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EIXO TEMÁTICO 11: PROBLEMAS SOCIOAMBIENTAIS URBANOS E RURAIS
TRANSFORMAÇÕES DO ESPAÇO: O CASO DA BARRAGEM ARAÇAGI NO ESTADO DA PARAÍBA
Daniel Vieira de Souza ([email protected]) Acadêmico do curso de geografia da Universidade Estadual da Paraíba-UEPB.
Leomar Mendonça Lima ([email protected]) Acadêmico do curso de geografia da Universidade Estadual da Paraíba-UEPB.
Sebastiana Santos do Nascimento ([email protected]) Acadêmica do curso de geografia da Universidade Estadual da Paraíba-GERN/PIBIC/UEPB.
Izaias Severino da Silva. Acadêmico do curso de geografia da Universidade Estadual da Paraíba-UEPB
Jose Jakson Amancio Alves ([email protected]) Professor do curso de geografia da UEPB. Doutor em Recursos Naturais. Pesquisador líder do grupo de Estudos em Recursos Naturais-GERN.
Resumo
A implantação de barragens, mesmo que projetadas, dentro de padrões modernos, produz muitos conflitos. Sendo assim faz-se necessário um bom planejamento, para que a construção desse sistema não venha prejudicar não só a qualidade da água, mas também as comunidades locais. Objetivou-se neste trabalho apresentar uma análise das transformações sócios ambientais decorrentes da construção da Barragem Araçagi, situada no rio araçagi afluente da bacia do rio Mamanguape, no estado da Paraíba. Propõe-se ainda, alternativas para minimização dos impactos negativos atuantes naquela área. Na realização deste trabalho foram utilizados os seguintes procedimentos metodológicos: análise bibliográfica e informações técnicas obtidas junto aos órgãos públicos municipais e estaduais vinculados ao meio ambiente; pesquisa de campo entrevista com a população realocada. Dos problemas identificados devido à construção da barragem de Araçagi, um dos primeiros aspectos a ser levado em consideração é a inundação causada pelo barramento do rio. O barramento inundou uma enorme área provocando assim uma mudança muito brusca de um ecossistema terrestre para aquático, além de ter provocado uma lentidão no curso de suas águas, tornando-as paradas; descaracterizou vários locais onde predominava diversos tipos de atividades agrícolas e pecuárias, além de ter prejudicado a população ribeirinha. O barramento também causou a inundação de uma área com afogamento da vegetação de árvores frutíferas e nativas. Apesar de ter havido uma limpeza prévia para a retirada da vegetação que havia no local, pode-se perceber que no percurso do rio, ainda encontra-se boa parte da vegetação, a qual poderá provocar, futuramente, o processo de “Eutrofização”. Diante do exposto concluí-se que, todos os recursos naturais devem ser utilizados seguindo um planejamento sério e comprometido com a qualidade ambiental e social. Dentre esses recursos podemos destacar as bacias hidrográficas que são áreas cuja intervenção é das mais importantes e complexos, podendo comprometer a bacia como um todo.
Palavras-chaves:. Barragem Araçagi – Impactos - Planejamento – Araçagi-PB
ABSTRACT
TRANSFORMATIONS OF SPACE: THE CASE OF THE STATE OF THE DAM ARAÇAGI PARAÍBA
The establishment of dams, even if designed within modern, produces many conflicts. Therefore it is necessary to good planning for the construction of this system might not only impair water quality, but also local communities. This study aimed to provide an analysis of the changes arising from environmental partners Dam Araçagi building, situated on the river Araçagi tributary of the river basin Mamanguape in the state of Paraíba. It is further proposed, alternatives for minimizing the negative impacts working in that area. In this work we used the following methodology: literature review and technical information obtained from the municipal and state government agencies linked to the environment, field research interviews with the people relocated. Of problems due to construction of the dam of Araçagi, one of the first aspects to be taken into consideration is caused by the flooding of the river bus. The bus flooded a huge area thus causing a very sudden change from a terrestrial to aquatic ecosystem, and have caused a slowdown in the course of its waters, making them up; weakened several places dominated various types of agricultural activities and livestock, as well have damaged the riverside population. The bus also caused the flooding of an area with drowning of vegetation and native trees. Although there was cleaning prior to the removal of vegetation that was in place, you can see that in the course of the river, is still much of the vegetation, which may cause the future, the process of "eutrophication". Considering the foregoing it is concluded that all natural resources should be used in planning a serious and committed to environmental quality and social. Among these features we can highlight the watersheds are areas where action is the most important and complex and can compromise the basin as a whole. Keywords: Dam Araçagi - Impacts - Planning - Araçagi-PB
INTRODUÇÃO
Para Cunha e Guerra (1998) ambiente é todo espaço onde há o desenvolvimento de vida vegetal
e animal. O processo de ocupação desse espaço é dinâmico e a intensificação do grau de alteração
deste, depende da intensidade das atividades humanas, tendo em vista o antropismo como agente
propulsor no processo de degradação ambiental, vale salientar que existem fatores naturais que tornam
as terras degradadas.
