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Ponto de Cultura Tear - Tecendo Cultura, Cidadania e Direitos Humanos Ano I - Número 2 - Setembro de 2010 Juventude, organização social e políticas públicas Como vão nossos meninos e meninas? Agricultura Familiar • Futebol em Gostoso • Pai da Noite • Bombaço • Poesia e Arte

Revista Guajiru n. 2

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Revista produzida por alunos da oficina de jornalismo do Espaço Tear, de São Miguel do Gostoso (RN).

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Ponto de Cultura Tear - Tecendo Cultura, Cidadania e Direitos Humanos Ano I - Número 2 - Setembro de 2010

Juventude, organização social e políticas públicas

Como vão nossos meninos

e meninas?

Agricultura Familiar • Futebol em Gostoso • Pai da Noite • Bombaço • Poesia e Arte

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E D I TO R I A L

Gostoso é crescimento coletivo

uando recebi o convite (ou a convocação)

para fazer parte da família Tear, não pensei

duas vezes e aceitei sem hesitar. Tinha noção que

diante de mim se apresentava um desafio. Seria

legal organizar meus conhecimentos e tentar

passá-los às pessoas com vontade de aprender.

Algumas coisas aumentavam minha respon-

sabilidade, os quilômetros de ida e volta a São

Miguel, a boa base dada aos alunos pelos profes-

sores anteriores, o desejo deles de aprenderem

algo novo. No final, tudo isso virou um grande

estímulo para continuar.

A vontade e interesse desses jovens desper-

taram em mim um sentimento, até então desco-

nhecido (ou adormecido), o senso de responsa-

bilidade social. De que adianta guardar nossos

conhecimentos e aptidões apenas para nós? Por

que não ampliar as alternativas da população

oferecendo o que de mais valioso temos? Nosso

conhecimento e experiência.

Confesso que deu certo trabalho fazer al-

guns alunos produzirem. Tive que usar recursos

extraclasse. O desafio se tornava cada vez mais

interessante. As aulas de fotografia revelaram o

olhar apurado e naturalmente talentoso dessa

gente. Foram meses de teoria e prática, exercí-

cios e análises.

O resultado desse nosso momento está es-

tampado nas páginas seguintes. O esforço re-

compensado em um material realmente “Gosto-

so” de se ver, e ler. Todas as pautas e assuntos

dessa edição surgiram dos debates em sala de

aula.

Esperamos que goste da sua revista, ela foi

feita com carinho. Se quiser envie-nos suas opi-

niões, sugestões, idéias e comentários. O Tear,

assim como a Revista Guajiru, é feito por muitas

mãos, com trabalho coletivo e união de ideais.

Participe conosco, afinal, você também faz parte

da família Tear.

Namastê!

Alessandro AmaralEditor

Q

Foto

: Ale

ssan

dro

Am

aral

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S U M Á R I OE X P E D I E N T E

Diretoria Do CDHeC

CoorDenaDor

Ariclenes França da Silva

tesoureira

Anne-Dominique Losch Pastore

seCretário

Alessandro Magnus Xavier do Amaral

ConselHo FisCal

titular

Osair VasconcelosFilippo Rodrigo Rabelo dos SantosJoão Roberto Scomparim

suplente

Carlos Antônio PeixotoClaribel ScomparimPatricia Caetano de Oliveira

revista Guajiru nº 2 – 2010Publicação do Espaço Tear – São Miguel do Gostoso

eDitor Geral

Alessandro Amaral

DiaGramação

Alessandro Amaral, Ariclenes França da Silva, Ricardo Silva, Heldene da Silva Santos

reDação Alexsandro Barbosa Santos, Andreza Fernandes da Silva, Andriele Torres da Silva, Ariclenes França da Silva, Francimara Alves da Silva, Francisco dos Anjos Cardoso, Heldene da Silva Santos, Janicleide Dones, Joelma de Souza Silva, Luzia Ferreira de Oliveira, Maria Lucivânia Menezes Silva, Mikarlla Cavalcante da Silva, Ricardo André R. C. da Silva, Wellington França da Silva.

FotoGraFia Alessandro Amaral, Andreza Fernandes da Silva, Ariclenes França da Silva, Francisco dos Anjos Cardoso, Heldene Santos, Janicleide Dones, Maria Lucivânia Menezes Silva, Wellington França da Silva

ComerCial Ariclenes França da Silva, Wellington França da Silva, Francisco dos Anjos Cardoso

revisão

Alessandro Amaral, Heldene da Silva Santos

Colaboração Anne-Dominique Losch Pastore, Filippo Rodrigo

GráFiCa: Quatro Cores

tiraGem: 2.500 exemplares

http://tearcultura.blogspot.com

[email protected]

5 palavra Do leitor

6 entrevista

Isabel Neri: “Meu sonho é ver a casa paroquial pronta!”

8 perFil

Bombaço: “refazer a vida é uma questão de tempo”

9 jornalismo

Aula, pizzas e cinema: Estudantes visitam jornal diário em Natal

11 poesia e arte

19 espaço tear

Pingue-Pongue com padre Fábio

24 Cultura

Gostoso respira e transpira cultura popular durante Escambo

28 noviDaDes

32 esporte

O Futebol em São Miguel do Gostoso

34 lenDa

O Pai da Noite

36 DiCas

37 espaço tear

Galeria de Fotos

38 artiGo

Não somos PIPA... nem seremos!

16 memória

Caravana dos Direitos Humanos e Cidadania do RN

20 matéria De Capa

Juventude, organização social e políticas públicas

12 espaço tear

Que projeto é esse que faz tanta diferença em São Miguel?

30 ComuniDaDe

Agricultura Familiar Valoriza o trabalho

coletivo, o produto e a comunidade

MINISTÉRIO DA CULTURA

CDHECBanco do BrasilAgência: 3525-4

C/C.: 27.021-0

IBAN : 001352540000270210

SWIFT: BRASBRRJSDRDados bancários do projeto Tear

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PA L AV R A D O L E I TO R

A Revista Guajiru apresenta diversos aspectos de nossa

cultura. Mostra para todos o valor de um povo cheio de

saberes popular. Saberes estes que vem sendo repassado

de geração para geração através da oralidade e que agora

começa ser escrito. Hoje temos a oportunidade de registrar

esses conhecimentos. Isto é importante para nossa gente

que se sente valorizada, respeitada na sua diversidade social

e cultural e o que é mais gostoso é relembrar de nossa

cidadezinha tão cheia de graça, onde cresci com tanta

liberdade e pureza. Quando li a Revista Guajiru, lembrei

muito de como ela era e vendo hoje as transformações de

nossa cidade, de nossas praias, o meu coração se encheu de

alegria de lembrar o tempo em que nadava na lagoa, depois

corria para o mar, subia as dunas altas que tinham na beira

da lagoa e descia deslizando em um cavalete. O prazer de

vivenciar novamente estes momentos felizes de criança é

muito gostoso. Imagino quantas pessoas não sentiram a

mesma coisa! Daí a importância dessa revista que traz para

nós uma leitura de mundo de muito gosto e prazer.

Ana Célia Gomes Neri, professoraSão Miguel do Gostoso

Já ouvi muitas histórias de São Miguel do Gostoso, lendas, causos,

contos. Já vi muita arte e muitas vezes pensei como isso poderia

ser preservado. Uma resposta me veio quando li a Revista Guajiru.

Estavam lá lendas como a do Fogo do Batatão, informações sobre o

pastoril e o boi de rei, perfis de pessoas interessantes da comunidade

que a gente dificilmente pararia para prestar atenção. Pronto. As

coisas começavam a ser escritas e gravadas para todo povo. Muito

importante esse trabalho.

Fabiano Garcia, músicoSão Miguel do Gostoso

Eu li e gostei muito da Revista

Guajiru. É um veículo importante

de preservação da cultura da

nossa cidade e assim tão bem

elaborada, gostosa de ler,

melhor ainda. É uma forma

bastante interessante, inclusive

de estar mostrando lá fora o que

é que Gostoso tem. De chamar

a atenção da população local

para os seus próprios valores,

e do Brasil que Gostoso tem

muito mais além de praias, que

por sinal são lindas mesmo,

e pousadas. Parabéns a toda

equipe pelo trabalho. Tenho

certeza que logo teremos a

próxima edição ainda melhor.

Neilson Gomes da Silva, universitário

São Miguel do Gostoso

Ai que coisa mais linda! Amei a primeira edição da Revista Guajiru.

Fiquei até com saudades de Gostoso. Parabéns a equipe da revista

pelo trabalho. Um projeto como este enriquece muito a cultura

local, tanto pela divulgação dessa cultura lá fora como também

por contribuir para que a própria população local perceba o valor

das coisas que tem, e que por estar tão perto, está sujeito a passar

despercebida. Parabéns! Lindo trabalho. Estou ansiosa pela próxima.

Eliene Rodrigues, universitáriaBrusque – SC

Ganhei a Revista Guajiru

de um amigo gostosense.

Fiquei feliz pelo

presente, é claro, mas

simplesmente guardei.

Uns três meses depois

a peguei por acaso e

comecei folhear e fui

achando interessante.

Adorei a revista. Que

tantas histórias bonitas,

de cultura bonita, de

gente bonita. Espero

que alguém lembre de

me presentear com a

próxima edição. Com

certeza estarei lendo

imediatamente. É uma

iniciativa linda esta. São

Miguel do Gostoso está

de parabéns.

Ana Cecília Pontes, socióloga

Portugal

Envie sua opinião, crítica ou sugestão para [email protected]

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sabel Teixeira Neri, carinhosamente apelidada Dona Bebé,

até oito anos de idade viveu na fazenda chamada Limão,

em João Câmara. Com a triste perda de seu pai, Manoel

Teixeira da Silva, sua mãe, Olímpia Teixeira da Silva, não teve

escolha e decidiu morar novamente com seus pais. Passaram

então a viver em São Miguel de Touros. Pela carência do mu-

nicípio, com quase nada de estudos, tornou-se a primeira pro-

fessora pelo Estado.

A competência e capacidade de seu marido, Nilo Ribeiro

Neri – falecido há cinco anos – o fizeram tornar-se o primeiro

enfermeiro de São Miguel e comunidades vizinhas, gerando

de seus trabalhos a farmácia que está em atividade até os

dias atuais.

E N T R E V I S TA

Isabel Neri:“Meu sonho é ver a casa paroquial pronta!”

Isabel começou a dedicar-se a Igreja Católica desde a in-

fância e ainda hoje reza o terço com suas amigas todas as

noites na Igreja de São Miguel Arcanjo. Foi fundadora do mo-

vimento Legião de Maria, do Apostolado do Sagrado Coração

de Jesus e foi catequista de jovens e crianças. Também esteve

responsável pela administração da Igreja durante longo perí-

odo (hoje esta atividade é feita pelo sacerdote, pois a comu-

nidade está prestes a tornar-se paróquia). Mantém um bazar

em benefício da casa paroquial e dedica-se integralmente a

Igreja. Diz ainda que seu sonho é ver a casa pronta. Isabel

participa assiduamente de movimentos e eventos religiosos

em São Miguel do Gostoso. Conversamos com Dona Bebé em

sua casa, confira agora um pouco desse bate-papo.

I

Como foi sua infância?Nasci em 1929 numa fazenda chamada

Limão, nos arredores de João Câmara.

Minha mãe, Olímpia Teixeira da Silva,

casou com meu pai, Manoel Teixeira da

Silva, sendo uma boa mãe para seus fi-

lhos. Porque quando ele casou já tinha

filhos com outra mulher. Eram eles:

Torquato, José e Elias. Quando eu tinha

oito anos de idade, meu pai faleceu.

Com a morte dele, decidimos morar

em São Miguel de Touros. Minha mãe

vendeu a fazenda para pagar as dívidas

que ele deixou.

Ao chegar a São Miguel de Touros onde passaram a morar?Nós chegamos em 1938 e passamos a

morar na casa dos meus avós mater-

nos, Isabel e Bento Ambrosio Santana.

A família cresceu. Trabalhávamos todos

juntos na agricultura, acordando cedo,

indo a pé ao roçado, apanhando feijão

verde, seco, rapávamos mandioca, entre

outras coisas. Nos juntávamos todos na

sala para debulhar feijão e minha avó

contava muitas histórias de Troncoso.

Como foi sua formação escolar? Eu aprendi a ler e escrever em casa,

com minha mãe. Ela resolveu não me

matricular na escola, pois não concor-

dava com a doutrina muito permissiva

da professora local. Nem sequer tinha

renda suficiente para pagar uma escola

particular.

Como começou seu trabalho na co-munidade de Gostoso?Aos 12 anos, dei aulas particulares na

casa onde morava. Na época ganhava

muito pouco. Aos 15 anos passei a en-

sinar, sendo a primeira professora da

comunidade contratada pelo Estado.

Naquele tempo fui a Touros a cavalo

para ajeitar os papeis nos seis primei-

ro meses e não consegui receber meu

salário. Consegui ajuda de uma procu-

radora, mesmo assim perdi a remunera-

ção desses meses de trabalho. A partir

daí passaram a me pagar corretamente.

