidade surda do

estado

9 PERLIN (2006 p 65) Cultura Surda ndash o livro a Invenccedilatildeo da Surdez II explica que a cultura surda esta aiacute enfatizando oferecendo transparentemente sua possessatildeo simboacutelica sobressaindo

com seus discursos narrativos afirmando a necessidade da reinscriccedilatildeo da diferenccedila cultural e

consequente diferenccedila pedagoacutegica

39

CAPIacuteTULO II ndash Pressupostos teoacuterico-metodoloacutegicos da

sociolinguiacutestica laboviana

21 ndash Introduccedilatildeo

A Sociolinguiacutestica se dedica ao estudo da liacutengua falada e do

contexto social de uso da liacutengua ou seja estuda como os membros de

uma sociedade se comunicam em diversas situaccedilotildees em funccedilatildeo por

exemplo do lugar onde cresceram ou de sua posiccedilatildeo socioeconocircmica A

liacutengua surge e tambeacutem se transforma em funccedilatildeo do contexto soacutecio-

histoacuterico

Como seraacute visto mais adiante para essa aacuterea de conhecimento satildeo

fundamentais os conceitos de variaccedilatildeo e mudanccedila O primeiro envolve a

coexistecircncia de diferentes formas linguiacutesticas para a expressatildeo de um

significado e o segundo diz respeito agrave substituiccedilatildeo de formas com o

passar do tempo Esses estudos satildeo fundamentados na sociolinguiacutestica

variacionista que teve iniacutecio com as pesquisas de Labov

Este capiacutetulo traz relatos da pesquisa de Labov que foi pioneiro

na sociolinguiacutestica e realizou estudo linguiacutestico na comunidade de fala

da Ilha de Marthas Vineyard associando a influecircncia dos povos que

imigraram e colonizaram a ilha agraves mudanccedilas ocorridas na fala bem

como o turismo que eacute frequente no veratildeo com visitantes que falam

variedades de uma mesma liacutengua e outras liacutenguas e influenciam o

comeacutercio da ilha fazendo com que variedades e liacutenguas diferentes se

misturem quando as pessoas conversam Num dado momento Labov

investigou a centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) na comunidade de fala da ilha

Foram entrevistados diferentes grupos eacutetnicos ingleses portugueses e

iacutendios Isso foi importante para entender mudanccedilas linguiacutesticas

ocorridas nessa ilha dos Estados Unidos

Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os seguintes toacutepicos a liacutengua

em seu contexto social a partir da teoria laboviana Labov como

pesquisador pioneiro em sociolinguiacutestica o iniacutecio da pesquisa de Labov

na Ilha de Martha‟s Vineyard com ingleses portugueses e iacutendios a

maneira como Labov realizou a pesquisa para escolher a variaacutevel

linguiacutestica a ser estudada a explicaccedilatildeo dos dados obtidos por grupos

ocupacionais e por idade a explicaccedilatildeo da pesquisa realizada por Labov

sobre o aumento da centralizaccedilatildeo comentaacuterios sobre a interaccedilatildeo de

padrotildees linguiacutesticos e sociais na Ilha de Martha‟s Vineyard os

princiacutepios da mudanccedila linguiacutestica a idade e a variaccedilatildeo estaacutevel e por

fim algumas reflexotildees sobre a idade e a mudanccedila linguiacutestica

40

22 ndash A liacutengua em seu contexto social

A liacutengua eacute uma forma de comportamento eacute usada por seres

humanos num contexto social ao comunicarem uns aos outros suas

ideias suas necessidades e emoccedilotildees Sendo assim o comportamento

linguiacutestico de um grupo pode variar de acordo com as experiecircncias

vividas numa comunidade Para Labov (1972) o estudo da origem da

evoluccedilatildeo da linguagem que eacute a ciecircncia que estuda a parte da linguiacutestica

incluiacuteda no contexto social eacute buscado no comportamento linguiacutestico de

um grupo social isto eacute de uma comunidade de fala10

Natildeo se trata de um grupo de falantes que utilizava a mesma forma

de fala mas do grupo que segue as mesmas normas quanto ao uso da

linguagem No caso da linguagem gestual um exemplo disso seria de

um surdo com uma famiacutelia de ouvintesfalantes que natildeo fica isolado na

questatildeo da liacutengua pois comeccedila a frequentar uma associaccedilatildeo de surdos e

aprende a liacutengua de sinais Neste espaccedilo ele aprende a comunicar-se na

liacutengua de sinais e natildeo apenas numa liacutengua gestual caseira

Para entender o comportamento linguiacutestico de uma comunidade

de fala vatildeo ser retomados alguns estudos pioneiros de Labov da deacutecada

de 1960 Antes poreacutem eacute importante entender quem eacute esse pesquisador e

alguns dos trabalhos que ele fez 221 ndash LABOV pesquisador pioneiro em sociolinguiacutestica

William Labov nasceu na cidade de Rutherford em Nova Jersey

no dia 4 de dezembro em 1927 Comeccedilou sua carreira de estudo em

Harvard em 1948 quiacutemico trabalhou na aacuterea industrial de 1949 a 1961

Ele iniciou suas pesquisas como linguista nos Estados Unidos com foco

de estudo direcionado ao contexto social agrave comunidade de fala e agraves

mudanccedilas sonoras da liacutengua

A observaccedilatildeo de Labov sobre os padrotildees sociolinguiacutesticos na ilha

de Marthas Vineyard resultou na publicaccedilatildeo do seu trabalho

apresentado no 37ordm Encontro Anual da Sociedade Americana de

Linguiacutestica em Nova York nos Estados Unidos em 1963 Nesse

trabalho o pesquisador apresentou suas consideraccedilotildees sobre a mudanccedila

sonora dos ditongos (ay) e (aw) no contexto da comunidade de fala da

10 Segundo COELHO et al (2010 p 163) Comunidade de fala ndash ldquonoccedilatildeo que recobre tanto aspectos sociais quanto linguiacutesticos envolvendo atitudesnorma sociais compartilhadas pelos

falantes que por sua vez compartilham caracteriacutesticas linguiacutesticas que os diferem de outros

grupos sociaisrdquo

41

ilha

O autor estudou tambeacutem na Columbia University sob a

orientaccedilatildeo do Professor Uriel Weinreich - doutorado em linguiacutestica em

1964 ndash com quem realizou e aprofundou sua pesquisa em

sociolinguiacutestica sobre a liacutengua falada

Eacute um pesquisador amplamente considerado na aacuterea da pesquisa

linguiacutestica por sua metodologia em sociolinguiacutestica Em seus trabalhos

o autor mostra aspectos de variaccedilatildeo dialetal e mudanccedila da liacutengua inglesa

na sociedade da Ilha de Marthas Vineyard e em Nova York11

atraveacutes de

estudos de variaccedilatildeo fonoloacutegica

Em 1972 Labov publicou seu livro Sociolinguistic Patterns

University of Pennsylvania Press original em Inglecircs o qual teve seu

volume traduzido para o portuguecircs e publicado em 2008 no Brasil

Ele pesquisou durante meses na Ilha de Martha‟s Vineyard

estado de Massachusetts as variaacuteveis foneacuteticas (ay) e (aw) em diferentes

localidades faixas etaacuterias12

grupos profissionais e eacutetnicos da ilha Com

esse estudo conseguiu reconstruir a histoacuteria social da comunidade

daquela ilha a partir da frequecircncia e distribuiccedilatildeo dessas duas variaacuteveis

para verificar se ocorreu mudanccedila sonora correlacionando o complexo

padratildeo linguiacutestico com a estrutura social atraveacutes da investigaccedilatildeo de

fatores sociais que incidem diretamente sobre o processo linguiacutestico

Sobre a mudanccedila linguiacutestica podemos destacar trecircs principais

caracteriacutesticas relevantes na pesquisa que Labov (2008 [1972] p 19)

desenvolveu na Ilha

a origem das variaccedilotildees linguiacutesticas

a difusatildeo e a propagaccedilatildeo das mudanccedilas linguiacutesticas e

a regularidade da mudanccedila linguiacutestica

Labov investigou como aconteceu a variaccedilatildeo do inglecircs americano

em uma determinada comunidade a partir das influecircncias sociais que

vieram do contato entre os indiviacuteduos das localidades pesquisadas

11 A pesquisa de Labov na ilha de Martha‟s Vineyard foi escolhida por mim porque Francisco

viveu em Florianoacutepolis e agrupou os surdos de SC tendo como referecircncia uma ilha que se

parece muito com Martha‟s nas temporadas de veratildeo os turistas do paiacutes e do exterior lotam a cidade fortalecendo a economia do lugar

12 Ao analisar faixa etaacuteria podemos detectar mudanccedila em tempo aparente atraveacutes da

comparaccedilatildeo entre grupo dos falantes mais velhos e jovens ou variaccedilatildeo estaacutevel

42

Pela induccedilatildeo as variaccedilotildees fonoloacutegicas podem ocorrer pelos

processos de assimilaccedilatildeo ou dissimilaccedilatildeo por analogia empreacutestimo

fusatildeo contaminaccedilatildeo variaccedilatildeo aleatoacuteria ou outros processos linguiacutesticos

em que haja a interaccedilatildeo entre o sistema linguiacutestico de caracteriacutesticas

fisioloacutegicas ou psicoloacutegicas do indiviacuteduo

O autor realizou a pesquisa na comunidade de falantes de

Martha‟s Vineyard nos EUA em Massachusetts para verificar o grau de

centralizaccedilatildeo de sons no caso (ay) e (aw) em diferentes momentos e

situaccedilotildees daquela comunidade como veremos nas proacuteximas seccedilotildees

222 ndash A Ilha de Martharsquos Vineyard

Martha`s Vineyard eacute a maior ilha ao largo da costa da Nova

Inglaterra abrange quase uma centena de quilocircmetros quadrados de

aacuterea

A ilha antigamente era povoada por grupos de iacutendios que estavam

relacionados com a Wampanoags no estado sudeste de Massachusetts

Num primeiro momento os europeus ocuparam a ilha e com o passar

do tempo aprenderam com os iacutendios de diferentes tribos de Martha`s

Vineyard a pescar e a utilizar a agricultura

O primeiro assentamento europeu aconteceu em 1644 na ilha O

governador de Winthrop de Boston norte dos Estados Unidos nessa

eacutepoca anotou em seu jornal local que algumas pessoas de Watertown

eram surdas e se comunicavam atraveacutes de sinais13

isso ajudou na

divulgaccedilatildeo da liacutengua inglesa que comeccedilou a ser usada pelos habitantes

de Martha`s Vineyard Este grupo vinha de famiacutelias do estado de

Massachusetts em Bay Colony que resolveu morar na Ilha

A Ilha de Martha‟s Vineyard na deacutecada de 1960 era formada por

uma pequena populaccedilatildeo de 6000 falantes nativos dividida em trecircs

grupos eacutetnicos ingleses portugueses e iacutendios A pesquisa de Labov

levou em consideraccedilatildeo as trecircs etnias Foram entrevistados 69 indiviacuteduos

daquela sociedade Dentre eles os nuacutemeros entrevistados foram 42

13 Realizei a pesquisa no livro que se chama ldquoEveryone Here Spoke Sign Languagerdquo da autora

(Groce 1952) achei interessante a leitura mas fui riscando e analisando de acordo com minha compreensatildeo do texto e comparando com o que Labov (2008) apresentou no livro Padrotildees

Sociolinguiacutesticos Eacute importante salientar que a pesquisa apresentada no livro de Groce eacute

interessante para realizar estudos na comunidade surda na liacutengua de sinais

43

ingleses 16 portugueses e 9 iacutendios de grupos eacutetnicos essencialmente

endoacutegamos14

Labov controlou tambeacutem diferentes grupos ocupacionais

14 na pesca 8 na agricultura 6 na construccedilatildeo 19 no ramo de serviccedilos 3

profissionais liberais 5 donas de casa e 14 estudantes Fez entrevista

formal e observaccedilotildees em muitas situaccedilotildees espontacircneas nas ruas de

Vineyard Haven e Edgartown em lanchonetes restaurantes bares

embarcadouros e diversos lugares onde o som geral da conversa puacuteblica

podia ser anotado quando natildeo gravado As anotaccedilotildees serviam apenas

como controles suplementares sobre as entrevistas gravadas As

entrevistas aconteceram em trecircs periacuteodos agosto final de

setembrooutubro de 1961 e janeiro de 1962 com pessoas de idades que

variaram de 14 a 75 anos

As duas principais variaacuteveis estudadas na ilha foram (ay) e (aw)

O significado linguiacutestico das formas em variaccedilatildeo era o mesmo mas a

situaccedilatildeo de fala era diferente na comunidade Como resultado das

entrevistas o autor obteve aproximadamente 3500 ocorrecircncias de (ay) e

1500 ocorrecircncias de (aw) como base de dados para sua pesquisa

O primeiro grupo eacutetnico formado por descendentes das famiacutelias

mais velhas de origem inglesa foi para a ilha nos seacuteculos XVII e XVIII

As famiacutelias inglesas eram os Mayhews Nortons Hancocks Allens

Tiltons Vincents Wests e Pooles que com o passar dos anos

influenciaram a liacutengua inglesa falada na ilha e a cultura da comunidade

O segundo grupo eacutetnico era formado por famiacutelias de imigrantes

accedilorianos vindos de Cabo Verde em Portugal Esses imigrantes

portugueses ao longo de toda costa da Nova Inglaterra representaram o

percentual mais alto de centralizaccedilatildeo em Martha‟s Vineyard

A ilha foi dividida em duas partes mais relevantes para a

pesquisa a ilha alta (up-island) e a ilha baixa (down-island) num total

de 5563 (cinco mil quinhentos e sessenta e trecircs) habitantes na deacutecada

de 1960 A ilha alta era organizada por pessoas que viviam em meio

rural poucos lugares fazendas casas de veraneio abandonadas lagoas

de aacutegua salgada e pacircntanos era uma aacuterea geograacutefica central desabitada e

com pinheirais improdutivos A ilha baixa era uma regiatildeo formada por

trecircs pequenos centros urbanos onde vivia cerca de trecircs quartos da

populaccedilatildeo A populaccedilatildeo de Martha‟s Vineyard na deacutecada de 1970 era de

11725 habitantes na parte alta da Ilha (rural) era de 3846 Edgartown

14 Eacute o indiviacuteduo que se casa com membros da mesma tribo para conservaccedilatildeo de sua nobreza e

raccedila

44

1118 Oak Bluffs 1027 Vineyard Haven 1701 e na parte baixa da Ilha

(Vilarejos) 1717 Edgartown 256 Oak Bluffs 292 Tisbury 468 West

Tisbury 360 Chilmark 238 Gay Head 103

Mapeamento da Ilha de Martharsquos Vineyard

Em 1960

Figura 03 ndash Retirado do livro de GROCE Nora Ellen Everyone Here

Spoke Sign Language Hereditary Deafness on Martha‟s Vineyard

Printed in the United States of America 1952

45

Em 1960

Figura 04 ndash Retirado do livro de LABOV Willian Padrotildees

Sociolinguiacutesticos 2008 [1972]

Atualmente em 2012

Figura 05 ndash 10092011 retirado no site

httpcawikipediaorgwikiMartha27s_Vineyard

46

A populaccedilatildeo na Ilha no ano de 1960 estava constituiacuteda de 11

de descendentes da primeira ou da segunda geraccedilatildeo de imigrantes

portugueses Das terceiras e quartas geraccedilotildees provavelmente chegaria

proacuteximo aos 20 Quanto ao terceiro grupo eacutetnico eram remanescentes de

indiacutegenas de GAY HEAD O quarto grupo eacute uma Miscelacircnea de

famiacutelias de imigrantes europeus que vieram da Inglaterra Franccedila-

Canadaacute Irlanda Alemanha e Polocircnia Apesar de que a soma desses

imigrantes seja de aproximadamente 15 natildeo foi levada em conta por

natildeo ser uma forccedila social coesa Segundo Labov todos os anos no veratildeo muitos turistas

chegavam agrave ilha nos meses de junhojulho passando de 6000

habitantes para 42000 habitantes representando um nuacutemero expressivo

mas natildeo foi diretamente analisado porque a influecircncia direta destes

veranistas sobre o falar em Vineyard era relativamente pequena A

constante pressatildeo vinda na comunicaccedilatildeo junto agrave crescente dependecircncia

econocircmica criada pelo turismo gera indiretamente mudanccedilas

linguiacutesticas

Os veranistas estrangeiros falam uma liacutengua proacutepria em seu paiacutes

vatildeo a passeio agrave Ilha para conhecer e explorar a cidade e tambeacutem o povo

daquela ilha fazendo trocas neste conviacutevio e de alguma forma

promovem mudanccedilas econocircmicas poliacuteticas culturais sociais e

linguiacutesticas

O autor constatou que a Ilha de Martha‟s Vineyard aleacutem da

variaccedilatildeo estudada que eacute a centralizaccedilatildeo dos ditongos os falantes

tambeacutem usam as formas variaacuteveis do ndashr poacutes-vocaacutelico em palavras como

car (carro) four (quatro) card (cartatildeo) fourth (quarto) (podemos

verificar ocorrecircncia semelhante na liacutengua falada oral com o sotaque que

se modifica) Diferente do padratildeo comum do sudeste da Nova

Inglaterra [ai] e [au] com frequecircncia se ouve na ilha [ɐi] e [ɐu] ou

mesmo [əi] e [əu] Labov (2008 [1972] p 27) escreve o seguinte

ldquoEsse aspecto dos ditongos centralizados eacute saliente para

o linguumlista mas natildeo para os falantes eacute claramente imune

agrave distorccedilatildeo consciente jaacute que os vineyardenses nativos

natildeo se datildeo conta dele nem conseguem controlaacute-lo

conscientemente No que diz respeito agrave estrutura natildeo

podemos desprezar o paralelismo estrutural de ay e

aw por outro lado esses ditongos satildeo marcados por

grande liberdade estrutural na gama de alofones

permitida pelo sistema Essas satildeo diferenccedilas estritamente

subfonecircmicas Uma vez que natildeo existem outros ditongos

47

crescentes com primeiros elementos baixo ou central

nesse sistema natildeo eacute provaacutevel que o alccedilamento

continuando ou ate a posteriorizaccedilatildeo ou anterioriazaccedilatildeo

resultasse em confusatildeo com qualquer outro fonemardquo

Labov em sua pesquisa mostrou a pronuacutencia variaacutevel dos

ditongos (ay) e (aw) na comunidade de fala considerando traccedilos sociais

dos moradores da localizaccedilatildeo alta (rural) e baixa (vilarejos) da Ilha

atraveacutes de um mapeamento da fala Ele investigou (ay) como o ditongo

em palavras do inglecircs (ex right white pride wine ou wife) e (aw)

ditongo encontrado nas palavras do inglecircs como house out e doubt por

exemplo

Ele realizou procedimentos de observaccedilatildeo e identificaccedilatildeo da

comunidade de fala em duas localizaccedilotildees diferentes em Marthas

Vineyard e Nova York Estudou as realizaccedilotildees de (ay) e (aw) em vaacuterias

regiotildees da ilha e do estado entre as faixas etaacuterias dos informantes entre

grupos de profissionais e tambeacutem entre os grupos eacutetnicos (raccedila e cor)

E em Nova York pesquisou em trecircs lojas de departamento sobre a

realizaccedilatildeo de [r] em posiccedilatildeo final e preacute-consonantal na fala de

funcionaacuterios destas lojas Labov (1994) analisou o uso de [r] que

poderia ser pronunciado ou natildeo na fala de 264 pessoas levando-os a

responder de forma que aparecesse na fala a expressatildeo fourth floor

(quarto andar) porque essa expressatildeo contem [r] nas duas proposiccedilotildees

pretendidas preacute-consonantal (fourth) e final (floor) Labov com essa

pesquisa nos Estados Unidos mostrou que o vernaacuteculo de Nova York

continuou sem o [r] por muito tempo mas como a pronuacutencia do [r] era

prestigiada passou a ser usada pelas classes mais altas e pelos jovens

sensiacuteveis pela questatildeo do status social

Desse modo Labov desenvolveu suas pesquisas com base em

procedimentos metodoloacutegicos que pudessem reconstruir a histoacuteria

recente da mudanccedila linguiacutestica da pronuacutencia dos ditongos e do [r] poacutes-

vocaacutelico Neste trabalho vatildeo ser detalhados os resultados da pesquisa em

Marthas Vineyard

223 ndash Seleccedilatildeo da variaacutevel linguiacutestica

Na seleccedilatildeo da variaacutevel linguiacutestica eacute importante perguntar quais

satildeo as propriedades mais uacuteteis de uma variaacutevel linguiacutestica servindo de

foco de pesquisa de uma determinada comunidade de falantes

Labov pensou como primeiro passo da pesquisa em verificar um

item que ocorra com frequecircncia numa conversaccedilatildeo espontacircnea e que

48

possa ser mapeado Em segundo deve ser estrutural ou seja quanto

mais integrado o item estiver num sistema mais amplo de unidades

funcionais maior seraacute o interesse linguiacutestico intriacutenseco ao estudo E

finalmente em terceiro a distribuiccedilatildeo do traccedilo deve ser estratificada

observando a faixa etaacuteria o grupo de profissionais ou outros

extratos da comunidade de fala Labov apresentou a pesquisa

preliminar sobre o estudo do som na fala da comunidade em vaacuterias

categorias buscando os dados das pessoas que falavam em

diferentes situaccedilotildees linguiacutesticas na ilha como mostra a citaccedilatildeo

abaixo Nas entrevistas preliminares conduzidas em Martha‟s

Vineyard em 1961 foram observadas diversas

mudanccedilas estruturais que eram claramente paralelas a

mudanccedilas que ocorreriam no continente sob a

influecircncia do padratildeo do sudeste da Nova Inglaterra

(LABOV 2008 [1972] p 26)

Eacute importante ressaltar que a Ilha de Marthas‟s Vineyard tem

conservado traccedilos arcaicos provavelmente a populaccedilatildeo era do sudeste

da Nova Inglaterra antes de 1800 Estudos preliminares em 1961

mostraram que a maior parte dos traccedilos especiais do falar da ilha

apresentado nos mapas do LANE15

ainda podiam ser encontrados entre

os falantes de 50 a 95 anos de idade

Labov queria entender a estrutura interna do inglecircs Vineyardense

as diferenccedilas sistemaacuteticas que jaacute haviam ocorrido e as mudanccedilas que

estavam ocorrendo por isso selecionou um aspecto linguiacutestico

caracteriacutestico da ilha com o maior nuacutemero possiacutevel de variaccedilatildeo e o mais

complexo padratildeo de distribuiccedilatildeo Ele comeccedilava a pesquisa

entrevistando indiviacuteduos falantes na comunidade com o objetivo de

detectar variaccedilotildees linguiacutesticas16

geograacuteficas sociais e estiliacutesticas

15 Linguistic Atlas of New England Trata-se de um projeto que registrou a fala de habitantes da Nova Inglaterra nos Estados Unidos na deacutecada de 1930 Segundo O‟Cain (1979 p 243)

ldquoLANE samples the speech of the older and rural representatives of the culture thus

establishing late nineteenth-century bench marks for the study of the New England dialects and also samples younger and urban speakers thus indicating general and particular trends of

changerdquo

16 COELHO et al (2010 p 166) lembram que variaccedilatildeo eacute o ldquoprocesso pelo qual duas formas

podem ocorrer no mesmo contexto linguiacutestico com o mesmo valor referencial ou com o mesmo valor de verdade ie com o mesmo significado Dois requisitos precisam pois ser

cumpridos para que ocorra variaccedilatildeo as formas envolvidas precisam (i) ser intercambiaacuteveis no

mesmo contexto e (ii) manter o mesmo significadordquo

49

Na comunidade linguiacutestica17

de falantes atraveacutes da forma de

falar na conversa espontacircnea e no comportamento o autor mostrou

que havia diferenccedilas linguiacutesticas na ilha de Martha‟s Vineyard e no

sudeste da Nova Inglaterra de onde migraram pessoas para a

colonizaccedilatildeo da ilha

Em sua pesquisa Labov observou que ldquono caso do r poacutes-

vocaacutelico os falantes apresentavam uma variaacutevel linguiacutestica definida

pelos limites geograacuteficos da ilha e que segue um padratildeo social

idiossincraacutetico a Marthas Vineyardrdquo (LABOV 2008 [1972] p 27) Em

algumas aacutereas a retroflexatildeo estava diminuindo e em outras aumentando

As variaccedilotildees do r eram frequentes salientes e envolviam

consequecircncias estruturais determinantes para o sistema vocaacutelico inteiro

Labov em sua pesquisa mostrou variaccedilotildees linguiacutesticas que

ocorreriam na Ilha em uma mesma palavra com ditongos centralizados

como no caso do (ay) e do (aw) na fala dos grupos pesquisados Para

Labov A propriedade deste traccedilo de centralizaccedilatildeo que o faz

parecer excepcionalmente atraente ateacute mesmo agrave

primeira vista eacute a indicaccedilatildeo de um complexo e sutil

padratildeo de estratificaccedilatildeo Essa mesma complexidade

daacute provas de ser recompensadora pois quando a

tendecircncia centralizante eacute mapeada nos haacutebitos de

vaacuterios falantes e a influecircncia do ambiente foneacutetico

prosoacutedico e estiliacutestico eacute considerada permanece uma

ampla aacuterea de variaccedilatildeo (LABOV 2008 [1972] p 27

e 28)

Na comunidade de fala o ambiente o espaccedilo os diferentes

interlocutores as diferentes situaccedilotildees no modo de falar interferem no

sistema foneacutetico prosoacutedico e estiliacutestico da liacutengua falada

As mudanccedilas sonoras satildeo estudadas no momento presente e no

passado buscando novos conhecimentosexplicaccedilotildees sobre uma

17 DUBOIS J et al (2006 p 133) entendem por ldquocomunidade linguiacutestica um grupo de seres

humanos que usam a mesma liacutengua ou o mesmo dialeto num dado momento e que podem comunicar-se entre si Quando uma naccedilatildeo eacute monoliacutengue constitui uma comunidade linguiacutestica

Mas a comunidade linguiacutestica natildeo eacute homogecircnea compotildee-se sempre de um grande nuacutemero de

grupos que tem comportamentos linguiacutesticos diferentes A forma de liacutengua que os membros desses grupos usam tende a reproduzir de uma maneira ou de outra na foneacutetica na sintaxe ou

no leacutexico as diferenccedilas de geraccedilatildeo de origem de residecircncia de profissatildeo ou de formaccedilatildeo

(diferenccedilas socioculturais)rdquo

50

determinada aacuterea da comunidade falada as influecircncias as mudanccedilas

fonecircmicas ocorridas e suposiccedilotildees de como seraacute no futuro

Labov escreve que na Ilha de Marthas‟s Vineyard os veranistas

tecircm apenas uma leve impressatildeo da fala dos nativos pois de cada oito

pessoas na ilha sete satildeo visitantes Para Labov os veranistas natildeo tinham

muita importacircncia naquela comunidade pois na primeira semana de

setembro eles voltavam para seu lugar de origem E apenas ficavam os

moradores da ilha Continuavam a utilizar um alto grau de centralizaccedilatildeo

de (ay) e (aw) na ilha alta e tambeacutem nas aacutereas do vilarejo da ilha baixa

o turismo natildeo interferia nesse aspecto

Labov escreve que

A fim de estudar sistematicamente esse traccedilo foi

necessaacuterio conceber um modelo de entrevista que

fornecesse vaacuterios exemplos de (ay) e (aw) na fala

espontacircnea na fala emocionalmente carregada na fala

monitorada e no estilo de leitura O primeiro desses

ditongos tem mais do dobro da frequumlecircncia de uso do

segundo mas mesmo assim diversas estrateacutegias foram

necessaacuterias para aumentar a concentraccedilatildeo de ocorrecircncias

de ambos (LABOV 2008 [1972] p 31)

Para pesquisar a frequecircncia dos ditongos de (ay) e (aw) Labov

utilizou como estrateacutegia um questionaacuterio lexical concentrando-se em

algumas palavras e utilizando os mapas de LANE Aleacutem disso

formulou perguntas acerca de juiacutezos de valores e orientaccedilatildeo social do

informante e por fim um texto para leitura especial como um teste de

habilidade para ler uma histoacuteria

224 ndash Distribuiccedilatildeo por idade e tempo

Para cada falante o grau geral de centralizaccedilatildeo foi expresso por

valores numeacutericos multiplicados por 100 Veja a tabela 01

Centralizaccedilatildeo por grupos ocupacionais

Na centralizaccedilatildeo por grupos ocupacionais Labov chegou agrave

conclusatildeo de que o grupo dos pescadores na fala centralizava mais os

ditongos (ay) e (aw) do que os fazendeiros e outros pesquisados

51

Ocupaccedilatildeo (ay) (aw)

Pescadores 100 79

Fazendeiros 32 22

Outros 41 57

Tabela 01 ndash Centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por grupos ocupacionais

(LABOV 2008 [1972] p 46)

A tabela 01 mostra as tendecircncias de centralizaccedilatildeo dos ditongos

em funccedilatildeo dos grupos profissionais Os resultados apontam que os

pescadores usam mais centralizaccedilatildeo de (ay) e de (aw) num total

numeacuterico de 100 e de 79 respectivamente Para os fazendeiros os

resultados apontam 32 para (ay) e 22 para (aw) e para as outras

ocupaccedilotildees 41 para (ay) e 57 para (aw) A diferenccedila de resultados com

relaccedilatildeo agrave centralizaccedilatildeo dos ditongos pelos falantes na ilha em Martha‟s

Vineyard confirma o fato de pescadores usarem mais centralizaccedilatildeo do

que os demais informantes

Na centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por faixa etaacuteria Labov escreve

A centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) parece exibir um aumento

regular em faixas etaacuterias sucessivas alcanccedilando um pico

no grupo de 31 a 45 anos Temos agora de examinar as

razotildees para considerarmos esse padratildeo como uma

evidecircncia de mudanccedila histoacuterica no desenvolvimento de

Martha‟s Vineyard (LABOV 2008 [1972] p 41)

Vejamos a tabela

Idade (ay) (aw)

75 25 22

61 ndash 75 35 37

46 ndash 60 62 44

31 ndash 45 81 88

14 ndash 30 37 46

Tabela 02 ndash Centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por faixa etaacuteria (LABOV 2008

[1972] p 41)

52

Na tabela 02 Labov apresenta na coluna agrave esquerda a variaacutevel

independente18

ldquoidaderdquo (externa) distribuiacuteda em diferentes faixas

etaacuterias tendo iniacutecio a partir de 14 anos ateacute acima de 75 anos A coluna

central e a da direita apresentam as duas variaacuteveis dependentes19

fonoloacutegicas (internas) ndash os ditongos (ay) e (aw) Finalmente a tabela

apresenta a centralizaccedilatildeo de cada um dos ditongos de acordo com a

faixa etaacuteria do falante na Ilha de Martha‟s Vineyard

O fato de ser miacutenimo o percentual de centralizaccedilatildeo para

os muito velhos e para os muito jovens mostra que o

efeito da idade natildeo pode ser inteiramente descartado e

que de fato pode ser um fator secundaacuterio na distribuiccedilatildeo

pelas faixas etaacuterias (LABOV 2008 [1972] p 44)

Labov analisou em sua pesquisa iacutendices calculados por ele a

partir da centralizaccedilatildeo dos ditongos num total de 477 centralizaccedilatildeo de

(ay) e (aw) sendo 240 de (ay) e 237 de (aw) Ele percebeu na

distribuiccedilatildeo entre as cinco faixas etaacuterias um aumento percentual

gradativo com o resultado maior de centralizaccedilatildeo no grupo de 31 a 45

anos Por fim Labov em suas pesquisas sociolinguiacutesticas observou uma

possiacutevel mudanccedila da liacutengua nas diferentes faixas etaacuterias da comunidade

de fala de Martha‟s Vineyard com o controle da atuaccedilatildeo de vaacuterios

fatores internos e externos na centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw)

225 ndash Uma explicaccedilatildeo possiacutevel para o aumento da centralizaccedilatildeo

O exame da centralizaccedilatildeo segundo Labov da variaacutevel

dependente em estudo foi meramente descritivo e quando Labov tentou

explicar o fenocircmeno deparou-se com a seguinte questatildeo quais variaacuteveis

independentes seria importante examinarmos Labov supotildee que a

centralizaccedilatildeo desceu a um ponto baixo no final da deacutecada de 1930 e no

poacutes-guerra iniciou a subida Observe

18 COELHO et al (2010 p 166) ldquoVariaacuteveis independentes ndash fatores que condicionam nossa

escolha entre uma ou outra variante e que permitem ao linguista sugerir em que tipo de ambiente tanto linguiacutestico quanto extralinguiacutestico uma variante tem maior probabilidade de

ser escolhida em detrimento de sua (s) ldquorival (is)rdquordquo

19 COELHO et al (2010 p 166) ldquoVariaacutevel dependente ndash aspecto ou categoria da liacutengua que se

encontra em variaccedilatildeordquo

53

Permanece a questatildeo inicial a de explicar (ou de

oferecer um contexto mais amplo para) o aumento geral

da centralizaccedilatildeo na ilha Por que Martha‟s Vineyard deu

as costas para a histoacuteria da liacutengua inglesa Acredito que

podemos encontrar uma explicaccedilatildeo especifica se

estudarmos a configuraccedilatildeo detalhada desta mudanccedila

sonora em funccedilatildeo das forccedilas sociais que afetam mais

profundamente a vida da ilha (LABOV 2008 [1972] p

45)

As primeiras anaacutelises revelaram algumas correlaccedilotildees sociais

notaacuteveis A tabela 03 distribuiccedilatildeo geograacutefica da centralizaccedilatildeo mostra

as tendecircncias nas aacutereas da ilha alta rural a favorecer mais a centralizaccedilatildeo

do que nas aacutereas dos vilarejos da ilha baixa A tabela 03 mostra os

resultados sobre diferenccedilas geograacuteficas entre os moradores da ilha com

relaccedilatildeo agrave centralizaccedilatildeo dos ditongos nas duas principais partes da ilha

nas aacutereas da ilha alta rural e vilarejos na parte da ilha baixa

Os resultados de pesquisa sobre a centralizaccedilatildeo podem ser vistos

na tabela a seguir

(ay) (aw)

Ilha baixa 35 33

Edgartown 48 55

Oak Bluffs 33 10

Vineyard Haven 24 33

Ilha alta 61 66

Oak Bluffs 71 99

N Tisbury 35 13

West Tisbury 51 51

Chilmark 100 81

Gay Head 51 81

Tabela 03 ndash Distribuiccedilatildeo geograacutefica da centralizaccedilatildeo (LABOV 2008

[1972] p 45)

Estaratildeo essas variaacuteveis sociais vinculadas de algum

modo demonstraacutevel agrave mudanccedila linguumliacutestica Seratildeo

realmente independentes umas das outras ou algumas

das correlaccedilotildees estatildeo equivocadas e satildeo dependentes de

algum fator mais amplo que eacute logicamente preacutevio a elas

Se tal fator mais amplo existe precisamos indagar como

ele se originou e de que modo estaacute vinculado aos eventos

linguumliacutesticos Uma abordagem simplista e contabiliacutestica

54

natildeo responderaacute a essas perguntas Teremos de buscar

respostas na estrutura social da ilha e nas pressotildees que

motivam as mudanccedilas sociais da Martha‟s Vineyard

contemporacircnea (LABOV 2008 [1972] p 46)

A mudanccedila linguiacutestica dos grupos era identificada com os

costumes da ilha de Martha‟s Vineyard e Labov conduziu sua pesquisa

com pessoas que habitavam este local e viviam mais de acordo com os

seus costumes tradicionais Labov acreditava que as mudanccedilas

linguiacutesticas poderiam ser correlacionadas agraves relaccedilotildees sociais dos

moradores da ilha e por isso realizou sua pesquisa observando os

comportamentos linguiacutesticos somente das pessoas nativas da ilha

226 ndash A interaccedilatildeo de padrotildees linguiacutesticos e sociais

A Ilha de Martha‟s Vineyard ateacute hoje em dia eacute um lugar

beliacutessimo atrai muitos turistas inclusive poliacuteticos americanos As

pessoas que viviam laacute na deacutecada de 1960 natildeo tinham vida faacutecil na

sociedade americana Era o local com renda mais baixa no municiacutepio de

Massachusetts Labov traz essas informaccedilotildees do Censo de 196020

Os

moradores da ilha dependiam do turista a economia melhorava muito na

temporada Na Ilha de Florianoacutepolis acontece algo parecido Na

temporada de veratildeo o turista do paiacutes e do exterior lota a cidade

fortalecendo a economia do lugar

Florianoacutepolis tambeacutem eacute uma ilha beliacutessima com temporadas de

turistas que vecircm conhecer e aproveitar os lugares ir agraves praias passear

nos Shopping comprar nas lojas ir a restaurantes etc Labov quando

relata sua pesquisa na Ilha de Martha‟s Vineyard parece estar

comentando de Florianoacutepolis Os moradores da ilha aproveitam para

alugar suas casas vender seus produtos principalmente para os turistas

mais ricos Entatildeo haacute uma movimentaccedilatildeo econocircmica muito grande

assim como uma troca com relaccedilatildeo agrave liacutengua falada Como diz Labov (2008 [1972] p 49) ldquoOs chilmarkenses se

orgulham muito de suas diferenccedilas em relaccedilatildeo aos moradores do

continenterdquo

20 O Censo de 1960 mostra que a ilha de Martha‟s Vineyard se trata do municiacutepio mais pobre

de Massachusetts tem a meacutedia de renda mais baixa o mais alto nuacutemero de pessoas pobres e o

menor nuacutemero de pessoas ricas (LABOV 2008 [1972] p 47)

55

Vocecircs que vecircm para caacute para Martha‟s Vineyard natildeo

entendem os costumes das velhas famiacutelias da ilha

costumes e tradiccedilotildees estritamente mariacutetimos e aquilo

que nos interessa o resto da Ameacuterica essa parte do outro

lado aqui da aacutegua que pertence a vocecircs e com que noacutes

natildeo temos nada a ver se esqueceu completamente

Acho ateacute que noacutes usamos um tipo de liacutengua inglesa

totalmente diferente pensamos diferente aqui na ilha

eacute quase uma liacutengua separada dentro da liacutengua inglesa

Interessante se faz notar que no lugar de Chilmark a comunidade

na ilha vive a tradiccedilatildeo da famiacutelia os costumes vecircm de geraccedilatildeo em

geraccedilatildeo O estrangeiro de liacutengua inglesa quando conhece o lugar pode

influenciar a liacutengua falada na ilha pois seu inglecircs eacute diferente

Os resultados reunidos com o maior grau de centralizaccedilatildeo de (ay)

e de (aw) satildeo mostrados na tabela 04 organizados por ocupaccedilatildeo regiatildeo

ou localidade em que moram e faixa etaacuteria

Tabela 04 ndash Cruzamento de fatores 6 falantes com o maior grau de

centralizaccedilatildeo (LABOV 2008 [1972] p 50)

Na regiatildeo Edgartown dois pescadores que satildeo irmatildeos

descendentes de famiacutelias antigas mantecircm sua posiccedilatildeo agrave beira mar de Edgartown trabalhando mesmo frente agrave invasatildeo dos veranistas

Nas tabelas 01 e 04 verifica-se que de todos os grupos

ocupacionais o de pescadores eacute o que utiliza um maior iacutendice de

centralizaccedilatildeo Labov tentou fazer tabulaccedilotildees cruzadas extensas entre as

tabelas 04 e 05 mas chegou agrave conclusatildeo que o nuacutemero era pequeno

Ocupaccedilatildeo Regiatildeo Idade (ay) (aw)

Pescador de Chilmark 60 anos 170 111

Pescador de Chilmark 31 anos 165 211

Pescador de Chilmark 55 anos 150 124

Pescador de Edgartown 61 anos 143 107

Pescador de Chilmark 33 anos 133 79

Pescador de Edgartown 52 anos 131 131

56

demais Exemplificou com o grupo de pescadores de Chilmark na faixa

etaacuteria de 30 a 60 anos Percebeu que cinco informantes tecircm iacutendices

meacutedios de 148 para (ay) e 118 para (aw) o mais elevado do que

qualquer outro grupo social da ilha Labov concluiu entatildeo que a grande

escalada da centralizaccedilatildeo comeccedilou na ilha alta entre os pescadores de

Chilmark

Veja agora os resultados da faixa etaacuteria por grupo eacutetnico

Tabela 05 ndash Centralizaccedilatildeo por grupos eacutetnicos (LABOV 2008

[1972] p 46)

A tabela 5 apresenta a centralizaccedilatildeo por faixa etaacuteria em cada um

dos grupos eacutetnicos principais (ingleses portugueses e indiacutegenas)

Labov concluiu que

Vemos que a centralizaccedilatildeo atinge o aacutepice na faixa etaacuteria

de 30 a 45 anos e que a centralizaccedilatildeo de (aw) alcanccedilou

ou ultrapassou (ay) neste ponto Essa faixa etaacuteria tem

estado sob uma pressatildeo muito mais forte do que qualquer

outra os homens cresceram numa economia declinante

depois de fazerem uma escolha mais ou menos

deliberada de permanecer na ilha em vez de abandonaacute-la

A maioria deles esteve nas forccedilas armadas durante a

Segunda Guerra Mundial ou no conflito da Coreacuteia

Muitos frequumlentaram uma faculdade pois o grupo de

ascendecircncia inglesa tem um grande apreccedilo pela educaccedilatildeo

superior Em algum momento cada um desses homens

escolheu levar uma vida apertada em Martha‟s Vineyard

enquanto muitos de seus contemporacircneos partiram para

ganhar mais dinheiro ou mais reconhecimento em outro

lugar (LABOV 2008 [1972] p 50 e 51)

Exemplificou com relatos as interferecircncias que ocorreram no

modo de falar na ilha Uma delas ldquoSabe o E nem sempre falou desse

jeito foi soacute depois que ele voltou da faculdade Acho que ele queria

Ingleses Portugueses Indiacutegenas

Faixa etaacuteria (ay) (aw) (ay) (aw) (ay) (aw)

Mais de 60 36 34 26 26 32 40

46 a 60 85 63 37 59 71 100

31 a 45 108 109 73 83 80 133

Menos de 30 35 31 34 52 47 88

Todas as idades 67 60 42 54 56 90

57

ficar mais parecido com os homens das docasrdquo

Labov concluiu

Aqui vemos um caso niacutetido de hipercorreccedilatildeo atuando e

com base em outros indiacutecios tambeacutem eacute razoaacutevel supor

que essa eacute uma forccedila muito regular de implementaccedilatildeo da

tendecircncia foneacutetica que estamos estudando (LABOV

2008 [1972] p 52)

Muitos dos jovens de antigas famiacutelias natildeo permaneceratildeo na ilha e

isto reflete nos iacutendices da tabela Atraveacutes de uma leitura padronizada de

um texto com os jovens Labov observou que existia diferenccedila na fala

dos que permaneciam na ilha exibiam forte centralizaccedilatildeo enquanto os

que queriam sair mostravam pouca ou nenhuma centralizaccedilatildeo

Das informaccedilotildees obtidas surgiu um padratildeo unificado que

exprimia o significado social dos ditongos centralizados evidenciando

ldquoque o significado imediato desse traccedilo era o Vineyardenserdquo Labov

esclarece que pelo fato de os grupos terem que responder a desafios

diferentes a seu status nativo desenvolvia-se um modo complexo no

traccedilo fonecircmico

Labov exemplifica isso abaixo

O grupo das antigas famiacutelias de origem inglesa tem sido

submetido a pressotildees vindas de fora seus membros estatildeo

lutando para manter sua posiccedilatildeo independente diante de

um persistente decliacutenio da economia e diante do asseacutedio

ininterrupto dos veranistas O membro da comunidade de

orientaccedilatildeo tradicional naturalmente busca seus valores

nas geraccedilotildees passadas essas geraccedilotildees passadas formam

um grupo de referecircncia para ele (LABOV 2008 [1972]

p 57)

Na geraccedilatildeo mais jovem dos ingleses o efeito diferencial no grau

de centralizaccedilatildeo manteve-se na tradiccedilatildeo eles tinham os ancestrais como

referecircncia se consideravam independentes enquanto pescadores

acreditavam que a ilha lhes pertencia Mantinham sua posiccedilatildeo

econocircmica Se pretendiam sair da ilha a influecircncia dos antepassados

diminuiacutea consideravelmente

No grupo de portugueses eles natildeo enfrentavam o dilema de partir ou ficar na ilha o principal desafio a que esse grupo tinha reagido

provinha do grupo inglecircs que tinha servido de referecircncia ateacute pouco

tempo Para os portugueses o mais urgente era afirmar-se em sua

identidade como ilheacuteu Os indiacutegenas se ressentiam dos obstaacuteculos que

58

enfrentavam na ilha mas tinham adotado muito dos valores dos

Chilmarkenses Com poucos recursos linguiacutesticos ficava difiacutecil insistir

em sua identidade indiacutegena

Labov (2008 [1972] p 59) examinando as entrevistas de cada

informante situou-as em trecircs categorias

Positivo ndash exprime sentimentos definitivamente positivos

acerca de Martha‟s Vineyard neutra ndash expressa

sentimentos nem positivos nem negativos acerca de

Martha‟s Vineyard negativa ndash indicada o desejo de ir

viver em outro lugar

Agora observe na tabela 06 o resultado da centralizaccedilatildeo segundo

a atitude dos trecircs grupos de falantes quanto agrave ilha

Pessoas (ay) (aw)

40 Positiva 63 62

19 Neutra 32 42

6 Negativa 09 08

Tabela 06 ndash Centralizaccedilatildeo e atitude com relaccedilatildeo a Martha‟s Vineyard

(LABOV 2008 [1972] p 59)

Labov agrupou os vaacuterios informantes em uma escala social

quanto ao uso dos ditongos centralizados Primeiro mostravam-se com

atitudes positivas 40 pessoas entrevistadas o iacutendice de centralizaccedilatildeo era

de 63 para (ay) e 62 para (aw) as duas comparaccedilotildees de centralizaccedilotildees

mais altas Segundo o ponto neutro realizado por 19 pessoas

entrevistadas o iacutendice de centralizaccedilatildeo ficava na faixa de 30 32 para

(ay) e 42 para (aw) nem positivo nem negativo Terceiro o ponto

negativo O autor encontrou 6 pessoas entrevistadas que tinham atitudes

negativas com relaccedilatildeo agrave ilha O iacutendice de centralizaccedilatildeo nesse caso era

apenas de 09 para (ay) e de 08 para (aw) Essas pessoas diziam que queriam

viver em outros lugares e natildeo na ilha de Martha‟s Vineyard O autor

mostrou a estratificaccedilatildeo de todos e como ele conseguiu explicar a

distribuiccedilatildeo dos ditongos centralizados de forma vaacutelida fazendo as

relaccedilotildees necessaacuterias para as explicaccedilotildees

59

23 ndash Os princiacutepios da mudanccedila linguiacutestica

Num primeiro estudo relacionado agrave mudanccedila linguiacutestica em

progresso (em curso) eacute necessaacuterio entender como as variaccedilotildees

linguiacutesticas estatildeo distribuiacutedas por faixa etaacuteria Entatildeo percebemos a

mudanccedila linguiacutestica relacionando a variaacutevel linguiacutestica com a idade

pesquisando indiviacuteduos de diferentes geraccedilotildees Segue abaixo a citaccedilatildeo

de Labov sobre mudanccedila linguiacutestica observada entre as faixas etaacuterias

conhecida como mudanccedila em tempo aparente21

A primeira abordagem e mais simples para estudar a

mudanccedila linguiacutestica em andamento eacute traccedilar mudanccedila no

tempo aparente isto eacute a distribuiccedilatildeo das variaacuteveis

linguiacutesticas entre os diferentes niacuteveis etaacuterios Se

descobrirmos uma relaccedilatildeo monotocircnica entre a idade e a

variaacutevel linguiacutestica ou uma correlaccedilatildeo significativa entre

as duas entatildeo trata-se de decidir se estamos lidando com

uma verdadeira mudanccedila em progresso ou de gradaccedilatildeo

etaacuteria (Hockett 1950) uma mudanccedila regular de

comportamento linguiacutestico com a idade que se repete em

cada geraccedilatildeo (LABOV 1994 p 47)22

A primeira e mais simples aproximaccedilatildeo entre as variaccedilotildees

encontradas na sincronia ao estudo da mudanccedila linguiacutestica em curso eacute

seguir a pista da mudanccedila em tempo aparente isto eacute a distribuiccedilatildeo das

variaacuteveis linguiacutesticas por faixa etaacuteria Na variaccedilatildeo encontrada entre o

grupo dos indiviacuteduos mais velhos de uma geraccedilatildeo e outro grupo de

21 SILVA (2004) faz um recorte transversal da amostra sincrocircnica em funccedilatildeo da faixa etaacuteria

dos informantes Por exemplo utilizamos no nosso estudo trecircs grupos etaacuterios jovens meia idade e idosos

COELHO et al (2010 p 164) apontam que mudanccedila em tempo aparente eacute uma ldquomudanccedila

linguiacutestica captada em estudo do comportamento linguiacutestico de indiviacuteduos de diferentes

geraccedilotildees numa comunidade num dado periacuteodo de tempo Tal estudo possibilita identificar correlaccedilotildees entre a variaacutevel social idade e a variaacutevel linguiacutestica em estudo revelando indiacutecios

de (i) uma mudanccedila concernente agrave idade que ocorre regularmente em cada geraccedilatildeo (gradaccedilatildeo

etaacuteria) ou de (ii) uma mudanccedila efetiva em progressordquo

22 Traduccedilatildeo minha do texto original em Inglecircs de Labov ldquoThe first and most straightforward approach to studying linguistic change in progress is to trace change in apparent time that is

the distribution of linguistic variables across age levels If we discover a monotonic

relationship between age and the linguistic variable or a significant correlation between the two then issue is to decide whether we are dealing with a true change in progress or with age-

grading (Hockett 1950) a regular change of linguistic behavior with age that repeats in each

generationrdquo

60

indiviacuteduos mais jovens em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria percebe-se muitas

vezes mudanccedila linguiacutestica em progresso nas liacutenguas

Na estratificaccedilatildeo por idade muitas vezes se percebe que os

indiviacuteduos mudam seu comportamento linguiacutestico durante toda a sua

vida mas a comunidade nem sempre muda

231 ndash A idade e a variaccedilatildeo estaacutevel

Mas nem sempre o estudo da faixa etaacuteria vai indicar mudanccedila em

progresso A meacutedia do grau de realizaccedilatildeo de uma variaccedilatildeo estaacutevel23

pode ser tambeacutem observada entre as faixas etaacuterias dos falantes em que

os grupos extremos (jovens e velhos) apresentam o mesmo

comportamento ao contraacuterio do grupo de meia idade cujo

comportamento se diferencia devido agraves pressotildees sociais Eacute considerando

a variaacutevel idade que vai ser observado no conjunto de dados

investigados se temos mudanccedila em tempo aparente ou variaccedilatildeo estaacutevel

A variaccedilatildeo estaacutevel pode ser observada considerando a

combinaccedilatildeo dos resultados das variaacuteveis bdquoidade‟ bdquosexo‟ bdquoclasse social‟ e

bdquoniacutevel de escolaridade‟ Com relaccedilatildeo agrave bdquofaixa etaacuteria‟ a variaccedilatildeo estaacutevel

diz respeito a variantes que coexistem por um longo periacuteodo mas sem

ter necessariamente predominacircncia de uma sobre a outra

Uma outra possibilidade eacute a visatildeo claacutessica que prevecirc estabilidade

do falante mas instabilidade da comunidade Ex daqui a 20 anos os

falantes de 70 anos estaratildeo falando como os de 50 anos de hoje Outra

possibilidade admite que o sistema linguiacutestico do indiviacuteduo modifica

mas o da comunidade permanece o mesmo Ex daqui a 20 anos os

falantes de 70 anos teratildeo o mesmo sistema que os de 70 anos hoje

Resultados recentes apontam para uma terceira possibilidade o

indiviacuteduo muda com o passar do tempo mas natildeo atinge precisamente a

mesma posiccedilatildeo em que estatildeo os falantes mais velhos atualmente

23 COELHO et al (2010 p 166) apontam que variaccedilatildeo estaacutevel eacute conhecida como a ldquosituaccedilatildeo

de variaccedilatildeo entre duas ou mais formas linguiacutesticas que se estende numa comunidade ao longo

do tempo sem que uma variante ceda seu espaccedilo agrave outrardquo

61

232 ndash A idade e a mudanccedila linguiacutestica

Segundo Naro (2003 p 44) no portuguecircs atual do RJ haacute

fenocircmenos em que a idade atua fortemente

Seudele a forma seu para a 3ordf pessoa eacute pouquiacutessimo

recorrente na fala dos mais jovens

Noacutesa gente os jovens estatildeo evitando a forma noacutes

Ir os jovens estatildeo evitando as regecircncias ir a e ir para

preferindo ir em

Sob a hipoacutetese claacutessica o estado atual da liacutengua de um falante

adulto reflete o estado da liacutengua adquirida mais ou menos ateacute os 15 anos

de idade Logo um indiviacuteduo falante com 60 anos representa a liacutengua de

45 anos atraacutes Falantes adultos tendem a usar as formas antigas Os pais

e filhos apesar de estarem em interaccedilatildeo constante usam formas

distintas na comunicaccedilatildeo Pais e filhos tecircm um vocabulaacuterio e uma fala

proacuteprios de sua eacutepoca Com o passar do tempo eacute provaacutevel que a forma

nova seja adotada por pais e filhos

Naro (2003) apresenta a escala em tempo aparente obtida atraveacutes

do estudo de falantes com idades diferentes ndash chamada de ldquogradaccedilatildeo

etaacuteriardquo ndash que corresponde sempre sob a hipoacutetese claacutessica a uma escala

de mudanccedila em tempo real Observamos a tabela apresentada a seguir

Idade atual

(em anos)

Estado da liacutengua

(anos atraacutes)

70

60

50

40

30

20

55

45

35

25

15

5

Tabela 07 ndash A escala em tempo aparente eacute chamada de ldquogradaccedilatildeo etaacuteriardquo (NARO 2003 p 45)

A tabela ajuda a explicar os dados da pesquisa realizada por

Labov (atraveacutes de gravaccedilatildeo no ano de 1990) mostrando que a fala de

62

um indiviacuteduo de 70 anos de idade representaria o estado da liacutengua

adquirida em 1935

Segundo Naro (2003) Labov conseguiu distinguir quatro graus de

ditongos centralizados denotados (aw) ndash 0 (a posiccedilatildeo mais baixa

correspondendo a ldquoshwardquo) As trecircs posiccedilotildees centrais claacutessicas do

alfabeto foneacutetico estatildeo representadas por ele no seguinte graacutefico

Figura 06 ndash O trapezoacuteide das vogais a flecha indica a direccedilatildeo de

movimento do primeiro elemento de (aw) (NARO 2003 p 49)

A pesquisa em Martha‟s Vineyard revelou que os velhos

preservavam mais a forma original natildeo-centralizada os jovens por

outro lado centralizavam mais Segue a tabela

Geraccedilatildeo Idade Iacutendice de (aw) Iacutendice de (ay)

I (pais) 75+

61 - 75

22

37 25

35

II (filhos) 46 ndash 60

31 ndash 45

44

88 62

88

Tabela 08 ndash Mudanccedila de (aw) e (ay) em tempo aparente atraveacutes de duas

geraccedilotildees em Martha‟s Vineyard (Labov 1972 apud Naro 2003 p 22)

Algumas observaccedilotildees de Naro sobre a pesquisa de Labov satildeo (i) a centralizaccedilatildeo estaacute se espalhando com forccedila e rapidez (ii) os indiviacuteduos

mais velhos (80 anos) praticamente apenas usavam o grau zero o mais

aberto da escala com ocorrecircncias esporaacutedicas do grau um a faixa de 60

anos estava concentrada no grau dois antes de consoante surda (out

63

ldquoforardquo) e no grau zero ou um em outros contextos (round ldquoredondordquo

now ldquoagorardquo) na faixa de 30 anos o condicionamento se tornava quase

categoacuterico grau dois ou trecircs antes de consoante surda grau zero ou um

nos demais contextos ndash resultados obtidos atraveacutes do estudo da variaccedilatildeo

no indiviacuteduo Observa-se assim detalhadamente a mudanccedila em

progresso desde o comeccedilo (ocorrecircncia esporaacutedica de variantes mais

altas) ateacute a instauraccedilatildeo do condicionamento categoacuterico (variantes mais

altas antes de consoante surda variantes mais baixas nos outros

contextos)

De acordo com Naro

O que permite esta visatildeo simultacircnea das diversas etapas

do processo dinacircmico de mudanccedila eacute o congelamento do

sistema linguiacutestico do falante na eacutepoca da puberdade e eacute

justamente este o postulado fundamental que subjaz agrave

hipoacutetese claacutessica do relacionamento entre mudanccedila

linguiacutestica e idade o processo da mudanccedila se espelha na

fala das sucessivas faixas etaacuterias (NARO 2003 p 46)

Sabemos que nem toda variaccedilatildeo na fala representa mudanccedila em

progresso Um exemplo pronuacutencia do morfema ing em inglecircs (walking

ldquoandandordquo) que pode ser realizado como velar ou dental ndash eacute uma

variaccedilatildeo atestada haacute seacuteculos poreacutem ainda existente em praticamente

todos os dialetos e nas diferentes faixas etaacuterias

Labov realizava pesquisas sobre o desenvolvimento diacrocircnico24

da liacutengua a partir de anaacutelises sincrocircnicas25

primeiro foi na ilha de

Marthas Vineyard (1963) e depois foi na cidade de Nova York (1966)

Quando a mudanccedila estaacute envolvida certa variante

ocorreraacute na fala da crianccedila embora esteja ausente na fala

de seus pais ou mais tipicamente uma variante na fala

24 JOTA (1981 p 103) ldquoEstudo da liacutengua atraveacutes dos tempos e consequentemente estudo das transformaccedilotildees que sofre a liacutengua em sua evoluccedilatildeo Opotildee-se agrave sincronia A linguiacutestica

portanto jaacute que pode estudar a liacutengua diacronicamente ou se limitar ao seu estudo em

determinado tempo de sua evoluccedilatildeo (sincronia) se divide em diacrocircnica e sincrocircnicardquo

25 JOTA (1981 p 307) ldquoConjunto dos fatos linguiacutesticos num dado estaacutegio de sua evoluccedilatildeo A sincronia eacute objeto de estudo da linguiacutestica sincrocircnica ou estaacutetica Como um estado de liacutengua

abrange determinado espaccedilo de tempo tempo suficiente para que haja alguma variaccedilatildeo

sincrocircnica eacute claro que esta sob certo ponto-de-vista natildeo se distingue da evoluccedilatildeo diacrocircnicardquo

64

dos pais ocorreraacute na fala de seus filhos com frequecircncia

maior e na fala de seus netos com frequecircncia ainda

maior (CHAMBERS 1995 p185)26

Numa comunidade em geral as geraccedilotildees sucessivas apresentaratildeo

uma frequecircncia de uso maior da variante inovadora A conclusatildeo loacutegica

eacute que com o passar do tempo haveraacute um uso categorial da forma

inovadora e a eliminaccedilatildeo da variante antiga

233 ndash Aplicando os conhecimentos da sociolinguiacutestica

Eacute importante ressaltar que todas as liacutenguas mudam com o tempo

Como exemplo o portuguecircs eacute originaacuterio do latim considerado liacutengua

matildee Entretanto atualmente natildeo haacute semelhanccedila entre as duas liacutenguas

As diferenccedilas satildeo profundas e afetam toda a gramaacutetica da liacutengua essas

diferenccedilas apareceram e cresceram ao longo de mais de mil anos Tanto

na liacutengua falada quanto na liacutengua escrita ocorrem mudanccedilas que satildeo

observadas quando satildeo feitas pesquisas que nos mostram em que alguns

fenocircmenos mudaram Este assunto eacute explicado por Naro (2003)

A mudanccedila linguiacutestica natildeo eacute abrupta normalmente se processa de

maneira gradual em vaacuterias dimensotildees Sob o eixo social eacute observaacutevel

que falantes mais velhos costumam preservar mais as formas antigas o

mesmo ocorre com pessoas mais escolarizadas com camadas da

populaccedilatildeo que gozam de maior prestiacutegio social com o grupo feminino e

com as pessoas que exercem atividades que exigem boa apresentaccedilatildeo

para o puacuteblico Uma mesma pessoa pode escolher diferentes formas em

diferentes situaccedilotildees

Com base nisso pretendo fazer uma comparaccedilatildeo das mudanccedilas

ocorridas num curto espaccedilo de tempo tendo como referecircncia um

professor surdo para investigar as possiacuteveis mudanccedilas da liacutengua de

sinais depois de seu estudo no INES ateacute o momento atual envolvendo

um grupo de surdos mais velhos e outros dois grupos mais jovens Os

dados obtidos na pesquisa podem mostrar como ocorreram algumas

mudanccedilas na liacutengua de sinais e se realmente ocorreram aleacutem disso

podem criar um registro deste periacuteodo para futuras pesquisas Para

Labov (2008 [1972] p 21) ldquoseria de esperar que a aplicaccedilatildeo da

26 Traduccedilatildeo minha do texto original em Inglecircs ldquoWhere change is involved a certain variant will occur in the speech of children though it is absent in the speech of their parents or more

typically a variant in the parents‟ speech will occur in the speech of their children with greater

frequency and in the speech of their granchildren with even greater frequencyrdquo

65

linguiacutestica estrutural a problemas diacrocircnicos levasse ao enriquecimento

dos dados mais do que ao seu empobrecimentordquo

Vale lembrar que em 1970 a educaccedilatildeo dos surdos em Santa

Catarina era baseada em metodologia oralista Poucos sinalizavam

porque natildeo podiam tinham que falar Os sinais eram usados na

comunicaccedilatildeo entre surdos mas esporadicamente pois nesta eacutepoca aleacutem

de serem proibidos de utilizarem sinais para a comunicaccedilatildeo tambeacutem

natildeo podiam fazer reuniotildees soacute de indiviacuteduos surdos como acontece

atualmente Segue a citaccedilatildeo de Labov 2008 [1972] que considero

pressuposto para o desenvolvimento da presente pesquisa

O ponto de vista do presente estudo eacute o de que natildeo se

pode entender o desenvolvimento de uma mudanccedila

linguumliacutestica sem levar em conta a vida social da

comunidade em que ela ocorre Ou dizendo de outro

modo as pressotildees sociais estatildeo operando continuamente

sobre a liacutengua natildeo de algum ponto remoto no passado

mas como uma forccedila social imanente agindo no presente

vivo (LABOV 2008 [1972] p 21)

O maior problema a meu ver eacute que o grupo dos mais velhos que

usava a liacutengua falada natildeo entendia a importacircncia da liacutengua de sinais

para o indiviacuteduo surdo restringindo muito a sinalizaccedilatildeo e os sinais no

ano de 1950 Sabemos que pessoas de diferentes lugares que vecircm para

uma determinada comunidade acabam trocando experiecircncias e palavras

influenciando essa comunidade Isto pouco acontecia com o grupo dos

surdos mais velhos Diferentemente do que se observava com os

antigos os surdos mais novos tinham um maior contato social com a

liacutengua de sinais brasileira permitindo mais trocas de conhecimentos

criando novos sinais tornando a liacutengua de sinais mais ldquovivardquo e

ldquodinacircmicardquo

Por exemplo em comparaccedilatildeo com falantes da ilha em

Florianoacutepolis quanto agrave situaccedilatildeo estiliacutestica27

o grupo mais velho de

surdos usava mais a liacutengua falada do que a sinalizada pouco contato

eles tinham entre si pois era proibida28

a sinalizaccedilatildeo pelas instituiccedilotildees

27 Eacute o jeito de falar nas diferentes situaccedilotildees com os diferentes interlocutores e nos variados

contextos

28 SCHMITT (2008) A representaccedilatildeo de surdo na histoacuteria antiga registra a passagem que os

surdos realizaram na sociedade onde predominavam os ouvintes Entatildeo a hegemonia dos ouvintes manteve sempre o surdo como excluiacutedo atraveacutes de estereoacutetipos e depreciaccedilotildees A

sociedade antiga natildeo permitia a capacitaccedilatildeo dos surdos como sujeitos normais o uso da liacutengua

66

que trabalhavam com os surdos e tambeacutem pelas famiacutelias Conta-se que

em algumas escolas amarravam as matildeos dos indiviacuteduos surdos para que

natildeo sinalizassem Com o grupo mais jovem eacute diferente o contato deles

com outros surdos eacute maior trocam mais experiecircncias e sinais

propiciando assim mais mudanccedilas na liacutengua de sinais tornando-se hoje

mais usada e mais dinacircmica na comunidade surda Isso acontece aqui

em Florianoacutepolis tambeacutem A influecircncia accediloriana trazida pelos

imigrantes portugueses atualmente com a visita de turistas brasileiros

(ex vindos dos estados de RS SP PR e MG) e estrangeiros (ex

Argentinos Paraguaios Uruguaios Chilenos dentre outros) a

Florianoacutepolis acaba interferindo e modificando a liacutengua falada na ilha

Acredita-se que existe variaccedilatildeo linguiacutestica na liacutengua de sinais

em Santa Catarina por influecircncia da comunidade de falantes nas

diferentes regiotildees do estado A liacutengua de sinais acaba incorporando

parte da cultura dessas comunidades a sua liacutengua

Existem pesquisas na liacutengua de sinais mostrando diferenccedilas

nas liacutenguas visual-espacial de acordo com o paiacutes de origem com

diferenccedilas culturais diferentes configuraccedilotildees de matildeos etc Estas

pesquisas ajudam a compreender melhor a estrutura das liacutenguas de

sinais seu aspecto linguiacutestico e gramatical

Em Santa Catarina na comunidade de falantes no municiacutepio de

Itaacute na regiatildeo oeste do estado muitos descendentes de europeus

(Italianos alematildees poloneses etc) falam usando um r brando por

exemplo barragem mas na fala fica baragem

Na liacutengua portuguesa existem diferentes sons e diferentes formas

de falar esses sons No caso do exemplo citado anteriormente do

municiacutepio de Itaacute o som do r falado eacute diferente mas o significado da

palavra eacute o mesmo Na LIBRAS acontece isto um determinado sinal

pode ser pronunciado de diferentes maneiras com relaccedilatildeo agrave

configuraccedilatildeo de matildeos (CM)29

ao ponto de articulaccedilatildeo (PA) e ao

movimento (M) Segue abaixo a foto de trecircs principais paracircmetros

fonoloacutegicos

de sinais e nem aceitava a cultura do surdo Como A liacutengua de sinais foi banida das escolas

pelas decisotildees do Congresso de Milatildeo em 1880

29 Configuraccedilatildeo de matildeo e segue a foto

67

Figura 07 ndash Sinal de Porco

Por exemplo os sinais para as palavras amanhatilde

30 e faacutecil

31 satildeo

diferentes quanto ao ponto de articulaccedilatildeo e ao movimento mas a

configuraccedilatildeo de matildeos eacute a mesma para as duas palavras Ė importante

ressaltar que Labov em sua pesquisa mostrou variaacuteveis linguiacutesticas com

relaccedilatildeo agrave comunidade de fala e o exemplo na liacutengua de sinais eacute visual e

natildeo sonoro Entatildeo a fonologia das liacutenguas de sinais eacute um ramo da

linguiacutestica que objetiva identificar a estrutura e a organizaccedilatildeo dos

constituintes fonoloacutegicos propondo descriccedilotildees e explicaccedilotildees

Labov (1982) no entanto acreditava que eacute possiacutevel que uma

mudanccedila linguiacutestica possa ser o resultado de uma causa particular

isolada do sistema linguiacutestico ou social Por exemplo em Marthas

Vineyard um alto nuacutemero de casamento entre surdos e ouvintes e entre

surdos foi responsaacutevel pelo nascimento de centenas de surdos no seacuteculo

XIX Como resultado quase todos os membros ouvintes da comunidade

aprenderam a liacutengua de sinais e a utilizaram com muitos outros

propoacutesitos aleacutem da comunicaccedilatildeo com surdos (GROCE 1952)

Concluo este capiacutetulo que apresenta a pesquisa de Labov na ilha

30 Sinal de amanhatilde e segue a foto

31 Sinal de faacutecil e segue a foto

68

de Marthas Vineyard verificando a ocorrecircncia de centralizaccedilatildeo de

ditongos com algumas consideraccedilotildees A metodologia de pesquisa que

Labov abriu um campo de estudos que relaciona variaccedilatildeo e a mudanccedila

linguiacutestica ao contexto social utilizando-se de fatores como gecircnero

escolaridade classe social faixa etaacuteria local de residecircncia apoiando-se

em conhecimento de antropologia e liacutengua e de teacutecnicas computacionais

e matemaacuteticas Essa forma de pesquisa deu iniacutecio ao ramo da linguiacutestica

que conhecemos como sociolinguiacutestica variacionista ou quantitativa em

que a liacutengua natildeo eacute vista como uma estrutura estaacutetica e sim como um

sistema em variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica constante ligado agrave estrutura

social

69

CAPIacuteTULO III ndash A histoacuteria social da liacutengua

31 ndash Introduccedilatildeo

Inicialmente este capiacutetulo apresenta a histoacuteria contextualizada da

liacutengua de sinais da Franccedila depois no Brasil e finalmente em Santa

Catarina No primeiro momento apresenta-se o perfil do fundador da

primeira escola de surdos no mundo localizada na Franccedila o Abade de

LacuteEacutepeacutee Em seguida aponta-se qual foi o fundador da primeira

instituiccedilatildeo de surdos na cidade do Rio de Janeiro o Eacutedouard Huet32

e

traz consideraccedilotildees sobre o primeiro professor surdo a trabalhar em sala

de aula com alunos surdos em Santa Catarina Francisco Lima Juacutenior

Este uacuteltimo estudou a liacutengua de sinais na cidade do Rio de Janeiro e

proporcionou aos surdos de Santa Catarina uma comunicaccedilatildeo em liacutengua

de sinais mais aprofundada e abrangente Ele tambeacutem divulgou a liacutengua

de sinais na comunidade surda criando espaccedilos culturais e uma

identidade para a comunidade surda catarinense

Este capiacutetulo apresentada a seguinte estrutura comenta sobre o

primeiro fundador do Instituto Nacional de Surdos de Paris Abade

LacuteEacutepeacutee apresenta Eacutedouard Huet e sua vinda para o INESRJ e por fim

relata a histoacuteria do primeiro professor surdo (Francisco Lima Juacutenior) em

Santa Catarina na liacutengua de sinais

32 ndash Charles Michel de LacuteEacutepeacutee - Instituto Nacional de Surdos-

Mudos33

em Paris

Na Franccedila Abade de LacuteEacutepeacutee34

foi o primeiro fundador de uma

escola com classes para a educaccedilatildeo de surdos e tambeacutem criou a

32 No Brasil escreve-se Eduard mas na Franccedila seu nome e escrito Eacutedouard Huet

33 Surdos-Mudos ndash terminologia utilizada nessa eacutepoca atualmente utilizamos ser surdo

34 Abade de LacuteEacutepeacutee foi o criador de um meacutetodo empregado na educaccedilatildeo de surdos

denominado de ldquosinais metoacutedicosrdquo A justificativa para a criaccedilatildeo desse meacutetodo se deu pelo fato de que L‟Epeacutee acreditava que a Liacutengua de Sinais utilizada pelos surdos era incompleta

devendo ser melhorada e universalizada Seu meacutetodo consistia em conservar o ldquonuacutecleo central

dos gestosrdquo utilizados por seus alunos adicionando poreacutem a estes gestos outros sinais para designar objetos qualidades fatos ou situaccedilotildees No entanto como seu principal objetivo era o

ensino da liacutengua francesa natildeo se deu por satisfeito criou uma seacuterie de sinais que natildeo existiam

na codificaccedilatildeo gestual referente a preposiccedilotildees artigos tempo e pessoa verbal entre outros

70

linguagem de gestos que se chamava ldquoLINGUAGEM DE SINAIS

METOacuteDICOSrdquo e o alfabeto manual que eacute bem diferente dos coacutedigos de

significados na estrutura frasal e no gesto que representava a palavra

para o surdo

Moura (2000 p 22) relatou que o Abade Charles-Michel de

L‟Epeacutee nasceu em 1712 na cidade de Versalhes na Franccedila O Abade

comeccedilou a ensinar os surdos em 1760 por razotildees religiosas iniciando

seu trabalho com duas freiras surdas Com grande desafio transformou

sua casa na primeira escola puacuteblica para surdos (Instituto de Surdos e

Mudos de Paris) utilizando a comunicaccedilatildeo gestual A autora Perlin

(2002) lembra que

As escolas fundadas em outros paiacuteses nos moldes da

Franccedila passaram a usar as liacutenguas de sinais nacionais e a

explorar novos recursos na educaccedilatildeo de surdos O

curriacuteculo da escola para surdos em Paris passou a

conter liacutengua de sinais religiatildeo liacutengua nacional e

formaccedilatildeo profissional

O Abade de L‟Epeacutee comeccedilou a sua pesquisa observando um

grupo de surdos de laacute que se comunicava nas ruas da cidade (cuidando

para que as pessoas natildeo os vissem fazendo gestos) na liacutengua de sinais

francesa O Abade LacuteEacutepeacutee teve a ideia de conhecer mais sobre a liacutengua

gestual daqueles surdos e mais tarde pensou em como poderia ajudaacute-los

nessa comunicaccedilatildeo Ele ensinava religiatildeo na igreja para os surdos Entatildeo

LacuteEacutepeacutee comeccedilou a investir em seu projeto de melhorias para esta forma

de comunicaccedilatildeo Chamou o grupo de surdos e mostrou a liacutengua gestual

com gramaacutetica proacutepria e o alfabeto manual para o auxiacutelio na

comunicaccedilatildeo

A oportunidade de melhorar a linguagem dos surdos na eacutepoca foi

essencial para que fosse desenvolvida a base da liacutengua de sinais dos

surdos de Paris fortalecendo a cultura e a comunidade surda Isso

permitia tambeacutem que os surdos tivessem acesso a uma filosofia

religiosa aprendendo com isso novos vocabulaacuterios aleacutem da crenccedila e de

um modelo educacional diferente Segue o autor

Todo surdo-mudo enviando ateacute noacutes jaacute tem uma

linguagem () Tem o haacutebito de usaacute-la e compreende os

outros que a fazem Com essa linguagem expressa as

suas necessidades desejos duacutevidas dores etc e natildeo

erra quando os outros se expressam da mesma forma

Noacutes desejamos instruiacute-los e assim ensinar-lhes o francecircs

71

Qual eacute o meacutetodo mais simples e mais curto Natildeo seria

expressando-nos na sua liacutengua Adaptando a sua liacutengua e

fazendo com que ela se adapte a regras claras natildeo

seriacuteamos capazes de conduzir a sua instruccedilatildeo como

desejamos (citado por Harlan Lane Instituon des

Sourds-Muets par la Voie des Signes Meacutethodies part 1

cap IV p 36) apud (CARVALHO 2007 p 24)

Para o surdo comeccedilou a existir uma linguagem atraveacutes da

comunicaccedilatildeo gestual Assim os surdos trocavam informaccedilotildees entre eles

na liacutengua de sinais essencial para o acesso do surdo a sua identidade

Essa convenccedilatildeo social da liacutengua de sinais nesse primeiro grupo de

surdos foi a base da liacutengua Entatildeo o surdo podia aprender a liacutengua

francesa escrita e ter contato com a gramaacutetica dessa liacutengua que foi

essencial para a comunicaccedilatildeo dos surdos transformando a representaccedilatildeo

do gestual O surdo podia alfabetizar-se em francecircs e entender melhor a

sociedade em que vivia e assim adaptar-se agraves mudanccedilas ocorridas em

sua liacutengua gestual Segue a discussatildeo do autor

O Abade L‟Epeacutee iniciou do ano em 1760 conheceu o

grupo de surdo na liacutengua de sinais francesa e estudou

junto com os surdos Mas ele teve a ideacuteia de ajudar o

surdo valorizar a liacutengua de sinais francesa Quem fundou

o Instituto no Paris Foi Abade L‟Epeacutee Laacute foi ensinada

a liacutengua de sinais francesa para os alunos surdos mais

pobres Berthier escreveu a biografia do Abade L‟Epeacutee

(1712 ndash 1789) (SCHMITT 2008 p 50)

O Abade L‟Epeacutee com sua experiecircncia e pesquisa ajudava os

surdos franceses na liacutengua francesa escrita e na liacutengua de sinais em

Paris Com sua pesquisa ele mostrou para a comunidade da eacutepoca uma

nova forma de ensinar os surdos desenvolvendo estrateacutegias de ensino

nas duas liacutenguas Acreditava-se que um dos motivos que levou o Abade

a demonstrar interesse pela educaccedilatildeo de surdos foi o fato de ele ter duas

freiras surdas Seguem imagens mostrando o Abade L‟Epeacutee ensinando o

primeiro grupo de surdos franceses (SCHMITT 2008 p 51)

72

Figura 08 ndash Abade L‟Epeacutee ensinando os surdos na liacutengua de sinais

francesa

Schmitt (2008) realizou pesquisa na liacutengua de sinais na

identificaccedilatildeo do surdo e na adaptaccedilatildeo do conhecimento pelo surdo

Sobre L‟Epeacutee ensinando o grupo de surdos na imagem anterior Schmitt

comenta

O Abade L‟ Epeacutee ajudou ensinando os surdos na liacutengua

de sinais valorizando o aspecto viso-espacial na relaccedilatildeo

das matildeos compartilhando e mostrando a loacutegica de sinais

do surdo compreende-se envolve a capacidade no uso o

alfabeto na cultura do surdo Entatildeo na realidade

possibilitou a liacutengua do surdo na comunicaccedilatildeo com outro

surdo e na relaccedilatildeo com professor francecircs (SCHMITT

2008 p 51)

Segundo Frishberg (1975) na Franccedila escreveu que Abbe Charles-

Michel LacuteEpeacutee descreveu o uso da liacutengua de sinais que havia aprendido

com seus alunos ou em contato com as pessoas Era uma forma natural

de comunicaccedilatildeo que veio dar origem agrave gramaacutetica francesa de sinais

Essa gramaacutetica francesa se espalhou e foi disseminada por toda a

Europa cada paiacutes com suas especificidades como ocorre na liacutengua

falada

Percebemos que o Abade L‟Epeacutee ensinava a gramaacutetica do francecircs

no Instituto para Surdos de Paris para que os alunos surdos aprendessem

a histoacuteria e a liacutengua de sinais O L`Epee foi o antecessor em Paris do

Abade Sicard que escreveu o primeiro dicionaacuterio na liacutengua de sinais no

seacuteculo XVIII

Quando o Abade apresentou a comunicaccedilatildeo em liacutengua de sinais

ao grupo para que aprendessem vocabulaacuterio na liacutengua de sinais mostrou

os sinais de COMER AacuteGUA e tambeacutem o sinal de BEBER apontando

para vaacuterios objetos para que o grupo memorizasse e aprendesse o nome

73

de cada um deles Isso com o grupo de alunos e tambeacutem com as duas

irmatildes Foi crescendo o nuacutemero de sinais usados na linguagem gestual

francesa daquela eacutepoca pelos alunos surdos da instituiccedilatildeo onde ensinava

L‟Epeacutee

Entatildeo percebi atraveacutes de leituras que o Abade L‟Epeacutee ensinava a

gramaacutetica do francecircs no Instituto para Surdos de Paris para que os

alunos surdos aprendessem dentre outras coisas a histoacuteria e a liacutengua de

sinais Isso foi interessante para o grupo pois desenvolveram um padratildeo

para a linguagem gestual

Em 1755 Abade L‟Epeacutee iniciou com o primeiro grupo de surdos

no Instituto em Paris onde ensinava a vaacuterios alunos de classes

diferentes ricos e pobres Ele apresentou para os alunos a importacircncia

dos sinais padronizados que ajudavam na comunicaccedilatildeo Em contato

com a liacutengua de sinais convencionada o grupo de surdos na Franccedila

cada vez mais dominava os sinais e aperfeiccediloava o seu meacutetodo de sinais

metoacutedicos

Em ldquoA Maacutescara da Benevolecircnciardquo Lane (1992) apresenta relatos

interessantes de pesquisa com entrevistas de alunos surdos Sua

descriccedilatildeo sobre os sinais indicando os tempos segue na citaccedilatildeo

ldquoO aluno apesar de surdo e mudo tinha tal como noacutes

uma ideacuteia de passado presente e futuro antes de ser

colocado sob a nossa tutela mas eram incapazes de fazer

os sinais para exprimir as diferenccedilas Se quisesse

exprimir uma acccedilatildeo presente Fazia um sinal impelido

pela natureza que consiste em atrair o olhar do

interlocutor para testemunhar a nossa actividade actual

mas se a acccedilatildeo natildeo tivesse lugar na sua vista estendia as

matildeos sobre a mesa tal como estamos todos aptos a fazer

em situaccedilotildees semelhantes e estes satildeo os sinais que

voltou a aprender na aula para indicar o presente de um

verbo Se quisesse indicar que uma acccedilatildeo pertence ao

passado Atirava despreocupadamente o braccedilo sobre o

ombro duas ou trecircs vezes adoptamos estes sinais para

indicar o passado dos verbos E finalmente quando

tivesse a intenccedilatildeo de anunciar o futuro projectava a Matildeo

direita uma vez mais neste caso seleccionaacutemos este

sinal para representar o tempo futuro de um verbordquo

(LANE 1992 p 107 e 108)

Observa-se que havia diferenccedilas na gramaacutetica dos sinais que os

surdos utilizavam no passado A linguagem gestual francesa mudava

com o tempo na realidade da comunidade surda de Paris O contato com

74

sinais na escola eram muito diferentes daqueles que usavam nas

conversas de ruas Os alunos aprenderam formas verbais (passado

presente e futuro) que interferiram na liacutengua Quando a comunidade

surda que utiliza um espaccedilo cultural aprende o contexto cultural se

modifica e a liacutengua de sinais que tambeacutem eacute social se modifica

A liacutengua de sinais francesa serve de origem para muitos dos sinais

usados na ASL No comeccedilo do seacuteculo XIX um professor de surdo

chamado Thomas Hopkins Gallaudet foi da Ameacuterica para a Europa a

fim de aprender teacutecnicas de ensino Na Inglaterra ele conheceu Roch-

Ambroise Cucurron e Abbe Sicard o diretor de uma escola para surdos

em Paris Gallaudet aprendeu meacutetodos de ensino e muitos sinais para

usar na comunicaccedilatildeo com os surdos com Abbe Sicard Tambeacutem

Gallaudet convenceu Laurent Clerc um dos alunos de Sicard a ajudaacute-lo

a fundar uma escola para surdos na Ameacuterica

Gallaudet e Clerc fundaram a Escola Americana para Surdos

(ASD) em 1816 em Hartford Connecticut A escola combinava sinais

da LSF com os que jaacute eram usados pela comunidade de surdos da

Ameacuterica para criar uma linguagem padronizada Nesta eacutepoca esta

linguagem evoluiu para a ASL considerada atualmente a liacutengua de

sinais mais geneacuterica do mundo O filho de Thomas Gallaudet Edward

fundou a Universidade de Gallaudet em Washington DC A Gallaudet

foi a primeira faculdade para surdos

33 ndash Eacutedouard Huet - Instituto Nacional Educaccedilatildeo de Surdos

(INESRJ)

Segundo Ceacutesar Delgado (Revista da FENEIS 2002) Huet nasceu

em 1822 em Paris na Franccedila Comeccedilou seus estudos desde a infacircncia

ouvia normalmente jaacute se comunicava na fala nos idiomas francecircs (sua

liacutengua natural) alematildeo e portuguecircs mais tarde estudava outra liacutengua

que era o espanhol Ficou surdo aos doze anos de idade por

consequecircncia de um sarampo Como ele pertencia agrave nobreza estudou no

Instituto em Bourges e seu aprendizado na liacutengua de sinais francesa

proporcionou muitas oportunidades tornou-se professor de francecircs para

um grupo de surdos na Europa Ele foi convidado pelo imperador Dom Pedro II

35 para que

35 Deste que Eduard Huet fundou o imperial Instituto de Surdos-Mudos com autorizaccedilatildeo do

Imperador Dom Pedro II a Liacutengua de Sinais passou a fazer parte da educaccedilatildeo dos indiviacuteduos

surdos como forma de comunicaccedilatildeo e expressatildeo No iniacutecio a Liacutengua de Sinais teve sua origem na Franccedila mas aos poucos ela foi se desenvolvendo e se adaptando agrave realidade do

Brasil Isso comprova entatildeo que a Liacutengua de Sinais natildeo eacute universal mas ela possui pequenas

75

ajudasse a trabalhar na criaccedilatildeo do Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de

Surdos-Mudos com sede no Rio de Janeiro Iniciou ensinando na sua

liacutengua francesa depois aprendeu os sinais usados no Brasil e acabou

misturando as duas liacutenguas Trouxe um meacutetodo de ensino para a

Educaccedilatildeo de Surdos influenciando a Liacutengua de Sinais Brasileira com

sua liacutengua de sinais (francesa)

Eacutedouard Huet foi o primeiro professor surdo do Brasil

Apresentou em 1855 um projeto ao Imperador D Pedro II para uma

escola de surdos e assim foi fundado o Instituto Nacional de Educaccedilatildeo

de Surdos-Mudos no Rio de Janeiro Ele foi o responsaacutevel por trazer a

liacutengua de sinais francesa para o Instituto fundado em 1857 na cidade

do Rio de JaneiroRJ Com isso temos a origem da influecircncia da liacutengua

de sinais francesa (LSF) trazida por ele da Europa sobre a liacutengua de

sinais brasileira (LSB)36

Segue citaccedilatildeo de Campello que fala sobre a

constituiccedilatildeo da LSB no Brasil

a Constituiccedilatildeo Histoacuterica da Liacutengua de Sinais Brasileira

registro aqui ldquoa viagemrdquo da LSF ateacute o Brasil Essa

viagem tem a sua cronologia histoacuterica quando em 1855

o Ministro de Instruccedilatildeo Puacuteblica Drouyn de Louys e o

embaixador da Franccedila Monsieur Saint George junto

com a corte do Rio de Janeiro apresentou o Conde e

Professor surdo D E Huet37 ex-diretor do Instituto de

Bourges ao ex-Imperador Dom Pedro II e o mesmo

concedeu todas as honrarias inclusive com o salaacuterio e

hospedagem e incentivou a criaccedilatildeo de um educandaacuterio38

semelhanccedilas variando tanto de estado para estado dentro de um mesmo paiacutes quanto de um paiacutes para o outro com algumas semelhanccedilas

36 Campello usa a sigla LSB Nesta tese a sigla usada eacute LIBRAS

37 Haacute muita controveacutersia em torno do seu nome Inicialmente foi registrado na ldquoRevista

Espaccedilordquo do INES como E Huet Mas nos outros documentos pesquisados por mim assinava

como D E Huet sem complementar ou acrescentar o nome proacuteprio completo Recentemente atraveacutes da pesquisa pelo dirigente da FENEIS e da publicaccedilatildeo da Revista FENEIS confirmou

o nome completo de EHuet como Edward Huet Haacute pouco tempo o Grupo de Sinais

Mexicano anexou a coacutepia do email da bisneta que confirmou o nome dele como D Edward Huet M

38 Esse processo jaacute havia acontecido de forma similar com a educaccedilatildeo dos cegos O cego Patriacutecio Aacutelvares de Azevedo brasileiro educado em Paris e que ao regressar ao Rio de Janeiro

em 1851 pensou em fundar um instituto de ensino para cegos A realidade se concretizou em

1854 na fundaccedilatildeo de Instituto Benjamin Constant para cegos

76

destinado ao ensino de surdos mudos39 seria mais uma

poliacutetica puacuteblica com uma tendecircncia mundial a criaccedilatildeo de

escolas de ensino e tambeacutem de residenciais para abrigar

ldquodeficientes40 Haacute a hipoacutetese de que a princesa Isabel

filha do D Pedro II teria um filho surdo41 e tambeacutem que

o marido dela o Conde dacuteEu era portador de deficiecircncia

auditiva42 Mesmo com ou sem comprovaccedilatildeo histoacuterica

eacute difiacutecil transpor a histoacuteria da criaccedilatildeo e do interesse de

Dom Pedro II em abrir a escola de surdos

(CAMPELLO 2011)

O professor surdo Huet lutou pelo direito agrave liacutengua de sinais na

Instituiccedilatildeo com o imperador Dom Pedro II a fim de abrir espaccedilo na

escola de surdo em 1857 O INES era a uacutenica instituiccedilatildeo puacuteblica federal

do Brasil localizada no Rio de Janeiro Vieram alunos de outros estados

brasileiros para estudar com o professor Huet e ficavam hospedados no

Instituto Depois aprendiam a Liacutengua de Sinais Francesa da mesma

maneira que o professor aprendeu na escola francesa

A liacutengua de sinais foi transformada com o tempo tendo influecircncia

do professor surdo Huet Moura (2000 p 81 e 82) comenta o

seguinte

Se deu atraveacutes de Liacutengua de Sinais pode-se deduzir que

ele utilizava os Sinais e a escrita sendo considerado

inclusive o introdutor de Liacutengua de Sinais Francesa no

Brasil onde ela acabou por mesclar-se com a Liacutengua de

Sinais utilizada pelos Surdos em nosso paiacutes O

39 Relatoacuterio do E d Huet aos membros da Comissatildeo Diretora em abril de 1856 no Instituto de

Surdos Mudos

40 Deficientes satildeo as denominaccedilotildees daqueles que mentalmente e fisicamente satildeo incapazes para fazer qualquer atividade

41 Reis (1992) relata que o professor Geraldo Cavalcanti de Albuquerque disciacutepulo do professor Joatildeo Brasil Silvado (diretor do INSM ndash Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos-

Mudos em 1907) informou-lhe em entrevista que o interesse do imperador D Pedro II em

educaccedilatildeo de surdos viria do fato de ser a princesa Isabel matildee de um filho surdo e casada com o Conde D‟Eu parcialmente surdo

42 Nos documentos escritos pelo Francisco de Souza Brasil e Medeiros e Albuquerque (1932)

atestava a surdez do Conde DacuteEu ldquoO Conde DacuteEu tinha ainda o inconveniente de ser surdo A

surdez alheando os indiviacuteduos do meio em que estatildeo lhes daacute agraves vezes a imputaccedilatildeo de orgulhosos porque natildeo lhes permite tomar parte na conversa com a cordialidade que todos

desejariamrdquo (grifo meu)

77

Curriculum por ele apresentado em 1856 colocava

disciplinas como portuguecircs aritmeacutetica histoacuteria

geografia e incluiacutea ldquolinguagem articuladardquo e ldquoleitura

sobre os laacutebiosrdquo para os que tivessem aptidatildeo para tanto

O professor Huet planejava as vaacuterias disciplinas que ensinava

para os alunos surdos desta Instituiccedilatildeo obedecendo ao curriacuteculo escolar

da eacutepoca oferecido nas escolas de ouvintes Infelizmente natildeo foram

registrados os vocabulaacuterios da liacutengua de sinais brasileira desta eacutepoca No

Brasil foi lanccedilada a primeira publicaccedilatildeo sobre liacutengua de sinais em 1873

pelo aluno surdo Flausino Joseacute da Gama do Instituto de Surdos-Mudos43

do Rio de Janeiro O estudo resultou na obra ldquoIconographia dos Signaes

dos Surdos-Mudosrdquo foi publicado o dicionaacuterio em 1875 Poreacutem em

1880 no Congresso Internacional de Educaccedilatildeo de Surdo (Milatildeo)44

a

liacutengua de sinais foi rejeitada nas escolas focando apenas a liacutengua oral

Contudo os alunos do INES continuaram a estudar desenvolver e

disseminar a LIBRAS que por volta de 1980 voltou a ter sua

importacircncia intensificada

Como eacute explicado no prefaacutecio a inspiraccedilatildeo para o

trabalho foi dita pelo estudante ao ver na biblioteca da

instituiccedilatildeo um livro francecircs do Instituto Nacional de

Paris produzindo pelo surdo Francecircs Pellisier Natildeo havia

oficina litografia (o desenho eacute feito em uma pedra ou

placa de metal) no INES e na eacutepoca essa era a uacutenica

maneira de se reproduzir um desenho A ajuda veio do

Sr Eduard Rensburg que se dispotildee a ensinar a Flausino

trabalhar com essa difiacutecil teacutecnica Bastaram poucos dias

de aula e o Surdo tornou-se um exiacutemio litoacutegrafo

(REVISTA DA FENEIS n0 10 2001)

Segundo Campello (2011) Flausino Joseacute da Gama criou com seu

trabalho o dicionaacuterio ldquoIconographia dos Signaes dos Surdos-Mudosrdquo

com o prefaacutecio do Dr Tobias Leite ex-diretor no Instituto Nacional dos

Surdos-Mudos que no passado registrou sobre a pesquisa de Flausino e

a seguir o que escreveu Tobias no dicionaacuterio do INES em 1875

43 Atual Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos ndash INESRJ

44 REacuteE (2005) ldquo() essa data ainda eacute lembrada como a mais sinistra de sua histoacuteria como se fosse mesmo o ldquo11 de setembrordquo deles quando desabaram as torres gecircmeas da cultura e da

liacutengua de sinais a do meacutetodo misto e a do meacutetodo manualista para educaccedilatildeo dos surdos Ali

comeccedilou uma longa e amarga batalha para defender o direito de vida de liacutengua de sinaisrdquo

78

Este livro tem dous fins

Vulgarisar a linguagem dos signaes meio predilecto dos

surdos mudos para a manifestaccedilatildeo dos seus pensamentos

Os pais os professores primaacuterios e todos os eu se

interessarem por esses infelizes ficaratildeo habilitados para

os entender e se fazerem entender

Mostrar o quanto deve ser apreciado um surdo mudo

educado

O alumno deste Instituto Flausino Joseacute da Gama vendo

entre os livros da biblioteca a obra do illustre surdo-

mudo Pellisier professor do Instituto de Pariz

manifestou desejo de reproduzir as estampas para os

fallantes conversarem com os surdos-mudos dizia-me

elle repetidas vezes

Natildeo obstante ser elle haacutebil desenhista a realizaccedilatildeo do

seu desejo era difficil porque natildeo haacute no Instituto officina

de lihtographia e a despeza nas officinas do commercio

seria grande

Referindo o facto ao Sr Eduard Rensburg este senhor

generosamente offereceu-se para ensinar a Flausino o

desenho lithographico e as suas officinas para a

execuccedilatildeo da obra Aceitei immediatamente o

offerecimento e em poucos dias sahio o livro que tenho

a satisfacccedilatildeo de apresentar a todos os que se interessarem

por essa numerosa classe de nossos compatriotas

A Flausino os louvores e ao Sr Rensburg os

agradecimentos de todos os que se interessatildeo pela

instrucccedilatildeo popular

Tobias Leiterdquo

Campello (2011) pesquisou sobre o dicionaacuterio da liacutengua de sinais

registrado e documentado por Flausino que foi apresentado na escrita

pelo ex-diretor do INES que escrevia a palavra ldquoVulgarisarrdquo45

(p 79)

Segundo Delaporte (2005) a Escola Parisiense ldquoSaint-Jacquesrdquo era um

lugar de prestigio onde todas as pessoas que desejavam ensinar os

surdos precisavam obrigatoriamente passar Eacutedouard Huet realizou seus

estudos laacute Flausino inspirou-se no dicionaacuterio de Pierre Peacutelissier que foi

trazido para o Brasil por Eacutedouard Huet Os alunos do INES tinham

muita dificuldade pois os sinais eram muito antigos e eles precisavam

45 CAMPELLO mostrou a pesquisa ldquo que naquela eacutepoca significava colocar a disposiccedilatildeo do

povo e por isso o dicionaacuterio se apresentava como instruccedilatildeo popularrdquo

79

se comunicar com surdos do Instituto de Paris Campello diz que foi

copiado o dicionaacuterio no Instituto Imperial de Paris

Comparado com o original ldquoIcnographie des signesrdquo de

P Pelissier membro ativo de ldquola Socieacuteteacute Centrale

dacuteEducation et dacuteAssistance decircs Sourds-Muetsrdquo e

professor de surdos mudos do Instituto Imperial de Paris

em 1856 obra ldquoIconographia dos signaes dos surdos

mudosrdquo pelo surdo Flausino Joseacute da Gama em 1875 eacute

uma coacutepia na iacutentegra do material com a traduccedilatildeo do

francecircs para o portuguecircs ou seja os sinais foram

copiados um a um traduzindo-se apenas as palavras do

francecircs que identificavam os sinais (CAMPELLO

2011)

Verificando a explicaccedilatildeo anterior da citaccedilatildeo a autora mostrou

uma comparaccedilatildeo do dicionaacuterio em Paris e no Brasil foi copiado o

material para ser utilizado aqui no INES e soacute foi mudado o vocabulaacuterio

eou palavra na traduccedilatildeo do francecircs para o portuguecircs Atualmente a

LIBRAS estaacute bem diferente da eacutepoca de Flausino mas a influecircncia da

Liacutengua de Sinais Francesa eacute inegaacutevel na comunicaccedilatildeo dos surdos

brasileiros pois foi a primeira liacutengua de sinais traduzida e ensinada no

INES

Com o uso e a difusatildeo da liacutengua de sinais surgiu o primeiro

dicionaacuterio do Brasil e as seguintes obras dos autores i) Iconographia

dos Signaes dos Surdos-Mudos de Flausino Joseacute da Gama em 1875 ii)

Linguagem das Matildeos de Eugecircnio Oates em 1969 e iii) O Dicionaacuterio

Enciclopeacutedico Ilustrado Triliacutengue Liacutengua de Sinais Brasileira de

Fernando C Capovilla e Walkiria D Raphael em 2001

Felipe (2000) fala sobre o surgimento da LIBRAS sobre

Flausino Joseacute da Gama e outros dicionaacuterios da LIBRAS

Aqui no Brasil a primeira publicaccedilatildeo sobre a liacutengua

de sinais brasileira data de 1875 trata-se de um livro

Iconografia dos Signaes dos Surdos-Mudos de Flausino

da Gama um ex-aluno do Instituto de Surdos que se

tornou repetidor dessa escola quando terminou seu

periacuteodo de estudo Quase um seacuteculo depois em 1969

com a publicaccedilatildeo do artigo de KAKUMUSU J Urubu

Sign Language foi constatado que haveria pelo menos

outra liacutengua de sinais no Brasil utilizada pelos iacutendios

Urubus-Kaapor

80

Somente em 1969 por iniciativa estrangeira foi

publicado outro livro sobre a liacutengua de sinais brasileira

Linguagem das Matildeos de DATES E mas devido agrave

influecircncia da ASL muitos sinais nessa obra como

tambeacutem na de HOEMAN H et al Linguagem de Sinais

do Brasil satildeo sinais dessa liacutengua Esses dois livros

foram durante deacutecadas o material didaacutetico utilizado

pelos instrutores surdos para ensinarem sua liacutengua e

talvez por essas obras trazerem uma seleccedilatildeo de

fotografias ou desenhos de sinais da LIBRAS com

explicaccedilotildees a metodologia que vem sendo utilizada para

ensinar esta liacutengua tem sido somente a apresentaccedilatildeo de

sinais e traduccedilatildeo dos mesmos

Em 1960 Willian Stokoe

46 iniciou a pesquisa na liacutengua de sinais

americana com publicaccedilatildeo de estudo linguiacutestico mostrando que esta

liacutengua de sinais tinha uma gramaacutetica proacutepria e tambeacutem apresentava

todos os aspectos linguiacutesticos das liacutenguas orais A partir desta

divulgaccedilatildeo do Stokoe o mundo comeccedilou a pesquisar mais sobre as

liacutenguas de sinais Estudou cientificamente a Liacutengua de Sinais Americana

comparando com a Liacutengua Inglesa observou que ambas tinham

caracteriacutesticas equivalentes auxiliando na concepccedilatildeo sobre a educaccedilatildeo

de surdos na liacutengua de sinais

Felipe (2000) apresentou na pesquisa o surgimento da LIBRAS

Seguem agora ilustraccedilotildees sobre os dicionaacuterios antigos ldquoIconographia

dos Signaes dos Surdos Mudos de Flausino Joseacute da Gamardquo ldquoLinguagem

das Matildeos de Eugecircnio Oatesrdquo ldquoEnciclopeacutedico Ilustrado Triliacutengue

Liacutengua de Sinais Brasileira Vol I e II de Fernando C Capovilla e

Walkiria D Raphael

46 STOKOE (1920-2000) foi um dos primeiros linguistas a estudar uma liacutengua de sinais com

tratamento linguiacutestico Considerado o pai da linguiacutestica da liacutengua de sinais americana ndash ASL Ele ensinando e pesquisando revolucionou a Liacutengua de Sinais e mostrou que ela possuiacutea

regras gramaticais proacuteprias A partir daiacute o mundo inteiro passou a aceitar a Liacutengua de Sinais

como uma Liacutengua

81

Figura 09 ndash Acervo na Revista da FENEIS

Interessante a pesquisa das primeiras publicaccedilotildees dos autores

sobre a liacutengua de sinais Trouxe para noacutes surdos brasileiros

documentos para outras pesquisas valorizando o contexto social e a

liacutengua de sinais Campello (2007)

47 apresentou a pesquisa ldquoMudanccedilas fonoloacutegicas

47 Retirado a fonte com autora CAMPELLO 2007 SINPEL ndash I0 Seminaacuterio Integrado de

Pesquisas em Linguiacutestica na UFSC ldquoMudanccedilas fonoloacutegicas dos registros do seacuteculo XVIII ao seacuteculo XXI na liacutengua de sinais brasileirardquo

82

dos registros do seacuteculo XVIII ao seacuteculo XXI na Liacutengua de Sinais

Brasileira elementos novos sobre a liacutengua de sinais brasileirardquo Foi o

primeiro trabalho desse tipo com a LIBRAS desenvolvido no Brasil A

autora destacou inicialmente as justificativas para sua pesquisa

a) Natildeo haacute registro a respeito do desenvolvimento

histoacuterico da liacutengua de sinais brasileira nos livros

brasileiros b) Os surdos brasileiros tecircm muito interesse

em saber mais sobre a origem desta liacutengua c) A liacutengua

de sinais passou a ser reconhecida como liacutengua de

instruccedilatildeo dos surdos brasileiros por meio da Lei 10436

de 2002 regulamentada pelo decreto 5626 de 2005 d) A

liacutengua de sinais passa a ser objeto de ensino Antes de

iniciar a pesquisa em si considero importante situar as

influecircncias da liacutengua de sinais dos Surdos que moldaram

o primeiro dicionaacuterio de liacutengua de sinais brasileira o

movimento poliacutetico social cultural e educacional Com

o ldquoobjeto de pesquisardquo apresento a justificativa visto que

ateacute o presente momento natildeo se sabe se esta liacutengua jaacute

existia antes da fundaccedilatildeo do INES eou natildeo foi

reconhecida por causa da homogeneidade da liacutengua

nacional que eacute a liacutengua portuguesa Tambeacutem visa a

coleta dos sinais e suas mudanccedilas em niacutevel foneacutetico-

fonoloacutegico da Liacutengua de Sinais Francesa para a Liacutengua

de Sinais Brasileira e apresenta a metodologia de

investigaccedilatildeo problematizando a origem da liacutengua de

sinais brasileira jaacute que foi mesclada com a liacutengua de

sinais francesa Muita pesquisa foi deixada de lado pelo

estigma e desconhecimento da liacutengua em estudo nesse

projeto (CAMPELLO 2007)

Observe a figura do painel que Campello apresentou no

Seminaacuterio e eu fotografei

83

Figura 10 ndash Acervo de Ana Regina e Souza Campello ndash UFSC

Diniz (2010) realizou a pesquisa sobre o estudo descritivo das

mudanccedilas fonoloacutegicas e lexicais da Liacutengua de Sinais Brasileira

identificando e analisando os tipos de sinais que mais levam agrave variaccedilatildeo e

agrave mudanccedila e os possiacuteveis motivos que ao longo do tempo culminam

em tais variaccedilotildees Observou-se que o estudo elaborado na histoacuteria da

liacutengua de sinais teve como objetivo principal identificar as mudanccedilas

ocorridas na forma de comunicaccedilatildeo das comunidades surdas bem como

a influecircncia da liacutengua escrita no caso o portuguecircs neste processo

A autora apresenta sua pesquisa de modo a contribuir com os

registros histoacutericos da comunidade surda geral e da liacutengua de sinais As

suas anaacutelises ampliam os conhecimentos sobre a estrutura linguiacutestica da

LIBRAS e seu processo de mudanccedila assim como permitem contrastar

as variaccedilotildees que ocorrem com as liacutenguas orais e as liacutenguas de sinais

Mais amplamente o estudo objetiva valorizar socialmente a Liacutengua

Brasileira de Sinais difundir suas vertentes propiciando agrave populaccedilatildeo

surda o resgate de suas origens tradiccedilotildees e identidade proacutepria

Ela analisou trecircs documentos histoacutericos mais especificamente

trecircs dicionaacuterios de sinais foram os instrumentos de base na pesquisa da

autora acerca do processo de variaccedilatildeo na LIBRAS satildeo eles

Iconographia dos Signaes dos Surdos-Mudos de 1875 (primeiro

documento a fazer referecircncia agrave LIBRAS trata-se de uma reproduccedilatildeo fiel

do dicionaacuterio de sinais Francecircs que envolve representaccedilatildeo de sinais por

meio de desenhos (ilustraccedilotildees)) Linguagem das Matildeos de 1969

(produzido pelo padre Eugecircnio Oates missionaacuterio americano que

trabalhou com surdos em vaacuterias regiotildees brasileiras) e o terceiro

Dicionaacuterio Digital da LIBRAS do Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de

84

Surdos (INES) de 2006 (em CD-ROM produzido no Rio de Janeiro

por profissionais surdos e ouvintes)

Os resultados da pesquisa de Diniz apresentam na anaacutelise dos

dados indiacutecios de mudanccedila fonoloacutegica e lexical

A figura 11 a seguir mostra a forma como o sinal de FACA eacute

produzido utilizando a configuraccedilatildeo de matildeos que se altera nas trecircs

imagens apresentadas

GLOSA ICON OATES INES

Est 2

FACA

FACA

FACA

FACA

Figura 11 ndash Acervo da Heloise Gripp Diniz ndash UFSC 01

A figura 12 apresenta um exemplo de mudanccedila lexical com

configuraccedilotildees de matildeos mostrando o sinal de PUNIR apresentado no

dicionaacuterio em trecircs momentos (Icon Oates e INES) Segue a figura

GLOSA ICON OATES INES

Est 16

PUNIR

PUNIR

CASTIGAR

CASTIGAR

Figura 12 ndash Acervo da Heloise Gripp Diniz ndash UFSC 02

Diante da anaacutelise comparativa dos referidos dicionaacuterios a autora

classificou os sinais em trecircs categorias os que permanecem idecircnticos

(sem alteraccedilotildees) os que sofreram mudanccedilas fonoloacutegicas em alguns de

seus paracircmetros (que se mostrou a maior das trecircs categorias) e os que

sofreram mudanccedilas lexicais alterando por completo as formas dos sinais

originais Dentre os fatores internos que contribuiacuteram para tais variaccedilotildees destacam-se conforto linguiacutestico na articulaccedilatildeo das matildeos e

do corpo e a acuidade visual no espaccedilo da sinalizaccedilatildeo Haacute tambeacutem a

contribuiccedilatildeo dos fatores socioculturais como influecircncia das liacutenguas em

contato empreacutestimo linguiacutestico bilinguismo preconceito linguiacutestico e

85

influecircncia da liacutengua portuguesa e dos falantes ouvintes

Em outras palavras nota-se que o estudo procura resgatar a

histoacuteria das mudanccedilas dos sinais da LIBRAS e de como surgiram as

mudanccedilas influenciadas pelo advento da Instituto Nacional de Educaccedilatildeo

de Surdos (INES) bem como o viacutenculo existente entre o instituto e os

diferentes dicionaacuterios de liacutenguas de sinais da eacutepoca que mostram a

existecircncia de fortes mudanccedilas linguiacutesticas ao longo do tempo entre as

pessoas de mais idade com as famiacutelias e as novas geraccedilotildees que surgem

dispostas a encontrar sinais de configuraccedilotildees de matildeos que possibilitem

facilitar cada vez mais a interaccedilatildeo das comunidades surdas com a

sociedade em geral

Percebe-se entatildeo vaacuterios dialetos utilizados entre grupos de

amigos e familiares na busca de uma melhor compreensatildeo da

comunicaccedilatildeo atraveacutes da liacutengua de sinais Nota-se que apesar da

evoluccedilatildeo da liacutengua de sinais haacute existecircncia de vaacuterios sinais

desconhecidos entre as associaccedilotildees de surdos Existe uma seacuterie de

variaacuteveis diferentes que funcionam como preacute-requisito influenciando

diretamente os processos de variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica

Segundo Diniz (2010) natildeo eacute aconselhaacutevel fazer traduccedilatildeo do

portuguecircs para LIBRAS pois tal conversatildeo acaba dificultando ainda

mais a compreensatildeo e a comunicaccedilatildeo com a comunidade dos surdos

Assim pode-se notar que natildeo eacute apropriado misturar duas liacutenguas (uma

oral outra visual) ao mesmo tempo pois haacute uma diferenccedila muito grande

entre elas Dessa forma torna-se mais faacutecil a compreensatildeo para o surdo

quando eacute explicado diretamente na liacutengua de sinais

Sempre eacute conveniente ressaltar que a LIBRAS eacute uma liacutengua

humana da mesma forma que as liacutenguas faladas nesse sentido a liacutengua

de sinais possui sua proacutepria estrutura linguiacutestica embora com

modalidades diferentes e passa por processos de mudanccedilas contiacutenuas e

deve ser considerada pela comunidade cientiacutefica como sendo de grande

importacircncia para a sociedade em geral As liacutenguas de sinais satildeo

humanas naturais e com estruturas linguiacutesticas proacuteprias fazendo uso do

canal de comunicaccedilatildeo visual-espacial Portanto satildeo mitos48

as

48 FRISHBERG (1975 p 696 - 697) Alguns mitos satildeo derrubados por no que se refere agrave ASL

O primeiro deles diz respeito agrave falsa crenccedila de que a linguagem gestual eacute universal Pelo

contraacuterio as pessoas surdas da China natildeo conseguem entender a ASL tampouco os surdos americanos conseguem entender a CSL a Liacutengua de Sinais Chinesa Os surdos ingleses

tambeacutem natildeo conseguem entender a Liacutengua de Sinais Francesa (LSF) e vice-versa O segundo

mito esclarecido eacute de que a liacutengua de sinais tem muito pouco ou nada a ver com a liacutengua falada da comunidade em sua volta Neste sentido a autora esclarece que a liacutengua de sinais natildeo

significa uma representaccedilatildeo manual traduzida diretamente do inglecircs O terceiro mito elucidado

86

afirmaccedilotildees de que a liacutengua de sinais eacute universal miacutemica coacutedigos

gestos ou apenas uma representaccedilatildeo manual das liacutenguas orais

Cabe ressaltar que a representaccedilatildeo atraveacutes de imagens figuras

gestos configuraccedilatildeo de matildeos e expressotildees faciais satildeo fundamentais para

a fluecircncia da comunicaccedilatildeo entre os membros da comunidade surda e

tambeacutem com a sociedade tornando a compreensatildeo mais acessiacutevel a

todas as pessoas Por meio de estudos nos dicionaacuterios de LIBRAS

percebe-se a existecircncia de algumas categorias distintas de algumas que

permanecem idecircnticas ateacute os dias de hoje e de outras que vecircm sofrendo

mudanccedilas fonoloacutegicas gradativamente com ideias inovadoras

influenciadas pelos estudos efetuados a partir da histoacuteria da liacutengua de

sinais e sua evoluccedilatildeo no processo de mudanccedila ateacute os dias atuais Tais

descobertas satildeo importantiacutessimas para a academia e para os aspectos

socioculturais como forma de resgatar a histoacuteria bem como os valores

das comunidades surdas esquecidas no passado recuperando sua proacutepria

identidade frente agravequeles que utilizam a liacutengua oral

Em geral eacute muito difiacutecil de recuperar nos registros dos

dicionaacuterios os detalhes das articulaccedilotildees movimentos entre outros Isso

ocorre porque na maioria das vezes eles apresentam uma uacutenica palavra

em portuguecircs associada a cada sinal de forma intuitiva quase sempre

indicando um sinal preciso e natildeo uma possiacutevel traduccedilatildeo De qualquer

maneira a partir das evidecircncias que estatildeo nos dicionaacuterios pode-se

analisar como era a liacutengua de sinais antigamente e como ela se

modificou ateacute os dias de hoje bem como qual a sua importacircncia para a

valorizaccedilatildeo social da comunidade surda

Diniz (2010) percebeu que ao passar dos anos existe uma

evoluccedilatildeo no desenvolvimento dos dicionaacuterios trazendo uma forma mais

faacutecil e aacutegil de comunicaccedilatildeo entre os escritores e leitores Hoje a

preocupaccedilatildeo natildeo eacute apenas em fazer dicionaacuterios mas tambeacutem em

analisar as metodologias de produccedilatildeo lexicograacutefica isto eacute como e para

que os dicionaacuterios tecircm sido feitos

Diniz (2010) tambeacutem observou uma pequena mudanccedila no

alfabeto manual que aparece nos trecircs dicionaacuterios Houve uma mudanccedila

fonoloacutegica na estampa ldquoIrdquo referente ao alfabeto de 26 letras no

dicionaacuterio Iconographia Em Oates o alfabeto permanece semelhante

ateacute os dias de hoje mudando apenas a configuraccedilatildeo de matildeos da letra H

No dicionaacuterio INES o alfabeto eacute idecircntico aos dias de hoje

pela pesquisadora refuta a ideia de que as liacutenguas de sinais satildeo apenas gestos teatrais ou

miacutemicos

87

Segundo Diniz (2010) identificam-se tendecircncias de mudanccedilas na

LIBRAS nos trecircs dicionaacuterios a saber simetria de duas matildeos

deslocamento locativo conteuacutedo lexical para as matildeos assimilaccedilatildeo

deletaccedilatildeo de uma matildeo de sinais de duas matildeos e deletaccedilatildeo de uma parte

do sinal composto Dos resultados das anaacutelises pode-se verificar que

alguns sinais da LIBRAS permaneceram idecircnticos ateacute os dias de hoje

enquanto outros sofreram mudanccedilas nas partes fonoloacutegicas e lexicais A

autora concluiu que diversos fatores influenciaram tais mudanccedilas como

por exemplo a influecircncia dos falantes ouvintes sobre a LIBRAS a

influecircncia da Liacutengua portuguesa na estrutura da LIBRAS o

desconhecimento sobre as liacutenguas de sinais a organizaccedilatildeo lexicograacutefica

nos dicionaacuterios de sinais a discriminaccedilatildeo ouvinte sobre a LIBRAS o

contato contiacutenuo dos surdos com ouvinte e a inseguranccedila na

consciecircncia linguiacutestica dos surdos em relaccedilatildeo agrave LIBRAS Outra

conclusatildeo foi a descoberta de sinais da Iconographia idecircnticos na ASL e

na LSF hoje em dia mais do que nos dicionaacuterios Oates e dos INES

34 ndash Francisco Lima Juacutenior ndash O Primeiro Professor Surdo em

Santa Catarina na liacutengua de sinais

Segundo Schmitt (2008) Francisco Lima Juacutenior tem lembranccedilas

do avocirc Germano tias Erna Irude e Isabel o pai Francisco matildee Augusta

e o irmatildeo Reinoldo Francisco Lima Juacutenior chamado pelo apelido

(chiquito) eacute o uacutenico surdo desta famiacutelia Ele nasceu no dia 01 de junho

de 1928 em casa na Rua Duarte Schutel no 16 em Florianoacutepolis A tia

Erna disse que o Francisco foi ateacute os 36 meses de idade uma crianccedila

normal e perfeita mas nesta idade foi um susto para os familiares do

Francisco ele ter ficado surdo

Atraveacutes de contatos com o senhor Francisco Lima Juacutenior

estive presente na casa dele investigando sobre a

primeira turma de surdo Catarinense No dia 04082006

foi entrevistado o senhor Francisco Lima Juacutenior Ele

nasceu no dia 01061928 em Florianoacutepolis no Estado de

Santa Catarina e ateacute a idade de 03 anos ouvia

normalmente A famiacutelia do Francisco sempre conversava

com ele sobre cinema ou noticias que ouviam o raacutedio O

Francisco estava sentado no chatildeo brincando com o

carrinho na sala de estar assistindo o cinema com a

famiacutelia dele A famiacutelia chamou atenccedilatildeo do seu filho

Francisco mas ele natildeo ouvia a voz dos seus pais falando

Franciscooooo e tambeacutem batendo palmas O Francisco

natildeo ouvia nada e quando o pai tocou no ombro do

88

Francisco ele entendeu O que pai (SCHMITT 2008 p

86)

Seus pais natildeo se aperceberam ao longo deste tempo que Francisco

estava ficando surdo porque ele ainda natildeo havia aprendido a falar

compreender palavras e a se comunicar por gestos O pai de Francisco

levou-o para o meacutedico que falou que o menino teve um problema no

nervo auditivo e ficou surdo (Consultas ao meacutedico com frequecircncia

dificuldade de se comunicar com a famiacutelia sentia-se muito pressionado

foram tempos difiacuteceis ele conta) O pai queria ensinar a liccedilatildeo para

Francisco que aprendia vocabulaacuterio e a gramaacutetica juntamente com os

nuacutemeros cardinais desenho e a palavra correspondente e tambeacutem a

linguagem gestual da comunicaccedilatildeo dele O pai levou-o para o

tratamento meacutedico com o Dr Djalma Moellmann que informou aos

pais que pela idade do Francisco ele poderia estudar no Instituto

Nacional de Surdos-Mudos do Rio de Janeiro Segue o depoimento

Os pais resolveram levar seu filho para tratamento

meacutedico e fonoaudioloacutegico no centro de Florianoacutepolis

para saber o que aconteceu com a audiccedilatildeo do Francisco

que natildeo ouvia nada O meacutedico fonoaudioloacutegico dizia que

ele era deficiente auditivo e tambeacutem chamou-o de Surdo-

Mudo naquela eacutepoca ˝Ai Como fazer agora Os pais

perguntaram O que O meu filho natildeo podia estudar na

escola dos ouvintes e na eacutepoca aqui natildeo existia escola

para surdos˝ O meacutedico fonoaudioloacutegico informou sobre

a escola no INSM - Instituto Nacional de Surdos-Mudos

no Rio de JaneiroRJ Eles verificaram que laacute existia

escola para surdos-mudos mas resolveram permanecer

morando naquela cidade Entatildeo o pai resolveu levar o

seu filho Francisco para o Rio de JaneiroRJ Quando o

Francisco era crianccedila tinha ocircnibus carro caminhatildeo

bicicleta e aviatildeo Foi viagem de navio O tio do

Francisco trabalhava como marinheiro e levou o

Francisco para o Rio acompanhando do pai e do tio dele

(SCHMITT 2008 p 86)

Francisco realizou exames meacutedicos onde foi avaliada sua sauacutede

se podia estudar no Instituto Nacional de Surdos-Mudos que era um

grande desafio Nesse lugar havia modernas oficinas e ginaacutesio tinha 109

surdos internos Era comum observar um grupo de surdos que se

comunicava na liacutengua de sinais no corredor do Instituto Laacute tambeacutem os

alunos surdos podiam entrar em contato com os primeiros surdos que

89

vieram de diferentes estados e regiotildees do Brasil Em 1937 o pai

acompanhou Francisco em uma viagem de navio para o Rio de Janeiro e

matriculou-o no Instituto Nacional de Surdos-Mudos Laacute conheceu o Dr

Armando ex-diretor de INSM na deacutecada de 1940

Em 1937 Francisco foi levado pelos primos Paulo e Hugo e pelo

seu tio para conhecer o INSM Eles levavam Francisco ao Instituto nos

saacutebados e voltavam nas segundas-feiras de 1937 a 1939 Hugo

trabalhava no navio ldquoDuque de Caxiasrdquo que saiacutea do Rio de Janeiro O

outro navio onde estava o tio voltava da Bahia quando avistou um

submarino de guerra (alematildeo) que era dotado de canhotildees Os dois

navios chocaram-se agrave noite neles tinha bombas nucleares Hugo o tio

passageiros e marinheiros morreram no mar e um outro navio onde seu

tio Paulo trabalhava desapareceu na Europa em 1945

Na segunda guerra Hitler se armou poderosamente para dominar

a Europa mas com sua derrota em 1939 a 1945 a Alemanha perdeu

cerca de um quarto do seu territoacuterio que por alguns anos foi ocupado

pelas forcas aliadas russas americanas inglesas e francesas Das cinzas

surgem os novos navios Um navio a vapor com o nome de Carlos

Hoepcke e Anna navio este de carga e passageiros que transportou

Francisco ateacute o Rio de Janeiro O capitatildeo deste navio era seu tio Ceacutelio

Viana Os passageiros eram atenciosos para com Francisco e o

ajudavam quando ele precisava

Era oferecido abrigo aos navios aportados no porto de SantosSP

Rio de Janeiro Satildeo Francisco do Sul e Itajaiacute Iam de navio e na volta

vinham de aviatildeo com destino a Florianoacutepolis e Rio de Janeiro O pai

Francisco Candido de Souza Lima era gerente contador homem de

bom coraccedilatildeo que fazia a contabilidade de Carlos Hoepcke era uma

amizade de marinha mercante

Em suas viagens o professor Francisco Lima Juacutenior viu o Sr

Ademar Barros que era intendente de comeacutercio do vapor Carlos

Hoepcke Viajaram num submarino guiados por buacutessola para ajudar os

navegantes em 1937 a 1946 Ao fim do ano letivo no Instituto o pai e

Francisco voltavam para Florianoacutepolis em 1947 O Professor Francisco

trabalhou auxiliando a contabilidade e os lanccedilamentos na filial de Carlos

Hoepcke SA Ele aproveitou o aprendizado nas oficinas do Instituto

Nacional de Surdos-Mudos onde aprendeu uma seacuterie de profissotildees

como a de marcenaria encadernaccedilatildeo e sapataria aleacutem de participar de

um curso de Desenho Segue a explicaccedilatildeo do autor

Os alunos de vaacuterios estados no Brasil tambeacutem estudavam

no INSM junto com o Francisco e fizeram amizade

90

jogando o futebol na quadra Depois o Francisco foi para

os alojamentos no Instituto e dormiu cada um num

beliche todos os alunos surdos eram brasileiros Os

alunos surdos acordavam agraves 05h30min nas madrugadas

para arrumar e ficavam esperando na fila de outros

alunos faziam relaxamento e educaccedilatildeo fiacutesica para depois

tomar o banho Depois estudavam de manhatilde e agrave tarde agraves

vezes agrave noite e voltavam para o alojamento no Instituto

O professor no Instituto dava aula de oralizaccedilatildeo para os

alunos surdos na sala de aula explicando o conteuacutedo de

mateacuteria no quadro negro e tambeacutem com vareta Depois o

professor anotava no quadro a escrita de portuguecircs

avisava para o aluno surdo que natildeo podia copiar no

quadro e prestar atenccedilatildeo agrave escrita no quadro O professor

apagava no quadro para o aluno surdo memorizar a

escrita da fala O que aconteceu Os alunos ficaram com

dificuldade de entender a escrita no quadro (SCHMITT

2008 p 92 e 93)

Os professores mostravam vaacuterias figuras de objetos com os

respectivos nomes e individualmente faziam o trabalho de repeticcedilatildeo

com o aluno Francisco que escrevia e falava Mas existia a liacutengua de

sinais no lado de fora No paacutetio a comunicaccedilatildeo dele e o grupo de surdo

no Instituto apresentava a liacutengua de sinais Dr Armando Lacerda diretor

do Instituto Nacional de Surdos-Mudos ndash INSM acampanhou a

comemoraccedilatildeo de sua fundaccedilatildeo e seguiram-se demonstraccedilotildees de

ginaacutestica representaccedilatildeo de uma peccedila teatral nuacutemeros de bailado pelo

corpo etc

Os surdos da marcenaria da encadernaccedilatildeo e da sapataria eram

jogadores e participaram da competiccedilatildeo de futebol de campo no

instituto Venceram os surdos da encadernaccedilatildeo que receberam

medalhas e trofeacuteu O grupo de alunos que ganhou a competiccedilatildeo foi

viajar e passear na praia da Ilha de PaquetaacuteRJ Dois alunos deste grupo

mais tarde tornaram-se professores do Instituto Um deles era o

professor Heacutelio ensinava ginaacutestica futebol e voleibol na quadra de

esportivo e o outro era professor Francisco

Na eacutepoca foi feita uma reportagem com depoimentos do Dr

Armando Lacerda dos professores Joatildeo Brasil Silvado Juacutenior Saul Borges Carneiro e Geraldo Cavalcantil todos eles ouvintes Essa

reportagem foi riquiacutessima detalhada cheia de fotografias eacute uma

importante fonte de pesquisa Francisco desenvolveu sua aprendizagem

na liacutengua de sinais aproveitando essas atividades comemorativas que

aconteciam no instituto aleacutem do curriacuteculo da escola

91

Os professores acima citados todos oralistas impressionam pela

cultura e a quantidade de informaccedilotildees com que discorrem sobre a

educaccedilatildeo do surdo e a histoacuteria na liacutengua de sinais Sendo recebido pelo

ministro da educaccedilatildeo e sauacutede naquela eacutepoca foi oferecido um meacuterito ao

ex-aluno Francisco Lima Juacutenior conforme mostra a citaccedilatildeo

O Francisco Lima Juacutenior recebeu o meacuterito do segundo

melhor no Instituto Nacional de Surdos-Mudos (INSM)

no Rio de JaneiroRJ por a maior nota de avaliaccedilatildeo na

prova e tambeacutem em todas as disciplinas Vejam os

nomes ndash primeiro lugar (Odil Soares em Satildeo Paulo)

segundo lugar (Francisco Lima Juacutenior em Santa

Catarina) e terceiro lugar (Miriam S Rio de Janeiro)

Parabenizamos o senhor Francisco Lima Juacutenior do nosso

Estado de Santa Catarina eacute vitorioso e orgulhoso

(SCHMITT 2008 p 96)

Ele foi aluno interno do Instituto Nacional de Surdos-Mudos do

Rio de Janeiro e do Instituto Paulista de Surdos em Satildeo Paulo em 1940 e

natildeo gostava de Satildeo Paulo A professora Helena (INES) era de origem

Italiana ensinava a fazer ditado em portuguecircs (oralismo) mas a liacutengua

de sinais natildeo existia na comunicaccedilatildeo e o grupo surdo teve pouco contato

com a liacutengua materna (liacutengua de sinais)

Para a inauguraccedilatildeo do Instituto Nacional de Surdos-Mudos foram

convidadas vaacuterias autoridades entre elas o ministro da educaccedilatildeo

diretores de escolas e outros Esta aconteceu no teatro do Instituto e

ofereceram trecircs certificados para o curso de desenho para a oficina de

encadernaccedilatildeo e linguagem que foram ganhos pelo Francisco Lima

Juacutenior em 1946 No ano seguinte ele voltou para Florianoacutepolis

Em 1946 com 18 anos de idade voltou para

FlorianoacutepolisSC quando passou a procurar por pessoas

surdas nas vaacuterias cidades do estado de Santa Catarina e

demorou um tempo para ter contato com os surdos

catarinenses Ele comeccedilou a dar aulas numa garagem

situada agrave Rua Francisco Tolentino passando ser ali a

primeira escola para surdos de Florianoacutepolis O

Francisco ensinava desenho linguagem escrita

vocabulaacuterio baacutesico gramaacutetica geograacutefia histoacuteria do

Brasil e conhecimentos gerais Ele trouxe para o nosso

estado o modelo de associaccedilatildeo e fez um projeto de escola

para surdos com a esposa de ouvinte que ajudou o

Francisco Apoacutes a conclusatildeo dos cursos em 1947

retorna definitivamente para casa dos pais em

92

Florianoacutepolis agrave Rua Duarte Schutel nordm 16 (SCHMITT

2008 p 104)

Em 1947 morava com o pai em sua casa em Florianoacutepolis Ele

foi habilitado em contabilidade pelo Instituto e fez o curso de

Contabilidade do Instituto Radio Teacutecnico RT Monitor SA ndash nuacutecleo de

ensino profissional livre por correspondecircncia (1 liccedilatildeo ateacute 28 liccedilatildeo) Satildeo

Paulo ndash SP Apoacutes Francisco conhecer os surdos em vaacuterias cidades de

Santa Catarina ele ficou com vontade de auxiliar o surdo que ficava

isolado em casa e na famiacutelia sem o uso da comunicaccedilatildeo gestual Veja a

seguir a imagem apresentada do Francisco Lima Juacutenior em 1947

93

Figura 13 ndash Acervo do Francisco eacute o primeiro dicionaacuterio na liacutengua de

sinais em Santa Catarina em 1947

O primeiro dicionaacuterio em Santa Catarina tinha imagens do

proacuteprio Francisco que demonstrava a preocupaccedilatildeo culturallinguiacutestica

para com os surdos e a difusatildeo da liacutengua de sinais procurava uma forma

de o grupo de surdo ter contato com a liacutengua de sinais e ensinava em sua casa (na garagem) onde tambeacutem ficava a associaccedilatildeo

As aulas continuavam com o professor Francisco que ia

ensinando cada vez mais sinais e com qualidade pois dali faziam as

provas finais O professor ensinava conteuacutedos de matemaacutetica geografia

94

conhecimento geral ciecircncias e portuguecircs No uacuteltimo mecircs de aula apoacutes o

encerramento das aulas o professor entregava os boletins com as meacutedias

de todos os surdos que ficaram alegres pois nenhum deles tinha sido

reprovado

Francisco viajou para Satildeo Paulo em 1954 iniciou sua amizade

com o primeiro presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos de Satildeo

Paulo senhor Maacuterio Devisate que natildeo tinha o conhecimento da

existecircncia de uma associaccedilatildeo de surdos em Florianoacutepolis O senhor

Maacuterio Devisate deu um documento de uma Associaccedilatildeo de Surdos-

Mudos com acircmbito nacional e Francisco veio como delegado para a

regiatildeo do sul passando a residir nessa capital

Foi o primeiro encontro com o presidente da Sociedade dos

Surdos-Mudos do Distrito Federal49

que mudou a Associaccedilatildeo de Surdos-

Mudos do Rio de Janeiro o senhor Miguel da Fonseca Seabra de Melo

grande colega jaacute falecido Francisco em meio agrave conversa na liacutengua de

sinais conheceu o presidente da ASURJ que comentou ldquoaquele tambeacutem

eacute surdordquo O colega dele sorriu ao sair cumprimentou o senhor Miguel

da Fonseca Seabra de Melo que agradecendo estendeu-lhe a matildeo Isso

aconteceu no Instituto Nacional de Surdos-Mudos

Francisco nunca mais se esqueceu dessa cena bem da verdade

ele conversava com o senhor Salomatildeo Watnick (jaacute falecido em Porto

Alegre) que foi o primeiro presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos

do Rio Grande do Sul e foi uma grande amizade Como pode estudar

desde cedo em escola especial para Surdos Mudos em Satildeo Paulo e Rio

de Janeiro conhecia muitos surdos tinha amizade e intimidade

oportunizando contato com surdos que tinham lideranccedila e outros grupos

de surdos tendo como consequecircncia aprendido expressotildees palavras

novas da liacutengua de sinais inclusive as variaccedilotildees linguiacutesticas de outras

regiotildees

Francisco foi tratado como amigo pelos senhores Vivaldo Leal de

Merelles e Ciro Garcia de Souza jaacute falecidos que escreveram o

primeiro estatuto da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos do Paranaacute Eles

perguntaram como ganhavam a vida os surdos-mudos que natildeo tiveram a

felicidade de cursar escolas especiais Entatildeo nesta pergunta

encontraram o motivo da existecircncia da associaccedilatildeo e da escola

Francisco fundou o Ciacuterculo dos Surdos-Mudos de Santa Catarina

ndash CSMSC no ano de 1955 Naquele aniversaacuterio de sua entidade os

surdos-mudos de Florianoacutepolis receberam a visita de delegaccedilotildees de

49 O Distrito Federal nessa eacutepoca era o Rio de Janeiro

95

outros Estados No primeiro jogo o CSMSC jaacute ganhou um trofeacuteu no

futebol de campo Outro ganho foi com a Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos

do Paranaacute onde havia muitas variaccedilotildees na liacutengua de sinais e o contato

proporcionou o aprendizado de novos sinais para todos

Em 1961 o Governador Celso Ramos atendia o presidente O

Ciacuterculo dos Surdos-Mudos de Santa Catarina o professor Francisco

Lima Juacutenior acompanhado de outros membros daquela associaccedilatildeo

pleiteava a construccedilatildeo de uma escola para surdos-mudos em nosso

Estado porque ainda natildeo existia nenhuma O ensino de Francisco

desenvolvia o domiacutenio da liacutengua de sinais dos surdos em Santa Catarina

Em Santa Catarina o processo de educaccedilatildeo de surdos se

deu na deacutecada de 50 com serviccedilos implementados na

rede regular de ensino Aconteceu que os surdos

estudaram na escola regular juntamente com alunos

ouvintes e eles natildeo se compreenderam na sala de aula

porque o professor falava a liacutengua portuguesa e oralismo

A liacutengua de sinais era proibida por influecircncia do

congresso de Milatildeo na Itaacutelia em 1880 Os alunos surdos

ficaram isolados dos alunos ouvintes por causa das

barreiras de comunicaccedilatildeo Os ouvintes natildeo conheciam a

cultura e a identidade surda Por exemplo na sala de aula

muitos alunos ouvintes se comunicam em portuguecircs e os

surdos ficam isolados e excluiacutedos na escola dos ouvintes

Porque o surdo procura a intervenccedilatildeo da cultura que se

vive na liacutengua de sinais encontra outros surdos na

comunicaccedilatildeo nos contados entre outros surdos e

consegue juntamente na forccedila poliacutetica dos movimentos

surdos Na verdade o Francisco teve forccedila de vontade

para estudar no INES Ele eacute uma pessoa boa com a

responsabilidade de fundar associaccedilatildeo de surdo A

trajetoacuteria de vida desde a infacircncia marca e registra que

Francisco tem procuraccedilatildeo com o povo surdo do interior

com os contatos na liacutengua de sinais e mais valorizaccedilatildeo da

cultura surda (SCHMITT 2008 p 105)

Foi apresentado para Francisco Lima Juacutenior pelo Governador

Celso Ramos o termo aprovado para contrataccedilatildeo de profissionais para

funcionamento da sala para surdos-mudos em Florianoacutepolis que

funcionou na Escola Celso Ramos localizada na Rua Francisco

Tolentino n0 12 Centro de Florianoacutepolis Esse empreendimento veio

dotar a capital de mais uma escola desta vez destinada aos surdos-

mudos que tambeacutem necessitavam ser atendidos quando se promovia o

crescimento no nuacutemero de escola em nossa terra

96

Em Florianoacutepolis existiam duas escolas para crianccedilas surdas

uma funcionando no grupo Escolar Celso Ramos e outra no grupo

Escolar Barreiros Filho todos a cargos de professores especializados

Nessa eacutepoca os surdos de Florianoacutepolis receberam a visita de um

sacerdote surdo o Padre Vicente de Paulo Penido Burnier natural de

Juiz de Fora Estado de Minas Gerais e tambeacutem do Padre Eugecircnio Oates

nascido em Missouir Estados Unidos Atraiacutedo pela personalidade e pelo

trabalho do padre Vicente o padre Eugecircnio Oates veio para o Brasil em

1946 como missionaacuterio dirigindo-se agrave igreja dos padres redentoristas

sediada em Manaus

Integrou-se na vida brasileira o padre Eugecircnio Oates realizando

campanhas em todo o paiacutes em favor da difusatildeo da linguagem das matildeos

no Rio de Janeiro onde lanccedilou o primeiro livro em 1969

Figura 14 ndash Acervo do Francisco fotografia de Jornal que traz

reportagem sobre o livro Linguagem das Matildeos

Em Florianoacutepolis encaminhavam os surdos-mudos para a

instituiccedilatildeo especializada podia-se procurar o Ciacuterculo dos Surdos-Mudos

de Santa Catarina no grupo escolar Barreiros Filho e no Instituto de

Audiccedilatildeo e Terapia de Linguagem ndash IATEL Fundado no dia 05 de julho

de 1969 o IATEL jaacute funcionava no hospital infantil em instalaccedilotildees

precaacuterias Para que crianccedilas surdas pudessem ter uma vida normal o

professor Francisco Lima Juacutenior trabalhava haacute muitos anos

O Ciacuterculo dos Surdos-Mudos de Santa Catarina comeccedilou a se

movimentar pois na reuniatildeo teve contato com a liacutengua de sinais que

comeccedilou com o discurso depois um jogo divertido que o CSMSC

97

promovia no encontro desta reuniatildeo Tambeacutem ofereceu a renovaccedilatildeo de

matriacuteculas para menores e adultos surdos Reabriu a escola para surdos

menores no periacuteodo da manhatilde e agrave noite para adultos analfabetos Teve

tambeacutem outra reuniatildeo que iniciou com um discurso e apoacutes isso

aconteceu o jogo com os associados

As aulas continuavam normalmente e as reuniotildees tambeacutem

Francisco Lima Juacutenior que era o presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos

do Estado de Santa Catarina era quem organizava o encontro com as

associaccedilotildees de surdos de vaacuterias cidades do estado Havia aleacutem dos

discursos escolha da rainha dos surdos e competiccedilotildees de jogos (futebol

vocirclei) aleacutem de viagens Numa dessas viagens os surdos de Santa

Catarina foram para Satildeo Paulo no festival esportivo numa viagem de

dois dias onde ocorria a silenciosa festividade

O presidente do CSMSC nesta festa fez um discurso para os

amigos surdos de Satildeo Paulo e o vice-presidente do CSMSC deixou seu

cargo porque natildeo quis mais participar destas associaccedilotildees Entatildeo as

aulas continuaram Foi um mecircs em que muitos soacutecios ou alguns estavam

com muito trabalho vinham alguns soacutecios da associaccedilatildeo dos surdos-

mudos para saber das informaccedilotildees da semana no CSMSC Por isso

continuaram alguns surdos realizando o encontro para bate-papo na

liacutengua de sinais todas as quartas-feiras Realizou-se a primeira

comunhatildeo pascoal na capela do Coleacutegio Catarinense rezada pelo padre

Vicente que era surdo no mesmo dia apoacutes a missa de aniversaacuterio do

presidente Francisco

Os alunos surdos entraram em feacuterias mas continuaram os

encontros e reuniotildees onde discursavam e planejavam as atividades

esportivas para o CSMSC apoacutes os jogos que eles faziam todos os

meses Havia reuniotildees com bate-papos na liacutengua de sinais no CSMSC

Numa destas reuniotildees aconteceu um evento importante para os surdos-

mudos que eram associados do CSMSC pois comemoraram a data de

sua inauguraccedilatildeo

Francisco continuava a dar aulas e palestras principalmente sobre

a Independecircncia do Brasil sobre D Pedro I e outros assuntos Na

comemoraccedilatildeo da Independecircncia do Brasil os associados da CSMSC

viajaram para Curitiba e encontraram os amigos surdos de laacute E todos

fizeram um discurso que iniciou com o presidente da CSMSC apoacutes os

representantes de cada sociedade e depois do discurso foi eleita a rainha

da Associaccedilatildeo dos Surdos de Curitiba senhorita Anair Budel Em

seguida o presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos de Curitiba convidou o

professor Francisco Lima Juacutenior presidente do CSMSC para danccedilar a

valsa com a rainha das prendas Anair Budel

98

Francisco contou que o baile foi muito divertido e durou ateacute a

madrugada com o grupo de surdos que conversava muito no encontro

de associaccedilotildees regionais Apoacutes o encerramento do evento visitaram

uma escola de crianccedilas surdas em Curitiba Em 1972 o professor deu

para cada aluno uma cartolina e assim cada um ia imaginar e pintar seu

conhecimento do trabalho para a difusatildeo da liacutengua de sinais Depois na

comemoraccedilatildeo do dia do professor os alunos fizeram uma pequena

homenagem ao professor Francisco

O professor falou sobre o dia do Iacutendio descobrimento do Brasil a

morte de Tiradentes entre outros Na paacutescoa os alunos receberam

presentes de chocolate na semana da paixatildeo foi apresentado o teatro ldquoa

morte de Jesus Cristordquo na liacutengua de sinais por um grupo de surdos para

difundir sua liacutengua

O ensino da liacutengua de sinais em Santa Catarina com os

ensinamentos do professor Francisco proporcionou uma nova fase da

liacutengua de sinais trazendo influecircncias de outras comunidades surdas do

Brasil A partir desse contato o modelo linguiacutestico trazido do Rio de

Janeiro eacute aperfeiccediloado a cada geraccedilatildeo

O Imperial Instituto dos Surdos-Mudos foi de extrema

importacircncia na propagaccedilatildeo da liacutengua de sinais em grande

parte das regiotildees brasileiras O Sr Francisco cidadatildeo

Catarinense foi um aluno desta instituiccedilatildeo apoacutes retornar

ao seu estado de origem ele foi educador de surdos e

responsaacuteveis pela difusatildeo da liacutengua sinalizada usada

nesse instituto (CORREA e SEGALA 2009 p 32)

