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CONSELHO EDITORIAL Adriana Schmidt Dias - UFRGS Albérico Nogueira de Queiroz - UNICAP André Luiz Jacobus - MARSUL Fabíola Andréa Silva - MAE/USP Jairo H. Rogge - UNISINOS Saul Eduardo Seiger Milder - UFSM Sergio Celio Klamt - UNISC Os artigos são de responsabilidade dos respectivos autores. Revista do Cepa. -- Vol. 28, n. especial (2004.) -- Santa Cruz do Sul : Editora da UNISC, 2004. ISSN 0103-3093 1. Arqueologia. I. CEPA - Centro de Ensino e Pesquisas Arqueológicas. CDD 930.1 Catalogação: Bibliotecária Muriel Thurmer - CRB - 10/1558 EDUNISC Avenida Independência, 2293 Fone: (51) 3717-7462 - Fax: (51) 3717-7665 96815-900 - Santa Cruz do Sul - RS Revista do CEPA EDITORA DA UNISC Rev. do CEPA Santa Cruz do Sul v.28 número especial 2004 p. 1-60 Vol. 28 - Número Especial 2004 CEPA - Centro de Ensino e Pesquisas Arqueológicas Coordenador: Sergio Celio Klamt ISSN 0103-3093 Reitor Luiz Augusto Costa a Campis Vice-Reitor José Antônio Pastoriza Fontoura Pró-Reitora de Graduação Luci Elaine Krämer Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Wilson Kniphoff da Cruz Pró-Reitora de Extensão e Relações Comunitárias Carmen Lúcia de Lima Helfer Pró-Reitor de Administração Vilmar Thomé Pró-Reitor de Planejamento e Desenvolvimento Institucional João Pedro Schmidt EDITORA DA UNISC Editora Helga Haas

Revista Do Cepa Especial 2004 Educa Patrimonial

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Rev. do CEPA, Santa Cruz do Sul, v. 28, p. 7-16, n. especial, 2004 Rev. do CEPA, Santa Cruz do Sul, v. 28, p. 7-16, n. especial, 2004

CONSELHO EDITORIAL

Adriana Schmidt Dias - UFRGSAlbérico Nogueira de Queiroz - UNICAPAndré Luiz Jacobus - MARSULFabíola Andréa Silva - MAE/USPJairo H. Rogge - UNISINOSSaul Eduardo Seiger Milder - UFSMSergio Celio Klamt - UNISC

Os artigos são de responsabilidade dos respectivos autores.

Revista do Cepa. -- Vol. 28, n. especial (2004.) -- Santa Cruzdo Sul : Editora da UNISC, 2004.

ISSN 0103-3093

1. Arqueologia. I. CEPA - Centro de Ensino e PesquisasArqueológicas.

CDD 930.1

Catalogação: Bibliotecária Muriel Thurmer - CRB - 10/1558

EDUNISCAvenida Independência, 2293

Fone: (51) 3717-7462 - Fax: (51) 3717-766596815-900 - Santa Cruz do Sul - RS

Revistado CEPA

EDITORA DA UNISC

Rev. do CEPA Santa Cruz do Sul v.28 número especial 2004 p. 1-60

Vol. 28 - Número Especial 2004

CEPA - Centro de Ensino e Pesquisas Arqueológicas

Coordenador: Sergio Celio Klamt

ISSN 0103-3093

ReitorLuiz Augusto Costa a Campis

Vice-ReitorJosé Antônio Pastoriza Fontoura

Pró-Reitora de GraduaçãoLuci Elaine Krämer

Pró-Reitor de Pesquisae Pós-Graduação

Wilson Kniphoff da CruzPró-Reitora de Extensãoe Relações Comunitárias

Carmen Lúcia de Lima HelferPró-Reitor de Administração

Vilmar ThoméPró-Reitor de Planejamento

e Desenvolvimento InstitucionalJoão Pedro Schmidt

EDITORA DA UNISCEditora

Helga Haas

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SUMÁRIO

EDITORIAL ......................................................................................... 5

ARQUEOLOGIA NA SALA DE AULA: UMA EXPERI-ÊNCIA REALIZADA NA REDE MUNICIPAL DEENSINO DE IBARAMA, RSAdemir José Machado ............................................................................. 7

PRÉ-HISTÓRIA E ARQUEOLOGIA: SUGESTÕESMETODOLÓGICAS PARA A EDUCAÇÃO INFANTILE ENSINO FUNDAMENTALAndré Luis Ramos Soares e Sergio Celio Klamt ................................ 17

BREVE MANUAL DE PATRIMÔNIO CULTURAL:SUBSÍDIOS PARA UMA EDUCAÇÃO PATRIMONIALAndré Luis Ramos Soares e Sergio Celio Klamt ................................ 43

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EDITORIAL

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________________1 Graduando em História. Auxiliar Técnico no Centro de Ensino e Pesquisas Arqueológi-

cas-CEPA da Universidade de Santa Cruz do Sul-UNISC.

ARQUEOLOGIA NA SALA DE AULA:UMA EXPERIÊNCIA REALIZADA NA REDEMUNICIPAL DE ENSINO DE IBARAMA,RS

Ademir José Machado1

Este trabalho surgiu a partir da vivência em sala de aula, ministrandoaulas de história e geografia para alunos do Ensino Fundamental e deobservações nas visitas de alunos do Ensino Fundamental ao Centro deEnsino e Pesquisas Arqueológicas-CEPA, da Universidade de Santa Cruzdo Sul-UNISC. Durante as visitas os estudantes recebem informaçõessobre a ocupação pré-colonial do Rio Grande do Sul e especialmente doVale do Rio Pardo e Jacuí, bem como dos procedimentos em trabalhos decampo e laboratório realizados pelos pesquisadores da Instituição.

Os estudantes são geralmente alunos das 4ª séries, onde estãoestudando a história do Rio Grande do Sul, ou de 5ª série, onde estudama origem do homem. Normalmente já vêm com informações recebidas emsala de aula, e nesse aspecto, a visita torna-se um complemento da aula,onde podemos acrescentar referências que não constam nos livros didá-ticos, bem como desmistificar preceitos em relação ao índio e ao trabalhode arqueologia, já que os livros trazem normalmente sínteses, nemsempre condizentes com a realidade destes povos.

A visita normalmente é dividida em dois momentos. A partir docontato da Escola agendando a visita, organizamos a palestra comapresentação de slides, enfatizando a diversidade da ocupação da Amé-rica, o contato, as transformações ocorridas na organização social, ospreceitos básicos da pesquisa arqueológica, a ocupação pré-colonial noRio Grande do Sul, o legado dos povos nativos e a situação atual destesgrupos no Estado. Num segundo momento, temos a visita ao CEPA, ondeos estudantes têm contato com os artefatos e organograma do laboratório.

Em relação às visitas, a questão que se apresentou de formacategórica foi a vontade dos estudantes em tocar, manusear os vestígiosarqueológicos. O laboratório do CEPA-UNISC, não está formalmenteorganizado para receber visitas, mesmo assim, mantém exposição de

material em balcões de vidro, painéis com fotografias, desenhos, textos,mapas, para auxiliar nas atividades de visitação. Devemos ressaltar que oespaço disponível no laboratório, não deixa margem para elaboração deum roteiro específico para as visitas.

Percebemos que esta não é uma realidade somente do CEPA-UNISC. Outras instituições convivem com o mesmo dilema. Além domaterial didático, outro fator que barra nossa atuação é a falta de espaçofísico2 , além é claro, da ausência de material didático que venha acorroborar para o desenvolvimento das atividades, a um nível compreen-sível, para as diversas faixas etárias dos estudantes do Ensino Fundamen-tal.

Modificar a estrutura do laboratório não nos pareceu, em primeirainstância, a solução. O que se colocou de nessa situação, foi levar até aEscola, mais precisamente até a sala de aula, as informações sobre operíodo pré-colonial do Rio Grande do Sul, de forma objetiva e de baixocusto, com o propósito de: a)iniciar os estudantes do ensino fundamentalem atividades de pesquisa arqueológica; b)demonstrar os procedimentosrelativos a preservação e estudo dos sítios arqueológicos; c)estudar oshábitos e costumes dos diversos grupos humanos que habitaram o atualestado do Rio Grande Sul a partir da cultura material; d)proporcionar umaprática de ensino comprometida com a preservação da cultura materialdos povos que nos antecederam, bem como com o resgate da importânciahistórica desses grupos para a formação da sociedade brasileira, contem-plando o respeito a diversidade, expressa na sobrevivência dos remanes-centes destas sociedades.

Na conjuntura atual, isto constitui um desafio, principalmente porromper com a rotina da Escola, onde normalmente as questões referentesaos povos indígenas são tratadas de forma pontual, em uma ou outra data,relegando-as a um plano secundário nas atividades, onde o fim destasculturas parece um caminho estabelecido, definitivo, não sendo relevantetal estudo, logicamente, na visão de alguns professores.

Para a realização das atividades escolhemos a estrutura da RedeMunicipal de Ensino do município de Ibarama, RS, mais especificamentea Escola Municipal de Ensino Fundamental Luiz Augusto Colombelli,(escola nucleada) que recebe alunos de áreas rurais e urbanas. Estásituada na localidade de Linha Seis.

________________2 BEBER, M. V.; IZIDORO, J.; ARNT, F. V. Museu Instituto Anchietano de Pesquisas:

avaliação e perspectivas. Revista do Cepa. Vol. 26, n. 35/36 (jan./dez 2002). Santa Cruz doSul: Editora da UNISC, 2004, p. 171.

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Para a realização das atividades recebemos apoio incondicional daSecretaria de Educação e Cultura, da Direção e Professores da Escola edo CEPA-UNISC, na pessoa do Professor Ms. Sergio Celio Klamt.Realizamos as atividades com alunos das 4ª, 5ª e 6ª séries do EnsinoFundamental

POR ONDE COMEÇAR?

Já que a arqueologia tem como meta compreender a estrutura,funcionamento e os processos de mudança de sociedades do passado, apartir do estudo dos restos materiais produzidos, utilizados e descarta-dos3 , sentimos a necessidade de construir a unidade básica de estudo daarqueologia, afora as discussões acadêmicas, o sítio arqueológico4 .

Um dos principais entraves encontrados foi o custo, além é claro dopeso do material. A caixa-sítio5 tem que ser facilmente transportada, parachegar com facilidade até a sala de aula. Que materiais utilizar para aconstrução do sítio arqueológico? A solução que encontramos foi reutilizarcaixas-de-papelão e papel. Pronto! Já temos o local do sítio (caixa) e acamada de ocupação e camada estéril (papel picado de diferentes cores),restavam os vestígios arqueológicos!

Não poderíamos colocar nas caixas-sítio qualquer artefato arqueo-lógico. Em função disso estabelecemos, a partir da bibliografia sobre otema, um conjunto de artefatos que venham identificar os grupos huma-nos que ocuparam o Estado, no período pré-colonial. Para preservar osartefatos originais optamos por réplicas.

A partir da escolha dos artefatos, escolhemos a matéria-prima paraconfecção das réplicas. Para os artefatos líticos (bifaces, talhadores,pontas-de-projétil, itaizá, mão-de-pilão, raspador, machado polido) opta-mos pelo gesso, onde através de formas específicas, fizemos réplicas dosartefatos. As vasilhas de cerâmica foram feitas utilizando a técnica guarani(roletado) e em seguida queimadas em fogueiras a céu-aberto. Visandocomplementar o contexto, acrescentamos a cultura material, restos de

alimentação como cascas de pinhão, milho crioulo de diversas variedades,feijões de diversas variedades, ramas de mandioca, espinhas de peixe,sementes de abóboras, urucum, amendoim, etc.

A elaboração das réplicas, demandou um tempo considerável,principalmente o material confeccionado em gesso, em função do períodode secagem, no entanto, a preparação da mistura e o manuseio das formasmostrou-se simples.

Quanto às vasilhas cerâmicas, percebemos também uma relativademora em relação a secagem, em torno de 06 dias antes de seremqueimadas, sem contar as etapas da escolha da argila. Já que nos propomosa fazer um trabalho a baixo custo, coletamos a argila em jazidas naturais.O gesso foi um pouco mais complicado, procuramos uma fábrica demolduras em gesso (Arte&Gesso�Candelária), e conseguimos a doaçãodo gesso necessário para as atividades, sendo que as formas do materiallítico já existiam no CEPA-UNISC.

Com exceção da mão-de-obra para confeccionar as réplicas emgesso, as vasilhas de cerâmica e os custos com a impressão de lâminas edos resumos e as fichas de hipóteses entregues aos alunos, o projeto nãoteve mais custos relevantes. Conseguimos desta forma, todo materialnecessário com baixo custo e de fácil reposição.