Onde ensinava não era uma escola,

usávamos uma antiga casa, onde hoje

se encontra a pousada Mar de Estrelas.

Lá não tinha bancos, quadro nem giz.

Texto: Alexsandro Barbosa

e Andreza Fernandes

Fotos: Andreza Fernandes

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Conte-nos como foi seu primeiro na-moro?Pedro Gomes da Rocha, meu primo,

queria namorar comigo. Dizia ele que

eu tinha um bom procedimento, uma

boa conduta e seria uma ótima esposa.

Eu não queria muito esse namoro, mas

tanto minha mãe quanto a dele que-

riam. Por obediência, aceitei.

Ele trabalhava em um comércio em

Umburana – Macau. Devido a idade foi

servir ao exército em Natal e nas férias

vinha a São Miguel de Touros. Aos 15

anos noivamos. Minha mãe, com toda

simplicidade, preparou o enxoval. Ele já

tinha casa em Natal. Com poucos dias

para o casamento soube que arranjara

uma namorada, chamada Letícia. Ime-

diatamente terminei o relacionamento,

devolvendo os presentes e as alianças.

Menos de 15 dias após termos termina-

do, casou-se com ela.

Como conheceu seu esposo?Miguel Ribeiro Neri, meu sogro, tinha

uma mercearia onde hoje é a papelaria

Santa Isabel, e resolveu ir morar em Tou-

ros. Escreveu para Nilo, seu filho, que

viesse tomar conta do estabelecimen-

to. Ele era do exército, fazia curso para

sargento, era auxiliar de médico e den-

tista. Atendendo ao pedido do pai, deu

“baixa” e veio morar em São Miguel de

Touros. Ele simpatizou comigo e logo

passamos a namorar, poucos meses de-

pois noivamos.

Nesse namoro, também não foi di-

ferente. Viajei a Natal durante o perío-

do do carnaval. Ao voltar, ele confessou

ter uma namorada chamada Lurdinha.

De imediato devolvi os presentes e as

alianças. Em menos de um mês come-

çou a se aproximar de mim novamente,

me pastorando ao sair do trabalho, da

Igreja. As pessoas diziam que eu canta-

va muito bem, que tinha uma bela voz.

Para me conquistar me oferecia coco

verde e eu os jogava fora. Mandava-me

cartas, eu as devolvia mesmo sem ler.

Nilo chegou a dizer “Isabel e muito or-

gulhosa”.

Procurou-me confessando está mui-

to triste e arrependido. Tentou de varias

formas me fazer voltar pra ele. Confusa,

sem saber se perdoava ou se valeria a

pena, pedi a Deus e a Maria santíssima

que me desse um sinal. Na noite se-

guinte tive um sonho, aparentemente

bom, e interpretei que deveria aceitá-lo.

Conversamos e reatamos o noivado, de

imediato providenciaram tudo para o

casamento. Casei no dia 18 de março

de 1948 em João Câmara, na igreja e no

cartório.

Como surgiu a ideia da farmácia?Nilo, por experiência de vender remédio

na mercearia, atendia todas as pessoas

que o procuravam. Atendia os arredores

de São Miguel do Gostoso. Muitas ges-

tantes foram salvas por ele, daí se cons-

truiu a farmácia.

O que motiva essa dedicação integral à igreja? É uma missão. Aos oito anos já caminha-

va para a igreja, indo toda noite rezar na

capela de São Miguel Arcanjo, que foi

fundada por Miguel Félix Martins no dia

29 de setembro de 1899. Sendo muito

católico e devoto do arcanjo, fez uma

promessa e alcançou a graça. Então fez

o que havia prometido, construiu uma

capela em sua honra.

A missão religiosa começou com

Miguel, passou para José Italiano e sua

esposa. Com o passar dos anos, eles se

mudaram e Dona Sabina dos Santos Tor-

res assumiu a responsabilidade. Em se-

guida minha mãe, passando então para

mim e hoje tendo como responsável,

Angelina Santana, secretaria paroquial.

Eu acolhia padres, freiras e bispos

em casa. Na época, o padre vinha a ca-

valo. Eu chegava a perder a missa indo

pedir auxílio para ele. Dedico-me até

hoje, investindo na pintura, algumas

reformas, não deixando morrer a festa

tradicional da igreja. Chegou também

aos cuidados de Isabel de Matos que

contribui até hoje na evangelização.

Você sente-se realizada? Sim. Meu sonho também é ver a casa

paroquial pronta, antes de morrer. Es-

crever um livro contando toda historia

da minha vida. Tenho um bazar em be-

nefício às obras da casa paroquial. Em

meu aniversário faço questão dos meus

presentes serem em dinheiro para doá-

los a construção. Sonho também em

construir uma creche.

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Bombaço: “refazer a vida é uma questão de tempo”Ex-empresário bem sucedido busca reconstruir sua vida e ter novamente sua própria casa

Nascido e criado em São Miguel do

Gostoso, Bombaço, como é mais co-

nhecido, é referência por sua figura e

sua história. Seu apelido teve origem

nos chutes fortes, “os bombaços”, que

quando garoto aplicava nos jogos de

futebol. José Ceará de Souza, 53 anos,

já foi um dos homens mais ricos da re-

gião, hoje, com muito esforço e ajuda

de outras pessoas está conseguindo

construir sua casa.

Bombaço foi menino de pé no chão,

conta que calçou os pés pela primeira

vez, aos 13 anos, usando um par de san-

dálias comprado com dinheiro da venda

de peixes. Do mesmo modo a roupa, se-

gundo ele. “Naquele tempo não tinha

esse negócio de comprar roupa não”,

revela. “Era arranjado uns sacos de açú-

car feito de pano e mandava fazer os

‘calção’ e camisa”.

Teve uma juventude movimentada,

participou de grupos de jovens, boi de

reis, e de muitas festas. Tinha, inclusive,

a fama de gostar de armar confusões,

mas conta que apenas reagia às coisas

que não gostava. Como exemplo, diz

que certa vez estava numa festa e viu

sua irmã ser insultada por um rapaz que

queria forçá-la a dançar. Chateado, bateu

no rapaz. Em seguida foi abordado pela

polícia, como não achava certo que de-

veria ser preso também “deu uns pau na

polícia”, confessa, e fugiu.

Começou trabalhar aos cinco anos

de idade com seu pai. Nunca estudou.

Conta que na sua época havia o ensino,

mas era através do rádio. “A pessoa dava

aula lá de Natal”, diz ele, “e assim eu

não gostava”. Com habilidades para a

agricultura, pescaria, carpintaria e muita

disposição para trabalhar, Bombaço tor-

nou-se um grande empresário, proprietá-

rio de casas, comércios e embarcações.

Já chegou a ser dono de uma frota de

16 embarcações, parte delas construída

por ele mesmo. Até emprestava dinhei-

ro para outros empresários da região, há

alguns desses que, segundo conta, nun-

ca pagaram seus empréstimos.

Diante do empresário bem sucedido,

a sorte e a vaidade não foram favoráveis.

Em 1992, com uma inflação sempre em

alta e propostas ambiciosas dos bancos,

o empresário vendeu seus bens e apli-

cou quase todo o dinheiro no BANDERN

(Banco do Estado do Rio Grande do Nor-

te) que logo em seguida foi fechado por

providências do Governo Federal, liderado

pelo então presidente da república, Fer-

nando Collor de Melo. Bombaço, como

muitos que acreditaram nas propostas

do banco aplicando seu dinheiro, perdeu

tudo. Ou quase tudo. “Também gastei

uma ‘partezinha’ com bebedeiras... E com

mulheres”, diz ele.

Depois dessa maré, seu Bombaço,

volta para a agricultura, a pesca e a car-

pintaria. Ainda hoje ganha um dinhei-

rinho construindo alguma embarcação

por encomenda e com a pescaria. Sor-

rindo, ele diz: “Caí uma vez e me levan-

tei. Caí de novo e, novamente, vou me

levantar. Refazer a vida é uma questão

de tempo”.

Foi menino de pé

no chão, conta

que calçou os

pés pela primeira

vez aos 13 anos,

usando um par

de sandálias

comprado com

dinheiro da venda

de peixes

P E R F I L

por Heldene Santose Maria Lucivânia Silva

Foto

: Mar

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ânia

Silv

a

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J O R N A L I S M O

Aula, pizzas e cinema:

Estudantes visitam jornal diário em Natal

A idéia seria visitar a redação de um

grande jornal diário da capital e sabati-

nar profissionais do jornalismo em seu

lócus cotidiano. Através de contato pré-

vio com Carlos Peixoto, diretor de reda-

ção da Tribuna do Norte, foi agendado

a visita técnica que teve início às 15h.

Recebidos por Cibele Ribeiro, do Depar-

tamento de Marketing, os alunos pude-

ram conhecer um pouco da história do

veículo e suas instalações.

Na sala de fotografia, a editora Ana Sil-

va, contou histórias pitorescas e revelou

segredos do mundo da fotografia jorna-

lística. O chefe do setor de diagramação,

Carlos Bezerra, apresentou a forma que o

jornal é formatado e como se dá a intera-

ção entre jornalistas, fotógrafos e diagra-

madores na composição das páginas.

Ao final todos ganharam exemplar

do livro comemorativo aos 60 anos do

jornal e puderam relaxar num dos maio-

res shopping centers da capital. Após a

maratona no jornal, a turma se emocio-

nou ao assistir o filme Nosso Lar, basea-

do na obra de Chico Xavier, e degustou

pizzas ao termino da sessão. “Hoje foi

um dos melhores dias da minha vida”,

confessou Alexsandro Barbosa dos San-

tos, aluno do projeto.

Da redação à oficina de impressão,

passando pelos setores intermediários

na produção de um jornal até chegar às

conhecimento teórico traz novas perspectivas à

vida profissional e acadêmica de cada estudante.

Mas como fazer para vivenciar esse conhecimento na

prática? Idéias surgem e planos são traçados com o ob-

jetivo de suprir essa necessidade. Nesse intuito, a turma

da Oficina de Jornalismo do Tear seguiu viagem até Na-

tal, para conhecer a redação do jornal Tribuna do Norte,

no dia 15 de setembro. Uma aula diferente e um dia es-

pecial onde todos aprenderam e divertiram-se bastante.

O

bancas de revistas, os alunos da oficina

de Jornalismo do Tear puderam acom-

panhar de perto o processo do fazer jor-

nalístico. A visualização da teoria sendo

aplicada na prática é algo de grande im-

portância no aprendizado de uma nova

profissão. O Tear agradece ao jornalista

Carlos Peixoto por proporcionar essa pri-

meira oportunidade aos nossos alunos.

A editora do caderno Natal, Yara

Okubo, também esteve com os aprendi-

zes e tirou todas as dúvidas relacionadas

à prática diária do jornalismo. Encantada

com a correria da redação, a turma bom-

bardeou a jornalista com muitas pergun-

tas, todas atenciosamente respondidas.

Cada setor despertou um interesse a

parte em cada participante, gerando um

clima de aprendizado e diversão.

Yara esclareceu as dúvidas dos alunos

Cibele apresentou as instalações do jornal

Ana revelou alguns segredos do fotojornalismo para a turma

Carlos conta como são formatadas as páginas diariamente

A turma da oficina de Jornalismo do Espaço Tear reunida em frente ao prédio da Tribuna do Norte

Texto e fotos: Alessandro Amaral

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Não é só o vento, sol, praias e belas mulheres que caracterizam a cidade de São Miguel do Gostoso. Há também muita responsabilidade socio-ambiental em nossa comunidade. Esse trabalho é realizado com muito amor e dedicação pelos agentes sociais locais e incentivo importante de parceiros engajados na promoção dos direitos humanos e cidadania. Para manutenção e realização desse projeto, contamos com sua participação. Venha fazer parte da família Tear e ajude a incentivar o desenvolvimento e a diversidade cultural do nosso país. Seja bem-vindo!

Dados bancários CDHECBanco do Brasil: Agência 3525-4 - C/C. 27.021-0

IBAN: 001352540000270210

SWIFT: BRASBRRJSDR

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Andar com veículos na praia é um atentado às pessoas de nossa comunidade e turistas, bem como um crime ambiental

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FEITO JOIO E TRIGO

Mas que podre é o Mundo!Pessoas interessantes, classes divididas,Filé mignom, bife do oião.Que se danem!Ó Mundo ridículo.Ridículo no sentido de ser ridículo;Como a educação no Brasil;Como as paredes magnéticas que criam nas raças, etnias, classe social.Ridículo como o verso que escrevo.- Preciso ser ridículo para participar das coisas do Mundo?...Mas as coisas do Mundo também são ridículas.

