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New questions for an old problem: technological choices as indexes

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Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Ciências Humanas, Belém, v. 2, n. 1, p. 59-76, jan-abr. 2007

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Novas perguntas para um velho problema: escolhas tecnológicas como índicesNovas perguntas para um velho problema: escolhas tecnológicas como índicesNovas perguntas para um velho problema: escolhas tecnológicas como índicesNovas perguntas para um velho problema: escolhas tecnológicas como índicesNovas perguntas para um velho problema: escolhas tecnológicas como índicespara o estudo de fronteiras e identidades sociais no registro arqueológicopara o estudo de fronteiras e identidades sociais no registro arqueológicopara o estudo de fronteiras e identidades sociais no registro arqueológicopara o estudo de fronteiras e identidades sociais no registro arqueológicopara o estudo de fronteiras e identidades sociais no registro arqueológico

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Adriana Schmidt Dias I

Resumo:Resumo:Resumo:Resumo:Resumo: A relação entre variabilidade artefatual e identidades sociais no registro arqueológico é uma das principais problemáticasda pesquisa arqueológica, independente do enfoque teórico. No que tange à arqueologia brasileira, esta questão foitradicionalmente abordada através dos conceitos de fase e tradição, porém suas aplicações não acompanharam osdebates teórico-metodológicos sobre tecnologia produzidos ao longo dos últimos 40 anos, através da antropologia dastécnicas e dos estudos de estilo tecnológico. Neste artigo são apresentadas as implicações desta perspectiva nainterpretação do registro arqueológico no alto vale do rio dos Sinos, Rio Grande do Sul.

PPPPPalavras-chave: alavras-chave: alavras-chave: alavras-chave: alavras-chave: Arqueologia Sul-brasileira. Tradição e fase Arqueológica. Estilo tecnológico. Tecnologia Lítica.

Abstract:Abstract:Abstract:Abstract:Abstract: The relation between artefactual variability and social identities in the archaeological record is one of the main issuesof the archaeological research, regardless of the theoretical approach. In Brazilian archaeology, this question has beingapproached under the concepts of phase and tradition, although their applications are not in tune with the theoreticaldebate on technology produced throughout the last 40 years, by the anthropology of techniques and studies oftechnological style. We will discuss the implications of such perspective in the interpretation of the archaeological recordfrom the upper Sinos river valley, Rio Grande do Sul, southern Brazil.

KKKKKeywords:eywords:eywords:eywords:eywords: Southern Brazilian archeology. Archaeological tradition and phase. Technological style. Lithic technology.

I Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Departamento de História. Professora Adjunta. Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil([email protected]).

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Um dos principais objetivos da pesquisa arqueológica,independente do enfoque teórico, é promover acompreensão da relação entre escolhas tecnológicase padronização da cultura material e como estasrefletem aspectos de fronteiras e identidades sociaisno registro arqueológico (STARK, 1998). Naarqueologia brasileira, esta problemática é tratada,desde a década de 1960, através dos conceitos defase e tradição. Percebe-se que ambos os conceitosreferem-se à articulação entre os aspectos contextuaisque geram variabilidade tecnológica nos conjuntosartefatuais, embora suas aplicações no Brasil não sejamacompanhadas de propostas metodológicas quepermitam viabilizar este tipo de análise.

Nosso objetivo é rever estes conceitos à luz dasdiscussões teórico-metodológicas sobre tecnologia,produzidas ao longo dos últimos 40 anos, atravésda antropologia das técnicas e dos estudos de estilotecnológico. Com este exercício, busca-se apontaralguns caminhos que permitam compreender quaisaspectos justificam interpretar a variabilidade deconjuntos artefatuais em um dado contexto regionalem termos de Tradições Arqueológicas e como asescolhas tecnológicas podem refletir fronteiras eidentidades sociais no registro arqueológico.

Para ilustrar esta discussão, serão apresentadas asimplicações deste tipo de perspectiva nainterpretação do registro arqueológico no alto valedo rio dos Sinos, região nordeste do estado do RioGrande do Sul. A partir do conceito de estilotecnológico, procurou-se analisar, de forma crítica,a validade das categorias conceituais utilizadas peloPrograma Nacional de Pesquisas Arqueológicas(PRONAPA) para refletir sobre as ocupações decaçadores coletores nesta área, definidas pelasTradições Umbu e Humaitá (DIAS, 2003).

A perspectiva histórico-cultural:A perspectiva histórico-cultural:A perspectiva histórico-cultural:A perspectiva histórico-cultural:A perspectiva histórico-cultural:os conceitos de Tos conceitos de Tos conceitos de Tos conceitos de Tos conceitos de Tradição e Fradição e Fradição e Fradição e Fradição e FaseaseaseaseaseO PRONAPA, desenvolvido entre 1965 e 1970,consistiu em um desdobramento, para o territóriobrasileiro, das pesquisas de Betty Meggers e Clifford

Evans quanto às rotas de migração e difusão culturalnas terras baixas da América do Sul. O principalobjetivo do Programa era estabelecer um esquemacronológico do desenvolvimento cultural no país,através de trabalhos prospectivos de caráter regionale seriações (FORD, 1962). De acordo com aproposta, seqüências seriadas semelhantes para umamesma região seriam reunidas em fases, as quais,por sua vez, formariam tradições. Estes conceitosmarcariam os ritmos da distribuição espaço-temporal dos grupos humanos pré-históricos queviessem a ser descobertos a partir das atividades doPrograma (DIAS, 1994, 1995).

Apesar de sua importância central na caracterizaçãodos quadros culturais identificados a partir doPRONAPA, a única definição formal dos conceitosde fase e tradição é encontrada na “TerminologiaArqueológica Brasileira para a Cerâmica” (CHMYZ,1966, 1976). Glossário dos termos utilizados peloPRONAPA, a “Terminologia” define por fase“qualquer complexo de cerâmica, lítico, padrões dehabitação, relacionado no tempo e no espaço, emum ou mais sítios” (1966, p. 14; 1976, p. 131).Quanto ao conceito de tradição, este é definidocomo “grupo de elementos ou técnicas que sedistribuem com persistência temporal” (1966, p.20; 1976, p. 145). Ambos conceitos derivam deuma larga tradição de pesquisa na arqueologia norte-americana, sintetizada na obra de Gordon Willey ePhilip Phill ips (1958). Porém, sua util ização,descolada do corpo teórico do qual se originou, fezcom que a definição de fases e tradições setransformasse na finalidade última das pesquisas paraum número significativo de arqueólogos que atuaramno sul do Brasil entre as décadas de 1960 e 1980(DIAS, 1994).

A abordagem histórico-cultural popularizou-se naarqueologia norte-americana a partir da década de1920, possuindo um enfoque eminentementeclassificatório, voltado à organização de cronologiasregionais através de comparações estratigráficas oude seriações. As primeiras sínteses histórico-culturais

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para o Novo Mundo relacionaram-se aos trabalhosde Nelson, Kidder, Kroeber, Spier e McKern, autoresresponsáveis pelas formulações iniciais referentes aosconceitos de componente, fase, tradição e horizontena arqueologia americana. Contudo, estes conceitossomente foram sistematizados em 1958, a partir daobra de Willey e Phillips, “Method and Theory inAmerican Archaeology” (TRIGGER, 1992, p. 189-192). Fruto da inter-relação entre correntes teóricasvigentes na arqueologia norte-americana dos anos1950, “Method and Theory” oferece uma síntese dosmétodos desenvolvidos pela abordagem histórico-cultural, interpretados à luz dos enfoques funcionalistae ecológico-cultural. O cerne das preocupações deWilley e Phillips encontra-se na busca de uma posturapropriamente científica para a arqueologia norte-americana, marcada, até então, pelo empiricismo daescola histórico-cultural. Romper com esta tradiçãode pesquisa significava, em última instância, reivindicarà arqueologia um papel ativo no processo de produçãodo conhecimento. Para tanto, tornava-se necessárioum novo realinhamento com a antropologia social,que ofereceria as bases de sustentação teórica dasquais carecia a arqueologia para atingir uma práticanotadamente científica (WILLEY; PHILLIPS, 1958;WILLEY; SABLOFF, 1993).

