203
T T eoria e eoria e Evidência Evidência Econômica Econômica Brazilian Journal of Theoretical and Applied Economics Ano 18 – N. 39 jul./dez. 2012

Revista TEE_ano18_n39_2012

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Revista TEE_ano18_n39_2012

TTeoria e eoria e Evidência Evidência EconômicaEconômicaBrazilian Journal of Theoretical and Applied Economics

Ano 18 – N. 39 jul./dez. 2012

Page 2: Revista TEE_ano18_n39_2012

ISSN 0104-0960

CONSELHO EDITORIALArmando Vaz Sampaio (UFPR)Becky Moron de Macadar (PUCRS)Bernardo Celso de R. Gonzales (BB)Carlos José Caetano Bacha (USP)Carlos Ricardo Rossetto (UNIVALI)Cesar A. O. Tejada (UFAL)Denize Grzybovski (UPF)Derli Dossa (Embrapa)Eduardo Belisário Finamore (UPF)Gentil Corazza (UFRGS)Geraldo Santana de Camargo Barros (USP)João Carlos Tedesco (UPF)Joaquim Bento de Souza Ferreira Filho (USP)Joaquim J. M. Guilhoto (USP)João Rogério Sanson (UFSC)José Luiz Parré (UEM)José Vicente Caixeta Filho (USP)Karen Beltrame Becker Fritz (UPF)Luciano Javier Montoya (Embrapa)Marcelo Portugal (UFRGS)Marco Antonio Montoya (UPF)Marina Silva da Cunha (UEM)Nali de Jesus de Souza (PUCRS)Oriowaldo Queda (USP)Patrízia Raggi Abdallah (FURG)Paulo Fernando Cidade de Araújo (USP)Paulo Waquil (UFRGS)Ricardo Silveira Martins (Unioeste)Roberto Serpa (UFV)Thelmo Vergara Martins Costa (UPF)

EDITORMarco Antonio Montoya

FUNDADORMarco Antonio Montoya

Tiragem: 200 exemplares

Teoria e Evidência Econômica é uma publicação semestral da Faculdade de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis da Universidade de Passo Fundo, que tem por objetivo a divul-gação de trabalhos, ensaios, artigos e resenhas de caráter técnico da área de economia e demais ciências sociais.

TTeoria e eoria e Evidência Evidência EconômicaEconômicaBrazilian Journal of Theoretical and Applied Economics

FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS, ADMINISTRATIVAS E CONTÁBEIS

Diretor: Eloi Dalla Vecchia

Curso de Ciências EconômicasCoordenador: Julcemar Bruno Zilli

Curso de AdministraçãoCoordenadora: Cassiana Maris Lima Cruz

Curso de Ciências Contábeis:Coordenadora: Maristela Capacchi

CENTRO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FEACCoordenador

Thelmo Vergara de Almeida Martins Costa

Coordenador de PesquisaDenize Grzybovski

Coordenador de ExtensãoRodrigo Marciano da Luz

Coordenador de Pós-GraduaçãoRodrigo Angonese

Page 3: Revista TEE_ano18_n39_2012

UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO

José Carlos Carles de SouzaReitor

Neusa Maria Henriques RochaVice-Reitora de Graduação

Leonardo José Gil Barcellos Vice-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação

Bernadete Maria DalmolinVice-Reitora de Extensão e Assuntos Comunitários

Agenor Dias de Meira JuniorVice-Reitor Administrativo

UPF EDITORA

Carme Regina SchonsEditora

Zacarias Martin Chamberlain PraviaEditor das Revistas Institucionais

APOIO TÉCNICO

Revisão de Texto e Revisão de Emendas Cinara Sabadin DagnezeSabino Gallon

Projeto Gráfico e DiagramaçãoSirlete Regina da Silva

CapaJeferson Cunha LorenzLuiz Alfredo Hofmann Jr.

Aceitam-se permutas com revistas congêneres. Aceitam-se também livros para divulgação, ela-boração de resenhas ou recensões.Correspondências, material para publicação, assinaturas e permutas devem ser enviados ao seguinte destinatário: Teoria e Evidência Econô-mica, Brazilian Journal of Theoreticand Applied Economics.

Os conceitos emitidos nos trabalhos publicados pela revista Teoria e Evidência Econômica são de exclusiva responsabilida de dos autores.É permitida a reprodução total ou parcial dos trabalhos, desde que seja citada a fonte.

Universidade de Passo FundoFaculdade de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis

Campus I - Bairro São José – Caixa postal 61199 001-970 Passo Fundo - RS - Brasil

Fone (54) 3316-8245/8244 – Fax (54) 3316-8236E-mail: [email protected]

Home page: http://www.upf.br/cepeac

TTeoria e eoria e Evidência Evidência EconômicaEconômicaBrazilian Journal of Theoretical and Applied Economics

Page 4: Revista TEE_ano18_n39_2012
Page 5: Revista TEE_ano18_n39_2012

Sumário

Apresentação ................................................................................ 183

Concentração industrial e desempenho das firmas na hipótese de cumulatividade tecnológica: um exercício de modelagem ..... 185

Industrial Concentration And Performance Of Firms In The Hypothesis Of Cumulative Technology: A Modeling Exercise

Jaime Moron Macadar, Marcilene Martins

Transferência e absorção de tecnologia: estudo de caso no Município de Soledade - RS ......................................................... 208

Absorption and transfer of technology: a case study in the city of Soledade - RS

Giovani da Silva Oliveira, Julcemar Bruno Zilli, André da Silva Pereira

A presença de cooperativas na área de produção de grãos: um estudo da participação nordestina do matopiba .................. 236

The presence of cooperatives in the area of grain production: a study of participation of northeastern matopiba

Edith Lemos Ornellas dos Santos

Comakership: um escopo inovador no conceito de alianças estratégicas logísticas .................................................................. 246

Comakership: a scope in innovative concept of strategic alliances logistics Márcio Marins, Cássia Aparecida Pasqual

Page 6: Revista TEE_ano18_n39_2012

182

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, jul./dez. 2012

Análise da evolução temporal dos pontos fortes e fracos das empresas vinculadas à incubadora tecnológica de Maringá no período de 2007 a 2012 ........................................................... 276

Analysis of temporal evolution of the strengths and weaknesses of enterprises linked to the technology incubator of Maringa in the period 2007 to 2012

Leonardo da Costa Urt, Marcelo Farid Pereira, Fernanda Helen Mansano

Qualificação do processo de desenvolvimento de produtos: estudo de caso em uma indústria de implementos agrícolas..... 304

Process qualification of product development: a case study in an industry of agricultural implements

Cassiana Maris Lima Cruz, Janine Fleith de Medeiros, José Luis Duarte Ribeiro

Sistema sociedade-ambiente: perspectiva socioespacial na gestão do risco ambiental ............................................................ 323

System Enviroment-Society: Socio-Spatial Perspective in Environmental Risk Management

Cindy Olivier, Exzolvildres Queiroz Neto

A estruturação e a gestão do capital intelectual a partir do modelo de navegador de Stewart: um estudo em uma instituição de ensino superior (IES) ........................................... 344

The structure and management of intellectual capital from the model navigator stewart: a study in a higher education institution

Faisal Medeiros Awad, Jorge Oneide Sausen, Daniel Demarchi

Normas da revista ........................................................................ 372

Page 7: Revista TEE_ano18_n39_2012

Apresentação

É com grande satisfação que apresentamos mais um número da revista Teoria e Evidência Econômica, o segundo do ano de 2012. A série de artigos que compõem este número foi agrupada em três eixos temáticos. No primeiro, apresentamos quatro artigos que abordam, de forma específica, o desempenho das empresas, a adoção de tecnologias e alianças estratégicas inovadoras. No segundo, incluímos dois artigos que tratam de temas relacionados com pontos fortes e fracos de empresas vinculadas a incubadoras tecnológicas, bem como sobre a qualificação do processo de desenvolvi-mento de produtos. No terceiro, contemplamos artigos relacionados com o ambiente da gestão do risco ambiental e com a gestão do capital intelectual.

Certamente, esperamos que as informações, conclusões e inferências que contêm os artigos sirvam aos nossos leitores e colaboradores de estímulo para novas pesquisas e, principalmente, para uma boa formação profissional continuada.

Aproveitamos a oportunidade também para informar que a partir do ano de 2013 a revista Teoria e Evidência Econômica iniciará seu processo de publicação simultânea de forma impressa e eletrônica. Com isso, esperamos que sua publicação seja mais rápida e, fundamentalmente, sua divulgação seja mais efetiva.

Prof. Dr. Marco Antonio Montoya

Editor

Page 8: Revista TEE_ano18_n39_2012

185

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 185-207, jul./dez. 2012

Concentração industrial e desempenho das fi rmas na hipótese

de cumulatividade tecnológica: um exercício de modelagem

Jaime Moron Macadar*

Marcilene Martins**

Resumo

Este artigo propõe um modelo que formaliza a relação entre gastos acumulados em P&D e trajetórias tecnológicas, associando o sucesso corrente no desenvolvimento e/ou incorpora-ção de novas técnicas à coerência das fi rmas quanto aos gastos em P&D realizados com êxito no passado. A hipótese assumida é de que ao se decidirem por investimentos inovativos, as fi rmas terão preferência por determinadas trajetórias tecnológicas onde acumulam um maior comprometimento pretérito de gastos com P&D e onde esses investimentos tenham produzi-do melhores resultados. O modelo demonstra que as trajetórias tecnológicas adotadas pelas fi rmas condicionam o desempenho em produtividade e também o grau de concentração da indústria.

Palavras-chave: Concentração industrial. Difusão tecnológica. Modelo de inovação.

Submissão: 17/08/2012. Aceite: 23/11/2012

* Graduado em Ciências Econômicas pela UFRGS. Email: [email protected]** Professora Adjunta do Departamento de Economia da UFRGS. Email: [email protected]

Page 9: Revista TEE_ano18_n39_2012

186

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 185-207, jul./dez. 2012

IntroduçãoInovação pode ser definida como uma modificação das rotinas produtivas e/ou

organizacionais sob as quais as firmas operam e através das quais são geradas “novas combinações produtivas”1. Compreender a inovação como sendo resultado da mo-dificação das rotinas vigentes em dado momento, assinala a ideia de que os esforços inovativos feitos no passado condicionam as rotinas tecnológicas vigentes, a possi-bilidade de modificá-las e os desenvolvimentos tecnológicos futuros, ou seja, o cará-ter path-dependent da dinâmica tecnológica. Por sua vez, as rotinas vigentes encerram nelas as trajetórias adotadas pelas firmas na solução dos problemas enfrentados no passado, bem como os sucessos previamente acumulados em suas atividades de busca e seleção tecnológicas.

Explicar o processo de mudança tecnológica implica compreender como surgem novas tecnologias, como elas se difundem e tendem a afetar o desempenho das firmas e a conformação e evolução das estruturas industriais. Assumida a hipótese de que tal mudança configura uma dinâmica evolucionária e de que, como tal, ocorre sob a forma de processos evolutivos cumulativos e não lineares, explicá-la em suas causas e efeitos requer a identificação de regularidades ou tendências na dinâmica inovativa. Os conceitos de paradigma e de trajetórias tecnológicas podem ser bastante úteis a esse objetivo.

O paradigma tecnológico define, simultaneamente, um conjunto de artefatos tecnológicos e um conjunto de heurísticas – um “padrão” de solução de problemas baseados em princípios selecionados das ciências naturais – sobre como produzi-los e/ou aperfeiçoá-los. Ao estabelecer um determinado padrão dominante de solução tecnológica, o paradigma tecnológico delimita o escopo dos esforços inovativos subse-quentes, sinalizando as oportunidades e possibilidades de exploração de desenvolvi-mentos tecnológicos futuros e imprimindo ao esforço inovativo determinadas direções ao invés de outras, configurando, assim, o que se denominam trajetórias tecnológicas, cujo significado essencial é o de circunscrever a direção da evolução natural do pro-gresso tecnológico ao longo de trade-offs econômicos e tecnológicos definidos por um paradigma tecnológico (DOSI, 1988, p. 225).

O conceito de trajetória tecnológica remete ao de cumulatividade tecnológica, que exprime a ideia de que a direção assumida pelos processos de busca e seleção tecno-lógica não é aleatória, ao contrário, é path-dependent, porque condicionada pelas so-luções inovativas selecionadas e experimentadas pelas firmas em períodos anteriores, a depender da avaliação dessas últimas quanto ao grau de oportunidade e as condi-ções de apropriabilidade associados a cada uma das possíveis alternativas de solução tecnológica.

Page 10: Revista TEE_ano18_n39_2012

187

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 185-207, jul./dez. 2012

Com o objetivo de contribuir para uma formalização do conceito de cumulativi-dade tecnológica que seja consistente com a incorporação dos seus efeitos sobre a ca-pacidade e o desempenho inovativo das firmas e a dinâmica industrial, este artigo pro-põe um modelo que estabelece uma relação formal entre a magnitude dos dispêndios em P&D e o grau de coerência das firmas quanto à direção dos seus investimentos ino-vativos, fazendo com que os gastos acumulados em P&D em trajetórias tecnológicas definidas se traduzam em maiores chances de sucesso inovativo no futuro. Tomou-se emprestados de Nelson e Winter (2005), além da definição conceitual do regime de tecnologia cumulativa, uma parcela significativa da estrutura formal do regime de base científica, com a diferença, porém, de que o modelo aqui proposto modifica as equações utilizadas pelo modelo Nelson e Winter para descrever o processo de busca tecnológica, de modo a fazer com que a probabilidade de a firma acessar e explorar com sucesso uma nova oportunidade tecnológica em determinada trajetória tecnológi-ca passe a depender de forma determinante do montante de gasto em P&D acumulado no passado e dos sucessos anteriormente alcançados nessa trajetória.

Além desta introdução, compõem o artigo mais três seções. A segunda seção dis-cute o conceito de regimes tecnológicos e a hipótese de cumulatividade tecnológica. Na terceira seção formaliza-se o modelo proposto e apresentam-se os resultados das simulações. Na quarta seção apresentam-se as considerações finais do artigo.

Referencial teórico: regimes tecnológicos e a hipótese de cumulatividade tecnológica

O tema da relação entre mudança tecnológica e dinâmica econômica foi pionei-ramente explorado por Richard Nelson e Sidney Winter (2005), em sua obra seminal Uma Teoria Evolucionária da Mudança Tecnológica, originalmente publicada em 1982, que não apenas contribuiu para estabelecer as bases de uma interpretação evolucio-nária dessa relação, como acabou por definir grande parte da agenda subsequente do debate teórico nessa área. Naquele estudo, parte-se de uma concepção de concorrência que a descreve nos termos de um processo de Markov, vale dizer, são assumidas as hi-póteses de que o ambiente no qual são tomadas as decisões econômicas é não ergódico e não estacionário, e da inexistência de uma conexão causal linear entre o passado e o futuro2. A primeira hipótese equivale a reconhecer que haverá, sempre, ganhadores e perdedores no processo de concorrência. A segunda implica admitir de que os agentes podem cometer erros de previsão, de forma sistemática.

Page 11: Revista TEE_ano18_n39_2012

188

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 185-207, jul./dez. 2012

Assumindo que os conjuntos de escolhas são incertos, atribui-se ao comporta-mento de cada firma um componente idiossincrático que molda suas reações de forma particular em relação aos mesmos sinais de mercado enfrentados pelas demais fir-mas. Isso implica que se deve encontrar uma diversidade de comportamentos entre as firmas em situações reais, especialmente naquelas que divergem quanto ao nível de investimento em P&D inovativo e imitativo, grau de agressividade dos investimentos e tamanho de mercado. Espera-se também que o ambiente de seleção incentive e pro-mova condutas tecnológicas mais empreendedoras por parte daquelas firmas que fize-ram escolhas certas, eliminando ou forçando o “ajustamento” daquelas que adotaram constantemente práticas equivocadas. O resultado final aponta para uma estrutura de mercado tendencialmente concentrada e caracterizada pela existência de assimetrias de desempenho entre firmas, ganhadoras e perdedoras, de caráter cumulativo e não facilmente elimináveis, mesmo que nas condições iniciais todas estivessem muito pró-ximas uma das outras ( NELSON; WINTER, 2005, p. 401).

Descrevendo esse processo nos termos de uma concorrência schumpeteriana, pode-se entrever que a competição na indústria será marcada pela presença de firmas inovadoras, continuadamente empenhadas no desenvolvimento de novos produtos ou processos produtivos, e que ao serem bem sucedidas nesse intento virão aumentar o hiato tecnológico e competitivo que as separa das firmas rivais, até serem finalmente alcançadas e eventualmente ultrapassadas por essas últimas, podendo-se esperar, a partir daí, e uma vez admitida a hipótese da entrada de novas firmas inovadoras na in-dústria, que as inovadoras estabelecidas acabem por enfrentar um processo de erosão das suas vantagens tecnológicas e competitivas; o que ocorrerá tanto mais rapidamen-te quanto maior o potencial inovador das firmas novas entrantes e maior a capacidade de imitação das firmas estabelecidas “inovadoras” retardatárias.

A presença em caráter determinante de firmas inovadoras na indústria implica tratar-se de um ambiente competitivo schumpeteriano. Considerando-se adicional-mente as hipóteses: i) da presença de barreiras à entrada e custos de saída na indústria; ii) do caráter cumulativo das capacitações tecnológicas internamente às firmas; iii) de uma distribuição assimétrica dessas capacitações entre as firmas de uma indústria; pode-se vislumbrar o predomínio de grandes firmas (estabelecidas) no comando das inovações e na apropriação dos lucros “monopólicos” inerentes a esse tipo de empre-endimento. No longo prazo, a expectativa é de um crescimento assimétrico e cumula-tivo da produtividade, dos lucros e do market-share em favor das firmas inovadoras, além de um aumento da concentração relativa do mercado a nível da indústria.

O desdobramento lógico dessa análise é o de que as características do ambiente de concorrência e da dinâmica da inovação se condicionam mutuamente para determinar

Page 12: Revista TEE_ano18_n39_2012

189

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 185-207, jul./dez. 2012

um padrão específico de interação entre mudança técnica e estrutura de mercado, que a teoria neoschumpeteriana busca caracterizar nos termos de uma dinâmica evolucio-nária. Tal propósito coloca para a teoria a necessidade de apreender os mecanismos por meios dos quais a mudança tecnológica se faz condicionada pelas características do ambiente competitivo no qual as firmas se inserem, e com base no qual operam e decidem suas estratégias de inovação ou imitação.

Um passo essencial nessa direção consiste em caracterizar o processo por meio do qual as firmas buscam por novos conhecimentos e/ou habilidades inovativas, ou seja, investigar a natureza do conhecimento relevante à inovação e as fontes e condições de acesso das firmas a esse novo conhecimento. As firmas podem olhar para dentro de si mesmas quando buscam por novos conhecimentos ou habilidades inovativas – os esforços da firma em gastos em P&D e promoção de inovações organizacionais podem fazer a diferença, nesse caso. Pode ocorrer também que uma firma busque em outras firmas, engajadas no mesmo tipo de atividade que ela, os novos conhecimentos de que precisa para inovar – tratar-se-ia aqui mais propriamente de inovações imitativas. Por fim, novos conhecimentos podem se originar do ambiente externo à firma individual ou indústria em particular – como no caso, por exemplo, em que o conhecimento re-levante à inovação depende antes e/ ou em maior grau do progresso das ciências em geral ( WINTER, 1984, p. 291).

Entre os elementos principais que definem o processo de busca tecnológica in-cluem-se os aspectos da importância relativa das diferentes fontes de conhecimento; a natureza e amplitude da base de conhecimento relevante ao processo produtivo; o grau em que a pesquisa básica levada a cabo com sucesso pode ser facilmente conver-tida em pesquisa aplicada, ou vice-versa; a importância da P&D como insumo para inovação; a facilidade ou dificuldade intrínseca (à tecnologia) com que determinada inovação pode ser imitada. Tecnologias e indústrias distintas diferem de maneira sig-nificativa com respeito à forma de manifestação desses elementos. Daí o sentido de se afirmar que as características do processo de busca tecnológica definem um particular ambiente de conhecimento e, de forma correspondente, um particular regime tecnoló-gico (WINTER, 1984, p. 293).

Nos modelos de inovação apresentados em Nelson e Winter (2005), distinguem--se dois regimes tecnológicos, os quais representam claramente “(...) duas especifica-ções diferentes da distribuição a partir da qual uma firma retira sua amostra se fizer uma escolha de inovação” (idem, p. 410). O primeiro deles é o regime de base cien-tífica, que descreve uma inovação do tipo não cumulativa e universal, o segundo é o regime de tecnologia cumulativa, onde a inovação é definida como sendo cumulativa e específica a aplicações industriais definidas. Ainda segundo aqueles autores, “esses

Page 13: Revista TEE_ano18_n39_2012

190

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 185-207, jul./dez. 2012

diferentes regimes de mudança tecnológica implicam relações bastante diversas entre o crescimento da produtividade do ramo e seu dispêndio em P&D” (idem, ibidem).

O regime de base científica considera que as possibilidades tecnológicas disponí-veis às firmas são determinadas externamente à indústria, em função dos avanços da ciência básica gerados nos centros de pesquisa, laboratórios e universidades. Decorre dessa hipótese a proposição de que “...o que a firma obtém hoje como resultado de uma escolha de inovação independe do que ela pode ter encontrado no ano passado ou no ano retrasado” ( NELSON; WINTER, 2005, p. 411). De modo que as atividades de P&D das firmas podem ser interpretadas como esforços para acompanhar um con-junto mutável de novas possibilidades tecnológicas criadas externamente a elas.

A definição do regime tecnológico denominado de tecnologia cumulativa mantém os pressupostos teóricos e hipóteses operacionais básicas do regime de base científica, exceto no que diz respeito às decisões de busca tecnológica das firmas, uma vez que estabelece que as possibilidades tecnológicas disponíveis em qualquer dado período dependem das técnicas vigentes nas firmas naquele período, e que ao fazerem gastos de P&D inovadores, as firmas não apenas estarão garantindo sua ascensão através do conjunto de possibilidades tecnológicas, como isto também envolverá algum grau de aprimoramento das técnicas vigentes (NELSON; WINTER, 2005, p. 482). Assim, diferentemente do que especifica o regime de base científica, sob o regime de tecnologia cumulativa “...a distribuição dos resultados de P&D inovadores está centrada na pro-dutividade vigente de uma firma e não há determinação exógena das possibilidades tecnológicas (...) Um sucesso de P&D consegue para a firma não apenas uma técnica melhor, como também uma base elevada para o próximo período de busca” (NEL-SON; WINTER, 2005, p. 411).

Como se pode notar, o regime de base científica exclui qualquer possibilidade de cumulatividade tecnológica, já que o progresso tecnológico é determinado exoge-namente à indústria, ao passo que o regime de tecnologia cumulativa introduz uma noção de cumulatividade, que se expressa na vinculação entre probabilidade de su-cesso tecnológico no futuro e tecnologias acessadas pelas firmas no período corrente. O ponto que se quer ressaltar, no entanto, é que tal noção de cumulatividade tecnoló-gica descrita pelo regime de tecnologia cumulativa incorpora de maneira ainda muito parcial o caráter path-dependent dos processos de busca e seleção tecnológicas, e isso porque, fundamentalmente, desconsidera que também as trajetórias tecnológicas ex-perimentadas pela firma no passado influenciam sua capacidade presente de acessar ou desenvolver, hoje e no futuro, novos conhecimentos e técnicas produtivas.3

Page 14: Revista TEE_ano18_n39_2012

191

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 185-207, jul./dez. 2012

Formulação do modeloO modelo proposto neste artigo relaciona a concentração industrial e o desempe-

nho das firmas à hipótese de cumulatividade tecnológica. Nesse modelo, emprega-se o termo cumulatividade tecnológica com o significado de que os sucessos de inovação obtidos no passado aumentam as chances de sucesso futuro naquela(s) trajetória(s) onde estes ocorreram, refletindo o compromisso de investimento e o grau de coerência da firma com determinadas trajetórias experimentadas no passado. Com isso, incor-pora-se a hipótese de que os gastos realizados em P&D e os esforços de aprendizado alocados em determinada trajetória produzem efeitos que se acumulam com o tempo e imprimem às trajetórias de inovação das firmas um caráter path-dependent. Ressalta--se, por fim, que tal noção de cumulatividade encerra um mecanismo de realimentação tecnológico, o que significa um avanço em relação ao que propuseram Nelson e Winter (2005) em sua caracterização do processo de busca tecnológica.4

Equações do modelo

Incorporando a especificação proposta por Almeida (2004, p. 31-35), optou-se por estruturar o modelo sob a forma de três conjuntos de equações. As equações de pro-dução, que formalizam as variáveis de desempenho da empresa, como quantidades produzidas, preço, lucro unitário, produtividade e demanda. As equações que espe-cificam as regras definidas para o comportamento do investimento. Finalmente, as equações de busca tecnológica, que formalizam as etapas relacionadas aos processos de escolha e incorporação de novas tecnologias.

Equações de produção

A produtividade do capital é expressa pela quantidade produzida por unidade de capital, então, temos que:

, ou

(1)

Onde Qit, Ait e Kit são, respectivamente, a quantidade, a produtividade e o capital

da empresa i no tempo t.

Page 15: Revista TEE_ano18_n39_2012

192

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 185-207, jul./dez. 2012

O produto da indústria é a soma do produto das firmas individuais, assim:t (2)

Quanto ao preço ( tP ), considera-se que seja determinado pela produção da in-dústria em conjunto, assumindo um mesmo valor para todas as firmas. Assim, temos que a função preço5 será dada por:

(3)

Tal que em que e

Os lucros unitários (IIit) são determinados a partir da diferença entre a receita por unidade de produto e os custos totais unitários. Esses últimos são definidos pelos custos de produção e gastos em P&D, distinguindo-se ainda entre P&D inovativo e imitativo. A equação dos lucros unitários é definida como segue:

(4)

Onde C é o custo unitário de produção, , o gasto em P&D imitativo, e , o gasto em P&D inovativo da firma i no tempo t.

Equações de investimento

As decisões de investimento se referem aos gastos necessários para repor a de-preciação da capacidade instalada e aos gastos para ampliá-la, supondo, no caso, que a nova tecnologia seja empregada em toda a produção.

O estoque de capital acumulado ao longo do tempo é uma função da taxa inves-timento Iit , da taxa de depreciação δ e do estoque de capital Kit do período anterior, como segue:

em que (5)

tal que (6)

e (7)

Page 16: Revista TEE_ano18_n39_2012

193

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 185-207, jul./dez. 2012

(8)

A equação (6) estabelece limites para a decisão de investimento. O limite inferior não pode ser negativo e o limite superior não pode ser maior que , que é determina-do pela restrição financeira imposta pela disponibilidade de crédito bancário, medida pelo número máximo de unidades de crédito que uma firma pode dispor (). Em seu limite inferior, a taxa de investimento não pode ser negativa. As firmas têm a pos-sibilidade de escolher entre estes dois limites, de acordo com o grau de agressividade () característico do ramo de indústria onde atuam. Entretanto, à medida que a partici-pação de mercado de uma determinada firma aumenta (), atribui-se uma resistência por parte dessa firma em prosseguir com os investimentos, a fim de evitar que o preço dos produtos caia demasiadamente.

Equações de busca tecnológica

Em termos algébricos, partimos de um número de trajetórias tecnológicas exis-tentes no ramo, e definimos o crescimento da produtividade como sendo representado da seguinte forma:

(9)

Onde Γ,tA é a produtividade alcançada no período t para a trajetória , e é um acréscimo de produtividade com valor aleatório.

Cada sucesso inovativo obtido em determinada trajetória tecnológica vem somar--se aos sucessos anteriores associados à mesma trajetória. Temos, assim, a definição de uma segunda função, representando a trajetória acumulada e específica de cada firma.

(10)

Sendo que é a produtividade específica da firma i, no período t, para a tra-jetória .

Sendo o gasto acumulado em inovação bem sucedida na trajetória , a pro-babilidade de encontrar uma nova aplicação tecnológica, depende do gasto acumulado com a inovação bem sucedida, e do ajuste de an.

(11)

Page 17: Revista TEE_ano18_n39_2012

194

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 185-207, jul./dez. 2012

A probabilidade de encontrar uma nova aplicação tecnológica, em determinada trajetória, depende do gasto acumulado no passado e dos sucessos anteriormente al-cançados nessa trajetória:

(12)

Em que corresponde à melhor técnica proveniente de gastos com inovação, entre aquelas disponíveis e acessíveis à firma nas diversas trajetórias tecnológicas (ver Equação 13).

Observe que como o gasto acumulado em P&D depende do sucesso em determi-nada trajetória, o gasto em si é na realidade uma medida do sucesso anterior acumu-lado nessa trajetória. É importante notar que essa especificação dada ao gasto acumu-lado em P&D possui um significado absolutamente diferente daquele atribuído pelo modelo de Nelson e Winter (1982, cap. 12), onde a magnitude do gasto realizado em um período de tempo t define inteiramente a probabilidade de sucesso inovativo neste (e apenas neste) período (t).

A nova técnica produtiva será acessada por determinada firma de acordo com o sucesso inovativo alcançado em qualquer dada trajetória, que depende dos sucessos passados, expressos pelo gasto em P&D bem sucedido acumulado cada trajetória. As-sim, cada firma possui no período t, o acesso a determinadas técnicas produtivas, que podem ser ordenadas de acordo com os ganhos de produtividade a que estão associa-das. O critério de escolha da técnica é a melhor produtividade disponível para a firma em cada trajetória tecnológica, como segue:

(13)

Assume-se, por fim, que as firmas que obtiveram maior número de sucessos ino-vativos em determinada trajetória tecnológica, reúnem maior capacidade de acessar os avanços da tecnologia nessa trajetória, devido à especificação de que os gastos em P&D exercem efeito cumulativo sobre as chances de sucesso, conforme expresso na equação abaixo:

(14)

Page 18: Revista TEE_ano18_n39_2012

195

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 185-207, jul./dez. 2012

Adicionalmente, um investimento corrente em P&D imitativo permite às firmas acessar as tecnologias desenvolvidas com sucesso por outras firmas do ramo naque-le período. A probabilidade de ter sucesso na imitação de uma tecnologia descoberta por outra firma, depende do gasto corrente em P&D imitativo ( ) e do parâmetro de ajuste am:

(15)

Defi nição das variáveis e parâmetros das simulações

A fim de testar o modelo acima formulado, foram feitos alguns exercícios de si-mulação. As variáveis selecionadas para as simulações foram: índice de concentração de Herfindahl, produtividade da melhor prática, produtividade média, hiato da pro-dutividade média e gasto acumulado em P&D inovativo. Foram realizadas simulações com essas variáveis sendo relacionadas a quatro tipos de estruturas de indústria, de-finidas conforme o número de firmas, a saber: 2, 4, 8, 16 e 32 firmas, e supondo que, independentemente do tipo de estrutura, nas condições iniciais do modelo, as firmas operavam em condições idênticas de preço, parcela relativa de mercado, taxa de inves-timento (de capital) e volume de gastos em P&D como proporção do valor das vendas.

Optamos por uma estratégia de definição dos valores dos parâmetros e os níveis dos fatores experimentais das simulações, que segue muito de perto as especificações do modelo de base científica, de Nelson e Winter. Procedemos assim com o intuito de garantir que tais valores estivessem, minimamente, “dentro da quadra” – para usar a terminologia daqueles autores –, ou, vale dizer, que representassem a ocorrência de eventos em alguma medida factíveis na realidade. Cabem aqui alguns comentários sobre tais definições numéricas:

i) os parâmetros da função de preços (a e b) foram calibrados de modo a garan-tir uma taxa de investimento inicial, e por extensão, de lucro, compatível com a necessidade de previsão de gasto com depreciação de capital fixo;

ii) o estoque de capital (K) de cada firma no primeiro período foi definido de modo que para cada estrutura de indústria, o investimento líquido desejado (X) fosse zero;

iii) uma vez que uma margem menor sobre o custo de produção induz um inves-timento positivo quando a participação de uma firma no mercado é pequena, se comparada com uma participação grande, o capital total da indústria será inicialmente maior e o preço inicial menor, quanto maior for o número de

Page 19: Revista TEE_ano18_n39_2012

196

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 185-207, jul./dez. 2012

firmas. O capital total (da indústria) foi definido como sendo inicialmente maior e o preço inicial menor, quanto maior o número de firmas na indústria;

iv) os valores do grau de agressividade do investimento da firma (ρ) foram de-finidos com base em uma análise da sensibilidade do modelo em termos da relação entre esta variável e a taxa de concentração da indústria, respeitada a condição estabelecida pelo modelo de que se ρ < 1 não haverá sequer a repo-sição do capital físico disponível no período anterior;

v) o ritmo de inovações foi ajustado para que haja um crescimento médio da produtividade de 4% ao ano em todas as trajetórias;

vi) a probabilidade de sucesso em P&D inovador em cada trajetória foi estabele-cida de modo que, nas condições iniciais, houvesse uma média de dois acha-dos inovadores por ano.

Rn e Rm são coeficientes que, aplicados ao estoque de capital da firma, definem o montante de gasto disponível para investimentos em P&D inovativo (Gn) e imitati-vo (Gm) , respectivamente. Os valores de Rn e Rm foram definidos de tal forma que a razão entre P&D e vendas seja de aproximadamente 0,12; um valor razoável para os padrões empíricos.

Os valores dos principais parâmetros do modelo são mostrados na tabela 1, abaixo.

Tabela 1 – Valores estabelecidos para os principais parâmetros do modelo

Número de fi rmas (estrutura da indústria) 2 4 8 16 32a -1,7 0,71 0,71 -0,71 0b 149,98 75,57 43,96 33,97 74,71K 139,58 89,7 48,85 25,34 12,89 2 1,5 1,5 1,45 1,3

Rn 0,05% 0,16% 0,61% 2,77% 23,07%Rm 0,05% 0,16% 0,61% 2,77% 23,07%

Fonte: a e b foram defi nidos pelos autores, com base nas premissas do modelo; K, Rn e Rm foram obtidos em Winter (2005, pp.420-422); ρ foi extraído de Almeida (2002).

Na sequência, o modelo algébrico definido na seção 2.2 foi transposto para a pla-nilha eletrônica Excel, e então realizada a simulação computacional dos valores es-pecificados para os parâmetros do modelo, conforme tabela 1. As simulações foram rodadas pelo programa Cristal Ball, um software de simulação que utiliza como “plata-forma de trabalho” a planilha Excel. No total foram 1000 rodadas, com duração de 101 períodos cada (cem períodos depois das condições iniciais). Um período foi definido como correspondendo a ¼ de ano, portanto, as rodadas de simulações cobriram 25

Page 20: Revista TEE_ano18_n39_2012

197

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 185-207, jul./dez. 2012

anos, sendo os valores apurados no último período (de número 101), correspondentes ao valor médio de todas as interações.

Apresentação e discussão dos resultados das simulações

A apresentação e discussão dos resultados obtidos nos experimentos de simu-lação terão a seguinte ordem: grau de concentração e desempenho em produtivida-de para indústrias de diferentes tamanhos (números de firmas); evolução do grau de concentração industrial; efeito do grau de agressividade dos investimentos das firmas sobre a concentração industrial; desempenho em produtividade, market-share e lucrati-vidade das firmas, com referência a quatro distintas trajetórias tecnológicas.

Os resultados das simulações mostrando os valores médios do índice de concen-tração e produtividade da indústria, no último período das rodadas, são apresentados na tabela 2.

Tabela 2 – Grau de concentração e desempenho em produtividade da indústria (valores médios das rodadas obtidos no último período da simulação)

Número de fi rmas na indústria 2 4 8 16 32

Hiato da produtivid. média 56,8 48,1 20,2 21,9 14,334,0 28,1 14,9 17,7 14,9

Índice de concentração Herfi ndahl55,3 36,7 28,9 33,5 25,51,4 7,6 8,8 6,8 5,2

Média da produtividade (indústria) 0,15 0,32 0,65 0,64 0,80 0,09 0,20 0,39 0,37 0,44

Produtividade da melhor prática 0,72 0,80 0,85 0,86 0,94 0,42 0,47 0,49 0,48 0,49

Nota: Os valores na segunda linha (em itálico) referem-se ao desvio padrão da média calculada.

Fonte: Elaboração dos autores, com resultados da simulação computacional.

Encontrou-se uma tendência ao aumento, em termos absolutos, da produtividade da melhor prática, à medida que aumenta o número de firmas na indústria. A produ-tividade média apresentou essa mesma tendência de crescimento. Em combinação, o hiato de produtividade diminui com o aumento do número de firmas na indústria, indicando que quanto menos (mais) concentrada a indústria menor (maior) a distância relativa entre as firmas mais e menos produtivas.

Alude-se com este último resultado, indiretamente, o fato de que pelas especifi-cações das equações de busca tecnológica, o aumento per si do número de firmas na

Page 21: Revista TEE_ano18_n39_2012

198

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 185-207, jul./dez. 2012

indústria oferece maiores chances de sucesso inovativo, uma vez que quanto maior for esse número, maiores serão as chances de que as trajetórias tecnológicas mais produti-vas sejam mais frequentemente acessadas, de modo que o efeito final esperado é o de que a indústria em seu conjunto tende a se tornar, na média, mais produtiva.

Nota-se também, com isso, que o modelo proposto consegue incorporar elemen-tos de variedade tecnológica e diversidade comportamental, no sentido de que um grande número de firmas apostando em direções variadas, aumenta a possibilidade de que a indústria como um todo encontre as melhores soluções produtivas, que po-derão vir a ser difundidas para um grupo maior de firmas. Reflete também a incorpo-ração do caráter path-dependent da evolução tecnológica. Assim, enquanto a variedade tecnológica e diversidade comportamental acentuam a tendência de as firmas se dife-renciarem umas das outras, criando um ambiente mais diversificado em termos de so-luções inovativas, o caráter path-dependent da dinâmica tecnológica imprime à escolha da técnica uma vinculação determinante com as trajetórias inovativas experimentadas no passado.

A Figura 1 mostra a evolução da concentração do ramo, medida pelo índice de Herfindahl, na hipótese de cinco estruturas iniciais da indústria (2, 4, 8, 16 e 32 firmas). Evidencia-se que, independente da estrutura e grau inicial de concentração na indús-tria, a tendência de longo prazo foi o aumento generalizado da concentração, sendo a taxa desse aumento maior quanto menor o grau de concentração inicial da indústria. Observa-se que essa tendência ocorrera com mais intensidade no caso das estruturas intermediárias (8 e 16 firmas). Por volta do septuagésimo quinto período, a evolução do índice de Herfindahl aponta, como regra, para uma situação de estabilidade; a ex-ceção foi o caso da estrutura com 8 firmas, que sinaliza, a partir de então, para uma leve tendência de queda naquele índice. A tendência ao aumento da concentração é um resultado compatível com a hipótese mais geral de que mesmo indústrias mais competitivas, quando submetidas ao efeito do progresso técnico, acabam por engen-drar forças que levam à concentração.

Page 22: Revista TEE_ano18_n39_2012

199

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 185-207, jul./dez. 2012

Fonte: Elaboração dos autores, com resultados da simulação computacional.

Figura 1 – Evolução da concentração na indústria medida pelo índice Herfi ndahl

O modelo proposto (ver equações de investimento) associa a concentração indus-trial ao efeito de três variáveis principais: a proporção entre gastos de P&D e capital, expressa em an, a proporção de gastos com P&D imitativo, expressa em am e o grau de agressividade dos investimentos, expresso no parâmetro . Através de simulações, constatou-se que a variável que mais influenciou a evolução do grau de concentração foi a agressividade dos investimentos, conforme ilustrado na Figura 2. A explicação para este resultado está na associação positiva entre nível de capitalização das firmas e disponibilidade de recursos para investimento em P&D e concentração industrial. Nas situações em que o parâmetro assume valores inferiores a 1, não há sequer a re-posição plena do capital, inviabilizando investimentos inovativos e, com isto, inibindo a concentração.

Page 23: Revista TEE_ano18_n39_2012

200

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 185-207, jul./dez. 2012

(*) Valores calculados sobre a reta ajustada da evolução do índice de Herfi ndhal.Fonte: Elaboração dos autores, com resultados da simulação computacional.

Figura 2 – Efeito do Grau de Agressividade dos Investimentos das fi rmas sobre a Concentra-ção Industrial

A fim de evidenciar possíveis interações entre as variáveis de desempenho das firmas e suas trajetórias tecnológicas6, procedeu-se também uma rodada de simula-ções onde se supuseram, arbitrariamente, a existência de 16 firmas e 4 trajetórias tecno-lógicas. A configuração destas últimas pode ser visualizada na figura 3. A inter-relação entre essas trajetórias tecnológicas e os padrões de evolução da produtividade, market--share e lucratividade das firmas, deve ser aprendida pela análise das figuras 4, 5 e 67.

Um dos resultados mais significativos obtidos com esse experimento é o de que após determinado número de períodos, surgiram duas trajetórias economicamente vi-áveis, ou seja, às quais se associa um crescimento positivo da produtividade (trajetória 2 e 3), e que as diferenças de produtividade, market-share e lucratividade das firmas gravitaram em torno a essas duas trajetórias.

Ressalta-se também que as firmas permaneceram em suas trajetórias originais até o final do período, indicando o caráter de “aprisionamento” a uma determinada direção do desenvolvimento de novas técnicas produtivas. Observa-se que a indústria dividiu-se em dois grupos de firmas: aquelas que experimentaram ganhos expressivos

Page 24: Revista TEE_ano18_n39_2012

201

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 185-207, jul./dez. 2012

em termos de produtividade e, em menor grau, lucratividade e market-share, e aquelas que ficaram “presas” a trajetórias onde a tendência à estagnação foi o traço predomi-nante; sendo que algumas firmas apresentaram lucros negativos, o que sugere a possi-bilidade de virem a não sobreviver.

Por fim, cabe observar que não há garantia, pela especificação do modelo, de que esses desempenhos continuem a ocorrer no futuro. Considere, por exemplo, a trajetória tecnológica 2. Uma possibilidade é que ela acabe por tornar-se uma linha de desenvolvimentos tecnológicos que não acrescente novos ganhos de produtividade, market-share ou lucratividade. Mas inúmeras outras situações seriam, em tese, igual-mente possíveis, inclusive a de que outras trajetórias venham a se destacar, fazendo com que firmas até então pouco expressivas, passem a ocupar posição de destaque na indústria, a depender do grau de coerência que tenha caracterizado suas decisões de busca e seleção tecnológicas. E não há como ser diferente, já que estamos lidando um ambiente de dinâmica evolucionária.

Fonte: Elaboração dos autores, com resultados da simulação computacional. Figura 3 – Incrementos de produtividade associados a quatro diferentes trajetórias tecnológicas

Page 25: Revista TEE_ano18_n39_2012

202

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 185-207, jul./dez. 2012

Fonte: Elaboração dos autores, com resultados da simulação computacional.

Figura 4 – Produtividade acumulada pelas fi rmas em quatro diferentes trajetórias tecnológicas

Fonte: Elaboração própria, com resultados da simulação computacional.

Figura 5 – Market-share das fi rmas em quatro diferentes trajetórias tecnológicas

Page 26: Revista TEE_ano18_n39_2012

203

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 185-207, jul./dez. 2012

Fonte: Elaboração própria, com resultados da simulação computacional. Figura 6 – Lucratividade das fi rmas em quatro diferentes trajetórias tecnológicas

Considerações fi naisUm dos principais desafios enfrentados pela abordagem neoschumpeteriana con-

siste na tentativa de formalizar as inter-relações de natureza econômica e tecnológica stricto sensu, sintetizadas nos conceitos de paradigma e trajetória tecnológica, de modo a se ter em conta como diferentes rotinas de busca e seleção tecnológicas, sedimentadas em processos (de mudança tecnológica) que caracterizam trajetórias path-dependents e encerram efeitos de cumulatividade tecnológica, afetam a estrutura e evolução da indústria e o desempenho das firmas, enquanto opera o mecanismo de seleção que distingue entre ganhadores e perdedores na concorrência intercapitalista.

Sob a perspectiva de formalizar um regime tecnológico que incorpore os efeitos de cumulatividade, o tratamento teórico dispensado à busca tecnológica constitui peça central do modelo. Os esforços deste artigo concentraram-se neste ponto. Por meio de uma reformulação pontual do regime de tecnologia cumulativa de Nelson e Winter (1982), propôs-se um modelo que permitisse incorporar na trajetória de busca tecno-lógica das firmas a influência da cumulatividade tecnológica e seus efeitos sobre o desempenho das firmas e a evolução da concentração da indústria.

Nesse sentido, o modelo apresentado neste artigo procurou estabelecer uma re-lação formal entre gastos acumulados em P&D bem sucedido e trajetórias (de busca)

Page 27: Revista TEE_ano18_n39_2012

204

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 185-207, jul./dez. 2012

tecnológicas, associando, assim, o sucesso corrente no desenvolvimento ou incorpora-ção de novas técnicas à coerência das firmas quanto aos gastos em P&D realizados no passado. Isto implicou em fazer com que os gastos acumulados em P&D bem sucedido se traduzissem em maiores chances de sucesso inovativo na trajetória adotada vis-à--vis outras trajetórias (ver equações 11 e 12).

Observe que como o gasto acumulado em P&D depende do sucesso em deter-minada trajetória, o gasto em si é na realidade uma medida do sucesso anterior acu-mulado nessa trajetória. É importante notar que esta especificação dada ao gasto acu-mulado em P&D possui um significado absolutamente diferente daquele atribuído pelo modelo de regimes tecnológicos de Nelson e Winter, onde a magnitude do gasto realizado em um período de tempo t define inteiramente a probabilidade de sucesso inovativo neste (e apenas neste) período (t).

As hipóteses implicitamente assumidas pelo modelo desenvolvido neste artigo são de que ao modificarem suas rotinas inovativas, as firmas procurarão ter em conta as características das rotinas experimentadas com sucesso no passado, o que imprime um caráter path-dependence às suas escolhas sobre em quais direções realizar investi-mentos inovativos; e de que elas terão preferência por determinadas trajetórias tecno-lógicas onde obtiveram avanços significativos em termos produtivos e onde possuam maior comprometimento de recursos investidos com sucesso no passado.

Os experimentos feitos através das simulações confirmaram dois principais resul-tados esperados com o modelo: i) a cumulatividade tecnológica tende a afetar positiva-mente a evolução da concentração da indústria; ii) o grau de coerência das firmas com relação a seus esforços inovativos e decisões sobre em que direção(ões) ou trajetória(s) tecnológica(s) investir, sobretudo pelo efeito exercido em termos de aprisionamento tecnológico, constitui um importante condicionante do seu desempenho relativo na indústria, bem como da evolução da estrutura desta última.

Certamente que há ainda muito espaço para refinamentos e/ou extensões do mo-delo proposto, em termos da especificação das variáveis e dos parâmetros utilizados nas simulações. Ainda que o uso dos instrumentos computacionais tenha auxiliado a cobrir um grande espectro de casos, variações do modelo não foram testadas e há faixas de valores para os parâmetros que não foram exaustivamente simuladas, o que sugere a necessidade de se estender também o trabalho de simulação de dados.

Convém também assinalar que o potencial analítico do modelo vai muito além do que foi abordado neste artigo, sendo possível, e desejável, aprimorar a modelagem e aprofundar a análise em relação a determinados temas, como, por exemplo, o que se refere à questão da natureza e o grau de interação entre as variáveis de desempenho das firmas (produtividade, custos, market-share, preços e lucratividade etc) e suas esco-lhas em termos de trajetórias tecnológicas adotadas.

Por fim, ressalta-se que não fora feita nenhuma tentativa de aplicação do modelo à realidade factual. A ideia é posteriormente avançar nesse propósito.

Page 28: Revista TEE_ano18_n39_2012

205

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 185-207, jul./dez. 2012

INDUSTRIAL CONCENTRATION AND PERFORMANCE OF FIRMS IN THE HYPOTHESIS OF CUMULATIVE TECHNOLOGY: A MODELING

EXERCISE

Abstract

This article proposes a model that formalizes the relationship among accumulated expenses in R&D and technological paths, associating the current success in the development and/or incorporation of new techniques to the coherence of the fi rms with relationship to the expen-ses in R&D accomplished great performance in the past. The assumed hypothesis is that when deciding for innovative investments, fi rms will have preference for certain technological pa-ths where they accumulate a larger compromising with investments in the past and where they obtained the better results. It is evidenced that the adopted technological paths of the fi rms affect the productivity performance and the concentration of the industry.

Keywords: Industrial concentration. Innovation model. Technological diffusion.

CONCENTRACIÓN INDUSTRIAL Y DESEMPEÑO DE LAS FIRMAS EN LA HIPÓTESIS DE LA TECNOLOGÍA

ACUMULADA: UN EJERCICIO DE MODELAJE

Resumen

Este artículo propone un modelo que formaliza la relación entre los gastos acumulados en P&D y las trayectorias tecnológicas, asociando el éxito actual en el desarrollo y/o en la incor-poración de nuevas técnicas, a la coherencia de las fi rmas en lo que concierne a los gastos en P&D realizados con éxito en el pasado. La hipótesis asumida es que al momento de que las fi rmas decidan inversiones en innovación, tendrán preferencia por determinadas trayectorias tecnológicas, y serán aquellas en las que han acumulado en el pasado un mayor compromiso en gastos en P&D, y donde esas inversiones han producido mejores resultados. El modelo comprueba que las trayectorias tecnológicas adoptadas por las fi rmas condicionan el desem-peño en productividad y también en el grado de concentración de la industria.

Palabras-clave: Concentración industrial. Difusión tecnológica. Modelo de innovación.

Classifi cação do JEL: D83, L19, O33

Page 29: Revista TEE_ano18_n39_2012

206

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 185-207, jul./dez. 2012

Notas1 Nesta acepção do termo, que remete à Schumpeter, inovar signifi ca combinar diferentemente os mate-

riais e forças produtivas disponíveis, com eles produzindo novas coisas, ou as mesmas coisas, mas com um método diferente. Cf. Schumpeter (1982, p. 48).

2 A abordagem evolucionária da concorrência se caracteriza pela ênfase na análise dos efeitos da mudan-ça técnica sobre o desempenho das fi rmas e a evolução das estruturas industriais. Baseia-se nos pressu-postos de variedade tecnológica, diversidade comportamental, incerteza e complexidade ambiental. O resultado é uma concepção de concorrência que opera por meio da criação de diversidade estratégica, variedade tecnológica e da geração cumulativa de assimetrias competitivas entre fi rmas e indústrias, enquanto gera sistematicamente desequilíbrios dinâmicos, que produzem efeitos de caráter dual: insta-bilizam o sistema competitivo, enquanto repõem as condições para a retomada da acumulação capita-lista.

3 O regime de tecnologia cumulativa assume a hipótese de que a probabilidade de sucesso tecnológico da fi rma depende exclusivamente da magnitude do investimento em P&D realizado no período corrente. Isto implica dizer que “...a experiência obtida e a efi ciência com que a fi rma alocou os recursos que destinou para a atividade de P&D ao longo de toda a sua trajetória no setor, não exercem infl uência direta em seu desempenho tecnológico subsequente” (ALMEIDA, 2004, p. 56). Trata-se de um conceito de cumulatividade que incorpora a idéia de “.... uma realimentação positiva do potencial inovativo ou imitativo da fi rma, mas ela não é tecnológica, isto é, ela não é diretamente derivada do sucesso tecnológi-co prévio...” (idem, ibidem).

4 O processo de busca tecnológica, como descrito pelo modelo Nelson e Winter (2005), apresenta três principais limitações, a saber: “a ausência de (1) spillovers de P&D; (2) de um processo, específi co à fi rma, de exploração das oportunidades tecnológicas; e (3) de cumulatividade tecnológica” (Almeida, 2004, p.105). Superá-las implica, como ponto de partida, reconhecer que (a) os gastos em P&D produzem efeitos que ultrapassam os “muros” da fi rma e não se esgotam no momento em que foram realizados; (b) a capacidade de absorver novos conhecimentos e rotinas é afetada, positiva ou negativamente, por fatores que são internos e , em alguma medida, específi cos à (cada) fi rma; e (c) o potencial inovativo ou imitativo das fi rmas depende, também, dos gastos pretéritos em P&D e do seu histórico de acúmulo de conhecimentos e capacitações. Entende-se que o modelo proposto neste artigo contribui pontualmente para a superação das limitações expressas em (1) e (3). Para uma “solução” abrangente e rigorosamente satisfatória do conjunto daquelas limitações, ver Almeida (2004).

5 Para efeitos de simulação computacional, utilizou-se a função de demanda QPt1= , que preenche os

requisitos do modelo proposto.6 Defi nindo-se a trajetória tecnológica como uma sucessão de acréscimos (decréscimos) de produtividade

que podem ser acessíveis às fi rmas proporcionalmente ao gasto em P&D acumulado em trajetórias tec-nológicas bem (mal) sucedidas.

7 As Figuras 3 a 6 foram geradas tomando como base os parâmetros que constam na Tabela 1. Não sendo possível representar as 1000 “rodadas” de simulação (cf. p. 16) em um só gráfi co, optou-se por selecio-nar aqueles (Figuras 3 a 6) considerados representativos da média dos casos.

Page 30: Revista TEE_ano18_n39_2012

207

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 185-207, jul./dez. 2012

Referências bibliográfi cas

ALMEIDA, S. Dinâmica industrial e cumulatividade tecnológica. Rio de Janeiro: BNDES, 2004, 144 p.BRESCHI, S.; MALERBA, F.; ORSENIGO, L. Technological regimes and schumpeterian pat-terns of innovation. The economic journal. v. 110, p. 388-410, 2000.DOSI, G. Technological Paradigms and Technological Trajectories: a suggested interpretation of determinants and direction of technical change. Research Policy, v. 2, n. 3, p. 147-162, 1982._______. Mudança técnica e transformação industrial: a teoria e uma aplicação à indústria de semi-condutores. Tradução de Carlos D. Szlak, Campinas: Editora da Unicamp, 2006, 464p._______. Sources, Procedures and Microeconomics Effects of Innovation, Journal of Economic Litera-ture, v. XXVI, September, p. 1120-1171, 1988._______.; EGIDI, M. Substantive and procedural uncertainty. Journal of Evolutionary Economics, v. 1, p. 49-84, jan.-jun, 1991._______., FREEMAN, C., NELSON, R., SILVERBERG, G., SOETE, L. (Ed.) Technical Change and Economic Theory. London: Pinter Publishers, 1988, 646 pp.FREEMAN, C. The economics of technical change. Cambridge Journal of Economics, v. 18, p. 463-514, 1994.LA ROVERE, R. L. Paradigmas e trajetórias tecnológicas. In: Economia da Inovação Tecnológi-ca. Victor Pelaez, Tamás Szmrecsányi (orgs), capt.12, São Paulo: Hucitec, 2006.METCALFE, J.S. Evolutionary Economics and Creative Destruction., London: New Fetter Lane, 1998, 153 pp.NELSON, R.; WINTER, S.G. (1977). In search of useful theory of innovation. Research Policy, 6, p. 36-76._______. Uma Teoria Evolucionária da Mudança Econômica. Tradução de Cláudia Heller. Cam-pinas: Editora da Unicamp, 2005. 632 pp.POSSAS, M. L. Racionalidade e regularidades: rumo a uma integração micro-macrodinâmica. Economia e Sociedade, n. 2, p. 59-80, 1993.POSSAS, M., KOBLITZ, A., et alii. (2001). Um modelo evolucionário setorial. Revista Brasileira de Economia, 55 (3), p. 333-377, 2001.SCHUMPETER, J. A. Teoria do desenvolvimento econômico. Tradução de Maria Silvia Possas, São Paulo: Nova Cultural, (Os Economistas), 1982, 169p._______. Capitalismo, socialismo e democracia. Rio de Janeiro: Zahar editores, 1984.SILVERBERG, G. DOSI, G., ORSENIGO, L. Innovation, Diversity and Diffusion: a self-organiza-tion model. The Economic Journal, v. 98, n. 393, p. 1032-1054, 1988.WINTER, S. G. Schumpeterian competition alternative technological regimes. Journal of Economic Behavior & Organization, Elsevier, v. 5 (3-4), p. 287-320, 1984.

Page 31: Revista TEE_ano18_n39_2012

208

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 208-235, jul./dez. 2012

Transferência e absorção de tecnologia: estudo de caso no Município de Soledade - RS

Giovani da Silva Oliveira*

Julcemar Bruno Zilli**

André da Silva Pereira***

Resumo

A partir da década de 1990, observou-se que as relações entre ciência, tecnologia e produ-ção passaram a ter um enfoque sobre a inovação e difusão de tecnologias (transferência de conhecimento). O aperfeiçoamento no nível tecnológico das economias regionais proporcio-na crescimento econômico e, quando focado em setores específi cos, pode sustentar o desen-volvimento de toda uma cadeia produtiva regional. Assim, busca-se avaliar a capacidade de inovação e absorção de tecnologia no município de Soledade (RS), a partir interação no Sistema Regional de Inovação do município. Para construção desta análise, utilizaram-se o modelo de transbordamento de tecnologia desenvolvido por Cohen e Levinthal (1990) e um questionário adaptado da Redesist da Universidade Federal do Rio de Janeiro, descrevendo estatisticamente os dados. Os resultados indicam que o processo de inovação junto ao muni-cípio corrobora uma relação direta entre o potencial de absorção de tecnologia e agregação de valor à produção local e divergências quanto à efi cácia do uso de fatores tecnológicos no crescimento da economia local. Conclui-se que o município possui incipiente desempenho em P&D, pois as principais aquisições de máquinas e equipamentos são oriundas de outros centros de pesquisa. Além disso, existem gargalos nas fontes externas que prejudicam o cres-cimento econômico do município.

