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O PAPEL DA AUTOMAÇÃO INDUSTRIAL NA EXCELÊNCIA OPERACIONAL DO REFINO DE
PETRÓLEO
LINCOLN F. L. MORO
PETROBRAS - EDISP
Av. Paulista 901,01311-100, 4º Andar, São Paulo - SP
E-mails:[email protected]
ANTONIO C. ZANIN
PETROBRAS - EDISP
Av. Paulista 901,01311-100, 4º Andar, São Paulo - SP
E-mails:[email protected]
Abstract This work describes the application of industrial automation to the refining area of PETROBRAS, as well as how
this application contributes to the Operational Excellence, a concept that is also briefly described. The main automation applica-
tions, which are used in an integrated way, are also presented, as well as the management process responsible for ensuring that
the potential benefits are obtained and that these applications, responsible for the online optimization of the refineries, are really
effective. It also describes the process that PETROBRAS used to reach the current situation, a process characterized by massive
investments in the development of advanced skills and by the execution of several research and development projects involving
universities that allowed the use of leading-edge online optimization technology as a significant competitive factor for the com-
pany.
Keywords Operational Excellence, Industrial Automation, Advanced Control, Optimization, Oil Refining.
Resumo Este trabalho descreve a aplicação da automação industrial na área de refino da PETROBRAS e como essa aplicação
contribui para a Excelência operacional, conceito que é também descrito de modo simplificado. São apresentados os principais
aplicativos de automação industrial utilizados de modo integrado, bem como o sistema de gestão responsável pela garantia da
obtenção dos resultados potenciais e da efetividade desses aplicativos, responsáveis pela otimização online das refinarias. Tam-
bém é descrito o processo pelo qual a PETROBRAS atingiu o estado atual, caracterizado por maciços investimentos em capaci-
tação avançada de seu pessoal e pela realização de projetos de pesquisa e desenvolvimento envolvendo universidades, o que
permitiu utilizar o estado da arte da tecnologia de otimização de processos como um diferencial competitivo para a empresa.
Palavras-chave Excelência Operacional, Automação Industrial, Controle Avançado, Otimização, Refino do Petróleo.
1 Introdução
Em função da globalização e da natureza dinâ-
mica do mercado, as empresas são continuamente
pressionadas a otimizar os seus negócios. Neste con-
texto, ganha destaque a excelência operacional que é
a maximização da rentabilidade das unidades de pro-
cesso através da operação dos seus ativos com inte-
gridade, confiabilidade e eficiência, melhorando a
segurança e o meio ambiente.
A contribuição da automação industrial na exce-
lência operacional do refino de petróleo consiste na
disponibilização de infraestrutura (hardware) e apli-
cações (software) para aumentar a eficiência operaci-
onal do processo, buscando maior rendimento de
produtos mais nobres e minimização do consumo de
energia e de emissões atmosféricas (fator ambiental).
As aplicações podem ser de três tipos:
Aplicações que atuam diretamente sobre o
processo de produção, como o controle re-
gulatório e avançado do processo, os siste-
mas de mistura em linha e a otimização em
tempo real.
Aplicações que visam melhorar a qualidade
da informação. Nesta categoria podem ser
citados os bancos de dados de processo, os
sistemas de reconciliação de dados e balan-
ço material e inferências de propriedades fí-
sico-químicas, etc.
Aplicações de treinamento operacional co-
mo os simuladores dinâmicos de processos,
de diagnósticos e sintonia de controle regu-
latório e avançado.
Este trabalho está organizado em seis partes. Na
seção 2 é apresentado o conceito da excelência ope-
racional e como ela está relacionada com a automa-
ção industrial. Na seção 3 são descritos os aplicativos
de automação industrial utilizados no Refino da
PETROBRAS. A seguir é apresentado o sistema de
gestão focada na obtenção dos resultados potenciais e
efetividade das tecnologias de otimização online. Na
seção 5, é enfatizada a importância de desenvolvi-
mento e pesquisa com universidades de forma a pro-
ver o estado da arte da tecnologia de otimização de
processos como um diferencial competitivo para a
empresa. Finalmente, a seção 6 fornece as conclusões
e uma visão futura do controle de processo.