Para os autores, os níveis de organização do trabalhoarqueológico e as atividades a eles relacionadas estariamde acordo com três etapas. A primeira etapa seria otrabalho de campo, que objetiva “observar os produtosmaterializados do comportamento humano” (WILLEY;PHILLIPS, 1958, p. 4). Os dados obtidos seriamorganizados e descritos em uma segunda etapa, chamadapelos autores de integração histórico-cultural, quecompreende a elaboração de tipologias, a formulaçãode unidades arqueológicas e a determinação dasdimensões internas e externas destas unidades, definidasem sua relação espaço-temporal. O objetivo principaldesta etapa de análise é descrever os acontecimentosde uma unidade cultural específica, em um tempo eespaço determinados. A última etapa do trabalhoarqueológico corresponderia à interpretação

processual, na qual as regularidades apontadasreceberiam uma explicação a partir da teoriaantropológica (1958, p. 31).

A base da aplicação do método de integraçãohistórico-cultural é taxonômica e lida com doisconceitos básicos: tipos e unidades arqueológicas.Segundo a definição de Willey e Phillips, os tipossão instrumentos para a classificação dos artefatosassociados a um contexto arqueológico. Osindicadores selecionados para a definição de um tipodevem representar uma realidade comportamental,entendida como norma pelas sociedades queproduziram o artefato sob análise. A relação espaço-temporal apresentada pelos tipos é expressa peloconceito de unidade arqueológica, definido pelacombinação de seu conteúdo formal, duração notempo e distribuição geográfica (1958, p. 14). Oconceito de unidade arqueológica varia emmagnitude e em função da quantidade de tempo eespaço que subentende, podendo ser apresentadode duas maneiras: unidades arqueológicas básicas eunidades arqueológicas integrativas.

As unidades arqueológicas básicas são representadaspelos conceitos de componente e fase. Umcomponente é uma manifestação de um dado focoarqueológico num sítio específico, não podendo serconsiderado propriamente como uma unidadetaxonômica (1958, p. 21). O conceito de fase,difundido na arqueologia americana a partir de suadefinição por Kidder, na década de 1940 (WILLEY;PHILLIPS, 1958, p. 22), constitui-se em

uma unidade arqueológica que possui traçossuficientemente característicos para distingui-la detodas as outras unidades similarmente concebidas,seja da mesma ou de outras culturas ou civilizações,especialmente limitada pela magnitude de umalocalidade ou região e cronologicamente limitada aum intervalo de tempo relativamente breve.

De acordo com a definição original, uma fase podeser representada por apenas um nível pouco espessode um sítio, refletindo não mais do que um breve

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acampamento, ou por uma ocupação prolongadapresente em um grande número de sítios,distribuídos em uma região de proporções muitoelásticas. Assim, as fases sempre devem ser definidasem função de uma seqüência de ocupação regional,seja esta contínua ou não.

As unidades arqueológicas integrativas, por sua vez,são representadas pelos conceitos de horizonte etradição, responsáveis por efetivar a integraçãohistórico-cultural das unidades arqueológicas básicas(componentes e fases) em uma escala geográficamaior que a regional (1958, p. 30). O termohorizonte foi aplicado pela primeira vez por MaxUhle, em 1913, e formalizado por Kroeber, em1944, sendo, por sua vez, definido por Willey ePhillips (1958, p. 33) como “uma continuidadeespacial, representada principalmente por traços ouconjuntos de traços culturais, cuja natureza e modode ocorrência permite a suposição de uma vasta erápida dispersão”.

Quanto ao conceito de tradição, sua ampla utilizaçãopela arqueologia americana da década de 1940 fezcom que este assumisse uma conotação polissêmica(1958, p. 35). Em conseqüência dos debatessuscitados em torno da sistematização desteconceito, Willey e Phillips definem que uma “tradiçãoarqueológica é fundamentalmente uma continuidadetemporal representada por configurações persistentesem tecnologias únicas ou outros sistemas de formasrelacionadas” (1958, p. 37). O conceito de tradiçãosubentende uma unidade ou uma série de unidadesarqueológicas básicas (fases) relacionadas entre si,que são socialmente transmissíveis e persistentes notempo. Portanto, uma tradição seria caracterizadaprincipalmente pela profundidade temporal,enquanto um horizonte teria por marca distintiva aamplitude geográfica.

De acordo com o método proposto, umaintegração histórico-cultural relaciona as unidadesbásicas (componente e fase) com as unidadesintegrativas (horizonte e tradição). A relação entre

componente e fase é predominantemente formal eestática, sendo o passo inicial da integração histórico-cultural. Já a ligação entre horizonte e tradição éfluida e histórica, correspondendo a uma síntese dosdados formais oferecidos pelo sistema componente/fase. Por sua vez, a relação externa entre as fases éexpressa nas unidades integrativas horizonte etradição, embora a definição de uma fase não tenhapor único objetivo conceber uma tradição, pois “aeficiência deste aparato depende do livre jogo dasunidades básicas e integrativas, sem limitações rígidasde caráter sistemático” (1958, p. 41).

Em suma, as unidades básicas e integrativasconstituem-se em ferramentas metodológicas quepermitem sistematizar as informações descritas nonível de integração histórico-cultural, a fim de querecebam uma explicação à luz da teoriaantropológica, no nível de interpretação processual(1958, p. 57). No entanto, Willey e Phillipsadvertem que é necessário seguir alguns passosfundamentais para que tal proposta se efetive. Emprimeiro lugar, a ênfase do trabalho arqueológicodeve estar fundamentalmente voltada à formulaçãode unidades básicas (componente e fase), de acordocom sua distribuição nas seqüências locais e regionais,estabelecidas a partir de controle estratigráfico. Asdimensões espaço-temporais destas unidades devemser sempre limitadas para que se mantenhammanejáveis. As fases, por sua vez, devem ser definidaslevando-se em consideração um estudo profundotanto de seu contexto cultural quanto de seu contextonatural, com o intuito de se ter bases seguras paraintegrá-las nas tradições e horizontes.

Em segundo lugar, deve-se sempre considerar queos conceitos de tradição e horizonte são unidadesque expressam relações intra-áreas, sendo limitadospara uma integração espaço-temporal em larga escala(1958, p. 63). Para que adquiram validade histórica,tradições e horizontes definidos durante a pesquisadevem ser organizados em função de uma série deestágios de desenvolvimento cultural, denominadospelos autores de estágios histórico-desenvolvimentais

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(no caso americano representados pelos estágiosLítico, Arcaico, Formativo, Clássico e Pós-clássico)(1958, p. 71). Esses estágios não visam a explicar asmudanças culturais ocorridas, tarefa da antropologia,mas sim descrever os tipos de culturas e suaorganização na possível ordem seqüencial deocorrência (1958, p. 76-77).

As limitações ao nível descritivo das unidadesbásicas e integrativas, salientadas fortemente porWilley e Phillips, não foram consideradas em suaaplicação em território brasileiro pelo PRONAPA.A definição de fases e tradições foi encaradaenquanto finalidade última da pesquisa e não comomeio para a descrição e sistematização de dados aserem interpretados pela teoria antropológica.Como conseqüência, a falta de reflexão teórica naarqueologia brasi leira da década de 1960propiciou, nos anos subseqüentes, a consolidaçãode uma visão míope quanto à amplitude dométodo utilizado, estruturalmente limitado ao níveldescritivo de análise.