Palavras-chave: Gemas. Joias. Pedras. Tecnologia. Transferência.

Submissão: 18/10/2012. Aceite: 12/12/2012

* Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade de Passo Fundo, Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Economia Regional – UEL – [email protected]

** Economista, Doutor em Economia Aplicada – ESALQ/USP, Coordenador do curso de Ciências Econô-micas da Universidade de Passo Fundo – [email protected]

*** Economista, Doutor em Economia – UFRGS, professor do curso de Ciências Econômicas da Univer-sidade de Passo Fundo – [email protected]

Page 32: Revista TEE_ano18_n39_2012

209

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 208-235, jul./dez. 2012

IntroduçãoAs discussões sobre a evolução da teoria econômica apresentam características

intrínsecas a cada momento histórico e nessa perspectiva, a partir da década de 1990, observou-se que as relações entre ciência, tecnologia e produção passaram a ter um en-foque sobre a inovação e difusão tecnológica. A transferência de tecnologia apresenta--se como maneira de potencializar conhecimentos testados em centros de pesquisa e desenvolvimento (P&D) e por sua vez servem como elo entre as instituições, empresas e a comunidade em geral, aproximando mercados consumidores, aumentando o fluxo de emprego e renda local.

A diminuição nos custos de produção, associada ao progresso técnico, visa ex-plorar as potencialidades naturais em determinados setores e regiões e proporciona o crescimento econômico local. Para tanto, é preciso fortalecer as relações institucio-nais, empresariais e sociais. As instituições devem contribuir de forma a desenvolver e aproximar novas tecnologias nas comunidades, expondo os empresários ao fluxo e disseminação de novos conhecimentos, aprimorando produtos e processos.

Já as empresas devem buscar aproveitar os transbordamentos gerados pelas ins-tituições e, por meio da contratação de mão de obra qualificada visando reduzir seus custos de produção, aumentar a eficiência na utilização dos insumos. As comunidades devem estar cientes dos aspectos econômicos da sua região para que sejam beneficia-das pela geração de emprego e renda. Nesse ponto, essas comunidades devem estar aptas a receber e assimilar as informações sobre as novas tecnologias.

Os países desenvolvidos são um exemplo de desenvolvimento tecnológico ex-pressivo, uma vez que possuem elevado nível de produção científica, patrocinados por instituições públicas e privadas. Por sua vez, os países de desenvolvimento recen-te, como os do leste europeu e asiáticos, ao perceberem as oportunidades de recep-tação de novos investimentos realizados a partir dos anos 1990, passaram a investir em educação básica e profissionalizante, proporcionando um quadro adequado à ab-sorção de tecnologias, principalmente as de origem europeia e americana. Em países desenvolvidos os governos oferecem educação básica de qualidade, enquanto as ins-tituições investem no desenvolvimento de novas tecnologias e aproveitam o capital humano disponível.

Segundo Carneiro (2002), no Brasil a estagnação econômica da década de 1980, a consequente queda em investimentos na educação, juntamente com outros setores que sofreram com o sucateamento da máquina pública e os altos índices de inflação no final da década, proporcionaram dependência tecnológica e financeira ao mercado nacional.1

Page 33: Revista TEE_ano18_n39_2012

210

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 208-235, jul./dez. 2012

Tal realidade tem apresentado mudanças por meio de programas de incentivo à pesquisa e fomento de polos tecnológicos, exploração de potencialidades nos Arranjos Produtivos Locais (APL) em regiões ou municípios que possuem um sistema de inova-ção forte e atuante, capaz de consolidar o crescimento econômico de forma sustentável com a promoção das potencialidades de todos os locais. É importante destacar que o sistema de inovação considerado neste trabalho é a relação entre os agentes dos seto-res tecnológico, acadêmico, empresarial, governamental e institucional (GONZÁLES OSÓRIO; CÂNDIDO; LABIAK JÚNIOR, 2008).

Nesse cenário, o município de Soledade (RS) vislumbra no âmbito regional tal progresso tecnológico, e o elo de transferência tecnológica acontece por meio da atu-ação do Centro Tecnológico de Pedras Preciosas, Gemas e Joias do Rio Grande do Sul (CTPedras). O CTPedras visa formalizar, fortalecer e divulgar o potencial do setor em nível nacional e internacional. O desenvolvimento de projetos de pesquisa em diversas áreas do conhecimento ligados aos setores de extração, lapidação, geologia tem obje-tivo de melhorar o nível de eficiência na utilização dos insumos e reduzir impactos ambientais, além de transferência de tecnologia para o setor e qualificação da mão de obra (TONEZER et al., 2010). Com a implantação do CTPedras, a cidade passou a formar e fornecer capital humano qualificado para o beneficiamento de pedras e joias, agregando valor ao seu Produto Interno Bruto (PIB).

A agregação de valor pode ser observada através da função de produção da ca-deia de beneficiamento. A inserção de novas e modernas máquinas gera produtos com maior valor agregado, melhor aproveitamento do insumo a ser trabalhado e a aplica-ção de novos métodos de trabalho, que, por sua vez, geram processos que acabam por reduzir os custos de produção, geram menos desperdício de insumos, maior rapidez e eficácia no manuseio e lapidação de artefatos em pedras e a confecção de semijoias. Assim, a investigação das relações setoriais ligadas ao fluxo de conhecimento, que, a partir das instituições que dão suporte ao setor no município, é capaz de promover o crescimento econômico local.

Dessa forma, o objetivo deste trabalho é avaliar a capacidade de inovação e ab-sorção de tecnologia no município de Soledade (RS), a partir interação no Sistema Regional de Inovação do município.

O estudo limita-se a observar as características do município e as aptidões dos agentes transformadores, na perspectiva de apresentar um cenário regional, onde fo-ram criados mecanismos de ensino de novas tecnologias, métodos mais eficientes de produção e beneficiamento, já que muitos equipamentos são desenvolvidos, produ-zidos e testados em países com alto grau de desenvolvimento tecnológico. Tais equi-pamentos e técnicas mais eficientes podem ser transferidos desses locais para outros,

Page 34: Revista TEE_ano18_n39_2012

211

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 208-235, jul./dez. 2012

.

desde que existam estruturas físicas adequadas e mão de obra capaz de absorver as novas técnicas de produção.

O artigo está composto por cinco capítulos. Inicialmente, tem-se o capítulo da introdução, seguido pelo referencial teórico, metodologia, resultados e discussões e as considerações finais.

Referencial teóricoAs teorias que descrevem o crescimento econômico como motor do desenvolvi-

mento têm no avanço técnico e tecnológico partes conjuntas que podem fortalecer o processo de crescimento. Os primeiros economistas que discutiram essa teoria tinham no uso das palavras sua maior arma de transmissão do conhecimento. Entre eles, po-dem-se destacar os trabalhos de Adam Smith, David Ricardo, Alfred Marshal, Frank Kintgth e Joseph Schumpeter.

Com o trabalho de Solow (1956) intitulado A contribution to the theory of economic growth, formalizou-se um modelo de desenvolvimento econômico embasado no mo-delo de crescimento que via o avanço tecnológico como um resíduo, ou seja, ao men-surar o uso intensivo de fatores de produção intensivos em tecnologia, verificou-se um deslocamento na curva de possibilidade de produção.

Segundo Jones (2000), Solow descreveu o crescimento com uma tendência sus-tentada apenas quando há progresso tecnológico. A hipótese buscava evidenciar como tais variáveis influenciavam no resultado final do PIB da economia. Para descrever esse modelo, foram utilizadas duas equações, uma de produção e outra de acumulação.

A equação de produção é também chamada de equação do tipo Cobb-Douglas apresentada a seguir.

(1)

onde y representa o produto; K representa o capital; A capta os efeitos da tecnologia e L simboliza o fator mão de obra. Esta função resulta em retornos constantes de escala quando seus insumos são duplicados.

Já a equação de acumulação (2) descreve o produto per capita gerado pelo estoque de capital per capita que é utilizado na economia.

(2)

Page 35: Revista TEE_ano18_n39_2012

212

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 208-235, jul./dez. 2012

onde K representa a variação no estoque de capital; sY é o montante de investi-mento bruto, e dK mensura o montante da depreciação que ocorre durante o processo produtivo.

Ao incluir a variável tecnológica no modelo (aumentadora de trabalho), segundo Jones (2000), a hipótese de que esta é exógena ao modelo pode-se verificar que, quan-do há progresso tecnológico em uma economia, a variável tecnológica está crescendo a uma taxa constante. A equação 3 descreve o crescimento equilibrado. Esse modelo descreve como a variável tecnológica influencia o crescimento equilibrado ao longo do tempo. Na mesma perspectiva, o Centro Tecnológico de Pedras e Gemas busca capacitar a mão de obra no município e região, isso é, agregar valor à produtividade geradora de renda.

(3)

onde g representa um parâmetro da taxa de crescimento da tecnologia no tempo. Com a ampliação dos mercados, novos trabalhos foram desenvolvidos acerca da

difusão tecnológica, destacando-se os trabalhos pioneiros de Griliches (1957); Mans-field (1961); Metcalfe (1981);2 Rosemberg (1979); Dosi (1984); Nelson e Winter (1982); Silverberg, Dosi e Orsenigo (1988).

Freeman e Perez (1988) complementam o estudo de Rosemberg quando inserem as características das modalidades de inovação em conjunto com o processo de gera-ção/difusão, como sendo: a) inovações são progressivas ou incrementais, pois aconte-cem por intermédio de melhorias graduais de produção e de processos; b) inovações radicais, caracterizadas por impulsos tecnológicos descontínuos e de forma diferente dos anteriores; c) sistemas tecnológicos novos, compostos por inovações radicais e in-crementais que apresentam forte inter-relação técnica e economicamente; d) mudan-ças paradigmáticas técnica-econômica, proveniente da força de destruição criadora que acompanham os ciclos econômicos.

Furtado (2006) descreve o processo de difusão como sendo complemento de transformações entre fornecedores e usuários da inovação e os caracteriza como: a) aperfeiçoamento dos inventos; b) desenvolvimento de habilidades técnicas dos usu-ários (learning by using (aprender usando)); c) desenvolvimento de habilidades na fabricação de máquinas; d) complementaridade entre diferentes técnicas dentro de atividades padrão; e) aperfeiçoamento em paralelo da velha e da nova tecnologia; f) o contexto institucional.

Com a ampliação dos paradigmas científicos e a observação da importância do aprendizado, Cohen e Levinthal (1990) trabalharam com dados empíricos que objeti-vam compreender como se dá a absorção do conhecimento no meio empresarial. Em

Page 36: Revista TEE_ano18_n39_2012

213

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 208-235, jul./dez. 2012

seu primeiro trabalho em 1989, os autores investigaram a importância dos conheci-mentos prévios da firma sobre a capacidade de absorção do conhecimento. Em seu artigo de 1990, os autores enfatizam, a partir da conclusão anterior, que a identificação das habilidades cognitivas e suas capacidades de absorção, ao acontecerem investi-mentos em P&D, visam contribuir para a atividade da organização. Assim, os autores destacam

que a capacidade de absorção é compreendida como um contínuo de um processo de aprendizado (lerning by learn) e se desenvolve a partir da acumulação de expe-riências e desenvolvimento de conhecimento próprio. Para analisá-la, é necessário entender a estrutura de comunicação entre o ambiente externo e a firma, a comu-nicação entre as unidades (áreas) da firma e também o caráter e distribuição do conhecimento especializado na organização (TREZ, 2009, p. 274).

Esses trabalhos observam o processo de aprendizado a partir do tempo de atua-ção em que as empresas estão no mercado e o grau de instrução dos seus colaborado-res. Além dessas características, visualizam como estão estruturadas as fontes de co-municação interna e externa nas empresas e a sua importância para o setor de atuação e para o sistema de inovação.

Para que o investimento encontre na economia de destino potencial suficiente para promover o desenvolvimento econômico, alguns aspectos, tais como o bom nível de capital humano, devem estar presentes e é desejável, também, que tal economia apresente estabilidade econômica e uma infraestrutura condizente com tal investimen-to (JORGE, 2007). A autora complementa dizendo ainda que nos países desenvolvidos é comum a presença de tecnologias que se utilizam da capacidade de absorção, e que depende do desenvolvimento de P&D, sendo que o aprendizado pode ser transmitido de forma direta ou indireta. Ao estudar a eficiência de absorção das firmas brasileiras, De Negri (2006, apud JORGE, 2007) identificou:

como fatores importantes da capacidade de absorção das firmas: i) o nível de qua-lificação dos trabalhadores; ii) a existência de uma unidade formal de P&D (como sendo a realização de atividades contínuas de P&D); iii) o gasto relativo de P&D na receita líquida de vendas; e iv) a combinação de gasto em treinamento e o tem-po de emprego médio (p. 14).

Esse diagnóstico baseia-se no modelo de Cohen e Levinthal (1990, p. 148-149), no qual os fatores determinantes da capacidade de absorção de tecnologia visam iden-tificar se houve ou não inovações nessas empresas, e, após, avaliar se as mesmas po-dem ou não ser transmitidas aos empregados. O modelo trata de identificar os fatores determinantes da capacidade de absorção por meio do diagnóstico das habilidades individuais, observando variáveis como a escolaridade dos trabalhadores, o tempo de

Page 37: Revista TEE_ano18_n39_2012

214

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 208-235, jul./dez. 2012

permanência no emprego, experiência profissional, contratação, por parte da empresa de profissionais qualificados, gastos em treinamento. A inovação, segundo o modelo, acontece ao serem utilizadas fontes externas de informação. Essa hipótese resulta na capacidade de absorção da firma.

Outro fator determinante está relacionado aos conhecimentos prévios e inova-tivos da firma, o que acontecerá a partir da identificação dos gastos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) sobre a receita líquida de vendas, além de realização de ativi-dades contínuas de P&D. Esse segundo fator indica pontualmente se a firma possui ou não capacidade de inovação (COHEN; LEVINTHAL, 1990).

A adaptação da metodologia desenvolvida por Cohen e Levinthal (1990) será di-recionada às empresas do município de Soledade, conforme as hipóteses apresentadas no Quadro 1.

Fonte: Adaptado de Jorge (2007).

Quadro 1 – Capacidade de Absorção: Defi nição de fatores determinantes

Barreto (1989) ressalta que é necessária a existência de um potencial de absor-ção de tecnologia e que este depende de quatro fatores: a) atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) experimental desenvolvidas internamente pela sociedade e suas instituições; b) transferência de tecnologia do exterior; c) nível de qualidade do estoque de tecnologia instalada e a densidade tecnológica; d) competência operacional produtiva. O autor complementa dizendo que o processo de absorção de tecnologia pode ser caracterizado por “instrumentos facilitadores e inibidores” distribuídos em quatro momentos distintos: a) antecedentes contextuais; b) mecanismos de absorção; c) processo de absorção; d) adaptação e difusão.

Page 38: Revista TEE_ano18_n39_2012

215

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 208-235, jul./dez. 2012

A descrição desses fatores, somada aos indicadores socioeconômicos apresenta-dos sobre do município de Soledade, pode indicar características potenciais em relação à absorção tecnológica. A partir dessa análise, pode-se verificar a importância do dire-cionamento sobre a estrutura do sistema regional de inovação, por meio da observa-ção e opinião dos agentes institucionais, empresariais, educacionais, governamental e tecnológico no município de Soledade. Este diagnóstico pode servir como facilitador na identificação e ajuste dos investimentos que visam maior agregação de valor ao PIB do município.

Material e métodosAo focar a análise de transferência e absorção de tecnologia no município de So-

ledade/RS, a partir das características do setor de inovação tecnológica e do setor de pedras, gemas e joias, este trabalho buscará identificar qual é a capacidade de inovação e absorção de tecnologia no município, após analisar as características dos agentes em relação à mão de obra e às atividades inovativas realizadas no município.

Para tanto será necessária a identificação das variáveis que compõem o instru-mento de coleta. A metodologia da pesquisa de campo, por sua vez, baseou-se no levantamento de dados primários junto a empresas e demais agentes envolvidos, tais como associações, sindicatos, escolas técnicas, universidades, serviços de apoio às em-presas, órgãos públicos na esfera municipal e empresas de diversos segmentos.

Para a obtenção dos dados, foi utilizado como base o questionário da Redesist, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), para mapeamento de Arranjos Produ-tivos Locais (APL). A adaptação do questionário visa atender aos requisitos do modelo de Cohen e Levinthal (1990). As principais variáveis selecionadas foram: identificação do perfil dos respondentes, mão de obra (qualificação) e finalmente inovações, coope-ração e aprendizado.

Delineamento da pesquisa e universo da pesquisa

Trata-se de uma pesquisa aplicada a setores de inovação tecnológica que, para o município de Soledade, consolida-se com a atuação de entidades que formam o setor de pedras e gemas do município. Esse setor movimenta uma parcela significativa do PIB do município, já que tem na extração, beneficiamento, lapidação e comercialização (exportação) de pedras semipreciosas sua maior fonte de arrecadação.

Page 39: Revista TEE_ano18_n39_2012

216

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 208-235, jul./dez. 2012

Os dados analisados neste trabalho serão de origem primária e utilizou-se o mé-todo dedutivo descritivo, no qual o tratamento das observações tem por finalidade a busca concreta de uma descrição lógica para um determinado raciocínio (RICHARD-SON et al., 1999). A abordagem será qualitativa e quantitativa, e, segundo os autores, referem-se à coleta de dados e sua divisão em categorias, a fim de que se evitarem erros de avaliações, bem como uma melhor descrição estatística destes.

Métodos

O referencial teórico deste trabalho baseia-se no modelo de Cohen e Levinthal (1990), no qual os fatores determinantes da capacidade de absorção de tecnologia vi-sam identificar se houve ou não inovações nessas empresas, e, após, avaliar se as mes-mas podem ou não ser transmitidas aos empregados. A transmissão se dá através da análise dos dados sobre a mão de obra, sua escolaridade e a importância que os agen-tes dão a essa característica em cada ramo e setor de atividade.

Os dados foram coletados nos dias 11 e 12 de novembro de 2010 e foram entre-vistadas 23 pessoas. A escolha dos locais de coleta ocorreu de forma aleatória, após contato com o Sindicato das Indústrias de Joalheria, Mineração, Lapidação, Beneficia-mento e Transformação de Pedras Preciosas do Rio Grande do Sul (Sindipedras/RS), que forneceu o contato com empresas do setor de pedras e gemas.

Variáveis, conceitos ou categorias utilizadas

O instrumento de pesquisa foi adaptado da Rede de Pesquisa em Sistemas de Ar-ranjo Produtivos e Inovativos Locais (Redesist) da Universidade Federal do Rio de Ja-neiro (UFRJ, 2010). A adaptação tem por objetivo descrever a relação que os tomadores de decisão veem na relação entre os diversos atores do sistema regional de inovação existente no município de Soledade/RS. Esse sistema é formado “não por uma organi-zação específica, mas sim pela rede de relações entre as entidades integrantes dos seto-res tecnológico, acadêmico, empresarial, governamental e institucional” (GONZÁLEZ OSÓRIO, 2008, p. 48).

O questionário está dividido em três categorias. Na primeira, estão questões re-lacionadas à identificação do ramo e setor de atividade a que pertence o entrevistado. Outras informações como, por exemplo, o enquadramento jurídico e nível de esco-larização do respondente fazem parte dessa categoria, bem como o número total de empregados.

Page 40: Revista TEE_ano18_n39_2012

217

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 208-235, jul./dez. 2012

Na segunda categoria estão questões relacionadas à mão de obra. Nesta, a escola-ridade dos empregados é uma questão importante, pois visa observar como o processo de transferência de tecnologia pode ser adequado à realidade dos setores entrevista-dos. Outra questão refere-se à importância dada ao nível de escolaridade dos cola-boradores nos diversos ramos de atividade (indústria, comércio varejista, comércio atacadista e serviços).

A terceira categoria visa identificar as inovações realizadas pelos entrevistados e seus respectivos setores, através de quatro subcategorias: (1) tipo de atividade inovati-va; (2) introdução de inovações em produtos, processos ou mudanças organizacionais. A terceira subcategoria visa identificar as fontes de informação para o aprendizado, através da utilização de fontes internas de aprendizado, fontes externas e a identifi-cação de outras fontes de informação. As questões foram classificadas por grau de importância, sendo zero (0) não relevante, um (1) baixa relevância, dois (2) média re-levância e três (3) como sendo de alta relevância. Além da identificação, buscou-se observar se houve formalidade ou informalidade nos processos de inovação, aprendi-zado e nas fontes de informação.

Forma de obtenção e de análise dos resultados

Após a coleta dos dados, os mesmos foram tabulados, e para a descrição e cruza-mentos dos dados foram utilizadas as categorias ramo de atividade e setor de atuação como variáveis dependentes. Para tanto, utilizou-se o Microsoft Excel. Após a tabu-lação dos dados, foram utilizadas tabelas dinâmicas na sumarização dos resultados.

Resultados e discussõesApós a coleta dos dados, pode-se destacar que no universo de 23 entrevistados a

distribuição ocorreu da seguinte maneira. Em relação ao ramo de atuação, foram ou-vidos representantes de duas empresas do ramo industrial, quatro do comércio vare-jista, cinco empresas do comércio atacadista e 12 empresas do setor de serviços. Sobre essas instituições, quando observados o setor de atuação a que pertencem, seguem a seguinte ordem: do setor tecnológico foi observada apenas uma entrevista, quatro são do setor institucional, dois do setor educacional, dois do setor governamental e 14 do setor empresarial. Destaca-se que, deste último grupo, 13 são empresas familiares.

A média de atuação dos entrevistados no mercado local é de 34 anos. Dentre os entrevistados, destaque para a atuação dos homens à frente dos negócios, pois 16

Page 41: Revista TEE_ano18_n39_2012

218

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 208-235, jul./dez. 2012

respondentes são do sexo masculino, enquanto foram ouvidas sete pessoas do sexo feminino. A escolaridade dos entrevistados é duas pessoas com ensino médio incom-pleto, seis pessoas com ensino médio completo, apenas uma com ensino superior in-completo, nove pessoas com ensino superior completo, quatro entrevistados possuem especialização e um possui doutorado. Em relação à formação acadêmica, observa-ram-se duas pessoas para cada uma seguintes formações: administração, economia, letras, computação e contabilidade, totalizando 10 pessoas.

A média de pessoas em ocupação formal, ou seja, com carteira assinada, segun-do o universo da pesquisa, foi de 16 pessoas. Destaca-se que nessa observação foram excluídos os funcionários da prefeitura municipal. Justifica-se que, por se tratar de um grande número de pessoas que trabalham nesse setor (governamental), a observação acabou por elevar a média de trabalhadores acima da realidade da pesquisa.

A segunda categoria, que objetiva descrever a relação da mão de obra, sua esco-laridade e a capacitação profissional, observou-se que a grande maioria dos agentes entrevistados possui várias subcategorias onde foram assinaladas; dessa forma, foi necessária a criação de legendas para diagnosticar combinações diferentes de escolari-dade dos colaboradores.

Quando perguntado se havia interesse por profissionais capacitados em institui-ções educacionais da região, os resultados apontam que, quando utilizada a variável setor de atividade, dez pessoas disseram procurar pessoal qualificado nas instituições de ensino. Quatro pessoas informaram manter contato com a Universidade de Passo Fundo, três, buscar mão de obra em escolas técnicas e outras três em centros de capa-citação profissional (Senai e Centro Tecnológico de Pedras e Gemas).

Com relação à contratação e treinamento de profissionais e sua importância, des-taca-se na Figura 1 as seguintes questões foram apresentadas aos agentes em relação à: realização treinamentos internos ou treinamentos em cursos técnicos, 35% não reali-zam, entre os que realizam 52% consideram de alta relevância.

Page 42: Revista TEE_ano18_n39_2012

219

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 208-235, jul./dez. 2012

Fonte: Dados da pesquisa (2010).

Figura 1 - Contratação e treinamento de profi ssionais e sua importância – Soledade/RS

Quando perguntado sobre cursos técnicos, 43% não realizam, enquanto os que realizam 35% consideram de alta relevância. Estágios e treinamentos com fornecedo-res, 57% não realizam, os que realizam apenas 35% consideram de alta relevância. Se o agente buscava absorver formandos de cursos técnicos no município ou região, 83% não realizam e entre os que realizam somente 9% apontam a alta relevância neste aspecto.

A busca pela absorção de formandos universitários não é realizada por 65% dos respondentes. Entre os que afirmaram realizar, 22% consideram de alta relevância. A realização de contratação de profissionais de outras empresas não é realizada por 83% dos entrevistados, enquanto 13% contratam profissionais de outras empresas e apon-tam alta relevância. Finalmente, 87% dos agentes não buscam profissionais nos centros de formação de mão de obra.

As características e a importância da mão de obra para as atividades nos setores pesquisados estão representados na Figura 2. Nesse tópico foi questionada a impor-tância dos colaborados possuírem escolaridade formal de 1º e 2º graus, 73,9% consi-deram de alta importância o conhecimento prático/técnico dos colaboradores, 78,3% apontaram ter disciplina/flexibilidade/criatividade e 82,6% apontaram a capacidade de aprendizado.

Page 43: Revista TEE_ano18_n39_2012

220

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 208-235, jul./dez. 2012

Fonte: Dados da pesquisa (2010).

Figura 2 – Característica e importância da formação da mão de obra, Soledade - RS, 2010

Esse resultado é facilmente observado, pois foi apontado por todos os 23 entre-vistados, seguida pela capacidade de aprender novas qualificações, apontada por 19 dos entrevistados. Alguns respondentes apontaram como sendo não relevante para sua atividade, a escolaridade formal de ensino fundamental e médio, somando seis observações.

As opiniões desses agentes, se investigadas mais profundamente, podem indicar que as empresas que têm sua fonte de renda centrada na exportação de pedras pre-ciosas no município não necessitam de profissionais qualificados em determinadas processos produtivos da empresa.

Em relação à inovação, cooperação e aprendizado, optou-se por dividir essa seção em quatro subcategorias. Na primeira subcategoria foi questionado o tipo de atividade inovativa realizado no período de 2000 a 2008. Os itens buscam observar se houve o desenvolvimento de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D); 65% não desenvolveram. No entanto, 48% realizam rotineiramente novas formas de comercialização e distribuição, seguidas por 35% que realizam ocasionalmente. Aquisição externa de P&D não é de-senvolvida por 76% dos respondentes.

A aquisição de máquinas e equipamentos foi realizada rotineiramente por 48% dos entrevistados, enquanto a aquisição de outras tecnologias não é desenvolvida por

Page 44: Revista TEE_ano18_n39_2012

221

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 208-235, jul./dez. 2012

61% dos agentes, conforme se pode observar na Figura 3. Nela observa-se que 15 res-ponderam não desenvolver atividades de P&D, seis desenvolveram rotineiramente e apenas dois agentes desenvolveram ocasionalmente.

Fonte: Dados da pesquisa (2010)

Figura 3 - Tipo de atividade inovativa desenvolvida entre 2000 e 2008 em Soledade – RS, 2010.

O destaque positivo está na aquisição de máquinas e equipamentos que implica-ram melhorias tecnológicas e novas formas de comercialização, pois 11 respondentes disseram desenvolver rotineiramente essas atividades inovativas. Quanto à aquisição de outras tecnologias, apenas cinco agentes disseram desenvolver rotineiramente e outros quatro ocasionalmente.

Na Figura 4 procurou-se observar se ocorreram introduções de inovações entre o período de 2000 a 2008. Optou-se por dividir essas inovações em três grupos: inova-ções de produtos, inovações em processos e outras inovações, além da realização de mudanças organizacionais (inovações organizacionais).

Ao serem questionados sobre as inovações de produtos, 69,5% dos respondentes disseram ter adquirido ou lançado produto novo, porém já existente no mercado, o que pode indicar o desenvolvimento de conhecimento prévio, adquirido em feiras e expo-sições, o que é muito comum no município. Dos 52,17% dos agentes que apontaram ter lançado produto novo para o mercado nacional, pode-se destacar a influência sobre os artefatos em joias e semijoias desenvolvidos no município, e que há pouco tempo ganharam repercussão nacional em programas de televisão (BATISTI; TASTCH, 2009).

Page 45: Revista TEE_ano18_n39_2012

222

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 208-235, jul./dez. 2012

Destaca-se que, apesar de pouca expressão, 39,13% dos agentes lançaram produtos no-vos para o mercado internacional, revelando o potencial tecnológico que o município vislumbrou nos últimos anos, após a instalação de CTPedras, que aproximou alguns agentes de novas tecnologias e, consequentemente, novos mercados, agregando valor aos produtos daquele município.

Fonte: Dados da pesquisa (2010).

Figura 4 – Inovações de produto entre 2000 e 2008 em Soledade - RS

Quando perguntado sobre inovações de processos tecnológicos para o ramo de atuação, conforme Figura 5, observou-se que 52,2% entrevistados responderam ter rea lizado processos tecnológicos para o ramo de atuação, enquanto 42,5% dos agentes responderam ter realizado processos tecnológicos para o setor de atuação. Em relação a outros tipos de inovação, 69,9% disseram ter criado ou introduzido melhoramento no acondicionamento de produtos, através de novas embalagens. Tal melhoramento se reflete no alto nível de exportação, apresentado na Figura 4. Já a inovação em de-senho de produtos, realizada por 52,2% dos agentes, é um número que reflete nova-mente a introdução de novas tecnologias e agregação de valor aos produtos internos do município.

A realização de mudanças organizacionais, quarta e última categoria de análise do processo de introdução de inovações, apresentou os seguintes resultados, conforme a Figura 6. Ao serem perguntados sobre a implantação de técnicas avançadas de ges-tão, 47,8% responderam ter implantado novas técnicas; já em relação a mudanças sig-nificativas nos conceitos ou práticas de comercialização, este item foi apontado como tendo sido realizada por 56,5% dos respondentes.

Page 46: Revista TEE_ano18_n39_2012

223

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 208-235, jul./dez. 2012

Fonte: Dados da pesquisa (2010).

Figura 5 – Inovações de processos entre 2000 e 2008 em Soledade - RS

Destaca-se aqui que o município possui um sistema de inovação em desenvolvi-mento e participativo, sendo tal fato avaliado posteriormente pelos agentes. Em segui-da, os conceitos ou práticas de marketing foram implantados por 52,2% dos entrevista-dos. Novos conceitos ou práticas de comercialização foram implantados por 60,9%dos agentes. No entanto, quanto a novos métodos de produção que objetivassem atender a normas de certificação, como ISO 9000 e ISO 14000, 19 responderam não ter implan-tado tais normas, ou seja, 82,6%, o que pode revelar uma despreocupação dos agentes com normas de processos produtivos e normas ambientais.

Fonte: Dados da pesquisa (2010)

Figura 6 – Realização de mudanças organizacionais entre 2000 e 2008, Soledade - RS

Page 47: Revista TEE_ano18_n39_2012

224

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 208-235, jul./dez. 2012

Na Figura 7 buscou-se analisar a existência de fontes de informação para o apren-dizado utilizadas no município Soledade - RS, fontes que tenham por objetivo melho-rar o aprendizado. Para tanto, foram observadas três variáveis, sendo a primeira delas a utilização de fontes internas de aprendizado; a segunda refere-se à utilização de fontes externas de aprendizado, enquanto na terceira e última observou-se se houve a utilização de outras fontes de informação que beneficiassem o aprendizado.

Primeiramente foram observadas a formalidade e a informalidade das observa-ções, conforme descrito na Figura 7. Destaca-se que 73,9% dos agentes disseram não utilizar departamento de P&D formal. Somente 39,13% dos agentes disseram possuir área de produção e atuação da empresa, enquanto 52% disseram possuir área de ven-das e marketing, serviços internos de atendimento ao cliente.

Fonte: Dados da pesquisa (2010).Figura 7 – Fontes de informação formal e informal para o aprendizado, Soledade – RS: Fontes

internas de aprendizado

Em relação à utilização de fontes externas de aprendizado, pode-se destacar que há um gargalo a ser enfrentado pelos agentes. Os resultados apontam que somente 52,2% utilizam formalmente como fontes externas o conhecimento transmitido por outros agentes ou outras empresas de setor; 56,5% não utilizam os conhecimentos das empresas associadas. Em relação aos fornecedores de insumo, observa-se que 43,5% fazem uso dos conhecimentos transmitidos, por meio de treinamentos em equipamen-tos e materiais novos; as pesquisas de satisfação dos clientes não são utilizadas por 39,1% dos agentes. Enquanto os conhecimentos dos concorrentes são utilizados por somente 17,4% dos agentes. E, finalmente, 65,2% dos agentes disseram não utilizar empresas de consultoria como fontes externas de conhecimento.

Page 48: Revista TEE_ano18_n39_2012

225

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 208-235, jul./dez. 2012

Fonte: Dados da pesquisa (2010).

Figura 8 – Fontes de informação formal e informal para o aprendizado, Soledade – RS: Fontes externas de aprendizado – conhecimento

As demais fontes de informação e seus respectivos valores são apresentados na Figura 9. Nela, observa-se que 56,5% não utilizam informações via internet, enquan-to as associações empresariais do município são utilizadas como fonte externa por 47,83% dos agentes. As feiras, exibições e lojas são utilizadas por 82,6% dos respon-dentes, e as conferências, seminários, cursos e publicações são utilizados por 65,2% dos entrevistados.

Fonte: Dados da pesquisa (2010).

Figura 9 – Fontes de informação formal e informal para o aprendizado, Soledade – RS: Outras fontes de informação

Page 49: Revista TEE_ano18_n39_2012

226

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 208-235, jul./dez. 2012

Considerações fi naisAo discutir as transformações sobre a evolução da teoria econômica, este trabalho

buscou relacionar a ciência, tecnologia e produção, conceitos que, a partir da década de 1990 no Brasil, passaram a ter maior ênfase sobre os processos de inovação e difu-são tecnológica, assim como a transferência de tecnologia.

O presente estudo buscou analisar, após descrever o que autores neoschumpe-terianos, também chamados de “evolucionistas”, acrescentaram à teoria econômica nos últimos anos, tal como o fato de que o progresso tecnológico é considerado o pro-pulsor do crescimento econômico. Assim, se fez necessário analisar a capacidade de inovação e absorção de tecnologia no município de Soledade - RS.

Para tanto, foi utilizado o modelo de transferência de tecnologia e, por meio da aplicação de um instrumento de pesquisa, verificar a interação entre os atores do Siste-ma Regional de Inovação, formado pelos setores tecnológico, acadêmico, empresarial, governamental e institucional, instalados e consolidados no município, e assim, iden-tificar o potencial de absorção de tecnologia no município.

Os principais resultados descrevem que as qualificações dos agentes no municí-pio relacionadas com a formação de mão de obra indicam divergências quanto à sua importância para o crescimento, desenvolvimento econômico e processo inovativo. Sabe-se que a teoria enfatiza a relevância do capital humano junto aos modelos de crescimento econômico.

No tocante ao tipo de atividade inovativa desenvolvida e de inovações, produtos e processos, conclui-se que não há desenvolvimento, mas sim aquisição de P&D junto ao sistema regional de inovação do município. Evidencia-se uma baixa frequência por novas formas de comercialização e distribuição, o que justifica a reduzida aquisição de produtos novos para o mercado nacional e internacional, corroborando a baixa reali-zação de novos processos tecnológicos para o setor e empresas, e a escassa aplicação de técnicas gerenciais (técnicas avançadas de gestão, práticas de marketing e normas de certificação).

As fontes internas são pouco expressivas diante do contexto da não utilização de departamento de P&D, bem como áreas de produção e atuação da empresa, apesar de possuírem áreas de vendas, marketing e serviços internos de atendimento ao cliente com mais ênfase participativa no processo.

Segundo o modelo utilizado, as fontes externas de informação são a maneira de identificar a capacidade de absorção de conhecimento disponível à comunidade. Dessa forma, destaca-se que há um gargalo a ser enfrentado pelos agentes do mu-nicípio, pois grande parte dos apontamentos realizados não contempla as empresas

Page 50: Revista TEE_ano18_n39_2012

227

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 208-235, jul./dez. 2012

associadas, empresas de consultoria e conhecimento dos concorrentes como fontes ex-ternas de informação.

O destaque positivo fica por conta das informações adquiridas de outras empre-sas do setor, da capacitação oferecida por fornecedores de insumos e a utilização de pesquisa de satisfação de clientes.

Salienta-se que o ponto forte do município é a utilização de feiras, exibições e lo-jas, o que promove a interação entre os segmentos de informações via rede de internet, conferências (seminários) e de associações empresariais existentes no município.

Em relação ao sistema regional de inovação do município, destaca-se a importân-cia dada pelos agentes às atividades cooperativas desenvolvidas, além da contribuição de sindicatos, associações e cooperativas existentes no município, e que consolidam o potencial de investimentos que o município pode receber por agentes de outros seg-mentos econômicos, principalmente de origem financeira.

Esse fato pode proporcionar alternativas de crescimento, sem que o município dependa somente da exportação de pedras preciosas, e, consequentemente, do câmbio favorável à atividade. Finalmente, pode-se apontar o município gaúcho de Soledade como um município de grande potencial de absorção de tecnologia e agregação de valor à produção local.

Page 51: Revista TEE_ano18_n39_2012

228

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 208-235, jul./dez. 2012

ABSORPTION AND TRANSFER OF TECHNOLOGY: A CASE STUDY IN THE CITY OF SOLEDADE - RS

AbstractFrom the 1990s, it was observed that the relations between science, technology and production started to have a focus on innovation and diffusion of technology (knowledge transfer). The improvement in the technological level of regional economies and provides economic growth, when focused on specifi c sectors, can support the development of a whole regional production chain. Thus, we assessed the ability of innovation and technology absorption in the Soledade (RS) city from interaction in the Regional Innovation System in the municipality. To construct this analysis, we used the model of spillover technology developed by Cohen and Levinthal (1990) and a questionnaire adapted from REDESIST Federal University of Rio de Janeiro, de-scribing the data statistically. The results indicate that the innovation process with the mu-nicipality supports a direct relationship between the absorption potential of technology and adding value to local production and differences in the effi cacy of technological factors on the growth of local economy. It is concluded that the city has incipient performance in R&D as the major purchases of machinery and equipment are from other research centers. In addition, there are bottlenecks in the external sources that harm economic growth of the municipality.

Keywords: Gems. Jewels. Precious stones. Technology. Transfer.

ABSORCIÓN Y TRANSFERENCIA DE TECNOLOGÍA: UN ESTUDIO DE CASO EN LA CIUDAD DE

SOLEDADE - RS

ResumenA partir de la década de 1990, se observó que la relación entre la ciencia, la tecnología y la pro-ducción comenzó a tener un enfoque en la innovación y difusión de tecnología (transferencia de conocimientos). La mejora del nivel tecnológico de las economías regionales y proporciona el crecimiento económico, cuando se centra en sectores específi cos, puede apoyar el desarrollo de una cadena de suministro regional completo. Así, se trata de evaluar la capacidad de in-novación y asimilación de tecnología en el municipio de Soledade (RS) la interacción basada en el Sistema Regional de Innovación de la municipalidad. Para la construcción de este análi-sis, se utilizó el modelo de efectos colaterales tecnología desarrollada por Cohen y Levinthal (1990) y un cuestionario adaptado de RedeSist la Universidade Federal de Rio de Janeiro, que describe los datos estadísticamente. Los resultados indican que el proceso de innovación con el municipio apoya una relación directa entre el potencial de absorción de tecnología y valor a la producción local y las diferencias respecto a la efi cacia de los factores tecnológicos en el crecimiento de la economía local. Llegamos a la conclusión de que el municipio tiene un rendimiento incipiente en P&D como las principales adquisiciones de maquinaria y equipo son de otros centros de investigación. Por otra parte, existen cuellos de botella en las fuentes externas que perjudican el crecimiento económico del municipio.Palabras clave: Gemas. Joyas. Piedras. Tecnología. Traslado.

Classifi cação JEL: O31, O32, O33

Page 52: Revista TEE_ano18_n39_2012

229

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 208-235, jul./dez. 2012

Notas1 Com a abertura comercial e fi nanceira realizada na década de 1990, a implantação do Plano Real como

mecanismo de estabilização da economia e a crescente tendência de internacionalização do capital pro-porcionaram signifi cativo aumento no montante de novas tecnologias inseridas à economia brasileira. No Brasil, o atraso tecnológico e o baixo nível de investimento em capital humano qualifi cado são ape-nas dois gargalos a serem enfrentados após a abertura (FRANCO, 1999).

2 O modelo Probit, desenvolvido por Metcalfe (1981), descreve o ambiente como não estático, e, sempre que uma nova tecnologia é inserida e absorvida, há um deslocamento do equilíbrio entre a oferta e de-manda após a absorção da nova difusão tecnológica. Esse desequilíbrio pode acontecer de três formas: a) aumento do tamanho das empresas; b) baixo custo de aquisição da nova tecnologia; c) aumento da produtividade proporcionado pela absorção da nova tecnologia. Por consequência, o que provoca o deslocamento do centro dinâmico tecnológico é: a) o crescimento econômico; b) inovações complemen-tares; c) e o learning by doing (aprender fazendo), tanto pelo lado da demanda como da oferta (FURTA-DO, 2006).

Referências

BARRETO, Aldo de Albuquerque. Mecanismo de absorção de tecnologia. Relatório de Pesquisa realizada para o PADCT em 1989. Disponível em: <http://www.e-iasi.org/cinfor/mecanism/mecanabs.htm>. Acesso em: out. 2010.BATISTI, Vanessa de Souza.; TATSCH, Ana Lúcia.; O APL gaúcho de gemas e jóias: infraestrutura produtiva, educacional e institucional. 5º Encontro de Economia Gaúcha. Secção D) Estudos se-toriais, cadeias produtivas, sistemas locais de produção. Editora PURS, 2009. Disponível em: <http://www.pucrs.br/eventos/eeg/?p=aprovado>. CARNEIRO, Ricardo. Desenvolvimento em crise: a economia brasileira no último quarto do século XX. São Paulo: Ed. Universidade Estadual de Campinas, 2002. 423p.COHEN, W.M., LEVINTHAL, D. A. “Absortive capacity: a new perspective on learning and innovation” Administrative Science Quarterly, v. 35, p. 128–152, mar. 1990._______. Innovation and learning: the two faces of R&D. Economic Journal, v. 99, n. 397, p. 569, 1989. DOSI, G.; Technical Change and Industrial Transformation. New York: St. Martin’s Press, 1984. 338 p.FRANCO, Gustavo Henrique Barroso. O desafi o brasileiro: ensaios sobre desenvolvimento, glo-balização e moeda. São Paulo: 34, 1999. 349 p.FREEMAN, C.; PEREZ, C.; The diffusion of technical innovations and change of technico-eco-nomic paradigm. In: Dosi, G. et al (Org.). Technical Change and Economy Theory. Londres: Printer. 1988. FURTADO, A.; Difusão Tecnológica; um debate superado?. In: PELAEZ, V.; SZMRECSÁNYI, T.; (org) Economia da Inovação Tecnológica. São Paulo: Hucitec: Ordem dos Economistas do Brasil, 2006. 497 p.: Il – (Economia & Planejamento; v.40. Série Obras Didáticas). p. 168-192.

Page 53: Revista TEE_ano18_n39_2012

230

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 208-235, jul./dez. 2012

GONZÁLES OSÓRIO, Hector Hermán; CANDIDO, Roberto; LABIAK JÚNIOR; Silvestre. Siste-ma regional de inovação no sudoeste do Paraná. Pato Branco: Sebrae – Reparte, 2008. 100 p.GRILICHES, Z.; The hybrid corn revisited. Econometrica, 48, 1957, p. 1451-162.JONES, Charles Irving. Introdução à teoria do crescimento econômico. Rio de Janeiro: Campus, 2000. 178 p.JORGE, Marina Filgueiras. Investimento estrangeiro direto e inovação: um estudo sobre ramos se-lecionados da indústria brasileira. Dissertação de mestrado. Rio de Janeiro, RJ. UFRJ. 2007. 86 f. Disponível em: <www.ufrj.br/economia>. Acesso em: jun. 2010.KRUGMAN, Paul R.; OBSTFELD, Maurice. Economia internacional: teoria e política. 8. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010. xvii, 554 p.MANKIW, G.; ROMER, D.; WEIL, D. N.; A Contribution to the Empirics of Economic growth. Quarterly Journal of Economics, v. 107, n. 2, p. 407-437, maio 1992.MANSFIELD, E. Technical change and the rate of imitation. Econometria. Outubro 1961. p. 741-766.METCALFE, J. S.; Impulse and diffusion in the study of technical change. Futures, 13, 1981. p. 347-359NELSON, R. R.; WINTER, S. G.; An evolutionary theory of economic change. Harvard College, 1982.POSSAS, Sílvia. Concorrência e Inovação. In: PELAEZ, V.; SZMRECSÁNYI, T.; (org) Economia da Inovação Tecnológica. São Paulo: Hucitec: Ordem dos Economistas do Brasil, 2006. 497p. Il – (Economia & Planejamento; v.40. Série Obras Didáticas). p. 13-40 Prefeitura Municipal de Soledade. PMS. Disponível em:<www.soledaders.com.br> . Acesso em: out. 2010.RAUBER, Jaime José; SOARES, Marcio (Org.). Apresentação de Trabalhos Científi cos: normas e orientações práticas. 3. ed. Passo Fundo: UPF, 2003.RICHARDSON, Roberto Jarry; PERES, José Augusto de Souza (Colab.). Pesquisa social: métodos e técnicas. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1999. 334 p.ROSENBERG, N. Tecnología y Economía. Barcelona: Gustavo Gili. 1979.SAMUELS, W.; SCHMID, A. A. (1996). The concept of cost in Economics. In: SAMUELS, W.; MADEMA, S.; SCHMID, A. A., (Org.). The economy as a Process of Valuation, p. 208-298. Chelten-ham: Edward Elgar SILVERBERG, G.; DOSI, G.; ORSENIGO, L.; Innovation, diversity and diffusion: a self-organi-sation model. The Economic Journal. v. 98, p. 1032-1054, dez. 1988.Sindicato das Indústrias de Joalheria, Mineração, Lapidação, Benefi ciamento e Transformação de Pedras Preciosas do Rio Grande do Sul. SINDIPEDRAS. Disponível em: <www.sindipedras.com.br>. Acesso em: out. 2010. SOLOW, R. M. A.; A Contribution To The Theory Of Economic Growth. Quarterly Journal of economics, 70:65-94, February 1956.

Page 54: Revista TEE_ano18_n39_2012

231

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 208-235, jul./dez. 2012

________. Technical Change and the Aggregate Production Function. Review of Economics and Statistics, 39: 214-231, August 1957.TREZ, Janaina Ruffon. Ideias fundadoras. Revista Brasileira de Inovação. v. 8, n. 2, 280 p., jul./dez., 2009. Rio de Janeiro: Finep, 2009.TONEZER, Juliano da Silva; HARTMANN, Léo Afrânio; SILVA, Carlos Arthur. O Centro Tec-nológico de Pedras, Gemas e Jóias do Rio Grande do Sul no ambiente de um arranjo produtivo local. In: Tecnologias para o setor de gemas, jóias e mineração. Porto Alegre: Editora UFRGS, 2010.UFRJ. Rede de Pesquisa em Sistemas e Arranjos Produtivos e Inovativos Locais (REDESIST). Disponí-vel em: <http://www.redesist.ie.ufrj.br/>. Acesso em: 3 dez. 2010.VIEIRA FILHO, J. E. R.; Inovação tecnológica e aprendizado agrícola: uma abordagem schumpete-riana. Tese (doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Economia – Cam-pinas, SP: [s.n], 2009. 154 p.

AnexoEste questionário tem por objetivo investigar quais os gargalos a serem enfrentados pelo muni-

cípio de Soledade – RS em relação à capacidade de transferência de tecnologia e faz parte de Trabalho de Conclusão de Curso (...). As informações contidas neste questionário serão mantidas em sigilo absoluto, sendo utilizadas a fim de evidenciarem-se os gargalos enfrentados no processo de transfe-rência e capacidade de absorção de tecnologia. Este questionário é baseado na REDESIST da UFRJ.

Introdução: OS ATORES DO SISTEMA REGIONAL DE INOVAÇÃO SE ESTABELECERÃO NÃO POR UMA ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL ESPECÍFICA E SIM PELA REDE DE RELA-ÇÕES ENTRE AS ENTIDADES INTEGRANTES DOS SETORES TECNOLÓGICO, ACADÊMICO, EMPRESARIAL, GOVERNAMENTAL E INSTITUCIONAL

1 – IDENTIFICAÇÃO DA EMPRESA:1.1 Ramo da atividade: ( ) indústria ( ) comércio varejista ( ) comércio atacadista ( ) serviços1.2 Setor: ( ) tecnológico ( ) institucional ( ) educacional/acadêmico ( ) governamental ( ) empresarial1.3 Enquadramento jurídico: ( ) Sociedade em comandita simples ( ) Soc. limitada ( ) Soc. anônima ( ) Empresa individual1.4 Empresa familiar: ( ) sim ( ) não. Tempo de atuação no mercado: _________ 1.5 Sexo do respondente: masc ( ) fem ( ) 1.6 Nível de escolarização do respondente: Ensino fundamental incompleto ( ) Ensino fundamental completo ( ) Ensino médio incompleto ( ) Ensino médio completo ( ) Ensino superior incompleto ( ) Ensino superior completo ( ) Especialização ( ) Mestrado ( ) Doutorado ( ) 1.7 Número total de empregados:_________________ Homens:___________ Mulheres:_________ 1.8 Tamanho da firma: Microempresa ( ) Pequena empresa ( ) Média ( ) Grande ( ) 1.9 Tempo de atividade no setor:____________________

Page 55: Revista TEE_ano18_n39_2012

232

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 208-235, jul./dez. 2012

2 – Mão de obra2.1 – Escolaridade dos colaboradores:Ensino fundamental incompleto ( ) _______ Ensino fundamental completo ( )Ensino médio incompleto ( ) _______ Ensino médio completo ( ) ______ (formação)______________Ensino superior incompleto ( ) _______ (formação)____________Ensino superior completo ( ) _______ (formação)______________________Especialização ( ) _______ Mestrado ( ) _______ Doutorado ( ) _______

2.3 – Sua empresa busca profissionais capacitados em instituições educacionais da região? SIM ( ) NÃO ( )

2.3.1 – Quais as principais instituições nas quais a empresa busca profissionais?1 - Escolas Técnicas ( ) 2 - Centro de capacitação profissional ( ) UPF ( ) Especificar 1 ou 2: ________________________________________________________________________

2.3 Contratação e treinamento de profissionais na empresa e sua importância:Escala (1) para baixa importância; (2) média importância; (3) alta importância; 0 caso não seja

relevante.

Fatores Formal Grau de importânciaSão realizados treinamento internos na empresa (Sim)(Não) (0) (1) (2) (3)São realizados treinamento em cursos técnicos (Sim)(Não) (0) (1) (2) (3)São realizados estágios com empresas fornecedoras (Sim)(Não) (0) (1) (2) (3)A empresa busca absorção de formandos em cursos técnicos localizados na região

(Sim)(Não) (0) (1) (2) (3)

A empresa busca absorção de formandos universitários (Sim)(Não) (0) (1) (2) (3)

A empresa busca contratação de profi ssionais de outras empresas

(Sim)(Não) (0) (1) (2) (3)

A empresa busca contratação de profi ssionais nos centros de formação de mão de obra

(Sim)(Não) (0) (1) (2) (3)

2.4 - Características e importância da formação da mão de obra para sua empresa:Escala (1) para baixa importância; (2) média importância; (3) alta importância; 0 caso não seja

relevanteCaracterísticas Grau de importância

Escolaridade formal 1º e 2º Graus / Ensino fundamental e médio (0) (1) (2) (3)Escolaridade em nível superior e técnico (0) (1) (2) (3)Conhecimento prático e/ou técnico dos colaboradores na produção (0) (1) (2) (3)Disciplina, fl exibilidade e criatividade dos colaboradores (0) (1) (2) (3)Capacidade de aprender novas qualifi cações (0) (1) (2) (3)

Page 56: Revista TEE_ano18_n39_2012

233

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 208-235, jul./dez. 2012

3 - Inovações, cooperação e aprendizado3.1 Que tipo de atividade inovativa sua empresa desenvolveu no período de 2000 a 2008?

Escala: 0 não desenvolveu; 1 desenvolveu rotineiramente; 2 desenvolveu ocasionalmente

Descrição Grau de importânciaDesenvolveu pesquisa e desenvolvimento (P&D) na sua empresa (0) (1) (2)Aquisição externa de P&D - através de consultorias, pesquisas encomendadas (0) (1) (2)

Aquisição de máquinas que implicaram signifi cativas melhorias tecnológicas de produtos/processos ou que estão associados aos novos produtos/processos

(0) (1) (2)

Aquisição de outras tecnologias (softwares, licenças, transferência de tecnologias, tais como patentes e marcas) (0) (1) (2)

Novas formas de comercialização e distribuição para o mercado de produtos novos ou signifi cativamente melhoradas (0) (1) (2)

3.2 – Introdução de inovações. Qual destas ações sua empresa realizou no período de 2000 a 2008?

Descrição Sim NãoInovações de produtoA empresa adquiriu ou lançou produto novo para sua empresa, porém já existente no mercado?A empresa adquiriu ou lançou produto novo para o mercado nacional?A empresa adquiriu ou lançou produto novo para o mercado internacional?Inovações de processoA empresa realizou processos tecnológicos para o ramo de sua empresa?A empresa realizou processos tecnológicos novos para o setor de atuação?Outros tipos de inovaçãoA empresa criou ou melhorou o acondicionamento de produtos (embalagem)?A empresa realizou inovações no desenho dos produtos?Realização de mudanças organizacionais (inovações organizacionais)Implementou técnicas avançadas de gestão?Implementou signifi cativas mudanças na estrutura organizacionalImplementou mudanças signifi cativas nos conceitos e ou práticas de marketing?Implementou mudanças signifi cativas nos conceitos e ou práticas de comercialização?Implementou novos métodos de produção visando atender normas de certifi cação (iso 9000, 14000)

Page 57: Revista TEE_ano18_n39_2012

234

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 208-235, jul./dez. 2012

3.3 As fontes de informação para o aprendizado:Escala (1) para baixa importância; (2) média importância; (3) alta importância; 0 caso não seja relevante.

