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Planejamento Regional no Estado de São Paulo: Polos, Eixos e a Região dos Vetores Produtivos Regional Planning in the State of São Paulo: Poles, Axes and the Region of the Productive Vectors Jeferson Tavares 1 , FIAM-FAAM Centro Universitário, Escola da Cidade, [email protected] 1 Arquiteto e Urbanista (2000), mestre (2004) e doutor (2015) pelo IAU-USP. Autor do livro “Projetos para Brasília: 1927- 1957” (IPHAN, 2014)

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PlanejamentoRegionalnoEstadodeSãoPaulo:Polos,EixoseaRegiãodosVetoresProdutivos

RegionalPlanningintheStateofSãoPaulo:Poles,AxesandtheRegionoftheProductiveVectors

JefersonTavares1,FIAM-FAAMCentroUniversitário,EscoladaCidade,[email protected]

1ArquitetoeUrbanista(2000),mestre(2004)edoutor(2015)peloIAU-USP.Autordolivro“ProjetosparaBrasília:1927-1957”(IPHAN,2014)

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RESUMO

Essetextofilia-seaocampodoconhecimentodahistóriadourbanismoaobuscarcompreenderasrelaçõeseasestruturasdoprocessodeurbanizaçãopelaabordagemregional,aolongodoséculoXX.Dessa forma,oobjetivoéapresentarcomooplanejamento regionalpraticadonoEstadodeSão Paulo, ao longo dos anos 1910-1980, estruturou seu território pelos polos urbanos e peloseixos rodoviários e contribuiu na formação de uma região privilegiada para o desenvolvimento,aquidenominadaRegiãodosVetoresProdutivos.Apartirdessecaso,demonstraremoscomo,aolongodoséculoXX,aescala regionalganha forçacomodisciplinadeplanejamentoecomoessaárea de conhecimento verte-se (no pragmatismo das ações administrativas) em importanteinstrumento para garantir a continuidade de privilégios territoriais por meio das práticasplanejadoras. Nossos objetos de estudo são as ações planejadoras estatais sobre o territóriopaulista: os planos e projetos (urbanísticos e rodoviários) na escala urbana e regional; osprogramas e as políticas públicas de desenvolvimento que proporcionaram a recenteinteriorizaçãodaindústria;asreformasadministrativasestaduais;asleiseosdecretosnacionaiseestaduais referentes à regionalização; e as obras de infraestrutura e de equipamentos sociais ecoletivosdeinteressepúblico.Apartirdaanálisedessasaçõesépossível identificarosprincipaisdiálogoscomasmatrizesnacionaiseestrangeirasdoplanejamentoesuasprincipaisressonânciasnaorganizaçãoterritorialpaulista.Pelaidentificaçãodosmovimentosdeconcentraçãoedispersãoda urbanização, o que se constata é a escolha pela qualificação de uma região privilegiada e aorientação do processo de urbanização pelas decisões locacionais setoriais (da atividadeindustrial). Para nossas análises, partimos da ideia de “rugosidade” de Milton Santos econstruímosumacartografia inéditaapoiadanospreceitoskantianosparasobrepor,notempoenoespaço,asaçõesplanejadorasempreendidasnoestadodeSãoPaulo.Apartirdessemétodofoipossívelcomprovaraspermanênciasdeummodelodeplanejamentoregionalqueé,aomesmotempo,tributário, influenciadorerepresentativodopadrãodedesenvolvimentovigentenopaís,aolongodoséculoXX.

Palavras Chave: Planejamento Regional, Estado de São Paulo, Polos, Eixos, Região dos VetoresProdutivos

ABSTRACT

Thistextisrelatedtothefieldofknowledgeofthehistoryofurbanismasitseekstounderstandthe relations and structures of the urbanization process through the regional approach,throughoutthetwentiethcentury.TheobectiveistoshowhowtheregionalplanningpracticedintheStateofSãoPaulo,duringtheyears1910-1980,structureditsterritorybytheurbanpolesandthe road axes and contributed in the formationof a privileged region for thedevelopment, theRegionoftheVectorsProductive.Fromthiscase,wewilldemonstratehow,throughoutthe20thcentury, the regional scale gains strength as a discipline of planning and how this area ofknowledge becomes (in the pragmatism of administrative actions) an important instrument toguaranteethecontinuityof territorialprivilegesbyplanningpractices.Ourobjectofstudy is thestateplanningactionson the territoryof SãoPaulo:plansandprojects (urbanand road)on theurban and regional scale; the public development programs and policies that have led to therecent internalization of industry; state administrative reforms; national and state laws anddecrees concerning regionalization; and the social and collective equipment of public interest.Fromtheanalysisof theseactions it ispossible to identify themaindialogueswith thenationalandforeignmatricesofplanningandtheirmainresonances intheterritorialorganizationofSãoPaulo.Fortheidentificationoftheconcentrationanddispersionmovementsofurbanization,what

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is verified is the choice for the qualification of a privileged region and the orientation of theprocess of urbanization by the sectoral locational decisions (of the industrial activity). For ouranalysis, we startwith the idea of "roughness" byMilton Santos and construct an unpublishedcartographythatpreceptstosuperimpose,intimeandspace,theplanningactionsundertakeninthestateofSãoPaulo.Fromthismethoditwaspossibletoprovethepermanenceofamodelofregionalplanningthatisderivative,influencerandrepresentativeofthepatternofdevelopmentinforceinthecountryduringthe20thcentury.

Keywords:RegionalPlanning,StateofSãoPaulo,Poles,Axes,RegionofProdutiveVectors

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INTRODUÇÃO

À luz da perspectiva histórica, nossa análise ocorre sobre as ações planejadoras estatais e seusefeitosnaproduçãodoespaço(regionaleurbano)paulista.Eestáinseridanumaperiodizaçãodoplanejamento regional no estado de São Paulo que considera quatro principais momentos: (1)período de institucionalização da infraestrutura e da regionalização mononuclear comoinstrumento de dominação política sobre o território; (2) período da busca do equilíbrio dodesenvolvimentoterritorialpelacompreensãodaseconomiasdeaglomeração;(3)consolidaçãodaestrutura territorial pelospolosurbanoseeixos rodoviários; (4)períododedesadensamentodametrópolepaulistaafimdecombaterasdeseconomiasdeaglomeraçãoeproporcionaroaumentodosrendimentoscrescentesdaatividadeindustrial.

O primeiro período (tratado no item 1 desse texto) émarcado pela transferência da economiaagrícola para a economia industrial e pelas estratégias de organização territorial da políticagetulistapós-1935.Osmarcosestaduaissão:aelaboraçãodoPlanodeViação(1913)querompealógica do modelo ferroviário de circulação terrestre (acompanhando o movimento do capitalprodutivo quemigra de uma economia agrícola para uma economia industrial) e o Decreto LeiFederal311(1938)quesintetizaospreceitosdecontroledoterritórioeinstituiarotinadapráticadaregionalizaçãoadministrativa.

Osegundoperíodo(tratadono item2dessetexto)émarcadopelo incentivoda industrializaçãobrasileira por organismos internacionais (como CEPAL e ComissãoMista Brasil-Estados Unidos),pelas políticas desenvolvimentistas do governo de Juscelino Kubistchek (1956-1961) e peloscontrastes regionais de desenvolvimento em função das concentrações industriais no Sudeste.Esseperíodoédelimitadocronologicamente,noâmbitoestadual,peloPlanoRodoviárioEstadual(1941)quepropunhaumnovopadrãomaisequilibradodemalharodoviáriaepeloPlanodeAçãodoGovernoCarvalhoPinto(1959)quebuscouminimizarasdiferençasentreaCapitalSãoPauloeoInteriorpaulista.

O terceiroperíodo (tratadono item3desse texto)émarcadopela instituiçãodo regimemilitar(1964) e pelas políticas autoritárias que buscaram centralizar as decisões e valorizar osinvestimentosemgrandesobrasde infraestruturaemespaçoshistoricamenteconsolidadospelodesenvolvimento.Osmarcos estaduais são a concepção da Rodovia Castello Branco (1963) queestabelece o conceito de Eixo de Desenvolvimento Econômico e o Decreto Estadual 48.162 de03/07/1967 que define o conceito de polo urbano e unifica a regionalização do estado de SãoPaulo.

Oquartoperíodo(tratadono item4dessetexto)émarcadopelo impactodasdeseconomiasdeaglomeração nas principais cidades industrializadas, pelo reconhecimento do âmbitometropolitano no planejamento e pelo predomínio de políticas macroeconômicas nacionais degrande impacto urbano-regional, como os altos investimentos de infraestrutura na fase dochamadoMilagreEconômico(1967e1973),oIPlanoNacionaldeDesenvolvimento(IPND,1972-1974),oIIPlanoNacionaldeDesenvolvimento(IIPND,1975-1979).Noâmbitoestadual,osmarcosadotadosforamaconstituiçãoda“AçãoRegional”(1971)quedefineprogramasdeplanejamentoregionalcomincidênciadiretanaredeurbanapaulistaeapropostadeDiretrizesparaaPolíticadeDesenvolvimento e Desconcentração Industrial (PDDI, 1982) que consolida uma urbanização apartirdaredeurbanaorganizadapeladivisãoterritorialdotrabalho.Demodogeral,essesquatroperíodos compõem uma única fase do desenvolvimento nacional que buscou construir o BrasilindustrialapartirdealtastaxasdeconcentraçãodeprodutividadenoestadodeSãoPaulo.

