18
Palavras-Chave: agente representativo; tempo de viagem; cesta padrão de bens; escolha racional; competição intermodal. Key words: representative agent; travel time; standard basket of goods; rational choice; intermodal competition. Recommended Citation Abstract In this paper it was elaborated a set of models to explain the rational choice between traveling by bus or airplane. It was used a basic model of microeconomics so the economic agent will choose the mode of transport that maximize his utility function. Moreover, it was estimated the relation between minimum income earned by the agent to travel by airplane and the distance to be traveled. It was found that there is an inverse relationship, as the distance to be traveled is increased the value of the minimum income is decreased. This phenomenon arises from the inverse relationship between relative prices and distance to be covered. Assuming the minimum income to travel by plane as a restriction on individuals, it was deduced that a greater distance increases the potential number of people using airplane, as well the minimum income to use this mode of transport decreases with greater distance. Rosalino, J. (2012) Ônibus versus avião: determinantes da escolha entre modo de transporte. Journal of Transport Literature, vol. 6, n. 2, pp. 87-104. This paper is downloadable at www.transport-literature.org/open-access. JTL|RELIT is a fully electronic, peer-reviewed, open access, international journal focused on emerging transport markets and published by BPTS - Brazilian Transport Planning Society. Website www.transport-literature.org. ISSN 2238-1031. * Corresponding Author. Email: [email protected]. Research Directory Journal of Transport Literature Submitted 9 Jun 2011; received in revised form 14 Oct 2011; accepted 26 Jan 2012 Vol. 6, n. 2, pp. 87-104, Apr 2012 Ônibus versus avião: determinantes da escolha entre modo de transporte [Coaches versus planes: determinants of choice between transportation modes] Universidade de São Paulo (USP), Brazil Jackson Rosalino* Resumo Neste artigo, desenvolveu-se um conjunto de modelos que explicam a escolha racional entre viajar de ônibus ou de avião. Para realizar tais objetivos, utilizou-se um modelo básico de microeconomia, no qual o agente representativo ao tentar maximizar sua função utilidade deverá escolher um módulo de transporte para realizar a viagem que permite obter este resultado. Fez-se também a associação entre renda mínima para se viajar de avião e a distância a ser percorrida. Concluí-se que há uma relação negativa, isto é, conforme a distância a ser percorrida aumenta, o valor da renda mínima para se viajar de avião decresce. Tal fenômeno decorre, basicamente, da relação negativa entre preços relativos (valor da passagem aérea (R$/KM) sobre o da passagem rodoviária) em função da distância a ser percorrida. Isto é, conforme a distância da viagem aumenta, menor é o preço relativo acima definido. Entendendo renda mínima para se viajar de avião como uma restrição aos indivíduos, entende-se porque quanto maior a distância, maior é o número potencial de passageiros a utilizar avião: a renda mínima para usar este modo de transporte decresce em função da distância. B T P S B T P S B T P S B T P S Brazilian Transportation Planning Society www.transport-literature.org JTL|RELIT JTL|RELIT JTL|RELIT JTL|RELIT ISSN 2238-1031

Onibus Versus Aviao

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Artigo muito informativo

Citation preview

  • Palavras-Chave: agente representativo; tempo de viagem; cesta padro de bens; escolha racional; competio intermodal.

    Key words: representative agent; travel time; standard basket of goods; rational choice; intermodal competition.

    Recommended Citation

    Abstract

    In this paper it was elaborated a set of models to explain the rational choice between traveling by bus or airplane. It was useda basic model of microeconomics so the economic agent will choose the mode of transport that maximize his utility function.Moreover, it was estimated the relation between minimum income earned by the agent to travel by airplane and the distance tobe traveled. It was found that there is an inverse relationship, as the distance to be traveled is increased the value of theminimum income is decreased. This phenomenon arises from the inverse relationship between relative prices and distance to becovered. Assuming the minimum income to travel by plane as a restriction on individuals, it was deduced that a greater distanceincreases the potential number of people using airplane, as well the minimum income to use this mode of transport decreaseswith greater distance.

    Rosalino, J. (2012) nibus versus avio: determinantes da escolha entre modo de transporte. Journal of Transport Literature, vol.6, n. 2, pp. 87-104.

    This paper is downloadable at www.transport-literature.org/open-access.