O espaço geográfico segundo Santos (1997) é um conjunto indissociável de sistemas de objetos e
sistemas de ações, sua definição varia com as épocas, isto é, com a natureza dos objetos e a natureza
das ações presentes em cada momento histórico. Suertegaray (2001) o define como sendo a
coexistência das formas herdadas (de outra funcionalidade), reconstruídas sob uma nova organização
com formas novas em construção.
O conceito de espaço geográfico foi concebido de diferentes maneiras, ao longo da História, pois
conforme observa Ruy Moreira cada tempo é a sua forma de espaço, esse espaço surge na história por
meio da organização territorial dada pelo homem.
Sobre o conceito de espaço geográfico Raffestin (1993), o entende como sendo um substrato, um
palco, preexistente ao território. Em sua concepção, o território é tratado, principalmente, com uma
ênfase político-administrativa, espaço físico onde se localiza uma nação; um espaço onde se delimita
uma ordem jurídica e política; um espaço medido e marcado pela projeção do trabalho humano com
suas linhas, limites e fronteiras. Manuel Correia de Andrade retrata o território com uma abordagem
profundamente política e econômica de ocupação do espaço, referindo-se tanto ao poder político
estatal como ao poder econômico das grandes empresas na constituição do território.
Por sua vez, Milton Santos caracteriza o território com uma abordagem política, considerando-o
como “o nome político para o espaço de um país”. O espaço, muito mais amplo, seria a totalidade,
englobando a configuração territorial, a paisagem e a sociedade. Dentre tantos autores que abordam
essa categoria de análise HAESBAERT (2002), SOUZA (2001), observa-se que cada um defende um
ponto de vista acerca desse conceito, entretanto há um consenso em comum no que tange a delimitação
do território por e a partir das relações de poder.
Em junho de 1992 reuniram-se no Rio mais de 35 mil pessoas, para participar da conferência da
ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED); a convenção sobre a proteção da
biodiversidade teve alguns pontos fracos; dentre os quais se destaca a falta da assinatura dos Estados
Unidos, mas não se pode omitir o fato de que na ocasião, a interligação entre o desenvolvimento sócio-
econômico e as transformações no meio ambiente, durante décadas ignoradas, entrou no discurso
oficial da maioria dos governos do mundo.
Certos processos ambientais, como lixiviação, erosão movimentos de massa e cheia, podem
ocorrer com ou sem a intervenção humana (CUNHA E GUERRA, 1966.).
A degradação do meio ambiente ocorre tanto em áreas urbanas quanto em áreas rurais. Nas
principais é mais visível por meio do deslocamento e corte das encostas, para a construção de casas,
nestes locais as condições naturais tais como à declividade das encostas, e a maior facilidade de
escoamento das águas, aceleram os processos de degradação ambiental que se dá pela intervenção
humana naquele espaço. Já no caso das áreas rurais esses problemas ambientais são decorrentes,
sobretudo do mau uso da terra associada à mecanização intensa e a monocultura. De modo geral, há
vários fatores que ocasionam a degradação do ambiente, mas é o manejo inadequado do solo que
constitui a principal causa conforme pode ser observado nos estudos realizados por Morgan (1986),
Blaikie e Brookfield (1987) e Gerrard (1990).
A industrialização trouxe consigo benefícios, no que tange ao desenvolvimento econômico, mas
sem relação ao meio ambiente. Observou-se em todo o mundo o reflexo da degradação; poluição
industrial, exploração dos recursos naturais, deterioração das condições ambientais e inevitavelmente
problemas como efeito estufa e aquecimento global, chuva ácida e aparecimento de buracos na camada
de ozônio. A intensificação dos processos de degradação e suas respectivas conseqüências passaram a
ser motivos de preocupação a nível mundial, o que resultou na 1ª Conferência das Nações Unidas
sobre o Meio Ambiente realizado em junho de 1972, em Estocolmo. Apesar do reconhecimento da
crise ecológica esta prosseguiu cada vez mais avassaladora e, em 1992 foi realizada uma 2ª
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiental e Desenvolvimento (ECO-92), no Rio de
Janeiro onde foram discutidas inúmeras medidas para amenizar a crise ambiental e foram realizados
acordos entre países, visando ao desenvolvimento sustentável.