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A repercussão dessas ações sobre o território podem ser evidenciadas pela formação de umaprivilegiada região,denominadaRegiãodosVetoresProdutivos (definidano item5desse texto)em que se é possível comprovar, a partir da sobreposição (no tempo e no espaço) das açõesplanejadoraspaulistas,suaspermanênciassobreumterritóriodestinadoaodesenvolvimento.

Através dessa análise, é possível identificar um diálogo estreito e afinado entre as açõesplanejadoraspaulistasealgumasmatrizesteóricasinternacionaisqueinfluenciaramopensamentonacionaldeplanejamentoregional.Dessainfluência,podemosdestacaropredomíniodatradiçãofrancesadecombateàsdesigualdadesregionaisrepresentada,fundamentalmentepelasteoriasdepolosdedesenvolvimentoedecrescimentodeF.Perroux;osmodelosdeorganizaçãoespacialdaEscoladeChicagodisseminadosporBurgess,Hoyt,HarriseUllman;eosestudos,críticaseteoriasdaGeografiaEconômica,sobretudopelodebatedelugarcentral,dehierarquiaurbana,dadivisãofuncional do território, da regionalização e de rede urbana propagados por H.W. Richardson,WalterIsard,J.R.Boudeville,JosG.M.Hilhorst,M.Jefferson,G.K.Zipf,W.Christaller,A.Losch,M.RocheforteJ.Labasse.

Dessa forma, entendemos que compreender as lógicas de organização territorial paulista (suasmatrizes e seus efeitos) significa um modo de compreender o padrão de desenvolvimentoterritorial brasileiro a partir do qual o território paulista tornou-se elemento central. Esse textotem, portanto, como finalidade evidenciar a relação entre o processo de planejamento e deurbanização do território nacional a partir da análise de uma das evidências da tentativa daconstruçãodeumBrasilindustrialquefoiaorganizaçãoterritorialdoestadodeSãoPaulo.

1. ESTRUTURA DA ORGANIZAÇÃO TERRITORIAL PAULISTA, NO INÍCIO DO SÉCULOXX:ASVIASRADIAISEOSCENTROSDEDECISÃOREGIONAL

A organização territorial do estado de São Paulo, ao longo do século XX, ocorreufundamentalmentepelosmunicípiosquesetornaramcentrosdedecisãoregionalepelasestradasderodagemqueconstituíramosprincipaiseixosradiais,cujostraçadosreforçaramaimportânciadessesmunicípios.Mas,aquesedeveesseprocesso?

Até o início do século XX, a atividade agrícola baseada no café proporcionou concentração decapital no estado de São Paulo repercutindo nasmaneiras de organização do seu território aoproporcionar investimentos nas melhorias urbanas (saneamento, embelezamento, etc.) eregionais (sobretudo pela construção das ferrovias) no Interior paulista (CANO; NETO, 1986, p.175). A concentração de riqueza proporcionada pela atividade agrícola também influencioucrescimento do capital industrial (TAVARES, 1986, p. 100 e 101; CARDOSO DE MELLO, 1982),encontrandoumimportanteescapedeinvestimentoemrespostaàCrisede1929,posicionandooestadodeSãoPaulonocentrodaprodutividadeindustrialnacional(CAMPOLINA,2000,p.306).

Prioritariamenteurbana, a atividade industrial influenciouaurbanizaçãopaulistae vice-versa.Apredominância do trabalho livre, da demanda de mercado e do capital industrial foram oselementosquevalorizaramoespaçourbanoemrelaçãoàdecadênciadomodelosocietáriorural.Dopontodevistaterritorial,aindústrianoestadodeSãoPauloacentuouasbasesurbanasefezdeslanchar um processo inevitável e irreversível de aumento da população nas cidades e daformaçãodepolosatrativos(SILVA,1976)deserviçoseatividadesdiversificadasque,porsuavezatraíammaisindústrias.

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Contudo, a atividade industrial impunha uma nova lógica de produção não mais baseada nomovimento unidirecional que se materializava no percurso do seu principal produto, o café,produzido nas fazendas do Interior do estado e distribuído pelo porto de Santos, típico daatividade agrícola e do sistema econômico exportador. Requeria, contudo a constituição de ummercadointegradoedearticulaçõesentreoscentrosurbanosquepossibilitassemacirculaçãodematéria-primaemercadorias.Aferrovianãocorrespondiaaessaflexibilidadedosmovimentosdecapitaleasestradasderodagemganharamprotagonismonesseprocesso.

Omarcopaulista desseprocesso é o “PlanodeViação”parao estadode SãoPaulo (1913) quepode ser considerado o embrião da estrutura rodoviária radial paulista. O Plano de Viação foielaborado por Clodomiro Pereira da Silva, engenheiro e consultor técnico da Secretaria deAgricultura,ComércioeObrasPúblicasdoestadodeSãoPauloeadotavaas linhasradiaiscomoprincipais elementos estruturadores estatual. O desenho radial justificava-se pela posição daCapital, no limite leste do estado; pela geografia, principalmente a hidrografia, quase paraleladescendo a oeste da Capital; pelo processo de urbanização em curso e pela presença jáconsolidadadasvias férreasque ligavamosprincipaisnúcleosdo InterioràCapital (SECRETARIADA AGRICULTURA, COMMERCIO E OBRAS PUBLICAS. 1913, p. 34). Assim, nesse plano seestabeleceram as linhas prioritárias de investimentos nas estradas que se transformaram nasrodoviasDutra,Imigrantes,AnhangueraeaCastelloBranco.

Nasdécadasseguintes(entreosanos1920-1940),outroesforçocolocariaoestadodeSãoPaulocomoprincipal entreposto internacional. A concepção e viabilização da Rodovia Pan-americana,incentivada e subsidiada pelos Estados Unidos e pelos países da América Latina, concebeupercursos rodoviários que atendiam à capital São Paulo e todo o interior do Estado comoimportanterotademercadoriasematéria-primaemescalacontinental.OsplanosdaRodoviaPan-americana consideraramalguns trechos do PlanodeViação, de 1913 (comoaRodoviaDutra) epropuseramaincorporaçãodeoutrostrechos,comosuaextensãoparaosul(atravésdopercursohoje consolidado pela Rodovia Regis Bittencourt) para interligar Rio de Janeiro e São Paulo aMontevidéueBuenosAires.

EssasaçõesconsolidaramSãoPaulocomoimportantearticuladorterritorialdocapitalindustrialedefiniu seu papel vital do sistema de estradas de rodagem. Essas estradas, concebidas econstruídascomafinalidadedeinterligarasprincipaiscidadesdoInteriordoestado,reforçaramaimportância desses centros urbanos evidenciando-os como nós de uma rede produtiva. Essaimportânciadoscentrosurbanosdointeriorpaulistafoireforçadapelasreformasadministrativasdosanosseguintes.

Frenteàstransformaçõespolítico-econômicasecompretensõespresidenciais,ArmandoSallesdeOliveira (governador do estado entre 1933-1936), empreendeu uma reforma administrativaconhecida por Reorganização Administrativa do Governo do Estado de São Paulo (R.A.G.E.),apresentada em 1935, a partir do Instituto de Organização Racional do Trabalho (IDORT). Essareorganização criou diferentes órgãos dentro da administração pública e exerceu profundainfluência na sua organização territorial, pois setorizou as ações administrativas, outorgando acada setorautonomiadeplanejamento territorial sob suasexclusivasnecessidades.Apartirdosanos 1930, com a Era Vargas, o município ganhou força como a célula da organizaçãoadministrativa do Estado intermediando as decisões entre o poder local e o nacional. Opredomíniodessaspolíticas legouinterferênciasdiretasnoprocessodeurbanizaçãodoterritóriopaulista.

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Noâmbitonacional,aEraVargasatribuiuaomunicípioprotagonismopolítico-administrativoe,em1938, estabeleceu um modelo de divisão territorial baseada nesse protagonismo que foiregulamentada no Decreto Lei No. 311 de 2 demarço de 1938 que “dispunha sobre a divisãoterritorial do país” para, entre outras definições, “promover a delimitação uniforme dascircunscrições territoriais” onde ficaram definidas duas importantes instâncias da organizaçãoterritorial: a primeira, caracterizada pela instância urbana em que os municípios deveriamcompreenderumoumaisdistritosemáreacontínua,queosdistritospoderiamserdivididosemzonas e que a sede do município teria a categoria de cidade; a segunda, caracterizada pelainstânciaregionalemquedefiniuqueumoumaismunicípiosemáreacontínuadeveriaformarum“têrmojudiciário”equeumoumaistermosjudiciárioscomporiaumacomarca(DECRETO...,1938,Art.1o.-Art.6o.),àluzdosdecretosjáexistentesquedispunhamsobreessetema.