    JTL|RELIT is a fully electronic, peer-reviewed, open access, international journal focused on emerging transport markets and

    published by BPTS - Brazilian Transport Planning Society. Website www.transport-literature.org. ISSN 2238-1031.

    * Corresponding Author. Email: [email protected].

    Research Directory

    Journal of Transport Literature

    Submitted 9 Jun 2011; received in revised form 14 Oct 2011; accepted 26 Jan 2012

    Vol. 6, n. 2, pp. 87-104, Apr 2012

    nibus versus avio: determinantes da escolha entre modo de transporte

    [Coaches versus planes: determinants of choice between transportation modes]

    Universidade de So Paulo (USP), Brazil

    Jackson Rosalino*

    Resumo

    Neste artigo, desenvolveu-se um conjunto de modelos que explicam a escolha racional entre viajar de nibus ou de avio. Pararealizar tais objetivos, utilizou-se um modelo bsico de microeconomia, no qual o agente representativo ao tentar maximizar suafuno utilidade dever escolher um mdulo de transporte para realizar a viagem que permite obter este resultado. Fez-setambm a associao entre renda mnima para se viajar de avio e a distncia a ser percorrida. Conclu-se que h uma relaonegativa, isto , conforme a distncia a ser percorrida aumenta, o valor da renda mnima para se viajar de avio decresce. Talfenmeno decorre, basicamente, da relao negativa entre preos relativos (valor da passagem area (R$/KM) sobre o dapassagem rodoviria) em funo da distncia a ser percorrida. Isto , conforme a distncia da viagem aumenta, menor o preorelativo acima definido. Entendendo renda mnima para se viajar de avio como uma restrio aos indivduos, entende-seporque quanto maior a distncia, maior o nmero potencial de passageiros a utilizar avio: a renda mnima para usar estemodo de transporte decresce em funo da distncia.

    B T P SB T P SB T P SB T P S

    Brazilian Transportation Planning Society

    www.transport-literature.org

    JTL|RELITJTL|RELITJTL|RELITJTL|RELIT

    ISSN 2238-1031

  • 1

    1. Introduo

    Recentemente, tem-se observado um aumento expressivo no nmero de passageiros que

    utilizam avio como mdulo de transporte. De acordo com dados do Departamento

    Aerovirio do Estado de So Paulo, a quantidade de passageiros passou de 1,3 milho para

    1,7 milho de 2009 a 2010, o que representa um aumento em torno de 30%1. Muitos fatores

    poderiam estar influenciando este resultado, por exemplo, aumento da renda como um todo,

    maior concorrncia entre empresas areas, maior valorao do tempo. Assim, para ilustrar a

    intuio do modelo elaborado e da importncia do tema, seguem alguns autores que

    realizaram estudos semelhantes ou relacionados ao objetivo deste trabalho.

    Batti e Faria (2011) realizam uma anlise, com base nos custos diretos de cada mdulo, sobre

    as vantagens do transporte areo sobre o rodovirio para o transporte de cargas. Os autores

    apontam algumas caractersticas do transporte rodovirio que podem influenciar nesta

    deciso: nmero expressivo de pedgios nas estradas; incerteza quanto s condies de

    segurana (roubo, por exemplo); condies das rodovias; idade mdia da frota de veculos de

    cargas. Com base nos custos fixos e custos variveis, concluram que a modalidade rodoviria

    mais eficiente nas rotas de pequena distncia, ao passo que nos mdios e longos percursos, a

    modalidade area a mais adequada. A vantagem daquela residiria na sua grande

    flexibilidade e na fcil integrao com os demais transportes. A vantagem da modalidade

    area estaria, por sua vez, na sua velocidade, segurana, comodidade e adequao para

    transportar itens de alto valor agregado e produtos perecveis.

    Brito e Strambi (2007) estimam o valor subjetivo do tempo de viagem de motoristas em

    deslocamentos rodovirios, bem como analisam de que forma esse valor modifica-se em

    funo das caractersticas do motorista e da viagem. De acordo com os autores, as variveis

    mais relevantes foram: renda do motorista, pagamento de pedgio, motivo ou durao da

    viagem e sexo do motorista. A importncia deste estudo reside no fato de que ele capta a idia

    do custo de oportunidade do tempo gasto na viagem.

