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O CONTEXTO HISTÓRICO DA ESCOLA DO CAMPO NO DISTRITO DE MONTESE / ITAPORÃ-MS The HISTORICAL BACKGROUND FIELD SCHOOL DISTRICT MONTESE / Itaporã-MS SALOMÃO, Laura da Anunciação 1 ; SILVA, Sandra Procópio da 2 1 Aluna do Curso de Especialização em Educação do Campo, ofertado pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul/EaD (2014-2016), Polo de Rio Brilhante, MS. E-mail: [email protected]; 2 Trabalho de Final de Curso, desenvolvido em 2014-2016, sob a orientação da Profa. Me. Sandra Procópio da Silva, FAIND/UFGD. E-mail: [email protected] Resumo: A Escola Estadual Senador Saldanha Derzi, localizada em Montese, Itaporã/MS é denominada escola do campo e enquanto tal deve oferecer uma educação voltada aos saberes do campo. No entanto, tal denominação ocorreu a partir do ano de 2011 e desde então a mesma procura adequar-se às mudanças e cumprir seu papel. Entre as várias mudanças ocorridas, a principal delas foi a implantação da disciplina TVT Terra, Vida e Trabalho que por meio de projetos busca ensinar os saberes do campo numa inter-relação entre teoria e prática. A presente pesquisa buscou apresentar o processo histórico da escola desde sua fase inicial até o momento em que se tornou escola do campo, bem como a mesma se encontra frente ás mudanças ocorridas conforme a modalidade de ensino Educação do Campo. Palavras-chave: Escola do Campo, Contexto Histórico, Distrito de Montese, TVT: Terra - Vida Trabalho Abstract: The State School Senator Saldanha Derzi, located in Montese, Itaporã / MS is called field school and as such should offer an education to the field of knowledge. However, that name came from the year 2011 and since then it seeks to adapt to the changes and fulfill its role. Among the many changes that have occurred, the main one was the implementation of TVT discipline - Earth, Life and Work that through projects seeking teaching field knowledge in interrelationship between theory and practice. This research aimed to present the historical process of the school since its initial phase until the moment that became school field, and the same is opposite to the changes that occurred as the type of education - Rural Education. Keywords: School Field, Historical Context, District Montese, TVT: Earth - Life - Work . 1 Aluna do Curso de Especialização em Educação do Campo, ofertado pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul/EaD (2012-2014), Polo de Rio Brilhante, MS. E-mail: [email protected] 2 Trabalho de Final de Curso, desenvolvido em 2014-2016, sob a orientação da Profa. Me. Sandra Procópio da Silva, FAIND/UFGD. E-mail: [email protected]

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O CONTEXTO HISTÓRICO DA ESCOLA DO CAMPO NO DISTRITO DE MONTESE / ITAPORÃ-MS

The HISTORICAL BACKGROUND FIELD SCHOOL DISTRICT MONTESE / Itaporã-MS

SALOMÃO, Laura da Anunciação1; SILVA, Sandra Procópio da 2

1Aluna do Curso de Especialização em Educação do Campo, ofertado pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul/EaD (2014-2016), Polo de Rio Brilhante, MS. E-mail: [email protected]; 2Trabalho de Final de Curso, desenvolvido em 2014-2016, sob a orientação da Profa. Me. Sandra Procópio da Silva, FAIND/UFGD. E-mail: [email protected] Resumo: A Escola Estadual Senador Saldanha Derzi, localizada em Montese, Itaporã/MS é denominada escola do campo e enquanto tal deve oferecer uma educação voltada aos saberes do campo. No entanto, tal denominação ocorreu a partir do ano de 2011 e desde então a mesma procura adequar-se às mudanças e cumprir seu papel. Entre as várias mudanças ocorridas, a principal delas foi a implantação da disciplina TVT – Terra, Vida e Trabalho que por meio de projetos busca ensinar os saberes do campo numa inter-relação entre teoria e prática. A presente pesquisa buscou apresentar o processo histórico da escola desde sua fase inicial até o momento em que se tornou escola do campo, bem como a mesma se encontra frente ás mudanças ocorridas conforme a modalidade de ensino – Educação do Campo. Palavras-chave: Escola do Campo, Contexto Histórico, Distrito de Montese, TVT: Terra - Vida – Trabalho Abstract: The State School Senator Saldanha Derzi, located in Montese, Itaporã / MS is called field school and as such should offer an education to the field of knowledge. However, that name came from the year 2011 and since then it seeks to adapt to the changes and fulfill its role. Among the many changes that have occurred, the main one was the implementation of TVT discipline - Earth, Life and Work that through projects seeking teaching field knowledge in interrelationship between theory and practice. This research aimed to present the historical process of the school since its initial phase until the moment that became school field, and the same is opposite to the changes that occurred as the type of education - Rural Education. Keywords: School Field, Historical Context, District Montese, TVT: Earth - Life - Work