Noâmbitoestadual,oDecreto9.775,de30deNovembrode1938,aoatenderaosdispositivosdoDecreto311,definiudivisõesregionaisorganizadasapartirdossetoresadministrativosestaduais(valorizadospelaRAGEcomoórgãosautônomosdeplanejamento).Cadadivisãobuscavaatenderàsdemandasdoseurespectivosetore,portantocondiziaaumadiferenteorganizaçãoterritorial.E emborahouvessediversidadenonúmerode regionalizações, todas elas estavambaseadasnomodelonuclearderegião,ouseja,umadelimitaçãoadministrativadeumterritóriosobinfluênciadeumprincipalcentrourbano,emgeralconcentradordosórgãosdetomadasdedecisão(jurídica,política, administrativa, etc.). O que se seguiu nas três décadas posteriores foi a valorização domunicípio como centro de decisão e articulador regional, pois o município manteve-seinstitucionalmentefortenaorganizaçãoterritorialpelarevisãoperiódicadasdivisõesregionaiseintegradoaosistemaprodutivoporseropontodepartidaeouchegadadasprincipaisrodovias.Assim,entreosanosde1910e1930,noestadodeSãoPaulo,asrodoviasradiaiseosprincipaismunicípios,sedesadministrativas,formaram-secomooembriãodeumanovaestruturaterritorial

Figura1-OrganizaçãoterritorialdoestadodeSãoPaulopelasestradasderodagem(emverde,asestaduaisdoPlanode1913;emazul,aPan-americana)esedesadministrativasdossetoresadministrativos(emvermelho),definidasentreosanos1910e1930.Fonte:TAVARES,2015b.

2.CONCENTRAÇÃODAATIVIDADEINDUSTRIALEASALTERNATIVASRODOVIÁRIASEURBANÍSTICASPARAUMDESENVOLVIMENTOTERRITORIALEQUILIBRADO

A organização territorial paulista baseada nas sedes administrativas regionais e nos eixosrodoviáriosradiaisreforçouadependênciadasprincipaiscidadesdoestadoemrelaçãoàCapital

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São Paulo. Essa dependência contribuiu na geração de economias de escala e de aglomeraçãocujosefeitoslogoforampercebidospelaconcentraçãodemográficaeindustrialnaprópriaCapitalearredores.

A concentração industrial no estado de São Paulo tem raízes profundas (CANO, 1977) ehistoricamente vincula-se ao processo de desenvolvimento das suas principais cidades: Bauru,Campinas, Ribeirão Preto, São José dos Campos, São Paulo e Sorocaba. Na década de 1920, aCapital São Paulo e arredores concentravam 60,91% dos empregos industriais do estado e aCapital, 18,15% do total brasileiro (GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO; SECRETARIA DAINDÚSTRIA, COMÉRCIO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA, 1982, p. 18). Nos anos 1940, a Capital jáconcentravametadedaproduçãoindustrialdopaís(CANO;GUIMARÃESNETO,1986,p.167-184).Noperíododesenvolvimentista,nosanos1950, consolidou-sea indústriapesadaeaarticulaçãoentre o capital estrangeiro e o nacional através das firmas multinacionais e ocorreu oespraiamento das atividades industriais para Santo André, São Bernardo do Campo e Mauáprenunciando a constituição da “Grande São Paulo”, da “São Paulo Exterior” e da “RegiãoMetropolitanadeSãoPaulo”.Esseimportanteaglomeradodecidades,submetidoàconcentraçãoeconômica na mesma medida da concentração industrial e demográfica, proporcionou aconcentraçãonaCapitalde51%doproduto industrialdoestado,nosanos1960 (GOVERNODOESTADODESÃOPAULO;SECRETARIADEECONOMIAEPLANEJAMENTO,1978,p.10).Essesdadosexemplificam sumariamente o processo de concentração de indústrias e pessoas na Capital noperíododeformaçãodasrelaçõesmetropolitanaspaulista.

Essa concentração na Capital e o simultâneo desenvolvimento de cidades no Interiorproporcionaram interesse do poder público de articular esse sistema urbano através de umamalha rodoviáriamais integrada. Exemplo desse interesse, temos que no período de dez anos,entre1941e1951,foramelaboradostrêsplanosrodoviários(doisestaduaiseumnacional).

OPlanoRodoviárioestadualde1941,elaboradonagestãodoentãoSecretáriodaViaçãoeObrasPúblicas do Estado de São Paulo Anhaia Mello, buscou garantir financiamento federal para asobrasdemelhoramentoeampliaçãodarederodoviáriapaulista.Agrandecontribuiçãodoplanofoi atender os centros urbanos de segunda ou terceira ordem (como as sedes administrativasregionais) com uma malha reticulada que contrariava a hierarquia estabelecida pelas estradasradiais.Essetraçadocomeçouaserempreendidoapartirdadécadade1960,acompanhandoaspolíticaseosprogramasdeincentivoàumanovainteriorizaçãodaatividadeindustrialevalorizouessesmunicípioscomonósfundamentaisnoprocessodeurbanização.

Namesmadécada,em1944,ogovernofederalapresentouoPlanoNacionalRodoviário(PNR).OPNR,concebidoapartirdeplanosestaduais(comoosdeSãoPauloedoRiodeJaneiro)edoplanointernacional da Rodovia Pan-americana, previa um sistema rodoviário nacional também emmalhareticuladaprivilegiandoaestruturapolinuclearurbana.Nosmoldescomofoiimplantado,oPlano Rodoviário de 1944 integrou a cadeia produtiva nacional ao ligar as principais cidadesprodutivaseconsumidoras.

Em 1951, um novo Plano Rodoviário estadual foi proposto commais de 7mil km de rodoviastraçadas (INSTITUTODE ENGENHARIA, 1954, no. 138, sem página). A partir da constatação dosdesequilíbriosproporcionadospelaaltaconcentraçãodemográficaepelasatividadesindustriaisnaCapital São Paulo e seus arredores, o plano de 1951 não só reforçou a malha reticular comopropôsdoisanéisconcêntricosaoredordametrópolepaulista.Oanel rodoviário juntava-seaosmodelosradialereticularparatentarcombaterasdesigualdadesdodesenvolvimentoterritorial.Aimportânciadaestruturaanelarjustificava-sepelapossibilidadedeespraiamentodaprodutividade

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edadensidadedemográfica.AtualmenteoAnelMetropolitanoeoRodoanelcorrespondem,emtrajetoeraio,aosanéispropostosem1951.

Aobuscar integraromercadoconsumidorbrasileiro,essassoluções rodoviáriasposicionaramosprincipaisestadosemunicípiosnosnósdeumacadeiaprodutivaaindaemformação.Assoluçõestécnicas (principalmente as morfológicas) evidenciavam um objetivo mais equilibrado dedesenvolvimento e se compatibilizavam com as premissas urbanísticas desse período. Em 1954ocorreramduasdessaspropostas, umade autoria da SAGMACSe a outrade autoria deAnhaiaMello,quetinhamcomoprincipalfinalidadepromoveroequilíbriododesenvolvimentoterritorialpaulista pelo espraiamento da atividade industrial. E, em 1959, o Plano de Ação, da gestão dogovernadorCarvalhoPinto,consolidouosesforçosparaequalizarasdiferençasterritoriais.

ASAGMACS–EconomiaeHumanismo(criadapeloPe.Lebret)foicontratadaem1953noâmbitodostrabalhospromovidospelaCIBPUparaavaliarodesenvolvimentopaulistanumaabrangênciaregional.Oestudoresultante,“ProblemasdeDesenvolvimento–NecessidadesePossibilidadesdoEstadodeSãoPaulo”(1954)propôsumaregionalizaçãodoterritóriopaulistaapartirdasrelaçõesqueseestabelecerampelainfluênciadaCapitaledosprincipaiscentrosurbanosdoInteriorsobreasdemaiscidades.DiantedaconstataçãodaconcentraçãodeatividadesindustriaisnaCapitalemdesproporção com o Interior do estado, o estudo propôs a descentralização das indústriasorientadapelosprincipaispolosdecadaregiãosobas justificativasdopotencialnatural,dapré-existênciadeatividadeindustrialedaurbanizaçãodessasregiões.

AexpansãoindustrialcomoformadeequilibrarterritorialmenteodesenvolvimentofoiomesmotemaabordadoporAnhaiaMello,em1954.Noseuestudo“PlanoRegionaldeSãoPaulo–UmaContribuiçãodaUniversidadeparaoestudode‘UmCódigodeOcupaçãoLícitadoSolo‘”,propôsumespraiamentodas indústriasparaumaáreaaoredordaCapital,numraiocontroladode100km. A ideia era combater os “males” da concentração industrial na Capital promovendo oespraiamento e, ao mesmo tempo, o desenvolvimento por outras regiões do estado queprescindiamdeindústrias(MELLO,1954).

E,aofinaldosanos1950,o“PlanodeAçãodoGoverno”(1959)dagestãodogovernadorCarvalhoPinto(1959-1963)sintetizouodiscursodessageraçãodeprofissionaisquebuscoucompreenderecombater as diferenças espaciais de desigualdades econômicas, sociais, demográficas, etc.verificadasnoterritório.Suaestratégiafoiadescentralizaçãoadministrativapeloreconhecimentoda dualidade entre a Capital e o Interior. No Plano, a interiorização ou a descentralizaçãoinstitucional foiumaestratégiaparaproporcionarequilíbriododesenvolvimentoentreCapitaleInterior através de ações que equipassem o Interior pelos serviços públicos, sobretudo os deinfraestrutura.