    1 Dados obtidos no jornal o Estado de So Paulo, em 06 de fevereiro de 2011. Paulistas trocam carro por avio e vos regionais crescem 41% no Estado

    JTL-RELIT Journal of Transport Literature vol. 6, n. 2 (2012)

    88

  • 2

    Gomes e Marujo (2007), baseados em informaes sobre custos de diversas categorias,

    desenvolvem um modelo que explica a escolha do mdulo de transporte mais adequado para

    realizar uma determinada viagem entre cidades. Os custos analisados foram: custo de

    infraestrutura; custos incorridos na aquisio e manuteno de veculos; custo de operao;

    externalidades (acidentes, congestionamento, barulho e poluio) e custo de oportunidade do

    tempo. Conclui-se que as vantagens do nibus so muito evidentes quando se trata de

    pequenas distncias a serem percorridas. Os fatores explicativos envolveriam capilaridade das

    rodovias que possibilitariam grande cobertura geogrfica do sistema de transporte como um

    todo. A desvantagem, no entanto, surge do custo de oportunidade do tempo gasto em viagens

    de grande distncia, bem como de outros problemas, tais como: topografia da regio,

    temperaturas extremas (muito frio ou muito calor) e questes envolvendo segurana (roubo ou

    situao da rodovia, por exemplo). Os autores observam que o crescimento da renda e a queda

    nas tarifas areas poderiam conduzir a uma alterao na matriz de transporte no Brasil, bem

    como em mudanas nas preferncias do consumidor. Todas estas modificaes poderiam

    exigir polticas pblicas em sintonia com as mesmas, conforme os autores.

    O objetivo deste artigo contribuir com essa discusso, apresentando um conjunto de

    modelos que explicam a escolha tima do mdulo de transporte para realizar uma dada

    viagem. Ademais, relacionou-se renda mnima para se viajar de avio em funo da distncia

    a ser percorrida. Trata-se de uma abordagem muito simples, mas que elucida alguns dos

    fatores por trs da seleo do modo de transporte mais adequado.2

    Na seo 2, apresentam-se o modelo e as hipteses bsicas. Na seo 3, associa-se a renda

    mnima para se viajar de avio em funo da distncia, mantendo as hipteses iniciais. Na

    seo 4, relaxam-se as hipteses referentes ao tempo gasto na rodoviria e no aeroporto e se

    obtm uma nova curva de renda. Por fim, mantendo as hipteses do modelo anterior e

    estimando preos de passagem (area e rodoviria, e em R$/KM) em funo da distncia a ser

    percorrida, obtm-se uma nova curva de renda mnima para viajar de avio em funo da

    distncia. Na ltima seo, apresentam-se as concluses e as implicaes do modelo.

    2 A motivao do tema escolhido para este trabalho deve-se ao artigo de Brando e Abreu (2003).

    JTL-RELIT Journal of Transport Literature vol. 6, n. 2 (2012)

    89

  • 3

    2. Modelo Geral e Hipteses Bsicas

    A questo envolve a deciso de um indivduo em percorrer uma determinada distncia,

    devendo optar por um dos seguintes mdulos de transporte: nibus ou avio.

    Antes de iniciar a apresentao do modelo, deve-se descrever o que a funo utilidade. De

    acordo com Varian (2006): A funo de utilidade um modo de atribuir um nmero a cada

    possvel cesta de consumo, de modo que se atribuam s cestas mais preferidas nmeros

    maiores que os atribudos s menos preferidas. Isto , a cesta 1 2( , )x x ser preferida 1 2( , )y y

    se e somente a utilidade de 1 2( , )x x for maior que a utilidade de 1 2( , )y y .

    Este ser o princpio da abordagem do modelo desenvolvido: o agente representativo dever

    escolher viajar de nibus ou de avio e esta deciso afetar o consumo de sua cesta de bens,

    no caso uma cesta de produtos e consumo de lazer.

    As hipteses bsicas do modelo so:

    a) Existem apenas dois modos de transporte: nibus e avio;

    b) O transporte de avio oferecido a partir de uma viagem de no mnimo 200

    quilmetros;

    c) O transporte de nibus oferecido para uma viagem de no mximo 3.000 quilmetros;

    d) Tanto nibus quanto avio possuem caractersticas idnticas (mesmas acomodaes).