O presente estudo trata-se de um levantamento das transformações sócios e ambientais,
ocasionada pela construção da barragem Araçagi; objetiva-se identificar essas transformações e
mostrar os danos causados direta e indiretamente ao meio ambiente. Propor um melhor planejamento
que possa evitar ações impactantes, uma vez que não se pode negar a necessidade de tais obras.
A construção de uma barragem traz várias modificações para o meio ambiente, gerando um
grande impacto sócio ambiental na região onde é construída e na região que é atingida, pois o
barramento de um rio desordena uma transformação para o habitat daquela região, a barragem foi
construída entre os municípios de Araçagi e Itapororoca, no médio alto curso do Rio Mamanguape,
distante cerca de 80 km da capital João Pessoa, com capacidade de armazenar 63 milhões de m² de
água. Essa área era ocupada por pequenos povoados, cerca de 10 povoados, entre eles o sítio Tainha e
Mulunguzinho, esses povoados todos pertencentes ao município de Araçagi, localizado na região leste
e sul deste município. Tais comunidades totalizando cerca de 270 famílias composta de pequenos
agricultores e criadores que após o barramento tiveram suas casas, plantações e pastos inundados, por
isso foram realocados em áreas mais altas construídas especialmente para as famílias. A obra foi
elaborada pelo governo do estado da Paraíba visando o abastecimento de nove municípios paraibanos
localizado na mesorregião do agreste e da mata paraibana, bem como para os sistemas de irrigação
locais e piscicultura.
O espelho d’água é de 847 hectares, com uma vazão máxima de 2000m³/s, o sangradouro tem
uma largura de 250 m para inundações em locais não planejados, mais de 1200 hectares foram
indenizados para a construção dessa barragem.
A adutora que esta sendo construída terá uma extensão de 86 km, beneficiando cerca de 84 mil
habitantes das mesorregiões citada, e João Pessoa em caso de grandes secas.(INTERPA).
A área inundada da barragem é de 2.322,5 km², onde o sitio Tainha detém 302 hectares, sitio
Mulunguzinho 260 hectares.
A obra foi estimada em R$ 12.890.960,57 destinados a construção da barragem. Na Agrovila
Tainha que tem 160 hectares, forma construída cerca de 130 casas para população estimada em cerca
de 500 pessoas (Estimativa da Secretaria de Saúde – Araçagi); já a Agrovila Mulunguzinho tem 130
hectares onde foram construídas cerca de 130 casas para uma população de 600 habitantes. (Estimativa
da Secretaria de Saúde – Araçagi).
Materiais e Métodos
Como essa pesquisa é relativa ao estado da Paraíba (Figura 1), geograficamente se situa entre os
meridianos de 34° 45’ 54” e 38º 45’ 45” a oeste de Greenwich,e os paralelos de 6° 02’ 12” e 8º 19’ 18”
de latitude sul,no Nordeste oriental do Brasil,limitando-se ao norte com o Estado do Rio Grande do
Norte,ao sul com o Estado de Pernambuco,ao oeste com o Ceará e ao leste com o oceano Atlântico. A
maior extensão é na direção leste-oeste,com uma distancia angular de 3° 59’ 51” e uma distância linear
de 443 km. A distância angular na direção norte-sul é de 2° 17’ 06” medindo linearmente 253 km de
extensão. A área do Estado é de 56.372 km² ficando situado praticamente no que se convenciona
chamar de “Polígono das Secas” do qual a Paraíba ao nível de Nordeste ocupa 5,88%,ou seja 97,78%
do seu território,e apenas 2,22% (1.240,18 km²) ficam nas áreas úmidas e sub-úmidas.
.
Na realização deste trabalho foram utilizados os seguintes procedimentos metodológicos: análise
bibliográfica e informações técnicas obtidas junto aos órgãos públicos municipais e estaduais
vinculados ao meio ambiente; pesquisa de campo entrevista com a população realocada e registro
fotográfico.