Fontes internas de aprendizado Grau de importância FormalA empresa possui departamento de P&D (0) (1) (2) (3) (Sim)(Não)Possui área de produção e atuação da empresa (0) (1) (2) (3) (Sim) Não)Possui área de vendas e marketing, serviços internos de atendimento ao cliente

(0) (1) (2) (3) (Sim) Não)

Fontes externas de aprendizado, a empresa: (0) (1) (2) (3)Utilizou o conhecimento de outras empresas do setor (0) (1) (2) (3) (Sim)(Não)Utilizou o conhecimento de empresas associadas (0) (1) (2) (3) (Sim)(Não)Utilizou fornecedores de insumos como fontes externas (equipamentos e materiais)

(0) (1) (2) (3) (Sim)(Não)

Utilizou a satisfação dos clientes (0) (1) (2) (3) (Sim)(Não)Utilizou o conhecimento dos concorrentes (0) (1) (2) (3) (Sim)(Não)Utilizou empresas de consultoria como fontes externas (0) (1) (2) (3) (Sim)(Não)A empresa utilizou outras fontes de informação como: (0) (1) (2) (3)Conferências, seminários, cursos, publicações (0) (1) (2) (3) (Sim)(Não)Feiras, exibições e lojas (0) (1) (2) (3) (Sim)(Não)Associações empresariais do município (0) (1) (2) (3) (Sim)(Não)Informações via redes de internet (0) (1) (2) (3) (Sim)(Não)

3.4 – A empresa despendeu gastos para desenvolver atividades de inovação:Gastos em pesquisa e desenvolvimento / sobre a receita líquida: ____________(%) Gastos em pesquisa e desenvolvimento:_______________________(%)Realizou atividades contínuas em P&D:___________________(%)

Origem dos recursos Próprios:________(%) (lucro da empresa)Terceiros:________(%) (empréstimos)Públicos: ________(%) (acesso ao crédito do governo) Privados:________(%) (bancos privados)

Page 58: Revista TEE_ano18_n39_2012

235

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 208-235, jul./dez. 2012

4. Sistema inovativo do município

4.1 – Você participa de atividades cooperativas no município ou a empresa esteve envolvida em ati-vidades cooperativas entre 2000 e 2008? ( ) sim ( ) não

No caso de resposta afirmativa, ´rossiga respondendo. Escala (1) para baixa importância; (2) média importância; (3) alta importância; 0 casa não seja

relevante

Onde isso aconteceu? Grau de importância FormalizaçãoEntre outras empresas (0) (1) (2) (3) (Sim) (Não)Entre universidades (0) (1) (2) (3) (Sim) (Não)Entre outros agentes, quais?Representantes (0) (1) (2) (3) (Sim) (Não)Entidades sindicais (0) (1) (2) (3) (Sim) (Não)Órgãos de apoio e promoção (0) (1) (2) (3) (Sim) (Não)Agentes fi nanceiros (0) (1) (2) (3) (Sim) (Não)

4.2 Na sua opinião, qual a importância da contribuição de sindicatos, associações, cooperativas, ins-tituições de ensino, no/na:

Escala (1) para baixa importância; (2) média importância; (3) alta importância; 0 caso não seja relevante

Tipos de contribuição Grau de importânciaAuxílio na defi nição de objetivos comuns à comunidade (0) (1) (2) (3)Identifi cação de fontes e formas de fi nanciamento (0) (1) (2) (3)Promoção de ações cooperativas (0) (1) (2) (3)Criação de fóruns e ambientes de discussão (0) (1) (2) (3)Promoção da capacitação tecnológica das empresas (0) (1) (2) (3)Estímulo ao desenvolvimento do sistema de ensino local (0) (1) (2) (3)Organização de eventos técnicos e comerciais (0) (1) (2) (3)

4.3 Políticas públicas, na sua opinião, qual a importância dos/das: Escala (1) para baixa importância; (2) média importância; (3) alta importância; 0 caso não seja

relevanteAções de políticas Grau de importância

Programas de capacitação profi ssional e técnica (0) (1) (2) (3)Melhorias na educação básica (0) (1) (2) (3)Programas de consultoria técnica (0) (1) (2) (3)Estímulos à oferta de serviços tecnológicos (0) (1) (2) (3)Programas de acesso à informação (produção, tecnologia, mercados etc) (0) (1) (2) (3)Linhas de crédito e fi nanciamento (0) (1) (2) (3)Incentivos fi scais e de fi nanciamento (0) (1) (2) (3)

Page 59: Revista TEE_ano18_n39_2012

236

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 236-245, jul./dez. 2012

A presença de cooperativas na área de produção de grãos: um estudo da participação nordestina do matopiba

Edith Lemos Ornellas dos Santos*

Resumo

O presente artigo levanta dados sobre a contribuição das cooperativas no crescimento da produção de grãos na região Matopiba, analisando-os, especifi camente nos estados que cor-respondem à região Nordeste – Maranhão, Piauí e Bahia –, considerando a projeção do agro-negócio do Ministério da Agricultura referente aos períodos 2010/2011 a 2020/2021. Esses dados sugerem que, devido a questões climáticas, econômicas e estruturais, o quadro dessa projeção não se concretizará e acompanham informações que relatam os problemas do coope-rativismo na produção de grãos nesses estados, tais como: perfi l individualista dos produto-res, estrutura precária de escoamento da produção e falta de interesse de grandes produtores em compartilhar decisões do mercado com produtores de menor porte num sistema coope-rativista, bem como outros entraves que justifi cam a limitada presença do cooperativismo no Nordeste. Palavras-chave: Cooperativismo. Matopiba. Produção de grãos.

Submissão: 01/10/2012. Aceite: 23/11/2012

* Professora/Pesquisadora, pós-graduada em Gestão e Desenvolvimento de Seres Humanos, pós-gra-duada em Metodologia do Ensino Superior pelo Núcleo de Estudos Sobre Agricultura Familiar e Desenvolvimento Rural. [email protected]

Page 60: Revista TEE_ano18_n39_2012

237

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 236-245, jul./dez. 2012

IntroduçãoApós as últimas pesquisas deste núcleo de estudos sobre avicultura no Recônca-

vo da Bahia, um novo tema foi lançado para nortear as buscas por informações que agregam conhecimento não só ao meio acadêmico/científico como também ao meio social como um todo: o cooperativismo.

A partir daí decidiu-se por levantar e analisar dados do cooperativismo dentro da produção de grãos, especificamente nos estados do Nordeste, Maranhão, Piauí e Bahia, uma vez que esses estados são citados, no documento do Ministério da Agri-cultura, Pecuária e Abastecimento: Brasil Projeções do Agronegócio 2010/2011 a 2020/2021, como os maiores produtores de grãos, aliados ao estado do Tocantins. A partir desse levantamento, foram avaliados os benefícios do sistema cooperativista no contexto social e econômico do segmento naqueles estados.

A região que envolve esses quatro estados é nomeada de Matopiba e passou a se destacar há dez anos, após a chegada de produtores vindos de outras regiões do país. Nas áreas interessantes ao cultivo de grãos, por ser cerrado, possui grandes áreas de topografia plana e chuvas bem distribuídas. A tecnologia, usada a seu favor, propor-cionou uma safra de 12,2 milhões de toneladas de grãos, representando quase 10% sobre a safra do Brasil, que foi de 149 milhões de toneladas em 2010, segundo a Com-panhia Nacional de Abastecimento (Conab).

O norte deste trabalho é baseado na hipótese de que dentro da perspectiva de crescimento da produção de grãos nos três estados nordestinos do Matopiba, Mara-nhão, Piauí e Bahia, para os próximos dez anos, conforme a projeção do agronegócio, não haverá o crescimento das cooperativas ligadas ao setor de forma proporcional ao crescimento previsto das safras de grãos, repetindo o tímido número de cooperativas no setor na região do Nordeste.

Este perfil limitado do setor cooperativista parece se tornar um grande obstáculo para uma maior reação positiva do seguimento de grãos, uma vez que essas locali-dades ainda apresentam uma visível baixa participação no agronegócio brasileiro e sofre com uma precária ou quase nula infraestrutura para com o escoamento dessa produção, apesar de haver algum resultado positivo com produtores independentes em todos os segmentos da agropecuária. O sistema cooperativista diminui os riscos do negócio, bem como proporciona uma maior integração das comunidades comprometi-das com o objetivo do trabalho. É a união de pessoas para o crescimento da produção e suprimento de demandas, bem como o aumento da renda per capta e consequentemen-te da movimentação financeira desses estados, que talvez os produtores independen-tes não pudessem atender, sem crescer de forma conjunta os seus riscos e obstáculos de mercado.

Page 61: Revista TEE_ano18_n39_2012

238

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 236-245, jul./dez. 2012

Fundamentação teóricaO sistema de cooperativas tem a finalidade de unir os esforços e os talentos, a

fim de buscar o objetivo de crescimento em áreas diversas, nesse caso, na produção de grãos. São produtores que perceberam que as barreiras do agronegócio são minimiza-das quando há mútua ajuda entre os produtores, relegando os problemas de cada um a pequenos obstáculos em que todos investem para solucionar. Ao menos esse é um dos objetivos dessas organizações. Segundo Motta:

Para nós cooperação significa apenas que vários indivíduos trabalham juntos para um determinado objetivo, no mesmo processo de produção, ou processos dife-rentes, mas conexos. Civilizações como a egípcia ou a chinesa tinham uma forma de cooperação própria. Essa forma de cooperação do modo de produção asiático é chamado cooperação simples, e ela pode ser encontrada ainda em modos de produção mais recentes como o capitalismo, mas ao lado de formas de cooperação mais complexas (1981, p.6).

A expansão do número de cooperativas não ocorreu na mesma proporção entre o a região Sul e Nordeste. Essa região conta com nove estados, porém, conforme a Orga-nização das Cooperativas Brasileiras (OCB), há um menor número de associações co-operativadas se comparado com a região Sul. Existem trezentas cooperativas do ramo da agropecuária nos estados do Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, juntos. Já na região Matopiba o número de cooperativas levantado (excluindo-se o estado do Maranhão, pois a Sescoop-MA passa por diversos problemas que serão aqui apresen-tados) é, oficialmente, de uma única cooperativa direcionada à produção de grãos para o estado de Bahia, pois o Piauí também não possui direcionamento cooperativista para produção. Essa discrepância parece acontecer em virtude da história da chegada do sistema de cooperativismo no Brasil, todo concentrado no sul.

O movimento cooperativista brasileiro surgiu no Paraná em 1847 com o fran-cês Jean Maurice Faivre, com a fundação da Colônia Tereza Cristina (MLADENATZ, 2003), logo se proliferando por todo o sul do país. Daí serem os aspectos socioeco-nômicos da região Sul tão visivelmente mais prósperos do que da região Nordeste, sejam nas questões de educação, tanto básica, quanto superior e de extensão, seja de estrutura rural, com o escoamento da produção, e urbana com transportes e espaços adequados para indústrias. Direta ou indiretamente, esse desenvolvimento parece es-tar vinculado ao apoio mútuo da atmosfera cooperativista.

O sistema cooperativista no setor agrário atravessou o Século XX de forma contur-bada entre a sua legalização como instituição de associação, apoio e controle do Estado e desenlace desse controle. Esse desenlace ocorrido a partir da Constituição de 1988 para o funcionamento das cooperativas veio acompanhado de uma maior autonomia,

Page 62: Revista TEE_ano18_n39_2012

239

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 236-245, jul./dez. 2012

fomentando a autogestão e uma ligação mais direta com a administração interna e com o esforço e desempenho dos seus associados (DANIEL, 1981). Com esse perfil de sustentabilidade, no Nordeste, principalmente, as cooperativas auxiliariam no apoio ao agricultor, minimizando as lacunas que o Estado vai deixando ao longo do processo produtivo, seja de crédito rural, seja de capacitação da mão de obra do campo e rela-cionadas, seja do escoamento dessa produção para dentro e fora do país, trabalhando para minimizar as diferenças que permeiam a produção quando comparadas com os números oficiais nacionais do agronegócio, visivelmente desiguais.

Acredita-se que dificilmente haverá uma ascensão no número de cooperativas no Nordeste, principalmente por basear-se em opiniões de profissionais que trabalham diretamente com a produção e escoamento como na Conab. Há um comportamento tradicionalmente cooperativista na população da região Sul não encontrado no Nor-deste, que tende ao individualismo, devido à história diferente daquela região que trouxe através dos seus imigrantes europeus a cultura associativa. E o nordestino cria-tivo prefere trabalhar com a diversificação de seu foco no agronegócio, a fim de burlar as eventuais más condições do setor de grãos, seja incrementando na pecuária ou em outras culturas diversas, seja pleiteando o auxílio do Estado para minimizar o prová-vel prejuízo iminente (CONAB, 2012).

Partindo de todo esse contexto, aqui será analisada a participação dessas asso-ciações cooperativistas na produção de grãos desses três estados atualmente com as suas consequências socioeconômicas locais, bem como uma possível projeção de cres-cimento do número das cooperativas afins com a Projeção do Agronegócio até 2021 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

MetodologiaEsta pesquisa foi realizada a partir do levantamento de algumas características

dos espaços a serem comparados, ou seja, os estados do Nordeste que compõem o Matopiba, bem como com base na estatística de produção de grãos de cada um deles, dados divulgados pelos órgãos oficiais competentes.

Paralelamente, procedeu-se a um levantamento do órgãos de oficialização/regu-larização das cooperativas como um todo na esfera estadual e federal, as Sescoop´s e OCB, respectivamente, descobrindo-se que aquele número de cooperativas ainda era bem pequeno para justificar uma abordagem amostral mais reduzida, razão pela qual se decidiu por pesquisar todo o universo de cooperativas.

Com posse dos dados de contato destas cooperativas, cada uma delas foi sendo entrevistada por telefone, as quais passaram as informações constantes neste estudo. Tanto a OCB, quanto as Sescoop´s forneceram as informações adicionais e de confir-mação dos dados divulgados pelas cooperativas.

Page 63: Revista TEE_ano18_n39_2012

240

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 236-245, jul./dez. 2012

Procurou-se, através de pesquisa em material bibliográfico sobre conceitos técni-cos do setor cooperativista, levantar definições e histórico dessas organizações, bem como cruzar os dados adquiridos com as indicações e comentários de outros autores nessa área, refutando ou confirmando a hipótese inicial deste trabalho.

Área de estudo: análise das principais características da agricultura de grãos nos estados do Maranhão, Piauí e Bahia e correlação com o cooperativismo

Maranhão

Estado brasileiro situado a noroeste da região Nordeste, com uma área de 333.365,6 km². Existente por planície litorânea formada de praias extensas, dunas e baixadas alagadiças, enquanto o interior é formado de planaltos formando serras.

Sua economia tem como foco principal o extrativismo, através do babaçu e da carnaúba, seguidos do buriti, da juçara e da bacaba, contudo, a indústria de transfor-mação de alumínio e alumina, bem como as atividades agropecuárias, também têm um valor diferenciado entre as atividades econômicas desse estado. A cultura da soja, milho, feijão e algodão se destacam e, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia Es-tatística (IBGE) teria um aumento de 6,5% em relação à safra 2010/2011, porém, a informação da Agência Brasil referente à perda de 60% dessa safra no leste do estado, manifestada pela estiagem nos meses de abril e maio, quando a planta já está frutifi-cada e em desenvolvimento, o que implica a quebra da previsão feita anteriormente.

Segundo a Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Pesca, o aumento na distribuição de sementes para os agricultores, principalmente da agricultura familiar, que corresponde a 11% da produção total do estado, contribuiria de forma considerá-vel para uma ascensão produtiva recorde de grãos, salientando-se que esses números estariam condizentes com as projeções do Ministério da Agricultura para o período ora citado.

Segundo a Secretaria de Estado de Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Se-dinc), a soja é o grão de maior importância no setor agropecuário maranhense. Ela foi plantada inicialmente na década de 1970 nesse estado, passando atualmente da marca de 5.700.000 hectares de área plantada, atingindo 13 municípios no cerrado maranhen-se. Local de solo e clima propícios para esse cultivo.

A Sescoop-MA não possui base de dados, conforme afirma Marlon Aguiar, seu presidente. A OCB só retém informações passadas pelas Sescoop´s dos estados,

Page 64: Revista TEE_ano18_n39_2012

241

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 236-245, jul./dez. 2012

portanto, o sistema cooperativista desse estado está num contexto de falta total de informações. Segundo a OCB, a Sescoop-Ma está sob intervenção da unidade nacional por questões jurídicas, inexistindo corpo técnico naquela unidade e tudo indica que inexistem quaisquer informações que retratem a realidade cooperativista do estado atualmente.

PiauíTerra de planícies litorâneas e aluvionares, onde também se encontram trechos de

formações tabulares de contornos íngremes erodidos pelas águas, o Piauí está situado a oeste do Nordeste brasileiro, com uma área de 252.358 km².

Tem na indústria e comércio sua maior fonte de sustento, seguido da agricultura, por intermédio da soja, do algodão, do arroz, da cana-de-açúcar e da mandioca, bem como na pecuária extensiva.

Apesar de estar com a maior parte da sua produção agrícola comprometida pela seca, atualmente, segundo a Conab, com base nos dados da safra 2011/2012, o Piauí é o único estado da região nordestina a apresentar crescimento na produção de grãos.

Como declara o governo piauiense:

Faltando apenas um levantamento para o fechamento da safra agrícola, a Conab estima uma produção de 2,283 milhões de toneladas de grãos, um pouco acima dos 2,262 milhões, para uma área plantada de 1,157 milhão de hectares. O mesmo documento revela que a produção de grãos no Nordeste deverá cair cerca de 22%. Na Bahia, a estimativa é de uma produção 13,4% menor; no Maranhão, as perdas podem chegar a 13,2%. Nos dois estados, a área plantada encolheu. No Piauí, a soja se mantém como o carro-chefe da produção agrícola. Na safra deste ano, o crescimento registrado até o momento chega a 11,1%. Foram colhidas nos cerra-dos 1.271 milhão de toneladas, numa área plantada de 447,3 mil hectares.

A participação cooperativista na produção de grãos do Piauí se mostra também nula, uma vez que a Sescoop-PI informou que a Coopcerrado é a única cooperativa que trabalha com a produção de grãos. Porém, entrevistando a direção dessa coope-rativa, pode-se levantar a informação que o direcionamento desta é unicamente para comercialização de grãos, tem sete anos de existência e 35 associados até o momento. Na região existe uma expectativa de crescimento substancial no número de associa-dos, bem como a criação de outras cooperativas no setor voltadas unicamente para produção, uma vez que recentemente foram adquiridos 70.000 hectares de terra por algumas famílias oriundas da região Sul, com intenção de produzir grãos num regime cooperativista, estando, esse espaço, já com 8.000 hectares plantados.

Como é sabido, o povo do Sul, tanto como pioneiro, quanto em maior destaque no setor de cooperativismo, parece que direcionará essa área para uma maior cooperação em favor de uma condução de destaque na produção de grãos nessa região do Piauí.

Page 65: Revista TEE_ano18_n39_2012

242

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 236-245, jul./dez. 2012

Considerando que esses associados através das vantagens do sistema em que es-tão inseridos viabilizam uma eficiente e eficaz relação com fornecedores e clientes, geram um maior valor agregado ao trabalho no agronegócio, bem como ao meio em que vivem através da aproximação de novos comércios, serviços e outras estruturas interessados na renda recebida com essa produção.

Esse ciclo estrutural de apoio, se organizado sobre os atores dessa produção atra-vés de outras cooperativas, se tornaria ainda mais frutífero, na medida em que essas organizações estariam aumentando seu campo de alcance, fomentando o crescimento da empregabilidade dos indivíduos e sistematizando um meio mais sustentável social e economicamente.

Bahia

Estado situado ao sul da região Nordeste, formado por planícies e depressões, tem uma altitude acima de 200m em 90% da sua área. Sua área total corresponde a 567.295,3 km2 e é formada de florestas tropicais, mangues litorâneos, cerrados e caatingas.

Sua economia é baseada na agricultura, com plantação de feijão, cana-de-açúcar, cacau, coco, milho e mandioca, e na indústria e mineração.

Segundo a Conab, a Bahia está vivenciando uma quebra na safra de grãos supe-rior a 80%, devido à seca, que vem se mostrando maior historicamente. Confirmando essa realidade de não alcance das expectativas das projeções do Ministério da Agricul-tura, a Sescoop-Ba juntamente com as cooperativas entrevistadas, informou que a seca tem sido o maior causador dessa quebra de safra, reverberando no desempenho das cooperativas concernentes a grãos.

Foi constatada a existência de seis cooperativas oficializadas relacionadas com grãos na Sescoop-Ba. Porém, destas, ccinco têm uma relação de comercialização, ou seja, providenciam a venda da safra de produtores individuais, enquanto apenas uma, a Cooperativa dos Produtores de Grãos do Semi Árido (Cooper-grãos), trabalha dire-tamente com a produção de grãos no oeste baiano. Segundo a direção dessa cooperati-va, devido à seca atual, eles suspenderam essa produção da safra atual para trabalha-rem apenas com a produção de mamona. Fundada em 2010, ela conta atualmente com 480 associados, porém, com menos da metade no ramo da mamona, até a situação dos grãos se elevar de novo.

Justificam-se cinco cooperativas de comercialização, segundo o dirigente da Coo-perativa Bahia Oeste (Coobahia), a partir e 2005, quando o estado isentou em até 9,25% tarifas referentes a PIS e Cofins para indústrias que comprassem grãos de pessoas jurídicas. Atrelado a isso um faturamento de R$ 70.000.000,00/ano com apenas quatro funcionários efetivados se mostrou um negócio sedutor para justificar esse surgimento de cooperativas num ambiente de perfil cooperativista quase nulo.

Page 66: Revista TEE_ano18_n39_2012

243

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 236-245, jul./dez. 2012

Considerações fi naisO Ministério da Agricultura denominou uma área que se destaca na produção

de grãos do Nordeste junto com o estado do Tocantins como Matopiba. Essa região, propícia em condições climáticas e geográficas para essa produção, ganhou destaque na última projeção do agronegócio desse Ministério, inspirando a uma reflexão sobre a participação do sistema cooperativista nessa realidade rural.

A partir dessa inquietação, apurou-se que, devido a questões climáticas e econô-micas no âmbito nacional e internacional, houve uma quebra de safra de grãos que indica uma não concretização dos índices previstos pelo Estado. Atrelado a essa reali-dade, não há praticamente a participação de cooperativas na produção de grãos, mes-mo com a necessidade latente de apoio na criação de infraestrutura para escoamento da produção, bem como para melhorar as tecnologias que proporcionam passar pela seca minimizando os seus efeitos a produção. Com a seca atual e a redução das safras em todo o mundo, desencadeou-se um efeito que afeta a economia como um todo, com implicações como a redução das rações dos animais, o aumento dos preços desses animais e de seus subprodutos.

Um setor da Conab sugere que um perfil individualista do nordestino justifica a ausência de cooperativas na região, mas em conversa com a gerência de mercado da OCB, Gemerc, a leitura sobre o tema é de que se trata de um comportamento compre-ensível e que essa tendência se justifica em razão de a região não possuir produção su-ficiente para atrair o setor e por ser, historicamente, deficiente no agronegócio. Então fica uma dúvida entre essas duas opiniões: a região Nordeste é deficiente no coope-rativismo porque a sua produção agrícola é deficiente e sem atrativos, ou essa região se encontra em estado precário porque inexiste o sistema cooperativista na produção? Qualquer das duas questões não anula a realidade dessa ausência e a necessidade des-se seguimento organizacional.

Fica aqui em aberto essa pesquisa para, posteriormente, se levantar mais dados que justifiquem esse paradigma. Mas, principalmente, pretende-se levantar possibili-dades de atuação de cooperativas para minimizar essa realidade de estagnação eco-nômica do setor, procurando simular a implantação de cooperativas através de plano de negócios específicos, pois ainda está latente a hipótese de que através do sistema cooperativista esses percalços do setor serão minimizados ou até extintos, se apoia-dos pelo Estado, por intermédio de incentivos tributários e de criação e melhoria da estrutura logística e de escoamento da produção. Deixando claro que quando se fala aqui do sistema cooperativista, tem-se em mente a essência da ideia, organizações que tenham visão das suas funções como tal, pois uma cooperativa visionária não se con-tenta em ratear lucro, mas em agregar valores ao meio em que está inserida, é guiada por uma “ideologia central” e principalmente se preocupa com o contexto no médio e longo prazo (OLIVEIRA, 2012).

Page 67: Revista TEE_ano18_n39_2012

244

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 236-245, jul./dez. 2012

THE PRESENCE OF COOPERATIVES IN THE AREA OF GRAIN PRODUCTION: A STUDY OF

PARTICIPATION OF NORTHEASTERN MATOPIBA

Abstract

This article raises data on the contribution of cooperatives in the growth of grain production in the region Matopiba, analyzing them, we specifi cally states that correspond to the Northe-ast – Maranhão, Piauí and Bahia, considering the projection of Agribusiness Department of Agriculture for 2010/2011 to 2020/2021. These data suggest that, due to climatic, economic and structural issues, the framework of this projection will not materialize, accompany infor-mation that report the problems of cooperatives in grain production in these states, such as: profi le producer individualist, precarious structure of production, and lack of interest from major producers in share market decisions with smaller producers in a cooperative system, well as other barriers that defi ne the limited presence of cooperatives in the Northeast. Keywords: Cooperatives. Grain production. Matopiba.

LA PRESENCIA DE LAS COOPERATIVAS EN LA ZONA DE PRODUCCIÓN GRANO: UN ESTUDIO

DE LA PARTICIPACIÓN DE LA NORTHEASTERN MATOPIBA

Resumen

En este artículo se plantea datos sobre la contribución de las cooperativas en el crecimiento de la producción de cereales en la región Matopiba, analizarlos, específi camente en los estados que coinciden con el Northeast – Maranhão, Piauí y Bahía –, teniendo en cuenta la Proyección de los Agronegocios en el Departamento de Agricultura respecto a 2010/2011 al 2020/2021. Estos datos sugieren que, debido a cuestiones climáticas, económicos y estructurales, el marco de esta proyección no se materializaran y la información que acompañar a dicho informe los problemas de las cooperativas en la producción de granos en estos estados, ya que lós produc-tores perfi l individualistas, La estructura precária del fl ujo produccion y la falta de interes por parte de lós principales productores em lãs decisiones de mercado con pequeños productores en un sistema cooperativo, asi como otras barreras que justifi can La escasia presencia de las cooperativas em el Northeast.

Palabras clave: Cooperativismo. Grano de las cooperativas de producción. Matopiba,

Page 68: Revista TEE_ano18_n39_2012

245

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 236-245, jul./dez. 2012

Referências

Você S/A. Crescimento Região Nordeste. Disponível em: <http://vocesa.abril.com.br/desenvol-va-sua-carreira/materia/bonus-onus-crescimento-regiao-nordeste-624961.shtml>. Acesso em: 25 ago. 2012.AGÊNCIA BRASIL. Perdas nas safras de grãos. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/>. Acesso em: 30 ago. 2012.CONAB. Francisco Olavo Batista de Souza. Gerente de Avaliação de Safra. Entrevistado em 24 de agosto de 2012.DANIEL, Abraham (Org.) Pesquisa sobre organização cooperativa no nordeste do Brasil. Estu-dos Econômicos e Sociais, 11. BNB. Colab. Fortaleza, 1981MLADENATZ, Gromoslav. História das doutrinas cooperativistas. Brasília: Confebras, 2003.MOTTA, Fernando Prestes. Burocracia e autogestão: a proposta de Proudhon. São Paulo: Brasiliense, 1981.OCB. Sescoop. Disponível em: <http://www.ocb.org.br/site/sescoop/ue_sul.asp>. Acesso em: 31 ago. 2012.OCB. Gregory, GEMERC – Gerência de Mercado. Entrevistado em 03 set. 2012. O POVO. Economia Nordeste Brasil. Disponível em: <http://economianordeste.opovo.com.br/app/brasil/2012/07/04/materias_interna,5519/senado-aprova-seguro-desemprego-para--quem-fi car-sem-trabalho-apos-a-safra.shtml>. Acesso em: 22 ago. 2012.OLIVEIRA, Djalma de Pinho Rebouças de. Manual de Gestão de Cooperativas: uma abordagem prática. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2012.COOPERFARMS. André Oliveira. Disponível em <http://www.ocb.org.br/site/sescoop/ue_sul.asp>. Acesso em: 24 ago. 2012.PIAUI (Estado). Portal do Governo do Estado do Piauí. Produção de Grãos Cresce Só no Piauí. Disponível em: <http://www.piaui.pi.gov.br/noticias/index/categoria/3/id/5532>. Acesso em: 24 ago. 2012.COOPERCERRADO. Arlindo José Ribeiro. Disponível em <http://www.ocb.org.br/site/sesco-op/ue_sul.asp>. Acesso em: 24 ago. 2012.SAGRIMA. Notícias. Disponível em <www.sagrima.ma.gov.br>. Acesso em: 24 ago. 2012.SEDINC. Agronegócio. Disponível em: <http://www.sedinc.ma.gov.br/paginas/view/menu.aspx?id=91&p=44>. Acesso em: 24 ago. 2012.

Page 69: Revista TEE_ano18_n39_2012

246

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 246-275, jul./dez. 2012

Comakership: um escopo inovador no conceito de alianças estratégicas logísticas

Márcio Marins*

Cássia Aparecida Pasqual**

Resumo

Este artigo tem como objetivo identifi car os riscos operacionais no canal logístico da Metal Company Ltd. decorrentes do fl uxo de suprimentos em escopo convencional de reposição dos materiais e propor um novo modelo do processo de reposição de materiais através da forma-ção de alianças estratégicas, para, por fi m, identifi car em que grau o conceito de Comakership contribui para criação de diferenciais competitivos logísticos frente às incertezas de mercado. Para isso, a metodologia utilizada foi um estudo de caso separado em três momentos diferen-tes: a identifi cação dos riscos operacionais causados pelos principais fornecedores; a criação de uma nova proposta de alianças estratégicas e esta, por sua vez, comprovada com a imple-mentação da nova proposta. Como principais resultados pode-se constatar que o comakership contribui signifi cativamente para a redução de riscos operacionais e criação de diferenciais competitivos logísticos entre empresa-fornecedor, o que foi corroborado com o estudo na Metal Company, a qual ampliou muito sua efi ciência no canal de suprimentos ao trabalhar de forma cooperada com seu principal cliente.

Palavras-chave: Alianças estratégicas. Comakership. Local sourcing. Parcerias. Riscos operacio-nais.

Submissão: 24/10/2012. Aceite: 03/01/2013

* Pós-graduado em Economia e Gestão Empresarial pela Universidade de Passo Fundo. Bacharel em Administração de Empresas com Habilitação em Comércio Exterior. Supervisor de Compras da En-dosul/Eisenmann. Professor do Instituto de Desenvolvimento Educacional do Alto Uruguai, Campus de Caxias do Sul.

** Mestra em Agronegócios pela UFRGS. Professora da Faculdade de Ciências Econômicas, Adminis-trativas e Contábeis da Universidade de Passo Fundo. [email protected]

Page 70: Revista TEE_ano18_n39_2012

247

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 246-275, jul./dez. 2012

IntroduçãoA mudança mais marcante dos últimos tempos, dentro da sociedade mundial, foi

a globalização. Nunca antes transações comerciais e o fluxo de capitais haviam estado tão intensos através das fronteiras nacionais, afetando permanentemente a forma de operar das empresas, quer de bens de capital ou consumo, quer de serviços. Com o surgimento do conceito supply chain, o administrador foi forçado a pensar e agir de forma sistêmica, transformando a logística, de ferramenta operacional, em ferramenta estratégica para a gestão empresarial (MARTINS; ALT, 2006).

Em vista disso, diversos clientes e fornecedores buscaram redesenhar seu fluxo de produtos e, consequentemente, as operações de produção e de distribuição, através de serviços logísticos alicerçados na cooperação mútua e no compartilhamento das informações da demanda do cliente com seu fornecedor. As preocupações atuais no canal de suprimentos das organizações passam pela busca por uma forma de encur-tar os laços de parceria entre fornecedor e cliente, o que deverá trazer, como resulta-do, o atendimento das necessidades e expectativas de ambas as partes envolvidas no negócio, ocasionando a obtenção de benefícios mútuos. Cabe lembrar que por muito tempo a abordagem no relacionamento fornecedor-cliente mais comum nas empresas era considerar o fornecedor como um adversário, que buscava, além de concretizar a transação comercial, auferir o máximo lucro à custa de eventuais descuidos de seus clientes.

As empresas mais inovadoras, atentas a essas evoluções, aperfeiçoaram seus pro-cedimentos para obter um relacionamento de parceria com seus fornecedores. Essa relação de parceria, quando atinge o grau máximo de evolução, atendendo aos seus três pilares – confiança mútua, participação, fornecimento com qualidade assegurada – é chamada de comakership, a qual não nasce do dia para a noite nas empresas, mas requer um extenso tempo para amadurecimento, incluindo o conhecimento prévio da capacidade do fornecedor e a consolidação da confiabilidade do cliente.

Como caminho para se chegar a esse nível de parceria consolidada, estratégias de global sourcing podem ser adotadas. No entanto, essa apenas será viável se a empresa a qual utilizá-la tiver a competência de prospectar, identificar e entender que os seus po-tenciais fornecedores e competidores não estão apenas interessados em uma eventual operação de compra ou venda, mas também na criação de relações duradouras com seu negócio, sem medir esforços para manter a parceria mútua.

Sabe-se que o uso estratégico do processo global sourcing apresenta soluções que contribuem com a redução de custos e melhoria da qualidade dos insumos. Tais soluções, entretanto, são de impacto financeiro relativo e, se forem analisados

Page 71: Revista TEE_ano18_n39_2012

248

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 246-275, jul./dez. 2012

conjuntamente com outros aspectos ligados à complexidade do negócio internacional, podem não resultar em ganhos gerais, até pela necessidade de envolver maiores pra-zos de entrega. Isso porque, na produção industrial, maiores prazos podem represen-tar perdas irreparáveis por provocarem possíveis paradas nas linhas. Por essa razão, talvez, o fornecimento local (local sourcing) seja a solução de minimização de riscos de quebra de estoques que o fornecimento global pode acarretar. Assim, o local sourcing pode ser uma boa estratégia a ser usada pelas empresas, vindo então a contribuir com a evolução na gestão da produção, reduzindo o risco de perdas, e direcionando-se, no mercado interno, rumo à estreita relação comakership.

Com base nessa evolução de estratégias logísticas, este artigo busca identificar e avaliar os riscos operacionais no canal logístico da Metal Company – empresa atuante no mercado automotivo localizada no sul do país – decorrentes do fluxo de suprimen-tos em escopo convencional de reposição dos materiais; avaliar e mensurar a imple-mentação de um novo modelo para o processo de reposição dos materiais, que ofereça um nível de atendimento diferenciado, através da formação de alianças estratégicas e, por fim, questionar em que grau o conceito de comakership contribui para criação de diferenciais competitivos logísticos frente às incertezas mercadológicas.

Assim, este trabalho demonstra exatamente a problemática num fornecimento de materiais-chave para a empresa-cliente, a qual, partindo da identificação de quais eram as operações que mais ofereciam riscos ao seu fluxo logístico, pode-se, num se-gundo momento, remodelar todo o processo de abastecimento, identificando entre os representantes um potencial parceiro que oferecesse uma nova sistemática de abaste-cimento para a empresa objeto do estudo, reposicionando-a entre seus melhores for-necedores no sistema de qualidade. Isso conduziu a empresa a um pensamento estra-tégico, para uma quebra de paradigmas ao promover a integração de suprimentos, objetivando uma situação mercadológica ideal para ambas as partes envolvidas na parceria.

O presente artigo está dividido da seguinte maneira: na seção 2, é apresentado o modelo teórico de análise, englobando diferentes formas de relacionamentos de par-cerias fornecedor-clientes e técnicas ou ferramentas de ampliação de competitividade empresarial; na seção 3, apresenta-se o método utilizado no estudo de caso; na seção 4, procede-se à análise dos dados, primeiramente identificando os riscos operacionais do fluxo logístico da empresa, posteriormente demonstrando a nova proposta de alianças estratégicas inovadoras no processo de abastecimento da cadeia de suprimentos, com-provando, em um terceiro momento, a aplicação da estratégia pela mensuração dos resultados implementados com a nova proposta. Por fim, na última seção são apresen-tadas as principais conclusões obtidas no decorrer da análise.

Page 72: Revista TEE_ano18_n39_2012

249

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 246-275, jul./dez. 2012

A nova confi guração das alianças estratégicas logísticas

De acordo com Porter (1986), o divisor de águas entre o sucesso e o fracasso é o resultado que é obtido através da qualidade, onde um diferencial neste aspecto, com relação aos concorrentes, torna-se vantagem competitiva. Para o autor, uma vantagem competitiva de uma determinada empresa só pode ser obtida através da diminuição da vantagem competitiva de seu oponente, caracterizado pelo polinômio fornecedor--cliente. A indústria deve desenvolver habilidades específicas para lidar com elas. Zai-ri (1997) cita também que a competitividade bem sucedida é resultado da habilidade em determinar racionalmente a capacidade de competir, por meio da verificação dos pontos fortes e fracos da organização, juntamente com um esforço constante em satis-fazer as necessidades dos clientes.

Nesse cenário competitivo, pode-se afirmar que, atualmente, umas das maiores preocupações das organizações para adquirir uma vantagem competitiva pode estar atrelada ao estreitamento dos laços de parceria entre fornecedor e cliente. Para Alvarez e Queiróz (2003), a geração de valor tem como ponto de partida outro patamar de rela-cionamento com o cliente, que possibilita a visualização de todos os aspectos tangíveis e intangíveis de suas necessidades, para além daquilo que ele mesmo possa enunciar como sua demanda. O fortalecimento do relacionamento com os fornecedores deve ser uma meta, de igual importância àquelas almejadas junto aos seus clientes.

Cabe lembrar que, inicialmente (e ainda muito utilizado pela grande maioria das empresas), as grandes companhias desenvolveram processos de parceria via contrato de fornecimento, onde o fornecedor passava por um longo processo de avaliação e qualificação que o habilitava para o fornecimento, através de um contrato formalmen-te estabelecido com o intuito da busca da qualidade assegurada. Junto a esse contrato, havia uma série de responsabilidades e compromissos que eram impostos aos forne-cedores, que nem sempre apresentavam os resultados esperados, em decorrência de conflitos de interesses que ocorriam ao longo da operacionalização das atividades. Segundo Alvarez e Queiróz (2003), na maioria das vezes, esses procedimentos eram aplicados a toda a cadeia de suprimento, sem levar em conta as características de cada fornecedor, como capacidade instalada, logística disponível, complexidade do produ-to fornecido e outros indicadores importantes, porém, nem sempre ligados diretamen-te ao item fornecido.

Essa alteração de cenário conduziu à abordagem do relacionamento fornecedor--cliente, no qual se procura desenvolver um clima de confiança mútua, para que am-bas as partes envolvidas saiam ganhando. Muitas empresas atentas a essas questões

Page 73: Revista TEE_ano18_n39_2012

250

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 246-275, jul./dez. 2012

aperfeiçoaram seus procedimentos para obter melhor relacionamento com seus forne-cedores, é o que se convencionou chamar de parceria.

As parcerias

Segundo Martins e Campos (2003), pode-se definir parceria como sendo uma re-lação formal, através de um contrato, ou informal (combinações verbais), em que pre-valece a convergência de interesses mútuos na conquista de um objetivo estratégico, claramente delineado, na qual o envolvimento e a interação se dão através de um regi-me de intensa cooperação, mediante o compartilhamento de informações, solidificada pela confiança mútua.

A definição clara dos objetivos, a responsabilidade, a cooperação na troca de in-formações e o alto grau de profissionalização são condições essenciais para se efetuar uma boa parceria. Conforme os autores há pouco mencionados, a parceria pode ser considerada como um estágio avançado do processo de cooperação entre empresas, para criar valor nos negócios e dividir riscos. E, portanto, significa que a partir do momento em que as organizações decidem formar uma parceria, o sucesso dessa nova relação dependerá do empenho dos gestores do processo para consolidá-la. Nessas situações, segundo Ribeiro et al. (2007), o fornecedor ajuda no projeto do produto, na análise e nas melhorias do processo produtivo de seus clientes, garante a qualidade, abre sua planilha de formação de custos e preços e, em contrapartida, recebe um con-trato de fornecimento por um período normalmente igual ao da vida do produto.

Para Alvarez e Queiróz (2003), quanto melhor for o relacionamento entre am-bos os envolvidos, maiores as chances de as organizações obterem sucesso. Toda a cadeia de fornecimento pode ser vista como uma corrente, cujos elos, interligados, devem operar sinergicamente para fornecer um produto ou serviço que satisfaça o seu cliente imediato. Se um desses elos falhar, toda a cadeia será comprometida. Essa aproximação entre clientes e fornecedores produz, em muitos casos, uma dependência mútua importante em torno do interesse das organizações. Nesse sentido, conforme Reichheld (2000), os fornecedores que não buscam a lealdade dos clientes abalam sua proposta de valor e arriscam o futuro.

Para avaliar o nível de relacionamento dessas parcerias, Merli (1998) propõe um modelo articulado em quatro níveis de desenvolvimento, dando uma visão global da evolução do relacionamento fornecedor/comprador:

• Abordagem convencional: é a fase inicial do relacionamento entre os clientes e os fornecedores. O cliente dá prioridade ao preço e o fornecedor busca apenas fornecer um produto com preço baixo. Há uma contraposição

Page 74: Revista TEE_ano18_n39_2012

251

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 246-275, jul./dez. 2012

de interesses, baseada em relações de força, e desconfiança quanto à quali-dade, o que naturalmente direciona a uma inspeção no recebimento;

• Melhoria da qualidade: nessa fase inicia-se um relacionamento de longo prazo. É o primeiro estágio do comaker. O cliente dá prioridade à qualida-de, eliminando os que não têm qualidade, havendo uma redução no número de fornecedores. Exige-se certificação dos fornecedores;

• Integração operacional: nessa fase o cliente dá prioridade ao controle dos processos. A avaliação dos fornecedores baseia-se na expertise e aptidão dos processos. Inicia-se a participação do fornecedor no projeto do produto e investimentos comuns em pesquisa e desenvolvimento. Os clientes podem financiar programas para os fornecedores para a implantação de sistemas de melhoria de qualidade. Inicia-se o conceito de garantia da qualidade substituindo o controle da qualidade;

• Integração estratégica: relacionamento do tipo comakership. É uma par-ceria nos negócios, nos riscos, nos investimentos. Nessa fase há o gerencia-mento comum dos processos e procedimentos, além de um fornecimento sincronizado com qualidade assegurada. O canal de informação para pro-ver feedback do mercado é em tempo real; sistemas de garantia da qua-lidade globais; integração dos sistemas de fornecedores e compradores e planejamento estratégico conjunto.

Gontijo et al (2010) ressaltam que o estágio de evolução em que uma relação de parceria se encontra está condicionado ao tipo de negócio ou à estratégia de formação da cadeia de suprimentos. Ou seja, existirão relações de parcerias que não se propõem a alcançar o comakership, dada às relações de mercado, facilidade de obtenção de mate-riais ou pela própria longevidade projetada para o negócio. Existirão outras, em con-trapartida, que buscarão ir além deste modelo de parceria.

O modelo de Merli “Comakership”

O comakership consiste em uma forma evoluída de relacionamento entre clientes e fornecedores, baseado em uma visão integrada da cadeia de suprimentos, abordando estratégias, políticas e aspectos operacionais relacionados à questão da qualidade, es-colha e avaliação de fornecedores e logística que promovem a competitividade global da cadeia (GONTIJO et al., 2010). Quando essa relação de parceria atinge um elevado grau de evolução, traduzida em conceitos como os de confiança mútua, participação e fornecimento com qualidade assegurada, dá-se a ela o nome de comakership.

Alvarez e Queiroz (2003) destacam que para se atingir essa parceria comakership, não basta apenas fornecer produtos ou serviços, é necessário desenvolver experiências personalizadas, formando sinergicamente a criação conjunta dos produtos ou serviços.

Page 75: Revista TEE_ano18_n39_2012

252

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 246-275, jul./dez. 2012

Essa aproximação entre clientes e fornecedores produz, em muitos casos, uma depen-dência mútua em torno dos interesses da empresa.

A relação fornecedor-cliente, segundo Merli (1990), é considerada como um fator prioritário na estratégia industrial. O modelo de Merli está configurado pela evolução dos relacionamentos operacionais entre clientes e fornecedores de uma cadeia indus-trial decorrente de dois tipos de contribuições: Abordagem estratégico-filosófica e fru-to de evoluções práticas.

O modelo é apresentado através da análise dos seguintes fatores: – Evolução cultura/organizacional e as políticas de referência– Os relacionamentos operacionais– A avaliação de fornecedores– A administração da qualidade– A logística– O marketing de compraA Figura 1 apresenta esquematicamente as definições internas a serem estabeleci-

das pelo cliente, para poder atender ao modelo.

Fonte: MERLI, 1990.Figura 1 – Modelo Comakership

Page 76: Revista TEE_ano18_n39_2012

253

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 246-275, jul./dez. 2012

Sendo assim, Merli (1990) assume que as principais premissas são: • Manutenção de uma relação de cooperação entre clientes e fornecedores; • Troca irrestrita de informações entre clientes e fornecedores; e • Comprometimento entre as partes envolvidas.

Percebe-se que Merli descreve com detalhes a evolução em curso no relaciona-mento cliente-fornecedor, define as motivações estratégicas que dão sustentação a essa lógica de relacionamento e coloca, com muita propriedade, a vantagem competitiva associada ao relacionamento entre cliente e fornecedor.

Uma aliança estratégica, quando evolui para o status comakership, tende a va-lorizar acordos comerciais de colaboração e de preço aberto, regulados por meio de índices referentes à evolução geral dos preços de mercado, ao invés de buscar forne-cedores pelo menor preço ou para reposições “pedido por pedido” (MERLI, 1994). Essas relações requerem certo tempo de amadurecimento, de conhecimento prévio da capacidade do fornecedor e confiabilidade do cliente, para que ambos possam atuar nos aspectos que tragam vantagens competitivas e, posteriormente, possam chegar à fase de negociação de uma parceria (MARTINS; ALT, 2006).

Por fim, Gontijo et al. (2010) salientam que o conceito de Comakership está di-retamente relacionado ao de SCM (Supply Chain Management - Gestão da Cadeia de Suprimentos), dado que sua aplicação do SCM requer um modelo de cooperação entre todos os envolvidos na gestão da cadeia de suprimentos. Para os autores, quando se consolida uma parceria do tipo Comakership, existe a participação assídua do fornece-dor no processo, no projeto, custos e qualidade, sob uma lógica de longo prazo. Marins e Pasqual (2012) complementam dizendo que também para o funcionamento pleno de uma Lean Supply Chain1 (Cadeia de Suprimentos Enxuta), ter-se-á como consequência o surgimento de parcerias bilaterais de longo prazo e que não se baseiam apenas nos fundamentos logísticos.

Percebe-se, então, que muitas das atividades que antes eram de responsabilida-de do comprador são repassadas ao fornecedor; ou seja, os processos que antes eram executados pelo comprador, depois que recebia o material, passa agora a ser feito pelo fornecedor, antes de entregar o material.

Nessa caminhada para “ajustar todos os pontos” dessa parceria, poder-se-á ter dois caminhos: ratificar o relacionamento com os atuais fornecedores, rediscutindo as novas relações a serem estabelecidas ou efetuar a transição para a escolha de novos fornecedores. Ching (2001) chama a atenção para o fato de que, independentemente da estratégia que a empresa utilize para manter suas parcerias, esta deve desenvolver um processo contínuo de avaliação de suas estratégias e do mercado fornecedor de cada grupo de suprimentos, estando sempre atenta a detectar alterações do mercado; saber

Page 77: Revista TEE_ano18_n39_2012

254

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 246-275, jul./dez. 2012

das novas capacidades dos fornecedores; descobrir novos fornecedores em potencial e; monitorar a evolução dos grupos de suprimentos.

Essa postura induzirá a empresa a reavaliar constantemente suas estratégias de suprimentos, bem como a base de seus fornecedores escolhidos.

O processo de Global Sourcing

Uma vez definido o grupo de suprimentos, o processo de busca de fornecedores globais de classe mundial (Global Sourcing) pode vir a trazer, para a empresa, muitas vantagens de custo em longo prazo. Para Ching (2001), esse processo de busca deve seguir os seguintes objetivos: obter alto valor agregado; desenvolver tecnologia mais rapidamente, por meio da alavancagem de capacitação de fornecedores globais; inte-grar estratégias de negócio e de suprimento e; oferecer preços inferiores aos nacionais.

Ching (2001) destaca que quando a estratégia de suprimentos da empresa é a de consolidação de fornecedores, a tática a ser utilizada é a global sourcing e, para o suces-so dessa tática, devem-se nortear as seguintes atividades:

a) enviar pedidos de cotação a fornecedores globais potenciais: a identifica-ção desses fornecedores deve ser de acordo com a estratégia da empresa com relação à capacidade de fornecimento, prazos de entrega, nível de qualidade, capacitação tecnológica;

b) fazer o cálculo das economias potenciais: preço total internacional (-) pre-ço-base atual = economia potencial (antes de realizar qualquer negociação com os fornecedores globais);

c) Desenvolver e executar estratégias de negociação: o objetivo dessa ativi-dade é conduzir reuniões de negociação com os dois melhores fornecedores em termos de preço, usando o argumento de grandes volumes e fornecedor exclusivo. A ideia é reduzir os preços aumentando ainda mais a economia potencial;

d) escolha final dos fornecedores: uma equipe composta de membros de di-versas áreas da empresa (suprimentos, engenharia, planejamento, custos e logística) vai definir a linha final de fornecedores de classe mundial. Eles devem ser selecionados segundo critérios de custo, qualidade, tecno-logia, gestão da empresa, serviços e referências;

e) envio de pedidos: confirmação oficial da escolha de fornecimento. O for-necedor terá de enviar amostras á empresa, validadas por testes de enge-nharia e, em caso afirmativo, receber o pedido de lote-piloto;

Page 78: Revista TEE_ano18_n39_2012

255

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 246-275, jul./dez. 2012

f) manutenção do banco de dados: mesmo sendo essa atividade colocada por última, no processo global sourcing, ela deve ser constante ao longo de todo o processo. Devem conter, no mínimo, informações sobre o fornecedor, sobre compras e de engenharia.

Seguindo essas etapas, ter-se-á uma integração dos processos da empresa com o fornecedor, assegurando uma relação estreita e duradoura.

Percebe-se, então, que o fornecimento global é um mecanismo fundamentado na integração econômica decorrente da globalização, apenas possível devido ao contínuo desenvolvimento de tecnologias relacionadas à comunicação, as quais estão possibi-litando uma troca de informações e ideias jamais vistas na história da humanidade. Para Marins e Vanin (2010), as estratégias de global sourcing são essenciais ao contribuir com a busca por fontes de fornecimento localizadas ao redor do mundo, ao praticar a gestão de suprimentos ao agilizar processos, absorvendo os efeitos negativos macro-econômicos e agindo como um gerador de ganhos efetivos, a partir da mitigação dos custos.

Além disso, o importante desenvolvimento cultural dos gestores e também dos colaboradores, que devem estar abertos para entender diferentes idiomas e se adapta-rem às novas situações, tem colaborado em muito para essas inovações.

Os limites entre fornecedores, concorrentes e clientes estão cada vez mais difíceis de serem definidos. Em tempos modernos, o nível de competição entre as empresas exige graus de excelência em todas as direções e sentidos. Contudo, entre as aborda-gens mais comuns, a filosofia da colaboração produtiva onde o fornecedor torna-se uma “ramificação” da fábrica cliente, enfatizando o fluxo contínuo de suprimentos. Ainda que esse método represente uma mudança significativa no comportamento em-presarial para ganhar competitividade na cadeia de suprimentos, ele muito evidencia as vantagens obtidas pelo comprador ao estabelecer uma parceria logística com a em-presa fornecedora.

De acordo com a situação da empresa, com os tipos de fornecedores necessários, características dos produtos/insumos de fornecimento e tempo necessário para repo-sição, o global sourcing, apesar de sua gama de diversificação, deve ceder espaço ao local sourcing. O abastecimento local pode ser a oportunidade ideal para as empresas que querem garantir o suprimento sustentável e reduzir os custos pela substituição de importações. Nesse caso, deve-se ter o cuidado de avaliar junto aos parceiros organiza-dores da local sourcing como o suprimento local pode contribuir para o desenvolvimen-to econômico local e proporcionar uma oportunidade de negócio, ao mesmo tempo.

Page 79: Revista TEE_ano18_n39_2012

256

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 246-275, jul./dez. 2012

Alguns modelos de acompanhamento à cadeia de suprimentos e de atendimento à produção

Em termos gerais, existe uma vasta literatura sobre diferentes modelos, técnicas, ferramentas, que podem alavancar a organização usuária para uma melhor situação competitiva e estratégica, seja em sua cadeia de suprimentos, seja no atendimento à produção. A aplicação prática de alguns desses conceitos envolvidos nos diferentes modelos tem aumentado muito as chances de sucesso da organização que os utiliza. O Just in Time (JIT) para questões estruturais de produção e o Controle de Qualidade (TQC) para identificação, análise e solução de problemas, têm se mostrado como óti-mos caminhos para o melhoramento contínuo da empresa.

O TQC define um processo como a reunião organizada de seis fatores ou causas, conhecido como Diagrama “6M” (método, matéria-prima, mão de obra, máquinas, medição e meio ambiente), ou “Diagrama Espinha-de-peixe”, ou ainda “Diagrama de Causa e Efeito de Ishikawa”, conforme a Figura 2.

Fonte: Tubino, 2000.

Figura 2 – Diagrama de Ishikawa

O Diagrama de Ishikawa é uma das ferramentas mais eficazes e mais utilizadas nas ações de melhoria e controle de qualidade nas organizações, permitindo agrupar e visualizar as várias causas que estão na origem de qualquer problema ou de um

Page 80: Revista TEE_ano18_n39_2012

257

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 246-275, jul./dez. 2012

resultado que se pretende melhorar. Esse diagrama, segundo Tubino (2000), permite que processos mais complexos sejam divididos em processos mais simples e, portanto, mais controláveis, mas com grande influência na redução do risco atendimento à ca-deia de suprimentos e de atendimento à produção. A partir dessa análise, poder-se-á até mesmo avaliar propostas de parcerias com benefícios mútuos no canal de supri-mentos, consequentemente, servindo como ferramenta decisória para remodelar todo o processo de abastecimento de uma empresa.

De acordo com Pires (2009), uma das formas de aumentar a competitividade da empresa, minimizando os riscos operacionais, é conseguir gerenciar as fontes de abas-tecimento de forma estratégica para reduzir os custos de estoques e melhorar o nível de atendimento dos clientes no geral. Para tal, é fundamental uma mudança de rela-cionamento de fundo competitivo para um fundo colaborativo com os fornecedores chaves, conforme já debatido nesta parte do trabalho.

Metodologia da pesquisaO presente trabalho trata-se de um estudo de caso único, de caráter exploratório-

-descritivo, com pesquisa mista e com levantamento de dados documentais.Este estudo, com as técnicas e características acima definidas, foi aplicado à em-

presa que, neste trabalho, será definida como Metal Company Ltd., companhia atuante no mercado automotivo, localizada no sul do país. A identidade da empresa é man-tida em caráter de sigilo objetivando a preservação de seus diferenciais competitivos, ainda que as estratégias relacionadas a ela, neste artigo, estejam presentes nas diversas bibliografias, em âmbito nacional e internacional, e que estão ao alcance comum da comunidade acadêmica.

Essa pesquisa foi realizada a partir do mapeamento do fluxo logístico e operacio-nal envolvido no processo de aquisição de partes e peças de um equipamento especí-fico da linha produtiva da Metal Company Ltd., tal como o modelo de parcerias comer-ciais e estratégicas constantes no escopo de gestão de fornecedores e relacionamento com os clientes da empresa em questão. A partir desse embasamento, pode-se dizer que:

a) será caracterizada como fluxo logístico toda a movimentação física dos materiais nas diversas etapas da cadeia, desde a origem até a entrega;

b) será caracterizada como fluxo operacional a movimentação evidenciada pelo envio e retorno de informações relativas às concorrências de preços que fazem parte do processo de compras, assim como as relacionadas ao acompanhamento e evolução do fluxo logístico;

Page 81: Revista TEE_ano18_n39_2012

258

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 246-275, jul./dez. 2012

c) serão tratados como parcerias comerciais os relacionamentos da empresa com seus fornecedores do primeiro nível, seus sub-fornecedores unicamen-te em âmbito comercial, ou seja, abrangente nas dimensões das operações de compra, venda e entrega, unicamente;

d) serão tratados como parcerias estratégicas os relacionamentos com maior grau de cooperação entre a empresa e um grupo seleto de clientes e forne-cedores ao longo da cadeia de suprimentos, ou seja, abrangente no com-partilhamento de informações de impacto direto na produção ou altamen-te relevantes para a sobrevivência do negócio.

As informações quantitativas sobre o nível de resposta do fluxo de materiais às demandas da produção abordaram os períodos de 2011 e 2012 e foram levantadas jun-to ao setor de suprimentos da empresa, como forma de análise dos reflexos do novo escopo de local soursing ao longo do canal logístico. As variáveis analisadas para esse período foram: número de movimentações comerciais realizadas pelos fornecedores; análises comercias realizadas no período; modelo de gestão estratégica; pedidos de compras (número de ordens de compras emitidas, tempo total de atendimento (em dias) e, número de potenciais empresas fornecedoras).

Depois de identificados esses números, estabeleceu-se um comparativo da situa-ção antes e após a implementação da nova filosofia de gestão. Porém, deve ser obser-vado que os volumes para o ano de 2011 correspondem de janeiro a dezembro, já para o ano de 2012 limitam-se ao período de janeiro a setembro. Para o último trimestre de 2012 foram utilizados os números projetados pela empresa como apuração dos indi-cadores de gestão.

Para avaliar os efeitos pré e pós implementação do novo modelo de gestão, as empresas fornecedoras representantes de uma multinacional americana, neste estu-do chamadas de “Representante A”, “Representante B” e “Representante C”, servi-ram como referência para a abordagem inicial sobre o fluxo logístico internacional. Os equipamentos referidos como Machine Alpha e Machine Beta, os quais são supridos de partes e peças por estes fornecedores e que possuem preços atrelados ao merca-do externo, serviram como base para a análise de impactos cambiais e do nível de atendimento à produção. Tal como a identidade da companhia, esses fornecedores e seus produtos receberão esses nomes fictícios como forma de proteger as estratégias comerciais de todos os envolvidos neste case, tanto no mercado nacional quanto no internacional.