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1Aluna do Curso de Especialização em Educação do Campo, ofertado pela Universidade Federal de Mato Grosso

do Sul/EaD (2012-2014), Polo de Rio Brilhante, MS. E-mail: [email protected]

2Trabalho de Final de Curso, desenvolvido em 2014-2016, sob a orientação da Profa. Me. Sandra Procópio da

Silva, FAIND/UFGD. E-mail: [email protected]

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Introdução A educação básica do campo atende a educação em todas as suas etapas e tem por objetivo universalizar o acesso, erradicar o analfabetismo, formar integralmente o educando do campo, por meio dos conhecimentos historicamente acumulados, articulando o ensino com a produção e a preservação do meio ambiente, destinado as populações rurais em suas mais variadas formas de produção da vida.

Diante disto, este trabalho objetiva pesquisar o contexto histórico da criação da escola, e estudar como está se dando o processo da Educação do Campo na escola Estadual Senador Saldanha Derzi, localizada em Montese, distrito de Itaporã, Mato Grosso do Sul. A referida escola, oficializou-se como escola do Campo conforme resolução Nº 2.501 SED/MS de 20/12/2011. A mesma é uma escola do campo, pois está localizada em um distrito, área rural do município, e atende alunos oriundos do campo. Para a coleta de informações foram aplicados questionários aos alunos, em uma turma que já estudava na escola, antes das mudanças propostas pela resolução. Também se aplicou um questionário aos professores, coordenação e direção escolar e ao Técnico em Educação do Campo, da Coordenadoria de Políticas Específicas para a Educação (COPEED)- SED-MS para verificação das mudanças tanto na área pedagógica quanto na parte administrativa da escola. Além de entrevistas com antigos moradores do local para se obter maiores informações da origem e formação do distrito de Montese .

Metodologia A pesquisa foi de modo exploratório e se fez em aspectos qualitativos e quantitativos, para melhor entender a concepção do estudo no distrito de Montese que se localiza no município de Itaporã-MS. A pesquisa se realizou por meio de questionários abertos e fechados, aos alunos, professores, coordenação e direção escolar, para melhor compreensão do sujeito e seu contexto, teve forma documental fonte primária e bibliográfica, desta maneira agregar fontes para melhor elucidação da pesquisa, se obtendo de estudo pelo viés do método indutivo indo do geral para o particular e assim Chegando às possíveis conclusões. Além dos questionários aplicados realizou-se também

