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As guerras napoleônicas 1 NAPOLEÃO BONAPARTE Organizado por Sergio Murilo de Castro Victorazzo 2015

Napoleão Bonaparte

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O trabalho pretende apresentar uma compilação da vida militar de Napoleão Bonaparte e suas principais campanhas

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As guerras napoleônicas

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NAPOLEÃO BONAPARTE

Organizado porSergio Murilo de Castro Victorazzo

2015

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NAPOLEÃO BONAPARTE

Organizado porSergio Murilo de Castro Victorazzo

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SUMÁRIO

Prefácio 07

Capítulo I – Da revolução francesa à era napoleônica 13

Capítulo II – Aspectos da vida e da carreira de Napoleão Bonaparte 27

Capítulo III – Estratégias e táticas empregadas por Napoleão Bonaparte 75

Capítulo IV – O Exército de Napoleão Bonaparte 101

Capítulo V – A infantaria francesa das Guerras Napoleônicas 121

Capítulo VI – Emprego tático da infantaria durante as Guerras Napoleônicas 155

Capítulo VII – A cavalaria francesa durante as Guerras Napoleônicas 185

Capítulo VIII – A artilharia francesa durante as Guerras Napoleônicas 199

Capítulo IX – Guerras das Coalizões 215

Capítulo X – Cronologia: 2231. Da campanha da Itália à expansão da França em 1805. 2252. Da campanha de Ulm ao Tratado de Tilsit. 227 3. Da defesa do Grande Império (1808) à defesa do Grande Império (1812). 2304. Da campanha da Rússia à campanha de Waterloo. 231

Capítulo XI – As campanhas napoleônicas 235

Capítulo XII – A campanha de Waterloo 301

ANEXOS

A - O desenvolvimento dos Corpos de Exército e seu impacto nas Guerras Napoleônicas 439

B - Uniformes 445

C – Os marechais de Napoleão Bonaparte 469

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PREFÁCIO

AS FORÇAS FRANCESAS NAS GUERRAS NAPOLEÔNICAS

A título de prefácio, julgo ser mportante que se descreva, inicialmente,as forças militares da era de Napoleão Bonaparte, mas sem maiores profundidades, já que isto será feito no desenvolvimento do trabalho. Pretende-se com esta argumentação precoce, descrever, sumariamente, as unidades administrativas e as táticas (ou combatentes), sua organização e os vários tipos de soldados que as compunham.

Há de se comprrender, primeiramente, o conceito de linha, fileira e coluna. Penso que a gravura abaixo é auto-explicativa e elucida a questão.

As forças militares ao tempo das guerras naoleônicas consistiam, basicamente, de três principais armas de combate, e de várias unidades de apoio de serviços ao combate. Assim, a força combatente incluía a infantaria, a cavalaria, e a artilharia, apoiada pelos en-genheiros e pelas tropas de apoio logístico, que eram cohecidas com “trens” do Exército, durante aquele período. Na época em pauta observou-se o despertar do hoje chamado Estado-Maior, para ajudar a adminIstrar e organizar as forças em campanha e nas guar-nições, além de supevisionar o treinamento dos conscritos e recrutas.

As armas combatentes do Exército de Napoleão eram aquelas tropas que mais infligiram e também sofreram pesadas baixas nos campos de batalha. Para a maioria daquelas tropas, isto significava ou fazer frente ao inimigo e disparar, a uma distância de cerca de 150 jardas, com seus mosquetes, por vezes apoiadas por tiros de canhões, ou lutar contra o oponente com seus sabres, lanças e baionetas, em luta corporal.

Tais armas combatentes formavam unidades adminisrativas e táticas (ou de comba-

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te), como mostrado no quadro seguinte:

UNIDADES ADMINISTRATIVAS E TÁTICAS DO EXÉRCITO DE NAPOLEÃOUnidadess administrativas Unidades táticas xxx Corpo xxx Divisão xxx Brigada Regimento Regimento xxx Batalhão Companhia Pelotão

O escalão de combate mais alto era o Corpo-de-Exército (ou simlesmente Corpo) e que foi criado por Napoleão Bonaparte. A organização era binária, donde:

- Um Corpo era formado de duaas divisões;- Uma Divisão era formada por dois regimetns;- Um Regimento era formado por batalhões.O batalhão era a unidade tática básica e, conforme a necessidade de emprego,

continha varidados números e tipos de companhias. Assim teríamos os batalhões de in-fantaria de linha ou ligeira (também chamada de leve) e os seus homólogos das armas de cavalaria e da artilharia.

INFANTARIAA infantaria das guerras napoleônicas compreendia dois tipos: a Infantaria de Linha

e a Infantaria Ligeira (ou Leve). A Infantaria de Linha era o tipo que compunha a base das forças terrestres europeias desde a metade do século XVII. Sua denominação devia-se ao fato dos combatentes progredirem para o engajamento com o inimigo desdobrados em ex-tensas linhas de 2,3,ou até 4 fileiras de soldados, mobiliando, consequentemente, frentes de até 13 Km. Mas a sua eficácia ficava limitada ao pequeno alcance dos mosquetes dos soldados e à sua baixa cadência de tiro (2 a 3 tiros por minuto).

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O conceito do emprego da Infantaria de Linha era, portanto: emassar a formação, e consequentemente seus tiros, para maximizar as baixas causadas nos inimigos. A infan-taria de Linha era considerada, na época, a formação de batalha básica, por proporcionar um largo desdobramento do poder de fogo. Mas deveriam atuar afinadas com as tropas que realizavam o “skirmishing” isto é, aquelas que forneciam a proteção necessária à Infantaria de linha, fosse na marcha de aproximação (como vanguarda), ou protegendo os flancos. Durante o combate, essas forças de proteção (de escaramuceiros, de “skirsh-mishers”) eram providas pela Infantaria Ligeira e/ou pela Cavalaria. Vale lembrar que, na Antiguidade, os “skirmishers” ja eram empregados constituindo, no Exército Romano, por exemplo, a ponta de lança das legiões, para realizar escaramuças e produzir baixas pre-coces no inimigo, antes do confronto final. Naquela época usavam lanças para realizar tais tarefas, após o que corriam para a retaguarda da formação , através dos espaços entre as colunas deixadas pelo corpo principal da legião.

A Infantaria Ligeira (ou skirshers”),portanto, tinha como tarefa básica prover uma “cortina protetora” à frente e nos flancos da Infantaria de Linha, razão pela qual era fomada por tropas leves.

Vejamos , então os diferentes tipos de soldados combatentes.

Na Infantaria de Linha:“Fuziliers”(fuzileiros): constituíam o grosso das tropas de um batalhão. Eram arma-

dos de um mosquete e uma baioneta.“Grenadiers”(granadeiros):eram a elite da Infantaria de Linha e a tropa de choque

de Napoleão, formada por veteranos. Eram armados como os fuzileiros, mas tinham um sabre como armamento aadicional. Na linha, ocupavam a posição de honra, isto é, o lado direito da formação.

“Voltigeurs” (volteadores): eram os soldados menores, mais ágeis e mais leves que formavam uma subunidade propria, a “Companie de Voltigeur” do Batalhão de Linha. Eles tinham por função realizar um reconhecimento e retornar à linha, em seguida. Por vezes, atuavam, também como “skirmishers”

Na Infantaria Ligeira:“Carabiniers a pied” (carabineiros a pé): eram os granadeiros da Infantaria Ligeira.

Como os seus homólogos da Infantaria de linha, além do mosquete e da baioneta, porta-vam, ainda umsabre e ocupavam a direita da formação.

“Voltigeurs legères” (volteador ligeiro): exerciam a mesma tarefa dos seus homólo-gos da Infantaria de Linha, mas eram selecionados por serem exímios atiradores.

“Chasseurs” (caçadores): eram os fuzileiros da Infantaria Leve. Portavam o msque-te, a baionete e um sabre.

CAVALARIAPor decreto do Imperador, na “Grande Armée”, a cavalaria deveria compreender

de 5 a 6 porcento do seu efetivo total. Cada regimento de cavalaria tinha de 800 a 1.200 homens, com duas companhias de 2 a 4 esquadrões de cavalaria, mais os elementos de apoio. Havia dois tipos de cavalarias, conforme a necessidade de emprego: a pesada e a leve:

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Na Cavalaria Pesada:“Carabinier a cheval” (carabineiro montado): a elite da cavalaria pesada. Tinham

uma tarefa idêntica a dos couraceiros, mas não portavam couraça.“Cuirasseurs” (couraceiro): portavam couraças e elmos feitos de bronze e aço, e

eram armados de longos sabre e pistolas, mas tarde substituídas por carabinas. Forma-vam, literalmente, a tropa de choque da cavalaria pesada.

“Dragons” (dragões): tinham por função a realização de “skirmishing” e escoltas. Além do sabre longo tradicional, também portavam um mosquete e baioneta.

Na Cavalaria Leve“Hussars” (hussardos): eram os olhos e os ouvidos dos exércitos napoleônicos.

Eram considerados os melhores cavaleiros e espadachins do Exército inteiro.ERam em-pregadpos para negar ao inimigo informação sobre as tropas, realizando para tanto taefe-as de “skirshmnishing” ou de escolta.

“Chasseus a cheval” (caçadores montados): assemelhavam-se aos hussardos, mas não possuíam as qualidades daqueles e deles se diferenciavam pela túnica verde vestiam.

“Lanciers” (lanceiros): como a própria designação já o diz, portavam lança. ERam uma cópia dos lanceiros do Exército polonês.

ARTILHARIANapoleão era artilheiro e, comumente, dizia: “Deus luta ao lado da melhro artilharia”.

Os canhões francese eram geral mente empregados com as bateria emassadas, o que infligia grandes baixas ao inimigo Costumava-se chamar a isso de “grandes baterias”. O surpreendente adestramento dos artilheiros francese garantiu a Napoleão a possibilidade de debilitar as defesa inimigas e, com isso, agilizar os combates, ou bater uma determina-da posição, reconhecida como fraca, para abrir brechas. Os canhões francese eram de 4, 8 ou 12 libras, e também existiam os obuseiros de 6 polegadas (150 mm)

Havia dois tipos básicos de artilharia: a “artillerie a pied” (artilharia a pé), e a “artil-

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lerie à chevaux” (artilharia a cavalo). Na primeira os artilheiros marchavam a pé junto com seus canhões tracionados por cavalos. A Artilharia Divisionária a pé continha uma brigada de 3 a 4 baterias de 8 canhões (ou 6 cahões e 2 obuseiros)

Na artilharia a cavalo, os artilheiros eram montados e, por isso, o deslocamento era muito mais rápido. Em razão disto, esta artilharia era chamada de “cavalaria híbrida”, pois aproximava-se muito da frente de batalha e, por isso, seus oficiais e praças tinham que ser bem adestrados no emprego do combate corpo a corpo.

DIVERSOSNa organização da Grande Armée havia, ainda, um tropa de “marines”, herdada

do Antigo Regime, e uma gama de outras unidades e subunidades de apoio de serviços como engenheiros, logísitcos, de medicina e de comunicações

Finalmente, há de ser lembrada a existência de tropas estrangeiras,também vincu-ladas à “Grande Armée” de Napoleão, que serão comentadas oportunamente.

Espera-se que, com o exposto, tenha sido atendido o objetivo deste prefácio: dar um “flash” daquilo que será visto daqui por diante.

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CAPÍTULO IDA REVOLUÇÃO FRANCESA À ERA NAPOLEÔNICA

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DA REVOLUÇÃO FRANCESA À ERA NAPOLEÔNICA

Profundas modificações assinalaram a história política da última parte do século XVIII. Esse período assistiu à agonia do sistema peculiar de governo e de estruturação social que se desenvolvera na época dos déspotas. Na Inglaterra tal sistema se achava praticamente abolido por volta de 1689, mas ainda persistia em outras partes da Europa, cristalizando-se e corrompendo-se cada vez mais com o passar dos anos. Floresceu em todos os países maiores sob a influência combinada do militarismo e da ambição, por parte dos monarcas, de consolidarem o seu poder às expensas dos nobres. Mas quase não houve lugar em que se apresentasse sob uma forma tão abominável como na França, durante o reinado dos três últimos Bourbons. Luís XIV foi a encarnação suprema do poder absoluto. Seus sucessores, Luís XV e Luís XVI, arrastaram o governo aos derradeiros ex-tremos da extravagância e da irresponsabilidade. Além disso, os súditos desses reis eram bastante esclarecidos para sentirem vivamente os seus agravos. Não é de estranhar, por-tanto, que a França tenha sido o teatro de violenta sublevação para derrubar um regime que, desde muito, vinha sendo odiado e desprezado pelos cidadãos mais inteligentes do país. Não estaremos muito errados se interpretarmos a Revolução Francesa como o clímax de um século de oposição que tomara corpo pouco a pouco, em oposição ao abso-lutismo e à supremacia de uma aristocracia decadente.

A derrubada do velho regime No começo do estio de 1789 o vulcão do descontentamento na França entrou em

erupção. A causa imediata deste fato foi o iminente colapso financeiro, resultado das guer-ras dispendiosas e das extravagâncias reais. A dívida pública, que em 1786 alcançara um total equivalente a 600 milhões de dólares, crescia cada vez mais, de ano para ano. As receitas existentes mal bastavam para pagar os juros, sem falar na amortização do capital. A única esperança de desafogo parecia consistir no lançamento de novos impostos, para o descontentamento geral do povo. Aqui seria acendido o estopim da revolução.

O curso da Revolução Francesa assinalou-se por três grandes fases, a primeira das quais se estendeu de junho de 1789 a agosto de 1792. Durante a maior parte deste perí-odo os destinos da França estiveram nas mãos da Assembleia Nacional, dominada pelos líderes do Terceiro Estado. Foi, em conjunto, uma fase moderada, uma fase da classe mé-dia. As massas não tinham, ainda, conquistado nenhuma parcela de poder político, nem estavam em condições de assumir o controle do sistema econômico. Além da destruição da Bastilha, em 14 de julho de 1789, e o assassinato de alguns componentes da guarda real, houve relativamente pouca violência, tanto em Paris como em Versalhes. Em algu-mas zonas do interior, contudo, prevalecia um espírito mais turbulento. Muitos campone-ses, impacientando-se com a demora na concessão de reformas, resolveram tomar o caso nas próprias mãos. Armados de forcados e foices, dispuseram-se a deitar abaixo tudo que pudessem encontrar do antigo regime. Demoliram castelos de nobres detestados, saque-aram mosteiros e residências de bispos e assassinaram alguns dos infelizes aristocratas que ousaram oferecer resistência. Essas violências, ocorridas na maior parte durante o verão de 1789, muito contribuíram para atemorizar as classes superiores, levando-as a abrir mão de alguns dos seus privilégios.

No verão de 1792 a Revolução Francesa entrou numa segunda fase que durou cerca de dois anos. Este período diferiu do primeiro em muitos aspectos. Para começar, a França era agora uma república. A 10 de agosto, a Assembleia Legislativa votou a sus-pensão do rei e ordenou que se elegesse uma Convenção Nacional para redigir uma nova

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constituição. Desta vez a eleição se faria por sufrágio universal masculino. Pouco depois, Luís XVI foi submetido a julgamento, sob a acusação de conspirar com estrangeiros contra a Revolução e, em 21 de janeiro de 1223, foi decapitado. Além de seu caráter republicano, a segunda fase diferiu da primeira por ser dominada pelas classes inferiores.

No verão de 1794 o terror que dominou a segunda fase chegou ao seu termo e, logo depois, a Revolução entrou na terceira e última fase. O acontecimento que assinalou essa mudança foi a Reação Termidoriana, cujo nome deriva do mês de termidor (mês do calor – 19 de julho a 18 de agosto) do novo calendário. A execução de Robespierre a 28 de julho de 1794 representava o desfecho de um ciclo. A Revolução havia devorado os seus próprios filhos. Um após outro, tinham caído os gigantes radicais: primeiro Marat, de-pois Hébert e Danton, e por fim Robespierre e Saint-Just. Os únicos líderes que restavam na Convenção eram homens de tendências mais moderadas. Com o decorrer do tempo, inclinavam-se para um conservacionismo crescente e para o emprego de toda espécie de chicana política que servisse para mantê-los no poder. Mais uma vez a Revolução passou, aos poucos, a refletir os interesses da burguesia.

No outono de 1799 encerrou-se a era da Revolução Francesa. O acontecimento que assinalou esse fim foi o golpe de estado de Napoleão Bonaparte, em “18 Brumário” (9 de novembro). Esse, contudo, não foi mais que um golpe de misericórdia. Já desde algum tempo, o regime instaurado pela Constituição III, vinha pairando à beira do colapso. Em-bora tivesse sido temporariamente fortalecido por algumas vitórias militares — pois ainda prosseguia a guerra contra os inimigos estrangeiros da Revolução — por fim até esse apoio falhou. Em 1798-99, a política agressiva do Diretório envolveu a França numa luta com nova coligação de adversários poderosos: Grã-Bretanha, Áustria e Rússia. A sorte das batalhas não tardou a mudar. Um após outro, caíram por terra os estados satélites que os franceses haviam levantado em sua fronteira oriental. Os exércitos da república foram expelidos da Itália. Tornou-se logo evidente que as conquistas dos anos anteriores iriam se reduzir a nada. Enquanto isso, o Diretório vinha sofrendo uma perda ainda maior de prestígio em virtude da sua conduta dos negócios interiores. Milhares de pessoas estavam revoltadas com a vergonhosa corrupção dos funcionários públicos e com a sua desumana indiferença ante as necessidades dos pobres. O que ainda mais agravava a situação era a séria crise financeira, pela qual o governo era em parte responsável. A fim de atender às despesas de guerra e aos gastos extravagantes de administradores incapazes, multi-plicaram-se as emissões de “assignats”, ou papel-moeda. Os resultados inevitáveis foram uma tremenda inflação e um completo caos. Dentro de pouco tempo os assignats sofre-ram enorme depreciação, até não serem aceitos por mais de 1% do seu valor nominal. Em 1797 as condições tinham piorado de tal forma que, durante aquele período de caos financeiro, milhões de cidadãos não encontraram outro remédio senão o de repudiar todo o papel-moeda daqueles precavidos e respeitáveis, que tinham conseguido acumular cer-tas posses,

Foi nessas condições deploráveis que se tornou relativamente fácil a ascensão de Bonaparte. O sentimento de revolta ante a venalidade e a indiferença do governo, o ras-tilho de ódio deixado pelas agruras da inflação e a humilhação resultante das derrotas militares foram os fatores que encorajaram a convicção largamente difundida de que o re-gime em vigor era intolerável e só o aparecimento de um “homem a cavalo” poderia salvar a nação da ruína. Em outras palavras, Napoleão subiu ao poder em condições bastante similares às que presidiram ao nascimento de ditaduras posteriores e mais recentes na Alemanha e na Itália. Mas fica claro que o jovem Bonaparte era um herói militar, o que não

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equivalia ao perfil de Hitler ou Mussolini. Em 1795 tornara-se benquisto aos amigos da lei e da ordem por haver defendido

a Convenção Nacional com uma “rajada de metralha” contra um levante de insurretos parisienses. Mais tarde cobrira-se de glória com as suas campanhas na Itália e no Egito. É verdade que as notícias de seus êxitos neste último país tinham sido um pouco exage-radas, mas convenceram os patriotas franceses de que tinham nele, ao menos, um gene-ral em cuja capacidade podiam depositar absoluta confiança. Além disso, ninguém podia contestar que ele expulsara os austríacos da Itália e anexara à França a Saboia, Nice e as províncias austríacas dos Países-Baixos. Não é muito de admirar que Napoleão passasse a ser considerado o homem do momento. Seu nome tornou-se um símbolo da grandeza nacional e dos gloriosos feitos da Revolução. E, à medida que crescia o sentimento de repulsa contra o Diretório, era ele mais do que nunca saudado como o herói incorruptível que salvaria a nação da vergonha e do desastre.

Ainda que a ascensão de Napoleão Bonaparte ao poder como ditador militar tenha marcado o início de uma nova era, não anulou de forma alguma a influência da Revolução Francesa. Efetivamente, o próprio Napoleão manteve algumas das conquistas revolucio-nárias e assumiu a atitude de campeão invencível da igualdade e da fraternidade, se não, da liberdade. Mas, ainda que ele não tivesse agido desse modo, a herança da Revolução teria indubitavelmente sobrevivido. Um movimento que tão profundamente abalara as ba-ses da sociedade jamais poderia ter passado à história sem deixar um rastro de momento-sos resultados. Sua influência repercutiu através de quase todo o século XIX e se fez sen-tir em muitas nações do mundo ocidental. A nova paixão da liberdade foi a força propulsora de numerosas insurreições e “revoluções” que pontilharam o período entre 1800 e 1850.

Não se pode negar, por outro lado, que a Revolução Francesa também tenha tido os seus frutos amargos. Foi ela em grande parte responsável pelo desenvolvimento do nacio-nalismo “chauvinista” como ideal dominante. O nacionalismo, está claro, nada apresenta-va de novo. Pode ser encontrado quase que na própria origem das mais antigas civiliza-ções. Manifestou-se na obsessão dos hebreus de serem o Povo Eleito e no exclusivismo racial dos gregos. Mesmo em sua forma europeia moderna, tem raízes que se estendem ao século XIII. Sem embargo, o nacionalismo só se tornou uma força realmente virulenta e avassaladora depois da Revolução Francesa. Foi o orgulho do povo francês pelo que tinha realizado e a sua determinação de preservar tais conquistas que deram origem ao patrio-tismo fanático tão bem exemplificado pela sua emocionante canção guerreira, a Marselhe-sa. Pela primeira vez na história moderna, uma nação inteira se punha em pé de guerra. Em contraste com os exércitos profissionais relativamente pequenos do passado, a Con-venção Nacional, em 1793, alistou cerca de 800.000 homens, ao passo que milhões de outras, atrás das linhas de combate, dedicavam as suas energias à gigantesca tarefa de eliminar os desacordos internos. Operários, camponeses e burgueses, todos cerraram fi-leiras sob o lema de “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” como em defesa de uma causa sagrada. O cosmopolitismo e o pacifismo dos filósofos iluministas ficaram completamente esquecidos. Mais tarde, esse patriotismo militante contaminou outras terras, contribuindo com o peso da sua influência para alimentar as ideias exaltadas de superioridade nacional e os ódios raciais. Por fim, a Revolução Francesa teve por consequência uma deplorável depreciação da vida humana. A carnificina de milhares de pessoas durante o Terror, mui-tas vezes sem que lhes pudesse ser assacada qualquer culpa, mas simplesmente como meio de infundir pavor nos inimigos da Revolução, tendeu a criar a impressão de que a vida do homem pouco ou nada valia em confronto com os nobres objetivos do partido que

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ocupava o poder. Essa impressão talvez contribua para explicar a relativa indiferença com que, alguns anos depois, a França aceitou o sacrifício de centenas de milhares de seus filhos para satisfazer as ambições ilimitadas de Napoleão.

O significado de Napoleão BonaparteViu-se que o golpe de estado de Napoleão Bonaparte pusera fim definitivamente à

Revolução Francesa. Por esse motivo, o período de seu governo - de novembro de 1799 a abril de 1814 e durante os Cem Dias que foram de março a junho de 1815, pode ser jus-tamente considerado como a fase inicial da reação do século XIX contra as ideias liberais que tinham tornado possível a Revolução. É certo que Napoleão afirmava simpatizar com alguns desses ideais, mas a forma de governo que estabeleceu era muito pouco compa-tível com qualquer deles. Seu verdadeiro objetivo, no que se referia à obra da Revolução, era manter aquelas conquistas que se coadunassem com a glória nacional e com as suas próprias ambições de glória militar. Em outras palavras, alimentou e fortaleceu o patriotis-mo revolucionário e levou avante as realizações de seus predecessores que se podiam adaptar aos objetivos de um governo centralizado. Mas a liberdade no sentido de inviola-bilidade dos direitos individuais nada significava para ele; chegou mesmo a declarar que “o povo francês necessitava de igualdade e não de liberdade”. Além disso, interpretava a igualdade como significando pouco mais que uma oportunidade igual para todos, sem levar em conta o nascimento, isto é, se não se propôs restaurar a servidão ou devolver as terras à velha nobreza, também não pensou em impor qualquer restrição à atividade econômica dos ricos.

A fim de se compreender o significado histórico de Napoleão é necessário conhecer alguma coisa da sua vida particular e do papel que desempenhou nos acontecimentos dramáticos que precederam a sua ascensão ao poder. Nascido em 1769 numa cidadezi-nha da Córsega, exatamente um ano depois de ter sido a ilha cedida à França, Napoleão pertencia a uma família orgulhosa mas empobrecida, detentora de um título de nobreza conferido pela república de Gênova. Em 1779 ingressou numa escola de Brienne, na França e, cinco anos depois, foi admitido na academia militar de Paris. Parece que como estudante teve uma existência infeliz, abstendo-se de todos os prazeres sociais, comendo pão seco para economizar e acirrando-se cada vez mais contra os franceses, a quem acu-sava de escravizar os seus conterrâneos da Córsega. Não se distinguiu em nenhuma das disciplinas acadêmicas, com exceção da matemática, mas aplicou-se tão assiduamente à ciência militar que, com a idade de dezesseis anos, conquistou o posto de subtenente de artilharia. O progresso da Revolução e as guerras com o estrangeiro deram-lhe oportuni-dade de promoção rápida, pois muitos dos oficiais nomeados pelo antigo regime tinham fugido do país. Em 1793 já era o Coronel Bonaparte, com a difícil missão de expulsar os in-gleses de Toulon. Logo depois, era recompensado com a promoção a general de brigada. Em 1795 defendeu a Convenção Nacional contra um levante de reacionários parisienses e, no ano seguinte, foi-lhe confiado o comando da expedição com todos aqueles cujas emoções tinham sido inflamadas pelo novo patriotismo, ele encarnavao símbolo da vitória e a esperança em um futuro gloriosos.

Se as condições na França fossem mais estáveis do que eram em 1799, é provável que Napoleão Bonaparte nunca tivesse passado de um talentoso oficial do exército. Já vimos, porém, que a situação nesse ano e nos precedentes era extremamente caótica. Às desgraças de um povo já vergado pelas atribulações de uma longa revolução juntavam-se a corrupção, a falta de escrúpulo dos aproveitadores e a ruína financeira. O estado de desespero era tão profundo que milhares de homens acolheram o novo despotismo como

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uma esperança de melhora. Além disso, o governo do Diretório estava carcomido pela intriga. Um dos seus membros, o padre Sieyès, conspirava para derrubá-lo e andava à cata de um herói popular que o auxiliasse no intento. Mas o triunfo de Napoleão também se deveu a certas qualidades intrínsecas da sua personalidade. Era astuto, egoísta e sem escrúpulos. Teve bastante sagacidade para perceber que o povo estava cansado da de-sordem e da corrupção e almejava a volta à estabilidade.

Convencido de que fora tocado pela mão do Destino, resolveu não permitir que nada obstasse à realização das suas altas ambições. Não respeitava princípios ou teorias, não agasalhava dúvidas ou perplexidades, não sentia picadas da consciência. Sabia men-tir e enganar, aparentando uma sinceridade perfeita. Era dotado, além disso, de infatigável energia. Ficou famoso por ter sustentado que duas horas de sono por dia eram suficientes para um homem, quatro para uma mulher e “oito para um imbecil”. Conquistava a afeição dos soldados com a sua resistência às fadigas e privações e com a sua inesgotável capa-cidade de atender pessoalmente a todos os detalhes de que dependesse o êxito de uma campanha militar. Por fim, tinha uma aguda intuição do dramático, o dom da eloquência e o poder magnético de inspirar aos seus subordinados a mais absoluta dedicação. Sabia tirar o máximo proveito dos ambientes e situações, enchendo as imaginações dos que o cercavam com visões magníficas de glória e poder.

O novo regime instituído por Napoleão após o golpe de estado em “18 Brumário” era uma autocracia mal disfarçada. A constituição, redigida pelos próprios conspiradores, criava uma forma de governo conhecida como o Consulado. O poder executivo era exerci-do por três Cônsules, os quais deviam nomear um Senado. Este, por sua vez, escolheria os membros do Tribunato e do Corpo Legislativo numa lista de candidatos indicados por sufrágio popular. O Primeiro Cônsul, que naturalmente era o próprio Bonaparte, tinha auto-ridade para propor todas as leis, além do poder de nomear toda a administração, controlar o exército e conduzir as relações exteriores. O Tribunato discutia as leis sem votá-las, após o que o Corpo Legislativo as aceitava ou rejeitava sem ter o privilégio de debatê-las. Em muitos casos a aprovação final das medidas legislativas era dada pelo Senado, que decidia sobre todas as questões de constitucionalidade. Vê-se, deste modo, que todo o sistema dependia, em última análise, da vontade do Primeiro Cônsul. No entanto, os au-tores da constituição simulavam acatar a soberania popular, restabelecendo o princípio do sufrágio universal masculino. Em dezembro de 1799 o novo instrumento de governo foi submetido ao “referendum” popular e aprovado por esmagadora maioria. Terminada a apuração dos votos viu-se (ou pelo menos assim se disse) que apenas 1562 num total superior a três milhões se haviam pronunciado contra. A constituição assim adotada en-trou em vigor a 1º de janeiro de 1800, mas, como ainda estivesse em uso o calendário revolucionário, é conhecida como a Constituição do Ano VIII.

Conquanto Napoleão tivesse se tornado um monarca absoluto em quase tudo, sal-vo no nome, ainda não estava satisfeito. Em 1802 obteve o consentimento do povo para tornar vitalício o seu cargo de Primeiro Cônsul, ao qual a constituição marcara a duração de dez anos. Só restava tornar a sua posição hereditária. Em 1804, por meio de outro ple-biscito, obteve permissão para converter o Consulado num império. Pouco depois, entre imponentes cerimônias realizadas na catedral de Notre Dame, colocou uma coroa na pró-pria cabeça e assumiu o título de Napoleão I, Imperador dos Franceses. O que o inspirou a tomar tal resolução foi, em parte, a recrudescência da oposição. Várias tentativas tinham sido feitas nos últimos tempos para tirar-lhe a vida e tramavam-se contra ele complots rea-listas. Dezenas e dezenas de pessoas eram presas por simples suspeitas, escolhendo-se

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dentre elas as mais proeminentes para sofrerem punição exemplar. O Duque de Enghien foi fuzilado diante de uma sepultura aberta, após um simulacro de processo. O General Pichegru foi encontrado estrangulado na sua cela. Tendo se livrado, assim, de seus prin-cipais inimigos, Napoleão chegou evidentemente à conclusão de que o melhor meio de resguardar-se contra futuros contratempos do mesmo gênero seria fundar uma dinastia própria, frustrando assim as intenções de todos os pretendentes da casa dos Bourbons.

Especialmente se obtivesse a bênção da igreja para o seu governo, poucos ousa-riam fazer-lhe oposição. Por este motivo fez vir de Roma o papa Pio VII para oficiar na sua coroação, embora tivesse o cuidado de frisar que Sua Santidade estava agindo como mero agente de Deus e não como um soberano internacional com poderes para criar ou depor um imperador.

É infelizmente verdade que a fama de Napoleão Bonaparte se assenta, sobretudo, nas suas empresas militares. Sua obra de estadista foi, todavia, muito mais importante. Neste último setor ele trouxe, pelo menos, algumas contribuições notáveis para a civi-lização. Ratificou a redistribuição de terras levada a efeito pela Revolução, permitindo destarte que o camponês médio continuasse a ser um lavrador independente. Expurgou a administração da desonestidade e do desperdício, reformou o sistema tributário e fundou o Banco Francês para promover um controle mais eficiente dos negócios fiscais. Drenou pântanos, alargou portos, construiu pontes e uma rede de estradas e canais. A maioria dessas obras foram realizadas sobretudo com objetivos militares, mas também em parte para conquistar o apoio das classes comerciais. Centralizou, além disso, o governo da França, dividindo o país em “departamentos” de extensão uniforme, cada qual sob a admi-nistração de um prefeito que recebia ordens de Paris. Seu feito de maior importância foi, talvez, a conclusão da reforma educacional e da judiciária, iniciadas durante a Revolução. Ordenou a instalação de escolas públicas elementares em cada aldeia, de liceus nas cida-des importantes e de uma escola normal em Paris, encarregada de preparar professores. Como complemento a essas mudanças, colocou as escolas militares e técnicas sob a direção do Estado e fundou uma universidade nacional para supervisionar todo o sistema. Nunca, porém, reservou mais de um quarto do orçamento para a instrução pública, resul-tando daí que menos de metade do número total das crianças francesas eram educadas a expensas do Estado.

Em 1810, com o auxílio de um corpo de juristas, completou o famoso Código Napo-leão, uma revisão e codificação das leis civis e criminais com base nos planos elaborados pela Convenção Nacional. A despeito das suas disposições excessivamente severas - a pena de morte, por exemplo, era mantida nos casos de furto e os parricidas deviam ter as mãos decepadas antes da execução - o Código Napoleão foi acolhido como a obra de um segundo Justiniano. Com certas modificações, permaneceu durante mais de um século como lei vigente na França e na Bélgica, ao mesmo tempo que partes consideráveis dele eram incorporadas aos sistemas jurídicos da Alemanha, da Itália, da Suíça, da Luisiana e do Japão.

A obra de Napoleão incluiu muitas outras alterações no sistema político da França. Em primeiro lugar, restaurou a união entre a Igreja Católica e o Estado. Em 1801 assinou uma Concordata com o papa, estipulando que os bispos seriam nomeados pelo Primeiro Cônsul e o governo pagaria salários ao clero. Ainda que a igreja católica não tivesse recu-perado o monopólio legal que desfrutara no antigo regime, pois eram toleradas também outras religiões, passou a ocupar uma posição nitidamente vantajosa que a capacitou a aumentar o seu poder nos anos seguintes.

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Somente em 1905, quando a Concordata de 1801 foi por fim rescindida, o catolicis-mo voltou a uma situação de igualdade em relação às outras religiões. Napoleão também pode ser acusado de cercear as liberdades dos seus súditos, quase desde o momento em que subiu ao poder. Aboliu o julgamento pelo júri em certos casos, impôs uma censura rigorosa à imprensa e suspendeu muitos jornais que suspeitava de serem hostis à sua política. Tão eficiente era o seu controle em toda a nação que nem um só jornal francês noticiou a desastrosa derrota sofrida pela Armada de Napoleão em Trafalgar, senão após o colapso do império, volvidos mais de oito anos. Além de tudo isso, Napoleão perverteu a educação utilizando-a para fins patrióticos e para a glorificação das suas ambições pesso-ais. Ordenou que se ensinassem todas as crianças, nas escolas, a amar o seu imperador, a obedecer-lhe e a “oferecer preces fervorosas pela sua segurança”.

Gestões militares e reflexos pessoais e políticosNo que tange às suas campanhas militares, há de ser ressaltado o fato de que elas

tiveram efeito considerável na orientação do curso da história. Talvez se possa dizer, em seu abono, que nem todas as guerras em que se empenhou foram provocadas por ele. Com sua ascensão ao poder, em 1799, herdou do Diretório a luta com a Segunda Coli-gação composta da Inglaterra, da Áustria e da Rússia. Valendo-se da lisonja e da intriga, Napoleão rapidamente conseguiu a retirada da Rússia, podendo então voltar-se contra a Áustria todas as forças de que dispunha. Conduzindo os seus batalhões de escol através das traiçoeiras gargantas dos Alpes, na primavera 1800, lançou-se sobre os austríacos no vale do Pó e esmagou-os como entre as mandíbulas de um torno.

Pouco depois, o imperador Habsburgo pediu a paz. Em 1801, a Inglaterra era o único inimigo ainda em campo. Como não possuísse

uma Armada verdadeiramente poderosa, Napoleão achou que os ingleses estavam fora do seu alcance e preferiu negociar a paz a lutar. Em 1802 aceitou a Paz de Amiens, pela qual a Inglaterra concordava em ceder as possessões coloniais apreendidas durante a guerra, com exceção das ilhas de Trinidad e Ceilão. Napoleão podia agora dedicar-se inteiramente à consolidação do seu poder no interior.

A Paz de Amiens mostrou ser apenas uma trégua. Por vários motivos, a Inglaterra e a França entraram novamente em luta no ano seguinte. Os ingleses estavam alarmados com a extensão da influência de Napoleão na Itália e nos Países-Baixos e com a aliança por ele firmada com a Espanha. Napoleão sentia-se irritado com a recusa dos ingleses a se retirarem de Malta, de acordo com o Tratado de Amiens. Mas a razão principal do reinício da guerra foram, sem dúvida, as ambições econômicas tanto de ingleses como de franceses. Os comerciantes e industriais da Inglaterra temiam que Napoleão em breve se tornasse bastante poderoso para reconquistar o império colonial que a França perdera na Guerra dos Sete Anos.

O astuto corso, por seu lado, contava com a destruição da prosperidade britânica como o meio mais seguro de ganhar a simpatia da burguesia francesa, que considerava como o seu mais valioso arrimo. Conquanto a guerra tivesse sido declarada em maio de 1803, as verdadeiras hostilidades não se iniciaram senão depois de certo tempo. Ambos os campos gastaram mais de um ano em preparativos — os franceses organizando uma esquadra para invadir a Inglaterra e os ingleses conquistando uma série de aliados. Em 1805 estava formada a Terceira Coligação contra a França, da qual faziam parte a Ingla-terra, a Áustria, a Rússia e a Suécia.

Nessa contingência, Napoleão recorreu à sua velha tática de tentar aniquilar em primeiro lugar os inimigos continentais. Abandonando provisoriamente a pretensão de in-

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vadir a Inglaterra, em outubro de 1805 lançou um exército contra os austríacos, perto da cidade de Ulm e, pouco depois, tomou Viena. Em dezembro desse mesmo ano obteve em Austerlitz uma vitória decisiva sobre um exército conjugado de austríacos e russos. Resul-tou daí ter sido a Áustria eliminada do campo da guerra, dentro das reduzia à condição de uma potência de segunda ordem. Tomada de pânico em face da perspectiva de enfrentar uma sorte idêntica, a Prússia ofereceu então combate. Napoleão o aceitou sem perda de tempo e, antes de um ano, os exércitos de Frederico Guilherme III estavam fora de luta. O corso marchou em triunfo através de Berlim e submeteu a maior parte do país ao governo dos seus generais. Em seguida, voltou a sua atenção para os russos e, derrotando-os em Friedlsnd no mês de junho de 1807, fez sentir ao czar Alexandre I a conveniência da paz. Em julho, Napoleão e Alexandre encontraram-se em Tilsit, cidade prussiana, a fim de assentar os termos do acordo. Por mais singular que pareça, os dois imperadores resol-veram tornar-se aliados. Formaram uma espécie de parceria para controlar os destinos da Europa. Em troca da promessa de cooperar no boicote ao comércio britânico com o Continente, Napoleão dava carta branca a Alexandre para fazer o que quisesse com a Fin-lândia e tomar certos territórios à Turquia. Ao mesmo tempo impôs à Prússia uma punição esmagadora, subtraindo-lhe metade do território, obrigando-a ao pagamento de indeniza-ções astronômicas e reduzindo-a praticamente à situação de estado vassalo da França.

A estrela do Petit Caporal estava então no zênite. Era senhor de quase todo o conti-nente europeu a oeste da Rússia. Destruíra o que ainda restava do Santo Império Romano e reunira a maioria dos estados alemães, com exclusão da Áustria, numa Confederação do Reno da qual ele próprio se nomeava Protetor. Não somente estendera as fronteiras da França mas também criara, como seu domínio pessoal, um novo reino italiano que com-preendia o vale do Pó e o que fora outrora a república de Veneza. Além disso, colocara parentes e amigos em alguns dos tronos restantes da Europa. Seu irmão José tornara--se rei de Nápoles, seu irmão Luís rei da Holanda e seu irmão Jeronimo rei da Vestfália. Escolhera um amigo, o rei da Saxônia, para ser o soberano do ducado de Varsóvia, uma nova Polônia criada principalmente com os territórios que haviam sido tomados à Prússia. Desde os tempos de Carlos V, era a primeira vez que um só homem dominava tão grande parte da Europa. Todavia, a posição de Napoleão estava longe de ser segura, pois ainda lhe restava enfrentar a “desprezível nação de mercadores” do outro lado da Mancha.

Declínio e fim de Napoleão BonaparteTendo perdido para os ingleses a grande batalha naval de Trafalgar (outubro de

1805), resolveu esgotar suas forças pelo método indireto de lhes arruinar o comércio. Em 1806 e nos anos seguintes, estabeleceu o famoso Bloqueio Continental, uma organização em que todos os estados títeres da França eram obrigados a cooperar com ela no boicote às mercadorias inglesas. Privando a Inglaterra dos seus mercados, esperava Napoleão empobrecê-la a tal ponto que o povo se voltasse contra o governo e o forçasse a capitu-lar. Pelo Tratado de Tilsit, como já salientamos, lograra trazer a própria Rússia para essa organização.

A história da carreira de Napoleão, de 1808 a 1815, é uma crônica do declínio gra-dual da sua fortuna. Desde que havia deposto o Diretório, em 1799, até a Paz de Tilsit, em 1807, elevara-se ininterruptamente a alturas que um Alexandre ou um César poderiam ter invejado. Mas pouco após essa última data as suas dificuldades começaram a se multi-plicar, até que por fim o levaram à ruína. A explicação desse declínio inexorável pode ser encontrada em diversos fatores. Em primeiro lugar, Napoleão tornava-se cada vez mais

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egocêntrico com o passar dos anos e, portanto, menos inclinado a aceitar conselhos, mesmo de seus subordinados mais capazes. Continuava a acalentar a ideia de ser um eleito do Destino e essa ideia se transformou numa obsessão, num fatalismo supersticioso que lhe roubava a agilidade do espírito. Em segundo lugar, o seu militarismo agressivo provocou inevitável reação por parte das vítimas. Quanto mais se evidenciava que as conquistas napoleônicas não passavam de sórdidos frutos de uma ambição maníaca de poder, mais forte era a resolução, por parte dos vencidos, de reconquistar a sua liberdade. Povos que, enganados pelas aparências, o haviam acolhido anos atrás como o apóstolo da liberdade revolucionária, voltaram-se então contra ele e o odiaram como a um simples opressor estrangeiro. Mais ainda: o militarismo começara a produzir os seus efeitos dentro da própria França. Os ossos de centenas de milhares de soldados, a flor da juventude francesa, tinham sido disseminados no pó dos campos de batalha de toda a Europa. Tornava-se cada vez mais sério o problema não só de preencher os claros nas fileiras do exército, mas também de manter o nível da produção agrícola e industrial. Finalmente, o Bloqueio Continental mostrou ser uma arma de dois gumes. Na verdade, causou maiores danos à França e aos seus aliados do que à Inglaterra. Patenteou-se a impossibilidade de forçar a exclusão dos produtos britânicos do Continente, uma vez que a maioria dos países dominados por Napoleão eram nações agrícolas que insistiam na troca dos seus produtos pelas mercadorias manufaturadas na Inglaterra. Além disso, os ingleses haviam revidado com uma série de decretos reais que tornavam passíveis de apresamento todos os navios que comerciassem com a França ou com os seus aliados. O resultado foi privar o império napoleônico de todas as suas fontes de abastecimento nos países neutros.

O primeiro episódio que marcou o começo do declínio de Napoleão foi a revolta espanhola irrompida no verão de 1808. Em maio desse ano Napoleão enganara o rei e o príncipe herdeiro desse país, levando-os a abrir mão de seus direitos ao trono, e promo-vera seu irmão José de rei de Nápoles a rei da Espanha. Mas nem bem o novo monarca havia sido coroado quando estalou uma revolta popular. Embora mandasse um exército para debelá-la, Napoleão nunca pôde dominar completamente a rebelião. Estimulados e auxiliados pelos ingleses, os espanhóis sustentaram uma série de guerrilhas que ocasio-naram infinitas despesas e aborrecimentos ao grande cabo de guerra francês. Além disso, a coragem com que a Espanha resistia ao invasor despertou em outros povos um espírito de rebeldia, de que resultou não poder mais Napoleão contar com a docilidade de muitas de suas vítimas.

A segunda fase da queda do aventureiro corso foi assinalada pela ruptura de sua aliança com a Rússia. Como país puramente agrícola, a Rússia vira-se a braços com uma dura crise econômica quando não pôde mais, em razão do Bloqueio Continental, trocar o excesso de sua produção de cereais por produtos manufaturados ingleses. A consequên-cia disso foi que o czar Alexandre resolveu fechar os olhos ao comércio com a Inglaterra, não dando ouvidos aos protestos de Paris ou respondendo-lhes com evasivas. Em 1811 Napoleão chegou à conclusão de que não podia mais tolerar esse desrespeito ao Bloqueio Continental. Reuniu um exército de 600.000 homens e, no verão de 1812, pôs-se em mar-cha para punir o czar. A campanha terminou em horrível desastre. Os russos, sem oferecer resistência, atraíram os franceses cada vez mais para o interior do seu território. Somente quando o inimigo estava nas cercanias de Moscou foi que ofereceram batalha, em Boro-dino. Derrotados nesse encontro, permitiram que Napoleão ocupasse a sua antiga capital. Mas, na mesma noite da entrada dos franceses, manifestaram-se na cidade incêndios de origem suspeita. Quando as chamas finalmente declinaram, pouco mais restava do que

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as paredes tisnadas do Kremlin para abrigar as tropas invasoras. Na esperança de que o czar acabasse por se render, Napoleão deixou-se ficar durante mais de um mês entre as ruínas e só em 22 de outubro resolveu iniciar a marcha de regresso. Essa demora foi um erro de consequências fatais. Muito antes de ter alcançado a fronteira, o terrível in-verno russo caiu sobre ele. Rios engrossados, montanhas de neve e lamaçais sem fundo retardaram e quase detiveram a retirada. Além das calamidades de um frio insuportável, das doenças e da fome, guerrilhas de cossacos surgiam dentre a nevasca para atacar as tropas exaustas. Cada manhã, o miserável remanescente a se arrastar na fuga deixava para trás círculos de cadáveres em volta das fogueiras da noite anterior. Em 13 de dezem-bro, alguns milhares de soldados alquebrados, famintos e quase loucos atravessaram a fronteira da Alemanha — uma ínfima porção daquele que se intitulara orgulhosamente o “Grande Exército”. Perto de 300.000 vidas tinham sido sacrificadas.

O resultado desastroso dessa campanha destruiu o mito da invencibilidade de Na-poleão. Prussianos e austríacos não tardaram a cobrar coragem e, com o auxílio russos, uniram-se numa Guerra de Libertação. Bonaparte organizou rapidamente um novo exér-cito e marchou para arrasar os revoltosos. Na primavera e no verão de 1813 conseguiu algumas vitórias modestas, mas foi finalmente encurralado em Leipzig por um exército aliado de 500.000 homens. Aí, de 16 a 19 de outubro, travou-se a célebre Batalha das Nações que resultou em uma completa derrota para Napoleão. Seu grande império então ruiu como um castelo de cartas; os estados vassalos o abandonaram e a própria França foi invadida. Em 31 de março de 1814 os aliados vitoriosos entraram em Paris. Treze dias depois Napoleão assinou o Tratado de Fontainebleau, desistindo de todos os seus direitos ao trono da França. Em troca, era-lhe concedida uma pensão de dois milhões de francos anuais e a plena soberania sobre a ilha de Elba, situada no Mediterrâneo à vista de sua terra natal, a Córsega. Os vencedores, juntamente com o senado francês, dedi-caram-se então à tarefa de reorganizar o governo da França. Resolveu-se, de comum acordo, restaurar a dinastia dos Bourbons na pessoa de Luís XVIII, irmão do rei que, em 1793, fora mandado para a guilhotina. Teve-se, no entanto, o cuidado de estipular que não haveria uma restauração completa do antigo regime. Deu-se a entender a Luís XVIII que não deveria tocar nas reformas políticas e econômicas que ainda sobreviviam como frutos da Revolução. Atendendo a essa exigência, o novo soberano promulgou uma carta que confirmava as liberdades revolucionárias dos cidadãos e estabelecia uma monarquia moderada.

Mas a restauração de 1814 teve vida curta. O imperador exilado começava a impa-cientar-se no seu pequenino reino ilhéu e aguardava ansiosamente a primeira oportunida-de de escapar.

Essa oportunidade apresentou-se na primavera de 1815, quando os aliados se de-savieram a propósito do destino a dar à Polônia e à Saxônia. Além disso, o povo francês manifestava sinais de descontentamento com o prosaico governo de Luís XVIII e com a insolência dos nobres do antigo regime que tinham voltado. Foi em tais circunstâncias que Napoleão fugiu de Elba e desembarcou na costa meridional da França a 1º de março. Foi recebido em toda parte com alegria delirante pelos camponeses e pelos ex-soldados.

Oficiais enviados para prendê-lo bandeavam-se para o seu lado com regimentos inteiros, compostos de seus velhos camaradas de armas. Em 20 de março, após uma marcha triunfal através do país, Napoleão entrou na capital. Luís XVIII, que jurara morrer em defesa do trono, já se achava a caminho da Bélgica. Napoleão, porém, não devia go-zar por muito tempo do seu novo triunfo. Quase imediatamente após tomar conhecimento

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da sua fuga de Elba, os aliados puseram de lado as suas disputas, declararam o Corso fora da lei e prepararam-se para depô-lo à força. A 12 de junho de 1815 Napoleão deixou Paris com o maior número de forças que pudera reunir, na esperança de derrotar as tropas inimigas sem lhes dar tempo de invadir o país.

Seis dias depois, em Waterloo, na Bélgica, foi fragorosamente derrotado pelo Du-que de Wellington à frente de um exército coligado de ingleses, holandeses e alemães. Perdidas todas as esperanças, Napoleão voltou a Paris, abdicou uma segunda vez e fez planos de fugir para a América. Como encontrasse, porém, a costa fortemente guardada, foi obrigado a procurar refúgio num navio britânico. Em seguida foi exilado pelo governo da Inglaterra em Santa Helena, uma ilha rochosa do Atlântico Sul. Ali morreu em 5 de maio de 1821, só e amargurado.

Situação decorrenteApós a queda de Napoleão, um irresistível desejo de paz e de ordem apoderou-se

do espírito das classes conservadoras nos países vitoriosos. Quase tudo que havia acon-tecido desde que o detestado Corso alcançara o poder passou a ser encarado como um horrível pesadelo. Em certos meios desejava-se voltar ao status quo de 1789, anular a obra da Grande Revolução e renovar o poder e o esplendor do antigo regime. O governo dos Estados Pontifícios tratava de suprimir a iluminação das ruas em Roma como uma perigosa inovação, ao mesmo tempo que o Eleitor de Hesse tornava a impor o uso da pe-ruca aos seus leais soldados. Os maiores estadistas compreendiam, no entanto, que uma restauração completa da velha ordem não seria possível. Era evidente, por exemplo, que o povo francês não toleraria o restabelecimento da escravidão ou a devolução das terras confiscadas à nobreza e ao clero. Portanto, embora o corpulento Luís XVIII tivesse sido reposto no trono, ficava subentendido que ele devia continuar a governar de acordo com a Carta de 1814. Como, por outro lado, algumas das potências vitoriosas não estivessem dispostas a ceder os territórios conquistados a expensas da França, fez-se mister modi-ficar os planos, amiúde sugeridos, de restabelecer as fronteiras europeias no estado em que se encontravam ao tempo de Luís XVI.

O trabalho de decidir o destino da Europa após a conclusão da longa guerra que en-volvera quase todo o mundo ocidental foi realizado, em sua maior parte, pelo Congresso de Viena. Chamar esse corpo de “congresso” é uma impropriedade de termo, pois na rea-lidade jamais ocorreu uma sessão plenária de todos os delegados. Como na Conferência de Versalhes, mais de uma centena de anos depois, as decisões vitais foram realmente tomadas por pequenas comissões. Não obstante, a reunião de Viena foi encenada com tal pompa e esplendor que até o mais insignificante dos seus membros sentia estar parti-cipando de acontecimentos que marcariam época.

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CAPÍTULO IIASPECTOS DA VIDA E DA CARREIRA DE

NAPOLEÃO BONAPARTE

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UMA BREVE BIOGRAFIA DE NAPOLEÃO BONAPATE

Napoleão Bonaparte nasceu no dia 15 de agosto de 1769, em Ajaccio, capital da Córsega, uma grande ilha situada no mar Mediterrâneo, que por muito tempo foi gover-nada pela cidade-Estado de Gênova. Embora o povo corso estivesse muito vinculado à Itália – até falava (e continua falando atualmente) um dialeto próximo do idioma italiano -, em 1768, Gênova cedeu a Córsega à França e, no dia do nascimento de Napoleão, a ilha estava sendo obrigada a celebrar o primeiro aniversário de dependência francesa.

Seu pai, Carlo Buonaparte, era advogado e, embora pertencente à pequena nobre-za, ele e sua esposa, Letizia Ramolino, estavam longe de ser ricos. Napoleão (que retirou o “u” do sobrenome original em 1796 para torná-lo mais francês) era o segundo de oito filhos.

Carlo Maria Buonaparte

Quando criança, Napoleão, ou Nabulio, como era chamado, era fraco e pouco de-senvolvido. Sua cabeça parecia muito grande para o pequeno corpo e talvez esta fosse a causa de seu pouco equilíbrio. De temperamento difícil, o pequeno Buonaparte estava sempre brigando com os outros meninos. Poucos anos após seu nascimento, o pai foi nomeado conselheiro de Ajaccio, o que lhe possibilitou conseguir educação gratuita para seus filhos. Com 10 anos de idade, Napoleão foi aceito na Escola Militar Preparatória de Briennes, no norte da França.

A vida do pequeno cadete não foi fácil. Ele se sentia solitário e saudoso nessa escola tão distante do seu lar, e mesmo marginalizado, pois todos os outros estudantes pertenciam à alta aristocracia da França, enquanto ele era o filho de um nobre corso de baixa linhagem. Esforçou-se muito para aprender a falar corretamente o francês e, assim, evitar a zombaria de seus companheiros, no que foi bem-sucedido, embora nunca tenha aprendido a soletrar. Sua caligrafia também deixava muito a desejar, uma vez que nem mesmo ele conseguia entende-la. Porém, era muito bom em matemática e, como não ti-

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nha muitos amigos em Brienne, usava seu tempo para o estudo, às vezes até trabalhando a noite toda. O resultado foi que passou muito bem nas provas finais e matriculou-se na Escola Militar Real de Paris, fundada pelo rei Luis XV. Ele acabava de fazer 15 anos.

Infelizmente, porém, Napoleão encontrou os mesmos problemas na nova escola. Não era bem aceito pelos colegas, que o tratavam como um selvagem, um incivilizado. Injuriado por tais insultos, ele foi se tornando cada vez mais insociável, criticava tudo e todos, e proporcionou momentos difíceis até para os seus professores. Mesmo assim, desempenhava-se razoavelmente bem nos estudos. Lia o tempo todo, sabia muito de história e geografia, e sobressaía em matemática e ciências.

Seu objetivo era alistar-se na Marinha. Entretanto, em 1785, quando esteve prestes a graduar-se, os exames para aquela arma foram cancelados, o que fez com que Napo-leão, para não ter de ficar mais um ano na escola, se alistasse na artilharia. Em setembro desse ano, com a idade de 16 anos, ele foi promovido à segundo-tenente. Entre 56 es-tudantes agraciados pelo rei Luis XVI naquela ocasião, ele conseguira a 42ª colocação.

Napoleão foi destacado para um regimento de artilharia de Valence, no sudeste da França, onde permaneceu por seis meses. De lá, enviava seu modesto salário para a mãe, na Córsega, pois seu pai havia falecido enquanto ele ainda estava na escola. Depois desse período, conseguiu uma licença e partiu para a Córsega, com a intenção de ajudar a família. Após 22 meses, voltou a seu regimento, foi indicado para participar de uma co-missão encarregada de estudar o “lançamento de bombas com canhões”. Apesar de ser o mais jovem membro da comissão, ele impressionou e surpreendeu os oficiais comandan-tes com seus planos brilhantemente detalhados.

Durante aqueles meses corriam pelo país os primeiros rumores de uma revolução. Quando Napoleão foi reincorporado a seu regimento, em junho de 1788, a agitação já era bastante grande. No dia 14 de julho de 1789, uma multidão em Paris tomou de assalto a prisão da Bastilha, o odiado símbolo da tirania. Em seguida, as forças revolucionárias tomaram o governo e, embora o rei ainda estivesse vivo, os seus poderes foram limitados.

Prise de la Bastille por Jean-Pierre

Houël

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Napoleão não tomou parte diretamente nesses eventos, mas ficou realmente de-liciado ao saber que as leis que mantinham os pequenos nobres confinados a posições compatíveis com sua classe social tinham sido abolidas. Isso significava que ele já não precisava por limites à sua ambição e poderia chegar tão alto quanto quisesse dentro do Exército francês.

Inicialmente, parecia que a revolução interessava a Napoleão por permitir-lhe de-sempenhar um papel importante na Córsega. Ele conseguiu outra licença em fins de 1789 para voltar à sua terra, esperando unir seus esforços aos do movimento revolucionário corso. Algum tempo depois, foi destacado para o 4º Regimento de Artilharia francês e promovido a primeiro-tenente. Novamente em setembro de 1791, ainda levado pelas sau-dades que sentia da terra natal, obteve outra licença, agora de três meses, e voltou para casa.

Nessa época, ele esqueceu, temporariamente, que fazia parte do Exército francês. Tornou-se tenente da Guarda Nacional corsa e participou de um ataque a uma fortaleza, em poder de tropas monarquistas. Quando terminou seu período de licença, recusou-se voltar à França e, em janeiro de 1792, foi declarado desertor. Seu irmão, no entanto, o convenceu a retornar à Paris e apresentar-se em seu regimento. Ele chegou quando começavam os grandes levantes que levaram o rei à guilhotina e mudariam o curso da história da Europa.

Escreveu para a família sobre suas preocupações: “Este país está sendo dilacerado por partidos enfurecidos. É difícil imaginar o que esteja se passando entre as diferentes facções. Não sei como se desenrolarão os acontecimentos, mas certamente eles tomarão um rumo revolucionário”.

A argumentação de Napoleão, ao defender sua causa junto ao ministro da Guerra, deve ter sido tão convincente, que o ministro, ao invés de ordenar a formação de uma cor-te marcial que o julgaria por deserção, não só o reintegrou ao seu regimento, com também o promoveu a capitão. Sua carta patente de 30 de julho de 1792 trazia a assinatura “Luis”, provavelmente um dos últimos documentos a levar a rubrica real.

No dia 10 de agosto de 1792, Napoleão estava em Paris, quando a “ralé” invadiu o palácio das Tulherias e aprisionou o rei. Dizem os relatos que Napoleão teria dito que, se fosse o rei, nunca teria permitido comportamento tão desregrado. Foi esse ataque às Tulherias que levou ao estabelecimento de uma República sob um novo governo chamado Convenção Nacional.

A Tomada das Tulherias em 10 de Agosto de 1792, pintura de Jean Duplessis-Bertaux, Mu-seu do Palácio de Versailles

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Dois meses mais tarde, Napoleão recebeu nova autorização para retornar à Cór-sega. Nessa época, alguns revolucionários corsos haviam se voltado contra a França e tentavam romper com o governo revolucionário de Paris. Napoleão se opôs a eles e lutou ao lado dos compatriotas que se mantinham leais à França. Em abril de 1793, a Córsega mergulhou em uma guerra civil e Napoleão partiu para a França, levando consigo a família Bonaparte. Nos sete anos e meio em que esteve a serviço da França, só desempenhou suas funções, efetivamente, durante trinta meses, pois sua ligação com a Córsega ainda era muito mais forte que com a França. Mas após sua dramática e brilhante vitória em Toulon, ele decidiria ligar, definitivamente seu destino ao da França.

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O CERCO DE TOULON

Era agosto de 1793. O povo francês tinha destronado o rei Luis XVI e proclamado a República, mas ainda havia muitos problemas a resolver.

Quando o rei foi decapitado, em janeiro desse mesmo ano, seus seguidores haviam ficado horrorizados e, em diversas partes da França, muitos deles estavam se insurgindo contra o governo. As outras monarquias da Europa também estavam apavoradas: Ingla-terra, Holanda, Espanha, Áustria e Prússia haviam formado uma coalizão, e traçavam pla-nos para atacar a França enquanto ela estava desorganizada e debilitada pelos conflitos internos.

Os monarquistas, que apoiavam o rei guilhotinado, tinham pedido a ajuda dos britâ-nicos para combater o governo revolucionário. Os ingleses, atendendo ao apelo, haviam mandado navios de sua esquadra para Toulon, uma importante base naval do sul da Fran-ça. A cidade inteira, com seu magnífico complexo de defesa, estava em mãos britânicas. Cinco portos vizinhos, cada um ostentando um enorme poder de fogo, fervilhavam de soldados ingleses. Em contrapartida, as tropas francesas, enviadas pelo governo revo-lucionário para cercar e retomar Toulon, dispunham de poucos canhões, mal distribuídos e mal protegidos por aterros precários, e seus soldados careciam de treinamento e de suprimentos.

O capitão Napoleão Bonaparte, então com 24 anos de idade, estava a caminho para assumir um posto menor no front italiano, quando decidiu fazer uma escala, não pro-gramada, para ver um amigo em Toulon. A situação era essa quando o oficial encarregado da artilharia francesa foi gravemente ferido e o comando foi oferecido a Napoleão. Inicia-va-se, assim, uma das mais meteóricas escaladas para a fama que o mundo já conheceu.

O capitão Bonaparte começou a estudar o posicionamento de sua artilharia, e se deu conta de que todo o cerco estava muito mal organizado. Os canhões seriam inúteis, a menos que se fizessem algumas mudanças importantes. Ele se propôs a efetuar tais mudanças e, como ninguém mais parecia entender tanto quanto ele de artilharia, sua proposta foi aceita.

O jovem Bonaparte deslocou os canhões para posições melhores, e providenciou alimentos, cavalos, munições e armas para seus soldados. Treinou seus homens, reor-ganizou as baterias e passou a dirigir todo o seu poder de fogo sobre um ponto fraco das defesas inimigas. Esse estratagema se mostrou tão eficiente que em pouco tempo os ingleses haviam perdido até mesmo suas posições mais fortes.

Napoleão Bonaparte foi então promovido à patente de major e, depois de repelir com absoluto sucesso um ataque britânico, atingiu o posto de coronel. Nos cinco dias seguintes, seus canhões bombardearam o porto, enquanto suas tropas avançavam in-cendiando os navios e os couraçados ingleses para, finalmente, arrasar as entradas de Toulon. Em dezembro, Bonaparte era promovido a general-de-brigada.

Em quatro meses, ele passou de capitão a general, uma ascensão tão rápida que, para conseguir tal patente, foi obrigado a mentir sobre sua idade, quando ele só tinha com-pletado os 24. Os superiores de Napoleão embora reconhecendo o brilho desse jovem e corajoso oficial, sentiam certa intranquilidade com sua ambição.

O general Bonaparte tinha o rosto emoldurado por longos cabelos pretos que pare-ciam nunca ter sido penteados. O uniforme era-lhe grande demais, assentando desajeita-damente em sua figura de 1,58 m, suas botas, sem nenhum brilho, tinham os saltos gastos e ficavam tão grandes em suas pernas magras que pareciam pertencer a outra pessoa,

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Esquema do Cerco de Toulon, 1793

e seu francês soava com um sotaque estranho. Poderia alguém suspeitar que essa figura singular se tornaria imperador da França e governante de quase toda a Europa?

Apesar da sua aparência, Napoleão era brilhante e ambicioso, e podia mudar rapi-damente seus planos de forma a adaptar-se a qualquer problema novo. E, além das suas qualidades pessoais, ele tinha outra grande vantagem: o suporte da Revolução Francesa.

Napoleão apareceu num momento da História em que todos os seus talentos só podiam leva-lo às alturas desta nova forma de Estado, tão bem ligado ao novo tipo de guerra. Passados mais de 150 anos de sua morte, os historiadores ainda debatem uma questão: teria Napoleão usado a máquina forte do Estado e o exército popular para de-fender a revolução contra seus muitos inimigos? Ou simplesmente usou as forças criadas pela revolução para defender seus próprios interesses?

“Em última análise, é preciso ser um militar para governar. É somente com botas e esporas que se governa um cavalo”.

Napoleão Bonaparte

As guerras napoleônicas

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A ASCENSÃO DE NAPOLEÃO BONAPARTE

Napoleão Bonaparte em seu característico traje cerimonial.

Após ter decidido unir sua sorte à da França, a ascensão de Napoleão Bonaparte foi extremamente rápida. Entretanto, o futuro imperador ainda deveria enfrentar tempos difíceis.

Depois do brilhante sucesso em Toulon, Napoleão partiria, já comandante da artilha-ria de costa do Exército francês, para a Itália. Entretanto, em Toulon conhecera uma moça muito bonita, Désirèe Clary, pertencente a uma família abastada, e começou a cortejá-la. Inicialmente, tudo que Napoleão conseguiu foi fazê-la rir de seu uniforme folgado e de seus cabelos longos e desalinhados. Porém, a magia dos olhos do soldado acabou cati-vando Désirée e eles ficaram noivos, compromisso que contrariou profundamente os pais da moça. Afinal, Napoleão Bonaparte era apenas um general-de-brigada que nunca pode-ria proporcionar-lhe um padrão de vida condigno. Mas os jovens estavam apaixonados e mantiveram o noivado, na esperança de que os pais dela reconsiderassem sua posição.

Ainda em 1794, uma nova missão levaria Napoleão de volta à França, desta vez em Nice. Nessa cidade, ele alugou um apartamento na casa de Joseph Laurent, um rico comerciante. Maximillien Robespierre - um dos membros do Clube dos Jacobinos, partido político que tinha por objetivo roteger as conquistas da Revolução Francesa contra os atos da aristocracia - tinha assumido a liderança da Convenção Nacional, após a execução do rei, e conheceu Napoleão nessa época. O governo revolucionário estava tendo muita dificuldade para dirigir o país. A Convenção estava em guerra, não só contra os inimigos da revolução no estrangeiro, mas também estava empenhada numa luta encariçada para manter o controle dentro das próprias fronteiras. Para combater a oposição interna, foi estabelecido um Comitê de Salvação Pública com poderes, até, de executar qualquer

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pessoa suspeita de ser inimiga da revolução. Como chefe desse comitê, Robespierre foi responsabilizado pela morte de, aproximadamente, 50.000 pessoas, no período chamado Terror.

Robespierre já tinha ouvido falar das façanhas de Napoleão em Toulon e o consi-derava, além de bom soldado, um verdadeiro patriota. E ficou mais entusiasmado ainda ao tomar conhecimento de um plano elaborado por Napoleão, cujo objetivo era cruzar os Alpes e tomar a Itália, então em mãos dos austríacos. Robespierra apresentou o plano ao comando geral da Convenção e este logo o aceitou.

Désirée Clary, o primeiro grande amor de Napoleão. Os pais de Désirée, que permi-tiram que sua irma Jullie se casasse com José, irmão do general, desaprovaram a união dos dois, por julgarem que Napoleão não tinha um futuro muito brilhante

Ainda em 1794, uma nova missão levaria Napoleão de volta à França, desta vez em Nice. Nessa cidade, ele alugou um apartamento na casa de Joseph Laurent, um rico comerciante. Maximillien Robespierre - um dos membros do Clube dos Jacobinos, partido político que tinha por objetivo roteger as conquistas da Revolução Francesa contra os atos da aristocracia - tinha assumido a liderança da Convenção Nacional, após a execução do rei, e conheceu Napoleão nessa época. O governo revolucionário estava tendo muita dificuldade para dirigir o país. A Convenção estava em guerra, não só contra os inimigos da revolução no estrangeiro, mas também estava empenhada numa luta encariçada para manter o controle dentro das próprias fronteiras. Para combater a oposição interna, foi estabelecido um Comitê de Salvação Pública com poderes, até, de executar qualquer pessoa suspeita de ser inimiga da revolução. Como chefe desse comitê, Robespierre foi responsabilizado pela morte de, aproximadamente, 50.000 pessoas, no período chamado Terror.

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Robespierre já tinha ouvido falar das façanhas de Napoleão em Toulon e o consi-derava, além de bom soldado, um verdadeiro patriota. E ficou mais entusiasmado ainda ao tomar conhecimento de um plano elaborado por Napoleão, cujo objetivo era cruzar os Alpes e tomar a Itália, então em mãos dos austríacos. Robespierra apresentou o plano ao comando geral da Convenção e este logo o aceitou.

Quando não estava lendo ou trabalhando, Napoleão aproveitava para dar longos passeios com a jovem Emilie Laurenti. Apesar de seus 15 anos, ela logo fez Napoleão es-quecer Desirée, e pedir sua mão em casamento à Madame Laurenti. Esta ficou indignada. Emilie casar-se com um pequeno soldado esfarrapado, pago por aqueles assassinos que estavam no poder em Paris? Além do mais, com um soldado tão baixo? Nunca! Rejeitado, o infeliz general esqueceu rapidamente Emilie e lembrou-se da sua meiga Desirée. Sabia-mente, ele decidiu nada mencionar sobre sua repentina paixão por Emilie.

Enviado em missão para Gênova, Napoleão imaginava que seus problemas tives-sem acabaado, mas, ao voltar à França, em julho de 1794, ele soube que Robespierre, seu poderoso protetor, tinha sido destituído e guilhotinado. O incitamento à uma revolução social maciça tinha ganjeado a Robespierre o ódio dos outros membros ue se voltaram contra ele, sob a alegação de que procurava apropriar-se do poder e tornar-se um ditador. Napoleão, tão ligado a Robespierre,também era suspeito. Ficou horrorizado quando o novo governo liberal francês (formado pelos adversários políticos de Rbespierre) afastou--o do serviço ativo do Exército francês e mandou prendê-lo. Napoleão estava convencido de que esse era o fim da sua carreira, senão da sua vida. Contudo, foi julgado inocente por uma comissão de investigação e libertado mas, devido às suas ambições e as ligações que mantinha com os membros radicais da Convenção, teria de aguardar um longo tem-po até ser designado para um novo posto.

Após a queda de Robespierre, os problemas do novo governo continuaram, tendo de enfrentar não só outras nações, mas tanbém os èmigrées - realistas no exílio - que tramavam o retorno ao regime monárquico.

Além do mais, em toda a França havia levantes como o de Toulon. Algumas das

Execução de Robespierre

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cidades maiores, como Lyon, estavam em franca rebeldia, e certas regiões mais distantes de Paris, principalmente a de Vendéia, haviam aderido aos realistas. Os camponeses desta parte oeste da França, tradicionalmente católica e dedicada principalmente à agri-cultura, sempre tiveram um bom relacionamento com a nobreza e, quando a Revolução Francesa passou a atacar a Igreja Católica Romnana, eles se voltaram contra os revolu-cionários.

Finalmente, Napoleão recebeu a noticia de que estava sendo reintegrado ao Exér-cito, mas sua indicação para a Vendéia o deixou desgostoso. Este era um trabalho que ele absolutamente não desejava, pois, ao empenhar-se numa guera civil contra um exército de pessoas pobres e mal treinadas, escondidas nos campos, sebes e florestas, não teria condições de usar a artilharia pesada, e a fama e a glória que tanto almejava ficavam cada vez mais longe.

Napoleão decidiu partir imediatamente para Paris e explicar pessoalmente sua in-felicidade ao ministro da Guerra. Esse procedimento que tinha surtido efeito no passado, dessa vez não teve muito sucesso. O ministro achou o franc~es do jovem general deplo-rável e sua apar~encia tão imunda, que tudo que Napoleão conseguiu foi um emprego pouco definido no Estado-MAior, pelo qual receberia, apenas, a metade do soldo. E isso ainda não era tudo.

Em agosto, ele recebu uma carta ameaçadora, exigindo que partisse para a Ven-déia ou seria substituído. Napoleão dirigiu-se ao Comitê de Salvação Pública, onde expli-cou novamnete seu plano para a conquista da Áustria, usando o Exército francês da Itália. Seu plano foi considerado brilhante e Napoleão foi transferido para trabalhar nos mapas da seção de topografia da comitê. Isti era quase tão ruim quanto Vendéia. Ele queria co-mandar homens, ação!

Napoleão começara a cultivar sua vida social na esperança de encontrar alguém poderoso que pudesse ajudá-lo a progredir em sua carreira. Foi neste período que conhe-ceu Josephine Tascher de La Pagerie, que logo seria sua incomparável Josefina.

Nascida na Martinica, ela casou-se com o Visconde Alexandre de Beauharnais, de-capitado durante o Terror. Ele lhe deixara dois filhos, Hortênsia e Eugênio. A bonta viúva ‘americaine”, embora não fosse mais tão jovem, tinha toda a graça e o charme do Antigo Regime. Escapara por pouco da guilhotina e, por isso, vivia a vida plenamente à procura , também ela, de um protetor rico e poderoso.

Napoleão esqueceu Desirée para sempre e apaixonou-se, perdidamente, por Jose-fina, que representava toda a elegância e feminilidade que ele sempre procurara.

Embora Josefina não desse muita atenção ao jovem general, flertou com ele, assim como flertava tantos outros oficiais que começavam a se destacar. Segundo alguns histo-riadores, ela era amante do general Paul Barras, um importante membro da Convenção, que contribuíra para a queda de Robespierrre e, depois disso, fora nomeado comandante de Paris.

Nesse meio tempo, a situação política da França revolucionária ainda nao se atera-ra. Os realistas, tanto no pais como no exterior, continuavam a opor-se ao novo regime e os revolucionários continjavam a brigar entre si. Em 1795, numa tentativa de consolidar o poder, a Convenção fez o esboço de uma nova Constituição, estabelecendo as bases do Diretório, um conselho de governo formado por cinco memebros. Os fealistas, percebendo que a nova Constituição acabaria, definitivamente, com suas chances de restabelecer a monarquia, , fomentaram e financiaram a revolta, empunharam armas e marcharam contra

Josephine Tascher de La Pagerie

As guerras napoleônicas

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a Convenção.O general Barras, que não tinha experiência em batalhas, e sabedor dos importan-

tes feitos de Napoleão no cerco de Toulon, encarregou-o de remprimir a nsurreição realis-ta. Então, no dia 5 de outubro de 1795 (conhecido como 13 vindinário), Napoleão disparou sua artilharia contra a multidão rebelde. Seiscentas pessoas morreram ou ficaram feridas por “uma baforada de metralha”, como ele disse. Napoleão salvou a Convenção Navio-nal, o Diretório pôde ser instalado e a nova Constituição entrou em vigor. Cinco dias mais tarde, graças a uma moção de Barras, agora comandante-geral do Exército do Interior, Napoleão foi nomeado subcomandante.

Quando Baras se tornou um dos cinco membros do Diretório, ele renunciou a seu posto militar. Inesperadament, Napoleão Bonaparte o sucedeu como comandante-geral do Exército do Interior. Logo depois, em março de 1796, ele foi nomeado comandante do Exército da Itália. Essa nomeação foi surpreendente, já que na época, sabia-se pouco a respeito dele, exceto que era um bom comandante de artilharia. A promoçao, contudo, ocorreu uma semana antes do casamento de Napoleão com Josefina de Beauharnais, e não foram poucos os que intuíram que, de alguma forma, os dois eventos estavam relacio-nados. A cerimônia civil do casamento foi realizda no paço municipal, no dia 9 de março de 1796. Na certidão de casamento, Napoleão aumentou em dois anos sua idade, ao passo que Josefina diminuiu para 29 seus 33 anos.

Josefina estivera sob a proteção de Barras, mas era uma mulher muito cara, que gastava enorms somas de dinheiro. É possível que Barras tenha arquitetado o casamento de Napoleão e conseguido sua nomeação para comandante do Exército da Itália, não só para livrar-se da viúva e de suas contas, mas também para ver-se longe de Napoleão que,

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enquanto estivesse na França, representaria uma ameaça para Barras.Quanto à jovem Desirée, ao saber do casamento de Napoleão, jurou que jamais se

casaria e ameaçou até suicidar-se. Um ano e meio depois, contudo, casou-se com um capitão de nome Bernadotte. Este era amigo de Napoleão e de seu irmão José,

e mais tarde desempenharia importante papel na vida de Napoleão - em 1818, Jean Ber-nadotte se tornaria rei da Suécia.

Capitão Jean Bernadotte

Transcorridos menos de seis meses de sua nomeação para a Itália, Napoleão cole-cionara tantas vitórias militares, que toda a França, e mesmo o restante da Europa, estava atônita. E talvez o mais surpreso de todos fosse o homem que tornou tudo isso possível, Barras, o promotor de Napoleão.

“Não tenho palavras para descrever o mérito de Napoleão; muita ha-bilidade técnica, um grau idêntico de inteligência e muita bravura - eis

um retrato imperfeito deste excepcional oficial”Jacques Doggomer - comandante superior de Napoleão no cerco de

Toulon

As guerras napoleônicas

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A CONQUISTA DA ITÁLIA

Logo após o dia de núpcias, Napoleão partiu para assumir o comando do Exército francês da Itália. Essa campanha tinha mais o intúito de dar aos franceses um poder de barganha maior , para assim obterem concessões da Áustria, do que propriamente esta-belecer o poder francês na península. Outro objetivo naõ menos importante, era espoliar as riquezas dos Estados italianos e prover os cofres do Diretório.

Pode parecer estranho que a França esperasse atingir a Áustria atacando a Itália, mas, no fim do século XVIII, o mapa da Europa era bem diferente do de hoje. A Áustria não era uma naçã pequena como atualmente, mas constituía-se num império grande e pode-roso. Do mesmo modo, a Italia não era um país unificado e sim um conjunto de Estados separados. Alguns deles eram independentes, como por exemplo os Estados papais, as repúblicas de Veneza e de Gênova e o Reino da Sardenha, outros pertenciam a potência estrangeiras, principalmente à Áustria, que reivindicava, ainda, os Estados de Milão, Mân-tua, Toscana e Módena.

A Alemanha também estava numa situação parecida. O seu Estado mais poderoso era a Prússia; a maioria dos outros eram fracos e estavam divididos. Um ano antes da campanha de Napoleão na Itália, a Prússia tinha assinado um tratado que concedia à França os Estados situados na margem esquerda do rio Reno, a parte alemã mais pró-xima da fronteira com a França. A Áustria, porém, recusou-se a reconhecer esse tratado e levantou armas contra a França. Por outro lado, a guerra com a Alemanha não estava favorável para os franceses, por isso, eles esperavam que um sucesso na frente italiana lhes trouxesse algumas vantagens, como por exemplo, conseguir pressionar, fortemente, a Áustria, para que esta lhes cedesse a margem esquerda do Reno.

Napoleão não duvidava de que o plano que ele tinha montado em 1794 - e que tanto impressionara Robespierre - lhe pemitiria obter essa vitória. Mas o Exército com que ele contava estava em péssima forma. O Exército italiano tinha permanecido acampado por tres anos ao pé dos Alpes. Um dos batalhões recusou-se a sair da França antes de receber o pagamento do soldo; além disso, não havia comida nem mjnições, nem diheiro para comprar nada.

Napoleão começou por estabelecer o quartel-general na cidade de Nice e convocou seus generais, que não se impressionaram com o primeiro exame que fizeram do seu nvo comandante - baxo, 26 anos, cabelos longos e desarrumados, sempre exibindo um retrato de sua esposa e insistindo para que todos o olhassem. Mais parecia um político intrigante, que tivesse conseguido seu posto por acordos de conveniência relizados em fundo de salão. Pretendia ele, realmente, tomar o Império Austríaco com 27.000 soldados esfarrapados e famntos, usando sapatos de palha e sem receber seu soldo havia meses?

Mas o jovem Bonaparte não estava nem um pouco intimidado diante das dificulda-des. Informou-se sobre o tamanho das unidades, o moral das tropas e as quantidades de suprimentos.Depois disse que pretendia inspecionar os soldados no dia seguinte e come-çar a marcha um dia depois.

Ele não estimou bem o cronograma , mas também não ficou muito fora dele. Em 48 horas, conseguiu pão, carne e conhaque suficientes para seis dias, e distribuiu os solda-dos dos batalhões rebeldes nas outra unidades, diluindo assim o mal-estar. Para dar às tropas um senso de identidade, passou revista formalmente, e no discurso que fez mos-trou sua grande habilidade para inspirar coragem em seus homens.

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“Soldados, estais nus e subnutridos. O governo vos deve muito, mas nada pode vos dar (...) Vossa paciênci para suportar as privações e vossa coragem para enfrentar todo tipo de perigos ganharam a admiração de toda a França. Ela é testemunha de vossos desvelos. Vós não tendes sapatos, abrigo, nem camisa e quase nenhum alimento. Nossos estoques estão vazios, enquanto os do inimigo estão cheios. De vós depende arrebatá-los. Vós quereis e vós podeis fazê-lo. Vamos!” Ele eletrizou os soldados e começou a marcha noo dia 2 de abril de 1796. Em vez

de tentar atravessar os desfiladeiros bem defendidos dos Alpes, fez seu exército avançar, rapidamente, por território genovês. Repeliu uma combinação de de forças austríacas e sardas em quatro batalhas e quando, no dia 28 de abril, o rei da Sardenha concordou com uma trégua, o Exército austríaco retirou-se para proteger a cidade de Milão. Depois des-sas primeiras vitórias, Napoleão falou novamente às tropas.

“Soldados! Até agora a vossa luta foi apenas por rochas infecundas que, em-bora os tenha tornado famosos por vossa coragem, são inúteis para a Pátria (...) Sem nada, vós reunistes tudo aquilo de que precisáveis, ganhastes bata-lhas sem canhões, cruzastes rios sem pontes, fizestes a marcha forçada sem botas e acampastes sem conhaque e, frequentemente, sem pão. Somente os solddos da liberdade suportariam o que vó suportastes! Por tudo isso, minha gratidão”

E após pdir-lhes que respeitassem a população civil, continuou:

“Vós ainda tendes batalhas a travar, cidades a conquistar e rios para cruzar. Vós não fizestes nada, já que tendes tudo para fazer (...)”.

Ao assinar o tratado de paz com o rei da Sardenha, o general francês astutamen-te incluíu: “o direito de atravessar o rio Pó emValenza”. O general austríaco, totalmente despistado por aquela exigência de Bonaparte, levou imediatamente suas tropas à Va-lenza para esperar a chegada do Exército francês. Napoleão, contudo, fez um caminho diferente: cruzou calmamente o rio em Piacenza, tomando os austríacos de surpresa pela retaguarda. Após a Batalha de Lodi, a rica Província da Lombardia caiu em seu poder e Milão ficava, então, aberta para seu avanço. O Arquiduque Ferdinando, da Áustria, deixou a cidade precipitadamente, levando consigo seu ouro e suas coleções de arte.

Após cada conquista, Napoleão apresentava-se a si mesmo como libertador dos povos conquistados. Embora os membros do Diretório o tenham advertido no sentido de não ajudar os movimentos revolucionários na Itália - a França não queria complicações na Itália -, Napoleão desobedeceu suas ordens. Ele falou aos italianos com palavras com-ventes:

“Povo da Itália! o Exército francês vem para quebrar vossos grilhões. A guar-nição francesa é amiga de todas as nações; recebeii-nos com confiança! Vossas propriedades, vossa religião, vossos costumes serão respeitados. Faremos a guerra, mas como inimigos generosos, porque nossa única pen-

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dência é com os tiranos que vos escravizaram”.

Os cidadãos de Milão receberam Napoleão jubilosos e de braços abertos. Ele, en-tão, esvaziou os cofres da cidade e, em seguida, marchou em direção ao sul. Conquistou o Grande Ducado da Toscana, os ducados de Módena e Parma, e os Estados papais de Bolonha e Ferrara. Essa intensa atividade ocupou-o durante um mês inteiro e lhe permitiu ficar de posse de grandes quantidades de dinheiro, alimentos, cavalos, munições e arma-mentos. Napoleão tambem tomou posse de grandes tesouros culturais desses Estados, enviando para o rei da França muitas pinturas de valor incalculável e inúmeras outras obras de arte.

O Diretório estava deliciado com o resultado da espoliação, mas um tanto preocu-pado com os tratados que Napoleão insistia em negociar, independentemente, sem pedir sua aprovação. Sua popularidade crescia a passos de gigante, e os membros do Dretório não estavam em condições de detê-lo

Ao longo de toda a camanha, os generais austríacos cometeram sempre o memso erro,dividindo suas tropas e entregando, assim, nas mãos de Napoleão, algumas vitórias fáceis. Ele gozara ainda de outra vantagem, já que seu exército er muito diferente dos que ele enfrentava. As tropas austríacas eram fornadas por soldados profissionais pagos, que, perdendo u ganhando batalhas, sempre tinham o que comer. Para o Exército francês, entretanto, a vitória significava comida e roupas, e a derrota prenunciava a fome. Por isso, os soldados franceses lutavam com o maior empenho.

O problema mais sério seria enfrentado por Napoleão na Itâlia foi Mântua. Suas tro-pas tentaram submeter a cidade durante um mês, mas Mântrua resistiu, até receber uma divisão nva e descansada de tropas austríacas para bater o Exército francês. Rumores de que Napoleão estava prestes a perder a Itália chegaram, rapidamente, à França.

Mas em janeiro de 1797, o general austríaco que defendia Mântua cometeu um erro fatal. Embora seu exercito fosse bem maior que o de Napoleão, ele o dividiu em dois grupos, facilitando, assim, a estratégia do general francês, que atacou o flanco esquerdo do Exército austríaco e o destruiu. O restante das tropas austríacas fugiu amedrontado.

Napoleão partiu para os Alpes em perseguição encarniçada. Quando estava prati-camente às portas de Viena, os austríacos decidiram negociar. O resultado foi o

tratado preliminar de paz, assinado em Leoben, em abril de 1797. Napoleão con-cluiu seu tratado sob sua exclusiva responsabilidade e autoridade, sem a aprovação do Diretório, que considerou os termos do tratado demasiado generosos para a Áustria.

Embora os membros do Diretório não estivessem satisfeitos com essa diplomaacia pessoal de Bonaparte, eles preferiram isso a vê-lo em PAris, uma vez qye o general es-tava se tornando nuito popular entre a população francesa e seria perogiso se voltasse.

Cada vez que os diretores se queixavam de suas manobras políticas na Itália, Na-poleão lhes lembrava quanto dinheiro tinam rendido suas campanhas e ameaçava voltar para casa. De um momento para outro coneçaram a achar o clima muito quente, dizia estar se sentindo muito doente, ou que tinha de correr à Paris para defender-se das acusa-ções de estar dirigindo mal a campanha. Manipulando os desertores com essas ameaças, Napoleaõ conseguiu que eles concordassem com todos os seus planos, fundamentando seu sucesso e sua popularidade sobre alicerces de poder político.

Napoleãp permaneceu na Itália para completar as negociações de paz, mas os aus-triacos não tinham pressa para chegar a um acordo final. Tinha havido eleições na França

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recentemente, e os monarquistas foram bem sucedidos no Conselho doas Anciãos e no Conselho dos Quinhentos (as duas Assembléias do Legislativo francês, que nomeavam os cinco diretores). Ambos os conselhos brigavam com os diretores. os dietores brigavam entre si, e os austríacos ficavam na expectativa de um golpe monarquista para tomar o governo. Como os realistas se tornavam uma ameaça crescente para a República, os diretores decidiram que não tinham outra alternativa senão chamar Bonaparte e seu exér-cito. Fracos e divididos para pedir a ajuda do povo francês ou para chegar a uma solução política, eles queriam que Napoleão impusesse uma solução militar.

Napoleão, alarmado com o resultado das eleições, pressionara os diretores para que suprimissem os monarquistas , mas estuda, cuidadosamente, os próximos movimen-tos do jogo. Se o golpe planejado contra os monarquistas falhasse, Napoleão não queria ver seu nome associado ao dos golpistas. Assim, enviou Pierre Augereau, um de seus ge-nerais a Paris. Augereau chegou à capital francesa no dia 7 de agosto e, em 4 de setenbro, os monarquistas estavam derrotados.

Napoleão reivindicou essa vitória para si, e os austríacos, vendo sua força cres-cer, decidiram fazer um acordo à pressas. Segundo uma história que circulou na época, enquanto negociava com Cobenzl, o embaixador austríaco, Napoleão teria derrubado, acidentalmente, uma bandeja com pratos. Quando eles se espatifaram no chão, disse que ele teria ameaçado Cobenzl: “Esmagarei vocês da mesma forma!”.

No dia 17 de outubro de 1797, foi firmado o Tratado de Campo Formio que, basi-camente, reafirmava o tratado prelimnar de Leoben. À França caberiam as provínciaas belgas, até então dominadas pela Áustria, e o norte da Itália, enquanto a Áustria ficaria com Veneza e seus territórios. Uma cláusula secreta obrigava, ainda, a Áustria a cedes a margem esquerda do rio Reno à França. Mais uma vez, Napoleão assinara o tratado sem pedir nehuma autorização ao Diretório, mas o povo francês estava delirante de alegria. No dia 5 de dezembro, quando voltou a Paris, foi recebido com uma grande celebração oficial. Os diretores, que não pretendiam deixar transparecer toda a sua irritação, proclamaram que o tratado satisfazia todos os seus anseios e, imediatamente, concederam a Napoleão o comando do Exército que faria que faria uma expedição ao Egito, com o objetivo de im-pedir que os ingleses estabelecessem o seu domínio na Índia.

Os membros do Diretório precisavam de alguma coisa que mantivesse Napoleão fora do país, pois esses astutos políticos sabiam quanta verdade encerrava o ditado popu-lar que diz que não há nada mais perigoso do que um herói desempregado.

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O 18 BRUMÁRIO

Parece que a primeira intenção tanto do Diretório como do próprio Napoleão era invadir a Inglaterra, mas uma análise daa situação das tropas reunidas ao longo do canal inglês, mostrou ao general que a ideia era impraticável - os soldados destreinados não seriam capazes de enfrentar os ingleses. Foi assim que ele sugeriu aos diretores que in-vadissem o Egito e a ilha de Malta. Com um pé no Mediterrâneo, afirmava Napoleão, ele poderia destruir a Inglaterra.

A bem da verdade, a campanha militar francesa no Egito, a longo prazo, foi um de-sastre, mas Napoleão tinha uma maneira própria de contar as histórias de suas batalhas. Assim, quando as notícias de suas vitórias chegaram a Paris - notícias que Napoleão, inteligentemente, fizera questão de redigir pessoalmente - todos os objetos egípcios tor-naram-se moda na capital francesa. E para o povo francês ele continuava sendo o grande herói conquistador.

Ele partiu no dia 18 de maio de 1798, com 300 barcos, 16.000 marinheiros e 30.000 soldados, e se fazia acompanhar de uma comissão artística e científica composta por 167 membros, mais todo o suprimento de que necessitaria. As notícias de seu embarque não eram segredo, pois foram publicadas no jornal londrino The Times.

Lorde Horatio Nelson, o famoso almirante britânico, imediatamente se fez ao mar atrás dele, mas prevaleceu a sorte de Napoleão. Nelson por muito pouco não conseguiu alcançar a frota francesa, qu aportara primeiro em Malta, a caminho do porto egípcio de Alexandria. Os Cavaleiros de Malta, uma antiga ordem de fidalgos, resistiram apenas três dias, e as forças fracas e despreparadas de Alexandria caíam ainda mais apidamente.

O Almirabte Horatio Nelson, comandante da frota britânica, que tentou interceptar a passagem de Napoleão a caminho do Egito.

O Egto nessa época estava oficialmente sob controle turco, mas na prática, era governado pelos mamelucos. Os mamelucos (“homem comprado” ou “escravo” em árabe) foram levados pelos califas fatímidas e pelos sultões ayyúbidas para o Egito, onde rece-beram treinamento militar e chegaram a integrar uma milícia que alcançou grande poder. Com o passar do tempo, muitos foram libertados e atingiram postos elevados na hierar-

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quia egíipia, chegando esmo a dominar o Egito. Assim como havia feito na Itália, Napoleão entrou em Alexandria como o grande libefrtador, dizendo aos egípcios que respeitaria suas crenças e os livraria da tirania dos mamelucos.

“Povo do Egito, vós ouvireis que vim destruir vossa religião. Não acrediteis! Respondei que vim estaurar vossos direitos e punir os usurpadores, e que eu respeito a Deus, vosso profeta e o Corão, mais do que os mamelucos. (...) Qual a sabedoria, quais os talentos, quais as virtudes que distinguem os mamelucos para que eles tenham a posse exclusiva de tudo o que torna a vida doce e agradável? Uma bonita escrava, um belo cavalo, uma casa maravilhosa? Tais coisas também pertencem aos mamelucos. Se o Egito é a fazenda deles, que nos mostrem a parte que Deus arrendou a eles”.

Então Napoleão e seu exército começaram uma penosa marcha através do deserto, em direção ao Cairo, capital do Egito. Mais do que os mamelucos, seus inimigos eram o calor, a sede e a falta de suprimentos. Embora bravos e ferozes, os mamelucos estavam completamente desorganizados. Apesar da perda de muitos soldados no deserto, Napo-leão venceu uma grande força mameluca na Batalha das Pirâmides, tomando facilmente a cidade do Cairo.

A Batalha da Pirâmides, por Francois-Louis-Joseph Watteau

Logo após essa vitória, a capanha no Egito foi abalada pelo almirante Nelson. Ele alcançara, finalmente, a frota francesa na baía de Abuquir, destruindo-a completamente. Napleão ficou isolado da França, e seus sonhos de conquistar a Inglaterra naufragaram com a frota. Ilhado no Cairo, ele procurou usar bem seu tempo, pondo imediatamente os cientistas e os administradores a trabalhar, encarregando-os de organizar tudo, desde a marcação de terras, sistema de imostos, e instalações de hospitais, até a iluminação públi-

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ca e o sistema de coleta de lixo Chegou-se até a construir cafés de estilo francês. Mesmo assim, o poder de Napoleão se apoiava em terreno movediço, ja que, apesar de seus belos discursos, os egípicios consideravam as forças napoleônicas como usurpadoras e nao libertadoras.

Em pouco temo Napoleão ficou sem dinheiro. Os pesados imostos que ele impunha aos egípcios, provocando muita ira e ressentimento, eram insuficientes para seu propósi-to. Suas tropas já não recebiam o pagamento do soldo, e a alimentação e os equipamen-tos estavam racionados.Muitos soldados contraíram sífilis e ouras doenças, até que, em dezembro, irrompeu a peste bubônca, vitimando muitos homens, diariamente. Em seus relatórios aos diretores, contudo, Napoleão dizia: “Nada nos falta Estamos cheios de força e saúde e com moral elevado”.

E, realmente, a situação apresentava alguns resultados positivos. A comissão de cientistas estava continuamente ocupada, estudando cda aspecto da vida e da história dos egípcios, Até então, a maioria das informações sobre esse país tão grande e fascinante provinha das histórias contadas pelos viajantes aventureiros e pelos escritores da Antigui-dade, como por exemplo Heródoto. Os cientistas de Napoleão estudaram os pássaros e os gatos mumificados, a vida selvagem do rio Nilo, a música oriental. Confeccionaram ex-celentes mapas da região, exploraram ruínas antigas e fizeram peaquisas arqueológicas.

Um dos resultados mais importantes da campanha de Napoleão no Egito foi a des-coberta da pedra de Rosetta, uma laje basáltica que possui textos idênticos gravados em caracterres gregos, hieróglifos e demóticos. Foram essas inscrições que possibilitaram a descoberta da chave para a decifração dos sihnos egípcios, um trabalho iniciado por Tho-mas Young e completado pr Jean-François Champollion, em 1822.

Napoleão fez também planos detalhados para a construção de um canal na cidade de Suez, que ligaria o mar Vermelho ao Mediterrâneo. Embora ele não o tenha construído, seu sonho começaria a se tornar realidade em 1856, quando os franceses iniciaram a construção do canal de Suez.

Em fevereiro de 1799, Napoleão decidiu invadir a Síria. Embra tenha sido uma ação militar desastrosa, na qual as forças francesas sofreram um derrota terrível nas maos dos turcos e de seua aliados ingleses, na fortaleza de Acre, o general Bonaparte afirmava que havia destruído a cidade.

Durante sua retirada para o Cairo, em julho, Napoleão recebeu a notícia de que os turcos estavam desembarcando em Alexandria. Para sorte das ttropas francesas, exaus-tas e assoladas pela peste, os turcos eram poucos e seu ataque foi mal organizado, o que propiciou a vitória dos franceses.

Após a batalha, Napoleão teve oportunidade de ver um exemplar de um jornal fran-cês, encontrado abordo de um navio inglês que viera com os turcos. As notícias de sua pá-tria não eram nada agradáveis. Áustria, Rússia, Inglaterra e Turquia tinham formado a Se-gunda Coalizão, vencendo a s tropas francesa na Itália e atacando a Suiça e a Alemanha. Pior ainda, dentro da própria França, os monarquistas controlavam muitas das provín- cias do oeste, e o Diretório estava economicamente quebrado e politicamente instável.

Napoleão decidiu desbeder às ordens do Diretório e retornou imediatamente à França. Só mais tarde ele descobriria que, na realidade, estava obedecendo ordens. Os diretores, assustados, tinham enviado instruções para que ele voltasse à capiltal francesa o mais rapidamente possível, mas essa instruções não haviam chegado a ele. Às 5 horas da manhã do dias 22 de agosto de 1799, Napoleão abandonou seu exército e seu osto de comando e saiu secretamente do Egito, juntamente com cinco de seus generais e dois

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cientistas.Na época em que Napoleão voltou á França, um dos membros do Diretório, Emma-

nuel Sieyès, decidiu que o governo tinha de ser reorganizado. Sieyès queria limtar o poder do Parlamento eleito e tornar mais forte o Diretório. Na realidade, seu plano era mesmo dar um golpe de Estado, respaldado pelo Exército, e necessitava de um general para de-flagrar o processo. Mas em qual general poderia confiar?

Quando Napoleão chegou a Paris, foi saudado pelo povo como o homem que po-deria salvar a Repúbica da França. Sieyès não se sentiu muito seguro, mas acabou se decidir que poderia se aliar a Napoleão para depois, já no poder, comprá-lo com um papel menor e mandá-lo, tranquilamente, para o Egito ou qualquer outro lugar igualmente remo-to. Napoleão, que sabia quando estava diante de uma boa oportunidade, concordou em ajudar Sieyès, e assim foram traçados os planos. Entre os que apoiavam o golpe estavam o ministro das Relações Exteriores da França, Talleyrand e o irmão de Napoleão, Luciano, que era presidente do Conselho dos Quinhentos (a Cãmara Baixa do Parlamento).

No dia 9 de novembro de 1799, o Conselho dos Anciãos (a Câmara Alta) aprovou uma moção para que todo o Parlamento, por motivos de segurança, fosse transferido para o Palácio de Saint-Cloud, nos subúrbios da capital francesa. Usando a desculpa de que havia uma conspiração terrorista preparada para derrubar o governo, nomearam Napo-leão comandante-em-chefe de todas as tropas de Paris.

O decreto de 9 de nvembro foi aprovado com facilidade - corria a notícia de que o resultado da votação das 8 hras fora anunciado às 5 horas, e somente para os que parti-cipavam da conjuração. De acordo com o calendário revolucionário, o 9 de novembro era o dia 18 Brumário, o 18º dia do “mês das Brumas”, por isso esse episódio da história da França tornou-se conhecido como o golpe de Estado o 18 Brumário.

No dia seguinte, 19 Brumário (10 de novembro) todo o Parlamento se reuniu em Saint-Cloud. Nessa oportunidade, a oposição já fora informada da conjuração e sabia que estava ali a força. Eles exigiam saber por que o PArlamento estava reunindo-se fora de Paris, cercado pelo Exército. Os membrs togados gritavam “Abaixo os ditadores!” e “Abai-xo o tirano!” e, reunindo-se na frente da sala, atacaram Napoleão. Este, ao se ver diante dos inimigos, armados, perdeu completamente o cotrole, e foi socorrido por um dos seus generais. Uma vez fora, pálido e tr~emulo, ficou impossibilitado de fazr outra coisa a não ser gaguejar: “Eles queriam mem matar; eles queriam me proscrever”.

O irmão de Napoleão, que não conseguiu restaurar a ordem, saíu então para tra-zer os guardas do Legislativo, que tinham por incumbência proteger o Parlamento. Ele os convenceu de que um pequeno grupo de lunáticos desvairados estava no interior do Parlamento ameaçando matar os Quinhentos. Os homesn, então, calaram suas baionetas e se precipitaram para salvar os seus representantes. Os legisladores, confusos, fugiram ela janelas e desapareceram entre as matas. Poucas horas mais tarde, o Parlamento, assustado, se reuniu e votou um executivo novo, de três membros, para substituir o Dire-tório. Estava formado o Consulado, composto por Sieyès, Napoleão e um terceiro homem chamado Roger Ducos.

Durante as semanas que se seguiram, o Consulado elaborou o esboço de uma nova C nstituição. Sieyès fez a maior parte do trabalho, mais a maior parte da gloria coube a Napoleão, afinal, ele era o comandante do Exército. Depois de um simples comentário de Bonaparte sobre como todos ficariam mergulhados num banho de sangue, caso ele falhasse no desemenho de suas funções militares, os outros dois cônsules decidiram não criar problemas e Napoleão foi nomeado primeiro cônsul, com um mandato de 10 anos.

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No dia 7 de feveriro de 1800, o Consulado realizou um plesbicito para votar a Cons-tituição do Ano VIII (o calendário revolucionario começou a ser utilizado em 1792, o ano da proclamação da República, de modo que 1800 coresponde ao Ano VIII). Mais de 3 milhões de pessoas votaram a favor de Napoleão e da nova Constituição; somente 1.500 cidadãos votaram contra. Alem disso, os outros dois cônsules tinham pouquíssimo poder, e, assim, Napoleão, aos 30 anos, tinha a França na palma de sua mão.

Napoleão Bonaparte, primeiro cônsul, por Jean Auguste Dominique Ingres

Napoleão é ameaçado e denunciado como ditador ao proclamar a dissolução do Dirtório no Conselho dos Quinhentos, em Saint-Cloud, em novembro de 1799.

Napoleão, então, entabulou um plano para vencer a Áustria de uma vez por todas,

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enquanto se certificava de que as possessões francesas na Alemanha, a Suiça e na Itália estavam seguras. Num movimento arrojado, ele atravessou os Alpes pelo desfiladeiro conhecido com Grande São Bernardo, no norte da Itália, com 22.000 homens, cavalos e trenós com suprimentos, lutando contra a neve, o gelo, as avalanches e o vento. Quando chegou a Marengo, seus soldados estavam exaustos, famintos e morrendo de frio. Ele planejou pegar os austríacos de surpresa mas, em vez disso, encontrou um exército de 35.000 homens fortemente armados. Napoleão tinha enviado uma de suas divisões, sob o comando do general Desaix, para outra missão, e na tarde de 14 de junho de 1800, arecia que o grande general francês não resistiria ao ataque dos austríacos. Então, miraculo-samente, o general Desaix apareceu com seus 5.000 homens. “São três horas da tarde” disse Napoleão, “Esta batalha está perdida, mas tempo de ganhar outra”.

Os austríacos que julgavam que tudo tivesse terminado, definitivamente, agora, sm, foram pegos de surpresa. Completamente despreparados para um novo ataque francês, fugira, e a Batalha de Marengo com a qual Napoleão conquistou para França todo o norte da Itália, transformou-se em mais sma vitória de Napoleão.

Marengo não foi apenas a vitória militar que rompeu a Segunda Coalizão, mas também uma vitória politica. Se Napoleão tivesse sido vencido - o que não aconteceu por pouco - sua vida e o curso da História teriam sido diferentes.

Batalha de Marengo, por Baron Lejaune

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UM IMPERADOR PARA A FRANÇA

Napoleão Bonaparte era um homem de energia inesgotável que, aliada à prática de governo adquirida em seus tempos de Egito e Italia, fez que ele, como primeiro cônsul da França, tomasse as rédeas do governo nas próprias mãos. Uma vez ele disse: “Todos os grandes acontecimentos estão suspensos por um fio. O homem nteligente tira vantagens de tudo, não negligencia nada que lhe possa dar uma oportunidade extra”. Ele agiu confor-me esse pensamento ao se toronar primeiro cônsul, e continuava com a mesma filosofia ainda quando parecia ter chegado ao auge de sua carreira.

Sieyès queria que o posto de primeiro cônsul fosse apenas um cargo simbolico, sem poder efetivo, mas tinha se esquecido que Napoleão contava com o apoio do Exército e do povo, e usaria isso para manter o controle completo. Seguro das forças que o apoia-vam, Bonaparte proclamou que a revolução terminara e que a paz, finalmente chegara. Prometeu que as velhas feridas seriam curadas e trabalhou com afinco para restauar a harmonia, convidando, a princípio, todos os emigrés (monarquistas e outros adversários da revolução) a voltar à França. Queria que, após tantos anos de luta, o povo fraancês se sentisse unido.

Napoleão, ainda conforme seu plano de reunificação, decidiu reatar relações com a Igreja Católica, rompidas quando o papa Pio VI condenara a revolução e seus princípios, após a nova República ter tomado enormes extensões de terra que pertenciam à Igreja. Não que a questão religiosa tivesse grande importância pessoal para ele, mas soube perceber que o povo francês nao tinha perdido a fé e que a religião ainda era útil para a sociedade. Assim, após vários meses de negociações com o papa Pio VII, em 1801 foi assinado um acordo, chamado Concordata. O acordo estabelecia liberdade religiosa para todos, reconhecia o catolicismo como a religião principal da França e ainda obrigava o Estado a pagar os salários do clero. Em troca, o papa reconhecia a República e suspendia toda reclamação sobrer as terras tomadas à Igreja durante a revolução. Com a Concor-data, Napoleão removeu um dos principais argumentos da oposição monarquista contra o novo regime, deixando os partidários do Ancien Regime, sem o argumento religiosos para ganhar o apoio dos camponeses.

Ao reorganizar o governo, Napoleão completou o trabalho começado pela revo-lução. Criou um Conselho de Estado e colocou-o à frente do governo. Aboliu as antigas autoridades e dividiu o país em 98 unidades administrativas, os Departamentos - esse sistema, existente até hoje -, que deu maior controle e eficiência ao governo central, con-tribuindo ao mesmo tempo para fortalecer o sentimento de unidade nacional. Além disso, Napoleão participava de todas a reuniões do Conselho, e entrevistava-se, pessoalmente, com cada ministro, lia todos os relatórios, tomava parte em todos os debates e endosava todas as decisões.

No que diz respeito às finanaças francesas, Bonaparte conseguiu estabilizá-las, mantendo um rigoroso controle sobre o destino do dinheiro, não permitindo que membros do governo pusessem as mãos no tesouro, como acontecia na época do Diretório. Criou o Banco da França e eliminou a discriminação e a corrupção que grassaram durante o período da monarquia.

Logo que assumiu o poder, Napoleão reuniu um grupo entre os mais eminentes ad-vogados e jurisconsultos do país, e incumbiu-os de trabalhar na reforma do sistema legal. Eles tomaram o enorme, confuso e contraditório conjunto de leis antiquadas, que tinham sido promulgadas durante séculos, e transformaram-nas em leis claras, redigidas em lin-

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guagem simples. O novo Código Civil, chamado mais tarde de Código Napoleônico, foi divulgado por toda a Europa pelos seus exércitos e deu origem à maior parte dos códigos legais europeus.

Napoleão queria fazer de Paris, a sede de seu governo, a mais bela cidade do mundo. O Louvre, museu de arte, já contava com os tesouros que ele havia despachado da Itália, por ocasião da sua primeira campanha. Lá se encontravam os cavalos de bronze da catedral de São Marcos, de Veneza, a Vênus de Medici, a Transfiguração, de Rafael, e muitas outras obras de arte famosas. Como primeiro cônsul, Napoleão mandou abrir novas ruas, construir belos prédios e fontes primorosas. Paris deveria ser um centro ful-gurante de cultura.

No tocante aos assuntos externos, Bonaparte trouxe por certo tempo a paz para a França e para a Europa. Com um mínimo de luta, conseguiu assinar um tratado após o outro, deixando o seu país na posição de maior potência do continente. Ao vencer a Bata-lha de Marengo, em 1800, Napoleão enfraquecera o poderio da Áustria no norte italiano, forçando-a a assinar, em 1801, o Tratado de Lunéville. Dirimiu as divergências existentes com Nápoles e com os Estados Unidos, e persuadiu o czar Paulo I, da Rússia, a aban-donar suas alianças anti-francesas e ficar ao seu lado contra a Inglaterra. Esta, cansada pelos longos anos de luta, assinou o Tratado de Amiens em 1802, cujos termos eram ex-tremamente favoráveis à França.

Nesse mesmo ano, os efeitos da liderança de Napoleão eram evidentes em toda a França. O crime, amplamente difundido no período pós-revolucionário, acabara. As es-colas eram melhores agora e estavam abertas a mais gente, favorecendo o estudo das ciências. Napoleão certificou-se que a terra dada aos camponeses durante a revolução era deles legalmente. Seu Código Civil garantia a liberdade pessoal, a liberdade da cons-ciência e a igualdade perante a lei. Ele se referia a si próprio não apenas como o guardião da Revolução Francesa, mas também como o homem que tornou possível seus ideais.

“Terminamos o romance da revolução, agora temos que começar a sua his-tória. Em lugar de nos aferrarmos a sus aspectos hipotéticos e especulativos, devemos ver o que há de real e potencialmente viável em seus pricípios”

Quando se tornou primeiro cônsul, Napoleão tinha apenas 30 anos. Na época em que firmou o Tratado de Amiens, estava no auge de sua popularidade. Ele salvara a Fran-ça e a Revolução Francesa dos seus inimigos, e não parecia capaz de fazer mal nenhum. Mas a sementes do seu despotismo já estavam germinando.

Em dezembro de 1800, uma carroça de explosivos foi aos ares quando a carruagem de Napoleão passava em direção à Opera. Furioso, responsabilizou os radicais de esquer-da pelo atentado, fez uma limpeza no Conselho de Estado e mandou executar muitos sus-peitos. Depois disso passou a controlar todas as pessoas e instituições que se atreviam a fazer-lhe oposição. Assim, fechou 64 dos 71 jornais nacionais e censurou o teatro. Seu bibliotecário foi encarregado de preparar-lhe um informe sobre cada livro, cartaz e anúncio que aparecia na França. Exigia resumos de tudo o que acontecia em cada clube, socie-dade e instituição educacional. As cartas particularers eram abertas, e as pessoas eram presas sem julgamento, e os intelectuais era retirados do Parlamento. Mas seu sucesso militar e os projetos de obras públicas mantinham contente a maioria dos franceses. Tanta era a euforia da população que, após o Tratado de Amiens, votou para que Napoleão per-manecesse vitalício no cargo de primeiro cônsul.

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O grande poder e o prestígio de Bonaparte não o impediam de manter-se aberto aos pequenos detalhes, principalmente no que se referia ao Exército.

Certa vez, um de seus oficiais apresentou-lhe um relatório sobre a artilharia, dis-criminando milhares de armas espalhadas numa grande região costeira. “Seu relatório é preciso, mas você esqueceu dois dos quatro canhões que estão em Ostende. Eles estão na estrada, atrás da cidade”, disse Napoleão ao oficial. Em outra ocasião, ao passar revis-ta às tropas, notou que, de vez em quando, os soldados passavam a mão pelo colarinho do uniforme. Napoleão perguntou sobre o que os incomodava e ninguém respondeu. Em lugar de esquecer o assunto, o primeiro cônsul insistiu. Dusse-lhes que não deviam ter medo de queixar-se. Finalmente, eles admitiram que os colarinhos dos novos uniformes estavam muito justos e irritavam a pele do pescoço. Napoleão imediatamente mandou fazer novos uniformes para a tropa toda.

No começo de 1804, a polícia de Napoleão descobriu outra conspiração contra sua vida. Os conspiradores eram respaldados pelos ingleses e liderados por Georges Cadoudal, um monarquista exilado. Napoleão mandou prender Cadoudal e seus parti-dários, e ordenou que fosse realizado um processo que condenou alguns à execução e outros ao exílio. Enviou sua polícia até a Alemanha, teritório neutro, e sequestrou o Duque d´Enghien. O duque era membro da familia dos Bourbons, a casa real francesa. Embora ele estivesse verdadeiramente trabalhando para destituir Napoleão e instaurar de novo a monarquia, nada tinha a ver com a conspiração de Cadoudal. Mesmo assim, foi submetido a um julgamento sumário de uma corte marcial e imediatamente fuzilado por ordem de Napoleão, que provavelmente sabia que o duque era inocente neste caso partucular, mas pretendia com isso aterrorizar seus adversários.

Napoleão foi muito rápido em trar vantagem da conspiração de Cadoudal. Come-çou a propagar que ser primeiro cônsul vitalício nao seria suficente, havia conspirações por todos os lados e ele podia ser assassinado a qualquer momento. Amelhor maneira de garantir que seu ttrabalho não seria destruído era tornar hereditária mesmo que ele fosse morto, seu filho ou um membro de sua família daria continuidade a seu grande projeto para a França.

Em maio de 1804, o Parlamento francês proclamou Napoleão imperador da França, fazendo com que o título se tornasse hededitário. O povo francês, mais uma vez chamado a referendar a decisão num plesbicito, votou em massa a favor de seu herói e, agora, Na-poleão I. Desde que Napoleão decidira tornar-se imperador, sua imaginação havia criado asas. Ele se via como um novo Alexandre, o Grande, Julio Cesar, ou Carlos Magno - o gande rei conquistador francês que, mil anos antes, fora coroado em Roma pelo papa Leão III como o Imperador do Ocidente.

Napoleão sabia que Carlos Magno tinha assentado os alicerces do Santo Imperio Romano e era uma figura legendária na França. Por esse motivo, resolveu reviver os símbolos do reinado do grande imperador. Ele caregava a espada de Carlos Magno e, por breve período, chegou até a estabelecer a corte em Aix-la-Chapelle, a capital do SAcro Império; Ao se envolver no manto de Carlos Magno, Napoleão estava, simbolicamente, enviando uma mensagem significativa aos outros governantes da Europa. Como Carlos Magno, ele queria ser coroado pelo papa, pois achava que sem isso, a cerimônia seria incompleta. Mas também queria que Pio VII, o mesmo papa que assinara a Concordata em 1801, viesse a Paris para coroá-lo. Visando relizar seu intento, deu a entender que, se o pontífice cooperasse, emt troca ele fortaleceria o catolicismo na França. A oferta era m ganto vaga, mas o líder da Igeja Católica concordou em cruzar os Alpes. A presença do

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papa, pensava Napoleão, faia a população acreditar que a coroação tinha as bençãos do próprio Deus.

Napoleão não economizou nos preparativos. Verdadeiros exércitos de costureiros e decoradores foram contratados paara trabalhar na preparação do grande evento. Quan-do o papa descobriu que Napoleão e Josefina estavam unidos apenas por uma cerimonia civil, insistiu para que fosse realizado o casamento religioso antes de serem coroados imperador e imperatriz da França.

A coroação teve lugar na Catedral de Notre Dame, no dia 2 de dezembro de 1804. Napoleão e Josefina partiram do Palácio das Tulherias, com duas horas de atraso, numa magnífica carruagem. Quando chegaram, estavam vestidos de veludo bordado e sedas trabalhadas em ouro e prata. Imediatamente teve início a cerimônia,.

Embora tudo estivesse perfeitamente planejado, no momento exato da coroação, aconteceu algo que surpreendeu e consternou os presentes. Quando o papa se preparava para colocar a coroa na cabeça de Napoleão, este a arrebatou das mãos trêmulas do pon-tífice e, após virar-lhe as costas, colocou-a em sua própria cabeça. Napoleão coroara-se a si mesmo Imperador da França! Em seguida, coroou também sua esposa Josefina.

Voltando-se para seu irmão José, falou em voz baixa: “Se nosso pai pudesse ver--nos!” Sua mãe Letizia, qe presenciava a cerimônia de um casamento especial, agora uma mal-humorada dama de 54 anos, numa reação diferente, murmurou: “Até quando durar ...”

A “auto-coroação” de Napoleão

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UMA AMBIÇÃO DESMEDIDA

O imperador Napoleão parecia ainda não estar contente com a posição que alcan-çara e trabalhava incansavelmente para chegar ainda mais longe. Seu dia começava às 7 horas da manhã com a leitura de cartas, relatórios e despachos. Depois vinham as en-trevistas, recepções e viagens de inspeção. Durante todas essas atividades, ditava para seus secretários cartas, memorandos e instruções, que eram enviados imediatamente para os diversos departamentos.

As reuniões do Conselho de Estado, frequentemente, se extendiam até bem tarde da noite e seus ministros, exaustos,por vezes pegavam no sono. Napoleão, então, os des-pertava com bom humor, dizendo que tinham que permanecer acordados para ganhar o dinheiro que a França lhes pagava. Ele podia ficar longas horas sem dormir, e nem mesmo para as refeições queria perder tempo; muitas vezes Josefina e a corte tiveram de esperar por ele durante muitas horas.

A paz que se seguiu ao Tratado de Amiens durou, aproximadamente, uma ano e meio. Os ingleses, contudo, nunca depositaram muita confiança em Napoleão e, quando este começou a intervir nos assuntos da Alemanha, da Itália e de outras regiões da Euro-pa, sua desconfiança aumentou. Em março de 1803, a Inglaterra se recusou a abandonar Malta, como se havia comprometido nos termos do tratado, e apresou todos os navios franceses que se encontravam em portos ingleses. Em represália, Napoleão baixou uma lei decretando que todo inglês em território francês deveria ser preso. As duas nações estavam novamente em guerra.

Napoleão começou a arquitetar planos para uma invasão da Inglaterra e a pô-los em prática. Reconstruiu a Marinha francesa e reuniu suas tropas em Boulogne-sur-Mer, no canal da Mancha. Seus engenheiros foram instruídos para trabalhar em vários planos inteligentes, porém impraticáveis, tais como cavar um túnel por baixo do canal, ou desem-barcar as forças invasoras em balões.

Em outubro de 1805, porém, o almirante inglês Nelson surpreendeu a esquadra francesa em alto mar, perto do cabo de Trafalgar, nas costas espanholas, e a estraçalhou, da mesma forma que havia feito na Batalha de Abuquir, durante a expedição egípcia de

Napoleão.Embora o almirante Nelson tenha perdido a vida na Batalha de Trafalgar, sua vitória foi decisiva para os ingleses e acabou com os sonhos napoleônicos de dominar os mares e de invadir a Inglaterra.

As ações de Napoleão, entretanto, acentuavam as rivalidades de outras nações em relação à França. Quando o Duque d´Enghien foi executado em 1804, todos os monarcas, em particular o czar Alexandre I da Rússia, sentiram-se injuriados. Logo depois, quando Napoleão se autocoroou imperador da França, conforme a tradição de Carlos Magno, Francisco II da Áustria, que detinha o título de imperador do Sacro Império Romano Ger-mânico e se considerava o herdeiro legitimo de Carlos Magno, sentiu-se insultado. Fran-cisco II ficou ainda mais irritado em 1805, quando Napoleão tomou Gênova e se declarou rei da Italia. Para o monarca austríaco, a questão agora não era apenas uma dispouta de títulos ou de haver sido ferido no seu orgulho, mas um problema de “soberania”, pois territórios austríacos na Itália corriam perigo. Assim, não foi difícil para a Inglaterra aliar-se com Rússia, Áustria, Suécia e Nápoles para formar a Terceira Coalizão.

Napoleão estava preparado para isso, Em julho, ordenou que seu exército - uma força de 200.000 homens - se afastasse do canal e seguisse em direção à Alemanha. Em Ulm, uma semana antes da derrota naval de Trafalgar, ele se enfrentou com os austríacos,

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vencendo-os, facilmente. Em novembro, marchou sobre Viena e, no dia 2 de dezembro de 1805, aniversário de sua coroação, derrotou o Exército russo, que viera em auxílio da Áustria, naquela que foi uma das suas mais brilhantes vitórias, a Batalha de Austerlitz. O imperador austríaco foi obrigado a se render e assinou o Tratado de Pressburg, renun-ciando às possessões italianas e reconhecendo Napoleão rei da Itália. Em seguida, Napo-leão marchou contra Nápoles, que abrigara tropas inglesas em seus domínios, destronou os Bourbons e colocou seu irmão José como rei. A República Batava foi transformada em reinado, e seu irmão Luís, casado com Hortênsia, irmã de Josefina, foi nomeado rei. Firmou ainda a Confederação do Reno, que reunia os pequenos Estados da Alemanha meridional.

Durante todo esse tempo, a Prússia permanecera neutra. Agora, preocupados com a derrota sofrida pelos austríacos, os prussianos declararam a guerra à França. No dia 14 de outubro de 1806, as forças de Napoleão enfrentaram-se com eles nas batalhas de Jena (ou Iena) e Austerstädt. Embora os prussianos lutassem duramente, não foram capazes de mudar de tática tão rapidamente quanto se fazia necessário devido aos planos de ba-talha variáveis de Napoleão. Nessas duas batalhas violentas, o imperador e seus generais esmagaram as forças prussianas,fazendo 25,000 prisioneiros.

A vitória de Napoleão em Jena teve para ele um significado muito especial. Sob a liderança de Federico, o Grande, a quem Napoleão muito admirava, a Prússia tinha sido a maior potência militar da Europa. Agora, em apenas um dia, Napoleão deixou a Prússia de joelhos. A lenda do seu gênio continuava a crescer, aceleradamente.

Com exceção da Inglaterra e da Rússia, Napoleão era, agora, o senhor da maior parte da Europa. Como tinha perdido sua frota em Trafalgar e, portanto, sem possibilidade de vencer a Inglaterra no mar, ele criou um outro plano de ataque - o bloqueio continental. Para alcançar seu objetivo, Napoleão ordenou aos países da Europa que suspendessem o comércio com a Ingaterra. Com esseexpediente esperava arruinar a indústria inglesa e levar o inimigo à bancarrota. Contudo, esse sistem era de difícil controle, e um de seus principais resultados foi o surgimento de um contrabando intenso.

Enquanto fazia a guerra econômica à Inglaterra, Napoleão marchava para a Polô-nia, com o objetivo de enfrentar os russos. Para sua infelicidade, grande parte da Polônia estava despovoada e não oferecia possibildade de alimentar o Exército com os produtos

da terra, obrigando-o a estabelecer linhas de supri-mentos longas e vulneráveis. Para piorar as coisas, o inverno se aproximava.

Durante sua estada na Polônia, Napoleão teve um caso apaixonado com uma moça polonesa de 18 anos, chamada Maria Walewska. Desde 1770, a Po-lônia estava dividida entra Áustria, Rússia e Prússia, e os poloneses esperavam que Napoleão libertasse o país e restaurasse sua independência. Maria Wa-lewska era um deles. Esposa de um velho conde po-lonês, uma vez ela se vestiu de camponesa e parou a carruagem de Napoleão para implorar pela paz e liberdade da Polônia. Depois desapareceu na multi-dão, mas não antes que Napoleão se apaixonasse por ela perdidamnete. Napoleão ordenou a seus oficiais que a localizassem e partiu para Varsóvia, a capital do

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país. Quando Maria foi encontrada, Napoleão lhe enviou um convite especial para assistir a um baile, junto com um buquê de flores feito de diamantes. Maria, uma moça muito vir-tuosa, recusou categoricamente o convite e a insinuação.

Entretanto, parecia que a Polônia toda tentava fazê-la mudar de ideia. Todos acre-ditavam que somente ela poderia persuadir Napoleão para que restaurasse as fronteiras originais da Polônia e a sua antiga glória. Até seus amgos achavam que ela tinha o dever patriótico de sacrificar seus sentimentos mais íntimos, tornando-se amante do imperador da França. Finalmente, incapaz de resistir a tantas pressões, ela cedeu. Após os primeiros contatos, porém, Maria apaixonou-se realmente por ele. Abandonou o marido e fez com que o inverno de 1806 fosse muito romântico para Napoleão, enquanto seus soldados sofriam, sem paliativos, o rigoroso frio polonês.

No dia 8 de fevereiro de 1807, em Eylau, o Exército de Napoleão , agora reduzido a 55.000 soldados, enfrentou uma força russa de 80.000 soldados. Nevava, e o campo de batalha parecia um mar de lama. Bonaparte estava em seu pior momento como coman-dante, não conseguindo organizar suas forças. O Exército francês, certamente, sofreria uma fragorosa derrota, se não recebesse ajuda de duas divisões que chegavam descan-sadas. A batalha acabou sem definição, com pesadas baixas dos dois lados. “Nunca vi tantos mortos juntos num espaço tão pequeno”, escreveu mais tarde um general francês. Divisões inteiras, russas e francesas, foram reduzidas a frangalhos, no lugar em que se encontravam.

Quando as notícias da carnificina chegaram à França, o povo começou a preocu-par-se. Napoleão enviou mensagens urgentes para seu Ministro das Relações Exteriores, Tayllerand, solicitando aremessa imediata de suprimentos e mais homens. As escolas militares francesas mmandaram seus cadetes, e diversos países controlados pela França foram obrigados a enviar suas tropas.

Em maio de 1807, com sua “Grande Armée” (o Grande Exército) mutilada, e com estes novos recrutas inexperientes, Napoleão saiu, mais uma vez, em perseguição aos russos.

No dia 14 de junho de 1807 (uma data muito importante para o imperador supersti-cioso, já que era o aniversário d sua vitória em Marengo), Napoleão derrotou os russos em Friedland. O czar Alexandre tinha homens e recursos para continuar a guerra, mas como

Batalha de Eylau

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Batalha de Friedland

mas como estava cansado de lutar, concordou em negociar. O czar da Rússia e o impe-rador da França encontraram-se numa balsa ancorada no meio do rio Niemen. Os dois homens conferenciaram com muita pompa e cerimônia, e logo ficou evidente que come-çara a florescer uma verdadeira amizade entre os dois. Frederico Guilherme da Prússia tentou juntar-se a eles, mas não foi bem aceito por ser considerado uma pessoa maçante. Napoleão e Alexandre evitavam sua companhia sempre que possível e passavam longas horas conversando. O jovem czar reverenciou Napoleão que retribuiu essa admiração di-zendo que “se Alexandre fosse mulher, penso que ficaria loucamente apaixonado por ele!”.Nos primeiros dias do mês de julho de 1807, os três governantes assinaram o Tratado de Tilsit. Frederico Guilherme perdeu muito nessas negociações, pois a Prússia foi obrigada a ceder todo o seu território situado na margem ocidental do rio Elba, perdeu a metade de sua população e foi coagida , ainda, a participar do bloqueio continental. A Rússia perdeu apenas algumas possessões no Mediterrâneo e concordou em reconhecer o Grão-Du-cado de Varsóvia, Estado criado por Napoleão na parte prussiana da Polônia. Alexandre também concordou em atuar com mediador na guerra entre Inglaterra e França, e em aliar-se aos franceses no caso de as negociações falharem. Vinte dias depois, Napoleão estava de volta à Paris.Como o império napoleônico era muito extenso, o que dificultava o seu controle, o impe-rador recorreu ao método tradicional de dividí-lo entre seus familiares. Seus irmãos José e Luís já eram reis de Nápoles e dos Países baixos, respectivamente. Jerônimo, outro irmão, foi coroado rei da Vestfalia, antigo território russo, e casou-se com Catarina, filha do rei de Württemberg, um aliado alemão da França. O general Joaquim Murat, que se casa-ra com Carolina, irmã de Napoleão, foi feito grão-duque de Berg, na Alemanha, sucedendo mais tarde a José Bonaparte como rei de Nápoles. As outras duas irmãs de Napoleão pas-saram a ostentar tírtulos da nobreza italiana. Elisa tornou-se grã-duquesa da Toscana, e Paulina, princesa de Guastalla. Eugene de Beauharnais, filho de Josefina, torrnou-se vice rei da Itália. O Conde Bernadotte, cunhado de José Bonaparte (este se casara com Julie Clary, irmã de Desirée), tornou-se príncipe de Ponte Corvo em 1806 e herdeiro do trono

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da Suécia, em 1809.Manter o Império nas mãos da família era muito vantajoso, mas Napoleão sentia

a necessidade de de ter um filho pois, embora seu titulo fosse hereditário, não havia um herdeiro direto para assumir seu lugar quando ele morresse. Além disso, já começavam a fervilhar intrigas familiares, deixando-o ansioso e preocupado com o destino de seus domínios.

Simultaneamente, as relações de Napoleão com o ministro das Relações Exteriores, Talleyrand, estavam ficando tensas. Talleyrand era astuto e ve-lho nobre, que tinha conseguido não apenas sobre-viver ao cataclisma da França revolucionparia, mas se aproveitara dele. Havia se ligado muito cedo a Napoleão, quando vira que era grande a possibi-lidade de o jovem general rapidamente ascender em sua carreira. Agora começava a acreditar que a fama e o poder de Napoleão tiham-se subido à ca-beça. Para Talleyrand, a estabilidade internacional dependia do equilíbrio entre as maiores potências da Europa, e temia que as ideias de domnação de Napoleão sobre todo o continente pudessem por em risco esse equilíbrio. Porém, quanto mais cau-tela ele aconselhava, mais o imperador o ignorava,

Cuidadosamente, e com a máxima discrição, Talleyrand começou a conspirar contra Napoleão.

Minou, gradativamente, o entusiasmo do czr Alexandre para com o imperador e trabalhou, secretamente, para fortalecer a Áustria. Embora a ambição desmedida de Napoleão já pudesse causar a sua queda, sem necessidade de qualquer ajuda externa, Talleyrand detetou os primeiros sinais de fraqueza em seu imperador e utilizou-se dessa fraqueza sem compaixão.

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AS DESAVENÇAS DE UM IMPÉRIO

O fato de Napoleão não ter um herdeiro direto preocupava muito. Em dez anos de casamento, Josefina não lhe tinha dado nenhum filho e, como tivera filhos do primeiro ma-rido, Napoleão achava que o problema fosse dele. Entretanto, logo depois de suas bata-lhas em Austerlitz e Jena, Napoleão recebeu notíicias de que tinha sido pai. Ele tivera um caso com Eleonore Revel, e a jovem dera a luz a um menino. Nessa época, ele estava na Polônia e mantinha seu caso com Maria Walewska, que logo depois tambem ficou grávida.

Convencido de que podia ter filhos, Napoleão decidiu divorciar-se de Josefina. Os dois tiveram um relacionamento tempestuoso e ambos tinham sido infiéis um ao outro. Mesmo assim, ela estava entre os seus melhores amigos e estavam acostumados um com o outro. Napoleão realmente amava Josefina. Por isso, era uma decisão difícil de ser tomada, mas sua necessidade de estabelecer uma dinastia finalmente venceu. Desta vez, Napoleão queria unir-se legalmente com alguma das famílias dominantes da Europa.

Em 1808, o imperador se reuniu com oczar Alexandre, na esperança de assinar um tratado de aliança com a Áustria, e aproveitou a oportunidade para pedir a mão da Grã--Duquesa Anna, irmã do czar. Porém, influenciado por Talleyrand, o czar rejeitou ambas as propostas. Napoleão teria de procurar em outro lugar o que ele chamava de “ventre” - uma mulher que lhe desse um filho.

Entretanto, no auge do poder, o imperador começou a aventurar-se além de suas forças. Em fins de 1807, decidiu declarar guerra à Portugal, que se negara a participar do bloqueio continental. O rei da Espanha, Carlos IV, concordou em permitir que o Exército francês atravessasse seu território para desfechar o ataque contra os portigueses.

Carlos IV era muito impopular entre seu povo que, em 1808. insurgiu-se contra o rei em favor de seu filho Ferdinando. Napoleão se aproveitou rapidamente da situação, e mandou mais tropas para a Espanha, com a desculpa de que estava reforçando o Exército que mantinha em Portugal. Depois atraiu Carlos e Ferdinando para França e, após forçá--los a abdicar do trono espanhol, prendeu-os na vila de Talleyrand e proclamou seu irmão José, rei da Espanha.

Napoleão ainda comemorava a anexação de outro reino a seu império, quando os espanhóis se revoltaram. Eles não gostavam de Carlos IV, mas apoiavam Ferdinando e se levantaram contra os invasores.

A Espanha era muito grande, de relevo escarpado e terras muito áridas e muito pobres para sustentar as tropas francesas, de modo que as redes de suprimentos inter-rompiam-se frequentemente. O Exército, por sua vez, não podia lutar porque nunca havia batalhas de verdade. Os espanhóis de todas as idades atacavam partindo de colinas e cavernas, e depois desapareciam nos esconderijos. Eles usavam a tática de guerrilha, que começou a minar o moral dos franceses.

Logo a Inglaterra acudiu em socorro de Portugal, onde o povo também se revoltara. As forças francesas que ali se encontravam sofreram uma dura derrota em agosto de 1808 e, ao serem expulsas do país, retriraram-se para a Espanha, perseguidas pelos ingleses.

Em vez de interromper essa série de derrotas, Napoleão enviou praticamente toda a “Grande Armée” à Espanha, para onde ele mesmo se dirigiu em fins de 1808, assumindo pessoalmente o comando de suas tropas. O conflito - conhecido como Guerra Penisular, em referência à península Ibérica - alastrou-se intermitentemente nos dois países, sem que uma batalha decisiva desse a vitória para qualquer um dos adversários.

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Sabendo que seria difícil para a França manter ao mesmo tempo duas frentes de batalha, e aproveitando-se da ausência de Napoleão, o Arquiduque Carlos, da Áustria, atravessou a fronteira com a Baviera em abril de 1809, e apanhou o Exército francês de surpresa. De uma hora para outra, a França estava, pela quarta vez. em guerra com a Áustria, no momento em que suas melhores tropas se encontravam na Espanha. Napo-leão foi então obrugado a enfrentar os austríacos, rechaçando-os da França e perseguin-do-os por todo o caminho de volta, até Viena. Na Batalha de Aspern, que durou dois dias, o Exército de Napoleão sofreu pesadas baixas. Em julho, de 1809, contudo, sua habilida-de em manobar o Exército lhe vakeu a superioridade sobre os austíacos, depois de uma batalha custosa e sangrenta em Wagram, onde Napoleão saiu triunfante. Em outubro, os austríacos assinaram o Tratado de Schönbrunn.

Não passou muito tempo, e o imperador Francisco da Áustria concordou em casar sua filha de 18 anos, a Arquiduquesa Maria Luísa, com Napoleão. Quais os motivos que

Batalha de Wagram

Maria Luísa, filha do imperador Francisco II da Áustria, que se casou com Napoleão em 2 de abril de 1810. A imeratriz oportunista aban-donou Napoleão em 1814, em sua hora mais difpicil, e voltou à casa dos pais.

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levariam França e Áustria até tão recentemente em guerra, a caminhar juntas para o altar? Francisco achava que este caamento suavizaria a atitude de Napoleão para com a Áustria, ao passo que Napoleão pensava em fortalecer seu controle sobre Francisco. Ainda como um atrativo a mais, Napoleão descobriu que a mãe de Maria Luísa tinha 13 filhos! Rapidamente, ele ultimou os preparativos do divórcio e, em dezembro de 1809, separou-se de Josefina.

Embora não fosse a mais bela, nem a mais esperta das jovens, a nova noiva fez com que Napoleão mudasse muitos dos seus habitos. Impressionado com o fato de ser ela uma verdadeira princesa, fez de tudo para tratá-la regiamente. Fez redecorar seus aposentos pessoais e a agraciou com presentes custosos. Contratou novos alfaiates e sapateiros para melhorar sua aparência e, ainda, aprendeu a dança da moda - a valsa.

No que se refere a Maria Luísa, ela estava horrorizada com seu futuro esposo. Para ela, Napoleão era o monstro que derrotou os exércitos de seu pai e devastava suas terras, além de ser odiado e temido pelas famílias reais da Europa, a maioria das quais eram seus parentes. Ele já tinha passado dos 40 anos e ela ainda era quase uma criança e, como isso fosse pouco, ele era mais baixo que ela.

O casamento teve lugar na primavera de 1810. Napoleão se esforçava, visivelmen-te, para agrdar à futura imperatriz que, superando o horror inicial, passou a se afeiçoar a ele. Logo Mara Luísa engravidou, passando a levar em seu ventre o futuro e tão desejado herdeiro de Napoleão. No dia 20 de março de 1811, ela deu a luz um menino - Francisco Carlos José a quem Napoleão deu o título de rei de Roma.

Se Napoleão estava se sentindo feliz com sua nova família, a antiga lhe dava muitos aborrecimentos. Em primeiro lugar estava seu irmão Luciano, que o tinha defendido no Conselho dos Anciãos, em 1799. Depois que Napoleão tornou-se primeiro-cônsul, Luciano se opôs à sua política ditatorial e foi se estabelecer na Itália, onde foi feito príncipe de Ca-nino pelo papa Pio VII. Em 1810, as relações entre Napoleão e o pontífice estavam muito mais tensas do que antes de a França tomar Roma e os Estados papais. Quando o papa excomungou Napoleão, o imperador francês mandou prender Pio VII, e Lucano teve de fugir, sendo capturado pelos ingleses.

Depois vinham os irmãos Luís, José e Jerônimo. Em vez de obedecer às ordens de Napoleão, no sentido de bloquear o comércio com os ingleses, Luís abandonou o trono da Holanda. José, rei da Espanha, pouco se interessava por política e, apesar de que fosse bastante instruído, não tinha nenhuma qualidade para ser monarca. Embora Napoleão o tenha forçado a continuar a Guerra Peninsular, ele não se sentia envolvido no conflito. O irmão mais moço, Jerônimo, estva mais interessado em questões amorosas do que em assuntos de Estado.

As irmãs de Napoleão também praticamente tinham-no abandonado. A princesa Paulina era briguenta e fútil, e se envolvia em sucessivos escândalos. A Grã-Duquesa Elisa ainda fazia alguma coisa pelo governo da Toscana, mas estava mais interessada em ganhar publicidade. Mas a pior de todas era a rainha Carolina de Nápoles. Durante anos alimentara esperanças de que seu filho viesse a suceder Napoleão Bonaparte. Ao ver que com o nascimento do filho do imperador, essa chance tinha acabado, ela e seu esposo começaram a conspirar ativamente contra o homem que os tinha colocado no trono.