Ao montarmos os sítios arqueológicos (caixa-sítio), não nos preocu-pamos em colocar cada grupo de artefatos em uma determinada caixa-sítio. Procuramos reproduzir problemas que encontramos em atividadesde campo, como a presença de artefatos pertencentes a grupos diferentes,a perturbação do sítio com artefatos contemporâneos como o plástico, etc.

COMO ESTUDAR A CAIXA-SÍTIO?

Como os estudantes do Ensino Fundamental, e em certos casos osprofessores, não têm um conhecimento específico sobre a arqueologia,muitas vezes esta área do conhecimento é confundida com a paleontologia,além de muitas vezes, perder-se na imagem dos caça-tesouros imortaliza-dos pelo cinema.

Para superar esta realidade, torna-se imprescindível a elaboração deum referencial teórico condizente com a proposta de trabalho. Destaforma uma palestra contemplou os preceitos básicos do que entendemospor sítio arqueológico, cultura material, tradição, fase, estratigrafia,plotagem, datação absoluta, datação relativa, periodização da história pré-

________________3 NEVES, E. G. Os índios antes de cabral: arqueologia e história indígena no brasil. In:

SILVA, A. L.; GRUPIONI, L. D. B. (Org.) A temática indígena na escola: novos subsídiospara professores de 1º e 2º graus. Brasília: MEC/MARI/UNESCO, 1995, p. 172.

4 Local com vestígios de ocupação pretérita.5 Caixa-sítio é uma caixa qualquer (papelão por exemplo)dentro da qual vai ser montado

o sítio, utilizando papel picado e réplicas de artefatos indígenas.

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colonial no Brasil6 , ocupação pré-colonial no Rio Grande do Sul, mudan-ças climáticas, os primeiros habitantes, Caçadores-coletores7 , Guaranis8 ,Tradição Taquara9 , Tradição Vieira10 , Pescadores-coletores pré-históri-cos do litoral norte11 , além de referências sobre os sítios arqueológicosencontrados no município de Ibarama (45 sítios registrados) e a contribui-ção dos povos indígenas à cultura brasileira12 , além é claro do futuro daquestão indígena13 .

Logicamente que as questões acima mencionadas foram tratadasde acordo com a faixa etária das turmas. Elaboramos também um pequenoresumo que auxilia na elaboração do diagnóstico da escavação, bem comouma ficha de hipóteses, onde se dará o registro das atividades pelosalunos.

A SALA DE AULA

Uma vez organizadas as caixas-sítio, o referencial teórico, a pales-tra, fomos realizar a parte prática. Trabalhamos num primeiro momentocom alunos das 4ª séries. Solicitamos que elaborassem uma frase com apalavra arqueologia, visando sondar o que os alunos conheciam sobre otema. As frases elaboradas associavam a arqueologia a personagens docinema, a tesouros, aos dinossauros, etc. A partir destas referências,procuramos desmistificar estas questões durante a palestra e nas ativida-des práticas, demonstrando o procedimento referente à legislação brasi-leira, além das atividades cotidianas da pesquisa arqueológica. O que foi

motivo de espanto para muitos alunos. A frase recorrente foi a seguinte:não sabíamos que existiam estas pessoas trabalhando aqui! (Vale do RioPardo e Jacuí)

Perguntei se os meninos ou as meninas gostariam de fazer amizade,com um índio ou índia. Nesse aspecto fui surpreendido pelo preconceito,pois os índios foram classificados por alguns alunos como sujos, comopessoas que andam nuas de um lado para o outro. A partir disso, nãopodemos deixar de mencionar os hábitos de higiene dos europeus naépoca da Conquista, e nas colônias alemãs e italianas até o início do séculoXX.

As turmas mostraram-se ansiosas para realizar a parte prática.Fizeram questionamentos dos mais variados. Na etapa da escavação, quefoi realizada por três alunos em cada caixa-sítio, realizaram os procedi-mentos com toda a cautela necessária a tal empreendimento, exceto umou dois casos em que a curiosidade não permitiu esperar muito tempo. Emseguida, apresentaram aos colegas as suas descobertas e relataram ashipóteses que foram problematizadas dentro da medida do possível.Quanto à classificação do material encontrado na �escavação�, associa-ram a atividades práticas dos índios. Exemplo: o índio estava caçando eperdeu a ponta-de-projétil. Ele se alimentava com milho, feijão, mandi-oca e peixe. Nós aprendemos com os índios a comer estes produtos. Esteíndio pertence ao um grupo diferente do daquele outro.

Como já era previsto, parte dos artefatos foram danificados emfunção do manuseio, o que de nenhuma forma comprometeu as ativida-des, já que poderiam ser substituídos por novas réplicas, podendo destaforma ser tocados e observados à vontade. Percebemos que os alunos�visitaram� as escavações dos colegas observando os artefatos encontra-dos e em alguns casos contribuíram na classificação do material de outrosgrupos, principalmente nos sítios problema, onde havia a mistura demateriais. A presença de embalagens plásticas em meio ao materialarqueológico rendeu boas discussões sobre a preservação dos sítios, e deque forma estes sítios são �destruídos� e/ou �perturbados�.

Quanto a presença de materiais característicos de mais de um grupono mesmo contexto, os alunos atribuíram as trocas que poderiam teracontecido entre os grupos, bem como as reocupações do espaço emquestão. Reforçamos a idéia de que a arqueologia, a partir do momentoque trabalha com a cultura material remanescente, tenta classificar estesartefatos e relacioná-los a determinados grupos, o que no entanto, podeestar sujeito a erros, visto que, somente através da cultura material, não

________________6 Op. Cit. p. 176-88.7 SCHMITZ, P. I. O mundo da caça, da pesca e da coleta. In: SCHMITZ, P. I. Pré-história

do Rio Grande do Sul. Arqueologia do Rio Grande do Sul, Brasil. Documentos 05. SãoLeopoldo: Instituto Anchietano de Pesquisas-UNISINOS, 1991, p. 9-22.

8 Op. Cit. p. 32-57.9 Op. Cit. p. 67-931 0 Op. Cit. p. 107-126.1 1 KERN, A. A. Pescadores-coletores pré-históricos do litoral norte. In: KERN, A. A (et. al.).

Arqueologia pré-histórica do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Mercado Aberto: 1991, p.167-182.

1 2 RIBEIRO, B. G. A contribuição dos povos indígenas à cultura brasileira. In: SILVA, A.L.; GRUPIONI, L. D. B. (Org.) A temática indígena na escola: novos subsídios paraprofessores de 1º e 2º graus. Brasília: MEC/MARI/UNESCO, 1995, p. 197-215.

1 3 CUNHA, M. C. O futuro da questão indígena.In: SILVA, A. L.; GRUPIONI, L. D. B.(Org.) A temática indígena na escola: novos subsídios para professores de 1º e 2º graus.Brasília: MEC/MARI/UNESCO, 1995, p. 129-41.

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conseguiremos reconstituir todos os aspectos da vida destas sociedades.Nas 5ª e 6ª séries, as atividades andaram no mesmo ritmo, no

entanto, alguns alunos já relacionaram a questão indígena com aconteci-mentos tratados pela mídia, como o caso do índio Gaudino, os Cintas-Largas, entre outros, além do fato de municípios próximos, como é o casode Estrela Velha e Salto do Jacuí, possuírem reservas indígenas em seuslimites.

A questão da terra para o índio foi citada a partir da sentença: o queos índios querem com tanta terra? Nesse sentido, procuramos explicarque boa parte das terras indígenas, encontra-se na Amazônia Legal, ondese registram os menores índices de ocupação da terra por imóveis rurais(Roraima com 20%, Amazonas com 24%, Amapá com 34% e Pará com 41%são exemplos extremos disso)14 . Sendo o argumento da escassez de terraprovocada pela demarcação de reservas indígenas, não condizente com arealidade estabelecida, e, em muitos casos, usado pela mídia, visandodefender interesses alheios à questão indígena.

Não é de estranhar que a questão da terra preocupe os jovens, poismuitos destes alunos são filhos de meeiros, que a cada safra estabelecem-se em locais diferentes, sendo que, em muitos casos não conseguemadquirir um imóvel rural para garantir uma vida mais estável. Dessa formapercebemos que o trabalho veio relativizar questões presentes no cotidi-ano dos alunos, como a questão da terra, e principalmente a questão: Ondeestão os índios? O genocídio promovido pelas mais diversas formas,inclusive a contaminação proposital com varíola15 , através de roupas depessoas doentes, veio marcar a trajetória destes grupos no tocante aocontato com o branco.

Outra questão que merece destaque, nas áreas de imigração alemãe italiana a informação de que os índios, antigamente, passaram pelaregião,... eles foram embora, é corrente. Mas o que mais aguça a curiosi-dade dos estudantes é a questão do �ouro� enterrado nas vasilhasindígenas. Existe uma série de casos relatados sobre os supostos achados,o que em muitos casos motivou a destruição destes vestígios, principal-mente as vasilhas de cerâmica, em busca da fortuna.

Sobre a questão mencionamos que a matéria-prima utilizada pelosindígenas, as rochas, madeira, ossos, fibras vegetais, couro, a própriacerâmica, era o material disponível na época. Se eles dominassem atécnica de trabalho com metais, qual seria o objetivo de fazer os demaisinstrumentos com estas matérias-primas? Sérgio da Costa Franco16 atri-buiu à presença dos jesuítas nestas regiões (Redução de São Joaquim,Jesus-Maria) a origem dos relatos sobre tais achados. No entanto, nuncase concretizaram tais expectativas.

ATIVIDADES COMPLEMENTARES

Se realizássemos esta atividade de forma isolada, acredito queestaríamos dando um grande passo em relação à abordagem do tema. Noentanto, julgamos preponderante a complementação das atividades pro-postas. Nesse sentido, foi realizada uma palestra sobre preservação dopatrimônio histórico, arqueológico e paleontologia, já que esta área doconhecimento foi confundida com a arqueologia, julgamos procedentetrazer referências aos alunos. Esta palestra foi realizada por professoresda Universidade de Santa Cruz do Sul, a convite da Secretaria Municipalde Educação do município de Ibarama, RS, dentro das atividades da IJornada Cultural do município.

Organizamos também uma exposição no Arquivo Histórico Muni-cipal de Ibarama, onde foram expostos os vestígios arqueológicos origi-nais, juntamente com painéis explicativos, além da exposição de fósseis,também amparados por material explicativo.

Os professores organizaram atividades contemplando as atividadesrealizadas pelos alunos, através da elaboração de histórias em quadrinho,redações, desenhos, etc.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Consideramos alcançados os objetivos propostos no início do traba-lho. Conseguimos realizar as atividades com materiais simples e de baixocusto, e levar até os estudantes do Ensino Fundamental um novo olharsobre a vida, os costumes e os rumos das sociedades indígenas, desde o

________________1 4 OLIVEIRA, J.P. Muita terra para pouco índio? Uma introdução (crítica) ao indigenismo

e à atualização do preconceito. In: SILVA, A. L.; GRUPIONI, L. D. B. (Org.) A temáticaindígena na escola: novos subsídios para professores de 1º e 2º graus. Brasília: MEC/MARI/UNESCO, 1995, p. 77.

1 5 LÉVI-STRAUSS, C. Tristes trópicos. 70. ed. 1981.________________1 6 FRANCO, S. C. Soledade na história. Porto Alegre: 1975.

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seu passado remoto até os dias atuais.Ressaltamos que a partir das atividades realizadas, os alunos passa-

ram a reconhecer os vestígios arqueológicos como uma fonte de informa-ção, que tem contribuído para desvendar as venturas e desventuras destassociedades que nos antecederam na ocupação do Estado do Rio Grandedo Sul, e, conseqüentemente valorizá-las como parte da sociedade atual.Cada aluno passa a ser um defensor do patrimônio, principalmente a nívellocal e regional. Da mesma forma as atividades complementares consti-tuíram-se em um momento para revisar o que foi tratado, bem como aoportunidade de esclarecer dúvidas sobre os temas em questão.

Finalizando, gostaríamos de mencionar que o trabalho constituiuexperiência ímpar sob todos os pontos de vista, pois o contato com osalunos tem trazido muitas referências para desenvolvermos práticas quevenham atender as necessidades destes, e, conseqüentemente, da soci-edade na qual estamos inseridos.

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PRÉ-HISTÓRIA E ARQUEOLOGIA: SUGESTÕESMETODOLÓGICAS PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL E

ENSINO FUNDAMENTAL

André Luis Ramos Soares1

Sergio Celio Klamt2

POR QUE ESTUDAR PRÉ-HISTÓRIA E ARQUEOLO-GIA?

A aprendizagem de pré-história e arqueologia em séries iniciais doEnsino Fundamental, não implica somente em curiosidade (que tambémestá implícita em todo processo de aprendizagem), mas, fundamental-mente, busca-se que os alunos se percebam como parte integrante dahistória humana. Implica que estes compreendam que o modo de vidaatual é parte da diversidade do comportamento humano.