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entrevista com antigos moradores do local para localização e esclarecimento do processo histórico e com o técnico em Educação do Campo, da Coordenadoria de Políticas Específicas para a Educação (COPEED)- SED-MS . Resultados e discussões O município de Itaporã é subdividido em quatro distritos sendo eles Carumbé, Santa Terezinha, Piraporã e Montese. Em cada distrito se encontra uma escola pública estadual com exceção de Carumbé, que a escola é municipal. O distrito de Montese, localizado no município de Itaporã – MS é uma região com predominância da pecuária e agricultura, sendo, uma área com plantação de soja e milho e a outra área para a criação de gado, sendo que uma pequena área se destina à avicultura e suinocultura. Apesar de a maioria das pessoas residirem no “patrimônio”, ou seja, na vila, área urbana do distrito, as atividades de trabalho das famílias são no campo: na roça, sítios, fazendas, e até mesmos nas usinas localizadas em municípios vizinhos. O distrito de Montese surgiu em meados de 1958 com o aglomerado dos colonos em uma área dada como pouco produtiva. A prefeitura foi abrindo ruas e oferecendo infraestrutura conforme as necessidades iam gradativamente surgindo, e em 1958 foi então oficializado o distrito de Montese, conforme lei de criação Nº 1171 de 21 de novembro. Em entrevista com a Sr. Alcino Pantaleão Correa , no dia quatro de julho de 2016, para este trabalho, o mesmo relata que os primeiros moradores que ali chegaram, em 1946, foi sua família : seus pais, ele e seus irmãos. Era uma região com mata nativa, uma grande área verde portanto a alimentação era frutos e animais existentes na mata. Como ele afirma: “Era só nós ali naquela mata ... a comida era guariroba e carne de bicho. Não tinha nada, o lugar custou aprumar.” Permaneceram ali por dois anos sem grandes avanços. A partir de 1948 novas famílias começaram a chegar neste mesmo local. Como a família do senhor Alcino era a pioneira, seu pai era o fiscal do local. Ao chegar algum interessado pelas terras, o mesmo demarcava o lote e dava assistência ( estadia e alimentação) a este por noventa dias, período em que organizava o espaço e construía uma casa para buscar a família. A partir daí começou a formação do povoado, pois as famílias se aglomeraram em pequenos terrenos onde construíam a moradia e trabalhavam nos lotes que recebiam nos arredores. Inicialmente , a vida das famílias era muito difícil, mas posteriormente prosperaram e tiveram grande fartura. Como ele diz:

“nóis não tinha nem calçado, nem roupa. Nóis veio de são Paulo só com uma malinha. Com o tempo fomo indo, fomo indo, Deus ajudano, nóis mioremo, ficamo bem lá, engordava capado e vendia pras pessoas dItaporã, Panambi e esperava seis meis pra pessoa pagar, porque as pessoas só pagava quando colhia”.

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Percebe-se na fala do entrevistado grande companheirismo e solidariedade entre as famílias que ali estavam e as que chegavam e até mesmo entre a população em geral, pois se ajudavam mutuamente e até mesmo nos negócios (compra e venda de produtos) o vendedor esperava o comprador obter dinheiro para fazer o pagamento. De acordo com entrevista realizada com o Sr. Juraci de Paula, também ex morador do local, que chegou em agosto de 1952 o mesmo diz que o distrito se chamava Taperão ou Sapezal. O primeiro nome se deve a existência de um enorme barracão destinado ao cultivo de erva mate e que fora abandonado e que era chamado por todos de taperão e o segundo por ser um local onde existia muito sapezal (sapê, é uma planta cujos caules são utilizados para se construírem telhados de casas rústicas, após secos). Assim as pessoas diziam , quando se referiam ao local: - “vamos ao Sapesal ou ao Taperão”. Já a denominação, Montese surgiu, muito depois conforme afirmação dos entrevistados, através das pessoas que residiam no local como Sr. Cassiano, João Paulista , Armando e Antônio Paulista, que por terem origem italiana decidiram por tal nome. Atualmente o distrito é formado pela área urbana e pela área rural, fazendo parte da área rural os sítios e chácaras e da área urbana as casas, os comércios e os serviços públicos como escola e posto de saúde. O distrito conta com uma população aproximada de dois mil habitantes, estando concentrada a maioria na zona urbana, porém com atividades, como já foi dito anteriormente, predominantes na zona rural. Ainda conforme informação dos entrevistados e através de dados levantados junto à secretaria de educação do município, neste período inicial de formação do distrito não existia escola havendo posteriormente, nas áreas rurais, salas de aulas pertencentes ás escolas existentes na sede do município. No entanto, com a aglomeração das famílias em dado lugar ,formando assim a área urbana do distrito, os alunos das salas de aulas das áreas rurais já não mais poderiam frequentá-las devido a distância a que se encontravam e assim surgiu a necessidade da criação de uma escola no distrito.