Janicleide Dones

GOSTOSO ENCANTO

Canto dos deuses, que GostosoPedaço de um Brasil formosoDe belo ceu azul anil

Que belas praias, que vontade De ver da lua a claridadeDo sol a luz acontecer

Tem o mar um azul que nosdominaUm por do sol que nos fascinaMais um lual até o amanhecer

Cheguemos a Praia do MarcoBuscando a historia, o passadoPois o Brasil nasceu aqui

Praias da Xepa, do Cardeirodo Santo Cristo, os coqueirosos maceiós, os jangadeiros

Rico folclore o povo cantaVem ver da fauna e a floraa dançaA voz do vento ao coração

Felicidades ao relentoPodemos ver a todo momentoTerras férteis, plantações

Sol, dias quentes, noites friasVegetação rara, queria Esse bom vento do litoral

Belo reduto, morros tantoAmor bonito que exclamo:- Gostoso paraíso feliz!

Então recito um belo cantoDa bela moça o encantoDe um pedaçinho do Brasil

Heldene da Silva Santos

VIRGÍNIA

Desde muito pequena A labuta a conheceuE jamais a abandonouEla, desde cedo, responsávelCuidou de casa, gado e roçadoConta dos irmãos tomouTrabalho?! Nunca rejeitou

Ô mulher de língua afiada!Não agüenta nada caladaTambém de nada tinha medo

Montou em burro brabo,Jumento desembestadoPegava em cobra coráEm brasa e o que aparecessePra ela tudo era possívelE dizia: “Se o medo existeeu não conheço.”

No seu tempo de meninaAté mulher muito novaTransporte não existiaIa a pé onde fosse

De Galinhos a GostosoTaipu a Baixa VerdeTouros ao BoqueirãoFosse perto ou distantePra visitar seus parentes Não tinha medo de chão

Mulher pequena e franzinaAparentemente frágilMas frágil só na aparência- Forte e determinada!Em toda a sua vidaSó não atirou de espingardaPorque a arma de fogoEla não apreciava

Firme como uma rochaCom muita admiração“Voinha”! Queria ser como elaE ainda peço de DeusQue lhe dê muita benção.

Sandra Cristina de Melo (uma homenagem a Virgínia,

sua avó, 91 anos)

P O E S I A E A RT E por Janicleide Dones

Labirinto feito por D. Paulinha

Paulina Martins da Silva, mais conhecida como

“Dona Paulinha” mora em São Miguel do Gostoso

desde o ano em que nasceu. Atualmente com 72

anos, a artesã persiste em fazer seu trabalho –

labirinto (tipo de renda produzida com agulha, e tem

como característica o fio desfiado preliminamente).

Guajirú: Com que idade aprendeu a fazer labirinto?D. Paulinha: Aos oito anos de idade.

Guajiru: como e com quem aprendeu?D.Paulinha: minha mãe fazia labirinto, eu sempre a

olhava e foi com ela que aprendi.

Guajirú: Por que quis aprender?

D. Paulinha: Na época não existia trabalho, o

que tínhamos era o roçado (sitio de plantações).

Trabalhávamos limpando mato e eu não queria,

então tive que aprender a fazer labirinto. Minha mãe

sempre me batia para eu poder aprender e ajudá-la.

Guajirú: Você considera seu trabalho valorizado?D. Paulinha: Claro que sim. Mas só tem um defeito,

não da direito a aposentadoria. Sou aposentada

como marisqueira, por que aos 22 anos trabalhei

com caçoeira (tipo de rede de pesca), depois parei

e continuei com labirinto e só deixo depois que eu

morrer (risos).

Guajirú: Seu trabalho serve também como fonte de renda?D. Paulinha: Sim. Tem meses que vendo bem e

ajuda muito com as despesas de casa. Depende

muito da estação, se a cidade tem muitos turistas,

se as peças que faço os agradam, etc.

Guajirú: Qual a peça que é mais procurada?D. Pailinha: Toalhinhas com o nome da cidade,

panos de prato, e as vezes roupas.

Guajirú: Para os visitantes que estão conhecendo a cidade o que você diria á eles?D. Paulinha: Que sejam bem-vindos, aproveitem

bastante e não deixe de conhecer meu trabalho. E

de comprar também (risos).

Paulina Martins da SilvaIdade: 72 anos

Profissão: Labirinteira

ARTESANATO LOCAL

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E S PA Ç O T E A R

Que projeto é esse que faz ta nta diferença em São Miguel?

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TEA

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13

CDHEC (Coletivo de Direitos Humanos, Ecologia,

Cultura e Cidadania) foi fundado em 2003 por mi-

litantes de Direitos Humanos, jornalistas e agen-

tes de cultura, com a finalidade de promover, proteger e

reparar os Direitos Humanos, Civis, Políticos, Sociais, Cultu-

rais e Ambientais. Com a transferência do CDHEC de Natal

para São Miguel do Gostoso no ano de 2007, o coordena-

dor Fabio dos Santos, em parceria com a Igreja Católica e

colaboração de Gustavo Tittoto, que disponibilizou o local,

abriu para uso da comunidade o Espaço Tear.

O Tear é um projeto do CDHEC que tem por objetivo

a realização de atividades direcionadas ao público jovem

e infantil da comunidade. Difundir, valorizar e preservar

as expressões culturais e manifestações sociais, visando à

construção de novos valores de cooperação e solidarieda-

de; transformar os jovens em grandes atores sociais para

promoção da dignidade humana e efetivação da cidadania;

são algumas metas do projeto.

A primeira atividade a ser implementada no espaço foi

a oficina de teatro popular de rua, ministrada pelos arte-

educadores Filippo Rodrigo e Patrícia Caetano, integrantes

do Bando La Trupe e coordenadores do Escambo Popular

de Rua – movimento cultural que propaga tais manifesta-

ções por onde passa.

Logo em seguida surgiu o grupo infantil de Pastoril, uma

valiosa vertente da cultura popular, sob a responsabilidade

de Maria Teixeira e Maria do Carmo, experientes dançarinas

do grupo de Pastoril da Melhor Idade da comunidade.

Em 2008 veio a oficina de Jornalismo, que contou com a

participação de reconhecidos profissionais dos veículos de

comunicação de Natal. O resultado foi a publicação da re-

vista Guajiru, que descreve a cultura local, turismo, esporte,

agricultura familiar e participação social na comunidade.

O Espaço Tear também disponibilizou à população de

São Miguel cursos profissionalizantes de eletricista, bom-

beiro hidráulico, pedreiro, informática, oficinas de recicla-

gem, palestras sobre ética, cidadania e meio ambiente.

O principal apoio para a realização dos cursos e ofici-

nas no Espaço Tear chegou através de amigos, parceiros de

Fabio e Dominique Pastore, em Natal, no Rio de Janeiro,

Suíça, Alemanha e Itália. Esse apoio ainda é efetivo hoje.

Após se inscrever em edital do Ministério da Cultura,

o CDHEC passou a ser Ponto de Cultura, o que garantiu

recursos durante três anos para manter os projetos já reali-

zados pelo Coletivo de Direitos Humanos, Ecologia, Cultura

e Cidadania no Espaço Tear. Conheça um pouco mais das

atividades do nosso ponto na página seguinte:

O

por Francimara Alves, Mikarlla Cavalcante

e Andriele Torres

Que projeto é esse que faz ta nta diferença em São Miguel?

Turma da oficina de artesanato com materiais recicláveis ministrada por

Cláudio e Arlanza (RJ), oferecida pelo Tear

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O pastoril é erguido com garra e disposição por duas

grandes mulheres, Dona Maria Teixeira e Maria Du-

carmo, incentivadas por padre Fabio, que sempre

transmitiu determinação, vontade e muita cultura no

sangue. Do grupo pastoril participam 17 meninas que

ensaiam todos os sábados das 9h às 10h. Já são três

anos de música no “gogó” e ritmo no pé. As meninas

do pastoril deixam sempre bem claro o que querem

passar ao seu público. Usam sempre músicas religio-

sas, principalmente nas datas comemorativas, espe-

cialmente em homenagem a Jesus. “Tudo começou

com uma brincadeira de senhoras que gostavam de

relembrar sua adolescência. Hoje estou aqui dando

aula de Pastoril. É sempre importante ter Jesus no co-

ração e alegria de viver”, disse Maria Teixeira.

Pastoril

Em atividade há apenas seis meses, a oficina de Boi

de Reis conta com 12 participantes e acontece todas

as quintas-feiras gratuitamente, a partir das 14h. O

grupo possui dois mestres, José Marciano Gomes e

Luiz Tenório, que transmitem a cultura popular a essa

turma formada por garotos de 5 a 10 anos. “Tenho pra-

zer em fazer o que faço, porque gosto e acho bonito.

A minha intenção é passar o que sei às próximas ge-

rações. Não tem quem não se encante com algo tão

colorido e divertido como é o Boi de Reis”, declarou

José Marciano.

Boi de Reis

Esse é o nome do grupo de teatro formado a partir das

oficinas oferecidas pelo Espaço Tear. A trupe possui

20 integrantes, que seguem as orientações da arte-

educadora Patrícia Caetano de Oliveira. Com diversas

apresentações realizadas em pousadas, escolas e

eventos, o grupo se destaca pela maneira que passa o

conhecimento e informação através do entretenimen-

to e humor do teatro de rua. Entre as peças encenadas

recentemente estão “Os sete constituintes”, “Vento do

Gostoso” e “Hoje meu boi não sai”. Para a integrante

Suanes da Silva Ricardo, 17 anos, o grupo é uma opor-

tunidade de crescimento social e intelectual. “O teatro

me fez mudar, me tornar uma pessoa mais feliz. Gos-

to do que faço, pois tenho planos. Quem sabe um dia

serei atriz”, afirmou. Os ensaios acontecem sempre às

segundas-feiras, das 19h às 20h, gratuitamente.

Nos na Rua

A oficina de jornalismo forma novos escritores e re-

pórteres amadores na comunidade. Em sala de aula

são vistas técnicas de jornalismo, como redação, en-

trevista, reportagem, apuração de fatos, fotografia,

projeto gráfico e editorial, diagramação e noções de

design. Os alunos se reúnem todo domingo, das 10h

às 12h, em aulas gratuitas no Espaço Tear.

Em torno de 17 jovens participam da oficina sob a

batuta do jornalista, diagramador e fotógrafo, Alessan-

dro Amaral. O curso existe há aproximadamente dois

anos e teve como professores: Osair Vasconcelos, Car-

los Peixoto e Yuri Borges. Os três mestres foram res-

ponsáveis pela primeira edição da revista Guajiru.

Oficina de Jornalismo

AGRADECIMENTOS

As atividades do Tear só são possíveis graças ao incentivo

do Governo Federal e de doações voluntárias, que ajudam

a minimizar as despesas de manutenção do projeto. Entre

nossos grandes parceiros estão: Prefeitura de São Miguel

do Gostoso, Gustavo Tittoto, Wellington Mendes (MG.Net),

Elisabeth Marinho Dias, Dona Mergène Revel, Christiane Do-

vat, as paróquias de Montreux e Villeneuve (Suiça), paróquia

de Pestello Montevarchi (Itália), amigos da Europa e Brasil.

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ranç

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La BrisaComida com um gostinho nosso!

Restaurante

Tel: (84) 3263-4163 / 9105-4885Rua dos Búzios, 175 - São Miguel do Gostoso - RN

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Fones: (84) 3263-4051 / [email protected]. Enseada das Baleias- Praia do MaceióSão Miguel do Gostoso - RN

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M E M Ó R I A

eu envolvimento com o pessoal que trabalha com Direitos Humanos já vem

de certo tempo. Lembro que 2008 foi um ano agitado devido ao aniversário

dos 60 anos da Declaração Universal da ONU – documento importante na garantia

desses direitos. Apesar do tempo, jamais havia participado de uma Caravana de

Direitos Humanos e o convite veio justamente em junho daquele ano. Dia 18, São

Miguel do Gostoso (RN) se transformou na Cidade Universal dos Direitos Humanos,

marcando o calendário nacional no incentivo a cidadania plena.

Após 100 km de rodovia vindo de Natal,

encontro um lugar aprazível, de brisa gostosa

e gente hospitaleira. Gostoso me surpreendeu

naquela ocasião, não por suas tradicionais be-

lezas naturais, mas sim pelo envolvimento da

população na promoção dos direitos básicos

das pessoas. Foi um dia inteiro de atividades,

cortejos, apresentações teatrais, entregas de

kits, exposição, reuniões, debates, eventos

culturais, entre outros. Tudo para celebrar e

promover os Direitos Humanos.

A energia do povo contagia e dá forças

para seguir a maratona. Além das ativida-

des previstas na programação, teve muito

suor nos bastidores. Lembro de me depen-

durar nos caibros do Centro de Múltiplo Uso

amarrando banners, correr feito louco foto-

grafando os detalhes da caravana, até subi

uma tremula escada com mais de 3 metros

para registrar o cortejo chegando ao Centro

de Multiplo Uso. Todo esforço em nome da

cidadania e garantia dos nossos direitos.