Estuda-se a pré-história para que todos percebam que a cidadaniase constrói através da diferença e do respeito ao outro, no tempo e noespaço. Assim, os habitantes pré-coloniais no litoral moravam nossambaquis, enquanto no interior existiam aldeias com habitações caracte-rísticas de cada grupo. O ensino da cidadania é fundamental pela capaci-dade de inserção do multiculturalismo, sem pretensões de homogeneizaros grupos diferentes. Não há superioridade de um grupo humano sobreoutro, há diferenças, como as que existem entre esquimós e africanos, eestas concepções devem ser inseridas nas séries iniciais.

Quando os alunos começam a identificar os grupos sociais (a família,a comunidade, o bairro, o município), descobrem que existem outrosgrupos de diferentes etnias que compõem sua escola. Se, em um primeiromomento, trata-se de descendentes de alemães ou italianos, não desco-

nhecem os portugueses, os poloneses, os japoneses e outros como iguais,e que desfrutam dos mesmos direitos. Neste sentido, na busca do passadofamiliar pode-se inserir os distintos grupos que povoavam a região antesda chegada de seus ancestrais europeus.

PRÉ-HISTÓRIA E ARQUEOLOGIA É A MESMA COI-SA?

Inicialmente, é preciso não confundir arqueologia com pré-história.A pré-história é um termo europeu adotado no Brasil para definir o períodoem que as sociedades não tinham escrita. Hoje, o termo perdeu o sentido,pois a História trata de toda a jornada do homem ao longo de suaexistência. Ao mesmo tempo, existiam sociedades na América das quaisaté hoje se desconhece a tradução de sua escrita, mas são enquadradascomo �pré-históricas�. A visão européia do mundo predomina até hoje naclassificação das sociedades: as comunidades foram compartimentadasem critérios econômicos, segundo o modo de sobrevivência. É por issoque falamos de sociedades de caçadores, coletores, horticultores, agricul-tores, pastores, até a constituição do Estado. No entanto, existemsociedades complexas, com formação de estruturas semelhantes aoEstado, mas sem desenvolvimento econômico.

O QUE FAZ O ARQUEÓLOGO?

O arqueólogo é um profissional com formação acadêmica (cursosuperior de diversas áreas), que trabalha com pesquisa nos sítios arqueo-lógicos. O arqueólogo pode ter formação em história, geografia, biologia,geologia, física, matemática ou outras áreas das ciências humanas, exatasou biomédicas. O arqueólogo estuda as evidências materiais para inferircomo viviam as sociedades.

O QUE É UM SÍTIO ARQUEOLÓGICO?

É o local onde se encontram vestígios originários das manifestaçõesmateriais e imateriais de um povo. Sítios arqueológicos podem ser pré-

________________1 Professor do Centro de Educação. Coordenador do Núcleo de Educação Patrimonial-

NEP da UFSM. Doutorando em Arqueologia, Museu de Arqueologia e Etnologia � MAEda Universidade de São Paulo � USP. e-mail: [email protected].

2 Professor do Departamento de Matemática. Coordenador do Centro de Ensino ePesquisas Arqueológicas-CEPA da UNISC. Doutorando em História - Sociedade,Cultura Material e Povoamento. PUCRS. E-mail: [email protected].

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históricos, quando anteriores à chegada dos europeus. Constituem osacampamentos ou aldeias de caçadores-coletores, ceramistas-horticultores,sambaquis, grutas, arte rupestre, etc. Ou podem ser históricos, quandoapós a chegada dos europeus. Constituem as igrejas, cemitérios, quilombos,fortes, reduções, engenhos, estâncias, fazendas, prédios antigos, áreasportuárias, naufrágios, rotas, etc.

Os sítios arqueológicos sâo protegidos pela Lei Federal Nº 3.924/61, destacando-se:

Art. 2º - Considera-se monumento arqueológico ou pré-histórico: asjazidas de qualquer natureza, origem ou finalidade, que representemtestemunhos da cultura dos paleoameríndios do Brasil,...

Art. 5º - Qualquer ato que importe na destruição ou mutilação dosmonumentos de que trata o artigo 2º desta lei, será considerado crimecontra o Patrimônio Nacional e, como tal, punível de acordo com odisposto nas leis penais.

O QUE É PATRIMÔNIO?

O conceito de patrimônio é vasto e compreende as particularidadesou especificidades de um local, região ou sociedade. Isso quer dizer queo conceito de patrimônio está diretamente relacionado ao conceito decidadania3 , quer dizer, ao direito que as sociedades têm de seremdiferentes umas das outras.

Cidadania é o direito que todos os cidadãos têm de poderexercer suas práticas religiosas, manifestações culturais, op-ções políticas, dentre outras coisas.

A preocupação com o patrimônio vem desde a Constituição de 1937que considerava como patrimônio os lugares de preservação natural,histórica ou artística de um lugar. De acordo com a Constituição de 1988(Art.15 e 16), o Patrimônio é constituído pelos bens materiais e imateriaisque se referem à identidade, à ação e à memória dos diferentes gruposformadores da sociedade brasileira. São eles: as formas de expressão; asformas de criar, fazer e viver; as criações científicas, artísticas etecnológicas; as obras, objetos e documentos,edificações e demais espa-

ços destinados às manifestações artístico-culturais; os conjuntos urbanose sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico,paleontológico, ecológico e científico.

O patrimônio cultural pode ser dividido em três grandes tipos:aqueles pertencentes à natureza: (clima, vegetação, acidentes geográ-ficos); aqueles pertencentes às técnicas: (o saber fazer) e aquelesrelacionados aos artefatos: (aquilo que é construído pelo homem com anatureza e o saber fazer) que se torna a própria construção do homem,utilizando-se o seu entorno para adequá-lo a sua necessidade.

Outra forma de conceituar o Patrimônio é dividi-lo em categorias.A primeira são os bens naturais (os que pertencem à natureza): flora,fauna e minerais. São recursos naturais, as cachoeiras, cascatas, montes,morros e florestas.

A segunda, são os bens de ordem material: são os objetos criadospela humanidade objetivando melhorar sua qualidade de vida, adaptando-se ao ambiente onde está instalada. Os bens materiais referem-se aosobjetos, às estruturas, às construções, etc., que são formas das sociedadesse adequarem e modificar o meio.

A terceira categoria são os bens de ordem intelectual representa-dos pelas formas de conhecimento ligadas ao �fazer�, ou seja, o conhe-cimento dos métodos e técnicas para fazer qualquer coisa, seja uma casa,um móvel, ou qualquer outro objeto.

Por último, os bens de ordem emocional, que são as manifestaçõesculturais das pessoas ou comunidades - o folclore, os desfiles cívicos, asformas de expressão religiosa e artística, erudita e popular que seexpressam por meio da literatura, música, dança, etc. A �festa do DivinoEspírito Santo�, a �Semana Farroupilha� e as �Procissões�, podem sercitadas como bens de ordem emocional.

Desta forma, devemos ressaltar que o patrimônio é muito mais doque monumentos ou prédios históricos. Toda modificação que umasociedade faz na paisagem para melhorar suas condições de vida, bemcomo todas as formas de manifestação socialmente compartilhadas,fazem parte do patrimônio, bem como o lugar em que se vive.

Todo objeto ou ação que diz respeito à identidade e àmemória de uma sociedade, constitui seu patrimônio, assimcomo as manifestações materiais e imateriais. Em suma, é amaterialização do modo de viver e fazer de um povo.

________________3 Conceito de cidadania elaborado a partir de Machado, 2004.

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O órgão que identifica, reconhece, promove e protege o Patrimônioem nível Federal, é o Instituto do Patrimônio Histórico e ArtísticoNacional - IPHAN - ligado ao Ministério da Cultura. Em muitos estadose municípios, temos secretarias ou locais encarregados de proteger opatrimônio em nível regional. A nível de estado, temos o Instituto doPatrimônio Histórico e Artístico Estadual - IPHAE.

Não podemos esquecer que, antes de ser um papel do governo, sãoas pessoas que devem proteger os bens culturais, materiais e emocionaisde sua localidade. Não estamos falando de obrigação, mas de conservarnosso passado para que possamos construir um presente responsável e umfuturo promissor.

O QUE É CULTURA MATERIAL? PARA QUE SER-VE?

Para se adaptar ao ambiente em que vive, uma sociedade utiliza ascoisas em estado natural (biofatos), altera aspectos do ambiente (ecofatos)e confecciona instrumentos ou objetos (artefatos). Na medida em que associedades se transformam em comunidades complexas, os artefatostambém se tornam mais complexos. Ao conjunto de artefatos, biofatos eecofatos denominamos cultura material. São todas as evidências de uso,manipulação ou alteração do ambiente.

1-Artefatos: são todos os objetos produzidos pelo homem, atravésda modificação de elementos naturais. São os utensílios de caça, pesca,uso doméstico, habitação, locomoção, construção, etc. (armadilhas, lan-ças, pontas, vasilhas, cestos, redes, adornos, casas, canoas, jangadas, entreoutros).

2-Biofatos: são elementos utilizados em seu estado natural, comoanimais caçados, plantas ou sementes utilizadas como alimento. O próprioesqueleto humano é um biofato, pois apresenta sinais de utilização(fraturas, carência e componentes alimentares, esforço repetitivo) masque não foram intencionais. Os ossos humanos evidenciam as doenças, alongevidade, os alimentos ingeridos, as deformações e o tipo físico. Osossos de animais revelam a dieta, a forma de aproveitamento de cadaespécie, enquanto as sementes revelam a época de coleta, os vegetaisutilizados e/ou cultivados.

3- Ecofatos: são as alterações que o homem realiza no ambientepara melhor utilização social, econômica ou religiosa do espaço. Os

diques, represas, montes de terra como templos (sem edificações) sãoalguns exemplos.

É portanto através destes elementos que podemos tentar recons-truir a forma como as comunidades relacionavam-se umas com as outrase com o ambiente que as cercava. No entanto, não podemos esquecer quea arqueologia estuda as sociedades, não os objetos.

A forma como a cultura material contribui para o conhecimento dassociedades, depende da análise que os diferentes profissionais realizam.Quando olhamos uma ponta de flecha feita de pedra, podemos dizeralgumas coisas e imaginar outras. Por exemplo, o uso da pedra deve-se aodesconhecimento ou ausência de metais para fundição. A ponta ficavapresa a uma flecha ou lança, precisando de um instrumento propulsor,como um arco ou uma zagaia (instrumento de propulsão como umprolongamento do braço). Dependendo do tamanho e da dureza da pedra,saberemos se era utilizada em caça de grande ou pequeno porte, e assimpor diante.

A cultura material está relacionada com várias coisas4 :

Quem eram? Atributos físicos, Enfermidades Demografia, Morte.

Onde viviam? Padrões de ocupação de território, Movimentos migratórios

Como viviam? Organização social, Tipos de moradia, Utilização do ambiente, Padrões de ocupação do território.

Do que se alimentavam? Dieta alimentar, Tabus alimentares. Domesticação de animais, Processamento de alimentos

Como produziam seus instrumentos? Tecnologia: Madeira, Cerâmica, Ossos, Pedra, Conchas

Em que época viveram? Datação relativa, Datação absoluta.

Que contatos tinham? Relações interétnicas: Trocas de bens, Assimilação de novas tecnologias, Guerras, Alianças.

O que pensavam? Símbolos de poder, Rituais, Crenças

________________4 Extraído do livro Patrimônio Arqueológico: para conhecer e conservar. Eletrosul,

Florianópolis, redação de Ana Lúcia Herberts e Fabiana Comerlato, 2003.

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Devemos salientar, no entanto, que a cultura material só pode seranalisada em seu contexto, quer dizer, em seu local original. Se umapessoa encontra um caco de cerâmica e mostra ao arqueólogo, ele poucopoderá dizer, porque está fora de seu lugar, e portanto, torna-se somenteum objeto. Porém, os cacos agrupados, em torno de uma fogueira, sobreuma mancha escura de terra, que foi uma casa, isto sim, podem darinformações ao arqueólogo.

O mesmo pode ser dito com relação aos fósseis. Se deixado em seulugar, o fóssil pode fornecer informações importantes de como morreu,por que se encontra soterrado naquela rocha, com quais seres convivia,entre outras. Da mesma forma que as cerâmicas, as pontas de flecha ou aslouças podem ser diferentes, pois as sociedades que as produziram sãotambém diferentes. Os artefatos e os ecofatos variam conforme mudamos tempos ou as sociedades. Assim como um carro antigo representa ummomento em nossa história (como os carros de 40 anos atrás são diferentesdos atuais), uma porcelana inglesa usada por nossa avó é diferente dosnossos pratos e xícaras. As particularidades e diferenças entre os gruposhumanos formam a diversidade cultural. Isto quer dizer que a sociedadebrasileira é diferente da inglesa ou da chinesa, por exemplo. Estadiversidade também existiu no passado, assim como deverá existir nofuturo.

