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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE DO PARANÁ
CAMPUS DE CORNÉLIO PROCÓPIO
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL PDE
MARIA DO ROCIO PANDOLFO PASCOLATI
A AVALIAÇÃO: UM CAMINHO REPLETO DE DESAFIOS
CORNÉLIO PROCÓPIO - PR
2011
MARIA DO ROCIO PANDOLFO PASCOLATI
A AVALIAÇÃO: UM CAMINHO REPLETO DE DESAFIOS
Produção Didático – Pedagógica, apresentado
ao Programa de Desenvolvimento Educacional
da Secretaria do Estado da Educação, do
Paraná, sob orientação da professora: Marlize
Spagolla Bernardelli.
CORNÉLIO PROCÓPIO - PR
2011
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1 INTRODUÇÃO
A Unidade Didática refere-se ao tema Avaliação da aprendizagem na
Matemática. O interesse por este tema partiu das inúmeras dúvidas e insatisfações
enquanto professora desta disciplina.
A avaliação é substancialmente reflexão, capacidade única e exclusiva do ser
humano. De pensar sobre seus atos, de analisá-los, julgá-los interagindo com o
mundo e com outros seres, influindo e sofrendo influências pelo seu pensar e agir. A
avaliação também é polêmica, por se tratar de um mecanismo que orienta e
acompanha o processo educativo, tornando-se inevitável a reflexão sobre a ação
que o educador deve ter frente o ato avaliativo.
Percebe-se que, na busca por superar a concepção tradicional da avaliação
na Matemática, os professores passam de um extremo ao outro, ou seja, da
rigorosidade ao avaliar, passa-se a não ter mais clareza quanto aos objetivos a
serem atingidos, perde-se assim, o sentido da intencionalidade da avaliação nesta
disciplina.
Muitas vezes, a concepção de avaliação estabelecida no Projeto Político-
Pedagógico da escola, nem sempre é discutida coletivamente e apenas se
estabelece o que a legislação prevê: que a avaliação deve ser contínua, cumulativa,
diagnóstica, formativa e somativa. Além do que, a avaliação contínua e formativa
nem sempre se concretizam na prática.
Para alguns docentes, a avaliação contínua é entendida como aplicação de
provas e testes a cada bimestre, trimestre ou semestre e a avaliação formativa é
confundida com a formação do aluno.
Esta Unidade Didática não tem a pretensão de apontar soluções e nem ser um
receituário para a avaliação Matemática escolar, mas, proporcionar momentos de
leitura e reflexão das práticas avaliativas desta disciplina nas escolas da rede
pública estadual de ensino.
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2 A AVALIAÇÃO MATEMÁTICA NO ENSINO FUNDAMENTAL
Avaliar constitui-se como uma prática cotidiana diversificada de função
reflexiva, interativa, motivadora, reguladora, investigativa e indispensável ao
processo de ensino e aprendizagem, portanto deve assumir um papel importante no
desenvolvimento profissional, durante e depois de sua formação. O professor deve
desenvolver uma atitude crítico-reflexiva capaz de modificar sua prática avaliativa
nas nossas salas de aula, percebendo a avaliação em outra perspectiva que não a
tradicional, focando em aspectos que até então eram desconsiderados, assim como
ampliar os significados que estão sendo atribuídos às práticas avaliativas. Ao
praticar a prática avaliativa, o professor estará constatando as condições de
aprendizagem dos alunos, para, a partir daí, promover meios para sua recuperação,
e não para sua exclusão, se considerar a avaliação como um processo e não um
fim.
A avaliação gera reflexões sobre o que o aluno compreende e por que ele não
compreende. Então, avaliação não é apenas uma verificação de respostas
certas/erradas, não é um fim, mas uma ação mediadora. É dinâmica quando parte
da análise das respostas do aluno diante de situações desafiadoras, além de
possibilitar o acompanhamento do professor nas realizações das atividades.