Depois de ouvir os anseios das pessoas,

discutir possíveis soluções, mostrar seus di-

reitos, apresentar propostas e levar seguran-

ça para a população da cidade, a caravana se

Caravana dos Direitos Humanos e Cidadania do RN

São Miguel do GostosoCidade Universal dos Direitos HumanosTexto e fotos:Alessandro Amaral M

Foi um dia

inteiro de

atividades,

tudo para

celebrar e

promover

os Direitos

Humanos

Padre Fabio no comando da caravana

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17

encerrou com apresentações de cultura popular

e a esperança de que a semente plantada na-

quele dia germinasse bons frutos. De lá para

cá os projetos sociais se desenvolveram ainda

mais e as oportunidades foram ampliadas, assim

como a capacidade de dar suporte à população

local.

Esse evento aconteceu através do esforço

conjunto do Espaço Tear, CDHMP, Prefeitura Mu-

nicipal, Câmara dos Vereadores, Fórum Popular

de Participação de Políticas Públicas, Sindicato

dos Trabalhadores Rurais, da Educação e da Pes-

ca, Assembléia de Deus, Igreja Católica e pousa-

das locais.

Perseguir sonhos e construir redes

As Caravanas de Direitos Humanos e Cidadania

do RN foram desenvolvidas pelo CDHMP (Centro

de Direitos Humanos e Memória Popular) e já

percorreram cidades como Macau, Caicó, Car-

naubais, Ceará-Mirim, Mossoró, Pau dos Ferros e

São Miguel do Gostoso. A intenção é promover

e garantir os Direitos Humanos diante das viola-

ções, e assim consolidar o verdadeiro Estado De-

mocrático de Direito. Ouvir solicitações, reclama-

ções, denúncias por onde passa e encaminhá-las

para serem resolvidas, promover debates sociais

e ajudar a construir uma consciência cidadã tam-

bém fazem parte dos objetivos das caravanas.

Uma vasta programação foi montada para

celebrar o aniversário da Declaração Universal

da ONU em São Miguel e isso começou cedo.

Logo pela manhã um cortejo percorreu as ruas

do município com faixas, cartazes, batuques e

palavras de ordem, promovendo intervenções

teatrais a cada parada. A caminhada terminou no

Centro de Múltiplo Uso, local onde se encontra-

vam, entre o grande público, diversas lideranças

locais. Lá foram entregues kits-biblioteca conten-

do livros e CDs-Rom sobre Direitos Humanos às

entidades sociais. Uma exposição dos 30 artigos

da Declaração com belas imagens foi montada

no local.

A cada parada, um artigo da Declaração era lido para o público

Chegada do cortejo ao Centro de

Multiplo Uso

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A tarde houve reunião entre os membros da

caravana e líderes locais, representantes da so-

ciedade civil organizada, órgãos públicos, igre-

jas e iniciativa privada, para discutir assuntos de

interesse coletivo. A noite começou com uma

caminhada com velas acesas pelas ruas da cida-

de. Chamado de “Via sacra luminosa”, o cortejo

parou em pontos estratégicos onde eram lidos

artigos da Declaração Universal. O encerramen-

to se deu no Ginásio Esportivo da cidade com

discurso das autoridades e apresentações cultu-

rais do Boi de Reis e Pastoril.

As resoluções e propostas, surgidas dos deba-

tes com a população, foram encaminhadas para

serem discutidas e ampliar a Rede Estadual de Di-

reitos Humanos. A aplicação do “Curso Agentes

da Cidadania” e a criação do Conselho Municipal

de Direitos Humanos também foram planejadas

na ocasião, entre outras idéias construtivas. Per-

seguindo sonhos e construindo redes, sempre!

Crianças, jovens e adultos participaram efetivamente da caravana

Roberto Monte (CDHMP), Graça Lucas (Movimento Negro) e Ana Amélia (Canal Futura)

A Via Sacra Luminosa trouxe bilho às ruas de São Miguel do Gostoso

Entrega dos kits-biblioteca às entidades no Centro de Multiplo Uso

Apresentação do Pastoril animou o público que compareceu ao ginásio

O público acompanhou atentamente cada leitura de artigo da Declaração

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O que é o CDHEC?

O Coletivo de Direitos Humanos, Ecologia, Cultura e Cidadania é uma

instituição nascida do sentimento de um grupo de jornalistas, advo-

gados, médicos, educadores e profissionais liberais, que, já vivendo

esse compromisso, quis se engajar como um grupo em 2003 na cida-

de do Natal. Desde 2007, com a minha vinda, foi decidida em assem-

bléia a transferência para Gostoso a fim de que, com o protagonismo

de uma comunidade atuante, a gente pudesse desenvolver melhor

nosso objetivo.

Qual a finalidade dessa instituição?

O CDHEC, como está em nosso Estatuto, tem por finalidade a: (I) Pro-

moção da ética, da justiça, da paz, da cidadania e dos direitos huma-

nos; (II) Promoção da cultura, defesa e conservação do patrimônio

histórico e artístico; (III) Promoção, defesa, preservação e conserva-

ção do meio ambiente e promoção do meio ambiente sustentável;

(IV) Promoção e defesa dos direitos da criança e do adolescente.

Acredito que nestes anos em São Miguel do Gostoso estamos num

processo cuidadoso, envolvente e participativo procurando cumprir

nossa missão institucional tentando, assim, uma coerência entre o

que se diz e o que se faz.

O que é o Tear e qual a sua relação com o CDHEC?

O CDHEC é a instituição. O Tear é o espaço onde são desenvolvidas

as atividades socioculturais. Hoje é um lugar não só da instituição,

mas de toda comunidade que também usa o Espaço Tear para outras

atividades que visam o bem-estar de Gostoso. Percebe-se muito bem

o sentimento de pertença e empoderamento das pessoas em relação

ao Tear. Ele não é de fulano ou beltrano. O Tear é nosso. O Tear é de

São Miguel do Gostoso. E isso não é por acaso.

Como nasceu o TEAR?

Este espaço nasce como resultado de um pequeno trabalho desenvol-

vido pelos grandes artistas de Teatro de Rua, o casal Filippo e Patrícia,

respeitados nacionalmente nesta área do teatro popular, que sob a

coordenação minha e de Dominique, começa com a galera a traba-

lhar a memória e a identidade de São Miguel de Gostoso. Por isso as

pessoas se identificam com o Tear.

Como surgiu a idéia do Ponto de Cultura?

Nós somos Ponto de Cultura, esse importante programa do Ministério

da Cultura, porque na verdade a gente já era um “Ponto de Cultura”.

Quando Gustavo Titotto cedeu o salão, Fátima Dantas durante três

meses recolheu dos comerciantes da cidade o pró-labore para pagar

Pingue-P nguecom padre Fabio

o Filippo e a Patrícia. A Prefeitura nesse tempo pagava as refeições

dos dois e sempre ajudou a gente nos translado para Natal e outras

cidades onde os grupos iam participar de fóruns e eventos culturais.

Depois, eu e Dominique, com os nossos familiares e amigos em Na-

tal, no Rio de Janeiro e na Europa, conseguimos recursos substancio-

sos e pudemos dar um salto enorme com as oficinas.

Como foi a articulação com a comunidade para a criação do

projeto do Ponto de Cultura?

O Espaço Tear –CDHEC tem uma relação muito boa com o Poder Pú-

blico Local e a chamada Sociedade Civil Organizada, como as ONG’s,

os sindicatos e fóruns, e as Igrejas da cidade. Prova disso foi a realiza-

ção do evento “São Miguel do Gostoso, Cidade Universal dos Direitos

Humanos”, no ano de 2008 em alusão aos 60 anos da Declaração

da ONU. Todos, mas todos mesmo, estavam envolvidos. Igualmente,

quando por ocasião do Edital, conversamos com todos esses atores

sociais que referendaram o Projeto e enviaram cartas de recomenda-

ção. Já antes do Ponto de Cultura, todas essas instituições participa-

vam e continuam a participar das oficinas e atividades atuais. Isso é

extremamente positivo.

Quem contribuiu para a aprovação do Ponto de Cultura?

O Ponto de Cultura é resultado de uma seleção no edital da Fundação

José Augusto (FJA) com recursos oriundos, dois terços do Ministério

da Cultura e um terço do Governo do Estado. Assim sendo, deste

ponto de vista, a aprovação do nosso Ponto é um mérito da equipe

do Espaço Tear-CDHEC, depois de criteriosamente analisado pela co-

missão da FJA.

Na sua opinião, o que significa o Ponto de Cultura para esta

comunidade?

Para mim, o maior significado é que neste Governo Federal, mais do

que nunca, o Artigo 215 da nossa Constituição (“O Estado garantirá

a todos o pleno exercício dos Direitos Culturais e acesso às fontes

da cultura nacional, apoiará e incentivará a valorização e a difusão

das manifestações culturais”), está cada vez mais saindo do papel e

tornando-se realidade. Imagina só! São Miguel do Gostoso é parte

viva do Programa Mais Cultura junto com outros dois mil municípios

brasileiros dos mais de 5.500 existentes no país.

Isso significa que somos uma cidade que valoriza, promove, prote-

ge, repara e difunde a nossa cultura. Isso significa que temos auto-

estima, memória e identidade. Seu Gostoso deve está dando boas

risadas e contando lá no céu o que está se passando aqui na terra

de São Miguel.

E S PA Ç O T E A R

por Heldene Santos

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ida

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20

de uma metodologia organizacional baseada

em projetos e programas e, finalmente, é na

realidade do município que são executadas as

políticas públicas (educação, saúde, habitação,

segurança, etc).

As principais políticas públicas são hoje vol-

tadas para assegurar os direitos da criança e do

adolescente, em especial à educação, saúde e

assistência social, além disso, existe a interven-

ção dos programas e projetos sociais, que visam

atender determinado público ou combater pro-

blemas específicos, como, por exemplo, o traba-

lho infantil ou a prostituição. Hoje, os principais

programas existentes no país são desenvolvidos

e subsidiados pelo Governo Federal e tem con-

trapartida e execução por parte dos municípios.

“Considerando as características de cada uma

dessas cidades, essa contrapartida pode superar

e muito o subsídio do Governo Federal”, revelou

Anna Karolynne, secretária de trabalho, habita-

ção e assistência social do município.

No caso de São Miguel do Gostoso, aos

programas já existentes – PETI, ProJovem e

Bolsa Família – são atrelados projetos próprios

que visam dinamizar e garantir a participação

do público infanto-juvenil e oferecer o contra-

turno, ou seja, um período na escola e outro

na atividade sócioeducativa. Podemos destacar,

entre esses projetos, os Grupos de dança Elo

Contemporâneo e Ballet Corpus, o grupo mu-

sical Batuque do Gostoso, a Escola de Música/

Orquestra Filarmônica, a Escolinha de Futebol

do Parma, e as Aulas de Reforço, projeto da AS-

CDEG em parceria com a Prefeitura Municipal.

Além disso, as crianças e adolescentes envolvi-

das nesses projetos, bem como suas famílias,

são acompanhadas pelo Centro de Referência

em Assistência Social (CRAS) – Casa das Famí-

lias, com atendimento especializado de peda-

gogos, psicólogo e assistente social.

Dois grandes problemas desafiam qualquer

gestão pública hoje: o primeiro é integrar os

Vamos dar uma volta na cidade de São Mi-

guel do Gostoso/RN e ver que tem muita gente

de olho nesses problemas e botando a “mão na

massa” para mudar essa realidade. Através de

ações do Poder Público Municipal e da socieda-

de civil organizada, a comunidade se mobiliza

para enfrentar e buscar soluções para prevenir-

se desses problemas.

Jeitos diferentes de trabalhar, mas um objetivo em comum

O grande objetivo é garantir que cada criança possa viver sua infância e cada jovem possa viver sua juventude com paz, saude e dignidade.

O poder público e as políticas públicas para crianças e jovens

Para se falar hoje sobre políticas públicas para

a criança e o adolescente ou políticas públicas

para juventude, temos que observar três fato-

res:

Primeiramente, a nossa Constituição Fe-

deral prevê no seu art. 227, que: “É dever da

família, da sociedade e do Estado assegurar à

criança e ao adolescente, com ABSOLUTA PRIO-

RIDADE, o direito à vida, à saude, à alimenta-

ção, à educação, ao lazer, à profissionalização,

à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade

e à convivência familiar e comunitária, além de

colocá-los a salvo de toda forma de negligência,

discriminação, exploração, violência, crueldade

e opressão.”

Segundo, cada vez mais a gestão pública

tem alicerçado suas ações estratégicas através

Juventude, organização social

e políticas públicasComo vão nossos meninos e meninas?

M AT É R I A D E C A PA

O grande

objetivo é

garantir que

cada criança

possa viver

sua infância

e cada jovem

possa viver sua

juventude com

paz, saude e

dignidade

iante de tantas adversidades da vida moderna que ameaçam

nossas crianças e adolescentes, como a violência, as drogas,

as doenças sexualmente transmissíveis, o desemprego e a falta de

perspectivas, nós nos perguntamos: “o que fazer?” e infelizmente

muitas vezes dizemos que ninguém está fazendo nada para mudar

essa realidade.