É importante salientar que um brasileiro não é nem melhor nem piorque um chinês ou um russo. Somos diferentes deles, e isso é a diversidadecultural.

As ideologias autoritárias - como o nazismo - pregaram a idéiade uma raça superior para justificar sua dominação. Hojesabemos que a riqueza da humanidade reside na diversidade,e que a pureza - étnica, biológica ou social - é impossível, alémde elitista, segregacionista e xenófoba.

Culturas diferentes, sociedades diferentes, manifestações diferen-tes. É esta a riqueza de todo país, de toda nação e, principalmente, é estadiversidade que proporciona novas perspectivas de crescimento. Cadasociedade, na sua forma de agir, ser e pensar, é importante, representandouma identidade que não pode ser submetida a outra. Cada memóriacoletiva é importante para a construção da nossa sociedade, única e, aomesmo tempo, feita sobre a variedade de culturas ao longo do tempo. Éessa memória e essa identidade, calcadas sobre nosso passado, queconstituem nosso patrimônio.

METODOLOGIA PARA O ENSINO DE PRÉ-HISTÓ-RIA E ARQUEOLOGIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL EENSINO FUNDAMENTAL

O ensino da Pré-história e Arqueologia, possui sérias dificuldadespara implementação nas séries iniciais. Vamos apresentar aqui, algumaspropostas de como a Arqueologia, e, por extensão, a Pré-história doEstado, podem ser inseridas no currículo mínimo a ser trabalhado pelosprofessores.

Da pré-escola até 2ª série (baseado em Beltrão et al., 1994)5 :• Evolução do Homem (evolução biológica e tecnológica, através

de formas comparativas que façam parte do mundo infantil);• Descoberta do Fogo (Motivação visual: recortes e colagens);• Fabricação de instrumentos (brincadeiras com material lítico,

ósseos, conchas, madeiras: tudo que o homem fabrica);• Pinturas Rupestres (criação de desenhos imitando aqueles dos

sítios arqueológicos: mãos em negativo e animais);• Cerâmica (manipulação do barro ou massa de modelar para

demonstrar a variedade de formas).

É importante que os professores produzam o material didático deacordo com as capacidades dos alunos, de forma que eles interajam deforma direta com o material. Revistas para colorir, jogos, decalques eoutras atividades são fundamentais.

Para a 3ª sérieAdequados à realidade dos alunos, pode-se trabalhar novamente os

conteúdos das séries anteriores de forma mais elaborada. Além disso,pode-se trabalhar a Pré-história e História local (bairro, escola, municí-pio). Neste ponto é inserida a ocupação indígena. Pode-se usar imagens,fotos, cocares, cerâmica.

Se existir informação sobre sítios arqueológicos próximos, umavisita guiada é fundamental para que os alunos observem como semanifesta o testemunho arqueológico. Assim, locais onde a cerâmica é

________________5 BELTRÃO, M.; LOCKS, M.; MOINHOS, V.; NEME, S.; RABELLO, A.; ZARONI, L.;

CHERFAN, A.; QUEIROGA, I.; NIEMEYER, H.. Pré-História brasileira na regiãoarqueológica de Central- Bahia: o ensino de pré-história a nível de 1º grau. In. TENÓRIO,M. C.; FRANCO, T. C. (Orgs). Seminário para a implantação da Temática Pré-História Brasileira no Ensino de 1º, 2º e 3º Graus. UFRJ/MN (Museu Nacional), 1994.

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abundante, ou locais com presença de lascas de pedra e pontas deprojéteis podem ser visitados, mas a coleta desse material jamais deveráser estimulada. Caso seja um sítio sem conhecimento dos pesquisadores(arqueólogo), deve ser contatado um centro de pesquisa mais próximo(universidade ou instituição onde trabalhe algum arqueólogo) para que osítio possa ser preservado. Jamais promova a coleta de material, escava-ção ou visita a um sítio sem o acompanhamento de um arqueólogo.

Para a 4ª sérieDeve-se trabalhar com a necessidade de preservação dos vestígios

do passado: sítios arqueológicos, monumentos históricos, pinturas rupestres.Ampliando os conteúdos, trabalhar com a pré-história do Estado, atravésde noções gerais. Se estiver disponível, pode-se trabalhar a Pré-históriaregional.

É necessário ter em conta as diferenças regionais (escola rural,escola urbana) e o público que as instituições atendem. Na continuidadedo ensino fundamental (5ª a 8ª séries), o conteúdo de arqueologia seráintegrado com o de história, através da arqueologia histórica e do trabalhodo arqueólogo.

Sempre que necessário, ou quando o professor não se sentir emcondições, deve solicitar ajuda a um arqueólogo ou graduado em históriaque tenha desenvolvido atividades em arqueologia.

As atividades do arqueólogo são distintas conforme a área deatuação: arqueologia pré-histórica, histórica, arte rupestre, urbana,subaquática, industrial. Cada especificidade requer métodos e técnicaspróprias para o estudo da cultura material.

Os professores devem apresentar a arqueologia como uma ciência,preocupada com o resgate, a preservação e produção de conhecimentorelativos às sociedades. Embora a imagem de Indiana Jones seja consa-grada, o professor deve colocar que este personagem pertence à décadade 30 do século XX. Além disso, a pesquisa arqueológica acontece noBrasil desde o início do século XIX. Outro detalhe importante é mostrarque a fase colecionista da arqueologia já passou, e objetos isolados, semo conhecimento da localização do sítio arqueológico ou retirando as peçasmais chamativas do lugar, não servem para a ciência hoje.

Os professores, ao tratarem do tema de pré-história ou arqueologiacom seus alunos, podem solicitar informações aos mesmos, sobre locaisonde eles encontram vestígios. Se os alunos têm contato com materiaisarqueológicos, os professores não devem estimular museus locais ouamadores a coletarem as peças.

Nestes casos, deve-se solicitar a presença de um arqueólogo paraque ele visite o local, e tome as medidas corretas. Somente através dacolaboração entre as diversas instituições é que teremos, no futuro, umpassado a preservar.

SUGESTÕES DE ATIVIDADES LÚDICAS

As crianças podem envolver-se com a temática da pré-históriaatravés de atividades lúdicas. Neste sentido, os alunos podem �entrar� nouniverso das sociedades pré-coloniais, por meio de criação e construçãode elementos pontuais de sua cultura. Aqui apresentaremos algumassugestões que, em larga escala, podem ser exploradas pelo professor.

FAÇA VOCÊ MESMO

HabitaçãoVocê precisa de:• Capim cidreira • Papel craft• Palitos de fósforo • Gravetos (galhos de árvore finos)• Cola branca • Argila

Monte a estrutura com os palitos de fósforo em forma de casa, comas colunas, as tesouras que sustentam o telhado, etc., cravando os palitosna argila. Com a cola, cubra a casa com capim cidró, tomando cuidado paraque as paredes e o telhado se confundam, como as ocas. Com o papel craftfaça miniaturas de cerâmica, da fogueira (com os gravetos) e reconstruauma aldeia.

CestoVocê precisa de:O papel deve ser comprido, com mais de 20 cm de comprimento.• Papel branco (em tiras de 1 cm) • Tesoura• Papel colorido (em tiras de 1 cm) • Cola branca

Pegue quatro tiras de papel branco e coloque-as lado a lado. Depois,trespasse mais quatro tiras de papel colorido sobre as anteriores, ficandoum quadrado trançado. Depois de fazer esta base (que fica igual aos cestos

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de páscoa), dobre as pontas e continue trançando em diagonal, de formaque o fundo fique quadrado mas o corpo fique redondo. Arremate comcola.

Vasilha de CerâmicaVocê precisa de:• Argila • Forno ou fogueira• Água • Tábua de madeira• Cinza ou areia finaMisture a argila com a areia ou cinza em duas partes de argila para

uma de areia. Misture bem sobre uma tábua de madeira. A mistura deveficar homogênea. Utilize a água sempre que a argila estiver dura ou queimpeça a mistura da areia. Faça rolinhos e monte a vasilha. Deixe secarpor, pelo menos, três dias (se o tempo estiver quente e seco), depoiscoloque em um forno elétrico (próprio para cerâmica). No caso de umafogueira, coloque a vasilha no centro de uma estrutura de galhos, com aboca virada para baixo, com bastante lenha. Mantenha-se afastado,porque pode ser que a cerâmica estoure se tiver secado pouco ou se tiverpouca areia.

Estas são algumas sugestões de diversas brincadeiras que podemser feitas com as crianças. (Pintura corporal, adornos, braceletes,reconstituição de toda a aldeia, com as casas, as vasilhas em miniatura, asfogueiras, etc.)

DESFAZENDO MITOS (baseado em PROUS, 1994)6

Alguns mitos são correntes em relação à pré-história. Aqui apresen-ta-se apenas alguns e coloca-se os dados que devem ser trabalhados pelosprofessores.

�O homem das cavernas�. O homem da pré-história européia ebrasileira habitava as cavernas de forma ocasional. O mito do �homem dascavernas� deve-se aos primeiros achados, na Europa, terem ocorridonestes locais, pois estavam melhor preservados. Sabemos que os antigoshabitantes normalmente moravam em acampamentos ou aldeias, a céuaberto, mas a localização destes acampamentos ou aldeias é mais difícil.Este mito também surge pela divulgação das pinturas rupestres da Françae da Espanha (que também existem em grande quantidade no Brasil).Mesmo de forma ocasional, a ocupação das grutas apresenta estruturassemelhantes a edificações, demonstrando que o abrigo natural não eraresultado de falta de capacidade.

�A Idade da Pedra�. A preservação dos sítios arqueológicos requeruma série de fatores favoráveis, como clima, umidade, temperatura econdições de solo. A matéria orgânica se decompõe com alguma rapideze os vestígios que sobrevivem com o passar dos séculos são os materiaisduros, feitos em pedra. Isto quer dizer que somente uma parcela dosobjetos utilizados resistiu ao tempo, e os mais antigos artefatos encontra-dos, portanto, são de pedra. Porém, sabemos que muitos grupos humanos,em locais de abundância de vegetais, madeira e outros elementos, sequerutilizaram implementos de pedra, ou os utilizavam muito pouco. Seobservada por um arqueólogo do futuro, nossa sociedade seria da �Idadedo Plástico�.

�A pedra polida substituiu a pedra lascada�. Esta referência éutilizada para relacionar a passagem do paleolítico para o neolítico.Todavia, deve-se ter em conta que o tratamento é dado às peças paradiferentes funções. Assim, pedras lascadas possuem gume fino e acentu-adas, o que facilita ações como cortar, raspar, furar. Já as lâminas polidassão robustas e de gume obtuso, utilizadas normalmente para corte deárvores. Na verdade, o paleolítico e o neolítico referem-se à forma deobtenção de alimentos: as lâminas polidas relacionam-se ao corte das

Exemplo de maquete produzida.

________________6 PROUS, A. Algumas reflexões sobre o quê e como ensinar a respeito da pré-história

brasileira. In. TENÓRIO, M. C.; FRANCO, T. C. (Orgs). Seminário para a implantaçãoda Temática Pré-História Brasileira no Ensino de 1º, 2º e 3º Graus. UFRJ/MN (MuseuNacional), 1994, p.54-59.

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árvores para a horticultura (agricultores, pastores e horticultores), en-quanto o material lascado refere-se a grupos caçadores e coletores, quenão utilizam o cultivo sistemático.

�Homens viviam em plena igualdade�. É normal apareceremcitações em livros didáticos afirmando que, durante a pré-história, ascomunidades viviam em plena igualdade, sem classes sociais ou acumu-lação de bens, e, somente com o surgimento das cidades e do Estadohouve a concentração de bens e divisão do trabalho. Na verdade, sabemosque existiam sociedades pré-históricas que, independente do meio desubsistência (caçadores ou agricultores), concentravam o poder em umachefia política ou religiosa, ou já tinham a divisão do trabalho.

�Fome crônica�. Muitos livros, até hoje, afirmam que as popula-ções pré-históricas viviam em fome crônica, o que os obrigava a passar amaior parte do tempo em busca de alimentos para sobreviver. Algumasobras afirmam ainda, que a invenção do pastoreio, da horticultura e daagricultura são resultados da superação do estado de fome. Devemoslembrar que as sociedades sempre se organizaram demograficamentefrente a disponibilidade dos recursos. Cada grupo aumenta ou diminui suademografia frente a disponibilidade de recursos.

�Mito da abundância�. Este mito está presente até mesmo entre osintelectuais, representantes de ONG´s e professores de todos os níveis.Como os índios viviam em comunhão com a natureza, viviam no �paraísoperdido�, que foi interrompido com a chegada do homem branco. Hojesabemos que todas as sociedades manipulam o ambiente, em diferentesgraus, o que caracteriza a cultura. Algumas sociedades pré-coloniaisdesapareceram antes da chegada dos europeus na América, por falta derecursos e manejo incorreto do meio.