Durante todo esse tempo o professor Francisco Lima Juacutenior

orienta auxilia e direciona todas as atividades escolares das crianccedilas

jovens e adultos surdos tornando-se assim o primeiro professor dessa

metodologia de ensino - A Linguagem das Matildeos com o objetivo de

criar um alfabeto uacutenico para todos os Surdos do Estado de Santa

Catarina Suas aulas e palestras em LIBRAS tornaram-se muito

populares entre os surdos catarinenses

Eacute importante registrar na histoacuteria da liacutengua de sinais em Santa

Catarina um estudo linguiacutestico e possibilitar a pesquisa sobre o primeiro

professor surdo Francisco que criou o primeiro dicionaacuterio aqui em

Santa Catarina Ele trouxe o modelo do INESRJ (uma experiecircncia na liacutengua de sinais) para nosso estado de Santa Catarina e influenciou a

comunidade surda catarinense

Uma das pessoas surdas da nova geraccedilatildeo eacute a Sandra Luacutecia

Amorim que escreveu um pequeno dicionaacuterio chamado ldquoComunicando

99

a Liberdade - A Liacutengua das Matildeosrdquo em 2000

Concluiacutemos que a Liacutengua Brasileira de Sinais teve forte

influecircncia da liacutengua de sinais francesa (LSF) que tambeacutem influenciou a

liacutengua de sinais em Santa Catarina atraveacutes do professor Francisco que

estudou no INES A LSF eacute uma liacutengua mais antiga do que a LIBRAS

com um acervo bibliograacutefico maior A LIBRAS tem caracteriacutesticas

proacuteprias e estaacute em expansatildeo a partir de sua oficializaccedilatildeo em 2002 pela

necessidade de incluir novos sinais ao aprendizado da comunidade surda

que passou a ter uma maior abertura nas universidades

100

101

CAPIacuteTULO IV ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila na liacutengua de sinais

41 ndash Introduccedilatildeo

Nesta pesquisa tomamos como base teoacuterica os estudos

sociolinguiacutesticos de Labov (2008 [1972]) na concepccedilatildeo de que seu texto

pode nos ajudar a embasar o trabalho de pesquisa Assim tomamos

como base os estudos das liacutenguas orais do autor adaptando-os agraves

variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas das liacutenguas de sinais

O estudo desenvolvido aqui mostra os sujeitos surdos a liacutengua de

sinais algumas possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas Traz

explicaccedilotildees da liacutengua de sinais pelo surdo indiacutecios de variaccedilatildeo e

mudanccedila linguiacutestica apresenta variaccedilotildees linguiacutesticas na liacutengua de sinais

utilizadas pelos surdos e por fim como o surdo se comunica a liacutengua

de sinais em seu contexto social

42 ndash A liacutengua de sinais pelo surdo indiacutecios de variaccedilatildeo e mudanccedila

linguiacutestica

A LIBRAS

50 eacute uma liacutengua usada entre os surdos assim como

entre os ouvintes desde que queiram interagir com esta forma de

comunicaccedilatildeo Ao verificar o acesso dos surdos agrave comunicaccedilatildeo e agrave

expressatildeo de forma criativa pode-se encontrar respostas sobre

mudanccedilas na gramaacutetica em palavras em frases e em seu contexto

social

As liacutenguas mudam todos os dias evoluem mas a essa

mudanccedila diacrocircnica se acrescenta uma outra sincrocircnica

pode-se perceber numa liacutengua continuamente a

coexistecircncia de formas diferentes de um mesmo

significado Essas variaacuteveis podem ser geograacuteficas a

mesma liacutengua pode ser pronunciado diferentemente ou

ter um leacutexico diferente em diferentes pontos do territoacuterio

(CALVET 2002 p 89)

Queremos apresentar algumas variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas a

que os surdos estiveram expostos no primeiro espaccedilo de ensino

promovido pelo professor Francisco Lima Juacutenior (Chiquito) Ele

influenciou para a expansatildeo da liacutengua de sinais da comunidade surda na

50 ldquoEacute uma liacutengua natural eacute atraveacutes dela que os surdos tecircm acesso ao mundo em que vivem No

entanto ela natildeo eacute uma liacutengua que o surdo aprende sozinho Ele pode desenvolver uma liacutengua

102

histoacuteria de Santa Catarina Entatildeo queremos perceber se haacute diferenccedilas

durante sua trajetoacuteria entre a variaccedilatildeo linguiacutestica daquela eacutepoca (1950)

ateacute a atualidade se aconteceram mudanccedilas por influecircncia da

transformaccedilatildeo tecnoloacutegica da sociedade Acreditamos que com o passar

do tempo ocorrem mudanccedilas na liacutengua de sinais histoacuterica e

culturalmente na comunidade surda

As liacutenguas de sinais como todas as liacutenguas satildeo dinacircmicas Em

contato com grupos surdos na comunidade modificam-se ao longo do

tempo como qualquer outra liacutengua A mudanccedila pode ser percebida em

diferentes regiotildees onde o surdo busca a informaccedilatildeo utilizando a liacutengua

de sinais que vem de outro lugar com algumas diferenccedilas entre palavras

e seu significado entre sinais

Quando as pessoas surdas evoluem culturalmente a liacutengua de

sinais se transforma Com o passar do tempo a ldquoLIBRASrdquo tambeacutem se

modifica Na interaccedilatildeo do indiviacuteduo surdo na comunidade surda e na

sociedade essas relaccedilotildees de contato fazem com que se criem novos

sinais pois aparecem palavras novas e outros sinais sofrem adaptaccedilotildees

ocorrem mudanccedilas na configuraccedilatildeo de matildeos no ponto de articulaccedilatildeo

no movimento na orientaccedilatildeodirecional na expressatildeo facial e corporal

Essas adaptaccedilotildees satildeo criadas pela necessidade no contato e na situaccedilatildeo

de uso A comunidade surda como qualquer outra vem evoluindo e se

transformando firmando uma identidade surda

Como jaacute ressaltamos a origem da liacutengua de sinais no Brasil eacute

europeacuteia Sua maior influecircncia foi no Rio de Janeiro no Instituto

Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos ndash INESRJ onde se expandiu para os

demais estados brasileiros Recebeu influecircncia tambeacutem do Francecircs do

Portuguecircs (Portugal) e dos Estados Unidos O Instituto pesquisou a

influecircncia cultural dos surdos e as influecircncias sofridas quanto a

LIBRAS Assim como na Liacutengua Portuguesa acontecem modificaccedilotildees

na escrita e na fala com o tempo na liacutengua de sinais tambeacutem ocorrem

transformaccedilotildees quanto agrave configuraccedilatildeo de matildeos A liacutengua de sinais

evolui com mudanccedila constante em cada regiatildeo e a comunicaccedilatildeo do

surdo acompanha e qualifica mais a liacutengua de sinais A LIBRAS sofre

modificaccedilotildees com o tempo e tambeacutem como na liacutengua falada apresenta

palavras ou expressotildees proacuteprias do lugar onde acontece a comunicaccedilatildeo

Sendo assim o surdo natildeo tem o contato com a LIBRAS longe da

sociedade ou na zona rural nesse caso pode se apropriar de sinais

proacuteprios para a comunicaccedilatildeo ex Francisco buscava os surdos nas

regiotildees de Santa Catarina pois o contato com a LIBRAS eacute importante

para a sua identidade cultural

103

Realmente pode-se considerar que essas diferentes

palavras se dividem em seu uso em uma escala de faixas

etaacuterias os jovens diriam banheiro seus pais wc e seus

avoacutes reservados por exemplo Pode-se entatildeo imaginar

que eles se dividam segundo o sexo dos falantes os

homens dizendo mais banheiro e wc e as mulheres

toalete e reservado (CALVET 2002 p 103)

A LIBRAS eacute uma liacutengua porque possui estrutura gramatical

proacutepria eacute essencial para o surdo o contato em relaccedilatildeo ao outro como

em qualquer outra liacutengua que tem diferenccedilas gramaticais Utilizando o

movimento de sinal e a expressatildeo facial como meio de comunicaccedilatildeo o

surdo se comunica tanto com a comunidade surda quanto com a ouvinte

O contato dos jovens com os ensinamentos do professor

Francisco proporcionou uma nova fase da liacutengua de sinais A partir

desse contato o modelo linguiacutestico trazido do Rio de Janeiro eacute

aperfeiccediloado pela geraccedilatildeo mais nova do mesmo modo que descreve

Calvet (2002) nos estudos de liacutengua oral

- a ideacuteia de pesquisa uma (s) variaacutevel (eis) frequente (s)

que geralmente aparecem na estrutura linguumliacutestica

variaacuteveis cuja distribuiccedilatildeo deve ser fortemente

estratificada ldquoIsso equivale a dizer que as pesquisas

preliminares deveriam indicar a seu respeito uma

distribuiccedilatildeo assimeacutetrica entre as mais diversas faixas

etaacuterias ou entre outras categorias mais hierarquizadas da

sociedaderdquo - o estabelecimento de uma metodologia que

extrai essas variaacuteveis dos textos produzidos pelos

falantes - a pesquisa da correlaccedilatildeo entre essa

distribuiccedilatildeo de traccedilos linguiacutesticos e uma distribuiccedilatildeo de

traccedilos socioloacutegicos (CALVET 2002 p 93)

Na citaccedilatildeo acima o autor relata que eacute preciso pensar a construccedilatildeo

de identidade levando em conta diferentes faixas etaacuterias e a variaccedilatildeo

linguiacutestica Entendemos assim a necessidade de pesquisarmos as

variaccedilotildees ocorridas em Santa Catarina

A LIBRAS possui uma forma de comunicaccedilatildeo proacutepria Eacute

independente como qualquer outra liacutengua escrita ou falada Tem o

formato proacuteprio na sua comunicaccedilatildeo que eacute o visual pois se utiliza de

sinaisgestos e expressotildees Todos os seres humanos usam um

determinado tipo de liacutengua e linguagem para se comunicar e tanto a

liacutengua falada quanto a sinalizada apresentam sentidos de expressotildees

104

diferentes na comunicaccedilatildeo A liacutengua de sinais muda histoacuterica e

linguisticamente conforme as variaccedilotildees de cada lugar ou regiatildeo Entatildeo

eacute importante a relaccedilatildeo estabelecida com outras pessoas na sociedade na

troca de informaccedilatildeo ideias experiecircncias ensinamentos e aprendizagem

quando se fala uma liacutengua Quando pensamos as liacutenguas percebemos

que existem diferenccedilas na LIBRAS e no Portuguecircs

Frishberg (1975)51

no seu estudo pesquisado no Instituto Teacutecnico

Nacional para Surdos de Nova Iorque aborda como a Liacutengua de Sinais

Americana (ASL) tem mudado gradativamente ao longo do tempo de

uma linguagem mais icocircnica para uma linguagem mais arbitraacuteria Eacute a

liacutengua natural da comunidade surda nos Estados Unidos e em partes do

Canadaacute onde o inglecircs eacute falado Difere das duas liacutenguas que a maioria

das pessoas conhece no sentido de que eacute produzida com as matildeos e

percebida pelos olhos em vez de pronunciado e percebido pelos

ouvidos Entatildeo ela realizou a sua pesquisa sobre alguns processos

histoacutericos em Liacutengua de Sinais onde havia uma forte tendecircncia para

certas mudanccedilas Como toda liacutengua as liacutenguas de sinais aumentam seu

inventaacuterio lexical com novos sinais introduzidos pelas comunidades

surdas em respostas agraves mudanccedilas culturais e tecnoloacutegicas

A liacutengua de sinais possui estrutura gramatical como qualquer

liacutengua utiliza paracircmetros e como todas as liacutenguas tem variaccedilotildees no

niacutevel fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico e pragmaacutetico Por

isso pode-se perceber a mudanccedila cotidiana na liacutengua de sinais A pessoa

surda traz do seu contato cultural dos grupos nos quais estaacute inserida

novos olhares desta liacutengua muitas vezes transformando sinais jaacute

existentes em novos sinais

Quadros e Karnopp (2004) dizem que as liacutenguas de sinais

recebem informaccedilotildees linguiacutesticas pelos olhos e satildeo produzidas pelas

matildeos O termo fonologia tem sido muito usado para estudar os

elementos das liacutenguas de sinais Apesar da diferenccedila com as liacutenguas

orais as duas liacutenguas tecircm os mesmos princiacutepios subjacentes de

construccedilatildeo Poreacutem existe um esquema linguiacutestico estrutural nas liacutenguas

de sinais que natildeo tem significado se feito isoladamente que eacute

51 Nancy Frishberg eacute consultora em Liacutengua de Sinais e Interpretaccedilatildeo Ela tem PhD em

linguiacutestica pela Universidade da Califoacuternia San Diego onde sua pesquisa de doutorado focada

em mudanccedila histoacuterica em Liacutengua de Sinais Americana ndash ASL Seu trabalho de dissertaccedilatildeo demostrou que os sinais seguem princiacutepios linguiacutesticos como elas mudam ao longo do tempo

com o uso Seu livro de 1986 ldquoInterpretaccedilatildeo Um Introduccedilatildeordquo que ainda estaacute em versatildeo

impressa eacute o texto principal em muitos programas de treinamento inteacuterprete e serve como base para o exame escrito (primeira etapa) para certificaccedilatildeo pelo Registro de Inteacuterpretes para

Surdos

105

Configuraccedilatildeo de Matildeos (CM) Locaccedilatildeo (L) e Movimento (M) A

LIBRAS eacute basicamente feita com as matildeos (direita ou esquerda) tendo

tambeacutem movimento do corpo e da face A CM L e M se contrastam

minimamente alterando o significado dos sinais

A ASL tem a sua proacutepria gramaacutetica e fonologia Na liacutengua de

sinais eacute o estudo dos movimentos manuais baacutesicos que fornece a base

para todos os sinais sintaxe e morfologia na liacutengua falada A morfologia

estuda como as palavras satildeo formadas a partir de sons e palavras

baacutesicas Na liacutengua de sinais eacute o estudo de como os sinais manuais

baacutesicos representam conceitos A liacutengua americana de sinais eacute uma

liacutengua visual que incorpora gestos expressotildees faciais movimentos da

cabeccedila linguagem corporal e ateacute o espaccedilo ao redor do falante Os sinais

manuais satildeo a base desta liacutengua Muitos deles satildeo icocircnicos o que

significa dizer que o sinal usa uma imagem visual que se parece com o

conceito que representa

Wescott (1971 Frishberg) sugere que todas as formas de liacutengua

(oral escrita e gestual) usam iconicidade Ele diz que a iconicidade eacute um

sinal familiar (caseiro) em vez de uma caracteriacutestica absoluta de

qualquer sistema de comunicaccedilatildeo incluindo a liacutengua

Segundo Frishberg um sinal pode ser especificado atraveacutes de

quatro paracircmetros simultaneamente configuraccedilatildeo de matildeo movimento

ponto de articulaccedilatildeo (ou localizaccedilatildeo) e orientaccedilatildeo Essas descriccedilotildees de

paracircmetro servem para poder distinguir alguns sinais de outros similares

e dar sentido agrave frase num todo como por exemplo os sinais HOJE e

AGORA diferem no paracircmetro movimento mas satildeo iguais na

configuraccedilatildeo de matildeos e na localizaccedilatildeo A alteraccedilatildeo entre esses

paracircmetros pode significar uma completa alteraccedilatildeo no sentido de

algumas palavras Por exemplo o sinal correspondente agrave ldquoMACcedilAtilderdquo pode

significar ldquoQUEIJOrdquo se houver apenas uma mudanccedila na configuraccedilatildeo

de matildeos novamente ldquoMACcedilAtilderdquo pode significar ldquoCURSOrdquo se houver

diferenccedila no local e por fim ldquoMACcedilAtilderdquo pode significar ldquoCUBArdquo se

houver variaccedilatildeo no movimento Esses satildeo pares-miacutenimos encontrados

na LIBRAS A orientaccedilatildeo conforme aplicada tambeacutem pode alterar o

significado de uma palavra Seguem os exemplos na liacutengua de sinais

106

Figura 15 ndash Mostrar os Sinais

As autoras Quadros e Karnopp (2004 p 78) dizem que as

restriccedilotildees fonoloacutegicas requeridas para a boa formaccedilatildeo de sinais podem

ser produzidas pelas matildeos como a) sinais produzidos com uma das

matildeos b) sinais produzidos com as duas matildeos ambas ativas e c) sinais produzidos com as duas matildeos em que a matildeo dominante eacute ativa e a matildeo

natildeo-dominante serve como locaccedilatildeo

Para Battison (1978 Quadros e Karnopp (2004)) haacute duas

restriccedilotildees fonoloacutegicas na produccedilatildeo dos tipos de sinais a) a condiccedilatildeo de

107

simetria e b) a condiccedilatildeo de dominacircncia Quando as duas matildeos se

movem na produccedilatildeo de um uacutenico sinal CM deve ser a mesma para as

duas matildeos a locaccedilatildeo deve ser a mesma ou simeacutetrica o movimento deve

ser simultacircneo ou alternado Jaacute na condiccedilatildeo de dominacircncia as matildeos

apresentam diferentes configuraccedilotildees e entatildeo a matildeo ativa produz o

movimento e a matildeo passiva serve de apoio

A importacircncia dessa transferecircncia de movimento do rosto ou

corpo para as matildeos deve ser ressaltada bem como a concentraccedilatildeo para

uma sinalizaccedilatildeo de faacutecil entendimento Alguns sinais continuam sendo

motivados para uma mudanccedila dentre eles WILL (indica o futuro)

CARE (cuidado) TEDIOUS (tedioso) FINDFAULT (criticar) e

MEET (encontrar) Nessas mudanccedilas satildeo observadas algumas

caracteriacutesticas corporais tais como movimentos ordenados dos dedos e

matildeos deslocamento lateral da cabeccedila e movimentos do toacuterax

Pesquisei outro exemplo no curso de LetrasLIBRAS sobre a

variaccedilatildeo fonoloacutegica ldquoOs sinais FUNNY (engraccedilado) BLACK (preto)

e BORING (chato) satildeo exemplos de variaccedilatildeo fonoloacutegica pois esses

sinais podem ser realizados de duas formas soacute com o indicador

distendido e os outros dedos fechados ou com o

indicador e o polegar distendidos e os demais dedos fechadosrdquo

108

Figura 16 ndash Variaccedilatildeo fonoloacutegica

Outro exemplo interessante dos autores Woodward e Desantis

(1976) satildeo sinais que podem ser realizados tanto com uma matildeo quanto

com duas matildeos como os sinais CAT (gato) COW (vaca) e FAMOUS

(famoso) que satildeo produzidos no rosto

CAT COW

FAMOUS

(TENNANT amp BROWN 2004)

Figura 17 ndash Mostrar os sinais com uma matildeo e com duas matildeos

109

Vamos conhecer e refletir sobre as variaccedilotildees dos surdos

essencialmente com relaccedilatildeo agrave liacutengua de sinais

Klima e Bellugi (1979) representam uma pesquisa fonoloacutegica na

liacutengua de sinais do ASL A ASL ndash American Sign Language eacute a liacutengua

natural da comunidade surda nos Estados Unidos Os autores

identificam na liacutengua de sinais apenas trecircs paracircmetros configuraccedilatildeo de

matildeo (CM) ponto de articulaccedilatildeo (ou localizaccedilatildeo) (L) movimento (M)

que ao serem analisados individualmente natildeo satildeo possuidores de

significado e a outra autora Brito (1995) no Brasil pesquisou partes dos

paracircmetros primaacuterios a configuraccedilatildeo das matildeos o ponto de articulaccedilatildeo e

o movimento e tambeacutem os paracircmetros secundaacuterios52

a regiatildeo de

contato a orientaccedilatildeo das matildeos e a disposiccedilatildeo das matildeos

Segundo Frishberg em se tratando de tendecircncia para a simetria a

liacutengua toma vaacuterias formas Examinando o seu desenvolvimento em dois

paracircmetros matildeo-forma e movimento nota-se que ambas as matildeos agem

em uniacutessono e uma matildeo age sobre a outra As matildeos assumiram a mesma

configuraccedilatildeo Pode-se ver que alguns sinais mudam sua forma de

expressatildeo antes era com apenas uma das matildeos e agora se tornam as

duas

Eacute claro que os sinais tendem a seguir mudanccedilas ao longo da

histoacuteria Por exemplo para sinais no rosto tendem a utilizar apenas uma

matildeo deixando a face mais visiacutevel e permitindo que os olhos expressem

uma variedade de fins gramaticais Jaacute para os sinais na aacuterea do tronco

geralmente usam as duas matildeos ndash o que muitas vezes eacute sinal de

redundacircncia e simetria

Segue o exemplo da liacutengua de sinais do ASL

52 BRITO (1995) Regiatildeo de Contato ldquoRefere-se agrave parte da matildeo que entra em contato com o corpo Esse contato pode-ser dar maneiras diferentes atraveacutes de um toque de um risco de um

deslizamento etcrdquo

Orientaccedilatildeo das Matildeos ldquoEacute a direccedilatildeo da palma da matildeo durante o sinal voltada para cima para

baixo para o corpo para frente para esquerda ou para a direita Pode haver mudanccedila na

orientaccedilatildeo durante a execuccedilatildeo do Movimentordquo

Disposiccedilatildeo das Matildeos ldquoA articulaccedilatildeo dos sinais pode ser feita apenas pela matildeo dominante ou

pelas duas matildeos Neste uacuteltimo caso as duas matildeos podem se movimentar para formar o sinal ou entatildeo apenas a matildeo dominante se movimenta e a outra funciona como Ponto de

Articulaccedilatildeordquo

110

Figura 18 ndash Sinal de Paacutessaro

Para o sinal de PAacuteSSARO em um primeiro momento utiliza-se

uma das matildeos na aacuterea da face para o sinal ldquobicordquo e em seguida as duas

matildeos (uma para cada lado) em forma de asas Por fim o sinal

PAacuteSSARO hoje eacute apenas representado pela primeira parte (bico em

matildeo uacutenica)

A histoacuteria documentada da liacutengua americana de sinais natildeo eacute

longa existe uma seacuterie de gestos registrados ao longo da histoacuteria mas

foi somente no final do seacuteculo XVIII que os surdos foram considerados

educaacuteveis

Segundo Frishberg ldquoHomesignrdquo (sinais caseiros) eacute um termo

geral utilizado pela comunidade surda para se comunicar poreacutem eacute uma

forma bastante utilizada principalmente pelas matildees em aacutereas rurais que

tecircm filhos surdos Dados estatiacutesticos mostram que 80 a 90 dos surdos

nascem de pais ouvintes por essa razatildeo haacute uma necessidade inevitaacutevel

de comunicaccedilatildeo A partir dessa necessidade as matildees principalmente

precisam encontrar maneiras de se comunicar com os filhos e passam a

criar sinais de forma empiacuterica sem qualquer regra ou seja sinais natildeo

padronizados Tais sinais inventados passam a criar certas dificuldades

111

de comunicaccedilatildeo entre as diferentes comunidades de surdos Existe a

ASL (Liacutengua de Sinais Americana) com uma linguagem jaacute padronizada

que comeccedila a ser difundida e ensinada atraveacutes das escolas americanas

com sinais padronizados

A liacutengua de sinais padronizada enfrenta ainda dificuldade pois

algumas escolas eram proibidas politicamente de ensinar atraveacutes da

metodologia da ASL O fato eacute que outras escolas mesmo sem a devida

autorizaccedilatildeo comeccedilam a ensinar a liacutengua padronizada Os surdos

comeccedilam a aprender a liacutengua padratildeo mas continuam a se comunicar em

casa com os familiares usando o ldquohomesignrdquo (sinais caseiros) A

comunicaccedilatildeo ensinada em casa requeria a utilizaccedilatildeo de vaacuterios recursos

ambientais para a comunicaccedilatildeo entretanto havia a dificuldade de

encontrar referecircncia para as cores nos recursos ambientais pois para se

referir a uma cor eles deveriam encontraacute-lo na natureza aproximar-se o

suficiente para apontar e fazer a associaccedilatildeo com a cor

Historicamente pode-se afirmar que ao longo do tempo a forma

de comunicaccedilatildeo entre a comunidade surda vem mudando

constantemente teacutecnicas e sinais vecircm sendo aperfeiccediloados Ao inveacutes de

gestos natildeo-estruturados o que encontramos eacute uma gama de sinais e

movimentos de matildeos regularizados ou seja inter-relacionados

conjunto sistematizado de sinais que estaacute passando por mudanccedilas de

forma regular e formal

Quadros e Karnopp (2004 p 51) observam que os articuladores

primaacuterios das liacutenguas de sinais satildeo as matildeos estas se movimentam em

um espaccedilo determinado em frente ao corpo Um sinal pode ser

articulado com uma ou duas matildeos ou seja um mesmo sinal pode ser

articulado tanto com a matildeo direita quanto com a esquerda Mas precisa-

se levar em conta que sinais efetuados com as duas matildeos apresentam

restriccedilotildees em relaccedilatildeo ao tipo de interaccedilatildeo entre as matildeos De acordo

com Brito (1995) a LIBRAS apresenta 46 Configuraccedilotildees de Matildeos

(CMs) mas nem todas as liacutenguas de sinais partilham do mesmo nuacutemero

de configuraccedilotildees de matildeos Seguem quatro imagens de configuraccedilotildees de

matildeos difundidas no Brasil

112

As Configuraccedilotildees de Matildeos da LIBRAS

Figura 19 Figura 20

Figura 19 e 20 ndash Ferreira-Brito e Langevin (1995 p220)

Figura 21 Figura 22

Figura 21 ndash httpwwwinesgovbrlibrasprincipalaspASSU_id=3

Figura 22 ndash Quadro de CMs da LSB por Pimenta e Quadros (2006 p 73)

113

Um aspecto recorrentemente discutido eacute a iconicidade dos sinais

ndash em oposiccedilatildeo agrave arbitrariedade da relaccedilatildeo entre significado e

significante observada na constituiccedilatildeo do signo linguiacutestico em liacutenguas

orais Reconhecendo nas liacutenguas de sinais a iconicidade a par da

arbitrariedade (e remetendo a estudos que demonstram por exemplo a

dificuldade por parte de informantes de deduzirem significados em

relaccedilatildeo a muitas formas aparentemente icocircnicas) as autoras (Ferreira-

Brito e Langevin Pimenta e Quadros) destacam o fato de que signos

icocircnicos sofrem mudanccedilas as quais frequentemente ldquotendem a inibir a

natureza icocircnica dos sinais tornando-os mais arbitraacuterios atraveacutes dos

temposrdquo

Embora os demais sinais natildeo-manuais sejam realizados de forma

muitas vezes equivocada quando estes satildeo de forma simples como

afirmativa negativa e exclamativa natildeo haacute um comprometimento do

significado na sentenccedila Mas quando associados a outras formas o

equiacutevoco na execuccedilatildeo da expressatildeo facial provoca uma mudanccedila no

significado da sentenccedila passando esta a pertencer a outra classe

As liacutenguas orais modificam-se como no caso das palavras que

caem em desuso outras que satildeo adquiridas aumentando o vocabulaacuterio

e ainda mudando de significado das palavras O mesmo acontece nas

liacutenguas de sinais a fim de responder agraves necessidades que a evoluccedilatildeo

soacutecio-cultural impotildee

A ASL por sua vez estaacute seguindo a teoria citada acima

substituindo seus iacutecones por siacutembolos que de maneira geral tendem a

ser menos transparentes e icocircnicos pois se tornam mais arbitraacuterios

siacutembolos convencionais

Com o passar do tempo ocorrem muitas mudanccedilas nas liacutenguas

para suprir as necessidades de comunicaccedilatildeo e as modificaccedilotildees de

costumes de cada geraccedilatildeo Assim novos sinais satildeo criados de acordo

com a necessidade de cada grupo

Na verdade temos que pesquisar a liacutengua de sinais em Santa

Catarina observar o sujeito surdo em diferentes faixas etaacuterias

investigando o surgimento do primeiro espaccedilo de identidade cultural do

surdo em contexto social e acessando gramaticalmente a liacutengua de

sinais Esse espaccedilo foi conquistado pela poliacutetica linguiacutestica que assegura

o envolvimento com a liacutengua de sinais que estaacute se expandindo na

sociedade em nosso estado catarinense

Como toda liacutengua a LIBRAS sofre influecircncia das mudanccedilas

histoacutericas e culturais as liacutenguas satildeo dinacircmicas e natildeo estaacuteticas por isso

elas vivem sofrendo alteraccedilotildees e com as liacutenguas de sinais ocorre o

mesmo Essas mudanccedilas podem ser percebidas nas diferentes regiotildees

114

onde satildeo utilizadas as mesmas liacutenguas em que haacute algumas diferenccedilas

em algumas palavras ou expressotildees Mas como tem sido a participaccedilatildeo

do registro na comunicaccedilatildeo do surdo neste espaccedilo linguiacutestico e histoacuterico

cultural na liacutengua de sinais

Calvet (2002) mostra relaccedilotildees entre a liacutengua e a sociedade

fornecendo embasamento agraves explicaccedilotildees sobre as variaccedilotildees

sociolinguiacutesticas o que nos permite fazer uma comparaccedilatildeo das

descriccedilotildees agraves influecircncias externas e internas que a liacutengua de sinais de

Santa Catarina sofreu ateacute chegar ao estaacutegio em que se encontra

atualmente expandido em LIBRAS

Eacute importante registrar a nova histoacuteria da liacutengua de sinais suas

variaccedilotildees e o seu potencial transformador na realidade da comunidade

surda

O sistema linguiacutestico eacute heterogecircneo e as variaccedilotildees podem ser

observadas sob vaacuterios aspectos Sob o ponto de vista diacrocircnico

podemos observar o processo de sistematizaccedilatildeo linguiacutestico de alguns

gestos extralinguiacutesticos usados por usuaacuterios de liacutengua oral auditiva

que foram lexicalizados na LIBRAS tais como os gestuais que

correspondem ao significado de LOUCO ADEUS POSITIVO etc

Por outro lado sob uma perspectiva sincrocircnica vaacuterias formas

podem ser alternadas e podem representar aleacutem disso uma variaccedilatildeo

diatoacutepica53

e a variaccedilatildeo diafaacutesica54

Essas variaccedilotildees referem-se a

variaacuteveis geograacuteficas podem coexistir duas ou mais formas com um

mesmo significado Eacute o caso do sinal CULTURA (matildeo em ldquo5rdquo na testa

ou matildeo em ldquoCrdquo ao longo do braccedilo de apoio) Essas variantes podem

identificar usuaacuterios provindos do Sul e Centro-Oeste respectivamente e

em outras regiotildees por apresentarem sinais diferentes

Em geral um dialeto abrange uma zona ou regiatildeo territorial que

pode ou natildeo coincidir com as fronteiras ou barreiras geograacuteficas No

53 Variaccedilatildeo diatoacutepica eacute a regional quando haacute elementos diferentes dentro de um mesmo territoacuterio linguiacutestico mas natildeo necessariamente dentro de um mesmo dialeto Nem sempre os

elementos detentos de variaccedilotildees diatoacutepicas concorrem a menos quando haacute fortes migraccedilotildees

dentro de um mesmo territoacuterio Podem ocorrer interferecircncias mais incisivas quando determinadas regiotildees possuem destaque econocircmico poliacutetico social e cultural

54 Variaccedilatildeo diafaacutesica eacute a situacional relativa agraves diferentes monitoraccedilotildees do falante nas diferentes situaccedilotildees de interaccedilatildeo Exemplo uma pessoa estaraacute mais monitorada em seu

ambiente de trabalho do que nas interaccedilotildees realizadas em ambiente domeacutestico A variaccedilatildeo

diafaacutesica vem da afirmaccedilatildeo LABOVIANA de que natildeo haacute falante de estilo uacutenico A produccedilatildeo linguiacutestica eacute dependente do contexto social

115

Brasil existem vaacuterios dialetos55

(ou variedades) em comunidades de

ouvintes onde se fala a Liacutengua Portuguesa com diferentes usos Ex

bergamota vergamota e tangerina Palavras variaacuteveis acontecem em

vaacuterias regiotildees e podem ser usadas por motivaccedilatildeo social e ou regional A

seguir algumas variaccedilotildees linguiacutesticas que ocorrem na LIBRAS Ex o

sinal de Cultura SC SP e RJ Seguem os sinais

Figura 23 ndash Sinal ldquoCultura em SCrdquo

Figura 24 ndash Sinal ldquoCultura em SPrdquo

Figura 25 ndash Sinal ldquoCultura em RJrdquo

55 Variedade ndash ldquoa fala de uma comunidade de modo global considerando-se todas as suas particularidades tanto categoacutericas quanto variaacuteveis o mesmo que dialeto ou falarrdquo COELHO

et al (2010 p 166)

116

Um outro exemplo de variaccedilatildeo diatoacutepica no leacutexico do portuguecircs

pode ser observado na diferenccedila entre MACAXEIRA (Norte e

Nordeste) MANDIOCA (Sudeste e Centro-Oeste) e AIPIM (Sul)

A liacutengua de sinais tem uma importacircncia muito significativa para a

comunicaccedilatildeo entre surdos e tambeacutem entre surdos e ouvinte pois sem a

liacutengua de sinais dificultaria a comunicaccedilatildeo e os surdos natildeo conseguiriam

viver na comunidade

A LIBRAS possui forma clara e definida em sua estrutura

gramatical que se estabelece no dia a dia dos que a utilizam Suas vaacuterias

formas sua estrutura o grupo que a utiliza a influecircncia social e

geograacutefica torna a LIBRAS uma liacutengua como qualquer outra pois

realiza a verdadeira funccedilatildeo de comunicar Como Calvet (2002 p 89)

explica variaacuteveis linguiacutesticas satildeo muito usadas em todas as liacutenguas

ldquoDeste modo um reacuteptil comum em todo o Brasil eacute chamado de ldquoosgardquo

na regiatildeo Norte ldquobribardquo ou ldquoviacuteborardquo no Nordeste e ldquolagartixardquo no

Centro-Sul56

rdquo

43 ndash As variaccedilotildees linguiacutesticas na liacutengua de sinais

Uma definiccedilatildeo geral sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica na liacutengua de

sinais torna-se necessaacuteria para melhor aproveitamento desta pesquisa Eacute

importante considerar os dialetos regionais natildeo soacute usados em regiotildees

diferentes no contato social mas no espaccedilo de uso cultural da liacutengua

influenciando o surdo

A Liacutengua de Sinais Americana (ASL) eacute diferente da Liacutengua de

Sinais Britacircnica (BSL) que por sua vez eacute diferente da Liacutengua de Sinais

Argentina e tambeacutem da Liacutengua de Sinais Francesa (LSF) Verificamos

que nos demais paiacuteses tambeacutem satildeo diferentes as liacutenguas de sinais e as

variaccedilotildees linguiacutesticas no contexto social dos surdos no mundo

(STROBEL e FERNANDES 1998) Observe

Ex

56 O exemplo do autor eacute o seguinte ldquoDesse modo um objeto simples como a serpiliegravere peccedila de pano usada para limpar o chatildeo pode tambeacutem ser chamada de panosse (na Saboacuteia e na

Suiacuteccedila) wassingue (no Norte) torchon (no leste) since (no sudeste)rdquo

117

NOME

ASL LIBRAS

Figura 26 ndash Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo ndash Depto Educaccedilatildeo

Especial ndash CuritibaPR SEEDSUEDDEE

Aleacutem disso dentro de um mesmo paiacutes haacute as variaccedilotildees regionais

Na LIBRAS tambeacutem existem dialetos regionais salientando assim uma

vez mais o seu caraacuteter de liacutengua natural

Os povos57

surdos satildeo influenciados pelos contatos nas liacutenguas de

sinais Em cada regiatildeo o surdo se comunica A liacutengua difere quanto ao

dialeto social e cultural Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica em LIBRAS

As variaccedilotildees linguiacutesticas relacionadas ao contexto satildeo chamadas

de variaccedilotildees estiliacutesticas ou registro Os paracircmetros de variaccedilatildeo

linguiacutestica satildeo diversos no ato de interagir verbalmente um falante

utilizaraacute a variedade linguiacutestica relativa agrave sua regiatildeo de origem classe

social idade escolaridade sexo ou ainda acrescenta-se sua condiccedilatildeo

adaptativa de origem como no caso da pessoa surda

O professor Francisco participou do grupo surdo de outras regiotildees

dos estados de Santa Catarina Paranaacute Rio Grande do Sul Satildeo Paulo

Rio de Janeiro e Minas Gerais em contato com a liacutengua de sinais e suas

variaccedilotildees linguiacutesticas No dialeto regional haacute variaccedilatildeo linguiacutestica

diferenccedilas percebidas no espaccedilo cultural do surdo nas situaccedilotildees de

conversa na associaccedilatildeo escola e comunidade Os sujeitos surdos que

relataram o depoimento para a pesquisa sobre a liacutengua de sinais falavam da importacircncia do Francisco para a comunidade surda de SC

57 O povo surdo segundo STROBEL (2006) refere-se ao conjunto de sujeitos que natildeo habitam

no mesmo local mas que estatildeo ligados por uma origem tais como a cultura surda costumes e interesses semelhantes histoacuterias e tradiccedilotildees comuns e qualquer outro laccedilo

118

No mundo haacute pelo menos uma liacutengua de sinais usada

amplamente na comunidade surda de cada paiacutes diferente da liacutengua

falada utilizada na mesma aacuterea geograacutefica Isto se daacute porque essas

liacutenguas de sinais satildeo independentes das liacutenguas orais pois foram

produzidas dentro das comunidades surdas (STROBEL e

FERNANDES 1998)

Pode ser considerado como sotaque na liacutengua de sinais as

variaccedilotildees linguiacutesticas e costume cultural diferentes de cada regiatildeo

Entatildeo Francisco trouxe a experiecircncia do contato com outras regiotildees

para o grupo de surdos de SC na comunicaccedilatildeo em liacutengua de sinais

44 ndash O surdo se comunica a liacutengua de sinais no contexto social

O dialeto social refere-se a variaccedilotildees de configuraccedilatildeo das matildeos

eou de movimento natildeo modificando o sentido do sinal (STROBEL e

FERNANDES 1998) Dependendo da situaccedilatildeo de uso da comunicaccedilatildeo

do surdo na liacutengua de sinais a variaccedilatildeo pode ser observada atraveacutes da

configuraccedilatildeo das matildeos como em

Ex

Figura 27 ndash Sinal de Ajudar

119

Figura 28 ndash Sinal de Faltar

Figura 29 ndash Sinal de Ocircnibus

Figura 30 ndash Sinal de Sonhar

120

Nem todos os usuaacuterios de uma liacutengua falam do mesmo

jeito por isto todas as liacutenguas naturais possuem

variaccedilotildees linguiacutesticas A LIBRAS tambeacutem apresenta

dialetos regionais reforccedilando seu caraacuteter de liacutengua

natural As variaccedilotildees na LIBRAS ocorrem de vaacuterias

formas como alteraccedilotildees na configuraccedilatildeo de matildeos (forma

que a matildeo assume na realizaccedilatildeo do sinal) ou na

localizaccedilatildeo espacial do sinal (local onde o sinal eacute

realizado) sem que seu sentido e significado sejam

perdido ou modificados Tambeacutem haacute sinais diferentes

para representar um mesmo referente usando em

diferentes regiotildees do paiacutes agraves vezes do mesmo estado

(BASSO e SCHMITT 2007 p 50 e 51)

O valor social58

das formas em variaccedilatildeo se estabelece nas

relaccedilotildees sociais e na avaliaccedilatildeo do que pode ser considerada uma

variedade de prestiacutegio ou uma variedade estigmatizada Estilos formais

ou distensos podem ser identificados a partir de um estudo da variaccedilatildeo

das formas no contexto social Estudos sobre o portuguecircs falado

mostram por exemplo que jovens mais favorecidos tendem a fazer

mais concordacircncia verbal em oposiccedilatildeo aos menos favorecidos que

tendem a usar menos concordacircncia Isso mostra o fator externo

(mercado de trabalho ou situaccedilatildeo) e a necessidade de o falante se

adequar ao valor linguiacutestico de concordacircncia considerado como de

prestiacutegio nesse espaccedilo Podemos concluir que a LIBRAS como

qualquer outra liacutengua apresenta variaccedilatildeo e mudanccedila mas ainda

precisamos aprofundar os estudos linguiacutesticos dessa liacutengua para melhor

conhececirc-la em seus diferentes aspectos (lexicais fonoloacutegicos

morfoloacutegicos e sintaacuteticos) O capiacutetulo 6 traraacute uma descriccedilatildeo sobre

alguns desses aspectos em variaccedilatildeo e mudanccedila Acreditamos que com a

proposta biliacutengue para a educaccedilatildeo de surdos a liacutengua portuguesa e a

LIBRAS teratildeo uma relaccedilatildeo cada vez mais intensa e o contato dessas

duas liacutenguas pelos surdos vai acarretar com toda a certeza trocas

linguiacutesticas entre elas o que pode provocar novas transformaccedilotildees

58 Valor social eacute relativo aos problemas de avaliaccedilatildeo e eacute atribuiacutedo pelos proacuteprios falantes e

usuaacuterios de liacutengua de sinais ou seja eacute sempre de ordem social (nunca linguiacutestica) Valor

atribuiacutedo desenha o futuro das formas concorrentes jaacute que a forma eleita eacute sempre a que recebe maior valor e que muitas vezes corresponde agraves formas adotadas pela elite econocircmica poliacutetica

social ou cultural de uma dada comunidade (surda)

121

CAPIacuteTULO V ndash Metodologia

51 ndash Introduccedilatildeo

Investigarei a histoacuteria da liacutengua de sinais em Santa Catarina e as

variaccedilotildees e mudanccedilas fonoloacutegicas e lexicais ocorridas no periacuteodo que

compreende 1946 aos dias atuais fazendo comparaccedilotildees entre sinais que

aparecem nos relatos de experiecircncias em trecircs geraccedilotildees de surdos

pesquisadas

A metodologia utilizada para esta pesquisa foi a de coleta de

dados atraveacutes de perguntas e depoimentos dos surdos envolvidos nas

trecircs geraccedilotildees das uacuteltimas deacutecadas A coleta de dados de informantes59

foi realizada com o objetivo de solicitar depoimentos sobre fatos

histoacutericos e sobre o contato que os surdos tiveram com a liacutengua de

sinais

Os depoimentos dos ex-alunos surdos bem como dos surdos

envolvidos na comunidade surda catarinense nas uacuteltimas deacutecadas foram

realizados por meio de entrevistas filmadas Eu mesmo fiz os viacutedeos

Mas antes conversei com cada um dos surdos explicando porque

precisava de seu depoimento Apoacutes a aceitaccedilatildeo de cada um formei os

trecircs grupos por idade Cada um assinou uma ficha do informante para

realizar a pesquisa (em anexo) com dados pessoais e autorizaccedilatildeo

Foram utilizadas trecircs cacircmeras para a filmagem colocadas de forma a

gravar o depoimento dos trecircs surdos simultaneamente Primeiro filmei o

Grupo I Os informantes ficaram sentados na frente de cada cacircmera um

ao lado do outro Depois fiz a pergunta e eles teriam trinta minutos para

dar a resposta e mais vinte minutos para conversarem entre eles Liguei

as trecircs cacircmeras e saiacute da sala Voltei aproximadamente apoacutes uma hora e

desliguei as cacircmeras Fiz o mesmo com o Grupo II e com o Grupo III O

Grupo III foi filmado na UFSC os outros dois numa sala da Associaccedilatildeo

de Surdos A resposta sobre a histoacuteria da educaccedilatildeo de surdos em SC

mais a conversa espontacircnea em LIBRAS trouxe material de qualidade

para a pesquisa A escolha dos surdos levou em conta o fato de os

escolhidos terem frequentado a escola na deacutecada de 1950 quando surgiu

tambeacutem uma associaccedilatildeo de surdos catarinenses

Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os seguintes toacutepicos a coleta

59 COELHO et al (2010 p 164) ldquosujeito da pesquisa sociolinguiacutestica aquele que fornece seus

dados linguiacutesticos para que o pesquisador analiserdquo

122

de dados das trecircs geraccedilotildees com as diferentes faixas etaacuterias o meacutetodo de

entrevista sociolinguiacutestica a coleta de narrativa de experiecircncia pessoal

a transcriccedilatildeo de dados dos trecircs grupos compostos de informantes surdos

na liacutengua de sinais os informantes do grupo surdo na liacutengua de sinais e

por fim a descriccedilatildeo dos informantes quanto aos dados

Como procedimento metodoloacutegico no primeiro momento

realizamos uma coleta inicial de dados na liacutengua de sinais observando

uma diferenccedila de 30 anos entre um grupo e outro Cada grupo eacute

composto de trecircs indiviacuteduos

O Grupo I eacute formado por pessoas mais velhas na faixa

etaacuteria entre 60 a 80 anos

O Grupo II eacute formado por pessoas entre 30 a 60 anos e

O Grupo III eacute formado por indiviacuteduos na faixa etaacuteria de

15 a 30 anos

Com a anaacutelise da LIBRAS usada pelos indiviacuteduos dessas trecircs

faixas etaacuterias esperamos poder detectar se nas trecircs geraccedilotildees de

sinalizadores da liacutengua de sinais em Santa Catarina vamos encontrar

mudanccedila em tempo aparente

Entatildeo foram entrevistados os trecircs informantes do Grupo III na

situaccedilatildeo de mais jovem em idade na faixa etaacuteria de 15 a 30 anos 1)

Informante A 2) Informante B e 3) Informante C

No segundo momento foi feita a coleta dos dados do Grupo I

Para saber o que existe no primeiro grupo de diferente precisamos

identificar os sinais antigos para depois fazermos uma comparaccedilatildeo com

as liacutenguas de sinais da atualidade Assim foram entrevistados trecircs

sujeitos surdos mais velhos na faixa etaacuteria de 60 a 80 anos 1)

Informante G 2) Informante H e 3) Informante I

No terceiro momento foram entrevistados os informantes do

Grupo II outros trecircs alunos de Francisco na faixa etaacuteria de 30 a 60

anos 1) Informante D 2) Informante E e 3) Informante F Acreditamos

que as formas usadas pelo professor Francisco serviram e servem de

modelo influenciando os alunos E que agraves vezes os alunos do professor

Francisco podem usar alguns sinais proacuteprios do professor surdo em

conversas na escola na associaccedilatildeo e na comunidade surda das regiotildees

de Santa Catarina Eacute possiacutevel tambeacutem que o ex-professor Francisco

usasse outros sinais quando conversava com os amigos os ex-alunos

surdos na escola e associaccedilatildeo em Santa Catarina

123

Foi levado em consideraccedilatildeo na coleta o que sugere Tarallo

(2000)

O pesquisador ao selecionar seus informantes estaraacute em

contato com falantes que variam segundo classe social

faixa etaacuteria etnia e sexo Seja qual for a natureza da

situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo seja qual for o toacutepico central

da conversa seja quem for o informante o pesquisador

deveraacute tentar neutralizar a forccedila exercida pela presenccedila

do gravador e por sua proacutepria presenccedila como elemento

estranho a comunidade Tal neutralizaccedilatildeo pode ser

alcanccedilada no momento em que o pesquisador se decide a

representar o papel de aprendiz-interessado na

comunidade de falantes e em seus problemas e

peculiaridades (TARALLO 2000 p 21)

Ė importante selecionar os informantes dos grupos que tecircm

contato entre si e utilizam a liacutengua de sinais de classes sociais

diferentes dentro da comunidade surda faixa etaacuteria diferente etc A

geraccedilatildeo do grupo dos mais velhos tem influecircncia sobre o grupo dos mais

novos que tem menos contato experiecircncia com a liacutengua Isso pode ser

observado na liacutengua usada pelos informantes pois seus objetivos satildeo

diferentes na fase de aprendizagem em situaccedilatildeo de comunidade surda

O pesquisador aproveita para pensar e planejar como seraacute realizada a

coleta de dados Por se tratar de uma liacutengua visualespacial tentei

diversificar os lugares para a conversa espontacircnea dos informantes

52 ndash A coleta de dados

Na coleta dos dados desta pesquisa espera-se que as trecircs geraccedilotildees

com faixas etaacuterias distintas de informantes relatem sua experiecircncia de

vida na liacutengua de sinais possibilitando uma anaacutelise dos sinais gravados

para que possamos identificar possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas

linguiacutesticas

Na primeira parte assisti aos viacutedeos no programa Transcriccedilatildeo de

Liacutengua de Sinais ndash ELAN60

No segundo momento verifiquei e analisei

60 McCLEARY e VIOTTI 2007 - Eacute a caraacuteter eminentemente descritivo buscando a captaccedilatildeo

do maior nuacutemero de detalhes de sinalizaccedilatildeo As narrativas que estatildeo sendo transcritas foram

baseadas no filme ldquoHistoacuteria da pecircrardquo criado pelo de pesquisa de Wallace Chafe na deacutecada de 1970 com o objetivo de eliciar narrativas para anaacutelise e comparaccedilatildeo translinguiacutestica Visando

a produccedilatildeo de narrativas em liacutengua de sinais brasileira o grupo ECS fez a gravaccedilatildeo de

narrativas produzidas por surdos que assistiram ao filme e relataram a histoacuteria para outra pessoa fluente na liacutengua

124

a coleta de dados dos grupos de informantes das trecircs geraccedilotildees com

relaccedilatildeo agraves mudanccedilas histoacutericas e linguiacutesticas Depois realizei a

descriccedilatildeo dos grupos nas diferentes faixas etaacuterias que mostram se os

sinais se modificam nas possiacuteveis narrativas Espero com esses sinais

observados alcanccedilar o objetivo principal da pesquisa o de comparar os

sinais encontrados nos trecircs grupos e verificar se ocorreram variaccedilotildees e

mudanccedilas linguiacutesticas em tempo aparente

Realizei a coleta de dados da seguinte forma coloquei todos os

depoimentos filmados dos surdos no programa ELAN Escolhi os sinais

que apareciam nos trecircs grupos e fiz uma tabela com esses sinais depois

fiz anaacutelise e descriccedilatildeo dos resultados finais

53 ndash O meacutetodo de entrevista sociolinguiacutestica a coleta de narrativas

de experiecircncia pessoal

A coleta de dados realizada numa entrevista deve ocorrer de

forma espontacircnea Antes de realizar a pesquisa para recolher os dados eacute

importante conhecer as diferentes abordagens que identificam os grupos

e sua relaccedilatildeo com a liacutengua Segundo Tarallo (2000)

De gravador em punho o pesquisador-sociolinguista

como afirmamos deve coletar 1 situaccedilatildeo natural de

comunicaccedilatildeo linguumliacutestica e 2 grande quantidade de

material de boa qualidade sonora (TARALLO 2000 p

21)

Para realizar a pesquisa empiacuterica foi necessaacuterio um planejamento

anterior utilizando viacutedeo de filmagem com boa qualidade visual pois

observamos indiviacuteduos que utilizam a comunicaccedilatildeo visual espacial com

o objetivo de melhor descrevermos os grupos e verificar questotildees

linguiacutesticas desses indiviacuteduos

Para a coleta seguimos os procedimentos metodoloacutegicos

indicados por Tarallo

Este software foi desenvolvido no Instituto Max Planck de Psycholinguistics na Holanda e

mostra no site wwwmpinl na transcriccedilatildeo o ELAN (Eudico Language Annotator) eacute um

programa que permite adicionar anotaccedilotildees para um arquivo de viacutedeo o que pode tornaacute-lo muito mais faacutecil de estudar assistir o viacutedeo na liacutengua de sinais Ele tambeacutem pode ser utilizado

com as liacutenguas faladas (com ou aacuteudio ou viacutedeo) mas este foi apresentado na minha pesquisa e

utilizado na liacutenguas de sinais das trecircs geraccedilotildees

125

Para atingir tais propoacutesitos metodoloacutegicos podem-se

formular moacutedulos (ou roteiros) de perguntas um

questionaacuterio-guia de entrevista Esses moacutedulos tecircm por

objetivo homogeneizar os dados de vaacuterios informantes

para posterior comparaccedilatildeo controlar os toacutepicos de

conversaccedilatildeo e em especial provocar narrativas de

experiecircncia pessoal (TARALLO 2000 p 22)

Ė permitido ressaltar na pesquisa sociolinguiacutestica que para

realizaacute-la seraacute feita uma seleccedilatildeo de um grupo ou indiviacuteduo dependendo

da situaccedilatildeo como por exemplo quanto agrave classe social pode ser

verificado o gecircnero a etnia faixa etaacuteria e costumes A situaccedilatildeo de

pesquisa pode acontecer em qualquer lugarambiente O pesquisador

observa de forma neutra o grupo de falantes que estaacute pesquisando em

um determinado local e faz anaacutelises com base nos fatos linguiacutesticos

observando-os em conversas espontacircneas procurando especificaacute-las

A metodologia de coleta laboviana mostra que encontramos a

variedade mais espontacircnea em narrativa de experiecircncia pessoal pois o

indiviacuteduo quando estaacute envolvido emocionalmente faz relatos sem se

preocupar com o modo como estaacute contando De acordo com Tarallo

Os estudos de narrativas de experiecircncia pessoal tecircm

demonstrado que ao relataacute-las o informante estaacute tatildeo

envolvido emocionalmente com o que relata que presta o

miacutenimo de atenccedilatildeo ao como E eacute precisamente esta a

situaccedilatildeo natural de comunicaccedilatildeo almejada pelo

pesquisador-sociolinguista

Os moacutedulos cobrem uma seacuterie de toacutepicos para fins de

conversaccedilatildeo dados pessoais do informante (sua

histoacuteria) jogo e brincadeira de infacircncia brigas namoro e

encontros amorosos casamento perigo de morte medo

famiacutelia religiatildeo amigos turmas serviccedilos puacuteblicos o

crime nas ruas escola e trabalho interaccedilatildeo com outros

membros da comunidade esportes etc (TARALLO

2000 p 22)

As pessoas ouvintes falam sobre fatos ocorridos de sua experiecircncia pessoal com famiacutelia amigos etc de forma natural Isto

tambeacutem acontece na comunidade surda e ao coletar narrativas em

liacutengua de sinais acredita-se que vamos encontrar diferentes situaccedilotildees do

cotidiano e parte da histoacuteria da comunidade que mostraratildeo variaccedilotildees e

tambeacutem mudanccedilas linguiacutesticas

126

Podem ser escolhidas diferentes maneiras de realizar uma

pesquisa de campo mas a experiecircncia pessoal deve ser levada em

consideraccedilatildeo A pesquisa pode ser realizada com diferentes informantes

ou grupos de informantes de qualquer categoria para verificar as

possiacuteveis variaccedilotildees da liacutengua falada sem qualquer preocupaccedilatildeo com a

forma como indica Tarallo

A narrativa de experiecircncia pessoal eacute a mina de ouro que

o pesquisador-sociolinguistica procura Ao narrar suas

experiecircncias pessoais mais envolventes ao colocaacute-las no

gecircnero narrativa o informante desvencilha-se

praticamente de qualquer preocupaccedilatildeo com a forma A

desatenccedilatildeo agrave forma no entanto vem sempre embutida

numa linha de relato a que chamaremos ldquoestrutura

narrativardquo (TARALLO 2000 p 23)

Nesta citaccedilatildeo o autor explica a importacircncia da coleta de narrativa

pessoal de cada um dos informantes porque apenas fazem a narraccedilatildeo

sem preocupaccedilatildeo com a forma como estatildeo contando

54 ndash A transcriccedilatildeo de dados dos trecircs grupos compostos de

informantes surdos na liacutengua de sinais

Estes dados foram organizados no sistema de transcriccedilatildeo na

liacutengua de sinais ndash ELAN As identificaccedilotildees dos sujeitos surdos que

apresentavam cada um o seu relato em viacutedeo mostram a sua forma de se

comunicar na liacutengua de sinais Verificar se a variaccedilatildeo fonoloacutegica e

mudanccedila lexical pode acontecer nesta liacutengua de sinais em trecircs geraccedilotildees

eacute um dos propoacutesitos deste trabalho

55 ndash Informantes do grupo surdo na liacutengua de sinais

Os informantes do grupo que participaram da minha pesquisa

foram escolhidos de forma aleatoacuteria pela facilidade de contato e

separados em trecircs geraccedilotildees que usavam a liacutengua de sinais

Labov em suas pesquisas elaborava entrevistas de modo a

elicitar nos entrevistados uma fala menos monitorada ndash o vernaacuteculo61

Ele afirma que

61 ldquoEstilo em que pouco monitoramento eacute dispensado agrave fala fala ldquonaturalrdquordquo COELHO et al

(2010 p 166)

127

As narrativas produzidas em resposta a essa pergunta

[ldquoVocecirc jaacute viveu uma situaccedilatildeo em que correu seacuterio risco

de morrerrdquo] quase sempre exibem uma mudanccedila de

estilo que se distancia da fala monitorada e se aproxima

do vernaacuteculo62 (LABOV 2008 [1972] p 245)

Da mesma forma na pesquisa sobre o grupo de surdo que o

senhor Francisco ensinou utilizei um questionaacuterio com uma pergunta

que era explique a histoacuteria da educaccedilatildeo de surdo em Santa

Catarina para que pessoas surdas respondessem As perguntas foram

feitas em LIBRAS e as respostas foram filmadas num total de nove

pessoas

O foco do agrupamento dos sujeitos foi a idade portanto houve

variabilidade quanto ao gecircnero e agraves atividades exercidas pelos

participantes

Na primeira etapa o objetivo foi a escolha dos trecircs indiviacuteduos dos

grupos informantes surdos mais jovens A B e C Neste grupo o fator

escolhido quanto ao sexo foi trecircs masculinos pois natildeo encontrei jovem

do sexo feminino

Na segunda etapa os trecircs indiviacuteduos do grupo de informantes

surdos intermediaacuterio D E e F foram quanto ao sexo dois masculinos e

um feminino

Na uacuteltima etapa os trecircs indiviacuteduos do grupo de informantes

surdos mais velhos G H e I foram escolhidos quanto ao sexo um

masculino e dois femininos Entatildeo escolhi a faixa etaacuteria deste grupo que

apresentava o documentaacuterio em viacutedeo que a partir do qual foi extraiacuteda

amostra de uma experiecircncia de cada uma das narrativas de sujeitos

surdos que usavam a liacutengua de sinais espontacircnea Seguem os quadros de

amostras dos grupos em trecircs geraccedilotildees contemplados nesta pesquisa

62 Um dos aspectos mais interessantes dessa pergunta eacute que ela implica uma resposta sim-ou-

natildeo do tipo que em geral evitamos O mecanismo parece ser o seguinte o informante estaacute

disposto a reconhecer o fato de ter estado numa situaccedilatildeo assim embora possa natildeo estar disposto a fazer um relato Mas uma vez que reconheceu o fato acha muito difiacutecil deixar de

fazer um relato completo quando o entrevistador pergunta depois de alguns instantes ldquoO que

aconteceurdquo Do contraacuterio ficaria parecendo que ele fez uma afirmaccedilatildeo falsa

128

Quadros de amostras dos Grupos I II e III

Grupo I

Identificaccedilatildeo

de Classe

Sexo Idade Faixa

Etaacuteria

Profissotildees

Informante G Masculino 82

anos

60 a 80

anos

ProfessorAposentado

Informante H Feminino 64

anos

60 a 80

anos

CostureiraAposentado

Informante I Feminino 62

anos

60 a 80

anos

BancaacuterioAposentado

Grupo II

Identificaccedilatilde

o de Classe

Sexo Idade Faixa

Etaacuteria

Profissotildees

Informante D Feminino 56

anos

30 a 60

anos

BancaacuterioAposentado

Informante E Masculino 53

anos

30 a 60

anos

Autocircnomo

Informante F Masculino 52

anos

30 a 60

anos

MotoristaAposentado

Grupo III

Identificaccedilatildeo

de Classe

Sexo Idade Faixa

Etaacuteria

Profissotildees

Informante A Masculino 29

anos

15 a 30

anos

Professor

Informante B Masculino 25

anos

15 a 30

anos

Professor

Informante C Masculino 24

anos

15 a 30

anos

Estudante

129

Os Grupos I e II foram alunos de profdeg Francisco jaacute os

informantes do Grupo III foram escolhidos na universidade porque eacute

difiacutecil de ser ter contato com surdo na faixa etaacuteria de 15 anos

Cada um dos 9 (nove) informantes da amostra nos trecircs (3) grupos

com relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria poderaacute trazer indicativos sobre a trajetoacuteria da

liacutengua de sinais e a influecircncia da geraccedilatildeo dos surdos mais velhos (Grupo

I) com relaccedilatildeo agrave sinalizaccedilatildeo utilizada na atualidade pelos surdos mais

jovens (Grupo III) Segundo a citaccedilatildeo de Tarallo

a primeira tentativa de definiccedilatildeo a liacutengua falada a que

nos temos referido eacute o veiculo linguumliacutestico de

comunicaccedilatildeo usado em situaccedilotildees naturais de interaccedilatildeo

social do tipo comunicaccedilatildeo face a face Ė a liacutengua que

usamos em nossos lares ao interagir com os demais

membros de nossas famiacutelias Ė a liacutengua usada nos

botequins clubes parques rodas de amigos nos

corredores e paacutetios das escolas longe da tutela dos

professores Ė a liacutengua falada entre amigos inimigos

amantes e apaixonados (TARALLO 2000 p 19)

Na interaccedilatildeo social desta liacutengua que o surdo utiliza para se

comunicar em diversos lugares com os amigos na associaccedilatildeo na escola

etc haacute uma valorizaccedilatildeo cultural aleacutem da troca de conhecimentos

necessidades de criaccedilatildeo de novos sinais modificaccedilatildeo eou

aperfeiccediloamento de outros trazendo modificaccedilotildees linguiacutesticas

Concluiacutemos a explicaccedilatildeo do procedimento da metodologia desta

pesquisa trazendo consideraccedilotildees sobre os registros dos dados dos

informantes para posterior verificaccedilatildeo da variaccedilatildeo e mudanccedila

linguiacutestica observada nos trecircs grupos de surdos nas diferentes geraccedilotildees

referentes agrave liacutengua de sinais Atraveacutes das informaccedilotildees encontradas nas

narrativas seraacute feita uma trajetoacuteria histoacuterica da liacutengua de sinais e seratildeo

observadas as mudanccedilas ocorridas com relaccedilatildeo agrave liacutengua na comunidade

surda de Santa Catarina

56 ndash Descriccedilatildeo dos informantes quanto aos dados

Nesta seccedilatildeo apresentamos descriccedilotildees dos dados coletados na

liacutengua de sinais espontacircnea de informantes conforme amostras dos

Grupos I II e III Os dados foram observados pelo programa de

transcriccedilatildeo de ELAN Realizei os trabalhos comparando a liacutengua usada

pelas geraccedilotildees e as informaccedilotildees dadas pelos informantes

Os fatos sociolinguiacutesticos apresentados pelos informantes atraveacutes

130

de seus depoimentos mostrando suas trajetoacuterias e vivecircncias na

comunidade surda nas diferentes regiotildees do estado de SC seratildeo

analisados para saber se o professor surdo influenciou a comunidade

surda do estado no ensino da LIBRAS

A questatildeo que tentarei responder com os dados eacute a seguinte Os

informantes de cada grupo de comunidades surdas de diferentes regiotildees

do estado de Santa Catarina relatando sua trajetoacuteria com experiecircncias

relacionadas agrave liacutengua de sinais ora sofreram ora natildeo a influecircncia do

professor surdo com relaccedilatildeo ao aprendizado desta liacutengua

Pretendo verificar se haacute algum sinal de que a liacutengua sofreu

variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica em cada uma das trecircs geraccedilotildees dos

informantes Essas trecircs geraccedilotildees vatildeo ser acompanhadas pelas glosas de

sinais A descriccedilatildeo de experiecircncias dos informantes surdos nos trecircs

grupos observados eacute a estrateacutegia para se pesquisar o processo de

mudanccedila

A pesquisa vai analisar os trecircs comparativos dos informantes

surdos com a descriccedilatildeo de dados de cada geraccedilatildeo apoacutes verificar os

resultados de cada uma das trecircs geraccedilotildees de informantes Grupo III A

B C Grupo II D E F Grupo I G H e I As narrativas na liacutengua de

sinais que os informantes apresentaram foram coletadas e vatildeo ser

descritas nas proacuteximas seccedilotildees

561 ndash Grupo I ndash Informantes

Nas narrativas dos sujeitos63

do grupo de informantes na faixa

etaacuteria dos surdos de 60 a 80 anos os mais velhos mesmo grupo do

professor surdo foram expressas algumas opiniotildees dos surdos

nomeados de informantes G H e I Seguem as informaccedilotildees

5611 ndash Informante G

Francisco eacute o informante G e sua identidade estaacute expliacutecita porque

ele autorizou O informante G mostra sua experiecircncia na liacutengua de

63 Os sujeitos surdos SCHMITT (2008) mostram a participaccedilatildeo no amplo espaccedilo da sociedade

em que vivem No momento eles se identificam como um ldquooutrordquo como surdo Esta mudanccedila

eacute mostrada pelas lutas seja na sociedade em encontros eventos seminaacuterios congressos e outros Isso eacute o povo surdo participando no movimento na luta pela educaccedilatildeo pelos direitos

culturais

131

sinais e sua opiniatildeo sobre como aconteceu essa experiecircncia Segue um

comentaacuterio ldquoSabemos que as liacutenguas mudam com o tempo e se

transformam conforme as culturas dos paiacuteses regiotildees ou mesmo em

situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo em que estaacute participando (numa conversa

informal na sala de aula na famiacutelia etc) estas mudanccedilas ocorrem com

as configuraccedilotildees de matildeos articulaccedilotildees movimentos expressotildees faciais e

ou corporais essas mudanccedilas satildeo recicladas para se adaptar a realidade e

conceitos na sociedade tendo os traccedilos de identificaccedilatildeo proacutepriardquo

O informante G nasceu no dia 01061928 em Florianoacutepolis SC

foi aluno interino do Instituto Nacional de Surdos-Mudos do Rio de

Janeiro e do Instituto Paulista de Surdos em Satildeo Paulo de 1937 a 1946

Ele realizou o curso fundamental e meacutedio tinha habilitaccedilatildeo em ensino

especial desenho encadernaccedilatildeo ginaacutestica datilografia frequentou da

1a a 8

a seacuterie do ensino fundamental no Instituto Nacional de Surdos-

Mudos e sua habilitaccedilatildeo eacute em Contabilidade pelo Instituto Monitor e

Nuacutecleo de ensino profissional

Em 1952 ele conheceu quinze surdos-mudos em Florianoacutepolis

que natildeo sabiam ler e escrever Ele ensinava algumas palavras e sinais

para esses surdos-mudos De outra feita entre 1953 a 1954 iniciava a

amizade com o primeiro presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos de

Satildeo Paulo senhor Maacuterio Devisate Ele natildeo tinha o conhecimento da

existecircncia de uma Associaccedilatildeo de Surdos em Florianoacutepolis o senhor

Devisate entregava um documento para Associaccedilatildeo de Surdos-Mudos

de acircmbito nacional e o professor Francisco Lima Juacutenior veio como

delegado e responsaacutevel pela regiatildeo do Sul passando a residir nesta

capital (Florianoacutepolis)

O primeiro presidente da Sociedade dos Surdos-Mudos do

Distrito Federal que na eacutepoca era Rio de Janeiro foi o senhor Miguel

da Fonseca Seabra de Melo era grande colega do Francisco Mais tarde

com a construccedilatildeo de Brasiacutelia a associaccedilatildeo continuou no RJ soacute que

naquele momento natildeo mais como capital com o nome Sociedade dos

Surdos-Mudos do Brasil para finalmente Associaccedilatildeo dos Surdos do Rio

de Janeiro (ASURJ)

O grupo conversava na liacutengua de sinais numa reuniatildeo quando

chegou o presidente da ASURJ que tambeacutem era surdo O professor

Francisco foi apresentado e cumprimentou o senhor Miguel da Fonseca

Seabra de Melo que estava acompanhado de uma colega que ao ver o

professor Francisco sorriu O professor Francisco agradeceu pela ajuda

que o senhor Miguel deu ao Instituto Nacional de Surdos-Mudos e as

informaccedilotildees referentes agrave associaccedilatildeo

Na verdade o professor Francisco tinha contato e conversava

132

sempre com o amigo que estudou com ele no INES o senhor Salomatildeo

Watnick que foi primeiro presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos

do Rio Grande do Sul seu grande amigo que morava em Porto Alegre

Como o INES estava passando por reforma o professor

Francisco como tinha muitos amigos dos diferentes cursos e viagens

que fez conseguiu estudar na Escola Especial para Surdos-Mudos em

Satildeo Paulo que para ele era uma escola maravilhosa e excepcional onde

aprendeu muito

O grupo dos surdos de SC se perguntava como ganharia a vida

pois natildeo estavam felizes nas escolas especiais que na eacutepoca utilizavam

os meacutetodos oralistas onde os surdos natildeo podiam utilizar sinais Mas

encontraram o motivo da existecircncia na associaccedilatildeo do estado podendo

assim discutir e abrir caminhos para os surdos

5612 ndash Informante H

A informante H mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua

opiniatildeo sobre como aconteceu essa experiecircncia ldquoMudam porque as

pessoas mudam os tempos mudam assim como mudam as culturas e

diversas outras formas de liacutengua existentes entre elas Sendo a LIBRAS

tambeacutem uma forma de liacutengua ela acompanha estas mudanccedilas para que

os indiviacuteduos que dela fazem uso possam acompanhar a sociedade e

mundo do qual fazem parterdquo

A informante H nasceu em 26051946 em Satildeo Pedro de

Alcacircntara em Santa Catarina Durante sua infacircncia e adolescecircncia

morou com seus pais que eram agricultores

Ela teve que trabalhar na lavoura dos 6 ateacute os 18 anos de idade

cortava o capim que alimentava o gado roccedilava para limpar um paacutetio do

terreno e uma plantaccedilatildeo cercada onde se criavam vaacuterias galinhas patos

etc Plantavam vaacuterios tipos de flores e tinham uma horta Ela penteava

os cabelos dos cavalos para depois montaacute-lo corria e caiacutea no chatildeo num

desses passeios quebrou o braccedilo e diz que doeu muito Quando o

cunhado viu o braccedilo dela quebrado levou-a de carroccedila para o hospital

na cidade de Vidal Ramos em Santa Catarina Depois ela tinha que

ficar um mecircs com o gesso no braccedilo mas 15 dias depois na casa da

irmatilde olhava o rio e pulava no rio que brilhava acabou ficando coberta

de aacutegua e quase se afogou Para natildeo se afogar colocou as matildeos em cima

de uma pedra do rio ficou muito assustada e chorou muito o tio dela foi

quem a ajudou

O pai de H eacute brasileiro e lavrador Dedicava-se agrave criaccedilatildeo de gado

aves e na fabricaccedilatildeo de cachaccedilas que preparava das plantas que

133

produziam cana-de-accediluacutecar cafeacute e frutas Na casa natildeo tinha luz e era

utilizada a vela a fogueira e a lacircmpada de querosene

A matildee de H tambeacutem era brasileira costureira e lavradora

Trabalhava na propriedade na plantaccedilatildeo de milho feijatildeo arroz aipim e

verduras Os Pais de H tiveram 13 filhos 1 filha jaacute falecida com 1 ano e

um mecircs de gravidez gemular 3 filhas eram ouvintes 3 filhas eram

surdas 6 filhos eram ouvintes 1 filho era surdo A terra lavrada e

cultivada estaacute localizada em Satildeo Pedro de Alcacircntara Depois que o pai

morreu o terreno foi loteado e a informante H ficou com um dos lotes e

os irmatildeos deram a casa

O irmatildeo da informante H que era surdo jaacute falecido em 1976 foi

mordido por uma cobra venenosa Seu pai faleceu em 1989 e a matildee

faleceu em 1998

Em 1966 ajudava lavando roupas para fora nesta eacutepoca morava

com o primo numa casa localizada no bairro do Estreito ndash

FlorianoacutepolisSC Tinha trecircs vizinhos surdos e com eles conversava com

os sinais eou gestualidade Ela natildeo sabia conversar em LIBRAS com

outro surdo aprendeu com os vizinhos surdos que a avisavam das

reuniotildees de surdos que aconteciam no salatildeo do grupo Escolar Celso

Ramos

O professor Francisco ensinou aos surdos as regras do jogo de

bingo depois foram oferecidos cinco brindes para o jogo de bingo que

aconteceu no bairro de Capoeiras Ele perguntava para ela de onde vocecirc

eacute E ela respondia que morava em Satildeo Pedro de Alcacircntara Entatildeo o

Francisco foi junto com a informante H conhecer sua casa localizada no

siacutetio de Satildeo Pedro de Alcacircntara

Ela apresentou sua matildee para o senhor Francisco queria estudar e

aprender a liacutengua de sinais com Francisco presidente da associaccedilatildeo e

professor na escola para surdos Ela veio para a capital em 1966 aos 19

anos de idade onde aprendeu a Liacutengua Portuguesa Escrita matemaacutetica e

liacutengua de sinais na Escola Celso Ramos em Florianoacutepolis numa classe

de alunos surdos Alguns anos mais tarde ela trabalhou como costureira

na faacutebrica de renda e bordados Hoepcke

Ela fez alguns cursos de pintura em tecido bordado a maacutequina

Ela conta que sempre foi uma pessoa esforccedilada que buscava desafios na

sua aprendizagem o tempo todo e cada vez mais como autodidata que

aprendia muitas coisas como por exemplo cozinhar e alta costura

Passava sempre na escola era muito esforccedilada aprimorava muito a sua

aprendizagem de vida

O professor Francisco e ela viajavam pelo estado verificavam e

encontravam os surdos no interior do estado Ela entregou um anel para

134

a ex-rainha do Ciacuterculo de Surdo-Mudos de Santa Catarina ndash CSMSC

que era Catarina Ceciacutelia Schveitzer em 1993

5613 ndash Informante I

A informante I mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua

opiniatildeo sobre como aconteceu essa experiecircncia ldquoMudam a ldquoformardquo de

vida das pessoas na sociedade para que se adaptem a nova realidade e

as liacutenguas tambeacutem se modificam As liacutenguas de sinais tambeacutem mudam

criam-se palavras novas satildeo influenciadas por outras liacutenguas etc A

evoluccedilatildeo das coisas em geral estaacute acontecendo de forma muito raacutepida e

a LIBRAS sendo uma forma de comunicaccedilatildeo entre cultura surda e

ouvinte precisa acompanhar essa evoluccedilatildeo Quando uma determinada

coisa natildeo acompanha o desenvolvimento onde estaacute inserida a

tendecircncia eacute de ficar do lado de forardquo

A informante I nasceu em 01041948 em Blumenau veio de

uma famiacutelia de 6 irmatildeos onde 3 satildeo surdos e 3 satildeo ouvintes A matildee do

informante I descobriu que era surda quando tinha mais ou menos dois

anos de idade Apoacutes essa descoberta teve uma infacircncia normal era uma

crianccedila super ativa

Aos 7 anos de idade entrava na escola onde havia outras crianccedilas

surdas como ela Foi alfabetizada em Blumenau Depois lembrou que

tentava usar o seu aparelho auditivo mas como natildeo escutava nada

acabou rejeitando o aparelho

Tinha muita preocupaccedilatildeo com a educaccedilatildeo dos surdos Os pais

mandaram-na estudar num internato de crianccedilas surdas no Rio de

Janeiro aos 9 ou 10 anos de idade Ela natildeo se adaptou e retornou para

Blumenau A escola para surdos que frequentava em Blumenau ficou

sem a professora especializada e ela teve que ir para uma escola regular

O pai que era bancaacuterio pediu transferecircncia do banco para a cidade

de Florianoacutepolis para que a informante I e seus irmatildeos pudessem

continuar os estudos

Em Florianoacutepolis frequentaram a escola Celso Ramos onde a sala

dos surdos era de responsabilidade do professor Francisco Lima Juacutenior

O professor Francisco era uma pessoa muito importante nesta

eacutepoca a vida dele era ajudar o grupo de surdos atraveacutes da liacutengua de

sinais e ele lecionava no ensino fundamental e no curso primaacuterio

A informante I sempre foi muito curiosa queria mais e resolveu

fazer o curso ginasial por correspondecircncia pois na eacutepoca fazia o

segundo grau na escola de ouvintes tinha dificuldade tinha que aprender

tudo sozinha porque na escola o ensino era em portuguecircs falado difiacutecil

135

para o surdo entender (problema de comunicaccedilatildeo) Ela tinha vontade de

estudar na escola com o professor Francisco que ensinava na liacutengua de

sinais

Relembrou que naquela eacutepoca viu que foi muito difiacutecil quando

ela tinha duacutevidas os pais pagavam um professor para dar aulas

particulares Enfim venceu mas natildeo foi faacutecil Depois fez vaacuterios cursos

profissionalizantes como datilografia correspondecircncia comercial curso

de cabeleireira manicure pintura em tela corte e costura e tantos outros

que agora natildeo lembrava mais

Depois de tudo isso resolveu fazer o concurso para uma vaga de

escrituraacuterio no Banco do Estado de Santa Catarina ndash BESC e foi

aprovada trabalhou laacute por vaacuterios anos e agora jaacute estava aposentada

A informante I eacute casada e o companheiro tambeacutem eacute surdo

funcionaacuterio aposentado da Imprensa Oficial Queria muito ter filhos e

acabou tendo um filho que eacute ouvinte e hoje estaacute com 27 anos e tem

formaccedilatildeo acadecircmica com poacutes-graduaccedilatildeo Diz sentir-se realizada

Sua matildee tem hoje 87 anos e eacute a grande incentivadora de sua vida

eacute tambeacutem um grande exemplo de vida guerreira batalhadora e muito

religiosa Foi ela que ensinou o que eacute amor respeito e outros valores

morais tudo isso dentro da doutrina espiacuterita

A informante I diz ser uma pessoa realizada porque venceu

muitas barreiras conseguiu tirar a carteira de motorista e tambeacutem

aprendeu a utilizar a comunicaccedilatildeo no celular Internet MSN e e-mail

Nada foi faacutecil considera-se uma pessoa feliz adora assistir aos

filmes legendados os noticiaacuterios novelas enfim gosta de estar bem

informada

Contando a histoacuteria de sua vida quer mostrar agraves pessoas que pode

alcanccedilar qualquer coisa na vida e que natildeo eacute diferente dos outros A

diferenccedila estaacute na audiccedilatildeo mas pode usar os outros sentidos para se

comunicar e utilizar a liacutengua de sinais visual

562 ndash Grupo II ndash Informantes

Nas narrativas dos sujeitos surdos para a pesquisa no Grupo II

com idade intermediaacuteria de 30 anos a 60 anos de idade em

intermediaacuterio verificou-se que todos foram alunos do professor surdo

Francisco A seguir estatildeo expressas algumas opiniotildees destes surdos

nomeados de informantes D E e F

136

5621 ndash Informante D

A informante D mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua

opiniatildeo a respeito de como aconteceu essa experiecircncia ldquoCom o passar

do tempo ocorrem muitas mudanccedilas nas liacutenguas de sinais para suprir as

necessidades de comunicaccedilatildeo e as modificaccedilotildees de costumes de cada

geraccedilatildeo Os sinais satildeo criados de acordo com a necessidade de cada

grupordquo

A informante D nasceu em Florianoacutepolis num domingo no dia

quatro de outubro de mil novecentos e cinquenta e trecircs (04101953) em

casa sob os cuidados de uma parteira chamada de Dona Oliacutevia Nasceu

com audiccedilatildeo perfeita segundo diagnoacutestico de um meacutedico do hospital

das cliacutenicas em Satildeo PauloSP em 1961 O responsaacutevel pela sua perda de

audiccedilatildeo foi um medicamento chamado de trepdomicina usado para

acalmar a ldquotosse compridardquo ou Coqueluche Nessa eacutepoca natildeo havia

vacina para a doenccedila nos postos de sauacutede Sua matildee levou os filhos para

vacinar e constatou isso

A famiacutelia dela descobriu a surdez aos nove meses de idade Ela

tinha seis meses de idade quando foi acometida pelo viacuterus da

coqueluche e a irmatilde tambeacutem que na eacutepoca tinha 9 anos de idade

A matildee dela quando estava graacutevida tomou uma injeccedilatildeo

denominada 914 para curar infecccedilatildeo no aparelho genital feminino Esse

medicamento agiu negativamente na formaccedilatildeo dos ossos deixando-a

com o andar defeituoso parecendo que uma perna era mais curta que a

outra Ela foi para Satildeo Paulo levada pelo irmatildeo e pelo padrinho para

tratamento Foi submetida a quatro cirurgias entre 1961 a 1963 mas

que surtiram pouco resultado comprovado em 1980 Daiacute para frente

voltava a ter uma perna mais curta e sente muitas dores ao andar e

sentar

Em 1964 iniciava seus estudos na escola para surdos de

Florianoacutepolis no grupo Celso Ramos Seu primeiro professor surdo foi

o Francisco que lhe dava aula na liacutengua de sinais Francisco tambeacutem

ensinava LIBRAS no Ciacuterculo dos Surdos Mudos de Santa Catarina na

escola primaacuteria e na associaccedilatildeo de surdos

Em 1975 fazia teste para ingressar como funcionaacuteria no BESC

sendo admitida como escrituraria em 18091975 e se aposentou em

19112002 Ela aprendeu a dirigir automoacutevel fez curso de datilografia

e por uacuteltimo fez curso baacutesico de computador para saber operaacute-lo Fez

curso de pintura a oacuteleo em tela e em tecido Procurava cuidar de sua

sauacutede indo ao meacutedico regularmente

Ela eacute associada e participa da diretoria da Associaccedilatildeo de Surdos

137

da Grande Florianoacutepolis ndash ASGF eacute tambeacutem voluntaacuteria nas atividades

que a associaccedilatildeo desenvolve em benefiacutecio de seus amigos surdos que

frequentam a mesma associaccedilatildeo Hoje ensina LIBRAS para os

associados de qualquer idade

5622 ndash Informante E

O informante E mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua

opiniatildeo de como aconteceu essa experiecircncia ldquoAssim como a liacutengua

portuguesa evolui ou muda com o passar do tempo LIBRAS tambeacutem

passa por mudanccedilas constantes estas podem ser de regiatildeo para regiatildeo

por exemplo a liacutengua de LIBRAS acompanha a evoluccedilatildeo do mundo

sendo hoje uma liacutengua para a comunicaccedilatildeo dos surdosrdquo

O informante E nasceu na maternidade Carmela Dutra no Centro

de Florianoacutepolis no dia 03 de Novembro de 1957 Ele ficou surdo aos

quatro anos de idade (causado por remeacutedios ministrados errados por sua

matildee nos ouvidos quando estava com febre dor de ouvidos e caxumba)

Com 53 anos eacute presidente de entidade esportiva de Santa

Catarina desde 1999 reeleito pela segunda vez com gestatildeo ateacute 2011

sendo um dos liacutederes dos surdos de Santa Catarina Foi um dos

fundadores da Sociedade de Surdos de Satildeo Joseacute atuou nela de 1990 a

1996 uma entidade que crescia muito e eacute considerada a mais organizada

no estado de Santa Catarina

Ele escolheu o sobrenome diferente na campanha poliacutetica que

concorreu para vereador de Satildeo Joseacute de 2003 a 2007 em homenagem agrave

sua avoacute-materna jaacute falecida descendente de alematildees que lhe criou por

mais de 10 anos junto com o marido descendente de portugueses que

natildeo conhecera pois a avoacute dele ficara viuacuteva quando o pai dele era

solteiro Portanto queria preservar o sobrenome da avoacute-matildee dele como

lembranccedila

Os pais dele estavam preocupados com sua infacircncia com sua

situaccedilatildeo futura e por isso procuravam incansavelmente a existecircncia de

uma escola especial para surdos

Finalmente acharam a escola localizada na Rua Conselheiro

Mafra no Centro de Florianoacutepolis Era uma sala comercial tipo garagem

grande (perto do antigo terminal urbano hoje Terminal Cidade de

Florianoacutepolis) foi ali onde encontraram a primeira escola para surdos

onde ele aprendeu a liacutengua de sinais aos 6 anos de idade

Ele estudou com o primeiro professor surdo do estado de Santa

Catarina O professor Francisco e sua esposa que era ouvinte e tambeacutem

professora chamava-se Mercedes e foi a primeira inteacuterprete dele Neste

138

momento existiam outros alunos surdos que eram Niro Paulo Percy

Socircnia Maria da Graccedila Maria Bernadete Aldenei Rita Reinoldo

Edson Ivo (falecido) Arnoldo e outros que ele natildeo lembrava

No comeccedilo do aprendizado dele da liacutengua de sinais achava

estranho e natildeo lhe agradava muito fazendo com que ele natildeo quisesse

estudar ali mas foi a matildee dele que o incentivou a continuar estudando

e com o tempo foi gostando da escola e do grupo de amigos surdos

isto foi em 1971

Essa escola foi transferida de local e foi para a EEB

Governador Celso Ramos no bairro Prainha em Florianoacutepolis no ano

de 1972 Esta nova escola ele adorava muito e guarda boas recordaccedilotildees

vividas nela

Infelizmente ele natildeo lembrava do ano em que foi transferido para

o Instituto de Audiccedilatildeo e Terapia da Linguagem ndash IATEL situado na

Rua Liberato Bittencourt no Centro de Florianoacutepolis numa casa

simples e alugada Ficou muito contrariado com esta transferecircncia

Nessa eacutepoca tinha mais ou menos 13 anos Proacuteximo aos 15 anos ele

abandonou o IATEL porque tinha que trabalhar para sustentar a avoacute

dele que era viuacuteva e pobre Sua avoacute tambeacutem natildeo gostava desta escola e

tambeacutem das novas professoras que eram ouvintes e que natildeo sabiam usar

a liacutengua de sinais obrigando os surdos a oralizarem

Aos 14 anos ele jaacute trabalhava em uma empresa de comunicaccedilatildeo

visual (luminosos) Apoacutes um ano ele mudava de ramo para a funccedilatildeo de

auxiliar de escritoacuterio em duas empresas de contabilidade Depois disso

ele fundou uma empresa proacutepria de comunicaccedilatildeo visual em sociedade

com seu pai no ramo de letreiros em placas paredes e etc O nome da

empresa comprada foi modificado e mais tarde fez sociedade com o

irmatildeo caccedilula Para seu irmatildeo caccedilula foi um aprendizado e hoje ele eacute

proprietaacuterio de uma empresa no mesmo ramo residindo em Blumenau

Em 2000 deixava este ramo e comeccedilava a estudar para ter a

formaccedilatildeo de professor na Liacutengua de Sinais aos 43 anos Ele Trabalhou

como professor em Admissatildeo em Caraacuteter Temporaacuterio ndash ACT e na

Fundaccedilatildeo Catarinense de Educaccedilatildeo Especial - FCEE como assessor

teacutecnico na Educaccedilatildeo de Surdos de 2003 a 2005 Trabalhou tambeacutem

como ACT no Centro Educacional Municipal Interativo Floresta em Satildeo

Joseacute no Nuacutecleo de Educaccedilatildeo Especial e Inclusiva - NEESPI como

professor de LIBRAS de 2006 a 2007 Foi docente dos cursos de

LIBRAS de 2000 a 2007

A partir de 2008 deixava o cargo de professor de LIBRAS para

focar os compromissos somente nos esportes Atualmente atua numa

entidade esportiva de surdos desde 1999 nesta com 12 associaccedilotildees

139

filiadas organizando em meacutedia sete (7) eventos esportivos por ano

Portanto os pensamentos deles e seus compromissos satildeo voltados para a

comunidade surda

5623 ndash Informante F

O informante F mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua

opiniatildeo de como aconteceu essa experiecircncia ldquoPorque assim como toda

liacutengua ela sofre das mudanccedilas histoacutericas e culturais as liacutenguas satildeo

dinacircmicas e natildeo estaacuteticas por isso elas vivem sofrendo alteraccedilotildees e com

as liacutenguas de sinais ocorre o mesmo Essas mudanccedilas podem ser

percebidas nas diferentes regiotildees onde satildeo utilizadas a mesma liacutengua

mesmo sendo a mesma liacutengua ela possui algumas diferenccedilas em

algumas palavras ou expressotildeesrdquo

O informante F nasceu 04071958 em Florianoacutepolis eacute casado e

tem 52 anos Nasceu surdo a famiacutelia dele sempre lhe deu apoio

levaram-no a vaacuterios lugares para consultar com meacutedicos procuravam

um tratamento mas de acordo com os meacutedicos ele natildeo tinha muita

chance de desenvolver audiccedilatildeo e a fala Nesta eacutepoca natildeo existiam no

Estado de Santa Catarina escolas especializadas para surdos e como o

pai dele era militar natildeo podia morar em outro Estado Entatildeo seu pai

matriculou-o numa escola regular mas as professoras natildeo sabiam a

liacutengua de sinais e era muito difiacutecil para ele aprender

A alfabetizaccedilatildeo dele natildeo foi muito boa e para melhorar um pouco

o aprendizado tinha aulas com o professor surdo Francisco Lima Juacutenior

que lhe ensinava as palavras utilizando o alfabeto manual e a liacutengua de

sinais para o aprendizado da Liacutengua Portuguesa Escrita e tambeacutem para

alguns alunos surdos

Em sua famiacutelia se comunicava atraveacutes de sinais caseiros que de

acordo com ele foi muito bom e os utiliza ateacute hoje

Apesar das dificuldades nos estudos tinha sorte pois conseguiu

emprego Neste emprego que era na Central de Luz Eleacutetrica de Santa

Catarina ndash CELESC sempre foi muito bem tratado Tinha muitos

amigos na associaccedilatildeo de surdos na escola e no trabalho e para se

comunicar ensinava alguns sinais bem baacutesicos para os amigos para que

assim natildeo tivessem problemas quanto agrave comunicaccedilatildeo

Ele trabalhou sempre na CELESC na cidade de Florianoacutepolis

pois foi aprovado em um teste naquela eacutepoca natildeo havia concursos

Depois foi transferido algumas vezes para outras cidades como

Blumenau Joinville e Jaraguaacute do Sul Iniciou como auxiliar de serviccedilos

gerais depois passou a auxiliar administrativo e por uacuteltimo como

140

motorista

Foi presidente de vaacuterias Associaccedilotildees de Surdos uma dessas em

1989 que foi fechada neste mesmo ano e outra em dois mandatos

20052008 Ele jogou em vaacuterios times nas associaccedilotildees de surdo de Santa

Catarina Ele preferia jogar futebol de salatildeo - FUTSAL

Ele sempre participou e ateacute hoje participa de encontros com

surdos na liacutengua de sinais seja em associaccedilotildees ou outros eventos

Atualmente mora na cidade de Londrina ndash Paranaacute

563 ndash Grupo III ndash Informantes

Nas narrativas dos sujeitos surdos do Grupo III com idades entre

15 a 30 anos sendo o grupo dos mais jovens e que participam de

associaccedilotildees de surdos em Santa Catarina foram expressas algumas

opiniotildees desses surdos aqui nomeados de informantes A B e C

Seguem abaixo relatos e experiecircncias dos informantes

5631 ndash Informante A

O informante A mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua

opiniatildeo a respeito de como aconteceu essa experiecircncia ldquoNatildeo diria que

ldquomudardquo mas sim sofre modificaccedilotildeesalteraccedilotildees com o tempo e como

qualquer outra liacutengua dependendo do estadopaiacutes em que eacute ldquofaladardquo teraacute

adaptaccedilotildees conforme a necessidade de cada lugar Sendo que ateacute mesmo

em casa quando a crianccedila natildeo tem contato com LIBRAS em um

primeiro momento ela e sua famiacutelia se apropriam de sinais proacuteprios para

a comunicaccedilatildeordquo

O informante A nasceu em 18121980 no Balneaacuterio Camboriuacute

nasceu surdo comunica-se por meio de gestos com a famiacutelia Sua

famiacutelia sempre mostrou preocupaccedilatildeo com ele levaram-no a atendimento

fonoaudioloacutegico para que aprendesse a falar mas tinha dificuldades

poreacutem era esforccedilado Somente mais tarde encontrava a comunidade

surda na escola Quando ele teve atendimento especial e natildeo era

utilizada a liacutengua de sinais somente alguns gestos acabava desistindo e

parava de estudar Retornando agrave escola com ouvintes quando ele tinha

17 anos de idade encontrava os surdos que o convidaram a participar

de uma festa na associaccedilatildeo de surdos foi quando comeccedilou a aprender a

LIBRAS e ficou feliz pois comunicava-se com todos na LIBRAS jaacute

que era um modo mais faacutecil de aprender e memorizar os conteuacutedos jaacute

com o oralismo era muito sofrido

Ele fundou uma Associaccedilatildeo de Surdos na cidade onde mora Na

141

associaccedilatildeo motivou o uso da LIBRAS valorizou o contato entre os

membros da comunidade surda e a LIBRAS assim como a educaccedilatildeo

formal Ele sentia-se satisfeito pois se comunicava com os amigos

usando a leitura labial e os gestos mesmo assim perdia algumas

informaccedilotildees por natildeo ouvir Mais tarde encontrava-se com grupos de

surdos e comeccedilou entatildeo o contato da LIBRAS e percebia que por meio

da LIBRAS ele poderia receber mais informaccedilotildees do que pela leitura

labial e a partir de entatildeo conseguiu viver melhor na sociedade Lutou

para inserir a LIBRAS no ensino dos surdos porque sabia na praacutetica que

facilita o aprendizado do surdo

Hoje estaacute casado e sua esposa eacute surda Formou-se na faculdade de

gastronomia pela UNIVALI e tem o curso de especializaccedilatildeo em

educaccedilatildeo especial Atualmente faz curso de LetrasLIBRAS e sua

turma eacute composta na maioria por surdos que estatildeo gostando do curso

tendo a oportunidade de trocar ideacuteias experiecircncias bem como buscar

novos conhecimentos

Ele eacute Instrutor de LIBRAS efetivado pela prefeitura de Itajaiacute

aleacutem de trabalhar como professor de LIBRAS em outros lugares

Tambeacutem realiza trabalhos voluntaacuterios em algumas entidades

(Associaccedilatildeo FENEIS Federaccedilatildeo etc) Jaacute atuou em vaacuterios cargos de

diretoria na Associaccedilatildeo de Surdos de Balneaacuterio Camboriuacute isso foi bom

porque ele aprendeu sobre poliacutetica sobre organizaccedilatildeo e tambeacutem a

utilizar estrateacutegias diferentes para as accedilotildees etc

5632 ndash Informante B

O informante B mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua

opiniatildeo sobre como aconteceu essa experiecircncia ldquoA LIBRAS eacute uma

liacutengua porque possui uma forma de comunicaccedilatildeo proacutepria Ė

independente como qualquer outra liacutengua escrita ou falada Tem

formato proacuteprio sua comunicaccedilatildeo eacute visual pois se utiliza de gestos e

expressotildees Como todas as liacutenguas tem variaccedilotildees conforme a regiatildeordquo

O informante B nasceu em 08011985 na cidade de Tijucas em

Santa Catarina Atualmente mora em Itapema e tem 25 anos Ele nasceu

surdo mas seus pais soacute descobriram sua surdez aos nove meses de

idade entatildeo ficaram apavorados e natildeo sabiam como ele iria se

comunicar na sociedade Depois o pai dele levou-o para uma escola em

Florianoacutepolis chamada de IATEL onde ateacute a 3ordf seacuterie utilizavam a

linguagem oral e muito pouco gestual Na eacutepoca os gestos (sinais) natildeo

eram reconhecidos como uma liacutengua

Os pais dele escolheram uma escola da Rede Regular de Ensino

142

na eacutepoca nem era pensado em inteacuterprete de LIBRAS ateacute porque essa

natildeo era uma liacutengua oficializada Eles natildeo conheciam a comunidade

surda e sua cultura entatildeo decidiram que seu filho frequentaria

atendimento fonoaudioloacutegico dois dias por semana

Para o informante B seus pais tentavam criaacute-lo como ouvinte o

que para ele caracteriza uma tentava de modificar sua identidade surda

Ele relata que tinha muita dificuldade de comunicar-se com as pessoas

na sociedade que utilizava a liacutengua falada

Mais tarde aos 16 anos de idade foi para uma escola de educaccedilatildeo

especial onde teve aulas de informaacutetica com outros surdos entatildeo podia

utilizar a LIBRAS Antes ele ficava isolado natildeo gostava e natildeo podia

usar a liacutengua de sinais comeccedilava a aprender a falar mas demorava

muito Agora aceita sua identidade surda sente-se mais feliz e melhor

Participa de uma associaccedilatildeo de surdos e viaja para vaacuterios lugares nas

diferentes regiotildees de Santa Catarina

Ele trabalhou como analista de sistemas na aacuterea de informaacutetica da

empresa Ceracircmica Portobello em Tijucas ficava muito incomodado

com a barreira de comunicaccedilatildeo com os funcionaacuterios em virtude de terem

muito trabalho pois o surdo precisa das matildeos para falar e se estaacute com

elas ocupadas trabalhando fica impossiacutevel comunicar-se diferente dos

ouvintes Tentou ensinar alguns sinais para os funcionaacuterios para que lhe

entendessem e pudessem se comunicar com ele mas os funcionaacuterios

desviavam para outro assunto natildeo demonstravam interesse em aprender

sinais Sofria por passar o dia inteiro de trabalho sem poder se

comunicar com outra pessoa disfarccedilava esse sentimento acessando a

Internet para realizar pesquisas de temas relacionados agrave educaccedilatildeo de

surdos (palestras congressos encontros etc) Entatildeo numa destas

pesquisas achou um congresso de surdos anotou a data e mostrou ao

chefe que o liberou para ir ao congresso (encontro surdo)

Ele acredita que as pessoas natildeo tinham culpa pois oralismo era a

forma de ensinar naquela eacutepoca e para os surdos era muito difiacutecil de

compreender e aprender a liacutengua falada Aprendeu LIBRAS na

comunidade surda Apoacutes a liberaccedilatildeo para o congresso pelo seu chefe

comeccedilou a frequentar a associaccedilatildeo de surdos e outros eventos da

comunidade surda

Ele participou de um concurso no municiacutepio de Itajaiacute para o

cargo de instrutor de LIBRAS Foi classificado em terceiro lugar

conseguiu um trabalho e seus pais deixaram que ele morasse sozinho

em Itajaiacute Morou sozinho por um ano trabalhava durante o dia e

estudava na faculdade agrave noite Com o passar do tempo conheceu

pessoas e fez amizade com outros surdos que no segundo ano dividiram

143

o aluguel da casa com ele

Alguns surdos convidaram ele para um encontro de surdo

(nacional congresso e entre outros) Foi possiacutevel fazer novas amizades e

entrar em contato com outros sujeitos surdos pois neste espaccedilo tinha

surdo sentado ao lado surdo no bar e em outros momentos do

congresso

Ao teacutermino do encontro pegou os endereccedilos eletrocircnicos das

pessoas que conheceu e assim pode manter correspondecircncia com outros

surdos atraveacutes de e-mails nas diferentes regiotildees do estado de SC

Depois de algum tempo de troca de e-mails combinou encontros e

viajou para o sul sudeste nordeste norte do Brasil e etc encontrou-se

com muitos surdos que se comunicavam na liacutengua de sinais e aprendeu

muitos sinais novos onde percebeu que havia muitas diferenccedilas nos

sinais que cada regiatildeo tinha sinais especiacuteficos daquele lugar

Quando o curso de LetrasLIBRAS da UFSC foi aprovado pelo

MEC e abriram-se as inscriccedilotildees trecircs instrutores de LIBRAS jaacute haviam

prestado o vestibular tiveram uma prova com 15 questotildees referentes a

LIBRAS utilizaram na apresentaccedilatildeo para seleccedilatildeo dos candidatos slides

e videoconferecircncia com todos os candidatos Ficou admirado e achou

muito legal o grupo de surdo que estava laacute e disse ldquoPassei a ver o

mundo diferente ao teacutermino da provardquo

Ele trabalhou como instrutor de LIBRAS por 4 anos e recebeu 14

alunos surdos para atendimento no processo de aprendizagem da

LIBRAS E tambeacutem ensinou sobre a relaccedilatildeo de aprendizagem do aluno

surdo em LIBRAS para os colegas Ele formou-se no curso de ciecircncias

da computaccedilatildeo e fez poacutes-graduaccedilatildeo no processo de inclusatildeo e educaccedilatildeo

especial Atualmente estaacute cursando a faculdade de LetrasLIBRAS pela

UFSC

5633 ndash Informante C

O informante C mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua

opiniatildeo de como aconteceu essa experiecircncia ldquoA liacutengua de sinais assim

como todo o contexto no qual estamos inseridos sofre mudanccedilas e

adaptaccedilotildees durante o decorrer de nossas vidas por questotildees de

adaptaccedilatildeo comportamento e culturardquo

O informante C nasceu em 12021986 em Santa MariaRS surdo

de nascenccedila morando em Florianoacutepolis haacute pouco tempo Voltando ao

passado dele desde pequeno adorava brincar mexer experimentar as

coisas novas o que tinha por perto Certa vez sua avoacute chamou-o falava

o seu nome mas como ele natildeo escutava nenhuma letra e nenhum som

144

que veio da voz da avoacute natildeo a atendeu Ela estranhou a atitude dele pois

ele nunca deu atenccedilatildeo para ela quando ela gritava ou chamava pelo seu

nome Pra ela era impossiacutevel uma crianccedila que natildeo respondia aos sons

Entatildeo ficou desconfiada que ele poderia ser surdo Resolveu pedir aos

pais dele para levaacute-lo a um meacutedico para descobrir a causa do problema

Mas seus pais tinham dificuldade de aceitar essa ideacuteia e de levaacute-lo para

o meacutedico parecia que tinham medo que ele realmente fosse surdo Ficou

assim sem comunicaccedilatildeo

A matildee dele assustada chorava muito e o pai dele ficou furioso

Pois o medo deles era de jamais se comunicarem com o filho que eles

amavam muito Entatildeo o meacutedico deu um conselho para a matildee dele que

era conhecer as pessoas surdas que se comunicavam atraveacutes da

LIBRAS ou entatildeo fazer atendimento e acompanhamento com

fonoaudioacuteloga para aprender a falar eou melhorar a fala

A matildee dele decidiu em primeiro lugar ir numa escola onde tinham

pessoas surdas laacute conheceu algumas pessoas surdas e achou que eram

pessoas legais Conversou com essas pessoas surdas que conheceu

sobre seu filho que era surdo Queria saber como poderia se comunicar

com uma crianccedila surda pois o objetivo da matildee era poder se comunicar

com o filho Entatildeo pediu ajuda de um surdo jovem Ele explicou para

ela que devia fazer um curso de LIBRAS que eacute a Liacutengua de Sinais

Brasileira que as pessoas surdas utilizam para se comunicarem com

facilidade

Ele crescia e no seu desenvolvimento viveu muita coisa

conseguiu mexer comer tudo A matildee dele comunicava-se com ele

atraveacutes dos sinais ele via as matildeos da matildee que natildeo parava de mexer

estranhava mas repetia para entender aquele conceito o que ela queria

dizer ela sinalizava e mostrava as coisas ateacute que ele entendia o

conceito

A matildee dele era uma pessoa bastante simples e feliz com os filhos

Tem um irmatildeo que eacute um ano mais velho do que ele o irmatildeo aprendeu a

usar sinais com ele e a matildee e podiam se comunicar daiacute eles

melhoraram muito a comunicaccedilatildeo tornaram-se grandes amigos sempre

brincaram juntos brigavam choravam gritavam e reclamavam Mas

eles eram grandes amigos

Ele mais observava as coisas a seu redor e se admirava com o que

via Depois de alguns meses sua irmatilde cresceu um pouco conseguiu

perceber as coisas comeccedilou a falar com ela atraveacutes de sinais ela

aprendeu essa liacutengua com ele como se fosse a primeira liacutengua da vida

dela Uma vez teve uma festinha laacute em sua casa estava toda a famiacutelia

reunida passou um aviatildeo sua irmatilde ouviu o barulho do aviatildeo e sinalizou

145

um aviatildeo todo mundo viu e se assustaram principalmente a matildee dele

pois natildeo sabia que a filha sinalizava sendo tatildeo pequena Sua matildee ficou

tatildeo contente e bateu uma foto dela sinalizando

Como cresceu sempre podendo se comunicar na liacutengua dos sinais

acreditava viver muito ldquonormalizadordquo Tinha uma famiacutelia e amigos

surdos estudou em escolas com outras crianccedilas surdas e relata como ele

se divertia muito

Depois de certo tempo a escola natildeo funcionava somente para

crianccedilas surdas sua matildee ficou muito preocupada com sua educaccedilatildeo

combinou com seu pai e com toda sua famiacutelia a mudanccedila para a cidade

de Florianoacutepolis ndash Santa Catarina pois soube que havia uma escola

especial para ele onde poderia crescer com uma educaccedilatildeo de qualidade

Quando chegou agrave capital de SC Florianoacutepolis simplesmente

amou a cidade porque ele curtia bastante as praias o pai alugou uma

casa bem legal na Barra da Lagoa e todos os dias ia sozinho para a

praia brincava na areia e construiacutea castelos

O informante C relata que curtiu bastante aquele veratildeo

mudaram-se dessa casa para outra que construiacuteram no bairro Carianos

ele natildeo gostava muito do lugar achava meio estranho porque para ele

ficava muito longe das praias Mas com o tempo ele se acostumou ateacute

fez amizades com os vizinhos que eram ouvintes Ele natildeo sabia como

comunicar-se com eles pois usavam a fala ele sentiu vergonha e medo

Ficava atraacutes de sua matildee que explicava para os vizinhos que ele era

surdo que natildeo sabia falar quase nada apenas sabia LIBRAS eles

ficavam admirados e convidavam-no para brincar Tinha amigos que

eram tranquilos porque o pai deles era surdo tambeacutem

O tempo passava e ele brincava sempre com esses amigos curtia

muito mas ele percebeu que se comunicavam soacute oralmente soacute ele natildeo

estranhava Foi falar com sua matildee sobre essa situaccedilatildeo pois ele queria

poder falar tambeacutem sua matildee se surpreendeu com a ideacuteia dele que era

ldquoquerer poderrdquo falar tambeacutem Para sua matildee foi uma surpresa porque

ouvia muito que a maioria das pessoas surdas natildeo aguentava aprender a

falar e seu proacuteprio filho estava querendo aprender a falar

Ele resolveu ser soacutecio de uma associaccedilatildeo de outra cidade natildeo

gostava da anterior e se mudou para Associaccedilatildeo dos Surdos da Grande

Florianoacutepolis ele fez amizade com o pessoal viajou muito se divertia

saiacutea e curtiu bastante Participava das reuniotildees da associaccedilatildeo tambeacutem

Depois virou Conselheiro Fiscal da Associaccedilatildeo gostou da experiecircncia

mas continuou sendo soacutecio Mas por outro lado andava observava e

estudava bastante e percebeu o mundo cada vez mais veloz por causa

da tecnologia e a sociedade que natildeo parava de mudar Depois que

146

terminou o terceiratildeo teve uma formatura incriacutevel em que chorou um

monte pois teve medo de perder o contato com as colegas de sala mas

tambeacutem porque ele aprendeu a amar esses amigos como se fossem de

sua famiacutelia

Comeccedilou uma faculdade na UFSC gostou bastante e fez novas

amizades comeccedilou a trabalhar como AtorTradutor Cinegrafista Editor

de Viacutedeos na UFSC tudo isso como bolsista Ele tornou-se bem

conhecido nacionalmente na comunidade surda comeccedilou a viajar

bastante para congressos e palestras Depois de um ano de sucesso em

sua vida acabou o contrato de bolsista pela UFSC e comeccedilou a

trabalhar como professor na prefeitura foi um grande desafio para ele

pois tinha professoras ouvintes que trabalhavam na educaccedilatildeo especial

que pensavam diferente dele com relaccedilatildeo agrave comunicaccedilatildeo na liacutengua de

sinais

Hoje em dia continua sendo conhecido nacionalmente na

comunidade surda eacute estudante do uacuteltimo periacuteodo da LetrasLIBRAS na

UFSC e estaacute trabalhando em duas escolas da prefeitura como professor

de LIBRAS

564 ndash Algumas consideraccedilotildees finais

Os informantes mostraram sua histoacuteria e nela pude perceber que

sinalizavam diferentemente uma mesma palavra principalmente aqueles

que viveram em lugares diferentes

Sabemos que a histoacuteria humana sofre transformaccedilotildees ao longo do

tempo mas nem sempre os seres humanos se datildeo conta das mudanccedilas

que podem acontecer no passado no presente e no futuro Na sociedade

acontecem transformaccedilotildees tecnoloacutegicas poliacuteticas econocircmicas sociais e

culturais Todas essas transformaccedilotildees influenciam o modo como usamos

a liacutengua E a liacutengua se modifica com o tempo

Noacutes tambeacutem mudamos as ldquocoisas da vidardquo A comunidade surda

tem um jeito proacuteprio de demonstrar as variaccedilotildees regionais e mudanccedilas

quanto agrave liacutengua de sinais a ponto de ser possiacutevel identificar a

procedecircncia de um surdo do nordeste ou do sul com base apenas no seu

gestual

A comunidade surda antigamente apresentava uma forma de

conversar em LIBRAS mais cotidiana e restrita agrave associaccedilatildeo de surdos

mas na atualidade a comunicaccedilatildeo eacute mais ampla acontece em vaacuterios

locais como escolas universidades congressos viagens turiacutesticas etc

ampliando conhecimentos e conhecendo novos sinais em contexto

social

147

Um surdo conversa com outro surdo utilizando a liacutengua de sinais

e qualquer pessoa ouvinte pode aprender LIBRAS e se comunicar na

comunidade surda mesmo natildeo tendo fluecircncia Dessa forma os surdos e

ouvintes podem se comunicar na LIBRAS Aleacutem disso a comunicaccedilatildeo

entre duas ou mais pessoas pode se dar em diferentes contextos sociais

Vale ressaltar que poucos surdos conheciam a gramaacutetica ou tinham

conhecimento linguiacutestico da LIBRAS ateacute porque eacute uma liacutengua que estaacute

sendo ensinada para o surdo nas escolas a partir da LEI de

reconhecimento e ainda natildeo eacute ensinada a parte de reflexatildeo linguiacutestica

estaacute mais voltada para sua praacutetica (o uso)

Segundo Labov

Ao falar do papel de fatores sociais que influenciam a

evoluccedilatildeo linguiacutestica eacute importante natildeo superestimar o

grau de contato ou de superposiccedilatildeo entre valores sociais

e a estrutura da liacutengua A estrutura linguiacutestica e a

estrutura social natildeo satildeo de modo algum coextensivas A

grande maioria das regras linguiacutesticas estatildeo bastante

distantes de qualquer valor social elas fazem parte do

elaborado mecanismo de que o falante precisa para

traduzir seu complexo conjunto de significados ou

intenccedilotildees em forma linear (LABOV 2008 [1972] p

290)

Em vaacuterios lugares (regiotildees) da comunidade surda usar a LIBRAS

em breve vai ser como falar em inglecircs em francecircs em italiano e em

outras liacutenguas Todas as liacutenguas satildeo importantes poreacutem alguma pode

ser mais reconhecida no mundo e influenciar mais Natildeo podemos

descartar a possibilidade de outras liacutenguas serem mais reconhecidas

assim como natildeo podemos prever quais liacutenguas influenciaratildeo mais no

mundo em outras eacutepocas quais dialetos novos teremos e quais variaccedilotildees

e mudanccedilas linguiacutesticas Talvez no futuro tenhamos mais influecircncia das

liacutenguas de sinais na comunicaccedilatildeo do mundo

148

149

CAPIacuteTULO VI ndash Descriccedilatildeo e anaacutelise dos resultados

61 ndash Introduccedilatildeo

Realizei a pesquisa escrita baseado nos relatos dos informantes

das trecircs geraccedilotildees pesquisadas atraveacutes de filmagem Primeiro busquei

nessas filmagens sinais que fossem relevantes para a pesquisa

variaccedilotildees e mudanccedilas lexicais e variaccedilotildees e mudanccedilas fonoloacutegica na

LIBRAS Em seguida fiz uma listagem de sinais com a palavra

correspondente em Liacutengua Portuguesa observando o nuacutemero de vezes

em que o sinal era apresentado aparecia Depois escolhi os sinais que

mais apareciam nos trecircs grupos de informantes e verifiquei as CM (paacuteg

225 e 227) que apareceram Apoacutes isto fiz tabelas gerais para pesquisa

de variaccedilatildeo lexical mudanccedila lexical variaccedilatildeo fonoloacutegica e mudanccedila

fonoloacutegica Foram escolhidos dezessete sinais para anaacutelise porque

apareceram nos trecircs grupos e em maior nuacutemero Apoacutes a escolha dos

sinais construiacute quatro tabelas gerais com os sinais produzidos pelos trecircs

grupos pesquisados com a CM utilizada na sinalizaccedilatildeo Por fim fiz a

anaacutelise dos dados obtidos

Ressalto que a descriccedilatildeo dos informantes que realizaram as

entrevistas nas trecircs geraccedilotildees em diferentes faixas etaacuterias traz

informaccedilotildees de grande importacircncia para a anaacutelise dos dados obtidos

referentes agraves possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas na Liacutengua de

Sinais em Santa Catarina

Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os seguintes toacutepicos

comparaccedilatildeo dos dados dos grupos das trecircs geraccedilotildees de surdos na liacutengua

de sinais e descriccedilatildeo sobre variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na liacutengua de

sinais com a existecircncia de um ou mais sinais dos informantes das trecircs

geraccedilotildees descriccedilatildeo da variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua de

sinais e explicaccedilatildeo de como o mesmo sinal pode ser utilizado e por

fim anaacutelise dos resultados das trecircs geraccedilotildees dos informantes

considerando as variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas na Liacutengua Brasileira

de Sinais

62 ndash A comparaccedilatildeo dos dados o grupo de trecircs geraccedilotildees de surdos

na liacutengua de sinais

Os dados recolhidos no programa de transcriccedilatildeo na liacutengua de

sinais ndash ELAN foram analisados e comparados com o propoacutesito de

mostrarapontar possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas que

aconteceram na liacutengua de sinais em Santa Catarina Os informantes

150

apresentaram individualmente suas respostas ao questionaacuterio referente a

seu aprendizado escolar e a sua vida Essas apresentaccedilotildees gravadas em

viacutedeo tecircm o objetivo de mostrar a experiecircncia na liacutengua de sinais dos

informantes nas trecircs geraccedilotildees pesquisadas

Para anaacutelise dos dados recolhidos foi feita uma tabela

denominada Preliminar dos dados ndash variaccedilotildees ou mudanccedilas

linguiacutesticas Nessa tabela vemos a transcriccedilatildeo dos depoimentos e a

identificaccedilatildeo dos Grupos (I II e III) de surdos que narraram a sua

experiecircncia na liacutengua de sinais Seguem as principais abordagens

pesquisadas

No primeiro momento investigo a variaccedilatildeo e

mudanccedila lexical na Liacutengua Brasileira de Sinais onde

dois ou mais sinais existem na liacutengua ao mesmo tempo

descrevo a mudanccedila em dois sinais que se daacute quando o

antigo sinal some e um novo entra

No segundo e uacuteltimo momento investigo a variaccedilatildeo e

mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua Brasileira de Sinais em

que um mesmo sinal possui mais de uma forma de

realizaccedilatildeo descrevo a mudanccedila que se observa quando um

sinal altera de caracteriacutesticas com relaccedilatildeo aos paracircmetros

configuraccedilatildeo das matildeos ponto de articulaccedilatildeo e movimento

Foi interessante realizar a pesquisa dos dados dos trecircs grupos

porque eacute um desafio aleacutem de me permitir identificar os sinais das

geraccedilotildees pesquisadas A princiacutepio foram identificados os sinais que

eram utilizados pelos surdos mais velhos e que os jovens natildeo

conheciam Em seguida os sinais com configuraccedilatildeo de matildeos (CM) e

ponto de articulaccedilatildeo (PA) diferentes e tambeacutem os sinais com

configuraccedilatildeo de matildeos (CM) iguais e ponto de articulaccedilatildeo (PA)

diferentes Por uacuteltimo os sinais com configuraccedilatildeo de matildeos (CM)

diferentes e ponto de articulaccedilatildeo (PA) iguais

Os sinais apresentados pelos informantes das trecircs geraccedilotildees

totalizaram 255 sinais Nesse total foram utilizados 17 vocaacutebulos para a

anaacutelise dos resultados e levantamento dos sinais de cada informante dos

trecircs Grupos (I II e III) Alguns sinais foram dispensados porque

tornariam a pesquisa muito ampla Dos 255 sinais encontrados para

anaacutelise 115 foram apresentados pelos surdos do Grupo mais jovem 163

foram apresentados pelo Grupo com idade intermediaacuteria e 183 pelo

Grupo dos mais velhos

Esta distribuiccedilatildeo por faixa etaacuteria compreende 9 informantes trecircs

151

em cada uma das geraccedilotildees formando os trecircs Grupos pesquisados (I II e

III) O resultado mais significativo foi mostrado pelos informantes do

grupo de indiviacuteduos mais velhos (G e I) possibilitando numa primeira

anaacutelise perceber algumas variaccedilotildees e mudanccedila na liacutengua de sinais Ficou

perceptiacutevel que o grupo de surdos dos mais velhos influenciou a liacutengua

de sinais em Santa Catarina na comunidade surda Segue tabela com os

nuacutemeros de sinais levantados em cada um dos trecircs grupos

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Sinais

Analisados

183

163

115

Tabela 09 ndash Preliminar dos dados ndash Variaccedilotildees ou mudanccedilas linguiacutesticas

Como jaacute foi comentado anteriormente a comunidade surda em

Santa Catarina ateacute aproximadamente o ano de 2000 teve um uacutenico

professor surdo no nosso estado e que influenciou a liacutengua de sinais O

fator externo que influenciou a liacutengua de sinais em SC atraveacutes do

professor Francisco foi o agrupamento dos surdos de todo o estado

formando uma comunidade surda que tambeacutem participa da

identificaccedilatildeo de classe do grupo informante Outro fator externo eacute

percebido nos Grupos II e I que mostram sinais aprendidos no contato

com o professor surdo na escola e tambeacutem no Ciacuterculo de Surdo-Mudo

em Santa Catarina sendo que o Grupo II influenciou o Grupo III

Na tabela em anexo percebe-se que dos 255 sinais coletados o

Grupo I apresentou mais sinais do que os Grupos II e III Talvez os

sinais natildeo conhecidos pelo Grupo III sejam os sinais criados

recentemente pela comunidade surda acadecircmica

Nas quatro tabelas gerais dos dados (paacuteg153 167 174 e 176)

tambeacutem apresenta na coluna agrave esquerda dos informantes o sinal (leacutexico)

e na direita os trecircs grupos de diferentes geraccedilotildees com diferentes faixas

etaacuterias que variam de 25 a mais de 80 anos e totalizam nove (9) indiviacuteduos Na coluna sinal (leacutexico) apresentam-se os dados que foram

escolhidos para realizar a pesquisa nos Grupos I II e III as variaacuteveis

independentes (homem mulher idade escolaridade e profissatildeo) que

152

podem mostrar tambeacutem variaccedilatildeo e mudanccedila na liacutengua de sinais usada

pelos informantes

63 ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na Liacutengua Brasileira de Sinais

Nesta seccedilatildeo vatildeo ser observados os itens lexicais que estatildeo em

variaccedilatildeo nas trecircs geraccedilotildees Comparando os sinais eles podem ser

produzidos atraveacutes de um sinal ou mais por exemplo o sinal de ldquomatildeerdquo

no passado tinha apenas um sinal (simples) atualmente utilizam-se dois

sinais (composto) para esta representaccedilatildeo Isto mostra que acontece

variaccedilatildeo lexical em LIBRAS Outros exemplos de sinais em variaccedilatildeo

satildeo ldquoaposentarrdquo ldquoaviatildeordquo ldquomatildeerdquo ldquopairdquo ldquopoliacuteticardquo ldquopretordquo

ldquoreuniatildeordquo e ldquosemanardquo (Tabela geral dos dados a seguir)

Nos Grupos I e II nos sinais de banco feio meacutedico porque

padre e ter tambeacutem acontece variaccedilatildeo lexical pois tem mais de um

sinal que existe na liacutengua ao mesmo tempo Nos Grupos I e III o sinal de

nome aponta variaccedilatildeo lexical

Foi apresentada na discussatildeo sobre mudanccedila lexical de alguns

sinais na Liacutengua Brasileira de Sinais (MAtildeE e PAI) Agora seraacute mostrada

a variaccedilatildeo lexical encontrada nos sinais utilizados pelos informantes das

trecircs geraccedilotildees (Grupos I II e III)

Veja a tabela a seguir elaborada para descrever os resultados

obtidos dos informantes dos Grupos I II e III Os nuacutemeros que

aparecem na tabela correspondem agrave configuraccedilatildeo de matildeos (CM) num

total de 64 posiccedilotildees diferentes que as matildeos podem assumir (ver anexo

paacutegina 225)

153

Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na Liacutengua

Brasileira de Sinais

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

APOSENTAR CM ndash 01 02

07 11 57

CM ndash 01 02

11 57

CM ndash 01 11

AVIAtildeO CM ndash 53a CM ndash 36 37a

40

CM ndash 40

MAtildeE CM ndash 02 14

63

CM ndash 01 02

06 14 60 63

CM ndash 02 07

14

PAI CM ndash 01 11

14 16 38

CM ndash 01 02

11 16 38 45

CM ndash 02 11

16 38 45

POLIacuteTICA CM ndash 11 51a CM ndash 11 14 CM ndash 11

PRETO CM ndash 05 34

62

CM ndash 05 CM ndash 05

REUNIAtildeO CM ndash 14 CM ndash 14 15

25

CM ndash 25

SEMANA CM ndash 08a 10

64

CM ndash 10 CM ndash 10

Os quadros a seguir mostram a sequecircncia dos sinais lexicais

utilizados pelos informantes desta pesquisa na liacutengua de sinais nas trecircs

geraccedilotildees

Observe-se inicialmente o item lexical APOSENTAR

154

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Aposentar

(1)

Figura 31

CM ndash 01 11

(2)

Figura 32

CM ndash 02 57

(1)

Figura 34

CM ndash 01 11

(2)

Figura 35

CM ndash 02 57

Figura 36

CM ndash 01 11

155

(3)

Figura 33

CM ndash 07

Quadro 01 ndash Sinal de Aposentar

O sinal de aposentar apresentado no quadro 01 no Grupo I (mais

velhos) apareceu com trecircs sinais diferentes o que indica variaccedilatildeo

lexical O Grupo III (mais jovem) utiliza o sinal com a configuraccedilatildeo de

matildeos (CM) - 01 e 11 com o movimento no espaccedilo neutro

consecutivamente para frente Os Grupos I e II utilizaram a CM - 02 57

(palma da matildeo aberta se fechando agrave medida que o antebraccedilo puxa para

traacutes junto ao lado do corpo no espaccedilo neutro) O Grupo I apresentou o

sinal de aposentar com a CM ndash 07 ambas as matildeos saiacutedas do espaccedilo

neutro na frente do corpo indo ateacute o peito Esse sinal atualmente eacute

produzido para indicar folga descanso e acomodar O Grupo III natildeo

conhece o sinal de aposentar do Grupo I talvez por isso eles utilizam

com outro significado O Grupo I tem trecircs sinais diferentes para

ldquoaposentarrdquo como mostram as figuras 31 32 e 33 mas o significado eacute o

mesmo isso pode ser variaccedilatildeo lexical mas tudo indica que ocorre

tambeacutem mudanccedila lexical O Grupo I tem um uacutenico sinal diferente do

Grupo III Parece que atualmente o sinal tem outro significado

Inicialmente observe-se o item lexical AVIAtildeO

156

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Aviatildeo

Figura 37

CM ndash 53a

(1)

Figura 38

CM ndash 36

(2)

Figura 39

CM ndash 37a

(3)

Figura 40

CM ndash 40

Figura 41

CM ndash 40

Quadro 02 ndash Sinal de Aviatildeo

157

Sabe-se que o professor Francisco iniciou o ensino para alguns

surdos utilizando a soletraccedilatildeo no alfabeto digital em Portuguecircs

Observando os trecircs grupos foi possiacutevel identificar as

modificaccedilotildees graduais deste sinal que iniciou com a soletraccedilatildeo Depois

foi apresentada como em CM ndash 53a a matildeo parte do lado do corpo em

linha reta e ascendente imitando a decolagem do aviatildeo usada pelo

Grupo I (mais velhos) O Grupo II apresentou as configuraccedilotildees CM ndash

36 CM ndash 37a CM - 40 tambeacutem imitando a decolagem do aviatildeo No

Grupo III apareceu apenas o sinal com a CM ndash 40 ou seja continuou

igual ao utilizado pelo Grupo II

Veja a seguir o item lexical MAtildeE

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Matildee

(1)

Figura 42

CM ndash 02

(1)

Figura 45

CM ndash 02

(1)

Figura 48

CM ndash 02 07

158

(2)

Figura 43

CM ndash 14

(3)

Figura 44

CM ndash 63

(2)

Figura 46

CM ndash 14

(3)

Figura 47

CM ndash 63

(4)

(2)

Figura 49

CM ndash 14

Quadro 03 ndash Sinal de Matildee

No quadro 03 aparece na figura 43 46 e 49 nos Grupos I II e III

o sinal de matildee que tem variaccedilatildeo lexical ao mesmo tempo Entatildeo os

Grupos I e II tambeacutem mostram o mesmo sinal No Grupo III a figura 48

mostra o sinal de matildee (mulher^benccedilatildeo = matildee) o que acontece eacute um sinal

composto em variaccedilatildeo lexical Nas figuras 42 45 e 48 a configuraccedilatildeo de

matildeos acontece (igualmente) nos trecircs grupos As figuras 44 e 47 nos Grupos I e II mostram a palma da matildeo aberta para frente e o dorso da

matildeo colocado na boca para o sinal de matildee o que tambeacutem indica

variaccedilatildeo lexical

No quadro 03 tambeacutem mostra mudanccedila lexical O sinal de ldquoM-Atilde-

Erdquo aparece soletrado no alfabeto digital e outro com a configuraccedilatildeo de

159

matildeos (CM) em ldquoMrdquo (nuacutemero da CM ndash 01 06 60) com ponto de

articulaccedilatildeo (PA) na boca num movimento (M) de roccedilar a matildeo para

frente (reto) Atualmente o sinal de MAtildeE eacute realizado da seguinte forma

o sinal de mulher (matildeo fechada e polegar riscando o rosto de cima para

baixo) junto com a matildeo fechada sendo beijada no dorso (mulher^benccedilatildeo

= MAtildeE) representando um sinal composto

Comparando o sinal de MAtildeE apresentado pelos informantes dos

trecircs Grupos (I II e III) nota-se que ocorreu mudanccedila lexical a forma de

configuraccedilatildeo de matildeos (CM) modificou-se

Pode ser que a distinccedilatildeo entre variaccedilatildeo lexical e mudanccedila lexical

nem sempre estaacute clara mas pode ser estabelecida em alguns casos dos

sinais

O quadro a seguir mostra variaccedilatildeo e mudanccedila do item lexical

PAI

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Pai

(1)

Figura 50

CM ndash 11

(1)

Figura 53

CM ndash 16

(1)

Figura 55

CM ndash 11 38

160

(2)

Figura 51

CM ndash 14

(3)

Figura 52

CM ndash 16

(4)

(2)

Figura 54

CM ndash 02 45

(3)

(2)

Figura 56

CM ndash 16

(3)

Figura 57

CM ndash 02 45

Quadro 04 ndash Sinal de Pai

Nas figuras 52 53 e 56 dos Grupos I II e III na configuraccedilatildeo de

matildeos (CM) o dedo indicador curvado colocado como se fosse um

bigode movimenta-se para frente e para traacutes significando sinal de pai

Os Grupos II e III mostram o sinal composto (homem^benccedilatildeo = pai)

Nas figuras 54 e 57 tambeacutem temos variaccedilatildeo e mudanccedila lexical Na

figura 51 o dedo indicador reto eacute colocado como se fosse um bigode

fazendo movimento para a direita no Grupo I Nas figuras 50 e 55 nos

Grupos I e III mostra-se a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) - 11 tambeacutem

161

imitando um bigode fazendo movimento para a direita e no Grupo III

mostra-se o empreacutestimo linguiacutestico ldquoP-Irdquo (CM) -11 38 o sinal de pai

No quadro 04 tambeacutem aparece mudanccedila lexical O sinal de

famiacutelia que mostra a palavra ldquoP-A-Irdquo eacute apresentado na soletraccedilatildeo de

matildeos Haacute uma mudanccedila linguiacutestica porque inicia com o sinal ldquoPrdquo (CM ndash

11) passando sobre os laacutebios depois o sinal de bigode realizado de duas

formas diferentes (o dedo indicador em cima do laacutebio superior e o dedo

indicador flexionado tambeacutem em cima do laacutebio superior) e ainda o sinal

ldquoPrdquo saindo dos laacutebios indo para frente formando o sinal ldquoIrdquo (CM ndash 38)

e atualmente o sinal de homem (CM ndash 45) fechar a matildeo e beijar as

costas da mesma (CM ndash 02) Observam-se nesse caso cinco diferentes

sinais ilustrando as variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas Acredita-se que

o contado dos diferentes surdos em comunicaccedilatildeo com gestos familiares

proporcionou uma troca entre eles influenciando a comunidade surda e

a escola com uma classe de surdos onde os alunos tiveram contato com

a soletraccedilatildeo de palavras em Portuguecircs e nos respectivos sinais

O Grupo I apresentou trecircs sinais diferentes nas figuras 50 51 e 52

ldquopaisrdquo o que pode indicar variaccedilatildeo lexical O Grupo II mostra dois

sinais diferentes nas figuras 53 e 54 tem um sinal composto

homem^benccedilatildeo = pai que foi utilizado pelo Grupo III

Observe agora no quadro a seguir o item lexical POLIacuteTICA

162

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Poliacutetica

Figura 58

CM ndash 11 51a

(1)

Figura 59

CM ndash 11

(2)

Figura 60

CM ndash 14

Figura 61

CM ndash 1 1

Quadro 05 ndash Sinal de Poliacutetica

No quadro 05 o sinal de POLIacuteTICA se daacute atraveacutes da matildeo direita

na configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 11 colocada em movimento circular

(girando) no lado do rosto com a bochecha insuflada sinal apresentado

pelos Grupos II e III O Grupo I apresenta um sinal icocircnico porque eacute a

representaccedilatildeo da sede do congresso em Brasiacutelia O Grupo II mostra

tambeacutem outro sinal para poliacutetica com CM ndash 14 o dedo indicador das matildeos com as extremidades proacuteximas em frente do corpo em movimento

alternado para cima e para baixo localizado no espaccedilo neutro

No Grupo III na figura 61 com CM ndash 14 eacute o uacutenico sinal com

configuraccedilatildeo diferente e que o significado tambeacutem pode ser entendido

163

como discutir a poliacutetica aparecendo nesse caso com sentido

abrangente

Veja a seguir o item lexical PRETO

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Preto

(1)

Figura 62

CM ndash 34 62

(2)

Figura 63

CM ndash 05

Figura 64

CM ndash 05

Figura 65

CM ndash 05

Quadro 06 ndash Sinal de Preto

No quadro 06 aparece o sinal de PRETO com a matildeo direita com

CM ndash 05 palma para baixo simulando girar uma chave ao lado da

cabeccedila Um dos informantes do Grupo I utilizou o sinal de preto que

acredito teve influecircncia da liacutengua de sinais produzida no Rio de janeiro

Os Grupos II e III apresentaram o sinal regional utilizado na grande

Florianoacutepolis Os Grupos I II e III mostram o mesmo sinal para preto

164

nas figuras 63 64 e 65 mas tem um sinal diferente apresentado pelo

Grupo I nas figuras 62 e 63

O sinal produzido pelo Grupo I na figura 62 eacute utilizado ateacute hoje

no Rio de Janeiro e percebo que tambeacutem eacute utilizado por interpretes e

estudantes surdos da UFSC

Veja a seguir o item lexical REUNIAtildeO

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Reuniatildeo

Figura 66

CM ndash 14

(1)

Figura 67

CM ndash 25

(2)

Figura 68

CM ndash 14

Figura 70

CM ndash 25

165

(3)

Figura 69

CM ndash 15

Quadro 07 ndash Sinal de Reuniatildeo

No quadro 07 o sinal de REUNIAtildeO mostrado pelos Grupos II e

III com CM ndash 25 nas matildeos estaacute localizado no espaccedilo neutro com as

palmas das matildeos para frente as matildeos em movimento semicircular

fechando em ciacuterculo Os Grupos I e II mostram como em CM ndash 14

realizado da mesma forma que o descrito anteriormente sinal este que o

grupo jovem natildeo conhece O Grupo II apresenta um sinal de REUNIAtildeO

com as matildeos como em CM ndash 15 em espaccedilo neutro movendo-se

alternadamente para frente e para traacutes com a palma das matildeos proacuteximas

este grupo apresentou trecircs sinais diferentes enquanto os Grupos I e III

mostraram apenas um

No Grupo II na figura 69 o sinal eacute diferente e natildeo aparece no

Grupo I e no Grupo III mas o significado deste eacute REUNIAtildeO particular

com poucas pessoas Talvez por isso natildeo apareceu nos outros dois

grupos Nas figuras 68 e 69 os sinais apresentam variaccedilatildeo fonoloacutegica

porque mudou o traccedilo linguiacutestico o ponto de articulaccedilatildeo da sinalizaccedilatildeo

no espaccedilo neutro eacute o mesmo mas a CM e o movimento se alteram

Veja a seguir o item lexical SEMANA

166

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Semana

(1)

Figura 71

CM ndash 08a 64

(2)

Figura 72

CM ndash 10

Figura 73

CM ndash 10

Figura 74

CM ndash 10

Quadro 08 ndash Sinal de Semana

No quadro 08 aparece o sinal de SEMANA com a matildeo esquerda

aberta palma para fora (CM ndash 08a ldquoLrdquo) matildeo direita CM - 64 palma

para fora direcionando as duas matildeos para o lado direito O grupo de

informante III (terceira geraccedilatildeo) apresentou a variaccedilatildeo do sinal descrita

anteriormente mas o Grupo II apresentou o sinal a matildeo direita com

forma de configuraccedilatildeo CM - 10 direcionando a matildeo direita para o lado

direito ponto de articulaccedilatildeo no espaccedilo neutro O Grupo I (primeira

geraccedilatildeo) apresentou no queixo o sinal de semana como em CM ndash 10

Isso mostra a variaccedilatildeo do sinal apresentado pelos informantes nas trecircs

geraccedilotildees por faixa etaacuteria Os trecircs grupos sinalizam semana de forma

diferente nas figuras 71 72 e 74 Os Grupos I e II sinalizam semana nas

167

figuras 72 e 73 de forma igual O Grupo I eacute o uacutenico que realiza o sinal

no espaccedilo neutro e o Grupo III inicia o sinal no queixo e termina-o no

espaccedilo neutro

Uma das razotildees para variaccedilatildeo e mudanccedila lexical acontecer eacute por

influecircncia tecnoloacutegica que transforma a sociedade que cresce no

cotidiano por necessidade na liacutengua usada na conversa No caso da

pessoa surda em contato com a liacutengua de sinais ela acaba valorizando

mais a liacutengua de sinais que torna a cultura surda dinacircmica e proporciona

uma nova forma de comunicaccedilatildeo para o indiviacuteduo surdo Na

comunidade surda precisamos buscar o conhecimento cada vez maior

para aumentar o leacutexico da liacutengua em sinais

Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na Liacutengua

Brasileira de Sinais

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

BANCO CM ndash 53a 61 CM ndash 53a 61 CM ndash 53a

FEIO CM ndash 07 64 CM ndash 8a CM ndash 08a

MEacuteDICO CM ndash 16 44 CM ndash 16 44 CM ndash 16

NOME CM ndash 21 24 CM ndash 24 CM ndash 24

PORQUE CM ndash 14 15 CM ndash 14 15 CM ndash 14

O quadro a seguir apresenta a sequecircncia dos sinais lexicais que

sofreram mudanccedila na liacutengua de sinais dos informantes dos Grupos I II e

III nas trecircs geraccedilotildees Inicialmente seraacute descrito o item lexical BANCO