O professor desafia o aluno questionando-o, faz com que ele construa novos
conhecimentos, para a autonomia de sua aprendizagem; não se trata de
transferência de informações, mas de uma interação para a construção de
conhecimentos. Então, a avaliação também deve formar parte desse processo de
interação entre professores e alunos, por meio do qual ambos aprendem sobre si
mesmos. Ao avaliar, o professor faz uma reflexão sobre a realidade do aluno e a
forma como ele constrói seu conhecimento; ao ser avaliado, o aluno toma
consciência de seu próprio processo de aprendizagem.
A avaliação tem indispensável participação no levantamento das dificuldades
específicas de cada aluno. É por ela que os professores sondam o nível de
aprendizagem dos mesmos, diagnosticando suas dificuldades.
A disciplina de Matemática ainda é vista por grande parte dos alunos como a
mais difícil e a responsável pela maior parte das reprovações na escola. Professores
com métodos avaliativos estruturados por meio de provas escritas, onde os erros
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cometidos servem apenas para contabilizar em descontos na pontuação final,
contribuem substancialmente para a permanência desse quadro, o que causa uma
distância entre o aluno e esse campo do saber. Deve-se favorecer as crianças e os
adolescentes, já em fase escolar, a oportunidade de vivenciar uma avaliação
Matemática capaz de contribuir de forma positiva e significativa para a sua
aprendizagem.
Atualmente, nos discursos, a avaliação tem sido chamada a participar da
realização de uma grande variedade de objetivos tais como:
Subsidiar o processo de ensino e aprendizagem;
Fornecer informações sobre os alunos, professores e escolas;
Atuar como respaldo da certificação e da seleção;
Orientar na elaboração de políticas educacionais (Prova Brasil) (BURIASCO,
2000).
Tem-se a avaliação exercendo uma função seletiva especialmente quando se
trata, por exemplo, do ensino de matemática.
Ela tem servido para selecionar, classificar, rotular, controlar e, através dela, o
professor decide, muitas vezes, a trajetória escolar do aluno.
Na maioria das vezes, os alunos são estimulados a se dedicarem a uma
memorização desarticulada e que, por sua falta de sentido, tende a desaparecer
logo após as sessões de avaliação do rendimento escolar. De sorte que um aluno é
muitas vezes capaz de resolver uma equação do 1º grau quando é solicitado
diretamente, porém não é capaz de utilizar essa mesma equação para resolver um
problema simples (BURIASCO, 2000).
As atuais práticas de avaliação da maioria das escolas tendem a promover a
competitividade e comparabilidade entre alunos, suas classes e até mesmo seus
professores. Lembro-me da resposta dada pela professora da 3ª série, quando a
questionei, preocupada por meu filho não conseguir resolver a maioria dos
problemas dados como tarefa: Não se preocupe, disse-me ela, não é só ele. A
classe inteira não consegue (BURIASCO, 2000).
No caso da Matemática, há uma crença na qual muitos acreditam, de que ou o
aluno acerta cada questão proposta ou erra, sem outra alternativa, baseada na
crença não menos aceita de que ela é o espaço privilegiado onde sempre é possível
contrastar o verdadeiro e o falso.
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Se olhar para a História da Matemática, essa proposição dificilmente se
mantém. Basta para isso, lembrar-se dos teoremas não demonstrados, da crise dos
fundamentos da Matemática, das geometrias não euclidianas. O rigor do raciocínio
matemático não conduz sempre a uma cômoda decisão entre a veracidade e a
falsidade (BURIASCO, 2000).
A avaliação é um questionar sobre o sentido do que é produzido na situação
observada. Sendo assim, a avaliação é carregada de subjetividade e, com isso, um
processo parcial e necessariamente inacabado. Por isso, é necessário passarmos
de uma preocupação centrada no produto (que se pretendia medir, pesar,...) para
uma preocupação centrada no processo de produção, para conhecê-lo e melhorá-lo,
e, finalmente, sobre os produtores (professores, alunos, escola, sistema) para ajudá-
los (BURIASCO, 2000).