�Selvagem versus inocente�. Esta percepção européia existe atéhoje, principalmente quando se trata dos índios: embora seja sabido que,biologicamente, são Homo Sapiens sapiens, em geral são tratados comoselvagens ou inocentes, e não como diferentes. Da mesma forma, sãoconsiderados canibais ou moradores do �paraíso destruído� pelo homembranco, falácias que permanecem nos livros didáticos e até em trabalhoscientíficos.

GRUPOS HUMANOS QUE HABITARAM O RIO GRAN-DE DO SUL

É fundamental que se saiba a complexidade social e cultural queexistia no Brasil antes da chegada dos europeus. Na época do descobri-mento, estima-se entre um milhão e cinco milhões o número de nativosque ocupavam a terra brasilis. Em todo território, existiam e eram faladasmais de duzentas línguas diferentes.

É necessário, uma vez que tratamos de sociedades, mostrar asdiferenças existentes entre elas. Em termos cronológicos, o Estado doRio Grande do Sul foi ocupado há mais de onze mil anos atrás. Em termossociais, foi ocupado, antes dos europeus, por grupos familiares comobandos, até por sociedades complexas sem Estado. Economicamente,existiram desde grupos caçadores-coletores até agricultores desenvolvi-dos.

Todos os grupos humanos se utilizavam da caça, da pesca e dacoleta. Tais atividades dependiam da oferta no ambiente e da proximida-de dos recursos. É certo que os grupos se alimentavam diferentementedos grupos da atualidade.

Muitos dos grupos humanos que habitaram o Estado, não sãoconhecidos historicamente, e por isso, utilizou-se o critério tecnológicopara definir estes grupos segundo semelhanças e diferenças.

O termo Tradição designa um conjunto de técnicas de manufaturade artefatos que se encontra em um espaço e tempo definido e delimitado.Como tradição7 não delimita grupo humano, nem etnia, não podemos nosreferir aos índios como pertencentes a uma tradição específica.

________________7 Para uma discussão sobre a confusão estabelecida entre Tradição Arqueológica e socieda-

de, ver Soares (2002) e Braidwood (1988, p. 48).

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Quadro resumo das principais tradições arqueológicas no Es-tado do RS

Tradição UmbúO grupo de caçadores-coletores da tradição Umbú caracteriza-se

por pequenas populações (bandos de ± 25 pessoas), que ocupam amploterritório para obtenção de seus recursos de subsistência. A caça deanimais poderia ser efetuada com arco e flecha, arremesso (boleadeiras,lanças) ou armadilhas. A coleta de frutas e raízes complementava a dietaalimentar do bando. Estes bandos tinham baixa expectativa de vida, nãoultrapassando em média os quarenta anos de idade.

Devido as condições de solo, clima e locais ocupados, os objetosque estudamos constituem-se de artefatos de pedra, e, mais raramente,ossos e conchas. É certo que deveriam usar outros materiais comomadeira, fibras, cipó e couro, além de outros elementos que o tempodestruiu. Assim, só podemos ter conhecimento de alguns elementos desua sociedade, a partir de poucos implementos que sobreviveram à açãodo tempo. Aos grupos de caçadores-coletores da Tradição Umbú no RioGrande do Sul, também são associados grafismos rupestres, gravados em abrigosou blocos. Abaixo, ilustração de bolas de boleadeira e pontas de projétil,que são característicos de sua cultura material.

Grupo Economia Ambiente Tradição Arqueológica

Época

Caçadores-coletores

Caça, pesca e coleta

Campos Umbu De 11500 até 2000 AP

Caçadores-coletores

Caça, pesca e coleta

Área de floresta

Humaitá De 8000 até 1000 AP

Pescadores-coletores

Pesca e coleta Litoral Sambaquiana De 4000 até 600 AP

Caçadores-coletores

Caça, pesca e coleta

Áreas alagadiças

Vieira De 2500 a 500 AP

Horticultores-coletores

Agricultura, caça e coleta

Planalto Taquara De 2000 AP a hoje

Horticultores-coletores

Agricultura, caça e coleta

Vales dos rios

Guarani De 2000 AP a hoje

Boleadeiras

Flechas

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Tradição HumaitáO grupo de caçadores-coletores da tradição Humaitá ainda carece

de estudos mais aprofundados. Sua área de dispersão é basicamente amesma da tradição Umbu. Seus sítios predominam em partes altas e maisou menos planas de ambientes de floresta. Sua cultura material caracte-rística são os grandes artefatos bifaciais, confeccionados a partir de blocos.Seu modo de subsistência deve ser semelhante ao da tradição Umbu.

Tradição SambaquianaAlguns dos grupos que habitaram o litoral do Estado deixaram

montes de conchas que utilizavam como alimento (sambaquis), onde sãoencontrados utensílios em pedra polida, pedra lascada, restos de peixes,animais e conchas. A acumulação destes materiais era proposital, e talvezestivesse ligada ao prestígio que cada família possuía em ter o maiornúmero de indivíduos e morar em locais mais altos, construídos para termaior destaque na paisagem.

Em cima destes montes eles moravam e enterravam seus mortos.Através dos esqueletos sabemos que seus membros superiores eram maisdesenvolvidos que os inferiores, o que pode ser considerado um indicadorde que utilizavam canoas. No litoral do Rio Grande do Sul foramencontrados objetos de pedra polida, em forma de animal, que sãochamados de zoólitos. Exploravam o litoral, o mangue, as matas nativasno entorno dos sítios, vivendo de caça, pesca e coleta.

Tradição VieiraOs caçadores-coletores da Tradição Vieira já fabricavam cerâmica,

mas não sabemos se desenvolveram a horticultura. Viviam da caça, pescae coleta nos banhados, rios e florestas da região. Os sítios arqueológicosda Tradição Vieira são caracterizados pela construção de pequenos

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cerros, os cerritos, onde moravam e enterravam seus mortos. Por estaremsituados próximos a locais geralmente alagados, acredita-se que elesconstruíam as pequenas elevações para manterem o acampamento emáreas secas. No entanto, existem no Estado, diversos sítios de cerritos emlocais não alagados, próximos a morros ou antigas dunas de areia. Assim,não sabemos a razão pelo qual construíam estes aterros. Talvez os índioscharruas e minuanos sejam os remanescentes destes grupos.

Tradição TaquaraOs horticultores da Tradição Taquara habitaram o planalto do

Estado. Exploravam principalmente os pinheirais (Araucaria angustifolia),caçavam animais e coletavam frutos e raízes de outras plantas silvestres.Plantavam em pequenas roças, das quais extraíam diversos produtos.Produziam uma cerâmica simples, de pequeno porte. Habitavam em casassubterrâneas, que eram buracos escavados na terra com diversos tama-nhos. Acredita-se que os índios Kaingang são os descendentes daspopulações da Tradição Taquara.

Tradição GuaraniOs agricultores Guaranis pertencem ao único grupo ao qual temos

certeza da ligação entre as informações históricas e as fontes arqueológi-cas. Possuíam uma ampla variedade de cultivos em suas plantações,domesticaram plantas como o milho e a mandioca, além de mais de cemespécies comestíveis. Habitaram em aldeias de diferente tamanhos.

A cerâmica é o artefato mais conhecido de sua cultura. A forma daspanelas, tigelas e pratos é conhecida, e pode ser vista em diversasinstituições e museus locais.

Os guaranis tinham uma organização social complexa, no qual aliderança era obtida através do prestígio. O melhor guerreiro, melhorcaçador, que tivesse o melhor discurso e que fosse o mais generoso eraconsiderado o chefe. (O termo cacique não é original do Brasil, mas dasAntilhas). Também havia a liderança espiritual, ou pajé, que tratava daligação entre o mundo dos homens e o sobrenatural. O pajé poderia sercurador, rezador ou simples profeta andarilho, que contava os mitos, aslendas e fazia adivinhações. Geralmente o pajé era respeitado, mas emcaso de falhas (morte em caso de doença ou erro nas previsões) poderiaser expulso ou até morto.

As aldeias Guaranis eram formadas por casas onde residiam diversasfamílias, aparentadas com o chefe. Nestas casas viviam várias famílias,compostas por pais, avós, sobrinhos, primos, genros, ligados por laços dealiança e parentesco.

Os Guaranis não acreditam em Deuses, mas atribuem poderes aosespíritos da natureza. Assim, o Sol é uma divindade, mas não um deus. Éo sol que permite o dia, as plantas crescerem, etc. Da mesma forma,existem espíritos protetores das matas, das águas, das pedras, etc. Areligiosidade Guarani é contínua, pois todas as atividades podem serexplicadas sob um viés religioso.

É necessário lembrar que, ao contrário do que é normalmentedivulgado, as sociedades não desaparecem com o surgimento ou ocupa-ção de outras. Isto quer dizer que diferentes grupos viviam em diferenteslocais ao mesmo tempo. Assim, é importante frisar que, no atual Estadodo Rio Grande do Sul, grupos caçadores-coletores conviviam com osceramistas-horticultores, cada um em um território específico.

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Arqueologia HistóricaA partir do estabelecimento dos europeus no país, diversos locais se

tornaram fontes de estudo da arqueologia histórica. Podemos citar asreduções jesuíticas, os fortes do período do império brasileiro (Forte deSanta Tecla, Rio Pardo, Forte de San Martin), as primeiras estâncias,enfim, diversos locais que podem ter interesse arqueológico pela existên-cia ou não de documentos históricos. Por exemplo, a respeito das

reduções jesuíticas existem diversos documentos escritos pelos padres,mas somente a partir do século XVIII aparecem documentos escritospelos índios, geralmente caciques ou outros que ocupavam lugar dedestaque. Da mesma forma, pouco sabemos do cotidiano dos militares nosfortes que hoje pertencem ao território gaúcho. O mesmo vale para asituação dos escravos no Rio Grande do Sul, dos primeiros imigrantes, etc.

Vestígios

REFERÊNCIAS

Para pesquisar mais sobre o assunto, recomendamos os seguintes livros:

BELTRÃO, M.; LOCKS, M.; MOINHOS, V.; NEME, S.; RABELLO,A.; ZARONI, L.; CHERFAN, A.; QUEIROGA, I.; NIEMEYER, H..Pré-História brasileira na região arqueológica de Central- Bahia: o ensinode pré-história a nível de 1º grau. In. TENÓRIO, M. C.; FRANCO, T.C. (Orgs). Seminário para a implantação da Temática Pré-HistóriaBrasileira no Ensino de 1º, 2º e 3º Graus. UFRJ/MN (Museu Nacional),1994.

BRAIDWOOD, R. Homens pré-históricos. 2. ed., Brasília: UNB, 1988.

FUNARI, P. P. A. Cultura material e Arqueologia Histórica. Campinas,SP: UNICAMP, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, 1998.

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__________. Arqueologia. São Paulo: Editora Ática (Série Princípios). 1988.

FUNARI, P.P A. ; NOELLI, F. Pré-História do Brasil. São Paulo,Contexto, 2002.

HERBERTS, A. L.; COMERLATO, F. Patrimônio Arqueológico: paraconhecer e conservar. Eletrosul, Scientia Ambiental, 2003.

MACHADO, A. S. A construção da cidadania a partir da EducaçãoPatrimonial. In. SOARES, A. L. R. (Org.). et al. Educação Patrimonial:Relatos e Experiências. Santa Maria, Ed. Da UFSM, 2004. p.83-96.

ORSER Jr., C. Introdução a Arqueologia Histórica. Coleção Mínima,Ciências Sociais, Ed. Oficina de Livros, Belo Horizonte, 1992.

PROUS, A. Arqueologia Brasileira. Brasília, UNB, 1992.

PROUS, A. Algumas reflexões sobre o quê e como ensinar a respeito dapré-história brasileira. In. TENÓRIO, M. C.; FRANCO, T. C. (Orgs).Seminário para a implantação da Temática Pré-História Brasileira noEnsino de 1º, 2º e 3º Graus. UFRJ/MN (Museu Nacional), 1994, p.54-59.

SCHMITZ, P.I. Pré-História do Rio Grande do Sul, Documentos 5,Unisinos, São Leopoldo, 1991.

SOARES, A. L. R. (Org.); MACHADO, A. S.; HAIGERT, C. G.;POSSEL, V. R. Educação Patrimonial: Relatos e Experiências. SantaMaria, ed. Da UFSM, 2004.120 p.

SOARES, A. L. R. Arqueologia, História e Etnografia: o denominadorGuarani. Revista da Sociedade de Arqueologia Brasileira, São Paulo: SAB,vol. 14/15, p.97-114, 2002.

TENÓRIO, M. C.; FRANCO, T. C. (Orgs). Seminário para a implanta-ção da Temática Pré-História Brasileira no Ensino de 1º, 2º e 3º Graus.UFRJ/MN (Museu Nacional), 1994.