    A nica diferena que o avio mais rpido do que o nibus;

    e) Os indivduos no escolhem a distncia percorrida. Ela dada, ou seja, os passageiros

    precisam percorrer uma distncia d e devem optar por nibus ou avio;

    f) Viajar de avio ou nibus traz desutilidade devido ao tempo gasto na viagem e ao seu

    respectivo desconforto (perda de lazer);

    g) Todos os indivduos possuem as mesmas preferncias.

    O problema do agente representativo maximizar a sua funo utilidade dada uma restrio

    oramentria. A funo de utilidade dada por:

    JTL-RELIT Journal of Transport Literature vol. 6, n. 2 (2012)

    90

  • 4

    =

    Onde:

    i = A (se ele viaja de avio) ou O (se ele viaja de nibus)

    =

    =

    =

    = +

    =

    =

    = = !" = $"

    A seguir, define-se a restrio oramentria do indivduo como:

    % = &' + &

    % =

    &) =

    & = ,""

    A ideia geral que o avio apresenta preo de viagem (R$/KM) superior ao do nibus. Logo,

    quando um consumidor usa avio, sobra menos renda para consumir outros bens (no caso, a

    cesta padro de bens). Por outro lado, ele apresenta menor desutilidade em relao ao tempo

    gasto na viagem (avio muito mais rpido e a perda de lazer menor). As variveis

    exgenas do modelo so:

    %,, &) , &/, &0 , , /, 0, /, 0

    JTL-RELIT Journal of Transport Literature vol. 6, n. 2 (2012)

    91

  • 5

    Isolando quantidade consumida da cesta padro de bens:

    Avio:

    / = % &/&'

    nibus:

    0 = % &0&'

    Indivduo viaja de avio se:

    / > 0

    3% &/&' 4 3/ + /4 > 3

    % &0&' 4 3

    0 + 04

    Na prxima etapa deste artigo sero desenvolvidos trs modelos, a fim de associar renda

    mnima para se viajar de avio em funo da distncia a ser percorrida.

    3. Primeiro Modelo

    O primeiro modelo apresenta as seguintes hipteses adicionais:

    i) O tempo gasto na rodoviria ou no aeroporto zero;

    ii) Os preos das passagens no variam em funo da distncia, isto , eles so fixos.

    Abaixo seguem os valores das variveis exgenas:

    &) = 5$510,00 "

    &/ = 5$0,59

    &0 = 5$0,18

    = 0,0045

    JTL-RELIT Journal of Transport Literature vol. 6, n. 2 (2012)

    92

  • 6

    / = 800=/

    0 = 65=/

    / = 0 = 0

    Os preos das passagens de avio e nibus foram obtidos atravs de regresso economtrica,

    conforme ser explicitado mais adiante.

    Para obter a renda mnima, deve-se igualar as utilidades de se viajar de nibus e avio e, a

    partir disto, extrair a renda que iguala as duas funes dados os valores de todas as variveis,

    controlando a distncia.

    3% &/&' 4 3/ + /4 = 3

    % &0&' 4 3

    0 + 04

    ln % &/" 3 / + /4 = ln % &0" 30 + 04

    3% &/% &04 = 3/ + /

    0 04

    %CD = &/ &0E

    1 E

    Onde:

    F = 3/ + / 0 04

    %CD = G""

    Lembrando que neste modelo:

    / = 0 = 0

    Plotar-se- o grfico de renda mnima em funo da distncia (grfico 1):3

    3 A funo no linear, embora parea visualmente.

    JTL-RELIT Journal of Transport Literature vol. 6, n. 2 (2012)

    93

  • 7

    A correlao positiva decorre do seguinte fato: a preos fixos, conforme a distncia aumenta,

    a viagem torna-se cada vez mais cara e, portanto, mais o indivduo tem de abrir mo de

    consumir outros bens. Resultado: viajar de nibus pode apresentar uma grande vantagem

    quando se trata de uma longa viagem, visto que a economia de recursos muito relevante e

    isto se reflete numa maior cesta de bens. Apenas indivduos de renda mais elevada viajariam

    de avio medida que a distncia da viagem aumenta, uma vez que para eles a queda na renda

    destinada ao consumo da cesta irrisria e o ganho de utilidade resultante na economia de

    tempo supera aqueles relacionados queda no consumo da cesta padro (insignificante). Este

    fenmeno est relacionado com a utilidade marginal da cesta de bens: indivduos

    extremamente ricos apresentam utilidade marginal da cesta prxima a zero, logo, ganhar ou

    perder uma unidade em nada faz diferena, o que compensa quando viajam de avio.