Também o general Bernadotte, que se tornara príncipe regente da Suécia com o apoio de Napoleão, em 1810 passou a governar efetivamente o país, em virtude da idade avançada do rei. Desde então, suas decisões pendiam mais para os interesses da própria Suécia do que para as ordens de Napoleão.

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Pauline Elisa Carolina

Assim, em 1810, apesar de, aparentemente, o império de Napoleão estar no apo-geu da glória, o descontentamento no seio da família era sinal de problemas mais profun-dos. A guerra na Espanha estava custando muito dinheiro e vidas e não parecia em vias de terminar. Os relacionamentos de Napoleão com a Rússia se debilitaram após a assi-natura do Tratado de Tilsit. Ele tinha muitos inimigos, tanto na França como fora dela, que esperavam o primeiro sinal de fraqueza para golpeá-lo. O bloqueio imposto à Inglaterra tornava-se cada vez mais difícil de ser controlado e, o que era pior, não chegava a preju-dicar a Inglaterra, mas estava prejudicando Napoleão, que era visto pelo resto da Europa com um tirano.

Em 1811, devido à premente situação econômica do seu país, o czar Alexandre abandonou o bloqueio continental e abriu o portos da Rússia aos barcos ingleses, reatan-do relações comerciais com o maior inimigo da França. Em dezembro do mesmo ano, Na-poleão começou a planejar a invasão da Rússia, que deveria se carcterizar como a maior operação militar de todos os tempos, até então. Para isso, montou um exército enorme de meio milhão de homens, que incluía contingentes da Prússia, da Confederação do Reno e de todos os Estados aliados ou dependentes da França, que em seis meses estava pronto para fazer a arrancada contra a Rússia.

No dia 24 de junho de 1812, Napoleão cruzou o rio Niemen e entrou na Rússia. Era o mesmo rio sobre o qual ele e o czar Alexandre tinham conferenciado sobre uma balsa cinco anos antes. Napoleão subestimara as dificuldades que envolviam o deslocamento de um exército dessa envergadura através do vasto território russo.

Logo seus homens acabaram com os mantimentos que trouxeram, e começaram a andar à procura de comida, que estava escassa, e muitos foram mortos ou capturados pelos cossacos, camponeses russos da Ucrânia, que desenvolveram notáveis aptidões militares e se celebrizaram como exímios cavaleiros.

O calor do verão era terrível. Os cavalos comiam forragem verde e milho das planta-ções da região e 10.000 morreram nessas primeiras semanas. Com a cavalaria debilitada, o transporte da artilharia e dos suprimentos era praticamente impossível. Para tornar a situação mais dificil, o Exército russo retraía à frente de Napoleão, vedando os poços de água e queimando campos e cidades à sua pasagem. Esta tática russa de deixar a terra seca e queimada tornava o avanço das forças francesas extremamente penoso.

Se Napoleão tivesse conseguido encontrar os russos logo no começo da campa-nha, provavelmente os teria vencido, uma vez que suaa forças eram muito mais nmerosas que as dos inimigos. Mas os russos lhe recusaram esse favor. O czar aprerndera uma lição

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das táticas inglesas na Espanha: evitar batalhas em campo aberto. Soldados moribundos, cavalos mortos e carroças abandonadas se espalhavam pela estrada que o Exército fran-cês percorria à caça do inimigo, penetrando mais e profundamente em território russo. Transcorridos dois meses de campanha, não tinha havido sequer uma batalha.

No dia 7 de dezembro de 1812, Napoleão finalmente alcançou os russos em Boro-dino, a 110 quilômetros a oeste de Moscou e a 650 da fronteira. Até então, a morte, a de-serção, as doenças e as emboscadas dos cossacos tinham reduzido o Exército francês a perto da metade de sua força original. Para piorar as coisas, Napoleão estava fortemente resfriado e sofria uma infecção urinária. À medida que o dia passava, ele se interessava cada vez menos pela batalha, deixando seus generais conduzir a luta como julgassem conveniente. Os franceses conseguiram forçar uma retirada russa, mas pagaram por isso um alto preço: perderam entre 30.000 e 40.000 homens, e o Exército russo tinha, apenas, recuado. Porém, o caminho para Moscou finalmente estava aberto.

Ao meio dia de 14 de setembro, o Grande Exército, agora reduzido a 100.000 ho-mens, marchou através dos portais da antiga capital dos czres. Napoleão esperava ser recebido como conquistador, e que lhe entregassem as chaves da cidade. Então, tendo Moscou como refém, ele forçaria o czar Alexandre a negociar. Mas os domos e as colunas em espiral do Kremlin, a poderosa fortaleza da cidade, olhavam para uma cidade fantas-ma. As tropas francesas avançavam pelas rias desertas e entravam em casas vazias, e, logo se instalaram, começaram a brotar fogos misteriosos por toda parte. Em breve, Napo-leão tornou-se o senhor inquestionável de uma cidade reduzida a pouco mais que cinzas.

Apesar de tudo, o czr não queria negociar. Ele tinha seus próprios planos e a cer-teza de que a Rússia venceria o Exército francês. Bastava que ele detivesse Napoleão em Moscou até que o rigoroso inverno russo acabasse com o odiado invasor. Napoleão esperou durante semanas por uma notícia de Alexandre, mas ela não veio.. No dia 18 de outubro, começou a nevar suavemente. Era chegada a hora de começar a retirada.

Napoleão tentou sair pela estrada de Kaluga, onde poderia encontrar alimento e água. Mas em 23 de outubro, na cidade de Maloyaroslawetz, ele se deparou com o Exér-cito russo que os obrigou a voltar ao caminho que tinha usado para entrar - a destruída estrada de Smolensk.

Em fins de outubro, o frio chegou, Como uma vingança, dizimando as tropas de Napoleão. A temperatura desceu até 20ºC abaixo de zero. Os cavalos escorregavam no gelo, quebravam as patas e tinham de ser sacrificados, enquanto os sodados caíam mor-tos de fome e frio. Todos os tesouros roubados em Moscou - ouro, prataria, pinturas, jóias, castiçais, ícones, cruzes ornamentadas - amontoavam-se à beira do caminho, fazendo companhia grotesca aos cadáveres e à artilharia abandonada.

André Castelot em seu livro Napoleão, descreve todo o horror da retirada de Mos-cou: “Os corvos se congelavam em pleno vôo caindo por terra. O hálito se congelava ao entrar em contato com ar, produzindo pequenos estalos (...) . Muitos sobreviventes caminhavam com os pés descalços, utilizando pedaçoes de madeira como bengalas, só que os pés estavam tão congelados que cada passo soava como se fossem tamancos e madeira”.

No dia 26 de novembro de 1812, o Grande Exército agora reduzido a 26.000 ho-mens, junto com 40.000 seguidores, incluindo mulheres e crianças, alcançou a margem do rio Beresina, que já esava parcialmente congelado

As pontes tinham sido destruídas e, por isso,. as tropas demoraram três dias para cruzá-lo, enquanto as forças russas e os cossacos mantinham um ataque constante. Mi-

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lhares de soldados franceses haviam morrido afogados ou massacrados.Tudo parecia estar indo mal para o outrora invencível imperador. Em certa ocasião,

ele mesmo foi quase capturado pelos cossacos, e as tropas russas tinham sido instruídas para capturar soldados franceses de pequena estatura. Napoleão jurou que nunca seria feito prisioneiro e passou a usar um saquinho de seda pendurado ao pescoço, dentro do qual carregava um veneno.

Nesse período, as notícias do desastre ocorrido na Rússia alcançaram a França e o resto da Europa. Por toda parte, os inimigos de Napoleão, entusiasmados, começaram a planejar sua queda. Talleyrand estava mais ocupado do que nunca, trabalhando em favor da restauração da velha monarquia francesa. Em Paris, um certo general Malete anunciara que Napoleão tunha sido morto no campo de batalha, e quase conseguiu tomar o governo. Quando Napoleão soube da tentativa de golpe, abandonou o que sobrara de seu exército e correu para Paris.

Napoleão Bonaparte havia demorado 16 anos para submeter a Europa, construir um império e tornar-se seu soberano. Entretanto,, tudo o que conseguira poderia desabar em menos de 16 meses.

O itinerário de avanço e de retirada de Moscou.

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MORRE O HOMEM, NASCE O MITO

O desastre sofrido na Rússia destruiu a fonte vital do poder da Napoleão - seu exército. Dos 500.000 homens que marcharam contra o czar, sobreviveram menos de 10.000. Diante de tamanho sacrifício inútil de vidas, qualquer outro general se sentiria completamente arruinado. No entanto, o comentário de Napoleão foi: “Meu exército sofreu algumas baixas”.

Sem perceber, Napoleão contribuíra para lançar as sementes de sua própria des-truição. Ao juntar os fragmentos da Itália e da Alemanha, ele lhes dera maior unidade do que sempre tiveram. Estabelecera governos eficientes e espalhara os ideais da Revolução Francesa, abalara as velhas monarquias, despertando as massas adormecidas da Eu-ropa. Asças que tornaram possível a ascensão de Napoleão à posição de dominador do continente - nacionalismo, patriotismo, ódio à tirania - se voltavam agora contra ele.

Na Prússia, após os levantes populares contra os franceses, o rei Frederico Gui-lherme abandonou a aliança com Napoleão e assinou um tratado com o czar. Rússia e Prússia declararam guerra à França, e Napoleão as venceu em maio de 1813 em Lützen e em Bautzen. O imperador Francisco II da Áustria ainda esperou algum tempo até se decidir se se junava à Rússia e a Prússia, ou ficava ao lado da França. O fato dele ser o sogro de Napoleão não era a causa da sua dúvida, e sim a certeza de escolher o lado do futuro vencedor. Finalmente, no dia 10 de agosto de 1813, declarou guerra à França, e foi batido na Batalha de Dresde.

O espetáculo de seus inimigos reunindo-se para o ataque pareceu revigorar Napo-leão. Novamente ele se tornara o general Bonaparte, no comando da situação, trabalhan-do noite adentro, distribuindo ordens, pressionando a Confederação do Reno para que o apoiasse. Convocando todos os homens que pode achar, conseguiu formar outro grande exército com quase 200.000 soldaados.

Em junho de 1813, os ingleses sob o comando de Arthur Wellesley, que logo se tor-naria Duque de Wellington, expulsaram os franceses da Espanha. Em outubro, Wellesley se dirigiu aos Pirineus, na fronteira sudoeste da França, pronto para a invasão. Simulta-neamente, os exércitos da coligação anti-francesa se mobilizavam ao leste e aliados ale-mães de Napoleão começaram a desertá-lo. A situação estava se tornando complicada: um número muito grande de batalhas em variadas frentes.

No dia 16 de outubro de 1813, Napoleão voltou à Leipzig, na tentativa d evitar a junção dos exércitos russos, prussianos e austíacos, e viu-se sitiado por todos os lados. Embora cercado numericamente pelo inimigo, o Exército francês conseguiu provocar mais baixas do que sofreu. Mesmo assim, após 3 dias de luta, Napoleão foi definitivamente vencido e repelido para a França. Este confronto sangrento, conhecido como Batalha das Nações, foi o começo do fim de Napoleão.

Durante todoo ano de 1813, os aliados fizeram várias ofertas de paz em termos bastante generosos - a exigência principal era que a França voltasse às suas fronteiras de 1792. Napoleão recusou todas. Ele ainda acreditava na força de seu gênio, acreditava em seu império, acreditava que podia reunir e dar novo ânimo a seu povo.

Após sérias dificuldades para conseguir a aprovação do corpo legislativo, Napoleão conseguiu reunir outro exército, com quase 300.000 homens. Mas suas guerras tinham ceifado tatas vidas, que ele agora era obrigado a convocar homens cada vez mais jovens sem treinamento e sem experiência. Mesmo assim, em 1814, empreendeu uma campa-nha formidável: deteve a invasão do território pelos aliados e conseguiu brilhantes vitórias

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em Champaubert, Montmirail e Montereau.Apesar de demonstrar todo o seu gênio militar nos campos de batalha, Napoleão

teve de se defrontar com desafios impossíveis. Suas tropas eram irremediavelmente me-nores em número: ele podia encurralar o inimigo indefinidamente, mas não contava com recursos para vencê-lo em definitivo. Além disso, o povo francês estava cansado de seu imperador e de suas guerras interminaveis, cansado de fazer sacrifícios. Aliado a isso, estava a determinação inabalável da Inglaterra, Áustria, Rússia e Prússia de derrubarem o imperador.

No dia 30 de março de 1814, enquanto Napoleão dirigia algumas operações a leste de Paris, os exércitos aliados manobraram secretamente e, passando entre as forças francesas sem serem notados, entraram na capital. Imediatamente Napoleão fez planos para recuperar a cidade, mas seus generais se recusaram frontalmente. Pela primeira vez desde o cerco de Toulon, Napoleão era um general sem tropas.

Em Paris, Talleyrand fazia todo o possível para garantir a queda de Napoleão. Per-suadiu os aliados e o governo francês provisório para que oferecessem o trono a Luís XVIII, irmão de Luís XVI, decapitado pelos revolucionários em 1793. Napoleão ainda ten-tou resistir, esperando um milagre de último momento, sonhando com que uma nação tão violentada se levantasse em armas para defendê-lo. Mas sua situação era precária e seu prestígio praticamente tinha acabado. Finalmente, em 6 de abril, assinou sua abdicação em Fontainebleau. Profundamente desesperado, ingeriu veneno, tentando matar-se. Mas o veneno, ainda da época da campanha russa, perdera sua eficácia mortal. Napoleão so-breviveu, mas para ser enviado ao exílio, na minúscula ilha de Elba, a poucos quilômetros da Córsega. Durante sua viagem através da França, a caminho do exílio, encontrou multi-dões hostis que gritavam “tirano” e “carniceiro”, e teve de se fantasiar para poder prosse-guir a viagem em segurança. Levava consigo uma pequena guarda de algumas centenas de homens e recebeu autorização para conservar seu título. Ele era agora o imperador de Elba - um “império” de 223 quilômetros quadrados.

O povo francês podia estar saturado de Napoleão e de suas guerras interminaveis, mas isso não significava que estivesse disposto a aceitar um rei Bourbon novamente no rono. Não confiavam em Luis XVIII nem nos émigrés monarquistas que trazia com ele. Ele era considerado um instrumento de potências estrangeiras e uma ameaça às conquistas da Revolução. Napoleão estava ciente disso e sabia que, se controlasse esse desconten-tamento, poderia convertê-lo em seu próprio benefício e, assim, reconquistar a França.

Na noite clara e estrelada de 26 de fevereiro de 1815, Napoleão escapou de Elba com um exército de 1.000 homens. Alguns deles mostravam-se ansiosos em relação às possíveis consequências da expedição, já que Napoleão os enganou, dizendo que tinha havido um levante em Paris e que o povo já estava esperando por ele.

Perto de Grenoble, suas velhas tropas, agora a serviço do rei, tentaram detê-lo. Ele manteve sua posição: “Se alguém dentre vós deseja matar seu general e imperador, faça-o agora; aqui estou!”. Em lugar de atirar, os homens o aclamaram. Uma vez dentro de Grenoble, ficou surpreso ao ver que o povo lhe trouxera os pedaços dos portões da cidade: “Eles não lhe dariam as chaves, então nós lhe trouxemos a porta”.

Quando Napoleão entrou em Lyon, havia alegria nas ruas; quando saiu, estava acompanhado por um exército de 14.000 homens. Seu antigo camarada de armas, o ge-neral Ney, que se recusara a marchar sobre Paris no ano anterior e que tinha estimulado Napoleão a se render, agota reunia-se a ele. Ao saber do retorno triunfante de Bonaparte, Luís XVIII fugiu apavorado da capital. Quando Napoleão chegou, no dia 20 de março, após

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10 meses de afastamento, Paris estava esperando por ele, como tinha anunciado a seus soldados.

Porém, os aliados tambem estavam esperando por ele e, imediatamente, planeja-ram fazer a guerra. Mais uma vez seus exércitos começavam a fechar sobre a França por todos os lados. Como os ingleses e os prussianos agrupavam suas tropas na Belgica, ao norte da França, Napoleão decidiu enfrentá-los primeiro, para depois se voltar para o leste e combater os austríacos e os russos.

O imperador conseguiu formar um exército de 128.000 homens e 344 canhões, enquanto o Exército anglo-prussiano contava 200.000 homens e 500 canhões. E, em 16 de junho de 1815, Napoleão atacou as forças sob o comando de Blücher, em Ligny, e saiu vitorioso. Mas sua prova de fogo ocorreria dois dias depois, num lugar chamado Waterloo.

As tropas aliadas eram comandadas pelo Duque de Wellington, que tinha derrotado os franceses na Guerra Peninsular. Os velhos generais de Napoleão que haviam servido na Espanha tiham grande respeito pelo duque, mas Napoleão zombava deles: “Só por terdes sido derrotados por Wellington, vós o considerais um grande general! Eu vos digo que Wellington é um mau general, que os ingleses são maus solddos, e que tudo não será mais dfícil do que uma caminhada (...). Esta noite dormiremos em Bruxelas”.

No dia 18 de junho de 1815, sem 30.000 de seus homens, que estavam comba-tendo os prussianos, Napoleão enfrentou Wellington em Waterloo. A encarniçada batalha estendeu-se por muitas horas e parecia que Napoleão estava prestes a alcançar a vitpo-ria. “Eu os peguei!” gritava. “Eles são nossos!” Mas, então, apareceram os prussianos para socorrer Wellington, ao passo que os 30.000 reforços franceses nunca chegaram. Ao anoitecer, Napoleão tinha sido vencido, e teve de voltar à Paris em prantos.. Seu retorno ao poder - os Cem Dias - chegara ao fim.

“Sentia que a sorte estava me abandonando. Não mais tinha a certeza

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do sucesso (...). Quando um homem não age livremente, njnva fazada no momento certo; e um homem não age livremente a menos que esteja con-vencido de que a sorte está do seu lado”.

Napoleão Bonaparte

A Batalha de Waterloo é um dos combates mais estudados da História, e existem numerosas teorias tentando explicar a derrota de Napoleão. O Duque de Wellington, um estrategista notável, de muita coragem, bom senso e força de vontade, tinha a seu favor o fato de manter excelenetes posições no campo e mais tropas que Napoleão. Mesmo assim, achou a Batalha de Waterloo dificílima e dizia que tinha escapado por pouco.

Napoleão deixou o trono pela última vez em 22 de junho de 1815. Ele decidira di-rigir-se à América e começar uma nova vida, mas foi interceptado pelos ingleses. Desta vez eles queriam ter a certeza de que Napoleão ficaria definitivamente fora do caminho;

Em outubro de 1815, Napoleão desembarcou de um navio inglês em Santa Helena, uma minúscula ilha no meio do Atlântico Sul, a milhares de quilômetros do porto conti-nental mais próximo. Ali passou o resto de sua vida, acompanhado apenas por alguns dos seus mais fiéis seguidores. Josefina morrera em 1814. Maria Luísa o abandonara na época de sua primeira abdicação e voltara à Àustria com o amado filho e herdeiro de Na-poleão, Francisco Carlos José, que teve uma vida curta e infeliz. De regresso á pátria, ela logo esqueceu o marido e começou um caso amoroso com um conde austríaco.

Quando Napoleão soube que seria despojado do seu título e exilado em Santa Helena, protestou: “Apelo à História!”. Em Santa Helena ele dedicou-se a estabelecer as bases para seu apelo: ditou suas memorias e passou longas horas justificando cada uma de suas ações.

Napoleão continuou também uma verdadeira batalha contra o governador inglês da ilha, que se recusava a entregar correspondência que estivesse endereçada ao “Impera-dor Napoleão” e tornava a vida difícil para seu prisioneiro. Em seu testamento, o ex-im-perador escreveu: “Desejo que minhas cinzas repousem nas margens do Sena, no meio daquele povo francês que tanto amei (...). Morro antes do meu tempo morto pela oligarquia inglesa e seus assassinos mercenários”.

No dia 5 de maio de 1821, aos 51 anos, Napoleão morreu e foi enterrado em Santa Helena mesmo, numa cerimônia muito simples. Na pedra que cobria seu túmulo estavam apenas as palavras Ci gêt (“Aqui jaz”), sem nenhum nome.

Até pouco tempo atrás, havia a certeza de que Napoleão teria morrido de cãncer no estômago, como duas de suas irmãs e seu pai. Entretanto, recentemente, surgiu uma outra hipótese. Pouco anos atrás, Sten Forshufvud, um dentista sueco, ficou intrigado com a descrição dos últimos dias de Napoleão em Santa Helena, e começou a suspeitar de que o imperador morrera por envenenamento com arsênico. Após uma análise química dos cabelos de Napoleão, parece que essa hipótese foi confirmada. Após longos estudos e uma cuidadosa leitura dos diários daqueles que estiveram mais próximos de Bonaparte, Forshufvud e Ben Weider, outro especialista em Napoleão, concluíram que ele fora enve-nenado lentamente pelo Conde Charles-Tristan de Montholon. Ele teria estado a serviço do Conde de Artois, um príncipe Bourbon que, em1824, se tornaria o rei Carlos X.

Os Bourbons estavam muito preocupados com a possibilidade de que Napoleão pudesse escapar de Santa Helena, como o fizera em Elba, para eliminá-los. Se o man-

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dassem assassinar, o povo francês poderia descobrir e insurgir-se contra eles. O envene-namento lento com arsênico praticamente nao deixava pistas e, mesmo que demorasse anos para causar o efeito fatal, Napoleão estaria muito doente para criar problemas.

Uma vez que o veneno tivesse afetado seu corpo, os assassinos poderiam contar com a ajuda dos médicos par dar o golpe final. Naquela época, o envenenamento com arsênico era frequentemente confundido com outras doenças, para o tratamento das quais era recomendada uma alta doe de calomelano. Essa droga produzia dois efeitos nas víti-mas de envenenamento por arsênico. Primeiro matava, e depois, eliminava do organismo qualquer vestígio do veneno.

Napoleão não foi embalsamado depois de sua morte. Em 1840, seu corpo foi envia-do para a França, para dar-lhe lugar de honra no seu repouso definitivo, em Paris, confor-me fora seu desejo. Todos esperavam encontrar apenas um esqueleto, quando o caixão fosse aberto. Em vez disso, foi achado um corpo em perfeito estado de conservação após vinte anos! Este é outro dos efeitos colaterais do arsênico, que age como preservativo dos tecidos e, com tal, é usado em museus e espécimes de laboratório.

A história de Napoleão é a história da ascensão e queda meteórica de um homem, nascido numa ilha, com poucos recursos além do seu cérebro, sua força de vontaade e sua imaginação. E é, também, a história da revolução, da mudança da velha ordem para o mundo moderno. Os estudiosos ainda debatem sobre as qualidades de Napoleão como líder e o seu impacto na História. Alguns enfatizam seu magnetismo, sua enorme energia e produtividade; outros destacam sua arrogãncia, egoísmo e desprezo pela vida huma-na. Alguns o consideram o portador ilumidado dos ideais revolucionários, outros o vêem como o precursor dos ditadores do século XX.

É difícil avaliar seu papel. Ele redesenhou diversas vezes o mapa da Europa, trouxe reformas definitivas aos sistemas legais, judiciais, administrativos e educacionais. de um continente inteiro e, principalmente, revolucionou a arte militar da guerra. Mas os cataclis-mas sociais e políticos, como a Revolução Francesa, que sacudiram a França e o resto da Europa, teriam acontecido sem ele.

Muitas de suas ações tiveram resultados inesperados. Ele deu início ao processo que levaria à unificação da Itália e da Alemanha. Ajudou a fazer dos Estados Unidos uma potência mundial, ao vender-lhes o território da Luisiana. Sua guerra contra a Espanha deu aos povos da América latina a oportunidade de lutar por sua independência. Fortaleceu o papado e a Igeja Católica, apesar de seus esforços irem justamente em sentido oposto.

Napoleão deixou atrás de si uma lenda poderosa que cresceu até atingir proporções gigantescas após sua morte. Seu filho Napoleão II nunca chegou a governar a França, mas, em 1852, seu sobrinho Luís Napoleão, usando a popularidade de seu nome, conse-guiu proclamar o Segundo Império, tomando o título de Napoleão III. O bonapartismo - a ideia de um governo forte e autoritário, indicado pela vontade do povo - começou a influir na política francesa durante anos e ainda hoje constitui uma força tangível.

Napoleão tem inspirado, literalmente, centenas de milhares de livros. Quantidades sem conta de pinturas, poemas, peças de teatro e filmes celebram suas façanhas. Qalquer que tenha sido seu papel histórico, é inegável que possuía uma personalidade muito forte. Admirado ou odiado,elogiado ou maldito, é difícil discordar de uma frase dele a respeito de sipróprio: “Que romance foi minha vida!”.

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FRASES ATRIBUÍDAS A NAPOLEÃO BONAPARTE

“Cada ocasião mal aproveitada na juventude é uma probabilidade de desgraça para o futuro.”

“Para fazer a guerra, são necessárias 3 coisas: dinheiro, dinheiro e dinheiro.”“Do sublime ao ridículo, não há nada mais do que um passo.”“Nas revoluções, há dois tipos de pessoas: as que fazem e aquelas que se aprovei-

tam de quem faz.”Nos negócios da vida, não é a fé que salva, mas sim a desconfiança.”“Existe um ladrão que, embora não seja castigado, leva de nós as coisas mais pre-

ciosas: o tempo”. “A altura de um homem não se mede da cabeça aos pés, mas da cabeça ao céu.”“A inveja é uma declaração de inferioridade.”“A palavra impossível não consta no meu vocabulário.”“As batalhas contra as mulheres são as únicas que se ganham fugindo.”“Os sábios são os que buscam a sabedoria, os tontos acreditam já tê-la encontra-

do.”“Minha grandeza não consiste em não haver caído nunca, mas em haver me levan-

tado sempre.”“Não é preciso temer quem tem outra opinião, mas àqueles que são covardes de-

mais para manifestá-la.” “Nunca interrompa seu inimigo enquanto este estiver cometendo um erro.”“Você nunca saberá quem é seu amigo até falhar.” “Em última análise, é preciso ser um militar para governar. É somente com botas e

esporas que se governa um cavalo.”“O cristianismo declara que seu reino não é deste mundo. Como pode, então, esti-

mular o afeto pela terra natal, como pode inspirara qualquer sentimento senão ceticismo, indiferença e insensibilidade em relação aos assuntos humanos e de governo?”

“Meu sucesso, e tudo de bom que realizei, devo à minha mãe.”Quando tive a honra de ser segundo-tenente, comia pão seco, mas nunca deixei

ninguém perceber que era pobre;”“Somos membros de uma poderosa monarquia, mas hoje sentimos apenas os ví-

cios de sua constituição.”“Na minha família, ajoelhamos somente perante Deus.”“Os homens de gênio são meteoros destinados a se queimar, para iluminar o século

em que vivem.”“Sou um soldado e, portanto, estou acostumado a arriscar minha vida todos os

dias. Estou cheio do ardor da juventude; não posso agir com a prudência de um diplomata consumado;”

“Revolução é uma opinião que adquiriu algumas baionetas.”“Eu trato a política como guerra. Engano um flanco para bater no outro.”“As guerras inevitáveis são sempre justas.”“Soldados, do alto destas pirâmides, quarenta séculos vos contemplam.”“Estar nas Tulherias não é tudo; o importante é ficar aqui.”“Minha política é governar os homens da maneira que a maioria quer ser governa-

da. Acredito que esta é a forma de reconhecer a soberania do povo.”“A Concordata não é a vitória de uma ou outra parte, mas a consolidação de ambas.”

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“Política inteligente consiste em fazer as nações acreditarem que são livres.”“Eu poderia casar (com a Virgem Maria) sem escandalizar os parisienses.”“Aos olhos daqueles que fundam impérios, os homens nada mais são do que ferra-

mentas.”“Para a Polônia, Deus criou um quinto elemento: a lama.”“Minha estrela estava em declínio. Sentia as entranhas escapando de minha mão e

não podia fazer nada para detê-lo.”“Após sofrer um revés ou cometer um erro, o homem de gênio sempre se recupera.”“Sentia que a sorte estava me abandonando. Não mais tinha certeza do sucesso

(...). Quando um homem não age livremente, nunca faz nada no momento certo; e um ho-mem não age livremente a menos que esteja convencido de que a sorte está do seu lado.”

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CAPÍTULO IIIESTRATÉGIAS E TÁTICAS EMREGADAS POR

NAPOLEÃO BONAPARTE

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“ Ler repetidamente as campanhas de Alexandre, Hannibal, César, Gustavo, Turenne e Frederic, o grande. Esta é a única maneira de se tornar um

grande general...”

Napoleão Bonaparte

SUMÁRIO

1. Introdução2. A estratégia de Napoleão > As estratégias favoritas de napoleão > Campanhas de Ulm-Austerlitz em 1805 > Campanha de Jena-Auerstadt em 1806 > Rapidez dos movimentos e concentração de tropas3. As táticas de Napoleão4. Jomini e Clausewitz sobre Napoleão5. O Estado-Maior de Napoleão6. Erros, falhas e derrotas de Napoleão

“A tática é a arte de usar tropas nas batalhas; estratégia é a arte de usaras batalhas para vencer a guerra “

Carl von Clausewitz

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ESTRATÉGIAS E TÁTICAS EMPREGADAS POR NAPOLEÃO

1. IINTRODUÇÃO

A grandeza de Napoleão como soldado era evidente e, praticamente, desde o início de sua notável carreira. Foram vitória seguidas, umas após as outras, por mais de uma década. No entanto, se nessas batalhas a genialidade de Napoleão era óbvia, seus méto-dos, no entanto, não o eram.

Napoleão contrariava todos os princípios que orientavam a condução das opera-ções, bem como o emprego das técnicas doutrinárias que balizavam a implementação daqueles princípios. “Como resultado, antes mesmo da realização de suas ambições, ele chegou ao seu destino final, e aos comentaristas militares ficou atribuída a difícil tarefa de explicar seus modos de guerrear.” (-Albert Nofi)

Embora Napoleão tenha desempenhado um papel importante na história e no de-senvolvimento da arte militar, como soldado, ele não era nenhum grande inovador. “Ele não confiava em novas ideias. Seu gênio era essencialmente prático, e seus conceitos militares evoluíram a partir de estudos aprofundados dos comandantes anteriores, parti-cularmente de Frederico o Grande. Ele fez o máximo uso das idéias de seus antecessores e admirou suas vidas.” (Chandler - p “Dicionário das guerras napoleônicas”)

De acordo com Loraine Petre, descendente de uma família aristocrática inglesa e historiador militar, a genialidade de Napoleão não era a de um criador. Mas, na verdade, ele fez algumas reformas práticas ou inovações na arte militar. Seu talento pautava-se, isso sim, na habilidade de saber se posicionar nas áreas estratégicas e administrativas da guerra. Napoleão tinha a capacidade de visualizar com grande clareza uma situação militar, e confrontá-la para determinar o curso mais aceitável (custo-benefício) da ação a ser empreendida. Ele podia conceber, com facilidade, a maioria das possíveis soluções a um problema, avaliá-las e, em seguida, executá-las, fazendo pleno uso das habilidades consideráveis do Exército francês, por ele reformado. Ele desenvolveu um estilo estra-tégico agressivo, baseado nas propostas de Bourcet. E ele usou a República como um modelo, em sua habilidade para explorar os recursos finais da França, frequentemente estampando caras novas aos exércitos que estavam à beira de um desastre. Assim, a ge-nialidade de Napoleão ficou marcada pelo modo como ele via as maneiras em que todas as inovações do final do século XVIII poderiam ser orquestradas em um sistema militar praticamente invencível.

Napoleão é acreditado como sendo um grande estrategista e um gênio militar do seu tempo. Ele conquistou, praticamente, toda a Europa e deu a todos a possibilidade de uma boa corrida pelo dinheiro. Suas campanhas constituíram o repositório básico da edu-cação militar em todo o mundo ocidental e, para muitos, o pensamento militar atual, ainda é influenciado pelo grande francês. Em academias militares em todo o mundo, incluindo a famosa West Point (EUA), aos alunos foi ensinada a língua francesa para que fossem ca-pazes de ler livros sobre estratégia e táticas usadas por Napoleão. A maioria dos generais europeus e da Guerra Civil copiaram os métodos de Napoleão que resultaram em vários sucessos. Wellington disse: “Eu costumava dizer dele (Napoleão) que a sua presença em campo fazia a diferença de 40.000 homens.”

Mesmo nos anos de derrota, Napoleão provou ser um comandante hábil, imagina-tivo e imprevisível. “Seus inimigos não podiam corresponder suas habilidades, nem as de seus exércitos. Suas vitórias deveram-se mais a superioridade numérica, do que ao ta-

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lento de seus impressionantes generais.” (-Loraine Petre). O sucesso no campo e o saber apoiar uma facção política, bem no momento certo, o levou ao generalato com apenas 24 anos de idade e ao comando do Exército da Itália, com 26.

Poucos comandantes, se houver antes dele ou desde então, lutaram guerras e batalhas sob as mais variadas condições de clima, terreno e condições meteorológicas, e contra uma maior variedade de inimigos do que o Imperador francês. Seu entendimento de guerra em massa e seu sucesso em criar, organizar e equipar exércitos em massa revolucionou a conduta da guerra e marcou a origem da guerra moderna... O General Sir Archibald P. Wavell escreveu: “se você descobrir como... [Bonaparte] inspirou um exército de maltrapilhos, amotinados e famintos, e os fez lutar como eles o fizeram, e como ele dominou e controlou generais mais velhos e mais experientes do que ele, você, então, terá aprendido alguma coisa.” Desde 1796, quando Bonaparte assumiu seu primeiro comando militar independente, até 1809, Napoleão exibiu um surpreendente halo de invencibilidade em batalha e uma igualmente espantosa capacidade de usar esse sucesso do campo de batalha para obrigar os seus inimigos a conceder-lhe seus objetivos políticos. Um deslum-brado Clausewitz tinha boa razão por chamar Napoleão de “Deus da guerra”.

John Elting, Coronel do Exército dos EUA, perguntou por que, nesta época de ar-mas nucleares e mísseis guiados, deveria o aluno de assuntos militares estar preocupado com as campanhas de Napoleão? Uma resposta simples seria: para o fundo histórico ou profissional. Mas há mais razões imperiosas. ... Gigantescas operações de enormes for-ças, tais como as que foram realizadas na Segunda Guerra Mundial, já não são viáveis. A dispersão das forças e de suas instalações logísticas é essencial para se evitar acidentes terríveis e a destruição em massa. ... O sucesso total em operações militares terrestres será um dependente dos sucessos táticos das unidades básicas, individualmente agrega-das, ainda que operem, virtualmente, independentes. Tais unidades básicas devem ser de tamanho moderado, altamente móveis, compactas e poderosamente armadas, auto--sustentável e bravamente conduzida - precisamente os atributos que caracterizaram uma típica força napoleônica.

Napoleão foi um dos principais defensores da guerra móvel, do tipo que é necessá-ria em uma época de possível guerra nuclear. Não importa se as armas nucleares sejam ou não usadas, mas a mera ameaça representada pela sua existência dita uma consequente reorganização das forças e modificação de suas táticas. Não há nenhuma garantia de que os conselhos de Napoleão sejam adotados literalmente; “é o princípio de que, quando os raios estão disponíveis, eles devem ser usados no lugar do canhão de guerra.”... A condu-ta da guerra é uma arte baseada em conceitos fundamentais eternos que permaneceram válidos, independentemente, dos meios prevalecentes e dos métodos de combate.

Além disso, embora as armas e as táticas tenham mudado continuamente, em sin-tonia com o progresso tecnológico, o elemento controlador básico da guerra - o homem - permaneceu relativamente constante... O imperador sugere que, primeiro, deve-se pro-curar memorizar todos os detalhes das campanhas de grandes capitães de guerras pas-sadas (Alexandre, Hannibal, Cesar, Gustavo, Turenne e Frederico, o Grande). Não há duas batalhas ou campanhas exatamente semelhantes. Muitos fatores flutuantes exercem suas influências; tempo e terreno, condições táticas, armas, meios de transporte, treina-mento, moral e liderança. A natureza específica de todos esses fatores é pertinente em um estudo militar, mas o assunto de suma importância é a habilidade com que o líder exercita os meios disponíveis e explora a vitória, ou, inversamente, como através de inépcia, do jul-gamento pobre ou de outras deficiências e de oportunidades perdidas chega-se à derrota.

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2. As ESTRATÉGIAs DE NAPOLEÃO

“ Existem na Europa muitos bons generais,mas eles vêem muitas coisas ao mesmo tempo.”

Napoleão

Nos séculos XVI e XVII e, também, grande parte do XVIII, a conduta da guerra era bastante formal e estilizada. A guerra limitada por objetivos também limitados era a regra. Era o esporte dos reis, cuidadosamente calculado e projetado para garantir ganhos rela-tivamente modestos, e a custos mínimos. Os exércitos haviam adquirido trens logísticos longos e desajeitados. A arte das fortificações crescera a níveis notáveis, resultando na proliferação de lugares fortificados para a defesa e para a proteção das linhas de abaste-cimento vulneráveis, e na necessidade de arrastar as armas para a realização de cercos pesados. Os exércitos, no entanto, eram pouco hábeis, necessitando de longos anos de treinamento e de uma meticulosa e cara manutenção em proveito do seu desenvolvimen-to.

Jogadas estratégicas eram incomuns. Os cercos haviam se tornado a norma. “Wa-shington, Marlborough, Príncipe Eugene, e Frederico, o Grande da Prússia, todos sabiam realizar uma batalha quando fosse necessário. Mas mesmo estes comandantes excepcio-nalmente capazes fizeram pouco, relativa e raramente.” (Loraine Petre)

“A nível de estratégia, Napoleão não tinha nenhum competidor de relevo contem-porâneo. Para fazer uso máximo de uma mobilidade superior e dar motivação aos seus exércitos, ele desenvolveu dois sistemas principais estratégicos. Quando enfrentava um inimigo em superioridade numérica, a “estratégia da posição central” era empregada para dividir o inimigo em partes separadas, a fim de que cada uma delas pudesse ser elimina-da, cada uma por vez, fazendo uso de uma manobra hábil, para que os franceses ganhas-sem uma superioridade numérica local em ações sucessivas, e sempre manobrando a reserva nos momentos e lugares críticos. ... Inversamente, quando o inimigo era numeri-camente inferior aos franceses, Napoleão, frequentemente, empregava uma “manobra de envolvimento” - fixando a atenção do inimigo com um destacamento, enquanto o grosso do exército atacava as linhas hostis de comunicações para romper as ligações do inimigo com suas bases. ... Em determinadas ocasiões, Napoleão fundia as características destas duas estratégias clássicas.” (Chandler - “Dicionário das guerras napoleônicas”)

Antes de cada campanha Napoleão considerava todas as opções (linhas de ação) possíveis. O Imperador escreveu: “não há nenhum homem mais pusilânime do que eu, quando estou a planejar uma campanha. Eu, propositadamente, exagero todos os peri-gos e todas as calamidades que as circunstâncias possam tornar possíveis. Fico em um estado completamente doloroso de agitação. Isso, no entanto, não me impede de olhar, muito sereno, em frente da minha comitiva; eu fico como uma garota solteira trabalhando com uma criança”.

Nos meses e semanas anteriores às operações ele já dava início à coleta de infor-mações. Além de ler um grande número e variedade de livros sobre o inimigo e o Teatro de Guerra, ele estudava copiosos volumes de relatórios de Inteligência encaminhados pelos agentes que ele tinha espalhado por toda a Europa. Ele, em paralelo, prosseguia no estudo da história política do país considerado, a situação das suas contas, o estado das estradas e pontes, os relatórios sobre os políticos e generais e, até mesmo, estudava os

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padrões locais de estocagem de alimentos e sua distribuição. Napoleão usava 5 princípios simples para guiar o desenvolvimento de seus planos

operacionais projetados, para acelerar a realização da vitória:1º) O principal objetivo é a destruição dos exércitos do inimigo (ou seu exército

principal) que, uma vez atingido, torna todos os demais problemas de fácil resolução. Se o inimigo não quiser arriscar uma batalha, ele pode ser forçado a fazê-la, ameaçando a sua cidade capital.

2º) Todas as forças devem se concentrar na tarefa de alcançar o objetivo.3º) As operações devem ser projetadas para surpreender e confundir o inimigo.

Sempre, deverá ser buscada a iniciativa, para impor sua vontade sobre o inimigo. 4º) Todo esforço deve ser feito para render um inimigo indefeso através da sepa-

ração de suas linhas de abastecimento, comunicações e retirada. O movimento favorito deverá compreender o envolvimento de um dos flancos do exército do inimigo e ameaçar sua retaguarda e suas linhas de comunicações, forçando-o ou retrair, apressadamente, ou voltar e lutar em desvantagem.

5º) A segurança das forças francesas tem de ser cuidadosamente vigiada para evitar a surpresa.

Estratégias favoritas de Napoleão.- Estratégia da Aproximação Indireta; e- Estratégia da Posição Central. => A Estratégia da Aproximação Indireta era conhecida como a “estratégia da

superioridade de Napoleão” e usada quando ele tinha muitas tropas e espaço de manobra. Era mais sofisticada e mais perigosa do que a Estratégia da Posição Central. Essencial-mente, ela implicava na realização de um amplo movimento de rotação diante do inimigo. Um dos seus dois Corpos de Exército iria ser detacado para fixar a atenção do inimigo à sua frente. Enquanto isso, Napoleão levaria a maior parte de seu exército em uma marcha rápida e ampla em torno de um dos flancos estratégicos do inimigo, protegida por uma linha grossa de cavalaria (screen = tela), servindo-se de alguma característica geográfica substancial existente no terreno (rio, lago, desfiladeiro), fornecedora de uma “cortina da manobra”. Quando ele avançasse em direção a retaguarda do inimigo, ele confiaria em um ou dois Corpos, com alguma cavalaria lançados à frente, para evitar que reforços ini-migos chegassem e, então, cairia sobre o inimigo pela retaguarda, cortando suas linhas de comunicação e de retirada. Foi esta estratégia que lhe trouxe as vitórias esmagadoras de Ulm em 1805, de Jena em 1806 e de Friedland em 1807. Mas havia um grande risco nesta estratégia. Somente uma execução rápida, o uso agressivo das forças de fixação e a cavalaria poderiam fazê-la funcionar. Se o inimigo intuísse o que estava em andamento - como em 1807, quando os russos interceptaram uma ordem revelando as Intenções de Napoleão antes de Eylau - ele poderia escapar, ou até mesmo atacar as colunas de mar-cha relativamente vulneráveis e separadas.

NOTA : vale neste ponto acrescentar algumas considerações sobre o que seja es-tratégia da Aproximação Indireta:

A Estratégia da Aproximação Indireta foi documentada e sistematizada por B. H. Li-ddell Hart após a Primeira Guerra Mundial, numa tentativa de encontrar uma solução para o problema das alta baixas havidas nas zonas de conflito tais como na Frente Ocidental em que ele serviu. Em resumo, a estratégia exige que os exércitos avancem ao longo da linha de menor resistência. É melhor descrita nas citações abaixo, extraídas da obra refe-

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rente à sua teoria , e do entendimento de outros estudiosos da arte da guerra.Numa guerra, uma reta nem sempre é o melhor caminho entre dois pontos. Na

estratégia conhecida como da Aproximação Indireta, o objetivo é surpreender o inimigo e diminuir, consideravelmente, os danos humanos e materiais em relação a um embate fron-tal. Um exemplo emblemático é a invasão da França pela Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial. Em vez de transpor a enorme fortificação da Linha Maginot, os alemães circundaram-na, entrando na França pela Floresta das Ardenas, na fronteira com o sul da Bélgica.

Mas essa idéia 1 de evitar a queda-de-braço e “dar a volta” surgiu na Antiguidade, sendo utilizada em diversos momentos ao longo da história, inclusive por Napoleão Bo-naparte.

Existem dois princípios básicos que fundamentam a abordagem indireta:.1º) Os ataques diretos sobre firmes posições defensivas quase nunca funcionam e

nunca devem ser tentados.; e2º) Para derrotar o inimigo, deve-se, primeiro, perturbar o seu equilíbrio. Isto não

pode ser o efeito do ataque principal; ele deve ocorrer antes que o ataque principal seja niciado”.

Enquanto, originalmente, essa teoria tenha sido desenvolvida para a infantaria, mais tarde, J. F. C. Fuller também a aplicou com os carros de combate. A partir daí, a abordagem indireta tornar-se-ia um fator importante no desenvolvimento da “blitzkrieg”. Muitas vezes incompreendida, a abordagem indireta não é um tratado contra a realização de batalhas diretas; ela era ainda baseada no ideal Clausewitziano do combate direto e da destruição de uma força inimiga pelas armas. Era, na realidade, uma tentativa de criar uma doutrina para a remobilização da guerra, após a custosa Guerra de Atrição decorren-te do impasse estratégico da Primeira Guerra Mundial.

Segundo o livro de Liddel Hart, “The Strategy of Indirect Approach”, “abordar o ini-migo em seus pontos fortes esgota o atacante, ao mesmo tempo em que endurece a resistência do adversário por compressão”. E, no processo, provoca mortes em massa. A mais profunda verdade da guerra é que a opção pela batalha se dá nas mentes dos comandantes e não considera os corpos de seus homens.” Por sua vez, quando bem apli-cada, a aproximação indireta primeiro fragiliza o inimigo, por meio de uma lacuna pontual de proteção, para dominá-lo em seguida.

Ainda na Antiguidade Clássica, o engenhoso general cartaginês Aníbal Barca foi o precursor da aproximação indireta em dois episódios contra os romanos: a Batalha do Lago Trasimeno, em 217 a.C., e a de Canas, em 216 a.C. Na primeira, Aníbal optou por um caminho impensável para adentrar a Toscana: uma travessia pelos pântanos do rio Arno. Foram três dias e três noites consecutivos de marcha pela lama, em que o general teria perdido boa parte dos animais de carga – e também, embora a informação não seja segura, a visão de um olho.

Mas, quando os romanos e aliados se deram conta da emboscada e retornaram, ti-veram de enfrentar um invasor que já contava com as vantagens de quem “joga em casa”. Aníbal encurralou as tropas inimigas entre as colinas e o lago. Resultado: 15 mil romanos e aliados mortos contra 1,5 mil cartagineses, um décimo do prejuízo humano e militar do adversário.

A batalha seguinte foi bem mais simples para os cartagineses. Em Canas, um mo-1 Pense na guerra como uma disputa de luta livre. “Você evita socar diretamente o queixo do adversário, sem-pre protegido, e acerta-o primeiro no joelho”, compara o historiador Voltaire Schilling, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. “Com o desequilíbrio obtido, fica mais fácil derrubar o inimigo.”

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desto povoado localizado às margens do Rio Áufido (atualmente Ofanto, no sul da Itália), o general Aníbal organizou seu exército de modo a deixar as laterais mais fortes que o centro, especialmente a esquerda. Os romanos e aliados, por sua vez, estavam alinhados de forma homogênea. Assim, os cartagineses transgrediram a lógica militar predominante na época e avançaram pelos flancos, contornando o inimigo num círculo que se revelaria mortal.

Dando-se um salto no tempo chegamos a outro exemplo memorável do movimento indireto. Data de 1805, com Napoleão Bonaparte como protagonista. O imperador francês, considerado um dos mais brilhantes estrategistas de todos os tempos, também incluiu”ma-nobras de desvio” em suas diabólicas – e, por vezes, irreverentes – táticas de guerra. Um episódio curioso foi o que culminou na Batalha dos Três Imperadores (da França, Rússia e Áustria), em Austerlitz,(atual Slavkov, na República Tcheca).

Tudo começou com uma dissimulação de fraqueza. Primeiro, Napoleão, voluntaria-mente, enfraqueceu o próprio flanco direito. Em seguida, fez uma solicitação ao Estado--Maior austro-russo para que lhe enviasse um representante com uma proposta de acor-do, que Napoleão recusou numa bem-ensaiada performance teatral de desespero furioso. O emissário caiu direitinho no engodo e retornou para a Rússia ávido por tranquilizar os chefes, com a notícia do suposto desequilíbrio do líder adversário.

Em sequência, veio a aproximação indireta: Napoleão ordenou uma ocupação-re-lâmpago da colina de Pratzen, para confundir o inimigo. Enquanto o adversário enviava grosso de sua tropa rumo ao flanco direito francês, Napoleão atacou o centro enfraquecido do adversário, dividindo o exército austro-russo em dois. Resultado final: os franceses perderam 1,3 mil soldados – contra 16 mil homens adversários.

Mais um salto histórico e chegamos, enfim, à Linha Maginot, na Segunda Guerra Mundial. A fortificação deve seu nome a um combatente mutilado na Primeira Guerra Mundial, o engenheiro francês André Maginot, que projetou a longa linha de casamatas no final dos anos vinte. O objetivo era impedir um ataque-surpresa alemão contra a fronteira leste da França. O complexo foi construído entre 1930 e 1936 e incluía vias subterrâneas, postos de observação com abóbadas blindadas e paióis com munições, também abaixo da terra. Na época, a linha foi considerada o maior empreendimento tecnológico-militar da história.

O efeito negativo desse poderoso escudo megalomaníaco foi criar uma falsa sensa-ção de segurança, na análise de Voltaire Schilling. A questão é que a Floresta das Arde-nas, onde havia uma lacuna na linha, podia ser considerada uma proteção natural. E, de fato, era. Mas era, também, mais fácil de transpor do que a linha fortificada que partia da Suíça até a fronteira com Luxemburgo.

Os franceses não eram pretensiosos a ponto de acreditar que a fortificação deteria os alemães de vez. Mas eles estavam certos de que a barreira lhes garantiria o tempo necessário para reagir. Esse foi talvez o episódio mais vexatório da história militar fran-cesa. Hoje, o termo “Linha Maginot” é usado na França como metáfora para algo em que se confia apesar de sua ineficiência. Mas, numa outra perspectiva, é preciso admitir que ela cumpriu seu papel: tanto protegeu a fronteira leste francesa, que forçou o agressor a contorná-la.

Concluindo, a contrario sensu, há de se compreender, ainda, a opção pela aproxi-mação direta (ou ataque direto). Em vez aproximação indireta, a Primeira Guerra Mundial foi marcada por embates sangrentos decorrentes da aplicação da estratégia da aproxi-mação direta. Na Batalha de Somme, a mais terrível daquele conflito, tropas inglesas e

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francesas atacaram um ponto forte da linha defensiva alemã. Em apenas 24 horas, as baixas foram de quase 60 mil soldados aliados, incluindo cerca de 21 mil mortos. Em 20 dias, os atacantes não avançaram mais do que 8 quilômetros. Ao longo de oito meses de massacre mútuo, morreram mais de 1 milhão de homens: 420 mil alemães e 615 mil britânicos e franceses.

Os americanos também têm tradição no ataque direto. Entre 1861 e 1865, na Guer-ra Civil americana, também conhecida como Guerra da Secessão, morreram 970 mil pes-soas (620 mil soldados e 350 mil civis), o que correspondia na época a 3% da população. Nas últimas campanhas americanas, da Guerra do Golfo para cá, os Estados Unidos têm optado pelo bombardeio aéreo maciço contra seus alvos, na estratégia do “choque e pa-vor”. É que, nestes caos, os inimigos eram, sempre, tecnologicamente muito mais fracos.

=> A Estratégia da Posição Central , por seu turno, é conhecida como a “estratégia da inferioridade de Napoleão”, usada em situações quando seus exércitos eram mais fra-cos que os do inimigo, que deveriam ser dispersados em duas concentrações, amplamen-te separadas, tais como durante as fases da abertura da campanha de 1809 na Áustria, e em 1815 na Bélgica e, anda, com notável brilhantismo em em 1814, que culminou com as vitórias tríplices de Champaubert, Montmirail e Vauchamps. Esta estratégia necessitava de uma ousada liderança, de um sincronismo cuidadoso e de um movimento agressivo e, por isso, seria necessário que o exército ficasse entre as concentrações do inimigo, impe-dindo-as de se unir. Em razão do exército deslocar-se, rapidamente, em posição central, Napoleão poderia concentrar o grosso de suas forças contra o contingente inimigo mais ameaçador e procurar uma batalha decisiva, enquanto um dos seus dois Corpos empe-nhava-se em fixar o outro contingente inimigo, o maior tempo possível. Mas as coisas poderiam dar erradas, obviamente. O inimigo poderia intuir as intenções de Napoleão e retirar-se, como ocorreu em abril de 1809 na guerra com a Áustria, ou realizar a perse-guição após batalha ser mal resolvida (por exemplo, após a batalha de Ligny 1815), que permitiu que um contingente derrotado marchasse em apoio a seus companheiros, como ocorrido em 1815.

De acordo com Loraine Petre, Napoleão quase sempre usava, alternadamente, as duas estratégias. Em 1805, por exemplo, ele usou a aproximação (abordagem) indireta para se colocar na posição central entre os exércitos austríacos e russos. Em 1806, fê-lo outra vez. Em 1813, ele se aproveitou de sua posição central na Alemanha para realizar uma série de abordagens indiretas, apesar de suas vitórias em Lutzen e Bautzen não te-rem sido tão decisivas como ele esperava.

Para ser verdadeiramente decisiva, uma vitória teria que resultar não apenas na derrota do inimigo, mas também na sua perseguição, até que se atingisse a destruição total. Este objetivo era o desejável, mas raramente era alcançado, operacionalmente. Na Itália, em março e abril de 1797, ele conseguiu perseguir os austríacos durante quase todo o caminho de volta a Viena e, em 1806, nos 23 dias após sua vitória em Jena, o exército francês destruiu totalmente a resistência da Prússia. Passaram-se mais algumas semanas e os franceses foram bater às portas de Varsóvia!

As oportunidades para uma perseguição tão estupenda ocorrem raramente. Para que o inimigo seja perseguido, com um mínimo de danos para o próprio exército, não se poderia perder nenhum tempo no desembocar da perseguição, sob o risco de o inimigo apresentar um avanço renovado.

A estratégia aliada nas guerras longas empalidecia em face de Napoleão. A maior parte de seus adversários eram capazes, mas não espetaculares. Wellington da Grã-Bre-

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tanha e Charles, Arquiduque da Áustria, foram as exceções. A melhor estratégia que a maioria dos inimigos de Napoleão poderiam empregar seria a de concentrar exércitos em sua direção. Com efeito, em razão da quantidade sem fim de poder de combate (em ho-mens), esta estratégia de avanço concêntrico - avançando exércitos de todas as direções - foi a que, em última análise, levou Napoleão à derrota em 1813 e 1814. Seus inimigos cresceram cautelosos. Quanto mais vezes Napoleão os derrotava, mais eles aprendiam como evitar estas derrotas. Os aliados tinham confiança no avanço concêntrico; Napoleão poderia vencer algumas batalhas, mas ele não poderia ser onipresente e, certamente, eles ganhariam a última batalha.

“Napoleão tinha inventado uma estratégia, chamada da Posição Central. Ela foi idealizada para colocar o exército francês numa posição tal, que ele poderia derrotar os destacamentos do inimigo, um de cada vez. Napoleão poderia usar uma mera parte de sua força para fixar e ocupar a atenção de um inimigo e, em seguida, deslocar, rapidamen-te, as forças restantes, para obter uma superioridade numérica local contra o oponente. Esta brilhante estratégia trouxe fantásticas vitórias contra inimigos mais fortes”. (Chandler - “Waterloo...” p 76).

De acordo com Chandler só uma mente de computador como a de Napoleão aliada a um exército marchando rápido seriam adequados para aceitar o desafio da estratégia convergente oferecida pelo inimgo.

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A campanha de Ulm - Austerlitz 1805

Em 1805, Grã-Bretanha, Áustria, Suécia e Rússia formaram a Terceira Coalizão para derrubar os franceses. Quando a Baviera ficou ao lado da França, os austríacos, for-tes com 80.000 homens sob o comando do General Mack, prematuramente a invadiram, enquanto os russos sob o comando de Kutuzov ainda estavam marchando através da Po-lônia. A força da Baviera, com 21.500 homens, sob o comando do General Deroi, escapou por pouco. A decisão de Napoleão em lançar o seu exército sobre o inimigo, foi tomada de uma só vez. Para tanto, ele executou a manobra com exatidão e com uma rapidez incom-parável e, em pouco tempo, Napoleão tinha 180.000 homens enfrentando os austríacos.

Em 7 de outubro, o comandante austríaco, General Mack, deduziu que Napoleão planejava marchar ao redor do seu flanco direito, com também ameaçar as suas linhas de suprimento interpondo-se, ainda, Às tropas do exército russo sob o comado de Kutuzov.

A cavalaria napoleônica sob o comando de Murat conduziu o reconhecimento, ela-borou pesquisas detalhadas dos caminhos e protegeu o avanço do exército. A “cortina” da cavalaria também fez demonstrações através das montanhas da Floresta Negra. En-tretanto as principais forças francesas invadiram a região alemã e, então, giraram em direção ao sudeste, um movimento que deveria isolar Mack e interromper as linhas de su-

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primentos austríacas. O comandante austríaco, então, mudou sua frente, colocando a sua ala esquerda apoiada na localidade de Ulm e sua direita no rio Reno, mas os franceses prosseguiram e atravessaram o rio Danúbio em Neuburg.

No dia 20 de outubro o infeliz general austríaco Mack , cercado em Ulm pelos fran-ceses, capitulou com 30.000 homens, tudo o que restava dos 80.000 a 90.000 soldados que estiveram sob suas ordens, quando ele tinha invadido a Baviera algumas semanas antes. Alguns dias mais tarde, as tropas austríacas na Itália sob o comando do arquiduque Charles, foram obrigadas a recuar, na esperança de prover cobertura a Viena, agora ame-açada pelo avanço de Napoleão. As negociações para um armistício falharam e Napoleão entrou em Viena e, no aniversário de sua coroação, infligiu uma derrota decisiva aos aus-tríacos e russos, em Austerlitz. A Áustria, então, concordou com os termos do Tratado de Pressburg. Mediante uma marcha fervorosa, Napoleão realizou uma grande manobra de roda que capturou o exército inimigo. A campanha é geralmente considerada como uma obra-prima ao nível estratégico.

A campanha de Jena, 1806

O planejamento de Napoleão para esta campanha foi simples e bonito. Para entender uma campanha perfeita, basta olhar a de Napoleão, em 1806, contra

a Prússia. O exército francês, “afiado como uma fina lâmina”, realizara uma campanha an-terior, brilhantemente conduzida na Baviera e na Áustria, e que garantiu a total aniquilação do exército prussiano, em precisamente um mês - de 6 de outubro a 6 de novembro. Foi uma notável demonstração do que o sistema militar francês poderia realizar sob a orienta-ção de Napoleão. A Prússia ficou quebrada e desmembrada pela guerra; seu exército foi destruído, e ela não tinha mais dinheiro, e perdeu metade das suas possessões.

De particular interesse nesta campanha foi o emprego por Napoleão do “bataillon carré” (batalhão em formação de quadrado), avançando por trás de uma cortina impene-trável da cavalaria, para executar uma manobra quase que perfeita “sur les derriès” (sobre a retaguarda), a fim de trazer o inimigo à batalha sob circunstâncias particularmente favo-ráveis ao comandante francês.

“Bataillon carée”A cavalaria ligeira seguia à frente, buscando e localizando o inimigo para, em segui-

da, relatar a situação do inimigo, quando de volta ao QG (de Napoleão e de seu Chefe-de--Estado-Maior). Assim que o Imperador os plotava em um mapa, ele ordenava a um ou a ambos os seus comandantes de ala para envolver a força inimiga mais próxima. A reserva foi constituída da cavalaria pesada e da Guarda Imperial. Todas as tropas marcharam na

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distância de apoio mútuo. As alas consistiam de um ou dois Corpos de Exército cada. (Embora o exército francês variasse em tamanho, todos compartilhavam uma coisa: cada um deles era uma força equilibrada, contendo infantaria, cavalaria, artilharia, engenharia e Estado-Maior. Eram, na verdade, um exército em miniatura, auto-suficientes e capazes de enfrentar um inimigo muito mais forte, ainda que por um tempo limitado).

O plano de Napoleão desta campanha foi lindo. O apoiar-se no rio Reno e no alto Danúbio e, simplesmente, avançar na direção norte - leste sobre Berlim, talvez, tivesse sido mais fácil para Napoleão, mas não constituiria nenhuma vantagem estratégica; para ele encontrar e derrotar os prussianos em uma linha leste-oeste, ele simplesmente teria que dirigi-los para trás sobre seus apoios e, em seguida, avançar sobre os russos, cuja chegada, vindos da Polônia já era esperada.

Contornar as montanhas da Floresta da Turíngia através de um avanço de sua direi-ta, seria um movimento menos seguro, mas oferecia grandes vantagens.

Em primeiro lugar, com tal manobra, Napoleão ameaçaria as linhas de abasteci-mento prussianas, e cortaria suas linhas de retirada e de comunicações com Berlim.

Em segundo lugar, Napoleão separaria os prussianos do avanço do forte exército russo. O perigo desta manobra era que os prussianos poderiam conseguir, por um rápido avanço através das montanhas de floresta da Turíngia, atacar a sua linha de comunica-ção, cortando suas ligações com a França!

Nos últimos dias de setembro, o exército prussiano foi espalhado ao longo de uma frente de 190 milhas. Os saxões ainda não tinham concluído o seu recompletamento. Dentro de alguns dias os prussianos encurtariam a sua frente para 85 milhas em uma

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linha reta. Ao mesmo tempo, Napoleão já tinha reunido um enorme exército, em uma fren-te de 38 milhas. Guardas avançadas foram enviadas na direção da floresta da Turíngia. Os prussianos também haviam destacado um pequeno Corpo da força do Ruchel contra as linhas de abastecimento de Napoleão e, ao fazer isso, eles enfraqueceram o próprio exército principal.

Intensos combates começaram quando os elementos da força principal de Napoleão encontraram as tropas prussianas perto de Jena. A batalha de Jena custou a Napoleão aproximadamente 5.000 homens, mas os prussianos sofreram cerca de 25.000 baixas.

Em Auerstadt, o Marechal Davout também esmagou o inimigo. Napoleão, inicial-mente, não acreditou que o Corpo único de Davout tivesse derrotado o corpo principal prussiano, sem ajuda, e respondeu ao primeiro relatório dizendo “Diga a seu marechal que ele está vendo cosas dobradas”. Quando o assunto foi esclarecido, no entanto, o impera-dor foi incansável em louvar seu oficial.

Rapidez de movimentos e Concentração de tropas.

Quando em desvantagem , Napoleão conseguia, por meio de manobras rápidas, lançar o grosso de seu exército contra uma parte selecionada da formação inimiga, fican-do mais forte no ponto decisivo da batalha.

“Nos séculos XVII e XVIII os militares tinham evoluído o seu sistema de abaste-cimento, que era baseado no acúmulo de suprimentos em depósitos e fortificações, e que eram aumentados, seguidamente, pelas compras feitas aos contratantes civis que seguíam na esteira de cada exército. Esses sistemas de abastecimento eram rudimen-tares e, mesmo na melhor das hipóteses, não seria exequível que qualquer exército se sustentasse, em quaisquer distâncias, com os meios que carregava. Essa restrição levou a um sistema de operações militares que deviam ser cuidadosamente planejadas, com muito tempo de antecedência e apoiadas no acúmulo de material militar, durante meses, antes do real início da campanha. Uma vez começada a guerra, ela seria fortemente in-fluenciada por considerações relativas ao abastecimento. Não havia nenhuma manobra relâmpago; as tropas marchavam por centenas de milhas, como foi visto na campanha de 1805. As guerras desse período eram como as corridas de tartarugas e, frequentemente, penetravam profundamente no território do país envolvido na ação. Estas guerras eram principalmente “guerras de manobra”, onde um exército tentava se estabelecer no terri-tório do inimigo em uma posição forte. ... Estas guerras, frequentemente, resultavam em uma contínua discussão, por causa das províncias fronteiriças que trocavam de mãos a cada poucos anos.

Quando eclodiu a Revolução Francesa, o estabelecimento militar francês encontra-va-se passando por uma grande revolução em si mesma. A administração logística e seu sistema de abastecimento deteriorava-se rapidamente, provando-se incapazes de prover o apoio logístico exigido pelos exércitos franceses, recentemente organizados. Como re-sultado, as tropas dos exércitos franceses estavam, frequentemente, à beira da inanição. ... Por necessidade, viram-se forçados a cuidar de si mesmas, já que seu governo tinha se mostrado incapaz de prover para eles. O que inicialmente começou com uma simples pilhagem da zona rural por soldados a morrer de fome, rapidamente evoluiu para uma requisição sistemática e ao acúmulo de suprimentos em uma determinada área. Daí, evo-luiu para um sistema relativamente sofisticado, onde cada companhia, individualmente,

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destacava de 8 a 10 homens, sob a direção de um cabo ou um sargento para a obtenção dos suprimentos necessários, em uma base periódica. Estes esquadrões, operados in-dependente do corpo principal por períodos de uma semana ou um dia, seguiam reco-lhendo mantimentos e material necessário para sustentar a sua companhia-mãe. Eles então retornavam e distribuíam este material entre seus companheiros. ... No caso dos franceses, que se deslocavam pelos territórios conquistados, raramente houve qualquer remuneração para tal feito. No entanto, só raramente eram realizadas sob o emprego da força. ... Através dos séculos anteriores, os exércitos tinham dependido dos suprimentos estocados, e obtidos nas províncias, despojando-as e deixando-as nuas, além de que perdiam muito do que obtinham. Em contraste, o sistema francês, altamente organizado, desperdiçava pouco.

Os franceses, rapidamente, tornaram-se peritos em estimar a capacidade de uma área para apoiar um exército, e desenvolveram habilidades na localização de áreas de suprimentos, onde outros exércitos, rapidamente, morreriam de fome se forçados a viver daquela terra. Estas habilidades tinham permitido aos franceses executar as manobras maciças que deram as vitórias esmagadoras de 1800, 1805, 1806 e 1809. Também levou à mística de que o exército francês poderia ultrapassar todos os outros exércitos na Euro-pa. A habilidade para manobrar, estrategicamente, tinha estado seriamente deficiente há anos, em face da necessidade de se prever um grande trem de suprimentos. ... Os fran-ceses, não dependentes deste comboio militar, e tendo a capacidade de viver da terra que eles estavam atravessando, foram capazes de marchar mais rapidamente que as próprias pernas dos seus soldados, ao invés de andar ao ritmo dos bois puxando as carroças de carga” .(Nafziger - “Napoleon’s Invasion of Russia.”

O sistema de vida, mesmo fora da terra natal, funcionava muito bem, mas tinha suas limitações. Só poderia funcionar eficientemente onde os recursos locais eram exten-sos. Em países populosos e prósperos, os grandes exércitos poderiam ser apoiados, mas em regiões pobres da Europa, um grande exército morreria de fome. Para o municiamento de suas tropas, os especialistas de Napoleão usavam técnicas bem organizadas, como por exemplo: um exército de 100.000 homens com 250 armas e 40.000 cavalos poderia ser sustentado em uma área de aproximadamente:

=> 65 milhas através da França, Alemanha, Holanda e norte da Itália;=> 105 milhas através da Espanha e da Polônia. As tropas francesas foram incapazes de viver da terra em 1812, durante a cam-

panha na Rússia. A Rússia foi descrita por muitos ocidentais como um “deserto” com estradas pobres, poucas cidades e longas distâncias. Houve também a tática russa de a retirada de seus exércitos serem seguidas pela estratégia da “terra queimada”. Napoleão foi forçado a reorganizar e expandir o sistema de abastecimento de seu comboio militar. Os suprimentos foram armazenados ao longo dos rios Vístula e Odra. As munições reuni-das por Napoleão, para sua campanha de 1812, foram comparadas, favoravelmente, com os esforços das fortemente industrializadas nações durante a Primeira Guerra Mundial.

Napoleão costumava dizer: “a estratégia é a arte de fazer uso do tempo e do espa-ço. Estou menos preocupado com o futuro, do que com o passado. O espaço, podemos recuperar, o tempo perdido nunca.” Marchar ou morrer era a fórmula napoleônica - e ele não apelava isto aos jovens soldados. Ninguém estava autorizado a ficar para trás e, em 1813, destacamentos especiais de sargentos sabiam o que fazer com os “aleijados”. Mais frequentemente Napoleão pressionavacom o ataque, mantendo um constante elemento

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de surpresa. Ele costumava dizer: “Eu terei destruído o inimigo meramente através de marchas.”

Napoleão nunca acampava ou se entrincheirava; a máxima geral da guerra era - onde está o inimigo? Vamos prosseguir e lutar contra ele! Ele selecionava uma ou outra parte da linha inimiga e forçava o inimigo a consumir seu tempo reagrupando-se, às vezes causando desordem temporária em suas próprias fileiras. Napoleão acreditava sempre no ataque, na velocidade, na manobra e na surpresa. Napoleão dizia: “quando um exército é inferior em número, inferior na cavalaria e na artilharia, é essencial evitar um confron-to geral. A primeira deficiência deve logo ser vencida pela rapidez do movimento...” Em 1813, apesar do fato de os aliados saberem que estavam lutando contra Napoleão, cujos talentos para realizar manobras eles conheciam, eles decidiram voltar-se para um canto, entrincheirar-se e esperar por vários dias, enquanto Napoleão, quase que em seu laser, manobrava contra eles.” (Nafziger - p “Lutzen e Bautzen”)

As tropas de Napoleões viajavam ligeiras, marchando de 15 a 50 km por dia sem qualquer bagagem pesada. Napoleão disse: “a força de um exército, como a energia em mecânica, é estimada multiplicando-se a massa pela rapidez; uma marcha rápida aumen-ta o moral de um exército e aumenta seus meios de vitória; vamos pressioná-los!” Tal via-gem ligeira era possível na rica Europa Ocidental e na Europa Central, mas não na Rússia. As terras vastas e mal habitadas da Europa Oriental forçaram Napoleão a usar os trens de bagagem para alimentar as suas tropas. Napoleão escreveu a Murat “os melhores mar-chadores devem ser capazes de fazer de 25 a 30 milhas por dia.” Em 1812, a Divisão de Roguet tinha coberto 465 milhas com o trem logístico e mais de 700 a pé!”.

Paul Britten Austin assim descreveu como as tropas francesas marcharam durante a invasão da Rússia: “cada Divisão estabelece o necessário para o mais à frente, em intervalos de 2 dias. Com uma distância de cem passos (70 m) entre batalhões, seus regimentos marchavam “em duas colunas, compartilhando as estradas livres. Paravam 5 minutos em cada hora; meia hora, por cada três quartos de marcha; e descansavam um dia a cada cinco. Assim, eles avançaram em direção ao norte, a uma velocidade media de 25 milhas por dia. A cada segundo dia pegavam as rações, fornecidas ao longo da rota pela administração do Conde Daru.” (Austin - “1812: A marcha sobre Moscou”).

Não só a nível estratégico os franceses eram rápidos, mas também nas batalhas. O Csar Alexandre da Rússia fez este comentário em 1805: “... a rapidez das manobras de Napoleão, nunca permitiam tempo para se socorrer qualquer um dos pontos que ele, sucessivamente, atacava: as suas tropas estavam em todos os lugares, e eram, sempre, duas vezes mais numerosos do que nós”. Um dos generais de Napoleão respondeu: “nós manobramos, de fato, e muito: uma mesma divisão lutou sucessivamente em diferentes direções - isto é o que nos multiplicava durante um dia inteiro.” O General austríaco Stut-terheim elogiou os franceses também: “... os generais franceses manobravam suas tropas com essa habilidade que é o resultado do olho militar e da experiência...”

Conta-se que Napoleão teria permitido a um subordinado elaborar um plano para a disposição de suas tropas. Não sabendo o que queria o imperador, o subordinado distri-buiu as forças igualmente em simples pequenos grupos ao longo da fronteira. Ao ver isso Napoleão comentou: “muito bonito, mas o que você espera que eles façam? Recolher direitos aduaneiros? “)

Napoleão, muito habilmente, concentrava as tropas antes da batalha. Ele escreveu: “Gustavo, Adolfo, Turenne e Frederico, bem como Alexandre, Hannibal e César, todos funcionaram sobre o mesmo princípio: manter as suas forças sempre unidas...” Este foi o

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método usado por Napoleão antes que vários Corpos começassem uma ação agressiva; eles deveriam se concentrar em um lugar longe do inimigo, para impedir que o exército adversário destruísse os exércitos quando estivessem se aproximando, gradativamente. A velocidade da manobra e da concentração de forças eram os componentes cruciais da vitória.

Napoleão escreveu: “os fogos devem ser concentrados em um ponto e, tão logo a brecha seja feita, o equilíbrio das forças inimigas estará quebrado; o restante é nada”. Há um mal entendido nessa teoria de Napoleão. Lidell Hart explicou: “a teoria militar subse-quente dá ênfase à primeira cláusula, ao invés de à última: a palavra “ponto” usada por Napoleão, ao invés de “equilíbrio” foi mera metáfora física, em relação à última expressão “o restante é nada”, que enfoca o resultado psicológico. Esta sua própria ênfase pode ser identificada nas opções estratégicas de suas campanhas. A palavra “ponto”, quase sempre, tem sido a fonte de muita confusão e controvérsia. Uma escola argumenta que Napoleão quis dizer que os arrebentamentos concentrados deveriam ser apontados con-tra o ponto mais forte do inimgo, para poder contribuir para um resultado decisivo. Se a principal resistência inimiga fosse quebrada, esta ruptura conduziria a uma menor oposi-ção, no todo. Esse argumento ignora o fator custo e o fato de que o vitorioso pode estar demasiado exausto para explorar o seu sucesso, uma vez que mesmo um adversário mais fraco pode adquirir o poder de resistir a um outro, relativamente maior do que o original.

A outra escola - melhor imbuída da idéia de economia de força, mas apenas no sen-tido limitado dos primeiros custos - tem sustentado que deveria destinar-se a ofensiva no ponto mais fraco do inimigo. Mas onde um ponto é obviamente fraco, geralmente é porque há uma possibilidade remota de existência de qualquer artéria vital ou centro nervoso ini-migo, ou porque é deliberadamente deixado fraco para atrair o atacante para uma armadi-lha. Aqui, novamente, a iluminação vem da campanha real em que Bonaparte colocou sua máxima em execução. Claramente, surge a ideia de que o que ele realmente queria dizer não era “ponto”, mas sim “junção de forças” - pois que nesta fase de sua carreira, Napo-leão também valorizava, e firmemente, o princípio da economia de forças, o que invalida a ideia de que ele fosse capaz de empenhar sua força sobre um ponto forte do inimigo. Uma articulação, no entanto, é vital e vulnerável.” (Hart - “Estratégia” 1991 pp 98-99)

Napoleão empregava uma pouca força, mas adequada, contra os objetivos não-crí-ticos.

“Existem, na Europa, muitos bons generais,” declarou em 1797, “mas eles vêem muitas coisas ao mesmo tempo. Vejo apenas uma coisa, ou seja, o corpo principal do inimigo. Eu tento esmagá-lo, confiante de que os demais assuntos são secundários e irão ser resolvidos, cada um a seu tempo”. De acordo com David Chandler encontra-se aqui o tema central do conceito de Napoleão da guerra.

A fim de se concentrar uma força de combate superior em um só lugar, a economia de força deve ser exercida em outros lugares. A economia de força requer a aceitação de riscos prudentes em áreas selecionadas para se atingir a superioridade no ponto decisivo

3. AS TÁTICAS DE NAPOLEÃO

Wellington encontrava-se extremamente desejoso de ficar contra Napoleão. Poder--se-ia, no entanto, arriscar a dizer que ele respeitava muito seu oponente e teria sido por isso, que ele não se arriscou a, sozinho, enfrentar Napoleão em Waterloo.

O brilho de Napoleão como estrategista levou os seus inimigos para o campo de

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batalha. “a batalha sempre foi o objetivo final de todo o planejamento estratégico de Napo-leão. Sem dúvida, ele conduziu mais batalhas que a maioria dos generais anteriores à sua existência, ou a partir dela; e venceu a maioria delas”(Petre - “Napoleon at War”)

Uma vez estabelecido o contato com o inimigo, a vanguarda conquistava a mais fa-corável posição disponível, de onde buscava fixar o inimigo e formar um pivô de manobra para o exército à sua retaguarda. Enquanto a vanguarda se desgastava, aquelas unidades frescas entravam em ação por seus flancos. A infantaria ligeira, por sua vez, dava início à sua participação atacando os pontos fracos e fixando o inimigo. Atrás da infantaria ligeira vinha a artilharia ligeira que avançava agressivamente e, então, o verdadeiro combate começava. Uma vez engajado com o exército inimigo, Napoleão só tinha propósito: a destruição do oponente. O Imperador sempre preferia lutar ofensivamente, e em todas as circunstâncias, mesmo quando estava na defensiva. Em Austerlitz, ele, na verdade, ficara na defensiva, atraiu seus inimigos para uma armadilha e, então, atacou.

Os instrumentos das táticas de batalha de Napoleão advieram de um casamento da espingarda do Exército real com as improvisações revolucionárias. Em suas batalhas, Napoleão dependia da velocidade, da massa e da manobra agressiva. Normalmente, ele atacava uma das alas do exército hostil, de preferência uma da mais perto de seus meios de comunicações (tambores, clarins, bandeiras etc). O movimento de flanqueamento for-çava o inimigo a se virar, e a fazer ajustes rápidos no meio do combate, através de um retraimento, ou reforçando o flanco ameaçado e, consequentemente, enfraquecendo o outro flanco, o centro ou as reservas. Napoleão sempre recomendava o emprego de uma manobra sobre o flanco do inimigo e assegurava que em tal situação, “a vitória estará em suas mãos”. Quando o flanco de Napoleão foi atacado em Leipzig, La Rothiere e em Wa-terloo, nestas três batalhas, ele foi derrotado.

O Imperador tinha dois planos de batalha básicos: => A Batalha de Manobra (66 % de suas batalhas); e=> A Batalha de Atrição (33 %). A Batalha de Manobra requeria alguma superioridade numérica. A força principal

de Napoleão mantinha a atenção do inimigo à sua frente, enquanto outra força caía em cima de um de flancos do oponente para, em seguida, atacar todo o restante da linha. A cavalaria, então, era enviada em perseguição. A vantagem desta tática era que infligia uma grande derrota ao inimigo a um custo mínimo. Mas as coisas poderiam dar erradas. Um movimento rápido das reservas, na retaguarda do inimigo, poderia engrossar o flanco ameaçado. E um inimigo desdobrado em um terreno com forte apoio natural (pontes, área arborizada, etc.) em seu flanco, praticamente ficaria imune a este método. Austerlitz, Jena e Eylau, três de suas vitórias, foram todas, essencialmente, batalhas de manobra.

A Batalha de Atrição resumia-se a um ataque frontal, em que um poder de fogo era derramado sobre o inimigo em enormes quantidades, até que ele parecesse estar enfraquecendo, quando, então, grandes massas de homens eram lançadas para esma-gar tudo o que estivesse em seu caminho através de suas linhas, fileiras e colunas. Este tipo de batalha era caro, mas houve épocas em que nenhuma outra linha de ação seria possível. Destas destaca-se a vitória obtida em Wagram, em 1809, e outras vitórias caras mas marginais e incríveis, como Borodino em 1812. Quanto às derrotas, houve algumas, destacando-se a de La Rothiere, em 1814 e Waterloo. Havia muitas cosias que poderiam dar errado em tais batalhas. O inimigo poderia revelar-se mais forte, mais numeroso, ou receber o apoio de outro exército; ele, ainda, poderia ter uma carta ou até duas na manga, como as reservas defensivas em encostas de Wellington, ouos cossacos de Kutuzov, em

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Borodino.

“Se Jomini procurou um elemento comum entre Napoleão e seus gene-rais antecessores, Clausewitz encontrou uma diferença entre eles. Jo-mini buscou os princípios orientadores de uma ação militar; Clausewitz, os princípios gerais em forma de preceitos ou regras, mas de pouco proveito em face da infinita variedade das situações de guerra”.

4. DE JOMINI E CLAUSEWITZ SOBRE NAPOLEÃO.

“Para Jomini, Napoleão era parceiro de Cesar, Hanibal e Alexandre. Para Clausewitz, ele era o “Deus da guerra”Wilkinson and Spenser ”.

Embora os mais sérios pensadores militares de hoje estejam mais propensos a se referir a Clausewitz na era napoleônica, Antoine de Jomini era quem, possivelmente, se destacava entre eles: “É provavelmente justo dizer que, em geral, Clausewitz abordava os níveis estratégicos e políticos da guerra, mas Jomini a dirigia a nível operacional. Os dois nasceram com apenas um ano de diferença, e tiveram cargos semelhantes nas guerras napoleônicas, ainda que em exércitos diferentes. Jomini era, de longe, o mais célebre

Antoine-Henri, Barão Jomini (1779-1869) nascido na Suíça. Ele tornou-se general em francês e, posteriormente general a serviço da Rússia. Foi um dos mais célebres escritores militares.

Carl Philipp Gottfried von Clausewitz (1780-1831), oficial prussiano, historiador militar e influente teórico .Notabilizou-se por seu tratado militar “Vom Kriege” (da guerra).

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pensador em sua vida. ... É importante lembrar o que Jomini é e o que ele não é! Quase todo o seu trabalho

responde a uma pergunta: como é que se deve desdobrar as unidades, com êxito, na batalha principal? Para os oficiais que fazem esta pergunta, as ideias de Jomini, e os Princípios da Guerra, são extremamente úteis e importantes. Para tentar responder a outras perguntas que não de oficiais, Jomini já não é tão útil. Um livro de receitas é muito importante para os cozinheiros, mas não são muito úteis para mais alguém. No trabalho de Jomini não há quase nenhum tratamento de política, nem de estratégia e nenhuma mu-dança tecnológica, nem base em recursos estratégicos, nem psicologia, nenhuma guerra popular, nenhum adversário e certamente nenhuma adversidade inesperada. O oficial de operações deve se lembrar que enquanto os princípios de guerra são uma ferramenta essencial, são suscetíveis de serem, apenas, uma das muitas ferramentas que ele precisa para vitória.”

“Para Jomini, Napoleão foi o parceiro de César, Aníbal e Alexandre. Para Clausewitz ele era ‘o próprio Deus da guerra”. Cada um preparou-se para escrever a história das cam-panhas de Napoleão Bonaparte e de seus antecessores. Mas suas abordagens relativas ao assunto foram diferentes.

O objetivo de Jomini era descobrir - por comparação entre as campanhas de Na-poleão e as de Frederico - os princípios de ação que eram comuns a ambos e, portanto, poderiam ser de validade universal. Ele analisou as suas operações e as classificou de acordo com sua forma geométrica. A base de operações, a direção de avanço de um exér-cito e aquilo que a parcela avançada do exército poderia se entendida como uma linha. Jomini, por outro lado, examinou a relação entre estes três tipos de linhas. ... A análise de Jomini, e a sua classificação das operações, apesar da sua terminologia artificial, foi correta e útil. Foi a primeira exposição científica da estratégia como um sistema de princí-pios, e tem sido utilizado por todos os pensadores estratégicos subsequentes. Willisen na Alemanha e Hamley na Inglaterra são discípulos de Jomini...

Se Jomini procurou pelo elemento comum entre Napoleão e seus antecessores, Clausewitz discutiu sobre a diferença entre eles. Jomini havia procurado a existência de princípios como preceitos para orientação da ação. Clausewitz pensava a respeito dos princípios gerais em forma de preceitos ou de regras, mas que seriam de pouco proveito na presença de uma infinita variedade de situações de guerra. A pergunta que Clausewitz fez a si mesmo dizia respeito ao como que as guerras de Napoleão poderiam ser tão fun-damentalmente diferentes da maioria daqueles que o tinham antecedido. A resposta dele dizia que a energia com que uma guerra é realizada é um produto de dois fatores, a força do motivo que aciona os beligerantes e o grau com que tais motivos são apelados pela população dos Estados em causa. A revolução francesa tinha chamado uma nação às armas. A França, portanto, agiu com a máxima energia. Por outro lado, a causa pela qual os governos da coalizão estavam lutando não era vital para eles e não lhes interessava.

O sucesso da França, portanto, foi predeterminado. Quando as forças francesas vieram ficar sob o controle de Napoleão, a derrubada das monarquias antigas era inevitá-vel. Mas a pressão do Império francês sobre as populações então despertou um ressen-timento amargo, que as Nações uma após o outra correram para as armas, e, assim, a derrubada de Napoleão foi tão predeterminada quanto tinham sido suas conquistas sem precedentes. Esta parte da teoria de Clausewitz, no entanto, não é derivada do generalato de Napoleão. A raiz de sua ideia vem de um ensaio em que Scharnhorst, em 1797, revisou a guerra revolucionária de 1792/1795, quando Napoleão ainda não tinha tido um comando

As guerras napoleônicas

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de tropa. Scharnhorst atribuiu o sucesso dos franceses à energia da unidade da nação francesa; e o fracasso dos aliados à sua discórdia e seus esforços inadequados.

“Os esforços subsequentes da Prússia em e após 1813 confirmaram Clausewitz em sua visão da importância da distinção entre a guerra nacional e a dinástica”. (Wilkinson, Spenser - “o exército francês antes de Napoleão; palestras entregues antes da Universi-dade de Oxford...”)

“Foi o francês e, mais provavelmente, o próprio Napoleão quem trouxe à tona o primeiro e verdadeiramente moderno “staff” militar.”

George Nafziger, USA

5. O ESTADO-MAIOR DE NAPOLEÃO

“O profissionalismo do pessoal de Napoleão, pouco antes de Austerlitz, contrastava, fortemente, com a confusão que prevalecia entre os “staf-fs” russo e austríaco.” Robert Goetz

Em 1780, Bertheir foi para a América, e em seu retorno, tendo alcançado o posto de Coronel, ocupou várias funções de Estado-Maior. Berthier era dotado de uma apreensão incrível e uma rápi-da compreensão, que combinadas com seu com-pleto domínio do detalhamento das coisas, o trans-formaram em um Chefe-de Estado-Maior perfeito para um comandante como Napoleão. Berthier participou em várias campanhas. A maneira de sua morte é incerta; segundo alguns relatos, ele foi assassinado, outros dizem que, enlouquecido pela visão das tropas russas marchando para invadir a França, ele atirou-se da sua janela e morreu. Ber-thier é um dos mais conhecidos oficiais de “staff” da história miitar.

Napoleão introduziu signficativas mudanças no antigo sistema de Carnot, parcialmente porque aquele dava preferência a dedicar-se mais às ati-vidades administrativas em Paris. A nova máquina implantada por Napoleão tendia a ser maior e mais

desajeitada que a de Carnot. Napoleão entendia que um Ministro da Guerra deveria ater--se, apenas, às funções “civis” da guerra, tais como conscição, pagamento e relatórios e, por isso, ele próprio liderava seu “Grand-Quartier-General” que supervisionava, direta-mente, o seu Exército.

Abaixo dele estava seu Estado-Maior pessoal, ou “La Maison”, que incluía um QG operacional, um gabinete de viagens e um gabinete de topografia, além de seu “staff” de Inteligência e de planejamento. As duas principais agências subordinadas do Grand-Quar-tier-General eram o “General Commissariat” de compras do Exército, que supervisionava todos os tipos de suprimentos, e o “Quartier-General Geral” sob a chefia do Marechal

Louis Alexandre Berthier, Chefe-do--Estado-Maior de Napoleão

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Bertier;Berthier dirigia o “QG Geral”, que tinha vários departamentos e seções, cada uma

dedicada a lidar com uma área bem definida de responsabilidade, tal como os movimentos de tropas, Inteligência, pessoal, registros e assuntos jurídicos, além de equipes especiais para cada arma ou serviço.

Os oficiais subordinados a Bertheir, tinham que saber quais eram suas tarefas e deviam realizá-las bem. O Estado-Maior do Exército de Napoleão deveria prover todo o apoio administrativo, logístico e de comunicações que Napoleão achasse necessário para que seu Exército pudesse operar em longas distâncias e em territórios pouco conhecidos. O Exército de Napoleão foi capaz de operar em toda a Europa com grande facilidade e velocidade. Por exemplo, em 1796, o Exército de Napoleão passou por entre as “nuvens” da Suíça, através de um terreno julgado intransponível para um Exército, para atacar e destruir o inimigo na Itália. Em 1805, o Exército de Napoleão atravessou o norte da França em velocidades inimagináveis para o resto dos comandantes dos exércitos da Europa. Em 1814, Napoleão encontrou os exércitos inimigo ao longo da estrada para Paris, com nenhum deles estando dentro da distância de qualquer outro de apoio. Isto levou Napo-leão às quatro vitórias impressionantes em Champaubert, Montmirail, Chatteu Thierry e Vauchamps.

Porém, o Estado-Maior de um exército já existia antes das guerras napoleônicas. Oliver Cromwell, Rei Jan Sobieski, marechais do rei Louis XIV e alguns outros comandan-tes tinham seus próprios “staffs”que tinham sido bastante eficientes em suas épocas, mas eram organizações temporárias. Pierre-Joseph Bourcet queria, especificamente, oficiais treinados e um corpo de oficiais permanentes. Os oficiais deveriam ser treinados em topo-grafia, geografia, ciência da arte da guerra, história, etc. Em suma, deveriam ser capazes de lidar com os registros e relatórios. Em 1783, o Exército francês foi o primeiro a formar um corpo de Estado Maior, embora ele logo tivesse sido abolido pela revolução.

Em 1805, Mathieu Dumas propôs restabelecer um corpo de “staff” permanente. Na-poleão rapidamente aceitou essa idéia. De acordo com o escritor George Nafziger (EUA), foi o Exército francês, e mais provavelmente o próprio Napoleão, quem trouxe à tona o primeiro Estado-Maior verdadeiramente moderno.

O Estado-Maior compreendia cinco “divisões”:=> 1ª – Controlava os deslocamentos de tropas, as ordens do dia, a designação de

oficiais e a correspondência em geral; => 2ª – Tratava do abastecimento, do policiamento, e da administração do QG;=> 3ª – Cuidava do recrutamento, dos prisioneiros de guerra, desertores e da justiça

militar;=> 4ª – Supervisionava a extensão da linha de comunicações; e=> 5ª – Tomava conta dos reconhecimentos, correspondência entre comandnates,

etc.. Em 1812, o Chefe-de-Estado-Maior tinha 9 assessores, uma equipe de oficiais com-

posta por 5 generais, 11 assistentes e 50 oficiais de apoio. Havia também geógrafos, engenheiros e cartógrafos, 19 oficiais da administração militar, comissários de guerra, inspetores e oficiais de artilharia.

O profissionalismo do “staff” de Napoleão, pouco antes da batalha de Austerlitz con-trastou agudamente com a confusão que prevalecia entre as equipes russas e austríacas. Napoleão tinha produzido um plano de batalha com antecedência, e sua equipe tinha emi-tido as ordens escritas uma noite antes; nos QGs russo e austríaco, o planejamento não

As guerras napoleônicas

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tinha sido concluído até a noite do dia 1º de dezembro, e “os comandantes das colunas apenas tomaram conhecimento dos detalhes depois da meia-noite.”Sob tais circunstân-cias, a confusão era inevitável.” (Goetz - “1805: Austerlitz”)

A organização do Estado-Maior de Napoleão era bastante eficiente, mas também tinha certas limitações. O Estado-Maior tinha Napoleão e Berthier como as principais ca-beças. Estes, tendo trabalhado muito tempo juntos, tornaram-se incapazes de trabalhar eficientemente com mais ninguém. Bastava Napoleão proferir algumas poucas palavras para Berthier, que este compreendia os seus significados e os transformava em ordens claras e precisas. Ninguém mais conseguia fazer isso.

Com efeito, a organização do Estado-Maior de Napoleão foi um genuíno Estado--Maior.

Um outro problema foi que aquele “staff” tendeu a crescer, pois ele não atendia exclusivamente o seu exército, mas todos os outros exércitos da França, e o governo também. No entanto, o exemplo francês era muito superior a qualquer outro na Europa e começou a ser adotado, muito extensamente, por muitos outros países. Na Prússia de-terminados refinamentos foram introduzidos, no tocante às especializações, o que veio a gerar a evolução do moderno “staff” militar.

Napoleão e seu Estado-Maior em Borodino

6. ERROS, FALHAS E DERROTAS DE NAPOLEÃO“

Napoleão possuía o hábito humano comum de “dourar” suas melhores façanhas e culpar os outros por seus reveses. Por exemplo, ele desenvolveu o relato da sua medíocre Campanha de Marengo como um romance épico de primeira classe. De acordo com o Coronel (EUA) John Elting, “os seguidores próximos de Napoleão, por causa do culto ao

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herói ou por considerações pessoais, também suprimiram e inventaram. Por outro lado, seus inimigos se esforçaram em retratá-lo como um monstro e a apresentar suas melhores vitórias como resultados de sortes acidentais.”

Napoleão cometeu erros estratégicos, táticos e políticos. Por exemplo, o erro mais grave foi de aceitar ficar lutando em várias frentes ao mesmo tempo. Os franceses lutaram contra os espanhóis e os britânicos no Ocidente e contra os russos, prussianos e austría-cos no Oriente. Abaixo são mostrados outros erros de Napoleão:

=> A severidade dos termos usados por Napoleão com a Prússia prejudicou a se-gurança da paz;

=> Sua política para com a Inglaterra contemplava nada menos do que sua ruína total;

=> Sua agressividade para com o Tirol, Portugal e Espanha, seus inimigos frescos. e

=> Sua invasão à Rússia, que resultou na perda de meio milhão de seus melhores soldados e mihares de canhões.

Após o desastre da Campanha da Rússia, Napoleão nunca recuperou a sua gran-deza. (Napoleão acreditava que, após algumas batalhas rápidas, ele poderia convencer o czar Alexandre a retornar ao Sistema Continental. Então ele também decidiu que se ocupasse Moscou, os russos iriam pedir a paz. No entanto, quando Napoleão invadiu Moscou, o czar não se rendeu. Mas ele não poderia se render, porque se o fizesse, ele seria assassinado pelos nobres. Karl von Clausewitz explicou que: “Napoleão foi incapaz de compreender o fato de que Alexandre não poderia negociar. O czar sabia muito bem que seria descartado e assassinado se ele assimo tentasse.” (Clausewitz - “A campanha de 1812 na Rússia.”)

Algumas das derrotas de Napoleão:=> 1809, Aspern e Essling - embora ele mais tarde fosse reclamar uma vitória, Na-

poleão tinha sofridosua primeira grande derrota. Ele perdeu para os austríacos determina-dos sob o comando do Arquiduque Charles.

=> 1812, Beresina - O Exército de Napoleão teve 25.000 mortos e feridos, enquanto os russos perderam 20.000. Além disso, pelo menos 10.000 franceses foram massacra-dos pelos cossacos, enquanto outros 20.000 morreram no rio congelante ou foram es-magadas até à morte em pânico para tenar atravessar as pontes. Os remanescentes do Exército de Napoleão conseguiram fugir. (Alguns autores consideram Beresina como uma vitória tática e estratégica francesa ).

=> 1813, Leipzig - Napoleão resistiu a todos os assaltos aliados e então contra-ata-cou. Entretanto, outro exército (sob o comando de Bennigsen) atacou seu flanco. Isso o forçou a abandonar suas posições e retirar seu exército para mais perto de Leipzig. Então ele foi cercado e derrotado. Em termos de baixas e de resultados políticos e estratégicos, foi, provavelmente, a maior derrota de Napoleão.

=> 1814, La Rothiere - enquanto Napoleão trocava golpes com os exércitos de Blucher e Sacken exército no “front”, outro exército (sob o comando de Wrede) atacou seu flanco. Napoleão se retirou, esta foi sua primeira derrota em solo francês.

=> 1815, Waterloo - enquanto Napoleão atacava o exército alemão-britânico-holan-dês de Wellington, outro exército (sob o comando de Blucher) atacou seu flanco. Napoleão foi derrotado.

Como comandante, Napoleão estava se tornando previsível, e seus inimigos esta-vam começando a avaliar as contramedidas e a usá-las contra ele. Cada vez mais, ele se

As guerras napoleônicas

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recusava a encarar a realidade e a suprimir todos os topos de críticas. “No entanto, depois que tinha dito e feito tudo, ele permanecia como um gigante cercado por pigmeus; sua reputação sobreviveu à sua queda pois, sua grandeza básica era inviolável.” (Chandler - p “Waterloo - os cem dias)

A derrota em Aspern-Essling é assim explicada por Loraine Petre. “Na derrota de Essling o Imperador teve toda a culpa. Ele, certamente, tinha sido negligente em seus preparativos para a travessia (do rio Danúbio), uma vez mais o resultado de seu orgulho ilimitado e de seu desprezo pelo seu inimigo. Ele foi amplamente avisado dos perigos de um aumento súbito do nível das águas do Danúbio, do destino da ponte austríaca em Mauthausen e dos perigos do emprego de uma ponte feita de barcos e barcaças, em face do rápido fluxo do rio. Ele ainda enfiou todo o seu exército sobre uma única ponte feita de barcos, sem nenhuma proteção, e sem cercas, ou protegida por barcos de cru-zeiro que prendessem aquela massa flutuante acima da ponte. Sua informação sobre a posição de Charles parece ter sido má e o fez deduzir que não sofreria resistência séria, imediatamente após a transposição do rio. Assim, no amanhecer de Essling, sua cavalaria não conseguiudetectar o avanço do exército austríaco todo. Essling foi o primeiro grande sucesso de um exército austríaco contra Napoleão em pessoa. ... Não há provas claras

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de que Napoleão tivesse percebido sua própria imprudência na primeira travessia, mas há sobre o infinito cuidado com que ele realizou os preparativos para a segunda, assim como a perfeição com que foram executados”. (Petre - “Napoleão em guerra”)

Depois de Essling, a posição de Napoleão era de uma extrema ansiedade. As no-tícias do revés ocorrido propagaram como fogo em toda a Europa, oferecendo todo o estímulo para seus inimigos.

OBS: “no outono de 1813, os aliados adotaram uma estratégia de não deixar qual-quer um de seus três exércitos sozinhos contra Napoleão. O exército aliado mestre deveria se colocar à frente para, em seguida, retirar-se, enquanto o seguinte avançava. Enquanto Napoleão estava “perseguindo o ar” (o exército da vanguarda que tinha se evadido), sur-gia a oportunidade de levar alguns dos marechais aliados para a batalha e derrotar um a um os exércitos de Napleão”. (-Peter Hofschroer)

Tal estratégia funcionou às mil maravilhas. Em agosto, o Corpo do Marechal Oudi-not foi destruído em Gross Beeren, o Marechal MacDonald foi derrotado em Katzbach e o General Vandamme em Kulm. Em setembro, o Marechal Ney foi vencido em Dennewitz.

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CAPÍTULO IVO EXÉRCITO DE NAPOLEÃO BONAPARTE

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As guerras napoleônicas

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O EXÉRCITO DE NAPOLEÃO BONAPARTE

O exercício do comando e do controle dos exércitos europeus nos Secs XVIII e XIX

Um dos mais significativos desenvolvimentos no comando e controle durante a Re-volução Francesa e as guerras napoleônicas foi a introdução da Divisão de Combate e dos Corpos de Exército. O tamanho crescente dos exércitos durante o século XVIII, bem como o emprego simultâneo de tropas em diversos teatros de guerra impuseram uma necessá-ria reorganização administrativa dos exércitos europeus. Geralmente, a unidade padrão militar era Regimento de Infantaria, composto por um ou dois Batalhões de Combate e um Batalhão de Depósito (apoio logístico). Os Regimentos de Cavalaria também seguiam este padrão, embora os seus Esquadrões pudessem ser divididos entre os exércitos em teatros diferentes.

O comandante do Exército, portanto, precisava controlar vários batalhões e esqua-drões nos níveis estratégico, operacional e tático. Isso criou uma enorme sobrecarga para o pessoal do Exército, que tinha a responsabilidade de manter o controle das unidades, mantendo-as devidamente supridas e garantindo que as ordens fossem divulgadas em tempo hábil. Esta não era uma tarefa fácil. A coordenação de dezenas de milhares de homens em campanha muitas vezes levou à confusão e à ineficiência. Para reduzir a dificuldade, os exércitos europeus eram frequentemente organizados em alas ad hoc, colunas (Abteilungen), divisões e brigadas, de cuja composição dependia inteiramente a natureza da missão em questão. Acima do escalão regimento não havia padronização na organização do Exército.

Em 1759, durante a Guerra dos Sete Anos, o Duque de Broglie (1718-1804) esta-beleceu as Divisões de Combate no Exército francês, mas essas formações, na época, eram temporárias. Também durante o século XVIII, o exército francês introduziu a Divisão Militar Administrativa. A França foi dividida em regiões e cada general de divisão era res-ponsável pelos regimentos aquartelados nas guarnições dentro de sua jurisdição. Esta organização, no entanto, não traduzia a Divisão de Combate de caráter permanente que surgiria somente durante as Guerras Revolucionárias Francesas (1792-1802), embora Pierre de Bourcet (1700-80), um oficial de Estado-Maior, defendeu a introdução da divisão como uma formação padrão em seu “Principes de la Guerre des Montagnes”, escrito na década de 1760-1770. A organização em Divisões permitiria ao exército avançar ao longo de rotas paralelas e concentrar-se rapidamente para a batalha. A formação facilitaria uma maior eficiência na realização da campanha e proporcionaria uma circulação mais rápida de um maior número de tropas a grandes distâncias, ao contrário de um exército eixado em uma única estrada, deslocando-se lentamente e sobrecarregados com os comboios de abastecimento. Para esse fim, outro teórico militar francês, o Conde de Guibert (1743-90), argumentou em seu “Essai de tactique geral”, do início de 1770, que os exércitos deviam dispensar seus comboios de abastecimento a fim de aumentar a sua flexibilidade e mobilidade.

A Divisão, portanto, começou a se desenvolver em meados do século XVIII, como um meio de “melhorar a mobilidade estratégica” de um exército e “facilitar seu comando e controle”. Um general comandando um exército não precisava mais manter o controle de cada batalhão e esquadrão, mas apenas o de suas divisões. Enquanto isso, os gene-rais de divisão ficavam responsáveis por controlar os seus respectivos regimentos. De fato, enquanto a organização divisionária francesa era testada, foi introduzida também a

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brigada de infantaria - uma unidade formada por dois regimentos de infantaria. A Prússia também organizou o seu exército em brigadas, mas não adotou a divisão de combate. O que a Divisão francesa ofereceu de original foi a integração da artilharia e da cavalaria na sua ordem de batalha. Antes, normalmente a artilharia e a cavalaria ficavam sob o con-trole direto do comandante do exército, que as distribuía a seus subordinados, conforme julgasse necessário. Ao integrar a artilharia e a cavalaria na estrutura de divisão, o exército francês passou a possuir um maior poder de fogo, embora a capacidade de reconheci-mento tivesse sido diminuída.

As Divisões poderiam marchar divididas, enfrentar o inimigo com autonomia ade-quada para um curto período, ou serem reforçadas por outras divisões. O princípio era frequentemente citado como “marchar divididos, lutar unidos”.

Durante as guerras revolucionárias francesas, o aumento do tamanho dos Exércitos de Campanha obrigou os revolucionários a introduzirem a Divisão de Combate como uma entidade permanente dentro da organização do exército. Cada divisão era composta por duas brigadas de infantaria, um destacamento de cavalaria - esquadrão ou regimento - e uma bateria de artilharia. Às vezes, os generais atribuíam o comando de várias divisões a um único comandante subordinado, dependendo do plano de operações. O General Andre Massena (1758-1817), por exemplo, comandou duas divisões do exército de Napoleão na Itália, em 1796; o mesmo ocorreu com o General Kleber na Bélgica, em 1794.

As inovações surgidas no exército napoleônicoNapoleão expandiu o conceito de Divisão e introduziu o Corpo-de-Exército. Tal or-

ganização havia existido durante a revolução, mas em caráter temporário. Cada Corpo era, organicamente, constituído de duas ou três Divisões de Infantaria, uma Brigada de Cavalaria (mais tarde uma divisão), uma Divisão de Artilharia e uma reserva de artilharia do Corpo. Companhias de Engenharia e turmas de Estado-Maior complementavam o Cor-po-de-Exército, que atingia efetivos de 20.000 a 30.000 homens.

O Corpo-de-Exército era comandado por um marechal ou, ocasionalmente, por um general de divisão. Um corpo francês, tal qual uma legião romana, em geral permanecia em um determinado teatro europeu. Assim, o alardeado III Corpo do Grande Armée, co-mandado pelo Marechal Louis Davout, manteve sua composição desde sua criação em 1803 até 1812 e esteve sempre baseado na Alemanha.

Doutrinariamente, o corpo francês operava em eixos independentes e pré-determi-nados, mas com capacidade de apoio mútuo. Isto permitiu que Napoleão coordenasse seu Grande Armée, em campanha, com maior flexibilidade do que seus adversários podiam controlar seus exércitos. Durante a campanha de 1806 contra a Prússia, Napoleão articu-lou o seu exército, essencialmente, em três colunas de três corpos. Cada corpo desloca-va-se a meio dia de marcha do que o sucedia, de modo que, em qualquer direção, todos os três corpos podiam ser reunidos no prazo de um dia.

A Prússia e a Áustria adotaram o sistema de divisões no início do século XIX, mas mantiveram-se, em grande parte, com divisões administrativas. As divisões combatentes somente seriam implantadas nestes exércitos a partir de 1809. Os russos não desenvol-veram divisões militares e divisões de combate até 1805, mas, quando o fizeram, estas se apresentavam extremamente complicadas e faltava o pessoal adequado para liderar as brigadas e regimentos de forma eficiente.

Na Grã-Bretanha, as brigadas e divisões eram organizadas de maneira ad hoc, cujas formações eram estabelecidas para cumprir missões específicas.

As guerras napoleônicas

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O EXÉRCITO FRANCÊS

“A França revolucionária foi a primeira a adotar o princípio da coscrição universal, segundo o qual todos os jovens estariam sujeitos a ser cha-mado para servir a pátria”

As concepções sobre o poderio militar francês remontam a séculos, mas as primei-ras a se tornarem prevalentes ocorreram durante o reinado de Louis XIV, quando a hege-monia militar francesa tanto inspirou como irritou muitos europeus. Uma série de coalizões foram formadas contra a França no final do século XVII e início do século XVIII, mas todas falharam no seu objetivo de fazer reverter às origens as extensas conquistas territoriais francesas. O sucesso militar francês forneceu um modelo de padronização e de profis-sionalismo que foi seguido por muitos líderes e exércitos europeus, que consideravam os gostos de Turenne e Vauban como os maiores militares da época.

Durante o reinado de Napoleão, no início do século XIX, a França alcançou o auge de seu poder. Em 1807, após os seus triunfos espetaculares em Austerlitz, Jena e Frie-dland, muitos europeus passaram a acreditar que os franceses eram invencíveis. Quando o império francês foi finalmente derrotado, mantiveram-se vivas as memórias sobre as guerras napoleônicas.

Até a Primeira Guerra Mundial, os comandantes e nações de todo o mundo espe-ravam poder reproduzir as campanhas relâmpagos de Napoleão. Vários líderes militares na Guerra Civil norte-americana, como George McClellan, muitas vezes se intitulavam dotados do estilo do imperador francês, e esperavam emular os seus mesmos triunfos.

A competência militar francesa foi muitas vezes procurada por outras nações. Na década de 1730, os delegados franceses tentaram modernizar e melhorar a artilharia oto-mana. No século XIX, enquanto atravessava a fase da modernização, o Japão solicitou orientação de oficiais militares franceses sobre como melhor reestruturar as suas forças armadas. Na guerra da Polônia soviética, os franceses fizeram parte de uma missão inte-raliada com a Polônia, mas nem começaram uma missão militar naquele país, que tentava melhorar a sua organização militar, em logística e planejamento.

O EXÉRCITO IMPERIAL (1804 - 1815)

A conscrição, chamada por napoleão de “a nação em armas” permitiu à França formar a “Grande Armée”, que lutou com sucesso contra os exércitos profissionais euro-peus. Sob a égide de Napoleão, formaram-se muitos novos regimentos, adotou-se uma séria disciplina e a moral das tropas melhoraram muito. Os soldados estavam, agora, bem vestidos, bem alimentados, “armados até os dentes” e muito ansiosos para lutar. Em 1805, o Exército francês era o maior e o mais poderoso na Europa e no mundo. O período napoleônico de (1805-1813) viu a influência e o poder da França atingir alturas imensas.

Os anos de glória – 1803/1807Durante o início do período do Império (1803/1807), o exército de Napoleão alcan-

çou o seu pico. Após o colapso da paz de Amiens, Napoleão aproveitou a oportunidade para montar

um exército na costa oceânica ao longo do Canal da Mancha, preparando-se para invadir a Grã-Bretanha. Aproximadamente 100.000 a 150.000 homens (de um total de 450.000) reuniram-se em campos de treinamento por 18 meses, e passaram por um treinamento

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intensivo e por manobras em grande escala. Os restantes 300.000 homens encontravam--se espalhados ao longo das extensas fronteiras, envolvidos com a ocupação de Hanover, Itália, etc. Esses lutaram em alguns pequenos engajamentos como Maida etc.

As tropas de primeira classe dos acampamentos de Boulogne e aquelas que ocupa-vam Hannover foram colocadas juntas e formaram um novo exército, que logo se tornaria lendário - o Grande Exército (“La Grande Armée”). Estas tropas já tinham quase 3 anos de formação e de treinamento. Aproximadamente 1/3 delas eram veteranos com, pelo menos, 6 anos de serviço. De acordo com De Segur, os veteranos poderiam ser, facil-mente, assim reconhecidos “ ... pelo seu ar marcial. Nada conseguia agitá-los. Não tinham nenhuma outra memória, nem visão de futuro, senão a da guerra. Eles nunca falavam de outra coisa. Seus oficiais também os dignificavam. Para exercer a autoridade sobre tais homens, seria necessário dar-lhes o exemplo.” Eles estimulavam os novos recrutas com seus contos bélicos, para que os recrutas se iluminassem. Exageravam, por tantas vezes os seus próprios feitos de armas, que os veteranos obrigaram se a autenticar a sua con-duta, para os outros acreditassem neles.

“ Apesar de grande parte das tropas lá já serem veteranas, elas começavam com um mês de treinamento de “reciclagem” nas escolas de soldados e das companhias. En-tão chegavam 2 dias de treinamento no batalhão e 3 dias na divisão. As aulas duravam toda a semana; no domingo o Corpo todo era treinado, com as infantaria, cavalaria e arti-lharia juntos. Quando o adestramento estava bem absorvido, havia manobras em grande escala, duas vezes por mês. Também havia muita prática de tiro; os artilheiros, por vezes, eram capazes de usar os navios de guerra britânicos como alvos móveis. Davout adicio-nou a prática do combate noturno, e atirando inclusive”. (Elting - “Espadas em torno de um trono”)

Napoleão também limpou os “cabeças duras” do meio de seus oficiais; aproximada-mente 170 generais (velhos demais, ou simplesmente incompetentes) foram retirados do serviço. Isso deixou Napoleão com os generais mais talentosos como Massena, Davout, Lannes, St Cyr ou Suchet.

Os soldados do acampamento de Boulogne marcharam e mataram todos os adver-sários. Por isso, não seria surpreendente que Napoleão estivesse muito orgulhoso de seu exército. Em 1805, após a vitória em Austerlitz, ele escreveu:

“Soldados! Congratulo-me com vocês. No dia de Austerlitz vocês demonstra-ram aquilo que eu esperava de vocês: valentia. Decoraram suas águias com uma glória imortal... em dois meses, a terceira coalizão será conquistada e dissolvida”. (Após a batalha de Austerlitz, o Czar da Rússia Alexandre ficou extremamente deprimido. Ele desmontou, sentou-se sobre o solo debaixo de uma árvore, onde cobriu o rosto com um pano e desatou a chorar.” (Chri-topher Duffy - “Austerlitz”).

As guerras napoleônicas

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Batalha de Ulm, 1805. Através de uma marcha rápida, Napoleão realizou uma gran-

de manobra de envolvimento que capturou todo um exército austríaco sob o comando do general Mack . Napoleão tinha cercado os austríacos e, três dias depois, Mack rendeu-se com 30.000 homens. Alguns 20.000 tinham escapado, 10.000 foram mortos ou feridos, e o resto feito prisioneiro. Cerca de 6.000 franceses foram mortos feridos. Na rendição, Ge-neral Karl Freiherr Mack von Leiberich ofereceu sua espada ao se apresentar a Napoleão. A campanha de Ulm é geralmente considerada como uma obra-prima estratégica.

Batalha deAusterlitz, 1805. Foi uma das maiores vitórias de Napoleão quando, efeti-vamente, destruiu a Terceira Coalizão. A Campanha de Austerlitz alterou, profundamente, a natureza da política europeia. Em três meses, a França ocupou Viena, dizimou dois exércitos e humilhou o Imperio Austríaco. Estes eventos contrastaram com as rígidas es-

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truturas de poder do século XVIII. Austerlitz sinalizou o estágio da década próxima da do-minação francesa no continente europeu. Napoleão escreveu para Josephine: “Eu vencí o exército austro-russo comandado pelos dois imperadores. Eu estou um pouco ...” O Czar Alexandre talvez o mais audacioso dos aliados disse: “Somos crianças nas mãos de um gigante”.

Batalha de Jena, 1806. Jena custou a Napoleão 5.000 baixas, mas os prussianos sofreram 25.000. No mesmo dia, mais ao norte, em Auerstadt, o Marechal Davout derrotou o principal exército prussiano. Napleão não acereditou que o único Corpo de Exército de Davout tivesse derrotado o corpo principal dos prussianos, sem qualquer ajuda e assim respondeu ao primeiro relatório recebido: “O Marechal deve estar, agora, vendo tudo em dobro”, uma referência à miopia sofrida por Davout. Quando as coisas se tornaram claras, no entanto, o imperador foi incansável em louvá-lo. As derrotas decisivas sofridas pelo exército prussiano em meros 19 dias depois de sua mobilização, resultou na eliminação da Prússia da Quarta Coligação. Os prussianos foram varridos do país e o restante da campanha foi, apenas, uma operação de limpeza.

As campanhas, no entanto, eram caras; havia não só homens mortos e mortalmen-te feridos, mas também feridos e doentes. Em 1806/1807, durante a campanha na Prússia Oriental e na Polônia: “as linhas e fileiras do exército eram menores, mas em tudo, ainda eram as melhores. Na primeira parte da campanha, seus homens mais jovens eram os conscritos de 1806 mas que, devido à sua inscrição prematura, já tinham passado por um ano de treinamento. Muitas das tropas tinham seguido com Napoleão em suas campa-nhas anteriores no Egito, muitos em Ulm e Austerlitz, mas a maioria tinha recém saído da brilhante campanha de Jena. Eles agora se preparavam para uma renovada guerra contra inimigos no inverno; a tarefa mais difícil que um exército poderia se comprometer.

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Mesmo estes guerreiros endurecidos e entusiastas contemplavam com pavor a perspectiva de uma campanha em um inverno gélido num país difícil e inóspito, e Napo-leão, por muitas vezes, protestou contra isso, quando ele andava ao lado de seus homens, para insistir nos seus avanços sobre a Polônia. Para essas reclamações, ele respondia com palavras ásperas, que seus veteranos amavam ouvir da sua boca... Na ação, a in-fantaria era, ainda, esplêndida e requeria nada mais que uma formação com colunas mais profundas em muitos batalhões, como o de Macdonald em Wagram, três anos mais tarde. A cavalaria também era excelente e bem montada, no entanto, no que diz respeito a esta última, ela ficaria aquém de muitos regimentos da cavalaria russa. A artilharia era alta-mente treinada e invariavelmente fazia boas práticas.” (Petre - “campanha de Napoleão na Polônia, 1806-1807”)

As batalhas de Eylau e Heilsberg foram muito sangrentas e com um resultado in-conclusivo, principalmente, entre os franceses e um exército russo sob o comando de Be-nigssen. Em Heilsberg, os franceses perderam 12.000 homens, entre mortos e feridos. Em Eylau sofreram 15.000 a 25.000 mortos e feridos, isto é, aproximadamente 1/3 das suas forças. Cavalgando sobre o campo de batalha, um dos comandantes franceses disse: “Quel massacre! Et sans resultat”(que massacre! E sem nenhum resultado.) Os soldados franceses clamaram pela paz após Eylau. Esta foi a primeira e séria derrota para a “Grand Armée” francesa, que nas anteriores duas temporadas de campanhas havia ganhado tudo

Na primavera de 1807, ainda que o tempo ainda estivesse grave, Napoleão ar-rastou suas tropas para fora de seus aposentos de inverno para treinos e exercícios fre-quentes no campo. O exército tinha enfraquecido, porque muitos veteranos tinham sido mortos, ou estavam feridos ou doentes em hospitais. Enquanto isso, na França, milhares de jovens estavam sendo chamados às armas. Napoleão queria mandá-los para a linha de frente, tão logo quanto possível e eles teriam que ser treinados durante as travessias. A campanha do inverno rigoroso de 1806/1807 e as sangrentas batalhas de Eylau e Heil-sberg esgotaram as tropas francesas, mental e fisicamente.

Batalha de Friedlândia, 1807. Em 14 de junho, o exército francês, finalmente, marcou uma vitória decisiva sobre os russos. No final da batalha, os franceses estavam em completo controle do campo de batalha e o inimi-go estava recuando sobre o Alle (Lyna), onde muitos soldados se afogaram quando tentavam esca-par. As baixas francesas foram de, aproximadamente, 7.500 homens, enquanto os russos sofreram quase 20.000 mortos e feridos. A completa destruição do exército de Bennigsen persuadiu o Czar Alexandre a buscar a os termos da paz, 5 dias depois da batalha.

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Anos de 1808-1811Neste período, o exército estava ainda em boa forma, apesar de não ser mais tão

bom como há alguns anos atrás. Grande parte do ardor revolucionário, que tinha dispara-do as tropas francesas em 1790 e início do século XIX, estava arrefecido em 1808. Napo-leão se sentia com falta de entusiasmo para as próximas campanhas.

Em 1808/1809, para a nova guerra com a Áustria, dezenas de milhares de novos recrutas juntaram-se aos exércitos no campo. O influxo de conscritos havia diluído os velhos ideais de austeridade, dignidade e dever. Após 1809, a embriaguez e a indisciplina aumentaram, especialmente na cavalaria. Eles eram treinados às pressas. “Depois de 1808 menos soldados franceses receberam um treinamento extenso.” (Elting - p “Espadas em torno de um trono”)

Em 1809, Napoleão castigou a falta de disciplina em algumas divisões de infantaria. Ele observou que, desde a batalha de Wagram, os batalhões da divisão de Tharreau não tinham nem assistido, nem praticado exercícios de tiro. De agora em diante, o Imperador ordenou que, os homens iriam treinar os fundamentos basicos da escola do soldado e da prática de pelotão, todas as manhãs. Eles atirariam 12 cartuchos, diariamente, sobre os alvos e, por 2 horas, à noite, realizariam manobras de batalhão. (Arnold - “Napoleão vence a Áustria”)

Napoleão reforçou a moral dos jovens soldados formando uma artilharia regimental e anexando de 2 a 3 canhões leves em todos os regimentos de infantaria.

Batalha de Wagram, 1809. A artilharia foi o principal fator nesta batalha e as baixas subiram acima de 80.000, com os austríacos, perdendo um pouco mais do que o france-ses. Wagram foi a primeira batalha em que Napoleão não conseguiu marcar uma vitória incontestável, com relativamente poucas baixas. Isto seria o indicativo da diminuição gra-dual da qualidade das tropas de Napoleão e a crescente experiência e competência de seus oponentes, que estavam aprendendo com os erros anteriores.

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Os primeiros regimentos, esquadrões e batalhões provisórios apareceram já em outubro de 1807. Napoleão, quando precisava, pegava um ou dois esquadrões/batalhões de um regimento e um ou dois de outro regimento, nomeava um oficial em comando e, desse modo, formava um regimento provisório. Raramente estas tropas retornavam a seus regimentos de origem. Esses regimentos temporários não tinham cores distintivas, nem águias, nem espírito de equipe e, principalmente, nenhuma tradição. Serviam princi-palmente na península, para lutar contra os espanhóis e os britânicos.

Entre as tropas francesas que ocuparam a Espanha, os saques eram galopantes e a disciplina era pobre. Os veteranos foram sendo aos poucos desmoralizados pelas pi-lhagens realizadas e pela guerra cruel contra os guerrilheiros espanhóis. Elas não tinham mais o hábito de serem inspecionadas. A formação militar tinha caído ao longo dos anos.

Várias centenas de veteranos foram escolhidos das tropas na Espanha e enviados para se juntarem à Middle Guard. Apesar das suas boas aparências, dado à tez bronze-ada, alguns deles promoviam roubos em Paris. O general Michel os prendia e os enviava para as prisões.

. Ano de 1812: Invasão da Rússia

O Grande Exército de 1812 foi quase tão bom como o famoso Grande Exército de 1805. Em 1812, no entanto,havia menos veteranos nas filei-ras.O exército de 1812 foi a mais cuidadosa e completamente organizada força que Napoleão já tinha determinado

Em 1811, exceto a guerra de guerrilha na Espanha, a Europa estava em paz. Napo-leão teve tempo de treinar os jovens soldados. Eles estavam, agora, bem vestidos e bem armados. A cavalaria foi suprida com milhares de cavalos alemães, poloneses e franceses. A artilharia e os engenheiros estavam bem equipados e treinados. O Grande Exército de 1812 era quase tão bom quanto o Grande Exército de 1805. Em 1812, no entanto, havia menos veteranos nas fileiras. “As tropas de veteranos, infelizmente, foram diluídas pelo in-fluxo de recrutas recentes e as demandas da campanha espanhola. Uma expansão similar ocorreu em 1809, quando o Exército francês foi em grande parte composto de novos re-crutas. Em ambos os casos, aos recrutas faltavam a disciplina e o ´savoir faire´ para poder sustentar-se em uma situação de dificuldade de forrageio, mas quando a campanha de 1809 foi travada na Áustria, o impacto desta indisciplina sobre suprimentos foi mínima, se comparada com aquilo que adviria em 1812”. (Nafziger - “Invasão de Napoleão à Rússia”)

Antes do início da campanha, o general Dejean escreveu ao imperador que mais de um terço dos cavalos na cavalaria eram demasiados fracos para carregar seu fardo, enquanto quase que metade dos homens estava muito fraca para manejar um sabre. O coronel Saint-Chamans escreveu: “Eu não estava feliz com a maneira que a cavalaria era organizada. Os jovens recrutas que haviam sido enviados dos depósitos na França pareciam ter aprendido a montar um cavalo ou a realizar qualquer um dos deveres de um cavaleiro na marcha ou na campanha, com cavalos que eles não foram capazes de manobrar.” O resultado foi que, quando eles chegaram a Berlim, a maioria dos cavalos estava sofrendo de claudicação ou com feridas induzidas pela má postura dos cavaleiros, ou mesmo sua incapacidade de cuidar-se ao montar. Mais do que um oficial observou que aos recrutas não foram ensinadas sobre a verificação da sua própria sela ou como detec-

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tar os primeiros sinais de feridas de sela no animal. Napoleão gostava, no entanto, do grande número de soldados do seu exército,

mesmo se eles fossem jovens recrutas montados em cavalos mais fracos. Ele escreveu: “quando eu coloco 40.000 homens montados a cavalo, sei muito bem que não posso de-sejar que um grande número deles seja de bons cavaleiros, mas eu estou jogando contra a moral do inimigo, que vai se informar através de seus espiões, pelo rumor, ou através de jornais, que eu tenho 40.000 cavalarianos... Eu sou precedido, portanto, por uma força psicológica...”

Muitos militares especialistas concordam que o Grande Exército de 1812 foi a força mais cuidadosa e completamente organizada que Napoleão já tinha determinado prepa-rar. Tinha, também, mais cuidadosamente preparado o sistema de abastecimento (a baga-gem seria arrastada por 18.000 cavalos de carga pesada). O exército também foi o maior de qualquer outro exército que Napoleão tivesse tido antes. Um dos conscritos escreveu: “Oh pai! este é um exército! Nossos velhos soldados dizem que nunca viram nada pareci-do.” Mas apenas metade das tropas eram francesas, o resto era constituído de poloneses, italianos, alemães, suíços e austríacos. Napoleão passou a Guarda Imperial em revista em Dresden, antes mesmo de uma verdadeira multidão de governantes, incluindo muitos príncipes, cinco reis e um imperador (o da Áustria).

“... os 200.000 soldados franceses chegaram sobre Niemen em companhia de 200.000 aliados. ... reunidos por este homem maravilhoso; todos eram disciplinados guer-reiros e, não obstante os seus diferentes sentimentos nacionais, todos estavam orgulho-sos do gênio incomparável do líder deles “. (Napier - “história da guerra na Península “ Vol III)

A Rússia era uma gigante e remota terra, com um sistema viário pobre e, uma vez que havia começado a campanha, havia inúmeros problemas com suprimentos. “Quando os suprimentos tornaram-se escassos em 1812, a disciplina quebrou, e o controle sobre as tropas diminuíu. Eles saquearam, indiscriminadamente, em vez de requisitar, cuida-dosamente, os suprimentos que eles encontrassem. Surpreendentemente, os oficiais se recusaram a tomar parte nos excessos das tropas e, com isso, sofreram muito mais do que os homens que os praticaram. Essa falta de disciplina forçou os habitantes da região a fugir e a esconder os suprimentos que poderiam ter ajudado o exército francês”. (Nafziger - “Invasão de Napoleão à Rússia”)

Enquanto a disciplina das tropas diminuira, a quantidade de vagabundos e doentes aumentara, rapidamente. No rio Niemen, o I Corpo de Davout tinha 79.000 homens, mas em Smolensk somente possuía 60.000. A situação em outras tropas era ainda pior. O III Corpo de Ney tinha 44.000 em Niemen e apenas 22.000 em Smolensk. A cavalaria em reserva de Murat numerava 42.000 em Niemen e 18.000 em Smolensk. Antes do exército chegar em Moscou ele já tinha perdido metade do seu poder de combate.

Na batalha de Borodino, mais de 30.000 soldados foram mortos e feridos. Foi a ba-talha mais sangrenta das guerras napoleônicas. Mas a fome, os cossacos e as condições atmosféricas dizimaram as tropas francesas mais do que o próprio exército regular russo. Depois que Napoleão deixou Moscou a situação mudou de mal a pior. Os restos do Gran-de Exército que, em junho de 1812, tinha atravessado o rio Niemen, era agora perseguido por cossacos e camponeses armados. Além disso, os russos haviam feito milhares de franceses prisioneiros de guerra.

George Nafziger escreveu: “dos 680.500 homens que Napoleão tinha organizado para a invasão da Rússia, só 93.000 permaneceram vivos. O exército principal sofreu as

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mais severas baixas e tinha diminuído seu efetivo de 450.000 homens para 25.000. As forças de flanco e de retaguarda sob o comando de Schwarzenberg, Reynier, MacDonald e Augereau haviam retornado com um total de 68.000 homens, mas muitos desses ho-mens não tinham se aventurado para muito longe da Rússia e aqueles de Schwarzenberg, Reynier, e MacDonald não tinham sido tão fortemente engajados como o exército princi-pal o fora. Os registros sugerem que 370.000 franceses e soldados aliados morreram na batalha ou por outras causas, enquanto 200.000 foram e soldados aliados morreram na batalha ou por outras causas, enquanto 200.000 foram feitos prisioneiros pelos russos. Dos que foram levados prisioneiros, quase metade morreu em cativeiro. Napoleão tinha levado com ele, para a Rússia, 176.850 cavalos, e nenhum deles sobreviveu à campanha.

Os russos relataram ter queimado os corpos de 123.382 cavalos, quando eles lim-param suas paisagens dos escombros da guerra. Tão pesado foram as perdas em cava-los, que uma das deficiências mais graves de Napoleão na campanha de 1813 teia sido a sua incapacidade de reconstituir sua outrora poderosa cavalaria.

Dos 1.800 canhões levados para a Rússia, os russos relataram ter capturando 929 deles, e apenas 250 foram trazidos para fora do teatro de operações. O restante, ou foi perdido, ou foi jogado em pântanos e lagos, para que eles não pudessem ser capturados. Embora a perda dos canhões tivesse sido grave, a perda de cavalos foi mais devastadora para Napoleão. Na França, os arsenais e instalações industriais, em breve, iriam substituir o armamento perdido. Dos 66.345 homens que haviam pertencido ao Corpo de Davout em junho de 1812, restavam, apenas, 2.281. A Guarda Imperial de 50.000 homens tinha sido reduzida a 500 homens armados, com mais de 800 doentes, dos quais 200 nunca retornariam às armas. Acidentes semelhantes foram sofridos pelos II, III e IV Corpos de Exército...”

Batalha de Berezina, 1812. O plano de Napoleão era cruzar o rio Berezina e ir para a Polônia, enquanto os russos queriam prendê-lo lá. Ainda que alguns 25.000 soldados franceses e mais de 15.000 russos tenham sido as suas perdas, estas foram pálidas se confrontadas com os cerca de 10.000 franceses extraviados. Do total das baixaas, apro-ximadamente 10.000 foram massacrados pelos cossacos, enquanto outros 20.000 morre-ram nas águas gélidas próximas

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Muitos regimentos deixaram de existir. Por exemplo, o 5º Regimento de Cuirasseurs tinha 958 homensnprontos para o serviço em 15/06/1812 e, em 1º/02/1813 tinha somente 19 ! A cavalaria francesa nunca se recuperou dquela perda massiva de cavalos Na marcha de volta para casa, nove em cada dez cavaleiros que sobreviveram caminharam muito; a maioria daqueles que cavalgaram o fizeram em pequenos pôneis, animais resistentes russos e polacos, mas naandadura, suas botas arranhavam o chão. Napoleão escreveu: “Eu não tenho mais nenhum exército! Por muitos dias, eu tenho marchado em meio a uma multidão de homens debandados e desorganizadas, que vagueiam sobre o campo em busca de comida.”.

Ano de 1813: A campanha na AlemanhaPara sua contemplada campanha na Alemanha, Napoleão necessitou de um exér-

cito, praticamente, inteiramente novo. Não foi um caso de uma reorganização do exército, aquela grande força que quase tinha deixado de existir. O militar francês estava em crise e lutava para conseguir homens tão rapidamente quanto possível. Napoleão tentou todos os recursos possíveis à sua disposição que pudessem produzir mão de obra, e rapidamente. Seria necessário não só tempo e energia, mas também dinheiro. A despesa para organi-zar apenas a Guarda Imperial elevou-se a 18.000.000 de francos. O serviço militar havia se tornado impopular, e, no oeste da França, tornou-se necessário buscar os refratários (aqueles que fogem do serviço militar) à força, e os generais relataram que eles próprios estavam com medo de empregar aqueles jovens soldados para esta finalidade.

O novo exército era enorme, mas os mais velhos soldados, de 18 e 19 anos, ca-reciam de resistência e de exercício em marchas rápidas, pois a fome os enfraquecera fisicamente. Camille Rousset ofereceu o seguinte relatório em uma inspeção realizada:”os homens são de aparência bastante fraca. O batalhão não tinha ideia de como manobrar; Mas 9/10 dos homens podem manusear e carregar seus mosquetes razoavelmente”.

O general Lambardiere escreveu: “estes batalhões já chegam cansados todos os dias; eu os supri com transporte especial para osmais fracos ... Todos estes batalhões são franceses; mas devo dizer que os jovens soldados mostram coragem e boa vontade. Cada momento possível é utilizado para ensiná-los a carregar suas armas e leva-las ao ombro”. Tão pobres estavam em seu estado físico, que o Ministro da Polícia protestou contra seu treinamento no Champs-Elysées, durante a hora do passeio, por causa do escárnio e vaias que lhes eram dirigidos pela populaça.

Após a desastrosa campanha na Rússia, a qualidade da cavalaria era muito bai-xa. Havia muitos soldados jovens treinados às pressas e, dificilmente, de 10 a 20% dos oficiais podiam ser classificados como capazes. Os oficiais reformados foram chamados de volta, e muitos sargentos velhos foram promovidos a tenentes. Quase 80% dos novos cavaleiros nunca tinha montado em um cavalo. Em Hamburgo, os jovens “cuirassiers”, tendo recebido ordem para sair em missão de reconhecimento, depois de alguns minutos, estavam todos desmontados, com seus cavalos soltos nas ruas. Os alemães riam aber-tamente

O alto estresse sofrido durante a campanha militar (eles foram colocados em ação sem formação completa) esgotou muitos deles.

Às centenas, eles caíram doentes; havia também desertores e retardatários. Desta-camentos especiais foram formados para capturar os retardatários e encontrar os fracos e “fazê-los andar”. Só em Paris, 320 soldados da Jovem Guarda foram presos por deserção e enviados para as prisões. Durante a viagem do Imperador desde Dresden, através de

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Gorlitz, até Bautzen, ele viu as estradas alemãs e aldeias cheias de milhares de soldados como vagabundos. Napoleão ficou indignado e emitiu a seguinte ordem: “ cada soldado que desertar, terá sua bandeira empenhada em ser a primeira na batalha. Como conse-quência, sua Majestade ordenou: artigo 1º. Cada soldado que desertar sua bandeira sem causa legítima, será sujeito a dizimação. Para este efeito, assim que 10 desertores sejam capturados, os generais em comando do Corpo de exército submetê-los-á à dizimação e terão uma nova chance.” Bautzen. 6 Septeber 1813 Napoleão.” (Bowden - “Grande Armée de Napoleão de 1813”)

As novas unidades foram lançadas juntas, rapidamente, e seus homens não tinham tido o tempo necessário para formar os laços interpessoais dentro de suas companhias, o que lhes daria a força moral necessária para fazer a guerra com êxito. Apesar destes pro-blemas, a moral do exército era, de um modo geral, elevada. Muitas dos jovens soldados que permaneceram nas fileiras, estavam cheios de confiança, sem limites, no seu líder que eles amavam com inabalável devoção. Alguns veteranos também já tinham retomado a sua fé em Napoleão. A artilharia e os engenheiros, como sempre, mostravam-se exce-lentes. Quando liderados por Napoleão em pessoa, os jovens soldados venceram todas as batalhas (Lutzen, Bautzen e Dresden); sem ele foram vencidos em Kulm, Dennewitz e Katzbach.

Batalha de Leipzig, em 1813. Leipzig foi a maior batalha das guerras napoleônicas. Soldados de mais de 20 nacionalidades estavam presentes no campo de batalha. As baixas foram pesadas. O filho do professor Sander escreveu: “em todos os lugares havia milhares de mortos, e os camponeses tinham que enterrá-los. Grandes poços foram esca-vados na aldeia e nos campos circundantes, cada um projetado para enterrar de 40 a 50 mortos. ... “Foi uma das poucas batalhas em que Napoleão foi claramente derrotado. Isso resultou na destruição do que restava de poder francês na Alemanha e na Polônia. Nunca mais o exército de Napoleão entrou na Alemanha. Digby Smith escreveu: “os efeitos da vitória dos aliados em Leipzig foram verdadeiramente memoráveis. Leipzig tinha estrangu-lado Napoleão na Europa para o bem... “Kulm, Dennewitz e Katzbach.

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Ano de 1814: Campanha da França“Um decreto ordenando uma mobilização de 300.000 soldados foi feita e ainda ou-

tra aumentando a Guarda Imperial para 112.500 homens... Tal imposição, no entanto, não foi bem sucedida. A França estava exausta, não só em seus homens mais velhos, mas até de mais jovens, e meninos , agora, constituíam a necessidade maior para formar os batalhões. Para aumentar ainda mais os problemas de Napoleão, a febre tifo eclodiu entre as suas tropas ao longo do Reno.” (Headley - “A Guarda Imperial de Napoleão”).

Os exércitos inimigos aliados avançavam sobre a França vindos de todas a dire-ções. Com um exército de 50.000 a 75.000 homens, apenas, o Imperador teria que enfren-tar meio milhão de soldados aliados comandados por Barclay de Tolly, Schwarzenberg e Blucher. Napoleão, mostrou um desempenho impressionante, lutando em média uma ba-talha ou escaramuças todos os dias e ganhando muitas delas (Champaubert, Montmirail, Chateau-Thierry, Vauchamps etc.) No entanto, suas vitórias não foram suficientemente significativas para fazer alterações ao quadro estratégico global, e o exército de aliados capturou Paris.

Muitos dos Marechais de Napoleão estavam cansadas, ou profetizavam a desgra-ça. No final da campanha, alguns desertaram para os aliados. Paris foi tomada de assalto pelas tropas russas e prussianas. Para sua frustração, o Marechal Marmont rendeu suas tropas para os aliados e permitiu-lhes entrar em Paris sem qualquer resistência. Para esta ação (ou falta dela) Marmont era (e ainda é) considerado pela maioria dos franceses, como um traidor.

Em Fontainebleau, o Marechal Michel Ney tornou-se o porta-voz da revolta dos Marechais, em 4 de abril de 1814, exigindo a abdicação de Napoleão. Ney informou Na-poleão que o exército não iria marchar para Paris; Napoleão respondeu “o exército vai me obedecer!” para que Ney respondeu “o exército irá obedecer seus chefes”. Napoleão abdicou em 6 de abril. No entanto, as ações militares ocasionais continuaram na Itália, Espanha e Holanda, durante a primavera de 1814. Parte do exército francês ficou muito infeliz com a nova situação.

. Ano de 1815 – Campanha dos 100 diasAlguns autores afirmam que o Exército francês de 1815 foi o melhor de Napoleão e que era composto de endurecidos veteranos de batalhas. De acordo com Henri

Lachouque, no entanto, “nem todos os veteranos dispensados retornaram. Alguns tinham sido estragados pela vida civil.” (Lachouque - “Anatomia da glória”)

O capitão Duthilt achava que os soldados que tinham sofrido as derrotas das re-centes campanhas do Imperador e os prisioneiros de guerra retornados da Rússia, tinham perdido uma grande quantidade de seu entusiasmo. Uma chamada para voluntários pro-duziu, apenas, alguns risíveis 15.000 homens.