Nesse período democrático, as ações foram pautadas por estratégias territoriais que pudessempromover o desenvolvimento equilibrado a partir do espraiamento industrial. Nesse caso,indústria e o desenvolvimento tornaram-se sinônimos, e a presença da indústria passou arepresentar importante estratégia para minimizar as desigualdades já prenunciadas pelasconcentraçõesdesproporcionaisdepessoaseempregosnoestadodeSãoPauloe,principalmenteemsuaCapital.

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Figura2–Alternativasàconcentraçãodaatividadeindustrialpelosplanosrodoviários(emverde,asrodoviasestaduais;emazul,asfederais)eurbanísticos(emlaranjaebranco,asáreasdeexpansãoindustrialsugridaspelaSAGMACSeMello,respectivamente),entreosanos1940e1950.Fonte:TAVARES,2015b.

3.EIXOSRODOVIÁRIOSEPOLOSURBANOSCOMOESTRUTURASTERRITORIAIS

Entre os anos de 1963 a 1967, consolidou-se no estado de São Paulo o padrão de organizaçãoterritorialpeloseixosrodoviáriosepelospolosurbanos.Emboraoprocessodeurbanizaçãoededesenvolvimento já estivesse vinculado a esses dois elementos de caráter regional, foi com aconcepçãodaRodoviaCastelloBranco(em1963)ecomalegitimaçãodasregiõesadministrativasorganizadaspelospolosurbanoscomoDecretoEstadual48.162de03/07/67queoplanejamentoregional reconheceu esses dois elementos como as principais estruturas territoriais e formuloupadrõesqueforamvigentesatéofinaldoséculoXX.

A importância das rodovias paulistas vincula-se à integração da cadeia produtiva industrial nosâmbitos regional, nacional e internacional. Das rodovias existentes, três foram pioneiras nessafunção:aAnchieta,aAnhagueraeaDutra.ARodoviaAnchietapelaimportânciadaligaçãoentreCapitaleportoexportador,deSantos,possibilitandooescoamentodaproduçãoconcentradanaCapitalearredores.AsrodoviasAnhangueraeDutra,previstasnoPlanode1913,foram–esão–relevantes pelo importante papel na expansão domercado em direção ao Interior e ao Rio deJaneiro, respectivamente. E das três, a Dutra gozou de maiores privilégios porque também foiincorporada no panorama internacional ao ser considerada trecho da Rodovia Pan-americana,pelo Plano Nacional de 1944. Suas implantações interferiram no processo de urbanização doestadoeexerceraminfluêncianastransformaçõesnasescalasregionaleurbanaaolongodosseustrajetos. Essas rodovias proporcionaram alterações na forma de qualificar e valorizar a terra etransformaram o estado de São Paulo no território mais bem equipado para as atividadesprodutivas.

Mas, a consagração de ummodelo de rodovia que não servisse exclusivamente à passagemdeautomóveis, mas que incorporasse às suas funções a responsabilidade pela otimização daprodutividade, veio com o projeto e a construção da Rodovia Castello Branco. Nesse período,estava clara a relação da rodovia como equipamento transformador da realidade urbana eregional,aliás,comoequipamentofundamentalparaofortalecimentodaeconomia,aexemplodoquetinhasidoaferrovianoséculoanterior.EarodoviaCastelloBranco,primeiramentechamadade “Auto-Estrada do Oeste”2, foi o grande exemplo desse período antecipando algumas das2AAuto-EstradadoOesteoriginou-sedeumaComissãoEspecialdeAuto-EstradasdoDER-SP,em1963.Suasobrastiveraminícionomesmoanoeem1967recebeuonomedeRodoviaPresidenteCastelloBranco.

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principaiscondicionantesparaaprovisãode infraestruturadecirculaçãoregional.Comextensãoprojetada de 570 km, sua origem está vinculada aos fatores produtivos na escala regionalcaracterizadapelafartaproduçãoagrícolaemineraldooestedoestado,facilitandooescoamentodos produtos do Interior para o mercado consumidor metropolitano e a entrada de produtosindustriais nessas regiões.Apartir da concepçãodaRodoviaCastelloBranco, a ideiadeEixodeDesenvolvimento Econômico consolidou-se pela figura emblemática de uma faixa quetransformadaemregiãodeinfluênciaeconômicasuperavaafunçãodeumalinhadecirculaçãoepossibilitavadiversasformasdedesenvolvimentodascidadescontidasnessepercurso.

AideiadeEixodeDesenvolvimentoreverberouemoutraspropostasrodoviárias.Nosanos1970,outrastrêsrodoviasforamconstruídascomessepropósito:aRodoviasdosBandeiranteseadosImigrantes, coma finalidadededarem suporte aos dois pioneiros eixos dedesenvolvimentodoestado(AnhagueraeAnchieta);eaRodoviaD.PedroI,paraconstituirumnovocorredorligandoCampinasaoportodeSãoSebastião.AconstruçãodasrodoviasdosBandeirantesedosImigrantesconsolidouoprincipalCorredordeExportaçãodefinidoporumintensofluxodeprodutosparaoescoamento da produção nacional e internacional (INSTITUTODE ENGENHARIADE SÃOPAULO,1973,p.24).EaRodoviaD.PedroIconcretizou-secomoalternativaaotrajetoSãoPaulo-Santos,representando nova rota aos principais corredores e atendendo diretamente as regiões deCampinas,doCircuitodasÁguas,doValedoParaíbaedoLitoralNortePaulistapelaligaçãocomasrodovias Anhanguera, Fernão Dias, Dutra, Carvalho Pinto e indiretamente com a Rodovia dosTamoios. Ambas corresponderam às políticas e programas públicos de desconcentração edescentralização dos investimentos que se iniciaram a partir do final da década de 1960,incentivadospelasaçõesfederais(comooIIPND).

Privilegiando novas cidades nos seus traçados ou reforçando os polos existentes, as rodoviastransformaram-se numa estratégia fundamental para o processo de urbanização do territóriopaulista. Ao possibilitar o desenvolvimento das atividades industriais, promoveu a minimizaçãodoscustosdosprodutosindustrializados;aocupaçãodenovasterraseaconsequentevalorizaçãodestas; atraiu novos investimentos; e proporcionou a consolidação das áreas já ocupadas. Nãoapenasinduziuaurbanizaçãocomotambémadirecionoueaqualificou,apontandoparanovas(oujáconsolidadas)frentesdedesenvolvimento.Emcontraposição,essasgrandesinfraestruturasdeescalaregional,aoseaproximaremdoambienteurbano,geraramgravesimpactosinterescalares,redundando em permanentes conflitos entre os objetivos de conexão urbana (de pessoas) eregional(demercadorias).

Emboraasrodoviastenhamseantecipadoàspolíticasdequalificaçãodospolosurbanos,essessetornaramunidadedeplanejamentoapartirdoDecretoEstadual48.162de03/07/1967.Oreferidodecretounificouaregionalizaçãopaulistasuperandoatradiçãosetorialinstitucionalizadaem1938e,maisqueisso,legitimouopolourbanocomoprincipalelementoparaaorganizaçãoterritorial,do ponto-de-vista do planejamento administrativo. O conceito de polo urbano dialogou com aTeoriadePolodeCrescimentodeF.Perroux(1955)erespondeuàsdiretrizesfederaisdecriaçãode Polo de Desenvolvimento (1967), além de consolidar um processo de unificação daregionalizaçãoestadualpropostodesde1954(pelosestudosdaSAGMACS,tratadosacima).

Em síntese, o Decreto objetivava: a) racionalizar as atividades da Administração Pública paraproporcionar “maior rendimento das atividades governamentais”; b) padronizar as divisõesgeográficasparafinsdeplanejamentoparapossibilitar“umtratamentomaiscoerentedoconjuntodos problemas socioeconômicos de cada comunidade”; c) promover a descentralizaçãoadministrativaapartirdecritériosparaalocalizaçãodesuasinstalações;d)proveroterritóriodeinfraestrutura numa perspectiva de conjunto, mas cuidando das particularidades regionais,

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sobretudoem relação “àurbanizaçãoeà industrialização”; e) e criaruma instânciaarticuladoraentreestadoemunicípiocomafinalidadedepromoverodesenvolvimentolocal:“ointeresseemfacilitar odiálogoe a colaboraçãoentre EstadoeMunicípios atravésda instituiçãodeunidadesterritoriaisquereúnamváriosmunicípiosinterdependentessocialeeconomicamente,demodoaquenovas formasassociativas sejamencontradasvisandoaodesenvolvimento local.” (DECRETOESTADUAL48.162de03/07/67).

Ficaramclarasasdiretrizesdedescentralizaçãoadministrativaeadivisãoregionalunificadaparaterritorializar as ações do Estado e prover recursos para o equilíbrio do desenvolvimentoterritorial. Embora as relações regionais já estivessempresentes no debate estadual através deações isoladas de diferentes entidades dentro e fora da administração pública, o Decreto48.162/67 sistematizou as principais diretrizes na escala regional a partir do conceito de polourbanoesetornouoprimeiroinstrumentoaunificararegionalizaçãoadministrativaparafinsdeplanejamento.

O polo urbano ficou definido como unidade da organização territorial do Estado para a divisãoregional.Comopolourbanofoiconsideradaaprincipalcidadedeumaregiãoquepelarelaçãodeinterdependência social e econômica com as cidades circunvizinhas delimitava um raio deinfluênciacapazdedefinirumaglomeradodecidadesaelasubordinadas.