Anais do XX Congresso Brasileiro de Automática Belo Horizonte, MG, 20 a 24 de Setembro de 2014
3790
2 Excelência Operacional no Refino
De acordo com Lafraia (2012), a excelência ope-
racional, cujo diagrama chave está representado na
figura 1, é a gestão sistemática da segurança de pro-
cessos, segurança pessoal, saúde, meio ambiente,
confiabilidade e eficiência dos ativos para alcançar
um desempenho de classe mundial.
No Refino da PETROBRAS, os três objetivos
específicos da excelência operacional são:
Confiabilidade na operação dos ativos;
Integridade dos ativos;
Eficiência na utilização dos ativos e recursos
naturais.
Figura 1. Diagrama chave da excelência operacional
Em relação à confiabilidade e integridade das
unidades de processos os aplicativos de automação
atuam para:
Monitorar as variáveis operacionais de for-
ma a sinalizar desvios que possam ocasionar
situações anormais;
Manter a unidade de processo, através da
excelência no sistema de controle, operando
dentro de janelas operacionais, de forma a
respeitar os limites dos equipamentos e das
especificações dos produtos;
Monitorar de forma detalhada equipamentos
críticos que possam impactar o fator opera-
cional da unidade.
A eficiência na utilização dos ativos e recursos
naturais é obtida através dos aplicativos online com a
finalidade de:
Estabilizar o processo (redução do efeito de
acoplamento entre variáveis) e padronizan-
do procedimentos operacionais;
Otimizar o processo através da busca de
maior rendimento de produtos mais nobres,
minimização do consumo de energia e de
emissões atmosféricas (fator ambiental).
3 Aplicativos de Automação Industrial utiliza-
dos na excelência operacional
Os resultados da utilização de soluções avança-
das de software no refino do petróleo consistem na
melhoria da segurança operacional, confiabilidade e
eficiência do processo.
A excelência operacional permite que o sistema
de controle e a operação conduzem o processo, sem
incidentes, em seu máximo desempenho. Ela utiliza,
no refino do petróleo, principalmente os seguintes
aplicativos:
• Simulador de treinamento: competência opera-
cional;
• Controle avançado e otimização online: efici-
ência do processo;
• Gerenciamento de alarme: segurança operacio-
nal;
• Gerenciamento de ativos: confiabilidade;
• Mistura em linha e gerenciamento de movimen-
tação: otimização, segurança e confiabilidade.
A seguir, são realizados pequenos comentários
sobre esses aplicativos.
Simulador de treinamento
De acordo com a ASM (Gerenciamento de Situ-
ações Anormais) 40% dos incidentes são causados
por pessoas (erros de procedimentos, ações incorretas
e práticas inconsistentes) e 40% pela falha de equi-
pamentos. Neste caso, 76% desses equipamentos
operavam fora de seus ranges operacionais.
O simulador de treinamento é uma ferramenta de
excelência operacional, a qual é impulsionada pela
competência da operação, conforme está ilustrado na
figura 2 (Ross, 2013).
Figura 2. Pirâmide da excelência operacional
Há dois tipos de treinamento: básico para novos
operadores e atualização de conhecimentos para os
outros operadores. São quatro tipos de treinamento
básico, cada qual com duração de uma semana:
• Familiarização com o controle e processo;
• Partida e parada da unidade;
• Prevenção de incidentes e procedimentos
críticos;
• Recuperação de falhas.
A figura 3 (Ross, 2013) ilustra o nível de manu-
tenção do simulador para manter os seus benefícios
em relação ao início de sua operação. É importante a
busca de novas oportunidades de forma que seus be-
nefícios extrapolam aqueles inicialmente previstos.
Os simuladores de treinamento que modelam
com maior fidelidade a unidade, embora tenham um
custo relativamente mais elevado, são economica-
mente viáveis em função de seus maiores benefícios.
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Eles também são utilizados para análise do controle
regulatório e estudos de processo.
Figura 3. Sustentabilidade dos benefícios do simulador
Na PETROBRAS o simulador de treinamento
mais utilizado é INDISS da empresa RSI.
Controle avançado e otimização online
O controle avançado amplamente utilizado na
indústria de processo é geralmente do tipo multivari-
ável preditivo (Cutler and Ramaker, 1979), o qual
possui um modelo linear do processo e é efetuado por
dois algoritmos distintos executados sequencialmente
e na mesma frequência, conforme ilustrado na figura
4. Os referidos algoritmos, associados à solução dos
problemas estático e dinâmico do controle do proces-
so, são descritos como:
1) Otimização do estado estacionário: corres-
pondente à solução do problema estático e à realiza-
ção da busca de um valor ótimo para as variáveis
manipuladas, resolvendo uma função objetivo linear
ou quadrática de maximização do lucro operacional.