No Brasil a definição de fases desconsiderou apremissa subjacente à aplicabilidade do conceito,relacionada à comparação de aspectos cronológicose contextuais (de ordem cultural e natural) do registroarqueológico que deveria reger sua integração emuma tradição. Por sua vez, as tradições passaram aassumir conotações distintas da enfatizada peladefinição original, limitada a descrever fenômenosde continuidade temporal relacionados a aspectosde natureza tipológica. Esta postura anômala daarqueologia brasileira cristaliza-se no pensamento deMeggers e Evans (1985, p. 5) ao sugerirem que

fases definidas em termos de seqüências seriadaspodem ser correlacionadas a comunidadesautônomas ou semi-autônomas e que tradiçõesdefinidas em termos de fases que compartilham umconjunto de elementos [...], provavelmente,representam entidades tribais ou lingüísticas.

Desta forma, as tradições assumiram no Brasil umpapel distinto do originalmente proposto, ocupando

a posição reservada aos distintos estágios histórico-desenvolvimentais que ofereceriam a coesãonecessária aos conjuntos culturais definidos.

Por fim, ao avaliar os dados produzidos peloPRONAPA para a região sul do Brasil, é possívelobservar que os aspectos tecnológicos e contextuaisintrínsecos aos conceitos de fase e tradição receberampouca atenção. Destacam, porém, os que sãojustamente estes pontos que se encontram no cernedas críticas processuais e pós-processuais à formatradicional de se fazer arqueologia. São estas as novasperguntas que gostaríamos de resgatar para refletirsobre este velho problema de pesquisa no Brasil.

As perspectivas processual e pós-As perspectivas processual e pós-As perspectivas processual e pós-As perspectivas processual e pós-As perspectivas processual e pós-processual: os conceitos de sistemaprocessual: os conceitos de sistemaprocessual: os conceitos de sistemaprocessual: os conceitos de sistemaprocessual: os conceitos de sistematecnológico e estilotecnológico e estilotecnológico e estilotecnológico e estilotecnológico e estiloA partir da década de 1960, a reação processual àperspectiva histórico-cultural passa a compreendera tecnologia como o resultado de estratégiasadaptativas, inter-relacionadas com as limitações epossibilidades do meio natural e as demandas daorganização sócio-econômica das populações. Paraa arqueologia histórico-cultural, a interpretação dassemelhanças e diferenças nos padrões morfológicosdos artefatos possui conotações étnicas e as mudançasao longo do tempo nestes padrões são explicadas,principalmente, em termos de processos de difusãoe migração. A partir da visão materialista, ou standard,defendida pela escola processual, entende-se atecnologia como um modo a partir do qual oshomens viabilizam sua existência frente ao mundonatural, um meio extra-somático de adaptação. Asinvestigações sobre este tema centraram-se,portanto, sobre o entendimento das inter-relaçõesentre os sistemas tecnológicos e aspectos comodisponibilidade de matérias primas, característicasfísicas dos materiais, atribuições funcionais a quese destinam os artefatos e sua eficiência naexploração do meio natural (PFAFFENBERGER,1992; DOBRE; HOFMAN, 1994).

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A partir dos anos de 1980, as limitações interpretativasda perspectiva materialista influenciaram odesenvolvimento, nos países de língua inglesa, depesquisas voltadas à compreensão da natureza davariabilidade tecnológica e qual sua relação com osprocessos de formação do registro arqueológico. Porsua vez, a tradição francesa de estudos de tecnologiapassou a explorar a relação entre cognição e escolhastecnológicas, examinando o processo pelo qual avariação tecnológica é criada através da seqüência demanufatura dos artefatos. Em ambas tradições depesquisa, seja guiada pela noção de cadeia operatóriade André Leroi-Gourhan ou pela cadeiacomportamental de Michael Schiffer, o objetivocomum é compreender como o comportamentotecnológico cria e intermedia relações sociais. Nestecaso, a etnoarqueologia e a arqueologia experimentalconstituem-se no campo principal de elaboração demodelos teóricos que contribuem para esta discussão(STARK, 1998).

De acordo com a perspectiva defendida porLemonnier (1986, p. 154-155), a tecnologia é umapreocupação antropológica, pois manifesta as escolhasfeitas pelas sociedades de um universo de possibilidadesdas quais as técnicas, em seus aspectos mais materiais,fazem parte. Igualmente, a tecnologia deve serentendida enquanto um sistema de relações, uma vezque cada técnica, arbitrariamente definida, é locus demúltiplas interações e de constantes ajustes entre oselementos, pois sem a ação que o anima e oconhecimento de seus efeitos, o artefato não é nada.Em uma dada sociedade, as técnicas interagem aocompartilhar os mesmos recursos, conhecimento,sítios e atores. Assim, o uso em algumas tecnologiasdos produtos de outras, bem como a existência deseqüências operacionais ou princípios técnicos emcomum, criam múltiplas relações de interdependênciaentre as diferentes técnicas, conferindo a estas umcaráter sistêmico. A representação cultural das técnicase sua classificação por um dado grupo contribuempara firmar seu caráter sistêmico e ao mesmo temporeafirmar as identidades culturais nele representadas.

O estudo das relações entre cultura material esociedade torna-se, então, o estudo das condiçõesde coexistência e transformação recíproca de umsistema tecnológico e da organização tecnológica dasociedade na qual opera.

Para Lemonnier (1986, p. 154-155), a tecnologia éum produto social, sendo as escolhas tecnológicasestratégias dinâmicas, relacionadas freqüentementecom diferenciação e identidade social. As técnicas sãoproduções sociais que expressam e definemidentidades, auxiliando a reafirmar, representar e darsentido a um mundo socialmente construído depossibilidades e limites. De acordo com esta lógica,grupos vizinhos, em geral, têm plena consciência dassuas escolhas técnicas mútuas e a ausência de um dadotraço tecnológico em um dos sistemas poderepresentar uma estratégia consciente de demarcaçãode diferenciação social (DOBRES; HOFFMAN, 1994,p. 221). Os sistemas tecnológicos são, portanto, umrecurso e um produto de criação e manutenção deum ambiente natural e social, simbolicamenteconstituído. Neste sentido, a tecnologia pode serdefinida como o corpus de artefatos, comportamentose conhecimentos transmitidos de geração a geraçãoe utilizados nos processos de transformação eutilização do mundo material.

Por sua vez, os estudos de estilo tecnológico vinculam-se a esta vertente teórica, pois compreendem ofenômeno estilístico como algo inerente e subjacenteaos processos de produção dos quais resultam os aspectosvisuais relacionados à forma final dos artefatos. Destaca-se que o estilo não é um fenômeno unidimensional,integrando várias concepções e, ao mesmo tempo,apresentando uma multi-funcionalidade em diferentescontextos sócio-culturais (DIAS; SILVA, 2001, p. 96).No entanto, as diferentes perspectivas analíticas sobre oconceito de estilo tecnológico compartilham algunsprincípios básicos: o estilo tecnológico refere-se a umdeterminado modo de fazer algo ou alguma coisa; estemodo de fazer implica em escolhas dentre possibilidadesalternativas; e é próprio de um determinado tempo elugar (HEGMON, 1992).

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Para Sackett (1986, p. 630), a noção de estilotecnológico é uma qualidade latente e inerente aqualquer variação artefatual na medida em que aforma é constituída de escolhas feitas pelo artesão,conscientemente ou não, de um amplo espectro àsua disposição. Estas escolhas tecnológicas são ditadaspela tradição na qual o artesão foi enculturado comomembro de um grupo social, traduzindo-se emnoções de design peculiares a certos lugares etempos, diagnósticos de etnicidade. Portanto, estiloe função são aspectos complementares quedeterminam a morfologia dos artefatos e ascaracterísticas das cadeias operatórias que lhes dãoorigem. O aspecto funcional de um artefato residena maneira como a sua forma serve a umdeterminado fim e o aspecto estilístico reside navariante étnica ou escolha isocréstica em que estaforma surge, ou seja, nas escolhas tecnológicas(SACKETT, 1977, p. 75). Para o autor, padrões devariabilidade tecnológica, derivados de variaçõesétnicas, também se refletiriam em diferenças quantoàs formas de exploração dos recursos, àscaracterísticas estruturais dos sistemas deassentamento e à maneira como os artefatos sãodescartados nos sítios (1986, 1993).