Identificadosospolosurbanosdoestado,foramestabelecidasdezregiões:RegiãodaGrandeSãoPaulo, Região de Araçatuba, Região de Bauru, Região de Campinas, Região de PresidentePrudente,RegiãodeRibeirãoPreto,RegiãodeSãoJosédoRioPreto,RegiãodeSãoPauloExterior,Região de Sorocaba e Região do Vale do Paraíba que se tornaram o elemento primordial daorganizaçãoterritorialatravésde“[...]divisõesgeográficasharmônicasparafinsdeplanejamento[...]” (DECRETOESTADUAL48.162de03/07/67).Aregiãopolarizadafoidefinidacomoaunidadedeplanejamentoeoespaçodaintegraçãoentreaspolíticasestadualemunicipal.

Na sequencia, oDecreto48.163, de03/07/67, quedispunha sobre as regiõesquedeveriam seradotadaspelosórgãosdaAdministraçãoPúblicaconfirmouquetodosossetoresadministrativosestaduaisdeveriamadotarasRegiõesAdministrativascomo“baseterritorialparaoplanejamentode suas atividades” e como “base territorial para as unidades administrativas de supervisão econtrolesemprequeestasforemconstituídassegundoáreasgeográficasdeâmbitocomparávelaodasregiões”(DECRETOESTADUAL48.163,de03/07/67).

Medida adotada no auge do período autoritário militar, esse decreto possibilitava ao mesmotempo a integraçãodos critérios de regionalização, bem comoa centralização das decisões dosdiferentes setores na Secretaria da Economia e Planejamento. Esse conjunto de reformasderivadasdadivisãoregionalpropostapelosdecretosde1967desempenhoupapelfundamentalparaconsolidaraescalaregionalcomooterritóriodoplanejamento,poisodebatemetropolitanoeadefiniçãodepadrõesespaciaispolarizadosehierarquizadosorientaramasprincipaisdecisõesdeorganizaçãoterritorialnoestadodeSãoPaulo.

Alémdaconstituiçãoderegiõesadministrativasunificadas,osdecretosinfluenciaramaconcepçãodeunidadesterritoriaishomogêneas(queserãotratadasnoitemaseguir)edenovascidadesparaseconstituírememnovospolosurbanosnoInteriordoEstado.Osdoiscasosmaisparadigmáticosdenovascidadessão:apropostadeumanovacapitaladministrativaparaoestadoeapropostadeumanovacidadeindustrialparasubstituiraconcentraçãodeindústriadaCapitalearredores.Aideia de uma nova capital administrativa no Interior do estado era defendida desde o início dadécadade1950(AZEVEDONETTO,1981,p.6-12)eganhouforçaapartirdaconclusãodosestudos

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daComissãoEspecialparaProcederaoEstudodaLocalizaçãodaNovaCapital(CEPELCA),em1968,queapontavaaregiãoaonortedomunicípiodeSãoPedrocomoapreferida.E,em1971,noaugedo debate dos polos urbanos, o engenheiro Tácito Sampaio Alves propôs a construção de umacidade inteiramente nova, na confluência dos rios Tietê e Piracicaba, como alternativa àconcentraçãoindustrialdaCapital.Ambasforampropostaspara4milhõesdepessoasenãoforamconstruídas,contudocolaboraramnodebatedadescentralizaçãoedesconcentraçãoantecipandooprincipaltemadoplaneamentoregionaldasdécadasseguinte.

Figura3–PrincipaisrodoviasdoestadodeSãoPaulo(décadasde1920a1970)

Figura4–Regionalizaçãoadministrativaunificadaeospolosurbanos(décadasde1960e1970)

4.REDEURBANAEA“INTERIORIZAÇÃODODESENVOLVIMENTO”

Adécadade1970,comoprenunciadaporváriasaçõesplanejadorasdogovernopaulistaaofinalda década anterior, foi o período em que se consolidou a descentralização administrativa e sereforçouaescalaregionaldeatuaçãopolíticacomefeitosirreversíveisaoprocessodeurbanizaçãodispersa. Essa escala de atuação baseou-se na organização de uma rede urbana centralizada,hierarquizada e dividida funcionalmente a partir da qual o governo regionalizou a provisão derecursospelaprópriaregionalizaçãodaadministração.

A“AçãoRegional”3,programadogovernodoestadoimplantadoem1971nagestãodeRobertodeAbreu Sodré (1967-1971), foi o primeiro e mais importante instrumento para viabilizar essasações.AAçãoRegionaldefiniuasprincipaisdiretrizesadministrativascomoobjetivodeorganizaroterritóriopaulistaàsfunçõeseconômicasesociais.Dentresuasfinalidades,estavaadeorientarodesenvolvimentopelasaçõesplanejadorasparacombaterosdesequilíbriosdodesenvolvimento.Duroucercadetrêsdécadase foi fundamentalnaterritorializaçãodoplanejamento.OpapeldaAçãoRegionaldefiniu-seporumcarátermaisabrangentequeadescentralizaçãoburocrática,poisabordava as diretrizes para um modelo de planejamento social e econômico através da“industrialização do interior”; do “desenvolvimento urbano equilibrado”, das “alternativas aoaceleradodesenvolvimentodaGrandeSãoPaulo”;edadefiniçãodoscritériosde“implantaçãodeinfraestrutura regional” (GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO; SECRETARIA DE ECONOMIA EPLANEJAMENTO.COORDENAÇÃODEAÇÃOREGIONAL,1971,p.24e25).Doisprogramasporela

3O documento “Ação Regional” foi proposto em 1971 no governo de Roberto C. de Abreu Sodré, na Secretaria deEconomiaePlanejamento (secretário:EuricodeAndradeAzevedo),pelaCoordenadoriadaAçãoRegional (coordenador:Jackson Gouveia de Barros). O documento que define as principais diretrizes da “Ação Regional” foi elaborado pelosseguintestécnicos:ClementinaD.A.DeAmbrosis,FlávioMagalhãesVillaça,HorácioMartinsdeCarvalho,JoséGeraldodaCosta,LeninaPomeranzeLuisCarlosCosta,comrevisãodeDomingosTheodorodeAzevedoNetto.

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coordenados, “Balcão de Projetos” (1974) e “Cidades Médias” (1977), refletem as práticas, asrelaçõesintrínsecaseascontradiçõesdesseperíodo.

OprogramaBalcãodeProjetosfoiorganizadocomo“manual”dedecisõesdeinvestimentosparaserem aplicadas pelo município e pelo empresário com o objetivo de criar condições para ainstalação de indústrias no Interior. Essas diretrizes incentivaram a definição de “distritosindustriais” pelos planos diretoresmunicipais no Interior do estado que gerou uma reserva deterranaperiferiadessascidades.AviabilidadedesseprogramaestevediretamentecondicionadaaoProgramadeCidadesMédias,quetevecomoobjetivoqualificar40cidadesmédiasdoInteriorpaulista com a dotação de R$ 240 milhões (1977) destinada à infraestrutura: sistema viário(61,15%), saneamento básico (16,8%), lazer (2,19%) e implantação dos distritos industriais(19,86%)previstosnoBalcãodeprojetos(GOVERNODOESTADODESÃOPAULO;SECRETARIADEECONOMIAEPLANEJAMENTO,1978,p.67).

Simultaneamente, o governo estadual investiu na concepção e qualificação das unidadesterritoriaishomogêneas (comoprevistopelosDecretosde1967)doValedoParaíba,doCircuitodasÁguasedoMacro-EixoRio-SãoPaulo.Essasunidadesterritoriaiscaracterizavam-seporseremregiõesconstituídasindependentementedadivisãoregionaladministrativaadotada,ouseja,comdelimitaçõesgeográficaseadministrativasdiferentesdaquelasdefinidasnas regiõespolarizadas.Seus planos tinham como principal objetivo promover seu desenvolvimento urbano pelairradiação das atividades produtivas e pelo transbordamento dos seus efeitos de crescimento apartir da formação de aglomerados de serviços e atividades industriais vinculadas àscaracterísticas sociais e culturais de cada região para atender a um mercado de portemetropolitano. Essas concepções aproximavam-se aos modelos de distritos industriaismarshalliano(séculoXIX)ebecattiano(décadade1970).

A região do Vale do Paraíba foi tratada pelo estudo “Caracterização e Avaliação dosConhecimentos Existentes sobre a Região do Vale do Paraíba e Diagnósticos Resultantes –CODIVAP 1971” elaborado pelo Consórcio de Desenvolvimento Integrado do Vale do Paraíba(CODIVAP). Os estudos buscaram criar condições de incentivar o planejamento e promover aintegraçãodaspolíticas locaisnumaescalaarticuladoraentreaestadualea federalereverteroquadroeconômicoesocialdoValedoParaíbadecorrentedoabandonodaeconomiaagrícolaqueocorreu no final do século XIX. O Circuito das Águas foi abordado pelo “Plano Regional deDesenvolvimento Turístico do Circuito das Águas-SP” (PLADETUR), promovido pelo governo doEstadodeSãoPauloem1972,e tevecomoobjetivo integrarumconjuntodemunicípiosqueseencontravamàmargemdaeconomiadeescalaepromovê-lospeloincentivodaatividadeturísticade forma integrada ao histórico das relações sociais existentes na região, sobretudo pelaexploraçãodosrecursosnaturais,dastradiçõesculturaisedascondiçõesgeográficasehistóricas.Eo trecho Rio-São Paulo foi objeto de estudos, em 1976, dentro da Política deDesenvolvimentoUrbanoeRegional(PDUR,1976)apartirdaqualogovernoestadualpropôso“ProgramaMacro-Eixo Rio-São Paulo - Cenários Alternativos de Desenvolvimento. Programação de InvestimentosPúblicos”(GOVERNODOESTADODESÃOPAULO;SECRETARIADEECONOMIAEPLANEJAMENTO,1977) como uma estratégia de desenvolvimento planejado da região com maior grau deurbanização do país, buscando organizá-lo a partir do disciplinamento do seu desenvolvimentoindustrial.