168

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Banco

(1)

Figura 75

CM ndash 53a

(2)

Figura 76

CM ndash 61

(1)

Figura 77

CM ndash 53a

(2)

Figura 78

CM ndash 61

Figura 79

CM ndash 53a

Quadro 09 ndash Sinal de Banco

No quadro 09 a CM ndash 61 corresponde agrave letra B no alfabeto

digital palma da matildeo voltada para a esquerda batendo suavemente em

cima do peito esquerdo Este sinal foi utilizado pelos Grupos II e I

sofrendo uma mudanccedila lexical pois modificou o ponto de articulaccedilatildeo e

a CM com o mesmo movimento Os informantes do Grupo III (jovens)

natildeo utilizam e talvez natildeo conheccedilam o sinal de BANCO utilizado pelos

Grupos II e I Podemos chamar de mudanccedila em tempo aparente

Nos Grupos I II e III apresentam variaccedilatildeo lexical os sinais das

figuras 75 77 e 79 pois se realizam da mesma forma Nos Grupos I e II

169

as figuras 76 e 78 apresentam um sinal que natildeo eacute mais utilizado

caracterizando uma mudanccedila lexical

Observe-se agora o sinal do item lexical FEIO

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Feio

Figura 80

CM ndash 07 64

64

Figura 81

CM ndash 08a

Figura 82

CM ndash 08a

Quadro 10 ndash Sinal de Feio

No quadro 10 a CM ndash 08a (L) usa palma da matildeo em frente da

boca o dedo indicador apontando para a esquerda em seguida abaixa-

se a matildeo ateacute a altura do peito O sinal utilizado pelo Grupo I mostra uma

mudanccedila lexical no sinal de FEIO o sinal de bonito (matildeo aberta com

palma da matildeo voltada para o rosto na frente fazendo um ciacuterculo e se

fechando) e mais o sinal de negaccedilatildeo matildeo fechada com polegar para

baixo Houve uma troca na configuraccedilatildeo de matildeos (CM) de ponto de

articulaccedilatildeo (PA) e movimento (M) do sinal pelos surdos do Grupo III

(mais jovens de 15 a 30 anos de idade) O Grupo I faz dois sinais

bonito^ruim = feio na figura 80 como se fosse o contraacuterio de bonito O

Grupo II faz o sinal de feio para pessoas enquanto o Grupo III sinaliza

com significado de feio para objetos

64 A imagem da CM segue a ordem da tabela com as configuraccedilotildees

170

Observe-se a seguir o item lexical MEacuteDICO

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Meacutedico

(1)

Figura 83

CM ndash 16

(2)

Figura 84

CM ndash 44

(1)

Figura 85

CM ndash 16

(2)

Figura 86

CM ndash 44

Figura 87

CM ndash 16

Quadro 11 ndash Sinal de Meacutedico

No quadro 11 o sinal de MEacuteDICO aparece diferenciado no Grupo

I (geraccedilatildeo G H e I) O sinal de MEacuteDICO eacute produzido com a

configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 44 com ponto de articulaccedilatildeo (PA) no

peito em cima do coraccedilatildeo movimentando-se semicircularmente ateacute o

lado direito Esse sinal mostra mudanccedila lexical pois o Grupo III

(jovens) inovou com relaccedilatildeo ao espaccedilo neutro65

o sinal eacute produzido

65 Espaccedilo Neutro ndash ldquono caso do uso de pontos arbitraacuterios o estabelecimento ocorre em um

local neutro do espaccedilo da sinalizaccedilatildeo e em geral satildeo distribuiacutedos no espaccedilo de forma a serem

171

com a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 16 em ambas as matildeos onde uma eacute

ativa e outra passiva e o dedo indicador direito bate na 2a falange do

dedo esquerdo

Podemos dizer que o sinal que aparece nos Grupos I e II e que

natildeo aparece no Grupo III eacute um sinal icocircnico Acredito que ainda eacute

utilizado apenas natildeo apareceu nas sinalizaccedilotildees do grupo dos mais

jovens que apresentam uma fluecircncia maior na LIBRAS

Veja a seguir a configuraccedilatildeo do item lexical NOME

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Nome

(1)

Figura 88

CM ndash 21

(2)

Figura 89

CM ndash 24

Figura 90

CM ndash 24

Figura 91

CM ndash 24

Quadro 12 ndash Sinal de Nome

amplamente diferenciados Os pontos podem estar acima ou abaixo do espaccedilo neutro se esses apresentarem uma imagem apropriada (por ex um aviatildeo seraacute apontado acima do espaccedilo

neutro)rdquo QUADROS et al (2008 p 07)

172

No quadro 12 mostra o sinal de NOME com a configuraccedilatildeo de

matildeos (CM) ndash 24 (matildeo direita em ldquoUrdquo no Alfabeto Digital) palma da

matildeo para frente dedos apontados para cima na altura do peito movem-

se os dedos do lado esquerdo para o lado direito Na leitura dos

resultados encontrados apareceu uma mudanccedila lexical na liacutengua de

sinais o Grupo I utiliza a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 21 24 na (CM)

ndash 21 representa o nome do crachaacute (sinal icocircnico) Acontece mudanccedila

lexical pois as configuraccedilotildees de matildeos (CM) os pontos de articulaccedilotildees

(PA) os movimentos (M) e a orientaccedilatildeo satildeo diferentes (OP) Aqui

temos tambeacutem mudanccedila fonoloacutegica as configuraccedilotildees de matildeos satildeo

diferentes

O quadro a seguir mostra a configuraccedilatildeo do item lexical

PORQUE

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Porque

(1)

Figura 92

CM ndash 14

(1)

Figura 94

CM ndash 14

Figura 96

CM ndash 14

173

(2)

Figura 93

CM ndash 15

(2)

Figura 95

CM ndash 15

Quadro 13 ndash Sinal de Porque

No quadro 13 o sinal de PORQUE no Grupo I e II aparece com

CM ndash 15 (dedo indicador flexionado saindo da tecircmpora em diagonal) e

nos trecircs grupos aparece o sinal com a CM ndash 14 dedo indicador direito e

esquerdo em diagonal bater o indicador direito sobre o esquerdo vaacuterias

vezes no espaccedilo neutro O sinal com a CM ndash 14 aparece na sinalizaccedilatildeo

dos informantes das trecircs geraccedilotildees permanecendo ateacute a atualidade

O sinal que os Grupos I e II fizeram nas figuras 93 e 95 natildeo eacute

mais realizado pelo grupo dos mais jovens que tambeacutem natildeo conhece o

significado

64 ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua Brasileira de Sinais

A variaccedilatildeo e a mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua Brasileira de

Sinais satildeo observadas na semelhanccedila entre somfala ou sinais foneacutetico-

fonoloacutegicos Na Liacutengua Brasileira de Sinais encontram-se modificaccedilotildees

de pronuacutencia de certos itens lexicais atestando variaccedilatildeo e mudanccedila

fonoloacutegica Essa variaccedilatildeo depende da unidade lexical e pode decorrer de

diferentes paracircmetros a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) movimento (M)

ponto de articulaccedilatildeo (PA) e orientaccedilatildeo das matildeos Nesses casos a

configuraccedilatildeo de matildeos pode modificar mas o significado dos sinais

permanece o mesmo mostrando variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica As

autoras Quadros e Karnopp (2004 p47) definem a fonologia das

liacutenguas de sinais da seguinte forma

Fonologia das liacutenguas de sinais eacute o ramo da linguumliacutestica

que objetiva identificar a estrutura e a organizaccedilatildeo dos

constituintes fonoloacutegicos propondo modelos descritivos

e explanatoacuterios A primeira tarefa da fonologia para

174

liacutengua de sinais eacute determinar quais satildeo as unidades

miacutenimas que formam os sinais A segunda tarefa eacute

estabelecer quais satildeo os padrotildees possiacuteveis de

combinaccedilatildeo entre essas unidades e as variaccedilotildees possiacuteveis

no ambiente fonoloacutegico

Haacute pouca pesquisa cientiacutefica sobre variaccedilatildeo e mudanccedila

fonoloacutegica na LIBRAS no Brasil Pode-se verificar atraveacutes dos dados

dos informantes apresentados a cada pronuacutencia dos sinais diferentes de

uso a unidade miacutenima lexical pode se modificar (configuraccedilatildeo de matildeos

movimento e ponto de articulaccedilatildeo) No quadro 07 apresenta-se o sinal

de semana mostrando mudanccedila no ponto de articulaccedilatildeo e variaccedilatildeo e

mudanccedila fonoloacutegica nos Grupos I II e III

Veja a Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica

na Liacutengua Brasileira de Sinais com os resultados que foram escolhidos

nesta pesquisa para realizar a descriccedilatildeo e a anaacutelise

Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua

Brasileira de Sinais

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

ANTES CM ndash 08a 53a

63

CM ndash 08a CM ndash 08a

Veja agora os sinais para o item lexical ANTES

175

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Antes

(1)

Figura 97

CM ndash 53a 63

(2)

Figura 98

CM ndash 08a

Figura 99

CM ndash 08a

Figura 100

CM ndash 08a

Quadro 14 ndash Sinal de Antes

No quadro 14 aparece o sinal de ANTES com a seguinte

configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 08a a matildeo direita em L horizontal

(alfabeto digital) palma para baixo na frente do corpo no espaccedilo neutro

levantar o antebraccedilo da matildeo direita para cima Outro sinal aparece com

a (CM) ndash 53a e 63 inicia com a CM 63 e finaliza com a CM 53a com o

mesmo movimento do antebraccedilo descrito anteriormente Ambos os

informantes utilizam a expressatildeo facial necessaacuteria para a compreensatildeo

do sinal As trecircs geraccedilotildees apresentaram variaccedilatildeo fonoloacutegica o sinal eacute

produzido com diferentes configuraccedilotildees de matildeos mas os paracircmetros

movimento (M) e ponto de articulaccedilatildeo (PA) satildeo os mesmos

176

Nos Grupos I II e III apresentam os mesmos sinais com a mesma

CM ndash 08a mas temos com essa mesma CM o mesmo significado soacute

que com ponto de articulaccedilatildeo diferente acontecendo na palma da matildeo e

no dorso da matildeo e que tambeacutem pode ter significado de ldquoQue horasrdquo ou

pode estar atrasado para trabalhar ou ainda precisa agendar uma reuniatildeo

antes

Os dados coletados tambeacutem mostram mudanccedila e variaccedilatildeo

fonoloacutegica na liacutengua brasileira de sinais Sinais foram modificados com

o passar dos anos Observando os informantes percebe-se que os

paracircmetros mudaram da geraccedilatildeo mais antiga (Grupo I) em relaccedilatildeo agrave

geraccedilatildeo atual (Grupo III)

Observe na tabela a seguir os dados que foram escolhidos para

realizar a descriccedilatildeo e a anaacutelise dos resultados Ela apresenta a sequecircncia

das mudanccedilas e variaccedilotildees dos sinais lexicais na LIBRAS usados pelos

informantes nas trecircs geraccedilotildees

Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua

Brasileira de Sinais

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

CORTAR CM ndash 14 24

63

CM ndash 14 24 CM ndash 24

PADRE CM ndash 21 24

62

CM ndash 11 21

24

CM ndash 24

TER CM ndash 08a 63 CM ndash 08a 63 CM ndash 08a

Acompanhe agora a descriccedilatildeo do item lexical CORTAR

177

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Cortar

(1)

Figura 101

CM ndash 63

(2)

Figura 102

CM ndash 14 24

(3)

Figura 103

CM ndash 14

(1)

Figura 104

CM ndash 14

(2)

Figura 105

CM ndash 24

Figura 106

CM ndash 24

Quadro 15 ndash Sinal de Cortar

178

No quadro 15 observa-se que o Grupo I apresentou a

configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 63 (U) raspando o dedo meacutedio da matildeo

direita no dedo indicador da matildeo esquerda simulando cortar algo

Depois a CM ndash 14 junto com a CM 24 mostraram um movimento

simulando o corte com uma faca e tambeacutem a CM ndash 14 em ambas as

matildeos simulando o movimento de cortar O Grupo II apresentou a CM ndash

14 (igual a do Grupo I) e a CM ndash 24 simulando o movimento de cortar

O Grupo III (jovem) utilizou apenas a CM ndash 24

Exemplos das figuras apresentadas no quadro 15 mostrando

sinais de CORTAR66

em diferentes contextos satildeo apresentados a seguir

a) Em LIBRAS Grupo I - EU ANTES ESTUDAR LAacute INES

DEPOIS CORTAR MARCENEIRO (Figura 101)

Em Portuguecircs Grupo I ndash Eu era crianccedila estudava no INES

fomos cortar madeira com supervisatildeo de um marceneiro (Figura 101)

b) Em LIBRAS Grupo I - SURDOS LAacute INES CORTAR

PAPELAtildeO (Figura 102)

Em Portuguecircs Grupo I ndash Os alunos surdos do INES foram

cortar papelatildeo (Figura 102)

c) Em LIBRAS Grupo I - EU AIacute (FOGO) FOGO COMER

CARNE CORTAR UM (CADA) IRMAtildeO SENTAR COMER TODOS

COMER ARROZ BATATA AIPIM TODOS (Figura 103)

Em Portuguecircs Grupo I ndash Eu fiquei assustada com o fogo Eu e

meus irmatildeos sentados juntos a mesa cortei a carne e dei um pedaccedilo para

cada irmatildeo Todos comeram arroz batata e aipim aleacutem da carne

(Figura 103)

d) Em LIBRAS Grupo II ndash ANTES ERA PEQUENO

BRINCAR LAacute ESCOLA BALANCcedilO CORRENTE CORTAR DEDO

DOR (Figura 104)

Em Portuguecircs Grupo II ndash Quando era crianccedila fomos brincar no

parque da escola cortei o dedo na corrente (Figura 104)

e) Em LIBRAS Grupo II - FESTA CSMSC SURDOS CORTAR

CARNE BOLO TODOS SURDOS (Figura 105)

Em Portuguecircs Grupo II ndash Teve uma festa do Ciacuterculo de Surdos-

Mudos de Santa Catarina (CSMSC) para comemoraccedilatildeo dos surdos Foi

cortada a carne e o bolo para os surdos que foram a associaccedilatildeo (Figura

105)

66 Nesses casos noacutes temos sinais diferentes para o mesmo significado de ldquocortarrdquo que satildeo as imagens do quadro 15

179

f) Em LIBRAS Grupo III ndash EU LAacute CASA AMIGO SURDO

ALMOCcedilAR COMER PEDIR CORTAR CARNE CONVERSAR

AMIGO (Figura 106)

Em Portuguecircs Grupo III - Eu fui agrave casa do meu amigo surdo

almoccedilar pedi a ele para cortar a carne e tambeacutem conversei com os

amigos surdos (Figura 106)

O Grupo I eacute o uacutenico que utiliza para o sinal de cortar CM ndash 63 um

sinal diferente dos outros grupos mas com o mesmo significado Parece

que o Grupo I foi evoluindo o sinal comeccedilou com CM diferente em

cada matildeo e por fim uma mesma CM para ambas as matildeos O Grupo II

utilizou duas CM diferentes como o Grupo I mas realizava o sinal de

duas formas diferentes CM ndash 14 ou 24 mas a mesma CM para ambas as

matildeos O Grupo III realiza o sinal somente com a CM ndash 24 em ambas as

matildeos Como se observa parece que ocorreu mudanccedila fonoloacutegica nos

trecircs grupos pesquisados

Veja na sequecircncia a mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua brasileira de

sinais

A tabela a seguir traz os sinais do item lexical PADRE

180

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Padre

(1)

Figura 107

CM ndash 62

(2)

Figura 108

CM ndash 24

(1)

Figura 110

CM ndash 11

(2)

Figura 111

CM ndash 24

Figura 113

CM - 24

181

(3)

Figura 109

CM ndash 21

(3)

Figura 112

CM ndash 21

Quadro 16 ndash Sinal de Padre

Nos trecircs grupos apareceu o sinal com CM ndash 24 matildeo na frente do

peito no espaccedilo neutro desenhando uma cruz com a matildeo (Representaccedilatildeo

icocircnica) Os Grupos I e II apresentaram o mesmo sinal CM ndash 21

produzido na base do pescoccedilo iniciando do lado esquerdo indo ateacute o

lado direito como se estivesse desenhando a gola da batina (Icocircnico) O

Grupo I apresentou um sinal diferente com CM ndash 62 matildeo na frente do

peito no espaccedilo neutro desenhando uma cruz com a matildeo O Grupo II

tambeacutem mostra um sinal uacutenico com CM ndash 11 matildeo na frente do peito no

espaccedilo neutro desenhando uma cruz com a matildeo A configuraccedilatildeo de

matildeos (CM) foi sendo alterada no espaccedilo neutro Os informantes do

Grupo I II e III (nas trecircs geraccedilotildees) apresentaram sinais que podem ser

considerados como variaccedilatildeo ou mudanccedila fonoloacutegica

Na figura 107 o sinal parece ser igual ao que um padre faz na

missa ao despedir-se dos fieacuteis e na figura 110 parece que a CM ndash 11 (P)

recebe influecircncia do oralismo Um uacutenico sinal aparece nos trecircs grupos

satildeo das figuras 108 111 e 113 sendo o uacutenico utilizado pelo Grupo III

(jovens)

Veja na sequecircncia a mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua brasileira de

sinais

Agora observe o sinal variaacutevel do item lexical TER

182

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Ter

(1)

Figura 114

CM ndash 63

(2)

Figura 115

CM ndash 08a

(1)

Figura 116

CM ndash 63

(2)

Figura 117

CM ndash 08a

Figura 118

CM ndash 08a

Quadro 17 ndash Sinal de Ter

No quadro 17 aparecem os dados apresentados pelo Grupo I dos

trecircs informantes G H e I

Em conversa natildeo filmada com o informante G ele deu a seguinte

explicaccedilatildeo para a variaccedilatildeo do item ldquoTERrdquo antigamente o professor

Francisco Lima Juacutenior usava o sinal ldquoTERrdquo fazendo a soletraccedilatildeo do

sinal depois utilizou a configuraccedilatildeo de matildeo com todos os dedos

fechados (CM ndash 63) colocados no peito em seguida outra oposiccedilatildeo

seria a matildeo e os dedos abertos tambeacutem colocados no peito (CM ndash 64)

183

Atualmente o sinal ldquoTERrdquo eacute realizado como CM - 08a tambeacutem

colocado no peito Observa-se uma mudanccedila fonoloacutegica com alteraccedilatildeo

na liacutengua de sinais ao longo de algumas deacutecadas O dedo em ldquoLrdquo (08a) eacute

batido no meio do peito com a ponta do polegar

Os Grupos I e II mostram os sinais de ter nas figuras 114 e 116

com mesma CM ndash 63 Nas figuras 115 117 e 118 os sinais satildeo

realizados com a mesma CM ndash 08a O Grupo III permanece apenas com

um sinal

Veja na sequecircncia a mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua brasileira de

sinais

Na eacutepoca em que o professor Francisco foi professor era outro

tempo na comunicaccedilatildeo em liacutengua de sinais diferentemente de hoje tal

como se observa na comunicaccedilatildeo entre as pessoas mais jovens com

contato cultural maior O professor Francisco aprendeu no RJ a escrever

com o alfabeto digital (soletraccedilatildeo) e assim ele comeccedilou a ensinar Aleacutem

de ensinar o contato do aluno surdo com a comunidade de surdos fez

com que houvesse uma troca o Sr Francisco ensinou a soletraccedilatildeo no

alfabeto digital (alfabetizaccedilatildeo em Liacutengua Portuguesa) e aprendeu sinais

familiares dos diversos surdos com quem teve contato Todos

aprenderam e isso influenciou para que ocorresse mudanccedila fonoloacutegica

Pesquisando a LIBRAS nos Grupos I II e III confirmamos portanto

algumas mudanccedilas fonoloacutegicas

65 ndash O que dizem os resultados das trecircs geraccedilotildees dos informantes

na Liacutengua Brasileira de Sinais

A comunidade surda principalmente na associaccedilatildeo de surdo de

Santa Catarina abriu espaccedilo para o encontro de surdos proporcionando

a troca de informaccedilotildees e experiecircncias na liacutengua de sinais (visuais)

promovendo eventos na aacuterea esportiva cultural poliacutetica e na educaccedilatildeo

de surdo Todos esses espaccedilos sociais devem ter contribuiacutedo para o que

esta pesquisa jaacute aponta variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica em LIBRAS

Os resultados de certos itens lexicais usados pelos grupos de

indiviacuteduos investigados apontam que os Grupos I e II se distinguem do

184

Grupo III

Os resultados mostram que com passar do tempo os sinais entre

os grupos se modificam apresentando indiacutecios de mudanccedila em tempo

aparente na liacutengua de sinais nas trecircs geraccedilotildees O grupo dos mais jovens

de 15 a 30 anos (Grupo III) diferentemente dos outros dois grupos

(Grupo I e Grupo II) apresenta um sinal para cada palavra Acreditamos

que antes havia mais sinais porque eram familiares ou caseiros os quais

foram substituiacutedos eou modificados com o contato social maior que a

comunidade surda tem nos dias atuais Acreditamos que outros sinais

estatildeo sendo criados com o passar do tempo o que pode ser fruto de um

maior contato social entre os surdos jovens

Os resultados apontam que os trecircs grupos investigados (Grupos I

II e III) usaram vaacuterios sinais idecircnticos para algumas palavras os Grupos

I e II usaram outros e os Grupos II e III usaram palavras idecircnticas em

menor nuacutemero Entretanto os Grupos I e III (dos mais velhos e dos mais

jovens) natildeo usaram nenhuma palavra comum que se distinguisse do

Grupo II Os resultados apontam portanto que na LIBRAS haacute variaccedilatildeo

lexical e fonoloacutegica

Como eacute possiacutevel perceber a partir dos resultados apresentados o

contato entre as pessoas surdas transforma a liacutengua de sinais que jaacute

apresenta indiacutecios de variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica entre diferentes

geraccedilotildees como acontece em qualquer liacutengua natural

Nota-se nas narrativas contadas que os surdos tecircm consciecircncia de

seu papel nas trecircs geraccedilotildees de informantes e reconhecem a influecircncia

exercida pelo contato com outros surdos e com os surdos mais velhos

Certamente o Grupo III seraacute disseminador de conhecimento

aumentando cada vez mais o interesse de outros surdos pela liacutengua de

sinais e com a expansatildeo de seu uso naturalmente outras mudanccedilas vatildeo

acontecer transformando mais uma vez a liacutengua de sinais Aleacutem disso

pode-se identificar nas narrativas de todos os sujeitos a total

consciecircncia das pessoas envolvidas no processo de ampliaccedilatildeo do espaccedilo

de conforto do surdo Eacute mais uma parte da histoacuteria surda que se registra

tendo como personagem principalmente a pesquisa sobre a variaccedilatildeo e a

mudanccedila linguiacutestica na liacutengua de sinais em Santa Catarina

Eacute importante registrar o momento de pouco acesso dos surdos agrave

pesquisa a respeito da liacutengua brasileira de sinais seja no domiacutenio

puacuteblico ou privado Assim julga-se necessaacuterio o desenvolvimento de

mais estudos e de um contato mais intenso de sujeitos surdos com as

reflexotildees e conhecimentos que satildeo produzidos sobre essa liacutengua

refletindo o que dizem os informantes surdos nas trecircs geraccedilotildees da liacutengua

de sinais Sabe-se que em parte isso ocorre porque eacute uma liacutengua

185

oficializada recentemente

Os estudos tecircm apontado atraveacutes de recentes pesquisas que a

liacutengua de sinais eacute a forma mais adequada de comunicaccedilatildeo para a

educaccedilatildeo do surdo tendo em vista que como as outras liacutenguas

humanas a liacutengua de sinais eacute uma liacutengua natural podendo servir de base

para o ensino da liacutengua escrita

Finalmente espero que os resultados desta pesquisa possam

motivar-me e motivar outras pessoas a aprofundar o tema aqui

pesquisado

186

187

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Concluiacutemos que eacute importante pesquisar sobre a histoacuteria na liacutengua

de sinais em Santa Catarina em encontros sociais ou nas associaccedilotildees de

surdo Aleacutem de aprender a liacutengua de sinais os surdos que fazem parte

dessas associaccedilotildees acabam criando uma identidade surda trocam

experiecircncias evoluindo na proacutepria liacutengua criando e valorizando o seu

espaccedilo linguiacutesticocultural

Na liacutengua de sinais aqui no Brasil acontece a mesma coisa que

se observa no portuguecircs quanto agraves regras da liacutengua que satildeo oficiais

para todo o Brasil mas vaacuterios sinais satildeo diferentes para expressar a

mesma coisa Podemos utilizar no sul do Brasil um sinal e outro

sinal totalmente diferente na regiatildeo sudeste com o mesmo

significado

Surdos se encontram em associaccedilotildees ou outros espaccedilos

culturais para poder conversar trocar experiecircncia e aprender sua

liacutengua mas com o ouvinte acontece diferente eles natildeo precisam de

um local para esses encontros isso acontece em seu dia-a-dia todos

se falam O surdo necessita marcar encontros com outros surdos

para que aconteccedila a comunicaccedilatildeo pois poucos ouvintes sabem se

comunicar em LIBRAS Eles vatildeo para a associaccedilatildeo de surdos

aprender LIBRAS e com o passar do tempo podem se tornar

biliacutengues

Haacute falta de pesquisa em variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica das

liacutenguas de sinais e sobre o desenvolvimento e o domiacutenio desta liacutengua

Nada foi registrado nas uacuteltimas deacutecadas e parece que muitos dados sobre

os sujeitos surdos e sua histoacuteria da liacutengua de sinais foram prejudicados e

perdidos

Na UFSC por exemplo temos no curso de LETRASLIBRAS

a distacircncia que eacute pioneiro uma vitoacuteria do surdo acessando a

primeira Universidade Brasileira que estuda a liacutengua de sinais e que

oferece oportunidade de acesso ao estudo e aprofundamento

linguiacutestico da LIBRAS aleacutem das trocas de sinais em diferentes

regiotildees do paiacutes

Temos um grupo de surdos responsaacuteveis por criar sinais novos

de acordo com as necessidades encontradas pelas comunidades

surdas para diminuir a influecircncia da Liacutengua Portuguesa na

LIBRAS e possibilitar outros contatos fora do Brasil trazendo

relatos de experiecircncias de comunidades surdas de outros paiacuteses bem

como apresentaccedilotildees de pesquisas mais avanccediladas nas liacutenguas de

sinais

188

Eacute importante reforccedilar que a LIBRAS eacute uma liacutengua natural pois

possui estrutura gramatical eacute utilizada por um grande grupo social com

funccedilatildeo ativa e provedora de opiniatildeo Este tipo de liacutengua soacute se diferencia

das liacutenguas orais pela forma de se comunicar pois esta utiliza a accedilatildeo

gestual o que difere das demais liacutenguas que utilizam a accedilatildeo oral na

comunicaccedilatildeo

As pessoas falam que na ilha de Santa Catarina o dialeto falado eacute

o manezinho que vem sofrendo modificaccedilotildees com o passar dos anos

devido ao turismo que eacute forte na temporada de veratildeo O professor

Francisco e a comunidade surda na deacutecada de 1950 usavam o sinal de

dactilologia no mesmo sentido da liacutengua nativa mas com dialeto

proacuteprio Depois outros surdos vieram para Santa Catarina e sinalizaram

diferentemente Isso mostra que nas duas liacutenguas ndash LIBRAS e Portuguecircs

ndash haacute variaccedilatildeo dialetal

Observando os trecircs grupos de surdos investigados nesta tese

podemos dizer que o Grupo I mostra o primeiro contato com a liacutengua de

sinais desenvolvida com pouco conhecimento linguiacutestico porque

adquirir a liacutengua de sinais em contexto social na eacutepoca era difiacutecil Mas

este Grupo I foi buscando surdos que participavam de associaccedilotildees que

estudavam na garagem da casa do professor Francisco e na Escola Celso

Ramos onde tinha o grupo de surdos aprendendo a liacutengua de sinais que

se modificava O Grupo III demonstrou mais qualidade na sinalizaccedilatildeo

da liacutengua de sinais e maior fluecircncia mas natildeo conhece alguns dos sinais

(antigos) realizados pelos Grupos I e II O contexto social dos Grupos

nas trecircs geraccedilotildees eacute bem diferente e a liacutengua de sinais do Grupo III (mais

jovens) apresentou menor nuacutemero de sinais que os demais grupos

Acreditamos que antes havia mais sinais porque eram familiares

Os resultados do trabalho mostraram que algumas variaccedilotildees e

mudanccedilas linguiacutesticas (variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na liacutengua de sinais e

variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua de sinais) aconteceram nos trecircs

grupos quando um mesmo sinal eacute produzido pelos diferentes grupos de

maneira diferente Alguns sinais que antigamente eram produzidos no

corpo agora acontecem no espaccedilo neutro na liacutengua de sinais Os grupos

mostraram sinais que antes eram produzidos com uma matildeo e agora satildeo

produzidos com ambas as matildeos ao mesmo tempo O Grupo I utilizava

sinalizaccedilatildeo manual sinais familiares (caseiros) ou aqueles aprendidos e

trazidos pelo professor Francisco do INES o que talvez explique o fato

de que este grupo tinha um nuacutemero maior de sinais para uma mesma

palavra

Concluiacutemos que os trecircs grupos de nove informantes nas

diferentes geraccedilotildees apresentaram sinais compartilhados e outros que se

189

transformaram com o tempo na liacutengua de sinais Cada grupo pertence a

um contexto social diferente A liacutengua de sinais transforma e desenvolve

o conhecimento caseiro bem como a troca de informaccedilotildees a

participaccedilatildeo na associaccedilatildeo de surdos e na busca de mais contato com

outros surdos Na escola o surdo conseguia aprender mais quando o

professor surdo (Francisco) ensinava na liacutengua de sinais e tambeacutem

quando proporcionava aos seus alunos um contato social que antes natildeo

existia

190

191

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ANEXOS

Anaacutelise Comparativa dos Dados Variaccedilatildeo e Mudanccedila Linguiacutestica

Sinais

(Leacutexico)

Forma do

Sinal

(Configuraccedilatildeo

de Matildeos)

Identificaccedilatildeo

de Classe

Faixa

Etaacuteria

(Grupo)

Geraccedilatildeo

Ajudar1

CM ndash 63

Informante

H D E F A

C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Ajudar2

CM ndash 02 63

Informante

D E B

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Ajudar3

CM ndash 01 63

Informante

H I F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Ajudar4

CM ndash 14 63

Informante

I E F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Aluno1

CM ndash 01

Informante

G I A B C

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Aluno2

CM ndash 63

Informante

G H I D B

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Amanhatilde1 CM ndash 14 Informante 60 a 80 I

200

H Anos

Amanhatilde2 CM ndash 63 Informante

E

30 a 60

Anos

II

Amanhatilde3

CM ndash 35a

Informante

I A B

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Antes1 CM ndash 53a Informante

I

60 a 80

Anos

I

Antes2 CM ndash 63 Informante

I

60 a 80

Anos

I

Antes3

CM ndash 08a 63

Informante

G E F B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Aposentar1

CM ndash 02 57

Informante

G I F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Aposentar2

CM ndash 01 11

Informante

G I F C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Aposentar3 CM ndash 07 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Associaccedilatildeo1

CM ndash 01

(2 matildeos)

Informante

G I F D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Associaccedilatildeo2

CM ndash 01

(1 matildeo)

Informante

I D E F A

B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

60 a 80

201

Aula1 CM ndash 63 Informante

G H I E D

A C

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Aviatildeo1 CM ndash 53a Informante

G

60 a 80

Anos

I

Aviatildeo2 CM ndash 36 37a Informante

E F

30 a 60

Anos

II

Aviatildeo3

CM ndash 40

Informante

D E F A B

C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Avocirc1 CM ndash 30 31 Informante

G I

60 a 80

Anos

I

Avocirc2 CM ndash 02 57 Informante

H I

60 a 80

Anos

I

Avocirc3

CM ndash 02

Informante

H I D E F

A

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Azul1 CM ndash 01 Informante

G I

60 a 80

Anos

I

A-z-u-l2 CM ndash 01 08a

14 24

Informante

G I

60 a 80

Anos

I

Azul3

CM ndash 01 08a

Informante

D E F A B

C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Bairro CM ndash 14 63 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Banco1

CM ndash 61

Informante

G H I F

60 a 80 Anos

30 a 60

Anos

I II

Banco2

CM ndash 53a

Informante

60 a 80

Anos

I II III

202

G I F C 30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

Batata1 CM ndash 62 Informante

H

60 a 80

Anos

I

Batata2 CM ndash 63 Informante

H

60 a 80

Anos

I

Branco1

CM ndash 63

Informante

H I B

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Branco2 CM ndash 35a Informante

G

60 a 80

Anos

I

Cafeacute

CM ndash 49

Informante

G F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Calma1

CM ndash 63

(2 matildeos)

Informante

G H I D E

F C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Calma2

CM ndash 63

(1 matildeo)

Informante

H I E B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Cama1 CM ndash 37a Informante

G

60 a 80

Anos

I

Cama2 CM ndash 63 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Cavalo1 CM ndash 02 Informante

H

60 a 80

Anos

I

Cavalo2 CM ndash 27 Informante

H I

60 a 80

Anos

I

Chorar1 CM ndash 14 Informante

D

30 a 60

Anos

II

203

Chorar2 CM ndash 18a Informante

H I

60 a 80

Anos

I

Crianccedila1

CM ndash 63

(pequeno)

Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Crianccedila2 CM ndash 64 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Crianccedila3

CM ndash 14 63

Informante

D E A C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Crianccedila4 CM ndash 57 63 Informante

E

30 a 60

Anos

II

Cobra1 CM ndash 14 Informante

H

60 a 80

Anos

I

Cobra2

CM ndash 31

Informante

E F A B

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Conversar1

CM ndash 14

Informante

G H F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Conversar2 CM ndash 63

(2 matildeos)

Informante

G H I D E

F A

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Conversar3 CM ndash 28 Informante

D

30 a 60

Anos

II

Conversar4 CM ndash 44 Informante

D E F

30 a 60

Anos

II

Conversar5 CM ndash 21 Informante

H

60 a 80

Anos

I

Cortar1 CM ndash 14 Informante

H

60 a 80

Anos

I

204

Cortar2 CM ndash 63 Informante

H

60 a 80

Anos

I

Cortar3

CM ndash 14 24

Informante

E B

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Cultura CM - 31 Informante

A B C

15 a 30

Anos

III

Dormir1

CM ndash 63

(1 matildeos e 2

matildeos)

Informante

G H I F C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Dormir2 CM ndash 02 47 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Dormir3

CM ndash 21 24

32

Informante

G D F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Depois1 CM ndash 53a

(2 matildeos)

Informante

H I A B C

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Depois2

CM ndash 14

Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Depois3

CM ndash 53a

(1 matildeo)

Informante

G D E F A

B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Educaccedilatildeo1 CM ndash 46a Informante

H

60 a 80

Anos

I

Educaccedilatildeo2 CM ndash 45 57 Informante

G

60 a 80

Anos

I

205

Escola1

CM ndash 63

Informante

G H I D E

F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Escola2

CM ndash 63

(duas matildeos)

Informante

D E A B C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Estudar

CM ndash 63

Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Emagrecer1 CM ndash 39 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Emagrecer2 CM ndash 47 ou 57 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Engordar1 CM ndash 02 Informante

G H

60 a 80

Anos

I

Engordar2 CM ndash 47 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Engravidar1 CM ndash 14 Informante

E

30 a 60

Anos

II

Engravidar2 CM ndash 53a Informante

H

60 a 80

Anos

I

Faacutecil1 CM ndash 63 Informante

E

30 a 60

Anos

II

Faacutecil2 CM ndash 48 Informante

I

60 a 80

Anos

I

Faacutecil3 CM ndash 35a Informante

C

15 a 30

Anos

III

Faculdade1

CM ndash 54

Informante

F A C

30 a 60

Anos

15 a 30 Anos

II III

Faculdade2 CM ndash 21 Informante

I

60 a 80

Anos

I

Faculdade3 CM ndash 55 Informante

A B

15 a 30

Anos

III

206

Falar1

CM ndash 14

Informante

G H D E F

C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Falar2

CM ndash 49

Informante

H D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Falar3

CM ndash 11

(E 1 matildeo e 2

matildeos)

Informante

G H I D E

A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Falar4 CM ndash 21 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Falar5 CM ndash 44 Informante

E

30 a 60

Anos

II

Feio1

CM ndash 08a

Informante

F B

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Feio2

CM ndash 08a

Informante

D E A

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Feio3 CM ndash 07 64 Informante

G H I

60 a 80

Anos

I

Flor1 CM ndash 57 Informante

D

30 a 60

Anos

II

Flor2 CM ndash 54 Informante

I

60 a 80

Anos

I

Forte1 CM ndash 14 Informante

F

30 a 60

Anos

II

Forte2

CM ndash 02

(2 matildeos)

Informante

G H I D C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II III

207

15 a 30

Anos

Forte3 CM ndash 32

(1 matildeo)

Informante

I

60 a 80

Anos

I

Gato1

CM ndash 08b 20

Informante

G H C

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Gato2 CM ndash 59a Informante

I

60 a 80

Anos

I

Gato3 CM ndash 20 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Gostar1 CM ndash 44 Informante

E

30 a 60

Anos

II

Gostar2 CM ndash 63 Informante

E F

30 a 60

Anos

II

Homem1

CM ndash 50

Informante

G H I D F

A B

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Homem2

CM ndash 21

Informante

H I D F C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Hospital1

CM ndash 14

(1 matildeo e 2

matildeos) cruz

Informante

H I C

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Hospiatl2

CM ndash 16

Informante

D E F B C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Igreja1 CM ndash 14

(cruz)

Informante

F

30 a 60

Anos

II

Igreja2

CM ndash 14 15

Informante

60 a 80

Anos

I II III

208

H I D E F

A B C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

Igual1

CM ndash 14

Informante

G H I D E

F B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Igual2

CM ndash 14 ( )

Informante

H B

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Igual3

CM ndash 14

(mesmo)

Informante

F C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Igual4 CM ndash 24

(1 matildeo)

Informante

G I A B C

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Igual5

CM ndash 24

(2 matildeos)

Informante

I D E F A

B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Igual6 CM ndash 53a Informante

A

15 a 30

Anos

III

Igual7

CM ndash 61

Informante

I A C

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Irmatildeo1

CM ndash 14

Informante G H D F

60 a 80

Anos 30 a 60

Anos

I II

Irmatildeo2 CM ndash 24 Informante

D E F

30 a 60

Anos

II

209

Lembrar1

CM ndash 14

Informante

G H D E A

B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Lembrar2

CM ndash 32

Informante

D E F A B

C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Limpar1 CM ndash 02 Informante

H D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Limpar2

CM ndash 64

Informante

H E

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Limpar3

CM ndash 08a

Informante

H D E F A

B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Livro1 CM ndash 63

(duas matildeos)

Informante

G

60 a 80

Anos

I

Livro2

CM ndash 63 08a

Informante

H D E F A

B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Lutar1

CM ndash 08a

Informante

I A B

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Lutar2 CM ndash 02 63 Informante

I D E A B

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II III

210

15 a 30

Anos

Matildee1

CM ndash 63

Informante

H E F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Matildee2 CM ndash 02 07 Informante

A B C

15 a 30

Anos

III

Matildee3

CM ndash 14

Informante I

D B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Matildee4 CM ndash 63

(m)

Informante

G

60 a 80

Anos

I

Matildee5

CM ndash 02

Informante

I D F A

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

M-atilde-e6 CM ndash 01 06

60

Informante

F

30 a 60

Anos

II

Matildee7 CM ndash 02 Informante

F

30 a 60

Anos

II

Mais1

CM ndash 63

Informante

G I E A B

C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Mais2

CM ndash 63

(2 matildeos)

Informante

I D E A

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos 15 a 30

Anos

I II III

Mais3 CM ndash 08a Informante

G I E F

60 a 80

Anos

I II

211

30 a 60

Anos

Mais4

CM ndash 14

Informante

I E C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Matemaacutetica1

CM ndash 02

Informante

G H I D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Matemaacutetica2

CM ndash 58

Informante

G H I F C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Meacutedico1

CM ndash 44

Informante

G F B

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Meacutedico2

CM ndash 16

Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Medo1

CM ndash 34 64

Informante

H D F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

III

Medo2 CM ndash 02 Informante

E F

30 a 60

Anos

II

Medo3 CM ndash 33 Informante

F

30 a 60

Anos

II

Melhor1

CM ndash 45

Informante

G H I E

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

212

Melhor2

CM ndash 07

Informante

H I E A B

C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Melhor3

CM ndash 63

Informante

H A C

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Morrer1 CM ndash 63 63

(2 matildeos)

Informante

H

60 a 80

Anos

I

Morrer2

CM ndash 63

Informante

H I D E F

C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Mudar1

CM ndash 07

Informante

G H E A B

C

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

30 a 60

Anos

I II III

Mudar2 CM ndash 44

(1 matildeo e 2

matildeos)

Informante

H I E F B

C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Mulher1 CM ndash 07

(menina) (oral)

Informante

H

60 a 80

Anos

I

Mulher2

CM ndash 07 63

Informante

H D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Mulher3

CM ndash 07

Informante

G I D E F

B

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II III

213

15 a 30

Anos

Noite1

CM ndash 57 44

Informante

G D F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Noite2

CM ndash 53

Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Nome1

CM ndash 21

Informante

G H I A

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Nome2

CM ndash 24

Informante

G H I D E

F A C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Noacutes1

CM ndash 14

Informante

G D E F C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Noacutes2

CM ndash 14

Informante

E A

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

N-u-n1

CM ndash 24

Informante

I D E

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

N-u-n-c-a2

CM ndash 01 24

51a

Informante

I D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

214

Nunca3

CM ndash 14

(2 matildeos)

Informante

I D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Objetivo1 CM ndash 42 58 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Objetivo2 CM ndash 14 Informante

B

15 a 30

Anos

III

Ocircnibus1 CM ndash 07 Informante

F

30 a 60

Anos

II

Ocircnibus2 CM ndash 31 Informante

I B

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Ovo1 CM ndash 44 57 Informante

I

60 a 80

Anos

I

O-v-o2 CM ndash 42 32 Informante

G H

60 a 80

Anos

I

Padre1 CM ndash 11 Informante

G

30 a 60

Anos

II

Padre2

CM ndash 21

Informante

G H D F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Padre3

CM ndash 24

Informante

I F C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

P-a-i1

CM ndash 01 11

38

Informante

G H I D E

F A

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Pai2

CM ndash 11 (p)

Informante

G H F C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II III

215

15 a 30

Anos

Pai3 CM ndash 14 Informante

G H I

60 a 80

Anos

I

Pai4

CM ndash 16

Informante

I F B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Pai5

CM ndash 02 45

Informante

E A B C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Patildeo1 CM ndash 02 47

57

Informante

H

60 a 80

Anos

I

Patildeo2 CM ndash 63 Informante

H

60 a 80

Anos

I

Patildeo3

CM ndash 01

Informante

I F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Peixe1 CM ndash 16 Informante

G I

60 a 80

Anos

I

Peixe2

CM ndash 63

Informante

I F A

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Pessoa1

CM ndash 11

Informante

G I C

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Pessoa2

CM ndash 35a

Informante

I D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Pessoa3

CM ndash 18a

Informante

F A C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

216

Pode-Natildeo1 CM ndash 14

(2 matildeos)

Informante

D E

30 a 60

Anos

II

Pode-Natildeo2 CM ndash 14

(1 matildeo)

Informante

F

30 a 60

Anos

II

Poliacutetica1 CM ndash 11 51a Informante

G I

60 a 80

Anos

I

Poliacutetica2

CM ndash 11

Informante

I E B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Poliacutetica3 CM ndash 14 Informante

D E

30 a 60

Anos

II

Porque1

CM ndash 15

Informante

G H I D F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Porque2 CM ndash 14 Informante

G H I E F

A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Povo1 CM ndash 02 64 Informante

G I

60 a 80

Anos

I

Povo2 CM ndash 11 Informante

I

60 a 80

Anos

I

P-o-v-o3 CM ndash 11 32

42

Informante

I

60 a 80

Anos

I

Preto1

CM ndash 05

Informante

G H I F B

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Preto2 CM ndash 34 62 Informante

G H I

60 a 80

Anos

I

Primeiro1

CM ndash 07 14

Informante

60 a 80

Anos

I II III

217

G I E F C 30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

Primeiro2

CM ndash 14

Informante

H F C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Primeiro3 CM ndash 14

(duas matildeos)

Informante

D

30 a 60

Anos

II

Primeiro4

CM ndash 07

Informante

F E C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Profissional

1

CM ndash 11 Informante

I

60 a 80

Anos

I

Profissional

2

CM ndash 63 Informante

C

15 a 30

Anos

III

Prova1 CM ndash 63 Informante

E

30 a 60

Anos

II

Prova2

CM ndash 53a

(duas matildeos)

Informante

E F A B C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Respeitar1 CM ndash 53a Informante

D E

30 a 60

Anos

II

Respeitar2 CM ndash 25 Informante

E F

30 a 60

Anos

II

Responsaacutevel

1

CM ndash 25

Informante

I D E B

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Responsaacutevel

2

CM ndash 25

(duas matildeos)

Informante

I D E F A

B

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II III

218

15 a 30

Anos

Responsaacutevel

3

CM ndash 63

(duas matildeos)

Informante

G I

60 a 80

Anos

I

Reuniatildeo1 CM ndash 15 Informante

D

30 a 60

Anos

II

Reuniatildeo2

CM ndash 25

Informante

D E A

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Reuniatildeo3 CM ndash 14 Informante

G H D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Saber1

CM ndash 63

Informante

D B C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Saber2

CM ndash 14

Informante

G H I D E

F A C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Saber3

CM ndash 44 53a

Informante

G H I F A

B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Saber4

CM ndash 11

Informante

E F C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Semana1 CM ndash 10 Informante

D E

30 a 60

Anos

II

Semana2 CM ndash 10 Informante

B

15 a 30

Anos

III

Semana3 CM ndash 08a 64 Informante

I

60 a 80

Anos

I

219

Sim1

CM ndash 02

Informante

H D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

S-i-m2 CM ndash 02 38

60

Informante

H I

60 a 80

Anos

I

Sim3 CM ndash 59a 63 Informante

G H

60 a 80

Anos

I

Surdo1

CM ndash 14

Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Surdo2

CM ndash 25

Informante

G I D E B

C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Tambeacutem1

CM ndash 61

Informante

G H I D E

A

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Tambeacutem2

CM ndash 14

Informante

G H I D E

F B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Tarde1 CM ndash 63 Informante

G H I

60 a 80

Anos

I

Tarde2 CM ndash 44 47

63

Informante

H

60 a 80

Anos

I

Tarde3 CM ndash 63 Informante

G H

60 a 80

Anos

I

Teatro1 CM ndash 57 Informante

I

60 a 80

Anos

I

220

Teatro2 CM ndash 49 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Tempo1

CM ndash 14

Informante

H I D E A

B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Tempo2

CM ndash 57

Informante

H I D E

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Tempo3

CM ndash 63

Informante

G I D E C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Tempo4

CM ndash 45

Informante

G D E F A

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Ter1

CM ndash 63 64

Informante

G H I D F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Ter2

CM ndash 08a

Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Tio1

CM ndash 56

Informante

H F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Tio2

CM ndash 51b

Informante

30 a 60

Anos

II III

221

D E F A B

C

15 a 30

Anos

Trabalhar1

CM ndash 08a

Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Trabalhar2

CM ndash 14

Informante

H I F A

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Trabalhar3 CM ndash 24 Informante

I

60 a 80

Anos

I

Tudo CM ndash 63

(duas matildeos)

Informante

F

30 a 60

Anos

II

Vagabundo1 CM ndash 63 Informante

E

30 a 60

Anos

II

Vagabundo2 CM ndash 64 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Ver1 CM ndash 14 Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Ver2

CM ndash 32

Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Ver3

CM ndash 64

Informante D E B C

30 a 60

Anos 15 a 30

Anos

II III

Vergonha1

CM ndash 64

Informante

60 a 80

Anos

I II

222

I E 30 a 60

Anos

Vergonha2 CM ndash 11 Informante

E

30 a 60

Anos

II

Vermelho1 CM ndash 32 Informante

G H I

60 a 80

Anos

I

Vermelho2 CM ndash 14 Informante

G H I

60 a 80

Anos

I

Viajar1 CM ndash 63 Informante

D E F

30 a 60

Anos

II

Viajar2 CM ndash 45 Informante

F

30 a 60

Anos

II

WC CM ndash 48 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Palavras no total 255 sinais lexicais

Palavra Ajudar 4 Sinais Palavra Mais 4 Sinais

Palavra Aluno 2 Sinais Palavra Matemaacutetica 2 Sinais

Palavra Amanhatilde 3 Sinais Palavra Meacutedico 2 Sinais

Palavra Antes 3 Sinais Palavra Medo 3 Sinais

palavra Aposentar 3 Sinais Palavra Melhor 3 Sinais

Palavra Associaccedilatildeo 2 Sinais Palavra Morrer 2 Sinais

Palavra Aula 1 Sinal Palavra Mudar 2 Sinais

Palavra Aviatildeo 3 Sinais Palavra Mulher 3 Sinais

Palavra Avocirc 3 Sinais Palavra Noite 2 Sinais

Palavra Azul 3 Sinais Palavra Nome 2 Sinais

Palavra Bairro 1 Sinal Palavra Noacutes 2 Sinais

Palavra Banco 2 Sinais Palavra Nunca 3 Sinais

Palavra Batata 2 Sinais Palavra Objetivo 2 Sinais

Palavra Branco 2 Sinais Palavra Ocircnibus 2 Sinais

Palavra Cafeacute 1 Sinal Palavra Ovo 2 Sinais

Palavra Calma 2 Sinais Palavra Padre 3 Sinais

Palavra Cama 2 Sinais Palavra Pai 5 Sinais

Palavra Cavalo 2 Sinais Palavra Patildeo 3 Sinais

Palavra Chorar 2 Sinais Palavra Peixe 2 Sinais

Palavra Crianccedila 4 Sinais Palavra Pessoa 3 Sinais

Palavra Cobra 2 Sinais Palavra Pode-natildeo 2 Sinais

Palavra Conversar 5 Sinais Palavra Poliacutetica 3 Sinais

Palavra Cortar 3 Sinais Palavra Porque 2 Sinais

223

Palavra Cultura 1 Sinal Palavra Povo 3 Sinais

Palavra Dormir 3 Sinais Palavra Preto 2 Sinais

Palavra Depois 3 Sinais Palavra Primeiro 4 Sinais

Palavra Educaccedilatildeo 2 Sinais Palavra Profissional 2 Sinais

Palavra Escola 2 Sinais Palavra Prova 2 Sinais

Palavra Estudar 1 Sinal Palavra Respeitar 2 Sinais

Palavra Emagrecer 2 Sinais Palavra Responsaacutevel 3 Sinais

Palavra Engordar 2 Sinais Palavra Reuniatildeo 3 Sinais

Palavra Engravidar 2 Sinais Palavra Saber 4 Sinais

Palavra Faacutecil 3 Sinais Palavra Semana 3 Sinais

Palavra Faculdade 3 Sinais Palavra Sim 3 Sinais

Palavra Falar 5 Sinais Palavra Surdo 2 Sinais

Palavra Feio 3 Sinais Palavra Tambeacutem 2 Sinais

Palavra Flor 2 Sinais Palavra Tarde 3 Sinais

Palavra Forte 3 Sinais Palavra Teatro 2 Sinais

Palavra Gato 3 Sinais Palavra Tempo 4 Sinais

Palavra Gostar 2 Sinais Palavra Ter 2 Sinais

Palavra Homem 2 Sinais Palavra Tio 2 Sinais

Palavra Hospital 2 Sinais Palavra Trabalhar 3 Sinais

Palavra Igreja 2 Sinais Palavra Tudo 1 Sinal

Palavra Igual 7 Sinais Palavra Vagabundo 2 Sinais

Palavra Irmatildeo 2 Sinais Palavra Ver 3 Sinais

Palavra Lembrar 2 Sinais Palavra Vergonha 2 Sinais

Palavra Limpar 3 Sinais Palavra Vermelho 2 Sinais

Palavra Livro 2 Sinais Palavra Viajar 2 Sinais

Palavra Lutar 2 Sinais Palavra WC 1 Sinal

Palavra Matildee 7 Sinais

224

225

AS CONFIGURACcedilOtildeES DE MAtildeOS

Cm 01

Cm 02

Cm 03

Cm 04

Cm 05

Cm 06

Cm 07

Cm 08a

Cm 08b

Cm 09

Cm 10

Cm 11

Cm 12

Cm 13

Cm 14

Cm 15

Cm 16

Cm 17

Cm 18a

Cm 18b

Cm 19

Cm 20

Cm 21

Cm 22a

Cm 22b

Cm 23

Cm 24

Cm 25

Cm 26

Cm 27

226

Cm 28

Cm 29a

Cm 29b

Cm 30

Cm 31

Cm 32

Cm 33

Cm 34

Cm 35a

Cm 35b

Cm 36

Cm 37a

Cm 37b

Cm 38

Cm 39

Cm 40

Cm 41

Cm 42

Cm 43

Cm 44

Cm 45

Cm 46a

Cm 46b

Cm 47

Cm 48

Cm 49

Cm 50

Cm 51a

Cm 51b

Cm 52

Cm 53a

Cm 53b

Cm 54

Cm 55

Cm 56

227

Cm 57

Cm 58

Cm 59a

Cm 60

Cm 61

Cm 62

Cm 63

Cm 64

228

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA · 2016. 3. 5. · período já referido. A partir da teoria laboviana, analisam-se certos padrões sociolinguísticos verificados nesta pesquisa

ldquoOs procedimentos da linguiacutestica descritiva se

baseiam no entendimento de que a liacutengua eacute um

conjunto estruturado de normas sociais No

passado foi uacutetil considerar que tais normas eram

invariantes e compartilhadas por todos os

membros da comunidade linguiacutestica Todavia as

anaacutelises do contexto social em que a liacutengua eacute

utilizada vieram demonstrar que muitos

elementos da estrutura linguiacutestica estatildeo

implicados na variaccedilatildeo sistemaacutetica que reflete

tanto a mudanccedila no tempo quanto os processos

sociais extralinguumliacutesticosrdquo (LABOV 1968 p

241)

ldquoQuando eu aceito a liacutengua de outra pessoa eu

aceitei a pessoa Quando eu rejeito a liacutengua eu

rejeitei a pessoa porque a liacutengua eacute parte de noacutes

mesmos Quando eu aceito a Liacutengua de Sinais

eu aceito o surdo e eacute importante ter sempre em

mente que o surdo tem o direito de ser surdo

Devemos ensinaacute-los ajudaacute-los mas temos que

permitir-lhe ser surdordquo (TERJE BASILIER

psiquiatra norueguecircs)

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais por terem me acompanhado e me dado forccedila para

essa caminhada

A minha amada esposa por ter paciecircncia comigo durante todos

esses anos

Aos meus filhos Eduardo Espiacutendola Schmitt e Mocircnica Espiacutendola

Schmitt que sofreu juntamente com minha esposa cuidando dele nas

cansativas muito correria de trabalho por motivo de paciecircncia comigo

durante do estudo e trabalho

Ao Sr Francisco Lima Juacutenior guerreiro no movimento de surdos

pela primeira escola e associaccedilatildeo que marca o registro histoacuterico na

liacutengua de sinais sofreram a mudanccedila o tempo em Santa Catarina

A Associaccedilatildeo de Surdos da Grande Florianoacutepolis Sociedade de

Surdos de Satildeo Joseacute Universidade Federal de Santa Catarina

Universidade do Estado de Santa Catarina Grupo de Estudos Surdos e

Comunidade Surda pelo seu apoio

Agrave professora Dra Izete Lehmkul Coelho (UFSC) pela sua

orientaccedilatildeo de pesquisa na aacuterea em sociolinguiacutestica e me dava a

disciplina no estudo referecircncia teoacuterico

Ao meu co-orientador Dr Tarciacutesio de Arantes Leite pela sua

orientaccedilatildeo muito detalhe no estudo as liacutenguas de sinais

Aos colegas de LetrasLIBRAS pelo incentivo e forccedila de vontade

no compartilhamento das experiecircncias no estudo linguiacutestico dos surdos

A Dra Ronice Muller de Quadros abriu a oportunidade de espaccedilo

acadecircmico na liacutengua de sinais na Universidade Federal de Santa

Catarina ndash UFSC

A Prof Dra Edair Maria Goumlrski convidado especial na disciplina

sociolinguiacutestica na banca de examinadora e antes tambeacutem esteve na

minha qualificaccedilatildeo em 2012

Aos colegas surdos na faixa etaacuteria que compartilharam comigo

durante as entrevistas de gravaccedilotildees sobre a histoacuteria de surdos em Santa

Catarina

A CAPES e REUNI pelo fornecimento de bolsa no programa de

poacutes-graduaccedilatildeo - PGL oferecendo-me a oportunidade de desenvolver

meu estudo e pesquisa

Convidado especial nas bancas de examinadoras Fabiacuteola Sucupira

Ferreira Sell Karin Liacutelian Strobel e Lodenir Becker Karnopp membro e

suplente Aline Lemos Pizzio e Suelli Costa

Aacutes colegas Edgar Correa Veras Nataacutelia Schleder Rigo e Tiago

Coimbra Nogueira que me interpretaram na banca de qualificaccedilatildeo em

2012 Daniela Bieleski Diego Mauricio Barbosa e Gisele Iandra Pessini

Anater que me interpretaram na banca avaliaccedilatildeo de defesa

A Maria Eloiza de Macedo por nos ajudar com discussotildees na

revisatildeo e pela paciecircncia e comprometimento e

Apoio a ediccedilatildeo de filmagem satildeo Marcos Luchi Joatildeo Paulo

Ampessan e Marcos Alexandre Marquioto

RESUMO

Esta pesquisa visa identificar possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas

linguiacutesticas ocorridas na Liacutengua Brasileira de Sinais (LIBRAS) no periacuteodo

histoacuterico de 1946 a 2010 analisando narrativas filmadas de trecircs geraccedilotildees de

sujeitos surdos usuaacuterios dessa liacutengua O Grupo I eacute formado por indiviacuteduos

com mais de 60 anos o Grupo II por indiviacuteduos de 30 a 60 anos o Grupo

III eacute formado por indiviacuteduos de 15 a 30 anos Na primeira parte do trabalho

apresentamos uma revisatildeo de base teoacuterico-metodoloacutegica fundamentada nos

estudos de Labov (2008 [1972]) sobre mudanccedilas linguiacutesticas no contexto

social observadas em tempo aparente na ilha de Martha‟s Vineyard e em

Nova York A concepccedilatildeo da variaccedilatildeo sociolinguiacutestica pode nos ajudar nesta

investigaccedilatildeo que versa sobre a histoacuteria da LIBRAS em Santa Catarina no

periacuteodo jaacute referido A partir da teoria laboviana analisam-se certos padrotildees

sociolinguiacutesticos verificados nesta pesquisa Considera-se o fato de apenas

uma pessoa ter influenciado toda uma comunidade de surdos em Santa

Catarina o professor Francisco Lima Juacutenior que veio do Rio de Janeiro

para Florianoacutepolis em 1946 Baseando-nos nesta data escolhemos o periacuteodo

acima citado para traccedilar um percurso de possiacuteveis transformaccedilotildees

linguiacutesticas de natureza interna e externa ocorridas na LIBRAS em Santa

Catarina Os resultados desta pesquisa apontam que haacute variaccedilatildeo e mudanccedila

em tempo aparente na LIBRAS relacionando o contexto linguiacutestico atual

dos jovens (Grupo III) a transformaccedilotildees histoacutericas e sociais observadas na

comunidade surda em Santa Catarina

Palavras-chave Histoacuteria da LIBRAS sociolinguiacutestica soacutecio-histoacuterico

variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas

ABSTRACT

This research aims to identify eventual linguistic variations and

changes in Brazilian Sign Language (LIBRAS) in the period from 1946 to

2010 through the analysis of the filmed narratives of three generations of

deaf people users of that language Group I is formed by individuals over

60 years-old Group II by individuals between 30 and 60 years-old and

Group III individuals between 15 and 30 years-old In the first part of this

research we present a theoretical-methodological review based on the

studies of Labov (2008 [1972]) about the social context of changes

observed in apparent time in Martha‟s Vineyard and in New York City We

believe the theory of language variation and change can help us in this

research which deals with the history of LIBRAS in Santa Catarina in the

period mentioned above Based on Labov‟s theory we analize certain

sociolinguistic patterns that were verified in this research We consider the

fact that only one person had influence on a whole deaf community in its

linguistic development teacher Francisco Lima Juacutenior who came from Rio

de Janeiro to Florianoacutepolis in 1946 Considering this date we chose the

period from 1946 to 2010 to trace back the path of eventual linguistic

transformations both internal and external in LIBRAS in Santa Catarina

We expect that in the outcome of this research there is variation and change

in apparent time of LIBRAS relating the present context linguistic to youth

(Group III) to the historical and social transformations observed the deaf

community in Santa Catarina

Keywords History of LIBRAS sociolinguistics sociohistory language

variation and change

RESUMEN

El objetivo de esta investigacioacuten es identificar posibles variaciones y

cambios linguiacutesticos ocurridos en la Lengua Brasilentildea de Sentildeales

(LIBRAS) en el periodo comprendido entre 1946 y 2010 analizando

narrativas grabadas de tres generaciones de individuos sordos usuarios de

esa lengua El Grupo I esta formado por individuos con maacutes de 60 antildeos el

Grupo II por individuos de 30 a 60 antildeos el Grupo III es formado por

individuos de 15 a 30 antildeos Se presenta en la primera etapa de la

investigacioacuten un repaso teoacuterico-metodoloacutegico fundamentado en los estudios

de Labov (2008 [1972]) acerca de cambios linguiacutesticos en el contexto

social observados en tiempo aparente en la Isla de Martha‟s Vineyard y en

Nueva York La concepcioacuten de la variacioacuten sociolinguiacutestica nos puede

ayudar en este estudio el cual trata de la historia de la LIBRAS en Santa

Catarina en el periodo mencionado A partir de la teoriacutea laboviana se

analizan ciertos patrones sociolinguiacutesticos verificados en esta investigacioacuten

Se considera el hecho de solo una persona haber influenciado toda la

comunidad de sordos en Santa Catarina el profesor Francisco Lima Juacutenior

que partioacute del Rio de Janeiro para Florianoacutepolis en el antildeo de 1946 Con base

en esta fecha elegimos el periodo antes mencionado para disentildear una

trayectoria de las posibles transformaciones linguiacutesticas de caraacutecter interno

y externo ocurridas en la lengua de sentildeales en Santa Catarina Se espera que

los resultados de esta investigacioacuten indiquen que existe una variacion y

cambio en el tiempo aparente en LIBRAS relacionando el contexto

linguiacutesticas actual a joacutevenes (Grupo III) las transformaciones historicas y

sociales observados la comunidad sorda de Santa Catarina

Palabras-clave Historia de la LIBRAS sociolinguiacutestica sociohistorio

variacioacuten y cambio linguiacutesticos

LISTA DE ABREVIATURAS

ACT ndash Admissatildeo em Caraacuteter Temporaacuterio

ASL ndash Liacutengua de Sinais Americana

ASURJ ndash Associaccedilatildeo dos Surdos de Rio de Janeiro

BESC ndash Banco do Estado de Santa Catarina

BSL ndash Liacutengua de Sinais Britacircnica

CAPES ndash Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel

Superior

CELESC ndash Centrais Eleacutetricas de Santa Catarina SA

CSMSC ndash Ciacuterculo de Surdos-Mudos de Santa Catarina

FCEE ndash Fundaccedilatildeo Catarinense de Educaccedilatildeo Especial

FENEIS ndash Federaccedilatildeo Nacional de Educaccedilatildeo e Integraccedilatildeo dos Surdos

FUTSAL ndash Futebol de Salatildeo

IATEL ndash Instituto de Audiccedilatildeo e Terapia da Linguagem

INES ndash Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos

INSM ndash Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos-Mudos

IPS ndash Instituto Paulista de Surdos

LIBRAS ndash Liacutengua Brasileira de Sinais

LSB ndash Liacutengua de Sinais Brasileiras

LSF ndash Liacutengua de Sinais Francesa

MEC ndash Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

NEESPI ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo Especial e Inclusiva

PGL ndash Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica

REUNI ndash Programa de Apoio a Planos de Reestruturaccedilatildeo e Expansatildeo

das Universidades Federais Brasileiras

UFSC ndash Universidade Federal de Santa Catarina

UNIVALI ndash Universidade do Vale do Itajaiacute

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 ndash Sinal de Matildee35

Figura 02 ndash Sinal de Matildee37

Figura 03 ndash Retirado do livro de GROCE Nora Ellen Everyone Here

Spoke Sign Language Hereditary Deafness on Martha‟s Vineyard

Printed in the United States of America 195244

Figura 04 ndash Retirado do livro de LABOV Willian Padrotildees

Sociolinguiacutesticos45

Figura 05 ndash Retirado no site

httpcawikipediaorgwikiMartha27s_Vineyard45

Figura 06 ndash O trapezoacuteide das vogais a flecha indica a direccedilatildeo de

movimento do primeiro elemento de (aw)62

Figura 07 ndash Sinal de Porco67

Figura 08 ndash Abade L‟Epeacutee ensinando os surdos na liacutengua de sinais

francesa72

Figura 09 ndash Acervo na Revista da FENEIS81

Figura 10 ndash Acervo de Ana Regina e Souza Campello ndash UFSC83

Figura 11 ndash Acervo da Heloise Gripp Diniz ndash UFSC 0184

Figura 12 ndash Acervo da Heloise Gripp Diniz ndash UFSC 0284

Figura 13 ndash Acervo do Francisco - eacute o primeiro dicionaacuterio na liacutengua de

sinais em Santa Catarina em 194793

Figura 14 ndash Acervo do Profdeg Francisco - fotografia de Jornal que traz

reportagem sobre o livro ldquoLinguagem das Matildeosrdquo96

Figura 15 ndash Mostrar os Sinais106

Figura 16 ndash Variaccedilatildeo Fonoloacutegica108

Figura 17 ndash Mostrar os sinais com uma matildeo e com duas matildeos108

Figura 18 ndash Sinal de Paacutessaro110

Figura 19 e 20 ndash Ferreira-Brito e Langevin112

Figura 21 ndash httpwwwinesgovbrlibrasprincipalaspASSU_id=3112

Figura 22 ndash Quadro de CMs da LSB por Pimenta e Quadros112

Figura 23 ndash Sinal - ldquoCultura em SCrdquo115

Figura 24 ndash Sinal - ldquoCultura em SPrdquo115

Figura 25 ndash Sinal - ldquoCultura em RJrdquo115

Figura 26 ndash Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo ndash Depto Educaccedilatildeo

Especial ndash CuritibaPR SEEDSUEDDEE117

Figura 27 ndash Sinal de Ajudar118

Figura 28 ndash Sinal de Faltar119

Figura 29 ndash Sinal de Ocircnibus119

Figura 30 ndash Sinal de Sonhar119

Figura 31 CM ndash 01 11154

Figura 32 CM ndash 02 57154

Figura 33 CM ndash 07155

Figura 34 CM ndash 01 11154

Figura 35 CM ndash 02 57154

Figura 36 CM ndash 01 11154

Figura 37 CM ndash 53a156

Figura 38 CM ndash 36156

Figura 39 CM ndash 37a156

Figura 40 CM ndash 40156

Figura 41 CM ndash 40156

Figura 42 CM ndash 02157

Figura 43 CM ndash 14158

Figura 44 CM ndash 63158

Figura 45 CM ndash 02157

Figura 46 CM ndash 14158

Figura 47 CM ndash 63158

Figura 48 CM ndash 02 07157

Figura 49 CM ndash 14158

Figura 50 CM ndash 11159

Figura 51 CM ndash 14160

Figura 52 CM ndash 16160

Figura 53 CM ndash 16159

Figura 54 CM ndash 02 45160

Figura 55 CM ndash 11 38159

Figura 56 CM ndash 16160

Figura 57 CM ndash 02 45160

Figura 58 CM ndash 11 51a162

Figura 59 CM ndash 11162

Figura 60 CM ndash 14162

Figura 61 CM ndash 11162

Figura 62 CM ndash 34 62163

Figura 63 CM ndash 05163

Figura 64 CM ndash 05163

Figura 65 CM ndash 05163

Figura 66 CM ndash 14164

Figura 67 CM ndash 25164

Figura 68 CM ndash 14164

Figura 69 CM ndash 15165

Figura 70 CM ndash 25164

Figura 71 CM ndash 08a 64166

Figura 72 CM ndash 10166

Figura 73 CM ndash 10166

Figura 74 CM ndash 10166

Figura 75 CM ndash 53a168

Figura 76 CM ndash 61168

Figura 77 CM ndash 53a168

Figura 78 CM ndash 61168

Figura 79 CM ndash 53a168

Figura 80 CM ndash 07 64169

Figura 81 CM ndash 08a169

Figura 82 CM ndash 08a169

Figura 83 CM ndash 16170

Figura 84 CM ndash 44170

Figura 85 CM ndash 16170

Figura 86 CM ndash 44170

Figura 87 CM ndash 16170

Figura 88 CM ndash 21171

Figura 89 CM ndash 24171

Figura 90 CM ndash 24171

Figura 91 CM ndash 24171

Figura 92 CM ndash 14172

Figura 93 CM ndash 15173

Figura 94 CM ndash 14172

Figura 95 CM ndash 15173

Figura 96 CM ndash 14172

Figura 97 CM ndash 53a 63175

Figura 98 CM ndash 08a175

Figura 99 CM ndash 08a175

Figura 100 CM ndash 08a175

Figura 101 CM ndash 63177

Figura 102 CM ndash 14 24177

Figura 103 CM ndash 14177

Figura 104 CM ndash 14177

Figura 105 CM ndash 24177

Figura 106 CM ndash 24177

Figura 107 CM ndash 62180

Figura 108 CM ndash 24180

Figura 109 CM ndash 21181

Figura 110 CM ndash 11180

Figura 111 CM ndash 24180

Figura 112 CM ndash 21181

Figura 113 CM ndash 24180

Figura 114 CM ndash 63182

Figura 115 CM ndash 08a182

Figura 116 CM ndash 63182

Figura 117 CM ndash 08a182

Figura 118 CM ndash 08a182

LISTA DE QUADROS

Quadro 01 Sinal de Aposentar155

Quadro 02 Sinal de Aviatildeo156

Quadro 03 Sinal de Matildee158

Quadro 04 Sinal de Pai160

Quadro 05 Sinal de Poliacutetica162

Quadro 06 Sinal de Preto163

Quadro 07 Sinal de Reuniatildeo165

Quadro 08 Sinal de Semana166

Quadro 09 Sinal de Banco168

Quadro 10 Sinal de Feio169

Quadro 11 Sinal de Meacutedico170

Quadro 12 Sinal de Nome171

Quadro 13 Sinal de Porque173

Quadro 14 Sinal de Antes175

Quadro 15 Sinal de Cortar177

Quadro 16 Sinal de Padre181

Quadro 17 Sinal de Ter182

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 Centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por grupos

ocupacionais51

Tabela 02 Centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por faixa etaacuteria51

Tabela 03 Distribuiccedilatildeo geograacutefica da centralizaccedilatildeo53

Tabela 04 Cruzamento de fatores 6 falantes com o maior grau de

centralizaccedilatildeo55

Tabela 05 Centralizaccedilatildeo por grupos eacutetnicos56

Tabela 06 Centralizaccedilatildeo e atitude com relaccedilatildeo a Martha‟s Vineyard58

Tabela 07 A escala em tempo aparente eacute chamada de ldquogradaccedilatildeo

etaacuteriardquo61

Tabela 08 Mudanccedila de (aw) e (ay) em tempo aparente atraveacutes de duas

geraccedilotildees em Martha‟s Vineyard62

Tabela 09 Preliminar dos dados ndash variaccedilotildees ou mudanccedilas

linguiacutesticas151

SUMAacuteRIO

Introduzindo a pesquisa na liacutengua de sinais25 CAPIacuteTULO I ndash Delimitaccedilatildeo do objeto de pesquisa31

11 Introduccedilatildeo31

12 Mudanccedilas histoacutericas na LIBRAS e variaccedilotildees linguiacutesticas de

1946 a 2010 em Santa Catarina31

13 Objetivo Geral33

14 Objetivos especiacuteficos33

15 Questotildees e Hipoacuteteses de pesquisa na liacutengua de sinais37

CAPIacuteTULO II ndash Pressupostos teoacuterico-metodoloacutegicos da sociolinguiacutestica

laboviana39

21 Introduccedilatildeo39

22 A liacutengua em seu contexto social40

221 LABOV pesquisador pioneiro em sociolinguiacutestica40

222 A Ilha de Martha‟s Vineyard42

223 Seleccedilatildeo da variaacutevel linguiacutestica47

224 Distribuiccedilatildeo por idade e tempo50

225 Uma explicaccedilatildeo possiacutevel para o aumento da centralizaccedilatildeo52

226 A interaccedilatildeo de padrotildees linguiacutesticos e sociais54

23 Os princiacutepios da mudanccedila linguiacutestica59

231 A idade e a variaccedilatildeo estaacutevel60

232 A idade e a mudanccedila linguiacutestica61

233 Aplicando os conhecimentos da sociolinguiacutestica64

CAPIacuteTULO III ndash A histoacuteria social da liacutengua69

31 Introduccedilatildeo69

32 Charles Michel de LEpeacutee - Instituto Nacional de Surdos-Mudos

em Paris69

33 Eacutedouard Huet ndash Instituto Nacional Educaccedilatildeo de Surdos

(INESRJ)74

34 Francisco Lima Juacutenior - O Primeiro Professor Surdo na liacutengua

de sinais em Santa Catarina87

CAPIacuteTULO IV ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila na liacutengua de sinais101

41 Introduccedilatildeo101

42 A liacutengua de sinais pelo surdo indiacutecios de variaccedilatildeo e mudanccedila

linguiacutestica101

43 As variaccedilotildees linguiacutesticas na liacutengua de sinais116

44 O surdo se comunica a liacutengua de sinais no contexto social118

CAPIacuteTULO V ndash Metodologia121

51 Introduccedilatildeo121

52 A coleta de dados123

53 O meacutetodo de entrevista sociolinguiacutestica a coleta de narrativas

de experiecircncia pessoal124

54 A transcriccedilatildeo de dados dos trecircs grupos compostos de

informantes surdos na liacutengua de sinais126

55 Informantes do grupo surdo na liacutengua de sinais126

56 Descriccedilatildeo dos informantes quanto aos dados129

561 Grupo I - Informantes130

5611 Informante G130

5612 Informante H132

5613 Informante I134

562 Grupo II - Informantes135

5621 Informante D136

5622 Informante E137

5623 Informante F139

563 Grupo III - Informantes140

5631 Informante A140

5632 Informante B141

5633 Informante C143

564 ndash Algumas consideraccedilotildees finais146

CAPITULO VI ndash Descriccedilatildeo e anaacutelise dos resultados149

61 Introduccedilatildeo149

62 A comparaccedilatildeo dos dados o grupo de trecircs geraccedilotildees de surdos na

liacutengua de sinais149

63 Variaccedilatildeo e Mudanccedila lexical na Liacutengua Brasileira de Sinais152

64 Variaccedilatildeo e Mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua Brasileira de

Sinais173

65 O que dizem os resultados das trecircs geraccedilotildees dos informantes na

Liacutengua Brasileira de Sinais 183

Consideraccedilotildees Finais187

Referecircncias Bibliograacuteficas191

Anexos199

25

Introduzindo a pesquisa na liacutengua de sinais

Sou Surdo Pretendo investigar a variaccedilatildeo e a mudanccedila linguiacutestica

na liacutengua de sinais como trabalho final do curso de poacutes-graduaccedilatildeo em

Linguiacutestica niacutevel Doutorado e aprofundar os conceitos adquiridos no

meu mestrado Realizei a defesa do mestrado em 2008 na UFSC O

estudo foi feito na linha de pesquisa em Educaccedilatildeo e Processos

Inclusivos O tema abordado foi ldquoContextualizaccedilatildeo da Trajetoacuteria dos

Surdos e Educaccedilatildeo de Surdos em Santa Catarinardquo

Iniciei no mestrado pesquisando a Educaccedilatildeo de Surdos em SC

Como natildeo haacute documentaccedilatildeo histoacuterica busquei atraveacutes do depoimento

do professor surdo Francisco1 e tambeacutem de documentos e fotografias

que ele tinha resgatar um pouco da trajetoacuteria da Educaccedilatildeo de Surdos em

SC

Aquela pesquisa visava introduzir as narrativas de sujeitos surdos

no que tange a sua histoacuteria memoacuteria e identidade Minha posiccedilatildeo eacute que

atraveacutes dela eacute possiacutevel conseguir elucidar a caminhada realizada pelos

surdos de Santa Catarina E tambeacutem atraveacutes de narrativas captadas com

o professor Francisco Lima Juacutenior (Chiquito) e de alguns de seus ex-

alunos bem como de alguns dados de Jornais fotos e filmagens

consegue-se chegar a escrever a histoacuteria do movimento surdo de Santa

Catarina com respeito agrave organizaccedilatildeo e agrave educaccedilatildeo de surdos O tema foi

muito amplo para pesquisar no mestrado Entatildeo optei por pesquisar a

parte histoacuterica da liacutengua de sinais no mestrado e a parte linguiacutestica no

doutorado numa perspectiva sociolinguiacutestica

Na pesquisa de mestrado percebi que apareceram sinais

diferentes no depoimento de dois surdos que sinalizaram sobre a

Educaccedilatildeo de surdos Refleti sobre esses sinais diferentes e natildeo

conseguia explicaacute-los Entatildeo realizei o projeto de doutorado para

entender melhor essa diferenccedila de sinais estudando um tema mais

1 SCHMITT (2008) dissertaccedilatildeo de mestrado na UFSC Em 1928 nasceu em FlorianoacutepolisSC e inicia a vida de Francisco Lima Juacutenior Em 1937 a 1946 no INSMRJ Francisco inicia seus

estudos No ano de 1947 primeiro espaccedilo de educaccedilatildeo de surdos na garagem na casa dos pais

(Francisco) Em 1954 o encontro de surdos organiza a fundaccedilatildeo do Ciacuterculo Surdos-Mudos em Santa Catarina ndash CSMSC Em 1955 funda o Ciacuterculo Surdos-Mudos em Santa Catarina ndash

CSMSC e tambeacutem foi delegado na regiatildeo do sul Em 1960 teve iniacutecio o governo de Celso

Ramos Em 1963 iniciou a construccedilatildeo Escola Governador Celso Ramos Em 1964 a primeira turma de surdos na Escola Governador Celso Ramos Ex-alunos Surdos na primeira Turma

Escola Governador Celso Ramos em 1964 e 1969 Fundado em 25 de marccedilo de 1969 o

Instituto de Audiccedilatildeo e Terapia da Linguagem ndash IATEL e em 1997 o Francisco entregou o documento no Ciacuterculo Surdos-Mudos em Santa Catarina ndash CSMSC para a Sandra L Amorim e

atualmente ASGF Isso foi apresentado a minha pesquisa de biografia

26

especiacutefico ldquoA Histoacuteria da Liacutengua de Sinais em Santa Catarina

Contextos soacutecio-histoacutericos e sociolinguiacutesticos de surdos de 1946 a

2010rdquo

O trabalho de coleta de dados para esta pesquisa acontece em

forma de relatos filmados sobre a histoacuteria e as experiecircncias de vida de

cada indiviacuteduo em liacutengua de sinais de trecircs geraccedilotildees nas seguintes faixas

etaacuterias o Grupo I eacute formado por indiviacuteduos com mais de 60 anos o

Grupo II por indiviacuteduos de 30 a 60 anos e o Grupo III eacute formado por

indiviacuteduos de 15 a 30 anos Pretende-se investigar nos dados de que

dispomos se aconteceu alguma transformaccedilatildeo linguiacutestica e em caso

positivo qual foi esta transformaccedilatildeo Se a economia a poliacutetica a

questatildeo social e cultural influenciam as mudanccedilas linguiacutesticas que

ocorrem e quais as possiacuteveis influecircncias que estes fatores tiveram em

relaccedilatildeo agraves mudanccedilas na liacutengua de sinais de Santa Catarina no periacuteodo

de 1946 a 2010

A pesquisa e a leitura de histoacuterias da liacutengua de sinais no mundo

no Brasil e em Santa Catarina em diferentes comunidades surdas

propiciaratildeo um maior conhecimento linguiacutestico e melhor entendimento

das diferentes culturas surdas Jaacute posso adiantar que as narrativas

coletadas contadas e vividas pelos trecircs grupos pesquisados em

diferentes momentos da sociedade brasileira ampliaram minha forma de

ver e perceber o mundo

Meu estudo de pesquisa no mestrado apresentou dados sobre a

histoacuteria da liacutengua de sinais de Santa Catarina e as dificuldades

encontradas da comunidade surda nos contatos sociais das vaacuterias regiotildees

de Santa Catarina e ateacute mesmo com outros estados (PR RS SP RJ e

MG) Acredita-se que a ampliaccedilatildeo de sinais aqui em Santa Catarina teve

a influecircncia do professor Francisco Lima Juacutenior porque ele estudou no

INESRJ (Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos) e no IPSSP

(Instituto Paulista de Surdos) e trouxe sinais utilizados nesses estados

aleacutem de outros sinais aprendidos em contatos com surdos de outros

estados (PR RS SP RJ e MG) e ensinou tais sinais aos seus alunos

surdos enriquecendo assim a liacutengua de sinais

Ateacute agora as pesquisas sobre a liacutengua de sinais em Santa Catarina

natildeo tecircm registro da histoacuteria do sujeito surdo na escola e nem nas

associaccedilotildees de surdos ou na comunidade surda na deacutecada de 1950 Pela

pesquisa percebi que antes da vinda do professor Francisco para Santa

Catarina natildeo havia registrodocumentaccedilatildeo sobre a liacutengua de sinais A

histoacuteria que pesquisei sobre a liacutengua de sinais em Santa Catarina surge

de conversas com o professor Francisco e com outros indiviacuteduos surdos

Atualmente haacute mais registros sobre a liacutengua de sinais mas ainda eacute

27

muito pouco pois eacute uma liacutengua na modalidade visual espacial e sua

forma de registro ainda eacute precaacuteria A histoacuteria da liacutengua de sinais tem sido narrada por instituiccedilotildees de

indiviacuteduos ouvintes uma dessas eacute o INESRJ onde estudou o professor

Francisco Essas narraccedilotildees tecircm como base a educaccedilatildeo oralista que natildeo

utilizava nenhum tipo de sinalizaccedilatildeo e a comunidade surda que

utilizava a LIBRAS natildeo deixou informaccedilotildeesregistros sobre a histoacuteria da

comunidade surda daquela eacutepoca (1940) O pouco que ficou eacute

superficial deixando de mostrar informaccedilotildees de maior valor sobre esta

liacutengua que eacute muito importante para que com os registros possamos

entender melhor as variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas que ocorreram e

ocorrem Para isso eacute preciso que indiviacuteduos surdos pesquisem sobre a

histoacuteria cultura identidade e liacutengua de sinais da comunidade surda

Os dados desta pesquisa considerados importantes foram

analisados com o objetivo principal de pesquisar as variaccedilotildees e

possiacuteveis mudanccedilas em tempo aparente na liacutengua de sinais em Santa

Catarina atraveacutes das narrativas de sujeitos surdos

Percebi que o professor Francisco influenciou a liacutengua de sinais

em Santa Catarina e resgatando parte da histoacuteria dessa liacutengua pesquisei

variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas no periacuteodo de 1946 ateacute a

atualidade (2010) A falta de pesquisa histoacuterica da liacutengua de sinais

2 entre 1930 a

1980 no Brasil com referecircncia agrave variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica com o

foco no estudo sociolinguiacutestico e soacutecio-histoacuterico dificultou vislumbrar

o desenvolvimento desta liacutengua durante esse periacuteodo as mudanccedilas

ocorridas e o uso da liacutengua de sinais pela comunidade surda Natildeo houve

registro de pesquisa sobre este tema na liacutengua de sinais atraveacutes de

registro espaccedilo-visual (filmagem viacutedeos fotos etc) nas uacuteltimas deacutecadas

e parece que muitos dados que satildeo importantes sobre o sujeito surdo se

perderam Vale registrar no entanto trabalhos importantes que

procuraram resgatar parte da histoacuteria da liacutengua de sinais no Brasil a

dissertaccedilatildeo defendida em 2010 por Heloise Gripp Diniz sobre o tema

ldquoA histoacuteria da liacutengua de sinais brasileira (Libras) um estudo descritivo

de mudanccedilas fonoloacutegicas e lexicaisrdquo e os trabalhos de Perlin (1998)

Miranda (2001) Karnopp e Quadros (2004) Brito (1990 1991 1993 e

1995) Felipe (1988 1991 1993 1994 1995 1996 e 1997) Campello

(2011) entre outros

2 SCHMITT (2008) relata que ldquoa liacutengua de sinais ou seja a liacutengua dos sujeitos surdos eacute o

espaccedilo que mais eacute atingido pelo diferencialismordquo

28

Com relaccedilatildeo ao oralismo que exigia que os surdos falassem e natildeo

podiam sinalizar essa praacutetica trouxe grandes problemas uma delas foi a

dificuldade na criaccedilatildeo de espaccedilos (escola associaccedilatildeo etc) pelos

proacuteprios surdos Com a criaccedilatildeo das Associaccedilotildees de Surdos em Santa

Catarina os surdos puderam defender seus interesses E a partir de

2001 em Santa Catarina quando foi criada a Lei Estadual Nordm 118693

oficializou a LIBRAS como forma de comunicaccedilatildeo dos surdos

Haacute dez anos surgiu a LEI Nordm 10436 DE 24 DE ABRIL DE

2002 ldquoreconhecida como meio legal de comunicaccedilatildeo e expressatildeo da

Liacutengua Brasileira de Sinais - LIBRAS e outros recursos de expressatildeo a

ela associadosrdquo e o DECRETO Nordm 5626 DE 22 DE DEZEMBRO DE

2005

Em SC a primeira conquista educacional dos surdos aconteceu na

escola Governador Celso Ramos no centro de Florianoacutepolis em 1964

com a primeira turma de surdos a frequentar uma escola Nesta escola

eles tiveram acesso ao uso da liacutengua de sinais com a mediaccedilatildeo do

professor Francisco que tinha o apelido de ldquoChiquitordquo Com o

aprendizado da liacutengua de sinais os surdos comeccedilaram uma nova histoacuteria

e foram aprimorando sua liacutengua

Os alunos surdos adquiriam mais expressatildeo na comunicaccedilatildeo da

liacutengua de sinais e na interaccedilatildeo com o professor de liacutengua de sinais

surdo aprendiam mais raacutepido a se comunicar e a entender os conceitos

(sinaispalavras) Eles aprenderam e foram influenciados pelo professor

Francisco com quem tiveram o primeiro contato com a liacutengua de sinais

Os surdos comeccedilaram a utilizar a liacutengua de sinais na comunidade

surda ampliando este aprendizado Assim indaguei-me sobre qual era a

liacutengua de sinais ensinada naquele contexto social e as mudanccedilas

ocorridas por causa disto Entatildeo procurei o professor Francisco para

entender quais os sinais diferentes que havia em 1950 e que ele trouxe

para Santa Catarina Soube que o professor em seus estudos no INES foi

influenciado pela Liacutengua de Sinais Francesa (Europa) e pela Liacutengua de

Sinais Americana (Estados Unidos) na deacutecada de 1940 retornou para

Santa Catarina por volta de 1947 Essa contextualizaccedilatildeo sobre a liacutengua

de sinais eacute importante para a anaacutelise e pesquisa desta liacutengua em nosso

Estado

O professor Francisco estudou no Rio de Janeiro de 1937 a 1946

3 Em Santa Catarina foi criada a Lei no 11869 de 06 de setembro de 2001 reconhece oficialmente no Estado de Santa Catarina a linguagem gestual codificada na Liacutengua Brasileira

de Sinais LIBRAS ndash e outros recursos a ela associados como meio de comunicaccedilatildeo objetiva e

de uso corrente

29

Trouxe a experiecircncia dos sinais emergentes do Instituto Nacional de

Educaccedilatildeo de Surdos ndash INESRJ e influenciou a Regiatildeo Sul

protagonizando a histoacuteria da liacutengua de sinais por toda comunidade surda

catarinense

Eacute preciso pensar como na realidade a comunidade surda

catarinense resolveu seus problemas nas diferentes fases da histoacuteria da

liacutengua de sinais e em diferentes geraccedilotildees dos surdos Algumas sugestotildees

propostas dizem respeito ao Ciacuterculo de Surdos-Mudos de Santa Catarina

- CSMSC4 fundado pelo professor Francisco tambeacutem professor da

Escola Governador Celso Ramos Tais fatos trouxeram uma maior

interaccedilatildeo entre os surdos catarinenses e o contexto social vivido entre

1946 a 1955 proporcionando a criaccedilatildeo de Associaccedilotildees de Surdos em

vaacuterias regiotildees do estado de Santa Catarina em especial na Escola G

Celso Ramos de 1964 a 1973

Com o intuito de cumprir os objetivos a que esta pesquisa se

propocircs o trabalho seraacute organizado da seguinte forma

Nesta Introduccedilatildeo fiz um breve relato da construccedilatildeo deste

trabalho de pesquisa destacando pontos que acredito serem relevantes

com relaccedilatildeo agrave liacutengua de sinais em Santa Catarina

No primeiro capiacutetulo apresento a delimitaccedilatildeo do objeto de

pesquisa a contextualizaccedilatildeo dos sujeitos surdos na liacutengua de sinais com

o objetivo de pesquisar as mudanccedilas histoacutericas na LIBRAS e possiacuteveis

variaccedilotildees linguiacutesticas que ocorrem na trajetoacuteria percorrida desde o

projeto ateacute a concretizaccedilatildeo da pesquisa de campo realizada

No segundo capiacutetulo apresento alguns pressupostos teoacuterico-

metodoloacutegicos da sociolinguiacutestica laboviana apresento estudos de

Labov sobre a centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) na comunidade de fala da

Ilha de Marthas Vineyard bem como sobre a liacutengua em seu contexto

social a variaccedilatildeo e a mudanccedila linguiacutestica

No terceiro capiacutetulo apresento a contextualizaccedilatildeo da histoacuteria

social da liacutengua em organizaccedilotildees surdas no paiacutes com base na trajetoacuteria

dos surdos na Europa Ameacuterica Brasil e regiotildees de Santa Catarina

No quarto capiacutetulo apresento explicaccedilotildees sobre a variaccedilatildeo

encontrada na liacutengua de sinais e discutida por diversos linguistas

No quinto capiacutetulo apresento a metodologia de coleta das

narrativas dos sujeitos surdos por faixa etaacuteria e a descriccedilatildeo dos

4 O CSMSC professor Francisco comeccedilou a reunir todos os surdos de Santa Catarina

buscando as pessoas surdas que ficavam isoladas na sociedade Fazia reuniotildees perioacutedicas em

sua casa com atividade social alfabetizaccedilatildeo e oficinas de artes e trabalhos artesanais Entatildeo em 18 de agosto de 1955 com 30 associados fundou o Ciacuterculo dos Surdos e Mudos de Santa

Catarina Atualmente chamado de Associaccedilatildeo de Surdos da Grande Florianoacutepolis - ASGF

30

informantes quanto aos dados colhidos na liacutengua de sinais nas trecircs

geraccedilotildees controladas

No sexto capiacutetulo apresento a descriccedilatildeo e a anaacutelise dos

resultados a comparaccedilatildeo dos dados de cada grupo nas trecircs geraccedilotildees de

surdos que utilizaram a liacutengua de sinais

Por fim nas consideraccedilotildees finais mostro que esta pesquisa

pretende contribuir com resultados sobre a variaccedilatildeo e a mudanccedila

linguiacutestica na Liacutengua de Sinais e talvez contribuir com o registro dos

dados coletados no curso de LetrasLIBRAS como referecircncia

bibliograacutefica para auxiliar outras pesquisas

31

CAPIacuteTULO I ndash Delimitaccedilatildeo do objeto de pesquisa

11 ndash Introduccedilatildeo

Pretendo pesquisar parte da histoacuteria da LIBRAS em Santa

Catarina de indiviacuteduos surdos em contextos soacutecio-histoacutericos e

sociolinguiacutesticos de diferentes regiotildees do estado com comunicaccedilatildeo de

sinais diferentes idades variadas gecircnero diferente costumes proacuteprios

escolaridade variada exercendo trabalhos e crenccedilas diferentes

vivenciando fatos histoacutericos tudo isso acontecendo em contextos

distintos Escolhi o periacuteodo de 1946 a 2010 para a pesquisa porque o

professor Francisco Lima Juacutenior que nasceu em 1928 foi estudar fora

da cidade retornou para Florianoacutepolis em 1946 de seus estudos no

Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos (INES) no Rio de Janeiro e

acredito que ele influenciou o ensino da LIBRAS em Santa Catarina

Realizar esta pesquisa eacute um grande desafio pela dificuldade para

encontrar o registro da histoacuteria da liacutengua de sinais e das variaccedilotildees e

mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas Para desenvolver este trabalho eacute

importante saber as influecircncias lexicais e fonoloacutegicas ocorridas nessa

liacutengua em Santa Catarina de onde vieram as influecircncias e qual seu

reflexo na comunidade surda E ainda se essa liacutengua trouxe uma

valorizaccedilatildeo maior para o grupo de surdos I (mais velhos) e se foi

influenciada por fatores sociais e histoacutericos da comunidade surda de

Santa Catarina

Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os seguintes toacutepicos a

delimitaccedilatildeo da pesquisa mudanccedilas histoacutericas na LIBRAS e variaccedilotildees

linguiacutesticas nas deacutecadas de 1940 a 2010 uma contextualizaccedilatildeo sobre a

influecircncia do professor Francisco na comunidade surda a justificativa

sobre a pesquisa feita com as pessoas surdas o objetivo geral desta

pesquisa e por fim a hipoacutetese levantada sobre a influecircncia do professor

Francisco na comunidade surda de Santa Catarina com relaccedilatildeo agrave liacutengua

de sinais

12 ndash Mudanccedilas histoacutericas na LIBRAS e variaccedilotildees linguiacutesticas de

1946 a 2010 em Santa Catarina

A metodologia utilizada nesta pesquisa eacute de base empiacuterica

atraveacutes de coleta de narrativas de sujeitos surdos na faixa etaacuteria de 15 a

80 anos divididos em trecircs grupos os quais responderam agrave seguinte

pergunta ldquoExplique a histoacuteria da educaccedilatildeo do sujeito surdo em Santa

32

Catarinardquo As respostas estatildeo registradas em viacutedeos por se tratar de uma

liacutengua visual-espacial

Os dados colhidos satildeo descritos e analisados com o objetivo de

verificar se ocorreram variaccedilotildees e possiacuteveis mudanccedilas em tempo

aparente em sinais da LIBRAS identificando linguiacutestica e

historicamente cada caso

Nesta pesquisa pretendo aprofundar a histoacuteria da LIBRAS em

Santa Catarina e verificar as variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas

entre 1946 a 2010 bem como a influecircncia do professor Francisco na

comunidade surda do estado de Santa Catarina

Temos poucos registros histoacutericos no Brasil sobre a comunidade

surda e a LIBRAS e esses em sua maioria satildeo escritos por pessoas

ouvintes uma histoacuteria oral5

Em Santa Catarina a realidade eacute a mesma natildeo haacute registros

escritos documentados sobre a comunidade surda A LIBRAS foi

oficializada em 2001 em Santa Catarina e em 2002 no Brasil Ainda eacute

recente e poucos registros temos Eacute necessaacuterio pesquisar mais sobre a

LIBRAS em seus aspectos histoacuterico e linguiacutestico pois atualmente

poucos surdos conhecem sua liacutengua em seus aspectos linguiacutesticos e

gramaticais apenas sinalizam e se comunicam mas se pedirmos

explicaccedilotildees poucos saberatildeo daacute-las ateacute porque isso natildeo eacute mateacuteria

escolar

Com os dados coletados e analisados acredito que poderei

entender melhor qual foi a influecircncia ou natildeo do professor Francisco

junto agrave comunidade surda de Santa Catarina Aleacutem dos dados pretendo

fazer isso com o auxiacutelio de reportagens jornais e revistas catarinenses

bem como atraveacutes de documentos das instituiccedilotildees que trabalharam ou

trabalham com pessoas surdas Tambeacutem pretendo verificar informaccedilotildees

no arquivo Puacuteblico Catarinense Espero que com os depoimentos em

viacutedeos consiga encontrar evidecircncias de variaccedilotildees e mudanccedilas

linguiacutesticas lexicais e fonoloacutegicas em LIBRAS que ocorreram desde a

deacutecada de 1940 Os surdos que deram seu depoimento fazem parte da

comunidade surda que participou do movimento surdo catarinense nas

uacuteltimas deacutecadas Para analisar as transformaccedilotildees ocorridas eles foram

observados por faixas etaacuterias Considerando o uso de narrativas sobre a

5 SCHMITT (2008) na dissertaccedilatildeo de mestrado apresenta O que eacute Histoacuteria Oral ndash Eacute o estudo das narrativas dos sujeitos da pesquisa sua versatildeo e memoacuterias do fato pesquisado ocupa-se em

registrar essas narrativas (gravaccedilotildees filmagens transcriccedilatildeo das entrevistas recortes da

imprensa) como metodologia de pesquisa

33

histoacuteria dessas pessoas utilizei as discussotildees sobre histoacuteria oral para

realizar as entrevistas conforme Alberti (2005)

A histoacuteria oral tem uma natureza especifica que

condiciona as perguntas que o pesquisador pode fazer

Em se tratando de uma forma de recuperaccedilatildeo do passado

conforme concebido pelos que viveram eacute fundamental

que tal abordagem seja efetivamente relevante para a

investigaccedilatildeo que se pretende realizar (ALBERTI 2005

p 30)

13 ndash Objetivo Geral

Verificar a influecircncia do professor Francisco Lima Juacutenior sobre a

liacutengua de sinais de Santa Catarina e pesquisar variaccedilotildees e possiacuteveis

mudanccedilas em tempo aparente na liacutengua de sinais desse educador e de

outros oito sujeitos surdos reunidos por faixa etaacuteria diferente em trecircs

grupos de indiviacuteduos Grupo I (de 60 a 80 anos) Grupo II (de 30 a 60

anos) e Grupo III (de 15 a 30 anos) A narrativa desses nove sujeitos

surdos seraacute analisada com o propoacutesito de verificar quais as

transformaccedilotildees linguiacutesticas ocorridas na comunidade surda atual e quais

as diferenccedilas lexicais e fonoloacutegicas de uso da LIBRAS nas faixas etaacuterias

desses trecircs grupos de geraccedilotildees investigados

14 ndash Objetivos especiacuteficos

Identificar as alteraccedilotildees de alguns sinais quanto agrave

variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica e lexical dentro da liacutengua

de sinais e outros sinais que permanecem ateacute a atualidade

sem influecircncias externas

Comparar a variaccedilatildeo e a mudanccedila encontradas na

liacutengua de sinais utilizada pelos indiviacuteduos surdos

pertencentes a diferentes faixas etaacuterias representantes de

trecircs geraccedilotildees de sinalizadores

Identificar possiacuteveis fatores que condicionam a

variaccedilatildeo e a mudanccedila linguiacutesticas observadas nos trecircs

grupos pesquisados

34

Pretendemos pesquisar a liacutengua de sinais em Santa Catarina

observando a narrativa (depoimento) do sujeito surdo coletada na

escola e na associaccedilatildeo Com o surgimento do primeiro espaccedilo de

identidade cultural6 do surdo em contato com o professor Francisco

quando retornou do Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos

(INESRJ) para Florianoacutepolis que contribuiu para a melhoria do ensino

de liacutengua de sinais aos surdos Observe-se o que disse Felipe (2001)

sobre isso

Assim o antigo Instituto continuou como um centro de

integraccedilatildeo para o fortalecimento do desenvolvimento da

LIBRAS pois segundo Relatoacuterio do Diretor Dr Tobias

Rabello Leite de 1871 esta escola jaacute possuiacutea alunos

vindos de vaacuterias partes do paiacutes dezoito anos retornavam

agraves cidades de origem levando com eles a LIBRAS

(FELIPE 2001 p 121)

Quando o professor Francisco retornou de seu estudo no INES

percebe-se que influenciou o aprendizado da LIBRAS em Santa

Catarina pois a geraccedilatildeo mais nova buscava aprender a liacutengua com os

liacutederes surdos da geraccedilatildeo do professor Francisco Esse espaccedilo foi

conquistado pela poliacutetica de educaccedilatildeo de surdos que assegurava o

envolvimento com a liacutengua de sinais que atualmente estaacute se expandindo

na comunidade surda em nosso estado catarinense

Esse caminho foi aberto pelo professor Francisco Lima Juacutenior

que motivou os sujeitos surdos a aprenderem a LIBRAS num periacuteodo de

escolas oralistas a valorizarem o contato com outros sujeitos surdos e as

conversas nas comunidades surdas e associaccedilotildees levando os surdos da

atualidade a lutarem pelos seus direitos e deveres e a aprimorarem os

espaccedilos cultural e linguiacutestico criando assim lideranccedilas nessas

comunidades Isto proporcionou troca de ideias e experiecircncias

necessidade de mais estudos e melhor compreensatildeo da poliacutetica brasileira

para a busca desses direitos Os surdos da atualidade tambeacutem criaram

uma identidade nessa comunidade com as trocas aprenderam mais

criaram sinais para palavras novas melhoraram sinais antigos etc Para a

autora Tanya A Felipe

6 SCHMITT (2008) relata que ldquoA pesquisa acadecircmica na universidade sobre os problemas na

fase de histoacuteria de ouvinte e a pesquisa na educaccedilatildeo de surdos introduz a identidade cultural

surda no espaccedilo de conflito que eacute a educaccedilatildeo de surdo Esse momento cultural do surdo e a aacuterea de conhecimento sobre a cultura surda satildeo importantes na realidade das pesquisas que

apresentam o sujeito surdo no ensinordquo

35

Como toda liacutengua as liacutenguas de sinais aumentam seus

vocabulaacuterios com novos sinais introduzidos pelas

comunidades surdas em resposta as mudanccedilas culturais e

tecnoloacutegicas Assim a cada necessidade surge um novo

sinal e desde que se torne aceito seraacute utilizado pela

comunidade (FELIPE 2001 p 19)

Percebe-se na citaccedilatildeo da autora que o contato da comunidade

surda7 acontece atraveacutes da comunicaccedilatildeo visual-espacial As mudanccedilas

tecnoloacutegicas a busca de conhecimento e a cultura influenciam a

LIBRAS fazendo com que a comunidade crie novos sinais e modifique

outros sinais mais antigos

A LIBRAS eacute considerada uma liacutengua assim como as outras

liacutenguas orais e apresenta variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica Um dos

exemplos de mudanccedila em LIBRAS foi uma mudanccedila discreta8 do sinal

de ldquoMAtildeErdquo A mudanccedila fonoloacutegica atinge um dos cinco paracircmetros

fonoloacutegicos da formaccedilatildeo de sinais O ponto de articulaccedilatildeo eacute preservado

na mudanccedila do sinal MAtildeE a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) muda e eacute

acrescentado o sinal de MULHER tornando o sinal composto

Figura 01 ndash Sinal de Matildee

Eacute importante retomar aqui quais satildeo esses cinco paracircmetros

Stokoe que por volta de 1960 e 1965 apontou trecircs paracircmetros que

constituem os sinais e nomeou-os configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ponto

de articulaccedilatildeo (PA) ou locaccedilatildeo (L) e movimento (M) Satildeo eles

7 Para Felipe (2001 p 38) ldquouma comunidade eacute um sistema social geral no qual pessoas vivem

juntas compartilham metas comuns e partilham certas responsabilidades umas com as outrasrdquo PADDEN (19895) Para esta pesquisadora ldquouma Comunidade Surda eacute um grupo de pessoas

que mora em uma localizaccedilatildeo particular compartilha as metas comuns de seus membros e de

vaacuterios modos trabalha para alcanccedilar estas metasrdquo Portanto nessa Comunidade pode ter tambeacutem ouvintes e surdos que natildeo satildeo culturalmente Surdos 8 Ocorre quando uma forma (ou sinal) eacute substituiacuteda por outra de modo natildeo gradual

36

Configuraccedilatildeo de matildeos ndash satildeo as diferentes formas que as

matildeos assumem na representaccedilatildeo do sinal

Ponto de articulaccedilatildeo ndash eacute a posiccedilatildeo onde as matildeos satildeo

posicionadas no momento da sinalizaccedilatildeo

Movimento ndash eacute o deslocamento das matildeos no espaccedilo e

em diferentes partes do corpo

Karnopp (1999) apresenta como resultado de pesquisa que a

configuraccedilatildeo de matildeos se diferencia pela seleccedilatildeo de dedos e a

configuraccedilatildeo ou posiccedilatildeo destes para efetuar o sinal Em ASL os dedos

selecionados devem permanecer na mesma disposiccedilatildeo ou quando tem

mudanccedila de posiccedilatildeo os dedos selecionados devem continuar iguais ateacute

o teacutermino do sinal As posiccedilotildees e configuraccedilotildees dos dedos diferenciam-

se em a) difusatildeo dos dedos aduccedilatildeo b) junccedilatildeo entre os dedos e o

polegar abertura e c) tipo e grau de flexatildeo apresentando a organizaccedilatildeo

fonoloacutegica dos sinais com ecircnfase nos articuladores dos itens lexicais e

das restriccedilotildees na formaccedilatildeo de sinais

A partir de 1970 outros linguistas conduziram estudos mais

aprofundados sobre os aspectos fonoloacutegicos Robbin Battison (1974)

Edward S Klima e Ursulla Bellugi (1979) descreveram o quarto

paracircmetro

Orientaccedilatildeo ndash que eacute a posiccedilatildeo da palma da matildeo se pra

frente ou pra traacutes para cima ou para baixo para o lado

esquerdo ou direito

O quinto paracircmetro eacute a expressatildeo facialcorporal foi adicionado

por Ferreira Brito em 1995 no Brasil

Expressotildees faciais e corporais satildeo elementos

gramaticais que compotildeem a estrutura da liacutengua Tambeacutem

chamados de marcadores natildeo manuais Ex a fisionomia

para expressar uma pessoa chata e muito chata eacute

intensificada para expressar o que eacute desejado Alguns sinais

podem ter uma direccedilatildeo e a inversatildeo deste pode significar

oposiccedilatildeo contraacuterio ou concordacircncia nuacutemero-pessoal

37

Figura 02 ndash Sinal de Matildee

Para Quadros (1997) pesquisas evidenciam a perda completa da

motivaccedilatildeo do sinal na crianccedila surda em fase de aquisiccedilatildeo da liacutengua de

sinais Tais sinais como ldquobenccedilatildeordquo para matildee e pai para o surdo adulto ateacute

podem ser resgatados Entretanto a crianccedila que estaacute adquirindo a liacutengua de

sinais e nunca viu esta accedilatildeo natildeo repete a mesma atitude beijando a matildeo

A liacutengua de sinais eacute diferente em diversos paiacuteses e ateacute mesmo em

diferentes regiotildees dentro de um mesmo paiacutes A liacutengua de sinais eacute o que

permite a comunicaccedilatildeo entre as pessoas surdas desta forma os surdos

que conhecem a liacutengua de sinais de outras regiotildees com certeza teratildeo

maior facilidade de comunicaccedilatildeo e tambeacutem de conhecimento

Vale ressaltar que toda forma de liacutengua ldquofaladardquo no contexto

social e tudo o que noacutes vivemos sofre mudanccedilas Todas as liacutenguas tecircm

influecircncia do tempo decorrido Na LIBRAS tambeacutem existem mudanccedilas

culturais e linguiacutesticas

15 ndash Questotildees e Hipoacuteteses de pesquisa na liacutengua de sinais

Nesta pesquisa parto das seguintes questotildees 1) O professor

Francisco influenciou a LIBRAS em SC 2) Que variaccedilotildees e mudanccedila

linguiacutestica vamos encontrar na liacutengua dos nove sujeitos surdos

Acredito que (hipoacutetese) o professor Francisco teve grande influecircncia na

comunidade surda de Santa Catarina com relaccedilatildeo agrave Liacutengua de Sinais

Acredito tambeacutem (hipoacutetese) que muitos dos sinais utilizados pelos

Grupos I e II natildeo satildeo conhecidos pelo Grupo III dos mais jovens Penso

que (hipoacutetese) alguns sinais tiveram alteraccedilotildees quanto a variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica como tambeacutem lexical nos trecircs grupos pesquisados

Quando comparar a liacutengua de sinais nos Grupos I II e III nas diferentes

faixas etaacuterias espero (hipoacutetese) encontrar vaacuterios sinais que comprovem

variaccedilotildees e mudanccedilas fonoloacutegicas e lexicais Essas hipoacuteteses surgiram

de observaccedilotildees como usuaacuterio da LIBRAS

38

Em relaccedilatildeo aos fatores internos e externos que condicionam a

variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica e lexical acredito (hipoacutetese) que o

professor Francisco eacute o precursor do ensino de sinais em Santa Catarina

(fator externo) No Grupo II temos a influecircncia do professor Francisco e

de seus primeiros alunos e das associaccedilotildees de surdos e no Grupo III

temos um maior nuacutemero de surdos nas universidades precisando criar

novos sinais para os novos conhecimentos aprendidos

Labov em sua pesquisa cita ldquo o objetivo da pesquisa linguiacutestica

na comunidade deve ser descobrir como as pessoas falam quando natildeo

estatildeo sendo monitoradasrdquo (LABOV 2008 [1972] p 244) Nesta

pesquisa a observaccedilatildeo aos indiviacuteduos surdos dos trecircs grupos

pesquisados acontece de forma diferente eles sabem que estatildeo

respondendo perguntas e que estatildeo sendo filmados

Pela anaacutelise das respostas em liacutengua de sinais e descriccedilatildeo dos

surdos seraacute possiacutevel descobrir atraveacutes das descriccedilotildees aspectos

culturais9 individuais e tambeacutem obter dados quanto agraves variaccedilotildees e

mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas na liacutengua de sinais neste periacuteodo de

tempo que acontece desde 1946

Finalmente esta tese teraacute o registro dos dados colhidos nos trecircs

grupos pesquisados de diferentes geraccedilotildees mostrando variaccedilotildees e

mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas com os contatos culturais da

comunidade surda

Os fatos sociais desta liacutengua como de qualquer outra podem

acontecer em qualquer tempo e em diferentes situaccedilotildees e quando

analisados neste caso podemos perceber a mudanccedila dos indiviacuteduos

surdos num determinado contexto soacutecio-histoacuterico e linguiacutestico A amostra eou dados para a tese de doutorado na UFSC

proporcionaraacute anaacutelises sobre aspectos variaacuteveis da LIBRAS (variaccedilatildeo e

mudanccedila fonoloacutegica e lexical) com o apoio de autores como Labov

2008 [1972] Naro 2003 Weinreich Labov e Herzog 2006 [1968]

Calvet 2002 entre outros

O periacuteodo indicado para a pesquisa que eacute de 1946 a 2010 pode

revelar parte da histoacuteria da comunidade surda de Santa Catarina e a

influecircncia que o professor Francisco Lima Juacutenior trouxe de contribuiccedilatildeo

para a liacutengua de sinais de Santa Catarina e para a comunidade surda do

estado

9 PERLIN (2006 p 65) Cultura Surda ndash o livro a Invenccedilatildeo da Surdez II explica que a cultura surda esta aiacute enfatizando oferecendo transparentemente sua possessatildeo simboacutelica sobressaindo

com seus discursos narrativos afirmando a necessidade da reinscriccedilatildeo da diferenccedila cultural e

consequente diferenccedila pedagoacutegica

39

CAPIacuteTULO II ndash Pressupostos teoacuterico-metodoloacutegicos da

sociolinguiacutestica laboviana

21 ndash Introduccedilatildeo

A Sociolinguiacutestica se dedica ao estudo da liacutengua falada e do

contexto social de uso da liacutengua ou seja estuda como os membros de

uma sociedade se comunicam em diversas situaccedilotildees em funccedilatildeo por

exemplo do lugar onde cresceram ou de sua posiccedilatildeo socioeconocircmica A

liacutengua surge e tambeacutem se transforma em funccedilatildeo do contexto soacutecio-

histoacuterico

Como seraacute visto mais adiante para essa aacuterea de conhecimento satildeo

fundamentais os conceitos de variaccedilatildeo e mudanccedila O primeiro envolve a

coexistecircncia de diferentes formas linguiacutesticas para a expressatildeo de um

significado e o segundo diz respeito agrave substituiccedilatildeo de formas com o

passar do tempo Esses estudos satildeo fundamentados na sociolinguiacutestica

variacionista que teve iniacutecio com as pesquisas de Labov

Este capiacutetulo traz relatos da pesquisa de Labov que foi pioneiro

na sociolinguiacutestica e realizou estudo linguiacutestico na comunidade de fala

da Ilha de Marthas Vineyard associando a influecircncia dos povos que

imigraram e colonizaram a ilha agraves mudanccedilas ocorridas na fala bem

como o turismo que eacute frequente no veratildeo com visitantes que falam

variedades de uma mesma liacutengua e outras liacutenguas e influenciam o

comeacutercio da ilha fazendo com que variedades e liacutenguas diferentes se

misturem quando as pessoas conversam Num dado momento Labov

investigou a centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) na comunidade de fala da ilha

Foram entrevistados diferentes grupos eacutetnicos ingleses portugueses e

iacutendios Isso foi importante para entender mudanccedilas linguiacutesticas

ocorridas nessa ilha dos Estados Unidos

Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os seguintes toacutepicos a liacutengua

em seu contexto social a partir da teoria laboviana Labov como

pesquisador pioneiro em sociolinguiacutestica o iniacutecio da pesquisa de Labov

na Ilha de Martha‟s Vineyard com ingleses portugueses e iacutendios a

maneira como Labov realizou a pesquisa para escolher a variaacutevel

linguiacutestica a ser estudada a explicaccedilatildeo dos dados obtidos por grupos

ocupacionais e por idade a explicaccedilatildeo da pesquisa realizada por Labov

sobre o aumento da centralizaccedilatildeo comentaacuterios sobre a interaccedilatildeo de

padrotildees linguiacutesticos e sociais na Ilha de Martha‟s Vineyard os

princiacutepios da mudanccedila linguiacutestica a idade e a variaccedilatildeo estaacutevel e por

fim algumas reflexotildees sobre a idade e a mudanccedila linguiacutestica

40

22 ndash A liacutengua em seu contexto social

A liacutengua eacute uma forma de comportamento eacute usada por seres

humanos num contexto social ao comunicarem uns aos outros suas

ideias suas necessidades e emoccedilotildees Sendo assim o comportamento

linguiacutestico de um grupo pode variar de acordo com as experiecircncias

vividas numa comunidade Para Labov (1972) o estudo da origem da

evoluccedilatildeo da linguagem que eacute a ciecircncia que estuda a parte da linguiacutestica

incluiacuteda no contexto social eacute buscado no comportamento linguiacutestico de

um grupo social isto eacute de uma comunidade de fala10

Natildeo se trata de um grupo de falantes que utilizava a mesma forma

de fala mas do grupo que segue as mesmas normas quanto ao uso da

linguagem No caso da linguagem gestual um exemplo disso seria de

um surdo com uma famiacutelia de ouvintesfalantes que natildeo fica isolado na

questatildeo da liacutengua pois comeccedila a frequentar uma associaccedilatildeo de surdos e

aprende a liacutengua de sinais Neste espaccedilo ele aprende a comunicar-se na

liacutengua de sinais e natildeo apenas numa liacutengua gestual caseira

Para entender o comportamento linguiacutestico de uma comunidade

de fala vatildeo ser retomados alguns estudos pioneiros de Labov da deacutecada

de 1960 Antes poreacutem eacute importante entender quem eacute esse pesquisador e

alguns dos trabalhos que ele fez 221 ndash LABOV pesquisador pioneiro em sociolinguiacutestica

William Labov nasceu na cidade de Rutherford em Nova Jersey

no dia 4 de dezembro em 1927 Comeccedilou sua carreira de estudo em

Harvard em 1948 quiacutemico trabalhou na aacuterea industrial de 1949 a 1961

Ele iniciou suas pesquisas como linguista nos Estados Unidos com foco

de estudo direcionado ao contexto social agrave comunidade de fala e agraves

mudanccedilas sonoras da liacutengua

A observaccedilatildeo de Labov sobre os padrotildees sociolinguiacutesticos na ilha

de Marthas Vineyard resultou na publicaccedilatildeo do seu trabalho

apresentado no 37ordm Encontro Anual da Sociedade Americana de

Linguiacutestica em Nova York nos Estados Unidos em 1963 Nesse

trabalho o pesquisador apresentou suas consideraccedilotildees sobre a mudanccedila

sonora dos ditongos (ay) e (aw) no contexto da comunidade de fala da

10 Segundo COELHO et al (2010 p 163) Comunidade de fala ndash ldquonoccedilatildeo que recobre tanto aspectos sociais quanto linguiacutesticos envolvendo atitudesnorma sociais compartilhadas pelos

falantes que por sua vez compartilham caracteriacutesticas linguiacutesticas que os diferem de outros

grupos sociaisrdquo

41

ilha

O autor estudou tambeacutem na Columbia University sob a

orientaccedilatildeo do Professor Uriel Weinreich - doutorado em linguiacutestica em

1964 ndash com quem realizou e aprofundou sua pesquisa em

sociolinguiacutestica sobre a liacutengua falada

Eacute um pesquisador amplamente considerado na aacuterea da pesquisa

linguiacutestica por sua metodologia em sociolinguiacutestica Em seus trabalhos

o autor mostra aspectos de variaccedilatildeo dialetal e mudanccedila da liacutengua inglesa

na sociedade da Ilha de Marthas Vineyard e em Nova York11

atraveacutes de

estudos de variaccedilatildeo fonoloacutegica

Em 1972 Labov publicou seu livro Sociolinguistic Patterns

University of Pennsylvania Press original em Inglecircs o qual teve seu

volume traduzido para o portuguecircs e publicado em 2008 no Brasil

Ele pesquisou durante meses na Ilha de Martha‟s Vineyard

estado de Massachusetts as variaacuteveis foneacuteticas (ay) e (aw) em diferentes

localidades faixas etaacuterias12

grupos profissionais e eacutetnicos da ilha Com

esse estudo conseguiu reconstruir a histoacuteria social da comunidade

daquela ilha a partir da frequecircncia e distribuiccedilatildeo dessas duas variaacuteveis

para verificar se ocorreu mudanccedila sonora correlacionando o complexo

padratildeo linguiacutestico com a estrutura social atraveacutes da investigaccedilatildeo de

fatores sociais que incidem diretamente sobre o processo linguiacutestico

Sobre a mudanccedila linguiacutestica podemos destacar trecircs principais

caracteriacutesticas relevantes na pesquisa que Labov (2008 [1972] p 19)

desenvolveu na Ilha

a origem das variaccedilotildees linguiacutesticas

a difusatildeo e a propagaccedilatildeo das mudanccedilas linguiacutesticas e

a regularidade da mudanccedila linguiacutestica

Labov investigou como aconteceu a variaccedilatildeo do inglecircs americano

em uma determinada comunidade a partir das influecircncias sociais que

vieram do contato entre os indiviacuteduos das localidades pesquisadas

11 A pesquisa de Labov na ilha de Martha‟s Vineyard foi escolhida por mim porque Francisco

viveu em Florianoacutepolis e agrupou os surdos de SC tendo como referecircncia uma ilha que se

parece muito com Martha‟s nas temporadas de veratildeo os turistas do paiacutes e do exterior lotam a cidade fortalecendo a economia do lugar

12 Ao analisar faixa etaacuteria podemos detectar mudanccedila em tempo aparente atraveacutes da

comparaccedilatildeo entre grupo dos falantes mais velhos e jovens ou variaccedilatildeo estaacutevel

42

Pela induccedilatildeo as variaccedilotildees fonoloacutegicas podem ocorrer pelos

processos de assimilaccedilatildeo ou dissimilaccedilatildeo por analogia empreacutestimo

fusatildeo contaminaccedilatildeo variaccedilatildeo aleatoacuteria ou outros processos linguiacutesticos

em que haja a interaccedilatildeo entre o sistema linguiacutestico de caracteriacutesticas

fisioloacutegicas ou psicoloacutegicas do indiviacuteduo

O autor realizou a pesquisa na comunidade de falantes de

Martha‟s Vineyard nos EUA em Massachusetts para verificar o grau de

centralizaccedilatildeo de sons no caso (ay) e (aw) em diferentes momentos e

situaccedilotildees daquela comunidade como veremos nas proacuteximas seccedilotildees

222 ndash A Ilha de Martharsquos Vineyard

Martha`s Vineyard eacute a maior ilha ao largo da costa da Nova

Inglaterra abrange quase uma centena de quilocircmetros quadrados de

aacuterea

A ilha antigamente era povoada por grupos de iacutendios que estavam

relacionados com a Wampanoags no estado sudeste de Massachusetts

Num primeiro momento os europeus ocuparam a ilha e com o passar

do tempo aprenderam com os iacutendios de diferentes tribos de Martha`s

Vineyard a pescar e a utilizar a agricultura

O primeiro assentamento europeu aconteceu em 1644 na ilha O

governador de Winthrop de Boston norte dos Estados Unidos nessa

eacutepoca anotou em seu jornal local que algumas pessoas de Watertown

eram surdas e se comunicavam atraveacutes de sinais13

isso ajudou na

divulgaccedilatildeo da liacutengua inglesa que comeccedilou a ser usada pelos habitantes

de Martha`s Vineyard Este grupo vinha de famiacutelias do estado de

Massachusetts em Bay Colony que resolveu morar na Ilha

A Ilha de Martha‟s Vineyard na deacutecada de 1960 era formada por

uma pequena populaccedilatildeo de 6000 falantes nativos dividida em trecircs

grupos eacutetnicos ingleses portugueses e iacutendios A pesquisa de Labov

levou em consideraccedilatildeo as trecircs etnias Foram entrevistados 69 indiviacuteduos

daquela sociedade Dentre eles os nuacutemeros entrevistados foram 42

13 Realizei a pesquisa no livro que se chama ldquoEveryone Here Spoke Sign Languagerdquo da autora

(Groce 1952) achei interessante a leitura mas fui riscando e analisando de acordo com minha compreensatildeo do texto e comparando com o que Labov (2008) apresentou no livro Padrotildees

Sociolinguiacutesticos Eacute importante salientar que a pesquisa apresentada no livro de Groce eacute

interessante para realizar estudos na comunidade surda na liacutengua de sinais

43

ingleses 16 portugueses e 9 iacutendios de grupos eacutetnicos essencialmente

endoacutegamos14

Labov controlou tambeacutem diferentes grupos ocupacionais

14 na pesca 8 na agricultura 6 na construccedilatildeo 19 no ramo de serviccedilos 3

profissionais liberais 5 donas de casa e 14 estudantes Fez entrevista

formal e observaccedilotildees em muitas situaccedilotildees espontacircneas nas ruas de

Vineyard Haven e Edgartown em lanchonetes restaurantes bares

embarcadouros e diversos lugares onde o som geral da conversa puacuteblica

podia ser anotado quando natildeo gravado As anotaccedilotildees serviam apenas

como controles suplementares sobre as entrevistas gravadas As

entrevistas aconteceram em trecircs periacuteodos agosto final de

setembrooutubro de 1961 e janeiro de 1962 com pessoas de idades que

variaram de 14 a 75 anos

As duas principais variaacuteveis estudadas na ilha foram (ay) e (aw)

O significado linguiacutestico das formas em variaccedilatildeo era o mesmo mas a

situaccedilatildeo de fala era diferente na comunidade Como resultado das

entrevistas o autor obteve aproximadamente 3500 ocorrecircncias de (ay) e

1500 ocorrecircncias de (aw) como base de dados para sua pesquisa

O primeiro grupo eacutetnico formado por descendentes das famiacutelias

mais velhas de origem inglesa foi para a ilha nos seacuteculos XVII e XVIII

As famiacutelias inglesas eram os Mayhews Nortons Hancocks Allens

Tiltons Vincents Wests e Pooles que com o passar dos anos

influenciaram a liacutengua inglesa falada na ilha e a cultura da comunidade

O segundo grupo eacutetnico era formado por famiacutelias de imigrantes

accedilorianos vindos de Cabo Verde em Portugal Esses imigrantes

portugueses ao longo de toda costa da Nova Inglaterra representaram o

percentual mais alto de centralizaccedilatildeo em Martha‟s Vineyard

A ilha foi dividida em duas partes mais relevantes para a

pesquisa a ilha alta (up-island) e a ilha baixa (down-island) num total

de 5563 (cinco mil quinhentos e sessenta e trecircs) habitantes na deacutecada

de 1960 A ilha alta era organizada por pessoas que viviam em meio

rural poucos lugares fazendas casas de veraneio abandonadas lagoas

de aacutegua salgada e pacircntanos era uma aacuterea geograacutefica central desabitada e

com pinheirais improdutivos A ilha baixa era uma regiatildeo formada por

trecircs pequenos centros urbanos onde vivia cerca de trecircs quartos da

populaccedilatildeo A populaccedilatildeo de Martha‟s Vineyard na deacutecada de 1970 era de

11725 habitantes na parte alta da Ilha (rural) era de 3846 Edgartown

14 Eacute o indiviacuteduo que se casa com membros da mesma tribo para conservaccedilatildeo de sua nobreza e

raccedila

44

1118 Oak Bluffs 1027 Vineyard Haven 1701 e na parte baixa da Ilha

(Vilarejos) 1717 Edgartown 256 Oak Bluffs 292 Tisbury 468 West

Tisbury 360 Chilmark 238 Gay Head 103

Mapeamento da Ilha de Martharsquos Vineyard

Em 1960

Figura 03 ndash Retirado do livro de GROCE Nora Ellen Everyone Here

Spoke Sign Language Hereditary Deafness on Martha‟s Vineyard

Printed in the United States of America 1952

45

Em 1960

Figura 04 ndash Retirado do livro de LABOV Willian Padrotildees

Sociolinguiacutesticos 2008 [1972]

Atualmente em 2012

Figura 05 ndash 10092011 retirado no site

httpcawikipediaorgwikiMartha27s_Vineyard

46

A populaccedilatildeo na Ilha no ano de 1960 estava constituiacuteda de 11

de descendentes da primeira ou da segunda geraccedilatildeo de imigrantes

portugueses Das terceiras e quartas geraccedilotildees provavelmente chegaria

proacuteximo aos 20 Quanto ao terceiro grupo eacutetnico eram remanescentes de

indiacutegenas de GAY HEAD O quarto grupo eacute uma Miscelacircnea de

famiacutelias de imigrantes europeus que vieram da Inglaterra Franccedila-

Canadaacute Irlanda Alemanha e Polocircnia Apesar de que a soma desses

imigrantes seja de aproximadamente 15 natildeo foi levada em conta por

natildeo ser uma forccedila social coesa Segundo Labov todos os anos no veratildeo muitos turistas

chegavam agrave ilha nos meses de junhojulho passando de 6000

habitantes para 42000 habitantes representando um nuacutemero expressivo

mas natildeo foi diretamente analisado porque a influecircncia direta destes

veranistas sobre o falar em Vineyard era relativamente pequena A

constante pressatildeo vinda na comunicaccedilatildeo junto agrave crescente dependecircncia

econocircmica criada pelo turismo gera indiretamente mudanccedilas

linguiacutesticas

Os veranistas estrangeiros falam uma liacutengua proacutepria em seu paiacutes

vatildeo a passeio agrave Ilha para conhecer e explorar a cidade e tambeacutem o povo

daquela ilha fazendo trocas neste conviacutevio e de alguma forma

promovem mudanccedilas econocircmicas poliacuteticas culturais sociais e

linguiacutesticas

O autor constatou que a Ilha de Martha‟s Vineyard aleacutem da

variaccedilatildeo estudada que eacute a centralizaccedilatildeo dos ditongos os falantes

tambeacutem usam as formas variaacuteveis do ndashr poacutes-vocaacutelico em palavras como

car (carro) four (quatro) card (cartatildeo) fourth (quarto) (podemos

verificar ocorrecircncia semelhante na liacutengua falada oral com o sotaque que

se modifica) Diferente do padratildeo comum do sudeste da Nova

Inglaterra [ai] e [au] com frequecircncia se ouve na ilha [ɐi] e [ɐu] ou

mesmo [əi] e [əu] Labov (2008 [1972] p 27) escreve o seguinte

ldquoEsse aspecto dos ditongos centralizados eacute saliente para

o linguumlista mas natildeo para os falantes eacute claramente imune

agrave distorccedilatildeo consciente jaacute que os vineyardenses nativos

natildeo se datildeo conta dele nem conseguem controlaacute-lo

conscientemente No que diz respeito agrave estrutura natildeo

podemos desprezar o paralelismo estrutural de ay e

aw por outro lado esses ditongos satildeo marcados por

grande liberdade estrutural na gama de alofones

permitida pelo sistema Essas satildeo diferenccedilas estritamente

subfonecircmicas Uma vez que natildeo existem outros ditongos

47

crescentes com primeiros elementos baixo ou central

nesse sistema natildeo eacute provaacutevel que o alccedilamento

continuando ou ate a posteriorizaccedilatildeo ou anterioriazaccedilatildeo

resultasse em confusatildeo com qualquer outro fonemardquo

Labov em sua pesquisa mostrou a pronuacutencia variaacutevel dos

ditongos (ay) e (aw) na comunidade de fala considerando traccedilos sociais

dos moradores da localizaccedilatildeo alta (rural) e baixa (vilarejos) da Ilha

atraveacutes de um mapeamento da fala Ele investigou (ay) como o ditongo

em palavras do inglecircs (ex right white pride wine ou wife) e (aw)

ditongo encontrado nas palavras do inglecircs como house out e doubt por

exemplo

Ele realizou procedimentos de observaccedilatildeo e identificaccedilatildeo da

comunidade de fala em duas localizaccedilotildees diferentes em Marthas

Vineyard e Nova York Estudou as realizaccedilotildees de (ay) e (aw) em vaacuterias

regiotildees da ilha e do estado entre as faixas etaacuterias dos informantes entre

grupos de profissionais e tambeacutem entre os grupos eacutetnicos (raccedila e cor)

E em Nova York pesquisou em trecircs lojas de departamento sobre a

realizaccedilatildeo de [r] em posiccedilatildeo final e preacute-consonantal na fala de

funcionaacuterios destas lojas Labov (1994) analisou o uso de [r] que

poderia ser pronunciado ou natildeo na fala de 264 pessoas levando-os a

responder de forma que aparecesse na fala a expressatildeo fourth floor

(quarto andar) porque essa expressatildeo contem [r] nas duas proposiccedilotildees

pretendidas preacute-consonantal (fourth) e final (floor) Labov com essa

pesquisa nos Estados Unidos mostrou que o vernaacuteculo de Nova York

continuou sem o [r] por muito tempo mas como a pronuacutencia do [r] era

prestigiada passou a ser usada pelas classes mais altas e pelos jovens

sensiacuteveis pela questatildeo do status social

Desse modo Labov desenvolveu suas pesquisas com base em

procedimentos metodoloacutegicos que pudessem reconstruir a histoacuteria

recente da mudanccedila linguiacutestica da pronuacutencia dos ditongos e do [r] poacutes-

vocaacutelico Neste trabalho vatildeo ser detalhados os resultados da pesquisa em

Marthas Vineyard

223 ndash Seleccedilatildeo da variaacutevel linguiacutestica

Na seleccedilatildeo da variaacutevel linguiacutestica eacute importante perguntar quais

satildeo as propriedades mais uacuteteis de uma variaacutevel linguiacutestica servindo de

foco de pesquisa de uma determinada comunidade de falantes

Labov pensou como primeiro passo da pesquisa em verificar um

item que ocorra com frequecircncia numa conversaccedilatildeo espontacircnea e que

48

possa ser mapeado Em segundo deve ser estrutural ou seja quanto

mais integrado o item estiver num sistema mais amplo de unidades

funcionais maior seraacute o interesse linguiacutestico intriacutenseco ao estudo E

finalmente em terceiro a distribuiccedilatildeo do traccedilo deve ser estratificada

observando a faixa etaacuteria o grupo de profissionais ou outros

extratos da comunidade de fala Labov apresentou a pesquisa

preliminar sobre o estudo do som na fala da comunidade em vaacuterias

categorias buscando os dados das pessoas que falavam em

diferentes situaccedilotildees linguiacutesticas na ilha como mostra a citaccedilatildeo

abaixo Nas entrevistas preliminares conduzidas em Martha‟s

Vineyard em 1961 foram observadas diversas

mudanccedilas estruturais que eram claramente paralelas a

mudanccedilas que ocorreriam no continente sob a

influecircncia do padratildeo do sudeste da Nova Inglaterra

(LABOV 2008 [1972] p 26)

Eacute importante ressaltar que a Ilha de Marthas‟s Vineyard tem

conservado traccedilos arcaicos provavelmente a populaccedilatildeo era do sudeste

da Nova Inglaterra antes de 1800 Estudos preliminares em 1961

mostraram que a maior parte dos traccedilos especiais do falar da ilha

apresentado nos mapas do LANE15

ainda podiam ser encontrados entre

os falantes de 50 a 95 anos de idade

Labov queria entender a estrutura interna do inglecircs Vineyardense

as diferenccedilas sistemaacuteticas que jaacute haviam ocorrido e as mudanccedilas que

estavam ocorrendo por isso selecionou um aspecto linguiacutestico

caracteriacutestico da ilha com o maior nuacutemero possiacutevel de variaccedilatildeo e o mais

complexo padratildeo de distribuiccedilatildeo Ele comeccedilava a pesquisa

entrevistando indiviacuteduos falantes na comunidade com o objetivo de

detectar variaccedilotildees linguiacutesticas16

geograacuteficas sociais e estiliacutesticas

15 Linguistic Atlas of New England Trata-se de um projeto que registrou a fala de habitantes da Nova Inglaterra nos Estados Unidos na deacutecada de 1930 Segundo O‟Cain (1979 p 243)

ldquoLANE samples the speech of the older and rural representatives of the culture thus

establishing late nineteenth-century bench marks for the study of the New England dialects and also samples younger and urban speakers thus indicating general and particular trends of

changerdquo

16 COELHO et al (2010 p 166) lembram que variaccedilatildeo eacute o ldquoprocesso pelo qual duas formas

podem ocorrer no mesmo contexto linguiacutestico com o mesmo valor referencial ou com o mesmo valor de verdade ie com o mesmo significado Dois requisitos precisam pois ser

cumpridos para que ocorra variaccedilatildeo as formas envolvidas precisam (i) ser intercambiaacuteveis no

mesmo contexto e (ii) manter o mesmo significadordquo

49

Na comunidade linguiacutestica17

de falantes atraveacutes da forma de

falar na conversa espontacircnea e no comportamento o autor mostrou

que havia diferenccedilas linguiacutesticas na ilha de Martha‟s Vineyard e no

sudeste da Nova Inglaterra de onde migraram pessoas para a

colonizaccedilatildeo da ilha

Em sua pesquisa Labov observou que ldquono caso do r poacutes-

vocaacutelico os falantes apresentavam uma variaacutevel linguiacutestica definida

pelos limites geograacuteficos da ilha e que segue um padratildeo social

idiossincraacutetico a Marthas Vineyardrdquo (LABOV 2008 [1972] p 27) Em

algumas aacutereas a retroflexatildeo estava diminuindo e em outras aumentando

As variaccedilotildees do r eram frequentes salientes e envolviam

consequecircncias estruturais determinantes para o sistema vocaacutelico inteiro

Labov em sua pesquisa mostrou variaccedilotildees linguiacutesticas que

ocorreriam na Ilha em uma mesma palavra com ditongos centralizados

como no caso do (ay) e do (aw) na fala dos grupos pesquisados Para

Labov A propriedade deste traccedilo de centralizaccedilatildeo que o faz

parecer excepcionalmente atraente ateacute mesmo agrave

primeira vista eacute a indicaccedilatildeo de um complexo e sutil

padratildeo de estratificaccedilatildeo Essa mesma complexidade

daacute provas de ser recompensadora pois quando a

tendecircncia centralizante eacute mapeada nos haacutebitos de

vaacuterios falantes e a influecircncia do ambiente foneacutetico

prosoacutedico e estiliacutestico eacute considerada permanece uma

ampla aacuterea de variaccedilatildeo (LABOV 2008 [1972] p 27

e 28)

Na comunidade de fala o ambiente o espaccedilo os diferentes

interlocutores as diferentes situaccedilotildees no modo de falar interferem no

sistema foneacutetico prosoacutedico e estiliacutestico da liacutengua falada

As mudanccedilas sonoras satildeo estudadas no momento presente e no

passado buscando novos conhecimentosexplicaccedilotildees sobre uma

17 DUBOIS J et al (2006 p 133) entendem por ldquocomunidade linguiacutestica um grupo de seres

humanos que usam a mesma liacutengua ou o mesmo dialeto num dado momento e que podem comunicar-se entre si Quando uma naccedilatildeo eacute monoliacutengue constitui uma comunidade linguiacutestica

Mas a comunidade linguiacutestica natildeo eacute homogecircnea compotildee-se sempre de um grande nuacutemero de

grupos que tem comportamentos linguiacutesticos diferentes A forma de liacutengua que os membros desses grupos usam tende a reproduzir de uma maneira ou de outra na foneacutetica na sintaxe ou

no leacutexico as diferenccedilas de geraccedilatildeo de origem de residecircncia de profissatildeo ou de formaccedilatildeo