A principal crítica ao modelo de Sackett centra-se na re lação entre est i lo tecnológ ico eetnicidade, categoria conceitual discutível quandoaplicada à interpretação do registro arqueológico(HEGMON, 1998; JONES, 1997). Porém,estudos etnoarqueológicos executados nas últimasdécadas demonstram que tecnologia, função eest i lo são aspectos inter-relacionados docomportamento, sinalizando fronteiras sociais eafiliação cultural que podem ser reconhecidas nacultura material. Contudo, a natureza destesfenômenos é altamente contextualizada emtermos históricos, podendo relacionar-se ainteresses interpessoais (relativos às categorias deidade ou gênero) ou intergrupais (na mediaçãode relações entre grupos vizinhos), devendo osestudos arqueológicos sobre o tema centrarem-

se em escalas de análise micro-regionais (STARK,1998; DIETLE; HERBICH, 1998, DOBRES;HOFFMAN, 1994, 1996; WIESSNER, 1989).

Partindo da reflexão teórica sobre o conceito de estilotecnológico, pode-se sugerir que a variabilidadeartefatual associada a distintos contextos de uma dadaárea resulta de escolhas tecnológicas que sãoculturalmente determinadas. Os estilos tecnológicosestão representados nestas escolhas, que se refletemna seleção das matérias primas, nas técnicas eseqüências de produção escolhidas e nos resultadosmateriais destas escolhas, representados pelasdiferentes categorias de artefatos produzidos. O estilotecnológico pode ser entendido como produto deuma tradição cultural e seu estudo, relacionado aoutros aspectos de ordem contextual, pode servircomo indicador de identidades sociais representadasno registro arqueológico. Contudo, esta percepçãodemanda um suporte contextual de análise na medidaem que um estilo tecnológico só adquire sentidoquando compreendido como parte de um sistematecnológico e este, por sua vez, de um sistemacultural mais amplo (DIAS; SILVA, 2001, p. 101).

Portanto, o debate sobre a validade dos conceitosde tradição e fase na arqueologia brasileira pode serredimensionado a partir das perspectivas teóricasacima expostas. Foi a partir deste tipo de reflexãoque lançamos um novo olhar sobre as coleções líticasdo sul do Brasil relacionadas à ocupação pré-colonialdo alto vale do rio dos Sinos, região nordeste doRio Grande do Sul.

Refletindo sobre fronteiras e identidadesRefletindo sobre fronteiras e identidadesRefletindo sobre fronteiras e identidadesRefletindo sobre fronteiras e identidadesRefletindo sobre fronteiras e identidadessociais no registro arqueológico: as tradiçõessociais no registro arqueológico: as tradiçõessociais no registro arqueológico: as tradiçõessociais no registro arqueológico: as tradiçõessociais no registro arqueológico: as tradiçõeslíticas da região nordeste do Rio Grandelíticas da região nordeste do Rio Grandelíticas da região nordeste do Rio Grandelíticas da região nordeste do Rio Grandelíticas da região nordeste do Rio Grandedo Suldo Suldo Suldo Suldo SulNo decorrer das atividades do PRONAPA, os sítioslíticos identificados na região sul do Brasil foramclassificados em 42 fases arqueológicas em funçãode distinções nos padrões de implantação regional,cronologia e características morfológicas dos

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conjuntos de artefatos. Tomando por base estestrabalhos, no final da década de 1970 as TradiçõesUmbu e Humaitá foram formalmente definidas daseguinte forma:

Duas tradições líticas gerais têm sido reconhecidasno sul do Brasil, uma com pontas de projétil líticas eoutra onde estas estão ausentes. Esta últimadesignada tradição Humaitá é representada porinúmeros sítios em locais florestais, ao longo derios, lagos e banhados. [...] As datas mais antigasestão associadas [...] [a um] tipo de artefato maiscaracterístico: um biface bumerangóide. Choppersalongados unifaciais ou bifaciais, com secçãotransversal circular e triangular; raspadores planoconvexos e facas sobre lascas são também típicos.[...] As pontas de projétil líticas são antigas na Américado Sul e persistem no sul do Brasil depois de 5000a.C., na tradição Umbu. [...] Entre a variedade depontas apedunculadas e pedunculadas, há algumascom margens serrilhadas e outras com retoqueunifacial. A forma mais comum é triangularalongada, com pedúnculos de lados paralelos ouexpandidos e com base reta, côncava ou convexa.Trituradores e pequenas bigornas líticas comconcavidade central são típicos, assim comochoppers, raspadores terminais e lascas commarcas de uso. Freqüentemente, estão tambémassociados bolas [boleadeiras], machados polidose semi-polidos e afiadores líticos (MEGGERS;EVANS, 1977, p. 548-551).

Ao longo dos anos de 1980, as primeiras síntesesproduzidas para a arqueologia sul brasileira voltaram-se ao estabelecimento da relação espaço-temporalentre as fases das tradições Umbu e Humaitá emsua inserção no quadro geográfico-ambiental,assumindo-se que os contextos arqueológicosdescritos representariam organizações sociais decaçadores coletores (SCHMITZ, 1981, 1984,1985; RIBEIRO, 1979; KERN, 1981, 1983, 1991).Destaca-se que as indústrias líticas receberam umtratamento superficial em tais sínteses emdecorrência da escassez de dados descritivos ouquantitativos presentes nas publicações originais.Assim, as limitações metodológicas das análisesiniciais, centradas na morfologia das peças,dificultaram o estabelecimento de parâmetros que

permitissem a compreensão de possíveis distinçõesno comportamento das fases e tradições ao longodo tempo e do espaço. Tentando suprir estadeficiência, na década de 1990, vários pesquisadoresdedicaram-se ao estudo tecno-tipológico decoleções das tradições Umbu e Humaitá a fim deavaliar as permanências e descontinuidades sofridaspor estas indústrias líticas (HILBERT, 1994; DIAS,1999; DIAS E HOELTZ, 1997; HOELTZ, 1997).

Refletindo sobre os resultados destas pesquisas, Diase Silva (2001) destacam que, se por um lado asindústrias líticas da tradição Umbu apresentam umaextrema homogeneidade, a diversidade dosconjuntos relacionados à tradição Humaitá poderiaser melhor entendida se observada em relação aoscontextos regionais de distribuição dos sítios. Comoos trabalhos originais do PRONAPA já apontavam,estes sítios líticos estão associados a áreastradicionalmente ocupadas por horticultoresrelacionados às tradições Taquara e Guarani,podendo, portanto, serem integrados aos sistemasde assentamento destes grupos ceramistas. Talhipótese torna-se pertinente se for considerada adefinição da tradição Humaitá associada a duas pré-concepções derivadas do enfoque histórico-cultural,sendo a primeira a que todos os conjuntos líticos deum mesmo grupo devem ser homogêneos e,portanto, distinções entre conjuntos líticospressupõem grupos culturalmente distintos; e asegunda que todo sítio lítico é necessariamenterelacionado a um grupo caçador coletor. Apremência destas pré-concepções, associada àausência de escavações contextualizadas e de estudostecno-tipológicos centrados na interpretação davariabilidade lítica, contribuíram, ao longo dos anos,para transformar a tradição Humaitá em umdepositário de conjuntos líticos, muitas vezes dísparesentre si.