    Dadas as hipteses acima, deseja-se saber o que acontece com a curva de renda mnima

    quando se aumenta o fator de penalidade aplicado sobre a durao do tempo da viagem.

    6200

    6400

    6600

    6800

    7000

    7200

    7400

    7600

    0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500

    Re

    nd

    a M

    nim

    a (

    rea

    is)

    Distncia a ser percorrida

    Grfico 1

    JTL-RELIT Journal of Transport Literature vol. 6, n. 2 (2012)

    94

  • 8

    Neste caso, a curva de renda mnima desloca-se para baixo (grfico 2). Portanto, a economia

    de tempo torna-se mais importante.

    Da mesma forma, tambm se quer saber o que acontece com a curva de renda mnima quando

    h um aumento no preo da passagem de avio.

    5000

    5500

    6000

    6500

    7000

    7500

    8000

    0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500

    Re

    nd

    a M

    nim

    a (

    rea

    is)

    Distncia a ser percorrida

    Grfico 2

    Renda Antiga Nova Renda

    JTL-RELIT Journal of Transport Literature vol. 6, n. 2 (2012)

    95

  • 9

    Aqui a curva de renda mnima (grfico 3) desloca-se para cima, restringindo o nmero de

    passageiros que vo utilizar avio como modo de transporte para todas as distncias (renda

    mnima aumenta para toda distncia).

    4. Segundo Modelo

    O modelo 2, por sua vez, apresenta as seguintes hipteses adicionais:

    i) O tempo gasto na rodoviria ou no aeroporto diferente de zero. Mais especificamente:

    / = 1,0

    0 = 0,5 30"

    ii) Os preos das passagens no variam em funo da distncia, isto , eles so fixos.

    Novamente, plotar-se- o grfico de renda mnima (grfico 4):

    5000

    5500

    6000

    6500

    7000

    7500

    8000

    8500

    0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500

    Ren

    da

    Mn

    ima

    (re

    ais

    )

    Distncia a ser percorrida

    Grfico 3

    Renda Antiga Nova Renda

    JTL-RELIT Journal of Transport Literature vol. 6, n. 2 (2012)

    96

  • 10

    Deseja-se saber a razo pela qual a nova curva de renda mnima exibe este formato.

    Inicialmente, o tempo superior de perda no aeroporto impe um novo custo sobre viajar de

    avio. Conforme a distncia a ser percorrida aumenta, o tempo perdido no aeroporto

    compensado pelo menor tempo gasto na viagem e ir de avio torna-se vantajoso (renda

    mnima comea a cair). Num dado ponto, devido aos preos fixos, a viagem comea a ficar

    muito cara, restringindo o nmero de indivduos que suportam a queda na cesta de bens

    (classe econmica mais favorecida) e, portanto, a renda mnima comea a crescer.

    5. Modelo Final

    Finalmente, o modelo 3 apresenta as seguintes hipteses adicionais:

    i) O tempo gasto na rodoviria ou no aeroporto se mantm diferente de zero. Mais

    especificamente:

    / = 1,0

    0 = 0,5 30"

    ii) Os preos das passagens variam em funo da distncia, isto , eles no so fixos.

    6400

    6600

    6800

    7000

    7200

    7400

    7600

    7800

    8000

    0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500

    Re

    nd

    a M

    nim

    a (

    rea

    is)

    Distncia a ser percorrida

    Grfico 4

    Renda Antiga Nova Renda

    JTL-RELIT Journal of Transport Literature vol. 6, n. 2 (2012)

    97

  • 11

    Para realizar este experimento, foram coletados do website das empresas alguns dados sobre

    preos de viagens utilizando os dois mdulos de transporte. A data de coleta foi em 20 de

    maio de 2010 e a data da viagem refere-se ao dia 31 de maio do mesmo ano. A amostra

    escolhida envolve dados para diferentes distncias a fim de permitir a realizao da estimao

    economtrica. Os preos da passagem area referem-se ao valor mnimo observado para

    determinado destino, ao passo que o preo da passagem rodoviria representa o valor

    referente ao modelo de nibus convencional. Todos os preos referem-se apenas a uma

    viagem de ida (compra por antecedncia). A seguir, a tabela referente a avio e nibus:

    Origem Destino Preo Distncia R$/Km

    So Paulo Ribeiro Preto 152.00 330.00 0.46

    So Paulo RJ 282.00 429.00 0.66

    So Paulo Marlia 251.00 438.00 0.57

    So Paulo Juiz de Fora 251.00 495.00 0.51

    So Paulo Uberaba 479.50 496.00 0.97

    So Paulo Joinvile 256.00 520.00 0.49

    So Paulo Londrina 268.00 532.00 0.50

    So Paulo Presidente Prudente 194.00 558.00 0.35

    So Paulo Belo Horizonte 275.00 586.00 0.47

    So Paulo Uberlndia 301.00 605.00 0.50

    So Paulo Maring 530.00 628.00 0.84

    So Paulo Florianopolis 279.00 705.00 0.40

    So Paulo Vitria 296.00 957.00 0.31

    So Paulo Foz do Iguau 312.00 1,028.00 0.30

    So Paulo Braslia 321.00 1,029.00 0.31

    So Paulo Porto Alegre 344.00 1,119.00 0.31

    So Paulo Pelotas 627.00 1,372.00 0.46

    So Paulo Rondonopolis 782.00 1,417.00 0.55

    So Paulo Uruguaiana 1,113.00 1,534.00 0.73

    So Paulo Palmas 436.00 1,797.00 0.24

    So Paulo Salvador 395.00 1,979.00 0.20

    So Paulo Sinop 1,019.00 2,135.00 0.48

    So Paulo Tucuru 747.00 2,656.00 0.28

    So Paulo Recife 494.00 2,672.00 0.18

    So Paulo Teresina 505.00 2,806.00 0.18

    So Paulo Belm 494.00 2,971.00 0.17

    Fonte: TAM e GOL

    Tabela 1 - Avio

    JTL-RELIT Journal of Transport Literature vol. 6, n. 2 (2012)

    98

  • 12

    A seguir, estimou-se um modelo de regresso linear para cada mdulo de transporte: preo

    (R$/Km) em funo da distncia. Deseja-se apenas saber como o preo (R$/KM) se altera

    em funo da distncia.

    Seguem abaixo os resultados das regresses:4

    &0 = 0,188 2,319J10KL

    &/ = 0,615 1,444J10KM

    A seguir, colou-se a regresso na equao abaixo:

    %CD = &/ &0E

    1 E

    4 Nos modelos 1 e 2, calculou-se os preos de avio e nibus fixando d = 200 quilmetros.

    Origem Destino Preo Distncia R$/Km

    So Paulo Sorocaba 21,00 95,00 0,22

    So Paulo Campinas 21,00 96,00 0,22

    So Paulo Araraquara 51,61 288,00 0,18

    So Paulo Parati 43,86 298,00 0,15

    So Paulo Bauru 63,04 326,00 0,19

    So Paulo RJ 75,00 429,00 0,17

    So Paulo Marlia 80,49 438,00 0,18

    So Paulo Araatuba 90,00 524,00 0,17

    So Paulo Belo Horizonte 97,00 586,00 0,17

    So Paulo Vitria 133,00 957,00 0,14

    So Paulo Porto Alegre 155,00 1.119,00 0,14

    So Paulo Caruaru 304,50 2.530,00 0,12

    So Paulo Juazeiro Do Norte 322,00 2.642,00 0,12

    So Paulo Recife 317,50 2.672,00 0,12

    So Paulo Campina Grande 360,00 2.684,00 0,13

    So Paulo Joo Pessoa 365,50 2.788,00 0,13

    So Paulo Belm 397,00 2.971,00 0,13

    So Paulo So Luiz 349,00 2.992,00 0,12

    So Paulo Fortaleza 347,00 3.094,00 0,11

    So Paulo Parnaba 399,00 3.143,00 0,13

    So Paulo Teresina 361,00 2.806,00 0,13

    Fonte: Viao Itapemirim, Cometa e Reunidas

    Tabela 2 - nibus

    JTL-RELIT Journal of Transport Literature vol. 6, n. 2 (2012)

    99

  • 13

    Onde:

    F = 3/ + / 0 04

    Desta forma, obtm-se o novo grfico de renda mnima para se viajar de avio em funo da

    distncia (grfico 5):

    Comparando com os grficos dos modelos anteriores (grfico 6):

    0

    1000

    2000

    3000

    4000

    5000

    6000

    7000

    8000

    9000

    0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500

    Re

    nd

    a M

    nim

    a (r

    ea

    is)