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BREVE MANUAL DE PATRIMÔNIO CULTURAL:SUBSÍDIOS PARA UMA EDUCAÇÃO PATRIMONIAL

André Luis R. Soares1

Sergio Celio Klamt2

APRESENTAÇÃO

�Breve Manual de Patrimônio Cultural: subsídios para uma Educa-ção Patrimonial� surgiu a partir da junção da experiência pessoal dosautores. André Luis Ramos Soares, como coordenador do Núcleo deEducação Patrimonial-NEP da Universidade Federal de Santa Maria-UFSM e Sergio Celio Klamt, como coordenador do Centro de Ensino ePesquisas Arqueológicas-CEPA da Universidade de Santa Cruz do Sul-UNISC. Nós sabemos da necessidade de conhecer o passado, a cultura,a memória e todas aquelas coisas que se tem perdido e esquecido, comoos cantos, as formas de se divertir, de contar histórias, os jogos infantis, ascanções de ninar, o chá e ervas medicinais e muitas outras coisas ainda.Com esta publicação pretendemos colaborar para que se mantenha acesauma pequena luz através da qual se possa enxergar o passado, viver opresente e projetar o futuro.

Este pequeno texto se destina a professores, arqueólogos, biólo-gos, arquitetos, historiadores, enfim, a todos que se interessam porquestões ambientais, patrimoniais e históricas.

O QUE É PATRIMÔNIO

Neste trabalho não vamos falar de um lugar especial, mas de todoslocais que possuem um vasto patrimônio, na maioria das vezes, ainda

desconhecido. Este texto serve para vários lugares ou pessoas, especial-mente para aqueles que ainda não conhecem o valor de seus benspatrimoniais. Tentaremos mostrar um pouco sobre como trabalhar comisso. Antes de qualquer explicação, devemos perguntar: o que é patrimônio?

O conceito de patrimônio é vasto e compreende as particularidadesou especificidades de um local, região ou sociedade. Isto quer dizer queo conceito de patrimônio está diretamente relacionado ao conceito decidadania, quer dizer, ao direito que as sociedades têm de serem diferen-tes umas das outras.

Cidadania é o direito que todos os cidadãos têm de poderemexercer suas práticas religiosas, manifestações culturais, op-ções políticas, entre outras coisas.

A preocupação vem desde a Constituição de 1937, que consideravacomo patrimônio os lugares de preservação natural, histórica ou artísticade um lugar. De acordo com a Constituição de 1988 (Art.15 e 16), oPatrimônio é constituído pelos bens materiais e imateriais que se referemà identidade, à ação e à memória dos diferentes grupos formadores dasociedade brasileira. São eles: as formas de expressão; as formas de criar,fazer e viver; as criações científicas, artísticas e tecnológicas; as obras,objetos e documentos,edificações e demais espaços destinados às mani-festações artístico-culturais; os conjuntos urbanos e sítios de valor histó-rico, paisagístico, artístico, arqueológico,paleontológico, ecológico ecientífico.

Para entender melhor o que é Patrimônio cultural, podemos dividi-lo em três grandes tipos: aqueles pertencentes à natureza (clima, vegeta-ção, acidentes geográficos), aqueles pertencentes às técnicas (o saberfazer) e aqueles pertencentes aos artefatos (aquilo que é construído pelohomem com a natureza e o saber-fazer), que se tornam a própria constru-ção do homem utilizando-se do seu entorno para adequá-lo à sua neces-sidade, por meio da cultura.

Outra forma de conceituar o patrimônio é dividi-lo em categorias.A primeira são os bens naturais, os que pertencem à natureza: flora, faunae minerais. São recursos naturais as cachoeiras, cascatas, montes, morrose florestas.

A segunda categoria são os bens de ordem material. Nestes, estãoos objetos criados pela humanidade, objetivando melhorar sua qualidadede vida, adaptando-se ao ambiente em que está instalada. Os bens

________________1 Professor do Centro de Educação. Coordenador do Núcleo de Educação Patrimonial-

NEP da UFSM. Doutorando em Arqueologia, Museu de Arqueologia e Etnologia � MAEda Universidade de São Paulo � USP.

2 Professor do Departamento de Matemática. Coordenador do Centro de Ensino ePesquisas Arqueológicas-CEPA da UNISC. Doutorando em História - Sociedade,Cultura Material e Povoamento . PUCRS.

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materiais referem-se aos objetos, às estruturas, construções como moi-nhos, casas, etc., que são formas das sociedades de adequarem e modifi-carem o meio.

Na terceira categoria estão os bens de ordem intelectual. São asformas de conhecimento ligadas ao �fazer�, quer dizer, o conhecimentodos métodos e técnicas para fazer qualquer coisa, seja uma casa, ummóvel, ou qualquer outra coisa. Também a literatura, a música, as cançõesfolclóricas são manifestações de ordem intelectual.

Por último, os bens de ordem emocional, que são as manifestaçõesculturais das pessoas ou comunidades - o folclore, os desfiles cívicos, asformas de expressão religiosa e artística, erudita e popular que semanifestam por meio da literatura, música, dança, etc. A �festa do DivinoEspírito Santo�, a �Semana Farroupilha� e as �Procissões�, podem sercitadas como bens de ordem emocional.

Desta forma, devemos ressaltar que o patrimônio é muito mais queos monumentos ou prédios históricos. Toda modificação que uma socie-dade faz na paisagem para melhorar suas condições de vida, bem comotodas as formas de manifestação socialmente compartilhadas, fazem partedo patrimônio, bem como o lugar em que se vive.

Todo objeto ou ação que diz respeito à identidade e àmemória de uma sociedade constitui seu patrimônio, assimcomo as manifestações materiais e imateriais.

O órgão que identifica, reconhece, promove e protege o Patrimônioem nível Federal, é o Instituto do Patrimônio Histórico e ArtísticoNacional - IPHAN - ligado ao Ministério da Cultura. Em muitos estadose municípios, temos secretarias ou locais encarregados de proteger opatrimônio em nível regional. A nível de Estado, temos o Instituto doPatrimônio Histórico e Artístico Estadual � IPHAE.

Não podemos esquecer que, antes de ser um papel do governo, sãoas pessoas que devem proteger os bens culturais, materiais e emocionaisde sua localidade. Não estamos falando de obrigação, mas de conservarnosso passado para que possamos construir um presente responsável e umfuturo promissor.

IDENTIDADE, MEMÓRIA E PATRIMÔNIO

Se olharmos as diferentes sociedades, veremos que elas se agrupampor afinidades. Os povos unem-se por questões de linguagem, religião,ocupação de espaço ou ancestralidade. As características únicas de cadasociedade, bem como os laços que as unem, servem para identificá-lascomo pertencente a um grupo em contraposição a outro. Dessa forma, oconjunto de valores, regras de convivência, padrões de expressão e/ouqualquer outra manifestação são considerados como identidade cultural.

A identidade é o elemento que caracteriza os membros deuma sociedade, comunidade ou grupo humano entre si eperante os outros.

A identidade de um grupo de pessoas pode ser tomada pelas suascaracterísticas peculiares, que as diferem das outras. No nosso Estado, asdiferentes regiões geográficas foram colonizadas de formas distintas. Porexemplo, os alemães, que chegaram a partir de 1824, instalaram-seprimeiro nos vales dos rios; os italianos, quando chegaram a partir de 1875,por outras razões, instalaram-se na região serrana. Isso não quer dizer queeles escolheram, mas começaram a adaptar-se e identificar-se com aregião de suas colônias e criaram uma identidade própria.

Os povos que aqui viviam antes da chegada dos europeus,dividiam-se em diversos grupos bem diferentes, com línguas,costumes e religiões próprias, mas os brancos resolveramchamá-los de índios, porque dessa forma se uniformizava asculturas para fazer a dominação. Os índios tinham suas iden-tidades culturais particulares, mas o contato com o europeufoi eliminando as resistências pouco a pouco.

Os imigrantes, os índios e qualquer outra comunidade mantêm vivasua identidade mediante manutenção da memória. Ela é o conjunto deinformações sobre histórias, fatos vividos, conhecimentos, lendas, daque-la sociedade, tornando-se seu patrimônio.

A memória de um povo é o seu referencial de conduta eidentidade. Sem memória não há identidade, desaparece acultura e destrói-se a consciência coletiva.

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As sociedades que possuem escrita mantêm relatos de seus aconte-cimentos, é a história. Os grupos sem escrita usam os mitos e lendasrepetidas oralmente para manter acesa a memória. É através dela (memó-ria) que mantemos nossos hábitos, nossa forma de falar, nossas expres-sões, nossos costumes. É nossa memória, transformada em história quenos difere de outros grupos e outras sociedades. Nossa história é o retratode nossos costumes.

É por isso que a construção do patrimônio depende diretamente dahistória e da memória. Para construir nosso presente, o dia a dia, temos queconhecer a história (passado). É através da memória que escolhemos omelhor caminho para construir nosso futuro. O futuro será o resultado denossa construção presente. A construção da nossa sociedade advém dotodas nossas ações, coletivas e individuais, diariamente. Cidadania é oexercício dos nossos direitos, mas a história e a memória contribuemdiretamente para que façamos nossa vida melhor ou pior. Então, paraconstruirmos nosso presente, e projetarmos o futuro, dependemos dire-tamente da História.

COMO SE ESCREVE A HISTÓRIA?

A História pode ser vista como período - o momento quando ahumanidade começa a existir até hoje - ou como a disciplina que estudaos homens em sociedade, através dos documentos escritos. Mas nem sóde documentos escritos é feita a história. Para falarmos de história,devemos pensar em quais os tipos de documentos que existem.

Por exemplo, existem os depoimentos: são as histórias das pessoas,dos acontecimentos assistidos, como guerras, revoluções, batalhas...Existem os documentos visuais: quadros, pinturas, afrescos, fotos, queregistram um momento específico de uma sociedade ou pessoa. Nãopodemos esquecer as construções que falam por seu tempo, comoprédios, casas, edifícios, monumentos. Da mesma forma, os objetosutilizados pelas pessoas ou pelas comunidades são fontes de conhecimen-to sobre suas formas de trabalho, de viver, etc.

Observe então que diversos estudiosos de áreas de estudo diferen-tes podem falar de nosso passado e de nossa memória, como os historia-dores, arqueólogos, antropólogos, arquitetos, entre outros mais. Cadauma das diferentes visões escreve uma parte da história baseada emfontes diversas.

Uma fonte importante para o conhecimento do passado, quandonão existem documentos escritos, são os vestígios materiais, encontradospor arqueólogos e paleontólogos. O arqueólogo estuda as sociedades dopassado mediante objetos e através das modificações que realizaram noambiente. Esses objetos são denominados cultura material: cerâmica,pedras lascadas ou polidas, tapumes, canais de irrigação, montes artifici-ais, enfim, todos os objetos e alterações no ambiente realizados por umasociedade. Elas são fontes arqueológicas que se utilizam para escrever ahistória. O paleontólogo estuda o registro de vida antiga, que tenhapassado por uma série de processos físicos e químicos chamado fossilização.Os resultados desse processo são considerados fósseis, ou seja, represen-tantes de um passado geológico, muito anterior ao período histórico, namaioria das vezes.

Outra fonte são as construções. O prédio utilizado como antigaassembléia legislativa, uma sede de fazenda, uma senzala ou um fortemilitar são representativos de uma sociedade ou grupo social, estudadopelos arquitetos que contribuem para o melhor conhecimento das condi-ções de vida, do status social, da riqueza ou miséria de uma família oucidade. Todos esses objetos, além de outros mais, são denominadosfontes históricas.

Porém, os objetos não dizem nada. São os pesquisadores queretiram as informações das diversas fontes, analisando sua construção,como foi feito, quando, para quem, por quem era utilizado, entre outrascoisas. Da mesma forma, as fontes escritas, como os documentos, osjornais, as escrituras, os testamentos, os mapas, cartões postais são fontesque devem ser analisadas com muito cuidado. Por exemplo, pode-sefotografar a parte bonita de uma cidade, e não registrar as favelas.

A opção que os escritores, pintores e fotógrafos fazem, em docu-mentar um lado da vida e não outro, chama-se Ideologia. Por isso as fontesmateriais devem ser analisadas com cuidado por especialistas, uma vezque, muitas vezes, os documentos escritos revelam apenas a ideologia daclasse dominante, não registrando as classes exploradas, como os escra-vos, os pobres, os índios, etc.

Também os depoimentos de que falamos anteriormente devem seranalisados, pois a visão de uma pessoa ou grupo pode revelar o seu pontode vista, excluindo outro. Por exemplo, você pode comparar os documen-tos existentes nas câmaras de vereadores com as reivindicações dapopulação, e ver como são diferentes as formas de expressão e osobjetivos de cada classe. Todas essas informações são documentos e

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fontes históricas que devem ser estudadas com cuidado e muita precau-ção.

Não podemos esquecer que as fontes são documentos de umasociedade, de um tempo, de um momento determinado. A análise delasdeve ser criteriosa e cuidadosa, porque dessas análises sairá nossa história,nosso pensamento, nossa forma de ver as pessoas como heróis ou ospersonagens de um tempo, modificando e, ao mesmo tempo, sendomodificados pela sociedade.