IMPLICAÇÕES SÓCIAS AMBIENTAIS
A implantação de sistemas de água apresenta em si benefícios significativos. Porém, alguns
critérios durante seu planejamento devem ser levados em consideração, para que este seu não venha
provocar algum impacto irreversível na área. Segundo o BNB (1999), a execução das obras de
abastecimento de água pode provocar diversos impactos negativos, tais como:
- Degradação da flora e da fauna em função da vegetação natural do local;
- Geração de material de aterro (camadas de solo) e perda de solo agricultável;
- Geração de poeira e ruídos decorrentes das obras;
- Extinção de ecossistemas e perda de biodiversidade;
- Alteração de fluxo de veículos e tráfego no local durante a execução de barragens para
armazenamento de água e;
- Inundações de grandes ares por ocasião da construção de barragens para armazenamento de água.
Além desses podem citar-se outros:
- Modificações no balanço hídrico e impacto sobre o microclima regional
- A falta de espaço para criação de galinhas, patos, guinés, etc. antes alguns moradores criavam em
seus terrenos e com a retirada para outras áreas, eles ficaram sem local para criação;
- A perda de certos costumes, hábitos que faziam parte das atividades juninas, das comemorações de
final de ano, como das igrejas de Tainha com mais de 100 anos e de Mulunguzinho, etc.
Foto-1 Os danos sócios ambientais decorrentes da construção da barragem Araçagi.
Fonte:Arquivo pessoal.
Nesta entrevista realizada com moradores, foi constatada também a satisfação de alguns em
relação à:
-Melhor infra-estrutura como ruas calçadas.
- Acesso melhor para as cidades a exemplo de João Pessoa, Araçagi, e Guarabira;
- Melhor acesso ao comercio, hospitais, postos de saúde, escola;
- Eletrificação de todas as residências com familiares que moram em lugares distantes, através de
telefones implantados na comunidade.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A pesquisa constata que houve a falta de um bom planejamento dessa obra, pois grandes áreas
onde se previam inundação vêm sendo inundadas. Este problema pode ser explicado devido à
construção da barragem, pois houve um aprofundamento no espelho d’água da barragem, o que
impossibilitou a saída de grande parte de suas águas. Com isso, em vez do rio continuar seu percurso
normal, ele esta voltando. Para evitar esta situação os responsáveis pela obra realizaram um aumento
de 150 metros, a largura do sangradouro, para haver uma maior vazão de suas águas assim inundações
em locais não previstos.
O problema é preocupante e tão grave, que a maioria da população esta temida com relação a
este fato, que pode chegar a inundar, em épocas de inverno, áreas da própria cidade de Araçagi, tais
como os bairros Castelo Branco e São Sebastião.
Para haver uma vazão adequada à jusante do reservatório que propiciasse a continuidade das
atividades usuárias de água existente nessa área, os responsáveis principalmente para o abastecimento
púbico e piscicultura, como é o caso da barragem araçagi.
Outro problema é a agricultura que há no local, pois na lavoura usam-se pesticidas do tipo
“Folidol e Folisuper” (utilizado para evitar a proliferação de pragas) e herbicidas do tipo “Diurno”
(utilizado para evitar o crescimento de matas), os quais produzem grandes impactos na região. Com a
introdução do produto à lavoura, grande parte escoa para o espelho d’água, provocando o
envenenamento da fauna aquática e o comportamento da água, a qual se consumida diretamente pelo
organismo humano, poderá provocar grande prejuízo a saúde.
As lavouras introduzidas no local são de abacaxi, em larga escala e pequenas plantações de
bananeiras e de mamão. Com a introdução de agrotóxicos, toda vez que chove na área, boa parte desse
produto escoa juntamente com a água para o espelho d’água, afetando assim a qualidade da água, os
animais silvestres e os peixes que vivem no rio e na barragem.
Foto 2: Plantação de abacaxi as margens da barragem Araçagi
Fonte: Arquivo pessoal.
Para diminuir essa situação no local, os responsáveis pela obra deveriam retirar o mais rápido
possível, a lavoura existente ao longo da barragem e fazer o reflorestamento do entorno, impedindo
assim o processo de lixiviação que é a lavagem do solo pelas águas da chuva.
O desmatamento ocorrido nas margens do rio barrado provocou a erosão (desgaste do solo) nas
margens do recurso hídrico e como conseqüência possibilitou um aumento acentuado do material
carregado pelas águas, provocando assim um assoreamento no fundo de vale.