A solução deste problema tem que atender as restri-
ções de máximo e mínimo nas variáveis controladas e
manipuladas no estado estacionário previsto. O valor
ótimo resultante é passado para a função objetivo do
problema dinâmico.
Figura 4. Otimizador linear e controle dinâmico
2) Controle dinâmico: resolve o problema dinâ-
mico mantendo o processo dentro da região operaci-
onal, compensando as frequentes perturbações que o
atingem e que tenderiam a conduzir a planta a violar
suas restrições. Além disso, conduz o processo para
suas restrições operacionais, as quais são os valores
ótimos informados pela solução estática do primeiro
algoritmo.
A limitação do controle multivariável consiste na
sua incapacidade de encontrar a solução ótima quan-
do a mesma se encontra no interior da região opera-
cional, uma vez que o algoritmo de programação
linear ou quadrática do controlador somente encontra
solução nos vértices do poliedro que limita a região
operacional do processo.
O SICON (Moro, 1997), desenvolvido pela
PETROBRAS, é o principal software para a configu-
ração do controle avançado em suas refinarias. Sua
última versão, denominada SICON20, conforme ilus-
trado na figura 5 (Zanin et al; 2014), apresenta entre
as novas funcionalidades: interface de engenharia de
acesso remoto via WEB; banco de dados relacional
mais seguro e consistente; e concentrador OPC inte-
ligente e robusto, com redundância e reconexão.
Figura 5. Estrutura do SICON20
Para complementar as aplicações de controle
avançado, principalmente em relação ao balanço
energético em fracionadoras e condições operacio-
nais em reatores, é adicionada a camada otimização
em tempo real (RTO). Esta possui um modelo rigoro-
so do processo, constituído por equações não lineares
que buscam representar com fidelidade o seu estado
estacionário. Sua função objetivo consiste num mo-
delo econômico do sistema que reflete a sua lucrati-
vidade. A solução ótima é obtida através de um algo-
ritmo de programação não linear, cuja solução pode
estar no interior da região operacional.
Rotava e Zanin (2005) descrevem as equações
matemáticas das duas camadas do controlador multi-
variável e sua integração com o RTO.
Nas refinarias, as principais aplicações de RTO
estão concentradas nas unidades de destilação do
petróleo e craqueamento catalítico. Os dois principais
fornecedores mundiais do software são as empresas
AspenTech e Invensys, com os produtos Aspen Plus
e ROMeo, respectivamente.
Gerenciamento de alarmes
Gerenciamento de alarmes consiste em um pro-
cesso no qual os alarmes são “engenheirados”, moni-
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torados e gerenciados, tendo como objetivo a segu-
rança e confiabilidade operacional.
O processo passa por uma primeira fase de raci-
onalização de alarmes, na qual a taxa de alarmes
(ocorrência por unidade de tempo) é reduzida signifi-
cativamente.
Após a fase de racionalização de alarmes, são
recomendadas boas práticas para manter os seus be-
nefícios, as quais são:
Operação:
• Analisar a cada turno os alarmes de segurança
(alta prioridade) e as respectivas ações implementa-
das;
• Analisar a cada turno o relatório dos alarmes
não normalizados;
• Reunir semanal com a manutenção para a aná-
lise do relatório de alarmes.
Engenharia:
• Analisar os eventos que ocasionam os alarmes
mais frequentes: sintonia dos alarmes, agarramento
de válvulas, saturação dos controladores PID, projeto
de controle, etc;
• Analisar alterações efetuadas dos parâmetros
de sintonia dos alarmes efetuada pela operação;
• Analisar as principais causas de alarmes após a
racionalização;
• Analisar a taxa de alarmes verificando oscila-
ções e períodos de troca de carga e campanha e mu-
dança de turno.
A maioria das refinarias utiliza o sistema de ge-
renciamento de alarmes desenvolvido pela
PETROBRAS denominado BRAlarmExpert.
Gerenciamento de ativos
O gerenciamento de ativos consiste de aplicati-
vos que oferecem uma melhor visibilidade do desem-
penho e integridade dos ativos do sistema de controle
e equipamentos industriais, ajudando a reduzir inci-
dentes e manutenção através da antecipação na de-
tecção de falhas. O software integra informações do
processo, sistema de monitoração de equipamentos
como vibrações, termografia e detectores de corro-
são.