D

por Heldene Santos e Ricardo André Silva

Page 21: Revista Guajiru n. 2

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Juventude, organização social

e políticas públicas

Marcos Aurélio,

15 anos, é bene-

ficiário do Progra-

ma Bolsa Família

e participante do

ProJovem Adoles-

cente.

“Tem muitos grupos (programas) em

Gostoso, dança, teatro, o batuque, o

PETI, o Projovem ... É bom participar

porque ajudam a gente a aprender,

e o teatro e a dança ajudam em

como perder a vergonha e dominar

o medo.”

diversos programas e projetos, tanto da sua es-

trutura quanto da sociedade civil; o segundo, é

inserir nessa estrutura de serviços e proteção so-

cial os jovens que mais precisam de integração

e cuidado. O primeiro é facilmente percebido

quando paramos para pensar em que progra-

mas e projetos são oferecidos, e nos deparamos

com o quanto não sabemos sobre o trabalho de

nossos colegas. Uma metodologia interessante

utilizada para superar esse problema é a adotada

pelo Selo Unicef, que unifica as ações voltadas

para a criança e o adolescente dentro da esfera

municipal através da presença de um articulador,

o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e

do Adolescente - CMDCA e uma comissão mista

de gestão e avaliação das atividades. O segundo

problema é enfrentado por todos aqueles que

trabalham com atividades sócio-educativas, que

é exatamente atingir o público-alvo, já que essa

clientela, segundo Viviane Araujo, Coordenado-

ra do CRAS, rejeita a abordagem dos profissio-

nais envolvidos e alguns projetos sofrem com a

evasão de seus participantes.

A sociedade civil também participa da construção da cidadania

É uma característica marcante da comunidade

de São Miguel do Gostoso a organização formal

da sociedade civil. Em 2008, segundo dados

do Conselho Municipal de Assistência Social, o

município contava com 64 associações instituí-

das e em funcionamento. Em pesquisa realiza-

da pela AMJUS (Associação de Meio Ambiente,

Cultura e Justiça Social), constatou-se que, em

2009, havia organizado 26 grupos de jovens,

existentes em torno de atividades culturais, so-

ciais, religiosas ou ambientais. Ainda, segundo

dados da AMJUS, no mesmo ano, existiam em

torno de 27 times de futebol, alguns destes

com atividades ainda associadas a outras áreas

além de esportiva como ações direcionadas às

questões ambientais.

Arthur Pedro, 13 anos (Gru-

po de Teatro do Tear)

“É bom participar do tea-

tro. A gente se diverte e

a gente aprende. É... e se

não deu para entrar num

outro canto... entrei aqui.

E estou participando, é bom e isso é que

importa”.

Kelle Cristina Mo-

desto dos Santos,

13 anos (Partici-

pante do EMA)

“Eu participei do

EMA e foi muito

bom. Se tivesse

mais eu participaria mais. Uma coisa

que eu achei muito interessante foi

porque no EMA as coisas eram discu-

tidas com a gente que a gente nem

percebia. Assim, percebia, mas era

através do teatro, da dança... tinha

música. Bem legal”.

Flaviana Pereira, 15

anos, é beneficiária do

Programa Bolsa Família

Inscrita no ProJovem

Adolescente, porém,

não participa efetiva-

mente do programa.

“Tem muitas atividades em Gostoso, mas

tem dia que eu não vou, eu só gosto de ir

quando a gente vai pro ginásio! Tem algu-

mas coisas pra fazer no ProJovem, vídeo,

dinâmicas, palestras, só coisa pra criança,

prefiro ficar em casa... Agora quando eu sei

que vão discutir sobre sexualidade, drogas

e outros assuntos é que vai ser chato! É coi-

sa que a gente já sabe, que fala direto na

escola, na igreja, na televisão. Eu acho que

pra melhorar deveriam perguntar do que a

gente gosta.”

Percebe-se, portanto, que há sempre uma

tendência da população a estar se organizando

de algum modo, seja com fins de entretenimen-

to ou de ações sociais. Essa sociedade organi-

zada tem como grande parcela de sustentação

as juventudes e adolescentes, principalmente

nas comunidades do campo. Segundo Neilson

Gomes, componente da equipe de pesquisa da

AMJUS, essa organização social tem como base

a atuação de jovens que pensam politicamente

e agem na perspectiva de mudanças.

Além da presença de ONGs com sede em

outras localidades que sempre se fazem presen-

tes, destaca-se, com sede na cidade São Miguel

Depoimentos

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22

do Gostoso, o Coletivo de Direitos Humanos,

Cultura, Ecologia e Cidadania – CDHEC, a Asso-

ciação Sócio-Cultural e Desportiva Gostosense

– ASCDEG e a, já citada, Associação de Meio

Ambiente, Cultura e Justiça Social – AMJUS.

No município tornou-se conhecida uma

rede de trabalho sócioambiental e cultural que

sedimentou e ainda sedimenta as bases para

uma juventude consciente e cidadã. Em 2001,

foi fundada a Associação Sócio-Cultural e De-

portiva Gostosense (ASCDEG), através da qual

foi dado início a todo um trabalho de imple-

mentação de projetos de limpeza urbana, alfa-

betização e incentivo de práticas esportivas (fu-

tebol e capoeira) para crianças e adolescentes

e de promoção da arte (música). Atualmente,

a ASCDEG também recebe apoio da Prefeitura,

dos governos do Estado e Federal e de alguns

empresários da cidade.

O Espaço TEAR, um projeto do CDHEC cria-

do em 2007 por iniciativa do Padre Fabio dos

Santos, trouxe novo fôlego para a divulgação e

resgate da cultura popular em Gostoso. Segun-

do Anne-Dominique Losch Pastore, uma das

coordenadoras do programa, o projeto ajudou

na criação de um grupo de teatro popular e ofe-

rece outras oficinas culturais, como a oficina do

Boi de Reis, Pastoril, música, dança, produção

de textos jornalísticos, artesanatos etc., além de

alguns cursos profissionalizantes como de pe-

dreiro, encanador e eletricista.

Para Ariclenes França da Silva, coordenador

do CDHEC, o trabalho das organizações se com-

pletam. Acrescenta que “a cultura e o esporte

são alternativas à droga e ao álcool para crian-

ças e adolescentes. Ambos são importantes ins-

trumentos para a promoção da cidadania, por

que além de educar, são atividades que interes-

sam aos jovens”.

A AMJUS, fundada em janeiro de 2009,

como foi dito por Nanda em seu artigo “Plantar

a semente funciona: um exemplo de solidarie-

dade em Gostoso” no site www.suficiente.org,

é a terceira geração de projetos nessa linha-

gem. A entidade promove pesquisas e a produ-

ção de material e publicações sobre educação e

cultura. Em outubro do mesmo ano coordenou

a realização do III Encontro Municipal de Ado-

lescentes, evento realizado em parceria com o

TEAR, ASCDEG e Prefeitura Municipal, que reu-

niu mais de 130 adolescentes e tratou de temas

como saúde sexual e reprodutiva, drogas e dro-

gadição, justiça socioambiental, entre outros.

Eventos acontecidos em São Miguel

Encontro Municipal de Adolescentes

O EMA é um even-

to de mobilização

juvenil, promovido

pela AMJUS em par-

ceria com algumas

instituições como

o TEAR e Prefeitura,

entre outras, que

reune jovens de todo município com o objetivo de promover o diá-

logo entre as juventudes, a participação na sociedade e a integração

dos grupos sociais da comunidade.

Festival de Arte Popular de São Miguel do Gostoso

O Festival de Arte Popular de São Miguel do Gostoso é um movi-

mento que reune todos os grupos da cidade que atuam no setor

cultural. O evento tem em sua composição grande número de ado-

lescentes e jovens. É uma iniciativa lançada em 2003 pelos artistas

populares do município,

e adotada pela gestão

pública municipal em

2005, agregando o even-

to as comemorações da

Festa de Emancipação

Política de São Miguel

do Gostoso, que ocorre

na segunda semana de

julho.

Auto de Natal em GostosoO espetáculo que retrata o nascimento do Menino Jesus e conta

a história de Gostoso

e do seu povo, ocorre

na Praia da Xêpa na úl-

tima semana do ano.

O Auto reúne crian-

ças, adolescentes e

idosos envolvidos em

programas sociais go-

vernamentais e não-

governamentais. Tem

produção executiva

da Secretaria de Turis-

mo, Comunicação e

Meio Ambiente e di-

reção da Secretaria de

Trabalho, Habitação e

Assistência Social.

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23

• ASCDEG

ascdeg.blosgspot.com

• AMJUS

www.amjus.org.br

• TEAR

tearcultura.blogspot.com

• Ricardo André

avelm.blogspot.com

• Praia do Gostoso

www.praiadogostoso.com

Segundo Tiago Luciano, diretor da ONG, a insti-

tuição ainda desenvolve pesquisas com fins de

traçar o perfil dos adolescentes de Gostoso e

suas formas de organização, e trabalha com os

antigos moradores para resgatar e registrar ou-

tros aspectos da cultura popular do município

não trabalhados pelas outras organizações. Kel-

le Araujo, cordenadora de projetos da AMJUS,

diz que também é uma das preocupações da

entidade as metodologias de trabalho com ado-

lescentes e jovens, e a elaboração de indicado-

res sociais para a realização de projetos direcio-

nados a esse público no município.

As ações dessas organizações sociais soma-

das as iniciativas do poder público resultam em

um quadro bastante ampliado de espaços de di-

reito. Um grande ponto positivo neste contexto

é o estabelecimento de uma boa relação entre

o poder público e a sociedade civil organizada,

de modo que suas ações são pensadas, plane-

jadas, executadas e avaliadas em uma situação

de parceria e coletividade, garantindo que os

espaços de inclusão e participação da socieda-

de cresçam entre a juventude e o público caren-

te dessa demanda no município de São Miguel

do Gostoso.

Selo UnicefO Selo UNICEF Município Apro-

vado é uma iniciativa que for-

talece a caminhada do País

rumo aos Objetivos de Desen-

volvimento do Milênio (ODM),

buscando garantir para cada

criança e cada adolescente o

direito de sobreviver e se de-

senvolver, aprender, protejer(-

se) do HIV/AIDS, crescer sem

violência e ser prioridade nas

Políticas Públicas. O UNICEF

certifica e reconhece os esforços de municípios que alcançam os

maiores avanços na melhoria de vida da infância e adolescência.

São Miguel do Gostoso foi um dos 40 municípios aprovados na

edição 2008, pelos resultados alcançados na melhoria da qualida-

de de vida de seus jovens. A vitória da última edição se deu grande

parte a uma nova postura organizacional dos programas e projetos

da sociedade civil e poder público, sob a orientação da articulado-

ra do prêmio, Elba Alves Silva Teixeira, o Conselho Municipal dos

Direitos da Criança e do Adolescente e a Comissão Pró-Selo. Vale

lembrar que o município de São Miguel do Gostoso está entre as

165 cidades do RN que concorrem ao Selo UNICEF Edição 2009-2012.

• ProJovem Adolescente - Prefeitura de

São Miguel do Gostoso – SEMTHAS

• PETI – Programa de Erradicação do

Trabalho Infântil - Prefeitura de São

Miguel do Gostoso - SEMTHAS

• ProJovem Campo - Governo Federal

e Prefeitura de Gostoso/SMEC

• Jovem Empreendedor – Governo do

RN e Prefeitura de São Miguel do

Gostoso - SMEC

• Batuque do Gostoso - Prefeitura de

São Miguel do Gostoso – SMEC e

SEMTHAS

• Grupo de Dança Elo Contemporâ-neo - Prefeitura de São Miguel do

Gostoso - SEMTHAS

• Grupo de Ballet Corpus - Prefeitura de

São Miguel do Gostoso - SEMTHAS

• Escola de Música de Gostoso - ASCDEG

• Escolinha de Futebol - ASCDEG e

Parma Futebol Clube

• Capoeira e Maculelê - ASCDEG

• Grupo de Teatro Nós na Rua -

CDHEC/Espaço Tear

• Pastoril Infantil - CDHEC/Espaço

Tear

• Boi de Reis Infantil - CDHEC/Espaço

Tear

• Escotismo na Escola - Governo do

RN e Escoteiros do Brasil

• Pastoral da Criança - CNBB e Área

Pastoral de São Miguel Arcanjo.

• Projeto Ecoar Atitudes - partidipa-

ção social de adolescentes - AMJUS

Programas e projetos realizados em São Miguel do Gostoso

Quer saber mais?

Grupo de capoeira e maculelê

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Gostoso respira e transpira cultura popular durante Escambo

A cidade se vestiu de arte e o ar ficou mais

colorido. A alegria se estampou no rosto do me-

nino e as senhoras vieram para a calçada saber

que tanto barulho era aquele. O Escambo Popu-

lar Livre de Rua aportava em São Miguel trazen-

do consigo grupos de Teatro de Rua de todo Rio

Grande do Norte, além de “escambistas” (termo

criado pelo movimento para participantes do

evento) de boa parte do Nordeste. Ao todo, mais

de 200 artistas estiveram na cidade.