Foto da escola no inicio da criação

Fonte: arquivo pessoal do autor

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Com a fundação do distrito, a oficialização da existência do mesmo, criou-se também a escola ( Escolas Reunidas de Montese) pela Lei Estadual n. 1171, de 21-11-1958 e anexados ao Município de Itaporã, Estado de Mato Grosso do Sul, que atendia aos filhos dos moradores locais. No entanto, acredita-se que na época se destinava apenas a alfabetização (ensinar ler e escrever) pois conforme dados da gerência municipal de educação, as atas de resultados finais de 1967, apresenta apenas dados de primeiro e segundo ano do Ensino fundamental. Atualmente a escola oferece o Ensino Fundamental de 09 anos, sendo que os anos iniciais funcionam no período vespertino e os anos finais nos períodos matutino e noturno (adultos), o Ensino Médio no período noturno. Funciona ainda na escola, a Educação Infantil, que desde o ano de 1999 a Escola cede para a prefeitura municipal o espaço físico atendendo crianças de três a cinco anos, no jardim, pré I e pré II.É uma escola que atende aos filhos de pessoas com baixo nível econômico e devido a pouca oferta de trabalho, grande parte da comunidade recebe o auxílio dos programas sociais como bolsa – família, entre outros. Apesar de o município apresentar um índice de desenvolvimento humano – IDH mediano (0,654), a maioria dos habitantes recorre a municípios vizinhos para adquirir trabalho e muitos que trabalham no próprio município, muitas vezes tem baixos salários.

Fotos da escola atualmente

Fonte: arquivo da Profª Lucivânia

Como Funciona a Disciplina TVT na Escola Saldanha Derzi

A Educação do Campo é fruto de um processo de lutas dos movimentos sociais e populares do campo. Movimentos estes que buscam garantir a sobrevivência com dignidade e qualidade de vida para seu povo. Diante disto, o Estado de Mato Grosso do Sul, através do Comitê de Educação do Campo, acompanha e orienta as escolas

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do campo no sentido de garantir uma educação de qualidade a estes povos de conhecimentos e necessidades específicas do campo. A Unidade Escolar no início do ano letivo de 2012, passou para a modalidade Educação Básica do Campo, conforme a Resolução/SED n. 2.501, de 20 de Dezembro de 2011, publicado no Diário Oficial n.8.094, de 22 de Dezembro do mesmo ano. Portanto a partir de 2012, passou a oferecer aos seus alunos, como parte integrante do seu currículo, o eixo temático Terra- Vida- Trabalho, conforme a deliberação da resolução já citada em seu art., 4º “As escola do campo terão em Proposta Pedagógica os eixos temáticos terra- vida- trabalho e ...”(MATO GROSSO DO SUL, 2011), sendo ministrado por um professor pedagogo ou que tenha outra formação , porém que tenha “perfil com a educação do campo”. Diante disso os professores lotados nesta disciplina trabalham com temas relacionados à agricultura familiar, alimentação saudável, produtos orgânicos e como atividades práticas desenvolvem atividades de horta, plantas medicinais, pomar e jardim quando a escola dispõe de espaço para tal. Para desenvolver atividades pedagógicas e o cumprimento do Currículo, desempenha suas funções, de acordo com as normas vigentes através de documentos e resoluções que norteiam o processo educativo. Entre eles estão: A Constituição da República Federativa do Brasil; LDB: Lei de Diretrizes e Bases da Educação n. 9394/96, que abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais; O Regimento Escolar, que aplica as orientações sobre o funcionamento da escola para a realidade local; A Resolução/SED/MS n.2.501 de 20 de Dezembro de 2011, que dispõe sobre a organização da Educação Básica do Campo na Rede Estadual de ensino e outras providências; A Resolução/SED/MS n.2.507 de 29 de Dezembro de 2011, que dispõe sobre a organização da Educação Básica do Campo; A Resolução/SED/MS n. 2.676 de 04 de fevereiro de 2013, que dispõe sobre a autorização do ensino fundamental e/ou do ensino médio, da Educação Básica do Campo da rede estadual de ensino e da outras providências; A Resolução/SED/MS n. 3.016, de 4 de fevereiro de 2016 Dispõe sobre a organização curricular e o regime escolar do ensino fundamental e do ensino médio nas escolas do campo da Rede Estadual de Ensino e dá outras providências. Com a inserção do novo currículo escolar, entre as várias alterações que houve, a inclusão da disciplina TVT- Terra, Vida e Trabalho, já citada anteriormente, que tem procurado introduzir aos alunos conhecimentos relacionados e pertencentes ao campo. A escola já dispunha de uma pequena horta, hoje se encontra melhor elaborada, tem formação de pomar, cultivo de plantas medicinais, plantação de mandioca, milho, entre outros, que por sua vez favorece um pensar na educação voltada aos alunos do campo, como mostra as imagens abaixo.