O gerenciador de ativos está integrado com mo-
delos de detecção de falhas e de equipamentos. Atra-
vés de informações online é determinado o desempe-
nho de equipamentos e realizada a predição de futu-
ras falhas no sistema de ativos. Ele tem interface com
diversos bancos de dados e permite o acesso a docu-
mentos de projetos e manutenção dos ativos. Podem
ser fornecidos relatórios sob demanda.
No estágio atual, o gerenciamento de ativos está
sendo utilizado pelas refinarias para a manutenção
preditiva da instrumentação interligada ao Sistema
Digital de Controle Distribuído (SDCD). Além dos
elementos primários das malhas de controle, também
são monitorados os Controladores Lógicos Progra-
máveis (PLC) e os Sistemas Instrumentados de Segu-
rança (SIS) de sistemas dedicados, como o Bently
Nevada de vibração de equipamentos.
Mistura em linha e gerenciamento de movi-
mentação
As crescentes exigências de qualidade combina-
das com o desejo de reduzir a sobre especificação
nos produtos finais fizeram com que os sistemas de
mistura em linha se tornassem uma tecnologia chave
nas refinarias de petróleo.
Esses sistemas se baseiam na manipulação de
vazões de correntes com qualidade conhecida para
gerar uma mistura cuja qualidade é estimada e con-
firmada por análises em linha, conforme figura 6.
A PETROBRAS vem desenvolvendo o aplicati-
vo GOMM (Gerenciado e Otimizador de Misturas e
Movimentações), ilustrado na figura 7, o qual consis-
te basicamente de um gerenciador de alinhamentos,
um módulo de otimização e outro de controle avan-
çado. O sistema possui interface com sistemas de
dados da estocagem, movimentação e qualidade.
Figura 6. Mistura em linha de diesel
Figura 7. Gerenciador e Otimizador de Misturas e Movimentação
4 Gestão da Automação no Refino
A história da implantação de automação indus-
trial no Refino da PETROBRAS pode ser dividida
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em três fases. A primeira iniciou-se em 1986, com a
adoção de uma política de troca de instrumentação
analógica por eletrônica digital, o que exigiu maciços
investimentos em hardware. Em 1989, a emissão do
primeiro Plano Diretor de Automação Industrial,
voltado para a atratividade dos investimentos, repre-
sentou o início da segunda fase. Já havia ficado claro
que investimentos em hardware só geraria o adequa-
do retorno financeiro se houvesse a implantação de
sistemas para otimizar em tempo real a operação das
refinarias.
Tal otimização decorre do uso de medições fre-
quentes e abrangentes do estado das unidades de pro-
cesso para gerar uma grande quantidade de dados.
Esses dados são usados em modelos matemáticos e
outras ferramentas analíticas que fornecem uma com-
paração entre o desempenho atual e o desejado e que
permitem planejar ações para o futuro com maior
confiança. Assim, a principal característica da refina-
ria automatizada é o processo de decisão e atuação
baseado na melhor previsão disponível do futuro,
enquanto que o esquema tradicional se caracteriza
por reações ao que acaba de acontecer.
Essa segunda etapa se caracterizou pelo investi-
mento maciço em capacitação de pessoal técnico e
em desenvolvimento de aplicativos. Posteriormente
houve a implantação em larga escala de sistemas de
controle avançado e alguns projetos envolvendo mis-
tura em linha e outras tecnologias, Os benefícios au-
feridos foram consideráveis, resultantes do aumento
de rendimentos de produtos mais nobres, economia
de energia, maior confiabilidade de produção, etc.
A terceira etapa se iniciou por volta do ano 2000
e que se caracteriza pelo foco na garantia da efetivi-
dade dos resultados obtidos com as tecnologias de
otimização em consonância com os objetivos da ex-
celência operacional. Essa garantia pressupõe uma
série de ações, entre as quais podemos citar a criação
de uma metodologia de avaliação dos resultados de
cada tipo de aplicativo de otimização, o acompanha-
mento rigoroso dos resultados obtidos, a assistência
técnica para resolver os problemas que reduzem a
efetividade das soluções e a melhoria contínua da
tecnologia e dos softwares que constituem as solu-
ções.