Essas três ações propostas caracterizaram-se por tratarem de regiões multipolarizadas, comdeficiências econômicas, estagnadas ou com potenciais produtivos não explorados. A partir dainstituiçãoouvalorizaçãodeumaatividadeprodutivamotrizpré-existente(industrial,deserviços,ou comercial) buscou-se irradiar o desenvolvimento regionalmente e se vincular a ummercado

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metropolitano. Dão continuidade aos esforços do governo do estado em proporcionar adescentralização e a desconcentração da Capital e se consolidaram como importantematriz doplanejamentoregional.EssasaçõesintegramoperíododosegundomandatodogovernadorLaudoNatel (1971-1975) que, na tentativa de promover condições adequadas para o deslocamentoindustrial para o Interior, criou programas como o de “Interiorização do Desenvolvimento”,reunindo o Programa Rodoviário de Interiorização do Desenvolvimento (PROINDE, na primeirametadedadécadade1970)juntoàPolíticadeDesenvolvimentoUrbanoeRegional(PDUR,1976).Integradas entre si, essas ações resultaram na expansão industrial para o Interior paulista ereposicionou o Vale do Paraíba e o Circuito das Águas no mapa da produção de escalametropolitana.

Como aporte administrativo para essas ações foram criados os Escritórios Regionais dePlanejamento (ERPLAN) e os Conselhos de Desenvolvimento Regional (CDR). Os ERPLAN´s,concebidosem1971dentrodasdiretrizesda“AçãoRegional”, tinhamporobjetivo identificarasparticularidades de cada região e se tornarem nas “unidades-fim no processo de planejamentoregionalizado” e deveriam estar localizados nas sedes administrativas de cada uma das regiões(GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO; SECRETARIA DE ECONOMIA E PLANEJAMENTO;COORDENAÇÃODEAÇÃOREGIONAL,1971,p.56-61).OERPLANtornou-seexpressãoinstitucionaldainteriorizaçãoadministrativaatravésda“regionalizaçãodasatividadessetoriais”edadefiniçãoda “necessidade, ao nível de cada região administrativa, de uma programação intersetorial”compatibilizadacomasdiretrizeseosobjetivosdetodooestado;bemcomoporseroarticuladorentre o planejamento regional do estado e as particularidades locais de cada município.Consolidouospolosurbanoscomocentrodedecisãoregionalefortaleceuarelaçãoemrededosistemaurbanopaulista.

AosERPLAN´s seguiramosCDR´s coma finalidadede integrarosdiferentes interesses setoriais;consolidararegionalizaçãoadministrativapelaintegraçãoentreasunidadesregionais;aprimoraro processo de planejamento subsidiando o governo com informações; e revisar os PlanosRegionaisdeDesenvolvimentoedeUsodoSolo(Decreto12.422de10/10/78).

O surgimentodosempecilhosdeordempolíticaeeconômicaexigiudogovernouma revisãonaformaadotadadedescentralizaçãodassuasações.Eassimseguiram,nadécadade1980,acriaçãode Escritórios de Governo, Regiões de Governo e de Escritório Regionais de Governo, além doColegiadodaAdministraçãoEstadual (CAE)edoColegiadodasAdministraçõesMunicipais (CAM)(Decreto 21.981 de 28/02/84, Decreto nº 22.970, de 29/11/1984, 22.971 de 29/11/1984). Emmeados da década de 1980, motivado pelas crises internacional e nacional e pelo sucessivoenfraquecimentopolíticodasinstituiçõesdemocráticasdeplanejamento,aescalaregionaltornou-se secundária frente a uma política estadual que se voltava à escala local. Esse foi um dosprenúncios de que a escala regional deixava de ser preponderante nas decisões administrativasindicandoumamudançadeparadigmas.

No conjunto de políticas integradas para o território paulista, aquela que mais ilustra essatransposição dos interesses regionais para os locais (e a permanência dos interesses setoriais,independentemente da escala de ação) é a Política de Desenvolvimento e DesconcentraçãoIndustrial(PDDI),de1982.AtravésdoDecretoLei6.803de02/07/80,ogovernodoestadopropôsum zoneamento industrial que estabelecia as diretrizes básicas para as áreas prejudicadas pelapoluição. Como maneira de minimizar os possíveis prejuízos das indústrias que poderiam serafetadas pelo referido decreto, o governo elaborou a PDDI como uma ação conjunta entre ogovernodoestadodeSãoPauloeosempresáriospaulistasparaproporcionarcondiçõessegurasparaaumentaros rendimentoscrescentesdessas indústrias faceàs restriçõesquese impunham

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aosetor(sobretudocomasrestriçõeslegais)eexigiamdelemaioresinvestimentos.APDDIpartiude um diagnóstico do estado e constatou a divisão do trabalho refletida no território numaclassificaçãoentreregiõesmaisemenosindustrializadase,portantomaisemenosdesenvolvidas.Oestudodiagnosticouumaregiãoaoleste,orientadapelaCapital,maisdinâmicaedesenvolvidacomaltacapacidadederetornospositivosàindústriaemcurtoemédioprazos;eoutraaooeste,estagnadaecombaixopadrãodedesenvolvimento,cujosretornosparaumanovainteriorizaçãoindustrialseriammuitolentos(GOVERNODOESTADODESÃOPAULO;SECRETARIADAINDÚSTRIA,COMÉRCIO,CIÊNCIAETECNOLOGIA,1982,p.72).

Como“estratégiadeação”daPDDI foi implantadaaPolíticadeDesenvolvimentoUrbano (PDU)elaborada pelo governo do estado nomesmo ano de 1982 que teve por principal objetivo darprosseguimento à desconcentração industrial. Na PDDI e PDU, a especialização funcional dealgumascidadesemcomparaçãoaoutrasreforçouahierarquizaçãoterritorialeconsolidouumadivisão territorial baseada na divisão social do trabalho. Ao selecionarem cidades commaior emenor potencial de desenvolvimento e atribuir-lhes atividades mais e menos qualificadas, asações do Estado promoveram, ou consolidaram, a divisão territorial do trabalho atribuindovantagensàsregiõesmaisdesenvolvidasedesvantagensàsmenosdesenvolvidas.Pois,oEstadooptou em atribuir maior privilégio às áreas mais bem equipadas e que poderiam proporcionarmais rapidamente o aumento dos rendimentos crescentes às indústrias interiorizadas. Emenosprivilégiosàsáreasmenosdesenvolvidasque,portantonãoseriamtãoeficientesemproporcionaroaumentodosrendimentoscrescentesàsindústriasqueparalásedirigissem.Dasescolhasfeitaspela PDDI, podemos concluir que no estado de São Paulo, a divisão territorial do trabalho foicaracterizadapelas “inter-relações” “sócio-econômicas”queocorreramentreas cidadeseo seupoloeentreessespoloseaCapital,levando-seemconsideraçãoohistóricodedesenvolvimentodecadaregião.Umdosresultadosdesseprocessofoiaqualificaçãodeumaporçãodoestadoeoconsequente subdesenvolvimento de outras regiões localizadas nos cones de fronteiras,caracterizadas peloVale doRibeira e pelo Pontal do Paranapanema, historicamente conhecidospor“RegiõesProblemas”(CIBPU,1968).

Os esforços políticos e administrativos para uma nova interiorização da atividade industrialapoiados numa consolidada rede urbana e no princípio da divisão territorial do trabalho foramexitosos.Ainteriorizaçãoocorreuelegouumpadrãodeurbanizaçãoespraiado,oudisperso(REIS,2006). A participação na produção industrial nacional da Região Metropolitana de São Paulopassou de 44% (1970) para 25% (1997) e a do emprego nas atividades industriais, no mesmoperíodo, de 34%para 24%. Comparando-se comos índices estaduais, o valor de transformaçãoindustrialdaRMSPcaiude75%para50%eadoempregode70%para55%(DINIZ,2000,p.34)comprovandoaimportânciadareceptividadedaatividadeindustrialpeloInterior.Dessaforma,asações do Estado que tinham como objetivo promover nova interiorização paulista da indústriaconcretizaram-seapartirdosanos1970eseusefeitosprovocaramainflexãodaconcentraçãodovalor da produção industrial confirmando ummovimento da atividade industrial da Capital SãoPauloparaoInterior,levandoconsigooespraiamentodaurbanização.

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Figura5–Experiênciasurbanísticasnaescalaregional(emvermelho,asáreasdeinteresseparaimplantaçãodenovascidades-polos;asmanchaslaranja,amarelaeazulsãoasunidadesterritoriaishomogêneas;easmanchasbrancas,asRegiõesProblemas,semaçõesplanejadoras)(décadasde1960e1970).Fonte:TAVARES,2015.