Fotos de plantação de mandioca, horta, pomar e plantas medicinais

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Fonte: Arquivos da escola e pessoal do autor

Em entrevista com o professor Mauro Sérgio Almeida de Lima, Técnico em Educação do Campo, com atenção especial à disciplina de TVT (Terra Vida e Trabalho), da Coordenadoria de Políticas Específicas para a Educação (COPEED)- SED-MS, responsável pela Orientação e monitoramento para o funcionamento da disciplina TVT nas escolas do campo do Estado de Mato Grosso do Sul, bem como formação para os professores no sentido de resgate e valorização da Educação do Campo, o mesmo afirma que as escolas do campo são determinadas a partir da comunidade a que está inserida, algumas estão em assentamentos rurais, outras em distritos, ribeirinhos, entre outros. No caso da escola Saldanha Derzi sua história se relaciona aos movimentos de territorialização local que se deu a partir das migrações para colonização, a Colônia Agrícola de Dourados, os territórios federais, Mate Laranjeira, estrada de ferro, entre outros processos. A mesma antes de se tornar escola do campo era uma escola situada em área rural, logo, tinha especificidades que a fizeram ser denominada Escola do Campo. As escolas não se tornaram escolas do campo simplesmente, foi uma conquista dos movimentos sociais e dos povos do campo, onde, a resolução de dezembro de 2011 que autorizou o funcionamento, no caso da escola em questão, foi apenas mais uma conquista. Há algumas décadas os povos do campo e movimentos sociais lutam para a efetivação da escola do campo como política emancipatória e como tal política a educação do campo não deve ser considerada como política compensatória, ou seja, uma forma de benefício, uma forma de amenizar os problemas da educação tão reivindicada por este povo. Logo, a

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Educação do Campo é uma construção coletiva dos povos do campo, pois o campo é local de vida, de histórias de vida, de conhecimentos historicamente acumulados, então não é justo que as políticas sejam autoritárias, de cima para baixo. Sendo assim, a Educação do Campo nas escolas está em construção e a conquista efetiva foi recente, (2011/2012), e a construção é coletiva. Atualmente a Secretaria de Estado de Educação conta com uma coordenadoria específica para o campo, a COPEED-SED, são aproximadamente 40 escolas do campo e quase 20 extensões no estado de Mato Grosso do Sul, havendo dois técnicos em educação do campo para tal demanda, lembrando que a COPEED é responsável pela Educação do Campo, quilombola, indígenas, UNEIS e prisional, então os técnicos se dividem nestas atividades. Com a implantação da modalidade do campo, incluiu no currículo escolar o eixo Terra-Vida-trabalho, pois a disciplina TVT é específica para a Educação do Campo, com as funções de promover a interdisciplinaridade a partir dos eixos temáticos Terra Vida e Trabalho, resgatar os costumes e folclores locais, promover projetos interdisciplinares na escola, entre outros. Enfim, promover projetos que evidenciam os saberes do campo e sejam interdisciplinares. O professor que leciona TVT deve ter especificidades para atuação, assim como em todas as áreas do conhecimento. A especificidade do professor de TVT passa pela compreensão das conquistas dos povos do campo, entender que o aluno tem sua história de vida no campo, de alguma forma, entender que os alunos trazem consigo conhecimentos que os diferem dos alunos urbanos, então primeiramente compreender o seu espaço de atuação. O professor deve compreender que no campo, a relação com a terra é diferenciada, que o trabalho toma uma dimensão diferente, as relações de gênero, a “ajuda” das mulheres, as formas diferentes de trabalho que ali existem, as cooperativas, as associações, a solidariedade, o mutirão. Logo, a vida desses alunos se diferencia do urbano, e esta é uma das razões da Educação do Campo. Cabe lembrar ainda, que os eixos temáticos Terra- Vida - Trabalho são os eixos temáticos da educação do campo, logo todas as disciplinas devem atentar e trabalhar a partir dos eixos, trazendo para a realidade dos alunos a sua disciplina a partir dos mesmos. Afinal, todas as áreas do conhecimento atuam a partir dos eixos, ou seja, as áreas do conhecimento devem atuar de maneira que relacionem a realidade vivida do aluno ou aluna com o conteúdo, pois estudiosos comprovam que quando os conteúdos são relacionados à realidade vivida é muito mais fácil compreendê-los. Portanto, a disciplina TVT está ligada diretamente aos eixos temáticos, porém os eixos temáticos tem uma dimensão maior, estão presentes em todas as áreas do conhecimento. Os professores e gestores estão trabalhando a disciplina TVT e os eixos de acordo com seu conhecimento e suas possibilidades. Por se tratar de um “fenômeno” em construção a Secretaria de Educação faz parte do processo, orientando e monitorando para que esteja de acordo com os procedimentos do referencial que foi construído coletivamente entre Técnicos da Secretaria de Educação e representantes do campo.