De acordo com Perrenoud (1999), algumas características que toda avaliação
autêntica deveria respeitar são:
a avaliação não deve incluir senão tarefas contextualizadas;
a avaliação deve contribuir para que os estudantes desenvolvam mais
suas competências;
a tarefa e suas exigências são conhecidas antes da situação de
avaliação;
a correção somente considera erros importantes na ótica da
construção das competências;
os critérios de correção são determinados fazendo-se referência às
exigências cognitivas das competências visadas;
os critérios de correção são múltiplos e proporcionam várias
informações sobre as competências avaliadas;
as informações extraídas da avaliação devem considerar as aptidões
dos estudantes, seus conhecimentos anteriores e seu grau atual de
domínio das competências visadas;
os mesmos procedimentos de avaliação são exigidos a todos os
estudantes e o apoio necessário está disponível para aqueles que têm
dificuldades.
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Enquanto a escola der tanto peso à aquisição de conhecimentos
descontextualizados e tão pouco à transferência e à construção de competências,
toda avaliação correrá o risco de se transformar em um concurso de excelência.
A avaliação atua como um guia pedagógico cuja função é dar pistas ao
professor em relação ao processo didático já percorrido, ao desenvolvimento
cognitivo do aluno, às estratégias e decisões que devem ser mantidas ou revistas
(BURIASCO, 2000;LUCKESI, 1996).
Para entender a avaliação como parte integrante do processo de
aprendizagem e não como seu produto final, é necessário que o professor
compreenda as relações entre o que existe e o que se espera; entre um dado
comportamento e um comportamento alvo; entre uma realidade e um modelo ideal.
É preciso observar o cotidiano escolar sob uma nova perspectiva, em que as
diferenças encontradas provoquem outras práticas pedagógicas e não sejam
consideradas como ponto de estagnação. Torna-se quase impossível chegar a uma
avaliação desenvolvida para promover a aprendizagem sem que o professor esteja
totalmente empenhado em suas práticas pedagógicas.
A idéia de que a avaliação matemática precisa ser renovada não é algo
recente, porém a mudança vem ocorrendo lentamente, pois renovar a forma de
avaliar convida o docente a transformar a sua prática. No entanto, a maioria é
resistente a isso. Logo se faz necessário um trabalho criterioso de conscientização e
de transformação desses profissionais.
Os professores de Matemática, diante de práticas educativas inovadoras, não
devem mudar apenas os métodos de ensino que buscam uma maior interação entre
os envolvidos no processo ensino e aprendizagem, mas também a concepção de
avaliação.
Um professor disposto a capacitar-se permanentemente, mostrando-se
sensível à realidade, às mudanças e ao crescimento discente, faz com que aquela
prática avaliativa, que antes tinha o intuito de medir e classificar assuma novas
funções, pois é um meio de verificar em que medida os objetivos propostos, para o
processo ensino e aprendizagem, estão sendo atingidos.
As práticas avaliativas classificatórias e excludentes trazem, na maioria das
vezes, um resultado negativo e perturbador para o aluno. A avaliação matemática
deve ser entendida pelo professor como um conjunto de ações que o auxilia a refletir
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sobre as condições de aprendizagem, adequando e ajustando sua prática às
necessidades dos alunos, para que tenha um caráter de acompanhar as conquistas
e as dificuldades ao longo do processo de ensino e aprendizagem.
Segundo Buriasco (2008), em avaliação da aprendizagem escolar, quando é
proposto qualquer tipo de mudança na prática avaliativa, é comum ouvir de
professores que o melhor método de se avaliar um aluno ainda é por meio de provas
escritas e que o desempenho dos alunos está cada vez pior.