O exército em 1815 era composto por soldados que tinham, pelo menos, uma cam-panha atrás deles, embora aos olhos dos veteranos de Austerlitz e do Egito, os soldados de 1814 ainda parecessem garotos. (Barbero - “A batalha”)

Havia testemunhas oculares francesas, que afirmavam que muitos regimentos in-cluíam uma elevada percentagem de jovens soldados que nunca tinham estado debaixo de tiros. O general Lamarque queixou-se de que a Jovem Guarda fora preenchida com recrutas e desertores, que nem sabiam como manobrar nem atirar. (Lasserre - “en jours de Les Cent Vendéia: le général Lamarque et l’insurrection royaliste, d’après les papiers inédits du général Lamarque.” publicado em 1906.)

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“Em 1815, a disciplina era pobre, os mais velhos estavam incomodados e queixa-vam-se que os jovens saíam com garotas ou ficavam bêbados. O exército foi montado às pressas, os soldados não tinham uniformes e nem calçados. Muitos soldados usavam roupas civis sob seus sobretudos e capas de forragem em vez de ponchos. Por falta de shakos (ponchos) o 14º Regimento Leve deveria lutar a campanha de Waterloo com man-tas”. (Austin - “1815 o retorno de Napoleão”)

Em alguns regimentos de infantaria, apenas aos granadeiros foram dadas baione-tas. Alguns couraceiros não tinham nenhuma armadura. “O 11º Regimento de Cuirasiers lutou sem elas em Waterloo... Quanto aos sapatos, vinte regimentos não tinham nenhum.” (Andrade - “O companheiro de Waterloo”)

Em 1815, a cavalaria francesa estava empobrecida e tinha deixado para trás a força dos antigos regimentos de cavalaria. Por outro lado, a Inglaterra sempre teve bons cavalos e os meios financeiros para obter mais deles, onde eles pudessem ser encontrados.

O pior de tudo, vários comandantes franceses de altos postos desertaram para o lado dos aliados já antes de começar a campanha! Por exemplo, o general Bourmount foi diretamente até os prussianos e rendeu-se com cinco de seus subordinados. A velha camaradagem das tropas francesas foi substituída pela suspeita. “Os soldados ficaram chateados com o excessivo número de oficiais superiores que tinham traído, ou que eram suspeitos de estarem prontos para trair o imperador... As tropas não tinham confiança em seus comandantes, nem a capacidade de aceitar a disciplina.” (Barbero - “A batalha”)

Em Waterloo, um oficial francês havia desertado para as linhas aliadas e infrmou so-bre s planos de Napoleão. “Os soldados duvidaram da lealdade e competência de muitos oficiais superiores. Eles se ressentiam de oficiais sendo promovidos apenas para ir até o Imperador, enquanto eles não recebiam nada para fazer o mesmo. Seis oficiais do 1º Regi-mento de Couraceiros que tinham sido recompensados desta forma foram saudados com gemidos e gritos no desfile. O 12º Regimento de Dragões fez uma petição ao Imperador solicitando, “... a demissão do nosso coronel, cujo ardor pela causa de sua Majestade é, de nenhuma maneira, igual à nossa”. (Andrade - “O companheiro de Waterloo”)

Mas não só os oficiais e generais desertaram para o inimigo; lá estavam, também, desertores da Velha Guarda. Eles formavam o chamado “Corpo de Cavalaria Bourbon”. Com eles serviam, também, os desertores dos regimentos de couraceiros e dragões. Esta unidade ficou sob o comando do general Wellington, mas não se apresentaram em Wa-terloo.

O Exército Real está de voltaApós a segunda abdicação de Napoleão, em 1815, os Bourbons introduziram mui-

tas mudanças no exército. As unidades de exército existentes encontravam-se completa-mente acabadas. O termo “Regimento” foi abolido, e a infantaria foi organizada em legiões departamentais. Em vez de números, elas foram distinguidos pelo nome do seu departa-mento. Cada Legião era composta por:2 battalions of line infantry

=> 1 Batalhão de caçadores=> 1 Companhia de escoltas a cavalo (eclaireurs)=> 1 companhia de artilharia=> A unidade de suprimento (depot) Quatro regimentos suíços foram adicionados à infantaria de linha e dois para a de

guarda. Seus oficiais eram os mais bem pagos e considerados mais antigos em relação às unidades francesas.

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Os soldados da infantaria francesas foram colocados em uniformes brancos osten-tando as cores regimentais. Como não era popular, eles se sentiam como “uma mulher austríaca”. O Rei Luis ordenou que todos os regimentos de cavalaria fossem desfeitos e reorganizados, de forma a não serem reconhecidos como do exército napoleônico, consi-derado uma ameaça para a tranquilidade geral. A numeração dos regimentos foi substituí-da por nomes departamentais. Os novos regimentos de cavalaria e as legiões de infantaria foram ativadas com pompa e cerimônia. A nova organização não tinha passado, nem tradições, nem reputação e, somente, um pouco do precioso amor-próprio.

O exército como um todo era confiável, mas não orgulhoso de si mesmo. Quando os novos oficiais se divertiam, arrebatando um botão com águia-de-crista do casaco surrado de um veterano mancando, logo surgia uma súbita baixa nos becos das proximidades. Quando um grupo de jovens oficiais foi preso em um teatro provincial, por importunar Talma, um amigo de Napoleão, os cidadãos atentos e os veteranos pediram um intervalo curto, empurraram o grupo para fora, pela porta mais acessível, e os fizeram correr para a rua, em busca de abrigo no aquartelamento.

Em 1823, este exército conseguiu uma operação na Espanha para derrubar um go-verno constitucional espanhol e restaurar a autoridade absoluta de Ferdinando. A maioria dos espanhóis os acolheu e houve, apenas, pequenas lutas. Mais guerras se seguiram. Em 1825 houve a guerra França-Trarzan, na Argélia, a intervenção no México com as ba-talhas de Puebla e Camaron, as guerras Mandingo, a guerra de Dahomey e outras.

A guerra Franco-Trarzan de 1825 foi um conflito entre a França e Muhammad al Habib. Em 1825, Muhammad tentou estabelecer o controle sobre o território francês-pro-tegido, localizado ao sul do rio Senegal. Os franceses responderam enviando uma grande força expedicionária do exército que esmagou o inimigo. A guerra incitou os franceses a se expandirem para o norte do rio Senegal.

O regulamento francês na Argélia durou de 1830 a 1962. A Argélia era, então, parte dos Estados de Barbary, que dependiam do Império Otomano, mas gostava de uma rela-tiva independência. A conquista da Argélia foi iniciada pelo rei Charles X, na tentativa de salvar seu trono da crescente hostilidade do povo francês. O monarca planejou reforçar o sentimento patriótico em torno dele e reverter sua impopularidade doméstica. Em 1830, os franceses desembarcaram com 34.000 soldados (o inimigo tinha 43.000) e estabeleceu uma forte cabeça-de-praia. Eles empurraram o oponente para Argel, graças em parte à sua artilharia superior e sua melhor organização. Os franceses venceram em Staoueli e entraram na Argélia. Em 1848, quase todo o norte da Argélia estava sob controle francês.

Anos de 1850 a 1900O exército, saído da obscuridade, foi remodelado em linhas napoleônicas. O que

seria necessário para completar tal ressurreição dever-se-ia à uma vitória em campanha. “Não é surpreendente que Napoleão III e o exército estivessem conscientes das grandes tradições napoleônicas e estavam ansiosos para imitá-las.

Sua primeira grande oportunidade veio com a guerra da Criméia. Nesta campanha confusa, o exército resolveu-se bem... finalmente, forçando a questão em Sebastopol ao invadir o forte de Malakov. Em 1859 foi novamente bem sucedido, desta vez contra os austríacos, com um par de vitórias hesitantes e dispendiosas em Magenta e Solferino. A próxima aventura, infelizmente, não correu tão bem, em razão de uma prolongada luta anti-guerrilha no México, no período de 1863/1867, e que terminou em uma retirada hu-milhante.

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Enquanto isso, na Europa, a Prússia foi rápida ao emergir como um desafio à pree-minência militar da França.” (Marcelo e Delperier - “exército 1870-1 francês. Guerra Fran-co-Prussiana.)

A promoção no exército foi regulamentada por uma lei que havia sido aprovada em 1832. Aproximadamente 66% dos oficiais foram promovidos com base na antiguidade, até o posto de comandante. De acordo com o Major Simon os soldados “passaram semanas inteiras, ajustando as correias ou coldres do revólver e as tiras em torno dos cantis, vendo que o antigo deve ser executado entre os 2º e 3º botões da túnica... No intervalo, o que importava era para não acertar o alvo com frequência, mas sim adotar a postura precisa que obedecia aos regulamentos, mesmo que posição do atirador fosse não confortável para ele. Um manuseio errado do fuzil parecia uma grave violação da disciplina”.

O exército francês em 1870 era formado de quase 500.000 soldados regulares, alguns deles veteranos das campanhas anteriores na Guerra da Criméia, Argélia, México e a Guerra austro-francesa. Esta força aumentaria para 650.000 na mobilização total. Depois de receber relatórios da eficácia dos rifles com bloqueio de culatra prussianos em 1866, os franceses, apressadamente, equiparam sua infantaria com o fuzil Chassepot, dentre as mais modernas armas de fogo produzidao em massa no mundo. Além disso, a infantaria estava equipada também com o precursor da metralhadora — o “mitrailleuse”. Ela era composta por 25 canos ativados por uma manivela, fazendo a arma disparar 150 tiros por minuto. O exército prussiano ainda estava equipado com o antigo fuzil, que não era nem de perto tão eficaz quanto o fuzil Chassepot francês e tinha um curto intervalo para carregamento, o que significava que a infantaria prussiana teria que fazê-lo debaixo do fogo francês, antes que seus rifles pudessem ameaçar o inimigo. As deficiências da-quele fuzil eram mais do que compensado pelos canhões de fechamento de culatra de 6 pounds (3 kg) usados pela artilharia prussiana. O canhão prussiano tinha um alcance maior, uma mais rápida cadência de tiro e era muito mais preciso, em comparação com o canhão francês de carregar pela boca. O canhão prussiano foi o molde do futuro da arti-lharia no campo de batalha.

A Batalha de Sedan foi travada durante a guerra Franco-Prussiana em 1870. A in-tenção dos franceses era descansar o exército, que tinha sido envolvido em uma série de longas marchas, reabastecimento com munições e, depois, uma retirada, ao invés de dar combate na cidade. As tropas francesas estavam exaustas e sem munição. “A artilharia prussiana, comandando as alturas acima da cidade, bombardearam as tropas francesas cercadas. O corajoso general Margueritte liderou repetidas cargas de cavalaria, em uma tentativa corajosa de sair, mas todas falharam. Finalmente, uma bandeira de trégua foi enviada do forte. Para surpresa dos alemães descobriram que Napoleão III tinha se eva-dido em Sedan. Todas as forças francesas se renderam às 16:15, hs de 1º de setembro.” (-Wallechinsky & Wallace)

A Batalha de Sedan, resultou na captura do Imperador Napoleão III junto com seu exército e praticamente decidiu a guerra a favor da Prússia, embora a luta tenha continua-do sob um novo governo francês. Os franceses perderam mais de 38.000 homens mortos, feridos e capturados. Os prussianos relataram suas perdas em 9.000 mortos, feridos e capturados ou extraviados.

“As relações com o Império alemão dominaram toda política de negócios estran-geiros da França até 1914. Cada governo francês chegou a uma decisão com base nas intenções atribuídas à Alemanha e sobre o perigo que as iniciativas políticas alemãs repre-sentavam para a França. As relações franco-alemãs foram sendo dominadas pela questão

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da Alsácia-Lorena. A anexação territorial realizada sob o Tratado de Frankfurt (1871) tinha infligido uma ferida tal na França, que nada poderia exceder em urgência o desejo de evi-tar uma repetição da invasão alemã. As províncias perdidas tinham pertencido à França desde os tempos de Louis XIV e Louis XV, e a questão da soberania nacional não tinha sido tratada, nem depois da queda de Napoleão.

... A força relativa das forças armadas da França e da Alemanha foi tal, que nenhum governo francês, durante o último quarto de século, poderia ter previsto a noção de qual-quer agressão dirigida contra a Alemanha. ... De 1875 em, quando o pessoal do general francês elaborou seus primeiros planos de mobilização em caso de guerra, a ideia domi-nante era totalmente defensiva. ... Depois de 1893, a força relativa das forças, mais uma vez virou a favor da Alemanha. Desde quando a população alemã foi crescendo muito mais rapidamente do que a dos franceses, o contingente mobilizado cada ano era muito mais numeroso, e as reservas à disposição do exército regular foram muito maiores do que aquelas que o Alto Comando francês poderia contar. ...” (La Gorce - “o exército fran-cês; uma história político-militar”)

A criação de um império alemão unificado terminou com o “equilíbrio de poder” que tinha sido criado com o Congresso de Viena, após o fim das guerras napoleônicas.

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CAPÍTULO VA INFANTARA FRANCESA DAS GUERRAS

NAPOLEÔNICAS

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A INFANTARIA FRANCESA DURANTE AS GUERRAS NAPOLEÔNICAS

SUMÁRIOConsiderações iniciais - O Exército de Napoleão1. A infantaria francesa sob o comando de Napoleão2. Diferenças entre Infantaria de Linha e Infantaria Leve.3. Generais: Duhesme, Saint-Hilaire, Vandamme, e Compans4. Poder de combate e rercrutamento5. Armamento e organização.6. Tambores, cornetas e sapadores7. Granadeiros, carabineiros-fuzileiros, caçadores e volteadores8. Águias e bandeiras.9. Os melhores regimentos

CONSIDERAÇÕES INICIAIS - O EXÉRCITO DE NAPOLEÃO

Napoleão organizou seu exército incorporando as idéias dos teóricos militares fran-ceses da geração anterior. Sendo um produto da Academia Real militar, Napoleão obteve a inspiração para as suas reformas no período anterior à revolução. Em 1803, o termo revolucionário “demi-brigade” foi substituído por “regimento” a designação tradicional; as águias, que o recém coroado imperador distribuiu ao seu exército em 1804, representa-vam uma marca da lealdade ao trono imperial, e não à nação; a bandeira tricolor republi-cana foi reduzida a um status secundário; as academias militares abriram as suas portas aos cadetes filhos da nova elite social da França imperial. Em uma medida supostamente para se contrapor ao índigo dos soldados da Grã-Bretanha, Napoleão logo experimentou, em 1806, um retorno aos uniformes brancos do exército real. O casaco azul estilo republi-cano logo retornaria, ainda que, por medida de economia, com um estilo menos elaborado e que foi promulgado em 1812.

Uma outra reforma organizacional foi a conversão de uma companhia de cada bata-lhão em “voltigeurs” (volteadores), uma parcela da infantaria leve (ou ligeira) treinada em escaramuças. Na verdade, esta medida não foi particularmente inovadora, pois, mesmo não constando dos regulamentos oficiais, já era utilizada nos campos de batalha. No Exército real, as companhais de “chasseurs” (caçadores) foram adidas a cada batalhão para agir como “scouts” (escoltas) e “skirmishers” (escaramuceiros), e muitas “demi-bri-gades” foram mantidas, na prática, com “eclaireurs” (esclarecedores, escoltas), que re-alizavam a mesma tarefa. Em 1808, uma sucessiva reforma fez retornar a organização dos batalhões de infantaria aos idos de 1776, com 4 companhias de “fuziliers” (fuzileiros) e uma de “grenadiers” (granadeiros) e a infantaria leve. A maior inivação das reformas de 1808 ficou por conta do aumento do tamnhao dos regimentos de infantaria, de 2 para 4 “bataillons de guerre” (batallhôes de guerra), com um quinto batalhão formando o “depot” (depósito, logística). Em 1812, Napoleão acrescentou um sexto batalhão.

Napoleão foi o primeiro a tentar o emprego de uma estruturapermanente com os Corpos de Exército (Corps), pois antes da revolução, eles já eram considerados, mas de forma temporária, como brigadas. Os franceses também haviam estabelecido o escalão Divisão em caráter permanente, para produzie um grande efeito durante as guerras da Revolução Francesa (1792/1801). Agora Napoleão havia decidido criar os Corpos per-manentes, que, efetivamente, era verdadeiros exércitos em miniatura, cada um com suas

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próprias cavalaria e artilharia. O sucesso desta estrutura pode ser demosntrado pelo fato de os modernos exércitos usarem, em sua essência, a mesma organização, com a mesma forma, ou com pequenas modificações

O Corpo francês tinha a ele incorporado um Estado-Maior. Seus comandantes de-veriam saber empregar suas divisões subordinadas, isoladamente, ou em conjunção com suas divisões irmãs. A cavalaria ligeira (ou leve), adiida aos Corpos, realizava exercícios que levaram a um maior grau de cooperação, que qualquer outro exército do mundo teria gostado de obter.

Os exércitos europeus comprendiam uma série de blocos. Os regimentos de infan-taria eram feitos de batalhões que, por seu turno, compreendam companhias. Uma briga-da era formada de regimentos e as divisões eram compostas de duas ou mais brigadas. A este tipo de organização, Napoleão acrescentou os Corpos de Infantaria ou mais divisões de infantaria, com uma ou duas brigadas de cavalaria a elas adidas. Napoleão tinha dois tipos de infantaria: a Infantaria de Linha (Ligne) e a Infantaria Ligeira (Legere). A infantaria ligeira, mais do que a de linha, tendia a empregar os escaramuceiros, o reconhecimento e a segurança de retaguarda. Os batalhões de infantaria no início do século XIX, eram constituídos de até 9 companhias: 7 companhias de centro e 2

Em 1805, Napoeão despojou as companhias de elite de uma série de regimetnos, mantendo-as em guarnição para formar uma divisão de elite sob o comando do general Oudinot. Esta formação tornou-se conhecida como granadeiros de Oudinot.

A cavalaria ligeira adida aos corpos de infantaria eram de dois tipos: “hussar” (hus-sardos), ou “chasseurs” (caçadores). Ambos, funcionalmente, usavam o mesmo tipo de uniformes, ainda que os hussardos, geralmente, tivessem a melhor reputação devido, em parte, à sua aparência elegante. Napoleão, então, criou o Corpo de Cavalaria em Reserva, a partir da cavalaria de linha (dragões) e dos regimentos de cavalaria pesada (cuiraceiros e carabineiros). Sua inenção era emprega-lo como um “braço de ruptura”, empregado para quebrar a linha do inimigo que tinha sido desgastado pela infantaria. Em menor me-dida poderia ser usado para estabilizar uma situação que estava ficando fora de controle. Para acompanhar esta cavalaria pesada haviam as baterias de artilharia a cavalo, cujos canhões de 8 Lb poderiam ser colocados, rapidamente, em posição e desfechar um inten-so poder de fogo.

O emprego combinado destes dois braços era extremamente difícil de resistir. Na-poleão, tendo sido treinado como um artilheiro, auxiliado por excelentes artilheiros como Auguste de Marmont, tinha implementado muitas melhorias que aumentaram, considera-velmente, o poder da artilharia francesa. Os canhões era melhores, mais leves e mais móveis; a pólvora era superior, e melhores ainda eram a sua formação e as táticas, que deram à França uma grande superioridade neste campo.

Um problema para os franceses nas campanhas de 1805 foi o fato de que não havia montaria suficiente para os dragões. Em razão disso, uma divisão de dragões teve que lutar desmontada; ela não se mostrou tão eficiente, até que se conseguiu capturar cavalos das tropas inimigas. Finalmente, havia a Guarda Imperial. Esta tropa de elite combinava os regimentos de infantaria de guarda (granadeiros e caçadores a pé), a cavalaria de guar-da (granadeiros, crabineiros e caçadores a cavalo) e as baterias de artilharia tracionadas por cavalos. A Guarda deveria atuar como uma reserva final, e quando a força deveria exercer no campo de batalha o “coup de grace”.

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Derrota e transformaçãoNo final de 1810, Napoleão estava preparado para invadir a Rússia, empregando

o dos os tipos de tropas disponíveis. Havia uma pequena distinção entre o Exército de Napoleão de 1809 e o de 1812, algo mais do que um acréscimo no tamanho deste último. Aos regimentos haviam sido acrescentados os 4º, 5º e, eventualmente, o 6º batalhão; os regimentos de cavalaria haviam crescido em até seis esquadrões; e uma nova classe de cavalaria tinha sido introduzida – os “lanceiros”. Quanto à artilharia, não houve mudanças, exceção feita ao complemento de homens no serviço das peças de artilharia. No todo, o exército, em 1812, era o maior que Napoleão conseguira reunir, mas que mostrava varia-ções na qualidade, que já eram esperadas ao reunir aquele total de força.

A catastrófica perda sofrida por Napoleão na Campanha da Rússia resultou em um profundo e multifacetado efeito sobre a “Grande Armée”, nome dado por Napoleão ao seu expercito nas campanhas de 1805. Cerca de 655.000 homens, juntos com Napoleão, ha-via cruzado o rio Niemen em junho de 1812, e quase 100.000 homens foram quebrados e chegaram cambaleantes na Prússia Oriental, pouco mais de seis meses mais tarde. Das 1.300 peças de artilharia que acompanharam o exército, somente cerca de 250 canhões foram salvos, com a maioria deles sendo simplesmente abandonados, em razão da falta de meios de transpore

Apesar destas perdas sem precedentes, Napoleão, imediatamente, iniciou gestões para reviver seu exército destruído, demonstrando um genial processo de organização. Sua visão, no entanto, era ambiciosa: ele queria 656.000 homens e iniciou um processo de mobilização que, em abril de 1813, lhe garantiu um efetivo de 400.000, para fazer frente a intensificação das hostilidades. Uma grande proporção dos novos recrutas era constiu-ída de muito jovens elementos, que foram batizados de “Marie-Louises”. Com admirável visão de futuro, Napleão tinha chamado às armas a classe de 1813, antes da Campanha da Rússia. Isto resultou em 30.000 conscritos em processo de terminar seu treinamento, 80.000 homens da uada Nacional e 100.000 outros que, por diversas razões não haviam se juntado às fileiras do exército entre 1809 e 1812. A estas tropas foram acrescidas aque-la que se retiraram da Espanha, em face das consequências advindas das características daquele Teatro de Operações, particularmente a guerra de guerrilhas. Finalmente, como o paciente bloqueio britânico havia preso os navios de guerra franceses nos portos, durante anos, isto inutilizou suas tripulações. Estes homens subempregados e outros das guarni-ções costeiras, particularmente fuzileiros, foram enviados para o leste onde eles poderiam ser mais úteisl, de imediato.

Não havia dúvida que os soldados franceses queriam lutar bravamente nas cama-nhas seguintes, mas seus esforços eram, por vezes, invalidados pelo inadequado trei-namento e falta de experiência em todos os escalões, e o resultado eria um declínio das suas capacidades combativas, O coronel Raymond de Montesquiou, Duque de Fezensac, atribuíu as derrotas da França de 1813 ao declínio da qualidade dos soldados.

O exército era composto de jovens soldados que tinham de aprender tudo e de sargentos que não sabiam muito mais. Os oficiais eram melhores, quando dos quadros antigos e que tinham sofrido muito menos na destruição na Rússia do que os quadros de sargentos. Mas o processo tinha começado antes mesmo de 1812. Já em 1809, o próprio Napoleão começou a queixar-se de que seus soldados não eram como os de 1805: os homens em Wagram não eram como aqueles em Austerlitz.

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Comando e controle No final de agosto de 1805, Napoleão tinha sido forçado a abandonar a ideia da

invasão da Grã-Bretanha, para o que ele havia montado a sua “Grande Armée” no en-torno de Boulogne. Enquanto a Marinha Real da Grã-Bretanha atacava as barcaças que levavam tropas para reunião na boca do rio Reno e frustrava a esquadra francesa no Mediterrâneo, nas Índias Ocidentais e Orientais, a diplomacia e o ouro britânico construía os poderes de terceira coalizão continental contra a França, envolvendo a Áustria, a Rús-sia, a Suécia e Nápoles. Quando a Áustria invadiu o território dos aliados de Napoleão na Baviera, em 2 de setembro, as tropas francesas já estavam em marcha para o leste. Im-punha-se uma ação imediata, e o imperador tinha em suas mãos uma máquina de guerra que consistia de cerca de 200.000 homens. Foi único com tal composição, em que mais de 50% dos seus oficiais e soldados eram veteranos das campanhas anteriores; até mes-mo seu armamento e treinamento eram superiores aos dos seus adversários. Napoleão nunca iria comandar um exército tão mais bem preparado.

Organizado em vários corpos de exército, a “Grande Armée” deveria marchar para o leste em três colunas principais; tudo foi planejado em detalhes: itinerários, acampamen-tos, provisões e transporte. Esta campanha de 1805 seria a “blitzkrieg” de Napoleão. Em 24 dias, seu exército estava do outro lado do Reno; oito dias depois, em 6 de outubro, al-cançava o Danúbio; em 17 de outubro um exército austríaco, brilhantemente manobrado, se rendeu a Napoleão em Ulm; e, em 14 de novembro, Napoleão ocupou Viena. A corrida em direção ao norte, em 2 de dezembro, esmagou os exércitos austro-russos em sua vi-tória mais famosa, a Batalha de Austerlitz.

Movendo-se com uma força do tamanho da costa do canal da mancha e da costa do mar do Norte, Napoleão entrou, profundamente, na Europa central em apenas três meses, manobra que exigiu um sofisticado planejamento em grande escala. Só aquele Imperador poderia empreender esta campanha tão audaciosa.

1. A INFANTARIA FRANCESA SOB O COMANDO DE NAPOLEÃO

A infantaria é o componente essencial de um exército. Mesmo hoje, nenhum exér-cito pode conquistar e manter um território, sem o emprego da infantaria. A infantaria foi a base do exército napoleônico, um Grande Exército, necessário para fazer frente aos exércitos inimigos da França. A Rússia, a Prússia e a Áustria tinham grandes exércitos e, para realizar a necessária conscrição, a França teria que buscar na força de trabalho civil a satisfação das suas necessidades em homens. A conscrição arrastava para o serviço das armas criaturas que nunca teriam, por seu livre arbítrio o procurado, pois o temiam. O processo de seleção dos mais fracos tinha início na primeira fase de uma campanha. Cer-ta vez, a 69ª “Meia-Brigada” amotinou-se e, quando um general foi enviado para entender a caus a de tal problema, os soldados sorridentes, responderam que eles não tinham feito nada de mais, pois, simplesmente, haviam criado um meio de se distraírem, em face do té-dio. No exército francês não havia punição física, diferentemente do russo, que emprega-va o “gauntelt” (tortura com lanças) e do inglês, que punia os desordeiros com chibatadas.

A maioria dos soldados dos regimentos de infanria de Naoleão era constituída de cobscritos. Durante as Guerra Revolucionárias, a Lei de Jourdan (5 de setembro de 1798) havia estabelecido um processo de conscrição que obrigava todos os não casados de 20 a 26 anos ao serviço miliyat. O sevriço militar seria realizado em 4 anos, em tempo de paz, ou em caso de guerra, durante todo o seru período de duração. Quando as guerras

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do império continuaram, e fez-se necessária uma maior adoção de conscritos, eles foram buscados na classe seguinte ao do último ano de conscrição, e junto aos adolescentes.

Exceto em Paris, a partir de 1799, foi possível comprar um substituto para tomar o lugar de um conscrito nas fileiras. O acordo deveria ser uma questão privada entre os indi-víduos interessados, ao preço entre 2.000 e 4.000 francos, elevando-se a mais de 12.000 francos durante os últimos anos da guerra.

A “escouade” (esquadrão, ou grupo de cmbate para nós) era a maioria das unidades administrativas de um regimento, Era constituída de 12 a 15 homens que deveriam, juntos, compartilhar as tarefas, a fadiga e comer juntos. Um “caporal” (cabo) era o responsável por atribuir-hes as tarefas e mantê-los atualizados em em forma. Quando os conscritos co-meçaram a ser usados junto aos seus novos camaradas, começou a necessidade de lhes prover uniformes. Estes e os sapatos eram manufaturados em três tamanhos padrões, e suas qualidades variavam, consideravelmente, dpendendo dos recursos e do tempo dis-poníveis para a sua prontificação.

Um uniforme básico seria suficiente durante os primeiros dias de treinamento nos aquartelamentos, e somente aqueles com classificação seriam, rotineiramente, obrigados a usar seu casaco ou hábito. Com o passar dos anos do Império, o uniforme tornou-se mais prático.

Infantaria de Linha e Ligeira Em 1789, a Infantaria de Linha de Napoleão compreendia 79 regiemtnos franceses

e 23 estrangeiros, quaso todos organizados em 2 batalhões. A partir de 1º de janeiro de 1791, teve início uma nova reorganização.

Os velhos títulos usados para o regimento foram postos fora, e um grande número de batalhões de voluntários e soldados recrutas foram criados entre 1791 e 1793, alcan-çando o máximo em 1793. A qualidade da nova massa do exército era extremamente variável e, em uma tentativa de combinar a disciplina com o fervor revolucionário, foi ins-tigada a uma amalgamação em 8 de janeiro de 1794 - cada batalhão regular tornar-se-ia, assim o núcleo de uma “demi-brigade”. O 2º Batalhão regular foi aumentado pelos recém criados 1º e 3º batalhões; a ideia era a de que o 2º Batalhão iria assumir o centro do campo de batalha e, assim, poderia manobrar em linha e concentrar seu poder de fogo; as forças de conscrito, uma vez pressionados para os lados, rapidamente deveria deevria se manobrado para a formação em coluna. Este sistema levou à chamada “I’ordre mixte” de Napoleão (ordem da batalha composta), que algumas unidades usaram para prover a cobertura de fogos, enquanto os outros rrealizavam a sua manobra.

Os batalhões da “demi-brigade” eram conhecidos como “de Bataille” quando se tratava da Infantaria de Linha, ou “Legere”, quando da Infantaria Ligeira. Cada um deles consistia de 8 comanhias de “fuziliers” (fuzileiros), uma companhia e “grenadiers” (grana-deiros) mais uma companhia da artilharia regimental. Em uma demi-brigade, cada com-panhia de fuzileiros tinha por lotação um capitão, um tenente, um sub-tenente (2º tenente) um sargento auxiliar (Sargento-mor), 5 sargentos, um cabo furriel, 8 cabos, 2 tambores e 104 soldados fuzileiros. As companhias de granadeiros tinham uma lotação semelhante, tendo, no entanto, 4 sargentos e 84 soldados granadeiros. Evidentemente, as exigências de uma campanha, frequentemente, poderiam alterar este poder de combate teoricamen-te considerado na organização das unidades.

Em setembro de 1803, a palavra “regiment” foi instituída como oficial, e a “demibri-gade” passou a referir-se tão somente àquelas unidades provisórias. Sob essas reformas,

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existia um total de 90 regimentos de infantaria, 19 dos quais tinham 4 batalhões e os de-mais, apenas 3. A partir de 20 de setembro de 1804, cada batalhão passou a contar com sua própria companhia de volteadores, criada a partir da conversão de uma das compa-nhias de fuzileiros, e usada nas tarefas tradicionais de reconhecimento e escaramuças. As mudanças estruturais para a Infantaria de Linha continuaram, através daquele período. Um decreto de 18 de fevereiro de 1808 estruturou, oficialmente, cada regimento com 4 “bataillons de guerre” e um batalhão “depot” (de logística), este último com 4 compahias sob o comando de um capitão.Os “bataillons de guerre” tinham, cada um, 4 companhias de “fuziliers”, 1 de “grenadiers” e 1 de “voltigeurs”, O total regimental era de cerca de 4.000 homens. Mais tarde, para atender as campanhas napoleônicas, batalhões adicionais fo-ram acrescentados aos já existentes nos regimentos.

Em termos de Infantaria Ligeira (ou Leve), a França tiha organizado Corpos de In-fantaria Ligeira em meados de 1700, mas até 1780, eles eram, principalmente, tropas de voluntários ou partes de um corpo misto de infantaria ligeira e de cavalaria ligeira, conhe-cidos, apropriadamente, de “Corps Mixtes”. Através complicadas mudanças organizacio-nais, em 1788, surgiram os “chasseurs a pied” (infantaria ligeira) e os “chasseurs a cheval” (cavalaria ligeira). A este ponto, a Infantaria Ligeira compreendia 12 batalhões, cada um com 4 companhias que, por seu turno, eram gerenciadas por 6 oficiais e 102 homens, em-bora nos tempos de guerra as necessidades fizessem com que o poder de combate fosse aumentado em 21 homens por companhia. Em 1º de abril de 1791, a Infantaria Ligeira, uma vez mais, passou por uma reorganização; desta feita, a tradicional característica re-gimental foi abolida, simplesmente, alterando-se os efetivos das subunidades. O poder de combate das companhias de cada batalhão era agora baseado em 8 companhias, e, em abril de 1792, foi instituído um complemento de até 130 homens para cada companhia, enquanto que, ao mesmo tempo, o número de batalhões aumentou para 14.

Os uniformes das infantarias ligeiras e de linha passaram por uma série de alte-rações e de regulemntações durante o período, ainda que sempre tivesse sido notado que os uniformes oficiais e regulamentares muitas vezes não fossem seguidos. Em 1791, foram introduzidos novos regulamentos de uniformes,e mais tarde foram desenvolvidos os uniformes brancos e os azuis usados pela infantaria de linha e pelos batalhões de sol-dados voluntários e de conscritos, respectivamente. Os regimentos da infantaria ligeira usavam um casaco verde-escuro, estilo infantaria com botões de metal branco exibindo o número do batalhão dentro do “loop” de uma trompa de caça. As lapelas eram verdes e os penachos na cor específica de cada unidade. A infantaria de linha tinha um uniforme branco com gola, coleira, algemas e “turnbacks” coloridas na túnica. O penacho para as infantarias de linha e ligeira eram do tipo “Tarleton” com penacho e turbante na cobertura bicorne.

Os uniformes brancos não desapareceriam por muitos anos, mas em 1793, foi intro-duzido um uniforme azul universal em todo o exército francês, baseado no antigo uniforme da guarda nacional, usando um chapéu bicorne. O padrão de 1793 lançou as bases para muitas variações subsequentes.

A infantaria na batalhaNa verdade, a maneira com que a infantaria francesa lutou desde o início da revo-

lução até a Batalha de Waterloo e a forma com que seus líderes pensavam que deveriam lutar, não foram sempre as mesmas. Sempre havia uma diferença entre a teoria e a prá-tica, tal como havia entre as táticas que dependiam da ação de choque e aquelas que

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dependiam do poder de fogo. Houve, também, variações no estilo de aproximação reali-zada por um comandante para a de outro, e de um tipo de batalha para outra. As táticas que poderiam ser executadas pelas tropas experientes e bem treinadas eram muito mais complicadas do que aquelas que estavam dentro do alcance das tropas ecentemente or-ganizadas ou de segunda linha.

Durante o período de 1792 a 1815, os franceses colocaram em campanha exércitos muito diferentes entre si, nos também diferentes teatros de operações, e suas qualidades estavam longe de serem uniformes.

Durante os anos 1790 os exércitos franceses eram, frequentemente, meio inexpe-rientes e, mesmo, encontravam-se caindo aos pedaços em termos de seus arranjos de logística e suprimentos; mas, pelo menos, eram comandados por homens bem treinados. É importante lembrar que o pensamento militar do Antigo Regime tinha sido muito sig-nificativamente moldado pelas experiências francesas durante a guerra dos sete anos (1756/1763).

A linha era a formação “‘clássica” ou convencional da infantaria, e implicava em uma batalha com base no poder de fogo. Sua desvantagem era a difícil manutenção de uma linha em posição, a menos que fosse gasto muito tempo na verificação e reparo dos ali-nhamentos da tropa. A tarefa de manter todos aqueles homens ao longo de uma extensa frente era realmente assustadora, pois esperava-se que todos se movessem para a frente, para trás ou lateralmente, exatamente em compasso um em relação ao outro. As colunas, no entanto, eram muito mais fáceis de manobrar do que as linhas, particularmente sobre um terreno ondulado; e também deveria haver uma crença generalizada de que eles eram muito bons para que se mantivesse o moral das tropas estáveis, pois, assim, se ganharia confiança mútua entre tantos companheiros.

Linhas e fileirasDurante a primeira parte do século XVIII, a sabedoria convencional entendia que a

infantaria deveria conduzir tanto sua marcha de aproximação, como o combate formada em uma linhas com profundidade de três fileiras, Este arranjo tinha a vantagem da maxi-mização da frente contínua, que poderia ocupar todo um campo de batalha, uma vez que, com uma densidade de três homens por 55cm (22 pol), esperava-se que cada homem pudesse tocar com os cotovelos os seus vizinhos e, assim, um exército de 60.000 homens poderia ocupar uma fachada de não menos que 13km (8 milhas). Mesmo se permitindo a constituição de uma segunda linha, ou linha em reserva, a frente ainda seria de 6,5 km (4,5 milhas), o que ainda seria um muito grande dispositivo. Uma segunda e possivelmen-te ainda mais importante vantagem da formação em linha era que, pelo menos em teoria,

cada soldado seria capaz de disparar seu mosquete ou apontar sua baioneta de maneira mais significativa.

Na prática a terceira fileira e, de certa forma, também a segunda, encontravam dificuldades para atirar ou esfaquear com a baioneta através da fileira à sua frente, e houve alguns relatos de ferimentos desagradáveis infligidos pelas últimas fileiras de tro-pas amigas. No entanto, normalmente era considerado melhor se ater ao emprego das três fileiras, ao invés de duas (ainda que ambas fossem encontradas nas batalhas da era napoleônica), uma vez que os homens extras na retaguarda forneciam apoio moral para os homens na frente, bem como poderiam avançar para preencher as lacunas em caso de pesadas baixas. A “solidez” de uma linha de três fileiras em profundidade foi conside-rada especialmente necessária quando havia uma séria ameaça da cavalaria oponente.

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O outro consenso era que, naquele momento, estariam sendo formados os estrategistas proeminentes de 1804/1805, como já havia acontecido antes, gerando o Regulamento de 1791, que ora precisava ser simplificado.

Cada soldado de infantaria era armado com um mosquete, baioneta e carregava uma mochila, cantil e um cobertor ou manta, além de uma bolsa de munição. De acordo com Chandler “a formação permaneceu em estado rudimentar. O novo recruta poderia receber 2 ou 3 semanas de instruções básicas no aquartelamento, mas ele iria realizar, em média, apenas dois tiros de mosquete por ano na prática de tiro. Muita ênfase, portanto, era dada ao ataque com aço frio...” (Chandler - “Dicionário das guerras napoleônicas”) Mas não era uma infantaria analfabeta. Em 1812, o 33º Regimento de Infantaria de Linha tinha 500 “soldados dignos da graduação de sargento” e mais de 700 que compreendiam o sistema decimal e as três primeiras regras de aritmética. Muitos dos oficiais eram edu-cados classicamente.

Em 1803/1807 a França tinha, provavelmente, a melhor infantaria que já existira na Europa até aquele momento. Foi no acampamento de Boulogne que as maiores ideias militares de Napoleão foram executadas. Os soldados da infantaria Napoleônica eram co-nhecidos por sua agilidade, pelos ataques insistentes e pela velocidade de suas marchas. A manobrabilidade e a velocidade eram as características das campanhas-relâmpago de Napoleão. A infantaria realizava algumas extraordinárias marchas, como por exemplo, a de 1805 e de 1808, durante a perseguição das tropas britânicas que fugiam. Chlapowski escreveu: “a chegada da Primeira Divisão de Infantaria Francesa [na Polônia], pertencen-te ao Corpo de Davout, causou uma marcante impressão em mim. Uma dúzia ou tanto de nós correu para conhecê-los, e já cerca de uma milha fora da cidade, vimos campos completamente cobertos de soldados solados, usando sobretudos de todas as cores, car-regando seus mosquetes com os traseiros ao ar, ou escolhendo caminhos secos através dos campos para evitar a lama até os joelhos da estrada. Bem fora da cidade [Posen], junto aos moinhos de vento, houve uma batida de tambores, e todos eles vieram correndo para suas fileiras e, num piscar de olhos, eles já tinham retirado seus sobretudos, endirei-tado seus bicornes em suas cabeças, mostrando-se, então, como tropas regulares. Então, eles marcharam em um ritmo animado para a cidade, com as bandas tocando. Fizeram alto na Praça do Mercado, ensarilharam suas armas e tiraram pequenos pincéis para limpar a lama de seus sapatos e começaram a brincar como se eles só tivessem estado marchando por uma milha, e não as 150 milhas que tinham acabado de completar. Olhei com espanto aqueles soldados de infantaria, turbulentos, mas até agora invictos. Eles pareciam tão bem, que até poderiam ir para um baile. Não eram como a infantaria prussia-na... Aqueles pareciam ter uma cabeça mais alta, ombros mais amplos e muito mais fortes, mas, ao mesmo tempo duros como madeira, e depois de uma meia-milha marcha, quando sua coluna tinha parado por algum motivo, eles já tinham, imediatamente, quebrado suas fileiras para descansar.” (Chlapowski/Simmons - “Memórias de um lanceiro polonês”).

Muitas das vitórias de 1805 a 1807 foram fáceis e decisivas. Muitos regimentos ganharam fama no campo de batalha. O 57º de Linha (Le Terrible) ganhou uma grande reputação e foi o melhor dos regimentos de linha. Em sua bandeira foi inscrito “Elogiado por Bonaparte por sua bravura em Rivoli”. Em 1805, em Austerlitz, os seguinte regimentos de linha haviam capturado cores aliadas: 14º, 18º, 33º, 43º, 48º, 55º, 75º e 108º. Em 1809, em Aspern-Essling, os soldados de infantaria de linha lutaram como leões. Em 1812, após o banho de sangue em Borodino, o 57º foi premiado com uma medalha da Legião de Hon-ra, afixada à sua águia. O 84º de Linha foi outro regimento que se distinguiu. Em 1809,

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Napoleão Bonaparte ordenou inscrever em ouro as palavras “1 contra 10” (un contre dix) em suas bandeiras para sua luta em Saint Leonhard.

Mesmo na Espanha muitas unidades lutaram galhardamente. John Burgoyne escre-veu em “Vida e correspondência de Burgoyne”: “o regimento francês veio até o morro em passo acelerado e regular, com seus tambores batendo o rítmo da carga; nossos homens dispararam descontroladamente e aleatoriamente contra eles; os franceses nunca retor-naram um tiro, mas continuaram seu avanço constante. Os ingleses atiraram novamente, mas ainda sem retorno... e quando os franceses estavam próximos a eles, os ingleses va-cilaram e cederam terreno. Em 1812, em Salamanca, os 25º e 27º ligeiros franceses tinha atacado, quando a linha britânica hesitou, e os franceses ficaram firmes por um momento. Os britânicos então recuaram e fugiram. Um oficial inglês descreveu sobre a luta entre a elite de fuzileiros britânicos e os franceses: “o regimento francês formou uma coluna estreita com os granadeiros à frente e fechando com os batalhões... Então avançaram até o morro na ordem mais bonita e sem disparar um tiro... quando estavam distantes cerca de 30 passos de nossos homens (britânicos) começaram a disparar, e a disparar... Um tenente avançou 2 passos em frente e colocou as cores francesa no topo do morro e os oficiais o incentivaram . Eles (britânicos) pararam com a aparente determinação de se manterem firmes, mas o inimigo (franceses) continuaram a avançar, em um ritmo constan-te e, quando muito próximos dos fuzileiros, carregaram sobre eles: os franceses seguiram colina abaixo atrás deles.”

A maioria das batalhas Napoleônicas foram muito sangrentas e custaram muitas vidas. Em 1812, após a batalha de Valutina Gora “a divisão de Gudin parou em cima dos cadáveres de seus companheiros e de russos, no meio de árvores e no chão, rasgados por tiros... Os batalhões do Gudin já não eram mais do que pelotões. Tudo ao redor tinha o cheiro de pólvora. O imperador não podia passar ao longo de sua frente sem evitar os cadáveres; passou por cima deles ou os empurrou para o lado. Mas ele ele era generoso com as recompensas. Os 12º, 21º e 127º batalhões de linha e o 7º Ligeiro receberam 87 decorações e promoções.” (Britten-Austin - p “1812 a marcha sobre Moscou”)

Em Borodino, a infantaria sofreu ainda mais. O sargento Bertrand do 7º Regimento Ligeiro escreveu: “um tiro levou cabeça do meu capitão, matando ou ferindo, ainda, mor-talmente quatro homens da primeira fileira. O tenente tomou o lugar do capitão; ele estava no seu posto quando foi atingido na coxa por uma bala. No mesmo instante em que a perna do tenente foi ferida, outro fragmento de granada de canhão também o atingiu. Com os oficiais fora de combate e o Sargento-major ausente, eu, como sargento mais antigo, assumi o comando da companhia.”

A Batalha de Borodino foi a glória da infantaria francesa. O capitão Francois, do 30º Regimento de linha assim descreveu o ataque no reduto de Raievski: “nada podia nos parar... Avançamos mesmo com os tiros inimigos. Fileiras inteiras e metade dos pelotões cairam, deixando grandes lacunas. O general Bonamy... fez-nos deter em uma parada da saraivada de tiros inimigos, a fim de nos reunir e, então, fomos para a frente, a todo custo. Uma linha de tropas russas tentou nos deter, mas estávamos entregues a uma arrancada do regimento, já a uns 30 passos e avançamos sobre eles. Nós, então, nos atiramos sobre o reduto inimigo e o escalamos: eu mesmo entrei através de um vão, depois de um canhão inimigo de ter disparado. Os artilheiros russos tentaram nos bater com as varas de limpeza dos canhões e seus picos de indução de queima. Nós lutamos corpo a corpo com eles, mas eles eram adversários formidáveis.”

Em 1812, a maioria dos veteranos foi engolida nas sangrentas batalhas e pelas ne-

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ves da Rússia. As vítimas eram horríveis e seria necessário um coração de pedra para ver aqueles homens outrora galantes, então mutilados, congelados, rasgados e amontoados aos milhares sobre os campos e estradas.

A reconstrução da infantaria em 1813 não foi uma tarefa simples. Não se pode simplesmente esperar que caiam do céu legiões, armadas, vestidas e treinadas. Napo-leão usou tudo o que tinha. Em 1813, os jovens os soldados eram chamados “infantes do imperador”. Milhares de homens cansados entraram em Dresden, usando suas vestes de batalha e marchando para ela, cantando “A vitória é nossa”. O Marechal Davout es-creveu: “apesar de sua juventude... não lembro de ter encontrado mais ardor em nossas tropas veteranas.” Eles lutaram bravamente em Dresden e Leipzig. Em Leipzig, a defesa de Probstheida foi incrível. Digby-Smith escreveu: “a coragem e a ferocidade mostrada por ambos os lados na batalha de Probstheida foi verdadeiramente única, como foram também as perdas que sofreram. Numa tentativa de avançar para o sul, a Velha Guarda, no entanto, foi detida pela artilharia aliada numa colina baixa distante cerca de 500 m de distância. Os Generais Baillot, Montgenet e Rochambeau foram mortos durante os comba-tes, enquanto que os regimentos franceses de linha que mais se distinguiram foram os 2º e 4º e 18º e o 11º Ligeiro. Até o Príncipe von Preussen escreveu mais lisonjeiramente da bravura do inimigo...”. O oficial do Estado-Maior aliado Maximilian von Thielen escreveu: “ Os franceses estava se mantendo com uma obstinação incomparável...”

Em 1814, a infantaria francesa encontrava-se fortemente reduzida em tamanho. Um punhado de heróis estava diante de toda a Europa, a quem eles mesmos tinham ensinado a arte de lutar na última década. Em 1815, não eram mais que uma memória gloriosa. Após os a Campanha dos 100 dias, o rei francês Louis XVIII decidiu que nenhuma lem-brança da República ou do Império poderia sobreviver no Exército. Em consequência, aquela organização do Exército francês e os uniformes do Império foram banidos.

Os soldadso da infantaria napoleônica, não eram mais reconhecidos, e poucos ou ninguém se preocupava com ele; nem as pirâmides do Egito, nem as vastas planícies da Rússia nevada. Não importava onde se encontrassem, pois considerava-se terem sido, apenas, os representantes de um caminho da vida francesa. Mas o Exército nunca esque-ceu que, sob as águias de Napoleão, foi merecedor de homens de coragem e de inteli-gência, criados para os mais altos níveis da sociedade. Os simples soldados tornaram-se oficiais, príncipes, duques e reis. O soldado francês tornou-se um cidadão igual, pelo direito e pela glória.

Os soldados de infantaria francesas não eram anjos e às vezes se comportaram mal. Chlapowski, da Guarda de Lanceiros de Napoleão escreveu: “a defesa austríaca da cidade tinha sido feroz. Um grande número de cadáveres franceses estava na frente e na ponte que leva até o portão da cidade. ... Após uma luta feroz, os franceses entraram na cidade e correram furiosamente por entre os austríacos, deixando muitos corpos pelas ruas. .... [eles] tendo perdido muitos homens antes de tomar a cidade, exigiram uma ter-rível vingança depois. O Imperador se recusou a entrar a cidade até a manhã seguinte. Acho que nem ele ficou perturbado pela visão desta carnificina.

2. DIFERENÇAS ENTRE AS INFANTARIAS DE LINHA E LIGEIRA

Havia dois tipos de infantaria, a de linha e a ligeira (ou leve). Ambas tinham condi-ções de excutar todas as manobras, inclusive as de proteção de flanco (escaramuceiros, skirmishers).

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A infantaria ligeira, no entanto, era mais intensivamente treinada em tiro e execu-tava todas manobras em alta velocidade. A infantaria ligeira constituía a vanguarda e os destacamentos de escolta. Este tipo de tarefa havia desenvolvido a sagacidade do solda-do e o julgamento independente de uma situação. Já não era mais um robô estúpido, em uma formação de passo marcado, que se deslocava e atirava, apenas, mediante ordem.

Cada companhia de infantaria era dividida em 2 seções, mas quando realizando as tarefas de escaramuceiros (proteção de flanco) era dividida em 3 seções> a da esquerda, a da direita e a do centro. Os escaramuceiros das seções da esquerda e da direita tinham suas baionetas removidas, quando em linha de escaramuceiros. Somente a a seção do centro mantinham suas baionetas fixadas nos fuzis. Seus alvos principais eram oficiais, artilheiros e escaramuçadores do inimigo..

A Infantaria Ligeira de Napoleão gozava de grande reputação na Europa. Em seu livro “Razões básicas para o sucesso francês”, o general prussiano Scharnhorst teria dito que o soldado francês, individualmente, assim como o soldado da infantaria leve, tinha decidido a maioria dos engajamentos táticos da guerra. Scharnhorst escreveu: “A capaci-dade física e a alta inteligência do homem comum permitiu que a infantaria leve francesa lucrasse com todas as vantagens oferecidas pelo terreno e a situação geral, enquanto os fleumáticos alemães, boêmios e holandeses formavam em um terreno aberto e não faziam nada mais além do que seus oficiais os mandava fazer.” O major K.F. von Knesebeck viu os franceses em seis engajamentos, desdobrar “sua infantaria inteira” em ordem aber-ta como escaramuçadores “com decidida superioridade.” Knesebeck acreditava que os prussianos e austríacos... poderiam aprender muito com os franceses da infantaria leve. De acordo com o autor Gunther Rothenberg “rigidamente controlada e disciplinada, os escaramuçeiros austríacos, raramente, eram iguais aos franceses.”

Mas nem todos os comandantes franceses empregavam a infantaria ligeira ade-quadamemte. Em 1812, Smolensk von Suckow afirmou que “um oficial do Estado-Maior francês, sem ter reconhecido o terreno previamente, lançou a Infantaria Leve de Wuertem-berg – particularmente seus soberbos Caçadores a Pè - direto contra uma elevação muito alta, onde eles foram, simplesmente, detidos pelo oponente que os dominava nas alturas. Aquela tropa, furiosa por ter sido forçada a realizar uma missão tão absurda, viu-se obri-gada a bater em retirada, depois de perder 5 oficiais dentro de poucos minutos.” (fonte: Britten-Austin - p “1812 a marcha sobre Moscou”)

FORÇAS E FRAQUEZAS DA INFANTARIA LIGEIRA (Inf Lig)FORÇAS FRAQUEZAS

A Inf Lig frequentemente formava as guarda avan-çadas, pois tinham maior experiência de combate e maior espírito de corpo.

Sendo frequentemente empregada em combate, so-fria um grande número de baixas, E quanto mais longos os combates, maior o número de perdas e de “stress”.

Era constiuída de soldados mais rápidos e mais ágeis que os demais infantes..

xxxxx

Era formada dos melhores atradores de elit. Exigia longos treinamentos, o que dificultava as cam-panhas em que os exércitos eram empregados sem parar. Exigiam um grnande consumo de munição.

Em ação de “skirmishing”, ou em combate em áreas matosas ou urbanizadas, tinha ótima proficiência. O porto físico de seus componentes facilitava essas aões (Ver quadro a seguir)

Era constituída, vias de regra, pelos homens mais baixos e mais fracos do exército. (Ver quadro a seguir)

As guerras napoleônicas

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Altura média do infante:

INFANTARIA DE LINHA INFANTARIA LIGEIRA

Granadeiros = 1,70 m Carabinaiero = 1,68 m

Fuzileiros = 1,64 m Caçador = 1,62 m

Volteaadores = 1,59 m Volteador = 1,58 m

Altura média de uma amostragem de 3.503 soldados Altura média de uma amostragem de 900 soldados.

3. GENERAIS: DUHESNE, SAINTE-HILAIRE, VANDAMME, E CAOMPANS

Filippe-Guillaume Duhesme (1766-1815).De acordo com Barbero, ele era “um antigo jacobino “engolidor de fogo” que, como

muitos outros, tinha crescido rico por caminhos nebulosos, e ele tinha se envolvido em muitos assuntos obscuros... que, em 1810, o Imperador o tinha demitido do serviço e exilou-o de Paris, tendo sido, no entanto, restaurado para o seu posto, pois era um coman-dante de batalha extraordinário...” (Barbero - “A batalha”) Chandler escreve: “até o final de 1807, ocupou vários comandos na Itália, mas em 1808 foi precocemente transferido para a Espanha. Lá ele se aproveitou da Cidadela de Barcelona e, como seu governador resistiu a um cerco longo e intermitente. Em 1810 foi convocado para a França em desgraça, para enfrentar uma infinidade de acusações de ações impróprias e malversações e, por um lon-go tempo viveu em um semi-retiro.” (Chandler - p “Dicionário das guerras napoleônicas”)

Duhesme era um perito em combate de Infantaria Ligeira. Em 1814, ele escreveu “Essai sur l’infanterie légère” ou “Traité des petites operations de la guerre”à l’usage des jeunes officiers”. ‘ Duhesme disse que “é este gênero de combate que o gênio francês brilha com um brilho maior’. Ele achava que o Regulamento de 1791 mostrava muitos movimentos inúteis. Em 1815, em Waterloo, Duhesme comandou a Jovem guarda. Ele lutou contra os prussianos e foi ferido. Duhesme se recusou a sair, e foi mantido na sela por soldados dedicados. Após a batalha, Blücher forneceu-lhe o quarto dele e ordenou ao seu próprio cirurgião para cuidar dele. Duhesme morreu pouco depois.

Louis-Charles Saint-Hilaire (1766-1809)Jacques Garnier escreveu: “em Austerlitz, foi Saint-Hilaire, que, com a divisão de

Vandamme, liderou o ataque nas alturas de Pratzen. ... Ele lutou em Jena e em Eylau, onde sua divisão saiu-se notavelmente bem, incluindo: o movimento para a frente de sua artilharia (comandada por Séruzier, e a heróica resistência de toda a divisão, tornando possível para o 3º Corpo de Davout chegar a tempo de garantir a vitória. ... em 1809, ele comandou uma divisãod o 2º Corpo em Lannes. Em Essling (22 de maio de 1809), sua luta cessou quando fpi atingido por fragmentos de uma bala de canhão, e foi levado para Vie-na, onde morreu em 3 de junho. Por se falar em Lannes e Saint-Hilaire ,há de se lembrar que Napoleão disse, em Santa Helena: esses dois nunca tinham sido infieis para a glória do povo da França. “

Alguns pensavam que ele era como um cavaleiro sem medo e censura. Ellting es-creveu: “St Hilaire, em quem o epíteto de Bayard ‘sem medo e censura’ foi revivido, morreu de ferimentos em 1809. ... Napoleão, que conheci durante o cerco de Toulon em 1793, elogiou seu caráter cavalheiresco e o considerava tanto como um amigo pessoal, como um herói.”

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Dominique-Joseph Vandamme (1770-1830).Ele era um soldado violento e brutal, famoso por sua insubordinação e saques.

Napoleão disse uma vez para ele, ‘se eu tiver dois de você, a única solução seria ter um o jeito do outro.’ Ele também disse que ´Napoleão deveria lançar uma campanha contra Lúcifer no inferno, então ele iria comandando a vanguarda”.

“Vandamme... era um valentão ... Um flamengo com cabelos avermelhados e olhos cinzentos... Seu temperamento era instantâneo, seu vocabulário sulfuroso, seu talento por insubordinação estupendo. Nenhum marechal gostaria de tê-lo como um subordinado; Só Davout poderia cuidar dele. ... mas ele estava sempre pronto para marchar e lutar... As tropas alemãs gostavam de servi-lo; ele tratava seus subordinados com rigor de ferro, mas fazia o melhor possível para cuidar deles.” (Elting - pp “Espadas em torno de um trono”).

Marbot escreveu: “O General Vandamme era um oficial fino e corajoso, que já bem conhecido das primeiras guerras da revolução, tinha estado quase que continuamente no comando do Corpo durante aqueles idos do Império; assim, foi surpreendente que ele ainda não tivesse transferido a batuta a um delegado; foi preso, talvez por causa de sua maneira brusca e abrupta. Seus detratores disseram, após sua derrota, que seu desejo de obter aquela honraria tão cobiçada, tinha conduzido, nada mais do que 20.000 homens, a caírem, precipitadamente, no caminho de 200.000 inimigos, com o objetivo de barrar a sua passagem...”

Vandamme foi derrotado em 1813 em Kulm e foi feito prisioneiro pelos russos. Após a restauração do rei Louis XVIII de França Vandamme foi exilado para a Amé-

rica.

Jean-Dominique Compans (1769-1845)Compans começou sua carreira militar em 1791 como voluntário em Haute-Garon-

ne e tornou-se capitão aos 23 anos. Compans encontrou Bonaparte durante o cerco de Toulon. Ele foi promovido ao posto de general de brigada em 1799. Em 1806, Compans tornou-se general de divisão e serviu no corpo de Davout durante vários anos. Em 1812, durante a invasão da Rússia, Compans comandou a 5ª Divisão de Infantaria no I Corpo de Davout. (Na 5ª Divisão foi apelidado de “O terrível” pela sua bravura em combate).

Lejeune descreveu os vigorosos ataques de Compans, e o banho de sangue em Borodino: “o primeiro ataque foi repelido [pelos russos] e Compans foi ferido no braço esquerdo. Ele, no entanto, mal teve sua ferida coberta, ordenou um segundo ataque. Este também foi repelido e Compans, irritado com sua segunda falha, e determinado a ter sucesso, ordenou, então, um ataque vigoroso para ser realizado na retaguarda do reduto inimigo, enquanto ele e o Coronel Charrière à testa do 57º Regimento violaram a brecha aberta passo a passo. Desta vez o reduto caiu...”

Compans teve a honra de ser o primeiro a conduzir sua infantaria, na troca de fogos com os russos. Ele recebeu ordens para atacar o centro do inimigo, à esquerda da floresta de Passavero e, para alcançá-lo, ele teve que escalar as alturas e conquistar os redutos que barravam a sua passagem. O 57º Regimento liderou o caminho carregando tudo; os batalhões carregaram sobre o primeiro reduto em ritmo acelerado, onde o combate corpo a corpo durou quase uma hora.”

“Em 1799, quando seus soldados descalços recusaram-se a se deslocar, Compans jogou fora as suas próprias botas gastas e iniciou a marcha, dando o exemplo para o seu pessoal. Napoleão o classificou como um general de primeira lina em combate e Davout, depois o premiou como Chefe-do-Estado-Maior de seu Corpo...” (Elting - p “Espadas em

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torno de um trono”)

4. PODER DE COMBATE E RECRUTAMENTO

O poder de combate (força combatente em número de homens da infantaria variou muito ao longo dos tempos. No início do reinado de Napoleão havia 90 regimentos de linha e 26 ligeiros. No período de 1813 a 1814, foram alcançados os valores massivos de 137 regimentos de linha (numerados de 1 a 157) e 35 ligeiros (numerados de 1 a 37). Somente em 1815, o poderd e combate da infantaria caiu para 90 de linha e 15 ligeiros.

Infantaria de Linha

A quantidade de regimentos era, quase sempre, idêntica ao número de departamen-tos existentes na França. Em 1790, a França havia sido organizada em 83 departamentos de tamanhos semelhantes, sendo cada um deles subdividido em 4 a 5 partes. Cada de-partamentot teriaque prover de 4 a 5 batalhões de linha para o Exército Revolucionário.

No período de 1792 a 1793, em razão dea conquista territorial, foram organizados novos 4 departamentos (principais cidades: Avignon, Cambery, Nice e Bale). Em 1796, fo-ram adidos mais depaftamentos com as cidades belgas de Bruges, Ghent, Mons, Antwerp, Brussels, Maastricht, Liege, Namur e Luxembourg. Estes 9 novos departamentos tiveram que fornecer belgas para o Exército fancês.

Pelo menos metade dos belgas falava francês (Wallons). Em 1798, mais 4 depar-tamentos da margem direita do rio Reno e 1 da Suíça foram adicionadas ao Império, atingindo um total de 96 departamentos. Em 1812, eram 134, entre eles o departamento de Leman, com Genebra como capital, o departamento de Roma, o departamento de Zuyder-Zee, com capital em Amsterdam e o departamento do baixo Elba, com capital em Hamburgo. Era, realmente, um grande Império. Após a derrota em 1814, este número diminuiu e a França passou ater apenas 86 departamentos.

Em 1803, o Exército francês tinha 89 regimentos de linha, numerados de 1 a 112. Vinte e três ficaram vagos, em razão da febre amarela e baixas sofridas em San Domingo.

Infantaria Ligeira O poder de combate (força combatente em número de homens da infantaria variou

muito ao longo dos tempos. No início do reinado de Napoleão havia 90 regimentos de linha e 26 ligeiros. No período de 1813 a 1814, foram alcançados os valores massivos de 137 regimentos de linha (numerados de 1 a 157) e 35 ligeiros (numerados de 1 a 37). Somente em 1815, o poderd e combate da infantaria caiu para 90 de linha e 15 ligeiros. Infantaria de Linha A quantidade de regimentos era, quase sempre, idêntica ao número de departamen-tos existentes na França. Em 1790, a França havia sido organizada em 83 departamentos de tamanhos semelhantes, sendo cada um deles subdividido em 4 a 5 partes. Cada de-partamentot teriaque prover de 4 a 5 batalhões de linha para o Exército Revolucionário.No período de 1792 a 1793, em razão dea conquista territorial, foram organizados novos 4 departamentos (principais cidades: Avignon, Cambery, Nice e Bale). Em 1796, foram adidos mais depaftamentos com as cidades belgas de Bruges, Ghent, Mons, Antwerp, Brussels, Maastricht, Liege, Namur e Luxembourg. Estes 9 novos departamentos tiveram que fornecer belgas para o Exército fancês. Pelo menos metade dos belgas falava francês (Wallons). Em 1798, mais 4 departamentos da margem direita do rio Reno e 1 da Suíça

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foram adicionadas ao Império, atingindo um total de 96 departamentos. Em 1812, eram 134, entre eles o departamento de Leman, com Genebra como capital, o departamento de Roma, o departamento de Zuyder-Zee, com capital em Amsterdam e o departamento do baixo Elba, com capital em Hamburgo. Era, realmente, um grande Império. Após a derrota em 1814, este número diminuiu e a França passou ater apenas 86 departamentos. Em 1803, o Exército francês tinha 89 regimentos de linha, numerados de 1 a 112. Vinte e três ficaram vagos: 31,38,41,49,68,71,73,74,77,78,80,83,87,89,90,91,97,98,99,104,107,109e 110. A maioria dos números vagos deveu-se a febre amarela e baixas sofridas em San Domingo.Infantaria Ligeira Os regimentos de Infantaria Ligeira foram atribuídos aos departamentos localizados em regiões montanhosas, de onde eram extraídos os concritos e os voluntários. Em 1803, o Exército francês tinha 26 regimentos de Infantaria Ligeira, numerados de 1 a 30. Quatro números ficaram vagos. Em 1813 a 1814, eram 35 unidades numeradas de 1 a 37, com dois números vagos, portanto..

5. ARMAMENTO E ORGANIZAÇÃOMosquetes, Baionetas e Sabres. Regimentos, Batalhões e Companhias.

Mosquete modelo Charleville 1777

A infantaria francesa era armada com mosquete, caixa de cartucho, baioneta e, alguns, com um sabre curto. Um cinto de couro branco era passado por cima do ombro esquerdo, para apoiar a caixa de cartucho no quadril direito. Outro cinto segurava o sabre curto e a baioneta. Quando o sabre foi retirado de algumas tropas, a baioneta foi transferi-da para outro cinto. A cor natural dos cintos de couro era pintada para ficar da mesma cor que as túnicas. Os cinturões em cruz do soldado de infantaria foram a característica do período napoleônico. (Os oficiais não usavam há cintos cruzados).

Mosquete e baioneta Estes mosquetes receberam o nome do arsenal em Charleville, França. Ele também

foi distribuído para os americanos e, mais tarde, tornou-se padrão o mosquete Spring-field, de 1795. Alguns dos elementos originais do modelo Charleville 1777 são as cristas de dedo no guarda-mato, peças de bronze e uma coronha de madeira esculpida. O 1777 Charleville foi considerado pela maioria dos europeus como o melhor mosquete do mundo.

A munição era carregada em uma caixa de cartuchos, chamada “giberne” e era utilizada por toda a infantaria e cavalaria. Para as campanhas, a caixa de cartuchos era coberta por tampas feitas de linho branco. Na capa era pintado o número do regimento e do batalhão

Sabre curto

As guerras napoleônicas

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Oficialmente, os sabres curtos deveriam ter sido distribuídos somente para as com-panhias de elite dos batalhões e para a Guarda Imperial. De forma não oficial, no entanto, também os “voltigeurs” e os “chasseurs” também o receberam. Os sabres foram de muito pouco valor em combate e um fardo durante as tarefas de proteção (skirmishing), mas os soldados gostavam deles. Talvez fosse uma questão de status, pois o ‘nobre’ cavaleiro car-regava sabres e, então, por que não os soldados de infantaria, certo? Estes sabres foram usados principalmente nos acampamentos, embora fossem mantidos durante o combate. Às vezes, as tropas deixavam os sabres em depósitos antes de marcharem para o campo.

O decreto de 27 de outubro de 1807 proibiu os “voltigeurs” de serem armados com sabres. Claro que nenhum deles levou muito a sério a determinação e mantiveram suas mini-armas até 1815. Também, as companhias do centro (“chasseurs”) dos regimentos de infantaria ligeira tiveram que perder os seus sabres em 1807. Mas em alguns regimentos isso trouxe pouco resultado e, então, a ordem foi repetida em 1815. Só os sargentos, granadeiros (carabineiros) e músicos estavam autorizados a estar armados com sabres curtos.

Regimento (1.000 a 4.000 homens) A organização da infantaria napoleônica era padrão: dois regimentos de infantaria

formavam uma brigada, duas brigadas formavam uma divisão, e duas divisões formavam um corpo. Pequenas tropas de artilharia ligeira eram adidas a cada divisão. Cada corpo tinhauma artilharia pesada e engenheiros.

Unidades administrativas e táticas do Exército de Napoleão

Unidades administrativas Unidades táticasCorpo

DivisãoBrigada

Regimento RegimentoBatalhão

(Unidade tática básica)Companhia Pelotão

Antes da Revolução, o Exército grancês era composto de 3 batalhões regimetnos. Em 1792, antes da Batalha de Valmy, foi decidido a formação das “demi-brigades”, ao in-vés de regimentos. Cada “demi-brigade” era formada de um batalhão regular do regimen-to pré-revolucionário, combinado com dois batalhões de voluntários. As “demi-brigades” foram adotadas por todo o Exército francês, dois anos mais tarede. Em 1803, Napoleão reinstalou o termo regimento”, sendo a expressão “demi-brigade” aplicada somente para as tropas provisórias. Cada regimento de Infantaria de Linha e Ligeira tinha: Estado-Maior, 2 a 6 batalhões de guerra e um batalhão depósito. Em 1811, Napoleão determinou que os majores, então sub comandantes, fossem nomeados para todos os regimentos que tivessem 4 a 6 batalhões de guerra.

Antes da Revolução, o Exército grancês era composto de 3 batalhões regimentos. Em 1792, antes da Batalha de Valmy, foi decidido a formação das “demi-brigades”, ao in-vés de regimentos. Cada “demi-brigade” era formada de um batalhão regular do regimen-

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to pré-revolucionário, combinado com dois batalhões de voluntários. As “demi-brigades” foram adotadas por todo o Exército francês, dois anos mais tarede. Em 1803, Napoleão reinstalou o termo regimento”, sendo a expressão “demi-brigade” aplicada somente para as tropas provisórias.

Cada regimento de Infantaria de Linha e Ligeira tinha: Estado-Maior, 2 a 6 batalhões de guerra e um batalhão depósito. Em 1811, Napoleão determinou que os majores, então sub comandantes, fossem nomeados para todos os regimentos que tivessem 4 a 6 bata-lhões de guerra.

O pessoal do Estado-Maior do regimento a 3 batalhões consistia de:- 1 Coronel (mountado)- 3 Chefes de batalhão- 1 Ajudante-Chefe, do posto de capitão (montado) - 1 Oficial Tesoureiro – que trataria da pagamento e das finanças das tropas.- 1 Major-tambor- 1 Portador da Águia, com dois escoltas. - Não combatentes: cirurgiões + enfermeiros, sapateiro, armeiro, artilheiro, alfaiate.- Músicos

Batalhões de guerra dos anos de 1808 (600 a 1.200 homens) No início do reinado de Napoleão, o batalhão de guerra [Bataillon de Guerre] tinha

1 companhia de granadeiros (carabineiro) e 8 companhias de “fusilier” (“chasseur”). Em 1805, uma das companhias de “fusilier” foi transformada em uma companhia de “volti-geur”. Em setembro de 1806, antes das hostilidades com a Prússia, os terceiros batalhão de guerra foram dissolvidos para recompletar os dois outros batalhões, e ainda, enviou os quadros para a França para coletar os recrutas. Entre 1805 e 1808 o batalhão de linha tinha:

=> 1 companhia de granadeiros (80 a 90 homens) => 1 companhia de volteadores (“voltigeur”) (120 homens) => 7 companhias de fuzileiros (120 homens cada) - 1 Chefe de batalhão (montado) - 1 Ajudante-Mór – no posto de capitão - 1 Major sub-comandante – no posto de tenente - 1 Ajudante Sub-oficial –um sargento sênior - 1 Cabo-tambor

Com a formação acima os franceses venceram a maioria e as maiores batalhas. O batalhão tinha uma alta cadênca de tiro e o endurecimento da batalha graças aos vetera-nos. O período entre 1804 e 1807, foi chamado de Anos de Glórias. A título de compara-ção, em 2005, um batalhão do US Army tinha entre 300 a 1.000 soldados “marines”, que constituíam várias companhias e era comandado por um tenente-coronel.

Batalhão de guerra depois de 1808 (420 a 840 homens)Em 1808, Napoleão Bonaparte ordenou a alteração da organização do batalhão

de guerra (“Bataillon de Guerre”) de 9 para 6 companhias (mais fortes). Estas mudanças foram implementadas àas tropas no teatro principal da guerra, enquanto os teatros se-cundários (Espanha e Itália) manteriam seus batalhões de 9 companhias ainda por algum tempo. Entre 1808 e 1815, o batalhão foi fortalecido com 840 homens. (A opinião de Da-

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vout, numa carta datada de 10 de setembro de 1811, era que um batalhão de 960 homens seria muito grande para ser gerenciado corretamente.). Na realidade, o poder de combate do batalhão ficava entre 400 e 600 homens. Por exemplo, em 1809, em Wagram, eram 255 batalhões. com uma média de 556 homens cada. Muitos regimentos de linha forma-ram seus quartos batalhões de campanha. Em 1811, Napoleão Bonaparte ordenou que os majores no exercício de sub-comandantes fossem nomeados para todos os regimentos com 4 a 6 batalhões de guerra. Entre 1808 e 1815, o batalhão de linha tinha

=> 1 Companhia de “grenadiers” (140 homens) => 1 Companhia de “voltigeurs” (140 homens) => 4 Companhias de “fusiliers” (140 homens cada) - 1 Chefe de batalhão (montado) - 1 Ajudante-Mór – no posto de capitão - 1 Sub-Ajudante-Mór – no posto de tenente - 1 Ajudante Sub-ofiial – na raduação de sargento sênior - 1Cabo-tambor

Batalhão Depósito O Batalhão Depósito era gerenciado por um captitão antigo, cm ummajr no coman-

do. Nos depósitos os novos soldados eram vestidos e treinados. Lá eram também realiza-das os ráidos exames físicos nos recrutas, cuja melhor idde ficava entre os 20 e 25 anos. Uma vez uniformizados e treinados, os novos soldados eram mandados para o “front”, onde sjuntavam a um dos três batalhões de campanha de cada regimento. É mostrada, abaixo, a organização de um batalhão depósito:

1 Major (montado1 Capitão1 Tesoureiro1 Cia de “fuziliers” (ou de “chausseurs” na Infantaria Ligeira.1 Cia de “fusiliers” (ou de “chausseurs” na Infanaria Ligeira)

“Cada companhia (do “Batalhão Depot”) tinha uma tarefa específica. A 4ª Comanhia do batalhão raramente deixava o depósito, pois era encarregada do treinamento dos re-crutas e tinha em seu efetivo os artesões dos regimentos e os “enfents de troupe” (filhos de soldados mantidos no rol de pagamento), e alguns soldados veteranos que se encon-travam aguardando a reforma, ou a baixa, ou eram pensionistas.As 1ª e 3ª Companhias eram responsáveis pelo transporte dos novos recrutas, já prontos, para os batalhões em campanha... À 2ª Companhia era geralmente atribuída a tarefa da guarda dos navios de guerra e da segurança das guarnições que os mnatinham nos portos”. (Nafziger – “Napo-leon´s Invasion of Rússia”)

Companhia – (70 a 140 homens) A “Companie”(companhia) era uma unidade administrativa, cujas unidades táticas

eram os “pelotons” (pelotões). A companhia francesa consistia de um pelotão. O batalhão de guerra tinha 9 (antes de 1808) ou 6 (depois de 1808). Até 1808, a companhia de grana-deiros tina de 80 a 90 homens e as companhias do centro, 120 cada. No período de 1808 a 18015, cada companhia possuía 140 homens, a saber:

- 1 capitão

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- 2 tenentes- 1 sargento-mór - 4 sargentos (com capacidade de liderança, para controlar a tropa) - 1 almoxarife- 8 cabos- 2 a 3 tambores- 121 soldados

Antes de seguir para o campo de batalha, o deveria deveria ter todas as compa-nhias equalizadas elo chefe. Se a companhia de “grenadiers” ou de “voltigeur” estava com poucos homens, então eram selecionados “fusiliers” para ajudar no recompletamento das fileiras. Era importante que se mantivesse a frente da tropa, não somente com o processo acima descrito, nas também pelo deslocamento de soddos da 3ª fileira para completar a 1ª. Por vezes, a 3ª fileira era dissolvida para, em face da necessidade, preencher as 1ª e 2ª fieliras.

As companhias de “grenadiers”, por vezes, também eram destacadas de seus ba-talhões de origem para formar o então chamado “Battalion de Grenadiers” e, algumas vezes, divisões inteiras.Em 1796, Bonaparte formou uma vanguarda destacando compa-nhias de “grenadiers” e de “carabiniers” das “demi-bribades” (que eram provisórias) e, com elas formou uma divisão provisória com 4.000 homens, que foi posta sob o comando do General Dallemagne. Em sua organização para o combate, forma colocadas, ainda, sob o comnado dos generais Lannes e Larusse, respectivamente, uma brigada de artilharia a cavalo e uma cavalaria ligeira.

Na ágina seguinte é mostra a formação de um batalhão a 6 companhias. Nela, a companhia francesa (pelotão), mostrada no detalhe,está formada em 3 fileiaras enquanto o batalhão (a 6 companhias) está formado em linha.

Quando o Chefe do batalhão dá a ordem de “Avançar!”, e as alas esquerda e direita do batalhão guinam, e a primeira fileira (ou a da badeira) da linha inteira avança seis pas-sos. Feito isso estava montão o alihamento do batalhão. Então o chefe do batalhão dava uma segunda odem:”Marchar!”,e todo o batalhão inciava a marcha.

Se houvesse vários batalhões avançando lado a lado, o intervalo ente eles seria de 15,6 m. O espaço entre as 1ª, 2ª e 3ª fileiras eram as seguintes:

- Na Infantaria francesa: 0,325 m;- Na Infantaria russa: 0,325 m;- Na Infantaria britânica: 0,63 m;- Na Infantaria prussiana: 0,66; e- Na Infantaria austríaca: 1,25 m. (!!!)O diagrama da segunda página seguimte mostra dois batalhões (cada um a 6

companhias) formados em conunas, Ambas a colunas tem a mesma largura: 2 compahias pelotões), mas diferentes profundidades.As colunas do batalhão da esquerda tem “inter-valos completos”, e nas do da dieita está compacto, sem intervalos.

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Batalhão a 6 companhias: 4 de “fuziliers , mais uma de “voltigeurs” (Es) e outra de “genadiers” (Dr). Mostra. ainda , em detalhe a composição

de uma companhia de “fusiiers”

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Batalhão a 6 companhias. A companhia francesa (pelotão), mostrada no detalhe,está formada em 3 fileiaras enquanto o batalhão (a 6 companhias)

está formado em linha.

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6. TAMBORES, CORNETAS E SAPADORES

Tambores e cornetas.Enquanto o atual comandante de companhia baseia-se no seu rádio operador, seu

homólgo dos tempos de Napoleão dependia dos seus tambores e cornetas. Durante a ba-talha, que era muito barulhenta, ninguém ouvia a voz de um oficial comandante. Por esta razão, cada companhia tinha tambores e cornetas que realizavam o seu serviço de ritmar a marcha da infantaria por meios de sons musicais.

Aos músicos também era atribuída a tarefa de carregar os oficiais feridos para fora da zona de perigo e, depois da batalha, guardar seu tambores e carregar os seus cama-radas feridos ara os hospitais de campanha.

TamboresCada companhia tinha de 2 a3 tambores. Eram instrumentos pesados e difíceis de

segurar, razão pela qual os tocadores de tambor tinham um adestramento duro, pois deles dependeria a caência da mafrcha e da virtória. Os tamboreiros não eram necessariamente jovens; em Watrloo, por exemplo. A idade media deles era de 23 anos, com um tempo de serviço médio de 8 anos.

CornetasSegundo o coronel John Elting (EUA), durante 1804/1805, primeiro os regimentos

de infantaria ligeira e então as companhias de “voltigeurs” dos regimentos de linha, foram então recompletados com cornetas Eram cornetas de caça, de tubo circular e que soavam

como um sino fulgurante. Logo, as cornetas se tornaram extremamente não popu-lares, O seu som era irtante e incomodava a tropa e, em razão disso, gradualmente, os regimentos de linha recuperaram s seus tabores, ficand a corneta só para “shows”

Sapadores (Engenheros de combate)Cada batalhão tinha 1 cabo e 4 sodados sapadores. Esses homens fortes marcha-

vam junto com a banda do regimento e perto da bandeira com a águia. Os sapadores eram selecionados entre as companhias de “grenadiers” (ou de “carabiniers”). Eram equipados com enxadas e portavam cobertura sem pala. As barbas eram obrigatórias.

Durante o combate, eles quebaravam porteiras, abriam brechas nas paliçadas, construíam pequenas pontes ou as destruíam, e quebravam muros ou abatiam árvores para prover posições de tiro paa a infantaria. Antes de Waterloo, Napoleão tinha manda-do as companhias de sapadores do I Corpo do Exército (de Erlon) ficar em condições de construir barricadas no entorno das construções de La Haye Sainte e, assim evitar que o inimigo a reocupasse.

7. GRANADEIROS, CARABINEIROS – FUZILEIROS - CAÇADORES - VOLTEADORES

A elite das tropas de assalto. Cada batalhão de campanha tinha somente uma companhia de “grenadiers” (ou

“carabiniers” na Infantaraia Leve). Ela era, ainda, a elite da tropa de choque, frequente-mente usada como ponta-de-lança da força atacante. Também recebiam um pagamento maior. O rei prussiano Frederico, o Grande, qualificava seus granadeiros de bons an-dadores,e os mandava usar cabelos pretos e bigodes, pois não desejava que tivessem

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qualquer aspecto feminino. Formavam um próprio batalhão usado para “rachar” as tropas inimigas no campo de batalha.

Os granadeiros de Napoleão (e os carabineiros da Infantaria Ligeira) também eram tropas de elite, selecionadas por suaestatura e experiência em combate. O Decreto Im-perial de 18 de fevereiro de 1808 estauiu no seu artigo 9º: “A companhia de granadeiros

(...) deverá ser formada de elementos retirados da totalidade dos Corpos, em razão de sua altura (...) e deverão possuir, pelo menos, 4 anos de serviço e ter participado de, pelo

menos duas das seguintes campanhas. Ulm, Austerlitz, Jena ou Friedland”. Os re-cém-formados regimentos e batalhões não tinham granadeiros, quando as necessidades do combate não os exigissem.

Quanto às suas aparências, foi estipulado que deveriam apresentar uma imagem formidável, com bigodes, dragonas vermelhas e chapéus de talho alto. As dragonas am-pliavam seus ombros e os quepes os faziam aparentar mais altos. Claro, nem sempre e nem em todos os lugares tais regras se mostraram rígidas: “Coignet foi transferido de seu batalhão auxiliar direto para a companhia de granadeiros, basicamente porque ele era mais alto do que a média e mais forte”. Os granadeiros também eram treinados para operar armas.

De acordo com os regulamentos da economia interna e da infantaria [Seção IX do artigo 1º] emitida em 1791: “os granadeiros deveriam ser um exemplo de boa conduta e de subordinação. Eles serão sempre selecionados entre os soldados de mérito, e aprovados por serem os mais distintos. Todos os anos, no dia 9 de setembro, uma lista de soldados deveria completar a companhia de granadeiros a ser formada. Cada um dos vários capi-tães de um batalhão deverá escolher os 3 homens mais cobiçados da sua companhia de fuzileiros para se tornarem granadeiros. Estes homens selecionados devem estar a servir, pelo menos por 2 anos, e ter, pelo menos, 173,5 cm de altura (5’4 “ francesas). Estes homens selecionados deverão ser reunidos e examinados pelo capitão, pelos oficiais, pelos sargentos e por dois soldados sênior da companhia de granadeiros. O capitão da companhia de granadeiros ouvirá os relatórios e as observações feitas, anotando como lhe parecessem adequado e deverá decidir quais dos homens selecionados colocará na lista para propor ao comandante da “demi-brigade”. O comandante da “demi-brigada” jul-gará, os relatórios oferecidos a ele pelo capitão e aceitará somente aqueles que uma vez selecionados. sejam considerados “dignos de uma bem decidida preferência.”

Fusiliers” e “Chasseurs”As companhias do centro da formação.Cada batalhão de campanha tinha somente1 companhia de “grenadiers” e uma

de “voltigeurs”; as remanescentes 4 a 8 companhias eram constiuídas de “fuziliers” (ou “chasseurs” na Infantaria Ligeira). Até1805, eram 8 compahias de “fuziliers” por batalhão; entre 1805 a 1807, eram 7; e entre 1808 a 1815, somente 4 por batalhão. Os “fusiliers” (“chasseurs” na Infantaria Ligeira) ocupavam o centro do batalhão em linha.

Os “fusiliers” (“chasseurs”) estavam sem prestígio e privilégios, mas aqueles que tivessem servido nas últimas duas campanhas, e fossem considerados bravos guerreiros, altos e fortes, seriam admitidos na companhia de elite dos “grenadiers”.

Até 1806-1807, os “fusiliers” usavam o chapéu bicorne. Em 1807, ele foi substituído pelo “shako”. O fuzileiro também vestia calças brancas, túnicas azul-escuro com lapelas

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bancas, colarinho e gola vermelhos. No tempo frio, eles usavam sobretudos beges ou cinzentos. Oficialmente, os sobre-

tudos eram usadas, somente, pelos granadeiros e carabineiros, mas já desde o início e até 1812/1813, que os “chasseurs” (companhias do centro de vários regimentos de Infan-taria Ligeira) os usavam.

“Fusilier” “Chasseur”

“Voltigeurs” - Os skirmishersOs “voltigeurs” constituiram um novo ramo da in-

fantaria que foi introduzido por Napoleão Bonaparte em 1803. O decreto, emitido em março de 1803, ordenou a criação de uma 10ª companhia nos regimentos de In-fantaria Ligeira. Esta seria composta pelos “voltigeurs”, que foram formados retirando-se os 6 homens menores de cada companhia de “chasseurs” do batalhão. Em de-zembro, foi decidido que os “voltigeurs” não teriam altura maior do que 4’11 ‘ (francesa) e que seus oficiais não excederiam 5’.

Nos regimentos de Infantaria de Linha, a 3a compa-nhia de “Fusiliers” tornou-se companhia de “Voltigeurs”. Em 1805/1806 foi introduzida a exigência de 2 anos de serviço excelente para ser admitido nos “voltigeurs”. Em 1808, a eles foi, oficialmente, atribuída a posição à es-querda da linha do batalhão (no flanco direito ficaram os robustos “granadiers”). Em 1809/1810, foi-lhes concedi-do um aumento. Os “voltigeurs” distinguiam-se pelas dra-gonas amarelo-vermelho ou verde-amarelo.

Os “voltigeurs” eram os melhores soldados para

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a realização de escaramuças (skirmishing), subir escadas durante os sítios a cidadelas, combate urbano e para o serviço de escolta. Os “voltigeurs” foram treinados para disparar rapidamente e com precisão, e esperava-se serem capazes de marchar a passo de trote. Napoleão também queria que eles seguissem montados atrás da cavalaria, mas em com-bate real, isto aconteceu somente muito poucas vezes.

Às vezes as companhias de “voltigeurs” eram destacadas de seus batalhões de origem, para organizar grandes formações para tarefas específicas. Chlapowski escreveu: “... o próprio imperador chegou lá e mandou Talhouet com 200 “voltigeurs” através do rio Danúbio, em barcos, para atingir o cruzamento de estradas em Pratern. A partir daí, Pour-tales, que era ajudante-de-ordens de Berthier, então, atravessou nadando com uma dúzia de “voltigeurs” o trecho do Danúbio separando Pratern de Viena. Tudo isso aconteceu quando a noite ia caindo. “ (Chlapows

Em 18 de maio de 1809, grupos de “voltigeurs” remaram através do rio Danúbio, carregando um cabo que seria a sustentação da ponte para a ilha Lobau. Esses “volti-geurs” esclareceram a ilha e iniciaram a construão da ponte. Para proteger os pontoneiros, o major Sainte-Croix (ajudante-de-ordens de Massena) levou 200 “voltigeurs através do rio Danúbio para a margem direita. Enquanto isso, os pontoneiros completaram a ponte.

Em 1812, antes que 3 pontes fossem lançadas sobre o rio Niemen, 3 companhias de “voltigeurs” do 13º Regimento de Infantaria Ligeira atravessaram, silenciosamente, o rio e chegaram na margem dominada pelos russos. Eles proveram

In 1812 before the three bridges were thrown over the Niemen River 3 companies of voltigeurs of 13th Light Regiment crossed silently in skiffs and landed on the Russian bank. Eles esconderam-se atrás de uma pequena escarpa formada pelo rio e observaram a atividade das escoltas e da artilharia do inimigo.

Teoricamente, os “voltigeurs” deveriam ser armados com mosquetes de 141,7 cm (era uma versão mais curta do mosquete padrão, mais fácil de carregar e transportar, por um homem pequeno). Mas isto raramente acontecia, e os “voltigeurs” ficaram, mesmo, armados como o resto da infantaria, com longos mosquetes. Eles também carregavam uma baioneta e um sabre curto. Os “voltigeurs” usavam dragonas amarelas e golas ama-relas. O uso de dragonas pelos “voltigeurs” nunca foi oficialmente permitido - na verdade foi proibido. O Ministério da Guerra reclamou que os “voltigeurs” “não tinham direito a nenhumas outras distinções mais do que a gola amarela.” A ordem emitida em setembro de 1808 proibiu a utilização dos fundos do regimento para a compra de dragonas para os “voltigeurs”. Entre 1804 e 1809 alguns deles usavam um quepe de pele, não oficial, que foi substituído em 1809 por “shakos”.

Na página seguinte são mostrados os unifomes da Infantaria de Linha francesa durante as campanhas de 1804 e 1812.

Os “grenadiers” e “voltigeurs” distinguiam-se em razão das seguintes característi-cas:

1 - Dragonas vermelhas e amarelo/verdes;2 - Penachos vermelho e amarelo-verde;3 - Sabres curtos; e4 – Pele de urso.Depois de 1807, os “shakos” substituíram as cobertura bicornes.

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Fusiliers: 1804 - 1812 Fusiliers: 1804 - 1812

Grenadiers: 1804 - 1808 Grenadiers: 1808 - 1812

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Voltigeurs: 1808 - 1810 Voltigeurs: 1810 - 1812

Infantaria de linha em ação

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8. ÁGUIAS E BANDEIRAS

ÁguiaUm mês após ter sido proclamado imperador, em maio de 1804, Napoleão decidiu

sobre o emblema do Imperio. Ele considerava o galo e o leão, mas rejeitou ambos, em favor da águia com as asas abertas. A águia tornou-se o Grande Selo do Estado e o em-blema do Exército e da Marinha francesa. No Exército, a águia seria carregada no topo de um bastão. A águia tinha suprema importância.

Ano de 1804 Com o estabelecimento do Império em 1804, os

regimentos foram representados por uma nova bandeira (drapeau) para cada Batalhão. O padrão da bandeira de 1804 era foi ricamente trançada, tendo o número regimen-tal, dentro de uma coroa de louros, e um diamante, inscrito em letras de ouro. Durante a campanha, a bandeira era re-movida. Entre 1808 a 1815, o porta estandarte com a águia (“Porte-Aigle”) erai acompanhado por 2 escoltas (2º e 3º Porte-Aigle) sargentos que carregavam alabardas. A águia deveria ser levada pela 2ª Companhia do 1º Batalhão de cada regimento.

Em setembro de 1806 foi determinado que os regi-mentos de infantaria ligeira deveriam entregar todas suas

águias no início de uma campanha. As águias deveriam ser mantidas em depósitos, mas vários regimentos carregaram suas águias até 1814 e aconteceu que naquele ano, um regimento perdeu sua águia em batalha. Em 1808 foi emitida a ordem de que apenas uma águia deveria ser levada pelo regimento (aos recém-formados regimentos foram dadas apenas uma águia). As águias e as bandeiras de outros batalhões e esquadrões tiveram de ser devolvidas aos depósitos dos regimentos. Demorou vários anos antes que a or-dem fosse implementada. Em 1811, alguns 2º e 3º batalhões ainda tinham suas cores no campo

O título de “Porte-Aile” foi oficialmente criado. Deveria ser um ofivial de comprovado valor, com pelo menos 10 anos de serviço, ou ter participado das 4 campanhas de Ulm, Austerlitz, Jena e Friedland.

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Os guardas, 2º e 3º “Porte Aile” seriam sargentos que fossem remunerados como sargento-mór - era uma forma de recompensar os oficiais subalternos corajosos e expe-rientes que não podiam aspirar ao posto de oficial. Os 1º, 2º e 3º portadores de águia eram armados com um sabre curto e pistolas.

Ano de 1812Em abril de 1812, foi determinado que cada regi-

mento de Infantaria de Linha e Ligeira deveria receber uma nova bandeira tricolor padrão, em razão das honras de ba-talha do regimento (até então as honras de batalha tinham ficado restritas àquelas batalhas em que Napoleão havia comandado em pessoa).

Em 1812, todos os regimentos de infantaria tinham apenas uma águia, que era levada por um águia-portador (oficial) e guardada por 2 guardas e 6 furiers (retirados das companhias. Os 2 guardas (sargentos) não eram os “jalon-neurs” do batalhão. A águia ficava com a 2ª Companhia do 1º Batalhão. O 2º Batalhão carregava um estandarte bran-

co; o 3º, um estandarte vermelho; o 4º, um azul; o 5º, um verde; e o 6º batalhão ortava um estandarte amarelo. No entanto, alguns regimentos deixavam suas águias em depósitos e seguiram para a Rússia com só com os estandartes. Os regimentos da Velha Guarda, no entanto, mantiveram suas normas ao padrão de 1804 até 1813.

Em 1814, Napoleão reestabeleceu as águias de regimentos, que tinham sido con-fiscadas e/ou destruídas pelos Bourbons. As águias e as bandeiras tricolores passaram a ser maiores, mas muito mais simples. Todos os regimentos da Jovem Guarda carregavam estandartes simples.

Ano de 1815 A bandeira de 1815 também tinha um padrão trico-

lor, mas faltava-lhe quase todos os bordados magnífico do padrão de 1804. Depois de Waterloo, os Bourbons deram o máximo de si para certificar-se que as normas Napoleô-nicas e águias tinham sido destruídas. Em alguns regimen-tos os oficiais queimaram as normas e misturaram suas cinzas com vinho, bebendo-o, em seguida. Os oficiais do 2º Regimento suíço do exército napoleônico, rasgou o seu pavilhão em tiras, para que cada oficial, ficasse com um pedaço.

9. OS MELHOES REGIMENTOS

Registro de guerras e honras de batalha (1804-1815)O Exército francês continha muitos regimentos de Infantaria de Linha e de Infantaria

Ligeira, cujas habilidades militares e feitos de ousadia refletiram a insuperável devoção dos soldados para a sua causa. Os seguintes regimentos ganharam fama imortal nesses

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dez anos de terríveis contendas.

=> 9º Regimento de Infantaria Ligeira=> 10º Regimento de Infantaria Ligeira=> 13º Regimento de Infantaria Ligeira=> 15º Regimento de Infantaria Ligeira=> 16º Regimento de Infantaria Ligeira=> 24º Regimento de Infantaria Ligeira=> 25º Regimento de Infantaria Ligeira=> 26º Regimento de Infantaria Ligeira=> 27º Regimento de Infantaria Ligeira

As guerras napoleônicas

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CAPÍTULO VIEMPREGO TÁTICO DA INFANTARIA DURANTE AS

GUERRAS NAPOLEÔNICAS

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As guerras napoleônicas

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EMPREGO TÁTICO DA INFANTARIA DURANTE AS GUERRAS NAPOLEÔNICAS

SUMÁRIO

1. Introdução2. Linhas > Profundidade da linha > A fina linha vermeha > As fileiras francesas 3. Colunas >Vantagens das colunas >Desvantagens das colunas >Colunas de multi-batalhões 4. Ordem mixta5. Formação em quadrado contra a cavalaria > Quadrados sólidos > Quadrados egícios > Quadrados de multi-batalhões 6. Skirmishers, skirmishing. > Skirmishers franceses > Skirmishers russos > Skirmishers britânicos > Skirmishers prussianos e austríacos > Fuzis e carabinas

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1. INTRODUÇÃO

Linhas, Colunas, Quadrados e Intervalos entre tropas. Todos os oficiais e generais tinham que dominar as manobras e as formações tá-

ticas. Tinham que ter uma muito boa compreensão do terreno e ser capaz de calcular, rapidamente, uma distância para executar uma determinada formação. A prática constante e repetitiva era essencial. Os soldados da infantaria formavam em linhas abertoa ou fe-chadas:

=> Linhas fechadas: eram as primárias e fundamentais ordens em que as tropas deveriam ser formadas

=> Linhas abertas: eram usadas em algumas situações de combate, na escaramu-ça (skirmishing), e em alguns casos de inspeções da tropa.

A companhia de infantaria francesa, quando formada no dispositivo de linha fe-chada, os homens se tocavam cotovelo-com-cotovelo, com profundidade de 3 fileiras. As linhas tocavam-se levemente, sem apinhamento. Os intervalos entre as 1ª, 2ª e 3ª fileira eram de 0,325 m.

Estes intervalos, no entanto, variavam de exército para exército:Infantaria francesa - 0,325 m Infantaria russa - 0,35 mInfantaria britânica - 0,63 m

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Infantaria prussiana - 0,66 mInfantaria austríaca - 1,25 . O intervalo entre a 3ª fileira e os sargentos e os oficiais à sua retaguarda era de 1,3

m ou 2 passos. Isto ocorria quando o batalhão era formado em linha (veja a figura acima) ou em coluna cheia ou de meio-intervalos. Somente quando a coluna do batalhão era for-mada “emassada”, o intervalo era de 1 passo.

Várias companhias formavam um batalhãoA Unidade tática básica da infantaria era o batalhão, de cuja força (poder de com-

bate) os generais desse período dependiam. Batalhões muito pequenos acabam por só multiplicar o número de comandantes e enfraquecia a linha, aumentando o número de intervalos. O batalhão muito grande, por sua vez, era muito desajeitado nos avanços e nas evoluções. Normalmente, um batalhão que tivesse menos companhias seria mais forte.

A força (poder de combate em homens) do batalhão durante uma campanha obe-decia a um valor teórico, com mstardo abaixo. Por exemplo, o batalhão francês de 1808, no papel, contaria com 840 homens. No entanto, havia de se considerar que alguns deles estariam doentes, outros ainda treinavam nos “depots”, outros mais estavam feridos ou tinham sido mortos em batalha, e mais alguns havia sido esxtaviados, etc. . Desse modo, o batalhão em campanha era, frequentemente, 400 a 600 homesns maior. No tocante aos batalhões de guardas, estes eram sempre maiores que os demais.

=> Um batalhão russo tinha de 400 a 600 homens distribuídos em 4 companhias (8 pelotões chamados Vsvo).

=> Um batalhão prussiano tinha de 500 a 700 homens distribuídos em 4 compa-nhias (8 pelotões chamados Züg).

=> Um batalhão austríaco tinha de 650 a 1.100 homens distribuídos em 6 compa-nhias (4 Zug cada).

=> Um batalhão francês (1808 a 1815) tinha de 450 a 800 hmens, distribuídos em 6 companhias (6 pelotões chamados Peloton).

=> Um batalhão francês (de antes de 1808) tinha de 450 a 1.000 homen distribuídos em 9 companhias.

=> Um batalhão britânico tinha de 450 a 1.000 homens distribuídos em 10 compa-nhias.

O batalhão poderia ser formado em:=> Linha;=> Coluna;=> Quadrado; e=> Cadeia de escaramuceiros (skirmishers)

O batalhão francês de 1808 a 1815 formava em linha. Duas de suas seis compa-nhias eram as companhias de flanco, também chamadas companhias de elite (grenadiers e voltigeurs). As quatro companhias restantes eram as chamadas companhias de centro (fusiliers).

Quando o “Chef de Bataillon” dava a ordem “Em frente!”, os “guide generaux” (os guias à esquerda e à direita do batalhão) e a primeira fileira que ostentava a bandeira davam 6 passos a frente do batalhão. Eles serviam com base para o alinhamento do ba-talhão. Então, o “Chef de Bataillon” dava a segunda ordem: “Marchar!” e todo o batalhão iniciava a marcha, Se houvesse vários batalhões avançando lado a lado, os intervalos enre eles era de 15,6 m. A seguir são mostradas as distâncias (espaços) entre as 1ª, 2ª e

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3ª fileiras:=> Infantaria francesa: 0,325 m.=> Infantaria russa: 0,35 m.=> Infantaria britânica: 0,63 m.=> Infantaria prussiana: 0,66 m;=> Infantaria austríaca: 1,25 m.

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O batalhão francês de 1808 a 1815 formava em coluna por divisão. A frente desta coluna era uma divisão (divisão aqui significa 2 companhias). A distância (intervalo) enre as divisões deveria ser igual à da companhia da frente, ou menos.

Usualmente, a distância entre batalhões era tal que permitisse que eles pudessem se desdobrar de colunas para linhas (OBS: as tropas se deslocavam em coluna e comba-tiam em linha). De acordo com os regulamentos, a distância mínima entre batalhões era de 15,6 m, que correspondia à distância da companhia (pelotão). Os pequenos intervalos seriam essenciais se as tropas tivessem qu se deslocar a uma curta distância sem causar desordem.

Os intervalos entre as primeira e segunda linhas dos batalhões ficava entre 100 e 400 passos.

=> Em 1806, na Batalha de Jena, Napoleão ordenou a seus batalhões para se desdobrarem em duas linhas, cm não mais de 250 passos entre elas. As distâncias depen-diam da situação paicular determinada pelo campo de batalha e pelo terreno.

=> Em 1813, em Dennewitz, o general prussiano Krafft desdobrou sua brigada em duas linhas, com 300 a 400 passos enre elas. Muito frequentemente, as brigadas prussia-nas eram formadas de três linhas.

=> Em 1814, em Craonne, os russos desdobraram sua infantaria em 3 linhas. Na primeira linha havia 14 batalhões; 500 jardas atrás dela havia 7 batalhões; e 1.000 jardas atrás da primeira linha, uma terceira linha, com 9 batalhões.

Teoricamente, se qualquer um dos batalhões de primeira linha quebrasse, os ba-talhões da segunda linha deveriam contra-atacar o inimigo pelos flancos. Muitas veze,s no entanto, o batalhão quebrado de primeira linha corria em direção à segunda linha e desordenava tudo. Também a visão das próprias tropas fugindo em pânico era suficiente

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para influenciar nos nervos das tropas da segunda linha.=> Em 1809, em Wagram, o 47º Vogelsang Regiment da Áustria quebrou e correu

em direção à segunda linha. Eles acabaram desorganizando a segunda linha e, juntas, correram para a retaguarda, antes da artilharia ter detido os franceses em perdeguição.

=> Em 1813, em Dennewitz, dois batalhões do 2º Kurmark Landwehr prussiano gastou toda a sua munção no tiroteio e recuou desorganizando as tropas da segunda linha.

=> Em 1809, em Wagram, o 24º Batalhão de Infantaria Ligeira francês quebrou os austríacos e partiu em sua perseguição. Os vitoriosos se pulverizaram em “pequenos pelotões” e grupos, sendo então contra-atacados pela infantaria da segunda linha austrí-aca. Com isso, os austríacos capturaram a “águia regimental” e esmagaram os grupos de soldados franceses.

=> Um dos maiores sucessos do emprego da segunda linha foi em Waterloo. O primeiro escalão da “Middle Guard” francesa quebrou sob a pressão da primeira linha de Wellington e, então, foi contra-atacada pela segunda linha (divisão holandesa de Casse) e fugiu encosta abaixo.

2. LINHAS

A linha tinha sido a tática padrão durante o século XVIII, mas perdeu sua popularida-de após os triunfos franceses com colunas durante as guerras revolucionárias. A evolução das linhas era muito sensível às características do terreno e às dificuldades na dissemi-nação dos comandos necessários. As irregularidades do terreno faziam as fileiras ficarem irregulares, o batalhão curvava-se ao meio e, às vezes, quebrava-se, completamente, ao

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meio. Uma linha de dois batalhões num campo de batalha deveria realizar mais paradas, a fim de se reorganizar, do que um só batalhão. Uma longa linha, no entanto, era mais difícil para manobrar e girar. Por estas razões, os comandantes procuravam usar linhas apenas para distâncias curtas e em um terreno aberto sem obstáculos sérios.

Era mais fácil atacar com várias colunas de batalhão do que com várias linhas de batalhão. O general Antoine Henri Jomini escreveu: “Eu também vi as tentativas feitas para fazer marchar, em ordem, os batalhões desdobrados. Eles prosseguiam bem, mas a marcha dos batalhões em linhas contínuas não. Os franceses, particularmente, nunca foram capazes de marchar firmemente desdobrados em linhas... Isso talvez ocorresse nos primeiros estágios do avanço, por ser mais mais fácil, e a retaguarda dos batalhões, então, passavam à formação em linha antes de atingir o inimigo... mas não devemos nos esquecer de que na formação quadriculada não havia duas linhas, mas uma única, que não poderia quebrar, para se evitar a oscilação e a desordem observada nas marchas de linhas contínuas... Suponha-se a tentativa de prosseguir com até 20 ou 30 batalhões em linha, atirando por fileiras ou companhias, no ataque a uma posição bem defendida; é pouco provável que eles conseguissem chegar ao ponto desejado ou, se o fizessem, que estariam em boa ordem como um rebanho de ovelhas.”

Profundidade da linha. Muito antes das guerras napoleônicas, a linha de infantaria era formada de 4 e 5

fileiras de profundidade. Com a melhoria da qualidade das armas de fogo, tornou-se possí-vel “aligeirar” a linha. Em 1703, os britânicos passaram a empregar de 4 fileiras de profun-didade para apenas 3. O restante da Europa os seguiu. Os prussianos foram os próximos em 1740, os franceses em 1754, e os austríacos em 1757. No final do século XVIII todos os exércitos formavam sua infantaria em profundidade de 3 fileiras.

Na maioria dos exércitos europeus das Guerras Napoleônicas, quando as baixas eram severas, costumava-se sacar homens da terceira fileira para recompletar a primeira e a segunda fileiras, par adequar a frente da companhia. Por vezes, com a adoção de tal método, a terceira fileira desparecia completamente. Conforme o regulamento francês de 1791 (École de Peloton), quando uma companhia fosse reduzida a menos de 12 linhas, ela deveria ser formada em 2 fileiras.

O sistema de 2 fileiras foi introduzido, primeiramente, pelos prussianos, durante a Guerra dos Sete Anos. A intenção era usar mais mosquetes carregando, mas logo foi des-coberto que cavalaria poderia facilmente derrotar tal formação, muito fina. O sumário de Fortescue sobre as táticas de infantaria da Guerra dos Sete Anos diz: “o número de fileiras foi deixado não fixo, sendo aumentado ou reduzido de acordo com a frente exigida mas, provavelmente, raramente excedeu a 3 e, ocasionalmente, foi reduzida para 2.”

Em 1794, o general austríaco Mack recomendou que a 3ª fileira fosse usada para estender a infantaria de linha, e tal ordem foi ditada pelas circunstâncias e pelo terreno.

Durante as guerras napoleônicas, alguns exércitos alemães tinham sua infantaria formada em apenas 2 fileiras. Por exemplo, até 1809, as tropas de infantaria ligeira de Wir-tembergian eram formadas em 2 fileiras. Na Prússia e na Áustria as 3ª fileiras foram exten-sivamente usadas como “skirmishers”, tendo sido, muitas vezes, destacadas de suas com-panhias originais. Até 1807, na Rússia, todos os regimentos eram formados em 2 fileiras.

A fina “linha vermelha”Oficialmente, a infantaria britânica era formada em 3 fileiras, no entanto, durante

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as Guerras Napoleônicas, eles empregavam sua infantaria com somente duas fileiras de profundidade (Em Waterloo, a maioria dos batalhões era formado com 4 fileiras).

O general francês Foy escreveu: “A infantaria (britânica), embora adotasse o sis-tema de 3 fileiras de profundidade, como as outras nações da Europa, empregava, mais frequentemente, o sistema de 2; mas quando realizando ou recebendo uma carga, fre-quentemente formava em 4 fileiras de profundidade. Algumas vezes, isto foi realizado nos movimentos ofensivos; e sempre carregava em colunas, quando em formação aberta.

As táticas britânicas eram muito influenciadas pela experiência dos norte-america-nos. Nesse período, houve muita discussão sobre a composição da infantaria britânica. “O requisito básico tático na América do Norte era dirigido para um sistema mais flexível, baseado em pequenos corpos de homens lutando em linhas fortes, muitas vezes de uma fileira, mas nunca com mais de duas; a 3ª fileira nunca tinha sido de grande valia, tanto quanto a importância do poder de fogo proporcionado pelas duas linhas de profundidade, o que gerava uma ameaça positiva.” (Warminster - “The British Infantry 1660-1945”)

Já em 1759, Wolfe estabeleceu instruções na América sobre a formação da infanta-ria em linha com só uma ou duas fileiras de profundidade. O general Abercromby usou 2 fileiras em Alexandria, em 1801. O general Moore, em Corunna usou duas fileiras.

Os franceses e as duas fileirasA infantaria francesa era formada em 3 fileiras. Contudo, os franceses experimenta-

ram o uso de 2 fileiras em 1775/1776 e, novamente, em 1778. Já a partir de 1791, no perí-odp de paz, eles usaram, frequentemente, durante os treinamentos, as 2 fileiras. Durante a campanha, quando as baixas ficavam pesadas, os homens eram drenados da 3ª fileira e colocados nas 1ª e 2ª fileiras, para manter uma adequada frente de companhia. Conforme o regulamento francês de 1791 (École de Peloton), toda vez que uma companhia fosse reduzida a 12 linhas, ela deveria ser reorganizada em 2 fileiras.

Em outubro de 1813, Napoleão quis aumentar em 30% o comprimento da linha de batalha de sua infantaria e, em 13 de outubro de 1813, e baixou a seguinte ordem: “... o imperador ordena que toda a infantaria do exército forme em 2 fileiras, ao invés de 3, pois sua Majestade entende que os tiros e as baionetas da 3ª fileira são de pouca utilização”.

Assim, na Batalha de Leipzig, a infantaria francesa formou com 2 fileiras. Mas a in-fantaria de Ney ainda formou com 3 fileiras, pois ele acreditava nas formações profundas.

De acodo com George Nafziger, contudo, esta reorganização da infantaria em meio a uma difícil campanha “pode ou não ter ocorrido.” ( Nafziger - “Imperial Bayonets” p 60)

Nos teatros de operações secundários, na Espanha e na Itália, os franceses manti-veram sua infantaria formada em 3 fileiras. As ordens de Napoleão precisaram de tempo para chegar de Leipzig, na Alemanha, para a remota Espanha, além de que nem todos os generais estavam convencidos de tal nova formação.

O general francês Ney em seu “Military Studies - Instructions for the Troops compo-sing the Left Corps”, na seção “Observations upon different modes of firing” disse:

“A fuzilaria em 2 fileiras, ou fuzilamento de linha é, com a exceção de uns poucos momentos, a única forma de atirar oferecendo as maiores vantagens para a infantaria ... A maioria dos oficiais de infantaria deve ter observado a dificuldade encontrada - quase que intransponível -, de se deter os tiros de uma linha, durante a batalha, uma vez inicia-dos, especialmente quando o inimigo está bem próximo do tiroteio; e estes fogos, apesar do comando de “cessar fogo” dado pelos oficiais de campo, assemelham-se a descargas gerais.

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Seria melhor, portanto, que depois que as duas primeiras fileiras tivessem dispara-do suas armas, que elas armassem suas baionetas e carregassem corajosamente, para que, com um ato de força e vigor fizessem o inimigo recuar. O soldado alemão, formado por uma disciplina mais severa, é mais frio do que qualquer outro e, sob tais circunstân-cias, ele deveria, ao final, obter vantagem neste tipo de fuzilaria, se ele durasse muito tempo... Essas observações destinam-se a exortar os coronéis ... a preparar e treinar seus homens para atacar com maior vigor... um comandante francês nunca deveria hesitar em marchar contra o inimigo com a baioneta armada, se o terreno é compatível para uma carga em linha, com um ou mais batalhões a uma só vez. “ (É interessante que, embora Ney recomendasse duas fileiras, em 1813, em Leipzig ele formou sua própria infantaria em 3 fileiras).

São exemplos da infantaria napoleônica formada para o combate em 2 fileiras:=> Em 1812, as perdas durante a retirada da Rússia foram tão pesadas que dois

batalhões do 3º Regimento de Granadeiros (holandeses), a Jovem Guarda e os Hessians combateram em Krasne formados em 2 fileiras.

=> Em 1814, muitos dos batalhões franceses estavam tão fracos (por exemplo o II Corpo, que tinha 52 dos seus 53 batalhões com somente 196 homens cada) que eles foram forçados a formar com 2 fileiras.

=> Em 1815, em Waterloo, 2 batalhões do 85º batalhão de Infantaria de Linha fo-ram desdobrados perto de uma grande bateria para protegê-la, quando os “Scots Greys” os atacaram. Os dois batalhões, rapidamente se combinaram para formar um grande quadrado. Embora tal quadrado tivesse sido formado com somente 2 fileiras, ao invés de 3 ou 4, eles conseguiram repelir, com facilidade, a carga dos dragões da cavalaria pesada britânica.

=> Em 1809, em Wagram, a Infantaria de Guarda francesa tendo ficada sob fogos de 50 canhões austríacos, manobrou de 3 linhas de profundidade para 2 (... para minimi-zar as baixas, evidentemente).

3. COLUNAS

Havia dois tipos básicos de colunas usadas pela infantaria:=> Coluna de marcha – usada nas estradas para o trânsito a longas distâncias.=> Colunas usadas nos campos de batalha - estas eram descritas por sua profundi-

dade e seus intervalos. As colunas eram as formações melhor manobráveis no campo de batalha. Não se prestavam como formações de assalto, exceto em especiais circunstân-cias. Guibert entendia que a coluna era um meio para se mover mais rapidamente para o ponto de ataque, onde ela deveria se desdobrar em linha para engajar o inimigo com tiros e depois avançar com as baionetas armadas, direto sobre ele.

Evolução de uma companhia de coluna de marcha para formação em linha.

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Desdobramento de uma coluna de ataque para uma linha e que poderia, rapidamente, rever-ter de linha para coluna.

Desdobramento de uma coluna de pelotão para uma formação em linha para um flanco. Era o mais lento dos métodos de desdobramento.

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Um decreto de Napoleão de 1808, estatuiu que quando as companhias de “grena-diers” e de “voltigeurs” estivessem presentes, o batalhão de 6 companhias deveria atuar por divisões. Caso as companhias de flanco (“grenadiers” e “voltigeurs”) fossem destaca-das de seus batalhões originais, o batalhão deveria atuar por pelotões, com cada compa-nhia constituindo um “pelotão”. Tais colunas deveriam ter a frente de uma companhia (ao invés de duas) e ter 12 fileiras de profundidade (ao invés de 9 fileiras). O diagrama abaixo refere-se ao batalhão de 6 companhias.

As colunas eram chamadas por sua frente e profundidade. A frente poderia ser ou de divisão (aqui significando 2 companhias) ou de pelotão (significando 1 companhia). A companhia era uma unidade administrativa e a unidade tática era o pelotão. A companhia francesa consistia de um pelotão.

Exemplos:1) “colonne par division de distance entiere” significa coluna por divisão (frente) com

intervalos cheios (profundidade).

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2) “colonne par division de demi-distance” significa coluna por divisão (frente) com meios intervalos (profundidade).

“A coluna de batalhão era uma formação capaz de realizar rápidas manobras para sua frente, flancos ou retaguarda; alguns oficiais a descreviam como capaz de se mover como se fosse um simles soldado ... se a coluna ficasse sob o fogo inimigo, seria melhor tê-la como o “Reglament” chamava de “coluna de ataque”, na qual havia o dobro da dis-tância entre suas divisões quando em “coluna cerrada” ... Uma vez na distância de ataque, a coluna se aproximava e arrancava sobre a linha inimiga em ritmo acelerado com as baionetas armadas. ... (Coronel Elting).

Na literatura popular (wargames, por exemplo) a luta entre duas colunas é coisa comum. As fileiras da frente da coluna lutam umas contra as outras, enquanto as fileiras da retaguarda empurravam as da frente, como se fosse um jogo de rugby.

As fileiras da retaguarda também evitavam que as da frente corressem dado à sua presença. Este tipo de combate tem pequena precisão histórica.

A realização do ataque da infantaria com colunas:, sob situalções diversas:=> As colunas (com intervalos completos ou meios intervalos) começam seu avan-

ço. Movem-se muito rápido, o que causa transtorno nas fileiras e fica muito difícil para os tambores manterem o rítmo. Os campos recém cultivados ou enlameados pela chuva geram obstáculos quando um rápido avanço seria necessário. Em agosto de 1813, em Katzbach, os prussianos lutaram em um mar de lama “que sugou os sapatos fora dos pés”. A marcha muito lenta resultou em pesadas baixas pelos fogos da artilharia inimiga.

=> As colunas ficam sob fogos de artilharia. Se uma única bala de canhão atinge a coluna, vários homens caem, desmoralizando aqueles que estavam em volta deles. Cria--se a desordem e, até mesmo, a coluna pode ser obrigada a fazer uma parada. Uma vez interrompida a marcha, mesmo que tenha havido poucos danos, a coluna nunca voltará a marchar tão fortemente e voluntariosa como antes. Após esses atrasos, os homens, com a moral degradada, fazem com que toda a impulsão seja perdida e, por vezes, é melhor que o ataque seja adiado para o dia seguinte. De acordo com Quistorp, em Henry (1813) uma granada disparada pelos franceses explodiu entre o II Batalhão da 7ª Kurmark Landwehr, que avançava. Os homens imediatamente “deram meia volta”. Dois outros batalhões Lan-dwehr também pararam seu avanço.

“A artilharia (britânica) anexada à reserva imediata, abriu fogo sobre ela (colunas de infantaria francesas) e foi tal a excelência da prática, que a coluna do inimigo, depois de uma derrota pesada, retirou-se antes que tivesse sido capaz de disparar um mosquete.” (Summerville - “Marcha da morte”)

=> A coluna continua seu avanço. O estresse e o excitamento podem ser de tal monta, que os homens iniciem a corrida. Alguns soldados conseguirão correr de 50 a 100 passadas, apenas, em face da respiração dificultada, outros, melhores corredores, con-seguirão ir mais além. Está criada a desordem e a coluna torna-se tumultuada. Somente poucos conseguem se controlar e avançar ordeiramente, a despeito de todas as adversi-dades

=> A maioria das balas dos canhões passam sobre as colunas. Muitas vezes isto acontece, como também ocorre das granadasa da artilharia caírem umas além e outras aquém; pode, também, correr das granadas arrebentarem precocemente. Em 1813, em Lutzen, aproximadamente 1/3 das granadas francesas falharam em explodir. (Elting - “Swords Around a Throne” p 263)

=> As colunas entram no alcance dos mosquetes inimigos.Quando isso ocorre, as

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balas inimigas atingem alguns elementos da tropa, se não todos, e isso influencia a moral de todos. Em dado momento, eles sentem um turbilhão em suas cabeças, como se es-tivessem andando contra uma ventania. Por vezes, no entanto, a coluna avança com tal vigor que que faz com que o defensor abra fogo a longa distancia, matando um ou outro, apenas. Chiapowski escreveu: “Por vezes os austríacos tiveram de enfrenta-los (france-ses), mas logo caíram imediatamente em desordem, o fato era que eles estavam forma-dos em coluna e os franceses em linha.”

=> Muito frequentemente, os homens obedecem seus impulsos, mais do que as or-dens dos oficiais. A coluna para, ficando sem condições de se desdobrar em linha, quando os covardes da reguarda da coluna se mostram ansiosos de preservar sua própria segu-rança. Em vez de se agruparem atrás das fileiras da frente, jogam-se no chão, como se tivessem sido atingidos por um saco cheio de tijolos

Vantagens das colunas:=> A coluna é a mais simples de todas as formações e a que proporciona o mais rái-

do avanço e a maior manobrabilidade, sendo, portanto, um excelente instrumento para dar aos homens mais rapidez nas ações. A velocidade é importante para minimizar o tempo de exposição aos fogos da artilharia, enquanto avançando sobre o inimigo.

=> A coluna pode avançar, sem problemas, sobre qualquer terreno e em várias ve-locidades. Contrasta, sobremaneira, com as longas linhas que requerem, frequentemente, reorganização, além da sua debilidade em face obstáculos (vegetação, arbustos, valas, homens e cavalos feridos e mortos), que fazem com que a desordem se manifeste.

=> É mais fácil e mais rápido fazer girar um batalhão em coluna (com 1 a 2 compa-nhias na frente) do que um batalhão formado em linha (6 a 10 companhias). O batalhão em coluna pode, também, mais facilmente se deslocar para fora do eixo dos tiros da arti-lharia inimiga.

=> Como a coluna tem uma frente estreita, ela é mais fácil de atravessar terrenos ondulados e/ou matosos. Nas cidades e vilarejos, somente com colunas se consegue atravessá-las. Como exemplo, cita-se a vila de spen, na Áustria, que compreendia duas ruas paralelas, ambas largas o suficiente para permitir o desdobramento de pelotões em coluna.

=> Uma coluna compacta é mais estável do que o “quadrado oco” contra a cava-laria. Houve numerosos casos onde as tropas ainda mal treinadas formaram em mas-sa compacta repelindo melhor a cavalaria. Por exemplo o austríaco Landwehr repeliu a Guarda de “chasseur a cheval” de Napoleão, em 1809, em Wagram. Tal coluna rebateu a cavalaria e continuou seu avanço rapidamente. O quadrado também pode realizar um avanço, mas acaba sendo mais lento do que a coluna quando a situação exige um ataque realmente rápido

Desvantagens da coluna=> A coluna é deficiente em poder de fogo, pois somente as fileiras da frente podem

usar seus mosquetes de forma eficiente. A coluna não tem chances de um duelo com tiros de mosquete contra uma tropa inimiga desdobrada em linha.

=> As colunas são mais vulneráveis aos fogos de artilharia. Para minimizar as bai-xas, a coluna frequentemente busca cobertas e abrigos, Veja-se os exemplos:

• Em Austerliz, algumas das colunas francesas foram mantidas escondidas atrás de colinas.

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• Em Friedland, a coluna de infantaria do general Ney ficou escondida na floresta. • Em Ligny, algumas colunas francesas se estabeleceram no mato alto e em mi-

lharais. • Também em Friedland, o I Coprpo de Victor foi posicionado numa dobra do ter-

reno. • Em Borodino, a legião polonesa do Vístula recebeu ordem para permanecer

cobetra, enquanto os oficiais conferenciavam • Em Wagram, o batalhão aust´riaco de Jäger abrigou-senuma vala de drenagem. • Tambem em Wagram, uma massa de infantaria de 2.000 homens foi bombarde-

ada atrás de um dique. • Na mesma batalha, o 47º Regimento austríaco buscou abrigo. • Em Katzbach, a 7ª Brigada (6.500 homens) permaneceu atrás das alturas de

Christianhohe.

Batalhão em multi-colunasHavia, também, os batalhões formados em multi-colunas. O tamanho da coluna,

contudo, não era tão decisivo quanto se possa pensar. Havia casos em que uma coluna menor derrotava uma coluna maior, uma tropa pequena, mas brava que vencia as grandes massas,

Na página seguinte, é mostrada a gravura referente aos exemplos, citados abaixo, de batalhão em muti colunas usadas durante as Guerras Napoleônicas. Em 1809, em Wagram, o marechal francês Macdonald tinha formado suas três divisões de infantaria (8.000 homens em 23 batalhões) em uma enorme coluna. Foi a maior coluna das Guerras Napoleônicas. Pode ser no entanto alegado que era, na verdade, um grande “quadrado

oco” ou uma formação de ordem mistu-rada, e não a enorme coluna tantas ve-zes descrita.

As tropas de Macdonald estavam formaas da seguinte maneira: a frente da formação consistia de 8 batalhões formados em duas linhas. Em um flanco havia 8 batalhões em coluna e no outro flanco 4 batalhões, também em coluna. Três batalhões estavam formados lado a lado, à retaguarda.

Macdonald, mais tarde, escre-veu:”Eu estava longe de pensar que esta formação seria o ataque principal ao centro do inimigo”. Esta formação in-comum não foi aprovada porque os sol-dados de infantaria eram inexperientes, mas sim devido à possibilidade de que ela poderia ser atacada por três lados. Acreditando em sua carga de infantaria, Napoleão atravessou os fogos austría-cos e mostrou-se presente, quando a coluna mudou-se para Sussenbrunn,

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com bandeiras voando, tambores batendo o ritmo da carga e os homens torcendo. Os austríacos abriram fogo com tudo o que tinham. Logo 15 canhões franceses foram neutra-lizados e dentro de uma hora a coluna ficou reduzida a pouco mais de meia-força. MacDo-nald continuou para a frente e esmagou a linha austríaca mas não conseguiu quebrá-la. (Rothenburg - “The Emperor’s Last Victory” ) .

Surpreendentemente, somente de 1.500 a 3.000 homens alcançaram as as posi-ções austríacas.Cerca de 6.000 a 9.000 estavam feridos, mortos ou tinham caído no chão quendo eles se chocaram com o inimigo. Uma vez passado o perigo, eles juntaram seus batalhões e correram para a retaguarda. Estas coisas têm lugar em cada batalha e em todo exército. Em 1757, em Praga, um oficial prussiano foi ferido e rastejou para trás de uma colina ond ele foi surpreendido ao encontrar um “grande número de oficiais e sargen-tos. Alguns deles estavam feridos, mas a maioria esta tão somente buscando cobertura”.

Em 1807, em Friedland, o marechal francês Ney formou a divisão de infantaria de Marchand (5 regimentos) em uma coluna profunda e cerrada. A divisão de Bison foi formada escalonada à esquer-da. Eles haviam recebido ordens para se deslocar rapidamente e atacar o flanco russo. A artilharia russa “posicionada entre a cidade e as alturas da margem oposta do rio, causou-lhes pesadas bai-xas. Esses tiros mstraram-se mais perigosos pelo fato de que os artilheiros, separados de nós pelo rio, podiam apontar seus canhões em segurança, sabendo que nossa infantaria não podia ataca--los”. (Baron de Marbot).

A cavalaria russa carregou e atacou as divisões de Ney em desordem. Isso forçou a divisão de Bison (quatro regimentos) a se desdobrar e repelir os atacantes. Marchand paralisou o avanço de suas tropas e juntou-se à divisão de Bison. Sob a cobertura de inú-meros escaramuçadores formaram suas tropas em ordem misturada (linhas e colunas). As colunas e linhas russas avançaram contra eles e teve início uma enorme fuzilaria. Antes de terminar o combate, a cavalaria russa carregou novamente e, uma vez mais os regimentos de Marchand e de Bision fugiram.

Napoleão interveio com a divisão de infantaria de Dupont e estabilizou a situação. Dupont avançou rapidamente vindo de Posthenen, as divisões de cavalaria francesas repeliram a cavalaria russa e, finalmente, a artilharia sob o comando de Sénarmont despe-jou uma grande massa de tiros. A defesa russa colapsou em poucos minutos. A infantaria

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de Ney, mesmo exausta, foi capaz de perseguir os regimentos russos quebrados nas ruas de Friedland. Dupont distinguiu-se pela segunda vez ao atacar o flanco esquerdo do cen-tro russo. Estes ofereceram uma resistência muito teimosa, mas os franceses forçaram sua a linha para trás, e a batalha terminou.

Os soldados marchando achatavam os campos de centeio “cujas culturas” tinham ficado quase tão altas quanto um homem.” Cavalgando na frente das quatro divisões es-tavam o marechal Ney e o general d’Erlon, com seus soldados.

Na verdade, não houve quatro colunas divisionais, mas apenas duas. As outras duas eram formações tamanho brigada. À esquerda estava uma brigada da divisão de Allix/Quiot (o general Allix foi substituído por Quiot) que atacou La Haye Sainte, enquanto a outra brigada atravessava a cobertura e a estrada atrás.

A divisão de Dozelot quase alcançou a cobertura, enquanto a divisão de Marcgnet estava cerca de 50 m da crista. Uma brigada da divisão de Durutte foi para trás e subiu a encosta, enquanto a outro marchava em direção a Papelotte.

4. ORDEM MIXTA

O general francês Guibert desenvolveu a chamada ordem mixta (ordre mixte). Ele defendia o uso de linhas e colunas no ataque, atuando em concerto. As linhas dariam o necessário poder de fogo e as colunas trariam segurança, força e profundidade. Mas foi Napoleão quem introduziu este sistema, empregando-o em 1796 na batalha de Tagliamen-to e durante a passagem ao longo do rio Isonzo.

Mais frequentemente, a ordem mixta consistia de 1 a 2 batalhões em linha e 1 a 2 batalhões em coluna. Às vezes, a formação era maior. Napoleão recomendava a seus generais que tivessem vários batalhões em linha e vários outros em coluna por divisão (com frente de duas companhias), com meios-intervalos. Os meios-intervalos - neste caso

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o comprimento do pelotão - possibilitava um rápido desdobramento em quadrados, para fazer frente à cavalaria adversária, e manobrar rapidamente.

Divisão de infantaria de Moraud em Borodino, 1812. A divisão de Moraud era cons-tituída dos 13ºe 17º Regimentos de Infantaria Ligeira e do 30º Regimento de Infantaria de Linha.

A formação de divisão de ataque prescrita pelo marechal Soult para o general Van-dammes em Austerlitz (ver a figura pertinente na página seguinte) visualizava na primeira linha a artilharia, na linha seguinte seis batalhões formados em linha (inclusive dois de in-fanaria ligeira) e, como reserva, quatro batalhões formados em coluna (Fonte: Nosworthy - “With Musket, Cannon, and Sword.”)

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“No entanto, provavelmen-te o uso mais notável da ordem misturada durante este período ocorreu durante o ponto crítico da Batalha de Marengo, quando o General Desaix, na tentativa de frustrar a coluna avançada da infantaria austríaca vitoriosa, desdobrou três “demi-brigades” de infantaria escalonadas para a direita.

Como discutido, o 9ª de Infantaria Ligeira na frente, tinha apenas seu batalhão central em linha, o 30º de LInha ligeiramente para trás com seus dois batalhões em linha, enquanto o 59º de Linha foi desdobrado exatamente como o 9º na frente. “ (Fonte: Nosworthy

- “Com mosquete, canhão e espada.”, 1996)..

5. QUADRADO CONTRA A CAVALARIA

Sempre que os oficiais vissem que a cavalaria inimiga seguia à frente e já se prepa-rava para o ataque, começava-se a formar em quadrados. Tais movimentos da cavalaria já eram notados em, aproximadamente, 1 a 1,5 km, por meio dos binóculos.

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De acordo com a regulamentação francesa de 1791, se a infantaria estivesse em linha... dveria ser capaz de formar em quadrado em 100 segundos. Se ela estivesse em coluna de ataque (colonne d’attaque) 30 segundos seriam suficientes.

Em Leipzig, o austríaco “5º Batalhão de Jager formou em quadrado em uma corrida (!), realizou uma manobra, formou o quadrado e esperou o seu destino com baionetas prontas.” (Nafziger - “Napoleão em Leipzig”)

O quadrado pode ser também formado a partir da coluna com intervalos cheios ou meios. Na verdade, formar um quadrado era mais fácil de formar a partir de uma coluna com intervalos do que a partir de linha. Era de se esperar que uma infantaria treinada formasse um quadrado oco em 2 a -3 min em média. Durante a batalha, a infantaria pre-cisaria de 4 a 6 min. Para formar um quadrado de 2 batalhões levar-se-ia, aproximada-mente duas vezes mais tempo. Uma tropa de infantaria melhor treinada e já acostumada às condições de batalha precisava de um tempo menor do que as tropas ainda em bruto.

Para formar um quadrado de faces iguais levava-se até 2 vezes mais do que quan-do formando um oblongo.

Em 1811, o marechal Davout instruiu que as distâncias entre os quadrados deve-riam ser de 120 passos.

Geralmente, de 100 a 200 passos atrás dos quadrados ficava a própria cavalaria. Estes cavaleiros contra-atacavam quando a situação exigia. Os contra-ataques de cavala-ria mais famosos aconteceram em Eylau, Borodino e Waterloo.

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Infantaria francesa:- Batalhão de 6 companhias for-

mando um quadrado a partir de uma linha(Fonte: Nafziger - “Imperial Bayo-

nets”)Esta manobra em particular, era o

mais longo caminho para se converter de uma linha para quadrado..

Infantaria francesa- Batalhão de 6 companhias

formando o quadrado a partir de uma coluna

(Fonte: Nafziger - “Imperial Bayonets”)

O quadrado é formado a partir de uma coluna com companhias do centro

Infantaria russa- Quadrado simples formado a partir de co-

luna de ataqueSão prescritos nos regulamentos russos

dois tipos de batalhões: o quadrado simples e o quadrado contra a cavalaria”. (Fonte: Zhmodikov - “Tactics of the Russian Army in the Napoleonic Wars” Vol II)

As guerras napoleônicas

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O quadrado simples podia se formado a partir da centro da linha ou das 2ª e 3ª divisões, a partir da coluna de ataque, ou da coluna de divisões. O quadrado contra a cavalaria era formado a partir tanto da linha como da coluna de ataque, como mostrado na figura ao lado.

Quadrados sólidos

O desenvolvimento da coluna de ataque durante o período das Guarras Revolucio-nárias, veio a intriduzir o conceito do quadrado sólido (também chamado de colna cerra-da). Diferenciava-se do quadrado oco por ser constiuído de uma formação densa, formada por companhias fechando s intervalos e tendo homens noa lados e na retaguarda voltados para forma.

A melhor coisa do quadrado sólido era que era mais fácil e mais rápido de formar do que o quadrado oco. O quadrado sólido podia deslocar-se para frente, ou retrair, mas era difícil de ser manobrado. Sua pior desvantagem era sua vulnerabilidade aos tiros de artilharia.

Quadrado egípcio No Egito, o exército de Napoleão enfrentou os mamelucos, ferozes mas indiscipli-

nados. Apesar de fortemente em desvantagem, Napoleão percebeu que a única coisa de algum valor nas tropas do inimigo era a sua cavalaria, então, ele organizou suas tropas em grandes quadrados divisionais com sua frente e retaguarda guarnecidas por uma “de-mi-brigade” cada e uma terceira “demi-brigade” da divisão compondo os dois lados do quadrado. Os quadrados tinham profundidades de 3 fileiras. A cavalaria e a bagagem escondiam-se dentro desses quadrados. Os grandes quadrados repeliram os mamelucos com o apoio de fogo de artilharia.

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Contra as mais disciplinadas e mais pesadas cavalarias europeias, o quadrados tinham profundidades de 4 a 6 fileiras, ficando mais adequados.

Quadrados de multi-batalhõesGeneral Jomini: “Lembre-se

que o quadrado do Regimento é o melhor para a defensiva e o quadrado do batalhão para a ofensiva” Quanto maior o quadrado, maior o poder de fogo e mais dificil de ser quebrado. Mas o grande quadrado precisava de mais tempo para ser formado e mais lento para ser deslocado. As grandes praças ocas (com 2 a 12 batalhões) foram usadas pela infantaria na de-fensiva.

O pequeno quadrado, oco ou solido (tamanho de batalhão) era usado na ofensiva; formava-se rapi-damente e se deslocava também ra-pidamente.

Poucos foram os casos em que os grandes quadrados foram empre-gados na ofensiva; como exemplo, cita-se em 1790, no Egito e em 1813, na Alemanha.

Em ambos os casos, a cavalaria francesa era muito mais fraca em números dos que a cavalaria inimiga.

Quadrado inglês na Batalha de Waterloo

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6. SKIRMISHER, SKIRMISHING.

“Skirmishers (escaramuçadores, escaramuceiros) são tropas da infantaria que fi-cam estacionadas na frente ou nos lados de um conjunto maior de tropas amigas. Eles geralmente são colocados em uma linha de combate para assediar as tropas inimigas ou para proteger suas próprias tropas de ataques similares do inimigo. Os escaramuça-dores são, geralmente, levemente armados e, também, levemente encouraçados, a fim de poderem mover-se rapidamente através do campo de batalha. Nas guerras antigas e medievais, os escaramuçadores normalmente portavam arcos, javelins e, às vezes, usa-vam escudos, também leves. Atuando como infantaria ligeira, com armas leves e uma armadura mínima, podiam correr à frente da linha de batalha principal, disparar uma sa-raivada de flechas, fundas ou dardos e retirar-se para trás de sua linha de batalha antes do confronto das principais forças opostas. Os objetivos de tais escaramuças eram:1º) a perturbação da formatura inimiga; 2º) a promoção de baixas antes da batalha principal; e 3º) a provocação, para que a infantaria adversária atacasse prematuramente, jogando sua organização no caos. “

A operação dos escaramuceiros (skirmishing) não era novidade na Europa. Duaran-te as Gerras Napoleônicas, os exércitos oponentes devriam fazer sua infantaria marchar em coluna e a desdpbrar em linha compacta (ombro a ombro) em 3 fileiras de profundida-de. Na frente dessas ccolinas e linhas deslocavam-se os escaramuceiros. Vale destacar que todo infante era treinado para realizar a skirmishing.

Os skirmisher atuavam em pares assim intervalados: no Exército francês 15 pas-sos, no austríaco 6 passos, no russo 5 passos. Os intervalos poderiam ser mudados, ependendo da situação tática e do espaço disponível. Em 1815, em Quatre Bras, o Duque de Brunswick desdobrou seu Batalhão Jager numa ravina próxima de Gemioncourt. Os jagers estavam formados em grupos de 4, a intervalos de 6 passos. Para atrair os tiros inimigos, eles colocaram suas coberturas sobre arbusto À sua frente. Tal artifício atraiu uma grande saraivada de tiros de mosquetes dos voltigeurs franceses.

Quando a batalha continuava, as linhas e colunas alimentavam as linhas de skir-mishers ou se quebravam em linhas de skirmishers, por si mesmos. Os escaramuçadores

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usavam o terreno, árvores e edifícios como disfarce. Seu alvo principal eram os: oficiais do inimigo, trompetistas, bateristas, artilheiros e escaramuçadores. Os escaramuçadores também perturbavam os flancos do inimigo e criavam verdadeiro terror quando surgiam na retaguarda inimiga.