Algumas comunidades próximas foram visi-

tadas por grupos que levaram bom humor ao co-

tidiano local. Na Escola Estadual Olímpia Teixei-

ra, onde os participantes ficaram hospedados,

foram realizadas várias oficinas e apresentações

teatrais durante três dias, abertas ao público. As

atividades envolveram cortejos, intervenções

com grafite, teatro de rua, dança, teatro de bo-

necos, poesia, música e percussão, bem como

oficinas, rodas de conversação, exibições de ví-

deos, entre outras formas de conhecer e viver

em comunidade.

A troca de experiências e o contato com outros

artistas é um dos pontos básicos do evento. “Vim

para o Escambo pelo intercâmbio, pela vivência, por-

que prezo a educação libertadora. E mesmo perce-

bendo que o encontro não fala sobre ela, ele aponta

para essa perspectiva, essa disposição de construir

uma intervenção, uma transformação conjunta, não

só aqui, mais no cotidiano. E ai está o grande di-

ferencial do Escambo, o fazer conjunto”, declarou

André Luiz Gomes, 44 anos, do grupo Ciclo Vida.

Em apenas 30 dias os grupos de teatro Nós

Na Rua e o Bando La Trupe, com a parceria do

Ponto de Cultura Tear e sob a coordenação de

Filippo Rodrigo, organizaram o Escambo de São

Miguel. Entre os artistas que se apresentaram

estavam o Boi de Reis do Mestre Zé Marciano

e Luís Pequeno, e o Pastoril das mestras Maria

do Carmo e Maria. O movimento passou pela ci-

dade e deixou um rastro de cultura viva, repleto

de migalhas artísticas que podem e devem ser

seguidas para o alcance de uma sociedade mais

justa e que sabe valorizar a arte popular.

C U LT U R A

ão Miguel do Gostoso (distante 100 km de Natal) foi tomado por artistas populares

durante o XXV Escambo Popular Livre de Rua, que aconteceu entre os dias 15 e 18

de janeiro deste ano. O encontro reuniu estudantes, professores, artistas, músicos,

aficionados pela arte e quem saiu ganhando foi a comunidade, que teve a oportunidade

de vivenciar quatro dias de pura cultura transitando pelas ruas do município.

SO cortejo percorreu as ruas de São Miguel e arrastou as pessoas com sua alegria

Texto e fotos:

Alessandro Amaral

A cidade se

vestiu de arte

e o ar ficou

mais colorido.

O Escambo

Popular

Livre de Rua

aportava em

São Miguel

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Movimento Popular Escambo Livre de Rua

O Escambo Livre de Rua é um movimen-

to popular de irradiação cultural que

reúne grupos de teatro de rua, dança,

capoeira, artistas plásticos e visuais,

poetas, músicos e artistas populares do

Brasil e Argentina com o intuito de so-

cializar suas experiências artísticas, cul-

turais, políticas e comunitárias. Segundo

Ray Lima, “uma experiência coletiva de

mobilização e organização social e de

atuação política em termos regional e

local. Um espaço livre de produção de

conhecimento e de inclusão social; de

inserção do cidadão comum”.

A palavra Escambo significa a troca

de um bem material ou serviço por ou-

tro, sem uso de dinheiro. Essa prática

era muito comum no Brasil colonial, no

início do século XVI, quando os portu-

gueses davam bugigangas (apitos, espe-

lhos, chocalhos) para os indígenas em

troca de trabalho, onde deveriam cortar

as árvores de pau-brasil e carregar os

troncos até as caravelas portuguesas.

O Escambo Popular Livre de Rua,

como explica Aryclenes França, membro

do Tear, é um movimento realizado em

alguns Estados do Nordeste brasileiro

desde 1991, concretizado por vários gru-

pos culturais de dança, capoeira, teatro,

música, entre outros. O movimento Es-

cambo é uma ação multicultural com

grande alcance popular, seus espetácu-

los, exposições e espaços de vivência

são gratuitos e acontecem nos locais

públicos das cidades. Geralmente, o

evento ocupa praças, ruas, circos, igre-

jas, calçadões, e tantos outros lugares

de acesso livre disponíveis em cada lu-

gar onde se realiza.

O Movimento Livre Escambo de Rua

aconteceu pela primeira vez em São

Miguel do Gostoso entre os dias 15 e

18 de janeiro de 2010 e, segundo Junio

Santos, um dos líderes do movimento,

“existe nele um grau e uma capacidade

de renovação incrível. Seja renovação

dos conhecimentos, seja na renovação

e aperfeiçoamento das práticas artísti-

cas. A cada Escambo realizado, os artis-

tas renovam suas linguagens, seus sa-

beres e suas práticas. O fato de ser um

encontro de celebração e intercâmbio

intenso, os escambistas aprendem, se

deixam aprender e apreendem o outro,

levando para seus lugares de origem a

cachola repleta de saberes e práticas re-

novadas e enriquecidas. Esta riqueza de

aprendizagens em alta proporção, quali-

dade e velocidade faz da pedagogia do

escambo, um mundo de possibilidades,

um centro móvel e dinâmico de constru-

ção coletiva de saberes diversos e carre-

gados de significados”.

por Heldene Santos

Page 26: Revista Guajiru n. 2

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26

“Vamos contar a nossa história

A nossa história vamos cantar

Eu conto uma, canto duas, conto três

E agora é sua vez da história vim contar.”

Embalados pelas cantigas popula-

res, os artistas do Movimento Popular

Escambo Livre de Rua desfilaram pela

cidade de São Miguel do Gostoso. Pa-

lhaços, acrobatas, poetas, músicos,

atores com seus apetrechos cênicos,

conduziam a comunidade para o espa-

ço de apresentações, começaria ali pela

primeira vez na cidade o XXV Escambo

Popular Livre de Rua.

– Peraí! Começaria ali? Não! O Es-

cambo de São Miguel já tinha começa-

do um mês antes. Como? Então vamos

por partes. Vamos voltar a fita.

Em dezembro foi acordado que o

XXV Escambo seria em Gostoso. Tínha-

mos um prazo de quase 30 dias para

colocar tudo em ordem. A comissão

organizadora foi formada pelo Bando

La Trupe, que passou a residir na cida-

de durante o período de preparação do

evento, e o grupo local Nós Na Rua.

Todos os dias a equipe se reunia e se

articulava para sair às ruas conversando

com a população, visitando pousadas e

comércios. Produziram material gráfico

de divulgação e fichas de inscrições,

contataram os demais escambistas,

conseguiram local para hospedagem,

transportes para os artistas, passagens

aéreas, alimentação, carro de som. Ufa!

Uma correria, né?

Durante todo o Escambo, tivemos

vários momentos marcantes. A começar

pela recepção que tivemos da população

de Gostoso antes e durante o evento,

contribuindo, lotando as rodas de apre-

sentações e participando de toda pro-

gramação. Os Escambares (programação

noturna do encontro) também merecem

destaque. O primeiro foi no bar de Dedé

de Tico, grande parceiro do movimento.

Os seguintes, com a turma do espaço

Talismã, que juntos ajudaram a fazer um

Escambar gostoso, com muita poesia,

música, mostra de vídeos, danças e ma-

nifestações artísticas espontâneas.

Um Escambo Gostoso Texto: Filippo Rodrigo

Fotos: Alessandro Amaral

Page 27: Revista Guajiru n. 2

Um fato que merece ressaltar é a

parceria firmada com diversas entidades

em prol do evento. O Ponto de Cultura

Tear e a ONG CDHEC, que são parceiros

do Grupo Nós Na Rua desde sua cria-

ção, e a Prefeitura de Gostoso, através

de Ricardo André (que já participara de

um Escambo e sabia da importância do

evento se fazer na sua cidade, indo, por

muitas vezes, de frente com quem não

creditava na realização do encontro),

deram uma grande força.

Por falar em não acreditar... “nem tudo é um mar de ro-

sas”. Tivemos algumas dificuldades, principalmente com os

donos de algumas pousadas que nem nos atendiam direito

e alguns ainda debochavam dos meninos do Nós Na Rua,

dizendo que aquilo que eles falavam não iria acontecer.

Por outro lado, comerciantes nos paravam na rua querendo

contribuir com o Escambo e outras pousadas reconheciam

a importância do encontro para a cidade e se tornaram par-

ceiros. Em especial a Pousada dos Ponteiros, que cedeu a

hospedagem para Amir Haddad.

O Escambo de Gostoso foi uma gran-

de festa. Pudemos brincar com a cidade

durante os dias de encontro. Pudemos

trazer os escambistas para conhecerem

a casa do grupo Nós Na Rua, esse grupo

formado por meninos e meninas que

estão crescendo e se desenvolvendo

com arte, com essa arte livre no qual

nos tornamos mais sensíveis ao próxi-

mo e conscientes de que possamos mu-

dar, senão o mundo, pelo menos nos

transformar.

Page 28: Revista Guajiru n. 2

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28

N O V I D A D E S

Os melhores alunos da rede pública de São Miguel do Gos-

toso receberam no dia 17 de abril o título de Aluno Nota 10,

oferecido pela Prefeitura Municipal em cerimônia no ginásio

poliesportivo da cidade. O evento tem a finalidade de incen-

tivar os aprendizes a melhorarem seu desempenho escolar

através de uma competição saudável. Nesta primeira edição,

contou com a participação de cerca de 1.700 pessoas, entre

expectadores e estudantes. Os vencedores deste ano foram

Mateus do Santos da Silva (distrito de Novo Horizonte), que

ganhou uma casa; Dalila dos Santos da Silva (Novo Horizon-

te), um computador; e Brena Eduarda Barbosa de São Miguel

do Gostoso, uma bicicleta. Um quarto prêmio ainda foi sor-

teado entre 24 gostosenses alunos do IFRN e a vencedora

foi Francimara Alves da Silva, que ganhou um micro compu-

tador.

Aluno nota 10

São Miguel do Gostoso está promovendo

inclusão digital através do Telecentro Co-

munitário. É um projeto do Governo Federal

em parceria com o município, que consiste

em espaço público provido de computa-

dores conectados a internet banda larga.

Ali realizam-se atividades por meio das

TICs (Tecnologias da Informação e Comu-

nicação). O objetivo é promover o desen-

volvimento e reduzir a exclusão digital. O

projeto iniciou dia 10 de maio de 2010 e

funciona das 8h às 22h. O acesso é livre

e gratuito. Saiba mais no www.mc.gov.br/

inclusao-digital-mc/telecentros/

Telecentro Comunitário

Evento de Turismo e Selo de Qualidade

São Miguel do Gostoso participou de um dos mais impor-

tantes eventos do país, o 5º Salão de Turismo – Roteiros

do Brasil, realizado em São Paulo entre os dias 26 e 30

de maio. O objetivo principal do salão é apresentar ao

grande público e agências de turismo os melhores rotei-

ros nacionais.

Esse ano São Miguel foi destaque com suas qualifica-

ções específicas e belezas naturais, como o selo Turismo

Melhor – Qualidade em Serviços Turísticos, concebido

pelo SEBRAE/RN às empresas da cidade. A delegação de

Gostoso contou com a participação de 11 pessoas, entre

elas empresários do ramo de hotelaria, secretários e pre-

feito da cidade. O evento foi realizado pelo Ministério do

Turismo.

Estande do Rio Grande do Norte na Feira de Turismo

por Francimara Alves, Mikarlla Cavalcante

e Andriele Torres

O diretor José Jailton recebe das mãos do prefeito, Miguel Teixeira, premiação do aluno de sua escola

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Aspectos Físicos, Geográficos, Históricos, Sociais e Culturais

www.minhacomunidade.net

Site de São Miguel do Gostoso

Idealizado por um grupo de jovens estudantes da própria comunidade

Associação Sócio-cultural Desportiva Gostosense-ASCDEG tem o objetivo de incentivar e estimular a participação dos Jovens na vida comunitária, através de atividades sócio-culturais (música, capoeira, escolinha de futebol e aula de alfabetização). Ações que favorecem a auto-estima e a inclusão social.

São Miguel do Gostoso/RN - Brasil

CNPJ:11.111.001/0001-20

Nossa missão é con-

tribuir com o desenvol-

vimento social e humano

de crianças, adolescentes e

jovens, utilizando estratégias de

educação, cultura e comunicação.

www.amjus.org.br

Associação de Meio Ambiente, Cultura e Justiça Social

Page 30: Revista Guajiru n. 2

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30

Para o fortalecimento desses

grupos formados por famílias das

comunidades e assentamentos de

São Miguel do Gostoso, com intuito

de melhorar, expandir e valorizar o

trabalho e o produto comercializado,

surgiu o núcleo da rede Xiquexi-

que composta pelos grupos que

trabalham com agricultura familiar,

articulada por Maria Katiana Barbosa

da Silva de 23 anos. A rede é uma

forma de reunir as famílias e fazer

um trabalho de acompanhamento,

proporcionar capacitações e troca

de vivências entre elas através de

encontros e intercâmbios. O núcleo

se articula com outros espaços

de discussões como o Fórum de

Participação Popular nas Políticas

Publicas – FOPP, a Marcha Mundial

das Mulheres – MMM, Sindicato dos

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais

– STTR, como instituições parceiras,

e a Associação de Apoio as Comuni-

dades do Campo – AACC/RN.