Ainda que essas partes e peças façam parte da cadeia de suprimentos da Metal Company e que seus equipamentos pertençam ao seu composto fabril, os impactos vin-culados aos dados numéricos apresentados neste artigo são baseados em informações

Page 82: Revista TEE_ano18_n39_2012

259

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 246-275, jul./dez. 2012

advindas do mercado. Tais elementos informativos são considerados pelos autores como suficientes para avaliar a eficiência e a eficácia das estratégias adotadas pela Metal Company.

Nessa linha, os dados do mercado de trabalho referentes, especificamente, à va-riação média cambial são advindos de fontes públicas, comuns a qualquer pesquisador que julgue oportuna essa abordagem. As partes e peças dos equipamentos fornecidos pelas empresas anteriormente citadas possuem seus preços atrelados a esse indicador e terão suas informações sustentadas pelas abordagens constantes na parte 4, a análise de dados.

Comakership como evolução na integração estratégica de suprimentos: um estudo de caso na empresa Metal Company Ltd.

A Metal Company Ltd. é uma empresa atuante no mercado automotivo e está lo-calizada no sul do país. Atualmente com mais de 700 colaboradores, essa companhia é uma das líderes do seu segmento, tendo sido reconhecida como uma das melhores empresas do Brasil em gestão e soluções logísticas. Com forte atuação no mercado nacional, a empresa desenvolve soluções inteligentes para eficiência produtiva, de for-ma sustentável, visando, sempre, os mais altos padrões de qualidade para produtos e serviços.

Inaugurada no início da primeira década dos anos 2000, a Metal Company Ltd. mantém o foco no desenvolvimento de suas atividades dentro de padrões internacio-nais para atender às exigências das diversas certificações de qualidade. Trata-se da busca constante de aliar a utilização de alta tecnologia às avançadas técnicas produti-vas e conceitos de logística integrada.

O estudo de caso da Metal Company Ltd. mostra uma clara ampliação do conceito de alianças estratégicas logísticas, ao buscar o pleno entendimento de comakership. Po-der-se-á perceber, no decorrer deste estudo, que há uma ampliação das dimensões de uma relação de fornecimento, conduzindo o pensamento estratégico para uma quebra de paradigmas ao promover a integração de suprimentos, objetivando uma situação mercadológica ideal para ambas as partes envolvidas numa parceria.

Na empresa objeto deste estudo, o fluxo de abastecimento dos materiais é contro-lado pelo Warehouse Shipping (WS) – setor da empresa responsável pelo recebimento, armazenamento e expedição de matérias-primas e produtos acabados – e é sistematica-mente automatizado, apresentando alta eficiência no nível de atendimento produtivo

Page 83: Revista TEE_ano18_n39_2012

260

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 246-275, jul./dez. 2012

e oferecendo um risco mínimo às operações controladas por ele. No entanto, nem todas as operações da Metal Company Ltd. são controladas pelo WS, evidenciando potenciais riscos de ruptura dos estoques, elevados impactos logísticos com fretes emergenciais, altos valores referentes ao custo da não conformidade e reprocesso, entre outros que ameaçam a continuidade das operações produtivas. Assim, foram elencadas para aná-lise as cinco operações não controladas pelo WS e que oferecem maior risco ao supri-mento. Essas operações, realizadas pelas áreas de processo e manutenção industrial, acabam comprometendo uma proposta de eficiência do customer service.

Embora todas as operações sejam consideradas de alto impacto, as mesmas fo-ram colocadas em uma Matriz GUT, ferramenta ideal, neste caso, para gerencialmente priorizar estratégias e planos de ação. As tomadas de decisão e potenciais projetos de melhoria são priorizadas de acordo com sua gravidade (G), urgência (U) e tendência (T), como é apresentado no Quadro 1.

Descrição Gravidade (G)

Urgência (U)

Tendência (T)

Totais(G x U x T) Prioridade

1. Reposição de acessórios e peças para uso e manutenção da Ma-chine Alpha

5 5 5 125 1

2. Reposição de acessórios e peças para uso e manutenção da Machi-ne Beta

4 5 5 100 2

3. Abastecimento de componentes para sistemas mecânicos 3 2 4 24 4

4. Manutenção preditiva de equipa-mentos para alta fi ltragem 5 4 4 80 3

5. Sistemas de elevação e acesso 2 2 2 8 5

Fonte: desenvolvido pelos autores.

Quadro 1 – Matriz GUT de operações não controladas pelo WS na Metal Company

Os equipamentos elencados na matriz acima chamados de Machine Alpha e Ma-chine Beta, prioridades 1 e 2, respectivamente, fazem parte do mix crítico do sistema produtivo da companhia. Ambos os maquinários fazem parte de um nicho exclusivo, onde há baixa disponibilidade de fornecedores, ausência de produtos substitutos e escassez de mão de obra especializada para operação e manutenção.

Contudo, um dos pontos de maior relevância e que remete a Machine Alpha ao patamar de Action Plan 1 está no fluxo logístico para o processo aquisitivo dos com-ponentes, elevando a situação ao status de maior “gravidade”, ainda que a pouca

Page 84: Revista TEE_ano18_n39_2012

261

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 246-275, jul./dez. 2012

disponibilidade de fornecedores estabeleça uma semelhança mercadológica entre am-bos os equipamentos.

O fabricante de partes e peças da Machine Beta minimiza potenciais riscos ao pro-cesso produtivo de seus clientes no mercado nacional ao escolher apenas dois repre-sentantes filiados para sua marca em território nacional. Isso permite estratégias de suprimentos bem articuladas, como o uso de kanbans, por exemplo, através da identi-ficação das necessidades de consumo e do gerenciamento de um estoque regulador.

Por outro lado, a companhia fabricante dos itens utilizados na Machine Alpha remete seus clientes ao alto risco logístico, tornando-os totalmente dependentes do mercado externo em uma operação de importação indireta contrária a vários dos prin-cípios bem sucedidos das estratégias de global sourcing (Figura 3).

Fonte: Desenvolvido pelos autores.

Figura 3 – Fluxo adotado pela empresa Metal Company Ltd . para reposição dos materiais

Page 85: Revista TEE_ano18_n39_2012

262

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 246-275, jul./dez. 2012

Utilizando-se de uma sistemática que apenas credencia revendas técnicas autori-zadas ao redor do mundo, a fabricante em questão leva seus três parceiros comerciais, localizados no Brasil, a competirem acirradamente entre si, conduzindo os analistas de suprimentos das empresas clientes a abrirem uma concorrência a cada ponto de pedido.

Essa primeira fase do processo aquisitivo, dependendo de como for conduzido, pode representar o primeiro ponto de fragilidade fluxo. Caracterizada como uma aqui-sição técnica/estratégica e que precisa de um acompanhamento minucioso, o período de concorrência pode levar até duas semanas entre o envio do escopo do fornecimen-to, retorno das cotações, análise de competitividade, negociação final e envio da ordem de compra (OC) ao vencedor da tomada de preços.

Ainda que este seja o procedimento correto para qualquer processo de aquisição que busque assertividade e transparência, este método exige uma programação bas-tante antecipada dos requisitantes que identificam as necessidades de reposição dos materiais.

Os representantes A, B e C mantêm estoque mínimo para apenas 20% dos part numbers de alto giro para atendimento imediato do mercado interno, evidenciando um ponto crítico no fluxo logístico onde o customer service é significativamente afetado pela distribuição física. A não disponibilidade de partes e peças faz com que a repre-sentante vencedora da concorrência tenha que recorrer ao fabricante, localizado nos Estados Unidos.

Em um cenário otimista, onde os componentes requisitados fazem parte desse es-toque regulador, a programação deve ser ajustada considerando um lead time de vinte dias, contando o tempo do processo de aquisição somado aos cinco dias para coleta e entrega pelo modal rodoviário. Em um cenário realista, onde os mesmos componen-tes estão fora do estoque mantido no Brasil, a programação é ajustada considerando um lead time de 45 a 60 dias. Nessa segunda situação, o processo de aquisição e o transporte terrestre não são os únicos a causarem esse impacto. O fluxo logístico inter-nacional necessário para importação utiliza-se de modal marítimo, na condição FOB, visando evitar custos maiores com frete.

Mas, o cenário pessimista apresenta duas situações bastante antagônicas. Se por um lado ele minimiza os efeitos causados por essa operação de global sourcing, ao pro-porcionar um lead time igual ao do cenário otimista, por outro ele impacta significati-vamente na curva de custos dos clientes, pois, nessa condição, torna-se fundamental utilizar o modal aéreo, o que vem a acarretar em 2,5 vezes o valor da mercadoria transportada.

Page 86: Revista TEE_ano18_n39_2012

263

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 246-275, jul./dez. 2012

Por si só, o status de gravidade elencado para a situação justifica a sua “urgência” na matriz GUT. O atual contexto econômico exige que as empresas trabalhem com estoques mais justos. No entanto, o fator “imprevisibilidade” impede que seja feito um planejamento de curto prazo para a reposição de 80% dos materiais consumidos. Logo, todos os componentes que não fizeram parte do estoque regulador mantido pelas representantes no Brasil estiveram sujeitas à variação cambial de 30,97% no pe-ríodo de julho de 2011 a junho de 2012, impactando negativamente na curva de custos das empresas compradoras.

Se de uma forma a adoção de uma filosofia Just in Case (JIC), em uma previsão otimista de 12 meses, elimina o problema da oscilação da moeda estrangeira, em outro contexto ela pode afetar o desempenho mercadológico. Embora não se possa ter uma certeza matemática da condição futura mercadológica global, o risco cambial torna-se bastante claro no caso de a aquisição antecipada de materiais do exterior ocorrer em um momento de forte valorização do Dólar americano frente ao Real. Como muitas empresas adotam a gestão de estoque pelo método FIFO, consequentemente, a poten-cial valorização do Real pode gerar competitividade para os concorrentes que aprovei-tarem o momento – sem falar que componentes armazenados e sem uso representam um custo indesejável para os acionistas que percebem isso como dinheiro parado.

Por último, a alta pontuação para a coluna “tendência” justifica-se em razão de que essas máquinas respondem por 70% da qualidade no produto que é expedido. Refugo, retrabalho, atraso na entrega e problemas de operação são apenas alguns dos problemas que tendem a se agravar com a falta de partes e peças da Machine Alpha e que, com o tempo, colocam em risco a posição da companhia no processo de qualifica-ção das empresas clientes.

O Diagrama de Ishikawa (Figura 4) resume o panorama complexo e sistemá-tico com grande influência no risco de suprimentos e de atendimento à produção. Ao final dessa análise, entendeu-se que a proposta de uma parceria com benefícios mútuos no canal de suprimentos permitirá uma remodelagem de todo o processo de abastecimento.

Page 87: Revista TEE_ano18_n39_2012

264

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 246-275, jul./dez. 2012

Fonte: Desenvolvido pelos autores.

Figura 4 – Diagrama de Ishikawa referente ao risco de suprimento e atendimento

Com essa perspectiva, buscou-se, então, identificar entre os representantes um potencial parceiro que oferecesse um diferenciado nível de atendimento à produção ao adotar uma nova sistemática de abastecimento. Constatou-se, no primeiro momento, que o formato de trabalho das empresas representantes está bastante evidente, po-dendo estender a parceria apenas no âmbito comercial com a fixação de contratos de fornecimento – o que minimiza o impacto com a variação dos preços, mas não elimina o risco logístico.

Em um segundo momento, a adoção de um olhar mais amplo para a cadeia logís-tica levou a Metal Company Ltd. a encontrar uma possível ação empresarial cooperada, embora menos convencional. Identificou-se que um de seus grandes clientes possui equipamentos Machine Alpha em sua estrutura fabril. A possibilidade da consolidação dos volumes permitiria um fluxo singular de abastecimento, tornando-se a chave para o melhor gerenciamento do risco logístico, uma vez que o favorável posicionamento geográfico entre as duas empresas possibilita uma eficiente estratégia de local sourcing, ainda que reversa.

Page 88: Revista TEE_ano18_n39_2012

265

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 246-275, jul./dez. 2012

Contudo, foi necessário ir além do que convencionalmente é proposto nos concei-tos acadêmicos. Ao considerar a possibilidade de realizar um esforço combinado que resultaria em uma operação de transferência de suprimentos mais simplificada, foi necessário ampliar a visão prática das teorias analisando, inclusive, mudanças provi-denciais no seu contexto de aplicação.

Proposta de alianças estratégicas inovadoras no processo de abastecimento da cadeia de suprimentos da empresa

O conceito convencional de comakership aborda uma relação mais estreita entre cliente e fornecedor para a produção cooperada, de forma que o segundo analise e tra-balhe melhorias nos produtos e processo produtivo do primeiro, estabelecendo con-tratos durante o ciclo de vida do produto. Mesmo assim, entende-se que uma parceria evoluída entre cliente e fornecedor, através da fabricação cooperada, caracteriza uma aliança estratégica onde ambas as empresas criam condições mútuas de ganhos no mercado. Logo, deslumbrou-se a viabilidade da mesma aplicação, mas em um sentido reverso onde a empresa cliente contribui substancialmente ao somar seus esforços de suprimentos com a empresa fornecedora para que esta, por sua vez, possa cumprir sua missão na cadeia de suprimentos com precisão e qualidade.

Nesse sentido, a presente proposta de local sourcing precisava de um elemento alternativo e pouco convencional, já que o que o fator crítico de sucesso do projeto passa por um escopo logístico mais ágil e confiável, de forma a oferecer menos riscos ao canal produtivo. Assim, foi possível a construção de um novo panorama a partir da reestruturação do atual escopo ao utilizar os princípios de bonded warehousing, uma operação muito utilizada no comércio internacional, como mostra a Figura 5.

O bonded warehousing, também conhecido como recinto alfandegado, é um local reservado para armazenagem e custódia de mercadorias importadas e que estão su-jeitas às taxas ou tarifas alfandegárias, pertencendo ao país de origem até que haja efetivação comercial da importação entre cliente e fornecedor. A utilização de seus princípios representou, neste estudo, um grande diferencial para estabelecer a vanta-gem logística, viabilizando benefícios mútuos no gerenciamento do transporte.

Page 89: Revista TEE_ano18_n39_2012

266

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 246-275, jul./dez. 2012

Fonte: Desenvolvido pelos autores.Figura 5 – Novo fl uxo adotado pela empresa Metal Company Ltd. para reposição dos materiais

A característica única de gestão desse tipo de recinto evidenciou, também, a ne-cessidade de uma nova opção de fornecimento para operar nessa sistemática, admi-nistrando e realizando um controle efetivo a partir da internalização do estoque regu-lador de materiais. Consequentemente, ao efetivar um fornecedor com capacidade de operar fisicamente nos mesmos princípios do bonded, viabilizou-se, por fim, a adap-tação prática desse conceito, considerando que o processo de abastecimento entre as empresas parceiras ocorre dentro do mercado nacional. Ainda, como a proposta do bonded vincula a custódia dos materiais à empresa representante em questão, abre--se a possibilidade para a prática de uma filosofia Just in Time (JIT), a qual tem como uma de suas vantagens, não gerar nenhum custo de manutenção pela sua utilização. É pertinente destacar isso, pois esses tipos de custos normalmente são os vilões do gerenciamento de estoques.

Com base nisso, em um primeiro momento, o risco logístico foi o critério inicial de avaliação para o sucesso do projeto. A adoção dessa nova sistemática de abastecimento

Page 90: Revista TEE_ano18_n39_2012

267

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 246-275, jul./dez. 2012

refletiu expressivamente no número de movimentações logísticas internacionais, con-tabilizada em 12 meses, em 91,67%, conforme se pode verificar na Tabela 1. Esse reflexo também foi percebido nas movimentações logísticas decorrentes do mercado interno. O planejamento antecipado dos materiais somado à reposição anual do bonded elimi-nou 100% de atividades de baixo valor agregado no processo aquisitivo, remetendo as áreas envolvidas no fluxo de materiais a trabalhos menos operacionais. O estreito relacionamento na cadeia de suprimentos limitou o número de abertura de concorrên-cias no mercado, contribuindo para a eliminação de um número anual superior a 300 análises comerciais que eram executadas, entre elaborações e emissão de OCs (Ordens de Compras).

Tabela 1 – Universo de pesquisa e levantamento de dados

Período

Número de movimentações

comerciais realizadas

pelos fornecedores

Análises comerciais realizadas no período

Modelo de gestão estratégica

Pedidos de compras

Número de OCs emitidas

Tempo total de

atendimento (em dias)

Número de potenciais empresas

2011 12 309 Tradicional (antes) 103 45/60 3

2012* 1 2 Comakership (depois) 1 1 1

* Apuração realizada entre janeiro e setembro de 2012.Fonte: dados da pesquisa.

Outro benefício percebido ficou por conta da agilidade no canal de suprimentos. O prazo médio total de recebimento, antes contabilizado em 45 dias, agora pode ocor-rer em até 24 horas e com transporte próprio. Trata-se de uma expressiva redução de 97,7% no prazo de entrega e a descontinuidade do modal rodoviário de longa distân-cia para reposição dos materiais. Dessa forma, evitam-se atrasos na entrega resultantes de agravamento dos problemas de ordem interna (greves, operação-padrão, roubos de carga) e/ou dos relacionados às deficiências da infraestrutura brasileira que impactam no custo dos produtos (péssimas condições das estradas, pedágios, alto custo com ma-nutenção de veículos e rodovias).

Considerando os valores praticados pelo mercado para os mesmos componentes, evitou-se um impacto de 30,97% relativo à alta da moeda americana. Contudo, é pre-ciso ressaltar que não se trata de uma redução de custos, já que esse efeito é externo às novas práticas logísticas adotadas. Esse impacto apenas seria sentido caso a metodolo-gia em questão não tivesse sido implementada, podendo ser fatal às curvas de custos das empresas envolvidas no estudo de caso.

Page 91: Revista TEE_ano18_n39_2012

268

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 246-275, jul./dez. 2012

Mensuração dos resultados com a implementação da nova proposta

O primeiro passo da análise de dados aborda de forma objetiva o número de ocorrências comerciais realizadas pelos fornecedores no mercado externo para abaste-cimento do próprio estoque regulador ou para atendimento direto da Metal Company Ltd.. Em 2011, as empresas representantes acionaram o processo de importação 12 ve-zes ao longo do ano, conforme já apresentado na Tabela 1. A partir da formação de novas alianças estratégicas e da internalização do estoque regulador, reduziu-se 66% o número de empresas representantes, firmando parcerias melhores para o forneci-mento de partes e peças da Machine Alfa, além da redução de 91,67% no número de importações desses componentes – condição que minimizou significativamente o risco de ruptura dos estoques (Gráfico 1).

Fonte: dados da pesquisa.

Gráfi co 1 – Número de movimentações comerciais realizadas pelos fornecedores no merca-do internacional – 2011 a 2012

Ainda em relação ao número de empresas representantes envolvidas no processo aquisitivo, o estreitamento das estratégias comerciais permitiu um planejamento an-tecipado baseado na estandardização dos materiais, consequentemente, eliminando a abertura de constantes aberturas de concorrências, como mostra o Gráfico 2.

Page 92: Revista TEE_ano18_n39_2012

269

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 246-275, jul./dez. 2012

Fonte: dados da pesquisa.

Gráfi co 2 – Impactos da abertura de concorrências e emissão de ordens de compras – 2011 a 2012

As 103 OCs emitidas pelos requisitantes demandaram, em média, a necessidade da abertura de concorrência com ao menos três empresas, resultando em 309 análises comerciais realizadas pela equipe de compras da Metal Company Ltd. durante o ano de 2011. Em 2012, a adoção do novo escopo logístico/comercial eliminou o número de OCs emitidas em 99,03%, sendo essa única emissão providencial para a concretização do abastecimento do estoque regulador. Na sequência, o número de análises comer-ciais realizadas caiu em 99,35%, remetendo o estrategista de compras, que faz parte desse processo, a atividades estratégicas e altamente relevantes a esse contexto. En-tendendo que ambas as ações (emissão da OC e análise comercial) são fundamentais para concluir a operação em questão, nesse novo cenário, verificou-se que 100% das atividades de baixo valor agregado e pertencentes a esse escopo de trabalho, foram eliminadas.

O fluxo logístico, com menos movimentações físicas e modais, resultou em agi-lidade no canal de suprimentos. O Gráfico 3 apresenta o positivo impacto no prazo médio de recebimento, antes contabilizado em 45 dias. Ocorrendo em até 24 horas, constatou-se uma redução de 97,7% no prazo de entrega e a minimização de riscos

Page 93: Revista TEE_ano18_n39_2012

270

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 246-275, jul./dez. 2012

logísticos decorrentes de ameaças advindas de greves, roubos de carga, problemas de infraestrutura, efeito dos pedágios nos preços de aquisição, entre outros.

Fonte: dados da pesquisa.

Gráfi co 3 – Prazo médio de recebimento das cargas (mensurado em dias) – 2011 e 2012

Chama a atenção, observando-se o Gráfico 3, que os indicadores medidos em dias mostram dois cenários bastante diferenciados: em 2011, os 45 dias totais computados para que as empresas representantes pudessem efetivamente realizar suas entregas foram fracionados entre o período de concorrência, transporte das cargas utilizando o modal marítimo e, ainda, o transporte rodoviário, finalizando o abastecimento junto aos clientes. No entanto, faz-se necessário reforçar que o período de 25 e de cinco dias para os modais marítimo e rodoviário, respectivamente, poderia variar por decorrên-cia de situações de força maior, ponderando a possibilidade de um cenário pessimista que estenderia este prazo para 60 dias, em média.

Para finalizar a presente análise, o Gráfico 4 mostra a minimização do já citado fator “imprevisibilidade”, que atinge 80% dos materiais consumidos e que não fizeram parte do estoque regulador mantido pelas representantes no Brasil. No período de ju-lho de 2011 a junho de 2012, a cotação média do Dólar PTAX, utilizada para regulação dos preços acordados entre essas companhias, sofreu uma alta de 30,97%, ameaçando o grau de competitividade das empresas.

Page 94: Revista TEE_ano18_n39_2012

271

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 246-275, jul./dez. 2012

Fonte: Banco Central do Brasil.

Gráfi co 4 – Cotação média do USD (PTAX) – julho de 2011 a junho de 2012

Avaliando a nova perspectiva de gerenciamento da cadeia, combinado com o início da parceria em janeiro de 2012, quando os efeitos macroeconômicos já eram per-cebidos, observa-se um impacto relativo à contenção dos custos em 14,35%, resultantes da valorização do Real frente ao Dólar PTAX.

Embora o presente estudo não tenha focado no impacto em custos ou formação de preços, e sim nas parcerias estratégicas, vale ressaltar, também, que o novo escopo de projeto reflete positivamente na competitividade de todas as empresas estrategica-mente aliadas frente aos concorrentes. Esse critério fundamental para a sobrevivência do negócio é percebido a partir do momento em que o mercado internacional deixa de ser acionado na mesma frequência, seja para operações logísticas e/ou comerciais. Nesse sentido, são elencados os fretes marítimos, os custos de movimentação da carga e possível período de armazenagem, custos de admissão, entre outros e que são emi-nentemente atingidos pela macroeconomia.

ConclusõesÉ perceptível que, após o advento da globalização, a maneira de produzir e co-

mercializar sofreu grandes mudanças. A adesão a novos sistemas e métodos de ges-tão que miravam aumentar expressivamente a produtividade, visando o expressivo

Page 95: Revista TEE_ano18_n39_2012

272

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 246-275, jul./dez. 2012

aumento de market share, impactou significativamente em todo o composto da cadeia de suprimentos, principalmente no que diz respeito aos princípios gerais da gestão dos materiais: o produto certo, no tempo certo e com o custo adequado.

Logo, constata-se que um dos segredos para sobrevivência do negócio em um ambiente comercial de competição predatória estava, também, na evolução do rela-cionamento entre as empresas e seus fornecedores. Saber estabelecer parcerias com os fornecedores tornou-se sinônimo de competitividade na cadeia de suprimentos ao buscar parceiros logisticamente eficientes e que possam praticar preços adequados à realidade dos produtos e serviços direcionados para o mercado.

No entanto, com o tempo o termo “parceria” passou a ganhar uma concepção genérica, ficando mais restrito às condições de preço, pagamento e entrega, o que, con-sequentemente, poderia melhorar a seleção de fornecedores na cadeia de suprimentos, mas não oferecia diferenciais logísticos competitivos e tão pouco agregavam aos clien-tes em custo, qualidade e flexibilidade.

Então, à medida que o Brasil evoluía economicamente, o fenômeno global de pro-dução e concorrência permitiu o aumento do acesso às diversas tecnologias e matérias--primas e o lançamento de produtos e serviços cada vez mais similares no mercado. Essa mudança sistemática levou as companhias a evoluir em suas práticas de supri-mento e também com as estratégias cooperativas da sua cadeia, tornando o conceito de comakership cada vez mais presente entre as empresas.

Porém, percebe-se, já tradicionalmente, que o modelo proposto nesta abordagem conceitual trata da consolidação de alianças estratégicas logísticas através do estreito relacionamento entre clientes e fornecedores, onde a avaliação, escolha e alto grau de integração do segundo em relação ao primeiro promovem a tão ambicionada compe-titividade global da cadeia.

Avaliando o estudo de caso apresentado neste trabalho científico, constata-se que o desenvolvimento de alianças estratégicas, o último estágio na evolução do estreito relacionamento do tipo comakership, pode ser amplamente expandindo, resultando em uma série de benefícios que englobam desde a agilidade e flexibilidade no fluxo lo-gístico, passando pela reversão de ineficiências advindas de operações global sourcing, chegando até a criação de diferenciais competitivos que conduzam à sobrevivência do negócio.

O presente trabalho teve como objetivos identificar quais eram as operações que mais ofereciam riscos ao seu fluxo logístico, remodelar todo o processo de abasteci-mento, identificando entre os representantes um potencial parceiro que oferecesse uma nova sistemática de abastecimento para a empresa objeto do estudo, reposicionando-a entre seus melhores fornecedores no sistema de qualidade. Ainda, o estudo possui o

Page 96: Revista TEE_ano18_n39_2012

273

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 246-275, jul./dez. 2012

objetivo principal de responder em que grau o conceito de comakership contribui para a criação de diferenciais competitivos logísticos frente às incertezas mercadológicas.

Ao atender à primeira proposta deste artigo, conclui-se que este foi atendido ao evidenciar o status de gravidade, urgência e tendência das cinco operações de maior risco logístico para a Metal Company. Ao realizar o mapeamento do principal item na matriz GUT e elencar os efeitos na cadeia logística diante de uma não solução ajuda-ram na compreensão e na qualificação desse tema como plano de ação prioritário.

Ao atender à segunda proposta do trabalho, percebe-se que a remodelagem do sistema de abastecimento foi bem sucedida através do estabelecimento de alianças estratégicas que preenchem todos os critérios de um relacionamento do tipo comaker-ship, ainda que a aplicação seja, neste caso, pouco convencional. Fugindo do ponto de vista tradicional, a Metal Company, devido ao alto grau de integração das estratégias logísticas, pôde ganhar em eficiência no canal de suprimentos ao trabalhar de forma cooperada com seu principal cliente, traçando uma eficaz operação de local sourcing que gerou competitividade para ambas as empresas.

Por último, visando atender ao objetivo principal deste artigo, conclui-se que o comakership contribui significativamente para a criação de diferenciais competitivos logísticos uma vez que a total integração estratégica permite a geração de inteligência de negócio. Para tato, deve-se considerar que a visão desse conceito deve ser ampliada e que a gestão deve trabalhar constantemente o incentivo de alternativas e para cons-tante melhoria dos processos, produtos e serviços, ainda que estas opções sejam as menos convencionais.

Embora este trabalho tenha sido elaborado na modalidade “estudo de caso úni-co”, é aplicável em qualquer segmento econômico que apresente determinadas carac-terísticas em similaridade, independente do seu mercado de atuação. Entretanto, deve--se enfatizar que o sucesso dessa mudança no canal de suprimentos está diretamente ligado com o comprometimento da empresa, dos agentes provedores da mudança, das demais pessoas envolvidas no processo e das empresas parceiras no projeto de SCM.

Page 97: Revista TEE_ano18_n39_2012

274

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 246-275, jul./dez. 2012

COMAKERSHIP: A SCOPE IN INNOVATIVE CONCEPT OF STRATEGIC ALLIANCES LOGISTICS

AbstractThe objective of this article is to identify the operational risks of the Metal Company Ltd. logistics canal due to the supply fl ow settled up in a conventional material replacement and proposes a new model of supply material process through the formation of strategic alliances for, fi nally, identify the degree of comakership concept contributes to the logistics competitive advantages creation to face marketing uncertainties. To make it, the utilized methodology was a case study, divided in three different moments: identifi cation of the operational risks caused by the main suppliers; a creation of a new proposal for strategic alliances and his one demonstrated with a implementation of this proposal. As the main results it’s possible to realize that comakership contributes signifi cantly for the operational risks reduction and the logistics competitive advantages creation between client-supplier, it was corroborated throu-gh the study realized into the Metal Company, which expanded its supply canal effi ciency in a cooperative work with its main client.

Keywords: Comakership. Local sourcing. Operational risks. Partnerships, Strategic alliances.

COMAKERSHIP: UNA ABORDAJE DE CONCEPTO INNOVADOR DE ALIANZAS ESTRATÉGICAS

LOGÍSTICAS

ResumenEste artículo tiene como objetivo identifi car los riesgos operacinales del canal logística de la Metal Company Ltd. decorrente del fl ujo de abastecimienta en reemplazo de los materiales convencionales y proponer un nuevo modelo del proceso de sustitución de materiales através de la formación de alianzas estratégicas, que permitan identifi car el grado en que el concepto de Comakership contribuye a La creación de ventajas competitivas logísticas que se muestra em el mercado incierto. Por esta razón, la metodología utilizada fue un estudio de caso en tres momentos distintos: la identifi cación de los riesgos operacionales causadas por los principales proveedores; la creación de una nueva propuesta de alianzas estratégicas y esto, a su vez, ha demostrado con la implementación de la nueva propuesta. Los principales resultados se ob-serva que la Comakership contribuye de manera signifi cativa a reducir los riesgos operativos y crear diferenciadores competitivos entre el proveedor de logística de la empresa, lo cual fue corroborado por el estudio en Metal Company, que ampliaron considerablemente su efi ciencia en el canal de abastecimiento para trabajar de forma cooperativa con su principal cliente.

Palabras-clave: Alianzas estractégicas. Comakership. Las asociaciones. Las fuentes locales. Riesgos operacionales.

Page 98: Revista TEE_ano18_n39_2012

275

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 246-275, jul./dez. 2012

Nota1 Cabe esclarecer que o conceito de Lean Supply Chain é considerado revolucionário, também, devido aos

sistemas de Programação e Controle da Produção (PCP) requeridos para suportar a cadeia de supri-mentos, os indicadores e os processos que otimizam os benefícios totais para a organização.

Referências

ALVAREZ, Marisol P., QUEIRÓZ, Abelardo A. de. Aproximações dos laços de parcerias entre fornecedor-cliente na cadeia de suprimentos como fonte de competitividade. In: XXIII ENEGEP. Minas Gerais, out. 2003.CHING, Hong Yuh. Gestão de estoques na cadeia de logística integrada: Supply Chain. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2001.GONTIJO, Felipe E. Kich et al. Estratégia de fornecimento na indústria de duas rodas: um estu-do de caso de comakership. In: VI Congresso Nacional de Excelência em Gestão. Rio de Janeiro, 2010.MARINS, Márcio; PASQUAL, Cássia Aparecida. Lean Thinking: um estudo sobre a jornada rumo à implementação do conceito de lean supply chain management. Revista Mundo Logística. Curitiba. v. 26, p. 24-37, 2012.MARINS, Márcio; VANIN, Jorge Alexandre. Global Sourcing: diferencial estratégico na gestão da cadeia de suprimentos. Revista Mundo Logística. Curitiba. v. 17, p. 26-36, 2010.MARTINS, P. G.; CAMPOS P. R. Administração de materiais e recursos patrimoniais. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2003.MARTINS, Petrônio Garcia; A. L. T., Paulo Renato Campos. Administração de materiais e recursos patrimoniais. São Paulo: Saraiva, 2006.MERLI, Giorgo. Comakership: a nova estratégia para os suprimentos. Rio de Janeiro: Quality-mark, 1998._______. The new strategy for manufactures. Portland, Oregon: Productive Press. EUA. 1990.PIRES, Silvio R. I. Gestão da cadeia de suprimentos: conceitos, estratégias, práticas e casos – Supply Chain Management. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2009.PORTER, M.E. Estratégia competitiva: técnicas para análises e da concorrência. Rio de Janeiro: Campus. 1986. p. 21-48.REICHELD F. F. A estratégia da lealdade. Rio de Janeiro: Campus. 2000.RIBEIRO, M. C. et al. Comakership: uma parceria entre fornecedor-cliente. Disponível em: http//www.unisalesiano.edu.br/encontro2007/. Acesso em: out. 2012TUBINO, Dalvio Ferrari. Manual de planejamento e controle de produção. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2000.ZAIRI, Mohamed (1997). O verdadeiro signifi cado da competição. HSM Management, n. 3, jul./ago. p. 86-94.

Page 99: Revista TEE_ano18_n39_2012

276

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 276-303, jul./dez. 2012

Análise da evolução temporal dos pontos fortes e fracos das empresas vinculadas à incubadora tecnológica

de Maringá no período de 2007 a 2012

Leonardo da Costa Urt*

Marcelo Farid Pereira**

Fernanda Helen Mansano***

Resumo

Para fomentar a criação e o desenvolvimento de micro e pequenas empresas cujos produtos, serviços e/ ou processos são resultantes do conhecimento científi co, surgem as incubadoras de base tecnológica. Com objetivo de acompanhar o desenvolvimento das empresas vincula-das à Incubadora Tecnológica de Maringá, desenvolveu-se um trabalho para analisar a evolu-ção dos pontos fortes e fracos dessas empresas no período histórico de 2007 a 2012. Para isso, foram utilizados os indicadores de desempenho relacionados ao mercado, ao aspecto fi nan-ceiro, à caracterização da empresa e à inovação. De uma forma geral, os resultados apontam para uma evolução positiva desses indicadores.

Palavras-chaves: Incubadoras de base tecnológica. Indicadores de desempenho. Micro e peque-nas empresas. Pontos fortes e fracos. Resultados.

Submissão: 22/10/2012. Aceite: 03/01/2013

* Acadêmico do curso de Ciências Econômicas da Universidade Estadual de Maringá. Bolsista PIBIC/CNPq-FA-UEM. E-mail: [email protected]

** Economista. Doutor em Engenharia de Produção pela UFSC. Professor Associado do curso de Ciên-cias Econômicas da Universidade Estadual de Maringá. Coordenador estratégico da Incubadora Tec-nológica de Maringá. Bolsista de extensão tecnológica da Fundação Araucária. E-mail: [email protected]

*** Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Maringá. Bolsista de Desenvolvi-mento Tecnológico Industrial do CNPQ. E-mail: [email protected].

Page 100: Revista TEE_ano18_n39_2012

277

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 276-303, jul./dez. 2012

IntroduçãoO cenário global é de intensas transformações, sejam elas políticas, sociais ou eco-

nômicas. Paradigmas são quebrados dia a dia e a necessidade de acompanhar as mu-danças impõe a reformulação ou renúncia de velhas teorias.

Na economia, o comércio interno e externo encurta cada vez mais as distâncias entre regiões e países. As livres negociações e o intercâmbio entre culturas convertem o mercado local em mercado mundial. A pluralidade de informações leva a criação de novas necessidades e torna os consumidores mais exigentes. O surgimento de novos empreendimentos diversifica o mercado e estimula a competitividade. A revolução tecnológica impôs uma “nova economia”, apoiada, sobretudo, em tecnologias de pro-dução de ponta.

Nesse contexto, a tecnologia, o acirramento da concorrência e as exigências do consumidor estimulam um ambiente inovador. Dessa forma, para que as empresas possam se adaptar às transformações correntes é necessário aprimorar seus negócios, desenvolvendo produtos ou serviços que atendam as novas demandas.

As micro e pequenas empresas de base tecnológica têm nos produtos com alto conteúdo tecnológico um importante fator de competitividade no mercado. Para que elas consigam manter um fluxo de produtos inovadores e competitivos é necessá-rio que elas desenvolvam tecnologias que resultem em novos produtos. No entan-to, as empresas de pequeno porte, diante dos grandes empreendimentos, saem em desvantagem.

Para fomentar a criação e o desenvolvimento desses micro e pequenos empre-endimentos, surgem as incubadoras de empresas de base tecnológica, uma forma de apoiar a inovação tecnológica de produtos, serviços e processos.

Todavia, a inovação não é fator suficiente para que uma empresa obtenha suces-so, pois, tão necessário quanto o conhecimento teórico e prático dos produtos que a empresa produz é o conhecimento sobre as tecnologias de gestão, ou seja, a capacida-de do gestor da empresa em administrar o seu negócio a fim de tornar os produtos e a inovação um diferencial competitivo. Portanto, ao passar por um processo de incu-bação, as micro e pequenas empresas de base tecnológica se desenvolvem, sobretudo, em termos de tecnologia de gestão.

Ainda que os empresários dos empreendimentos de base tecnológica apresentem inexperiência gerencial, ao entrar numa incubadora eles têm à sua disposição diversos serviços que os auxiliam em suas atividades; serviços esses que incluem capacitação e treinamento sobre gestão empresarial, gestão tecnológica, comercialização de produ-tos e serviços e etc.

Page 101: Revista TEE_ano18_n39_2012

278

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 276-303, jul./dez. 2012

Quando as empresas vinculadas a uma incubadora atingem certo estágio de maturidade, elas pressionam por espaços onde possam intensificar suas atividades e tecnologias. Nesse sentido, os parques tecnológicos, complexos industriais de base científico-tecnológica, são importantes para que as empresas graduadas continuem a desfrutar dos benefícios que encontravam nas incubadoras.

Segundo dados do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) (2000), as empresas que passam pelo processo de incubação apresentam uma taxa de mortalidade reduzi-da a 20%. Todavia, mesmo com todo suporte dado pelas incubadoras, algumas empre-sas vão à falência, portanto, é extremamente importante que as empresas monitorem e acompanhem todas as informações relativas ao ambiente em que ela está inserida, pois dessa forma é possível identificar as falhas decorrentes de suas operações e as oportu-nidades do mercado. Além disso, as informações são fundamentais para o processo de tomada de decisão.

Assim, desenvolveu-se um trabalho na Incubadora Tecnológica de Maringá com objetivo de analisar a evolução histórica de alguns indicadores de desempenho dessas empresas no período histórico de 2007 a 2012, que, conforme se revelou na pesquisa, tem indicado uma evolução positiva dos mesmos.

Referêncial teórico

Micro e pequenas empresas – MPE’s

As micro e pequenas empresas ocupam um papel importante para a economia brasileira e para a geração de empregos. Segundo dados do Sebrae, em 2010, elas res-ponderam por 99% das empresas, 51,6% dos empregos formais privados não agrí-colas e quase 40% da massa de salários no país. Assim, é fundamental entender e compreender as características e os fatores que contribuem para o aumento da taxa de mortalidade delas.

De acordo com o IBGE (2001), as MPE’s são caracterizadas pela baixa intensidade de capital, altas taxas de natalidade e mortalidade, forte presença de proprietários e/ou sócios dos negócios, centralização de poder, estreito vínculo entre os proprietários e as empresas, não distinção entre pessoa física e jurídica, registros contábeis pouco adequados, contratação direta de mão de obra (qualificada ou semiqualificada), bai-xo investimento em inovação tecnológica, dificuldade de acesso ao financiamento de capital de giro e relação de complementaridade e subordinação com as empresas de grande porte.

Page 102: Revista TEE_ano18_n39_2012

279

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 276-303, jul./dez. 2012

O índice de mortalidade das empresas brasileiras é significativo. Embora estudos apontem uma diminuição ao passar dos anos, sabe-se que os primeiros anos de exis-tência dos empreendimentos são os mais críticos. Nem todas as empresas conseguem chegar à sua etapa de maturidade. De acordo com os dados do Sebrae - SP, em 2010, 58% das empresas brasileiras de pequeno porte fecharam as portas antes de completar cinco anos.

Chiavenato (2008, p. 15) explica que “nos novos negócios, a mortalidade prema-tura é elevadíssima, pois os riscos são inúmeros e os perigos não faltam”. Assim, ele aponta alguns fatores que contribuem para a mortalidade das empresas:

Inexperiência - 72%

Incompetência do empreendedorFalta de experiência de campo Falta de experiência gerencialExperiência desiquilibrada

Fatores econômicos - 20%

Lucros insufi cientesJuros elevadosPerda de mercadoMercado consumidor restritoNenhuma viabilidade futura

Vendas insufi cientes - 11%

Fraca competitividadeRecessão econômica Vendas insufi cientesDifi culdade de estoqueLocalização inadequada

Despesas excessivas - 8%Dívidas e cargas demasiadasDespesas operacionais elevadas

Outras causas - 3%

NegligênciaCapital insufi cienteClientes insatisfeitos FraudesAtivos insufi cientes

Fonte: Chiavenato (2008)Quadro 1 – As causas mais comuns de falhas no negócio

Adizes (1990) fez uma analogia entre o crescimento de uma empresa e um orga-nismo vivo, descrevendo o comportamento de uma organização em diversos estágios de crescimento, quais sejam, namoro, infância, toca-toca (pré-adolescência), adoles-cência e plenitude, ao passo que apresenta também as dificuldades pelas quais uma organização passa.

Page 103: Revista TEE_ano18_n39_2012

280

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 276-303, jul./dez. 2012

A primeira fase, o namoro, é marcada pela concepção da ideia do empreendi-mento. A segunda fase, a infância, é o momento em que a empresa se defronta com o risco de mortalidade, uma vez que desloca o enfoque das ideias e possibilidades para a produção de resultados e a satisfação das necessidades, ou seja, é quando a ideia é posta em prática. Na terceira fase, toca-toca, a empresa se volta para o mercado, pois a ideia já está em funcionamento, assim, procura aproveitar as oportunidades. A quarta fase, adolescência, é quando a empresa está em busca de sua independência longe do fundador. Na quinta fase, plenitude, a organização conquista o equilíbrio entre o autocontrole e a flexibilidade, no entanto, ainda não é o último estágio, mas sim o que atesta que a empresa está crescendo.

Durante todas essas etapas do ciclo de crescimento, as empresas estão diante de dificuldades que, se não superadas, favorecem sua mortalidade. A respeito disso, Adi-zes se utiliza do termo “mortalidade infantil” para se referir aos fatores que levam a empresa à morte durante o estágio namoro e infância, tais como: falta de capital; utilização de práticas financeiras não eficazes; interferência de influências externas; problemas gerenciais decorrentes de delegações inadequadas de funções importantes na empresa; falta de crescimento e estagnação da empresa com taxas de crescimento iguais ou inferiores às dos anos anteriores; falta de foco com envolvimento em muitos negócios sem sinergia entre eles, dividindo e pulverizando a atenção do empresário; ausência de sistemas administrativos adequados à operação da empresa.

Diante dos vários fatores que contribuem para a falência de uma empresa, em relação às empresas de base tecnológica, Santos (1987) aponta que a ausência de re-cursos financeiros é o principal deles. Além disso, Lemos (1998, apud SILVA, 2006) acrescenta que as dificuldades encontradas pelas EBT’s estão relacionadas também a projetos de inovação e problemas gerenciais, uma vez que envolvem atividades de inovação tecnológica.

Empresas de base tecnológica – EBT’sO desenvolvimento econômico de um país ou região pode ser avaliado pela sua

capacidade de geração de inovações tecnológica, que, por sua vez, é dependente do investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D). No entanto, é notório que as atividades na área da inovação estão muito limitadas à iniciativa privada, como as empresas de base tecnológica, as quais muito contribuem para a transformação do conhecimento em fonte de riqueza e acumulação de capital físico e intelectual.

Para Leite (2001, p. 90),

Page 104: Revista TEE_ano18_n39_2012

281

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 276-303, jul./dez. 2012

As empresas de base tecnológica podem ser definidas como um empreendimen-to que congrega design, desenvolvimento ou produção de um novo produto/serviço ou processo através da sistemática de aplicação do conhecimento técni-co-científico, empregando largamente o “estado da arte” das técnicas de gestão existentes.

Segundo Machado et al. (2001), são duas as principais características distintivas das micro e pequenas empresas de base tecnológica: o porte da empresa e o grau de evolução da tecnologia e do mercado.

Essas empresas possuem um alto grau de investimento em P&D e empregam muitos profissionais de formação técnico-científica e de engenharia, assim se caracteri-zam por usar tecnologias inovadoras. Além disso, elas têm um mercado mundial para seus produtos. Contudo, existem aquelas que atuam em mercados restritos, fornecen-do produtos para poucos clientes com demandas específicas.

De acordo com Santos (2010), as classificações propostas para as EBT’s levam em consideração a frequência, o alcance e o modo de inovação. Dessa forma, elas podem se enquadrar em três grupos.

O primeiro grupo engloba as firmas que se baseiam em projeto “oportunista”, ou seja, a partir de ideias e conceitos vinculados a tecnologias estabelecidas, elas desen-volvem aplicações que ampliam as objeções originais da inovação.

O segundo grupo é constituído por firmas baseadas em tecnologias novas, o que contribui para a ausência de competição entre essas empresas e, por resultado, um aumento na taxa de sobrevivência das mesmas.

O terceiro e último grupo é o das empresas baseadas em tecnologia de nicho de mercado, “formada por firmas que foram bem-sucedidas no desenvolvimento de tec-nologias, mas que, devido à maturação de seus ativos tecnológicos, estabilizaram-se e apresentam um baixo crescimento” (SANTOS, 2010, p. 217).

Com o crescimento do número de empresas de base tecnológica, novos segmen-tos indústrias começam a surgir. Segundo Barbieri (1995), as barreiras à entrada no mercado se devem ao grau de conhecimento técnico-científico, diferente dos setores maduros e oligopolizados, em que há a possibilidade de fixar preço-limite para inibir novos entrantes, o que favorece o surgimento de novos empreendimentos de pequeno e médio porte.

Quando se fala em empresas de base tecnológica, a inovação é uma palavra-cha-ve. Para Netto (2006), a inovação não necessariamente leva a empresa ao sucesso, pois o conhecimento teórico e prático dos produtos muitas vezes não é suficiente. Desse modo, é necessário que o gestor da empresa adquira habilidades gerenciais para ad-ministrar a produção e para criar condições para que o produto se torne um diferencial competitivo.

Page 105: Revista TEE_ano18_n39_2012

282

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 276-303, jul./dez. 2012

Porém, as MPEs’, muitas vezes, devido à baixa capacidade de gerência e inex-periência no mercado em que atuam, saem em desvantagem. Assim, com objetivo de fomentar o crescimento e o desenvolvimento dessas empresas, surgiram alguns meca-nismos, como as incubadoras de empresas de base tecnológica.

Organizações em redeÀ medida que a sociedade se desenvolve, novos fenômenos organizacionais, re-

flexos da complexidade a que alcançaram, começam a surgir. Recentemente, um novo formato de organização vem ganhando destaque: as organizações em rede.

De acordo com Reinc1 (2002),

Uma rede pode ser definida como um conjunto de organizações independentes ligadas entre si por laços mútuos não estritamente contratuais/ formais de lon-go prazo, que comungam de objetivos/ interesses comuns e desenvolvem ações coordenadas/conjuntas que se repetem e evoluem ao longo do tempo, comparti-lhando riscos e recursos e efetuando ‘apostas coletivas’.

Ainda segundo Reinc (2002), ao participar de uma organização em rede, os par-ticipantes individuais têm à sua disposição diversos benefícios, tais como acesso a recursos (desde equipamentos e instalações até ativos intangíveis, como marca e ‘co-nhecimento’), redução de custos de transação, especialização e aumento do poder de barganha.

Migueletto (2001) aponta três fatores principais e inter-relacionados que contri-buem para a formação de redes, tanto no setor privado quanto no setor público: o processo de modernização, o dinamismo do ambiente globalizado e o impacto das tecnologias de informação.

Entre os diversos tipos de organização em rede, para o presente trabalho, destaca--se a rede de incubadoras. Todavia, uma rede de incubadoras pode ser entendida de diversas maneiras, na medida em que pode integrar outras organizações e possui uma estrutura executiva a qual responde em nome da incubadora. Além disso, alguns au-tores entendem as incubadoras como redes de empresas, sendo, assim, uma espécie de ‘rede de redes’.

Incubadoras de empresasO sistema de incubação de empresa é um fenômeno recente. Embora as primeiras

incubadoras tenham surgido na década de 1950, nos Estados Unidos, a maioria em parceria com universidades e centros de pesquisas locais, o movimento só ganhou

Page 106: Revista TEE_ano18_n39_2012

283

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 276-303, jul./dez. 2012

expressão nos anos de 1980. A partir da experiência norte-americana, muitas práticas nessa área foram disseminadas por diversos países em desenvolvimento.

No Brasil, seguindo a tendência mundial, as primeiras incubadoras surgiram na década de 1980. A primeira foi criada em São Carlos (SP), no ano de 1984, sob o âmbito da Fundação Parque da Alta Tecnologia, com o apoio do Conselho Nacional de Desen-volvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Com objetivo de fomentar a criação e o desenvolvimento das micro e pequenas empresas, surgem as incubadoras, ambientes propícios para que elas desenvolvam seus negócios. A parceria entre instituições de pesquisa, governos e setor privado via-biliza espaços físicos planejados que contam com infraestrutura técnica, administrati-va e gerencial. Por isso, as incubadoras dispõem de uma série de serviços e facilidades que tornam possível a sobrevivência das empresas de pequeno porte.

Estatísticas de incubadoras indicam que a taxa de mortalidade entre empresas que passam pelo processo de incubação é reduzida. Segundo dados da Anprotec, a taxa de mortalidade das empresas geradas em incubadoras é de 20%. Já para as nasci-das fora do ambiente de incubadora, o Sebrae aponta uma taxa de mortalidade de 80% antes de completarem o primeiro ano de funcionamento.

As incubadoras podem ser classificadas em incubadoras de base tecnológica, de empresas de setores tradicionais e mistas. Segundo Lahorgue (2004, p. 84), uma incubadora de empresa de base tecnológica é:

A organização que abriga empresas cujos produtos, processos ou serviços resul-tam de pesquisa científica, para a qual a tecnologia representa alto valor agregado. Contempla empreendimentos nas áreas de informática, biotecnologia, química, mecânica de precisão e novos materiais. Distingue-se por abrigar exclusivamente empreendimentos oriundos de pesquisa científica.

Com tudo mais, pode-se reconhecer a importância e o papel das incubadoras: elas apoiam a transformação de empresas potenciais em empresas crescentes e lucrativas, contribuindo para o desenvolvimento econômico e social e para o progresso da inova-ção tecnológica.

Incubadora Tecnológica de MaringáEm agosto de 1996 foi fundado o Centro Softex Gênese de Maringá (CSG), o qual

ficou conhecido como Infomar, para atender ao edital do CNPq do Programa Brasilei-ro de Software para Exportação (SOFTEX). Após isso, firmaram-se diversas parcerias para fomentar seu desenvolvimento, as quais se deram por meio de um consórcio

Page 107: Revista TEE_ano18_n39_2012

284

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 276-303, jul./dez. 2012

formado entre várias entidades de Maringá. Assim, em 20 de março de 2000, o Centro Softex Gênesis foi transformado em pré-incubação do programa de apoio à geração e consolidação de empresas de base tecnológica, sendo denominado de Incubadora Tecnológica de Maringá.

A Incubadora é uma sociedade civil sem fins lucrativos, cuja personalidade jurí-dica é de direito privado, possuindo autonomia administrativa e financeira. Foi forma-da a partir de um convênio entre entidades civis e governamentais, como as seguintes: Codem, Sindimental, Fiep-PR, Tecpar, Sebrae, IDR, Acim, PMM, UEM, Fiep/IEL-PR.

Para uma empresa se inserir na Incubadora Tecnológica de Maringá é necessário passar por um processo de seleção, que compreende a apresentação de uma proposta formal contendo o plano de negócios e o currículo dos empreendedores interessados. A proposta é avaliada por uma banca formada por três consultores. Mais de 40 empre-sas passaram pela Incubadora Tecnológica de Maringá, aprimorando suas habilidades e conhecimento sobre o mercado competitivo.

A Incubadora Tecnológica de Maringá abriga atualmente 22 empresas, entre incubadas internas e externas, e trabalha há cerca de dez anos no desenvolvimento de negócios inovadores. Para isso, tem investido em tecnologia, capacitação empre-sarial, empreendedorismo e abertura de novas empresas. Dessa forma, a incubadora procura trazer benefícios para o desenvolvimento econômico e social de todos os envolvidos.

Recentemente, adquiriu autorização para a ampliação de seu espaço físico, no antigo armazém do Instituto Brasileiro do Café (IBC). O novo ambiente conta com área útil de construção de aproximadamente 19.000 m² e vai ser adaptado para rece-ber empresas de base tecnológica e ser tornar um centro de difusão de inovação de acordo com a disponibilidade de recursos.

Parques tecnológicosPresentes no cenário mundial há pelo menos três décadas, os parques tecnológi-

cos, assim como as incubadoras, são importantes mecanismos no processo de inovação tecnológica e, por conseguinte, para o desenvolvimento de um país.

Os primeiros parques tecnológicos surgiram nos Estados Unidos a partir do co-nhecimento produzido pelas universidades, originando, primeiramente, o Vale do Si-lício, nutrido pela Universidade de Stanford, e, posteriormente, a rota 128, através do Massachusetts Institute of Technology (MIT).

No Brasil, as primeiras discussões sobre o tema “parques tecnológicos” se deram a partir da criação de um programa do CNPq, em 1984. Assim, na década de 1980,

Page 108: Revista TEE_ano18_n39_2012

285

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 276-303, jul./dez. 2012

seguindo o movimento mundial, surgiram os primeiros parques. No entanto, a maio-ria dos empreendimentos é recente.

Um parque tecnológico é um complexo formado por empresas de base tecnoló-gica e instituições associadas que cria um ambiente favorável à promoção da cultura da inovação e da competitividade, aliando transferência de conhecimento e tecnolo-gia, fomento à criação de novos empreendimentos de base tecnológica e infraestrutura adequada para a promoção do desenvolvimento tecnológico, cujo objetivo é aumentar a riqueza de uma região. Em alguns países é denominado de parque científico, tecno-polo ou parque de pesquisa.

De acordo com Anprotec (2008), os parques tecnológicos são ambientes onde o in-vestimento em P&D resulta na criação de produtos e processos através da cooperação entre a indústria e a ciência, envolvendo pequenas e médias empresas no processo de inovação de serviços e produtos.

Os parques, geralmente, abrigam as empresas que passam pelo processo de pós--incubação. Embora tanto os parques quanto as incubadoras apresentem um ambiente favorável ao novo empreendimento, infraestrutura compartilhada e fontes significa-tivas de capital intelectual, nos parques tecnológicos as empresas adquirem maiores oportunidades para desenvolver intensivamente suas tecnologias.

As políticas de implantação de parques tecnológicos visam à criação de um am-biente de crescimento, ou seja, um ambiente que promova a interação entre as pessoas e que esteja instalado em espaços que disponham de mercado de trabalho e serviços às empresas. De acordo com Lahorgue (2004, p. 53),

Os parques tecnológicos associados a uma universidade, dispondo de bom nível de serviços oferecidos às empresas e localizados em ares metropolitanas parecem ter mais sucesso do que os parques que, mesmo oferecendo bons serviços, não estão ligados a uma universidade e/ ou estão localizados em áreas urbanas de menor porte.

Portanto, é comum a localização desses parques tecnológicos próximos a univer-sidades e centros de pesquisa, uma vez que são instituições comprometidas com a ge-ração de conhecimento e responsáveis pela formação de capital humano qualificado.

Materiais e métodosPara a elaboração deste trabalho foi realizada uma revisão bibliográfica sobre o

assunto, elaborado um questionário que foi aplicado as oito empresas incubadas no campus sede da UEM, durante os meses de abril e maio 2012, e uma revisão dos de-mais projetos já realizados na Incubadora Tecnológica de Maringá, a qual permitiu uma comparação entre os dados a partir do ano de 2007.

Page 109: Revista TEE_ano18_n39_2012

286

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 276-303, jul./dez. 2012

O questionário é composto por perguntas fechadas, com respostas múltiplas, e algumas questões abertas. Foi dividido em quatro partes, na qual a primeira limitou-se em conhecer a caracterização da empresa, ou seja, como ela está organizada. Na segun-da parte, foram abordadas questões sobre o mercado em que a empresa atua, a fim de apontar os problemas enfrentados e as soluções por ela encontradas. Na terceira parte, a empresa foi abordada sobre seus aspectos financeiros, para informar como anda a saúde financeira, se está utilizando as ferramentas gerencias e revelar as pretensões de investimento. Por fim, na quarta parte, a empresa foi questionada sobre a inovação de seus produtos, ou seja, se apresenta diferencial tecnológico e se possuí pedido de patente para seus produtos.