Para que seja possível garantir essa efetividade
dos resultados deve-se reconhecer que as aplicações
da automação industrial são suportadas por um con-
junto de fatores interligados, como os elos de uma
corrente, entre os quais estão: tecnologia, operabili-
dade e segurança, treinamento ao usuário, assistência
técnica, monitoração de desempenho e documenta-
ção. Sendo assim, o enfraquecimento de qualquer um
dos oito anéis desta corrente, implica na redução dos
benefícios econômicos do aplicativo ao longo do
tempo. Como mostra a figura 8 (Ruel, 2013), a mai-
oria dos projetos tende a reduzir os seus benefícios
após o comissionamento em função do falta de supor-
te técnico e manutenção.
Qualquer ferramenta de automação requer recur-
sos humanos para seu adequado funcionamento, cuja
alocação demanda um comprometimento da gerência
na busca dos benefícios.
Nesta secção, é descrita a gestão de automação
do sistema de controle avançado do Refino da
PETROBRAS. A metodologia utilizada para garantir
a efetividade das soluções implantadas é divida em
duas fases: (1) criação do índice de desempenho eco-
nômico para avaliar de forma mais abrangente o de-
sempenho do sistema de controle avançado, e (2)
desenvolvimento do software MONICA para monito-
ração do referido sistema de forma mais detalhada.
Figura 8. Benefícios das aplicações ao longo do tempo
Índice de desempenho econômico
O ganho econômico do controle avançado está
diretamente relacionado com a ativação das restri-
ções ou variáveis controladas do processo dentro de
sua região de operação, a qual se refere a um polie-
dro de dimensão igual ao número de variáveis mani-
puladas. Desta forma, o índice de desempenho eco-
nômico consiste no acompanhamento do PCAT (Per-
centagem de Controladas Ativas) o qual é configura-
do como uma variável auxiliar da aplicação do con-
trole multivariável. Seu valor, determinado na mesma
frequência que o algoritmo de controle, é armazena-
do na base de dados de processo. O PCAT é determi-
nado pela seguinte equação (zanin e Moro, 2004):
SMANIPULADA de Total
100 x ATIVAS SCONTROLADA de NÚMEROPCAT
(1)
Uma vez que nem toda manipulada corresponde
a um grau de liberdade efetivo para ativar restrição e
que as perturbações fazem com que a unidade não
possa permanecer continuamente nas restrições, para
cada aplicação é determinado um PCAT ótimo viá-
vel, o qual é utilizado para o cálculo dos benefícios
da respectiva aplicação:
PCAT
PCATx $BENEFÍCIOCAV$
ótimo
(2)
Sendo $CAV e $BENEFÍCIO, respectivamente,
o benefício calculado e o de referência (obtido atra-
vés de análise estatística de dados antes e após a im-
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plantação do projeto) do controle avançado, por uni-
dade de vazão de carga.
O PCATótimo é calculado de acordo com a
equação (3):
SMANIPULADA de Total
100 x ATIVAS SCONTROLADA de POTENCIAL NÚMERO x fdótimoPCAT
(3)
onde fd é um fator menor que 1, usado para compen-
sar as transições da unidade devido às perturbações,
que fazem com que as variáveis se afastem das res-
pectivas restrições. O número potencial de controla-
das ativas na equação (3) é definido em função dos
objetivos de otimização e do potencial do controlador
em atuar sobre essas variáveis.
MONICA: monitoração detalhada
Esta ferramenta, construído no PI da Osisoft, é
um portal de monitoração online do controle avança-
do com acesso através da web. Ela permite, de forma
rápida, detectar a perda de desempenho das aplica-
ções e disparar as ações de correção que se mostra-
rem necessárias.
Além dos indicadores globais do sistema como o
fator de utilização e índice econômico, o painel de
monitoração fornece informações detalhadas das va-
riáveis que fazem parte do controle multivariável:
• Percentual de tempo com controle (% tempo
com controle): o tempo em que a variável permane-
ceu ligada em relação ao tempo total em que o con-
trolador permaneceu ligado;
• Percentual da variável operando ativa (% ati-
va): é o percentual de tempo em que a variável esteve
sobre um dos seus limites em relação ao tempo em
que esteve ligada;
• Percentual dentro da faixa (% dentro da faixa):
indica o percentual de tempo em que a variável este-
ve entre os limites máximo e mínimo;
• Percentual fora da faixa (% fora da faixa): é o
percentual de tempo em que a variável esteve acima
do limite máximo ou abaixo do limite mínimo, ambos
em relação ao tempo em que a variável esteve ligada.