Para conseguir controlar ou reduzir a erosão seriam necessárias medidas preventivas, tais como:
manutenção da área marginal aos reservatórios e nos terrenos mais sujeitos a erosão, preservação dos
caminhos naturais de água, programas de estimulo aos proprietários das áreas marginais, orientando-os
a desenvolverem atividades florestais e utilizarem racionalmente o solo agrícola e de pastagens, o que
infelizmente não esta acontecendo no local.
De todos os problemas ambientais apresentados neste capitulo, podemos identificar outro, que
não é decorrente da construção da citada barragem, mas que pode influenciar a qualidade do
abastecimento de água para determinados usos à população: dos afluentes que formam a bacia do rio
Maranguape, vários estão poluídos, em virtude do alto índice em DBO (demanda bioquímica de
oxigênio) e DQO (demanda química de oxigênio), os quais são apresentados devido a esgotos e
detritos jogados no seu percurso. A exemplo pode-se citar: os rios Guarabira e Araçagi, afluentes da
citada bacia e que alimentarão a barragem ininterruptamente.
Entretanto, o que parece difícil de ser entendido pela nossa civilização, é o fato de não se tratar
apenas de um “pedaço de terra” que poderia ser facilmente substituído por outro ou pago em dinheiro;
a questão toda é a da diluição ou eliminação de uma cultura... (BRANCO, 1989, pág.91)
A implantação de uma barragem pode gerar sérias implicações, pois pode interromper rodovias,
estradas rurais e até mesmo a cidade, onde está sendo construída. Pode gerar também desvantagens
socioeconômicas e culturais para os habitantes ribeirinhos e para toda a região. O que é muito bem
caracterizado devido aos deslocamentos das comunidades que habitavam na área, consistindo assim
em um problema de difícil resolução uma vez que altera os valores culturais e históricos dos mesmos.
Os problemas sociais e econômicos decorrentes dessa obra podem ser identificados pelos
próprios habitantes da região atingida, os quais, como já citamos tiveram que se deslocar para outras
áreas, modificando assim totalmente os seus costumes. A entrevista realizada com as famílias das
comunidades permite destacar algumas implicações econômicas, sociais e culturais ocorridos às
comunidades, em virtude da construção da barragem da Araçagi, tais como:
- A retirada das comunidades que moravam no local, ou seja, nos sítios, onde de tudo produzia
um pouco para sua sobrevivência;
- A falta de terras para o plantio, que antes pertenciam os próprios agricultores, passando então
para o governo após ter sido desapropriada, logo tendo que alugarem alguns lotes de terras para poder
plantar e cuidar do gado;
- Descumprimento na entrega das indenizações: apenas alguns moradores receberam, enquanto
outros depois cinco anos ainda estão esperando a boa vontade do governo;
- Aumento do número de pessoas desempregadas, pois antes as mesmas viviam da agricultura e
da pecuária. A atualmente, sem suas terras para o cultivo, os moradores, isto é, alguns deles estão
vivendo basicamente de programas assistências do governo federal outros fazem pequenos plantios em
terrenos não pertencentes a eles;
- Valor da indenização paga aos trabalhadores rurais residentes na área alagada geralmente
inferior ao preço real;
- Deslocamento compulsório da população para terras menos produtivas, gerando
empobrecimento e êxodo rural e aumentos as periferias das grandes cidades;
- Destruição do patrimônio cultural que constituía a referencia para a vida social e;
- Alteração das vias terrestre de comunicação.
A barragem de Araçagi, apesar dos responsáveis afirmarem de terem sido tomadas às diversas
medidas para evitar maiores impactos, é facilmente visível a descaracterização do ambiente provocado
por tal obra.
Dos impactos relacionados acima podemos destacar, a degradação da flora, geração de material
de aterro, valor de indenização paga aos trabalhadores residentes na área alagada inferior ao preço real,
a destruição do patrimônio cultural e religioso, deslocamento da população para terras menos
produtivas e a inundação de grandes áreas.
O maior impacto ambiental que ocorreu na formação de uma represa, (...) não se
deve somente a redução da velocidade das águas do rio. Mais sim a inundação de
uma grande área com afogamento da vegetação ai existente. (BRANCO, 1989.