(diferenccedilas socioculturais)rdquo

50

determinada aacuterea da comunidade falada as influecircncias as mudanccedilas

fonecircmicas ocorridas e suposiccedilotildees de como seraacute no futuro

Labov escreve que na Ilha de Marthas‟s Vineyard os veranistas

tecircm apenas uma leve impressatildeo da fala dos nativos pois de cada oito

pessoas na ilha sete satildeo visitantes Para Labov os veranistas natildeo tinham

muita importacircncia naquela comunidade pois na primeira semana de

setembro eles voltavam para seu lugar de origem E apenas ficavam os

moradores da ilha Continuavam a utilizar um alto grau de centralizaccedilatildeo

de (ay) e (aw) na ilha alta e tambeacutem nas aacutereas do vilarejo da ilha baixa

o turismo natildeo interferia nesse aspecto

Labov escreve que

A fim de estudar sistematicamente esse traccedilo foi

necessaacuterio conceber um modelo de entrevista que

fornecesse vaacuterios exemplos de (ay) e (aw) na fala

espontacircnea na fala emocionalmente carregada na fala

monitorada e no estilo de leitura O primeiro desses

ditongos tem mais do dobro da frequumlecircncia de uso do

segundo mas mesmo assim diversas estrateacutegias foram

necessaacuterias para aumentar a concentraccedilatildeo de ocorrecircncias

de ambos (LABOV 2008 [1972] p 31)

Para pesquisar a frequecircncia dos ditongos de (ay) e (aw) Labov

utilizou como estrateacutegia um questionaacuterio lexical concentrando-se em

algumas palavras e utilizando os mapas de LANE Aleacutem disso

formulou perguntas acerca de juiacutezos de valores e orientaccedilatildeo social do

informante e por fim um texto para leitura especial como um teste de

habilidade para ler uma histoacuteria

224 ndash Distribuiccedilatildeo por idade e tempo

Para cada falante o grau geral de centralizaccedilatildeo foi expresso por

valores numeacutericos multiplicados por 100 Veja a tabela 01

Centralizaccedilatildeo por grupos ocupacionais

Na centralizaccedilatildeo por grupos ocupacionais Labov chegou agrave

conclusatildeo de que o grupo dos pescadores na fala centralizava mais os

ditongos (ay) e (aw) do que os fazendeiros e outros pesquisados

51

Ocupaccedilatildeo (ay) (aw)

Pescadores 100 79

Fazendeiros 32 22

Outros 41 57

Tabela 01 ndash Centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por grupos ocupacionais

(LABOV 2008 [1972] p 46)

A tabela 01 mostra as tendecircncias de centralizaccedilatildeo dos ditongos

em funccedilatildeo dos grupos profissionais Os resultados apontam que os

pescadores usam mais centralizaccedilatildeo de (ay) e de (aw) num total

numeacuterico de 100 e de 79 respectivamente Para os fazendeiros os

resultados apontam 32 para (ay) e 22 para (aw) e para as outras

ocupaccedilotildees 41 para (ay) e 57 para (aw) A diferenccedila de resultados com

relaccedilatildeo agrave centralizaccedilatildeo dos ditongos pelos falantes na ilha em Martha‟s

Vineyard confirma o fato de pescadores usarem mais centralizaccedilatildeo do

que os demais informantes

Na centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por faixa etaacuteria Labov escreve

A centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) parece exibir um aumento

regular em faixas etaacuterias sucessivas alcanccedilando um pico

no grupo de 31 a 45 anos Temos agora de examinar as

razotildees para considerarmos esse padratildeo como uma

evidecircncia de mudanccedila histoacuterica no desenvolvimento de

Martha‟s Vineyard (LABOV 2008 [1972] p 41)

Vejamos a tabela

Idade (ay) (aw)

75 25 22

61 ndash 75 35 37

46 ndash 60 62 44

31 ndash 45 81 88

14 ndash 30 37 46

Tabela 02 ndash Centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por faixa etaacuteria (LABOV 2008

[1972] p 41)

52

Na tabela 02 Labov apresenta na coluna agrave esquerda a variaacutevel

independente18

ldquoidaderdquo (externa) distribuiacuteda em diferentes faixas

etaacuterias tendo iniacutecio a partir de 14 anos ateacute acima de 75 anos A coluna

central e a da direita apresentam as duas variaacuteveis dependentes19

fonoloacutegicas (internas) ndash os ditongos (ay) e (aw) Finalmente a tabela

apresenta a centralizaccedilatildeo de cada um dos ditongos de acordo com a

faixa etaacuteria do falante na Ilha de Martha‟s Vineyard

O fato de ser miacutenimo o percentual de centralizaccedilatildeo para

os muito velhos e para os muito jovens mostra que o

efeito da idade natildeo pode ser inteiramente descartado e

que de fato pode ser um fator secundaacuterio na distribuiccedilatildeo

pelas faixas etaacuterias (LABOV 2008 [1972] p 44)

Labov analisou em sua pesquisa iacutendices calculados por ele a

partir da centralizaccedilatildeo dos ditongos num total de 477 centralizaccedilatildeo de

(ay) e (aw) sendo 240 de (ay) e 237 de (aw) Ele percebeu na

distribuiccedilatildeo entre as cinco faixas etaacuterias um aumento percentual

gradativo com o resultado maior de centralizaccedilatildeo no grupo de 31 a 45

anos Por fim Labov em suas pesquisas sociolinguiacutesticas observou uma

possiacutevel mudanccedila da liacutengua nas diferentes faixas etaacuterias da comunidade

de fala de Martha‟s Vineyard com o controle da atuaccedilatildeo de vaacuterios

fatores internos e externos na centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw)

225 ndash Uma explicaccedilatildeo possiacutevel para o aumento da centralizaccedilatildeo

O exame da centralizaccedilatildeo segundo Labov da variaacutevel

dependente em estudo foi meramente descritivo e quando Labov tentou

explicar o fenocircmeno deparou-se com a seguinte questatildeo quais variaacuteveis

independentes seria importante examinarmos Labov supotildee que a

centralizaccedilatildeo desceu a um ponto baixo no final da deacutecada de 1930 e no

poacutes-guerra iniciou a subida Observe

18 COELHO et al (2010 p 166) ldquoVariaacuteveis independentes ndash fatores que condicionam nossa

escolha entre uma ou outra variante e que permitem ao linguista sugerir em que tipo de ambiente tanto linguiacutestico quanto extralinguiacutestico uma variante tem maior probabilidade de

ser escolhida em detrimento de sua (s) ldquorival (is)rdquordquo

19 COELHO et al (2010 p 166) ldquoVariaacutevel dependente ndash aspecto ou categoria da liacutengua que se

encontra em variaccedilatildeordquo

53

Permanece a questatildeo inicial a de explicar (ou de

oferecer um contexto mais amplo para) o aumento geral

da centralizaccedilatildeo na ilha Por que Martha‟s Vineyard deu

as costas para a histoacuteria da liacutengua inglesa Acredito que

podemos encontrar uma explicaccedilatildeo especifica se

estudarmos a configuraccedilatildeo detalhada desta mudanccedila

sonora em funccedilatildeo das forccedilas sociais que afetam mais

profundamente a vida da ilha (LABOV 2008 [1972] p

45)

As primeiras anaacutelises revelaram algumas correlaccedilotildees sociais

notaacuteveis A tabela 03 distribuiccedilatildeo geograacutefica da centralizaccedilatildeo mostra

as tendecircncias nas aacutereas da ilha alta rural a favorecer mais a centralizaccedilatildeo

do que nas aacutereas dos vilarejos da ilha baixa A tabela 03 mostra os

resultados sobre diferenccedilas geograacuteficas entre os moradores da ilha com

relaccedilatildeo agrave centralizaccedilatildeo dos ditongos nas duas principais partes da ilha

nas aacutereas da ilha alta rural e vilarejos na parte da ilha baixa

Os resultados de pesquisa sobre a centralizaccedilatildeo podem ser vistos

na tabela a seguir

(ay) (aw)

Ilha baixa 35 33

Edgartown 48 55

Oak Bluffs 33 10

Vineyard Haven 24 33

Ilha alta 61 66

Oak Bluffs 71 99

N Tisbury 35 13

West Tisbury 51 51

Chilmark 100 81

Gay Head 51 81

Tabela 03 ndash Distribuiccedilatildeo geograacutefica da centralizaccedilatildeo (LABOV 2008

[1972] p 45)

Estaratildeo essas variaacuteveis sociais vinculadas de algum

modo demonstraacutevel agrave mudanccedila linguumliacutestica Seratildeo

realmente independentes umas das outras ou algumas

das correlaccedilotildees estatildeo equivocadas e satildeo dependentes de

algum fator mais amplo que eacute logicamente preacutevio a elas

Se tal fator mais amplo existe precisamos indagar como

ele se originou e de que modo estaacute vinculado aos eventos

linguumliacutesticos Uma abordagem simplista e contabiliacutestica

54

natildeo responderaacute a essas perguntas Teremos de buscar

respostas na estrutura social da ilha e nas pressotildees que

motivam as mudanccedilas sociais da Martha‟s Vineyard

contemporacircnea (LABOV 2008 [1972] p 46)

A mudanccedila linguiacutestica dos grupos era identificada com os

costumes da ilha de Martha‟s Vineyard e Labov conduziu sua pesquisa

com pessoas que habitavam este local e viviam mais de acordo com os

seus costumes tradicionais Labov acreditava que as mudanccedilas

linguiacutesticas poderiam ser correlacionadas agraves relaccedilotildees sociais dos

moradores da ilha e por isso realizou sua pesquisa observando os

comportamentos linguiacutesticos somente das pessoas nativas da ilha

226 ndash A interaccedilatildeo de padrotildees linguiacutesticos e sociais

A Ilha de Martha‟s Vineyard ateacute hoje em dia eacute um lugar

beliacutessimo atrai muitos turistas inclusive poliacuteticos americanos As

pessoas que viviam laacute na deacutecada de 1960 natildeo tinham vida faacutecil na

sociedade americana Era o local com renda mais baixa no municiacutepio de

Massachusetts Labov traz essas informaccedilotildees do Censo de 196020

Os

moradores da ilha dependiam do turista a economia melhorava muito na

temporada Na Ilha de Florianoacutepolis acontece algo parecido Na

temporada de veratildeo o turista do paiacutes e do exterior lota a cidade

fortalecendo a economia do lugar

Florianoacutepolis tambeacutem eacute uma ilha beliacutessima com temporadas de

turistas que vecircm conhecer e aproveitar os lugares ir agraves praias passear

nos Shopping comprar nas lojas ir a restaurantes etc Labov quando

relata sua pesquisa na Ilha de Martha‟s Vineyard parece estar

comentando de Florianoacutepolis Os moradores da ilha aproveitam para

alugar suas casas vender seus produtos principalmente para os turistas

mais ricos Entatildeo haacute uma movimentaccedilatildeo econocircmica muito grande

assim como uma troca com relaccedilatildeo agrave liacutengua falada Como diz Labov (2008 [1972] p 49) ldquoOs chilmarkenses se

orgulham muito de suas diferenccedilas em relaccedilatildeo aos moradores do

continenterdquo

20 O Censo de 1960 mostra que a ilha de Martha‟s Vineyard se trata do municiacutepio mais pobre

de Massachusetts tem a meacutedia de renda mais baixa o mais alto nuacutemero de pessoas pobres e o

menor nuacutemero de pessoas ricas (LABOV 2008 [1972] p 47)

55

Vocecircs que vecircm para caacute para Martha‟s Vineyard natildeo

entendem os costumes das velhas famiacutelias da ilha

costumes e tradiccedilotildees estritamente mariacutetimos e aquilo

que nos interessa o resto da Ameacuterica essa parte do outro

lado aqui da aacutegua que pertence a vocecircs e com que noacutes

natildeo temos nada a ver se esqueceu completamente

Acho ateacute que noacutes usamos um tipo de liacutengua inglesa

totalmente diferente pensamos diferente aqui na ilha

eacute quase uma liacutengua separada dentro da liacutengua inglesa

Interessante se faz notar que no lugar de Chilmark a comunidade

na ilha vive a tradiccedilatildeo da famiacutelia os costumes vecircm de geraccedilatildeo em

geraccedilatildeo O estrangeiro de liacutengua inglesa quando conhece o lugar pode

influenciar a liacutengua falada na ilha pois seu inglecircs eacute diferente

Os resultados reunidos com o maior grau de centralizaccedilatildeo de (ay)

e de (aw) satildeo mostrados na tabela 04 organizados por ocupaccedilatildeo regiatildeo

ou localidade em que moram e faixa etaacuteria

Tabela 04 ndash Cruzamento de fatores 6 falantes com o maior grau de

centralizaccedilatildeo (LABOV 2008 [1972] p 50)

Na regiatildeo Edgartown dois pescadores que satildeo irmatildeos

descendentes de famiacutelias antigas mantecircm sua posiccedilatildeo agrave beira mar de Edgartown trabalhando mesmo frente agrave invasatildeo dos veranistas

Nas tabelas 01 e 04 verifica-se que de todos os grupos

ocupacionais o de pescadores eacute o que utiliza um maior iacutendice de

centralizaccedilatildeo Labov tentou fazer tabulaccedilotildees cruzadas extensas entre as

tabelas 04 e 05 mas chegou agrave conclusatildeo que o nuacutemero era pequeno

Ocupaccedilatildeo Regiatildeo Idade (ay) (aw)

Pescador de Chilmark 60 anos 170 111

Pescador de Chilmark 31 anos 165 211

Pescador de Chilmark 55 anos 150 124

Pescador de Edgartown 61 anos 143 107

Pescador de Chilmark 33 anos 133 79

Pescador de Edgartown 52 anos 131 131

56

demais Exemplificou com o grupo de pescadores de Chilmark na faixa

etaacuteria de 30 a 60 anos Percebeu que cinco informantes tecircm iacutendices

meacutedios de 148 para (ay) e 118 para (aw) o mais elevado do que

qualquer outro grupo social da ilha Labov concluiu entatildeo que a grande

escalada da centralizaccedilatildeo comeccedilou na ilha alta entre os pescadores de

Chilmark

Veja agora os resultados da faixa etaacuteria por grupo eacutetnico

Tabela 05 ndash Centralizaccedilatildeo por grupos eacutetnicos (LABOV 2008

[1972] p 46)

A tabela 5 apresenta a centralizaccedilatildeo por faixa etaacuteria em cada um

dos grupos eacutetnicos principais (ingleses portugueses e indiacutegenas)

Labov concluiu que

Vemos que a centralizaccedilatildeo atinge o aacutepice na faixa etaacuteria

de 30 a 45 anos e que a centralizaccedilatildeo de (aw) alcanccedilou

ou ultrapassou (ay) neste ponto Essa faixa etaacuteria tem

estado sob uma pressatildeo muito mais forte do que qualquer

outra os homens cresceram numa economia declinante

depois de fazerem uma escolha mais ou menos

deliberada de permanecer na ilha em vez de abandonaacute-la

A maioria deles esteve nas forccedilas armadas durante a

Segunda Guerra Mundial ou no conflito da Coreacuteia

Muitos frequumlentaram uma faculdade pois o grupo de

ascendecircncia inglesa tem um grande apreccedilo pela educaccedilatildeo

superior Em algum momento cada um desses homens

escolheu levar uma vida apertada em Martha‟s Vineyard

enquanto muitos de seus contemporacircneos partiram para

ganhar mais dinheiro ou mais reconhecimento em outro

lugar (LABOV 2008 [1972] p 50 e 51)

Exemplificou com relatos as interferecircncias que ocorreram no

modo de falar na ilha Uma delas ldquoSabe o E nem sempre falou desse

jeito foi soacute depois que ele voltou da faculdade Acho que ele queria

Ingleses Portugueses Indiacutegenas

Faixa etaacuteria (ay) (aw) (ay) (aw) (ay) (aw)

Mais de 60 36 34 26 26 32 40

46 a 60 85 63 37 59 71 100

31 a 45 108 109 73 83 80 133

Menos de 30 35 31 34 52 47 88

Todas as idades 67 60 42 54 56 90

57

ficar mais parecido com os homens das docasrdquo

Labov concluiu

Aqui vemos um caso niacutetido de hipercorreccedilatildeo atuando e

com base em outros indiacutecios tambeacutem eacute razoaacutevel supor

que essa eacute uma forccedila muito regular de implementaccedilatildeo da

tendecircncia foneacutetica que estamos estudando (LABOV

2008 [1972] p 52)

Muitos dos jovens de antigas famiacutelias natildeo permaneceratildeo na ilha e

isto reflete nos iacutendices da tabela Atraveacutes de uma leitura padronizada de

um texto com os jovens Labov observou que existia diferenccedila na fala

dos que permaneciam na ilha exibiam forte centralizaccedilatildeo enquanto os

que queriam sair mostravam pouca ou nenhuma centralizaccedilatildeo

Das informaccedilotildees obtidas surgiu um padratildeo unificado que

exprimia o significado social dos ditongos centralizados evidenciando

ldquoque o significado imediato desse traccedilo era o Vineyardenserdquo Labov

esclarece que pelo fato de os grupos terem que responder a desafios

diferentes a seu status nativo desenvolvia-se um modo complexo no

traccedilo fonecircmico

Labov exemplifica isso abaixo

O grupo das antigas famiacutelias de origem inglesa tem sido

submetido a pressotildees vindas de fora seus membros estatildeo

lutando para manter sua posiccedilatildeo independente diante de

um persistente decliacutenio da economia e diante do asseacutedio

ininterrupto dos veranistas O membro da comunidade de

orientaccedilatildeo tradicional naturalmente busca seus valores

nas geraccedilotildees passadas essas geraccedilotildees passadas formam

um grupo de referecircncia para ele (LABOV 2008 [1972]

p 57)

Na geraccedilatildeo mais jovem dos ingleses o efeito diferencial no grau

de centralizaccedilatildeo manteve-se na tradiccedilatildeo eles tinham os ancestrais como

referecircncia se consideravam independentes enquanto pescadores

acreditavam que a ilha lhes pertencia Mantinham sua posiccedilatildeo

econocircmica Se pretendiam sair da ilha a influecircncia dos antepassados

diminuiacutea consideravelmente

No grupo de portugueses eles natildeo enfrentavam o dilema de partir ou ficar na ilha o principal desafio a que esse grupo tinha reagido

provinha do grupo inglecircs que tinha servido de referecircncia ateacute pouco

tempo Para os portugueses o mais urgente era afirmar-se em sua

identidade como ilheacuteu Os indiacutegenas se ressentiam dos obstaacuteculos que

58

enfrentavam na ilha mas tinham adotado muito dos valores dos

Chilmarkenses Com poucos recursos linguiacutesticos ficava difiacutecil insistir

em sua identidade indiacutegena

Labov (2008 [1972] p 59) examinando as entrevistas de cada

informante situou-as em trecircs categorias

Positivo ndash exprime sentimentos definitivamente positivos

acerca de Martha‟s Vineyard neutra ndash expressa

sentimentos nem positivos nem negativos acerca de

Martha‟s Vineyard negativa ndash indicada o desejo de ir

viver em outro lugar

Agora observe na tabela 06 o resultado da centralizaccedilatildeo segundo

a atitude dos trecircs grupos de falantes quanto agrave ilha

Pessoas (ay) (aw)

40 Positiva 63 62

19 Neutra 32 42

6 Negativa 09 08

Tabela 06 ndash Centralizaccedilatildeo e atitude com relaccedilatildeo a Martha‟s Vineyard

(LABOV 2008 [1972] p 59)

Labov agrupou os vaacuterios informantes em uma escala social

quanto ao uso dos ditongos centralizados Primeiro mostravam-se com

atitudes positivas 40 pessoas entrevistadas o iacutendice de centralizaccedilatildeo era

de 63 para (ay) e 62 para (aw) as duas comparaccedilotildees de centralizaccedilotildees

mais altas Segundo o ponto neutro realizado por 19 pessoas

entrevistadas o iacutendice de centralizaccedilatildeo ficava na faixa de 30 32 para

(ay) e 42 para (aw) nem positivo nem negativo Terceiro o ponto

negativo O autor encontrou 6 pessoas entrevistadas que tinham atitudes

negativas com relaccedilatildeo agrave ilha O iacutendice de centralizaccedilatildeo nesse caso era

apenas de 09 para (ay) e de 08 para (aw) Essas pessoas diziam que queriam

viver em outros lugares e natildeo na ilha de Martha‟s Vineyard O autor

mostrou a estratificaccedilatildeo de todos e como ele conseguiu explicar a

distribuiccedilatildeo dos ditongos centralizados de forma vaacutelida fazendo as

relaccedilotildees necessaacuterias para as explicaccedilotildees

59

23 ndash Os princiacutepios da mudanccedila linguiacutestica

Num primeiro estudo relacionado agrave mudanccedila linguiacutestica em

progresso (em curso) eacute necessaacuterio entender como as variaccedilotildees

linguiacutesticas estatildeo distribuiacutedas por faixa etaacuteria Entatildeo percebemos a

mudanccedila linguiacutestica relacionando a variaacutevel linguiacutestica com a idade

pesquisando indiviacuteduos de diferentes geraccedilotildees Segue abaixo a citaccedilatildeo

de Labov sobre mudanccedila linguiacutestica observada entre as faixas etaacuterias

conhecida como mudanccedila em tempo aparente21

A primeira abordagem e mais simples para estudar a

mudanccedila linguiacutestica em andamento eacute traccedilar mudanccedila no

tempo aparente isto eacute a distribuiccedilatildeo das variaacuteveis

linguiacutesticas entre os diferentes niacuteveis etaacuterios Se

descobrirmos uma relaccedilatildeo monotocircnica entre a idade e a

variaacutevel linguiacutestica ou uma correlaccedilatildeo significativa entre

as duas entatildeo trata-se de decidir se estamos lidando com

uma verdadeira mudanccedila em progresso ou de gradaccedilatildeo

etaacuteria (Hockett 1950) uma mudanccedila regular de

comportamento linguiacutestico com a idade que se repete em

cada geraccedilatildeo (LABOV 1994 p 47)22

A primeira e mais simples aproximaccedilatildeo entre as variaccedilotildees

encontradas na sincronia ao estudo da mudanccedila linguiacutestica em curso eacute

seguir a pista da mudanccedila em tempo aparente isto eacute a distribuiccedilatildeo das

variaacuteveis linguiacutesticas por faixa etaacuteria Na variaccedilatildeo encontrada entre o

grupo dos indiviacuteduos mais velhos de uma geraccedilatildeo e outro grupo de

21 SILVA (2004) faz um recorte transversal da amostra sincrocircnica em funccedilatildeo da faixa etaacuteria

dos informantes Por exemplo utilizamos no nosso estudo trecircs grupos etaacuterios jovens meia idade e idosos

COELHO et al (2010 p 164) apontam que mudanccedila em tempo aparente eacute uma ldquomudanccedila

linguiacutestica captada em estudo do comportamento linguiacutestico de indiviacuteduos de diferentes

geraccedilotildees numa comunidade num dado periacuteodo de tempo Tal estudo possibilita identificar correlaccedilotildees entre a variaacutevel social idade e a variaacutevel linguiacutestica em estudo revelando indiacutecios

de (i) uma mudanccedila concernente agrave idade que ocorre regularmente em cada geraccedilatildeo (gradaccedilatildeo

etaacuteria) ou de (ii) uma mudanccedila efetiva em progressordquo

22 Traduccedilatildeo minha do texto original em Inglecircs de Labov ldquoThe first and most straightforward approach to studying linguistic change in progress is to trace change in apparent time that is

the distribution of linguistic variables across age levels If we discover a monotonic

relationship between age and the linguistic variable or a significant correlation between the two then issue is to decide whether we are dealing with a true change in progress or with age-

grading (Hockett 1950) a regular change of linguistic behavior with age that repeats in each

generationrdquo

60

indiviacuteduos mais jovens em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria percebe-se muitas

vezes mudanccedila linguiacutestica em progresso nas liacutenguas

Na estratificaccedilatildeo por idade muitas vezes se percebe que os

indiviacuteduos mudam seu comportamento linguiacutestico durante toda a sua

vida mas a comunidade nem sempre muda

231 ndash A idade e a variaccedilatildeo estaacutevel

Mas nem sempre o estudo da faixa etaacuteria vai indicar mudanccedila em

progresso A meacutedia do grau de realizaccedilatildeo de uma variaccedilatildeo estaacutevel23

pode ser tambeacutem observada entre as faixas etaacuterias dos falantes em que

os grupos extremos (jovens e velhos) apresentam o mesmo

comportamento ao contraacuterio do grupo de meia idade cujo

comportamento se diferencia devido agraves pressotildees sociais Eacute considerando

a variaacutevel idade que vai ser observado no conjunto de dados

investigados se temos mudanccedila em tempo aparente ou variaccedilatildeo estaacutevel

A variaccedilatildeo estaacutevel pode ser observada considerando a

combinaccedilatildeo dos resultados das variaacuteveis bdquoidade‟ bdquosexo‟ bdquoclasse social‟ e

bdquoniacutevel de escolaridade‟ Com relaccedilatildeo agrave bdquofaixa etaacuteria‟ a variaccedilatildeo estaacutevel

diz respeito a variantes que coexistem por um longo periacuteodo mas sem

ter necessariamente predominacircncia de uma sobre a outra

Uma outra possibilidade eacute a visatildeo claacutessica que prevecirc estabilidade

do falante mas instabilidade da comunidade Ex daqui a 20 anos os

falantes de 70 anos estaratildeo falando como os de 50 anos de hoje Outra

possibilidade admite que o sistema linguiacutestico do indiviacuteduo modifica

mas o da comunidade permanece o mesmo Ex daqui a 20 anos os

falantes de 70 anos teratildeo o mesmo sistema que os de 70 anos hoje

Resultados recentes apontam para uma terceira possibilidade o

indiviacuteduo muda com o passar do tempo mas natildeo atinge precisamente a

mesma posiccedilatildeo em que estatildeo os falantes mais velhos atualmente

23 COELHO et al (2010 p 166) apontam que variaccedilatildeo estaacutevel eacute conhecida como a ldquosituaccedilatildeo

de variaccedilatildeo entre duas ou mais formas linguiacutesticas que se estende numa comunidade ao longo

do tempo sem que uma variante ceda seu espaccedilo agrave outrardquo

61

232 ndash A idade e a mudanccedila linguiacutestica

Segundo Naro (2003 p 44) no portuguecircs atual do RJ haacute

fenocircmenos em que a idade atua fortemente

Seudele a forma seu para a 3ordf pessoa eacute pouquiacutessimo

recorrente na fala dos mais jovens

Noacutesa gente os jovens estatildeo evitando a forma noacutes

Ir os jovens estatildeo evitando as regecircncias ir a e ir para

preferindo ir em

Sob a hipoacutetese claacutessica o estado atual da liacutengua de um falante

adulto reflete o estado da liacutengua adquirida mais ou menos ateacute os 15 anos

de idade Logo um indiviacuteduo falante com 60 anos representa a liacutengua de

45 anos atraacutes Falantes adultos tendem a usar as formas antigas Os pais

e filhos apesar de estarem em interaccedilatildeo constante usam formas

distintas na comunicaccedilatildeo Pais e filhos tecircm um vocabulaacuterio e uma fala

proacuteprios de sua eacutepoca Com o passar do tempo eacute provaacutevel que a forma

nova seja adotada por pais e filhos

Naro (2003) apresenta a escala em tempo aparente obtida atraveacutes

do estudo de falantes com idades diferentes ndash chamada de ldquogradaccedilatildeo

etaacuteriardquo ndash que corresponde sempre sob a hipoacutetese claacutessica a uma escala

de mudanccedila em tempo real Observamos a tabela apresentada a seguir

Idade atual

(em anos)

Estado da liacutengua

(anos atraacutes)

70

60

50

40

30

20

55

45

35

25

15

5

Tabela 07 ndash A escala em tempo aparente eacute chamada de ldquogradaccedilatildeo etaacuteriardquo (NARO 2003 p 45)

A tabela ajuda a explicar os dados da pesquisa realizada por

Labov (atraveacutes de gravaccedilatildeo no ano de 1990) mostrando que a fala de

62

um indiviacuteduo de 70 anos de idade representaria o estado da liacutengua

adquirida em 1935

Segundo Naro (2003) Labov conseguiu distinguir quatro graus de

ditongos centralizados denotados (aw) ndash 0 (a posiccedilatildeo mais baixa

correspondendo a ldquoshwardquo) As trecircs posiccedilotildees centrais claacutessicas do

alfabeto foneacutetico estatildeo representadas por ele no seguinte graacutefico

Figura 06 ndash O trapezoacuteide das vogais a flecha indica a direccedilatildeo de

movimento do primeiro elemento de (aw) (NARO 2003 p 49)

A pesquisa em Martha‟s Vineyard revelou que os velhos

preservavam mais a forma original natildeo-centralizada os jovens por

outro lado centralizavam mais Segue a tabela

Geraccedilatildeo Idade Iacutendice de (aw) Iacutendice de (ay)

I (pais) 75+

61 - 75

22

37 25

35

II (filhos) 46 ndash 60

31 ndash 45

44

88 62

88

Tabela 08 ndash Mudanccedila de (aw) e (ay) em tempo aparente atraveacutes de duas

geraccedilotildees em Martha‟s Vineyard (Labov 1972 apud Naro 2003 p 22)

Algumas observaccedilotildees de Naro sobre a pesquisa de Labov satildeo (i) a centralizaccedilatildeo estaacute se espalhando com forccedila e rapidez (ii) os indiviacuteduos

mais velhos (80 anos) praticamente apenas usavam o grau zero o mais

aberto da escala com ocorrecircncias esporaacutedicas do grau um a faixa de 60

anos estava concentrada no grau dois antes de consoante surda (out

63

ldquoforardquo) e no grau zero ou um em outros contextos (round ldquoredondordquo

now ldquoagorardquo) na faixa de 30 anos o condicionamento se tornava quase

categoacuterico grau dois ou trecircs antes de consoante surda grau zero ou um

nos demais contextos ndash resultados obtidos atraveacutes do estudo da variaccedilatildeo

no indiviacuteduo Observa-se assim detalhadamente a mudanccedila em

progresso desde o comeccedilo (ocorrecircncia esporaacutedica de variantes mais

altas) ateacute a instauraccedilatildeo do condicionamento categoacuterico (variantes mais

altas antes de consoante surda variantes mais baixas nos outros

contextos)

De acordo com Naro

O que permite esta visatildeo simultacircnea das diversas etapas

do processo dinacircmico de mudanccedila eacute o congelamento do

sistema linguiacutestico do falante na eacutepoca da puberdade e eacute

justamente este o postulado fundamental que subjaz agrave

hipoacutetese claacutessica do relacionamento entre mudanccedila

linguiacutestica e idade o processo da mudanccedila se espelha na

fala das sucessivas faixas etaacuterias (NARO 2003 p 46)

Sabemos que nem toda variaccedilatildeo na fala representa mudanccedila em

progresso Um exemplo pronuacutencia do morfema ing em inglecircs (walking

ldquoandandordquo) que pode ser realizado como velar ou dental ndash eacute uma

variaccedilatildeo atestada haacute seacuteculos poreacutem ainda existente em praticamente

todos os dialetos e nas diferentes faixas etaacuterias

Labov realizava pesquisas sobre o desenvolvimento diacrocircnico24

da liacutengua a partir de anaacutelises sincrocircnicas25

primeiro foi na ilha de

Marthas Vineyard (1963) e depois foi na cidade de Nova York (1966)

Quando a mudanccedila estaacute envolvida certa variante

ocorreraacute na fala da crianccedila embora esteja ausente na fala

de seus pais ou mais tipicamente uma variante na fala

24 JOTA (1981 p 103) ldquoEstudo da liacutengua atraveacutes dos tempos e consequentemente estudo das transformaccedilotildees que sofre a liacutengua em sua evoluccedilatildeo Opotildee-se agrave sincronia A linguiacutestica

portanto jaacute que pode estudar a liacutengua diacronicamente ou se limitar ao seu estudo em

determinado tempo de sua evoluccedilatildeo (sincronia) se divide em diacrocircnica e sincrocircnicardquo

25 JOTA (1981 p 307) ldquoConjunto dos fatos linguiacutesticos num dado estaacutegio de sua evoluccedilatildeo A sincronia eacute objeto de estudo da linguiacutestica sincrocircnica ou estaacutetica Como um estado de liacutengua

abrange determinado espaccedilo de tempo tempo suficiente para que haja alguma variaccedilatildeo

sincrocircnica eacute claro que esta sob certo ponto-de-vista natildeo se distingue da evoluccedilatildeo diacrocircnicardquo

64

dos pais ocorreraacute na fala de seus filhos com frequecircncia

maior e na fala de seus netos com frequecircncia ainda

maior (CHAMBERS 1995 p185)26

Numa comunidade em geral as geraccedilotildees sucessivas apresentaratildeo

uma frequecircncia de uso maior da variante inovadora A conclusatildeo loacutegica

eacute que com o passar do tempo haveraacute um uso categorial da forma

inovadora e a eliminaccedilatildeo da variante antiga

233 ndash Aplicando os conhecimentos da sociolinguiacutestica

Eacute importante ressaltar que todas as liacutenguas mudam com o tempo

Como exemplo o portuguecircs eacute originaacuterio do latim considerado liacutengua

matildee Entretanto atualmente natildeo haacute semelhanccedila entre as duas liacutenguas

As diferenccedilas satildeo profundas e afetam toda a gramaacutetica da liacutengua essas

diferenccedilas apareceram e cresceram ao longo de mais de mil anos Tanto

na liacutengua falada quanto na liacutengua escrita ocorrem mudanccedilas que satildeo

observadas quando satildeo feitas pesquisas que nos mostram em que alguns

fenocircmenos mudaram Este assunto eacute explicado por Naro (2003)

A mudanccedila linguiacutestica natildeo eacute abrupta normalmente se processa de

maneira gradual em vaacuterias dimensotildees Sob o eixo social eacute observaacutevel

que falantes mais velhos costumam preservar mais as formas antigas o

mesmo ocorre com pessoas mais escolarizadas com camadas da

populaccedilatildeo que gozam de maior prestiacutegio social com o grupo feminino e

com as pessoas que exercem atividades que exigem boa apresentaccedilatildeo

para o puacuteblico Uma mesma pessoa pode escolher diferentes formas em

diferentes situaccedilotildees

Com base nisso pretendo fazer uma comparaccedilatildeo das mudanccedilas

ocorridas num curto espaccedilo de tempo tendo como referecircncia um

professor surdo para investigar as possiacuteveis mudanccedilas da liacutengua de

sinais depois de seu estudo no INES ateacute o momento atual envolvendo

um grupo de surdos mais velhos e outros dois grupos mais jovens Os

dados obtidos na pesquisa podem mostrar como ocorreram algumas

mudanccedilas na liacutengua de sinais e se realmente ocorreram aleacutem disso

podem criar um registro deste periacuteodo para futuras pesquisas Para

Labov (2008 [1972] p 21) ldquoseria de esperar que a aplicaccedilatildeo da

26 Traduccedilatildeo minha do texto original em Inglecircs ldquoWhere change is involved a certain variant will occur in the speech of children though it is absent in the speech of their parents or more

typically a variant in the parents‟ speech will occur in the speech of their children with greater

frequency and in the speech of their granchildren with even greater frequencyrdquo

65

linguiacutestica estrutural a problemas diacrocircnicos levasse ao enriquecimento

dos dados mais do que ao seu empobrecimentordquo

Vale lembrar que em 1970 a educaccedilatildeo dos surdos em Santa

Catarina era baseada em metodologia oralista Poucos sinalizavam

porque natildeo podiam tinham que falar Os sinais eram usados na

comunicaccedilatildeo entre surdos mas esporadicamente pois nesta eacutepoca aleacutem

de serem proibidos de utilizarem sinais para a comunicaccedilatildeo tambeacutem

natildeo podiam fazer reuniotildees soacute de indiviacuteduos surdos como acontece

atualmente Segue a citaccedilatildeo de Labov 2008 [1972] que considero

pressuposto para o desenvolvimento da presente pesquisa

O ponto de vista do presente estudo eacute o de que natildeo se

pode entender o desenvolvimento de uma mudanccedila

linguumliacutestica sem levar em conta a vida social da

comunidade em que ela ocorre Ou dizendo de outro

modo as pressotildees sociais estatildeo operando continuamente

sobre a liacutengua natildeo de algum ponto remoto no passado

mas como uma forccedila social imanente agindo no presente

vivo (LABOV 2008 [1972] p 21)

O maior problema a meu ver eacute que o grupo dos mais velhos que

usava a liacutengua falada natildeo entendia a importacircncia da liacutengua de sinais

para o indiviacuteduo surdo restringindo muito a sinalizaccedilatildeo e os sinais no

ano de 1950 Sabemos que pessoas de diferentes lugares que vecircm para

uma determinada comunidade acabam trocando experiecircncias e palavras

influenciando essa comunidade Isto pouco acontecia com o grupo dos

surdos mais velhos Diferentemente do que se observava com os

antigos os surdos mais novos tinham um maior contato social com a

liacutengua de sinais brasileira permitindo mais trocas de conhecimentos

criando novos sinais tornando a liacutengua de sinais mais ldquovivardquo e

ldquodinacircmicardquo

Por exemplo em comparaccedilatildeo com falantes da ilha em

Florianoacutepolis quanto agrave situaccedilatildeo estiliacutestica27

o grupo mais velho de

surdos usava mais a liacutengua falada do que a sinalizada pouco contato

eles tinham entre si pois era proibida28

a sinalizaccedilatildeo pelas instituiccedilotildees

27 Eacute o jeito de falar nas diferentes situaccedilotildees com os diferentes interlocutores e nos variados

contextos

28 SCHMITT (2008) A representaccedilatildeo de surdo na histoacuteria antiga registra a passagem que os

surdos realizaram na sociedade onde predominavam os ouvintes Entatildeo a hegemonia dos ouvintes manteve sempre o surdo como excluiacutedo atraveacutes de estereoacutetipos e depreciaccedilotildees A

sociedade antiga natildeo permitia a capacitaccedilatildeo dos surdos como sujeitos normais o uso da liacutengua

66

que trabalhavam com os surdos e tambeacutem pelas famiacutelias Conta-se que

em algumas escolas amarravam as matildeos dos indiviacuteduos surdos para que

natildeo sinalizassem Com o grupo mais jovem eacute diferente o contato deles

com outros surdos eacute maior trocam mais experiecircncias e sinais

propiciando assim mais mudanccedilas na liacutengua de sinais tornando-se hoje

mais usada e mais dinacircmica na comunidade surda Isso acontece aqui

em Florianoacutepolis tambeacutem A influecircncia accediloriana trazida pelos

imigrantes portugueses atualmente com a visita de turistas brasileiros

(ex vindos dos estados de RS SP PR e MG) e estrangeiros (ex

Argentinos Paraguaios Uruguaios Chilenos dentre outros) a

Florianoacutepolis acaba interferindo e modificando a liacutengua falada na ilha

Acredita-se que existe variaccedilatildeo linguiacutestica na liacutengua de sinais

em Santa Catarina por influecircncia da comunidade de falantes nas

diferentes regiotildees do estado A liacutengua de sinais acaba incorporando

parte da cultura dessas comunidades a sua liacutengua

Existem pesquisas na liacutengua de sinais mostrando diferenccedilas

nas liacutenguas visual-espacial de acordo com o paiacutes de origem com

diferenccedilas culturais diferentes configuraccedilotildees de matildeos etc Estas

pesquisas ajudam a compreender melhor a estrutura das liacutenguas de

sinais seu aspecto linguiacutestico e gramatical

Em Santa Catarina na comunidade de falantes no municiacutepio de

Itaacute na regiatildeo oeste do estado muitos descendentes de europeus

(Italianos alematildees poloneses etc) falam usando um r brando por

exemplo barragem mas na fala fica baragem

Na liacutengua portuguesa existem diferentes sons e diferentes formas

de falar esses sons No caso do exemplo citado anteriormente do

municiacutepio de Itaacute o som do r falado eacute diferente mas o significado da

palavra eacute o mesmo Na LIBRAS acontece isto um determinado sinal

pode ser pronunciado de diferentes maneiras com relaccedilatildeo agrave

configuraccedilatildeo de matildeos (CM)29

ao ponto de articulaccedilatildeo (PA) e ao

movimento (M) Segue abaixo a foto de trecircs principais paracircmetros

fonoloacutegicos

de sinais e nem aceitava a cultura do surdo Como A liacutengua de sinais foi banida das escolas

pelas decisotildees do Congresso de Milatildeo em 1880

29 Configuraccedilatildeo de matildeo e segue a foto

67

Figura 07 ndash Sinal de Porco

Por exemplo os sinais para as palavras amanhatilde

30 e faacutecil

31 satildeo

diferentes quanto ao ponto de articulaccedilatildeo e ao movimento mas a

configuraccedilatildeo de matildeos eacute a mesma para as duas palavras Ė importante

ressaltar que Labov em sua pesquisa mostrou variaacuteveis linguiacutesticas com

relaccedilatildeo agrave comunidade de fala e o exemplo na liacutengua de sinais eacute visual e

natildeo sonoro Entatildeo a fonologia das liacutenguas de sinais eacute um ramo da

linguiacutestica que objetiva identificar a estrutura e a organizaccedilatildeo dos

constituintes fonoloacutegicos propondo descriccedilotildees e explicaccedilotildees

Labov (1982) no entanto acreditava que eacute possiacutevel que uma

mudanccedila linguiacutestica possa ser o resultado de uma causa particular

isolada do sistema linguiacutestico ou social Por exemplo em Marthas

Vineyard um alto nuacutemero de casamento entre surdos e ouvintes e entre

surdos foi responsaacutevel pelo nascimento de centenas de surdos no seacuteculo

XIX Como resultado quase todos os membros ouvintes da comunidade

aprenderam a liacutengua de sinais e a utilizaram com muitos outros

propoacutesitos aleacutem da comunicaccedilatildeo com surdos (GROCE 1952)

Concluo este capiacutetulo que apresenta a pesquisa de Labov na ilha

30 Sinal de amanhatilde e segue a foto

31 Sinal de faacutecil e segue a foto

68

de Marthas Vineyard verificando a ocorrecircncia de centralizaccedilatildeo de

ditongos com algumas consideraccedilotildees A metodologia de pesquisa que

Labov abriu um campo de estudos que relaciona variaccedilatildeo e a mudanccedila

linguiacutestica ao contexto social utilizando-se de fatores como gecircnero

escolaridade classe social faixa etaacuteria local de residecircncia apoiando-se

em conhecimento de antropologia e liacutengua e de teacutecnicas computacionais

e matemaacuteticas Essa forma de pesquisa deu iniacutecio ao ramo da linguiacutestica

que conhecemos como sociolinguiacutestica variacionista ou quantitativa em

que a liacutengua natildeo eacute vista como uma estrutura estaacutetica e sim como um

sistema em variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica constante ligado agrave estrutura

social

69

CAPIacuteTULO III ndash A histoacuteria social da liacutengua

31 ndash Introduccedilatildeo

Inicialmente este capiacutetulo apresenta a histoacuteria contextualizada da

liacutengua de sinais da Franccedila depois no Brasil e finalmente em Santa

Catarina No primeiro momento apresenta-se o perfil do fundador da

primeira escola de surdos no mundo localizada na Franccedila o Abade de

LacuteEacutepeacutee Em seguida aponta-se qual foi o fundador da primeira

instituiccedilatildeo de surdos na cidade do Rio de Janeiro o Eacutedouard Huet32

e

traz consideraccedilotildees sobre o primeiro professor surdo a trabalhar em sala

de aula com alunos surdos em Santa Catarina Francisco Lima Juacutenior

Este uacuteltimo estudou a liacutengua de sinais na cidade do Rio de Janeiro e

proporcionou aos surdos de Santa Catarina uma comunicaccedilatildeo em liacutengua

de sinais mais aprofundada e abrangente Ele tambeacutem divulgou a liacutengua

de sinais na comunidade surda criando espaccedilos culturais e uma

identidade para a comunidade surda catarinense

Este capiacutetulo apresentada a seguinte estrutura comenta sobre o

primeiro fundador do Instituto Nacional de Surdos de Paris Abade

LacuteEacutepeacutee apresenta Eacutedouard Huet e sua vinda para o INESRJ e por fim

relata a histoacuteria do primeiro professor surdo (Francisco Lima Juacutenior) em

Santa Catarina na liacutengua de sinais

32 ndash Charles Michel de LacuteEacutepeacutee - Instituto Nacional de Surdos-

Mudos33

em Paris

Na Franccedila Abade de LacuteEacutepeacutee34

foi o primeiro fundador de uma

escola com classes para a educaccedilatildeo de surdos e tambeacutem criou a

32 No Brasil escreve-se Eduard mas na Franccedila seu nome e escrito Eacutedouard Huet

33 Surdos-Mudos ndash terminologia utilizada nessa eacutepoca atualmente utilizamos ser surdo

34 Abade de LacuteEacutepeacutee foi o criador de um meacutetodo empregado na educaccedilatildeo de surdos

denominado de ldquosinais metoacutedicosrdquo A justificativa para a criaccedilatildeo desse meacutetodo se deu pelo fato de que L‟Epeacutee acreditava que a Liacutengua de Sinais utilizada pelos surdos era incompleta

devendo ser melhorada e universalizada Seu meacutetodo consistia em conservar o ldquonuacutecleo central

dos gestosrdquo utilizados por seus alunos adicionando poreacutem a estes gestos outros sinais para designar objetos qualidades fatos ou situaccedilotildees No entanto como seu principal objetivo era o

ensino da liacutengua francesa natildeo se deu por satisfeito criou uma seacuterie de sinais que natildeo existiam

na codificaccedilatildeo gestual referente a preposiccedilotildees artigos tempo e pessoa verbal entre outros

70

linguagem de gestos que se chamava ldquoLINGUAGEM DE SINAIS

METOacuteDICOSrdquo e o alfabeto manual que eacute bem diferente dos coacutedigos de

significados na estrutura frasal e no gesto que representava a palavra

para o surdo

Moura (2000 p 22) relatou que o Abade Charles-Michel de

L‟Epeacutee nasceu em 1712 na cidade de Versalhes na Franccedila O Abade

comeccedilou a ensinar os surdos em 1760 por razotildees religiosas iniciando

seu trabalho com duas freiras surdas Com grande desafio transformou

sua casa na primeira escola puacuteblica para surdos (Instituto de Surdos e

Mudos de Paris) utilizando a comunicaccedilatildeo gestual A autora Perlin

(2002) lembra que

As escolas fundadas em outros paiacuteses nos moldes da

Franccedila passaram a usar as liacutenguas de sinais nacionais e a

explorar novos recursos na educaccedilatildeo de surdos O

curriacuteculo da escola para surdos em Paris passou a

conter liacutengua de sinais religiatildeo liacutengua nacional e

formaccedilatildeo profissional

O Abade de L‟Epeacutee comeccedilou a sua pesquisa observando um

grupo de surdos de laacute que se comunicava nas ruas da cidade (cuidando

para que as pessoas natildeo os vissem fazendo gestos) na liacutengua de sinais

francesa O Abade LacuteEacutepeacutee teve a ideia de conhecer mais sobre a liacutengua

gestual daqueles surdos e mais tarde pensou em como poderia ajudaacute-los

nessa comunicaccedilatildeo Ele ensinava religiatildeo na igreja para os surdos Entatildeo

LacuteEacutepeacutee comeccedilou a investir em seu projeto de melhorias para esta forma

de comunicaccedilatildeo Chamou o grupo de surdos e mostrou a liacutengua gestual

com gramaacutetica proacutepria e o alfabeto manual para o auxiacutelio na

comunicaccedilatildeo

A oportunidade de melhorar a linguagem dos surdos na eacutepoca foi

essencial para que fosse desenvolvida a base da liacutengua de sinais dos

surdos de Paris fortalecendo a cultura e a comunidade surda Isso

permitia tambeacutem que os surdos tivessem acesso a uma filosofia

religiosa aprendendo com isso novos vocabulaacuterios aleacutem da crenccedila e de

um modelo educacional diferente Segue o autor

Todo surdo-mudo enviando ateacute noacutes jaacute tem uma

linguagem () Tem o haacutebito de usaacute-la e compreende os

outros que a fazem Com essa linguagem expressa as

suas necessidades desejos duacutevidas dores etc e natildeo

erra quando os outros se expressam da mesma forma

Noacutes desejamos instruiacute-los e assim ensinar-lhes o francecircs

71

Qual eacute o meacutetodo mais simples e mais curto Natildeo seria

expressando-nos na sua liacutengua Adaptando a sua liacutengua e

fazendo com que ela se adapte a regras claras natildeo

seriacuteamos capazes de conduzir a sua instruccedilatildeo como

desejamos (citado por Harlan Lane Instituon des

Sourds-Muets par la Voie des Signes Meacutethodies part 1

cap IV p 36) apud (CARVALHO 2007 p 24)

Para o surdo comeccedilou a existir uma linguagem atraveacutes da

comunicaccedilatildeo gestual Assim os surdos trocavam informaccedilotildees entre eles

na liacutengua de sinais essencial para o acesso do surdo a sua identidade

Essa convenccedilatildeo social da liacutengua de sinais nesse primeiro grupo de

surdos foi a base da liacutengua Entatildeo o surdo podia aprender a liacutengua

francesa escrita e ter contato com a gramaacutetica dessa liacutengua que foi

essencial para a comunicaccedilatildeo dos surdos transformando a representaccedilatildeo

do gestual O surdo podia alfabetizar-se em francecircs e entender melhor a

sociedade em que vivia e assim adaptar-se agraves mudanccedilas ocorridas em

sua liacutengua gestual Segue a discussatildeo do autor

O Abade L‟Epeacutee iniciou do ano em 1760 conheceu o

grupo de surdo na liacutengua de sinais francesa e estudou

junto com os surdos Mas ele teve a ideacuteia de ajudar o

surdo valorizar a liacutengua de sinais francesa Quem fundou

o Instituto no Paris Foi Abade L‟Epeacutee Laacute foi ensinada

a liacutengua de sinais francesa para os alunos surdos mais

pobres Berthier escreveu a biografia do Abade L‟Epeacutee

(1712 ndash 1789) (SCHMITT 2008 p 50)

O Abade L‟Epeacutee com sua experiecircncia e pesquisa ajudava os

surdos franceses na liacutengua francesa escrita e na liacutengua de sinais em

Paris Com sua pesquisa ele mostrou para a comunidade da eacutepoca uma

nova forma de ensinar os surdos desenvolvendo estrateacutegias de ensino

nas duas liacutenguas Acreditava-se que um dos motivos que levou o Abade

a demonstrar interesse pela educaccedilatildeo de surdos foi o fato de ele ter duas

freiras surdas Seguem imagens mostrando o Abade L‟Epeacutee ensinando o

primeiro grupo de surdos franceses (SCHMITT 2008 p 51)

72

Figura 08 ndash Abade L‟Epeacutee ensinando os surdos na liacutengua de sinais

francesa

Schmitt (2008) realizou pesquisa na liacutengua de sinais na

identificaccedilatildeo do surdo e na adaptaccedilatildeo do conhecimento pelo surdo

Sobre L‟Epeacutee ensinando o grupo de surdos na imagem anterior Schmitt

comenta

O Abade L‟ Epeacutee ajudou ensinando os surdos na liacutengua

de sinais valorizando o aspecto viso-espacial na relaccedilatildeo

das matildeos compartilhando e mostrando a loacutegica de sinais

do surdo compreende-se envolve a capacidade no uso o

alfabeto na cultura do surdo Entatildeo na realidade

possibilitou a liacutengua do surdo na comunicaccedilatildeo com outro

surdo e na relaccedilatildeo com professor francecircs (SCHMITT

2008 p 51)

Segundo Frishberg (1975) na Franccedila escreveu que Abbe Charles-

Michel LacuteEpeacutee descreveu o uso da liacutengua de sinais que havia aprendido

com seus alunos ou em contato com as pessoas Era uma forma natural

de comunicaccedilatildeo que veio dar origem agrave gramaacutetica francesa de sinais

Essa gramaacutetica francesa se espalhou e foi disseminada por toda a

Europa cada paiacutes com suas especificidades como ocorre na liacutengua

falada

Percebemos que o Abade L‟Epeacutee ensinava a gramaacutetica do francecircs

no Instituto para Surdos de Paris para que os alunos surdos aprendessem

a histoacuteria e a liacutengua de sinais O L`Epee foi o antecessor em Paris do

Abade Sicard que escreveu o primeiro dicionaacuterio na liacutengua de sinais no

seacuteculo XVIII

Quando o Abade apresentou a comunicaccedilatildeo em liacutengua de sinais

ao grupo para que aprendessem vocabulaacuterio na liacutengua de sinais mostrou

os sinais de COMER AacuteGUA e tambeacutem o sinal de BEBER apontando

para vaacuterios objetos para que o grupo memorizasse e aprendesse o nome

73

de cada um deles Isso com o grupo de alunos e tambeacutem com as duas

irmatildes Foi crescendo o nuacutemero de sinais usados na linguagem gestual

francesa daquela eacutepoca pelos alunos surdos da instituiccedilatildeo onde ensinava

L‟Epeacutee

Entatildeo percebi atraveacutes de leituras que o Abade L‟Epeacutee ensinava a

gramaacutetica do francecircs no Instituto para Surdos de Paris para que os

alunos surdos aprendessem dentre outras coisas a histoacuteria e a liacutengua de

sinais Isso foi interessante para o grupo pois desenvolveram um padratildeo

para a linguagem gestual

Em 1755 Abade L‟Epeacutee iniciou com o primeiro grupo de surdos

no Instituto em Paris onde ensinava a vaacuterios alunos de classes

diferentes ricos e pobres Ele apresentou para os alunos a importacircncia

dos sinais padronizados que ajudavam na comunicaccedilatildeo Em contato

com a liacutengua de sinais convencionada o grupo de surdos na Franccedila

cada vez mais dominava os sinais e aperfeiccediloava o seu meacutetodo de sinais

metoacutedicos

Em ldquoA Maacutescara da Benevolecircnciardquo Lane (1992) apresenta relatos

interessantes de pesquisa com entrevistas de alunos surdos Sua

descriccedilatildeo sobre os sinais indicando os tempos segue na citaccedilatildeo

ldquoO aluno apesar de surdo e mudo tinha tal como noacutes

uma ideacuteia de passado presente e futuro antes de ser

colocado sob a nossa tutela mas eram incapazes de fazer

os sinais para exprimir as diferenccedilas Se quisesse

exprimir uma acccedilatildeo presente Fazia um sinal impelido

pela natureza que consiste em atrair o olhar do

interlocutor para testemunhar a nossa actividade actual

mas se a acccedilatildeo natildeo tivesse lugar na sua vista estendia as

matildeos sobre a mesa tal como estamos todos aptos a fazer

em situaccedilotildees semelhantes e estes satildeo os sinais que

voltou a aprender na aula para indicar o presente de um

verbo Se quisesse indicar que uma acccedilatildeo pertence ao

passado Atirava despreocupadamente o braccedilo sobre o

ombro duas ou trecircs vezes adoptamos estes sinais para

indicar o passado dos verbos E finalmente quando

tivesse a intenccedilatildeo de anunciar o futuro projectava a Matildeo

direita uma vez mais neste caso seleccionaacutemos este

sinal para representar o tempo futuro de um verbordquo

(LANE 1992 p 107 e 108)

Observa-se que havia diferenccedilas na gramaacutetica dos sinais que os

surdos utilizavam no passado A linguagem gestual francesa mudava

com o tempo na realidade da comunidade surda de Paris O contato com

74

sinais na escola eram muito diferentes daqueles que usavam nas

conversas de ruas Os alunos aprenderam formas verbais (passado

presente e futuro) que interferiram na liacutengua Quando a comunidade

surda que utiliza um espaccedilo cultural aprende o contexto cultural se

modifica e a liacutengua de sinais que tambeacutem eacute social se modifica

A liacutengua de sinais francesa serve de origem para muitos dos sinais

usados na ASL No comeccedilo do seacuteculo XIX um professor de surdo

chamado Thomas Hopkins Gallaudet foi da Ameacuterica para a Europa a

fim de aprender teacutecnicas de ensino Na Inglaterra ele conheceu Roch-

Ambroise Cucurron e Abbe Sicard o diretor de uma escola para surdos

em Paris Gallaudet aprendeu meacutetodos de ensino e muitos sinais para

usar na comunicaccedilatildeo com os surdos com Abbe Sicard Tambeacutem

Gallaudet convenceu Laurent Clerc um dos alunos de Sicard a ajudaacute-lo

a fundar uma escola para surdos na Ameacuterica

Gallaudet e Clerc fundaram a Escola Americana para Surdos

(ASD) em 1816 em Hartford Connecticut A escola combinava sinais

da LSF com os que jaacute eram usados pela comunidade de surdos da

Ameacuterica para criar uma linguagem padronizada Nesta eacutepoca esta

linguagem evoluiu para a ASL considerada atualmente a liacutengua de

sinais mais geneacuterica do mundo O filho de Thomas Gallaudet Edward

fundou a Universidade de Gallaudet em Washington DC A Gallaudet

foi a primeira faculdade para surdos

33 ndash Eacutedouard Huet - Instituto Nacional Educaccedilatildeo de Surdos

(INESRJ)

Segundo Ceacutesar Delgado (Revista da FENEIS 2002) Huet nasceu

em 1822 em Paris na Franccedila Comeccedilou seus estudos desde a infacircncia

ouvia normalmente jaacute se comunicava na fala nos idiomas francecircs (sua

liacutengua natural) alematildeo e portuguecircs mais tarde estudava outra liacutengua

que era o espanhol Ficou surdo aos doze anos de idade por

consequecircncia de um sarampo Como ele pertencia agrave nobreza estudou no

Instituto em Bourges e seu aprendizado na liacutengua de sinais francesa

proporcionou muitas oportunidades tornou-se professor de francecircs para

um grupo de surdos na Europa Ele foi convidado pelo imperador Dom Pedro II

35 para que

35 Deste que Eduard Huet fundou o imperial Instituto de Surdos-Mudos com autorizaccedilatildeo do

Imperador Dom Pedro II a Liacutengua de Sinais passou a fazer parte da educaccedilatildeo dos indiviacuteduos

surdos como forma de comunicaccedilatildeo e expressatildeo No iniacutecio a Liacutengua de Sinais teve sua origem na Franccedila mas aos poucos ela foi se desenvolvendo e se adaptando agrave realidade do

Brasil Isso comprova entatildeo que a Liacutengua de Sinais natildeo eacute universal mas ela possui pequenas

75

ajudasse a trabalhar na criaccedilatildeo do Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de

Surdos-Mudos com sede no Rio de Janeiro Iniciou ensinando na sua

liacutengua francesa depois aprendeu os sinais usados no Brasil e acabou

misturando as duas liacutenguas Trouxe um meacutetodo de ensino para a

Educaccedilatildeo de Surdos influenciando a Liacutengua de Sinais Brasileira com

sua liacutengua de sinais (francesa)

Eacutedouard Huet foi o primeiro professor surdo do Brasil

Apresentou em 1855 um projeto ao Imperador D Pedro II para uma

escola de surdos e assim foi fundado o Instituto Nacional de Educaccedilatildeo

de Surdos-Mudos no Rio de Janeiro Ele foi o responsaacutevel por trazer a

liacutengua de sinais francesa para o Instituto fundado em 1857 na cidade

do Rio de JaneiroRJ Com isso temos a origem da influecircncia da liacutengua

de sinais francesa (LSF) trazida por ele da Europa sobre a liacutengua de

sinais brasileira (LSB)36

Segue citaccedilatildeo de Campello que fala sobre a

constituiccedilatildeo da LSB no Brasil

a Constituiccedilatildeo Histoacuterica da Liacutengua de Sinais Brasileira

registro aqui ldquoa viagemrdquo da LSF ateacute o Brasil Essa

viagem tem a sua cronologia histoacuterica quando em 1855

o Ministro de Instruccedilatildeo Puacuteblica Drouyn de Louys e o

embaixador da Franccedila Monsieur Saint George junto

com a corte do Rio de Janeiro apresentou o Conde e

Professor surdo D E Huet37 ex-diretor do Instituto de

Bourges ao ex-Imperador Dom Pedro II e o mesmo

concedeu todas as honrarias inclusive com o salaacuterio e

hospedagem e incentivou a criaccedilatildeo de um educandaacuterio38

semelhanccedilas variando tanto de estado para estado dentro de um mesmo paiacutes quanto de um paiacutes para o outro com algumas semelhanccedilas

36 Campello usa a sigla LSB Nesta tese a sigla usada eacute LIBRAS

37 Haacute muita controveacutersia em torno do seu nome Inicialmente foi registrado na ldquoRevista

Espaccedilordquo do INES como E Huet Mas nos outros documentos pesquisados por mim assinava

como D E Huet sem complementar ou acrescentar o nome proacuteprio completo Recentemente atraveacutes da pesquisa pelo dirigente da FENEIS e da publicaccedilatildeo da Revista FENEIS confirmou

o nome completo de EHuet como Edward Huet Haacute pouco tempo o Grupo de Sinais

Mexicano anexou a coacutepia do email da bisneta que confirmou o nome dele como D Edward Huet M

38 Esse processo jaacute havia acontecido de forma similar com a educaccedilatildeo dos cegos O cego Patriacutecio Aacutelvares de Azevedo brasileiro educado em Paris e que ao regressar ao Rio de Janeiro

em 1851 pensou em fundar um instituto de ensino para cegos A realidade se concretizou em

1854 na fundaccedilatildeo de Instituto Benjamin Constant para cegos

76

destinado ao ensino de surdos mudos39 seria mais uma

poliacutetica puacuteblica com uma tendecircncia mundial a criaccedilatildeo de

escolas de ensino e tambeacutem de residenciais para abrigar

ldquodeficientes40 Haacute a hipoacutetese de que a princesa Isabel

filha do D Pedro II teria um filho surdo41 e tambeacutem que

o marido dela o Conde dacuteEu era portador de deficiecircncia

auditiva42 Mesmo com ou sem comprovaccedilatildeo histoacuterica

eacute difiacutecil transpor a histoacuteria da criaccedilatildeo e do interesse de

Dom Pedro II em abrir a escola de surdos

(CAMPELLO 2011)

O professor surdo Huet lutou pelo direito agrave liacutengua de sinais na

Instituiccedilatildeo com o imperador Dom Pedro II a fim de abrir espaccedilo na

escola de surdo em 1857 O INES era a uacutenica instituiccedilatildeo puacuteblica federal

do Brasil localizada no Rio de Janeiro Vieram alunos de outros estados

brasileiros para estudar com o professor Huet e ficavam hospedados no

Instituto Depois aprendiam a Liacutengua de Sinais Francesa da mesma

maneira que o professor aprendeu na escola francesa

A liacutengua de sinais foi transformada com o tempo tendo influecircncia

do professor surdo Huet Moura (2000 p 81 e 82) comenta o

seguinte

Se deu atraveacutes de Liacutengua de Sinais pode-se deduzir que

ele utilizava os Sinais e a escrita sendo considerado

inclusive o introdutor de Liacutengua de Sinais Francesa no

Brasil onde ela acabou por mesclar-se com a Liacutengua de

Sinais utilizada pelos Surdos em nosso paiacutes O

39 Relatoacuterio do E d Huet aos membros da Comissatildeo Diretora em abril de 1856 no Instituto de

Surdos Mudos

40 Deficientes satildeo as denominaccedilotildees daqueles que mentalmente e fisicamente satildeo incapazes para fazer qualquer atividade

41 Reis (1992) relata que o professor Geraldo Cavalcanti de Albuquerque disciacutepulo do professor Joatildeo Brasil Silvado (diretor do INSM ndash Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos-

Mudos em 1907) informou-lhe em entrevista que o interesse do imperador D Pedro II em

educaccedilatildeo de surdos viria do fato de ser a princesa Isabel matildee de um filho surdo e casada com o Conde D‟Eu parcialmente surdo

42 Nos documentos escritos pelo Francisco de Souza Brasil e Medeiros e Albuquerque (1932)

atestava a surdez do Conde DacuteEu ldquoO Conde DacuteEu tinha ainda o inconveniente de ser surdo A

surdez alheando os indiviacuteduos do meio em que estatildeo lhes daacute agraves vezes a imputaccedilatildeo de orgulhosos porque natildeo lhes permite tomar parte na conversa com a cordialidade que todos

desejariamrdquo (grifo meu)

77

Curriculum por ele apresentado em 1856 colocava

disciplinas como portuguecircs aritmeacutetica histoacuteria

geografia e incluiacutea ldquolinguagem articuladardquo e ldquoleitura

sobre os laacutebiosrdquo para os que tivessem aptidatildeo para tanto

O professor Huet planejava as vaacuterias disciplinas que ensinava

para os alunos surdos desta Instituiccedilatildeo obedecendo ao curriacuteculo escolar

da eacutepoca oferecido nas escolas de ouvintes Infelizmente natildeo foram

registrados os vocabulaacuterios da liacutengua de sinais brasileira desta eacutepoca No

Brasil foi lanccedilada a primeira publicaccedilatildeo sobre liacutengua de sinais em 1873

pelo aluno surdo Flausino Joseacute da Gama do Instituto de Surdos-Mudos43

do Rio de Janeiro O estudo resultou na obra ldquoIconographia dos Signaes

dos Surdos-Mudosrdquo foi publicado o dicionaacuterio em 1875 Poreacutem em

1880 no Congresso Internacional de Educaccedilatildeo de Surdo (Milatildeo)44

a

liacutengua de sinais foi rejeitada nas escolas focando apenas a liacutengua oral

Contudo os alunos do INES continuaram a estudar desenvolver e

disseminar a LIBRAS que por volta de 1980 voltou a ter sua

importacircncia intensificada

Como eacute explicado no prefaacutecio a inspiraccedilatildeo para o

trabalho foi dita pelo estudante ao ver na biblioteca da

instituiccedilatildeo um livro francecircs do Instituto Nacional de

Paris produzindo pelo surdo Francecircs Pellisier Natildeo havia

oficina litografia (o desenho eacute feito em uma pedra ou

placa de metal) no INES e na eacutepoca essa era a uacutenica

maneira de se reproduzir um desenho A ajuda veio do

Sr Eduard Rensburg que se dispotildee a ensinar a Flausino

trabalhar com essa difiacutecil teacutecnica Bastaram poucos dias

de aula e o Surdo tornou-se um exiacutemio litoacutegrafo

(REVISTA DA FENEIS n0 10 2001)

Segundo Campello (2011) Flausino Joseacute da Gama criou com seu

trabalho o dicionaacuterio ldquoIconographia dos Signaes dos Surdos-Mudosrdquo

com o prefaacutecio do Dr Tobias Leite ex-diretor no Instituto Nacional dos

Surdos-Mudos que no passado registrou sobre a pesquisa de Flausino e

a seguir o que escreveu Tobias no dicionaacuterio do INES em 1875

43 Atual Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos ndash INESRJ

44 REacuteE (2005) ldquo() essa data ainda eacute lembrada como a mais sinistra de sua histoacuteria como se fosse mesmo o ldquo11 de setembrordquo deles quando desabaram as torres gecircmeas da cultura e da

liacutengua de sinais a do meacutetodo misto e a do meacutetodo manualista para educaccedilatildeo dos surdos Ali

comeccedilou uma longa e amarga batalha para defender o direito de vida de liacutengua de sinaisrdquo

78

Este livro tem dous fins

Vulgarisar a linguagem dos signaes meio predilecto dos

surdos mudos para a manifestaccedilatildeo dos seus pensamentos

Os pais os professores primaacuterios e todos os eu se

interessarem por esses infelizes ficaratildeo habilitados para

os entender e se fazerem entender

Mostrar o quanto deve ser apreciado um surdo mudo

educado

O alumno deste Instituto Flausino Joseacute da Gama vendo

entre os livros da biblioteca a obra do illustre surdo-

mudo Pellisier professor do Instituto de Pariz

manifestou desejo de reproduzir as estampas para os

fallantes conversarem com os surdos-mudos dizia-me

elle repetidas vezes

Natildeo obstante ser elle haacutebil desenhista a realizaccedilatildeo do

seu desejo era difficil porque natildeo haacute no Instituto officina

de lihtographia e a despeza nas officinas do commercio

seria grande

Referindo o facto ao Sr Eduard Rensburg este senhor

generosamente offereceu-se para ensinar a Flausino o

desenho lithographico e as suas officinas para a

execuccedilatildeo da obra Aceitei immediatamente o

offerecimento e em poucos dias sahio o livro que tenho

a satisfacccedilatildeo de apresentar a todos os que se interessarem

por essa numerosa classe de nossos compatriotas

A Flausino os louvores e ao Sr Rensburg os

agradecimentos de todos os que se interessatildeo pela

instrucccedilatildeo popular

Tobias Leiterdquo

Campello (2011) pesquisou sobre o dicionaacuterio da liacutengua de sinais

registrado e documentado por Flausino que foi apresentado na escrita

pelo ex-diretor do INES que escrevia a palavra ldquoVulgarisarrdquo45

(p 79)

Segundo Delaporte (2005) a Escola Parisiense ldquoSaint-Jacquesrdquo era um

lugar de prestigio onde todas as pessoas que desejavam ensinar os

surdos precisavam obrigatoriamente passar Eacutedouard Huet realizou seus

estudos laacute Flausino inspirou-se no dicionaacuterio de Pierre Peacutelissier que foi

trazido para o Brasil por Eacutedouard Huet Os alunos do INES tinham

muita dificuldade pois os sinais eram muito antigos e eles precisavam

45 CAMPELLO mostrou a pesquisa ldquo que naquela eacutepoca significava colocar a disposiccedilatildeo do

povo e por isso o dicionaacuterio se apresentava como instruccedilatildeo popularrdquo

79

se comunicar com surdos do Instituto de Paris Campello diz que foi

copiado o dicionaacuterio no Instituto Imperial de Paris

Comparado com o original ldquoIcnographie des signesrdquo de

P Pelissier membro ativo de ldquola Socieacuteteacute Centrale

dacuteEducation et dacuteAssistance decircs Sourds-Muetsrdquo e

professor de surdos mudos do Instituto Imperial de Paris

em 1856 obra ldquoIconographia dos signaes dos surdos

mudosrdquo pelo surdo Flausino Joseacute da Gama em 1875 eacute

uma coacutepia na iacutentegra do material com a traduccedilatildeo do

francecircs para o portuguecircs ou seja os sinais foram

copiados um a um traduzindo-se apenas as palavras do

francecircs que identificavam os sinais (CAMPELLO

2011)

Verificando a explicaccedilatildeo anterior da citaccedilatildeo a autora mostrou

uma comparaccedilatildeo do dicionaacuterio em Paris e no Brasil foi copiado o

material para ser utilizado aqui no INES e soacute foi mudado o vocabulaacuterio

eou palavra na traduccedilatildeo do francecircs para o portuguecircs Atualmente a

LIBRAS estaacute bem diferente da eacutepoca de Flausino mas a influecircncia da

Liacutengua de Sinais Francesa eacute inegaacutevel na comunicaccedilatildeo dos surdos

brasileiros pois foi a primeira liacutengua de sinais traduzida e ensinada no

INES

Com o uso e a difusatildeo da liacutengua de sinais surgiu o primeiro

dicionaacuterio do Brasil e as seguintes obras dos autores i) Iconographia

dos Signaes dos Surdos-Mudos de Flausino Joseacute da Gama em 1875 ii)

Linguagem das Matildeos de Eugecircnio Oates em 1969 e iii) O Dicionaacuterio

Enciclopeacutedico Ilustrado Triliacutengue Liacutengua de Sinais Brasileira de

Fernando C Capovilla e Walkiria D Raphael em 2001

Felipe (2000) fala sobre o surgimento da LIBRAS sobre

Flausino Joseacute da Gama e outros dicionaacuterios da LIBRAS

Aqui no Brasil a primeira publicaccedilatildeo sobre a liacutengua

de sinais brasileira data de 1875 trata-se de um livro

Iconografia dos Signaes dos Surdos-Mudos de Flausino

da Gama um ex-aluno do Instituto de Surdos que se

tornou repetidor dessa escola quando terminou seu

periacuteodo de estudo Quase um seacuteculo depois em 1969

com a publicaccedilatildeo do artigo de KAKUMUSU J Urubu

Sign Language foi constatado que haveria pelo menos

outra liacutengua de sinais no Brasil utilizada pelos iacutendios

Urubus-Kaapor

80

Somente em 1969 por iniciativa estrangeira foi

publicado outro livro sobre a liacutengua de sinais brasileira

Linguagem das Matildeos de DATES E mas devido agrave

influecircncia da ASL muitos sinais nessa obra como

tambeacutem na de HOEMAN H et al Linguagem de Sinais

do Brasil satildeo sinais dessa liacutengua Esses dois livros

foram durante deacutecadas o material didaacutetico utilizado

pelos instrutores surdos para ensinarem sua liacutengua e

talvez por essas obras trazerem uma seleccedilatildeo de

fotografias ou desenhos de sinais da LIBRAS com

explicaccedilotildees a metodologia que vem sendo utilizada para

ensinar esta liacutengua tem sido somente a apresentaccedilatildeo de

sinais e traduccedilatildeo dos mesmos

Em 1960 Willian Stokoe

46 iniciou a pesquisa na liacutengua de sinais

americana com publicaccedilatildeo de estudo linguiacutestico mostrando que esta

liacutengua de sinais tinha uma gramaacutetica proacutepria e tambeacutem apresentava

todos os aspectos linguiacutesticos das liacutenguas orais A partir desta

divulgaccedilatildeo do Stokoe o mundo comeccedilou a pesquisar mais sobre as

liacutenguas de sinais Estudou cientificamente a Liacutengua de Sinais Americana

comparando com a Liacutengua Inglesa observou que ambas tinham

caracteriacutesticas equivalentes auxiliando na concepccedilatildeo sobre a educaccedilatildeo

de surdos na liacutengua de sinais

Felipe (2000) apresentou na pesquisa o surgimento da LIBRAS

Seguem agora ilustraccedilotildees sobre os dicionaacuterios antigos ldquoIconographia

dos Signaes dos Surdos Mudos de Flausino Joseacute da Gamardquo ldquoLinguagem

das Matildeos de Eugecircnio Oatesrdquo ldquoEnciclopeacutedico Ilustrado Triliacutengue

Liacutengua de Sinais Brasileira Vol I e II de Fernando C Capovilla e

Walkiria D Raphael

46 STOKOE (1920-2000) foi um dos primeiros linguistas a estudar uma liacutengua de sinais com

tratamento linguiacutestico Considerado o pai da linguiacutestica da liacutengua de sinais americana ndash ASL Ele ensinando e pesquisando revolucionou a Liacutengua de Sinais e mostrou que ela possuiacutea

regras gramaticais proacuteprias A partir daiacute o mundo inteiro passou a aceitar a Liacutengua de Sinais

como uma Liacutengua

81

Figura 09 ndash Acervo na Revista da FENEIS

Interessante a pesquisa das primeiras publicaccedilotildees dos autores

sobre a liacutengua de sinais Trouxe para noacutes surdos brasileiros

documentos para outras pesquisas valorizando o contexto social e a

liacutengua de sinais Campello (2007)

47 apresentou a pesquisa ldquoMudanccedilas fonoloacutegicas

47 Retirado a fonte com autora CAMPELLO 2007 SINPEL ndash I0 Seminaacuterio Integrado de

Pesquisas em Linguiacutestica na UFSC ldquoMudanccedilas fonoloacutegicas dos registros do seacuteculo XVIII ao seacuteculo XXI na liacutengua de sinais brasileirardquo

82

dos registros do seacuteculo XVIII ao seacuteculo XXI na Liacutengua de Sinais

Brasileira elementos novos sobre a liacutengua de sinais brasileirardquo Foi o

primeiro trabalho desse tipo com a LIBRAS desenvolvido no Brasil A

autora destacou inicialmente as justificativas para sua pesquisa

a) Natildeo haacute registro a respeito do desenvolvimento

histoacuterico da liacutengua de sinais brasileira nos livros

brasileiros b) Os surdos brasileiros tecircm muito interesse

em saber mais sobre a origem desta liacutengua c) A liacutengua

de sinais passou a ser reconhecida como liacutengua de

instruccedilatildeo dos surdos brasileiros por meio da Lei 10436

de 2002 regulamentada pelo decreto 5626 de 2005 d) A

liacutengua de sinais passa a ser objeto de ensino Antes de

iniciar a pesquisa em si considero importante situar as

influecircncias da liacutengua de sinais dos Surdos que moldaram

o primeiro dicionaacuterio de liacutengua de sinais brasileira o

movimento poliacutetico social cultural e educacional Com

o ldquoobjeto de pesquisardquo apresento a justificativa visto que

ateacute o presente momento natildeo se sabe se esta liacutengua jaacute

existia antes da fundaccedilatildeo do INES eou natildeo foi

reconhecida por causa da homogeneidade da liacutengua

nacional que eacute a liacutengua portuguesa Tambeacutem visa a

coleta dos sinais e suas mudanccedilas em niacutevel foneacutetico-

fonoloacutegico da Liacutengua de Sinais Francesa para a Liacutengua

de Sinais Brasileira e apresenta a metodologia de

investigaccedilatildeo problematizando a origem da liacutengua de

sinais brasileira jaacute que foi mesclada com a liacutengua de

sinais francesa Muita pesquisa foi deixada de lado pelo

estigma e desconhecimento da liacutengua em estudo nesse

projeto (CAMPELLO 2007)

Observe a figura do painel que Campello apresentou no

Seminaacuterio e eu fotografei

83

Figura 10 ndash Acervo de Ana Regina e Souza Campello ndash UFSC

Diniz (2010) realizou a pesquisa sobre o estudo descritivo das

mudanccedilas fonoloacutegicas e lexicais da Liacutengua de Sinais Brasileira

identificando e analisando os tipos de sinais que mais levam agrave variaccedilatildeo e

agrave mudanccedila e os possiacuteveis motivos que ao longo do tempo culminam

em tais variaccedilotildees Observou-se que o estudo elaborado na histoacuteria da

liacutengua de sinais teve como objetivo principal identificar as mudanccedilas

ocorridas na forma de comunicaccedilatildeo das comunidades surdas bem como

a influecircncia da liacutengua escrita no caso o portuguecircs neste processo

A autora apresenta sua pesquisa de modo a contribuir com os

registros histoacutericos da comunidade surda geral e da liacutengua de sinais As

suas anaacutelises ampliam os conhecimentos sobre a estrutura linguiacutestica da

LIBRAS e seu processo de mudanccedila assim como permitem contrastar

as variaccedilotildees que ocorrem com as liacutenguas orais e as liacutenguas de sinais

Mais amplamente o estudo objetiva valorizar socialmente a Liacutengua

Brasileira de Sinais difundir suas vertentes propiciando agrave populaccedilatildeo

surda o resgate de suas origens tradiccedilotildees e identidade proacutepria

Ela analisou trecircs documentos histoacutericos mais especificamente

trecircs dicionaacuterios de sinais foram os instrumentos de base na pesquisa da

autora acerca do processo de variaccedilatildeo na LIBRAS satildeo eles

Iconographia dos Signaes dos Surdos-Mudos de 1875 (primeiro

documento a fazer referecircncia agrave LIBRAS trata-se de uma reproduccedilatildeo fiel

do dicionaacuterio de sinais Francecircs que envolve representaccedilatildeo de sinais por

meio de desenhos (ilustraccedilotildees)) Linguagem das Matildeos de 1969

(produzido pelo padre Eugecircnio Oates missionaacuterio americano que

trabalhou com surdos em vaacuterias regiotildees brasileiras) e o terceiro

Dicionaacuterio Digital da LIBRAS do Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de

84

Surdos (INES) de 2006 (em CD-ROM produzido no Rio de Janeiro

por profissionais surdos e ouvintes)

Os resultados da pesquisa de Diniz apresentam na anaacutelise dos

dados indiacutecios de mudanccedila fonoloacutegica e lexical

A figura 11 a seguir mostra a forma como o sinal de FACA eacute

produzido utilizando a configuraccedilatildeo de matildeos que se altera nas trecircs

imagens apresentadas

GLOSA ICON OATES INES

Est 2

FACA

FACA

FACA

FACA

Figura 11 ndash Acervo da Heloise Gripp Diniz ndash UFSC 01

A figura 12 apresenta um exemplo de mudanccedila lexical com

configuraccedilotildees de matildeos mostrando o sinal de PUNIR apresentado no

dicionaacuterio em trecircs momentos (Icon Oates e INES) Segue a figura

GLOSA ICON OATES INES

Est 16

PUNIR

PUNIR

CASTIGAR

CASTIGAR

Figura 12 ndash Acervo da Heloise Gripp Diniz ndash UFSC 02

Diante da anaacutelise comparativa dos referidos dicionaacuterios a autora

classificou os sinais em trecircs categorias os que permanecem idecircnticos

(sem alteraccedilotildees) os que sofreram mudanccedilas fonoloacutegicas em alguns de

seus paracircmetros (que se mostrou a maior das trecircs categorias) e os que

sofreram mudanccedilas lexicais alterando por completo as formas dos sinais

originais Dentre os fatores internos que contribuiacuteram para tais variaccedilotildees destacam-se conforto linguiacutestico na articulaccedilatildeo das matildeos e

do corpo e a acuidade visual no espaccedilo da sinalizaccedilatildeo Haacute tambeacutem a

contribuiccedilatildeo dos fatores socioculturais como influecircncia das liacutenguas em

contato empreacutestimo linguiacutestico bilinguismo preconceito linguiacutestico e

85

influecircncia da liacutengua portuguesa e dos falantes ouvintes

Em outras palavras nota-se que o estudo procura resgatar a

histoacuteria das mudanccedilas dos sinais da LIBRAS e de como surgiram as

mudanccedilas influenciadas pelo advento da Instituto Nacional de Educaccedilatildeo

de Surdos (INES) bem como o viacutenculo existente entre o instituto e os

diferentes dicionaacuterios de liacutenguas de sinais da eacutepoca que mostram a

existecircncia de fortes mudanccedilas linguiacutesticas ao longo do tempo entre as

pessoas de mais idade com as famiacutelias e as novas geraccedilotildees que surgem

dispostas a encontrar sinais de configuraccedilotildees de matildeos que possibilitem

facilitar cada vez mais a interaccedilatildeo das comunidades surdas com a

sociedade em geral

Percebe-se entatildeo vaacuterios dialetos utilizados entre grupos de

amigos e familiares na busca de uma melhor compreensatildeo da

comunicaccedilatildeo atraveacutes da liacutengua de sinais Nota-se que apesar da

evoluccedilatildeo da liacutengua de sinais haacute existecircncia de vaacuterios sinais

desconhecidos entre as associaccedilotildees de surdos Existe uma seacuterie de

variaacuteveis diferentes que funcionam como preacute-requisito influenciando

diretamente os processos de variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica

Segundo Diniz (2010) natildeo eacute aconselhaacutevel fazer traduccedilatildeo do

portuguecircs para LIBRAS pois tal conversatildeo acaba dificultando ainda

mais a compreensatildeo e a comunicaccedilatildeo com a comunidade dos surdos

Assim pode-se notar que natildeo eacute apropriado misturar duas liacutenguas (uma

oral outra visual) ao mesmo tempo pois haacute uma diferenccedila muito grande

entre elas Dessa forma torna-se mais faacutecil a compreensatildeo para o surdo

quando eacute explicado diretamente na liacutengua de sinais

Sempre eacute conveniente ressaltar que a LIBRAS eacute uma liacutengua

humana da mesma forma que as liacutenguas faladas nesse sentido a liacutengua

de sinais possui sua proacutepria estrutura linguiacutestica embora com

modalidades diferentes e passa por processos de mudanccedilas contiacutenuas e

deve ser considerada pela comunidade cientiacutefica como sendo de grande

importacircncia para a sociedade em geral As liacutenguas de sinais satildeo

humanas naturais e com estruturas linguiacutesticas proacuteprias fazendo uso do

canal de comunicaccedilatildeo visual-espacial Portanto satildeo mitos48

as

48 FRISHBERG (1975 p 696 - 697) Alguns mitos satildeo derrubados por no que se refere agrave ASL

O primeiro deles diz respeito agrave falsa crenccedila de que a linguagem gestual eacute universal Pelo

contraacuterio as pessoas surdas da China natildeo conseguem entender a ASL tampouco os surdos americanos conseguem entender a CSL a Liacutengua de Sinais Chinesa Os surdos ingleses

tambeacutem natildeo conseguem entender a Liacutengua de Sinais Francesa (LSF) e vice-versa O segundo

mito esclarecido eacute de que a liacutengua de sinais tem muito pouco ou nada a ver com a liacutengua falada da comunidade em sua volta Neste sentido a autora esclarece que a liacutengua de sinais natildeo

significa uma representaccedilatildeo manual traduzida diretamente do inglecircs O terceiro mito elucidado

86

afirmaccedilotildees de que a liacutengua de sinais eacute universal miacutemica coacutedigos

gestos ou apenas uma representaccedilatildeo manual das liacutenguas orais

Cabe ressaltar que a representaccedilatildeo atraveacutes de imagens figuras

gestos configuraccedilatildeo de matildeos e expressotildees faciais satildeo fundamentais para

a fluecircncia da comunicaccedilatildeo entre os membros da comunidade surda e

tambeacutem com a sociedade tornando a compreensatildeo mais acessiacutevel a

todas as pessoas Por meio de estudos nos dicionaacuterios de LIBRAS

percebe-se a existecircncia de algumas categorias distintas de algumas que

permanecem idecircnticas ateacute os dias de hoje e de outras que vecircm sofrendo

mudanccedilas fonoloacutegicas gradativamente com ideias inovadoras

influenciadas pelos estudos efetuados a partir da histoacuteria da liacutengua de

sinais e sua evoluccedilatildeo no processo de mudanccedila ateacute os dias atuais Tais

descobertas satildeo importantiacutessimas para a academia e para os aspectos

socioculturais como forma de resgatar a histoacuteria bem como os valores

das comunidades surdas esquecidas no passado recuperando sua proacutepria

identidade frente agravequeles que utilizam a liacutengua oral

Em geral eacute muito difiacutecil de recuperar nos registros dos

dicionaacuterios os detalhes das articulaccedilotildees movimentos entre outros Isso

ocorre porque na maioria das vezes eles apresentam uma uacutenica palavra

em portuguecircs associada a cada sinal de forma intuitiva quase sempre

indicando um sinal preciso e natildeo uma possiacutevel traduccedilatildeo De qualquer

maneira a partir das evidecircncias que estatildeo nos dicionaacuterios pode-se

analisar como era a liacutengua de sinais antigamente e como ela se

modificou ateacute os dias de hoje bem como qual a sua importacircncia para a

valorizaccedilatildeo social da comunidade surda

Diniz (2010) percebeu que ao passar dos anos existe uma

evoluccedilatildeo no desenvolvimento dos dicionaacuterios trazendo uma forma mais

faacutecil e aacutegil de comunicaccedilatildeo entre os escritores e leitores Hoje a

preocupaccedilatildeo natildeo eacute apenas em fazer dicionaacuterios mas tambeacutem em

analisar as metodologias de produccedilatildeo lexicograacutefica isto eacute como e para

que os dicionaacuterios tecircm sido feitos

Diniz (2010) tambeacutem observou uma pequena mudanccedila no

alfabeto manual que aparece nos trecircs dicionaacuterios Houve uma mudanccedila

fonoloacutegica na estampa ldquoIrdquo referente ao alfabeto de 26 letras no

dicionaacuterio Iconographia Em Oates o alfabeto permanece semelhante

ateacute os dias de hoje mudando apenas a configuraccedilatildeo de matildeos da letra H

No dicionaacuterio INES o alfabeto eacute idecircntico aos dias de hoje

pela pesquisadora refuta a ideia de que as liacutenguas de sinais satildeo apenas gestos teatrais ou

miacutemicos

87

Segundo Diniz (2010) identificam-se tendecircncias de mudanccedilas na

LIBRAS nos trecircs dicionaacuterios a saber simetria de duas matildeos

deslocamento locativo conteuacutedo lexical para as matildeos assimilaccedilatildeo

deletaccedilatildeo de uma matildeo de sinais de duas matildeos e deletaccedilatildeo de uma parte

do sinal composto Dos resultados das anaacutelises pode-se verificar que

alguns sinais da LIBRAS permaneceram idecircnticos ateacute os dias de hoje

enquanto outros sofreram mudanccedilas nas partes fonoloacutegicas e lexicais A

autora concluiu que diversos fatores influenciaram tais mudanccedilas como

por exemplo a influecircncia dos falantes ouvintes sobre a LIBRAS a

influecircncia da Liacutengua portuguesa na estrutura da LIBRAS o

desconhecimento sobre as liacutenguas de sinais a organizaccedilatildeo lexicograacutefica

nos dicionaacuterios de sinais a discriminaccedilatildeo ouvinte sobre a LIBRAS o

contato contiacutenuo dos surdos com ouvinte e a inseguranccedila na

consciecircncia linguiacutestica dos surdos em relaccedilatildeo agrave LIBRAS Outra

conclusatildeo foi a descoberta de sinais da Iconographia idecircnticos na ASL e

na LSF hoje em dia mais do que nos dicionaacuterios Oates e dos INES

34 ndash Francisco Lima Juacutenior ndash O Primeiro Professor Surdo em

Santa Catarina na liacutengua de sinais

Segundo Schmitt (2008) Francisco Lima Juacutenior tem lembranccedilas

do avocirc Germano tias Erna Irude e Isabel o pai Francisco matildee Augusta

e o irmatildeo Reinoldo Francisco Lima Juacutenior chamado pelo apelido

(chiquito) eacute o uacutenico surdo desta famiacutelia Ele nasceu no dia 01 de junho

de 1928 em casa na Rua Duarte Schutel no 16 em Florianoacutepolis A tia

Erna disse que o Francisco foi ateacute os 36 meses de idade uma crianccedila

normal e perfeita mas nesta idade foi um susto para os familiares do

Francisco ele ter ficado surdo

Atraveacutes de contatos com o senhor Francisco Lima Juacutenior

estive presente na casa dele investigando sobre a

primeira turma de surdo Catarinense No dia 04082006

foi entrevistado o senhor Francisco Lima Juacutenior Ele

nasceu no dia 01061928 em Florianoacutepolis no Estado de

Santa Catarina e ateacute a idade de 03 anos ouvia

normalmente A famiacutelia do Francisco sempre conversava

com ele sobre cinema ou noticias que ouviam o raacutedio O

Francisco estava sentado no chatildeo brincando com o

carrinho na sala de estar assistindo o cinema com a

famiacutelia dele A famiacutelia chamou atenccedilatildeo do seu filho

Francisco mas ele natildeo ouvia a voz dos seus pais falando

Franciscooooo e tambeacutem batendo palmas O Francisco

natildeo ouvia nada e quando o pai tocou no ombro do

88

Francisco ele entendeu O que pai (SCHMITT 2008 p

86)

Seus pais natildeo se aperceberam ao longo deste tempo que Francisco

estava ficando surdo porque ele ainda natildeo havia aprendido a falar

compreender palavras e a se comunicar por gestos O pai de Francisco

levou-o para o meacutedico que falou que o menino teve um problema no

nervo auditivo e ficou surdo (Consultas ao meacutedico com frequecircncia

dificuldade de se comunicar com a famiacutelia sentia-se muito pressionado

foram tempos difiacuteceis ele conta) O pai queria ensinar a liccedilatildeo para

Francisco que aprendia vocabulaacuterio e a gramaacutetica juntamente com os

nuacutemeros cardinais desenho e a palavra correspondente e tambeacutem a

linguagem gestual da comunicaccedilatildeo dele O pai levou-o para o

tratamento meacutedico com o Dr Djalma Moellmann que informou aos

pais que pela idade do Francisco ele poderia estudar no Instituto

Nacional de Surdos-Mudos do Rio de Janeiro Segue o depoimento

Os pais resolveram levar seu filho para tratamento

meacutedico e fonoaudioloacutegico no centro de Florianoacutepolis

para saber o que aconteceu com a audiccedilatildeo do Francisco

que natildeo ouvia nada O meacutedico fonoaudioloacutegico dizia que

ele era deficiente auditivo e tambeacutem chamou-o de Surdo-

Mudo naquela eacutepoca ˝Ai Como fazer agora Os pais

perguntaram O que O meu filho natildeo podia estudar na

escola dos ouvintes e na eacutepoca aqui natildeo existia escola

para surdos˝ O meacutedico fonoaudioloacutegico informou sobre

a escola no INSM - Instituto Nacional de Surdos-Mudos

no Rio de JaneiroRJ Eles verificaram que laacute existia

escola para surdos-mudos mas resolveram permanecer

morando naquela cidade Entatildeo o pai resolveu levar o

seu filho Francisco para o Rio de JaneiroRJ Quando o

Francisco era crianccedila tinha ocircnibus carro caminhatildeo

bicicleta e aviatildeo Foi viagem de navio O tio do

Francisco trabalhava como marinheiro e levou o

Francisco para o Rio acompanhando do pai e do tio dele

(SCHMITT 2008 p 86)

Francisco realizou exames meacutedicos onde foi avaliada sua sauacutede

se podia estudar no Instituto Nacional de Surdos-Mudos que era um

grande desafio Nesse lugar havia modernas oficinas e ginaacutesio tinha 109

surdos internos Era comum observar um grupo de surdos que se

comunicava na liacutengua de sinais no corredor do Instituto Laacute tambeacutem os

alunos surdos podiam entrar em contato com os primeiros surdos que

89

vieram de diferentes estados e regiotildees do Brasil Em 1937 o pai

acompanhou Francisco em uma viagem de navio para o Rio de Janeiro e

matriculou-o no Instituto Nacional de Surdos-Mudos Laacute conheceu o Dr

Armando ex-diretor de INSM na deacutecada de 1940

Em 1937 Francisco foi levado pelos primos Paulo e Hugo e pelo

seu tio para conhecer o INSM Eles levavam Francisco ao Instituto nos

saacutebados e voltavam nas segundas-feiras de 1937 a 1939 Hugo

trabalhava no navio ldquoDuque de Caxiasrdquo que saiacutea do Rio de Janeiro O

outro navio onde estava o tio voltava da Bahia quando avistou um

submarino de guerra (alematildeo) que era dotado de canhotildees Os dois

navios chocaram-se agrave noite neles tinha bombas nucleares Hugo o tio

passageiros e marinheiros morreram no mar e um outro navio onde seu

tio Paulo trabalhava desapareceu na Europa em 1945

Na segunda guerra Hitler se armou poderosamente para dominar

a Europa mas com sua derrota em 1939 a 1945 a Alemanha perdeu

cerca de um quarto do seu territoacuterio que por alguns anos foi ocupado

pelas forcas aliadas russas americanas inglesas e francesas Das cinzas

surgem os novos navios Um navio a vapor com o nome de Carlos

Hoepcke e Anna navio este de carga e passageiros que transportou

Francisco ateacute o Rio de Janeiro O capitatildeo deste navio era seu tio Ceacutelio

Viana Os passageiros eram atenciosos para com Francisco e o

ajudavam quando ele precisava

Era oferecido abrigo aos navios aportados no porto de SantosSP

Rio de Janeiro Satildeo Francisco do Sul e Itajaiacute Iam de navio e na volta

vinham de aviatildeo com destino a Florianoacutepolis e Rio de Janeiro O pai

Francisco Candido de Souza Lima era gerente contador homem de

bom coraccedilatildeo que fazia a contabilidade de Carlos Hoepcke era uma

amizade de marinha mercante

Em suas viagens o professor Francisco Lima Juacutenior viu o Sr

Ademar Barros que era intendente de comeacutercio do vapor Carlos

Hoepcke Viajaram num submarino guiados por buacutessola para ajudar os

navegantes em 1937 a 1946 Ao fim do ano letivo no Instituto o pai e

Francisco voltavam para Florianoacutepolis em 1947 O Professor Francisco

trabalhou auxiliando a contabilidade e os lanccedilamentos na filial de Carlos

Hoepcke SA Ele aproveitou o aprendizado nas oficinas do Instituto

Nacional de Surdos-Mudos onde aprendeu uma seacuterie de profissotildees

como a de marcenaria encadernaccedilatildeo e sapataria aleacutem de participar de

um curso de Desenho Segue a explicaccedilatildeo do autor

Os alunos de vaacuterios estados no Brasil tambeacutem estudavam

no INSM junto com o Francisco e fizeram amizade

90

jogando o futebol na quadra Depois o Francisco foi para

os alojamentos no Instituto e dormiu cada um num

beliche todos os alunos surdos eram brasileiros Os

alunos surdos acordavam agraves 05h30min nas madrugadas

para arrumar e ficavam esperando na fila de outros

alunos faziam relaxamento e educaccedilatildeo fiacutesica para depois

tomar o banho Depois estudavam de manhatilde e agrave tarde agraves

vezes agrave noite e voltavam para o alojamento no Instituto

O professor no Instituto dava aula de oralizaccedilatildeo para os

alunos surdos na sala de aula explicando o conteuacutedo de

mateacuteria no quadro negro e tambeacutem com vareta Depois o

professor anotava no quadro a escrita de portuguecircs

avisava para o aluno surdo que natildeo podia copiar no

quadro e prestar atenccedilatildeo agrave escrita no quadro O professor

apagava no quadro para o aluno surdo memorizar a

escrita da fala O que aconteceu Os alunos ficaram com

dificuldade de entender a escrita no quadro (SCHMITT

2008 p 92 e 93)

Os professores mostravam vaacuterias figuras de objetos com os

respectivos nomes e individualmente faziam o trabalho de repeticcedilatildeo

com o aluno Francisco que escrevia e falava Mas existia a liacutengua de

sinais no lado de fora No paacutetio a comunicaccedilatildeo dele e o grupo de surdo

no Instituto apresentava a liacutengua de sinais Dr Armando Lacerda diretor

do Instituto Nacional de Surdos-Mudos ndash INSM acampanhou a

comemoraccedilatildeo de sua fundaccedilatildeo e seguiram-se demonstraccedilotildees de

ginaacutestica representaccedilatildeo de uma peccedila teatral nuacutemeros de bailado pelo

corpo etc

Os surdos da marcenaria da encadernaccedilatildeo e da sapataria eram

jogadores e participaram da competiccedilatildeo de futebol de campo no

instituto Venceram os surdos da encadernaccedilatildeo que receberam

medalhas e trofeacuteu O grupo de alunos que ganhou a competiccedilatildeo foi

viajar e passear na praia da Ilha de PaquetaacuteRJ Dois alunos deste grupo

mais tarde tornaram-se professores do Instituto Um deles era o

professor Heacutelio ensinava ginaacutestica futebol e voleibol na quadra de

esportivo e o outro era professor Francisco

Na eacutepoca foi feita uma reportagem com depoimentos do Dr

Armando Lacerda dos professores Joatildeo Brasil Silvado Juacutenior Saul Borges Carneiro e Geraldo Cavalcantil todos eles ouvintes Essa

reportagem foi riquiacutessima detalhada cheia de fotografias eacute uma

importante fonte de pesquisa Francisco desenvolveu sua aprendizagem

na liacutengua de sinais aproveitando essas atividades comemorativas que

aconteciam no instituto aleacutem do curriacuteculo da escola

91

Os professores acima citados todos oralistas impressionam pela

cultura e a quantidade de informaccedilotildees com que discorrem sobre a

educaccedilatildeo do surdo e a histoacuteria na liacutengua de sinais Sendo recebido pelo

ministro da educaccedilatildeo e sauacutede naquela eacutepoca foi oferecido um meacuterito ao

ex-aluno Francisco Lima Juacutenior conforme mostra a citaccedilatildeo

O Francisco Lima Juacutenior recebeu o meacuterito do segundo

melhor no Instituto Nacional de Surdos-Mudos (INSM)

no Rio de JaneiroRJ por a maior nota de avaliaccedilatildeo na

prova e tambeacutem em todas as disciplinas Vejam os

nomes ndash primeiro lugar (Odil Soares em Satildeo Paulo)

segundo lugar (Francisco Lima Juacutenior em Santa

Catarina) e terceiro lugar (Miriam S Rio de Janeiro)

Parabenizamos o senhor Francisco Lima Juacutenior do nosso

Estado de Santa Catarina eacute vitorioso e orgulhoso

(SCHMITT 2008 p 96)

Ele foi aluno interno do Instituto Nacional de Surdos-Mudos do

Rio de Janeiro e do Instituto Paulista de Surdos em Satildeo Paulo em 1940 e

natildeo gostava de Satildeo Paulo A professora Helena (INES) era de origem

Italiana ensinava a fazer ditado em portuguecircs (oralismo) mas a liacutengua

de sinais natildeo existia na comunicaccedilatildeo e o grupo surdo teve pouco contato

com a liacutengua materna (liacutengua de sinais)

Para a inauguraccedilatildeo do Instituto Nacional de Surdos-Mudos foram

convidadas vaacuterias autoridades entre elas o ministro da educaccedilatildeo

diretores de escolas e outros Esta aconteceu no teatro do Instituto e

ofereceram trecircs certificados para o curso de desenho para a oficina de

encadernaccedilatildeo e linguagem que foram ganhos pelo Francisco Lima

Juacutenior em 1946 No ano seguinte ele voltou para Florianoacutepolis

Em 1946 com 18 anos de idade voltou para

FlorianoacutepolisSC quando passou a procurar por pessoas

surdas nas vaacuterias cidades do estado de Santa Catarina e

demorou um tempo para ter contato com os surdos

catarinenses Ele comeccedilou a dar aulas numa garagem

situada agrave Rua Francisco Tolentino passando ser ali a

primeira escola para surdos de Florianoacutepolis O

Francisco ensinava desenho linguagem escrita

vocabulaacuterio baacutesico gramaacutetica geograacutefia histoacuteria do

Brasil e conhecimentos gerais Ele trouxe para o nosso

estado o modelo de associaccedilatildeo e fez um projeto de escola

para surdos com a esposa de ouvinte que ajudou o

Francisco Apoacutes a conclusatildeo dos cursos em 1947

retorna definitivamente para casa dos pais em

92

Florianoacutepolis agrave Rua Duarte Schutel nordm 16 (SCHMITT

2008 p 104)

Em 1947 morava com o pai em sua casa em Florianoacutepolis Ele

foi habilitado em contabilidade pelo Instituto e fez o curso de

Contabilidade do Instituto Radio Teacutecnico RT Monitor SA ndash nuacutecleo de

ensino profissional livre por correspondecircncia (1 liccedilatildeo ateacute 28 liccedilatildeo) Satildeo

Paulo ndash SP Apoacutes Francisco conhecer os surdos em vaacuterias cidades de

Santa Catarina ele ficou com vontade de auxiliar o surdo que ficava

isolado em casa e na famiacutelia sem o uso da comunicaccedilatildeo gestual Veja a

seguir a imagem apresentada do Francisco Lima Juacutenior em 1947

93

Figura 13 ndash Acervo do Francisco eacute o primeiro dicionaacuterio na liacutengua de

sinais em Santa Catarina em 1947

O primeiro dicionaacuterio em Santa Catarina tinha imagens do

proacuteprio Francisco que demonstrava a preocupaccedilatildeo culturallinguiacutestica

para com os surdos e a difusatildeo da liacutengua de sinais procurava uma forma

de o grupo de surdo ter contato com a liacutengua de sinais e ensinava em sua casa (na garagem) onde tambeacutem ficava a associaccedilatildeo

As aulas continuavam com o professor Francisco que ia

ensinando cada vez mais sinais e com qualidade pois dali faziam as

provas finais O professor ensinava conteuacutedos de matemaacutetica geografia

94

conhecimento geral ciecircncias e portuguecircs No uacuteltimo mecircs de aula apoacutes o

encerramento das aulas o professor entregava os boletins com as meacutedias

de todos os surdos que ficaram alegres pois nenhum deles tinha sido

reprovado

Francisco viajou para Satildeo Paulo em 1954 iniciou sua amizade

com o primeiro presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos de Satildeo

Paulo senhor Maacuterio Devisate que natildeo tinha o conhecimento da

existecircncia de uma associaccedilatildeo de surdos em Florianoacutepolis O senhor

Maacuterio Devisate deu um documento de uma Associaccedilatildeo de Surdos-

Mudos com acircmbito nacional e Francisco veio como delegado para a

regiatildeo do sul passando a residir nessa capital

Foi o primeiro encontro com o presidente da Sociedade dos

Surdos-Mudos do Distrito Federal49

que mudou a Associaccedilatildeo de Surdos-

Mudos do Rio de Janeiro o senhor Miguel da Fonseca Seabra de Melo

grande colega jaacute falecido Francisco em meio agrave conversa na liacutengua de

sinais conheceu o presidente da ASURJ que comentou ldquoaquele tambeacutem

eacute surdordquo O colega dele sorriu ao sair cumprimentou o senhor Miguel

da Fonseca Seabra de Melo que agradecendo estendeu-lhe a matildeo Isso

aconteceu no Instituto Nacional de Surdos-Mudos

Francisco nunca mais se esqueceu dessa cena bem da verdade

ele conversava com o senhor Salomatildeo Watnick (jaacute falecido em Porto

Alegre) que foi o primeiro presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos

do Rio Grande do Sul e foi uma grande amizade Como pode estudar

desde cedo em escola especial para Surdos Mudos em Satildeo Paulo e Rio

de Janeiro conhecia muitos surdos tinha amizade e intimidade

oportunizando contato com surdos que tinham lideranccedila e outros grupos

de surdos tendo como consequecircncia aprendido expressotildees palavras

novas da liacutengua de sinais inclusive as variaccedilotildees linguiacutesticas de outras

regiotildees

Francisco foi tratado como amigo pelos senhores Vivaldo Leal de

Merelles e Ciro Garcia de Souza jaacute falecidos que escreveram o

primeiro estatuto da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos do Paranaacute Eles

perguntaram como ganhavam a vida os surdos-mudos que natildeo tiveram a

felicidade de cursar escolas especiais Entatildeo nesta pergunta

encontraram o motivo da existecircncia da associaccedilatildeo e da escola

Francisco fundou o Ciacuterculo dos Surdos-Mudos de Santa Catarina

ndash CSMSC no ano de 1955 Naquele aniversaacuterio de sua entidade os

surdos-mudos de Florianoacutepolis receberam a visita de delegaccedilotildees de

49 O Distrito Federal nessa eacutepoca era o Rio de Janeiro

95

outros Estados No primeiro jogo o CSMSC jaacute ganhou um trofeacuteu no

futebol de campo Outro ganho foi com a Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos

do Paranaacute onde havia muitas variaccedilotildees na liacutengua de sinais e o contato

proporcionou o aprendizado de novos sinais para todos

Em 1961 o Governador Celso Ramos atendia o presidente O

Ciacuterculo dos Surdos-Mudos de Santa Catarina o professor Francisco

Lima Juacutenior acompanhado de outros membros daquela associaccedilatildeo

pleiteava a construccedilatildeo de uma escola para surdos-mudos em nosso

Estado porque ainda natildeo existia nenhuma O ensino de Francisco

desenvolvia o domiacutenio da liacutengua de sinais dos surdos em Santa Catarina

Em Santa Catarina o processo de educaccedilatildeo de surdos se

deu na deacutecada de 50 com serviccedilos implementados na

rede regular de ensino Aconteceu que os surdos

estudaram na escola regular juntamente com alunos

ouvintes e eles natildeo se compreenderam na sala de aula

porque o professor falava a liacutengua portuguesa e oralismo

A liacutengua de sinais era proibida por influecircncia do

congresso de Milatildeo na Itaacutelia em 1880 Os alunos surdos

ficaram isolados dos alunos ouvintes por causa das

barreiras de comunicaccedilatildeo Os ouvintes natildeo conheciam a

cultura e a identidade surda Por exemplo na sala de aula

muitos alunos ouvintes se comunicam em portuguecircs e os

surdos ficam isolados e excluiacutedos na escola dos ouvintes

Porque o surdo procura a intervenccedilatildeo da cultura que se

vive na liacutengua de sinais encontra outros surdos na

comunicaccedilatildeo nos contados entre outros surdos e

consegue juntamente na forccedila poliacutetica dos movimentos

surdos Na verdade o Francisco teve forccedila de vontade

para estudar no INES Ele eacute uma pessoa boa com a

responsabilidade de fundar associaccedilatildeo de surdo A

trajetoacuteria de vida desde a infacircncia marca e registra que

Francisco tem procuraccedilatildeo com o povo surdo do interior

com os contatos na liacutengua de sinais e mais valorizaccedilatildeo da

cultura surda (SCHMITT 2008 p 105)

Foi apresentado para Francisco Lima Juacutenior pelo Governador

Celso Ramos o termo aprovado para contrataccedilatildeo de profissionais para

funcionamento da sala para surdos-mudos em Florianoacutepolis que

funcionou na Escola Celso Ramos localizada na Rua Francisco

Tolentino n0 12 Centro de Florianoacutepolis Esse empreendimento veio

dotar a capital de mais uma escola desta vez destinada aos surdos-

mudos que tambeacutem necessitavam ser atendidos quando se promovia o

crescimento no nuacutemero de escola em nossa terra

96

Em Florianoacutepolis existiam duas escolas para crianccedilas surdas

uma funcionando no grupo Escolar Celso Ramos e outra no grupo

Escolar Barreiros Filho todos a cargos de professores especializados

Nessa eacutepoca os surdos de Florianoacutepolis receberam a visita de um

sacerdote surdo o Padre Vicente de Paulo Penido Burnier natural de

Juiz de Fora Estado de Minas Gerais e tambeacutem do Padre Eugecircnio Oates

nascido em Missouir Estados Unidos Atraiacutedo pela personalidade e pelo

trabalho do padre Vicente o padre Eugecircnio Oates veio para o Brasil em

1946 como missionaacuterio dirigindo-se agrave igreja dos padres redentoristas

sediada em Manaus

Integrou-se na vida brasileira o padre Eugecircnio Oates realizando

campanhas em todo o paiacutes em favor da difusatildeo da linguagem das matildeos

no Rio de Janeiro onde lanccedilou o primeiro livro em 1969

Figura 14 ndash Acervo do Francisco fotografia de Jornal que traz

reportagem sobre o livro Linguagem das Matildeos

Em Florianoacutepolis encaminhavam os surdos-mudos para a

instituiccedilatildeo especializada podia-se procurar o Ciacuterculo dos Surdos-Mudos

de Santa Catarina no grupo escolar Barreiros Filho e no Instituto de

Audiccedilatildeo e Terapia de Linguagem ndash IATEL Fundado no dia 05 de julho

de 1969 o IATEL jaacute funcionava no hospital infantil em instalaccedilotildees

precaacuterias Para que crianccedilas surdas pudessem ter uma vida normal o

professor Francisco Lima Juacutenior trabalhava haacute muitos anos

O Ciacuterculo dos Surdos-Mudos de Santa Catarina comeccedilou a se

movimentar pois na reuniatildeo teve contato com a liacutengua de sinais que

comeccedilou com o discurso depois um jogo divertido que o CSMSC

97

promovia no encontro desta reuniatildeo Tambeacutem ofereceu a renovaccedilatildeo de

matriacuteculas para menores e adultos surdos Reabriu a escola para surdos

menores no periacuteodo da manhatilde e agrave noite para adultos analfabetos Teve

tambeacutem outra reuniatildeo que iniciou com um discurso e apoacutes isso

aconteceu o jogo com os associados

As aulas continuavam normalmente e as reuniotildees tambeacutem

Francisco Lima Juacutenior que era o presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos

do Estado de Santa Catarina era quem organizava o encontro com as

associaccedilotildees de surdos de vaacuterias cidades do estado Havia aleacutem dos

discursos escolha da rainha dos surdos e competiccedilotildees de jogos (futebol

vocirclei) aleacutem de viagens Numa dessas viagens os surdos de Santa

Catarina foram para Satildeo Paulo no festival esportivo numa viagem de

dois dias onde ocorria a silenciosa festividade

O presidente do CSMSC nesta festa fez um discurso para os

amigos surdos de Satildeo Paulo e o vice-presidente do CSMSC deixou seu

cargo porque natildeo quis mais participar destas associaccedilotildees Entatildeo as

aulas continuaram Foi um mecircs em que muitos soacutecios ou alguns estavam

com muito trabalho vinham alguns soacutecios da associaccedilatildeo dos surdos-

mudos para saber das informaccedilotildees da semana no CSMSC Por isso

continuaram alguns surdos realizando o encontro para bate-papo na

liacutengua de sinais todas as quartas-feiras Realizou-se a primeira

comunhatildeo pascoal na capela do Coleacutegio Catarinense rezada pelo padre

Vicente que era surdo no mesmo dia apoacutes a missa de aniversaacuterio do

presidente Francisco

Os alunos surdos entraram em feacuterias mas continuaram os

encontros e reuniotildees onde discursavam e planejavam as atividades

esportivas para o CSMSC apoacutes os jogos que eles faziam todos os

meses Havia reuniotildees com bate-papos na liacutengua de sinais no CSMSC

Numa destas reuniotildees aconteceu um evento importante para os surdos-

mudos que eram associados do CSMSC pois comemoraram a data de

sua inauguraccedilatildeo

Francisco continuava a dar aulas e palestras principalmente sobre

a Independecircncia do Brasil sobre D Pedro I e outros assuntos Na

comemoraccedilatildeo da Independecircncia do Brasil os associados da CSMSC

viajaram para Curitiba e encontraram os amigos surdos de laacute E todos

fizeram um discurso que iniciou com o presidente da CSMSC apoacutes os

representantes de cada sociedade e depois do discurso foi eleita a rainha

da Associaccedilatildeo dos Surdos de Curitiba senhorita Anair Budel Em

seguida o presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos de Curitiba convidou o

professor Francisco Lima Juacutenior presidente do CSMSC para danccedilar a

valsa com a rainha das prendas Anair Budel

98

Francisco contou que o baile foi muito divertido e durou ateacute a

madrugada com o grupo de surdos que conversava muito no encontro

de associaccedilotildees regionais Apoacutes o encerramento do evento visitaram

uma escola de crianccedilas surdas em Curitiba Em 1972 o professor deu

para cada aluno uma cartolina e assim cada um ia imaginar e pintar seu

conhecimento do trabalho para a difusatildeo da liacutengua de sinais Depois na

comemoraccedilatildeo do dia do professor os alunos fizeram uma pequena

homenagem ao professor Francisco

O professor falou sobre o dia do Iacutendio descobrimento do Brasil a

morte de Tiradentes entre outros Na paacutescoa os alunos receberam

presentes de chocolate na semana da paixatildeo foi apresentado o teatro ldquoa

morte de Jesus Cristordquo na liacutengua de sinais por um grupo de surdos para

difundir sua liacutengua

O ensino da liacutengua de sinais em Santa Catarina com os

ensinamentos do professor Francisco proporcionou uma nova fase da

liacutengua de sinais trazendo influecircncias de outras comunidades surdas do

Brasil A partir desse contato o modelo linguiacutestico trazido do Rio de

Janeiro eacute aperfeiccediloado a cada geraccedilatildeo

O Imperial Instituto dos Surdos-Mudos foi de extrema

importacircncia na propagaccedilatildeo da liacutengua de sinais em grande

parte das regiotildees brasileiras O Sr Francisco cidadatildeo

Catarinense foi um aluno desta instituiccedilatildeo apoacutes retornar

ao seu estado de origem ele foi educador de surdos e

responsaacuteveis pela difusatildeo da liacutengua sinalizada usada

nesse instituto (CORREA e SEGALA 2009 p 32)

Durante todo esse tempo o professor Francisco Lima Juacutenior

orienta auxilia e direciona todas as atividades escolares das crianccedilas

jovens e adultos surdos tornando-se assim o primeiro professor dessa

metodologia de ensino - A Linguagem das Matildeos com o objetivo de

criar um alfabeto uacutenico para todos os Surdos do Estado de Santa

Catarina Suas aulas e palestras em LIBRAS tornaram-se muito

populares entre os surdos catarinenses

Eacute importante registrar na histoacuteria da liacutengua de sinais em Santa

Catarina um estudo linguiacutestico e possibilitar a pesquisa sobre o primeiro

professor surdo Francisco que criou o primeiro dicionaacuterio aqui em

Santa Catarina Ele trouxe o modelo do INESRJ (uma experiecircncia na liacutengua de sinais) para nosso estado de Santa Catarina e influenciou a

comunidade surda catarinense

Uma das pessoas surdas da nova geraccedilatildeo eacute a Sandra Luacutecia

Amorim que escreveu um pequeno dicionaacuterio chamado ldquoComunicando

99

a Liberdade - A Liacutengua das Matildeosrdquo em 2000

Concluiacutemos que a Liacutengua Brasileira de Sinais teve forte

influecircncia da liacutengua de sinais francesa (LSF) que tambeacutem influenciou a

liacutengua de sinais em Santa Catarina atraveacutes do professor Francisco que

estudou no INES A LSF eacute uma liacutengua mais antiga do que a LIBRAS

com um acervo bibliograacutefico maior A LIBRAS tem caracteriacutesticas

proacuteprias e estaacute em expansatildeo a partir de sua oficializaccedilatildeo em 2002 pela

necessidade de incluir novos sinais ao aprendizado da comunidade surda

que passou a ter uma maior abertura nas universidades

100

101

CAPIacuteTULO IV ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila na liacutengua de sinais

41 ndash Introduccedilatildeo

Nesta pesquisa tomamos como base teoacuterica os estudos

sociolinguiacutesticos de Labov (2008 [1972]) na concepccedilatildeo de que seu texto

pode nos ajudar a embasar o trabalho de pesquisa Assim tomamos

como base os estudos das liacutenguas orais do autor adaptando-os agraves

variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas das liacutenguas de sinais

O estudo desenvolvido aqui mostra os sujeitos surdos a liacutengua de

sinais algumas possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas Traz

explicaccedilotildees da liacutengua de sinais pelo surdo indiacutecios de variaccedilatildeo e

mudanccedila linguiacutestica apresenta variaccedilotildees linguiacutesticas na liacutengua de sinais

utilizadas pelos surdos e por fim como o surdo se comunica a liacutengua

de sinais em seu contexto social

42 ndash A liacutengua de sinais pelo surdo indiacutecios de variaccedilatildeo e mudanccedila

linguiacutestica

A LIBRAS

50 eacute uma liacutengua usada entre os surdos assim como

entre os ouvintes desde que queiram interagir com esta forma de

comunicaccedilatildeo Ao verificar o acesso dos surdos agrave comunicaccedilatildeo e agrave

expressatildeo de forma criativa pode-se encontrar respostas sobre

mudanccedilas na gramaacutetica em palavras em frases e em seu contexto

social

As liacutenguas mudam todos os dias evoluem mas a essa

mudanccedila diacrocircnica se acrescenta uma outra sincrocircnica

pode-se perceber numa liacutengua continuamente a

coexistecircncia de formas diferentes de um mesmo

significado Essas variaacuteveis podem ser geograacuteficas a

mesma liacutengua pode ser pronunciado diferentemente ou

ter um leacutexico diferente em diferentes pontos do territoacuterio

(CALVET 2002 p 89)

Queremos apresentar algumas variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas a

que os surdos estiveram expostos no primeiro espaccedilo de ensino

promovido pelo professor Francisco Lima Juacutenior (Chiquito) Ele

influenciou para a expansatildeo da liacutengua de sinais da comunidade surda na

50 ldquoEacute uma liacutengua natural eacute atraveacutes dela que os surdos tecircm acesso ao mundo em que vivem No

entanto ela natildeo eacute uma liacutengua que o surdo aprende sozinho Ele pode desenvolver uma liacutengua

102

histoacuteria de Santa Catarina Entatildeo queremos perceber se haacute diferenccedilas

durante sua trajetoacuteria entre a variaccedilatildeo linguiacutestica daquela eacutepoca (1950)

ateacute a atualidade se aconteceram mudanccedilas por influecircncia da

transformaccedilatildeo tecnoloacutegica da sociedade Acreditamos que com o passar

do tempo ocorrem mudanccedilas na liacutengua de sinais histoacuterica e

culturalmente na comunidade surda

As liacutenguas de sinais como todas as liacutenguas satildeo dinacircmicas Em

contato com grupos surdos na comunidade modificam-se ao longo do

tempo como qualquer outra liacutengua A mudanccedila pode ser percebida em

diferentes regiotildees onde o surdo busca a informaccedilatildeo utilizando a liacutengua

de sinais que vem de outro lugar com algumas diferenccedilas entre palavras

e seu significado entre sinais

Quando as pessoas surdas evoluem culturalmente a liacutengua de

sinais se transforma Com o passar do tempo a ldquoLIBRASrdquo tambeacutem se

modifica Na interaccedilatildeo do indiviacuteduo surdo na comunidade surda e na

sociedade essas relaccedilotildees de contato fazem com que se criem novos

sinais pois aparecem palavras novas e outros sinais sofrem adaptaccedilotildees

ocorrem mudanccedilas na configuraccedilatildeo de matildeos no ponto de articulaccedilatildeo

no movimento na orientaccedilatildeodirecional na expressatildeo facial e corporal

Essas adaptaccedilotildees satildeo criadas pela necessidade no contato e na situaccedilatildeo

de uso A comunidade surda como qualquer outra vem evoluindo e se

transformando firmando uma identidade surda

Como jaacute ressaltamos a origem da liacutengua de sinais no Brasil eacute

europeacuteia Sua maior influecircncia foi no Rio de Janeiro no Instituto

Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos ndash INESRJ onde se expandiu para os

demais estados brasileiros Recebeu influecircncia tambeacutem do Francecircs do

Portuguecircs (Portugal) e dos Estados Unidos O Instituto pesquisou a

influecircncia cultural dos surdos e as influecircncias sofridas quanto a

LIBRAS Assim como na Liacutengua Portuguesa acontecem modificaccedilotildees

na escrita e na fala com o tempo na liacutengua de sinais tambeacutem ocorrem

transformaccedilotildees quanto agrave configuraccedilatildeo de matildeos A liacutengua de sinais

evolui com mudanccedila constante em cada regiatildeo e a comunicaccedilatildeo do

surdo acompanha e qualifica mais a liacutengua de sinais A LIBRAS sofre

modificaccedilotildees com o tempo e tambeacutem como na liacutengua falada apresenta

palavras ou expressotildees proacuteprias do lugar onde acontece a comunicaccedilatildeo

Sendo assim o surdo natildeo tem o contato com a LIBRAS longe da

sociedade ou na zona rural nesse caso pode se apropriar de sinais

proacuteprios para a comunicaccedilatildeo ex Francisco buscava os surdos nas

regiotildees de Santa Catarina pois o contato com a LIBRAS eacute importante

para a sua identidade cultural

103

Realmente pode-se considerar que essas diferentes

palavras se dividem em seu uso em uma escala de faixas

etaacuterias os jovens diriam banheiro seus pais wc e seus

avoacutes reservados por exemplo Pode-se entatildeo imaginar

que eles se dividam segundo o sexo dos falantes os

homens dizendo mais banheiro e wc e as mulheres

toalete e reservado (CALVET 2002 p 103)

A LIBRAS eacute uma liacutengua porque possui estrutura gramatical

proacutepria eacute essencial para o surdo o contato em relaccedilatildeo ao outro como

em qualquer outra liacutengua que tem diferenccedilas gramaticais Utilizando o

movimento de sinal e a expressatildeo facial como meio de comunicaccedilatildeo o

surdo se comunica tanto com a comunidade surda quanto com a ouvinte

O contato dos jovens com os ensinamentos do professor

Francisco proporcionou uma nova fase da liacutengua de sinais A partir

desse contato o modelo linguiacutestico trazido do Rio de Janeiro eacute

aperfeiccediloado pela geraccedilatildeo mais nova do mesmo modo que descreve

Calvet (2002) nos estudos de liacutengua oral

- a ideacuteia de pesquisa uma (s) variaacutevel (eis) frequente (s)

que geralmente aparecem na estrutura linguumliacutestica

variaacuteveis cuja distribuiccedilatildeo deve ser fortemente

estratificada ldquoIsso equivale a dizer que as pesquisas

preliminares deveriam indicar a seu respeito uma

distribuiccedilatildeo assimeacutetrica entre as mais diversas faixas

etaacuterias ou entre outras categorias mais hierarquizadas da

sociedaderdquo - o estabelecimento de uma metodologia que

extrai essas variaacuteveis dos textos produzidos pelos

falantes - a pesquisa da correlaccedilatildeo entre essa

distribuiccedilatildeo de traccedilos linguiacutesticos e uma distribuiccedilatildeo de

traccedilos socioloacutegicos (CALVET 2002 p 93)

Na citaccedilatildeo acima o autor relata que eacute preciso pensar a construccedilatildeo

de identidade levando em conta diferentes faixas etaacuterias e a variaccedilatildeo

linguiacutestica Entendemos assim a necessidade de pesquisarmos as

variaccedilotildees ocorridas em Santa Catarina

A LIBRAS possui uma forma de comunicaccedilatildeo proacutepria Eacute

independente como qualquer outra liacutengua escrita ou falada Tem o

formato proacuteprio na sua comunicaccedilatildeo que eacute o visual pois se utiliza de

sinaisgestos e expressotildees Todos os seres humanos usam um

determinado tipo de liacutengua e linguagem para se comunicar e tanto a

liacutengua falada quanto a sinalizada apresentam sentidos de expressotildees

104

diferentes na comunicaccedilatildeo A liacutengua de sinais muda histoacuterica e

linguisticamente conforme as variaccedilotildees de cada lugar ou regiatildeo Entatildeo

eacute importante a relaccedilatildeo estabelecida com outras pessoas na sociedade na

troca de informaccedilatildeo ideias experiecircncias ensinamentos e aprendizagem

quando se fala uma liacutengua Quando pensamos as liacutenguas percebemos

que existem diferenccedilas na LIBRAS e no Portuguecircs

Frishberg (1975)51

no seu estudo pesquisado no Instituto Teacutecnico

Nacional para Surdos de Nova Iorque aborda como a Liacutengua de Sinais

Americana (ASL) tem mudado gradativamente ao longo do tempo de

uma linguagem mais icocircnica para uma linguagem mais arbitraacuteria Eacute a

liacutengua natural da comunidade surda nos Estados Unidos e em partes do

Canadaacute onde o inglecircs eacute falado Difere das duas liacutenguas que a maioria

das pessoas conhece no sentido de que eacute produzida com as matildeos e

percebida pelos olhos em vez de pronunciado e percebido pelos

ouvidos Entatildeo ela realizou a sua pesquisa sobre alguns processos

histoacutericos em Liacutengua de Sinais onde havia uma forte tendecircncia para

certas mudanccedilas Como toda liacutengua as liacutenguas de sinais aumentam seu

inventaacuterio lexical com novos sinais introduzidos pelas comunidades

surdas em respostas agraves mudanccedilas culturais e tecnoloacutegicas

A liacutengua de sinais possui estrutura gramatical como qualquer

liacutengua utiliza paracircmetros e como todas as liacutenguas tem variaccedilotildees no

niacutevel fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico e pragmaacutetico Por

isso pode-se perceber a mudanccedila cotidiana na liacutengua de sinais A pessoa

surda traz do seu contato cultural dos grupos nos quais estaacute inserida

novos olhares desta liacutengua muitas vezes transformando sinais jaacute

existentes em novos sinais

Quadros e Karnopp (2004) dizem que as liacutenguas de sinais

recebem informaccedilotildees linguiacutesticas pelos olhos e satildeo produzidas pelas

matildeos O termo fonologia tem sido muito usado para estudar os

elementos das liacutenguas de sinais Apesar da diferenccedila com as liacutenguas

orais as duas liacutenguas tecircm os mesmos princiacutepios subjacentes de

construccedilatildeo Poreacutem existe um esquema linguiacutestico estrutural nas liacutenguas

de sinais que natildeo tem significado se feito isoladamente que eacute

51 Nancy Frishberg eacute consultora em Liacutengua de Sinais e Interpretaccedilatildeo Ela tem PhD em

linguiacutestica pela Universidade da Califoacuternia San Diego onde sua pesquisa de doutorado focada

em mudanccedila histoacuterica em Liacutengua de Sinais Americana ndash ASL Seu trabalho de dissertaccedilatildeo demostrou que os sinais seguem princiacutepios linguiacutesticos como elas mudam ao longo do tempo

com o uso Seu livro de 1986 ldquoInterpretaccedilatildeo Um Introduccedilatildeordquo que ainda estaacute em versatildeo

impressa eacute o texto principal em muitos programas de treinamento inteacuterprete e serve como base para o exame escrito (primeira etapa) para certificaccedilatildeo pelo Registro de Inteacuterpretes para

Surdos

105

Configuraccedilatildeo de Matildeos (CM) Locaccedilatildeo (L) e Movimento (M) A

LIBRAS eacute basicamente feita com as matildeos (direita ou esquerda) tendo

tambeacutem movimento do corpo e da face A CM L e M se contrastam

minimamente alterando o significado dos sinais

A ASL tem a sua proacutepria gramaacutetica e fonologia Na liacutengua de

sinais eacute o estudo dos movimentos manuais baacutesicos que fornece a base

para todos os sinais sintaxe e morfologia na liacutengua falada A morfologia

estuda como as palavras satildeo formadas a partir de sons e palavras

baacutesicas Na liacutengua de sinais eacute o estudo de como os sinais manuais

baacutesicos representam conceitos A liacutengua americana de sinais eacute uma

liacutengua visual que incorpora gestos expressotildees faciais movimentos da

cabeccedila linguagem corporal e ateacute o espaccedilo ao redor do falante Os sinais

manuais satildeo a base desta liacutengua Muitos deles satildeo icocircnicos o que

significa dizer que o sinal usa uma imagem visual que se parece com o

conceito que representa

Wescott (1971 Frishberg) sugere que todas as formas de liacutengua

(oral escrita e gestual) usam iconicidade Ele diz que a iconicidade eacute um

sinal familiar (caseiro) em vez de uma caracteriacutestica absoluta de

qualquer sistema de comunicaccedilatildeo incluindo a liacutengua

Segundo Frishberg um sinal pode ser especificado atraveacutes de

quatro paracircmetros simultaneamente configuraccedilatildeo de matildeo movimento

ponto de articulaccedilatildeo (ou localizaccedilatildeo) e orientaccedilatildeo Essas descriccedilotildees de

paracircmetro servem para poder distinguir alguns sinais de outros similares

e dar sentido agrave frase num todo como por exemplo os sinais HOJE e

AGORA diferem no paracircmetro movimento mas satildeo iguais na

configuraccedilatildeo de matildeos e na localizaccedilatildeo A alteraccedilatildeo entre esses

paracircmetros pode significar uma completa alteraccedilatildeo no sentido de

algumas palavras Por exemplo o sinal correspondente agrave ldquoMACcedilAtilderdquo pode

significar ldquoQUEIJOrdquo se houver apenas uma mudanccedila na configuraccedilatildeo

de matildeos novamente ldquoMACcedilAtilderdquo pode significar ldquoCURSOrdquo se houver

diferenccedila no local e por fim ldquoMACcedilAtilderdquo pode significar ldquoCUBArdquo se

houver variaccedilatildeo no movimento Esses satildeo pares-miacutenimos encontrados

na LIBRAS A orientaccedilatildeo conforme aplicada tambeacutem pode alterar o

significado de uma palavra Seguem os exemplos na liacutengua de sinais

106

Figura 15 ndash Mostrar os Sinais

As autoras Quadros e Karnopp (2004 p 78) dizem que as

restriccedilotildees fonoloacutegicas requeridas para a boa formaccedilatildeo de sinais podem

ser produzidas pelas matildeos como a) sinais produzidos com uma das

matildeos b) sinais produzidos com as duas matildeos ambas ativas e c) sinais produzidos com as duas matildeos em que a matildeo dominante eacute ativa e a matildeo

natildeo-dominante serve como locaccedilatildeo

Para Battison (1978 Quadros e Karnopp (2004)) haacute duas

restriccedilotildees fonoloacutegicas na produccedilatildeo dos tipos de sinais a) a condiccedilatildeo de

107

simetria e b) a condiccedilatildeo de dominacircncia Quando as duas matildeos se

movem na produccedilatildeo de um uacutenico sinal CM deve ser a mesma para as

duas matildeos a locaccedilatildeo deve ser a mesma ou simeacutetrica o movimento deve

ser simultacircneo ou alternado Jaacute na condiccedilatildeo de dominacircncia as matildeos

apresentam diferentes configuraccedilotildees e entatildeo a matildeo ativa produz o

movimento e a matildeo passiva serve de apoio

A importacircncia dessa transferecircncia de movimento do rosto ou

corpo para as matildeos deve ser ressaltada bem como a concentraccedilatildeo para

uma sinalizaccedilatildeo de faacutecil entendimento Alguns sinais continuam sendo

motivados para uma mudanccedila dentre eles WILL (indica o futuro)

CARE (cuidado) TEDIOUS (tedioso) FINDFAULT (criticar) e

MEET (encontrar) Nessas mudanccedilas satildeo observadas algumas

caracteriacutesticas corporais tais como movimentos ordenados dos dedos e

matildeos deslocamento lateral da cabeccedila e movimentos do toacuterax

Pesquisei outro exemplo no curso de LetrasLIBRAS sobre a

variaccedilatildeo fonoloacutegica ldquoOs sinais FUNNY (engraccedilado) BLACK (preto)

e BORING (chato) satildeo exemplos de variaccedilatildeo fonoloacutegica pois esses

sinais podem ser realizados de duas formas soacute com o indicador

distendido e os outros dedos fechados ou com o

indicador e o polegar distendidos e os demais dedos fechadosrdquo

108

Figura 16 ndash Variaccedilatildeo fonoloacutegica

Outro exemplo interessante dos autores Woodward e Desantis

(1976) satildeo sinais que podem ser realizados tanto com uma matildeo quanto

com duas matildeos como os sinais CAT (gato) COW (vaca) e FAMOUS

(famoso) que satildeo produzidos no rosto

CAT COW

FAMOUS

(TENNANT amp BROWN 2004)

Figura 17 ndash Mostrar os sinais com uma matildeo e com duas matildeos

109

Vamos conhecer e refletir sobre as variaccedilotildees dos surdos

essencialmente com relaccedilatildeo agrave liacutengua de sinais

Klima e Bellugi (1979) representam uma pesquisa fonoloacutegica na

liacutengua de sinais do ASL A ASL ndash American Sign Language eacute a liacutengua

natural da comunidade surda nos Estados Unidos Os autores

identificam na liacutengua de sinais apenas trecircs paracircmetros configuraccedilatildeo de

matildeo (CM) ponto de articulaccedilatildeo (ou localizaccedilatildeo) (L) movimento (M)

que ao serem analisados individualmente natildeo satildeo possuidores de

significado e a outra autora Brito (1995) no Brasil pesquisou partes dos

paracircmetros primaacuterios a configuraccedilatildeo das matildeos o ponto de articulaccedilatildeo e

o movimento e tambeacutem os paracircmetros secundaacuterios52

a regiatildeo de

contato a orientaccedilatildeo das matildeos e a disposiccedilatildeo das matildeos

Segundo Frishberg em se tratando de tendecircncia para a simetria a

liacutengua toma vaacuterias formas Examinando o seu desenvolvimento em dois

paracircmetros matildeo-forma e movimento nota-se que ambas as matildeos agem

em uniacutessono e uma matildeo age sobre a outra As matildeos assumiram a mesma

configuraccedilatildeo Pode-se ver que alguns sinais mudam sua forma de

expressatildeo antes era com apenas uma das matildeos e agora se tornam as

duas

Eacute claro que os sinais tendem a seguir mudanccedilas ao longo da

histoacuteria Por exemplo para sinais no rosto tendem a utilizar apenas uma

matildeo deixando a face mais visiacutevel e permitindo que os olhos expressem

uma variedade de fins gramaticais Jaacute para os sinais na aacuterea do tronco

geralmente usam as duas matildeos ndash o que muitas vezes eacute sinal de

redundacircncia e simetria

Segue o exemplo da liacutengua de sinais do ASL

52 BRITO (1995) Regiatildeo de Contato ldquoRefere-se agrave parte da matildeo que entra em contato com o corpo Esse contato pode-ser dar maneiras diferentes atraveacutes de um toque de um risco de um

deslizamento etcrdquo

Orientaccedilatildeo das Matildeos ldquoEacute a direccedilatildeo da palma da matildeo durante o sinal voltada para cima para

baixo para o corpo para frente para esquerda ou para a direita Pode haver mudanccedila na

orientaccedilatildeo durante a execuccedilatildeo do Movimentordquo

Disposiccedilatildeo das Matildeos ldquoA articulaccedilatildeo dos sinais pode ser feita apenas pela matildeo dominante ou

pelas duas matildeos Neste uacuteltimo caso as duas matildeos podem se movimentar para formar o sinal ou entatildeo apenas a matildeo dominante se movimenta e a outra funciona como Ponto de

Articulaccedilatildeordquo

110

Figura 18 ndash Sinal de Paacutessaro

Para o sinal de PAacuteSSARO em um primeiro momento utiliza-se

uma das matildeos na aacuterea da face para o sinal ldquobicordquo e em seguida as duas

matildeos (uma para cada lado) em forma de asas Por fim o sinal

PAacuteSSARO hoje eacute apenas representado pela primeira parte (bico em

matildeo uacutenica)

A histoacuteria documentada da liacutengua americana de sinais natildeo eacute

longa existe uma seacuterie de gestos registrados ao longo da histoacuteria mas

foi somente no final do seacuteculo XVIII que os surdos foram considerados

educaacuteveis

Segundo Frishberg ldquoHomesignrdquo (sinais caseiros) eacute um termo

geral utilizado pela comunidade surda para se comunicar poreacutem eacute uma

forma bastante utilizada principalmente pelas matildees em aacutereas rurais que

tecircm filhos surdos Dados estatiacutesticos mostram que 80 a 90 dos surdos

nascem de pais ouvintes por essa razatildeo haacute uma necessidade inevitaacutevel

de comunicaccedilatildeo A partir dessa necessidade as matildees principalmente

precisam encontrar maneiras de se comunicar com os filhos e passam a

criar sinais de forma empiacuterica sem qualquer regra ou seja sinais natildeo

padronizados Tais sinais inventados passam a criar certas dificuldades

111

de comunicaccedilatildeo entre as diferentes comunidades de surdos Existe a

ASL (Liacutengua de Sinais Americana) com uma linguagem jaacute padronizada

que comeccedila a ser difundida e ensinada atraveacutes das escolas americanas

com sinais padronizados

A liacutengua de sinais padronizada enfrenta ainda dificuldade pois

algumas escolas eram proibidas politicamente de ensinar atraveacutes da

metodologia da ASL O fato eacute que outras escolas mesmo sem a devida

autorizaccedilatildeo comeccedilam a ensinar a liacutengua padronizada Os surdos

comeccedilam a aprender a liacutengua padratildeo mas continuam a se comunicar em

casa com os familiares usando o ldquohomesignrdquo (sinais caseiros) A

comunicaccedilatildeo ensinada em casa requeria a utilizaccedilatildeo de vaacuterios recursos

ambientais para a comunicaccedilatildeo entretanto havia a dificuldade de

encontrar referecircncia para as cores nos recursos ambientais pois para se

referir a uma cor eles deveriam encontraacute-lo na natureza aproximar-se o

suficiente para apontar e fazer a associaccedilatildeo com a cor

Historicamente pode-se afirmar que ao longo do tempo a forma

de comunicaccedilatildeo entre a comunidade surda vem mudando

constantemente teacutecnicas e sinais vecircm sendo aperfeiccediloados Ao inveacutes de

gestos natildeo-estruturados o que encontramos eacute uma gama de sinais e

movimentos de matildeos regularizados ou seja inter-relacionados

conjunto sistematizado de sinais que estaacute passando por mudanccedilas de

forma regular e formal

Quadros e Karnopp (2004 p 51) observam que os articuladores

primaacuterios das liacutenguas de sinais satildeo as matildeos estas se movimentam em

um espaccedilo determinado em frente ao corpo Um sinal pode ser

articulado com uma ou duas matildeos ou seja um mesmo sinal pode ser

articulado tanto com a matildeo direita quanto com a esquerda Mas precisa-

se levar em conta que sinais efetuados com as duas matildeos apresentam

restriccedilotildees em relaccedilatildeo ao tipo de interaccedilatildeo entre as matildeos De acordo

com Brito (1995) a LIBRAS apresenta 46 Configuraccedilotildees de Matildeos

(CMs) mas nem todas as liacutenguas de sinais partilham do mesmo nuacutemero

de configuraccedilotildees de matildeos Seguem quatro imagens de configuraccedilotildees de

matildeos difundidas no Brasil

112

As Configuraccedilotildees de Matildeos da LIBRAS

Figura 19 Figura 20

Figura 19 e 20 ndash Ferreira-Brito e Langevin (1995 p220)