Buscando refletir sobre esta problemática e tomandoo conceito de estilo tecnológico como referênciateórica para interpretar a variabilidade das indústriaslíticas do sul do Brasil, estruturamos uma proposta

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de estudo para uma região de 216 km2, que abrangeo alto vale do rio dos Sinos, região nordeste doestado do Rio Grande do Sul. O objetivo principaldesta pesquisa foi testar a hipótese de que as cadeiasoperatórias relacionadas à produção de diferentescategorias de artefatos, associadas aos sítiosarqueológicos de uma determinada área, manifestamsignificado cultural em termos de identidades sociais.Desta forma, a comparação da organizaçãotecnológica das indústrias líticas de diferentes sítiosde uma mesma região permitiria avaliar se avariabilidade presente nestes conjuntos representavariações regionais, temporais e/ou funcionais deuma mesma tradição tecnológica.

A seleção desta região para estudo justificou-se tendoem vista o potencial que apresentava parainvestigações sobre o tema, evidenciado pelaspesquisas do PRONAPA nos vales dos rios dos Sinose Maquiné e na zona lagunar litorânea. Entre 1965e 1970, Eurico T. Miller (1967, 1974) identificounesta região 484 sítios arqueológicos, sendo os sítioslíticos classificados em cinco fases pré-cerâmicas (fasesHumaitá, Camboatá, Camuri, Umbu e Itapuí) e osdemais classificados em quatro fases cerâmicas (fasesMaquiné e Paranhana, ambas relacionadas à tradiçãoGuarani; fase Taquara, primeira definida para atradição homônima; e fase Monjolo, relacionada àcerâmica colonial).

Do conjunto de fases pré-cerâmicas para estaregião, as fases Camuri, Umbu e Itapuí apresentampontas de projétil, diferenciando-se pelo tipo desítio arqueológico e pela morfologia desta categoriade artefato. A fase Camuri caracteriza sítios a céuaberto, enquanto as fases Umbu e Itapuípredominam em sítios em abrigo sob rocha. Porsua vez, através de seriações de pontas de projétil,foi definido que a fase Umbu seria a mais antiga(com estimativas cronológicas entre 6.000 e 4.000anos AP), predominando em seus conjuntos pontasde projétil pedunculadas de corpo triangular epontas de projétil lanceoladas. A fase Itapuícorresponderia a um período mais recente de

ocupação da área (estimado entre 4.000 e 1.000anos AP), caracterizado pela presença de pontasde projétil de corpo triangular e base de pedúnculobifurcado, apresentando, em alguns casos, bordasserrilhadas. É com base nos estudos realizados porMiller (1976, 1974) para esta região que a tradiçãoUmbu foi definida.

As demais fases pré-cerâmicas da região nordestedo Rio Grande do Sul relacionadas à tradiçãoHumaitá foram caracterizadas de forma maisgenérica. A fase Camboatá estaria representada porcentenas de sítios a céu aberto caracterizados pelapresença de artefatos lascados e polidos, estandoausentes as pontas de projétil. Estes sítios estariamimplantados na encosta e no planalto, em altitudesentre 400 e 1.000 m, sendo os artefatoscaracterizados por diferentes tipos de talhadoresbifaciais lascados a partir de núcleos de basalto, lascas,percutores, polidores de arenito e raros machadospolidos. Embora estes sítios não apresentemdatações, de acordo com Miller (1967, p. 19), afase Humaitá seria mais antiga que a fase Camboatáe estaria

representada por apenas dois sítios, [sendo]caracterizada por artefatos líticos lascados porpercussão e confeccionados a partir de lascõesdestacados de grandes blocos de basalto,conservando grandes porções da crosta natural. Aúnica evidência que temos até o momento, paracomparação relativa de antiguidade, é oadiantadíssimo estado de oxidação dos implementosaí existentes. Os sítios localizam-se a 700 metros dealtitude, nos patamares arredondados da encostado planalto, próximos a sangas e junto a grandesblocos de basalto. (...) Os talhadores (choppers),lascões discóides unifaciais grandes, representam maisde 50% dos artefatos. Encontram-se ainda: biface,talhador unifacial alongado, talhador unifacial componta e fio, talhador com talão e numerosíssimaslascas de grandes proporções (1967, p. 18).

A tradição Humaitá foi, portanto, definida com basena suposta antiguidade de sua fase homônima, sendoseu conteúdo cultural representado por conjuntosartefatuais caracterizados por alta variabilidade.

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As prospecções realizadas entre 1999 e 2001, noalto vale do rio dos Sinos, identificaram 61 sítiosarqueológicos, dos quais 23 apresentavamunicamente artefatos líticos. Destes, 15 estavamassociados à tradição Umbu e 8 possuíam conjuntosartefatuais característicos da tradição Humaitá,representados por artefatos bifaciais de grande porte.Estes últimos, no entanto, também apresentavamcorrelação contextual com 14 sítios lito-cerâmicosidentificados na área, dos quais 13 associavam-se àcerâmica da tradição Guarani e um à cerâmica datradição Taquara. Deste conjunto de sítios, três foramselecionados para escavações com o objetivo deestabelecer uma cronologia para esta ocupação.Nestes sítios, em abrigo sob rocha, foram realizadas12 datações radiocarbônicas, que indicam umaocupação contínua relacionada à tradição Umbu paraesta área entre 8.800 e 440 anos AP. Sondagensrealizadas em um dos sítios da tradição Guaranipermitiram a obtenção de amostras cerâmicasdatadas por termoluminescência, com resultados de205 e 165 anos AP. Os sítios da tradição Taquaranão apresentaram amostras passíveis de datação,porém as atividades do PRONAPA no vale do riodos Sinos forneceram uma datação para contextossimilares de 1.665 anos AP.

Destaca-se, ainda, que estes sítios líticos tambémapresentaram distinções quanto ao padrão deimplantação no espaço regional. Os sítios líticosassociados ao sistema de assentamento da tradiçãoUmbu estão representados, em sua maioria, porocupações em abrigos sob rocha, relacionados aosmorros testemunhos junto à várzea do rio dosSinos e ao vale do arroio Campestre. Por sua vez,os sítios arqueológicos da tradição Taquara situam-se junto às nascentes de afluentes do rio dos Sinos,em topografia acentuada e altitudes entre 100 e400 m. Os sítios líticos correlacionados à tradiçãoGuarani estão localizados junto à várzea do riodos Sinos e seus afluentes de maior porte, emáreas de meia encosta com altitudes, em geral,abaixo de 100 m.

Os sítios líticos de caçadores coletoresOs sítios líticos de caçadores coletoresOs sítios líticos de caçadores coletoresOs sítios líticos de caçadores coletoresOs sítios líticos de caçadores coletoresPara a definição do estilo tecnológico relacionadoaos sítios de caçadores coletores, estudamos, deforma comparativa, as coleções líticas de sete sítiosarqueológicos da área, escavados durante oPRONAPA, situados no vale do arroio Campestre(sít ios RS-S-358: Toca Grande e RS-S-359:Aterrado) e na várzea do rio dos Sinos (sítios RS-S-265: Campestre, RS-S-327: Sangão, RS-S-337:Monjolo, RS-S-360: Marimbondo e RS-S-361:Mato da Toca). As coleções totalizaram umconjunto de 21.491 peças, analisadas de formacomparativa quanto à escolha das matérias primas,à organização geral da tecnologia e à composiçãoartefatual dos conjuntos de acordo com aspropostas metodológicas de Dias e Hoeltz (1997).

a) Escolha das matérias primasAs matérias primas identificadas nos sítios da tradiçãoUmbu são de origem local. A seleção do basaltoestá relacionada à coleta junto aos cursos de águasde seixos e fragmentos de basalto colunar trazidospor arraste fluvial das encostas. Nos sítios próximosà várzea do rio dos Sinos, observa-se a utilizaçãopreferencial desta matéria prima, que correspondeentre 97 e 61% do conjunto dos resíduos delascamento, com índices de utilização entre 36 e27% nos sítios do vale do arroio Campestre. Autilização do arenito silicificado varia entre 5 e 32%,estando sua procedência relacionada à exploraçãode afloramentos. A calcedônia ocorre na área naforma de geodos associados ao arraste fluvial dasencostas e o quartzo está associado à exploraçãopreferencial de afloramentos. A utilização dacalcedônia é preferencial nos sítios RS-S-358 e RS-S-359, localizados no vale do arroio Campestre,correspondendo a 50% das matérias primasempregadas. Quanto ao quartzo, sua utilização situa-se entre 9 e 1% para a amostragem analisada, sendomais freqüente nos sítios do vale do arroioCampestre.