Na figura 9, gerada pelo MONICA, é sinalizado
em laranja uma variável controlada desligada e em
vermelho três variáveis cujo limite superior é prati-
camente todo o tempo violado. Na mesma figura, os
valores sinalizados com azul indicam que as respecti-
vas variáveis estão sendo otimizadas (ativas) na qua-
se totalidade do tempo.
Existem, também, indicadores estatísticos relaci-
onados à média, ao desvio-padrão e aos valores má-
ximos e mínimos atingidos pelas variáveis enquanto
ligadas ou desligadas, o que possibilita o usuário uma
visualização também do comportamento geral das
variáveis no que tange às variações devidas ao pro-
cesso, ao controle e à instrumentação.
Figura 9. Análise das variáveis controladas
Moro et al. (2014) fornecem uma descrição deta-
lhada do MONICA.
5 P&D e Integração com Universidades
Desde a emissão do Plano Diretor de Automação
Industrial de 1989, a estratégia adotada pela
PETROBRAS para a automação industrial da área de
refino segue o mesmo caminho dos grandes refinado-
res de petróleo, como ExxonMobil e Shell, e envolve
uma abordagem híbrida em relação ao fornecedor de
tecnologia, a qual pode ser comercial padronizada ou
desenvolvida internamente, a depender de uma séria
de fatores.
A utilização de soluções comerciais pode ser
considerada como o caminho natural, quando estas
soluções forem consagradas, padronizadas e ampla-
mente aceitas pelo mercado. Este é o caso dos siste-
mas básicos de automação como os SDCDs e PLCs,
além de aplicativos como, por exemplo, bases de
dados de processo, sistemas de reconciliação de da-
dos, etc.
Quando as soluções comerciais não estão ainda
disponíveis, são excessivamente custosas ou necessi-
tam de extensa adaptação para que sejam adequada-
mente utilizadas, a empresa tem, em muitos casos,
lançado mão do desenvolvimento interno, frequente-
mente suplementado pela cooperação com institui-
ções de ensino e pesquisa e empresas do ramo.
Em ambos os casos, isto é, independente da tec-
nologia ser comercial ou desenvolvida internamente,
a PETROBRAS considera necessário que seus pro-
fissionais tenham a capacidade de configurar, ajustar
e adaptar as aplicações às condições de uso, além de
atuar para garantir sua efetividade.
Para que essa estratégia seja viável a formação
de recursos humanos é prioritária. Inicialmente, ainda
no final dos anos 1980, devido à falta de programas
de treinamento específicos, a PETROBRAS organi-
zou cursos de Especialização em Automação e Con-
trole Avançado com a Universidade de São Paulo
(USP), com a Universidade Federal do Rio de Janei-
ro (UFRJ) e com a Universidade Federal de Minas
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Gerais (UFMG). A partir daí, a capacitação em nível
avançado prosseguiu através de programas de mes-
trado e doutorado e de novos cursos de especializa-
ção em intervalos regulares. Em algumas situações
são também realizados programas de capacitação em
universidades do exterior, na forma de doutorados e
pós-doutorados.
Fica claro então que a capacitação avançada de
pessoal próprio tem papel chave na integração com
universidades, mas não esgota esse processo. Essa
integração é também peça fundamental no desenvol-
vimento da tecnologia através de projetos de P&D.
Os projetos de P&D, como regra geral, são co-
ordenados pelo Centro de Pesquisas da
PETROBRAS (CENPES) e acompanhados pela área
cliente dos resultados. Frequentemente, uma parcela
importante do trabalho de pesquisa e desenvolvimen-
to é realizada em universidades e centros de pesquisa
através de termos de cooperação ou convênios espe-
cíficos. Na área de automação do refino é usual que
pessoal próprio participe diretamente do esforço de
pesquisa através de programas de pós-graduação li-
gados ao assunto em estudo. Essa abordagem facilita
sobremaneira a posterior aplicação da tecnologia
desenvolvida nas instalações industriais.
Visando incrementar os resultados da abordagem
citada acima, a PETROBRAS utiliza complementar-
mente os Centros de Excelência Tecnológicos. Esses
centros buscam uma colaboração permanente entre a
empresa e as universidades para complementar a
forma pontual que ocorre durante os projetos de
P&D. Nestes centros as Universidades adquirem um
papel crucial e por isso há uma Universidade Âncora
para cada um deles. Em alguns casos o centro está até
mesmo localizado fisicamente fora da PETROBRAS
e este é o caso, por exemplo, do CETAI - Centro de
Excelência em Automação industrial – criado em
2000 e que desde 2008 funciona em instalações na
Escola Politécnica da USP.