Indicadores de desempenhoO mundo dos negócios é dinâmico e turbulento, o que requer reações imediatas

das empresas para que elas garantam sua sobrevivência no mercado em que atuam. Para isso, é necessário que os tomadores de decisão estejam muito bem informados sobre a realidade de seu empreendimento.

Alguns indicadores sobre a vida das empresas são uma ferramenta útil para o acompanhamento de seu desempenho. Através deles, as empresas podem avaliar se estão indo bem e podem, dessa forma, determinar os aspectos que poderiam ser me-lhorados. Além disso, monitorar as informações é uma forma de se precaver as mu-danças no mercado.

Um sistema de indicadores afeta, fortemente, o comportamento das pessoas den-tro e fora da empresa. Se quiserem prosperar na era da informação, as empresas devem utilizar sistemas de gestão e medição de desempenho derivados de suas estratégias e capacidades. Os indicadores são utilizados para informar a empresa sobre os vetores de sucesso atual e futuro (KAPLAN; NORTON, 1997 apud FER-REIRA et al., 2008).

Para avaliar o desempenho das empresas instaladas na Incubadora Tecnoló-gica de Maringá entre os anos de 2007 a 2012, foram utilizados alguns indicadores, os quais estão relacionados à caracterização das empresas, ao mercado, ao aspecto finan-ceiro e à inovação.

Page 110: Revista TEE_ano18_n39_2012

287

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 276-303, jul./dez. 2012

ResultadosAtravés dos resultados obtidos por meio dos questionários aplicados às empresas

vinculadas à Incubadora Tecnológica de Maringá, foi possível avaliar a evolução dos principais indicadores de desempenho das empresas.

Este capítulo foi dividido em quatro partes. A primeira descreve a caracteriza-ção das empresas, a segunda aborda os resultados referentes ao mercado, a terceira apresenta os aspectos financeiros e, por fim, a quarta parte traz informações sobre inovação.

Caracterização das empresasEsta seção busca demonstrar como as empresas estão organizadas, compostas e

distribuídas em relação à área de atuação e verificar pelo tempo de incubação a matu-ridade das empresas.

Segundo dados conceituais, uma incubadora de base tecnológica é um ambiente planejado para apoiar empreendedores que desejam abrir uma empresa e desenvolver produtos ou processos que apresentem grau de tecnologia e inovação. Assim, é veri-ficado que as empresas participantes da Incubadora Tecnológica de Maringá atuam em áreas de tecnologia, contudo, em ramos diferentes. Conforme ilustra a Figura 1, destaca-se um crescimento percentual de empresas de tecnologia da informação: em 2011, elas eram 22% das empresas e, em 2012, chegam a ser 50%.

Fonte: Elaboração Própria. Figura 1 – Área de atuação

Page 111: Revista TEE_ano18_n39_2012

288

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 276-303, jul./dez. 2012

Há que se salientar que, em 2010, as empresas de TI já eram a maioria, represen-tando 40% das empresas.

O tempo de permanência das empresas na Incubadora Tecnológica de Maringá é, geralmente, de quatro anos. De acordo com a Figura 2, podemos notar que de 2007 a 2012, o percentual de empresas com dois a três anos de incubação foi crescente. Em 2012, as empresas com mais de três anos são 33%.

Fonte: Elaboração Própria.

Figura 2 – Tempo de incubação

Os dados refletem a maturidade das empresas e a importância das incubadoras para a redução da taxa de mortalidade dos empreendimentos.

Quanto ao número de sócios, a Figura 3 ilustra um crescimento até o ano de 2011, o que pode indicar um aumento dos investimentos e crescimento das empresas. No entanto, o ano de 2012 mostrou-se atípico. Contudo, cabe esclarecer que os dados do ano de 2012 se referem, em grande parte, às empresas residentes no campus UEM. Se considerado 100% das empresas, o crescimento do número de sócios ainda é crescente até 2012.

Page 112: Revista TEE_ano18_n39_2012

289

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 276-303, jul./dez. 2012

Fonte: Elaboração Própria.

Figura 3 – Número de sócios

Em relação ao número de funcionários, verificou-se um aumento de 100% no nú-mero global ao longo dos anos analisados.

A formação dos sócios reflete informações sobre investimento em novos produtos e tecnologia. De acordo com a Figura 4, de 2007 a 2011, nota-se um aumento percentual dos sócios com pós-graduação. Em 2011, 86% dos sócios eram pós-graduados. No ano de 2012, os sócios com ensino superior são a maioria.

Fonte: Elaboração Própria.

Figura 4 – Formação dos Sócios

Page 113: Revista TEE_ano18_n39_2012

290

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 276-303, jul./dez. 2012

Os empreendimentos de base tecnológica são altamente dependentes da mão de obra especializada, uma vez que dependem de pessoas para a expansão dos negócios. De acordo com os dados referentes ao ano de 2012, pôde-se verificar que 69% dos fun-cionários possuem, ao menos, o ensino superior e 10% deles, pós-graduação.

Mercado

Esta seção busca avaliar a situação das empresas perante o mercado, revelando aspectos da produção, evidenciando os problemas e as soluções por elas encontradas. Também se pretende verificar como anda a interação das empresas com outras entida-des, instituições e empresas.

A diversificação de produtos reflete o investimento em P&D, torna o faturamento mensal não dependente de apenas um único produto e permite uma segmentação de mercado mais abrangente. A Figura 5 demonstra um crescimento do numero de pro-dutos por empresa até o ano de 2011. De 2007 a 2010, o percentual de empresas que apresentavam menos de quatro produtos era abaixo de 30%. Em 2011, esse valor foi de cerca de 40%. No entanto, em 2012, 70% das empresas possuem de um a dois produtos, uma redução considerável em relação aos anos anteriores. Uma das possíveis explica-ções para isso é o fato de estarmos considerando um número de empresas inferior ao número global e a existência de produtos em fase de teste e desenvolvimento.

Fonte: Elaboração Própria.

Figura 5 – Quantidade de produtos

Page 114: Revista TEE_ano18_n39_2012

291

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 276-303, jul./dez. 2012

É totalmente compreensível que as empresas de pequeno porte apresentem difi-culdades para se inserirem no mercado, pois muitas são afetadas pela baixa experiên-cia e a falta de recursos para desenvolverem seus projetos. Verifica-se que em todos os anos as empresas vinculadas à Incubadora Tecnológica de Maringá encontraram dificuldades de inserção no mercado. Contudo, a Figura 6 ilustra uma tendência de queda dessa dificuldade.

Fonte: Elaboração Própria.

Figura 6 – Difi culdade de inserção no mercado

As principais dificuldades encontradas ao longo dos anos foram concernentes a fatores mercadológicos, tecnológicos e financeiros. Conforme a Figura 7, podemos perceber que, das principais dificuldades relacionadas, a dificuldade financeira, de uma forma geral, é a que mais tem sido considerada uma barreira à entrada no merca-do. Com exceção dos anos de 2009 e 2011, ela foi a mais assinalada pelos empresários.

Page 115: Revista TEE_ano18_n39_2012

292

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 276-303, jul./dez. 2012

Fonte: Elaboração Própria.

Figura 7 – Principal difi culdade de inserção no mercado

Aspectos fi nanceiros

As informações financeiras são relevantes para que as empresas visualizem a sua atual situação e melhorem os resultados apresentados, pois elas permitem análises e colaboram para a construção de um planejamento empresarial mais eficiente, capaz de otimizar os resultados.

Abrir uma empresa é uma atividade que exige planejamento, é preciso que o em-preendedor defina os objetivos de seu negócio. Para isso, é necessário que a empresa elabore seu plano de negócios, “um documento que descreve por escrito os objetivos de um negócio e quais passos devem ser dados para que esses objetivos sejam alcança-dos, diminuindo os riscos e as incertezas” (SEBRAE, 2009, p. 8). De acordo com a Figu-ra 8, de 2007 a 2012, o percentual de empresas que elaboraram seu plano de negócios foi crescente, embora o ano de 2010 tenha sido atípico. Em 2012, nota-se que 100% das empresas possuem plano de negócios.

Page 116: Revista TEE_ano18_n39_2012

293

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 276-303, jul./dez. 2012

Fonte: Elaboração Própria.

Figura 8 – Quantidade de Empresas que Elaboraram o Plano de Negócios

Um dos fatores que levam uma empresa à falência nos primeiros anos de funcio-namento é a falta de um gerenciamento financeiro adequado. O fluxo de caixa é uma forma de planejar, organizar, coordenar, dirigir e controlar os recursos financeiros da empresa. A Figura 9 mostra que ao longo dos anos analisados, mais de 65% das em-presas fizeram o fluxo de caixa. Em 2012, esse valor é de 100%.

Fonte: Elaboração Própria. Figura 9 – Quantidade de empresas que fi zeram o fl uxo de caixa

Page 117: Revista TEE_ano18_n39_2012

294

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 276-303, jul./dez. 2012

Diante do fato da empresa trabalhar com prejuízo, ela pode encontrar meios para obter recursos. Assim, é normal que elas recorram a fontes de financiamento. No en-tanto, o fato de uma empresa estar atuando com lucro não significa que ela não recorra também. A Figura 10 aponta que nos anos de 2011 e, principalmente, 2012, as empre-sas têm recorrido a outras fontes de financiamento em relação as que foram listadas. Alguns empresários, por exemplo, responderam estar extraindo recursos do patrimô-nio pessoal.

Fonte: Elaboração Própria Figura 10 – Fonte de fi nanciamento

Todavia, algumas empresas que recorreram a financiamentos disseram encontrar dificuldades para a obtenção de recursos financeiros. De acordo com a Figura 11, em 2012, 50% das empresas afirmam encontrar alguma dificuldade para ter acesso aos recursos, um aumento de apenas 3% em comparação com 2011.

Page 118: Revista TEE_ano18_n39_2012

295

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 276-303, jul./dez. 2012

Fonte: Elaboração Própria.Figura 11 – Difi culdade para obtenção de recursos fi nanceiros

Conforme a Figura 12, no ano de 2011, as empresas destacaram a falta de fiador e documentação como as principais dificuldades encontradas para a obtenção de re-cursos. Em 2012, a falta de balancete financeiro, a falta de fiador e outras razões foram igualmente apontadas como principais dificuldades encontradas.

Fonte: Elaboração Própria.

Figura 12 – Principais difi culdades encontradas

Page 119: Revista TEE_ano18_n39_2012

296

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 276-303, jul./dez. 2012

A intenção dos empreendedores de realizar investimentos futuro, seja no curto, médio ou longo prazo, reflete o interesse da empresa em continuar fomentando o seu negócio e consolidar-se cada vez mais no mercado. De acordo com a Figura 13, em to-dos os anos, mais de 80% das empresas pretenderam realizar investimentos. Nos anos de 2007, 2010, 2011 e 2012, 100% das empresas registraram intenção de investimento nos seis meses subsequentes à resposta ao questionário.

Fonte: Elaboração Própria.

Figura 13 – Pretensão de investimento nos seis meses subsequentes

No que se refere à área de investimento dos negócios, ela é bastante diversificada. A partir de 2009, foi pedido às empresas que direcionassem as áreas de investimento. De acordo com a Figura 14, pode-se notar que em todos os anos houve predominân-cia de uma área específica de investimento em relação às outras. Em 2009, a maior necessidade das empresas era investir em material de divulgação, enquanto nos anos de 2010 e 2011, era em expansão. No ano de 2012, a intenção das empresas é investir, principalmente, em material de divulgação.

Page 120: Revista TEE_ano18_n39_2012

297

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 276-303, jul./dez. 2012

Fonte: Elaboração própria.

Figura 14 – Área do investimento

Inovação

A inovação é uma das condições para que as empresas tenham sucesso, uma vez que cria produtos e/ou serviços com diferencial competitivo, expande o mercado, au-menta o faturamento e as margens de lucros, entre outros benefícios.

Esta seção buscar analisar as empresas em relação aos aspectos da inovação, ou seja, se possuem produtos similares aos seus no mercado, se seus produtos possuem diferencial tecnológico e se depositam pedido de patente.

A partir de 2011, quando foram perguntadas sobre a existência de produtos e/ ou serviços similares no mercado, segundo a Figura 15, 80% das empresas assinalaram que sim. Em 2012, 67% das empresas informaram também haver produtos e/ou servi-ços similares aos seus no mercado.

Page 121: Revista TEE_ano18_n39_2012

298

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 276-303, jul./dez. 2012

Fonte: Elaboração própria.

Figura 15 – Existência de produtos/ serviços similares aos de sua empresa no mercado O fato de as empresas enfrentarem concorrência por desenvolverem produtos

similares aos já encontrados no mercado não significa que elas não apresentem dife-rencial tecnológico. Em 2011, 90% das empresas afirmaram possuir diferencial tecno-lógico em seus produtos e, em 2012, 67% afirmaram o mesmo, como representado na Figura 16.

Fonte: Elaboração própria

Figura 16 – Diferencial tecnológico

Page 122: Revista TEE_ano18_n39_2012

299

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 276-303, jul./dez. 2012

Ainda que em 2011, 90% e, em 2012, 67% das empresas afirmam desenvolver pro-dutos com diferencial tecnológico, nota-se, através da Figura 17, que nesses dois anos o percentual de empresas que não registraram pedido de patente para seus produtos aumentou ligeiramente. Em 2011, 62% e, em 2012, 67% das empresas não depositaram pedido.

Fonte: Elaboração própria

Figura 17 - Pedido de patente

A explicação para as empresas não fazerem pedido de patente se justifica por ser um processo oneroso. Em 2012, por exemplo, algumas empresas alegam a falta de re-cursos, ao que se somam a burocratização e a lentidão do processo no Brasil.

ConclusãoUma empresa de sucesso não é somente aquela que executa perfeitamente as

práticas de gestão, mas é aquela também que a partir das informações obtidas pela execução dessas práticas consegue otimizar os resultados. Além disso, está sempre monitorando as informações do mercado.

No mercado competitivo, onde as informações são difusas, as empresas devem estar à frente das demais. Por isso, elas buscam o seu diferencial, o que é possível

Page 123: Revista TEE_ano18_n39_2012

300

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 276-303, jul./dez. 2012

através do investimento em inovação. As empresas que conseguem ofertar produtos e/ou serviços com diferencial competitivo têm grandes chances de despontarem no mercado em que atuam.

Contudo, as micro e pequenas empresas saem em desvantagem pela falta de re-cursos e pela baixa capacidade gerencial. Dessa forma, as incubadoras de empresas de base tecnológica surgem com o intuito de dar suporte aos empreendimentos que apresentam algum tipo de inovação no produto ou no processo de produção.

No entanto, mesmo com todo o apoio fornecido pelas incubadoras, é preciso que as empresas tenham conhecimento de seus pontos fortes e fracos para conseguirem melhorar suas estratégias.

As analises apresentadas foram elaboradas a partir de fatores importantes para as empresas poderem alcançar o sucesso. Através dos indicadores de desempenho sele-cionados, pode-se acompanhar a evolução dos mesmos ao longo dos anos.

Em relação aos pontos fortes, destaca-se que o percentual da quantidade de só-cios e funcionários aumentou, apontando para o crescimento das empresas. A quan-tidade de produtos desenvolvidos por empresas foi crescente. O percentual de em-presas com dificuldade de inserção no mercado decaiu, o que reflete a maturidade delas durante o período de incubação. Em relação às práticas gerenciais, tais como a elaboração do plano de negócios e realização do fluxo de caixa, foi crescente o percen-tual de empresas que afirmaram utilizar essas ferramentas, indicando que as empresas estão adquirindo maior habilidade no gerenciamento de seu empreendimento. Sobre a pretensão de investimento, em todos os anos, mais de 80% das empresas mostraram o interesse de realizar investimento nos seis meses subsequentes. Por fim, no aspecto da inovação, mais de 65% das empresas nos anos de 2011 e 2012 afirmaram que seus pro-dutos possuíam diferencial tecnológico, o que é resultado do investimento em P&D e da formação dos sócios e funcionários, que, como revelou a pesquisa, são em maioria graduados e pós-graduados.

Em relação aos pontos fracos, verificou-se que a questão finanças foi a mais re-percutida pelos empresários: foi a principal causa levantada para a dificuldade de inserção no mercado. Além disso, nos anos de 2011 e 2012, cerca de 50% das empresas revelaram ter dificuldades de obtenção de crédito. Por conta disso, muitos empre-sários se utilizaram do patrimônio pessoal como fonte de financiamento. No que se refere à inovação, destaca-se a tendência crescente, a partir de 2010, da quantidade de empresas que não fizeram depósito de patente. Em 2012, 67% das empresas não registram pedido. Isso é justificado, em boa parte, pela falta de recursos financeiros. No entanto, sabe-se que o processo de obtenção de patente, além de oneroso, é lento e burocratizado.

Page 124: Revista TEE_ano18_n39_2012

301

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 276-303, jul./dez. 2012

ANALYSIS OF TEMPORAL EVOLUTION OF THE STRENGTHS AND WEAKNESSES OF ENTERPRISES

LINKED TO THE TECHNOLOGY INCUBATOR OF MARINGA IN THE PERIOD 2007 TO 2012

AbstractTo promote the creation and development of micro and small enterprises whose products, services and/ or processes are resulting scientifi c knowledge arise Technology Based Incu-bators. In order to follow the development of the companies linked to Maringá Technology Incubator, it was developed a job to analyze the evolution of the strengths and weaknesses of these companies. For this, it was used the performance indicators related to the market, fi nancial aspect, characterization of the company and innovation. Overall, the results point to a positive development of these indicators.

Keywords: Micro and small enterprises. Performance indicators. Results. Strengths and weak-nesses. Technology based incubators.

ANÁLISIS DE LA EVOLUCIÓN TEMPORAL DE LAS FORTALEZAS Y DEBILIDADES DE LAS EMPRESAS

VINCULADAS A LA INCUBADORA DE TECNOLOGÍA DE MARINGA EN EL PERÍODO 2007 A 2012

ResumenPara fomentar la creación y el desarrollo de las micro y pequeñas empresas cuyos productos, servicios y/ o procesos son el resultado del conocimiento científi co, surgen las incubadoras de base tecnológica. Con el fi n de seguir el desarrollo de las empresas vinculadas a la Incubadora Tecnológica de Maringá, se realizó un trabajo para analizar la evolución de las fortalezas y debilidades de estas empresas. Se utilizó para ello, los indicadores de rendimiento relaciona-dos con el mercado, el aspecto fi nanciero, la caracterización de la empresa y la innovación. En general, los resultados apuntan a una evolución positiva de estos indicadores.

Palabras clave: Fortalezas y debilidades. Incubadoras de base tecnológica. Indicadores de de-sempeño. Micro y pequeñas empresas. Resultados.

Page 125: Revista TEE_ano18_n39_2012

302

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 276-303, jul./dez. 2012

Nota1 Rede de incubadoras, polos e parques tecnológicos do Rio de Janeiro.

Referências

ALMEIDA, M. I. R.; ASAI, L. N. Infl uência da globalização nas pequenas empresas. In: COSTA, B. K.; ALMEIDA, M. I. R. Estratégia: perspectivas e aplicações. São Paulo: Atlas, 2002. ADIZES, I. Os ciclos de vida das organizações: como e por que as empresas crescem e morrem e o que fazer a respeito. São Paulo: Pioneira, 1990.ANDINO, B. F. A. Impacto da incubação de empresas: capacidades de empresas pós-incubadas e empresas não-incubadas. Dissertação de mestrado defendida em março 2005, na Escola de Administração da UFRGS, orientada pela Profa. Edi Madalena Fracasso.ANPROTEC, Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores. Liderança do movimento de incubação de empresas e parques tecnológicos no Brasil. Brasília, 2008. _______. Parques tecnológicos no Brasil. Disponível em: <http://www.anprotec.org.br/ArquivosDin/portfolio_versao_resumida_pdf_53.pdf>. Acesso em: 07 jul. 2012.BARBIERI, J. Carlos. Parques e incubadoras de empresas de base tecnológica: A Experiência Brasilei-ra. São Paulo: EAESP/FGV/NPP – Núcelo de Pesquisas e Publicações, Relatório de Pesquisa, n. 4, 1995. BRASIL. Ministério da Ciência e Tecnologia. Secretaria de Política Tecnológica Empresarial. Manual para a implantação de incubadoras de empresas. Brasília: SEPTE, 2000.CONTO, Samuel Martim; PEDROZO, Eugenio Ávila. A estratégia de inovação voltada às exporta-ções: um estudo de duas empresas alimentícias do vale do Taquari. Estudo e Debate, v. 16, n. 1, p. 29-47, 2009.FERREIRA, M. P. et al. Gestão por indicadores de desempenho: resultados na incubadora empresa-rial tecnológica. Produção, São Paulo, v. 18, n. 2, p. 302-318, 2008. JUGEND, Daniel; SILVA, Sérgio Luis da. Práticas de gestão que infl uenciam o sucesso de novos pro-dutos em empresas de base tecnológica. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/prod/v20n3/aop_t6_0005_0074.pdf >. Acesso em: 16 jul. 2012.LAHORGUE, Maria Alice. Pólos, parques e incubadoras: instrumentos de desenvolvimento do século XXI. Brasília, 2004. LEITE, Emanuel Ferreira. O Fenômeno do Empreendedorismo e as Empresas de Base Tecnoló-gica. In: SOUZA, Eda Castro Lucas de. Empreendedorismo: Competência Essencial para Peque-nas e Médias Empresas. Brasília: ANPROTEC, v. 1, p. 84-90, 2001 MACHADO, Solange Aparecida; FILHO, João Pizysieznig; CARVALHO, Marly Monteiro; JU-NIOR, Roque Rabechini. MPE’s de base tecnológica: conceituação, formas de fi nanciamento e análise de casos brasileiros. São Paulo: IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas)/ Sebrae - SP, Relatório de Pesquisa, 2001.

Page 126: Revista TEE_ano18_n39_2012

303

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 276-303, jul./dez. 2012

MIGUELETTO, D. C. R. Organizações em rede. Rio de Janeiro: FGV, 2001.NETTO, Antônio Valério. Gestão de pequenas e médias empresas de base tecnológica. São Paulo: Manole, 2006. REINC, Núcleo de Referência em Redes de Incubadoras e Parques Tecnológicos. Documento de referência. Rio de Janeiro, 2002.SANTOS, D. Tatiane; PINHO, Marcelo. Análise do crescimento das empresas de base tecnológica no Brasil. Produção, São Paulo: UFSCAR, v. 20, p. 214-223, 2010. SANTOS, Silvio A. Criação de empresas de alta tecnologia. São Paulo: Pioneira, 1987.SEBRAE-SP, Serviços de Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas. Aumenta a com-petitividade das empresas que têm entre um e cinco anos. Disponível em: <http://www.sebrae.com.br/integra_noticia?noticia=10567042>. Acesso em: 25 jun. 2012. SEBRAE, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. Como elaborar um plano de negócio. Brasília, p. 9, 2009.

Page 127: Revista TEE_ano18_n39_2012

304

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 304-322, jul./dez. 2012

Qualifi cação do processo de desenvolvimento de produtos:

estudo de caso em uma indústria de implementos agrícolas

Cassiana Maris Lima Cruz*

Janine Fleith de Medeiros**

José Luis Duarte Ribeiro***

Resumo

O estudo aqui relatado teve por objetivo investigar como ocorre na prática o processo de de-senvolvimento de produtos em uma indústria de implementos agrícolas, para, após, apresen-tar sugestões de melhoria, conforme descrito nos modelos teóricos de Rozenfeld et al. (2006) e Kotler e Keller (2012). Defi niram-se como escopo as fases iniciais do desenvolvimento, em especial a geração de ideias e a seleção de produtos para portfólio. Os resultados obtidos demonstram que o processo para desenvolver novos produtos ainda não está formalizado na empresa em estudo. Observa-se que não há uma sinergia entre os diversos setores envolvidos desde o início do processo e nota-se que as atividades de geração e seleção de ideias precisam ser aprimoradas. Para tanto, deve-se considerar a participação dos clientes em pesquisas de mercado, desenvolver as equipes interdepartamentais, utilizar técnicas para analisar e validar as ideias, dentre outros aspectos apontados pela pesquisa. Além disso, um importante fator a ser aprimorado refere-se à adoção efetiva de um modelo formal para o processo de desenvol-vimento de novos produtos.

Palavras-chave: Desenvolvimento de produtos. Implementos agrícolas. Inovação.

Submissão: 17/10/2012. Aceite: 03/01/2013

* Doutor em comunicação pela PUCRS. Mestra em Administração pela UFSC. Professora pesquisado-ra da UPF. E-mail: [email protected].

** Doutoranda em engenharia de produção pela UFRGS. Mestra em Administração e Negócios pela PUCRS. Professora pesquisadora da UPF. E-mail: [email protected].

*** Doutor em Engenharia pela UFRGS. Pós-doutorado na Rutgers University. Chefe do Departamento de Engenharia de Produção e Transportes da UFRGS. E-mail: [email protected]

Page 128: Revista TEE_ano18_n39_2012

305

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 304-322, jul./dez. 2012

IntroduçãoOrganizações expostas à concorrência setorial, onde os produtos ofertados são si-

milares ou substitutos próximos, precisam concentrar seus processos de gestão no de-senvolvimento de inovações que surpreendam consumidores e competidores. Dessa forma, é possível sustentar uma diferença capaz de gerar vantagem competitiva à mar-ca, evitando a concorrência embasada simplesmente em preço (GRIFFIN; HAUSER, 1993; HAUSER; TELLIS, 2004). Especificamente, produtos inovadores permitem que a empresa seja vista pelos mercados consumidores como pioneira e, consequentemente, como aquela que domina a tecnologia, o que acaba por criar barreiras para os con-correntes, que necessitam então desenvolver soluções superiores ou praticar menores preços (KOTLER; KELLER, 2012).

O cenário de concorrência acirrada na maioria dos setores exige que as organiza-ções estabeleçam mecanismos para que a inovação em produtos e processos seja um exercício permanente, viabilizando a manutenção e a ampliação da fatia de mercado (LEVITT, 1990; MOREAU; LEHMANN; MARKMAN, 2001). Contudo, é fundamental que a inovação, seja radical ou incremental, decorra de um processo orientado ao mer-cado (NARVER, SLATER, 1990; DAY, 2001). Isso quer dizer que as empresas devem estabelecer mecanismos para que as inovações propostas estejam alinhadas às neces-sidades latentes do mercado. Caso contrário, o custo despendido no desenvolvimento de uma inovação pode não ter retorno, uma vez que o ciclo de vida de vendas do pro-duto provavelmente será interrompido antes mesmo do ponto de equilíbrio ser alcan-çado (DATAR; JORDAN; SRINIVASAN, 1997; TAKAHASHI; TAKAHASHI, 2007).

Diante desses desafios, o estudo aqui relatado teve por objetivo investigar como ocorrem na prática as fases iniciais do desenvolvimento de produto, em especial a geração de ideias, em uma empresa do setor agrícola. A ênfase é o estudo da orienta-ção de mercado como fator propulsor da inovação. A premissa básica é que o uso de modelos referenciais de desenvolvimento de produtos pode incorporar práticas que dinamizem a inovação em mercados competitivos, caracterizados por inovações que acontecem em ciclos relativamente curtos.

O estudo foi realizado em uma empresa do setor de implementos agrícolas, lo-calizada na região sul. O trabalho tem como base os modelos referenciais do processo de desenvolvimento de novos produtos propostos por Rozenfeld et al. (2006) e Kotler e Keller (2012), com ênfase na fase de pré-desenvolvimento, pontualmente nas eta-pas de geração de ideias e gestão de portfólio para seleção de produtos (COOPER, 1998; MOHR, 2005). Destaca-se que a escolha do setor para realização do estudo justi-fica-se uma vez que o mercado de máquinas agrícolas está inserido em um ambiente

Page 129: Revista TEE_ano18_n39_2012

306

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 304-322, jul./dez. 2012

competitivo e dinâmico, no qual cresce a participação em vendas de produtos desen-volvidos e produzidos fora do país. A permanência nesse mercado depende, portanto, da capacidade que a empresa possui em detectar novas necessidades e estar continua-mente agregando aos seus produtos benefícios que venham ao encontro das expecta-tivas de seus consumidores.

Fundamentação teórica

Orientação ao mercado e inovação

Organizações orientadas para o mercado apresentam uma capacidade elevada de relacionamento com o mesmo, o que acaba por produzir vantagens sustentáveis, ba-seadas na reciprocidade e em compromissos mútuos (DAY, 2001). De acordo Narver e Slater (1990), a orientação ao mercado depende de três componentes comportamen-tais: orientação para os clientes, orientação para os concorrentes e coordenação inter-funcional. Kohli e Jaworski (1990, 1993) afirmam que a orientação ao mercado deve ser sustentada em três pontos: geração de inteligência de mercado, disseminação dessa inteligência e a resposta da empresa à inteligência gerada e disseminada, ideia com a qual Hunt e Morgan (1996) corroboram. Isso quer dizer que os componentes compor-tamentais da orientação ao mercado centram-se: (i) no entendimento dos clientes (para assim continuamente projetar ofertas de valor superior na percepção dos mesmos), (ii) na consciência da capacidade dos competidores em curto e longo prazo, (iii) na geração e manutenção de uma cultura organizacional que o comportamento gerencial à satisfação dos compradores e (iv) no lucro em longo prazo. Contudo, muitos autores concordam que apenas a orientação ao mercado não é suficiente para sustentar vanta-gem competitiva de longo prazo (SLATER; NARVER, 1994 e 1995; BAKER; SINKULA, 2005 e 2007).

Nesse sentido, a inovação deve ser utilizada como ferramenta capaz de tangibili-zar aos mercados consumidores as relações interfuncionais decorrentes da orientação ao mercado. Empresas que pretendem continuar a crescer devem, periodicamente, agregar novos produtos ao seu portifólio, principalmente em função dos estágios de maturidade e declínio possíveis no ciclo de vida das linhas (KOTLER, KELLER, 2012).

Conceitualmente, inovação pode traduzir mudanças ou então novidades (TIDD; BESSANT; PAVITT, 2001). Nas décadas iniciais do século passado, Schumpeter (1939), ao desenvolver a teoria do ciclo econômico (importante até hoje para a ciência

Page 130: Revista TEE_ano18_n39_2012

307

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 304-322, jul./dez. 2012

econômica), afirmou que o processo de expansão da economia dos mercados depende diretamente do surgimento de alguma inovação. Essa inovação, segundo o referido autor, pode contemplar a introdução de novos produtos, de novos processos de pro-dução, bem como a abertura de novos mercados ou então de novas fontes de supri-mentos. A partir da década de 1970, agrega-se às idéias de Schumpeter a inovação relacionada à introdução de novas tecnologias e também à estrutura administrativa e à gestão dos recursos humanos (NASCIMENTO; SUN OIH YU; SOBRAL, 2008). Deve--se destacar, no entanto, que neste estudo a ênfase será dada a um dos dois tipos bá-sicos de inovação definidos no estudo de Tushman e Nadler (1997), ou seja, inovação de produto.

Inovar um produto significa trazer ao mercado novos produtos ou novas tecnolo-gias (LUKAS; FERREL, 2000). Observando que a inovação deve trazer mudanças e no-vidades, distintos estudos estabeleceram graus de novidade em relação às mudanças apresentadas nos produtos e, assim, validaram os conceitos de inovação incremental e de inovação radical (TUSHMAN; NADLER, 1997; TIDD et al., 2001). Por exemplo, a inovação incremental, como trata de melhoramentos em produtos já desenvolvidos, apresenta um baixo grau de novidade. Já a inovação radical, que proporciona desem-penhos superiores e diferenciados através de uma nova base tecnológica, transforman-do o modo pelo qual os sujeitos utilizam as soluções existentes, possui alto grau de novidade (TAKAHASHI; TAKAHASHI, 2007).

Modelos referenciais para o processo de desenvolvimento de novos produtos

Ulrich e Eppinger (2000) afirmam que o processo de desenvolvimento de novos produtos constitui uma sequência de passos ou atividades que são realizadas por uma organização para conceber, projetar e comercializar um produto. Takahashi e Takahashi (2007) destacam que desenvolver novos produtos implica processo de to-mada de decisão difícil e interativo, existindo, para tanto, vários estágios e filtros entre estes.

Com relação a modelos de processo para desenvolvimento de novos produtos, não há um consenso. Isso é, distintos autores divergem sobre o número e a definição das etapas que o envolvem (GRENN; WILEMON, 1999). Contudo, existem fases co-muns a todos os modelos. Esses modelos contemplam uma fase para criação do concei-to do produto (concepção), (ULRICH; EPPINGER, 2000; CRAWFORD; BENEDETTO, 2003; KOTLER; KELLER, 2012) outra de planejamento (PAHL; BEITZ, 1996; ULRICH; EPPINGER, 2000; CRAWFORD; BENEDETTO, 2003; KOTLER; KELLER, 2012), outra

Page 131: Revista TEE_ano18_n39_2012

308

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 304-322, jul./dez. 2012

de detalhamento (PAHL; BEITZ, 1996; ULRICH; EPPINGER, 2000) e uma última de revisão e testes (ULRICH; EPPINGER, 2000; KOTLER; KELLER, 2012).

Assim sendo, e considerando-se que no presente estudo se pretende investigar a relação entre orientação ao mercado e inovação, optou-se pelos modelos de processo de desenvolvimento de novos produtos descritos por Rozenfeld et al. (2006) e por Kotler e Keller (2012). No modelo referencial de Rozenfeld et al. (2006), o desenvol-vimento de um novo produto contempla pré-desenvolvimento, desenvolvimento e pós-desenvolvimento.

Segundo os autores, no pré-desenvolvimento o objetivo central é a avaliação de oportunidades e a avaliação de demanda de mercado. As etapas planejamento estra-tégico do produto e planejamento do projeto devem ser contempladas nessa fase. No planejamento estratégico do produto o objetivo é obter um plano capaz de alinhar o portfólio de produtos da empresa a partir do planejamento estratégico da unidade de negócio, ou seja, desta etapa resulta uma lista de novos produtos a serem lançados de acordo com as oportunidades estratégicas. Com relação ao planejamento do projeto, esse deve abordar uma breve descrição do produto, metas chave do negócio, mercado--alvo para produto, restrições e hipóteses e cadeia de interessados no produto.

No desenvolvimento, as atividades concernentes à avaliação do produto em de-senvolvimento iniciam com o teste de conceito, o teste de protótipos e o teste de lote piloto. Rozenfeld et al. (2006) listam como etapas da fase de desenvolvimento o projeto informacional, o projeto conceitual, o projeto detalhado, a preparação da produção do produto e seu lançamento no mercado. Por fim, no pós-desenvolvimento, realiza-se o teste do produto no mercado. Nessa etapa as fases dizem respeito ao acompanhamen-to e à melhoria do produto, ou então à descontinuidade do produto no mercado.

O modelo proposto por Kotler e Keller (2012), embora não descreva formalmente as três grandes fases como acontece no modelo de Rozenfeld et al. (2006), apresenta uma sequência lógica de oito etapas delimitadas por stage-gates. Observando-se o mo-delo, percebe-se a combinação de decisões em uma progressão que caracteriza o pro-cesso como análogo a um funil. Também é possível identificar que o mesmo formaliza a organização das tarefas pertinentes ao pré-desenvolvimento de novos produtos. O sistema de gates proposto demanda o trabalho de equipes interdepartamentais, sendo a gestão delegada a um líder de projeto. Os autores destacam que, ao final de cada etapa, cabe à alta gerência decidir se é possível prosseguir para a próxima, cancelar, aguardar ou então reciclar.

Page 132: Revista TEE_ano18_n39_2012

309

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 304-322, jul./dez. 2012

Modelo teórico do estudo

No processo de desenvolvimento de novos produtos, as organizações devem es-tabelecer alternativas oriundas de ideias originadas de diversas fontes, inclusive dos clientes, dos fornecedores e dos parceiros (CLARK; WHEELWRIGHT, 1993). Nesse contexto, embora o modelo referencial estabelecido por Kotler e Keller (2012) para o desenvolvimento de novos produtos não denomine uma fase de pré-desenvolvimento, como é explicitado no modelo de Rosenfeld et al. (2006), entende-se as fases de geração de ideias e definição de portfólio de produtos como fases do pré-desenvolvimento. Assim sendo, uma vez que os referidos autores, provenientes de áreas diferentes (ma-rketing e engenharia) destacam distintas atividades, relacionadas aos conhecimentos de maior domínio, optou-se por inserir as etapas descritas por Kotler e Keller (2012), que destacam a orientação ao mercado, ao modelo de Rozenfeld et al. (2006), de forma que a referência teórica para o presente estudo é o modelo apresentado na figura 1.

Fonte: adaptado de Rozenfeld et al.(2006) e Kotler e Keller (2012).

Figura 1 – Modelo teórico do estudo Conceitualmente, a geração de ideias deve iniciar com informações vindas da

administração superior, que define quais produtos e mercados devem ser enfatizados, bem como os objetivos do novo produto (ou seja, se a inovação deve ser incremental ou radical para manter a participação de mercado, ampliar a mesma ou, ainda, rea-gir a uma inovação desenvolvida por uma organização concorrente). A partir des-sas informações, a busca por ideias pode ser direcionada de acordo com os objetivos estabelecidos.

Page 133: Revista TEE_ano18_n39_2012

310

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 304-322, jul./dez. 2012

Na prática industrial, clientes, concorrentes, integrantes do processo de desenvol-vimento, fornecedores, distribuidores e representantes de vendas podem contribuir para a geração de ideias. Através dos anos foram desenvolvidas muitas técnicas para auxiliarem os indivíduos e os grupos a criarem as melhores ideias, tais como: rela-ção de atributos; relacionamentos forçados; análises morfológicas (novas combinações possíveis de dimensões envolvidas para solucionar um problema); brainstorming com clientes (explosão de ideias); criatividade operacional; reuniões informais; novos con-textos; pesquisa direta de mercado (para descobrir o que agrada ou não nos produtos da empresa e nos produtos dos concorrentes); pesquisas de observação (etnografia é uma técnica que cresce em popularização na medida em que permitem à empresa entender o cotidiano do consumidor e consequentemente suas reais necessidades); sessões interativas; pesquisa em publicações setoriais de vários países; participação e visita a feiras comerciais; e visitas do pessoal técnico e de marketing aos laboratórios dos fornecedores (COOPER, 1998; MOHR, 2005; KOTLER; KELLER, 2012).

Já na seleção de ideias para portfólio de produtos, analisam-se as novas ideias observando um conjunto de critérios, tais como: atendimento de uma necessidade; oferta de valor superior; comunicação diferenciada; know-how e capital necessário; e sustentação do volume de vendas ideal além de indicadores de viabilidade econômica. Na seleção de ideias avaliam-se aquelas que atenderem a esses critérios, classificando--as por meio de uma soma ponderada. Nesse método relacionam-se três colunas. Na primeira tem-se pesos relativos dados aos requisitos estabelecidos para o sucesso do produto. Na segunda o desempenho do produto em questão considerando os requi-sitos enunciados. Por fim, na terceira coluna realiza-se uma ponderação através da multiplicação dos pesos atribuídos aos itens nas colunas anteriores (MOHR, 2005).

Método empregado para realização da pesquisaEste estudo é classificado como exploratório. Segundo Diehl e Tatim (2004), os

estudos exploratórios têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o pro-blema, por meio do levantamento bibliográfico, realização de entrevistas com pessoas que possuem experiência prática com o problema pesquisado e análise de exemplos que estimulem a compreensão. Assim, a partir do caráter flexível da pesquisa explo-ratória, buscou-se identificar as variáveis empregadas para o processo de desenvol-vimento de novos produtos numa indústria de implementos agrícolas localizada no interior do RS. A ênfase de investigação se deu na fase de pré-desenvolvimento, pon-tualmente nas etapas de geração e seleção de ideias (Figura 1).

Page 134: Revista TEE_ano18_n39_2012

311

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 304-322, jul./dez. 2012

Para tanto, optou-se por uma pesquisa exploratória de caráter qualitativo. De acordo com Malhotra (2006), a pesquisa qualitativa permite compreender com maior nível de profundidade o contexto do problema. Quanto ao propósito, este estudo é classificado como uma avaliação formativa, a qual, segundo Diehl e Tatim (2004), im-plica diagnóstico do atual sistema e sugestões de melhorias e aperfeiçoamento. Quan-to ao procedimento técnico, é considerado um estudo de caso. Destaca-se que os es-tudos de caso apresentam maior utilidade nos estudos exploratórios (GIL, 1999), pois auxiliam na elaboração ou no aprimoramento de teorias, onde as evidências empíricas devem gerar realimentação para a teoria (BAUER; GASKELL, 2006).

Com relação ao levantamento de informações em fontes primárias (pesquisa de campo), este foi realizado junto aos diretores e gerentes da empresa em estudo, bem como a alguns representantes comerciais, totalizando 16 entrevistas. Os sujeitos da pesquisa foram selecionados com base no que foi observado na revisão bibliográfica, onde se constatou a importância das equipes multifuncionais para o desenvolvimen-to de novos produtos (TAKAHASHI; TAKAHASHI, 2007; KOTLER; KELLER, 2012). Ainda, para a escolha dos representantes comerciais, empregou-se como variável de controle a classificação da empresa denominada “vendedor padrão”, priorizando-se os primeiros colocados.

Quanto ao instrumento utilizado para a realização da coleta de dados, este foi elaborado observando-se a fundamentação teórica, pontualmente as variáveis de orientação ao mercado (DAY, 2001; HOOLEY; SAUNDERS; PIERCY, 2005) e de ge-ração e seleção de ideias (COOPER, 1998; MOHR, 2005; KOTLER; KELLER, 2012). O procedimento de coleta se deu através de entrevistas em profundidade. Após a coleta das informações, passou-se para a análise de conteúdo, que envolveu a interpretação inferencial apoiada nos materiais de informações já utilizados. Nessa etapa, confor-me Bardin (2000), os resultados brutos são tratados de maneira a serem significativos (falantes) e válidos. Dessa forma, num primeiro momento, selecionaram-se os termos comuns nas respostas e, em seguida, houve o confronto entre as respostas dos entre-vistados e o modelo proposto, o que gerou posteriormente a elaboração das sugestões.

Apresentação e discussão dos resultados

Setor de implementos agrícolas

Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), o setor de máquinas agrícolas abrange desde a produção de equipamentos que auxiliem no preparo do solo, no plantio, na colheita, até o armazenamento e o

Page 135: Revista TEE_ano18_n39_2012

312

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 304-322, jul./dez. 2012

transporte de produtos agrícolas para o consumo direto ou para a indústria alimen-tícia. Conforme publicado no site do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES), a indústria de máquinas e implementos agrícolas caracteriza-se por ter uma estrutura bastante heterogênea com empresas de diferentes tamanhos. O segmento é compos-to por três modalidades de indústria: tratores de roda; colheitadeiras; e implementos agrícolas.

No Brasil, os três segmentos estão presentes com estruturas de mercado distintas. As indústrias de tratores e colheitadeiras são representadas por grandes empresas, enquanto a de implementos o é por empresas de pequeno e médio porte. A maior pro-dução de implementos agrícolas, 85%, está concentrada na região Sul e no estado de São Paulo. No momento o setor mostra-se aquecido, com elevação da produção desde o segundo semestre de 2009. De acordo com a Abimaq, nos três primeiros meses de 2012, o segmento de máquinas e implementos agrícolas teve um crescimento de 15% em comparação com o mesmo período do ano anterior. Apenas em julho, foram ven-didas mais de seis mil máquinas, o que representa um crescimento de 11%.

Descrição dos sujeitos da amostra

Conforme mencionado, os dados foram coletados com gestores da organização em estudo e representantes comerciais. Entre os gestores, foram entrevistados: o dire-tor administrativo financeiro, o diretor comercial, o gerente de marketing, o de enge-nharia, o gerente industrial, o gerente de compras, o de vendas, os gerentes financeiros, o gerente de exportação e o gerente de recursos humanos. Quanto aos representantes comerciais, observando-se os critérios descritos no item anterior, entrevistaram-se cin-co sujeitos: um com atuação no estado da Bahia; um com atuação no estado de Minas Gerais; dois com atuação no estado de São Paulo; e um com atuação no estado do Paraná.

Síntese da análise de conteúdo

Na Tabela 1 encontram-se sintetizados os objetivos das perguntas contidas no roteiro de entrevista, bem como as variáveis geradas nos discursos pelos sujeitos do estudo.

Page 136: Revista TEE_ano18_n39_2012

313

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 304-322, jul./dez. 2012

Tabela 1 – Síntese das respostas obtidas

Perguntas do roteiro Síntese das respostas com maior frequênciaObjetivo questão 01: Identifi car se a empresa tem seu processo de gestão or-questrado pelos pressupostos da orientação para o mercado.

Analisando o conteúdo das respostas obtidas, a totalidade dos entrevistados afi rmou que a empresa considera os itens questio-nados, sendo possível constatar ênfase no que diz respeito ao comportamento dos consumidores: “se a empresa não desenvolver produtos que atendam as necessidades dos consumidores, ele não vai comprar”, “o consumidor é o principal, são a razão de existir dos produtos” e “por que é necessário estar atento ao comportamento dos consumidores para estar na frente dos concorrentes”. Quanto aos fatores internos, aparecem os seguintes itens com maior frequência: capacidade de produção, capacidade técnica, mão-de-obra qualifi cada, ferramental e maquinários disponíveis. Cabe salientar que a maioria dos entrevistados afi rmou que quando não existe capacidade interna para o desenvolvimento de um novo produto a empresa analisa a viabilidade de novos investimentos. Com relação ao fator tecnologia, os entrevistados apontaram o mesmo como essencial para o desenvolvimento de produtos com-petitivos: “a tecnologia precisa estar presente nos produtos, se a empresa desenvolver produtos com tecnologia inferior a existente no mercado ou inferior a que o mercado espera a empresa não vai ser competitiva, os consumidores não vão adquirir os produtos”.

Objetivo da questão 02:Analisar se a gestão da organi-zação defi ne quais produtos e mercados devem ser enfatiza-dos, bem como se determina o esforço a ser dedicado à inova-ção e a melhoria de produtos.

Neste sentido a maioria dos entrevistados afi rmou que essas de-cisões são tomadas de acordo com as necessidades da empresa e do mercado. Além disso, outros fatores que infl uenciam estas decisões são alguns objetivos e metas traçadas pela organização, como pode ser constatado nos exemplos citados no discurso a se-guir: “queremos ser líderes de mercado, na linha de transporte, plantio, plataforma e queremos ter a maior linha de implementos agrícolas do país, é em cima destas metas que estas decisões são tomadas”.

Objetivo questão 03:Conhecer as fontes de ideias utilizadas para novos produtos bem como quem as identifi ca.

Os clientes, feiras no exterior, engenharia de produto, engenharia de fábrica, representantes comerciais, diretores e concorrência fo-ram citados como fontes de ideias. Encontra-se nessa relação a maioria das fontes de ideias sugeridas na bibliografi a. Cabe salien-tar que os clientes foram citados por todos os entrevistados como sendo a principal e mais importante fonte de idéias. “A maioria das idéias para novos produtos vem do campo”. Quanto a quem identifi ca essas ideias, a área comercial (vende-dores, demonstradores e diretor comercial), foi apontada como a principal responsável por desempenhar este papel. A explicação para isso encontra-se na seguinte afi rmação presente em todos os discursos: “são eles que estão em contado direto com o cliente, sabem o que o cliente quer”. Três entrevistados citaram também a engenharia, principalmente no que tange a melhoria de produtos e de processo produtivo.

Page 137: Revista TEE_ano18_n39_2012

314

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 304-322, jul./dez. 2012

Objetivo questão 04: Conhecer os métodos adotados para identifi car as necessida-des e os desejos dos clientes.

Três entrevistados responderam não ter conhecimento a respei-to deste assunto, os demais apontaram conversas e observações feitas por meio do contato “direto” dos representantes comerciais com o cliente em suas propriedades, como responsáveis por iden-tifi car essas necessidades e desejos. Existe ainda um documento denominado “relatório semanal” que é enviado pelos representan-tes comerciais para o departamento comercial onde algumas ne-cessidades dos clientes são relatadas. Esse documento, quando pertinente, é repassado para ter o seu conteúdo analisado por ou-tros departamentos.

Objetivo questão 05: Identifi car se os produtos da organização podem ser consi-derados pioneiros no mercado.

A maior frequência das respostas foi sim (14 sujeitos). Como jus-tifi cativa aparece em comum na maioria dos discursos a seguinte colocação: “normalmente é o concorrente que copia os produtos por nós desenvolvidos”. Além disso, os entrevistados apontaram ser esta uma característica da empresa e citaram como exemplos: a primeira pá frontal adaptada em tratores; a primeira carreta gra-neleira de plástico; o primeiro helicóide de descarga em carretas graneleiras para utilização em sementes e fertilizantes; a primeira carreta com descarga acionada por sistema hidráulico indepen-dente e por controle remoto; entre outras características peculiares em cada produto lançado no Brasil. Nota-se ainda que em sua li-nha de produtos, a empresa é pioneira em melhorias incrementais de grande valor tecnológico.

Objetivo da questão 06: Identifi car se a empresa con-centra maiores investimentos em inovação radical ou inova-ção incremental.

Metade dos entrevistados respondeu que o foco são as inovações radicais, e os demais que é tanto na inovação radical quanto na incremental. Para o primeiro grupo a justifi cativa encontra-se nos seguintes fatores: os produtos inovadores permitem uma margem de lucro maior, a aceitação é maior, a concorrência é menor, além de este ser o perfi l da empresa. Os que responderam tanto em melhorias como inovação citaram além desses fatores à necessidade de es-tar continuamente aperfeiçoando os produtos existentes até que ele deixe de ser viável para a empresa e para o cliente,

Objetivo da questão 07: Investigar se a empresa já co-meteu algum erro de aprovação no processo de desenvolvimen-to.

Dois entrevistados não souberam responder e os demais respon-deram que sim. Os motivos que colaboraram para que isso acon-tecesse podem ser identifi cadas nos seguintes comentários: “não soubemos identifi car com clareza a necessidade do cliente” e “por não existir pesquisa de mercado” .

Objetivo da questão 08: Identifi car se há equipes inter-departamentais para o desen-volvimento de novos produtos.

Dois entrevistados responderam existir, considerando equipes for-madas por profi ssionais da engenharia, produção, área comercial e compras. Três entrevistados disseram não existir, pois envolve apenas engenharia e área comercial. Quatro afi rmaram estar ini-ciando, com a participação de profi ssionais da área de engenharia, produção, comercial, compras, fi nanceiro, tecnologia e exportação. Os demais entrevistados não souberam responder.

Page 138: Revista TEE_ano18_n39_2012

315

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 304-322, jul./dez. 2012

Objetivo da questão 09: Analisar se há na empresa um ambiente que incentive o pro-cesso de inovação e de melho-ria de produtos.

É possível constatar que existe um ambiente favorável ao pensa-mento criativo, ou seja, não existem barreiras que impeçam os in-divíduos a criar. Aqui se destaca o seguinte comentário: “este é um ponto forte da empresa, não temos limites para criar”, sendo que alguns entrevistados citaram exemplos de produtos que surgiram da ideia de colaboradores e resultaram em sucesso de vendas. Todos os entrevistados afi rmaram possuir total liberdade para su-gerir qualquer melhoria ou ideia. Cabe salientar que não existe nada formal, mas os gerentes e supervisores são orientados a ou-vir sempre e incentivar suas equipes a sugerir ideias que possam contribuir com a melhoria ou então o desenvolvimento de novos produtos.

Objetivo da questão 10: Identifi car se a empresa inves-tiga os produtos da concorrên-cia.

Quinze entrevistados afi rmaram que a empresa analisa os produ-tos dos concorrentes. Para realizar esta análise a empresa utiliza recursos como internet, onde é possível acessar os sites de em-presas nacionais e internacionais e analisar seus produtos. Tam-bém são utilizados folhetos e um relatório semanal enviado pelos vendedores. Além disso, as revendas, fornecedores e em alguns casos os próprios clientes repassam informações a respeito dos produtos da concorrência.

Objetivo da questão 11:Identifi car se a empresa consi-dera todas as ideias para novos produtos e melhorias.

Nove entrevistados não souberam responder se a empresa consi-dera todas as idéias, seis disseram não considerar e apenas um afi rmou considerar. Analisando essas respostas percebe-se que muitas idéias deixam de ser aproveitadas por falta do uso de meto-dologias para captar as ideias adequadas para o desenvolvimento de novos produtos.

Objetivo da questão 12:Identifi car os critérios utilizados para selecionar e avaliar as ideias para novos produtos e melhorias.

Nove entrevistados não souberam responder, quatro responderam não existir e três afi rmaram que a empresa avalia informalmente o potencial de mercado e o retorno que este produto pode trazer.

Através das respostas obtidas, percebe-se na organização indícios de que os ges-tores consideram os pressupostos de orientação para o mercado apresentados por Sla-ter e Narver (1995), Day (2001) e Hooley, Saunders e Piercy (2005). Isso se evidencia quando as necessidades dos consumidores aparecem como principal determinante nas decisões gerenciais e os fatores internos e a tecnologia disponível no mercado são adaptados para desenvolver produtos voltados a atender as necessidades identifica-das no “campo”, ou seja, adota-se uma perspectiva de fora para dentro quando novos produtos estão sendo desenvolvidos.

Contudo, de forma geral, observou-se que a empresa não usa nenhum tipo de metodologia específica para captar as necessidades dos consumidores no mercado.

Page 139: Revista TEE_ano18_n39_2012

316

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 304-322, jul./dez. 2012

Para maior entendimento das necessidades e dos problemas dos clientes, a literatu-ra é recomenda a utilização de mais de um tipo de método de pesquisa de mercado (CZINKOTA, 2001; TAKAHASHI; TAKAHASHI, 2007). Além disso, a direção da em-presa estabelece informalmente alguns objetivos e metas e, a partir desses, define os produtos a serem desenvolvidos, para quais mercados, se serão apenas melhorias ou inovação. Isso evidencia que a fase de pré-desenvolvimento não ocorre de forma orga-nizada, conforme sistematização defendida pelos autores como Crawford e Benedetto (2003) e Rozenfeld et al. (2006).

Os dados coletados na pesquisa também demonstram que há uma movimenta-ção da empresa no processo de implementação das equipes interdepartamentais para o desenvolvimento de novos produtos. Essa observação deriva de comentários, se-gundo depoimento dos entrevistados, quanto a dificuldades encontradas nos projetos anteriores, onde não foi agregado o conhecimento de pessoas chaves de diferentes áreas. Entretanto, nota-se que o marketing, um dos setores que teoricamente faz parte das equipes de desenvolvimento de novos produtos, não apareceu em nenhuma cita-ção como integrante da equipe estabelecida pela empresa (ULRICH; EPPINGER, 2000; CRAWFORD; BENEDETTO, 2003; KOTLER; KELLER, 2012).

Por fim, uma vez que a organização investigada não utiliza critérios técnicos para realizar a definição dos produtos do portfólio, é presente a possibilidade de alguns erros acontecerem. Dentre estes, destaca-se o erro de abandono (quando se dispensa uma boa ideia por falta de visão de suas potencialidades) e o erro de aprovação (quan-do a empresa permite que uma ideia ruim chegue às etapas de desenvolvimento e comercialização) (KOTLER; KELLER, 2012).

Analisando as mudanças no comportamento dos consumidores (os quais estão mais exigentes e bem informados), a semelhança entre os produtos de diferentes mar-cas, a alta competitividade e o momento atual do agronegócio brasileiro, onde a oferta é maior que a demanda, ratifica-se a necessidade de que a empresa em estudo forma-lize seu processo de desenvolvimento de novos produtos. Dessa forma, a mesma terá benefícios na qualidade final do produto e na consecução dos projetos de inovação, ampliando a probabilidade de alcançar o retorno desejado. Destaca-se a fase de pré--desenvolvimento, uma vez que decisões tomadas nessa fase guiarão todo o restante do processo. Neste contexto, sistematizar o pré-desenvolvimento, foco deste artigo, pode qualificar a geração e seleção de ideias, evitando despender esforços para a prá-tica de inovações que não sejam valorizadas pelo mercado.

Page 140: Revista TEE_ano18_n39_2012

317

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 304-322, jul./dez. 2012

Proposições para a qualifi cação do PDP da empresa foco

A Figura 2 sumariza como ocorrem, na empresa foco deste estudo, as etapas rela-cionadas ao pré-desenvolvimento de produto.