Figura6–Redeurbanapaulista(manchasbrancas,cidadesmédias;pontos,centrosregionais;destaqueemvermelho,regiãodefinidaparaodesenvolvimento,sendoaporçãoalestedestinadaàsindústriasmaisavançadas)(décadasde1960a1980).Fonte:TAVARES,2015.

5.AFORMAÇÃODAREGIÃODOSVETORESPRODUTIVOS

Entre os anos 1910 e 1980 o Estado empenhou-se em qualificar o território com ações queincidiram sobre uma região específica, aqui denominada Região dos Vetores Produtivos, com oobjetivode garantir condições adequadaspara a localizaçãoda atividade industrial. Essas açõesconcentraram-se sobreum territóriohistoricamentemaisdinâmico,urbanizado, comreservademão-de-obraecontinuamenteatendidoporinvestimentospúblicoseprivados.Apartirdosanos1980,osdadosapresentadospelosestudosderedeurbanaproporcionadospeloprópriogovernocomprovaram a predominância dessa região como a que possuía os melhores resultados depolarização e incidência de atividades produtivas antecipando os altos índices econômicosposteriormenteconsolidados.Contudo,oqueocorreufoiumdesenvolvimentocomcontradições,haja vista os efeitos positivos e negativos que emergiram no território, sobretudo no espaçourbano pelos conflitos de escala; pelos embates entre o desenvolvimento e o meio ambiente;pelosagravantessociaisedéficitsdeatendimentodosserviçospúblicosemáreasurbanas;epelaconstrução de um território de fronteira (Pontal do Paranapanema e Vale do Ribeira)subdesenvolvido. A análise sobre esses fenômenos urbanos e regionais possibilita-nosproblematizaraatualorganizaçãoterritorialpaulistapelainterpretaçãodasaçõesplanejadorasdoEstadoque,aoestruturaremoespaçopelospoloseeixos, transformama relaçãode trabalhoecaracterizaramseuprocessodeurbanização.

Analisando a trajetória das ações planejadoras no estado de São Paulo podemos constatar quehouveumagradativa integração,noespaço,entreasregionalizaçõeseaprovisãoinfraestruturalque proporcionou condições de os polos urbanos e os eixos rodoviários desempenharempapelestruturadornaorganizaçãoterritorialpaulista.

Entreasdécadasde1910e1930,apropostadetroncosradiaisrodoviárioseadefiniçãodassedesregionaisocorreramcomfinalidades,emmomentosecontextosdiferenciados,contudoépossívelidentificarumapreliminarsobreposiçãoentreopercursodosprincipaistroncosealocalizaçãodos

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principais centros urbanos.As concepçõesdepolos e rodovias, propostas entre os anos 1940 e1950, com a finalidade de promover a expansão da atividade industrial e equilibrarterritorialmente o desenvolvimento demonstram que a integração entre ambos poderiarepresentarumaalternativaàconcentraçãoqueseconsolidavanaCapitalSãoPauloearredores.Eembora rodovias e polos tenham sido concebidos a partir de demandas específicas, suasconcepções convergiram para trechos e pontos em comum por terem considerado aspectossemelhantes do processo de urbanização. Nos anos 1960, o polo urbano efetivou-se naregionalizaçãoadministrativaeoeixorodoviárioconsolidou-secomoprincipalmeiodeintegraçãodacadeiaprodutivafordista.Aescolhadasprincipaiscidadescomopolosurbanoseaconstruçãodas principais rodovias como eixos rodoviários ocorreram a partir das relações recíprocas entreambosecorresponderamaumaintegração,nasescalasurbanaeregional,desuasformulaçõeseaplicações. As ações planejadoras que se seguiram partiram da associação de ambos como umconjunto de terras equipadas e formularam propostas de unidades territoriais, novos polos(industriais e administrativo), qualificação de cidades-médias e de áreas prioritárias para aindustrializaçãoreconhecendoospolosurbanoseeixosrodoviárioscomoosprincipaiselementosda rede urbana paulista. Essas ações planejadoras incidiram sobre uma determinada porção doestado qualificando-a para as decisões locacionais da atividade industrial. A permanência dasações nessa porção constituiu um território propício ao desenvolvimento, a Região dosVetoresProdutivos.

A Região dos Vetores Produtivos, portanto é o território formado pela associação entre polosurbanoseeixosrodoviáriosqueexpressaosconflitosdeumprocessodeurbanizaçãobaseadonaindustrializaçãoe,portantocaracterizadopelodesenvolvimentoeconômicoepelascrisesurbanas.ElaéformadapordoisvetoresquepartemdeummesmovérticeconstituídopeloentroncamentoSão Paulo-Santos e apontam, um para o Rio de Janeiro e o outro para o Interior do estado. ÉestruturadapelospolosurbanosepeloseixosrodoviárioseestádelimitadaaolestepelooceanoAtlântico,aonoroestepelaáreadeinfluênciadarodoviaAnhangueraaosudoestepelasáreasdeinfluência das rodovias Castello Branco/Raposo Tavares e ao oeste por um arco formado pelosmunicípiosdeRibeirãoPreto,SãoJosédoRioPreto,AraçatubaePresidentePrudente(queestãono fim das principais rodovias estaduais: Anhanguera, Washington Luis, Marechal Rondon eRaposoTavares,respectivamente).EmseucentrocorreoRioTietêquedefineabaciahidrográficamaisimportantedoestadoenametáforadostermosdaGeografiaEconômicadrenaosprincipaisrecursosparaessa regiãoa fimdepromoverumdesenvolvimento comvistas àescalanacional.Compreende núcleos urbanos com características físicas e sociais diferentes (como as regiõesmetropolitanas do leste e as aglomerações urbanas do oeste), mas que têm em comum ummesmo processo de desenvolvimento orientado pela continuidade das ações planejadoras. Acaracterísticahistóricadessapermanência -por contínuas setedécadas (1910a1980) -ocorreupor três finalidades distintas: primeiramente, equilibrar o desenvolvimento no território; emsegundo lugar, resolver os problemas de alta concentração na metrópole paulista (Capital SãoPauloearredores)egarantiroaumentodosrendimentoscrescentesàatividadeindustrial.Assim,essasaçõesbuscaramconstruirumaregiãomaisamplaqueos limitesdametrópoleequefossedestinada a atender às necessidades da atividade industrial do estado e do país, portantosubmetida às políticas nacional e estadual de urbanização. É uma região cujo histórico deurbanizaçãoantecedeopredomíniodaatividade industrial,mas foiconsolidadapelosprivilégiosque atenderam às decisões locacionais e naturalizaram a industrialização como sinônimo dedesenvolvimento.

A Região dos Vetores Produtivos está em constante (trans)formação e sua origem pode serconstatadaapartirdeumaporçãodoestadoquehistoricamenteapresentoumaiordinâmicadedesmembramentos territoriais desde o século XVI (GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO;

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SECRETARIADEECONOMIAEPLANEJAMENTO;COORDENADORIADEPLANEJAMENTOREGIONAL;INSTITUTOGEOGRÁFICOECARTOGRÁFICO,1995).Poisnaporçãocompreendidaentreolitoraleos municípios de São José do Rio Preto-Bauru-Ourinhos concentrou-se a maior e mais antigaformaçãodemunicípiosdoestadoevidenciandoointensoprocessodeurbanizaçãodessaregião.OutroelementofundamentalnaformaçãodaRegiãodosVetoresProdutivosfoiaconstruçãodeinfraestruturadepequeno,médioegrandeportesdesdeo séculoXIX (BERNARDINI,2007;REIS,2010) que possibilitou a fixação e o fluxo de pessoas e proporcionou condições para o seudesenvolvimentosocial,culturaleeconômiconessaporçãomaisdinâmicadoestado.Eamigraçãoe a imigração, principalmente a partir do século XIX, que acompanharam a interiorização daprodução cafeeira (BASSANEZI; et al., 2008), deram a forma de uma urbanização pioneira dasfranjas paulistas (MONBEIG, 1984) e criaram uma reserva de mão-de-obra para atividadeindustrial. Esses, como outros atributos e condições colaboraram no processo da urbanizaçãodessa porção do estado que não esteve submetida exclusivamente aos fatores industriais oueconômicos,masdelesseapropriouparaseudesenvolvimento.OqueocorreuaolongodoséculoXX,entreasdécadasde1910e1980,foiaconcentraçãodeesforçosestataispormeiodeaçõesplanejadorasdoEstadoreforçandoumprocessoseculardedinamismodessaregião.Essasaçõesnãoformaramumanovaregião,masaconsolidarampormeiodeestratégiasqueexpressaramosprincipaisefeitosdeumperíododedesenvolvimentoindustrialnacionalepaulistaqueelegeuumterritório historicamente mais dinâmico para atribuir-lhe privilégios e dar continuidade à suahegemonia econômica. Haja vista a predominância nessa região dos principais centros urbanoscomoconcentradoresdedecisõesepontosdeconvergênciadosprincipaisinvestimentos.