Mas, geralmente a culpa recai no sistema avaliativo que facilita a aprovação
do aluno de forma demasiada e no próprio aluno que não apresenta interesse na
construção de conhecimentos. Partindo dessas situações de natureza pessoal que
afetam nossa função profissional e até mesmo nossas ações pedagógicas em sala
de aula, uma vez que essa dissonância entre a teoria pautada em concepções
contemporâneas de avaliação e as ações dos professores que apresentam
resistências quanto a inovações educacionais, acabam interferindo na qualidade da
educação ofertada para os alunos. No dia a dia escolar e na prática avaliativa dos
professores os critérios avaliativos ainda não são pré - determinados entre professor
e alunos por meio de uma proposta pedagógica transparente.
De acordo com Vasconcellos (2005), ao trabalhar com uma prática avaliativa
processual, dialógica, compreensiva, o professor pode ver o reflexo daquilo que é
essencial em sua área de conhecimento.
Uma das tarefas que mais se realizam diariamente é a tarefa de avaliar,
somos avaliados e fazemos avaliações ao mesmo tempo. A avaliação realizada
cotidianamente caracteriza-se segundo Buriasco (2008), como informal, ou seja, é
quase sempre contínua sem forma e critérios explícitos. A avaliação formal exige
objetivos bem definidos, critérios selecionados e está direcionada para o processo
de ensino e de aprendizagem.
O estabelecimento de critérios de avaliação é fundamental no processo de
ensino e aprendizagem de Matemática quando a avaliação contrapõe-se de uma
concepção classificatória a uma concepção de avaliação mediadora, orientada por
uma ação pedagógica reflexiva, voltada ao conhecer, não apenas para
compreender, mas para promover ações que beneficiem alunos e instituições. Nesta
perspectiva,
9
a avaliação está predominantemente a serviço da ação, colocando o conhecimento obtido, pela observação ou investigação, a serviço da melhoria da situação avaliada. Observar, compreender, explicar uma situação não é avaliá-la; essas ações são apenas uma parte do processo. Para além da investigação e da interpretação d situação, a avaliação envolve necessariamente uma ação que promove a sua melhoria (HOFFMANN, 2001, p.17).
Neste sentido, os critérios de avaliação são elementos bastante significativos,
pois contribuem para o desenvolvimento da ação pedagógica reflexiva. À medida
que se tem clareza dos objetivos a serem alcançados e que esses são explicitados a
partir de critérios de avaliação estabelecidos é possível proceder a uma ação
educativa que favoreça o desenvolvimento intelectual dos alunos pela via da ação
reflexiva.
Para Buriasco, existem dois tipos de processos que são considerados na
avaliação formal: o somativo e o formativo. O primeiro caracteriza-se por acontecer
no final de etapas ou cursos e visa o resultado, julgamento de uma realidade e para
isso utiliza-se de comparações para expressar os resultados de forma quantitativa. A
avaliação formativa caracteriza-se por ser um processo que acontece não só aos
finais de etapas, mas sim, no decorrer de todo o programa (BURIASCO, 2008).
A função formativa da avaliação, numa perspectiva ampla, supõe uma ação
do avaliador em direção ao desenvolvimento e crescimento do avaliado. Diversos
autores têm enfocado a avaliação formativa como possibilidade de melhoria do
desempenho. O conceito de avaliação formativa se opõe à avaliação somativa
enfatizando a importância do processo e não do produto. O diálogo estabelecido
entre avaliador e avaliado favorece o desenvolvimento da cultura da avaliação
formativa posto que formativa está relacionada a movimento,” uma forma ativa”,
favorecendo o acompanhamento do avaliador sobre as dificuldades apresentadas
pelo professor, contribuindo para o processo de reflexão. Nessa perspectiva a
avaliação formativa assume função de regulação, integrando o propósito de
formação individualizada, na tentativa de articular as características dos professores
com as finalidades da Instituição. Vale ressaltar que a formação individualizada não
privilegia a ação individual, mas gera intervenções que consideram as necessidades
individuais, visando ao trabalho coletivo. A avaliação formativa, como afirma Hadji
(2001), contribui para que o sujeito avaliado reflita sobre si a partir da compreensão
sobre o próprio desempenho, possibilita o aperfeiçoamento de suas
intenções/ações, o que certamente terá reflexos na melhoria da qualidade de ensino.