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b) Organização geral da tecnologiaQuanto à organização da tecnologia, os sítios RS-S-358 e RS-S-359 são os que apresentam vestígiosde lascamento bipolar em termos elevados,correspondendo a 32,04 e 25,97% da composiçãogeral do conjunto lítico. Nos demais sítios, os resíduosde bipolaridade variam entre 4,36% e 0,45% dacomposição geral da indústria e relacionam-se aoprocessamento da calcedônia e do quartzo.

Uma situação inversa é observada quanto à participaçãorelativa das lascas unipolares nos conjuntos analisados,associadas à redução das matérias primas basalto earenito silicificado. Os menores índices estãoassociados aos sítios do vale do arroio Campestre,que apresentam entre 20,90 e 16,22% de suascoleções compostas por esta categoria de resíduos.Nos sítios associados ao vale do rio dos Sinos as lascasunipolares distribuem-se entre 33,18 e 18,97% dacomposição geral das indústrias.

As lascas que apresentavam dimensões inferiores a 1cm foram incorporadas à categoria de microlascas,cuja origem tecnológica pode ser variada. Suaparticipação nas coleções variou entre 0,65 e22,65%. Quanto às lascas unipolares maiores de 1cm, a análise qualitativa dos conjuntos associados aossítios RS-S-237, RS-S-337 e RS-S-360 indicou umpredomínio de lascas relacionadas à redução de peçasbifaciais, com dimensões entre 1 a 2,5 cm decomprimento, representando entre 74,17 e 70,54%das amostras analisadas, sendo pouco representativasas lascas relacionadas à preparação de núcleos. Estaobservação é confirmada pela baixa presença denúcleos unipolares e bipolares na amostra analisada,com índices em geral entre 0,71 e 0,10%. A ausênciade estratégias de preparação de núcleos apresenta,por sua vez, relação com a presença de fragmentosnaturais em todos os sítios estudados, indicandoestratégias de coleta e estocagem de matérias primas.A participação relativa desta categoria para as coleçõesestudadas varia entre 3,77 e 34,72% dos conjuntos.A participação relativa de lascas unipolares ou bipolarescom retoque é pequena para todos os conjuntos

analisados, com índices entre 2,07 e 0,12%; e osfragmentos de lascas sem as terminações proximais eos fragmentos de núcleos apresentam umaparticipação relativa similar entre os sítios analisados,variando entre 46 e 17,03%.

c) Composição artefatualQuanto aos conjuntos artefatuais associados aos sítiosda tradição Umbu, estes representam 13% daamostra para os sítios do vale do arroio Campestre,enquanto os demais apresentaram uma composiçãoque varia entre 1 a 5%. A distribuição dos tipos deartefatos, por sua vez, apresenta igualmente variaçõesentre os sítios. Para os sítios do vale do arroioCampestre, as peças bifaciais representam entre 98e 95% dos conjuntos de artefatos. Sua representaçãonos sítios da várzea dos Sinos, no entanto, é maisvariada, atingindo entre 89 e 51% dos conjuntosdos sítios RS-S-265, RS-S-360 e RS-S-327. Nosdois sítios restantes (RS-S-361 e RS-S-337)predominam os artefatos polidos e brutos em relaçãoà participação relativa de artefatos bifaciais.

As pontas de projétil representam entre 57 e 41%dos artefatos bifaciais dos sítios do vale do arroioCampestre, estando presentes também em suascoleções pré-formas de pontas de projétil (27 a25%) e os fragmentos de peças bifaciais (23 a 11%).Dentre os sítios da várzea do rio dos Sinos, observa-se um predomínio dos fragmentos de artefatosbifaciais, entre 42 e 50% dos conjuntos, destacando-se, em um segundo plano, a presença de pontas deprojétil. As pontas de projétil lanceoladas estãomajoritariamente representadas nos conjuntosartefatuais dos sítios RS-S-359 e RS-S-358,produzidas a partir do retoque periférico de lascasbipolares de calcedônia. Por sua vez, a unipolaridadese relaciona com a produção das demais categoriasde artefatos bifaciais para todos os sítios estudados,estando associada à produção de bifaces sobre lascas,pré-formas e pontas de projétil pedunculadas,elaboradas preferencialmente em basalto e arenitosilicificado. As pontas pedunculadas diferenciam-se

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por apresentar bases de pedúnculos retos oubifurcados, possuindo, em alguns casos, corpos combordas serrilhadas. Contudo, contrariamente àsexpectativas dos modelos de evolução cronológicadas pontas de projétil no nordeste do Rio Grandedo Sul, representadas pelas fases Umbu e Itapuí(MILLER, 1974), a variabilidade morfológica depontas não apresenta evidências de variaçãocronológica de acordo com sua distribuiçãoestratigráfica em correlação com as dataçõesradiocarbônicas obtidas. Por outro lado, a maiorincidência de pontas lanceoladas nos sítios RS-S-358e RS-S-359 pode ser explicada em função da suaprodução a partir de lascas bipolares retocadas, oque influenciaria uma maior propensão ao descarte.As pontas pedunculadas sofreram um maior índicede reativação a fim de ampliar sua média de uso,justificando a variabilidade de formas observadas e omenor índice de descarte.

As escavações e datações dos sítios RS-S-360, RS-S-327 e RS-S-337 indicaram que não há variaçõestemporais significativas na organização da tecnologiae nas características funcionais dos sítios associadosao sistema de assentamento da tradição Umbu naregião do alto vale do rio dos Sinos. Independentedas datações obtidas, a distribuição estratigráfica domaterial lítico nestes sítios é caracterizada porpadrões recorrentes de descarte primário,associados à periferia de estruturas de fogueiras. Porsua vez, as características dos conjuntos líticos emsua relação com os vestígios arqueofaunísticosindicam áreas de atividades domésticas associadas àpreparação, à distribuição e ao consumo dealimentos, bem como com a produção emanutenção de artefatos bifaciais de pequeno porte.Portanto, os sítios líticos da tradição Umbu da regiãoestudada correspondem às unidades domésticas deum mesmo sistema de assentamento, ativo na regiãopor 8.000 anos. Porém, a variabilidade nas indústriaslíticas, observada através de estudos comparativos,indica uma maior intensidade de produção de pontasde projétil nos sítios do vale do arroio Campestre.

Estes sítios representam áreas de atividade específicaneste sistema de assentamento, voltadas à produçãode artefatos, em função da maior disponibilidade dematérias primas em seus locais de implantação.

Os sítios líticos de horticultoresOs sítios líticos de horticultoresOs sítios líticos de horticultoresOs sítios líticos de horticultoresOs sítios líticos de horticultoresAs características tecnológicas das indústrias líticas datradição Guarani foram definidas a partir da análisede um conjunto de 200 peças líticas associadas a 24sítios arqueológicos localizados na área estudada. Amaior parte da coleção provém de coletas desuperfície realizadas pelo PRONAPA nos sítios RS-S-287: Passo da Forquilha 2 (34%) e RS-S-289:Mont Serrat 1 (30,6%). Por sua vez, os conjuntoslíticos da tradição Taquara totalizam 112 peçasrelacionadas a quatro sítios arqueológicosidentificados nos trabalhos de campo entre 2000 e2001. A maioria do material lítico provém dos sítiosRS-S-429: Furna 1 (55,35%) e RS-S-431: Furna 3(36,6%), cuja análise prévia indicou também grandesimilaridade na composição das coleções. Para adefinição do estilo tecnológico relativo a estascoleções, a análise do material lítico seguiu osmesmos critérios metodológicos aplicados ao estudodos conjuntos líticos da tradição Umbu.