É muito importante que saibamos que a construção da realidade éuma tarefa nossa, de toda a população, não de fulanos especiais escolhidospor Deus ou Vultos que se destacam. Nossa história é feita por todos,crianças, jovens, homens e mulheres que desejam uma comunidademelhor.

O QUE SIGNIFICA A CULTURA MATERIAL PARA OESTUDO DAS SOCIEDADES?

Toda sociedade utiliza instrumentos ou objetos - artefatos - paraadaptar-se ao ambiente em que vive. À medida que as sociedades tornam-se mais complexas, os artefatos também sofrem modificações para acom-panhar essa complexidade. As mudanças que o homem realiza no seuambiente, como os canais, diques, taipas, tapumes e outras alterações doentorno são os chamados ecofatos. Ao conjunto de artefatos e ecofatosrealizados pelas sociedades denominamos cultura material.

É por intemédio da cultura material que podemos conhecer comoas sociedades, em diferentes momentos e diferentes lugares, se adapta-ram, modificando ou alterando substancialmente o ambiente em queviviam.

A forma como a cultura material contribui para o conhecimento dassociedades depende da análise que os diferentes profissionais realizam.Quando olhamos uma ponta de flecha feita de pedra, podemos dizeralgumas coisas e imaginar outras. Por exemplo, o uso da pedra deve-se aodesconhecimento ou ausência de metais para fundição. A ponta ficavapresa a uma flecha ou lança, precisando de um instrumento propulsor,como um arco ou uma zagaia. Dependendo do tamanho, da forma, e dadureza da pedra, saberemos se era utilizada em caça de grande oupequeno porte, e assim por diante.

A cultura material é uma fonte histórica fundamental noconhecimento das sociedades que não escreveram sobre simesmas, como os grupos pré-históricos ou as classes pobresdentro das cidades. A cultura material revela aspectos daalimentação, do poder aquisitivo, das técnicas de construção,entre muitas outras coisas.

A cultura material está relacionada com várias coisas:• suas técnicas de confecção (era feito assim, servia para isso,

deveria ser comprado ou pego a tal distância, durava tanto tempo, etc.);• seu uso (era usado desta maneira, em tal ocasião, por tal pessoa,

tinha tal função, etc.) ;• sua relação com a organização social (era usado pelo chefe, em tal

cerimônia, representa uma posição ou posto, etc.)

Devemos salientar, no entanto, que a cultura material só pode seranalisada em seu contexto, quer dizer, em seu local original. Se umapessoa encontra um fragmento de cerâmica e o mostra ao arqueólogo, elepouco poderá dizer, porque está fora de seu lugar e, portanto, se tornasomente um objeto. O mesmo pode ser dito com relação aos fósseis. Sedeixado em seu lugar, o fóssil pode fornecer informações importantes decomo morreu, porque se encontra soterrado naquela rocha, com quaisseres convivia, entre outras.

Da mesma forma que as cerâmicas, as pontas de flecha ou as louçaspodem ser diferentes, as sociedades que as produziram também sãodiferentes. Os artefatos e os ecofatos variam conforme mudam os temposou as sociedades. Assim como um carro antigo representa um momentoem nossa história (como os carros de 40 anos atrás são diferentes dosatuais), uma porcelana inglesa usada por nossa avó é diferente dos pratose xícaras que utilizamos hoje. As particularidades e diferenças entre osgrupos humanos formam a diversidade cultural. Isto quer dizer que asociedade brasileira é diferente da inglesa ou da chinesa. Essa diversidadetambém existiu no passado, assim como existirá no futuro. Isso é adiversidade cultural.

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As ideologias autoritárias - como o nazismo - pregaram a idéiade uma raça superior para justificar sua dominação. Hojesabemos que a riqueza da humanidade reside na diversidade,e que a pureza - étnica, biológica ou social - é impossível, alémde elitista, segregacionista e xenófoba.

Culturas diferentes, sociedades diferentes, manifestações diferen-tes. É essa a riqueza de todo país, toda nação e, principalmente, é essa adiversidade que proporciona novas perspectivas de crescimento. Cadasociedade, nas suas formas de agir, ser e pensar, é importante, represen-tando uma identidade que não deve ser submetida a outra. Cada memóriacoletiva é importante para a construção da nossa sociedade, única e aomesmo tempo feita sobre a variedade de culturas ao longo do tempo.Estamemória e esta identidade, calcadas sobre nosso passado, constitui nossopatrimônio.

COMO FAZER PARA PRESERVAR NOSSO PATRI-MÔNIO?

Existem diversas formas de proteger o patrimônio de um local. Umadelas é esperar que o governo faça isso, seja federal, estadual oumunicipal. Para isso, existem leis que regulam e normatizam a proteção,preservação e exploração dos bens culturais. Essas leis existem desde1931, mas isto não quer dizer que toda população conheça ou respeite asmuitas leis existentes.

Outra forma de preservar o patrimônio é conhecê-lo, saber queexistem diversos valores para as coisas. Você sabe que algumas coisas têmvalor financeiro, monetário, mas outras têm valor simbólico, sentimentalou afetivo. Um objeto que pertenceu a um parente próximo, a primeiraboneca ou brinquedo, a fotografia de alguém querido. Também existe ovalor científico, como o único fóssil de uma espécie, ou a única amostrade um vegetal. Pois bem, como já dissemos, temos diversos locais e coisasque possuem valores que não são materiais, mas possuem outro tipo devalor.

Reconhecendo a diversidade de culturas e a importância da varia-bilidade de manifestações, percebemos que preservar envolve admitir asdiferentes sociedades atuais e do passado. Da mesma forma, devemospensar que não podemos preservar só a memória ou identidade das classes

dominantes, mas de todos os segmentos da população.A democracia, mais que o voto ou a participação política, é dar

direito e igualdade de condições a todos os grupos, sociedades, segmen-tos ou parcelas de manifestarem-se e, por isso, terem direito a conhecerseu passado, sua história e sua trajetória, pois somente assim é possível aidentidade. Os grandes prédios, os grandes monumentos ou os grandestúmulos expressam o legado de algumas poucas pessoas.

Temos que refletir sobre aqueles que não puderam escrever, falarou nada construir para a conservação de sua memória. Se você lembrar dequantas manifestações são silenciosas ou reprimidas, lembrará que odireito de expressão ainda é de muito poucos. Dessa forma, a maioria dapopulação não possui uma identidade ou uma memória que diga respeitoa eles. São despossuídos de história, memória ou identidade. Como elesnão possuem nada, não vêem motivos para preservar o que desconhecem.

Devemos respeitar os monumentos, obeliscos e grandes obrasconstruídas para lembrar os feitos de alguns personagens. Mas devemoslembrar que, hoje, todos são atores da História. Todos homens e mulheresque viveram, diferentes ou iguais entre si, também fizeram suas histórias,ainda que esquecidas. Nosso papel é resgatar, preservar e divulgar essashistórias esquecidas, essas memórias adormecidas.

Uma vez que existem riquezas naturais, culturas de sociedades tãoimpressionantes como diferentes, cabe a todos a tarefa de preservar tantoa nossa cultura como de todos aqueles que vieram antes de nós. Asmanifestações de folclore, religião, tradição, arte, além dos conhecimen-tos adquiridos pelo tempo em adequar-se ao ambiente sem destruí-lo, osaber fazer objetos e construções, tudo isso é nosso direito e de todas associedades, comunidades ou grupos presentes e passados.

Da preservação das coisas comuns depende a continuidadedo coletivo. A importância de um documento escrito, umafoto, uma casa, uma música, um mapa, um diário ou um livroraro é a mesma: toda manifestação cultural do presente e dopassado permite a construção da nossa identidade.

Se você ver alguém destruindo ou agindo contra uma manifestaçãocultural, saiba que ele esta destruindo sua identidade. Todos temosdireito e dever de lutar pela preservação de nossas memórias, de nossasraízes, de nosso passado e de nossa história. Se você pensa que os índiosou os imigrantes não têm nenhuma relação com você, então você nãoconhece sua história. Todos nós somos o resultado do processo histórico

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de vários desconhecidos e muitos esquecidos que fizeram a sua parte paraque possamos estar aqui.

PRESERVAR PARA QUÊ?

Nós já mostramos o que é cultura material e falamos de comopodemos, por meio dela, buscar a identidade de uma sociedade. Aimportância de preservar o patrimônio é justamente porque ele represen-ta a comunidade.

Quando falamos de qualquer nação, lembramos sempre daquelascaracterísticas que as identificam. Quando falamos de índios lembramosdaquelas sociedades que vivem nas florestas ou outros lugares quase damesma forma que há centenas de anos. Quando falamos de gaúchos,lembramos do churrasco, do chimarrão, assim por diante.

Todos nós temos uma idéia dos elementos que caracterizam osdiferentes povos. Esses elementos, a que chamamos de patrimônio, sãopreservados por cada sociedade para que possam manter sua cultura, suaidentidade, sua memória. Você poderá dizer que, com toda certeza, nãoé só o churrasco e o chimarrão que caracterizam o gaúcho, e tem toda arazão. Mas não esqueça que, para os outros, essas são as principais marcasde identidade dos gaúchos. Certamente, poderemos argumentar que nãoé bem assim, mas nós, por outro lado, temos imagens estigmatizadas denordestinos, de cariocas e por aí afora. São essas formas de identidade,memória e história que constituem o patrimônio de uma sociedade, econservá-las é perpetuar a própria identidade.

A melhor forma de conservar a memória é lembrá-la. A melhorforma de contar a história é pensá-la. A melhor forma deassegurar a identidade é mantê-la. Tudo isso se faz mediantea Educação, e educar para a preservação, conservação evalorização é chamado de Educação Patrimonial.

A educação patrimonial procura descobrir quais os valores, costu-mes, hábitos, aspectos de vida, lendas, cultura material e particularidadesde instalação no ambiente, a fim de resgatá-los para que toda a comuni-dade tenha acesso a essas informações.

Educação Patrimonial significa valorizar os aspectos que caracteri-zam a nossa sociedade e nosso local de vida. As peculiaridades quecompõem nossa história, nosso passado, são a �marca registrada� de nossa

identidade. Educação patrimonial significa, então, conhecermos nossosbens culturais e preservá-los para que todos tenham oportunidade dedesfrutá-los. Ao mesmo tempo, depois de resgatar tudo isso, deve-seregistrar essa cultura. Isto implica em gravar depoimentos, conhecer osmateriais que são utilizados, descobrir as histórias passadas, dos aconte-cimentos, enfim, registrar.

Somente a partir da documentação, poderemos conservar opatrimônio. A preservação da história, memória e costumes pode serrealizada em todos os lugares de nossas vidas. A escola é o primeiro lugaronde aprendemos os valores. Também deverá ser o lugar de ensinar ovalor do patrimônio, por meio da importância que ele assume na constru-ção da nossa identidade.

Além das escolas, existem outros lugares que implicam em educa-ção, como as instituições de pesquisa e espaços de cultura. Os museuspossuem uma grande quantidade de documentos, geralmente ligados àcultura material. As assembléias legislativas geralmente possuem as atasde reunião antigas, desde a criação do município. Os arquivos possuem osdocumentos doados pelas famílias. Os tabelionatos possuem as certidõesde casamentos, óbitos, heranças, entre outras coisas. As universidadespossuem laboratórios de pesquisa em arqueologia, paleontologia, entreoutros vários.

À medida que todos têm acesso a estes lugares, todos podemdescobrir o porquê dos lugares. Por que a cidade está localizada aqui e nãoem outro lugar, por que a agropecuária é a principal fonte de renda, entreoutras coisas. A nossa história e o nosso patrimônio são capazes de explicaras razões de diversos de nossos problemas.

Preservar o patrimônio é uma das formas de conhecer, enten-der e explicar a trajetória de nossas famílias, nossa cidade,nossas raízes e até nossa maneira de ser.

Se você quer olhar de forma econômica (mesmo que não concor-demos completamente), poderá perceber que o patrimônio pode sertransformado em uma grande �indústria� que não produz fumaça. Opatrimônio natural, como as cachoeiras, vales, florestas, são pontosturísticos para caminhadas ecológicas, trilhas, passeios de reconhecimen-to da fauna ou flora, camping ou educação ambiental.

O patrimônio cultural pode ser dividido de várias formas a fim dereverter-se em vertente econômica. A arquitetura portuguesa ou espa-nhola é ponto de visitação turística e cartão postal em todos os lugares. A

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título de exemplo, tomemos aspectos da história do município de SãoMartinho da Serra, (vale do rio Ibicuí) Rio Grande do Sul. Começa comas populações do planalto que viviam da coleta do pinhão e moravam emcasas subterrâneas, passa pelas tribos Guaranis que moravam no vale dorio Ibicuí-mirim; depois, será fundado um forte, de San Martin (1759) queserá o nascimento da localidade oficialmente.