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Percebe-se que existe um parâmetro construído coletivamente para atuação na disciplina TVT, e a COPEED-SED orienta e monitora as escolas para que este padrão seja seguido. A escola Saldanha Derzi segue alguns parâmetros que demonstram a atuação como Escola do Campo, a participação e valorização da comunidade local deve ser evidenciada, na escola, a comunidade participa ativamente como parceiros no sentido de cooperar para manutenção da estrutura física, obtenção de estercos para os projetos e participação ativa nos projetos e festividades da escola. O sentido da horta escolar, vai além da complementação para a merenda, leva em consideração a alimentação saudável, o não uso de agrotóxicos, a relação com a terra, a interdisciplinaridade e, principalmente, ensinamentos para a consciência ecológica dos alunos e alunas incentivando para que façam uma horta em casa. Portanto o professor de TVT não deve ser o único responsável pelo espaço, o correto é que seja feito um projeto interdisciplinar para que todos os professores atuem. Na escola Saldanha Derzi existe uma horta bem cuidada e produtiva.

Foto da horta atual

Fonte : Arquivos da escola

O horto de plantas medicinais cumpre um papel na escola muito interessante, está ao lado da horta e funciona também como confusão de cheiros, além de resgatar conhecimentos da comunidade. Criado em 2014 com a finalidade de concretização do projeto – plantas medicinais e para ampliação do conhecimento dos educandos. Atualmente dispõe-se de várias plantas( Terramicina, erva-doce, erva cidreira, manjericão, guaco, babosa, entre outras), as quais são utilizadas conforme necessidade de uso da comunidade escolar como também para orientação e conhecimento das plantas por parte dos alunos.

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Fonte: Arquivos da Profª Lucivânia

Enfim, a escola está caminhando para que seja um modelo de escola do campo, algumas ações já acontecem e outras estão sendo feitas. Lembrando que a escola recebeu monitoramento e orientação pela COPEED e no mês de junho de 2016, foi visitada pelo Coordenador de Políticas Específicas para a Educação, o Professor Alfredo Anastácio Neto, que conheceu a estrutura física e os projetos da escola, “ficando satisfeito com as ações observando que a escola está “no caminho certo”. Conforme afirmação do professor Mauro. Segundo o professor Mauro:

“O maior benefício de a escola ser considerada escola do campo é o reconhecimento à luta dos povos do campo e dos movimentos sociais. Financeiramente já era diferenciado antes do reconhecimento como escola do campo, sendo escola localizada em espaço rural de difícil acesso. Então, o reconhecimento de ser escola do campo, significa valorizar os povos do campo e suas peculiaridades,...”

E termina a entrevista dizendo:

“A escola Saldanha Derzi é realmente uma escola do campo, está localizada em um distrito e atende alunos oriundos do campo, a realidade vivida por eles é bastante diferente da escola urbana. A escola está se esforçando para que consiga realmente atuar como tal, e a Secretaria de Educação, COPEED está orientando algumas ações para a efetivação.”

A escola Saldanha Derzi, hoje escola do campo, de acordo com as legislações que regem o ensino, mais especificamente a Resolução/SED/MS n. 3.016, de 4 de fevereiro de 2016 que dispõe sobre a organização curricular e o regime escolar do ensino fundamental e do ensino médio nas escolas do campo da Rede Estadual de Ensino , desenvolve, entre outros projetos, durante o ano letivo, projetos ligados ao eixo temático Terra-Vida-Trabalho, a ser trabalhado no Tempo- Comunidade.