Os grupos são formados na sua

maioria por mulheres que, conhe-

cendo seus direitos, sentem-se livres

para o trabalho, como nos relata Dona

Maria do Socorro, 52 anos, da Agrovila

Paraíso, que com mais três mulheres

cultivam hortaliças, produz bolos e do-

ces. “O nosso trabalho é importante

pela liberdade, foi aqui que conhece-

mos a liberdade de mulher.”

Os produtos são comercializados

pelos próprios produtores na comu-

nidade e em cidades vizinhas. Algu-

mas famílias participam do projeto

Compra Direta da EMATER - Instituto

de Assistência Técnica e Extensão

Rural/RN, onde todos os meses são

comprados uma quantia de produtos

alimentícios a essas famílias para

repassar as escolas de São Miguel

do Gostoso como merenda escolar.

No dia 28 de agosto de 2006,

surgiu a feira Agroecológica e de

Economia Solidária em São Miguel

do Gostoso com a proposta de ser

diferente da feira convencional, pois

tem por objetivo valorizar o trabalho

dos agricultores e agricultoras com

relação a venda de seus produtos,

garantindo um valor mais justo. As

famílias agrupam-se para produzir

e comercializar produtos agroecoló-

gicos, com o intuito de melhorar a

Valoriza o trabalho coletivo, o produto e a comunidade

qualidade de vida para seus familia-

res como também para a sociedade

que consome. O lema é não usar

nenhum tipo de produto químico,

é tudo natural, isso é amplamente

discutido nas capacitações.

Pode-se constatar que nas comu-

nidades de Tabua, Reduto, Canto da

Ilha, Arizona, Antônio Conselheiro,

Mundo Novo, Novo Horizonte e Pa-

raíso, tem-se um trabalho riquíssimo

com produtos agroecológicos, valori-

zando o esforço coletivo, o produto,

a comunidade, sem prejudicar o

meio ambiente.

Tabua

Visitamos a comunidade de Tabua para verificar quais trabalhos relacionados à agricultura familiar são desenvolvi-dos. Chegando lá conhecemos Dona Maria Ducarmo Silva de Araújo e Maria Iracema Barbosa de Almeida, que há oito anos trabalham com hortas orgâ-nicas e Maria Anunciada Barbosa de Araújo, que junto com seu esposo, faz o mesmo trabalho na comunidade. Na horta são cultivados diversas hortali-ças como: alface, coentro, cebolinha, rúcula, cenoura e pimentão.

C O M U N I D A D E

Agricultura Familiargricultura familiar é a forma pela qual um grupo de pessoas

tira seu sustento através da produção e comercialização de

um produto. Esse trabalho é feito com hortaliças, apicultura, arte-

sanato, frutas, criação de aves, suínos e caprinos, beneficiamento

de castanhas, produção de bolos, salgados e doces, entre outros.

Valorizando assim tanto a produção de qualidade em conformida-

de com ambiente, quanto a venda pelos próprios produtores.

A

Feira Agroecológica em São Miguel do Gostoso

Maria do Socorro e Cleonice Gomes da Silva

Texto e fotos:Ariclenes França da Silva e

Luzia Ferreira de Oliveira

Page 31: Revista Guajiru n. 2

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31

As verduras são comercializadas na própria comunidade e trazidas para a feira agroecológica em São Miguel do Gostoso, todas as segundas-feiras. Todos eles são integrantes da rede Xiquexique, participando ativamente para adquirir conhecimento e aprimo-rar a produção.

Na comunidade podemos verificar outro trabalho utilizando a fibra da Car-naúba feito por Ana Maria Barbosa da

Silva, na criação de tapetes, bol-sas e chapéus. Os produtos são comercializados nas cidades de São Miguel do Gostoso, Touros, Carnaubinha e Parazinho.

Caminhando um pouco mais pela comunida-de encontramos Geane Cruz de

Souza Silva que usa a palha da Carnaú-ba na confecção de diversos modelos de bolsas e porta-joias, entre outros adereços, juntamente com mais cinco jovens da comunidade. Esse trabalho é feito em sua própria casa. Os produtos são vendidos na feira em São Miguel do Gostoso.

Arizona

No Arizona encontramos Maria Matias de Souza, 47 anos, do grupo de Mu-

mais de oito anos, e participaram de diversas reuniões, capacitações, na qual os três primeiro anos foram de muito aprendizado, o restante trabalho, produção e comercialização. Atualmente cultivam hortaliças, criam porcos e galinhas, porém, pretendem acrescentar o cultivo de banana, mamão e maracujá.

Esse grupo foi o primeiro do Rio Grande do Norte a ganhar o prêmio “Valores do Brasil” do Banco do Brasil. Prêmio esse de 50 mil reais, dividido com AACC – Associação de Apoio as Comunidades do Campo, a Instituição que desenvolveu e acompanhou o projeto, sendo 60% para as mulheres e 40% para a instituição, destinados a compra de materiais, infra-estrutura e acompanhamento de outros trabalhos.

lheres. Maria, co-nhecida por todos como Dadá, um grande exemplo de persistência, nos relatou que o trabalho iniciou com a participa-ção de 12 mu-lheres cultivando hortaliças, depois houve a desistên-cia do grupo, per-manecendo apenas ela. “O trabalho é demorado e trabalhoso, mas tem que se acreditar”, disse. Hoje o grupo do Arizona conta com a participação de três mulheres, que cultivam hortaliças e criam galinhas. Dadá participa de todas as reuniões e capacitações da

rede Xiquexique em São Miguel do Gostoso, além de viagens para eventos em outros Estados do Brasil, apri-morando seus conhecimentos no cultivo e trabalho agroe-cológico.

Novo Horizonte

O grupo de Apicultura Delícia das Abelhas, do Novo Horizonte, existe há cinco anos. Atualmente é composto por seis pessoas, entre elas Maria das Dores Cardoso de Melo, 33 anos, Joa-na Darc Menezes da Silva, 35, e Sônia Maria Pereira Tenório, 39. A colheita do mel é feita uma vez por mês, caso o inverno seja bom. A produ-ção é vendida para a pousada Mar de Estrelas e na feira agroecológica em São Miguel do Gostoso.

Paraíso

O grupo Juntas Venceremos, de Paraíso, é formado por cinco mulheres. Existe há

Maria Ducarmo Araújo e Maria Iracema Almeida, da comunidade Tabua

Maria Anunciada Araújo, Tabua

Sonia Maria Tenôrio Gomes, moradora da comunidade

Novo Horizonte

Geane Cruz Silva, Tabua

Ana Maria Barbosa da Silva, Tabua

Joana Darc da Silva e Maria das Dores Melo, Novo Horizonte

Maria Matias de Souza, da comunidade Arizona

O grupo tem uma organização peculiar e plausível. Para um melhor desenvolvimento e rendimento do tra-balho, elas organizaram uma caixinha que no final de cada mês colocam 10% do valor arrecadado com as ven-das, para as despesas, os outros 90% é dividido entre elas.

Page 32: Revista Guajiru n. 2

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32

O Futebol em São Miguel do

Gostoso futebol é o esporte mais praticado

em São Miguel do Gostoso, inclusive

por homens, mulheres e crianças. É

praticado nos campos, na praia, no ginásio po-

liesportivo, na quadra de esportes, em diversos

locais desde que seja propício a essa atividade.

Antigamente o futebol era praticado no campo

de areia, de terça a sexta-feira e os jovens parti-

cipavam com muita força de vontade, sendo sua

única atividade de lazer e integração. Esses jo-

vens guerreiros participavam de vários campeo-

natos regionais, onde jogavam em diversos clu-

bes locais, como: Parma, Grêmio, Força Jovem,

Internacional e SMEC, inclusive, esse último não

existe mais. Recentemente surgiram os clubes

Esporte e o São Miguel. Segundo o treinador Eri-

marcio e o veterano Laudelino, hoje em dia exis-

te um campo de futebol estruturado, tendo em

vista que os campos do passado eram de areia

ou barro. Mesmo assim, os jovens atualmente

não participam com a mesma força de vontade

e intensidade dos seus pais, tios e avós.

Atualmente em São Miguel do Gostoso exis-

te um projeto de incentivo ao esporte local,

principalmente ao futebol, com turmas infanto-

juvenil, sub-17 e sub-20, se expandindo para o

futebol veterano e o feminino. William Batista

de Souto é quem foi o responsável por trazer o

projeto Comercial Esporte Clube para o municí-

pio, e junto a ONG ASCDEG, em parceria com a

Prefeitura Municipal de São Miguel do Gostoso,

realizam um trabalho de resgate do futebol lo-

cal.

O projeto trabalha com crianças, jovens e

adultos, com o objetivo de tirá-los das ruas e

conseqüentemente das drogas, prostituição e

da marginalidade. Os professores foram capaci-

tados na Federação Norte Rio-grandense de Fu-

tebol em Natal (RN), no curso de Capacitação de

Técnico de Futebol. São eles: Erimarcio Correia

Vieira, Raimundo Nonato Alves e William Batis-

ta de Souto, com o apoio do professor Renato

César, ex-atleta do Vasco da Gama (RJ), com

passagem pelo Flamengo (RJ), Ceará (CE), São

O

Alunos e monitores do Projeto Comercial Esporte Clube desenvolvido em São Miguel do Gostoso

E S P O RT E

por Joelma de Souza

e Maria Lucivânia Menezes

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Page 33: Revista Guajiru n. 2

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33

O Futebol em São Miguel do

Gostoso

Paulo (SP), entre outros tantos clubes brasileiros

de futebol.

Para participarem do projeto, as crianças

e os jovens devem estar na escola, inclusive é

solicitada a participação na programação da AS-

CDEG, como em mutirões de limpeza das praias

locais e das ruas visando à preservação, e das

palestras educativas cujos temas falam de dro-

gas, prostituição, meio ambiente e saúde. Um

incentivo a mais para se tornarem cidadãos de

bem no futuro. Através desse projeto, os times

de sub-17 e sub-20 participaram de campeona-

tos oficiais, bem como amistosos com o ABC e

o AMÉRICA de Natal. Nessas partidas houveram

a presença de olheiros, que intencionam en-

contrar bons jogadores para os grandes clubes

nacionais. Nisso já foram revelados vários joga-

dores do município, jovens que partiram para o

futebol paulista e mineiro.

O principal objetivo do projeto é dar opor-

tunidade a todos que participam do esporte em

São Miguel do Gostoso, mas principalmente o

futebol, reavivando o time de veteranos e o fu-

tebol feminino. Em ano de copa do mundo, o

projeto vai receber um apoio de força, a partici-

pação do ex-jogador da seleção brasileira Mauro

Silva. Na cidade era realizado, todos os anos, o

campeonato municipal, onde todos os clubes

eram convidados a participarem, porém no ano

passado não aconteceu. Houve a realização do

campeonato Caju-Gostoso com duração de três

meses e recentemente realizou-se a Copa Ser-

ra do Mel, em homenagem a Senhora Andree

Anne Loïse Raboud, natural da Suíça, membro

da Fundação Serra do Mel e fundadora da AS-

CDEG.

Alguns desses jovens foram revelados no pro-

jeto e outros através de olheiros, que assistiram

jogos realizados nos campos da cidade, e que

ao observarem os talentos de jogadores de fu-

tebol, os escolheram para representarem alguns

clubes pelo país. Com isso surgiu em cada um

deles o sonho de se profissionalizar, almejando

um futuro promissor no futebol brasileiro.

Alguns exemplos de talentos revelados no

município podem ser citados, como: Adalberto

Soares dos Santos “Sequinho”, atleta que joga

no América de Natal; Ivanilson Fernandes da Sil-

va “Uego”, que foi atleta do Alecrim e América,

do Araripina da Paraíba (PB), e atualmente joga

no Potiguar de Mossoró (RN); Edvan, que está

no Megacenter em São Paulo (SP); e o jovem

Manoel Araujo da Silva “Luilson”, residente no

distrito da Tabua, que está se preparando para

participar também do Megacenter (local onde

se preparam os atletas para os grandes clubes

paulistas de futebol). Com uma breve participa-

ção no futebol mineiro, os jovens Evandro da

Silva Menezes e Julio Cesar, também podem ser

citados como representantes da cidade.Vanilson Fernandes da Silva “Uego” jogando no Alecrim

Futebol Clube de Natal (à dir.)