Essa abordagem recebeu um impulso com o fim
do monopólio do petróleo e criação da ANP (Agên-
cia Nacional de Petróleo), pois dentro dos contratos
de concessão de campos de produção foi colocada a
exigência de investimentos em P&D proporcionais
aos resultados obtidos. Estes recursos podem ser
aplicados parcialmente nas estruturas internas de
pesquisa da PETROBRAS (até o valor de 50%), mas
uma parcela (no mínimo 50%) deve ser direcionada
para Universidades e Instituições de Pesquisas. Com
isso, a partir de 2006, um volume substancial de re-
cursos ficou disponível para ser investido nas Uni-
versidades Brasileiras.
No entanto, constatou-se que a maioria das uni-
versidades não dispunha de infra-estrutura adequada
para executar projetos de pesquisa e desenvolvimento
na abrangência e profundidade necessárias para aten-
der as expectativas da PETROBRAS. Por este moti-
vo, foi então criado o mecanismo das chamadas redes
temáticas, que visavam promover investimentos em
infra-estrutura laboratorial nas universidades em
áreas relacionadas a diversos assuntos de interesse da
empresa. A área de automação foi coberta pela
IACOT – Rede Temática de Instrumentação, Auto-
mação, Controle e Otimização, que inicialmente con-
gregava as seguintes universidades nacionais: USP,
UFRJ, URFN, UFCG e UFRGS.
Após essa fase de melhoria da infra-estrutura de
pesquisa, a ênfase se deslocou para a execução de
projetos de pesquisa e desenvolvimento. Esta situa-
ção perdura até o momento atual, sendo que vários
projetos na área de automação já foram executados
ou estão em andamento, envolvendo temas diversos
como, por exemplo, gerenciamento de alarmes, avali-
ação de desempenho de sistema de controle regulató-
rio e avançado, algoritmos de controle preditivo de
horizonte infinito, sistemas de mistura em linha, oti-
mização em tempo real, etc.
6 Conclusões e Visão de Futuro
No médio prazo uma moderna refinaria de petró-
leo será um sistema onde os controles de processos
não serão mais individualizados, mas sim integrados
visando à otimização global. Isto resultará em enor-
mes ganhos energéticos e ambientais e diminuirá
significativamente a quantidade de insumos consumi-
dos para gerar os derivados de petróleo.
No médio prazo é altamente provável que o
principal objetivo de uma refinaria ainda será a pro-
dução de combustíveis. No entanto, haverá um au-
mento significativo na obtenção de matérias primas
contidas no petróleo para uso na indústria petroquí-
mica. Nesta refinaria do futuro a operação das unida-
des se baseará em informações moleculares do petró-
leo e será constituída de sistemas totalmente integra-
dos de energia e massa.
A refinaria do futuro no longo prazo não será
mais um supridor de combustível para queima e pro-
dução de energia, mas sim uma provedora de maté-
rias primas para indústria petroquímica e química e
será integrada com em uma cadeia envolvendo maté-
rias primas renováveis. No futuro poderemos usar
cada uma das milhares de substâncias contidas no
petróleo para o uso mais nobre possível, evitando ao
máximo sua simples queima para produção de ener-
gia.
Para que essa situação possa ser alcançada será
necessário desenvolver tecnologias que permitam
caracterizar em tempo real e com altíssima resolução
em termos de espécies químicas o petróleo que é ali-
mentado às unidades de destilação. Ao mesmo tem-
po, serão necessários sistemas que acompanhem,
também em tempo real, o desempenho das instala-
ções industriais de modo que seja possível ajustar
modelos precisos e capazes de prever o comporta-
mento dessas instalações quando operando em condi-
ções diversas das atuais. De posse dessas informa-
ções e modelos será possível determinar as condições
ótimas de operação de todo o sistema produtivo de
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modo a maximizar a lucratividade. Naturalmente a
automação é a tecnologia subjacente a todos esses
sistemas, e maciços investimentos em capacitação e
desenvolvimento tecnológico serão necessários para
atingir este estágio.
Agradecimentos
Agradecemos à comunidade de automação das refi-
narias e do CENPES, sem as quais a automação in-
dustrial não teria atingido o alto grau de desempenho
atualmente verificado.
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