    Distncia a ser percorrida

    Grfico 5

    JTL-RELIT Journal of Transport Literature vol. 6, n. 2 (2012)

    100

  • 14

    Deseja-se saber o motivo pelo qual a nova curva negativamente inclinada. Para responder a

    isto, utilizar-se- o auxlio de um grfico (grfico 7) e duas tabelas (tabelas 3 e 4). Suponha

    que um indivduo ganhe R$ 3.000 e necessite percorrer 2.500 quilmetros. De acordo com os

    modelos 1 e 2, ele utilizar nibus; no entanto, pelo modelo 3, o indivduo ir de avio.

    Inicialmente, deve-se observar que o preo relativo (avio/nibus) cai conforme a distncia

    aumenta.

    0

    1000

    2000

    3000

    4000

    5000

    6000

    7000

    8000

    9000

    0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500

    Ren

    da

    Mn

    ima

    (re

    ais

    )

    Distncia a ser percorrida

    Grfico 6

    Modelo 1 Modelo 2 Modelo 3

    JTL-RELIT Journal of Transport Literature vol. 6, n. 2 (2012)

    101

  • 15

    Na primeira tabela (preos fixos), a economia de recursos ao se tomar um nibus muito

    relevante (R$ 1.008), o que se reflete num aumento considervel da cesta de bens que acaba

    superando a desutilidade do passageiro realizar uma viagem desgastante de 38 horas. Na

    segunda tabela (preos variveis), a economia de apenas R$ 311, o que acaba no

    compensando as mesmas 38 horas.5 Logo, medida que a distncia da viagem aumenta, o

    preo relativo da passagem avio/nibus cai, deixando acessvel a viagem de avio a um

    maior nmero de indivduos (renda mnima cai). Isto s possvel porque a economia de

    dinheiro ao se viajar de nibus cai muito quando os preos so variveis, o que no compensa

    a desutilidade do enorme tempo despendido na viagem. Para viagens de pequena distncia,

    5 Os preos de transporte (avio e nibus) possuem vrias casas decimais. Por isso, o resultado da multiplicao do preo pela distncia na tabela no igual ao valor total da viagem indicado.

    0,000

    0,500

    1,000

    1,500

    2,000

    2,500

    3,000

    3,500

    0,000

    0,100

    0,200

    0,300

    0,400

    0,500

    0,600

    0,700

    200 500 800 1100 1400 1700 2000 2300 2600 2900

    Pre

    o r

    ela

    tivo

    (P

    reo

    da

    Pas

    sage

    m A

    re

    a/P

    reo

    da

    Pas

    sage

    m R

    od

    ovi

    ria

    )

    Pre

    o d

    a P

    assa

    gem

    Ab

    solu

    to (

    R$

    /KM

    ) (A

    vio

    ou

    n

    ibu

    s)

    Distncia

    Grfico 7

    Preo nibus Preo avio PA/PO

    Tabela 3 - Preos de viagem fixos

    Distncia RendaPreo do

    nibusValor da viagem

    nibusPreo do

    avioValor da viagem

    avioEconomia de

    recursosTempo da viagem

    horas (nibus)

    2.500 3.000 0,18 459 0,59 1.467 1.008 38

    Tabela 4 -Preos de viagem variveis conforme a distncia

    Distncia RendaPreo do

    nibusValor da viagem

    nibusPreo do

    avioValor da viagem

    avioEconomia de

    recursosTempo da viagem

    horas (nibus)

    2.500 3.000 0,13 326 0,25 637 311 38

    JTL-RELIT Journal of Transport Literature vol. 6, n. 2 (2012)

    102

  • 16

    somente indivduos de renda elevada podem se beneficiar do avio, visto que para eles a

    queda na renda irrisria, afetando muito pouco a sua desutilidade referente diminuio do

    consumo da cesta padro. Da o formato da nova curva de renda mnima.