Figura 2 – Desenho do processo para geração e seleção de produtos para portfólio na empre-sa foco

A empresa em estudo não possui formalização do seu processo de desenvolvi-mento de novos produtos e não diferencia as macro fases estabelecidas por Rozenfeld et al. (2006), pré-desenvolvimento, desenvolvimento e pós-desenvolvimento. Apesar de as fontes de novas ideias aproximarem-se significativamente das sugeridas pela literatura, não há filtros estabelecidos para afunilar a amplitude de dados gerados para a etapa seguinte, a qual não atenta para questões como ponderação dos requisitos para o sucesso do produto, por exemplo. Além disso, é latente a ausência das pesquisas de mercado. Assim sendo, com o objetivo de qualificar o processo de desenvolvimento de novos produtos da empresa, sugere-se:

a) Adoção de um processo formal para o desenvolvimento de novos produtos: a estruturação e o gerenciamento do processo de desenvolvimento de no-vos produtos, segundo os preceitos das melhores práticas, conduzem a um melhor desempenho. Analisando os aspectos que demonstraram maiores deficiências recomenda-se a formalização do processo de desenvolvimento de produtos, o que trará como principais vantagens: redução dos riscos

Page 141: Revista TEE_ano18_n39_2012

318

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 304-322, jul./dez. 2012

inerentes ao desenvolvimento de novos produtos; redução nos custos de desenvolvimento; a existência de critérios em cada portão para julgar se o projeto merece passar para a etapa seguinte; o produto é revisto ao longo do processo; envolve pessoas de diversas áreas da empresa desde a primei-ra etapa do processo; impõe uma forte disciplina ao processo de inovação; torna as etapas visíveis a todos os envolvidos; reduz o prazo de desenvol-vimento de novos produtos.

b) O uso das equipes interdepartamentais para o desenvolvimento de novos produtos: na pesquisa realizada, ficou evidenciado que a empresa se mo-vimenta no sentido de implementar as equipes interdepartamentais para o desenvolvimento de novos produtos. No entanto, perceberam-se defici-ências, pois os setores que participam do processo são os de engenharia, o industrial e o comercial, sendo que setores como financeiro, marketing, compras, recursos humanos, entre outros, não participam ou participam esporadicamente. Sugere-se, portanto, a real articulação de equipes inter-departamentais que devem ser compostas por profissionais de diferentes áreas, além de fornecedores chave para todos os projetos de inovação e melhorias.

c) Uso de técnicas e métodos de pesquisa de mercado: a utilização correta de técnicas e métodos de pesquisa de mercado pode auxiliar a tarefa de desenvolver produtos, servindo como mecanismo de captação das necessi-dades dos clientes e de avaliação de conceitos, protótipos e produtos. Con-siderando que a organização em estudo não adota nenhum tipo de metodo-logia com essa finalidade, sugere-se o uso de métodos como a identificação de clientes com os problemas que a empresa quer resolver, por intermédio do Voz do Cliente (VC) e do Brainstorming, pois se acredita que esses são métodos apropriados à realidade e ao segmento que a empresa atua.

d) Uso de técnicas para classificar e avaliar as ideias para novos produtos: sugere-se o uso da técnica de formulário padrão para a análise do conjunto de critérios, descrita por Kotler e Keller (2012), e da técnica de classifica-ção de acordo com os objetivos, proposta por Czinkota (2001), bem como as discussões abertas, envolvendo as ideias para novos produtos entre pesso-as de diversas áreas funcionais da organização.

Page 142: Revista TEE_ano18_n39_2012

319

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 304-322, jul./dez. 2012

Considerações fi naisO desenvolvimento de novos produtos é condição essencial àquelas empresas

que pretendem destacar-se e sobreviverem ao longo do tempo em um mercado cada vez mais competitivo, passando a ser uma estratégia empregada não apenas como uma questão de aprimoramento do negócio, mas como uma necessidade fundamen-tal para manterem-se neste novo contexto. Seja através de inovações radicais ou in-crementais, as organizações necessitam desenvolver e qualificar essa prática nos seus processos de gestão, fato que confirma sua predisposição às práticas interfuncionais pertinentes à orientação ao mercado.

A pesquisa bibliográfica desenvolvida neste estudo possibilitou aos autores ma-pear que os modelos de processo para desenvolvimento de novos produtos contem-plam uma fase para criação do conceito do produto (concepção), outra de planejamen-to, outra de detalhamento e uma última de revisão de testas, embora não apresentem um consenso, divergindo sobre o número e a definição dos estágios que o envolvem. Nesse sentido, e considerando que o presente estudo objetivava investigar a relação entre orientação ao mercado e inovação, optou-se pelos modelos de processo de de-senvolvimento de novos produtos descritos por Rozenfeld et al. (2006) e por Kotler e Keller (2006), enfatizando-se questões pertinentes à fase de pré-desenvolvimento.

Os resultados obtidos na pesquisa de campo demonstram que o processo para desenvolver novos produtos ainda não está formalizado na empresa em estudo, uma representante típica da indústria de implementos agrícolas brasileira. Observa-se que não há uma sinergia entre os diversos setores envolvidos desde o início do processo. Nota-se que as atividades de geração e seleção de ideias, objetivo deste estudo, pre-cisam ser aprimoradas. Para tanto, deve-se considerar a participação dos clientes em pesquisas de mercado, desenvolver as equipes interdepartamentais, o uso de técnicas para analisar e validar as ideias, dentre outros aspectos apontados pela pesquisa.

Esses resultados vêm ao encontro da necessidade da organização considerar efe-tivamente os pressupostos da estratégia de orientação para o mercado, buscando me-lhorar seu desempenho. Um aspecto a ser aprimorado refere-se à adoção efetiva de um modelo formal para o processo de desenvolvimento de novos produtos.

Quanto às implicações acadêmicas deste estudo, deve-se destacar o teste empíri-co do modelo teórico que combina atividades descritas nos modelos de Rozenfeld et al. (2006) e Kotler e Keller (2012) para a fase de pré-desenvolvimento de novos produ-tos. Além disso, exploratoriamente foram feitas algumas considerações referentes aos pressupostos da orientação para o mercado e sua relação com a prática da inovação. O estudo ratifica a importância da aplicação prática dos modelos teóricos já estabeleci-dos, visto que assim é possível analisar e aprimorar os processos de desenvolvimento de produtos. A partir dos dados obtidos nesta pesquisa fica a sugestão de prosseguir este estudo, passando-se para a análise das demais etapas do modelo estudado.

Page 143: Revista TEE_ano18_n39_2012

320

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 304-322, jul./dez. 2012

PROCESS QUALIFICATION OF PRODUCT DEVELOPMENT: A CASE STUDY IN AN INDUSTRY

OF AGRICULTURAL IMPLEMENTS

AbstractThe study here aimed reported to investigate how the process of product development in an industry of agricultural implements occurs in the practice, put forward suggestions for im-provement after the same as described in the theoretical models of Rozenfeld et al. (2006) and Kotler and Keller (2012). Scope were defi ned as the early stages of development, in particular the generation of ideas and products for portfolio selection. The results demonstrate that the process for developing new products has not been formalized in company under study. It is observed that there is a synergy between the various sectors involved from the outset. Note that the activities of generation and selection of ideas need to be improved. Therefore, one should consider the involvement of customers in market research, develop interdepartmental teams, using techniques to analyze and validate the ideas, among other aspects highlighted by the survey. Furthermore, an important factor to be enhanced refers to the actual adoption of a formal model for the process of development of new products.

Keywords: Agricultural implements. Innovation. Product development.

PROCESO DE CALIFICACIÓN DE DESARROLLO DE PRODUCTOS: UN ESTUDIO DE CASO EN UNA

INDUSTRIA DE IMPLEMENTOS AGRÍCOLAS

ResumenEl estudio aquí reportado destinado a investigar cómo el proceso de desarrollo de productos en la industria de implementos agrícolas ocurre en la práctica, se formulan propuestas de me-jora después de la misma que se describe en los modelos teóricos de Rozenfeld et al. (2006) y Kotler y Keller (2012). Ámbito de aplicación se defi ne como las primeras etapas de desarrollo, en particular la generación de ideas y productos para la selección de la cartera. Los resultados demuestran que el proceso de desarrollo de nuevos productos que no se ha formalizado en la empresa objeto de estudio. Se observa que existe una sinergia entre los diversos sectores invo-lucrados desde el principio. Tenga en cuenta que las actividades de generación y selección de ideas necesitan ser mejorados. Por lo tanto, se debe considerar la participación de los clientes en la investigación de mercado, desarrollo de equipos interdepartamentales, utilizando técni-cas para analizar y validar las ideas, entre otros aspectos destacados por la encuesta. Además, un factor importante a ser mejorado se refi ere a la adopción real de un modelo formal para el proceso de desarrollo de nuevos productos.

Palabras clave: Desarrollo de productos. Implementos agrícolas. Innovación.

Page 144: Revista TEE_ano18_n39_2012

321

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 304-322, jul./dez. 2012

Referências

BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2000.BAKER, W. E.; SINKULA, J. M. Market Orientation and the New Product Paradox. The Journal of Product Innovation Management, v. 22, p. 483-502, 2005.__________. Does Market Orientation Facilitate Balanced Innovation Programs? Na Organiza-tional Learning Perspective. The Journal of Product Innovation Management, v. 24, p. 316-334, 2007.BAUER, M.; GASKELL, G. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Petrópolis: Vozes, 2005.CLARK, K. B.; WHEELWRIGHT, S. C. Managing New Product and Process Development. Boston: The Free Press, 1993. COOPER, R.G. Product Leadership: creating e launching superior new products. New York: Per-seus Books, 1998. CRAWFORD, C. M.; BENEDETTO, C. A. New Products Management. 6. ed. Chicago: McGraw-Hill, 2000. CZINKOTA, M. R. Marketing: as melhores práticas. Porto Alegre: Bookman, 2001.DAY, G. S. A empresa orientada para o mercado: compreender, atrair e manter clientes valiosos. Porto Alegre: Bookman, 2001. DATAR, S. C.; JORDAN, C.; SRINIVASAN, K. Advantages of time-based new product devel-opment in a fast-cycle industry. Journal of Marketing Research, fev. 1997.DIEHL, A. A.; TATIM, D. C. Pesquisa em ciências sociais aplicadas: métodos e técnicas. São Paulo: Prentice Hall, 2004.GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1999.GRENN, D. L.; WILEMON, D. Accelerating Team Learning in New Product Development. Pro-ceedings of PICMET’99, 1999.GRIFFIN, A. J.; HAUSER, J. The voice of the costumer. Marketing Science. Inverno, 1993.HAUSER, J.; TELLIS, G. J. Research on innovation: a review and agenda for marketing. MIT, 2004.HENARD, D. H.; SZYMANSKI, D. M. Why some new products are more successful than others. Journal of Marketing Research, v. 38, p. 362-375, 2001.HOOLEY, G. J.; SAUNDERS, J. A; PIERCY, N. F. Posicionamento Competitivo. São Paulo: 2005.HUNT, S. D.; MORGAN, R. M. The Resource-Advantage Theory of Competition: dynamics, path dependencies, and evolutionary dimensions. Journal of Marketing, v. 60, n. 2, p. 107-114, 1996.JAWORSKI, B. J.; KOHLI, A. K. Market Orientation: Antecedents and Consequences. Journal of Marketing, v. 57, p. 53-71, July 1993.KOHLI, A. K.; JAWORSKI, B. J. Market Orientation: The Construct, Research Propositions, and Managerial Implications. Journal of Marketing, v. 54, n. 2, p. 1-18, Apr. 1990.

Page 145: Revista TEE_ano18_n39_2012

322

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 304-322, jul./dez. 2012

KOHLI, A. K.; JAWORSKI, B. J.; KUMAR, A. MARKOR. A measure of Market Orientation. Journal of Marketing Research, v. 30, n. 4, p. 467-477, nov. 1993.KOTLER, P; KELLER, K. Administração de Marketing. São Paulo: Prentice Hall, 2012. LEVITT, T. A imaginação de marketing. São Paulo: Atlas, 1990.LUKAS, B.A.; FERREL, O.C. The effect of market orientation on product innovation. Journal of The Academy of Marketing Science, v. 28, n. 2, p. 239-247, 2000. MALHOTRA, N. K. Pesquisa de marketing: uma orientação aplicada. 3. ed. Porto Alegre: Book-man, 2006.MCGRATH, M. E. Setting the pace in product development. Butterworth-Heinemann, 1996. MOHR, J. Marketing of high-technology products and innovations. 2. ed. Upper Saddle River: Pri-nice Hall, 2005. MOREAU, C. P.; LEHMANN, D. R.; MARKMAN, A. B. Entrenched knowledge structures and customer response to new products. Journal of Marketing Research. 38, fev., 2001.NARVER, J.C; SLATER, S.F. The effect of market orientation on business profi tability. Journal of Marketing. v. 54, p. 20-35, Oct. 1990. NASCIMENTO, P. T. S.; SIN OIH YU, A.; SOBRAL, M. C. As orientações estratégicas da inova-ção de produtos populares. Revista de Administração Contemporânea, v. 12, n. 4, p. 907-930, out./dez. 2008.PAHL, G.; BEITZ, W. Engineering design: a systematic approch. New York, Springer, 1996. SLATER, S. F.; NARVER, J. C. Does competitive environment moderate the market orientation performance relationship? Journal of Marketing, v. 58, n. 1, p. 46-55, jan. 1994._________. Market Orientation and the Learning Organization. Journal of Marketing, v. 59, n. 3, p. 63-74, July 1995.SCHUMPETER, J. Business Cycles: A theoretical, historical, and statistical analysis of the capita-list process. Hardcover, 1939.ROZENFELD, H. et al. e outros. Gestão de desenvolvimento de produtos: uma referência para me-lhoria do processo. São Paulo: Saraiva, 2006. ROZENFELD, H.; et al. Gestão do desenvolvimento de produtos: uma referência para a melhoria de processos. São Paulo: Saraiva, 2006. TAKAHASHI, S.; TAKAHASHI, V. P. Gestão de inovação de produtos: estratégia, processo, orga-nização e conhecimento. Rio de Janeiro: Campus, 2007.TIDD, B.; BESSANT, J.; PAVITT, K. Managing innovation: integrating technological, market and organization change. New York: John Eiley & Sons, 2001.TUSHMAN, M.; NADLER, D. Organizando-se para a Inovação. In: STARKEY, K. (Org.). Como as organizações aprendem. São Paulo: Futura, 1997. ULRICH, K.; EPPINGER, S. Product Design and Development. New York: McGraw-Hill, 2000.

Page 146: Revista TEE_ano18_n39_2012

323

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 323-343, jul./dez. 2012

Sistema sociedade-ambiente: perspectiva socioespacial na gestão

do risco ambiental

Cindy Olivier*

Exzolvildres Queiroz Neto**

Resumo

O presente artigo propõe uma discussão na perspectiva da gestão de risco socioespacial do sistema Sociedade-Ambiente a partir de múltiplas variáveis; tanto econômicas, sociais, políti-cas, culturais quanto naturais. Para tal proposição faz-se necessária uma abordagem do risco e da vulnerabilidade, como conceitos básicos, bem como da noção de espaço e da escala como elementos fundamentais da percepção do risco. O risco ambiental está enredado pelo planeja-mento e a gestão do território o que nos convida a dissertar sobre os elementos da tomada de decisão. O trabalho advém da pesquisa para a dissertação de mestrado em 2011.

Palavras-chave: Planejamento. Políticas Públicas. Vulnerabilidade

Submissão: 12/10/2012. Aceite: 23/11/2012

* Mestre em Geografi a IGC/UFMG. E-mail: [email protected]** Doutor em Engenharia Agrícola: Planejamento e Desenvolvimento Rural Sustentável Feagri/

Unicamp. Professor Adjunto da Universidade Federal da Integração Latino-Americana. Curso de Desenvolvimento Rural e Segurança Alimentar. E-mail: [email protected]

Page 147: Revista TEE_ano18_n39_2012

324

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 323-343, jul./dez. 2012

IntroduçãoHá um equilíbrio dinâmico e efêmero em termos de gestão das interações que

se processam entre as variabilidades econômicas, sociais, políticas e culturais por um lado, e aquelas naturais por outro, tanto no espaço quanto no tempo.

A despeito das “imposições” naturais na composição de um ecossistema, a estru-tura do sistema sociedade-ambiente é constituída pelos elementos e suas relações se expressam por meio do arranjo de seus componentes. Mas como fazer a gestão de risco contemplando as múltiplas variáveis deste sistema?

Para entender melhor as inter-relações sistêmicas propõe-se uma análise socio-espacial e multiescalar ao considerarmos a totalidade do contexto o que convida a abraçar a produção social do espaço por seus atores. Logo, ao se pressupor essas abor-dagens como estrutura, surge a questão da escala, isto é, a dimensão dos processos do sistema sociedade-ambiente a partir das diversas inter-relações na organização do espaço.

O espaço é um recurso único e sua disponibilidade ocorre por um processo de vivência e nenhuma atividade humana se pode realizar sem a sua apropriação perma-nente ou temporária. O espaço rural ou urbano, por exemplo, constitui-se em uma for-ma-conteúdo complexa objeto de uso herdado do passado, portanto, de forma durá-vel, que reúne visões de mundo, elementos simbólicos, materiais e imateriais, força de trabalho, consumidores, saberes, cultura, normas, contradições, conflitos, contrastes, lógicas, instituições, natureza, atores sociais, entre outros, em configurações espaciais diferenciadas, ora fragmentadas, complementares, dinâmicas, adensadas, dispersas, difusas.

Apesar da ação humana sobre o espaço, embora muitas vezes perceptível a olho nu quanto a seus efeitos, é difícil de ser avaliada quanto às suas causas específicas, sobretudo, quanto à intensidade e frequência de atuação dos processos resultantes da quantificação, da qualidade dos dados e do monitoramento dos seus efeitos.

Os maiores problemas residem no acompanhamento da influência de cada tipo de uso do solo no desencadeamento de um processo cujos efeitos resultam da soma de várias ações humanas. É o caso também da avaliação do fator tempo, pois, raramente existem registros fieis da cronologia relativa à implantação dos diversos tipos de uso e ocupação do solo, bem como dos impactos ambientais, tecnológicos e inovadores.

Semelhante a um caleidoscópio os atores sociais, em seus contextos, estão em mo-vimento produzindo inter-relações complexas. Não há como estipular momentos de conexão e desconexão de uma realidade que é construída e reconstruída no cotidiano. São fluxos múltiplos e simultâneos que se concretizam, momentaneamente, no espaço

Page 148: Revista TEE_ano18_n39_2012

325

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 323-343, jul./dez. 2012

que, por sua vez, se transforma em território expondo os riscos e as vulnerabilidades do sistema sociedade-ambiente.

Risco e vulnerabilidade: conceitos em construçãoA vertente teórica dedicada ao estudo dos riscos ambientais se propõe a aprofun-

dar os estudos dos seus elementos interligados e seus efeitos. Com o intuito de melhor entender a temática os conceitos de álea e perigo merecem ser esclarecidos.

A álea, associada à realidade física, é um evento (processo natural, tecnológico, social ou econômico) que pode causar perigo ou dano. A análise ambiental do risco, se-gundo Torres (2000, p.59), “busca compreender como as atividades de grandes escalas provocam alterações no meio ambiente e afetam a saúde da população, as atividades econômicas preexistentes, as condições sanitárias e mesmo paisagísticas e estéticas das diversas áreas”.

Existe um debate teórico entre o termo perigo e risco. O perigo (hazard) é uma ameaça do evento para a sociedade enquanto o risco se refere à percepção do perigo em termos de danos. Para Hogan e Marandola Jr. (2009), os dois conceitos são relacio-nados ao mesmo fenômeno, mas constituem momentos distintos do processo.

Conforme Torres (2000), a ideia do risco implica a existência de um agente “amea-çado” (indivíduo ou grupo de indivíduos) e de um agente “receptor” da ameaça (fenô-meno específico). Por um lado, ele é subjetivo pelo fato de ser visível ou invisível mu-dar ao longo do tempo e ter um grau de percepção diferente segundo o indivíduo. Há riscos que afetam toda uma sociedade, como no caso de um desastre natural, enquanto outros são observados em determinados locais. Logo, ele é múltiplo e multiescalar, e mais ainda, passível de gerar efeito cruzado entre suas variantes. Torres (2000) afirma que há riscos desiguais considerando que, determinadas minorias e grupos de renda mais baixa estariam particularmente expostos. No caso particular do risco ambiental há uma vulnerabilidade desigual das “áreas naturais” e das populações que varia se-gundo a topologia e a situação socioeconômica (COELHO, 2009).

Essa vulnerabilidade, associada ao lugar ou à sociedade, representa um conjunto de características de um determinado indivíduo ou grupo de indivíduos, seus bens e que determina a sua capacidade de antecipar, sobreviver, resistir e se recuperar do impacto de um perigo natural (BLAIKIE, 1994).

A partir dessa definição, múltiplas categorias podem ser construídas. Hogan e Marandola Jr. (2009b) observam que as populações em situações de risco podem ser caracterizadas pela sua dinâmica demográfica (aspetos migratórios do grupo) ou por sua situação socioeconômica (ciclo vital e estrutura familiar).

Page 149: Revista TEE_ano18_n39_2012

326

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 323-343, jul./dez. 2012

Considerando os diferentes aspectos da realidade (econômicos, sociais, políticos e culturais) Smith (2001) aponta que a exposição ao risco pode sofrer variações de acor-do com a ocupação, a classe social, a etnia, a idade e o gênero. Como propõe a autora, os riscos relacionados aos fenômenos naturais estão diretamente ligados às condições de vida de cada comunidade sendo mais afetadas as camadas mais pobres, os muito jovens e os idosos. De acordo com a autora, as populações mais pobres são aquelas que mais sofrem, porém, acreditamos que o risco perpassa toda a sociedade, afetando-a em diferentes intensidades.

Para Hogan e Marandola Jr. (2009a), a vulnerabilidade revela as fragilidades e as capacidades de resposta das pessoas e dos sistemas que compõem uma sociedade. O risco é composto pela álea e a vulnerabilidade, mas ele só passa a existir quando se torna visível.

Veyret (2007, p. 11) afirma que “não há risco sem uma população ou indivíduo que o perceba e que poderia sofrer seus efeitos”. Na sociedade contemporânea, a no-ção do risco passou a ser conhecida ao longo do tempo quando se tornou cada vez mais problemático. A partir desse momento as cidades industriais foram consideradas como o principal lugar do risco.

A abordagem do risco pela nossa sociedade demonstra que não há vida sem ame-aça. Se não é possível mitigá-lo, porém, medidas preventivas devem ser desenvolvidas para sua redução. Assim, o conceito de risco e de vulnerabilidade constitui o cerne da questão e suscita um debate engendrando diversas disciplinas. Nesse sentido, es-tabelecemos um primeiro pressuposto: a gestão do risco ambiental suplanta a lógica das disciplinas parcelares e convida à transdiciplinaridade ou pelo menos um “novo olhar” para o conhecimento. Para Domingues (2001, p. 18), entende-se por transdisci-plinaridade “aquelas situações do conhecimento que conduzem à transmutação ou ao traspassamento das disciplinas à custa de suas aproximações e frequentações”.

Além disso, as duas noções expõem a complexidade do espaço, seja ele urbano ou rural, uma vez que envolve as ações, atitudes, valores e visões de mundo e, óbvio, o próprio ambiente.

O segundo pressuposto é o seguinte: a percepção do risco ambiental para uma sociedade influencia a produção dos processos de imposição, de lógicas instrumentais, como o planejamento e a gestão do território.

Page 150: Revista TEE_ano18_n39_2012

327

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 323-343, jul./dez. 2012

Enchentes e escorregamentos: os riscos ambientais mais recorrentes no Brasil

Os riscos naturais, mais recorrentes no mundo, são de origem climática. Nessa escala, as secas e as inundações representam 40% dos desastres naturais, sendo repre-sentáveis pelo maior número de vítimas fatais e de desabrigados (BRANDÃO, 2009, apud FRENCH, 1989; CIMA, 1991).

No Brasil, durante o Século XX, as inundações representaram 60% dos desastres naturais resultados do regime de precipitação seguido essencialmente dos escorrega-mentos, das secas e dos incêndios florestais (TOMINAGA et al., 2009).

Em primeiro lugar, os fenômenos meteorológicos de natureza convectiva como El Niño - La Niña, o aquecimento global e o efeito estufa podem contribuir na alteração do regime de precipitação provocando precipitações prolongadas em vários dias con-secutivos ou ainda precipitações intensas de curta duração (BRANDÃO, 2009). No exemplo específico do efeito estufa, ele é mais frequente nos países de clima tropical por serem quentes e úmidos. Além disso, esse fenômeno é acelerado pelo aquecimento climático das zonas urbanas, chamadas ilhas de calor, devido à quase total imper-meabilização do solo e a ausência da cobertura vegetal. Conclui-se que no caso das metrópoles brasileiras, tanto a sua localização, quanto a sua impermeabilização as de-ixam mais vulneráveis aos episódios de efeito estufa, ou seja, à chuva intensa.

Nas grandes cidades, a urbanização acelerada e a falta de planejamento da “ci-dade informal”, ocorre o aumento da intensidade e da frequência das enchentes e dos escorregamentos fazendo quase sempre vítimas. No Brasil, a constatação se fez princi-palmente a partir de 1960 na região do Sudeste e na Zona da Mata Nordestina (BRAN-DÃO, 2009; TOMINAGA et al., 2009).

Após 1930, década em que se intensificaram os processos de industrialização e ocasionou uma urbanização acelerada, notamos simultaneamente a intensificação da demanda social, um aumento do déficit habitacional e uma intensificação da especu-lação imobiliária. As forças do mercado geraram um modelo segregacionista de or-ganização territorial. Constata-se, assim, que a ocupação das margens dos rios e das encostas pela moradia de baixa renda era uma alternativa de produção de espaços habitacionais, os rios urbanos foram considerados como depósitos de lixo porque não havia um serviço universal de coleta de resíduos sólidos e esgotos, e por último, a falta de vontade política pela preservação ambiental das áreas protegidas e das bacias hidrográficas (a despeito do Código Florestal) contribuiu na deterioração dos recursos naturais e afetou diretamente a qualidade de vida de todos os habitantes das regiões mais urbanizadas.

Page 151: Revista TEE_ano18_n39_2012

328

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 323-343, jul./dez. 2012

O aumento da frequência das enchentes e dos escorregamentos no Brasil vem incitando o poder público, o setor privado e a sociedade civil em geral, na elaboração de estratégias cada vez mais eficientes para planejar e gerir o território. Para tais ambi-ções, porém, é preciso que haja uma perspectiva integrada do espaço.

A compreensão do espaço para perceber o risco e a possibilidade de acesso e de uso da informação espacial

Braga (2000) considera que o conceito de risco ambiental é enredado por referen-ciais que trabalham com o comprometimento da capacidade de reprodução econômica ampliada e da base material/natural sobre a qual se estabelece a produção social do espaço.

Para Santos (2002), o espaço é a totalidade e, por isso, admite um amálgama de conceitos (território, lugar, paisagem) que dizem respeito às ações humanas nas diver-sas escalas. Quando se justapõe o discurso do Braga (2000) sobre o risco com aquele de Santos (2002) elaborando a noção de espaço, observa-se como a percepção do risco é diretamente associada a um determinado contexto, ou seja, existe uma relação entre as escalas do lugar até o mundo. Evidentemente, espaço e escala são os dois elemen-tos que compõem a percepção do risco, começa-se, então por esclarecer o primeiro conceito.

Santos (1982) define a expressão contexto como significando uma abstração, ex-traída da observação de fatos particulares e elementos particulares. Afirma ele que, seja qual for a forma de ação entre as variáveis ou dentro delas, não se pode perder de vista o conjunto. Como cada fato particular ou elemento particular só tem signifi-cado a partir do conjunto em que está incluído e inserido, ele termina sendo abstrato, enquanto o real passa a ser o contexto. De fato, no estudo das interações recupera-se a totalidade social, pois, cada ação não constitui um dado independente, mas um resul-tado do próprio processo social.

Faz-se necessária a demonstração de uma análise contextual em que se expõem as interações do risco. Apesar das distintas construções da realidade, a partir da percep-ção de mundo, o comum entre os diversos grupos humanos é a composição de elemen-tos coerentes de significados transmissíveis através de logos, trata-se de um raciocínio. Evidentemente, não devemos menosprezar os mitos e a sua composição simbólica e imaterial. Assim, conforme Barthes (2000), o ser humano institucionaliza a realidade objetivando o espaço, mas através de significados.

Page 152: Revista TEE_ano18_n39_2012

329

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 323-343, jul./dez. 2012

Logo, pressupõe-se que a ação humana sobre o espaço em modificação constante ocorre a partir de uma avaliação do ambiente, ou seja, um conjunto de elementos ma-teriais e imateriais do lugar.

Nesse sentido, Johnston (1986) afirma que a maneira pela qual os diferentes ato-res sociais (indivíduos, comunidades, Estado, empresas, organizações, associações) percebem os “riscos” e os “recursos” dos seus ambientes desempenha um papel sig-nificativo em suas decisões, como também no que se refere ao gerenciamento desses recursos e da tomada de decisão.

Esses atores são, por um lado, os grupos de indivíduos sendo as instituições den-tro dos três níveis do governo, do setor privado e da comunidade em geral, e por ou-tro, o indivíduo em si. Tanto o indivíduo associado a outros quanto ele sozinho, esse faz escolhas racionais com base no conhecimento e nas referências anteriores, e mais ainda, as suas ações estão produzidas e inseridas nesta mesma complexidade. Para sermos mais explícitos, levantamos quatro hipóteses e acreditamos que elas podem se aplicar à percepção do risco na tomada de decisão:

1) Os atores sociais são racionais quando tomam decisões. Essa afirmativa pode ser prescritiva ou descritiva de uma realidade.

2) Os atores sociais fazem escolhas dentro de um contexto ambiental. Essas escolhas podem ser do tipo aleatório, trivial ou reflexivo e conduzir a com-portamentos e respostas estereotipadas.

3) As escolhas são feitas com base no conhecimento. É somente em situações excepcionais que o tomador de decisões pode aprender, assimilar e inter-pretar todas as informações.

4) A informação é avaliada de acordo com critérios preestabelecidos. As esco-lhas habituais são estabelecidas a partir de referenciais anteriores, mas as refletidas ocorrem a partir da ponderação das informações de um con-texto.

Portanto, a detenção de todas as informações é impossível para qualquer ator social. Logo, a ações humanas sobre o espaço, embora muitas vezes perceptível a olho nu quanto a seus efeitos, são difíceis de serem avaliadas as suas causas específicas, so-bretudo, a intensidade e a frequência de atuação dos processos resultantes. O vínculo social observável conduz à necessidade da ação comunicativa, em Habermas (1981), tendo em vista a busca do consenso entre os atores em uma determinada situação de argumentação, contradição, conflito e avaliação, pois, requer que o tomador de deci-são disponha de um conjunto de informações para agir. Nesse sentido, as informações conduzem ao conhecimento da realidade e permitem a quantificação e o monitora-mento de todas as variáveis envolvidas no espaço.

Page 153: Revista TEE_ano18_n39_2012

330

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 323-343, jul./dez. 2012

As ações dos atores dependem, sobretudo, das suas preferências, da forma como eles utilizam as informações e dos seus critérios para decidir sobre um determinado curso de ação. Assim as ações humanas resultam, potencialmente, de um maior e me-nor grau de risco que varia segundo uma capacidade de enfrentamento dependendo das escolhas racionais e das extremas necessidades.

Na realidade municipal os valores individuais diferem da percepção de quão fácil ou onerosa é a exclusão ou limitação dos potenciais utilizadores dos recursos comuns uma vez que são movidos pelas ações do outro indivíduo. Surgem duas variáveis im-portantes definidas por Ostrom et al. (1990): 1) a possibilidade de privar as pessoas dos benefícios; 2) os benefícios consumidos, por um indivíduo, que não estão disponíveis para os outros. O que conduz, consequentemente, a dois conceitos basilares:

a) exclusão: dos potenciais utilizadores dos recursos comuns;b) subtração (subtractability): uso de recursos por um indivíduo em relação

às necessidades de outros.Os recursos comuns, que transitam entre as dimensões públicas e privadas, apre-

sentam a prerrogativa do fluxo. O fluxo pressupõe dinâmica, concomitantemente, con-tenção, inércia, fluidez, instabilidade, incerteza e irreversibilidade do tempo. Por ser dinâmico suplanta as fronteiras gerando a perspectiva de múltiplas territorialidades em um mesmo território. Portanto, os problemas advindos da utilização dos recursos comuns podem ser analisados pelo ângulo da sustentabilidade, isto é, a capacidade de criação de um recurso e a capacidade de evitar a sua destruição.

Assim, a conceituação teórica deve ser lastreada pelo contexto. Logo, o conceito de lugar se torna fundamental nesta análise, mas é necessário ressaltar que o processo que explica o lugar somente faz sentido em conexão com as diversas escalas e suas va-riáveis. Não é possível explicar o lugar por ele mesmo, mas pelas inter-relações. Para Freire (1992, p. 29), a percepção das inter-relações dos fatos de uma realidade está rela-cionada à “forma de perceber os fatos que não é diferente da maneira de relacioná-los com outros, encontrando-se condicionada pela realidade concreta, cultural, em que se acham os homens”. Na contemporaneidade os espaços urbanos e rurais, sujeitas aos múltiplos arranjos produtivos e de organização socioespacial da terra, devem ser consideradas pela interação dos processos locais de produção, consumo e significados sempre contextualizados e abertos aos fluxos ao longo do tempo.

Page 154: Revista TEE_ano18_n39_2012

331

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 323-343, jul./dez. 2012

A percepção do risco em mutação nas diversas escalas

A escala representa um elemento da percepção do risco. É preciso compreender o lugar cotejando-o com diversas escalas espaciais, pois favorece uma percepção mais ampla das ações humanas, da diversidade ambiental e da complexidade do território. Na realidade, segundo Castro (2008, p. 127), “todo fenômeno tem uma dimensão de ocorrência, de observação e de análise mais apropriada”. Ostrom et al. (1993), por sua vez, acredita que os recursos ambientais devem ser analisados a diversos níveis.

A partir das considerações e pressupondo um conjunto de terrenos, de famílias de agricultores, cada um compreendendo uma pequena parcela de área disponível para plantio: cada agricultor deve decidir como usar essas áreas (a questão da escala é, também, fundamental nesse contexto). Assim, em parte, cada uma de suas decisões vai refletir suas opções de trabalho mais gerais e os usos que ele faz das informações e conhecimentos (influências internas e externas), em função de um “mercado”, a sa-tisfação do bem-estar familiar e social, das questões ambientais, além das decisões de outros agricultores em relação às suas áreas e das políticas públicas.

Neste sentido, Johnston (1986) afirma que a maneira pela qual os atores sociais (pesquisadores, extensionistas, agências de fomento, instituições públicas, privadas e agricultores) percebem os “problemas” e os “recursos”, dos seus ambientes, desempe-nha um papel significativo em suas decisões como, também, no que se refere ao geren-ciamento desses recursos e da tomada de decisão. Portanto, as ações dos atores sociais podem, potencialmente, afetar os resultados. As ações podem ser aleatórias ou não e influenciam no resultado final ou intermediário. Para tanto é fundamental um quadro, do conjunto de informações disponíveis, sobre as transformações e as posições dos participantes em cada processo.

Nesse sentido, para tentar prever como os atores sociais irão se comportar, o ana-lista deve considerar, pelo menos, quatro variáveis:

– preferências dos atores sociais nas ações e potenciais resultados;– forma como os atores sociais se capacitam no processo suas contingências,

conhecimento e utilização das informações;– critérios utilizados pelos atores sociais para decidir sobre um determinado

curso da ação;– processos, variáveis e recursos que conduzem o ator social a uma determi-

nada situação.Contudo, não é possível a um único tomador de decisão evitar ações subótimas

no uso dos bens e recursos comuns.

Page 155: Revista TEE_ano18_n39_2012

332

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 323-343, jul./dez. 2012

A composição do espaço cotidiano da ação e dos atores pode ser configurada a partir das seguintes situações, com base no que lecionam Ostrom et al. (1990):

1) Ação: a) participação nos processos e decisões; b) posições diversas; c) ações à luz das informações; d) inter-relações potenciais; e) custos e benefícios das ações.2) Atores sociais: a) preferências; b) capacidade de processar informações; c) seleção criteriosa; d) recursos.

Talvez um dos problemas na análise dos recursos (sentido amplo), em um deter-minado contexto, seja a capacidade de entender a contabilidade do uso de um recurso, isto é, a apropriação eficiente exige soluções para o melhor momento e local (OSTROM et. al. 1990). O espaço é, por suposto, um sistema aberto e sensível aos fluxos (circu-lação, comunicação, informação, comercialização) o que nos conduz ao conceito de externalidade: a interdependência entre os sistemas e subsistemas. As externalidades produzem efeitos complementares e substitutos. Os efeitos complementares podem ser vislumbrados positivamente e os substitutos podem exercer, temporariamente, a função de um efeito complementar gerando a entropia do sistema. Portanto, a exter-nalidade deve ser devidamente contabilizada ou pode gerar uma alocação subótima. Deve ser ressaltado, por conseguinte, que não há uma distribuição homogênea dos recursos e bens comuns. Assim, surge a relação entre a oferta e a demanda, para além de um mercado perfeito, em relação aos bens e recursos comuns, o que produz, pelo menos, duas condições que levam a um dilema na utilização desses bens e recursos conforme Ostrom et. al. (1990):

1) Condição subótima: as estratégias dos apropriadores relacionam-se à configuração física do sistema, tecnologia, regras, condições de mercado e atribuições dos apropriadores;

2) Condições alternativas institucionais: estratégias – incluem a produção, o investimento, a governança e custos

de transação; regras – o necessário consenso (em meio às contradições) para as mudan-

ças.

Page 156: Revista TEE_ano18_n39_2012

333

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 323-343, jul./dez. 2012

Assim, a autora pondera acerca dos tipos de variáveis institucionais e físicas que podem afetar a probabilidade de sucesso na resolução dos dilemas no uso de bens e recursos comuns. Logo, o que ajuda na resolução de problemas é a combinação de diversos fatores: ambiente, cultura, conjunto de regras, política.

Todavia, a possibilidade de avaliar a realidade (configuração espacial) é momen-tânea em um contexto socioespacial dinâmico e mutável. Por vezes, pode ocorrer uma leitura territorial incompleta. Por isso, uma pesquisa na interface socioeconômica e ambiental gera subsídios para o planejamento e gestão de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento rural. Há, todavia, um equívoco gnosiológico (fundamentos do conhecimento) em relação ao espaço rural, quando se vincula a dimensão da tec-nologia, com vistas à produção econômica e o contexto de uma comunidade rural de agricultores familiares. O equívoco se configura da seguinte forma:

a) problema de linguagem – pensamento – estrutura do que se propõem as alternativas e viabilidades técnicas e econômicas e de quem é percebido como receptor;

b) momento histórico – havendo ou não transformações da estrutura, dos processos, das formas, conteúdos, funções e reflexões ações. O momento histórico é, concomitantemente, um momento espacial, pois há inter-rela-ções dos fatores da realidade.

c) cultura – antagonismos entre a cultura técnico-científica e a cultura coti-diana e contextualizada do espaço rural;

d) níveis de percepção das inter-relações dos fatos no espaço.Apesar de associar os riscos globais ao padrão produtivo da economia, deve-se

também considerar a configuração de ocupação e uso do solo e o gerenciamento dos recursos ambientais.

A despeito da influência da globalização nos diversos setores da vida em socie-dade, ocorre concomitantemente o afloramento da questão de escala do lugar. Esse último deve ser entendido como a dimensão cotidiana do espaço, onde é permitida a interação dos atores a partir dos seus contextos. O território municipal, especifica-mente, abrange uma dinâmica do espaço urbano e rural entre seus atores, seus fatos e seus elementos. Ele se transforma em uma dimensão importante, permitindo a análise inter-relacionada das diversas variáveis.

Ao longo do tempo, os significados e eventos produzidos são transitórios, efê-meros e duradouros, o que incita a ir além da análise de um determinado lugar. Nes-se sentido, os argumentos de Ostrom et al. (1993) se apresentam como possibilidade de conciliação de referenciais teóricos complementares. Para a autora, os recursos se articulam pelo coletivo, pois a apropriação de interesses individuais não beneficia o

Page 157: Revista TEE_ano18_n39_2012

334

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 323-343, jul./dez. 2012

grupo. Partindo da premissa de que os recursos são de uso comum, eles devem ser analisados na confluência das racionalidades individuais e de grupo, o que demanda uma gestão governamental.

Além disso, a distribuição espacial desses mesmos recursos produz arenas e apre-sentam fluxos. Para tais observações, Ostrom et al. (1993) partem da lógica de que as múltiplas escalas de observação do espaço podem ser associadas às arenas, visto como as instâncias dos processos complexos que se inter-relacionam no tempo. As arenas são, no sentido amplo, um sistema aberto e sensível aos fluxos. Esses últimos representam os resultantes de uma dinâmica; contenção, inércia e fluidez, instabili-dade, incerteza e irreversibilidade do tempo; e geram uma perspectiva de múltiplas territorialidades. Sendo assim, as experiências de gestão dos recursos comuns devem ser articuladas pelos poderes multiescalares como pelas inter-organizações territoriais.

Risco ambiental: trata-se mais de planejar, de gerir, ou vice-versa?

Para poder responder à questão, é preciso diferenciar os dois conceitos apresen-tados. Além disso, a abordagem do risco ambiental requer o discurso da sustentabili-dade. Nesse sentido, analisar a utilização dos recursos comuns e dos próprios riscos significa ter a capacidade de uma gestão mais racional.

Para começar o conceito de gestão, estabelecido no ambiente corporativo e ligado à administração de empresas por algum tempo, vem adquirindo crescente popularida-de em conexão com outros campos e atividades. Há algo de questionável ao admitir-se o termo gestão como substituto de planejamento? Não se trata, por suposto, de uma questão semântica. As representações, ações e proposições são diferenciadas. O plane-jamento é, na prática, a preparação para a gestão futura? Sem embargo, em um plane-jamento é fundamental estabelecer objetivos, evitar ou minimizar percalços e ampliar margens de manobra. A gestão, por sua vez, é a efetivação, ao menos em parte, pois é aconselhável considerar o imprevisível e o imponderável.

Em termos de pressupostos, com vistas à produção do espaço, podemos alegar que os processos de planejamento e de gestão do território devem ser constantes e, ao mesmo tempo, considerar as diversas variáveis, os contextos e as complexidades. Contudo, o discurso dos dois componentes pode ser enredado por diversos atores, por vezes, com intenções sub-reptícias ou equivocadas. Escobar (1995) adverte que o dis-curso sobre a gestão e o planejamento foi capturado pela perspectiva do racionalismo (do inglês rational) e do objetivismo (do inglês objective). Tal tendência pode limitar as

Page 158: Revista TEE_ano18_n39_2012

335

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 323-343, jul./dez. 2012

ações e os olhares, uma vez que surge a figura do especialista (do inglês expert) que desconsidera a problematização apresentada pelo espaço, os saberes e as visões de mundo em cada contexto.

Na contemporaneidade, a questão que se descortina é a seguinte: Como proble-matizar o risco de espaços vulneráveis através de uma gestão mecanicista, seja ela nas várias escalas do poder público (municipal, estadual, federal) ou nas organizações privadas?

Destarte, a “contingência” requer do planejamento e da gestão pública uma po-tencialidade de superar limites e fronteiras que perpassam as relações com a própria sociedade e o ambiente. Pressupõe, também, a conexão dos subsistemas nos vários níveis de escala e a possibilidade de transpor, o que já é efetivo na práxis. Logo, os processos envolvidos na análise sistêmica da gestão de risco se enredam por múltiplas dimensões, sejam elas econômicas, sociais, políticas, culturais, ambientais ou ainda espaço-temporais.

Completa-se que em uma pretensa gestão de risco ambiental, definido como um conjunto de escolhas e ações preventivas sobre o espaço onde existem ameaça (VEYRET, 2007) e considerando seu grande número de estados possíveis (configura-ções de usos do solo, percepção dos indivíduos e grupos, sistemas produtivos e acesso à informação), há um frágil equilíbrio efêmero das variáveis. Sobretudo, é funda-mental uma visão inter-relacionada do planejamento com vistas à problematização ao estabelecer inovações rompendo, por suposto, a fragmentação das ações e reflexões em relação ao espaço. Acredita-se, então, que a gestão de risco ambiental deve vir acompanhada do planejamento, o que pode gerar subsídios para a tomada de decisão.

Espaços híbridos: as tessituras dos múltiplos contextos entre o rural e o urbano envolvendo o Estado e o planejamento do território e a complexidade da gestão do risco ambiental

As análises sobre o espaço socialmente produzido transcendem, faz algum tem-po, o domínio de uma disciplina em especial, pois a sua complexidade se acentua quando se tem por objetivo a inter-relação dos processos. Os significados de urbano, rural e cidade vão além da concretude da realidade, uma vez que, na contemporanei-dade, suplantam os tradicionais referenciais econômico-setoriais.

Page 159: Revista TEE_ano18_n39_2012

336

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 323-343, jul./dez. 2012

Assim, o que se tem são recortes fluidos, situações complexas e contradições his-tóricas. Contudo, o que se pode é considerar o trabalhar com processos múltiplos e simultâneos. Conforme Milton Santos (2002), seriam rugosidades, isto é, formas, fun-ções, processos que ficam do passado que por isso corporificam a história, mas que estão em constantes modificações.

Admite-se o sistema urbano como um sistema aberto de contradições e que a(s) crise(s) advêm da própria construção histórica e social do espaço. É, de fato, uma cons-tatação frente às contingências empíricas e o engendrar das teorias. São duas constru-ções semânticas complexas: urbano e sistema. Mas qual crise deve ser imputada quan-do se refere ao sistema urbano? A crise que se constata, incluindo aí o espaço rural, é a da lógica capitalista, predominante, frente às necessidades sociais e os processos históricos? É uma crise epistemológica quanto ao objeto a ser pesquisado e entendido e, portanto, da relação entre teoria e problemas reais em relação à práxis?

Para Lefebvre (1999), são continuidades/descontinuidades que interagem. A so-ciedade urbana é, ao mesmo tempo, fato e tendência, orientação e virtualidade, su-plantou a concepção de cidade e seu processo histórico. Para o autor, a cidade foi conquistada pela “não-cidade”, a “anticidade”, a “desmesura”, isto é, o urbano. O decorrer do urbanismo anunciou o alvorecer do pensamento lógico econômico e, sem embargo, o crepúsculo da dialética? Lefebvre (1999), em sua linha dinâmica do tem-po, aponta o momentum da inflexão (do agrário para o urbano) e a implosão-explosão (concentração urbana, êxodo rural, extensão do tecido urbano, subordinação completa do agrário ao urbano?).

Benévolo (1981), por sua vez, nos instiga a revolver a história em busca da cidade em meio às grandes mudanças no decorrer da industrialização. A cidade; talvez seja correto falar em cidades; é o marco histórico mais perene na dramaturgia humana o catalisador das aspirações e contradições. Para além das distinções, sobre o conceito de urbano ou rural, não se deve admiti-los como significados isolados, mas como signifi-cantes dos processos de territorialização e representação do espaço.

Contudo, a noção de transposição de lógicas ou modos de vida, entre rural, urba-no e industrialização ou pós-industrialização, remete a uma constatação. Não há, no processo de urbanização, mudanças naquilo que de novo que se constrói, mas o aban-dono das chamadas estruturas tradicionais. Assim, o pensar o espaço urbano transita entre teorias e crises. Mas é possível, em parte, alinhavar uma resposta na ênfase em removerem-se as restrições “tradicionais” e pouca ênfase na urbanística. Para Benévo-lo (1981), o liberalismo no século XIX enfatizou com veemência a racionalidade econô-mica instrumental. Mas e os posicionamentos da “esquerda”? Por um lado, encontra--se a utopia, por outro, o debate em torno da práxis. A questão fundamental, segundo

Page 160: Revista TEE_ano18_n39_2012

337

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 323-343, jul./dez. 2012

Benévolo (1981), é o distanciamento da “esquerda” que nos conduz à alegação de que esse processo reforçou o aspecto técnico funcionalista em torno do pensar o espaço urbano e, por conseguinte, o rural empurrando a temática para o âmbito do conserva-dorismo europeu e da lógica econômica capitalista.

Entretanto, Lefebvre (2000) pode nos redimir ao confortar-nos com a preexistên-cia da cidade em relação à industrialização. Portanto, a complexidade é a tônica da urbanística quiçá a própria dialética ressurja ao confrontarmo-nos com a práxis do co-tidiano na cidade, principalmente, no âmbito da escala do lugar (local).

Singer (1973) aborda uma linha de raciocínio interessante ao valorizar mais o conteúdo do que a forma espacial em si. Para o autor, a origem da cidade se mescla, portanto, com a irrupção da sociedade de classes, a qual, contudo, a precede historica-mente. Espacialmente a cidade permite a coexistência de vários modos de produção. A fábrica, segundo o autor, é um fenômeno urbano, mas a industrialização é resultado do superdimensionamento da economia. Há na produção capitalista do espaço urbano uma estrutura geografizada por uma rede pública e privada de instituições econômi-cas e financeiras que controlam o mercado urbano. O termo mercado deve ser entendi-do no sentido lato, isto é, a precificação (valor de troca) dos processos, principalmente do uso e ocupação do solo e da terra e do próprio setor agrícola.

O processo econômico brasileiro, voltado para a acumulação muitas vezes subsi-diada pelo Estado, não desencadeou investimentos socioespaciais tanto no rural quan-to no urbano. Nesse sentido, ocorreu a negação do rural, refém da ideia do atraso, a partir da manutenção da estrutura fundiária concentradora e da retórica urbana vol-tada para a acumulação com base no processo de industrialização. Uma urbanização com acumulação de capital, principalmente, nos setores industriais e financeiros e cer-to populismo urbano (menosprezo pela produção social do espaço) contemporizando o processo de “implosão-explosão” da cidade.

O Estado, como sujeito da ação, predispõe o espaço à dimensão do planejamento, do controle, da integração e deveria aplacar as contradições de um sistema capitalista que barganha o acesso à utilização do espaço urbano ou rural. Há que se ponderar, nessa perspectiva. Se o Estado é objeto ao ser maleável à lógica econômica. Lojkine (1981) levanta uma questão contundente sobre a integração social. Quem a promove? O próprio Estado, a comunidade ou as instituições?

Em termos territoriais o Estado, principalmente, na escala municipal passa a ser refém do “dinamismo” da economia capitalista, especialmente, da renda da terra (do solo) nas áreas periurbanas com o avanço da urbanização. Topalov (1979) chama aten-ção para o fato de que a cidade é um produto da produção e não somente, de um mer-cado de consumo. Portanto, um valor de uso complexo onde cada parte articula um

Page 161: Revista TEE_ano18_n39_2012

338

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 323-343, jul./dez. 2012

sistema espacial. Assim, o Estado, na escala municipal, deveria agir como elemento amálgama na busca por aplacar as contradições. Para Topalov (1979), a contradição que se entende como basilar é a de que cada capital privado busca suas vantagens, mas ao fazer cria obstáculos para a formação dos efeitos úteis da aglomeração, o que gera, desta feita, um processo cego da concentração do capital quando o predomínio da lógica econômica é assegurado pela política.

Há no âmbito do espaço municipal uma valorização das coisas à custa da desva-lorização das pessoas, portanto, a imposição da acumulação de capital conduz ao esva-ziamento de sentido histórico. Essa constatação abrange tanto o espaço rural, quanto o urbano no caso brasileiro. Assim, à medida que a acumulação se sobrepõe aos in-teresses da sociedade, entendendo que entre eles se encontra a economia, o Estado, e mesmo as instituições e a própria sociedade, não reconhece a totalidade do município.

O planejamento no Brasil, desde os anos de 1960 (período da ditadura em espe-cial, mas, também, na contemporaneidade), consubstanciou-se a partir de, pelo menos, duas vertentes: 1) visava o projeto do “Brasil potência” e o corolário de investimentos econômicos e 2) apresentava um cunho militar voltado para o conceito de seguran-ça nacional. Assim, ambas as vertentes confluíam em direção ao autoritarismo. Tal-vez tenha sido um dos períodos de maior produção de processos de planejamento e, igualmente, de vultosas análises descontextualizadas. Há no planejamento territorial, seja urbano ou rural, certo cortejar com a ideia de ordenamento. O que faz lembrar Baudrillard (1991), ao analisar a fábula de Borges, sobre um dado império onde os cartógrafos desenhavam, minuciosamente, o mapa que acabava por encobrir o próprio território. Qual a relação? No Brasil a ordenação territorial antecede o próprio territó-rio através de uma miríade de legislações e normas que suplantam o plano, isto é, o planejamento é relegado ao esquecimento em prol das normas (burocracia taylorista e dos tipos ideais weberianos) e, na maioria dos casos, não encontra abrigo na realidade.

Monte-Mór (2003) analisa o arcabouço político-institucional do planejamento e evidencia o descompasso entre o ambiente institucional e a vida real no território municipal. Fica claro que o autoritarismo do período, antes de ser uma novidade no Brasil, rompeu o diálogo da práxis (ação política) entre os diversos atores sociais. O que parece temeroso, entretanto, não é reconhecer as mazelas de um planejamento autoritário, mas conviver com uma pseudodemocracia territorial.

Nesse escopo é comum subsumir armadilhas conceituais e de ações com vistas a minimizar as contradições e o reconhecimento de concepções antagônicas. Alega--se que há uma tendência de se trabalhar em uma perspectiva espacializada, isto é, o espaço como continente uma forma sem conteúdo socialmente produzido a partir de simples reflexões das relações sociais de produção. Muito diferente de uma análise

Page 162: Revista TEE_ano18_n39_2012

339

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 323-343, jul./dez. 2012

socioespacial que considera a produção social do espaço e todas as variáveis que ad-vêm desse processo.

Choay (1979), a seu turno, chama a atenção para as duas vertentes predominantes sobre o espaço, a culturalista e a progressista/racionalista, sendo esta a que tem mais repercussão no caso brasileiro. É possível que, no Brasil, a análise socioespacial seja substituída pela imposição da ideia de progresso, o que, teoricamente, justificaria a prática de planejamento e gestão descontextualizada, portanto, sem a práxis.

Assim, o espaço municipal se configurou e se configura como o embate entre o público e o privado, tendo o Estado e a sua burocracia impregnada de agentes que visam os interesses particulares e o setor privado que reforça, via discurso da pro-priedade, a necessidade de expansão da demanda descolada da totalidade. Logo, são parcelas do solo urbano ou rural que, a partir da demanda, se caracterizam em pseu-doconfigurações do espaço, pois, não há uma interação com o todo do município.

É preciso chamar a atenção para a importância do papel do Estado e a sua pos-sível omissão quanto à dimensão espacial. De fato a tensão entre público (coletivo) e privado parece ser, momentaneamente, resolvida quando o cidadão vislumbra a pro-priedade (lote, casa, apartamento, terreno, isto é, a terra) como uma forma de fazer parte da cidadania. Destarte, o acesso ao espaço se faz via propriedade o que, poderia explicar a “omissão” do Estado, por um lado e a “lógica da desordem” a partir dos in-teresses do capital imobiliário no espaço urbano e da lógica da concentração fundiária no espaço rural. Não há, portanto, uma dialética da práxis espacial.

Entretanto, há perspectivas que se vislumbram, na contemporaneidade, uma vez que o “espaço vivido” traz ao território novos problemas e questões. Mesmo que sejam novas-velhas questões retrabalhadas, o que denota certa insatisfação com a falta de um plano, de um plano de ação nas diversas escalas: municipal, estadual e federal.

Mas qual seria o papel do Estado? Há certa informalidade espacial nas cidades brasileiras que demonstra uma racionalidade construtiva tanto de foro popular, quan-to de aspectos que tangem a renda da terra e certa neutralidade técnica do planeja-mento, em relação à produção social do espaço. Qual seria, portanto, a ordem no caso brasileiro? As similaridades do não entendimento da práxis do espaço podem trazer em seu escopo uma lógica, isto é, a produção do espaço distanciada da realidade so-cial? Contudo, seriam virtualidades de uma lógica ou a imposição de uma ordem tanto para o espaço urbano, quanto para o espaço rural?

A questão abrange as ações da sociedade, por um lado, os modelos teóricos por outro e a coordenação por parte do Estado entre o público e o privado. Há, contudo, a questão de escala: uma tensão entre a escala microssocial (cotidiana) e a macrossocial (aspectos econômicos e interesses globalizantes e, também, uma perspectiva cotidia-na). Em meio a essa complexidade dinâmica surge a figura do expert, que atua como um tomador de decisão (tanto no espaço urbano, quanto rural) distante da realidade, mas amparado por modelos matemáticos. Assim, surge uma questão aterradora: cami-nhamos da contradição ao funcionalismo?

Page 163: Revista TEE_ano18_n39_2012

340

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 323-343, jul./dez. 2012

De tão amplo que é o espectro desse holograma socioespacial (onde as partes estão inscritas no todo e vice-versa), incorremos em certa angústia ao constatar que as partes tendem, de forma sub-reptícia, a suplantar o todo, isto é, a própria totalidade espacial. O urbano passa a predominar, como lógica capitalista, sobre o conceito de espaço, seja em relação ao rural ou mesmo à cidade. Mas talvez o único elemento que parece sobreviver, mais fortemente, da diferenciação rural-urbana é o menor tamanho dos aglomerados populacionais no rural o que não quer dizer muita coisa a não ser confirmar o óbvio.