Figura 21 Figura 22

Figura 21 ndash httpwwwinesgovbrlibrasprincipalaspASSU_id=3

Figura 22 ndash Quadro de CMs da LSB por Pimenta e Quadros (2006 p 73)

113

Um aspecto recorrentemente discutido eacute a iconicidade dos sinais

ndash em oposiccedilatildeo agrave arbitrariedade da relaccedilatildeo entre significado e

significante observada na constituiccedilatildeo do signo linguiacutestico em liacutenguas

orais Reconhecendo nas liacutenguas de sinais a iconicidade a par da

arbitrariedade (e remetendo a estudos que demonstram por exemplo a

dificuldade por parte de informantes de deduzirem significados em

relaccedilatildeo a muitas formas aparentemente icocircnicas) as autoras (Ferreira-

Brito e Langevin Pimenta e Quadros) destacam o fato de que signos

icocircnicos sofrem mudanccedilas as quais frequentemente ldquotendem a inibir a

natureza icocircnica dos sinais tornando-os mais arbitraacuterios atraveacutes dos

temposrdquo

Embora os demais sinais natildeo-manuais sejam realizados de forma

muitas vezes equivocada quando estes satildeo de forma simples como

afirmativa negativa e exclamativa natildeo haacute um comprometimento do

significado na sentenccedila Mas quando associados a outras formas o

equiacutevoco na execuccedilatildeo da expressatildeo facial provoca uma mudanccedila no

significado da sentenccedila passando esta a pertencer a outra classe

As liacutenguas orais modificam-se como no caso das palavras que

caem em desuso outras que satildeo adquiridas aumentando o vocabulaacuterio

e ainda mudando de significado das palavras O mesmo acontece nas

liacutenguas de sinais a fim de responder agraves necessidades que a evoluccedilatildeo

soacutecio-cultural impotildee

A ASL por sua vez estaacute seguindo a teoria citada acima

substituindo seus iacutecones por siacutembolos que de maneira geral tendem a

ser menos transparentes e icocircnicos pois se tornam mais arbitraacuterios

siacutembolos convencionais

Com o passar do tempo ocorrem muitas mudanccedilas nas liacutenguas

para suprir as necessidades de comunicaccedilatildeo e as modificaccedilotildees de

costumes de cada geraccedilatildeo Assim novos sinais satildeo criados de acordo

com a necessidade de cada grupo

Na verdade temos que pesquisar a liacutengua de sinais em Santa

Catarina observar o sujeito surdo em diferentes faixas etaacuterias

investigando o surgimento do primeiro espaccedilo de identidade cultural do

surdo em contexto social e acessando gramaticalmente a liacutengua de

sinais Esse espaccedilo foi conquistado pela poliacutetica linguiacutestica que assegura

o envolvimento com a liacutengua de sinais que estaacute se expandindo na

sociedade em nosso estado catarinense

Como toda liacutengua a LIBRAS sofre influecircncia das mudanccedilas

histoacutericas e culturais as liacutenguas satildeo dinacircmicas e natildeo estaacuteticas por isso

elas vivem sofrendo alteraccedilotildees e com as liacutenguas de sinais ocorre o

mesmo Essas mudanccedilas podem ser percebidas nas diferentes regiotildees

114

onde satildeo utilizadas as mesmas liacutenguas em que haacute algumas diferenccedilas

em algumas palavras ou expressotildees Mas como tem sido a participaccedilatildeo

do registro na comunicaccedilatildeo do surdo neste espaccedilo linguiacutestico e histoacuterico

cultural na liacutengua de sinais

Calvet (2002) mostra relaccedilotildees entre a liacutengua e a sociedade

fornecendo embasamento agraves explicaccedilotildees sobre as variaccedilotildees

sociolinguiacutesticas o que nos permite fazer uma comparaccedilatildeo das

descriccedilotildees agraves influecircncias externas e internas que a liacutengua de sinais de

Santa Catarina sofreu ateacute chegar ao estaacutegio em que se encontra

atualmente expandido em LIBRAS

Eacute importante registrar a nova histoacuteria da liacutengua de sinais suas

variaccedilotildees e o seu potencial transformador na realidade da comunidade

surda

O sistema linguiacutestico eacute heterogecircneo e as variaccedilotildees podem ser

observadas sob vaacuterios aspectos Sob o ponto de vista diacrocircnico

podemos observar o processo de sistematizaccedilatildeo linguiacutestico de alguns

gestos extralinguiacutesticos usados por usuaacuterios de liacutengua oral auditiva

que foram lexicalizados na LIBRAS tais como os gestuais que

correspondem ao significado de LOUCO ADEUS POSITIVO etc

Por outro lado sob uma perspectiva sincrocircnica vaacuterias formas

podem ser alternadas e podem representar aleacutem disso uma variaccedilatildeo

diatoacutepica53

e a variaccedilatildeo diafaacutesica54

Essas variaccedilotildees referem-se a

variaacuteveis geograacuteficas podem coexistir duas ou mais formas com um

mesmo significado Eacute o caso do sinal CULTURA (matildeo em ldquo5rdquo na testa

ou matildeo em ldquoCrdquo ao longo do braccedilo de apoio) Essas variantes podem

identificar usuaacuterios provindos do Sul e Centro-Oeste respectivamente e

em outras regiotildees por apresentarem sinais diferentes

Em geral um dialeto abrange uma zona ou regiatildeo territorial que

pode ou natildeo coincidir com as fronteiras ou barreiras geograacuteficas No

53 Variaccedilatildeo diatoacutepica eacute a regional quando haacute elementos diferentes dentro de um mesmo territoacuterio linguiacutestico mas natildeo necessariamente dentro de um mesmo dialeto Nem sempre os

elementos detentos de variaccedilotildees diatoacutepicas concorrem a menos quando haacute fortes migraccedilotildees

dentro de um mesmo territoacuterio Podem ocorrer interferecircncias mais incisivas quando determinadas regiotildees possuem destaque econocircmico poliacutetico social e cultural

54 Variaccedilatildeo diafaacutesica eacute a situacional relativa agraves diferentes monitoraccedilotildees do falante nas diferentes situaccedilotildees de interaccedilatildeo Exemplo uma pessoa estaraacute mais monitorada em seu

ambiente de trabalho do que nas interaccedilotildees realizadas em ambiente domeacutestico A variaccedilatildeo

diafaacutesica vem da afirmaccedilatildeo LABOVIANA de que natildeo haacute falante de estilo uacutenico A produccedilatildeo linguiacutestica eacute dependente do contexto social

115

Brasil existem vaacuterios dialetos55

(ou variedades) em comunidades de

ouvintes onde se fala a Liacutengua Portuguesa com diferentes usos Ex

bergamota vergamota e tangerina Palavras variaacuteveis acontecem em

vaacuterias regiotildees e podem ser usadas por motivaccedilatildeo social e ou regional A

seguir algumas variaccedilotildees linguiacutesticas que ocorrem na LIBRAS Ex o

sinal de Cultura SC SP e RJ Seguem os sinais

Figura 23 ndash Sinal ldquoCultura em SCrdquo

Figura 24 ndash Sinal ldquoCultura em SPrdquo

Figura 25 ndash Sinal ldquoCultura em RJrdquo

55 Variedade ndash ldquoa fala de uma comunidade de modo global considerando-se todas as suas particularidades tanto categoacutericas quanto variaacuteveis o mesmo que dialeto ou falarrdquo COELHO

et al (2010 p 166)

116

Um outro exemplo de variaccedilatildeo diatoacutepica no leacutexico do portuguecircs

pode ser observado na diferenccedila entre MACAXEIRA (Norte e

Nordeste) MANDIOCA (Sudeste e Centro-Oeste) e AIPIM (Sul)

A liacutengua de sinais tem uma importacircncia muito significativa para a

comunicaccedilatildeo entre surdos e tambeacutem entre surdos e ouvinte pois sem a

liacutengua de sinais dificultaria a comunicaccedilatildeo e os surdos natildeo conseguiriam

viver na comunidade

A LIBRAS possui forma clara e definida em sua estrutura

gramatical que se estabelece no dia a dia dos que a utilizam Suas vaacuterias

formas sua estrutura o grupo que a utiliza a influecircncia social e

geograacutefica torna a LIBRAS uma liacutengua como qualquer outra pois

realiza a verdadeira funccedilatildeo de comunicar Como Calvet (2002 p 89)

explica variaacuteveis linguiacutesticas satildeo muito usadas em todas as liacutenguas

ldquoDeste modo um reacuteptil comum em todo o Brasil eacute chamado de ldquoosgardquo

na regiatildeo Norte ldquobribardquo ou ldquoviacuteborardquo no Nordeste e ldquolagartixardquo no

Centro-Sul56

rdquo

43 ndash As variaccedilotildees linguiacutesticas na liacutengua de sinais

Uma definiccedilatildeo geral sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica na liacutengua de

sinais torna-se necessaacuteria para melhor aproveitamento desta pesquisa Eacute

importante considerar os dialetos regionais natildeo soacute usados em regiotildees

diferentes no contato social mas no espaccedilo de uso cultural da liacutengua

influenciando o surdo

A Liacutengua de Sinais Americana (ASL) eacute diferente da Liacutengua de

Sinais Britacircnica (BSL) que por sua vez eacute diferente da Liacutengua de Sinais

Argentina e tambeacutem da Liacutengua de Sinais Francesa (LSF) Verificamos

que nos demais paiacuteses tambeacutem satildeo diferentes as liacutenguas de sinais e as

variaccedilotildees linguiacutesticas no contexto social dos surdos no mundo

(STROBEL e FERNANDES 1998) Observe

Ex

56 O exemplo do autor eacute o seguinte ldquoDesse modo um objeto simples como a serpiliegravere peccedila de pano usada para limpar o chatildeo pode tambeacutem ser chamada de panosse (na Saboacuteia e na

Suiacuteccedila) wassingue (no Norte) torchon (no leste) since (no sudeste)rdquo

117

NOME

ASL LIBRAS

Figura 26 ndash Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo ndash Depto Educaccedilatildeo

Especial ndash CuritibaPR SEEDSUEDDEE

Aleacutem disso dentro de um mesmo paiacutes haacute as variaccedilotildees regionais

Na LIBRAS tambeacutem existem dialetos regionais salientando assim uma

vez mais o seu caraacuteter de liacutengua natural

Os povos57

surdos satildeo influenciados pelos contatos nas liacutenguas de

sinais Em cada regiatildeo o surdo se comunica A liacutengua difere quanto ao

dialeto social e cultural Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica em LIBRAS

As variaccedilotildees linguiacutesticas relacionadas ao contexto satildeo chamadas

de variaccedilotildees estiliacutesticas ou registro Os paracircmetros de variaccedilatildeo

linguiacutestica satildeo diversos no ato de interagir verbalmente um falante

utilizaraacute a variedade linguiacutestica relativa agrave sua regiatildeo de origem classe

social idade escolaridade sexo ou ainda acrescenta-se sua condiccedilatildeo

adaptativa de origem como no caso da pessoa surda

O professor Francisco participou do grupo surdo de outras regiotildees

dos estados de Santa Catarina Paranaacute Rio Grande do Sul Satildeo Paulo

Rio de Janeiro e Minas Gerais em contato com a liacutengua de sinais e suas

variaccedilotildees linguiacutesticas No dialeto regional haacute variaccedilatildeo linguiacutestica

diferenccedilas percebidas no espaccedilo cultural do surdo nas situaccedilotildees de

conversa na associaccedilatildeo escola e comunidade Os sujeitos surdos que

relataram o depoimento para a pesquisa sobre a liacutengua de sinais falavam da importacircncia do Francisco para a comunidade surda de SC

57 O povo surdo segundo STROBEL (2006) refere-se ao conjunto de sujeitos que natildeo habitam

no mesmo local mas que estatildeo ligados por uma origem tais como a cultura surda costumes e interesses semelhantes histoacuterias e tradiccedilotildees comuns e qualquer outro laccedilo

118

No mundo haacute pelo menos uma liacutengua de sinais usada

amplamente na comunidade surda de cada paiacutes diferente da liacutengua

falada utilizada na mesma aacuterea geograacutefica Isto se daacute porque essas

liacutenguas de sinais satildeo independentes das liacutenguas orais pois foram

produzidas dentro das comunidades surdas (STROBEL e

FERNANDES 1998)

Pode ser considerado como sotaque na liacutengua de sinais as

variaccedilotildees linguiacutesticas e costume cultural diferentes de cada regiatildeo

Entatildeo Francisco trouxe a experiecircncia do contato com outras regiotildees

para o grupo de surdos de SC na comunicaccedilatildeo em liacutengua de sinais

44 ndash O surdo se comunica a liacutengua de sinais no contexto social

O dialeto social refere-se a variaccedilotildees de configuraccedilatildeo das matildeos

eou de movimento natildeo modificando o sentido do sinal (STROBEL e

FERNANDES 1998) Dependendo da situaccedilatildeo de uso da comunicaccedilatildeo

do surdo na liacutengua de sinais a variaccedilatildeo pode ser observada atraveacutes da

configuraccedilatildeo das matildeos como em

Ex

Figura 27 ndash Sinal de Ajudar

119

Figura 28 ndash Sinal de Faltar

Figura 29 ndash Sinal de Ocircnibus

Figura 30 ndash Sinal de Sonhar

120

Nem todos os usuaacuterios de uma liacutengua falam do mesmo

jeito por isto todas as liacutenguas naturais possuem

variaccedilotildees linguiacutesticas A LIBRAS tambeacutem apresenta

dialetos regionais reforccedilando seu caraacuteter de liacutengua

natural As variaccedilotildees na LIBRAS ocorrem de vaacuterias

formas como alteraccedilotildees na configuraccedilatildeo de matildeos (forma

que a matildeo assume na realizaccedilatildeo do sinal) ou na

localizaccedilatildeo espacial do sinal (local onde o sinal eacute

realizado) sem que seu sentido e significado sejam

perdido ou modificados Tambeacutem haacute sinais diferentes

para representar um mesmo referente usando em

diferentes regiotildees do paiacutes agraves vezes do mesmo estado

(BASSO e SCHMITT 2007 p 50 e 51)

O valor social58

das formas em variaccedilatildeo se estabelece nas

relaccedilotildees sociais e na avaliaccedilatildeo do que pode ser considerada uma

variedade de prestiacutegio ou uma variedade estigmatizada Estilos formais

ou distensos podem ser identificados a partir de um estudo da variaccedilatildeo

das formas no contexto social Estudos sobre o portuguecircs falado

mostram por exemplo que jovens mais favorecidos tendem a fazer

mais concordacircncia verbal em oposiccedilatildeo aos menos favorecidos que

tendem a usar menos concordacircncia Isso mostra o fator externo

(mercado de trabalho ou situaccedilatildeo) e a necessidade de o falante se

adequar ao valor linguiacutestico de concordacircncia considerado como de

prestiacutegio nesse espaccedilo Podemos concluir que a LIBRAS como

qualquer outra liacutengua apresenta variaccedilatildeo e mudanccedila mas ainda

precisamos aprofundar os estudos linguiacutesticos dessa liacutengua para melhor

conhececirc-la em seus diferentes aspectos (lexicais fonoloacutegicos

morfoloacutegicos e sintaacuteticos) O capiacutetulo 6 traraacute uma descriccedilatildeo sobre

alguns desses aspectos em variaccedilatildeo e mudanccedila Acreditamos que com a

proposta biliacutengue para a educaccedilatildeo de surdos a liacutengua portuguesa e a

LIBRAS teratildeo uma relaccedilatildeo cada vez mais intensa e o contato dessas

duas liacutenguas pelos surdos vai acarretar com toda a certeza trocas

linguiacutesticas entre elas o que pode provocar novas transformaccedilotildees

58 Valor social eacute relativo aos problemas de avaliaccedilatildeo e eacute atribuiacutedo pelos proacuteprios falantes e

usuaacuterios de liacutengua de sinais ou seja eacute sempre de ordem social (nunca linguiacutestica) Valor

atribuiacutedo desenha o futuro das formas concorrentes jaacute que a forma eleita eacute sempre a que recebe maior valor e que muitas vezes corresponde agraves formas adotadas pela elite econocircmica poliacutetica

social ou cultural de uma dada comunidade (surda)

121

CAPIacuteTULO V ndash Metodologia

51 ndash Introduccedilatildeo

Investigarei a histoacuteria da liacutengua de sinais em Santa Catarina e as

variaccedilotildees e mudanccedilas fonoloacutegicas e lexicais ocorridas no periacuteodo que

compreende 1946 aos dias atuais fazendo comparaccedilotildees entre sinais que

aparecem nos relatos de experiecircncias em trecircs geraccedilotildees de surdos

pesquisadas

A metodologia utilizada para esta pesquisa foi a de coleta de

dados atraveacutes de perguntas e depoimentos dos surdos envolvidos nas

trecircs geraccedilotildees das uacuteltimas deacutecadas A coleta de dados de informantes59

foi realizada com o objetivo de solicitar depoimentos sobre fatos

histoacutericos e sobre o contato que os surdos tiveram com a liacutengua de

sinais

Os depoimentos dos ex-alunos surdos bem como dos surdos

envolvidos na comunidade surda catarinense nas uacuteltimas deacutecadas foram

realizados por meio de entrevistas filmadas Eu mesmo fiz os viacutedeos

Mas antes conversei com cada um dos surdos explicando porque

precisava de seu depoimento Apoacutes a aceitaccedilatildeo de cada um formei os

trecircs grupos por idade Cada um assinou uma ficha do informante para

realizar a pesquisa (em anexo) com dados pessoais e autorizaccedilatildeo

Foram utilizadas trecircs cacircmeras para a filmagem colocadas de forma a

gravar o depoimento dos trecircs surdos simultaneamente Primeiro filmei o

Grupo I Os informantes ficaram sentados na frente de cada cacircmera um

ao lado do outro Depois fiz a pergunta e eles teriam trinta minutos para

dar a resposta e mais vinte minutos para conversarem entre eles Liguei

as trecircs cacircmeras e saiacute da sala Voltei aproximadamente apoacutes uma hora e

desliguei as cacircmeras Fiz o mesmo com o Grupo II e com o Grupo III O

Grupo III foi filmado na UFSC os outros dois numa sala da Associaccedilatildeo

de Surdos A resposta sobre a histoacuteria da educaccedilatildeo de surdos em SC

mais a conversa espontacircnea em LIBRAS trouxe material de qualidade

para a pesquisa A escolha dos surdos levou em conta o fato de os

escolhidos terem frequentado a escola na deacutecada de 1950 quando surgiu

tambeacutem uma associaccedilatildeo de surdos catarinenses

Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os seguintes toacutepicos a coleta

59 COELHO et al (2010 p 164) ldquosujeito da pesquisa sociolinguiacutestica aquele que fornece seus

dados linguiacutesticos para que o pesquisador analiserdquo

122

de dados das trecircs geraccedilotildees com as diferentes faixas etaacuterias o meacutetodo de

entrevista sociolinguiacutestica a coleta de narrativa de experiecircncia pessoal

a transcriccedilatildeo de dados dos trecircs grupos compostos de informantes surdos

na liacutengua de sinais os informantes do grupo surdo na liacutengua de sinais e

por fim a descriccedilatildeo dos informantes quanto aos dados

Como procedimento metodoloacutegico no primeiro momento

realizamos uma coleta inicial de dados na liacutengua de sinais observando

uma diferenccedila de 30 anos entre um grupo e outro Cada grupo eacute

composto de trecircs indiviacuteduos

O Grupo I eacute formado por pessoas mais velhas na faixa

etaacuteria entre 60 a 80 anos

O Grupo II eacute formado por pessoas entre 30 a 60 anos e

O Grupo III eacute formado por indiviacuteduos na faixa etaacuteria de

15 a 30 anos

Com a anaacutelise da LIBRAS usada pelos indiviacuteduos dessas trecircs

faixas etaacuterias esperamos poder detectar se nas trecircs geraccedilotildees de

sinalizadores da liacutengua de sinais em Santa Catarina vamos encontrar

mudanccedila em tempo aparente

Entatildeo foram entrevistados os trecircs informantes do Grupo III na

situaccedilatildeo de mais jovem em idade na faixa etaacuteria de 15 a 30 anos 1)

Informante A 2) Informante B e 3) Informante C

No segundo momento foi feita a coleta dos dados do Grupo I

Para saber o que existe no primeiro grupo de diferente precisamos

identificar os sinais antigos para depois fazermos uma comparaccedilatildeo com

as liacutenguas de sinais da atualidade Assim foram entrevistados trecircs

sujeitos surdos mais velhos na faixa etaacuteria de 60 a 80 anos 1)

Informante G 2) Informante H e 3) Informante I

No terceiro momento foram entrevistados os informantes do

Grupo II outros trecircs alunos de Francisco na faixa etaacuteria de 30 a 60

anos 1) Informante D 2) Informante E e 3) Informante F Acreditamos

que as formas usadas pelo professor Francisco serviram e servem de

modelo influenciando os alunos E que agraves vezes os alunos do professor

Francisco podem usar alguns sinais proacuteprios do professor surdo em

conversas na escola na associaccedilatildeo e na comunidade surda das regiotildees

de Santa Catarina Eacute possiacutevel tambeacutem que o ex-professor Francisco

usasse outros sinais quando conversava com os amigos os ex-alunos

surdos na escola e associaccedilatildeo em Santa Catarina

123

Foi levado em consideraccedilatildeo na coleta o que sugere Tarallo

(2000)

O pesquisador ao selecionar seus informantes estaraacute em

contato com falantes que variam segundo classe social

faixa etaacuteria etnia e sexo Seja qual for a natureza da

situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo seja qual for o toacutepico central

da conversa seja quem for o informante o pesquisador

deveraacute tentar neutralizar a forccedila exercida pela presenccedila

do gravador e por sua proacutepria presenccedila como elemento

estranho a comunidade Tal neutralizaccedilatildeo pode ser

alcanccedilada no momento em que o pesquisador se decide a

representar o papel de aprendiz-interessado na

comunidade de falantes e em seus problemas e

peculiaridades (TARALLO 2000 p 21)

Ė importante selecionar os informantes dos grupos que tecircm

contato entre si e utilizam a liacutengua de sinais de classes sociais

diferentes dentro da comunidade surda faixa etaacuteria diferente etc A

geraccedilatildeo do grupo dos mais velhos tem influecircncia sobre o grupo dos mais

novos que tem menos contato experiecircncia com a liacutengua Isso pode ser

observado na liacutengua usada pelos informantes pois seus objetivos satildeo

diferentes na fase de aprendizagem em situaccedilatildeo de comunidade surda

O pesquisador aproveita para pensar e planejar como seraacute realizada a

coleta de dados Por se tratar de uma liacutengua visualespacial tentei

diversificar os lugares para a conversa espontacircnea dos informantes

52 ndash A coleta de dados

Na coleta dos dados desta pesquisa espera-se que as trecircs geraccedilotildees

com faixas etaacuterias distintas de informantes relatem sua experiecircncia de

vida na liacutengua de sinais possibilitando uma anaacutelise dos sinais gravados

para que possamos identificar possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas

linguiacutesticas

Na primeira parte assisti aos viacutedeos no programa Transcriccedilatildeo de

Liacutengua de Sinais ndash ELAN60

No segundo momento verifiquei e analisei

60 McCLEARY e VIOTTI 2007 - Eacute a caraacuteter eminentemente descritivo buscando a captaccedilatildeo

do maior nuacutemero de detalhes de sinalizaccedilatildeo As narrativas que estatildeo sendo transcritas foram

baseadas no filme ldquoHistoacuteria da pecircrardquo criado pelo de pesquisa de Wallace Chafe na deacutecada de 1970 com o objetivo de eliciar narrativas para anaacutelise e comparaccedilatildeo translinguiacutestica Visando

a produccedilatildeo de narrativas em liacutengua de sinais brasileira o grupo ECS fez a gravaccedilatildeo de

narrativas produzidas por surdos que assistiram ao filme e relataram a histoacuteria para outra pessoa fluente na liacutengua

124

a coleta de dados dos grupos de informantes das trecircs geraccedilotildees com

relaccedilatildeo agraves mudanccedilas histoacutericas e linguiacutesticas Depois realizei a

descriccedilatildeo dos grupos nas diferentes faixas etaacuterias que mostram se os

sinais se modificam nas possiacuteveis narrativas Espero com esses sinais

observados alcanccedilar o objetivo principal da pesquisa o de comparar os

sinais encontrados nos trecircs grupos e verificar se ocorreram variaccedilotildees e

mudanccedilas linguiacutesticas em tempo aparente

Realizei a coleta de dados da seguinte forma coloquei todos os

depoimentos filmados dos surdos no programa ELAN Escolhi os sinais

que apareciam nos trecircs grupos e fiz uma tabela com esses sinais depois

fiz anaacutelise e descriccedilatildeo dos resultados finais

53 ndash O meacutetodo de entrevista sociolinguiacutestica a coleta de narrativas

de experiecircncia pessoal

A coleta de dados realizada numa entrevista deve ocorrer de

forma espontacircnea Antes de realizar a pesquisa para recolher os dados eacute

importante conhecer as diferentes abordagens que identificam os grupos

e sua relaccedilatildeo com a liacutengua Segundo Tarallo (2000)

De gravador em punho o pesquisador-sociolinguista

como afirmamos deve coletar 1 situaccedilatildeo natural de

comunicaccedilatildeo linguumliacutestica e 2 grande quantidade de

material de boa qualidade sonora (TARALLO 2000 p

21)

Para realizar a pesquisa empiacuterica foi necessaacuterio um planejamento

anterior utilizando viacutedeo de filmagem com boa qualidade visual pois

observamos indiviacuteduos que utilizam a comunicaccedilatildeo visual espacial com

o objetivo de melhor descrevermos os grupos e verificar questotildees

linguiacutesticas desses indiviacuteduos

Para a coleta seguimos os procedimentos metodoloacutegicos

indicados por Tarallo

Este software foi desenvolvido no Instituto Max Planck de Psycholinguistics na Holanda e

mostra no site wwwmpinl na transcriccedilatildeo o ELAN (Eudico Language Annotator) eacute um

programa que permite adicionar anotaccedilotildees para um arquivo de viacutedeo o que pode tornaacute-lo muito mais faacutecil de estudar assistir o viacutedeo na liacutengua de sinais Ele tambeacutem pode ser utilizado

com as liacutenguas faladas (com ou aacuteudio ou viacutedeo) mas este foi apresentado na minha pesquisa e

utilizado na liacutenguas de sinais das trecircs geraccedilotildees

125

Para atingir tais propoacutesitos metodoloacutegicos podem-se

formular moacutedulos (ou roteiros) de perguntas um

questionaacuterio-guia de entrevista Esses moacutedulos tecircm por

objetivo homogeneizar os dados de vaacuterios informantes

para posterior comparaccedilatildeo controlar os toacutepicos de

conversaccedilatildeo e em especial provocar narrativas de

experiecircncia pessoal (TARALLO 2000 p 22)

Ė permitido ressaltar na pesquisa sociolinguiacutestica que para

realizaacute-la seraacute feita uma seleccedilatildeo de um grupo ou indiviacuteduo dependendo

da situaccedilatildeo como por exemplo quanto agrave classe social pode ser

verificado o gecircnero a etnia faixa etaacuteria e costumes A situaccedilatildeo de

pesquisa pode acontecer em qualquer lugarambiente O pesquisador

observa de forma neutra o grupo de falantes que estaacute pesquisando em

um determinado local e faz anaacutelises com base nos fatos linguiacutesticos

observando-os em conversas espontacircneas procurando especificaacute-las

A metodologia de coleta laboviana mostra que encontramos a

variedade mais espontacircnea em narrativa de experiecircncia pessoal pois o

indiviacuteduo quando estaacute envolvido emocionalmente faz relatos sem se

preocupar com o modo como estaacute contando De acordo com Tarallo

Os estudos de narrativas de experiecircncia pessoal tecircm

demonstrado que ao relataacute-las o informante estaacute tatildeo

envolvido emocionalmente com o que relata que presta o

miacutenimo de atenccedilatildeo ao como E eacute precisamente esta a

situaccedilatildeo natural de comunicaccedilatildeo almejada pelo

pesquisador-sociolinguista

Os moacutedulos cobrem uma seacuterie de toacutepicos para fins de

conversaccedilatildeo dados pessoais do informante (sua

histoacuteria) jogo e brincadeira de infacircncia brigas namoro e

encontros amorosos casamento perigo de morte medo

famiacutelia religiatildeo amigos turmas serviccedilos puacuteblicos o

crime nas ruas escola e trabalho interaccedilatildeo com outros

membros da comunidade esportes etc (TARALLO

2000 p 22)

As pessoas ouvintes falam sobre fatos ocorridos de sua experiecircncia pessoal com famiacutelia amigos etc de forma natural Isto

tambeacutem acontece na comunidade surda e ao coletar narrativas em

liacutengua de sinais acredita-se que vamos encontrar diferentes situaccedilotildees do

cotidiano e parte da histoacuteria da comunidade que mostraratildeo variaccedilotildees e

tambeacutem mudanccedilas linguiacutesticas

126

Podem ser escolhidas diferentes maneiras de realizar uma

pesquisa de campo mas a experiecircncia pessoal deve ser levada em

consideraccedilatildeo A pesquisa pode ser realizada com diferentes informantes

ou grupos de informantes de qualquer categoria para verificar as

possiacuteveis variaccedilotildees da liacutengua falada sem qualquer preocupaccedilatildeo com a

forma como indica Tarallo

A narrativa de experiecircncia pessoal eacute a mina de ouro que

o pesquisador-sociolinguistica procura Ao narrar suas

experiecircncias pessoais mais envolventes ao colocaacute-las no

gecircnero narrativa o informante desvencilha-se

praticamente de qualquer preocupaccedilatildeo com a forma A

desatenccedilatildeo agrave forma no entanto vem sempre embutida

numa linha de relato a que chamaremos ldquoestrutura

narrativardquo (TARALLO 2000 p 23)

Nesta citaccedilatildeo o autor explica a importacircncia da coleta de narrativa

pessoal de cada um dos informantes porque apenas fazem a narraccedilatildeo

sem preocupaccedilatildeo com a forma como estatildeo contando

54 ndash A transcriccedilatildeo de dados dos trecircs grupos compostos de

informantes surdos na liacutengua de sinais

Estes dados foram organizados no sistema de transcriccedilatildeo na

liacutengua de sinais ndash ELAN As identificaccedilotildees dos sujeitos surdos que

apresentavam cada um o seu relato em viacutedeo mostram a sua forma de se

comunicar na liacutengua de sinais Verificar se a variaccedilatildeo fonoloacutegica e

mudanccedila lexical pode acontecer nesta liacutengua de sinais em trecircs geraccedilotildees

eacute um dos propoacutesitos deste trabalho

55 ndash Informantes do grupo surdo na liacutengua de sinais

Os informantes do grupo que participaram da minha pesquisa

foram escolhidos de forma aleatoacuteria pela facilidade de contato e

separados em trecircs geraccedilotildees que usavam a liacutengua de sinais

Labov em suas pesquisas elaborava entrevistas de modo a

elicitar nos entrevistados uma fala menos monitorada ndash o vernaacuteculo61

Ele afirma que

61 ldquoEstilo em que pouco monitoramento eacute dispensado agrave fala fala ldquonaturalrdquordquo COELHO et al

(2010 p 166)

127

As narrativas produzidas em resposta a essa pergunta

[ldquoVocecirc jaacute viveu uma situaccedilatildeo em que correu seacuterio risco

de morrerrdquo] quase sempre exibem uma mudanccedila de

estilo que se distancia da fala monitorada e se aproxima

do vernaacuteculo62 (LABOV 2008 [1972] p 245)

Da mesma forma na pesquisa sobre o grupo de surdo que o

senhor Francisco ensinou utilizei um questionaacuterio com uma pergunta

que era explique a histoacuteria da educaccedilatildeo de surdo em Santa

Catarina para que pessoas surdas respondessem As perguntas foram

feitas em LIBRAS e as respostas foram filmadas num total de nove

pessoas

O foco do agrupamento dos sujeitos foi a idade portanto houve

variabilidade quanto ao gecircnero e agraves atividades exercidas pelos

participantes

Na primeira etapa o objetivo foi a escolha dos trecircs indiviacuteduos dos

grupos informantes surdos mais jovens A B e C Neste grupo o fator

escolhido quanto ao sexo foi trecircs masculinos pois natildeo encontrei jovem

do sexo feminino

Na segunda etapa os trecircs indiviacuteduos do grupo de informantes

surdos intermediaacuterio D E e F foram quanto ao sexo dois masculinos e

um feminino

Na uacuteltima etapa os trecircs indiviacuteduos do grupo de informantes

surdos mais velhos G H e I foram escolhidos quanto ao sexo um

masculino e dois femininos Entatildeo escolhi a faixa etaacuteria deste grupo que

apresentava o documentaacuterio em viacutedeo que a partir do qual foi extraiacuteda

amostra de uma experiecircncia de cada uma das narrativas de sujeitos

surdos que usavam a liacutengua de sinais espontacircnea Seguem os quadros de

amostras dos grupos em trecircs geraccedilotildees contemplados nesta pesquisa

62 Um dos aspectos mais interessantes dessa pergunta eacute que ela implica uma resposta sim-ou-

natildeo do tipo que em geral evitamos O mecanismo parece ser o seguinte o informante estaacute

disposto a reconhecer o fato de ter estado numa situaccedilatildeo assim embora possa natildeo estar disposto a fazer um relato Mas uma vez que reconheceu o fato acha muito difiacutecil deixar de

fazer um relato completo quando o entrevistador pergunta depois de alguns instantes ldquoO que

aconteceurdquo Do contraacuterio ficaria parecendo que ele fez uma afirmaccedilatildeo falsa

128

Quadros de amostras dos Grupos I II e III

Grupo I

Identificaccedilatildeo

de Classe

Sexo Idade Faixa

Etaacuteria

Profissotildees

Informante G Masculino 82

anos

60 a 80

anos

ProfessorAposentado

Informante H Feminino 64

anos

60 a 80

anos

CostureiraAposentado

Informante I Feminino 62

anos

60 a 80

anos

BancaacuterioAposentado

Grupo II

Identificaccedilatilde

o de Classe

Sexo Idade Faixa

Etaacuteria

Profissotildees

Informante D Feminino 56

anos

30 a 60

anos

BancaacuterioAposentado

Informante E Masculino 53

anos

30 a 60

anos

Autocircnomo

Informante F Masculino 52

anos

30 a 60

anos

MotoristaAposentado

Grupo III

Identificaccedilatildeo

de Classe

Sexo Idade Faixa

Etaacuteria

Profissotildees

Informante A Masculino 29

anos

15 a 30

anos

Professor

Informante B Masculino 25

anos

15 a 30

anos

Professor

Informante C Masculino 24

anos

15 a 30

anos

Estudante

129

Os Grupos I e II foram alunos de profdeg Francisco jaacute os

informantes do Grupo III foram escolhidos na universidade porque eacute

difiacutecil de ser ter contato com surdo na faixa etaacuteria de 15 anos

Cada um dos 9 (nove) informantes da amostra nos trecircs (3) grupos

com relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria poderaacute trazer indicativos sobre a trajetoacuteria da

liacutengua de sinais e a influecircncia da geraccedilatildeo dos surdos mais velhos (Grupo

I) com relaccedilatildeo agrave sinalizaccedilatildeo utilizada na atualidade pelos surdos mais

jovens (Grupo III) Segundo a citaccedilatildeo de Tarallo

a primeira tentativa de definiccedilatildeo a liacutengua falada a que

nos temos referido eacute o veiculo linguumliacutestico de

comunicaccedilatildeo usado em situaccedilotildees naturais de interaccedilatildeo

social do tipo comunicaccedilatildeo face a face Ė a liacutengua que

usamos em nossos lares ao interagir com os demais

membros de nossas famiacutelias Ė a liacutengua usada nos

botequins clubes parques rodas de amigos nos

corredores e paacutetios das escolas longe da tutela dos

professores Ė a liacutengua falada entre amigos inimigos

amantes e apaixonados (TARALLO 2000 p 19)

Na interaccedilatildeo social desta liacutengua que o surdo utiliza para se

comunicar em diversos lugares com os amigos na associaccedilatildeo na escola

etc haacute uma valorizaccedilatildeo cultural aleacutem da troca de conhecimentos

necessidades de criaccedilatildeo de novos sinais modificaccedilatildeo eou

aperfeiccediloamento de outros trazendo modificaccedilotildees linguiacutesticas

Concluiacutemos a explicaccedilatildeo do procedimento da metodologia desta

pesquisa trazendo consideraccedilotildees sobre os registros dos dados dos

informantes para posterior verificaccedilatildeo da variaccedilatildeo e mudanccedila

linguiacutestica observada nos trecircs grupos de surdos nas diferentes geraccedilotildees

referentes agrave liacutengua de sinais Atraveacutes das informaccedilotildees encontradas nas

narrativas seraacute feita uma trajetoacuteria histoacuterica da liacutengua de sinais e seratildeo

observadas as mudanccedilas ocorridas com relaccedilatildeo agrave liacutengua na comunidade

surda de Santa Catarina

56 ndash Descriccedilatildeo dos informantes quanto aos dados

Nesta seccedilatildeo apresentamos descriccedilotildees dos dados coletados na

liacutengua de sinais espontacircnea de informantes conforme amostras dos

Grupos I II e III Os dados foram observados pelo programa de

transcriccedilatildeo de ELAN Realizei os trabalhos comparando a liacutengua usada

pelas geraccedilotildees e as informaccedilotildees dadas pelos informantes

Os fatos sociolinguiacutesticos apresentados pelos informantes atraveacutes

130

de seus depoimentos mostrando suas trajetoacuterias e vivecircncias na

comunidade surda nas diferentes regiotildees do estado de SC seratildeo

analisados para saber se o professor surdo influenciou a comunidade

surda do estado no ensino da LIBRAS

A questatildeo que tentarei responder com os dados eacute a seguinte Os

informantes de cada grupo de comunidades surdas de diferentes regiotildees

do estado de Santa Catarina relatando sua trajetoacuteria com experiecircncias

relacionadas agrave liacutengua de sinais ora sofreram ora natildeo a influecircncia do

professor surdo com relaccedilatildeo ao aprendizado desta liacutengua

Pretendo verificar se haacute algum sinal de que a liacutengua sofreu

variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica em cada uma das trecircs geraccedilotildees dos

informantes Essas trecircs geraccedilotildees vatildeo ser acompanhadas pelas glosas de

sinais A descriccedilatildeo de experiecircncias dos informantes surdos nos trecircs

grupos observados eacute a estrateacutegia para se pesquisar o processo de

mudanccedila

A pesquisa vai analisar os trecircs comparativos dos informantes

surdos com a descriccedilatildeo de dados de cada geraccedilatildeo apoacutes verificar os

resultados de cada uma das trecircs geraccedilotildees de informantes Grupo III A

B C Grupo II D E F Grupo I G H e I As narrativas na liacutengua de

sinais que os informantes apresentaram foram coletadas e vatildeo ser

descritas nas proacuteximas seccedilotildees

561 ndash Grupo I ndash Informantes

Nas narrativas dos sujeitos63

do grupo de informantes na faixa

etaacuteria dos surdos de 60 a 80 anos os mais velhos mesmo grupo do

professor surdo foram expressas algumas opiniotildees dos surdos

nomeados de informantes G H e I Seguem as informaccedilotildees

5611 ndash Informante G

Francisco eacute o informante G e sua identidade estaacute expliacutecita porque

ele autorizou O informante G mostra sua experiecircncia na liacutengua de

63 Os sujeitos surdos SCHMITT (2008) mostram a participaccedilatildeo no amplo espaccedilo da sociedade

em que vivem No momento eles se identificam como um ldquooutrordquo como surdo Esta mudanccedila

eacute mostrada pelas lutas seja na sociedade em encontros eventos seminaacuterios congressos e outros Isso eacute o povo surdo participando no movimento na luta pela educaccedilatildeo pelos direitos

culturais

131

sinais e sua opiniatildeo sobre como aconteceu essa experiecircncia Segue um

comentaacuterio ldquoSabemos que as liacutenguas mudam com o tempo e se

transformam conforme as culturas dos paiacuteses regiotildees ou mesmo em

situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo em que estaacute participando (numa conversa

informal na sala de aula na famiacutelia etc) estas mudanccedilas ocorrem com

as configuraccedilotildees de matildeos articulaccedilotildees movimentos expressotildees faciais e

ou corporais essas mudanccedilas satildeo recicladas para se adaptar a realidade e

conceitos na sociedade tendo os traccedilos de identificaccedilatildeo proacutepriardquo

O informante G nasceu no dia 01061928 em Florianoacutepolis SC

foi aluno interino do Instituto Nacional de Surdos-Mudos do Rio de

Janeiro e do Instituto Paulista de Surdos em Satildeo Paulo de 1937 a 1946

Ele realizou o curso fundamental e meacutedio tinha habilitaccedilatildeo em ensino

especial desenho encadernaccedilatildeo ginaacutestica datilografia frequentou da

1a a 8

a seacuterie do ensino fundamental no Instituto Nacional de Surdos-

Mudos e sua habilitaccedilatildeo eacute em Contabilidade pelo Instituto Monitor e

Nuacutecleo de ensino profissional

Em 1952 ele conheceu quinze surdos-mudos em Florianoacutepolis

que natildeo sabiam ler e escrever Ele ensinava algumas palavras e sinais

para esses surdos-mudos De outra feita entre 1953 a 1954 iniciava a

amizade com o primeiro presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos de

Satildeo Paulo senhor Maacuterio Devisate Ele natildeo tinha o conhecimento da

existecircncia de uma Associaccedilatildeo de Surdos em Florianoacutepolis o senhor

Devisate entregava um documento para Associaccedilatildeo de Surdos-Mudos

de acircmbito nacional e o professor Francisco Lima Juacutenior veio como

delegado e responsaacutevel pela regiatildeo do Sul passando a residir nesta

capital (Florianoacutepolis)

O primeiro presidente da Sociedade dos Surdos-Mudos do

Distrito Federal que na eacutepoca era Rio de Janeiro foi o senhor Miguel

da Fonseca Seabra de Melo era grande colega do Francisco Mais tarde

com a construccedilatildeo de Brasiacutelia a associaccedilatildeo continuou no RJ soacute que

naquele momento natildeo mais como capital com o nome Sociedade dos

Surdos-Mudos do Brasil para finalmente Associaccedilatildeo dos Surdos do Rio

de Janeiro (ASURJ)

O grupo conversava na liacutengua de sinais numa reuniatildeo quando

chegou o presidente da ASURJ que tambeacutem era surdo O professor

Francisco foi apresentado e cumprimentou o senhor Miguel da Fonseca

Seabra de Melo que estava acompanhado de uma colega que ao ver o

professor Francisco sorriu O professor Francisco agradeceu pela ajuda

que o senhor Miguel deu ao Instituto Nacional de Surdos-Mudos e as

informaccedilotildees referentes agrave associaccedilatildeo

Na verdade o professor Francisco tinha contato e conversava

132

sempre com o amigo que estudou com ele no INES o senhor Salomatildeo

Watnick que foi primeiro presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos

do Rio Grande do Sul seu grande amigo que morava em Porto Alegre

Como o INES estava passando por reforma o professor

Francisco como tinha muitos amigos dos diferentes cursos e viagens

que fez conseguiu estudar na Escola Especial para Surdos-Mudos em

Satildeo Paulo que para ele era uma escola maravilhosa e excepcional onde

aprendeu muito

O grupo dos surdos de SC se perguntava como ganharia a vida

pois natildeo estavam felizes nas escolas especiais que na eacutepoca utilizavam

os meacutetodos oralistas onde os surdos natildeo podiam utilizar sinais Mas

encontraram o motivo da existecircncia na associaccedilatildeo do estado podendo

assim discutir e abrir caminhos para os surdos

5612 ndash Informante H

A informante H mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua

opiniatildeo sobre como aconteceu essa experiecircncia ldquoMudam porque as

pessoas mudam os tempos mudam assim como mudam as culturas e

diversas outras formas de liacutengua existentes entre elas Sendo a LIBRAS

tambeacutem uma forma de liacutengua ela acompanha estas mudanccedilas para que

os indiviacuteduos que dela fazem uso possam acompanhar a sociedade e

mundo do qual fazem parterdquo

A informante H nasceu em 26051946 em Satildeo Pedro de

Alcacircntara em Santa Catarina Durante sua infacircncia e adolescecircncia

morou com seus pais que eram agricultores

Ela teve que trabalhar na lavoura dos 6 ateacute os 18 anos de idade

cortava o capim que alimentava o gado roccedilava para limpar um paacutetio do

terreno e uma plantaccedilatildeo cercada onde se criavam vaacuterias galinhas patos

etc Plantavam vaacuterios tipos de flores e tinham uma horta Ela penteava

os cabelos dos cavalos para depois montaacute-lo corria e caiacutea no chatildeo num

desses passeios quebrou o braccedilo e diz que doeu muito Quando o

cunhado viu o braccedilo dela quebrado levou-a de carroccedila para o hospital

na cidade de Vidal Ramos em Santa Catarina Depois ela tinha que

ficar um mecircs com o gesso no braccedilo mas 15 dias depois na casa da

irmatilde olhava o rio e pulava no rio que brilhava acabou ficando coberta

de aacutegua e quase se afogou Para natildeo se afogar colocou as matildeos em cima

de uma pedra do rio ficou muito assustada e chorou muito o tio dela foi

quem a ajudou

O pai de H eacute brasileiro e lavrador Dedicava-se agrave criaccedilatildeo de gado

aves e na fabricaccedilatildeo de cachaccedilas que preparava das plantas que

133

produziam cana-de-accediluacutecar cafeacute e frutas Na casa natildeo tinha luz e era

utilizada a vela a fogueira e a lacircmpada de querosene

A matildee de H tambeacutem era brasileira costureira e lavradora

Trabalhava na propriedade na plantaccedilatildeo de milho feijatildeo arroz aipim e

verduras Os Pais de H tiveram 13 filhos 1 filha jaacute falecida com 1 ano e

um mecircs de gravidez gemular 3 filhas eram ouvintes 3 filhas eram

surdas 6 filhos eram ouvintes 1 filho era surdo A terra lavrada e

cultivada estaacute localizada em Satildeo Pedro de Alcacircntara Depois que o pai

morreu o terreno foi loteado e a informante H ficou com um dos lotes e

os irmatildeos deram a casa

O irmatildeo da informante H que era surdo jaacute falecido em 1976 foi

mordido por uma cobra venenosa Seu pai faleceu em 1989 e a matildee

faleceu em 1998

Em 1966 ajudava lavando roupas para fora nesta eacutepoca morava

com o primo numa casa localizada no bairro do Estreito ndash

FlorianoacutepolisSC Tinha trecircs vizinhos surdos e com eles conversava com

os sinais eou gestualidade Ela natildeo sabia conversar em LIBRAS com

outro surdo aprendeu com os vizinhos surdos que a avisavam das

reuniotildees de surdos que aconteciam no salatildeo do grupo Escolar Celso

Ramos

O professor Francisco ensinou aos surdos as regras do jogo de

bingo depois foram oferecidos cinco brindes para o jogo de bingo que

aconteceu no bairro de Capoeiras Ele perguntava para ela de onde vocecirc

eacute E ela respondia que morava em Satildeo Pedro de Alcacircntara Entatildeo o

Francisco foi junto com a informante H conhecer sua casa localizada no

siacutetio de Satildeo Pedro de Alcacircntara

Ela apresentou sua matildee para o senhor Francisco queria estudar e

aprender a liacutengua de sinais com Francisco presidente da associaccedilatildeo e

professor na escola para surdos Ela veio para a capital em 1966 aos 19

anos de idade onde aprendeu a Liacutengua Portuguesa Escrita matemaacutetica e

liacutengua de sinais na Escola Celso Ramos em Florianoacutepolis numa classe

de alunos surdos Alguns anos mais tarde ela trabalhou como costureira

na faacutebrica de renda e bordados Hoepcke

Ela fez alguns cursos de pintura em tecido bordado a maacutequina

Ela conta que sempre foi uma pessoa esforccedilada que buscava desafios na

sua aprendizagem o tempo todo e cada vez mais como autodidata que

aprendia muitas coisas como por exemplo cozinhar e alta costura

Passava sempre na escola era muito esforccedilada aprimorava muito a sua

aprendizagem de vida

O professor Francisco e ela viajavam pelo estado verificavam e

encontravam os surdos no interior do estado Ela entregou um anel para

134

a ex-rainha do Ciacuterculo de Surdo-Mudos de Santa Catarina ndash CSMSC

que era Catarina Ceciacutelia Schveitzer em 1993

5613 ndash Informante I

A informante I mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua

opiniatildeo sobre como aconteceu essa experiecircncia ldquoMudam a ldquoformardquo de

vida das pessoas na sociedade para que se adaptem a nova realidade e

as liacutenguas tambeacutem se modificam As liacutenguas de sinais tambeacutem mudam

criam-se palavras novas satildeo influenciadas por outras liacutenguas etc A

evoluccedilatildeo das coisas em geral estaacute acontecendo de forma muito raacutepida e

a LIBRAS sendo uma forma de comunicaccedilatildeo entre cultura surda e

ouvinte precisa acompanhar essa evoluccedilatildeo Quando uma determinada

coisa natildeo acompanha o desenvolvimento onde estaacute inserida a

tendecircncia eacute de ficar do lado de forardquo

A informante I nasceu em 01041948 em Blumenau veio de

uma famiacutelia de 6 irmatildeos onde 3 satildeo surdos e 3 satildeo ouvintes A matildee do

informante I descobriu que era surda quando tinha mais ou menos dois

anos de idade Apoacutes essa descoberta teve uma infacircncia normal era uma

crianccedila super ativa

Aos 7 anos de idade entrava na escola onde havia outras crianccedilas

surdas como ela Foi alfabetizada em Blumenau Depois lembrou que

tentava usar o seu aparelho auditivo mas como natildeo escutava nada

acabou rejeitando o aparelho

Tinha muita preocupaccedilatildeo com a educaccedilatildeo dos surdos Os pais

mandaram-na estudar num internato de crianccedilas surdas no Rio de

Janeiro aos 9 ou 10 anos de idade Ela natildeo se adaptou e retornou para

Blumenau A escola para surdos que frequentava em Blumenau ficou

sem a professora especializada e ela teve que ir para uma escola regular

O pai que era bancaacuterio pediu transferecircncia do banco para a cidade

de Florianoacutepolis para que a informante I e seus irmatildeos pudessem

continuar os estudos

Em Florianoacutepolis frequentaram a escola Celso Ramos onde a sala

dos surdos era de responsabilidade do professor Francisco Lima Juacutenior

O professor Francisco era uma pessoa muito importante nesta

eacutepoca a vida dele era ajudar o grupo de surdos atraveacutes da liacutengua de

sinais e ele lecionava no ensino fundamental e no curso primaacuterio

A informante I sempre foi muito curiosa queria mais e resolveu

fazer o curso ginasial por correspondecircncia pois na eacutepoca fazia o

segundo grau na escola de ouvintes tinha dificuldade tinha que aprender

tudo sozinha porque na escola o ensino era em portuguecircs falado difiacutecil

135

para o surdo entender (problema de comunicaccedilatildeo) Ela tinha vontade de

estudar na escola com o professor Francisco que ensinava na liacutengua de

sinais

Relembrou que naquela eacutepoca viu que foi muito difiacutecil quando

ela tinha duacutevidas os pais pagavam um professor para dar aulas

particulares Enfim venceu mas natildeo foi faacutecil Depois fez vaacuterios cursos

profissionalizantes como datilografia correspondecircncia comercial curso

de cabeleireira manicure pintura em tela corte e costura e tantos outros

que agora natildeo lembrava mais

Depois de tudo isso resolveu fazer o concurso para uma vaga de

escrituraacuterio no Banco do Estado de Santa Catarina ndash BESC e foi

aprovada trabalhou laacute por vaacuterios anos e agora jaacute estava aposentada

A informante I eacute casada e o companheiro tambeacutem eacute surdo

funcionaacuterio aposentado da Imprensa Oficial Queria muito ter filhos e

acabou tendo um filho que eacute ouvinte e hoje estaacute com 27 anos e tem

formaccedilatildeo acadecircmica com poacutes-graduaccedilatildeo Diz sentir-se realizada

Sua matildee tem hoje 87 anos e eacute a grande incentivadora de sua vida

eacute tambeacutem um grande exemplo de vida guerreira batalhadora e muito

religiosa Foi ela que ensinou o que eacute amor respeito e outros valores

morais tudo isso dentro da doutrina espiacuterita

A informante I diz ser uma pessoa realizada porque venceu

muitas barreiras conseguiu tirar a carteira de motorista e tambeacutem

aprendeu a utilizar a comunicaccedilatildeo no celular Internet MSN e e-mail

Nada foi faacutecil considera-se uma pessoa feliz adora assistir aos

filmes legendados os noticiaacuterios novelas enfim gosta de estar bem

informada

Contando a histoacuteria de sua vida quer mostrar agraves pessoas que pode

alcanccedilar qualquer coisa na vida e que natildeo eacute diferente dos outros A

diferenccedila estaacute na audiccedilatildeo mas pode usar os outros sentidos para se

comunicar e utilizar a liacutengua de sinais visual

562 ndash Grupo II ndash Informantes

Nas narrativas dos sujeitos surdos para a pesquisa no Grupo II

com idade intermediaacuteria de 30 anos a 60 anos de idade em

intermediaacuterio verificou-se que todos foram alunos do professor surdo

Francisco A seguir estatildeo expressas algumas opiniotildees destes surdos

nomeados de informantes D E e F

136

5621 ndash Informante D

A informante D mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua

opiniatildeo a respeito de como aconteceu essa experiecircncia ldquoCom o passar

do tempo ocorrem muitas mudanccedilas nas liacutenguas de sinais para suprir as

necessidades de comunicaccedilatildeo e as modificaccedilotildees de costumes de cada

geraccedilatildeo Os sinais satildeo criados de acordo com a necessidade de cada

grupordquo

A informante D nasceu em Florianoacutepolis num domingo no dia

quatro de outubro de mil novecentos e cinquenta e trecircs (04101953) em

casa sob os cuidados de uma parteira chamada de Dona Oliacutevia Nasceu

com audiccedilatildeo perfeita segundo diagnoacutestico de um meacutedico do hospital

das cliacutenicas em Satildeo PauloSP em 1961 O responsaacutevel pela sua perda de

audiccedilatildeo foi um medicamento chamado de trepdomicina usado para

acalmar a ldquotosse compridardquo ou Coqueluche Nessa eacutepoca natildeo havia

vacina para a doenccedila nos postos de sauacutede Sua matildee levou os filhos para

vacinar e constatou isso

A famiacutelia dela descobriu a surdez aos nove meses de idade Ela

tinha seis meses de idade quando foi acometida pelo viacuterus da

coqueluche e a irmatilde tambeacutem que na eacutepoca tinha 9 anos de idade

A matildee dela quando estava graacutevida tomou uma injeccedilatildeo

denominada 914 para curar infecccedilatildeo no aparelho genital feminino Esse

medicamento agiu negativamente na formaccedilatildeo dos ossos deixando-a

com o andar defeituoso parecendo que uma perna era mais curta que a

outra Ela foi para Satildeo Paulo levada pelo irmatildeo e pelo padrinho para

tratamento Foi submetida a quatro cirurgias entre 1961 a 1963 mas

que surtiram pouco resultado comprovado em 1980 Daiacute para frente

voltava a ter uma perna mais curta e sente muitas dores ao andar e

sentar

Em 1964 iniciava seus estudos na escola para surdos de

Florianoacutepolis no grupo Celso Ramos Seu primeiro professor surdo foi

o Francisco que lhe dava aula na liacutengua de sinais Francisco tambeacutem

ensinava LIBRAS no Ciacuterculo dos Surdos Mudos de Santa Catarina na

escola primaacuteria e na associaccedilatildeo de surdos

Em 1975 fazia teste para ingressar como funcionaacuteria no BESC

sendo admitida como escrituraria em 18091975 e se aposentou em

19112002 Ela aprendeu a dirigir automoacutevel fez curso de datilografia

e por uacuteltimo fez curso baacutesico de computador para saber operaacute-lo Fez

curso de pintura a oacuteleo em tela e em tecido Procurava cuidar de sua

sauacutede indo ao meacutedico regularmente

Ela eacute associada e participa da diretoria da Associaccedilatildeo de Surdos

137

da Grande Florianoacutepolis ndash ASGF eacute tambeacutem voluntaacuteria nas atividades

que a associaccedilatildeo desenvolve em benefiacutecio de seus amigos surdos que

frequentam a mesma associaccedilatildeo Hoje ensina LIBRAS para os

associados de qualquer idade

5622 ndash Informante E

O informante E mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua

opiniatildeo de como aconteceu essa experiecircncia ldquoAssim como a liacutengua

portuguesa evolui ou muda com o passar do tempo LIBRAS tambeacutem

passa por mudanccedilas constantes estas podem ser de regiatildeo para regiatildeo

por exemplo a liacutengua de LIBRAS acompanha a evoluccedilatildeo do mundo

sendo hoje uma liacutengua para a comunicaccedilatildeo dos surdosrdquo

O informante E nasceu na maternidade Carmela Dutra no Centro

de Florianoacutepolis no dia 03 de Novembro de 1957 Ele ficou surdo aos

quatro anos de idade (causado por remeacutedios ministrados errados por sua

matildee nos ouvidos quando estava com febre dor de ouvidos e caxumba)

Com 53 anos eacute presidente de entidade esportiva de Santa

Catarina desde 1999 reeleito pela segunda vez com gestatildeo ateacute 2011

sendo um dos liacutederes dos surdos de Santa Catarina Foi um dos

fundadores da Sociedade de Surdos de Satildeo Joseacute atuou nela de 1990 a

1996 uma entidade que crescia muito e eacute considerada a mais organizada

no estado de Santa Catarina

Ele escolheu o sobrenome diferente na campanha poliacutetica que

concorreu para vereador de Satildeo Joseacute de 2003 a 2007 em homenagem agrave

sua avoacute-materna jaacute falecida descendente de alematildees que lhe criou por

mais de 10 anos junto com o marido descendente de portugueses que

natildeo conhecera pois a avoacute dele ficara viuacuteva quando o pai dele era

solteiro Portanto queria preservar o sobrenome da avoacute-matildee dele como

lembranccedila

Os pais dele estavam preocupados com sua infacircncia com sua

situaccedilatildeo futura e por isso procuravam incansavelmente a existecircncia de

uma escola especial para surdos

Finalmente acharam a escola localizada na Rua Conselheiro

Mafra no Centro de Florianoacutepolis Era uma sala comercial tipo garagem

grande (perto do antigo terminal urbano hoje Terminal Cidade de

Florianoacutepolis) foi ali onde encontraram a primeira escola para surdos

onde ele aprendeu a liacutengua de sinais aos 6 anos de idade

Ele estudou com o primeiro professor surdo do estado de Santa

Catarina O professor Francisco e sua esposa que era ouvinte e tambeacutem

professora chamava-se Mercedes e foi a primeira inteacuterprete dele Neste

138

momento existiam outros alunos surdos que eram Niro Paulo Percy

Socircnia Maria da Graccedila Maria Bernadete Aldenei Rita Reinoldo

Edson Ivo (falecido) Arnoldo e outros que ele natildeo lembrava

No comeccedilo do aprendizado dele da liacutengua de sinais achava

estranho e natildeo lhe agradava muito fazendo com que ele natildeo quisesse

estudar ali mas foi a matildee dele que o incentivou a continuar estudando

e com o tempo foi gostando da escola e do grupo de amigos surdos

isto foi em 1971

Essa escola foi transferida de local e foi para a EEB

Governador Celso Ramos no bairro Prainha em Florianoacutepolis no ano

de 1972 Esta nova escola ele adorava muito e guarda boas recordaccedilotildees

vividas nela

Infelizmente ele natildeo lembrava do ano em que foi transferido para

o Instituto de Audiccedilatildeo e Terapia da Linguagem ndash IATEL situado na

Rua Liberato Bittencourt no Centro de Florianoacutepolis numa casa

simples e alugada Ficou muito contrariado com esta transferecircncia

Nessa eacutepoca tinha mais ou menos 13 anos Proacuteximo aos 15 anos ele

abandonou o IATEL porque tinha que trabalhar para sustentar a avoacute

dele que era viuacuteva e pobre Sua avoacute tambeacutem natildeo gostava desta escola e

tambeacutem das novas professoras que eram ouvintes e que natildeo sabiam usar

a liacutengua de sinais obrigando os surdos a oralizarem

Aos 14 anos ele jaacute trabalhava em uma empresa de comunicaccedilatildeo

visual (luminosos) Apoacutes um ano ele mudava de ramo para a funccedilatildeo de

auxiliar de escritoacuterio em duas empresas de contabilidade Depois disso

ele fundou uma empresa proacutepria de comunicaccedilatildeo visual em sociedade

com seu pai no ramo de letreiros em placas paredes e etc O nome da

empresa comprada foi modificado e mais tarde fez sociedade com o

irmatildeo caccedilula Para seu irmatildeo caccedilula foi um aprendizado e hoje ele eacute

proprietaacuterio de uma empresa no mesmo ramo residindo em Blumenau

Em 2000 deixava este ramo e comeccedilava a estudar para ter a

formaccedilatildeo de professor na Liacutengua de Sinais aos 43 anos Ele Trabalhou

como professor em Admissatildeo em Caraacuteter Temporaacuterio ndash ACT e na

Fundaccedilatildeo Catarinense de Educaccedilatildeo Especial - FCEE como assessor

teacutecnico na Educaccedilatildeo de Surdos de 2003 a 2005 Trabalhou tambeacutem

como ACT no Centro Educacional Municipal Interativo Floresta em Satildeo

Joseacute no Nuacutecleo de Educaccedilatildeo Especial e Inclusiva - NEESPI como

professor de LIBRAS de 2006 a 2007 Foi docente dos cursos de

LIBRAS de 2000 a 2007

A partir de 2008 deixava o cargo de professor de LIBRAS para

focar os compromissos somente nos esportes Atualmente atua numa

entidade esportiva de surdos desde 1999 nesta com 12 associaccedilotildees

139

filiadas organizando em meacutedia sete (7) eventos esportivos por ano

Portanto os pensamentos deles e seus compromissos satildeo voltados para a

comunidade surda

5623 ndash Informante F

O informante F mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua

opiniatildeo de como aconteceu essa experiecircncia ldquoPorque assim como toda

liacutengua ela sofre das mudanccedilas histoacutericas e culturais as liacutenguas satildeo

dinacircmicas e natildeo estaacuteticas por isso elas vivem sofrendo alteraccedilotildees e com

as liacutenguas de sinais ocorre o mesmo Essas mudanccedilas podem ser

percebidas nas diferentes regiotildees onde satildeo utilizadas a mesma liacutengua

mesmo sendo a mesma liacutengua ela possui algumas diferenccedilas em

algumas palavras ou expressotildeesrdquo

O informante F nasceu 04071958 em Florianoacutepolis eacute casado e

tem 52 anos Nasceu surdo a famiacutelia dele sempre lhe deu apoio

levaram-no a vaacuterios lugares para consultar com meacutedicos procuravam

um tratamento mas de acordo com os meacutedicos ele natildeo tinha muita

chance de desenvolver audiccedilatildeo e a fala Nesta eacutepoca natildeo existiam no

Estado de Santa Catarina escolas especializadas para surdos e como o

pai dele era militar natildeo podia morar em outro Estado Entatildeo seu pai

matriculou-o numa escola regular mas as professoras natildeo sabiam a

liacutengua de sinais e era muito difiacutecil para ele aprender

A alfabetizaccedilatildeo dele natildeo foi muito boa e para melhorar um pouco

o aprendizado tinha aulas com o professor surdo Francisco Lima Juacutenior

que lhe ensinava as palavras utilizando o alfabeto manual e a liacutengua de

sinais para o aprendizado da Liacutengua Portuguesa Escrita e tambeacutem para

alguns alunos surdos

Em sua famiacutelia se comunicava atraveacutes de sinais caseiros que de

acordo com ele foi muito bom e os utiliza ateacute hoje

Apesar das dificuldades nos estudos tinha sorte pois conseguiu

emprego Neste emprego que era na Central de Luz Eleacutetrica de Santa

Catarina ndash CELESC sempre foi muito bem tratado Tinha muitos

amigos na associaccedilatildeo de surdos na escola e no trabalho e para se

comunicar ensinava alguns sinais bem baacutesicos para os amigos para que

assim natildeo tivessem problemas quanto agrave comunicaccedilatildeo

Ele trabalhou sempre na CELESC na cidade de Florianoacutepolis

pois foi aprovado em um teste naquela eacutepoca natildeo havia concursos

Depois foi transferido algumas vezes para outras cidades como

Blumenau Joinville e Jaraguaacute do Sul Iniciou como auxiliar de serviccedilos

gerais depois passou a auxiliar administrativo e por uacuteltimo como

140

motorista

Foi presidente de vaacuterias Associaccedilotildees de Surdos uma dessas em

1989 que foi fechada neste mesmo ano e outra em dois mandatos

20052008 Ele jogou em vaacuterios times nas associaccedilotildees de surdo de Santa

Catarina Ele preferia jogar futebol de salatildeo - FUTSAL

Ele sempre participou e ateacute hoje participa de encontros com

surdos na liacutengua de sinais seja em associaccedilotildees ou outros eventos

Atualmente mora na cidade de Londrina ndash Paranaacute

563 ndash Grupo III ndash Informantes

Nas narrativas dos sujeitos surdos do Grupo III com idades entre

15 a 30 anos sendo o grupo dos mais jovens e que participam de

associaccedilotildees de surdos em Santa Catarina foram expressas algumas

opiniotildees desses surdos aqui nomeados de informantes A B e C

Seguem abaixo relatos e experiecircncias dos informantes

5631 ndash Informante A

O informante A mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua

opiniatildeo a respeito de como aconteceu essa experiecircncia ldquoNatildeo diria que

ldquomudardquo mas sim sofre modificaccedilotildeesalteraccedilotildees com o tempo e como

qualquer outra liacutengua dependendo do estadopaiacutes em que eacute ldquofaladardquo teraacute

adaptaccedilotildees conforme a necessidade de cada lugar Sendo que ateacute mesmo

em casa quando a crianccedila natildeo tem contato com LIBRAS em um

primeiro momento ela e sua famiacutelia se apropriam de sinais proacuteprios para

a comunicaccedilatildeordquo

O informante A nasceu em 18121980 no Balneaacuterio Camboriuacute

nasceu surdo comunica-se por meio de gestos com a famiacutelia Sua

famiacutelia sempre mostrou preocupaccedilatildeo com ele levaram-no a atendimento

fonoaudioloacutegico para que aprendesse a falar mas tinha dificuldades

poreacutem era esforccedilado Somente mais tarde encontrava a comunidade

surda na escola Quando ele teve atendimento especial e natildeo era

utilizada a liacutengua de sinais somente alguns gestos acabava desistindo e

parava de estudar Retornando agrave escola com ouvintes quando ele tinha

17 anos de idade encontrava os surdos que o convidaram a participar

de uma festa na associaccedilatildeo de surdos foi quando comeccedilou a aprender a

LIBRAS e ficou feliz pois comunicava-se com todos na LIBRAS jaacute

que era um modo mais faacutecil de aprender e memorizar os conteuacutedos jaacute

com o oralismo era muito sofrido

Ele fundou uma Associaccedilatildeo de Surdos na cidade onde mora Na

141

associaccedilatildeo motivou o uso da LIBRAS valorizou o contato entre os

membros da comunidade surda e a LIBRAS assim como a educaccedilatildeo

formal Ele sentia-se satisfeito pois se comunicava com os amigos

usando a leitura labial e os gestos mesmo assim perdia algumas

informaccedilotildees por natildeo ouvir Mais tarde encontrava-se com grupos de

surdos e comeccedilou entatildeo o contato da LIBRAS e percebia que por meio

da LIBRAS ele poderia receber mais informaccedilotildees do que pela leitura

labial e a partir de entatildeo conseguiu viver melhor na sociedade Lutou

para inserir a LIBRAS no ensino dos surdos porque sabia na praacutetica que

facilita o aprendizado do surdo

Hoje estaacute casado e sua esposa eacute surda Formou-se na faculdade de

gastronomia pela UNIVALI e tem o curso de especializaccedilatildeo em

educaccedilatildeo especial Atualmente faz curso de LetrasLIBRAS e sua

turma eacute composta na maioria por surdos que estatildeo gostando do curso

tendo a oportunidade de trocar ideacuteias experiecircncias bem como buscar

novos conhecimentos

Ele eacute Instrutor de LIBRAS efetivado pela prefeitura de Itajaiacute

aleacutem de trabalhar como professor de LIBRAS em outros lugares

Tambeacutem realiza trabalhos voluntaacuterios em algumas entidades

(Associaccedilatildeo FENEIS Federaccedilatildeo etc) Jaacute atuou em vaacuterios cargos de

diretoria na Associaccedilatildeo de Surdos de Balneaacuterio Camboriuacute isso foi bom

porque ele aprendeu sobre poliacutetica sobre organizaccedilatildeo e tambeacutem a

utilizar estrateacutegias diferentes para as accedilotildees etc

5632 ndash Informante B

O informante B mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua

opiniatildeo sobre como aconteceu essa experiecircncia ldquoA LIBRAS eacute uma

liacutengua porque possui uma forma de comunicaccedilatildeo proacutepria Ė

independente como qualquer outra liacutengua escrita ou falada Tem

formato proacuteprio sua comunicaccedilatildeo eacute visual pois se utiliza de gestos e

expressotildees Como todas as liacutenguas tem variaccedilotildees conforme a regiatildeordquo

O informante B nasceu em 08011985 na cidade de Tijucas em

Santa Catarina Atualmente mora em Itapema e tem 25 anos Ele nasceu

surdo mas seus pais soacute descobriram sua surdez aos nove meses de

idade entatildeo ficaram apavorados e natildeo sabiam como ele iria se

comunicar na sociedade Depois o pai dele levou-o para uma escola em

Florianoacutepolis chamada de IATEL onde ateacute a 3ordf seacuterie utilizavam a

linguagem oral e muito pouco gestual Na eacutepoca os gestos (sinais) natildeo

eram reconhecidos como uma liacutengua

Os pais dele escolheram uma escola da Rede Regular de Ensino

142

na eacutepoca nem era pensado em inteacuterprete de LIBRAS ateacute porque essa

natildeo era uma liacutengua oficializada Eles natildeo conheciam a comunidade

surda e sua cultura entatildeo decidiram que seu filho frequentaria

atendimento fonoaudioloacutegico dois dias por semana

Para o informante B seus pais tentavam criaacute-lo como ouvinte o

que para ele caracteriza uma tentava de modificar sua identidade surda

Ele relata que tinha muita dificuldade de comunicar-se com as pessoas

na sociedade que utilizava a liacutengua falada

Mais tarde aos 16 anos de idade foi para uma escola de educaccedilatildeo

especial onde teve aulas de informaacutetica com outros surdos entatildeo podia

utilizar a LIBRAS Antes ele ficava isolado natildeo gostava e natildeo podia

usar a liacutengua de sinais comeccedilava a aprender a falar mas demorava

muito Agora aceita sua identidade surda sente-se mais feliz e melhor

Participa de uma associaccedilatildeo de surdos e viaja para vaacuterios lugares nas

diferentes regiotildees de Santa Catarina

Ele trabalhou como analista de sistemas na aacuterea de informaacutetica da

empresa Ceracircmica Portobello em Tijucas ficava muito incomodado

com a barreira de comunicaccedilatildeo com os funcionaacuterios em virtude de terem

muito trabalho pois o surdo precisa das matildeos para falar e se estaacute com

elas ocupadas trabalhando fica impossiacutevel comunicar-se diferente dos

ouvintes Tentou ensinar alguns sinais para os funcionaacuterios para que lhe

entendessem e pudessem se comunicar com ele mas os funcionaacuterios

desviavam para outro assunto natildeo demonstravam interesse em aprender

sinais Sofria por passar o dia inteiro de trabalho sem poder se

comunicar com outra pessoa disfarccedilava esse sentimento acessando a

Internet para realizar pesquisas de temas relacionados agrave educaccedilatildeo de

surdos (palestras congressos encontros etc) Entatildeo numa destas

pesquisas achou um congresso de surdos anotou a data e mostrou ao

chefe que o liberou para ir ao congresso (encontro surdo)

Ele acredita que as pessoas natildeo tinham culpa pois oralismo era a

forma de ensinar naquela eacutepoca e para os surdos era muito difiacutecil de

compreender e aprender a liacutengua falada Aprendeu LIBRAS na

comunidade surda Apoacutes a liberaccedilatildeo para o congresso pelo seu chefe

comeccedilou a frequentar a associaccedilatildeo de surdos e outros eventos da

comunidade surda

Ele participou de um concurso no municiacutepio de Itajaiacute para o

cargo de instrutor de LIBRAS Foi classificado em terceiro lugar

conseguiu um trabalho e seus pais deixaram que ele morasse sozinho

em Itajaiacute Morou sozinho por um ano trabalhava durante o dia e

estudava na faculdade agrave noite Com o passar do tempo conheceu

pessoas e fez amizade com outros surdos que no segundo ano dividiram

143

o aluguel da casa com ele

Alguns surdos convidaram ele para um encontro de surdo

(nacional congresso e entre outros) Foi possiacutevel fazer novas amizades e

entrar em contato com outros sujeitos surdos pois neste espaccedilo tinha

surdo sentado ao lado surdo no bar e em outros momentos do

congresso

Ao teacutermino do encontro pegou os endereccedilos eletrocircnicos das

pessoas que conheceu e assim pode manter correspondecircncia com outros

surdos atraveacutes de e-mails nas diferentes regiotildees do estado de SC

Depois de algum tempo de troca de e-mails combinou encontros e

viajou para o sul sudeste nordeste norte do Brasil e etc encontrou-se

com muitos surdos que se comunicavam na liacutengua de sinais e aprendeu

muitos sinais novos onde percebeu que havia muitas diferenccedilas nos

sinais que cada regiatildeo tinha sinais especiacuteficos daquele lugar

Quando o curso de LetrasLIBRAS da UFSC foi aprovado pelo

MEC e abriram-se as inscriccedilotildees trecircs instrutores de LIBRAS jaacute haviam

prestado o vestibular tiveram uma prova com 15 questotildees referentes a

LIBRAS utilizaram na apresentaccedilatildeo para seleccedilatildeo dos candidatos slides

e videoconferecircncia com todos os candidatos Ficou admirado e achou

muito legal o grupo de surdo que estava laacute e disse ldquoPassei a ver o

mundo diferente ao teacutermino da provardquo

Ele trabalhou como instrutor de LIBRAS por 4 anos e recebeu 14

alunos surdos para atendimento no processo de aprendizagem da

LIBRAS E tambeacutem ensinou sobre a relaccedilatildeo de aprendizagem do aluno

surdo em LIBRAS para os colegas Ele formou-se no curso de ciecircncias

da computaccedilatildeo e fez poacutes-graduaccedilatildeo no processo de inclusatildeo e educaccedilatildeo

especial Atualmente estaacute cursando a faculdade de LetrasLIBRAS pela

UFSC

5633 ndash Informante C

O informante C mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua

opiniatildeo de como aconteceu essa experiecircncia ldquoA liacutengua de sinais assim

como todo o contexto no qual estamos inseridos sofre mudanccedilas e

adaptaccedilotildees durante o decorrer de nossas vidas por questotildees de

adaptaccedilatildeo comportamento e culturardquo

O informante C nasceu em 12021986 em Santa MariaRS surdo

de nascenccedila morando em Florianoacutepolis haacute pouco tempo Voltando ao

passado dele desde pequeno adorava brincar mexer experimentar as

coisas novas o que tinha por perto Certa vez sua avoacute chamou-o falava

o seu nome mas como ele natildeo escutava nenhuma letra e nenhum som

144

que veio da voz da avoacute natildeo a atendeu Ela estranhou a atitude dele pois

ele nunca deu atenccedilatildeo para ela quando ela gritava ou chamava pelo seu

nome Pra ela era impossiacutevel uma crianccedila que natildeo respondia aos sons

Entatildeo ficou desconfiada que ele poderia ser surdo Resolveu pedir aos

pais dele para levaacute-lo a um meacutedico para descobrir a causa do problema

Mas seus pais tinham dificuldade de aceitar essa ideacuteia e de levaacute-lo para

o meacutedico parecia que tinham medo que ele realmente fosse surdo Ficou

assim sem comunicaccedilatildeo

A matildee dele assustada chorava muito e o pai dele ficou furioso

Pois o medo deles era de jamais se comunicarem com o filho que eles

amavam muito Entatildeo o meacutedico deu um conselho para a matildee dele que

era conhecer as pessoas surdas que se comunicavam atraveacutes da

LIBRAS ou entatildeo fazer atendimento e acompanhamento com

fonoaudioacuteloga para aprender a falar eou melhorar a fala

A matildee dele decidiu em primeiro lugar ir numa escola onde tinham

pessoas surdas laacute conheceu algumas pessoas surdas e achou que eram

pessoas legais Conversou com essas pessoas surdas que conheceu

sobre seu filho que era surdo Queria saber como poderia se comunicar

com uma crianccedila surda pois o objetivo da matildee era poder se comunicar

com o filho Entatildeo pediu ajuda de um surdo jovem Ele explicou para

ela que devia fazer um curso de LIBRAS que eacute a Liacutengua de Sinais

Brasileira que as pessoas surdas utilizam para se comunicarem com

facilidade

Ele crescia e no seu desenvolvimento viveu muita coisa

conseguiu mexer comer tudo A matildee dele comunicava-se com ele

atraveacutes dos sinais ele via as matildeos da matildee que natildeo parava de mexer

estranhava mas repetia para entender aquele conceito o que ela queria

dizer ela sinalizava e mostrava as coisas ateacute que ele entendia o

conceito

A matildee dele era uma pessoa bastante simples e feliz com os filhos

Tem um irmatildeo que eacute um ano mais velho do que ele o irmatildeo aprendeu a

usar sinais com ele e a matildee e podiam se comunicar daiacute eles

melhoraram muito a comunicaccedilatildeo tornaram-se grandes amigos sempre

brincaram juntos brigavam choravam gritavam e reclamavam Mas

eles eram grandes amigos

Ele mais observava as coisas a seu redor e se admirava com o que

via Depois de alguns meses sua irmatilde cresceu um pouco conseguiu

perceber as coisas comeccedilou a falar com ela atraveacutes de sinais ela

aprendeu essa liacutengua com ele como se fosse a primeira liacutengua da vida

dela Uma vez teve uma festinha laacute em sua casa estava toda a famiacutelia

reunida passou um aviatildeo sua irmatilde ouviu o barulho do aviatildeo e sinalizou

145

um aviatildeo todo mundo viu e se assustaram principalmente a matildee dele

pois natildeo sabia que a filha sinalizava sendo tatildeo pequena Sua matildee ficou

tatildeo contente e bateu uma foto dela sinalizando

Como cresceu sempre podendo se comunicar na liacutengua dos sinais

acreditava viver muito ldquonormalizadordquo Tinha uma famiacutelia e amigos

surdos estudou em escolas com outras crianccedilas surdas e relata como ele

se divertia muito

Depois de certo tempo a escola natildeo funcionava somente para

crianccedilas surdas sua matildee ficou muito preocupada com sua educaccedilatildeo

combinou com seu pai e com toda sua famiacutelia a mudanccedila para a cidade

de Florianoacutepolis ndash Santa Catarina pois soube que havia uma escola

especial para ele onde poderia crescer com uma educaccedilatildeo de qualidade

Quando chegou agrave capital de SC Florianoacutepolis simplesmente

amou a cidade porque ele curtia bastante as praias o pai alugou uma

casa bem legal na Barra da Lagoa e todos os dias ia sozinho para a

praia brincava na areia e construiacutea castelos

O informante C relata que curtiu bastante aquele veratildeo

mudaram-se dessa casa para outra que construiacuteram no bairro Carianos

ele natildeo gostava muito do lugar achava meio estranho porque para ele

ficava muito longe das praias Mas com o tempo ele se acostumou ateacute

fez amizades com os vizinhos que eram ouvintes Ele natildeo sabia como

comunicar-se com eles pois usavam a fala ele sentiu vergonha e medo

Ficava atraacutes de sua matildee que explicava para os vizinhos que ele era

surdo que natildeo sabia falar quase nada apenas sabia LIBRAS eles

ficavam admirados e convidavam-no para brincar Tinha amigos que

eram tranquilos porque o pai deles era surdo tambeacutem

O tempo passava e ele brincava sempre com esses amigos curtia

muito mas ele percebeu que se comunicavam soacute oralmente soacute ele natildeo

estranhava Foi falar com sua matildee sobre essa situaccedilatildeo pois ele queria

poder falar tambeacutem sua matildee se surpreendeu com a ideacuteia dele que era

ldquoquerer poderrdquo falar tambeacutem Para sua matildee foi uma surpresa porque

ouvia muito que a maioria das pessoas surdas natildeo aguentava aprender a

falar e seu proacuteprio filho estava querendo aprender a falar

Ele resolveu ser soacutecio de uma associaccedilatildeo de outra cidade natildeo

gostava da anterior e se mudou para Associaccedilatildeo dos Surdos da Grande

Florianoacutepolis ele fez amizade com o pessoal viajou muito se divertia

saiacutea e curtiu bastante Participava das reuniotildees da associaccedilatildeo tambeacutem

Depois virou Conselheiro Fiscal da Associaccedilatildeo gostou da experiecircncia

mas continuou sendo soacutecio Mas por outro lado andava observava e

estudava bastante e percebeu o mundo cada vez mais veloz por causa

da tecnologia e a sociedade que natildeo parava de mudar Depois que

146

terminou o terceiratildeo teve uma formatura incriacutevel em que chorou um

monte pois teve medo de perder o contato com as colegas de sala mas

tambeacutem porque ele aprendeu a amar esses amigos como se fossem de

sua famiacutelia

Comeccedilou uma faculdade na UFSC gostou bastante e fez novas

amizades comeccedilou a trabalhar como AtorTradutor Cinegrafista Editor

de Viacutedeos na UFSC tudo isso como bolsista Ele tornou-se bem

conhecido nacionalmente na comunidade surda comeccedilou a viajar

bastante para congressos e palestras Depois de um ano de sucesso em

sua vida acabou o contrato de bolsista pela UFSC e comeccedilou a

trabalhar como professor na prefeitura foi um grande desafio para ele

pois tinha professoras ouvintes que trabalhavam na educaccedilatildeo especial

que pensavam diferente dele com relaccedilatildeo agrave comunicaccedilatildeo na liacutengua de

sinais

Hoje em dia continua sendo conhecido nacionalmente na

comunidade surda eacute estudante do uacuteltimo periacuteodo da LetrasLIBRAS na

UFSC e estaacute trabalhando em duas escolas da prefeitura como professor

de LIBRAS

564 ndash Algumas consideraccedilotildees finais

Os informantes mostraram sua histoacuteria e nela pude perceber que

sinalizavam diferentemente uma mesma palavra principalmente aqueles

que viveram em lugares diferentes

Sabemos que a histoacuteria humana sofre transformaccedilotildees ao longo do

tempo mas nem sempre os seres humanos se datildeo conta das mudanccedilas

que podem acontecer no passado no presente e no futuro Na sociedade

acontecem transformaccedilotildees tecnoloacutegicas poliacuteticas econocircmicas sociais e

culturais Todas essas transformaccedilotildees influenciam o modo como usamos

a liacutengua E a liacutengua se modifica com o tempo

Noacutes tambeacutem mudamos as ldquocoisas da vidardquo A comunidade surda

tem um jeito proacuteprio de demonstrar as variaccedilotildees regionais e mudanccedilas

quanto agrave liacutengua de sinais a ponto de ser possiacutevel identificar a

procedecircncia de um surdo do nordeste ou do sul com base apenas no seu

gestual

A comunidade surda antigamente apresentava uma forma de

conversar em LIBRAS mais cotidiana e restrita agrave associaccedilatildeo de surdos

mas na atualidade a comunicaccedilatildeo eacute mais ampla acontece em vaacuterios

locais como escolas universidades congressos viagens turiacutesticas etc

ampliando conhecimentos e conhecendo novos sinais em contexto

social

147

Um surdo conversa com outro surdo utilizando a liacutengua de sinais

e qualquer pessoa ouvinte pode aprender LIBRAS e se comunicar na

comunidade surda mesmo natildeo tendo fluecircncia Dessa forma os surdos e

ouvintes podem se comunicar na LIBRAS Aleacutem disso a comunicaccedilatildeo

entre duas ou mais pessoas pode se dar em diferentes contextos sociais

Vale ressaltar que poucos surdos conheciam a gramaacutetica ou tinham

conhecimento linguiacutestico da LIBRAS ateacute porque eacute uma liacutengua que estaacute

sendo ensinada para o surdo nas escolas a partir da LEI de

reconhecimento e ainda natildeo eacute ensinada a parte de reflexatildeo linguiacutestica

estaacute mais voltada para sua praacutetica (o uso)

Segundo Labov

Ao falar do papel de fatores sociais que influenciam a

evoluccedilatildeo linguiacutestica eacute importante natildeo superestimar o

grau de contato ou de superposiccedilatildeo entre valores sociais

e a estrutura da liacutengua A estrutura linguiacutestica e a

estrutura social natildeo satildeo de modo algum coextensivas A

grande maioria das regras linguiacutesticas estatildeo bastante

distantes de qualquer valor social elas fazem parte do

elaborado mecanismo de que o falante precisa para

traduzir seu complexo conjunto de significados ou

intenccedilotildees em forma linear (LABOV 2008 [1972] p

290)

Em vaacuterios lugares (regiotildees) da comunidade surda usar a LIBRAS

em breve vai ser como falar em inglecircs em francecircs em italiano e em

outras liacutenguas Todas as liacutenguas satildeo importantes poreacutem alguma pode

ser mais reconhecida no mundo e influenciar mais Natildeo podemos

descartar a possibilidade de outras liacutenguas serem mais reconhecidas

assim como natildeo podemos prever quais liacutenguas influenciaratildeo mais no

mundo em outras eacutepocas quais dialetos novos teremos e quais variaccedilotildees

e mudanccedilas linguiacutesticas Talvez no futuro tenhamos mais influecircncia das

liacutenguas de sinais na comunicaccedilatildeo do mundo

148

149

CAPIacuteTULO VI ndash Descriccedilatildeo e anaacutelise dos resultados

61 ndash Introduccedilatildeo

Realizei a pesquisa escrita baseado nos relatos dos informantes

das trecircs geraccedilotildees pesquisadas atraveacutes de filmagem Primeiro busquei

nessas filmagens sinais que fossem relevantes para a pesquisa

variaccedilotildees e mudanccedilas lexicais e variaccedilotildees e mudanccedilas fonoloacutegica na

LIBRAS Em seguida fiz uma listagem de sinais com a palavra

correspondente em Liacutengua Portuguesa observando o nuacutemero de vezes

em que o sinal era apresentado aparecia Depois escolhi os sinais que

mais apareciam nos trecircs grupos de informantes e verifiquei as CM (paacuteg

225 e 227) que apareceram Apoacutes isto fiz tabelas gerais para pesquisa

de variaccedilatildeo lexical mudanccedila lexical variaccedilatildeo fonoloacutegica e mudanccedila

fonoloacutegica Foram escolhidos dezessete sinais para anaacutelise porque

apareceram nos trecircs grupos e em maior nuacutemero Apoacutes a escolha dos

sinais construiacute quatro tabelas gerais com os sinais produzidos pelos trecircs

grupos pesquisados com a CM utilizada na sinalizaccedilatildeo Por fim fiz a

anaacutelise dos dados obtidos

Ressalto que a descriccedilatildeo dos informantes que realizaram as

entrevistas nas trecircs geraccedilotildees em diferentes faixas etaacuterias traz

informaccedilotildees de grande importacircncia para a anaacutelise dos dados obtidos

referentes agraves possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas na Liacutengua de

Sinais em Santa Catarina

Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os seguintes toacutepicos

comparaccedilatildeo dos dados dos grupos das trecircs geraccedilotildees de surdos na liacutengua

de sinais e descriccedilatildeo sobre variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na liacutengua de

sinais com a existecircncia de um ou mais sinais dos informantes das trecircs

geraccedilotildees descriccedilatildeo da variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua de

sinais e explicaccedilatildeo de como o mesmo sinal pode ser utilizado e por

fim anaacutelise dos resultados das trecircs geraccedilotildees dos informantes

considerando as variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas na Liacutengua Brasileira

de Sinais

62 ndash A comparaccedilatildeo dos dados o grupo de trecircs geraccedilotildees de surdos

na liacutengua de sinais

Os dados recolhidos no programa de transcriccedilatildeo na liacutengua de

sinais ndash ELAN foram analisados e comparados com o propoacutesito de

mostrarapontar possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas que

aconteceram na liacutengua de sinais em Santa Catarina Os informantes

150

apresentaram individualmente suas respostas ao questionaacuterio referente a

seu aprendizado escolar e a sua vida Essas apresentaccedilotildees gravadas em

viacutedeo tecircm o objetivo de mostrar a experiecircncia na liacutengua de sinais dos

informantes nas trecircs geraccedilotildees pesquisadas

Para anaacutelise dos dados recolhidos foi feita uma tabela

denominada Preliminar dos dados ndash variaccedilotildees ou mudanccedilas

linguiacutesticas Nessa tabela vemos a transcriccedilatildeo dos depoimentos e a

identificaccedilatildeo dos Grupos (I II e III) de surdos que narraram a sua

experiecircncia na liacutengua de sinais Seguem as principais abordagens

pesquisadas

No primeiro momento investigo a variaccedilatildeo e

mudanccedila lexical na Liacutengua Brasileira de Sinais onde

dois ou mais sinais existem na liacutengua ao mesmo tempo

descrevo a mudanccedila em dois sinais que se daacute quando o

antigo sinal some e um novo entra

No segundo e uacuteltimo momento investigo a variaccedilatildeo e

mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua Brasileira de Sinais em

que um mesmo sinal possui mais de uma forma de

realizaccedilatildeo descrevo a mudanccedila que se observa quando um

sinal altera de caracteriacutesticas com relaccedilatildeo aos paracircmetros

configuraccedilatildeo das matildeos ponto de articulaccedilatildeo e movimento

Foi interessante realizar a pesquisa dos dados dos trecircs grupos

porque eacute um desafio aleacutem de me permitir identificar os sinais das

geraccedilotildees pesquisadas A princiacutepio foram identificados os sinais que

eram utilizados pelos surdos mais velhos e que os jovens natildeo

conheciam Em seguida os sinais com configuraccedilatildeo de matildeos (CM) e

ponto de articulaccedilatildeo (PA) diferentes e tambeacutem os sinais com

configuraccedilatildeo de matildeos (CM) iguais e ponto de articulaccedilatildeo (PA)

diferentes Por uacuteltimo os sinais com configuraccedilatildeo de matildeos (CM)

diferentes e ponto de articulaccedilatildeo (PA) iguais

Os sinais apresentados pelos informantes das trecircs geraccedilotildees

totalizaram 255 sinais Nesse total foram utilizados 17 vocaacutebulos para a

anaacutelise dos resultados e levantamento dos sinais de cada informante dos

trecircs Grupos (I II e III) Alguns sinais foram dispensados porque

tornariam a pesquisa muito ampla Dos 255 sinais encontrados para

anaacutelise 115 foram apresentados pelos surdos do Grupo mais jovem 163

foram apresentados pelo Grupo com idade intermediaacuteria e 183 pelo

Grupo dos mais velhos

Esta distribuiccedilatildeo por faixa etaacuteria compreende 9 informantes trecircs

151

em cada uma das geraccedilotildees formando os trecircs Grupos pesquisados (I II e

III) O resultado mais significativo foi mostrado pelos informantes do

grupo de indiviacuteduos mais velhos (G e I) possibilitando numa primeira

anaacutelise perceber algumas variaccedilotildees e mudanccedila na liacutengua de sinais Ficou

perceptiacutevel que o grupo de surdos dos mais velhos influenciou a liacutengua

de sinais em Santa Catarina na comunidade surda Segue tabela com os

nuacutemeros de sinais levantados em cada um dos trecircs grupos

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Sinais

Analisados

183

163

115

Tabela 09 ndash Preliminar dos dados ndash Variaccedilotildees ou mudanccedilas linguiacutesticas

Como jaacute foi comentado anteriormente a comunidade surda em

Santa Catarina ateacute aproximadamente o ano de 2000 teve um uacutenico

professor surdo no nosso estado e que influenciou a liacutengua de sinais O

fator externo que influenciou a liacutengua de sinais em SC atraveacutes do

professor Francisco foi o agrupamento dos surdos de todo o estado

formando uma comunidade surda que tambeacutem participa da

identificaccedilatildeo de classe do grupo informante Outro fator externo eacute

percebido nos Grupos II e I que mostram sinais aprendidos no contato

com o professor surdo na escola e tambeacutem no Ciacuterculo de Surdo-Mudo

em Santa Catarina sendo que o Grupo II influenciou o Grupo III

Na tabela em anexo percebe-se que dos 255 sinais coletados o

Grupo I apresentou mais sinais do que os Grupos II e III Talvez os

sinais natildeo conhecidos pelo Grupo III sejam os sinais criados

recentemente pela comunidade surda acadecircmica

Nas quatro tabelas gerais dos dados (paacuteg153 167 174 e 176)

tambeacutem apresenta na coluna agrave esquerda dos informantes o sinal (leacutexico)

e na direita os trecircs grupos de diferentes geraccedilotildees com diferentes faixas

etaacuterias que variam de 25 a mais de 80 anos e totalizam nove (9) indiviacuteduos Na coluna sinal (leacutexico) apresentam-se os dados que foram

escolhidos para realizar a pesquisa nos Grupos I II e III as variaacuteveis

independentes (homem mulher idade escolaridade e profissatildeo) que

152

podem mostrar tambeacutem variaccedilatildeo e mudanccedila na liacutengua de sinais usada

pelos informantes

63 ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na Liacutengua Brasileira de Sinais

Nesta seccedilatildeo vatildeo ser observados os itens lexicais que estatildeo em

variaccedilatildeo nas trecircs geraccedilotildees Comparando os sinais eles podem ser

produzidos atraveacutes de um sinal ou mais por exemplo o sinal de ldquomatildeerdquo

no passado tinha apenas um sinal (simples) atualmente utilizam-se dois

sinais (composto) para esta representaccedilatildeo Isto mostra que acontece

variaccedilatildeo lexical em LIBRAS Outros exemplos de sinais em variaccedilatildeo

satildeo ldquoaposentarrdquo ldquoaviatildeordquo ldquomatildeerdquo ldquopairdquo ldquopoliacuteticardquo ldquopretordquo

ldquoreuniatildeordquo e ldquosemanardquo (Tabela geral dos dados a seguir)

Nos Grupos I e II nos sinais de banco feio meacutedico porque

padre e ter tambeacutem acontece variaccedilatildeo lexical pois tem mais de um

sinal que existe na liacutengua ao mesmo tempo Nos Grupos I e III o sinal de

nome aponta variaccedilatildeo lexical

Foi apresentada na discussatildeo sobre mudanccedila lexical de alguns

sinais na Liacutengua Brasileira de Sinais (MAtildeE e PAI) Agora seraacute mostrada

a variaccedilatildeo lexical encontrada nos sinais utilizados pelos informantes das

trecircs geraccedilotildees (Grupos I II e III)

Veja a tabela a seguir elaborada para descrever os resultados

obtidos dos informantes dos Grupos I II e III Os nuacutemeros que

aparecem na tabela correspondem agrave configuraccedilatildeo de matildeos (CM) num

total de 64 posiccedilotildees diferentes que as matildeos podem assumir (ver anexo

paacutegina 225)

153

Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na Liacutengua

Brasileira de Sinais

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

APOSENTAR CM ndash 01 02

07 11 57

CM ndash 01 02

11 57

CM ndash 01 11

AVIAtildeO CM ndash 53a CM ndash 36 37a

40

CM ndash 40

MAtildeE CM ndash 02 14

63

CM ndash 01 02

06 14 60 63

CM ndash 02 07

14

PAI CM ndash 01 11

14 16 38

CM ndash 01 02

11 16 38 45

CM ndash 02 11

16 38 45

POLIacuteTICA CM ndash 11 51a CM ndash 11 14 CM ndash 11

PRETO CM ndash 05 34

62

CM ndash 05 CM ndash 05

REUNIAtildeO CM ndash 14 CM ndash 14 15

25

CM ndash 25

SEMANA CM ndash 08a 10

64

CM ndash 10 CM ndash 10

Os quadros a seguir mostram a sequecircncia dos sinais lexicais

utilizados pelos informantes desta pesquisa na liacutengua de sinais nas trecircs

geraccedilotildees

Observe-se inicialmente o item lexical APOSENTAR

154

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Aposentar

(1)

Figura 31

CM ndash 01 11

(2)

Figura 32

CM ndash 02 57

(1)

Figura 34

CM ndash 01 11

(2)

Figura 35

CM ndash 02 57

Figura 36

CM ndash 01 11

155

(3)

Figura 33

CM ndash 07

Quadro 01 ndash Sinal de Aposentar

O sinal de aposentar apresentado no quadro 01 no Grupo I (mais

velhos) apareceu com trecircs sinais diferentes o que indica variaccedilatildeo

lexical O Grupo III (mais jovem) utiliza o sinal com a configuraccedilatildeo de

matildeos (CM) - 01 e 11 com o movimento no espaccedilo neutro

consecutivamente para frente Os Grupos I e II utilizaram a CM - 02 57

(palma da matildeo aberta se fechando agrave medida que o antebraccedilo puxa para

traacutes junto ao lado do corpo no espaccedilo neutro) O Grupo I apresentou o

sinal de aposentar com a CM ndash 07 ambas as matildeos saiacutedas do espaccedilo

neutro na frente do corpo indo ateacute o peito Esse sinal atualmente eacute

produzido para indicar folga descanso e acomodar O Grupo III natildeo

conhece o sinal de aposentar do Grupo I talvez por isso eles utilizam

com outro significado O Grupo I tem trecircs sinais diferentes para

ldquoaposentarrdquo como mostram as figuras 31 32 e 33 mas o significado eacute o

mesmo isso pode ser variaccedilatildeo lexical mas tudo indica que ocorre

tambeacutem mudanccedila lexical O Grupo I tem um uacutenico sinal diferente do

Grupo III Parece que atualmente o sinal tem outro significado

Inicialmente observe-se o item lexical AVIAtildeO

156

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Aviatildeo

Figura 37

CM ndash 53a

(1)

Figura 38

CM ndash 36

(2)

Figura 39

CM ndash 37a

(3)

Figura 40

CM ndash 40

Figura 41

CM ndash 40

Quadro 02 ndash Sinal de Aviatildeo

157

Sabe-se que o professor Francisco iniciou o ensino para alguns

surdos utilizando a soletraccedilatildeo no alfabeto digital em Portuguecircs

Observando os trecircs grupos foi possiacutevel identificar as

modificaccedilotildees graduais deste sinal que iniciou com a soletraccedilatildeo Depois

foi apresentada como em CM ndash 53a a matildeo parte do lado do corpo em

linha reta e ascendente imitando a decolagem do aviatildeo usada pelo

Grupo I (mais velhos) O Grupo II apresentou as configuraccedilotildees CM ndash

36 CM ndash 37a CM - 40 tambeacutem imitando a decolagem do aviatildeo No

Grupo III apareceu apenas o sinal com a CM ndash 40 ou seja continuou

igual ao utilizado pelo Grupo II

Veja a seguir o item lexical MAtildeE

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Matildee

(1)

Figura 42

CM ndash 02

(1)

Figura 45

CM ndash 02

(1)

Figura 48

CM ndash 02 07

158

(2)

Figura 43

CM ndash 14

(3)

Figura 44

CM ndash 63

(2)

Figura 46

CM ndash 14

(3)

Figura 47

CM ndash 63

(4)

(2)

Figura 49

CM ndash 14

Quadro 03 ndash Sinal de Matildee

No quadro 03 aparece na figura 43 46 e 49 nos Grupos I II e III

o sinal de matildee que tem variaccedilatildeo lexical ao mesmo tempo Entatildeo os

Grupos I e II tambeacutem mostram o mesmo sinal No Grupo III a figura 48

mostra o sinal de matildee (mulher^benccedilatildeo = matildee) o que acontece eacute um sinal

composto em variaccedilatildeo lexical Nas figuras 42 45 e 48 a configuraccedilatildeo de

matildeos acontece (igualmente) nos trecircs grupos As figuras 44 e 47 nos Grupos I e II mostram a palma da matildeo aberta para frente e o dorso da

matildeo colocado na boca para o sinal de matildee o que tambeacutem indica

variaccedilatildeo lexical

No quadro 03 tambeacutem mostra mudanccedila lexical O sinal de ldquoM-Atilde-

Erdquo aparece soletrado no alfabeto digital e outro com a configuraccedilatildeo de

159

matildeos (CM) em ldquoMrdquo (nuacutemero da CM ndash 01 06 60) com ponto de

articulaccedilatildeo (PA) na boca num movimento (M) de roccedilar a matildeo para

frente (reto) Atualmente o sinal de MAtildeE eacute realizado da seguinte forma

o sinal de mulher (matildeo fechada e polegar riscando o rosto de cima para

baixo) junto com a matildeo fechada sendo beijada no dorso (mulher^benccedilatildeo

= MAtildeE) representando um sinal composto

Comparando o sinal de MAtildeE apresentado pelos informantes dos

trecircs Grupos (I II e III) nota-se que ocorreu mudanccedila lexical a forma de

configuraccedilatildeo de matildeos (CM) modificou-se

Pode ser que a distinccedilatildeo entre variaccedilatildeo lexical e mudanccedila lexical

nem sempre estaacute clara mas pode ser estabelecida em alguns casos dos

sinais

O quadro a seguir mostra variaccedilatildeo e mudanccedila do item lexical

PAI

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Pai

(1)

Figura 50

CM ndash 11

(1)

Figura 53

CM ndash 16

(1)

Figura 55

CM ndash 11 38

160

(2)

Figura 51

CM ndash 14

(3)

Figura 52

CM ndash 16

(4)

(2)

Figura 54

CM ndash 02 45

(3)

(2)

Figura 56

CM ndash 16

(3)

Figura 57

CM ndash 02 45

Quadro 04 ndash Sinal de Pai

Nas figuras 52 53 e 56 dos Grupos I II e III na configuraccedilatildeo de

matildeos (CM) o dedo indicador curvado colocado como se fosse um

bigode movimenta-se para frente e para traacutes significando sinal de pai

Os Grupos II e III mostram o sinal composto (homem^benccedilatildeo = pai)

Nas figuras 54 e 57 tambeacutem temos variaccedilatildeo e mudanccedila lexical Na

figura 51 o dedo indicador reto eacute colocado como se fosse um bigode

fazendo movimento para a direita no Grupo I Nas figuras 50 e 55 nos

Grupos I e III mostra-se a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) - 11 tambeacutem

161

imitando um bigode fazendo movimento para a direita e no Grupo III

mostra-se o empreacutestimo linguiacutestico ldquoP-Irdquo (CM) -11 38 o sinal de pai

No quadro 04 tambeacutem aparece mudanccedila lexical O sinal de

famiacutelia que mostra a palavra ldquoP-A-Irdquo eacute apresentado na soletraccedilatildeo de

matildeos Haacute uma mudanccedila linguiacutestica porque inicia com o sinal ldquoPrdquo (CM ndash

11) passando sobre os laacutebios depois o sinal de bigode realizado de duas

formas diferentes (o dedo indicador em cima do laacutebio superior e o dedo

indicador flexionado tambeacutem em cima do laacutebio superior) e ainda o sinal

ldquoPrdquo saindo dos laacutebios indo para frente formando o sinal ldquoIrdquo (CM ndash 38)

e atualmente o sinal de homem (CM ndash 45) fechar a matildeo e beijar as

costas da mesma (CM ndash 02) Observam-se nesse caso cinco diferentes

sinais ilustrando as variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas Acredita-se que

o contado dos diferentes surdos em comunicaccedilatildeo com gestos familiares

proporcionou uma troca entre eles influenciando a comunidade surda e

a escola com uma classe de surdos onde os alunos tiveram contato com

a soletraccedilatildeo de palavras em Portuguecircs e nos respectivos sinais

O Grupo I apresentou trecircs sinais diferentes nas figuras 50 51 e 52

ldquopaisrdquo o que pode indicar variaccedilatildeo lexical O Grupo II mostra dois

sinais diferentes nas figuras 53 e 54 tem um sinal composto

homem^benccedilatildeo = pai que foi utilizado pelo Grupo III

Observe agora no quadro a seguir o item lexical POLIacuteTICA

162

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Poliacutetica

Figura 58

CM ndash 11 51a

(1)

Figura 59

CM ndash 11

(2)

Figura 60

CM ndash 14

Figura 61

CM ndash 1 1

Quadro 05 ndash Sinal de Poliacutetica

No quadro 05 o sinal de POLIacuteTICA se daacute atraveacutes da matildeo direita

na configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 11 colocada em movimento circular

(girando) no lado do rosto com a bochecha insuflada sinal apresentado

pelos Grupos II e III O Grupo I apresenta um sinal icocircnico porque eacute a

representaccedilatildeo da sede do congresso em Brasiacutelia O Grupo II mostra

tambeacutem outro sinal para poliacutetica com CM ndash 14 o dedo indicador das matildeos com as extremidades proacuteximas em frente do corpo em movimento

alternado para cima e para baixo localizado no espaccedilo neutro

No Grupo III na figura 61 com CM ndash 14 eacute o uacutenico sinal com

configuraccedilatildeo diferente e que o significado tambeacutem pode ser entendido

163

como discutir a poliacutetica aparecendo nesse caso com sentido

abrangente

Veja a seguir o item lexical PRETO

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Preto

(1)

Figura 62

CM ndash 34 62

(2)

Figura 63

CM ndash 05

Figura 64

CM ndash 05

Figura 65

CM ndash 05

Quadro 06 ndash Sinal de Preto

No quadro 06 aparece o sinal de PRETO com a matildeo direita com

CM ndash 05 palma para baixo simulando girar uma chave ao lado da

cabeccedila Um dos informantes do Grupo I utilizou o sinal de preto que

acredito teve influecircncia da liacutengua de sinais produzida no Rio de janeiro

Os Grupos II e III apresentaram o sinal regional utilizado na grande

Florianoacutepolis Os Grupos I II e III mostram o mesmo sinal para preto

164

nas figuras 63 64 e 65 mas tem um sinal diferente apresentado pelo

Grupo I nas figuras 62 e 63

O sinal produzido pelo Grupo I na figura 62 eacute utilizado ateacute hoje

no Rio de Janeiro e percebo que tambeacutem eacute utilizado por interpretes e

estudantes surdos da UFSC

Veja a seguir o item lexical REUNIAtildeO

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Reuniatildeo

Figura 66

CM ndash 14

(1)

Figura 67

CM ndash 25

(2)

Figura 68

CM ndash 14

Figura 70

CM ndash 25

165

(3)

Figura 69

CM ndash 15

Quadro 07 ndash Sinal de Reuniatildeo

No quadro 07 o sinal de REUNIAtildeO mostrado pelos Grupos II e

III com CM ndash 25 nas matildeos estaacute localizado no espaccedilo neutro com as

palmas das matildeos para frente as matildeos em movimento semicircular

fechando em ciacuterculo Os Grupos I e II mostram como em CM ndash 14

realizado da mesma forma que o descrito anteriormente sinal este que o

grupo jovem natildeo conhece O Grupo II apresenta um sinal de REUNIAtildeO

com as matildeos como em CM ndash 15 em espaccedilo neutro movendo-se

alternadamente para frente e para traacutes com a palma das matildeos proacuteximas

este grupo apresentou trecircs sinais diferentes enquanto os Grupos I e III

mostraram apenas um

No Grupo II na figura 69 o sinal eacute diferente e natildeo aparece no

Grupo I e no Grupo III mas o significado deste eacute REUNIAtildeO particular

com poucas pessoas Talvez por isso natildeo apareceu nos outros dois

grupos Nas figuras 68 e 69 os sinais apresentam variaccedilatildeo fonoloacutegica

porque mudou o traccedilo linguiacutestico o ponto de articulaccedilatildeo da sinalizaccedilatildeo

no espaccedilo neutro eacute o mesmo mas a CM e o movimento se alteram

Veja a seguir o item lexical SEMANA

166

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Semana

(1)

Figura 71

CM ndash 08a 64

(2)

Figura 72

CM ndash 10

Figura 73

CM ndash 10

Figura 74

CM ndash 10

Quadro 08 ndash Sinal de Semana

No quadro 08 aparece o sinal de SEMANA com a matildeo esquerda

aberta palma para fora (CM ndash 08a ldquoLrdquo) matildeo direita CM - 64 palma

para fora direcionando as duas matildeos para o lado direito O grupo de

informante III (terceira geraccedilatildeo) apresentou a variaccedilatildeo do sinal descrita

anteriormente mas o Grupo II apresentou o sinal a matildeo direita com

forma de configuraccedilatildeo CM - 10 direcionando a matildeo direita para o lado

direito ponto de articulaccedilatildeo no espaccedilo neutro O Grupo I (primeira

geraccedilatildeo) apresentou no queixo o sinal de semana como em CM ndash 10

Isso mostra a variaccedilatildeo do sinal apresentado pelos informantes nas trecircs

geraccedilotildees por faixa etaacuteria Os trecircs grupos sinalizam semana de forma

diferente nas figuras 71 72 e 74 Os Grupos I e II sinalizam semana nas

167

figuras 72 e 73 de forma igual O Grupo I eacute o uacutenico que realiza o sinal

no espaccedilo neutro e o Grupo III inicia o sinal no queixo e termina-o no

espaccedilo neutro

Uma das razotildees para variaccedilatildeo e mudanccedila lexical acontecer eacute por

influecircncia tecnoloacutegica que transforma a sociedade que cresce no

cotidiano por necessidade na liacutengua usada na conversa No caso da

pessoa surda em contato com a liacutengua de sinais ela acaba valorizando

mais a liacutengua de sinais que torna a cultura surda dinacircmica e proporciona

uma nova forma de comunicaccedilatildeo para o indiviacuteduo surdo Na

comunidade surda precisamos buscar o conhecimento cada vez maior

para aumentar o leacutexico da liacutengua em sinais

Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na Liacutengua

Brasileira de Sinais

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

BANCO CM ndash 53a 61 CM ndash 53a 61 CM ndash 53a

FEIO CM ndash 07 64 CM ndash 8a CM ndash 08a

MEacuteDICO CM ndash 16 44 CM ndash 16 44 CM ndash 16

NOME CM ndash 21 24 CM ndash 24 CM ndash 24

PORQUE CM ndash 14 15 CM ndash 14 15 CM ndash 14

O quadro a seguir apresenta a sequecircncia dos sinais lexicais que

sofreram mudanccedila na liacutengua de sinais dos informantes dos Grupos I II e

III nas trecircs geraccedilotildees Inicialmente seraacute descrito o item lexical BANCO

168

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Banco

(1)

Figura 75

CM ndash 53a

(2)

Figura 76

CM ndash 61

(1)

Figura 77

CM ndash 53a

(2)

Figura 78

CM ndash 61

Figura 79

CM ndash 53a

Quadro 09 ndash Sinal de Banco

No quadro 09 a CM ndash 61 corresponde agrave letra B no alfabeto

digital palma da matildeo voltada para a esquerda batendo suavemente em

cima do peito esquerdo Este sinal foi utilizado pelos Grupos II e I

sofrendo uma mudanccedila lexical pois modificou o ponto de articulaccedilatildeo e

a CM com o mesmo movimento Os informantes do Grupo III (jovens)

natildeo utilizam e talvez natildeo conheccedilam o sinal de BANCO utilizado pelos

Grupos II e I Podemos chamar de mudanccedila em tempo aparente

Nos Grupos I II e III apresentam variaccedilatildeo lexical os sinais das

figuras 75 77 e 79 pois se realizam da mesma forma Nos Grupos I e II

169

as figuras 76 e 78 apresentam um sinal que natildeo eacute mais utilizado

caracterizando uma mudanccedila lexical

Observe-se agora o sinal do item lexical FEIO

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Feio

Figura 80

CM ndash 07 64

64

Figura 81

CM ndash 08a

Figura 82

CM ndash 08a

Quadro 10 ndash Sinal de Feio

No quadro 10 a CM ndash 08a (L) usa palma da matildeo em frente da

boca o dedo indicador apontando para a esquerda em seguida abaixa-

se a matildeo ateacute a altura do peito O sinal utilizado pelo Grupo I mostra uma

mudanccedila lexical no sinal de FEIO o sinal de bonito (matildeo aberta com

palma da matildeo voltada para o rosto na frente fazendo um ciacuterculo e se

fechando) e mais o sinal de negaccedilatildeo matildeo fechada com polegar para

baixo Houve uma troca na configuraccedilatildeo de matildeos (CM) de ponto de

articulaccedilatildeo (PA) e movimento (M) do sinal pelos surdos do Grupo III

(mais jovens de 15 a 30 anos de idade) O Grupo I faz dois sinais

bonito^ruim = feio na figura 80 como se fosse o contraacuterio de bonito O

Grupo II faz o sinal de feio para pessoas enquanto o Grupo III sinaliza

com significado de feio para objetos

64 A imagem da CM segue a ordem da tabela com as configuraccedilotildees

170

Observe-se a seguir o item lexical MEacuteDICO

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Meacutedico

(1)

Figura 83

CM ndash 16

(2)

Figura 84

CM ndash 44

(1)

Figura 85

CM ndash 16

(2)

Figura 86

CM ndash 44

Figura 87

CM ndash 16

Quadro 11 ndash Sinal de Meacutedico

No quadro 11 o sinal de MEacuteDICO aparece diferenciado no Grupo

I (geraccedilatildeo G H e I) O sinal de MEacuteDICO eacute produzido com a

configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 44 com ponto de articulaccedilatildeo (PA) no

peito em cima do coraccedilatildeo movimentando-se semicircularmente ateacute o

lado direito Esse sinal mostra mudanccedila lexical pois o Grupo III

(jovens) inovou com relaccedilatildeo ao espaccedilo neutro65

o sinal eacute produzido

65 Espaccedilo Neutro ndash ldquono caso do uso de pontos arbitraacuterios o estabelecimento ocorre em um

local neutro do espaccedilo da sinalizaccedilatildeo e em geral satildeo distribuiacutedos no espaccedilo de forma a serem

171

com a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 16 em ambas as matildeos onde uma eacute

ativa e outra passiva e o dedo indicador direito bate na 2a falange do

dedo esquerdo

Podemos dizer que o sinal que aparece nos Grupos I e II e que

natildeo aparece no Grupo III eacute um sinal icocircnico Acredito que ainda eacute

utilizado apenas natildeo apareceu nas sinalizaccedilotildees do grupo dos mais

jovens que apresentam uma fluecircncia maior na LIBRAS

Veja a seguir a configuraccedilatildeo do item lexical NOME

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Nome

(1)

Figura 88

CM ndash 21

(2)

Figura 89

CM ndash 24

Figura 90

CM ndash 24

Figura 91

CM ndash 24

Quadro 12 ndash Sinal de Nome

amplamente diferenciados Os pontos podem estar acima ou abaixo do espaccedilo neutro se esses apresentarem uma imagem apropriada (por ex um aviatildeo seraacute apontado acima do espaccedilo

neutro)rdquo QUADROS et al (2008 p 07)

172

No quadro 12 mostra o sinal de NOME com a configuraccedilatildeo de

matildeos (CM) ndash 24 (matildeo direita em ldquoUrdquo no Alfabeto Digital) palma da

matildeo para frente dedos apontados para cima na altura do peito movem-

se os dedos do lado esquerdo para o lado direito Na leitura dos

resultados encontrados apareceu uma mudanccedila lexical na liacutengua de

sinais o Grupo I utiliza a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 21 24 na (CM)

ndash 21 representa o nome do crachaacute (sinal icocircnico) Acontece mudanccedila

lexical pois as configuraccedilotildees de matildeos (CM) os pontos de articulaccedilotildees

(PA) os movimentos (M) e a orientaccedilatildeo satildeo diferentes (OP) Aqui

temos tambeacutem mudanccedila fonoloacutegica as configuraccedilotildees de matildeos satildeo

diferentes

O quadro a seguir mostra a configuraccedilatildeo do item lexical

PORQUE

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Porque

(1)

Figura 92

CM ndash 14

(1)

Figura 94

CM ndash 14

Figura 96

CM ndash 14

173

(2)

Figura 93

CM ndash 15

(2)

Figura 95

CM ndash 15

Quadro 13 ndash Sinal de Porque

No quadro 13 o sinal de PORQUE no Grupo I e II aparece com

CM ndash 15 (dedo indicador flexionado saindo da tecircmpora em diagonal) e

nos trecircs grupos aparece o sinal com a CM ndash 14 dedo indicador direito e

esquerdo em diagonal bater o indicador direito sobre o esquerdo vaacuterias

vezes no espaccedilo neutro O sinal com a CM ndash 14 aparece na sinalizaccedilatildeo

dos informantes das trecircs geraccedilotildees permanecendo ateacute a atualidade

O sinal que os Grupos I e II fizeram nas figuras 93 e 95 natildeo eacute

mais realizado pelo grupo dos mais jovens que tambeacutem natildeo conhece o

significado

64 ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua Brasileira de Sinais

A variaccedilatildeo e a mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua Brasileira de

Sinais satildeo observadas na semelhanccedila entre somfala ou sinais foneacutetico-

fonoloacutegicos Na Liacutengua Brasileira de Sinais encontram-se modificaccedilotildees

de pronuacutencia de certos itens lexicais atestando variaccedilatildeo e mudanccedila

fonoloacutegica Essa variaccedilatildeo depende da unidade lexical e pode decorrer de

diferentes paracircmetros a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) movimento (M)

ponto de articulaccedilatildeo (PA) e orientaccedilatildeo das matildeos Nesses casos a

configuraccedilatildeo de matildeos pode modificar mas o significado dos sinais

permanece o mesmo mostrando variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica As

autoras Quadros e Karnopp (2004 p47) definem a fonologia das

liacutenguas de sinais da seguinte forma

Fonologia das liacutenguas de sinais eacute o ramo da linguumliacutestica

que objetiva identificar a estrutura e a organizaccedilatildeo dos

constituintes fonoloacutegicos propondo modelos descritivos

e explanatoacuterios A primeira tarefa da fonologia para

174

liacutengua de sinais eacute determinar quais satildeo as unidades

miacutenimas que formam os sinais A segunda tarefa eacute

estabelecer quais satildeo os padrotildees possiacuteveis de

combinaccedilatildeo entre essas unidades e as variaccedilotildees possiacuteveis

no ambiente fonoloacutegico

Haacute pouca pesquisa cientiacutefica sobre variaccedilatildeo e mudanccedila

fonoloacutegica na LIBRAS no Brasil Pode-se verificar atraveacutes dos dados

dos informantes apresentados a cada pronuacutencia dos sinais diferentes de

uso a unidade miacutenima lexical pode se modificar (configuraccedilatildeo de matildeos

movimento e ponto de articulaccedilatildeo) No quadro 07 apresenta-se o sinal

de semana mostrando mudanccedila no ponto de articulaccedilatildeo e variaccedilatildeo e

mudanccedila fonoloacutegica nos Grupos I II e III

Veja a Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica

na Liacutengua Brasileira de Sinais com os resultados que foram escolhidos

nesta pesquisa para realizar a descriccedilatildeo e a anaacutelise

Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua

Brasileira de Sinais

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

ANTES CM ndash 08a 53a

63

CM ndash 08a CM ndash 08a

Veja agora os sinais para o item lexical ANTES

175

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Antes

(1)

Figura 97

CM ndash 53a 63

(2)

Figura 98

CM ndash 08a

Figura 99

CM ndash 08a

Figura 100

CM ndash 08a

Quadro 14 ndash Sinal de Antes

No quadro 14 aparece o sinal de ANTES com a seguinte

configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 08a a matildeo direita em L horizontal

(alfabeto digital) palma para baixo na frente do corpo no espaccedilo neutro

levantar o antebraccedilo da matildeo direita para cima Outro sinal aparece com

a (CM) ndash 53a e 63 inicia com a CM 63 e finaliza com a CM 53a com o

mesmo movimento do antebraccedilo descrito anteriormente Ambos os

informantes utilizam a expressatildeo facial necessaacuteria para a compreensatildeo

do sinal As trecircs geraccedilotildees apresentaram variaccedilatildeo fonoloacutegica o sinal eacute

produzido com diferentes configuraccedilotildees de matildeos mas os paracircmetros

movimento (M) e ponto de articulaccedilatildeo (PA) satildeo os mesmos

176

Nos Grupos I II e III apresentam os mesmos sinais com a mesma

CM ndash 08a mas temos com essa mesma CM o mesmo significado soacute

que com ponto de articulaccedilatildeo diferente acontecendo na palma da matildeo e

no dorso da matildeo e que tambeacutem pode ter significado de ldquoQue horasrdquo ou

pode estar atrasado para trabalhar ou ainda precisa agendar uma reuniatildeo

antes

Os dados coletados tambeacutem mostram mudanccedila e variaccedilatildeo

fonoloacutegica na liacutengua brasileira de sinais Sinais foram modificados com

o passar dos anos Observando os informantes percebe-se que os

paracircmetros mudaram da geraccedilatildeo mais antiga (Grupo I) em relaccedilatildeo agrave

geraccedilatildeo atual (Grupo III)

Observe na tabela a seguir os dados que foram escolhidos para

realizar a descriccedilatildeo e a anaacutelise dos resultados Ela apresenta a sequecircncia

das mudanccedilas e variaccedilotildees dos sinais lexicais na LIBRAS usados pelos

informantes nas trecircs geraccedilotildees

Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua

Brasileira de Sinais

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

CORTAR CM ndash 14 24

63

CM ndash 14 24 CM ndash 24

PADRE CM ndash 21 24

62

CM ndash 11 21

24

CM ndash 24

TER CM ndash 08a 63 CM ndash 08a 63 CM ndash 08a

Acompanhe agora a descriccedilatildeo do item lexical CORTAR

177

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Cortar

(1)

Figura 101

CM ndash 63

(2)

Figura 102

CM ndash 14 24

(3)

Figura 103

CM ndash 14

(1)

Figura 104

CM ndash 14

(2)

Figura 105

CM ndash 24

Figura 106

CM ndash 24

Quadro 15 ndash Sinal de Cortar

178

No quadro 15 observa-se que o Grupo I apresentou a

configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 63 (U) raspando o dedo meacutedio da matildeo

direita no dedo indicador da matildeo esquerda simulando cortar algo

Depois a CM ndash 14 junto com a CM 24 mostraram um movimento

simulando o corte com uma faca e tambeacutem a CM ndash 14 em ambas as

matildeos simulando o movimento de cortar O Grupo II apresentou a CM ndash

14 (igual a do Grupo I) e a CM ndash 24 simulando o movimento de cortar

O Grupo III (jovem) utilizou apenas a CM ndash 24

Exemplos das figuras apresentadas no quadro 15 mostrando

sinais de CORTAR66

em diferentes contextos satildeo apresentados a seguir

a) Em LIBRAS Grupo I - EU ANTES ESTUDAR LAacute INES

DEPOIS CORTAR MARCENEIRO (Figura 101)

Em Portuguecircs Grupo I ndash Eu era crianccedila estudava no INES

fomos cortar madeira com supervisatildeo de um marceneiro (Figura 101)

b) Em LIBRAS Grupo I - SURDOS LAacute INES CORTAR

PAPELAtildeO (Figura 102)

Em Portuguecircs Grupo I ndash Os alunos surdos do INES foram

cortar papelatildeo (Figura 102)

c) Em LIBRAS Grupo I - EU AIacute (FOGO) FOGO COMER

CARNE CORTAR UM (CADA) IRMAtildeO SENTAR COMER TODOS

COMER ARROZ BATATA AIPIM TODOS (Figura 103)

Em Portuguecircs Grupo I ndash Eu fiquei assustada com o fogo Eu e

meus irmatildeos sentados juntos a mesa cortei a carne e dei um pedaccedilo para

cada irmatildeo Todos comeram arroz batata e aipim aleacutem da carne

(Figura 103)

d) Em LIBRAS Grupo II ndash ANTES ERA PEQUENO

BRINCAR LAacute ESCOLA BALANCcedilO CORRENTE CORTAR DEDO

DOR (Figura 104)

Em Portuguecircs Grupo II ndash Quando era crianccedila fomos brincar no

parque da escola cortei o dedo na corrente (Figura 104)

e) Em LIBRAS Grupo II - FESTA CSMSC SURDOS CORTAR

CARNE BOLO TODOS SURDOS (Figura 105)

Em Portuguecircs Grupo II ndash Teve uma festa do Ciacuterculo de Surdos-

Mudos de Santa Catarina (CSMSC) para comemoraccedilatildeo dos surdos Foi

cortada a carne e o bolo para os surdos que foram a associaccedilatildeo (Figura

105)

66 Nesses casos noacutes temos sinais diferentes para o mesmo significado de ldquocortarrdquo que satildeo as imagens do quadro 15

179

f) Em LIBRAS Grupo III ndash EU LAacute CASA AMIGO SURDO

ALMOCcedilAR COMER PEDIR CORTAR CARNE CONVERSAR

AMIGO (Figura 106)

Em Portuguecircs Grupo III - Eu fui agrave casa do meu amigo surdo

almoccedilar pedi a ele para cortar a carne e tambeacutem conversei com os

amigos surdos (Figura 106)

O Grupo I eacute o uacutenico que utiliza para o sinal de cortar CM ndash 63 um

sinal diferente dos outros grupos mas com o mesmo significado Parece

que o Grupo I foi evoluindo o sinal comeccedilou com CM diferente em

cada matildeo e por fim uma mesma CM para ambas as matildeos O Grupo II

utilizou duas CM diferentes como o Grupo I mas realizava o sinal de

duas formas diferentes CM ndash 14 ou 24 mas a mesma CM para ambas as

matildeos O Grupo III realiza o sinal somente com a CM ndash 24 em ambas as

matildeos Como se observa parece que ocorreu mudanccedila fonoloacutegica nos

trecircs grupos pesquisados

Veja na sequecircncia a mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua brasileira de

sinais

A tabela a seguir traz os sinais do item lexical PADRE

180

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Padre

(1)

Figura 107

CM ndash 62

(2)

Figura 108

CM ndash 24

(1)

Figura 110

CM ndash 11

(2)

Figura 111

CM ndash 24

Figura 113

CM - 24

181

(3)

Figura 109

CM ndash 21

(3)

Figura 112

CM ndash 21

Quadro 16 ndash Sinal de Padre

Nos trecircs grupos apareceu o sinal com CM ndash 24 matildeo na frente do

peito no espaccedilo neutro desenhando uma cruz com a matildeo (Representaccedilatildeo

icocircnica) Os Grupos I e II apresentaram o mesmo sinal CM ndash 21

produzido na base do pescoccedilo iniciando do lado esquerdo indo ateacute o

lado direito como se estivesse desenhando a gola da batina (Icocircnico) O

Grupo I apresentou um sinal diferente com CM ndash 62 matildeo na frente do

peito no espaccedilo neutro desenhando uma cruz com a matildeo O Grupo II

tambeacutem mostra um sinal uacutenico com CM ndash 11 matildeo na frente do peito no

espaccedilo neutro desenhando uma cruz com a matildeo A configuraccedilatildeo de

matildeos (CM) foi sendo alterada no espaccedilo neutro Os informantes do

Grupo I II e III (nas trecircs geraccedilotildees) apresentaram sinais que podem ser

considerados como variaccedilatildeo ou mudanccedila fonoloacutegica

Na figura 107 o sinal parece ser igual ao que um padre faz na

missa ao despedir-se dos fieacuteis e na figura 110 parece que a CM ndash 11 (P)

recebe influecircncia do oralismo Um uacutenico sinal aparece nos trecircs grupos

satildeo das figuras 108 111 e 113 sendo o uacutenico utilizado pelo Grupo III

(jovens)

Veja na sequecircncia a mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua brasileira de

sinais

Agora observe o sinal variaacutevel do item lexical TER

182

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Ter

(1)

Figura 114

CM ndash 63

(2)

Figura 115

CM ndash 08a

(1)

Figura 116

CM ndash 63

(2)

Figura 117

CM ndash 08a

Figura 118

CM ndash 08a

Quadro 17 ndash Sinal de Ter

No quadro 17 aparecem os dados apresentados pelo Grupo I dos

trecircs informantes G H e I

Em conversa natildeo filmada com o informante G ele deu a seguinte

explicaccedilatildeo para a variaccedilatildeo do item ldquoTERrdquo antigamente o professor

Francisco Lima Juacutenior usava o sinal ldquoTERrdquo fazendo a soletraccedilatildeo do

sinal depois utilizou a configuraccedilatildeo de matildeo com todos os dedos

fechados (CM ndash 63) colocados no peito em seguida outra oposiccedilatildeo

seria a matildeo e os dedos abertos tambeacutem colocados no peito (CM ndash 64)

183

Atualmente o sinal ldquoTERrdquo eacute realizado como CM - 08a tambeacutem

colocado no peito Observa-se uma mudanccedila fonoloacutegica com alteraccedilatildeo

na liacutengua de sinais ao longo de algumas deacutecadas O dedo em ldquoLrdquo (08a) eacute

batido no meio do peito com a ponta do polegar

Os Grupos I e II mostram os sinais de ter nas figuras 114 e 116

com mesma CM ndash 63 Nas figuras 115 117 e 118 os sinais satildeo

realizados com a mesma CM ndash 08a O Grupo III permanece apenas com

um sinal

Veja na sequecircncia a mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua brasileira de

sinais

Na eacutepoca em que o professor Francisco foi professor era outro

tempo na comunicaccedilatildeo em liacutengua de sinais diferentemente de hoje tal

como se observa na comunicaccedilatildeo entre as pessoas mais jovens com

contato cultural maior O professor Francisco aprendeu no RJ a escrever

com o alfabeto digital (soletraccedilatildeo) e assim ele comeccedilou a ensinar Aleacutem

de ensinar o contato do aluno surdo com a comunidade de surdos fez

com que houvesse uma troca o Sr Francisco ensinou a soletraccedilatildeo no

alfabeto digital (alfabetizaccedilatildeo em Liacutengua Portuguesa) e aprendeu sinais

familiares dos diversos surdos com quem teve contato Todos

aprenderam e isso influenciou para que ocorresse mudanccedila fonoloacutegica

Pesquisando a LIBRAS nos Grupos I II e III confirmamos portanto

algumas mudanccedilas fonoloacutegicas

65 ndash O que dizem os resultados das trecircs geraccedilotildees dos informantes

na Liacutengua Brasileira de Sinais

A comunidade surda principalmente na associaccedilatildeo de surdo de

Santa Catarina abriu espaccedilo para o encontro de surdos proporcionando

a troca de informaccedilotildees e experiecircncias na liacutengua de sinais (visuais)

promovendo eventos na aacuterea esportiva cultural poliacutetica e na educaccedilatildeo

de surdo Todos esses espaccedilos sociais devem ter contribuiacutedo para o que

esta pesquisa jaacute aponta variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica em LIBRAS

Os resultados de certos itens lexicais usados pelos grupos de

indiviacuteduos investigados apontam que os Grupos I e II se distinguem do

184

Grupo III

Os resultados mostram que com passar do tempo os sinais entre

os grupos se modificam apresentando indiacutecios de mudanccedila em tempo

aparente na liacutengua de sinais nas trecircs geraccedilotildees O grupo dos mais jovens

de 15 a 30 anos (Grupo III) diferentemente dos outros dois grupos

(Grupo I e Grupo II) apresenta um sinal para cada palavra Acreditamos

que antes havia mais sinais porque eram familiares ou caseiros os quais

foram substituiacutedos eou modificados com o contato social maior que a

comunidade surda tem nos dias atuais Acreditamos que outros sinais

estatildeo sendo criados com o passar do tempo o que pode ser fruto de um

maior contato social entre os surdos jovens

Os resultados apontam que os trecircs grupos investigados (Grupos I

II e III) usaram vaacuterios sinais idecircnticos para algumas palavras os Grupos

I e II usaram outros e os Grupos II e III usaram palavras idecircnticas em

menor nuacutemero Entretanto os Grupos I e III (dos mais velhos e dos mais

jovens) natildeo usaram nenhuma palavra comum que se distinguisse do

Grupo II Os resultados apontam portanto que na LIBRAS haacute variaccedilatildeo

lexical e fonoloacutegica

Como eacute possiacutevel perceber a partir dos resultados apresentados o

contato entre as pessoas surdas transforma a liacutengua de sinais que jaacute

apresenta indiacutecios de variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica entre diferentes

geraccedilotildees como acontece em qualquer liacutengua natural

Nota-se nas narrativas contadas que os surdos tecircm consciecircncia de

seu papel nas trecircs geraccedilotildees de informantes e reconhecem a influecircncia

exercida pelo contato com outros surdos e com os surdos mais velhos

Certamente o Grupo III seraacute disseminador de conhecimento

aumentando cada vez mais o interesse de outros surdos pela liacutengua de

sinais e com a expansatildeo de seu uso naturalmente outras mudanccedilas vatildeo

acontecer transformando mais uma vez a liacutengua de sinais Aleacutem disso

pode-se identificar nas narrativas de todos os sujeitos a total

consciecircncia das pessoas envolvidas no processo de ampliaccedilatildeo do espaccedilo

de conforto do surdo Eacute mais uma parte da histoacuteria surda que se registra

tendo como personagem principalmente a pesquisa sobre a variaccedilatildeo e a

mudanccedila linguiacutestica na liacutengua de sinais em Santa Catarina

Eacute importante registrar o momento de pouco acesso dos surdos agrave

pesquisa a respeito da liacutengua brasileira de sinais seja no domiacutenio

puacuteblico ou privado Assim julga-se necessaacuterio o desenvolvimento de

mais estudos e de um contato mais intenso de sujeitos surdos com as

reflexotildees e conhecimentos que satildeo produzidos sobre essa liacutengua

refletindo o que dizem os informantes surdos nas trecircs geraccedilotildees da liacutengua

de sinais Sabe-se que em parte isso ocorre porque eacute uma liacutengua

185

oficializada recentemente

Os estudos tecircm apontado atraveacutes de recentes pesquisas que a

liacutengua de sinais eacute a forma mais adequada de comunicaccedilatildeo para a

educaccedilatildeo do surdo tendo em vista que como as outras liacutenguas

humanas a liacutengua de sinais eacute uma liacutengua natural podendo servir de base

para o ensino da liacutengua escrita

Finalmente espero que os resultados desta pesquisa possam

motivar-me e motivar outras pessoas a aprofundar o tema aqui

pesquisado

186

187

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Concluiacutemos que eacute importante pesquisar sobre a histoacuteria na liacutengua

de sinais em Santa Catarina em encontros sociais ou nas associaccedilotildees de

surdo Aleacutem de aprender a liacutengua de sinais os surdos que fazem parte

dessas associaccedilotildees acabam criando uma identidade surda trocam

experiecircncias evoluindo na proacutepria liacutengua criando e valorizando o seu

espaccedilo linguiacutesticocultural

Na liacutengua de sinais aqui no Brasil acontece a mesma coisa que

se observa no portuguecircs quanto agraves regras da liacutengua que satildeo oficiais

para todo o Brasil mas vaacuterios sinais satildeo diferentes para expressar a

mesma coisa Podemos utilizar no sul do Brasil um sinal e outro

sinal totalmente diferente na regiatildeo sudeste com o mesmo

significado

Surdos se encontram em associaccedilotildees ou outros espaccedilos

culturais para poder conversar trocar experiecircncia e aprender sua

liacutengua mas com o ouvinte acontece diferente eles natildeo precisam de

um local para esses encontros isso acontece em seu dia-a-dia todos

se falam O surdo necessita marcar encontros com outros surdos

para que aconteccedila a comunicaccedilatildeo pois poucos ouvintes sabem se

comunicar em LIBRAS Eles vatildeo para a associaccedilatildeo de surdos

aprender LIBRAS e com o passar do tempo podem se tornar

biliacutengues

Haacute falta de pesquisa em variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica das

liacutenguas de sinais e sobre o desenvolvimento e o domiacutenio desta liacutengua