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Entre eles, estão, Cultura e Costumes do Mato Grosso do Sul, Projeto Jardinagem, Plantas Medicinais e Planejamento de culturas agroecológicas. Os projetos são trabalhados de forma interdisciplinar, organizado através de um cronograma elaborado pelos professores e a coordenação pedagógica no início do ano letivo. Quando se implantou a modalidade do campo e consequentemente o eixo temático Terra-Vida-Trabalho, tais projetos e/ou outras atividades eram desenvolvidos apenas pelo professor responsável por tal disciplina como afirma os professores ao ser perguntado como era trabalhado o eixo Terra-Vida- Trabalho, no início de sua implantação. Durante o trabalho de pesquisa de campo, aplicou-se um questionário aos professores e obteve alguns depoimentos que podem refletir alguns aspectos das mudanças, por exemplo, nos depoimentos a seguir: ” O projeto horta já existia em nossa escola, começamos a trabalhar a disciplina sem ser interdisciplinar e depois fomos moldando conforme orientação vinda da SED” . ”era só o professor de TVT depois passou a ser interdisciplinar.” “a escola ficou mais bonita, a produção da horta melhorou a merenda escolar.” “O Eixo, oferece aos estudantes oportunidades de desenvolver aprendizado e técnicas ligadas ao campo, motivando na permanência desse aluno no local de origem ( CAMPO)” “Houve uma maior interação entre a comunidade e a escola.” “Apesar das dificuldades na implantação do Eixo, ele oferece aos estudantes oportunidades de desenvolver e também de contribuir para o aprendizado das técnicas do campo, incentivando-os na permanência no local de origem.” “A comunidade local tem participação ativa na escola. Alguns projetos desenvolvidos foram estendidos para a comunidade, como o Projeto Artesanato na palha de milho, Plantas Medicinais, entre outros.”

No entanto, hoje por meio da interdisciplinaridade a escola toda se envolve nos trabalhos em busca de melhor aprendizagem para seus alunos. O trabalho realizado por meio do eixo temático citado proporcionou aos alunos o conhecimento da lida com a terra, tempo de plantio e colheita, bem como a forma de cultivo e produção de alimentos orgânicos e a agricultura familiar. Todo este trabalho fez e faz com o aluno que ali frequenta adquira hábitos saudáveis quanto a alimentação e também se conscientize da importância da preservação do meio ambiente. No decorrer das atividades percebe-se é uma atividade prazerosa, que os alunos desenvolvem –as com presteza e muito gosto. Como pode se perceber nos depoimentos e imagens que seguem: “ TVT é uma disciplina que fez eu reconhecer como é importante preservar as plantas, a terra.”;“ bom antes eu nem sabia como fazer hortam preparar um canteiro, com as aulas práticas de TVT agora eu sei.”; “acrescentou mais sabedoria, que a gente aprende que agrotóxico não utilizado, porque não fazem bem á saúde, que podemos comer coisas mais saudáveis e que vem do nosso esforço mesmo.”; “a gente interage na horta e pode contribuir com a aparência da escola.”;“ que devemos conscientizar em relação ao meio ambiente.”

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Foto das atividades desenvolvidas pelos alunos

Fonte: Arquivos da Profª Lucivânia

A educação do campo, nos últimos anos vem proporcionando reflexões sobre a vida e a identidade das pessoas que ali habitam. Passando por todo um processo histórico e conturbado período de lutas sociais, os movimentos tem conseguido incomodar e conseguir feitos maravilhosos na educação, assim sendo ARROYO (2004) expressa que a educação passa a ser respeitada e não mais marginalizada como na época em que foi vista para conter a imigração rural nos grandes centros. É relevante dizer que essa luta começa a partir do avanço dos movimentos sociais frente ao capitalismo que impera visando lucro demasiado sem se preocupar com a cultura, nem em aspectos sociais, desta maneira levando-nos longe de uma emancipação humana. Neste sentido CALDART (2004) menciona que o campo brasileiro está, em constantes e permanentes lutas sociais, visando o valor pela terra e assim resgatar sua cultura e identidade através de lutas que perpassam dentre esse conturbado processo político e social. Portanto hoje com essas leis previstas na Constituição Federal 1988, e o conjunto de leis que seguiram, voltadas para as conquistas dos direitos da educação do campo, podemos dizer que há uma luta pelo direito de ter direitos. E pela valorização dos povos do campo.