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No cotidiano escolar, a avaliação tem sido empregada de modo reducionista,
utilizada quase sempre para a classificação de estudantes, favorecendo a inclusão
de alguns estudantes e a exclusão de outros. Essa é uma função classificatória que
é reflexo de uma sociedade que valoriza a competição. Nesta perspectiva, a
avaliação é tomada como “o braço autoritário do professor que mais atinge o
estudante” (BURIASCO, 2002a, p.1).
A autora ainda aponta que “nas escolas, na maioria das vezes, a avaliação
tem sido usada apenas para dar nota ao estudante e como tal, parece ter se
transformado em instrumento para disciplinar a turma” (BURIASCO, 2002a, p.1).
Usualmente, utiliza-se a avaliação para controlar e punir os estudantes. Ela assume
a função classificatória e se desvia da função formativa.
Compreender a avaliação como uma forma de comunicação é um caminho
para aproximar seu conceito da prática escolar, visto que, ora o aluno, ora o
professor são emissores de mensagens, ora receptores destas que decodificadas de
forma dialógica torna fecundo e promissor o processo de aprendizagem. Isto porque
nestas mensagens estão contidas informações que permitem ao professor enquanto
mediador, tomar decisões e fazer algo para intervir e melhorar a aprendizagem de
cada aluno e do próprio ensino. Uma ação que exige do avaliador definir: os
critérios, os fins principais, os instrumentos, as funções e posterior estratégia a ser
adotada mediante aplicação de uma avaliação.
No Estado do Paraná, com a publicação oficial das Diretrizes Curriculares da
Educação Básica de Matemática (PARANÁ, 2009, p.38), a matemática é apontada
como parte do patrimônio cultural da humanidade por meio da história e a cultura da
mesma, consideradas fundamentais para prover seu ensino de significatividade. A
necessidade de “compreender a Matemática desde suas origens até sua
constituição como campo científico e como disciplina no currículo escolar brasileiro
para ampliar a discussão acerca dessas duas dimensões”
Tomar a avaliação no ambiente escolar como orientadora da prática
pedagógica significa compreendê-la como um procedimento para recolher
informações que propiciam a reflexão a respeito da atuação de aprendizagem em
que se encontram os estudantes e os professores durante todo o processo.
Empregada de modo contínuo, ela pode subsidiar as etapas da ação pedagógica,
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assim como fornecer elementos que indiquem a continuidade ou não dessas
mesmas etapas e procedimentos (BURIASCO, 2008).
Compromissados com uma educação de qualidade para todos os alunos, é
notório que precisamos buscar especificamente mudanças em nível de prática
pedagógica no processo de ensino e aprendizagem enfocando a perspectiva de uma
mudança na prática avaliativa escolar do ensino fundamental, compreendendo-a
como vinculada, integrada ao processo de ensino e aprendizagem.
Dentre os encaminhamentos para compreender a prática da avaliação da
aprendizagem recorremos à Dermeval Saviani (2005). Segundo esse autor,
considerado o pai da pedagogia histórico-crítica, “a escola existe para propiciar a
aquisição dos instrumentos que possibilitam o acesso ao saber elaborado (ciência),
bem como o próprio acesso aos rudimentos desse saber” (SAVIANI, 2005, p.15).
Então, o princípio educativo/pedagógico do pensamento de Saviani (2005),
para a educação é a apropriação do saber historicamente acumulado: “o trabalho
educativo é o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular,
a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens”
(SAVIANI, 2005, p.13).
Esta proposta educativa, num enfoque dialético, valoriza os saberes culturais,
compreendidos de forma dinâmica, como elemento central da ação pedagógica, cuja
estratégia política é a instrumentalização dos sujeitos singulares para a prática social
transformadora.