Nada foi registrado nas uacuteltimas deacutecadas e parece que muitos dados sobre

os sujeitos surdos e sua histoacuteria da liacutengua de sinais foram prejudicados e

perdidos

Na UFSC por exemplo temos no curso de LETRASLIBRAS

a distacircncia que eacute pioneiro uma vitoacuteria do surdo acessando a

primeira Universidade Brasileira que estuda a liacutengua de sinais e que

oferece oportunidade de acesso ao estudo e aprofundamento

linguiacutestico da LIBRAS aleacutem das trocas de sinais em diferentes

regiotildees do paiacutes

Temos um grupo de surdos responsaacuteveis por criar sinais novos

de acordo com as necessidades encontradas pelas comunidades

surdas para diminuir a influecircncia da Liacutengua Portuguesa na

LIBRAS e possibilitar outros contatos fora do Brasil trazendo

relatos de experiecircncias de comunidades surdas de outros paiacuteses bem

como apresentaccedilotildees de pesquisas mais avanccediladas nas liacutenguas de

sinais

188

Eacute importante reforccedilar que a LIBRAS eacute uma liacutengua natural pois

possui estrutura gramatical eacute utilizada por um grande grupo social com

funccedilatildeo ativa e provedora de opiniatildeo Este tipo de liacutengua soacute se diferencia

das liacutenguas orais pela forma de se comunicar pois esta utiliza a accedilatildeo

gestual o que difere das demais liacutenguas que utilizam a accedilatildeo oral na

comunicaccedilatildeo

As pessoas falam que na ilha de Santa Catarina o dialeto falado eacute

o manezinho que vem sofrendo modificaccedilotildees com o passar dos anos

devido ao turismo que eacute forte na temporada de veratildeo O professor

Francisco e a comunidade surda na deacutecada de 1950 usavam o sinal de

dactilologia no mesmo sentido da liacutengua nativa mas com dialeto

proacuteprio Depois outros surdos vieram para Santa Catarina e sinalizaram

diferentemente Isso mostra que nas duas liacutenguas ndash LIBRAS e Portuguecircs

ndash haacute variaccedilatildeo dialetal

Observando os trecircs grupos de surdos investigados nesta tese

podemos dizer que o Grupo I mostra o primeiro contato com a liacutengua de

sinais desenvolvida com pouco conhecimento linguiacutestico porque

adquirir a liacutengua de sinais em contexto social na eacutepoca era difiacutecil Mas

este Grupo I foi buscando surdos que participavam de associaccedilotildees que

estudavam na garagem da casa do professor Francisco e na Escola Celso

Ramos onde tinha o grupo de surdos aprendendo a liacutengua de sinais que

se modificava O Grupo III demonstrou mais qualidade na sinalizaccedilatildeo

da liacutengua de sinais e maior fluecircncia mas natildeo conhece alguns dos sinais

(antigos) realizados pelos Grupos I e II O contexto social dos Grupos

nas trecircs geraccedilotildees eacute bem diferente e a liacutengua de sinais do Grupo III (mais

jovens) apresentou menor nuacutemero de sinais que os demais grupos

Acreditamos que antes havia mais sinais porque eram familiares

Os resultados do trabalho mostraram que algumas variaccedilotildees e

mudanccedilas linguiacutesticas (variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na liacutengua de sinais e

variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua de sinais) aconteceram nos trecircs

grupos quando um mesmo sinal eacute produzido pelos diferentes grupos de

maneira diferente Alguns sinais que antigamente eram produzidos no

corpo agora acontecem no espaccedilo neutro na liacutengua de sinais Os grupos

mostraram sinais que antes eram produzidos com uma matildeo e agora satildeo

produzidos com ambas as matildeos ao mesmo tempo O Grupo I utilizava

sinalizaccedilatildeo manual sinais familiares (caseiros) ou aqueles aprendidos e

trazidos pelo professor Francisco do INES o que talvez explique o fato

de que este grupo tinha um nuacutemero maior de sinais para uma mesma

palavra

Concluiacutemos que os trecircs grupos de nove informantes nas

diferentes geraccedilotildees apresentaram sinais compartilhados e outros que se

189

transformaram com o tempo na liacutengua de sinais Cada grupo pertence a

um contexto social diferente A liacutengua de sinais transforma e desenvolve

o conhecimento caseiro bem como a troca de informaccedilotildees a

participaccedilatildeo na associaccedilatildeo de surdos e na busca de mais contato com

outros surdos Na escola o surdo conseguia aprender mais quando o

professor surdo (Francisco) ensinava na liacutengua de sinais e tambeacutem

quando proporcionava aos seus alunos um contato social que antes natildeo

existia

190

191

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ANEXOS

Anaacutelise Comparativa dos Dados Variaccedilatildeo e Mudanccedila Linguiacutestica

Sinais

(Leacutexico)

Forma do

Sinal

(Configuraccedilatildeo

de Matildeos)

Identificaccedilatildeo

de Classe

Faixa

Etaacuteria

(Grupo)

Geraccedilatildeo

Ajudar1

CM ndash 63

Informante

H D E F A

C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Ajudar2

CM ndash 02 63

Informante

D E B

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Ajudar3

CM ndash 01 63

Informante

H I F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Ajudar4

CM ndash 14 63

Informante

I E F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Aluno1

CM ndash 01

Informante

G I A B C

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Aluno2

CM ndash 63

Informante

G H I D B

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Amanhatilde1 CM ndash 14 Informante 60 a 80 I

200

H Anos

Amanhatilde2 CM ndash 63 Informante

E

30 a 60

Anos

II

Amanhatilde3

CM ndash 35a

Informante

I A B

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Antes1 CM ndash 53a Informante

I

60 a 80

Anos

I

Antes2 CM ndash 63 Informante

I

60 a 80

Anos

I

Antes3

CM ndash 08a 63

Informante

G E F B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Aposentar1

CM ndash 02 57

Informante

G I F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Aposentar2

CM ndash 01 11

Informante

G I F C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Aposentar3 CM ndash 07 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Associaccedilatildeo1

CM ndash 01

(2 matildeos)

Informante

G I F D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Associaccedilatildeo2

CM ndash 01

(1 matildeo)

Informante

I D E F A

B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

60 a 80

201

Aula1 CM ndash 63 Informante

G H I E D

A C

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Aviatildeo1 CM ndash 53a Informante

G

60 a 80

Anos

I

Aviatildeo2 CM ndash 36 37a Informante

E F

30 a 60

Anos

II

Aviatildeo3

CM ndash 40

Informante

D E F A B

C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Avocirc1 CM ndash 30 31 Informante

G I

60 a 80

Anos

I

Avocirc2 CM ndash 02 57 Informante

H I

60 a 80

Anos

I

Avocirc3

CM ndash 02

Informante

H I D E F

A

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Azul1 CM ndash 01 Informante

G I

60 a 80

Anos

I

A-z-u-l2 CM ndash 01 08a

14 24

Informante

G I

60 a 80

Anos

I

Azul3

CM ndash 01 08a

Informante

D E F A B

C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Bairro CM ndash 14 63 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Banco1

CM ndash 61

Informante

G H I F

60 a 80 Anos

30 a 60

Anos

I II

Banco2

CM ndash 53a

Informante

60 a 80

Anos

I II III

202

G I F C 30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

Batata1 CM ndash 62 Informante

H

60 a 80

Anos

I

Batata2 CM ndash 63 Informante

H

60 a 80

Anos

I

Branco1

CM ndash 63

Informante

H I B

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Branco2 CM ndash 35a Informante

G

60 a 80

Anos

I

Cafeacute

CM ndash 49

Informante

G F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Calma1

CM ndash 63

(2 matildeos)

Informante

G H I D E

F C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Calma2

CM ndash 63

(1 matildeo)

Informante

H I E B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Cama1 CM ndash 37a Informante

G

60 a 80

Anos

I

Cama2 CM ndash 63 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Cavalo1 CM ndash 02 Informante

H

60 a 80

Anos

I

Cavalo2 CM ndash 27 Informante

H I

60 a 80

Anos

I

Chorar1 CM ndash 14 Informante

D

30 a 60

Anos

II

203

Chorar2 CM ndash 18a Informante

H I

60 a 80

Anos

I

Crianccedila1

CM ndash 63

(pequeno)

Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Crianccedila2 CM ndash 64 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Crianccedila3

CM ndash 14 63

Informante

D E A C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Crianccedila4 CM ndash 57 63 Informante

E

30 a 60

Anos

II

Cobra1 CM ndash 14 Informante

H

60 a 80

Anos

I

Cobra2

CM ndash 31

Informante

E F A B

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Conversar1

CM ndash 14

Informante

G H F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Conversar2 CM ndash 63

(2 matildeos)

Informante

G H I D E

F A

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Conversar3 CM ndash 28 Informante

D

30 a 60

Anos

II

Conversar4 CM ndash 44 Informante

D E F

30 a 60

Anos

II

Conversar5 CM ndash 21 Informante

H

60 a 80

Anos

I

Cortar1 CM ndash 14 Informante

H

60 a 80

Anos

I

204

Cortar2 CM ndash 63 Informante

H

60 a 80

Anos

I

Cortar3

CM ndash 14 24

Informante

E B

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Cultura CM - 31 Informante

A B C

15 a 30

Anos

III

Dormir1

CM ndash 63

(1 matildeos e 2

matildeos)

Informante

G H I F C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Dormir2 CM ndash 02 47 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Dormir3

CM ndash 21 24

32

Informante

G D F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Depois1 CM ndash 53a

(2 matildeos)

Informante

H I A B C

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Depois2

CM ndash 14

Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Depois3

CM ndash 53a

(1 matildeo)

Informante

G D E F A

B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Educaccedilatildeo1 CM ndash 46a Informante

H

60 a 80

Anos

I

Educaccedilatildeo2 CM ndash 45 57 Informante

G

60 a 80

Anos

I

205

Escola1

CM ndash 63

Informante

G H I D E

F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Escola2

CM ndash 63

(duas matildeos)

Informante

D E A B C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Estudar

CM ndash 63

Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Emagrecer1 CM ndash 39 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Emagrecer2 CM ndash 47 ou 57 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Engordar1 CM ndash 02 Informante

G H

60 a 80

Anos

I

Engordar2 CM ndash 47 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Engravidar1 CM ndash 14 Informante

E

30 a 60

Anos

II

Engravidar2 CM ndash 53a Informante

H

60 a 80

Anos

I

Faacutecil1 CM ndash 63 Informante

E

30 a 60

Anos

II

Faacutecil2 CM ndash 48 Informante

I

60 a 80

Anos

I

Faacutecil3 CM ndash 35a Informante

C

15 a 30

Anos

III

Faculdade1

CM ndash 54

Informante

F A C

30 a 60

Anos

15 a 30 Anos

II III

Faculdade2 CM ndash 21 Informante

I

60 a 80

Anos

I

Faculdade3 CM ndash 55 Informante

A B

15 a 30

Anos

III

206

Falar1

CM ndash 14

Informante

G H D E F

C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Falar2

CM ndash 49

Informante

H D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Falar3

CM ndash 11

(E 1 matildeo e 2

matildeos)

Informante

G H I D E

A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Falar4 CM ndash 21 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Falar5 CM ndash 44 Informante

E

30 a 60

Anos

II

Feio1

CM ndash 08a

Informante

F B

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Feio2

CM ndash 08a

Informante

D E A

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Feio3 CM ndash 07 64 Informante

G H I

60 a 80

Anos

I

Flor1 CM ndash 57 Informante

D

30 a 60

Anos

II

Flor2 CM ndash 54 Informante

I

60 a 80

Anos

I

Forte1 CM ndash 14 Informante

F

30 a 60

Anos

II

Forte2

CM ndash 02

(2 matildeos)

Informante

G H I D C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II III

207

15 a 30

Anos

Forte3 CM ndash 32

(1 matildeo)

Informante

I

60 a 80

Anos

I

Gato1

CM ndash 08b 20

Informante

G H C

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Gato2 CM ndash 59a Informante

I

60 a 80

Anos

I

Gato3 CM ndash 20 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Gostar1 CM ndash 44 Informante

E

30 a 60

Anos

II

Gostar2 CM ndash 63 Informante

E F

30 a 60

Anos

II

Homem1

CM ndash 50

Informante

G H I D F

A B

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Homem2

CM ndash 21

Informante

H I D F C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Hospital1

CM ndash 14

(1 matildeo e 2

matildeos) cruz

Informante

H I C

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Hospiatl2

CM ndash 16

Informante

D E F B C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Igreja1 CM ndash 14

(cruz)

Informante

F

30 a 60

Anos

II

Igreja2

CM ndash 14 15

Informante

60 a 80

Anos

I II III

208

H I D E F

A B C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

Igual1

CM ndash 14

Informante

G H I D E

F B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Igual2

CM ndash 14 ( )

Informante

H B

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Igual3

CM ndash 14

(mesmo)

Informante

F C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Igual4 CM ndash 24

(1 matildeo)

Informante

G I A B C

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Igual5

CM ndash 24

(2 matildeos)

Informante

I D E F A

B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Igual6 CM ndash 53a Informante

A

15 a 30

Anos

III

Igual7

CM ndash 61

Informante

I A C

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Irmatildeo1

CM ndash 14

Informante G H D F

60 a 80

Anos 30 a 60

Anos

I II

Irmatildeo2 CM ndash 24 Informante

D E F

30 a 60

Anos

II

209

Lembrar1

CM ndash 14

Informante

G H D E A

B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Lembrar2

CM ndash 32

Informante

D E F A B

C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Limpar1 CM ndash 02 Informante

H D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Limpar2

CM ndash 64

Informante

H E

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Limpar3

CM ndash 08a

Informante

H D E F A

B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Livro1 CM ndash 63

(duas matildeos)

Informante

G

60 a 80

Anos

I

Livro2

CM ndash 63 08a

Informante

H D E F A

B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Lutar1

CM ndash 08a

Informante

I A B

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Lutar2 CM ndash 02 63 Informante

I D E A B

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II III

210

15 a 30

Anos

Matildee1

CM ndash 63

Informante

H E F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Matildee2 CM ndash 02 07 Informante

A B C

15 a 30

Anos

III

Matildee3

CM ndash 14

Informante I

D B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Matildee4 CM ndash 63

(m)

Informante

G

60 a 80

Anos

I

Matildee5

CM ndash 02

Informante

I D F A

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

M-atilde-e6 CM ndash 01 06

60

Informante

F

30 a 60

Anos

II

Matildee7 CM ndash 02 Informante

F

30 a 60

Anos

II

Mais1

CM ndash 63

Informante

G I E A B

C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Mais2

CM ndash 63

(2 matildeos)

Informante

I D E A

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos 15 a 30

Anos

I II III

Mais3 CM ndash 08a Informante

G I E F

60 a 80

Anos

I II

211

30 a 60

Anos

Mais4

CM ndash 14

Informante

I E C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Matemaacutetica1

CM ndash 02

Informante

G H I D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Matemaacutetica2

CM ndash 58

Informante

G H I F C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Meacutedico1

CM ndash 44

Informante

G F B

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Meacutedico2

CM ndash 16

Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Medo1

CM ndash 34 64

Informante

H D F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

III

Medo2 CM ndash 02 Informante

E F

30 a 60

Anos

II

Medo3 CM ndash 33 Informante

F

30 a 60

Anos

II

Melhor1

CM ndash 45

Informante

G H I E

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

212

Melhor2

CM ndash 07

Informante

H I E A B

C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Melhor3

CM ndash 63

Informante

H A C

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Morrer1 CM ndash 63 63

(2 matildeos)

Informante

H

60 a 80

Anos

I

Morrer2

CM ndash 63

Informante

H I D E F

C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Mudar1

CM ndash 07

Informante

G H E A B

C

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

30 a 60

Anos

I II III

Mudar2 CM ndash 44

(1 matildeo e 2

matildeos)

Informante

H I E F B

C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Mulher1 CM ndash 07

(menina) (oral)

Informante

H

60 a 80

Anos

I

Mulher2

CM ndash 07 63

Informante

H D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Mulher3

CM ndash 07

Informante

G I D E F

B

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II III

213

15 a 30

Anos

Noite1

CM ndash 57 44

Informante

G D F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Noite2

CM ndash 53

Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Nome1

CM ndash 21

Informante

G H I A

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Nome2

CM ndash 24

Informante

G H I D E

F A C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Noacutes1

CM ndash 14

Informante

G D E F C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Noacutes2

CM ndash 14

Informante

E A

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

N-u-n1

CM ndash 24

Informante

I D E

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

N-u-n-c-a2

CM ndash 01 24

51a

Informante

I D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

214

Nunca3

CM ndash 14

(2 matildeos)

Informante

I D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Objetivo1 CM ndash 42 58 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Objetivo2 CM ndash 14 Informante

B

15 a 30

Anos

III

Ocircnibus1 CM ndash 07 Informante

F

30 a 60

Anos

II

Ocircnibus2 CM ndash 31 Informante

I B

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Ovo1 CM ndash 44 57 Informante

I

60 a 80

Anos

I

O-v-o2 CM ndash 42 32 Informante

G H

60 a 80

Anos

I

Padre1 CM ndash 11 Informante

G

30 a 60

Anos

II

Padre2

CM ndash 21

Informante

G H D F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Padre3

CM ndash 24

Informante

I F C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

P-a-i1

CM ndash 01 11

38

Informante

G H I D E

F A

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Pai2

CM ndash 11 (p)

Informante

G H F C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II III

215

15 a 30

Anos

Pai3 CM ndash 14 Informante

G H I

60 a 80

Anos

I

Pai4

CM ndash 16

Informante

I F B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Pai5

CM ndash 02 45

Informante

E A B C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Patildeo1 CM ndash 02 47

57

Informante

H

60 a 80

Anos

I

Patildeo2 CM ndash 63 Informante

H

60 a 80

Anos

I

Patildeo3

CM ndash 01

Informante

I F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Peixe1 CM ndash 16 Informante

G I

60 a 80

Anos

I

Peixe2

CM ndash 63

Informante

I F A

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Pessoa1

CM ndash 11

Informante

G I C

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Pessoa2

CM ndash 35a

Informante

I D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Pessoa3

CM ndash 18a

Informante

F A C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

216

Pode-Natildeo1 CM ndash 14

(2 matildeos)

Informante

D E

30 a 60

Anos

II

Pode-Natildeo2 CM ndash 14

(1 matildeo)

Informante

F

30 a 60

Anos

II

Poliacutetica1 CM ndash 11 51a Informante

G I

60 a 80

Anos

I

Poliacutetica2

CM ndash 11

Informante

I E B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Poliacutetica3 CM ndash 14 Informante

D E

30 a 60

Anos

II

Porque1

CM ndash 15

Informante

G H I D F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Porque2 CM ndash 14 Informante

G H I E F

A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Povo1 CM ndash 02 64 Informante

G I

60 a 80

Anos

I

Povo2 CM ndash 11 Informante

I

60 a 80

Anos

I

P-o-v-o3 CM ndash 11 32

42

Informante

I

60 a 80

Anos

I

Preto1

CM ndash 05

Informante

G H I F B

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Preto2 CM ndash 34 62 Informante

G H I

60 a 80

Anos

I

Primeiro1

CM ndash 07 14

Informante

60 a 80

Anos

I II III

217

G I E F C 30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

Primeiro2

CM ndash 14

Informante

H F C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Primeiro3 CM ndash 14

(duas matildeos)

Informante

D

30 a 60

Anos

II

Primeiro4

CM ndash 07

Informante

F E C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Profissional

1

CM ndash 11 Informante

I

60 a 80

Anos

I

Profissional

2

CM ndash 63 Informante

C

15 a 30

Anos

III

Prova1 CM ndash 63 Informante

E

30 a 60

Anos

II

Prova2

CM ndash 53a

(duas matildeos)

Informante

E F A B C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Respeitar1 CM ndash 53a Informante

D E

30 a 60

Anos

II

Respeitar2 CM ndash 25 Informante

E F

30 a 60

Anos

II

Responsaacutevel

1

CM ndash 25

Informante

I D E B

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Responsaacutevel

2

CM ndash 25

(duas matildeos)

Informante

I D E F A

B

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II III

218

15 a 30

Anos

Responsaacutevel

3

CM ndash 63

(duas matildeos)

Informante

G I

60 a 80

Anos

I

Reuniatildeo1 CM ndash 15 Informante

D

30 a 60

Anos

II

Reuniatildeo2

CM ndash 25

Informante

D E A

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Reuniatildeo3 CM ndash 14 Informante

G H D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Saber1

CM ndash 63

Informante

D B C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Saber2

CM ndash 14

Informante

G H I D E

F A C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Saber3

CM ndash 44 53a

Informante

G H I F A

B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Saber4

CM ndash 11

Informante

E F C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Semana1 CM ndash 10 Informante

D E

30 a 60

Anos

II

Semana2 CM ndash 10 Informante

B

15 a 30

Anos

III

Semana3 CM ndash 08a 64 Informante

I

60 a 80

Anos

I

219

Sim1

CM ndash 02

Informante

H D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

S-i-m2 CM ndash 02 38

60

Informante

H I

60 a 80

Anos

I

Sim3 CM ndash 59a 63 Informante

G H

60 a 80

Anos

I

Surdo1

CM ndash 14

Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Surdo2

CM ndash 25

Informante

G I D E B

C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Tambeacutem1

CM ndash 61

Informante

G H I D E

A

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Tambeacutem2

CM ndash 14

Informante

G H I D E

F B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Tarde1 CM ndash 63 Informante

G H I

60 a 80

Anos

I

Tarde2 CM ndash 44 47

63

Informante

H

60 a 80

Anos

I

Tarde3 CM ndash 63 Informante

G H

60 a 80

Anos

I

Teatro1 CM ndash 57 Informante

I

60 a 80

Anos

I

220

Teatro2 CM ndash 49 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Tempo1

CM ndash 14

Informante

H I D E A

B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Tempo2

CM ndash 57

Informante

H I D E

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Tempo3

CM ndash 63

Informante

G I D E C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Tempo4

CM ndash 45

Informante

G D E F A

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Ter1

CM ndash 63 64

Informante

G H I D F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Ter2

CM ndash 08a

Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Tio1

CM ndash 56

Informante

H F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Tio2

CM ndash 51b

Informante

30 a 60

Anos

II III

221

D E F A B

C

15 a 30

Anos

Trabalhar1

CM ndash 08a

Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Trabalhar2

CM ndash 14

Informante

H I F A

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Trabalhar3 CM ndash 24 Informante

I

60 a 80

Anos

I

Tudo CM ndash 63

(duas matildeos)

Informante

F

30 a 60

Anos

II

Vagabundo1 CM ndash 63 Informante

E

30 a 60

Anos

II

Vagabundo2 CM ndash 64 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Ver1 CM ndash 14 Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Ver2

CM ndash 32

Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Ver3

CM ndash 64

Informante D E B C

30 a 60

Anos 15 a 30

Anos

II III

Vergonha1

CM ndash 64

Informante

60 a 80

Anos

I II

222

I E 30 a 60

Anos

Vergonha2 CM ndash 11 Informante

E

30 a 60

Anos

II

Vermelho1 CM ndash 32 Informante

G H I

60 a 80

Anos

I

Vermelho2 CM ndash 14 Informante

G H I

60 a 80

Anos

I

Viajar1 CM ndash 63 Informante

D E F

30 a 60

Anos

II

Viajar2 CM ndash 45 Informante

F

30 a 60

Anos

II

WC CM ndash 48 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Palavras no total 255 sinais lexicais

Palavra Ajudar 4 Sinais Palavra Mais 4 Sinais

Palavra Aluno 2 Sinais Palavra Matemaacutetica 2 Sinais

Palavra Amanhatilde 3 Sinais Palavra Meacutedico 2 Sinais

Palavra Antes 3 Sinais Palavra Medo 3 Sinais

palavra Aposentar 3 Sinais Palavra Melhor 3 Sinais

Palavra Associaccedilatildeo 2 Sinais Palavra Morrer 2 Sinais

Palavra Aula 1 Sinal Palavra Mudar 2 Sinais

Palavra Aviatildeo 3 Sinais Palavra Mulher 3 Sinais

Palavra Avocirc 3 Sinais Palavra Noite 2 Sinais

Palavra Azul 3 Sinais Palavra Nome 2 Sinais

Palavra Bairro 1 Sinal Palavra Noacutes 2 Sinais

Palavra Banco 2 Sinais Palavra Nunca 3 Sinais

Palavra Batata 2 Sinais Palavra Objetivo 2 Sinais

Palavra Branco 2 Sinais Palavra Ocircnibus 2 Sinais

Palavra Cafeacute 1 Sinal Palavra Ovo 2 Sinais

Palavra Calma 2 Sinais Palavra Padre 3 Sinais

Palavra Cama 2 Sinais Palavra Pai 5 Sinais

Palavra Cavalo 2 Sinais Palavra Patildeo 3 Sinais

Palavra Chorar 2 Sinais Palavra Peixe 2 Sinais

Palavra Crianccedila 4 Sinais Palavra Pessoa 3 Sinais

Palavra Cobra 2 Sinais Palavra Pode-natildeo 2 Sinais

Palavra Conversar 5 Sinais Palavra Poliacutetica 3 Sinais

Palavra Cortar 3 Sinais Palavra Porque 2 Sinais

223

Palavra Cultura 1 Sinal Palavra Povo 3 Sinais

Palavra Dormir 3 Sinais Palavra Preto 2 Sinais

Palavra Depois 3 Sinais Palavra Primeiro 4 Sinais

Palavra Educaccedilatildeo 2 Sinais Palavra Profissional 2 Sinais

Palavra Escola 2 Sinais Palavra Prova 2 Sinais

Palavra Estudar 1 Sinal Palavra Respeitar 2 Sinais

Palavra Emagrecer 2 Sinais Palavra Responsaacutevel 3 Sinais

Palavra Engordar 2 Sinais Palavra Reuniatildeo 3 Sinais

Palavra Engravidar 2 Sinais Palavra Saber 4 Sinais

Palavra Faacutecil 3 Sinais Palavra Semana 3 Sinais

Palavra Faculdade 3 Sinais Palavra Sim 3 Sinais

Palavra Falar 5 Sinais Palavra Surdo 2 Sinais

Palavra Feio 3 Sinais Palavra Tambeacutem 2 Sinais

Palavra Flor 2 Sinais Palavra Tarde 3 Sinais

Palavra Forte 3 Sinais Palavra Teatro 2 Sinais

Palavra Gato 3 Sinais Palavra Tempo 4 Sinais

Palavra Gostar 2 Sinais Palavra Ter 2 Sinais

Palavra Homem 2 Sinais Palavra Tio 2 Sinais

Palavra Hospital 2 Sinais Palavra Trabalhar 3 Sinais

Palavra Igreja 2 Sinais Palavra Tudo 1 Sinal

Palavra Igual 7 Sinais Palavra Vagabundo 2 Sinais

Palavra Irmatildeo 2 Sinais Palavra Ver 3 Sinais

Palavra Lembrar 2 Sinais Palavra Vergonha 2 Sinais

Palavra Limpar 3 Sinais Palavra Vermelho 2 Sinais

Palavra Livro 2 Sinais Palavra Viajar 2 Sinais

Palavra Lutar 2 Sinais Palavra WC 1 Sinal

Palavra Matildee 7 Sinais

224

225

AS CONFIGURACcedilOtildeES DE MAtildeOS

Cm 01

Cm 02

Cm 03

Cm 04

Cm 05

Cm 06

Cm 07

Cm 08a

Cm 08b

Cm 09

Cm 10

Cm 11

Cm 12

Cm 13

Cm 14

Cm 15

Cm 16

Cm 17

Cm 18a

Cm 18b

Cm 19

Cm 20

Cm 21

Cm 22a

Cm 22b

Cm 23

Cm 24

Cm 25

Cm 26

Cm 27

226

Cm 28

Cm 29a

Cm 29b

Cm 30

Cm 31

Cm 32

Cm 33

Cm 34

Cm 35a

Cm 35b

Cm 36

Cm 37a

Cm 37b

Cm 38

Cm 39

Cm 40

Cm 41

Cm 42

Cm 43

Cm 44

Cm 45

Cm 46a

Cm 46b

Cm 47

Cm 48

Cm 49

Cm 50

Cm 51a

Cm 51b

Cm 52

Cm 53a

Cm 53b

Cm 54

Cm 55

Cm 56

227

Cm 57

Cm 58

Cm 59a

Cm 60

Cm 61

Cm 62

Cm 63

Cm 64

228

Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA · 2016. 3. 5. · período já referido. A partir da teoria laboviana, analisam-se certos padrões sociolinguísticos verificados nesta pesquisa

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais por terem me acompanhado e me dado forccedila para

essa caminhada

A minha amada esposa por ter paciecircncia comigo durante todos

esses anos

Aos meus filhos Eduardo Espiacutendola Schmitt e Mocircnica Espiacutendola

Schmitt que sofreu juntamente com minha esposa cuidando dele nas

cansativas muito correria de trabalho por motivo de paciecircncia comigo

durante do estudo e trabalho

Ao Sr Francisco Lima Juacutenior guerreiro no movimento de surdos

pela primeira escola e associaccedilatildeo que marca o registro histoacuterico na

liacutengua de sinais sofreram a mudanccedila o tempo em Santa Catarina

A Associaccedilatildeo de Surdos da Grande Florianoacutepolis Sociedade de

Surdos de Satildeo Joseacute Universidade Federal de Santa Catarina

Universidade do Estado de Santa Catarina Grupo de Estudos Surdos e

Comunidade Surda pelo seu apoio

Agrave professora Dra Izete Lehmkul Coelho (UFSC) pela sua

orientaccedilatildeo de pesquisa na aacuterea em sociolinguiacutestica e me dava a

disciplina no estudo referecircncia teoacuterico

Ao meu co-orientador Dr Tarciacutesio de Arantes Leite pela sua

orientaccedilatildeo muito detalhe no estudo as liacutenguas de sinais

Aos colegas de LetrasLIBRAS pelo incentivo e forccedila de vontade

no compartilhamento das experiecircncias no estudo linguiacutestico dos surdos

A Dra Ronice Muller de Quadros abriu a oportunidade de espaccedilo

acadecircmico na liacutengua de sinais na Universidade Federal de Santa

Catarina ndash UFSC

A Prof Dra Edair Maria Goumlrski convidado especial na disciplina

sociolinguiacutestica na banca de examinadora e antes tambeacutem esteve na

minha qualificaccedilatildeo em 2012

Aos colegas surdos na faixa etaacuteria que compartilharam comigo

durante as entrevistas de gravaccedilotildees sobre a histoacuteria de surdos em Santa

Catarina

A CAPES e REUNI pelo fornecimento de bolsa no programa de

poacutes-graduaccedilatildeo - PGL oferecendo-me a oportunidade de desenvolver

meu estudo e pesquisa

Convidado especial nas bancas de examinadoras Fabiacuteola Sucupira

Ferreira Sell Karin Liacutelian Strobel e Lodenir Becker Karnopp membro e

suplente Aline Lemos Pizzio e Suelli Costa

Aacutes colegas Edgar Correa Veras Nataacutelia Schleder Rigo e Tiago

Coimbra Nogueira que me interpretaram na banca de qualificaccedilatildeo em

2012 Daniela Bieleski Diego Mauricio Barbosa e Gisele Iandra Pessini

Anater que me interpretaram na banca avaliaccedilatildeo de defesa

A Maria Eloiza de Macedo por nos ajudar com discussotildees na

revisatildeo e pela paciecircncia e comprometimento e

Apoio a ediccedilatildeo de filmagem satildeo Marcos Luchi Joatildeo Paulo

Ampessan e Marcos Alexandre Marquioto

RESUMO

Esta pesquisa visa identificar possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas

linguiacutesticas ocorridas na Liacutengua Brasileira de Sinais (LIBRAS) no periacuteodo

histoacuterico de 1946 a 2010 analisando narrativas filmadas de trecircs geraccedilotildees de

sujeitos surdos usuaacuterios dessa liacutengua O Grupo I eacute formado por indiviacuteduos

com mais de 60 anos o Grupo II por indiviacuteduos de 30 a 60 anos o Grupo

III eacute formado por indiviacuteduos de 15 a 30 anos Na primeira parte do trabalho

apresentamos uma revisatildeo de base teoacuterico-metodoloacutegica fundamentada nos

estudos de Labov (2008 [1972]) sobre mudanccedilas linguiacutesticas no contexto

social observadas em tempo aparente na ilha de Martha‟s Vineyard e em

Nova York A concepccedilatildeo da variaccedilatildeo sociolinguiacutestica pode nos ajudar nesta

investigaccedilatildeo que versa sobre a histoacuteria da LIBRAS em Santa Catarina no

periacuteodo jaacute referido A partir da teoria laboviana analisam-se certos padrotildees

sociolinguiacutesticos verificados nesta pesquisa Considera-se o fato de apenas

uma pessoa ter influenciado toda uma comunidade de surdos em Santa

Catarina o professor Francisco Lima Juacutenior que veio do Rio de Janeiro

para Florianoacutepolis em 1946 Baseando-nos nesta data escolhemos o periacuteodo

acima citado para traccedilar um percurso de possiacuteveis transformaccedilotildees

linguiacutesticas de natureza interna e externa ocorridas na LIBRAS em Santa

Catarina Os resultados desta pesquisa apontam que haacute variaccedilatildeo e mudanccedila

em tempo aparente na LIBRAS relacionando o contexto linguiacutestico atual

dos jovens (Grupo III) a transformaccedilotildees histoacutericas e sociais observadas na

comunidade surda em Santa Catarina

Palavras-chave Histoacuteria da LIBRAS sociolinguiacutestica soacutecio-histoacuterico

variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas

ABSTRACT

This research aims to identify eventual linguistic variations and

changes in Brazilian Sign Language (LIBRAS) in the period from 1946 to

2010 through the analysis of the filmed narratives of three generations of

deaf people users of that language Group I is formed by individuals over

60 years-old Group II by individuals between 30 and 60 years-old and

Group III individuals between 15 and 30 years-old In the first part of this

research we present a theoretical-methodological review based on the

studies of Labov (2008 [1972]) about the social context of changes

observed in apparent time in Martha‟s Vineyard and in New York City We

believe the theory of language variation and change can help us in this

research which deals with the history of LIBRAS in Santa Catarina in the

period mentioned above Based on Labov‟s theory we analize certain

sociolinguistic patterns that were verified in this research We consider the

fact that only one person had influence on a whole deaf community in its

linguistic development teacher Francisco Lima Juacutenior who came from Rio

de Janeiro to Florianoacutepolis in 1946 Considering this date we chose the

period from 1946 to 2010 to trace back the path of eventual linguistic

transformations both internal and external in LIBRAS in Santa Catarina

We expect that in the outcome of this research there is variation and change

in apparent time of LIBRAS relating the present context linguistic to youth

(Group III) to the historical and social transformations observed the deaf

community in Santa Catarina

Keywords History of LIBRAS sociolinguistics sociohistory language

variation and change

RESUMEN

El objetivo de esta investigacioacuten es identificar posibles variaciones y

cambios linguiacutesticos ocurridos en la Lengua Brasilentildea de Sentildeales

(LIBRAS) en el periodo comprendido entre 1946 y 2010 analizando

narrativas grabadas de tres generaciones de individuos sordos usuarios de

esa lengua El Grupo I esta formado por individuos con maacutes de 60 antildeos el

Grupo II por individuos de 30 a 60 antildeos el Grupo III es formado por

individuos de 15 a 30 antildeos Se presenta en la primera etapa de la

investigacioacuten un repaso teoacuterico-metodoloacutegico fundamentado en los estudios

de Labov (2008 [1972]) acerca de cambios linguiacutesticos en el contexto

social observados en tiempo aparente en la Isla de Martha‟s Vineyard y en

Nueva York La concepcioacuten de la variacioacuten sociolinguiacutestica nos puede

ayudar en este estudio el cual trata de la historia de la LIBRAS en Santa

Catarina en el periodo mencionado A partir de la teoriacutea laboviana se

analizan ciertos patrones sociolinguiacutesticos verificados en esta investigacioacuten

Se considera el hecho de solo una persona haber influenciado toda la

comunidad de sordos en Santa Catarina el profesor Francisco Lima Juacutenior

que partioacute del Rio de Janeiro para Florianoacutepolis en el antildeo de 1946 Con base

en esta fecha elegimos el periodo antes mencionado para disentildear una

trayectoria de las posibles transformaciones linguiacutesticas de caraacutecter interno

y externo ocurridas en la lengua de sentildeales en Santa Catarina Se espera que

los resultados de esta investigacioacuten indiquen que existe una variacion y

cambio en el tiempo aparente en LIBRAS relacionando el contexto

linguiacutesticas actual a joacutevenes (Grupo III) las transformaciones historicas y

sociales observados la comunidad sorda de Santa Catarina

Palabras-clave Historia de la LIBRAS sociolinguiacutestica sociohistorio

variacioacuten y cambio linguiacutesticos

LISTA DE ABREVIATURAS

ACT ndash Admissatildeo em Caraacuteter Temporaacuterio

ASL ndash Liacutengua de Sinais Americana

ASURJ ndash Associaccedilatildeo dos Surdos de Rio de Janeiro

BESC ndash Banco do Estado de Santa Catarina

BSL ndash Liacutengua de Sinais Britacircnica

CAPES ndash Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel

Superior

CELESC ndash Centrais Eleacutetricas de Santa Catarina SA

CSMSC ndash Ciacuterculo de Surdos-Mudos de Santa Catarina

FCEE ndash Fundaccedilatildeo Catarinense de Educaccedilatildeo Especial

FENEIS ndash Federaccedilatildeo Nacional de Educaccedilatildeo e Integraccedilatildeo dos Surdos

FUTSAL ndash Futebol de Salatildeo

IATEL ndash Instituto de Audiccedilatildeo e Terapia da Linguagem

INES ndash Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos

INSM ndash Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos-Mudos

IPS ndash Instituto Paulista de Surdos

LIBRAS ndash Liacutengua Brasileira de Sinais

LSB ndash Liacutengua de Sinais Brasileiras

LSF ndash Liacutengua de Sinais Francesa

MEC ndash Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

NEESPI ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo Especial e Inclusiva

PGL ndash Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica

REUNI ndash Programa de Apoio a Planos de Reestruturaccedilatildeo e Expansatildeo

das Universidades Federais Brasileiras

UFSC ndash Universidade Federal de Santa Catarina

UNIVALI ndash Universidade do Vale do Itajaiacute

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 ndash Sinal de Matildee35

Figura 02 ndash Sinal de Matildee37

Figura 03 ndash Retirado do livro de GROCE Nora Ellen Everyone Here

Spoke Sign Language Hereditary Deafness on Martha‟s Vineyard

Printed in the United States of America 195244

Figura 04 ndash Retirado do livro de LABOV Willian Padrotildees

Sociolinguiacutesticos45

Figura 05 ndash Retirado no site

httpcawikipediaorgwikiMartha27s_Vineyard45

Figura 06 ndash O trapezoacuteide das vogais a flecha indica a direccedilatildeo de

movimento do primeiro elemento de (aw)62

Figura 07 ndash Sinal de Porco67

Figura 08 ndash Abade L‟Epeacutee ensinando os surdos na liacutengua de sinais

francesa72

Figura 09 ndash Acervo na Revista da FENEIS81

Figura 10 ndash Acervo de Ana Regina e Souza Campello ndash UFSC83

Figura 11 ndash Acervo da Heloise Gripp Diniz ndash UFSC 0184

Figura 12 ndash Acervo da Heloise Gripp Diniz ndash UFSC 0284

Figura 13 ndash Acervo do Francisco - eacute o primeiro dicionaacuterio na liacutengua de

sinais em Santa Catarina em 194793

Figura 14 ndash Acervo do Profdeg Francisco - fotografia de Jornal que traz

reportagem sobre o livro ldquoLinguagem das Matildeosrdquo96

Figura 15 ndash Mostrar os Sinais106

Figura 16 ndash Variaccedilatildeo Fonoloacutegica108

Figura 17 ndash Mostrar os sinais com uma matildeo e com duas matildeos108

Figura 18 ndash Sinal de Paacutessaro110

Figura 19 e 20 ndash Ferreira-Brito e Langevin112

Figura 21 ndash httpwwwinesgovbrlibrasprincipalaspASSU_id=3112

Figura 22 ndash Quadro de CMs da LSB por Pimenta e Quadros112

Figura 23 ndash Sinal - ldquoCultura em SCrdquo115

Figura 24 ndash Sinal - ldquoCultura em SPrdquo115

Figura 25 ndash Sinal - ldquoCultura em RJrdquo115

Figura 26 ndash Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo ndash Depto Educaccedilatildeo

Especial ndash CuritibaPR SEEDSUEDDEE117

Figura 27 ndash Sinal de Ajudar118

Figura 28 ndash Sinal de Faltar119

Figura 29 ndash Sinal de Ocircnibus119

Figura 30 ndash Sinal de Sonhar119

Figura 31 CM ndash 01 11154

Figura 32 CM ndash 02 57154

Figura 33 CM ndash 07155

Figura 34 CM ndash 01 11154

Figura 35 CM ndash 02 57154

Figura 36 CM ndash 01 11154

Figura 37 CM ndash 53a156

Figura 38 CM ndash 36156

Figura 39 CM ndash 37a156

Figura 40 CM ndash 40156

Figura 41 CM ndash 40156

Figura 42 CM ndash 02157

Figura 43 CM ndash 14158

Figura 44 CM ndash 63158

Figura 45 CM ndash 02157

Figura 46 CM ndash 14158

Figura 47 CM ndash 63158

Figura 48 CM ndash 02 07157

Figura 49 CM ndash 14158

Figura 50 CM ndash 11159

Figura 51 CM ndash 14160

Figura 52 CM ndash 16160

Figura 53 CM ndash 16159

Figura 54 CM ndash 02 45160

Figura 55 CM ndash 11 38159

Figura 56 CM ndash 16160

Figura 57 CM ndash 02 45160

Figura 58 CM ndash 11 51a162

Figura 59 CM ndash 11162

Figura 60 CM ndash 14162

Figura 61 CM ndash 11162

Figura 62 CM ndash 34 62163

Figura 63 CM ndash 05163

Figura 64 CM ndash 05163

Figura 65 CM ndash 05163

Figura 66 CM ndash 14164

Figura 67 CM ndash 25164

Figura 68 CM ndash 14164

Figura 69 CM ndash 15165

Figura 70 CM ndash 25164

Figura 71 CM ndash 08a 64166

Figura 72 CM ndash 10166

Figura 73 CM ndash 10166

Figura 74 CM ndash 10166

Figura 75 CM ndash 53a168

Figura 76 CM ndash 61168

Figura 77 CM ndash 53a168

Figura 78 CM ndash 61168

Figura 79 CM ndash 53a168

Figura 80 CM ndash 07 64169

Figura 81 CM ndash 08a169

Figura 82 CM ndash 08a169

Figura 83 CM ndash 16170

Figura 84 CM ndash 44170

Figura 85 CM ndash 16170

Figura 86 CM ndash 44170

Figura 87 CM ndash 16170

Figura 88 CM ndash 21171

Figura 89 CM ndash 24171

Figura 90 CM ndash 24171

Figura 91 CM ndash 24171

Figura 92 CM ndash 14172

Figura 93 CM ndash 15173

Figura 94 CM ndash 14172

Figura 95 CM ndash 15173

Figura 96 CM ndash 14172

Figura 97 CM ndash 53a 63175

Figura 98 CM ndash 08a175

Figura 99 CM ndash 08a175

Figura 100 CM ndash 08a175

Figura 101 CM ndash 63177

Figura 102 CM ndash 14 24177

Figura 103 CM ndash 14177

Figura 104 CM ndash 14177

Figura 105 CM ndash 24177

Figura 106 CM ndash 24177

Figura 107 CM ndash 62180

Figura 108 CM ndash 24180

Figura 109 CM ndash 21181

Figura 110 CM ndash 11180

Figura 111 CM ndash 24180

Figura 112 CM ndash 21181

Figura 113 CM ndash 24180

Figura 114 CM ndash 63182

Figura 115 CM ndash 08a182

Figura 116 CM ndash 63182

Figura 117 CM ndash 08a182

Figura 118 CM ndash 08a182

LISTA DE QUADROS

Quadro 01 Sinal de Aposentar155

Quadro 02 Sinal de Aviatildeo156

Quadro 03 Sinal de Matildee158

Quadro 04 Sinal de Pai160

Quadro 05 Sinal de Poliacutetica162

Quadro 06 Sinal de Preto163

Quadro 07 Sinal de Reuniatildeo165

Quadro 08 Sinal de Semana166

Quadro 09 Sinal de Banco168

Quadro 10 Sinal de Feio169

Quadro 11 Sinal de Meacutedico170

Quadro 12 Sinal de Nome171

Quadro 13 Sinal de Porque173

Quadro 14 Sinal de Antes175

Quadro 15 Sinal de Cortar177

Quadro 16 Sinal de Padre181

Quadro 17 Sinal de Ter182

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 Centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por grupos

ocupacionais51

Tabela 02 Centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por faixa etaacuteria51

Tabela 03 Distribuiccedilatildeo geograacutefica da centralizaccedilatildeo53

Tabela 04 Cruzamento de fatores 6 falantes com o maior grau de

centralizaccedilatildeo55

Tabela 05 Centralizaccedilatildeo por grupos eacutetnicos56

Tabela 06 Centralizaccedilatildeo e atitude com relaccedilatildeo a Martha‟s Vineyard58

Tabela 07 A escala em tempo aparente eacute chamada de ldquogradaccedilatildeo

etaacuteriardquo61

Tabela 08 Mudanccedila de (aw) e (ay) em tempo aparente atraveacutes de duas

geraccedilotildees em Martha‟s Vineyard62

Tabela 09 Preliminar dos dados ndash variaccedilotildees ou mudanccedilas

linguiacutesticas151

SUMAacuteRIO

Introduzindo a pesquisa na liacutengua de sinais25 CAPIacuteTULO I ndash Delimitaccedilatildeo do objeto de pesquisa31

11 Introduccedilatildeo31

12 Mudanccedilas histoacutericas na LIBRAS e variaccedilotildees linguiacutesticas de

1946 a 2010 em Santa Catarina31

13 Objetivo Geral33

14 Objetivos especiacuteficos33

15 Questotildees e Hipoacuteteses de pesquisa na liacutengua de sinais37

CAPIacuteTULO II ndash Pressupostos teoacuterico-metodoloacutegicos da sociolinguiacutestica

laboviana39

21 Introduccedilatildeo39

22 A liacutengua em seu contexto social40

221 LABOV pesquisador pioneiro em sociolinguiacutestica40

222 A Ilha de Martha‟s Vineyard42

223 Seleccedilatildeo da variaacutevel linguiacutestica47

224 Distribuiccedilatildeo por idade e tempo50

225 Uma explicaccedilatildeo possiacutevel para o aumento da centralizaccedilatildeo52

226 A interaccedilatildeo de padrotildees linguiacutesticos e sociais54

23 Os princiacutepios da mudanccedila linguiacutestica59

231 A idade e a variaccedilatildeo estaacutevel60

232 A idade e a mudanccedila linguiacutestica61

233 Aplicando os conhecimentos da sociolinguiacutestica64

CAPIacuteTULO III ndash A histoacuteria social da liacutengua69

31 Introduccedilatildeo69

32 Charles Michel de LEpeacutee - Instituto Nacional de Surdos-Mudos

em Paris69

33 Eacutedouard Huet ndash Instituto Nacional Educaccedilatildeo de Surdos

(INESRJ)74

34 Francisco Lima Juacutenior - O Primeiro Professor Surdo na liacutengua

de sinais em Santa Catarina87

CAPIacuteTULO IV ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila na liacutengua de sinais101

41 Introduccedilatildeo101

42 A liacutengua de sinais pelo surdo indiacutecios de variaccedilatildeo e mudanccedila

linguiacutestica101

43 As variaccedilotildees linguiacutesticas na liacutengua de sinais116

44 O surdo se comunica a liacutengua de sinais no contexto social118

CAPIacuteTULO V ndash Metodologia121

51 Introduccedilatildeo121

52 A coleta de dados123

53 O meacutetodo de entrevista sociolinguiacutestica a coleta de narrativas

de experiecircncia pessoal124

54 A transcriccedilatildeo de dados dos trecircs grupos compostos de

informantes surdos na liacutengua de sinais126

55 Informantes do grupo surdo na liacutengua de sinais126

56 Descriccedilatildeo dos informantes quanto aos dados129

561 Grupo I - Informantes130

5611 Informante G130

5612 Informante H132

5613 Informante I134

562 Grupo II - Informantes135

5621 Informante D136

5622 Informante E137

5623 Informante F139

563 Grupo III - Informantes140

5631 Informante A140

5632 Informante B141

5633 Informante C143

564 ndash Algumas consideraccedilotildees finais146

CAPITULO VI ndash Descriccedilatildeo e anaacutelise dos resultados149

61 Introduccedilatildeo149

62 A comparaccedilatildeo dos dados o grupo de trecircs geraccedilotildees de surdos na

liacutengua de sinais149

63 Variaccedilatildeo e Mudanccedila lexical na Liacutengua Brasileira de Sinais152

64 Variaccedilatildeo e Mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua Brasileira de

Sinais173

65 O que dizem os resultados das trecircs geraccedilotildees dos informantes na

Liacutengua Brasileira de Sinais 183

Consideraccedilotildees Finais187

Referecircncias Bibliograacuteficas191

Anexos199

25

Introduzindo a pesquisa na liacutengua de sinais

Sou Surdo Pretendo investigar a variaccedilatildeo e a mudanccedila linguiacutestica

na liacutengua de sinais como trabalho final do curso de poacutes-graduaccedilatildeo em

Linguiacutestica niacutevel Doutorado e aprofundar os conceitos adquiridos no

meu mestrado Realizei a defesa do mestrado em 2008 na UFSC O

estudo foi feito na linha de pesquisa em Educaccedilatildeo e Processos

Inclusivos O tema abordado foi ldquoContextualizaccedilatildeo da Trajetoacuteria dos

Surdos e Educaccedilatildeo de Surdos em Santa Catarinardquo

Iniciei no mestrado pesquisando a Educaccedilatildeo de Surdos em SC

Como natildeo haacute documentaccedilatildeo histoacuterica busquei atraveacutes do depoimento

do professor surdo Francisco1 e tambeacutem de documentos e fotografias

que ele tinha resgatar um pouco da trajetoacuteria da Educaccedilatildeo de Surdos em

SC

Aquela pesquisa visava introduzir as narrativas de sujeitos surdos

no que tange a sua histoacuteria memoacuteria e identidade Minha posiccedilatildeo eacute que

atraveacutes dela eacute possiacutevel conseguir elucidar a caminhada realizada pelos

surdos de Santa Catarina E tambeacutem atraveacutes de narrativas captadas com

o professor Francisco Lima Juacutenior (Chiquito) e de alguns de seus ex-

alunos bem como de alguns dados de Jornais fotos e filmagens

consegue-se chegar a escrever a histoacuteria do movimento surdo de Santa

Catarina com respeito agrave organizaccedilatildeo e agrave educaccedilatildeo de surdos O tema foi

muito amplo para pesquisar no mestrado Entatildeo optei por pesquisar a

parte histoacuterica da liacutengua de sinais no mestrado e a parte linguiacutestica no

doutorado numa perspectiva sociolinguiacutestica

Na pesquisa de mestrado percebi que apareceram sinais

diferentes no depoimento de dois surdos que sinalizaram sobre a

Educaccedilatildeo de surdos Refleti sobre esses sinais diferentes e natildeo

conseguia explicaacute-los Entatildeo realizei o projeto de doutorado para

entender melhor essa diferenccedila de sinais estudando um tema mais

1 SCHMITT (2008) dissertaccedilatildeo de mestrado na UFSC Em 1928 nasceu em FlorianoacutepolisSC e inicia a vida de Francisco Lima Juacutenior Em 1937 a 1946 no INSMRJ Francisco inicia seus

estudos No ano de 1947 primeiro espaccedilo de educaccedilatildeo de surdos na garagem na casa dos pais

(Francisco) Em 1954 o encontro de surdos organiza a fundaccedilatildeo do Ciacuterculo Surdos-Mudos em Santa Catarina ndash CSMSC Em 1955 funda o Ciacuterculo Surdos-Mudos em Santa Catarina ndash

CSMSC e tambeacutem foi delegado na regiatildeo do sul Em 1960 teve iniacutecio o governo de Celso

Ramos Em 1963 iniciou a construccedilatildeo Escola Governador Celso Ramos Em 1964 a primeira turma de surdos na Escola Governador Celso Ramos Ex-alunos Surdos na primeira Turma

Escola Governador Celso Ramos em 1964 e 1969 Fundado em 25 de marccedilo de 1969 o

Instituto de Audiccedilatildeo e Terapia da Linguagem ndash IATEL e em 1997 o Francisco entregou o documento no Ciacuterculo Surdos-Mudos em Santa Catarina ndash CSMSC para a Sandra L Amorim e

atualmente ASGF Isso foi apresentado a minha pesquisa de biografia

26

especiacutefico ldquoA Histoacuteria da Liacutengua de Sinais em Santa Catarina

Contextos soacutecio-histoacutericos e sociolinguiacutesticos de surdos de 1946 a

2010rdquo

O trabalho de coleta de dados para esta pesquisa acontece em

forma de relatos filmados sobre a histoacuteria e as experiecircncias de vida de

cada indiviacuteduo em liacutengua de sinais de trecircs geraccedilotildees nas seguintes faixas

etaacuterias o Grupo I eacute formado por indiviacuteduos com mais de 60 anos o

Grupo II por indiviacuteduos de 30 a 60 anos e o Grupo III eacute formado por

indiviacuteduos de 15 a 30 anos Pretende-se investigar nos dados de que

dispomos se aconteceu alguma transformaccedilatildeo linguiacutestica e em caso

positivo qual foi esta transformaccedilatildeo Se a economia a poliacutetica a

questatildeo social e cultural influenciam as mudanccedilas linguiacutesticas que

ocorrem e quais as possiacuteveis influecircncias que estes fatores tiveram em

relaccedilatildeo agraves mudanccedilas na liacutengua de sinais de Santa Catarina no periacuteodo

de 1946 a 2010

A pesquisa e a leitura de histoacuterias da liacutengua de sinais no mundo

no Brasil e em Santa Catarina em diferentes comunidades surdas

propiciaratildeo um maior conhecimento linguiacutestico e melhor entendimento

das diferentes culturas surdas Jaacute posso adiantar que as narrativas

coletadas contadas e vividas pelos trecircs grupos pesquisados em

diferentes momentos da sociedade brasileira ampliaram minha forma de

ver e perceber o mundo

Meu estudo de pesquisa no mestrado apresentou dados sobre a

histoacuteria da liacutengua de sinais de Santa Catarina e as dificuldades

encontradas da comunidade surda nos contatos sociais das vaacuterias regiotildees

de Santa Catarina e ateacute mesmo com outros estados (PR RS SP RJ e

MG) Acredita-se que a ampliaccedilatildeo de sinais aqui em Santa Catarina teve

a influecircncia do professor Francisco Lima Juacutenior porque ele estudou no

INESRJ (Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos) e no IPSSP

(Instituto Paulista de Surdos) e trouxe sinais utilizados nesses estados

aleacutem de outros sinais aprendidos em contatos com surdos de outros

estados (PR RS SP RJ e MG) e ensinou tais sinais aos seus alunos

surdos enriquecendo assim a liacutengua de sinais

Ateacute agora as pesquisas sobre a liacutengua de sinais em Santa Catarina

natildeo tecircm registro da histoacuteria do sujeito surdo na escola e nem nas

associaccedilotildees de surdos ou na comunidade surda na deacutecada de 1950 Pela

pesquisa percebi que antes da vinda do professor Francisco para Santa

Catarina natildeo havia registrodocumentaccedilatildeo sobre a liacutengua de sinais A

histoacuteria que pesquisei sobre a liacutengua de sinais em Santa Catarina surge

de conversas com o professor Francisco e com outros indiviacuteduos surdos

Atualmente haacute mais registros sobre a liacutengua de sinais mas ainda eacute

27

muito pouco pois eacute uma liacutengua na modalidade visual espacial e sua

forma de registro ainda eacute precaacuteria A histoacuteria da liacutengua de sinais tem sido narrada por instituiccedilotildees de

indiviacuteduos ouvintes uma dessas eacute o INESRJ onde estudou o professor

Francisco Essas narraccedilotildees tecircm como base a educaccedilatildeo oralista que natildeo

utilizava nenhum tipo de sinalizaccedilatildeo e a comunidade surda que

utilizava a LIBRAS natildeo deixou informaccedilotildeesregistros sobre a histoacuteria da

comunidade surda daquela eacutepoca (1940) O pouco que ficou eacute

superficial deixando de mostrar informaccedilotildees de maior valor sobre esta

liacutengua que eacute muito importante para que com os registros possamos

entender melhor as variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas que ocorreram e

ocorrem Para isso eacute preciso que indiviacuteduos surdos pesquisem sobre a

histoacuteria cultura identidade e liacutengua de sinais da comunidade surda

Os dados desta pesquisa considerados importantes foram

analisados com o objetivo principal de pesquisar as variaccedilotildees e

possiacuteveis mudanccedilas em tempo aparente na liacutengua de sinais em Santa

Catarina atraveacutes das narrativas de sujeitos surdos

Percebi que o professor Francisco influenciou a liacutengua de sinais

em Santa Catarina e resgatando parte da histoacuteria dessa liacutengua pesquisei

variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas no periacuteodo de 1946 ateacute a

atualidade (2010) A falta de pesquisa histoacuterica da liacutengua de sinais

2 entre 1930 a

1980 no Brasil com referecircncia agrave variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica com o

foco no estudo sociolinguiacutestico e soacutecio-histoacuterico dificultou vislumbrar

o desenvolvimento desta liacutengua durante esse periacuteodo as mudanccedilas

ocorridas e o uso da liacutengua de sinais pela comunidade surda Natildeo houve

registro de pesquisa sobre este tema na liacutengua de sinais atraveacutes de

registro espaccedilo-visual (filmagem viacutedeos fotos etc) nas uacuteltimas deacutecadas

e parece que muitos dados que satildeo importantes sobre o sujeito surdo se

perderam Vale registrar no entanto trabalhos importantes que

procuraram resgatar parte da histoacuteria da liacutengua de sinais no Brasil a

dissertaccedilatildeo defendida em 2010 por Heloise Gripp Diniz sobre o tema

ldquoA histoacuteria da liacutengua de sinais brasileira (Libras) um estudo descritivo

de mudanccedilas fonoloacutegicas e lexicaisrdquo e os trabalhos de Perlin (1998)

Miranda (2001) Karnopp e Quadros (2004) Brito (1990 1991 1993 e

1995) Felipe (1988 1991 1993 1994 1995 1996 e 1997) Campello

(2011) entre outros

2 SCHMITT (2008) relata que ldquoa liacutengua de sinais ou seja a liacutengua dos sujeitos surdos eacute o

espaccedilo que mais eacute atingido pelo diferencialismordquo

28

Com relaccedilatildeo ao oralismo que exigia que os surdos falassem e natildeo

podiam sinalizar essa praacutetica trouxe grandes problemas uma delas foi a

dificuldade na criaccedilatildeo de espaccedilos (escola associaccedilatildeo etc) pelos

proacuteprios surdos Com a criaccedilatildeo das Associaccedilotildees de Surdos em Santa

Catarina os surdos puderam defender seus interesses E a partir de

2001 em Santa Catarina quando foi criada a Lei Estadual Nordm 118693

oficializou a LIBRAS como forma de comunicaccedilatildeo dos surdos

Haacute dez anos surgiu a LEI Nordm 10436 DE 24 DE ABRIL DE

2002 ldquoreconhecida como meio legal de comunicaccedilatildeo e expressatildeo da

Liacutengua Brasileira de Sinais - LIBRAS e outros recursos de expressatildeo a

ela associadosrdquo e o DECRETO Nordm 5626 DE 22 DE DEZEMBRO DE

2005

Em SC a primeira conquista educacional dos surdos aconteceu na

escola Governador Celso Ramos no centro de Florianoacutepolis em 1964

com a primeira turma de surdos a frequentar uma escola Nesta escola

eles tiveram acesso ao uso da liacutengua de sinais com a mediaccedilatildeo do

professor Francisco que tinha o apelido de ldquoChiquitordquo Com o

aprendizado da liacutengua de sinais os surdos comeccedilaram uma nova histoacuteria

e foram aprimorando sua liacutengua

Os alunos surdos adquiriam mais expressatildeo na comunicaccedilatildeo da

liacutengua de sinais e na interaccedilatildeo com o professor de liacutengua de sinais

surdo aprendiam mais raacutepido a se comunicar e a entender os conceitos

(sinaispalavras) Eles aprenderam e foram influenciados pelo professor

Francisco com quem tiveram o primeiro contato com a liacutengua de sinais

Os surdos comeccedilaram a utilizar a liacutengua de sinais na comunidade

surda ampliando este aprendizado Assim indaguei-me sobre qual era a

liacutengua de sinais ensinada naquele contexto social e as mudanccedilas

ocorridas por causa disto Entatildeo procurei o professor Francisco para

entender quais os sinais diferentes que havia em 1950 e que ele trouxe

para Santa Catarina Soube que o professor em seus estudos no INES foi

influenciado pela Liacutengua de Sinais Francesa (Europa) e pela Liacutengua de

Sinais Americana (Estados Unidos) na deacutecada de 1940 retornou para

Santa Catarina por volta de 1947 Essa contextualizaccedilatildeo sobre a liacutengua

de sinais eacute importante para a anaacutelise e pesquisa desta liacutengua em nosso

Estado

O professor Francisco estudou no Rio de Janeiro de 1937 a 1946

3 Em Santa Catarina foi criada a Lei no 11869 de 06 de setembro de 2001 reconhece oficialmente no Estado de Santa Catarina a linguagem gestual codificada na Liacutengua Brasileira

de Sinais LIBRAS ndash e outros recursos a ela associados como meio de comunicaccedilatildeo objetiva e

de uso corrente

29

Trouxe a experiecircncia dos sinais emergentes do Instituto Nacional de

Educaccedilatildeo de Surdos ndash INESRJ e influenciou a Regiatildeo Sul

protagonizando a histoacuteria da liacutengua de sinais por toda comunidade surda

catarinense

Eacute preciso pensar como na realidade a comunidade surda

catarinense resolveu seus problemas nas diferentes fases da histoacuteria da

liacutengua de sinais e em diferentes geraccedilotildees dos surdos Algumas sugestotildees

propostas dizem respeito ao Ciacuterculo de Surdos-Mudos de Santa Catarina

- CSMSC4 fundado pelo professor Francisco tambeacutem professor da

Escola Governador Celso Ramos Tais fatos trouxeram uma maior

interaccedilatildeo entre os surdos catarinenses e o contexto social vivido entre

1946 a 1955 proporcionando a criaccedilatildeo de Associaccedilotildees de Surdos em

vaacuterias regiotildees do estado de Santa Catarina em especial na Escola G

Celso Ramos de 1964 a 1973

Com o intuito de cumprir os objetivos a que esta pesquisa se

propocircs o trabalho seraacute organizado da seguinte forma

Nesta Introduccedilatildeo fiz um breve relato da construccedilatildeo deste

trabalho de pesquisa destacando pontos que acredito serem relevantes

com relaccedilatildeo agrave liacutengua de sinais em Santa Catarina

No primeiro capiacutetulo apresento a delimitaccedilatildeo do objeto de

pesquisa a contextualizaccedilatildeo dos sujeitos surdos na liacutengua de sinais com

o objetivo de pesquisar as mudanccedilas histoacutericas na LIBRAS e possiacuteveis

variaccedilotildees linguiacutesticas que ocorrem na trajetoacuteria percorrida desde o

projeto ateacute a concretizaccedilatildeo da pesquisa de campo realizada

No segundo capiacutetulo apresento alguns pressupostos teoacuterico-

metodoloacutegicos da sociolinguiacutestica laboviana apresento estudos de

Labov sobre a centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) na comunidade de fala da

Ilha de Marthas Vineyard bem como sobre a liacutengua em seu contexto

social a variaccedilatildeo e a mudanccedila linguiacutestica

No terceiro capiacutetulo apresento a contextualizaccedilatildeo da histoacuteria

social da liacutengua em organizaccedilotildees surdas no paiacutes com base na trajetoacuteria

dos surdos na Europa Ameacuterica Brasil e regiotildees de Santa Catarina

No quarto capiacutetulo apresento explicaccedilotildees sobre a variaccedilatildeo

encontrada na liacutengua de sinais e discutida por diversos linguistas

No quinto capiacutetulo apresento a metodologia de coleta das

narrativas dos sujeitos surdos por faixa etaacuteria e a descriccedilatildeo dos

4 O CSMSC professor Francisco comeccedilou a reunir todos os surdos de Santa Catarina

buscando as pessoas surdas que ficavam isoladas na sociedade Fazia reuniotildees perioacutedicas em

sua casa com atividade social alfabetizaccedilatildeo e oficinas de artes e trabalhos artesanais Entatildeo em 18 de agosto de 1955 com 30 associados fundou o Ciacuterculo dos Surdos e Mudos de Santa

Catarina Atualmente chamado de Associaccedilatildeo de Surdos da Grande Florianoacutepolis - ASGF

30

informantes quanto aos dados colhidos na liacutengua de sinais nas trecircs

geraccedilotildees controladas

No sexto capiacutetulo apresento a descriccedilatildeo e a anaacutelise dos

resultados a comparaccedilatildeo dos dados de cada grupo nas trecircs geraccedilotildees de

surdos que utilizaram a liacutengua de sinais

Por fim nas consideraccedilotildees finais mostro que esta pesquisa

pretende contribuir com resultados sobre a variaccedilatildeo e a mudanccedila

linguiacutestica na Liacutengua de Sinais e talvez contribuir com o registro dos

dados coletados no curso de LetrasLIBRAS como referecircncia

bibliograacutefica para auxiliar outras pesquisas

31

CAPIacuteTULO I ndash Delimitaccedilatildeo do objeto de pesquisa

11 ndash Introduccedilatildeo

Pretendo pesquisar parte da histoacuteria da LIBRAS em Santa

Catarina de indiviacuteduos surdos em contextos soacutecio-histoacutericos e

sociolinguiacutesticos de diferentes regiotildees do estado com comunicaccedilatildeo de

sinais diferentes idades variadas gecircnero diferente costumes proacuteprios

escolaridade variada exercendo trabalhos e crenccedilas diferentes

vivenciando fatos histoacutericos tudo isso acontecendo em contextos

distintos Escolhi o periacuteodo de 1946 a 2010 para a pesquisa porque o

professor Francisco Lima Juacutenior que nasceu em 1928 foi estudar fora

da cidade retornou para Florianoacutepolis em 1946 de seus estudos no

Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos (INES) no Rio de Janeiro e

acredito que ele influenciou o ensino da LIBRAS em Santa Catarina

Realizar esta pesquisa eacute um grande desafio pela dificuldade para

encontrar o registro da histoacuteria da liacutengua de sinais e das variaccedilotildees e

mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas Para desenvolver este trabalho eacute

importante saber as influecircncias lexicais e fonoloacutegicas ocorridas nessa

liacutengua em Santa Catarina de onde vieram as influecircncias e qual seu

reflexo na comunidade surda E ainda se essa liacutengua trouxe uma

valorizaccedilatildeo maior para o grupo de surdos I (mais velhos) e se foi

influenciada por fatores sociais e histoacutericos da comunidade surda de

Santa Catarina

Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os seguintes toacutepicos a

delimitaccedilatildeo da pesquisa mudanccedilas histoacutericas na LIBRAS e variaccedilotildees

linguiacutesticas nas deacutecadas de 1940 a 2010 uma contextualizaccedilatildeo sobre a

influecircncia do professor Francisco na comunidade surda a justificativa

sobre a pesquisa feita com as pessoas surdas o objetivo geral desta

pesquisa e por fim a hipoacutetese levantada sobre a influecircncia do professor

Francisco na comunidade surda de Santa Catarina com relaccedilatildeo agrave liacutengua

de sinais

12 ndash Mudanccedilas histoacutericas na LIBRAS e variaccedilotildees linguiacutesticas de

1946 a 2010 em Santa Catarina

A metodologia utilizada nesta pesquisa eacute de base empiacuterica

atraveacutes de coleta de narrativas de sujeitos surdos na faixa etaacuteria de 15 a

80 anos divididos em trecircs grupos os quais responderam agrave seguinte

pergunta ldquoExplique a histoacuteria da educaccedilatildeo do sujeito surdo em Santa

32

Catarinardquo As respostas estatildeo registradas em viacutedeos por se tratar de uma

liacutengua visual-espacial

Os dados colhidos satildeo descritos e analisados com o objetivo de

verificar se ocorreram variaccedilotildees e possiacuteveis mudanccedilas em tempo

aparente em sinais da LIBRAS identificando linguiacutestica e

historicamente cada caso

Nesta pesquisa pretendo aprofundar a histoacuteria da LIBRAS em

Santa Catarina e verificar as variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas

entre 1946 a 2010 bem como a influecircncia do professor Francisco na

comunidade surda do estado de Santa Catarina

Temos poucos registros histoacutericos no Brasil sobre a comunidade

surda e a LIBRAS e esses em sua maioria satildeo escritos por pessoas

ouvintes uma histoacuteria oral5

Em Santa Catarina a realidade eacute a mesma natildeo haacute registros

escritos documentados sobre a comunidade surda A LIBRAS foi

oficializada em 2001 em Santa Catarina e em 2002 no Brasil Ainda eacute

recente e poucos registros temos Eacute necessaacuterio pesquisar mais sobre a

LIBRAS em seus aspectos histoacuterico e linguiacutestico pois atualmente

poucos surdos conhecem sua liacutengua em seus aspectos linguiacutesticos e

gramaticais apenas sinalizam e se comunicam mas se pedirmos

explicaccedilotildees poucos saberatildeo daacute-las ateacute porque isso natildeo eacute mateacuteria

escolar

Com os dados coletados e analisados acredito que poderei

entender melhor qual foi a influecircncia ou natildeo do professor Francisco

junto agrave comunidade surda de Santa Catarina Aleacutem dos dados pretendo

fazer isso com o auxiacutelio de reportagens jornais e revistas catarinenses

bem como atraveacutes de documentos das instituiccedilotildees que trabalharam ou

trabalham com pessoas surdas Tambeacutem pretendo verificar informaccedilotildees

no arquivo Puacuteblico Catarinense Espero que com os depoimentos em

viacutedeos consiga encontrar evidecircncias de variaccedilotildees e mudanccedilas

linguiacutesticas lexicais e fonoloacutegicas em LIBRAS que ocorreram desde a

deacutecada de 1940 Os surdos que deram seu depoimento fazem parte da

comunidade surda que participou do movimento surdo catarinense nas

uacuteltimas deacutecadas Para analisar as transformaccedilotildees ocorridas eles foram

observados por faixas etaacuterias Considerando o uso de narrativas sobre a

5 SCHMITT (2008) na dissertaccedilatildeo de mestrado apresenta O que eacute Histoacuteria Oral ndash Eacute o estudo das narrativas dos sujeitos da pesquisa sua versatildeo e memoacuterias do fato pesquisado ocupa-se em

registrar essas narrativas (gravaccedilotildees filmagens transcriccedilatildeo das entrevistas recortes da

imprensa) como metodologia de pesquisa

33

histoacuteria dessas pessoas utilizei as discussotildees sobre histoacuteria oral para

realizar as entrevistas conforme Alberti (2005)

A histoacuteria oral tem uma natureza especifica que

condiciona as perguntas que o pesquisador pode fazer

Em se tratando de uma forma de recuperaccedilatildeo do passado

conforme concebido pelos que viveram eacute fundamental

que tal abordagem seja efetivamente relevante para a

investigaccedilatildeo que se pretende realizar (ALBERTI 2005

p 30)

13 ndash Objetivo Geral

Verificar a influecircncia do professor Francisco Lima Juacutenior sobre a

liacutengua de sinais de Santa Catarina e pesquisar variaccedilotildees e possiacuteveis

mudanccedilas em tempo aparente na liacutengua de sinais desse educador e de

outros oito sujeitos surdos reunidos por faixa etaacuteria diferente em trecircs

grupos de indiviacuteduos Grupo I (de 60 a 80 anos) Grupo II (de 30 a 60

anos) e Grupo III (de 15 a 30 anos) A narrativa desses nove sujeitos

surdos seraacute analisada com o propoacutesito de verificar quais as

transformaccedilotildees linguiacutesticas ocorridas na comunidade surda atual e quais

as diferenccedilas lexicais e fonoloacutegicas de uso da LIBRAS nas faixas etaacuterias

desses trecircs grupos de geraccedilotildees investigados

14 ndash Objetivos especiacuteficos

Identificar as alteraccedilotildees de alguns sinais quanto agrave

variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica e lexical dentro da liacutengua

de sinais e outros sinais que permanecem ateacute a atualidade

sem influecircncias externas

Comparar a variaccedilatildeo e a mudanccedila encontradas na

liacutengua de sinais utilizada pelos indiviacuteduos surdos

pertencentes a diferentes faixas etaacuterias representantes de

trecircs geraccedilotildees de sinalizadores

Identificar possiacuteveis fatores que condicionam a

variaccedilatildeo e a mudanccedila linguiacutesticas observadas nos trecircs

grupos pesquisados

34

Pretendemos pesquisar a liacutengua de sinais em Santa Catarina

observando a narrativa (depoimento) do sujeito surdo coletada na

escola e na associaccedilatildeo Com o surgimento do primeiro espaccedilo de

identidade cultural6 do surdo em contato com o professor Francisco

quando retornou do Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos

(INESRJ) para Florianoacutepolis que contribuiu para a melhoria do ensino

de liacutengua de sinais aos surdos Observe-se o que disse Felipe (2001)

sobre isso

Assim o antigo Instituto continuou como um centro de

integraccedilatildeo para o fortalecimento do desenvolvimento da

LIBRAS pois segundo Relatoacuterio do Diretor Dr Tobias

Rabello Leite de 1871 esta escola jaacute possuiacutea alunos

vindos de vaacuterias partes do paiacutes dezoito anos retornavam

agraves cidades de origem levando com eles a LIBRAS

(FELIPE 2001 p 121)

Quando o professor Francisco retornou de seu estudo no INES

percebe-se que influenciou o aprendizado da LIBRAS em Santa

Catarina pois a geraccedilatildeo mais nova buscava aprender a liacutengua com os

liacutederes surdos da geraccedilatildeo do professor Francisco Esse espaccedilo foi

conquistado pela poliacutetica de educaccedilatildeo de surdos que assegurava o

envolvimento com a liacutengua de sinais que atualmente estaacute se expandindo

na comunidade surda em nosso estado catarinense

Esse caminho foi aberto pelo professor Francisco Lima Juacutenior

que motivou os sujeitos surdos a aprenderem a LIBRAS num periacuteodo de

escolas oralistas a valorizarem o contato com outros sujeitos surdos e as

conversas nas comunidades surdas e associaccedilotildees levando os surdos da

atualidade a lutarem pelos seus direitos e deveres e a aprimorarem os

espaccedilos cultural e linguiacutestico criando assim lideranccedilas nessas

comunidades Isto proporcionou troca de ideias e experiecircncias

necessidade de mais estudos e melhor compreensatildeo da poliacutetica brasileira

para a busca desses direitos Os surdos da atualidade tambeacutem criaram

uma identidade nessa comunidade com as trocas aprenderam mais

criaram sinais para palavras novas melhoraram sinais antigos etc Para a

autora Tanya A Felipe

6 SCHMITT (2008) relata que ldquoA pesquisa acadecircmica na universidade sobre os problemas na

fase de histoacuteria de ouvinte e a pesquisa na educaccedilatildeo de surdos introduz a identidade cultural

surda no espaccedilo de conflito que eacute a educaccedilatildeo de surdo Esse momento cultural do surdo e a aacuterea de conhecimento sobre a cultura surda satildeo importantes na realidade das pesquisas que

apresentam o sujeito surdo no ensinordquo

35

Como toda liacutengua as liacutenguas de sinais aumentam seus

vocabulaacuterios com novos sinais introduzidos pelas

comunidades surdas em resposta as mudanccedilas culturais e

tecnoloacutegicas Assim a cada necessidade surge um novo

sinal e desde que se torne aceito seraacute utilizado pela

comunidade (FELIPE 2001 p 19)

Percebe-se na citaccedilatildeo da autora que o contato da comunidade

surda7 acontece atraveacutes da comunicaccedilatildeo visual-espacial As mudanccedilas

tecnoloacutegicas a busca de conhecimento e a cultura influenciam a

LIBRAS fazendo com que a comunidade crie novos sinais e modifique

outros sinais mais antigos

A LIBRAS eacute considerada uma liacutengua assim como as outras

liacutenguas orais e apresenta variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica Um dos

exemplos de mudanccedila em LIBRAS foi uma mudanccedila discreta8 do sinal

de ldquoMAtildeErdquo A mudanccedila fonoloacutegica atinge um dos cinco paracircmetros

fonoloacutegicos da formaccedilatildeo de sinais O ponto de articulaccedilatildeo eacute preservado

na mudanccedila do sinal MAtildeE a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) muda e eacute

acrescentado o sinal de MULHER tornando o sinal composto

Figura 01 ndash Sinal de Matildee

Eacute importante retomar aqui quais satildeo esses cinco paracircmetros

Stokoe que por volta de 1960 e 1965 apontou trecircs paracircmetros que

constituem os sinais e nomeou-os configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ponto

de articulaccedilatildeo (PA) ou locaccedilatildeo (L) e movimento (M) Satildeo eles

7 Para Felipe (2001 p 38) ldquouma comunidade eacute um sistema social geral no qual pessoas vivem

juntas compartilham metas comuns e partilham certas responsabilidades umas com as outrasrdquo PADDEN (19895) Para esta pesquisadora ldquouma Comunidade Surda eacute um grupo de pessoas

que mora em uma localizaccedilatildeo particular compartilha as metas comuns de seus membros e de

vaacuterios modos trabalha para alcanccedilar estas metasrdquo Portanto nessa Comunidade pode ter tambeacutem ouvintes e surdos que natildeo satildeo culturalmente Surdos 8 Ocorre quando uma forma (ou sinal) eacute substituiacuteda por outra de modo natildeo gradual

36

Configuraccedilatildeo de matildeos ndash satildeo as diferentes formas que as

matildeos assumem na representaccedilatildeo do sinal

Ponto de articulaccedilatildeo ndash eacute a posiccedilatildeo onde as matildeos satildeo

posicionadas no momento da sinalizaccedilatildeo

Movimento ndash eacute o deslocamento das matildeos no espaccedilo e

em diferentes partes do corpo

Karnopp (1999) apresenta como resultado de pesquisa que a

configuraccedilatildeo de matildeos se diferencia pela seleccedilatildeo de dedos e a

configuraccedilatildeo ou posiccedilatildeo destes para efetuar o sinal Em ASL os dedos

selecionados devem permanecer na mesma disposiccedilatildeo ou quando tem

mudanccedila de posiccedilatildeo os dedos selecionados devem continuar iguais ateacute

o teacutermino do sinal As posiccedilotildees e configuraccedilotildees dos dedos diferenciam-

se em a) difusatildeo dos dedos aduccedilatildeo b) junccedilatildeo entre os dedos e o

polegar abertura e c) tipo e grau de flexatildeo apresentando a organizaccedilatildeo

fonoloacutegica dos sinais com ecircnfase nos articuladores dos itens lexicais e

das restriccedilotildees na formaccedilatildeo de sinais

A partir de 1970 outros linguistas conduziram estudos mais

aprofundados sobre os aspectos fonoloacutegicos Robbin Battison (1974)

Edward S Klima e Ursulla Bellugi (1979) descreveram o quarto

paracircmetro

Orientaccedilatildeo ndash que eacute a posiccedilatildeo da palma da matildeo se pra

frente ou pra traacutes para cima ou para baixo para o lado

esquerdo ou direito

O quinto paracircmetro eacute a expressatildeo facialcorporal foi adicionado

por Ferreira Brito em 1995 no Brasil

Expressotildees faciais e corporais satildeo elementos

gramaticais que compotildeem a estrutura da liacutengua Tambeacutem

chamados de marcadores natildeo manuais Ex a fisionomia

para expressar uma pessoa chata e muito chata eacute

intensificada para expressar o que eacute desejado Alguns sinais

podem ter uma direccedilatildeo e a inversatildeo deste pode significar

oposiccedilatildeo contraacuterio ou concordacircncia nuacutemero-pessoal

37

Figura 02 ndash Sinal de Matildee

Para Quadros (1997) pesquisas evidenciam a perda completa da

motivaccedilatildeo do sinal na crianccedila surda em fase de aquisiccedilatildeo da liacutengua de

sinais Tais sinais como ldquobenccedilatildeordquo para matildee e pai para o surdo adulto ateacute

podem ser resgatados Entretanto a crianccedila que estaacute adquirindo a liacutengua de

sinais e nunca viu esta accedilatildeo natildeo repete a mesma atitude beijando a matildeo

A liacutengua de sinais eacute diferente em diversos paiacuteses e ateacute mesmo em

diferentes regiotildees dentro de um mesmo paiacutes A liacutengua de sinais eacute o que

permite a comunicaccedilatildeo entre as pessoas surdas desta forma os surdos

que conhecem a liacutengua de sinais de outras regiotildees com certeza teratildeo

maior facilidade de comunicaccedilatildeo e tambeacutem de conhecimento

Vale ressaltar que toda forma de liacutengua ldquofaladardquo no contexto

social e tudo o que noacutes vivemos sofre mudanccedilas Todas as liacutenguas tecircm

influecircncia do tempo decorrido Na LIBRAS tambeacutem existem mudanccedilas

culturais e linguiacutesticas

15 ndash Questotildees e Hipoacuteteses de pesquisa na liacutengua de sinais

Nesta pesquisa parto das seguintes questotildees 1) O professor

Francisco influenciou a LIBRAS em SC 2) Que variaccedilotildees e mudanccedila

linguiacutestica vamos encontrar na liacutengua dos nove sujeitos surdos

Acredito que (hipoacutetese) o professor Francisco teve grande influecircncia na

comunidade surda de Santa Catarina com relaccedilatildeo agrave Liacutengua de Sinais

Acredito tambeacutem (hipoacutetese) que muitos dos sinais utilizados pelos

Grupos I e II natildeo satildeo conhecidos pelo Grupo III dos mais jovens Penso

que (hipoacutetese) alguns sinais tiveram alteraccedilotildees quanto a variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica como tambeacutem lexical nos trecircs grupos pesquisados

Quando comparar a liacutengua de sinais nos Grupos I II e III nas diferentes

faixas etaacuterias espero (hipoacutetese) encontrar vaacuterios sinais que comprovem

variaccedilotildees e mudanccedilas fonoloacutegicas e lexicais Essas hipoacuteteses surgiram

de observaccedilotildees como usuaacuterio da LIBRAS

38

Em relaccedilatildeo aos fatores internos e externos que condicionam a

variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica e lexical acredito (hipoacutetese) que o

professor Francisco eacute o precursor do ensino de sinais em Santa Catarina

(fator externo) No Grupo II temos a influecircncia do professor Francisco e

de seus primeiros alunos e das associaccedilotildees de surdos e no Grupo III

temos um maior nuacutemero de surdos nas universidades precisando criar

novos sinais para os novos conhecimentos aprendidos

Labov em sua pesquisa cita ldquo o objetivo da pesquisa linguiacutestica

na comunidade deve ser descobrir como as pessoas falam quando natildeo

estatildeo sendo monitoradasrdquo (LABOV 2008 [1972] p 244) Nesta

pesquisa a observaccedilatildeo aos indiviacuteduos surdos dos trecircs grupos

pesquisados acontece de forma diferente eles sabem que estatildeo

respondendo perguntas e que estatildeo sendo filmados

Pela anaacutelise das respostas em liacutengua de sinais e descriccedilatildeo dos

surdos seraacute possiacutevel descobrir atraveacutes das descriccedilotildees aspectos

culturais9 individuais e tambeacutem obter dados quanto agraves variaccedilotildees e

mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas na liacutengua de sinais neste periacuteodo de

tempo que acontece desde 1946

Finalmente esta tese teraacute o registro dos dados colhidos nos trecircs

grupos pesquisados de diferentes geraccedilotildees mostrando variaccedilotildees e

mudanccedilas linguiacutesticas ocorridas com os contatos culturais da

comunidade surda

Os fatos sociais desta liacutengua como de qualquer outra podem

acontecer em qualquer tempo e em diferentes situaccedilotildees e quando

analisados neste caso podemos perceber a mudanccedila dos indiviacuteduos

surdos num determinado contexto soacutecio-histoacuterico e linguiacutestico A amostra eou dados para a tese de doutorado na UFSC

proporcionaraacute anaacutelises sobre aspectos variaacuteveis da LIBRAS (variaccedilatildeo e

mudanccedila fonoloacutegica e lexical) com o apoio de autores como Labov

2008 [1972] Naro 2003 Weinreich Labov e Herzog 2006 [1968]

Calvet 2002 entre outros

O periacuteodo indicado para a pesquisa que eacute de 1946 a 2010 pode

revelar parte da histoacuteria da comunidade surda de Santa Catarina e a

influecircncia que o professor Francisco Lima Juacutenior trouxe de contribuiccedilatildeo

para a liacutengua de sinais de Santa Catarina e para a comunidade surda do

estado

9 PERLIN (2006 p 65) Cultura Surda ndash o livro a Invenccedilatildeo da Surdez II explica que a cultura surda esta aiacute enfatizando oferecendo transparentemente sua possessatildeo simboacutelica sobressaindo

com seus discursos narrativos afirmando a necessidade da reinscriccedilatildeo da diferenccedila cultural e

consequente diferenccedila pedagoacutegica

39

CAPIacuteTULO II ndash Pressupostos teoacuterico-metodoloacutegicos da

sociolinguiacutestica laboviana

21 ndash Introduccedilatildeo

A Sociolinguiacutestica se dedica ao estudo da liacutengua falada e do

contexto social de uso da liacutengua ou seja estuda como os membros de

uma sociedade se comunicam em diversas situaccedilotildees em funccedilatildeo por

exemplo do lugar onde cresceram ou de sua posiccedilatildeo socioeconocircmica A

liacutengua surge e tambeacutem se transforma em funccedilatildeo do contexto soacutecio-

histoacuterico

Como seraacute visto mais adiante para essa aacuterea de conhecimento satildeo

fundamentais os conceitos de variaccedilatildeo e mudanccedila O primeiro envolve a

coexistecircncia de diferentes formas linguiacutesticas para a expressatildeo de um

significado e o segundo diz respeito agrave substituiccedilatildeo de formas com o

passar do tempo Esses estudos satildeo fundamentados na sociolinguiacutestica

variacionista que teve iniacutecio com as pesquisas de Labov

Este capiacutetulo traz relatos da pesquisa de Labov que foi pioneiro

na sociolinguiacutestica e realizou estudo linguiacutestico na comunidade de fala

da Ilha de Marthas Vineyard associando a influecircncia dos povos que

imigraram e colonizaram a ilha agraves mudanccedilas ocorridas na fala bem

como o turismo que eacute frequente no veratildeo com visitantes que falam

variedades de uma mesma liacutengua e outras liacutenguas e influenciam o

comeacutercio da ilha fazendo com que variedades e liacutenguas diferentes se

misturem quando as pessoas conversam Num dado momento Labov

investigou a centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) na comunidade de fala da ilha

Foram entrevistados diferentes grupos eacutetnicos ingleses portugueses e

iacutendios Isso foi importante para entender mudanccedilas linguiacutesticas

ocorridas nessa ilha dos Estados Unidos

Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os seguintes toacutepicos a liacutengua

em seu contexto social a partir da teoria laboviana Labov como

pesquisador pioneiro em sociolinguiacutestica o iniacutecio da pesquisa de Labov

na Ilha de Martha‟s Vineyard com ingleses portugueses e iacutendios a

maneira como Labov realizou a pesquisa para escolher a variaacutevel

linguiacutestica a ser estudada a explicaccedilatildeo dos dados obtidos por grupos

ocupacionais e por idade a explicaccedilatildeo da pesquisa realizada por Labov

sobre o aumento da centralizaccedilatildeo comentaacuterios sobre a interaccedilatildeo de

padrotildees linguiacutesticos e sociais na Ilha de Martha‟s Vineyard os

princiacutepios da mudanccedila linguiacutestica a idade e a variaccedilatildeo estaacutevel e por

fim algumas reflexotildees sobre a idade e a mudanccedila linguiacutestica

40

22 ndash A liacutengua em seu contexto social

A liacutengua eacute uma forma de comportamento eacute usada por seres

humanos num contexto social ao comunicarem uns aos outros suas

ideias suas necessidades e emoccedilotildees Sendo assim o comportamento

linguiacutestico de um grupo pode variar de acordo com as experiecircncias

vividas numa comunidade Para Labov (1972) o estudo da origem da

evoluccedilatildeo da linguagem que eacute a ciecircncia que estuda a parte da linguiacutestica

incluiacuteda no contexto social eacute buscado no comportamento linguiacutestico de

um grupo social isto eacute de uma comunidade de fala10

Natildeo se trata de um grupo de falantes que utilizava a mesma forma

de fala mas do grupo que segue as mesmas normas quanto ao uso da

linguagem No caso da linguagem gestual um exemplo disso seria de

um surdo com uma famiacutelia de ouvintesfalantes que natildeo fica isolado na

questatildeo da liacutengua pois comeccedila a frequentar uma associaccedilatildeo de surdos e

aprende a liacutengua de sinais Neste espaccedilo ele aprende a comunicar-se na

liacutengua de sinais e natildeo apenas numa liacutengua gestual caseira

Para entender o comportamento linguiacutestico de uma comunidade

de fala vatildeo ser retomados alguns estudos pioneiros de Labov da deacutecada

de 1960 Antes poreacutem eacute importante entender quem eacute esse pesquisador e

alguns dos trabalhos que ele fez 221 ndash LABOV pesquisador pioneiro em sociolinguiacutestica

William Labov nasceu na cidade de Rutherford em Nova Jersey

no dia 4 de dezembro em 1927 Comeccedilou sua carreira de estudo em

Harvard em 1948 quiacutemico trabalhou na aacuterea industrial de 1949 a 1961

Ele iniciou suas pesquisas como linguista nos Estados Unidos com foco

de estudo direcionado ao contexto social agrave comunidade de fala e agraves

mudanccedilas sonoras da liacutengua

A observaccedilatildeo de Labov sobre os padrotildees sociolinguiacutesticos na ilha

de Marthas Vineyard resultou na publicaccedilatildeo do seu trabalho

apresentado no 37ordm Encontro Anual da Sociedade Americana de

Linguiacutestica em Nova York nos Estados Unidos em 1963 Nesse

trabalho o pesquisador apresentou suas consideraccedilotildees sobre a mudanccedila

sonora dos ditongos (ay) e (aw) no contexto da comunidade de fala da

10 Segundo COELHO et al (2010 p 163) Comunidade de fala ndash ldquonoccedilatildeo que recobre tanto aspectos sociais quanto linguiacutesticos envolvendo atitudesnorma sociais compartilhadas pelos

falantes que por sua vez compartilham caracteriacutesticas linguiacutesticas que os diferem de outros

grupos sociaisrdquo

41

ilha

O autor estudou tambeacutem na Columbia University sob a

orientaccedilatildeo do Professor Uriel Weinreich - doutorado em linguiacutestica em

1964 ndash com quem realizou e aprofundou sua pesquisa em

sociolinguiacutestica sobre a liacutengua falada

Eacute um pesquisador amplamente considerado na aacuterea da pesquisa

linguiacutestica por sua metodologia em sociolinguiacutestica Em seus trabalhos

o autor mostra aspectos de variaccedilatildeo dialetal e mudanccedila da liacutengua inglesa

na sociedade da Ilha de Marthas Vineyard e em Nova York11

atraveacutes de

estudos de variaccedilatildeo fonoloacutegica

Em 1972 Labov publicou seu livro Sociolinguistic Patterns

University of Pennsylvania Press original em Inglecircs o qual teve seu

volume traduzido para o portuguecircs e publicado em 2008 no Brasil

Ele pesquisou durante meses na Ilha de Martha‟s Vineyard

estado de Massachusetts as variaacuteveis foneacuteticas (ay) e (aw) em diferentes

localidades faixas etaacuterias12

grupos profissionais e eacutetnicos da ilha Com

esse estudo conseguiu reconstruir a histoacuteria social da comunidade

daquela ilha a partir da frequecircncia e distribuiccedilatildeo dessas duas variaacuteveis

para verificar se ocorreu mudanccedila sonora correlacionando o complexo

padratildeo linguiacutestico com a estrutura social atraveacutes da investigaccedilatildeo de

fatores sociais que incidem diretamente sobre o processo linguiacutestico

Sobre a mudanccedila linguiacutestica podemos destacar trecircs principais

caracteriacutesticas relevantes na pesquisa que Labov (2008 [1972] p 19)

desenvolveu na Ilha

a origem das variaccedilotildees linguiacutesticas

a difusatildeo e a propagaccedilatildeo das mudanccedilas linguiacutesticas e

a regularidade da mudanccedila linguiacutestica

Labov investigou como aconteceu a variaccedilatildeo do inglecircs americano

em uma determinada comunidade a partir das influecircncias sociais que

vieram do contato entre os indiviacuteduos das localidades pesquisadas

11 A pesquisa de Labov na ilha de Martha‟s Vineyard foi escolhida por mim porque Francisco

viveu em Florianoacutepolis e agrupou os surdos de SC tendo como referecircncia uma ilha que se

parece muito com Martha‟s nas temporadas de veratildeo os turistas do paiacutes e do exterior lotam a cidade fortalecendo a economia do lugar

12 Ao analisar faixa etaacuteria podemos detectar mudanccedila em tempo aparente atraveacutes da

comparaccedilatildeo entre grupo dos falantes mais velhos e jovens ou variaccedilatildeo estaacutevel

42

Pela induccedilatildeo as variaccedilotildees fonoloacutegicas podem ocorrer pelos

processos de assimilaccedilatildeo ou dissimilaccedilatildeo por analogia empreacutestimo

fusatildeo contaminaccedilatildeo variaccedilatildeo aleatoacuteria ou outros processos linguiacutesticos

em que haja a interaccedilatildeo entre o sistema linguiacutestico de caracteriacutesticas

fisioloacutegicas ou psicoloacutegicas do indiviacuteduo

O autor realizou a pesquisa na comunidade de falantes de

Martha‟s Vineyard nos EUA em Massachusetts para verificar o grau de

centralizaccedilatildeo de sons no caso (ay) e (aw) em diferentes momentos e

situaccedilotildees daquela comunidade como veremos nas proacuteximas seccedilotildees

222 ndash A Ilha de Martharsquos Vineyard

Martha`s Vineyard eacute a maior ilha ao largo da costa da Nova

Inglaterra abrange quase uma centena de quilocircmetros quadrados de

aacuterea

A ilha antigamente era povoada por grupos de iacutendios que estavam

relacionados com a Wampanoags no estado sudeste de Massachusetts

Num primeiro momento os europeus ocuparam a ilha e com o passar

do tempo aprenderam com os iacutendios de diferentes tribos de Martha`s

Vineyard a pescar e a utilizar a agricultura

O primeiro assentamento europeu aconteceu em 1644 na ilha O

governador de Winthrop de Boston norte dos Estados Unidos nessa

eacutepoca anotou em seu jornal local que algumas pessoas de Watertown

eram surdas e se comunicavam atraveacutes de sinais13

isso ajudou na

divulgaccedilatildeo da liacutengua inglesa que comeccedilou a ser usada pelos habitantes

de Martha`s Vineyard Este grupo vinha de famiacutelias do estado de

Massachusetts em Bay Colony que resolveu morar na Ilha

A Ilha de Martha‟s Vineyard na deacutecada de 1960 era formada por

uma pequena populaccedilatildeo de 6000 falantes nativos dividida em trecircs

grupos eacutetnicos ingleses portugueses e iacutendios A pesquisa de Labov

levou em consideraccedilatildeo as trecircs etnias Foram entrevistados 69 indiviacuteduos

daquela sociedade Dentre eles os nuacutemeros entrevistados foram 42

13 Realizei a pesquisa no livro que se chama ldquoEveryone Here Spoke Sign Languagerdquo da autora

(Groce 1952) achei interessante a leitura mas fui riscando e analisando de acordo com minha compreensatildeo do texto e comparando com o que Labov (2008) apresentou no livro Padrotildees

Sociolinguiacutesticos Eacute importante salientar que a pesquisa apresentada no livro de Groce eacute

interessante para realizar estudos na comunidade surda na liacutengua de sinais

43

ingleses 16 portugueses e 9 iacutendios de grupos eacutetnicos essencialmente

endoacutegamos14

Labov controlou tambeacutem diferentes grupos ocupacionais

14 na pesca 8 na agricultura 6 na construccedilatildeo 19 no ramo de serviccedilos 3

profissionais liberais 5 donas de casa e 14 estudantes Fez entrevista

formal e observaccedilotildees em muitas situaccedilotildees espontacircneas nas ruas de

Vineyard Haven e Edgartown em lanchonetes restaurantes bares

embarcadouros e diversos lugares onde o som geral da conversa puacuteblica

podia ser anotado quando natildeo gravado As anotaccedilotildees serviam apenas

como controles suplementares sobre as entrevistas gravadas As

entrevistas aconteceram em trecircs periacuteodos agosto final de

setembrooutubro de 1961 e janeiro de 1962 com pessoas de idades que

variaram de 14 a 75 anos

As duas principais variaacuteveis estudadas na ilha foram (ay) e (aw)

O significado linguiacutestico das formas em variaccedilatildeo era o mesmo mas a

situaccedilatildeo de fala era diferente na comunidade Como resultado das

entrevistas o autor obteve aproximadamente 3500 ocorrecircncias de (ay) e

1500 ocorrecircncias de (aw) como base de dados para sua pesquisa

O primeiro grupo eacutetnico formado por descendentes das famiacutelias

mais velhas de origem inglesa foi para a ilha nos seacuteculos XVII e XVIII

As famiacutelias inglesas eram os Mayhews Nortons Hancocks Allens

Tiltons Vincents Wests e Pooles que com o passar dos anos

influenciaram a liacutengua inglesa falada na ilha e a cultura da comunidade

O segundo grupo eacutetnico era formado por famiacutelias de imigrantes

accedilorianos vindos de Cabo Verde em Portugal Esses imigrantes

portugueses ao longo de toda costa da Nova Inglaterra representaram o

percentual mais alto de centralizaccedilatildeo em Martha‟s Vineyard

A ilha foi dividida em duas partes mais relevantes para a

pesquisa a ilha alta (up-island) e a ilha baixa (down-island) num total

de 5563 (cinco mil quinhentos e sessenta e trecircs) habitantes na deacutecada

de 1960 A ilha alta era organizada por pessoas que viviam em meio

rural poucos lugares fazendas casas de veraneio abandonadas lagoas

de aacutegua salgada e pacircntanos era uma aacuterea geograacutefica central desabitada e

com pinheirais improdutivos A ilha baixa era uma regiatildeo formada por

trecircs pequenos centros urbanos onde vivia cerca de trecircs quartos da

populaccedilatildeo A populaccedilatildeo de Martha‟s Vineyard na deacutecada de 1970 era de

11725 habitantes na parte alta da Ilha (rural) era de 3846 Edgartown

14 Eacute o indiviacuteduo que se casa com membros da mesma tribo para conservaccedilatildeo de sua nobreza e

raccedila

44

1118 Oak Bluffs 1027 Vineyard Haven 1701 e na parte baixa da Ilha

(Vilarejos) 1717 Edgartown 256 Oak Bluffs 292 Tisbury 468 West

Tisbury 360 Chilmark 238 Gay Head 103

Mapeamento da Ilha de Martharsquos Vineyard

Em 1960

Figura 03 ndash Retirado do livro de GROCE Nora Ellen Everyone Here

Spoke Sign Language Hereditary Deafness on Martha‟s Vineyard

Printed in the United States of America 1952

45

Em 1960

Figura 04 ndash Retirado do livro de LABOV Willian Padrotildees

Sociolinguiacutesticos 2008 [1972]

Atualmente em 2012

Figura 05 ndash 10092011 retirado no site

httpcawikipediaorgwikiMartha27s_Vineyard

46

A populaccedilatildeo na Ilha no ano de 1960 estava constituiacuteda de 11

de descendentes da primeira ou da segunda geraccedilatildeo de imigrantes

portugueses Das terceiras e quartas geraccedilotildees provavelmente chegaria

proacuteximo aos 20 Quanto ao terceiro grupo eacutetnico eram remanescentes de

indiacutegenas de GAY HEAD O quarto grupo eacute uma Miscelacircnea de

famiacutelias de imigrantes europeus que vieram da Inglaterra Franccedila-

Canadaacute Irlanda Alemanha e Polocircnia Apesar de que a soma desses

imigrantes seja de aproximadamente 15 natildeo foi levada em conta por

natildeo ser uma forccedila social coesa Segundo Labov todos os anos no veratildeo muitos turistas

chegavam agrave ilha nos meses de junhojulho passando de 6000

habitantes para 42000 habitantes representando um nuacutemero expressivo

mas natildeo foi diretamente analisado porque a influecircncia direta destes

veranistas sobre o falar em Vineyard era relativamente pequena A

constante pressatildeo vinda na comunicaccedilatildeo junto agrave crescente dependecircncia

econocircmica criada pelo turismo gera indiretamente mudanccedilas

linguiacutesticas

Os veranistas estrangeiros falam uma liacutengua proacutepria em seu paiacutes

vatildeo a passeio agrave Ilha para conhecer e explorar a cidade e tambeacutem o povo

daquela ilha fazendo trocas neste conviacutevio e de alguma forma

promovem mudanccedilas econocircmicas poliacuteticas culturais sociais e

linguiacutesticas

O autor constatou que a Ilha de Martha‟s Vineyard aleacutem da

variaccedilatildeo estudada que eacute a centralizaccedilatildeo dos ditongos os falantes

tambeacutem usam as formas variaacuteveis do ndashr poacutes-vocaacutelico em palavras como

car (carro) four (quatro) card (cartatildeo) fourth (quarto) (podemos

verificar ocorrecircncia semelhante na liacutengua falada oral com o sotaque que

se modifica) Diferente do padratildeo comum do sudeste da Nova

Inglaterra [ai] e [au] com frequecircncia se ouve na ilha [ɐi] e [ɐu] ou

mesmo [əi] e [əu] Labov (2008 [1972] p 27) escreve o seguinte

ldquoEsse aspecto dos ditongos centralizados eacute saliente para

o linguumlista mas natildeo para os falantes eacute claramente imune

agrave distorccedilatildeo consciente jaacute que os vineyardenses nativos

natildeo se datildeo conta dele nem conseguem controlaacute-lo

conscientemente No que diz respeito agrave estrutura natildeo

podemos desprezar o paralelismo estrutural de ay e

aw por outro lado esses ditongos satildeo marcados por

grande liberdade estrutural na gama de alofones

permitida pelo sistema Essas satildeo diferenccedilas estritamente

subfonecircmicas Uma vez que natildeo existem outros ditongos

47

crescentes com primeiros elementos baixo ou central

nesse sistema natildeo eacute provaacutevel que o alccedilamento

continuando ou ate a posteriorizaccedilatildeo ou anterioriazaccedilatildeo

resultasse em confusatildeo com qualquer outro fonemardquo

Labov em sua pesquisa mostrou a pronuacutencia variaacutevel dos

ditongos (ay) e (aw) na comunidade de fala considerando traccedilos sociais

dos moradores da localizaccedilatildeo alta (rural) e baixa (vilarejos) da Ilha

atraveacutes de um mapeamento da fala Ele investigou (ay) como o ditongo

em palavras do inglecircs (ex right white pride wine ou wife) e (aw)

ditongo encontrado nas palavras do inglecircs como house out e doubt por

exemplo

Ele realizou procedimentos de observaccedilatildeo e identificaccedilatildeo da

comunidade de fala em duas localizaccedilotildees diferentes em Marthas

Vineyard e Nova York Estudou as realizaccedilotildees de (ay) e (aw) em vaacuterias

regiotildees da ilha e do estado entre as faixas etaacuterias dos informantes entre

grupos de profissionais e tambeacutem entre os grupos eacutetnicos (raccedila e cor)

E em Nova York pesquisou em trecircs lojas de departamento sobre a

realizaccedilatildeo de [r] em posiccedilatildeo final e preacute-consonantal na fala de

funcionaacuterios destas lojas Labov (1994) analisou o uso de [r] que

poderia ser pronunciado ou natildeo na fala de 264 pessoas levando-os a

responder de forma que aparecesse na fala a expressatildeo fourth floor

(quarto andar) porque essa expressatildeo contem [r] nas duas proposiccedilotildees

pretendidas preacute-consonantal (fourth) e final (floor) Labov com essa

pesquisa nos Estados Unidos mostrou que o vernaacuteculo de Nova York

continuou sem o [r] por muito tempo mas como a pronuacutencia do [r] era

prestigiada passou a ser usada pelas classes mais altas e pelos jovens

sensiacuteveis pela questatildeo do status social

Desse modo Labov desenvolveu suas pesquisas com base em

procedimentos metodoloacutegicos que pudessem reconstruir a histoacuteria

recente da mudanccedila linguiacutestica da pronuacutencia dos ditongos e do [r] poacutes-

vocaacutelico Neste trabalho vatildeo ser detalhados os resultados da pesquisa em

Marthas Vineyard

223 ndash Seleccedilatildeo da variaacutevel linguiacutestica

Na seleccedilatildeo da variaacutevel linguiacutestica eacute importante perguntar quais

satildeo as propriedades mais uacuteteis de uma variaacutevel linguiacutestica servindo de

foco de pesquisa de uma determinada comunidade de falantes

Labov pensou como primeiro passo da pesquisa em verificar um

item que ocorra com frequecircncia numa conversaccedilatildeo espontacircnea e que

48

possa ser mapeado Em segundo deve ser estrutural ou seja quanto

mais integrado o item estiver num sistema mais amplo de unidades

funcionais maior seraacute o interesse linguiacutestico intriacutenseco ao estudo E

finalmente em terceiro a distribuiccedilatildeo do traccedilo deve ser estratificada

observando a faixa etaacuteria o grupo de profissionais ou outros

extratos da comunidade de fala Labov apresentou a pesquisa

preliminar sobre o estudo do som na fala da comunidade em vaacuterias

categorias buscando os dados das pessoas que falavam em

diferentes situaccedilotildees linguiacutesticas na ilha como mostra a citaccedilatildeo

abaixo Nas entrevistas preliminares conduzidas em Martha‟s

Vineyard em 1961 foram observadas diversas

mudanccedilas estruturais que eram claramente paralelas a

mudanccedilas que ocorreriam no continente sob a

influecircncia do padratildeo do sudeste da Nova Inglaterra

(LABOV 2008 [1972] p 26)

Eacute importante ressaltar que a Ilha de Marthas‟s Vineyard tem

conservado traccedilos arcaicos provavelmente a populaccedilatildeo era do sudeste

da Nova Inglaterra antes de 1800 Estudos preliminares em 1961

mostraram que a maior parte dos traccedilos especiais do falar da ilha

apresentado nos mapas do LANE15

ainda podiam ser encontrados entre

os falantes de 50 a 95 anos de idade

Labov queria entender a estrutura interna do inglecircs Vineyardense

as diferenccedilas sistemaacuteticas que jaacute haviam ocorrido e as mudanccedilas que

estavam ocorrendo por isso selecionou um aspecto linguiacutestico

caracteriacutestico da ilha com o maior nuacutemero possiacutevel de variaccedilatildeo e o mais

complexo padratildeo de distribuiccedilatildeo Ele comeccedilava a pesquisa

entrevistando indiviacuteduos falantes na comunidade com o objetivo de

detectar variaccedilotildees linguiacutesticas16

geograacuteficas sociais e estiliacutesticas

15 Linguistic Atlas of New England Trata-se de um projeto que registrou a fala de habitantes da Nova Inglaterra nos Estados Unidos na deacutecada de 1930 Segundo O‟Cain (1979 p 243)

ldquoLANE samples the speech of the older and rural representatives of the culture thus

establishing late nineteenth-century bench marks for the study of the New England dialects and also samples younger and urban speakers thus indicating general and particular trends of

changerdquo

16 COELHO et al (2010 p 166) lembram que variaccedilatildeo eacute o ldquoprocesso pelo qual duas formas

podem ocorrer no mesmo contexto linguiacutestico com o mesmo valor referencial ou com o mesmo valor de verdade ie com o mesmo significado Dois requisitos precisam pois ser

cumpridos para que ocorra variaccedilatildeo as formas envolvidas precisam (i) ser intercambiaacuteveis no

mesmo contexto e (ii) manter o mesmo significadordquo

49

Na comunidade linguiacutestica17

de falantes atraveacutes da forma de

falar na conversa espontacircnea e no comportamento o autor mostrou

que havia diferenccedilas linguiacutesticas na ilha de Martha‟s Vineyard e no

sudeste da Nova Inglaterra de onde migraram pessoas para a

colonizaccedilatildeo da ilha

Em sua pesquisa Labov observou que ldquono caso do r poacutes-

vocaacutelico os falantes apresentavam uma variaacutevel linguiacutestica definida

pelos limites geograacuteficos da ilha e que segue um padratildeo social

idiossincraacutetico a Marthas Vineyardrdquo (LABOV 2008 [1972] p 27) Em

algumas aacutereas a retroflexatildeo estava diminuindo e em outras aumentando

As variaccedilotildees do r eram frequentes salientes e envolviam

consequecircncias estruturais determinantes para o sistema vocaacutelico inteiro

Labov em sua pesquisa mostrou variaccedilotildees linguiacutesticas que

ocorreriam na Ilha em uma mesma palavra com ditongos centralizados

como no caso do (ay) e do (aw) na fala dos grupos pesquisados Para

Labov A propriedade deste traccedilo de centralizaccedilatildeo que o faz

parecer excepcionalmente atraente ateacute mesmo agrave

primeira vista eacute a indicaccedilatildeo de um complexo e sutil

padratildeo de estratificaccedilatildeo Essa mesma complexidade

daacute provas de ser recompensadora pois quando a

tendecircncia centralizante eacute mapeada nos haacutebitos de

vaacuterios falantes e a influecircncia do ambiente foneacutetico

prosoacutedico e estiliacutestico eacute considerada permanece uma

ampla aacuterea de variaccedilatildeo (LABOV 2008 [1972] p 27

e 28)

Na comunidade de fala o ambiente o espaccedilo os diferentes

interlocutores as diferentes situaccedilotildees no modo de falar interferem no

sistema foneacutetico prosoacutedico e estiliacutestico da liacutengua falada

As mudanccedilas sonoras satildeo estudadas no momento presente e no

passado buscando novos conhecimentosexplicaccedilotildees sobre uma

17 DUBOIS J et al (2006 p 133) entendem por ldquocomunidade linguiacutestica um grupo de seres

humanos que usam a mesma liacutengua ou o mesmo dialeto num dado momento e que podem comunicar-se entre si Quando uma naccedilatildeo eacute monoliacutengue constitui uma comunidade linguiacutestica

Mas a comunidade linguiacutestica natildeo eacute homogecircnea compotildee-se sempre de um grande nuacutemero de

grupos que tem comportamentos linguiacutesticos diferentes A forma de liacutengua que os membros desses grupos usam tende a reproduzir de uma maneira ou de outra na foneacutetica na sintaxe ou

no leacutexico as diferenccedilas de geraccedilatildeo de origem de residecircncia de profissatildeo ou de formaccedilatildeo

(diferenccedilas socioculturais)rdquo

50

determinada aacuterea da comunidade falada as influecircncias as mudanccedilas

fonecircmicas ocorridas e suposiccedilotildees de como seraacute no futuro

Labov escreve que na Ilha de Marthas‟s Vineyard os veranistas

tecircm apenas uma leve impressatildeo da fala dos nativos pois de cada oito

pessoas na ilha sete satildeo visitantes Para Labov os veranistas natildeo tinham

muita importacircncia naquela comunidade pois na primeira semana de

setembro eles voltavam para seu lugar de origem E apenas ficavam os

moradores da ilha Continuavam a utilizar um alto grau de centralizaccedilatildeo

de (ay) e (aw) na ilha alta e tambeacutem nas aacutereas do vilarejo da ilha baixa

o turismo natildeo interferia nesse aspecto

Labov escreve que

A fim de estudar sistematicamente esse traccedilo foi

necessaacuterio conceber um modelo de entrevista que

fornecesse vaacuterios exemplos de (ay) e (aw) na fala

espontacircnea na fala emocionalmente carregada na fala

monitorada e no estilo de leitura O primeiro desses

ditongos tem mais do dobro da frequumlecircncia de uso do

segundo mas mesmo assim diversas estrateacutegias foram

necessaacuterias para aumentar a concentraccedilatildeo de ocorrecircncias

de ambos (LABOV 2008 [1972] p 31)

Para pesquisar a frequecircncia dos ditongos de (ay) e (aw) Labov

utilizou como estrateacutegia um questionaacuterio lexical concentrando-se em

algumas palavras e utilizando os mapas de LANE Aleacutem disso

formulou perguntas acerca de juiacutezos de valores e orientaccedilatildeo social do

informante e por fim um texto para leitura especial como um teste de

habilidade para ler uma histoacuteria

224 ndash Distribuiccedilatildeo por idade e tempo

Para cada falante o grau geral de centralizaccedilatildeo foi expresso por

valores numeacutericos multiplicados por 100 Veja a tabela 01

Centralizaccedilatildeo por grupos ocupacionais

Na centralizaccedilatildeo por grupos ocupacionais Labov chegou agrave

conclusatildeo de que o grupo dos pescadores na fala centralizava mais os

ditongos (ay) e (aw) do que os fazendeiros e outros pesquisados

51

Ocupaccedilatildeo (ay) (aw)

Pescadores 100 79

Fazendeiros 32 22

Outros 41 57

Tabela 01 ndash Centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por grupos ocupacionais

(LABOV 2008 [1972] p 46)

A tabela 01 mostra as tendecircncias de centralizaccedilatildeo dos ditongos

em funccedilatildeo dos grupos profissionais Os resultados apontam que os

pescadores usam mais centralizaccedilatildeo de (ay) e de (aw) num total

numeacuterico de 100 e de 79 respectivamente Para os fazendeiros os

resultados apontam 32 para (ay) e 22 para (aw) e para as outras

ocupaccedilotildees 41 para (ay) e 57 para (aw) A diferenccedila de resultados com

relaccedilatildeo agrave centralizaccedilatildeo dos ditongos pelos falantes na ilha em Martha‟s

Vineyard confirma o fato de pescadores usarem mais centralizaccedilatildeo do

que os demais informantes

Na centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por faixa etaacuteria Labov escreve

A centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) parece exibir um aumento

regular em faixas etaacuterias sucessivas alcanccedilando um pico

no grupo de 31 a 45 anos Temos agora de examinar as

razotildees para considerarmos esse padratildeo como uma

evidecircncia de mudanccedila histoacuterica no desenvolvimento de

Martha‟s Vineyard (LABOV 2008 [1972] p 41)

Vejamos a tabela

Idade (ay) (aw)

75 25 22

61 ndash 75 35 37

46 ndash 60 62 44

31 ndash 45 81 88

14 ndash 30 37 46

Tabela 02 ndash Centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw) por faixa etaacuteria (LABOV 2008

[1972] p 41)

52

Na tabela 02 Labov apresenta na coluna agrave esquerda a variaacutevel

independente18

ldquoidaderdquo (externa) distribuiacuteda em diferentes faixas

etaacuterias tendo iniacutecio a partir de 14 anos ateacute acima de 75 anos A coluna

central e a da direita apresentam as duas variaacuteveis dependentes19

fonoloacutegicas (internas) ndash os ditongos (ay) e (aw) Finalmente a tabela

apresenta a centralizaccedilatildeo de cada um dos ditongos de acordo com a

faixa etaacuteria do falante na Ilha de Martha‟s Vineyard

O fato de ser miacutenimo o percentual de centralizaccedilatildeo para

os muito velhos e para os muito jovens mostra que o

efeito da idade natildeo pode ser inteiramente descartado e

que de fato pode ser um fator secundaacuterio na distribuiccedilatildeo

pelas faixas etaacuterias (LABOV 2008 [1972] p 44)

Labov analisou em sua pesquisa iacutendices calculados por ele a

partir da centralizaccedilatildeo dos ditongos num total de 477 centralizaccedilatildeo de

(ay) e (aw) sendo 240 de (ay) e 237 de (aw) Ele percebeu na

distribuiccedilatildeo entre as cinco faixas etaacuterias um aumento percentual

gradativo com o resultado maior de centralizaccedilatildeo no grupo de 31 a 45

anos Por fim Labov em suas pesquisas sociolinguiacutesticas observou uma

possiacutevel mudanccedila da liacutengua nas diferentes faixas etaacuterias da comunidade

de fala de Martha‟s Vineyard com o controle da atuaccedilatildeo de vaacuterios

fatores internos e externos na centralizaccedilatildeo de (ay) e (aw)

225 ndash Uma explicaccedilatildeo possiacutevel para o aumento da centralizaccedilatildeo

O exame da centralizaccedilatildeo segundo Labov da variaacutevel

dependente em estudo foi meramente descritivo e quando Labov tentou

explicar o fenocircmeno deparou-se com a seguinte questatildeo quais variaacuteveis

independentes seria importante examinarmos Labov supotildee que a

centralizaccedilatildeo desceu a um ponto baixo no final da deacutecada de 1930 e no

poacutes-guerra iniciou a subida Observe

18 COELHO et al (2010 p 166) ldquoVariaacuteveis independentes ndash fatores que condicionam nossa

escolha entre uma ou outra variante e que permitem ao linguista sugerir em que tipo de ambiente tanto linguiacutestico quanto extralinguiacutestico uma variante tem maior probabilidade de

ser escolhida em detrimento de sua (s) ldquorival (is)rdquordquo

19 COELHO et al (2010 p 166) ldquoVariaacutevel dependente ndash aspecto ou categoria da liacutengua que se

encontra em variaccedilatildeordquo

53

Permanece a questatildeo inicial a de explicar (ou de

oferecer um contexto mais amplo para) o aumento geral

da centralizaccedilatildeo na ilha Por que Martha‟s Vineyard deu

as costas para a histoacuteria da liacutengua inglesa Acredito que

podemos encontrar uma explicaccedilatildeo especifica se

estudarmos a configuraccedilatildeo detalhada desta mudanccedila

sonora em funccedilatildeo das forccedilas sociais que afetam mais

profundamente a vida da ilha (LABOV 2008 [1972] p

45)

As primeiras anaacutelises revelaram algumas correlaccedilotildees sociais

notaacuteveis A tabela 03 distribuiccedilatildeo geograacutefica da centralizaccedilatildeo mostra

as tendecircncias nas aacutereas da ilha alta rural a favorecer mais a centralizaccedilatildeo

do que nas aacutereas dos vilarejos da ilha baixa A tabela 03 mostra os

resultados sobre diferenccedilas geograacuteficas entre os moradores da ilha com

relaccedilatildeo agrave centralizaccedilatildeo dos ditongos nas duas principais partes da ilha

nas aacutereas da ilha alta rural e vilarejos na parte da ilha baixa

Os resultados de pesquisa sobre a centralizaccedilatildeo podem ser vistos

na tabela a seguir

(ay) (aw)

Ilha baixa 35 33

Edgartown 48 55

Oak Bluffs 33 10

Vineyard Haven 24 33

Ilha alta 61 66

Oak Bluffs 71 99

N Tisbury 35 13

West Tisbury 51 51

Chilmark 100 81

Gay Head 51 81

Tabela 03 ndash Distribuiccedilatildeo geograacutefica da centralizaccedilatildeo (LABOV 2008

[1972] p 45)

Estaratildeo essas variaacuteveis sociais vinculadas de algum

modo demonstraacutevel agrave mudanccedila linguumliacutestica Seratildeo

realmente independentes umas das outras ou algumas

das correlaccedilotildees estatildeo equivocadas e satildeo dependentes de

algum fator mais amplo que eacute logicamente preacutevio a elas

Se tal fator mais amplo existe precisamos indagar como

ele se originou e de que modo estaacute vinculado aos eventos

linguumliacutesticos Uma abordagem simplista e contabiliacutestica

54

natildeo responderaacute a essas perguntas Teremos de buscar

respostas na estrutura social da ilha e nas pressotildees que

motivam as mudanccedilas sociais da Martha‟s Vineyard

contemporacircnea (LABOV 2008 [1972] p 46)

A mudanccedila linguiacutestica dos grupos era identificada com os

costumes da ilha de Martha‟s Vineyard e Labov conduziu sua pesquisa

com pessoas que habitavam este local e viviam mais de acordo com os

seus costumes tradicionais Labov acreditava que as mudanccedilas

linguiacutesticas poderiam ser correlacionadas agraves relaccedilotildees sociais dos

moradores da ilha e por isso realizou sua pesquisa observando os

comportamentos linguiacutesticos somente das pessoas nativas da ilha

226 ndash A interaccedilatildeo de padrotildees linguiacutesticos e sociais

A Ilha de Martha‟s Vineyard ateacute hoje em dia eacute um lugar

beliacutessimo atrai muitos turistas inclusive poliacuteticos americanos As

pessoas que viviam laacute na deacutecada de 1960 natildeo tinham vida faacutecil na

sociedade americana Era o local com renda mais baixa no municiacutepio de

Massachusetts Labov traz essas informaccedilotildees do Censo de 196020

Os

moradores da ilha dependiam do turista a economia melhorava muito na

temporada Na Ilha de Florianoacutepolis acontece algo parecido Na

temporada de veratildeo o turista do paiacutes e do exterior lota a cidade

fortalecendo a economia do lugar

Florianoacutepolis tambeacutem eacute uma ilha beliacutessima com temporadas de

turistas que vecircm conhecer e aproveitar os lugares ir agraves praias passear

nos Shopping comprar nas lojas ir a restaurantes etc Labov quando

relata sua pesquisa na Ilha de Martha‟s Vineyard parece estar

comentando de Florianoacutepolis Os moradores da ilha aproveitam para

alugar suas casas vender seus produtos principalmente para os turistas

mais ricos Entatildeo haacute uma movimentaccedilatildeo econocircmica muito grande

assim como uma troca com relaccedilatildeo agrave liacutengua falada Como diz Labov (2008 [1972] p 49) ldquoOs chilmarkenses se

orgulham muito de suas diferenccedilas em relaccedilatildeo aos moradores do

continenterdquo

20 O Censo de 1960 mostra que a ilha de Martha‟s Vineyard se trata do municiacutepio mais pobre

de Massachusetts tem a meacutedia de renda mais baixa o mais alto nuacutemero de pessoas pobres e o

menor nuacutemero de pessoas ricas (LABOV 2008 [1972] p 47)

55

Vocecircs que vecircm para caacute para Martha‟s Vineyard natildeo

entendem os costumes das velhas famiacutelias da ilha

costumes e tradiccedilotildees estritamente mariacutetimos e aquilo

que nos interessa o resto da Ameacuterica essa parte do outro

lado aqui da aacutegua que pertence a vocecircs e com que noacutes

natildeo temos nada a ver se esqueceu completamente

Acho ateacute que noacutes usamos um tipo de liacutengua inglesa

totalmente diferente pensamos diferente aqui na ilha

eacute quase uma liacutengua separada dentro da liacutengua inglesa

Interessante se faz notar que no lugar de Chilmark a comunidade

na ilha vive a tradiccedilatildeo da famiacutelia os costumes vecircm de geraccedilatildeo em

geraccedilatildeo O estrangeiro de liacutengua inglesa quando conhece o lugar pode

influenciar a liacutengua falada na ilha pois seu inglecircs eacute diferente

Os resultados reunidos com o maior grau de centralizaccedilatildeo de (ay)

e de (aw) satildeo mostrados na tabela 04 organizados por ocupaccedilatildeo regiatildeo

ou localidade em que moram e faixa etaacuteria

Tabela 04 ndash Cruzamento de fatores 6 falantes com o maior grau de

centralizaccedilatildeo (LABOV 2008 [1972] p 50)

Na regiatildeo Edgartown dois pescadores que satildeo irmatildeos

descendentes de famiacutelias antigas mantecircm sua posiccedilatildeo agrave beira mar de Edgartown trabalhando mesmo frente agrave invasatildeo dos veranistas

Nas tabelas 01 e 04 verifica-se que de todos os grupos

ocupacionais o de pescadores eacute o que utiliza um maior iacutendice de

centralizaccedilatildeo Labov tentou fazer tabulaccedilotildees cruzadas extensas entre as

tabelas 04 e 05 mas chegou agrave conclusatildeo que o nuacutemero era pequeno

Ocupaccedilatildeo Regiatildeo Idade (ay) (aw)

Pescador de Chilmark 60 anos 170 111

Pescador de Chilmark 31 anos 165 211

Pescador de Chilmark 55 anos 150 124

Pescador de Edgartown 61 anos 143 107

Pescador de Chilmark 33 anos 133 79

Pescador de Edgartown 52 anos 131 131

56

demais Exemplificou com o grupo de pescadores de Chilmark na faixa

etaacuteria de 30 a 60 anos Percebeu que cinco informantes tecircm iacutendices

meacutedios de 148 para (ay) e 118 para (aw) o mais elevado do que

qualquer outro grupo social da ilha Labov concluiu entatildeo que a grande

escalada da centralizaccedilatildeo comeccedilou na ilha alta entre os pescadores de

Chilmark

Veja agora os resultados da faixa etaacuteria por grupo eacutetnico

Tabela 05 ndash Centralizaccedilatildeo por grupos eacutetnicos (LABOV 2008

[1972] p 46)

A tabela 5 apresenta a centralizaccedilatildeo por faixa etaacuteria em cada um

dos grupos eacutetnicos principais (ingleses portugueses e indiacutegenas)

Labov concluiu que

Vemos que a centralizaccedilatildeo atinge o aacutepice na faixa etaacuteria

de 30 a 45 anos e que a centralizaccedilatildeo de (aw) alcanccedilou

ou ultrapassou (ay) neste ponto Essa faixa etaacuteria tem

estado sob uma pressatildeo muito mais forte do que qualquer

outra os homens cresceram numa economia declinante

depois de fazerem uma escolha mais ou menos

deliberada de permanecer na ilha em vez de abandonaacute-la

A maioria deles esteve nas forccedilas armadas durante a

Segunda Guerra Mundial ou no conflito da Coreacuteia

Muitos frequumlentaram uma faculdade pois o grupo de

ascendecircncia inglesa tem um grande apreccedilo pela educaccedilatildeo

superior Em algum momento cada um desses homens

escolheu levar uma vida apertada em Martha‟s Vineyard

enquanto muitos de seus contemporacircneos partiram para

ganhar mais dinheiro ou mais reconhecimento em outro

lugar (LABOV 2008 [1972] p 50 e 51)

Exemplificou com relatos as interferecircncias que ocorreram no

modo de falar na ilha Uma delas ldquoSabe o E nem sempre falou desse

jeito foi soacute depois que ele voltou da faculdade Acho que ele queria

Ingleses Portugueses Indiacutegenas

Faixa etaacuteria (ay) (aw) (ay) (aw) (ay) (aw)

Mais de 60 36 34 26 26 32 40

46 a 60 85 63 37 59 71 100

31 a 45 108 109 73 83 80 133

Menos de 30 35 31 34 52 47 88

Todas as idades 67 60 42 54 56 90

57

ficar mais parecido com os homens das docasrdquo

Labov concluiu

Aqui vemos um caso niacutetido de hipercorreccedilatildeo atuando e

com base em outros indiacutecios tambeacutem eacute razoaacutevel supor

que essa eacute uma forccedila muito regular de implementaccedilatildeo da

tendecircncia foneacutetica que estamos estudando (LABOV

2008 [1972] p 52)

Muitos dos jovens de antigas famiacutelias natildeo permaneceratildeo na ilha e

isto reflete nos iacutendices da tabela Atraveacutes de uma leitura padronizada de

um texto com os jovens Labov observou que existia diferenccedila na fala

dos que permaneciam na ilha exibiam forte centralizaccedilatildeo enquanto os

que queriam sair mostravam pouca ou nenhuma centralizaccedilatildeo

Das informaccedilotildees obtidas surgiu um padratildeo unificado que

exprimia o significado social dos ditongos centralizados evidenciando

ldquoque o significado imediato desse traccedilo era o Vineyardenserdquo Labov

esclarece que pelo fato de os grupos terem que responder a desafios

diferentes a seu status nativo desenvolvia-se um modo complexo no

traccedilo fonecircmico

Labov exemplifica isso abaixo

O grupo das antigas famiacutelias de origem inglesa tem sido

submetido a pressotildees vindas de fora seus membros estatildeo

lutando para manter sua posiccedilatildeo independente diante de

um persistente decliacutenio da economia e diante do asseacutedio

ininterrupto dos veranistas O membro da comunidade de

orientaccedilatildeo tradicional naturalmente busca seus valores

nas geraccedilotildees passadas essas geraccedilotildees passadas formam

um grupo de referecircncia para ele (LABOV 2008 [1972]

p 57)

Na geraccedilatildeo mais jovem dos ingleses o efeito diferencial no grau

de centralizaccedilatildeo manteve-se na tradiccedilatildeo eles tinham os ancestrais como

referecircncia se consideravam independentes enquanto pescadores

acreditavam que a ilha lhes pertencia Mantinham sua posiccedilatildeo

econocircmica Se pretendiam sair da ilha a influecircncia dos antepassados

diminuiacutea consideravelmente

No grupo de portugueses eles natildeo enfrentavam o dilema de partir ou ficar na ilha o principal desafio a que esse grupo tinha reagido

provinha do grupo inglecircs que tinha servido de referecircncia ateacute pouco

tempo Para os portugueses o mais urgente era afirmar-se em sua

identidade como ilheacuteu Os indiacutegenas se ressentiam dos obstaacuteculos que

58

enfrentavam na ilha mas tinham adotado muito dos valores dos

Chilmarkenses Com poucos recursos linguiacutesticos ficava difiacutecil insistir

em sua identidade indiacutegena

Labov (2008 [1972] p 59) examinando as entrevistas de cada

informante situou-as em trecircs categorias

Positivo ndash exprime sentimentos definitivamente positivos

acerca de Martha‟s Vineyard neutra ndash expressa

sentimentos nem positivos nem negativos acerca de

Martha‟s Vineyard negativa ndash indicada o desejo de ir

viver em outro lugar

Agora observe na tabela 06 o resultado da centralizaccedilatildeo segundo

a atitude dos trecircs grupos de falantes quanto agrave ilha

Pessoas (ay) (aw)

40 Positiva 63 62

19 Neutra 32 42

6 Negativa 09 08

Tabela 06 ndash Centralizaccedilatildeo e atitude com relaccedilatildeo a Martha‟s Vineyard

(LABOV 2008 [1972] p 59)

Labov agrupou os vaacuterios informantes em uma escala social

quanto ao uso dos ditongos centralizados Primeiro mostravam-se com

atitudes positivas 40 pessoas entrevistadas o iacutendice de centralizaccedilatildeo era

de 63 para (ay) e 62 para (aw) as duas comparaccedilotildees de centralizaccedilotildees

mais altas Segundo o ponto neutro realizado por 19 pessoas

entrevistadas o iacutendice de centralizaccedilatildeo ficava na faixa de 30 32 para

(ay) e 42 para (aw) nem positivo nem negativo Terceiro o ponto

negativo O autor encontrou 6 pessoas entrevistadas que tinham atitudes

negativas com relaccedilatildeo agrave ilha O iacutendice de centralizaccedilatildeo nesse caso era

apenas de 09 para (ay) e de 08 para (aw) Essas pessoas diziam que queriam

viver em outros lugares e natildeo na ilha de Martha‟s Vineyard O autor

mostrou a estratificaccedilatildeo de todos e como ele conseguiu explicar a

distribuiccedilatildeo dos ditongos centralizados de forma vaacutelida fazendo as

relaccedilotildees necessaacuterias para as explicaccedilotildees

59

23 ndash Os princiacutepios da mudanccedila linguiacutestica

Num primeiro estudo relacionado agrave mudanccedila linguiacutestica em

progresso (em curso) eacute necessaacuterio entender como as variaccedilotildees

linguiacutesticas estatildeo distribuiacutedas por faixa etaacuteria Entatildeo percebemos a

mudanccedila linguiacutestica relacionando a variaacutevel linguiacutestica com a idade

pesquisando indiviacuteduos de diferentes geraccedilotildees Segue abaixo a citaccedilatildeo

de Labov sobre mudanccedila linguiacutestica observada entre as faixas etaacuterias

conhecida como mudanccedila em tempo aparente21

A primeira abordagem e mais simples para estudar a

mudanccedila linguiacutestica em andamento eacute traccedilar mudanccedila no

tempo aparente isto eacute a distribuiccedilatildeo das variaacuteveis

linguiacutesticas entre os diferentes niacuteveis etaacuterios Se

descobrirmos uma relaccedilatildeo monotocircnica entre a idade e a

variaacutevel linguiacutestica ou uma correlaccedilatildeo significativa entre

as duas entatildeo trata-se de decidir se estamos lidando com

uma verdadeira mudanccedila em progresso ou de gradaccedilatildeo

etaacuteria (Hockett 1950) uma mudanccedila regular de

comportamento linguiacutestico com a idade que se repete em

cada geraccedilatildeo (LABOV 1994 p 47)22

A primeira e mais simples aproximaccedilatildeo entre as variaccedilotildees

encontradas na sincronia ao estudo da mudanccedila linguiacutestica em curso eacute

seguir a pista da mudanccedila em tempo aparente isto eacute a distribuiccedilatildeo das

variaacuteveis linguiacutesticas por faixa etaacuteria Na variaccedilatildeo encontrada entre o

grupo dos indiviacuteduos mais velhos de uma geraccedilatildeo e outro grupo de

21 SILVA (2004) faz um recorte transversal da amostra sincrocircnica em funccedilatildeo da faixa etaacuteria

dos informantes Por exemplo utilizamos no nosso estudo trecircs grupos etaacuterios jovens meia idade e idosos

COELHO et al (2010 p 164) apontam que mudanccedila em tempo aparente eacute uma ldquomudanccedila

linguiacutestica captada em estudo do comportamento linguiacutestico de indiviacuteduos de diferentes

geraccedilotildees numa comunidade num dado periacuteodo de tempo Tal estudo possibilita identificar correlaccedilotildees entre a variaacutevel social idade e a variaacutevel linguiacutestica em estudo revelando indiacutecios

de (i) uma mudanccedila concernente agrave idade que ocorre regularmente em cada geraccedilatildeo (gradaccedilatildeo

etaacuteria) ou de (ii) uma mudanccedila efetiva em progressordquo

22 Traduccedilatildeo minha do texto original em Inglecircs de Labov ldquoThe first and most straightforward approach to studying linguistic change in progress is to trace change in apparent time that is

the distribution of linguistic variables across age levels If we discover a monotonic

relationship between age and the linguistic variable or a significant correlation between the two then issue is to decide whether we are dealing with a true change in progress or with age-

grading (Hockett 1950) a regular change of linguistic behavior with age that repeats in each

generationrdquo

60

indiviacuteduos mais jovens em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria percebe-se muitas

vezes mudanccedila linguiacutestica em progresso nas liacutenguas

Na estratificaccedilatildeo por idade muitas vezes se percebe que os

indiviacuteduos mudam seu comportamento linguiacutestico durante toda a sua

vida mas a comunidade nem sempre muda

231 ndash A idade e a variaccedilatildeo estaacutevel

Mas nem sempre o estudo da faixa etaacuteria vai indicar mudanccedila em

progresso A meacutedia do grau de realizaccedilatildeo de uma variaccedilatildeo estaacutevel23

pode ser tambeacutem observada entre as faixas etaacuterias dos falantes em que

os grupos extremos (jovens e velhos) apresentam o mesmo

comportamento ao contraacuterio do grupo de meia idade cujo

comportamento se diferencia devido agraves pressotildees sociais Eacute considerando

a variaacutevel idade que vai ser observado no conjunto de dados

investigados se temos mudanccedila em tempo aparente ou variaccedilatildeo estaacutevel

A variaccedilatildeo estaacutevel pode ser observada considerando a

combinaccedilatildeo dos resultados das variaacuteveis bdquoidade‟ bdquosexo‟ bdquoclasse social‟ e

bdquoniacutevel de escolaridade‟ Com relaccedilatildeo agrave bdquofaixa etaacuteria‟ a variaccedilatildeo estaacutevel

diz respeito a variantes que coexistem por um longo periacuteodo mas sem

ter necessariamente predominacircncia de uma sobre a outra

Uma outra possibilidade eacute a visatildeo claacutessica que prevecirc estabilidade

do falante mas instabilidade da comunidade Ex daqui a 20 anos os

falantes de 70 anos estaratildeo falando como os de 50 anos de hoje Outra

possibilidade admite que o sistema linguiacutestico do indiviacuteduo modifica

mas o da comunidade permanece o mesmo Ex daqui a 20 anos os

falantes de 70 anos teratildeo o mesmo sistema que os de 70 anos hoje

Resultados recentes apontam para uma terceira possibilidade o

indiviacuteduo muda com o passar do tempo mas natildeo atinge precisamente a

mesma posiccedilatildeo em que estatildeo os falantes mais velhos atualmente

23 COELHO et al (2010 p 166) apontam que variaccedilatildeo estaacutevel eacute conhecida como a ldquosituaccedilatildeo

de variaccedilatildeo entre duas ou mais formas linguiacutesticas que se estende numa comunidade ao longo

do tempo sem que uma variante ceda seu espaccedilo agrave outrardquo

61

232 ndash A idade e a mudanccedila linguiacutestica

Segundo Naro (2003 p 44) no portuguecircs atual do RJ haacute

fenocircmenos em que a idade atua fortemente

Seudele a forma seu para a 3ordf pessoa eacute pouquiacutessimo

recorrente na fala dos mais jovens

Noacutesa gente os jovens estatildeo evitando a forma noacutes

Ir os jovens estatildeo evitando as regecircncias ir a e ir para

preferindo ir em

Sob a hipoacutetese claacutessica o estado atual da liacutengua de um falante

adulto reflete o estado da liacutengua adquirida mais ou menos ateacute os 15 anos

de idade Logo um indiviacuteduo falante com 60 anos representa a liacutengua de

45 anos atraacutes Falantes adultos tendem a usar as formas antigas Os pais

e filhos apesar de estarem em interaccedilatildeo constante usam formas

distintas na comunicaccedilatildeo Pais e filhos tecircm um vocabulaacuterio e uma fala

proacuteprios de sua eacutepoca Com o passar do tempo eacute provaacutevel que a forma

nova seja adotada por pais e filhos

Naro (2003) apresenta a escala em tempo aparente obtida atraveacutes

do estudo de falantes com idades diferentes ndash chamada de ldquogradaccedilatildeo

etaacuteriardquo ndash que corresponde sempre sob a hipoacutetese claacutessica a uma escala

de mudanccedila em tempo real Observamos a tabela apresentada a seguir

Idade atual

(em anos)

Estado da liacutengua

(anos atraacutes)

70

60

50

40

30

20

55

45

35

25

15

5

Tabela 07 ndash A escala em tempo aparente eacute chamada de ldquogradaccedilatildeo etaacuteriardquo (NARO 2003 p 45)

A tabela ajuda a explicar os dados da pesquisa realizada por

Labov (atraveacutes de gravaccedilatildeo no ano de 1990) mostrando que a fala de