    Concluso

    Elaborou-se neste artigo um conjunto de modelos que explicam a escolha do mdulo de

    transporte para se realizar uma dada viagem. Observa-se que existe um trade-off entre tempo

    gasto numa viagem e consumo de uma determinada cesta padro de bens: viajar de avio

    permite maior economia de tempo (o que implica um menor nvel de desutilidade com relao

    ao tempo gasto na viagem); porm, isto ocorre custa da cesta padro de bens a ser

    consumida. Verificou-se que a relao entre renda mnima para se viajar de avio e distncia a

    ser percorrida positiva quando os preos das passagens (reais por quilmetro) dos modos de

    transporte so fixos e o tempo gasto na rodoviria ou no aeroporto zero. Quando se relaxa a

    segunda hiptese, ou seja, o tempo gasto no aeroporto e na rodoviria passa a ser diferente de

    zero, observa-se que a relao entre renda mnima e distncia apresenta formato em U. Por

    fim, considerando a hiptese anterior e incluindo preos variveis (R$/KM), detecta-se uma

    relao negativa entre renda mnima e distncia. Ressalta-se que o ltimo modelo o mais

    complexo e o que se aproxima mais da realidade. Este resultado explica porque quanto maior

    a distncia, maior o nmero potencial de indivduos que utilizariam o avio: a renda

    mnima decresce com o aumento da distncia e, deste modo, o seu poder de restrio diminui.

    A partir dos dados que introduzem o presente trabalho, pode-se perguntar: que fatores tratados

    no modelo poderiam explicar o fenmeno do aumento de passageiros utilizando avio? O

    primeiro fator o preo da passagem de avio. Imaginando que h uma queda geral no preo

    da passagem area, sabe-se que a curva de renda mnima para se viajar de avio desloca-se

    para baixo e ocorre um aumento no nmero potencial de passageiros que utilizam este mdulo

    de transporte, corroborando a notcia de jornal. Cabe frisar que o valor de todas as outras

    variveis exgenas se mantm, o que implica dizer que preo relativo da passagem

    avio/nibus tambm cai para qualquer distncia a ser percorrida.

    O segundo fator o aumento do nvel de renda. Dada uma determinada distncia (500 km, por

    exemplo), sabe-se que existe um nvel de renda mnima para se viajar de avio. Deste modo,

    ao pensar que entre dois perodos de tempo todos os valores das variveis exgenas se

    JTL-RELIT Journal of Transport Literature vol. 6, n. 2 (2012)

    103

  • 17

    mantm e que ocorre um aumento geral do nvel de renda da populao, ento haver uma

    elevao do nmero de passageiros que percorrem a distncia de 500 km utilizando avio.

    O terceiro e ltimo fator algo mais abstrato. Na presente sociedade sabe-se que os

    indivduos passam a valorizar mais o tempo, o que significa que as horas de lazer tambm tm

    sido valorizadas cada vez mais.6 Este raciocnio quer dizer que o fator de penalidade aplicado

    sobre perda de tempo em viagens aumentou. Por conseguinte, a curva de renda mnina

    desloca-se para baixo e o raciocnio anlogo ao de uma queda no preo do avio.

    Referncias

    Batti, D. A. B. e Faria, C. A. (2011) Transporte areo - uma alternativa ao transporte rodovirio de cargas. Journal of Transport Literature, vol. 5, n. 2, pp. 92-105.

    Brando, M.e Abreu, J. F. (2003) Deslocamento, tempo e dinheiro: uma anlise exploratria de convergncia espacial. In: Abreu, J. F.e Barroso, L. C. (org), Geografia, modelos de anlise espacial e GIS. Editora PUCMINAS.

    Britto, A. N. e Strambi, O. (2007) Anlise de caractersticas relacionadas variao do valor do tempo de viagem de motoristas usando tcnicas de preferncia declarada. Transportes, v. XV, n. 1, pp. 50-57, junho.

    Eller, R. A. G. e Marujo, E. C. (2007) A choice model for collective passenger transportation in Brazil: Air x Highway. Journal of the Brazilian Air Transportation Research Society, v.3, n. 2 pp. 57-68.

    Tavares, B. e Zanchetta, D. (2011) Paulistas trocam carro por avio e vos regionais crescem 41% no Estado. O Estado de So Paulo, So Paulo, 06 de fevereiro, Caderno Metrpole, p. C1.

    Varian. H. R. (2006) Microeconomia. Princpios Bsicos. Traduo da stima edio americana, Editora Campus.

    6 No tratamos neste artigo sobre como os indivduos vm valorizando o seu tempo, mas evidente que tal fenmeno est se tornando cada vez mais importante.

    JTL-RELIT Journal of Transport Literature vol. 6, n. 2 (2012)

    104