De acordo com Luckesi (2005), mesmo sendo óbvio que o objetivo da ação
educativa é que o aluno aprenda e se desenvolva, individual e coletivamente. Muitas
evidências demonstram que nem sempre esse objetivo tem sido perseguido pela
conduta individual de alguns professores. Embora, apesar desta constatação,
atualmente já podemos vislumbrar um maior interesse na melhoria das políticas
públicas educacionais e na ação dos professores na tentativa de consolidar esse
objetivo principal da ação educativa.
Sobre essas questões Vasconcellos (2005), diz que pesquisas pedagógicas
demonstram que preconceitos artificiais dos professores “esses alunos são ótimos –
esses alunos são péssimos” agem de modo determinante sobre o comportamento
do aluno. O autor enfatiza que a condição essencial para que um aluno, para que
uma classe tenha bons resultados é que o professor tenha confiança na capacidade
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de todos. Continua dizendo que esta seria a reforma mais econômica da escola com
que se poderia sonhar. Mas também a mais difícil de ser aplicada na costumeira
forma de avaliar a aprendizagem.
Faz-se necessário analisar as teorias estudadas e as relações do professor
de Matemática com a sua prática avaliativa. Apresenta-se com um tema educacional
a ser estudado de forma inesgotável pelo dinamismo das relações sociais, pela
própria evolução dos conceitos.
Certa é a evidente dicotomia entre a teoria e a prática. É visível que a
mudança, de fato, no processo avaliativo vem acontecendo de forma bastante lenta.
O contexto escolar atual, de maneira geral, tem tido dificuldades em transformar
suas práticas avaliativas e, para os professores de Matemática ativos há muito
tempo, ou mesmo para os novatos, o assunto torna-se um pouco mais complexo,
como nos mostra Valente (2008, p. 94):
As práticas avaliativas de professores de matemática, interpretadas na relação com a especificidade desse campo do saber, sinalizam a necessidade de continuidade de pesquisas que as tomem não de forma isolada, mas como objeto de estudo inserido no processo de ensino e aprendizagem, tanto de alunos como de professores, nos vários níveis de ensino.
Para analisar a prática avaliativa da aprendizagem, reporta-se aos aspectos
históricos da avaliação escolar e buscar nos teóricos especializados alguns fatos
marcantes.
De acordo com Luckesi (2005), as atenções dos pais, sistemas de ensino,
profissionais da educação, professores e alunos estão centradas na promoção dos
estudantes, ou seja, a predominância permanece nas notas e não importa muito
como elas foram obtidas nem por quais caminhos, como se nada tivessem a ver com
o percurso ativo do processo de ensino e aprendizagem.
Essas práticas já estavam inscritas nas pedagogias dos Séculos XVI e XVII,
no processo de emergência e cristalização da sociedade burguesa, e prosseguem
até hoje na escola (LUCKESI, 2005).
Destaca ainda a pedagogia comeniana, onde Comênio insiste na atenção
especial à educação como centro do interesse da ação do professor, mas não
prescinde do uso de exames como meio de estimular os estudantes ao trabalho
intelectual da aprendizagem. Cita que nesta pedagogia o medo é um excelente fator
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para manter a atenção dos alunos e que o professor pode e deve usar esse meio
para manter a atenção os alunos atentos às atividades escolares, assim aprenderão
com muita facilidade, sem fadiga e com economia de tempo. Enfatiza o mesmo autor
que ainda hoje sofremos a influência da sociedade burguesa, por estarmos
mergulhados nos processos econômicos, sociais e políticos dessa sociedade da
qual emergiu e se cristalizou a pedagogia tradicional traduzindo seus procedimentos:
mecanismos de controle, seletividade escolar e seus processos de formação das
personalidades dos alunos, cujo medo e o fetiche são imprescindíveis.
Recorre-se nesse sentido às considerações de Vasconcellos (2005) que
aponta a mudança do papel da escola a partir do capitalismo em função da
formação da mão de obra para a indústria. Tal fato faz com que a escola padeça de
uma ambiguidade na sua função: de um lado provê os futuros trabalhadores de
conhecimentos necessários a sua prática profissional, servindo principalmente de
fator disciplinador; de outro, ao fornecer cultura, forma pessoas mais conscientes e
questionadoras.