62

um indiviacuteduo de 70 anos de idade representaria o estado da liacutengua

adquirida em 1935

Segundo Naro (2003) Labov conseguiu distinguir quatro graus de

ditongos centralizados denotados (aw) ndash 0 (a posiccedilatildeo mais baixa

correspondendo a ldquoshwardquo) As trecircs posiccedilotildees centrais claacutessicas do

alfabeto foneacutetico estatildeo representadas por ele no seguinte graacutefico

Figura 06 ndash O trapezoacuteide das vogais a flecha indica a direccedilatildeo de

movimento do primeiro elemento de (aw) (NARO 2003 p 49)

A pesquisa em Martha‟s Vineyard revelou que os velhos

preservavam mais a forma original natildeo-centralizada os jovens por

outro lado centralizavam mais Segue a tabela

Geraccedilatildeo Idade Iacutendice de (aw) Iacutendice de (ay)

I (pais) 75+

61 - 75

22

37 25

35

II (filhos) 46 ndash 60

31 ndash 45

44

88 62

88

Tabela 08 ndash Mudanccedila de (aw) e (ay) em tempo aparente atraveacutes de duas

geraccedilotildees em Martha‟s Vineyard (Labov 1972 apud Naro 2003 p 22)

Algumas observaccedilotildees de Naro sobre a pesquisa de Labov satildeo (i) a centralizaccedilatildeo estaacute se espalhando com forccedila e rapidez (ii) os indiviacuteduos

mais velhos (80 anos) praticamente apenas usavam o grau zero o mais

aberto da escala com ocorrecircncias esporaacutedicas do grau um a faixa de 60

anos estava concentrada no grau dois antes de consoante surda (out

63

ldquoforardquo) e no grau zero ou um em outros contextos (round ldquoredondordquo

now ldquoagorardquo) na faixa de 30 anos o condicionamento se tornava quase

categoacuterico grau dois ou trecircs antes de consoante surda grau zero ou um

nos demais contextos ndash resultados obtidos atraveacutes do estudo da variaccedilatildeo

no indiviacuteduo Observa-se assim detalhadamente a mudanccedila em

progresso desde o comeccedilo (ocorrecircncia esporaacutedica de variantes mais

altas) ateacute a instauraccedilatildeo do condicionamento categoacuterico (variantes mais

altas antes de consoante surda variantes mais baixas nos outros

contextos)

De acordo com Naro

O que permite esta visatildeo simultacircnea das diversas etapas

do processo dinacircmico de mudanccedila eacute o congelamento do

sistema linguiacutestico do falante na eacutepoca da puberdade e eacute

justamente este o postulado fundamental que subjaz agrave

hipoacutetese claacutessica do relacionamento entre mudanccedila

linguiacutestica e idade o processo da mudanccedila se espelha na

fala das sucessivas faixas etaacuterias (NARO 2003 p 46)

Sabemos que nem toda variaccedilatildeo na fala representa mudanccedila em

progresso Um exemplo pronuacutencia do morfema ing em inglecircs (walking

ldquoandandordquo) que pode ser realizado como velar ou dental ndash eacute uma

variaccedilatildeo atestada haacute seacuteculos poreacutem ainda existente em praticamente

todos os dialetos e nas diferentes faixas etaacuterias

Labov realizava pesquisas sobre o desenvolvimento diacrocircnico24

da liacutengua a partir de anaacutelises sincrocircnicas25

primeiro foi na ilha de

Marthas Vineyard (1963) e depois foi na cidade de Nova York (1966)

Quando a mudanccedila estaacute envolvida certa variante

ocorreraacute na fala da crianccedila embora esteja ausente na fala

de seus pais ou mais tipicamente uma variante na fala

24 JOTA (1981 p 103) ldquoEstudo da liacutengua atraveacutes dos tempos e consequentemente estudo das transformaccedilotildees que sofre a liacutengua em sua evoluccedilatildeo Opotildee-se agrave sincronia A linguiacutestica

portanto jaacute que pode estudar a liacutengua diacronicamente ou se limitar ao seu estudo em

determinado tempo de sua evoluccedilatildeo (sincronia) se divide em diacrocircnica e sincrocircnicardquo

25 JOTA (1981 p 307) ldquoConjunto dos fatos linguiacutesticos num dado estaacutegio de sua evoluccedilatildeo A sincronia eacute objeto de estudo da linguiacutestica sincrocircnica ou estaacutetica Como um estado de liacutengua

abrange determinado espaccedilo de tempo tempo suficiente para que haja alguma variaccedilatildeo

sincrocircnica eacute claro que esta sob certo ponto-de-vista natildeo se distingue da evoluccedilatildeo diacrocircnicardquo

64

dos pais ocorreraacute na fala de seus filhos com frequecircncia

maior e na fala de seus netos com frequecircncia ainda

maior (CHAMBERS 1995 p185)26

Numa comunidade em geral as geraccedilotildees sucessivas apresentaratildeo

uma frequecircncia de uso maior da variante inovadora A conclusatildeo loacutegica

eacute que com o passar do tempo haveraacute um uso categorial da forma

inovadora e a eliminaccedilatildeo da variante antiga

233 ndash Aplicando os conhecimentos da sociolinguiacutestica

Eacute importante ressaltar que todas as liacutenguas mudam com o tempo

Como exemplo o portuguecircs eacute originaacuterio do latim considerado liacutengua

matildee Entretanto atualmente natildeo haacute semelhanccedila entre as duas liacutenguas

As diferenccedilas satildeo profundas e afetam toda a gramaacutetica da liacutengua essas

diferenccedilas apareceram e cresceram ao longo de mais de mil anos Tanto

na liacutengua falada quanto na liacutengua escrita ocorrem mudanccedilas que satildeo

observadas quando satildeo feitas pesquisas que nos mostram em que alguns

fenocircmenos mudaram Este assunto eacute explicado por Naro (2003)

A mudanccedila linguiacutestica natildeo eacute abrupta normalmente se processa de

maneira gradual em vaacuterias dimensotildees Sob o eixo social eacute observaacutevel

que falantes mais velhos costumam preservar mais as formas antigas o

mesmo ocorre com pessoas mais escolarizadas com camadas da

populaccedilatildeo que gozam de maior prestiacutegio social com o grupo feminino e

com as pessoas que exercem atividades que exigem boa apresentaccedilatildeo

para o puacuteblico Uma mesma pessoa pode escolher diferentes formas em

diferentes situaccedilotildees

Com base nisso pretendo fazer uma comparaccedilatildeo das mudanccedilas

ocorridas num curto espaccedilo de tempo tendo como referecircncia um

professor surdo para investigar as possiacuteveis mudanccedilas da liacutengua de

sinais depois de seu estudo no INES ateacute o momento atual envolvendo

um grupo de surdos mais velhos e outros dois grupos mais jovens Os

dados obtidos na pesquisa podem mostrar como ocorreram algumas

mudanccedilas na liacutengua de sinais e se realmente ocorreram aleacutem disso

podem criar um registro deste periacuteodo para futuras pesquisas Para

Labov (2008 [1972] p 21) ldquoseria de esperar que a aplicaccedilatildeo da

26 Traduccedilatildeo minha do texto original em Inglecircs ldquoWhere change is involved a certain variant will occur in the speech of children though it is absent in the speech of their parents or more

typically a variant in the parents‟ speech will occur in the speech of their children with greater

frequency and in the speech of their granchildren with even greater frequencyrdquo

65

linguiacutestica estrutural a problemas diacrocircnicos levasse ao enriquecimento

dos dados mais do que ao seu empobrecimentordquo

Vale lembrar que em 1970 a educaccedilatildeo dos surdos em Santa

Catarina era baseada em metodologia oralista Poucos sinalizavam

porque natildeo podiam tinham que falar Os sinais eram usados na

comunicaccedilatildeo entre surdos mas esporadicamente pois nesta eacutepoca aleacutem

de serem proibidos de utilizarem sinais para a comunicaccedilatildeo tambeacutem

natildeo podiam fazer reuniotildees soacute de indiviacuteduos surdos como acontece

atualmente Segue a citaccedilatildeo de Labov 2008 [1972] que considero

pressuposto para o desenvolvimento da presente pesquisa

O ponto de vista do presente estudo eacute o de que natildeo se

pode entender o desenvolvimento de uma mudanccedila

linguumliacutestica sem levar em conta a vida social da

comunidade em que ela ocorre Ou dizendo de outro

modo as pressotildees sociais estatildeo operando continuamente

sobre a liacutengua natildeo de algum ponto remoto no passado

mas como uma forccedila social imanente agindo no presente

vivo (LABOV 2008 [1972] p 21)

O maior problema a meu ver eacute que o grupo dos mais velhos que

usava a liacutengua falada natildeo entendia a importacircncia da liacutengua de sinais

para o indiviacuteduo surdo restringindo muito a sinalizaccedilatildeo e os sinais no

ano de 1950 Sabemos que pessoas de diferentes lugares que vecircm para

uma determinada comunidade acabam trocando experiecircncias e palavras

influenciando essa comunidade Isto pouco acontecia com o grupo dos

surdos mais velhos Diferentemente do que se observava com os

antigos os surdos mais novos tinham um maior contato social com a

liacutengua de sinais brasileira permitindo mais trocas de conhecimentos

criando novos sinais tornando a liacutengua de sinais mais ldquovivardquo e

ldquodinacircmicardquo

Por exemplo em comparaccedilatildeo com falantes da ilha em

Florianoacutepolis quanto agrave situaccedilatildeo estiliacutestica27

o grupo mais velho de

surdos usava mais a liacutengua falada do que a sinalizada pouco contato

eles tinham entre si pois era proibida28

a sinalizaccedilatildeo pelas instituiccedilotildees

27 Eacute o jeito de falar nas diferentes situaccedilotildees com os diferentes interlocutores e nos variados

contextos

28 SCHMITT (2008) A representaccedilatildeo de surdo na histoacuteria antiga registra a passagem que os

surdos realizaram na sociedade onde predominavam os ouvintes Entatildeo a hegemonia dos ouvintes manteve sempre o surdo como excluiacutedo atraveacutes de estereoacutetipos e depreciaccedilotildees A

sociedade antiga natildeo permitia a capacitaccedilatildeo dos surdos como sujeitos normais o uso da liacutengua

66

que trabalhavam com os surdos e tambeacutem pelas famiacutelias Conta-se que

em algumas escolas amarravam as matildeos dos indiviacuteduos surdos para que

natildeo sinalizassem Com o grupo mais jovem eacute diferente o contato deles

com outros surdos eacute maior trocam mais experiecircncias e sinais

propiciando assim mais mudanccedilas na liacutengua de sinais tornando-se hoje

mais usada e mais dinacircmica na comunidade surda Isso acontece aqui

em Florianoacutepolis tambeacutem A influecircncia accediloriana trazida pelos

imigrantes portugueses atualmente com a visita de turistas brasileiros

(ex vindos dos estados de RS SP PR e MG) e estrangeiros (ex

Argentinos Paraguaios Uruguaios Chilenos dentre outros) a

Florianoacutepolis acaba interferindo e modificando a liacutengua falada na ilha

Acredita-se que existe variaccedilatildeo linguiacutestica na liacutengua de sinais

em Santa Catarina por influecircncia da comunidade de falantes nas

diferentes regiotildees do estado A liacutengua de sinais acaba incorporando

parte da cultura dessas comunidades a sua liacutengua

Existem pesquisas na liacutengua de sinais mostrando diferenccedilas

nas liacutenguas visual-espacial de acordo com o paiacutes de origem com

diferenccedilas culturais diferentes configuraccedilotildees de matildeos etc Estas

pesquisas ajudam a compreender melhor a estrutura das liacutenguas de

sinais seu aspecto linguiacutestico e gramatical

Em Santa Catarina na comunidade de falantes no municiacutepio de

Itaacute na regiatildeo oeste do estado muitos descendentes de europeus

(Italianos alematildees poloneses etc) falam usando um r brando por

exemplo barragem mas na fala fica baragem

Na liacutengua portuguesa existem diferentes sons e diferentes formas

de falar esses sons No caso do exemplo citado anteriormente do

municiacutepio de Itaacute o som do r falado eacute diferente mas o significado da

palavra eacute o mesmo Na LIBRAS acontece isto um determinado sinal

pode ser pronunciado de diferentes maneiras com relaccedilatildeo agrave

configuraccedilatildeo de matildeos (CM)29

ao ponto de articulaccedilatildeo (PA) e ao

movimento (M) Segue abaixo a foto de trecircs principais paracircmetros

fonoloacutegicos

de sinais e nem aceitava a cultura do surdo Como A liacutengua de sinais foi banida das escolas

pelas decisotildees do Congresso de Milatildeo em 1880

29 Configuraccedilatildeo de matildeo e segue a foto

67

Figura 07 ndash Sinal de Porco

Por exemplo os sinais para as palavras amanhatilde

30 e faacutecil

31 satildeo

diferentes quanto ao ponto de articulaccedilatildeo e ao movimento mas a

configuraccedilatildeo de matildeos eacute a mesma para as duas palavras Ė importante

ressaltar que Labov em sua pesquisa mostrou variaacuteveis linguiacutesticas com

relaccedilatildeo agrave comunidade de fala e o exemplo na liacutengua de sinais eacute visual e

natildeo sonoro Entatildeo a fonologia das liacutenguas de sinais eacute um ramo da

linguiacutestica que objetiva identificar a estrutura e a organizaccedilatildeo dos

constituintes fonoloacutegicos propondo descriccedilotildees e explicaccedilotildees

Labov (1982) no entanto acreditava que eacute possiacutevel que uma

mudanccedila linguiacutestica possa ser o resultado de uma causa particular

isolada do sistema linguiacutestico ou social Por exemplo em Marthas

Vineyard um alto nuacutemero de casamento entre surdos e ouvintes e entre

surdos foi responsaacutevel pelo nascimento de centenas de surdos no seacuteculo

XIX Como resultado quase todos os membros ouvintes da comunidade

aprenderam a liacutengua de sinais e a utilizaram com muitos outros

propoacutesitos aleacutem da comunicaccedilatildeo com surdos (GROCE 1952)

Concluo este capiacutetulo que apresenta a pesquisa de Labov na ilha

30 Sinal de amanhatilde e segue a foto

31 Sinal de faacutecil e segue a foto

68

de Marthas Vineyard verificando a ocorrecircncia de centralizaccedilatildeo de

ditongos com algumas consideraccedilotildees A metodologia de pesquisa que

Labov abriu um campo de estudos que relaciona variaccedilatildeo e a mudanccedila

linguiacutestica ao contexto social utilizando-se de fatores como gecircnero

escolaridade classe social faixa etaacuteria local de residecircncia apoiando-se

em conhecimento de antropologia e liacutengua e de teacutecnicas computacionais

e matemaacuteticas Essa forma de pesquisa deu iniacutecio ao ramo da linguiacutestica

que conhecemos como sociolinguiacutestica variacionista ou quantitativa em

que a liacutengua natildeo eacute vista como uma estrutura estaacutetica e sim como um

sistema em variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica constante ligado agrave estrutura

social

69

CAPIacuteTULO III ndash A histoacuteria social da liacutengua

31 ndash Introduccedilatildeo

Inicialmente este capiacutetulo apresenta a histoacuteria contextualizada da

liacutengua de sinais da Franccedila depois no Brasil e finalmente em Santa

Catarina No primeiro momento apresenta-se o perfil do fundador da

primeira escola de surdos no mundo localizada na Franccedila o Abade de

LacuteEacutepeacutee Em seguida aponta-se qual foi o fundador da primeira

instituiccedilatildeo de surdos na cidade do Rio de Janeiro o Eacutedouard Huet32

e

traz consideraccedilotildees sobre o primeiro professor surdo a trabalhar em sala

de aula com alunos surdos em Santa Catarina Francisco Lima Juacutenior

Este uacuteltimo estudou a liacutengua de sinais na cidade do Rio de Janeiro e

proporcionou aos surdos de Santa Catarina uma comunicaccedilatildeo em liacutengua

de sinais mais aprofundada e abrangente Ele tambeacutem divulgou a liacutengua

de sinais na comunidade surda criando espaccedilos culturais e uma

identidade para a comunidade surda catarinense

Este capiacutetulo apresentada a seguinte estrutura comenta sobre o

primeiro fundador do Instituto Nacional de Surdos de Paris Abade

LacuteEacutepeacutee apresenta Eacutedouard Huet e sua vinda para o INESRJ e por fim

relata a histoacuteria do primeiro professor surdo (Francisco Lima Juacutenior) em

Santa Catarina na liacutengua de sinais

32 ndash Charles Michel de LacuteEacutepeacutee - Instituto Nacional de Surdos-

Mudos33

em Paris

Na Franccedila Abade de LacuteEacutepeacutee34

foi o primeiro fundador de uma

escola com classes para a educaccedilatildeo de surdos e tambeacutem criou a

32 No Brasil escreve-se Eduard mas na Franccedila seu nome e escrito Eacutedouard Huet

33 Surdos-Mudos ndash terminologia utilizada nessa eacutepoca atualmente utilizamos ser surdo

34 Abade de LacuteEacutepeacutee foi o criador de um meacutetodo empregado na educaccedilatildeo de surdos

denominado de ldquosinais metoacutedicosrdquo A justificativa para a criaccedilatildeo desse meacutetodo se deu pelo fato de que L‟Epeacutee acreditava que a Liacutengua de Sinais utilizada pelos surdos era incompleta

devendo ser melhorada e universalizada Seu meacutetodo consistia em conservar o ldquonuacutecleo central

dos gestosrdquo utilizados por seus alunos adicionando poreacutem a estes gestos outros sinais para designar objetos qualidades fatos ou situaccedilotildees No entanto como seu principal objetivo era o

ensino da liacutengua francesa natildeo se deu por satisfeito criou uma seacuterie de sinais que natildeo existiam

na codificaccedilatildeo gestual referente a preposiccedilotildees artigos tempo e pessoa verbal entre outros

70

linguagem de gestos que se chamava ldquoLINGUAGEM DE SINAIS

METOacuteDICOSrdquo e o alfabeto manual que eacute bem diferente dos coacutedigos de

significados na estrutura frasal e no gesto que representava a palavra

para o surdo

Moura (2000 p 22) relatou que o Abade Charles-Michel de

L‟Epeacutee nasceu em 1712 na cidade de Versalhes na Franccedila O Abade

comeccedilou a ensinar os surdos em 1760 por razotildees religiosas iniciando

seu trabalho com duas freiras surdas Com grande desafio transformou

sua casa na primeira escola puacuteblica para surdos (Instituto de Surdos e

Mudos de Paris) utilizando a comunicaccedilatildeo gestual A autora Perlin

(2002) lembra que

As escolas fundadas em outros paiacuteses nos moldes da

Franccedila passaram a usar as liacutenguas de sinais nacionais e a

explorar novos recursos na educaccedilatildeo de surdos O

curriacuteculo da escola para surdos em Paris passou a

conter liacutengua de sinais religiatildeo liacutengua nacional e

formaccedilatildeo profissional

O Abade de L‟Epeacutee comeccedilou a sua pesquisa observando um

grupo de surdos de laacute que se comunicava nas ruas da cidade (cuidando

para que as pessoas natildeo os vissem fazendo gestos) na liacutengua de sinais

francesa O Abade LacuteEacutepeacutee teve a ideia de conhecer mais sobre a liacutengua

gestual daqueles surdos e mais tarde pensou em como poderia ajudaacute-los

nessa comunicaccedilatildeo Ele ensinava religiatildeo na igreja para os surdos Entatildeo

LacuteEacutepeacutee comeccedilou a investir em seu projeto de melhorias para esta forma

de comunicaccedilatildeo Chamou o grupo de surdos e mostrou a liacutengua gestual

com gramaacutetica proacutepria e o alfabeto manual para o auxiacutelio na

comunicaccedilatildeo

A oportunidade de melhorar a linguagem dos surdos na eacutepoca foi

essencial para que fosse desenvolvida a base da liacutengua de sinais dos

surdos de Paris fortalecendo a cultura e a comunidade surda Isso

permitia tambeacutem que os surdos tivessem acesso a uma filosofia

religiosa aprendendo com isso novos vocabulaacuterios aleacutem da crenccedila e de

um modelo educacional diferente Segue o autor

Todo surdo-mudo enviando ateacute noacutes jaacute tem uma

linguagem () Tem o haacutebito de usaacute-la e compreende os

outros que a fazem Com essa linguagem expressa as

suas necessidades desejos duacutevidas dores etc e natildeo

erra quando os outros se expressam da mesma forma

Noacutes desejamos instruiacute-los e assim ensinar-lhes o francecircs

71

Qual eacute o meacutetodo mais simples e mais curto Natildeo seria

expressando-nos na sua liacutengua Adaptando a sua liacutengua e

fazendo com que ela se adapte a regras claras natildeo

seriacuteamos capazes de conduzir a sua instruccedilatildeo como

desejamos (citado por Harlan Lane Instituon des

Sourds-Muets par la Voie des Signes Meacutethodies part 1

cap IV p 36) apud (CARVALHO 2007 p 24)

Para o surdo comeccedilou a existir uma linguagem atraveacutes da

comunicaccedilatildeo gestual Assim os surdos trocavam informaccedilotildees entre eles

na liacutengua de sinais essencial para o acesso do surdo a sua identidade

Essa convenccedilatildeo social da liacutengua de sinais nesse primeiro grupo de

surdos foi a base da liacutengua Entatildeo o surdo podia aprender a liacutengua

francesa escrita e ter contato com a gramaacutetica dessa liacutengua que foi

essencial para a comunicaccedilatildeo dos surdos transformando a representaccedilatildeo

do gestual O surdo podia alfabetizar-se em francecircs e entender melhor a

sociedade em que vivia e assim adaptar-se agraves mudanccedilas ocorridas em

sua liacutengua gestual Segue a discussatildeo do autor

O Abade L‟Epeacutee iniciou do ano em 1760 conheceu o

grupo de surdo na liacutengua de sinais francesa e estudou

junto com os surdos Mas ele teve a ideacuteia de ajudar o

surdo valorizar a liacutengua de sinais francesa Quem fundou

o Instituto no Paris Foi Abade L‟Epeacutee Laacute foi ensinada

a liacutengua de sinais francesa para os alunos surdos mais

pobres Berthier escreveu a biografia do Abade L‟Epeacutee

(1712 ndash 1789) (SCHMITT 2008 p 50)

O Abade L‟Epeacutee com sua experiecircncia e pesquisa ajudava os

surdos franceses na liacutengua francesa escrita e na liacutengua de sinais em

Paris Com sua pesquisa ele mostrou para a comunidade da eacutepoca uma

nova forma de ensinar os surdos desenvolvendo estrateacutegias de ensino

nas duas liacutenguas Acreditava-se que um dos motivos que levou o Abade

a demonstrar interesse pela educaccedilatildeo de surdos foi o fato de ele ter duas

freiras surdas Seguem imagens mostrando o Abade L‟Epeacutee ensinando o

primeiro grupo de surdos franceses (SCHMITT 2008 p 51)

72

Figura 08 ndash Abade L‟Epeacutee ensinando os surdos na liacutengua de sinais

francesa

Schmitt (2008) realizou pesquisa na liacutengua de sinais na

identificaccedilatildeo do surdo e na adaptaccedilatildeo do conhecimento pelo surdo

Sobre L‟Epeacutee ensinando o grupo de surdos na imagem anterior Schmitt

comenta

O Abade L‟ Epeacutee ajudou ensinando os surdos na liacutengua

de sinais valorizando o aspecto viso-espacial na relaccedilatildeo

das matildeos compartilhando e mostrando a loacutegica de sinais

do surdo compreende-se envolve a capacidade no uso o

alfabeto na cultura do surdo Entatildeo na realidade

possibilitou a liacutengua do surdo na comunicaccedilatildeo com outro

surdo e na relaccedilatildeo com professor francecircs (SCHMITT

2008 p 51)

Segundo Frishberg (1975) na Franccedila escreveu que Abbe Charles-

Michel LacuteEpeacutee descreveu o uso da liacutengua de sinais que havia aprendido

com seus alunos ou em contato com as pessoas Era uma forma natural

de comunicaccedilatildeo que veio dar origem agrave gramaacutetica francesa de sinais

Essa gramaacutetica francesa se espalhou e foi disseminada por toda a

Europa cada paiacutes com suas especificidades como ocorre na liacutengua

falada

Percebemos que o Abade L‟Epeacutee ensinava a gramaacutetica do francecircs

no Instituto para Surdos de Paris para que os alunos surdos aprendessem

a histoacuteria e a liacutengua de sinais O L`Epee foi o antecessor em Paris do

Abade Sicard que escreveu o primeiro dicionaacuterio na liacutengua de sinais no

seacuteculo XVIII

Quando o Abade apresentou a comunicaccedilatildeo em liacutengua de sinais

ao grupo para que aprendessem vocabulaacuterio na liacutengua de sinais mostrou

os sinais de COMER AacuteGUA e tambeacutem o sinal de BEBER apontando

para vaacuterios objetos para que o grupo memorizasse e aprendesse o nome

73

de cada um deles Isso com o grupo de alunos e tambeacutem com as duas

irmatildes Foi crescendo o nuacutemero de sinais usados na linguagem gestual

francesa daquela eacutepoca pelos alunos surdos da instituiccedilatildeo onde ensinava

L‟Epeacutee

Entatildeo percebi atraveacutes de leituras que o Abade L‟Epeacutee ensinava a

gramaacutetica do francecircs no Instituto para Surdos de Paris para que os

alunos surdos aprendessem dentre outras coisas a histoacuteria e a liacutengua de

sinais Isso foi interessante para o grupo pois desenvolveram um padratildeo

para a linguagem gestual

Em 1755 Abade L‟Epeacutee iniciou com o primeiro grupo de surdos

no Instituto em Paris onde ensinava a vaacuterios alunos de classes

diferentes ricos e pobres Ele apresentou para os alunos a importacircncia

dos sinais padronizados que ajudavam na comunicaccedilatildeo Em contato

com a liacutengua de sinais convencionada o grupo de surdos na Franccedila

cada vez mais dominava os sinais e aperfeiccediloava o seu meacutetodo de sinais

metoacutedicos

Em ldquoA Maacutescara da Benevolecircnciardquo Lane (1992) apresenta relatos

interessantes de pesquisa com entrevistas de alunos surdos Sua

descriccedilatildeo sobre os sinais indicando os tempos segue na citaccedilatildeo

ldquoO aluno apesar de surdo e mudo tinha tal como noacutes

uma ideacuteia de passado presente e futuro antes de ser

colocado sob a nossa tutela mas eram incapazes de fazer

os sinais para exprimir as diferenccedilas Se quisesse

exprimir uma acccedilatildeo presente Fazia um sinal impelido

pela natureza que consiste em atrair o olhar do

interlocutor para testemunhar a nossa actividade actual

mas se a acccedilatildeo natildeo tivesse lugar na sua vista estendia as

matildeos sobre a mesa tal como estamos todos aptos a fazer

em situaccedilotildees semelhantes e estes satildeo os sinais que

voltou a aprender na aula para indicar o presente de um

verbo Se quisesse indicar que uma acccedilatildeo pertence ao

passado Atirava despreocupadamente o braccedilo sobre o

ombro duas ou trecircs vezes adoptamos estes sinais para

indicar o passado dos verbos E finalmente quando

tivesse a intenccedilatildeo de anunciar o futuro projectava a Matildeo

direita uma vez mais neste caso seleccionaacutemos este

sinal para representar o tempo futuro de um verbordquo

(LANE 1992 p 107 e 108)

Observa-se que havia diferenccedilas na gramaacutetica dos sinais que os

surdos utilizavam no passado A linguagem gestual francesa mudava

com o tempo na realidade da comunidade surda de Paris O contato com

74

sinais na escola eram muito diferentes daqueles que usavam nas

conversas de ruas Os alunos aprenderam formas verbais (passado

presente e futuro) que interferiram na liacutengua Quando a comunidade

surda que utiliza um espaccedilo cultural aprende o contexto cultural se

modifica e a liacutengua de sinais que tambeacutem eacute social se modifica

A liacutengua de sinais francesa serve de origem para muitos dos sinais

usados na ASL No comeccedilo do seacuteculo XIX um professor de surdo

chamado Thomas Hopkins Gallaudet foi da Ameacuterica para a Europa a

fim de aprender teacutecnicas de ensino Na Inglaterra ele conheceu Roch-

Ambroise Cucurron e Abbe Sicard o diretor de uma escola para surdos

em Paris Gallaudet aprendeu meacutetodos de ensino e muitos sinais para

usar na comunicaccedilatildeo com os surdos com Abbe Sicard Tambeacutem

Gallaudet convenceu Laurent Clerc um dos alunos de Sicard a ajudaacute-lo

a fundar uma escola para surdos na Ameacuterica

Gallaudet e Clerc fundaram a Escola Americana para Surdos

(ASD) em 1816 em Hartford Connecticut A escola combinava sinais

da LSF com os que jaacute eram usados pela comunidade de surdos da

Ameacuterica para criar uma linguagem padronizada Nesta eacutepoca esta

linguagem evoluiu para a ASL considerada atualmente a liacutengua de

sinais mais geneacuterica do mundo O filho de Thomas Gallaudet Edward

fundou a Universidade de Gallaudet em Washington DC A Gallaudet

foi a primeira faculdade para surdos

33 ndash Eacutedouard Huet - Instituto Nacional Educaccedilatildeo de Surdos

(INESRJ)

Segundo Ceacutesar Delgado (Revista da FENEIS 2002) Huet nasceu

em 1822 em Paris na Franccedila Comeccedilou seus estudos desde a infacircncia

ouvia normalmente jaacute se comunicava na fala nos idiomas francecircs (sua

liacutengua natural) alematildeo e portuguecircs mais tarde estudava outra liacutengua

que era o espanhol Ficou surdo aos doze anos de idade por

consequecircncia de um sarampo Como ele pertencia agrave nobreza estudou no

Instituto em Bourges e seu aprendizado na liacutengua de sinais francesa

proporcionou muitas oportunidades tornou-se professor de francecircs para

um grupo de surdos na Europa Ele foi convidado pelo imperador Dom Pedro II

35 para que

35 Deste que Eduard Huet fundou o imperial Instituto de Surdos-Mudos com autorizaccedilatildeo do

Imperador Dom Pedro II a Liacutengua de Sinais passou a fazer parte da educaccedilatildeo dos indiviacuteduos

surdos como forma de comunicaccedilatildeo e expressatildeo No iniacutecio a Liacutengua de Sinais teve sua origem na Franccedila mas aos poucos ela foi se desenvolvendo e se adaptando agrave realidade do

Brasil Isso comprova entatildeo que a Liacutengua de Sinais natildeo eacute universal mas ela possui pequenas

75

ajudasse a trabalhar na criaccedilatildeo do Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de

Surdos-Mudos com sede no Rio de Janeiro Iniciou ensinando na sua

liacutengua francesa depois aprendeu os sinais usados no Brasil e acabou

misturando as duas liacutenguas Trouxe um meacutetodo de ensino para a

Educaccedilatildeo de Surdos influenciando a Liacutengua de Sinais Brasileira com

sua liacutengua de sinais (francesa)

Eacutedouard Huet foi o primeiro professor surdo do Brasil

Apresentou em 1855 um projeto ao Imperador D Pedro II para uma

escola de surdos e assim foi fundado o Instituto Nacional de Educaccedilatildeo

de Surdos-Mudos no Rio de Janeiro Ele foi o responsaacutevel por trazer a

liacutengua de sinais francesa para o Instituto fundado em 1857 na cidade

do Rio de JaneiroRJ Com isso temos a origem da influecircncia da liacutengua

de sinais francesa (LSF) trazida por ele da Europa sobre a liacutengua de

sinais brasileira (LSB)36

Segue citaccedilatildeo de Campello que fala sobre a

constituiccedilatildeo da LSB no Brasil

a Constituiccedilatildeo Histoacuterica da Liacutengua de Sinais Brasileira

registro aqui ldquoa viagemrdquo da LSF ateacute o Brasil Essa

viagem tem a sua cronologia histoacuterica quando em 1855

o Ministro de Instruccedilatildeo Puacuteblica Drouyn de Louys e o

embaixador da Franccedila Monsieur Saint George junto

com a corte do Rio de Janeiro apresentou o Conde e

Professor surdo D E Huet37 ex-diretor do Instituto de

Bourges ao ex-Imperador Dom Pedro II e o mesmo

concedeu todas as honrarias inclusive com o salaacuterio e

hospedagem e incentivou a criaccedilatildeo de um educandaacuterio38

semelhanccedilas variando tanto de estado para estado dentro de um mesmo paiacutes quanto de um paiacutes para o outro com algumas semelhanccedilas

36 Campello usa a sigla LSB Nesta tese a sigla usada eacute LIBRAS

37 Haacute muita controveacutersia em torno do seu nome Inicialmente foi registrado na ldquoRevista

Espaccedilordquo do INES como E Huet Mas nos outros documentos pesquisados por mim assinava

como D E Huet sem complementar ou acrescentar o nome proacuteprio completo Recentemente atraveacutes da pesquisa pelo dirigente da FENEIS e da publicaccedilatildeo da Revista FENEIS confirmou

o nome completo de EHuet como Edward Huet Haacute pouco tempo o Grupo de Sinais

Mexicano anexou a coacutepia do email da bisneta que confirmou o nome dele como D Edward Huet M

38 Esse processo jaacute havia acontecido de forma similar com a educaccedilatildeo dos cegos O cego Patriacutecio Aacutelvares de Azevedo brasileiro educado em Paris e que ao regressar ao Rio de Janeiro

em 1851 pensou em fundar um instituto de ensino para cegos A realidade se concretizou em

1854 na fundaccedilatildeo de Instituto Benjamin Constant para cegos

76

destinado ao ensino de surdos mudos39 seria mais uma

poliacutetica puacuteblica com uma tendecircncia mundial a criaccedilatildeo de

escolas de ensino e tambeacutem de residenciais para abrigar

ldquodeficientes40 Haacute a hipoacutetese de que a princesa Isabel

filha do D Pedro II teria um filho surdo41 e tambeacutem que

o marido dela o Conde dacuteEu era portador de deficiecircncia

auditiva42 Mesmo com ou sem comprovaccedilatildeo histoacuterica

eacute difiacutecil transpor a histoacuteria da criaccedilatildeo e do interesse de

Dom Pedro II em abrir a escola de surdos

(CAMPELLO 2011)

O professor surdo Huet lutou pelo direito agrave liacutengua de sinais na

Instituiccedilatildeo com o imperador Dom Pedro II a fim de abrir espaccedilo na

escola de surdo em 1857 O INES era a uacutenica instituiccedilatildeo puacuteblica federal

do Brasil localizada no Rio de Janeiro Vieram alunos de outros estados

brasileiros para estudar com o professor Huet e ficavam hospedados no

Instituto Depois aprendiam a Liacutengua de Sinais Francesa da mesma

maneira que o professor aprendeu na escola francesa

A liacutengua de sinais foi transformada com o tempo tendo influecircncia

do professor surdo Huet Moura (2000 p 81 e 82) comenta o

seguinte

Se deu atraveacutes de Liacutengua de Sinais pode-se deduzir que

ele utilizava os Sinais e a escrita sendo considerado

inclusive o introdutor de Liacutengua de Sinais Francesa no

Brasil onde ela acabou por mesclar-se com a Liacutengua de

Sinais utilizada pelos Surdos em nosso paiacutes O

39 Relatoacuterio do E d Huet aos membros da Comissatildeo Diretora em abril de 1856 no Instituto de

Surdos Mudos

40 Deficientes satildeo as denominaccedilotildees daqueles que mentalmente e fisicamente satildeo incapazes para fazer qualquer atividade

41 Reis (1992) relata que o professor Geraldo Cavalcanti de Albuquerque disciacutepulo do professor Joatildeo Brasil Silvado (diretor do INSM ndash Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos-

Mudos em 1907) informou-lhe em entrevista que o interesse do imperador D Pedro II em

educaccedilatildeo de surdos viria do fato de ser a princesa Isabel matildee de um filho surdo e casada com o Conde D‟Eu parcialmente surdo

42 Nos documentos escritos pelo Francisco de Souza Brasil e Medeiros e Albuquerque (1932)

atestava a surdez do Conde DacuteEu ldquoO Conde DacuteEu tinha ainda o inconveniente de ser surdo A

surdez alheando os indiviacuteduos do meio em que estatildeo lhes daacute agraves vezes a imputaccedilatildeo de orgulhosos porque natildeo lhes permite tomar parte na conversa com a cordialidade que todos

desejariamrdquo (grifo meu)

77

Curriculum por ele apresentado em 1856 colocava

disciplinas como portuguecircs aritmeacutetica histoacuteria

geografia e incluiacutea ldquolinguagem articuladardquo e ldquoleitura

sobre os laacutebiosrdquo para os que tivessem aptidatildeo para tanto

O professor Huet planejava as vaacuterias disciplinas que ensinava

para os alunos surdos desta Instituiccedilatildeo obedecendo ao curriacuteculo escolar

da eacutepoca oferecido nas escolas de ouvintes Infelizmente natildeo foram

registrados os vocabulaacuterios da liacutengua de sinais brasileira desta eacutepoca No

Brasil foi lanccedilada a primeira publicaccedilatildeo sobre liacutengua de sinais em 1873

pelo aluno surdo Flausino Joseacute da Gama do Instituto de Surdos-Mudos43

do Rio de Janeiro O estudo resultou na obra ldquoIconographia dos Signaes

dos Surdos-Mudosrdquo foi publicado o dicionaacuterio em 1875 Poreacutem em

1880 no Congresso Internacional de Educaccedilatildeo de Surdo (Milatildeo)44

a

liacutengua de sinais foi rejeitada nas escolas focando apenas a liacutengua oral

Contudo os alunos do INES continuaram a estudar desenvolver e

disseminar a LIBRAS que por volta de 1980 voltou a ter sua

importacircncia intensificada

Como eacute explicado no prefaacutecio a inspiraccedilatildeo para o

trabalho foi dita pelo estudante ao ver na biblioteca da

instituiccedilatildeo um livro francecircs do Instituto Nacional de

Paris produzindo pelo surdo Francecircs Pellisier Natildeo havia

oficina litografia (o desenho eacute feito em uma pedra ou

placa de metal) no INES e na eacutepoca essa era a uacutenica

maneira de se reproduzir um desenho A ajuda veio do

Sr Eduard Rensburg que se dispotildee a ensinar a Flausino

trabalhar com essa difiacutecil teacutecnica Bastaram poucos dias

de aula e o Surdo tornou-se um exiacutemio litoacutegrafo

(REVISTA DA FENEIS n0 10 2001)

Segundo Campello (2011) Flausino Joseacute da Gama criou com seu

trabalho o dicionaacuterio ldquoIconographia dos Signaes dos Surdos-Mudosrdquo

com o prefaacutecio do Dr Tobias Leite ex-diretor no Instituto Nacional dos

Surdos-Mudos que no passado registrou sobre a pesquisa de Flausino e

a seguir o que escreveu Tobias no dicionaacuterio do INES em 1875

43 Atual Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos ndash INESRJ

44 REacuteE (2005) ldquo() essa data ainda eacute lembrada como a mais sinistra de sua histoacuteria como se fosse mesmo o ldquo11 de setembrordquo deles quando desabaram as torres gecircmeas da cultura e da

liacutengua de sinais a do meacutetodo misto e a do meacutetodo manualista para educaccedilatildeo dos surdos Ali

comeccedilou uma longa e amarga batalha para defender o direito de vida de liacutengua de sinaisrdquo

78

Este livro tem dous fins

Vulgarisar a linguagem dos signaes meio predilecto dos

surdos mudos para a manifestaccedilatildeo dos seus pensamentos

Os pais os professores primaacuterios e todos os eu se

interessarem por esses infelizes ficaratildeo habilitados para

os entender e se fazerem entender

Mostrar o quanto deve ser apreciado um surdo mudo

educado

O alumno deste Instituto Flausino Joseacute da Gama vendo

entre os livros da biblioteca a obra do illustre surdo-

mudo Pellisier professor do Instituto de Pariz

manifestou desejo de reproduzir as estampas para os

fallantes conversarem com os surdos-mudos dizia-me

elle repetidas vezes

Natildeo obstante ser elle haacutebil desenhista a realizaccedilatildeo do

seu desejo era difficil porque natildeo haacute no Instituto officina

de lihtographia e a despeza nas officinas do commercio

seria grande

Referindo o facto ao Sr Eduard Rensburg este senhor

generosamente offereceu-se para ensinar a Flausino o

desenho lithographico e as suas officinas para a

execuccedilatildeo da obra Aceitei immediatamente o

offerecimento e em poucos dias sahio o livro que tenho

a satisfacccedilatildeo de apresentar a todos os que se interessarem

por essa numerosa classe de nossos compatriotas

A Flausino os louvores e ao Sr Rensburg os

agradecimentos de todos os que se interessatildeo pela

instrucccedilatildeo popular

Tobias Leiterdquo

Campello (2011) pesquisou sobre o dicionaacuterio da liacutengua de sinais

registrado e documentado por Flausino que foi apresentado na escrita

pelo ex-diretor do INES que escrevia a palavra ldquoVulgarisarrdquo45

(p 79)

Segundo Delaporte (2005) a Escola Parisiense ldquoSaint-Jacquesrdquo era um

lugar de prestigio onde todas as pessoas que desejavam ensinar os

surdos precisavam obrigatoriamente passar Eacutedouard Huet realizou seus

estudos laacute Flausino inspirou-se no dicionaacuterio de Pierre Peacutelissier que foi

trazido para o Brasil por Eacutedouard Huet Os alunos do INES tinham

muita dificuldade pois os sinais eram muito antigos e eles precisavam

45 CAMPELLO mostrou a pesquisa ldquo que naquela eacutepoca significava colocar a disposiccedilatildeo do

povo e por isso o dicionaacuterio se apresentava como instruccedilatildeo popularrdquo

79

se comunicar com surdos do Instituto de Paris Campello diz que foi

copiado o dicionaacuterio no Instituto Imperial de Paris

Comparado com o original ldquoIcnographie des signesrdquo de

P Pelissier membro ativo de ldquola Socieacuteteacute Centrale

dacuteEducation et dacuteAssistance decircs Sourds-Muetsrdquo e

professor de surdos mudos do Instituto Imperial de Paris

em 1856 obra ldquoIconographia dos signaes dos surdos

mudosrdquo pelo surdo Flausino Joseacute da Gama em 1875 eacute

uma coacutepia na iacutentegra do material com a traduccedilatildeo do

francecircs para o portuguecircs ou seja os sinais foram

copiados um a um traduzindo-se apenas as palavras do

francecircs que identificavam os sinais (CAMPELLO

2011)

Verificando a explicaccedilatildeo anterior da citaccedilatildeo a autora mostrou

uma comparaccedilatildeo do dicionaacuterio em Paris e no Brasil foi copiado o

material para ser utilizado aqui no INES e soacute foi mudado o vocabulaacuterio

eou palavra na traduccedilatildeo do francecircs para o portuguecircs Atualmente a

LIBRAS estaacute bem diferente da eacutepoca de Flausino mas a influecircncia da

Liacutengua de Sinais Francesa eacute inegaacutevel na comunicaccedilatildeo dos surdos

brasileiros pois foi a primeira liacutengua de sinais traduzida e ensinada no

INES

Com o uso e a difusatildeo da liacutengua de sinais surgiu o primeiro

dicionaacuterio do Brasil e as seguintes obras dos autores i) Iconographia

dos Signaes dos Surdos-Mudos de Flausino Joseacute da Gama em 1875 ii)

Linguagem das Matildeos de Eugecircnio Oates em 1969 e iii) O Dicionaacuterio

Enciclopeacutedico Ilustrado Triliacutengue Liacutengua de Sinais Brasileira de

Fernando C Capovilla e Walkiria D Raphael em 2001

Felipe (2000) fala sobre o surgimento da LIBRAS sobre

Flausino Joseacute da Gama e outros dicionaacuterios da LIBRAS

Aqui no Brasil a primeira publicaccedilatildeo sobre a liacutengua

de sinais brasileira data de 1875 trata-se de um livro

Iconografia dos Signaes dos Surdos-Mudos de Flausino

da Gama um ex-aluno do Instituto de Surdos que se

tornou repetidor dessa escola quando terminou seu

periacuteodo de estudo Quase um seacuteculo depois em 1969

com a publicaccedilatildeo do artigo de KAKUMUSU J Urubu

Sign Language foi constatado que haveria pelo menos

outra liacutengua de sinais no Brasil utilizada pelos iacutendios

Urubus-Kaapor

80

Somente em 1969 por iniciativa estrangeira foi

publicado outro livro sobre a liacutengua de sinais brasileira

Linguagem das Matildeos de DATES E mas devido agrave

influecircncia da ASL muitos sinais nessa obra como

tambeacutem na de HOEMAN H et al Linguagem de Sinais

do Brasil satildeo sinais dessa liacutengua Esses dois livros

foram durante deacutecadas o material didaacutetico utilizado

pelos instrutores surdos para ensinarem sua liacutengua e

talvez por essas obras trazerem uma seleccedilatildeo de

fotografias ou desenhos de sinais da LIBRAS com

explicaccedilotildees a metodologia que vem sendo utilizada para

ensinar esta liacutengua tem sido somente a apresentaccedilatildeo de

sinais e traduccedilatildeo dos mesmos

Em 1960 Willian Stokoe

46 iniciou a pesquisa na liacutengua de sinais

americana com publicaccedilatildeo de estudo linguiacutestico mostrando que esta

liacutengua de sinais tinha uma gramaacutetica proacutepria e tambeacutem apresentava

todos os aspectos linguiacutesticos das liacutenguas orais A partir desta

divulgaccedilatildeo do Stokoe o mundo comeccedilou a pesquisar mais sobre as

liacutenguas de sinais Estudou cientificamente a Liacutengua de Sinais Americana

comparando com a Liacutengua Inglesa observou que ambas tinham

caracteriacutesticas equivalentes auxiliando na concepccedilatildeo sobre a educaccedilatildeo

de surdos na liacutengua de sinais

Felipe (2000) apresentou na pesquisa o surgimento da LIBRAS

Seguem agora ilustraccedilotildees sobre os dicionaacuterios antigos ldquoIconographia

dos Signaes dos Surdos Mudos de Flausino Joseacute da Gamardquo ldquoLinguagem

das Matildeos de Eugecircnio Oatesrdquo ldquoEnciclopeacutedico Ilustrado Triliacutengue

Liacutengua de Sinais Brasileira Vol I e II de Fernando C Capovilla e

Walkiria D Raphael

46 STOKOE (1920-2000) foi um dos primeiros linguistas a estudar uma liacutengua de sinais com

tratamento linguiacutestico Considerado o pai da linguiacutestica da liacutengua de sinais americana ndash ASL Ele ensinando e pesquisando revolucionou a Liacutengua de Sinais e mostrou que ela possuiacutea

regras gramaticais proacuteprias A partir daiacute o mundo inteiro passou a aceitar a Liacutengua de Sinais

como uma Liacutengua

81

Figura 09 ndash Acervo na Revista da FENEIS

Interessante a pesquisa das primeiras publicaccedilotildees dos autores

sobre a liacutengua de sinais Trouxe para noacutes surdos brasileiros

documentos para outras pesquisas valorizando o contexto social e a

liacutengua de sinais Campello (2007)

47 apresentou a pesquisa ldquoMudanccedilas fonoloacutegicas

47 Retirado a fonte com autora CAMPELLO 2007 SINPEL ndash I0 Seminaacuterio Integrado de

Pesquisas em Linguiacutestica na UFSC ldquoMudanccedilas fonoloacutegicas dos registros do seacuteculo XVIII ao seacuteculo XXI na liacutengua de sinais brasileirardquo

82

dos registros do seacuteculo XVIII ao seacuteculo XXI na Liacutengua de Sinais

Brasileira elementos novos sobre a liacutengua de sinais brasileirardquo Foi o

primeiro trabalho desse tipo com a LIBRAS desenvolvido no Brasil A

autora destacou inicialmente as justificativas para sua pesquisa

a) Natildeo haacute registro a respeito do desenvolvimento

histoacuterico da liacutengua de sinais brasileira nos livros

brasileiros b) Os surdos brasileiros tecircm muito interesse

em saber mais sobre a origem desta liacutengua c) A liacutengua

de sinais passou a ser reconhecida como liacutengua de

instruccedilatildeo dos surdos brasileiros por meio da Lei 10436

de 2002 regulamentada pelo decreto 5626 de 2005 d) A

liacutengua de sinais passa a ser objeto de ensino Antes de

iniciar a pesquisa em si considero importante situar as

influecircncias da liacutengua de sinais dos Surdos que moldaram

o primeiro dicionaacuterio de liacutengua de sinais brasileira o

movimento poliacutetico social cultural e educacional Com

o ldquoobjeto de pesquisardquo apresento a justificativa visto que

ateacute o presente momento natildeo se sabe se esta liacutengua jaacute

existia antes da fundaccedilatildeo do INES eou natildeo foi

reconhecida por causa da homogeneidade da liacutengua

nacional que eacute a liacutengua portuguesa Tambeacutem visa a

coleta dos sinais e suas mudanccedilas em niacutevel foneacutetico-

fonoloacutegico da Liacutengua de Sinais Francesa para a Liacutengua

de Sinais Brasileira e apresenta a metodologia de

investigaccedilatildeo problematizando a origem da liacutengua de

sinais brasileira jaacute que foi mesclada com a liacutengua de

sinais francesa Muita pesquisa foi deixada de lado pelo

estigma e desconhecimento da liacutengua em estudo nesse

projeto (CAMPELLO 2007)

Observe a figura do painel que Campello apresentou no

Seminaacuterio e eu fotografei

83

Figura 10 ndash Acervo de Ana Regina e Souza Campello ndash UFSC

Diniz (2010) realizou a pesquisa sobre o estudo descritivo das

mudanccedilas fonoloacutegicas e lexicais da Liacutengua de Sinais Brasileira

identificando e analisando os tipos de sinais que mais levam agrave variaccedilatildeo e

agrave mudanccedila e os possiacuteveis motivos que ao longo do tempo culminam

em tais variaccedilotildees Observou-se que o estudo elaborado na histoacuteria da

liacutengua de sinais teve como objetivo principal identificar as mudanccedilas

ocorridas na forma de comunicaccedilatildeo das comunidades surdas bem como

a influecircncia da liacutengua escrita no caso o portuguecircs neste processo

A autora apresenta sua pesquisa de modo a contribuir com os

registros histoacutericos da comunidade surda geral e da liacutengua de sinais As

suas anaacutelises ampliam os conhecimentos sobre a estrutura linguiacutestica da

LIBRAS e seu processo de mudanccedila assim como permitem contrastar

as variaccedilotildees que ocorrem com as liacutenguas orais e as liacutenguas de sinais

Mais amplamente o estudo objetiva valorizar socialmente a Liacutengua

Brasileira de Sinais difundir suas vertentes propiciando agrave populaccedilatildeo

surda o resgate de suas origens tradiccedilotildees e identidade proacutepria

Ela analisou trecircs documentos histoacutericos mais especificamente

trecircs dicionaacuterios de sinais foram os instrumentos de base na pesquisa da

autora acerca do processo de variaccedilatildeo na LIBRAS satildeo eles

Iconographia dos Signaes dos Surdos-Mudos de 1875 (primeiro

documento a fazer referecircncia agrave LIBRAS trata-se de uma reproduccedilatildeo fiel

do dicionaacuterio de sinais Francecircs que envolve representaccedilatildeo de sinais por

meio de desenhos (ilustraccedilotildees)) Linguagem das Matildeos de 1969

(produzido pelo padre Eugecircnio Oates missionaacuterio americano que

trabalhou com surdos em vaacuterias regiotildees brasileiras) e o terceiro

Dicionaacuterio Digital da LIBRAS do Instituto Nacional de Educaccedilatildeo de

84

Surdos (INES) de 2006 (em CD-ROM produzido no Rio de Janeiro

por profissionais surdos e ouvintes)

Os resultados da pesquisa de Diniz apresentam na anaacutelise dos

dados indiacutecios de mudanccedila fonoloacutegica e lexical

A figura 11 a seguir mostra a forma como o sinal de FACA eacute

produzido utilizando a configuraccedilatildeo de matildeos que se altera nas trecircs

imagens apresentadas

GLOSA ICON OATES INES

Est 2

FACA

FACA

FACA

FACA

Figura 11 ndash Acervo da Heloise Gripp Diniz ndash UFSC 01

A figura 12 apresenta um exemplo de mudanccedila lexical com

configuraccedilotildees de matildeos mostrando o sinal de PUNIR apresentado no

dicionaacuterio em trecircs momentos (Icon Oates e INES) Segue a figura

GLOSA ICON OATES INES

Est 16

PUNIR

PUNIR

CASTIGAR

CASTIGAR

Figura 12 ndash Acervo da Heloise Gripp Diniz ndash UFSC 02

Diante da anaacutelise comparativa dos referidos dicionaacuterios a autora

classificou os sinais em trecircs categorias os que permanecem idecircnticos

(sem alteraccedilotildees) os que sofreram mudanccedilas fonoloacutegicas em alguns de

seus paracircmetros (que se mostrou a maior das trecircs categorias) e os que

sofreram mudanccedilas lexicais alterando por completo as formas dos sinais

originais Dentre os fatores internos que contribuiacuteram para tais variaccedilotildees destacam-se conforto linguiacutestico na articulaccedilatildeo das matildeos e

do corpo e a acuidade visual no espaccedilo da sinalizaccedilatildeo Haacute tambeacutem a

contribuiccedilatildeo dos fatores socioculturais como influecircncia das liacutenguas em

contato empreacutestimo linguiacutestico bilinguismo preconceito linguiacutestico e

85

influecircncia da liacutengua portuguesa e dos falantes ouvintes

Em outras palavras nota-se que o estudo procura resgatar a

histoacuteria das mudanccedilas dos sinais da LIBRAS e de como surgiram as

mudanccedilas influenciadas pelo advento da Instituto Nacional de Educaccedilatildeo

de Surdos (INES) bem como o viacutenculo existente entre o instituto e os

diferentes dicionaacuterios de liacutenguas de sinais da eacutepoca que mostram a

existecircncia de fortes mudanccedilas linguiacutesticas ao longo do tempo entre as

pessoas de mais idade com as famiacutelias e as novas geraccedilotildees que surgem

dispostas a encontrar sinais de configuraccedilotildees de matildeos que possibilitem

facilitar cada vez mais a interaccedilatildeo das comunidades surdas com a

sociedade em geral

Percebe-se entatildeo vaacuterios dialetos utilizados entre grupos de

amigos e familiares na busca de uma melhor compreensatildeo da

comunicaccedilatildeo atraveacutes da liacutengua de sinais Nota-se que apesar da

evoluccedilatildeo da liacutengua de sinais haacute existecircncia de vaacuterios sinais

desconhecidos entre as associaccedilotildees de surdos Existe uma seacuterie de

variaacuteveis diferentes que funcionam como preacute-requisito influenciando

diretamente os processos de variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica

Segundo Diniz (2010) natildeo eacute aconselhaacutevel fazer traduccedilatildeo do

portuguecircs para LIBRAS pois tal conversatildeo acaba dificultando ainda

mais a compreensatildeo e a comunicaccedilatildeo com a comunidade dos surdos

Assim pode-se notar que natildeo eacute apropriado misturar duas liacutenguas (uma

oral outra visual) ao mesmo tempo pois haacute uma diferenccedila muito grande

entre elas Dessa forma torna-se mais faacutecil a compreensatildeo para o surdo

quando eacute explicado diretamente na liacutengua de sinais

Sempre eacute conveniente ressaltar que a LIBRAS eacute uma liacutengua

humana da mesma forma que as liacutenguas faladas nesse sentido a liacutengua

de sinais possui sua proacutepria estrutura linguiacutestica embora com

modalidades diferentes e passa por processos de mudanccedilas contiacutenuas e

deve ser considerada pela comunidade cientiacutefica como sendo de grande

importacircncia para a sociedade em geral As liacutenguas de sinais satildeo

humanas naturais e com estruturas linguiacutesticas proacuteprias fazendo uso do

canal de comunicaccedilatildeo visual-espacial Portanto satildeo mitos48

as

48 FRISHBERG (1975 p 696 - 697) Alguns mitos satildeo derrubados por no que se refere agrave ASL

O primeiro deles diz respeito agrave falsa crenccedila de que a linguagem gestual eacute universal Pelo

contraacuterio as pessoas surdas da China natildeo conseguem entender a ASL tampouco os surdos americanos conseguem entender a CSL a Liacutengua de Sinais Chinesa Os surdos ingleses

tambeacutem natildeo conseguem entender a Liacutengua de Sinais Francesa (LSF) e vice-versa O segundo

mito esclarecido eacute de que a liacutengua de sinais tem muito pouco ou nada a ver com a liacutengua falada da comunidade em sua volta Neste sentido a autora esclarece que a liacutengua de sinais natildeo

significa uma representaccedilatildeo manual traduzida diretamente do inglecircs O terceiro mito elucidado

86

afirmaccedilotildees de que a liacutengua de sinais eacute universal miacutemica coacutedigos

gestos ou apenas uma representaccedilatildeo manual das liacutenguas orais

Cabe ressaltar que a representaccedilatildeo atraveacutes de imagens figuras

gestos configuraccedilatildeo de matildeos e expressotildees faciais satildeo fundamentais para

a fluecircncia da comunicaccedilatildeo entre os membros da comunidade surda e

tambeacutem com a sociedade tornando a compreensatildeo mais acessiacutevel a

todas as pessoas Por meio de estudos nos dicionaacuterios de LIBRAS

percebe-se a existecircncia de algumas categorias distintas de algumas que

permanecem idecircnticas ateacute os dias de hoje e de outras que vecircm sofrendo

mudanccedilas fonoloacutegicas gradativamente com ideias inovadoras

influenciadas pelos estudos efetuados a partir da histoacuteria da liacutengua de

sinais e sua evoluccedilatildeo no processo de mudanccedila ateacute os dias atuais Tais

descobertas satildeo importantiacutessimas para a academia e para os aspectos

socioculturais como forma de resgatar a histoacuteria bem como os valores

das comunidades surdas esquecidas no passado recuperando sua proacutepria

identidade frente agravequeles que utilizam a liacutengua oral

Em geral eacute muito difiacutecil de recuperar nos registros dos

dicionaacuterios os detalhes das articulaccedilotildees movimentos entre outros Isso

ocorre porque na maioria das vezes eles apresentam uma uacutenica palavra

em portuguecircs associada a cada sinal de forma intuitiva quase sempre

indicando um sinal preciso e natildeo uma possiacutevel traduccedilatildeo De qualquer

maneira a partir das evidecircncias que estatildeo nos dicionaacuterios pode-se

analisar como era a liacutengua de sinais antigamente e como ela se

modificou ateacute os dias de hoje bem como qual a sua importacircncia para a

valorizaccedilatildeo social da comunidade surda

Diniz (2010) percebeu que ao passar dos anos existe uma

evoluccedilatildeo no desenvolvimento dos dicionaacuterios trazendo uma forma mais

faacutecil e aacutegil de comunicaccedilatildeo entre os escritores e leitores Hoje a

preocupaccedilatildeo natildeo eacute apenas em fazer dicionaacuterios mas tambeacutem em

analisar as metodologias de produccedilatildeo lexicograacutefica isto eacute como e para

que os dicionaacuterios tecircm sido feitos

Diniz (2010) tambeacutem observou uma pequena mudanccedila no

alfabeto manual que aparece nos trecircs dicionaacuterios Houve uma mudanccedila

fonoloacutegica na estampa ldquoIrdquo referente ao alfabeto de 26 letras no

dicionaacuterio Iconographia Em Oates o alfabeto permanece semelhante

ateacute os dias de hoje mudando apenas a configuraccedilatildeo de matildeos da letra H

No dicionaacuterio INES o alfabeto eacute idecircntico aos dias de hoje

pela pesquisadora refuta a ideia de que as liacutenguas de sinais satildeo apenas gestos teatrais ou

miacutemicos

87

Segundo Diniz (2010) identificam-se tendecircncias de mudanccedilas na

LIBRAS nos trecircs dicionaacuterios a saber simetria de duas matildeos

deslocamento locativo conteuacutedo lexical para as matildeos assimilaccedilatildeo

deletaccedilatildeo de uma matildeo de sinais de duas matildeos e deletaccedilatildeo de uma parte

do sinal composto Dos resultados das anaacutelises pode-se verificar que

alguns sinais da LIBRAS permaneceram idecircnticos ateacute os dias de hoje

enquanto outros sofreram mudanccedilas nas partes fonoloacutegicas e lexicais A

autora concluiu que diversos fatores influenciaram tais mudanccedilas como

por exemplo a influecircncia dos falantes ouvintes sobre a LIBRAS a

influecircncia da Liacutengua portuguesa na estrutura da LIBRAS o

desconhecimento sobre as liacutenguas de sinais a organizaccedilatildeo lexicograacutefica

nos dicionaacuterios de sinais a discriminaccedilatildeo ouvinte sobre a LIBRAS o

contato contiacutenuo dos surdos com ouvinte e a inseguranccedila na

consciecircncia linguiacutestica dos surdos em relaccedilatildeo agrave LIBRAS Outra

conclusatildeo foi a descoberta de sinais da Iconographia idecircnticos na ASL e

na LSF hoje em dia mais do que nos dicionaacuterios Oates e dos INES

34 ndash Francisco Lima Juacutenior ndash O Primeiro Professor Surdo em

Santa Catarina na liacutengua de sinais

Segundo Schmitt (2008) Francisco Lima Juacutenior tem lembranccedilas

do avocirc Germano tias Erna Irude e Isabel o pai Francisco matildee Augusta

e o irmatildeo Reinoldo Francisco Lima Juacutenior chamado pelo apelido

(chiquito) eacute o uacutenico surdo desta famiacutelia Ele nasceu no dia 01 de junho

de 1928 em casa na Rua Duarte Schutel no 16 em Florianoacutepolis A tia

Erna disse que o Francisco foi ateacute os 36 meses de idade uma crianccedila

normal e perfeita mas nesta idade foi um susto para os familiares do

Francisco ele ter ficado surdo

Atraveacutes de contatos com o senhor Francisco Lima Juacutenior

estive presente na casa dele investigando sobre a

primeira turma de surdo Catarinense No dia 04082006

foi entrevistado o senhor Francisco Lima Juacutenior Ele

nasceu no dia 01061928 em Florianoacutepolis no Estado de

Santa Catarina e ateacute a idade de 03 anos ouvia

normalmente A famiacutelia do Francisco sempre conversava

com ele sobre cinema ou noticias que ouviam o raacutedio O

Francisco estava sentado no chatildeo brincando com o

carrinho na sala de estar assistindo o cinema com a

famiacutelia dele A famiacutelia chamou atenccedilatildeo do seu filho

Francisco mas ele natildeo ouvia a voz dos seus pais falando

Franciscooooo e tambeacutem batendo palmas O Francisco

natildeo ouvia nada e quando o pai tocou no ombro do

88

Francisco ele entendeu O que pai (SCHMITT 2008 p

86)

Seus pais natildeo se aperceberam ao longo deste tempo que Francisco

estava ficando surdo porque ele ainda natildeo havia aprendido a falar

compreender palavras e a se comunicar por gestos O pai de Francisco

levou-o para o meacutedico que falou que o menino teve um problema no

nervo auditivo e ficou surdo (Consultas ao meacutedico com frequecircncia

dificuldade de se comunicar com a famiacutelia sentia-se muito pressionado

foram tempos difiacuteceis ele conta) O pai queria ensinar a liccedilatildeo para

Francisco que aprendia vocabulaacuterio e a gramaacutetica juntamente com os

nuacutemeros cardinais desenho e a palavra correspondente e tambeacutem a

linguagem gestual da comunicaccedilatildeo dele O pai levou-o para o

tratamento meacutedico com o Dr Djalma Moellmann que informou aos

pais que pela idade do Francisco ele poderia estudar no Instituto

Nacional de Surdos-Mudos do Rio de Janeiro Segue o depoimento

Os pais resolveram levar seu filho para tratamento

meacutedico e fonoaudioloacutegico no centro de Florianoacutepolis

para saber o que aconteceu com a audiccedilatildeo do Francisco

que natildeo ouvia nada O meacutedico fonoaudioloacutegico dizia que

ele era deficiente auditivo e tambeacutem chamou-o de Surdo-

Mudo naquela eacutepoca ˝Ai Como fazer agora Os pais

perguntaram O que O meu filho natildeo podia estudar na

escola dos ouvintes e na eacutepoca aqui natildeo existia escola

para surdos˝ O meacutedico fonoaudioloacutegico informou sobre

a escola no INSM - Instituto Nacional de Surdos-Mudos

no Rio de JaneiroRJ Eles verificaram que laacute existia

escola para surdos-mudos mas resolveram permanecer

morando naquela cidade Entatildeo o pai resolveu levar o

seu filho Francisco para o Rio de JaneiroRJ Quando o

Francisco era crianccedila tinha ocircnibus carro caminhatildeo

bicicleta e aviatildeo Foi viagem de navio O tio do

Francisco trabalhava como marinheiro e levou o

Francisco para o Rio acompanhando do pai e do tio dele

(SCHMITT 2008 p 86)

Francisco realizou exames meacutedicos onde foi avaliada sua sauacutede

se podia estudar no Instituto Nacional de Surdos-Mudos que era um

grande desafio Nesse lugar havia modernas oficinas e ginaacutesio tinha 109

surdos internos Era comum observar um grupo de surdos que se

comunicava na liacutengua de sinais no corredor do Instituto Laacute tambeacutem os

alunos surdos podiam entrar em contato com os primeiros surdos que

89

vieram de diferentes estados e regiotildees do Brasil Em 1937 o pai

acompanhou Francisco em uma viagem de navio para o Rio de Janeiro e

matriculou-o no Instituto Nacional de Surdos-Mudos Laacute conheceu o Dr

Armando ex-diretor de INSM na deacutecada de 1940

Em 1937 Francisco foi levado pelos primos Paulo e Hugo e pelo

seu tio para conhecer o INSM Eles levavam Francisco ao Instituto nos

saacutebados e voltavam nas segundas-feiras de 1937 a 1939 Hugo

trabalhava no navio ldquoDuque de Caxiasrdquo que saiacutea do Rio de Janeiro O

outro navio onde estava o tio voltava da Bahia quando avistou um

submarino de guerra (alematildeo) que era dotado de canhotildees Os dois

navios chocaram-se agrave noite neles tinha bombas nucleares Hugo o tio

passageiros e marinheiros morreram no mar e um outro navio onde seu

tio Paulo trabalhava desapareceu na Europa em 1945

Na segunda guerra Hitler se armou poderosamente para dominar

a Europa mas com sua derrota em 1939 a 1945 a Alemanha perdeu

cerca de um quarto do seu territoacuterio que por alguns anos foi ocupado

pelas forcas aliadas russas americanas inglesas e francesas Das cinzas

surgem os novos navios Um navio a vapor com o nome de Carlos

Hoepcke e Anna navio este de carga e passageiros que transportou

Francisco ateacute o Rio de Janeiro O capitatildeo deste navio era seu tio Ceacutelio

Viana Os passageiros eram atenciosos para com Francisco e o

ajudavam quando ele precisava

Era oferecido abrigo aos navios aportados no porto de SantosSP

Rio de Janeiro Satildeo Francisco do Sul e Itajaiacute Iam de navio e na volta

vinham de aviatildeo com destino a Florianoacutepolis e Rio de Janeiro O pai

Francisco Candido de Souza Lima era gerente contador homem de

bom coraccedilatildeo que fazia a contabilidade de Carlos Hoepcke era uma

amizade de marinha mercante

Em suas viagens o professor Francisco Lima Juacutenior viu o Sr

Ademar Barros que era intendente de comeacutercio do vapor Carlos

Hoepcke Viajaram num submarino guiados por buacutessola para ajudar os

navegantes em 1937 a 1946 Ao fim do ano letivo no Instituto o pai e

Francisco voltavam para Florianoacutepolis em 1947 O Professor Francisco

trabalhou auxiliando a contabilidade e os lanccedilamentos na filial de Carlos

Hoepcke SA Ele aproveitou o aprendizado nas oficinas do Instituto

Nacional de Surdos-Mudos onde aprendeu uma seacuterie de profissotildees

como a de marcenaria encadernaccedilatildeo e sapataria aleacutem de participar de

um curso de Desenho Segue a explicaccedilatildeo do autor

Os alunos de vaacuterios estados no Brasil tambeacutem estudavam

no INSM junto com o Francisco e fizeram amizade

90

jogando o futebol na quadra Depois o Francisco foi para

os alojamentos no Instituto e dormiu cada um num

beliche todos os alunos surdos eram brasileiros Os

alunos surdos acordavam agraves 05h30min nas madrugadas

para arrumar e ficavam esperando na fila de outros

alunos faziam relaxamento e educaccedilatildeo fiacutesica para depois

tomar o banho Depois estudavam de manhatilde e agrave tarde agraves

vezes agrave noite e voltavam para o alojamento no Instituto

O professor no Instituto dava aula de oralizaccedilatildeo para os

alunos surdos na sala de aula explicando o conteuacutedo de

mateacuteria no quadro negro e tambeacutem com vareta Depois o

professor anotava no quadro a escrita de portuguecircs

avisava para o aluno surdo que natildeo podia copiar no

quadro e prestar atenccedilatildeo agrave escrita no quadro O professor

apagava no quadro para o aluno surdo memorizar a

escrita da fala O que aconteceu Os alunos ficaram com

dificuldade de entender a escrita no quadro (SCHMITT

2008 p 92 e 93)

Os professores mostravam vaacuterias figuras de objetos com os

respectivos nomes e individualmente faziam o trabalho de repeticcedilatildeo

com o aluno Francisco que escrevia e falava Mas existia a liacutengua de

sinais no lado de fora No paacutetio a comunicaccedilatildeo dele e o grupo de surdo

no Instituto apresentava a liacutengua de sinais Dr Armando Lacerda diretor

do Instituto Nacional de Surdos-Mudos ndash INSM acampanhou a

comemoraccedilatildeo de sua fundaccedilatildeo e seguiram-se demonstraccedilotildees de

ginaacutestica representaccedilatildeo de uma peccedila teatral nuacutemeros de bailado pelo

corpo etc

Os surdos da marcenaria da encadernaccedilatildeo e da sapataria eram

jogadores e participaram da competiccedilatildeo de futebol de campo no

instituto Venceram os surdos da encadernaccedilatildeo que receberam

medalhas e trofeacuteu O grupo de alunos que ganhou a competiccedilatildeo foi

viajar e passear na praia da Ilha de PaquetaacuteRJ Dois alunos deste grupo

mais tarde tornaram-se professores do Instituto Um deles era o

professor Heacutelio ensinava ginaacutestica futebol e voleibol na quadra de

esportivo e o outro era professor Francisco

Na eacutepoca foi feita uma reportagem com depoimentos do Dr

Armando Lacerda dos professores Joatildeo Brasil Silvado Juacutenior Saul Borges Carneiro e Geraldo Cavalcantil todos eles ouvintes Essa

reportagem foi riquiacutessima detalhada cheia de fotografias eacute uma

importante fonte de pesquisa Francisco desenvolveu sua aprendizagem

na liacutengua de sinais aproveitando essas atividades comemorativas que

aconteciam no instituto aleacutem do curriacuteculo da escola

91

Os professores acima citados todos oralistas impressionam pela

cultura e a quantidade de informaccedilotildees com que discorrem sobre a

educaccedilatildeo do surdo e a histoacuteria na liacutengua de sinais Sendo recebido pelo

ministro da educaccedilatildeo e sauacutede naquela eacutepoca foi oferecido um meacuterito ao

ex-aluno Francisco Lima Juacutenior conforme mostra a citaccedilatildeo

O Francisco Lima Juacutenior recebeu o meacuterito do segundo

melhor no Instituto Nacional de Surdos-Mudos (INSM)

no Rio de JaneiroRJ por a maior nota de avaliaccedilatildeo na

prova e tambeacutem em todas as disciplinas Vejam os

nomes ndash primeiro lugar (Odil Soares em Satildeo Paulo)

segundo lugar (Francisco Lima Juacutenior em Santa

Catarina) e terceiro lugar (Miriam S Rio de Janeiro)

Parabenizamos o senhor Francisco Lima Juacutenior do nosso

Estado de Santa Catarina eacute vitorioso e orgulhoso

(SCHMITT 2008 p 96)

Ele foi aluno interno do Instituto Nacional de Surdos-Mudos do

Rio de Janeiro e do Instituto Paulista de Surdos em Satildeo Paulo em 1940 e

natildeo gostava de Satildeo Paulo A professora Helena (INES) era de origem

Italiana ensinava a fazer ditado em portuguecircs (oralismo) mas a liacutengua

de sinais natildeo existia na comunicaccedilatildeo e o grupo surdo teve pouco contato

com a liacutengua materna (liacutengua de sinais)

Para a inauguraccedilatildeo do Instituto Nacional de Surdos-Mudos foram

convidadas vaacuterias autoridades entre elas o ministro da educaccedilatildeo

diretores de escolas e outros Esta aconteceu no teatro do Instituto e

ofereceram trecircs certificados para o curso de desenho para a oficina de

encadernaccedilatildeo e linguagem que foram ganhos pelo Francisco Lima

Juacutenior em 1946 No ano seguinte ele voltou para Florianoacutepolis

Em 1946 com 18 anos de idade voltou para

FlorianoacutepolisSC quando passou a procurar por pessoas

surdas nas vaacuterias cidades do estado de Santa Catarina e

demorou um tempo para ter contato com os surdos

catarinenses Ele comeccedilou a dar aulas numa garagem

situada agrave Rua Francisco Tolentino passando ser ali a

primeira escola para surdos de Florianoacutepolis O

Francisco ensinava desenho linguagem escrita

vocabulaacuterio baacutesico gramaacutetica geograacutefia histoacuteria do

Brasil e conhecimentos gerais Ele trouxe para o nosso

estado o modelo de associaccedilatildeo e fez um projeto de escola

para surdos com a esposa de ouvinte que ajudou o

Francisco Apoacutes a conclusatildeo dos cursos em 1947

retorna definitivamente para casa dos pais em

92

Florianoacutepolis agrave Rua Duarte Schutel nordm 16 (SCHMITT

2008 p 104)

Em 1947 morava com o pai em sua casa em Florianoacutepolis Ele

foi habilitado em contabilidade pelo Instituto e fez o curso de

Contabilidade do Instituto Radio Teacutecnico RT Monitor SA ndash nuacutecleo de

ensino profissional livre por correspondecircncia (1 liccedilatildeo ateacute 28 liccedilatildeo) Satildeo

Paulo ndash SP Apoacutes Francisco conhecer os surdos em vaacuterias cidades de

Santa Catarina ele ficou com vontade de auxiliar o surdo que ficava

isolado em casa e na famiacutelia sem o uso da comunicaccedilatildeo gestual Veja a

seguir a imagem apresentada do Francisco Lima Juacutenior em 1947

93

Figura 13 ndash Acervo do Francisco eacute o primeiro dicionaacuterio na liacutengua de

sinais em Santa Catarina em 1947

O primeiro dicionaacuterio em Santa Catarina tinha imagens do

proacuteprio Francisco que demonstrava a preocupaccedilatildeo culturallinguiacutestica

para com os surdos e a difusatildeo da liacutengua de sinais procurava uma forma

de o grupo de surdo ter contato com a liacutengua de sinais e ensinava em sua casa (na garagem) onde tambeacutem ficava a associaccedilatildeo

As aulas continuavam com o professor Francisco que ia

ensinando cada vez mais sinais e com qualidade pois dali faziam as

provas finais O professor ensinava conteuacutedos de matemaacutetica geografia

94

conhecimento geral ciecircncias e portuguecircs No uacuteltimo mecircs de aula apoacutes o

encerramento das aulas o professor entregava os boletins com as meacutedias

de todos os surdos que ficaram alegres pois nenhum deles tinha sido

reprovado

Francisco viajou para Satildeo Paulo em 1954 iniciou sua amizade

com o primeiro presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos de Satildeo

Paulo senhor Maacuterio Devisate que natildeo tinha o conhecimento da

existecircncia de uma associaccedilatildeo de surdos em Florianoacutepolis O senhor

Maacuterio Devisate deu um documento de uma Associaccedilatildeo de Surdos-

Mudos com acircmbito nacional e Francisco veio como delegado para a

regiatildeo do sul passando a residir nessa capital

Foi o primeiro encontro com o presidente da Sociedade dos

Surdos-Mudos do Distrito Federal49

que mudou a Associaccedilatildeo de Surdos-

Mudos do Rio de Janeiro o senhor Miguel da Fonseca Seabra de Melo

grande colega jaacute falecido Francisco em meio agrave conversa na liacutengua de

sinais conheceu o presidente da ASURJ que comentou ldquoaquele tambeacutem

eacute surdordquo O colega dele sorriu ao sair cumprimentou o senhor Miguel

da Fonseca Seabra de Melo que agradecendo estendeu-lhe a matildeo Isso

aconteceu no Instituto Nacional de Surdos-Mudos

Francisco nunca mais se esqueceu dessa cena bem da verdade

ele conversava com o senhor Salomatildeo Watnick (jaacute falecido em Porto

Alegre) que foi o primeiro presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos

do Rio Grande do Sul e foi uma grande amizade Como pode estudar

desde cedo em escola especial para Surdos Mudos em Satildeo Paulo e Rio

de Janeiro conhecia muitos surdos tinha amizade e intimidade

oportunizando contato com surdos que tinham lideranccedila e outros grupos

de surdos tendo como consequecircncia aprendido expressotildees palavras

novas da liacutengua de sinais inclusive as variaccedilotildees linguiacutesticas de outras

regiotildees

Francisco foi tratado como amigo pelos senhores Vivaldo Leal de

Merelles e Ciro Garcia de Souza jaacute falecidos que escreveram o

primeiro estatuto da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos do Paranaacute Eles

perguntaram como ganhavam a vida os surdos-mudos que natildeo tiveram a

felicidade de cursar escolas especiais Entatildeo nesta pergunta

encontraram o motivo da existecircncia da associaccedilatildeo e da escola

Francisco fundou o Ciacuterculo dos Surdos-Mudos de Santa Catarina

ndash CSMSC no ano de 1955 Naquele aniversaacuterio de sua entidade os

surdos-mudos de Florianoacutepolis receberam a visita de delegaccedilotildees de

49 O Distrito Federal nessa eacutepoca era o Rio de Janeiro

95

outros Estados No primeiro jogo o CSMSC jaacute ganhou um trofeacuteu no

futebol de campo Outro ganho foi com a Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos

do Paranaacute onde havia muitas variaccedilotildees na liacutengua de sinais e o contato

proporcionou o aprendizado de novos sinais para todos

Em 1961 o Governador Celso Ramos atendia o presidente O

Ciacuterculo dos Surdos-Mudos de Santa Catarina o professor Francisco

Lima Juacutenior acompanhado de outros membros daquela associaccedilatildeo

pleiteava a construccedilatildeo de uma escola para surdos-mudos em nosso

Estado porque ainda natildeo existia nenhuma O ensino de Francisco

desenvolvia o domiacutenio da liacutengua de sinais dos surdos em Santa Catarina

Em Santa Catarina o processo de educaccedilatildeo de surdos se

deu na deacutecada de 50 com serviccedilos implementados na

rede regular de ensino Aconteceu que os surdos

estudaram na escola regular juntamente com alunos

ouvintes e eles natildeo se compreenderam na sala de aula

porque o professor falava a liacutengua portuguesa e oralismo

A liacutengua de sinais era proibida por influecircncia do

congresso de Milatildeo na Itaacutelia em 1880 Os alunos surdos

ficaram isolados dos alunos ouvintes por causa das

barreiras de comunicaccedilatildeo Os ouvintes natildeo conheciam a

cultura e a identidade surda Por exemplo na sala de aula

muitos alunos ouvintes se comunicam em portuguecircs e os

surdos ficam isolados e excluiacutedos na escola dos ouvintes

Porque o surdo procura a intervenccedilatildeo da cultura que se

vive na liacutengua de sinais encontra outros surdos na

comunicaccedilatildeo nos contados entre outros surdos e

consegue juntamente na forccedila poliacutetica dos movimentos

surdos Na verdade o Francisco teve forccedila de vontade

para estudar no INES Ele eacute uma pessoa boa com a

responsabilidade de fundar associaccedilatildeo de surdo A

trajetoacuteria de vida desde a infacircncia marca e registra que

Francisco tem procuraccedilatildeo com o povo surdo do interior

com os contatos na liacutengua de sinais e mais valorizaccedilatildeo da

cultura surda (SCHMITT 2008 p 105)

Foi apresentado para Francisco Lima Juacutenior pelo Governador

Celso Ramos o termo aprovado para contrataccedilatildeo de profissionais para

funcionamento da sala para surdos-mudos em Florianoacutepolis que

funcionou na Escola Celso Ramos localizada na Rua Francisco

Tolentino n0 12 Centro de Florianoacutepolis Esse empreendimento veio

dotar a capital de mais uma escola desta vez destinada aos surdos-

mudos que tambeacutem necessitavam ser atendidos quando se promovia o

crescimento no nuacutemero de escola em nossa terra

96

Em Florianoacutepolis existiam duas escolas para crianccedilas surdas

uma funcionando no grupo Escolar Celso Ramos e outra no grupo

Escolar Barreiros Filho todos a cargos de professores especializados

Nessa eacutepoca os surdos de Florianoacutepolis receberam a visita de um

sacerdote surdo o Padre Vicente de Paulo Penido Burnier natural de

Juiz de Fora Estado de Minas Gerais e tambeacutem do Padre Eugecircnio Oates

nascido em Missouir Estados Unidos Atraiacutedo pela personalidade e pelo

trabalho do padre Vicente o padre Eugecircnio Oates veio para o Brasil em

1946 como missionaacuterio dirigindo-se agrave igreja dos padres redentoristas

sediada em Manaus

Integrou-se na vida brasileira o padre Eugecircnio Oates realizando

campanhas em todo o paiacutes em favor da difusatildeo da linguagem das matildeos

no Rio de Janeiro onde lanccedilou o primeiro livro em 1969

Figura 14 ndash Acervo do Francisco fotografia de Jornal que traz

reportagem sobre o livro Linguagem das Matildeos

Em Florianoacutepolis encaminhavam os surdos-mudos para a

instituiccedilatildeo especializada podia-se procurar o Ciacuterculo dos Surdos-Mudos

de Santa Catarina no grupo escolar Barreiros Filho e no Instituto de

Audiccedilatildeo e Terapia de Linguagem ndash IATEL Fundado no dia 05 de julho

de 1969 o IATEL jaacute funcionava no hospital infantil em instalaccedilotildees

precaacuterias Para que crianccedilas surdas pudessem ter uma vida normal o

professor Francisco Lima Juacutenior trabalhava haacute muitos anos

O Ciacuterculo dos Surdos-Mudos de Santa Catarina comeccedilou a se

movimentar pois na reuniatildeo teve contato com a liacutengua de sinais que

comeccedilou com o discurso depois um jogo divertido que o CSMSC

97

promovia no encontro desta reuniatildeo Tambeacutem ofereceu a renovaccedilatildeo de

matriacuteculas para menores e adultos surdos Reabriu a escola para surdos

menores no periacuteodo da manhatilde e agrave noite para adultos analfabetos Teve

tambeacutem outra reuniatildeo que iniciou com um discurso e apoacutes isso

aconteceu o jogo com os associados

As aulas continuavam normalmente e as reuniotildees tambeacutem

Francisco Lima Juacutenior que era o presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos

do Estado de Santa Catarina era quem organizava o encontro com as

associaccedilotildees de surdos de vaacuterias cidades do estado Havia aleacutem dos

discursos escolha da rainha dos surdos e competiccedilotildees de jogos (futebol

vocirclei) aleacutem de viagens Numa dessas viagens os surdos de Santa

Catarina foram para Satildeo Paulo no festival esportivo numa viagem de

dois dias onde ocorria a silenciosa festividade

O presidente do CSMSC nesta festa fez um discurso para os

amigos surdos de Satildeo Paulo e o vice-presidente do CSMSC deixou seu

cargo porque natildeo quis mais participar destas associaccedilotildees Entatildeo as

aulas continuaram Foi um mecircs em que muitos soacutecios ou alguns estavam

com muito trabalho vinham alguns soacutecios da associaccedilatildeo dos surdos-

mudos para saber das informaccedilotildees da semana no CSMSC Por isso

continuaram alguns surdos realizando o encontro para bate-papo na

liacutengua de sinais todas as quartas-feiras Realizou-se a primeira

comunhatildeo pascoal na capela do Coleacutegio Catarinense rezada pelo padre

Vicente que era surdo no mesmo dia apoacutes a missa de aniversaacuterio do

presidente Francisco

Os alunos surdos entraram em feacuterias mas continuaram os

encontros e reuniotildees onde discursavam e planejavam as atividades

esportivas para o CSMSC apoacutes os jogos que eles faziam todos os

meses Havia reuniotildees com bate-papos na liacutengua de sinais no CSMSC

Numa destas reuniotildees aconteceu um evento importante para os surdos-

mudos que eram associados do CSMSC pois comemoraram a data de

sua inauguraccedilatildeo

Francisco continuava a dar aulas e palestras principalmente sobre

a Independecircncia do Brasil sobre D Pedro I e outros assuntos Na

comemoraccedilatildeo da Independecircncia do Brasil os associados da CSMSC

viajaram para Curitiba e encontraram os amigos surdos de laacute E todos

fizeram um discurso que iniciou com o presidente da CSMSC apoacutes os

representantes de cada sociedade e depois do discurso foi eleita a rainha

da Associaccedilatildeo dos Surdos de Curitiba senhorita Anair Budel Em

seguida o presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos de Curitiba convidou o

professor Francisco Lima Juacutenior presidente do CSMSC para danccedilar a

valsa com a rainha das prendas Anair Budel

98

Francisco contou que o baile foi muito divertido e durou ateacute a

madrugada com o grupo de surdos que conversava muito no encontro

de associaccedilotildees regionais Apoacutes o encerramento do evento visitaram

uma escola de crianccedilas surdas em Curitiba Em 1972 o professor deu

para cada aluno uma cartolina e assim cada um ia imaginar e pintar seu

conhecimento do trabalho para a difusatildeo da liacutengua de sinais Depois na

comemoraccedilatildeo do dia do professor os alunos fizeram uma pequena

homenagem ao professor Francisco

O professor falou sobre o dia do Iacutendio descobrimento do Brasil a

morte de Tiradentes entre outros Na paacutescoa os alunos receberam

presentes de chocolate na semana da paixatildeo foi apresentado o teatro ldquoa

morte de Jesus Cristordquo na liacutengua de sinais por um grupo de surdos para

difundir sua liacutengua

O ensino da liacutengua de sinais em Santa Catarina com os

ensinamentos do professor Francisco proporcionou uma nova fase da

liacutengua de sinais trazendo influecircncias de outras comunidades surdas do

Brasil A partir desse contato o modelo linguiacutestico trazido do Rio de

Janeiro eacute aperfeiccediloado a cada geraccedilatildeo

O Imperial Instituto dos Surdos-Mudos foi de extrema

importacircncia na propagaccedilatildeo da liacutengua de sinais em grande

parte das regiotildees brasileiras O Sr Francisco cidadatildeo

Catarinense foi um aluno desta instituiccedilatildeo apoacutes retornar

ao seu estado de origem ele foi educador de surdos e

responsaacuteveis pela difusatildeo da liacutengua sinalizada usada

nesse instituto (CORREA e SEGALA 2009 p 32)

Durante todo esse tempo o professor Francisco Lima Juacutenior

orienta auxilia e direciona todas as atividades escolares das crianccedilas

jovens e adultos surdos tornando-se assim o primeiro professor dessa

metodologia de ensino - A Linguagem das Matildeos com o objetivo de

criar um alfabeto uacutenico para todos os Surdos do Estado de Santa

Catarina Suas aulas e palestras em LIBRAS tornaram-se muito

populares entre os surdos catarinenses

Eacute importante registrar na histoacuteria da liacutengua de sinais em Santa

Catarina um estudo linguiacutestico e possibilitar a pesquisa sobre o primeiro

professor surdo Francisco que criou o primeiro dicionaacuterio aqui em

Santa Catarina Ele trouxe o modelo do INESRJ (uma experiecircncia na liacutengua de sinais) para nosso estado de Santa Catarina e influenciou a

comunidade surda catarinense

Uma das pessoas surdas da nova geraccedilatildeo eacute a Sandra Luacutecia

Amorim que escreveu um pequeno dicionaacuterio chamado ldquoComunicando

99

a Liberdade - A Liacutengua das Matildeosrdquo em 2000

Concluiacutemos que a Liacutengua Brasileira de Sinais teve forte

influecircncia da liacutengua de sinais francesa (LSF) que tambeacutem influenciou a

liacutengua de sinais em Santa Catarina atraveacutes do professor Francisco que

estudou no INES A LSF eacute uma liacutengua mais antiga do que a LIBRAS

com um acervo bibliograacutefico maior A LIBRAS tem caracteriacutesticas

proacuteprias e estaacute em expansatildeo a partir de sua oficializaccedilatildeo em 2002 pela

necessidade de incluir novos sinais ao aprendizado da comunidade surda

que passou a ter uma maior abertura nas universidades

100

101

CAPIacuteTULO IV ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila na liacutengua de sinais

41 ndash Introduccedilatildeo

Nesta pesquisa tomamos como base teoacuterica os estudos

sociolinguiacutesticos de Labov (2008 [1972]) na concepccedilatildeo de que seu texto

pode nos ajudar a embasar o trabalho de pesquisa Assim tomamos

como base os estudos das liacutenguas orais do autor adaptando-os agraves

variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas das liacutenguas de sinais

O estudo desenvolvido aqui mostra os sujeitos surdos a liacutengua de

sinais algumas possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas Traz

explicaccedilotildees da liacutengua de sinais pelo surdo indiacutecios de variaccedilatildeo e

mudanccedila linguiacutestica apresenta variaccedilotildees linguiacutesticas na liacutengua de sinais

utilizadas pelos surdos e por fim como o surdo se comunica a liacutengua

de sinais em seu contexto social

42 ndash A liacutengua de sinais pelo surdo indiacutecios de variaccedilatildeo e mudanccedila

linguiacutestica

A LIBRAS

50 eacute uma liacutengua usada entre os surdos assim como

entre os ouvintes desde que queiram interagir com esta forma de

comunicaccedilatildeo Ao verificar o acesso dos surdos agrave comunicaccedilatildeo e agrave

expressatildeo de forma criativa pode-se encontrar respostas sobre

mudanccedilas na gramaacutetica em palavras em frases e em seu contexto

social

As liacutenguas mudam todos os dias evoluem mas a essa

mudanccedila diacrocircnica se acrescenta uma outra sincrocircnica

pode-se perceber numa liacutengua continuamente a

coexistecircncia de formas diferentes de um mesmo

significado Essas variaacuteveis podem ser geograacuteficas a

mesma liacutengua pode ser pronunciado diferentemente ou

ter um leacutexico diferente em diferentes pontos do territoacuterio

(CALVET 2002 p 89)

Queremos apresentar algumas variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas a

que os surdos estiveram expostos no primeiro espaccedilo de ensino

promovido pelo professor Francisco Lima Juacutenior (Chiquito) Ele

influenciou para a expansatildeo da liacutengua de sinais da comunidade surda na

50 ldquoEacute uma liacutengua natural eacute atraveacutes dela que os surdos tecircm acesso ao mundo em que vivem No

entanto ela natildeo eacute uma liacutengua que o surdo aprende sozinho Ele pode desenvolver uma liacutengua

102

histoacuteria de Santa Catarina Entatildeo queremos perceber se haacute diferenccedilas

durante sua trajetoacuteria entre a variaccedilatildeo linguiacutestica daquela eacutepoca (1950)

ateacute a atualidade se aconteceram mudanccedilas por influecircncia da

transformaccedilatildeo tecnoloacutegica da sociedade Acreditamos que com o passar

do tempo ocorrem mudanccedilas na liacutengua de sinais histoacuterica e

culturalmente na comunidade surda

As liacutenguas de sinais como todas as liacutenguas satildeo dinacircmicas Em

contato com grupos surdos na comunidade modificam-se ao longo do

tempo como qualquer outra liacutengua A mudanccedila pode ser percebida em

diferentes regiotildees onde o surdo busca a informaccedilatildeo utilizando a liacutengua

de sinais que vem de outro lugar com algumas diferenccedilas entre palavras

e seu significado entre sinais

Quando as pessoas surdas evoluem culturalmente a liacutengua de

sinais se transforma Com o passar do tempo a ldquoLIBRASrdquo tambeacutem se

modifica Na interaccedilatildeo do indiviacuteduo surdo na comunidade surda e na

sociedade essas relaccedilotildees de contato fazem com que se criem novos

sinais pois aparecem palavras novas e outros sinais sofrem adaptaccedilotildees

ocorrem mudanccedilas na configuraccedilatildeo de matildeos no ponto de articulaccedilatildeo

no movimento na orientaccedilatildeodirecional na expressatildeo facial e corporal

Essas adaptaccedilotildees satildeo criadas pela necessidade no contato e na situaccedilatildeo

de uso A comunidade surda como qualquer outra vem evoluindo e se

transformando firmando uma identidade surda

Como jaacute ressaltamos a origem da liacutengua de sinais no Brasil eacute

europeacuteia Sua maior influecircncia foi no Rio de Janeiro no Instituto

Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos ndash INESRJ onde se expandiu para os

demais estados brasileiros Recebeu influecircncia tambeacutem do Francecircs do

Portuguecircs (Portugal) e dos Estados Unidos O Instituto pesquisou a

influecircncia cultural dos surdos e as influecircncias sofridas quanto a

LIBRAS Assim como na Liacutengua Portuguesa acontecem modificaccedilotildees

na escrita e na fala com o tempo na liacutengua de sinais tambeacutem ocorrem

transformaccedilotildees quanto agrave configuraccedilatildeo de matildeos A liacutengua de sinais

evolui com mudanccedila constante em cada regiatildeo e a comunicaccedilatildeo do

surdo acompanha e qualifica mais a liacutengua de sinais A LIBRAS sofre

modificaccedilotildees com o tempo e tambeacutem como na liacutengua falada apresenta

palavras ou expressotildees proacuteprias do lugar onde acontece a comunicaccedilatildeo

Sendo assim o surdo natildeo tem o contato com a LIBRAS longe da

sociedade ou na zona rural nesse caso pode se apropriar de sinais

proacuteprios para a comunicaccedilatildeo ex Francisco buscava os surdos nas

regiotildees de Santa Catarina pois o contato com a LIBRAS eacute importante

para a sua identidade cultural

103

Realmente pode-se considerar que essas diferentes

palavras se dividem em seu uso em uma escala de faixas

etaacuterias os jovens diriam banheiro seus pais wc e seus

avoacutes reservados por exemplo Pode-se entatildeo imaginar

que eles se dividam segundo o sexo dos falantes os

homens dizendo mais banheiro e wc e as mulheres

toalete e reservado (CALVET 2002 p 103)

A LIBRAS eacute uma liacutengua porque possui estrutura gramatical

proacutepria eacute essencial para o surdo o contato em relaccedilatildeo ao outro como

em qualquer outra liacutengua que tem diferenccedilas gramaticais Utilizando o

movimento de sinal e a expressatildeo facial como meio de comunicaccedilatildeo o

surdo se comunica tanto com a comunidade surda quanto com a ouvinte

O contato dos jovens com os ensinamentos do professor

Francisco proporcionou uma nova fase da liacutengua de sinais A partir

desse contato o modelo linguiacutestico trazido do Rio de Janeiro eacute

aperfeiccediloado pela geraccedilatildeo mais nova do mesmo modo que descreve

Calvet (2002) nos estudos de liacutengua oral

- a ideacuteia de pesquisa uma (s) variaacutevel (eis) frequente (s)

que geralmente aparecem na estrutura linguumliacutestica

variaacuteveis cuja distribuiccedilatildeo deve ser fortemente

estratificada ldquoIsso equivale a dizer que as pesquisas

preliminares deveriam indicar a seu respeito uma

distribuiccedilatildeo assimeacutetrica entre as mais diversas faixas

etaacuterias ou entre outras categorias mais hierarquizadas da

sociedaderdquo - o estabelecimento de uma metodologia que

extrai essas variaacuteveis dos textos produzidos pelos

falantes - a pesquisa da correlaccedilatildeo entre essa

distribuiccedilatildeo de traccedilos linguiacutesticos e uma distribuiccedilatildeo de

traccedilos socioloacutegicos (CALVET 2002 p 93)

Na citaccedilatildeo acima o autor relata que eacute preciso pensar a construccedilatildeo

de identidade levando em conta diferentes faixas etaacuterias e a variaccedilatildeo

linguiacutestica Entendemos assim a necessidade de pesquisarmos as

variaccedilotildees ocorridas em Santa Catarina

A LIBRAS possui uma forma de comunicaccedilatildeo proacutepria Eacute

independente como qualquer outra liacutengua escrita ou falada Tem o

formato proacuteprio na sua comunicaccedilatildeo que eacute o visual pois se utiliza de

sinaisgestos e expressotildees Todos os seres humanos usam um

determinado tipo de liacutengua e linguagem para se comunicar e tanto a

liacutengua falada quanto a sinalizada apresentam sentidos de expressotildees

104

diferentes na comunicaccedilatildeo A liacutengua de sinais muda histoacuterica e

linguisticamente conforme as variaccedilotildees de cada lugar ou regiatildeo Entatildeo

eacute importante a relaccedilatildeo estabelecida com outras pessoas na sociedade na

troca de informaccedilatildeo ideias experiecircncias ensinamentos e aprendizagem

quando se fala uma liacutengua Quando pensamos as liacutenguas percebemos

que existem diferenccedilas na LIBRAS e no Portuguecircs

Frishberg (1975)51

no seu estudo pesquisado no Instituto Teacutecnico

Nacional para Surdos de Nova Iorque aborda como a Liacutengua de Sinais

Americana (ASL) tem mudado gradativamente ao longo do tempo de

uma linguagem mais icocircnica para uma linguagem mais arbitraacuteria Eacute a

liacutengua natural da comunidade surda nos Estados Unidos e em partes do

Canadaacute onde o inglecircs eacute falado Difere das duas liacutenguas que a maioria

das pessoas conhece no sentido de que eacute produzida com as matildeos e

percebida pelos olhos em vez de pronunciado e percebido pelos

ouvidos Entatildeo ela realizou a sua pesquisa sobre alguns processos

histoacutericos em Liacutengua de Sinais onde havia uma forte tendecircncia para

certas mudanccedilas Como toda liacutengua as liacutenguas de sinais aumentam seu

inventaacuterio lexical com novos sinais introduzidos pelas comunidades

surdas em respostas agraves mudanccedilas culturais e tecnoloacutegicas

A liacutengua de sinais possui estrutura gramatical como qualquer

liacutengua utiliza paracircmetros e como todas as liacutenguas tem variaccedilotildees no

niacutevel fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico e pragmaacutetico Por

isso pode-se perceber a mudanccedila cotidiana na liacutengua de sinais A pessoa

surda traz do seu contato cultural dos grupos nos quais estaacute inserida

novos olhares desta liacutengua muitas vezes transformando sinais jaacute

existentes em novos sinais

Quadros e Karnopp (2004) dizem que as liacutenguas de sinais

recebem informaccedilotildees linguiacutesticas pelos olhos e satildeo produzidas pelas

matildeos O termo fonologia tem sido muito usado para estudar os

elementos das liacutenguas de sinais Apesar da diferenccedila com as liacutenguas

orais as duas liacutenguas tecircm os mesmos princiacutepios subjacentes de

construccedilatildeo Poreacutem existe um esquema linguiacutestico estrutural nas liacutenguas

de sinais que natildeo tem significado se feito isoladamente que eacute

51 Nancy Frishberg eacute consultora em Liacutengua de Sinais e Interpretaccedilatildeo Ela tem PhD em

linguiacutestica pela Universidade da Califoacuternia San Diego onde sua pesquisa de doutorado focada

em mudanccedila histoacuterica em Liacutengua de Sinais Americana ndash ASL Seu trabalho de dissertaccedilatildeo demostrou que os sinais seguem princiacutepios linguiacutesticos como elas mudam ao longo do tempo

com o uso Seu livro de 1986 ldquoInterpretaccedilatildeo Um Introduccedilatildeordquo que ainda estaacute em versatildeo

impressa eacute o texto principal em muitos programas de treinamento inteacuterprete e serve como base para o exame escrito (primeira etapa) para certificaccedilatildeo pelo Registro de Inteacuterpretes para

Surdos

105

Configuraccedilatildeo de Matildeos (CM) Locaccedilatildeo (L) e Movimento (M) A

LIBRAS eacute basicamente feita com as matildeos (direita ou esquerda) tendo

tambeacutem movimento do corpo e da face A CM L e M se contrastam

minimamente alterando o significado dos sinais

A ASL tem a sua proacutepria gramaacutetica e fonologia Na liacutengua de

sinais eacute o estudo dos movimentos manuais baacutesicos que fornece a base

para todos os sinais sintaxe e morfologia na liacutengua falada A morfologia

estuda como as palavras satildeo formadas a partir de sons e palavras

baacutesicas Na liacutengua de sinais eacute o estudo de como os sinais manuais

baacutesicos representam conceitos A liacutengua americana de sinais eacute uma

liacutengua visual que incorpora gestos expressotildees faciais movimentos da

cabeccedila linguagem corporal e ateacute o espaccedilo ao redor do falante Os sinais

manuais satildeo a base desta liacutengua Muitos deles satildeo icocircnicos o que

significa dizer que o sinal usa uma imagem visual que se parece com o

conceito que representa

Wescott (1971 Frishberg) sugere que todas as formas de liacutengua

(oral escrita e gestual) usam iconicidade Ele diz que a iconicidade eacute um

sinal familiar (caseiro) em vez de uma caracteriacutestica absoluta de

qualquer sistema de comunicaccedilatildeo incluindo a liacutengua

Segundo Frishberg um sinal pode ser especificado atraveacutes de

quatro paracircmetros simultaneamente configuraccedilatildeo de matildeo movimento

ponto de articulaccedilatildeo (ou localizaccedilatildeo) e orientaccedilatildeo Essas descriccedilotildees de

paracircmetro servem para poder distinguir alguns sinais de outros similares

e dar sentido agrave frase num todo como por exemplo os sinais HOJE e

AGORA diferem no paracircmetro movimento mas satildeo iguais na

configuraccedilatildeo de matildeos e na localizaccedilatildeo A alteraccedilatildeo entre esses

paracircmetros pode significar uma completa alteraccedilatildeo no sentido de

algumas palavras Por exemplo o sinal correspondente agrave ldquoMACcedilAtilderdquo pode

significar ldquoQUEIJOrdquo se houver apenas uma mudanccedila na configuraccedilatildeo

de matildeos novamente ldquoMACcedilAtilderdquo pode significar ldquoCURSOrdquo se houver

diferenccedila no local e por fim ldquoMACcedilAtilderdquo pode significar ldquoCUBArdquo se

houver variaccedilatildeo no movimento Esses satildeo pares-miacutenimos encontrados

na LIBRAS A orientaccedilatildeo conforme aplicada tambeacutem pode alterar o

significado de uma palavra Seguem os exemplos na liacutengua de sinais

106

Figura 15 ndash Mostrar os Sinais

As autoras Quadros e Karnopp (2004 p 78) dizem que as

restriccedilotildees fonoloacutegicas requeridas para a boa formaccedilatildeo de sinais podem

ser produzidas pelas matildeos como a) sinais produzidos com uma das

matildeos b) sinais produzidos com as duas matildeos ambas ativas e c) sinais produzidos com as duas matildeos em que a matildeo dominante eacute ativa e a matildeo

natildeo-dominante serve como locaccedilatildeo

Para Battison (1978 Quadros e Karnopp (2004)) haacute duas

restriccedilotildees fonoloacutegicas na produccedilatildeo dos tipos de sinais a) a condiccedilatildeo de

107

simetria e b) a condiccedilatildeo de dominacircncia Quando as duas matildeos se

movem na produccedilatildeo de um uacutenico sinal CM deve ser a mesma para as

duas matildeos a locaccedilatildeo deve ser a mesma ou simeacutetrica o movimento deve

ser simultacircneo ou alternado Jaacute na condiccedilatildeo de dominacircncia as matildeos

apresentam diferentes configuraccedilotildees e entatildeo a matildeo ativa produz o

movimento e a matildeo passiva serve de apoio

A importacircncia dessa transferecircncia de movimento do rosto ou

corpo para as matildeos deve ser ressaltada bem como a concentraccedilatildeo para

uma sinalizaccedilatildeo de faacutecil entendimento Alguns sinais continuam sendo

motivados para uma mudanccedila dentre eles WILL (indica o futuro)

CARE (cuidado) TEDIOUS (tedioso) FINDFAULT (criticar) e

MEET (encontrar) Nessas mudanccedilas satildeo observadas algumas

caracteriacutesticas corporais tais como movimentos ordenados dos dedos e

matildeos deslocamento lateral da cabeccedila e movimentos do toacuterax

Pesquisei outro exemplo no curso de LetrasLIBRAS sobre a

variaccedilatildeo fonoloacutegica ldquoOs sinais FUNNY (engraccedilado) BLACK (preto)

e BORING (chato) satildeo exemplos de variaccedilatildeo fonoloacutegica pois esses

sinais podem ser realizados de duas formas soacute com o indicador

distendido e os outros dedos fechados ou com o

indicador e o polegar distendidos e os demais dedos fechadosrdquo

108

Figura 16 ndash Variaccedilatildeo fonoloacutegica

Outro exemplo interessante dos autores Woodward e Desantis

(1976) satildeo sinais que podem ser realizados tanto com uma matildeo quanto

com duas matildeos como os sinais CAT (gato) COW (vaca) e FAMOUS

(famoso) que satildeo produzidos no rosto

CAT COW

FAMOUS

(TENNANT amp BROWN 2004)

Figura 17 ndash Mostrar os sinais com uma matildeo e com duas matildeos

109

Vamos conhecer e refletir sobre as variaccedilotildees dos surdos

essencialmente com relaccedilatildeo agrave liacutengua de sinais

Klima e Bellugi (1979) representam uma pesquisa fonoloacutegica na

liacutengua de sinais do ASL A ASL ndash American Sign Language eacute a liacutengua

natural da comunidade surda nos Estados Unidos Os autores

identificam na liacutengua de sinais apenas trecircs paracircmetros configuraccedilatildeo de

matildeo (CM) ponto de articulaccedilatildeo (ou localizaccedilatildeo) (L) movimento (M)

que ao serem analisados individualmente natildeo satildeo possuidores de

significado e a outra autora Brito (1995) no Brasil pesquisou partes dos

paracircmetros primaacuterios a configuraccedilatildeo das matildeos o ponto de articulaccedilatildeo e

o movimento e tambeacutem os paracircmetros secundaacuterios52

a regiatildeo de

contato a orientaccedilatildeo das matildeos e a disposiccedilatildeo das matildeos

Segundo Frishberg em se tratando de tendecircncia para a simetria a

liacutengua toma vaacuterias formas Examinando o seu desenvolvimento em dois

paracircmetros matildeo-forma e movimento nota-se que ambas as matildeos agem

em uniacutessono e uma matildeo age sobre a outra As matildeos assumiram a mesma

configuraccedilatildeo Pode-se ver que alguns sinais mudam sua forma de

expressatildeo antes era com apenas uma das matildeos e agora se tornam as

duas

Eacute claro que os sinais tendem a seguir mudanccedilas ao longo da

histoacuteria Por exemplo para sinais no rosto tendem a utilizar apenas uma

matildeo deixando a face mais visiacutevel e permitindo que os olhos expressem

uma variedade de fins gramaticais Jaacute para os sinais na aacuterea do tronco

geralmente usam as duas matildeos ndash o que muitas vezes eacute sinal de

redundacircncia e simetria

Segue o exemplo da liacutengua de sinais do ASL

52 BRITO (1995) Regiatildeo de Contato ldquoRefere-se agrave parte da matildeo que entra em contato com o corpo Esse contato pode-ser dar maneiras diferentes atraveacutes de um toque de um risco de um

deslizamento etcrdquo

Orientaccedilatildeo das Matildeos ldquoEacute a direccedilatildeo da palma da matildeo durante o sinal voltada para cima para

baixo para o corpo para frente para esquerda ou para a direita Pode haver mudanccedila na

orientaccedilatildeo durante a execuccedilatildeo do Movimentordquo

Disposiccedilatildeo das Matildeos ldquoA articulaccedilatildeo dos sinais pode ser feita apenas pela matildeo dominante ou

pelas duas matildeos Neste uacuteltimo caso as duas matildeos podem se movimentar para formar o sinal ou entatildeo apenas a matildeo dominante se movimenta e a outra funciona como Ponto de

Articulaccedilatildeordquo

110

Figura 18 ndash Sinal de Paacutessaro

Para o sinal de PAacuteSSARO em um primeiro momento utiliza-se

uma das matildeos na aacuterea da face para o sinal ldquobicordquo e em seguida as duas

matildeos (uma para cada lado) em forma de asas Por fim o sinal

PAacuteSSARO hoje eacute apenas representado pela primeira parte (bico em

matildeo uacutenica)

A histoacuteria documentada da liacutengua americana de sinais natildeo eacute

longa existe uma seacuterie de gestos registrados ao longo da histoacuteria mas

foi somente no final do seacuteculo XVIII que os surdos foram considerados

educaacuteveis

Segundo Frishberg ldquoHomesignrdquo (sinais caseiros) eacute um termo

geral utilizado pela comunidade surda para se comunicar poreacutem eacute uma

forma bastante utilizada principalmente pelas matildees em aacutereas rurais que

tecircm filhos surdos Dados estatiacutesticos mostram que 80 a 90 dos surdos

nascem de pais ouvintes por essa razatildeo haacute uma necessidade inevitaacutevel

de comunicaccedilatildeo A partir dessa necessidade as matildees principalmente

precisam encontrar maneiras de se comunicar com os filhos e passam a

criar sinais de forma empiacuterica sem qualquer regra ou seja sinais natildeo

padronizados Tais sinais inventados passam a criar certas dificuldades

111

de comunicaccedilatildeo entre as diferentes comunidades de surdos Existe a

ASL (Liacutengua de Sinais Americana) com uma linguagem jaacute padronizada

que comeccedila a ser difundida e ensinada atraveacutes das escolas americanas

com sinais padronizados

A liacutengua de sinais padronizada enfrenta ainda dificuldade pois

algumas escolas eram proibidas politicamente de ensinar atraveacutes da

metodologia da ASL O fato eacute que outras escolas mesmo sem a devida

autorizaccedilatildeo comeccedilam a ensinar a liacutengua padronizada Os surdos

comeccedilam a aprender a liacutengua padratildeo mas continuam a se comunicar em

casa com os familiares usando o ldquohomesignrdquo (sinais caseiros) A

comunicaccedilatildeo ensinada em casa requeria a utilizaccedilatildeo de vaacuterios recursos

ambientais para a comunicaccedilatildeo entretanto havia a dificuldade de

encontrar referecircncia para as cores nos recursos ambientais pois para se

referir a uma cor eles deveriam encontraacute-lo na natureza aproximar-se o

suficiente para apontar e fazer a associaccedilatildeo com a cor

Historicamente pode-se afirmar que ao longo do tempo a forma

de comunicaccedilatildeo entre a comunidade surda vem mudando

constantemente teacutecnicas e sinais vecircm sendo aperfeiccediloados Ao inveacutes de

gestos natildeo-estruturados o que encontramos eacute uma gama de sinais e

movimentos de matildeos regularizados ou seja inter-relacionados

conjunto sistematizado de sinais que estaacute passando por mudanccedilas de

forma regular e formal

Quadros e Karnopp (2004 p 51) observam que os articuladores

primaacuterios das liacutenguas de sinais satildeo as matildeos estas se movimentam em

um espaccedilo determinado em frente ao corpo Um sinal pode ser

articulado com uma ou duas matildeos ou seja um mesmo sinal pode ser

articulado tanto com a matildeo direita quanto com a esquerda Mas precisa-

se levar em conta que sinais efetuados com as duas matildeos apresentam

restriccedilotildees em relaccedilatildeo ao tipo de interaccedilatildeo entre as matildeos De acordo

com Brito (1995) a LIBRAS apresenta 46 Configuraccedilotildees de Matildeos

(CMs) mas nem todas as liacutenguas de sinais partilham do mesmo nuacutemero

de configuraccedilotildees de matildeos Seguem quatro imagens de configuraccedilotildees de

matildeos difundidas no Brasil

112

As Configuraccedilotildees de Matildeos da LIBRAS

Figura 19 Figura 20

Figura 19 e 20 ndash Ferreira-Brito e Langevin (1995 p220)

Figura 21 Figura 22

Figura 21 ndash httpwwwinesgovbrlibrasprincipalaspASSU_id=3

Figura 22 ndash Quadro de CMs da LSB por Pimenta e Quadros (2006 p 73)

113

Um aspecto recorrentemente discutido eacute a iconicidade dos sinais

ndash em oposiccedilatildeo agrave arbitrariedade da relaccedilatildeo entre significado e

significante observada na constituiccedilatildeo do signo linguiacutestico em liacutenguas

orais Reconhecendo nas liacutenguas de sinais a iconicidade a par da

arbitrariedade (e remetendo a estudos que demonstram por exemplo a

dificuldade por parte de informantes de deduzirem significados em

relaccedilatildeo a muitas formas aparentemente icocircnicas) as autoras (Ferreira-

Brito e Langevin Pimenta e Quadros) destacam o fato de que signos

icocircnicos sofrem mudanccedilas as quais frequentemente ldquotendem a inibir a

natureza icocircnica dos sinais tornando-os mais arbitraacuterios atraveacutes dos

temposrdquo

Embora os demais sinais natildeo-manuais sejam realizados de forma

muitas vezes equivocada quando estes satildeo de forma simples como

afirmativa negativa e exclamativa natildeo haacute um comprometimento do

significado na sentenccedila Mas quando associados a outras formas o

equiacutevoco na execuccedilatildeo da expressatildeo facial provoca uma mudanccedila no

significado da sentenccedila passando esta a pertencer a outra classe

As liacutenguas orais modificam-se como no caso das palavras que

caem em desuso outras que satildeo adquiridas aumentando o vocabulaacuterio

e ainda mudando de significado das palavras O mesmo acontece nas

liacutenguas de sinais a fim de responder agraves necessidades que a evoluccedilatildeo

soacutecio-cultural impotildee

A ASL por sua vez estaacute seguindo a teoria citada acima

substituindo seus iacutecones por siacutembolos que de maneira geral tendem a

ser menos transparentes e icocircnicos pois se tornam mais arbitraacuterios

siacutembolos convencionais

Com o passar do tempo ocorrem muitas mudanccedilas nas liacutenguas

para suprir as necessidades de comunicaccedilatildeo e as modificaccedilotildees de

costumes de cada geraccedilatildeo Assim novos sinais satildeo criados de acordo

com a necessidade de cada grupo

Na verdade temos que pesquisar a liacutengua de sinais em Santa

Catarina observar o sujeito surdo em diferentes faixas etaacuterias

investigando o surgimento do primeiro espaccedilo de identidade cultural do

surdo em contexto social e acessando gramaticalmente a liacutengua de

sinais Esse espaccedilo foi conquistado pela poliacutetica linguiacutestica que assegura

o envolvimento com a liacutengua de sinais que estaacute se expandindo na

sociedade em nosso estado catarinense

Como toda liacutengua a LIBRAS sofre influecircncia das mudanccedilas

histoacutericas e culturais as liacutenguas satildeo dinacircmicas e natildeo estaacuteticas por isso

elas vivem sofrendo alteraccedilotildees e com as liacutenguas de sinais ocorre o

mesmo Essas mudanccedilas podem ser percebidas nas diferentes regiotildees

114

onde satildeo utilizadas as mesmas liacutenguas em que haacute algumas diferenccedilas

em algumas palavras ou expressotildees Mas como tem sido a participaccedilatildeo

do registro na comunicaccedilatildeo do surdo neste espaccedilo linguiacutestico e histoacuterico

cultural na liacutengua de sinais

Calvet (2002) mostra relaccedilotildees entre a liacutengua e a sociedade

fornecendo embasamento agraves explicaccedilotildees sobre as variaccedilotildees

sociolinguiacutesticas o que nos permite fazer uma comparaccedilatildeo das

descriccedilotildees agraves influecircncias externas e internas que a liacutengua de sinais de

Santa Catarina sofreu ateacute chegar ao estaacutegio em que se encontra

atualmente expandido em LIBRAS

Eacute importante registrar a nova histoacuteria da liacutengua de sinais suas

variaccedilotildees e o seu potencial transformador na realidade da comunidade

surda

O sistema linguiacutestico eacute heterogecircneo e as variaccedilotildees podem ser

observadas sob vaacuterios aspectos Sob o ponto de vista diacrocircnico

podemos observar o processo de sistematizaccedilatildeo linguiacutestico de alguns

gestos extralinguiacutesticos usados por usuaacuterios de liacutengua oral auditiva

que foram lexicalizados na LIBRAS tais como os gestuais que

correspondem ao significado de LOUCO ADEUS POSITIVO etc

Por outro lado sob uma perspectiva sincrocircnica vaacuterias formas

podem ser alternadas e podem representar aleacutem disso uma variaccedilatildeo

diatoacutepica53

e a variaccedilatildeo diafaacutesica54

Essas variaccedilotildees referem-se a

variaacuteveis geograacuteficas podem coexistir duas ou mais formas com um

mesmo significado Eacute o caso do sinal CULTURA (matildeo em ldquo5rdquo na testa

ou matildeo em ldquoCrdquo ao longo do braccedilo de apoio) Essas variantes podem

identificar usuaacuterios provindos do Sul e Centro-Oeste respectivamente e

em outras regiotildees por apresentarem sinais diferentes

Em geral um dialeto abrange uma zona ou regiatildeo territorial que

pode ou natildeo coincidir com as fronteiras ou barreiras geograacuteficas No

53 Variaccedilatildeo diatoacutepica eacute a regional quando haacute elementos diferentes dentro de um mesmo territoacuterio linguiacutestico mas natildeo necessariamente dentro de um mesmo dialeto Nem sempre os

elementos detentos de variaccedilotildees diatoacutepicas concorrem a menos quando haacute fortes migraccedilotildees

dentro de um mesmo territoacuterio Podem ocorrer interferecircncias mais incisivas quando determinadas regiotildees possuem destaque econocircmico poliacutetico social e cultural

54 Variaccedilatildeo diafaacutesica eacute a situacional relativa agraves diferentes monitoraccedilotildees do falante nas diferentes situaccedilotildees de interaccedilatildeo Exemplo uma pessoa estaraacute mais monitorada em seu

ambiente de trabalho do que nas interaccedilotildees realizadas em ambiente domeacutestico A variaccedilatildeo

diafaacutesica vem da afirmaccedilatildeo LABOVIANA de que natildeo haacute falante de estilo uacutenico A produccedilatildeo linguiacutestica eacute dependente do contexto social

115

Brasil existem vaacuterios dialetos55

(ou variedades) em comunidades de

ouvintes onde se fala a Liacutengua Portuguesa com diferentes usos Ex

bergamota vergamota e tangerina Palavras variaacuteveis acontecem em

vaacuterias regiotildees e podem ser usadas por motivaccedilatildeo social e ou regional A

seguir algumas variaccedilotildees linguiacutesticas que ocorrem na LIBRAS Ex o

sinal de Cultura SC SP e RJ Seguem os sinais

Figura 23 ndash Sinal ldquoCultura em SCrdquo

Figura 24 ndash Sinal ldquoCultura em SPrdquo

Figura 25 ndash Sinal ldquoCultura em RJrdquo

55 Variedade ndash ldquoa fala de uma comunidade de modo global considerando-se todas as suas particularidades tanto categoacutericas quanto variaacuteveis o mesmo que dialeto ou falarrdquo COELHO

et al (2010 p 166)

116

Um outro exemplo de variaccedilatildeo diatoacutepica no leacutexico do portuguecircs

pode ser observado na diferenccedila entre MACAXEIRA (Norte e

Nordeste) MANDIOCA (Sudeste e Centro-Oeste) e AIPIM (Sul)

A liacutengua de sinais tem uma importacircncia muito significativa para a

comunicaccedilatildeo entre surdos e tambeacutem entre surdos e ouvinte pois sem a

liacutengua de sinais dificultaria a comunicaccedilatildeo e os surdos natildeo conseguiriam

viver na comunidade

A LIBRAS possui forma clara e definida em sua estrutura

gramatical que se estabelece no dia a dia dos que a utilizam Suas vaacuterias

formas sua estrutura o grupo que a utiliza a influecircncia social e

geograacutefica torna a LIBRAS uma liacutengua como qualquer outra pois

realiza a verdadeira funccedilatildeo de comunicar Como Calvet (2002 p 89)

explica variaacuteveis linguiacutesticas satildeo muito usadas em todas as liacutenguas

ldquoDeste modo um reacuteptil comum em todo o Brasil eacute chamado de ldquoosgardquo

na regiatildeo Norte ldquobribardquo ou ldquoviacuteborardquo no Nordeste e ldquolagartixardquo no

Centro-Sul56

rdquo

43 ndash As variaccedilotildees linguiacutesticas na liacutengua de sinais

Uma definiccedilatildeo geral sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica na liacutengua de

sinais torna-se necessaacuteria para melhor aproveitamento desta pesquisa Eacute

importante considerar os dialetos regionais natildeo soacute usados em regiotildees

diferentes no contato social mas no espaccedilo de uso cultural da liacutengua

influenciando o surdo

A Liacutengua de Sinais Americana (ASL) eacute diferente da Liacutengua de

Sinais Britacircnica (BSL) que por sua vez eacute diferente da Liacutengua de Sinais

Argentina e tambeacutem da Liacutengua de Sinais Francesa (LSF) Verificamos

que nos demais paiacuteses tambeacutem satildeo diferentes as liacutenguas de sinais e as

variaccedilotildees linguiacutesticas no contexto social dos surdos no mundo

(STROBEL e FERNANDES 1998) Observe

Ex

56 O exemplo do autor eacute o seguinte ldquoDesse modo um objeto simples como a serpiliegravere peccedila de pano usada para limpar o chatildeo pode tambeacutem ser chamada de panosse (na Saboacuteia e na

Suiacuteccedila) wassingue (no Norte) torchon (no leste) since (no sudeste)rdquo

117

NOME

ASL LIBRAS

Figura 26 ndash Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo ndash Depto Educaccedilatildeo

Especial ndash CuritibaPR SEEDSUEDDEE

Aleacutem disso dentro de um mesmo paiacutes haacute as variaccedilotildees regionais

Na LIBRAS tambeacutem existem dialetos regionais salientando assim uma

vez mais o seu caraacuteter de liacutengua natural

Os povos57

surdos satildeo influenciados pelos contatos nas liacutenguas de

sinais Em cada regiatildeo o surdo se comunica A liacutengua difere quanto ao

dialeto social e cultural Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica em LIBRAS

As variaccedilotildees linguiacutesticas relacionadas ao contexto satildeo chamadas

de variaccedilotildees estiliacutesticas ou registro Os paracircmetros de variaccedilatildeo

linguiacutestica satildeo diversos no ato de interagir verbalmente um falante

utilizaraacute a variedade linguiacutestica relativa agrave sua regiatildeo de origem classe

social idade escolaridade sexo ou ainda acrescenta-se sua condiccedilatildeo

adaptativa de origem como no caso da pessoa surda

O professor Francisco participou do grupo surdo de outras regiotildees

dos estados de Santa Catarina Paranaacute Rio Grande do Sul Satildeo Paulo

Rio de Janeiro e Minas Gerais em contato com a liacutengua de sinais e suas

variaccedilotildees linguiacutesticas No dialeto regional haacute variaccedilatildeo linguiacutestica

diferenccedilas percebidas no espaccedilo cultural do surdo nas situaccedilotildees de

conversa na associaccedilatildeo escola e comunidade Os sujeitos surdos que

relataram o depoimento para a pesquisa sobre a liacutengua de sinais falavam da importacircncia do Francisco para a comunidade surda de SC

57 O povo surdo segundo STROBEL (2006) refere-se ao conjunto de sujeitos que natildeo habitam

no mesmo local mas que estatildeo ligados por uma origem tais como a cultura surda costumes e interesses semelhantes histoacuterias e tradiccedilotildees comuns e qualquer outro laccedilo

118

No mundo haacute pelo menos uma liacutengua de sinais usada

amplamente na comunidade surda de cada paiacutes diferente da liacutengua

falada utilizada na mesma aacuterea geograacutefica Isto se daacute porque essas

liacutenguas de sinais satildeo independentes das liacutenguas orais pois foram

produzidas dentro das comunidades surdas (STROBEL e

FERNANDES 1998)

Pode ser considerado como sotaque na liacutengua de sinais as

variaccedilotildees linguiacutesticas e costume cultural diferentes de cada regiatildeo

Entatildeo Francisco trouxe a experiecircncia do contato com outras regiotildees

para o grupo de surdos de SC na comunicaccedilatildeo em liacutengua de sinais

44 ndash O surdo se comunica a liacutengua de sinais no contexto social

O dialeto social refere-se a variaccedilotildees de configuraccedilatildeo das matildeos

eou de movimento natildeo modificando o sentido do sinal (STROBEL e

FERNANDES 1998) Dependendo da situaccedilatildeo de uso da comunicaccedilatildeo

do surdo na liacutengua de sinais a variaccedilatildeo pode ser observada atraveacutes da

configuraccedilatildeo das matildeos como em

Ex

Figura 27 ndash Sinal de Ajudar

119

Figura 28 ndash Sinal de Faltar

Figura 29 ndash Sinal de Ocircnibus

Figura 30 ndash Sinal de Sonhar

120

Nem todos os usuaacuterios de uma liacutengua falam do mesmo

jeito por isto todas as liacutenguas naturais possuem

variaccedilotildees linguiacutesticas A LIBRAS tambeacutem apresenta

dialetos regionais reforccedilando seu caraacuteter de liacutengua

natural As variaccedilotildees na LIBRAS ocorrem de vaacuterias

formas como alteraccedilotildees na configuraccedilatildeo de matildeos (forma

que a matildeo assume na realizaccedilatildeo do sinal) ou na

localizaccedilatildeo espacial do sinal (local onde o sinal eacute

realizado) sem que seu sentido e significado sejam

perdido ou modificados Tambeacutem haacute sinais diferentes

para representar um mesmo referente usando em

diferentes regiotildees do paiacutes agraves vezes do mesmo estado

(BASSO e SCHMITT 2007 p 50 e 51)

O valor social58

das formas em variaccedilatildeo se estabelece nas

relaccedilotildees sociais e na avaliaccedilatildeo do que pode ser considerada uma

variedade de prestiacutegio ou uma variedade estigmatizada Estilos formais

ou distensos podem ser identificados a partir de um estudo da variaccedilatildeo

das formas no contexto social Estudos sobre o portuguecircs falado

mostram por exemplo que jovens mais favorecidos tendem a fazer

mais concordacircncia verbal em oposiccedilatildeo aos menos favorecidos que

tendem a usar menos concordacircncia Isso mostra o fator externo

(mercado de trabalho ou situaccedilatildeo) e a necessidade de o falante se

adequar ao valor linguiacutestico de concordacircncia considerado como de

prestiacutegio nesse espaccedilo Podemos concluir que a LIBRAS como

qualquer outra liacutengua apresenta variaccedilatildeo e mudanccedila mas ainda

precisamos aprofundar os estudos linguiacutesticos dessa liacutengua para melhor

conhececirc-la em seus diferentes aspectos (lexicais fonoloacutegicos

morfoloacutegicos e sintaacuteticos) O capiacutetulo 6 traraacute uma descriccedilatildeo sobre

alguns desses aspectos em variaccedilatildeo e mudanccedila Acreditamos que com a

proposta biliacutengue para a educaccedilatildeo de surdos a liacutengua portuguesa e a

LIBRAS teratildeo uma relaccedilatildeo cada vez mais intensa e o contato dessas

duas liacutenguas pelos surdos vai acarretar com toda a certeza trocas

linguiacutesticas entre elas o que pode provocar novas transformaccedilotildees

58 Valor social eacute relativo aos problemas de avaliaccedilatildeo e eacute atribuiacutedo pelos proacuteprios falantes e

usuaacuterios de liacutengua de sinais ou seja eacute sempre de ordem social (nunca linguiacutestica) Valor

atribuiacutedo desenha o futuro das formas concorrentes jaacute que a forma eleita eacute sempre a que recebe maior valor e que muitas vezes corresponde agraves formas adotadas pela elite econocircmica poliacutetica

social ou cultural de uma dada comunidade (surda)

121

CAPIacuteTULO V ndash Metodologia

51 ndash Introduccedilatildeo

Investigarei a histoacuteria da liacutengua de sinais em Santa Catarina e as

variaccedilotildees e mudanccedilas fonoloacutegicas e lexicais ocorridas no periacuteodo que

compreende 1946 aos dias atuais fazendo comparaccedilotildees entre sinais que

aparecem nos relatos de experiecircncias em trecircs geraccedilotildees de surdos

pesquisadas

A metodologia utilizada para esta pesquisa foi a de coleta de

dados atraveacutes de perguntas e depoimentos dos surdos envolvidos nas

trecircs geraccedilotildees das uacuteltimas deacutecadas A coleta de dados de informantes59

foi realizada com o objetivo de solicitar depoimentos sobre fatos

histoacutericos e sobre o contato que os surdos tiveram com a liacutengua de

sinais

Os depoimentos dos ex-alunos surdos bem como dos surdos

envolvidos na comunidade surda catarinense nas uacuteltimas deacutecadas foram

realizados por meio de entrevistas filmadas Eu mesmo fiz os viacutedeos

Mas antes conversei com cada um dos surdos explicando porque

precisava de seu depoimento Apoacutes a aceitaccedilatildeo de cada um formei os

trecircs grupos por idade Cada um assinou uma ficha do informante para

realizar a pesquisa (em anexo) com dados pessoais e autorizaccedilatildeo

Foram utilizadas trecircs cacircmeras para a filmagem colocadas de forma a

gravar o depoimento dos trecircs surdos simultaneamente Primeiro filmei o

Grupo I Os informantes ficaram sentados na frente de cada cacircmera um

ao lado do outro Depois fiz a pergunta e eles teriam trinta minutos para

dar a resposta e mais vinte minutos para conversarem entre eles Liguei

as trecircs cacircmeras e saiacute da sala Voltei aproximadamente apoacutes uma hora e

desliguei as cacircmeras Fiz o mesmo com o Grupo II e com o Grupo III O

Grupo III foi filmado na UFSC os outros dois numa sala da Associaccedilatildeo

de Surdos A resposta sobre a histoacuteria da educaccedilatildeo de surdos em SC

mais a conversa espontacircnea em LIBRAS trouxe material de qualidade

para a pesquisa A escolha dos surdos levou em conta o fato de os

escolhidos terem frequentado a escola na deacutecada de 1950 quando surgiu

tambeacutem uma associaccedilatildeo de surdos catarinenses

Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os seguintes toacutepicos a coleta

59 COELHO et al (2010 p 164) ldquosujeito da pesquisa sociolinguiacutestica aquele que fornece seus

dados linguiacutesticos para que o pesquisador analiserdquo

122

de dados das trecircs geraccedilotildees com as diferentes faixas etaacuterias o meacutetodo de

entrevista sociolinguiacutestica a coleta de narrativa de experiecircncia pessoal

a transcriccedilatildeo de dados dos trecircs grupos compostos de informantes surdos

na liacutengua de sinais os informantes do grupo surdo na liacutengua de sinais e

por fim a descriccedilatildeo dos informantes quanto aos dados

Como procedimento metodoloacutegico no primeiro momento

realizamos uma coleta inicial de dados na liacutengua de sinais observando

uma diferenccedila de 30 anos entre um grupo e outro Cada grupo eacute

composto de trecircs indiviacuteduos

O Grupo I eacute formado por pessoas mais velhas na faixa

etaacuteria entre 60 a 80 anos

O Grupo II eacute formado por pessoas entre 30 a 60 anos e

O Grupo III eacute formado por indiviacuteduos na faixa etaacuteria de

15 a 30 anos

Com a anaacutelise da LIBRAS usada pelos indiviacuteduos dessas trecircs

faixas etaacuterias esperamos poder detectar se nas trecircs geraccedilotildees de

sinalizadores da liacutengua de sinais em Santa Catarina vamos encontrar

mudanccedila em tempo aparente

Entatildeo foram entrevistados os trecircs informantes do Grupo III na

situaccedilatildeo de mais jovem em idade na faixa etaacuteria de 15 a 30 anos 1)

Informante A 2) Informante B e 3) Informante C

No segundo momento foi feita a coleta dos dados do Grupo I

Para saber o que existe no primeiro grupo de diferente precisamos

identificar os sinais antigos para depois fazermos uma comparaccedilatildeo com

as liacutenguas de sinais da atualidade Assim foram entrevistados trecircs

sujeitos surdos mais velhos na faixa etaacuteria de 60 a 80 anos 1)

Informante G 2) Informante H e 3) Informante I

No terceiro momento foram entrevistados os informantes do

Grupo II outros trecircs alunos de Francisco na faixa etaacuteria de 30 a 60

anos 1) Informante D 2) Informante E e 3) Informante F Acreditamos

que as formas usadas pelo professor Francisco serviram e servem de

modelo influenciando os alunos E que agraves vezes os alunos do professor

Francisco podem usar alguns sinais proacuteprios do professor surdo em

conversas na escola na associaccedilatildeo e na comunidade surda das regiotildees

de Santa Catarina Eacute possiacutevel tambeacutem que o ex-professor Francisco

usasse outros sinais quando conversava com os amigos os ex-alunos

surdos na escola e associaccedilatildeo em Santa Catarina

123

Foi levado em consideraccedilatildeo na coleta o que sugere Tarallo

(2000)

O pesquisador ao selecionar seus informantes estaraacute em

contato com falantes que variam segundo classe social

faixa etaacuteria etnia e sexo Seja qual for a natureza da

situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo seja qual for o toacutepico central

da conversa seja quem for o informante o pesquisador

deveraacute tentar neutralizar a forccedila exercida pela presenccedila

do gravador e por sua proacutepria presenccedila como elemento

estranho a comunidade Tal neutralizaccedilatildeo pode ser

alcanccedilada no momento em que o pesquisador se decide a

representar o papel de aprendiz-interessado na

comunidade de falantes e em seus problemas e

peculiaridades (TARALLO 2000 p 21)

Ė importante selecionar os informantes dos grupos que tecircm

contato entre si e utilizam a liacutengua de sinais de classes sociais

diferentes dentro da comunidade surda faixa etaacuteria diferente etc A

geraccedilatildeo do grupo dos mais velhos tem influecircncia sobre o grupo dos mais

novos que tem menos contato experiecircncia com a liacutengua Isso pode ser

observado na liacutengua usada pelos informantes pois seus objetivos satildeo

diferentes na fase de aprendizagem em situaccedilatildeo de comunidade surda

O pesquisador aproveita para pensar e planejar como seraacute realizada a

coleta de dados Por se tratar de uma liacutengua visualespacial tentei

diversificar os lugares para a conversa espontacircnea dos informantes

52 ndash A coleta de dados

Na coleta dos dados desta pesquisa espera-se que as trecircs geraccedilotildees

com faixas etaacuterias distintas de informantes relatem sua experiecircncia de

vida na liacutengua de sinais possibilitando uma anaacutelise dos sinais gravados

para que possamos identificar possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas

linguiacutesticas

Na primeira parte assisti aos viacutedeos no programa Transcriccedilatildeo de

Liacutengua de Sinais ndash ELAN60

No segundo momento verifiquei e analisei

60 McCLEARY e VIOTTI 2007 - Eacute a caraacuteter eminentemente descritivo buscando a captaccedilatildeo

do maior nuacutemero de detalhes de sinalizaccedilatildeo As narrativas que estatildeo sendo transcritas foram

baseadas no filme ldquoHistoacuteria da pecircrardquo criado pelo de pesquisa de Wallace Chafe na deacutecada de 1970 com o objetivo de eliciar narrativas para anaacutelise e comparaccedilatildeo translinguiacutestica Visando

a produccedilatildeo de narrativas em liacutengua de sinais brasileira o grupo ECS fez a gravaccedilatildeo de

narrativas produzidas por surdos que assistiram ao filme e relataram a histoacuteria para outra pessoa fluente na liacutengua

124

a coleta de dados dos grupos de informantes das trecircs geraccedilotildees com

relaccedilatildeo agraves mudanccedilas histoacutericas e linguiacutesticas Depois realizei a

descriccedilatildeo dos grupos nas diferentes faixas etaacuterias que mostram se os

sinais se modificam nas possiacuteveis narrativas Espero com esses sinais

observados alcanccedilar o objetivo principal da pesquisa o de comparar os

sinais encontrados nos trecircs grupos e verificar se ocorreram variaccedilotildees e

mudanccedilas linguiacutesticas em tempo aparente

Realizei a coleta de dados da seguinte forma coloquei todos os

depoimentos filmados dos surdos no programa ELAN Escolhi os sinais

que apareciam nos trecircs grupos e fiz uma tabela com esses sinais depois

fiz anaacutelise e descriccedilatildeo dos resultados finais

53 ndash O meacutetodo de entrevista sociolinguiacutestica a coleta de narrativas

de experiecircncia pessoal

A coleta de dados realizada numa entrevista deve ocorrer de

forma espontacircnea Antes de realizar a pesquisa para recolher os dados eacute

importante conhecer as diferentes abordagens que identificam os grupos

e sua relaccedilatildeo com a liacutengua Segundo Tarallo (2000)

De gravador em punho o pesquisador-sociolinguista

como afirmamos deve coletar 1 situaccedilatildeo natural de

comunicaccedilatildeo linguumliacutestica e 2 grande quantidade de

material de boa qualidade sonora (TARALLO 2000 p

21)

Para realizar a pesquisa empiacuterica foi necessaacuterio um planejamento

anterior utilizando viacutedeo de filmagem com boa qualidade visual pois

observamos indiviacuteduos que utilizam a comunicaccedilatildeo visual espacial com

o objetivo de melhor descrevermos os grupos e verificar questotildees

linguiacutesticas desses indiviacuteduos

Para a coleta seguimos os procedimentos metodoloacutegicos

indicados por Tarallo

Este software foi desenvolvido no Instituto Max Planck de Psycholinguistics na Holanda e

mostra no site wwwmpinl na transcriccedilatildeo o ELAN (Eudico Language Annotator) eacute um

programa que permite adicionar anotaccedilotildees para um arquivo de viacutedeo o que pode tornaacute-lo muito mais faacutecil de estudar assistir o viacutedeo na liacutengua de sinais Ele tambeacutem pode ser utilizado

com as liacutenguas faladas (com ou aacuteudio ou viacutedeo) mas este foi apresentado na minha pesquisa e

utilizado na liacutenguas de sinais das trecircs geraccedilotildees

125

Para atingir tais propoacutesitos metodoloacutegicos podem-se

formular moacutedulos (ou roteiros) de perguntas um

questionaacuterio-guia de entrevista Esses moacutedulos tecircm por

objetivo homogeneizar os dados de vaacuterios informantes

para posterior comparaccedilatildeo controlar os toacutepicos de

conversaccedilatildeo e em especial provocar narrativas de

experiecircncia pessoal (TARALLO 2000 p 22)