Considerações fi naisReiteramos que o espaço é um recurso único: sua disponibilidade ocorre por um

processo de conhecimento e nenhuma atividade humana pode ser realizada sem sua apropriação permanente ou temporária. Portanto, a maneira de se colocar um proble-ma de gestão de risco do sistema sociedade-ambiente depende, em parte, da represen-tação que os atores sociais fazem dos potenciais riscos e recursos.

A implantação de medidas sustentáveis é um processo emergente graças às co-municações entre os atores sociais, às informações divulgadas e, principalmente, às vontades política e social. Dentre essas medidas, o planejamento pode ser considerado como uma ação preventiva, pois favorece a justiça ambiental e o direto universal ao espaço urbano ou rural.

Para um planejamento mais eficiente, há que se assegurar que os diversos planos implementados devem considerar a dinâmica urbana ou rural de um contexto, eis que para que a teoria possa se tornar prática, o engajamento dos atores sociais é necessário a uma gestão de risco mais eficiente e eficaz.

Nessa perspectiva, este artigo sugeriu uma gestão do risco ambiental a partir de perspectiva espacial articulada, tanto pelos poderes multiescalares, quanto pelas ins-tituições em um território. Para uma gestão de risco ambiental, em uma perspectiva socioespacial, pressupõe-se a ocorrência de pelo menos três condições.

1) Considerar o conhecimento sicioespacial de uma realidade urbana ou rural.2) Desenvolver um processo de ensino-aprendizagem sobre o ambiente, en-

tre os diferentes atores sociais que atuam no espaço. 3) Desenvolver uma percepção integrada do espaço (produção social).

Considera-se que para reduzir o risco ambiental, o planejamento e a gestão de-vem levar em conta os múltiplos elementos da realidade e, por isso, a análise deve ser socioespacial. De fato, a gestão e o planejamento do espaço considerar a dimensão econômica, mas principalmente satisfazer o bem-estar das comunidades que vivem e trabalham em um determinado lugar.

Page 164: Revista TEE_ano18_n39_2012

341

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 323-343, jul./dez. 2012

SYSTEM ENVIROMENT-SOCIETY: SOCIO-SPATIAL PERSPECTIVE IN ENVIRONMENTAL RISK

MANAGEMENT

AbstractThis article proposes a discussion on the prospect of a risk management system of the socio-spatial Society-Environment from multiple variables, both economic, social, political, cultural and natural. For this proposition it is necessary to address risk and vulnerability, such basic concepts as well as the notion of space and the question of scale as fundamental elements of risk perception. The environmental risk is embroiled in planning and management of the ter-ritory that invites us to elaborate on the elements of decision making. The work stems from research to dissertation in 2011.

Keywords: Planning. Public Policy. Vulnerability.

SISTEMA SOCIEDAD - MEDIO AMBIENTE: PERSPECTIVA SOCIOESPACIAL EN GESTIÓN

DE RIESGOS AMBIENTALES

ResumenEn este trabajo se propone un debate desde la perspectiva del sistema de gestión de riesgos socio-espacial Sociedad-Medio Ambiente de múltiples variables, los dos. Económico, social, político, cultural y natural Para este propósito, es necesario abordar el riesgo y la vulnerabi-lidad, conceptos tan básicos, así como la sensación de espacio y escala como elementos clave de la percepción del riesgo. El riesgo ambiental se enreda para la planifi cación y gestión de la tierra que nos invita a hablar sobre los elementos de la toma de decisiones. El trabajo se basa en investigaciones para tesis en 2011.

Palabras clave: Planifi cación. La política pública. La vulnerabilidad.

Page 165: Revista TEE_ano18_n39_2012

342

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 323-343, jul./dez. 2012

Referências

BARTHES, Roland. Elementos de semiologia. 13. ed. São Paulo: Cultrix, 2000.BENEVOLO, Leonardo. Orígenes del urbanismo moderno. Madrid: Celeste Ediciones, [1963] 1994.BLAIKIE Piers; CANNON, Terry; DAVIS, Ian; BLAIKIE, Wisner. At risk, natural hazards, people's vulnérability and disasters. London: Routledge, 1994.BRAGA, Tania M. Risco e confl ito ambiental sob o signo da (mono)indústria: um estudo sobre políticas ambientais na bacia do Rio Piracicaba (MG). In: TORRES, Haroldo G.; Costa, Heloísa S. M. (Org.) População e meio ambiente: debates e desafi os. São Paulo: Senac, 2000. p. 327-348. BRANDÃO, Ana Maria P. M. Clima Urbano e Enchentes na Cidade do Rio de Janeiro. In: GUERRA, Antonio José Teixeira; CUNHA Sandra Baptista da (Org.). Impactos ambientais urba-nos no Brasil. 5. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009. p. 47-95.CASTRO, Iná E. O problema da escala. In: GOMES, Paulo César da; CORRÊA, Roberto Lobato (Org.) Geografi a: conceitos e temas, 11. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008. p. 117-139. CHOAY, François. O urbanismo. Utopias e realidades. Uma antologia. São Paulo: Perspectiva, 1979.COELHO, Maria C. N. Impactos ambientais em áreas urbanas – teorias, conceitos e métodos de pesquisa. In: GUERRA, Antonio José Teixeira; CUNHA Sandra Baptista da (Org.) Impactos Ambientais Urbanos no Brasil. 5.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009. p. 19-45.CHRISTOFOLETTI, Anderson Luís Hebling. Sistemas dinâmicos: as abordagens da teoria do caos e da geometria fractal em geografi a. In: VITTE, Antonio Carlos; GUERRA, Antonio José Teixeira (Org.). Refl exão sobre a geografi a física no Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007, p. 89-110. DOMINGUES, Ivan (Org.). Conhecimento e transdisciplinaridade. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2001.ESCOBAR, Arturo. Encountering development: the making and unmaking of the third world. Princeton: Princenton University Press, 1995.FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido, 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.HABERMAS, Jürgen. New social movements. Telos, n° 49, 1981.HOGAN, Daniel. População e meio ambiente. Campinas: Universidade de Campinhas, 1989.______; MARANDOLA, Eduardo Jr. População e mudanças climáticas: Dimensões humanas das mudanças ambientais globais. Campinas: Núcleo de Estudos de População e Universidade Es-tadual de Campinas, 2009a.______; MARANDOLA, Eduardo Jr. Vulnerabilidade do lugar VS. Vulnerabilidade sociodemográfi ca: implicações metodológicas de uma velha questão. Revista Brasileira de Estudos Populacionais, Rio de Janeiro, v. 26, n. 2, p. 161-181, jul./dez. 2009b.JOHNSTON, Ronald J. Geografi a e geógrafos. São Paulo: DIFEL, 1986.KOWARICK, L. A espoliação urbana. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.LEFEBVRE, Henri. A revolução urbana. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1999.

Page 166: Revista TEE_ano18_n39_2012

343

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 323-343, jul./dez. 2012

LOJKINE, J. O estado capitalista e a questão urbana. São Paulo: Martins Fontes, 1981.MONTE-MÓR, Roberto. L. Planejamento urbano no Brasil: emergência e consolidação. Etc... espa-ço, tempo e crítica, v. 1, n. 1. 2007.OSTROM, Elinor; GARDNER, Roy, WALKER, James. Rules, games and common-pool resources. Ann Arbor: Michigan University Press, 1993.SANTOS, Milton. O espaço e seus elementos: questões de método. Revista Geografi a e Ensino. Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 19-30, mar. 1982.______. Metamorfose do espaço habitado. São Paulo: Editora Hucitec, 1997.______. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Edusp, 2002.SINGER, P. Economia política da urbanização. São Paulo: Brasiliense, 1973.SMITH, Keith. Environmental hazards: Assessing Risk And Reducing Disaster. London: Routldge, 2001.TOMINAGA, Lídia Keiko; SANTORO, Jair; AMARAL, Rosangela. Desatres naturais: Conhecer para prevenir, 1. ed. São Paulo: Instituto Geológico. 2009.TOPALOV, C. La urbanizacion capitalista: algunos elementos para su analisis. México: Edicol, 1979. TORRES, Haroldo G. A demografi a do risco ambiental. In: TORRES, Haroldo G.; COSTA, He-loisa S. M. População e meio ambiente: debates e desafi os. São Paulo: Ed. Senac, 2000.VEYRET, Yvette (Org.). Os riscos: o homem como agressor e vítima do meio ambiente. São Paulo: Contexto, 2007.

Page 167: Revista TEE_ano18_n39_2012

344

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 344-371, jul./dez. 2012

A estruturação e a gestão do capital intelectual a partir do modelo de

navegador de Stewart: um estudo em uma instituição de

ensino superior (IES)

Faisal Medeiros Awad*

Jorge Oneide Sausen**

Daniel Demarchi***

Resumo

Este artigo tem o escopo de analisar a estruturação/gestão do capital intelectual em uma Instituição de Ensino Superior Comunitária através do modelo de navegador de Stewart. A utilização desse modelo se justifi ca em razão de que o capital intelectual constitui matéria intelectual e que pode ser utilizada para gerar riqueza dentro das organizações e, principal-mente, em uma IES. A pesquisa quantitativa abordou as percepções que os sujeitos possuem sobre o capital intelectual da instituição. Os dados analisados revelam que a IES apresenta uma regular gerência do seu capital intelectual, efetivando ações de caráter estratégico em sua gestão, bem como a satisfação do cliente e valorização da marca. Por outro lado, ela apresenta preocupação quanto à capacidade de sustentabilidade econômico-fi nanceira que viabiliza os projetos e atividades institucionais. O capital intelectual da IES está estruturado basicamente pela gestão do conhecimento, visto que esta é uma organização intensiva em conhecimento e que este é o principal e mais importante ativo que a instituição possui. Com base no conheci-mento existente no quadro funcional e na sua estrutura, a instituição busca geri-lo de forma que este seja seu principal fator e diferencial competitivo.

Palavras-chave: Capital intelectual. Modelo de navegador de Stewart. Universidade. Vanta-gem competitiva.

Submissão: 09/10/2012. Aceite: 02/01/2013

* Mestre em Desenvolvimento pela Unijui. Professor da Faculdade de Ciências Econômicas, Adminis-trativas e Contábeis da Universidade de Passo Fundo.

** Pós-Doutor em Administração pela EBAPE. Professor titular no programa de Stricto Sensu em Desenvolvimento pela Unijui.

*** Mestre em Desenvolvimento pela Unijui. Professor da Faculdade de Ciências Econômicas Adminis-trativas e Contábeis da Universidade de Passo Fundo.

Page 168: Revista TEE_ano18_n39_2012

345

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 344-371, jul./dez. 2012

IntroduçãoA todo o momento o mundo é assolado por crises de ordem econômica e essas

interferem diretamente no desempenho das organizações. Faz-se necessário pensar a administração para além do desempenho, uma vez que apenas ele não se configura em uma vantagem competitiva sustentável. Em razão disso, tem surgido nos últimos anos um conjunto significativo de modelos e teorias que demandam, pela complexida-de apresentada no ambiente de negócios, perspectivas de análise diferentes daquelas realizadas até agora.

Dessa forma, os objetivos deste estudo estão pautados em estruturar e mensurar o valor do capital intelectual em instituições de ensino superior com base no navegador de capital intelectual de Stewart (1998); bem como em identificar as potencialidades e os fatores críticos referentes à gestão do capital intelectual em instituições de ensino superior e em refletir sobre a gestão do capital intelectual em organizações do tipo uni-versidade, que possam potencializar a gestão desse recurso estratégico e constituir-se em vantagem competitiva no mercado do ensino superior.

A capacidade de interpretar várias realidades dentro da organização, tornando-a mais flexível ao mercado e a ela própria (no sentido de aprender a aprender), encontra--se no capital intelectual e esse em uma nova vantagem competitiva das organizações contemporâneas (STEWART, 1998), da mesma forma que o é para as universidades (VELOSO, 1998). Porém, em organizações intensivas em conhecimento (OIC), como é o caso das IES do tipo universidade, por vezes esse conhecimento fica retido intramu-ros, apenas no meio acadêmico, e quando é divulgado precisa ser protegido (COUTO, 2010). As atividades de pesquisa, por exemplo, não são realizadas em todas as uni-dades de ensino da IES, ficando restritas a alguns condicionantes (professores com características de pesquisador e cursos que estão contemplados dentro da unidade) tornando essas organizações menos “agressivas” no mercado. Talvez o comportamen-to estratégico das universidades explique as razões pelas quais elas são formadoras de capital intelectual para terceiros, mas elas próprias estão perdendo seu capital hu-mano, pois não possuem estratégias para retê-los, aproveitando seus conhecimentos (ZAMBERLAN et al, 2005).

Assume-se como pressuposto teórico que se faz necessário, por parte da universi-dade, criar condições para que esse capital intelectual possa ser alavancado e utilizado na melhoria da performance da IES, com vistas à sustentabilidade pelo capital intelec-tual na perspectiva de suas três dimensões (humana, estrutural e cliente).

A importância da gestão do capital intelectual para uma universidade se dá pela constante busca em criar condições institucionais favoráveis à construção de espaços

Page 169: Revista TEE_ano18_n39_2012

346

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 344-371, jul./dez. 2012

democráticos de aprendizagem, de aperfeiçoamento acadêmico, de qualificação nos relacionamentos e nos processos de interação com a sociedade e, principalmente, pelo seu propósito em promover o desenvolvimento regional. Tal propósito se sustenta na oferta de serviços de educação superior capazes de fomentar a inovação e o desenvol-vimento tecnológico em todas as áreas do conhecimento. Contudo, questiona-se como está estruturado o capital intelectual em universidades e como elas podem gerenciar esse capital intelectual enquanto recurso estratégico.

O presente artigo está estruturado em cinco partes. Após esta, de caráter intro-dutório, a parte dois apresenta o referencial teórico; a parte três, a metodologia; a qua-tro contempla as análises dos resultados; a parte cinco traz as conclusões e, por fim, apresentam-se as referências.

Referencial teóricoNeste artigo, a estrutura teórica leva em consideração a necessidade de, em um

primeiro momento, abordar temáticas inerentes à natureza da organização universi-tária, já que o presente estudo foi aplicado em uma universidade comunitária. No segundo momento, procurou-se apresentar o enfoque do capital intelectual e o modelo de navegador proposto por Stewart (1998), que serviu de base para identificar o capital intelectual em uma instituição de ensino superior comunitária.

O país está diante do desafio e da oportunidade de construir uma nova concepção de Estado e de novas relações deste com a sociedade civil e o mercado. Nem estadis-mo, nem estado mínimo. Em tempos de Estado remodelado, é imperioso assegurar a vitalidade da sociedade civil e avançar no caminho da cooperação. No entanto, não se pode pensar em desenvolvimento sem antes pensar em desenvolver pessoas. É nessa ótica que o ensino superior deve ser encarado como um elo importante na ação de provocar o desenvolvimento. E é nesse novo modelo de Estado, preocupado com o desenvolvimento, que as IES comunitárias estão inseridas, não mais como uma “sim-ples” formadora de mão de obra especializada, mas como uma agente de mudanças, de transformações e de desenvolvimento.

Uma universidade comunitária se identifica e se legitima na ação de interligar as atividades de ensino, pesquisa e extensão, direcionando a transformação social e a promoção da cidadania. Seu compromisso deve ser para além de seus próprios mu-ros. Uma organização universitária não deve ter um fim em si mesma, sua geração de conhecimento deve avançar ao encontro dos anseios da comunidade aonde ela deve estar inserida.

Page 170: Revista TEE_ano18_n39_2012

347

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 344-371, jul./dez. 2012

A partir dessa base, pode-se dizer que uma organização é o reflexo dos indivídu-os que a compõem, com seus filtros, saberes e história de vida de cada um dos seus co-laboradores. Organizações são sistemas abertos e, por isso, sofrem influência do meio, mas também o influenciam, então, o que determina os níveis de sucesso ou fracasso de uma empresa é, a priori, seu capital intelectual, dentro de suas três dimensões, capital humano, estrutural e cliente, e a forma como a organização se utiliza disso para inte-ragir com o mercado.

Para Stewart (1998, p. 53), “a gestão do capital intelectual é como um oceano re-cém descoberto, que ainda não consta no mapa, e poucos executivos entendem suas dimensões ou sabem como navegá-lo”.

A forma como as organizações se relacionam com seu mercado nunca fora tão debatida, os avanços tecnológicos proporcionados pela pesquisa nessas instituições já não garantem mais sua sobrevivência num contexto mercadológico marcado pela in-tensificação de suas relações com todos seus stakeholders. Possuir infraestrutura no que concerne a boas instalações físicas, acervo bibliográfico e corpo docente qualificado – dimensões que invariavelmente agem separadamente – já não sustentam mais uma performance positiva em seu segmento alvo.

Na visão de Nahapiet e Ghoshal (1998), o capital intelectual tem sido visto como a principal fonte de vantagem competitiva sustentável, ao ser de difícil imitação, espe-cífico, raro e valioso para as organizações. Ele depende das relações de confiança que constroem o capital social, presentes nas relações sociais de um grupo ou comunidade, pautadas na confiança, permitindo que se alcancem objetivos comuns.

É posto que vivemos em uma sociedade baseada no conhecimento, a tecnologia até então faz a diferença, mas hardwares e/ou softwares sofisticados estão, hoje, ao alcance de todos, portanto, o diferencial, a vantagem competitiva que irá sustentar as organizações em seu mercado de atuação passa a ser o ser humano, ou seja, o capital intelectual da empresa e como ela gerencia esse ativo intangível. Faz-se necessário que principalmente as organizações intensivas em conhecimento saibam gerenciar essa mudança de paradigma.

Diante disso, destacam-se, então, dentro do universo do capital intelectual, três modelos de mensuração, a saber: modelo de Edvinsson e Malone; modelo de Sveiby e modelo de navegador de Stewart. Neste artigo se dará ênfase ao modelo de navegador de Stewart.

Os métodos que ajudarão na mensuração do capital intelectual podem (e devem) ser diferenciados (ajustados) e desenvolvidos de acordo com as características de cada organização. Esses métodos devem apresentar eficiência e clareza em sua medição, utilizando indicadores iguais em todas as suas dimensões.

Page 171: Revista TEE_ano18_n39_2012

348

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 344-371, jul./dez. 2012

No entendimento de Stewart (1998), quando o mercado de ações avalia organi-zações em três, quatro ou dez vezes mais que o valor contábil de seus ativos, está contando uma verdade simples, porém profunda: os ativos físicos de uma organização baseada no conhecimento contribuem muito menos para o valor de seu produto (ou serviço) final do que os ativos intangíveis.

A orientação de Stewart (1998) vai mais além e tenta tangibilizar o que significa capital intelectual dentro de uma organização, indicando que a inteligência torna-se um ativo quando cria uma ordem útil a partir de capacidade intelectual geral – ou seja, quando assume uma forma coerente (uma mala direta, um banco de dados, uma agenda para uma reunião, a descrição de um processo); quando capturada de uma forma que permite que seja descrita, compartilhada e explorada; e quando aplicada a algo que não poderia ser realizado se continuasse fragmentado como moedas em um bueiro. O capital intelectual é o conhecimento útil em nova embalagem.

Na mesma linha de pensamento, Edvinsson e Malone (1998) entendem que a me-lhor maneira de compreender o que significa capital intelectual seja por meio de uma metáfora. Se considerarmos, então, que uma empresa é um organismo vivo podemos relacioná-lo com uma árvore. A Figura 1 se apresenta como base para elucidar essa perspectiva. As partes visíveis da árvore, tronco, galhos, folhas podem ser comparadas aos relatórios anuais, demonstrativos financeiros, notas explicativas, organogramas e outros documentos que procuram dar a posição econômico-financeira de uma em-presa. O fruto gerado pela árvore representa os lucros e os produtos da empresa. As raízes, que se encontram abaixo da superfície terrestre, representam o valor oculto, o capital intelectual, que se encontra na parte invisível da empresa. “Para que a árvore floresça e produza bons frutos, ela precisa ser alimentada por raízes fortes e sadias.”

Page 172: Revista TEE_ano18_n39_2012

349

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 344-371, jul./dez. 2012

Fonte: Edvinsson e Malone (1998, p. 9-10).

Figura 1: Metáfora do Capital Intelectual

Dessa forma, Edvinsson e Malone (1998) comentam que a metáfora do capital intelectual realizado através da árvore demonstra o quanto uma organização necessita de recursos (raízes) sadios que a fortaleçam e a tornem diferente, já que levam em con-sideração que a gestão dos ativos intangíveis dentro de uma organização é de extrema importância tanto quanto os recursos materiais.

Stewart (1998) revela ainda que o conhecimento tornou-se a principal matéria--prima e resultado da atividade econômica, ou seja, pessoas deixaram de ser meros coadjuvantes dentro da organização assumindo o papel principal. Assim, apresentam--se três modelos que oferecem uma ideia de como entender e mensurar o capital inte-lectual dentro de uma organização.

Modelo de capital intelectual de Edvinsson e Malone

O modelo de capital intelectual, criado por Edvinsson e Malone (1998) em con-junto com a equipe da Skandia (companhia de seguros e de serviços financeiros na Escandinávia), serviu de parâmetro para a organização emitir relatórios sobre o capital

Page 173: Revista TEE_ano18_n39_2012

350

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 344-371, jul./dez. 2012

intelectual. “O ponto central do modelo fundamenta-se na ideia de que o valor real do desempenho de uma organização estava em sua habilidade para criar valor sustentá-vel pela adoção de uma visão empresarial e de sua estratégia resultante” (EDVINS-SON; MALONE, 1998, p.15).

Na visão de Maurer (2008), a não mensuração do capital intelectual em relação às informações financeiras cria maior liberdade no momento de estabelecer os critérios de mensuração. A definição do processo de mensuração do capital intelectual dar--se-ia pelo desmembramento de seus componentes até que sejam atingidos os itens analíticos que o formam.

No modelo proposto por Edvinsson e Malone (1998) o foco é financeiro, o qual inclui análise do balanço patrimonial, constituindo o passado da organização, uma medida exata de onde ela estava em um momento específico. Nesse sentido, as ênfa-ses no cliente e no processo representam a sustentação da organização, sendo que o primeiro avalia uma categoria distinta, que é o cliente, e o segundo avalia a estrutura organizacional correspondendo ao capital estrutural. E, por fim, discute-se a base da organização, representada pelo foco na renovação e desenvolvimento. Os índices para essa análise medem a qualidade do preparo da organização para o futuro, por meio de treinamento da equipe funcional, do desenvolvimento de novos produtos e de ações semelhantes, bem como na eficácia com que a organização conduz o processo de aban-dono do passado obsoleto; é um processo em prol da renovação da linha de produ-tos e serviços, da desistência de realizar investimentos em mercados decadentes entre outras ações estratégicas que provocam a renovação. Os autores também incluem nas análises novos ambientes de negócios nos quais a organização poderá operar em razão de suas competências.

O último, o foco humano, representa a parte da organização constituída de seus funcionários e suas competências, capacidades e habilidades que devem estar em constante atualização e à disposição da mesma. O foco humano é o centro da entidade, a inteligência ou a única força ativa na organização que alcança todas as outras regiões do capital intelectual.

Modelo de capital intelectual de SveibyPara avaliar o capital intelectual, Sveiby (2000) joga com vários conceitos quando

fala do peso dos ativos intangíveis na economia de uma organização. Sua conclusão: os ativos baseados no conhecimento devem ser avaliados com extrema cautela, porque seu impacto sobre o destino de qualquer negócio é tremendo. Em sua opinião, muito mais do que contribuir para a valorização total da organização, o conhecimento é a

Page 174: Revista TEE_ano18_n39_2012

351

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 344-371, jul./dez. 2012

base de sua estrutura interna e externa, junto com os outros dois intangíveis – os clien-tes e os fornecedores.

Nesse sentido, Sveiby (1998) desenvolveu uma metodologia que tem como obje-tivo criar um sistema de gerenciamento de informações para os gestores da organiza-ção. A mesma metodologia serve também para atender as necessidades dos clientes, credores e acionistas. O autor subdividiu a avaliação do capital intelectual em com-petência das pessoas (conhecimento nas pessoas), estrutura interna (conhecimento na organização) e estrutura externa (conhecimento no cliente).

No entendimento de Sveiby (1998), o problema não está relacionado em criar for-mas de avaliar os resultados e sim em como interpretá-los. A avaliação, de um modo geral, para Maurer (2008) envolve a tentativa de identificar os fluxos que mudam ou, por outro lado, influenciam o valor de mercado dos ativos. Se considerar o balanço patrimonial visível, são três as quantidades a serem avaliadas: estrutura interna, es-trutura externa e a competência do pessoal. O Quadro 1 descreve o monitor de ativos intangíveis identificando os indicadores de cada quantidade avaliada.

Fonte: Sveiby (1998, p. 197).

Quadro 1: Indicadores de avaliação

Segundo Sveiby (1998), o monitor de ativos intangíveis é um formato de apresen-tação que exibe, de forma simples, uma série de indicadores relevantes, que propor-cionam à organização visualizar o desempenho dos ativos intangíveis. A escolha dos indicadores depende da estratégia organizacional, podendo ser utilizados para fins de acompanhamento de uma estratégia orientada para o conhecimento.

Nesse sentido, Stewart (1998) afirma que o capital intelectual é a soma do co-nhecimento de todos os capitais da organização, o que lhe proporciona vantagem

Page 175: Revista TEE_ano18_n39_2012

352

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 344-371, jul./dez. 2012

competitiva. Ao contrário dos ativos, com os quais os empresários e contadores estão familiarizados – propriedade, fábricas, equipamentos, dinheiro –, o capital intelectual é intangível.

Modelo de navegador de capital intelectual de Stewart

Necessário evidenciar que será este modelo que servirá para a avaliação neste trabalho. Stewart (1998) criou o navegador de capital intelectual, conforme demonstra a Figura 2, com três dimensões: capital humano, capital estrutural e capital cliente. O autor sugere ainda três indicadores para cada dimensão, mas também esclarece que fica a critério da organização o número de indicadores, definição que dependerá de quais informações a organização irá precisar.

Fonte: Stewart (1998, p. 219).

Figura 2: Navegador do capital intelectual de Stewart

O navegador de capital intelectual proposto por Stewart (1998) possui um forma-to de radar, um círculo com linhas que saem da extremidade e se encontram no centro. Stewart (1998) sugere que se marque em cada eixo uma escala relevante, podendo ocorrer variação nessas escalas, no entanto, para a maioria das medidas, coloca-se zero

Page 176: Revista TEE_ano18_n39_2012

353

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 344-371, jul./dez. 2012

no centro do gráfico, ou seja, a medida cresce do centro para fora, mas também se pode fazer o inverso.

Procedimentos metodológicosTrata-se de um estudo de caso em que se procurou realizar uma análise sobre

a estrutura e a gestão do capital intelectual em uma Instituição de Ensino Superior Comunitária através da utilização do modelo de navegador de Stewart (1998), consi-derando as três dimensões, quais sejam: capital humano, capital estrutural e capital cliente.

Yin (2001) descreve que o estudo de caso se diferencia de outras técnicas de pes-quisa, pois lida com várias evidências, tais como: documentos, entrevistas e observa-ções, que contribuem para a análise de acontecimentos contemporâneos, destacando que “o estudo de caso contribui, de forma inigualável, para a compreensão que temos dos fenômenos individuais, organizacionais, sociais e políticos”.

Dado a natureza da pesquisa ser quantitativa, para a coleta de dados optou-se pela aplicação de questionários. Para tanto, elegeu-se o público interno da IES Comu-nitária como população do estudo, formada pelos membros da reitoria, diretores de unidades e diretores de campi. Esses três grupos responderam ao questionário por meio eletrônico.

Já para os coordenadores de curso, professores e funcionários da IES foi realizada uma pesquisa com aplicação de questionário. O questionário aplicado aos seis grupos explora as três dimensões propostas por Stewart (1998). Foram pesquisados 642 indiví-duos pertencentes à universidade no período compreendido entre agosto e novembro de 2009. Dos questionários enviados por meio eletrônico obteve-se o seguinte retorno: no grupo reitoria, dos cinco questionários enviados o retorno foi de quatro; dos doze diretores de unidade o retorno foi de nove; dos cinco diretores de campi o retorno foi de quatro. Já no que concerne aos questionários aplicados, obtiveram-se os seguintes números: coordenadores de curso (52); professores (278) e funcionários (295).

A coleta dos dados também se deu por meio de pesquisa bibliográfica que, segun-do Gil (1999), é desenvolvido com base em material já elaborado, constituído princi-palmente de livros e artigos científicos. Utilizou-se também de pesquisa documental, através de documentos oficiais, registros e arquivos, neste caso, a história de inserção da IES em sua região de abrangência.

A composição das medidas de análise utilizadas na pesquisa seguiu os parâme-tros representados pelo gráfico das medidas do radar de capital intelectual de Stewart (1998), retratados na Figura 3.

Page 177: Revista TEE_ano18_n39_2012

354

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 344-371, jul./dez. 2012

Fonte: Adaptado de Stewart (1998).

Figura 3: Proposta do navegador do capital intelectual para a IES

Stewart (1998) desenvolveu o navegador do capital intelectual relacionando as três principais classificações deste: o capital humano, o capital estrutural e o capital do cliente, sendo este uma ferramenta de navegação que mostra onde a organização se encontra e para onde deve se dirigir.

Dessa maneira, os dados e informações coletados possibilitam a visualização de um perfil de como se encontra a instituição estudada e qual o caminho que a mesma deverá percorrer tendo em vista o estudo do seu capital intelectual como uma vanta-gem competitiva. O gráfico apresentou, em sua totalidade, nove indicadores (ques-tões), que serviram de base para o levantamento das medidas do capital intelectual da instituição avaliada. Para análise dos dados utilizou-se a Escala Likert de 1 a 5, tendo 1 o conceito de muito fraco; 2, fraco; 3, regular ; 4, bom e 5 muito bom.

Dessa maneira, os dados e as informações coletadas possibilitam que seja traçado um perfil de como se encontra a Instituição estudada e qual o caminho que esta deverá percorrer tendo em vista o estudo do seu capital intelectual como uma vantagem com-petitiva. Por fim, para chegar aos resultados do estudo, definiram-se as fases seguin-tes, configurando o design da pesquisa, como ilustra a Figura 4.

Page 178: Revista TEE_ano18_n39_2012

355

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 344-371, jul./dez. 2012

Fonte: Elaborado pelo pesquisador.Figura 4: Design da pesquisa

Page 179: Revista TEE_ano18_n39_2012

356

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 344-371, jul./dez. 2012

Apresentação dos resultados: medidas do capital intelectual no caso estudado

Ao se analisar o capital humano como um todo e considerando as repostas dos seis grupos pesquisados, constatou-se que, como apresentado no Quadro 2, as médias obtidas se mantêm em um mesmo padrão para cada quesito analisado. A questão que se refere ao grau de qualificação dos colaboradores teve como média geral 4,29, ou seja, para os grupos pesquisados, esse quesito, de acordo com os parâmetros impostos por esta pesquisa, recebeu conceito bom.

Já para a questão que analisa a capacidade de oferta de novos produtos/serviços a média geral ficou em 3,64, ou seja, para os indivíduos pesquisados esse quesito está apenas regular. A última questão da pesquisa que se refere ao grau de envolvimento e comprometimento dos colaboradores ensejou uma média geral de 3,51, ou seja, essa questão para os grupos pesquisados é apenas regular. Nota-se, no entanto, que essa última questão teve sua média elevada quando se somou a ela o que pensam os cola-boradores da Universidade.

Fonte: Dados da pesquisa.Quadro 2: Média do capital humano na IES

No que tange ao desvio padrão, pode-se dizer o mesmo, houve pouca variância entre as respostas dos pesquisados. Percebe-se na questão que relaciona o grau de qualificação profissional do colaborador que esta foi a que recebeu maior avaliação e um desvio padrão menor, demonstrando que é o item mais importante mencionado na avaliação dos pesquisados.

Ao analisar as médias do capital humano na IES, obtidas através da aplicação dos questionários aos grupos já identificados, essas mostram claramente a preocupação

Page 180: Revista TEE_ano18_n39_2012

357

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 344-371, jul./dez. 2012

da instituição com relação ao seu corpo docente e de funcionários técnicos administra-tivos, refletidas no grau de qualificação profissional de seus colaboradores, como se pode visualizar na Figura 5.

Nesse sentido, Stewart (1998, p. 145) entende que, para criar capital humano, uma organização precisa estimular o trabalho em equipe. O talento individual, apesar de possuir valor, não pertence mais à organização após o expediente de trabalho. Por essa razão, a gestão do capital humano de uma organização implica investimentos na qualificação do quadro de pessoal. No caso da IES em análise, ocorre (de acordo com as políticas institucionais e capacidade financeira) investimento na qualificação pro-fissional dos professores através de políticas internas para que os mesmos obtivessem os títulos de mestre e/ou doutor. Ainda, também é necessário investimentos para a capacitação da equipe técnica/administrativa, pois através dessa equipe é possível conquistar vantagens competitivas sustentáveis.

Fonte: Dados da pesquisa.Figura 5 – Radar do capital humano na IES

O principal objetivo de uma OIC, como é o caso da organização pesquisada, não deve ser o lucro, pois seu objetivo social é maior por ser uma IES comunitária e fi-lantrópica. Nesta instituição estudada, o objetivo principal é a formação de capital humano capacitado para gerar inovação nas organizações. Tal propósito se sustenta em razão de que as organizações, em especial as econômicas, se desenvolvem pela produção e aplicação do conjunto de conhecimentos que é capaz de gerar.

Nesse sentido, afirma Stewart (1998, p. 77), vale a pena enfatizar: “trabalho roti-neiro, que exige pouca habilidade, mesmo quando feito manualmente, não gera nem

Page 181: Revista TEE_ano18_n39_2012

358

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 344-371, jul./dez. 2012

emprega capital humano para a organização”. Muitas vezes o trabalho envolvido nesses cargos pode ser automatizado, motivo pelo qual eles correm risco atualmente, quando não pode ser automatizado, o trabalhador, contribuindo pouco, aprendendo pouco, pode ser facilmente substituído se sair da organização – trata-se de uma pessoa contratada, não de uma mente contratada.

Moreira e Queiroz (2007) reconhecem que as organizações derivam seu sucesso econômico, em maior ou menor grau, do sucesso em introduzir inovações em seus produtos e processos. A vantagem competitiva pode advir do tamanho da organiza-ção ou de seus ativos, mas, sem dúvida, a habilidade para mobilizar conhecimento, tecnologia e experiência para criar produtos, processos ou serviços está contando cada vez mais.

O mundo contemporâneo está fortemente marcado pela importância que a socie-dade dispensa ao conhecimento e como ele se configura dentro das organizações, no sentido de produzir cada vez mais vantagens competitivas sustentáveis. Nesse sentido e na visão de Stewart (1998), as organizações pagam a seus funcionários menos do que eles valem, pois as pessoas criam algo que vale mais do que a soma de seus esforços individuais.

Diante dessas afirmações/informações, percebe-se claramente que o grau de qua-lificação dos colaboradores irá influir decisivamente na performance da organização, principalmente, como é o caso desse estudo, em OIC. Portanto, o que se propõe é que se deixe um pouco de lado a aferição de resultados e desempenho para apoiar gestores que tenham como primeira premissa a satisfação de seus colaboradores.

Analisando o capital estrutural e diante das respostas dos seis grupos pesquisa-dos, obtiveram-se os dados apresentados no Quadro 3.

Fonte: Dados da pesquisa.Quadro 3 – Capital estrutural – visão geral

Page 182: Revista TEE_ano18_n39_2012

359

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 344-371, jul./dez. 2012

Pela visão geral dos dados encontrados referentes ao capital estrutural, a questão que se refere à capacidade de sustentabilidade econômica e financeira recebeu a menor média, de 3,33, o que mostra a preocupação que os grupos pesquisados têm sobre a capacidade de sustentabilidade da organização. Em contrapartida, a questão que se refere à qualidade da infraestrutura física e tecnológica recebeu a média 4,52, o que de-monstra a credibilidade da organização no que se relaciona às condições de trabalho, em termos de infraestrutura física e técnica. Já à estrutura e qualidade do sistema de informação decisorial alcançou a média 3,49.

Na questão estrutura e qualidade do sistema de informação decisorial, tem-se um dado interessante, uma vez que apenas dois grupos (reitoria e funcionários) tiveram as médias mais altas. Isso é de fácil compreensão, uma vez que são esses dois grupos que utilizam diariamente o sistema de informação da organização, percebendo não apenas sua importância, mas a qualidade deste.

Os dados apresentados do capital estrutural demonstram preocupação quanto à capacidade de sustentabilidade econômica e financeira da organização em outro dire-cionamento o público pesquisado revela uma grande satisfação com a infraestrutura física e tecnológica da universidade.

Dessa forma, Stewart (1998) traz a concepção de que capital estrutural é o conhe-cimento que fica retido dentro da organização, seja ele através de um banco de dados acerca de clientes, ou um sistema de informação gerencial mais complexo, diferente-mente do capital humano o capital estrutural pode ser tangibilizado sob a forma de invenções, publicações etc., e com isso melhoram a performance da organização trazendo a ela uma vantagem competitiva sustentável.

Conforme está apresentado na Figura 6, a questão que relaciona a capacidade de sustentabilidade da universidade deve ser a mais trabalhada, principalmente nes-se momento de desajustes entre capacidade de vagas ofertadas versus quantidade de alunos matriculados. Deve ser o norteador das ações estratégicas tanto da reitoria (principalmente da vice-reitoria administrativa) quanto dos demais gestores da UPF.

Page 183: Revista TEE_ano18_n39_2012

360

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 344-371, jul./dez. 2012

Fonte: Dados da pesquisa.Figura 6 – Radar do capital estrutural na IES

A gestão do capital estrutural torna-se uma iniciativa de cunho estratégico, prin-cipalmente quando avaliados os dois quesitos: estrutura e qualidade do sistema de informação decisorial e qualidade da infraestrutura física e tecnológica.

O primeiro reúne as informações e os conhecimentos espalhados a fim de conver-tê-los em conhecimento organizacional e para que isso aconteça é necessário um con-junto de software e hardware que possam abarcar as necessidades de quem irá utilizar. Nesse sentido, é oferecida a toda a comunidade interna (reitoria, diretores de unidade, diretores de campi, coordenadores de curso, professores e funcionários) e comunidade externa (alunos) toda uma estrutura (laboratórios, salas de aula, equipamentos) que faz a diferença de forma qualitativa na hora de ser utilizada.

O capital estrutural está ligado aos ativos organizacionais. A UPF concentra e processa o trabalho do conhecimento, tangibilizando o capital humano (pessoas) em capital estrutural (conhecimento materializado em ativos intelectuais), tais como são as invenções.

O sucesso do capital estrutural depende, também, do livre acesso às informações retidas no sistema de informação da IES pesquisada. De nada adianta ter um nível de informação adequada se esta não chega aos indivíduos que dela necessitam para realizar seu trabalho.

Destarte, a ênfase principal da gestão do capital estrutural da instituição, segun-do Stewart (1998), está na gestão do conhecimento, transformando a informação alta-mente necessária para o desenvolvimento do trabalho, devendo utilizar para isso um

Page 184: Revista TEE_ano18_n39_2012

361

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 344-371, jul./dez. 2012

sistema eficaz de gerenciamento, onde todas as informações geradas possam estar à disposição de todos os gestores da universidade.

De acordo com o Quadro 4, percebe-se que a questão que mede o nível de satis-fação do cliente com relação aos serviços prestados apresenta repercussão satisfatória junto ao público que demanda os serviços da IES.

Fonte: Dados de pesquisa.

Quadro 4 – Capital cliente visão geral

A repercussão da marca da instituição, objeto dessa pesquisa, no segmento de ensino superior e no contexto das IES comunitárias gaúchas, apresenta tanto uma ima-gem positiva como de referência em qualidade e de efetiva contribuição no desen-volvimento local e regional. A questão que trata a evasão de alunos é o inverso das outras, pois quanto mais perto do centro do gráfico, melhor ela se encontra, ou seja, essa questão mede a existência considerável de contingente de alunos que abandonam a Universidade ou que deixam de concluir seus estudos, por isso, quanto menor for essa média, menor é o índice de evasão de alunos na percepção dos entrevistados.

Para Stewart (1998, p.128), toda organização com clientes possui capital do clien-te. Entre as três grandes categorias de ativos intelectuais, a categoria clientes é a mais valiosa, pois permite a organização obter recursos para sobreviver e, também, avaliar o comportamento através dos relatórios financeiros. Apesar disso, o capital do cliente talvez seja o mais mal administrado de todos os ativos intangíveis. Muitos negócios nem ao menos sabem quem são seus clientes.

Page 185: Revista TEE_ano18_n39_2012

362

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 344-371, jul./dez. 2012

Fonte: Dados da pesquisa.

Figura 7 – Radar do capital cliente na IES.

Na análise do capital do cliente da IES apresentado na Figura 7, a questão que mede o peso e repercussão da marca foi a que obteve a maior média entre os indiví-duos respondentes, ficando com 4,40, índice que demonstra a importância que a uni-versidade dá à sua marca. Organizações que desejam ser lembradas no futuro devem fortalecer sua marca através de ações que vão ao encontro das comunidades em que estão inseridas. Essas ações devem abarcar, a priori, todos os quesitos mencionados por Stewart (1998) no capital intelectual, que são: capital humano, capital estrutural e capital cliente.

O valor de uma marca vai muito além de uma cifra financeira. É uma sensação, uma emoção, uma intuição em relação ao produto/serviço. Atualmente, as marcas já são consideradas um ativo das organizações. Portanto, seu fortalecimento só tra-rá vantagens competitivas sustentáveis à universidade, esse fortalecimento se dá na qualificação do corpo docente e de seus funcionários (capital humano), na ampliação e capacitação das estruturas físicas e tecnológicas com vistas a obter, por exemplo, no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) – que integra o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes), que tem o objetivo de aferir o rendimento dos alunos dos cursos de graduação em relação aos conteúdos programá-ticos, suas habilidades e competências – um desempenho que destaque a instituição entre as universidades do Rio Grande do Sul.

Para Stewart (1998), o capital cliente é muito semelhante ao capital humano, pois da mesma forma que a organização investe em seus funcionários para aumentar o seu ativo intelectual, este também aumenta quando se investe em clientes. Por isso, o investimento em capital cliente faz toda a diferença já que são esses os primeiros

Page 186: Revista TEE_ano18_n39_2012

363

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 344-371, jul./dez. 2012

geradores de recursos financeiros para a organização. Além dos recursos financeiros, o cliente traz consigo sua fidelidade e confiança, o que aumenta, consequentemente, o valor da organização (marca) junto ao mercado.

Tendo como base as informações coletadas através da aplicação dos questioná-rios, chega-se ao seguinte navegador do capital intelectual da IES Comunitária pesqui-sada, apresentado na Figura 8.

Fonte: Dados da pesquisa.

Figura 8 – Radar do capital intelectual da IES

É importante destacar que este navegador tem o formato de radar, constituído por um círculo com linhas que saem da extremidade e se encontram no centro, para cada um dos indicadores definidos em cada uma das três dimensões já destacadas. A escala vai de 0 a 5 e significa dizer que, para os indicadores propostos no que tange a esta pesquisa, quanto mais próximo da extremidade estiver a ponta do desenho, me-lhor é a avaliação do quesito. A única inversão que se dá diz respeito à dimensão clien-te, no quesito Índice de evasão – que possui a medição ao contrário. Isso quer dizer que, quanto mais próximo do meio for o indicador, melhor desempenho terá o quesito.

Page 187: Revista TEE_ano18_n39_2012

364

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 344-371, jul./dez. 2012

Análise dos dados

As análises das medidas do capital humano da IES demonstraram o grau de qua-lificação profissional dos colaboradores no sentido de mostrar se o quadro funcional da instituição possui elevado nível de competência técnica em termos de formação, conhecimento e habilidades na consecução de suas atividades.

Em tal aspecto, a dimensão foi avaliada como regular, com destaque positivo para o quesito “grau de qualificação profissional dos colaboradores”. Isso demonstra que a universidade investe na qualificação profissional de seus colaboradores, quer sejam eles professores ou membros da equipe técnico-administrativa.

Nessa perspectiva, a universidade, por se tratar de uma organização intensiva em conhecimento, tem como seu principal ativo as pessoas (colaboradores), que compõem essa organização. Portanto, a IES está muito bem servida no que tange à qualificação de seus colaboradores, o que lhe confere uma vantagem competitiva. No entanto, o mercado brasileiro de ensino superior é muito dinâmico e, portanto, se faz necessário manter políticas perenes para o desenvolvimento dos recursos humanos da institui-ção, bem como melhorar o ambiente de trabalho.

Ressalta-se que um dos destaques negativos para a dimensão humana do capital intelectual da IES pesquisada, “capacidade de oferta de novos produtos/serviços à comunidade (mercado)”. Os dados revelaram que o nível de capacidade propositiva na inovação em termos de oferta de novos produtos e serviços oferecidos e/ou in-corporação de inovações nos produtos/serviços existentes requer maior atenção dos dirigentes, em especial na implementação de estratégias.

Nesse sentido, talvez se faça necessário redimensionar alguns cursos e reposicio-nar a estrutura multicampi para se evitar o “canibalismo” entre esses. A reorganização da estrutura multicampi deve levar em consideração as características de cada cidade. É necessário, também, fortalecer o reconhecimento da importância dessa organização para seus grupos de interesses.

A avaliação das medidas do capital estrutural na organização ficou regular, com destaque positivo para o quesito qualidade da infraestrutura física e tecnológica para a consecução dos objetivos institucionais, demonstrando que a instituição nesse quesito apresenta boas condições de trabalho em termos de infraestrutura física e tecnológica, e que esses são qualificados e adequados à realização das atividades inerentes ao pro-jeto institucional.

O destaque negativo para a dimensão estrutural do capital intelectual ficou com o quesito que demonstra a capacidade de sustentabilidade econômico/financeiro da instituição. Nesse sentido, a organização deve buscar novas estratégias que sustentem

Page 188: Revista TEE_ano18_n39_2012

365

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 344-371, jul./dez. 2012

os projetos e atividades institucionais, de forma que os mesmos apresentem um grau de sustentabilidade na relação custo-benefício, pertinência institucional x aceitação de mercado.

Percebeu-se que os grupos de indivíduos pesquisados preocupam-se com a capa-cidade que a instituição possui de sustentabilidade econômico/financeira, visto que esse item representa fator fundamental para a gestão.

No quesito que mediu a avaliação das medidas de capital cliente da organização, a avaliação ficou como regular. A ênfase que se pode inferir com relação a essa dimen-são é que os quesitos peso e repercussão da marca e nível de satisfação do cliente com relação ao serviço prestado foram muito bem avaliados pelos públicos pesquisados. A universidade apresenta uma imagem positiva junto à comunidade regional e ao mercado, sendo referência de qualidade e de efetiva contribuição no desenvolvimento regional. No entanto, vale lembrar que esta pesquisa não teve como público-alvo os alunos da instituição.

Diante disso, pode-se imaginar também que exista certa defesa, por parte do pú-blico pesquisado da universidade. Isso certamente condiciona o processo decisório e as prioridades da instituição aos interesses do corpo docente em detrimento do corpo discente.

Dessa maneira, o gráfico radar que representa o navegador do capital intelectual da instituição pesquisada demonstra, em linhas gerais, que a organização possui um capital intelectual considerado regular e bem delineado, pois o gráfico apresenta-se de maneira homogênea e sem grandes distorções.

O gráfico radar que mede o capital intelectual da organização representa como se encontra o capital intelectual dessa instituição, tendo tal percepção sido forjada por esses grupos que foram objeto da pesquisa, podendo ser totalmente diferente se a per-cepção for vista por outros ângulos ou por grupos diferentes.

Em termos de medidas do capital intelectual da organização, pode-se inferir que esta possui um conjunto de estratégias que norteiam suas ações com relação às três dimensões do capital intelectual propostas por Stewart (1998) e que apresentam para os indivíduos pesquisados uma escala regular. Percebe-se claramente que as ações dos gestores dessa instituição se voltam em todos os sentidos para a qualificação e capacitação de seus colaboradores, bem como uma vigilância diária com relação à sua sustentabilidade e infraestrutura física e tecnológica.

Diante dessa análise, portanto, pode-se dizer que a medida do capital intelectual mais forte é a medida de capital cliente, pois foram os quesitos que obtiveram as maio-res médias na pesquisa. Vale lembrar que são os clientes (alunos) que mantém a orga-nização e estes, em última análise, são os responsáveis pelos níveis de investimentos

Page 189: Revista TEE_ano18_n39_2012

366

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 344-371, jul./dez. 2012

que a universidade faz, quer sejam eles em sua infraestrutura ou capacitação de seus colaboradores.

Da mesma forma, pode-se inferir que a medida de capital intelectual mais fraca é a medida de capital estrutural, pois foram os quesitos que obtiveram por parte dos grupos pesquisados as menores médias.

A melhora da performance organizacional só irá acontecer quando as informa-ções geradas pelo gráfico radar forem gerenciadas de modo a agregar valor à organi-zação, principalmente na tomada de decisão.

Assim, deve existir interação entre as dimensões de forma sistêmica. O capital humano e o estrutural reforçam-se mutuamente quando a organização valoriza a agi-lidade e quando há uma cultura organizacional que privilegie esse compartilhamento das informações. Em contrapartida, eles se destroem quando o que acontece na organi-zação não é valorizado pelo cliente e quando a organização controla o comportamento e não a estratégia. O capital humano e o do cliente, por sua vez, crescem quando os indivíduos sentem-se parte da organização, interagindo diretamente com os clientes em seus conhecimentos e habilidades. Quando isso não acontece, o valor desses dois capitais diminui dentro da organização. E o capital do cliente e o estrutural aumentam quando há aprendizado tanto da organização como do cliente, quando um se empe-nha ativamente para o resultado do outro.

Quando uma instituição deixa claro em sua gestão que o capital intelectual existe e exerce fator fundamental de sucesso e competitividade, todos os stakeholders enten-dem que a organização é diferente que ela trabalha de forma inovadora, valorizando ativos geralmente esquecidos, como é o caso do conhecimento que, por ser um ativo intangível, na maioria das vezes não é valorizado.

Uma organização que considera o conhecimento como principal agente de mu-dança, já está mostrando ao mercado seu grande diferencial, pois valorizar algo de difícil mensuração é considerado diferente e inovador. Nesse sentido, o conhecimento torna-se fator estratégico para a gestão do capital intelectual, já que dele faz parte, seja na condução das atividades humanas, na estrutura da organização ou no relaciona-mento com o cliente.

Dessa forma, quando o capital humano, estrutural e do cliente andam juntos, os recursos baseados em conhecimento são voltados todos para um único lugar para a gestão do capital intelectual que passa a ser estratégica para o desenvolvimento das organizações tornando-se uma vantagem competitiva para essas.

Page 190: Revista TEE_ano18_n39_2012

367

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 344-371, jul./dez. 2012

ConclusõesA análise em uma IES revelou ser possível estruturar e mensurar o valor do ca-

pital intelectual em universidades com base no navegador de capital intelectual de Stewart (1998), a qual resultou num nível de percepção regular do seu capital inte-lectual geral. As respostas apresentaram certa homogeneidade, denotando com isso percepção da organização sobre o capital intelectual combinada com visão estratégica do capital intelectual.

No quesito capital humano, a universidade estudada demonstra uma boa qualifi-cação de seus colaboradores, mostrando compreender que estes possuem competência técnica para realizar suas tarefas. Um dos gargalos dessa dimensão é a percepção dos grupos pesquisados quanto à capacidade de ofertar novos produtos/serviços, que, no entendimento desses, há cursos que devem ser descontinuados em virtude de conti-nuamente estarem em déficit.

Em termos de capital estrutural, percebe-se uma preocupação com relação ao sis-tema de informação da Universidade, no sentido de que este não está adequado às demandas de alguns grupos da organização. Outro fator, nessa dimensão, que exige certa preocupação dos gestores é a capacidade de sustentabilidade da instituição.

No que tange ao capital cliente, de acordo com a pesquisa, as análises são perti-nentes a uma universidade de porte grande com foco na excelência da prestação de serviços. O gargalo nessa dimensão é o índice de evasão que para efeitos dessa análise é regular, mas atingindo níveis preocupantes.

Com relação aos fatores críticos do capital intelectual da IES estudada, consta-tou-se que: (a) há capacidade de oferta de novos produtos/serviços e capacidade de sustentabilidade econômico-financeira, apesar de certo grau de endividamento (que é preocupante, mas não definitivo), estrutura de custos elevada e cursos deficitários; (b) o grau de envolvimento/comprometimento dos colaboradores está diretamente vinculado à forma como a universidade gere seus recursos, por vezes condicionando o processo decisório, gerando grande insatisfação; repercute também a falta de um quadro de carreira para os funcionários e definição de critérios claros para concessão de licenças aos docentes interessados em capacitar-se, bem como da carga horária para os professores gerando, com isso, falta de comprometimento de alguns colaboradores; (c) o processo decisório da instituição (salvo algumas unidades) não é realizado de forma profissional, professores sem nenhum conhecimento sobre gestão são levados, a utilizar o sistema informatizado da IES e não tendo preparo para isso acabam não sabendo como melhor utilizar essa importante ferramenta de gestão, por outro lado,

Page 191: Revista TEE_ano18_n39_2012

368

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 344-371, jul./dez. 2012

o sistema informatizado é extremamente complexo o que leva a sua utilização não ser de fácil compreensão.

Contudo, mesmo existindo fatores críticos, observou-se a existência de potencia-lidades capazes de conduzir a organização para o nível de excelência. Dentre outros, destaca-se o grau de qualificação profissional do quadro funcional; a qualidade da in-fraestrutura; o nível bom de satisfação do público interno e o status que ostenta como a melhor universidade da região.

A respeito das potencialidades, pode-se descrever que a IES estudada busca in-vestir no seu quadro funcional, tanto na valorização do funcionário como pessoa e como profissional, oferecendo política de benefícios, desenvolvimento dos recursos humanos e política de qualificação. Com relação à qualidade da infraestrutura, es-pecialmente em seu campus central (o mesmo não se aplica a toda a estrutura multi-campi), a infraestrutura de prédios, biblioteca, laboratórios, equipamentos são reco-nhecidos pela comunidade acadêmica e regional como excelentes. Quanto ao nível de satisfação do cliente, embora este quesito tenha obtido por parte dos grupos pesquisa-dos uma média boa, há que se destacar que não participaram da pesquisa os clientes (alunos) da universidade, portanto essa visão diz respeito ao público interno. E, por fim, o valor da marca dessa IES torna-a uma instituição permanentemente identificada por todos seus stakeholders como sendo a melhor universidade da região.

Com relação ao desenho de estratégias de ação com vistas a potencializar a ges-tão desse recurso estratégico e constituir-se em vantagem competitiva no mercado do ensino superior, constatou-se que a instituição busca manter-se como uma IES com qualidade na oferta de seus serviços educacionais. Para tanto, mantem o plano de va-lorização e a qualificação dos seus colaboradores, o qual é evidenciado pelo valor da marca e pela infraestrutura existente para que os colaboradores realizem com satisfa-ção suas atividades e o público regional possa igualmente usufruir.

A avaliação que se pode fazer sobre o gráfico radar consolidado do capital inte-lectual é que a organização em alguns quesitos é benchmarking em seu segmento de atuação tais como: qualidade de sua infraestrutura física, peso e repercussão da marca e grau de qualificação profissional, em outros como, capacidade de sustentabilidade econômica, grau de envolvimento/comprometimento do colaborador, capacidade de ofertas de novos produtos/serviços e nível de satisfação do cliente, é necessário que a instituição crie um conjunto de estratégias que possam reverter esse quadro que é de certa forma, preocupante.

O capital intelectual está organizado em torno da gestão do conhecimento nessa perspectiva acredita-se que questões como aprofundamento na qualidade educativa com sustentabilidade e valorização das relações pessoais são desafios cotidianos dessa instituição. Como desafios ainda foi possível identificar: (a) a necessidade de reestru-turação acadêmica, apoiada em racionalização de custos e recursos; (b) a otimização e

Page 192: Revista TEE_ano18_n39_2012

369

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 344-371, jul./dez. 2012

a flexibilização das matrizes curriculares para que se possa otimizar número de alunos por turma; (c) nucleação de áreas e disciplinas afins; (d) busca de recursos externos (incrementar fontes alternativas de faturamento) para fomentar atividades de pesqui-sa e extensão; (e) mobilização do corpo docente e demais colaboradores (desenvolver recursos humanos, melhorar o ambiente de trabalho) para, coletivamente, buscarem as melhores alternativas no sentido de tornar os cursos viáveis para o maior número possível de estudantes.

Tais desafios rementem a pensar em uma mudança institucional de forma a fazer a IES descobrir que, além de valorizar seus ativos tangíveis, tem condições de manter uma vantagem competitiva através da gestão dos seus ativos intangíveis. Contudo, o maior desafio, deste tipo de organização está em estabelecer mudanças sustentáveis, mantendo seu caráter filantrópico e comunitário, sem abrir mão da qualidade educa-tiva. O capital intelectual identificado mostra a oportunidade de repensar a instituição para além de suas máquinas e equipamentos, através de um olhar permanente sobre as pessoas e estas passando a ser o principal insumo para o sucesso econômico da instituição.