Os escaramuçadores usavam muita munição. Quando a caixa de cartuchos ficava vazia, o escaramuçador coria para o vagão de munições. Em muitos casos isso signifi-cava ser retirado da linha de frente. O mesmo ocorria quando o mosquete não permitia um contínuo disparo por muitas horas. O oficial russo Davidov observou, em 1808, que muitos skirmishers costumavam gastar sua munição muito rapidamente ou a jogava fora a fim de deixar a linha de fogo. Um general disse que um número de soldados é passível de “deserção temporária”, enquanto realizando o skirmishing. O oficial Glinka escreveu que, em 1813, depois de Bautzen: “... o coronel Kern queria substituir uma cadeia de escara-muçadores, que já lutara por várias horas. Eles responderam: substituição não! Lutaremos até à noite; Dê-nos cartuchos!”

O maior dano para os skirmishers vinha coma cavalaria inimiga. Beskrovnyi escre-veu: “quando a cavalaria ataca os skrmishers ... o oficial coleta seus homens em grupos de cerca de 10 homes. Eles ecuam por lances, mas continavam a atirar eenfiavam suas baionetas nos cavalarianos inimigo ...”

- Em 1812, em Borodino, os skirmishers russos foram atcados pela cavalaria fran-cesa. O coronel Vuich ordenou-lhes que se jogassem no chão. Os cavalarianos passavam sobre eles, provocando pequenos estragos. Os skirmishers russos, então, se levantaram e dispararam sobre os franceses.

- Ainda em 1812, desta feita em Berezina, um grande número de skirmishers russos e de infantes de linha foram lançados no terreno. Foram massacrados pelos couraceiros franceses e 1.500 homens foram fetos priioneiros! (Riehn - “1812: Napoleon’s Russian Campaign” )

Skirmishers franceses“Tirailleur” significa o franco-atirador, um skirmisher em francês. Os tirailleurs fran-

ceses atuavam aos pares, mas só um atirava de cada vez, de maneira que um deles esti-vesse sempre com o mosquete carregado. Os intervalos entre os dois era de 15 passos.

A infantaria francesa era dotada de notáveis agacidade, capacidade de vigilância, habilidade e leveza para correr, rastejar e saltar. Gozavam de grande reputação como skir-mishers. George Nafziger escreveu que só os franceses poderiam reivindicar o emprego universal de sua infantaria de linha como skirmishers. O general polonês Duhesme propôs confiar apenas em skirmishers e pequenas colunas, alegando que os franceses eram ade-quados para este tipo de combate.

Uma companhia de infantaria desdobrada em cadeia de escaramuças (tirailleurs de marche et de combat) atuava em concerto com o batalhão de origem, para o qual ela provia proteção, tanto durante a marcha, como durante a batalha. Os skirmishers eram usados para repelir os primeiros postos do inimigo e para sondar a sua posição (o reco-nhecimento em força atual). O objetivo era jogar os inimigos escaramuçadores de volta para suas tropas atacantes e, se possível, levar a desordem para suas colunas.

Cada companhia de infantaria francesa era dividida em duas seções, mas quando as escaramuças eram necessárias, ela era dividida em 3 seções: esquerda, direita e cen-tro. Os escaramuçadores da seções esquerda e direita tinham suas baionetas removidas quando na linha de escaramuça. Somente a seção central mantinha suas baionetas fixas.

As guerras napoleônicas

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Quando eles estavam em campo aberto e ameaçados pela cavalaria, a linha de combate formava um círculo, reunindo a seção central na parte traseira.

De acordo com as instruções do marechal Davout, emitidas em 1811, quando uma companhia fosse enviada para a frente, para atuar como “tirailleurs” primeiro marchariam 200 passos longe do batalhão. Aqui a seção central fazia alto, enquanto as da esquerda e da direita marchavam para a frente mais 100 passos.

Várias companhias ou até batalhões poderiam ser empregados como skirmishers (tirailleurs en grande bande). Os tiralleurs en grande bande atuavam em grandes núme-ros, invadiam ou defendiam uma posição ou, ainda, assediavam o flanco do inimigo. As formações em grandes escaramuças geralmente eram apoiadas por colunas de infantaria e pela artilharia. Em Friedland, o general Oudinot tinha desdobrado 2 batalhões completos como escaramuçadores em Sortlack Wood. Em 1814, em La Rothiere quatro batalhões franceses foram formados em ordem de skirmishers por La Giberie para se antecipar a qualquer ataque que pudesse se desenvolver na retaguarda da floresta. Os franceses, na ocasião, desdobraram divisões inteiras [!] nas formações de escaramuças. (NafzigeEmr - “Baionetas imperiais” 1996)

Em 1806, em Jena, a 16ª de Infantaria Ligeira francesa avançou para a esquerda em direção a uma floresta: seu terceiro batalhão avançou em formação de tirailleurs (or-dem de skirmishers) em direção à floresta, enquanto os primeiro e o segundo batalhões, ainda marchando em coluna, passaram à direta da floresta indo se desdobrar em linha na planície, já tendo o inimigo ao alcance dos mosquetes, mas distante do alcance da artilharia prussiana.

Havia, no entanto, um mito de que só os franceses eram capazes de usar todos os batalhões em ordem de skirmishers. Em 1813 em Hagelberg, o IV Batalhão de prussianos do 3º Kurmark Landwehr desdobrou em formação de skirmishers e avançou juntamen-te com dois outros batalhões formados em colunas e protegidos por seus próprios skir-mishers. No final da batalha, aproximadamente 300 escaramuçadores prussianos perse-guiram 2 batalhões de infantaria franceses (totais 1.000 homens). Estes escaramuçadores juntaram-se aos cossacos e aos canhões russos, e os franceses, paralisados, renderam--se. Em 1812, em Borodino os russos empregaram brigadas de Jägers como skirmishers. Em 1813 em Leipzig, o Príncipe Poniatowski desdobrou 6 batalhões poloneses em uma grossa linha de skirmishers.)

Skirmishers russosO comandante russo Chichagov alegou que a infantaria russa (não especificamente

a Jäger) tinha pouca sagacidade e destreza para lutar em ordem de skirmishers. Barclay de Tolly considerava os escaramuçadores franceses superiores aos russos em agilidade e pontaria e mais eficazes na floresta. Somente após 1812 as habilidades dos escaramuça-dores franceses diminuiu significativamente.

Os maiores admiradores das táticas de skirmishers na Rússia, foram Suvorov e Kutusov. Kutusov escreveu vários conjuntos de notas sobre a infantaria leve já na década de 1780.

Os Jägers (infantaria ligeira) eram, geralmente, enviado para a escaramuça. Se houvesse um número insuficiente de jägers, a infantaria de linha e, eventualmente, os granadeiros deveriam enviar seus próprios skirmishers. As tropas eram enviadas para escaramuça por pelotões ou companhias, que se substituíam uns aos outros a cada vez, ou por regimentos e batalhões a um todo. Por exemplo, um dia antes da batalha de Eylau,

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o Regimento Musketier Amanda foi desdobrado como skirmishers para cobrir a retirada da 4ª Divisão. Em agosto de 1812 em Krasne, todo o 49º Regimento de Jager foi colocado na frente da aldeia em ordem de skirmishers.

No entanto houve desentendimentos no exército russo sobre o uso de grande nú-mero de grupos pequenos. Na publicação de 1811 “Sobre o treinamento dos Jägers” havia a recomendação sobre a utilização do batalhão Jäger inteiro (de 8 pelotões) em ordem de skirmishers. O pelotão de granadeiros e de strelki foram mantidos na reserva por trás de ambos os flancos da linha de skirmishers, formada pelos restantes seis pelotões de Jägers.

A linha de escaramuceiros era formada assim: os soldados da primeira fila forma-vam a cadeia da frente, os soldados da segunda fileira formavam a segunda cadeia, en-quanto a terceira fileira formava uma reserva atrás do centro. Os escaramuçadores atua-vam em pares com 2 ou 5 passos de intervalo entre pares, e eram manipulados de acordo com os sinais de tambor e se deslocavam em uma corrida (150-200 passos por minuto). Eles eram treinados para saber usar os recursos do terreno, atirar nas posições em pé, ajoelhado ou deitado.

Skirmishers inglesesOs soldados britânicos bem treinados foram humilhados pelos agricultores norte-a-

mericanos, milícianos e índios, lutando em desordem. A experiência americana teve um impacto profundo e resultou em mudanças organizacionais e táticas do exército britânico. Mas ainda assim a qualidade dos escaramuçadores britânicos (exceto os 60º e 95º Regi-mentos) ficava abaixo de suas contrapartes francesas.

O general francês Foy escreveu: “vários regimentos de linha, como o 43º, o 51º, e o 52º etc [britânicos], são chamados de regimentos de infantaria ligeira. Estes corpos, bem como as companhias ligeiras dos batalhões, não têm nada de ligeiras, só o nome; Eles estão armados e só portam uma ligeira mudança nas decorações, mas vestem-se como o resto da infantaria. Considerava-se que o soldado inglês não possuía inteligência e sagacidade para combinar, de forma suficiente, o serviço regular da infantaria de linha com a inspiração de um atirador”.

Um oficial dos Royal Scots, após Waterloo, escreveu que os skirmishers franceses eram melhor treinados e, em geral, muito mais eficientes nesse tipo de luta que os skir-mishers britânicos. (Barbero - “A batalha”)

“Os ingleses não escaramuçavam tão bem como os alemães e os franceses; era um trabalho muito duro faze-los preservar a ordem estendida, saber cobrir-se e não desperdiçar seus tiros; e no cumprimento desse dever, um oficial fica, penso eu, muito mais que exposto na linha de combate.” (Rory Muir - os “Táticas e a experi-ência da batalha na época de Napoleão”)

Os melhores escaramuçadores britânicos foram os do 95º Regimento e os bata-lhões ligeiros KGL, todos armados com fuzis. A Divisão britânica ligeira foi sem dúvida uma das melhores tropas leves na Europa. Em setembro de 1813, o comandante francês na Espanha, o marechal Soult, escreveu para o Ministro da Guerra que os atiradores britâni-cos estavam matando os oficiais franceses em ritmo acelerado: “as perdas de oficiais são muito fora de proporção em relação às perdas de soldados”.

Skirmishers prussianos e austríacosMuitos generais prussianos e austríacos não eram a favor de escaramuças e es-

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caramuçadores. Por exemplo, von Freytag-Loringhoven escreveu: “A infantaria prussiana em algum momento levou Frederico o Grande, a marchar corajosamente sobre o inimigo que, também e literalmente, insistiu que o skirmishing é a marca de um covarde”.

Eles estavam errados; a ação de skirmishing exige energia, imaginação e iniciativa. Alguns generais prussianos concordaram; o general Scharnhorst escreveu: “vale também alguma consideração de que as tropas leves oferecem a maior oportunidade para a for-mação de bons oficiais, porque com elas irão se acostumar ao perigo, e passar a confiar mais no seu próprio julgamento.Todos os ensinamentos anteriores serão tão inúteis quan-to inaplicáveis, pois desses oficiais espera-se ousadia, julgamento e independência, que crescem quase que diariamente.”

Em 1815, durante a batalha de Ligny, o batalhão de Bünau (II/19th de infantaria) tinha passado grande parte do dia em combates, ou em grupos de skirmishers, ou em pequenos grupos de batalha. Os escaramuçadores muitas vezes tiveram que rastejar através de aberturas nas cercas e sebes ou mover-se muito rapidamente de um lugar para outro. Se toda a infantaria prussiana fosse como o batalhão de Bünau, Ligny provavelmen-te não cairia em mãos francesas.

Mosquete e rifle O mosquete e o rifle são dois tipos de armas de fogo que geram confusão, em ra-

zão das suas similaridades.Basicamente, os mosquetes foram usados mais cedo do que os rifles, mas foram, lentamente, substituidos pelo rifles, uma vez que estes eram mais precisos.

O que era o mosquete?Era a arma de fogo usada pela infantaria durante as

guerras dos séculos XVIII e XIX. O antecessor do mosque-te foi o arquebus e seu successor foi o rifle. O mosquete, além de ser mais leve que o arquebus (era carregado pela boca), possibilitava a instalação da baioneta, o que garantia ao soldado um maior desempenho no combate aproxima-do. Os mosquetes foram usados nos exércitos do mundo todo, a partir do século XVI. Para realizar o disparo, a muni-ção era carregada pela retaguarda do cano, onde também era inserida uma quantidade de pólvora entre o gatilho e o projetil e, para realizer o disparo, o gatilho era acionado. Os soldados da época eram munidos de uma bolsa onde levavam uma bolsinha com a pólvora e as balas.

O mosquete não era uma arma precise, razão pela qual os exércitos o usavam para realizar uma fuzilaria em massa, para se assegurar que o alvo seria atingido. Como nem sempre o soldado conseguia aferir a quantidade de

pólvora adequada, passou-se a utilizar uma quantidade de pólvora pré avaliada e emba-lada, o que deu origem ao cartucho de pólvora. A cadência de tiro do mosquete era de 2 a 3 tiros por minuto.

O que era o rifle?Foi o sucedâneo do mosquete. e era carregado tal qual o mosquete, no entanto,

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era mais leve, mais preciso e tinha um maior alcance, uma vez que a alma do seu cano era raiada (rifling) o que deu origem ao nome rifle. Como desvantagem em realação ao mosquete, o rifle levava mais tempo para ser carregado, uma vez que seu cano era menor, o que dificultava a operação para o soldado, por ter que abaixar o cano para realizar a ma-nobra de carregamento.Sua grande vantagem, devia-se à sua maior precisão, garantida pelo raiamento em espiral da alma do cano

Quais as diferenças entre mosquete e rifle?=>Mosquete e rifle eram ambos carregados por trás, mas o rifle, em função do raia-

mento era mais preciso e tinha um maior alcance. => O rifle, lentamente, substituiu o mosquete por causa da sua maior eficiência. => O mosquete podia ser carregado mais rápido que o rifle, devido ao tamanho do

cano => O rifle era mais preciso e podia acertar alvos distantes a mais de 300 jardas,

enquanto que o mosquete mal atingia 200 jardas.=> O mosquete usava um bola de ferro como projetil, causando maiores danos

quando disparado a curta distância. => A maior cadência de tiro do mosquete o fez ser preferido dos exércitos, ao passo

que, em relação à precisão o rifle era considerado melhor.O rifle inglês Baker foi, provavelmente, o mais preciso de todas as armas de fogo

durante as guerras napoleônicas. Nos treinos e sob condições perfeitas foram obtidos 100% de acertos em disparos efetuados a 100 passos dos alvos. No entanto algumas das reivindicações a respeito da superioridade e da universalidade das carabinas tem um pou-co de sentido. Se eles eram tão superiores, então por que o mosquete, e não a carabina foi, durante décadas a arma de infantaria britânica, mesmo após as guerras napoleônicas.

Rifle “Baker” (sem baioneta)

Mosquete “Brown Bess”

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CAPÍTULO VIIA CAVALARIA FRANCESA DURANTE AS

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A CAVALARIA FRANCESA DURANTE AS GUERRAS NAPOLEÔNICAS

A cavalaria era a arma de choque de Napoleão, a mais móvel das forças de seu campo de batalha, e que era desdobrada não só para o ataque, mas também para uma variedade de tarefas de reconhecimento e de ações ligeiras. Por volta de 1806 e ao tempo da Campanha de Jena, a cavalaria de Napoleão - “cuirassiers” (couraceiros), “dragoons” (dragões) ou ligeira - foram divididas em regimentos de quatro, cinco e seis ou mais es-quadrões respectivamente, cada esquadrão sendo ainda dividido em duas companhias (ou tropas). A carga de esquadrões duplos era o principal método de ataque, em que era dada grande ênfase na disciplina da ação, particularmente no pós carga. A cavalaria ligeira - “hussards” (hussardos), lanceiros e afins eram adestrados (quando eram dragões) em ta-refas de reconhecimento e perseguição. A maior parte da cavalaria “pesada” - “cuirassiers” (couraceiros) e”carabiniers” (carabineiros) - muitas vezes, constituíam a base da cavalaria reserva, sob o comando do imperador, mas a divisão de cavalaria ou brigada adida a cada Corpo “d’Armée”, geralmente incluía unidades de todas as três categorias montadas de “l’arme blanche”, como era chamada a cavalaria. Os couraceiros e os carabineiros ainda usavam couraças de peito e nas costas. Armados com espadas ou sabres, pistolas e carabinas, a cavalaria formava uma parte espectacular da “Grande Armée” de Napoleão.

Cavalaria ligeira O valor da cavalaria ligeira durante os primeiros anos da revolução e o eventual

surgimento do Império é aparente. Em1793 ,o número de regimentos de cavalaria ligeira do exército francês tinha mais do que duplicado a sua força de 1789, enquanto o número de regimentos de média e pesada cavalaria tinha aumentado em míseros quatro. O fato de que nos regimentos de “chasseurs a cheval” (menos famosos do que os hussardos, mas identicamente armados) numeravam 26 contra os 12 dos quatro anos anterioes, é altamente indicativo do estado do exército como um todo.

As funções defensivas e ofensivas da cavalaria ligeira de Napoleão eram, essen-cialmente, as de reconhecimento mais avançado, constituição de flanco e/ou retaguarda e postos avançados de proteção da coluna principal. Um dos elementos mais arrojados e visualmente românticos eram os hussardos, cujas origens remontavam ao corpo de ca-valaria do Império Otomano. Os hussardos consistiram de apenas 14 regimentos durante o período do Império Napoleônico. Seis deles já existiam bem antes das reorganizações maciças de 1791 e o restante foi criado ao longo dos anos seguintes: os 7º e 8º Regi-mentos em 1792; os 9º, 10º e 11º em 1793; o 12º em 1794; o 13º em 1795; e as quatro equipes restantes em 1814. Estes regimentos consistiam de quatro esquadrões, cada um composto por duas companhias, que por sua vez, eram subdivididas em duas tropas.

O poder de mobilidade dos hussardos foi, persuasivamente, exibido em 1806, quan-do fizeram uma perseguição aos prussianos por mais de 1.160 km (721 milhas) dede o rio Saale até o Oder em 25 dias. Apesar desta demonstração de força, ainda tinha a ca-pacidade de realizar, ações por meio de colunas de cavalaria ao estilo “Blitzkrieg”, mas que, fundamentalmente, nunca foi explorada. De um modo geral, o desdobramento de tais pontas de lança móveis ficava restrito às unidades de patrulha de 20 a 100 homens, e este emprego bem que poderia ter resultado em muitas oportunidades desperdiçadas no campo de batalha. Contida ao emprego, na maioria das vezes, ao patrulhamento das regiões no entorno das colunas principais da infantaria, os hussardos deveriam trabalhar em volta das bordas das colunas principais, desdobradas em esquadrões em ordem de

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batalha típicas (linhas retas ou escalonadas. Se tivessem uma chance em relação ao ini-migo, uma tropa do esquadrão líder deveria correr por fora, a galope, e criar uma cortina de atiradores do outro lado da frente do Regimento. Se o inimigo entrasse em combate, os “hussar skirmishers” deveriam ocupar posições estáticas e descarregar uma saraivada de carabinas sobre o inimigo a uma distância de cerca de 100m (109 jardas). Então, de pistola na mão direita e com o sabre pendurado pelo fiador no pulso, realizariam a carga. Quando fechassem mais sobre o inimigo, eles iriam descarregar a pistola para, em segui-da, transferir a pistola para a mão esquerda para poder atacar com o sabre. Quando hou-vesse a necessidade de um “back-up” por todo o Regimento, os esquadrões avançavam em ondas estendidas obliquamente escalonadas para direita ou esquerda, para obter o máximo impacto sobre as fileiras inimigas.

Nas ações defensivas, os hussardos operavam da mesma maneira como descrito acima, mas essencialmente de forma inversa. Eles deveriam buscar o contato com o ini-migo e procurar o engajamento na primeira oportunidade, para negar a ele a vantagem de uma manobra. Assim procedendo, eles mascaravam as manobras da infantaria posicio-nada atrás deles.

O papel de solucionador de problemas dos hussardos criava um forte espírito de equipe que resultou na cavalaria ligeira, com noções de sua própria superioridade. Era tal a indisciplina arrogante dos hussardos que Napoleão comentou: “estes hussardos devem ser feitos para lembrar que um soldado francês deve ser um cavaleiro, um soldado de infantaria e um artilheiro, e não há nada que os faça virar as costas para isso!”

Os “chasseurs” e os lanceiros executavam muito o mesmo papel que os hussardos. Os primeiros eram armados da mesma maneira que os hussardos, mas sendo o cavalo um indígena ligeiro, poderiam, talvez, ser melhor equiparados às demi-brigadas de infan-taria, uma coleção de meio-treinados, com falta de profissionalismo e improvisadas, e sem experiência. Os últimos distinguiam-se por sua arma principal - uma lança de 2,06 m (6ft 9 in) de comprimento. Napoleão criou um total de nove regimentos regulares de lanceiros, principalmente através da conversão dos regimentos de dragões já existentes e de regi-mentos de “chasseurs”, além dos três regimentos de lanceiros que foram criados dentro de sua Guarda Imperial. Havia muito debate sobre o valor do lanceiro em combate. En-quanto parecessem ferozes, eram constrangedores ao seemr manipulados em combate e eram um fardo durante as manobras rápidas. Os lanceiros poderiam realizar uma carga em massa, bastante aterrorizante, mas no ponto de contato da carga geralmente diminuí-am o ímpetoda para realizar um engajamento corpo a corpo.

Dito isto, vale lembrar que as lanças não eram o único recurso dos lanceiros. Eles também portavam, como arma padrão, um sabre curto e, com o correr do tempo os lancei-ros também passaram a portar armas de fogo, como o ocorrido no âmbito do 2º Regimento de Chevaux-legers-Lanciers (2º Regimento de Lanceiros a Cavalo Ligeiros) da Guarda Imperial de Napoleão - os “Lanceiros Vermelhos”.

No final de 1811 foram aumentados os números de armas pessoais da tropa de Lan-ceiros Vermelhos, quando se formaram as nuvens de trovoadas da guerra contra a Rús-sia. Napoleão observou que além de sabres e lanças, os cossacos carregavam pistolas e carabinas (ou em alguns casos, arcos e flechas). Para ter uma resposta a esta ameaça de longo alcance, Napoleão tinha problemas de disponibilidade de carabinas para a prática com os Lanceiros Vermelhos. As opiniões sobre o seu valor diferiam: alguns acreditavam que a carabina seria valiosa para escaramuças e manteria a cavalaria ligeira inimiga à distância, enquanto os outros estavam preocupados sobre a praticidade de o soldado car-

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regar consigo um verdadeiro arsenal: um sabre, uma lança, duas pistolas de sela e agora uma carabina. A campanha russa provaria que as duas escolas de pensamento estavam certas. As carabinas foram admitidas e se mostraram adequadas para manter os cossacos à distância; mas o peso de todo aquele armamento foi demais para os cavalos, às vezes, causando-lhes ferimentos graves.

Cavalarias médias e pesadas Enquanto o trabalho da cavalaria ligeira era o de escoltar e realizar skirmishing, o da

cavalaria pesada era avançar sobre as formações inimigas diretamente, e esmagar o ad-versário, para abrir suas fileiras abrindo, assim uma brecha a ser explorada pela infantaria.Os “carabiniers” e os “cuirasiers” eram o coração da pesada cavalaria. Em 1971, os dois regimentos de carabineiros do Exército francês eram compostos de 4 esquadrões cada e o 27º Regimento de Cavalaria de 3 esquadrões Em 1792, os regimentos de cavalaria foram reduzidos para 25 e, em 1793,

The carabiniers and cuirassiers were at the core of the heavy cavalry. In 1791, the French Army’s two regiments of carabiniers were composed of four squadrons each and the 27 cavalerie regiments of three squadrons. In 1792, the cavalerie regiments were redu-ced to 25 and, in 1793, o número de esquadrões tinha voltado a quatro.

Em setembro de 1802, Napoleão escreveu ao General Berthier, Ministro da Guerra: “Desejo-lhe, Ministro cidadão, submeter-me a um esquema para reduzir os regimentos de cavalaria pesada para 20 - dois dos quais devem ser de carabineiros - todos com 4 esquadrões fortes. Os últimos 6 regimentos agora existentes devem ser terminados para fornecer um esquadrão para cada um dos 18 primeiros regimentos propostos. Destes 18 regimentos, os cinco primeiros deverão usar couraças, além do oitavo, que já está equipa-do dessa maneira, perfazendo ao todo, 6 regimentos com couraças e 12 sem elas”.

O 1º Regimento de Cavalaria, em 10 de outubro de 1801, já tinha sido convertido a “Cavalerie-Cuirassiers” (1º Regimento de Cavalaria-Couraceiros) e, em 12 de outubro de 1802,os 2º, 3º e 4º Regimentos seguiram o mesmo esquema; em 23 de dezembro de 1802, os 5º, 6º e 7º Regimentos foram transformados da mesma maneira, Dentro de um ano, os 9º, 10º, 11º e 12º Regimentos, também foram transformados, trazendo à arma da cavalaria o poder de combate de 12 regimentos encouraçados. Esta situação permaneceu estática até que, em 1808, o 1º Regimento Provisório da Cavalaria Pesada virou o 13º de Cuirasseurs, seguido pelo 2º Regimento de Cuirasseurs holandês que, em 1810 foi reno-meado 14º Cuirasseurs

Os regimentos eram compostos de 4 esquadrões, que evoluíram para 5 em março de 1807, cada um com 2 companhias de 2 tropas. Em 1806, o Estado-Maior regimental, em teoria, consistia de um coronel, um major, dois chefes de esquadrão (comandantes de companhia), dois majores-ajudantes, um chefe do pagamento, um major-cirurgião, um major-enfermeiro, um trompeteiro de brigada, um cirurgião veterinário e seis “maitres” (ou seja, sapateiros, alfaiates, armeiros e seleiros).

Cada companhia supostamente comprendia um capitão, um tenente, um segundo--tenente, 4 “marechaux-de-logis” (o equivalente à graduação de sargento), um marechal--des-logis-chef, um fourrier, 8 brigadiers, 82 tropeiros e um trompeteiro.

O quadro seguinte mostra a organização de 2 divisões da cavalaria pesada, ambas da cavalaria do Corpo reserva da “Grande Armée” de 1805:

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1ª Divisão de Nantsouty: Oficiais Praças Cavalos 2º Cuirassiers 22 510 469 9º Cuirassiers 22 491 513 3º Cuirassiers 20 500 475 12º Cuirassiers 24 566 590

2ª Divisão de D’Hautpoul: 1º Cuirassiers 32 498 500 5º Cuirassiers 32 468 367 10º Cuirassiers 32 551 475 11º Cuirassiers 32 539 443

Em termos de armamento, de 1803 a 1805, os couraceiros foram armados com um sabre de lâmina reta e uma espada de ferro. A este momento, o cinto portador da espada ainda era o mesmo dos antigos carabneiros de antes de 1810, que mantinha o sabre em ângulo, na altura da cintura; esta maneira mostrou-se impraticável para os couraceiros, uma vez que além de dificultar o desembainhar da arma, fazia com que esta emitisse um “clang” ao ser sacada da bainha, além de limitar o movimento do soldado. Esta situação foi resolvida com a adoção do padrão An XI de cinturão que mantinha o sabre suspenso de um par de tiras, com o punho ao nível do pulso. Esta adaptação foi logo seguida pela distri-buição do An XI para as variadas versões de sabres que se seguiram (o de 38 in, e os mais robustos de aço). A altura do pé desta espada, embainhada, era 120cm (47 polegadas).

A couraça

A couraça “Mk F” datava de 1802, e foi nesse ano distribuída para o 1º Regimento de Couraceiros. A couraça deste modelo não era muito arredondada e formava um ângulo brusco na parte inferior; o total de 34 rebites de cobre existentes foram empurrados para os perímetros tanto da placa do peitoral, como da placa traseira. A couraça era colocada conectando-se as extremidades das correias de metal e revestidas com tecido, fixando-se, assim, as duas metades do peitoral e das costas e que eram presas juntas na cintura por um cinto de couro com fivelas de cobre que era fixado nas costas por rebites de cobre em cada extremidade. Embora os ombros fossem, normalmente, cobertos por escamas de bronze, os dos 9º Regimento de Couraceiros eram blindados com correntes de amarelo-cobre ao longo de seu comprimento e os dos 8º de Couraceiros eram desprovidos de qualquer metal para proteção, havendo, meramente, adornos de couro preto.

Depois de 1806, uma couraça “Mk IF” passou a ser usada, mas só diferia da “Mk I” pela parte inferior do peitoral tinha sido arredondado. A partir de 1809, a couraça ‘Mk III’ fez a sua aparição, diferindo apenas em ter um perfil mais arredondado e ser levemente mais curta. As couraças dos oficiais tenderam a ser mais elegante: a “Mk I”, por exemplo, tinha uma única linha profundamente gravada, colocada a 3 cm (1 a 2 pol.) da borda, que descreviam uma margem sobre o perímetro das placas do peito e das costas, com 32 rebites dourados de cobre. A couraça dos carabineiros era totalmente coberta por uma folha fina de latão, que deixava uma margem de 2,5 cm (1 in) de metal branco sobre a borda, em que eram inseridos os rebites de cobre ama-relos. A couraça não era essencialmente diferente das versões dos couraceiros, salvo pelo cinto de couro natural e as cintas de ombro, que tinham encaixes de cobre.

Os oficiais couraceiros eram armados com um “sabre de batalha” com punho de marfim e com uma lâmina levemente curvada ao longo de um terço de seu comprimento.

Os diversos tipos de sabre encaixavam em uma variedade de bainhas específicas e estas eram de couro preto com acessórios dourados de cobre ou de folha bronzeada

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e reforçada com cobre dourado. O sabre foi inicialmente portado por um cinturão de três seções como no modelo An XI dos soldados, mas com o correr dos anos um cinto de uma única-seção e mais fino passou a ser o preferido; ambas as variedades eram protegidas por uma fivela de cobre dourada tendo o emblema de uma granada.

Couraça de oficial Couraça MKF

Antes de 1810, os carabineiros foram eram armados tanto com o sabre An IV, como o An IX. O modelo An IV tinha um comprimento de 115cm (45 polegadas) e tinha um guar-da-mão de cobre, em que era estampado o desenho de uma granada de artilharia; sua lâmina era reta e plana sendo a bainha de couro preto com encaixes de bronze. O padrão An IX diferia apenas em que o guarda-mão tinha um ramo adicional e os encaixes da bai-nha eram de cobre vermelho. Após se tornarem encouraçados, em 1810, os carabineiros foram obrigados a adquirir sabres com uma lâmina curvas “a la Montmorency”. Enquanto aguardavam estas modificações, no entanto, eles mantiveram seus antigos sabres retos, mas os guardavam na bainha do padrão An XI. Parece que os carabineiros prefiriam utili-zar aos seus sabres antigos com o prestigiosos símbolo da granada, mas tendo recebido as lâminas tipo Montmorency, eles mandaram soldar àqueles novos sabres tal distintivo. A bainha padrão dos dragões, então, foi descartada e substituída por um de ferro curvo ou uma versão de couro preto, com encaixes de cobre.

Apesar da diretiva oficial para armar os couraceiros com mosquetes saqueados do Arsenal de Viena em 1805, eles foram equipados apenas com pistolas, até 1812. As pistolas eram do padrão An IX e An XIII e este último tinha as seguintes características:

Comprimento: 35.2cm (13.9in) Cano: 20.7cm (8.1 in) Peso: 1.269kg (2.791b)Calibre: 17.1mm (0.67in)Em sequência ao Decreto Imperial de 24 de dezembro de 1811, os couraceiros

foram equipados com o mosquetão padrão de cavaria An XI com cinturão e baioneta, em 1812. O mosquetão tinha, aproximadamente, 115cm (45,2 em) de comprimento, e um cano de 85cm (33,5 em), cuja baioneta, revestida por uma bainha, ficava presa na seção

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intermediária do cinturão, e tinha uma lâmina de 46 cm (18,1 polegadas) de comprimento. O mosquetão ficava pendurado em um cinturão, jogado sobre o ombro esquerdo eque era fixado ao cinturão por um botão esférico.

Os carabineiros não só carregavam as pistolas, como também eram armados com mosquetes. Ilustrações contemporâneas retratam carabineiros com mosquetes longos e curtos, e por falta de qualquer informação oficial, só se pode arriscar dizer que estes eram, provavelmente, os do tipo padrão An IX e An XIII do dragões. A baioneta ficava pendurada em um suporte costurado no cinturão, mas ao contrário do sabre, na perpendicular. A bol-sa de cartuchos, em uso antes de 1812, era de couro preto, com o distintivo da granada de bronze e presos a o cinturão, que era afivelado sobre a túnica.

No início de 1812, os carabineiros foram também armados com o mosquetão da cavalaria An IX e um kit completo de baioneta, bolsa de cartuchos e cinturão. Note-se, no entanto, que estes não eram substituições dos antigos mosquetes e equipamentos uma vez que estes tinham sido entregues com seus antigos uniformes, em 1810. Como os couraceiros, os oficiais e músicos dos carabineiros também não eram armados com mos-quetes ou mosquetões e, portanto, não usavam uma bolsa de cartuchos.

A cavalaria dos dragões era o “cavalo de batalha de Napoleão. Eles não eram ape-nas uma qualquer porção de indivíduos classificados e rotulados de cavaleiros; eles eram, em verdade, uma verdadeira infantaria montada, treinada para ser igualmente hábil com o mosquete e com o sabre e orgulhosa dessa distinção. Originalmente, esses soldados foram montados para lhes garantir mobilidade, mas geralmente lutavam a pé e, assim, evoluíram para um exército que sabia atirar tanto montado como desmontado, tornando--se uma cavalaria nem leve nem pesada mas inédita, na época da revolução.

Dos 62 regimentos de cavalaria, herdados do antigo regime, apenas 18 eram regi-mentos de dragões, mas as reorganizações de 1791 e 1792 os aumentaram para 20, e em seguida para 21. Só em 1803 Napoleão, como primeiro Cônsul, levou o número para 30: isto apenas no papel, pois os 9 regimentos adicionais eram dragões apenas no nome; 6 eram regimentos da “antiga cavalaria” e 3 eram “hussardos”, e seus homens mantive-ram-se vestidos, armados e equipados como em suas antigas unidades que, em verdade, nunca tinham sido dissolvidas; mais tarde, em 1805, aqueles 3 regimentos de hussardos antigos ainda não tinham recebido sua cota completa de uniformes e dragões e os respec-tivos acessórios. Posteriormente, no entanto, todos os regimentos foram mais ou menos, uniformemente vestidos e equipados. Os regimentos eram diferenciados não só pelo seu número, mas também, e mais facilmente, pelas cores adotadas para as túnicas. O diferen-cial dos dragões era seu elmo: uma cobertura de cobre cercada por um turbante de peles, com uma crista de cobre forjada em alto-relevo, na qual era presa uma juba de crina de cavalo negro, um pico e equipamentos de couro liso ou de cobre.

Outras unidades da cavalariaVários outros regimentos de cavalaria reforçara as quantidades e os talentos de

guerreiros montados do Exército de Napoleão. Na prestigiada Guarda Imperial de Napo-leão, por exemplo, havia três regimentos de cavalaria média/pesada e oito regimentos de cavalaria ligeira. Estes eram:

Cavalaria pesada:“Grenadiers a chevaux” – elite dos Guardas Dragões. Cavalaria ligeira: 1º de “Chasseurs-a-Cheval”; e

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2º de “Chasseurs-a-Cheval”.

Mamelucos: 1º de Lanceiros (Poloneses); 2º de Lanceiros Vermelhos (Holandeses); 3º de Lanceiros Vermelhos (Holandeses); 1º, 2º e 3º “Guard Scouts”; e 1º, 2º, 3º e 4º “Honour Guards”.

Além disso, em 1807, Napoleão criou os “Gendarmes d’ordonnance”, um corpo montado, constituído principalmente de nobres, mas sob a pressão de sua Guarda Impe-rial, enciumada, ele foi mais ou menos obrigado a dissolvê-lo. Em 1813, após as cataclís-micas perdas na Rússia, Napoleão ordenou a criação de quatro regimentos de guarda de honra, e dois dias depois de sua ordem, o decreto foi proclamado. Os quatro regimentos da guarda de honra deveriam ser formados de voluntários, franceses natos, ou melhor, nascidos no Império e que deveriam ser vestidos com elegantes uniformes ao estilo dos hussardos. Cada regimento era composto por uma equipe de 65 homens e 156 cavalos e não menos que 10 esquadrões. Cada esquadrão era composto de duas companhias, cada uma com 122 homens e 127 cavalos. O estabelecimento das 20 companhias em cada regimento resultaria em 2.440 homens com 2.540 cavalos, mais os oficiais, elevaria o total para 2.505 homens com 2.696 cavalos. Seus quatro regimentos de guardas de honra, jun-tos, protegeriam o Imperador com 10.000 homens bem equipados, bem montados e com espírito de equipe que, oportunamente, formariam os quadros para suprir seus exércitos. Os coronéis do regimento foram escolhidos entre os generais de divisão ou de brigada; os comandantes da companhias eram coronéis experientes, apesar de todos os outros ofi-ciais manterem a mesma classificação quando atingissem a mesma qualificação. Embora espetacularmente despreparados para um combate imediato junto ao exército, a guarda de honra se destacou pela sua habilidade e confiança, quando atuou ao lado da elitosa Guarda Imperial, nas campanhas da Saxônia e da França, em 1813 a 1814 e distinguiu-se nas batalhas de Hanau e Rheims.

Outras considerações sobre a cavalaria de NapoleãoA maioria da cavalaria pesada vestia couraça e elmo. As couraças eram custosas

além de exigir homens fortes para usá-las. No verão as couraças se mostrava excessiva-mente quentes, o que poderia causar desidratação e exaustão.

Emprego da cavalariaA Unidade tática básica da cavalaria era o esquadrão. Napoleão disse que “o es-

quadrão deveria ser para a cavalaria, o que o batalhão era para a infantaria” O poder de combate (força, valor) da cavalria na batalha era expresso em número de esquadrões, ao invés de regimentos ou divisões. O poder de combate do esquadrão variava entre 75 e 250 homens. Em 1809, em Wagram havia 209 esquadrões da cavalaria francesa, o que dava uma média de 139 homens por esquadrão.

O esquadrão era composto de 2 companhias de 2 pelotões cada. Vários esqua-drões formavam um regimento; e 2 ou 3 regimentos formavam uma brigada; e duas briga-das formavam uma divisão. Havia, ainda uma bateira tracionada a cavalo adida a divisão de cavalaria. Ver a gravura da pagina seguinte.

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A cavalaria podia ser formada escalonada, em linhas, escalões ou colunas.

Formação escalonadaA formação escalonada era a mais fácil de ser manobrada, e a direção do seu

avanço podia ser rapidamente mudada. Podiam atuar escalonados os esquadrões, os regimentos, as brigadas e, eventualmente, até as divisões inteiras.

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O escalão da retaguarda poderia ser mantido até o resultado da carga do primeiro escalão ficasse clara. Isto poderia facilitar a exploração de uma fraqueza do inimigo, e a realização de um ataque a um flanco exposto, quando o inimigo se deslocava par a frente para realizar o choque, ou para cobrir uma retirada. O inimigo, então, seria atingido por uma série de sucessivos choques.

A largura da coluna de cavalaria varava entre meio-esquadrão, um esquadrão (o mais comum), até o multi-esquadrão.

A “colonne serrée” francesa sempre foi formada por esquadrões e nunca por com-panhias - pelotões. O intervalo entre os esquadrões era de 10 m. O objetivo desta coluna fechada era o de esconder a quantidade de homens existentes.

A realização de uma carga em coluna profunda era questionável; seu longo flanco expunha demais a formação aos fogos da artilharia e à cavalaria inimiga.

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A linha a cavalaria no ataque, avançando até atingir o trote, era um espetáculo mi-litar inigualável. Esta formação garantia o maior número de sabres ou lanças contra o ini-migo e a larga frente facilitava o envolvimento do inimigo. Mas quanto maior a linha, mais difícil ficava o seu controle e, por isso ele devia ser adequadamente curta, a fim de atingir o inimigo em boa ordem e sem fadiga dos cavalos.

Durante a carga em linha extensa, exceto nas distâncias curtas e dependendo ter-reno, geralmente a linha tinha uma tendência a formar brechas que poderiam se dege-nerar em uma carga por grupos, ou até de soldados individualmente, que chegavam su-cessivamente. A linha mais longa era mais sucetível de ser desordenada por obstáculos (equipamentos abandonado, homens feridos e cavalos, árvores, etc.) ou por andar muito rápido. General Jomin escreveu: “qualquer que seja a formação a ser adotada, deve-se ter o cuidado para evitar o desdobramento de um grande corpo de cavalaria em longas filas; um corpo assim elaborado é quase sempre incontrolável... Isto já foi demonstrado muitas vezes.” Apenas as mais disciplinadas e adestradas cavalarias são capazes de carregar em uma linha muito longa chamada “em murial” (ataque de parede). O ataque começava a uma distância de até 1000-1500 passos do inimigo. A cavalaria prussiana usou esta for-mação em poucas ocasiões antes das guerras napoleônicas, quando sua cavalaria estava em seu auge. Qualquer regimento que entrasse em contato com ela, durante, era varrido pelo sua tremenda e intimidante impulsão.

Canção dos “Cuirassiers”

Au milieu de la bataille,Sur les étriers de leurs grands chevaux,Grisés par le sang, la mitraille,Les cuirassiers chargent au galop.C’est la charge, c’est la foudre,C’est l’assaut dans le sang et dans la poudre.L’ennemi s’enfuit, l’épée dans les reins,Laissant tous ses morts sur le terrain.Les cuirassiers sur les étriersDe leurs grands chevaux,Pour mieux boire à la victoire,Remettent vivement les sabres au fourreau.

A seguir são mostradas algumas gravuras sobre a cavalaria das guerras napoleô-nicas.

Clarins de cavalaria

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CAPÍTULO VIIIA ARTILHARIA FRANCESA DURANTE AS

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A ARTILHARIA FRANCESA DURANTE AS GUERRAS NAPOLEÔNICAS

Em 1785, o jovem Napoleão Bonaparte formou-se na escola militar em Paris para se tornar um segundo tenente do Regimento de La Fere do Corp Real de Arrtillerie (Corpo de Artilharia Real); seu comandante supremo era o idoso General de Gribeauval. Depois de uma longa série de questões políticas, a França adotou o inovador sistema de artilharia elaborado e introduzido por Gribeauval. O jovem Napoleão, portanto, teve a sorte de se tornar um oficial de um exército dotado de, sem dúvida, o melhor sistema de artilharia da Europa naquele tempo, substituindo o anterior sistema, adotado em 1732, o do tenente--general Jean Florent de Valliere, o Inspetor da Artilharia.

A ordem real introduzindo oficialmente o sistema Gribeauval teve sua eficácia da-tada de 15 de outubro de 1765. O sistema Gribeauval anumentava, consideravelmente, a quantidade de artilharia de campanha para o exército. O conceito de artilharia francês dizia respeito à uma artilharia orientada para o apoio a 100 batalhões, o que representava um total de 150 canhões, 230 vagões (carretas) para o transporte da carga e da munição e 1.720 cavalos tratores dos canhões e dos vagões.Mas conforme o sistema Gribeauval, um exército de 100 batalhões deveria ser apoiado por 200 canhões, 2,480 cavalos e 440 vagões.

A vantagem era óbvia. Havia , ainda,um substancial incremento de canhões de artilharia pesada mas que, graças ao seu menor peso e as melhor concebidas carretas, muito mais leves, possibilitavam um melhor e mais fácil do deslocamento da artilharia. Para 100 batalhões os canhões de 8 e de 12 pdr evoluíram do total de 60 para incríveis 160, um revolucionário incremento de poder de fogo. Em verdade, havia, agora, mais ca-valos e vagões (agora chamados “caissons”), mas o total de peso dos canhões, carretas

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e caissons era bem menor. Tudo isso, portanto, possibilitava que os trens de artilharia melhor acompanhas-

sem os exércitos, com menor propensão à quebras e acidentes. Assim, obedecendo-se o sistema Gribeauval, o poder de fogo do Exército francês foi duplicado, de um só golpe, evoluindo de um sistema de artilharia de campanha relativamente fraco e ultrapassado para um dos sistemas europeus mais temíveis e modernos.

A nova artilharia tinha também mais chances de atingir seu alvo, pois o “windage” (espaço entre o diâmetro da alma do cano e o diâmetro da bala do canhão) foi diminuído. Para realizar a pontaria, havia um visor ajustável, ao invés de um simples entalhe na parte superior traseira da arma. Em suma, o canhão de Gribeauval, embora muito mais leve, era mais preciso para atingir um alvo a uma distância maior.

Mas quaisquer que fossem as virtudes técnicas da nova artilharia, seu principal papel seria, ainda, o de apoiar a infantaria.

Melhorias do material de artilharia

Além das melhorias organizacionais da artilharia francesa, a produção do material de artilharia foi, da mesma forma, também foi melhorado, em termos de qualidade. As carretas fo-ram melhor feitas e mais resistentes. Seus eixos eram de ferro, em vez de madeira, mais frágeis. As rodas foram aumentadas em tamanho e solidez. Os arreios dos cavalos tinham junções de madeira ao invés de só couro e corda, o que as tornavam mais sólidas e mais fáceis de lidar. Os cavalos de tração foram colocados, dois a dois, reduzindo o comprimento dos trens de artilharia, quando em marcha. Um dos aspectos mais importantes do sistema idealizado por Gribeauval foi a aplicação do seu princípio de uniformidade em todos os componentes. O objetivo era que qualquer peça de uma carruagem, carreta ou “caisson” fossem intercambiáveis.

Anteriormente, ainda que os projetos fossem os mesmos, havia muitas variações, em razão dos hábitos do ferreiro local e dos trabalhadores que faziam os veículos. O resultado era que, embora eles parecessem iguais à distância, as peças eram frequentemente exclusivas para o ferreiro que os fizeram. Em campanha, quando havia - o que ocorria frequentemente - danos de viagem, por ação do tempo, ou pela ação inimiga, os reparos ficavam prejudicados, até que um ferreiro ou um trabalhador hábil pudesse fazer uma peça substituta adequada. Para remediar isto, Gribeauval tinha elaborado especificações detalhadas para serem distribuídas para todas as oficinas de artilharia, a fim de que todos os componentes se tornassem o mais semelhante possível.

A manobra da artilharia em campanha foi muito melhorada por algumas das sim-ples, mas engenhosas invenções de Gribeauval. Os artilheiros foram equipados com uma correia de ombro, com a qual eles poderiam facilmente colocar os canhões em posição. Um conjunto de alavancas tornava a pontaria em direção muito mais eficiente e um dis-positivo de elevação por meios de parafusos tornava a inserção da elevação mais rápida e mais precisa. Uma esteira colocada atrás da culatra do canhão suportava uma caixa de munição, durante os deslocamentos; isto agilizava a entrada em ação do material de artilharia, que passou a ter uma fonte imediata de munição. O “prolonge”, uma longa cor-da, presa a traseira da carruagem agilizava a sua manobra em posição. A arma poderia, portanto, ser puxada para trás a alguma distância sem ter que atrelá-la, novamente, aos cavalos para essa simples manobra. A traseira arredondada da carreta (berço do canhão) impedia que a arma ficasse presa no chão quando sendo puxada pelo “prolonge”.

Unidades de artilharia Os oficiais e soldados que servam na artilharia francesa faziam parte de um número

de organizações complexas. Em 1790, durante os primeiros meses da Revolução France-

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sa, o Corpo Real de Artilharia do Exército francês tinha 7 regimentos de artilharia, 6 com-panhias de mineiros e 10 companhias de “ouvriers” (artesãos). Eles tinham uma lotação de paz de 8.663 homens. Uma decisão imprudente do governo revolucionário resultou na debandada de 7 regimentos de artilharia da milícia provincial. Este ato limpou o corpo de reserva, embora muitos destes homens treinados, mais tarde, tivessem reaparecido como artilheiros voluntários. Em 1º de abril de 1791, os 7 regimentos de artilharia exército, que tinham sido reconhecidos pelos seus nomes e pelas suas escolas, passaram a ser desig-nados por números: La Fere = 1, Metz = 2, Besanôn = 3, Grenoble = 4, Strasbourg = 5, Auxonne = 6 e Toul = 7.

Ao mesmo tempo as companhias de “ouvriers” e de mineiros, que tinham sido co-nhecidas pelos nomes dos seus capitães, doravante também receberam números. O pre-fixo “real” foi abandonado durante o verão de 1792, após a proclamação da República na França. Em 27 de agosto de 1792, o 8º Regimento de Artilharia a pé foi formado pela transferência do Corpo de Artilharia Colonial da Marinha para o exército. Um 9º Regimento de Artilharia a pé foi criado em 1794, mas foi desativado um ano depois. Em 1804, quando Napoleão tornou-se imperador dos franceses, o prefixo “imperial” foi adicionado ao nome, que se tornou o Corpo Imperial de Artilharia. O 9º Regimento foi ativado novamente em 18 de agosto de 1810, pela incorporação da artilharia holandesa ao Exército Imperial francês, mas foi dissolvida em 12 de maio de 1814.

A artilharia a cavalo estava também no processo de desenvolvimento, quando os efeitos da Revolução Francesa provocaram uma nova oportunidade. Os jovens oficiais levaram a ideia para a nova Assembleia Nacional que, em 28 de setembro de 1791, reco-mendou a formação de unidades de artilharia leve. O Ministro da Guerra Narbonne estava entusiasmado e, em janeiro de 1792, permitiu que duas companhias fossem criadas expe-rimentalmente em Metz, enquanto convocava um conselho de oficiais para impulsionar a ideia. Em 17 de abril, foi decretada a criação rápida de 9 companhias de artilharia a cavalo e as restantes 7 companhias foram criadas em maio. Elas foram organizadas conforme o estilo prussiano, mas a nova artilharia a cavalo francesa era superior, porque todos os seus artilheiros eram montados. Todo artilheiro foi treinado como um soldado de cavalaria e a bateria poderia, portanto, a galope, acompanhar a cavalaria, dando àquela arma seu próprio poder de fogo em movimento, e rápido. Cada bateria foi equipada com seis ca-nhões de 4pdr e um obus de 152mm (6 pol.).

As companhias de artilharia a cavalo tornaram-se uma parte importante dos novos exércitos franceses. Cada general, no campo, clamava por elas e o número de unidades foi grandemente aumentado durante 1792/1793 passando de 9 para 40 companhias, cada uma com 100 homens. As companhias, inicialmente, foram anexadas aos regimentos de artilharia a pé existentes, mas, no verão de 1793, este sistema tornou-se incontrolável. Havia também algumas unidades de artilharia a cavalo independentes geradas espon-taneamente por voluntários. Em 7 de fevereiro de 1794, uma nova arma de artilharia foi criada por uma ordem que determinava a organização das companhias existentes em 8 regimentos de artilharia, cada um tendo seis companhias e um “depot”. Elas foram, em sua maior parte, organizadas como artilheiros montados em cavalos, mas alguns tínham os “caissons” Wiirtz. Os novos regimentos, numerados de 1º a 8º, organizaram-se durante a primavera e o verão de 1794. Um 9º Regimento foi ativado em 1794, mas foi desativada em 9 de setembro de 1798. Os 8º e 9º Regimentos foram desativados, respectivamente, em janeiro e dezembro de 1801. Um outro 7º Regimento de Artilharia a cavalo foi criado em agosto de 1810, incorporando-se à artilharia a cavalo holandesa, mas teve apenas

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duas companhias e estas foram incorporadas aos 1º e 4º Regimentos em fevereiro de 1811.

Vestidos com um uniforme ao elegante estilo Hussardo em azul com revestimentos vermelhos, os artilheiros a cavalo adquiriram um estilo bastante elitista e dotados de uma atitude comparável à cavalaria francesa do período. Esta atitude foi reforçada pelo fato de que tais cavalaria foram constituídas pelos homens mais aptos e pelos melhores jovens de artilharia a pé e tinham uma maior remuneração. Uma bateria a cavalo deveria mover--se à frente da força principal, sob fogo das armas inimigas - geralmente, de calibre mais pesado -, e sua salvação residiria na realização de um rápido retorno de fogos, idealmente duas vezes mais rápido, com os canhões mais leves. Elas poderiam ser úteis como uma reserva móvel para as unidades à frente de um exército, prontas para serem desdobradas em um momento crítico, quando o comandante geral da operação avistava uma fraqueza no exército do seu inimigo. Este era um dos movimentos favoritos de Napoleão Bonapar-te, e que foi usado com grande efeito em várias batalhas. Ainda que tais táticas fossem eficazes, a artilharia a cavalo poderia sofrer pesadas baixas devido à sua exposição ao fogo inimigo.

Para ser um sistema totalmente integrado e operacional, as inovações ousadas de Gribeauval precisavam de mão de obra. Estes números grandemente aumentados de artilharia e de unidades auxiliares levaram a um grande estabelecimento de homens ligados aos serviços de artilharia no Exército Imperial francês e revolucionário. Em 1801, havia 8 regimentos de artilharia a pé, 6 regimentos de artilharia a cavalo, 2 batalhões de “pontoniers”, 15 companhias de “ouvriers”, 8 trens de batalhões e 1 companhia de artilharia a cavalo da Guarda Consular, que somavam 28.196 oficiais e praças. Foram criadas novos Estados-Maiores e escolas de oficiais para reforçar as unidades que, ao final de 1804, quando Napoleão tornou-se imperador, somavam cerca de 35.865 oficiais e praças. Esses números aumentaram, progressivamente, durante os próximos dez anos. A artilharia da Guarda Imperial também cresceu; sua artilharia a cavalo alcançou o status de Regimento em 1806, e a artilharia a pé foi a ela adicionada, a partir de 1809. No total, a artilharia da Guarda Imperial possibilitou a Napoleão uma reserva com 198 canhões. Por volta de março de 1814, as várias unidades de artilharia do exército somariam um total de 80.273 oficiais e soldados, embora até essa data, apenas um mês antes da abdicação de Napoleão, os números reais fossem um pouco menores. Era, no entanto, um indicativo do tempo que demorou para uma grande nação ter um eficaz serviço de artilharia, conforme o definido por Napoleão.

Em maio de 1814, o novo governo do rei Louis XVIII levou aqueles números a um total de 17.041 homens. Os números voltaram a subir quando os regimentos tentara se expandir durante os “Cem dias” do retorno de Napoleão, e que terminou em Waterloo, em 18 de junho de 1815. Depois disso, a lotação da artilharia foi estabelecida para cerca de 12.500 homens.

Sistema An XIOs canhões de 4 e 8 pdrs do sistema Gribeauval nem sempre foram a melhor so-

lução contra os canhões inimigos de 6pdr, em razão do que vários generais sêniors soli-citaram uma arma de calibre semelhante. De volta à França, Marmont escreveu um me-morando para Napoleão, quando era primeiro Cônsul, propondo mudanças no sistema de Gribeauval para fazer refletir esses necessários desenvolvimentos. Marmont sentiu que um único canhão com calibre de 6 pdr poderia substituir tanto o de 4pdr, considerado

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muito leve, como o de 8pdr, que era muito pesado. O canhão de 6pdr, ele argumentou, era quase tão móvel quanto o de 4pdr de Gribeauval e, em poder de fogo, era quase igual ao de 8pdr. Ele também se referiu a um novo tipo de canhão, o de 127mm (5 pol.). Napoleão reagiu com interesse e, em 29 de dezembro de 1801, nomeou umacComissão de artilharia oficiais para avaliar o sistema existente e fazer propostas para atualizá-lo.

Em 2 de maio de 1803, a comissão propôs um novo sistema An XI (ano XI), que apresentava como novidades: um canhão curto de 24pdr; um longo de 12pdr; um outro curto de 12pdr; um longo e um curto de 6 pdr; um canhão de montanha de 3pdr; um obus de 24pdr; e um morteiro de 24pdr. Em geral, o novo sistema proposto favorecia os cali-bres mais pesados. Em vez de 4 e 8 pdrs, o relatório optou pelos canhões de 6 pdrs e o curto de 12pdrs. No entanto, o citado relatório não contou com uma aprovação unânime. Napoleão, por sua vez, favoreceu as propostas, especialmente no tocante à introdução do 6pdrs. Napoleão favoreceu, ainda, outras áreas do sistema do Gribeauval, mas sentia que deveriam ser envidados esforços para tornar a artilharia o mais simples e o mais leve possível, enquanto devesse aumentar o seu poder de fogo.

Como o primeiro (ou sênior) inspetor-geral de artilharia, general Marmont também optou pelo novo sistema An XI, a oposição de Gassendi e de outros foi feroz. Testes e experimentos também seriam necessários para determinar os comprimentos exatos das futuras armas e alguns deles foram realizados em Estrasburgo. No entanto, isso não po-deria ser feito durante a noite e custou muito trabalho que levou muitos meses para testar e refinar o novo sistema proposto. Em 1804, Marmont passou a se ocupar de outros de-veres, quando Napoleão tornou-se imperador e o sistema An XI tornou-se mais um dos debates só dos artilheiros. O 6pdr era geralmente visto como uma boa ideia e foi a única arma do sistema An XI produzida em quantidade. No entanto, sua fabricação foi cancelada em 1808, qando o exército já tinha uma ampla fonte de suprimento para este calibre. Gran-de parte desta abundância de 6pdrs deveu-se à captura de tal armamento dos prussianos e austríacos e que foram levadas para a artilharia francesa.

Parte do sistema Gribeauval : canhões de 12, 8 e 4 libras

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Canhão de 12 pdr sistema GribeauvalEm janeiro de 1809, Napoleão foi informado de que o sistema An XI, realmente,

consistia, somente, do canhão de 6pdr, do canhão de montanha de 3pdr, e dos obuseiros de 5 e 6 polegadas. Houve ,também, reclamações sobre o novo sistema: o tubo alma do canhão de 6pdr era bom o suficiente, mas sua mal projetada carreta de transporte cau-sava problemas. Alguns soldados veteranos sentiram que, em geral, os canhões de 4 e de 8 pdr de Gribeauval eram melhores. Nem o obus introduzido por Marmont fazia todos artilheiros felizes; alguns deles desejavam algo parecido com aqueles usados pelos aus-tríacos e russos. Deveras, além do novo canhão de 6pdr e dos obuses de 5 6 pol., parecia que o sistema de An XI não era um sistema realmente novo, apenas uma reorganização daquele de Gribeauval. Mesmo com esta reforma limitada, o sistema original de Gribeau-val parecia melhor para muitos artilheiros. O resultado tangível de tudo isso foi uma cres-cente percepção de que o sistema de An XI não viveria muito tempo além do prometido.

Para resolver isso, o Imperador finalmente criou uma comissão, em janeiro de 1810, para avaliar o sistema e recomendar uma solução. Liderada pelo General Songis, o atual primeiro Inspetor-geral de artilharia, a comissão concluiu que o sistema An XI era, em grande parte, inadequado e que seria melhor continuar com o sistema de Gribeauval, en-quanto se acomodava o canhão de campanha de 6pdr. O obus foi mantido, mas algumas cópias dos obuses austríacos e russos de 152 e 203mm (6 e 8 pol.), mais tarde, foram produzidos. Além disso, no início de 1804, os obuses de 152mm (6 pol.) de Gribeauval fo-ram sendo convertidos para as novas versões, em Douai e Estrasburgo, ao invés do obus do sistema An XI, e que foram lançados, em1813, em Douai.

Campanhas imperiaisDurante a parte final de reinado imperial de Napoleão, o principal canhão de campa-

nha tornou-se o de 6 pdr do sistema An XI, pelo menos para as campanhas nas Europas Central e Oriental. Alguns canhões do sistema An XI tanbém estavam presentes, mas,

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para a maioria dos artilheiros o sistema de Gribeauval ainda se mantinha como o mais confiável. Em termos táticos, houve uma crescente mudança no emprego da artilharia de campanha, que foi introduzido e primeiro colocado para teste, em grande escala, por Napoleão. As baterias seriam agrupadas para fornecer um maior poder de fogo. Até então, a artilharia de campanha sempre tinha sido vista, apenas, como uma arma de apoio para a cavalaria e a infantaria. Em Austerlitz, em 18 de dezembro de 1805, um grupo de 18 canhões de campanha da artilharia de linha foram reunidos conjuntamente com os 24 da artilharia a cavalo da Guarda Imperial, o que teve um efeito decisivo na derrota dos russos no setor das alturas de Santon do campo de batalha. As armas para as alturas tinham sido deslocadas para lá, apressadamente, para cobrir uma lacuna entre os Corpos dos mare-chais Lannes e Soult. Aquela artilharia prevaleceu sobre o ataque da infantaria inimiga. E isto não foi desperdiçado por Napoleão. As baterias da artilharia de linha tentariam o sucesso, novamente, com 25 canhões sob o comando de Lannes na Batalha de Jena, em 14 de outubro de 1806. A tática foi repetida, também com sucesso, contra os prussianos e desta feita, Napoleão não precisou nem empregar sua artilharia da Guarda. Em Eylau, em 8 de fevereiro de 1807, os russos e prussianos tinham cerca de 400 canhões e os france-ses apenas 200, mas o general Sénarmont trouxe os canhões franceses emassados mais para perto do inimigo, o que teve um efeito devastador. Em Friedland, em 14 de junho de 1807, a artilharia reunida das três divisões do Corpo do marechal Victor, 38 canhões, no-vamente bateu os russos e virou a maré em favor dos franceses..

Definitivamente, a reunião dos canhões para realizar as barragens de artilharia, em massa, agora tinha sido percebida por Napoleão como um fator decisivo, que poderia mu-dar o rumo de uma batalha. Os russos também tinham jogado com tal ideia. No entanto, os comandantes de Corpos, franceses, ou não, estavam com ciúmes de seus canhões e não se mostravam dispostos a deixá-los passar ao comando de outros generais. Napoleão en-controu a solução para esse problema usando a artilharia da Guarda Imperial como uma poderosa reserva. Em Wagram, em 6 de julho de 1809, a artilharia da Guarda Imperial e de linha possibilitaram a reunião de 102 canhões, que acabou vencendo a batalha sobre os austríacos. Mas tais números de armas trouxeram novos problemas de coordenação e comando.

Em 1812, a “Grande Armée” marchou para a Rússia com alguns 30 canhões de 4pdrs e 260 de 6 pdrs. Os russos, então, também tinham adotado a tática da artilharia em massa, e na Batalha de Borodino, ambos os lados se canhonearam mutuamente. Umas 400 armas dispararam mais de 100.000 vezes durante a batalha, mas sem nenhuma van-tagem clara para qualquer um dos exércitos oponentes. A campanha russa de Napoleão terminou com a desastrosa retirada francesa, onde muitos homens foram perdidos para o “General Inverno”, quando os russos chamaram para seu aliado a estação fria. A perda de armas fora enorme e, quando tudo o que restava do exército se reagrupou na Alemanha, durante a primavera de 1813, pouquíssimos foram os canhões que haviam sobrado. Tudo aquilo que restava na reserva, foi levado da França para a Alemanha, onde Napoleão enfrentou uma nova coalizão pan-europeia. Em Liitzen, em 2 de maio de 1813, uns 60 canhões da artilharia da guarda pararam um ataque prussiano.

A tática da artilharia em massa foi novamente usada pelos franceses em Bautzen, em 20 e 21 de maio e em Dresden, em 26 a 27 de agosto, mas a vantagem dada pela ar-tilharia não foi explorada pela infantaria em qualquer daquelas batalhas. Uns 600 canhões de campanha estavam com o exército de Napoleão em Leipzig, em 16-19 de outubro, mas o Imperador queria 1.300 canhões - e com razão, pois o exército aliado a frente dele

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tinha 900 canhões. Em um determinado ponto daquela batalha de três dias, a artilharia da guarda francesa foi dizimada pela artilharia da cavalaria bávara com 50 canhões, quando Napoleão vendo que a luta tinha sido finalmente perdida, teve que se retirar devido a uma escassez de munição. Alguns 150.000 tiros foram disparados durante essa batalha.

A última grande concentração de artilharia foi em Waterloo, em 18 de junho de 1815, com ambos os lados tentando anular uns aos outros. Wellington, fiel a seu hábito, tinha co-locado suas tropas e armas em contra encostas, locais com cobertura melhor do que a dos franceses. Na Península Ibérica, quando os franceses lutaram contra os britânicos, por-tugueses e espanhóis, a partir de 1808, os canhões de 4 e de 8 pdr de Gribeauval foram mantidos como os canhões de campanha padrões do Exército francês. Isto pode ter acon-tecido porque o material de artilharia espanhola e respectiva munição, alguns dos quais foram capturados pelos franceses, também eram do padrão Gribeauval. Uma unidade de artilharia típica foi a 2ª Companhia do 2º Regimento de Artilharia a cavalo, que tinha dois canhões de 4pdrs, dois de 8 pdrs e dois obuses de 152mm (6 in) em 1809. Os franceses na Espanha e em Portugal, portanto, tinham muito poucos canhões de 6 pdr do sistema An XI. Em termos táticos, os franceses usaram a artilharia em massa, com grande sucesso, contra os espanhóis em vários grandes engajamentos. Em Tudcla, em 28 de novembro de 1808, os franceses reuniram 60 canhões, que aniquilaram os espanhóis. Isso foi repetido na batalha de Oliveira, em 17 de novembro de 1809, onde o principal exército da Espanha foi, desastrosamente, esmagado. Em geral, a artilharia regular espanhola estivera sempre inferiorizada e não poderia, jamais, contrapor-se àquelas táticas artilharia tão eficazes.

Quando os franceses se voltaram contra os anglo-portugueses, foi uma situação diferente. Inicialmente, a partir de 1808, em Portugal, os franceses não tinham um gran-de número de canhões de campanha e nem os seus adversários. Deve-se notar que a geografia acidentada de Portugal dificilmente favoreceria a artilharia e seus vastos trens. No entanto, a artilharia portuguesa regular foi rapidamente reorganizada e reequipada como artilharia de campanha, durante 1809, e logo ficou tão eficiente quanto a excelente artilharia britânica que serviu ao seu lado. Marchando para a Espanha em 1811, Welling-ton realizou uma disputa com qualquer marechal francês, escolhendo o terreno que seria mais favorável para a sua própria artilharia. Os canhões franceses e os artilheiros lutaram contra os britânicos e portugueses, mas seus comandantes, frequentemente brigavam entre si e nunca obtiveram uma vantagem tática sobre Wellington. Em 1813, os franceses bateram m retirada, e muitas dos seus canhões de campanha foram perdidos em Vittoria, em 21 de junho de 1813.

É importante notar aqui que, no continente, os sistemas de artilharia britânicos eram praticamente desconhecidos, até que os franceses os encontraram durante a Guerra Pe-ninsular. Estes ficaram impressionados com o que encontraram e, com o tempo, o sistema britânico, usado pelo exército de Wellington iria inspirar a artilharia francesa do período pós Gribeauval.

Cerco e artilharia de guarnição O sistema Gribeauval de cerco e de artilharia de guarnição consistia de canhões de

24, 16, 12 e 8 pdr; de obuses de 203mm (8 pol.); de morteiros de 12, 10 e 203 mm (com câmaras cilíndricas); e de um morteiro de pedra de 381mm (15 polegadas). Ao contrário das peças de artilharia de campanha, a artilharia pesada no sistema Gribeauval incorpo-rou alguns dos projetos mais antigos. O obuseiro de 8 pol. de cerco, era o projeto básico de Valliere, adaptado por Gribeauval para as operações de cerco. Os morteiros de 8 e 12

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pol e de 381 milímetros também foram apropriados para o novo sistema de Gribeauval. O morteiro de 304mm (12 pol.) também era do antigo sistema Valliere; as peças existentes foram levadas para o sistema Gribeauval, ainda que qualquer um dos recém-construídos morteiros de 304mm devesse ser reforçado por outro de 136kg (3001b), de bronze.

Apesar dos canhões do sistema Gribeauval terem sido lançados durante a década de 1760, havia ainda alguma controvérsia em torno de sua eficácia, especialmente no que dizia respeito ao extremo peso dos canhões de 8, 12, 16 e 24 pdrs. Como estes canhões se destinavam a guarnecer fortalezas, seu peso, em verdade, não importava muito tanto, uma vez que eram instalados em posições fixas, mas os críticos de Gribeauval argumen-tavam que havia um pequeno detalhe, seu custo, o que impedia a sua escolha. O debate sobre o assunto prosseguiu, até que, em 1786, os testes dos projetos de Gribeauval para os canhões de guarnição de 16 e 24 pdr foram feitos. Estes testes, no entanto, mostraram--se inconclusivos, A tolerância do 24pdr, como feito na fundição dos respeitáveis irmãos Potevin, foi especialmente decepcionante, com alguns canos durando apenas 100 tiros, até o material sofrer alguns danos de estresse. Sob essas circunstâncias, e levando-se em conta o elevado custo da fundição de peças tão pesadas em cobre, a produção cessou até a eclosão da Revolução Faancesa.

As principais características das armas de artilharia pesada (de cerco) de Gribeau-val, comparadas com os homólogos da artilharia de campanha estão descritos no quadro abaixo:

Calibre Tipo Comprimento Peso8 pdr Cerco 285 cm (112 pol) 1.060 Kg (2,3321 lb)8 pdr Campanha 200 cm (78,7 pol) 580 Kg (1,2791 lb)12 pdr Cerco 317 cm (124,8 pol) 1.550 Kg (3,4101 lb)12 pdr Campanha 229 cm (90 pol) 880 Kg (1,9361 lb)

As dimensões eram essencialmente as mesmas dos canhões do sistema Valliere de 1732, exceto que havia menos molduras e outros elementos decorativos. O canhão de 4 pdrs pôde ser convertido em Douai, na década de 1790, mas eram mais propensos a serem, simplesmente, canhões de campanha de 4 pdr, montados sobre carretas de via-gem. Essas armas foram especialmente úteis em uma fortaleza sitiada, uma vez que eles poderiam ser movidos facil e rapidamente de um lugar para o outro.

Quando a Guerra Revolucionária Francesa eclodiu em 1792, a distinção entre a ar-tilharia de cerco e a de guarnição tinha-se tornado uma discussão meramente acadêmica. Então, a sabedoria aceita em matéria de alcance e de poder de fogo dos canhões favore-cia os calibres pesados: quanto mais pesado o calibre, maior o alcance. Assim, um maior calibre não só desencadearia uma rajada mais pesada como, também, teria um maior alcance, o que o possibilitava ser eficaz, e seguro, pela distância, dos fogos inimigos. Os canhões de 8 e de 12 pdr, agora seriam o armamento de dentro de fortalezas.

O alcance dos canhões de 16 e 24 pdr os tornou as armas especialmente úteis para as guarnições das fortalezas sitiadas. Um canhão de 16 pdr em uma elevação de 45 graus podia disparar sobre alvos distantes até 4.300 m (4.702 jardas), enquanto um de 24 pdr na mesma elevação podia atingir 4.800 m (5.249 jardas). Estas distâncias também poderiam ser aumentadas caso a cidade sitiada ocupasse uma altura dominante sobre a paisagem circundante. Esta capacidade de longo alcance poderia criar muitos problemas para um inimigo sitiante, caso ele colocasse seus magazines de munição e suas as bate-

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rias perto demais. Os canhões de 12 e de 8 pdrs tinham um alcance de cerca de 4.000 m (4.374 jardas) e 3.500 m (3.827 jardas), respectivamente, e não poderiam competir com os canhões mais pesados, especialmente se os primeiros estivessem posicionados em um sítio de cerco localizado abaixo da cidade. Só se o exército sitiante tivesse canhões de 6 e de 24 pdrs (ou alguns canhões de calibre aproximado) em suas baterias que suas chances seriam alenadoras. Na verdade, era quase essencial que se tivesse essas peças para se obter um cerco bem sucedido mas, em compensação, tais canhões eram lentos e complicados para serem movimentados.

A artilharia de cerco também incluía os velho obuses de 223 milímetros, com 540kg (1, 1881b)de peso e um comprimento de 94cm (37 polegadas). Eles foram concebidos pelo General Valliere e primeiro fabricados em 1749. Os obuses de 8 pol. eram muito pesados para serem usados como artilharia de campanha, e foram relegados para compo-rem a artilharia de cerco e de guarnição de Gribeauval. Eles eram eficazes a uma distância de 3.200 m (3.500 jardas) em uma elevação de 45 graus, mas os obuses destinavam-se, principalmente, à realização de tiros de ricochete. Em um ângulo de seis graus, uma gra-nada de obus primeiro atingia o solo em cerca de 830m (908 jardas) de distância e, a dez graus, alcançava cerca de 1.200 m (1.312 jardas).

Quando o sistema An XI foi introduzido em 1803, as únicas adições para a artilharia pesada foram um longo canhão de 12 pdr e um outro curto de 24 pdr. Estas armas pe-sadas, no entanto, não constituíram uma prioridade, e muito poucos foram lançados. Em geral, a artilharia pesada de Napoleão para o interior do continente manteve-se apoiada no sistema Gribeauval.

Havia algumas exceções a esta regra; um exemplo notável foi o emprego do ma-terial muito pesado, pelos franceses, contra Cádiz em 1811. Este grande porto ficou sob cerco em 1810 e foi corajosamente defendido por uma guarnição espanhola com reforços britânicos e portugueses. Na esperança de quebrar a resistência da cidade por um intenso bombardeio de longo alcance, os franceses decidiram empregar duas grandes peças de artilharia para obter seu intento. Em outra ocasião, os grandes obuseiros franceses de 228, 254 e 279 mm (9, 10 e 11 pol.), feitos de bronze, foram usados em Sevilha. Eles eram muito pesados, com um peso variando de 3.500 kg (7, 7001b) até cerca de 9.000 kg (19, 8001b). Eles tinham um alcance de 6.000 m (6.562 jardas), mas eram de uso limitado, devido à dificuldade de movê-los por causa de sua enormidade. Uma tentativa posterior foi feita para fabricar uma parte da “ordnance” de material bélico em Liege em 1813, desta vez em ferro, mas nada de muito proveitosos resultou desta experiência.

MorteirosEstas armas que foram utilizadas para atirar bombas explosivas, foram objeto de uma

grande quantidade de experimentos no século XVII, mas, em seguida, foram mantidas, relati-vamente, no mesmo estágio, durante a maior parte do século XVIII. Eles foram, e justamente, considerados o mais perigoso tipos de armamento de serem operados, além de serem os mais complicados. Mesmo com as melhores precauções, os morteiros eram propensos aos fogos pre-maturos e à consequente explosão acidental das bombas. Isto porque o morteiro requeria que seu emprego, realmente, obedecesse duas etapas: primeiro, a bomba tinha que ser disparada e propelida para poder ser projetada sobre seu destino e, em segundo lugar, a bomba tinha um fusível que tinha que ser acesso para que ela explodisse apenas sobre as cabeças do inimigo.

Para ter sucesso, foi necessária uma classe especializada de artilheiros experientes e destemidos: os bombardeiros. Eles constituíram o grupo mais bem pago e respeitado dos arti-lheiros. Seu dever era zelar para que fossem usadas as cargas de projeção corretas para que a bomba atingisse o alvo, e que o fusível tinha sido preparado e aceso de forma a inflamar sua carga explosiva de modo que a bomba explodisse no momento certo. Quando funcionavam cor-

As guerras napoleônicas

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retamente, as bombas de morteiro poderiam causar muitas lesões ou, então, incendiar edifícios se arrebentassem sobre os telhados das casas.

Outras considerações sobre a artilharia de Napoleão A artilharia francesa era dividida em várias seções:

- Artilharia a péEm 1805 havia 8 regimentos de arilharia a pé (“régiments d’artillerie à pied”)- Artilharia a cavaloEm 1805 havia 6 regiments de artilharia a cavalo (“régiments d’artillerie à cheval”)- Tropas de pontes de pontõesHavia 2 batalhões de pontoneiros. Eles eram empregadosna dosagem de uma com-

panhia para cada Corpo de Exército, para a Cavalaria em reserva e para os trens de campanha dos QGs. Quando seus pesados vagões com os pontões tinham seus desloca-mento dificultado pelas estradas em más condições, ele podiam improvisar pontes com os barcos disponíveis, ou com jangadas construídas com partes de edifícios demolidos e até mesmo com barris de vinho vazios. Em 1805 havia 2 “bataillons de pontonniers”.

- artífices (“ouvriers”)Em 1812 havia 19 companhias de artífices (a 19ª foi mobiliada com desertores es-

panhóis e prisioneiros de guerra). Os artífices eram especialistas na construção e reparo das carretas de transporte dos canhões e de outros tipos de veículos. Eles serviam nos arsenais de artilharia e junto às baterias em campanha.

- Armeiros (“armuriers”)Em 1813 havia 6 companhias de armeiros (a 5ª era composta de holandeses). Os

armeiros reparavam as armas de todos os tipos. Eles serviam nos arsenais de artilharia e junto às baterias em campanha.

Quando Napoleão tornou-se o primeiro Cônsul, ele estabeleceu um grande “staff” de artilharia sob seu próprio controle. Os oficiais deste “staff” supervisionavam a produção de munições, canhões e obuses, a operação das escolas de artilharia e o armamento das fortalezas. Os oficiais deste “staff” serviam nos exércitos e corpos de exército em campa-nha e nas fortalezas. A organização da artilharia do exército do Egito foi o precursor de ideias que Bonaparte poria em prática em 1804-1805, no acampamento de Boulogne. Foi uma distribuição de artilharia entre as divisões de cavalaria e de infantaria e a reserva. O número de canhões que Napoleão levou para a batalha aumentou a cada ano:

- Em 1805, em Austerlitz a razão foi de 2 canhões para cada 1.000 homens;- Em 1809, em Wagram a razão foi de 4 canhões para cada 1.000 homens (fora os

canhões existentes na ilha Lobau);- Em 1812, em Borodino a razão foi de 4.5 canhões para cada 1.000 homens;e - Em 1815, em Ligny a razão foi de 2.5 e em Waterloo 3.5 para cada 1.000 homens. Em 1805, em Austerlitz, os franceses tiveram a seguinte razão de canhões8 canhões de 12 pdrs – 1 63 canhões de 6 pdrs - 816 canhões de 4 pdrs - 222 obuseiros - 3(os canhões capturados dos austríacos não foram incluídos) E em 1812, em Smolensk:57 canhões de 12 pdrs - 1

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267 canhões de 8 pdrs - 4.734 canhões de 4 pdrs - 0.6132 obuseiros 2.3 Os franceses também usavam capturar peças de artilharia, russas, prussianas, aus-

tríacas e inglesas. Napoleão estava muito interessado nos “shrapnells” (estojo com carga de projeção) britânicos. Um obus e 2 carretas repletas de “shrapnells” foram capturadas na batalha de Albuera (1811). Napoleão Bonaparte ordenou ao General Eblé, que ele realizasse experiências para determinar o modo de carregamento das granadas usando “shrapnells”. A partir daí, Napoleão passou a dar grande importância à possibilidade de poder lançar suas granadas no maior alcance possível, dado aos conhecimentos desta inovação.

O “Shrapnell” ou estojo de carga de projeção consistia de um molde de ferro seme-lhante ao usado nos mosquetes. Era preenchido com a carga de projeção feita a partir de enxofre ou resina enchendo os interstícios da parte oca e a pólvora para o acionamento. O tiro de “Shrapnell” produzia o mesmo efeito que o canister atual e poderia ser usado para distâncias maiores.

Ao contrário de todos os monarcas, Napoleão era artilheiro e ele sabia o que estava fazendo. Ele se formou como oficial artilheiro em 1785 e, em 1791, entrou para o II/4º Re-gimento de Artilharia a pé, como tenente. Bonaparte recebeu sua promoção a capitão em 1792 e foi designado, junto com sua companhia, para Grenoble. Em 1808, na Espanha, Bonaparte, já como imperador, conheceu um velho coronel. Chlapowski, escreveu: “um velho coronel de artilharia estava sentado na sala de ordens. Quando o Imperador desceu de sua carruagem e entrou no quarto e viu que o velho não o reconheceu disse: ‘ você não me conhece, coronel? Mas foi você quem me prendeu na casa da guarda!’ Este coronel tinha sido um capitão na bateria de artilharia em que Napoleão serviu como segundo-te-nente. Então Napoleão apresentou-se como o sub-tenente onaparte e acrescentou que ele tinha acabado de aumentar a pensão do velho.” (Chlapowski - p 42)

Como primeiro cônsul e imperador Napoleão condecorou e promoveu muitos ofi-ciais de artilharia talentosos. Um deles tornou-se um marechal, e muitos foram promovi-dos ao posto de general. Em 1810, a artilharia imperial era comandada por:

- 1 general inspetor (“premier inspecteur general”) - 11 generais de divisão (“généraux de division”) - 16 generais of brigade (“généraux de brigade”)- 46 coroneis (“colonels-directeurs”)- 51 chefes de batalhões (“chefs de bataillon, sous-directeurs”)

A seguir são apresentadas algumas gravuras referentes à artilharia napoleônica:

Jean-Baptiste-Vaquette de Gribeauval introduziu vários dispositivos muito impor-tantes que permitiram manusear os canhões com facilidade, ignorando assim a equipe de cavalos para muitos movimentos no campo de batalha.

Os “bricoles” eram um conjunto de cordas e alavancas de arrasto pelo qual a tripu-lação do canhão poderia puxar seu canhão facilmente em qualquer direção.

Combinado com este foi o uso de uma corda chamado “prolonge” que podia ser ligada à parte traseira do canhão à carruagem tornando flexível a manobra. O “prolonge” era muito útil para os rápidos avanços e recuos sob o fogo inimigo.

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Manobra da pontaria do canhão com o uso dos “bricoles”

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Artilharia a pé

Artilharia a cavalo

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CAPÍTULO IXGUERRAS DAS COALIZÕES

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GUERRAS DAS COALIZÕES

GUERRAS REVOLUCIONÁRIASAs guerras revolucionárias francesas foram uma série de grandes conflitos, entre

1792 e 1802, nos quais se enfrentaram, de um lado, a França Revolucionária e, de outro, amplas coligações formadas pelo Reino Unido, Prússia, Império Russo, Duas Sicílias, Espanha, Suécia, Países Baixos, Portugal, Reino de Sardenha, Reino de Nápoles, Impé-rio Otomano e Estados Unidos, resultando numa vitória francesa decisiva, que garantiu a sobrevivência da República Francesa. De facto, os franceses massacraram as coligações dos países inimigos, numa grande demonstração de habilidade e genialidade militar; e, comandada pelo jovem e habilidoso general Napoleão Bonaparte, a França manteve-se sempre na ofensiva, empreendendo uma violenta reação à invasão aliada. As batalhas foram marcadas pelo fervor revolucionário francês e por inovações militares, as campa-nhas viram os exércitos revolucionários franceses derrotar coalizões inimigas e expandir o controle francês sobre os Países Baixos, a península Itálica e a Renânia. As guerras envolveram um grande número de soldados, em especial devido ao recurso à mobilização em massa.

As guerras revolucionárias francesas costumam ser divididas entre a Primeira Co-alizão (1792 –1797) e a Segunda Coalizão (1798 – 1801), embora a França também es-tivesse em guerra com o Reino Unido continuamente entre 1793 e 1802. As hostilidades cessaram com o tratado de Amiens (1802).

PRIMEIRA COALIZÃO

Anos de 1791-1792Na altura de 1791, as monarquias da Europa olhavam com preocupação os desdo-

bramentos na França e consideravam a possibilidade de intervir, ou em apoio a Luís XVI ou para tirar partido do caos. O personagem principal era o sacro imperador de tendência revolucionária francesa ao radicalismo, embora ainda tivesse esperança de evitar uma guerra. Em 27 de agosto, Leopoldo e o rei Frederico Guilherme II da Prússia, em consulta com nobres franceses emigrados, emitiram a Declaração de Pilnitz, que anunciava o inte-resse dos monarcas da Europa no bem-estar de Luís e sua família e ameaçava com vagas mas severas consequências caso algo de mau lhes acontecesse.

Os chefes revolucionários franceses viram a declaração como uma ameaça séria. Ademais das diferenças ideológicas entre a França e as potências monárquicas da Euro-pa, havia contínuas controvérsias acerca do status das propriedades imperiais na Alsácia, e os franceses se preocupavam com a agitação no exterior dos nobres emigrados, espe-cialmente nos Países Baixos austríacos e nos estados germânicos menores.

Por fim, a França declarou guerra primeiramente à Áustria, por meio de uma deci-são da assembleia em 20 de abril de 1792 que se seguiu a uma longa lista de reclamações apresentadas pelo ministro do exterior Dumouriez. Este preparou a imediata invasão dos Países Baixos austríacos, onde esperava que a população local se rebelasse contra o do-mínio dos Habsburgos. Entretanto, a revolução havia desorganizado o exército e as forças levantadas eram insuficientes para a invasão. Em seguida à declaração de guerra, houve uma deserção em massa de soldados franceses.

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Enquanto o governo revolucionário apressadamente levantava novas tropas e reorganizava as forças armadas, um exército aliado, composto basicamente por tropas prussianas, sob o comando do Brunsvique-Luneburgo, reuniu-se próximo a Coblença, no Reno. Em julho, Brunsvique invadiu a França, tomou com facilidade as fortalezas de Lon-gwy e Verdun] e emitiu uma proclamação em que declarava sua intenção de restaurar os plenos poderes do rei francês e considerava como rebelde qualquer pessoa ou cidade que resistisse. Entretanto, em 20 de setembro, em Valmy, as forças de Bunsvique chegaram a um impasse contra Dumouriez e François-Étienne Kellermann no qual se distinguiu a arti-lharia francesa, altamente profissional. Embora a batalha terminasse indefinida, o resulta-do reforçou o moral francês. Ademais, os prussianos, ao avaliar que a campanha durava mais e custava mais caro do que o planejado, decidiram retirar-se do território francês. No dia seguinte, a monarquia foi formalmente abolida e a Primeira República, declarada.

Entrementes, os franceses haviam sido bem sucedidos em diversas outras frentes, ao ocupar a Saboia e Nice, enquanto que o general Custine invadia a Alemanha e ocupava várias cidades ao longo do Reno, chegando até Frankfurt. Dumouriez passou à ofensiva na Bélgica e saiu vitorioso contra os austríacos em Jemappes em 6 de novembro, de modo que ocupou a totalidade do país até o início do inverno.

Ano de 1793Em 21 de janeiro, o governo revolucionário executou Luís XVI em seguida a um

julgamento. O fato uniu toda a Europa, inclusive a Espanha, Nápoles e os Países Baixos, contra a Revolução. Até mesmo o Reino Unido, de início simpático à assembleia francesa, já se juntara à Primeira Coalizão contra a França. Levantaram-se exércitos contra a Fran-ça em todas as suas fronteiras.

Em resposta, a França declarou o recrutamento de centenas de milhares de ho-mens, o que deu início à política francesa de usar a mobilização maciça e de manter-se na ofensiva para que estes grandes exércitos tomassem e usassem o material bélico capturado ao inimigo.

A França sofreu sérios reveses de início, ao ser expulsa da Bélgica e ao ter que lidar com revoltas no oeste e no sul. Mas na altura do final do ano, os novos e gigantescos exércitos e uma política severa de repressão interna que incluía execuções em massa haviam logrado repelir as invasões e extinguir as revoltas. O ano terminou com as forças francesas à frente, mas próximas às fronteiras de antes do conflito.

Ano de 1794O ano de 1794, trouxe ainda mais vitórias para os exércitos revolucionários. Embora

a invasão do Piemonte houvesse fracassado, forças francesas invadiram a Espanha atra-vés dos Pirenéus e tomaram São Sebastião, e os franceses saíram vitoriosos da Batalha de Fleurus, o que lhes permitiu ocupar a totalidade da Bélgica e a Renânia.

Ano de 1795Após conquistar os Países Baixos num ataque-surpresa durante o inverno, a Fran-

ça estabeleceu ali a República Batava, um Estado-fantoche. A Prússia e a Espanha deci-diram aceitar a paz e cederam, pelo tratado de Basileia, a margem esquerda do Reno à França. A paz representou o fim da fase de crise da Revolução. A França ficaria livre de invasões por muitos anos.

O Reino Unido procurou reforçar os rebeldes na Vendeia, sem sucesso, e as tenta-

As guerras napoleônicas

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tivas de derrubar o governo em Paris foram frustradas pela guarnição militar chefiada por Napoleão Bonaparte, com a correspondente fundação do Diretório.

Na frente renana, o general Pichegru, que negociava com os monarquistas exila-dos, traiu seu exército e forçou a evacuação de Mannheim e o fracasso do sítio de Mogún-cia por Jourdan.

Ano de 1796Os franceses prepararam um grande avanço em três frentes, com Jourdan e More-

au no Reno e Bonaparte na península Itálica. Os três exércitos deveriam encontrar-se no Tirol e marchar contra Viena.

Jourdan e Moreau adentraram rapidamente a Alemanha. Em setembro, Moreau atingira a Baviera e a divisa do Tirol, mas Jourdan foi derrotado pelo arquiduque Carlos, de modo que os dois exércitos franceses viram-se forçados a recuar para o outro lado do Reno.

Por outro lado, Napoleão obteve sucesso total em sua ousada invasão da Itália. Ele dividiu os exércitos da Sardenha e da Áustria, de maneira a derrotá-los, impor a paz à Sar-denha, tomar Milão e sitiar Mântua. Derrotou os sucessivos exércitos austríacos lançados contra as tropas francesas para tentar romper o sítio.

A rebelião na Vendeia foi finalmente esmagada em 1796 por Lazare Hoche, mas este não logrou desembarcar suas tropas na tentativa de invasão da Irlanda.

Ano de 1797Napoleão finalmente capturou Mântua, com a rendição de 18 mil soldados austrí-

acos. O arquiduque Carlos da Áustria não logrou impedir Napoleão de invadir o Tirol e o governo austríaco propôs a paz em abril, simultaneamente a uma nova invasão francesa da Alemanha comandada por Moreau e Hoche.

Pelo tratado de Campoformio, assinado em outubro, a Áustria cedeu a Bélgica à França e reconheceu o controle francês da Renânia e de boa parte da península

Itálica. A antiga República de Veneza foi partilhada entre a Áustria e a França. O tratado pôs termo à Primeira Coalizão, embora o Reino Unido permanecesse em guerra.

SEGUNDA COALIZÃO

A paz firmada ao fim de 1797 não durou muito tempo. De fato, logo em 1798, Reino Unido e Áustria se organizaram para formar uma nova aliança contra a França. Eles rece-beram apoio do Império Russo, que também se via ameaçado com os ideias da revolução.

Ano de 1799Na Europa, a Coalizão lançou várias expedições militares contra a França, incluin-

do campanhas na Itália e Suíça, além de uma invasão anglo-russa dos Países Baixos. O general russo, Alexander Suvorov, derrotou os franceses em vários confrontos no norte da Itália, os expulsando dos alpes. Contudo, não conseguiram muito sucesso na Holanda, com a derrota britânica na batalha de Castricum, enquanto os russos e austríacos foram esmagados na segunda batalha de Zurique. Esses reveses desestimularam a Rússia, que se retirou da Coalizão.

O general Napoleão Bonaparte lançou-se então numa invasão da Síria e do Egito, mas após o fracassado cerco de Acre, ele se retirou para o território egípcio, onde repeliu

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uma invasão anglo-turca. Enquanto isso, a França se afundava numa crise interna política. Napoleão decidiu então voltar a Paris, deixando o que sobrou de suas tropas para atrás. O general, ainda muito popular entre o povo por causa de suas vitórias na guerra, usou sua influência para dar um golpe de estado, fundando assim o chamado Consulado Francês, com ele próprio na figura de chefe de governo.

Ano de 1800Napoleão enviou então o general Moreau com suas tropas para a Alemanha, en-

quanto ele próprio reunia suas forças em Dijon e marchou para além da Suíça, onde atacou os exércitos austríacos na Itália. Bonaparte conquistou uma importante vitória na Batalha de Marengo e reocupou o norte italiano.

Moreau então invadiu a Baviera e derrotou a Áustria na Batalha de Hohenlinden. Ele continuou até Viena e com isso o governo austríaco foi obrigado a aceitar os termos de paz franceses.

Ano de 1801Os austríacos e franceses negociaram então o tratado de Lunéville, que basicamen-

te reiterava o antigo tratado de Campoformio. No Egito, os otomanos e britânicos forçaram a rendição das guarnições francesas remanescentes nas cidades do Cairo e Alexandria. Os ingleses prosseguiam então com a guerra no mar. Formando a chamada Coalizão da Neutralidade Armada, que incluía a Prússia, Rússia, Dinamarca e Suécia, para permitir o comércio, apesar do bloqueio naval britânico na Europa. O Reino da Dinamarca e Norue-ga, ainda aliado da França, resistiu mas foi derrotado pelo almirante Horatio Nelson na Batalha de Copenhaga.

Em dezembro de 1801, a França enviou uma expedição até Saint-Domingue para encerrar uma rebelião no Haiti, mas acabou fracassando.

Ano de 1802Em 1802, os britânicos e a liderança francesa acertaram o tratado de Amiens, en-

cerrando a guerra. Um período de tênue paz se iniciou, mas não duraria muito, com as hostilidades retornando no ano seguinte. Este tratado é reconhecido pelos historiadores como o evento que encerrou as guerras revolucionárias francesas. A partir de 1804, com o coroação de Napoleão Bonaparte e o nascimento do Império Francês, os conflitos que se seguiram seriam ainda mais brutais e de grande intensidade e ficariam conhecidos como as Guerras Napoleônicas.

GUERRAS NAPOLEÔNICAS

TERCEIRA COALIZÃO

Após a dissolução da Segunda Coligação (1802), a negativa da Grã-Bretanha em entregar a ilha de Malta aos Cavaleiros da Ordem de São João de Jerusalém iniciou novo conflito com os franceses. Em 1805, com a adesão da Áustria, do Nápoles, da Rússia e da Suécia ao conflito em apoio aos ingleses, originava-se a Terceira Coligação ou Terceira Coalizão. A Espanha era então aliada da França. A ideia desta coligação era tentar deter

As guerras napoleônicas

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as crescentes ambições do governante francês, Napoleão Bonaparte, que em Maio de 1804 recebera o título de imperador.

Napoleão enfrentou os austríacos, que haviam invadido a Baviera, tendo vários Estados alemães apoiado a França na ocasião. As tropas francesas derrotaram as forças austríacas na batalha de Ulm, onde fizeram vinte e três mil prisioneiros, e iniciaram o avan-ço, ao longo do rio Danúbio, sobre Viena. As tropas russas, lideradas pelo general Mikhail Kutuzov e pelo czar Alexandre I da Rússia, levaram reforços aos austríacos, mas foram vencidas na batalha de Austerlitz. A Áustria rendeu-se novamente, e assinou o Tratado de Presburgo (26 de dezembro de 1805).

Em consequência, foi formada a Confederação do Reno, tendo Napoleão aprovei-tado a situação para nomear os seus irmãos, José I, rei de Nápoles (1806), e Luís I, rei dos Países Baixos.

Enquanto isso, no mar, o almirante britânico Horatio Nelson derrotava as armadas francesa e espanhola na batalha de Trafalgar (21 de outubro de 1805). Como consequ-ência, no ano seguinte (1806), Napoleão decretou o Bloqueio Continental, pelo qual os portos de toda a Europa seriam fechados ao comércio britânico. A superioridade naval da Grã-Bretanha e a retirada da Família Real Portuguesa para o Brasil dificultaram, na práti-ca, a aplicação desta medida, conduzindo ao fracasso dessa política económica europeia francesa.

QUARTA COALIZÃO

A Quarta Coligação ou Quarta Coalizão foi a aliança formada pela Grã-Bretanha e pela Rússia e Suécia - nações absolutistas -, contra a França de Napoleão Bonaparte, em 1806. A Prússia aderiu à Coligação, sendo as suas tropas derrotadas na batalha de Jena (14 de Outubro), tendo as tropas francesas ocupado Berlim. Em seguida, Napoleão derro-tou as tropas russas na batalha de Friedlândia, obrigando o czar Alexandre I da Rússia a assinar o Tratado de Tilsit.

QUINTA COALIZÃO

A Quinta Coligação ou Quinta Coalizão foi a aliança formada pela Grã-Bretanha e pela Áustria, a Prússia e a Suécia - nações absolutistas -, contra a França de Napoleão Bonaparte, em 1809.

No ano de 1808, os exércitos de Napoleão dominavam praticamente toda a Europa, excepto a Rússia e a Grã-Bretanha. Na Suécia ocupada, o marechal francês Jean-Baptis-te Bernadotte, foi coroado rei com o nome de Carlos XIV, tornando-se o fundador da actual dinastia. Na Espanha ocupada, entretanto, onde após ter destronado Carlos IV de Espa-nha, Napoleão nomeara seu irmão, José Bonaparte, como rei da Espanha, tiveram início insurreições de cunho nacionalista. Os espanhóis, revoltados, expulsaram José Bonaparte de Madrid, vindo a eclodir a chamada Guerra da Independência Espanhola (1808-1814).

Nesse contexto, constituída a Quinta Coligação, Napoleão derrotou os austríacos na batalha de Wagram (Julho de 1809) obrigando-os a assinar o Tratado de Schönbrunn. Ao mesmo tempo, divorciou-se de sua primeira mulher, Josefina de Beauharnais, e despo-sou Maria Luisa de Áustria, filha de Francisco I da Áustria, na esperança de evitar novas coligações da Áustria contra a França.

Apesar de boa parte das terras hereditárias dos Habsburgos continuaram em suas

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mãos, a França formalmente anexou a província da Carinthia, a Carníola e alguns portos no mar Adriático, enquanto a Galicia foi dado aos poloneses e a cidade de Salzburgo, em Tirol, passou para os bávaros. Devido as perdas territoriais, a Áustria perdeu de seu con-trole cerca de três milhões de pessoas, cerca de um quinto de sua população. Apesar da luta na península ibérica continuar, o continente europeu continuou em relativa paz até a França invadir a Rússia em 1812, dando início a Guerra da sexta Coligação.

SEXTA COALIZÃO

A Sexta Coligação (1812-1814) foi a união militar da Áustria, Prússia, Rússia, Su-écia, Reino Unido e alguns estados alemães contra o Império Francês de Napoleão Bo-naparte. A coalizão conseguiu derrubá-lo do poder e forçá-lo ao exílio na Ilha de Elba.

Em 1812, Napoleão invadiu a Rússia. Após uma importante vitória na batalha de Borodino, ele conquistou Moscou mas não conseguiu capturar o imperador Alexandre I e nem subjugar o Império russo. Com a aproximação do inverno e com poucas provisões, ele ordenou uma retirada de volta a França, via Alemanha, contudo o exército francês foi duramente castigado pelo frio e pelos ataques russos à sua retaguarda enfraquecida.

A Rússia então aliou-se à Sexta Coligação. A Suécia também aderiu a coalizão, em resposta a invasão da Pomerânia sueca por tropas francesas. Em 1813, Napoleão partiu para ofensiva, derrotando as tropas aliadas em Lützen (maio) e em Bautzen. Bonaparte, que perdera boa parte do seu exército na Rússia, conseguiu reunir 250 mil homens (a maioria inexperientes). Os seus Estados satélites da Confederação do Reno forneceriam mais tropas, contudo os Aliados estavam mais preparados e em maior número. Guar-nições do exército francês ainda estavam em grande número lutando na Espanha. Em agosto de 1813, Napoleão derrotou um exército com quase o dobro do tamanho do seu na batalha de Dresden, contudo ele não conseguiu explorar este sucesso pois o marechal Nicolas-Charles Oudinot foi derrotado pelos prussianos a caminho de Berlim.

Napoleão então reagrupou-se na Saxônia, mas foi forçado a bater em retirada sobre o rio Reno, após ter sido derrotado pelos Aliados na batalha de Leipzig, deixando livres os Estados alemães. Boa parte dos países da Confederação do Reno voltaram-se contra os franceses logo em seguida. Os exércitos russo, austríaco e prussiano invadiram a França pelo norte e tomaram Paris em março de 1814. Napoleão abdicou do trono e partiu para o exílio na ilha de Elba.

Os membros da Sexta Coalizão reuniram-se no Congresso de Viena para restaurar as monarquias absolutistas na Europa. No entanto, enquanto era discutido o novo mapa europeu, Bonaparte evadiu-se de seu local de exílio, regressando à França e constituindo um novo exército. Depois de vencer a batalha de Ligny e fracassar em Quatre-Bras, a 18 de junho de 1815 foi definitivamente vencido na batalha de Waterloo, que pôs fim às Guerras Napoleônicas.

As guerras napoleônicas

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CAPÍTULO XCRONOLOGIA

1. Da campanha da Itália à expansão da França em 1805.2. Da campanha de Ulm ao Tratado de Tilsit.3. Da defesa do Grande Império (1808) à defesa do Gran-

de Império (1812).4. Da campanha da Rússia à campanha de Waterloo.

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As guerras napoleônicas

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DA CAMPANHA DA ITÁLIA À EXPANSÃO DA FRANÇA EM 1805

11 MAR 1796 Depois que Napoleão é nomeado Comandante-em-Chefe do Exército da Itália e apenas dois dias depois de se casar, ele sai para Itália (tem início a Primeira Campanha italiana)

10 MAI 1796 Batalha de Lodi (vitória francesa sob o comando de Napoleão).

04 JUL 1796 Tem início o cerco de Mantua.

05 AGO 1796 Batalha de Castiglione (vitória francesa sob o comando de Napo-leão).

04 SET 1796 Batalha de Rovereto (vitória francesa sob o comando de Napo-leão. A ação deu-se durante o segundo cerco de Mantua).

08 SET 1796 Batalha de Bassano (vitória francesa no território da República de Veneza, entre um exército francês sob o comando de Napoleão Bonaparte e forças austríacas, lideradas pelo Conde Dagoberto von Wurmser. Os austríacos abandonaram sua artilharia e bagagem, perdendo suprimentos, canhões e estandartes de batalha para os franceses. Este engajamento ocorreu durante a segunda tentativa de alívio austríaco ao cerco de Mântua).

15/17 NOV 1796 Batalha de Arcole (vitória francesa sob o comando de Napoleão).

14/15 JAN 1797 Batalha de Rivoli (vitória francesa sob o comando de Napoleão).

02 FEV 1797 O cerco de Mântua é concluído com os austríacos rendendo-se após quatro tentativas falhas de alívio.

17 ABR 1797 É assinado o Tratado de Leoben (também conhecido como a paz de Leoben).

17 OUT 1797 O Tratado de Campoformio é assinado com a Áustria, terminando assim a Guerra da Primeira Coalizão.

05 DEZ 1797 Napoleão retorna a Paris, sendo recebido como herói.

19 MAI 1798 Napoleão embarca para o Egito para dar início à Campanha do Egito

11 JUN 1798 Napoleão captura Malta durante a travessia para o Egito.

02 JUL 1798 Napoleão desembarca no Egito e ocupa Alexandria.

21 JUL 1798 Batalha das Pirâmides, contra os mamelucos. (vitória francesa sob o comando de Napoleão)

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24 JUL 1798 Napoleão captura Cairo. 01 AGO 1798 O almirante Lord Horatio Nelson destrói a frota francesa na Baía

de Aboukir (Batalha do Nilo).

07 MAR 1799 Napoleão começa sua campanha na Síria, tomando Jaffa. Aproxi-madamente 4.000 prisioneiros foram executados.

17 MAR 1799 Continuando a campanha na Síria, começa o cerco de São João D’acre.

16 ABR 1799 Batalha de Mount Tabor; o Exército turco tenta levantar o cerco de Acre, mas é derrotado.

21 MAI 1799 Após o último ataque falhado no Acre em 10 de maio, Bonaparte decide levantar o cerco e voltar ao Cairo

22 JUN 1799 A Inglaterra foi a última nação a se juntar à Segunda Coligação contra a França. Antes da sua assinatura haviam se juntado os governos da Áustria, Rús-sia, Turquia, Vaticano, Portugal e Nápoles.

25 JUL 1799 Batalha de Aboukir (vitória francesa sob o comando de Napo-leão)

22 AGO 1799 Napoleão deixa o Egito para voltar a Paris em razão de uma agitação política na França.

16 OUT 1799 Bonaparte chega em Paris

20 MAI 1800 Napoleão Bonaparte lidera o exército de reserva, através dos Al-pes (passo de Saint Bernard) para começar a Segunda Campanha da Itália.

14 JUN 1800 Batalha de Marengo (vitória francesa sob o comando de Napo-leão, na Itália).

03 DEZ 1800 Batalha de Hohenlinden (vitória francesa sob o comando do ge-neral Moreau, na Alemanha.

09 FEV 1801 O Tratado de Lunéville é assinado com a Áustria, terminando as-sim a Guerra da Segunda Coligação, com exceção do envolvimento britânico.

25 MAR 1802 É assinado o Tratado de Amiens com a Inglaterra, terminando assim a Guerra da Segunda Coalizão.

18 MAI 1803 A guerra da Terceira Coalizão começa quando a Grã-Bretanha declara guerra contra a França, entendendo que Napoleão violou o Tratado de Amiens. Os suecos e os russos juntam-se aos britânicos também declarando guerra contra a França, através do Tratado de São Petersburgo em abril de 1805. No primeiro ano, a guerra foi travada

As guerras napoleônicas

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quase que exclusivamente no mar.

DA CAMPANHA DE ULM AO TRATADO DE TILSIT (E A GUERRA PENINSSULAR)

09 AGO 1805 A Áustria junta-se à Guerra da Terceira Coalizão

08 OUT 1805 Batalha de Wertingen (forças francesas comandadas pelos mare-chais Joachim Murat e Jean Lannes enfrentam um pequeno Corpo austríaco comandado pelo marechal-de-campo Franz Auffeberg. Isto resultou na abertura da Campanha de Ulm.

14 OUT 1805 Batalha de Elchingen (forças francesas sob o comando do ma-rechal Michel Ney derrota um exército austríaco). Esta derrota levou a que uma grande parte do exército austríaco, abrigada na fortaleza de Ulm fosse atacada pelo exército do imperador Napoleão I da França, enquanto outras formações fugiam para o leste. Logo depois, os austríacos, presos em Ulm, renderam-se, e os franceses limparam a maioria das restantes forças austríacas.

16/19 OUT 1805 Batalha de Ulm (Vitória francesa sob o comando de Napoleão).

21 OUT 1805 Batalha de Trafalgar (A esquadra franco-hispânica é destruída pelo almirante Lorde Horatio Nelson.

30 OUT 1805 Batalha de Caldiero -vitória francesa com a Armée française d’Ita-lie (exército francês da Itália) sob o comando do marechal André Masséna contra um exército austríaco sob o comando do arquiduque da Áustria Charles.

02 DEZ 1805 Batalha de Austerlitz (Vitória francesa sob o comando de Napo-leão, talvez a sua maior vitória)

26 DEZ 1805 O Tratado de Presbourg é assinado, terminando a Guerra da Ter-ceira Coalizão e resultando na dissolução do Sacro Império Romano.

18 FEV 1806 É erigido o Arco do Triunfo, para comemorara a vitória francesa em Austerlitz.

12 JUL 1806 É estabelecida a Confederação do Reno, sob a proteção france-sa.

06 OUT 1806 Tem início a Guerra da Quarta Coalizão (Rússia, Prússia, Ingla-terra e Suécia).

14 OUT 1806 Batalha de Auerstadt (vitória francesa sob o comando do mare-chal Davout)

14 OUT 1806 Batalha de Jena (vitória francesa sob o comando de Napoleão).

27 OUT 1806 Napoleão entra em Berlim. Napoleon enters Berlin

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07/08 OUT 1807 Baalha de Eylau (Impasse e ligeira vitoria francesa sob o comando de Napoleão)

14 JUN 1807 Batalha de Friedland (vitoria francesa sob o comando de Napo-leão).

07/09 JUL 1807 Os dois tratados de Tilsit são assinados entre Napoleão e o czar Alexandre I da Rússia (07 de Julho) e com Frederick William III, rei da Prússia (09 de ju-lho). Isso acabou com a Guerra da Quarta Coligação. Ocorre um encontro de Napoleão e o czar Alexandre I em uma balsa no Rio Niemen.

27 OUT 1807 Tratado de Fontainebleu: a França e a Espanha decidem atacar Portugal, começando assim o que ficou conhecido como a Guerra Peninsular.

30 NOV 1807 O marechal Junot ocupa Lisboa

20 FEV1808 O marechal Murat é indicado como o tenente-general de Napoleão na Espanha.

02 MAI 1808 Ocorre um levante em Madri contra a presença francesa, que é debe-lada pelo marechal Murat. O rei Carlos IV da Espanha abdica.

14 JUL 1808 Batalha de Medina de Rioseco (derrota do único exército espanhol capaz de ameaçar o avanço francês sobre Velha Castela. O exército do general Joaquin Blake da Galiza sob um comando combinado com o general Cuesta, foi derrotado pelo marechal francês Bessières, após um mal coordenado, mas determinado ataque à tropa dos franceses, ao norte de Valladolid).

16/19 JUL 1808 Batalha de Bailén (vitória espanhola sobre as forças francesas, lideradas pelo general Pierre Dupont de l’Étang.)

17 AGO 1808 Batalha de Roliça (um exército anglo-português sob o comando de Sir Arthur Wellesley derrotou um exército francês em desvantagem sob o comando do eneral Henri Delaborde, perto da aldeia de Roliça em Portugal. Os franceses se retiraram ordenadamente. Foi a primeira batalha travada pelo exército britânico durante a Guerra Peninsular.

21 AGO 1808 Batalha de Vimeiro (Wellesley derrotou os franceses sob comando do major-general Jean-Andoche Junot, em Portugal).

10 NOV 1808 Batalha de Burgos, também conhecida como Batalha de Gamonal, durante a Guerra Peninsular. Um poderoso exército francês sob o comando do marechal Bessières subjuga e destrói os espanhóis em desvantagem numérica, sob o comando do general Belveder, abrindo-se, assim o centro da Espanha à invasão.

30 NOV 1808 Batalha de Somosierra (o Exército francês sob o comando de Napo-leão forçou uma passagem pela Serra de Guadarrama que blindava Madrid)

As guerras napoleônicas

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4 DEZ 1808 Madri rende-se ante a Napoleão

16 JAN 1809 Batalha de Corunna (vitória francesa sob o comando do marechal Soult na Guerra Peninsular)

28 MAR 1809 Baalha de Medellín (vitória francesa sob o comando do marechal Vic-tor contra os espanhóis do general Don Gregorio Garcia de la Cuesta. A batalha marcou o primeiro grande esforço feito pelos franceses para ocupar o sul da Espanha, um feito maior foi concluído com a vitória na Batalha de Ocana no final do ano)

08 ABR 1809 Tem início a Guerra da Quinta Coalizão, quando a Áustria ataca a Bavária.

20 ABR 1809 Batalha de Abensberg (vitória francesa sob o comando de Napoleão)

21/22 ABR 1809 A Batalha de Eckmehl (vitória francesa sob o comando de Napo-leão) foi o ponto de inflexão da Guerra da Quinta Coalizão. Napoleão tinha se preparado para o início das hostilidades, em 10 de abril de 1809, pelos austríacos sob o comando de Charles, Arquiduque da Áustria, e pela primeira vez desde que assumira a Coroa Imperial francesa tinha sido forçado a ceder a iniciativa estratégica a um oponente. Graças a de-fesa pertinaz travada pelo III Corpo, comandado pelo marechal Davout e o VII Corpo da Baviera, comandada pelo marechal Lefebvre, Napoleão foi capaz de derrotar o principal exército austríaco e assumir a iniciativa estratégica pelo restante da guerra.

21/22 MAI 1809 Batalha de Aspern-Essling (vitória austríaca sobre Napoleão)

23 MAI 1809 Batalha de Alcañiz (Uma força espanhola derrota os franceses sob o comando do general Suchet na Espanha)

14 JUN 1809 Batalha de Raab (Vitória francesa sob o comando do príncipe Eugène de Beauharnais. A vitória impediu o Arquiduque da Áustria John de trazer qualquer força significativa para a Batalha de Wagram, enquanto as força do Príncipe Eugène de Be-auharnais articulava-se com Napoleão em Viena em vez de lutar em Wagram. Napoleão apelidou a batalha como “neta de Marengo e Friedland,”pois caiu no aniversário daquelas duas batalhas.)

05/06 JUL 1809 Batalha de Wagram (vitória francesa sob o comando de Napoleão)

14 OUT 1809 O Tratado de Schonbrunn é assinado, terminando a Guerra da Quin-ta Coalizão. A Áustria cedeu Salzburgo para Baviera, a Galiza ocidental para o Ducado de Varsóvia, o distrito de Tarnopol ao Império Russo e Trieste e a Croácia, ao sul do Rio Sava,à França.A Áustria, por seu turno, reconheceu as conquistas feitas anteriormente por Napoleão de outras nações, bem como reconheceu o irmão de Napoleão Joseph Bo-naparte como rei da Espanha. Áustria também pagou à França uma grande indenização e o exército austríaco foi reduzido para 150.000 homens - uma promessa não cumprida.

18 OUT 1809 Batalha de Tamames (Derrota francesa na Espanha. Foi uma inflexão

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acentuada sofrida por parte do exército francês do marechal Michel Ney, sob o comando do major-general Jean Marchand, na Guerra Peninsular. Os franceses, avançando de Salamanca, foram encontrados e derrotados na batalha por um exército espanhol)

19 NOV 1809 Batalha de Ocaña (O marechal Soult e o rei Joseph Bonaparte der-rotaram o exército espanhol, que sofreu sua maior e única derrota na Guerra Peninsular. O Exército espanhol do general Juan Carlos de Aréizaga teve 51.000 baixas entre prisio-neiros, mortos, feridos, e quase 19.000 desertores, principalmente devido ao emprego da cavalaria francesa)

26 NOV 1809 Batalha de Alba de Tormes (vitória francesa sob o comando do gene-ral Marchand, na Espanha)

27 SET 1810 Batalha de Bussaco (Um força anglo-lusitana sob o comando de Wellington derrotou as forças francesas sob o comando de Massena na Guerra Peninsu-lar)

05 MAR 1811 A Batalha de Barrosa foi um ataque francês mal sucedido ante uma força maior anglo-espanhola, ao tentar levantar o cerco de Cádiz, na Espanha, durante a Guerra Peninsular. Durante a batalha, uma única Divisão britânica derrotou as duas divi-sões francesas e capturou uma águia de um regimento francês.

03/06 MAI 1811 Batalha de Fuentes de Oñoro (Wellington verifica uma tentativa feita pelo marechal Massena para aliviar a cidade sitiada de Almeida)

16 MAI 1811 Batalha de Albuera (batalha indecisiva da Guerra Peninsular)

06 ABR 1812 Batalha de Badajoz (16 de março - 6 de abril de 1812) um exército anglo-português sob ocomando do Duque de Wellington, sitiou Badajoz, na Espanha e forçou a rendição da guarnição francesa).

DA DEFESA DO GRANDE IMPÉRIO (1808) À DEFESA DO GRANDE IMPÉRIO (1812)

1808 a 1814 É travada a Guerra Peninsular. Em 1812, o Exército de Wellington foi capaz de tomar as fortalezas espanholas de Ciudad Rodriguez e Badajoz, e derrotar os franceses em Salamanca, em junho. Em 1813, Wellington, agora líder de todas as tropas aliadas, bat em 21 de junho (Batalha da Vitoria) as forças francesas. Napoleão, preso em Santa Helena, à época, cuou a “úlcera espanhola” pelo seu fracasso final.

21 e 22 MAI 1809 Batalha de Aspern-Essling. Fez parte da chamada Guerra da Quinta Coalizão, a aliança formada pela Grã-Bretanha, Áustria, Prússia e Suécia contra a França de Napoleão Bonaparte. Ocorrida nos arredores de Viena, quando os franceses tentavam forçar uma passagem pelo rio Danúbio, essa batalha ganhou notoriedade por ter resultado na primeira derrota do exército napoleônico em dez anos, quando foi rechaçado pelas tropas comandadas pelo arquiduque Carlos de Áustria-Teschen.

5 a 6 JUL 1808 Batalha de Wagram. Foi uma batalha decisiva da Guerra da Quinta Coalizão (1809) durante o transcorrer das Guerras Napoleônicas (1803-1815). Teve lugar a leste de Viena, nas proximidades da vila de Wagram.

As guerras napoleônicas

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Estes eventos fizeram parte do que a história chama de Capanha do Daníubio.

DA CAMPANHA DA RÚSSIA À CAMPANHA DE WATERLOO

24 JUN 1812 Napoleão atravessa o rio Niemen para dar início à Campanha da Rússia.

22 JUL 1812 Batalha de Salamanca (Wellington derrota o marechal Marmou-nt, na Espanha.

16/18 AGO 1812 Batalha de Smolensk (vitória francesa sob o comando de Napo-leão)

18 AGO 1812 Batalha de Valutino (vitória francesa – entre o Corpo do marechal Ney, com cerca de 30.000 homens e a forte retaguarda do exército do general Barclay de Tolly’s com cerca de 40.000 homens, comandada pelo próprio general.

07 SET 1812 Baalha de Borodino (vitória francesa sob o comando de Napo-leão)

14 SET 1812 Napoleão entra em Moscou.

19 OUT 1812 Napoleão deixa Moscou.

26/29 NOV 1812 Batalha de Berezina (Napoleão manobrou para extrair sua força através do rio, realizando um combate com sua retaguarda).

18 DEZ 1812 Napoleão retorna a Paris.

16 MAR 1813 A Prússia declara guerra à França, dando início à Guerra da Sex-ta Coalizão.

02 MAI 1813 Batalha de Lutzen (vitória francesa sob o comando de Napoleão)

20/21 MAI 1813 Batalha de Bautzen (os franceses recuam ante as forças combina-das da Rúsia e da Prússia).

21 JUN 1813 Batalha de Vitoria (Wellington, liderando o exército aliado britâni-co, português e espanhol quebrou o exército francês sob o comando de Joseph Bonaparte e do marechal Jean-Baptiste Jourdan, perto de Vitoria, na Espanha, levando a eventual vitória na Guerra Peninsular).

12 AGO 1813 A Áustria declara guerra à França.

26/27 OUT 1813 Batalha de Dresden (vitória francesa sob o comando de Napoleão)

16/19 OUT 1813 Batalha de Leipzig ou Batalha das Nações (forças aliadas combi-

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nadas derrotam Napoleão)

30/31 OUT 1813 Batalha de Hanau (vitória francesa sob o comando de Napoleão)

29 JAN 1814 Batalha de Brienne (vitória francesa sob o comando de Napoleão)

01 FEV 1814 Batalha de La Rothière (derrota francesa sob o comando de Na-poleão. Atacado por uma grande força prussiana, os franceses conseguiram se manter, até eles poderam recuar, cobertos pela escuridão. La Rothière foi a primeira derrota de Napoleão em solo francês)

10 FEV 1814 Batalha de Champaubert (vitória francesa sob o comando de Na-poleão) – Campanha dos Seis Dias.

11 FEV 1814 Batalha de Montmirail (vitória francesa sob o comando de Napo-leão) - Campanha dos Seis Dias.

12 FEV 1814 Batalha de Château-Thierry (vitória francesa sob o comando de Napoleão) - Campanha dos Seis Dias.

14 FEV 1814 Batalha de Vauchamps (vitória francesa sob o comando de Napo-leão) - Campanha dos Seis Dias.

18 FEV 1814 Batalha de Montereau (vitória francesa sob o comando de Napo-leão)

27 FEV 1814 Batalha de Orthez (O exército anglo-luso sob o comando de Wellington derrota um exército francês, liderado pelo marechal Nicolas Soult, no sul da França, perto do fim da Guerra Peninsular).

07 MAR 1814 Batalha de Craonne (vitória francesa sob o comando de Napo-leão).

20/21 MAR 1814 Batalha de Arcis-sur-Aube (Napoleão recua seu exército depois de um confuso combate.

30/31 MAR 1814 Os aliados entram em Paris

06 ABR 1814 Tem lugar a abdicação incondicional de Napoleão, pondo fim à Guerra da Sexta Coalizão.

10 ABR 1814 Batalha de Toulouse (Wellington derrota o marechal Soult)

04 MAI 1814 Napoleão inicia sua viagem para a ilha de Elba.

30 JUN 1814 É assinado o Tratado de Paris, entre a França e a Coalizão.

As guerras napoleônicas

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01 NOV 1814 O Congresso de Viena reunido redesenha o mapa da Europa.

26 FEV 1815 Napoleão foge de Elba.

01 MAR 1815 Napoleão desembarca na França, perto de Antibes

17 MAR 1815 O Reino Unido, a Rússia, a Áustria e a Prússia tornam-se mem-bros da Sétima Coalizão, para cada um colocar 150.000 homens em campanha, a fim de colocar um ponto final no domínio de Napoleão Bonaparte.

20 MAR 1815 Napoleão chega em Paris (início do Governo dos Cem Dias) e Louis XVIII foge.

09 ABR 1815 Ocorre o ponto alto para os napolitanos, quando Murat tenta for-çar um cruzamento do Rio Pó. No entanto, ele é derrotado na Batalha de Occhiobello e, pelo restante da guerra, os napolitanos entrariam em retirada.

03 MAI 1815 O I Corpo austríaco do general Bianchi é decisivamente derrotado por Murat na Batalha de Tolentino.

20 MAI 1815 Os napolitanos assinam o Tratado de Casalanza com os austría-cos, depois que Murat fugiu para a Córsega e seus generais processaram a paz.

23 MAI 1815 Ferdinand IV é restaurado no trono napolitano..

15 JUN 1815 O Exército francês do norte cruza a fronteira em direção aos Paí-ses Baixos Unidos (hoje Bélgica).

16 JUN 1815 Batalha de Ligny (vitória francesa de Napoleão – mas infelizmen-te, a última).

16 JUN 1815 Batalha de Quatre Bras (Um custoso empate entre a força anglo--holandesa e o francês marechal Ney.)

18/19 JUN 1815 Batalha de Wavre (vitória francesa sob o comando do marechal Grouchy, infelizmente tarde demais).

18 JUN 1815 Batalha de Waterloo (as forças aliadas derrotam Napoleão)

1815 Jun 22 Napoleão abdica pela segunda vez.

08 JUN 1815 Louis XVIII é restaurado no trono francês — fim dos Cem Dias.

16 OUT 1815 Napoleão chega na ilha de Santa Helena.

20 NOV 1815 É assinado o Tratado de Paris..

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05 MAI 1821 Napoleão Bonaparte morre.

As guerras napoleônicas

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CAPÍTULO XIAS CAMPANHAS NAPOLEÕNICAS

OBS: Os mapas referenciados ao final de algumas seções, devem ser consultados no site: http://www.westpoint.edu/history/SitePages/Napoleonic%20Wars.aspx

A reprodução de tais mapas não possibilitam uma boa identicação dos conteúdos. Sugere-se, pois, que, pela internet, complemente-se o descrito nestas abordagens.

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As guerras napoleônicas

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AS CAMPANHAS NAPOLEÕNICAS

As campanhas descritas abaixo são as seguintes: => A Campanha (guerras austríacas) de 1805 (Ulm e Austerlitz).=> A conquista da Prússia e a Campanha da Polônia (Jena, Auerstadt, Eylau e

Friedland).=> A guerra austríaca de 1809 (Eckmuhl, Aspern e Wagram).=> A Campanha da Rússia de 1812 (Borodino e a retirada de Moscou).=> A “Guerra de Libertação” alemã, culminando com a Batalha das ações, no en-

torno de Leipzig.=> A última campanha na França, em 1814.

A CAMPANHA DE 1805

Pode ser considerada como uma medida de autodefesa forçada sobre Napoleão pela Aliança da Rússia (11 de abril), com a Áustria (9 de agosto) e outros poderes juntos com a Grã-Bretanha. Tal possibilidade já havia vislumbrada pelo imperador, cuja intenção no evento era a de marchar direto sobre Viena pelo vale do Danúbio, o que foi claramente indicado na sua resposta (27 de novembro de 1803), em face de uma proposta prussia-na para a neutralização dos Estados alemães do Sul. Nela foi dito que “É na estrada de Estrasburgo para Viena que os franceses devem forçar a paz com a Áustria, e é nesta estrada que eles desejam que eu renuncie”. Quando, portanto, em 25 de agosto de 1805, ele entendeu, definitivamente, que Villeneuve tinha falhado em seu propósito de assegurar o controle do Canal da Mancha, que seria necessário para a invasão da Inglaterra, foi só o caso de algumas horas para que Naoleão ditasse as disposições necessárias para trans-ferir todo o seu exército para a fronteira do Reno, como o primeiro passo na sua marcha para o Danúbio. Nesta data o Exército francês ocupava as seguintes posições:

I Corpo de Bernadotte Hanover (Gottingen).II Corpo de Marmont Hollanda.III Corpo de DavoutIV Corpo de Soult

V Corpo de LannesVI Corpo de Ney .

No campo de Boulogne e outros pontos ao longo do canal francês

VII Corpo de Augereau ParisGuarda Imperial de Bessieres Paris

Os Corpos, no entanto, não se encontravam prontos para um serviço imediato,

como se poderia imaginar. O Corpo de Bernadotte em Hanôver, se encontrava em face de uma guarnição sitiada, e o marechal somente poderia se deslocar, caso recebesse ordens para se retirar para a França. Marmont e Davout eram deficientes em cavalos para a cavalaria e artilharia e as tropas, que tinham sido reunidas em Boulogne para invadir a Inglaterra, mal tinham transporte para tudo e para todos, que esperava-se ser pron-tamente fornecido por ocasião do desembarque. A composição do exército, no entanto, era excelente. Os generais estavam no auge da sua vida, ainda não tinham aprendido a desconfiar uns dos outros e estavam acostumados a trabalhar sob as ordens do imperador

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e uns com os outros. Os oficiais dos regimentos, todos tinham adquirido suas patentes à frente do inimigo e sabiam como gerenciar seus homens, e destes, quase que dois terços tinham estado há anos em serviço ativo.

O poder do Exército francês residia em sua infantaria, pois a cavalaria e a artilharia, ambas estavam com falta de cavalos, e esta última não tinha, ainda, adquirido mobilidade e habilidade em manobras. A determinação de Napoleão para empreender a invasão da Inglaterra foi muitas vezes contestada, mas é difícil de se imaginar que outra operação ele teria contemplado, para a eclosão das hostilidades com seus inimigos continentais, em virtude das parcas informações sobre os recursos dos países que ele, então, teria que atravessar. Para remediar esta situação, Murat e outros oficiais-generais, bem como agentes menores foram enviados à frente e orientados a viajar através do sul da Alemanha à paisana, com vistas à coleta de informações, particularmente da topografia existente.

O imperador estava, além disso, imperfeitamente familiarizado com o grau de pre-paração dos planos dos seus adversários, e quando ele ditou suas ordens preliminares, era ainda desconhecida a direção que assumiria o avanço dos aliados. Mas é incontes-tável que Napoleão deduziu a marcha dos acontecimentos que, em última análise, atraiu Mack para Ulm. No dia 26 de agosto, no entanto, ele também deduziu que 100.000 russos estavam prestes a entrar na Bohemia para a partir dali unir-se com um exército austríaco de 80.000 homens perto da junção dos rios Inn e Danúbio, e esta informação o levou a alterar a direção geral do seu avanço a fim de atravessar os desfiladeiros da floresta negra ao norte de Neckar, deixando sua cavalaria, apenas observando as passagens para o sul.

O EXÉRCITO AUSTRÍACO.

Os austríacos, depois das derrotas de 1800, tinham se esforçado em reorganizar as suas forças conforme o modelo francês, mas eles logo aprenderiam que, em questões de organização, o espírito de corpo estava acima de tudo, o que constasse do papel era muito pouco. Eles, realmente, copiaram a organização da tropa dos franceses, mas encontra-vam-se sem comandantes aptos para assumir a responsabilidade por esses comandos. Como sempre em tais condições, o controle real mesmo dos menores deslocamentos deveria ficar centralizado nas mãos dos comandantes do exército, e, portanto, a taxa de marcha ficaria incrivelmente lenta.

Eles também tinham decidido que, no futuro, as suas tropas no campo deveriam viver por meio de requisições, como os franceses, e tinham entregue à artilharia tal res-ponsabilidade, que assim ganhou um grande número de cavalos para, desta forma, liber-tar-se do serviço de transporte de suprimentos; mas eles não perceberam que homens acostumados a uma distribuição regular de rações não podiam ser transformados em ga-tunos bem sucedidos, por um simples traço de caneta. Eles, ainda, mandaram embora a maior parte de seu exército, 120.000 homens, que estavam sob o comando do seu melhor general, o Arquiduque Carlos, da Itália, deixando o marechal de campo Mack von Leiberi-ch na Alemanha, nominalmente como Chefe-do-Estado-Maior, enquanto o jovem príncipe Ferdinand, foi posto virtualmente em comando, para encontrar Napoleão à testa de seus veteranos. Mack foi um homem de realizações incomuns. Ele tinha subido através das fi-leiras do exército, cheias da casta da Europa, e mesmo contra uma oposição incalculável, ele realizou reformas do exército que estavam corretas, em princípio, e que precisavam, apenas, de tempo para serem desenvolvidas. Mas o destino o fez ser considerado o bode

As guerras napoleônicas

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expiatório para as catástrofes que se seguiram, embora eles não precisassem de maiores explicações para o fato de que Mack foi posto à frente de 80.000 homens, com apenas restritos poderes de comando, para enfrentar o maior estrategista de todos os tempos e que comandava, no sentido mais amplo do termo, um exército consideravelmente maior e duas vezes mais forte.

A MARCHA SOBRE ULM

O irromper da campanha foi acelerado pelo desejo do próprio governo austríaco em empregar seu próprio exército, mesmo deixando seu país sem proteção para fazer face a Napoleão, acreditando nos recursos existentes na Baviera. Também esperava-se que os bávaros com seu exército de 20.000 homens se juntassem aos aliados. Nesta última esperança eles estavam enganados, pois os bávaros sob o comando do general Wrede fugiram para Bamberg, a tempo. No primeiro caso, no entanto, eles foram bem sucedidos, e a miséria que deixaram no seu rastro, quase destruiu as subsequentes combinações de Napoleão. A marcha de Mack para Ulm, portanto, era uma necessidade da situação, e sua continuidade nesta posição exposta, era temerária tal como contra um adversário, e mesmo se vencido, acreditava-se que ele iria infligir perdas incapacitantes sobre o inimigo. Mack sabia que os russos estariam atrasados no ponto de encontro em Inn. Construindo um campo entrincheirado na cidade de Ulm e concentrando toda a comida disponível dentro dela, Mack esperava poder contar com a investida de Napoleão para sitiá-lo, e ele acreditava que num país devastado, seu adversário seria obrigado a se dividir e, assim, tornar-se uma presa fácil para os russos. Para esse golpe, ele tinha se determinado a fazer com o seu próprio exército o papel de uma bigorna. Mas estas visualizações, obviamente, não poderiam ser publicadas em ordens do exército, em razão do descontentamento e da oposição que elas estariam destinadas a encontrar.

5. Os deslocamentos dos franceses. Foi no dia 21 que Napoleão soube da presença de Mack em Ulm. Nessa data seu exército tinha acabado de cruzar o rio Reno e encon-trava-se adentrando os desfiladeiros da Floresta Negra. O Exército francês já começava a sofrer. As botas estavam desgastadas, os transportes eram deficientes, e, de acordo com idéias modernas, o exército já poderia ser considerado incapaz de ação. (Ver o mapa da Europa Central de Ulm - Campanha de 2 a 25 de setembro de 1805).

Era a seguinte a localização dos Corpos franceses:Comandante 28 SET 06 OUT 09 OUT 16 OUTBernadotte Wurzburg Anspach Nurnberg RegensburgMarmont Wurzburg Anspach Nurnberg RegensburgDavout Mannheim Mergentheim Anspach Dietfurt

Ney Selz Crailsheim Weissenburg IngolstadtLannes Strassburg Gmund Nordlingen NeuburgSoult Landau Aalen Donauworth

No dia 26 de setembro, seu desdobramento além das montanhas estava completo, e como Napoleão não sabia da intenção de Mack de permanecer em Ulm, e por já ter depreendido que o avanço soviético estava atrasado, ele dirigiu suas colunas seguindo as estradas nas margens do Danúbio, entre Donauworth e Ingolstadt, a fim de estar po-

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sicionado para interpor-se entre os austríacos e os russos e bater a ambos em detalhes. No dia 7 de outubro, este deslocamento foi completado - os austríacos abandonaram as pontes do Danúbio após um show de resistência, em retirada para o oeste - e Napoleão, deixando Murat no comando dos V e VI Corpos e mais a cavalaria, para vigiar os austría-cos, pressionados sobre Augsbuig com os outros, preparou-se para lidar com os russos. Verificando, no entanto, que estes ainda se encontravam distantes, ele determinou que em primeiro lugar se lidasse com o exército de Mack, tendo formado uma firme convicção de que uma ameaça às linhas de comunicações deste último o obrigaria a envidar esforços para recuar para o sul em direção ao Tirol. Bernadotte, por sua vez, tornou-se um exército de vigilância, e Napoleão, juntando-se a Murat com o corpo principal, marchou rapidamen-te para oeste a partir de Lech em direção a Iller.

OS PLANOS DOS AUSTRÍACOS

As intenções de Mack não eram as que Napoleão tinha suposto .Mack havia rece-bido informações (falsas) de um britânico que tinha desembarcado em Boulogne, e ele foi seriamente enganado sobre os números das forças de Napoleão. Ele também estava ciente de que as atitudes dos franceses tinham produzido uma profunda indignação na Alemanha e, especialmente, na Prússia (cuja neutralidade tinha sido violada - ver subítem 14, abaixo). Tudo isso e mais o descontentamento quase amotinado de seus generais e dos inimigos do círculo da Corte, agilizaram a sua resolução de atuar como uma bigorna para os russos, de cujo atraso também ele estava ciente e, em 5 de outubro ele deter-minou-se a marchar na direção norte-leste através das linhas francesas de comunicação e salvar o exército do seu soberano, refugiando-se, se necessário, na Saxônia. Crendo implicitamente nos rumores de uma descida em Boulogne e de revoltas na França, que também teriam chegado a Napoleão, e sabendo, ainda, da miséria que ele havia deixado atrás dele com seu movimento para Ulm, quando ele ouviu os ruídos de uma marcha para o oeste vindas das colunas francesas de Lech, Mack disse a seu exército, aparentemente em boa fé, que os franceses estavam em macha para seu próprio país. Na verdade, os franceses neste momento estavam sofrendo o mais terrível dos sofrimentso - até chegar no Danúbio eles ainda haviam encontrado alimentos suficientes para a sobrevivência, mas ao sul, na esteira dos austríacos, não encontraram nada. Toda a disciplina da marcha de-sapareceu, transformando os homens em hordas de carrascos e até mesmo os marechais escreveram comoventes apelos ao imperador para que lhes desse a permissão atirar em alguns de seus vagabundos. Mas para todos estes apelos, Berthier, em nome do impera-dor, mandou a seguinte resposta estereotipada - “o Imperador ordenou que você carregas-se quatro dias de provisão, portanto você não pode esperar mais nada - você conhece o método do Imperador de conduzir a guerra.”

.AS AÇÕES DE ALBECK OU HASLACH

Neste ínterim, Murat, antes que o imperador se juntasse a ele, deu a Mack a dese-jada abertura dos combates. O VI Corpo de Ney deveria ter permanecido na margem es-querda do rio Danúbio, para fechar a saída dos austríacos por aquele lado, mas por erro, somente a Divisão de Dupont tinha sido deixada em Albeck, tendo o restante atravessado o rio. Mack, no dia 8 determinou que o retraimento tivesse início, mas sorte, agora, favo-recia os franceses. O tempo, durante todo o mês de outubro, tinha estado usualmente hú-

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mido; o Danúbio tinha inundado o terreno mais baixo e as estradas ficaram intransitáveis. Na margem sul, no entanto, devido a uma melhor drenagem do terreno e a um subsolo mais seco, os movimentos seriam facilitados, mas os austríacos achavam que isso seria quase que impossível.

No dia 11 de outubro, quando os austríacos iniciaram a sua marcha, viram o Danúbo engolir a estrada que corria ao longo do rio, carregando com ele canhões e equipes, em face do que, horas foram gastas para vencer até as distâncias mais curtas. Ao anoitecer, eles, subitamente, caíram sobre uma isolada Divisão que estava em Albeck, que ficou completamente surpresa e severamente manipulada. A estrada, então, já estava comple-tamente aberta, mas as colunas austríacas estavam tão dispersas, em razão do estado das estradas, que não puderam perseguir a vantagem obtida – Dupont reagiu e os austrí-acos tiveram que rcuara em direção a Ulm, para procurar comida. (Ver Mapa da Europa Central: 26 SET a 9 OUT, 1805; e Mapa da Europa Central: 9 a 11 de OUT, 1805).

ELCHINGEN

Por três dias mais, Mack lutou com um Estado-Maior sem vontade e com uma tropa desanimada para empreender mais um avanço. (Ver mapa da Europa Central 11 a 14 OUT, 1805). Durante estes dias, através de uma sucessão de erros de Estado-Maior, os franceses falharam ao tentar fechar a brecha existente e, na manhã de 14 de outubro, ambos os exércitos, cada um renovando seus avanços, entraram em contato na ponte de Elchingen. Esta ponte, tinha sido destruída (seus portadores), mas, então, os franceses deram um exemplo de individual galhardia, que era característica dos velhos exércitos revolucionários. Correndo ao longo das vigas de sustentação, mesmo sob fogos, uns pou-cos homens forçaram o caminho. O piso da ponte foi raidamente tranposto e, todo o VI Corpo se desdobrou, numa excelência de rapidez, no outro lado.