Complementa explicando que, com a ascensão da burguesia ao poder, a
grande finalidade da escola foi a de disciplinamento, visando a formação do
operário, trabalhador obediente, subordinado às necessidades da indústria. Ao
contrário dos discursos oficiais, o objetivo da escola não era a instrução, porém
todos a frequentavam visando à ascensão social, a igualdade de oportunidades. Em
meio a tantos interesses de ordem capitalista, o valor da escola passa a não estar
nela mesma, mas sim na recompensa que, supostamente, haveria depois.
Mediante a reflexão de todos os aspectos citados, propõe que, se todos
chegassem lá, o mito se desmontaria, pois não haveria como recompensar a todos
os alunos. Passa a acontecer então a reprovação, como decorrência natural das
diferenças individuais, responsabilizando cada sujeito pelo seu fracasso, uma vez
que outros conseguiam. De acordo com o autor, na organização da sociedade
capitalista, podemos encontrar reflexos da avaliação escolar colaborando com o
processo de dominação mostrando-nos que a expansão da reprovação acompanha
a expansão da escola para o povo, no final do século XVIII, sendo sua gênese ligada
a objetivos que não são pedagógicos, mas sim político-ideológicos.
No tocante ao exposto, acredita-se que estes fatos encontram-se presentes
nas instituições escolares ainda hoje sustentando as ações pedagógicas em sala de
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aula como elementos constitutivos do saber docente, uma vez que estes saberes
provêm de nossa formação acadêmico-profissional e até mesmo das sugestões dos
nossos pares, ou seja, dos professores mais experientes.
Acredita-se que avaliar constitui-se como uma prática cotidiana diversificada
de função reflexiva, interativa, motivadora, reguladora, investigativa e indispensável
ao processo ensino e de aprendizagem, portanto deve assumir um papel importante
no desenvolvimento profissional, durante e depois de sua formação. Desenvolver
uma atitude crítico-reflexiva capaz de modificar a prática avaliativa do professor que
já está em nossas salas de aula é essencial. Perceber a avaliação em outra
perspectiva que não a tradicional, focando em aspectos que até então eram
desconsiderados, assim como ampliar os significados que estão sendo atribuídos às
práticas avaliativas são desafios propostos a esses professores.
As Diretrizes Curriculares Da Educação Básica do Estado do Paraná orientam
que “a avaliação do processo ensino-aprendizagem, entendida como questão
metodológica, de responsabilidade do professor, é determinada pela perspectiva de
investigar para intervir” (PARANA, 2009).
Para tanto, compreende-se que tudo o que envolve a atividade docente como,
seleção de conteúdos, encaminhamentos metodológicos, critérios de avaliação,
devem ser clarificados para permitir a interpretação da intencionalidade do ensino
para todos os interessados, ou seja, coletivo de profissionais da escola, pais, alunos
e sociedade.
Está na hora do professor, junto com seus alunos, conquistar sua autonomia
pedagógica com o respaldo das concepções teóricas atualizadas colocando-as a
serviço da prática educacional.
REFERÊNCIAS
BURIASCO, R. L. C. Avaliação e educação matemática / Regina Luzia Corio de
Buriasco, org. – Recife; SBEM, 2008.
HADJI, C. Avaliação desmistificada. Porto Alegre: ARTEMED, 2001.Tradução :
Patrícia C. Ramos.
15
LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e
proposições. 17. Ed. São Paulo: Cortez, 2005.
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da Rede
Pública de Educação Básica do Estado do Paraná. Curitiba, 2009.
SAVIANI, D. A pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. 9 ed.
Campinas: Autores Associados, 2005.
VALENTE, Wagner Rodrigues (org). Avaliação em Matemática: História e
Perspectivas Atuais. Campinas, SP: Papirus, 2008.
VASCONCELLOS, Celso. Avaliação: concepção dialética libertadora do processo
de avaliação escolar. 15. Ed. São Paulo: Libertad, 2005.