Como principal limitação desta pesquisa, destaca-se que a mesma foi realizada com vistas à percepção do público interno da IES (reitoria, diretores de unidade, di-retores de campi, coordenadores de curso, professores e funcionários). Com isso, as avaliações à cerca do capital humano, capital estrutural e capital cliente são obser-vadas a partir da percepção do público interno da instituição, o que pode gerar uma limitação das informações. Certamente uma pesquisa junto à comunidade acadêmica (alunos) sobre estas questões, podem trazer importantes informações para seu reposi-cionamento institucional.

Ressalta-se, também que o modelo utilizado na pesquisa, navegador de Stewart é muito genérico. Para futuras pesquisas recomenda-se uma reformulação de ques-tões para avaliar as três dimensões do modelo, mais abertas, de modo a dimensionar melhor os itens que serão avaliados. Do modo como elas estão formuladas suscitaram muitas dúvidas de interpretação por parte dos respondentes. O instrumento mede a percepção dos entrevistados de maneira mais superficial.

Por fim, este estudo vem ao encontro de uma nova perspectiva organizacional, que é a valorização de ativos intangíveis como fonte de recursos e vantagens compe-titivas. O mercado do ensino superior está cada vez mais exigente, e vêm sentindo a necessidade de investir cada vez mais em seu capital humano, isso irá se refletir em como a universidade irá se comunicar com seus clientes e sociedade, doravante o maior desafio é estabelecer padrões não apenas para a medição desse importante insu-mo, mas como torná-lo realidade dentro da Instituição. A vantagem agora se desloca do equipamento para o ser humano e aquelas organizações que souberem interpretar isso de forma estratégica obterão uma melhoria significativa em sua performance.

Page 193: Revista TEE_ano18_n39_2012

370

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 344-371, jul./dez. 2012

THE STRUCTURE AND MANAGEMENT OF INTELLECTUAL CAPITAL FROM THE MODEL

NAVIGATOR STEWART: A STUDY IN A HIGHER EDUCATION INSTITUTION

AbstractThis article intends to analyze the structure/intellectual capital management in a higher edu-cation institution through the Community model browser Stewart. The use of this model was due to the intellectual capital is intellectual and material that can be used to generate wealth within organizations, and especially in an IES. Quantitative research has addressed the perceptions that individuals have about the intellectual capital of the institution. The data analyzed show that the IES has a regular management of its intellectual capital, effecting of strategic actions in its management as well as customer satisfaction and brand value. On the other hand she has concerns about the ability of economic sustainability/fi nancial viable projects and institutional activities. The Intellectual Capital of IES is structured primarily by knowledge management, since it is a knowledge-intensive organization and this is the main and most important asset that the institution has. Based on existing knowledge in the work-force and in their structure, the institution seeks to manage it so that this is the main factor and competitive advantage for the Company.Keywords: Competitive advantage. Intellectual capital. Model browser Stewart. University.

ESTRUCTURA Y GESTIÓN DEL CAPITAL INTELECTUAL DE LA STEWART MODELO

NAVIGATOR: UN ESTUDIO EN UNA INSTITUCIÓN DE EDUCACIÓN SUPERIOR

ResumenHemos tratado de analizar la estructura/gestión del capital intelectual en una institución de educación superior a través del navegador de la Comunidad Stewart modelo. El uso de este modelo se debió a la capital intelectual es intelectual y material que puede ser usado para generar riqueza dentro de las organizaciones, y especialmente en un IES. La investigación cuantitativa se ha ocupado de las percepciones que las personas tienen sobre el capital intelec-tual de la institución. Los datos analizados muestran que el IES tiene una gestión regular de su capital intelectual, efectuando las acciones estratégicas en su gestión, así como la satisfacción del cliente y el valor de marca. Por otro lado tiene preocupaciones sobre la capacidad de la sostenibilidad económica / fi nanciera de proyectos viables y actividades institucionales. El Capital Intelectual de IES está estructurado principalmente por la gestión del conocimiento, ya que es una organización intensiva en conocimiento y éste es el activo principal y más im-portante que la institución tiene. Sobre la base de los conocimientos existentes en el mercado laboral y en su estructura, la institución busca para su gestión a fi n de que éste es el factor principal y una ventaja competitiva para la empresa.Palabras-llave: El capital intelectual. Modelo navegador Stewart. La universidad. La ventaja competitiva.

Page 194: Revista TEE_ano18_n39_2012

371

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, p. 344-371, jul./dez. 2012

Referências

COUTO, A. P. Universidade e proteção do capital intelectual: fundamentos econômicos e as-pectos críticos. Comunicação. Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Departamento de Ges-tão e Economia, Universidade da Beira Interior, Covilhã, Portugal, 2010. Disponível em: http://hdl.handle.net/10400.6/568. Acesso em: 10 mar. 2011.EDVINSSON, L.; MALONE, M. S. Capital intelectual: descobrindo o valor de sua empresa pela identifi cação de seus valores internos. São Paulo: Makron Books, 1998.GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999.MAURER, S. A. S. Gestão do capital intelectual como estratégia competitiva em organizações intensivas em conhecimento: o caso da Unijui. 2008. 170f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento, Ges-tão e Organizações)- Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento, Gestão e Cidadania, UNIJUÍ, Ijuí.MOREIRA, D. A; QUEIROZ, A. C. S. Inovação organizacional e tecnológica. São Paulo: Thomson Learning, 2007.NAHAPIET, Janine, GHOSHAL, Sumantra. Social capital, intellectual capital and the organizational advantage Review, v. 23, n. 2, p. 242-266, 1998.STEWART, T. A. Capital intelectual: a nova vantagem competitiva das empresas. 14. ed. Rio de Janei-ro. Campus, 1998.SVEIBY, K. E. A nova riqueza das organizações: gerenciando e avaliando patrimônios de conhecimento 4. ed. Rio de Janeiro. Campus, 1998.SVEIBY, K. E. O valor do intangível. HSM Management, São Paulo, n. 22, set./out. 2000.VELOSO, F. Infraestruturas tecnológicas: para além da interface universidade-indústria. In: CONCEIÇÃO, P.; DURÃO, D.; HEITOR, M.; SANTOS, F. (Ed.). Novas ideias para a universidade. Lisboa, IST, 1998. p. 175-180VOGT, Olgário Paulo. Capital Social e Instituições Comunitárias no Sul do Brasil. Santa Cruz do Sul. Edunisc, 2009.YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.ZAMBERLAN, C. O.; POZZOBON, I. M.; SONAGLIO, C. M.; CERETTA, P. S.; GHILARDI, W. J.; POZZOBON, J. Evasão do capital intelectual das universidades públicas: estudo na Univer-sidade Federal de Santa Maria. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE CUSTOS, 9, Florianó-polis, 2005. Anais..., Florianópolis, 2005.

Page 195: Revista TEE_ano18_n39_2012

372

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, jul./dez. 2012

Normas da revista

A revista Teoria e Evidência Econômica foi criada em março de 1993 e apresenta periodicidade semestral.

Modalidades de publicação

Aceitam-se para publicação artigos e ensaios científicos originais, que serão sub-metidos a dois pareceristas de acordo com as especificidades do tema. Eventualmente, serão aceitos artigos traduzidos, já publicados em outro idioma, que, pela sua relevância, possam merecer maior divulgação em língua portuguesa.

Apresentação dos originais

1 Os trabalhos devem limitar-se a 35 páginas, em papel formato A4, espaçamento entre linhas 1.5, com margens laterais (direita, esquerda, superior e inferior) de 3 cm.

2 A fonte utilizada deve ser Times, tamanho 12. 3 As ilustrações e figuras deverão ser apresentadas de forma clara, numeradas

sequencialmente dentro do artigo. Em caso de fotos ou ilustrações mais elaboradas, deverá ser enviado arquivo em anexo com os originais.

4 Os dados utilizados para a elaboração de gráficos deverão ser enviados em arquivo separado ao texto, em formato Excel.

5 Tabelas e quadros deverão estar no formato de texto, não como figura. 6 Todas as fórmulas deverão ser feitas no editor de fórmulas do Word.7 Os originais deverão conter as seguintes informações sobre o(s) autor(es):

nome completo, titulação e instituição a que está vinculado, além de endereço eletrônico para correspondência.

8 Os resumos devem ter, no máximo, dez linhas e de três a cinco palavras-chave, em português, em espanhol e em inglês.

9 As citações no interior do texto devem ter a forma (autor, ano) e as referências bibliográficas devem ser apresentadas ao final do texto e de acordo com as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

10 A submissão dos artigos deverá ser feita pelo e-mail: [email protected] O Conselho Editorial reserva-se o direito de aceitar, aceitar com revisão, aceitar

com ressubmissão ou recusar os trabalhos encaminhados para publicação.12 Os autores receberão um exemplar do número em que seu trabalho for

publicado.

Os pedidos devem ser feitos pelo e-mail: [email protected]úmeros avulsos R$ 25,00 – Assinatura anual R$ 40,00

Page 196: Revista TEE_ano18_n39_2012

373

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, jul./dez. 2012

Brazilian Journal of Theoreticaland Applied Economics

Uma publicação da Faculdade de Ciências Econômicas,Administrativas e Contábeis da Universidade de Passo Fundo - RS

www.upf.br/cepeac

Nº 1* Marco A. Montoya Aspectos setoriais do desenvolvimento da região da produção gaúcha tchê: 1939-88 • Nelson Zang Uma análise da evolução da população em alguns municípios do Condepro, no período de 1940 a 1991 • Marco A. Montoya O futuro econômico-social de Passo Fundo: uma preocupação do presente • João C. Tedesco Reflexões em torno do processo de modernização da agricultura e a pequena produção familiar: o caso de Marau • Marco A. Montoya, Maria da Gloria Ghissoni A integração econômica regional do mercado de milho da região do pampa argentino e microrregião de Passo Fundo • Carlos A. Morán, Gilson F. Witte A conceitualização da inflação: uma análise dos planos econômicos brasileiros de 1970 até 1990 • Ivo Ambrosi, Valmir Gonzatto Situação energética no Brasil e alternativas frente à falta de investimentos no setor

Nº 2* João C. Tedesco, Rosa M. L. Kallil, Selina M. Dal Moro Uma primeira aproximação do processo de urbanização na região de Passo Fundo: “Moço, esta ida não vai ter volta!” • Marco A. Montoya, Gelmari V. Marcante Aspectos socioeconômicos da informalidade no setor comercial de Passo Fundo: uma análise do fator mão-de-obra • Aldomar A. Ruckert O arrendamento capitalista na agricultura de trigo-soja no centro-norte do Rio Grande do Sul • Carlos A. Morán A importância da agricultura na determinação dos setores-chave na economia brasileira • Ricardo L. Garcia O Imposto Provisório sobre Movimentação Financeira será um imposto inflacionário? • Yuri M. Zaitsev, Marco A. Montoya, Margarita Y. Rysin O setor governamental: um modelo para estimar a participação plausível do governo na economia • Cleide F. Moretto A provisão pública da educação: expansão ou redefinição?

Nº 3 Cleide F. Moretto A elasticidade-renda dos gastos públicos em educação no Brasil • Ricardo L. Garcia A crise do Estado e o novo papel do sistema tributário • José J. do Amaral Planejamento tributário: uma opção econômica da empresa • João A. M. Pereira Finanças públicas municipais: relação entre receita transferida do estado e receita própria dos municípios do estado do Paraná, período 1980-1990 • João C. Tedesco A agroindustrialização do espaço agrário e a pequena produção familiar: tendências e controvérsias • Ivano D. de Conto, Marco A. Montoya A produtividade de soja na região do Alto Uruguai do Rio Grande do Sul • Ivo Ambrosi, Renato S. Fontaneli Análise de risco de quatro sistemas alternativos de produção de integração lavoura/pecuária • Marco A. Montoya, Rizoni M. Baldissera O Mercosul: uma análise dos mercados vinícolas da Argentina e do Brasil

Nº 4 Ricardo L. Garcia O imposto único: realidade ou ficção • Derli Dossa Programação linear na gestão da propriedade rural: um enfoque alternativo • Marco A. Montoya, Cristina Chamináde Teoria e praxe da integração econômica na América Latina: uma abordagem dos desequilíbrios regionais • João C. Tedesco A relatividade conceitual e os paradigmas da pequena produção familiar no pensamento socioeconômico • Cássia A. Pasqual A segurança pública: uma análise socioeconômica das ocorrências de incêndios em Passo Fundo. Período 1980-1992 • Antonio O. Selli Participação dos empregados no processo administrativo em empresas da microrregião de Passo Fundo: um estudo exploratório

Nº 5 Marília Mattos Passo Fundo, do caminho das tropas ao projeto de interiorização da Rodovia do Mercosul • Marco A. Montoya (org.) et al. A interiorização da Rodovia do Mercosul • Marco A. Montoya Os custos e benefícios da integração econômica do Grupo Andino: uma análise do comércio intra-regional no setor agropecuário • Ricardo L. Garcia O déficit público e a inflação - o Estado brasileiro como gerador da instabilidade econômica • João C. Tedesco, Adelar Dalsoto Desvendando o invisível: considerações introdutórias acerca da informalidade • Angélica M. da Silva, Cleide F. Moretto O financiamento da saúde pública e o caso de Passo Fundo sob a visão da oferta • Marli L. Razera O ICMS e o IPI no custo da cesta de produtos básicos de consumo popular em Passo Fundo e em Porto Alegre - RS • André S. Pereira A economia do estado do Rio de Janeiro: ontem e hoje

Nº 6 Ginez L. R. de Campos Agricultura e integração econômica: a questão agrícola no Mercosul e no contexto das transformações da economia mundial • João C. Tedesco A lógica produtivista e o camponês: ambigüidades e ambivalências no espaço agrário atual José Vicente Caixeta Filho • A modelagem de perdas em problemas de transporte • Aldemir Schenkel A olericultura como uma opção para o pequeno estabelecimento rural: a possibilidade de produção para o mercado não-me-toquense • Cleide F. Moretto, Fabiane Parizzi O município de Casca e sua indústria: uma primeira radiografia • Pery F. A. Shikida Notas sobre a contribuição de Keynes à teoria econômica

Nº 7/8 Marco A. Montoya, Ricardo S. Martins, Pedro V. Marques Tendência da concentração no sistema agroindustrial brasileiro • Ricardo S. Martins, Cárliton V. dos Santos “Custo Brasil” e exportações agroindustriais: o impacto do sistema portuário • Pery F. A. Shikida Um estudo empírico do logito e probito para o bem “máquina de lavar” em cinco regiões metropolitanas do Brasil • João C. Tedesco Técnica, Direito e Moral: o cotidiano em conflito-transformação no meio rural da região de Passo Fundo • André S. Pereira, Ricardo L. Garcia, Cátia C. Horn A carga tributária sobre os produtos da cesta básica de Passo Fundo • Carla R. Roman A ciência econômica e o meio ambiente: uma discussão sobre crescimento e preservação ambiental • Carlos R. Rossetto, Cristiano J. C. de A. Cunha, Carlos H. Orssatto, Graciella Martignago Os elementos da mudança estratégica empresarial: um estudo exploratório

Nº 9 Dinizar Fermiano Becker Competitividade: o (des)caminho da globalização econômica • João Carlos Tedesco O espaço rural e a globalização: impressões sobre o caso francês • Nelson Colossi, Aldo Cosentino, Luciano C. Giacomassa Do trabalho ao emprego: uma releitura da evolução do conceito de trabalho e a ruptura do atual modelo • Cleide Fátima Moretto O capital humano e a ciência econômica: algumas considerações • Pery Francisco Assis Shikida, Ariel Abderraman Ortiz Lopez A questão da mudança tecnológica e o enfoque neoclássico • André da Silva Pereira O método estrutural-diferencial e suas reformulações • Carlos R. Rossetto, Cristiano J. C. de A. Cunha, Carlos H. Orssatto Os stakeholders no processo de adaptação estratégica: um estudo longitudinal

Page 197: Revista TEE_ano18_n39_2012

374

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, jul./dez. 2012

Nº 10 Bernardo Celso de Rezende Gonzalez, Silvia Maria Almeida Lima Costa Agricultura brasileira: modernização e desempenho • João Carlos Tedesco, Odolir Tremea Pensar o desenvolvimento local: o caso da agricultura do município de Casca • Lírio José Reichert A administração rural em propriedades familiares • Roberto Serpa Dias, Marco Antonio Montoya, Patrizia Raggi Abdallah, Ricardo Silveira Martins Plano Cruzado, inflação 100% inercial: um teste de ajustamento de modelos Arima • Andre da Silva Pereira A cesta básica de Passo Fundo e o Plano Real: uma nota comparativa • Pery Francisco Assis Shikida, Carlos José Caetano Bacha Notas sobre o modelo schumpeteriano e suas principais correntes de pensamento • Antônio Kurtz Amantino Democracia: a concepção de Schumpeter • Érica Cristiane Ozório Pereira, Rolf Hermann Erdmann Do planejamento do controle da produção à produção controlada por computador: a evolução do gerenciamento da produção • Nelson Germano Beck A inveja: um comportamento esquecido nas organizações

Nº 11 Augusto M. Alvim, Paulo D. Waquil A oferta e a competitividade do arroz no Rio Grande do Sul • José Luiz Parré, Joaquim B. de S. Ferreira Filho Estudo da tecnologia utilizada na produção de soja no estado de São Paulo • Denize Grzybovski, João Carlos Tedesco Empresa familiar x competitividade: tendências e racionalidades em conflito • Ricardo Silveira Martins, José V. Caixeta Filho O desenvolvimento dos sistemas de transporte: auge, abandono e reativação recente das ferrovias • Henrique Dias Blois A infra-estrutura do transporte rodoviário de cargas: uma análise dos procedimentos tomados na fronteira Brasil/Argentina • Marco Antonio Montoya Relações intersetoriais entre a demanda final e o comércio inter-regional no Mercosul: uma abordagem insumo-produto • Jorge Paulo de Araújo, Nali de Jesus de Souza Sistemas de Leontief • Paulo de Andrade Jacinto, Eduardo P. Ribeiro Co-integração, efeitos crowding-in e crowding-out entre investimento público e privado no Brasil: 1973-1989

Nº 12 Thelmo Vergara Martins Costa Comércio intra-Mercosul de frangos: intensidade, orientação regional e vantagens comparativas • Luciano Javier Montoya Vilcahuaman Esquema ótimo de comercialização da erva-mate em pé em função do risco e da renda esperada • Verner Luis Antoni A estrutura competitiva da indústria ervateira do Rio Grande do Sul • Denize Grzybovski, João Carlos Tedesco Aprendizagem e inovação nas empresas familiares • Marcelo Defante, Marco Antonio Montoya, Paulo Roberto Veloso, Thelmo Vergara Martins Costa O papel do crédito agrícola brasileiro e sua distribuição por estratos de produtores • Carlos Ricardo Rossetto, Adriana Marques Rossetto A combinação das perspectivas institucional e da dependência de recursos no estudo da adaptação estratégica organizacional • Betine Diehl Seti, Maria de Fátima Baptista Betencour, Neuza Terezinha Oro, Rosana M. L. Kripka, Vera Jussara L. Mühl Estudo da dinâmica populacional usando os modelos de Malthus e Verhulst: uma aplicação à população de Passo Fundo

Nº 13 Patrízia Raggi Abdallah, Carlos José Caetano Bacha Evolução da Atividade Pesqueira no Brasil: 1960 a 1994 • Regina Veiga Martin, Ricardo Silveira Martins Levantamento da cadeia produtiva do pescado no reservatório de Itaipu • Francisco Casimiro Filho Valoração monetária de amenidades ambientais: algumas considerações • Fred Leite Siqueira Campos, Wilson Luiz Rotatori Mudança tecnológica em modelos de monopólio de bens duráveis com aluguel • Ronaldo Rangel Uma leitura das políticas industrial e de concorrência no Brasil sob ótica schumpeteriana, da contestabilidade e do pacto social • Marilza Aparecida Biolchi, Marco Antonio Montoya A distribuição de renda no município de Passo Fundo no período de 1980 - 1991 • André da Silva Pereira, Nicole Campanile O método estrutural-diferencial modificado: uma aplicação para o estado do Rio de Janeiro entre 1986 e 1995 • Miguel Augusto Guggiana Interdependência: uma visão contemporânea da “teoria” da dependência

Nº 14 Ramón Pelozo, Joaquim Bento de Souza Ferreira Filho Influência do Mercado de Carne Brasileiro na formação de Preços da Pecuária Bovina do Paraguai • Newton C. A. da Costa Jr., Paulo Sérgio Ceretta Efeito Dia da Semana: Evidência na América Latina • Liderau dos Santos Marques Junior A Economia de Ricardo Sob Três Pontos de Vista • Nelson Colossi, Roberta C. Duarte Determinantes Organizacionais da Gestão em Pequenas e Médias Empresas (PMEs) da Grande Florianópolis • Paulo Roberto Veloso, Maria Seli de Morais Pandolfo Análise da Mortalidade das Micro e Pequenas Empresas e Evidências para o Município de Passo Fundo - RS • Tânia Tait, Roberto Pacheco Tecnologia de Informação: Evolução e Aplicações • Nelson Germano Beck A percepção dos Professores do Modelo de Administração da Universidade de Passo Fundo • Heron Lisboa de Oliveira O Papel do Cooperativismo Escolar na Formação do Aluno/Associado em Sua Atividade Profissional

Nº 15 Ronaldo Bulhões, José Vicente Caixeta Filho Análise da Distribuição Logística da Soja na Região Centro-sul do Brasil através de um Modelo de Equilíbrio Espacial • Sandro Rogério do Santos O método estrutural-diferencial ampliado: uma aplicação para a região Sul frente à economia do Rio Grande do Sul entre 1986 e 1995 • Cleide Fátima Moretto Função minceriana de determinação dos rendimentos individuais: uma aplicação do método de variáveis instrumentais • Arno Schmitz, Alzir Antonio Mahl Reestruturação e automação bancária Versus emprego: um balanço ao final dos anos 90 • Geraldo A. Schweinberger Economia Solidária • Sergio Schneider, Marco Antônio Verardi Fialho Pobreza rural, desequilíbrios regionais e desenvolvimento agrário no Rio Grande do Sul • Luiz Fernando Fritz Filho, Lovois de Andrade Miguel A utilização da abordagem sistêmica para o diagnóstico de realidades agrícolas municipais

Nº 16 Marco Antonio Montoya, Eduardo Belisário Finamore Evolução do PIB no agronegócio brasileiro de 1959 a 1995: uma estimativa na ótica do valor adicionado • Wilson Luiz Rotatori, Thelmo Vergara Martins Costa Existem Ciclos Similares no Mercadodo boi gordo no Brasil? Algumas evidências usando os modelos estruturais de séries de tempo e Filtro de Kalman • Evelise Nunes do Espírito Santo, Claudemir Foppa Indicadores tecnológicos e o crédito rural no estado de Santa Catarina • Fernando Ferrari Filho The legacy of the real plan: a monetary stabilization without economic growth • Denize Grzybovski, Roberta Boscarin, Ana Maria Bellani Migott Mercado formal de trabalho e a mulher executiva • Jorge Castellá Sarriera, Marli Appel da Silva, Scheila Gonçalves Câmara, Maria Cláudia Rosa Taveira Mano, Paula Grazziotin Silveira, Raquel Gonsalves Ritter, Renata Viña Coral Critérios utilizados - valores e crenças - no processo seletivo de jovens em empresas de pequeno-médio porte • Rosalvaro Ragnini Balanço social na Universidade de Passo Fundo - RS: instrumental de avaliação do desempenho em nível social

Nº 17 Ortega-Almón, M.A., Sánchez-Domínguez, M.A. The privatization process in Spain (1985-2001) • Wesley Vieira da Silva, Luciana Santos Costa, Robert Wayne Samohyl Formulação e gerenciamento de carteiras com base nos modelos CAPAM e de Elton E Gruber • Ricardo Luiz Chagas Amorim Assimetria de informações e racionamento de crédito: novo-keynesianos versus pós-keynesianos • Edson Talamini, Marco Antonio Montoya O crédito agrícola na região da produção: informalidade versus formalidade • Thelmo Vergara Martins Costa, Andrea Poleto Oltramari, Marco Antonio Montoya, Lucinéia Benetti, Andressa Ongaratto A competitividade da suinocultura da Região da Produção / RS através da análise do cluster agroindustrial • Leonardo Susumu Takahashi, Thiagoa Fernandes da Silva, José Vicente Caixeta Filho Aspectos log´siticos da importação da cultura do alho no Brasil: um estudo de caso • Paulo de Andrade Jacinto, Juliane Strada, Sarita dos Santos Alves A indústria de móveis: o caso do Rio Grande do Sul

Page 198: Revista TEE_ano18_n39_2012

375

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, jul./dez. 2012

Nº 18 Sánchez-Domínguez, M.A., Ortega-Almón, M.A. The effects of European integration in the economic regional disparities: special reference to the Spanish case • Ricardo S. Martins, Maria da Piedade Araújo, Eliane L. Salvador Fretes e coordenação entre os agentes no transporte rodoviário: o caso do complexo soja paranaense • Marcus Vinícius Alves Finco, Patrízia Raggi Abdallah Valoração econômica do meio ambiente: o método do custo de viagem aplicado ao litoral do Rio Grande do Sul • Luiz Fernando Fritz Filho, Thelmo Vergara Martins Costa Mudanças na estrutura agrícola da região da produção: análise através da utilização dos efeito escala e substituição • Cátia Tillmann, Denize Grzybovski Necessidades de profissionalização dos futuros herdeiros de empresas familiares • Alexandre Negri Julião da Silva, José Luiz Parré Comparação das informações apresentadas por revistas nacionais acerca do setor de telecomunicações no Brasil

Nº 19 Gentil Corazza, Orlando Martinelli Jr. Agricultura e questão agrária na história do pensamento econômico • Paulo Marcelo de Souza, Henrique Tomé da Costa Mata, Niraldo José Ponciano Dinâmica do pessoal ocupado na agricultura brasileira no período de 1970 a 1995: uma aplicação do modelo estrutural-diferencial • Ivair Barbosa, Ricardo S. Martins Diagnóstico dos entraves no transporte no Mercosul: o caso da Aduana de Foz do Iguaçu (PR)• César A. O. Tejada, Thelmo Vergara Martins Costa Competitividade e exportações gaúchas de carnes suínas: 1992 - 2001• Ricardo Candéa Sá Barreto, Ronaldo A. Arraes Fatores institucionais e desenvolvimento econômico • João Carlos Tedesco Terceirização industrial no meio rural: racionalidades familiares

Nº 20 Alcido Elenor Wander, Regina Birner, Heidi Wittmer Can Transaction Cost Economics explain the different contractual arrangements for the provision of agricultural machinery services? A case study of Brazilian State of Rio Grande do Sul • Luís Antônio Sleimann Bertussi, César A. O. Tejada Conceito, Estrutura e Evolução da Previdência Social no Brasil • Ricardo Candéa Sá Barreto, Ahmad Saeed Khan O impacto dos investimentos no estado Ceará no período de 1970-2001 • Alesandra Bastiani dos Santos, Carlos José Caetano Bacha A evolução da cultura e do processamento industrial da soja no Brasil - período de 1970 a 2002 •Karen Beltrame Becker Fritz, Paulo Dabdab Waquil A percepção da população do município de Candiota sobre os impactos sociais, econômicos e ambientais decorrentes da produção e emprego do carvão mineral • André da Silva Pereira Uma resenha sobre a evolução da teoria do crescimento econômico

Nº 21 João Carlos Tedesco Pluriatividade e agricultura de tempo parcial no norte/nordeste da Itália: considerações preliminares • Augusto M. Alvim, Paulo D. Waquil Cenários de livre comércio e os efeitos sobre o mercado de arroz no Brasil: um modelo de alocação espacial e temporal • Nali de Jesus de Souza Abertura comercial e crescimento dos estados brasileiros, 1991/2000 • Inácio Cattani, Jefferson Andronio Ramundo Staduto A nova sistemática de risco de crédito: uma avaliação da Cooperativa de Crédito SICREDI Costa Oeste • Valdir F. Denardin Abordagens econômicas sobre o meio ambiente e suas implicações quanto aos usos dos recursos naturais • Ronaldo Herrlein Jr. Mercado de trabalho urbano-industrial no Rio Grande do Sul: origens e primeira configuração, 1870-1920

Nº 22 Antônio Cordeiro de Santana, Ádamo Lima de Santana Mapeamento e análise de arranjos produtivos locais na Amazônia •Ricardo Silveira Martins, Débora Silva Lobo, Eliane Lima Salvador, Sandra Mara Pereira Características do mercado de fretes rodoviávios para produtos do agronegócio nos corredores de exportação do cento-sul brasileiro • Danilo R. D. Aguiar Impacto dos custos de comercialização nas margens produtor-varejo de arroz e de feijão em Minas Gerais • Edson Talamini, Eugênio Ávila Pedrozo Matriz do tipo insumo-produto (MIP) de uma propriedade rural derivada do estudo de filière • Thelmo Vergara Martins Costa, Luiz Fernando Fritz Filho, Karen Beltrame Becker Fritz, César O. Tejada Economia e sustentabilidade: valoração ambiental do rio Passo Fundo - RS • Rubens Savaris Leal, Marcelino de Souza Evolução das ocupações e rendas das famílias rurais: Rio Grande do Sul, anos 90 • João Ricardo Ferreira de Lima Renda e ocupação das famílias rurais paraibanas nos anos 90

Nº 23 Abel Ciro Miniti Igreja, Flávia Maria de Mello Bliska Análise econômica dos efeitos da substituição de pastagens cultivadas nos estados de São Paulo e da região sul do Brasil • Edson Talamini, Eugênio Ávila Pedrozo Matriz de insumo-produto (MIP) e alguns indicadores para gestão e planejamento de propriedades rurais: uma aplicação prática • Ana Claudia Machada Padilha, Lília Maria Vargas A participação da informação da colheita de café nas microrregiões de Patos de Minas e Patrocínio - MG • Rômulo Gama Ferreira, Antonio César Ortega Impactos da intensificação da mecanização da colheita de café nas microrregiões de Patos de Minas e Patrocínio - MG • José Elesbão de Almeida, José Bezerra de Araújo Um modelo exaurido: a experiência da Sudene • Jefferson Bernal Setubal, Yeda Swirski de Souza Feiras setoriais e seu potencial para a aprendizagem organizacional: um estudo sobre produtores de componentes de calçados do Vale do Rio dos Sinos

Nº 24 José Cesar Vieira Pinheiro, Maria Eljani Holanda Coelho, José Vanglésio Aguiar Planejamento multicriterial para fruticultura: o caso do Vale do Trussu em Iguatu - CE • Abel Ciro Minniti Igreja, Sônia Santana Martins, Flávia Maria de Mello Bliska Fatores alocativos no uso do solo e densidade econômica no setor primário Catarinense • Christiane Luci Bezerra Considerações sobre a evolução da indústria brasileira no ambiente de abertura comercial da década de 90 • Tanara Rosângela Vieira Sousa, Janaína da Silva Alves, Lúcia Maria Góes Moutinho, Paulo Fernando de M. B. Cavalcanti Filho Um estudo de arranjos produtivos e inovativos locais de calçados no Brasil: os casos do Rio Grande do Sul, São Paulo e Paraíba • Carlos Ricardo Rossetto, Cassiana Maris Lima Cruz O estudo da indústria de móveis de Lagoa Vermelha, baseado na competitividade sistêmica, segundo o modelo IAD, na percepção dos representantes do nível micro • Roberto Arruda de Souza Lima Avaliação da política de crédito rural e a teoria insumo-produto: um artigo-resenha • Ronaldo Guedes de Lima O desenvovlimento agrário no debate científico: uma reflexão paradigmática a partir dos clássicos

Nº 25 Carlos José Caetano Bacha Eficácia da política de reserva legal no Brasil • Julcemar Bruno Zilli, Geraldo Sant’Ana de Camargo Barros Os fatores determinantes para a eficiência econômica dos produtores de frango de corte da região sul do Brasil: uma análise estocástica • Cristiano Aguiar de Oliveira, Pichai Chumvichitra Credibilidade de regimes de câmbio fixo: uma evidência empírica da crise cambial brasileira • Fátima Behncker Jerônimo, Eugenio Avila Pedrozo, Jaime Fensterseifer, Tania Nunes da Silva Redes de cooperação e mecanismos de coordenação: a experiência da rede formada por sete sociedades cooperativas no Rio Grande do Sul • Cristiano Stamm, Rafaela Fávero, Moacir Piffer, Carlos Alberto Piacenti Análise regional da dinâmica territorial do sudoeste Paranaense • Fernando Pacheco Cortez, Flávio Sacco dos Anjos, Nádia Velleda Caldas Agricultura familiar e pluriatividade em Morro Redondo - RS • Cleide Fátima Moretto, Maristela Capacchi, Sandra Sebben Zornita, Ivanir Vitor Tognon, Fábio Antonio Resende Padilha A prática do ensino contábil e a dinâmica socioeconômica: uma aproximação empírica

Page 199: Revista TEE_ano18_n39_2012

376

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, jul./dez. 2012

Nº Ed. Especial Joaquim José Martins Guilhoto, Silvio Massaru Ichihara, Fernando Gaiger da Silveira, Carlos Roberto Azzoni Joaquim

Comparação entre o agronegócio familiar do Rio Grande do Sul e o do Brasil • Marco Antonio Montoya, Eduardo Belisário Monteiro de Castro Finamore Performance e dimensão econômica do complexo avícola gaúcho: uma análise insumo produto • Thelmo Vergara de Almeida Martins Costa O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo como alternativa de política pública ambiental • Omar Benedetti, Juan Algorta Plá, Régis Rathmann, Antonio Domingo Padula Uma proposta de modelo para avaliar a viabilidade do biodiesel no Brasil • Ana Claudia Machado Padilha, Tania Nunes da Silva, Altemir Sampaio Desafios de adequação à questão ambiental no Abate de frangos: o caso da Perdigão Agroindustrial - Unidade Industrial de Serafina Corrêa – RS • Cleide Fátima Moretto Educação, capacitação e escolha: a análise institucionalista como alternativa aos limites do paradigma da racionalidade neoclássica • Verner Luis Antoni, Claúdio Damacena, Álvaro Guillermo Rojas Lezana Um modelo preditivo de orientação para o mercado: um estudo no contexto do Ensino Superior Brasileiro • Janine Fleith de Medeiros, Cassiana Maris Lima Cruz Comportamento do consumidor: fatores que influenciam no processo de decisão de compra dos consumidores • Vânia Gisele Bessi, Andrea Poleto Oltramari, Mayara Bervian Bispo Gestão de pessoas num processo de aquisição: mudanças culturais • João Carlos Tedesco O artesanato como expressão de um sistema de autarcia econômico-familiar no meio rural: subsídios para uma história econômica regional • Silvana Saionara Gollo Delineamento e aplicação de framework para análise das inovações numa perspectiva de processo interativo: estudo de caso da indicação de procedência vale dos vinhedos - Serra Gaúcha/RS

Nº 26 Eduardo Grijó, Duilio de Avila Bêrni Metodologia completa para a estimativa de matrizes de insumo-produto • Carlos José Caetano Bacha, Leonardo Danelon, Egmar Del Bel Filho Evolução da taxa de juros real do crédito rural no Brasil - período de 1985 a 2003 • Fátima Behncker Jerônimo, Angela de Faria Maraschin, Tania Nunes da Silva A gestão estratégica de sociedades cooperativas no cenário concorrencial do agronegócio Brasileiro: estudo de caso em uma cooperativa agropecuária gaúcha • Monalisa de Oliveira Ferreira, Lúcia Maria Ramos, Antônio Lsboa Teles da Rosa, Patrícia Verônica Pinheiro Sales Lima, Lucas Antônio de Souza Leite Especialização produtiva e mudança estrutural da agropecuária Cearense • Daniela Dias Kuhn, Paulo Dabdab Waquil, Ana Monteiro Costa, Ely José de Mattos, Karen Beltrame Becker Fritz, Luciana Dal Forno Gianluppi Pobreza no Rio Grande do Sul: a heterogeneidade revelada pela abordagem das capacitações nos municípios gaúchos • Ginez Leopoldo Rodrigues de Campos Globalização e trabalho na sociedade de risco: ameaças contemporâneas, resistências locais - globais e a ação política de enfrentamento

Nº 27 Regis Rathmann, Débora Nayar Hoff, Antônio Domingos Padula Estratégias de desenvolvimento regional com base na diversificação da produção: o desenvolvimento da cadeia frutícola da região da campanha do estado do Rio Grande do Sul • Thaisy Sluszz, Eugenio Avila Pedrozo Vantagens competitivas proporcionadas pelo consórcio brasileiro de pesquisa e desenvolvimento do café (CBP&D/Café) • Jerusa Zerbielli, Paulo D. Waquil O papel das instituições na formação dos blocos econômicos regionais: o caso do Mercosul • Maurício Simiano Nunes, Roberto Meurer Arranjos cambiais, crises monetárias e o papel das instituições na escolha de taxas de câmbio: um estudo para economias emergentes • Fabrício Missio, Fabiano D. Alves, Daniel Frainer, Daniel A. Coronel Metas de inflação e o modelo estrutural de previsão: uma análise a partir do caso brasileiro • Emanoel Márcio Nunes, Aécio Cândido de Sousa, João Freire Rodrígues Renda rural e desenvolvimento em áreas de intervenção estatal do Nordeste: o caso de serra do mel / RN

Nº 28 Valdir F. Denardin, Mayra T. Sulzbach Fundamentos econômicos da Lei Recursos Hídricos - Lei nº 9.433 • Déa de Lima Vidal Políticas do Banco do Nordeste do Brasil para a pecuária camponesa: apoio à biodiversidade de pequenos ruminantes em sistemas de produção nordestinos? • Moisés Villalba González, Carlos José Caetano Bacha As políticas florestais do Brasil e Paraguai • Rejane Aparecida Duarte, Achyles Barcelos da Costa O desenvolvimento de cluster industrial: a produção de móveis em Lagoa Vermelha • Adriano Provezano Gomes, Antonio José Medina dos Santos Baptista, Eduardo Belisário Finamore Impactos da ineficiência produtiva na estimação de funções de produção: uma aplicação para a agropecuária do Rio Grande do Sul • Mario Antonio Margarido, Carlos Roberto Ferreira Bueno, Vagner Azarias Martins, Izabelle Felício Tomaz Utilizando modelos de séries temporais para determinação de mercado geográfico relevante: o caso da farinha de trigo na cidade de São Paulo • Debora Nayar Hoff, Kelly Lissandra Bruch, Eugenio Avila Pedrozo Desenvolvimento de nichos de mercado para pequenos negócios: leite e laticínios de cabras e ovelhas em Bento Gonçalves, RS

Nº 29 Rodolfo Hoffmann, Angela Kageyama Pobreza, insegurança alimentar e pluriatividade no Brasil • Antônio Cordeiro de Santana Análise do desempenho competitivo das agroindústrias de polpa de frutas do estado do Pará • João Ricardo Ferreira de Lima, Erly Cardoso Teixeira Política de crédito agrícola para reestruturação da cultura do abacaxi no estado da Paraíba: uma análise sob condição de risco • Juliano Machado de Magalhães, Cláudio Damacena Estudo dos efeitos da responsabilidade social corporativa e da identificação sobre o comportamento do consumidor • Daniela Giareta Durante, Jorge Oneide Sausen O processo de mudança e adaptação estratégica numa empresa familiar: uma análise com base nas escolas de formação de estratégia • Júlio C. G. BertolinMercados na educação superior: das falhas dos quase-mercados à imprescindível regulação do estado • Simone Wiens, Christian Luiz da Silva Índice de qualidade do ambiente para os bairros de curitiba

Nº 30 Régis Rathmann, Antônio Domingos Padula, Débora Nayar Hoff, Alberto Silva Dutra, João Armando Dessimon Machado A decisão nos agronegócios: necessidade de estruturas analíticas sistêmicas para a observação de processos complexos • Gisalda Carvalho Filgueiras, Antônio Cordeiro de Santana, Mário Miguel Amin Garcia Herreros Análise da economia florestal no estado do Pará: uma aplicação da matriz de contabilidade social • Luis Afonso Fernandes Lima, Mario Antonio Margarido Modelando a volatilidade do preço internacional do petróleo • Cássia Aparecida Pasqual, Eugênio Ávila Pedrozo, Marco Antonio Montoya O posicionamento logístico no setor de máquinas e implementos agrícolas na mesorregião Noroeste do estado do Rio Grande do Sul • David Basso, Fabíola Sostmeyer Polita Particularidades do desenvolvimento rural na região delimitada “Vale dos Vinhedos” na Serra gaúcha • Ana Claudia Machado Padilha, Thaisy Sluszz, Paloma de Mattos, Lessandra Scherer Severo, Joceline Lopes Descrição e análise das estratégias implantadas pela Bunge S.A. no período 2004 a 2006

Nº 31 Maria da Piedade Araújo, Joaquim José Martins Guilhoto Infraestrutura de transporte e desenvolvimento regional no Brasil • Fábio Roberto Barão, Moacir Kripka, Rosana Maria Luvezute Kripka Utilização de ferramentas de pesquisa operacional no suporte às tomadas de decisão na administração pública – proposta de modelagem para coleta seletiva no município de Passo Fundo - RS • Adriana Ferreira Silva, Silvia Kanadani Campos, Jaqueline Severino Costa Razão ótima de hedge para os contratos futuros do boi gordo: uma análise do mecanismo de correção de erros • Nali de Jesus de Souza, Valter José Stülp Valores religiosos e desenvolvimento econômico • Jorge Oneiden Sausen, Silvia Augusta Schissi Maurer Gestão do capital intelectual como estratégia competitiva em or-ganizações intensivas em conhecimento: o caso de uma universidade • Márcio Lopes Pimenta, Daniela de Castro Melo, Luiz Henrique de Barros Vilas Boas, Andrea Lago da Silva, Ricardo de Souza Sette Bases de segmentação por valores: um estudo sobre o mercado consumidor de orgânicos da cidade de Uberlândia

Page 200: Revista TEE_ano18_n39_2012

377

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, jul./dez. 2012

Nº 32 Aziz Galvão da Silva Júnior, Carlos Alberto Piacenti, Marco Antônio Viana Leite Impacto do aumento da área de banana-prata nos preços e na renda da bananicultura do norte de Minas • Cleveonei da Silva, Flávio José Simioni, Edson Talamini Fatores deter-minantes da renda de famílias rurais do município de Painel - SC • Pery Francisco Assis Shikida Desigualdades socioeconômicas no Paraná: um estudo de caso mediante análise de componentes principais • Benedito Silva Neto, Márcia Dezen, Patrícia Eveline dos Santos O conceito de reprodução social na análise de unidades de produção agropecuária • Janete Golinski, Paulo Marcelo de Souza, Niraldo José Ponciano Desenvolvimento tecnológico dos assentamentos de reforma agrária do município de Seropédica - RJ • Mayra Taiza Sulzbach, Valdir Frigo Denardin Estruturas de governança em produtos de marcas de distribuidor no Brasil • Verner Luis Antoni, e Kenny Basso Atributos para a oferta de um curso de administração orientado para o mercado: um estudo em uma universidade do Rio Grande do Sul

N. 33 Antônio Cordeiro de Santana, Ismael Matos da Silva, Rubens Cardoso da Silva, Cyntia Meireles de Oliveira, Adriana Gisely Tava-res Barreto A sustentabilidade do desempenho competitivo das madeireiras da região Mamuru-Arapiuns, estado do Pará • Tiago Farias Sobel, André Luiz Pires Muniz, Ecio de Farias Costa Divisão regional do desenvolvimento humano em Pernambuco: uma aplicação da análise de cluster • Jaqueline S. Costa, Andressa Rodriguês Pavão Modelo de previsão de Box-Jenkins para o preço médio da carne de frango no varejo para o estado de São Paulo • Paulo Marcelo de Souza, Marlon Gomes Ney, Niraldo José Ponciano, Henrique Tomé da Costa Mata Estrutura agrária e padrão de desenvolvimento tecnológico: uma análise a partir dos mu-nicípios das regiões Norte e Noroeste do estado do Rio de Janeiro, no período de 1970 a 1995 • Henrique Dias Blois, Guilherme de Oliveira As instabilidades socioeconômicas do setor metal-mecânico da mesorregião Noroeste do estado do Rio Grande do Sul: evidências através da utilização de cenários prospectivos • Silvana Saionara Gollo, Jefferson Bernal Setubal, Cassiana Maris Lima Cruz Competitividade da cadeia produtiva de confecções de Sarandi - RS: estudo exploratório em nível organizacional • Monica Nardi-ni, Julcemar Bruno Zilli Percepção dos agricultores familiares frente ao sistema e aos serviços prestados pela Cotrisal

N. 34 João Garibaldi Almeida Viana, Antonio Domingos Padula, Paulo Dabdab Waquil Dinâmica e desempenho da suinocultura do Rio Grande do Sul sob a ótica da organização industrial • Marco Antonio Montoya, Cássia Aparecida Pasqual, Eduardo Belisário Finamore, Guilherme de Oliveira Mudança setorial e a nova dinâmica do crescimento econômico do município de Passo Fundo • Alex Leo-nardi, João Augusto Rossi Borges, João Batista de Freitas, Luciana Maria Scarton Redes de cooperação em agroindústrias familiares: a Casa da Quarta Colônia • Silvana Saionara Gollo Inovações e estratégias de cooperação e competição no biodie-sel: o caso de fornecedores de óleo vegetal à BsBios – Passo Fundo - RS • Priscilla Welligton Santos Gomes, Antônio Cordei-ro de Santana, Francisco de Assis Oliveira, Marco Aurélio Dias Magalhães Análise sistêmica do Arranjo Produtivo Local (APL) de móveis de Santarém, estado do Pará • João Ricardo Ferreira de Lima Diversificação de setores de atividades produti-vas e o efeito sobre a pobreza no meio rural da Paraíba • Luiz Carlos de Paula, Jersone Tasso Moreira Silva, Luiz Antô-nio Antunes Teixeira, Hugo Ferreira Braga Tadeu Análise do fator risco no lançamento de novos produtos: o caso do se-tor de microcervejarias • Edward Martins Costa, Tiago Farias Sobel, Hermino Ramos de Souza, José Lamartine Távora Junior Estimando carteiras de investimento: um estudo dos setores de energia elétrica e telecomunicações durante o primeiro governo Lula

N. 35 João Carlos Tedesco Trabalho autônomo e empreendedorismo no cenário migratório internacional: trabalhado-res brasileiros na Itália • Eduardo Belisário Finamore, Marco Antonio Montoya, Cássia Aparecida Pasqual Decomposição do crescimento da agricultura e agroindústria na economia gaúcha: uma análise a partir do VBP e do emprego • Ma-theus Albergaria de Magalhães, Victor Nunes Toscano Radiografando os processos de crescimento econômico e convergência de renda nos municípios do Espírito Santo • Lindaura Arouck Falesi, Antônio Cordeiro de Santana, Alfredo Kingo Oyama Homma, Ser-gio Castro Gomes Dinâmica do mercado de frutas na mesorregião Nordeste Paraense no período de 1985-2005: produção e preços • Oberdan Teles da Silva; Eric Dorion; Henrique Dias Blois Os atributos que contribuem para o relacionamento entre uma rede de lojas e seus fornecedores • Marcus Vinicius Alves Finco, Fernanda Dias Bartolomeu Abadio Finco The consumer willingness to pay for food services: an analysis of the Popular Restaurant Program in northern Brazil

N. 36 Eduardo Belisário Finamore, Marco Antonio Montoya, Nadia Mar Bogoni, Rosálvaro Ragnini, Willian Ragnini A interação dos ato-res públicos e privados no Corede produção do estado do rio grande do sul: uma medida de cooperação • Adilson Giovanini, Solange Regina Marin Estrutura fundiária e desenvolvimento humano: evidências para os municípios do RS • Ismael Matos da Silva, Antônio Cordeiro de Santana, Sérgio Castro Gomes, Manoel Malheiros Tourinho Associação de dados espaciais: uma análise exploratória para desenvolvimento econômico do estado do Pará • Severino Félix de Souza, João Ricardo Ferreira de Lima, Aldenôr Gomes da Silva A evolução da pobreza nas famílias rurais da região nordeste: 2003-2009 • Frederico Santos Damasceno, Marina Silva da Cunha Deter-minantes da participação do idoso no mercado de trabalho brasileiro • Roberto Fray da Silva, Bruno Rógora Kawano, Giana de Vargas Mores, Henrique Dias Blois Exportação da soja brasileira: será o corredor bioceânico uma alternativa para o seu escoamento?

N. 37 Alysson Luiz Stege, José Luiz Parré Desenvolvimento rural nas microrregiões do Brasil: um estudo multidimensional • Marco Antonio Montoya, Cássia Aparecida Pasqual, Nadia Mar Bogoni, Thelmo Vergara Martins Costa Evolução do uso de energia na estrutura de produção e consumo do Rio Grande do sul: uma abordagem insumo-produto • Douglas Alcantara Alencar Os determinantes do investimento di-reto estrangeiro na década de 1990: um estudo teórico • Daiane Lindner Radons, Luciana Flores Battistella, Márcia Zampieri Grohmann, Carlos Gustavo Martins Hoelzel A infl uência dos ídolos no comportamento de jovens consumidores Medidas diretas de avaliação do desempenho de uma marca: um estudo exploratório no setor de serviços • Aline Mara Meurer, Janine Fleith de Medeiros, Liciane Fritzen Medidas diretas de avaliação do desempenho de uma marca: um estudo exploratório no setor de serviços

N. 38 Fernanda Schwantes, Marcelo José Braga, Antônio Carvalho Campos Efeitos das barreiras geográfi cas e comerciais sobre as expor-tações brasileiras de carne bovina (1996-2007) • Julcemar Bruno Zilli, Geraldo Sant’Ana de Camargo Barros, Nádia Mar Bogoni Precifi ca-ção de terras de propriedades rurais em Cascavel - PR: uma análise das opções reais • armando Vaz Sampaio Equação salarial por região no brasil, 1997, 2002 e 2007 – uma abordagem quantílica • Dilamar Dallemole, Diogo Amorim José de Almeida Análise locacional dos aspectos socioeconômicos e fi scais da produção de soja em Mato Grosso • Exzolvildres Queiroz Neto Para além do Programa Bol-sa Família: complexidade dos contextos, metamorfoses do desenvolvimento, crescer o bolo ou dividir a receita • Carla Colombelli, Mirna Muraro, Sandra Regina Toledo dos Santos O impacto da lei nº 12.101/2009 na apresentação das demonstrações contábeis das Apaes/RS • Alexandre Dellamura Sarmento Notas sobre o take-off: a teoria rostowiana revisada

Page 201: Revista TEE_ano18_n39_2012

378

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, jul./dez. 2012

UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO

A Universidade de Passo Fundo tem uma or-ganização multicampi:

Campus I, II e III - Passo FundoCampus CarazinhoCampus CascaCampus Lagoa VermelhaCampus Palmeira das MissõesCampus SarandiCampus Soledade

Compõe-se de faculdades e institutos:- Instituto de Ciências Exatas e Geociências- Instituto de Filosofia e Ciências Humanas- Instituto de Ciências Biológicas- Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária- Faculdade de Artes e Comunicação- Faculdade de Direito- Faculdade de Ciências Econômicas, Administra-tivas e Contábeis- Faculdade de Educação- Faculdade de Educação Física e Fisioterapia- Faculdade de Engenharia e Arquitetura- Faculdade de Medicina- Faculdade de Odontologia

Cursos de graduação:- Curso Superior de Tecnologia em Agronegócio

(CST) - Curso Superior de Tecnologia em Design de

Mobiliário (CST) - Curso Superior de Tecnologia em Design de

Moda (CST) - Curso Superior de Tecnologia em Estética e

Cosmética (CST) - Curso Superior de Tecnologia em Fabricação

Mecânica (CST) - Curso Superior de Tecnologia em Gestão de

Recursos Humanos (CST) - Curso Superior de Tecnologia em Logística

(CST) - Curso Superior de Tecnologia em Produção

Cênica (CST) - Curso Superior de Tecnologia em Sistemas para

Internet (CST) - Administração (B) - Agronomia (FP) - Arquitetura e Urbanismo (FP) - Artes Visuais (LP) - Ciência da Computação (B) - Ciências Biológicas (LP ou B) - Ciências Contábeis (B) - Ciências Econômicas (B) - Comunicação Social - Jornalismo (B)

- Comunicação Social - Publicidade e Propaganda (B)

- Curso Superior de Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas

- Curso Superior de Tecnologia em Design Gráfico (CST)

- Curso Superior de Tecnologia em Gestão Com-ercial

- Curso Superior de Tecnologia em Produção do Vestuário (CST)

- Direito (B) - Educação Física (LP ou B) - Enfermagem (FP) - Engenharia Ambiental (FP) - Engenharia Civil (FP) - Engenharia de Alimentos (FP) - Engenharia de Produção Mecânica (FP) - Engenharia Elétrica (FP) - Engenharia Mecânica (FP) - Farmácia (FP) - Filosofia (LP ou B) - Física (LP) - Fisioterapia (FP) - Fonoaudiologia (FP) - Geografia (LP) - História (LP) - Letras - Licenciatura em Língua Portuguesa,

Língua Inglesa e respectivas literaturas (LP) - Letras - Língua Portuguesa, Língua Espanhola

e respectivas literaturas (LP) - Matemática (LP) - Medicina (FP) - Medicina Veterinária (FP) - Música Licenciatura, Música Bacharelado

Instrumento - Nutrição (FP) - Odontologia (FP) - Pedagogia (LP) - Psicologia (FP) - Química (LP ou B) - Secretariado Executivo Bilíngue (B) - Serviço Social (B)

Ensino de línguas estrangeiras:- Alemão- Espanhol- Inglês- Italiano- Japonês- Libras- Francês- Português

Page 202: Revista TEE_ano18_n39_2012

379

Teoria e Evidência Econômica - Ano 18, n. 39, jul./dez. 2012

FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS, ADMINISTRATIVAS E CONTÁBEIS

CENTRO DE PESQUISA E EXTENSÃO DA FEAC

O Centro de Pesquisa e Extensão da Faculdade de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis (Cepeac) pretende proporcionar o desenvolvimento econômico e o aprimoramento dos recursos humanos da região e tem como um dos seus objetivos específicos constituir-se em centro de documento para produzir, sistematizar e divulgar informações e conhecimentos técnicos e científicos.

Os grupos e respectivas linhas de pesquisa do Cepeac cadastrados no CNPq são os seguintes:

Economia Aplicada

• Ambiente econômico, político e social• Análise econômica e tomada de decisões

Economia e Gestão do Agronegócio

• Economia regional e urbana• Economia dos recursos naturais• Economia e gestão do agronegócio

Estratégias Organizacionais

• Comportamento humano nas organizações• Estratégia e competitividade organizacional

Grupo Interdisciplinar de Estudos Sobre Trabalho

• Sujeitos e organização do trabalho• Trabalho e educação

Page 203: Revista TEE_ano18_n39_2012

TEORIA E EVIDÊNCIA ECONÔMICASolicito:

[ ] alteração de dados cadastrais

[ ] assinatura(s) anual(is) da revista Teoria e Evidência Econômica

[ ] exemplares avulsos da revista Teoria e Evidência Econômica, nas quantidades abaixo especificadas:

[ ] n.5 [ ] n.6 [ ] n.7/8 [ ] n.9[ ] n.10 [ ] n.11 [ ] n.12 [ ] n.13[ ] n.14 [ ] n.15 [ ] n.16 [ ] n.17[ ] n.18 [ ] n.19 [ ] n.20 [ ] n.21[ ] n.22 [ ] n.23 [ ] n.24 [ ] n.25[ ] Ed. Especial [ ] n.26 [ ] n.27 [ ] n.28[ ] n.29 [ ] n.30 [ ] n.31 [ ] n.32[ ] n.33 [ ] n.34 [ ] n.35 [ ] n.36[ ] n.37 [ ] n.38

Para pagamento, no valor de R$ .................................., estou enviando:

[ ] cheque nominal à Universidade de Passo Fundo cheque nº: ............................Agência: ......................Banco:................................

[ ] Vale postal nº.............................

Nome: .............................................................................................................................

Instituição:................................................................. Profissão: .................................

Endereço: ......................................................................................................................

Cidade: ..................................................................... Estado: .............CEP: .................

Fone: ............................................................. Fax: .......................................................

Local e Data: ................................................ Assinatura: ...........................................

Os pedidos de revistas devem ser enviados para:

Revista Teoria e Evidência EconômicaUniversidade de Passo FundoFaculdade de Ciências Econômicas, Administrativas e ContábeisCampus I - Bairro São José - Passo Fundo - RS - Brasil - CEP 99001-970Fone (54) 3316-8245/8244 Fax (54) 3316-8236/8125E-mail: [email protected]