Os austríacos, ainda em sua mesmice, não pode chamar os reforços, de maneira rápida, e Mack, subsequentemente, sofreu uma deliberada obstrução e desobediência por parte de seus subordinados, sob a argumentação de que o estado das estradas seria o suficiente para explicar sua derrota. Somente a coluna da direita dos austríacos estava, no entanto, envolvida; a da esquerda, sob o comando do general Werneck, a quem foi adicionada alguma cavalaria e o próprio arquiduque Ferdinand, obteve sucesso em avan-çar, mas sem seus trens e suprimentos. Assim eles continuaram sua marcha, famintos, mas sem serem molestados, até que próximos de Heidenheim, eles, subitamente, foram confrontados por uma diversidade de uniformes que eles supuseram se tratar de uma força esmagadora; ao mesmo tempo, a cavalaria francesa mandada em perseguição apa-receu na retaguarda dos austríacos. Exausto, Werneck com sua infantaria, cerca de 800 homens, rendeu-se para aquilo que, na realidade era uma força de dragões desmontados e de infantes retardatários improvisados pelo oficial em comando, no desejo de apoiar os franceses que, naquele momento, se encontravam na esteira dos austríacos. O jovem arquiduque com alguma cavalaria conseguiu escapar.

9 Mack é cercado. A derrota de 14 de outubro em Elchingen selou o destino dos austríacos, ainda que Mack estivesse determinado a endurecer a situação, realizando um sítio. Quando as colunas francesas voltaram do sul, e do oeste, gradualmente o cercaram, em face do que Mack orientou suas tropas a organizarem posições fortificadas e um cam-po de trincheiras e, em 15 de outubro, ele encontrava-se completamente cercado.

No dia 16, os canhões de campanha franceses dispararm sobre a cidade, e Mack

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entendeu que suas tropas não teriam um controle suficiente para, por mais tempo, endu-recer um sítio. Quando, no entanto, no dia seguinte, as negociações foram abertas pelos franceses, Mack, ainda sentindo a certeza de que os russos estavam próximos, concor-dou com um armistício e aceitou que suas tropas deitassem as armas, caso dentro dos próximos 21 dias nenhum socorro chegasse. Napoleão consentiu, mas exigiu que um de-terminado numero de soldados franceses entrassem na fortaleza montada pelos austría-cos, o que deu início a alguns tumultos com a soldadescaa austríaca. Então, enviando um destacamento armado para restaurar a ordem e proteger os habitantes, ele determinou que os portões da cidadela fossem abertos para permitir a entrada de reforços franceses, e Mack, assim, foi forçado a uma rendição incondicional.

No dia 22 de outubro, um dia após a Batalha de Trafalgar, os remanescentes do Exército austríaco, cerca de 23.000 homens, deitaram suas armas. Cerca de 5.000 ho-mens sob o comando de Jellachich haviam escapado para o Tirol, 2.000 couraceiros com o Príncipe Ferdinand haviam seguido para Eger, na Bohemia, e cerca de 10.000 hmens, sob o comando de Werneck haviam se rendido em Heidenheim. As baixas na batalha ti-nham sido insignificantes, tendo ficado cerca de 30.000 para contar a história – a maioria deles, no entanto, provavelmente, tinha escapado individualmente, com a ajuda dos habi-tantes locais, que eram extremamente hostis aos franceses. (Ver mapa da Europa Central: 26 OUT a 15 NOV, 1805).

O AVANÇO DE NAPOLEÃO PARA VIENA.

Napoleão, então, apressou-se em rejuntar o grupo de Corpos que tinha deixado sob o comando de Bernadotte para vigiar os russos, que já deveriam estar mais próximos, desde o momento em que Mack havia assumido. Mas ao ouvir sobre o infortúnio dos austríacos, eles recuaram, antes que o avanço de Napoleão, ao longo da margem direi-ta do Danúbio alcançasse Krems, onde eles atravessaram o rio e se retiraram para um campo entrincheirado perto de Olmtitz, para buscar reforços descansados austríacos. As severas ações em Durrenstein (perto de Krems) no dia 11 e as de Hollabrun no dia 16 de novembro, em que os marechais de Napoleão reconheceram a tenacidade de seus novos adversários e a surpresa da ponte de Viena (14 de novembro) ocupada pelos franceses, foram os incidentes maiores deste período da campanha. (Ver mapa da Europa Central: 25 NOV, 1805)

A CAMPANHA DE AUSTERLITZ

Napoleão continuou abaixo da margem direita em direção a Viena, onde ele foi com-pelido a fazer um alto, dado à condição de suas tropas e para reorganizar seu exército. Depois que isto foi feito, ele continuou seu movimento para Brunn. Para lá, ele conseguiu levar apenas 55.000 homens. Novamente, ele foi forçado a dar seu exército descanso e abrigo, sob a proteção da cavalaria de Murat. Os aliados, então, o confrontaram com mais de 86.000 homens, incluindo 16.000 de cavalaria. No dia 20 de novembro, esta força iniciou seu avanço, e Napoleão concentrou-se de tal forma que, no prazo de três dias, ele pôde trazer mais de 80.000 tropas francesas para a ação no entorno de Brunn, além de 17.000 ou mais bávaros sob o comando de Wrede. No dia 28, Murat foi pressionado pelas colunas dos aliados. Naquela noite, ordens foram dadas para que fosse realizada uma concentração de tropas em Brunn, na expectativa de uma colisão com o inimigo no

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dia seguinte. Mas ao ouvir que toda a força aliada estava se movendo em direção a ele, Napoleão decidiu se concentrar a sudeste de Brunn, cobrindo sua frente com a cavalaria nas alturas de Pratzen. Enquanto isso, ele também tinha preparado uma linha fresca para retirar-se para a Boêmia e, dessa forma, assegurou-se de que teria seus homens nas mãos prontos para a batalha que se aproximava; el,e calmamente, pôs-se a aguardar os acontecientos. Os aliados estavam cientes de sua posição e ainda aderindo ao velho sistema “linear”, marchou para girar o seu flanco direito. Assim que o propósito estratégico de afastar Napoleão de Viena tornou-se aparente, o Imperador colocou suas tropas em posição e, à tarde, fez sua proclamação costumeira para suas tropas, apontando os erros do inimigo e seu plano para derrotá-los. Ao mesmo tempo, ele emitiu ordens para sua pri-meira grande batalha como comandante supremo. A Batalha de Austerlitz começou cedo na manhã seguinte e terminou à noite, com a derrota completa e decisiva dos aliados. (Ver: Mapa da Campanha de Austerlitz: às 18:00 hs de 1º DEZ 1805; Mapa da Campanha de Austerlitz: 09:00 hs de 2 DEZ 1805; e Mapa da Campanha de Austerlitz: 14:00 hs de 2 DEZ 1805. Ver também: Mapa da Europa Central, 1806).

JENA, 1806

Dentro do Exército prussiano e, particularmente, da cavalaria, o prestígio da glória de Frederico o Grande ainda continuava; mas a geração mais jovem tinha pouca expe-riência de guerra real, e os comandantes superiores eram completamente incapazes de compreender as mudanças nas táticas e na condução das operações, que haviam cresci-do além das necessidades da Revolução Francesa. Os oficiais, individualmente, eram os mais altamente treinados da Europa, mas não havia nenhum grande líder para coordenar as suas energias. O número total de homens atribuído ao Exército de Campanha era de 110.000 prussianos e saxões. Eles eram organizados em Corpos, mas seus líderes eram comandantes de Corpos só no nome, pois não lhes era permitido qualquer atitude por iniciativa individual.

As economias mal geridas tinham prejudicado toda a eficiência do Exército prussia-no. Dois terços da infantaria e metade da cavalaria eram autorizados a sair de licença a cada dez a onze meses do ano. No tocante aos uniformes, os homens eram desprovidos de “greatcoats” (sobretudos). E a maioria dos mosquetes estava realmente pronto para uma luta real? Seus canos mostravam-se tão finos devido ao constante polimento, que tinha sido proibido o uso de cargas completas nos exercícios de tiro ao alvo. Além disso, o exército tinha se afastado inteiramente do contato com a população civil. Esta, acostu-mada ao direito vigente e à tradição feudal e, ao mesmo tempo, permeada pelas doutrinas políticas do final do século XVIII, acreditava que a guerra em causa apenas interessava aos governos e não se destinavam ao “cidadão honesto”. Dentro dessa ideia, os civis eram apoiados pela lei em si, que os protegia contra os soldados e proibia, mesmo em tempo de guerra, a requisição de cavalos, provisões e transporte, sem pagamento. Até a noite da batalha de Jena, propriamente dita, as tropas prussianas estavam morrendo de fome, no meio da abundância, enquanto os franceses, em todos os lugares, levavam o que queriam. Isto foi só uma causa suficiente para todas as desgraças que se seguiram.

A ECLOSÃO DA GUERRA

Durante a campanha de Austerlitz, a Prússia, furiosa com a violação de seu terri-

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tório de Anspach, se mobilizara e enviara Haugwitz como embaixador para o quartel-ge-neral de Napoleão. Ele lá chegou no dia 30 de novembro, e Napoleão, justificando estar realizando negócios, adiou sua recepção oficial até depois da batalha de Austerlitz. Claro que o ultimato de seu país, ele nunca apresentou, como pode ser imaginado. Haugwitz retornou e o rei da Prússia desmobilizou o exército, de uma só vez. Mas Napoleão, bem sabendo como lidar com homens, havia se determinado a forçar uma discussão com a Prússia na primeira oportunidade conveniente. As suas tropas, portanto, quando se re-tiraram da Áustria, ficaram acantonadas no sul da Alemanha, de maneira que, enquanto não despertassem suspeitas às mentes acostumadas com os métodos napoleônicos, elas poderiam ficar alí concentradas, há alguns dias de marcha, atrás da floresta da Turíngia e das águas superiores do rio Main. Ali, a Grande Armée foi deixada para se recuperar e absorver seus novos recrutas, assim não perturbando seus comandantes de Corpo com uma única ordem durante toda a primavera e o verão. Quando a crise diplomática se aproximou, espiões foram mandados para a Prússia e, simultaneamente, visando uma concentração preliminar, os marechais franceses receberam instruções particulares, como pode visto nas seguintes duas citações de correspondência de Napoleão recebidas por Soult: 1ª) “Mon intention est de concentrer toutes mes forces sur l’extremité de ma droite en laissant tout l’espace entre le Rhin et Bamberg entirement degarni, de maniere a’ avoir pres do 200,000 hommes reunis sur un meme champ do bataille; mes premieres marches menacent le cocur de la monarchic prussienne “. 2ª) “Avec cette immense superiorite de forces reunis sur un espace si etroit, vous sontez que je suis dans la volonté de ne rein hasarder et d’attaquer l’ennemi partout ou’ il voudra tenir. Vous pensez bien que ce serait une belle affaire que de se porter sur cette place (Dresden) en un bataillon carré de 2200 hommes” (Ver Mapa da Campanha de Jena - 6 OUT 1806).

O AVANÇO DA “GRANDE ARMÉE”

No dia 7 de outubro, a Grande Armée formou três colunas paralelas ao longo das estradas principais sobre as montanhas de Hof, Schleiz e Kronach. À direita, estava o IV Corpo (Soult) sobre Bayreuth, com sua cavalaria à retaguarda. Atrás dele ficou o VI Corpo (Ney), em Pegnitz. Ao centro, foi posicionado o I Corpo de Bernadotte, vindo de Nordhal-ben, com o III Corpo (Davout) em Lichtenfels. A Guarda e o QG, em Bamberg. A coluna da esquerda, por sua vez, era composta do V Corpo (Lannes,) em Hemmendorf, com o VIII Corpo (Augereau) ao sul do rio Main, em Burgebrach.

Sendo a surpresa o objetivo de Napoleão, toda a cavalaria, exceto algumas “ve-dettes”, foi mantida atrás das principais colunas de infantaria, e estas últimas, quando receberam o sinal de avançar, o fizeram em “massas de manobra,” a fim de esmagar de uma vez por todas quaisquer resistências de postos avançados inimigos, o que garantiria o tempo necessário para o desdobramento das colunas de marcha normais (Ver Mapa da Campanha de Jena: 8/10 OUT 1806).

Para enfrentar o golpe iminente, os prussianos haviam sido estendidos em um cor-dão ao longo da grande estrada que conduz de Mainz para Dresden. Blucher estava em Erfurt, Ruchel em Gotha, Hohenlohe em Weimar, os saxões em Dresden, com postos avançados ao longo da fronteira.

Um deslocamento ofensivo sobre Franconia estava em discussão, e para esta fina-lidade, o Estado-Maior prussiano tinha iniciado uma concentração lateral sobre Weimar, Jena e Naumburg, quando a tempestade estourou em cima deles. O Imperador, apesar da

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Inteligência recebida, achou que elas eram confusas, mas encontrava-se seguro no meio de seu “quadrado de batalhão” de 200.000 homens, e manteve-se bastante indiferente, bem sabendo que um avanço direto sobre Berlim deveria forçar o inimigo a se concentrar e lutar, e como eles trariam no máximo 127.000 homens para o campo de batalha o resul-tado dificilmente poderia ser duvidoso. No dia 9 de outubro a nuvem explodiu. Das flores-tas que vestiam as encostas norte do Thuringer Wald, os franceses brotaram, dominando, facilmente, a resistência dos postos avançados prussianos posicionados às margens do Saale superior, e uma vez que as portas do país estavam abertas, chegou a cavalaria sob o comando de Murat, que avançou, seguida de perto pelo Corpo de Bernadotte como “guarda avançada do general.”

O resultado da escolta da cavalaria foi, entretanto, julgado insatisfatório. Na noite do dia 10, o imperador não sabia ainda a posição de seu principal inimigo, e Murat com Bernadotte, atrás dele, foram dirigidos para Gera no dia 11, permanecendo o restante do exército, marchando ao longo das estradas que. Anteriormente, tinham sido atribuídas a eles. Na ação de Sanlfeld, no dia 10, o jovem e galante Príncipe Louis Ferdinand da Prús-sia foi morto.

Neste meio tempo, no entanto, os saxões tinham se deslocado de Naumburg atra-vés de Gera em direção a Jena. Hohenlohe estava perto de Weimar, e todas as outras divisões do exército tinham cerrado em uma marcha a leste. A ideia de uma ofensiva para o sul que Napoleão tinha atribuído a eles, já terem desaparecido.

(Ver Mapa da Campanha de Jena: 10/12 OUT 1806).Atingindo Gera às 09:00 hs, Murat relatou o movimento dos saxões no dia ante-

rior, mas omitiu ter enviado um destacamento forte em sua perseguição. Perderam-se os vestígios dos saxões, e Napoleão, pouco satisfeito com sua cavalaria, autorizou Lasalle a oferecer até 6000 frs. como recompensa por informações do ponto de concentração prussiano. Às 01:00 hs do dia 12, de outubro, Napoleão emitiu suas ordens. Murat e Bernadotte via Zeitz deveriam seguir para Naumburg; Davout (o III Corpo e uma divisão de dragões) também deveria seguir para Naumburt; Lannes para Jena, com Augereau o acompanhando e; Soult deveria seguir para Gera.

MOVIMENTOS DOS PRUSSIANOS

Entretanto, os prussianos estavam efetuando sua concentração. Rtlchel, que com 15.000 homens fora enviado para as montanhas, como uma guarda avançada para a projetada ofensiva, foi chamado de volta para Weimar, onde chegou no dia 13. O corpo principal ficou entre Weimar e Apolda durante o dia 12, e os saxões tinham efetuado sua junção com Hohenlohe, nos arredores de Vierzehnheiligen, enquanto este último tinha reraido todas suas tropas mais alguns postos avançados de Jena para o planalto cerca de Capellendorf, a umas 4 milhas para NW. Todo o exército, mais de 120.000 homens, poderia, portanto, ter sido concentrado contra Lannes e Augereau na tarde do dia 13, enquanto Soult poderia apenas intervir muito tarde naquele dia, e Davout e Bernadotte encontravam-se, ainda, muito distantes para poderem chegar no campo de batalha antes de dia 14. Todos os Corpos franceses, além disso, estavam esgotados por suas marchas rápidas sobre estradas ruins, que o Imperador realmente ordenou (às 01:00 h. do dia 13), um dia de descanso para todos, exceto para Davout, Bernadotte, Lannes e Murat.

O quartel-general prussiano, entretanto, passou os dias 12 e 13 em discussão ocio-sa, enquanto os comandantes das tropas exortavam, eles mesmos, às suas tropas, para

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obter algum alívio para o sofrimento de seus homens que estavam morrendo de fome. As derrotas sofridas pelos seus postos avançados tinham afetado, profundamente, os nervos das tropas e, na tarde do dia 11, um falso alarme de uma abordagem francesa, fez eclodir um pânico nas ruas de Jena, que exigiu toda a energia de Hohenlohe e seu Estado-Maior, para restaurar a ordem. Na manhã do dia 12 os comandantes saxões aproximaram-se de Hohenlohe com um pedido de condições das tropas, que ameaçavam se retirar de volta para a Saxônia. Hohenlohe salientou que os prussianos estavam igualmente mal, mas prometeu dar o melhor de si para ajudar seus aliados. Mensagens urgentes enviadas para o Comissário von Goethe (o poeta), em Weimar, requisitaram comida e lenha. Essas solici-tações, no entanto, permaneceram sem resposta, e os prussianos e os saxões passaram a noite antes da batalha, tremendo de frio em seus acampamentos miseráveis.

(Ver Mapa das Batalhas de Jena e Auerstadt: 13 OUT 1806)

O 13 DE OUTUBRO.

Durante o início da manhã do dia 13 os relatórios levaram a Napoleão em Gera uma clarificação parcial da situação, mas a verdade era muito diferente do que se supunha. No entanto, ficou evidente que a maior parte dos prussianos estava à sua esquerda, e as instruções foram imediatamente enviadas para Davout, para que ele virasse para o oeste de Naumburg, em direção a Kosen e levasse Bernadotte com ele, se os dois ainda estives-sem juntos. A carta, no entanto, terminou com as palavras “mas espero que ele já esteja a caminho de Dornburg.” Então, Bernadotte iria negligenciaar em manter o imperador in-formado sobre os acontecimentos. Ele ainda estava junto com Davout, mas, pensando ter perdido uma ordem que o direcionava para Dornburg, ele pensou em esconder seu erro, assumindo o recebimento da ordem, evidentemente em alusão as últimas palavras do im-perador e, como resultado, ele marchou para Dornburg, e seu Corpo inteiro ficou perdido para o imperador, durante a crise da batalha do dia seguinte.

Na estrada de Gera para Jena, Napoleão foi encontrado pela Inteligência de Lan-nes, anunciando sua ocupação de Jena e a descoberta das tropas prussianas ao norte. Conhecendo os métodos do imperador, ele, sabiamente, conteve o ardor de seus subordi-nados e pediu instruções a respeito de se devia atacar ou esperar. O Imperador cavalgou para a frente e, rapidamente, chegou a Jena, cerca das 15:00 hs, e com Lannes procedeu para Landgrafenberg para reconhecer a situação. A partir deste ponto, sua visão ficou, no entanto, restrita ao primeiro e imediato movimento do terreno, e ele só viu os campos da ala esquerda de Hohenlohe. Neste momento, os prussianos estavam se preparando para passar ao largo do ataque, mas então, o “gênio do mal”do Exército prussiano, von Massenbach, um oficial do Estado-Maior, chegou e alegou querer falar com a autoridade do rei e comandante-em-chefe, induzindo Hohenlohe a ordenar suas tropas de volta ao acampamento. Napoleão não viu nada destes acontecimentos, mas a partir de todos os relatórios recebidos, chegou à conclusão de que o Exército prussiano todo estava à frente dele e, uma vez emitidas as ordens para todo o seu exército concentrar-se em direção a Jena, decidiu que marchariam a noite toda, se necessário. Seis horas antes, a conclusão dele teria sido correta, mas cedo, naquela manhã, o Quartel-General prussiano, alarma-do com a segurança de sua linha de retirada para Berlim, pela presença dos franceses em Naumburg, decidiu deixar Hohenlohe e Ruchel para atuar como retaguarda e com o corpo principal iniciar a sua retirada em direção ao rio Unstrutt e Eckhardtsberge, onde Massenbach, anteriormente, tinha reconhecido um campo de batalha julgado “ideal”. Esta

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crença em tais posições foi o princípio cardeal da estratégia prussiana naqueles dias. As tropas, em conformidade, tinham iniciado a sua marcha na manhã do dia 13 e agora às 15:00 hs estavam se preparando para montar um bivaque; eles ainda estavam em mar-cha, mas uma marcha a curta distância do campo decisivo. (Ver Mapa de Jena e Auersta-dt: 10:00 hs de 14 OUT 1806) .

A BATALHA DE JENA

Ao raiar do sol do dia 14, o aniversário de Elchingen, mais de 60.000 franceses estacionaram, densamente, no estreito platô da montanha, enquanto abaixo, nas ravinas, em cada flanco, com Soult à direita e Augereau à esquerda, as tropas iam assumindo posi-ção. Felizmente, um denso nevoeiro escondeu da vista dos prussianos aquelas indefesas massas de tropas sobre Landgrafenberg. Hohenlohe tinha decidido conduzir os franceses para uma ravina ao raiar do dia, mas ele não tinha ideia da quantidade de tropas francesas que havia na frente dele. Por falta de espaço, apenas alguns batalhões prussianos foram enviados para a frente, e estes, atrasando o seu avanço até que a névoa tivesse sufi-cientemente levantada, acabaram sendo recebidos pelos skirmishers e pequenas colunas francesas, que rapidamente envolveram seus flancos e os fizeram recuar, em confusão. Hohenlohe, então, empregou o restante de seu comando mas, entretanto os franceses tinham cercados entre Landgrafenberg, o platô principal, e as tropas de Soult e Augereau, que estavam ocupando as ravinas em ambas as ravinas. Em vista dessas tropas, a linha prussiana, que tinha avançado perfeitamente como se estivesse em um desfile, parou para preparar o seu ataque a baioneta e, uma vez interrompido seu movimento, tornou-se impossível obtê-lo de novo. Os franceses que tinham ocupado casas, bosques, etc., com atiradores de elite, abateram os oficiais prussianos e assediaram os flancos das linhas prussianas que balançaram e entraram em confusão. As artilharias rivais trocavam bom-bardeios e não podiam dar atenção às infantarias, enquanto que a cavalaria prussiana, que não tinha como carregar em massas de 80 ou mais esquadrões, dispersou sua força em esforços isolados. Por volta da 10:00 hs, os 14 batalhões que tinham iniciado aquele ataque ficaram inferiorizados em número, na base de 3 x 1, e afastaram-se do campo de batalha. Seus lugares foram ocupados por um Corpo fresco, mas logo, também ficaram inferiorizados, em desvantagem e flanqueados. Às 14:00 hs tinha chegado o momento psícológico, e Napoleão lançou seus Guardas e a cavalaria para completar a vitória e iniciar a perseguição. A Divisão de Ruchel agora tinha chegado e, com galhardia, fez um grande esforço para cobrir a retirada prussiana, mas a ordem foi sendo quebrada pela torrente de fugitivos, e eles logo ficaram impressionados com a maré da vitória francesa e toda a resistência organizada tinha sido mandada cessar por ordem dos oficiais, por volta das 16:00 hs e os flancos das linhas prussianas uma vez mais balançaram e entraram em confusão. (Ver mapa de Jena e Auerstadt 14:00 hs, 14 OUT, 1806).

Em suma, a batalha - apesar dos 4 esforços sucessivos dos prussianos - falhou, porque eles ficaram em inferioridade numérica. Isto foi culpa única dos seus líderes, pois, com exceção do último ataque, a superioridade local poderia ter sido, em cada caso, alcançada. A organização e e as táticas não afetaram a questão diretamente, da mesma maneira que a conduta dos homens e de seus oficiais subalternos deram provas abun-dantes de que se estivessem nas mãos de um líder competente, eles teriam provado sua superioridade, em um atrito gradual com o inimigo. Aqui, como também nos campos de batalha da Península e, mais tarde, em Waterloo, os defeitos no adestramento da infanta-

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ria prussiana causariam sua derrota no vizinho campo de Auerstadt.

A BATALHA DE AUERSTADT

Aqui a superior mobilidade francesa, uma conseqüência do seu adestramento, e não necessariamente do seu sistema, mostrou o seu valor mais conclusivamente. Davout em obediência às ordens de Napoleão, da manhã anterior, estava marchando sobre o Saale em Kosen, quando sua vuangarda entrou em contato com o exército prussiano prin-cipal. Este último, com pelo menos 50.000 homens, estava marchando em duas colunas e deveria, portanto, ter de desdobrar seus homens em linha de batalha, duas vezes mais rápido que os franceses, que por sua vez, já estavam se desdobrando, depois que suas colunas tinham sido abertas para passar o desfiladeiro de Kosen, para realizar a longa subida planalto acima. Mas os prussianos atacaram na antiga velocidade regulamentar de 5 passos por minuto, enquanto os franceses manobravam em uma cadência rápida de 120 ou 150. Por isso, os franceses sempre conseguiam reforçar sua linha de combate em tempo de evitar um desastre. No entanto, por volta do meio-dia a força francesa estava exausta, enquanto a reserva prussiana, com 18 de guardas sob o comando de Kalckreuth, encontrava-se intacta e pronta para atacar.

Mas no momento crítico, o Duque de Brunswick tombou mortalmente ferido, e Schar-nhorst, seu Chefe-do-Estado-Maior, naquele momento, encontrava-se ausente, estando em outra parte do campo de batalha. Enquanto isso, rumores vindos do campo de bata-lha em Jena, ampliaram-se, como de costume, e começaram a chegar ao Estado-Maior, e eles, possivelmente, devem ter influenciado Kalckreuth, pois quando ele foi chamado para atacar com seus 18 batalhões e ganhar o dia, ele se recusou a se deslocar, sem que houvesse a ordem direta do comandante para fazê-lo, alegando que era o dever de uma reserva cobrir a retirada, e considerava-se pessoalmente responsável perante o rei pelos Guardas confiados ao seu cuidado. O dia poderia ter sido salvo, se Blucher tivesse sido encontrado com seus 20 esquadrões acostumados a galopar juntos, mas a cavalaria prus-siana tinha sido dispersada entre os comandos de infantaria, e naquele momento crítico, revelava-se impossível para eles realizarem um ataque decisivo e unido.

Vendo-se desesperançoso por mais esforços, Scharnhorst, em nome do Duque, iniciou a retirada e as tropas deslocaram-se para NW, em direção a Buttelstedt, quase que não molestada pelos franceses que, naquele dia, tinham posto adiante tudo o que tinham, e resistiam, vitoriosamente, à maior punição que qualsquer tropa da nova era da guerra, já tinha sofrido. Tão desesperada tinha sido sua resistência que os prussianos, por unani-midade, declararam a força de Davout ser o dobro da realmente existente. Provavelmente nenhum homem além de Davout poderia ter conseguido tanto de seus homens, mas por que ele estava à esquerda e sem apoio?

Bernadotte, como se viu, tinha marchado para Dornburg, ou melhor, para um ponto que dominasse, ao longo de Saale, a vila do mesmo nome e chegou lá em tempo suficien-te para intervir em qualquer campo de batalha. Mas com a fúria da luta, ele permaneceu indeciso, até que a queda de Jena ficasse clara e, então, ele atravessou o rio e chegou com tropas frescas, mas tarde demais para que seus serviços que fossem necessários.

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A RETIRADA PRUSSIANA

Durante a noite, os prussianos continuaram sua retirada, a maior parte do Corpo principal para Sommerda, e o Corpo de Hohenlohe, em direção a Nordhausen. As tro-pas tinham ficado muito misturadas, mas como os franceses não as perseguiam, logo a ordem logo foi restabelecida e uma retirada organizada foi iniciada, em direção à foz do Elba e Lübeck. Ali, esperava-se uma ajuda vinda da Inglaterra, e a maré da situação ainda poderia ter mudado, pois os exércitos russos estavam se reunindo no leste. Agora, é que se sentiria a falta do exército da nação belga. Em vez de aproveitar todas as provi-sões existentes e queimar aquilo que eles não poderiam remover, os generais prussianos impuseram aos seus homens uma extrema tolerância para com os habitantes e levaram apenas aquilo que precisavam, mas por outro lado, trataram, com desdém os feridos civis. Os franceses marchando em perseguição foram, então, recebidos de braços abertos. Tal servilismo da população local demostrou o mais amargo desprezo existente pelos con-quistadores prussianos e constituiu a melhor desculpa para a atenção dada aos franceses. No dia 26 de outubro, Davout chegou em Berlim, tendo marchado 166 milhas em 12 dias, incluindo duas afiadas ações de retaguarda; Bernadotte com suas tropas frescas, tinha ficado para trás. Os habitantes de Berlim, através de seu prefeito, saiu ao encontro de Davout, e os jornais esbanjavam adulação sobre os vencedores e abusavam sobre o exér-cito derrotado. No dia 28, a cavalaria Murat ultrapassou os remanescentes do exército do Príncipe Hohenlohe, perto de Prenzian (ao sul de Berlim) e o chamou à sua capitulação. Infelizmente o príncipe enviou Massenbach para discutir a situação, e este último perdeu completamente a cabeça. Murat vangloriou-se que ele tinha 100.000 homens atrás dele e em seu retorno, Massenbach implorou ao seu chefe para submeter-se a uma rendição incondicional, conselhos que o príncipe aceitou, embora vosse verdade que a cavalaria de Murat estava com seus cavalos completamente exaustos e ele não tinha nenhuma infanta-ria em apoio. Então, apenas Blücher permaneceu em campanha, tendo sido, também, im-pulsionado longamente para Lubeck, de costas para o mar. (Ver o mapa da Europa, 1806).

AS CAMPANHAS NA POLÔNIA E NO LESTE DA PRÚSSIA

Até então, os franceses vinham operando em países ricos, intocados pelas desvas-tações da guerra, durante meio século, mas em razão da necessidade de uma campanha contra os russos, o Imperador percebeu que seu serviço de fornecimento e transporte, in-teiro, deveria ser colocado em uma base diferente. Depois de dar à cavalaria e à artilharia o que era previsto, pouco restava em termos de material para transporte. Foram, então, dadas exaustivas ordens no sentido de se organizar tão somente os trens necessários, mas parecia que o Imperador não tinha nenhuma informação a respeito das dificuldades existentes nas trilhas empedradas-da Polônia, e que estavam prestes a se apresentarem a ele. Além disso, uma coisa era dar ordens, mas outra era ter a certeza de que elas se-riam obedecidas, pois elas implicavam numa transformação completa da atitude mental do soldado francês, em relação a tudo o que lhe tinha sido ensinado a respeito dos seus deveres no campo. Só a experiência poderia ensinar a arte de embalar os vagões e o cui-dado com os animais de tração, e ao longo da campanha, os pôneis pequenos da Polônia e da Prússia Oriental iriam sofrer com peso da carga e seu inábil preparo.

21. Como o Exército russo contrastava do dos franceses. Ainda que armado e or-ganizado nos moldes europeus, os soldados russos retinham uma marca, degradada das

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tradições de seus antepassados mongóis; seus vagões de transporte eram do tipo decor-rente da sobrevivência de anos de experiência, e seus cuidados com seus animais eram, também, herança do hábito. O grau de experiência dos oficiais e dos homens de

seus regimentos era, no entanto, muito baixo, mas por outro lado, o serviço militar era, praticamente, um meio de vida, e o escalão regimento era o maior que eles haviam conhecido. A obediência era instintiva e o grau de iniciativa era primário. Em síntese, eles eram, tão somente, um exército bem treinado para a guerra. Napoleão, certa vez, disse a respeito: “A miséria é a escola de um bom soldado”. Em termos de cavalaria, eles eram fracos, pois os russos não tnham o pendor para a equitação e seus cavalos não eram iguais aos aceitos pelos europeus, em razão de seu peso; no entanto, ressalta-se que os cossacos eram formidáveis soldados, extremamente combativos. Sua artilharia, em contrapartida, era numerosa e a maior parte dela era constituída de canhões de 18 e 24 pdr. Mas o grande valor do seu exército estava na sua infantaria, dotada de incomparável tenacidade na defesa e extremamente voluntariosa nos ataques a baioneta. As tradições de Suvarov e suas vitórias na Itália, ainda encontravam-se frescas, mas não seria Suvarov que os lideraria, por muito tempo.

O AVANÇO PARA O VÍSTULA

Napoleão tinha em si - desde o primeiro conhecimento da aliança secreta entre a Prússia e a Rússia - que ela seria a principal razão para que ele se precipitasse nas hos-tilidades com o antigo inimigo. Ele permaneceu, no entanto, na ignorância completa do grau de preparação atingida no lado russo, e. desejoso da conquista de Varsóvia, que lhe possibilitaria o controle dos recursos da Polônia em homens e material, mais uma vez, ele se virou para o leste, acabando, assim, com toda a resistência mais organizada na Prús-sia e que foi encerrada após a renúncia de Prenzlau e Lübeck. Mal deixando suas tropas “na hora de restaurar seus calçados gastos”, ou a tempo para a cavalaria substituir seus cavalos cansados pelos animais prussianos capturados, ele enviou Davout em direção a Varsóvia no dia 2 de novembro, e fez o restante do exército seguir em sucessivos esca-lões, tão rapidamente, quanto eles pudessem ser despachados.

A cavalaria, movendo-se bem avançada, saqueou os depósitos prussianos e cap-turou seus cavalos, na medida possível da linha do Vístula onde, finalmente, encontrou os postos avançados de uma resistência organizada do pequeno Corpo de Lestocq com 15.000 homens -tudo o que sobrara do exército de Frederick, o Grande. Eles, no entanto, por meio de seus skirmishers, deram fim à ameaça do avanço francês. Davout, por fim, en-trou em Varsóvia no dia 30 de novembro, sendo seguido pelos V e IV Corpos e pelo Corpo da Guarda. Na quinzena seguinte, chegaram os VI e VII Corpos, escalonados à esquerda, e mais os VIII (Mortier), o IX (Jérome Napoleon) e o X ((Lefebvre) Corpos, todos com as novas formações, desde a eclosão da guerra, seguidos de algumas retaguardas. O corpo de Jérome era composto de soldados oriundos da Bavária, de Wurttemberg e de Baden.

Por trás deles, toda a Prússia foi invadida por unidades recém-formadas, (3º e 4º batalhões), por oriundos de companhias “depot”, por conscritos de 1807 e por soldados velhos reunidos após a cura de doenças ou ferimentos. Napoleão fez estes homens serem enviados para a frente, imediatamente, após sua organização e treinamento. Ele tinha muito território para ocupar, e em uma longa marcha de, em média, 85 dias, ele conside-rava que as recentes tropas poderiam ser organizadas, equipadas e treinadas mesmo em marcha.

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PULTUSK

Os russos, enquanto isso, tinham avançado, lentamente, em dois Corpos, um sob o comando de Bennigsen (50.000 homens), outro com Buxhowden (25.000 homens); Os franceses, estando neste momento em Varsóvia, levaram sua ameaça às posições em Pultusk, Plock e Prassnitz. Deste triângulo eles levaram as linhas de comunicações fran-cesas até Berlim e, para assegurar-se quanto ao restante do inverno, Napoleão decidiu levar seus homens à ação. No dia 23 de dezembro, as operações foram iniciadas, mas as dificuldades em se conseguir informações e, então, manter a comunicação entre as respectivas colunas, levou a um sucesso muito parcial. A ideia tinha sido a de induzir os russos a se concentrarem sobre Pultusk para, em última análise, afastá-los da Rússia e, se possível, cercá-los. Mas neste país novo e difícil, o Imperador achou impossível contro-lar o andamento das suas marchas. As tropas chegaram tarde às suas posições determi-nadas e, após uma teimosa ação de retaguarda em Pultusk, propriamente dita, e lutando uma batalha indecisiva em outro lugar (Soldau-Golymin), os russos obtiveram sucesso ao recuarem para além das mandíbulas do ataque francês. Napoleão, pela primeira vez, achou que ele tinha excedido o limite de resistência de seus homens. Com efeito, as linhas e as fileiras, sem rodeios, lhe disseram como andavam as coisas com as colunas de mar-cha. Rendendo-se ao inevitável, mas não esquecendo de anunciar uma brilhante vitória em um boletim, ele enviou suas tropas para os quartéis de inverno, ao longo do Passarge e abaixo do mar Báltico, ordenando a seus comandantes de Corpo, mais estritamente, para não fazerem nada que perturbasse o seu adversário.

A CAMPANHA DE EYLAU

Bennigsen, agora comandando o Exército russo, que junto com os prussianos de Lestocq somavam 100.000 homens, deslocou-se, também, para os quartéis de inverno no triângulo alemão Eylau-Osterode-Allenstein, e tinha a intenção de lá permanecer, en-quanto um novo exército recém reunido na Rússia, o I Corpo, alcançava Nur, cerca de 50 milhas distante dos franceses.

Infelizmente, Ney com o seu VI Corpo em Gilgenberg, tinha recebido o distrito mais atingido pela pobreza de toda a região e, para garantir um alívio para os sofrimentos dos seus homens, incautamente, estendeu seus acantonamentos até eles entrarem em conta-to com os postos avançados russos. Aparentemente, vendo neste movimento um reinício das hostilidades, Bennigsen concentrou suas tropas em direção à sua direita e deu início a um avanço para oeste em direção a Danzig, que ainda estava em mãos prussianas. Ante a este avanço, tanto Ney como Bernadotte (este último, estava entre Ney e o Báltico, co-brindo o cerco de Danzig) foram obrigados a recuar. Tornou-se então necessário perturbar o repouso de todo o exército para combater as intenções do inimigo. O último a realizar este deslocamento, no entanto, descobriu a comunicação com a Rússia, e o Imperador foi rápido em aproveitar esta oportunidade. Ele recebera a informação no dia 25 de janeiro, e suas ordens foram imediatamente transmitidas e cumpridas com tal celeridade que, no dia 31, ele ficou pronto para avançar com os Corpos de Soult, Ney, Davout e Augereau, a Guarda e a Cavalaria em Reserva (80.000 homens numa frente de 60 milhas) desde Mys-zienec, através de Wollenberg, até Gilgenberg; enquanto Lannes, à sua direita, seguia em direção a Ostro³êka e Lefebvre (X Corpo) em Thorn cobriria os flancos exteriores.

Bernadotte, no entanto, estava perdido e, desta vez, não por culpa própria. As or-

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dens de Napoleão, que lhes eram destinadas, caiu nas mãos dos cossacos, e na hora certa, abriram-se os olhos do Bennigsen. Ele, rapidamente, renunciando suas intenções anteriores, emitiu ordens para se concentrar em Allenstein; mas este ponto foi escolhido com demasiado atraso e ele foi ocupado, antecipadamente, por Murat e Soult no dia 2 de fevereiro. Bennigsen, então, decidiu unir suas forças em Joukendorf, mas novamente já era tarde demais. Soult e Murat atacaram sua retaguarda no dia 3 e tendo recebido informações de seus cossacos que o exército francês estava girando para cercá-lo, ele retirou-se por meio de uma marcha noturna e, finalmente, conseguiu juntar todo o seu exército, com exceção dos prussianos de von Lestocq, posicionados ao longo do rio Alle, cujo centro era assinalado por Preussisch-Eylau.

A oportunidade para esta concentração, foi-lhe assegurada por sua retaguarda em Joukendorf, por isso, tinha restado tempo suficiente para induzir as colunas francesas a balançar para rodeá-lo e, no dia seguinte, o Imperador perdeu tempo, quando seus Corpos tiveram que se estender, novamente, aos seus intervalos de manobra. A verdade é que os dias eram demasiado curtos e as estradas muito ruins para Napoleão poder alcançar seu propósito completo de “uma avançada geral”, que ele desejava realizar. Ele estava focado em manter o inimigo nas suas posições pelo vigor de seu ataque e, assim, neutralizar seu poder de vontade independente, obrigando-o a empregar suas reservas no esforço de tentar resgatar as tropas engajadas. Mas nas florestas e durante as nevascas, os franceses só conseguiram fazer progressos lentos, sem que nenhum desdobramento suficiente pôde ser realizado, até que a escuridão pôs fim aos combates. Assim, quando no final do dia 7 de fevereiro de 1807, Murat e Soult ultrapassaram o inimigo perto de Eylau, a luta foi grave mas não prolongada. Desta vez, no entanto, Bennigsen - com mais de 60.000 homens em posição e 15.000 prussianos esperados para chegar na manhã se-guinte - não teve nenhum desejo de evitar uma batalha, e desdobrado para a ação, tinha sua frente protegida por grandes baterias de canhões, muitos de calibre pesado, e que somavam cerca de 200 armas.

Durante a noite, Augereau e os Guardas chegaram, e Ney e Davout eram espera-dos em cada flanco flanco para o próximo meio-dia. Desta vez o Imperador determinou-se que seu inimigo não deveria escapar dele e, aproximadamente às 08:00 hs, ele ordenou a Soult e Augereau - à esquerda e direita, respectivamente - para atacarem o inimigo; Murat e os Guardas permaneceram no centro como reserva. As forças de Napoleão iriam realizar a “avançada geral”, enquanto Ney e Davout, um em cada lado, desfechariam o golpe decisivo. Mas, aqui também, o tempo e o estado das estradas influenciaram nega-tivamente, e a operação realizada por Ney chegou tarde demais, enquanto Davout, na maré cheia de seu avanço vitorioso, foi marcado pela chegada de Lestocq, cujo Corpo, Ney não conseguira interceptar, Além do mais o ataque do VII Corpo de Augereau, sofreu uma pesada tempestade de neve, que lhe fez sofrer terríveis perdas de mais de 40% entre mortos e feridos. O próprio Augereau foi gravemente ferido, e o restante de seu exército foi, posteriormente, distribuído entre os outros Corpos. Bennigsen, no entanto, “caiu fora” na chegada de Ney, e os franceses estavam exaustos demais para persegui-lo. Nova-mente, o Imperador teve que admitir que as suas tropas não podiam fazer mais nada, e curvando-se às necessidades, ele as distribuiu em quartéis de inverno, onde, no entanto, a audácia dos cossacos, que eram familiarizados com a neve e as florestas, deixou os postos avançados sem repouso.

Seguiu-se um período prolongado de repouso, durante o qual o Imperador exerceu, com obstinação, os esforços para re-equipar, reforçar e suprir as suas tropas. Até então

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ele tinha estado baseado em um campo entrincheirado em Varsóvia, mas ele já tinha tomado medidas para organizar uma nova linha de suprimentos e de retirada através de Thorn, e isto, agora, havia sido completado. Ao mesmo tempo, Lefebvre recebeu ordens para pressionar o cerco de Danzig com todo o vigor e, no dia 5 de maio, após uma re-sistência obstinada, Kalckreuth, que redimira aqui seu fracasso em Auersadt, rendeu-se. A assistência inglesa chegou tarde demais. No início de junho, os franceses, apesar das suas baixas, ainda contavam com 210.000 homens disponíveis para o serviço de campo.

X

O mapa sobre a campanha de Eylau mostra os movimentos até a Batalha de Mohrungen de 25 JAN. São mosados os nomes germânicos das cidades do Leste de Prússia.

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HEILSBERG E FRIEDLAND

Enquanto isso, Bennigsen tinha se preparado para um engajamento novo e, deixan-do Lestocq com 20.000 prussianos e russos para conter Bernadotte, que se posicionara entre Braunsberg e Spandau, em Passarge, ele se deslocou para o sul no dia 2 de junho e, nos dias 3 e 4, ele caiu em cima de Ney, empurrando-o de volta para Guttstadt, enquanto que, com a maior parte de sua força, ele se moveu para Heilsberg, onde ele ocupou uma posição entrincheirada. Não foi antes do dia 5 que Napoleão recebeu as novas de seu avanço, e estes eram tão vagos, que ele contentou-se em alertar o restante de suas forças para estarem preparadas para se deslocarem no dia 6. No dia seguinte, no entanto, todas as dúvidas foram dissolvidas, quando os russos avançaram ao sul de Heilsberg. Então, ele decidiu girar toda a sua força para a direita, pivoteando sobre o III Corpo para isolar Bennigsen de Konigsberg e do mar. No dia 8, os VI, III, VIII Corpos e a Guarda Imperial, juntamente com um novo Corpo de Cavalaria em Reserva, sob comando de Lannes, num total de 147.000 homens, estavam prontos para a operação, e com Murat e Soult atuando como vanguarda, o grosso avançou, atacando os postos avançados russos que se encon-travam à frente deles. Bernadotte, que deveria ter atacado Lestocq, novamente falhou, ao receber as ordens e não tomou parte nas operações seguintes.

Murat atacou os russos, que o tinham detido em sua posição entrincheirada, no dia 11, e atacou seus postos avançados, mas não atingiu os entrincheiramentos. Enquanto isso, Soult tinha seguido com sua infantaria em apoio, momento em que o próprio impera-dor chegou e mandou atacar logo de uma vez. Desta feita, os russos foram afetados em suas trincheiras e, na ausência de uma preparação de artilharia, as principais tropas de Soult receberam uma punição mais severa. Tropas frescas chegaram e foram enviadas em seu apoio, mas estas também se revelaram insuficientes, até que caiu a escuridão da noite e pôs fim à luta, que custou aos franceses 12.000 mortos e feridos.

Bennigsen, no entanto, percebendo que sua direita estava sendo ameaçada pelo III Corpo, mas que ainda não tinha completado sua concentração, retirou-se durante a noite para Bartenstein e, no dia seguinte, voltou-se para a direita no sentido de Schippenbeill. O Imperador, então, pressionou rumo a Friedland, onde ele deveria controlar, completamen-te, as linhas de comunicações russas com Konigsberg, sua imediata base de suprimento, mas, pela primeira vez, os russos marcharam primeiro e acobertaram seus movimentos, e com tanto sucesso, que nos próximos três dias Napoleão parecia estar completamente perdido sobre o paradeiro do seu inimigo. Lestocq, neste meio tempo, tinha sido forçado para o norte em direção a Konigsberg, com Soult e Murat em sua perseguição. Os III, VI, VIII Corpos e mais o Corpo da Guarda seguiram ao longo da estrada principal que demandava Konigsberg. Quando a vanguarda alcançou Muhlhausen, o restante estava sobre Preussisch-Eylau, momento em que os dragões de Latour Maubourg enviaram uma informação que indicava a presença de Bennigsen sobre Friedland. O fato que se passou foi o seguinte: os russos, depois de passarem por Schippenheil, de repente, viraram-se para o norte e, na noite do dia 13, ocuparam uma posição fortificda apoiada no rio Alle, que tiha, ao centro, Friedland.

O que se seguiu demonstra, talvez, a melhor instância do método napoleônico. O inimigo tinha se posicionado direto à sua direita, e Murat e os IV e III Corpos já tinham ultrapassado aquela posição. O Corpo de reserva de Lannes (cavalaria), para quem os homens de Latour Maubourg haviam informado, tinha se posicionado em Domnau, umas 10 milhas mais à direita. Este último, então, assumiu o papel de cavalaria de guarda avan-

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çada, e recebeu ordens para observar o inimigo em Friedland. Ney seguia em apoio à ca-valaria. Davout foi girado para se dirigir contra a direita do inimigo e o VII. Corpo (Mortier), os Guardas e a Cavalaria Reserva seguiram como corpo principal. No dia 14 (o aniversário da Batalha de Marengo) Lannes levou a cabo sua tarefa de lutar como vanguarda ou força de proteção, quando o Corpo principal do Imperador, gradualmente surgiu, e ocorreu a Batalha de Friedland, que se notabilizou, principalmente, pela primeira exibição das novas táticas da artilharia dos franceses, e que terminou com um ataque geral, por volta da 17:00 hs, e que resultou na retirada dos russos, após várias derrotas, sobre o rio Alle. Lestocq foi, enquanto isso, empurrado através de Konigsberg (rendendo-se no dia 15) em Tilsit e, então, já não mais sendo apoiado pelos russos, o comandante prussiano desistiu da luta.

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O EXÉRCITO AUSTRÍACO EM 1809.

Desde Austerlitz que os oficiais austríacos tinham laborado para reconstituir e refor-mar o seu exército. O Arquiduque Charles foi o primeiro dentre muitos oficiais que tinham percebido que os efetivos das tropas eram absolutamente necessários para confrontar os novos métodos de manobra franceses. Com os atuais efetivos, seria impossível atingir o alto grau de eficiência individual necessário para a realização das velhas táticas de linha e, portanto, eles foram obrigados a adotar os métodos franceses de emprego de skirmishers e colunas, mas ainda quase não haviam percebido o quanto era necessário o emprego de uma linha de batalha, para habilitar o exército a suportar a tensão nervosa prolongada que o novo sistema de táticas impunha. Onde, anteriormente, 15.000 homens por uma milha de frente tinham sido considerados amplos para a ocupação de uma posição ou a exe-cução de um ataque, o dobrar esse número, agora, muitas vezes provou ser insuficiente, e sua frente poderia quebrar, antes mesmo de chegarem os necessários reforços. Muito tinha sido feito para criar uma equipe eficiente, mas embora a ideia do comando de Cor-po de Exército não fosse mais nenhuma novidade, os generais sêniores a quem seriam confiados esses comandos, estavam longe de ter adquirido a independência e a iniciativa de seus homólogos oponentes franceses. Daí a extraordinária lentidão de suas manobras, não porque a infantaria austríaca fosse manifestamente ruim, mas porque a preparação e a circulação das ordens estavam, ainda, muito aquém do padrão francês. A cavalaria li-geira tinha sido muito melhorada e a cavalaria pesada demonstrou, no conjunto, ser páreo para seus adversários.

O EXÉRCITO FRANCÊS

Após a paz de Tilsit, a Grande Armée foi gradualmente retraída para trás do Reno, deixando na Prússia apenas 63.000 homens sob o comando de Davout. Oudinot no cen-tro-oeste da Alemanha e Lefebre na Bavaria, deveriam assistir os príncipes da Confedera-ção do Reno, na manutenção da ordem e aplicar as leis francesas sobre conscrição, que deveriam ser rigorosamente cumpridas naquela nova federação.

Em troca, para a subsistência das tropas francesas de ocupação, um corresponden-te número de novos impositores seria deslocado para o sul da França, onde havia iniciado uma manifestação decorrente da situação na Espnha. Que tornara-se aguda. A Guerra Peninsular exigia grandes forças da Grande Armée e, por um breve peródo, Napoeão, em pessoa, dirigiria as operações. Foi nesse mmento, que os austríacos se aproveitaram para levar vantagem sobre a fraqueza das tropas francesas na Alemanha, para tocar em frente seus preparativos, com renovada energia.

Mas eles se acharam sem a desenvoltura de Napoleão. Naquele momento, a notí-cia de sua atividade chegou ao Imperador francês, em face do que, ele despachou cartas de advertência a todos os membros da Confederação do Reno, informando que seus contingentes, em breve, poderiam ser necessários e, ao mesmo tempo, emitiu uma série de decretos para o general Clarke, seu Ministro da Guerra, autorizando-o a chamar o con-tingente de 1810, com antecedência, dirigindo-lhe os detalhamentos para prosseguir com a formação dos 4º e 5º Batalhões, para todos os regimentos do outro lado do Reno. Com estes meios, os comandos de Davout, Oudinot e Lefebvre seriam aumentados, enquanto que, em fevereiro e março, novas corporações foram formadas e, rapidamente, empurra-das para o “front”.

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Em seu retorno da Espanha, vendo a guerra iminente, ele emitiu uma série de or-dens de marcha porque no dia 15 de abril todo o seu exército deveria ser concentrado para a realização de manobras entre Regensburg, Landshut, Augsburg e Donauwörth; e enviou a Guarda Imperial em carroças para Estrasburgo, dando, em paralelo, ordens a Berthier para que ele atuasse como comandante-em-chefe, até sua chegada. (Ver ao lado, mapa da Europa Central, em 15 de abril de 1809) .

A OFENSIVA AUSTRÍACA

A zona de reunião foi excelentemente escolhida mas, infelizmente, os austríacos ti-nham assuimido a iniciativa. No dia 9 de abril, o Corpo principal dos seus 6 Corpos cruzou o rio Inn entre Braunau e Passau e, simultaneamente, dois Corpos adicionais deslocaram--se de Pilsen, na Boêmia, sobre Regensburg. Neste momento, Davout estava entrando em Regensburg com suas tropas principais, com o restante ainda desenvolvendo algumas marchas à retaguarda, e isso ficou evidente quando o grosso da concentração já não po-deria se desenvolver, antes que os austríacos estivessem já em posição de intervir. Ber-thier recebeu as notícias, enquanto ele continuava o seu caminho para o “front” e, portan-to, não conseguiu compreender bem a situação. Atingindo Donauwörthàs 20:00 hs do dia 13 de abril, Napoleão ordenou a Davout e Oudinot para permanecerem em Regensburg, enquanto Lefebvre e Wrede, que tinham recuado em face dos austríacos, foram direciona-dos para reocupar Landshut. Isto foi uma contradição direta às instruções que Napoleão lhes tinha dado no dia 28 de março, em razão, no caso, da situação emergencial. Davout obedeceu, mas protestou. No dia 16, Berthier seguiu para Augsburg, onde ele teve conhe-cimento de que tropas avançadas de Lefebvre tinham sido expulsas de Landshut, abrindo assim, uma grande brecha de 76 milhas de largura entre as duas alas do Exército francês. Enquanto isso, Napoleão, que havia deixado Paris às 04:00 hs do dia 13 de abril, avançou acelerado, mas ainda manteve-se na ignorância do ocorrido com Berthier até o dia 16, em Stuttgart, quando recebeu uma carta do marechal, datada do dia 13, que o colocou em consternação. Em resposta, ele imediatamente escreveu:

“V. Exa. não me informou sobre o porquê de ter tomado uma medida tão extraor-dinária, que enfraqueceu e dividiu as minhas tropas” e “Eu não consegui, ainda, compre-ender o significado da sua carta; eu preferiria ter visto meu exército concentrado entre Ingolstadt e Augsburg, com os bávaros na primeira linha, e com o Duque de Danzig na sua antiga posição, até que soubéssemos o que o inimigo pretendia fazer. Tudo seria excelente se o Duque de Auerstadt estivesse em Ingolstadt e o Duque de Rivoll com o os Corpos de Wurtternbergers e de Oudinot, em Augsburg,... e justamente o oposto do que deveria ser feito, foi feito” (Ver mapa de Ratisbon e vizinhanças, 17 a 19 de abrl de 1809)

NAPOLEÃO ASSUME O COMANDO

Depois de ter enviado aquela repreensão severa, Napoleão apressou-se em dire-ção a Donauwörth, onde chegou às 04:00 hs do dia 17, na esperança de encontrar Ber-thier, mas este estava em Augsburg. No entanto, às 10:00 hs, ele mandou que Davout e Oudinot se retirassem, imediatamente, para Ingolstadt; e Lefebvre e Wrede, deveriam ficar à sua direita, para apoiar o deslocamento. Ao meio-dia, Berthier retornou, e depois ouvir sua explicação, Massena recebeu ordens para se deslocar de Augsburgo para Ingolstadt. “Amanhã será um dia de preparação, e eu espero ser capaz de, quarta-feira, manobrar

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contra as colunas inimigas, de acordo com as circunstâncias”, disse Napoleão.Enquanto isso, os austríacos tinham se aproximado tão perto, que por meio de uma

marcha de um único dia, qualquer ala numericamente superior do Exército francês, pode-ria cair em cima deles e esmagá-los. Mas, ainda que a cavalaria ligeira austríaca cobrisse, com sucesso, as operações seguintes das suas tropas, ela, ainda não tinha se imbuído da concepção das missões de reconhecimento. Além disso, o Arquiduque, na ignorância do princípio da oportunidade e, acima de tudo, possuído, pela idéia preconcebida de unir-se, em Regensburg, com os dois Corpos de Exército vindos da Boêmia, deslocou o grosso das suas forças nessa direção, deixando apenas um corpo de cobertura para fazer fren-te a Davout, mas que era completamente insuficiente para detê-lo. Davout, no entanto, tinha deixado uma guarnição de 1.800 homens, em Regensburg, cuja presença atrasou a junção das alas austríacas até o dia 20 e, no mesmo dia, o Imperador, tendo já reunido toda a sua ala direita e o centro, passou a subjugar os destacamentos de cobertura que estavam à sua frente, em uma longa série de engajamentos desconectados, durante 48 horas, e que ameaçaram o Arquiduque de ser forçado recuar para o Danúbio. Mas com os reforços vindos da Bohêmia, ele ainda teria 4 Corpos na mão, e Napoleão, cujo serviço de inteligência falhava, em razão daquele difícil e interseccionado país, acabou enfraquecen-do seu exército por meio da desanexação de uma parcela de sua força em perseguição da ala direita batida, e contra as linhas de comunicações do Arquiduque. (Ver mapa de Ratisbon e vizinhanças, 19 a 22 de abril de 1809).

ECKMUHL

Quando, portanto, o Arquiduque, no dia 22, marchou para o sul para reabrir as li-nhas de comunicações com o derrotado exército inimigo, ele realmente alcançou Eckmuhl com uma superioridade numérica suficiente para aproveitar a oportunidade. Mas o france-ses tinham chegado antes dele. Napoleão - que pessoalmente tomou parte na batalha do dia anterior, e acompanhou a perseguição até Landshut, onde ele tinha despachado Mas-sena para seguir os austríacos em retirada ao longo do rio Isar - parece ter percebido, por volta das 03:00 hs da manhã, que não era o Corpo principal do inimigo que tinha chegaado antes dele, mas apenas a sua ala esquerda, pois o próprio Corpo principal ainda deveria estar seguindo para o norte, em direção a Regensburg. Dando ordens a Davout, Oudinot e sua cavalaria para se concentrar com toda velocidade em direção a Eckmuhl, ele próprio montou ao longo da estrada de Regensburg e atingiu o campo de batalha, justamente quando o engajamento da sua vanguarda tinha iniciado.

Os austríacos possuíam uma mobilidade igual à dos franceses e este último poderia ter sido esmagado, mas enquanto os franceses cobriram de 17 a 19 milhas, os austría-cos marcharam apenas 10, e, devido a este defeito em seu adestramento tático, acima aludido, as tropas austríacas, na verdade, não aguentariam o suficiente, até que suas re-servas chegassem. O retraimento da linha de frente envolveu os austríacos em confusão e, então, toda aquela massa entrou em uma desordem considerável. Parecia que nada poderia salvar os austríacos do desastre completo mas, no momento crítico, o Imperador, rendendo-se aos protestos de seus comandantes, que reclamavam da fadiga excessiva das suas tropas, parou a perseguição, e o Arquiduque tirou o máximo da sua oportunidade para restaurar a ordem entre seus homens desmoralizados, e cruzou para a margem norte do Danúbio, durante a noite. (Ver mapa do Sul da Alemanha, 22 de abril a 22 de maio de 1809)

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A RETIRADA AUSTRÍACA.

Na manhã seguinte, os franceses chegaram em Regensburg e, ato contínuo, pro-cedeu-se ao ataque às muralhas medievais, mas a guarnição austríaca, bravamente, de-fendeu aquela posição, até que o último dos retardatários atravessasse, com segurança, a margem norte. Foi ali que, pela única vez em sua carreira, Napoleão foi ferido ligeiramente. Em seguida, deixando Davout para observar a retirada do Arquiduque, o próprio imperador cavalgou depois de Massena, que, com a maior parte do exército francês, estava seguin-do a ala mais fraca austríaca sob o comando de Hiller. Este último não se encontrava tão abalado quanto Napoleão acreditava, pois teve sucesso em infligir um severo contra-gol-pe sobre seus perseguidores, que em Ebelsberg haviam perdido 4.000 homens em três assaltos infrutíferos. Assim, coberto por sua retaguarda, Hiller trocou espaço por tempo, de modo a passar as suas tropas para a margem norte do Danúbio e remover todos os barcos do rio. Isto deixou aberto o caminho direto para Viena, e Napoleão, na esperança de encontrar paz na capital do inimigo, empurrou todo o seu exército através da margem direita do Danúbio e, com a cavalaria de Murat, entrou na cidade em 12 de maio, depois de uma pouco severa resistência durante três dias. Enquanto isso o Arquiduque e Hiller, ambos agora sem serem molestados, efetuaram sua junção nas proximidades de Wa-gram, estabelecendo piquetes por toda a linha do Danúbio com seus postos avançados, e recolhendo todos os barcos disponíveis.

ASPERN ESSLING E WAGRAM

O reconhecimento do rio foi imediatamente levado a cabo pelos franceses, após a sua chegada em Viena e um ponto em frente a ilha de Lobau, foi selecionado para a travessia. Graças às precauções austríacas, foram necessários quatro dias para recolher o material necessário para construir a ponte que deveria abordar o ramo principal do rio, enquanto que, do outro lado, Napoleão, pessoalmente, estimulava a atividade que exigiu quase quatro dias para a sua construção. Anda não era noite, naquele dia 19 de maio, quando, finalmente, foram dadas as ordens para a travessia e, durante a noite, as tropas começaram a ocupar a ilha de Lobau. A surpresa, é claro, estava fora de questão, mas os austríacos não tentaram disputar a travessia, pois seu objetivo era o de permitir que os franceses realizassem a travessia, para depois cair sobre eles. Assim, no dia 21 de maio começou a batalha de Aspern ou Essling. Ela terminou na noite do dia 22 com a completa derrota de Napoleão, a primeira que lhe foi imposta. Os franceses se retiraram para a ilha de Lobau. Ao anoitecer, mais de 100.000 homens, sobrecarregados com pelo menos 20.000 feridos, lotavam a pequena ilha, com apenas cerca de uma milha quadrada, sem provisões e inteiramente destituída, claro, de todos os acessórios de um hospital. Surgiu, então, a pergunta se a retirada deveria ou não ser continuada através do curso d’água principal e, pela segunda vez em sua carreira, Napoleão reuniu seus generais para que eles dessem as suas opiniões. Eles, em princípio, recomendaram a retirada, mas depois de ouvir todos eles, Napoleão respondeu, dizendo: “se nós partirmos daqui, poderemos apenas nos retirar para Estrasburgo, se o inimigo não ameaçar nossas futuras operações. e ele, então, ficará livre para atacar nossas linhas de comunicações.. Portanto, devemos permanecer aqui e renovar as operações logo que possível “. (Ver mapa do sul da Alema-nha, 22 MAI a 6 JUL, 1809)

Ordens imediatas foram despachadas para convocar todos os disponíveis nos Cor-

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pos de tropas para se concentrarem, para realizar o golpe decisivo. Praticamente as linhas de comunicação ao longo do Danúbio estavam desnudadas de combatentes, tendo sido Bernadotte convocado de Passau e, então, o vice-rei da Itália - que mandou que o Arqui-duque Johann seguisse antes dele - levou 56.000 homens através do Tirol, dirigindo-se para Pressburg. O arsenal de Viena foi saqueado dos canhões, lojas e aparelhos, e as preparações na ilha seguiram o mais rápido possível. Até o final de junho 200.000 tropas estavam estacionadas ao alcance de uma chamada e, no dia 4 de julho, os franceses começaram a atravessar para a margem esquerda do rio Danúbio. Os eventos que se seguiram são descritos na Batalha de Wagram. Esta grande batalha foi travada entre 5 e 6 de julho,e terminou com a retirada dos austríacos. O único outro evento que ocorreu, antes da paz ser selada, foi uma ação, sem importância, em Znaym, no dia 11 de julho. (Ver mapa do Leste Europeu, 1º de JUN a 1º JUL, 1812).

A BATALHA DE WAGRAM

Napoleão não pretendia atacar através do Danúbio até 5 de julho de 1809, o que lhe deu muito tempo para planejar e se preparar. Uma paliçada foi erigida à montante do Danúbio, acima de Lobau, a fim de proteger as pontes construídas por pontões. O Impe-rador começou seu ataque com um ardil, deslocando um grande número de tropas para a costa norte de Lobau, enquanto o ataque real teria lugar na costa leste. A poderosa bateria de Napoleão, posicionada em Lobau, cobriu o assalto francês, bombardeando as defesas austríacas localizadas entre Aspern e Essling.

A Batalha de Wagram teve lugar em uma vasta área que abrangia 25 milhas qua-dradas. O Exército austríaco foi desdobrado em um arco enorme com 12 milhas de com-primento, que corria a artir das alturas de Bisamberg, e seguia para leste, ao longo de uma linha de crista baixa, por trás do córrego Russbach. Percebendo que o Arquiduque Charles tinha desdobrado as suas tropas largamente, Napoleão tentou realizar um ataque coor-denado em três pontos, ao longo da linha de crista que, como dito, se deitava por trás do Russbach. Na realidade, o ataque planejado não se realizou até a noite, e falhou porque o avanço francês estava descoordenado e a artilharia austríaca foi devastadora.

O primeiro dia da Batalha de Wagram, terminou em um impasse. Napoleão tinha, com sucesso, levado seus exércitos através do Danúbio e os reforços continuaram a ser levados, durante a noite. O Arquiduque Charles, havia decidido não enfrentar as baterias francesas posicionadas em Lobau, porque se sentia seguro instalado naquelas alturas, enquanto esperava o exército do Duque John para reforçar-lo no dia seguinte.

O segundo dia da Batalha de Wagram, 6 de julho, envolveu assaltos de flanque-amento em ambos os extremos da área da batalha. Enquanto as forças de Napoleão atacavam as alturas de Russbach a partir do seu centro e da direita, um ataque austríaco comandado por Lichtenstein e Kollowrat ameaçaram a esquerda francesa. Quando este ataque foi interrompido pelo Exército da Itália, Massena, e as reservas de artilharia emas-sadas dos franceses, por ordem de Napoleão, deslocaram-se para reralizar a matança. Davout começou a girar sobre o flanco esquerdo austríaco sob o comando de Rosenberg, enquanto, MacDonald atacava o centro austríaco, com uma enorme formação em bloco.

No meio da tarde, Eugene tinha tomado Wagram, e MacDonald tinha conquistado Sussenbrunn, com uma ampla ajuda da reserva, e Rosenberg retirou-se. Ainda que o reforço do Duke John, com 13.000 homens, tivesse se aproximado do campo de batalha por volta das 16:00 hs, ele percebeu que a batalha tinha acabado e retirou-se para o leste.

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Napoleão tinha ganhado, mas Wagram tinha sido uma batalha terrível e uma das maiores que a Europa iria ver durante o restante do século XIX. As baixas francesas totalizaram 37.568 militares, incluindo cinco generais e muitos outros oficiais. Os austríacos perderam 41.750 homens.

Napoleão venceu em Wagram, mas esta vitória não foi, claramente como a de Aus-terlitz. Pode ser que Jomini tenha se referido tantas vezes sobre Wagram, pela mesma razão que Guderian passara tanto tempo discutindo a Frente Ocidental de 1917-1918. Es-sas batalhas apresentaram grandes desafios para o sistema de manobra, com a base de guerra que Jomini deduziu a partir de primeiras e impressionantes vitórias de Napoleão. Ao longo da campanha de 1809, Napoleão, consistentemente, derrotou seus adversários, usando todos os “princípios da guerra” que Jomini discutiu desde a era napoleônica.

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A CAMPANHA DA RÚSSIA DE 1812

Os resultados da Campanha de 1809 abalara, seriamente, a fé dos marechais e dos postos mais altos do Exército francês, quanto à infalibilidade do julgamento do Imperador; e os massacres das tropas havidos em Aspern e Wagram tinham acentuado, ainda mais, a oposição do povo francês em relação às guerras e ao exercício da conscrição; mas sob outro ponto de vista, o resultado da disciplina de combate do exército, em geral, tinha sido bom. O pânico de Wagram tinha ensinnado aos oficiais e às praças, uma lição salutar.

Ciente do crescente sentimento contra a guerra, na França, Napoleão tinha se de-terminado a fazer com que seus aliados não só suportassem as despesas da próxima campanha, como também ficassem responsáveis por encontrar os homens necessários. No dia 24 de junho, Napoleão era o mestre europeu daqueles 363.000 homens que atra-vessaram o rio Niemen: não menos que 2/3 era composto de alemães, austríacos, polo-neses ou italianos. Mas mesmo que a disciplina de batalha dos homens fosse melhor, a disciplina no campo e durante a marcha era pior, pois as tropas já não estavam ansiosas para chegar ao campo de batalha, e só marchavam porque eles foram obrigados, e não em virtude da sua própria boa vontade. O resultado óbvio foi uma súbita diminuição na mobilidadedas marchas, e em uma falta geral de pontualidade que, no caso, viria a in-fluenciar, seriamente, o curso da campanha. Por outro lado, os russos, uma vez que sua pátria tinha sido invadida, sentiram-se dominados por um crescente espírito de fanatismo, mas eles que eram, por natureza, muito obedientes a seus líderes naturais, e muito bem acostumados com as dificuldades da campanha, pareciam ter perdido a coragem, ao rea-lizarem uma sucessão de retradas, ao invés de combater os franceses.

O DESDOBRAMENTO ESTRATÉGICO.

Em meados de junho de 1812, o Imperador tinha reunido seu exército ao longo da linha do rio Niemen. Na extrema-direita ficava o contingente austríaco sob o comando de Schwarzenberg (34.000 homens). Em seguida, centrado em Varsóvia, estava um agrupa-mento de três Corpos (19.000 homens) sob o comando do irmão de Napoleão, Jérome. O exército principal, então, ficou sob o comando de Napoleão, em pessoa (220.000 homens, com mais 80.000 sob a liderança do vice-rei da Itália em sua retaguarda direita); em Tilsit, na extrema esquerda, ficou um Corpo de acompanhamento, que compreendia um Corpo auxiliar de prussianos e outros alemães num total de 40.000 homens). Todo o exército estava particularmente forte em cavalaria; do total do Exército de 450.000 homens, 80.000 pertenciam àquela arma e Napoleão, consciente das lições de 1807, emitiu ordens minu-ciosas e detalhadas para o serviço de abastecimento em todos os seus ramos, além de estabelecer a previsão de um envio de reforços, de não menos que 100.000 homens, a serem despachados, em função dos acontecimentos, ao longo do curso do tempo.

As informações sobre os russos eram muito contraditórias. Só se sabia que o prín-cipe Bagration, com cerca de 33.000 homens, agrupava-se Wolkowysk; que Barclay de Tolly, com 40.000 hmens, estava sobre Vilna; e que na fronteira austríaca havia sido co-locado um pequeno Corpo sob o comando de Tormassov, ainda em processo de forma-ção; e que, mais longe, nas fronteiras turcas, as hostilidades com o sultão haviam retido Tschitschagov, com mais de 50.000 homens. Dos planos do inimigo, Napoleão não sabia nada, mas, de conformidade com a sua prática habitual, naquelas posições citadas, en-contravam-se todos os efetivos russos disponíveis.

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A ABERTURA DA CAMPANHA

No dia 24 de junho a passagem do rio Niemen transcorreu sob um calor tórrido que duraria alguns dias. O exército principal, sob o comando do Imperador em pessoa, cober-to por Murat e sua cavalaria, deslocou-se em direção à Vilna, enquanto Jérome na sua retaguarda-direita viu-se ameaçado por Bagration, e passou a cobrir o flanco externo do Imperador. Desde o início, no entanto, começou-se a sentir a fraqueza inerente ao enorme exército e à perda de tempo para dar início ao deslocamento. As culturas, ainda estavam verdes e não havia disponível nenhuma forragem para os cavalos, em face do que, irrom-peu uma epidemia de cólica entre eles e, em dez dias, as tropas montadas tinham perdido mais de um terço de sua força; além disso, homens morreram de insolação em grandes números.

Tudo apontava no sentido da existência de uma concentração dos russos em Vilna, e Jérome, que no dia 5 de julho, tinha alcançado Grodno, recebeu ordens para avançar. Mas Jérome mostrou-se bastante inadequado para a sua posição de comandante, ao pas-sar a ouvir as queixas dos seus subordinados quanto a suprimentos e mesmo a remunera-ção. Jérome passou quatro dias inteiros em inércia absoluta, não obstante as reprimendas do Imperador. Enquanto isso, os russos sob o comando de Barclay, deram início à uma retirada para o campo entrincheirado de Drissa sobre o rio Dvina, enquanto Bagration se deslocava em direção a Mohilev.

O primeiro grande golpe do Imperador deu-se no sentido da substituição de Jéro-me por Davout, após o que o exército retomou a sua marcha, desta vez na esperança de cercar e esmagar Barclay, enquanto Davout tratava de Bagration. A falta de mobilidade, particularmente na cavalaria, então, começou a opor-se aos franceses. Com os cavalos se recuperando de uma epidemia, eles encontravam-se muito desiguais para travar combate com os cossacos, que enxameavam em volta deles, em todas as direções, sem nunca aceitar um engajamento, mas

Antes dos franceses avançarem, no entanto, os exércitos russos constantemente se retiravam, Barclay de Vilna via Drissa para Vitebsk, e Bagration de Wolkowysk para Mohilev. Novamente arranjos eram feitos para a realização de uma batalha napoleônica; por trás da cavalaria de Murat vinha a “vanguarda geral” para atacar e mater o inimigo, enquanto o Corpo principal e Davout eram disponibilizados para realizar uma manobra de roda sobre a retaguarda inimiga. Napoleão, no entanto, não conseguira prever a psicolo-gia dos seus adversários, que, absolutamente indiferentes ao sacrifício das suas vidas, evitavam entrar em engajamentoss para apoiar um avanço, ou desvencilhar sua retaguar-da e, constantemente, retiravam-se de todas as posições, quando os franceses tentavam contatá-los.

Assim, a manobra contra Vitebsk novamente abortou, e Napoleão encontrou-se em uma posição muito pior, numérica e materialmente inferiorizado, em relação ao início da campanha. Assim, ele que tinha estado com 420.000 homens em uma frente de 160 mi-lhas, agora tinha apenas 229.000 homens em uma frente de 135 milhas. Ele tinha perdido três grandes oportunidades de destruir seu inimigo e, em cinco semanas, durante a qual ele só tinha atravessado cerca de 200 milhas do território russo, ele tinha visto as suas tro-pas serem numericamente reduzidas em pelo menos um terço, e, pior ainda, seu exército estava agora longe de ser a máquina de guerra que fora desde o início.

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SMOLENLSK

Enquanto isso, os russos não tinham perdido um único canhão, e a moral de seus homens tinha melhorado pelo resultado dos muitos pequenos encontros com o inimigo. Além disso, a junção de Bagration e Barclay agora poderia ser assegurada nas proximi-dades de Smolensk. E foi para este lugar que o avanço francês foi, então, retomado, e os generais russos à testa de uma força unida com 130.000 homens marcharam para a frente para encontrá-los. Em verdade, no entanto, a ineficiência do Estado-Maior russo acabou salvando o Exército russo de um desastre que certamente teria ocorrido, se eles tivessem levado a cabo a intenção de lutar contra os franceses. Os russos marcharam em duas colunas, que perderamu a ligação enre si, e como era impossível para qualquer um deles envolver os franceses sozinho, ambos retraíram, novamente, em direção a Smolensk, onde instalaram uma guarda avançada na cidade propriamente dita, que possuía uma antiga muralha de pedras que não poderia ser rompida

Murat e Ney operando como “vanguarda geral” atacaram a cidade pela manhã do dia 16 de agosto e, enquanto eles lutavam, o Corpo principal girou redondo para atacar a esquerda e a retaguarda russa. Teria sido necessário “todo o século XVII” para os fran-ceses completarem o movimento, e assim que a manobra ficou suficientemente revelada aos russos, estes determinaram-se a recuar acobertados pela noite. Sua manobra foi realizada com sucesso total e então começou uma série de ações de retaguarda e de reti-radas noturnas, cumprindo, perfetamente, sua finalidade de desgastar o Exército francês. O governo russo, no entanto, falhou por não conseguir entender a situação, e enviou para o “front” o marechal Kutusov,para assumir o comando-geral das operações. Kutusov, en-tão, tinha a intenção de ocupar uma posição forte e lutar contra uma ação geral francesa voltada para a posse de Moscou, e para este fim, ele selecionou a linha do rio Kalatscha onde seu fluxo intercepta a grande estrada de Moscou.

BORODINO

Aqui ele foi ultrapassado por Murat e Ney, mas as colunas francesas tinham se es-forçado tanto que decorreram quatro dias inteiros antes que o Imperador fosse capaz de concentrar seu exército para a batalha e, então, só poderia contar com 128.000 homens para fazer frente aos 110.000 russos. Aproximadamente às 06:00 hs, a batalha começou, mas Napoleão estava sofrendo de um daqueles ataques de doença e depressão, que de agora em diante, tornar-se-iam um fator importante no seu destino. Até cerca do meio-dia, ele acompanhou o curso da ação com seu habitual estado de alerta. Então, ele parece ter sido superado por uma espécie de estupor e permitiu que seus marechais lutassem por si próprios. Não houve nenhum esforço final decisivo, como em Wagram, e a Guarda não foi chamada para entrar em ação. Em última análise, o sol caiu sobre um indeciso campo de batalha em que 25.000 franceses e 38.000 russos haviam tombado, mas a reação moral sobre os primeiros doi muito maior do que para os últimos.

A Batalha de Borodino teve lugar a 7 de setembro de 1812, e foi a maior e mais sangrenta batalha pois, em apenas um dia, no decurso da Campanha da Rússia e em todo o período das Guerras Napoleônicas, envolveu mais de 250 000 homens e com mais de 70 000 baixas. O exército francês, a Grande Armée, sob o comando geral de Napoleão Bonaparte, atacou o Exército Imperial Russo, liderado pelo general Mikhail Kutuzov, perto da vila de Borodino, a oeste de da cidade de Mojaisk, capturando as principais posições do

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campo-de-batalha, mas sendo mal-sucedido ao não conseguir destruir o exército russo, apesar no número elevado de baixas. Cerca de um terço das forças de Napoleão foram mortas ou feridas; do lado russo, as perdas também foram elevadas, mas estas puderam ser substituídas pelas milícias que se encontravam junto do exército russo e por forças de reserva.

A batalha terminou com o afastamento das forças russas. O estado de exaustão das tropas francesas e a falta de informações sobre a situação dos soldados russos, levou Napoleão a decidir por manter os seus homens no campo-de-batalha em vez de efectuar uma perseguição ao inimigo como já tinha ocorrido em anteriores campanhas que ele ti-nha liderado no passado.[1] Contudo, toda a Guarda Imperial de Napoleão encontrava-se disponível mas, ao recusar a sua mobilização, o Imperador francês perdeu uma oportu-nidade de destruir o exército russo.[2] A Batalha de Borodino foi um ponto de viragem na campanha pois representou a última acção ofensiva de Napoleão na Rússia. Ao retirar-se da batalha, o exército russo conservou a sua força de combate, forçando Napoleão a sair do país.

Os relatórios da batalha diferem significativamente consoante o lado combatente. Mesmo dentro dos próprios exércitos, a descrição dos factos pelos oficiais superiores são diferentes, ocasionando relatórios contraditórios e discussões sobre o papel individual de cada participante.

ORDEM DE BATALHA DAS FORÇAS FRANCESAS APOLEÃO

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ORDEM DE BATALHA DAS FORÇAS RUSSAS

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Mapa da Batalha de Borodino (N = Napoleão / K = Kutusov)

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MOSCOU

Kutusov continuou sua retirada, e Murat, com seus cavaleiros agora exaustos, o seguiu, da melhor maneira que ele pode. Sebastiani, comandando a vanguarda, alcançou os russos no momento em que eles evacuavam Moscou e concordou com estes na reali-zação de um armistício de sete horas, para permitir que os russos limpassem a cidade. A experiência tinha mostrado aos franceses que as lutas de rua em cidades construídas em madeira, sempre significavam, como consequência, incêndio e destruição das provisões nelas disponíveis. Ao anoitecer, Napoleão chegou em cena e os russos, já tendo evacuado a cidade, permitiram que as tropas francesas começassem a entrar, mas já se observavam incêndios nas partes mais distantes da cidade. Napoleão passou a noite em uma casa no subúrbio ocidental de Moscou e, na manhã seguinte, rumou ao Kremlin, momento em que suas tropas se deslocavam para os quarteirões atribuídos a elas mas, à tarde, um grande incêndio começou e, continuando por dois dias, obrigou os franceses a se retirarem de Moscou, de volta, novamente, para a França.

O Imperador estava agora em estado de uma terrível perplexidade, pois Kutusov pairava na periferia da cidade, mantendo seu Corpo principal em Kaluga, distante algumas marchas a SW, onde ele estava em plena comunicação com a parte mais rica do Impé-rio. Notícias, então chegaram, dando conta que St Cyr, que tinha substituído Macdonald na extrema esquerda, tinha apenas 17.000 homens para fazer frente a mais de 40.000 russos, sob o comando de Witgenstein; e para o sul, o Exército do Tschitschagov, já não mais estava sendo detido na fronteira turca, pois a paz tinha sido feita, e encontrava-se marchando para juntar-se a Tormassov nas cercanias de Brest-Litewski, com forças que disponibilizariam para os russos, um total de cerca de bem mais de 100.000 homens. Enquanto isso, a força de Schwarzenberg, opondo-se a elas tinha um diminuto efetivo de 30.000 homens.

O Exército francês encontrava-se, portanto, disposto quase que em um triângulo equilátero com lados de cerca de 570 milhas, com 95.000 homens no ápice em Mos-cou para opor-se a 120.000 russos; 30.000 franceses, sobre Brest, tinham em oposição 100.000 russos; enquanto que os 17.000 franceses sobre Drissa confrontavamr 40.000 inimigos. No centro da base do triângulo, em Smolensk, estava o Corpo de Victor, com cerca de 30.000 combatentes. Moscou distava do rio Niemen 550 milhas. Perante esta situação, Napoleão, no dia 4 de outubro, enviou o general Lauriston ao quartel general russo para dialogar. Enquanto esperava seu retorno, Murat enajou-se em uma escaramu-ça com Kutusov e o Imperador planejou um esquema para assumir a ofensiva com todo o seu exército em direção a São Petersburgo, chamando, no caminho, St Cyr e Victor. Este planejamento foi mantido, até o dia 18, quando Murat foi atacado e severamente (ação de Tarutino ou de Vinkovo). Na manhã do dia 19, todo o exército se deslocou para aceitar aquele desafio, e os franceses foram minuciosamente “penteados” no dia 24 na Batalha de Maloyaroslavetz. (Ver mapa da Europa Oriental, 18 de outubro a 5 de dezembro de 1812).

A RETIRADA DE MOSCOU

Então começou a célebre retirada. Geralmente tem sido esquecido que foi a total falta de disciplina de marcha existente entre os franceses e não as condições climáticas, a principal responsável pelas terríveis catástrofes que se seguiram. Na verdade, o gelo che-

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gou mais tarde que o habitual naquele ano, no dia 27 de outubro, e o tempo estava seco e estimulante; mas não até o dia 8 de novembro, quando o frio durante a noite tornou-se afiado. Mesmo quando Beresina foi alcançada no dia 26 de novembro, o frio estava longe de ser grave, pois os cursos d’água não estavam congelados, o que é comprovado pelo fato de que os pioneiros de Eble trabalharam na água durante todo aquele dia terrível para construir pontes. Mas o exército francês, aí, já estava completamente fora de controle, e o grau de pânico de uma multidão pode dominar até mesmo o mais forte instinto do indiví-duo, o que é demostrado pela conduta dos fugitivos que se aglomeraram sobre as pontes, ignorando que, durante o tempo todo, o rio era facilmente transponível, preferindo brigar entre si para salvar a ele, afim de atravessar o rio sobre a ponte.

Para retornar à seqüência real dos acontecimentos, Kutusov tinha sido muito lento na exploração de seu sucesso do dia 24 e, em verdade, ele tinha começado a persegui-ção em uma direção errada. Mas no dia 2 de novembro, no quartel-general dos franceses em Vyazma, os cossacos tornaram-se tão ameaçadores, que o Imperador ordenou que o exército se pusesse a marchar (como no Egito) formado em quadrados. Esta ordem, porém, parece só foram obedecidas pela Guarda Imperial, com quem, doravante, o Impe-rador marchou.

Kutusov agora tinha alcançado os franceses, mas felizmente para estes, ele não fez qualquer esforço para fechar sobre eles, apenas se pendurando em seu flanco, molestan-do-os com os cossacos e caçando os retardatários. Assim, a naufrága Grande Armée, que agora não tinha mais do que 50.000 homens, atingiu Smolensk no dia 9, e lá descansou até o dia 14. A marcha foi, então, retomada, com a Guarda liderando e Ney comandando a retaguarda. Perto de Krasnoi, no dia 16, a vanguarda russa tentou atacar a testa da coluna francesa. Napoleão parou um dia inteiro para deixar o exército em “close-up” e, em seguida, atacou com seu antigo vigor e foi bem sucedido em limpar a estrada, mas ao custo de deixar Ney e a retaguarda expostos ao seu destino. Por uma marcha noturna de não precedente ousadia, com dificuldade Ney conseguiu romper o cerco russo, mas quando ele contatou com o corpo principal em Orcha, somente 800 de seus 6000 homens estavam ainda com ele.

BERESINA

A partir daqui Napoleão expediu ordens a Victor para se juntar a ele em Borisov sobre o rio Beresina. O frio agora diminuíra e com isto, começou o degelo, deixando o país como um pântano. Veio, então, a informação de que Tschitschagov, vindo do sul ti-nha alcançado Borisov. Napoleão, agora, havia selecionado Viesselovo como o ponto de passagem e à 01:00 h do dia 23 enviou ordens a Oudinot para marchar para lá e construir pontes. Na execução dessas ordens Oudinot encontrou-se com a vanguarda russa perto Borisov, o que levou a tropa russa a um recuo, em confusão, mas não antes de destruir a ponte lá existente, obstaculizando a retirada francesa. Esta súbita reassunção da ofensiva jogou Tschitschagov em total confusão. Este tempo ganho, permitiu que Victor também acorresse e que Oudinot construísse as pontes em Studienka, perto do lugar acima men-cionado, mas em um lugar que, em muitos aspectos, era mais adequado para o efeito desejado. Foi para lá, portanto, que Napoleão enviou seus “pontonniers” sob o comando do general Eble, mas na sua chegada, eles descobriram que não tinham sido feitas nenhu-mas preparações e que muito tempo tinha sido perdido. Enquanto isso, Victor, em dúvida sobre o verdadeiro ponto de passagem, havia deixado a estrada para Studienka aberta

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para Wittgenstein, que o tinha seguido duro em seus calcanhares.Por volta das 16:00 hs do dia 26, as pontes foram terminadas e começou a passa-

gem, mas não sem a resistência oferecida pelos russos, que estavam gradualmente se aproximando. A travessia continuou a noite toda, embora interrompida de vez em quando por falhas das pontes. Durante todo o dia 27 os retardatários continuaram a cruzar a pon-te, cobertos por disciplinados combatentes. Às 08:00 hs do dia 28, no entanto, Tschitscha-gov e Wittgenstein avançaram em ambas as margens do rio para realizar um ataque, mas foram detidos pelo auto-sacrifício esplêndido das poucas tropas restantes sob as ordens de Ney, Oudinot e Victor, até que o último corpo de tropas regulares, por volta de, aproxi-madamente, 13:00hs, passou sobre as pontes, restando, apenas, alguns mil retardatários que permaneceram além do rio.

O número de tropas engajadas pelos franceses naquele dia não pode ser precisa-do, exatamente. Os homens de Oudinot e Victor estavam poderiam totalizar uns 20.000 soldados, enquanto Ney dificilmente poderia estar com mais do que 6.000 de todo o Corpo que lutara sob seu comando. Quantos foram mortos nunca se pode ser conhecido, mas três dias depois, o número total de homens tinha caído para só 8.800.

OPERAÇÕES FINAIS

A partir de então, a retirada do Exército francês tornou-se, praticamente, impetuosa e, no dia 5 de dezembro, tendo atingido Smorgoni e vendo que nada mais poderia ser feito por ele no “front”, o Imperador entregou o comando do que restara de seu exército a Murat e partiu para Paris, a fim de organizar um novo exército para o ano seguinte. Viajando à velocidade máxima, ele alcançou as Tulherias, no dia 18, depois de uma viagem de 312 horas.

Após a partida do Imperador, o frio aumentou com maior gravidade, e os termôme-tros caíram para - 23ºC. No dia 8 de dezembro, Murat atingiu Vilna, enquanto Ney, com cerca de 400 homens e Wrede com 2.000 bávaros, ainda formavam a retaguarda. Mas foi impossível executar as instruções de Napoleão para seguirem para os quartéis de inverno na cidade, em face do que a retirada foi reiniciada no dia 10 e, finalmente, Konigsberg foi alcançada no dia 19 de dezembro por Murat com 400 guardas e 600 cavalarianos da guarda, mas desmontados.

Enquanto isso, na extremidade direita dos franceses, Schwarzenberg e seus aus-tríacos, tinham se afastado em direção à sua própria fronteira, enquanto o contingente prussiano - que sob o comando de Yorck (YORCK von WARTENBURG) fazia parte do comando de Macdonald sobre Riga - tinha entrado em uma convenção com os russos em Tauroggen (30 de dezembro), o que privou os franceses do seu último apoio à sua esquerda. Konigsberg, assim, tornou-se insustentável, e Murat recuou para Posen onde, no dia 10 de janeiro, ele entregou seu comando a Eugene Beauharnais, e retornou a Paris.

A perseguição russa praticamente cessou na linha do rio Niemen, uma vez que suas tropas também tinham sofrido terríveis dificuldades e um período de repouso tinha-se tor-nado uma necessidade absoluta.

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A GUERRA DA LIBERAÇÃO

A Convenção de Tauroggen tornou-se o ponto de partida da regeneração da Prús-sia. Quando a notícia da destruição da Grande Armée foi espalhada, com o aparecimento de inúmeros vagabundos, as pessoas ficaram cientes da realidade do desastre, ocasião em que o espírito gerado por anos de dominação francesa explodiu. Naquele momento, o Rei da França e seus ministros viram-se colocados em uma posição de maior ansiedade, porque eles sabiam que os recursos da França e a versatilidade ilimitada do seu arqui-i-nimigo Napoleão podiam bem fazê-los imaginar que o fim de seus sofrimentos ainda não estava próximo. Por outro lado, o exército e as sociedades secretas preocupavam-se com a situação da defesa territorial, uma vez que estando a fronteira norte, com a Alemanha, com suas defesas perfuradas, um ataque sobre os destroços do Grande Exército signifi-caria, com certeza, um castigo terrível a ser imposto pelos exércitos aliados que, então, rapidamente, se organizavam às margens do rio Reno.

As guarnições de fronteira francesas, espalhadas por todo o país, encontravam-se cercadas ou obrigadas a se retirar, para evitar que sucumbissem. Assim, aconteceu que o vice-rei da Itália sentiu-se compelido a afastar-se das injunções impositivas do Impera-dor para manter sua posição avançada em Posen, onde cerca de 14.000 homens tinham gradualmente se reunido em torno dele, para, a todo o custo, retirar-se, passo a passo, de Magdeburg, onde econtrou reforços e passaram a comandar todo o curso do baixo Elba.

OS PREPARATIVOS DE NAPOLEÃO

Enquanto isso, o Imperador em Paris empenhou-se em organizar um exército fres-co para reconquistar a Prússia. O grande problema encontrado foi com a conscrição, que então já não era tão admitida com durante os anos desde 1806, estando, na verdade, menos em vigor. Ele também tinha criado em 1811-1812 uma nova Guarda Nacional, or-ganizada em “cohortes” para distingui-la do exército regular e que era destinada à defesa doméstica, sendo recrutada por um recurso hábil de pressão aplicada através de prefeitos, e que tornou-se um reservatório útil de homens razoavelmente treinados para os novos batalhões do exército ativo. Imposições também foram feitas com rigorosa severidade nos Estados da Confederação do Reno, e até mesmo a Itália foi chamada para sacrifícios fres-cos. Desta forma, até o final de março, mais de 200.000 homens estavam se deslocando em direção ao Elba, e na primeira quinzena de abril eles encontravam-se devidamente concentrados no ângulo formado pelos rios Elba e Saale, ameaçando, por um lado, Ber-lim, e pelo outro Dresden, a leste. Alguns livros referem-se a um efetivo das tropas de Napoleão de 300.000, mas este número nunca foi alcançado. (Ver mapa de campanha de Leipzig - Europa 1813).

CAMPANHA DA PRIMAVERA DE 1813

Os aliados, cientes do fortalecimento gradual das forças do inimigo, mas que ainda não tinham sido capazes de colocar mais de 200.000 homens no campo de batalha, tinham deixado um pequeno corpo de observação em frente a Magdeburg e ao longo do rio Elba, para dar um alerta antecipado de um avanço oponente em direção a Berlim. O grosso das suas forças, tinha sido posicionado sobre Dresden, de onde eles tinham se determinado a

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marchar descendo o curso do Elba para envolver os franceses da direita para a esquerda. Os dois exércitos encontravam-se mal supridos de informações, e ambos encontravam-se sem qualquer cavalaria regular confiável capaz de vigiar os postos avançados inimigos, que se esforçavam em tentar esconder os seus dispositivos, e Napoleão, operando em um país mais hostil, no tocante a esta questão, sofria mais que seus adversários.

No dia 25 de abril, Napoleão alcançou Erfurt e assumiu o comando-em-chefe. Neste dia, as suas tropas ocuparam as seguintes posições: os Corpos de Eugene, Lauriston, Macdonald e Regnier, às margens do Saale inferior; Ney à frente de Weimar, mantendo o desfiladeiro de Kosen; a Guarda Imprial em Erfurt; Marmont em Gotha; Bertrand em Sa-alfeld; e Oudinot em Coburg. E durante os próximos dias todas aquelas forças encontrar--se-iam em deslocamento em direção a Merseburg e Leipzig, numa ordem napoleônica, agora estereotipada, empregando uma forte vanguarda por todas as armas principais, e o restante, cerca de dois terços dos todos, conhecido como “massa de manobra”, pros-seguindo coberto pelo rio Elba à esquerda, e pela direita, pela retaguarda da vanguarda.

Enquanto isso, os russos e os prussianos haviam concentrado todos os seus ho-mens disponíveis e estavam se deslocando em uma linha quase paralela, mas um pouco mais ao sul da direção tomada pelos franceses. No dia 1º de maio, Napoleão e a sua vanguarda entraram em Lützen. Wittgenstein, que agora comandava os aliados no lugar de Kutusov, ouvindo a aproximação do inimigo, decidiu atacar a vanguarda dos franceses, que ele pensou ser sua força toda, sobre seu flanco direito que, durante a manhã, tinha se organizado junto ao grosso de suas forças sobre sua direita, nas proximidades de Gross Gorschen e Kaya.(Ver mapa de Alemanha 1813).

BATALHA DE LUTZEN.

Aproximadamente às 09:00 hs do dia 2 de maio, iniciou-se um ataque contra a vanguarda francesa em Lützen, enquanto o restante de seu exército foi dirigido contra a direita e a retaguarda de Napoleão. Exatamente quando esta última ação estava se de-senvolvendo contra a testa dos franceses, de repente, surgiu o seu corpo principal e, às 11:00 hs, Napoleão, então de pé perto do monumento de Gustavus Adolphus no campo de Lützen, ouviu o rugido de um bombardeio pesado sobre sua retaguarda direita. Ele percebeu a situação em um momento, galopou para a nova cena de ação e, ao mesmo tempo, agrupou suas forças para uma ação decisiva. Deixando as principais tropas para repelir, ao máximo, o ataque furioso dos russos e prussianos, e pouco se importando se eles perdessem terreno, ele rapidamente organizou suas forças para seu próprio controle em face de uma batalha-reserva. Quando ambos os lados encontravam-se exaustos pelos seus esforços, ele mandou avançar quase cem canhões, cujos disparos rasgaram em pe-daços a linha do inimigo, após o que ele mandou avançar sua reserva através da brecha formada. Ele possuía uma força de cavalaria adequada para a obtenção de uma vitória decisiva. Como era de se esperar, os aliados procederam em retirada, mas os franceses estavam exaustos demais para uma perseguição pela infantaria.

Talvez nenhuma batalha exemplifique melhor a força inerente á estratégia do Im-perador e, também, em nenhuma outra batalha, uma vitória no campo de batalha foi mais brilhantemente exibida, como isto foi plenamente reconhecido. “Esses prussianos, final-mente, aprenderam alguma coisa, pois já não são os brinquedos de madeira de Frederico o grande”, disse Napoleão. Por outro lado, a relativa inferioridade de seus homens, em comparação com os seus veteranos de Austerlitz, exigiu um esforço individual muito maior

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do que em qualquer dia de batalha anterior. Napoleão esteve em toda parte, durante a batalha, incentivando e obrigando seus homens, e é uma lenda no Exército francês, que a persuasão da bota imperial foi usada somente em cima de alguns de seus recrutas relutantes. O fato e que, como resultado, Napoleão triunfou, mesmo ante uma grande surpresa tática oferecida pelo inimigo.

BAUTZEN

Logo que possível, o Exército francês pressionou em perseguição, sendo Ney en-viado através do rio Elba, para virar a posição dos aliados em Dresden.

Esta ameaça os forçou a evacuar a cidade e a se retirar do rio Elba, depois de explodirem a ponte de pedra existente sobre o rio. Napoleão entrou na cidade em seus calcanhares, mas a ponte quebrada causou um atraso de quatro dias, uma vez que ali não havia nenhum pontão disponível com o exército. Finalmente, no dia 18 de maio, a marcha foi retomada, mas os Aliados continuaram sua retirada de forma favorável a buscar refor-ços, até que eles chegaram na calha do rio Spree, onde assumiram e fortificaram uma formidável posição sobre Bautzen. Ali, no dia 20, eles foram atacados e, após uma batalha de uns dois dias, foram desalojados por Napoleão. Mas a fraqueza da cavalaria francesa condicionou a forma de ataque, que foi menos eficaz do que o habitual, e os resultados da vitória, no todo, foram extremamente escassos.

Os aliados romperam a ação em tempo hábil e se retiraram em tão boa ordem, que o imperador não conseguiu capturar um único troféu como prova de sua vitória. A fuga do inimigo o irritou grandemente, e a ausência de canhões e presos capturados lembrou-lhe, também e muito, sua experiência com os russos, em virtude do que ele redobrou suas demandas aos seus comandantes de Corpo para empreender um maior vigor nas perse-guições. Isto os levou a continuarem as perseguições sem as devidas precauções táticas, e Blucher se aproveitou deste descuido quando, em Haynau (26 de maio), com alguns 20 esquadrões de cavalaria, Landwehr, surpreendeu e quase destruiu a divisão de Maison. A perda material infligida sobre os franceses não foi muito grande, mas seu efeito, elevou a moral da cavalaria prussiana e aumentou a confiança em seu velho comandante, que já era enorme.

Os aliados ainda continuaram em sua retirada, mas os franceses foram capazes de trazê-los à ação. Tendo em conta a atitude duvidosa da Áustria, Napoleão ficou alarmado com alongamento gradual das suas linhas de comunicação e abriu as negociações. O ini-migo, tendo tudo a ganhar e nada a perder, concordou, finalmente, com a suspensão por seis semanas de lutas armadas. Este foi, talvez, o mais grave erro militar de toda a carreira de Napoleão, donde adveio a sua desculpa: “Eu preciso de uma cavalaria adequada”; este foi o testemunho mais forte do valor dessa arma.(Ver mapa de Alemanha, 16 de agosto de 1813)

A CAMPANHA DO OUTONO.

Logo que a suspensão das lutas foi acordada (até 15 de agosto), Napoleão iniciou o retraimento de suas tropas da perigosa posição que eles tinham cupado, em relação às passagens que demandavam às montanhas da Boêmia, pois ele entendia que não havia mais dúvidas de que a Áustria também deveria ser considerada uma inimiga. Finalmen-te, ele decidiu grupar seus Corpos no entorno de Golitz e Bautzen, onde eles poderiam

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tanto encontrar o inimigo avançando vindo de Breslau, como cair sobre seu flanco sobre as montanhas, dependendo, no entanto, da sua manutenção de Dresden e, para esta finalidade, ele enviou o I Corpo para Pirna e Konigstein, subindo o Elba, para cobrir as fortificações de Dresden, propriamente dita. Suas instruções a esse ponto, foram a de se manter um estudo da situação do inimigo, o mais próximo possível, para se ter uma com-pleta visualização do campo entrincheirado, e da construção, pelos engenheiros, de uma forte ponte na margem direita

Em seguida, ele voltou sua atenção para o plano para a próxima campanha. Ven-do, claramente, que a falta de uma eficiente cavalaria impedido todas as ideias de uma ofensiva resoluta em seu velho estilo, ele decidiu limitar-se a uma defesa da linha do Elba, com traços de duração de apenas alguns dias sobre qualquer alvo que o inimigo pudesse apresentar.

Reforços tinham sido chegando sem cessar e, no início de agosto, ele calculou que teria 300.000 homens disponíveis sobre Bautzen e 100.000 ao longo do Elba desde Hamburgo via Magdeburg até Torgau. Com esta última estimativa, ele se determinou a dar o primeiro golpe, com um avanço concêntrico sobre Berlim (onde ele calculou que ele chegaria no 4º ou 5º dia), devendo dali prosseguir para liberar as guarnições francesas em Ktistrin, Stettin e Danzig. O efeito moral, ele prometeu a si mesmo, seria prodigiosa, considerando que não havia nem espaço nem comida para esses 100.000 homens em outro lugar.

Visualizando o fim do armistício, ele analisou a situação geral dos aliados. O prínci-pe coroado da Suécia (Bernadotte), com seus suecos e várias tropas prussianas, 135.000 homens no total, estavam posicionados em e no entorno de Berlim e Stettin; e conhecendo bem o seu antigo marechal, Napoleão considerou Oudinot como um páreo para ele. Blu-cher com cerca de 95.000 russos e prussianos seguiu sobre Breslau e Schwarzenberg, com cerca de 180.000 austríacos e russos, na Boêmia. Em sua posição em Bautzen, Napoleão sentia-se em igualdade com as combinações do seu inimigo. (Ver mapa da Alemanha, 26 AGO 1813).

DRESDEN

O avanço em direção a Berlim começou pontualmente com a expiração do armis-tício, mas com o exército principal, ele esperou para ver mais claramente os planos dos seus adversários. Em continidade, tornando-se impaciente, ele avançou uma parte de seu exército em direção a Blucher, que retraiu para atraí-lo para uma armadilha. Então, che-gou-lhe a notícia de que Schwarzenberg estava pressionando para baixo do vale do Elba, e, deixando Macdonald para observar Blucher, ele correu para Bautzen a fim de posicionar suas tropas para cruzar as montanhas boêmias na direção geral de Konigstein, um golpe que deveria ter tido resultados decisivos. Mas as notícias vindas de Dresden foram alar-mantes e, no último momento, ele mudou de ideia e, mandando Vandamme sozinho para as montanhas, ele correu com todo o seu exército ao ponto ameaçado. Este mês de março seria gravado como um dos mais extraordinários da história, uma vez que o grosso das suas forças, sendo deslocadas em massa e através de todo país, em 72 horas, entrou em Dresden na manhã do dia 27, apenas algumas horas antes do ataque dos aliados come-çarem. Para os eventos que se seguiram ver a Batalha de Dresden.

Dresden foi a última grande vitória do primeiro Império francês. Ao meio-dia do dia 27 de agosto, os austríacos e os russos foram completamente derrotados e, em retirada,

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os franceses pressionaram atrás deles mas, enquanto isso, o próprio Napoleão novamen-te sucumbia ante a um dos seus ataques de aparente paralisia intelectual. Ele parecia ignorar a importância vital daquele momento, agachado, tremendo junto a uma fogueira do acampamento, até que, finalmente, regressou para Dresden, não deixando nenhuma ordem específica para a realização de uma perseguição.

A DERROTA FRANCESA

Os aliados, no entanto, continuaram sua retirada, mas, infelizmente, Vandamme, vendo-se com somente seu Corpo, e sem nenhum apoio, lançou-se para fora das mon-tanhas, entrando em marcha através de sua linha de retirada próxima a Kulm, sendo completamente subjugado em face da sua inferioridade numérica. Apesar deste infortúnio, Napoleão poderia reivindicar um brilhante sucesso para si próprio, mas quase no mesmo momento, chegou-lhe a noticia de que Oudinot, em Grossbeeren, perto de Berlim e Mac-donald em Katzbach, haviam se oposto a Blucher, tendo sido ambos severamente derro-tados. (Ver mapa de Alemanha 26 de agosto - 6 de setembro de 1813).

MOVIMENTOS DE NAPOLEÃO

Durante os próximos dois dias o Imperador examinou sua situação e ditou uma série de notas que tem sido, desde então, um verdadeiro quebra-cabeças para qualquer pensador estratégico. Nestas notas, parece que ele, de repente, teria colocado à deriva cada princípio que ele tinha tão brilhantemente demonstrado, e vamos encontrá-lo discu-tindo planejamentos com base em hipóteses, não tomando conhecimento da importân-cia dos pontos geográficos pertinentes ao campo de batalha do exército inimigo. Desses longos devaneios, ele foi acordado pela notícia que indicava que as consequências da derrota de Macdonald tinham sido muito mais graves para a moral daquele comando do que ele imaginava. Imediatamente, ele cavalgou para restabelecer a ordem, e a forma e a violência que ele empregou foram tão impróprias que o próprio Caulaincourt teve a maior dificuldade em esconder tal escândalo. Blücher, no entanto, tendo notícias de sua chegada, imediatamente recuou e o Imperador, em seguida, descobriu as passagens das montanhas da Boêmia, um fato que Schwarzenberg foi rápido em tirar proveito daquela oportunidade surgida. Tendo ficado ciente da aproximação do inimigo, Napoleão nova-mente se retirou para Bautzen. Então, ao ter noticia de que os austríacos tiveram que contra- marchar e se encontravam, novamente, rumo a Dresden, Napoleão apressou-se a seguir para lá, e concentrou tantos homens quanto pode convenientemente manipular e avançou além de Pirna e Konigstein, para encontra-los. Mas os austríacos não tinham intenção de atacar os franceses, pois naquele momento estavam trabalhando em outra tarefa e, assim, Napoleão, deixando seus homens morrerem de fome no exaurido distrito, retornou novamente para Dresden, onde, pelo resto do mês, permaneceu em um estado extraordinário de vacilação. No dia 4 de outubro ele novamente elaborou uma revisão da situação, em que ele, aparentemente, contemplou a situação das suas linhas de comuni-cações com a França e decidiu invernar em e ao redor de Dresden, embora, ao mesmo tempo, ele estivesse ciente da angústia existente entre seus homens em razão da falta de comida. (Ver mapa da Alemanha, 6 de setembro-2 outubro de 1813).

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CAMPANHA DE LEPZIG.

Neste ínterim, Blucher, Schwarzenberg e Bernadotte estavam trabalhando no en-torno dos seus flancos. Ney, que tinha se juntado a Oudinot depois de Grossbeeren, ti-nha sido derrotado em Dennewitz (6 de setembro), a vitória, vencida por somente tropas prussiana deu o maior incentivo para o inimigo. De repente, os planos de Napoleão foram novamente revisados e mudaram, completamente. Chamando St Cyr, quem ele já tinha avisado para permanecer em Dresden com seu comando, ele decidiu recuar para Erfurt e seguir para os quartos de inverno entre esse lugar e Magdeburg, salientando que Dresden seria inútil para ele como base e que, se ele tivesse que travar uma batalha, ele a realizaria muito melhor com St Cyr e seus homens com ele, do que em Dresden. (Ver mapa da Ale-manha 2 -9 de outubro de 1813). Ele, então, no dia 7 de outubro elaborou um plano final, em que uma vez mais reconheceu o velho comandante Blücher, e isso fez com que ele, imediatamente, começasse a pô-lo em execução, pois ele, agora, estava bastante ciente do perigo que ameaça a sua linha de retirada tanto por Blücher como por Schwarzenberg e o Exército do Norte. Somente poucas horas depois, parte das ordens relativas a St Cyr e Lobau foi cancelada e os dois, finalmente, foram deixados para trás em Dresden. De 10 até 13, Napoleão permaneceu em Duben, novamente demonstrando uma extraordinária indecisão, mas naquele dia, ele pensou ter visualizado a sua oportunidade. Blücher foi reportado estar perto de Wittenberg, enquanto Schwarzenberg movia-se, lentamente, ao sul de Leipzig. A situação do Exército do Norte, sob o comando de Bernadotte, era desco-nhecida para Napoleão; ele havia se colocado à esquerda de Blücher, em torno de Halle. O Imperador decidiu, então, lançar o grosso de sua força sobre Blücher e, tendo-o con-tornado, girou para o sul sobre Schwarzenberg, a fim de cortar suas comunicações com a Boêmia. Sua concentração foi efetuada com a sua habitual presteza e celeridade, mas enquanto os franceses se deslocavam sobre Wittenberg, Blücher estava marchando à sua direita, indiferente ao seu sistema de comunicações, uma vez que os prussianos estavam atrás dele. (Ver mapa de Alemanha, 9-13 de outubro de 1813).

Este movimento do dia 14 colocou Napoleão em contato com Bernadotte e, agora, uma única marcha para a frente por todos os três exércitos isolariam totalmente Napoleão da França. Ocorreu, no entanto, que os nervos fizeram Bernadotte falhar, ao entender a ameaça de Napoleão contra Wittenberg, em razão do que ele decidiu retirar-se para o norte, e nem todas as convicções de Blücher e de Gneisenau puderam demovê-lo de tal decisão. Assim, se o movimento francês, momentaneamente, havia terminado como um golpe de ar, ele foi, diretamente a causa de sua salvação final.

BATALHA DE LEIPZIG - A “BATALHA DAS NAÇÕES”

No dia 15, Napoleão concentrou suas forças a leste de Leipzog, com um único e fraco destacamento a oeste e, naquela noite, os aliados haviam preparado um ataque so-bre os franceses. Schwarzenberg tinha 180.000 homens disponíveis, de imediato, e mais 60.000 no dia seguinte; Blücher, por seu turno, tinha cerca de 60.000, mas Bernadotte não poderia chegar antes do dia 18. (Ver mapa da situação no dia 16)

Napoleão preparou-se para lançar o grosso de suas forças sobre Schwarzenberg e emassou suas tropas a SE da cidade, enquanto Scharzenberg marchava concentri-camente contra os franceses através do vale dos rios Elster e Pleisse, com a massa de suas tropas na margem direita do Pleisse e uma forte coluna, sob o comando de Giulay,

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trabalhando na margem esquerda, para se juntar a Blücher ao norte. A luta que se seguiu foi a mais obstinada, mas os austríacos falharam ao tomar conhecimento das posições francesas, e Giulay viu-se compelido a retrair para sua posição original. Do outro lado, Blücher carregou sobre a aldeia de Mockern, vindo a ficar cerca de 1 milha dos portões da cidade. Durante o dia 17, houve, apenas, uma indecisa luta de skirmishers. Enquanto Schwarzenberg mantinha-se à espera de seus reforços chegando pela estrada de Dres-den, Blücher e Bernadotte deveriam entrar à sua esquerda mas, por algum descuido ex-traordinário, ocorreu que Giulay foi trazido para mais perto do centro austríaco, abrindo assim, para os franceses, sua linha de retirada para Erfurt, e nenhuma informação deste movimento parece ter sido levada para Blücher. O Imperador, quando tomou conhecimen-to do movimento, enviou o IV Corpo para Lindenau para manter a estrada aberta.

No dia 18 a luta recomeçou (Ver mapa da situação no dia 18) e, por volta do meio--dia, Bernadotte surgiu e fechou a brecha a NE da cidade, entre Blücher e os austríacos. Às 14:00 hs, os saxões, que haviam permanecido fiéis a Napoleão há mais tempo do que seus outros aliados alemães, passaram para o lado do inimigo. Toda a esperança de salvar a batalha tinha agora se esvaído, mas os franceses cobriram sua retirada obstina-damente e, ao raiar do sol na manhã seguinte, metade do exército francês já estava mar-chando para fora do campo de batalha e ao longo da estrada para Erfurt que felizmente fora deixada pelos aliados.

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Mapa da situação no dia 16

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Mapa da situação no dia 18

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53. Retirada da França e Batalha de Hanau.

Blücher demorou para libertar as suas tropas da confusão em que a batalha tinha sido lançada, e a guarnição de Leipzig e as tropas deixadas na margem direita do Elster ainda resistiram, obstinadamente - daí nenhuma perseguição direta pode ser iniciada e os franceses, ainda com mais de 100.000 homens, marcharam rapidamente, logo ganhan-do distância suficiente para se reorganizarem. Blücher seguiu por estradas paralelas e inferiores sobre seu flanco norte, mas Schwarzenberg, sabendo que os bávaros também haviam abandonado o Imperador, enviou uma força, sob o comando de Wrede, para in-terceptar a retirada dos franceses. Blücher não conseguiu ultrapassar os franceses, mas estes últimos, perto de Hanau, encontraram seu caminho barrado por Wrede, com 50 mil homens e mais de 100 canhões em uma forte posição.

Para fazer face a esta emergência, Napoleão e seu exército responderam da forma mais brilhante. Como em Krasnoi em 1812, eles foram direto sobre o seu inimigo e, depois de uma das séries mais brilhantes de deslocamentos de artilharia da história, dirigidos pelo general Drouot, eles marcharam direto sobre seu inimigo, destruindo praticamente toda a sua força. Doravante os franceses seguiriam a sua marcha sem serem molestados, e chegaram a Mainz no dia 5 de novembro.

A CAMPANHA DEFENSIVA

Quando a última das tropas francesas, havia cruzado para a margem oeste do rio Reno, conselheiros divididos fizeram sua aparição no quartel-general dos aliados. Cada um estava cansado da guerra, e muitos sentiam que não seria sensato forçar Napoleão e a nação francesa aos seus extremos. (Ver mapa da Europa 1814). Daí surgiu um impasse prolongado, que as tropas utilizaram para a renovação do seu equipamento e assim por diante mas, no final, o jovem partido alemão, liderado por Blücher e os principais comba-tentes do exército, triunfaram e, em 1º de janeiro de 1814, o Exército de Silésia (50.000 homens) começou sua passagem sobre o Reno, em Kaub. Ele deveria ser apoiado por Schwarzenberg, com 200 mil homens, que deveriam avançar pela Basileia e Neu Breisach ao sul, enquanto Bernadotte, com o Exército do Norte, com cerca de 120.000 homens, de veria se deslocar em apoio ao flanco direito através dos Países Baixos e Laon; esta força ainda não estava pronta e, de fato, não alcançou aquele último lugar, até março.

Para fazer frente àquelas forças, o Imperador não poderia contar com mais do que 200.000 homens no todo, dos quais mais de 100.000 estavam sendo detidos por Welling-ton na fronteira espanhola, e mais 20.000 que deveriam vir dos Alpes. Portanto, menos de 80.000 permaneciam como disponíveis para o leste e o nordeste da fronteira francesa. Se, no entanto, o Exército francês encontrava-se fraco em números, ele agora estava nova-mente operando em um país amigo, onde seria possível de se encontrar comida em quase todos os lugares e praticamente indiferente quanto às linhas de comunicações.

No dia 25 de Janeiro, Blucher entrou em Nancy e, movendo-se rapidamente até o vale do rio Mosela, entrou em comunicação com a vanguarda austríaca próximo a La Rothiere, na tarde do dia 28. Ali, o seu quartel-general foi surpreendido, e ele próprio qua-se foi capturado por repentino avanço das tropas francesas, e ele depreendeu, quase ao mesmo tempo, que o Imperador em pessoa estava à mão. Napoleão, consequentemente, recuou alguns quilômetros na manhã seguinte para atingir uma posição forte, que cobria as saídas do desfiladeiro de Bar-sur-Aube. Lá ele foi acompanhado pela vanguarda austrí-

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aca e, juntos, eles decidiram aceitar batalha - na verdade eles não tinham alternativa, uma vez que as estradas à retagufda estavam tão sufocadas com o tráfego que uma retirada estava fora de questão. Ao meio-dia de 2 de fevereiro, Napoleão atacou. Mas o tempo estava terrível e o chão encontrava-se tão pesado, que sua artilharia favorita, o esteio de todo seu sistema de batalha, encontrava-se sem condições de manobrar. Além disso, uma nevasca tinha assolado o campo, em face do que as colunas da infantaria perderam sua direção, e muitos foram severamente manipulados pelos Cossacos. Ao anoitecer, a luta cessou e o Imperador retirou-se para Lesmont e dalí para Troyes, com Marmont sendo deixado atrás para observar o inimigo.

MONTMIRAIL

Devido ao estado das estradas, mas talvez, mais pela extraordinária letargia que sempre caracterizou o quartel-general de Schwarzenberg, nenhuma perseguição foi ten-tada. Mas no dia 4 de fevereiro, Blücher, irritado com tal inação, obteve a permissão de seu próprio soberano para transferir sua linha de operações para o vale do rio Marne. O Corpo de cossacos de Pahlen foi-lhe destacado, para cobrir a sua esquerda e manter a comunicação com os austríacos.

Acreditando estar seguro por trás desta cobertura, ele avançou desde Vitry, ao lon-go das estradas, seguindo para o vale do Marne, com suas colunas extensamente sepa-radas, como conveniente à uma adequada subsistência e abrigo, este último quase que essencial em razão do terrível clima prevalecente. O próprio Blücher, na noite do dia 7, ficou em Sezanne, no flanco exposto, a fim de ficar mais perto de suas fontes de Inteligên-cia, enquanto o restante do seu exército foi distribuído em quatro pequenos Corpos em, e nas proximidades de Epernay, Montmirail e Etoges. Neste ínterim, os reforços também estavam a caminho, para se juntarem a ele e, então, seguirem sobre Vitry.

No meio da noite, o seu quartel-general foi, novamente, surpreendido, quando ele teve conhecimento de que o próprio Napoleão, com seu corpo principal, estava em plena marcha, em condições de cair em cima de seus dispersos destacamentos. Ao mesmo tem-po, ele soube que os cossacos de Pahlen haviam se retirado, quarenta e oito horas antes, assim expondo seu flanco, completamente. Ele próprio, então, recuou para Etoges esfor-çando-se em reunir seus destacamentos dispersos, mas Napoleão foi muito mais rápido do que ele e, em três dias sucessivos, ele derrotou Sacken (em Montmirail, York e Champ Aubert) e Blucher e seu corpo principal (em Etoges), perseguindo este último em direção a Vertus. Estes desastres compeliram a retirada de todo o Exército da Silésia, em face do que Napoleão, deixando Mortier e Marmout para lidar com eles, apressou-se de volta para Troyes com seu corpo principal, para atacar o flanco do Exército de Schwarzenberg que, entretanto, tinha começado seu vagaroso avanço, chegando em Mormant no dia 17 de fevereiro, em Montereau no dia 18, e em Mery no dia 21, quando ele infligiu uma punição pesada sobre seus adversários, que recuaram, precipitadamente, para Bar-sur-Aube.

LAON

Neste meio tempo, Blücher tinha reunido suas forças dispersas e estava atacando Marmont e Mortier à frente dele. Napoleão, tão logo se desembaraçou de Schwarzenberg, contra-marchou seu corpo principal e, deslocando-se, outra vez, por Sezanne, caiu em cima da esquerda de Blütcher, repelindo-o de volta para Soissons. Este lugar tinha sido

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mantido por uma guarnição francesa, mas que tinha capitulado somente vinte e quatro horas antes, um fato naturalmente desconhecido para Napoleão.

O Exército da Silésia, portanto, conseguiu escapar e marchar para o norte, para juntar-se com Bernadotte em Laon. Este reforço levou as forças à disposição de Blücher chegarem a até mais de 100.000 homens.

No dia 7 de março, Napoleão caiu sobre a vanguarda daquela força em Craonne e a dirigiu de volta para Laon, onde uma batalha teve lugar no dia 9. Napoleão ali foi derrotado e com apenas 30.000 homens à sua retaguarda, ele foi obrigado a renunciar a todas as ideias de ainda mais uma ofensiva, retirando-se para descansar as suas tropas em Reims. Aqui ele permaneceu sem ser molestado, por alguns dias. Neste ínterim, Blücher foi aco-metido por uma doença, e na sua ausência, nada foi feito. No dia 14 de março, no entan-to, Schwarzenberg, tornando-se ciente de retirada de Napoleão para Reims, novamente começou seu avanço, e já tinha alcançado Arcis-sur-Aube-quando soube da notícia da aproximação de Napoleão que, novamente, o fez recuar para Brienne.

OS ALIADOS MARCHAM SOBRE PARIS

Assim, após seis semanas de combates, os aliados estavam mais avançados do que no início. Agora, no entanto, eles começaram a perceber a fraqueza de seu adversá-rio, e eles, talvez movidos pelo medo de que Wellington vindo de Toulouse pudesse alcan-çar Paris primeiro do que eles, determinaram-se a marchar sobre Paris (então uma cidade aberta) e deixar Napoleão na pior de suas situações quanto às suas linhas de comuni-cações. Na verdade, isso era, exatamente, o que Napoleão estava se preparando para fazer. Ele tinha decidido a deslocar-se para leste de St. Dizier, arrebanhar as guarnições que ele pudesse encontrar em seu caminho, e levantar todo o país contra os invasores. Na verdade, quando a execução deste plano teve início, suas instruções caíram nas mãos do inimigo e seus projetos foram expostos. Independentemente da ameaça, os aliados marcharam direto para a capital. Marmont e Mortier, quando eles puderam juntar as suas tropas, assumiram uma posição nas alturas de Montmartre para se opor a eles, mas sem esperança de uma resistência eficaz, abandonaram aquela posição em 31 de março, as-sim como Napoleão que, com os destroços da Guarda Imperial e mais um mero punhado de outros destacamentos, correram pela retaguarda dos austríacos para Fontainebleau, onde se juntaram.

Alexandre enviou um emissário para se encontrar com os franceses para apres-sar a rendição. Ele ofereceu termos generosos para eles e, embora dispostos a vingar a Moscou de mais de um ano antes, declarou-se voluntariosoa trazer a paz para a França, ao invés de sua destruição. Em 31 de março, Talleyrand deu a chave da cidade ao Czar.

Mais tarde naquele dia, os Exércitos da Sexta Coligação entraram na cidade de Paris com o Czar à frente do exército, seguido pelo Rei da Prússia e pelo Príncipe Schwar-zenberg. Em 2 de abril, o Senado aprovou o Acte de déchéance de l’Empereur, que decla-rou Napoleão deposto.

Napoleão já havia alcançado Fontainebleau, quando ele soube que Paris tinha se rendido. Indignado, ele queria marchar sobre a capital, no entanto, seus marechais dis-seram que não lutariam por ele naquela situação e, repetidamente, pediram-lhe para se render. Ele abdicou em favor de seu filho em 4 de abril. Os aliados rejeitaram esta deci-são, obrigando Napoleão a abdicar, incondicionalmente, em 6 de abril. Os termos de sua abdicação, o que incluiu seu exílio para a ilha de Elba, foram assentados no Tratado de

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Fontainebleau, em 11 de abril. Um relutante Napoleão o ratificou dois dias depois. A guerra da Sexta Coalizão tinha acabado.

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CAPÍTULO XIIA CAMPANHA DE WATERLOO

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BATALHA DE WATERLOO

Durante boa parte da década, Napoleão conquistara a melhor parte do continente europeu, mas a Sexta Coligação que se formara contra ele, finalmente, teve sucesso em 1813. A Sexta Coalizão foi capaz de organizar um exército com milhões de homens atra-vés dos campos da Europa e Napoleão não tinha como defender a França contra aquele enorme poder de combate.

O Duque de Wellington certa vez disse que Napoleão, sozinho, com cerca de 50.000 homens ficaria em inferioridade numérica em relação às tropas da aliança europeia, na razão de 2 ou 3 contra 1. Vale lembrar que, além disso, Napoleão havia perdido seus “ve-teranos” experientes nos campos da Rússia.

Em outubro de 1813, aconteceria a Batalha de Leipzig, que ficou conhecida como “a Batalha das Nações”. Depois da Batalha de Dresden, os generais comandantes dos exércitos da Coalizão decidiram implementar uma estratégia em realizar batalhas, tão somente quando Napoleão não estivesse presente. As forças austríacas, prussianas, rus-sas e suecas iniciaram seu avanço em uma extensa frente contra Napoleão. Depois de semanas de marchas, finalmente, Napoleão foi confrontado em Leipzig, por um exército duas vezes maior que o seu.

A Batalha de LeipzigA Batalha de Leipzig foi sangrenta, envolvendo cerca de 600.000 combatentes e

resultou em, aproximadamente, 100.000 baixas, mas o Exército de Napoleão conseguiu escapar do cerco e se retirou, com 70.000 homens em boas condições de combate, mas deixou para trás 40.000 perdas de combatentes. Finalmente, Napoleão tinha sofrido uma

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derrota decisiva em uma batalha campal, e sua retirada fez a França ceder, permanente-mente, o controle da Prússia.

A França era, agora, uma ilha sob fortes tempestades. Os exércitos da Inglaterra, Espanha e Portugal pressionaram através dos Pirineus, ao sul, e atacaram Bordeaux, enquanto russos, austríacos e prussianos fechavam vindos do norte e oeste. Napoleão arremeteu, conseguindo uma série de menores vitórias dentro da própria França, mas seu poder combatente era pequeno em face do crescente número de forças inimigas. O artifício da conscrição “secara” e não havia como conseguir mais tropas.

Em março de 1814, as forças aliadas tomaram Paris. Napoleão esperou poder usar os remanescentes de seu exército para atacar as forças da Coalizão em Paris, mas seus generais, amedrontados, se amotinaram. Poucos dias depois, sob forte pressão de seus marechais. Napoleão foi forçado a abdicar, sendo exilado na ilha de Elba, de onde conse-guiu se evadir em 6 de fevereiro de 1815 e, conseguindo reunir um exército de cerca de 1.000 homens marchou de volta a Paris.

O que aconteceu em seguida foi marcante, Um regimento de infantaria foi envido para interceptar Napoleão e seus homens, mas acabou bandeando para o lado de Napo-leão. Em seguida, outros Corpos do Exército francês também se amotinaram e passaram ao comando do seu ex-imperador. Ao ter a notícia de que Napoleão e o exército marcha-vam para Paris, o reinstituído monarca Luís XVII da família Bourbon fugiu de Paris, deixan-do o trono vago para Napoleão, uma vez mais.

Em poucos meses de intensos trabalhos, Napoleão conseguiu reorganizar um novo exército, agora com um pode combatente de cerca de 200.00 homens, dos quais 128.000eram oriundos do Exército do Norte, sob o comando de pessoal de Napoleão.

Em sua mente, Napoleão assumira uma missão: “a destruição do exército aliado britânico-prussiano que se encontrava reunido próximo a Bruxelas”.

Rumo a WaterlooOs aliados, por sua vez, logo reconheceram a ameaça e se mobilizaram. Deixando

as disputas de Viena para trás, eles estabeleceram a Sétima Coalizão, absolutamente de-terminados a destruir Napoleão e restaurar a monarquia francesa, de uma vez por todas.

Os britânicos começaram a organizar um exército na Holanda Austríaca (a atual Bélgica) sob o comando do experiente general Duque de Wellington, cujo exército era mui-to poderoso e que contava com contingentes da Holanda e de vários Estados germânicos. Um terço daquela força poderosa era composta de britânicos.

Na Bélgica, também estava o grande exército prussiano, sob o comando do ma-rechal von Blucher. Entre eles estava a inferiorizada “Armée du Nord”, mas que deveria cooperar com os aliados, uma vez que seria o imediato objetivo deles , por ser a ponta de lança de Napoleão.

Politicamente, britânicos e prussianos tinham, cada um, seus interesses próprios em Viena, mas eles, agora, deveriam, efetivamente, opor-se juntos a Napoleão, compran-do tempo para que o restante da Coalizão se deslocasse contra ele.

Estrategicamente, o panorama para Napoleão era sombrio. Quando os exércitos da Prússia e da Inglaterra o confrontassem na Bélgica, ele também estaria sendo ameaçado pelo enorme Exército russo, que já marchava na direção oeste, e por um Exército austrí-aco e, também, por forças Hispano-portuguesas na fronteira sul. Os prussianos haviam também recrutado um exército defensivo, que, com pequenas forças, deveria hostilizar as fronteiras francesas, além de vários outros batalhões britânicos de elite, já em rota vindos

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da América. Para fechar o quadro, uma revolta realista no Vendee necessitava do desdo-bramento de cerca de 10.000 homens para restaurar a ordem.

Em termos gerais, Napoleão só tinha duas escolhas. Ele poderia optar por uma pro-longada guerra defensiva, que deveria, como em 1814, culminar com a captura de Paris, ou poderia atacar. Para um homem com o perfil de Napoleão, era uma decisão fácil de ser tomada. Ao invés de tentar sobreviver a uma prolongada guerra de atrição, que poderia terminar como em Leipzig, ele decidiu atacar em direção a Bélgica, na esperança de der-rotar os exércitos oponentes.

Napoleão deslocou-se em direção ao norte, mesmo sendo objeto de críticas. Cer-tamente, havia um grande risco, mas havia uma chance de sucesso. Se pudesse derrotar os britânicos e os prussianos, e capturar Bruxelas, ele poderia reestabelecer “La Gloire” - a reputação moral e militar da França. Então, ele poderia persuadir os demais inimigos ao estabelecimento da paz, possibilitando que ele e seus descendentes governassem a França.

O que viria acontecer, chamada Campanha de Waterloo, duraria apenas 4 dias e, durante esse período, Napoleão esteve muito perto de derrotar os britânicos e os prus-sianos. Napoleão esperava desconstruir a Sétima Coalizão estratégica e politicamente – depois de neutralizar os exércitos ingleses e prussianos, ele objetivava, no campo opera-cional, bater os demais, um por um. Sua “Armée du Nord”, afinal, era maior que o exército dos prussianos e, após coloca-los fora de cena, virar-se-ia sobre o exército de Wellington.

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A BATALHA DE WATERLOO SEGUNDO O DUQUE DE WELLINGTON 2

No dia 15 de junho de 1815, Bonaparte - tendo reunido entre os dias 10 e 14 do mesmo mês os 1º, 2º, 3º, 4º e 6º Corpos do Exército franceses mais a Guarda Imperial e quase que toda a sua cavalaria às margens do Sambre e entre aquele rio e o Meuse - de-cidiu avançar e atacou os postos prussianos em Thuin e Lobbes, sobre o rio Sambre, ao amanhecer do dia.

Eu só soube de tais eventos ao anoitecer do dia 15 e, imediatamente, ordenei às tropas que se preparassem para marchar, o que teve início tão logo tive informações que provavam que o deslocamento do inimigo sobre Charleroi tinha sido, realmente, um ata-que.

O inimigo atacou os postos prussianos vindo do Sambre, e o general Ziethen, que comandava o Corpo que estava em Charleroi retirou-se para Fleurus; e o marechal Prince Blücher concentrou o exército prussiano em Sombrreffe, mantendo as vilas em frente de sua posição de St. Amand e Ligny.

O inimigo continuou sua marcha ao longo da estrada que de Charleroi demandava a Bruxelas; e naquela mesma noite do dia 15, atacou a brigada do Exército holandês sob o comando do Príncipe de Weimar, posicionada em Frasne, forçando-a a retrair pela mesma estrada em direção a Les Quatre Bras.

O príncipe de Orange, imediatamente, reforçou sua brigada com uma outra, da mesma divisão, sob o comando do general Perponcher e, na manhã seguinte, recuperou parte do território que havia sido perdido, a fim de ter o comando da linha de comunicação de Nivelles e Bruxelas com a posição de Blücher.

Neste ínterim, eu determinei que todo o exército marchasse sobre Quatre Bras; e a 5ª Divisão, sob o comando do tenente-general Sir Thomas Picton lá chegou por volta das 14:30 hs, seguido pelo corpo de tropas sob o comando do Duque de Brunswick e, mais tarde, pelo contingente de Nassau.

Ao mesmo tempo, o inimigo iniciou um ataque sobre o príncipe Blücher com toda a sua força, exceto os 1º e 2º Corpos e um corpo de cavalaria, sob o comando do general Kellermann, atacando nosso posto em Les Quatre Bras.

O Exército prussiano manteve sua posição com suas usuais galhardia e perseve-rança contra uma grande disparidade de números, quando o 4º Corpo de seu exército, sob o comando do general Bülow não se juntou, em razão da longa distância a percorrer, e fui atacado – a cavalaria em particular.

Nós mantivemos nossa posição também, e derrotamos e repelimos todas as tentati-vas do inimigo de apossar-se daquele território. O inimigo atacou-nos repetidamente com um enorme corpo de infantaria e cavalaria, apoiado por uma numerosa e potente artilharia. Ele fez várias cargas com a cavalaria sobre nossa infantaria, mas todas foram repelidas de maneira constante.

Neste evento, sua Alteza, o príncipe de Orange, o Duque de Brunswick, o tenen-te-general Sir Thomas Picton e os majores-generais Sir James Kempt e Sir Denis Pack, que haviam participado do engajamento, desde o início da contenda, foram altamente distinguidos, como também o tenente-general Charles Baron Alten, o major-general Sir C. Halkett, o tenente-general Cooke e os majores-generais Matland e Bying, em razão de 2. Extraído de “The campaign of 1815 – Strategic Overview of the Camanign”, por Carl von Clausewitz. Carta escrita pelo Duque de Wellington, em 19/06/1815 ao rei da Inglaterr a.

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seus sucessos. As tropas da 5ª Divisão e aquelas dos Corpos de Brunswick, permanece-ram longo tempo e severamente engajadas com o inimigo e se comportaram com galhar-dia, em razão do que eu, particularmente, menciono os 28º, 42º, 79º e 92º Regimentos, e o batalhão de Hanoover.

Nossas perdas foram grandes, e destaco a do Duque de Brunswick que caiu lutan-do à frente de suas tropas.

Ainda que o marechal Blücher tivesse mantido sua posição em Sombrelle, suas tropas, no entanto, encontravam-se enfraquecidas pela severidade dos enfrentamentos realizados e, como seu 4º Corpo ainda não chegara, determinou o retraimento e concen-trou suas tropas em Wavre, para onde eles marcharam durante a noite, depois que a ação terminou.

Esse movimento das tropas de Blücher teve uma necessária correspondência de minha parte, razão ela qual ordenei o retraimento de Quatre Bras para Genappe e daí para Waterloo, na manhã seguinte, dia 17, Às 10:00 hs.

O inimigo não se esforçou em perseguir o marechal Blücher. Ao contrário, uma pa-trulha que enviei para Sombreffe durante a manhã, encontrou tudo quieto com as vedetes do inimigo recuando, à medida que nossa patrulha avançava, O inimigo também não

tentou molestar nossa marcha de retraimento, embora na metade do dia, tenha surgido uma tropa de cavalaria que nos acompanhava, pela direita da nossa flancoguarda de cavalaria sob o comando do conde de Uxbridge.

Isto deu ao Lorde Uxbridge a oportunidade de carregar sobre eles com a 1ª Life Guards após sua “débouché” da aldeia de Genappe, em razão do que o duque declarou estar bem satisfeito com aquele seu regimento.

A posição que eu assumi à frente de Waterloo cruzava as estradas vindas de Char-leroi e Nivelles, e tinha sua direita apoiada em uma ravina perto de Merke Braine, que foi ocupada, e a esquerda apoiada em uma elevação que dominava o vilarejo de Ter la Hay-ne, que foi igualmente ocupado. À frente da centro-direita e perto da estrada de Nivelles, nós ocupamos a casa e os jardins de Hougoumont, que cobriam aquele flanco e, à frente da centro-esquerda, nós ocupamos a fazenda de La Haye Sainte. Pela nossa esquerda, nos comunicávamos com o marechal príncipe Blücher em Wavre, através de Ohain, e este marechal havia me prometido que, caso eu fosse atacado, ele iria nos apoiar com um ou mais corpos, como fosse necessário.

O inimigo, repetidamente, carregou sobre nossa infantaria com sua cavalaria, mas estes ataques fracassaram uniformemente; e eles possibilitaram oportunidades para que nossa cavalaria carregasse, ocasião em que a brigada de cavalaria do Lorde E. Somerset, composta dos Life Guards, Royal Horse Guards e 1º Dragoon Guards, fossem altamente distinguidos, quando o major-general Sir William Ponsoby fez muitos prisioneiros e captu-rou uma “águia francesa”.

Estes ataques foram repetidos até as 19:00 hs, quando o inimigo realizou um es-forço desesperado com sua infantaria e cavalaria, apoiadas por tiros de artilharia, para forçar nossa centro-esquerda, próximo da fazenda La Haye Sainte, que depois de severas contestações, foi derrotada; e tendo observado que aquelas tropas se retiravam em face daquele ataque, em grande confusão, e que a marcha do Corpo do general Bülow, por Frischermont sobre Planchenois e La Belle Alliance tinha começado a ter efeito, eu tam-bém pude perceber os fogos dos canhões e, quando o marechal Prince Blücher, em pes-soa, realizou a junção com um Corpo de seu exército à esquerda de nossa linha próximo a Ohain, eu determinei atacar o inimigo e, imediatamente, avançar com toda a linha de infantaria, apoiada pela cavalaria e pela artilharia. O ataque teve sucesso em cada ponto:

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o inimigo foi pressionado em suas posições nas alturas e fugiu na maior confusão, deixan-do para trás, tanto quanto eu possa julgar, 150 peças de canhões com suas munições, que passaram às nossas mãos.

Eu continuei a persegui-los até muito tempo depois de escurecer e, então, parei a perseguição, devido a fadiga de nossas tropas, que tinham se engajado com o oponente durante duas horas e também porque eu me encontrava na mesma estrada que o mare-chal Blücher, que me garantiu da sua intenção de perseguir o inimigo durante toda a noite. Blücher depois me enviou uma carta dizendo que tinha tomado 60 peças de canhões pertencentes à Guarda Imperial e várias carruagens, bagagens, etc., pertencentes a Bo-naparte, em Genappe

Eu me propus a me deslocar, naquela manhã, para cima de Nivelles, para não inter-romper as minhas operações.

Há de ser observado que uma ação desesperada não poderia ser realizada, e que vantagens não poderiam ser adquiridas, sem grandes perdas; e desculpe-me acrescentar que o nosso desespero tem sido imenso. O tenente-general Sir Thomas Picton sofreu a perda de um oficial que frequentemente distinguia-se em seu serviço, e ele tombou morto, gloriosamente, levando sua divisão a uma carga com baionetas, num dos mais graves ata-ques feitos pelo inimigo sobre nossa posição, mas que foi repelido. O Conde de Uxbridge, após sucesso através deste dia árduo, recebeu um ferimento quase que nos últimos tiros que, estou com medo, nos privará por algum tempo dos seus serviços.