Sugere-se que os sítios líticos associados à tradiçãoTaquara na área estudada representam parte deum sistema de assentamento mais amplo que seestende para o norte, abrangendo as terras maisaltas do planalto sul-brasileiro e, para o leste,explorando os recursos das lagoas litorâneas. Estemodelo de domínio vertical prevê a exploraçãodiferencial destes três pacotes ambientais de formasazonal, a fim de garantir a subsistência ao longodo ciclo anual. O sistema de cultivo, nas áreas deencosta, seria suplementado por estratégias deestocagem de alimentos obtidos através da caça ecoleta nas florestas de araucária do planalto e dapesca e coleta de moluscos no l i toral. Aestabilidade econômica proporcionada por estasestratégias, por sua vez, teria como conseqüênciauma alta mobilidade residencial, gerando uma

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variabi l idade de tipos de sítios habitacionaisrelacionados às características ambientais das distintasáreas (SCHMITZ; BECKER, 1991).

O sistema de assentamento Guarani na áreaestudada, interpretado a partir das propostas deNoelli (1993, p. 266), representaria conjuntos dealdeias relacionadas à ocupação de longa duraçãode única área de domínio (tekohá). De acordo comas fontes históricas do século XVI, os tekohá Guaranicomportariam uma relação complementar entre trêsespaços distintos: a aldeia (amundá), as roças (cog) ea vegetação circundante (caa). As roças iniciam-sefora do perímetro das aldeias, localizando-se adiferentes distâncias, de acordo com a suaantiguidade. Além das roças, inicia-se o espaço dasmatas, no qual se situam as áreas de pesca, coleta ecaça e as jazidas litológicas e de argila. Nestastambém estão presentes outras áreas de manejo quepodem refletir antigas ocupações ou a preparaçãopara futuros assentamentos, levando a crer que oraio de ação do ambiente humanizado pelos Guaraniestendia-se por muitos quilômetros a partir da sededo tekohá.

a) Escolha das matérias primasQuanto à obtenção de matérias primas relacionadasàs indústrias líticas da tradição Guarani, 93,4% daspeças foram confeccionadas em basalto e o restanteestá representado pelo arenito silicificado (5%), acalcedônia (1%) e o quartzo (0,5%). Em 81% doconjunto das peças analisadas foi possível identificarque a origem da matéria prima relaciona-se a seixosde arraste fluvial (65,43%). O restante do conjuntotem sua origem relacionada a placas de basaltocolunar (12,34%) e a blocos de afloramentoassociados, em alguns casos, ao próprioassentamento (22,2%). Nas indústrias líticas dossítios da tradição Taquara, o basalto também é amatéria prima mais utilizada (93,7%) e o restantedo conjunto lítico está representado pelo quartzo(5,3%) e pela calcedônia (1%). Foi possível identificara procedência da matéria prima para 54% do

conjunto analisado, predominando os blocos deafloramentos de basalto (65,5%), aos quais todosos sítios da tradição Taquara estão associados. Osseixos (14,75%) e placas (9,83%) de basalto,originários de arraste fluvial, também estãorepresentados nesta amostra, bem como cristais dequartzo (9,83%).

b) Organização geral da tecnologiaNos conjuntos líticos da tradição Guaranipredominam os artefatos unifaciais e bifaciais, quecorrespondem a 42% da amostra analisada. Quantoaos resíduos de lascamento, predominam as lascasunipolares (28%) e os núcleos unipolares (8%),sendo raros os fragmentos de lascamento (3%) enúcleos bipolares (1%). O restante da amostra éformado por fragmentos naturais (16%). Asindústrias líticas da tradição Taquara apresentam umacomposição diferenciada, na qual se destaca aparticipação relativa dos resíduos de lascamento.Há a predominância da presença de lascasunipolares (47%), núcleos unipolares (21%) efragmentos de lascamento (11%), havendo também,em baixa proporção, lascas bipolares (3%). Osartefatos bifaciais correspondem a 8% do conjuntoanalisado, com a presença de artefatos brutos, naforma de percutores (2%), e de artefatos polidos,representados por fragmentos de mãos de pilão(2%). O restante das coleções é composto porfragmentos naturais (6%).

A análise qualitativa dos núcleos e lascas unipolaresapontou para uma diferenciação significativa emtermos de estilo tecnológico entre as indústrias dastradições Taquara e Guarani. Nos conjuntos líticosda tradição Guarani prevalecem os núcleosunipolares que apresentam duas plataformasbidirecionais opostas (47%) e os com duasplataformas em ângulo (33%), sendo menosfreqüentes os núcleos unipolares com umaplataforma definida (13%) ou com três a quatroplataformas em várias posições (7%). Nos conjuntoslíticos da tradição Taquara, sobressaem-se os núcleos

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com uma plataforma ventral (39%), que utilizam aface ventral de uma lasca espessa e de grande portecomo plataforma de percussão, seguidos por núcleoscom duas plataformas em ângulo (33%). Nesteconjunto estão também presentes, em proporçõesrelativamente menores, núcleos unipolares com duasplataformas bidirecionais opostas (13%), com trêsa quatro plataformas em várias posições, geralmenteformando ângulos entre si (13%), e com apenasuma plataforma definida (9%).

No que se refere aos tipos de plataforma depercussão dos núcleos unipolares, as mais freqüentesnas indústrias líticas da tradição Guarani são corticais(60%) ou lisas (20%), indicando a seleção desuportes de lascamento, sejam estes blocos deafloramento ou seixos, que já apresentavam planosde percussão naturais. Nas indústrias líticas datradição Taquara, o predomínio de núcleosunipolares com uma plataforma ventral relaciona-se à maior freqüência de plataformas de percussãoacorticais lisas (56,6%), sendo mais raros os queapresentam plataformas unicamente corticais (4,3%).

A maioria das lascas unipolares associadas aos sítiosGuarani é do tipo cortical (44,6%) e o restanterepresentado por lascas de redução de núcleos(39,28%) e lascas de redução de biface (8,9%). Aslascas corticais dos conjuntos líticos da tradiçãoTaquara representam 28,3% da amostra, 56,6%está representado por lascas de redução de núcleose 3,7% são lascas de redução de bifaces. As lascasunipolares modificadas correspondem a 7,14% daamostra para a tradição Guarani e a 11,32% daamostra para a tradição Taquara.

c) Composição artefatualOs conjuntos de artefatos bifaciais e unifaciaiscorrespondem a 40,5% da indústria lítica da tradiçãoGuarani e a 8% da amostra relativa à tradiçãoTaquara, não havendo evidências de reduçãosecundária (retoque) em nenhuma das peças.Predominam, em ambos, os casos de artefatos degrande porte, que poderiam ser classificados como

‘fósseis guia’ da tradição Humaitá. Nos conjuntosde artefatos da tradição Guarani, os bifaces comredução primária em apenas uma extremidade(40%) ou atingindo até metade da peça (23%)compõem o maior número de exemplares, mastambém é significativa a participação relativa das peçasunifaciais com redução primária em apenas uma dasextremidades (19%) e dos artefatos com reduçãobifacial em todo o contorno da peça, formando gumeperiférico (12%). O restante da amostra é compostopor bifaces elaborados sobre lascas unipolares (5%),com poucos artefatos com redução primária bifacialem ambas extremidades (1%). Para os conjuntosde artefatos bifaciais da tradição Taquara, prevalecemos bifaces com redução primária em ambasextremidades (34%) ou em todo o contorno dapeça (33%), formando um gume periférico. Orestante da amostra é representado por artefatosque possuem redução primária em umaextremidade, formando um gume que se estendeaté metade da peça (22%) ou artefatos que possuemredução primária bifacial em apenas umaextremidade (11%).