Foto

ced

ida

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Rev

ista

Gua

jiru

34

O Pai daNoite

L E N D A

m ser sinistro que se faz presente no imaginário de São Miguel do Gostoso, assim con-

ta a estória. O Pai da Noite é um lendário personagem que, segundo os moradores,

vaga pelas madrugadas nas ruas e arredores da cidade. Quando aparece, tem a forma

de um animal pequeno e, enquanto persegue a pessoa, vai crescendo até virar um gigante

sem forma definida. Uns afirmam ser uma sombra branca no formato de um homem, outros

dizem ser escura com chapéu pontudo, mas no geral, sempre são formas estranhas.

Entre tantos causos narrados por populares de Gostoso, relatamos aqui o encontro de

Neném de Lala, como é mais conhecida, com o lendário Pai da Noite. Nascida e criada na

comunidade, filha de pescador, hoje com 54 anos, Francisca Gomes Pinheiro conta sobre um

dos momentos mais interessante da sua vida.

U

Por volta das onze horas da noite, Neném e

mais duas amigas, Maria e Verônica, saíram para

a praia do Maceió. Como era de costume, foram

à praia esperar seu pai que estava para chegar do

mar. As pessoas, como ainda hoje, tinham o hábito

de esperar na praia a chegada de peixe fresco. Era

uma espécie de diversão para os moradores. E lá

foram elas. Próximo a praia existiam muitas plan-

tações de gameleiras, todos na vila comentavam

que ali era mal assombrado, diziam que coisas

estranhas aconteciam lá. Passaram pelas árvores e

continuaram a viagem. O vento soprava muito forte

aquela noite, o mar estava agitado, o barulho das

ondas contrastava com o vazio que estava na praia.

Mesmo acostumadas a passar por lá, morriam de

medo das histórias de assombração. Seguiram an-

dando assim mesmo, apavoradas, pareciam sentir

que algo iria acontecer. Neném olhava de um lado

para o outro, envolvida pelo clima sinistro, quando

de repente virou-se para trás e teve aquela visão:

era uma sombra branca, que parecia com um ho-

mem, e vinha crescendo, crescendo, ficando tão

alto quanto um coqueiro. Ela estava em estado de

choque, não conseguia mover-se, apenas olhou

para as amigas e disse:

– Meninas, têm uma coisa estranha atrás de nós.

As garotas se viraram e olhando para trás depa-

ram-se com o ser que vinha se aproximando. Ele

por Francisco dos Anjos

e Wellinton Silva

Page 35: Revista Guajiru n. 2

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ista

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35

tomava formas estranhas, não se sabia mais se era

homem ou bicho. As três saíram correndo desespe-

radas sem saber para que lado irem.

Era aquele pega e não pega, pega e não pega,

quanto mais corriam, mais perto o bicho chegava.

Ele corria cada vez mais rápido tentando cair so-

bre elas com seu corpo, como se fosse abraçá-las.

Quando finalmente alcançaram o local onde costu-

mavam esperar a chegada dos pescadores, olharam

para trás na esperança que ele tivesse sumido, mas

não, o bicho continuava as perseguindo. Depois de

muito tempo correndo sem direção certa, pensaram

em voltar para a vila. A procura de um esconderijo,

passaram por um lago conhecido como lagoa de Chi-

co Néri. Sobre o lago existia uma cerca de arames

enorme. Sem pensar em se cortar, passaram pela

cerca as pressas. Ao chegar à vila, entraram por trás

da primeira casa que viram. Neném desmaiou em se-

guida. Os moradores da casa acordaram e foram até

a cozinha onde as três estavam. Por sorte a dona da

casa era comadre de Neném, então passaram a noite

ali mesmo, já que estavam muito assustadas com o

que acontecera. Pela manhã o pai de Neném havia

retornado do mar e as procurou por toda vila com

outros moradores. Depois de algumas horas procu-

rando, encontraram-nas na casa da comadre Totó de

Manuel Guerra.

Na época os moradores disseram que foi o Pai

da Noite quem correu atrás delas e que por sorte

passaram por uma cerca de arames. Ao atraves-

sar a cerca formaram uma cruz e o bicho sumiu

na noite. Diz a lenda que ao conjurar uma cruz

diante dele ou rezar o ofício de Nossa Senhora, o

Pai da Noite volta para a escuridão onde habita.

Ele é o senhor das noites e todo dia ao escurecer

ele espera por alguém para cobrir com seu corpo,

levando-o para as trevas.

Outro relatoA senhora Maria Teixeira de Souza, moradora de

São Miguel do Gostoso, 63 anos, afirma que seu

tio, Antonio Teixeira do Nascimento, presenciou

a aparição do “Pai da Noite” quando criança. Se-

gundo Dona Maria, seu tio viajava tarde da noite,

vindo de praias vizinhas, quando olhou para fren-

te e viu um vulto. Era uma sombra que crescia

cada vez mais. A escuridão ía caindo sobre ele

quando as palavras do Ofício de Nossa Senho-

ra vieram em sua mente: Deus te salve relógio.

Foi essas palavras que fez a sombra diminuir e

desaparecer. Dona Maria Teixeira diz que o Pai

da Noite sumiu porque as palavras do Ofício de

Nossa Senhora têm muito poder.

Foto

: Ale

ssan

dro

Am

aral

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Rev

ista

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jiru

36

Uma deliciosa Peixada ao molho de

coco, acompanhada de arroz, pirão

e ovos cozidos. Para almoço, jantar

e aquele momento especial com

amigos e família ouvindo uma mú-

sica agradável num ambiente areja-

do e charmoso.

Restaurante MacambiraEndereço: Avenida dos Arrecifes,

s/n (esquina da Praia do Maceió)

Fones: (84) 3263-4004 / 9124-1005

Organização: Isaias

Peixe a BrasileiraLoja de artesanato muito charmosa.

Oferece bolsas, acessórios e moda

praia. Atendimento especial e óti-

mos preços.

Loja Maria MaréEndereço: Avenida dos Arrecifes,

Nº 1924

Fone: (84) 9191-7626

Organização: Maria Almira

Maria Maré

Peixe frito inteiro acompanhado de

salada, farofa, macaxeira ou batata

frita em porções para duas pessoas,

com valor médio de R$ 30,00 a ser

apreciado num ambiente aconche-

gante, situado a beira-mar.

Bar do TicoEndereço: Rua Enseada das Baleias,

Nº 869, Praia do Cardeiro.

Fones: (84) 9120-8348 / 9165 / 4467

Organização: Dedé de Tico e Família

Cioba de frente para o mar

Uma ótima dica do Mak Tub - Bar e

Pizzaria é a pizza com recheio duplo

de Portuguesa e Marguerita, com as

bordas recheadas com catupiry. Os

preços variam em torno de R$ 25,00.

Um ambiente bonito, boa música e

atendimento receptivo.

Mak Tub – Bar e PizzariaEndereço: Entrada Praia do Cardeiro,

Nº 970 (esq. com Av. dos Arrecifes)

Fones: (84) 3263-4374 / 9129-0187

Organização: Johnnes e Lucilene

Pizza com recheio duplo

Gostoso é degustar um petisco de

filet de peixe grelhado acompanha-

do de salada e macaxeira frita, em

um espaço agradável, ouvindo uma

boa música e olhando a paisagem

do mar.

Sheik’s Bar e Restaurante Endereço: Avenida Enseada das

baleias

Fones: (84) 9162-1105 / 3263-4153

E-mail: [email protected]

Organização: Jonathas e Mazé

Filet de Peixe

Madame Chita

Excelente espaço com vista para o

mar. Deliciosos crepes, caipirinha,

caipifrutas, boa música, loja com

moda praia, acessórios e artesana-

tos. Uma ótima dica para qualquer

ocasião.

Loja Madame chitaEndereço: Rua Enseada das Baleias,

Nº 1947, Praia do Maceió

Telefone: (84) 3263-4235

E-mail: [email protected]

Site: vwww.praiadogostoso.com/

madamechita

Organização: Rosana e Eliana

D I C A S

Texto e fotos: Francisco dos Anjos

e Wellington SilvaVale a pena conferir!

Page 37: Revista Guajiru n. 2

Rev

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37

Galeria de fotosE S PA Ç O T E A R

Participantes da oficina de Jornalismo,

após sessão de cinema em Natal

Aula de diagramação durante a Oficina de Jornalismo

Ari, Dominique e Alessandro, durante visita a Tribuna do Norte

Após um dia intenso,

hora da diversão

Entrega dos certificados na casa de Dominique

Alexsandro, Francisco

e a pizza

Equipe de vendas fechando a parceria

com Edson, da Urca do Tubarão

Francisco e Wellington antes de escreverem a sessão de

Dicas

Page 38: Revista Guajiru n. 2

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38

Não somos PIPA... nem seremos!

e tem uma coisa que eu não suporto é quando dizem:

“Gostoso é a nova Pipa!”. Sacanagem! Quer dizer que

nós somos os próximos alvos de uma invasão alieníge-

na no melhor estilo Guerra dos Mundos? Os cidadãos de

Gostoso ficarão assistindo seu paraíso ser transformado

em uma terra árida e estranha? Ou simplesmente o capi-

talismo irá cumprir o seu papel de aniquilador de estru-

turas sociais?

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse na se-

gunda-feira, 07/06/2010, durante o lançamento do Plano

Agrícola e Pecuário 2010/2011, que o Brasil deve começar

a discutir a regulamentação da venda de

terras brasileiras a estrangeiros. “Essa é

uma coisa que teremos que discutir para

saber como vamos fazer para não permi-

tir que haja abuso da compra de terra por

estrangeiros”, disse o presidente. Talvez,

como sempre, estejamos um pouquinho

atrasados, se observarmos casos como os

de Pipa ou outras localidades brasileiras

rateadas entre grupos estrangeiros, sem

nenhum tipo de controle, nem mesmo

por parte de instâncias governamentais

poderosas como Patrimônio da União, Po-

lícia Federal e Receita Federal, o que de-

monstra o tamanho da nossa fragilidade

diante da questão.

Já que o presidente Lula abriu o deba-

te, estamos oficialmente autorizados a fazer os nossos

comentários. Se observarmos a curta história de Gostoso,

vemos que, no período entre 2000 e 2008, os imóveis

situados, sobretudo, na Avenida dos Arrecifes e Enseada

das Baleias sofreram uma supervalorização causada pelo

robusto valor do Euro na época, atraindo compradores es-

trangeiros, principalmente os europeus. Essa supervalori-

zação se alastrou ao oeste, nos terrenos da orla marítima

na comunidade de Reduto e a leste do centro da cidade

nas comunidades vizinhas, de Monte Alegre e São José,

pertencentes ao município de Touros (RN). Os donos des-

sas propriedades logo aproveitaram a oportunidade pro-

movida pela especulação imobiliária internacional para

faturar. Rapidamente a configuração das propriedades

mudou e iniciou-se o troca-troca de proprietários, girando

esses investimentos interesseiros até a crise financeira de

2009 que brecou o capital especulativo de outros países.

Que legal!

O fato é que em um curto espaço de tempo as pro-

priedades mais valorizadas do município passaram para

a mão de estrangeiros. E não só o valor dos terrenos da

orla marítima sofreu uma forte alta, mais também os das

ruas paralelas e áreas periféricas. Vale lembrar que muitas

dessas operações ocorrem sem o pagamento de nenhum

único centavo de impostos aos cofres públicos, e outros

tantos imóveis nem escritura possuíam. Graças a essa fei-

ra livre de imóveis superfaturados é possí-

vel encontrar hoje terrenos vendidos por

até R$ 410,00 o metro quadrado, e não

é difícil encontrar na Av. dos Arrecifes as

placas de For Sale (Vende-se), indicando

o tipo de comprador desejado.

Outro fato é que estamos sobrevi-

vendo bem a “invasão”. O município se

beneficiou da presença de instituições

como IDEMA, UFRN, CNPq e Secretaria

de Patrimônio da União (SPU), que jun-

tamente com a Prefeitura Municipal de

São Miguel do Gostoso e a comunidade,

elaboraram o Plano Diretor em dezem-

bro de 2008. No mesmo período, muitas

famílias se mudaram para Gostoso, bus-

cando um estilo de vida mais tranquilo,

bem como os diversos pequenos comerciantes, proprie-

tários de pousadas e restaurantes, que se estabeleceram

de maneira séria no município e garantem, durante todo

o ano, um conjunto expressivo de serviços frequentados

não só pelos turistas, mas também

pelos nativos e pessoas da região do

Mato Grande e região Metropolitana

de Natal.

Vale apena lembrar: Não somos

Pipa! Nem seremos!

A RT I G O

O fato é que

em um curto

espaço de tempo

as propriedades

mais valorizadas

do município

passaram para

a mão de

estrangeiros

S

Ricardo André R. C. da Silva é formado em

Matemática (UERN), e pós-graduando em

Gestão Pública Municipal (UFRN)

Foto

: Ale

ssan

dro

Am

aral

Page 39: Revista Guajiru n. 2

Charme e bom gosto a beira mar

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Page 40: Revista Guajiru n. 2

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