Ė permitido ressaltar na pesquisa sociolinguiacutestica que para

realizaacute-la seraacute feita uma seleccedilatildeo de um grupo ou indiviacuteduo dependendo

da situaccedilatildeo como por exemplo quanto agrave classe social pode ser

verificado o gecircnero a etnia faixa etaacuteria e costumes A situaccedilatildeo de

pesquisa pode acontecer em qualquer lugarambiente O pesquisador

observa de forma neutra o grupo de falantes que estaacute pesquisando em

um determinado local e faz anaacutelises com base nos fatos linguiacutesticos

observando-os em conversas espontacircneas procurando especificaacute-las

A metodologia de coleta laboviana mostra que encontramos a

variedade mais espontacircnea em narrativa de experiecircncia pessoal pois o

indiviacuteduo quando estaacute envolvido emocionalmente faz relatos sem se

preocupar com o modo como estaacute contando De acordo com Tarallo

Os estudos de narrativas de experiecircncia pessoal tecircm

demonstrado que ao relataacute-las o informante estaacute tatildeo

envolvido emocionalmente com o que relata que presta o

miacutenimo de atenccedilatildeo ao como E eacute precisamente esta a

situaccedilatildeo natural de comunicaccedilatildeo almejada pelo

pesquisador-sociolinguista

Os moacutedulos cobrem uma seacuterie de toacutepicos para fins de

conversaccedilatildeo dados pessoais do informante (sua

histoacuteria) jogo e brincadeira de infacircncia brigas namoro e

encontros amorosos casamento perigo de morte medo

famiacutelia religiatildeo amigos turmas serviccedilos puacuteblicos o

crime nas ruas escola e trabalho interaccedilatildeo com outros

membros da comunidade esportes etc (TARALLO

2000 p 22)

As pessoas ouvintes falam sobre fatos ocorridos de sua experiecircncia pessoal com famiacutelia amigos etc de forma natural Isto

tambeacutem acontece na comunidade surda e ao coletar narrativas em

liacutengua de sinais acredita-se que vamos encontrar diferentes situaccedilotildees do

cotidiano e parte da histoacuteria da comunidade que mostraratildeo variaccedilotildees e

tambeacutem mudanccedilas linguiacutesticas

126

Podem ser escolhidas diferentes maneiras de realizar uma

pesquisa de campo mas a experiecircncia pessoal deve ser levada em

consideraccedilatildeo A pesquisa pode ser realizada com diferentes informantes

ou grupos de informantes de qualquer categoria para verificar as

possiacuteveis variaccedilotildees da liacutengua falada sem qualquer preocupaccedilatildeo com a

forma como indica Tarallo

A narrativa de experiecircncia pessoal eacute a mina de ouro que

o pesquisador-sociolinguistica procura Ao narrar suas

experiecircncias pessoais mais envolventes ao colocaacute-las no

gecircnero narrativa o informante desvencilha-se

praticamente de qualquer preocupaccedilatildeo com a forma A

desatenccedilatildeo agrave forma no entanto vem sempre embutida

numa linha de relato a que chamaremos ldquoestrutura

narrativardquo (TARALLO 2000 p 23)

Nesta citaccedilatildeo o autor explica a importacircncia da coleta de narrativa

pessoal de cada um dos informantes porque apenas fazem a narraccedilatildeo

sem preocupaccedilatildeo com a forma como estatildeo contando

54 ndash A transcriccedilatildeo de dados dos trecircs grupos compostos de

informantes surdos na liacutengua de sinais

Estes dados foram organizados no sistema de transcriccedilatildeo na

liacutengua de sinais ndash ELAN As identificaccedilotildees dos sujeitos surdos que

apresentavam cada um o seu relato em viacutedeo mostram a sua forma de se

comunicar na liacutengua de sinais Verificar se a variaccedilatildeo fonoloacutegica e

mudanccedila lexical pode acontecer nesta liacutengua de sinais em trecircs geraccedilotildees

eacute um dos propoacutesitos deste trabalho

55 ndash Informantes do grupo surdo na liacutengua de sinais

Os informantes do grupo que participaram da minha pesquisa

foram escolhidos de forma aleatoacuteria pela facilidade de contato e

separados em trecircs geraccedilotildees que usavam a liacutengua de sinais

Labov em suas pesquisas elaborava entrevistas de modo a

elicitar nos entrevistados uma fala menos monitorada ndash o vernaacuteculo61

Ele afirma que

61 ldquoEstilo em que pouco monitoramento eacute dispensado agrave fala fala ldquonaturalrdquordquo COELHO et al

(2010 p 166)

127

As narrativas produzidas em resposta a essa pergunta

[ldquoVocecirc jaacute viveu uma situaccedilatildeo em que correu seacuterio risco

de morrerrdquo] quase sempre exibem uma mudanccedila de

estilo que se distancia da fala monitorada e se aproxima

do vernaacuteculo62 (LABOV 2008 [1972] p 245)

Da mesma forma na pesquisa sobre o grupo de surdo que o

senhor Francisco ensinou utilizei um questionaacuterio com uma pergunta

que era explique a histoacuteria da educaccedilatildeo de surdo em Santa

Catarina para que pessoas surdas respondessem As perguntas foram

feitas em LIBRAS e as respostas foram filmadas num total de nove

pessoas

O foco do agrupamento dos sujeitos foi a idade portanto houve

variabilidade quanto ao gecircnero e agraves atividades exercidas pelos

participantes

Na primeira etapa o objetivo foi a escolha dos trecircs indiviacuteduos dos

grupos informantes surdos mais jovens A B e C Neste grupo o fator

escolhido quanto ao sexo foi trecircs masculinos pois natildeo encontrei jovem

do sexo feminino

Na segunda etapa os trecircs indiviacuteduos do grupo de informantes

surdos intermediaacuterio D E e F foram quanto ao sexo dois masculinos e

um feminino

Na uacuteltima etapa os trecircs indiviacuteduos do grupo de informantes

surdos mais velhos G H e I foram escolhidos quanto ao sexo um

masculino e dois femininos Entatildeo escolhi a faixa etaacuteria deste grupo que

apresentava o documentaacuterio em viacutedeo que a partir do qual foi extraiacuteda

amostra de uma experiecircncia de cada uma das narrativas de sujeitos

surdos que usavam a liacutengua de sinais espontacircnea Seguem os quadros de

amostras dos grupos em trecircs geraccedilotildees contemplados nesta pesquisa

62 Um dos aspectos mais interessantes dessa pergunta eacute que ela implica uma resposta sim-ou-

natildeo do tipo que em geral evitamos O mecanismo parece ser o seguinte o informante estaacute

disposto a reconhecer o fato de ter estado numa situaccedilatildeo assim embora possa natildeo estar disposto a fazer um relato Mas uma vez que reconheceu o fato acha muito difiacutecil deixar de

fazer um relato completo quando o entrevistador pergunta depois de alguns instantes ldquoO que

aconteceurdquo Do contraacuterio ficaria parecendo que ele fez uma afirmaccedilatildeo falsa

128

Quadros de amostras dos Grupos I II e III

Grupo I

Identificaccedilatildeo

de Classe

Sexo Idade Faixa

Etaacuteria

Profissotildees

Informante G Masculino 82

anos

60 a 80

anos

ProfessorAposentado

Informante H Feminino 64

anos

60 a 80

anos

CostureiraAposentado

Informante I Feminino 62

anos

60 a 80

anos

BancaacuterioAposentado

Grupo II

Identificaccedilatilde

o de Classe

Sexo Idade Faixa

Etaacuteria

Profissotildees

Informante D Feminino 56

anos

30 a 60

anos

BancaacuterioAposentado

Informante E Masculino 53

anos

30 a 60

anos

Autocircnomo

Informante F Masculino 52

anos

30 a 60

anos

MotoristaAposentado

Grupo III

Identificaccedilatildeo

de Classe

Sexo Idade Faixa

Etaacuteria

Profissotildees

Informante A Masculino 29

anos

15 a 30

anos

Professor

Informante B Masculino 25

anos

15 a 30

anos

Professor

Informante C Masculino 24

anos

15 a 30

anos

Estudante

129

Os Grupos I e II foram alunos de profdeg Francisco jaacute os

informantes do Grupo III foram escolhidos na universidade porque eacute

difiacutecil de ser ter contato com surdo na faixa etaacuteria de 15 anos

Cada um dos 9 (nove) informantes da amostra nos trecircs (3) grupos

com relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria poderaacute trazer indicativos sobre a trajetoacuteria da

liacutengua de sinais e a influecircncia da geraccedilatildeo dos surdos mais velhos (Grupo

I) com relaccedilatildeo agrave sinalizaccedilatildeo utilizada na atualidade pelos surdos mais

jovens (Grupo III) Segundo a citaccedilatildeo de Tarallo

a primeira tentativa de definiccedilatildeo a liacutengua falada a que

nos temos referido eacute o veiculo linguumliacutestico de

comunicaccedilatildeo usado em situaccedilotildees naturais de interaccedilatildeo

social do tipo comunicaccedilatildeo face a face Ė a liacutengua que

usamos em nossos lares ao interagir com os demais

membros de nossas famiacutelias Ė a liacutengua usada nos

botequins clubes parques rodas de amigos nos

corredores e paacutetios das escolas longe da tutela dos

professores Ė a liacutengua falada entre amigos inimigos

amantes e apaixonados (TARALLO 2000 p 19)

Na interaccedilatildeo social desta liacutengua que o surdo utiliza para se

comunicar em diversos lugares com os amigos na associaccedilatildeo na escola

etc haacute uma valorizaccedilatildeo cultural aleacutem da troca de conhecimentos

necessidades de criaccedilatildeo de novos sinais modificaccedilatildeo eou

aperfeiccediloamento de outros trazendo modificaccedilotildees linguiacutesticas

Concluiacutemos a explicaccedilatildeo do procedimento da metodologia desta

pesquisa trazendo consideraccedilotildees sobre os registros dos dados dos

informantes para posterior verificaccedilatildeo da variaccedilatildeo e mudanccedila

linguiacutestica observada nos trecircs grupos de surdos nas diferentes geraccedilotildees

referentes agrave liacutengua de sinais Atraveacutes das informaccedilotildees encontradas nas

narrativas seraacute feita uma trajetoacuteria histoacuterica da liacutengua de sinais e seratildeo

observadas as mudanccedilas ocorridas com relaccedilatildeo agrave liacutengua na comunidade

surda de Santa Catarina

56 ndash Descriccedilatildeo dos informantes quanto aos dados

Nesta seccedilatildeo apresentamos descriccedilotildees dos dados coletados na

liacutengua de sinais espontacircnea de informantes conforme amostras dos

Grupos I II e III Os dados foram observados pelo programa de

transcriccedilatildeo de ELAN Realizei os trabalhos comparando a liacutengua usada

pelas geraccedilotildees e as informaccedilotildees dadas pelos informantes

Os fatos sociolinguiacutesticos apresentados pelos informantes atraveacutes

130

de seus depoimentos mostrando suas trajetoacuterias e vivecircncias na

comunidade surda nas diferentes regiotildees do estado de SC seratildeo

analisados para saber se o professor surdo influenciou a comunidade

surda do estado no ensino da LIBRAS

A questatildeo que tentarei responder com os dados eacute a seguinte Os

informantes de cada grupo de comunidades surdas de diferentes regiotildees

do estado de Santa Catarina relatando sua trajetoacuteria com experiecircncias

relacionadas agrave liacutengua de sinais ora sofreram ora natildeo a influecircncia do

professor surdo com relaccedilatildeo ao aprendizado desta liacutengua

Pretendo verificar se haacute algum sinal de que a liacutengua sofreu

variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica em cada uma das trecircs geraccedilotildees dos

informantes Essas trecircs geraccedilotildees vatildeo ser acompanhadas pelas glosas de

sinais A descriccedilatildeo de experiecircncias dos informantes surdos nos trecircs

grupos observados eacute a estrateacutegia para se pesquisar o processo de

mudanccedila

A pesquisa vai analisar os trecircs comparativos dos informantes

surdos com a descriccedilatildeo de dados de cada geraccedilatildeo apoacutes verificar os

resultados de cada uma das trecircs geraccedilotildees de informantes Grupo III A

B C Grupo II D E F Grupo I G H e I As narrativas na liacutengua de

sinais que os informantes apresentaram foram coletadas e vatildeo ser

descritas nas proacuteximas seccedilotildees

561 ndash Grupo I ndash Informantes

Nas narrativas dos sujeitos63

do grupo de informantes na faixa

etaacuteria dos surdos de 60 a 80 anos os mais velhos mesmo grupo do

professor surdo foram expressas algumas opiniotildees dos surdos

nomeados de informantes G H e I Seguem as informaccedilotildees

5611 ndash Informante G

Francisco eacute o informante G e sua identidade estaacute expliacutecita porque

ele autorizou O informante G mostra sua experiecircncia na liacutengua de

63 Os sujeitos surdos SCHMITT (2008) mostram a participaccedilatildeo no amplo espaccedilo da sociedade

em que vivem No momento eles se identificam como um ldquooutrordquo como surdo Esta mudanccedila

eacute mostrada pelas lutas seja na sociedade em encontros eventos seminaacuterios congressos e outros Isso eacute o povo surdo participando no movimento na luta pela educaccedilatildeo pelos direitos

culturais

131

sinais e sua opiniatildeo sobre como aconteceu essa experiecircncia Segue um

comentaacuterio ldquoSabemos que as liacutenguas mudam com o tempo e se

transformam conforme as culturas dos paiacuteses regiotildees ou mesmo em

situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo em que estaacute participando (numa conversa

informal na sala de aula na famiacutelia etc) estas mudanccedilas ocorrem com

as configuraccedilotildees de matildeos articulaccedilotildees movimentos expressotildees faciais e

ou corporais essas mudanccedilas satildeo recicladas para se adaptar a realidade e

conceitos na sociedade tendo os traccedilos de identificaccedilatildeo proacutepriardquo

O informante G nasceu no dia 01061928 em Florianoacutepolis SC

foi aluno interino do Instituto Nacional de Surdos-Mudos do Rio de

Janeiro e do Instituto Paulista de Surdos em Satildeo Paulo de 1937 a 1946

Ele realizou o curso fundamental e meacutedio tinha habilitaccedilatildeo em ensino

especial desenho encadernaccedilatildeo ginaacutestica datilografia frequentou da

1a a 8

a seacuterie do ensino fundamental no Instituto Nacional de Surdos-

Mudos e sua habilitaccedilatildeo eacute em Contabilidade pelo Instituto Monitor e

Nuacutecleo de ensino profissional

Em 1952 ele conheceu quinze surdos-mudos em Florianoacutepolis

que natildeo sabiam ler e escrever Ele ensinava algumas palavras e sinais

para esses surdos-mudos De outra feita entre 1953 a 1954 iniciava a

amizade com o primeiro presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos de

Satildeo Paulo senhor Maacuterio Devisate Ele natildeo tinha o conhecimento da

existecircncia de uma Associaccedilatildeo de Surdos em Florianoacutepolis o senhor

Devisate entregava um documento para Associaccedilatildeo de Surdos-Mudos

de acircmbito nacional e o professor Francisco Lima Juacutenior veio como

delegado e responsaacutevel pela regiatildeo do Sul passando a residir nesta

capital (Florianoacutepolis)

O primeiro presidente da Sociedade dos Surdos-Mudos do

Distrito Federal que na eacutepoca era Rio de Janeiro foi o senhor Miguel

da Fonseca Seabra de Melo era grande colega do Francisco Mais tarde

com a construccedilatildeo de Brasiacutelia a associaccedilatildeo continuou no RJ soacute que

naquele momento natildeo mais como capital com o nome Sociedade dos

Surdos-Mudos do Brasil para finalmente Associaccedilatildeo dos Surdos do Rio

de Janeiro (ASURJ)

O grupo conversava na liacutengua de sinais numa reuniatildeo quando

chegou o presidente da ASURJ que tambeacutem era surdo O professor

Francisco foi apresentado e cumprimentou o senhor Miguel da Fonseca

Seabra de Melo que estava acompanhado de uma colega que ao ver o

professor Francisco sorriu O professor Francisco agradeceu pela ajuda

que o senhor Miguel deu ao Instituto Nacional de Surdos-Mudos e as

informaccedilotildees referentes agrave associaccedilatildeo

Na verdade o professor Francisco tinha contato e conversava

132

sempre com o amigo que estudou com ele no INES o senhor Salomatildeo

Watnick que foi primeiro presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos

do Rio Grande do Sul seu grande amigo que morava em Porto Alegre

Como o INES estava passando por reforma o professor

Francisco como tinha muitos amigos dos diferentes cursos e viagens

que fez conseguiu estudar na Escola Especial para Surdos-Mudos em

Satildeo Paulo que para ele era uma escola maravilhosa e excepcional onde

aprendeu muito

O grupo dos surdos de SC se perguntava como ganharia a vida

pois natildeo estavam felizes nas escolas especiais que na eacutepoca utilizavam

os meacutetodos oralistas onde os surdos natildeo podiam utilizar sinais Mas

encontraram o motivo da existecircncia na associaccedilatildeo do estado podendo

assim discutir e abrir caminhos para os surdos

5612 ndash Informante H

A informante H mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua

opiniatildeo sobre como aconteceu essa experiecircncia ldquoMudam porque as

pessoas mudam os tempos mudam assim como mudam as culturas e

diversas outras formas de liacutengua existentes entre elas Sendo a LIBRAS

tambeacutem uma forma de liacutengua ela acompanha estas mudanccedilas para que

os indiviacuteduos que dela fazem uso possam acompanhar a sociedade e

mundo do qual fazem parterdquo

A informante H nasceu em 26051946 em Satildeo Pedro de

Alcacircntara em Santa Catarina Durante sua infacircncia e adolescecircncia

morou com seus pais que eram agricultores

Ela teve que trabalhar na lavoura dos 6 ateacute os 18 anos de idade

cortava o capim que alimentava o gado roccedilava para limpar um paacutetio do

terreno e uma plantaccedilatildeo cercada onde se criavam vaacuterias galinhas patos

etc Plantavam vaacuterios tipos de flores e tinham uma horta Ela penteava

os cabelos dos cavalos para depois montaacute-lo corria e caiacutea no chatildeo num

desses passeios quebrou o braccedilo e diz que doeu muito Quando o

cunhado viu o braccedilo dela quebrado levou-a de carroccedila para o hospital

na cidade de Vidal Ramos em Santa Catarina Depois ela tinha que

ficar um mecircs com o gesso no braccedilo mas 15 dias depois na casa da

irmatilde olhava o rio e pulava no rio que brilhava acabou ficando coberta

de aacutegua e quase se afogou Para natildeo se afogar colocou as matildeos em cima

de uma pedra do rio ficou muito assustada e chorou muito o tio dela foi

quem a ajudou

O pai de H eacute brasileiro e lavrador Dedicava-se agrave criaccedilatildeo de gado

aves e na fabricaccedilatildeo de cachaccedilas que preparava das plantas que

133

produziam cana-de-accediluacutecar cafeacute e frutas Na casa natildeo tinha luz e era

utilizada a vela a fogueira e a lacircmpada de querosene

A matildee de H tambeacutem era brasileira costureira e lavradora

Trabalhava na propriedade na plantaccedilatildeo de milho feijatildeo arroz aipim e

verduras Os Pais de H tiveram 13 filhos 1 filha jaacute falecida com 1 ano e

um mecircs de gravidez gemular 3 filhas eram ouvintes 3 filhas eram

surdas 6 filhos eram ouvintes 1 filho era surdo A terra lavrada e

cultivada estaacute localizada em Satildeo Pedro de Alcacircntara Depois que o pai

morreu o terreno foi loteado e a informante H ficou com um dos lotes e

os irmatildeos deram a casa

O irmatildeo da informante H que era surdo jaacute falecido em 1976 foi

mordido por uma cobra venenosa Seu pai faleceu em 1989 e a matildee

faleceu em 1998

Em 1966 ajudava lavando roupas para fora nesta eacutepoca morava

com o primo numa casa localizada no bairro do Estreito ndash

FlorianoacutepolisSC Tinha trecircs vizinhos surdos e com eles conversava com

os sinais eou gestualidade Ela natildeo sabia conversar em LIBRAS com

outro surdo aprendeu com os vizinhos surdos que a avisavam das

reuniotildees de surdos que aconteciam no salatildeo do grupo Escolar Celso

Ramos

O professor Francisco ensinou aos surdos as regras do jogo de

bingo depois foram oferecidos cinco brindes para o jogo de bingo que

aconteceu no bairro de Capoeiras Ele perguntava para ela de onde vocecirc

eacute E ela respondia que morava em Satildeo Pedro de Alcacircntara Entatildeo o

Francisco foi junto com a informante H conhecer sua casa localizada no

siacutetio de Satildeo Pedro de Alcacircntara

Ela apresentou sua matildee para o senhor Francisco queria estudar e

aprender a liacutengua de sinais com Francisco presidente da associaccedilatildeo e

professor na escola para surdos Ela veio para a capital em 1966 aos 19

anos de idade onde aprendeu a Liacutengua Portuguesa Escrita matemaacutetica e

liacutengua de sinais na Escola Celso Ramos em Florianoacutepolis numa classe

de alunos surdos Alguns anos mais tarde ela trabalhou como costureira

na faacutebrica de renda e bordados Hoepcke

Ela fez alguns cursos de pintura em tecido bordado a maacutequina

Ela conta que sempre foi uma pessoa esforccedilada que buscava desafios na

sua aprendizagem o tempo todo e cada vez mais como autodidata que

aprendia muitas coisas como por exemplo cozinhar e alta costura

Passava sempre na escola era muito esforccedilada aprimorava muito a sua

aprendizagem de vida

O professor Francisco e ela viajavam pelo estado verificavam e

encontravam os surdos no interior do estado Ela entregou um anel para

134

a ex-rainha do Ciacuterculo de Surdo-Mudos de Santa Catarina ndash CSMSC

que era Catarina Ceciacutelia Schveitzer em 1993

5613 ndash Informante I

A informante I mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua

opiniatildeo sobre como aconteceu essa experiecircncia ldquoMudam a ldquoformardquo de

vida das pessoas na sociedade para que se adaptem a nova realidade e

as liacutenguas tambeacutem se modificam As liacutenguas de sinais tambeacutem mudam

criam-se palavras novas satildeo influenciadas por outras liacutenguas etc A

evoluccedilatildeo das coisas em geral estaacute acontecendo de forma muito raacutepida e

a LIBRAS sendo uma forma de comunicaccedilatildeo entre cultura surda e

ouvinte precisa acompanhar essa evoluccedilatildeo Quando uma determinada

coisa natildeo acompanha o desenvolvimento onde estaacute inserida a

tendecircncia eacute de ficar do lado de forardquo

A informante I nasceu em 01041948 em Blumenau veio de

uma famiacutelia de 6 irmatildeos onde 3 satildeo surdos e 3 satildeo ouvintes A matildee do

informante I descobriu que era surda quando tinha mais ou menos dois

anos de idade Apoacutes essa descoberta teve uma infacircncia normal era uma

crianccedila super ativa

Aos 7 anos de idade entrava na escola onde havia outras crianccedilas

surdas como ela Foi alfabetizada em Blumenau Depois lembrou que

tentava usar o seu aparelho auditivo mas como natildeo escutava nada

acabou rejeitando o aparelho

Tinha muita preocupaccedilatildeo com a educaccedilatildeo dos surdos Os pais

mandaram-na estudar num internato de crianccedilas surdas no Rio de

Janeiro aos 9 ou 10 anos de idade Ela natildeo se adaptou e retornou para

Blumenau A escola para surdos que frequentava em Blumenau ficou

sem a professora especializada e ela teve que ir para uma escola regular

O pai que era bancaacuterio pediu transferecircncia do banco para a cidade

de Florianoacutepolis para que a informante I e seus irmatildeos pudessem

continuar os estudos

Em Florianoacutepolis frequentaram a escola Celso Ramos onde a sala

dos surdos era de responsabilidade do professor Francisco Lima Juacutenior

O professor Francisco era uma pessoa muito importante nesta

eacutepoca a vida dele era ajudar o grupo de surdos atraveacutes da liacutengua de

sinais e ele lecionava no ensino fundamental e no curso primaacuterio

A informante I sempre foi muito curiosa queria mais e resolveu

fazer o curso ginasial por correspondecircncia pois na eacutepoca fazia o

segundo grau na escola de ouvintes tinha dificuldade tinha que aprender

tudo sozinha porque na escola o ensino era em portuguecircs falado difiacutecil

135

para o surdo entender (problema de comunicaccedilatildeo) Ela tinha vontade de

estudar na escola com o professor Francisco que ensinava na liacutengua de

sinais

Relembrou que naquela eacutepoca viu que foi muito difiacutecil quando

ela tinha duacutevidas os pais pagavam um professor para dar aulas

particulares Enfim venceu mas natildeo foi faacutecil Depois fez vaacuterios cursos

profissionalizantes como datilografia correspondecircncia comercial curso

de cabeleireira manicure pintura em tela corte e costura e tantos outros

que agora natildeo lembrava mais

Depois de tudo isso resolveu fazer o concurso para uma vaga de

escrituraacuterio no Banco do Estado de Santa Catarina ndash BESC e foi

aprovada trabalhou laacute por vaacuterios anos e agora jaacute estava aposentada

A informante I eacute casada e o companheiro tambeacutem eacute surdo

funcionaacuterio aposentado da Imprensa Oficial Queria muito ter filhos e

acabou tendo um filho que eacute ouvinte e hoje estaacute com 27 anos e tem

formaccedilatildeo acadecircmica com poacutes-graduaccedilatildeo Diz sentir-se realizada

Sua matildee tem hoje 87 anos e eacute a grande incentivadora de sua vida

eacute tambeacutem um grande exemplo de vida guerreira batalhadora e muito

religiosa Foi ela que ensinou o que eacute amor respeito e outros valores

morais tudo isso dentro da doutrina espiacuterita

A informante I diz ser uma pessoa realizada porque venceu

muitas barreiras conseguiu tirar a carteira de motorista e tambeacutem

aprendeu a utilizar a comunicaccedilatildeo no celular Internet MSN e e-mail

Nada foi faacutecil considera-se uma pessoa feliz adora assistir aos

filmes legendados os noticiaacuterios novelas enfim gosta de estar bem

informada

Contando a histoacuteria de sua vida quer mostrar agraves pessoas que pode

alcanccedilar qualquer coisa na vida e que natildeo eacute diferente dos outros A

diferenccedila estaacute na audiccedilatildeo mas pode usar os outros sentidos para se

comunicar e utilizar a liacutengua de sinais visual

562 ndash Grupo II ndash Informantes

Nas narrativas dos sujeitos surdos para a pesquisa no Grupo II

com idade intermediaacuteria de 30 anos a 60 anos de idade em

intermediaacuterio verificou-se que todos foram alunos do professor surdo

Francisco A seguir estatildeo expressas algumas opiniotildees destes surdos

nomeados de informantes D E e F

136

5621 ndash Informante D

A informante D mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua

opiniatildeo a respeito de como aconteceu essa experiecircncia ldquoCom o passar

do tempo ocorrem muitas mudanccedilas nas liacutenguas de sinais para suprir as

necessidades de comunicaccedilatildeo e as modificaccedilotildees de costumes de cada

geraccedilatildeo Os sinais satildeo criados de acordo com a necessidade de cada

grupordquo

A informante D nasceu em Florianoacutepolis num domingo no dia

quatro de outubro de mil novecentos e cinquenta e trecircs (04101953) em

casa sob os cuidados de uma parteira chamada de Dona Oliacutevia Nasceu

com audiccedilatildeo perfeita segundo diagnoacutestico de um meacutedico do hospital

das cliacutenicas em Satildeo PauloSP em 1961 O responsaacutevel pela sua perda de

audiccedilatildeo foi um medicamento chamado de trepdomicina usado para

acalmar a ldquotosse compridardquo ou Coqueluche Nessa eacutepoca natildeo havia

vacina para a doenccedila nos postos de sauacutede Sua matildee levou os filhos para

vacinar e constatou isso

A famiacutelia dela descobriu a surdez aos nove meses de idade Ela

tinha seis meses de idade quando foi acometida pelo viacuterus da

coqueluche e a irmatilde tambeacutem que na eacutepoca tinha 9 anos de idade

A matildee dela quando estava graacutevida tomou uma injeccedilatildeo

denominada 914 para curar infecccedilatildeo no aparelho genital feminino Esse

medicamento agiu negativamente na formaccedilatildeo dos ossos deixando-a

com o andar defeituoso parecendo que uma perna era mais curta que a

outra Ela foi para Satildeo Paulo levada pelo irmatildeo e pelo padrinho para

tratamento Foi submetida a quatro cirurgias entre 1961 a 1963 mas

que surtiram pouco resultado comprovado em 1980 Daiacute para frente

voltava a ter uma perna mais curta e sente muitas dores ao andar e

sentar

Em 1964 iniciava seus estudos na escola para surdos de

Florianoacutepolis no grupo Celso Ramos Seu primeiro professor surdo foi

o Francisco que lhe dava aula na liacutengua de sinais Francisco tambeacutem

ensinava LIBRAS no Ciacuterculo dos Surdos Mudos de Santa Catarina na

escola primaacuteria e na associaccedilatildeo de surdos

Em 1975 fazia teste para ingressar como funcionaacuteria no BESC

sendo admitida como escrituraria em 18091975 e se aposentou em

19112002 Ela aprendeu a dirigir automoacutevel fez curso de datilografia

e por uacuteltimo fez curso baacutesico de computador para saber operaacute-lo Fez

curso de pintura a oacuteleo em tela e em tecido Procurava cuidar de sua

sauacutede indo ao meacutedico regularmente

Ela eacute associada e participa da diretoria da Associaccedilatildeo de Surdos

137

da Grande Florianoacutepolis ndash ASGF eacute tambeacutem voluntaacuteria nas atividades

que a associaccedilatildeo desenvolve em benefiacutecio de seus amigos surdos que

frequentam a mesma associaccedilatildeo Hoje ensina LIBRAS para os

associados de qualquer idade

5622 ndash Informante E

O informante E mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua

opiniatildeo de como aconteceu essa experiecircncia ldquoAssim como a liacutengua

portuguesa evolui ou muda com o passar do tempo LIBRAS tambeacutem

passa por mudanccedilas constantes estas podem ser de regiatildeo para regiatildeo

por exemplo a liacutengua de LIBRAS acompanha a evoluccedilatildeo do mundo

sendo hoje uma liacutengua para a comunicaccedilatildeo dos surdosrdquo

O informante E nasceu na maternidade Carmela Dutra no Centro

de Florianoacutepolis no dia 03 de Novembro de 1957 Ele ficou surdo aos

quatro anos de idade (causado por remeacutedios ministrados errados por sua

matildee nos ouvidos quando estava com febre dor de ouvidos e caxumba)

Com 53 anos eacute presidente de entidade esportiva de Santa

Catarina desde 1999 reeleito pela segunda vez com gestatildeo ateacute 2011

sendo um dos liacutederes dos surdos de Santa Catarina Foi um dos

fundadores da Sociedade de Surdos de Satildeo Joseacute atuou nela de 1990 a

1996 uma entidade que crescia muito e eacute considerada a mais organizada

no estado de Santa Catarina

Ele escolheu o sobrenome diferente na campanha poliacutetica que

concorreu para vereador de Satildeo Joseacute de 2003 a 2007 em homenagem agrave

sua avoacute-materna jaacute falecida descendente de alematildees que lhe criou por

mais de 10 anos junto com o marido descendente de portugueses que

natildeo conhecera pois a avoacute dele ficara viuacuteva quando o pai dele era

solteiro Portanto queria preservar o sobrenome da avoacute-matildee dele como

lembranccedila

Os pais dele estavam preocupados com sua infacircncia com sua

situaccedilatildeo futura e por isso procuravam incansavelmente a existecircncia de

uma escola especial para surdos

Finalmente acharam a escola localizada na Rua Conselheiro

Mafra no Centro de Florianoacutepolis Era uma sala comercial tipo garagem

grande (perto do antigo terminal urbano hoje Terminal Cidade de

Florianoacutepolis) foi ali onde encontraram a primeira escola para surdos

onde ele aprendeu a liacutengua de sinais aos 6 anos de idade

Ele estudou com o primeiro professor surdo do estado de Santa

Catarina O professor Francisco e sua esposa que era ouvinte e tambeacutem

professora chamava-se Mercedes e foi a primeira inteacuterprete dele Neste

138

momento existiam outros alunos surdos que eram Niro Paulo Percy

Socircnia Maria da Graccedila Maria Bernadete Aldenei Rita Reinoldo

Edson Ivo (falecido) Arnoldo e outros que ele natildeo lembrava

No comeccedilo do aprendizado dele da liacutengua de sinais achava

estranho e natildeo lhe agradava muito fazendo com que ele natildeo quisesse

estudar ali mas foi a matildee dele que o incentivou a continuar estudando

e com o tempo foi gostando da escola e do grupo de amigos surdos

isto foi em 1971

Essa escola foi transferida de local e foi para a EEB

Governador Celso Ramos no bairro Prainha em Florianoacutepolis no ano

de 1972 Esta nova escola ele adorava muito e guarda boas recordaccedilotildees

vividas nela

Infelizmente ele natildeo lembrava do ano em que foi transferido para

o Instituto de Audiccedilatildeo e Terapia da Linguagem ndash IATEL situado na

Rua Liberato Bittencourt no Centro de Florianoacutepolis numa casa

simples e alugada Ficou muito contrariado com esta transferecircncia

Nessa eacutepoca tinha mais ou menos 13 anos Proacuteximo aos 15 anos ele

abandonou o IATEL porque tinha que trabalhar para sustentar a avoacute

dele que era viuacuteva e pobre Sua avoacute tambeacutem natildeo gostava desta escola e

tambeacutem das novas professoras que eram ouvintes e que natildeo sabiam usar

a liacutengua de sinais obrigando os surdos a oralizarem

Aos 14 anos ele jaacute trabalhava em uma empresa de comunicaccedilatildeo

visual (luminosos) Apoacutes um ano ele mudava de ramo para a funccedilatildeo de

auxiliar de escritoacuterio em duas empresas de contabilidade Depois disso

ele fundou uma empresa proacutepria de comunicaccedilatildeo visual em sociedade

com seu pai no ramo de letreiros em placas paredes e etc O nome da

empresa comprada foi modificado e mais tarde fez sociedade com o

irmatildeo caccedilula Para seu irmatildeo caccedilula foi um aprendizado e hoje ele eacute

proprietaacuterio de uma empresa no mesmo ramo residindo em Blumenau

Em 2000 deixava este ramo e comeccedilava a estudar para ter a

formaccedilatildeo de professor na Liacutengua de Sinais aos 43 anos Ele Trabalhou

como professor em Admissatildeo em Caraacuteter Temporaacuterio ndash ACT e na

Fundaccedilatildeo Catarinense de Educaccedilatildeo Especial - FCEE como assessor

teacutecnico na Educaccedilatildeo de Surdos de 2003 a 2005 Trabalhou tambeacutem

como ACT no Centro Educacional Municipal Interativo Floresta em Satildeo

Joseacute no Nuacutecleo de Educaccedilatildeo Especial e Inclusiva - NEESPI como

professor de LIBRAS de 2006 a 2007 Foi docente dos cursos de

LIBRAS de 2000 a 2007

A partir de 2008 deixava o cargo de professor de LIBRAS para

focar os compromissos somente nos esportes Atualmente atua numa

entidade esportiva de surdos desde 1999 nesta com 12 associaccedilotildees

139

filiadas organizando em meacutedia sete (7) eventos esportivos por ano

Portanto os pensamentos deles e seus compromissos satildeo voltados para a

comunidade surda

5623 ndash Informante F

O informante F mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua

opiniatildeo de como aconteceu essa experiecircncia ldquoPorque assim como toda

liacutengua ela sofre das mudanccedilas histoacutericas e culturais as liacutenguas satildeo

dinacircmicas e natildeo estaacuteticas por isso elas vivem sofrendo alteraccedilotildees e com

as liacutenguas de sinais ocorre o mesmo Essas mudanccedilas podem ser

percebidas nas diferentes regiotildees onde satildeo utilizadas a mesma liacutengua

mesmo sendo a mesma liacutengua ela possui algumas diferenccedilas em

algumas palavras ou expressotildeesrdquo

O informante F nasceu 04071958 em Florianoacutepolis eacute casado e

tem 52 anos Nasceu surdo a famiacutelia dele sempre lhe deu apoio

levaram-no a vaacuterios lugares para consultar com meacutedicos procuravam

um tratamento mas de acordo com os meacutedicos ele natildeo tinha muita

chance de desenvolver audiccedilatildeo e a fala Nesta eacutepoca natildeo existiam no

Estado de Santa Catarina escolas especializadas para surdos e como o

pai dele era militar natildeo podia morar em outro Estado Entatildeo seu pai

matriculou-o numa escola regular mas as professoras natildeo sabiam a

liacutengua de sinais e era muito difiacutecil para ele aprender

A alfabetizaccedilatildeo dele natildeo foi muito boa e para melhorar um pouco

o aprendizado tinha aulas com o professor surdo Francisco Lima Juacutenior

que lhe ensinava as palavras utilizando o alfabeto manual e a liacutengua de

sinais para o aprendizado da Liacutengua Portuguesa Escrita e tambeacutem para

alguns alunos surdos

Em sua famiacutelia se comunicava atraveacutes de sinais caseiros que de

acordo com ele foi muito bom e os utiliza ateacute hoje

Apesar das dificuldades nos estudos tinha sorte pois conseguiu

emprego Neste emprego que era na Central de Luz Eleacutetrica de Santa

Catarina ndash CELESC sempre foi muito bem tratado Tinha muitos

amigos na associaccedilatildeo de surdos na escola e no trabalho e para se

comunicar ensinava alguns sinais bem baacutesicos para os amigos para que

assim natildeo tivessem problemas quanto agrave comunicaccedilatildeo

Ele trabalhou sempre na CELESC na cidade de Florianoacutepolis

pois foi aprovado em um teste naquela eacutepoca natildeo havia concursos

Depois foi transferido algumas vezes para outras cidades como

Blumenau Joinville e Jaraguaacute do Sul Iniciou como auxiliar de serviccedilos

gerais depois passou a auxiliar administrativo e por uacuteltimo como

140

motorista

Foi presidente de vaacuterias Associaccedilotildees de Surdos uma dessas em

1989 que foi fechada neste mesmo ano e outra em dois mandatos

20052008 Ele jogou em vaacuterios times nas associaccedilotildees de surdo de Santa

Catarina Ele preferia jogar futebol de salatildeo - FUTSAL

Ele sempre participou e ateacute hoje participa de encontros com

surdos na liacutengua de sinais seja em associaccedilotildees ou outros eventos

Atualmente mora na cidade de Londrina ndash Paranaacute

563 ndash Grupo III ndash Informantes

Nas narrativas dos sujeitos surdos do Grupo III com idades entre

15 a 30 anos sendo o grupo dos mais jovens e que participam de

associaccedilotildees de surdos em Santa Catarina foram expressas algumas

opiniotildees desses surdos aqui nomeados de informantes A B e C

Seguem abaixo relatos e experiecircncias dos informantes

5631 ndash Informante A

O informante A mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua

opiniatildeo a respeito de como aconteceu essa experiecircncia ldquoNatildeo diria que

ldquomudardquo mas sim sofre modificaccedilotildeesalteraccedilotildees com o tempo e como

qualquer outra liacutengua dependendo do estadopaiacutes em que eacute ldquofaladardquo teraacute

adaptaccedilotildees conforme a necessidade de cada lugar Sendo que ateacute mesmo

em casa quando a crianccedila natildeo tem contato com LIBRAS em um

primeiro momento ela e sua famiacutelia se apropriam de sinais proacuteprios para

a comunicaccedilatildeordquo

O informante A nasceu em 18121980 no Balneaacuterio Camboriuacute

nasceu surdo comunica-se por meio de gestos com a famiacutelia Sua

famiacutelia sempre mostrou preocupaccedilatildeo com ele levaram-no a atendimento

fonoaudioloacutegico para que aprendesse a falar mas tinha dificuldades

poreacutem era esforccedilado Somente mais tarde encontrava a comunidade

surda na escola Quando ele teve atendimento especial e natildeo era

utilizada a liacutengua de sinais somente alguns gestos acabava desistindo e

parava de estudar Retornando agrave escola com ouvintes quando ele tinha

17 anos de idade encontrava os surdos que o convidaram a participar

de uma festa na associaccedilatildeo de surdos foi quando comeccedilou a aprender a

LIBRAS e ficou feliz pois comunicava-se com todos na LIBRAS jaacute

que era um modo mais faacutecil de aprender e memorizar os conteuacutedos jaacute

com o oralismo era muito sofrido

Ele fundou uma Associaccedilatildeo de Surdos na cidade onde mora Na

141

associaccedilatildeo motivou o uso da LIBRAS valorizou o contato entre os

membros da comunidade surda e a LIBRAS assim como a educaccedilatildeo

formal Ele sentia-se satisfeito pois se comunicava com os amigos

usando a leitura labial e os gestos mesmo assim perdia algumas

informaccedilotildees por natildeo ouvir Mais tarde encontrava-se com grupos de

surdos e comeccedilou entatildeo o contato da LIBRAS e percebia que por meio

da LIBRAS ele poderia receber mais informaccedilotildees do que pela leitura

labial e a partir de entatildeo conseguiu viver melhor na sociedade Lutou

para inserir a LIBRAS no ensino dos surdos porque sabia na praacutetica que

facilita o aprendizado do surdo

Hoje estaacute casado e sua esposa eacute surda Formou-se na faculdade de

gastronomia pela UNIVALI e tem o curso de especializaccedilatildeo em

educaccedilatildeo especial Atualmente faz curso de LetrasLIBRAS e sua

turma eacute composta na maioria por surdos que estatildeo gostando do curso

tendo a oportunidade de trocar ideacuteias experiecircncias bem como buscar

novos conhecimentos

Ele eacute Instrutor de LIBRAS efetivado pela prefeitura de Itajaiacute

aleacutem de trabalhar como professor de LIBRAS em outros lugares

Tambeacutem realiza trabalhos voluntaacuterios em algumas entidades

(Associaccedilatildeo FENEIS Federaccedilatildeo etc) Jaacute atuou em vaacuterios cargos de

diretoria na Associaccedilatildeo de Surdos de Balneaacuterio Camboriuacute isso foi bom

porque ele aprendeu sobre poliacutetica sobre organizaccedilatildeo e tambeacutem a

utilizar estrateacutegias diferentes para as accedilotildees etc

5632 ndash Informante B

O informante B mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua

opiniatildeo sobre como aconteceu essa experiecircncia ldquoA LIBRAS eacute uma

liacutengua porque possui uma forma de comunicaccedilatildeo proacutepria Ė

independente como qualquer outra liacutengua escrita ou falada Tem

formato proacuteprio sua comunicaccedilatildeo eacute visual pois se utiliza de gestos e

expressotildees Como todas as liacutenguas tem variaccedilotildees conforme a regiatildeordquo

O informante B nasceu em 08011985 na cidade de Tijucas em

Santa Catarina Atualmente mora em Itapema e tem 25 anos Ele nasceu

surdo mas seus pais soacute descobriram sua surdez aos nove meses de

idade entatildeo ficaram apavorados e natildeo sabiam como ele iria se

comunicar na sociedade Depois o pai dele levou-o para uma escola em

Florianoacutepolis chamada de IATEL onde ateacute a 3ordf seacuterie utilizavam a

linguagem oral e muito pouco gestual Na eacutepoca os gestos (sinais) natildeo

eram reconhecidos como uma liacutengua

Os pais dele escolheram uma escola da Rede Regular de Ensino

142

na eacutepoca nem era pensado em inteacuterprete de LIBRAS ateacute porque essa

natildeo era uma liacutengua oficializada Eles natildeo conheciam a comunidade

surda e sua cultura entatildeo decidiram que seu filho frequentaria

atendimento fonoaudioloacutegico dois dias por semana

Para o informante B seus pais tentavam criaacute-lo como ouvinte o

que para ele caracteriza uma tentava de modificar sua identidade surda

Ele relata que tinha muita dificuldade de comunicar-se com as pessoas

na sociedade que utilizava a liacutengua falada

Mais tarde aos 16 anos de idade foi para uma escola de educaccedilatildeo

especial onde teve aulas de informaacutetica com outros surdos entatildeo podia

utilizar a LIBRAS Antes ele ficava isolado natildeo gostava e natildeo podia

usar a liacutengua de sinais comeccedilava a aprender a falar mas demorava

muito Agora aceita sua identidade surda sente-se mais feliz e melhor

Participa de uma associaccedilatildeo de surdos e viaja para vaacuterios lugares nas

diferentes regiotildees de Santa Catarina

Ele trabalhou como analista de sistemas na aacuterea de informaacutetica da

empresa Ceracircmica Portobello em Tijucas ficava muito incomodado

com a barreira de comunicaccedilatildeo com os funcionaacuterios em virtude de terem

muito trabalho pois o surdo precisa das matildeos para falar e se estaacute com

elas ocupadas trabalhando fica impossiacutevel comunicar-se diferente dos

ouvintes Tentou ensinar alguns sinais para os funcionaacuterios para que lhe

entendessem e pudessem se comunicar com ele mas os funcionaacuterios

desviavam para outro assunto natildeo demonstravam interesse em aprender

sinais Sofria por passar o dia inteiro de trabalho sem poder se

comunicar com outra pessoa disfarccedilava esse sentimento acessando a

Internet para realizar pesquisas de temas relacionados agrave educaccedilatildeo de

surdos (palestras congressos encontros etc) Entatildeo numa destas

pesquisas achou um congresso de surdos anotou a data e mostrou ao

chefe que o liberou para ir ao congresso (encontro surdo)

Ele acredita que as pessoas natildeo tinham culpa pois oralismo era a

forma de ensinar naquela eacutepoca e para os surdos era muito difiacutecil de

compreender e aprender a liacutengua falada Aprendeu LIBRAS na

comunidade surda Apoacutes a liberaccedilatildeo para o congresso pelo seu chefe

comeccedilou a frequentar a associaccedilatildeo de surdos e outros eventos da

comunidade surda

Ele participou de um concurso no municiacutepio de Itajaiacute para o

cargo de instrutor de LIBRAS Foi classificado em terceiro lugar

conseguiu um trabalho e seus pais deixaram que ele morasse sozinho

em Itajaiacute Morou sozinho por um ano trabalhava durante o dia e

estudava na faculdade agrave noite Com o passar do tempo conheceu

pessoas e fez amizade com outros surdos que no segundo ano dividiram

143

o aluguel da casa com ele

Alguns surdos convidaram ele para um encontro de surdo

(nacional congresso e entre outros) Foi possiacutevel fazer novas amizades e

entrar em contato com outros sujeitos surdos pois neste espaccedilo tinha

surdo sentado ao lado surdo no bar e em outros momentos do

congresso

Ao teacutermino do encontro pegou os endereccedilos eletrocircnicos das

pessoas que conheceu e assim pode manter correspondecircncia com outros

surdos atraveacutes de e-mails nas diferentes regiotildees do estado de SC

Depois de algum tempo de troca de e-mails combinou encontros e

viajou para o sul sudeste nordeste norte do Brasil e etc encontrou-se

com muitos surdos que se comunicavam na liacutengua de sinais e aprendeu

muitos sinais novos onde percebeu que havia muitas diferenccedilas nos

sinais que cada regiatildeo tinha sinais especiacuteficos daquele lugar

Quando o curso de LetrasLIBRAS da UFSC foi aprovado pelo

MEC e abriram-se as inscriccedilotildees trecircs instrutores de LIBRAS jaacute haviam

prestado o vestibular tiveram uma prova com 15 questotildees referentes a

LIBRAS utilizaram na apresentaccedilatildeo para seleccedilatildeo dos candidatos slides

e videoconferecircncia com todos os candidatos Ficou admirado e achou

muito legal o grupo de surdo que estava laacute e disse ldquoPassei a ver o

mundo diferente ao teacutermino da provardquo

Ele trabalhou como instrutor de LIBRAS por 4 anos e recebeu 14

alunos surdos para atendimento no processo de aprendizagem da

LIBRAS E tambeacutem ensinou sobre a relaccedilatildeo de aprendizagem do aluno

surdo em LIBRAS para os colegas Ele formou-se no curso de ciecircncias

da computaccedilatildeo e fez poacutes-graduaccedilatildeo no processo de inclusatildeo e educaccedilatildeo

especial Atualmente estaacute cursando a faculdade de LetrasLIBRAS pela

UFSC

5633 ndash Informante C

O informante C mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua

opiniatildeo de como aconteceu essa experiecircncia ldquoA liacutengua de sinais assim

como todo o contexto no qual estamos inseridos sofre mudanccedilas e

adaptaccedilotildees durante o decorrer de nossas vidas por questotildees de

adaptaccedilatildeo comportamento e culturardquo

O informante C nasceu em 12021986 em Santa MariaRS surdo

de nascenccedila morando em Florianoacutepolis haacute pouco tempo Voltando ao

passado dele desde pequeno adorava brincar mexer experimentar as

coisas novas o que tinha por perto Certa vez sua avoacute chamou-o falava

o seu nome mas como ele natildeo escutava nenhuma letra e nenhum som

144

que veio da voz da avoacute natildeo a atendeu Ela estranhou a atitude dele pois

ele nunca deu atenccedilatildeo para ela quando ela gritava ou chamava pelo seu

nome Pra ela era impossiacutevel uma crianccedila que natildeo respondia aos sons

Entatildeo ficou desconfiada que ele poderia ser surdo Resolveu pedir aos

pais dele para levaacute-lo a um meacutedico para descobrir a causa do problema

Mas seus pais tinham dificuldade de aceitar essa ideacuteia e de levaacute-lo para

o meacutedico parecia que tinham medo que ele realmente fosse surdo Ficou

assim sem comunicaccedilatildeo

A matildee dele assustada chorava muito e o pai dele ficou furioso

Pois o medo deles era de jamais se comunicarem com o filho que eles

amavam muito Entatildeo o meacutedico deu um conselho para a matildee dele que

era conhecer as pessoas surdas que se comunicavam atraveacutes da

LIBRAS ou entatildeo fazer atendimento e acompanhamento com

fonoaudioacuteloga para aprender a falar eou melhorar a fala

A matildee dele decidiu em primeiro lugar ir numa escola onde tinham

pessoas surdas laacute conheceu algumas pessoas surdas e achou que eram

pessoas legais Conversou com essas pessoas surdas que conheceu

sobre seu filho que era surdo Queria saber como poderia se comunicar

com uma crianccedila surda pois o objetivo da matildee era poder se comunicar

com o filho Entatildeo pediu ajuda de um surdo jovem Ele explicou para

ela que devia fazer um curso de LIBRAS que eacute a Liacutengua de Sinais

Brasileira que as pessoas surdas utilizam para se comunicarem com

facilidade

Ele crescia e no seu desenvolvimento viveu muita coisa

conseguiu mexer comer tudo A matildee dele comunicava-se com ele

atraveacutes dos sinais ele via as matildeos da matildee que natildeo parava de mexer

estranhava mas repetia para entender aquele conceito o que ela queria

dizer ela sinalizava e mostrava as coisas ateacute que ele entendia o

conceito

A matildee dele era uma pessoa bastante simples e feliz com os filhos

Tem um irmatildeo que eacute um ano mais velho do que ele o irmatildeo aprendeu a

usar sinais com ele e a matildee e podiam se comunicar daiacute eles

melhoraram muito a comunicaccedilatildeo tornaram-se grandes amigos sempre

brincaram juntos brigavam choravam gritavam e reclamavam Mas

eles eram grandes amigos

Ele mais observava as coisas a seu redor e se admirava com o que

via Depois de alguns meses sua irmatilde cresceu um pouco conseguiu

perceber as coisas comeccedilou a falar com ela atraveacutes de sinais ela

aprendeu essa liacutengua com ele como se fosse a primeira liacutengua da vida

dela Uma vez teve uma festinha laacute em sua casa estava toda a famiacutelia

reunida passou um aviatildeo sua irmatilde ouviu o barulho do aviatildeo e sinalizou

145

um aviatildeo todo mundo viu e se assustaram principalmente a matildee dele

pois natildeo sabia que a filha sinalizava sendo tatildeo pequena Sua matildee ficou

tatildeo contente e bateu uma foto dela sinalizando

Como cresceu sempre podendo se comunicar na liacutengua dos sinais

acreditava viver muito ldquonormalizadordquo Tinha uma famiacutelia e amigos

surdos estudou em escolas com outras crianccedilas surdas e relata como ele

se divertia muito

Depois de certo tempo a escola natildeo funcionava somente para

crianccedilas surdas sua matildee ficou muito preocupada com sua educaccedilatildeo

combinou com seu pai e com toda sua famiacutelia a mudanccedila para a cidade

de Florianoacutepolis ndash Santa Catarina pois soube que havia uma escola

especial para ele onde poderia crescer com uma educaccedilatildeo de qualidade

Quando chegou agrave capital de SC Florianoacutepolis simplesmente

amou a cidade porque ele curtia bastante as praias o pai alugou uma

casa bem legal na Barra da Lagoa e todos os dias ia sozinho para a

praia brincava na areia e construiacutea castelos

O informante C relata que curtiu bastante aquele veratildeo

mudaram-se dessa casa para outra que construiacuteram no bairro Carianos

ele natildeo gostava muito do lugar achava meio estranho porque para ele

ficava muito longe das praias Mas com o tempo ele se acostumou ateacute

fez amizades com os vizinhos que eram ouvintes Ele natildeo sabia como

comunicar-se com eles pois usavam a fala ele sentiu vergonha e medo

Ficava atraacutes de sua matildee que explicava para os vizinhos que ele era

surdo que natildeo sabia falar quase nada apenas sabia LIBRAS eles

ficavam admirados e convidavam-no para brincar Tinha amigos que

eram tranquilos porque o pai deles era surdo tambeacutem

O tempo passava e ele brincava sempre com esses amigos curtia

muito mas ele percebeu que se comunicavam soacute oralmente soacute ele natildeo

estranhava Foi falar com sua matildee sobre essa situaccedilatildeo pois ele queria

poder falar tambeacutem sua matildee se surpreendeu com a ideacuteia dele que era

ldquoquerer poderrdquo falar tambeacutem Para sua matildee foi uma surpresa porque

ouvia muito que a maioria das pessoas surdas natildeo aguentava aprender a

falar e seu proacuteprio filho estava querendo aprender a falar

Ele resolveu ser soacutecio de uma associaccedilatildeo de outra cidade natildeo

gostava da anterior e se mudou para Associaccedilatildeo dos Surdos da Grande

Florianoacutepolis ele fez amizade com o pessoal viajou muito se divertia

saiacutea e curtiu bastante Participava das reuniotildees da associaccedilatildeo tambeacutem

Depois virou Conselheiro Fiscal da Associaccedilatildeo gostou da experiecircncia

mas continuou sendo soacutecio Mas por outro lado andava observava e

estudava bastante e percebeu o mundo cada vez mais veloz por causa

da tecnologia e a sociedade que natildeo parava de mudar Depois que

146

terminou o terceiratildeo teve uma formatura incriacutevel em que chorou um

monte pois teve medo de perder o contato com as colegas de sala mas

tambeacutem porque ele aprendeu a amar esses amigos como se fossem de

sua famiacutelia

Comeccedilou uma faculdade na UFSC gostou bastante e fez novas

amizades comeccedilou a trabalhar como AtorTradutor Cinegrafista Editor

de Viacutedeos na UFSC tudo isso como bolsista Ele tornou-se bem

conhecido nacionalmente na comunidade surda comeccedilou a viajar

bastante para congressos e palestras Depois de um ano de sucesso em

sua vida acabou o contrato de bolsista pela UFSC e comeccedilou a

trabalhar como professor na prefeitura foi um grande desafio para ele

pois tinha professoras ouvintes que trabalhavam na educaccedilatildeo especial

que pensavam diferente dele com relaccedilatildeo agrave comunicaccedilatildeo na liacutengua de

sinais

Hoje em dia continua sendo conhecido nacionalmente na

comunidade surda eacute estudante do uacuteltimo periacuteodo da LetrasLIBRAS na

UFSC e estaacute trabalhando em duas escolas da prefeitura como professor

de LIBRAS

564 ndash Algumas consideraccedilotildees finais

Os informantes mostraram sua histoacuteria e nela pude perceber que

sinalizavam diferentemente uma mesma palavra principalmente aqueles

que viveram em lugares diferentes

Sabemos que a histoacuteria humana sofre transformaccedilotildees ao longo do

tempo mas nem sempre os seres humanos se datildeo conta das mudanccedilas

que podem acontecer no passado no presente e no futuro Na sociedade

acontecem transformaccedilotildees tecnoloacutegicas poliacuteticas econocircmicas sociais e

culturais Todas essas transformaccedilotildees influenciam o modo como usamos

a liacutengua E a liacutengua se modifica com o tempo

Noacutes tambeacutem mudamos as ldquocoisas da vidardquo A comunidade surda

tem um jeito proacuteprio de demonstrar as variaccedilotildees regionais e mudanccedilas

quanto agrave liacutengua de sinais a ponto de ser possiacutevel identificar a

procedecircncia de um surdo do nordeste ou do sul com base apenas no seu

gestual

A comunidade surda antigamente apresentava uma forma de

conversar em LIBRAS mais cotidiana e restrita agrave associaccedilatildeo de surdos

mas na atualidade a comunicaccedilatildeo eacute mais ampla acontece em vaacuterios

locais como escolas universidades congressos viagens turiacutesticas etc

ampliando conhecimentos e conhecendo novos sinais em contexto

social

147

Um surdo conversa com outro surdo utilizando a liacutengua de sinais

e qualquer pessoa ouvinte pode aprender LIBRAS e se comunicar na

comunidade surda mesmo natildeo tendo fluecircncia Dessa forma os surdos e

ouvintes podem se comunicar na LIBRAS Aleacutem disso a comunicaccedilatildeo

entre duas ou mais pessoas pode se dar em diferentes contextos sociais

Vale ressaltar que poucos surdos conheciam a gramaacutetica ou tinham

conhecimento linguiacutestico da LIBRAS ateacute porque eacute uma liacutengua que estaacute

sendo ensinada para o surdo nas escolas a partir da LEI de

reconhecimento e ainda natildeo eacute ensinada a parte de reflexatildeo linguiacutestica

estaacute mais voltada para sua praacutetica (o uso)

Segundo Labov

Ao falar do papel de fatores sociais que influenciam a

evoluccedilatildeo linguiacutestica eacute importante natildeo superestimar o

grau de contato ou de superposiccedilatildeo entre valores sociais

e a estrutura da liacutengua A estrutura linguiacutestica e a

estrutura social natildeo satildeo de modo algum coextensivas A

grande maioria das regras linguiacutesticas estatildeo bastante

distantes de qualquer valor social elas fazem parte do

elaborado mecanismo de que o falante precisa para

traduzir seu complexo conjunto de significados ou

intenccedilotildees em forma linear (LABOV 2008 [1972] p

290)

Em vaacuterios lugares (regiotildees) da comunidade surda usar a LIBRAS

em breve vai ser como falar em inglecircs em francecircs em italiano e em

outras liacutenguas Todas as liacutenguas satildeo importantes poreacutem alguma pode

ser mais reconhecida no mundo e influenciar mais Natildeo podemos

descartar a possibilidade de outras liacutenguas serem mais reconhecidas

assim como natildeo podemos prever quais liacutenguas influenciaratildeo mais no

mundo em outras eacutepocas quais dialetos novos teremos e quais variaccedilotildees

e mudanccedilas linguiacutesticas Talvez no futuro tenhamos mais influecircncia das

liacutenguas de sinais na comunicaccedilatildeo do mundo

148

149

CAPIacuteTULO VI ndash Descriccedilatildeo e anaacutelise dos resultados

61 ndash Introduccedilatildeo

Realizei a pesquisa escrita baseado nos relatos dos informantes

das trecircs geraccedilotildees pesquisadas atraveacutes de filmagem Primeiro busquei

nessas filmagens sinais que fossem relevantes para a pesquisa

variaccedilotildees e mudanccedilas lexicais e variaccedilotildees e mudanccedilas fonoloacutegica na

LIBRAS Em seguida fiz uma listagem de sinais com a palavra

correspondente em Liacutengua Portuguesa observando o nuacutemero de vezes

em que o sinal era apresentado aparecia Depois escolhi os sinais que

mais apareciam nos trecircs grupos de informantes e verifiquei as CM (paacuteg

225 e 227) que apareceram Apoacutes isto fiz tabelas gerais para pesquisa

de variaccedilatildeo lexical mudanccedila lexical variaccedilatildeo fonoloacutegica e mudanccedila

fonoloacutegica Foram escolhidos dezessete sinais para anaacutelise porque

apareceram nos trecircs grupos e em maior nuacutemero Apoacutes a escolha dos

sinais construiacute quatro tabelas gerais com os sinais produzidos pelos trecircs

grupos pesquisados com a CM utilizada na sinalizaccedilatildeo Por fim fiz a

anaacutelise dos dados obtidos

Ressalto que a descriccedilatildeo dos informantes que realizaram as

entrevistas nas trecircs geraccedilotildees em diferentes faixas etaacuterias traz

informaccedilotildees de grande importacircncia para a anaacutelise dos dados obtidos

referentes agraves possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas na Liacutengua de

Sinais em Santa Catarina

Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os seguintes toacutepicos

comparaccedilatildeo dos dados dos grupos das trecircs geraccedilotildees de surdos na liacutengua

de sinais e descriccedilatildeo sobre variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na liacutengua de

sinais com a existecircncia de um ou mais sinais dos informantes das trecircs

geraccedilotildees descriccedilatildeo da variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua de

sinais e explicaccedilatildeo de como o mesmo sinal pode ser utilizado e por

fim anaacutelise dos resultados das trecircs geraccedilotildees dos informantes

considerando as variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas na Liacutengua Brasileira

de Sinais

62 ndash A comparaccedilatildeo dos dados o grupo de trecircs geraccedilotildees de surdos

na liacutengua de sinais

Os dados recolhidos no programa de transcriccedilatildeo na liacutengua de

sinais ndash ELAN foram analisados e comparados com o propoacutesito de

mostrarapontar possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas que

aconteceram na liacutengua de sinais em Santa Catarina Os informantes

150

apresentaram individualmente suas respostas ao questionaacuterio referente a

seu aprendizado escolar e a sua vida Essas apresentaccedilotildees gravadas em

viacutedeo tecircm o objetivo de mostrar a experiecircncia na liacutengua de sinais dos

informantes nas trecircs geraccedilotildees pesquisadas

Para anaacutelise dos dados recolhidos foi feita uma tabela

denominada Preliminar dos dados ndash variaccedilotildees ou mudanccedilas

linguiacutesticas Nessa tabela vemos a transcriccedilatildeo dos depoimentos e a

identificaccedilatildeo dos Grupos (I II e III) de surdos que narraram a sua

experiecircncia na liacutengua de sinais Seguem as principais abordagens

pesquisadas

No primeiro momento investigo a variaccedilatildeo e

mudanccedila lexical na Liacutengua Brasileira de Sinais onde

dois ou mais sinais existem na liacutengua ao mesmo tempo

descrevo a mudanccedila em dois sinais que se daacute quando o

antigo sinal some e um novo entra

No segundo e uacuteltimo momento investigo a variaccedilatildeo e

mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua Brasileira de Sinais em

que um mesmo sinal possui mais de uma forma de

realizaccedilatildeo descrevo a mudanccedila que se observa quando um

sinal altera de caracteriacutesticas com relaccedilatildeo aos paracircmetros

configuraccedilatildeo das matildeos ponto de articulaccedilatildeo e movimento

Foi interessante realizar a pesquisa dos dados dos trecircs grupos

porque eacute um desafio aleacutem de me permitir identificar os sinais das

geraccedilotildees pesquisadas A princiacutepio foram identificados os sinais que

eram utilizados pelos surdos mais velhos e que os jovens natildeo

conheciam Em seguida os sinais com configuraccedilatildeo de matildeos (CM) e

ponto de articulaccedilatildeo (PA) diferentes e tambeacutem os sinais com

configuraccedilatildeo de matildeos (CM) iguais e ponto de articulaccedilatildeo (PA)

diferentes Por uacuteltimo os sinais com configuraccedilatildeo de matildeos (CM)

diferentes e ponto de articulaccedilatildeo (PA) iguais

Os sinais apresentados pelos informantes das trecircs geraccedilotildees

totalizaram 255 sinais Nesse total foram utilizados 17 vocaacutebulos para a

anaacutelise dos resultados e levantamento dos sinais de cada informante dos

trecircs Grupos (I II e III) Alguns sinais foram dispensados porque

tornariam a pesquisa muito ampla Dos 255 sinais encontrados para

anaacutelise 115 foram apresentados pelos surdos do Grupo mais jovem 163

foram apresentados pelo Grupo com idade intermediaacuteria e 183 pelo

Grupo dos mais velhos

Esta distribuiccedilatildeo por faixa etaacuteria compreende 9 informantes trecircs

151

em cada uma das geraccedilotildees formando os trecircs Grupos pesquisados (I II e

III) O resultado mais significativo foi mostrado pelos informantes do

grupo de indiviacuteduos mais velhos (G e I) possibilitando numa primeira

anaacutelise perceber algumas variaccedilotildees e mudanccedila na liacutengua de sinais Ficou

perceptiacutevel que o grupo de surdos dos mais velhos influenciou a liacutengua

de sinais em Santa Catarina na comunidade surda Segue tabela com os

nuacutemeros de sinais levantados em cada um dos trecircs grupos

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Sinais

Analisados

183

163

115

Tabela 09 ndash Preliminar dos dados ndash Variaccedilotildees ou mudanccedilas linguiacutesticas

Como jaacute foi comentado anteriormente a comunidade surda em

Santa Catarina ateacute aproximadamente o ano de 2000 teve um uacutenico

professor surdo no nosso estado e que influenciou a liacutengua de sinais O

fator externo que influenciou a liacutengua de sinais em SC atraveacutes do

professor Francisco foi o agrupamento dos surdos de todo o estado

formando uma comunidade surda que tambeacutem participa da

identificaccedilatildeo de classe do grupo informante Outro fator externo eacute

percebido nos Grupos II e I que mostram sinais aprendidos no contato

com o professor surdo na escola e tambeacutem no Ciacuterculo de Surdo-Mudo

em Santa Catarina sendo que o Grupo II influenciou o Grupo III

Na tabela em anexo percebe-se que dos 255 sinais coletados o

Grupo I apresentou mais sinais do que os Grupos II e III Talvez os

sinais natildeo conhecidos pelo Grupo III sejam os sinais criados

recentemente pela comunidade surda acadecircmica

Nas quatro tabelas gerais dos dados (paacuteg153 167 174 e 176)

tambeacutem apresenta na coluna agrave esquerda dos informantes o sinal (leacutexico)

e na direita os trecircs grupos de diferentes geraccedilotildees com diferentes faixas

etaacuterias que variam de 25 a mais de 80 anos e totalizam nove (9) indiviacuteduos Na coluna sinal (leacutexico) apresentam-se os dados que foram

escolhidos para realizar a pesquisa nos Grupos I II e III as variaacuteveis

independentes (homem mulher idade escolaridade e profissatildeo) que

152

podem mostrar tambeacutem variaccedilatildeo e mudanccedila na liacutengua de sinais usada

pelos informantes

63 ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na Liacutengua Brasileira de Sinais

Nesta seccedilatildeo vatildeo ser observados os itens lexicais que estatildeo em

variaccedilatildeo nas trecircs geraccedilotildees Comparando os sinais eles podem ser

produzidos atraveacutes de um sinal ou mais por exemplo o sinal de ldquomatildeerdquo

no passado tinha apenas um sinal (simples) atualmente utilizam-se dois

sinais (composto) para esta representaccedilatildeo Isto mostra que acontece

variaccedilatildeo lexical em LIBRAS Outros exemplos de sinais em variaccedilatildeo

satildeo ldquoaposentarrdquo ldquoaviatildeordquo ldquomatildeerdquo ldquopairdquo ldquopoliacuteticardquo ldquopretordquo

ldquoreuniatildeordquo e ldquosemanardquo (Tabela geral dos dados a seguir)

Nos Grupos I e II nos sinais de banco feio meacutedico porque

padre e ter tambeacutem acontece variaccedilatildeo lexical pois tem mais de um

sinal que existe na liacutengua ao mesmo tempo Nos Grupos I e III o sinal de

nome aponta variaccedilatildeo lexical

Foi apresentada na discussatildeo sobre mudanccedila lexical de alguns

sinais na Liacutengua Brasileira de Sinais (MAtildeE e PAI) Agora seraacute mostrada

a variaccedilatildeo lexical encontrada nos sinais utilizados pelos informantes das

trecircs geraccedilotildees (Grupos I II e III)

Veja a tabela a seguir elaborada para descrever os resultados

obtidos dos informantes dos Grupos I II e III Os nuacutemeros que

aparecem na tabela correspondem agrave configuraccedilatildeo de matildeos (CM) num

total de 64 posiccedilotildees diferentes que as matildeos podem assumir (ver anexo

paacutegina 225)

153

Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na Liacutengua

Brasileira de Sinais

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

APOSENTAR CM ndash 01 02

07 11 57

CM ndash 01 02

11 57

CM ndash 01 11

AVIAtildeO CM ndash 53a CM ndash 36 37a

40

CM ndash 40

MAtildeE CM ndash 02 14

63

CM ndash 01 02

06 14 60 63

CM ndash 02 07

14

PAI CM ndash 01 11

14 16 38

CM ndash 01 02

11 16 38 45

CM ndash 02 11

16 38 45

POLIacuteTICA CM ndash 11 51a CM ndash 11 14 CM ndash 11

PRETO CM ndash 05 34

62

CM ndash 05 CM ndash 05

REUNIAtildeO CM ndash 14 CM ndash 14 15

25

CM ndash 25

SEMANA CM ndash 08a 10

64

CM ndash 10 CM ndash 10

Os quadros a seguir mostram a sequecircncia dos sinais lexicais

utilizados pelos informantes desta pesquisa na liacutengua de sinais nas trecircs

geraccedilotildees

Observe-se inicialmente o item lexical APOSENTAR

154

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Aposentar

(1)

Figura 31

CM ndash 01 11

(2)

Figura 32

CM ndash 02 57

(1)

Figura 34

CM ndash 01 11

(2)

Figura 35

CM ndash 02 57

Figura 36

CM ndash 01 11

155

(3)

Figura 33

CM ndash 07

Quadro 01 ndash Sinal de Aposentar

O sinal de aposentar apresentado no quadro 01 no Grupo I (mais

velhos) apareceu com trecircs sinais diferentes o que indica variaccedilatildeo

lexical O Grupo III (mais jovem) utiliza o sinal com a configuraccedilatildeo de

matildeos (CM) - 01 e 11 com o movimento no espaccedilo neutro

consecutivamente para frente Os Grupos I e II utilizaram a CM - 02 57

(palma da matildeo aberta se fechando agrave medida que o antebraccedilo puxa para

traacutes junto ao lado do corpo no espaccedilo neutro) O Grupo I apresentou o

sinal de aposentar com a CM ndash 07 ambas as matildeos saiacutedas do espaccedilo

neutro na frente do corpo indo ateacute o peito Esse sinal atualmente eacute

produzido para indicar folga descanso e acomodar O Grupo III natildeo

conhece o sinal de aposentar do Grupo I talvez por isso eles utilizam

com outro significado O Grupo I tem trecircs sinais diferentes para

ldquoaposentarrdquo como mostram as figuras 31 32 e 33 mas o significado eacute o

mesmo isso pode ser variaccedilatildeo lexical mas tudo indica que ocorre

tambeacutem mudanccedila lexical O Grupo I tem um uacutenico sinal diferente do

Grupo III Parece que atualmente o sinal tem outro significado

Inicialmente observe-se o item lexical AVIAtildeO

156

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Aviatildeo

Figura 37

CM ndash 53a

(1)

Figura 38

CM ndash 36

(2)

Figura 39

CM ndash 37a

(3)

Figura 40

CM ndash 40

Figura 41

CM ndash 40

Quadro 02 ndash Sinal de Aviatildeo

157

Sabe-se que o professor Francisco iniciou o ensino para alguns

surdos utilizando a soletraccedilatildeo no alfabeto digital em Portuguecircs

Observando os trecircs grupos foi possiacutevel identificar as

modificaccedilotildees graduais deste sinal que iniciou com a soletraccedilatildeo Depois

foi apresentada como em CM ndash 53a a matildeo parte do lado do corpo em

linha reta e ascendente imitando a decolagem do aviatildeo usada pelo

Grupo I (mais velhos) O Grupo II apresentou as configuraccedilotildees CM ndash

36 CM ndash 37a CM - 40 tambeacutem imitando a decolagem do aviatildeo No

Grupo III apareceu apenas o sinal com a CM ndash 40 ou seja continuou

igual ao utilizado pelo Grupo II

Veja a seguir o item lexical MAtildeE

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Matildee

(1)

Figura 42

CM ndash 02

(1)

Figura 45

CM ndash 02

(1)

Figura 48

CM ndash 02 07

158

(2)

Figura 43

CM ndash 14

(3)

Figura 44

CM ndash 63

(2)

Figura 46

CM ndash 14

(3)

Figura 47

CM ndash 63

(4)

(2)

Figura 49

CM ndash 14

Quadro 03 ndash Sinal de Matildee

No quadro 03 aparece na figura 43 46 e 49 nos Grupos I II e III

o sinal de matildee que tem variaccedilatildeo lexical ao mesmo tempo Entatildeo os

Grupos I e II tambeacutem mostram o mesmo sinal No Grupo III a figura 48

mostra o sinal de matildee (mulher^benccedilatildeo = matildee) o que acontece eacute um sinal

composto em variaccedilatildeo lexical Nas figuras 42 45 e 48 a configuraccedilatildeo de

matildeos acontece (igualmente) nos trecircs grupos As figuras 44 e 47 nos Grupos I e II mostram a palma da matildeo aberta para frente e o dorso da

matildeo colocado na boca para o sinal de matildee o que tambeacutem indica

variaccedilatildeo lexical

No quadro 03 tambeacutem mostra mudanccedila lexical O sinal de ldquoM-Atilde-

Erdquo aparece soletrado no alfabeto digital e outro com a configuraccedilatildeo de

159

matildeos (CM) em ldquoMrdquo (nuacutemero da CM ndash 01 06 60) com ponto de

articulaccedilatildeo (PA) na boca num movimento (M) de roccedilar a matildeo para

frente (reto) Atualmente o sinal de MAtildeE eacute realizado da seguinte forma

o sinal de mulher (matildeo fechada e polegar riscando o rosto de cima para

baixo) junto com a matildeo fechada sendo beijada no dorso (mulher^benccedilatildeo

= MAtildeE) representando um sinal composto

Comparando o sinal de MAtildeE apresentado pelos informantes dos

trecircs Grupos (I II e III) nota-se que ocorreu mudanccedila lexical a forma de

configuraccedilatildeo de matildeos (CM) modificou-se

Pode ser que a distinccedilatildeo entre variaccedilatildeo lexical e mudanccedila lexical

nem sempre estaacute clara mas pode ser estabelecida em alguns casos dos

sinais

O quadro a seguir mostra variaccedilatildeo e mudanccedila do item lexical

PAI

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Pai

(1)

Figura 50

CM ndash 11

(1)

Figura 53

CM ndash 16

(1)

Figura 55

CM ndash 11 38

160

(2)

Figura 51

CM ndash 14

(3)

Figura 52

CM ndash 16

(4)

(2)

Figura 54

CM ndash 02 45

(3)

(2)

Figura 56

CM ndash 16

(3)

Figura 57

CM ndash 02 45

Quadro 04 ndash Sinal de Pai

Nas figuras 52 53 e 56 dos Grupos I II e III na configuraccedilatildeo de

matildeos (CM) o dedo indicador curvado colocado como se fosse um

bigode movimenta-se para frente e para traacutes significando sinal de pai

Os Grupos II e III mostram o sinal composto (homem^benccedilatildeo = pai)

Nas figuras 54 e 57 tambeacutem temos variaccedilatildeo e mudanccedila lexical Na

figura 51 o dedo indicador reto eacute colocado como se fosse um bigode

fazendo movimento para a direita no Grupo I Nas figuras 50 e 55 nos

Grupos I e III mostra-se a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) - 11 tambeacutem

161

imitando um bigode fazendo movimento para a direita e no Grupo III

mostra-se o empreacutestimo linguiacutestico ldquoP-Irdquo (CM) -11 38 o sinal de pai

No quadro 04 tambeacutem aparece mudanccedila lexical O sinal de

famiacutelia que mostra a palavra ldquoP-A-Irdquo eacute apresentado na soletraccedilatildeo de

matildeos Haacute uma mudanccedila linguiacutestica porque inicia com o sinal ldquoPrdquo (CM ndash

11) passando sobre os laacutebios depois o sinal de bigode realizado de duas

formas diferentes (o dedo indicador em cima do laacutebio superior e o dedo

indicador flexionado tambeacutem em cima do laacutebio superior) e ainda o sinal

ldquoPrdquo saindo dos laacutebios indo para frente formando o sinal ldquoIrdquo (CM ndash 38)

e atualmente o sinal de homem (CM ndash 45) fechar a matildeo e beijar as

costas da mesma (CM ndash 02) Observam-se nesse caso cinco diferentes

sinais ilustrando as variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas Acredita-se que

o contado dos diferentes surdos em comunicaccedilatildeo com gestos familiares

proporcionou uma troca entre eles influenciando a comunidade surda e

a escola com uma classe de surdos onde os alunos tiveram contato com

a soletraccedilatildeo de palavras em Portuguecircs e nos respectivos sinais

O Grupo I apresentou trecircs sinais diferentes nas figuras 50 51 e 52

ldquopaisrdquo o que pode indicar variaccedilatildeo lexical O Grupo II mostra dois

sinais diferentes nas figuras 53 e 54 tem um sinal composto

homem^benccedilatildeo = pai que foi utilizado pelo Grupo III

Observe agora no quadro a seguir o item lexical POLIacuteTICA

162

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Poliacutetica

Figura 58

CM ndash 11 51a

(1)

Figura 59

CM ndash 11

(2)

Figura 60

CM ndash 14

Figura 61

CM ndash 1 1

Quadro 05 ndash Sinal de Poliacutetica

No quadro 05 o sinal de POLIacuteTICA se daacute atraveacutes da matildeo direita

na configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 11 colocada em movimento circular

(girando) no lado do rosto com a bochecha insuflada sinal apresentado

pelos Grupos II e III O Grupo I apresenta um sinal icocircnico porque eacute a

representaccedilatildeo da sede do congresso em Brasiacutelia O Grupo II mostra

tambeacutem outro sinal para poliacutetica com CM ndash 14 o dedo indicador das matildeos com as extremidades proacuteximas em frente do corpo em movimento

alternado para cima e para baixo localizado no espaccedilo neutro

No Grupo III na figura 61 com CM ndash 14 eacute o uacutenico sinal com

configuraccedilatildeo diferente e que o significado tambeacutem pode ser entendido

163

como discutir a poliacutetica aparecendo nesse caso com sentido

abrangente

Veja a seguir o item lexical PRETO

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Preto

(1)

Figura 62

CM ndash 34 62

(2)

Figura 63

CM ndash 05

Figura 64

CM ndash 05

Figura 65

CM ndash 05

Quadro 06 ndash Sinal de Preto

No quadro 06 aparece o sinal de PRETO com a matildeo direita com

CM ndash 05 palma para baixo simulando girar uma chave ao lado da

cabeccedila Um dos informantes do Grupo I utilizou o sinal de preto que

acredito teve influecircncia da liacutengua de sinais produzida no Rio de janeiro

Os Grupos II e III apresentaram o sinal regional utilizado na grande

Florianoacutepolis Os Grupos I II e III mostram o mesmo sinal para preto

164

nas figuras 63 64 e 65 mas tem um sinal diferente apresentado pelo

Grupo I nas figuras 62 e 63

O sinal produzido pelo Grupo I na figura 62 eacute utilizado ateacute hoje

no Rio de Janeiro e percebo que tambeacutem eacute utilizado por interpretes e

estudantes surdos da UFSC

Veja a seguir o item lexical REUNIAtildeO

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Reuniatildeo

Figura 66

CM ndash 14

(1)

Figura 67

CM ndash 25

(2)

Figura 68

CM ndash 14

Figura 70

CM ndash 25

165

(3)

Figura 69

CM ndash 15

Quadro 07 ndash Sinal de Reuniatildeo

No quadro 07 o sinal de REUNIAtildeO mostrado pelos Grupos II e

III com CM ndash 25 nas matildeos estaacute localizado no espaccedilo neutro com as

palmas das matildeos para frente as matildeos em movimento semicircular

fechando em ciacuterculo Os Grupos I e II mostram como em CM ndash 14

realizado da mesma forma que o descrito anteriormente sinal este que o

grupo jovem natildeo conhece O Grupo II apresenta um sinal de REUNIAtildeO

com as matildeos como em CM ndash 15 em espaccedilo neutro movendo-se

alternadamente para frente e para traacutes com a palma das matildeos proacuteximas

este grupo apresentou trecircs sinais diferentes enquanto os Grupos I e III

mostraram apenas um

No Grupo II na figura 69 o sinal eacute diferente e natildeo aparece no

Grupo I e no Grupo III mas o significado deste eacute REUNIAtildeO particular

com poucas pessoas Talvez por isso natildeo apareceu nos outros dois

grupos Nas figuras 68 e 69 os sinais apresentam variaccedilatildeo fonoloacutegica

porque mudou o traccedilo linguiacutestico o ponto de articulaccedilatildeo da sinalizaccedilatildeo

no espaccedilo neutro eacute o mesmo mas a CM e o movimento se alteram

Veja a seguir o item lexical SEMANA

166

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Semana

(1)

Figura 71

CM ndash 08a 64

(2)

Figura 72

CM ndash 10

Figura 73

CM ndash 10

Figura 74

CM ndash 10

Quadro 08 ndash Sinal de Semana

No quadro 08 aparece o sinal de SEMANA com a matildeo esquerda

aberta palma para fora (CM ndash 08a ldquoLrdquo) matildeo direita CM - 64 palma

para fora direcionando as duas matildeos para o lado direito O grupo de

informante III (terceira geraccedilatildeo) apresentou a variaccedilatildeo do sinal descrita

anteriormente mas o Grupo II apresentou o sinal a matildeo direita com

forma de configuraccedilatildeo CM - 10 direcionando a matildeo direita para o lado

direito ponto de articulaccedilatildeo no espaccedilo neutro O Grupo I (primeira

geraccedilatildeo) apresentou no queixo o sinal de semana como em CM ndash 10

Isso mostra a variaccedilatildeo do sinal apresentado pelos informantes nas trecircs

geraccedilotildees por faixa etaacuteria Os trecircs grupos sinalizam semana de forma

diferente nas figuras 71 72 e 74 Os Grupos I e II sinalizam semana nas

167

figuras 72 e 73 de forma igual O Grupo I eacute o uacutenico que realiza o sinal

no espaccedilo neutro e o Grupo III inicia o sinal no queixo e termina-o no

espaccedilo neutro

Uma das razotildees para variaccedilatildeo e mudanccedila lexical acontecer eacute por

influecircncia tecnoloacutegica que transforma a sociedade que cresce no

cotidiano por necessidade na liacutengua usada na conversa No caso da

pessoa surda em contato com a liacutengua de sinais ela acaba valorizando

mais a liacutengua de sinais que torna a cultura surda dinacircmica e proporciona

uma nova forma de comunicaccedilatildeo para o indiviacuteduo surdo Na

comunidade surda precisamos buscar o conhecimento cada vez maior

para aumentar o leacutexico da liacutengua em sinais

Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na Liacutengua

Brasileira de Sinais

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

BANCO CM ndash 53a 61 CM ndash 53a 61 CM ndash 53a

FEIO CM ndash 07 64 CM ndash 8a CM ndash 08a

MEacuteDICO CM ndash 16 44 CM ndash 16 44 CM ndash 16

NOME CM ndash 21 24 CM ndash 24 CM ndash 24

PORQUE CM ndash 14 15 CM ndash 14 15 CM ndash 14

O quadro a seguir apresenta a sequecircncia dos sinais lexicais que

sofreram mudanccedila na liacutengua de sinais dos informantes dos Grupos I II e

III nas trecircs geraccedilotildees Inicialmente seraacute descrito o item lexical BANCO

168

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Banco

(1)

Figura 75

CM ndash 53a

(2)

Figura 76

CM ndash 61

(1)

Figura 77

CM ndash 53a

(2)

Figura 78

CM ndash 61

Figura 79

CM ndash 53a

Quadro 09 ndash Sinal de Banco

No quadro 09 a CM ndash 61 corresponde agrave letra B no alfabeto

digital palma da matildeo voltada para a esquerda batendo suavemente em

cima do peito esquerdo Este sinal foi utilizado pelos Grupos II e I

sofrendo uma mudanccedila lexical pois modificou o ponto de articulaccedilatildeo e

a CM com o mesmo movimento Os informantes do Grupo III (jovens)

natildeo utilizam e talvez natildeo conheccedilam o sinal de BANCO utilizado pelos

Grupos II e I Podemos chamar de mudanccedila em tempo aparente

Nos Grupos I II e III apresentam variaccedilatildeo lexical os sinais das

figuras 75 77 e 79 pois se realizam da mesma forma Nos Grupos I e II

169

as figuras 76 e 78 apresentam um sinal que natildeo eacute mais utilizado

caracterizando uma mudanccedila lexical

Observe-se agora o sinal do item lexical FEIO

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Feio

Figura 80

CM ndash 07 64

64

Figura 81

CM ndash 08a

Figura 82

CM ndash 08a

Quadro 10 ndash Sinal de Feio

No quadro 10 a CM ndash 08a (L) usa palma da matildeo em frente da

boca o dedo indicador apontando para a esquerda em seguida abaixa-

se a matildeo ateacute a altura do peito O sinal utilizado pelo Grupo I mostra uma

mudanccedila lexical no sinal de FEIO o sinal de bonito (matildeo aberta com

palma da matildeo voltada para o rosto na frente fazendo um ciacuterculo e se

fechando) e mais o sinal de negaccedilatildeo matildeo fechada com polegar para

baixo Houve uma troca na configuraccedilatildeo de matildeos (CM) de ponto de

articulaccedilatildeo (PA) e movimento (M) do sinal pelos surdos do Grupo III

(mais jovens de 15 a 30 anos de idade) O Grupo I faz dois sinais

bonito^ruim = feio na figura 80 como se fosse o contraacuterio de bonito O

Grupo II faz o sinal de feio para pessoas enquanto o Grupo III sinaliza

com significado de feio para objetos

64 A imagem da CM segue a ordem da tabela com as configuraccedilotildees

170

Observe-se a seguir o item lexical MEacuteDICO

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Meacutedico

(1)

Figura 83

CM ndash 16

(2)

Figura 84

CM ndash 44

(1)

Figura 85

CM ndash 16

(2)

Figura 86

CM ndash 44

Figura 87

CM ndash 16

Quadro 11 ndash Sinal de Meacutedico

No quadro 11 o sinal de MEacuteDICO aparece diferenciado no Grupo

I (geraccedilatildeo G H e I) O sinal de MEacuteDICO eacute produzido com a

configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 44 com ponto de articulaccedilatildeo (PA) no

peito em cima do coraccedilatildeo movimentando-se semicircularmente ateacute o

lado direito Esse sinal mostra mudanccedila lexical pois o Grupo III

(jovens) inovou com relaccedilatildeo ao espaccedilo neutro65

o sinal eacute produzido

65 Espaccedilo Neutro ndash ldquono caso do uso de pontos arbitraacuterios o estabelecimento ocorre em um

local neutro do espaccedilo da sinalizaccedilatildeo e em geral satildeo distribuiacutedos no espaccedilo de forma a serem

171

com a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 16 em ambas as matildeos onde uma eacute

ativa e outra passiva e o dedo indicador direito bate na 2a falange do

dedo esquerdo

Podemos dizer que o sinal que aparece nos Grupos I e II e que

natildeo aparece no Grupo III eacute um sinal icocircnico Acredito que ainda eacute

utilizado apenas natildeo apareceu nas sinalizaccedilotildees do grupo dos mais

jovens que apresentam uma fluecircncia maior na LIBRAS

Veja a seguir a configuraccedilatildeo do item lexical NOME

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Nome

(1)

Figura 88

CM ndash 21

(2)

Figura 89

CM ndash 24

Figura 90

CM ndash 24

Figura 91

CM ndash 24

Quadro 12 ndash Sinal de Nome

amplamente diferenciados Os pontos podem estar acima ou abaixo do espaccedilo neutro se esses apresentarem uma imagem apropriada (por ex um aviatildeo seraacute apontado acima do espaccedilo

neutro)rdquo QUADROS et al (2008 p 07)

172

No quadro 12 mostra o sinal de NOME com a configuraccedilatildeo de

matildeos (CM) ndash 24 (matildeo direita em ldquoUrdquo no Alfabeto Digital) palma da

matildeo para frente dedos apontados para cima na altura do peito movem-

se os dedos do lado esquerdo para o lado direito Na leitura dos

resultados encontrados apareceu uma mudanccedila lexical na liacutengua de

sinais o Grupo I utiliza a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 21 24 na (CM)

ndash 21 representa o nome do crachaacute (sinal icocircnico) Acontece mudanccedila

lexical pois as configuraccedilotildees de matildeos (CM) os pontos de articulaccedilotildees

(PA) os movimentos (M) e a orientaccedilatildeo satildeo diferentes (OP) Aqui

temos tambeacutem mudanccedila fonoloacutegica as configuraccedilotildees de matildeos satildeo

diferentes

O quadro a seguir mostra a configuraccedilatildeo do item lexical

PORQUE

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Porque

(1)

Figura 92

CM ndash 14

(1)

Figura 94

CM ndash 14

Figura 96

CM ndash 14

173

(2)

Figura 93

CM ndash 15

(2)

Figura 95

CM ndash 15

Quadro 13 ndash Sinal de Porque

No quadro 13 o sinal de PORQUE no Grupo I e II aparece com

CM ndash 15 (dedo indicador flexionado saindo da tecircmpora em diagonal) e

nos trecircs grupos aparece o sinal com a CM ndash 14 dedo indicador direito e

esquerdo em diagonal bater o indicador direito sobre o esquerdo vaacuterias

vezes no espaccedilo neutro O sinal com a CM ndash 14 aparece na sinalizaccedilatildeo

dos informantes das trecircs geraccedilotildees permanecendo ateacute a atualidade

O sinal que os Grupos I e II fizeram nas figuras 93 e 95 natildeo eacute

mais realizado pelo grupo dos mais jovens que tambeacutem natildeo conhece o

significado

64 ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua Brasileira de Sinais

A variaccedilatildeo e a mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua Brasileira de

Sinais satildeo observadas na semelhanccedila entre somfala ou sinais foneacutetico-

fonoloacutegicos Na Liacutengua Brasileira de Sinais encontram-se modificaccedilotildees

de pronuacutencia de certos itens lexicais atestando variaccedilatildeo e mudanccedila

fonoloacutegica Essa variaccedilatildeo depende da unidade lexical e pode decorrer de

diferentes paracircmetros a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) movimento (M)

ponto de articulaccedilatildeo (PA) e orientaccedilatildeo das matildeos Nesses casos a

configuraccedilatildeo de matildeos pode modificar mas o significado dos sinais

permanece o mesmo mostrando variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica As

autoras Quadros e Karnopp (2004 p47) definem a fonologia das

liacutenguas de sinais da seguinte forma

Fonologia das liacutenguas de sinais eacute o ramo da linguumliacutestica

que objetiva identificar a estrutura e a organizaccedilatildeo dos

constituintes fonoloacutegicos propondo modelos descritivos

e explanatoacuterios A primeira tarefa da fonologia para

174

liacutengua de sinais eacute determinar quais satildeo as unidades

miacutenimas que formam os sinais A segunda tarefa eacute

estabelecer quais satildeo os padrotildees possiacuteveis de

combinaccedilatildeo entre essas unidades e as variaccedilotildees possiacuteveis

no ambiente fonoloacutegico

Haacute pouca pesquisa cientiacutefica sobre variaccedilatildeo e mudanccedila

fonoloacutegica na LIBRAS no Brasil Pode-se verificar atraveacutes dos dados

dos informantes apresentados a cada pronuacutencia dos sinais diferentes de

uso a unidade miacutenima lexical pode se modificar (configuraccedilatildeo de matildeos

movimento e ponto de articulaccedilatildeo) No quadro 07 apresenta-se o sinal

de semana mostrando mudanccedila no ponto de articulaccedilatildeo e variaccedilatildeo e

mudanccedila fonoloacutegica nos Grupos I II e III

Veja a Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica

na Liacutengua Brasileira de Sinais com os resultados que foram escolhidos

nesta pesquisa para realizar a descriccedilatildeo e a anaacutelise

Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua

Brasileira de Sinais

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

ANTES CM ndash 08a 53a

63

CM ndash 08a CM ndash 08a

Veja agora os sinais para o item lexical ANTES

175

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Antes

(1)

Figura 97

CM ndash 53a 63

(2)

Figura 98

CM ndash 08a

Figura 99

CM ndash 08a

Figura 100

CM ndash 08a

Quadro 14 ndash Sinal de Antes

No quadro 14 aparece o sinal de ANTES com a seguinte

configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 08a a matildeo direita em L horizontal

(alfabeto digital) palma para baixo na frente do corpo no espaccedilo neutro

levantar o antebraccedilo da matildeo direita para cima Outro sinal aparece com

a (CM) ndash 53a e 63 inicia com a CM 63 e finaliza com a CM 53a com o

mesmo movimento do antebraccedilo descrito anteriormente Ambos os

informantes utilizam a expressatildeo facial necessaacuteria para a compreensatildeo

do sinal As trecircs geraccedilotildees apresentaram variaccedilatildeo fonoloacutegica o sinal eacute

produzido com diferentes configuraccedilotildees de matildeos mas os paracircmetros

movimento (M) e ponto de articulaccedilatildeo (PA) satildeo os mesmos

176

Nos Grupos I II e III apresentam os mesmos sinais com a mesma

CM ndash 08a mas temos com essa mesma CM o mesmo significado soacute

que com ponto de articulaccedilatildeo diferente acontecendo na palma da matildeo e

no dorso da matildeo e que tambeacutem pode ter significado de ldquoQue horasrdquo ou

pode estar atrasado para trabalhar ou ainda precisa agendar uma reuniatildeo

antes

Os dados coletados tambeacutem mostram mudanccedila e variaccedilatildeo

fonoloacutegica na liacutengua brasileira de sinais Sinais foram modificados com

o passar dos anos Observando os informantes percebe-se que os

paracircmetros mudaram da geraccedilatildeo mais antiga (Grupo I) em relaccedilatildeo agrave

geraccedilatildeo atual (Grupo III)

Observe na tabela a seguir os dados que foram escolhidos para

realizar a descriccedilatildeo e a anaacutelise dos resultados Ela apresenta a sequecircncia

das mudanccedilas e variaccedilotildees dos sinais lexicais na LIBRAS usados pelos

informantes nas trecircs geraccedilotildees

Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua

Brasileira de Sinais

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

CORTAR CM ndash 14 24

63

CM ndash 14 24 CM ndash 24

PADRE CM ndash 21 24

62

CM ndash 11 21

24

CM ndash 24

TER CM ndash 08a 63 CM ndash 08a 63 CM ndash 08a

Acompanhe agora a descriccedilatildeo do item lexical CORTAR

177

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Cortar

(1)

Figura 101

CM ndash 63

(2)

Figura 102

CM ndash 14 24

(3)

Figura 103

CM ndash 14

(1)

Figura 104

CM ndash 14

(2)

Figura 105

CM ndash 24

Figura 106

CM ndash 24

Quadro 15 ndash Sinal de Cortar

178

No quadro 15 observa-se que o Grupo I apresentou a

configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 63 (U) raspando o dedo meacutedio da matildeo

direita no dedo indicador da matildeo esquerda simulando cortar algo

Depois a CM ndash 14 junto com a CM 24 mostraram um movimento

simulando o corte com uma faca e tambeacutem a CM ndash 14 em ambas as

matildeos simulando o movimento de cortar O Grupo II apresentou a CM ndash

14 (igual a do Grupo I) e a CM ndash 24 simulando o movimento de cortar

O Grupo III (jovem) utilizou apenas a CM ndash 24

Exemplos das figuras apresentadas no quadro 15 mostrando

sinais de CORTAR66

em diferentes contextos satildeo apresentados a seguir

a) Em LIBRAS Grupo I - EU ANTES ESTUDAR LAacute INES

DEPOIS CORTAR MARCENEIRO (Figura 101)

Em Portuguecircs Grupo I ndash Eu era crianccedila estudava no INES

fomos cortar madeira com supervisatildeo de um marceneiro (Figura 101)

b) Em LIBRAS Grupo I - SURDOS LAacute INES CORTAR

PAPELAtildeO (Figura 102)

Em Portuguecircs Grupo I ndash Os alunos surdos do INES foram

cortar papelatildeo (Figura 102)

c) Em LIBRAS Grupo I - EU AIacute (FOGO) FOGO COMER

CARNE CORTAR UM (CADA) IRMAtildeO SENTAR COMER TODOS

COMER ARROZ BATATA AIPIM TODOS (Figura 103)

Em Portuguecircs Grupo I ndash Eu fiquei assustada com o fogo Eu e

meus irmatildeos sentados juntos a mesa cortei a carne e dei um pedaccedilo para

cada irmatildeo Todos comeram arroz batata e aipim aleacutem da carne

(Figura 103)

d) Em LIBRAS Grupo II ndash ANTES ERA PEQUENO

BRINCAR LAacute ESCOLA BALANCcedilO CORRENTE CORTAR DEDO

DOR (Figura 104)

Em Portuguecircs Grupo II ndash Quando era crianccedila fomos brincar no

parque da escola cortei o dedo na corrente (Figura 104)

e) Em LIBRAS Grupo II - FESTA CSMSC SURDOS CORTAR

CARNE BOLO TODOS SURDOS (Figura 105)

Em Portuguecircs Grupo II ndash Teve uma festa do Ciacuterculo de Surdos-

Mudos de Santa Catarina (CSMSC) para comemoraccedilatildeo dos surdos Foi

cortada a carne e o bolo para os surdos que foram a associaccedilatildeo (Figura

105)

66 Nesses casos noacutes temos sinais diferentes para o mesmo significado de ldquocortarrdquo que satildeo as imagens do quadro 15

179

f) Em LIBRAS Grupo III ndash EU LAacute CASA AMIGO SURDO

ALMOCcedilAR COMER PEDIR CORTAR CARNE CONVERSAR

AMIGO (Figura 106)

Em Portuguecircs Grupo III - Eu fui agrave casa do meu amigo surdo

almoccedilar pedi a ele para cortar a carne e tambeacutem conversei com os

amigos surdos (Figura 106)

O Grupo I eacute o uacutenico que utiliza para o sinal de cortar CM ndash 63 um

sinal diferente dos outros grupos mas com o mesmo significado Parece

que o Grupo I foi evoluindo o sinal comeccedilou com CM diferente em

cada matildeo e por fim uma mesma CM para ambas as matildeos O Grupo II

utilizou duas CM diferentes como o Grupo I mas realizava o sinal de

duas formas diferentes CM ndash 14 ou 24 mas a mesma CM para ambas as

matildeos O Grupo III realiza o sinal somente com a CM ndash 24 em ambas as

matildeos Como se observa parece que ocorreu mudanccedila fonoloacutegica nos

trecircs grupos pesquisados

Veja na sequecircncia a mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua brasileira de

sinais

A tabela a seguir traz os sinais do item lexical PADRE

180

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Padre

(1)

Figura 107

CM ndash 62

(2)

Figura 108

CM ndash 24

(1)

Figura 110

CM ndash 11

(2)

Figura 111

CM ndash 24

Figura 113

CM - 24

181

(3)

Figura 109

CM ndash 21

(3)

Figura 112

CM ndash 21

Quadro 16 ndash Sinal de Padre

Nos trecircs grupos apareceu o sinal com CM ndash 24 matildeo na frente do

peito no espaccedilo neutro desenhando uma cruz com a matildeo (Representaccedilatildeo

icocircnica) Os Grupos I e II apresentaram o mesmo sinal CM ndash 21

produzido na base do pescoccedilo iniciando do lado esquerdo indo ateacute o

lado direito como se estivesse desenhando a gola da batina (Icocircnico) O

Grupo I apresentou um sinal diferente com CM ndash 62 matildeo na frente do

peito no espaccedilo neutro desenhando uma cruz com a matildeo O Grupo II

tambeacutem mostra um sinal uacutenico com CM ndash 11 matildeo na frente do peito no

espaccedilo neutro desenhando uma cruz com a matildeo A configuraccedilatildeo de

matildeos (CM) foi sendo alterada no espaccedilo neutro Os informantes do

Grupo I II e III (nas trecircs geraccedilotildees) apresentaram sinais que podem ser

considerados como variaccedilatildeo ou mudanccedila fonoloacutegica

Na figura 107 o sinal parece ser igual ao que um padre faz na

missa ao despedir-se dos fieacuteis e na figura 110 parece que a CM ndash 11 (P)

recebe influecircncia do oralismo Um uacutenico sinal aparece nos trecircs grupos

satildeo das figuras 108 111 e 113 sendo o uacutenico utilizado pelo Grupo III

(jovens)

Veja na sequecircncia a mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua brasileira de

sinais

Agora observe o sinal variaacutevel do item lexical TER

182

Sinal

(Leacutexico)

Grupos dos informantes

Grupo I

geraccedilatildeo

(G H e I)

Grupo II

geraccedilatildeo

(D E e F)

Grupo III

geraccedilatildeo

(A B e C)

Ter

(1)

Figura 114

CM ndash 63

(2)

Figura 115

CM ndash 08a

(1)

Figura 116

CM ndash 63

(2)

Figura 117

CM ndash 08a

Figura 118

CM ndash 08a

Quadro 17 ndash Sinal de Ter

No quadro 17 aparecem os dados apresentados pelo Grupo I dos

trecircs informantes G H e I

Em conversa natildeo filmada com o informante G ele deu a seguinte

explicaccedilatildeo para a variaccedilatildeo do item ldquoTERrdquo antigamente o professor

Francisco Lima Juacutenior usava o sinal ldquoTERrdquo fazendo a soletraccedilatildeo do

sinal depois utilizou a configuraccedilatildeo de matildeo com todos os dedos

fechados (CM ndash 63) colocados no peito em seguida outra oposiccedilatildeo

seria a matildeo e os dedos abertos tambeacutem colocados no peito (CM ndash 64)

183

Atualmente o sinal ldquoTERrdquo eacute realizado como CM - 08a tambeacutem

colocado no peito Observa-se uma mudanccedila fonoloacutegica com alteraccedilatildeo

na liacutengua de sinais ao longo de algumas deacutecadas O dedo em ldquoLrdquo (08a) eacute

batido no meio do peito com a ponta do polegar

Os Grupos I e II mostram os sinais de ter nas figuras 114 e 116

com mesma CM ndash 63 Nas figuras 115 117 e 118 os sinais satildeo

realizados com a mesma CM ndash 08a O Grupo III permanece apenas com

um sinal

Veja na sequecircncia a mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua brasileira de

sinais

Na eacutepoca em que o professor Francisco foi professor era outro

tempo na comunicaccedilatildeo em liacutengua de sinais diferentemente de hoje tal

como se observa na comunicaccedilatildeo entre as pessoas mais jovens com

contato cultural maior O professor Francisco aprendeu no RJ a escrever

com o alfabeto digital (soletraccedilatildeo) e assim ele comeccedilou a ensinar Aleacutem

de ensinar o contato do aluno surdo com a comunidade de surdos fez

com que houvesse uma troca o Sr Francisco ensinou a soletraccedilatildeo no

alfabeto digital (alfabetizaccedilatildeo em Liacutengua Portuguesa) e aprendeu sinais

familiares dos diversos surdos com quem teve contato Todos

aprenderam e isso influenciou para que ocorresse mudanccedila fonoloacutegica

Pesquisando a LIBRAS nos Grupos I II e III confirmamos portanto

algumas mudanccedilas fonoloacutegicas

65 ndash O que dizem os resultados das trecircs geraccedilotildees dos informantes

na Liacutengua Brasileira de Sinais

A comunidade surda principalmente na associaccedilatildeo de surdo de

Santa Catarina abriu espaccedilo para o encontro de surdos proporcionando

a troca de informaccedilotildees e experiecircncias na liacutengua de sinais (visuais)

promovendo eventos na aacuterea esportiva cultural poliacutetica e na educaccedilatildeo

de surdo Todos esses espaccedilos sociais devem ter contribuiacutedo para o que

esta pesquisa jaacute aponta variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica em LIBRAS

Os resultados de certos itens lexicais usados pelos grupos de

indiviacuteduos investigados apontam que os Grupos I e II se distinguem do

184

Grupo III

Os resultados mostram que com passar do tempo os sinais entre

os grupos se modificam apresentando indiacutecios de mudanccedila em tempo

aparente na liacutengua de sinais nas trecircs geraccedilotildees O grupo dos mais jovens

de 15 a 30 anos (Grupo III) diferentemente dos outros dois grupos

(Grupo I e Grupo II) apresenta um sinal para cada palavra Acreditamos

que antes havia mais sinais porque eram familiares ou caseiros os quais

foram substituiacutedos eou modificados com o contato social maior que a

comunidade surda tem nos dias atuais Acreditamos que outros sinais

estatildeo sendo criados com o passar do tempo o que pode ser fruto de um

maior contato social entre os surdos jovens

Os resultados apontam que os trecircs grupos investigados (Grupos I

II e III) usaram vaacuterios sinais idecircnticos para algumas palavras os Grupos

I e II usaram outros e os Grupos II e III usaram palavras idecircnticas em

menor nuacutemero Entretanto os Grupos I e III (dos mais velhos e dos mais

jovens) natildeo usaram nenhuma palavra comum que se distinguisse do

Grupo II Os resultados apontam portanto que na LIBRAS haacute variaccedilatildeo

lexical e fonoloacutegica

Como eacute possiacutevel perceber a partir dos resultados apresentados o

contato entre as pessoas surdas transforma a liacutengua de sinais que jaacute

apresenta indiacutecios de variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica entre diferentes

geraccedilotildees como acontece em qualquer liacutengua natural

Nota-se nas narrativas contadas que os surdos tecircm consciecircncia de

seu papel nas trecircs geraccedilotildees de informantes e reconhecem a influecircncia

exercida pelo contato com outros surdos e com os surdos mais velhos

Certamente o Grupo III seraacute disseminador de conhecimento

aumentando cada vez mais o interesse de outros surdos pela liacutengua de

sinais e com a expansatildeo de seu uso naturalmente outras mudanccedilas vatildeo

acontecer transformando mais uma vez a liacutengua de sinais Aleacutem disso

pode-se identificar nas narrativas de todos os sujeitos a total

consciecircncia das pessoas envolvidas no processo de ampliaccedilatildeo do espaccedilo

de conforto do surdo Eacute mais uma parte da histoacuteria surda que se registra

tendo como personagem principalmente a pesquisa sobre a variaccedilatildeo e a

mudanccedila linguiacutestica na liacutengua de sinais em Santa Catarina

Eacute importante registrar o momento de pouco acesso dos surdos agrave

pesquisa a respeito da liacutengua brasileira de sinais seja no domiacutenio

puacuteblico ou privado Assim julga-se necessaacuterio o desenvolvimento de

mais estudos e de um contato mais intenso de sujeitos surdos com as

reflexotildees e conhecimentos que satildeo produzidos sobre essa liacutengua

refletindo o que dizem os informantes surdos nas trecircs geraccedilotildees da liacutengua

de sinais Sabe-se que em parte isso ocorre porque eacute uma liacutengua

185

oficializada recentemente

Os estudos tecircm apontado atraveacutes de recentes pesquisas que a

liacutengua de sinais eacute a forma mais adequada de comunicaccedilatildeo para a

educaccedilatildeo do surdo tendo em vista que como as outras liacutenguas

humanas a liacutengua de sinais eacute uma liacutengua natural podendo servir de base

para o ensino da liacutengua escrita

Finalmente espero que os resultados desta pesquisa possam

motivar-me e motivar outras pessoas a aprofundar o tema aqui

pesquisado

186

187

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Concluiacutemos que eacute importante pesquisar sobre a histoacuteria na liacutengua

de sinais em Santa Catarina em encontros sociais ou nas associaccedilotildees de

surdo Aleacutem de aprender a liacutengua de sinais os surdos que fazem parte

dessas associaccedilotildees acabam criando uma identidade surda trocam

experiecircncias evoluindo na proacutepria liacutengua criando e valorizando o seu

espaccedilo linguiacutesticocultural

Na liacutengua de sinais aqui no Brasil acontece a mesma coisa que

se observa no portuguecircs quanto agraves regras da liacutengua que satildeo oficiais

para todo o Brasil mas vaacuterios sinais satildeo diferentes para expressar a

mesma coisa Podemos utilizar no sul do Brasil um sinal e outro

sinal totalmente diferente na regiatildeo sudeste com o mesmo

significado

Surdos se encontram em associaccedilotildees ou outros espaccedilos

culturais para poder conversar trocar experiecircncia e aprender sua

liacutengua mas com o ouvinte acontece diferente eles natildeo precisam de

um local para esses encontros isso acontece em seu dia-a-dia todos

se falam O surdo necessita marcar encontros com outros surdos

para que aconteccedila a comunicaccedilatildeo pois poucos ouvintes sabem se

comunicar em LIBRAS Eles vatildeo para a associaccedilatildeo de surdos

aprender LIBRAS e com o passar do tempo podem se tornar

biliacutengues

Haacute falta de pesquisa em variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica das

liacutenguas de sinais e sobre o desenvolvimento e o domiacutenio desta liacutengua

Nada foi registrado nas uacuteltimas deacutecadas e parece que muitos dados sobre

os sujeitos surdos e sua histoacuteria da liacutengua de sinais foram prejudicados e

perdidos

Na UFSC por exemplo temos no curso de LETRASLIBRAS

a distacircncia que eacute pioneiro uma vitoacuteria do surdo acessando a

primeira Universidade Brasileira que estuda a liacutengua de sinais e que

oferece oportunidade de acesso ao estudo e aprofundamento

linguiacutestico da LIBRAS aleacutem das trocas de sinais em diferentes

regiotildees do paiacutes

Temos um grupo de surdos responsaacuteveis por criar sinais novos

de acordo com as necessidades encontradas pelas comunidades

surdas para diminuir a influecircncia da Liacutengua Portuguesa na

LIBRAS e possibilitar outros contatos fora do Brasil trazendo

relatos de experiecircncias de comunidades surdas de outros paiacuteses bem

como apresentaccedilotildees de pesquisas mais avanccediladas nas liacutenguas de

sinais

188

Eacute importante reforccedilar que a LIBRAS eacute uma liacutengua natural pois

possui estrutura gramatical eacute utilizada por um grande grupo social com

funccedilatildeo ativa e provedora de opiniatildeo Este tipo de liacutengua soacute se diferencia

das liacutenguas orais pela forma de se comunicar pois esta utiliza a accedilatildeo

gestual o que difere das demais liacutenguas que utilizam a accedilatildeo oral na

comunicaccedilatildeo

As pessoas falam que na ilha de Santa Catarina o dialeto falado eacute

o manezinho que vem sofrendo modificaccedilotildees com o passar dos anos

devido ao turismo que eacute forte na temporada de veratildeo O professor

Francisco e a comunidade surda na deacutecada de 1950 usavam o sinal de

dactilologia no mesmo sentido da liacutengua nativa mas com dialeto

proacuteprio Depois outros surdos vieram para Santa Catarina e sinalizaram

diferentemente Isso mostra que nas duas liacutenguas ndash LIBRAS e Portuguecircs

ndash haacute variaccedilatildeo dialetal

Observando os trecircs grupos de surdos investigados nesta tese

podemos dizer que o Grupo I mostra o primeiro contato com a liacutengua de

sinais desenvolvida com pouco conhecimento linguiacutestico porque

adquirir a liacutengua de sinais em contexto social na eacutepoca era difiacutecil Mas

este Grupo I foi buscando surdos que participavam de associaccedilotildees que

estudavam na garagem da casa do professor Francisco e na Escola Celso

Ramos onde tinha o grupo de surdos aprendendo a liacutengua de sinais que

se modificava O Grupo III demonstrou mais qualidade na sinalizaccedilatildeo

da liacutengua de sinais e maior fluecircncia mas natildeo conhece alguns dos sinais

(antigos) realizados pelos Grupos I e II O contexto social dos Grupos

nas trecircs geraccedilotildees eacute bem diferente e a liacutengua de sinais do Grupo III (mais

jovens) apresentou menor nuacutemero de sinais que os demais grupos

Acreditamos que antes havia mais sinais porque eram familiares

Os resultados do trabalho mostraram que algumas variaccedilotildees e

mudanccedilas linguiacutesticas (variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na liacutengua de sinais e

variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua de sinais) aconteceram nos trecircs

grupos quando um mesmo sinal eacute produzido pelos diferentes grupos de

maneira diferente Alguns sinais que antigamente eram produzidos no

corpo agora acontecem no espaccedilo neutro na liacutengua de sinais Os grupos

mostraram sinais que antes eram produzidos com uma matildeo e agora satildeo

produzidos com ambas as matildeos ao mesmo tempo O Grupo I utilizava

sinalizaccedilatildeo manual sinais familiares (caseiros) ou aqueles aprendidos e

trazidos pelo professor Francisco do INES o que talvez explique o fato

de que este grupo tinha um nuacutemero maior de sinais para uma mesma

palavra

Concluiacutemos que os trecircs grupos de nove informantes nas

diferentes geraccedilotildees apresentaram sinais compartilhados e outros que se

189

transformaram com o tempo na liacutengua de sinais Cada grupo pertence a

um contexto social diferente A liacutengua de sinais transforma e desenvolve

o conhecimento caseiro bem como a troca de informaccedilotildees a

participaccedilatildeo na associaccedilatildeo de surdos e na busca de mais contato com

outros surdos Na escola o surdo conseguia aprender mais quando o

professor surdo (Francisco) ensinava na liacutengua de sinais e tambeacutem

quando proporcionava aos seus alunos um contato social que antes natildeo

existia

190

191

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ANEXOS

Anaacutelise Comparativa dos Dados Variaccedilatildeo e Mudanccedila Linguiacutestica

Sinais

(Leacutexico)

Forma do

Sinal

(Configuraccedilatildeo

de Matildeos)

Identificaccedilatildeo

de Classe

Faixa

Etaacuteria

(Grupo)

Geraccedilatildeo

Ajudar1

CM ndash 63

Informante

H D E F A

C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Ajudar2

CM ndash 02 63

Informante

D E B

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Ajudar3

CM ndash 01 63

Informante

H I F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Ajudar4

CM ndash 14 63

Informante

I E F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Aluno1

CM ndash 01

Informante

G I A B C

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Aluno2

CM ndash 63

Informante

G H I D B

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Amanhatilde1 CM ndash 14 Informante 60 a 80 I

200

H Anos

Amanhatilde2 CM ndash 63 Informante

E

30 a 60

Anos

II

Amanhatilde3

CM ndash 35a

Informante

I A B

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Antes1 CM ndash 53a Informante

I

60 a 80

Anos

I

Antes2 CM ndash 63 Informante

I

60 a 80

Anos

I

Antes3

CM ndash 08a 63

Informante

G E F B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Aposentar1

CM ndash 02 57

Informante

G I F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Aposentar2

CM ndash 01 11

Informante

G I F C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Aposentar3 CM ndash 07 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Associaccedilatildeo1

CM ndash 01

(2 matildeos)

Informante

G I F D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Associaccedilatildeo2

CM ndash 01

(1 matildeo)

Informante

I D E F A

B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

60 a 80

201

Aula1 CM ndash 63 Informante

G H I E D

A C

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Aviatildeo1 CM ndash 53a Informante

G

60 a 80

Anos

I

Aviatildeo2 CM ndash 36 37a Informante

E F

30 a 60

Anos

II

Aviatildeo3

CM ndash 40

Informante

D E F A B

C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Avocirc1 CM ndash 30 31 Informante

G I

60 a 80

Anos

I

Avocirc2 CM ndash 02 57 Informante

H I

60 a 80

Anos

I

Avocirc3

CM ndash 02

Informante

H I D E F

A

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Azul1 CM ndash 01 Informante

G I

60 a 80

Anos

I

A-z-u-l2 CM ndash 01 08a

14 24

Informante

G I

60 a 80

Anos

I

Azul3

CM ndash 01 08a

Informante

D E F A B

C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Bairro CM ndash 14 63 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Banco1

CM ndash 61

Informante

G H I F

60 a 80 Anos

30 a 60

Anos

I II

Banco2

CM ndash 53a

Informante

60 a 80

Anos

I II III

202

G I F C 30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

Batata1 CM ndash 62 Informante

H

60 a 80

Anos

I

Batata2 CM ndash 63 Informante

H

60 a 80

Anos

I

Branco1

CM ndash 63

Informante

H I B

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Branco2 CM ndash 35a Informante

G

60 a 80

Anos

I

Cafeacute

CM ndash 49

Informante

G F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Calma1

CM ndash 63

(2 matildeos)

Informante

G H I D E

F C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Calma2

CM ndash 63

(1 matildeo)

Informante

H I E B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Cama1 CM ndash 37a Informante

G

60 a 80

Anos

I

Cama2 CM ndash 63 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Cavalo1 CM ndash 02 Informante

H

60 a 80

Anos

I

Cavalo2 CM ndash 27 Informante

H I

60 a 80

Anos

I

Chorar1 CM ndash 14 Informante

D

30 a 60

Anos

II

203

Chorar2 CM ndash 18a Informante

H I

60 a 80

Anos

I

Crianccedila1

CM ndash 63

(pequeno)

Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Crianccedila2 CM ndash 64 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Crianccedila3

CM ndash 14 63

Informante

D E A C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Crianccedila4 CM ndash 57 63 Informante

E

30 a 60

Anos

II

Cobra1 CM ndash 14 Informante

H

60 a 80

Anos

I

Cobra2

CM ndash 31

Informante

E F A B

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Conversar1

CM ndash 14

Informante

G H F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Conversar2 CM ndash 63

(2 matildeos)

Informante

G H I D E

F A

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Conversar3 CM ndash 28 Informante

D

30 a 60

Anos

II

Conversar4 CM ndash 44 Informante

D E F

30 a 60

Anos

II

Conversar5 CM ndash 21 Informante

H

60 a 80

Anos

I

Cortar1 CM ndash 14 Informante

H

60 a 80

Anos

I

204

Cortar2 CM ndash 63 Informante

H

60 a 80

Anos

I

Cortar3

CM ndash 14 24

Informante

E B

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Cultura CM - 31 Informante

A B C

15 a 30

Anos

III

Dormir1

CM ndash 63

(1 matildeos e 2

matildeos)

Informante

G H I F C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Dormir2 CM ndash 02 47 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Dormir3

CM ndash 21 24

32

Informante

G D F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Depois1 CM ndash 53a

(2 matildeos)

Informante

H I A B C

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Depois2

CM ndash 14

Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Depois3

CM ndash 53a

(1 matildeo)

Informante

G D E F A

B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Educaccedilatildeo1 CM ndash 46a Informante

H

60 a 80

Anos

I

Educaccedilatildeo2 CM ndash 45 57 Informante

G

60 a 80

Anos

I

205

Escola1

CM ndash 63

Informante

G H I D E

F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Escola2

CM ndash 63

(duas matildeos)

Informante

D E A B C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Estudar

CM ndash 63

Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Emagrecer1 CM ndash 39 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Emagrecer2 CM ndash 47 ou 57 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Engordar1 CM ndash 02 Informante

G H

60 a 80

Anos

I

Engordar2 CM ndash 47 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Engravidar1 CM ndash 14 Informante

E

30 a 60

Anos

II

Engravidar2 CM ndash 53a Informante

H

60 a 80

Anos

I

Faacutecil1 CM ndash 63 Informante

E

30 a 60

Anos

II

Faacutecil2 CM ndash 48 Informante

I

60 a 80

Anos

I

Faacutecil3 CM ndash 35a Informante

C

15 a 30

Anos

III

Faculdade1

CM ndash 54

Informante

F A C

30 a 60

Anos

15 a 30 Anos

II III

Faculdade2 CM ndash 21 Informante

I

60 a 80

Anos

I

Faculdade3 CM ndash 55 Informante

A B

15 a 30

Anos

III

206

Falar1

CM ndash 14

Informante

G H D E F

C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Falar2

CM ndash 49

Informante

H D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Falar3

CM ndash 11

(E 1 matildeo e 2

matildeos)

Informante

G H I D E

A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Falar4 CM ndash 21 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Falar5 CM ndash 44 Informante

E

30 a 60

Anos

II

Feio1

CM ndash 08a

Informante

F B

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Feio2

CM ndash 08a

Informante

D E A

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Feio3 CM ndash 07 64 Informante

G H I

60 a 80

Anos

I

Flor1 CM ndash 57 Informante

D

30 a 60

Anos

II

Flor2 CM ndash 54 Informante

I

60 a 80

Anos

I

Forte1 CM ndash 14 Informante

F

30 a 60

Anos

II

Forte2

CM ndash 02

(2 matildeos)

Informante

G H I D C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II III

207

15 a 30

Anos

Forte3 CM ndash 32

(1 matildeo)

Informante

I

60 a 80

Anos

I

Gato1

CM ndash 08b 20

Informante

G H C

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Gato2 CM ndash 59a Informante

I

60 a 80

Anos

I

Gato3 CM ndash 20 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Gostar1 CM ndash 44 Informante

E

30 a 60

Anos

II

Gostar2 CM ndash 63 Informante

E F

30 a 60

Anos

II

Homem1

CM ndash 50

Informante

G H I D F

A B

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Homem2

CM ndash 21

Informante

H I D F C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Hospital1

CM ndash 14

(1 matildeo e 2

matildeos) cruz

Informante

H I C

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Hospiatl2

CM ndash 16

Informante

D E F B C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Igreja1 CM ndash 14

(cruz)

Informante

F

30 a 60

Anos

II

Igreja2

CM ndash 14 15

Informante

60 a 80

Anos

I II III

208

H I D E F

A B C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

Igual1

CM ndash 14

Informante

G H I D E

F B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Igual2

CM ndash 14 ( )

Informante

H B

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Igual3

CM ndash 14

(mesmo)

Informante

F C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Igual4 CM ndash 24

(1 matildeo)

Informante

G I A B C

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Igual5

CM ndash 24

(2 matildeos)

Informante

I D E F A

B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Igual6 CM ndash 53a Informante

A

15 a 30

Anos

III

Igual7

CM ndash 61

Informante

I A C

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Irmatildeo1

CM ndash 14

Informante G H D F

60 a 80

Anos 30 a 60

Anos

I II

Irmatildeo2 CM ndash 24 Informante

D E F

30 a 60

Anos

II

209

Lembrar1

CM ndash 14

Informante

G H D E A

B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Lembrar2

CM ndash 32

Informante

D E F A B

C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Limpar1 CM ndash 02 Informante

H D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Limpar2

CM ndash 64

Informante

H E

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Limpar3

CM ndash 08a

Informante

H D E F A

B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Livro1 CM ndash 63

(duas matildeos)

Informante

G

60 a 80

Anos

I

Livro2

CM ndash 63 08a

Informante

H D E F A

B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Lutar1

CM ndash 08a

Informante

I A B

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Lutar2 CM ndash 02 63 Informante

I D E A B

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II III

210

15 a 30

Anos

Matildee1

CM ndash 63

Informante

H E F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Matildee2 CM ndash 02 07 Informante

A B C

15 a 30

Anos

III

Matildee3

CM ndash 14

Informante I

D B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Matildee4 CM ndash 63

(m)

Informante

G

60 a 80

Anos

I

Matildee5

CM ndash 02

Informante

I D F A

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

M-atilde-e6 CM ndash 01 06

60

Informante

F

30 a 60

Anos

II

Matildee7 CM ndash 02 Informante

F

30 a 60

Anos

II

Mais1

CM ndash 63

Informante

G I E A B

C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Mais2

CM ndash 63

(2 matildeos)

Informante

I D E A

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos 15 a 30

Anos

I II III

Mais3 CM ndash 08a Informante

G I E F

60 a 80

Anos

I II

211

30 a 60

Anos

Mais4

CM ndash 14

Informante

I E C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Matemaacutetica1

CM ndash 02

Informante

G H I D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Matemaacutetica2

CM ndash 58

Informante

G H I F C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Meacutedico1

CM ndash 44

Informante

G F B

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Meacutedico2

CM ndash 16

Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Medo1

CM ndash 34 64

Informante

H D F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

III

Medo2 CM ndash 02 Informante

E F

30 a 60

Anos

II

Medo3 CM ndash 33 Informante

F

30 a 60

Anos

II

Melhor1

CM ndash 45

Informante

G H I E

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

212

Melhor2

CM ndash 07

Informante

H I E A B

C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Melhor3

CM ndash 63

Informante

H A C

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Morrer1 CM ndash 63 63

(2 matildeos)

Informante

H

60 a 80

Anos

I

Morrer2

CM ndash 63

Informante

H I D E F

C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Mudar1

CM ndash 07

Informante

G H E A B

C

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

30 a 60

Anos

I II III

Mudar2 CM ndash 44

(1 matildeo e 2

matildeos)

Informante

H I E F B

C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Mulher1 CM ndash 07

(menina) (oral)

Informante

H

60 a 80

Anos

I

Mulher2

CM ndash 07 63

Informante

H D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Mulher3

CM ndash 07

Informante

G I D E F

B

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II III

213

15 a 30

Anos

Noite1

CM ndash 57 44

Informante

G D F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Noite2

CM ndash 53

Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Nome1

CM ndash 21

Informante

G H I A

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Nome2

CM ndash 24

Informante

G H I D E

F A C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Noacutes1

CM ndash 14

Informante

G D E F C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Noacutes2

CM ndash 14

Informante

E A

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

N-u-n1

CM ndash 24

Informante

I D E

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

N-u-n-c-a2

CM ndash 01 24

51a

Informante

I D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

214

Nunca3

CM ndash 14

(2 matildeos)

Informante

I D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Objetivo1 CM ndash 42 58 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Objetivo2 CM ndash 14 Informante

B

15 a 30

Anos

III

Ocircnibus1 CM ndash 07 Informante

F

30 a 60

Anos

II

Ocircnibus2 CM ndash 31 Informante

I B

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Ovo1 CM ndash 44 57 Informante

I

60 a 80

Anos

I

O-v-o2 CM ndash 42 32 Informante

G H

60 a 80

Anos

I

Padre1 CM ndash 11 Informante

G

30 a 60

Anos

II

Padre2

CM ndash 21

Informante

G H D F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Padre3

CM ndash 24

Informante

I F C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

P-a-i1

CM ndash 01 11

38

Informante

G H I D E

F A

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Pai2

CM ndash 11 (p)

Informante

G H F C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II III

215

15 a 30

Anos

Pai3 CM ndash 14 Informante

G H I

60 a 80

Anos

I

Pai4

CM ndash 16

Informante

I F B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Pai5

CM ndash 02 45

Informante

E A B C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Patildeo1 CM ndash 02 47

57

Informante

H

60 a 80

Anos

I

Patildeo2 CM ndash 63 Informante

H

60 a 80

Anos

I

Patildeo3

CM ndash 01

Informante

I F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Peixe1 CM ndash 16 Informante

G I

60 a 80

Anos

I

Peixe2

CM ndash 63

Informante

I F A

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Pessoa1

CM ndash 11

Informante

G I C

60 a 80

Anos

15 a 30

Anos

I III

Pessoa2

CM ndash 35a

Informante

I D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Pessoa3

CM ndash 18a

Informante

F A C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

216

Pode-Natildeo1 CM ndash 14

(2 matildeos)

Informante

D E

30 a 60

Anos

II

Pode-Natildeo2 CM ndash 14

(1 matildeo)

Informante

F

30 a 60

Anos

II

Poliacutetica1 CM ndash 11 51a Informante

G I

60 a 80

Anos

I

Poliacutetica2

CM ndash 11

Informante

I E B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Poliacutetica3 CM ndash 14 Informante

D E

30 a 60

Anos

II

Porque1

CM ndash 15

Informante

G H I D F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Porque2 CM ndash 14 Informante

G H I E F

A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Povo1 CM ndash 02 64 Informante

G I

60 a 80

Anos

I

Povo2 CM ndash 11 Informante

I

60 a 80

Anos

I

P-o-v-o3 CM ndash 11 32

42

Informante

I

60 a 80

Anos

I

Preto1

CM ndash 05

Informante

G H I F B

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Preto2 CM ndash 34 62 Informante

G H I

60 a 80

Anos

I

Primeiro1

CM ndash 07 14

Informante

60 a 80

Anos

I II III

217

G I E F C 30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

Primeiro2

CM ndash 14

Informante

H F C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Primeiro3 CM ndash 14

(duas matildeos)

Informante

D

30 a 60

Anos

II

Primeiro4

CM ndash 07

Informante

F E C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Profissional

1

CM ndash 11 Informante

I

60 a 80

Anos

I

Profissional

2

CM ndash 63 Informante

C

15 a 30

Anos

III

Prova1 CM ndash 63 Informante

E

30 a 60

Anos

II

Prova2

CM ndash 53a

(duas matildeos)

Informante

E F A B C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Respeitar1 CM ndash 53a Informante

D E

30 a 60

Anos

II

Respeitar2 CM ndash 25 Informante

E F

30 a 60

Anos

II

Responsaacutevel

1

CM ndash 25

Informante

I D E B

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Responsaacutevel

2

CM ndash 25

(duas matildeos)

Informante

I D E F A

B

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II III

218

15 a 30

Anos

Responsaacutevel

3

CM ndash 63

(duas matildeos)

Informante

G I

60 a 80

Anos

I

Reuniatildeo1 CM ndash 15 Informante

D

30 a 60

Anos

II

Reuniatildeo2

CM ndash 25

Informante

D E A

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Reuniatildeo3 CM ndash 14 Informante

G H D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Saber1

CM ndash 63

Informante

D B C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Saber2

CM ndash 14

Informante

G H I D E

F A C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Saber3

CM ndash 44 53a

Informante

G H I F A

B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Saber4

CM ndash 11

Informante

E F C

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

II III

Semana1 CM ndash 10 Informante

D E

30 a 60

Anos

II

Semana2 CM ndash 10 Informante

B

15 a 30

Anos

III

Semana3 CM ndash 08a 64 Informante

I

60 a 80

Anos

I

219

Sim1

CM ndash 02

Informante

H D

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

S-i-m2 CM ndash 02 38

60

Informante

H I

60 a 80

Anos

I

Sim3 CM ndash 59a 63 Informante

G H

60 a 80

Anos

I

Surdo1

CM ndash 14

Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Surdo2

CM ndash 25

Informante

G I D E B

C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Tambeacutem1

CM ndash 61

Informante

G H I D E

A

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Tambeacutem2

CM ndash 14

Informante

G H I D E

F B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Tarde1 CM ndash 63 Informante

G H I

60 a 80

Anos

I

Tarde2 CM ndash 44 47

63

Informante

H

60 a 80

Anos

I

Tarde3 CM ndash 63 Informante

G H

60 a 80

Anos

I

Teatro1 CM ndash 57 Informante

I

60 a 80

Anos

I

220

Teatro2 CM ndash 49 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Tempo1

CM ndash 14

Informante

H I D E A

B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Tempo2

CM ndash 57

Informante

H I D E

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Tempo3

CM ndash 63

Informante

G I D E C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Tempo4

CM ndash 45

Informante

G D E F A

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Ter1

CM ndash 63 64

Informante

G H I D F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Ter2

CM ndash 08a

Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Tio1

CM ndash 56

Informante

H F

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

I II

Tio2

CM ndash 51b

Informante

30 a 60

Anos

II III

221

D E F A B

C

15 a 30

Anos

Trabalhar1

CM ndash 08a

Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Trabalhar2

CM ndash 14

Informante

H I F A

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Trabalhar3 CM ndash 24 Informante

I

60 a 80

Anos

I

Tudo CM ndash 63

(duas matildeos)

Informante

F

30 a 60

Anos

II

Vagabundo1 CM ndash 63 Informante

E

30 a 60

Anos

II

Vagabundo2 CM ndash 64 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Ver1 CM ndash 14 Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Ver2

CM ndash 32

Informante

G H I D E

F A B C

60 a 80

Anos

30 a 60

Anos

15 a 30

Anos

I II III

Ver3

CM ndash 64

Informante D E B C

30 a 60

Anos 15 a 30

Anos

II III

Vergonha1

CM ndash 64

Informante

60 a 80

Anos

I II

222

I E 30 a 60

Anos

Vergonha2 CM ndash 11 Informante

E

30 a 60

Anos

II

Vermelho1 CM ndash 32 Informante

G H I

60 a 80

Anos

I

Vermelho2 CM ndash 14 Informante

G H I

60 a 80

Anos

I

Viajar1 CM ndash 63 Informante

D E F

30 a 60

Anos

II

Viajar2 CM ndash 45 Informante

F

30 a 60

Anos

II

WC CM ndash 48 Informante

G

60 a 80

Anos

I

Palavras no total 255 sinais lexicais

Palavra Ajudar 4 Sinais Palavra Mais 4 Sinais

Palavra Aluno 2 Sinais Palavra Matemaacutetica 2 Sinais

Palavra Amanhatilde 3 Sinais Palavra Meacutedico 2 Sinais

Palavra Antes 3 Sinais Palavra Medo 3 Sinais

palavra Aposentar 3 Sinais Palavra Melhor 3 Sinais

Palavra Associaccedilatildeo 2 Sinais Palavra Morrer 2 Sinais

Palavra Aula 1 Sinal Palavra Mudar 2 Sinais

Palavra Aviatildeo 3 Sinais Palavra Mulher 3 Sinais

Palavra Avocirc 3 Sinais Palavra Noite 2 Sinais

Palavra Azul 3 Sinais Palavra Nome 2 Sinais

Palavra Bairro 1 Sinal Palavra Noacutes 2 Sinais

Palavra Banco 2 Sinais Palavra Nunca 3 Sinais

Palavra Batata 2 Sinais Palavra Objetivo 2 Sinais

Palavra Branco 2 Sinais Palavra Ocircnibus 2 Sinais

Palavra Cafeacute 1 Sinal Palavra Ovo 2 Sinais

Palavra Calma 2 Sinais Palavra Padre 3 Sinais

Palavra Cama 2 Sinais Palavra Pai 5 Sinais

Palavra Cavalo 2 Sinais Palavra Patildeo 3 Sinais

Palavra Chorar 2 Sinais Palavra Peixe 2 Sinais

Palavra Crianccedila 4 Sinais Palavra Pessoa 3 Sinais

Palavra Cobra 2 Sinais Palavra Pode-natildeo 2 Sinais

Palavra Conversar 5 Sinais Palavra Poliacutetica 3 Sinais

Palavra Cortar 3 Sinais Palavra Porque 2 Sinais

223

Palavra Cultura 1 Sinal Palavra Povo 3 Sinais

Palavra Dormir 3 Sinais Palavra Preto 2 Sinais

Palavra Depois 3 Sinais Palavra Primeiro 4 Sinais

Palavra Educaccedilatildeo 2 Sinais Palavra Profissional 2 Sinais

Palavra Escola 2 Sinais Palavra Prova 2 Sinais

Palavra Estudar 1 Sinal Palavra Respeitar 2 Sinais

Palavra Emagrecer 2 Sinais Palavra Responsaacutevel 3 Sinais

Palavra Engordar 2 Sinais Palavra Reuniatildeo 3 Sinais

Palavra Engravidar 2 Sinais Palavra Saber 4 Sinais

Palavra Faacutecil 3 Sinais Palavra Semana 3 Sinais

Palavra Faculdade 3 Sinais Palavra Sim 3 Sinais

Palavra Falar 5 Sinais Palavra Surdo 2 Sinais

Palavra Feio 3 Sinais Palavra Tambeacutem 2 Sinais

Palavra Flor 2 Sinais Palavra Tarde 3 Sinais

Palavra Forte 3 Sinais Palavra Teatro 2 Sinais

Palavra Gato 3 Sinais Palavra Tempo 4 Sinais

Palavra Gostar 2 Sinais Palavra Ter 2 Sinais

Palavra Homem 2 Sinais Palavra Tio 2 Sinais

Palavra Hospital 2 Sinais Palavra Trabalhar 3 Sinais

Palavra Igreja 2 Sinais Palavra Tudo 1 Sinal

Palavra Igual 7 Sinais Palavra Vagabundo 2 Sinais

Palavra Irmatildeo 2 Sinais Palavra Ver 3 Sinais

Palavra Lembrar 2 Sinais Palavra Vergonha 2 Sinais

Palavra Limpar 3 Sinais Palavra Vermelho 2 Sinais

Palavra Livro 2 Sinais Palavra Viajar 2 Sinais

Palavra Lutar 2 Sinais Palavra WC 1 Sinal

Palavra Matildee 7 Sinais

224

225

AS CONFIGURACcedilOtildeES DE MAtildeOS

Cm 01

Cm 02

Cm 03

Cm 04

Cm 05

Cm 06

Cm 07

Cm 08a

Cm 08b

Cm 09

Cm 10

Cm 11

Cm 12

Cm 13

Cm 14

Cm 15

Cm 16

Cm 17

Cm 18a

Cm 18b

Cm 19

Cm 20

Cm 21

Cm 22a

Cm 22b

Cm 23

Cm 24

Cm 25

Cm 26

Cm 27

226

Cm 28

Cm 29a

Cm 29b

Cm 30

Cm 31

Cm 32

Cm 33

Cm 34

Cm 35a

Cm 35b

Cm 36

Cm 37a

Cm 37b

Cm 38

Cm 39

Cm 40

Cm 41

Cm 42

Cm 43

Cm 44

Cm 45

Cm 46a

Cm 46b

Cm 47

Cm 48

Cm 49

Cm 50

Cm 51a

Cm 51b

Cm 52

Cm 53a

Cm 53b

Cm 54

Cm 55

Cm 56

227

Cm 57

Cm 58

Cm 59a

Cm 60

Cm 61

Cm 62

Cm 63

Cm 64

228

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