Sua Alteza, o Príncipe de Orange foi por mim distinguido por sua galhardia e condu-ta, até que recebeu um ferido de bala de mosquete através de seu ombro, que o obrigou a se manter fora do campo de batalha.

Tudo isso deu-me a maior satisfação para assegurar que o nosso exército em nehu-ma ocasião havia se conduzido tão bem quanto agora. A divisão de Guardas, sob o co-mando do tenente-general Byng, deu um grande exemplo que foi seguido por todos e não há nenhum oficial nem tropas que não tivesse se comportado bem. No entanto, devo, mencionar os seguintes oficiais: tenente-general Sir H. Clinton, major-general Adam, te-nente-general Charles Baron Alten (gravemente ferido), major-general Sir Colin Halkett (gravemente ferido), coronel Ompteda, coronel Mitchell (comandava uma brigada da 4ª Divisão), majores-generais Sir James Kempt e Sir D. Pack, major-general Lambert, ma-jor-general Lord E. Somerset, major-general Sir W. Ponsonby, major-general Sir C. Grant, major-general Sir H. Vivian, major-general Sir Vandeleur e major-general Duque de Dor-nberg.

Devo também, e particularmente, agradecer ao general Sir Hill por sua assistência e conduta como já ocorrido em ocasiões mais antigas.

Os departamentos de artilharia e de engenharia, para minha satisfação, houve-ram-se muito bem, pelo que sou grato aos coronéis Sir George Wood e Smyth; e tenho, ainda, todos os motivos para estar satisfeito com a conduta do ajudante-geral, o major-ge-neral Barnes, que foi ferido, e o intendente-geral, o coronel De Lancey, que foi morto por um tiro de canhão no meio da ação. Este oficial foi uma perda grave para o serviço de Sua Majestade e, particularmente, para mim neste momento

.Da mesma forma fiquei muito em dívida com o auxílio do senhor tenente-coronel FitzRoy Somerset, que foi gravemente ferido, e dos oficiais que compunham meu Estado--Maior pessoal, que sofreram severamente nesta ação. O tenente-coronel Sir Alexander Gordon, que morreu de seus ferimentos, era um oficial de carreira promissora e foi uma grande perda para o serviço de Sua Majestade.

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O general Kruse, do serviço de Nassau conduziu ele mesmo, para minha satisfa-ção, as suas operações, como também o fizeram o general Tripp, comandando a brigada da cavalaria pesada e o General Vanhope, que comandava uma brigada de infantaria, a serviço do rei dos Países Baixos.

Agradeço, também, aos generais Pozzo di Borgo, Müffling, Barão Vincent e Alava, que estavam no campo durante a ação e prestaram-me toda a assistência sobre aquilo que estava em seu poder. O Barão Vincent está ferido, mas espero não o ser severamen-te, e o general Pozzo di Borgo sofreu uma contusão.

Eu não faria justiça com meus próprios sentimentos, se não mencionasse o mare-chal Blücher e o seu exército prussiano, cuja ação produziu o resultado positivo deste dia árduo, a quem agradeço a assistência cordial e oportuna que me foi prestada. A operação do general Bülow sobre o flanco do inimigo, por sua vez, foi um fator decisivo; e mesmo se eu não tivesse me encontrado em situação adequada para o ataque que produziu o resultado final, Bülow teria forçado o inimigo a retirar-se de seus ataques e teria impedido dele se aproveitar dos referidos ataques, caso, infelizmente, ele tivesse obtido sucesso.

Quando escrevia o acima, recebi a notícia que o major-general Sir William Ponsonby está morto e, ao anunciar esta informação para Vossa Excelência, eu tenho que adicionar a expressão da minha dor pelo destino de um oficial que já tinha prestado serviços muito brilhantes e muito importantes, e era um exemplo à sua profissão.

Envio junto com este despacho três “águias francesas” tomadas pelas nossas tro-pas nesta ação, que o major Percy terá a honra de deitar aos pés de sua Alteza Real. Peço licença para recomendá-lo para a proteção de sua senhoria.

Tenho a honra de ser, etc., WELLINGTON

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A INVASÃO DA BÉLGICA

Voltando um pouco no tempo, Vejamos o momento em que Napoleão decidiu iinva-dir a Bélgica com o objeto de atacar para se interpor entre as forças prussianas e as forças combinadas anglo/holandesas , empregando um ataque que já havia sido planejado dede junho de 1814, e que seria desencadeado, tão logo o Exército francês do Norte estivesse pronto.

Esta foi a situação que levou Napoleão a tomar tal decisão.A campanha de 1814 que, pela primeira vez, removeu Napoleão do poder, envolveu

ameaças simultâneas à França tanto pelo norte, como pelo sul. Somente os exércitos prussianos e anglo/holandeses já se encontravam em campanha na Bélgica, em con-dições de se opor a Napoleão. Eles deveriam se juntar com os exércitos dos Estados germânicos, da Áustria, Nápoles, Espanha e Suécia, com um enorme Exército russo cons-tituindo a reserva. Uma vez em posição, ao final do verão de 1815, eles deveriam avançar em todas as frentes para subjugar Napoleão e a França.

Ciente da ameaça que o cercava por todas as fronteiras secas, Napoleão viu-se obrigado a selecionar uma das duas possíveis linhas de ação. Ele poderia ficar na defensi-va, usando as menores linhas internas de comunicação para derrotar a planejada invasão em massa, ou atacar os exércitos prussianos e anglo-Holandeses no campo, logo que possível, e derrotá-los. Esta seria, talvez, a opção militar mais arriscada mas, politicamen-te, ela poderia forçar a Inglaterra a se retirar da coalizão. e obrigar os demais a aceitar o

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governo napoleônico na França. Permitiria também que a França capturasse o Reino dos Países Baixos, que aceitariam o domínio francês novamente, fornecendo mais tropas, se necessário.

Napoleão escolheu atacar os prussianos e os anglo-holandeses, planejando de-sencadear o ataque no início de junho, uma vez que o Exército Francês do Norte estava pronto.

O Exército francês consistia de duas alas, cada uma com dois Corpos. A ala da esquerda era comandada pelo marechal Ney e a da direita pelo marechal Grouchy, que também comandava os quatro Corpos de Cavalaria em Reserva. A Guarda e outros Cor-pos ficariam subordinados, diretamente, a Napoleão.

Isso compreendia 175 batalhões de infantaria (89.000 homens), 180 esquadrões de cavalaria (22.000 homens) e 50 baterias de artilharia (366 canhões). O Exército francês era de uma grande qualidade que ia desde os veteranos regulares até a Velha Guarda, composta de veteranos das Guerras Napoleônicas.

Em oposição a eles estava o Exército prussiano, sob o comando do Feldmarschall von Blücher. Ele era composto de 4 Corpos, que compreendiam 136 batalhões de infan-taria (105.000 homens), 137 esquadrões de cavalaria (12.000 homens) e 41 baterias de artilharia (296 canhões).

A qualidade do Exército prussiano ia desde os veteranos regulares até os milicianos (Landwehr), sem experiência em combate. Ele não possuía nem Guardas, nem cavalaria pesada, que haviam sido deixados em Berlim.

Já o Exército combinado anglo-germânico-holandês, ficava sob o comando do Du-

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que de Wellington. Consistia de 4 Corpos que haviam sido bem sucedidos na Guerra da Península. Compreendia 133 batalhões de infantaria (79.000 hmens), 109 esquadrões de cavalaria (14.000 homens) e 34 baterias de artilharia (196 cahões).

A qualidade do Exército combinado anglo-germânico-holandês ia desde os vetera-nos britânicos regulares até os milicianos holandeses, sem qualquer experiência em com-bate. Somente um terço era composto de britânicos e a cavalaria era pobre, se comparada com a dos franceses.

O ponto escolhido por Napoleão para o ataque foi a “dobradiça” que unia os dois exércitos. Seu plano de ataque apoiava-se nas seguintes considerações:

- A invasão da Bélgica dar-se-ia em junho;- Ele dispunha de 200.000 soldados, e mais outros 150.000 da Guarda Nacional em

reserva; e- A invasão propriamente dita ficaria a cargo do Exército francês do norte, com

123.000 homens. O Exército aliado cobria uma frente de cerca de 100 milhas dentro do território belga. Napolão pretendia, mais uma vez usar a Estratégia da Posição Central.

Esta estratégia de ataque já tinha sido usada, antes, com sucesso, por Napoleão, Os esquemas de como isso foi implementado serão mostrados abaixo.

O primeiro ataque visava a abertura de uma brecha entre os dois exércitos aliados, com o avanço francês feito em duas alas, apoiadas por uma reserva.

O sistema de Corpos do Exército francês permitia que um Corpo, individualmente, combatesse um inimigo muito maior, através de uma ação de fixação, liberando os outros Corpos para conduzirem ataques de flanco sobre outro inimigo aferrado aot erreno pela

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segunda ala dos franceses. A superioridade local de força, combinada com ataques de flancos, normalmente, seria o suficiente para derrotar o primeiro inimigo que surgisse..

Parte da ala direita francesa deveria perseguir o inimigo quebrado, que deveria re-cuar em direção a sua linha de comunicação, buscando, portanto, segurança. O restante dos franceses deveria, rapidamente, se deslocar e aliviar o Corpo que estava em missão de fixação, enfrentando o outro inimigo.

A força francesa recém composta iria, novamente, alcançar superioridade local e flanquear o inimigo, assim o derrotando..

Seria a fase da persegição e do reengajamento, com descrito na figura da pagina, a seguir.

A força francesa recém composta iria, novamente, alcançar superioridade local e flanquear o inimigo, assim o derrotando.(Ver figuras:perseguição e reengajamento e se-gundo ataque)

Em 6 de junho, os franceses haviam concentrado cerca de 120.000 homens entre os rios Meuse e Sambre, ao sul de Beaumnt. A ala esquerda, composta dos I Corpo (ma-rechal d’Erlon) e II Corpo (marechal Reille) deslocou-se em direção a Solre-sur-Sambre. A ala direita, por sua vez, era composta pelos II Corpo (marechal Vandamme) e IV Corpo (marechal Gérard) que se concentraram perto de Mézieres e Metz. A reserva, composta do VI Corpo e da Guarda Imperial, juntos com os I, II, II e IV Corpos de Cavalaria ficaram em Beaumont. Eles formariam as 3 colunas do avanço inicial.

Napoleão deixou Paris em 12 de junho, para juntar-se às tropas em 14 de junho. A marcha deveria ter início no dia seguinte. Os franceses emassam suas tropas na fronteira, entre os exércitos anglo-holandês e prussiano.

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A BATALHA DE WATERLOO DOIS EXÉRCITOS CONTRA UM

SUMÁRIO1. Introdução:de Elba para Paris.2. A Campanha dos Cem Dias3. Batalha de Quatre Bras4. . Batalha de Ligny 5.. A Batalha de Waterloo

1. INTRODUÇÃO: DE ELBA PARA PARIS.

Em 3 de maio teve lugar a entrada solene do rei Louis XVIII em Paris. Ele sofria de gota e elefantíase (espessamento dos tecidos nas pernas e órgãos genitais). Um jovem oficial Napoleão mostrou-se muito surpreso, “que estranho! Eu pensei que o rei tinha morrido na revolução!”

Os Bourbons estavam de volta! “E na verdade meros 11 meses no cargo tinham sido o suficiente para o novo regime

voltar a fazer-se detestado. Entre seus inúmeros erros o mais notável foi o de alienar o exército. ... Claro, o exército teve que ser reduzido para valaores exequíveis em tempos de paz. O governo de Louis XVIII tinha herdado uma dívida nacional de 759.175,000 francos e nos últimos anos da guerra, embora compreendendo apenas 2,58% da população, o exército tinha sido o responsável pelo consumo de mais da metade do orçamento nacio-nal. “ (Austin - “O regresso de Napoleão” p 50). O Exército francês foi reduzido de 400.000 para 200.000 homens. Mas ao mesmo tempo foi criado um efetivo de tropas da Guarda da “Maison du Roi”. O exército estava sendo remodelado conforme Frederico o Grande. Não é de se admirar que algumas tropas “deram gritos e insultos aos emblemas reais”.

Napoleon retorna.Napoleão estava na ilha de Elba, mas muitos políticos estavam preocupados com

a inépcia dos Bourbon e as crescentes tensões na França. Os prussianos e os espanhóis presentes no Congresso de Viena viam as coisas como “um barril de pólvora prestes a explodir a qualquer momento”. Vozes incitavam à deportação de Napoleão para ilhas mais remotas, como St.Lucia, St.Helena ou Açores. Um jornal britânico dizia que aquele clima vil “ em breve, seria purgado de Bonaparte”. O ministro Talleyrand escreveu ao rei Louis XVIII dizendo que “as pessoas estavam mostrando sua intenção de enviar Bonaparte para longe de Elba. ... Em todos os lugares as pessoas estavam demonstrando sua afeição a este projeto.”

A ideia de realizar um eventual regresso tinha estado na mente de Napoleão, desde quando ele tinha deixado Fountainbleau... Em fevereiro, ele enviara seu agente do serviço secreto da Córsega, o confiável Francisco Cipriani, para Viena, para relatar, assim que a dissolução do Congresso fosse iminente.

No domingo, depois de ser anunciada a partida de Napoleão: Vendo o navio mer-cante “Saint Esprit” navegando para o porto, o Imperador percebeu que ele estava com falta de navios transportes. Ele ordenou que Jerzmanowski a tomasse o “20 Poles”, um cargueiro turco que estava aportado na doca. Peyrusse recebeu a ordem de pagar por

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isso. `As 19:00 hs, Napoleão deixou seu palácio. Seu saveiro passou perto por cada um das seis outras embarcações, onde as tropas estavam empilhadas. Às 20:00 um dos ca-nhões do “Inconstant” disparou o sinal para partir.

A flotilha de Napoleão iludius ambas as fragatas francesas [monarquista] e os na-vios de guerra britânicos, e navegando entre Elba e a Córsega para evitar qualquer even-tualidade.

Napoleão e seu pequeno exército (o batalhão e o esquadrão de Elba, e um pequeno batalhão de corsos, chamado “Elba Flanquers”) retornou à França. Napoleão desembar-cou em Antibes, às 17:00 de 1º de março.

Napoleão escreveu: “... por marchar rapidamente, eu deixei as pessoas ignorantes do tamanho das minhas forças. Não conseguiram saber se eu tinha marchado para Tou-lon, porque eles teriam formado uma ideia correta de quão débeis eles eram, e ninguém gosta de ficar preso em tais aventuras.” Napoleão instruíu o general Cambronne: “você vai na frente - sempre na frente. Mas lembre-se que o proíbo que uma gota de sangue francês seja derramado para recuperar a minha coroa.”

As tropas partiram. Os poloneses, sobrecarregados com botas, lanças e sabres, carregava suas selas em suas cabeças e penduraram suas coberturas ao redor de seus pescoços. Elas pareciam itinerantes. A caminho de Paris, Napoleão encontrou vários sol-dados enviados pelos realistas para detê-lo. Um deles foi o 5º Regimento de Infantaria de Linha. Randon escreveu: “o Imperador apareceu na estrada e parou ao lado de seus sol-dados. Alguns 100 Granadeiros da Guarda que o estavam seguindo, colocaram-se para fora da estrada à sua esquerda, em consonância com o procedimento dos lanceiros da Guarda polonesa.

Foi o momento mais emotivo do encontro. ... A visão do Imperador... abalou a fideli-dade dos homens do 5º Regimento de Linha”. Rouget de l’Isle disse: “Vestindo o pequeno sobretudo cinzento que tantas vezes tinha tido um efeito mágico sobre os homens... ele avançou, ao alcance de uma pistola. Houve um silêncio repentino, antes que Napoleão dissesse: ‘aqui estou eu. Soldados do 5º de Linha, reconhecem-me?... Se houver um sol-dado entre vocês que quer matar seu imperador ele pode fazê-lo’.” (De acordo com Louis Marchand “matem seu imperador, se você puderem.”)

Em Grenoble, Napoleão, suas tropas de Elba e o 5º de Linha encontraram os 7º e 11º de Linha, o 4º de hussardos e engenheiros. Estas tropas souberam que Napoleão tinha chegado. Jube escreveu: “disseram-me que o 7º de Linha... acabara de gritar “Vive l’Empereur!”ce que em sua cabeça, o seu coronel comandante, depois de desenhar um plano a lápis dos portões da cidade, quebrou um tambor e retirou dele a águia, que foi, imediatamente, colocada na cabeça de Napoleão. “Cockades” tricolores foram, então, dis-tribuídos para os homens...”

Marechal NeyO marechal Ney estava em sua propriedade em Coudreaux, cada vez mais conven-

cido de que tinha chegado a hora dele se aposentar. Ele declarou que “o imperador não poderá voltar! Ele abdicou. E se ele desembarcar de volta, é dever de todos os franceses lutar contra ele.”

Em 6 de março, um dos ajudantes de ordens do Ministro da Guerra chegou, levando àquele famoso marechal a ordem para ir imediatamente para sua área de comando. Ney foi para para Paris e, então, partiu para Besançon “com a firme determinação de lutar con-tra o imperador...” Ney declarou que “é uma coisa boa que o homem da ilha de Elba tente

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fazer essa coisa louca. Vai ser o último ato de sua carreira. Eu vou prender Bonaparte. ... Aquele lunático nunca irá me perdoar por tê-lo feito abdicar.” Finalmente, disse que traria Napoleão de volta a Paris preso em uma jaula de ferro.

Em Besançon, o marechal Ney encontrou-se com o general Lecourbe. “Lecourbe, eu o conheço. Você ama o seu país. Bonaparte abdicou. ... Você não deve mais nada ele. Se ele o exilou de suas terras foi porque ele queria que todos os serviços fossem feitos para ele, pessoalmente.” Lecourbe respondeu dizendo que ele não guardava amarguras contra Napoleão. Sobre toda a área onde as tropas de Ney e de Lecourbe estavam espa-lhadas, o campesinato se declarava a favor de Napoleão. E os próprios 7.000 soldados de Ney não eram de confiança. O marechal reuniu-se com os oficiais do regimento e os admoestou dizendo: “Louis XVIII reina sobre França. ... Eu estou contando com vocês. Vocês me verão em seus corações. Mas se alguém dentre vocês, por motivos pessoais, ache repugnante lutar nessa guerra, os deixo francamente a vontade, dizendo que . ... Não precisamos de nenhum choro de criança, macho ou fêmea”.

Os oficiais começaram a murmurar, mostrando que as palavras de Ney não esta-vam completamente a seus gostos. Um dos primeiros atos de Ney, teria sido o de aprisio-nar um oficial que gritara “Vive l’Empereur!”. Ney tornou-se animado em palavras e gestos e gritou “marcharei sobre sua cabeça. E se for necessário, serei eu quem irá dar o primeiro tiro! ... E eu vou correr minha espada através do primeiro homem que tentar me impedir!”.

Vários dias mais tarde, Ney foi informado de que “um batalhão do 76º Regimento de Linha, que escoltava a artilharia de Ney, havia entrado em Chalon aos gritos de “ Vive l’Empereur!”. A cidade, instantaneamente, se revoltou. As tropas diziam que elas queriam apresentar aquela artilharia ao “Petit caporal”. E houveram mais más notícias: o regimento de hussardos tinham adotado o cocar tricolor, e havia forçado os portões de Auxonne e estava marchando sobre Dijon. Ney estava em um estado de grande perplexidade, indo e vindo, em seu gabinete.

No entanto, alguns dias se passaram e Ney começou a mudar sua atitude. Ele reuniu suas tropas para ler uma proclamação. Mais de um observador ansioso estava se lembrando dos dias da revolução, quando tropas tinham massacrado seus oficiais. Mas a proclamação de Ney era surpreendente: “a dinastia legítima adotada pela nação francesa vai reassumindo o trono. Apenas o imperador Napoleão, nosso soberano, tem o direito de reinar sobre o nosso belo país. Soldados! ... Agora eu vou levar vocês em direção a esta falange imortal que Napoleão está liderando para Paris...” Os soldados não podiam acre-ditar naquilo que estavam vendo e ouvindo. Os gritos de “Vive l’Empereur!” mexeram com os seus corações, oprimidos já há algum tempo. Larreguy escreveu: “Foram vistos oficiais e homens esfregando suas mãos para misturar o sangue com o licor e, então, jurarem der-ramar até a última gota de seu sangue por causa de Napoleão”. Chlapowski escreveu: “Eu estava no banho... quando a notícia chegou que o imperador tinha deixado Elba e havia desembarcado em Frejus. Conhecendo o exército francês como eu conhecia, não havia dúvidas que ele faria quase tudo por ele”. (Chlapowski, - p 15)2)

Napoleão entra em ParisEm 16 de março, o rei Louis XVIII jurou “morrer no trono”, mas três dias depois ele

fugiu para a Bélgica, seguido de sua “Maison du Roi”. Napoleão entrou em Paris. Muitas testemunhas notaram o monte de peso que ele carregava e sua peculiar tez bronzeada. Em 20 de março, vários regimentos de cavalaria ligeira chegaram no “White Horse Cour-tyard” (páteo do cavalo branco) - o mesmo páteo onde seu mestre, no ano passado, tinha

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feito uma despedida comovente para a Velha Guarda. Napoleão, então, os inspecionou, demoradamente. Napoleão tinha ficado também impressionado com o profundo e eviden-te sentimento republicano do povo francês.

Paul Britten-Austin escreveu: “passando pelas ruas [de Paris], onde ‘cada pássaro parecia, para os trabalhadores, uma águia’, Lavalette ouviu que ‘o rei e toda a sua corte tinham deixado Paris durante a noite...’ Às 11:00 hs, Napoleão ainda não tinha chegado de Fountainbleau. O imperador deu ordem para que o batalhão de Elba tivesse descanso por um dia, o que significava que Grognards não iria compartilhar a entrada de Napoleão na capital. Na estrada entre Fountaibleau e Paris, o Imperador enfrentou outro regimento em St Denis, quando um coronel de segunda linha se recusou a juntar-se às tropas de Napoleão, ocasião em que o próprio oficial arrancou suas dragonas e as arremessou na sua cara.”

Era noite quando Napoleão chegou a Paris. O imperador, vendo que sua carrua-gem não conseguiria mais andar, ele saiu no meio da multidão imensa (pelo menos umas 20.000 pessoas) que se acotovelava em torno dele. As pessoas quase que o sufocaram. Thiebault escreveu: “de repente Napoleão reapareceu. A explosão foi súbita e irresistível. Eu pensei que eu estava mesmo presente na ressurreição de Cristo.” Ele foi levado até seus aposentos sem que seus pés tocassem um degrau da escada. O oficial Lavalette tinha seus olhos “banhados em lágrimas.” A multidão tentou aproximar-se dele, mas uma onda de oficiais apressou-se em ficar à sua frente, quase sendo esmagada. As portas, com dificuldade, foram fechadas, e a multidão se dispersou.

“O retorno de Napoleão de Elba, quase que dividiu a França diagonalmente em duas partes e assustou uma admirada, mas também apavorada, Europa. Mais uma vez os franceses viram-se confrontados com a implacável hostilidade dos soberanos ‘legíti-mos’ de toda a Europa e com uma aristocracia determinada a acabar com o detestável Bonaparte, de uma vez por todas, e com as idéias revolucionárias e o militarismo francês.” (Austin - “O regresso de Napoleão” p 15)

Em Viena, a palavra de ordem era: Ele voltou!.

Em 1815 a França já não era aquele todo-poderoso império de 1805-1812. Depois da chegada triunfal de Napoleão em Paris, os aliados comprometeram-se a

fornecer mais de 850.000 homens entre eles.De acordo com David Chandler, os meios disponíveis da França eram da ordem de

250.000 homens.

2. A CAMPANHA DOS CEM DIAS.

Uma vez que o gabinete britânico havia se recusado a declarar guerra à França, posto que havia se colocado em guerra contra Napoleão, Wellington foi impedido de enviar sua cavalaria através da fronteira. A cavalaria belga/neerlandesa de Daniel tinha captura-do várias patrulhas francesas, mas receberam ordens de Wellington para escoltá-las para o outro lado da fronteira. Esta situação continuou até 13 de junho. Frustrado, o Príncipe de Orange escreveu para Wellington: “Eu vou mandar de volta os prisioneiros franceses esta manhã, com uma carta ao general Conde d’Erlon conforme seus desejos.” Wellington tinha uma extensa rede de espiões na França e tinha a vantagem de ter dinheiro para pa-gá-los. Ele recebia informações diárias dos espiões e agentes. Um deles, Grant, deu uma informação confidencial de simpatizantes monarquistas fornecidos pelo Conde de Artois.

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“Napoleão ainda tinha tempo para decidir sobre o seu método - ofensivo ou defen-sivo - na seleção do terreno para uma guerra nacional. Ele, pessoalmente, teria preferido uma guerra nacional, mas a câmara francesa de representantes, os liberais, os ideólogos, os ‘constitucionalistas’ e La Fayette tinha começado a ter dúvidas: corroído pela política, a soberania teria que impor o silêncio sobre o líder da guerra. Ocupada por inimigos dentro e fora, a França, teria, primeiro, que derrotar aquele último, a fim de conquistar o primeiro.

Apesar da sua doença renal, sua atividade e resistência foram prodigiosas durante os 85 dias do seu último reinado e durante as 96 horas da campanha. ... mas depois de abril de 1814 [sua primeira abdicação] sua energia, às vezes, pareceu faltar: ele levava mais tempo para tomar uma decisão. Ele meditava e hesitava, como se estivessee um pouco cansado ou inseguro... Napoleão já não tinha a mesma fé em sua estrela, e ele tentava esconder suas incertezas atrás de declarações autoritárias, pelo desprezo aos seus adversários, uma espécie de arrogância, e uma confusão entre o desejo e o dever.” (Lachouque - “Waterloo” pp 57-58);

Napoleão decidiu concentrar seu exército em torno de Beaumont, cruzar o rio Sam-bre, nas proximidades de Charleroi e, neste ponto, pegar os prussianos de surpresa e derrotá-los. No dia 14 chovia, e os bivaques ficaram inundados. Poucas fogueiras foram cuidadosamente escondidas da visão inimiga. Parte da infantaria e os engenheiros ha-viam acampado na floresta encoberta pela neblina.

Napoleão decidiu concentrar seu exército em torno de Beaumont, cruzar o rio Sam-bre, nas proximidades de Charleroi e, neste ponto, pegar os prussianos de surpresa e derrotá-los. No dia 14 chovia, e os bivaques ficaram inundados. Poucas fogueiras foram cuidadosamente escondidas da visão inimiga. Parte da infantaria e os engenheiros ha-

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viam acampado na floresta encoberta pela neblina. Os prussianos e os exércitos britânico/países baixos ficaram imóveis ao longo dos

150 km da fronteira - o primeiro olhando para o rio Reno e o último para o porto marítmo de Ostend. Seus QGs estavam a 65 km de distância.

Napoleão tinha decidido invadir a Bélgica e separar os dois exércitos aliados. “O fator psicológico favorável era que Wellington e Blucher eram apenas medíocres estrate-gistas. Wellington era hábil na defesa, mas não era muito bom em manobras: elas eram lentas nos prosseguimentos, mas eram prudentes, práticas, e egoístas; Blucher, era um ardente hussardo, que só sabia raciocinar com um Avante!” nos lábios, mas era um firme crente em sempre realizar o ataque com força máxima... “(-Lachouque, p. 59)

A cavalaria de Grouchy estava pronta para reconhecer a estrada para o exército seguir aara Charleroi. Os postos da cavalaria prussiana estavam em alerta. Os britânicos tinham ficado sabendo que as tropas francesas estavam se reunindo entre Avesnes e Phi-lippeville, mas eles estavam relutantes em acreditar em seus próprios relatórios.

“Nós somos demasiado fortes para sermos atacado aqui”, proclamou Wellington. “Bonaparte não vai nos atacar” previu Blucher. Wellington e Blucher tinham reservado diá-rios cheios de atividades sociais. Wellington estava planejando assistir a partida de cricket e o baile de gala da Duquesa de Richmond.

O Exército francês marchou para o rio Sambre, os estágios da rota eram longos, e o terreno era difícil e arborizado. O calor era avassalador. Os quatro Corpos de Exército, a cavalaria e a Guarda, tinham apenas uma ponte à sua disposição e três equipamentos de ponte com os engenheiros. Um desertor francês, no entanto, informou aos aliados que o ataque estava planejado para o dia seguinte.

Em 15 de junho, o Exército francês - exceto o III Corpo sob o comando de Vandam-me - começou cedo suas atividades. Mas o III corpo ainda estava dormindo quando o VI corpo, que deveria tê-lo acompanhado, apressou-se em seus bivaques. Vandamme não

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tinha recebido ordens de marchar. Foi alegado que o mensageiro que levaria a ordem escrita tinha quebrado a perna. No passado,o marechal Berthier teria emitido ordens em duplicata ou triplicata, por diferentes mensageiros, mas infelizmente, Berthier estava mor-to, e o novo Chefe-de-Gabinete o marechal Soult não tinha sido feito para o trabalho de Estado-Maior. O III corpo de Vandamme estava 3 horas atrasado. A guarda o amaldiçoou.

Napoleão não estava ciente deste problema e cruzou a fronteira em Thy-le-Chate-au.

Os franceses se apossam da ponte de Charleroi.Charleroi devia seu nome ao rei Charles II de Espanha. Seus habitantes viveram

naquela zona de guerra durante vários séculos, sofrendo em razão dos combates e dos cercos. Lachouque escreveu: “naquele momento, eles prontamente aclamaram Napoleão, mas eles temiam os soldados franceses, que tinham uma reputação de saqueadores e cuja falta de disciplina era bem conhecida. Eles preferiam os ingleses, que eram governa-dos com punho de ferro e eram bem pagos. No entanto, tudo seria relativo: eles estavam preparados para acolher os franceses, porque eles tinham afugentado os prussianos - ho-mens brutais, vorazes e que odiavam qualquer um que falasse francês “.

A vanguarda francesa descobriu que as estradas estavam cortadas por trincheiras e barradas por abatizes (árvores caídas) para inutilizá-las. Na noite anterior, engenheiros e soldados de infantaria prussianos estiveram muito ocupados. A cavalaria ligeira de Do-mon seguia à frente, realizando os reconhecimentos, quando estabeleceu contato com os prussianos. Os franceses carregaram e reduziram o grupo de infantaria inimiga, vestida com o uniforme branco saxão e com os shakos ao estilo francês em suas cabeças. Para surpresa de Domon nenhuma cavalaria tinha sido encontrada.

O sol varreu a névoa, informando que o dia seria quente. Charleroi estava fortifica-da. A ponte, com 8 m de largura, estava protegida por uma paliçada e por barricadas, e era defendida na frente e na retaguarda. Atrás dela, uma rua subia para a parte alta da ci-dade, que havia sido construída em forma de um anfiteatro sobre uma colina. As encostas eram desordenadamente ocupadas por casas e jardins. Dois batalhões do 6º Regimento de Infantaria prussiano ocupavam a cidade e o general Ziethen tinha ali estabelecido seu quartel-general, naquela manhã. O comandante prussiano foi advertido do ataque francês por seus postos avançados.

Ao meio-dia, a infantaria ligeira francesa derrotou o batalhão prussiano que defendia a ponte. Os sapadores da Guarda e os marines da Guarda clarearam a ponte e jogaram as barricadas no rio. Napoleão chegou e, imediatamente, lançou os hussardos de Pajol. Os prussianos os detiveram com tiros. Os sapadores da Guarda e os fuzileiros prosseguiram, sendo seguidos pela infantaria da Jovem Guarda. O inimigo estava em completa retirada, quando a cavalaria francesa deslocou-se atrás deles. A jovem guarda, os sapadores da Guarda e os marines ocuparam as casas nos subúrbios de Charlerois para organizar a defesa, no caso de os prussianos atacarem.

O Imperador montou seu QG em uma mansão, onde o almoço tinha sido prepara-do para o general prussiano Hans Ernst Karl Graf von Ziethen II. Os lanceiros vermelhos desmontaram para dar água a seus cavalos, enquanto a Guarda a cavalo de “Chasseurs” escoltava Napoleão. Napoleão estava cansado, sentou-se em uma cadeira e assistiu o passo de marcha alegre da Jovem Guarda.

Várias divisões de infantaria e alguma artilharia chegaram e estavam cruzando a ponte e a fronteira. Os dragões de Exelmans também atravessaram o rio Sambre. A ca-

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valaria ligeira de Pajol estava um pouco atrasada devido à perda, por afundamento, de um grande número de seus cavalos. Os homens do 1º de Hussardos estavam exaustos. Napoleão, então, ordenou que várias tropas atravessassem a fronteira não em Charleroi, onde havia um pesado congestionamento, mas em Le Chatelet. As estradas estavam cheias de soldados, de cavalos, de canhões, de “caissons” e de vagões.

O general Bourmont deserta para o lado dos aliados.O comandante da 14ª Divisão de Infantaria do IV Corpo, general Bourmont, deser-

tou com seu Estado-Maior, desonrando, desse modo o seu nome. Seguiu-se uma grande perturbação entre os soldados e os oficiais e foi preciso algum tempo para que a ordem fosse restaurada. O general Gerard finalmente conseguiu tranquilizar as tropas, que cus-piram no nome do traidor, entre juras maldições, e só queriam saber de avançar contra o inimigo.

Blucher, vendo que Bourmont se recusava a recebê-lo, disse: “um cão é sempre um cão.”

Napoleão logo soube acerca de Bourmont. Jardin Ainé (o velho) escreveu: “durante a noite, vários oficiais do Estado-Maior continuaram indo e vindo para dar contas a Napo-leão dos movimentos feitos pelos diferentes Corpos de Exército. De suas investigações informaram-lhe que o general Bourmont tinha se juntado ao inimigo. Napoleão considerou necessário fazer planos frescos, pois tinha quase que certeza que aquele general, em sua traição, iria fornecer ao inimigo uma situação exata do exército francês”.

A batalha de GillyO Corpo de Ziethen estava em retirada, em direção a Fleurus (perto de Ligny). Ele

estava recuando o mais lentamente possível e havia protegido o exército que estava se concentrando em Sombreffe. Constante-Rebeque tinha mantido em alerta suas divisões neozerlandesas. Os britânicos estavam quietos; Wellington havia lido os despachos, mas pensava que o ataque francês em Charleroi tinha sido, apenas, uma finta. Os camponeses informaram aos aliados que Napoleão estava com a sua Guarda em Charleroi. O mare-chal Ney havia perseguido os prussianos e os obrigara a evacuar Gosselies, Frasnes e Heppignies.

O marechall Grouchy levou a cavalaria ligeira de Pajol e os dragões de Exelmans e chegou a Gilly onde estava a brigada prussiana sob o comando de Pirch-II (do Corpo do Ziethen). A aldeia consistia de uma longa fila de casas. Pirch-II havia posicionado 4 bata-lhões dentro e ao redor da aldeia.

Um batalhão, o F/6º Regimento de Infantaria mantinha uma pequena mata na frente da aldeia. O II/28 ficou do outro lado da estrada empedrada na abadia de Soleilmont. A re-serva, o II/2º Westphalian Landwehr posicionou-se atrás de Gilly. O I/2º Westphalian Lan-dwehr e o regimento de cavalaria westfaliano encontravam-se em marcha para Fleurus. O 1º de Dragões do Oeste prussiano posicionou-se perto de Chatelet. Uma bateria ficou em campo aberto perto de Gilly, em um pequeno bosque. Skirmishers foram colocados atrás de cercas para proteger a bateria. A estrada em direção a Gilly foi bloqueada por abatizes. Os prussianos permaneceram nestas posições até as 18:00 hs.

O marechall Grouchy levou a cavalaria ligeira de Pajol e os dragões de Exelmans e chegou a Gilly onde estava a brigada prussiana sob o comando de Pirch-II (do Corpo do Ziethen). A aldeia consistia de uma longa fila de casas. Pirch-II havia posicionado 4 bata-lhões dentro e ao redor da aldeia.

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Um batalhão, o F/6º Regimento de Infantaria mantinha uma pequena mata na frente da aldeia. O II/28 ficou do outro lado da estrada empedrada na abadia de Soleilmont. A re-serva, o II/2º Westphalian Landwehr posicionou-se atrás de Gilly. O I/2º Westphalian Lan-dwehr e o regimento de cavalaria westfaliano encontravam-se em marcha para Fleurus. O 1º de Dragões do Oeste prussiano posicionou-se perto de Chatelet. Uma bateria ficou em campo aberto perto de Gilly, em um pequeno bosque. Skirmishers foram colocados atrás de cercas para proteger a bateria. A estrada em direção a Gilly foi bloqueada por abati-zes. Os prussianos permaneceram nestas posições até as 18:00 hs. enfrentou de frente, enquanto os outros continuavam o movimento deles. Neste momento crítico, a força da cavalaria inimiga carregou”.

Os dragões da Guarda vingaram a morte de seu amado Letort. O F/28º de Infantaria perdeu 13 oficiais e 614 homens naquele dia! Este batalhão foi, então, reorganizado em um novo ‘batalhão combinado’ com os sobreviventes do III/2º Westphalian Landwehr, que tinha sofrido pesadamente com a anterior retirada de Thuin.

Não era tarefa da retaguarda ser aniquilada, mas sim de manter o terreno, o mais lentamente possível. Os prussianos tinham detido o inimigo por várias horas, até que Na-poleão teve que lidar com eles e, então, rapidamente, voltaram ao combate. Mas é sempre difícil tentar se retirar diante de inimigos mais numerosos. A cavalaria de Pajol perseguiu os prussianos, até o mais longe possível de Lambusart. O 1º de Dragões do Oeste prus-siano contra-carregou e deteve os franceses por um curto tempo.

Napoleão ordenou a Grouchy para pegar cavalaria de Pajol e de Exalmans e mar-char rumo a Fleurus. Ziethen enviou três regimentos de cavalaria de von Roeder e uma bateria a cavalo em apoio à duramente pressionada brigada de Pirch-II. Eles carregaram várias vezes e detiveram as principais unidades da cavalaria francesa. Perto de Gosselies, o 1º Regimento de Hussardos franceses encontraram os 6º Uhlans prussianos e o 24º de Infantaria prussiana. Os uhlans atacaram e levou os hussardos à desordem, apenas o tempo para serem atacados de novo, desta vez por lanceiros franceses da Divisão de Pire. Heinrich Niemann da 6ª Companhia de Uhlans escreveu: “por ordem do General Ziethen engajamos os franceses, mas não era nada mais do que uma finta; eles recuaram diante de nós”. A Brigada de Pirch-II foi capaz de romper o contato e atingir Ligny antes da meia-noite.

Os Nassauros (homens oriundos de Nassau)Napoleão despachou o marechal Ney com o II Corpo de Exército de Reille a Divi-

são da Cavalaria Ligeira da Guarda de Lefebvre-Desnouettes. Às 18:30hs, os Lanceiros Vermelho foram recebidos por tiros de mosquete, mas após algumas manobras rápidas, o inimigo recuou. As tropas hostis eram dos batalhões Saxe-Weimar do Príncipe Bernard. Os Nassauros tinham sido alarmados pelo êxodo dos camponeses e pelo fogo de artilha-ria vindo da direção de Fleurus.

Ney escreveu a Napoleão: “as tropas que encontramos em Frasnes não tinham estado lutando em Gossieles... Amanhã, ao amanhecer, vou enviar uma equipe de reco-nhecimento para Quatre-Bras, que ocuparão, se possível, aquela posição, porque acredito que as tropas de Nassau foram ...”

O Príncipe Bernard, por sua vez, escreveu ao general Perponcher: “Aproximada-mente às 18:30hs, os franceses atacaram os postos avançados em Frasnes com infan-taria e artilharia, o batalhão de Nassau e a bateria de lá retiraram-se para uma posição a meio caminho de Quatre-Bras.” Era uma noite quente.

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Napoleão voltou para Charleroi e, muito cansado, adormeceu. No páteo, o II Bata-lhão do 1º de Granadeiros estava de plantão. Soult e sua equipe, no entanto, passaram a noite enviando mensagem para as várias tropas. O Imperador pensou que Blucher, que tinha sido afetado pela súbita aparição dos franceses perto de suas forças dispersas, ti-vesse batido em retirada. Wellington não seria capaz de resistir a um ataque francês sem ajuda e deveria recuar. Em teoria, este cálculo parecia simples e dependeria da da veloci-dade de marcha das tropas. Em Charleroi, no entanto houve um enorme engavetamento de veículos perto da ponte, que os guardas de Radet não foram capazes de superar.

CONSIDERAÇÕES ESTRATÉGICAS REFERENTES À INVASÃO DA BÉLGICA

O Governo dos Cem DiasDurante o Governo dos Cem Dias, tanto as nações da Coalizão como a França de

Napoleão I se mobilizaram para a guerra. Após a re-assunção do trono, Napoleão des-cobriu que Luis XVIII tinha deixado para ele poucos recursos, particularmente, em meios militares. Havia 56.000 soldados, dos quais apenas 46.000 estavam prontos para realizar uma campanha. No final de maio, o total das forças disponíveis para Napoleão já tinha alcançado 198.000 homens com mais 66.000 em “depot” em treinamento, mas ainda não prontos para se desdobrarem. Até o final de maio, Napoleão já tinha formado L’Armée du Nord (o “Exército do Norte”), que, liderada por ele mesmo, iria participar da invasão da

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Bélgica e da posterior Campanha de Waterloo . Para a defesa da França, Napoleão desdobrou suas forças restantes dentro da França, com a intenção de retardar seus inimigos estrangeiros, enquanto ele suprimia suas ques-tões internas. Em junho tais forças estavam organizadas da seguinte forma:

=> V Corps, - L’Armée du Rhin - comandada por Rapp , acantonada perto de Es-trasburgo ;

=> VII Corps - L’Armée des Alpes - comandada por Suchet , acantonada em Lyon;

=>I Corpo de Observação - L’Armée du Jura - comandada por Lecourbe , acanto-nada em Belfort;

=> II Corpo de Observação - L ‘ Armée du Var - comandada por Brune , com base em Toulon;

=>III Corpo de Observação - O Exército dos Pirinéus Orientais - comandado por Decaen , com base em Toulouse;

=>IV Corpo de Observação - O Exército dos Pirinéus ocidentais - comandado por Clauzel , com base em Bordeaux;

=> Exército do Oeste (Armée de l’Ouest), (também conhecido como o Exército da Vendéia e Exército do Loire) - comandado por Lamarque , que havia sido formado para reprimir a insurreição monarquista na Vendéia, região da França, que se manteve fiel ao Rei Luís XVIII durante os Cem Dias.

Opondo-se as forças da coalizão: O Arquiduque Charles reuniu os estados alemães-austríacos e aliados, enquanto

o Príncipe de Schwarzenberg formou outro exército austríaco. O Rei Fernando VII de Espanha convocou oficiais britânicos para liderar suas tropas contra a França. O Czar Alexandre I da Rússia reuniu um exército de 250 mil soldados e os enviou marchando em direção ao Reno. A Prússia reuniu dois exércitos: um sob o comando de Blücher que ficou ao lado do Exército britânico de Wellington e seus aliados; o outro era o Corpo alemão do Norte sob o comando do general Kleist.

Napoleão avaliou como uma ameaça imediata: => A força anglo-aliada, comandada por Wellington, acantonada a sudoeste de

Bruxelas, com seu QG em Bruxelas. => .O Exército prussiano, comandado por Blücher, acantonado a sudeste de Bru-

xelas, com QG aberto em Namur. Perto das fronteiras da França, mas avaliadas por Napoleão como uma menor ame-

aça: => O Corpo alemão (North German Federal Army), que fazia parte do Exército de

Blücher mas estava agindo de forma independente, ao sul do Exército principal prussiano. Ele foi convocado por Blücher para se juntar ao exército principal desde que as intenções de Napoleão tornaram-se conhecidas.

=> O Exército austríaco do Alto Reno, comandado pelo Marechal de Campo Karl Philipp, Príncipe de Schwarzenberg .

=> O Exército suíço, comandado por Niklaus Franz von Bachmann . => O Exército austríaco da Itália superior - Austro-sardo Exército - comandado por

Johann Maria Philipp Frimont . > O Exército austríaco de Nápoles, comandado por Frederico Bianchi, Duque de

Casalanza . Outras forças da Coalizão que ou convergiram sobre a França, ou se encontravam

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em processo de mobilização incluiam: => Um exército russo, comandado por Michael Andreas Barclay de Tolly , mar-

chando em direção a França;=> Um exército russo em reserva para apoiar Tolly, se necessário; => Um exército prussiano em reserva estacionados em casa, a fim de defender

suas fronteiras. => Um Exército anglo-siciliano do general Sir Hudson Lowe , que deveria ser de-

sembarcado pela Marinha Real, na costa do sul da França; => Dois exércitos espanhóis, que estavam sendo montados com o qual se planeja

invadir através dos Pireneus; => Um Corpo da Holanda, sob o comando do Príncipe Frederick da Holanda (não

esteve presente na Batalha de Waterloo, mas mesmo sendo um Corpo do Exército de Wellington não participou em ações militares menores durante a invasão da França pela Coalizão);

=> Um contingente dinamarquês conhecido como o “Royal Danish Auxiliar Corps” comandado pelo general Príncipe Frederik de Hesse e um contingente Hanseático (das cidades livres de Bremen, Lubeck e Hamburgo) depois comandado pelo coronel britânico Sir Neil Campbell, que estavam a caminho para se juntar Wellington, mas que, no entanto, entrou para o exército em julho depois de o conflito ter falhado; e

=> Um contingente Português que, devido à velocidade dos acontecimentos nunca chegou a ser organizado para o combate.

Algum tempo depois que os aliados começaram a se mobilizar, ficou acordado que a planejada invasão da França deveria começar em 1º de Julho de 1815, muito mais tarde do que tanto Blücher como Wellington teriam gostado, uma vez que seus exércitos esta-vam prontos desde junho, à frente dos austríacos e dos russos, estes ainda posicionados a alguma distância. A vantagem desta data era que ela permitiria que todos os exércitos invasores da Coalizão estivessem prontos a um mesmo tempo. Assim, poderiam desdo-brar suas forças combinadas, numericamente superiores às de Napoleão. No entanto, esta data garantiria a Napoleão mais tempo para fortalecer suas forças e defesas, o que tornaria mais difícil derrotá-lo, onerando a guerra em dinheiro, tempo e vidas.

Napoleão teria, então de decidir se queria lutar uma campanha defensiva ou ofensi-va. A defesa implicaria em se repetir a campanha de 1814 na França, mas com um número muito maior de tropas à sua disposição. As principais cidades da França, Paris e Lyon, se-riam fortificadas e dois grandes exércitos franceses, o maior ante a Paris e o menor ante a Lyon, iriam protegê-las; Os “tirailleurs” franceses seriam incentivados, dando aos exércitos da Coalizão seu próprio experimento da guerra de guerrilha.

Napoleão preferiu atacar, o que implicou em um ataque preventivo contra seus ini-migos, antes que eles estivessem totalmente organizados e com capacidade de apoio mútuo. Napoleão acreditava que ele seria, então, capaz de levar os governos da Sétima Coalizão para a mesa de negociações para a paz, garantindo a Napoleão a permanência no poder. Caso a paz fosse rejeitada pelos aliados, apesar de todo o sucesso da ação mi-litar preventiva, ele poderia ter a opção militar da ofensiva, continuando a guerra, até que derrotasse o restante dos Exércitos da Sétima Coalizão.

A decisão de Napoleão de atacar na Bélgica foi apoiada por várias considerações. . Primeiro, ele tinha depreendido que os exércitos britânico e prussiano estavam muito dispersos e poderiam ser derrotado por partes. Além disso, as tropas britânicas na Bélgica eram, em grande parte, tropas de segunda linha; a maior parte dos veteranos da Guerra

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Peninsular tinha sido enviada aos Estados Unidos para combater a Guerra de 1812. E, politicamente, uma vitória francesa poderia desencadear uma revolução amigável na fran-cófona Bruxelas.

Vejamos, então, a visão sobre este panorama estatégico explicitada por Theodore Didge em sua obra Mapoleon - Vol IV:

O último avanço estrategico de Napoleão: Março a junho de 1815:

Determinado a reinstalar o Império, Napoleão deixou Elba em 1º de março de 1815, com 1.000 homens, e desembarcou na França, onde foi recebido com aclamações e, for-talecido por uma série de guarnições, ele chegou em Paris, no dia 20. Amedrontado, Luis XVIII fugiu para a Bélgica, deixando o trono da França vago para Napoleão. Nesta opor-tunidade, ele tentou uma aproximação com os aliados, desejoso por uma paz, mas eles o consideraram um “fora da lei” e mobilizaram seus exércitos, que se encontravam em suas bases em seus países de origem. Napoleão, então, organizou forças para enfrentá-los. Como os aliados não poderiam estar prontos para invadir a França, antes do dia 15 de junho, Napoleão determinou que, naquele mesmo dia 15 de junho, fossem atacados os dois exércitos aliados mais próximos, que eram os que estavam sob o comando de Wellin-gton e Blücher, estacionados na Bélgica. Para que nenhum dos dois exércitos inimigos se aproximasse, ele reuniu, atrás do rio Sambre, um exército com 125.000 homens, deixando forças consideráveis ao longo do Reno e no interior da França.

Wellington se encontrava em frente a Bruxelas, com 90.000 homens e Blücher estava em Namur, com 120.000 homens. Napoleão pretendia interpor-se àqueles dois exércitos e combater cada um deles, separadamente, preferencialmente os prussianos, em primeiro lugar. A manobra foi maravilhosamente bem planejada. Wellington estava esperando por um ataque à sua direita, e Blücher estava mais pronto no terreno. Em 15 de junho, Napoleão fez a Divisão líder de Blücher retrair em Charleroi e cruzou o Sambre em três locais distintos. Os primeiros objetivos a conquistar para Napoleão seriam Quatre Bras e Sobreffe, de maneira a manter os aliados separados, mas devido a certos retardos, esta ação não pode ser realizada em 15 de junho, embora ele tivesse se antecipado aos aliados. Blücher concentrou seus meios próximo a Sombreffe e Wellington encontrava-se com suas tropas mais espalhadas. O marechal Ney, no comando da ala esquerda france-sa, realizou uma lenta reunião de tropas e não pode conquistar Quatre Bras. Mas mesmo assim, o 15 de junho foi um dia de sucessos para os franceses.

Era seguinte a organização das tropas francesas:1. O Exército do Norte, sob o comando de Napoleão tiha: - I Corpo (d’Erlon) em Valenciennes 21.000 homens - II Corpo (Reille) em Avesnes 25.000 homens - III Corpo (Vandamme) em Mezières 18.000 homens - VI Corpo (Lobau) em Laon 11.000 homens - Cavalarie em reserva (Grouchy) entre Sambre e Aisne 13.000 homens2. O Exército de Moselle, IV Corpo (Gérerd) em Metz 15.000 homens3. O Exército do Reno, V Corpo (Rapp) na Alsacia 20.000 homens4. O Exército dos Alpes, VII Corpo (Suchet) em Chambéry 10.000 homens5. A Guarda Imperial, em Paris 21.000 homens.OBS: Havia, ainda 4 Corpos menores: o I Corpo de Observação no Jura, encarre-

gado de guardar desde Belfort até Gênova. O II Corpo de Observação, no Var. O III Corpo

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de Observação nos Pirineus. O IV Corpo estava em Bordeux. Eles ficavam sob o comando de Lecourbe, Bruue, Decae e Clausel, respectivamente e tinham de 3.000 a 5.000 homens cada, com suas costas protegidas pela Guarda Nacional.

As operações envolvendo o Exército do Norte são as de interesse imediato, uma vez que que nada digno de realce ocorreu com os demais Corpos.

FORÇAS EM OPOSIÇÃO E ORDEM DE BATALHA

Exército francês (Napoleão Bonaparte)

1º Corpo (d’ Erlon) em Lille 22.0002º Corpo (Reille) em Valenciennes 24.0003º Corpo (Vandamme) em Mezieres 17.0004º Corpo (Gérard) em Thionville 16.0006º Corpo (Lobau) em Laon 14.000Guarda Imperial (Mortier) em Paris 21.000Corpos de Cavalaria em reserva (4 Corpos) 15.000TOTAL 129.000

Exército anglo-países baixos (Duque de Wellington)

1º Corpo (Príncipe d’ Orange) - Ala esquerda Divisão Inglesa (Cooke0 4.100 Divisão Inglesa (Alten) 6.700 1ª Divisão holandesa (Chassée) 6.900 2ª Divisão holandesa (Perponcher) 8.000 Divisão de cavalaria holandesa (Collaert) 3.700TOTAL 29.4002º Corpo (Hill) - Ala direita - Divisão inglesa (Clinton) 6.800 Divisão inglesa (Colville) 6.700Príncipe Frederick da Holanda Brigada holandesa (Anthing) 3.700 Brgada holandesa (Stedman) 6.600TOTAL 23.800Reserva (sob o coand direto de Wellington) Divisão inglesa (Picton) 7.000 Brigada inglesa + Brigada Landwehr de Hanover (Lambert) 4.800Divisão Landwehr de Hanover (Decken) 9.300 Corpo do Duque de Brunswick 6.800 Tropas de Nassau 2.900 Cavalaria reserva (Lord Uxbridge) 9.800TOTAL 40.600GRANDE TOTAL 93.800

Exército prussiano (Blücher)1º Corpo (Ziethen) em Charleroi 27.0002º Corpo (Pirch) em Namur 29.000

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3º Corpo (Thielmann) em Ciney 24.0004º Corpo (Bülow) em Liège 35,000TOTAL 115.000

Considerando-se os 20.000 homens da Confederação Germânica provenientes do Norte da Alemanha, o Total Geral das forças aliadas era de 228.800 homens;

3. BATALHA DE QUATRE BRAS

3. BATALHA DE QUATRE BRAS

Apesar dos atrasos do dia anterior, Napoleão encontrava-se em uma posi-ção excelente na manhã de 16 de junho de 1815. Ele enfrentaria Blücher em Ligny com uma força mais do que adequada, enquanto o Marechal Ney enfrentaria, em superioridade numérica, uma força aliada em Quatre-Bras. Napoleão poderia ter vencido a campanha naquele dia, no entanto, várias coisas deram errado ....

O terrenoA batalha foi realizada no entorno do cruzamento de estradas em Quatre Bras, um

lugarejo que só tinha quatro casas. Este entroncamento marcava a junção de duas estra-das: a que ligava Charleroi a Bruxelas e a que unia Nivelles a Namur.

À sudoeste desse importante cruzamento de estradas havia da floresta de Bossu. Ao sul dessa floresta ficavam as fazendas Petir e Grand-Pierrepoint. Ao sul do entronca-mento o terreno seguia para a fazenda Gemioncourt, que ficava próxima a um pequeno riacho no vale. O terreno, então crescia novamente para o sul

Ao sul de Quatre Bras, sobre a estrada de Namur, ficava o vilarejo de Paradis (tam-bém chamado de Thyle, da qual fazia parte). A sudoeste dele ficava o vilarejo de Pirau-mont e mais ao sul a floresta de Hutte. A norte de Quatre Bras, o terreno caía em uma contra-encosta.

Ver figura na ágina seguinte

As forçasNa manhã do dia 16, o marechal Ney desdobrou várias unidades do II Corpo de

Reiiles e a Divisão de Cavalaria Ligeira da Guarda Imperial comandada por Lefebvre--Desnoëttes. A ele deveria se juntar, mais tarde, o I Corpo de d’Erlon. Ney foi informado que o III Corpo da Cavalaria Reserva de Kellerman deveria ser enviada para substituir a cavalaria ligeira da Guarda, que tinha recebido ordens para juntar-se à Guarda Imperial nas proximidades de Fleurus.

A única força aliada existente em Quatre-Bras, na manhã do dia 16, era a 2ª Divisão de Infantaria belgo-holandesa de Perponcher, que pertencia ao I Corpo de Exército do Príncipe d’Orange. Perponcher, era um ex-comandante sob Napoleão e que se encontra-va perto da cena de ação, e que percebera, imediatamente, a importância estratégica da encruzilhada em Quatre Bras e, portanto, ordenara que sua divisão lá se posicionasse, ao invés de seguir para Nivelles, como ordenado por Wellington. A presença de Perponcher em Quatre-Bras, sem dúvida, salvou o dia para os Aliados. Sua determinação, juntamente com a indecisão de Ney, fez o plano de Napoleão dar errado.

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Perponcher desdobrou sua tropa da seguinte forma: quatro unidades à direita de Quatre-Bras, duas sobre a estrada Charleroi-Bruxelas, em Gemioncourt, para bloquear essa estrada, e manteve três em reserva perto do cruzamento. Suas tropas ligeiras ocupa-ram Piramont e a fazenda Pierrepoint. O Príncipe d’Orange esperava que os bosques e os campos cheios de culturas altas de centeio e milho escondessem a fraqueza de sua força .

As preliminaresPor volta da meia-noite de 15 para 16 de junho, Napoleão e Ney haviam se encon-

trado no QG da Guarda Imperial, em Charleroi quando, após uma longa discussão com o Imperador, Ney retornou para seu QG.

No início da manhã do dia 16, por volta das 06:00 hs, Napoleão fez Soult, seu Che-fe-de-Estado-Maior expedir ordens a Ney e a Grouchy, seus comandantes de ala. A Grou-chy foi determinado que avançasse em direção a Sombreffe e Gembloux e envolvesse os prussianos que encontrasse. Mais tarde, ele deveria enviar parte de sua força para dar assistência a Ney, caso fosse necessário. A Ney foi determinada a ocupação da área de Quatre-Bras, em face do que deveria deslocar-se de imediato até a estrada de Bruxelas, onde a reserva o alcançaria.

Essa ordem chegou ao destino bem antes das 11:00 hs, mas até as 14:00 hs Ney ainda não tinha realizado nenhuma ação para ocupar a área, como determinado. É ina-creditável, mas parece que ele até tinha deixado de advertir o II Corpo (Reille) para se preparar para um deslocamento de manhã cedo. Além disso, ele se recusou a pedir ao I Corpo (d’Erlon) para se aproximar do II Corpo, depois de voltar de seu encontro final com Napoleão.

Algumas autoridades dizem que Reille, um veterano da Guerra Peninsular, havia

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aconselhado Ney para ser cauteloso. Reille, que conhecia as táticas britânicas, temia que a força aliada estivesse escondida na floresta, nos campos de milho e na contra-encosta ao norte da encruzilhada. Outras autoridades dizem que Ney já não era mais capaz de um comando tão importante e que ele já não sabia o que estava realmente fazendo.

Seja qual for o caso, ele esperou pela chegada de novas tropas, até que, finalmen-te, às 14:00 hs, ele sentiu que tinha força suficiente para forçar o cruzamento de estradas. Ele, com isso, havia perdido 6 horas preciosas. Durante toda a manhã, Ney teve uma superioridade numérica na proporção de 6 x 1 sobre Perponcher e Orange. Um ataque francês decisivo, em seguida, teria ganhado o dia, mas ele nunca se materializou.

Às 14:00 hs, Napoleão instruíu Soult para enviar uma mensagem para Ney, infor-mando-o que ele (Napoleão) atacaria Blücher às 14:30 hs; que Ney deveria atacar vigo-rosamente qualquer inimigo que estivesse à sua frente, repeli-lo e, em seguida, virar-se e atacar o flanco direito de Blücher; mas que, no entanto, caso Napoleão derrotasse os prussianos em primeiro lugar, ele se voltaria para atacar o flanco esquerdo do inimigo que estivesse enfrentando Ney.

Às 15:15 hs, Soult enviou outra mensagem a Ney dizendo-lhe: que “o destino da França estaria em suas mãos”, e que ele deveria atacar os prussianos nas alturas de Brye e em St-Amands, sem qualquer demora.

A batalhaPor volta das 14:00 hs, a divisão de Bachelu avançou para atacar a fazenda Pirau-

mont e Foy avançou no centro, apoiado pelos lanceiros de Piré.O ataque começou muito devagar e cautelosamente, em razão do receio de Reille

de enfrentar fortes forças inimigas escondidas. Antes das 15:00 hs, Gemioncourt e Pirau-mont estavam nas mãos dos franceses. Na floresta de Bossu e na fazenda Pierrepoint as tropas belgo-holandesas ofereceram uma dura resistência, mas tiveram que recuar ante a forte pressão francesa. Mas eles, no entanto, conseguiram manter a floresta.

A linha de Perponcher estava prestes a rachar sob os ataques combinados das três divisões francesas quando, por volta de 15:00 hs, os primeiros dos reforços muito neces-sários, a divisão de Picton e cavalaria belgo-holandesa de Merlen, chegaram. Wellington chegou quase que ao mesmo tempo e, imediatamente, assumiu o comando e desdobrou Picton e Merlen no flanco esquerdo.

Pouco depois das 15:00, os franceses formaram uma linha que ia desde Pierrepoint até Piraumont, através de Gemioncourt.

Um contra-ataque da cavalaria às 15:30 hs, liderado pelo Príncipe d’ Orange, foi re-pelido com pesadas baixas. Nesse momento, o duque de Brunswick com seu contingente Brunswick chegaram para reforçar os Aliados.

Às 16:00 hs, Ney recebeu as ordens de Napoleão — que tinham sido enviadas às 14:00 hs — para atacar vigorosamente o inimigo na sua frente e prosseguir para ajudar o Imperador em Ligny. Até aquele momento, Ney ainda não tinha avaliado a importância de ser capturada a encruzilhada de Quatre Bras. Ele, então, enviou um assessor ao I Corpo (d’Erlon) com ordens para acelerar o seu avanço e, novamente, lançou o II Corpo (Reille) em um ataque renovado. A divisão recém-chegada de Jérôme Bonaparte deveria clarear a floresta de Bossu e seus arredores a leste. Foy deveria atacar Quatre-Bras e Bachelu teria que assaltar até a estrada de Namur.

O I Corpo de d’Erlon, no entanto, a esta altura marchava para longe de, e não para Quatre-Bras. D’Erlon, que estivera demandando o norte pela estrada de Bruxelas vindo de

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A manobra realizada em Quatre Bras

Gossilies, havia sido ultrapassado, perto Frasnes, por um oficial do Estado-Maior que, de acordo com d’Erlon, tinha mensagens escritas que determinavam a d’Erlon que levasse seu Corpo para dar assistência a Napoleão em Ligny. Existem várias versões deste encon-tro entre o I Corpo e o oficial desconhecido: apesar de d’Erlon insistir que havia uma ordem escrita do Imperador para mudar sua direção de marcha, tal documento, se ele realmente existiu, nunca foi encontrado. O próprio Napoleão disse que ele não sabia nada sobre tal ordem. Algumas autoridades assumem que um oficial de Estado-Maior bem-intencionado, e que conhecia o plano de Napoleão teria visto o I Corpo de d’Erlon não envolvido em nenhuma tarefa, e assumiu a ordem de redirecioná-lo para Ligny. Algumas autoridades propõem também que esse mesmo oficial poderia, ele próprio, ter rabiscado a “ordem im-perial”, o que explicaria o porque de d’Erlon ter visto uma ordem escrita que o Imperador alegou nunca ter sido escrita.

Quando Ney soube que seu muito necessário I Corpo estava marchando para lon-ge, ele perdeu a paciência. Poucos minutos depois, o coronel Forbin-Janson, um ajudante

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imperial, chegou às 15:15 hs com uma mensagem de Napoleão. O coronel disse-lhe para atacar Quatre-Bras de uma vez. O furioso marechal despejou sua raiva sobre os pobre oficial, que ficou tão chocado com este tratamento imerecido que ele até se esqueceu de entregar a mensagem escrita. Portanto, só bem mais tarde, já de noite, que Ney iria rece-beu a mensagem que teria tornado as coisas claras para ele no início do dia

Enquanto isso, cerca das 16:15 hs, em Quatre-Bras, os franceses apoiados pela cavalaria ligeira de Piré, avançaram quase até o cruzamento de estradas, objetivo da batalha.

Os 42º, 44º e 92º regimentos britânicos conseguiram manter o terreno, apesar das pesadas baixas e repeliram o avanço francês. Em seguida, os lanceiros do Piré carrega-ram sobre a infantaria britânica e atacaram, severamente, os 42º e 44º regimentos, antes de serem repelidos.

Jérôme Bonaparte foi mais bem sucedido. Muitos dos homens de Perponcher foram expulsos da floresta de Bossu e o contingente Brunswick, enviado para apoiar Perpon-cher, foi detido durante seu avanço para o sul de Quatre-Bras.

Nesse ínterim, uma brigada britânica sob o comando de Halket, uma brigada de Hanover sob o comando de Kielmansegge e o contingente de Nassau chegaram e foram imediatamente mobilizados para apoiar a linha aliada, então duramente pressionada. Com estas novas tropas Wellington, agora, tinha uma vantagem numérica.

Kellerman, que tinha chegado com apenas a vanguarda da sua brigada, recebeu a ordem de carregar sobre o centro de Wellington, para subjugar o grosso da infantaria aliada. Kellerman ficou estupefato.Uma carga de cavalaria sem apoio da infantaria contra

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uma formação inimiga poderia ser considerado um verdadeiro suicídio que, certamente, levaria à destruição de sua brigada. Kellerman, então, pediu que Ney confirmasse a ordem recebida, ao que Ney relicou dizendo: “Vá, mas vá logo!”

Enfurecido por esta ordem insana, Kellerman carregou com seus couraceiros, e mesmo lutando contra todas as probabilidades, ele teve êxito. Seu “cuirassiers” dizima-ram o 69º regimento, repeliram o 33º Regimento e tomaram posse da encruzilhada. No entanto, por não contar com o apoio da infantaria e por ter sido atacado por uma bateria escondida, quase que à queima-roupa e por dois regimentos britânicos, Kellerman teve de desistir de seu prêmio duramente conquistado e voltar para as linhas francesas. Durante a retirada, o cavalo de Kellerman foi morto e ele escapou por pouco de ser capturado, agarrando-se nos estribos dos cavalos de dois dos seus couraceiros.

A essa altura, Jérôme tinha clareado a floresta de Bossu e já se encontrava reali-zando escaramuças a oeste de Quatre-Bras, mas após a chegada da 1ª Divisão de Infan-taria da Guarda britânica, sob o comando de Cooke, que havia sofrido pesadas perdas em Quatre-Bras, Wellington contra-atacou. O avanço de Jérôme foi detido e os franceses foram expulsos da floresta de Bossu.

Os Aliados retomaram Gemioncourt e, antes da luta terminar às 21:00 hs, eles ha-viam obrigado os franceses a refazerem o caminho de volta para suas posições iniciais. A batalha resultou em um impasse.

O I Corpo de d’ErlonO Corpo de d’D’Erlon poderia ter sido, provavelmente, a chave para a vitória. Esse

Corpo, que poderia ter selado o destino dos Aliados em Quatre-Bras ou os prussianos em Ligny, foi desperdiçado em realizar marchas e contra-marchas durante todo o dia no terreno entre as duas batalhas havidas , não tendo contribuindo para nenhuma das duas. Isto foi o que, supostamente, aconteceu:

Às 15:15 hs, Soult enviou uma mensagem para Ney dizendo-lhe que o destino da França estava em suas mãos e que ele deveria atacar os prussianos nas alturas de Brye e em St-Amands, sem demora.

Mais ou menos ao mesmo tempo em que a mensagem das 15:15 hs deixou a sede imperial, Napoleão recebeu a notícia de que Ney tinha engajado uma força aliada de 20.000 homens em Quatre-Bras e, portanto, tinha a sua própria batalha para lutar. Per-cebendo que Ney não poderia se juntar a ele, Napoleão, de acordo com algumas fontes, rabiscou uma nota para Ney dizendo-lhe para enviar apenas o I Corpo de d’Erlon.

Alguns historiadores afirmam que o ajudante-de-campo que entregou a nota a d’Erlon não foi definitivamente identificado, mas a maioria afirma ter sido o general de la Bédoyère. Foi este ajudante-de-campo imperial quem deu a ordem diretamente para a divisão principal de d’Erlon, quando ele cruzou com o I Corpo, estando a caminho do marechal Ney.

Outros historiadores afirmaram que Napoleão não sabia nada desta nota. Sua ver-são sobre o incidente é a seguinte: enquanto cavalgava para entregar uma ordem do Im-perador a Ney, de la Bédoyère descobriu o I Corpo marchando em direção a Quatre-Bras. Sabedor do plano de batalha do Imperador, e que o I Corpo de d’Erlon seria necessário em Ligny, ele rapidamente escreveu a nota em nome do Imperador. Uma vez que o docu-mento não sobreviveu à ação esta versão não pode ser confirmada.

Ney ficou furioso quando viu um dos seus corpos marchando para longe da bata-lha e enviou uma ordem para que ele fizesse meia-volta imediatamente e se juntasse a

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ele. Aproximadamente às 18:30 hs, d’Erlon virou seu I Corpo de volta, novamente para marchar para Quatre-Bras. No entanto, ele havia destacado a cavalaria de Jacquinot e as divisões de infantaria de Durutte para continuar marchando para dar assistência a Napo-leão em Ligny. Ele os advertiu para agirem com grande prudência; e foi que eles fizeram, porque eles nunca chegaram a tempo. D’Erlon também não notificou o imperador a res-peito deste destacamento que fora enviado a ele. Assim, d’Erlon, com o restante do seu corpo, finalmente chegou à Quatre-Bras às 2100, depois que a batalha tinha terminado. Com isto, d’Erlon tinha gasto aproximadamente duas e meia hora para cobrir somente 3,2 km (2 milhas) de distância até Quatre-Bras!

BaixasAs baixas francesas foram de aproximadamente 4.300 homens mortos e feridos. As

perdas aliadas foram de, aproximadamente, 4.800 homens entre mortos e feridos, incluin-do-se o Duque de Brunswick que veio a falecer à testa de suas tropas.

ConclusãoA campanha de Quatre Bras e Ligny poderia ter terminado naquele 16 de junho, se

Ney tivesse sido mais ativo na manhã daquele 16, e se o I Corpo de d’Erlon tivesse dado alguma contribuição para qualquer uma das batalhas.

O I Corpo teria feito a diferença em qualquer um dos dois campos de batalha. Em Ligny, um envolvimento dos prussianos pelo I Corpo de d’Erlon, provavelmente, teria sig-nificado a destruição da maior parte do exército prussiano. Em vez disso, como se verá em “A Batalha de Ligny,” uma boa parte do exército prussiano envolvido em Ligny escapou da destruição.

Em Quatre-Bras, uma vitória e uma perseguição hábil teria obrigado os Aliados a correrem para Bruxelas, em vez de dar-lhes a oportunidade de se reorganizarem em Mont-St-Jean.

4. BATALHA DE LIGNY

Durante o avanço francês em 14-15 de junho, Blücher havia ordenado ao seu exército para cerrar em Sombreffe. Ele esmo chegou em Sombreffe na tarde de 15 de Jjnho e decidiu ali ocupar uma posição. Napoleão percebeu isso na manhã do dia 16 de junho e, enquanto o marechal Ney se engajava com as forças de Wellington em Quatre-Bras, Napoleão engajou Blücher em Ligny, a fim de mantê-lo longe de Wellington. Ao cair da noite os franceses já mantinham o terreno em Ligny, mas uma grande parte do exército prussiano havia escapado da destruição. Estas foram as tropas que com a sua chegada no campo de batalha de Waterloo, em 18 de junho, iriam selar o destino do Imperador.

O terrenoA batalha foi travada ao longo da linha do ribeirão Ligne e do grande rio Ry em que

a posição defensiva prussiana se apoiou. Era uma posição longa que se estendia desde Wagnelée no oeste, passava por Saint-Amand, Ligny e Sombreffe, até alcançar o povoado de Balâtre no leste.

O terreno neste vale era pantanoso e o ribeiro Ligne, embora não fosse muito largo,

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era dotado de margens íngrems. Em Balâtre, o ribeiro tinha cerca de 4 m de largura. O ponto mais alto do terreno, era o do moinho de Bussy, onde Blücher instalou um posto de observação, a 162 m de altura. Havia mais de dez aldeias ao longo dos córregos e quatro pontes.

O Estado-Maior prussiano havia reconhecido a posição Sobreffe-Ligny em maio. Ele a havia selecionado como adequada para fazer frente ao Exército Frances que vinha procedendo de Charleroi. Em meados de junho, Sombreffe havia se tornado o ponto de concentração do exército de Blücher. O terreno do campo de batalha selecionado ondula-va suavemente e estava coberto de cultivos. O ribeiro de Ligne, como dito, tinha margens íngremes, que se encontravam cobertas de salgueiros e arbustos, e sua. largura oscilava de 1 a 4 metros de largura.

Como também já dito acima, o mais alto ponto do terreno era o moinho Bussy, loca-lizado entre Brye e Ligny, onde Blücher havia instalado seu observatório, O segundo mais alto ponto era o Point Du Jour, onde o general Thielemann estabeleceu seu QG. Havia duas estradas paralelas que corriam através de Ligny: uma na margem dreita e ouyra na argem esquerda, que se conectavam por uma ponte de pedra e por algumas passadeiras de madeira. A oeste de Ligny situava-se a forte construção do Chateau de Looz.

Wellington tinha um bom relacionamento com Blücher que, implicitamente, também confiava no Duque. Quando o major Nostitz certa vez questonou a respeito da honesti-dade das intenções de Wellington em ajudar os prussianos, o velho marechal-de-campo rejeitou tais acusações. Nostitz veio a expressar suas desculpas pouco antes da campa-nha de Waterloo, quando Wellington tinha mostrado sinais de não deslocar o seu exército para uma posição onde ele pudesse melhor apoiar Blucher. “Assim, não houve nenhuma nova tentativa de o Duque de Wellington mover meu exército para outras regiões em que nos teria dado uma garantia mais certa do apoio prometido.” (- Maior Contagem Nostitz)

Contudo, o maior erro dos prussianos não se deveu à cega confiança que Blücher depositava em Wellington, mas sim ao erro que Blücher cometeu ao não deslocar seu IV Corpo de Exército (Bülow) a tempo de juntá-lo ao seu exército principal em Ligny. Desse

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modo, não tendo seu exército totalmente concentrado em Ligny, Blücher não teve melhor alternativa, senão a de retrair para Gembloux. Em caso contrário, Blücher poderia ter con-tado, em Ligny, com todos os seus quatro Corpos de Exército (e não só os três com que contou) para manter uma adequada posição defensiva.

No entanto, durante a noite de 15 para 16 de junho, Blücher decidiu manter suas posições em Ligny. Os prussianos poderiam ter aproveitado a escuridão da noite para seguir para longe de Ligny, contudo, Blücher tinha dado sua palavra a Wellington de que manteria aquela posição, dependente da chegada de informações advindas de Wellington sobre seus deslocamentos e intenções. Estas informaçoes chegaram durante o curso da manhã de 16 de junho, algumas falsas, outras incompletas. Se Wellington tivese dado a Blücher informações corretas, este, provavelmente, teria concentrado seu exército numa melhor posição defensável próxima, que não a de Gembloux, onde ele sabia que o IV Corpo chegaria. Seu I Corpo deveria formar sua retaguarda, mantendo Sombreffe o maior tempo possível, para cobrir o deslocamento dos II e III Corpos

Por outro lado, Napoleão, então, poderia ter deslocado o grosso das suas forças contra as tropas espalhadas de Wellington e, possivelmente, teria alcançado Bruxelas naquela tarde. Assim, se Wellington não tivesse enganado Blucher, Ligny provavelmente teria sido apenas uma ação de retaguarda que envolveria apenas um corpo do Exército prussiano.

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SKIRMISHING” EM FLEURUS.

Na tarde de 15 de junho, o grosso do I Corpo de Exército de Ziethen já se encon-trava dentro e no entorno de Fleurus. O próprio general e seu Chefe-do-Estado-Maior, te-nente-coronel Rieche (ou Reiche) descansavam em um monte chamado Tombe de Ligny. Rieche pensou que a posição em Fleurus era fraca e, após solicitar permissão a Ziethen, ele cavalgou para o QG de Blücher em Sombreffe para pediir que seu Corpo se deslocas-se para trás do córrego Ligne. Em vez de Blücher, Rieche encontrou Gneisenau, o Chefe--do-Estado-Maior do Exército prussiano. Gneisenau recusou o pedido de Rieche. Andrew Roberts escreveu: “A aurora despertou em torno das 04:00 hs, quando Reiche retornou uma segunda ao QG de Blücher e Gneisenau, desta vez, concordou com a sugestão de Reiche. Às 05:00 hs, o I Corpo começou a se retirar para posições ao norte do ribeiro de Ligne. Estes movimentos de tropas foram vistos pelos postos avançados franceses da cavalaria do marechal Grouchy. Grouchy imediatamente despachou um relatório para Napoleão em Charleroi, dizendo que fortes colunas prussianas estavam se dirigindo para as aldeias de Brye e Sant Amand. Uma posterior nota partiu de Napoleão, uma hora mais tarde. Os franceses tinham visto tropas prussianas sendo emassadas no Moinho Bussy “.

Era uma bonita e quente manhã em 16 de junho.Às 10:00 hs, os franceses deixaram seus acampamentos e formaram duas linhas

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perto de Fleurus. Na primeira linha, à direita, ficou a cavalaria ligeira de Pajol e os ‘dra-gões’ de Exelmans. À esquerda ficou o III Corpo de Exército de Vandamme. Na segunda linha ficaram os “cuirassiers” de Milhaud e a Guarda Imperial. O IV Corpo de Exército de Gerard chegou mais tarde e ocupou o centro.

Os franceses enfrentavam apenas a cavalaria prussiana do I Corpo de Exército, sob o comando do tenente-general Friedrich Erhard Leopold von Roeder. Sua força consistia de uhlans, dragões, hussardos e cavalaria de landwehr formados em duas brigadas. Ro-eder, no entanto, não tinha intenção de defender a cidade contra esse inimigo poderoso. Nesta situação, as tropas francesas leves deslocaram-se sobre Fleurus e depois das 11 horas entraram na cidade.

Os franceses desdobraram vários canhões e abriram fogo contra 6º Regimento Uhlans prussianos. Era um sólido regimento. O 6º de uhlans era formado da cavalaria ligeira dos famosos Corpos Livres de Lutzow. Provavelmente, por essa razão, eles ainda usavam o dolmã hussardo preto em vez do Litevka azul. (Apenas os voluntários do 65º Jagers usavam o Litevka.) Os hussardos assim como os ulans estavam armados com lanças.

Os uhlans, então, se retiraram e formaram no flanco dos Dragões de Brandembur-go. Os dois regimentos e uma bateria a cavalo composta de 8 peças foram deslocados para a frente de Tombe de Ligny. Na reserva ficou outro regimento uhlan. Vários regimen-tos de cavalaria foram desdobrados atrás de Tombe de Ligne. Todo as tropas acima men-cionadas faziam parte da reserva da cavalaria de Roeder, oiunda do I Corpo de Ziethen.

Enquanto isso, os franceses trouxeram uma forte força de infantaria. Assim que Ro-eder viu os reforços inimigos, mandou a sua cavalaria recuar para trás do curso d’água de Ligne. A ordem foi cumprida sob a cobertura do 6º Uhlans, dos Dragões de Brandenburg e 2 canhões a cavalo. Roeder ficou com os dois regimentos até receber ordens de Blücher para se retirar.

Após as 11:00 hs, Napoleão chegou em Fleurus e foi recebido aos gritos de “Vive l’Empereur!”. Ele ordenou aos seus sapadores para construir um posto de observação — uma galeria circular no entorno do moinho de vento próximo de Fleurus — e, com o mapa na mão, começou a reconhecer o campo de batalha. “Do observatório de Napoleão, no moinho em Fleurus, a posição prussiana não parecia tão forte como na verdade o era”. (Henri Houssaye).

A orientação era difícil por causa dos grandes olmos plantados ao longo das muitas estradas e do monte a sudoeste de Ligny.

Aos poucos, o Imperador percebeu que os prussianos estavam na frente dele em quantidades rapidamente crescentes. O II Corpo de Exército de Pirch chegou às 11:00 hs e constituiu a reserva do I Corpo de Exército de Ziethen. O III Corpo de Exército de Thie-lemann tinha deixado Namur às 07:00 hs da manhã e tinha alcançado Sombreffe pouco antes do meio-dia.

Às 14:00 hs, o IV Corpo de Exército de Gerard se desdobrou no centro das posições francesas, cerca de 800 m da extremidade de Ligny. Henri Houssaye afirma que “enquanto procurava o Imperador, ele (Gerard) viu-se dentro do alcance dos mosquetes da cavalaria inimiga. Os prussianos carregaram, Gerard foi atirado para longe de seu cavalo, ficando em um perigo iminente de ser capturado, sendo salvo por um de seus ADCs”. Outras fon-tes afirmam que “Gerard quase foi pego pelos prussianos do 6º Regimento Uhlan quando inspecionava a frente de bataha... Seu Chefe-de-Estado-Maior foi perfurado 7 vezes por lanças.” (- Henri Lachouque).

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OS EXÈRCITOS EM LIGNY.

Ao meio-dia, Napoleão subiu para o moinho de vento de Fleurus, de onde ele pode observar o iniigo: “Os prussianos de Blücher encontravam-se solida,en-te entrincheirados nas aldeias que bordejavam o pequeno ribeiro de Ligne...”

Napoleão Blücher74.800 homens e 252 canhões66.663 homens * e 232 canhões43.998 de infantaria 14.573 de cavalaria 6.405 de artilharia 1.687 de outros * exclusive o VI Corpo de Exército

de Lobau’. .TOTAL => 80.000 homens

96.000 homens e 224 canhões94.675 homens e 216 canhões78.513 de infantaria 11.209 de cavalaria 4.119 de artilharia 834 de outros “Das Preussische Heer in den

Jahren 1814 und 1815”83.417 homens e 224 canhões73.030 de infantaria 8.150 de cavalaria 3.437 de artilharia

TOTAL => 84.000 homens

Fonte: Chandler - “Dictionary of the Napoleonic Wars” p 250

Em 15 de junho, o I Corpo de Exército de Ziethen estava perto de Fleurus. Suas lutas desde a fronteira e os combates havidos em Thuin, Charleroi, Gossieles, e Gilly, deu tempo para que os II, III e IV Corpos de Exército marchassem em direção a Sombreffe e Ligny.

Em Sombreffe, Blücher e Gneisenau, seu Chefe-do-Estado-Maior, tinham estabe-lecido o seu QG. Os II e III Corpos estavam em seu caminho para Sombreffe e Ligny. Às 05:00 hs de 16 de junho, o I Corpo começou a se retirar para posições ao norte do ribeiro de Ligne. Os movimentos de tropas de Ziethen foram vistos por patrulhas da cavalaria francesa. Os franceses também tinha visto tropas prussianas emassando a região do moi-nho Bussy. (Uffindell e Roberts - “Último triunfo da Águia”)

O I Corpo de Ziethen foi posicionado nas aldeias ao longo do riacho Ligne. Eles es-tavam ocupados em abrir seteiras na paredes das casas e construir barricadas. Por volta das 08:00 hs, eles terminaram seus preparativos. As aldeias de Saint Amand e Ligny foram fortemente ocupadas pelas brigadas de Jagow e de Steinmetz. A brigada de Henckel de-veria defender Ligny. (Henckel tinha apenas seis dos seus nove batalhões) A Brigada de Pirch formava a reserva e estava perto do moinho Bossu.. Wagnelee e a parte ocidental de Saint Amand não foram bem adaptadas à defesa e encontravam-se apenas levemente guarnecidas. A cavalaria reserva de Roeder ficou no vazio existente entre Brye e Ligny. O I Corpo de Exército estava, assim, pronto para a batalha.

Quando os II e III Corpos de Exército chegaram, suas brigadas foram levadas às suas posições. O II Corpo de Exército foi desdobrado a oeste de Sombreffe, ao longo

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da rodovia. Ele constituía a reserva para o I Corpo de Exército. O III Corpo do Exército desdobrou-se a leste de Sombreffe. O flanco leste do exército prussiano estava coberto por uma parte da cavalaria de von Hobe (brigada de Lottum), enquanto a outra parte (a brigada de Marwitz) deslocou-se para o flanco oposto. Marwitz tinha recebido ordens para enviar patrulhas para estabelecer contato com os ingleses. Para mais detalhes sobre o desdobramento do exército prussiano em Ligny veja-se o mapa a seguir.

Mapa da Batalha de Ligny – Desdobramento das tropas

NOTA : O VI Corpo de Exército de Lobau, com três divisões de infantaria não foi incluído, em razão de que ele só chegou pouco antes do fim da batalha.

N – Posto de Observação de Napoleão. Parece que Napoleão tinha pensado, ini-cialmente, atacar Blucher por Wagnelee e Saint Amand, de modo a lançar o inimigo de volta para Sombreffe. Mas depois ele mudou de idéia e decidiu atacar no centro (Saint Amand - Ligny), enquanto ao mesmo tempo empregava o Corpo de d’Erlon contra o flanco do inimigo. Enquanto isso, o marechal Ney estava esperando que d’Erlon fosse se juntar a ele em Quatre Bras.

B - Posto de Observação de BlücherI Corpo sob o comando de Ziethen – desdobrado em posição avançada, defenden-

do a linha das aldeias desde Wagnelee, Saint Amand até Ligny. A força de Ziethen deveria absorver os ataques da infantaria franceses.

II Corpo sob o comando de Pirch – deveria apoiar o I Corpo, ou juntar-se a Welling-ton em seu movimento de flanco contra a esquerda de Napoleão.

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III Corpo sob o comando de Thielemann – em posição defensiva, vigiando a linha de abastecimento e de comunicação.

Ao meio-dia Wellington chegou de Quatre Bras e foi recebido pela 5ª Brigada de Infantaria de Tippelskirch. Wellington, seus oficiais de Estado-Maior (alguns mantinham seus guarda-chuvas) e sua escolta cavalgaram para o moinho de Bussy, onde se encon-traram com Blücher e seu Estado-Maior.

Enquanto isso, os três corpos prussianos terminaram seus preparativos para a ba-talha. A infantaria se abrigou atrás dos muros e das sebes e nos abrigos construídos no terreno vazio. O autor francês, Henri Lachoque, ficou impressionado com os desdobra-mentos das ropas prussianas, dizendo: “Os prussianos de Blücher estavam solidamente enraizados nas aldeias que faziam fronteira com o riacho Ligne, mais particularmente em Saint-Amand e em Ligny” (Lachoque - “Waterloo” p 83)

O EXÉRCITO FRANCÊS E NAPOLEÃO

Os franceses se encontravam com uma alta moral. As canções militares Grenadiere e Carabiniere eram tocadas entusiasticamente pelos tambores. Em 5 minutos, a infantaria da Guarda Imperial formou em uma coluna simples e passou a marchar através dos cam-pos, até Fleurus, onde os nativos alinhavam-se na rua principal da cidade, movidos mais pela curiosidade do que pelo entusiasmo.

A Divisão de Caçadores da Velha Guarda parou nas proximidades do moinho. A Divisão de Granadeiros da Velha Guarda a seguia. A Jovem Guarda assumiu posição à esquerda, atrás do III Corpo de Vandamme. Este possuía três divisões de infantaria e uma de cavalaria, mas Napoleão o havia reforçado com uma divisão de infantaria sob o coman-do do general Girard. Os Dragões sob o comando de Exelmas e uma cavalaria ligeira sob o comando de Pajol deslocaram-se no flanco direito.

Tomando o cuidado de reconhecer previamente o dispositivo dos prussianos, o Im-perador concluiu que eles se encontravam formados aguardando que Wellington viesse de Quatre Bras e formasse acima de sua direita. Em conseqüência, Napoleão enten-deu que os prussianos tinham baseado seus dispositivos conforme uma expectativa: a de que Wellington chegaria a tempo suficiente para prover um fortalecimento das tropas prussianas, o bastante para fazer uma grande diferença. Napoleão planejou de maneira conseqüente e adequada: se ele atacasse pesadamente a direita dos prussianos e a des-truísse antes que Wellington pudesse chegar, ele, certamente, colocaria o oponente em desordem e o repeleria, ficando livre para marchar sobre Bruxelas e derrotar Wellington.

Às 03:30 hs, Napoleão mandou o VI Corpo de Exército de Lobau avançar para Fleurus.

A BATALHA

A batalha foi realizada com os franceses e prussianos empregando os métodos clássicos. Os prussianos defenderiam suas posições agressivamente, enquanto os fran-ceses tentariam capturar seus pontos-fortes e realizar uma penetração.

O Corpo de Exército de Gerard deveria atacar o centro prussiano. Ele consistia de três divisões de infantaria: a 12ª de Pecheux, a 13ª de Vichery e a 14ª de Hulot. A melhor delas era a de Pecheux, que era constituída do 6º Regimento de Infantaria de Linha (que já havia vencido honrosamente 4 batalhas) e o 96º de Linha (com 4 batalhas honrosas).

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A Pecheux foi atribuída a tarefa de capturar Ligny, propriamente dita. Vandamme, por seu turno, teria a honra de atacar a direita prussiana; seu Corpo encontravase desdobrado em frente de St Amand e St Amand La Haye.

Às 14:00 hs, no centro das posições francesas, formada em quadrados, a 8ª Divisão de Infantaria ouviu as exortações do general Lefol montado em seu cavalo: “A batalha está para começar ... Os prussianos serão esmagados com eles o foram em Jena ... Vitoria! A infantaria saudou Lefol”.

Às 14:30 hs, as linhas francesas fizeram ecoar os sons de três canhões disparados pela artiharia da Guarda Imperial. Um alto brado se ouviu: “Viva longa ao Imperador!”

As colunas da infantaria francesa avançaram ao som das bandas de música. A banda do 23º Regimento de Linha (da Divisão de Lefol) tocava “Le Chant de Départ, La Victorie en chantant”. Seria a primeira grande batalha desta campanha e os homens estavam descansados e ansiosos pela luta. Os tambores bateram em ritmo de carga; os canhões rugiram.

Vandamme e Ziethen (ou Zieten) encontravam-se a ponto de atacar a aldeia de Saint Amand e a casa da fazenda. Vandamme não contava só com o seu próprio Corpo de Exército (três divisões de infantaria e uma de cavalria), mas também com a divisão de infantaria de Girard, oriunda do Corpo de Reille. A Divisão de Infantaria da Jovem Guarda, por sua vez, encontrava-se pronta para apoiar Vandamme.

O general-de-divisão Dominique Vandamme (1.770-1.830) era um soldado brutal e violento, reconhecido pela sua insubordinação e suas pilhagens. Certa vez, Napoleão havia lhe dito: “Se eu tivesse dois de você, a única solução seria um enforcar o outro”. Ele também disse que se tivesse que lutar uma campanha contra Lúcifer no Inferno, então ele daria a Vandamme o comando da sua vanguarda.

O general Vandamme “era dotado de um temperamento instantâneo, de um voca-bulário sulfuroso, e um estupendo talento para a insubordinação. Nenhum marechal que-ria, de bom grado, tê-lo como um subordinado; somente Davout poderia controlá-lo. Mas as tropas alemãs que serviam sob seu comando gostavam dele pois, apesar dele tratar seus subordinados com rigor de ferro, ele dava a melhor assistência possível a eles”. (Elting - “Swords Around a Throne” pp 158-159). Depois da restauração de Louis XVII ao trono da França. Vandamme seria exilado nos Estados Unidos da América,

O tenente-general Hans-Karl Von Ziethen II (ou Zieten) nascera em 1.770. A despei-to do mesmo nome, ele não tinha qualquer relação com o famoso general de cavalaria dos tempos do Rei Frederick, o Grande, Hans Joachim von Zieten (1699-1786). O Ziethen em pauta havia tomado parte da Campanha da França em 1814. No início da Campanha de Waterloo, em 1815, Ziethen lutou uma ação de manutenção contra as tropas em avanço do Exército francês. Suas brigadas lutaram em Thin, Charleroi, Gossieles e Gilly. Ziethe não tinha vergonha de tomar decisões rápidas. Ele era um competente líder de cavalaria, mas não era o melhor general para comandar uma infantaria, tanto em posição defensiva como numa ação ofensiva. Embora Ziethen tivesse compartilhado as dificuldades da cam-panha com os seus soldados, o fazia de algum modo distante.

Depois de conquistar St Amand, os homens de Lefol avançaram sobre Saint Aman-d-la Haye.

Os franceses sofreram com as descargas das pesadas bateria prussianas desdo-bradas na linha de crista. Mortos e feridos cobriram o terreno. O próprio cavalo de Lefol foi morto com ele montado. Os franceses recuaram para a aldeia.

Os franceses deslocaram uma bateria para cima, a oeste da aldeia e dispararam

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tiros de canister sobre os skirmishers do 1º Batalhão do 26º Regimento de Infantaria prus-siano. Os prussianos recuaram e as 3 linhas da infantaria em profundidade abriram fogo a longo alcance sobre os canhões oponentes. A mosqueteria continuou por 30 minutos, até que o batalhão prussiano retraiu em direção a St Amand- La Haye.

Luta por Saint Amand e Saint Amand La Haye.NOTA: A maioria dos batalhões franceses tinha de 400 a 600 homens. Os batalhões

prussianos eram muito mais fortes e, usualmente, contavam com 600 a 800 homens.

A 7ª Divisão de Girard deslocou-se sobre St Amand-la Haye vindo do oeste. Girard em pessoa liderava o 11º de Infantaia Ligeira. “Coragem, rapazes! Prossigam para a direi-ta! Fechem as fileiras! Carreguem!” Ele reforçou seus skirmishers e sob a cobertura deles, deslocou suas colunas contra a aldeia. Seu 12º Regimento de Infantaria Ligeira e seu 4º Regimento de Linha colidiram com o inimigo.

Em St Amand, sob o ritmo dos tambores batendo freneticamente, os franceses en-traram na aldeia, enquanto os três batalhões prussianos tendo exaurido suas munições, recuaram. Os franceses os perseguiram até que foram alcançados pelos fogos da arti-lharia prussiana desdobrada na linha de crista. Os perseguidres, então, recuaram para a

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aldeia.Os prussianos contra-atacaram com 2 batalhões do 12º Regimento de Infantaria e 3

batalhões do 24º Regimento de Infantaria. Quando a artilharia prussiana abriu fogo com ti-ros de canister sobre a tropa francesa, esta foi obrigada a sair da aldeia. Ao mesmo tempo, o F/24 de Infantaria e o II/3 de Landwehr apoiados por Schützen e algumas companhias do 29º Regimento de Infantaria capturaram o restante de St Amand-la-Haye.

O 24º Regimento de Infantaria, rapidamente, moveu-se de St Amand-la-Haye para St Amand, mas eles não conseguiram progredir e recuaram. Com isso, sofreram 200 bai-xas entre mortos e feridos, esgotando, também, sua munição. Este regimento foi puxado para fora de St Amand-la-Haye e posicionado numa depressão do terreno na retaguarda, onde os soldados sentaram e descansaram por enquanto.

O general Steimetz ordenou que 2 batalhões do 1º Landwehr contra-atacasse. Eles marcharam sob uma tempestade de tiros procedentes das tropas francesas escondidas em St Amand , perdendo muitos homens e, então, fugiram. A 8ª Divisão de Lefol guarne-ceu St Amand, enquanto a 7ª Divisão de Girard ocupava St Amand-la Haye.

O combate pelas três aldeias foi muito sangrento. A 1ª Brigada de Steinmetz perdeu 2.350 homens entre mortos e ferdos. A 7ª Divisão de Girard ficou tão enfraquecida pelas baixas sofridas, que teve de permanecer nas proximidades de Fleurus pelo restante da guerra.

Blücher, então, chegou gritando: “Jovens soldados! ! Mantenham-se dignos! Adian-te, em nome de Deus!” Steinmetz renovou seus contra-ataques com uma força superior à francesa. Eles tentaram retomar St.Amand, mas seus batedores foram expulsos pelos skirmishers franceses.

Eram 16:00 hs. A 2ª Brigada de Pirch encontrava-se perto do moinho de Bussy quando Blücher

ordenou que St Amand fosse retomada. A 5ª Brigada de Tippelskirch em reserva deveria retomar St Amand-la-Haye. As duas brigadas formaram em colunas de batalhão com duas brigadas de cavalaria (de Sohr e de Marwitz) atrás delas, como uma reserva. Sohr tinha somente 8 de seus 12 esquadrões de hussardos (2 esquadrões tinham sido destacados para a 5ª Brigada de Infantaria de Tippelskirch e 2 outros esquadrões para a 6ª Brigada de Infantaria de Krafft). Marwitz, por seu turno, trazia consigo 7 esquadrões de uhlans.

Blücher cavalgou para a fileira da frente e, pessoalmente, liderou a brigada de Pir-ch,que já se deslocava em “pas de charge”. Os infantes encontravam-se bastante anima-dos e avançaram com as baionetas fixadas em seus mosquetes. Os skirmishers franceses e algumas das suas colunas de batalhão cambalearam ante o avanço prussiano. A aldeia foi capturada, com exceção da fortaleza instalada na fazenda, que era ocupada por um único batalhão do 70º Regimento de Infantaria de Linha, da 10ª Divisão de Habert. (NOTA: algumas fontes referem-se, apenas a 3 companhias daquele regimento, uma de “volti-geurs” e duas de “grenadiers”)

Os prussianos tentaram desalojar os franceses da fazenda. Os atacantes, no en-tanto, se desorganizaram e sofreram pesadas baixas e, então, os oficiais mandaram que se retirassem. Vendo que a linha de frente encontrava-se estabilizada, Blücher, então, retornou ao QG do seu exército.

Um grande grupo de soldados da infantaria prussiana havia se reunido na extre-midade de S.Amand, sendo, então, atacado pela cavalaria francesa, quase perdendo o estandarte do batalhão. Como se isso não fosse suficiente os skirmishers franceses apa-receram em grande número e, escondido nas culturas altas, dispararam sobre eles. Nesta

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situação geral foi que Pirch ordenou a sua brigada para recuar.Os skirmishers franceses assediando e seguindo a brigada de Pirch, aproximaram-

-se do flanco das baterias pesadas prussianas desdobradas no cume da linha de crista. Este movimento alarmou os generais prussianos, e dois esquadrões do 3º Regimento Uhlan com alguma cavalaria Landwehr carregaram fora da depressão do terreno e conse-guiram dispersar os skirmishers. Nesta ação, o tenente von Grodski (nome polonês) do 3º Uhlans distinguiu-se.

A 5ª Brigada de Tippelskirch deslocou-se através de Waglelee e, então, girou para a esquerda e moveu-se contra St Amand-la-Haye. À frente marchavam o Batalhão F do 25º Regimento de Infantaria e o Batalhão F do 2º Regimento de Infantaria, tendo à sua frente seus skirmishers. Eles se encontraram com os skirmishers franceses e os fizeram recuar. A visão da brigada prussiana avançando em ordem de batalha foi o suficiente para que dois batalhões franceses que estavam em um prado próximo à casa da fazenda girassem e recuassem.

As outras tropas francesas permaneceram quietas nos campos, atentas ao avanço inimigo. Os franceses, então, desfecharam um voleio de mosquetes sobre o II Batalhão do 25º Regimento de Infantaria prussiano. Os prussianos pararam e começaram a se des-dobrar, enquanto o I Batalhão daquele regimento tentava se desdobrar sobre seu flanco. Por causa da velocidade do seu movimento, eles falharam em manter a distância neces-sária para se desdobrar e, ao invés de se colocarem no flanco do inimigo, eles viram-se frente a frente com ele.

A artilharia francesa disparou canister sobre eles, enquanto um batalhão de infan-taria avançou cerca de 60 passos e atirou contra os prussianos. Os Estes devolveram os tiros, mas logo viram-se gravemente desorganizados em razão da fuga dos skirmishers do 5º Regimento do Westphalian Landwehr.

Ambos os flancos do 5º Landwehr ficaram sob fogos de animados atiradores france-ses escondidos nas culturas altas, e a unidade teve de recuar. O Batalhao F do 25º Regi-mento de Infantaria estava marchando a caminho da casa da fazenda, quando receberam tiros dos franceses escondidos nas culturas. O comandante do batalhão prussiano e todos os oficiais superiores caíram feridos. Chocados, mas não vencidos, os fuzileiros fixaram baionetas e avançaram contra o inimigo. Em seguida, outro batalhão francês apareceu e os fuzileiros apressadamente se retiraram. Sua retirada para Wagnelee foi feita sob a cobertura de seus próprios skirmishers.

Mas isso não foi toda a desgraça e melancolia para os prussianos. O 2º Regimento de Infantaria obteve um grande sucesso quando eles recapturaram St.Amand-la-Haye por meio de uma carga de baioneta espirituosa.

. Um dos oficiais do Estado-Maior de Vandamme tinha sido enviado para identifica-ras tropas que estavam aparecendo no flanco de Vandamme. Ele retornou gritando: “Eles são inimigos!” Algumas das tropas (por exemplo, a exausta divisão sob o comando de Le-fol) entraram em pânico e logo a ansiedade e o medo se espalharam ao longo das fileiras francesas como fogo selvagem. Lefol virou os canhões sobre sua própria infantaria para impedi-los de fugir. A divisão de Girard abandonou St.Amand-la-Haye e corajosamente guarneceu o flanco para enfrentar o novo inimigo. Vandamme, apressadamente, cavalgou em direção a Napoleão com a notícia de que, provavelmente, parte do exército anglo-ho-landês de Wellington estava marchando sobre ele com a intenção de atacar seu flanco

Lutando contra dois exércitos, isso poderia ser um desastre, mesmo para Napo-leão. Ele já havia sido derrotado por aquele inimigo quando ele atacou seu flanco em La

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Rothière e Leipzig. Napoleão recebeu Vandamme mas permaneceu calmo. Ele, então, enviou um de seus oficiais do Estado-Maior e o 3º Regimento de “Chausseurs” da Velha Guarda para investigar as tropas misteriosas. Para acalmar Vandamme, o imperador or-denou que a Divisão da Jovem Guarda e a Divisão de Cavalaria Ligeira de Subervie (do Corpo de Exército de Pajol) marchassem para o flanco ameaçado.

Enquanto isso, o oficial retornou com novas noticias, informando que as tropas mis-teriosa eram homens do I Corpo de Exército de d’Erlon, sob o comando do general-de-di-visão Drouet (3 divisões de infantaria e uma de cavalaria) e não o Exército anglo-holandês que estaria tentando flanqueá-los. O Corpo francês marchou sobre Saint Amand e Ligny!

No entanto, o marechal Ney lembrou-se de ter chamado d’Erlon antes dele chegar em Ligny e, desse modo, o I Corpo não desempenhou nenhum papel na luta. A presença de Erlon em Quatre Bras teria colocado Wellington “em um extremo perigo”, enquanto suas ações no flanco de BlÜcher, em Ligny, teria destruído os prussianos. O Chefe do Estado-Maior de Napoleão, o marechal Soult escreveu “Se o Conde d’Erlon tinha tivesse executado o movimento sobre Saint Amand, como o Imperador tinha recomendado, o exército prussiano teria sido totalmente destruído e teriam sido feitos prisioneiros, talvez, uns 30.000 prussianos.” Muitos historiadores militares chamam este erro um dos mais caros da campanha Waterloo

O Corpo de d’Erlon também sido visto por uma patrulha de hussardos prussianos. Se o inimigo tivesse atacado as posições prussianas em Brye e St Amand-La Haye, issso teria sido um desastra para Blücher. O marechal prussiano não possuía reservas suficien-tes para deter este ataque de flanco e, ao mesmo tempo, apoiar o duramente pressionado I Corpo de Exército de Ziethens. A ansiedade do momento, por parte de Blücher, pela che-gada do exército de Wellington ou do IV Corpo de Exército de Bülow, era extrema.

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VANDAMME E A JOVEM GUARDA VERSUS ZIETHEN E PIRCH

As artilharias prussiana e francesa redobraram seus canhoneios ao longo de toda a linha de batalha, e nuvens de fumaça cobriram a região. O Imperador ordenou que se reforçasse a artilharia de Vandamme com uma bateria da Velha Guarda. Um pouco mais cedo, a Divisão da Jovem Guarda juntou-se a Vandamme.

Em virtude da preocupação de que o I Corpo de Exército de Ziethen viesse a ficar, novamente, sob pressão, Blücher transferiu a maior parte do II Corpo do Exército de Pir-ch-I (as brigadas de Krafft, Brausse e Tippelskirch) para trás dele.

Na frente desta força maciça cavalgava o major-general Pirch-I e seu Chefe-do-Es-tado-Maior. coronel von Aster. (Georg Dubislav Ludwig von Pirch I estava praticamente surdo.) A 2ª Brigada de Pirch-II avançou contra Saint Amand, passou sobre o córrego e tomou a aldeia à ponta de baioneta. Eles também capturaram a igreja e deslocaram-se para fora da aldeia contra o inimigo desdobrado em campo aberto. Aqui a artilharia france-sa os bateu e os prussianos, apressadamente, voltaram para a aldeia

Quatro regimentos de cavalaria da Prússia moveram-se contra o oeste francês de Saint Amand. Na primeira linha cavalgava o 3º Regimento Uhlan, na segunda o 4º Regi-mento de Cavalaria Kurmark Landwehr, na terceira, o 5º Regimento de Dragões e, em reserva, ficou o 1º Regimento de Dragões da Rainha (Anteriormente, todas as quatro uni-dades tinham sido desdobradas por trás da artilharia no cume da linha de crista e tinham sofrido fogos de contra-bateria franceses). O 3º Regimento Uhlan carregou, forçando a cavalaria ligeira francesa de volta. Os franceses, no entanto, se reagruparam e quase capturaram a bateria prussian pesada posicionada próxima do curso d’agua. A batalha de cavalaria ficou em um impasse

Eram 18:00 hs, quando a 2ª Brigada de Pirch esgorou sua munição e foi forçada a abandonar St Amand. Mas parte da 6ª Brigada de Kraff e dois batalhões da 1ª Brigada de Steinmetz tentaram retomar a aldeia. Eles continuaram seu avanço, a despeito da artillharia e dos tiros de mosquetes oponentes. Os skirmishers prussianos, seriamente inferiorizados em número em relação aos skirmishers franceses, ocuparam posições nas casas e jardins e, facilmente, repeliram os oponentes.

Atrás dos skirmishers avançaram as colunas da infantaria e estas também entraram em Saint Amand. Com exceção da fazenda, toda a aldeia foi reocupada pelos prussianos.

Vários batalhões deixaram a aldeia e marcharam para o campo aberto, onde es-tavam os batalhões franceses já sendo desdobrados em linhas. Ambos os lados abriram fogo e tudo ficou envolto em uma fumaça espessa

Vandamme notou que os prussianos mostravam-se incapazes de se mover para fora das aldeias. A infantaria de Vandamme motivada pelos espetaculares esforços de seus oficiais e apoiada pela Jovem Guarda conseguiu capturar Saint Amand e Saint Amand-la-Haye.

Mas os prussianos não estavam vencidos e trouxeram à cena de ação a 5ª Brigada de Tippelskirch.

As baterias prussianas posicionadas no cume bombardearam as duas aldeias. Dois batalhões de “Fusiliers” (F/ 2 e F/25) atacaram a casa da fazenda, enquanto três batalhões de “Musketier” (I e II/2 da infantaria e I /25) apoiados por um batalhão do 5º Westphalian Landwehr atacaram Saint Amand. Atrás da infantaria avançaram três regimentos de cava-laria; o 2º de Uhlans e o 11º de Hussars na primeira linha, e o 5º Kurmark Landwehr na

As guerras napoleônicas

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As lutas pelas aldeias

segunda linha.Os franceses ocuparam Saint Amand-la-Haye com dois batalhões, enquanto uma

massa substancial de infantaria, com duas baterias, ficou em reserva atrás da aldeia. A infantaria leve prussiana (F/2 Regimento de Infantaria e F/25 RI) entrou S.Amand-la-Haye e deslizou para a direita e para a esquerda. Depois de uma luta sangrenta casa-a-casa, capturou a vila.

Os franceses em Saint Amand contra-atacaram, mas os fuzileiros haviam sido re-forçados com outras tropas e repeliram os atacantes. Os franceses avançaram mais três vezes e três vezes eles foram repelidos. Esta vitória tinha invertido os sucessos franceses anteriores em Saint Amand-la-Haye. Parte da 5ª Brigada de Tippelskirch capturou a leve-mente defendida Wagnelee.

A 7ª Brigada de Brause desceu do cume e capturou Saint Amand. (Com Brause estavam dois esquadrões de cavalaria do Elb Landwehr da 3ª Brigada de Cavalaria de Schulenburg). Durante a perseguição, eles encontraram-se em campo aberto, e a cava-laria francesa os atacou. Os prussianos correram rápido, mas na direção oposta à da que levava à segurança da aldeia. A cavalaria francesa também atacou os skirmishers do 2º de Infantaria, mas foram rechaçados por dois esquadrões do 5º Kurmark Landwehr.

O general Lefol quase foi feito prisioneiro em Saint Amand, quando seu cavalo tinha

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caído.Durante a batalha, o general Girard foi ferido três vezes. Na terceira vez, uma bala

de mosquete quebrou seu braço direito e ficou presa na coluna vertebral. O Doutor d’He-ralde foi autorizado a deixar o campo de batalha e escoltar o general ferido para Charleroi. Napoleão nomeou Girard como Duque de Ligny em 21 de junho. Apesar da perda, a Di-visão de Girard foi capaz de manter Saint Amand le Hameau. Transportado de volta para a França, Girard morreu no dia 27 e, portanto, foi poupado de assistir a ocupação aliada da cidade capital. Em seu testamento, Napoleão deixou 100 mil francos para os filhos de Girard. Girard tinha sido um general experiente que havia combatido em muitas batalhas, inclusive Hagelberg em 1813.

As divisões de Lefol e de Berthezene ocuparam a maior parte de Saint Amand, mas não foram capazes de emergir da aldeia. Com sua infantaria repelida de volta, Vandamme virou sua artilharia para bombardear os prussianos em assalto e levá-los à submissão.

Estava ficando escuro e a batalha entre Vandamme e Ziethen tinha ficado limitada aos combates entre artiharia e skirmishers.

BATALHA DE LIGNY (CENTRO)

A vila de Ligny tinha aproximadmanete 1 Km de comprimento. “Ligny era formada por três ruas que corrriam paralelas ao ribeiro Ligne e eram separadas por ele: a rua d’em Hault ao sul e a rua d’em Bas ao norte. Entre as duas ruas havia algumas casas dispersas, a praça da igreja, e uma área comum, que descia até o Ligne sob a forma de um talude “. (- Henri

A vila era defendida por 6 batalhões da 4ª Brigada de Henckel. Quatro batalhões ocupavam Ligny propriamente dita, enquanto dois batalhões constituíam a reserva. (Três batalhões desta brigada tinham sido destacados e não estavam presentes na batalha). O lado direito da vila era defendido por 2 batalhões do 4º Westphalian Landwehr.

Os 4 batalhões em Ligny tinha sido reforçados por 2 companhias de Schützen da 3ª Brigada. Os Schützen estavam armados com mosquetes e rifles.sendo que estes últimos possuíam visores à frente e atrás. Eles vestiam shakos, jaquetas verde-escuro e perneiras de couro pretas.

Os infantes prussianos, os Schültzen e os Landwehrs assumiram posições ao longo da extremidade da vila, por trás dos muros e das sebes, enquanto as companhias, indi-vidualmente, se posicionaam por trás deles nas ruas estreitas, como apoio e reserva. Os prussianos removeram a maioria das janelas das casa e construíram barricadas atrás das portas. Entre Ligny e Bois de Loup ficaram 6 batalhões da 3ª Brigada de Jagow.

As margens do ribeiro Ligne tinham aqui 2 m de altura (!) e os skirmishers haviam cortado caminhos até elas, através das cercas e sebes. Isto os ajudaria a se movimentar e a se comunicar. Os campos mais próximos tiveram suas altas culturas cortadas, para não possibilitarem cobertura para os atacantes. No terreno mais alto, por trás da aldeia, foram posicionados 16 canhões (algumas fontes alegam terem sido de 24 a 32).

Ao sul de Ligny ficava um castelo fortificado, que era defendido pelos skirmishers destacados dos I ou F batalhões do 19º Regimento de Infantaria. (Segundo Herkort, havia uma companhia de infantaria). O castelo tinha 3 portões e cada um deles foi barricado e defendido por um grupo de soldados. Os quarto e quinto grupos buscaram cobertura atrás das sebes e ao longo daos muros, enquanto o sexto premaneceu no páteo e serviria como reserva.

As guerras napoleônicas

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Ligny, propriamente dita, deveria ser atacada pelo IV Corpo de Exército de Gerard. A maioria dos homens dos regimentos de Geard havia sido recrutada em áreas muito leais a Napleão. Em termos de moral (e não em números) o IV Corpo era, provavelmente, o melhor Corpo do Exército francês, depois da Guarda Imperial, obviamente. Este fato por si só assegurava a Napoleão que Ligny deveria logo cair.

O próprio Gerard era um comandante experiente. Ele havia se distinguido em Aus-terlitz (1805) e em Jena (1806), quando foi promovido a general-de-brigada. Por sua con-duta em Wagram, ele foi tornado Barão. Durante a Guerra Peninsular (1810-1811), Gerard ganhou distinção em Fuentes de Onoro. Em 1812, durante a Invasão da Rússia, Gerard mostrou bravura e habilidade em Valutina Gora e Borodino, em face do que Napoleão o promoveu a general-de-divisão. Em Leipzig (1813), Gerard foi gravemente ferido e, em 1814, durante a Campanha da França, Gerard distinguiu-se em La Rothiere e Montereau. Gerard era, realmente, um guerreiro.

O Corpo de Gerard consistia de 3 divisões de infantaria e 1 de cavalaria. Duas Divisões de Infantaria — a 12ª de Pecheux e a 13ª de Vichery — seriam envolvidas di-retamente na luta em Ligny. Ambas a divisões eram constituídas de 4 regimentos. Alguns desses regimentos eram soberbos, como por exemplo o 6º de Infantaria Ligeira que havia vencido sete combates e o 96º de Linha que havia vencido quatro. Napoleão também re-forçou a artilharia de Gerard com várias baterias da Guarda Imperial

A luta por Ligny envolveu quase 9.000 prussianos (12 batalhões de 600 a 800 ho-mens cada, mais os Schützen e os artilheiros) e mais de 9.000 franceses (18 batalhões de 400 a 600 homens cada, mais os artilheiros). Os infantes franceses eram apoiados, pelo menos, por 32 canhões (incluindo-se as várias peças da velha Guarda), enquanto que os prussianos tinham mais de 24 canhões. Os prussianos, no entanto, estariam protegidos por muros e sebes, enquanto os homens de Gerard estariam combatendo em terreno aberto.

Depois de algumas horas de lutas, a Brigade de Henckel (6 batalhões) retirou-se da vila, sendo substituída por 6 outros batalhões da 6ª Brigada de Krafft. (Os outros batalhões de Krafft tinham sido enviados para Saint Amand). Os homens de Krafft havia se juntado à 8ª Brigada de Bose.

A infantaria de Gerard assalta Ligny A artilharia francesa abriu fogo sobre Ligny. As bolas de canhão bateram nas casas

e ricochetearam nas ruas, telhados foram incendiados e caíram; a conflagração espalhou--se por vários pontos da cidade, imediatamente.

Quando, às 15:00 hs, as colunas de infantaria francesas fecharam sobre Ligny, elas foram recebidas com salvas de canisters e tiros de mosquete. Os franceses avançaram em três colunas cobertas por skirmishers; duas atacaram a vila, enquanto a terceira des-locou-se contra o castelo. Tirando vantagem deste movimento, as baterias francesas se deslocaram para mais perto da vila. Os franceses encontravam-se, então, dentro do alcan-ce eficaz dos tiros de canister, provenientes da extremidade de Ligny. A artilharia prussiana abriu fogo, numa tentativa de virar a maré contra o avanço francês.

As colunas francesas — algumas estavam portando as bandeiras tricolores — avan-çaram subindo os muros e pulando as cercas. Os prussianos, escondidos, dispararam a curto alcance, acertando as testas das colunas da infantaria francesa. Os atacantes fica-ram chocados com suas baixas e pararam. O 30º Regimento de Infantaria de Linha, havia, só ele, sofrido 700 mortos e feridos. Todos os 3 comandantes de batalhão estavam fora de

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combate; Richard e Lafolie estavam mortos e Blain encontrava-se ferido. Além disso, um major, 8 capitães e 16 tenentes daquele regimento também estavam fora de ação.

Os prussianos contra-atacaram e perseguiram os franceses até o campo de planta-ções altas, onde tropas francesas frescas abriram fogo contra os perseguidores. Agora era a vez dos prussianos virarem e fugirem, o que eles fizeram com muito gosto.

A artilharia francesa, então, concentrou seus tiros sobre os muros dos jardins, sobre as sebes e as consruções que circundavam Ligny, em um esforço de criar aberturas neles. Os homens de Gerard mergulharam nas valas e apertaram-se contra as paredes e cercas, buscando o melhor abrigo possível. Apesar das pesadas baixas, o furioso assalto francês conseguiu ganhar um ponto de apoio na vila.

O II Batalhão do 19º Regimento de Infantaria prussiano deslocou-se através de Ligny e se desdobrou de coluna para linha nas proximidades do ribeiro Ligne. Os skirmir-shers foram enviados à frente, mas estes foram rapidamente repelidos pelos skirmishers franceses. Uma única coluna francesa avançou contra a linha prussiana. O batalhão do major Von Bünau abriu fogo, enquanto a coluna francesa tentava se desdobrar em linha, pararesponder aos tiros.

Os prussianos despejaram um segundo voleio e carregaram com suas baionetas fixadas. Os franceses fugiram. O batalhão de Bünau foi, então, direcionado para a outra extremidade da vila. Seus homens se dividiram em pequenos grupos para tirar proveito das sebes, muros e cercas. Acabaram encontrando os franceses e ambos os lados abri-ram fogo, antes que os homens de Bünau carregassem com suas baionetas. Os franceses acabaram sendo empurrados para trás e através do ribeiro. Eles, então, se reuniram e se reorganizaram por trás de sua artilharia. Os franceses avançaram novamente de maneira teimosa e os homens de Bünau novamente os fizeram retrair.

“Quando uma companhia isolada do batalhão de Bünau viu uma companhia fran-cesa marchando em sua direção, seus homens carregaram com baionetas armadas. Os franceses no entanto continuaram se deslocando até que houvesse apenas 10 passos entre os lados. A companhia francesa depois parou, vacilou e fugiu!”. (Rudolf von Les-zczynski - “50 Jahre Geschichte des Koniglich Preussischen 2.Posenschen Infanterie-Re-giments Nr.19” p 162)

O batalhão de Bünau tinha passado a maior parte do dia lutando ou em ordem de “skirmishing” ou em lutas de pequenos grupos. Os skirmishers muitas vezes tiveram que rastejar através de aberturas nas cercas e sebes ou, muito rapidamente, se deslocar de um lugar para outro

Vários batalhões franceses desdobraram de colunas para finas linhas de skir-mishers penetrarando Ligny e cercando o páteo da igreja. Gradualmente, eles venceram os muros, as sebes e as cercas. Os skirmishers franceses eram apoiados por 2 canhões. A ação bem coordenada entre a infantaria e a artilharia francesas deram um muito bom resultado, fazendo com que os prussianos abandonassem o páteo da igreja. Os feridos inimigos foram baionetados pelos franceses em êxtase e a infantaria de Gerard penetrou nos prédios.

Mas antes que eles fossem capazes de se estabelecer no páteo da igreja e receber mais munição, os prussianos contra-atacaram. Os franceses, rapidamente, abandonaram suas posições e foram buscar abrigo atrás de seus canhões. Os prussianos os persegui-ram, mas somente por um curto período de tempo, pois logo a artilharia francesa passou a disparar tiros de canister sobre eles.

A infantaria Landwehr sofreu pesadas baixas em face da ação da artilharia france-

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sa. Lachouque escreveu: “Uma bateria de canhões posicionada no cemitério pulverizou os três batallhões que estavam sob o comando de Von Jagow”. Dois oficiais comandantes dos skirmishers prussianos foram feridos, mas permaneceram com suas tropas até que eles tiveram de desistir do seu intento, em virtude da perda de sangue. A fumaça era tão densa que ficava difícil distinguir os prussianos dos franceses.

A infantaria de Gerard, dentão, novamente tentou capturar o páteo da igreja e as casa no seu entorno. Cada rua, prédio e jardim foram disputados — as baionetas e os mosquetes seriam as armas de choque. A infantaria de Gerard forçou passagem para dentro do centro de Ligny e, em um feroz assalto, conquistou o páteo da igreja novamente.

Naquele momento, Ligny estava quase que inteiramente em mãos francesas. Hen-ckel e Jagow, contudo, mantinham o castelo e umas poucas casas, Relembra-se que Henckel tinha somente 6 dos seus 9 batalhões. (Segundo Peter Hofschroer, depois de Lettow-Vorbeck, os 3 batalhões do 13º Regimento haviam sido destacados para Mainz).

Dois batalhões da 3ª Brigada de Jagow (I e II/7º de Infantaria) com seus tambores batendo e aos gritos entraram na vila. Nos flancos de Jagow foram rolados 16 canhões acompanhados dos F/7º de Infantaria e do F/29º de Infantaria. Conforme Von Reiche, “os homens do 29º de Infantaria vestiam uniformes brancos e pesados agasalhos. Jagow diri-giu seu assalto contra a igreja e vizinhanças, enquanto a infantaria de Gerard permanecia pronta, aguardando por eles”.

Dois batalhões franceses formaram em colunas e contra-atacaram, pondo os dois batalhões líderes de Jagow em fuga, correndo. Os vitoriosos, contudo, decidiram não perseguí-los por trás da vila, de maneira que Jagow conseguiu reunir suas tropas e vol-tar. Este ataque deveria ser melhor organizado, então, eles avançaram cobertos pelos skirmishers de forma a não serem surpreendidos. A igreja foi tomada pelos prussianos. O perdão não foi nem pedido nem oferecido; os franceses feridos que caíram nas mãos prussianas foram baionetados.

Então, dois batalhões franceses formaram em colunas estreitas e avançaram cor-rendo com as baionetas fixadas nos mosquetes. Apenas as fileiras da frente ficaram em condições de disparar suas armas, quando o lugar ficou lotado e os oficiais perderam o controle das suas tropas. Um furioso tiroteio teve continuidade por meia-hora, ferindo am-bos os lados por estilhaços das balas de mosquete.

As casas vizinhas e até mesmo o pináculo da igreja ficaram cheios de buracos. A luta ao longo de toda a aldeia estava agora no momento mais quente. Lachoque escreveu: “as baionetas se quebraram contra as lajes da igreja, uma deles prendendo um sargento na porta da igreja.”

Os franceses, então, trouxeram canhões e dispararam canisters contra o inimigo posicionado perto da igreja. A infantaria prussiana e os Landwehr ficaram horrorizados com a baixas sofridas. Felizmente para os homens de Jagow, dois batalhões do 7º de infantaria contra-atacaram em tal velocidade que os artilheiros franceses, surpreendidos, abandonaram suas peças e fugiram. Os artilheiros foram acompanhados por grande gru-po número de infantes franceses.

Quando o prussianos perseguidores chegaram perto de um campo de culturas al-tas, foram recebidos com uma chuva de tiros de mosquete e retornaram para a vila. A infantaria da divisão de Gerard, exultante, perseguiu o inimigo e recapturou o páteo da igreja, ao mesmo tempo.

Eram quase 16:00 hs, quando os franceses atacaram o “chateau” (também cha-mado de “castelo”). Seus skirmishers abriram fogo enquanto os sapadores tentavam por

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abaixo um dos três portões. Os defensores, a um dado momento, abriram fogo contra os skirmishers.

Os artilheiros franceses com seus uniformes azuis-escuros aproximaram oito ca-nhões e os posicionaram a menos de 400 passos das construções. Quando a bateria disparou granadas e canisters, a infantaria cercou o castelo. Os snipers prussianos conse-guiram acertar vários artilheiros e oficiais da infantaria e mantiveram, assim, os franceses a distância. Em seguida, algumas construções pegaram fogo, obrigando os prussianos a saltarem das janelas do primeiro andar e ao longo dos muros altos. Os homens de Gerard dispararam contra eles; as coisas se passavam como no divertimento de “caça ao pato”, mas sem os patos.

Os combates em Ligny assumem a imagem de uma nova selvageriaDuas brigadas do II Corpo de Exército (a 6ª de Krafft e a 8ª de Bose) foram obri-

gadas a retomar Ligny. A exausta 4ª Brigada de Henckel viu-se obrigada a retrair para a segurança da floresta de Bois du Loup. Os franceses começaram um vigoroso fogo de artilharia sobre as novas forças, logo que elas se tornaram visíveis através da fumaça. A artilharia de ambos os lados estava rugindo e muitas das casas em Ligny estavam em chamas.

A queda de Ligny seria uma ameaça para o centro prussiano, razão pela qual eles tentaram capturá-la a todo o custo. Os 4 batalhões restantes da 6ª Brigada de Krafft en-traram na vila e marcharam pela principal e mais larga rua. (Seus dois outros batalhões já estavam em Ligny e os outros três estavam engajados em Saint Amand.)

As tropas de Krafft começaram a lutar por cada casa e jardim, o que não foi fácil, quando os skirmishers franceses se mostraram mais numerosos e sendo, constantemen-te, reforçados. Os skirmishers prussianos conseguiram cruzar o ribeiro nove vezes, e nove vezes foram conduzidos de volta!

A vila, a esta altura, estava cheia de tropas francesas e prussianas. Muitas compa-nhias e batalhões estavam tão misturados uns com os outros que nem tiveram tempo de se separarem. Agora, a luta havia assumido uma nova selvageria, com homens batendo com as pontas das baionetas e mosquetes e gritando insultos. As ruas estavam estavam cobertas de feridos e mortos.

Os ataques avançaram com veemência, até que se chegou a um fim, uma amarga batalha onde a morte fora uma recompensa abundante. Os franceses defenderam-se tão teimosamente dos ataques prussianos que. por exemplo, o 21º Regimento de Infantaria prussiano realizou 6 ataques e não ganhou nenhum terreno. A Infantaria de Gerard mos-trou-se tão vigorosa e agressiva que, desta vez, ela tinha sido a marca da infantaria de Napoleão, durante os anos de glória (1805-7).

A vila, a esta altura, estava cheia de tropas francesas e prussianas. Muitas compa-nhias e batalhões estavam tão misturados uns com os outros que nem tiveram tempo de se separarem. Agora, a luta havia assumido uma nova selvageria, com homens batendo com as pontas das baionetas e mosquetes e gritando insultos. As ruas estavam estavam cobertas de feridos e mortos.

Os ataques avançaram com veemência, até que se chegou a um fim, uma amarga batalha onde a morte fora uma recompensa abundante. Os franceses defenderam-se tão teimosamente dos ataques prussianos que. por exemplo, o 21º Regimento de Infantaria prussiano realizou 6 ataques e não ganhou nenhum terreno. A Infantaria de Gerard mos-trou-se tão vigorosa e agressiva que, desta vez, ela tinha sido a marca da infantaria de

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Napoleão, durante os anos de glória (1805-7).

A BATALHA DE LIGNY (FLANCO DIREITO).

O flanco de VandammeGrouchy enfrentou o III Corpo de Exército de Thielemann. O QG de Johann Adolf

Freiherr von Thielemann (ou Tielemann) encontrava-se no moinho de vento de Point Du Jour, o segundo ponto mais alto do campo de batalha.

Thielemann nascera na Saxônia em 1765. Ele entrou na cavalaria da Saxônia e serviu contra os franceses nas campanhas do Reno. Então, Thielemann serviu ao lado da Prússia na campanha de Jena em 1806. Após a derrota em Jena, Thielemann foi enviado como embaixador da Saxônia na França, quando tornou-se ardente admirador de Napo-leão. Ele e muitos outros saxões lutaram ao lado dos franceses, em 1807, no cerco de Danzig e em Friedland. Em 1812, Thielemann distinguiu-se em Borodino. Durante o início da Campanha da Saxônia, em 1813, Thielemann era governador da fortaleza Torgau. Por ordens de seu rei, ele observou, a princípio, a mais estrita neutralidade, mas no momento da recepção de uma ordem de entregar a fortaleza para os franceses, ele renunciou ao seu comando e se juntou aos aliados. Como general russo, ele foi empregado na reorga-nização do exército saxão após a derrota em Leipzig. Em 1814, ele comandou as tropas da Saxônia na campanha pelos Países Baixos. Em 1815, Thielemann tornou-se um tenen-te-general do Exército prussiano.

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O Chefe-do-Estado-Maior de Thielemann era o coronel Karl von Clausewitz. Clau-sewitz não era apenas um oficial, mas tambem um teórico militar.

Ao contrário de outro teórico militar, Jomini, ele argumentava que a guerra não poderia ser reduzida a um simples “jogo de mapas”, ao uso da geometria e aos gráficos. Clausewitz destacava a importancia dos aspectos psicológicos e políticos da guerra. A grande obra de Clausewitz “On War” ficou inacabada em razão da sua morte. Apesar dis-so, suas idéias têm sido amplamente divulgadas, mostrando-se influentes na teoria militar. Por exemplo, a frase “névoa da guerra” deriva do seu estresse decorrente e sobre como a guerra pode parecer confusa quando nos encontramos imersos dentro dela. A expressão “centro de gravidade” também usada por Clausewitz, deriva da Mecânica Newtoniana. Na doutrina militar dos EUA, o “centro de gravidade” refere-se à base do poder do adversário, a nível estratégico ou político.

Em contraste com as tropas de Grouchy, o grosso da força de Thielemann consistia de infantaria. No entanto, dos seus 27 batalhões, apenas 9 eram de infantaria regular. Os restantes 18 batalhões eram de Landwehr. O Landwehr aceitava homens com idades entre 25 a 40 anos, enquanto os muito velhos e os mais fracos eram destinados às tropas regulares. Cada recruta deveria ser capaz de se uniformizar e de se equipar por seus próprios custos. Se ele não fosse capaz, o distrito / província deveria, então, fornecer seu equipamento. Ao Estado caberia o provisionamento de armas e munições.

A cavalaria de Thielemann estava sob o comando do major-general Hobe e era formada por duas brigadas. No entanto, a brigada de Marwitz foi deslocada sobre o flan-co oposto do exército. Dois esquadrões do 9º de Hussardos foram dispostos em postos avançados perto de Dinant. Além disso, parte da cavalaria Landwehr havia sido destacada para as brigadas de infantaria. Dois esquadrões do 3º Kurmark Landwehr foram destaca-dos para a 9ª Brigada, dois esquadrões do 6º Kurmark Landwehr para a 11ª Brigada, 2 esquadrões do 3º Kurmark Landwehr para a 10ª Brigada, e 2 esquadrões do 3º Kurmark Landwehr para a 12ª Brigada.

As tropas de Thielemann em Ligny:=> 9ª Brigada de Borcke (8º e 30º Regimentos de Infantaria; 1º e Kurmark Lan-

dwehr); => 10ª Brigada de Kemphen (20º* e 27º Regimento de Infantaria; 2º Kurmark Lan-

dwehr); => 11ª Brigada de Luck (32º Regimento de Infantaria **; 3º e 4º Kurmark Landwehr); => 12ª Brigada de Stulpnagel (31º Regimento de Infantaria; 5º e 6º Kurmark Lan-

dwehr);=> 1ª Brigada de Cavalaria de Marwitz (7º e 8º Uhlans; 12º Hussardos*** ; e 3º

Kurmark Landwehr);=> 2ª Brigada de Cavalaria de Lottum (5º Uhlans; 7º Dragoons; 9º Hussars;e 6º

Kurmark Landwehr)OBS:* - em Mainz ** - não presente

A INFANTARIA DE GROUCHY VERSUS THIELEMANN.

No inicio, a ação no lado leste do campo de batalha ficou limitada aos tiros de

As guerras napoleônicas

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artilharia de longo alcance. Thielemann e seus skirmihers se desdobraram ao longo do ribeiro Ligne. Estavam organizados com o Batalhão F do 31º Regimento de Infantaria e os Kurmärk Landwehr (ambas as unidades faziam parte da 12ª Brigada de Stülpnagel). Thie-lemann reforçou a 12ª Brigada com 8 canhões pesados retirados da artilharia em reserva. A aldeia de Tongrine foi ocupada por parte da 9ª Brigada de Borcke. Ao longo da extremi-dade da vila foram colocados skirmishers do Batalhão F do 30º Regimento de Infantaria. No centro, ficaram 2 outros batalhões daquele regimento. O 8º Regimento de Infantaria foi mantido em reserva. A cavalaria de Hobe permaneceu no flanco da infantaria.

A batalha entre Thielemann e Grouchy começou entre 04:00 e 06:00 hs, com o avanço da divisão de Hulot contra Tongrenelle e Sombreffe. A divisão era liderada por dois batalhões do 9º Regimento de Infantaria Ligeira.

No passado, havia querelas entre a Guarda Consular e os homens do 9º Regimento de Infantaria Ligeira, que Napoleão havia apelidado de “O Incomparável” na Itália — mas não estava impressionado com qualquer um dos “pretorianos”I

Os batalhões líderes de Hulot empurraram para trás, facilmente, os postos avan-çados do 5º Kurmark Landwehr. A bateria prussiana, no entanto, abriu fogo e as colunas franceses começaram a vacilar.

Em seguida, dois batalhões de “Fusilier” (um do 31º de Iinfantaria, e um do 5º Kur-mark Landwehr) seguidos por dois batalhões de “Musketier” (ambos do 31º de Infantaria) contra-atacaram. Em desvantagem, e sem artilharia para os apoiar, os franceses recua-ram de volta para suas posições no outro lado do córrego.

Estava ficando escuro e os skirmishers franceses estavam se aproveitando desta si-tuação. Eles, furtivamente, se posicionaram em torno dos prussianos e dispararam sobre suas grandes colunas, pelo flanco e pela retaguarda. Os irritados prussianos carregaram com baionetas armadas, mas os skirmishers, simplesmente, se retiraram. Logo depois, eles voltaram e continuaram sua ação aparecendo e disparando contra os prussianos.

Os franceses gozavam de grande reputação como skirmishers. Eles tinham uma rápida sagacidade, possuíam agilidade e habilidade, além de leveza para correr, saltar e rastejar. Várias companhias ou mesmo batalhões poderiam ser empregados como skir-mishers (tirailleurs en grande bande).

. A CAVALARIA DE GROUCHY VERSUS THIELEMANN

No flanco direito de Grouchy ficou uma grande força de cavalaria sob o comando dos generais Exelmans e Pajol. Dos 12 regimentos de cavalaria, 10 eram de dragões. Eles estavam armados com sabres retos e os chamados mosquetes de dragões. Os dragões franceses usavam uniformes verdes, portavam elmos e montavam cavalos de tamanho médio.

Os dragões atacaram uma das colunas do batalhão prussiano, mas sem sucesso. Os franceses deslocaram um grupo de infantaria e alguma artilharia contra Tongrinne, enquanto outro grupo foi chamado para enfrentar o II Batalhão do 30º Regimento de In-fantaria prussiano. O batalhão prussiano tentou flanquear o inimigo estacionário, mas foi atacado pelos dragões franceses, sendo forçado a parar e formar quadrados.

A infantaria francesa e os dragões, em seguida, moveram-se contra o I Batalhão de Infantaria prussiano, mas a luta foi inconclusiva. Nesta situação, os franceses novamente pressionaram Tongrinne, e Thielemann ordenou à 11ª Brigada de Luck para defendê-la. Não demorou muito antes que o pressionado Luck empregasse 5 de seus 6 batalhões.

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Os franceses, então, deslocaram-se para o sudeste de Tongrinne, em uma tentativa de flanquear a linha prussiana. Thielemann respondeu atirando sobre eles a 10ª Brigada de Kemphen. Ele também colocou a 2ª Brigada de Cavalaria de Lottum atrás dos homens de Kemphen como uma reserva. Este ataque foi apoiado por 8 canhões pesados e 8 ca-nhões a cavalos.

Lottum deslocou uma bateria a cavalo escoltada por dois esquadrões do 7º de Dra-gões prussianos em direção a Boignee, em uma posição mais avançada. Os dragões prussianos estavam armados com sabres curvos. (O pesado e com làmina reta Pallash era dos couraceiros.) Aproximadamente 20 homens por esquadrão estavam armados com carabinas de cavalaria. Os dragões prussianos usava barretinas (shakos) e montavam cavalos de médio porte.

Os dois esquadrões de dragões prussianos foram atacados pelos 5º e 13º de Dra-gões franceses. Pesadamente inferiorizados numericamente, os “dragões renanos” vesti-dos de azul foram expulsos, e a bateria foi capturada.

OS FRANCESES PENETRAM ATRAVÉS DA LINHA PRUSSIANA

Neste momento, Napoleão ordenou os preparativos para o ataque principal contra o centro prussiano. O IV Corpo de Exército de Lobau foi chamado e a Jovem Guarda foi retirada de Vandamme.

Blücher entendeu a retirada da Jovem Guarda da linha de frente como um sinal de sua vitória sobre esta parte do campo de batalha. Ele, então, mandou avançar três bata-lhões da 8ª Brigada e, parcialmente, restabeleceu a linha original de defesa. Sua alegria foi, porém de curta duração. Uma patrulha da sua cavalaria capturou um oficial francês que deu a informação de que um outro Corpo francês (o de d’Erlon) e não o exército de Wellington era quem estava nas proximidades. Os prussianos finalmente perceberam que os britânicos não estavam indo para se juntar a eles naquele dia.

Nuvens escuras começaram a rolar pelo céu, colocando todo o campo de batalha em uma escuridão. O bombardeio da artilharia foi acompanhado de relâmpagos e tro-vões.

Às 19:45 hs, dez batalhões de infantaria da Velha Guarda, com seus tambores batendo, avançaram como se fossem uma antiga falange. Os veteranos fixaram suas baionetas e avançaram. Eles se deslocaram contra Ligny em dois grupos. No primeiro marcharam os 2º, 3º e 4º Regimentos de “Grenadiers”. No segundo estavam os melhores dos melhores, o 1º de “Grenadiers” e o 1º de “Chasseurs”. Os homens eram todos esco-lhidos a dedo; eram veteranos com muita experiência sob fogos.