Se analisarmos a dimensão temporal dessas transformações perceberemos a permanência dealgumasformasespaciaisquepossibilitavisualizaraconstruçãodaRegiãodosVetoresProdutivosem meio às transformações sociais. A resistência de caminhos e pontos de permanência queforam continuamente equipados pelas ações do Estado constituiu os polos e os eixos. Polos eeixos,objetosdeaçõesplanejadorasemdiferentesmomentos,concentraram importância,valorsimbólicoevalorfuncionaldentrodaatividadeindustrial,estacondicionanteehegemônicacomológica da organização territorial. Da malha ferroviária ao sistema rodoviário; da rede urbanaoitocentistaparaaredeurbanadoséculoXX,podemosperceberpermanênciasque,submetidasaajustes necessários de um modo de produção agrário-exportador para um modo de produçãoindustrial, constituíram uma região privilegiada. Nesse percurso, podemos identificar umapermanência histórica de escolhas localistas dessas ações que reforçam o papel do espaço naconstrução da ideia de desenvolvimento urbano e regional. Parece haver, nesses casos, uma“inércia” da construção territorial provocada pela rugosidade do processo que privilegia algunselementosespaciaistransformando-osemestruturasterritoriais.Arelaçãohistóricaentreomododeproduçãoea construçãodoespaçoevidenciaa relaçãodaspermanênciasdessasaçõesque,por suavez reforçamopapeldospolosedoseixos comoelementosestruturantesdo territóriopaulista.

De um lado, podemos compreender as ações planejadoras que proporcionaram essaspermanências como um fator social de apropriação e construção do espaço respondendo àsnecessidadescoletivaseculturais(LOJKINE,1981,p.132)porqueconsolidaramopadrãoderedeurbanapaulistaaopossibilitaremafixaçãoeofluxodepessoas,aconcentraçãodoexcedentedaprodução,apermanênciadospoderes(político,econômicoeadministrativo),odesenvolvimentocultural e social, eo fluxode capital, dematéria, deenergia ede informação.Deoutro, porémtemos que compreendê-las também como ações que corresponderam à ordem econômica(JARAMILLOGONZÁLEZ,2010,p.315). IdentificaressaduplacaraterísticaajudaacompreenderamorfologiadaRegiãodosVetoresProdutivoscomoumaestratégiaque,evitandoasdeseconomiasdeaglomeração,proporcionadiminuiçãodotempodeproduçãoedecirculaçãodoprodutopelo

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território.Sendoassim,nãoháumaformapredominante,circularoulinearparaaRegião,poisnãoháumaregrabásicaparaocorreressadiminuiçãodetempo.Podemosdizerqueaconcentração(de meios de produção, de mão-de-obra, de matéria-prima e de mercado consumidor) teveduranteodomínioda indústriaumpapelpredominantenaconstituiçãoda formadaRegiãodosVetores Produtivos. Dessa maneira, aparentemente a concentração comprovou-se hegemônicapor ser uma consequência damelhor apropriação do território pelos equipamentos com fins àurbanização. A dispersão, por sua vez tornou-se uma alternativa desse processo e parecefuncionar como um estágio frente às deseconomias de aglomeração industrial. Concentração edispersãoocorrem,porassimdizer,pelosmesmosobjetivosesealternamdandoascaracterísticasmorfológicasdaRegião.Podemosafirmarqueanecessidadedepotencializaraproduçãojustificaa ausência de uma forma predominante, pois ela se altera ao longo do tempo. Porém, suaestrutura permanece a mesma através dos polos e eixos que formam manchas irregulares deconcentraçãooudispersãoconformeasobreposiçãodasaçõesplanejadoras.

Esse território construído pelas contradições das várias políticas setorizadas aponta para umprojetoinacabadodemultipolarizaçãoterritorialcomomeiodeequilíbriododesenvolvimento.Aaplicação dos conceitos franceses que buscavam equilíbrio territorial do desenvolvimento pelainstituição de polos não se efetivou como tal, embora tenham proporcionado condiçõesadequadasparaasatividadeseconômicas.OspadrõesdeplaneajmentoregionalpraticadospelaGeografia Econômica não resultaram em espaços mais homogêneos. Pois, a interpretação eaplicaçãodessesconceitosganharamumaspectoparticularapartirdeumaorganizaçãoterritorialconsolidada pela lógica da atividade industrial: centralizada, hierarquizada e divididafuncionalmente. Os polos urbanos não equilibraram o desenvolvimento, mas concentraram ocrescimento. As rodovias, por sua vez, assumiram papel preponderante no direcionamento daurbanização, pois consolidaram vetores de propagação de novas frentes de crescimento edesenvolvimento. A partir da polarização da Capital, a infraestrutura rodoviária reforçou aeconomiadeescalaeaimportânciadaprópriaCapitaleseusarredoresinduzindoumacontroladainteriorizaçãodaatividade industrial.Dessamaneira, ambosestruturaramo territóriopaulistaeconsolidaramumpadrãodeurbanizaçãoquepredominounoséculoXXesetornouabaseparaareestruturaçãoprodutivaquesedesenvolveunasequência.

Emresumo,daanálisedaRegiãodosVetoresProdutivospodemosdizerqueelaseconstituiuporumprocessoseculardedesmembramentoterritorial,dequalificaçãodaterrapelainfraestrutura,edeadensamentopelamigraçãoeimigraçãonumacomplexaurbanizaçãoorientadanãosópelasrelações produtivas. Mas, foi pela lógica da atividade industrial que a Região dos VetoresProdutivos consolidou-se atravésdapermanênciadas açõesdo Estado, cujas decisões incidiramsobre essa porção historicamente mais urbanizada e a tornou a região mais equipada edesenvolvida, bem como a mais contraditória também. A Região dos Vetores Produtivos nãopredispõedeumatipologiamorfológicalinearoucircular,ouumdesenhoacabadoefechadoemsimesmo,masumaformaemconstantemudançaqueparecesemovimentaremdireçãoaosseusextremosevidenciandoaimportânciadoprocessodesuaformação.

A importância depensar a crítica e a prática doplanejamentopaulista pelaRegiãodosVetoresProdutivosresidenofatodereconheceradimensãodasrelaçõeshistóricasqueseestabeleceramterritorialmente entre a ação planejadora e o processo de urbanização representativo dodesenvolvimentonacional.

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Figura7–RegiãodosVetoresProdutivos:lugardapermanênciadasaçõesplanejadorasaolongodoséculoXX,noestadodeSãoPaulo,elocalprivilegiadoparaaatividadeindustrialeparaodesenvolvimentoFonte:TAVARES,2015.

CONCLUSÃO

Ao fazer uma aproximação do campo de conhecimento da geomorfologia ao campo deconhecimento do planejamento e da urbanização, Milton Santos propôs uma analogia com oconceito de rugosidade, destacando a particularidade da permanência das estruturas espaciaiscomo um dado que ao mesmo tempo carrega a memória dos modos de produção que oinfluenciaram e influencia as transformações futuras quando da alternância dos modos deproduçãoedetrabalho(SANTOS,2014,p.139-141;2004,p.171-176,259e260).Dialogandocomesse pensamento, reconstruímos a trajetória das ações planejadoras no estado de São Paulo apartirdasuasobreposiçãonotempoenoespaço.Apartirdareconstruçãodessanarrativapeloreconhecimentodasdiferentescamadasdeaçõesqueformamoterritório,foipossívelidentificartrêsaspectosrelevantesdoplanejamentoregionalnoestadodeSãoPaulo.Oprimeiroaspecto:asconcepções de regionalização e de provisão de infraestrutura, gradativamente promoveram aintegraçãonoespaçoentrerodoviaseregiõesadministrativasqueresultaramnaconstituiçãodospolosurbanosedoseixosrodoviárioscomoelementosestruturantesnaorganizaçãoterritorialdoestadodeSãoPaulo.Osegundoaspecto:poloseeixosestiveramsubmetidosaoprincipalobjetivodecriarcondiçõespropíciasàdecisãolocacionaldaatividadeindustrialporcompreendê-lacomosinônimo de desenvolvimento. Essa hegemonia do debate locacional naturalizou a lógica daatividade industrial na organização do território paulista e consolidou o projeto estadual dedesenvolvimento por dois principais movimentos: a interiorização administrativa e a recenteinteriorizaçãodasplantas industriaisqueocorreramnumaregiãohistoricamenteprivilegiadaporessasaçõesplanejadoras.Apermanêncianotempoenoespaçodessasaçõeséoterceiroaspectorelevantepornósdestacado.Acontinuidadedessasaçõesocorreaolongodesetedécadas,maisprecisamente a partir da década de 1910 com as primeiras iniciativas de integrar o mercadoconsumidor paulista e nacional pelas estradas e seus troncos radiais aos anos 1980, quando asaçõesplanejadoras iniciamuma inflexãoparaoâmbito local.Eapermanêncianoespaçoocorrepela concentração dessas ações numa porção do território paulista historicamente maisurbanizada, assistida por infraestrutura e com reserva de mão-de-obra. As ações concentradasnessa região (a Região dos Vetores Produtivos), ao privilegiarem essa porção com recursosmateriais e imateriais, consolidaram-na como a região mais equipada, caracterizando aurbanização paulista. Dessa forma, podemos afirmar que o planejamento regional, ao longo doséculo XX no estado de São Paulo esteve atrelado aos interesses setoriais influenciando odesenvolvimento urbano, tendo sido um dos principais responsáveis pela consolidação doprocessodeurbanizaçãodispersaquehojeseevidencianoterritóriopaulista.

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