Conclusões Cabe enfatizar que todos os aparatos instrumentais de leis e projetos

enfatizados, não se configuraram como solução aos desejos e necessidades dos estudantes e moradores do campo, há ainda uma demanda reprimida por serviços básicos e essenciais na fixação do homem neste meio bem como incorporação dos seus anseios de vida especificamente no rural. A transformação só vai ocorrer de fato com a implementação real das políticas que estes instrumentos abordam e com o desenvolvimento de ações e formação continuada direcionada a este público na perspectiva de promover o desenvolvimento local, seu poder através de uma gestão participativa, onde todos contribuem para seu crescimento.

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A educação do/no campo é algo possível, porém sempre foi, é e continuará sendo resultado de lutas, movimentos e busca de direitos garantidos. O município de Itaporã é uma região com grande atividade agropecuária, sendo, portanto sua atividade econômica principal garantida pelo agronegócio. Como já dito anteriormente, as escolas estaduais existentes nos distritos, são escolas do campo e como tal devem oferecer a seus alunos conhecimentos relativos ao campo. No caso da escola Saldanha Derzi os trabalhos desenvolvidos por meio de projetos interdisciplinares, muito ajuda seus alunos que apesar de serem filhos apenas de trabalhadores rurais adquirem conhecimentos e repassam estes a seus familiares. Por meio da pesquisa, pode se constatar que mesmo não havendo alunos filhos de proprietários de terra, pequenos agricultores, o trabalho com a terra desperta o interesse de todos, e são unânimes ao dizer que aprenderam principalmente a ter uma vida saudável por meio da produção e utilização de alimentos orgânicos. Apesar de ser uma escola do Campo, como afirma o professor Mauro Sergio: “A escola Saldanha Derzi é realmente uma escola do campo, está localizada em um distrito” apresenta uma realidade atípica, contraditória: temos professoras, cujos esposos são proprietários de terras, e estudantes, ou pais de estudantes, que são funcionários destes. Enfim, tem-se uma escola do Campo atípica, pois o alunos que ali frequentam são filhos de empregados (tratoristas, caminhoneiros, entre outros) que trabalham para os grandes produtores rurais ou que trabalham nos aviários ou ainda trabalhadores das usinas e outras empresas nos municípios vizinhos, quando não, são filhos, uma minoria, dos grandes proprietários ou pequemos produtores rurais, pois Itaporã é um município onde não há assentamento, movimento sem-terra ou movimento de luta pela terra, mas movimento de agricultores do agronegócio, mas nem por isto a escola deixa de cumprir seu papel e desenvolver seu trabalho como afirma o Técnico em Educação do Campo, professor Mauro Sérgio Almeida de Lima, já citado anteriormente. Cabe ressaltar, porém que, apesar dos trabalhos desenvolvidos, a escola ainda se encontra aquém de uma verdadeira escola do campo, pois apesar da resolução que norteia os trabalhos apresentar algumas diferenças curriculares os materiais didáticos(livros didáticos) oferecidos ainda são os mesmos da escola urbana, isto quando se recebe material, o calendário a ser seguido é único para o Estado. Enfim, o artigo 28 da LDB, citado anteriormente ainda não está sendo cumprido plenamente. Acreditando que educação do campo é sinônimo de luta, necessário se faz que a escola lute por seus direitos garantidos e os façam valer para assim poder oferecer uma educação de qualidade a seus alunos , ensinando - os que, educação é luta , luta constante e permanente por uma vida digna enquanto cidadão. Referências bibliográficas

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BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996.

CALDART, Roseli Salete. A Escola do Campo em Movimento. Currículo sem Fronteiras,

v.3, n.1, pp.60-81, Jan/Jun 2003. Disponível em:

<http://www.curriculosemfronteiras.org/vol3iss1articles/roseli2.pdf>.

Acessado em 21/06/2015.

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EE SEN. SALDANHA DERZI. Projeto Político Pedagógico. 2015.

SED/MS. Res. nº 2.051 de 20 de Dezembro de 2011.

SED/MS. Res. nº 3.016 de 04 de fevereiro de 2016.