O marechal Soult, no entanto, prescreveu cerca de 6, e não de 10 batalhões sendo envolvidos no ataque. O 3º de “Chasseurs” tinha sido enviado mais cedo para a esquer-da para observar as tropas misteriosas no flanco de Vandamme. O general Drouot, no entanto, afirma que este regimento logo voltou para o centro de onde vieram. Os 2º e 4º de “Chasseurs” não se encontravam muito longe da aldeia de Saint Amand e da Jovem Guarda de Duhesme.

“A infantaria da Guarda estava marchando em colunas de batalhão a meia-distân-cia. Friant e Morand estavam marchando à sua testa. ‘Pere Roguet’ estava a cavalo na frente do 2º de “Grenadiers” de Christinai, que seguiam Petit, à testa do 1º de “Grena-diers”, que no ano anterior tinha sido cercado no páteo de Fontainebleau pelo Imperador. Cerca de 200 m à esquerda estava o 1º de “Chasseurs” sob o comando de Cambronne ...

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Em um grande tilintar de veículos e aço, a artilharia reserva avançou no flanco direito, com 8 canhões lado a lado, precedidos por Desvaux de St.Maurice e Lallemand, e, em seguida, 800 “Grenadiers” da Guarda a cavalo, 800 “Dragoons” da Guarda e 1.600 “Cuirassiers” sob o comando de Delort .. . a marcha de aproximação durou 20 minutos, sob o estrondo de um trovão “. (- Henri Lachouque )

Desvaux St.Maurice saudou os prussianos com a artilharia da Velha Guarda, sober-bamente desdobrada no monte chamado Tombe de Ligny. (Não havia, talvez, nenhuma classe de homens sobre a face da Terra, que levasse uma vida de mais esforço e de perigo constante, e que fosse mais apaixonada por sua profissão, do que os artilheiros da Velha Guarda de Napoleão. Algumas de suas armas eram canhões pesados de 12 pdr.. Napo-leão carinhosamente as chamava de suas “filhas queridas.”)

Os franceses estavam batendo Ligny e seus arredores e criaram um fogo cruzado com as baterias da Jovem Guarda em oposição, ao norte de Saint Amand. As encostas ao redor do moinho Brye foram literalmente inundadas com balas de canhão e granadas, que pulverizaram os prussianos.

Atrás da infantaria da Velha Guarda avançou o IV Corpo do Exército de Gerard. (Gerard afirmou que seu corpo precedia a Guarda ao entrar Ligny.)

A infantaria da Velha Guarda e o Corpo de Gerard foram seguidos por vários regi-mentos de “Cuirassiers” e pela cavalaria pesada da Velha Guarda. O número exato de regimentos de “Cuirassiers” envolvido é desconhecido. Nossas fontes mencionam ou 4 regimentos ou 6 regimentos (segundo o marechal Soult e o general Delort). Já Michel Or-dener, coronel do 7º Regimento de “Cuirassiers” diz terem sido 8 regimentos.

Os infantes da Velha Guarda entraram em Ligny, varrendo tudo à frente deles com suas baionetas, movendo-se como um touro furioso com a cabeça abaixada. Ligny foi conquistada para servir de refrão ao “Chant du Depart”.

O 5º Regimento de “Cuirassiers” carregou sobre a primeira linha da cavalaria prus-siana e a jogou de volta. O 9º Regimento de “Cuirassiers” passou a golpes de sabre os artilheiros do inimigo e capturou um obus.

A Velha Guarda passou por Ligny e saiu do outro lado da aldeia. Os 2º, 3º e 4º Regimentos de “Grenadiers” subiram a encosta do moinho de Bussy, enquanto o 21º Re-gimento de Infantaria prussiano era atacado pela cavalaria pesada e lutou por sua sobrevi-vência. A cavalaria Landwehr tentou resgatar seus companheiros, mas recebeu uma sarai-vada certeira e fugiu em desordem. O 1º Regimento de “Grenadiers” e o 1º de “Chasseurs” seguiram para o leste de Ligny. (De acordo com o relatório oficial do Exército prussiano, a infantaria francesa envolveu a vila por um lado e os “cuirassiers” pelo outro).

Blücher, montou em seu cavalo, e com sua capa flutuando ao sabor do vento, ele empregou a sua última reserva. “Em nome do Diabo, ataquem então!” ele gritou para ca-valeiros de Roeder. O velho guerreiro desembainhou a espada e liderou três regimentos de cavalaria (o 6º Uhlans, o 1º de Dragoons, e o 2º de Kurmark Landwehr) em um contra--ataque desesperado. William Balck escreveu: “Ligny 1815. A carga feita pelo 6º Uhlans prussiano contra a infantaria da Guarda francesa falhou quando enfrentou um íngreme declive de 6 pés”. Os uhlans foram dizimados pelo 4º Regimento de “Grenadiers”, e 13 oficiais e 70 soldados remanescentes formaram um quadrado de 20 m de lado.

Estes uhlans, então, foram atacados pela cavalaria pesada francesa e fugiram, dei-xando para trás os seus prisioneiros e feridos. Os dragões e os Landwehr também foram atacados e expulsos. Alguns cavalos caíram; outros, sem cavaleiros, galoparam em torno do fumo e, finalmente, caíram no ribeiro.

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O cavalo de Blücher foi atingido e caiu no chão prendendo o comandante debaixo dele. O cavalo de seu ajudante também foi atingido”. De acordo com Hofschroer “Mais duas cargas da cavalaria francesa passaram sobre o par antes que a ajuda pudesse chegar.” Eles não foram notados pelos “cuirassiers” franceses por causa de seu uniforme verde.

O massivo ataque francês agora estava quase no fim, quando a chuva parou e o sol apareceu novamente.

Embora o avanço da Velha Guarda tivesse sido imparável, houve alguns proble-mas. Por exemplo, o 4º Regimento de “Chasseurs” sofreu pesadas baixas, de modo que, após a batalha, foi reorganizado de dois para um batalhão. Além disso, o 1º de Dragões da Prússia (o da Rainha) realizou uma carga muito bem sucedida contra a cavalaria francesa.

O II Batalhão do 1º Regimento de Landweh da Westfália formou quadrados no topo de uma colina perto de Brye e repeliu três cargas feitas pelos “cuirassiers” e pela cavalaria da Guarda. Três outros batalhões prussianos teimosamente mantiveram Brye por horas, abandonando-a apenas no início da manhã, às 03:00 hs.

VITÓRIA

Estava escuro e as estradas estavam cheias de soldados prussianos de diferentes batalhões, esquadrões e baterias misturados. Havia caos e barulho em todos os lugares e eles pensavam que somente uma retirada rápida seria a única possibilidade de salvação. Alguns soldados tiveram de lutar contra cargas de cavalaria e muitos fugitivos foram mor-tos a golpes de sabre. Havia rumores de que Blücher havia sido feito prisioneiro.

A pior situação era a das tropas ejetadas de Ligny, ainda que muitos dos regimen-tos dos flancos tivessem recuado em boa ordem. Além disso, alguns cavalarianos e o II Corpo de Exército de Thielemann bivacaram durante aquela noite. Os postos de cavalaria da Prússia estavam dentro do alcance dos mosquetes dos guardas dos postos avançados franceses. Alguns batalhões franceses bivacaram formados em quadrados mantendo uma fileira com suas armas prontas..

Ligny estava em ruínas, as ruas estavam cobertas de feridos, de cavalos e de equi-pamentos abandonados: mosquetes, sabres, caixas de cartuchos, shakos, etc.

As baixas francesas foram de 12.000 homens, entre mortos e feridos. As baixas prussianas foram também pesadas, mas não excederam:16.000 entre mortos e feridos e 21 canhões perdidos. Isto correspondia a, aproximadmnte, a 15% de sua força. Também havia 6.000 homens que abandonaram seus regimentos durante a noite, embora muitos deles tivessem voltado às sua fileiras durante o dia seguinte. Wellington alegou ter visto a derrota prussiana em Ligny através de sua luneta, da encruzilhada em Quatre Bras. Deve ter sido uma “luneta extraordinária”, escreveu o autor britânico Siborne, “para ser capaz de ver através de uma colina, e no escuro”.

Oficiais do estado-Maior prussiano foram enviados para bloquear as estradas que levavamm a Gembloux e redirecionar as brigadas de forma a recuar, com a intenção de manter o contato com o exército de Wellington.

Os generais prussianos foram capazes de restaurar a ordem e reunir um grande número de fugitivos.

Napoleão passou o seu tempo após a batalha em Fleurus, enquanto Blücher ficou em Tilly, onde suas tropas receberam ordens para se concentrar. A perseguição francesa após a batalha não foi vigorosa e isto foi um grande erro por parte de Napoleão.

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5. A BATALHA DE WATERLOO

AS FORÇAS OPONENTES EM WATERLOO

O Exército francêsDos três exércitos envolvidos na Campanha de Waterloo, a “Armée du Nord” fran-

cesa era a mais homogênea – tanto em nacionalidade como em adestramento. Ainda que alguns poloneses e outras nacionalidades formassem uma pequena porção daquela força, esta consistia, quase que inteiramente, de franceses. Muitos daquele exército encontra-vam-se doentes em razão da falência do governo dos Bourbons, mas confidenciavam que Napoleão era um gênio militar que os levaria à vitória e restauraria as fortunas francesas. Milhares de veteranos que tinham sido capturados dos aliados, tinham sido, recentemen-te, reconduzidos aos seus postos e graduações. Os mais recentes conscritos tinham sido enviados para os exércitos que guardavam as fronteiras e a maioria dos soldados da “Armée du Nord” era composta de veteranos ou voluntários. Consequentemente, a moral da tropa era alta e muitos estavam famintos para fazer a batalha e vingar a recente humi-lhação sofrida pela França.

No entanto, ainda que o Exército francês fosse bem conduzido, algumas das no-vas nomeações feitas por Napoleão eram questionáveis. A inesperada morte do marechal Berthier, que morreu sob circunstâncias suspeitas, havia privado Napoleão de seu melhor Chefe-de-Estado-Maior. O marechal Soult que o substituiu naquela função-chave levanta-va dúvidas sobre sua lealdade para com o novo regime de Napoleão. A melhor designação para Soult deveria ter sido a de comandante da ala esquerda do exército, ao invés do furioso e destemperado marechal Ney, cuja performance inconsistente, mais tarde, viria a causar problemas. O recém promovido marechal Grouchy recebeu o comando da ala direita, mesmo que ele não tivesse, anteriormente, assumido tão grande responsabilidade. Embora Joachim Murat fosse reconhecido pela sua habilidade como general de cavalaria e poderia ter sido uma melhor escolha, Napoleão rejeitara seus serviços devido a sua traição em 1813-1814.

Napoleão também nomeou seu irmão, Príncipe Jérome Bonaparte, para uma im-portante posição, ao invés de empregar homens do gabarito de Suchet e Davout para os postos influentes para aquela vital campanha, que deveria ter grandes comandantes, por mérito próprio. Foram as necessidades políticas que o fizeram tomar tais decisões. O

Imperador precisava realizar um forte retorno militar e não estava com vontade de compartilhar a glória com subordinados talentosos, que poderiam ficar, potencialmente, em condições de substitui-lo, Aliás um temor demonstrado pela maioria dos ditadores.

Com cerca de 128.000 homens, a “Armee du Nord” possuía uma paridade próxima em números, quando comparada com cada um dos exércitos oponentes, mas ficaria em inferioridade numérica a eles, caso eles se combinassem. Considerando que Napoleão tinha estado no poder por apenas um pequeno intervalo de tempo, pode-se afirmar que a tropa francesa estava notavelmente bem equipada e era uma força coesa. Deveras, com 366 canhões, ele tinha mais artilharia que qualquer uma das forças oponentes e a superioridade francesa em termos de cavalaria, tanto em número como em qualidade, faziam o Exército francês ser dotado de uma portentosa qualidade para uma campanha de manobra.

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O Exército anglo-aliadoEm contraste direto, o Exército anglo-aliado de Wellington era uma verdadeira força

internacional. Ele continha uma marcante mistura de tropas oriundas da Holanda-Bélgica, de Nassau, de Brunswick, de Hanover e da Inglaterra. As tropas holandesas-belgas provi-nham do recém formado Reino da Holanda, cuja existência datava de menos de um ano. As tropas britânicas e as Legiões dos Reis Germânicos (de nacionalidade germânica inse-ridas no Exército inglês) eram, provavelmente, as mais confiáveis. No entanto, muitos ve-teranos da Guerra da Península, cujas presenças seriam bem vindas, estavam, ainda, em viagem de retorno, através do Oceano Atlântico, depois de um recente conflito na América. Muitos dos regimentos que estavam disponíveis não possuíam experiência em combate.

Uma grande proporção dos germânicos, naquele momento, resultava das fortes ligações da Casa de Hanover com a Inglaterra. Os soldados hanoverianos tinham prova-do sua vontade de servir sob comando britânico na Guerra da Península, particularmente depois que sua nação caiu sob a influência do poder estrangeiro.

Já as recém formadas forças hanoverianas eram largamente formadas de conscri-tos, o que obrigou Wellington a distribuir veteranos entre eles, para minimizar a questão. Os soldados de Brunswick e Nassau eram mais experientes, mas Wellington hesitava em confiá-los ao contingente de holandeses-belgas. Colocados sob o comando do Príncipe d’Orange, com 23 anos de idade - cuja nomeação decorreu mais da necessidade política do que das suas capacidades militares -, muitos daqueles soldados tinham recentemente lutado sob comando francês e seus uniformes e táticas repousavam na doutrina militar francesa. Contudo, Wellington foi capaz de selecionar dentre eles alguns oficiais do seu próprio Estado-Maior e outros mais antigos, que ele já conhecia e neles confiava, como os generais Picton e Hill.

No entanto, o Exército britânico era pequeno, mas profissional, composto de vo-luntários e bem treinados soldados, em contraste com a maioria das forças dos exércitos continentais, largamente formados de conscritos. Os soldados da infantaria britânica, em particular, eram reconhecidos por suas habilidades defensivas e cadência de tiro, em ra-zão de um constante adestramento. Diferentemente de muitos exércitos o britânico podia pagar para treinar suas tropas em regulares exercícios de tiro, que, naturalmente, levam a uma maior eficiência na mosqueteria.

O efetivo do exército chegava, grosseiramente, a 106.000 homens, com 216 ca-nhões, mas Wellington sabia que lhe faltava a coesão nacional e que a lealdade daqueles aliados recentes era digna de suspeição. De fato, suas tropas falavam uma mistura de, pelo menos, quatro diferentes línguas nacionais (para não mencionar os dialetos regio-nais), o que tornava a comunicação interna problemática. Com a falta geral de experiência em campanhas no exército, Welli gton, privadamente, referiu-se ao seu comando como: “um exército infame, muito fraco, mal equipado e inexperiente”. Mas, eventualmente, ele iria servi-lo muito bem.

O Exérctio prussianoO Exército da Prússia já tinha sofrido uma série de derrotas contra a França, mas

a agressiva política de relações exteriores da Napoleão tinha provocado a ressurg~encia do nacionalismo nos Estados germânicos e, consequentemente, muitos deles estavam famintos de lutar contra a França. Metade deste exército consistia de 12 velhos regimen-tos de infantaria regular, além de 12 regimentos de reservistas, dos quais, apenas os experientes eram soldados confiáveis. No entanto, os restantes 50% do exército eram na

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sua maioria composta de milicianos (Landwehr), e este eram, quase sempre, pobremente equipados, inexperiente e dotados de uma baixa disciplina.

Alguns dos Estados germânicos tinham sido membros da Confederação do Reno, criado por Napoleão e, por conseguinte, muitas das tropas dividiam suas lealdades. Mes-mo antes da atual campanha começar, as unidades westfalianas já eram olhadas com suspeição, desde que Jerôme Bonaparte tinha sido, recentemente, seu rei. Sua decorren-te falta de entusiasmo pela causa aliada foi demonstrada pelo grande número de deser-ções depois da Batalha de Ligny.

O Exército prussiano era, contudo, uma força efetiva, com uma infantaria de boa qualidade e uma eficiente artilharia. Sua arma da cavalaria era entusiasmada e famin-ta por combate, mas lhe faltava experiência, quando comparada com suas contrapartes francesas. Apesar de tudo, ela era bem dotada em montarias e bem equipada. em quase toda sua maior parte. Os prussianos somavam, aproximadamente, 128.000 infantes de 312 canhões.

O marechal Blücher sabia que ele poderia confiar na sua cavalaria e infantaria regu-lares, mas também sabia que seu Landwehr era uma interrogação para a campanha que se aproximava.

ORDEM DE BATALHA DAS FORÇAS EM CONFRONTO

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O CAMPO DE BATALHA DE WATERLOO

Antes de sepassar ao relato da batalha, propriamente dito, avulta de importância que se apresente um arremedo de estudo topo-tático da região do campo de batalha de Waterloo.

Considerando-se a definição de um campo de batalha como a área onde é travada uma batalha, e onde os exércitos contendores se posicionam, antes de começarem as lutas, o campo de batalha de Waterloo ficava delimitado, aproximadamente: ao norte pela floresta de Soignes; ao leste pelas florestas de Ohain e Paris e pelo curso d’água de Las-ne; ao sul pela floresta de Callois; e a oeste, pelo curso d’ água de Hain.

A grande floresta de Soignes está posicionada entre Bruxelas e Waterloo, em am-bos os lados da grande estrada que liga Charleroi a Bruxelas. Por oeste, essa estrada estica-se até Waterloo e o vilarejo de Le Chenois, enquanto que, pelo leste, ela corre em direção às aldeias de Joli Bois, Le Roussart, Verd Coucou e Ransbeeck; a partir daí ela cai até o vilarejo de Gallemart. A floresta de Soignes é muito aberta e com árvores altas, mas sem qualquer outro aspecto significativo. Além disso, dentro dela há uma grande quanti-dade de caminhos e trilhas, que são principalmente utilizados para a caça, recreação e a exploração da floresta.

O campo de batalha é interceptado por duas estradas, uma vindo de Charleroi (1) e o outra de Nivelles (2), ambas convergindo no vilarejo de Mont Saint Jean, a partir de onde, em continuidade, uma estrada principal, dirige-se para Bruxelas.

Ambas as estradas tinham cerca de 5 a 6 metros de largura e eram margeadas por amplas margens de barro, mas - ao menos no campo de batalha - sem qualquer tipo de árvores. Dependendo dos campos adjacentes, as estradas ficam, às vezes, ao mesmo nível destes campos ou, então, os cortam fundo.

Em junho de 1815, a maior parte do campo de batalha mostra-se coberto com cul-turas de trigo, aveia e centeio. Embora estes ainda não estejam completamente prontos para a colheita, estão amadurecendo e, por isso, mostram-se altos, cobrindo o campo de batalha com grãos que tinham crescido tão alto quanto 1,5 metros ou mais.

Além disso, havia também campos com batatas, feijão, ervilhas e grama, bem como terras caídas. Os campos eram aqui e ali intercalados com arvoredos.

À frente do vilarejo de Mont Saint Jean, há uma dobra natural do terreno, de impor-tância militar para a defesa da via de acesso que ali incide e que demanda Bruxelas; rata--se de uma linha de crista suavemente elevada do chão (Chamaremos de Mt. Wellington). Ele intercepta, em ângulo reto, a estrada que vem de Charleroi e orienta-se na direção oeste até cerca de meio caminho entre as duas estradas, onde ela toma a orientação SW e termina abruptamente em seu ponto de interseção com a estrada de Nivelles (3). No lado leste, a linha de crista estende-se perpendicularmente à estrada de Charleroi até atingir um ponto, distante cerca de 650 metros, onde, forma um esporão (4) e daí, faz um curso para NE, expandindo-se em um platô aberto. Esta linha de crista de Mont Saint Jean viria a constituir a posição da primeira linha do exército de Wellington.

Para o sul, e que seria ocupada pelos franceses, há uma outra linha de crista (cha-maremos de Mt Napoleão), cujas encostas possuem um gradiente que varia, dependendo do local. Perto da aldeia de Goumont (a oeste), o gradiente é de cerca de um centímetro por metro, enquanto que entre esta localidade e a fazenda de La Haye Sainte é mais gentil. A partir de La Haye Sainte (para leste), o declive aumenta novamente, até tornar-se abrupto perto da estrada de Ohain, onde o gradiente é de três centímetros por metro.

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As subidas foram descritas por historiadores como: “o chão de cada lado do vale era de fácil acesso e de uma subida tão moderada que permitia cargas de cavalaria morro acima, em todos os pontos, em pleno galope, e que a subida para se chegar à esquerda da linha de batalha dos aliados era maior, e em algumas partes um pouco mais íngremes do que a do terreno em oposição ao seu centro e a esquerda, embora não tão alto “.

Devido à altura da linha de crista e ao fato de que a fazenda de La Haye Sainte está em um socavão, esta fazenda mal pode ser vista do coração da posição de Wellington.

Para leste da estrada de Bruxelas, a inclinação é afiada (aproximadamente 8 cm por metro), mas desce, lentamente, mais para leste e volta a subir, novamente, em direção às fazendas de Papelotte e La Haye.

A primeira linha do exército de Wellington fica mais claramente definida por uma estrada (5) que corria ao longo da cimeira da linha de crista, seguindo a direção (de leste para oeste) Wavre, Ohain e Braine l ‘ Alleud.

O cruzamento das estradas de Charleroi e de Ohain é cortado profundamente atra-vés da desta linha de crista (6). A partir de seus centros, estas peças ocas correm alguns 260, 200, 60 e 100 metros para o oeste, sul, leste e norte, respectivamente. De uma profundidade de cerca de 3 a 4,5 metros, elas gradualmente subem ao nível do solo. Em algum ponto, corredores pequenos permiem acesso a campos na estrada afundada.

Imediatamente a leste da estrada de Charleroi, a estrada de Ohain fica alinhada em ambos os lados por sebes e arbustos por uma distância de cerca de 900 metros.

Entre o vilarejo de Mont Saint Jean e o cruzamento de estradas de Ohain e de Char-leroi fica,à leste, a grande fazenda de Mont Saint Jean. Mais ao sul, próximo ao mesmo cruzamento de estradas, no canto NW, fica uma pequena cabana, a Maison Valette.

Ao longo do lado oeste da estrada de Charleroi, uns 250 metros ao sul da estrada de Ohain e no sopé da linha de crista fica a grande fazenda de La Haye Sainte. Como Mont Saint Jean, tal complexo – que consiste de uma habitação, celeiros, estábulos e ou-tras dependências - foi construído em torno de um pátio grande. O norte e o sul da fazenda são delimitados por um pequeno jardim e um pomar, respectivamente.

Imediatamente a nordeste da fazenda e no lado oposto da cabana há uma grande caixa de areia. Sobre seu lado norte (uns 100 metros à frente da estrada de Ohain) há um pequeno banco de terra, que é protegido por uma cerca de 150 metros de comprimento e alguns salgueiros altos.

Na extremidade do flanco esquerdo da primeira linha de Wellington, uns 900 metros à frente da estrada de Ohain, fica o povoado de Smohain. Seu nome deriva do peque-no riacho que ali corre em um terreno baixo, no sentido oeste-leste. O terreno baixo de Smohain tem três extensões na direção oeste. A primeira forma o terreno baixo da frente da linha de crista de Mont Saint Jean e continua a alguma distância além da fazenda de La Haye Sainte.

A segunda vira no entorno do planalto de La Belle Alliance para buscar conexão com o terreno baixo da aldeia de Plancenoit. A terceira se estende em direção à pousa-da de La Belle Alliance, onde se bifurca. A existência desta terceira extensão resulta na presença de um terreno elevado entre o planalto de La Belle Alliance e a linha de crista de Mont Saint Jean. Ela vem desde Goumont e corre por cerca de 900 metros no sentido leste, tendo cerca de 300 metros de largura. Aqui, a estrada que corre entre Bruxelas e Charleroi a penetra.

Na margem esquerda do riacho Smohain, nas dobras mais elevadas do terreno, cerca de 500 metros a oeste de Smohain, ficam as fazendas de La Haye e Papelotte. É

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uma área toda dobrada, intercalada com grupos de árvores, casas espalhadas e faixas de areia, convergindo desde Ohain, Braine l ‘ Alleud e floresta de Paris.

Na estrada que leva de Smohain para a floresta de Paris situa-se, a cerca de 300 metros de Smohain, e rodeado por amplos jardins e um bosque, o castelo de Fischermont.

No flanco direito da linha de frente de Wellington, a uns 400 metros à frente das es-tradas de Ohain e de Nivelles fica o vasto complexo do castelo e a fazenda de Goumont. Compreende os edifícios do castelo e da fazenda, tendo-lhes adjacente pelo leste um jardim, e um pomar e uma pequena mata ao sul.

A aldeia de Braine L’Álleud, em Hain, constituíu a retaguarda direita da linha de fren-te de Wellington, a cerca de 2.200 metros de Goumont. Ao redor, a algumas centenas de metros de distância, ficam as pequenas vilas e fazendas de Pospoil, Bestrave e du Vieux Foriez.

A meio caminho entre Braine l ‘ Alleud e Mont Saint Jean fica o vilarejo de Merbrai-ne, em que a fazenda de Cambray forma a construção principal. Merbraine fica localizada em um terreno baixo que é uma extensão de Hain. De Merbraine, ele continua ao longo do lado oeste da linha de crista de Mont Saint Jean e de Goumont, e faz um ângulo agudo para o leste e, ao sul, ela se estende de lá para o lado extremo oeste do planalto de La Belle Alliance. A partir daí ela chega perto da fazenda de Rossomme, de onde se ramifica para fora, em direção a vila de Plancenoit e para a floresta de Callois. A área entre esse terreno baixo e a floresta de Callois e o Cour de Bois de Neuve é, por sua vez, cortada pelas extensões de terras baixas de Braine l ‘ Alleud, que resulta, aqui, em uma paisagem ondulante.

A linha de crista de Mont Saint Jean, gradualmente, se inclina morro abaixo, para o norte e oeste em extensões que se dirigem para a fazenda de Mont Saint Jean, e para a área entre Merbraine e a estrada de Nivelles, entre Merbraine e o povoado de Mont Saint Jean. Para o leste da estrada de Bruxelas, a linha de crista desce até o seu nível mais baixo, que vem de Haut Ransbeek e que é delimitada, em seu lado norte, pelo terreno mais elevado entre Verd Coucou e Mont Saint Jean. Este terreno baixo termina em uma cavidade entre a estrada Ohain e o pomar da fazenda de Mont Saint Jean.

A posição francesa de Monte Napoleão é dominada por um planalto que é deli-mitado pelos terrenos baixos de Smohain a leste, e pelos terrenos mais altos vindos de Merbraine a oeste, e as terras de Plancenoit, ao sul.

O planalto, denominado de La Belle Alliance, tem seu nome derivado da pousada, que fica ao longo da estrada de Bruxelas no coração de Monte Napoleão. Também aqui e mais para o sul, ao longo da mesma estrada, ficam as fazendas de Trimotion, Decoster e Rossomme. Ainda mais ao sul, a junção da estrada de Bruxelas com a estrada para Plancenoit (a retaguarda da posição francesa), fica um grupo de edifícios localizados em

ambos os lados da estrada de Bruxelas, chamado de Maison du Roi. Em descrições mais contrastantes, o terreno entre o planalto de La Belle Alliance

e a linha de crista de Mont Saint Jean é retratado por uns como sendo uma planície, por outros como um terreno muito baixo e, às vezes, como um vale profundo. Mas o que im-porta, acima de tudo, é que o planalto de La Belle Alliance não tem a mesma extensão da linha de crista de Mont Saint Jean, ainda que neste campo de batalha, a realidade é que ele consiste de uma área com ondulações e com depressões e elevações ora maiores e ora menores.

A área entre a floresta de Paris e Plancenoit é formada por uma série de alturas, que estão limitadas ao norte e ao sul, pelos terrenos baixos de Smohain e de Lasne, res-

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pectivamente. Estas alturas, ao virem da floresta de Paris, inclinam-se, gradualmente para baixo,

em direção a Plancenoit (embora com um ligeiro aumento entre o Castelo de Fichermont e a floresta de Ranson), enquanto que, na mesma direção, tornam-se cada vez mais es-treitas (com cerca de 1.000 a 250 metros).

A extensão sul destas alturas forma a encosta norte, contra a qual foi construída a vila de Plancenoit. Do lado oposto da terra baixa em que Plancenoit foi construída, existe uma inclinação da altura entre Plancenoit, a fazenda de Rossomme, o vilarejo de Maison du Roi e Lasne.

A leste da estrada de Bruxelas, entre a abadia de Aywiers e a fazenda de Caillou, ambas as margens do Lasne são arborizadas pelas florestas de Virère, de Hubermont e Chantelet. No lado oposto da estrada de Bruxelas, entre as duas estradas, ficam as gran-des florestas de Callois e de Neuve Cour, esta última com a fazenda do mesmo nome, perto da estrada de Nivelles.

Na parte norte da floresta de Callois, existe um forte aumento da altura do solo, que foi usado como um ponto de observação, através da construção de um observatório de madeira, com uns 20 metros de altura, que foi lá construído por engenheiros holandeses em 1814, para fins geodésicos.

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O DESDOBRAMENTO DOS EXÉRCITOS OPONENTES

Wellington tomou muito cuidado ao desdobrar seu exército, como ele já o havia feito durante seus combates na Guerra da Península, quando o tempo e as circunstâncias per-mitiram. Ele pensava em não dar chance contra um oponente do porte de Napoleão. Pre-viamente, ele considerou ocupar posições ao longo de uma linha de crista que, transver-salmente, se opunha a principal estrada para Bruxelas. A fazenda de La Belle Alliance (que também funcionava como uma pousada), a grosso modo, constituía o centro daquela linha de crista, no lado leste da estrada. No entanto, seu assistente e Chefe-do-Estado-Maior, general Sir William de Lancey, alertou que o exército deveria ser espalhado em fatias muito finas se ele assim procedesse e, eles, então, concordaram que seria melhor ocupar a linha de crista oposta, a de Mont St Jean, que corria, grosseiramente, paralela com a anterior.

Ainda que esta fosse uma posição pré-selecionada e que as tropas seriam despa-

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chadas para seus postos, tão logo chegassem, os oficiais do Estado-Maior procederam rapidamente, cavalgando no entorno da região, para confirmar se as ordens de Wellington estavam sendo obedecidas. Relutante em delegar tal tarefa, Welington se fez presente no campo às 06:00 hs e sofreu muito até se assegurar de que tudo corria como planejado, em razão das constantes cavalgadas ao longo da linha de crista, do questionamento feito aos seus subordinados e do estabelecimento de novas ordens, quando necessário. Ele visitou as fazendas à frente de sua posição e se satisfez com a inspeção de que a munição e os outros suprimentos estavam sendo levados o mais rápido possível. Nos intervalos, ele se quedava a observar a linha de crista oposta com sua luneta, tentando se antecipar às preparações que seu oponente deveria estar realizando.

A Batalha de Waterloo foi realizada sobre uma notavelmente pequena região, que mereceu o seguinte comentário do historiador francês Houssaye: “Nunca nas guerras da Revolução e do Império, houve tantos combatentes ocupando tão restrito campo de ba-talha ...” A área entra as duas linhas de crista onde os exércitos oponentes ocuparam posições mal chegava a 1 ½ milha (2,5 Km) do norte para o sul. De leste para oeste o campo de batalha media pouco menos de 3 milhas (4,8 Km). No total, a principal área do conflito cobria cerca de 4 milhas quadradas (a grosso modo, 6,4 Km quadrados) e 140.000 homens deveriam lutar dentro deste reduzido espaço, incialmente, antes que a eles se juntassem, pelo menos, 72.000 soldados prussianos.

O desdobramento do Exercito anglo-aliadoWellington fez o melhor uso defensivo do terreno e dos meios construídos pelo ho-

mem disponíveis para ele. Ele tinha um exército de, aproximadamente, 67.660 homens, com 156 canhões, desdobrados ao longo da linha de crista de Mont St Jean, dominando, perpendicularmente, a estrada que corria de Charleroi para Bruxelas. O Chemin d’Ohain (estrada Ohain) acompanhava a linha de crista e atrás dela Wellington desdobrou o grosso de sua tropa, 49.600 infantes, na contra-encosta em relação ao inimigo. Naquela posição eles ficariam largamente fora da visada dos artilheiros franceses e o efeito de ricochete dos tiros dos canhões inimigos seria minimizado dado ao ângulo de queda do projetil. Wellington tinha sempre protegido sua infantaria desta maneira, quando o terreno o permi-tira, durante a Guerra Peninsular.

Ele posicionou forças substanciais no seu flanco direito a oeste, para proteger a região entre a vila de Merbraine e a estrada de Nivelles. Isto incluía partes do II Corpo sob o comando do Lord Hill e a Divisão do I Corpo do general Chassé. Ele posicionou as brigadas de d’Aubremé e de Ditmer para manter Braine l’Alleud e ainda mais 4 brigadas foram colocadas na segunda linha para apoiar estas posições.

O I Corpo de Wellington, comandado pelo Prince d’Orange, ocupou uma posição no centro direita, acima de Hougoumont, ao longo, com a Divisão de Guardas do general Cooke e partes da reserva geral. O grosso da cavalaria aliada ficou estacionada atrás do centro anglo-aliado, pronta para responder aos ataques inimigos, e a artilharia foi disper-sada em baterias ao longo da linha de crista. Da linha de crista oposta, as baterias de artilharia deveriam ser as unidades mais visíveis para o inimigo, que ficariam na visada de uma cadeia de atiradores de elite (skirmishers), na encosta, com alguma cavalaria para cobrir suas posições.

A floresta de Soignies deitava-se atrás do centro aliado, um fato que Napoleão mais tarde criticou, pois parecia bloquear a linha de retirada. Wellington, no entanto, acreditava que a floresta era esparsa o bastante para permitir a passagem da infantaria e que ela

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não deveria impedir a marcha de seu exército para o norte, de maneira significativa, se ele fosse forçado a retrair.

Para o leste da estrada, Wellington posicionou 3 brigadas da Divisão do general Picton, ao longo com as brigadas de Best e Bylandt. Inexplicavelmente, a brigada belga--holandesa de Bylandt ficou exposta na encosta da linha de crista, mais do que aquelas posicionadas na contra-encosta. Esta região era marcada por longas seções de aterro do Chemin d’Ohain, permitindo que a artilharia obtivesse espaldões e seteiras para seus ca-nhões. As brigadas de cavalaria de Vivian e Vandeleur estavam postadas na extremidade do flanco esquerdo.

Na frente da linha de crista de Mont St Jean, havia 6 áreas defensivas que poten-cializavam, grandemente, a posição de Wellington. No flanco leste havia uma região con-tendo as casas de fazenda de Papelotte, La Haye e Fichermont, com uma série de casas dispersas. Parte da área era matosa, que Wellington ocupou com a brigada de Nassau, comandada pelo Príncipe de Saxe-Eimar.

Antes do centro-esquerda, ficava uma casa de fazenda murada, chamada La Haye Sainte. Estava ficava em uma leve depressão ao longo da estrada em dreção ao pé da encosta avançada e Wellington a guarneceu com elementos da Legião dos Reis Germâ-nicos, com os seus mais experientes soldados. Acima deles no lado oposto da estrada, havia uma pedreira, onde homens de elite do 95º Regimento a Pé (mais tarde brigada de fuzileiros) foram estabelecidos.

Sobre o flanco direito ficava o grande castelo de Hougoumont. Uma extensa e com-plexa construção de tijolos de pedra, que continha uma capela e numerosas construções de fazenda, além do castelo. Ele possuía um jardim murado e pomares com arbustos e árvores que protegiam as aproximações vindas do sul. Ali, Wellington posicionou algumas das suas melhores tropas, para defender Hougoumont, que incluíam 4 companhias de infantaria ligeira da Divisão de Guardas e companhias oriundas de Nassau, Lüneburger e tropas oriundas de Hanover.

Estas regiões seriam os pontos-fortes da linha aliada, e os defensores de Hougou-mont e La Haye Sainte deveriam ser capazes de atirar sobre os flancos das formações atacantes se elas assaltassem a linha de crista diretamente. A menos que Napoleão estivesse preparado para executar uma larga manobra de flanqueamento, ele deveria ter de capturar essas casas de fazenda ou, então, esperar que seus homens sofressem significativas baixas, caso eles as contornassem, enquanto assaltavam a linha de crista.

Wellington também posicionou 17.000 homens, sob o comando do Príncipe Frederi-ck da Holanda no entorno da região de Hal e Tubize, a 10 milhas a oeste. Esta força incluía a cavalaria hanoveriana e 30 canhões, para conter qualquer tentativa francesa de atacar seu flanco direito, que poderia cortar sua rota para os portos do Canal da Mancha. Estas tropas iriam ter uma pequena participação na batalha que já estava a caminho.

O exército de Wellington, uma vez desdobrado no terreno, tinha a forma, grosseira, de um triângulo, com sua força principal sobre o flanco direito, em razão da expectativa de que as tropas prussianas estariam chegando em apoio ao seu flanco esquerdo. De uma maneira global, o Exército anglo-aliado mantinha uma formidável posição defensiva, que o historiador francês Houssaye chamou de “grande muralha”. Wellington também consi-derou o terreno aberto entre as duas linhas de crista como sendo uma “zona de matança” para a artilharia, especialmente à frente do centro direito aliado. Já o terreno, especial-mente para leste da estrada, ondulava-se e deveria, ocasionalmente, enganar a linha de visada dos artilheiros, durante o combate. Sem sobra de dúvida, era uma posição muito

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forte.

O desdobramento do Exército francêsEmbora as posições de Welligton tivessem sido pré-planejadas, o historiador Ales-

sandro Barbero astutamente observou que e desdobramento de ambos os exércitos em Waterloo foram baseados na suposta “intenção do inimigo” visualizada por cada um dos comandantes rivais (ou melhor dizendo, na intenção de desdobramento). No caso de Wellington ele somente podia ter um palpite sobre onde seu oponente deveria atacar, para responder de acordo – a desvantagem de qualquer estratégia defensiva.

Napoleão teve problemas diferentes, como por exemplo, não ver o grosso do exér-cito anglo-aliado, que se encontrava desdobrado na contra-encosta e, portanto, mascara-do pela própria linha de crista de Mont St Jean. Ele somente poderia presumir onde seu adversário havia concentrado sua principal força. O fato é que Napoleão superestimou os números da força inimiga, acreditando que sua própria força estaria ligeiramente em desvantagem numérica.

O Imperador mandou que seu exército estivesse a postos às 09:00 hs, mas vários fatores atrasaram o desdobramento da tropa. A chuva caiu sobre o bivaque das tropas naquela noite, diminuindo suas respostas, e aqueles alojados em fazendas e aldeias cir-cundantes levaram tempo para estarem armados e prontos. Por conseguinte, foi somente às 09:00 hs, que o II Corpo de Reilles conseguiu chegar em Le Caillou.

Napoleão conferenciou com seus generais durante o desjejum, por volta das 08:00 hs e foi sigiloso sobre a luta iminente. Já seus generais falharam em compartilhar seu otimismo e Napoleão ficou irritado quando seu Chefe-de-Estado-Maior mostrou-se reser-vado sobre a próxima batalha. Na opinião de Soult, Napoleão havia dado a Grouchy muita tropa para perseguir os prussianos, quando um simples Corpo de infantaria e um grande efetivo de cavalaria deveria ser o suficiente. Ele também suspeitava que Wellington tinha preparado uma defesa em profundidade e aconselhou cautela na elaboração do plano de ataque. O general Reille, um outro veterano da Guerra da Península, que tinha, pessoal-mente, lutado contra Wellington, comentou que a infantaria britânica era muito tenaz na preparação de suas posições. Por conseguinte, ele propunha que eles deveriam contar com o emprego de sua superior mobilidade para vencer pela manobra o exército anglo-a-liado, ao invés de proceder com um assalto frontal, como Napoleão tinha planejado.

Irritado com a falta de confidência e pessimismo que assistia, o Imperador vociferou: “por causa que vocês foram batidos por Wellington, vocês os veem com um grande gene-ral. Pois eu digo a vocês que Wellington é um mau general, e que os britânicos são tropas ruins, e que isto será um muito pequeno caso”. Napoleão já havia se defrontado com os ingleses em Toulon, em 1792, há 23 anos atrás. Aquela ação, no entanto, tinha sido uma operação de sítio e ele nunca tinha antes enfrentado o Exército britânico no campo. O his-toriador David Chandler acreditava que uma das maiores fraquezas de Napoleão durante a Campanha de 1815 foi sua tendência de subestimar seus inimigos, ridicularizando as habilidades dos seus comandantes rivais e as tropas que eles comandavam.

Às 09:00 hs, Napoleão estava observando a linha de crista de posse do inimigo de um monte próximo da casa de fazenda de Rosomme, avançando, em seguida, para a re-gião no entorno de La Belle Alliance. Ele iria dividir seu tempo entre estas duas posições, durante quase toda a batalha. Dois fazendeiros locais proveram-lhe conhecimentos sobre a região e Napoleão continuava a questioná-los, quando ele observou seu exército con-finado junto à estrada e se desdobrando do lado oposto de La Belle Alliance, Seu desdo-

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bramento mostrava-se mais simples do que o complexo dispositivo de Wellington. As duas linhas de crista ficavam separadas por um vale raso, dividido por uma grande estrada que corria através do centro do campo de batalha. A distância entre o centro da linha de crista de Wellington e La Belle Alliance era de, aproximadamente, 1.300 Jd (1.188 m) e a pro-fundidade do vale não excedia mais que 330 pés (100 m). Nesta pequena área, Napoleão planejou as posições do seu exército, com um único objetivo: atacar.

Napoleão pretendia enfraquecer a linha aliada por meio de um ataque de finta sobre seu flanco direito, esperando que isto distraísse Wellington e o persuadisse a empregar meios de suas reservas para reforçar sua área ameaçada. Consequentemente, ele iria ter menos tropas para defender o seu centro, quando o ataque principal francês ali incidisse. Napoleão começaria a ação com um bombardeio geral e a maioria de sua artilharia foi dispersada ao longo da linha de crista para tal finalidade. A artilharia seria crucial para o seu plano de ataque quando, depois de um curto bombardeio, ele a concentraria formando a “grande batterie” com 84 canhões para despejar sua munição sobre o centro-esquerda aliado. Isto deveria preparar o terreno para que a infantaria principal atacasse (o I Corpo de d’Erlon).Se o ataque fosse bem sucedido e se conseguisse penetrar na linha inimiga, Napoleão iria enviar o VI Corpo de Lobau para a frente, a fim de explorar o êxito, acompa-nhado pela Guarda Imperial, se necessário. Ele esperava que tal manobra iria dividir em dois o exército anglo-aliado, possibilitando que ele isolasse e derrotasse seus elementos remanescentes ou os perseguisse em direção ao norte. (Ver figura da página seguinte)

No flanco direito, a leste de La Belle Alliance, Napoleão posicionou o I Corpo de d’Erlon, que estava relativamente fresco. Este estava organizado em 4 Divisões sob o comando dos generais Allix, Donzelot, Marcognet e Durutte. Atrás do I Corpo ficava o IV Corpo de Cavalaria de Milaud e a cavalaria de Jaquinot que protegia a direita mais afasta-da do exército antes de Papellotte. Embora Napoleão tivesse previsto que os prussianos anda levariam algum tempo para chegar, ele tomou as devidas precauções, enviando o 7º Regimento de Hussardos, sob o comando do coronel Marbot, para monitorar a região naquela extremidade do seu flanco direito, o que significava que ele não se mostrava intei-ramente incrédulo sobre uma possível ameaça por meio da intervenção prussiana.

O II Corpo de Reille foi posicionado ao sul do castelo de Hougoumont e se orga-nizava em 3 brigadas. A cavalaria de Piré postou-se na extremidade do flanco esquerdo, bem antes da estrada de Nivelle, e atrás do II Corpo estavam 2 Divisões de cavalaria, sob o comando do general Kellerman. Napoleão tinha emassado sua principal força atrás de La Belle Alliance, em ambos os lados de estrada. O VI Corpo ficou no lado esquerdo, sob o comando do Conde Lobau, tendo a sua direita, do outro lado da estrada a Cavalaria de Guarda de Guyot. Atrás deles estava a infantaria da Guarda Imperial, a força de ataque de elite da “Armée du Nord”. A Velha, a do Meio e a Jovem Guarda ficaram do outro lado da grande estrada, pronta para atacar e dar o sopro fatal se tudo corresse bem para os franceses naquele dia. Em razão do que foi dito, o Exército de Napoleão em Waterloo totalizava 71.947 homens: 48.950 de infantaria, 15.765 de cavalaria, 7.232 artilheiros e 246 canhões.

Ainda que o sol agora brilhasse, o terreno ainda estava bastante molhado e, de ma-neira frustrante para os franceses, isto reduziria a mobilidade das tropas e diminuiria efeito dos ricochetes dos tiros da artilharia, a menos que eles esperassem que o terreno secasse totalmente. Muitos soldados franceses ficaram intrigados com a não característica lentidão da parte de seu Imperador, que devia estar fervendo por dentro com os atrasos.

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Plano de Hougoumont

O INÍCIO DA BATALHA

Entre 07:00 e 08:30 hs, Wellington inspecionou a sua linha de batalha, desde o oeste até o leste, visitando, inclusive, Hougoumont, quando ordenou reforços às tropas ali posicionadas. Às 10:00 voltou a visitar Hougomont, considerado um dos pontos-fortes do seu plano de batalha.

Às 09:00 hs, o II Corpo de Exército de Reilles passou em frente a Le Caillou, se-guido pela Guarda Imperial francesa e pelo Corpo de Cavalaria de Kellermann. Então, chegou uma simples divisão (de Durutte) do I Corpo de Exército de d’Derlon. O estado do terreno, encharcado pela chuva, estava dificultando os deslocamentos dos canhões e dos obuseiros.

Napoleão montado em sua égua La Marie seguia à frente de suas tropas, parando atrás da fazenda Rossomme. As tropas francesas chegaram lentamente no campo de ba-talha e aclamaram seu Imperador quando assumiram suas posições. As tropas britânicas, alemãs e holandesas aliadas puderam ouvir as bandas regimentasi tocando.

Napoleao havia ordenado às suas tropas para estarem em posição às 09:00 hs, contudo, isto não pode ser realizado. Os trens de suprmentos somente haviam consegui-do as tropas combatentes já muito tarde da noite e ainda no início da manhã, o que gerou atrasos na execução do planejado.

Os soldados tiveram que procurar algo comestível, fazendo com que as unidades ficassem mais dispersas. De acordo com Peter Hofschroer, às 9 da manhã, o II Corpo de Reille atingiu o campo de batalha; bastante atrás dele estava a Guarda Imperial, a

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cavalaria, e o VI Corpo de Lobau. A divisão de Durutte do I Corpo de d’Erlon alcançou o campo de batalha por volta do meio-dia. Os atrasos que os francesess estavam sofrendo, em parte, foram os mesmos que as tropas de Blucher sofreram nas estradas lamacentas entre Wavre e Lasne.

Hougoumont, originalmente chamada de Gomont ou Goumont, era um castelo e uma fazenda que ficava cerca de 5 Km ao sul da vila de Waterloo. Por ocasião da Batalha de Waterloo, o castelo era proriedade de Chevalier de Louville, que morava em Nivelles e havia arrendado o castelo a um fazendero chamado Dumonceau. O prédio do castelo, propriamente dito, contudo, permanecia desocupado.

Hougoumont era um robusto complexo cercado por muros tendo em seu interior estábulos, celeiros e casas. Havia um maciço portão no lado sul, que levava a um quintal no interior.

O complexo de Hougoumont possuía um jardim, cujas muradas se extendiam por cerca de 200 jardas pelo lado leste e, atrás dele, havia um pomar. Sabe-se que isto tudo só era do conhecimento das tropas aliadas que estavam ocupando a fazenda e que a única cois que os franceses podiam ver daquela fazenda de suas posições eram as árvores e um pouco das construções existentes.

Cerca da 09:30 hs, o 1º Batalhão de Nassau foi levado para Hougoumont. Sua companhia de carabieiros assumiu posições no interior das construções ao sul. Uma com-panhia de “voltigeurs” alinhou-se com uma compania de jägers de Brunswick na extremi-dade da mata. As paredes do jardim passaram a ser defendidas por duas companhias e o interior do pomar por uma companhia. Outra companhia foi mantida em reserva, na mata.

Conforme o pesquisador britânico Mark Adkin, o mito de que Hougoumont foi defen-dido somente por Guardas Británicos é inverídico, ainda que muitos estudiosos sérios da batalha e outros assim o entendam. Em razão disso, é mostrado na página seguinte um quadro de demostra as tropas que, inicialmente, guarneceram Hougoumont

A batalha começou às 11:30 hs, quando a artilharia francesa começou a atirar sobre as matas à frente de Hougoumont. Napoleão tinha dado ordens ao general Reille para realizar uma demonstração contra o castelo; capturar a mata e as aproximações pelo sul deveria ser o suficiente para tal propósito. Reille começou o canhoneio usando uma bateria divisional do II Corpo e seus fogos, logo receberam reposta das bateria britânicas da linha de crista oposta. Um grande duelo de artilharia logo se desenvolveu, quando o Príncipe Jérôme enviou a brigada de Bauduin para a frente em direção à mata. Cunprida a ordem, os lanceiros de Piré avançaram ao longo e ao lado da estrada de Nivelles, para cobrir a manobra. Enquanto isto, um canhoneio eclodiu ao longo da linha de crista france-sa num bombardeio geral das posições aliadas.

A brigada de Bauduin desceu para o vale e seus skirmishers entraram na mata, engajando os hanoverianos e as tropas de Nassau que lá estavam. Os homens do 1º Regimento do Infantaria Ligeira os acompanharam e seguiu-se uma furiosa luta contra os aliados, que recuaram lentamente, contestando cada moita. Uma densa vegetação ras-teira ajudava os defensores e Bauduin recebeu um tiro mortal, logo nos primeiros estágios da ação, quando ele levava suas tropas para a frente. Em sequência, Jérôme ordenou que o 3º Regimento de Infantaria de Linha se deslocasse em apoio. Os Jäagers hanoverianos (atiradores de elite de Hanover) lutaram sob a cobertura da floresta e as tropas de Nassau cederam terreno quando os franceses, gradualmente, os forçaram a retrair em direção às construções. Pressionando para frente sob as árvores, os franceses quase sempre entra-

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vam em combate aproximado e lutas corporais ocorreram muitas vezes, durante aquele furioso combate. Algumas unidades de Guardas britânicos emergiram de Hougoumont para apoiarem seus aliados, mas a quantidade de franceses logo prevaleceu e os hanove-rianos abandonaram a mata, recuando para a proteção das construções.

Inicialmente, o castelo, a fazenda e o pomar estavam sendo guarnecidos por 4 companhias de infantaria ligeira das tropas de elite das 1ª e 2ª Brigadas de Guardas. Fora das áreas matosas e do jardim, havia um batalhão do 1º Regimento de Nassau, uma companhia do 1º Regimento de Lüneburg e uma companhia de Jäagers. Os reforços provenientes do 1º Batalhão da Legião dos Reis Germânicos, da 3ª Brigada de Hanover e a Divisão de Guardas deveriam, eventualmente, “entrar no jogo”, mas Wellington nun-ca incrementou o número de defensores além de 6.000 homens (3.500 defendendo o complexo, com cerca de 2.500 em apoio, atrás da fazenda), a despeito da pressão a que Hougoumont estava sendo submetida.

O tenente-coronel Macdonell estava no comando geral das ações em Hougoumont, com os tenentes-coroneis Lord Saltoun e Henry Wyndam supervisionando a defesa do pomar, da fazenda e do castelo. O tenente-coronel Dashwood comandava as tropas que defendiam o jardim e o terreno no entorno da fazenda propriamente dita. Todos os por-tões, e portas que davam acesso ao complexo foram fechados e pesadamente barricados. Embora o portão norte estivesse barricado, ele ficaria mantido livre de obstrução, quando a guarnição esperava receber suprimentos frescos, munições e reforços, que deveriam adentrar pela retaguarda daquela posição.

Depois de uma hora de pesada luta, a mata caiu em poder dos franceses, mas eles tiveram dificuldade em cruzar os 30 passos que separavam a extremidade das árvores de Hougoumont, em razão da pesada mosqueteria que provinha das seteiras das muralhas e dos telhados do complexo, que tinham sido guarnecidos em vários pontos. Para superar o lento carregamento dos mosquetes, os Guardas britânicos tinham posicionado 3 ou 4 homens em cada ponto guarnecido, de modo que um homem atirava, enquanto os demais carregavam as armas e as passavam para o atirador. Com este método, eles conseguiram uma continuada cadência de tiro.

O general Guilleminot exortou Jérôme a consolidar sua posição e simplesmente assediar a guarnição, mas seus soldados estavam com o sangue quente: ao invés de se contentarem em manter a mata, de acordo com as ordens recebidas, eles atacaram, fu-riosamente, aqueles postos de tiro das muralhas e dos telhados, Eles tentaram quebrar o grande portão, que estava fechado e, também, protegido por um fogo cruzado assassino.

Os homens subiram nos ombros de seus companheiros para escalar os muros do jardim, somente caindo quando atingidos por tiros ou por golpes de baionetas. Os mu-ros tinham apenas 6 pés de altura e todos os franceses podiam ver a fumaça dos tiros de mosquetes através das frestas, quando eles atacaram. A mata protegia grandemente Hougoumont dos tiros de canhão vindos da linha de crista, de maneira que os franceses não conseguiam criar brechas, nas muralhas ou nas construções, para que a infantaria as pudessem explorar. Eles sofreram cerca de 1.500 baixas ao tomar a mata e Reille despachou ordens para a Divisão retrair para a linha de árvores e, assim, não perder mais nenhum homem. De fato, montes de baixas agora jaziam na frente de Hougoumont, mas Jérôme ainda sentia que o sucesso estava ao seu alcance.

A brigada do general Soye (cerca de 8.000 homens dos 1º e 2º Regimentos de In-fantaria de Linha) tomou a iniciativa, permitindo que o 1º Regimento de Infantaria Ligeira marchasse no entorno da lateral de Hougoumont e o atacasse a partir dos lados norte e

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oeste. Tendo deixado a proteção da mata, a artilharia aliada, em sua dominante linha de crista, pode atirar sobre eles a apenas 600 Jd (548 m) de distância. Muitos homens foram mortos, mas a despeito das baixas havidas, os franceses pressionaram, avançaram e assaltaram o portão norte.

Por volta das 12:30 hs, elementos do 1º Regimento de Infantaria Ligeira assaltaram o lado NW de Hougoumont e um grupo de homens tentou forçar o portão norte. O tenente Legros (apelidado de “l’enfonceur” - o esmagador - por seu homens) usando um machado de pioneiro, arrombou o portão permitindo que os franceses entrassem. Aos gritos triun-fantes de “Vive l’Empereur”os seus homens correram logo depois dele para dentro do quintal. Algumas histórias informam que 100 homens seguiram Legros, mas as melhores estimativas dizem que somente 40 a 50 conseguiram entrar.

Uma selvagem luta corpo-a-corpo tomou conta do quintal, usando baionetas, espa-das e coronhas de mosquetes. Aquela luta tornou-se desigual quando os franceses ficaram sob pesados fogos vindos dos Guardas britânicos posicionados nas janelas superiores do castelo. O coronel Macdonell, ouvindo que o perímetro defensivo havia sido quebrado, liderou um grupo de oficiais e soldados para assegurar o portão. Com muito esforço, eles, finalmente, conseguiram empurrar os invasores e, com dificuldade, conseguiram fechar e barrar o portão, mesmo com os tiros de mosquete que vinham do lado de fora.

Os infantes franceses que tinham invadido o quintal foram todos caçados e atingi-dos por tiros ou baionetadas, quando os Guarda britânicos souberam que o inimigo tinha conseguido um ponto de apoio e que sua defesa estava condenada. De acordo com a maioria dos registros, eles somente pouparam um jovem tambor desarmado do abate geral. Macdonell trouxe mais defensores para atirar através das seteiras ou de cima da muralha, quando a infantaria ligeira francesa ainda se emassava, lá fora. Observando que os lados norte e oeste de Hougoumont estavam sob grande ameaça, o major-general Byng ordenou que o 2º Batalhão de Guardas Coldstream descesse da linha de crista e atacasse, aliviando a pressão exercida sobre os defensores de Hougoumont.. Depois de sofrer pesadas baixas, finalmente, o 1º Regimento de Infantaria Ligeira retraiu.

Wellington, de seu posto de comando, tinha observado o progresso dos franceses e, quando o 1º Regimento de Infantaria Ligeira francês emergiu da mata e a brigada de Soye entrou em ação, ele ordenou à bateria de artilharia do major Bull que avançasse ao longo da linha de crista, de modo que pudesse atirar por sobre a mata. A bateria de Bull continha obuseiros e, sabendo que a posse da mata estava sendo ainda contestada, Wellington tinha corretamente avaliado que seriam necessários tiros indiretos de artilharia, uma vez que os tiros de canhões , com seus tiros diretos, poderiam atingir seus próprios homens, ou acertar o castelo.

Soye montou um outro ataque contra o lado oeste de Hougoumont, que estava sendo batido com dificuldade, mas for abortado, quando elementos da Guarda britânica surgiram para realizar um contra-ataque, antes de se retirar para dentro, uma vez mais. Um terceiro assalto francês foi feito contra o pomar por volta das 12:45 hs, e a área foi amargamente contestada durante ais de uma hora de luta. Com grande dificuldade, os franceses arrastaram um obuseiro através da mata e, então começaram a disparar gra-nadas por sobre as muralhas de Hougoumont dentro do quintal e sobre os telhados das construções. Saltoun lideou uma sortida para silenciar aquele canhão, que foi repelido. Às 13:00 hs, a “Grand Batterie” deu início a um pesado bombardeio sobre a posição central de Wellington.

Por volta das 13:45 hs, no outro lado do campo de batalha, o ataque de d’Erlon so-

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bre o cento da posição de Welington estava em andamento. Pouco tempo depois, elemen-tos da Divisão do general Foy montaram um outro desesperado assalto contra o pomar de Hougoumont, e mais reforços dos Guardas britânicos foram enviados para aliviar Saltoun, cujos homens tinham sofrido sérias perdas. Soye montou um outro ataque na direção S-E para a próxima hora, mas a bateria de Bull, agora em posição, começou a despejar granadas shrapnel na mata, para apoiar os mosquetes da guarnição. Explodindo sobre as arvores, aquelas granadas faziam chover balas de mosquetes e fragmentos de granada sobre os atacantes franceses que, mesmo sob a proteção das árvores foram seriamente atingidos. Tais projetis, usualmente, causavam mais ferimentos do que mortes, mas tais fogos foram suficientes para abortar o ataque e fazer os franceses recuarem.

Cerca das 15:00 hs, a luta ainda continuava no entorno de Hougoumont e a sua guarnição já tinha feito abortar cinco assaltos principais, mas o obuseiro francês na mata, apoiado pelos fogos dos obuseiros da linha de crista, estava causando sérios danos, e os celeiros e o castelo estavam sendo sacrificados pelas granadas que perfuravam seus telhados. O coronel Woodford dos Guardas Coldstream mandaram reforços para Hou-goumont. O fato foi assim registrado: “O calor e a fumaça da conflagração eram difíceis de serem suportados. Muitos homens foram queimados e nem o coronel Macdonell nem eu mesmo podíamos penetrar nos estábulos, para onde os feridos tinham sido levados”.

As chamas estavam fora de controle e alguns feridos pereciam horrivelmente, mas os ataques franceses estavam perdendo sua intensidade. Woodford acreditava que eles tinham sido pobremente executados, depois dos primeiros poucos assaltos e o inimigo havia desviado sua concentração para assediar os defensores ao invés de conquistar o complexo. Os “tirailleurs” (atiradores de elite) franceses mantinham um fogo pesado sobre as construções, especialmente as portas de comunicação, em razão do que muitos ho-mens ficaram feridos, ou foram mortos.

Observando as chamas e a fumaça que crescia acima do castelo, Wellington enviou uma mensagem para Macdonell, dando-lhe orientações pelo fato de que ele estava no co-mando da batalha: “Vejo que o fogo se comunicou desde o palheiro até o teto do castelo. Você deve, contudo, ainda manter seus homens naquelas partes em que o fogo não pode chegar. Tome cuidado para que seus homens não se transformem em baixas por caírem do telhado no chão. Assim que possível, ocupe as muralhas arruinadas do jardim, parti-cularmente se for possível ao inimigo passar através das brasas para entrar no castelo”.

Neste momento, um major francês atacou no outro lado do campo de batalha, sen-do repelido, e estava ficando claro que Hougoumont seria capturado, se os franceses conseguissem desalojar o Exército de Wellington do lado oeste da linha de crista. Cerca de 6 a 7 assaltos foram feitos pelos franceses contra o complexo e, embora houvesse uma calmaria em outros pontos do campo de batalha, durante todo o dia, as lutas no entorno do castelo continuaram, indo até as 19:30 hs. daquela noite.

Se Hougoumont caísse, o flanco direito aliado ficaria perigosamente exposto e Na-poleão, indubitavelmente, o exploraria, aproveitando esta desvantagem britânica. Embora a manutenção da linha defensiva dependesse, então, de uma série de fatores, Wellington acreditava nos defensores de Hougoumont e, depois de finda a batalha, ele assim se ma-nifestou: “O sucesso da batalha de Waterloo estava ligado ao fechamento dos portões de Hougoumont “.

A esta altura, a batalha de Hougoumont havia se tornado em uma batalha dentro de outra batalha. As tentativas desesperadas dos franceses para tomar o castelo empre-garam de 13.000 a 15.000 homens de 3 Divisões – as de Jérôme, Foy e Bachelu. Mas

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Napoleão necessitava de tais soldados em outros cantos do campo de batalha, pois o que havia tido início, era para ser, apenas um ataque secundário, uma finta, que acabou por drenar suas reservas mais que as de Wellington, o que era, exatamente, o oposto do que o francês intencionava.

Os eventos tornaram-se uma espiral fora de controle e o Imperador deve ter amal-diçoado o excessivo zelo de alguns de seus oficiais.

O ATAQUE DE D’ERLON

Napoleão viu que, à sua esquerda, Hougoumont e suas redondezas estavam cober-tas de fumaça e pesados combates, que podiam ser ouvidos vindos daquela área. Julgan-do que o ataque a Hougoumont estava bem encaminhado, ele ordenou um bombardeio concentrado ao centro esquerda da posição anglo-aliada, às 13:00 hs. Um total de 48 ca-nhões foi reunido para este fim, que constituiriam as “máquinas de matança” do dia, e que ficaram conhecidas como “As filhas do Imperador”. Essa concentração de artilharia com-binava 40 canhões de 8 pdr com 8 obuseiros e formava a “Grande Batterie “, com a qual Napoleão esperava abrir uma grande brecha no centro da linha defensiva de Wellington.

Pouco podia ser visto da formação da infantaria anglo-aliada, além da infantaria ligeira dispersa em formação de skirmishers sobre a encosta avançada da linha de crista.

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O ataque a Hougoumont

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Por conseguinte, os franceses foram forçados a estimar suas prováveis posições e a con-centrar seus tiros conforme tais considerações. A artilharia francesa pretendia que seus tiros batessem ao longo da linha de crista e ricocheteasse sobre as formações inimigas na contra-encosta, fora da visada dos artilheiros. Se a pontaria fosse bem sucedida, os tiros deveriam acertar muitos homens formados em fileiras cerradas, a cada vez que eles ricocheteassem no chão.

O troar do canhoneio abafava os sons da luta no entorno de Hougoumont, onde muitos pensavam que o centro de Wellington estivesse sofrendo massivas avarias. No entanto, o solo ainda estava macio, devido às chuvas do dia anterior, e absorvia alguns dos impactos, com muito tiros de canhões somente ricocheteando 3 ou 4 vezes apenas. Wellington, então, ordenou que seus homens sentassem ou deitassem, ainda mantendo suas formações, pois dessa forma eles não se mostrariam como alvos fáceis. Esta pre-caução, junto com a angulação da encosta fazia com que a maioria dos projetis passasse por cima de seus alvos. Mesmo quando um tiro atingia um alvo, ele, via de regra, matava, apenas um ou dois homens, devido a tais circunstâncias. Vale destacar que se os homens estivessem formados em linha, na encosta avançada da dobra do terreno, à vista dos ar-tilheiros, as baixas seriam duplicadas, certamente.

No entanto, a brigada de Byland permaneceu formada diretamente na linha de visa-da da pesada bateria. Usando uniformes azuis com coletes laranja, eles sofreram pesadas baixas, quando os artilheiros de Napoleão apontaram sobre eles. Seus uniformes ajuda-vam a pontaria e a ajustagem dos tiros. Mesmo quando ordenados a sentar ou deitar, os tiros continuaram a infligir muitas baixas. A despeito do pesado canhoneio a que foram submetidos, os holandeses-belgas, só sofreram baixas quanto àquelas tropas que não se encontravam atrás da linha de crista e Napoleão, provavelmente, superestimou seus efeitos.

A um dado momento, quando Napoleão e seu Estado-Maior olharam o horizonte, eles identificaram movimentos a NE, no entorno das alturas de Chapelle-St Lambert, que pareciam ser de uma substancial tropa. Primeiro, eles pensaram que se tratava de Grou-chy, que marchava para se juntar a eles e não imaginaram que se tratasse de tropas ini-migas. Mas, logo depois, escoteiros da cavalaria reportaram que se tratava da vanguarda do Corpo prussiano, o que foi confirmado, quando eles capturaram um oficial da cavalaria prussiana. Napoleão ficou preocupado, mas não alarmado, em razão de tal informação, crendo que os prussianos não seriam capazes de enviar uma grande força contra ele, de-pois de sua recente derrota. Por conseguinte, ele despachou novas ordens para Grouchy, dizendo: “uma correspondência que foi interceptada informa que o general Bülow está prestes a atacar o nosso flanco. Nós acreditamos que nós podemos ver seus Corpos nas alturas de St Lambert; por isso, não perca nenhum instante em se aproximar e juntar-se a nós, de forma a esmagar Büllow, o que você conseguirá, se concentrar sua tropa “.

Ele acreditava que Grouchy deveria ser capaz de agir, de forma a evitar tal ameaça, intervindo ou, até mesmo, interpondo-se entre as tropas francesas e o Exército prussiano. Napoleão pretendia apoiar o ataque do I Corpo enviando o VI Corpo (Lobau) atrás dele, mas o surgimento desta vanguarda inimiga o obrigou a reconsiderar sua intenção. Con-sequentemente, ele direcionou a cavalaria de Domont e de Subervie para o NE e enviou 10.000 homens do VI Corpo atrás delas. Escorando seu flanco direito desta maneira, Na-poleão tinha, agora, empregado mais da metade de suas reservas.

Napoleão acreditava que apenas um simples Corpo prussiano estava se aproxi-mando, mas percebeu que aquele tempo estava se esgotando rapidamente, e ordenou

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a d’Erlon para iniciar seu ataque às 13:30 hs. Quando seus canhões bombardearam o centro-esquerda anglo-aliada, ele esperava que a linha inimiga estivesse suficientemente enfraquecida, para possibilitar que o I Corpo a perfurasse.

Wellington havia instalado seu posto de comando embaixo de uma árvore solitária ao lado do cruzamento de estradas de Mont St Jean. Embora ele tivesse se deslocado ao longo da linha de crista, ocasionalmente, ele manteve sua posição naquele local pela maior parte do tempo da batalha, em razão de que ela oferecia uma boa visão geral da linha de crista francesa desde o seu centro até sua própria posição. Aquele cruzamento de estradas seria o ponto focal do ataque francês que estava por vir.

O avanço de d’ErlonO Corpo de d’Erlon avançou em 4 colunas contendo cerca de 17.000 homens no

total. Os historiadores são divididos sobre que espécie de coluna de ataque d’Erlon usou para o assalto, mas muitos acreditam que ele havia escolhido um dos mais antigos estilos de formação, mas adaptados a uma versão mais atual, empregando grandes intervalos entre os batalhões, permitindo, assim, a manobra para as linhas de trio, mais facilmente, Assumindo-se que ele tenha usado as “colonnes de batalion par division”, essas enormes formações retangulares tinham uma frente entre 180 e 200 homens e uma profundidade de 8 a 9 batalhões em cerca de 27 fileiras. Deslocando-se lentamente, de forma a manter suas fileiras organizadas, eles avançaram em escalão, constituindo um alvo compensador para a artilharia.

Os franceses persistiram em avançar em colunas de ataque, porque esta era a formação mais fácil de ser mantida quando em deslocamento, especialmente sobre um terreno difícil. Uma formação em linha seria mais difícil de ser mantida durante um avan-ço, e as colunas poderiam garantir uma maior velocidade de deslocamento. A aparência daquele vasto corpo de homens era bastante intimidador. Ainda que os músicos, dentro d formação, tocassem em um ar marcial, os soldados, periodicamente, gritavam “Vive l’Empereur” e (na maioria dos campos de batalha mais antigos) o inimigo, vias de regra, se dispersava e corria antes que as colunas de assalto chegassem dentro do alcance de combate. Esta forma de assalto era particularmente eficaz quando um ataque já tinha sido preparado por um bombardeio de artilharia e as formações inimigas também já tinhas sido desgastadas pelos tiros dos skirmishers. Algumas vezes, as colunas avançavam para o contato com o inimigo com suas baionetas armadas, mas era mais comum que fizessem um alto, se desdobrassem em linha e partissem para a decisão por meio do poder de fogo.

A “Grande Batterie” cessou fogo quando as Divisões do I Corpo começaram a mar-char para a frente, mas recomeçaram a atirar, quando a infantaria tinha atingido a “zona de matança”, imediatamente após sua própria linha de crista, de maneira a infligir o maior dano possível às linhas anglo-aliadas, antes que o ataque as abordassem. Quando as colunas começavam a subir as encostas opostas, os canhões paravam seus tiros, com medo de atingir seus próprios homens.

As baterias anglo-aliadas abriram fogo sobre as colunas em avanço, enquanto elas marchavam dentro do vale. Ainda que a maciez do terreno limitasse seus efeitos, elas tinham uma clara visão de seus inimigos, pelo menos inicialmente. As rajadas começaram a atingir as densas fileiras de infantes, derrubando muitos sodados, enquanto os sargen-tos gritavam mandando que os claros abertos fossem preenchidos. Quando o terreno da fazenda, do outro lado do campo de batalha, já podia ser visto, as formações passaram a marchar através de uma “zona oculta” que, indubitavelmente, impedia que os artilheiros

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inimigos as vissem, limitando o efeito do emprego da artilharia.A visibilidade dos artilheiros, então, ficava limitada até mesmo pela altura das cul-

turas naquele ponto do campo de batalha. As plantações de centeio subiam até cerca de 6 pés, mas, por outro lado, elas mascaravam o avanço francês, até quando ele já atingia as fileiras da frente inimiga. O terreno lamacento e a altura das plantações fizeram que a marcha da infantaria francesa diminuísse, levando de 15 a 20 minutos para cobrir a encos-ta ocupada pela tropa anglo-aliada.

Tendo esquecido a ação em Quatre Bras e Ligny, os homens do I Corpo estavam famintos para engajar o inimigo, mas o capitão Dutilt, que tomou parte no assalto, acredita-va que alguns oficiais tinham inspirado o fervor dos seus homens, assim se manifestando:

“ A correria e o entusiasmo estavam se tornando perigosos para aqueles soldados que haviam feito uma longa marcha antes de encontrar o inimigo, e logo ficavam cansados pela dificuldade de manobrar naquele terreno lamacento em que afundavam até os canos da botinas e, por vezes, os fazia até perder seus calçados ... logo as fileiras estavam em desordem e a testa da coluna ficou ao alcance dos fogos inimigos”.

A Brigada de Quiot inclinou-se para a esquerda, para assaltar a fazenda de La Haye Sainte, enquanto o restante da Divisão de Allix marchou para cima da linha de cris-ta. Os skirmishers que os precediam, logo engajaram companhias da Legião dos Reis Germânicos, que defendiam o pomar que, rapidamente, foram repelidas para a casa da fazenda, propriamente dita. Esta construção não tinha sido fortificada da mesma maneira que Hougoumont (para onde a maioria dos pioneiros tinha sido enviada), mas os soldados germânicos de sua guarnição deitaram tiros sobre o flanco do ataque francês (através das paredes e das janelas das construções, quando eles subiam a encosta). Os franceses esperavam assediar a casa da fazenda durante este ataque e enviaram um batalhão pelo lado oeste da fazenda, para capturar a área do jardim, enquanto atacavam a fazenda pelo sul e pelo leste, simultaneamente. A infantaria francesa tentou arrebentar as portas das casas e do celeiro, mas não puderam forçar seus caminhos.

Os fuzileiros do 5º Regimento de Infantaria a Pé desencadearam pesados fogos vindos da pedreira, assim apoiando a mosqueteria da Brigada de Bylandt, quando os fran-cese atingiram o sopé da linha de crista. A Brigada de Bourgeois avançou, enquanto ele-mentos da Divisão de Donzelot surgiram na direita de Byland. Eles tinha sofrido severas perdas em Quatre Bras e estariam sujeitos a um posterior bombardeio que lhes imporiam graves baixas. Estes fogos de artilharia tinham afetado sua moral e coesão e eles dispa-raram apenas uns poucos voleios de mosquetes, antes de retrair. Os franceses endurece-ram seu tiroteio e, estoicamente, marcharam para cima. O cabo Canler do 28º Regimento de Linha estava entre eles e recebeu um tiro através de seu shako, durante a luta, que o fez cair na lama. O 95º Regimento, então, abandonou a pedreira, quando os franceses chegaram perto e recuaram para defender suas vidas ao longo de Chemin d’Ohain.

As tropas de Byland recuaram, rapidamente, por uma trilha próxima, causando al-guma desordem ao 28º Regimento, até quando eles se foram. Sua fuga não parou até que se encontrassem atrás do cruzamento de estradas, onde seus oficiais, passaram a manobrá-los.

A Divisão de Donzelot tinha, naquele momento, atingido a linha de crista e parou a 30 passos de Chemin d’ Ohain para se redesdobrar. O nível baixo da estrada e as mace-gas que a delineavam, detiveram a formação das tropas e os homens, instintivamente, se

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agruparam, quando seus oficiais os obrigaram a vencer tais obstáculos, para formarem do outro lado. Ali, eles pretendiam formar as linhas de tiro, que eles haviam praticado, incessantemente, durante o adestramento. As colunas eram, usualmente, divididas em 3 formações, com 2 companhias de largura e 3 fileiras (de homens) de profundidade. As 3 li-nhas tinham intervalos entre elas, que permitiam espaço para realizar tais manobras. Para formar uma linha de tiro, as 2 fileiras da retaguarda deveriam formar um ângulo oblíquo em cada lado, de forma que as primeiras fileiras de cada coluna e a formação como um todo, se apresentassem como uma linha contínua. Uma vez em linha, todos os soldados estariam em condições de estar presentes para disparar seus mosquetes, sem serem obstruídos pelos homens que haviam formado à sua frente.

Neste meio tempo, a Divisão de Durutte avançou à direita daquele ataque e assal-tou a fazenda de Papelotte, ejetando as companhias de infantaria ligeira das tropas de Nassau, que mantinham aquela posição.

Quando La Haye Sainte ficou sob aquele ataque, vindo de, pelo menos, 3 lados, o Príncipe d’ Orange ordenou que o batalhão de Lüneburg, da Brigada de Hanover, con-tra-atacasse, e apoiasse seus defensores. Aproximando-se por NW, tais tropas pararam para disparar voleios de mosquetes sobre a infantaria francesa, que já atacava a região do jardim de La Haye Sinte, forçando-a a recuar. No entanto, os esquadrões de cavalaria que protegiam os flancos de d’Erlon, então surgiram e caíram sobre o infeliz batalhão. Uma vez apanhado em campo aberto, e sem tempo para formar quadrados, os “cuirassiers” franceses foram lançados sobre o inimigo, e o batalhão foi espalhado e cortado homem a homem.

A ação de PictonO general Picton, então, convocou elementos da Brigada de Kempt para preencher

a lacuna deixada pelo retraimento das tropas de Byland. As brigadas dos generais Pack e Best tinham ficado deitadas para evitar o bombardeio da artilharia. Receberam, então, ordens ara se levantar e engajar o inimigo. Os oficiais de Donzelot não tinham visto os franceses, até que se levantaram, então, tentaram, freneticamente, completar a dificultosa manobra de se redesdobrar em linha, quando eles emergiram das sebes. Tentando isto em face do inimigo foi uma loucura, quando, com excesso de confiança, avançaram sobre o inimigo muito próximo. Os franceses lutaram para formar fileiras enquanto a infantaria britânica permanecia em posição, em fileiras duplas, em condições de, calmamente, apon-tar seus mosquetes.

Os “casacos vermelhos”, então, despejaram uma chuva de voleios a uma distância de cerca de 40 passos, abatendo muitos dos franceses das linhas mais avançadas. A confusão tomou lugar entre os franceses e, observando isto, Picton ordenou a realização da carga de baionetas gritando: “Carga, carga, hurrah ! “. Estas foram as suas últimas palavras, quando ele foi atingido por um tiro de mosquete e morreu, instantaneamente. Os homens avançaram e, embora os franceses vacilassem, uma selvagem luta corpo-a-corpo teve lugar. O tenente Belcher do 32º Regimento estava carregando o estandarte regimen-tal e ficou “cara a cara” com um oficial francês.

Marcognet marchou com sua Divisão atrás da direita de Donzelot, mesmo conside-rando ser imprudente se redesdobrar naquele momento. Ele tinha começado a passar as sebes e estava avançando contra uma bateria de Hanover, quando ele se viu confrontado pelo 92º Regimento de Highlanders, que abriu fogo. Em sua densa formação, os fran-ceses puderam responder somente com os mosquetes da sua muito estreita frente em

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relação à linha britânica, que possuía somente 2 fileiras de profundidade. Percebendo que estavam em desvantagem, os franceses começaram a avançar, disparando apenas um voleio, esperando, assim, decidir a questão com uma carga de baionetas, mas, então, a cavalaria inimiga interviu. Um oficial do 45º Regimento de Linha estava tentando incentivar seus homens para a frente quando: “Eu empurrei um soldado para a frente, e foi quando eu o vicair aos meus pés, com um golpe de sabre. Eu levantei a minha cabeça. Era a cavalaria britânica que cavalgava através de nossas fileiras e nos cortava em pedaços”.

A cargaEmbora os franceses estivessem recuando, ocorreu o momento crucial, quando as

brigadas de Kempt e Pack, com somente 3.000 homens se opuseram aos 10.000 france-ses naquele momento. O Lorde Uxbridge já havia preparado a sua cavalaria para realizar um contra-ataque e, então ordenou à Brigada de Housebold para atacar os “cuirassiers”, que estavam começando a avançar no flanco esquerdo da infantaria de d’ Erlon. A cavala-ria britânica ficou em uma situação pobre, tendo que lutar contra aquela infantaria enviada para reforçar o assalto à fazenda. Ao avançar morro acima, ficaram vulneráveis. Uxbridge também determinou que a Brigada Union avançasse, diretamente contra a coluna de in-fantaria francesa que avançava. Ambas as brigadas possuíam 9 esquadrões de cavalaria.

A Brigada Household, liderada por Uxbridge em pessoa, carregou a oeste da es-trada, direto contra os esquadrões de “cuirassiers”, no entorno de La Haye Sainte. Galo-pando morro a abaixo, tinha a vantagem da velocidade e da impulsão, razão pela qual os “cuirassiers” franceses viram-se rapidamente subjugados. O tenente Waymouth, do 2º Guards Life britânico, assim se manifestou: “Uma curta luta nos possibilitou que os que-brasse, não obstante a grande desvantagem decorrentes de nossas espadas, que eram 6 polegadas mais curtas que as dos “cuirassiers”. Quando a cavalaria que os cobria se dispersou e fugiu, a infantaria francesa que atacava a fazenda foi forçada a realizar um rápido retraimento, quando a cavalaria britânica virou-se sobre eles. Alguns homens foram abatidos, mas a maioria manobrou para alcançar o pomar, onde eles se reorganizaram, protegidos da cavalaria pelas sebes e árvores.

A Brigada Union avançou, simultaneamente, derramando-se pelas brechas entre as formações da infantaria de Kempt e Pack. Tal brigada consistia de 3 regimentos oriundos das nações que formavam o Reino Unido: 1º Regimento Real de Dragões (britânicos), 2º Regimento Real de Dragões do Norte Britânico (escoceses) e 6º Regimento de Dragões (Inniskiling) (irlandeses). Os Inniskilings caíram sobre a Divisão de Donzelot e, rapidamen-te, quebraram e fugiram, recuando para baixo da encosta. A cavalaria pesada já cavalgou atrás dos fugitivos abatendo, viciosamente, os homens que corriam; muitos dos infantes franceses deitaram-se sobre o solo, para escapar de suas espadas. O tenente Graeme que estava defendendo La Haye Sainte assim retratou o avanço e o retraimento das co-lunas francesas: “Quando eles fecharam sobre nós, entramos na fazenda e fechamos os portões, e despejamos tiros constantes sobre suas colunas, quando eles passaram por nós ... quando eles foram repelidos e quebrados pela linha britânica, e passaram correndo por nós, qual um rebanho de ovelhas, perseguidos pelos Life Guards ...”.

A Brigada de Bourgeouis ainda se encontrava engajada em um tiroteio, quando o 95º Regimento foi forçado a uma precipitada retirada em razão daquele assalto inespera-do. Eles se retiraram ao longo da estrada em boa ordem, tendo se reunido nas proximida-des da pedreira, mas a cavalaria correu atrás deles e, quando eles ganharam a linha de crista francesa, encontravam-se em uma desordem considerável.

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A coluna de Marcognet também foi atacada e à vista de seus conterrâneos Scots Greys, os homens do 92º Regimento passaram a gritar “Escócia para sempre !” e, então, carregaram para apoiá-los. Não houve tempo para formar quadrados para repelir os cava-leiros inimigos e os homens de Marcognet quebraram e correram, cobrindo a encosta com uma massa de fugitivos. O capitão Duthilt estava presente aquele caos e registrou: “A bri-gada começou a retrair, dissolvendo-se, atacada por todos os lados por aquela cavalaria, e o terreno ficou cheio de mortos e feridos”.

A infantaria britânica seguiu sua cavalaria fazendo centenas de prisioneiros, mas parou, antes que alcançasse o sopé da encosta. Muitos homens da cavalaria britânica, mais tarde, queixaram-se de que os homens, que haviam pedido reforços e os receberam, deveriam ter tomado suas armas para atirar nas costas, quando os dragões franceses avançaram. Isto provocou duras represálias, pois muitos franceses foram compelidos a buscar proteção da infantaria britânica, quando a cavalaria estava tão enfurecida, que abatia homens sem misericórdia. As Águias dos 45º e 105º Regimentos de Linha foram capturadas antes do final da ação. Os portadores dos estandartes e seus guardas haviam pedido clemência por suas vidas e suas capturas testemunharam a selvageria da ação e a dizimação das unidades francesas.

O sargento Ewart dos Scots Greys capturou a Águia do 45º Regimento de Linha,

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enquanto o capitão Clark e o cabo Styles dos Royals conquistaram a Águia do 105º Regi-mento de Linha.

Na extremidade mais a esquerda da posição aliada, a cavalaria de Vandeleur carre-gou sobre a Divisão de Durutte, infligindo-lhe baixas. Quando a infantaria também estava avançando, Durutte logo sentiu-se compelido a abandonar Papelotte e retraiu em alguma desordem, quando a cavalaria o perseguiu. Uma contra-carga pelos lanceiros franceses sob o comando do coronel Brô deu tempo para que Durutte reorganizasse suas brigadas. Vandeleur chamou 4 regimentos dos dragões britânicos e holandeses juntos com os hus-sardos belgas de Ghigny e, a despeito da intervenção dos lanceiros, eles manobraram para também infligir consideráveis baixas. Apesar de tudo, o comando de Durutte sofreu as menores baixas de todas as divisões empregadas no ataque de d’ Erlon. Ele, mais tarde, atribuiu isto à maneira pela qual ele havia avançado e o apoio recebido pela cava-laria. Durutte observou que os inimigos hussardos pareciam lutar em uma considerável desvantagem contra suas mais longas armas de assalto, dizendo: “Eu nunca havia visto a superioridade da lança sobre o sabre”.

O contra-ataque aliado foi extremamente bem sucedido, mas um substancial nú-mero de soldados da cavalaria pesada chegou furiosamente excitado e carregou sobre variadas partes da linha de crista francesa. No seu flanco direito, os tiros de mosquete da brigada de Bachelu fizeram com que a cavalaria fosse detida e se retirasse, junto com o Lord Somerset, para perto de La Haye Sainte. Já uma considerável parcela da Briga-da Union avançou e subjugou 2 baterias de artilharia a cavalo, que os franceses tinham levado para a frente, para apoiar seu ataque. Lorde Uxbridge comentou: “Depois de ter vencido os couraceiros, eu tive uma vaga tentação de parar meus homens, mas nenhuma voz ou toque de clarim foi ouvido ...”. A decisão de Uxbridge de liderar o ataque em pes-soa tinha sido bravia, mas a realização do controle de suas reservas, que seria a principal responsabilidade, tinha falhado ao organizar a cobertura para o retraimento da cavalaria e sua tentativa, feita às pressas, só teve um sucesso parcial. Bem satisfeitos com os resul-tados de suas cargas, os Royals e os Inniskillings começaram a se reagrupar e a retrair para sua linha de crista. No entanto, o coronel Hamilton dos Scots Greys liderou seus ho-mens adiante. Muitos deles não haviam servido no exterior durante as guerras, em razão do que os oficiais e praças eram inexperientes e ansiosos para se provarem. Depois de terem atacado as 2 baterias de artilharia a cavalo próximo à estrada, eles subiram a linha de crista oposta para atacar a “Grande Batterie”. Eles neutralizaram alguns canhões e abateram artilheiros e condutores. O cabo Dickson lembrou a ferocidade do ataque de seu regimento sobre os artilheiros inimigos dizendo: “Que luta! Passamos a golpe de sabre os artilheiros, imobilizamos seus cavalos e cortamos suas rédeas. Eu ainda posso lembrar dos franceses gritando: ‘Diable’, quando eu os ataquei, e ouvi os sons sibilantes através dentes, quando enfiei-lhes minha espada”.

Mas é discutível o quanto de danos permanentes a cavalaria tinha imposto à arti-lharia francesa. Ainda que Uxbridge tivesse informado que muitos canhões tinham sido neutralizados, há registros de que, assim que a cavalaria abandonou o local, os artilheiros franceses para lá retornaram e colocaram suas armas, novamente, em ação. O general Desles, que comandou 50 canhões nesta parte do campo de batalha, dizia que a cavalaria britânica havia causado mais danos à moral que qualquer outra coisa, dizendo, ainda, da grande dificuldade de chamar de volta algumas equipes de artilheiros que haviam fugido para a retaguarda. É também duvidoso que, como dizem alguns, que mais de 30 ou 40 canhões tivessem sido postos fora de ação e que a “Grande Batterie” era tão grande que

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mesmo tais perdas não teriam reduzido sua efetividade por um longo tempo, posto que em menos de uma hora ela reassumiu suas tarefas.

O coronel Martique dos Lanceiros, então, assaltou os Scots Greys (e outros ele-mentos da Brigada Union) pelo flanco, e lhes infligiu grandes perdas. Montados em ca-valos cansados, muitos deles menos desarmados que os franceses, tiveram dificuldades para fugir dos seus perseguidores montados em cavalos frescos. Este devastador assalto foi, então, seguido pelos couraceiros da Brigada do general Farine, que perseguiu os sobreviventes através do vale até o sopé da linha de crista aliada. O general Sir William Ponsonbly estava entre aqueles seus companheiros e, dos 2.500 homens de ambas as brigadas, cerca de 1.000 tinham sido mortos, feridos ou capturados.

De fato, o tenente-coronel Sir Frederick Posonby do 12º Regimento de Dragões Ligeiros tinha sido ferido duas vezes, antes de ter sua cabeça ferida por um golpe de sabre, o que o deixou sem sentidos. Quando um lanceiro o viu se deslocando, após ter recuperado sua consciência, ele estocou sua lança no oficial, dizendo: “Tu n’est pas mort, conquin” (Você ainda não está morto, meu caro), perfurando seu pulmão. Ainda que Po-sonby eventualmente tivesse se recuperado, acredita-se que muitos lanceiros britânicos tenham morto os britânicos feridos, depois da carga, com suas longas lanças de 9 pés (2,7 m) de comprimento,

Ainda que sons de uma luta feroz ainda fossem ouvidos, vindos de Hougoumont, uma calmaria descia sobre o lado leste do campo de batalha, quando a “Grande Batterie” cessou seus tiros. O vale e a linha de crista estavam cobertos de mortos e feridos. O ata-que francês tinha sido firmemente repelido e o Corpo de d’ Erlon havia perdido pelo menos 5.000 homens (dos quais, 3.000 tinham sido feitos prisioneiros).

Comentando o ataque de d’ Erlon (e sobre seus ataques em geral em Waterloo), Welligton, mais tarde, assim se manifestou: “Napoleão não manobrou tudo que sabia. Ele avançou no velho estilo, em colunas, e foi repelido no velho estilo”. Este foi um ponto crucial da luta. Durante a Guerra Peninsular, os britânicos aprenderam que as formações em linha eram superiores às colunas de assalto, em termos de poder de fogo e de poder psicológico, no sentido de intimidar o oponente. O poder da infantaria britânica foi reno-vado durante aquela guerra, provando que a política britânica de emprego de pequenos mas profissionais exércitos poderia vencer uma força maior, composta, largamente, de conscritos que, frequentemente, falhavam em faces de tais assaltos.

Às 15:00 hs, quando ele reconheceu a carnificina diante dele, Wellington tinha uma boa causa para se sentir menos estressado. Embora sua cavalaria pesada tivesse sofrido sérias perdas, devido a ter estendido por demais sua carga, este sacrifício havia evitado um sério ataque do I Corpo francês, que teve um considerável tempo para se recuperar e renovar sua operação. E o mais importante, a repulsa deste ataque maior tinha garantido a Wellington um valioso tempo, posto que seu Exército anglo-aliado ainda estava inferio-rizado numericamente e ele sabia que ele sabia que não conseguiria derrota o se inimigo sozinho.

A INVESTIDA DA CAVALARIA FRANCESA

Ambos os comandantes estavam conscientes a respeito do caminho que a batalha tinha percorrido, até aquele momento. Wellington, no entanto, ainda que não visualizasse uma retirada, viu-se obrigado a reforçar sua linha de frente com unidades da sua segunda linha de defesa. Ele, também, havia começado a se reorganizar, com base nas suas reser-

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vas. Alguns oficiais de seu Estado-Maior preocupavam-se que o exército não suportaria um outro ataque francês, em escala similar ao assalto de d’Erlon, especialmente se uma das fazendas caísse em mãos francesas. Mas Wellington acreditava que seu exército ainda deveria aguentar algum tempo, até que os prussianos chegassem. Mas para sua frustração, os prussianos somente chegariam, em alguns números, por volta das 14:00 hs, quando Blücher apareceu, para proceder, cautelosamente, quando o Duque de Welling-ton, desesperadamente, precisava dele para aliviar a pressão sobre seu exército.

Napoleão, por seu turno, estava, agora, mais preocupado sobre o que poderia estar acontecendo ao leste, e as mensagens vindas de Grouchy viriam a alarmá-lo, mais ainda. Às 11:30 hs, a primeira mensagem de Grouchy revelou que sua marcha em direção a Wa-wre estava progredindo lentamente e parecia muito improvável que ele pudesse interpor--se ao corpo principal dos prussianos, ou atacá-lo, enquanto ainda estivesse em marcha. Ficava, então, claro, que não havia chances para Grouchy juntar-se com o Exército do Im-perador e, mesmo que se isto fosse possível, os franceses ainda ficariam em inferioridade numérica, na base de 2 para 1, caso os prussianos contribuíssem com 2 ou mais Corpos.

A falha do assalto de d’ Erlon convenceu Napoleão de que a linha anglo-aliada era mais forte do que ele supunha, de forma que ordenou ao marechal Ney para conquistar a fazenda de La Haye Sinte, a todo custo. Uma vez recebida tal ordem, as forças francesas iriam se concentrar mais próximas do inimigo e, assim, os assaltos subsequentes teriam mais chances de galgar a linha de crista de posse de Wellington e penetrar suas defesas. Napoleão também esperava que a queda de Hougoumont estivesse iminente, em razão das significativas quantidades de tropas ali empregadas para sua captura. O I Corpo es-tava se reagrupando a leste de La Belle Alliance e Ney selecionou as duas brigadas que haviam sofrido as menores baixas para renovar o ataque sobre La Haye Sainte.

A “Grande Batterie”, agora reforçada pelos canhões do Corpo de Reille e da Guarda Imperial, começou a bombardear o centro aliado, novamente, Seu poder de fogo con-centrado era terrível e mereceu, mais tarde, os seguintes comentários do general Alten: “Nunca antes, mesmo os mais velhos soldados tinham visto tal canhoneio”. A força destes fogos persuadiu Wellington a recuar sua linha de frente cerca de 100 passos. Ney estava observando a posição anglo-aliada, com seu Estado-Maior, de bem próximo, identificando sinais de um substancial deslocamento de tropas à retaguarda do inimigo, e intuiu que Wellington deveria estar à beira de retrair. Lembrando-se do bem executado retraimento do Duque, depois de Quatre Bras, Ney teve motivos para suspeitar que Wellington tentaria recuar até o último momento.

Contudo, as manobras que Ney tinha divisado através da fumaça do canhoneio, referiam-se ao deslocamento de um grande número de feridos, colunas de prisioneiros e vagões vazios de suprimentos, que se retiravam do campo de batalha. Ney pode ainda ver que os remanescentes das brigadas Household e Union estavam se reagrupando antes de Mont St Jean. Combinando isto com o deslocamento para a retaguarda da inteira pri-meira linha anglo-aliada (ou melhor, o que se podia ver de tal manobra), fica fácil ver como Ney havia interpretado mal o que vira se desdobrar à sua frente.

Esperando tirar vantagem da retirada inimiga, Ney ordenou à Brigada de “Cuiras-siers” de Milhaud para avançar e pressionar a retirada inimiga. O general Delort, um dos comandantes da Divisão de Milhaud, questionou a ordem junto ao general Farine que, então, lhe disse:

“Ele não somente insiste em sua ordem original, com também mandou que ambas

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as divisões (do Corpo de Milhaud) a cumprisse, em nome do Imperador. Eu hesitaria em obedecer, dizendo que a cavalaria pesada não deveria atacar alturas, mantidas por uma infantaria, que certamente, está bem posicionada para defendê-la. O marechal gritou: ‘Para a frente, pela glória da França ! “. Eu, relutantemente, obedeci”

Para cobrir seu avanço, Ney ordenou aos lanceiros de Piré para realizar uma finta contra o flanco direito aliado, onde eles realizaram “skirmishing” com a cavalaria de Grants. A este ponto, muitas das divisões de cavalaria tinham meramente observado e aprendido sobre a luta, mas sem tomar parte ativa na batalha, e estavam famintos de combater os inimigos. Sem esperar pelas devidas ordens, a cavalaria de Lefebvre-Desnouëte avançou, tão logo viu o Corpo de Milhaud se deslocando para frente, e juntou-se ao ataque. Por vol-ta das 16:00 hs, cerca de 5.000 cavaleiros estavam se deslocando contra o centro-direita da posição anglo-aliada.

Vive l’ empereur! – A primeira cargaA cavalaria francesa avançou entre as fazendas de Hougoumont e La Haye Sainte.

De forma a envolver tais posições, sem receber tiros pesados de seus defensores, eles viram-se obrigados a passar através de uma estreita região, com cerca de apenas 800 Jd (731 m) de largura – uma reduzida área para permitir a passagem de 1.000 a 5.000 cavaleiros. Como nenhum ataque sério tinha tido lugar no centro-direita de Wellington, e a altura do plantio de culturas não tinha sido pisoteado, o terreno encontrava-se, ainda em sua situação original, Isto significou que a cavalaria teria que progredir em velocidade de baixa andadura e sua passada não excederia um trote, até que alcançassem o cume da linha de crista.

Na fome de pressionar o retraimento inimigo, Ney falhou ao coordenar este ataque, por meio de uma combinação de diferentes armas. Embora o ataque da infantaria sobre La Haye Sainte continuasse, a cavalaria avançou sem infantaria em apoio, para explorar qualquer sucesso e somente umas poucas baterias de artilharia a cavalo a acompanhou, em condições de fornecer apoio de fogo às suas cargas. Um oficial britânico observou: “Nós ficamos espantados que alguém pudesse atacar com cavalaria uma infantaria em posição inabalável, graças às ondulações do terreno, que, inclusive, possibilitou que pe-quenas perdas ocorressem, depois de tal canhoneio”. Ney cavalgou mais para frente e de-monstrou uma coragem tal que, indubitavelmente, fez aumentar a moral das suas tropas e a confiança em suas decisões.

Observando as preparações francesas da linha de crista, Wellington enviou ordens para a sua artilharia a cavalo se deslocar para a retaguarda, temeroso de que pudesse ser neutralizada, quando a cavalaria atacasse. Ele também deu ordens à infantaria da linha de frente para retornar para suas posições anteriores, exatamente atrás da crista topográ-fica da linha de crista e formasse quadrados, para repelir a cavalaria. Ele também instruiu a artilharia para atirar no último minuto da chegada da cavalaria, antes que ela corresse para se chocar com os quadrados aliados. A infantaria anglo-aliada formou 20 quadrados (a maioria, na forma retangular) que se posicionaram de forma a evitar de serem atingi-dos pelos tiros provenientes dos quadrados amigos adjacentes. A maioria estava formada com, pelo menos, 60 homens largos e com 3 ou 4 fileiras de profundidade.

Quando os franceses cavalgaram para frente, a artilharia aliada atirou sobre aque-las pesadas formações de homens e cavalos. Eles deslocaram-se lentamente, oferecen-do alvos compensadores, quando os tiros dos canhões acertaram suas fileiras abatendo

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cavalos e esvaziando selas. O coronel Ordner, comandante do 1º Regimento de “Cui-rassiers”, orgulhosamente lembrou: “Nossas quatro soberbas linhas eram, praticamente frescas; elas se moviam simultaneamente aos gritos de Vive l’ Empereur! ... O marechal Ney estava em nossas mentes”.

Quando eles se aproximaram do sopé da linha de crista, os artilheiros começaram a disparar seus canhões, usando granadas e canisters, assim infligindo horríveis perdas a um alcance aproximado. Era uma gloriosa mas horrível visão a dos daqueles magníficos esquadrões cavalgando para frente sob uma letal tempestade de fogos. Quando os arti-lheiros britânicos fugiram para buscar proteção nos quadrados, a cavalaria francesa ati-rou-se contra a infantaria. As baterias anglo-aliadas tinham sido rapidamente escondidas, mas uns poucos cavaleiros franceses tinham pensado em trazer a arma a picos de lanças para desabilitar os canhões. Em alguns casos, as tropas mais avançadas encontraram nas plantações consideráveis obstáculos. O major Llewellyn do 28º Regimento britânico descreveu como eles não só tiveram sua visão da própria infantaria obstruída, como tam-bém os franceses viram-se obrigados a tomar medidas drásticas de reconhecimento:

“O centeio no campo era tão alto, que ver qualquer coisa além de nossas próprias fi-leiras, era uma coisa impossível. O inimigo, no entanto, ao atacar nossos quadrados, eram obrigados a fazer com que ousados soldados, cavalgando para a frente e, desesperada-mente, fincassem bandeiras, como uma baliza para os movimentos, por vezes ao alcance de nossas baionetas. Assim, quando eles carregavam, invariavelmente, eram repelidos”.

Enquanto os infantes das fileiras da frente daqueles quadrados se ajoelhavam, fir-mando no solo a coronha de seus mosquetes, para formar uma muralha de baionetas para a cavalaria inimiga, os homens de trás atiravam sobre as tropas assaltantes, por cima de suas cabeças. Esperando até que pudessem “ver o branco dos olhos inimigos”, a infanta-ria deveria permitir que ela chegasse a uma distância muito próxima, antes de descarregar seus mosquetes Com muitos recrutas nas fileiras, fazer isto não era tarefa fácil, principal-mente quando a cavalaria inimiga, assustadora e intimidante, ficava diante dos seus olhos. Aqueles homens sem experiência de combate tendiam a atirar muito alto, pois teria que haver muita coragem para segurar o disparo dos mosquetes, até que a cavalaria ficasse bem próxima, o momento ideal para um voleio mais efetivo.

Seus oficiais sabiam que se os infantes segurassem seus nervos e permanecessem em quadrado, eles estariam relativamente safos da cavalaria. Embora não fossem invul-neráveis, seria muito difícil para a cavalaria quebrar suas fileiras sem os fogos de apoio vindos da infantaria ou da artilharia. Do lado francês, sua cavalaria montava um ataque furioso, esperando com isso penetrar nos quadrados, ou quebrar a moral de seus defen-sores. Caso a infantaria tremesse ao divisar a massa de cavalaria avançando sobre ela e corresse, ela, uma vez dispersa, seria abatida, sem complacência. Perdas seriam infligi-das em ambos os lados, mas seria uma batalha de atrição, em que aquele que mantivesse seus nervos mais contidos, prevaleceria.

Os intensos e disciplinados fogos da infantaria repeliram e quebraram as formações da cavalaria, mas mesmo assim, os cavaleiros se aproximaram o bastante para ofender a infantaria com seus sabres, sofrendo apenas pequenas perdas em troco. Aqueles que tinham cavalgado próximo o bastante par fazer isto, foram, frequentemente, abatidos ou baionetados, uma vez que a maioria dos cavalos vendo as baionetas elevadas refugava a carga e parava diante da muralha defensora.

A cavalaria girou no entorno dos quadrados e a linha de crista ficou enevoada pela fumaça da pólvora queimada, vinda dos voleios emassados da infantaria. A cada vez que

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a cavalaria era repelida, ela recuava para se reorganizar para, teimosamente, montar uma carga após outra.

Em determinados lugares, a artilharia a cavalo tinha se aproximado o bastante para poder ver os quadrados e disparar sobre eles diretamente, acertando muitos homens, dentro de suas formações emassadas. No entanto, os franceses não tinham trazido ca-nhões suficientes e ainda que a infantaria inimiga tivesse sofrido perdas com tais canho-neios, estes não foram suficientes para abrir brechas nos quadrados, que permitissem que a cavalaria as explorassem depois de penetradas. Pelo menos 4 maiores assaltos foram realizados, antes que os franceses verificassem a situação da sua cavalaria, uma vez passado o entusiasmo dos combates.

Um ataque da infantaria também tinha progresso contra La Haye Sainte, que havia tido início pouco antes das 16:00 hs. Donzelot desdobrou uma pesada linha de skirmishers avançando à frente da fazenda, para engajar os fuzileiros que tinha retornado da pedreira. Esta força cobriu o principal ataque pelos elementos da Divisão de Quiot que entrou no pomar, pelo sul da fazenda, e renovou seu assalto. Os defensores estavam começando a ficar com pouca munição, a despeito das urgentes solicitações de ressuprimento, mas Welington apenas enviou, mais tarde, duas companhias de infantaria, para apoiá-los.

Os homens de Baring continuaram a resistir aos assaltos sobre suas muralhas e despejaram pesados fogos, que dirigiram os homens de Quiot de volta para o pomar, im-pondo-lhes séria perdas.

Os skirmishers da Brigada de Kempt também avançaram para o leste da fazen-da e somaram seus fogos aos do 95º Regimento, rapidamente repelindo os skirmishers franceses que cobriam o ataque. A fazenda encontrava-se sob pesada pressão, mas sua guarnição parecia susceptível de suportar aqueles assaltos naquele momento.

Os prussianos chegam no campo de batalhaTemendo que o Exército anglo-aliado pudesse ser subjugado em Mont St Jean, Blü-

cher tinha acelerado a marcha dos seus homens, apesar do dificultoso caminho a partir de Wavre. A artilharia prussiana encontrou severos problemas em empurrar seus canhões na região montanhosa e no terreno irregular das proximidades de Chapelle-St Lambert, o que exigiu tudo do legendário marechal-de-campo para incentivar, entusiasmar e inspirar seus soldados já cansados. Observando a guarnição de uma peça de canhão, que se esforçava para liberar sua arma da lama, ele apeou de sua sela dizendo-lhes: “Vamos camaradas, vocês não podem quebrar minha promessa!”. Ele sabia que, mesmo que Wellington ma-nobrasse para manter-se ante ao Exército de Napoleão, seus soldados prussianos eram urgentemente necessários, para que os aliados retomassem a iniciativa e virassem a maré contra os franceses.

Por volta das 13:00 hs, Blücher chegou na extremidade do campo de batalha, na região da floresta de Fischermont. Ele e seu Estado-Maior observaram a batalha de muito perto, com suas lunetas e cobertos pelas árvores. O Príncipe August de Thurn e Taxis (que serviam no Estado-Maior prussiano) registraram: “Difícil de se acreditar o que podíamos ver na retaguarda do inimigo (a uma distância de cerca de 1 ½ hora de marcha) com o auxílio de nossas lunetas: uma enorme quantidade de feridos que estava sendo levada para trás”

Os prussianos enviaram uma patrulha de reconhecimento de Uhlans, sob o coman-do do major von Falkenhausen, que chegou até bem próximo de la Belle Alliance, retor-nando com a informação de que prisioneiros se mostraram completamente surpresos,

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jamais sonhando que os prussianos estivessem tão perto. Suas vedetes também repor-taram, que os franceses, em geral, também pareciam estar completamente surpresos da presença das tropas prussianas.

Conferenciando com seus oficiais, Blücher concordou que Napoleão logo estaria reconhecendo a ameaça que ele lhe impunha, e concentraria seus esforços para quebrar a linha anglo-aliada, antes que os prusianos pudessem intervir. Blücher recusou-se a mon-tar e atacar, antes que tivesse concentrado forças suficientes para estar pronto para uma batalha. Empenhar forças, naquele momento, só resultaria em desnecessárias perdas. Até então, Wellington só teria que aguentar, mas Blücher começou a planejar um assalto contra a vila de Plancenoit. Uma vez que o IV Corpo prussiano estava pronto, ele rece-beu ordens para conquistar aquela vila, no flanco direito de Napoleão. Caso o IV Corpo pudesse fzer isso, ele deveria atacar o centro francês ou sua etaguarda, daquela posição (Plancenoit).

Permanecendo firmesDe volta para a linha de crista anglo-aliada, a cavalaria continuou a realizar golpes

de lança e de sabre contra mosquete e baioneta. Toda vez que a cavalaria recuava, para se reorganizar, os artilheiros emergiam de seus quadrados, corriam para seus canhões e disparavam sobre ela, enquanto ela lutava para se rearrumar no sopé da linha de crista.

As culturas agora tinham sido pisoteadas pelos cascos dos cavalos, mas mesmo assim, a cavalaria tinha feito um pequeno progresso contra a infantaria, que permanecia firme em suas cerradas fileiras. Atento às ações de Ney de seu posto de observação, Napoleão vociferou ao marechal Soult sua desaprovação à manobra de Ney: “Este foi um movimento prematuro, os resultados serão desastrosos”. Soult respondeu: “Ele já tinha nos colocado em perigo em Jena!” O Imperador olhou longe no campo de batalha, refletiu um momento, e então disse: “Ainda é cedo, mas é necessário acompanhar o que já co-meçou a ocorrer.”

Consequentemente, a cavalaria de Kellerman e Guyot foram empregados para ata-car. Por mais de uma hora, ondas atrás de ondas da cavalaria pressionaram, implacavel-mente, o centro de Wellington, e cerca de uns 10.000 cavaleiros, no total, foram enviados contra a linha de crista anglo-aliada. As condições dentro dos quadrados da infantaria britânica estavam se tornando insuportáveis, em razão do que os oficiais lutavam para que a ordem fosse mantida e gritavam comandos que eram abafados pelo som da mos-queteria, aliada ao barulho dos cascos dos cavalos e dos “clashes” de aço das baionetas e sabres. No centro dos quadrados havia muitos feridos e mortos, que eram retirados por seus camaradas.

Esta parte da luta tornou-se o mais famoso evento da batalha de Waterloo, e muitos desenhos e pinturas, mais tarde, iriam mostrar os infantes aliados mantendo-se.estoica-mente em quadrados, com seus estandartes flamulando ao centro.

A determinada resistência dos aliados contrastava com a cavalaria francesa, que atacava furiosamente os quadrados, que, bravamente, resistiam. Imagens como esta tor-naram-se o símbolo da titânica luta de Waterloo.

Parecia que a situação para Wellington estava desesperadora, com a infantaria do centro de sua posição cercada por uma maré de cavalaria, que a atacava, furiosamente. Ordner, que cavalgou contra os quadrados, exageradamente exclamou: “Nós já éramos os donos do platô e os britânicos estavam destroçados em partes. Mas eles pareciam estar enraizados no terreno; nós deveríamos ter tentado matá-los, homem a homem” Até Napoleão acreditava que a vitória se aproximava e, mais tarde, comentou que se Murat

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estivesse lá, ainda que tivessem sido formados os quadrados, ele teria sido capaz de des-trui-los, dizendo: “Pode ser que ele nos tivesse dado a vitória. Mas o que nós precisamos fazer neste ponto da batalha? Esmagar 3 ou 4 quadrados britânicos”.

Uma vez que somente umas poucas baterias de artilharia a cavalo tinham avan-çado, os quadrados foram sendo assediados por numerosos “tirailleurs”, particularmente nas proximidades de La Haye Sainte, e a moral nos quadrados vacilou quando as baixas aumentaram. Os skirmishers, algumas vezes, negavam aos artilheiros britânicos a chance deles retornarem a seus canhões, durante os intervalos entre as cargas de cavalaria e Wellington sabia que tal situação ficaria crítica, caso Napoleão avançasse em força com sua infantaria. A Brigada de Adam estava na segunda linha e, em contraste, seus homens ficavam agitados por ocasionais tiros vindos dos skirmishers e estavam famintos para ter uma participação mais ativa. O Duque, então, ordenou que eles se deslocassem para mais perto da linha da frente (deslocando-se, lentamente, em quadrados) e instruiu outros batalhões para fazerem recuar os skirmishers,o máximo possível, dizendo: “Eu ficarei da-nado se nós perdermos este terreno, caso não tenhamos cuidado “.

Ainda que a infantaria aliada estivesse sofrendo, os cavalarianos e seus cavalos sofriam muito mais, sendo abatidos pelo poder de fogo do oponente, naquela batalha de atrição. A um estágio da batalha, o marechal Ney, que tinha tido três cavalos abatidos, sob sua montaria, foi visto em pé, sozinho, em uma bateria capturada e batendo sua espada contra um cano de canhão, enfurecido e frustrado. A infantaria anglo-aliada não tinha sido enfraquecida pelo canhoneio prévio, como muitos dos franceses pensaram e, sem infanta-ria em apoio, ficava claro que a cavalaria sozinha não quebraria o inimigo. Dois anos mais tarde, o general Thiébault escreveu que a infantaria formada em duas linhas de quadrados com suficientes intervalos entre eles, para permitir que os tiros ficassem livres, teria pe-queno medo da cavalaria, especialmente quando apoiada pela artilharia. Isto, certamente, foi o caso de Waterloo.

Quando os cavaleiros cavalgavam próximos o bastante para usar a lança ou a es-pada, eles, frequentemente, enfrentavam dois ou três defensores que os atacavam com suas baionetas ou tiros a “queima-roupa”. Algumas descargas de pistolas ou de carabinas poderiam vir das selas, mas havia esperança de competir com os tiros concentrados de tantos mosquetes. O posicionamento em “tabuleiro de xadrez” dos quadrados, permitia

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que cada batalhão garantisse apoio mútuo aos quadrados vizinhos, além de possibilitar que os franceses recebessem tiros em seus flancos, como também, na sua frente, quando cavalgavam de volta para se reorganizar. Adestrados eficientemente, os batalhões britâ-nicos ocasionalmente se redesdobravam e uma linha com 4 homens de profundidade, quando os assaltantes retraíam, disparando um devastador voleio de mosquetes atrás do inimigo. o tempo, somente para que os “casacos vermelhos” reformassem seus qua-drados (uma manobra relativamente simples da de alterna entre qudrado e linha com 4 homens de profundidade).

Todas as vezes que os franceses recuavam, o Lorde Uxbridge (comandante do Cor-po Reserva da força anglo-aliada) lançava contra-ataques com sua cavalaria, esperando infligir baixas e romper as tentativas da cavalaria francesa de renovar seus ataques. Não obstante, consciente das baixas que sua própria cavalaria tinha sofrido naquele dia, ele tomava cuidado em manter seus homens nas mãos e manobrava no sentido de evitar que eles perseguissem o inimigo além do sopé da linha de crista, para retraírem para o abrigo dos quadrados, antes que os franceses renovassem suas cargas.

Por volta das 17:00 hs, Ney tinha percebido que Wellington não estava retraindo e que sua cavalaria não poderia capturar a linha de crista sem mais apoios (particularmente de infantaria). Por conseguinte, ele ordenou que 8.000 infantes do II Corpo de Reilles - que não estavam empregados na luta por Hougoumont – avançassem na sequência do ataque da cavalaria. No entanto, o movimento foi mal feito, errado, e eles não puderam avançar até as 17:30 hs, quando a cavalaria já tinha recuado para o sopé da linha de crista aliada.

A infantaria de Reille avançou, com um pesado canhoneio em apoio, mas foi rece-bida por um devastador voleio de mosquetes, quando eles trocaram tiros com a infantaria inimiga que havia se desdobrado em linha, para encontrar os franceses na linha de crista. Temerosos de futuras cargas de cavalaria, a maioria dos batalhões anglo-aliados adotou as linhas com 4 homens de profundidade. Ainda que isto fosse mais restritivo em termos de poder de fogo que os usuais tiros em formação em linha, com somente 2 homens de profundidade, esta não permitia reformar, rapidamente a formação em quadrado.

Bachelu também foi ferido durante este ataque abortivo, tendo recebido estilhaços de granadas na cabeça. De acordo com alguns relatos, os franceses perderam cerca de 1.500 hmnes em somente 10 minutos e, por volta das 18:00 hs o ataque francês tinha sido completamente repelido.

Os historiadores continuam a debater sobre quem teria sido o verdadeiro respon-sável pelas desastrosas cargas de cavalaria em Waterloo, que devastaram aquela arma francesa. Alguns afirmam que foi Ney, outros, sugerem que foi Napoleão, por ter emprega-do seus homens em uma luta desnecessária. Outros afirmam que deveu-se ao fanatismo dos cavalarianos. Mas o fato é que o desastre envolveu 10.000 cavaleiros não apoiados adequadamente por uma infantaria, além da exaustão a que foi submetida a cavalaria, para fazer frente a uma posição fortemente defendida para, afinal, obter tão pequenos ganhos territoriais. Além disso, em face das pesadas baixas e da lacuna de progresso, o ataque foi autorizado para continuar por muito mais tempo do que o aceitável.

Em suas memórias, Napoleão escreveu sobre a ate da guerra e sobre o fato dele ter permitido que os assaltos continuassem sem controle, mas fica difícil de se compreender quais as razões para ter autorizado o ataque inicial.

Recentes estudos sobre a bataha, no entanto, feitos por Akessandro Barbero, su-gerem que os franceses ganharam com as múltiplas cargas de cavalaria. Ele acredita que Napoleão estava ciente de como os assaltos estavam se procedendo, mas decidiu

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continuar com eles até que eles ocupassem a linha de crista defendida pela infantaria anglo-aliada e evitasse que Welligton empregasse suas reservas. Isto permitiu que os franceses continuassem com seus esforços para conquistar Hougoumont (sem significati-va interferência) e preparassem o caminho para se moverem contra La Haye Saibte, que estava isolada pelo continuado ataque de cavalaria. Além do mais, ainda que as cargas massivas fossem custosas, elas infligiram algum dano sobre a linha de Wellington e man-teve a pressão sobre ela, até que Napoleão estivesse pronto para desencadear um golpe final e esmagador.

A QUEDA DE LA HAYE SAINTE

Na noite de 17 de junho, a 2ª Brigada da Legião dos Reis Germânicos (KGL), co-mandada pelo coronel Ompteda, recebeu ordens para guarnecer a fazenda de La Haye Sainte. Em face disso, o major George Baring ocupou a fazenda e suas vizinhas, em-pregando o 2º Batalhão de Infantaria Ligeira da KGL. Esta força consistia de 380 a 400 homens de todas as graduações, divididos em 6 companhias. Acessando as construções da fazenda, com propósitos defensivos, o major descreveu La Haye Sainte da seguinte maneira:

“A casa de moradia, o celeiro e os estábulos eram cercados por um muro retangular, formando uma corte em seu interior. Em direção ao lado inimigo, havia um pomar, cercado por cercas-vivas e na retaguarda havia uma horta cercada por um pequeno muro, no lado voltado para a estrada, mas nos seus outros lados era protegida por cercas vivas. Duas portas e três largos portões fechavam a comunicação com o interior, mas destes últimos, um encontrava-se quebrado e queimado pelas tropas”.

Ele empregou duas companhias para manter as construções e fechar o interior da fazenda, uma defendendo a horta no lado norte do complexo e o restante defendendo o pomar.

A chuva dificultou os esforços de Baring para preparar-se contra um ataque e o fato de que seus pioneiros tinham sido enviados para socorrer na fortificação de Hougoumont, ele teve que improvisar no fortalecimento da defesa da fazenda. A mula que carregava as ferramentas do batalhão tinha se perdido durante a marcha e ele lamentou não ter

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enxadas para usar em tal situação. Além disso, ele teve de se safar com a ferramentas encontradas dentra da fazenda ou emprestadas de outras unidades. A falha dos oficiais de não evitarem que os soldados destruíssem o grande portão do celeiro, para alimentar a fogueira durante a noite, também resultou em que o canto oeste da fazenda ficasse mais vulnerável.

Os legionários da KGL, no entanto, manobraram para tamponar quebrar 3 grandes brechas existentes nos muros da fazenda, além de criar buracos no teto par poderem posicionar seus franco atiradores. Tentaram, mas não conseguiram criar plataformas que lhes permitissem atirar sobre os muros, em toda a volta. Somente o chiqueiro adjacente ao portão da fazenda permitiu que eles fizessem isso, de onde os homens poderiam atirar deitados ou ajoelhados para não se exporem ao risco de ficarem expostos aos pesados fogos inimigos. A guarnição de La Haye Sainte também manobrou para bloquear a entrada do grande celeiro, usando móveis, mas esta barricada improvisada constituiu uma pobre substituta para o portão duplo, que havia sido, recentemente, posto abaixo. De qualquer maneira, Barinhg hesitou em bloquear esta entrada completamente, posto que poderia servir de uma rápida rota de fuga para o complexo, para as companhias que defendiam o pomar, case tivessem que recuar. Mais tarde, Baring assim se manifestou: “Tão impor-tante quanto a posse da fazenda, também eram os meios para defendê-la e estes eram insuficientes”.

O primeiro assalto – 13:30 – 14:30 hsDurante o ataque do I Corpo de d’ Erlon, La Haye Sainte ficou sob o assalto direto

da Brigada do coronel Charlet, da 1ª Divisão de Infantaria de Quiot. Enquanto a infantaria francesa avançava ao longo da estrada, sua aproximação podia ser vista pelos defen-sores; ela não se dava diretamente contra o sul do pomar, de onde Baring controlava as operações, que disse: “a fazenda deita-se em um buraco, de modo que uma pequena ele-vação do terreno, imediatamente à frente do pomar, esconde a aproximação do inimigo”.

Os fuzileiros alinhados ao sul da linha de cerca viva, dirigiram suas pontarias sobre um grande número de “voltigeurs” franceses que progrediam à frente. Em sua ganância de tomar a fazenda, os franceses não realizaram o skirmishing por muito tempo e, rapi-damente, avançaram sobre seu objetivo, com duas colunas cerradas, uma que atacou os prédios e a outra que se lançou, em massa, para dentro do pomar, contestando os tiros dos defensores. Na intenção de desencadear um pesado e concentrado tiro no pomar, os franceses avançaram, marchando rapidamente, e suportando as perdas que os fuzileiros defensores lhes impunham. O fuzileiro Fridrich Lindau foi um dos que atiraram sobre os franceses e, mais tarde escreveu: “Primeiro, quando o inimigo estava “empacotado” à frente de nossa sebe, nós abrimos um fogo assassino sobre aquela densa multidão e o terreno, rapidamente, ficou coberto com uma massa de homens mortos e feridos. Por um momento, os franceses pararam, mas então eles passaram a atirar sobre nós, causando--nos uma grande destruição”.

Em combate aproximado, o alcance superior e a precisão do rifle Baker conferiam uma pequena vantagem, apesar da demora em recarregar o mosquete. Os franceses, por seu turno, eram hábeis em realizar repetidos voleios de mosquetes sobre o pomar e as sebes, que ofereciam ao inimigo uma limitada proteção. Com uma segunda coluna avan-çando à direita deles, dirigindo o seu assalto para o lado oeste da fazenda, os defensores também viram-se em perigo de serem envolvidos. Vendo isto, Baring ordenou-lhes para recuar e Lindau comentou: “mas quando as colunas à direita avançaram, houve a ameaça

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deles cortaram nossa via de fuga pelo portão do celeiro ... nós marchávamos lentamente para trás, atirando”. O fuzileiro Harz, um amigo de Lindau foi abatido próximo dele. O capitão Schaumann e o major Bosewiel também tombaram no pmar, junto com vários de seus homens que tentaram recuar. Entrando no grande celeiro, os defensores deitaram pesados fogos através do caminho do portão, evitando que os “tirailleurs” franceses pe-netrassem.

Baring cavalgou seu cavalo ao longo do lado oeste da fazenda, tentando dirigir seus homens para fora, para se retirarem sob a proteção das construções. O general Alten, vendo que a fazenda estava praticamente cercada pela infantaria francesa, ordenou ao coronel von Klenck que liderasse seu batalhão de Lüneburg encosta abaixo e aliviasse um pouco da pressão francesa sobe a posição da horta. O Batalhão Lüneburg desdobrou-se em linha de tiro e se engajou com os franceses que tinham atacado o jardim e progrediam ao longo do lado oeste da fazenda. No entanto, Baring, vendo que os “cuirassiers” esta-vam se aproximando e temeroso que estes reforços pudessem ser apanhados em campo aberto, pois eles, certamente, não tinham visto a aproximação da cavalaria inimiga, ele cavalgou para a frente deles e gritou aos seus oficiais para se retirarem da fazenda, junto com seus homens.

Engajado ativamente numa troca de tiros com a infantaria francesa, o Batalhão Lüneburg ficou horrorizado ao ver a cavalaria francesa rolando sobre eles a uma curta distância. Esta força compreendia os 1º e 4º Regimento de “Cuirassiers” de Dubois que Ney havia colocado sob o comando do coronel Crabbé, com ordens para apoiar o assalto da infantaria. Crabbé tinha desdobrado seus 4 (possivelmente 5) esquadrões em coluna e, então, enviou uma grande porção de sua força diretamente contra a infantaria Lüneburg. Ainda que os oficiais e sargentos, em vão, gritassem para formar quadrados, a desordem, rapidamente, se instalou e a infantaria foi estraçalhada, quando a cavalaria fechou sobe ela, resultando que a maioria fugisse para a linha de crista aliada, esperando ganhar pro-teção e segurança dentro de suas próprias posições.

Baring também tentou evitar aquela fuga, mas só conseguiu liderar a retirada de seus homens. Ele lembrou: “Minha voz, era desconhecida para eles e, portanto, não me obedeciam; reuni meus homens e retraímos”.

A cavalaria encouraçada francesa carregou sobre a infantaria inimiga matando mui-tos, com suas longas e pesadas espadas. Von Klencke foi morto e seu batalhão ficou completamente dispersado. Ele sofreu baixas tão pesadas que não mais tomou parte na batalha. Os fuzileiros de Baring também perderam muitos homens, quando eles fugiram e a ação ficou tão confusa que muitos deles acabaram se misturando com os soldados da infantaria francesa que atacavam, quando eles, desesperadamente, buscavam cobertura dentro dos prédios.

Mostrou-se desnecessário para Crabbé empregar toda sua cavalaria (cerca de 500 sabres) para destruir os Lüneburgers, e pelo menos 2 esquadrões demandaram ao cume da linha de crista aliada, para a decepção dos batalhões formados na contra-encosta que, imediatamente, assumiram a formação em quadrado. No entanto, a cavalaria britânica interveio, fazendo com que os franceses, rapidamente, recuassem. Um esquadrão caval-gou para trás, através da bateria de Ross e, embora os artilheiros tivessem corrido para o abrigo próximo da infantaria em quadrados, muitos deles foram abatidos, quando os couraceiros recuaram para o vale.

À frente da fazenda, os homens do tenente Graeme dispararam sobre a infantaria que avançava vinda dos abatizes (barreiras) lançados através da estrada, mas que foram

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retiradas quando as colunas de assalto do ataque de d’Erlon atingiram a linha de crista. O longo alcance do rifle Baker usado pelos homens da KGL permitiu-lhes infligir algumas bai-xas nos franceses e a ruptura da coluna dos homens de Donzelot. De fato, a formação era tão grande, que até mesmo os mosquetes seriam eficazes naquele alcance. A guarnição recebeu alguns fogos de apoio vindos das três companhias de fuzileiros que guarneciam a pedreira que dominava a estrada. O alcance de suas armas significava que eles eram capazes de atingir a infantaria francesa que avançava ao longo da estrada, próxima ao pomar.

Tendo defendido o celeiro por algum tempo, Lindau, então, juntou-se aos defenso-res da fazenda e passou a disparar sobre a infantaria francesa na estrada. Eles estavam tentando quebrar o portão principal e ele se recordou, quando disse: “vi 3 ou 4 inimigos caírem com um só tiro, em razão de estarem tão emassados”. Baring relembrou outros incidentes similares e depois demonstrou seu orgulho pela guarnição que tinha.

Quando o ataque de d’Erlon à linha de crista foi repelido e perseguido pelas briga-das Household e Union, Graeme abriu um lado do portão principal e montou uma carga de baioneta contra a infantaria que recuava ao longo da estrada. Lembrando esse episódio, ele disse: “o chão ficou, literalmente, coberto de franceses mortos e feridos ...”.

Lindau juntou-se a Graeme e viu a brigada de cavalaria dos Household escoltando centenas de prisioneiros franceses para a retaguarda, quando ela voltava. Os defensores foram, então, beneficiados com uma hora de cessar fogo, até que novas ações tivessem lugar. Apesar disso, o pomar continuava em mãos francesas e os skirmishers ainda se encontravam sujeitos aos intermitentes tiros de “sniping”.

O segundo assalto – 15:00 às 17:00 hsA guarnição observou uma multidão de cavalarianos rumando para o oeste, durante

o ataque do marechal Ney. A maioria deles estava muito distante do alcance efetivo dos ti-ros e Baring não quis gastar nem pólvora, nem balas, admitindo: “minha grande ansiedade dizia respeito à munição que, penso eu, em consequência dos fogos continuados, já tinha sido reduzida a mais de uma metade “.

A infantaria francesa, então, retomou seu assalto e, a despeito de ter sida recebida por tiros vindos da fazenda, quando eles surgiram do pomar e avançaram até próximo aos muros. Despejando pesados fogos contra alguns defensores que se mostravam acima dos muros ou nas seteiras, eles concentraram-se para tentar quebrar as portas e os portões.

Baring também estava preocupado com o grande número de cavalarianos que, em-bora grandemente concentrados com o norte e o oeste da fazenda, também cavalgavam no entorno do lado leste, para se reorganizar, depois que suas cargas tinham sido repe-lidas da linha de crista. Ele depreendeu que sua linha de retraimento tinha sido cortada e, se aquele ponto-forte caísse, toda a guarnição seria igualmente morta ou capturada, Ocasionalmente, os fuzileiros atiravam sobre a cavalaria quando ela desfilava para eles, mas Baring escreveu relatando estes tiros esporádicos que falharam em desencorajá-los durante seus frenéticos assaltos para cima da linha de crista.

Posicionado no quintal para defender o portão principal, Lindau assim se manifes-tou: “Nós logo ficamos com poucos cartuchos de munição, de maneira que, assim que um de nossos homens tombava, imediatamente, esvaziávamos seus bolsos”. Baring enviou repetidos pedidos por mais munição para sua brigada, mas não tinha retorno. No entanto, foram enviados reforços, com o capitão Chrsitian von Wurmb liderando uma companhia ligeira do 5º Batalhão da KGL em sua assistência, e que estavam armados com mosque-

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tes e não com rifles. Chegando sob pesados fogos, Wurmb foi morto por um tiro, mas a maioria de seus homens entrou em La Haye Sainte.

Os homens de Graeme no pátio se encontraram sob pesada pressão. Os franceses estavam rastejando em direção aos muros para atirarem através das próprias seteiras dos defensores, sofrendo tiros vindos de dentro. Lindau foi um dos cerca de 12 homens que, do telhado do chiqueiro, atirava por cima do muro e acabou recebendo um tiro de mosquete que acertou a parte de trás de sua cabeça; Foi um sério ferimento que seus camaradas trataram enchendo seu couro cabeludo com “brandy” e cobriram sua cabeça com bandagens. Pelo menos dois dos oficiais disseram-lhe para recuar para fazer um tratamento adequado, mas ele respondeu dizendo: “Não ... tanto quanto puder, eu perma-neço no meu posto”.

Os franceses encontravam-se muito próximos da fazenda, de forma que muitos de-les se serviam das próprias seteiras dos defensores, forçando-os a recuar quando tenta-vam recuperar suas posições. Durante este assalto, os franceses atearam fogo ao grande celeiro.

Ainda que a munição não chegasse, cerca de 150 homens de uma companhia ligei-ra do 1/2 do Regimento de Nassau foram também despachados da linha de crista a título de reforço; Estes homens portavam mosquetes e tentaram compartilhar sua munição, mas em vão, porque o calibre do rifle Baker era de um calibre um pouco menor que o do mosquete padrão. Apesar de tudo, os defensores adicionais foram bem vindos e Baring, em particular, agradeceu. Usando chaleiras, que usavam para aquecer suas águas, os defensores tentaram abafar o incêndio no telhado do celeiro.

Quando a cavalaria francesa assaltou a linha de crista, por volta das 16:30 hs, a intensidade do assalto da infantaria contra La Haye Sainte arrefeceu. Verificando o esto-que de munição, Baring, horrorizado, constatou que havia, apenas de 3 a 4 cartuchos por homem (o engajamento teve início com cerca de 60 cartuchos por homem). Ele havia so-licitado munição pelo menos 5 vezes, em algumas delas alertando que a casa da fazenda deveria cair, caso não fosse reabastecido de munição para os rifles..

Conquista a todo custo !La Haye Sainte ficava a cerca de 250 Jd (228 m) da linha de crista, no centro das

posições anglo-aliadas. Uma vez que Napoleão havia decidido assaltar aquelas posições com uma série de assaltos frontais, isto se tornara crucial para a defensiva de Wellington. Sob este ponto de vista, os franceses ver-se-iam obrigados a atacar aquela fortaleza em uma muito larga frente ou teriam que suportar os tiros dos defensores sobre seus flancos, que encontravam-se, efetivamente, afunilados para poder atacar em direção ao outro lado do centro da posição inimiga. Logo os franceses se conscientizaram de que, para conquis-tar aquela fazenda (chácara para alguns), eles teriam que não somente quebrar a linha anglo-aliada, mas também deveriam estar em condições de concentrar novos ataques em posições mais afastadas do centro das forças de Wellington. A posse de uma base aumen-taria, grandemente, as chances de se conquistar a linha de crista aliada.

Napoleão estava angustiado por ter perdido duas valiosas horas durante aquele fútil e custoso ataque de cavalaria. Além disso, ele julgou que o Exército anglo-aliado estaria significativamente mais fraco, depois de ter sofrido uma série de ataques e de bombardeios naquele dia. Com os prussianos se aproximando do campo de batalha, para aumentar o poder de combate do oponente, Napoleão precisava, urgentemente, quebrar o inimigo, ou ordenar uma retirada geral. Ele, então decidiu que seria “tudo ou nada”, e orde-

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nou ao marechal Ney para conquistar a casa da fazenda de La Haye Sainte a todo custo. Aquele seria o ponto-chave da defesa anglo-aliada e, uma vez conquistado, lhe permitiria empregar suas reservas e destruir o centro de Wellington.

A este momento, não se poderiam cometer mais erros e Ney alocou ao coronel Gourgeon três batalhões da elite do 13º Regimento de Infantaria Ligeira, da 2ª Divisão de Infantaria de Donzelot, a relativamente fresca 2ª Brigada de Infantaria de Pégot, oriunda da 4ª Divisão de Infantaria de Durutte e mais a uma companhia do 2/1 de Engenheiros, para assaltar La Haye Sainte. A artilharia, então, abriu fogo sobre a linha de crista inimiga, sobre a fazenda, para cobrir o assalto e a cavalaria deslocou-se para a frente, para prote-ger a infantaria contra potenciais contra-ataques.

A queda de La Haye Sainte – 17:00 às 18:30 hsO assalto da infantaria recomeçou com renovada fúria, quando os homens de

Durutte tentaram forçar seu caminho para as construções. Ouvindo os germânicos que, desesperadamente, gritavam por mais cartuchos de munição e percebendo que o volume de tiros do oponente diminuía, os franceses pressionaram para frente com crescente ou-sadia, e para cima dos muros. O celeiro foi incendiado, uma vez mais, e Graeme disse: “Tenente Carey, a despeito dos tiros inimigos, saia e, com seus homens, jogue água nas chamas”.

Os “tirailleurs” franceses subiram nos muros e nos telhados do celeiro e dos estábu-los para atirar sobre os homens que se encontravam abaixo deles, cuja maioria não podia responder pela falta de munição e viram-se forçados a recuar, para buscar abrigo. Os fran-ceses, então, forçaram todas as portas e portões, simultaneamente, tentando esmagar os que estivessem em seus caminhos e, rapidamente, cercaram os três lados, momento em que a fazenda parecia estar sendo varrida por uma grande onda de atacantes. O tenente Vieux dos engenheiros gritava: “batam no portão com pesados golpes de machado”. Ele recebeu um tiro no pulso e outro no ombro. O machado era passado de mão em mão até que, finalmente, o portão cedeu e a onda de franceses inundou o prédio.

Durante este assalto combinado, a porta do lado oeste foi posta abaixo e a infantaria francesa carregou para dentro do pátio. Eles também montaram uma carga de baionetas e correram através do portão aberto do grande celeiro, subjugando os homens que o de-fendiam. Quando os franceses entraram no pátio, vindos de duas direções, os “voltigeurs” franceses também penetraram através dos muros do pátio e, então, se desenvolveu uma viciosa luta, quando os dois lados cruzaram baionetas. De pé sobre o chiqueiro, quando os homens abaixo dele escalaram os muros, Lindau atravessou o peito de um soldado inimigo com sua espada.

Com suas defesas rompidas em vários lugares, Baring viu-se compelido a abando-nar La Haye Sainte e mais tarde se lamentou do fato dizendo: “Com uma dor inexpressiva tomei a decisão de abandonar minha posição; meu sentimento de dever, como homem, sobrepujava a honra, e eu dei ordens para que os meus homens se retirassem da casa para o jardim”.

Tendo montado três custosos assaltos, a infantaria francesa estava enfurecida de-pois de ter perdido tantos camaradas. Os caminhos de passagem na fazenda eram muito estreitos e muitos soldados germânicos foram capturados por seus perseguidores. Um gri-to de: sem guarida para os “‘coquins verde”! ecoou; e muitos dos inimigos foram abatidos sem misericórdia, a queima-roupa, baionetados pelos franceses.

Em direção ao fim do furioso corpo-a-corpo no pátio, Lindau se encontrava entre um

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grupo de fuzileiro feitos prisioneiros e pediu que eles recebessem um mínimo tratamento por seus capturadores. Quando eles marcharam de volta à linha de crista francesa, os prisioneiros foram saqueados de seus bens valiosos. Aqueles que falharam em não se deslocar rapidamente, foram espancados ou mortos.

Uma vez que os prédios da fazenda La Haye Sainte estavam, agora, em mãos fran-cesas, Baring, rapidamente, conscientizou-se de que de nada valeria tentar manter o jar-dim; então ordenou aos seus homens que se retirassem a um mesmo tempo em direção à sua linha de crista e ficaram espantados que o inimigo tinha declinado de atirar sobre eles, enquanto eles se deslocavam. A maioria deles foi acolhida por suas próprias brigadas e, como remanescentes, partiparam do 2º Batalhão, com duas companhias, sob o comando do tenente-coronel Lewis von dem Bussche. Somente 42 homens dos 400 da guarnição inicial de La Haye Sainte havia sobrado do massacre.

Somente Às 18:30 hs, depois de horas de um desesperado tiroteio foi que a fazenda caiu em mãos francesas, definitivamente.

Um desastroso contra-ataqueA queda de La Haye Sainte foi um pesadelo para os aliados e, estando em mãos

francesas, caracterizava uma grave ameaça à posição central de Welington. O general von Alten (que comandava a 3ª Divisão) ordenou ao coronel Ompteda para contra-atacar e tentar retomar a fazenda. Ompteda opôs-se a isso, apontando que os prédios da fazenda estavam sendo mantidos por uma considerável força e que, pelo menos, dois regimentos de cavalaria inimiga que cobriram o assalto da infantaria permaneciam a SW da fazenda. Alten repetiu a sua ordem, mas o Príncipe de Orange, então, entrou na discussão. Alguns autores dizem que o Príncipe se enganou a respeito da cavalaria das tropas holandesas e, prontamente, endossou as instruções de Alten, insistindo: “Não ouvirei futuros argumen-tos”. Ompteda considerou isto uma temeridade, mas viu-se obrigado a obedecer, decla-rando raivosamente: “Então o farei!” e cavalgou para organizar o ataque, que teve lugar às 18:45 hs.