Mais tarde, o forte sediará diversas batalhas de importância nahistória do RS, como a resistência de Sepé Tiarajú aos exércitos deGomes Freire de Andrade e a tomada do acesso às Missões. São Martinhoainda subsistirá como espaço privilegiado para o controle da entrada esaída das reduções abandonadas, mas agora como aduana. Já no séculopassado, a resistência e a importância do município será demonstrada noepisódio dos 12 maragatos, no qual serão degolados como mostra de forçapolítica na guerra fraticida de 1893 que se estenderá até 1930. Aliás, deve-se dizer que a extinção do município se dará justamente pela resistênciaao presidente da Província (governo do Estado) em 1890.

Sob a ótica do turismo arqueoló-gico, São Martinho da Serra abrigatodas essas histórias e outras muitas.Projetos podem incluir a cidade den-tro do roteiro daquelas que possuemum grande patrimônio histórico tom-bado pelo Instituto do Patrimônio His-tórico e Artístico Nacional - IPHAN,como nos municípios de Piratini, RioGrande, Pelotas e Antônio Prado.Todas as evidências materiais dessahistória ainda estão presentes nosubsolo, registros que a arqueologiapoderá desvendar.

Da mesma forma, é o patrimôniopaleontológico do município que temsido alvo sistemático de pesquisas,trazendo à tona novas espécies deanimais e plantas desaparecidas hámilhões de anos. Mesmo soterradodurante tanto tempo, o fóssil - um registro de vida antiga - poderia ter-seperdido em segundos. A construção de uma estrada, que revelou umesqueleto fóssil, quase contribuiu para a eliminar por completo os vestí-gios de uma espécie única para a região. Não fosse o chamado da

população, no anseio de conhecer e preservar, nada existiria hoje.Não podemos esquecer do povo de São Martinho da Serra. A

população é o principal patrimônio de um lugar. Suas histórias, seuconhecimento, suas vidas, suas lendas, seuscontos, sua gastronomia, enfim, diversos as-pectos da memória e das peculiaridades que aconstituem. Souvenirs, réplicas de materiaisarqueológicos e paleontológicos, camisetas,loja de produtos locais, livros da história de SãoMartinho, festas regionais, e quanto mais aindanão desvendados, podem ser transformadosem aspectos econômicos advindos do uso equi-librado e sustentável do patrimônio.

Não podemos deixar de lembrar também o vasto patrimônio exis-tente nos municípios que integram a região do vale do Rio Pardo. Nomomento, em função do enorme contingente, não vamos arrolar aspossibilidades de aproveitamento econômico dessa diversidade cultural,e o que também é muito importante, um aproveitamento sem causardanos ao patrimônio material.

Por conta do clima e relevo, a região é rica em patrimônio natural,como por exemplo, cascatas,rios com belos balneários, be-las paisagens, variada fauna eflora. Essa natureza abrigouno passado diferentes gruposindígenas, cuja história e re-manescentes de sua cultura,também fazem parte dopatrimônio da região.

Por conta da coloniza-ção ibérica, alemã e italianaentre outras, existe uma cultu-ra material e imaterial imensa.São danças, comida, roupas, festas, prédios, típicos de cada uma dasetnias. Talvez agora fique mais claro porque não foi possível tratar empormenores o patrimônio do vale do Rio Pardo.

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No momento é importante lembrar que o patrimônio existe, e quea preservação é tarefa de todos, quer dizer, deve-se preservar tudo querepresente a sociedade que constitui a história e a memória. Por exemplo,devemos preservar a fazenda, mas também a casa do agregado. Não só ahistória dos personagens �importantes�, porque todos são importantes naconstrução dessa história.

Para preservar tudo isso, existem lugares específicos. Os museuspodem conter a história e a pré-história da cidade, assim como a históriade uma família, de um grupo social, mas também contar a respeito deoutras coisas, como a visão de um fotógrafo sobre algo, a evolução dastécnicas de trabalho, entre muitas outras.

Assim, preservar é manter vivas a memória, a história, as coisas querepresentam aspectos da identidade da nossa cidade ou de nossas famílias.Preservar é necessário para que tenhamos referências de quem somos,como chegamos, onde estamos e o que podemos fazer com nossospotenciais.

QUAIS LUGARES DEVEMOS PRESERVAR?

Os lugares fazem parte da memória de uma sociedade. Todas aspessoas lembram da casa ou da estância ou do lugar onde nasceram oupassaram sua infância. Essa memória é individual, particular, intransferível.Outros lugares são coletivos, como morros, rios, cerros, matas, pois alémde pertencerem a todos, muitas vezes identificam as cidades ou regiões.

Também existem casas, prédios, ruas ou estradas que compõem aidentidade de um lugar. Porém, existem lugares que são mais difíceis deserem percebidos, por não estarem tão visíveis. É o caso do sítioarqueológico.

Sítio arqueológico é todo lugar onde existem evidências de ocupa-ção humana. Por exemplo, uma casa abandonada, como uma tapera muitoantiga, é um sítio arqueológico. Às vezes, a ocupação remonta a centenasde anos, e o que sobrou da ocupação humana são poucas coisas. São osvestígios arqueológicos, restos de materiais utilizados pela sociedade quepassou naquele lugar.

Os vestígios arqueológicos podem ser artefatos, peças ou lixoabandonados. Mas pode ser as construções, como casas ou aldeiasinteiras, represas, diques, canais ou estradas. O sítio arqueológico é olugar no qual uma comunidade viveu ou utilizou, modificou ou adaptoupara sua vida. Os sítios podem ocorrer em qualquer lugar: às vezes, ascasas são construídas em cima de outras mais antigas, por que o lugar é omelhor para ver a região, ou abrigado do frio, e assim por diante.

Os sítios são lugares utilizados pela sociedade humana do passadorecente ou muito antigo. Podem ser pequenos ou muito grandes. Paraescrever o passado, todos os sítios são importantes. Os mais antigos,podem apresentar pedras lascadas, polidas ou cerâmica. Com a chegadado homem branco na América, existirão outros tipos de sítios, com cacosde louça, peças de ferro e vidro. Todos têm a mesma importância para oestudo do passado.

Cada fragmento de pedra ou de louça é um documento como oslivros, as fotos ou cartas escritas. Para que você tenha uma idéia, no valedo Rio Pardo, as pedras lascadas, como pontas de flecha e boleadeiras,podem ter mais de três mil anos de idade, chegando a onze mil anos noEstado. Os pedaços de potes de barro, a cerâmica, podem ter até dois milanos de idade. Por meio da louça trazida com os europeus, podemos saberonde foram fabricadas, em que período, quanto custava, entre outrascoisas.

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Preservar os sítios arqueológicos é como descobrir uma bibliotecarepleta de livros. Para que todos possam ler, é preciso conservá-los,mantê-los em boas condições, guardados porém ao alcance de todos. Adiferença é que os livros possuem diversas cópias, enquanto os sítiosarqueológicos quase sempre são únicos, quer dizer, não existem outrosiguais. Destruir ou deixar que se destrua um sítio é perder uma livrariainteira sem saber quantas informações poderíamos tirar, quantas respostasse perderão para sempre.

O QUE FAZER PARA PRESERVAR UM SÍTIO AR-QUEOLÓGICO?

Por toda parte existem inúmeros sítios arqueológicos. Os pesquisa-dores conhecem alguns, mas existem centenas de outros. A forma maiscomum de descobrirmos um sítio arqueológico é quando estamos traba-lhando a terra. Arado, máquina agrícola e poços são as formas mais comunsde encontrar os sítios. Isto acontece porque a terra se deposita lentamentesobre as ocupações humanas, como um lugar abandonado. Quando avegetação cresce e cobre o local, pouco aparece do antigo lugar habitado.Assim, quando as pessoas trabalham a terra aparecem os vestígios.

Em primeiro lugar, o sítio arqueológico é um patrimônio de todos.Isso quer dizer que ele pertence a toda a comunidade, não ao dono daterra. Ninguém pode fazer escavações por curiosidade ou sem acompa-nhamento profissional, somente um especialista que seja autorizado paraisso. Como as escavações podem destruir o sítio, se não forem feitas coma técnica necessária, é melhor chamar quem entende disso.

No Rio Grande do Sul existem diversas instituições que possuemprofissionais especializados ligados a centros de pesquisa arqueológica.Entre elas podemos citar a UNISC, UFSM, UNISINOS, UNIVATES,PUCRS, UFRGS, FURG, UFPEL, entre outras.

Os sítios arqueológicos são como animais em extinção. Sevocê os destruir ou deixar que alguém os destrua, em brevenão haverá mais nenhum. Os sítios aparecem mais facilmentenas áreas lavradas, onde o subsolo aparece depois do arado.Se você encontrar um sítio avise uma Universidade ou oIPHAN, o mais breve possível. Uma página da Históriapoderá ser salva com sua ajuda.

Registre bem o local onde você encontrou o material arqueológico,mas não recolha nem junte nada até a chegada dos pesquisadores. Éimportante para a pesquisa saber a posição exata dos materiais nomomento do achado. Lembre-se que essa história também é sua e vocêpode ajudar bastante, preservando os locais de patrimônio.

Não se esqueça: fazem parte do patrimônio as cascatas, os rios, osvales e matas, que também precisam ser preservados. Da mesma forma,as casas antigas, os prédios de fazenda ou casas antigas, até os sítiosarqueológicos, que são difíceis de achar, mas são igualmente muitoimportantes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste pequeno texto, você viu diversas coisas: o que nós entende-mos por patrimônio, o que é e como se cuida. Viu também que a natureza,as pessoas, os objetos que as pessoas fazem, sua memória e seussentimentos também fazem parte do patrimônio. Da mesma maneira, oconhecimento que as comunidades adquiriram ao longo do tempo, seusmitos, suas lendas, suas festas, seu imaginário. Tudo isso constitui opatrimônio de uma sociedade. Da mesma forma que o patrimônio perten-ce à comunidade, a comunidade tem direito a conhecer seu patrimônio.É direito de todos conhecer seu passado, sua memória, sua história.

Para identificar e valorizar é preciso preservar o patrimônio que játemos, e para preservar é preciso conhecer. Esse conhecer pode serobtido através da Educação Patrimonial, conscientizando as comunidadesenvolvidas sobre a importância da preservação do patrimônio que seencontra ao seu redor, entendendo por patrimônio os bens de ordemnatural, material e intelectual, como esses que citamos antes. A inclusãode Educação Patrimonial no currículo das séries do Ensino fundamentale médio pode contribuir para valorizar o patrimônio existente.

Queremos alertar para a importância do resgate da identidade, daconservação da memória e buscar a preservação como forma de manter acidadania. Não queremos que uma localidade, um município ou o Estado,fiquem parados no tempo ou voltem atrás nas conquistas tecnológicas,materiais ou sociais. Porém, sabemos que uma sociedade sem passado nãoconstrói um presente melhor, nem resolve seus problemas para o futuro.A modernidade pode conviver, tranqüilamente, com a História, assim

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como a tecnologia pode existir sem destruir a memória ou as técnicas econhecimentos antigos.

Progresso e patrimônio são os dois lados da moeda. Para vermos oprogresso devemos observar onde tudo começou, o que foi conquistadoe o preço pago pela modernidade. Progresso com destruição da naturezaou apagando a história não é progresso, é demolição cultural.

Identidade, memória e ambiente são aspectos da cultura queconstituem o patrimônio.

É fundamental que os professores, educadores e poder públicounam-se para iniciar um processo de educar para preservar, resgatar evalorizar os bens de nossa sociedade. É por meio da nova geração dealunos, que estão presentes nas escolas e instituições de ensino superior,que poderemos mostrar como o patrimônio encontra-se em todos osconteúdos escolares e que a preservação é bem melhor que o esqueci-mento.

Podemos construir um futuro melhor, no qual o passado estejapresente, mediante fragmentos das peças arqueológicas, das casas, dashistórias e das memórias. Podemos viver com nosso patrimônio e nosorgulhar dele.

REFERÊNCIAS

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ATAÍDES, Jézus Marco; MACHADO, Laís Aparecida; SOUZA, MarcosAndré Torres de. Cuidando do patrimônio cultural. Goiânia: Ed. UCG,1997.

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MORLEY, Edna June. O presente do passado. O que é arqueologia?

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SANTOS, José Luiz. O que é cultura. São Paulo: Brasiliense, 1989.

SUANO, Marlene. O que é museu. São Paulo: Brasiliense, 1986.

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2. Os originais devem ser encaminhados ao editor da Revista: Centro deEnsino e Pesquisas Arqueológicas (CEPA) da Universidade de Santa Cruzdo Sul (UNISC), Av. Independência, 2293, Caixa Postal 188, CEP 96815-900, Santa Cruz do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil. Fone: (051) 717-7300- Fax: (051) 717-1855.

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