P.88)
Dos problemas identificados devido à construção da barragem de Araçagi, um dos primeiros
aspectos a ser levado a consideração é a inundação causada pelo barramento do rio. O barramento
inundou uma enorme provocando assim uma mudança muito brusca de um ecossistema terrestre para
aquático, além de ter provocado uma lentidão no curso de suas águas, tornando-as paradas,
descaracterizou vários locais onde predominava diversos tipos de atividades agrícolas e pecuárias,
além de ter prejudicado a população ribeirinha. O barramento também causou a inundação de uma área
com afogamento da vegetação, vegetação composta de arvores frutífera e arvores nativa.
Foto-2 Visualização da barragem Araçagi.
Fonte: arquivo pessoal
Apesar de ter havido uma limpeza previa para a retirada da vegetação que havia no local, pode-
se perceber que no percurso do rio, ainda encontra-se boa parte da vegetação, a qual poderá provocar,
futuramente, o processo de “Eutrofização”. Esse processo é iniciado devido ao grande crescimento e
acumulo de algas e plantas superiores, que logo consome o oxigênio dissolvo na água, tornando-a
imprópria para o consumo dificultando o aproveitamento do recurso.
Na tentativa de racionar o uso e o manejo dos recursos naturais renováveis, vêm sendo
desenvolvidos na década de 80, projetos de manejo em baças hidrografias como a implantação de
barragens.
A implantação de barragem mesmo que projetados, dentro de padrões modernos produz muitos
conflitos. Sendo assim faz-se necessário um bom planejamento, para que a construção desses sistemas
não venha prejudicar não só a qualidade da água, mas também as comunidades locais, entre outras;
O quadro atual decorrente da construção de barragem de Araçagi acarreta várias complicações
socioambientais, que nos permite, enquanto estudiosos da área ambiental, enumere determinadas
implicações.
A barragem de Araçagi trouxe modificações para toda região no âmbito econômico, social e
ambiental. Houve também alguns benefícios trazidos como os citados já anteriormente, porém esses
benefícios trazidos são mínimos diante dos problemas causados pela construção da mesma. Isto
porque, como já dissemos no capitulo anterior, suas implantações são muitas, tais como os impactos
sociais e principalmente ambientais decorrente da mesma. Assim como:
-Alteração do balanço hídrico;
-Alteração da fauna e flora aquática e terrestre;
-Modificação dói curso d’água;
-Realocação da população;
-Desaparecimento de prédios culturais.
Diante dos problemas acima citados, podemos nos questionar: será que vale a pena alterar todo
um processo natural e social, em busca de um desenvolvimento que uma barragem poderá trazer para a
região?
Sendo assim podemos perceber o quanto um processo de barramento é complexo e qualquer
falha poderá prejudicar o meio ambiente.
Pela obra deveriam ter feito um adequado planejamento de qualidades de água proveniente de
jusante, para que este problema não viesse a ocorrer na área.
É preciso a implantação de programas de proteção ambiental das mananciais, mediante a
recuperação e manutenção das matas ciliares, reflorestamento no entorno da barragem, conservação
dos solos e planejamento territorial.
- Implantação de programas de conservação da flora e fauna no entorno da barragem;
- Envolvimento da comunidade para conhecimento da obra e seus impactos ambientais potencial;
- Controle e racionamento do uso de agrotóxico na bacia hidrográfica;
- Controle de crescimento de vegetação aquática;
Com relação às comunidades, faz-se necessário:
- Reorganizar, reativar o desenvolvimento da economia local e regional;
- Reintegração local do contingente, ou parte dele;
- Implantação de programas de comunicação social para esclarecimento à população;
- Reassentamento e adequação de atividades produtivas;
- Salvamento do patrimônio cultural.
CONCLUSÕES
Em 1987, durante o encontro da comissão mundial sobra o meio ambiente e desenvolvimento
(Noruega), surgiu o termo Desenvolvimento Sustentável, definido como o “processo de mudança no
qual a exploração dos recursos naturais, a orientação dos investimentos e do desenvolvimento
tecnológico e a mudança institucional estão em harmonia e devem melhorar o potencial existente e o
futuro, para satisfazer as necessidades humanas atuais e futuros.”
Partindo dessa afirmativa, que é uma meta a ser seguida na atualidade, todos os recursos
naturais devem ser utilizados seguindo um planejamento sério e comprometidos com a qualidade
ambiental e social. Dentre esses recursos podemos destacar as bacias hidrográficas que são áreas cuja
intervenção é das mais importantes e complexos, podendo comprometer a bacia como um todo.
Por isso, é necessário um bom planejamento, para que não venha ocorrer grandes impactos
sócios e ambientais diante da construção de uma obra e magnitude igual à construção da barragem
Araçagi.
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