Ompteda liderou o 5º Batalhão de Infantaria de Linha KGL encosta abaixo, enfren-tando os skirmishers inimigos, antes de avançar para cima da encosta para enfrentar a formação inimiga. A infantaria francesa estava desdobrada dentro e à frente do jardim e começou a atirar logo que Ompteda se aproximou. Os germânicos carregaram, mas 2 re-gimentos de couraceiros franceses, tendo observado o movimento inimigo, imediatamente contra-atacarm, como Opteda havia predito.

O tenente Kincaid do 95º Regimento a Pé observou o ataque da linha de crista e sem rodeios comentou: “os couraceiros penetraram entre os germânicos e os aniquilaram, sem que fosse dado um só disparo”. Assaltados pelo flanco e pela retaguarda enquanto estavam carregando, o 5º Batalhão sofreu horrorosas baixas, quando a cavalaria france-sa forjou uma terrível revanche pelas perdas havidas naquele dia. Um dos estandartes da KGL foi capturado e Ompteda caiu em uma desesperada luta corpo-a-corpo, que se seguiu. A efetiva perda do 5º Batalhão KGL deixou uma brecha na linha anglo-aliada, que Wellington lutou para preencher, tendo em vista que os repetidos ataques franceses ha-viam afinado seus números, consideravelmente.

Quando o complexo da fazenda La Haye Sainte e seu jardim, finalmente, ficaram firmemente ocupados pelos franceses, estes ficaram em condições de realizar um ataque determinado através da estrada através da pedreira. Isto forçou o 95º Regimento a recuar de sua posição na pedreira. Os franceses também enviaram skirmishers diretamente para

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o norte da fazenda, que avançaram sobre a linha de crista. Ainda que os batalhões aliados tivessem enviado seus próprios skirmishers para se oporem aos franceses, estes também despacharam “voltigeurs”, em um número considerável, que logo forçaram os escaramu-ceiros inimigos a retrair, permitindo lhes atirar sobre os principais batalhões desdobrados na contra-encosta. Ney também ordenou que canhões avançassem e uma bateria de artilharia a cavalo posicionou em linha 3 canhões muito próximos da fazenda. A artilharia começou a disparar sobre o cruzamento de estradas e o centro da posição de Wellington a uma distância de cerca de 218 Jd (200 m), infligindo graves baixas.

Uma vitória Pírrica (como a de Pirro)O capitão James Shaw-Kennedy (que serviu como assistente do general Alten)

acreditava que o grande erro de Wellington “foi sua visão geral da vasta importância de reter a posse, a todo custo, tanto da fazenda, como das cercanias de La Haye Sainte”. Ele achava ainda que o Duque pensava que a perda daqueles pontos afetaria, conside-ravelmente sua imagem. Já Napoleão reconhecia que a importância da fazenda poderia ser assim sumarizada: “desde a primeira visão de La Haye Sainte, reconheci a vasta importância da sua posse, pois permitiria que fossem emassadas forças, imediatamente após sua queda, além de permitir o estabelecimento de uma bateria com 4 canhões para disparar sobre Wellington”.

Ainda que não exista muita verdade nessa assertiva, nunca foi satisfatoriamente explicado o porquê da falha da Grande Batterie não ter sido usada contra os muros e construções da fazenda, poupando, desse modo muitas vidas francesas e, logo, abrindo as adequadas brechas para a passagem da infantaria. Ainda que se possa pensar que os franceses queriam conquistar uma estrutura intacta, Napoleão sabia que ele estava perdendo tempo e que a artilharia deveria, certamente, abreviar a queda da fazenda. Tal-vez um dia estas falhas sejam explicadas, uma vez que existem vários contos britânicos e germânicos relativos à defesa, mas não há memórias dos participantes franceses dos assaltos à La Haye Sainte.

A BATALHA DE WAVRE

No dia 17 de junho de 1815, no campo de batalha de Ligny, Napoleão ordenou a Grouchy para perseguir os prussianos que se encontravam em retirada. As ordens de Grouchy referiam-se à deteção do inimigo e à proibição de qualquer tentativa prussiana de juntar-se a Wellington, além de cobrir o flanco direito de Napoleão. Grouchy marchou um pouco antes do meio-dia de 17 de junho, no sentido de Gembloux. Fustigado pelas chu-vas e não sabendo exatamente para onde os prussianos tinham seguido, ele não impôs grande velocidade em sua marcha.

A escolha feita por Napoleão do marechal Emmanuel Grouchy para o comando da ala direita de seu exército foi uma das decisões mais controvertidas. Como aristocrata hereditário, Grouchy foi usado para mostrar sua autoridade e provar sua habilidade como oficial-general. Contudo ele tinha só recentemente recebido sua promoção a marechal da França e, nunca antes havia comandado um exército inteiro formado de armas combina-das. Depois de ter dispensado os serviços de Murat, Napoleão ainda poderia ter indicado homens mais experientes como Davout ou Suchet, mas a escolha de Grouchy deveu-se mais às considerações políticas do que militares. É também interessante especular como teriam ficado os eventos se o furioso e impetuoso Ney tivesse sido despachado atrás dos

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prussianos, ao invés de metódico Grouchy, ainda novo em seu comando e inseguro con-sigo mesmo. Acima de tudo, considerando-se o quanto era importante para Napoleão a vitória nesta campanha, sua escolha por este comandante foi, sem dúvida, uma curiosa decisão.

Tendo-lhe sido negada a permissão para montar uma perseguição naquele meio--dia de 17 de junho, Grouchy já começou em desvantagem quanto os escoteiros da ca-valaria perderam o contato com o inimigo, permitindo-lhe uma considerável dianteira. Os franceses, mais tarde, viram-se enganados pelo número de unidades dispersas e deser-tores que fugiam de Ligny, e seus esforços para tentar determinar para onde o corpo prin-cipal dos prussianos tinha se dirigido custou um valioso tempo, com Grouchy tomando, inicialmente, a direção norte.

Grouchy alcançou Gembloux por volta das 19:00 hs e parou para pernoitar. Às 20:00 hs, ele relatou a Napoleão que os prussianos haviam se dividido em duas colunas, uma deslocando-se em direção a Wavre e a outra, provavelmente, para Liège. Ele deveria seguir a força principal prussiana rumo a Wavre e interceptá-la caso ela tentasse se juntar a Wellington.

O Exército de Grouchy estava fatigado, depois de uma longa e dificultosa marcha, com muitos deles tendo, também combatido em Lifgny. Por conseguinte, o III Corpo de Vandamme só se prontificou às 06:00 hs de 18 de junho, sendo seguido pelo IV Corpo do general Gerard duas horas mais tarde.

Por volta das 11:25 hs, Grouchy estava no vilarejo de Walhain-St Paul, exatamente ao norte de Gembloux, em conferência com seus generais e comendo morangos durante o tardio desjejum. Este pequeno detalhe tem sido sempre usado para mostrar que Grou-chy não estava com pressa e que não falava sobre as tarefas militares seriamente. Duran-te esta conferência, foi ouvido o troar de tiros de canhões emassados, vindo do oeste e eles, corretamente, assumiram que Napoleão estava enfrentando um sério engajamento.

A aldeia de Wavre estava situada na mar-gem NW do rio Dyle, com apenas um pequeno subúrbio na margem leste. Devido às fortes chu-vas daqueles últimos dias, a travessia do rio só seria possível através das duas pontes de pedra em Wavre, a “pont du Christ” e a menor, a “pont du moulin” mais ao sul.

A SW de Wavre ficava o moinho Bierge com uma ponte de madeira e, a cerca de 2 mi-lhas (3,2 km) mais distante, ficava o vilarejo de Limale com outra ponte de madeira e o vilarejo de Limelette.

Por oportuno, vale, também alguma infor-mação sobre as forças prussianas:

Grouchy tinha cerca de 30.000 a 33.000 homens à sua disposição, que constituíam os III e IV Corpos , e os I e II Corpos de cavalaria em reserva

O comandante prussiano,o general Thiel-mann, tinha em seu próprio III Corpo, cerca de 15.000 a 18.000 homens. Sua força princi-pal ocupou Wavre e Bierge enquanto uma pequena flancoguarda ocupou Limale.

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Preliminares da batalha.

Grouchy começou a perseguir os prussianos novamente até tarde da manhã de 18 de junho, mas já era tarde demais. Blücher e seu chefe de gabinete Gneisenau, já haviam enviado seu invicto IV Corpo sob as ordens de seu melhor comandante de corpo, o gene-ral Bülow, para auxiliar Wellington. Bülow marchou às 04:00 hs. Suas ordens referiam-se à manutenção de seu Corpo sob a cobertura de St-Lambert, caso Wellington não estivesse engajado naquele momento. Se ele estivesse engajado, Bülow deveria atacar o flanco direito de Napoleão. O Corpo de Pirch o seguiria e a Zieten e Thielmann foi dito para pre-pararem os seus Corpos. À tarde, somente o Corpo de Thielmann ainda estava em Wavre, mas ele, no entanto, já tinha recebido ordens para deixar dois batalhões para atuar como retaguarda e seguir com o restante do exército prussiano para Waterloo.

Grouchy, ouvindo o som dos canhões em Waterloo, por volta das 11:30 hs, re-cusou-se a marchar em direção ao som identificado, quando o general Gérard também insistiu na realização de tal marcha. Grouchy citou as ordens recebidas de Napoleão para perseguir os prussianos. Gérard, então, pediu permissão para marchar somente com seu Corpo para ajudar o Imperador, mas Grouchy também se recusou a autorizar isso, dizendo a Gérard que seria uma má decisão separar suas forças.

O fato é que, mesmo que Grouchy marchasse em direção ao som dos canhões, provavelmente, seria tarde demais para fazer alguma diferença no campo de batalha de Waterloo.

Às 15:30 hs, ele recebeu uma mensagem de Soult (escrita naquela manhã) que lhe ordenava para marchar em direção a Wavre. O marechal deve ter ficado satisfeito de não ter seguido os conselhos de Gérard porque ele, agora, tinha ordens confirmando as outras anteriores do Imperador, no sentido de perseguir os prussianos e até onde ele sabia, os prussianos estavam em Wavre.

A batalha de WavreOs franceses engajaram os prussianos por volta das 16:00 hs. O III Corpo do ge-

neral Vandamme rapidamente empurrou os postos avançados prussianos a leste dos su-búrbios e atacou Wavre em coluna de marcha, sem preparação de artilharia e de um reco nhecimento adequado. Os prussianos ocupando as duas pontes de pedra permaneciam quase que imóveis, mas os franceses, momentaneamente, conseguiram ocupar a “pont du Christ”. Ao serem atingidos pelos canhões prussianos na margem superior a NW do rio, eles ficaram encurralados, incapazes de avançar ou de se retirar.

Gérard, que tinha acabado de chegar com sua divisão principal, recebeu ordens para enviar esta divisão sobre o rio Dyle perto do moinho de Bierge, mas devido ao chão molhado ele fez pouco progresso. Cerca das 17:00 hs, ele atacou a ponte em Bierge, mas com pouco ou nenhum sucesso. Gérard foi seriamente ferido nesta luta. Um novo ataque liderado por Grouchy também falhou.

Grouchy, em seguida, mudou o seu plano. Ele enviou a cavalaria de Pajol e a Divi-são de Teste rio acima, para Limale. Esa aldeia só era protegida por uma pequena flan-coguarda, que foi rapidamente empurrada, cerca das 19:00 hs, pela cavalaria francesa. Pouco tempo depois, Limeette também foi capturada. Duas divisões recém chegadas do Corpo de Gérard foram imediatamente enviadas para Limale por Grouchy.

Thielman enviou uma brigada prussiana para combater esta ameaça a seu flanco, mas Grouchy a fez recuar por volta das 23:00 hs.

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Antes (por volta das 19:00 hs) Grouchy tinha recebido ordem de Napoleão para aproximar-se e cobrir seu flanco direito contra a ameaça de Bülow. Mas Grouchy não po-dia executar esta ordem, imediatamente, pois estava engajado em combate. Quando as armas em Waterloo silenciaram, mais tarde naquela noite, Grouchy deve ter presumido que o Imperador tinha derrotado o inimigo antes que ele chegasse.

Ao anoitecer, os franceses mantinham as aldeias de Limale e Limelette e estavam bivacados a não mais de 500 metros de Bierges, mas em Wavre, a situação era de um impasse.

Ao contrário de Thielmann, que já tinha recebido a notícia durante a noite, Grouchy, na manhã de 19 de junho, ainda não sabia da derrota de Napoleão em Waterloo. Grouchy renovou seu ataque e forçou os prussianos a recuarem. Por volta das 10:00 hs, Grouchy saiu-se vitorioso, mas meia hora mais tarde, às 10:30 hs, um mensageiro trouxe a notícia da derrota de Napoleão em Waterloo, quando Grouhcy percebeu que sua vitória não tivera nenhum sentido.

BaixasAs baixas francesas foram da ordem de 2.600 mortos ou feridos.Os prussianos perderam cerca de 2.500 homens, entre mortos e feridos.

Conclusão Grouchy tinha ordens para perseguir os prussianos, e foi, exatamente, o que ele fez,

mesmo que com pouco sucesso. Ele não recebeu ordens para demandar a Waterloo antes das 19:00 hs a 18 de junho, quando ele não poderia fazer mais nada. Portanto, ele não pode ser chamado de traidor, como muitos o chamam (principalmente franceses) após a Campanha dos Cem Dias.

É verdade, no entanto, que ele agiu com pouca iniciativa ou velocidade, atitudes consideradas indignas de um marechal da França, e que ele falhou na execução de suas ordens, no sentido de impedir que os prussianos se juntassem a Wellington. Como se sabe, foi a chegada dos prussianos no campo de batalha de Waterloo que selou o destino de Napoleão.

Grouchy, como já dito acima, simplesmente não era o homem certo para tal tarefa, pois Davout ou Soult por exemplo, teria sido o homem certo, mas a eles tinham sido atri-buídos outros deveres.

No entanto, o marshal Grouchy provou ser digno de seu bastão de marechal, du-rante os próximos dias, em razão da forma como que ele liderou a retirada de seu Corpo de Exército;

O COMBATE POR PLACENOIT

Voltando um pouco no tempo. Às 17:30 do dia 18, Napoleão Bonaparte havia orde-nado ao marechal Ney para, novamente, atacar para conquistar La Haye Sainte. O mare-chal, por volta das 18:00 hs, tinha, enfim, conseguido capturar a fazenda em um ataque furioso. Os sobreviventes da KGL que haviam ocupado a fazenda tiveram que correr para salvar suas vidas. Ney então apontou a artilharia contra o centro dos aliados, em ruínas, e pediu reforços a Napoleão, que respondeu algo como; “tropas ? onde V.Exa. deseja que eu as encontre ? quer que eu crie alguma ?” Mas mesmo assim, Napoleão, naquele mo-mento, empregou parte sua reserva e enviou parte da Guarda Imperial, no intuito de que

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assim procedendo, a batalha seria vencida.

No entanto, Napoleão tinha boas razões em recusar o pedido de Ney. Os prus-sianos finalmente tinham alcançado Plancenoit e suas balas de canhão começaram a atingir suas reservas posicionadas na estrada de Bruxelas-Charleroi. O Imperador, então, ordenou ao general Dushesme para recapturar Plancenoit com a Jovem Guarda. Bülow contra-atacou, foi repelido e contra-atacou novamente. Dushesme foi mortalmente ferido e a Jovem Guarda foi expulsa de Plancenoit. Napoleão apelou, então, para sua fiel Velha Guarda. Os generais Morand e Pelet com dois batalhões de granadeiros e caçadores da Velha Guarda foram enviados com as baionetas armadas. Dois batalhões da Guarda luta-ram contra 14 batalhões prussianos, mas em apenas 20 minutos a Guarda limpou Plance-noit, deixando cerca de 3.000 baixas prussianas. Lobau, que também tinha sido enviado para aquela localidade, também teve êxito ao contra-atacar, entretanto, a Jovem Guarda ocupou Plancenoit novamente

Mesmo já tendo sumariado como se deu a luta pela posse de Plancenoit, vale que se estenda um pouco, em razão da tipicidade deste combate;

Plancenoit era uma grande aldeia com uma rua calçada, uma igreja construída em pedra e um cemitério murado. Todos os habitantes haviam fugido de suas casas. Ao ser enviado para Plancenoit, o general Lobau enviou quatro batalhões para ocupar a vila. O primeiro ataque do general prussiano Hiller sobre aldeia foi feito com 6 batalhões (os restantes batalhões tinha sido destacados).

As duas colunas de batalhão do 15º Regimento avançaram sobre a vila e, em se-guida, sobre os altos muros do cemitério e a igreja. Os prussianos, então, viram-se sob

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os fogo dos atiradores franceses estacionados nas casas. Os franceses tinham levado obuseiros e canhões para as ruas “onde as explosões

a curta distância dos canisters sopravam sobre os opositores como um vendaval que derruba as folhas de outono.” No entanto, os prussianos pressionaram para a frente e capturaram 3 canhões e fizeram várias centenas de presos.

(OBS: alguns autores dizem que Bulow, neste momento, teria sido contra-atacado pela Velha Guarda).

Após 30 minutos de luta, a Jovem Guarda (e alguns elementos do Corpo de Lobau) forçaram os prussianos a recuar todo o seu caminho de volta. Blücher ficou furioso, mon-tou seu cavalo e cavalgou para as tropas em fuga.

Blücher não tinha nenhum medo de Napoleão Bonaparte. Ele era um oficial duro, um velho teimoso que se recusava a ceder, quando muitos outros já tinham cedido. Dois anos antes, em 1813, Blücher derrotara os franceses em Katzbach e voltou a derrotar Napoleão em 1814 em La Rothiere. Naquele momento, então, Blücher ordenou ao corpo de Bülow que atacasse, proferindo estas palavras notáveis: “Temos que dar ar ao Exército britânico.”

O prussiano general Hiller chegou com a 14ª Brigada. Ele descreveu em detalhes o que aconteceu: “superando todas as dificuldades e com pesadas perdas em face dos tiros de canister e de mosquetes, o 15º Regimento de Infantaria e o 1º de Landwehr da Silésia penetraram no muro alto ao redor da igreja, que era mantida pela Jovem Guarda. Essas duas colunas conseguiram capturar um obuseiro, 2 canhões, vários vagões de munição e 2 oficiais junto com algumas centenas de homens. EFoi uma difícil luta antes que a 14ª Brigada tomasse a igreja da Jovem Guarda e, depois, o resto da vila. Apenas poucas ca-sas ficaram em mãos francesas.

A Velha Guarda se apossa de Plancenoit a golpes de baionetaUma vez que os prussianos tinham capturado a igreja, Napoleão ficou muito alar-

mado. A cada recuo, o general Barrois da Jovem Guarda solicitava a ajuda da Velha Guar-da. Morand, então, enviou a Pelet a seguinte ordem: “Leve seu primeiro batalhão para Plancenoit, onde a Jovem Guarda está sendo batida. Apoie-a e mantenha a posição... Mantenha suas tropas juntas e bem à mão. Se você atacar o inimigo, empregue uma única divisão (dois pelotões) com baionetas armadas.”

Formada em coluna estreita por pelotões, o II/2nd Chasseurs sob o comando de Colomban marchou para Plancenoit. Enquanto os veteranos se aproximavam da aldeia eles encontraram Duhesme, o comandante da Jovem Guarda. Duhesme tinha sido ferido na cabeça e só conseguia permanecer na sela seguro por soldados da Jovem Guarda. Também havia sido ferido o general de brigada Chartrand que disse a Pelet que a situação tinha ficado completamente fora de controle. O comandante do 3º Pelotão de “Voltigeurs”, estava correndo atrás de seus soldados em retirada. Estes, então, foram obrigados a dar meia volta e seguir o “2º de Chasseurs”.

À companhia do Capitão Peschot foi ordenado armar as baionetas e atacar os prus-sianos, que estavam descendo a rua. O inimigo foi detido por um momento, mas então al-guns soldados da Velha Guarda começaram a disparar seus mosquetes e Peschot perdeu o controle da situação. Os prussianos os fizeram recuar.

Outras companhias do II/2nd de “Chasseurs” já estavam envolvidas. A companhia do Capitão Anguis foi enviada para a rua abaixo para travar combate com os Landwehr que estavam tentando flanquear a aldeia. A companhia de Heuillet defendia dentro e ao redor da igreja e, então, correu para a frente, em direção à borda da floresta. A Velha

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Guarda enfurecida cortava as gargantas de seus prisioneiros. Pelete os deteve e determinou aos sapadores do regimento para os guardar. Os sapadores cumpriram a or-dem, mas com grande relutância.

Pelet, ainda montado na sua égua, galopava de um grupo da Jovem Guarda para outro, tentando reuni-los, mas em vão. Os prussianos contra-atacaram e os homens de Pelet foram cercados no terreno da igreja.

Pelet, despiu a camisa e montou, não podendo acreditar em sua sorte “Eu vi mos-quetes serem apontados contra minha pessoa a 40 passos de distância. Eu não posso imaginar como eles não atiraram em mim umas 20 vezes “.

Então chegou o II/2nd de “grenadiers” enviados pelo Imperador, juntos com os “chasseurs” de Pelet. Os “grenadiers” marcharam com seus tambores batendo, e a Jovem Guarda os seguiu com entusiasmo. Juntos eles repeliram os prussianos teimosos. Foi uma grande varredura. Eles perseguiram o inimigo com baioneta até as posições da arti-lharia. O tambor-mor dos “grenadiers”, Stubert, tinha usado seu bastão como um porrete.

O general de brigada Roguet tinha ameaçado de morte qualquer granadeiro que lhe trouxesse um prisioneiro prussiano. Os dois batalhões da Velha Guarda e um grande gru-po da Jovem Guarda perseguiram o inimigo até que eles se encontrassem fora da aldeia e em campo aberto. A artilharia prussiana abriu fogo, forçando-os a recuar. Os lanceiros do general de brigada Subervie atacaram o flanco dos prussianos em fuga e lhes infligiram ainda mais perdas. Os lanceiros, arrojados, ainda forçaram os artilheiros inimigos a aban-donar várias de suas baterias.

Costuma-se dizer que dois batalhões da Velha Guarda derrotaram 14 batalhões prussianos (muitos dos quais já se encontravam em total desordem, em razão dos ante-riores ataques e contra-ataques) e que causaram 3.000 baixas. No entanto essas “3.000 baixas” soam como suspeitas, tendo em vista que a perda total prussiana das 14ª e 16ª brigadas, para a batalha inteira, foi de 3.219.

Neste interim, ao sul, duas companhias do 1º de “Grenadiers”, as mais antigas das mais antigas, foram enviadas para uma colina acima do rio Lasnes, em frente à floresta de Virere e Hubermont, para cobrir o flanco direito francês. Duas companhias do 1º de “Chasseurs”forçaram seu caminho para a floresta de Chantelet.

As restantes companhias dos 1º de “Granadiers” e do 1º de “Chasseurs” formaram quadrados de batalhão em ambos os lados da casa de Decoster perto da fazenda Ros-somme. Estes poucos homens constituíam a última reserva de Napoleão.

O nível de abate em Plancenoit superou até Hougoumont.Blücher reuniu suas tropas e atacou novamente - a luta de rua foi muito sangrenta

e cada casa tornou-se uma fortaleza sitiada. Apesar de estarem em menor número, na proporção de 2 x 1, os franceses foram capazes de se manter por 1 hora. Pelete escre-veu: “Apesar de não conseguir reunir os meus homens (II/2º Chaseurs), eles estavam todos muito bem abrigados e se mantiveram ante a um fogo assassino que dominava o inimigo...”

A luta foi feroz; o comandante da Jovem Guarda, o general de brigada Duhesme foi mortalmente ferido; o general de brigada Barrois também foi ferido. O comandante do VI Corpo de Exército, general de brigada Mouton foi feito prisioneiro. O 1º de “Tirailleurs” sofreu baixas de 92%, enquanto a divisão inteira da Jovem Guarda sofreu baixas de 80%.

“... grupos inteiros da Jovem Guarda estavam começando a levantar as mãos em sinal de rendição, embora os prussianos, enlouquecidos pela defesa teimosa oferecida pelos franceses, não estivessem sempre dispostos a levar prisioneiros.” (Barbero - “A

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batalha” p 245) Os últimos a sair foram os veteranos da Velha Guarda. Eles defenderam a Igreja e

o cemitério até o último instante. A igreja construída sobre um monte com alguns íngremes 18 pés de altura, exigia que, para acessá-la, os homens teriam que ascender por etapas. O monte era cercado pelo muro do cemitério que tinha um anel de árvores plantado ao lon-go de seu comprimento. Havia trinta vezes mais corpos acima do solo, no adro da igreja, do que no terreno abaixo dela.

As ruas estavam cobertas de sangue, e os franceses foram abandonando Plan-cenoit. O nível do abate em Plancenoit tinha até superado o de Hougoumont. (Marcos Andrade - “Companheiro de Waterloo”)

“A noite caiu. Na flamejante Plancenoit, s generais General Pelet, Golzio e Colom-ban com seus gorros de pele estavam todos muito pálidos para um general. E os “Tirail-leurs” e os “Voltigeurs” ainda resistiam. No cemitério e na igreja, o 2º Landwehr da Westfa-lia e os pomeranos matavam os franceses à queima-roupa. Pelet reuniu seus “chasseurs” à volta dele, mas estava tão escuro que eles já não poderiam reconhecer um ao outro à 10 passos de distância. A confusão era total.” (Lachoque - “A anatomia da glória” p 489)

Os prussianos emergiram dos restos ardentes de Plancenoit carregando seus shakos pendurados em seus mosquetes e cantando. Neste ponto, o Exército francês ha-via se desintegrado completamente. A escuridão começou a cair e o número de fugitivos aumentou rapidamente. Alguns estavam fugindo em direção às posições onde ficava a última reserva de Napoleão e parte da bagagem do Imperador.

O Chefe-de-Estado-Maior de Blücher, general von Gneissenau, reuniu alguns ho-mens da infantaria em torno dele e lhes ordenou que cantassem o hino “Herr Gott, wir de loben Dich”. Enquanto isso, os franceses continuavam sua fuga.

A GUARDA RECUA

Napoleão encontrava-se diante de um grande dilema. Anteriormente, ele havia reu-nido como reserva 37 batalhões (inclusive os da Guarda Imperial) para realizar o que ele esperava ser um golpe decisivo contra a linha de Wellington. No entanto, a luta por Plance-noit absorveu aquelas tropas obrigando-o a empregar 29 daqueles batalhões, para tentar expulsar os prussianos daquela vila. Mesmo com aqueles reforços, a luta lá balançou para trás e para a frente. Ele teria que aguardar até que estivesse certo de que seu flanco direito estava seguro, antes de correr o risco de realizar outro ataque sobre os oponentes.

O centro do Exército anglo-aliado estava, agora, sob intensos fogos de artilharia e, forçado a permanecer em formação emassada, com o que a infantaria sofria terrivelmente. Ainda que seus alvos estivessem fora da sua linha de visada, a artilharia francesa tinha uma grande chance de acertar os homens tanto na formação em quadrado como na for-mação em linha de 4 fileiras de profundidade. No entanto, Napoleão sabia que as fontes estavam se esgotando e que seus canhões não poderiam manter um bombardeio naquela escala, por muito tempo. Além disso, a artilharia também seria necessária para apoiar o ataque planejado e explorar o seu êxito, caso fosse bem sucedido. Por conseguinte, os franceses precisaram parar de atirar e conservar sua munição para logo depois.

No lado oposto do campo de batalha, Wellington sabia que os franceses não pode-riam sustentar aquele massivo bombardeio por muito mais tempo. A despeito disso, ele

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perguntou a si mesmo se seus homens conseguiriam suportar um outro ataque, tendo já lutado todo o dia, sob intensos fogos de artilharia. Mortos e feridos se empilhavam sobre o platô e atrás da linha de crista de Mont St Jean, ou encontravam-se espalhados sobre a encosta à sua frente. A moral permanecia alta nos quadrados da infantaria, mas somente eles podiam ver a quantidade de baixas que jaziam em torno deles e de feridos que ca-minhavam para os postos de socorro da retaguarda. Wellington entendia que quando o ataque viesse, tudo dependeria de sua infantaria manter-se firme.

“La garde au feu !”A ameaça de um posterior ataque de cavalaria ainda era real, e a maioria da infan-

taria aliada permanecia em formações com quatro homens de profundidade. Ainda que esta formação ainda pudesse apresentar um bom número de mosquetes atirando, ela, no entanto, deixava a infantaria mais vulnerável aos tiros de artilharia do que na formação em quadrado. Como a cavalaria inimiga permanecia na área, a maioria dos comandantes de batalhão sentia-se incapaz de permitir aos seus homens sentar ou deitar, tendo que permanecer em pé e suportar os tiros, observando, por vezes, muitos dos seus camaradas serem abatidos ao seu lado.

Os “tirailleurs” franceses estavam também pressionando sobre a linha de crista para, como atiradores de escol, atingir as linhas dos batalhões, Os franceses, então, des-dobraram mais skirmishers, a um número nunca visto antes de Waterloo, em face do que as contrapartes aliadas foram forçadas para trás, Em consequência, a linha aliada foi ficando sob tiros de mosquetes, bem apontados. Os skirmishers franceses foram se tor-nando tão perigosos, que o Príncipe de Orange, seu Estado-Maior e a Brigada de tropas de Nassau do general Kruse ficaram ao alcance de seus tiros certeiros, e a curto alcance. Vários homens e cavalos foram atingidos e o Príncipe de Orange foi ferido no ombro, sen-do obrigado a abandonar o campo de batalha.

Ainda que o redesdobramento de Wellington tivesse sido efetivado, sua linha foi perigosamente esticada, tornando-se muito fina em alguns lugares. A Brigada de Halkett tinha sido muito castigada em Quatre Bras e ainda veio a sofrer pesadas baixas em Wa-terloo. As Brigadas de Kielmansegge e Ompteda tinham sido dizimadas, deixando uma brecha na linha, que Wellington se esforçou para preencher, e a 10ª Brigada de Lambert

tinha sofrido enormes perdas.Em sua pressa de se redesdobrar, Wellington havia montado para, pessoalmente,

ordenar e se assegurar de que a Divisão belga-holandesa do general Chassé havia mar-chado da sua posição à direita para reforçar o seu enfraquecido centro. Ele também de-terminou ao Lorde Uxbridge para posicionar sua cavalaria atrás da linha, para impedir que esta se quebrasse. Já havia um grande nervosismo dentro das fileiras e algumas delas se deslocaram para trás, quando os homens ficaram sob intenso bombardeio, mas a visão da cavalaria desdobrada atrás deles os detivera.

Quando o Duque retomou a área do cruzamento de estradas uma vez mais, uma mensagem do coronel Fraser do 52º Regimento a Pé chegou a ele. Um oficial da cavalaria francesa tinha se aproximado de seu regimento, depois de ter desertado do Exército de Napoleão; ele tinha cavalgado morro acima com um braço elevado, significando rendição. “Longa viva ao Rei” disse ele, quando chegou ante o coronel. “Aquele maldito Napoleão atacará vocês com a Guarda Imperial dentro de meia-hora”. Ainda que Wellington já tives-se predito um outro grande ataque, aquela informação confirmou que ele seria iminente.

Quando Napoleão olhou a linha aliada com sua luneta, tudo o que via confirmava que ele precisava atacar. À sua esquerda, uma grossa coluna de fumaça subia para o céu

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sobre Hougoumont e os ruídos de um engajamento feroz podiam ser claramente ouvidos, de onde ele estava. A Divisão de Durutte estava brigando pelo terreno à frente de Pape-lotte e La Haye, enquanto a sua cavalaria atacava, com alguma extensão, o centro aliado. As Divisões de Donzelot, de Alix e de Marcognet encontravam-se em um avanço afiado contra a linha de crista aliada e, então, Wellington deveria ser obrigado a empregar todas as suas reservas.

A principal preocupação de Napoleão residia na ameaça constituída pelos prussia-nos, mas se ele atacasse rapidamente, eles não seriam capazes de intervir a tempo de salvar seus aliados. Depois de uma exaustiva marcha forçada desde Wavre, a infantaria prussiana devia estar exausta além de que precisaria de tempo para se concentrar e se prontificar para a batalha. O flanco direito de seu ataque ficaria vulnerável se Plancenoit caísse, mas ele via-se obrigado a correr esse risco. O surgimento do I Corpo de Ziethen seria mais um motivo de preocupação, mas este só seria objeto de um enfrentamento por Napoleão, quando ele sentisse que Ziethen estava totalmente desdobrado.

Ouvindo os canhões de Grouchy, à leste, isto tocou seu coração, esperando que tal ação ocupasse uma substancial porção do Exército prussiano, ou então, que o forçasse a se desengajar da luta em Waterloo.

Os batalhões da Guarda Imperial que Napoleão mantinha à retaguarda eram tropas frescas e famintas por entrar em ação. Por mais de 6 horas, seu exército havia montado incessantes ataques contra o centro de Wellington, que também havia sofrido um pesado bombardeio de artilharia. Crucialmente, agora La Haye Sainte estava em mãos francesas, em razão do que o centro anglo-aliado encontrava-se exposto a um assalto direto. Havia uma forte chance de que a Guarda Imperial pudesse romper a defesa inimiga. A Guarda nunca havia perdido uma luta antes e um último e determinado esforço lhe traria mais glórias. No entanto, a Guarda nunca precisou tanto de uma vitória decisiva, como ela pre-cisava agora. Se Napoleão fosse derrotado, Grouchy também poderia ser interceptado e todo seu exército seria destruído, deixando em aberto as fronteiras francesas que estavam por trás dele.

Napoleão estimou que havia, ainda, somente 2 horas de luz e, durante este perío-do de tempo, ele deveria realizar um ataque esmagador contra o Exército de Wellington. Virando-se para o general Drouot, Napoleão comandou: “La Garde au feu !” (A Guarda ao fogo!).

“Voila Grouchy !”Quando entraram em ação os preparativos finais para o ataque, Napoleão adotou

uma perigosa estratégia de enganar seu próprio exército, esperando convencer seus sol-dados que a vitória estava dentro dos seus alcances. O I Corpo de Ziethen estava, agora, claramente visível no seu flanco direito e aprontando-se para se engajar. Ele ordenou a vários oficiais, inclusive o coronel Octave Levavasseur, para que espalhassem a notícia de que aquelas tropas eram francesas e que Grouchy finalmente havia chegado. Leva-vaseur disse aos homens: “Partam a galope, com meu chapéu preso na ponta de meu sa-bre e cavalguem através da linha gritando Vive l’Emperer! Soldats, voila Grouchy! “. Esta exaltação às tropas fez a febre ferver e todos eles gritaram “Em avant! Em avant! Vivel l’Empereur”. Olhando para a linha de crista aliada, eles podiam ouvir e ver tiros e fumaça oriundos de infelizes confrontos entre as tropas prussianas e aliadas. Isto, juntocom os sinais de ação sendo lutada pelos remanescentes do I Corpo de d’Erlon ao longo da linha de crista, adicionou crédito à mentira de Napoleão. O marechal Ney não foi o único oficial general que ficou revoltado com tal subterfúgio, supondo que isso causaria problemas.

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Os generais Drouot e Friant lideraram o avanço da Guarda, por volta das 19:00 hs. Napoleão e seu Estado-Maior cavalgaram a frente deles até um ponto distante 600 Jd (548 m) de La Haye Sainte. Parecia que o Imperador em pessoa lideraria seus homens em combate, até que ele se virou de lado, e seus oficiais começaram a lhe pedir para voltar, acreditando que ele pudesse ser morto. Napoleão, então, permitiu que o marechal Ney assumisse o comando e liderasse a Guarda em seu avanço que, então, se afastou da es-trada e formou colunas de ataque. O objetivo primário de Ney era conquistar o cruzamento de estradas e a vila de Mont St Jean, depois de ter penetrado através da linha inimiga.

Embora o Imperador tivesse aparentado estar magnificamente indiferente aos seus Guardas, quando eles marchavam atrás dele, interiormente, Napoleão tinha ficado em um estado de tumulto quando ele observou seu avanço. Tudo dependeria deste engajamento da sua Guarda. Este emprego de tropa não teria retorno, pois ele sabia da gravidade da situação, caso a Guarda falhasse. Além do mais, seu exército estava tão proximamente engajado que ele não conseguiria libertá-lo de uma luta, intacto.

Agora, a luta ao longo da linha de crista se intensificara, quando o Exército anglo--aliado recebeu os bem-vindos reforços do Corpo de Ziethen e as divisões de d’Erlon co-meçaram a vacilar. No entanto, a visão da Guarda avançando e da presença de Napoleão aguçaram sua determinação. Um veterano, que havia lutado em Marengo, foi ferido na estrada, tendo perdido suas pernas com um tiro de canhão. Enquanto a Guarda marchava avante, ele gritava “Isto não é nada camaradas; avante! E longa vida ao Imperador”.

“Em avant!”A Guarda Imperial atacou entre 19:30 e 19:45 hs. O ataque deveria ser feito em 2

linhas com 8 batalhões (com um média de 600 homens cada) da Meia Guarda realizando o assalto principal. Três batalhões da Velha Guarda deveriam formar a segunda linha e permanecer em apoio, a menos que a primeira quebrasse. Nesse caso, ela deveria então vançar e explorar quaisquer ganhos que a primeira linha tivesse conseguido. O fato de que o Imperador estava empregando sua mais fina infantaria, a quem sempre foi reservada a realização do “coup de grâce”, revelava que a ação decisiva da batalha estava em vias de ocorrer.

Napoleão tinha enviado mensagens para d’Erlon e Reille instando-os a redobrar seus esforços e manter o inimigo ocupado do outro lado do assalto da Guarda, dando-lhe maior chance de sucesso. Essencialmente, este foi um ataque combinado em três seções principais do campo de batalha e não se limitava apenas ao assalto da Guarda Imperial sozinha.

Um batalhão da Velha Guarda permaneceu em Le Caillou para proteger a bagagem do Imperador e agir como guarda-costas de Napoleão, na eventualidade de uma retirada. O 2/3 de “Grenadiers” foi posicionado em Rossomme como uma reserva e mais dois bata-lhões da Velha Guarda foram estacionados a leste de Hougoumont, para proteger o flanco esquerdo de um ataque. Os 5 batalhões da Meia Guarda então marcharam subindo o declive existente entre Hougoumont e La Haye Sainte. Estes campos abertos eram terras agrícolas e as culturas, anteriormente altas, tinham sido pisoteadas, depois de ataques repetidos da cavalaria na linha de crista.

Ainda que este tenha se tornado um dos mais famosos assaltos da história militar, as narrativas francesas deste ataque são inconsistentes e, ainda hoje, se debate sobre quais teriam sido as formações adotadas para o assalto à linha de crista aliada. Alguns historiadores sugerem que o avanço tenha sido feito em quadrados, enquanto outros acre-

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ditam que tenham sido formadas massiva colunas de ataque. Chandler acredita que eles pressionaram para a frente em: “coluna cerrada de grande divisão (com duas companhias de frente) com as batidas do tambor sendo intercaladas por gritos concertados de Vive l’Emprereur!”

Houssaye, por seu turno, acredita que Ney dirigiu o ataque desde o início e que ao invés de ter inclinado o ataque diagonalmente à esquerda de La Hay Sainte, deveria ter avançado diretamente, ao longo da estrada em uma enorme coluna, Esta também era a área sujeita aos pesados bombardeios pela Grande Batterie e os aterros ali existentes de-veriam oferecer alguma proteção contra a artilharia in inimiga. No entanto, Chandler ainda argumenta que isto ficaria muito dificultoso quando a Guarda fosse obrigada a se dividir em diferentes formações, para poder contornar a fazenda e correr o risco de entrar em desordem, misturados com as brigadas de Quiot e Donzelot, ainda seriamente engajadas na e no entorno da estrada. Além do mais, toda a área estava coberta de cavalos mortos, canhões quebrados e restos dos ataques anteriores, que dificultariam muito o avanço.

A Meia Guarda avançava a W de La Haye Sainte, em direção à linha de crista, onde as brigadas sob o comando de Adam, Maitland e Halken se encontravam. Os batalhões de Brunswick estavam a leste do cruzamento de estradas e diretamente acima de La Haye Sainte, sob ataque da Brigada de Donzelot, naquela oportunidade. Avançando em duas largas colunas escalonadas (a maioria das teorias a respeito aceitam esta formação) eles deveriam atacar a linha de crista sucessivamente. Do cruzamento de estradas para Hougoumont a alinha de crista fazia uma gigantesca curva sobre a direita da linha anglo-a-liada, onde sua artilharia tinha sido desdobrada em um largo semi-círculo, tendo a Guarda Imperial marchando em direção ao seu centro.

Embora muitos canhões aliados sobre a linha de crista tivessem sido desmontados pelos tiros dos canhões franceses, ainda havia uma pletora de canhões deixados para serem apontados contra a Guarda, assim que ela ganhasse as encostas. A 20 Jd (182 m) de distância, os artilheiros carregaram seus canhões com tiros-duplos (balas e canisters) e abriram fogo. Os canhões desdobrados na extremidade do semi-círculo podiam atirar sobre os flancos do ataque, e terríveis brechas foram abertas nas linhas, quando dispara-ram sobre aqueles homens que avançavam. No entanto, a Guarda continuou a pressionar a passos medidos, calmamente preenchendo as lacunas em suas linhas e contornando aqueles homens que haviam sido abatidos pelos tiros dos canhões. Os tambores avança-vam à frente das colunas, marcando o pas de charge, o que ajudava a Guarda a manter a cadência, inspirando-os a avançar. Periodicamente, os homens em marcha bradavam o Vive l’Empereur!, que ecoava através do vale, um grito de guerra que havia desestabiliza-do os inimigos dos franceses em campos de batalha anteriores.

Cerca de 3.500 homens da Meia Guarda tinham subido a linha de crista. Uma ba-teria de artilharia a cavalo sob o comando do tenente coronel Duchand da Velha Guarda os acompanhava. Ele havia dividido seus canhões em 4 seções e estas avançaram pelos intervalos deixados entre os batalhões. O cume era íngreme e o seu topo chato estava tão úmido, que os artilheiros franceses tiveram de experimentar uma considerável dificuldade para deslocar aqueles canhões, através de 110 Jd (110 m), para poderem desdobrá-los e deitar pesados fogos. A bateria do capitão Mercier já tinha sofrido muitas baixas naquele dia e seus artilheiros já estavam exaustos, depois de tantas horas manobrando seus ca-nhões. Tudo isto prejudicava o carregamento dos canhões e o processo de resfriamento dos tubos após cada descarga e o reposicionamento de cada canhão, pois a cada salva, a arma recuava, tendo de ser novamente posta em condições de atirar.

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Agora é a sua vez !As coisas começaram bem à direita do ataque francês, com o 1/3 de “Grenadiers”

fazendo recuar alguns batalhões de Nassau, que já haviam entrado em uma considerável desordem, já quando da aproximação do inimigo. No entanto, as tropas de Hanover de Sir Colin Hakett ofereceram uma grossa resistência e, como o próprio Halkett tivesse sido seriamente ferido, com o resultado do tiroteio, o general Chassé colocou em ação elemen-tos da Brigada belgo-holandesa de Ditmer para apoiá-los à sua esquerda. Em paralelo, a bateria belga de Krahmer conseguiu uma grande atuação contra a infantaria que avança-va, e Halkett serviu-se daquele apoio, para empregar sua infantaria até onde os canhões pudessem apoiar, fazendo recuar o inimigo. Foi neste momento que o marechal Ney, com 15 cavalarianos mergulhou sobre eles, tentando salvar os “Grenadiers”.

A Divisão holandesa de Chassé tinha participado de muito pouca ação na maior parte daquele dia, tendo ficada posicionada próximo a Braine d’Alleud, e consistia de 12 batalhões com cerca de 7.000 homens no total. No entanto, a maioria deles era composta de milicianos e, quando eles começaram a avançar, muitos deles ficaram sob os fogos da bateria de Duchand posicionada contra eles. Vendo a confusão estabelecida, Chassé puxou seus homens de volta, por entre a linha de sebes alinhada à estrada, de sorte a reorganizá-los sob relativa proteção dos canhões. Tanto a infantaria de Halkett como a de Chassé haviam sofrido grandemente em razão do canhoneio inimigo, e este somente reduziu, um pouco, quando os tiros de contra-bateria vieram da artilharia francesa.

O 4º de “Grenadiers” e o 1/3 de “Chaussers” subiram a linha de crista, no centro do ataque francês. A despeito do repetido bombardeio a que foram submetidos, quando subiam as encostas, o aspirante a oficial J. P. Dirom do 1º dos Guardas a Pé, acreditava que eles tinham sofrido relativas poucas baixas em face dos fogos de artilharia, enfatizan-do que a questão seria decidida pela mosqueteria e pela carga de baioneta. Ele disse “A Guarda Imperial avançou em coluna cerrada com armas ao ombro; os oficiais da divisão à frente portavam suas espadas. As colunas francesas não aparentavam ter sofrido em seu avanço, pois mostravam-se regularmente formadas, como se estivessem em um “field day”.

As baterias de Kuhlmann e de Cleevesm naquela parte da linha de crista, estavam ficando com pouca munição, o que pode explicar o porquê da Guarda Imperial ter sofrido tão pouco, conforme o relatado pelo historiador Diron.. A elite aliada (Guardas britânicos) então viu os altos homens com as barbas usadas pela maioria dos Guardas franceses surgindo sobre a linha de crista, quando eles avançaram em direção ao oponente, com alguma trepidação. Iria ocorrer um encontro entre as tropas de elite de ambos os exércitos e o resultado disso era incerto.

A Brigada de Guardas de Maitland (cerca de 1.400 homens) estava posicionada para confrontar a primeira coluna francesa, mas quando estes avançaram, eles, inicial-mente viram apenas um grupo de oficiais montados e não as fileiras inimigas a cerca de 60 Jd (18 m) de Chemin d’Ouhain. Wellington estava ali com seu Estado-Maior e não pode deixar de dar-lhes ordem para permanecerem firmes quando o inimigo aparecesse, gritando: “Agora, Maitland, agora é a sua vez!”. Outros relatos informam que ele teria dito: “Avante Guardas; sobre eles !”

A maioria das brigadas aliadas sobre a linha de crista tinham permanecido desdo-bradas em 4 fileiras e a Guarda Imperial estava com uma frente mais estreita que a usual linha de tiro com duas fileiras de profundidade, o que tinha sido copiado das colunas fran-cesas do passado. Apesar de tudo, enquanto um menor número de mosquetes pudesse

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estar disponível para atirar naquela formação, o poder de fogo, então, podia ser concen-trado, tornando-se mais mortífero a curto alcance. As Brigadas de Guardas continham os melhores soldados sob o comando de Wellington e eles, agora, desencadeariam um disciplinado voleio de mosquetes sobre seus atacantes. Diron, posteriormente escreveu:

“Quando eles chegaram a uma curta distância, nós estávamos em ordem, prontospara atirar. O efeito de nosso voleio foi, evidentemente, mortífero. As colunas francesas apresentavam-se escalonadas e, se eu posso usar esta expressão, convulsionadas. Parte deles parecia estar inclinada a avançar, parte havia parado e atirado e outros, mais parti-cularmente o centro e a retaguarda dos colunas, pareciam querer dar meia-volta”.

Os Guardas a Pé dispararam vários voleios sobre a Guarda Imperial, atingindo dezenas de homens. De acordo com algumas fontes, este voleio inicial abateu 20% dos Guardas em formação. Ainda que isto possa parecer um exagero, os tiros dos “redcoats” certamente tiveram um efeito devastador naquele alcance de tiro. O fato dos seus inimi-gos estarem mais próximos do que eles pudessem imaginar, aliado à determinação de sua resistência, pode explicar o ruinoso efeito sobre a moral dos franceses. Feiito disso, os “Grenadiers” e “Chausseurs” teimosamente retornaram os tiros e os oficiais tentaram mudar a formação de coluna para linha, afim de torná-los mais eficazes. Os relatos dos historiadores variam mas, provavelmente, eles conseguiram completar tais manobras, uma façanha perante aqueles intensos fogos. Um grande número de homens tombou de ambos os lados durante este tiroteio a curto alcance, mas os britânicos, gradualmente, começaram a obter vantagem no combate.

Com seus inimigos sofrendo o efeito de sua mosqueteria, os 2º e 3º Batalhões do 1º de Guardas a Pé montaram uma carga a baioneta. Gronow carregou com o 3º Batalhão e tomou parte no enfurecido engajamento que se seguiu.

“Parecia que nossos homens, deliberada ou calculadamente, apontavam sobre suas vítimas, pois quando eles foram sobre a Guarda Imperial, nossa linha quebrou e a luta ficou irregular. A impetuosidade de nossos homens parecia paralisar os franceses; Eu presenciei vários homens ... que estavam correndo aparentando estar sem vontade de qualquer resistência. Eu vi também um grande soldado Welshman, apelidado de Hughes, que tinha 6 pés de altura avançar sobre o inimigo e, mesmo estando com seu mosquete armado de baioneta, nocautear vários inimigos com a coronha de sua arma. Penso que foram uns 12”.

A Guarda Imperial cedeu terreno de forma relutante, de início, mas o choque causa-do por aquele ataque selvagem foi irresistível e ela recuou fugindo em alguma desordem. Gronow recordou que eles resistiram por cerca de 10 minutos. Isto era coisa rara, pois quando a maioria dos infantes hesita em dar combate cerrado, sabendo das baixas possí-veis de haver em uma confusa batalha, ela recua. Usualmente, o lado que havia sofrido o pior durante a mosqueteria preparatória, duela rapidamente e recua, mas a Guarda Impe-rial era teimosa e não retraía facilmente.

Os Guardas britânicos perseguiram os remanescentes da primeira coluna francesa, cautelosamente, depois de um enfrentamento mão-a-mão. Em seguida, rapidamente, se viraram e retornaram para a encosta, para fazer frente a uma nova ameaça.

A segunda coluna avançou para mais perto de Hougoumont e era composta dos 4º e do 2/3 de “Chausseurs”. Embora surpreendidos com a rápida repulsa da primeira coluna, aqueles veteranos não ficaram rapidamente desmoralizados, enquanto os oficiais gritavam para que a primeira coluna retraísse encosta abaixo para se reorganizar à reta-guarda. Os franceses tinham, então, trazido esquadrões de “cuirasseurs” e a cavalaria da

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Guarda para cobrir as colunas de assalto, no caso da cavalaria inimiga ser desdobrada contra eles e tendo em vista que tal tropa poderia deter o retraimento dos Guardas. Muitos da primeira coluna reorganizaram suas fileiras e se juntaram à segunda coluna.

Quando a segunda coluna atingiu o cume da linha de crista, seus soldados ficaram em oposição à. 3ª Brigada de Adam que, rapidamente, os fizeram tombar ante um pe-sado fogo lançado contra eles. Ainda que eles tivessem avançado com mais cautela que a primeira coluna, aqueles fogos fizeram com que perdessem a impulsão do avanço e, rapidamente, o assalto da segunda coluna foi detido e forçado a se redesdobrar junto com a primeira linha.

Quando isto foi realizado, o coronel Colborne fez marchar o 52º Regimento a Pé, pi-voteando sua linha de maneira que ela se inclinasse em direção ao flanco esquerdo da co-luna inimiga. Isto possibilitou ao 52º atirar sobre o lado da coluna atacante, de maneira que os franceses passaram a receber tiros de mosquetes de dois ângulos diferentes. Tendo já realizado esta manobra, sob fogos, muitas vezes, na Guerra da Península, o 52º executou a manobra rapidamente, de forma que a intensidade de seus fogos negou aos franceses qualquer chance de se redesdobrar à esquerda. Quando os homens marcharam suas se-ções da retaguarda, em coluna, os britânicos também os botaram abaixo, com os guardas britânicos, instintivamente, empurrando-os para trás com uma fuzilaria. Bloqueados pelas fileiras das linhas à frente deles, seus tiros em resposta ficaram esporádicos e não pude-ram compensar o volume da mosqueteria que tinha sido lançada pelo 52º.

O tenente-general Barão Delort, à frente de seu esquadrão de “Cuirassiers”, partiu para apoiar o ataque e relembra-se de ter visto a Meia Guarda avançando sob uma chuva de mosqueteria e de canisters, quando eles lutavam para manter sua marcha sobre o pla-tô. Posicionado para proteger o flanco contra a cavalaria e, possivelmente, para cobrir um retraimento, ele se frustrou ao entender que ele não poderia fazer nada além de observar o que se passava naquele momento.

Em face deste concentrado poder de fogo, o ataque foi detido, e os franceses come-çaram a recuar. Naquele momento, os britânicos não contestaram a luta com mosqueteria, por muito mais tempo e, rapidamente, carregaram seus mosquetes e avançaram com as baionetas armadas. Avançando, inicialmente em silêncio, os “casacos vermelhos” subita-mente deram um grande “grito de guerra” antes de carregarem. No passado, muitas tropas tinham recuado, em razão de tais gritos, antes mesmo de haver o confronto, mas estas tropas eram compostas de veteranos o que os tornavam orgulhosos e teimosos ante um combate. Eles montaram um contra-ataque, ocorrendo, então, uma violenta luta com baio-netas, espadas e coronhadas, mas o resultado desta ação não teve sucesso, em razão de que as perdas francesas continuaram ocorrendo.

Inicialmente, a formação em coluna quebrou lentamente, mas depois perdeu a im-pulsão totalmente, quando mais e mais homens correram das fileiras da retaguarda, fugin-do encosta abaixo. Os homens das linhas de frente ficaram sob o ataque das baionetas dos Guarda a Pé britânicos, até quando o 52º carregou sobre seu flanco, ocasião em que as formações francesas quebraram, definitivamente, em pequenos grupos de homens que tentavam empurrar seus mosquetes nas costas dos seus atacantes. Estes últimos grupos logo foram subjugados e os britânicos passaram a caçar os franceses que fugiam encosta abaixo, até que, finalmente, uma vez mais a Guarda Imperial fugiu em desordem.

À primeira rajada de canisters da artilharia aliada sobre os fugitivos, abateu muitos deles, mas os “casacos vermelhos” os perseguiram muito próximos, mesmo sob o risco de serem acertados por sua própria artilharia. O oficial de artilharia Bolton comentou que:

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“os combatentes estavam tão misturados, que tivemos de cessar os fogos”. Alguns Guar-das ainda lutaram à esquerda deles e tentaram se reorganizar no sopé da elevação, mas foram surpreendidos pela infantaria britânica correndo encosta abaixo e, rapidamente os abateram. A perseguição continuou até que, grosseiramente, estivesse ao mesmo nível de Hougoumont. Sabendo que a cavalaria francesa permanecia na área, os oficiais da Guarda chamaram seus homens, ordenando-lhes que voltassem à encosta para se reor-ganizarem.

A retiradaA chegada do II Corpo prussiano sob o comando do general Pirch finalmente equi-

librara a balança na luta por Plancenoit. Os homens da 5ª Brigada de Infantaria, sob o comando de Tippleskirch, liderava, como ponto de lança, o assalto final que viu seus de-fensores serem subjugados e finalmente, forçara Lobau a abandonar a vila. Às 18:30 hs, os franceses já se encontravam em retirada.

Voltando à região da linha de crista aliada, por volta das 18:30 hs, os franceses já se encontravam em retirada, ainda que algumas fontes informem que pequenos grupos de franceses tenham se mantido até as 21:00 hs. A Divisão de Durutte ainda contestava a área no entorno de Papelotte e La Haye Sainte, mas o forte ataque do Corpo de Ziethen rapidamente a forçou a retrair. Atacado pelos hussardos prussianos, as tropas de Durutte receberam vários degoladores golpes de espada e de golpes de sabre decepadores de mãos, quando eles tentavam se contrapor aos numerosos assaltantes. Só a velocidade de seus cavalos era o suficiente para abater a moral francesa e fazê-los recuar, O flanco direito francês tinha entrado em colapso e os prussianos, então, avançaram com toda a sua força.

As brigadas de Donzelot, Allix e Marcognet haviam continuado seus ataques e man-tinham as tropas aliadas no centro e ao longo da linha de crista, a leste de La Haye Sainte, fazendo frente ao assalto realizado pela Guarda Imperial. Notícias rapidamente espalha-ram que a Guarda tinha sido derrotada e foi disparada o grito de “La Garde Recule !”. De início isto foi deacreditado, em razão na fé na invencibilidade da Guarda Imperial, mas logo depois, com a visão de que os guardas corriam encosta abaixo, em massa, tal ilusão foi dispersa, provocando uma imediata retirada para o sopé da linha francesa. Já descon-fiados de seu alto comando, os soldados começaram a critar “Sauve qui peut “. Podia-se ver que o flanco direito francês havia colapsado e que o subterfúgio de Napoleão estava, agora posto às claras. Tornou-se óbvio, então, que aquelas tropas que haviam chegado à leste, eram de prussianos, que chegavam com toda a força, e que as tropas de Grouchy ninguém sabia onde estava.

Observando que o inimigo estava em total desorganização abaixo dele, Wellington permaneceu em seus estribos e, levantando seu chapéu bicorne acima de sua cabeça, ordenou um avanço geral ao longo de toda a linha do Exército anglo-aliado. O Lorde Uxbri-dge desejava que o inimigo fosse, àquele ponto, verdadeiramente quebrado e sugeriu que eles somente avançassem com os franceses próximos da linha de crista francesa, mas Wellington respondeu: “Oh, Droga ! aposto um “penny” contra um “pound” que se as tropas avançarem agora, elas chegarão tão longe quanto puderem”.

Os ataques sobre Hougoumont cessaram abruptamente e a infantaria de Reille recuou em direção à linha de crista francesa. A guarnição que lá tinha sido deixada, tinha estado sob tão grande pressão desde o final da manhã que sentiu-se aliviada ao ver sua própria infantaria marchando para baixo da crista, atrás deles. Macdonnell percebeu que

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seus homens estavam muito exaustos para se juntarem à perseguição e os deixou gozar o descanso merecido. O Corpo de Reille estava próximo o bastante para ver a retirada da Guarda Imperial em detalhes e a visão de tal fato demostrou a ele a verdade, enquanto os oficiais em vão, tentavam manter a ordem de uma precipitada retirada. O pânico tinha pro-liferado em todo o Exército francês e muitos se dispersaram e correram em direção à linha de crista francesa, com alguns lançando fora suas armas ao assim procederem. Quinze minutos após a Guarda ter sido repelida, toda a “Armée du Nord” estava em total retirada.

Alguns esquadrões de cavalaria tentaram cobrir a retirada, mas o colapso total do “front” do exército e de seu flanco direito impediu a realização desta esperançosa tarefa. De qualquer maneira, a verdade é que a cavalaria francesa tinha sofrido terríveis perdas durante as massivas cargas anteriormente, naquele dia, e muitos sentiram-se não inclina-dos a correr riscos às suas vidas, uma realidade óbvia naquele momento. Quando os nú-meros esmagadores de inimigos lançaram-se sobre eles, a maioria dos oficiais franceses cavalarianos viraram seus esquadrões e se retiraram. Outros, simplesmente, perderam o controle de seus esquadrões, que se dispersaram e juntaram-se aos demais, numa frené-tica corrida para abandonar o campo de batalha.

A cavalaria anglo-aliada pressionou e a sua infantaria avançou, firmemente, encos-ta abaixo, enquanto o Exército de Napoleão se desintegrava à frente delas. Por um curto momento, o grosso da artilharia manteve suas posições e atirou sobre os franceses que se retiravam, mas algumas das artilharias a cavalo começaram a se deslocar, de forma a juntar-se às tropas aliadas em perseguição. O 40º a Pé avançou sobre La Haye Sainte, expulsando, firmemente os “tirailleurs” daquela posição. Sua companhia de “Granadiers”, em face daquela tropa do 27º a Pé, foi forçada de volta à fazenda, mas os franceses já es-tavam em processo de abandonar a fazenda e eles encontraram uma pequena resistência e, facilmente, retomaram a posição.

A artilharia francesa sobre a linha de crista de La Belle Alliance ainda atirava sobre a linha de crista aliada, num esforço de cobrir a retirada e permitir que ela se desse de forma organizada. Os canhões continuaram a atirar, algumas vezes abatendo os próprios companheiros, até que a cavalaria aliada cavalgou sobre a infantaria francesa espalhada no vale.

Embora seu ataque tivesse sido repelido, os três batalhões remanescentes da Ve-lha Guarda não se desesperaram. Os 1/2 e 2/1 de “Grenadiers” e o 2/2 de “Chausseurs” formaram quadrados em uma linha e, lentamente, retraíram, quando as hordas de fugiti-vos passaram em velocidade por eles. Dois batalhões marcharam através do campo em direção a La Bele Alliance, enquanto outros se retiravam ao longo da estrada. Alguns dos Guardas oriundos do exaustivo assalto penetraram nos quadrados, sendo-lhes permitido engrossar a fileiras, mas a maioria dos infantes fugitivos foram impedidos de adotar o mesmo procedimento, tendo em vista que os oficiais temiam que eles pudessem acabar rompendo a formação expondo-a à cavalaria inimiga.

A cavalaria inimiga avançou sobre os retirantes e sobre os quadrados. No entanto, a Guarda apresentava uma muralha de baionetas contra seus atacantes, com as fileiras da retaguarda calmamente atirando sobre seus companheiros ajoelhados, para abater os cavalos e esvaziar as selas. A esta fase da perseguição, enquanto continuavam a assediar a Guarda, os demais perseguidores concentraram-se sobre os alvos mais fáceis. Havia uma grande quantidade de infantes correndo desesperadamente para a linha de crista francesa ao sul, que somente poderia oferecer uma pequena resistência, e muitos já havia jogado fora suas armas.

Wellington deslocou para a frente o seu Estado-Maior, para observar o progresso

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das suas tropas e este pequeno grupo de cavaleiros, ao entrar no baixo terreno ao sul de La Haye Sainte, observou a Brigada de Cavalaria de Vivian montando cargas contra a linha de crista francesa. Lorde Uxbridge foi acertado por um estilhaço de canister, que afetou seu joelho direito e foi, ironicamente, um dos tiros finais da artilharia francesa du-rante a batalha.

Momentaneamente, Wellington tirou a luneta dos olhos viu o membro mutilado de Uxbridge e disse: “Por Deus, senhor, você existe”. E reconheceu a sua vitória no campo de batalha.

O Conde d’Erlon parecia uma figura invulgar misturado aos fugitivos que seguiam através da estrada de Bruxelas. Sem chapéu e com seu rosto coberto por fumaça de pól-vora, o marechal Ney tinha estado tinha estado presente durante o grosso da luta e uma de suas dragonas tinha sido cortada ao meio por um golpe de sabre. Ele gritava e apelava emocionadamente aos fugitivos para ficar e lutar, brandindo sua espada quebrada, numa tentativa de os incentivar. Reconhecendo o oficial, quando ele era levado por uma torrente de homens em pânico, ele gritou: “D’Erlon, se nós escaparmos desta, nós deveremos ser enforcados”.

Vendo ignorados seus esforços, Ney deslocou-se e tentou parar dois batalhões da Divisão de Durutte, que estavam se retirando em relativa boa ordem. Esperando fazê-los parar e cobrir a retirada, ele bravejou: “Venham e verão como um marechal da França deve morrer !”. No entanto aqueles homens mostraram, claramente, que aquele dia estava perdido e marcharam, estoicamente, levando seus olhares para baixo, para evitar aquele olhar acusador do marechal.

O restante da Velha GuardaQuando Napoleão reconheceu que tudo estava perdido, ele rapidamente buscou

refúgio em um dos quadrados da infantaria da sua Velha Guarda. Os frenéticos esforços dos oficiais franceses mais antigos para retardar a retirada haviam falhado e ante a visão do Imperador, suas tropas fugiam, aterrorizadas pela ameaça de serem abatidas a sabre pela cavalaria inimiga, que as perseguiam. Sabendo que a situação era irreversível, Na-poleão cavalgou de volta para Rossome, acompanhado por uns poucos oficiais e alguma cavalaria da Guarda Imperial.

Alguns acham que Napoleão, que sabia que tudo estava perdido, deveria ter esco-lhido morrer no campo de batalha. É possível que, quando ele liderou a Guarda Imperial no seu avanço que antecedeu o ataque final, ele tivesse tido a intenção de morrer à frente de seus homens. Alguns especulam que isto seria pertinente, caso ele soubesse que seu assalto estivesse condenado a derrota, antes dele o ter ordenado. No entanto, isto deveria revelar uma insensibilidade notável da parte do Imperador de sacrificar tantos em troca de um gesto tão vazio. Contudo, considerando que Napoleão valorizava seu exército acima de tudo, o que ele havia provado em tantos campos de batalha, numa jogada final, isso parecia altamente improvável.

Durante o tempo em que se manteve na linha de crista próxima a La Belle Alliance, as fileiras da Guarda Imperial tinham afinado consideravelmente. Milhares de fugitivos bloqueavam a estrada principal, retardando a retirada e as cavalarias britânica e belga--holandesa encontravam-se montando crescentes e determinados ataques contra eles, sabendo que bolsões de possível resistência seriam esmagados, sem impunidade. No entanto, eles, agora, encontravam-se em face de uma nova e maior ameaça, quando sua lenta retirada fosse alcançada pela infantaria anglo-aliada. Os quadrados franceses, isto

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é, homens empacotadosiem densas fileiras com 3 ou 4 fileiras de profundidade, tornaram--se alvos fáceis, quando as infantarias britânicas e prussianas atiraram sobre eles,

Depois deste incidente, os “Chasseurs” continuaram a se retirar, mas Cambronne ti-nha sido atingido na testa, de raspão, por uma bala de mosquete, tendo ficado inconscien-te. Livre de morrer, quando recuperou a consciência, ele seguiu atrás de seu quadrado, que havia se deslocado. Vendo o general francês, o tenente-coronel William Halket (em serviço em Hanover) cavalgou em sua direção e estava a ponto de abatê-lo com sua es-pada, quando Cambronne se rendeu. Seguindo seu capturador, Cambronne, então, tentou escapar, quando o cavalo de Halket foi abatido, caindo sobre o oficial. Levantando-se, logo depois de sua queda, Halkett perseguiu seu prisioneiro.

Os três batalhões continuaram a retrair em boa ordem, pausando somente para disparar voleios de mosquetes, para manter seus atacantes sob controle. Centenas de homens tombaram durante este curto recuo, mas seu sacrifício estava cobrindo a retira-da de todo o Exército francês e permitia que o Imperador atingisse uma posição segura. Logo eles assumiram uma pequena formação em triângulo, uma vez que tinham perdido muitos homens. Finalmente, eles foram reduzidos a um grupo sem forma, momento em que aqueles orgulhosos Guardas recarregaram e apontaram seus mosquetes, enquanto seus camaradas tombavam em volta deles, mas mostrando-se desafiadores até o final. A um dado momento, os batalhões quebraram inteiramente mas, ainda que alguns tenham conseguido seguir sua rota, outros foram aprisionados.

Quando Napoleão alcançou Rossomme, ele encontrou dois batalhões frescos do 1º de “Grenadiers” esperando por ele, sob o comando do general Petit. Eles também estavam formados em quadrados, formados ao longo da estrada principal, onde, ocasio-nalmente, eles haviam parado para se defender de uma cavalaria em perseguição, dando pouca atenção a quaisquer fugitivos que bloqueassem sua linha de retirada. Agora, em uma longa linha de retirada, o Exército francês tinha se degenerado em uma multidão desordenada, e Petit mais tarde escreveu sobre os horrores que ele viu: “O inimigo estava muito próximo de nossos calcanhares e, temendo que ele pudesse penetrar em nossos quadrados, nós nos vimos obrigados a atirar sobre homens que estavam sendo persegui-dos e que se lançavam ferozmente em direção aos quadrados. Isto foi um inferno para podermos seguir em ordem e para evitar um caos maior”.

Quando eles alcançaram Le Caillou, encontraram outros oficiais mais antigos, in-clusive Soult, Drout e Lobau, que haviam cavalgado com seus Estados-Maiores para se

juntar a Napoleão. Eles, então, combinaram com o 1/1 de “Chasseurs” e o Impera-dor abandonou a maior parte da bagagem imperial e recuou para Genappe, 2 milhas (3,2 Km) ao sul, onde ele esperava abandonar seu exército.

Napoleão rapidamente percebeu que a situação em Genappe era desesperançosa, quando ele chegou nos arrabaldes da cidade, Suas ruas estavam em caos e a estrada principal estava bloqueada pelos soldados em fuga. Com a cavalaria prussiana caindo so-bre sua retaguarda para atacá-la a golpes de sabre, o pânico tomou conta da soldadesca. Embora o rio Dyle tivesse apenas 10 pés (3 m) de largura naquele ponto, uma desespe-rada luta teve lugar, tendo em vista que os soldados queriam cruzar o curso d’água pela estreita ponte que o transpunha.

Os batalhões da Guarda marcharam no entorno do lado leste de Genappe, cruzan-do o raso rio e envolveram a cidade para retomar a estrada mais ao sul. Isto levou a que as vedetes levassem uma hora para clarear a passagem para a carruagem imperial através da multidão. Finalmente, eles tiveram de abandonar a carruagem e a Napoleão foi dado

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um cavalo, com o qual ele cavalgou com sua escolta de volta à fronteira francesa. Eram 22:00 hs daquela noite, quando Wellington teve um fortuito encontro com

Blücher próximo à pousada La Belle Alliance. De acordo com Wellington, o comandante prussiano o abraçou e o beijou exclamando “Mein lieber Kamerad !” e, então, “Quelle Afaire!”, ao que o Duque, laconicamente observou que nos últimos anos “foi muito bonito tudo o que ele aprendeu sobre a França” Os ajudantes já tinha trocado mensagens entre eles e os prussianos concordaram, em assumir a perseguição, uma vez que o Exército anglo-aliado estava exausto, depois de uma longa luta.

A despeito da assertiva de Blücher de que seus homens estavam mais frescos que os de Wellington, uma grande parte de seu exército tinha lutado em Waterloo e todo ele se ressentia da longa marcha realizada desde Wavre sobre um dificultoso terreno. No entanto, Blücher estava determinado a perseguir os franceses, para leva-lo à extinção e realizar a sonhada captura de Napoleão, contra quem o marechal prussiano alimentava um considerável rancor. Usando um intérprete, ele sugeriu o nome de uma taberna próxi-ma – La Belle Alliance – como o nome da titânica batalha que acabara de ser realizada. abatendo dezenas de homens em cada voleio de mosquetes. Uma vez infligido tal dano, a cavalaria deveria estar capaz de carregar sobre os quadrados em desintegração e cor-tá-los em pedaços.

Logo ficou claro que a Guarda francesa estava em vias de aniquilação e um oficial britânico aproximou-se do esfarrapado quadrado do 2/1 de “Chasseurs” e os conclamou à rendição. De dentro do quadrado, o general Cambronne (que estava no comando) repli-cou: “Merde”. Imediatamente após este desafio, o tiroteio recomeçou. A Guarda marchou dolorosamente em direção a retaguarda, deixando uma trilha sanguinolenta de baixas em sua esteira.

BaixasAs baixas anglo-aliadas foram de, aproximadamente, 15.000 mortos e feridos e

mais vários milhares de desaparecidos. Os prussianos tiveram cerca de 7.000 mortos ou feridos. Os franceses, por sua vez, perderam cerca de 26.000 homens, entre mortos e feridos, além de 9.000 desaparecidos e 9.000 que foram feitos prisioneiros.

OONCLUSÃO

Por que Napoleão perdeu essa batalha? Muitos erros foram cometidos, não só pelo próprio imperador, mas também por seus subordinados.

O primeiro erro cometido foi o do adiamento do ataque até as 13:00 hs. Isto deu aos prussianos oportunidade para chegar no campo de batalha a tempo de intervir. Por outro lado, quando se observa que o efeito da artilharia durante o ataque inicial foi mínimo, então, Napoleão não deveria ter esperado tanto tempo, para que o terreno secasse do aguaceiro da noite anterior.

Napoleão cometeu um segundo erro, ao passar para Ney o comando geral do ata-que. Como comandante-em-chefe, ninguém esperava que Napoleão, pessoalmente, lide-rasse o ataque, mas jamais deveria ter atribuído ao marechal Ney - um oficial não confiá-vel, como já havia provado anteriormente - o comando de um ataque tão importante; afinal os erros que Ney havia cometido nos últimos três dias, pelo menos, caracterizava a sua imprudência e o quanto ele era perigoso. Embora Ney realmente fosse “o mais corajoso dos mais valentes” ele era incapaz de liderar uma batalha tão grande. Ele lutou como um

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“Grenadier”, e não como um marechal da França.Como dito acima, Ney foi entre outras coisas, responsável por desgastar a cavalaria

francesa em uma série de ataques sem sentido, sem apoio e, de certa forma, por diminuir as chances de sucesso da Guarda Imperial, levando-a para uma direção de ataque errada.

Outro grande erro foi permitir que Jerôme escalasse o ataque diversionário em Gou-mont, em uma grande luta que manteve grandes partes do II Corpo empenhadas, quando elas eram urgentemente necessárias em outro lugar. O próprio Jerôme deveria saber disto melhor.

Outro erro custoso foi a adaptação de uma formação inadequada por três das qua-tro divisões no ataque inicial de d’Erlon. Se elas tivessem sido empregadas em uma me-lhor formação, como a de Durutte, teria havido muito menos baixas e uma muito maior chance de sucesso.

Grouchy pode ser criticado por não ter marchado “ao som dos canhões”, ou por não ter tido nenhuma iniciativa maior, como se esperaria de um marechal da França. Ele tinha ordens para seguir os prussianos e impedi-los de se juntar a Wellington. Ele os seguiu muito bem mas como se sabe, ele não os impediu de se juntarem à força anglo-aliada de Wellington.

O trabalho de Chefe-de Estado-Maior por Soult ficou longe de ser bom e ele tam-bém foi o responsável por algumas das coisas que deram erradas.

Mas a grande responsabilidade por esse desastre ficou por conta do próprio Im-perador. Ele, provavelmente, já estava muito doente, e havia alguns sinais inegáveis da deterioração de sua total capacidade. Ele se tornou arrogante e confiante demais em suas próprias capacidades. O Napoleão de antes de 1815 não teria perdido esta batalha. Ele subestimou seus oponentes e nomeou como comandantes oficiais da mais baixa quali-dade, enquanto Davout e Suchet - brilhantes oficiais -, por exemplo, estavam disponíveis. Entende-se que o seu maior erro foi a sua falta de controle pessoal sobre a batalha como um todo. Ele estava em Waterloo, mas ele não controlava nada além de 40.000 homens (da Guarda Imperial).

O mérito deve ir para Wellington, Blücher e seus soldados. O exército anglo-aliado não era nada mais do que uma coleção de unidades multilingues, muitas delas unida-des de milícia e “depots” que nunca tinham visto uma ação antes mas, no entanto, eles venceram um adversário formidável. A lealdade do Blücher e o poder de permanência de seus soldados depois de Ligny salvou o exército de Wellington, já que sem eles o Exército anglo-aliado teria sido batido.

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ANEXOSA - O desenvolvimento dos Corpos de Exército e seu impacto nas Guerras Napo-

leônicas.B - UniformesC- Os marechais de Napoleão

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ANEXO A O DESENVOLVIMENTO DOS CORPOS DE EXÉRCITO E

SEU IMPACTO NAS GUERRAS NAPOLEÔNICAS

Organizado pelo major James Wasson (United States Army)

A organização dos Corpos De Exército e o emprego doutrinário do bataillon carré teve significativa expressão na realização das campanhas das Guerras Napoleônicas e demonstrou maior fluidez que naquelas campanhas ao tempo de Frederico, o Grande. Estas mudanças possibilitaram a Napoleão garantir uma decisiva vantagem sobre seu oponente ate o final de 1807. Os conceitos baseados nessas duas mudanças são ainda aplicáveis até hoje.

Jomini chamou o estilo de guerra conduzido durante o tempo de Frederico, o Gran-de de “... um sistema de posições ... “e o definiu como “... a velha maneira de conduzir uma guerra metódica, com os exécitos em barraca, com seus suprimentos a mão, engajados em observar um ao outro; ... “ Este estilo de guerra era caracterizado por campanhas de combates limitados em que era, geralmente, possível a um oponente refugar o combate, se ele assim decidisse. Uma das razões para isto era a organização dos exércitos como simples entidades, concentradas sobre ambos, deslocamento e combate. No tempo de Frederico, um exército não possuía uma sub-estrutura maior que o regimento e era, portanto, uma “besta” ponderando, que geralmente se movia ao longo de uma rota. A subdivisão do exército em regimentos separados poderia possibilitar ao adversário que subjugasse aquelas partes separadas. Esta concentração durante os movimentos, no en-tanto, fazia com que o exército se deslocasse lentamente e permitia que ao oponente que determinasse, com determinada facilidade, seu objetivo. Além disso, o suprimento deste tipo de exército requeria pesados depósitos, que tendiam a maner o exército em uma “trela curta” em relação à sua base de suprimentos. Monarcas não estavam dispostos a deixar que esses exércitos vivessem da terra, e mesmo que assim fosse, seria impraticável, uma vez que uma única rota poderia não ter produtos alimentares suficientes para suprir essa força.

A guerra napoleônica era caracterizada por “ ... suas variação e flexibilidade sem limite”. guerra napoleônica era rápida e sangrenta, e buscava um engajamento decisivo, O exército de Napoleão era dispersado para se deslocar ao longo de itinerários separados e se concentrava para lutar. O Exército francês de 1806 não estava atado as grandes e imobilizados depósitos de suprimentos, mas vivia fora da sua terra enquanto se movia. Isto permitiu que os novos exércitos se movessem, não só mais rápido e mais longe, mas também para mudar de direção rapidamente. “... A insistência de Napoleão em velocida-de e mobilidade foi uma característica básica das campanhas do Imperador do começo ao fim, e foi a característica de sua guerra que mais confundiu e perturbou a maioria dos seus adversários, enraizados em uma tradição que ensinou mais tipo de lazer do que de guerra.” A habilidade em se dispersar e se concentrar rapidamente, e avançar or várias rotas “ possibilitou a Napoleão fazer aquilo que os exércitos de Frederico nunca consegui-ram: forçar oengajamento.” Pensadores militares não estavam ociosos durante o período entre as campanhas de Frederico, o Grande e da Revolução Francesa e da ascensão de Napoleão. Os escritores que propuzeram novas teorias de guerra foram profusos durante este tempo. Alguns dos mais influentes estavam defendendo um novo tipo de guerra de mobilidade, enfatizando a organização divisional dos exércitos, e os exércitos de cidadãos

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que tinham um zelo nacionalista. Esses pensadores não só afetaram a composição e a doutrina dos exércitos do século XIX, como tinham sido os da Revolução Francesa, mas influenciou profundamente as idéias de Napoleão, que tratou de adaptar e ajustar tais idéias e, em seguida, colocá-las em prática.

Jacques Antoine Hypolite, Conde de Guibert, foi um desses militares e influentes pensadores. Ele propôs o emprego de exércitos de cidadãos, por causa de seu orgulho e coragem, “...não haveria nada a se temer dos exércitos mercenários de outros países.” Ele advogava a exploração da mobilidade e declarava que posições deveriam tornar-se, ne-cessariamente, menos importante. O mais importante para o assunto em questão, Guibert clamava para a organização de exércitos em divisões permanentes capazes de apoiar-se de modo a facilitar a mobilidade necessária. Bonaparte “leu e relu a famosa obra “...Essai général de Tactique ... que apreceu, primeiramente em 1772, quando o autor [Guibert] tinha somente 29 anos de idade”. Este conceito “... de subdividir o exército em divisões permanentes e independentes” não era novo “... e tinha sido primeiramente posto em prática pelo Marechal Broglie durante a Guerra dos Sete Anos, ... Em suas ‘Instruções de 1761’, e Broglie enunciou os princípios em que o sistema divisional e de corpos de Napoleão operava” O sistema foi descatado pelos franceses depois da morte de Broglie, mas permaneceu como “uma parte integral dos ensinamentos de Guibert”, e foi revivido em 1793.

Outro desses pensadores de entre-guerras que influenciou o desenvolvimento do sistema de “Corpos de Exército” de Napoleão, foi Jean de Bourcet. Os “Principes de la guerre des montagnes” de Bourcet enfatiza a necessidade da dispersão, para forçar o inimigo a cobrir-se em face de diferentes pontos, e ele conclamava para se marchar em ordem de batalha. A dispersão das forças durante a marcha deveria ser segida por uma rápida concentração de forças sobre um ponto decisivo, antes que o inimigo pudesse fa-zer o mesmo. Isto permitiria ao atcante iniciar as ações com uma significativa vantagem durante a batalha que se seguiria.

O extrato seguinte dos escritos de Bourcet pode muito bem descrever um campa-nha napoleônica:

“... um general fará bem em dividir seu exército em um número de corpos compara-tivamente pequenos, ... o que ... é indispensável e seguro, desde que o general que adotar fazer tais arranjos possa reunir suas forças no momento em que se torne necessário. Ele deve, portanto, fazer suas disposições para que o inimigo não possa se interpor entre as frações em que seu exército foi dividido ...”.

“Um general que tem a intenção de tomar a ofensiva, deve montar seu exército em três posições, distantes não mais do que uma marcha um do outro, para, desta forma, en-quanto ele vai ameaçar todos os pontos acessíveis a partir de qualquer parte das 25 ou 30 milhas, portanto, mantidas , ele será capaz, de repente, de concentrar todo o seu exército seja no centro ou em uma ou outra asa. O inimigo vai então ser tentado a deixar tropas para defender cada uma das vias de acesso ameaçadas de abordagem, e a tentativa de ser forte em todos os pontos vai torná-lo fraco em cada parte separada. “

“No entanto, cuidadosamente, o inimigo pode ter preparado as suas comunicações entre várias partes de seu exército, ... e no caso de um ataque a qualquer momento, ele não será capaz de se concentrar as suas tropas lá a tempo, se apenas o general atacan-te ocultou seu plano e seus primeiros movimentos. O general atacante geralmente será capaz de roubar uma marcha, ... enquanto o defensor requer tempo para receber o aviso, a tempo para emitir ordens, e tempo para por em marcha suas tropas ao ponto atacado “.

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Em 800, Napoleão organizou de forma permanente seu exército em Corpos, os “corps d’armée”. Isto lhe permitiu utilizar múltiplas rotas de avanço e aumentou sua ca-pacidade de viver fora de sua terra, o que o libertou dos constrangimentos logísticos dos quais muitos dos seus inimigos eram prisioneiros. Por sua vez, permitiu que ao Exército francês mover-se rapidamente e distante, e ainda impedir que o inimigo determinasse o seu verdadeiro objetivo. A organização dos Corpos deu segurança a Napoleão em evitar que suas colunas separadas fossem subjugadas.

Os Corpos eram compostos de todas as armas do seviço; eram auto-sustentáveis, e podiam combater por si só, até que outro Corpo se juntasse à batalha. Os Corpos tinham seus próprios Estados-Maiores aos quais unidades podiam ser adidas. Poderiam ser adi-das de 2 a 4 Divisões de Infanaria com suas artilharias orgânicas e suas próprias divisões de cavalaria e corpos de artilharia, mais as unidades de apoio.Com esta organização, esperava-se que um Corpo fosse capaz de manter seu terreno contra, ou

lutar contra um exército inimigo no mínimo por um dia, quando o Corpo vizinho po-deria vir em seu auxílio. “Bem manseado, poderia lutar ou, alternativamente, evitar a ação, e manobrar de acordo com as circunstâncias, sem qualquer dano que fosse imposto a ele, porque o adversário não poderia forçá-lo a aceitar um engajamento, mas se decidisse fazê-lo, ele poderia lutar sozinho por um longo tempo “

Finalmente, os comandantes de Corpos no Exército de Napoleão operavam segun-do ordens tipo missão. Esperava-se que os comandantes operassem em um modo se se-mi-autonomia usando seus “... próprios melhores julçamentos e experiência de combate, tendo como comum, o propósito estratégico”. O comandante de Corpo seguia um proce-dimento padrão, quando manobrando sua unidade. Sua linha geral de avanço era ditada pelo Imperador, mas a ele era dada total flexibilidade na escolha de suas técnicas de mar-cha e formações de batalha. Uma vez engajado, ele seria o responsável por sua luta com o inimigo, enquanto os outros comandnates seguiam o procedimento padrão de marchar em direção ao som dos canhões, a menos que fossem insruídos de forma diversa.

A “Grande Armée”, composta de vários “corps d’armée”, podia fazer uso de dife-rentes formações estratégicas para um avanço: por escalão, com uma ala recusada; em cunha; e e “en potencé”, em que um flanco era reforçado. O desenvolvimento doutrinário considerado mais surpreendente que os “corps d’armée” permitiam Napoleão fazer uso era o de avançar o exército em quadrados de batalhões (bataillon carré). A formação era simples e oferecia uma “... infinita flexibilidade ...” Nesta formação, os Corpos separados deveriam marchar ao longo de estradas paralelas dentro de um ou dois dias de marcha um do outro. Com uma guarda avançada, um flancoguarda esquerda e direita, um Corpo em reserva e uma ativa cavalria como força de cobertura e recohecimento, o exército provia a si próprio todos os meios de proteção e segurança e podia, facilmente se concentrar em qualquer direção, dependendo de qual Corpo que fez o contato inicial com o inimigo. A frente de um “bataillon carré” em avanço podia ser tanto quanto 120 milhas. Este sistema não só forneceu aos franceses um grau de flexibilidade nas operações nuna visto antes, como também foi a chave para enganar o inimigo quanto ao seu verdadeiro objetivo.

O “bataillon carré”assustava o inimigo com a possibilidade de um ataque vindo de muitas direções e o forçava a tentar cobrir todas as vias de acesso. Isto também propicia-va a Napoleão forçar seus oponentes ao combate, antes que ele estivesse pronto. Não seria necessário saber a exata localização do exército inimigo, por causa da dispersão operacional das forças, pois ist permitia a Napoleão localizar e, então fixar o inimigo, com uma porção do seu exército, enquando os demais Corpos convergiam sobre a sua vítima.

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Os comandantes oponentes achavam difícil, na melhor das hipóteses, e, geralmente im-possível, manobrar para fora do caminho do rolo compressor avançando.

Os efeitos dessas mudanças na organização e na doutrina foram profundos na fei-tura das campanhas das Guerras Napoçeônicas, tornando-as mais rápidas e mais flúidas que aquelas do tempo de Frederico, o Grande. Tais alterações possibilitaram que Napo-leão operasse em um ambiente incerto, quando a exata localização do inimigo, permane-cia vaga. “ ... pouco importando o ponto da bússola em que o inimigo fosse descoberto ... “

Sua formação lhe permitiu engajar o inimigo em qualquer direção com pelo menos um Corpo, enquanto os outros convergiram para a batalha. Isso lhe deu infinita flexibili-dade para mudar de direção de uma só vez e concentrar-se em qualquer lugar dentro de 24 horas tornando a guerra muito mais fluida. Mudar a frente era apenas uma questão de emitir ordens ou de marchar ao som dos canhões. A capacidade de se mover ao longo de várias estradas, encontrar o inimigo, mudar frente e concentrar-se contra ele tornou difícil para o inimigo o evitamento do combate com Napoleão. Esta capacidade de força de com-bate sobre seus adversários, permitiu a Napoleão ganhar a batalha decisiva que buscava, e a levar uma campanha a uma rápida conclusão. Esta foi uma razão significativa para a rapidez da Guerra Napoleônica.

Estas mudanças foram perfeitamente reveladas na Campanha de 1806, que re-sultou na batalha dupla de JenaAuestadt. Em 8 de outubro, Napoleão iniciou seu avanço através da florets de Thuringian, para forçar o Exército prussiano ao combate. Ele avançou em “bataillon carré” com cerca de 180.000 homens em 3 colunas de dois Corpos cada. Os Corpos de cavalaria e a Guarda Imperial seguiram o meio de coluna e a Divisão de bávaros seguiu a coluna da direita.

Ele não tinha conhecimento da localização exata do exército prussiano, mas estava confiante de que sua formação lhe permitiria encontrá-lo e lutar contra o inimigo em termos favoráveis. Sua frente estendia-se a 200 quilômetros, quando começou seu avanço. Ele encolheu a frente para 45 km para a passagem através da Floresta da Turíngia, e então ele expandiu para 60 quilômetros, uma vez que a passagem estava completa. Isso mante-ve os prussianos fora de equilíbrio quando eles dispersaram o exército tentando proteger todas as possíveis vias de abordagem, e os confundiu quanto à localização do corpo prin-cipal francês e seu objetivo.

Quando Napoleão descobriu o inimigo em seu flanco esquerdo, no dia 13, ele virou o “carré bataillon” à esquerda para trazer os prussianos para a batalha. Em um período “de ... 24 horas Napoleão estava em posição de concentrar 145.500 homens em um ponto decisivo; não é necessária uma melhor prova da excelência da coordenação flexível do sistema bataillon carré”. O exército prussiano, recuando, foi espalhado para fora e pego em um cerco. Napoleão foi capaz de concentrar o poder esmagador contra uma parte do exército prussiano e destruí-lo em Jena, enquanto um de seus corpos sofria ataques de-sesperados por uma força maior prussiana e, finalmente, conseguiu colocá-lo “para correr” em Auerstadt. Tendo forçado o inimigo a combater em seus termos, derrotou-o, Napoleão começou, então, uma perseguição implacável dos remanescentes do Exército prussiano, outrora orgulhoso. Dentro de 33 dias, ele havia ocupado Berlim e praticamente destruido o Exército prussiano. “Toda a guerra tinha durado apenas sete semanas.”

Em 1805, Napoleão avançou contra os austríacos sobre o Danúbio, em Ulm, com sete “corps d’armée” em escalão, ao longo do Reno. Sua frente estendia-se por cerca de 200 quilômetros, mas quando os Corpos giraram para a direita e convergiram sobre o Ge-neral Mack, sua frente reduziu-se paa 9 quilômetros. O impotente Mack foi pego em uma

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armadilha antes que ele tivesse qualquer idéia sobre o que estava ocorrendo com ele, e finalmente rendeu-se com 30.000 de seus homens, antes que qualquer batalha importante tivesse sido travada. O sistema de Corpos tinha conseguido um triunfo operacional e até 60.000 soldados inimigos foram feitos prisioneiros durante a campanha.

Em 1805, a natureza da guerra tinha mudado drasticamente desde o tempo de Fre-derico, o Grande. A Guerra Napoleônica tornou-se mais rápida e mais fluida. Duas razões significativas para estas mudanças foram a organização dos “corps d’armée” e o uso do sistema de “bataillon carré”. Estas mudanças, que ocorreram há mais de 190 anos atrás, ainda tem profunda influência em nossas organizações e doutrina atuais.

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ANEXO B UNIFORMES

GUARDA IMPERIAL - EXÉRCITO FRANCÊS

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TROPAS DE LINHA - EXÉRCITO FRANCÊS

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EXÉRCITO DA GRÃ-BRETANHA

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EXÉRCITOS DE OUTROS PAÍSES

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ANEXO C OS MARECHAIS DE NAPOLEÃO BONAPARTE

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PIERRE AUGEREAU Duc de Castiglione - 1757-1816

Rough, eager for money and certainly possessing li-mited intellectual capability, Pierre Augereau was neverthe-less a good military tactician.

Joining the French army in 1774, Augereau rose to colonel by 1793 and was in a senior position during the La Vendee revolt. Later that year he became a general of divi-sion and served against Spain.

In 1796, he took up arms with the Army of Italy and fought well at Millesimo, Montenotte, Arcola and particularly Castiglione.

Augereau damaged his standing with Bonaparte by opposing the coup of Brumaire and remained largely inacti-ve until promoted to the Marshalate in 1804.

He fought at Jena, where he lead the French left, and battled illness during the snow storm at Eylau where his VII

Corps was ripped apart when it blindly closed in on a 70-cannon Russian battery. Augereau then had senior commands in Spain and Germany before being stationed

in Prussia during the 1812 campaign against Russia.In 1813, he won the battle of Naumburg and took part at Leipzig. Defending France a year later, the marshal lost the city of Lyons before joining the

restored royalist cause.Remaining loyal to the king during Napoleon’s return he fell out of favour with the

Bourbons when he refused to convict Marshal Ney.

JEAN-BAPTISTE BERNADOTTE King of Sweden, Prince de Ponte Corvo - 1763-1844

One of the most controversial of Napoleon Bonaparte’s marshals, Jean-Baptiste Bernadotte was a committed republican whose career, mainly a self-serving one, can be divided into three stages.

The first was his rise through the ranks of the French army from 1780 to 1794 and saw him go from enlisted man to general of division.

Along the way he fought, mainly along the Rhine, and won a victory at Limburg in 1796. Two years later he was sacked for quitting his command due to dissatisfaction with how the war against the Second Coalition was being fought, but had the good fortune to marry Desiree Clary.

The second period of Bernadotte’s career started well, he performed well at Austerlitz and earned his princedom, but his mi-litary star was on the wane and in 1807 he again faced dismissal.

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The reason was his poor efforts at Jena and Auerstadt, where he did not help the much outnumbered Marshal Davout at Auerstadt, nor did he lead his troops to Jena where Bonaparte was fighting. Two things probably saved him.

The first being Davout pulling off one of the great military victories and the second being Bernadotte’s wife, Desiree Clary, was a former lover of Bonaparte.

Smarting from the dressing down he got from Bonaparte, Bernadotte successfully chased General Blucher’s Prussians and forced the fierce warrior to surrender at Lubeck.

Seemingly with a renewed taste for action he won clashes at Mohrungen, Spanden and Linz but again failed when he erred at Wagram and was sacked by the emperor.

This led to his third and most successful time - as the newly elected Crown Prince of Sweden!

Adopted by the childless Charles XIII, Bernadotte took his new country to heart and put his talents to excellent use.

Initially amicable with Bonaparte, things became strained when France occupied Swedish Pomerania in 1812.

By 1813, Bernadotte joined the Sixth Coalition against his former emperor and beat two former comrades in arms - marshals Oudinot and Ney at Gross Beeren and Dennewitz.

He then added his Swedish troops to the Allied mix at Leipzig earning political points with Bonaparte’s eventual conquerors.

In 1814 he incorporated Norway into Sweden. In 1818, Bernadotte became King Charles XIV of Sweden and, while regarded as a

traitor by the French, began a long new royal dynasty that is still in existence today.

LOUIS ALEXANDER BERTHIERPrince de Neuchatel & Wagram - 1753-1815

It is doubtful that without Louis Berthier the French command system under Napoleon Bonaparte would have functioned to the degree of excellence it did.

Berthier’s brilliance lay in his ability to translate the many orders of the emperor into easily understood messa-ges to subordinates.

Berthier began his military career in 1766 in the en-gineers and his first major posting was to America in 1781.

During the French Revolution, Berthier sheltered the Royal Family from extremists and this led to his dismissal in 1792.

Three years later he returned to the military in Italy and became a general of division.

His next move, to the Army of the Alps, brought him his first meeting with Bonaparte, with whom he served in a senior staff role in Italy and Egypt campaigns.

While he was without peer as an organiser and administrator, Berthier’s military talents were poor and when left in command of the army on the Danube found himself in trouble against a rapid attack from Archduke Charles.

While no supreme strategist he was brave and when Bonaparte left the French for-ces during the retreat from Moscow, Berthier stayed behind to help both Marshal Joachim

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Murat and then Eugene Beauharnais. Wounded at Brienne, Berthier realised the need to remove Bonaparte from power

and supported both the new government and the Bourbons upon their return to power. When Bonaparte returned from exile Berthier refused to join with him.It is unsure why, but he fell to his death from a window at Bamberg. Conjecture is that he was either murdered, or was deeply upset by his own decision

not to join the emperor and threw himself out.

JEAN-BAPTISTE BESSIERESDuc de Istrie - 1763-1813

One of the few marshals to be called a friend of Napoleon Bonaparte, Jean-Baptiste Bessieres was a dis-tinguished soldier whose career included fighting with the Swiss Guard to save Louis XVI.

Joining the revolutionary armies, Bessieres skills brought him to Bonaparte’s attention and, after fighting at Rivoli, he became a major.

Accompanying Bonaparte on the Egyptian Cam-paign, Bessieres took part in the battles of Acre and Aboukir.

His performance at Marengo in 1800 saw him a gene-ral of brigade and by 1802 he was leading a division.

In 1804, he became a marshal and led the Imperial Guard cavalry at Austerlitz, Jena, Eylau and Friedland.

Sent to Spain he won the battle of Medina del Rio Seco, fought at Somosierra and chased Sir John Moore’s army to Corunna.

In 1809, his cavalry performed very well at Aspern-Essling and Wagram and, in Rus-sia, he saved Bonaparte from cossacks during the disastrous retreat in 1812.

Bessieres’ last battle was Weissenfels, in 1813, where he died instantly after being hit in the chest by a cannonball.

GUILLAUME BRUNE1763-1815

Another of Napoleon Bonaparte’s marshals to die in the lead up to the Waterloo campaign, Guillaume Brune was a fervent re-publican who had fought for France from 1793 at such actions as Arcola, Rivoli, Alkmaar, Castricum and Marengo.

In 1802, he journeyed to Turkey as ambassador and had other high positions until his vociferous support for the republic got him out of favour with the emperor.

In 1814, he was allowed to rejoin Bonaparte but was offered little in the way of rewards and so took up with the Bourbons.

However, in 1815 he swung his allegiance back to Bonapar-te and was moving to join with him when he was set upon by a mob

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supporting the king and murdered.

LOUIS DAVOUTPrince of Eckmuhl, Duke of Auerstadt - 1770-1823

A superb commander, Louis Davout’s military and adminis-trative skills matched Napoleon Bonaparte’s.

Despite his aristocratic origins, the young Davout eagerly supported the French revolution and was the officer who ordered his men to fire upon the defecting General Dumouriez.

A general of brigade at 23, Davout spent his early years stationed near the German states and took part in the actions at Mannheim, Kehl and Haslach. He was captured, but exchanged, a move that the Prussians would later rue.

A colleague of Louis Desaix, Davout became known to Bo-naparte and joined the expedition to Egypt.

He fought at the Pyramids, Aboukir and upon while retur-ning to France following the abortive campaign was again captu-

red - this time by the Royal Navy - but was repatriated after a month. Promoted to general of division, Davout took charge of the cavalry arm of the Army

of Italy.The youngest of the soldiers promoted to the Marshalate in 1804, Davout took over

III Corps and through discipline and training turned it into the finest force in the French army.

At Austerlitz, he was the anvil upon which Bonaparte pulverised the Russians and Austrians, but it was in 1806 at Auerstadt that he showed his true brilliance.

His single corps of around 26,000 battled the main Prussian army of at least 50,000 men to a standstill and then on to sweep them from the field in one of the greatest military displays in history.

Unfortunately for Davout, his triumph took place on the same day as Bonaparte’s victory at Jena (against a smaller Prussian force) and so the result was played down.

He commanded well at Eylau and took part in the battles of Eckmuhl, Ratisbon, and Wagram.

During the Russian campaign of 1812 Davout was his usual brilliant self, beating General Bagration at Mohilev and taking part at Smolensk.

A keen tactician he angered Bonaparte by continually pushing for a flanking attack against the heavily entrenched Russians at Borodino and the enormous cost of the empe-ror failing to heed his advice proved him right.

Davout was again ignored when suggesting a different route of retreat for what tur-ned out to be the disastrous withdrawal from Moscow and, if heeded, his advice of moving through better foraging countryside may have saved much of the French army.

He fought at Maloyaroslavets and then took command of the rearguard and had further clashes with the Russians at Kolotskoi and Viasma.

Always mindful of the welfare of his elite force of men and never popular with many of his fellow marshals, Davout’s rearguard strategy was undermined by them and soon branded as being too slow by Bonaparte.

He was replaced by Ney and then was blamed for that marshal’s force being cut off.

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Given the task of holding Hamburg against the advancing allies, Davout put up a model defence and held out for more than a year. He only relinquished command of the city in 1814 when ordered to by the restored Bourbon king, Louis XVIII.

Upon Bonaparte’s return he became Minister of War but was left behind in Paris, presumably to guard against treachery, when the French army began the 100 Days’ Cam-paign.

If Bonaparte had Davout with him then the results at Quatre Bras and Waterloo could have been very different.

For such a brilliant military man, Davout was very near-sighted. He was harsh, diffi-cult to get on with and had no patience with those who tried to take easy ways out.

He got on with few of fellow marshals but, in typical fashion, was more interested with defeating France’s enemies than pandering to courtiers and politicians.

GOUVION ST CYRMarquis de St Cyr - 1764-1830

Marshal Gouvion St CyrAn idealistic artist, Gouvion St Cyr volunteered for the revolutionary army in 1792 and went on to become a solid soldier for France.

By 1794, St Cyr’s war record in Germany had seen him rise to general of division.

He fought at Mainz, Stockach, Novi, Engen, Biberach and won wide acclaim after capturing an Austrian corps at Castel-franco.

A short, but successful, service in Spain was marred in 1809 when he quit his post and suffered Napoleon Bonaparte’s anger at his lack of professionalism.

It was three years before his services were called upon and he gladly led the Bavarian Corps into the Russian Cam-paign.

Despite being wounded at Polotsk (first battle) he went on to beat General Wittgens-tein and won promotion to marshal.

At the second battle of Polotsk he again was wounded, but the military the tables were turned and, after the defeat, he resigned his command.

As governor of Dresden, St Cyr played a crucial role in defeating the Allied forces during the battle for that city between 26-27 August 1813.

However, later that year and with the French forces in Germany being pushed towards France, he was forced to surrender Dresden.

Happy to serve the Bourbons, St Cyr did not join Bonaparte for the 100 Days Cam-paign and, after being Minister for War, retired to his estates.

At the trial of his old friend Marshal Ney, St Cyr tried to persuade the authorities to have him deported rather than executed and appealed to King Louis XVIII for clemency. The bid failed and he once more retired, although returned to transform the French army and bring about changes that would last for decades.

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EMMANUEL GROUCHY1766-1847

Blame for the French loss at Waterloo has been heaped upon Grouchy whose courage and fine career, as well as win-ning the battle of Wavre, have been largely ignored.

An aristocrat, Grouchy joined the army in 1781 and af-ter six years moved into the king’s Gardes du Corps, where his strong republican leanings grew.

Tainted by his heritage he was sacked in 1793 but, within two years, was a general of division.

Journeying with Hoche on the Ireland expedition he retur-ned to lead the French left at Novi.

Wounded, he was taken prisoner, but did later command a division again at Hohenlinden.

Grouchy’s abilities as a cavalry commander were shown at Eylau and Friedland and while he performed soundly as an administrator - he was gover-nor of Madrid - and served in Italy and at Wagram, his earlier friendship with General Jean Moreau and his pro-republic stance counted against him when the Marshalate was picked.

In 1812, Grouchy commanded the III Cavalry Corps at Borodino and performed ex-ceptionally well during the horrendous retreat from Moscow.

With his health badly knocked about the hardships of the retreat he retired but re-joined the cause in 1814, where he suffered a wound at Craonne.

Grouchy did work under the Bourbons, but swapped sides for the 100 Days’ Cam-paign.

He was promoted to marshal and given command of the right wing of the Army of the North - with well known results.

Grouchy insisted on following orders to pursue the retreating Prussian army, instead of “marching to the sound of the guns” at Waterloo, and that allowed enough of Blucher’s men to arrive on Bonaparte’s flank and decide the crucial battle.

It is unfortunate for Grouchy his long years of good service counted, historically, for nought.

JEAN-BAPTISTE JOURDAN1762-1833

A long-serving and experienced commander, Jean-Bap-tiste Jourdan was known as “the Anvil” by his detractors - “for having been beaten so often”.

He joined as a private in 1778 and served in the American Revolution, before taking part in such battles as Jemappes, Ne-erwinden, Hondeschoote, Wattignies, Fleurus and Wurzburg, af-ter which he became a member of the political elite Cinq-Cents.

Returning to military life after illness, he fought and was beaten at Stockach.

He became a marshal in 1804 and then went to Spain, with Joseph Bonaparte, where he was beaten again by Arthur

As guerras napoleônicas

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Wellesley at Talavera and Vitoria.That loss was particularly galling for the marshal, who had advised against forcing

the issue against the British - but was blamed for the disaster nonetheless. Jourdan turned his allegiance to the royals upon Bonaparte’s abdication, but retur-

ned to his former leader’s side for the 100 Days. Upon Bonaparte’s final fall, Jourdan was the president of the court that sentenced

his fellow marshal, Michel Ney, to death.

FRANÇOIS KELLERMANDuc de Valmy - 1735-1820

By the time he was given a marshalcy in 1804, Francois Kellerman had seen more than 50 years service with the French army.

He had fought inn the Seven Years War at Bergen and Friedberg and spent much time helping the Poles reform their cavalry units.

Kellerman became a general in 1792 and won the battle of Valmy.

His long association with the army made him a target of suspicion during the dark days of the Terror and he was detained in 1793. It took him two years to return to command.

Retiring from field command in 1797, Kellerman continued to serve his country by improving the calibre of reserve units and the National Guard.

JEAN LANNES Duc de Montebello - 1769-1809

One of Napoleon Bonaparte’s closest marshals, Jean

Lannes was a courageous fighter, excellent tactician and had no desire for politics.

He loved the army and the battlefield and proved himself time and again, despite being wounded many times and often facing great odds.

He volunteered for the French army in 1792 and served against Spain before transferring to the Army of Italy. He fought at Loano (1st) in 1795 and then joined Bonaparte at the battles of Ceva, Millessimo and Dego.

Commanding elite grenadiers, Lannes led from the front and further distinguished himself at Mantua, Bassano and Ar-cola.

By 1798, he was a general of brigade in Egypt where he assisted in the seizure of Alexandria and Rosetta, crushed the Cairo uprising and fought at El Arish, Jaffa and Acre before suffering a neck wound. He was further injured at Aboukir.

Returning to France with Bonaparte, Lannes assisted with the Coup de Brumaire and, in 1800, was promoted to general of division.

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Leading the alpine advance into northern Italy, Lannes won the battle of Montebello and soon after held up the Austrians long enough for General Desaix to reinforce Bonapar-te at Marengo and help win that crucial battle.

Promoted to the Marshalate in 1804, Lannes next saw action at Ulm and Austerlitz and in 1806 won Saalfield, led the way at Jena and was wounded at Pultusk.

The following year he fought at Heilsberg and had a vital role at Friedland, where he held off far greater numbers of Russians long enough for Bonaparte to bring up reinforce-ments and crush them against the River Alle.

In late 1808, Lannes was transferred to Spain, won the battle of Tudela and then successfully ended the horrendous siege of Saragossa. He wept when he saw the terrible suffering and death toll that hit the people of the city.

With Austria resurgent in the east, Lannes joined Bonaparte along the Danube in the battles of Abensberg, Landshut, Eckmuhl and Ratisbon, where he led the assault on the walls himself.

His last battle was Aspern-Essling where his advance II Corps held off, against mas-sive odds, the Austrian army while Bonaparte desperately tried to get more troops across the swollen, flooded Danube.

Occupying a strongpoint in the village of Essling, Lannes denied the Austrians for two days.

Unfortunately, during the fighting withdrawal he had his legs crushed by a cannonball and, after the amputation of the left one, died of fever.

The army, and Bonaparte himself, wept at the loss.

FRANÇOIS LEFEBVREDuc de Danzig 1755-1820

Straight-speaking and honest, Francois Lefebvre was a loyal and distinguished member of the marshalate.

It took him almost 20 years to go from being a soldier in the royal guard to sergeant but, after the revolution, just 18 mon-ths to achieve general of division.

He impressed at Fleurus and spent the next few years on the German front.

One of his biggest achievements, however, came in Paris when during the Coup of Brumaire he marched his troops into the Council of the 500 and probably saved Napoleon Bonaparte from being lynched.

His promotion to marshal came in 1804. Fighting at Jena as head of the Guard infantry, Lefebvre

went on to besiege Danzig and his success led to his ducal title. From 1808 he campaigned in Spain and won the battles

of Durango, Valmaceda and Espinosa against Spanish troops. Returning to Germany, he led the Bavarians at Abensberg and Eckmuhl before mo-

ving into the Tyrol and defeating the Austrians and rebels under Andreas Hofer. The Russian campaign saw him back in charge of the Old Guard and he fought at

Borodino, and later at Dresden and Leipzig during the 1813 Campaign. During the 1814 defence of France, Lefebvre did exceptionally well at Champaubert

As guerras napoleônicas

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and Montmirail. He was one of the marshals who backed Bonaparte’s abdication, but joined with

him again for the 100 Days Campaign, after which he spent four years kicking his heels before being restored to his titles by the Bourbons.

JACQUES MACDONALDDuc de Tarente - 1765-1840

Of Scottish descent, Jacques Macdonald was the only marshal to win his baton on the battlefield.

He did so after destroying the Austrian centre at Wa-gram, but was fortunate to have been given the opportunity - having offended Napoleon Bonaparte with his vocal defence of the branded-traitor Jean Moreau.

It took five years for the emperor to recall him to active duty, despite Macdonald’s fine military career that had begun in 1786.

An aide to General Dumouriez, he fought at Jemappes and, as a general of brigade in 1793, was at Tourcoing and Hondeschoote.

Time in Italy saw him the victor at Modena before retur-ning to Germany where he was deputy to Moreau.

After Wagram, Macdonald served in Spain, Russia, Germany and the defence of France.

His battle honours included Lutzen, Bautzen, Katzbach, Leipzig, where he was al-most taken by the enemy, and Hanau.

Macdonald pushed for Bonaparte’s abdication and was one of France’s leading figu-res in negotiating peace with the Allies.

Upon Bonaparte’s return, he helped Louis XVIII flee France and did not join his for-mer leader despite the emperor’s requests.

AUGUSTE MARMONTDuc de Raguse - 1774-1852

A skilled artillery officer, Auguste Marmont fought at Tou-lon and Mainz, before becoming an aide to Napoleon Bonaparte for the 1796 campaign in Italy.

Two years later he went to Egypt and was promoted to general of brigade for his courage in Malta. He served at Alexan-dria and the Pyramids and was in the party of loyal followers who returned to France with Bonaparte.

His artillery skills helped win the day at Marengo, for whi-ch he was promoted to general of division.

Marmont was put out by not being made a marshal in 1804, but a year later was given command of II Corps, fighting with it at Ulm.

Reassigned to Italy and Dalmatia, Marmont earned the

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title Duke of Ragusa by forcing a Russian army away from that city. During the 1809 campaign along the Danube he was held in reserve at Wagram

and was sent in pursuit of the retreating Austrians. He caught them at Znaim, but they counterattacked in strength and Marmont found himself in desperate trouble. It was only the arrival of major French reinforcements that saved him. Despite the battle, he was finally given his marshalcy.

In 1811, he took command of the Army of Portugal and the following year pushed Wellington’s talents to the full by halting the British push into northern Spain. However, that may have led to an overconfidence that was smashed at Salamanca.

Badly wounded, Marmont did not return to active service until the 1813 Campaig-n,where he fought at Lutzen, Bautzen, Dresden, Leipzig and Hanau.

A skilful fighting retreat during the 1814 defence of France ended badly when he was criticised by Bonaparte for losing the battle at Laon.

As the Allies closed on Montmartre, Marmont - together with marshals Mortier and Moncey - had talks with the enemy and he surrendered his force.

Marmont stayed loyal to Louis XVIII during the 100 Days’ Campaign and, following Waterloo, voted to execute Marshal Ney.

Exiled after the 1830 revolution, the Duke of Ragusa travelled Europe unable to re-turn to his country where the verb raguser had been coined to mean betray.

ANDRE MASSENAPrince de Essling, Duc de Rivoli - 1758-1817

Originally eager to go to sea, Andre Massena found life on the waves was not what it should be and so set out for a career in the French army.

Very quickly he discovered he had made the right choice and rose rapidly to sergeant. Despite his promise, the army re-leased Massena in 1789 and he took up smuggling on the Cote d’Azure.

Within two years, however, the call of the drums took him back to the army and he joined the National Guard and was voted in as colonel.

By 1793, he was a general of division and his abilities gave him first battle victory at Lonato in 1795.

After that, Massena teamed up with a young General Na-poleon Bonaparte and was a key soldier in the stunning 1796 Campaign and the battles of Montenotte, Lodi, Castiglione, Bassano, Caldiero, Arcola, and Rivoli.

In 1799, Massena took command of the army in Switzerland and ran into Russia’s Field Marshal Suvarov at the second battle of Zurich.

Victorious, his reputation soared and even the harrowing siege and eventual surren-der of his men at Genoa could not tarnish it.

He succeeded Bonaparte as commander of the Army of Italy, but his unashamed looting required his almost instant dismissal.

All was forgiven in time and in 1804 he became a marshal and a year later had taken Verona and fought at Caldiero.

Given command of the campaign against Naples he was recalled, again for massive

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pillaging, and had his loot taken from him by the emperor. In the Danube campaign of 1809, Massena again put soldiering first and proved his

abilities at Landshut, Eckmuhl, Ebelsberg, Aspern-Essling, Wagram and Znaim. His coura-ge and skill at Aspern-Essling earned him the title Prince d’Essling.

From Austria, Massena was moved to Spain, together with his mistress who dressed as a dragoon, and found himself sorely tested by British troops in the Peninsular War.

His first taste was at Bussaco, where he was given a brutal lesson by the Duke of Wellington, and then again at Fuentes d’Onoro.

Returning to France, Massena did not hold an active field command again, a harsh end for a talented, but flawed, leader.

BON ADRIEN MONCEYDuc de Conegliano - 1754-1842

One of the oldest marshals of 1804, Bon Adrien Moncey had been a professional soldier since 1769 and served in va-rious units before being made an officer in 1779.

Five years later he was a general of division and, after capturing San Sebastian, led the West Pyrenees campaign for a year.

In 1797, he was removed from command after the leaders of the coup of Fructidor suspected he was a pro-royalist.

Moncey returned to favour in 1800 and he firstly served in Switzerland and Italy, before becoming Inspector General of the Gendarmes.

In Spain, Moncey fought at Tudela and Saragossa, but did not see action again until he led the Paris National Guard against

the invading allies in 1814. After Napoleon’s final fall, Moncey was jailed for three months for refusing to lead

the court martial of Marshal Ney.

EDUOARD MORTIERDuc de Trevise - 1768-1835

Reliable, talented and brave, Edouard Mortier was one of those rare soldiers who refused a promotion to general - only to have it reoffered later and then go on to win a marshalship.

Mortier had risen through the ranks of the National Guard and served as a captain of volunteers at Jemappes, Namur, Neerwinden, Fleurus and Zurich.

He was offered a generalship in 1797 but did not accept it until two years later when, after Zurich, he made an almost immediate jump to general of division.

In 1803, he oversaw the occupation of Hanover and the next year accepted his marshal’s baton and took over the Impe-rial Guard infantry.

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During the Austerlitz campaign, Mortier won great acclaim for his courageous han-dling of a small force of men at Durrenstein.

His 5000 men were left behind by Marshal Murat’s careless pursuit of the Russians after Ulm and found themselves attacked by some 40,000 enemy troops. Mortier’s men fought tenaciously and extricated themselves from the suicidal position. Both sides lost some 3000 men.

After Austerlitz he took over V Corps and a year later commanded VIII Corps con-quest of Hanover and Hesse. More battles followed including Friedland, Somosierra, Sa-ragossa, Ocana and Badajoz.

Mortier led the Young Guard into battle at Borodino and then took over administra-tion of the enemy capital, where he refused to follow an order to blow up the fire-ravaged city on the French withdrawal.

During the retreat, he fought at Krasnoe and Beresina and in the 1813 Campaign saw action at Lutzen, Bautzen, Dresden and Leipzig.

The 1814 defence of France saw him involved in several of the major clashes. He joined Napoleon Bonaparte upon his return from exile, but illness stopped him

having any hand in the 100 Days’ Campaign. His next service was an unwilling one, where he had to serve at Marshal Ney’s court

martial. He was no doubt pleased when the court dismissed itself.In 1834, Mortier was made Minister of War, but died a year later - killed by a bomb

at a parade.

JOACHIM MURATKing of Naples, Grand Duke of Berg - 1767-1815

One of the most dashing cavalry commanders in an era of beau sabreurs was Joachim Murat.

He joined the army as a cavalry trooper at the age of 20 and his first contact with the rising General Napoleon Bonaparte came when he helped suppress the Vendemaire coup attempt.

Promoted, Murat joined Bonaparte in Italy in 1796 figh-ting at Tagliamento.

During the Egyptian campaign he won battlefield promo-tion to general of brigade.

His handling of the French cavalry at Marengo won him more honours.

With his courage and dash, and the marriage to Caroline Bonaparte, it was a certainty he’d become a marshal in 1804.

An important part of the French army’s command, Murat was the perfect harasser of retreating enemies, but his intervention at Eylau saved the battle for Bonaparte and was arguably the high point of his military career.

Journeying to Spain in 1808, Murat was partly responsible for the uprising in that country, as his repression of the Madrid insurrection was harsh.

Leaving Spain because of poor health, he was given the kingdom of Naples and ruled his adopted nation well.

He returned to serve France during the 1812 campaign in Russia and fought at Os-

As guerras napoleônicas

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tronovo, Smolensk, Borodino and Vinkovo before taking command of the latter stage of the great retreat from Moscow.

Returning to Naples temporarily, he rejoined Bonaparte for the 1813 Campaign in Germany. Fighting at Dresden, Wachau and Leipzig, he eventually negotiated with the emperor’s enemies to save his own throne.

In 1815 he tried to assist Bonaparte during the 100 Days’ Campaign by fomenting a revolt in northern Italy, but acted too soon and the attempt failed.

The defeat of Waterloo forced him to try to regain his own kingdom, but he was ar-rested and shot.

Vain to the end he told the firing squad to not aim at the head.

MICHEL NEYPrince de la Moscowa, Duc d’Elchingen - 1769-1815

Marshal Michel Ney, known as the Bravest of the Brave, Michel Ney was not known for his coolness, or an excessive amount of caution.

Irrefutably courageous, the hot-tempered soldier’s soldier too often let his dash get in the way of sound military thinking.

He joined a hussars regiment in 1787 and through his elan and personality was quickly promoted.

He fought at Neerwinden, Mainz, Mannheim, Winterthur, Hohenlinden, Elchingen, Jena, Eylau, Friedland, Bussaco, Smo-lensk, Borodino, Beresina, Weissenfels, Lutzen, Bautzen, Den-newitz, Leipzig, Quatre Bras and Waterloo.

His later career and relationship with Napoleon Bonaparte was a strained one - Ney having sided with those who demanded the emperor’s abdication and served the Bourbons. He re-attached himself to Bonaparte for the 100 Days’ Cam-paign - with terrible consequences for the French.

His delaying and mishandling of the battle at Quatre Bras ruined Bonaparte’s stra-tegic plan and the debacle of Waterloo, where he completely lost the plot, ended in abject defeat.

Ney paid for his errors with his life as he was put on trial for treason by the returning Bourbons, sentenced to death and shot on 7 December 1815.

He was, however, insanely brave to the end and gave the signal to the firing squad to shoot.

Waterloo: Ney Defends HimselfThe most false and defamatory reports have been publicly circulated for some days,

respecting the conduct which I have pursued during this short and unfortunate campaign. After having fought during twenty-five years for my country, and having shed my

blood for its glory and independence, an attempt is made to accuse me of treason; and maliciously to mark me out to the people, and the army itself, as the author of the disaster it has just experienced.

Compelled to break silence, while it is always painful to speak of oneself, and parti-cularly to repel calumnies, I address myself to you, sir, as the president of the provisional government, in order to lay before you a brief and faithful relation of the events I have

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witnessed. On the 11th of June, I received an order from the minister of war to repair to the

imperial head-quarters. I had no command, and had no information upon the force and composition of the army.

Neither the emperor, nor his minister, had given me any previous hint, from which I could anticipate that I should be employed in the present campaign; I was consequently taken unprepared, without horses, without equipage, and without money; and I was obliged to borrow the necessary expenses of my journey.

I arrived on the 12th at Laon, on the 13th at Avesnes, and, on the 14th, at Beaumont. I purchased, in this last city, two horses from the Duke of Treviso, with which I proceeded on the 15th, to Charleroi, accompanied by my first aide-de-camp, the only officer I had with me.

I arrived at the moment when the enemy, attacked by our light troops, was retreating upon Fleurus to Gosselies.

The emperor immediately ordered me to put myself at the head of the first and second corps of infantry, commanded by Lieutenant-Generals d’Erlon and Reille, of the divisions of light cavalry of Lieutenant-General Pire, of the division of light cavalry of the guard under the command of Lieutenants-General Lefebvre Desnouettes and Colbert, and of two divisions of cavalry of Count Valmy, forming altogether eight divisions of infantry and four of cavalry.

With these troops, a part of which only I had as yet under my immediate command, I pursued the enemy, and forced him to evacuate Gosselies, Frasne, Millet, and Heppieg-nies.

There I took up a position for the night, with the exception of the first corps, which was still at Marchiennes, and which did not join me until the following day.

On the 16th, I was ordered to attack the English in their position at Les Quatre Bras. We advanced towards the enemy with an enthusiasm difficult to be described. Nothing could resist our impetuosity.

The battle became general, and victory was no longer doubtful; when, at the moment that I intended to bring up the first corps of infantry, which had been left by me in reserve at Frasne, I learned that the emperor had disposed of it, without acquainting me of the circumstance, as well as of the division of Girard of the second corps, that he might direct them upon St. Amand, and to strengthen his left wing, which was warmly engaged with the Prussians. The shock which this intelligence gave me confounded me.

Having now under my command only three divisions, instead of the eight upon whi-ch I calculated, I was obliged to renounce the hopes of my victory; and, in spite of all my efforts, notwithstanding the intrepidity and devotion of my troops, I could not do more than maintain myself in my position till the close of the day.

About nine o’clock, the first corps was returned to me by the emperor, to whom it had been of no service. Thus twenty-five or thirty thousand men were absolutely paralyzed, and were idly paraded, during the whole of the battle, from the right to the left, and the left to the right, without firing a shot.

I cannot help suspending these details for a moment, to call your attention to all the melancholy consequences of this false movement, and, in general, of the bad disposition during the whole of the day.

By what fatality, for example, did the emperor, instead of directing all his forces against Lord Wellington, who would have been taken unawares, and could not have resis-

As guerras napoleônicas

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ted, consider this attack as secondary?How could the emperor, after the passage of the Sambre, conceive it possible to

fight two battles on the same day? It was to oppose forces double ours, and to do what the military men who were wit-

nesses of it can scarcely yet comprehend. Instead of this, he had left a corps of observation to watch the Prussians, and mar-

ched with his most powerful masses to support me, the English army would undoubtedly have been destroyed between Les Quatre Bras and Gemappe; and that position, which separated the two allied armies, being once in our power, would have afforded the emperor an opportunity of outflanking the right of the Prussians, and of crushing them in their turn.

The general opinion in France, and especially in the army, was, that the emperor would have bent his whole efforts to annihilate first the English army; and circumstances were favourable for the accomplishment of such a project: but fate ordered it otherwise.

On the 17th, the army marched in the direction of Mont St. Jean. On the 18th, the battle commenced at one o’clock, and though the bulletin which details it makes no men-tion of me, it is not necessary for me to say that I was engaged in it.

Lieutenant-General Count Drouot has already spoken of that battle in the chamber of peers. His narration is accurate, with the exception of some important facts which he has passed over in silence, or of which he was ignorant, and which it is now my duty to disclose.

About seven o’clock in the evening, after the most dreadful carnage which I have ever witnessed, General Labedoyere came to me with a message from the emperor, that Marshal Grouchy had arrived on our right, and attacked the left of the united English and Prussians.

This general officer, in riding along the lines, spread this intelligence among the sol-diers, whose courage and devotion remained unshaken, and who gave new proofs of them at that moment, notwithstanding the fatigue with which they were exhausted.

What was my astonishment, (I should rather say indignation,) when I learned, imme-diately afterwards, that, so far from Marshal Grouchy having arrived to our support, as the whole army had been assured, between forty and fifty thousand Prussians were attacking our extreme right, and forcing it to retire!

Whether the emperor was deceived with regard to the time when the marshal could support him, or whether the advance of the marshal was retarded by the efforts of the enemy longer than was calculated upon, the fact is, that at the moment when his arrival was announced to us, he was still only at Wavre upon the Dyle, which to us was the same as if he had been a hundred leagues from the field of battle.

A short time afterwards, I saw four regiments of the middle guard advancing, led on by the emperor. With these troops he wished to renew the attack, and to penetrate the centre of the enemy. He ordered me to lead them on.

Generals, officers, and soldiers, all displayed the greatest intrepidity; but this body of troops was too weak long to resist the forces opposed to it by the enemy, and we were soon compelled to renounce the hope which this attack had for a few moments inspired.

General Friant was struck by a ball at my side, and I myself had my horse killed, and fell under it.

The brave men who have survived this terrible battle, will, I trust, do me the justice to state, that they saw me on foot, with sword in hand, during the whole of the evening, and that I was one of the last who quitted the scene of carnage at the moment when retreat could no longer be prevented.

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At the same time, the Prussians continued their offensive movements, and our right sensibly gave way. The English also advanced in their turn. There yet remained to us four squares of the old guard, to protect our retreat.

These brave grenadiers, the flower of the army, forced successively to retire, yielded ground foot by foot, until finally overpowered by numbers, they were almost completely destroyed.

From that moment the retrograde movement was decided, and the army formed no-thing but a confused mass. There was not, however, a total rout, nor the cry of “Save Who Can”, as has been calumniously stated in the bulletin. As for myself, being constantly in the rear-guard, which I followed on foot, having had all my horses killed, worn out with fatigue, covered with contusions, and having no longer strength to walk, I owe my life to a corporal, who supported me in the march, and did not abandon me during the retreat.

At eleven at night, I met Lieutenant-General Lefebvre Desnouettes; and one of his officers, Major Schmidt, had the generosity to give me the only horse that remained to him.

In this manner I arrived at Marchienne-au-Pont, at four o’clock in the morning, alone, without any officers of my staff, ignorant of the fate of the emperor, of whom, before the end of the battle, I had entirely lost sight, and who, I had reason to believe, was either killed or taken prisoner.

General Pamphile Lacroix, chief of the staff of the second corps, whom I found in this city, having told me that the emperor was at Charleroi, I supposed that his majesty intended to place himself at the head of Marshal Grouchy’s corps, to cover the Sambre, and to facili-tate to the troops the means of rallying near Avesnes; and with this persuasion I proceeded to Beaumont; but parties of cavalry following us too closely, and having already intercepted the roads of Maubeuge and Philippeville, I became sensible of the total impossibility of ar-resting a single soldier on that point to oppose the progress of the victorious enemy.

I continued my march upon Avesnes, where I could obtain no intelligence concerning the emperor.

In this state of things, having no intelligence of his majesty, nor of the major-general the disorder increasing every instant, and, with the exception of some veterans of the regi-ments of the guard and of the line, every one pursuing his own inclination, I determined to proceed immediately to Pris by St Quentin, and disclose, as quickly as possible, the true state of affairs to the minister of war, that he might send some fresh troops to meet the army, and rapidly adopt the measures which circumstances required.

At my arrival at Bourget, three leagues from Paris, I learned that the emperor had passed through that place at nine o’clock in the morning. Such, M. le Duc, is a faithful his-tory of this calamitous campaign.

I now ask those who have survived that fine and numerous army, how I can be accu-sed of the disasters of which it has been the victim, and of which our military annals furnish no example.

I have, it is said, betrayed my country--I who, to serve it, have shewn a zeal which I have perhaps carried too far; but this calumny is not and cannot be supported by any fact or any presumption.

Whence have these odious reports, which spread with frightful rapidity, arisen? If, in the inquiries which I have made on this subject, I had not feared almost as much

to discover as to be ignorant of the truth, I should declare that every circumstance proves that I have been basely deceived, and that it is attempted to cover, under the veil of trea-son, the errors and extravagancies of this campaign; error which have not been avowed in

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the bulletins that have appeared, and against which I have in vain raised that voice of truth which I will yet cause to resound in the chamber of peers.

I expect from the justice of your excellency, and from your kindness to me, that you will cause this letter to be inserted in the journals, and give it the greatest possible publicity.

NiICOLAS OUDINOTDuc de Reggio - 1767-1847

One of the most wounded men involved in the Napole-onic Wars, Nicolas Oudinot suffered no fewer than 22 battle injuries in more than 30 years of military service.

Joining the royal army as a 17-year-old in 1784, Oudinot showed such ability that within five years of signing on he was a cavalry captain and was a lieutenant-colonel from 1792.

Wounded at Hagenau in 1793, his courage and inspira-tional leadership earned him a jump to general of brigade.

At Ulm he received six wounds and fell into enemy Aus-trian hands, but was exchanged and, after recovering from the injuries, found himself badly wounded again at Ingolstadt in 1795.

Four years later he was a general of division and had been wounded several more times.

His major clashes included Wertingen, Hollabrunn, Danzig, Friedland, Landshut, Aspern-Essling, Wagram, Polotsk, Beresina, Bautzen, Gross Beeren, Leipzig, Brienne and La Rothiere.

During those battles he suffered a range of injuries - wounded in the shoulders, legs, chest, almost losing an ear and surviving a musket ball hitting his chest - stopped by his legion of honour.

Made a marshal in 1809, Oudinot continued his fearless ways and even the title Duc de Reggio did not make him opt for a safer life.

Oudinot was respected by all, particularly Napoleon Bonaparte, but the respect of the emperor did not stop him from backing the calls for his abdication.

Upon Bonaparte’s return from exile he did not join his former commander and did his best to keep his troops loyal to King Louis XVIII.

A soldier’s marshal, Oudinot was talented, brave and devoted to France.

DOMINIQUE PERIGNONMarquis de Perignon - 1754-1818

Dominique Perignon was equally at home with either the sword or the diplomat’s letter, but proved more successful in the latter role.

His early army career did not take off until had been serving for twelve years when, in 1792, he was promoted to lead a division after excellent performances in the Pyrenees.

Despite some notable successes, he was replaced in 1795 and returned to his old career of diplomacy, which saw him elected to the Council of the 500 and then appointed as ambassador to Spain.

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A brief switch back to military life proved unhappy, as he was badly wounded and captured at Novi, but was boosted by a senatorship in 1801.

A marshalcy was given in 1804, but Perignon saw no further clash of arms, being given political positions instead.

When the Bourbons returned in 1814, the marshal pledged loyalty to the new regime and did not support Napoleon Bonaparte’s ill-fated restoration.

Perignon was one of those who voted for Michel Ney’s execution.

JOSEF PONIATOWSKIPolish Prince - 1763-1813

Nephew to Poland’s King Stanilaus II, Poniatowski had the strange upbringing of living in the capital of his country’s oppressor, Austria, for his early years.

Serving in the Austrian army from 1780, Poniatowski ho-ned his military skills against the Turks but, when offered a se-nior command, returned to Poland.

His abilities saw regular offers to join either the Russian - whom he fought against during the Polish uprising during the 1790s - or Austrian armies, but his prime aim was to have a strong, independent Poland.

Poniatowski saw France’s emperor Napoleon Bonaparte as the key to winning independence for his nation and so agreed to form Polish units for him.

His countrymen proved excellent troops and, in 1809, they led the campaign to expel Austria from Polish territories.

In Russia in 1812 he led the French right wing at Borodino, where his troops perfor-med heroicly.

Disappointed by the emperor’s lack of speed at giving Poland independence, Ponia-towski nevertheless continued to support France during the 1813 campaign and received promotion to marshal only days before drowning while trying to cross the Elster River after Leipzig.

Too much a nationalist to be fully trusted by Bonaparte, Poniatowski was still a man

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upon whom the emperor relied to fight mutual enemies.

JEAN SERURIER1742-1819

One of the old-school commanders, Jean Serurier was an able, honest and trustworthy soldier who had a lengthy mili-tary career in the Seven Years War, Portugal and Corsica before being caught up in the French Revolution.

Arrested by the zealots for being of minor nobility, Serurier survived to become a general of division in Napoleon Bonaparte’s extraordinary campaign in Italy.

Unlike many older officers, Serurier liked what he saw in Bonaparte and gave him unswerving loyalty.

His military successes as a senior commander were few, but won considerable respect with his battle-winning efforts at Mondovi.

After being captured at Verderio in 1799, Serurier moved towards politics and served in many official capacities - such as Governor of Venice and of Les Invalides.

Offering support to Bonaparte in 1815 saw him lose much prestige with the Bour-bons, but his peerage and marshal’s baton were returned just months before his death.

NICOLAS SOULTDuc de Dalmatie - 1769-1851

More than 20 years after the Napoleonic Wars had ended Marshal Nicolas Soult was representing France at the coronation of Queen Victoria when he was grabbed by the arm by none other than the Duke of Wellington.

The conqueror of Napoleon Bonaparte is reported to have said: “I have you at last.”

The comment refers to one of the final campaigns of the Peninsular War where Wellington was forced to chase Soult’s army through the Pyrenees as the Frenchman led him a merry dance.

Such was the respect that one of the greatest commanders of all time had for the son of a baker.

Soult had joined the French army at 16 and his abilities saw him an officer within six years.

He fought at Fleurus, received a promotion to general of brigade in 1794, and then was stationed on the Rhine. In 1799 he took part at Stockach, became general of division and fought at Zurich.

Becoming a marshal in 1804, Soult was given the honour of taking the vital Pratzen Heights at Austerlitz and won huge praise from Bonaparte for his tactical abilities.

He fought well at Jena, Eylau, Heilsberg and was rewarded by becoming the Duke of Dalmatia.

Known for his greed, Soult enjoyed his titles and the accompanying wealth.

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In 1808, Soult went to Spain and chased Sir John Moore to Corunna where, althou-gh beaten, he put up a monument to his fallen foe and won great respect from the British for doing so.

Being surprised by Wellington at Oporto lessened his standing, although he followed that by beating the Spanish at Ocana.

In 1811, Soult found himself up against Marshal Beresford at Albuera and was stun-ned to lose that bloody battle. In awe of British courage, he said later he had beaten the redcoats, it was just that they did not know when they were beaten.

During the 1813 Campaign, Soult fought at Bautzen but was rushed back to Spain to recover the situation after the debacle of Vitoria.

His leadership proved outstanding and, in the face of great odds and a supremely confident British army, managed to stay the inevitable for almost a year.

Joining with Bonaparte for the 100 Days’ Campaign he became the emperor’s chief of staff and did not perform as well as perhaps he could have.

In later years, Soult was used in many senior government position, including Minister of War, and became one of only a few honoured with the title Marshal-General of France.

LOUIS SUCHETDuc d’Albuera - 1770-1826

One of Napoleon Bonaparte’s most brilliant subordina-tes, Suchet had a long military career that began in 1791 and ended in 1815.

Of all the marshals sent to hold Spain, only Suchet had success and ruled Catalonia wisely and well with a just admi-nistration that brought peace to a ravaged land.

His early career saw him fight at Loano, Dego, Lodi, Cas-tiglione, Mantua, Arcola and Rivoli.

Promoted to general de brigade in 1798, Suchet married into the Bonaparte clan and became Chief of Staff of the Army of Italy.

He was fought at Novi, Ulm, Hollabrunn, Austerlitz, Saal-field, Jena, Pultusk and Ostrolenka. In 1808, Suchet became a count and then was trans-ferred to Spain.

His successes in Spain earned him a marshalate in 1811 and two years later took up the governorship of Catalonia.

As the French began to withdraw from the Peninsula, Suchet oversaw a textbook withdrawal into France and, after the abdication of Bonaparte, served the Bourbons.

Rejoining the eagles upon the emperor’s return, Suchet - like the equally able Mar-shal Davout - found himself out of the main action of the 100 Days’ Campaign.

Just why Bonaparte wasted such military talents at such a crucial time seems inex-plicable.

Initially blacklisted by the returning Bourbons, he was forgiven in 1819 but spent the remaining seven years of his life in retirement.

Together with Davout, Suchet was Bonaparte’s military and administrative equal.

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CLAUDE VICTORDuc de Bellune - 1764-1841

Claude Victor began his military career in the artillery and, not surprisingly, became known to Napoleon Bonaparte during the siege of Toulon.

His abilities as a leader became obvious fairly quickly and by the age of 27 was a general of brigade. Six years later he was a general of division and, at Marengo in 1800, Victor was one of Bonaparte’s chief subordinates.

He earned his marshal’s baton at Friedland in 1807 and was made a duke the following year.

Sent to Spain, Victor had some successes - defeating Spanish troops at Espinosa and Medillin - but lost the battles of Talavera and Barrossa.

During the disastrous Russian campaign the few remai-ning French survivors owed their lives, in very large part, to Victor’s fighting skills at Beresina which kept the last line of

escape open. He performed well at Dresden and Leipzig, but was criticised for his leadership befo-

re Montereau and released from duty. Refusing to accept the order, he said he would fight with the troops and won a reprieve from the loyalty-conscious Bonaparte who gave him an Imperial Guard command.

Agreeing to serve the Bourbons upon their restoration, Victor did not stray from that pledge and did not rejoin his emperor during the 100 Days’ Campaign.

True to his own pledges, Victor found it hard to side with senior officers who had switched from Bonaparte, to the Bourbons and back to Bonaparte.

He led an investigation into those who had sided with Bonaparte during the Waterloo Campaign and voted for Marshal Ney’s death.

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PUBLICAÇÔES DA OSPREY PUBLISHING (Londres):

- Emperors and Eagles - Field of Glory Napoleonic - Fall of the French Emp 1813-15 - French Revolutionary Wars.- Jena 1806: Napoleon Destroys Prussia by David G. Chandler- Men At Arms 429 - Napoleons Mameluks - Napoleonic wars: 805-1807 - Napoleonic Wars: The Peninsula War- The Napoleonic Wars

MEIOS ELETRÔNICOS

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