Como a maior parte do conjunto lítico da tradiçãoGuarani está associada a dois sítios arqueológicos,sugere-se que estes correspondem aos principaislocais de extração e preparação inicial de artefatoslíticos do tekohá do alto vale do rio dos Sinos. Estessítios representariam áreas de atividade específicasneste sistema de assentamento, voltadas à extraçãode matérias primas e à produção de artefatos bifaciaisde grande porte, utilizados na construção dasestruturas habitacionais da aldeia, na confecção decanoas e nas atividades agrícolas e de manejoagroflorestal (DIAS e NOELLI, 1995). A produçãoinicial dos artefatos ocorreria nestes sítios de atividadeespecífica e as peças acabadas seriam transportadaspara as sedes de aldeias ou para os locais de roças,justificando os sítios lito-cerâmicos e líticos com baixadensidade de material localizados nas prospecções.

Os seixos de morfologia alongada foramselecionados como suporte preferencial para a

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produção de artefatos unifaciais e bifaciais,apresentando maior freqüência nas coleções ascategorias relacionadas às primeiras etapas da cadeiaoperatória, que seriam descartados em maiorfreqüência junto aos locais de produção de artefatos(tradicionalmente definidos como choppers echopping tools). As características deste conjuntoartefatual indicam que as faces planas originais doseixo selecionado para a produção do artefatoserviram como plataforma inicial para o lascamento.O lascamento primário inicia-se, em geral, por duasretiradas em uma das faces da peça, para teste damatéria prima, centrando-se em apenas uma dassuas extremidades. Esta etapa de produção gera umgume funcional, podendo o artefato ser utilizado,abandonado em função da presença deirregularidades na matéria prima ou sofrer de dois atrês lascamentos na face oposta, produzindo umgume bifacial, com terminação em ponta.Intensificando-se a redução primária em uma dasfaces do artefato, pode-se ampliar o gume bifacialaté a metade da peça ou optar-se por estender aredução primária por todo o contorno, formandoum gume periférico. Por fim, constata-se que ostipos formais de artefatos destas coleções líticas datradição Guarani correspondem à definição originalda fase Camboatá da tradição Humaitá definida porMiller (1967).

Por sua vez, os sítios líticos da tradição Taquara doalto vale do rio dos Sinos correspondem às áreas deatividade específica neste sistema de assentamentorelacionadas à extração de matérias primas e àredução de núcleos junto aos afloramentos debasalto. Estes núcleos seriam transportados para assedes das aldeias e utilizados como suporte para aextração de lascas empregadas em distintas atividadesdomésticas. Os bifaces, por sua vez, são poucorepresentativos nas amostras estudadas e elaboradossobre blocos de afloramento. A quantidade de córtexé significativa, havendo o investimento tecnológicode formatação relacionado à elaboração de gumeativo bifacial, em uma ou ambas extremidades,

podendo estes artefatos serem utilizados em distintasatividades nas áreas de cultivo. Destaca-se ainda que,de acordo com a definição formal do PRONAPA,estes conjuntos líticos da tradição Taquara seenquadrariam na definição original da fase Humaitárealizada por Miller (1967).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo de caso do alto vale do rio dos Sinospermite concluir que as distinções tecnológicasobservadas sinalizam fronteiras territoriais entre osdistintos grupos que ocuparam a região. Os resultadosdas pesquisas arqueológicas desenvolvidas ao longodos últimos 40 anos na região nordeste do estadosugerem a contemporaneidade entre estes distintossistemas de assentamento que compartilharam o valedo rio dos Sinos. As datações disponíveis para osvales dos rios dos Sinos e Caí indicam que asprimeiras ocupações da tradição Taquara iniciam-seem torno de 1.500 anos AP, havendo umaintensificação da ocupação Guarani na área a partirde 500 anos atrás (NOELLI, 1999/2000). Emboraos assentamentos Guarani preferencialmenteocupem áreas de menor altitude, próximas aocurso de rios de maior porte, sua noção defensivade território certamente limitou a circulação daspopulações de caçadores coletores da tradiçãoUmbu e de horticultores da tradição Taquara pelosdiferentes ambientes explorados tradicionalmenteao longo do ciclo sazonal. Embora haja evidênciasarqueológicas de contato entre estes distintosgrupos, as formas bélicas de conquista e manutençãodos territórios de domínio desenvolvidas pelosGuarani sugerem que conflitos e disputas com oscaçadores coletores e outras populações horticultorasmarcaram a tônica do tipo de relação predominantena região nordeste do estado.

Embora os conceitos de tradição e fase correspondama expedientes de classificação que diagnosticamvariabilidade entre conjuntos artefatuais, estes nãopermitem explicar como esta variabilidade se

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relaciona a comportamentos culturais no passado.Com base nos resultados das pesquisas realizadasno alto vale do rio dos Sinos, procuramosdemonstrar que a avaliação da procedência dosconceitos de tradição e fase só pode ser feita a partirde estudos específicos, de caráter regional, querespeitem a contextualização espacial dos sítios emsuas características internas e externas. Estes aspectoscontextuais, por sua vez, devem estar associados aestudos de coleções que compreendam os artefatosenquanto resultados de escolhas tecnológicas e,portanto, produto de uma tradição cultural, quesinalizam, em última instância, fronteiras eidentidades sociais no registro arqueológico.

No caso específico da arqueologia do sul do Brasil,o modelo interpretativo proposto para os conjuntoslíticos do alto vale do rio dos Sinos indica uma claradistinção em termos de estilos tecnológicos entrecaçadores coletores, representados pela tradiçãoUmbu, e os diferentes grupos horticultores,representados pelas tradições Taquara e Guarani.Para estes dois últimos casos, as distinçõestecnológicas identificadas nas cadeias produtivas dacerâmica também encontram reflexos no sistematecnológico relacionado aos conjuntos líticos. Estasdiferenças, porém, não se refletem apenas namorfologia dos artefatos bifaciais de grande porte(talhadores), tradicionalmente identificados como‘fósseis guia’ da tradição Humaitá, mas estãodemarcadas por distinções claras nas cadeiasoperatórias aos quais estes estão relacionados,indicando escolhas tecnológicas sinalizadoras deidentidades sociais distintas.

Com base nos resultados das pesquisas aquianalisados, questionamos em que medida osconjuntos definidos como pertencentes à tradiçãoHumaitá, no sul do Brasil, podem tambémcorresponder a uma realidade semelhante àapresentada pelo alto vale do rio dos Sinos. Paraavaliar esta questão, um primeiro passo necessárioé revisar de forma crítica o conhecimento produzidoaté o presente e a validade dos conceitos utilizados

através de estudos de conjuntos líticos que obedeçama orientações teórico-metodológicas pertinentes àinterpretação das escolhas tecnológicas identificadas.Por sua vez, estes dados devem necessariamenteser acompanhados de estudos de caráter regional,baseados em cronologias consistentes, pois ésomente através deste tipo de estratégia que sepoderá construir um referencial empírico sólido quedê suporte ao estudo de fronteiras e identidadessociais no registro arqueológico.

AGRADECIMENTOS

Este artigo sintetiza as conclusões da tese dedoutorado da autora, defendida em 2003 junto aoMuseu de Arqueologia e Etnologia da Universidadede São Paulo, estando o texto integral disponívelpara consulta em www.teses.usp.br. Gostaríamosde agradecer à CAPES e à FAPESP (processo nº2000\07609-0) pelo apoio financeiro, a Paulo DeBlasis, que orientou esta pesquisa, e a André Jacobuspela oportunidade de realizar os trabalhos de campono âmbito do Projeto Arqueológico de SantoAntônio da Patrulha, por ele coordenado.Agradecemos também à equipe do MuseuArqueológico do Rio Grande do Sul, que permitiuo acesso às coleções estudadas, à Sirlei Hoeltz peloauxílio nas análises efetuadas e comentários críticos,a Lucas Bueno e aos pareceristas anônimos quecontribuíram com suas sugestões para a versão finaldeste artigo.

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